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@@ Historia Publica Digital Digital Public History RESUMO A virada digital na_histéria reformulou nossa documentagio, transformou as ferramentas usadas para _armazenar, tratar e acessar a informacdo, e por vezes, adiantounovas _questdes epistemolégicas juntamente com novas ferramentas criadas para responder por elas. Ainda assim, no momento, no ha uma metodologia. _sistemstica desenvolvida. para abordar deforma cattica essas ferramentas digital, analsar © deslocamento dos “big data” e compreender a nova capacidade publica para todos trabalharem com 0 passado. Todas essas_transformagdes_afetam profundamente 0 relacionamento entre os historiadores e seu publico, suas abordagens visando novas fontes digitals e, finalmente, 0 registro escrito da historia. A perturbadora virada digital questiona a profisso de _historiador globalmente, e levanta as incertezas acerca. do futuro da_ historiogratia tradicional e as_narrativas sobre o passado para diferentes piblicos. As narrativas da histéria digital (publica) requerem que os métodos € codigos profissionais sejam —reescritose reinterpretados e novas praticas sobre 0 passado sejam dominadas na era digital. © — mundo digital -—_condicionou profundamente a presenga do passado em nossas sociedades e favoreceu novas percepgdes do puiblico para a passagem do tempo na historia e a presenca de lembrangas. © dominio digital permite a criag3o de novas interconexdes entre 0 pasado, nosso presente e nosso futuro. ARTIGO Serge Noiret* ABSTRACT The Digital Turn in history has reformulated our documentation processes, transformed the ways we archive, treat and access information and has sometimes anticipated new epistemological questions together with new tools created to respond to them. Yet there is still no systematic methodology developed to critically approach these new digital tools, to analyze the transit of "big data" and understand the new public capaity to deal with the past. All this change deeply affects the relationship between historians and their public, their approaches to new digital sources and, finally, the written recording of history. This disturbing digital turn questions professional historians globally and raises Uncertainties as to the future of traditional historiography and narratives of the past for diverse publics. the narratives of (public) digital history require that professional methods and codes be rewritten and reinterpretated and that new practices be mastered. The digital world has deeply influenced the presence of the past in our societiesand favours new public perceptions of the passage of time in history as well as the presence of memories. The digital domain allows for the creation of new interconexions between the past, our present, and our future. Thus we might ask ourselves if, given the public dissemination of new interactive digital technologies, we must deeply review the current relationship with the past, our * Doutor em Histéria e Civilizac3o pelo Instituto Universitério Europeu de Florenca, Presidente a Federaco Internacional de Histéria Piblica. Especialista em Histéria da Informacdo no Instituto Universitério Europeu. Endereco: Badia Fiesolana, via dei Roccettini 9, 50014, San Domenico di Fiesole, Florenga, Fi, Italia, Telefone: (39) 0554685-348. E-malk: serge.noiret@euLeu LIMIC Linc em Revista, io de Janeiro, vi ms, p. 28-51 malo 2015, 28 itp ibiet bine ‘dic httpdxdotorghnoaSaasiine.win797 Portanto, podemos nos perguntar se, & luz de disseminaco piiblica das novas tecnologias —digitais__interativas, necessitamos rever em profundidade 0 relacionamento desenvolvido hoje em dia com 0 pasado, nossa meméria e nossa historia, Mudancas metodolégicas no memory and our history. Methodological changes in historians’ craft are such that we should dedicate more time to them and analyze what (public) digital history, ‘or history in digital media, now means for academic history and related professions. Keywords: Public History; Digital History; oficio de historiadores s80 de tal ordem que deviamos dedicar mais tempo a elas, analisar 0 que a histéria digital (publica) ou historia por meios digitais representa atualmente no século XXI para a histor académica e as profissdes relacionadas & historia publica. Palavras-chave: Histéria Publica; Histéria Digital; Meméria; Humanidades Digitais; Web. ‘Memory; Digital Humanities, The Web. HISTORIA DIGITAL OU HISTORIA POR MEIOS DIGITAIS? Ahistéria digital remodelou a documentagio do historiador ¢ os instrumentos usados para seu acesso, para armazenéla e tratéla, sem que, todavia 0 uso critico desses instrumentos - que ndo so assépticos na relacdo entre o historiador e as fontes digitais -, fossem devidamente questionados pelos historiadores, sobretudo em ambientes académicos. Intemacionalmente, 0 “terremoto” da “virada digital” suscitou muitas interrogages na profisso, confrontada globalmente com as incertezas acerca do futuro de uma historiografia e das varias formas de narracSes do passado em formato digital, entre inquietude e rejeicdo. A histéria digital requer Teescrever @ reinterpretar os métodos profissionais e dominar as novas praticas digitalizadas (CLAVERT; NOIRET, 2013). As mudangas quanto as praticas profissionais dos historiadores sdo de tal ordem - falouse até de um novo historicismo — (FICKERS, 2012) que devemos nos interrogar sobre qual o impacto da histdria digital sobre as formas tradicionais de narragdo do passado e sobre os tempos histéricos (HARTOG, 2012; NORA, 2011)’ Podemos nos perguntar, & luz da difusdo piiblica das tecnologias, se ndo & 0 caso de rever em profundidade até mesmo a relagdo que temos com o passado, a meméria e a histéria no presente (JOUTARD, 2013). Nem todos continuam de acordo com o socislogo Michel Wieviorka, na Franca, que fala de um “imperativo digital” (WIEVIORKA, 2013) para as ciéncias sociais nos dias de hoje, ou com o historiador american Anthony Grafton (2014), que admite que a histdria deve ser digital ou ndo existird? Com efeito, as praticas dos historiadores obrigados a dominar ~ e mesmo forjar ~ a tecnologia, teriam como resultado criar confuso e atemorizar a profissao inteira, em confronto coma “virada digital”. 4 Pierre Nora, entrevistado acerca do significado dos “lieux de mémoire” insistia na necessidade dos histotiadores de darem sentido e vida “no presente” aos tragos da memsria coletiva da nagao” (NORA, 2011,p. 446-447). 