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DUARTE, Cristina Rothier. (El Al) - As Personagens Femininas Nos Contos
DUARTE, Cristina Rothier. (El Al) - As Personagens Femininas Nos Contos
Cristina Rothier Duarte [1], Kleiton Terdis Firmino Rodrigues [2], Patrícia Lins Gomes de
Medeiros Mota [3], Alessandra Gomes Coutinho Ferreira [4]
[1] cristinarothier@hotmail.com, [2] kleitonterdis@yahoo.com.br, [3] patricia.medeiros@ifpb.edu.br, [4] alessandragcferreira@gmail.com -
IFPB - Av. João da Mata, 256, Jaguaribe, João Pessoa - PB
RESUMO
A presente pesquisa trata de uma proposta de análise de personagens femininas protagonistas em dois contos de fadas,
segundo uma perspectiva edípica. Como metodologia, empregou-se pesquisas bibliográficas de cunho qualitativo-
interpretativo. A investigação revelou que, a partir da leitura dos contos de fadas, a resolução dos conflitos enfrentados
pelas meninas em razão do Complexo de Édipo é facilitada. Desse modo, essas narrativas se apresentam como importante
instrumento que pode ser empregado, para que a passagem da menina pela fase edípica seja funcional, aproximando
o seu desfecho da normalidade, o que significa maior possibilidade de um desenvolvimento sem desencadeamento de
distúrbios psicanalíticos que poderiam se refletir em sua vida adulta.
ABSTRACT
This research is a proposal analysis of protagonists female characters in two fairy tales, according to an oedipal perspective.
As methodology, employed to bibliographic search of qualitative-interpretative kind. The investigation revealed that, from
the reading of fairy tales, the resolution of conflicts faced by girls due to the Oedipus Complex is facilitated. Thus, these
narratives are presented as an important tool that can be used for the passage of the girl by the oedipal phase is functional,
approaching its outcome normal, which means greater possibility of development without triggering psychoanalytic
disorders that could be reflected in her adult life.
Outro autor de contos de fadas que merece 3. 3 A categoria analítica personagem
destaque é o dinamarquês Hans Christian Andersen
(1805-1875). Considerado por alguns como o pai da Os contos de fadas estão inseridos na categoria
literatura infantil, entre as mais de cento e cinquenta de narrativas de ficção, segundo a Teoria Literária.
histórias de sua autoria, podemos citar: A roupa nova E, por serem assim classificados, possuem todos os
do Imperador, O Patinho Feio, A Pequena Vendedora elementos literários de um texto narrativo, como o
de Fósforos, A Pequena Sereia e A Princesa e a espaço, o tempo, a ação, o narrador e a personagem.
Ervilha. Os estudos teóricos sobre a personagem a
No Brasil, com influência portuguesa, os contos colocam como um item fundamental das narrativas
de fadas surgiram no final do século XIX, na obra de ficção, a partir da confluência dela com os demais
Contos da Carochinha, de Figueiredo Pimentel.
elementos. Na verdade, para Anatol Rosenfeld, é a
No entanto, para alguns autores, a exemplo
personagem que “com mais nitidez torna patente a
de Lígia Cademartori, a literatura infantil brasileira
ficção e, através dela, a camada imaginária se adensa
iniciou-se com Monteiro Lobato