2.0 futuro da profissso passa pelo digital como anunciava Anthony Grafton durante © Congreso Anual dda American Historical Association, om janeiro de 2014, em Washington. Escutar os minutos 3.28" a 4.26” de The future of histary books (GRAFTON, 2014). FIA nce Reve ode sano, vay yp 281 aloo, 2 GINC httpd /wew.ibictbeflinc doi: httpy/dx.doiorgiro.8225/linc.v1iin.797 2 Ha dificuldades objetivas para gerir as tecnologias digitais, a cada dia mais difundidas perante 0 piiblico, ¢ usadas ~ com frequéncia de forma eximia ~ fora da profissdo (NOIRET, 2012). “Les incertitudes d'une mutation”, era o que escrevia Rolando Minuti (2002); “Promises and perils of digital history”, advertiam Daniel J. Cohen e Roy Rosenzweig, na introducdio ao seu manual sobre a digital history (2005); ao passo que, ainda em 2013, 0 cataldo Anaclet Pons escrevia um livro intitulado “EI desorden digital” (2013), referindo-se 4 babel de uma documentacao digital dificil de dominar, como havia sido descrita por Borges (1971).* Estes estudiosos interpretam a “virada digital” e a “histsria digital” partindo de uma refiexdo sobre as mudancas no oficio de historiador tradicional. A abordagem néo é nem otimista nem pessimista, mas sim a de quem quer entender as mutacdes tecnoldgicas 8 luz de um positivismo critico - Cohen e Rosenzweig falam de “tecnorrealismo” (2006) — ndo submetido a tecnologia propriamente dita, mas certamente interessado por ela. Toni Weller, em seu livro History in the digital age (2012)? ensina que nem todos os historiadores que utilizam 0 computador e os recursos digitais sdo “historiadores digitais”. Ele dé como evidéncia o impacto da revolucdo tecnolégica aplicada as praticas anteriores dos historiadores, e em continuidade com suas tradicGes profissionais.® Em sintonia com estas dedugdes de Weller, os resultados de uma importante pesquisa americana sobre as praticas de historiografia digitalizada salientam que: L..] the underlying research methods of many historians rem: fairly recognizable even with the introduction of new tools and technologies, but the day to day research practices of all historians have changed fundamentally (RUTNER; SCHONFELD, 2012). Também do mesmo parecer, a versio em portugués do manifesto sobre as humanidades digitais, em seus trés primeiros pontos, declara que “a opcao da sociedade pelo digital altera e questiona as condicdes de producao e divulgacao dos, conhecimentos” (DACOS, 2011) e que: Para_nés, ashumanidades digitais referem-se a0 conjunto das ciéncias humanas e socias, as artes e as letras [,..] ndo negam 0 3 Ver também: Rosenzwelg (2011), 4 Sobre a incapacidade de encontrar uma resposta na “babel” da informacao, atualmente na web, tema examinado por Borges em 194%, ver o ansaio de C. ROLLASON (2004), republcada em: http: themodernword.com/borges/borges_papers_rollason2.htmi>. Acesso em 20 mar. 2015. 5 Weller distingue entre “those historians who were professionally engaged in digital tools and technologies in thelr work [..] and those who did nat consider the subject within thelr remit at all, despite regularly using emal, distribution lists, digtzed newspapers or images and many other online resources” (WELLER, 2072 p.2). 6 A mesma abordagem cautelosa acerca do impacto das novas tecnologias estd presente na italia, em algumas reflexdes recentes sobre o significado da histéria distal. © grupo de jovens estudiosos que drigem o pertddico Diacronie adota essa visao cautelosa no fasciculo editado por Elisa Grandi, Deborah Pact e Emon Rutz (2012). A mesma cautela se encontra em um ensafo que introduz o niimero espectal do perisdico histérico BMGN no Benelux editado por Gerben Zaagsma (2013). Enquanto David J. Staley, em Computers, visualization, and history: how new technology will transform our Understanding of the past (2013), fala da possibilidade de visualizar a histéria por meio do computador, como um outro instrumento que se acrescenta aqueles jé dominados ha séculos pelos historiadores, tais como a escrita, Sobre esses temas de visualizac3o do passado, ver as conclusdes de Hugues (2008). FIA nce Reve ode sano, vay yp 281 aloo, ° GINC httpd /wew.ibictbeflinc doi: httpy/dx.doiorgiro.8225/linc.v1iin.797 a passado, apoiamse, pelo contririo, no conjunto dos paradigmas, savoirfairee conhecimentos préprios _dessas isciplinas, mobilizando simultaneamente os instrumentos e as perspectivas singulares do mundo digital. Ashumanidades . 823° THATcamp Florence, 26 de marco de 2011. Disponivel ntipyflorencezon.thatcamp.org>. 9 A Assoclazione per informatica Umanistica ela Cultura Digitale (Disponivel em: .) aderiu 8 European Association for Digital Humanities (EADH), (Cisponivel em: .), ume das componentes da Alfonce of Digital Humanities Organizations (ADHO) (Disponive em: .), que agrupa as associagdes internacionals de humanidades dgtals. Por motivo de diversficagéo lingustca e cultural, fol fundada durante 0 THATCamp —SaintMalo, na Franca, em 2013. (Disponivel_ em: .), uma associaggo francéfona de humanidades dlgttals: a Fumanistca, com sede no Canada (Disponivel em: .).0 campo encontra-se atualmente em plena expanséo organizacional eassoclativa no mundo intlro. 10Sobre as profundas mudancas culturals, socials ¢ econémicas, em curso em nossa socledade com a chegada da internet, consultar Castells (2001, 2002). 11 Para uma bibliografia dos escritos de Orlandi procurar sua pagina pessoal na web, Pubblicazioni relative alinformatica tumanistica (Disponive em: .; além da. bibliografia contida em Peril © Flormonte (201). ‘2A nova disciplina deveria ser inserida na Area 10: Scienze dellantichita,flologico-etterarie e storico “artstche; e na Area n: Scienze storche, flosojche, pedagogiche e psicologiche (RONCAGLIA, 2002). Ver também 0 manifesto Proposta dl costituzione del settore scietifico-disciplinare: Informatica applicata FIA nce Reve ode sano, vay yp 281 aloo, 1 GINC httpd /wew.ibictbeflinc doi: httpy/dx.doiorgiro.8225/linc.v1iin.797 a HISTORIA DIGITAL, NAO APENAS “HUMANIDADES DIGITAIS” Devem ser valorizadas as peculiaridades disciplinares da histsria digital e as praticas digitais do historiador: a pesquisa de diferentes fontes e as diversas tramas narrativas da web. Se for verdade que as humanidades digitais oferecem metodologia e praticas comuns as ciéncias que compdem a drea de humanas,"* é verdade também que esses, conceitos @ praticas so, em grande parte, elaborados tais quais disciplinas Gnicas (RYGIEL, 2010, p. 193), ¢ especificamente como a histéria digital que se propée a visualizar a histéria e construir narrativas ndo apenas e essencialmente baseadas no texto. Isso ocorre no que se refere as diversas tradigGes cientificas que descobrem, posteriormente, na “république du virtuel”, um universalismo que supera as divises entre ciéncias humanisticas, para forjar novas praticas transdisciplinares instrumentos e linguagens usados em todas as disciplinas das humanidades. Como exemplo, so empregados protocolos abertos e compativels nos sites da rede como 5 standards de marcagdo de documentos, "* os metadados descritivos (por exemplo, ‘© Dublin Core Project)" ou os programas e produtos open source,"* como Zotero,” que favorecem projetos colaborativos. Os bancos de dados, as bibliotecas digitais e 05 open archives agora sao compativeis entre si"® através da interoperabilidade de seus dados, os assim chamados linked open data do OALPMH (Open Archives Initiative Protocol for Metadata Harvesting). Em seu blog, Stephen Robertson cita duas diferencas essenciais entre as humanidades digitals e a historia digital: first, the collection, presentation, and dissemination of material online is a more central part of digital history. [...] Second, in regards to digital analysis, digital history has seen more work in the area of digital mapping than has digital literary studies, where text mining and topic modeling are the predominant practices (ROBERTSON, 2014). Quase todas as probleméticas tradicionals do oficio de historiador, da delimitacao de uma hipstese de pesquisa descoberta, ao acesso e a gesto dos documentos e das fontes, até conseguir os fundamentos narrativos e, sobretudo, até a comunicagao da historia e dos resultados de pesquisa, e, finalmente, 0 ensino da histéria, passam ‘ile dscipine _umanistche _(owveror Informatica __umonistca) [| Disponivel__ ems .. jwwewte-.orglindex.amb>. s60pen Source Initiative (QS!) € um projeto para tornar acessivel a decodificagao dos programas bancos de dados para todos. Disponivel emzchtip:/www.opensource.orgl>. 17 Zotero, Disponivel em: . 18 Open Archives initiative (OA). Disponivel eme . 19 Open Archives Initiative. Protocol for Metadata Harvesting. Disponlvel__ om: . FIA nce Reve ode sano, vay yp 281 aloo, 2 GINC httpd /wew.ibictbeflinc doi: httpy/dx.doiorgiro.8225/linc.v1iin.797 = agora em parte ou no todo, pela tela do computador. Essas préticas se aninham no interior da rede. A historia digital poderia assim ser definida como todo o complexo universo de produxdes ¢ trocas socials tendo por objeto © conhecimento histérico, transferido eJou diretamente gerado e experimentado em ambientacao digital (pesquisa, organizacao, relacdes, difusdo, uso publico e privado, fontes, livros, didatica, desempenho e assim por diante) (MONINA, 2013). No entanto, quando se pensa em cdlculo estatistico, geolocalizacao, gestdo dos big data, uma enorme quantidade de dados e fontes digitais disponiveis que permitem prdticas transversais de text-mining internamente (MAYER-SCHONBERGER; CUKIER, 2013; BOYD; CRAWFORD, 2012; CRAWFORD, 2013)" - Peter Haber falava mesmo de um processo de “datificagio”" -, em programas que interrogam as imagens diretamente sobre seus pixels, em histéria com mapas etc., a histéria digital, enquanto campo especifico dentro da “transdisciplina” das humanidades digitais, ndo € feita apenas pela utilizac3o de novas ferramentas digitais que facilitam as velhas praticas. Trata-se também do desenvolvimento de uma relacdo estreita com as, tecnologias suscetiveis em modificar os préprios parametros da pesquisa. © historiador encontrase apto a levantar novas questdes epistemoldgicas na analise do passado, depois do advento dos meios digitais. Todavia, apenas uma minoria de “historiadores digitais” domina os instrumentos que respondem as novas interrogagSes cientificas. Menos ainda so os que criam programas originais que permitem novas anélises e novas formas de interagao com as fontes, e seu tratamento em funcdo de hipdteses de pesquisa facilitadas pela andlise computacional (COHEN et al., 2008). Na Europa, como em outros lugares, ha hoje em dia muitos historiadores que convivem com o digital, e que ndo so, digamos, “historiadores digitals” ou “humanistas digitais’.”’ So a prdpria historia (fontes e historiografia) e a meméria do passado, que, de fato, tornaramse digitais, prescindindo de como os historiadores, individualmente e/ou como grupo profissional organizado, relacionam- se atualmente com a “virada digital” (digital tum), as humanidades digitais ¢ a “histéria (publica) digital”. Ainda que, com frequéncia, falte um quadro disciplinar institucionalizado para as humanidades digitais, a conivéncia virtuosa com as tecnologias, por exemplo, na Inglaterra (TERRAS; NYHAN; VANHOUTTE, 2013)" apresentou recaldas difusas e positivas sobre o oficio de historiador em seu conjunto 20 Enfim, um exemple do uso da “datitiacao" na histéta encontra-se em Ejnatten Peters e Verheul (013) 210 concelto de “data driven history” & aquele usado por Peter Haber para defini o mundo nove da fistrin digtal (WABER, 201) 22 Ainda que para oles, 2 revoluggo digital passe por um novo conhecimento transélsciplinar @ pela colaboraggo entre diversas ciénclas. Ver Lamassé e Rygie! (2014). 25 € 0 que ressata Claudia Favero (2014) em sua pesquisa para saber “What does it mean to be a dita historian in ttaly and in the UK2, baseada, infelamente, em um niimero muito restito de entrevistas qualiticadas nos ols paises. A autora deimta em sua andlse, problemas e contradioes dos Historiadores que se interrogam acerca de seu trabalho com o dial ou que fazem histsra dial. 24 Uma critica da uniformidade cultural das digital humanities, uma defini alternativa e uma descrigao {dos ambientes disciplinares na Europa e em outros lugares ,] denunciou no site Roars, por meio do documento “Osservazioni critiche del AIUCD sul ASN”, “[..] as graves citcunsténcias surgidas com a publicago dos resultados da Habiltagao Clentfica Nacional, que causam risco de comprometer de modo sério e preocupante o futuro de formaco e de pesquisa em um setor, o da informatica humanistica e das digital humanities, ulgado consensualmente de importancla estratégica para a inovagao tecnol6gica e para 2 conservaca0 do patriménio cultural” Disponivel em: chttp:/www-roarstjonlinelosservaziont-critche-dellaucd sullasn>. FIA nce Reve ode sano, vay yp 281 aloo, GINC httpd /wew.ibictbeflinc doi: httpy/dx.doiorgiro.8225/linc.v1iin.797 e Com o surgimento da web 2.0, a histéria ea meméria ndo se mantiveram mais, prerrogativas apenas da comunidade cientifica académica. Por intermédio das praticas de escrita participativa ou mesmo diretamente, qualquer pessoa pode se dedicar ao passado em rede. O recurso a uma espécie de saber comunitério, & participacdo pilblica na rede, que vem sendo comumente chamada crowdsourcing,"*sob varias formas e com diversos tipos de contetidos, trabalho colaborativo e saberes, permitiu a gestdo integrada dos contetidos digitais por parte de quem tenha a possibilidade e o conhecimento para assim proceder. Nessa segunda fase, mas também naquela da integracdo semantica dos dados do 3.0, a web deve ser compreendida como histdria “viva” e “‘ptiblica”, praticada de forma interativa por todos, © nao mais limitada a atividade dos historiadores académicos, que registram digitalmente, com frequéncia em formato fechado, as préprias Atualmente, uma pesquisa de doutorado pode ser elaborada em tempo real, compartilhada, de modo visivel, pedindo a quem estiver apto e quiser interagir que ofereca formas abertas e comunitérias de avaliagdo; novas formas de crowdsourcing do trabalho e do saber. Por exemplo, os cardépios dos restaurantes de Nova York no século XIX podem ser integrados a um banco de dados gragas aos usudrios da Biblioteca Puiblica de Nova York (NEW YORK PUBLIC LIBRARY, 2011). Algumas formas de crowdsourcing - como o tratamento coletivo e a coleta sobre plataformas interativas da web 2.0 de importantes arquivos digitais”” ~ so aspectos, constitutivos da “histéria puiblica digital” na era da web participativa em que vivemos agora. Melissa Terras, promotora do projeto Transcribe Bentham, definiu 0 crowdsourcing como uma obra comunitéria que requer enquadramento cientifico para valorizar a contribuigdo de todos.”® Esta demanda por conhecimentos publicos e por mo de obra para completar projetos de histéria piblica é difundida nos mais diversos campos, e com grandes seguimentos de piiblico, se formos pensar, por exemplo, na coleta dos cardapios dos restaurantes nova-forquinos do século XIX por parte da New Vork Public Library (NEW YORK PUBLIC LIBRARY, 2011)."? Em vez desse, outros arquivos, como os de Mark Twain®, Edgar Allan Poe," 0 que foi concebide relacionado & biblioteca de Herman Melville, nos Estados Unidos, projeto “rousseauonline.org”, na Suica,*> e, enfim, o diciondrio de Montesquieu, elaborado com a participagdo de especialistas internacionais,** provém do trabalho 260e crowd, “multiddo", e outsourcing, “externalizagdo de ume parte das préprias atividades (wniPeDA, 2015), 27 Uma definicéo aprofundada dos “arquivos inventados” encontra-se em Rosenzweig (2011). 28 Um “community based online cultural heritage project” (TERRAS, 2010); Transcribe Bentham: @ participatory inttlative (UNIVERSITY COLLEGE LONDON, 2010). Ver Causer e Terras (2014). 29 Ver Lascarides Vershbow (2014) 30 Mark Twaln Project Online. sponivel em: 31EA. Poe Society of Baltimore. Disponive em: chtpswww.eopoe.org. 32 Melile's Marginala Online. Dispontvel em: chttp/melvilesmarginalia.orel> 33 Rousseavontine. Disponivel em: . 34 A Montesquieu dictionary. Le dictionnaire Montesquieu. Disponivel em: . 36 Parallel Archive (PA) [Disponivel em:c http:|hwww parallelarchive.org>.]fol desenvolvide pela Open Society Archives (OSA) na Central European University [Disponivel em: ]. Ver Desk (2013), 37 L2 Grande Collect, uma coleta ainda em exercclo no momento em que sdo escttas estas lnhas, vista © sucesso da operacao planejada apenas de 9 a 16 de novembro de 2013. Disponivel em chutpicentensireorgrflgrande-cllete> 38 £ 0 dlema encontrado por um projeto pionero de histéria da Europa na rede, como o Enel, 0 European Navigator do Centre Vituel de la Connalssance de 'Europe (CVCE), dé Luxemburgo, 20 escolher integra algumas fontes digital no arquivo. Ver 2 versdo arquivada do EuropeanNavigator no Internet ‘archive (G00), Disponivel em - FIA nce Reve ode sano, vay yp 281 aloo, 6 GINC httpd /wew.ibictbeflinc doi: httpy/dx.doiorgiro.8225/linc.v1iin.797 a Infelizmente, a auséncia de um conhecimento real da rede por parte dos historiadores académicos poderia ter como consequéncia infausta a possibilidade de nao contar com a sua capacidade profissional no que se refere a “filtragem” dos discursos de cada um na rede, Desse modo, terfamos & nossa volta formas de narragdo do passado elaboradas sem o devido distanciamento ou atencSo critica. AS memérias de famfia, com materiais e fontes primérias descobertas em casa, podem ser hoje facilmente compartilhadas. Novos “genealogistas” podem, assim, escrever a histéria deles, que, por forga das circunstancias, carece de contextos narrativos e do necessério aprofundamento historiogréfico. O passado de cada um na rede ndo & mais distante e historicizado, mas se torna emoc%io em um presente continuo, nivelando os tempos histéricos pela atualidade. Para garantir 0 devido distanciamento no confronto com o passado, gerenciar essas coletas de documentos, “filtrar”, mediar, conectar comunidades e ptiblicos diversos, encaminhar os novos conhecimentos sobre 0 passado por meio do potencial das tecnologias digitais, uma gerag3o de novos historiadores, que podemos chamar “historiadores puiblicos digitais” (digital public historians), tornam-se os profissionais intermedidrios necessdrios para enquadrar cientificamente o trabalho de coleta de documentos e gerir criticamente novos arquivos “inventados” — que no existiam, isto &, fisicamente -, trazidos para a rede gracas as contribuigdes de todos. MEDIAR COM A HISTORIA DE CADA UM S6 cinco anos depois do nascimento da web e poucos meses depois de sua difusdo nas universidades do mundo inteiro, em 1998, os dois historiadores americanos Roy Rosenzweig e David Thelen se perguntaram sobre a presenca do passado na sociedade americana (ROSENZWEIG; THELEN, 1998). Os resultados mais importantes e eloquentes de sua enquete nos iluminam ainda hoje sobre os modos de comunicagao da histdria e das fontes do passado por intermédio da rede. Essas indicavam uma nitida preferéncia do piiblico americano por uma mediadores e, querendo precisar ainda melhor, de uma histéria sem os historiadores acad@micos como mediadores, para se aproximar do passado. O pubblico americano — mas também 0 australiano e o canadense (depois de enquetes semelhantes feitas naqueles paises sobre as formas da presenga piblica do passado e da histéria)? — preferia descobrir 0 passado por meio das instituigGes culturais da hist6ria publica, como os museus € os parques histdricos (MERINGOLO, 201), e conhecer 0 passado por meio da experiéncia direta com seus tracos, sem historiadores profissionais como mediadores. © encontro “direto” coma histéria nas comunidades locais acontece hoje também na rede. As atividades de “histéria publica digital” nos sites interativos da web de nova geracdo 2.0 favorecem um encontro “face a face” com a histéria e as suas fontes. Nas exposigdes, nos museus e nos lugares “isicos” da memséria, esas no se tornam interpretaveis para o grande piiblico somente pela mediago dos historiadores publicos, mas também pela propria rede, que interage diretamente com os 39 Ver Ashton e Hamilton (2010) ¢, sobretudo, o resultado de um projeto plurlanual de pesquisa diigido por Jocelyn Letoumeau para medi a importancia da istéria na definigao da identidade do Canad junto 8 visao que os canadenses tém de seu passado (LETOURNEAU, 2013) FIA nce Reve ode sano, vay yp 281 aloo, GINC httpd /wew.ibictbeflinc doi: httpy/dx.doiorgiro.8225/linc.v1iin.797 a usudrios."” A andlise de Rosenzweig e Thelen sobre como precisava ser gerida a mediaco com a histéria americana evidenciava 0 que teria acontecido com o advento da web 2.0 e com as plataformas digitais interativas. Entre os resultados surpreendentes de sua investigacao, eles haviam descoberto que o piiblico preferia fazer por si mesmo, contando a “sua” histéria (COHEN et al., 2008). J4 em 1997-1998, desse modo, manifestavam-se as potencialidades “narcisisticas” da web; além da vontade de participaco popular na construcao da meméria coletiva e nos discursos de histéria por meio do digital. Uma histéria centrada na experiéncia individual e comunitaria, que tentava projetar o local no global (NOIRET, 2011b). Certamente partiram dessa pesquisa as sucessivas reflexes de Rosenzweig sobre 0 fato de que todos podiam se tornar “historiadores” na rede,” hiptese confirmada também por uma pesquisa italiana (CRISCIONE, 2004). Pierre Nora, em suas reflexdes posteriores a difusdo da série de livros sobre Lugares de memsria na Franga, escrevia a mesma coisa, Na Franca ainda agora nao se fala de “historiadores ptiblicos” como mediadores; entretanto, Nora exercia pressio a fim de que os historiadores tomassem em maos e se tornassem mediadores das memérias coletivas. Nao So eles que escolhem quais as memérias que funcionam no presente, nem quando delas se ocupar, mas é a prépria atualidade da consciéncia piiblica e coletiva no presente que impde a escolha dos lugares de meméria, além da necessidade de té-los contextualizados pelos historiadores (NORA, 2011). Estamos diante das primeiras criticidades de uma histéria ptiblica do tempo presente, cuja agenda é sempre e cada vez mais ditada pelas memérias nacionais e pelas comemoracées?*? Hoje, a presenca da histéria e da meméria publica digital na rede italiana ingente. Podemos certamente citar diversos niveis cientificos e tipologias de narragdo, como as histérias privadas ligadas a perfis biogréficos familiares (Trento in Cin);** a histéria de Riccione, uma comunidade durante a guerra (La citta invisibile);** as videoentrevistas e as memérias privadas (Memoro. La banca della Memoria);*° a histdria e a documentagao “cientifica” oferecidas para recordar a meméria da guerra civil (Ultime lettere di condannati a morte e di deportati della Resistenza italiana);”” a divulgagdo histérica como histéria publica digital (Alcide De Gasperi nella storia d'Europa);** a tentativa de fazer reviver e de rectiar permanentemente 0 pasado 40 Wiliam G. Thomas ll: “Although they trusted college professors as experts, Americans expressed a strong preference forthe direct experience that museums seemed to offer” (COHEN et al, 2008). 41 Rosenzweig fala de ubiquidade como condi do se *istérico na rede (ROSENZWEIG, entre 1998 e2015)) 42 . 47 INSMIL: Ultime lettere di condannati a morte e dl deportati della Reststenza ttallana. Disponivel em:< httpyiwwwvtalaiberazione.itultimelettere!>. 48 Istituto Leigh Sturzo: Aleide De Gospert nella storla Europa. Disponivel em FIA nce Reve ode sano, vay yp 281 aloo, 8 GINC httpd /wew.ibictbeflinc doi: httpy/dx.doiorgiro.8225/linc.v1iin.797 a ainda que distante - medieval e moderno -, rompendo sobre 0 presente sem possibilidade de futuro, segundo a perspectiva descrita por Francois Hartog (2012); a histéria descoberta nas viagens de hoje feitas para reviver e redescobrir aquelas passadas (La storia in Viaggio);°° e a construco de espacos identitarios baseados nos testemunhos da comunidade (L'archivio degli ible’). Todos esses so somente alguns exemplos das formas de narraco presentes na nda que ela prépria = entendida como um novo modo de apresentar a historia e criar narrativas digitais, interagindo com e para o ptiblico — nao esteja ainda muito difundida e nem seja particularmente sofisticada (DANNIAU, 2013). MEMORIAS INDIVIDUAIS E COLETIVAS Sempre segundo Rosenzweig e Thelen, mas também seguindo as motivacdes de Pierre Nora ao construir uma meméria coletiva francesa em torno dos “lugares da meméria patria”, 0 trabalho profissional dos historiadores torna-se ainda mais requisitado para filtrar, organizar, interpretar 0 passado, as memérias individuais e coletivas e as fontes documentérias digitais em geral. 0 historiador (publico) deve se oferecer como intermedirio nas atividades do grande puiblico com a histéria ea mem@ria na rede>* Roy Rosenzweig, que diferentemente de Pierre Nora jé se confrontava com a web em fins dos anos 1990, inventava assim a digital public history — histéria publica digital. A mediaggo profissional solicitada pelo diretor prematuramente desaparecido do Centro de Histéria Digital da George Mason de Fairfax, na Virginia, foi canalizada para a histéria digital. Esta permitiu recolher as necessidades do campo disciplinar da histéria e interagir com a cultura popular (SAMUEL, 1996), escrevendo capitulos de historia “itil” @ favorecendo alguns aspectos do passado, que servem hoje para a construcdo de uma outra forma de “presentismo” e de uso piiblico da histéria (NOIRET, 2014b). Nora dista de tal proposta somente porque ainda nao concebe a rede como vetor capaz de promover os “lugares de meméria” materiais ou de tornar essa mesma rede portadora de novos lugares de meméria virtuais a serem interpretados.* Recordaando ainda que a Franca ndo reconhece a figura profissional do historiador publico, Henry Rousso, por exemplo, como historiador do tempo presente, disse no ter sido preparado profissionalmente para se tomar um “historien public”, termo usado por Pierre Nora: “Rien dans mes études ne miavait préparé a reciter le réle d'historien public” (ROUSSO, 2011). Entretanto, é esta exatamente a figura {49 Peter Lagrou diz que uma das caracteristicas da histéria do tempo presente nos dias atuals é justo © “presentismo” de Hartog (LAGROU, 2013). 50 Una storia in viaggio’ nei uoghi—dellaltcaresstenza. Disponivel__eme https wavwunastrianvlaggio.oFg> 51 Comedia Officina: Archivio degl bil. isponivel em:. 52 Sabre o papel do pioneioitalano da digtal public history, Antonio Crscone, ver © mou ensaio “La ‘galassiafage’ di Antonino criscione”, que introduz o ro péstumo em honra do historiadorsclano do INSMLI editado por Paolo Ferrari ede Leonardo Rossi (FERRARI ROSSI 2006); tamivém Noite (2005). 53 E com uma atengdo espectfica em relacdo as memérias igttas, ver De Groote (2008), 54 Nora escreve a propésito dos lugares de memérla materials e imatertals que conceme aos hstortadores interpretar (NORA, 2017). FIA nce Reve ode sano, vay yp 281 aloo, GINC httpd /wew.ibictbeflinc doi: httpy/dx.doiorgiro.8225/linc.v1iin.797 a profissional que descreve Nora, ainda que em sua mente aquele historiador permane¢a um historiador profissional que se move na esfera publica das midias. A “histéria” e a meméria que a rede mundial de computadores transmite, narradas & interpretadas em parte por quem quer que seja, permitem a reprodugdo acritica e descontextualizada da meméria individual e comunitéria, ou seja, do horizonte “cego” de cada um. Esse localismo abstrato é incapaz de ler a complexidade dos processos histéricos e sua globalidade ou de inseri-los naqueles contextos mais, amplos citados por Nora. Um historiador do tempo presente como Peter Lagrou, especialista em meméria da Segunda Guerra Mundial na Europa, contrariamente, nao pde em foco sua andlise sobre as narrativas da rede. Na verdade, ele insinua que os historiadores do tempo presente tenham hoje esquecido aquele posicionamento critico necessario que sempre se acrescenta ao oficio de historiador, para melhor satisfazer as necessidades memoriais nacionais sedimentadas em func3o das classes dirigentes. De fato, Lagrou critica abertamente 0 papel dos historiadores complacentes nos confrontos com a hegemonia cultural ambiental (LAGROU, 2013). De modo ainda mais dréstico, um historiador do nexo entre histéria e meméria, como Philippe Joutard, considera que as formas esponténeas de narragao do passado em rede sejam apenas formas memoriais que nada tenham a ver coma epistemologia da histéria (JOUTARD, 2013). Para remediar a falta de consciéncia histérica das memérias individuais e coletivas, Joutard® n&o invoca a importancia que, na rede, pod revestir as mediages memoriais e, consequentemente, o papel profissional do digital public historian. Lagrou acredita que os historiadores académicos presentes na polis tenham abandonado tal papel, seduzidos pelas necessidades culturais contingentes do poder, pelas velhas liturgias nacionais ou distraidos pelos fendmenos da globalizacao. © historiador ptiblico deve poder fazer mediagéo com as formas ptiblicas de conhecimento do passado que a rede oferece, contribuindo na primeira pessoa a narrativa do passado em meios virtuais. Construir uma histéria ptiblica digital que seja capaz de fazer frente e de mediar de modo critico a manifestagao incessante das memérias privadas - e das memérias coletivas embalsamadas - é certamente um papel profissional destinado ao trabalho do “public historian”. Educadores e historiadores publicos tém o dever de interpretar criticamente a narrativa falsamente “objetivante”. Endo apenas a narrativa da historiografi celebrativa nacional mencionada acima, mas, sobretudo, aquela virtual e viral mais, insidiosa, que promove memérias coletivas alternativas a assim chamada histé “oficial”, e retoma — ou inventa por inteiro ~ novas “legendas nacionais”. Exatamente como acontece com a parddia europeia de Wikipédia, a Metapédia, com suas narrativas nacionalistas, racistas e revisionistas, e 4 sua vontade de plasmar a “linguagemy” publica e académica europeia para descobrir “verdadeiros” passados & memérias coletivas nacionais.°° '535Philippe Joutard ngo sublinha, a0 contrério, o quanto a presenca ativa dos historladores na rede pode favorecer um salto de qualidade na interpretagio das memrias acritcas de cada um (JOUTARD, 2013). Para um aprofundamento do mesmo autor, ver Joutard (20136). 536 “Metapedia glves us the opportunity to present a more balanced and fair image of the pro-European Struggle for the general public as well as for academics, who until now have been dependent on strongly biased and” stile “researchers. Metapedia_—«-Mission.-—‘Disponivel— ems . LIMIC Linc em Revista, io de Janeiro, vi ms, p. 28-51 malo 2015, 40 itp ibiet bine ‘dic httpdxdotorghnoaSaasiine.win797 Indagar sobre as tentativas da rede de difundir histérias revisionistas, negacGes da Shoah ou promogées de memédrias coletivas alternativas as dominantes, foi a tarefa de uma andlise da rede nacional italiana e de seus contetidos de histéria entre 2001 & 2003 (CRISCIONE, 2004). J naquela época, a procura e a presenca de uma histé alternativa & histéria académica e a seus canals de difuséo era bastante ampla na rede, como atualmente a vontade de falar de si, criando novas fontes ~ orais ou didrios®” ~ que nao so apenas formas de exibicionismo digital favorecidas pelas midias sociais globalizadas. Essa presenga exuberante do “passado” em rede responde, com a mediagdo digital, a uma profunda necessidade de reaproximar as memérias individuais, familiares, coletivas e comunitérias do passado local, regional e nacional em nossas sociedades globalizadas,** tema com o qual me defrontei alhures 2 propdsito da auséncia de histéria publica nos “lugares de meméria” da guerra civif, Se as entrevistas da histéria oral que constituem alguns corpora de relatos individuais, acerca de um tema objeto de pesquisa possuiem uma coeréncia de projeto - e uma estrutura bem definida e investigada entre entrevistador e entrevistado ., as memérias na rede sdo frequentemente isoladas, fragmentadas, ndo reconduzidas a um tema que poderd se beneficiar da atividade interpretativa e critica do historiador (LUCCHESI, 2014). No maximo, ser possivel pensar em reagrupélas em torno a temas comuns, origem geogréfica, grupo social ou idade, criando estruturas mais semelhantes a uma “tag-cloud” do que a um projeto historiografico. E o que propée na Italia, como em outros continentes, o “banco da meméria”, o portal memoro.org” com uma série de entrevistas registradas em video e com colaboracdes de outros projetos similares presentes em nosso territério.” A propésito das novas formas de mediacao cultural, a estudiosa das midias José van Dijck observa como o digital intervém em nossas memérias pessoais jé a partir do surgimento das méquinas digitais - que mudavam 0 modo pelo qual ela propria via seus arquivos e memérias pessoais. De fato, com os programas digitais, ela mesma se sentia obrigada a classificar, catalogar, selecionar, contextualizar os testemunhos de seu passado, até mesmo em funcéo do ato de comunicé-los a terceiros (Van Dijck, 2007, p. xii). Essa atengdo nova e interativa, que o digital assume em confronto com tragos “fisicos” de nosso passado individual, permitiu o advento de formas de interagdo inovadoras entre a rede eas memsrias individuais e coletivas, criando novas fontes digitais para a historia publica e novos contextos nos quals analisé-las. 57 José van Dick insiste sobre a importancla dos didrios pessoals (“writing the self") que povoam os Blogs da rede, essas novas formas de escrita usadas para comuricar 0 fntimo, a meméria individual, esses “big data’” que cado um mete na rede © que testemunham profundas transformagdes culturais favorecidas pelos melos digftals (VAN DISCK, 2007}; sobre estas tematicas, ver Zells (2005, 2013). 58 Ver Garde Hansen, Hoskins e Reading (2009) e Marshall (20m). 59 Para uma histsria publica e seu confronto com as mem@rias coletivas nos mesmos lugares {a guerra civil tallana, ndo apenas nos lugares virtuals, ver Noiret (2013). 60 Memoro. La banca della memoria. Disponivel em: chttpslhwww.memoro.org>. 61 Testemunhos recolhidos no quadro do projeto Tra Mont. Itinrari tra generazion!Iungo I crinall della Val di Vara. Disponivel eme.] ou, na Italia, acesso ao “kit open source per la realizzazione di mostve virtual! online”, realizado entre a Telecom tala e 0 (CCU, MOVIO. (Mostre_—Virtuall Online) [Disponivel cemechttpeiwww.movio.beniculturalst>) FIA nce Reve ode sano, vay yp 281 aloo, 2 GINC httpd /wew.ibictbeflinc doi: httpy/dx.doiorgiro.8225/linc.v1iin.797 4 envolvendo no campo internacional os membros dispersos das mesmas comunidades com um ptiblico potencialmente universal. Usa'se hoje a web para suprir a auséncia de uma comunidade fisica presente in loco ou para coletar as memérias e os testemunhos destas comunidades dispersas no tempo e no espago."* De fato, o digital permite superar as barreiras espacotemporais para conectar ptiblicos e interlocutores “‘semelhantes”, favorecendo assim o transnactonal, 0 global e a comparacao das diversas ~ ainda que similares —realidades locais.°> Uma das maiores utilidades da histéria publica digital é a capacidade de comunicar, descrever, interpretar € mostrar, com métodos similares, as experiéncias historicas locais como experiéncias globais. A “histéria piiblica digital” assume como pressuposto metodoldgico que a histéria local possa se tornar parte integrante da Teflexio acerca dos processos de globalizacio e de uma comparagio de ambito planetério do que ¢ local, dimensdo intima e mais préxima que interessa, seja onde for, ao puiblico. Através de uma comparacao de casos locais em sua dimensao puiblica © global, a histéria digital permite depurar alguns conceitos universais da world history, como os de genocidio ou de ditadura.®° Do que é local se passa as experiéncias e &s memérias de outras comunidades locais em outros continentes. Criando novos espacos interpretativos e narrativos gracas as novas préticas da histéria publica digital em ambito mundial, 0 glocal — neologismo da globalizagio (ROBERTSON, 1995) - ilumina a dimensio espagotemporal daquela que chamamos international public history. TECNOLOGIAS DIGITAIS PUBLICAS A explosiio das barreiras espacotemporais € locaisiglobais na interpretagdo do pasado, certamente caracteriza a histsria piiblica digital — digital public history -, que permite depurar experiéncias e memérias de coletividades e individuos no mundo inteiro. Esse é 0 caso dos testemunhos de mies no Sri Lanka, que, apoiadas pelas midias sociais e pela publicacdo dos arquivos digitais de histéria oral, sensibilizaram um ptiblico intemacional. 0 projeto digital suscitou, assim, a ctia¢o de uma mostra em Toronto, no Canada, durante @ qual os visitantes puderam se expressar. Seus testemunhos realcaram o valor global do projeto do Sri Lanka.” E possivel pensar, por exemplo, como o site do Yad Vashem permite conectar as vitimas do Holocausto e suas memérias com os lugares onde os familiares vive 63 Ver Miccoll (20132, 20136). 64 A comunidade “confederada” de Americana no Brasl,atualmente restabelaceu sua ligago com o Sul dos Estados Unidos depois da diéspora de 1866 em diregio ao Bras, segulda a queda da Confederaco e a manutengao, palo menos até a abolicao da escravatura no Brasil, em 1888, do sistema de exploragao dos escravos pare 0 cultive de algo, 65 Lesle Wirtz compara dols muscus locals de world history, o Lwancle Migrant Labour Museum, na ‘irica do Sul, préximo & Cidade do Cabo; eo Berman Museum in World History, em Anniston, Alabama, ‘os Estados Unidos, e 05 seus “local global interconnections" (WIRTZ, 2072, p. 107-108). 666 International Coalition of sites of Conscience. Disponivel em: chttp: wun sitesofconsclence.ofg/> 67 Um exemplo do valor universal da histéra publica digital éfornecido pela histera oral das maes do Se Lanka - Herstories [Disponivel em: ], objeto de uma mostra em Ottawa, no Canadé, em 2014, com a publicaggo dos comentarios canadenses no site da mostra virtual {sponivel em: ) FIA nce Reve ode sano, vay yp 281 aloo, GINC httpd /wew.ibictbeflinc doi: httpy/dx.doiorgiro.8225/linc.v1iin.797 a atualmente.°* Nos Estados Unidos, a comunidade nacional abracou a primeira grande tarefa de histéria publica digital: 0 arquivo September 11 do RRCHNM na Virginia — Roy Rosenzweig Center for History and New Media. Esse grande arquivo digital foi aberto aos depoimentos de pessoas do mundo inteiro e oferece as memérias, a historia e as fontes daquilo que aconteceu, além de sua interpretagao. Mais ainda ~ e este aspecto tem a sua importancia inovadora em um arquivo digital -, 0 site da web September 1 mostra como foi vivido o atentado as Torres Gémeas internacionalmente, a0 vivo ou em video, promovendo o local na dimensao informada de uma experiéncia global.”? 0 museu da meméria do atentado, o National September 11 Memorial & Museum,”® proporciona a interatividade por meio do apoio de seus percursos nas midias sociais, buscando a integraco das fontes disponiveis no museu com outros depoimentos, também online, para fomentar a pesquisa e 0 ensino, e valorizar seus contetidos globalmente. A possibilidade oferecida aos visitantes de traduzir os contetidos do site em varias inguas realca a atencao global dada ao evento, uma atengao rara nos sites dos museus americanos © nos percursos digitais de historia naquele pais: 0 inglés costuma ser a tinica lingua disponivel. Uma aplicago para iPhone - também esta em diversas linguas — completa as mostras e os percursos dos museus,” com diversos testemunhos a respeito do que ocorreu em 11 de setembro de 2001 no “Lower Manhattan”, e com percursos interativos locais disponiveis para melhorar a experiéncia dos visitantes. Uma pesquisa demonstrou o quanto esse percurso interativo tridimensional é efetivamente itil e utilizado nas visitas locais, que acrescenta 0s depoimentos de histéria oral dispontveis também ao site do memorial, além das salas do museu fisico.”” A tecnologia das aplicagées digitais para smartphones, dirigida principalmente ao fornecimento de percursos histdricos por meio da geolocalizac3o do visitante no panorama urbano, hoje em dia é constantemente utilizada.”* Recompor globalmente as comunidades dispersas ou dizimadas por uma diaspora em torno de um passado comum ou reconstruir percursos memoriais com o digital — representativo da historia globalizada do século XX como o September 11 ~ enriquecem universalmente as 68 The Central Database of Shoah victims! Names in Yad Vashem. World Canter for Holocaust Research, Documentation, Education and Commemoration. Disponivel erm: . 69 September 11 Digital Archive. [Disponivel em: ]. Um capitulo sobre @ constituigao do arquivo de histéria piblica digttal, conservado também na Biblioteca do Congresso em ‘Washington, foi acrescentada & segunda edicao do manual de histéria publica de Gardner © Lapaglia em 2006, sublinhando pela primeira vez a relevancia para a public history da digital public history (SPARROW, 2008). 77oNational September 11 Memorial & Museum. Disponivel emechttpzljwww.grimemortalore>. 71 gf! Museum Audio Guide. Disponivel emec http:wwmw.gssmemoriaorgfblogiiphone-app-allows- Users ‘explore-git>] 72 Uma pesquisa baseada em uma amostra dos visitantes comprovou 0 enorme sucesso da tecnologia isponivel para os celulares inteligentes de tltima goracso na transmissao da meméria do ocorrido e no aprofundamento da imersao do puilico no passado (COCCIOLO, 2014, 73 Nos Estados Unidos , 0 Curatescape desenvolvido por Mark Tebeau em Cleveland [Disponivel em: “httpl/curatescape.org>] - e agora em muttas outras cidades - fol plonelro nessa nova dimenséo do ‘acesso individual aos conteldos virtuals de histéria pablica digltal. © Curatescape ¢ formade por uma Série de aplicagées para smartphones que fazem da histérla urbana um percurso narrativo virtual e pablic. FIA nce Reve ode sano, vay yp 281 aloo, GINC httpd /wew.ibictbeflinc doi: httpy/dx.doiorgiro.8225/linc.v1iin.797 " experiéncias de histéria publica praticadas pelos museus histéricos “analdgicos”. Mostras @ percursos “fisicos” so, assim, promovidos, integrados, explicitados no digital. Seus objetos e contetidos podem ainda ser visualizados em formatos tridimensionais e tornados acessivels a publicos provenientes do mundo inteiro, gracas a0 uso da lingua inglesa como passaporte do conhecimento global e, sobretudo, ao uso das tecnologias da comunicacao digital. Estas oferecem realidades ampliadas e transferéncia de conhecimento,”* compartihamento de experiéncias memoriais, narracSes histéricas interpretativas dos objetos e dos lugares fisicos. A interatividade com o passado e seus ptiblicos é difundida gracas a rede global das novas midias digitais e das redes sociais. O didrio florentino de Susan Horner, escrito nos anos 18611862 durante uma visita de oito meses a Florenga, ¢ conservado no arquivo do British Institute da cidade, vive globalmente em nossos smartphones em. uma aplicagdo que oferece percursos culturais para ler a cidade com os olhos dessa jovem burguesa vitoriana, interessada na Italia unificada do século XIX, transmitindo ainda as emogies e as curiosidades.” Assistimos, aqui, a um claro efeito de transposicao do passado no presente. © mundo multiforme do acesso livre ao conhecimento por meios digitais (open access), apoiado nas midias sociais e nas aplicagGes para celulares, permitiu compartithar globalmente - e reviver no presente ~ a histéria em piiblico. Alcancar universalmente diversos individuos © grupos, e compartilhar as experiéncias historicas do passado, nunca foi to facil e& disposigdo de quem quer que sea. Acriacao de uma enciclopédia livre e aberta como a Wikipédia e, depois, coma coleta de documentos em todos os formatos, com a Wikimédia, havia posto em movimento, em 2001, as Atualmente, a autoridade cientifica oferecida pelos historiadores piblicos aos museus, arquivos e bibliotecas, estendida @ rede com uma oferta de percursos multimidiaticos, enriqueceu de forma notavel a experiéncia museal, interagindo com ela e colhendo a participacao direta do puiblico. O percurso empreendido por Wales com a Wikipédia foi apoiado por instituicSes culturais do mundo inteiro, que oferecem contetidos histéricos importantes, com conhecimentos reconhecidamente certificados, dentro dos percursos cientificos da histéria publica digital. © piiblico canadense pode assim se emocionar diante dos depoimentos orais ¢ das fotografias das maes do Sri Lanka, e o piiblico desse pats asiatico, depois de décadas de guerra civil, é por sua vez, informado do interesse canadense por Herstories,”® suas histérias, um site da web que universaliza a histéria de uma longa guerra civil, tornando-2 um episédio glocal da historia da humanidade. 74 Cito aqu o exerplo do 500" aniversério de O principe, escrito por Maqulavel,e que se beneficia de atividades de digital public history que sugerem a0 puiblco percursos locals para avalar desse mado 0 patriménio secular. Vero projeto San Casclano Smart Pace. | Fantasmi del Principe, realizado entre 2012 @ 2014 pelo Communication Strategies L2b, diigldo por Luca Toschi na Universidade de Florenca {o%ponfel em: ]. Baseada na “Horner Golkcton” do -Brkish—Instute of Florence [Disponivel em ) 76 Disponivel em: . FIA nce Reve ode sano, vay yp 281 aloo, GINC httpd /wew.ibictbeflinc doi: httpy/dx.doiorgiro.8225/linc.v1iin.797 “i Artigo recebido em 23/02/2015 e aprovado em 25/03/2015, REFERENCIAS ASHTON, Paul; HAMILTON, Paula. History at the crossroad: Australians and the past. Ultimo, NSW: Halstead Press, 2010. BORGES, Jose L. La biblioteca de Babel. In: Ficciones. Madrid: Alianza, 1971. BOYD, Danah; CRAWFORD, Kate. Critical questions for big data. Information, Communication & Society, n. 15, p.662-679, maio 2012. CASTELLS, Manuel. The internet galaxy: reflections on the internet, business, and society. New York: Oxford University Press, 2001. - La nascita della societa in rete. 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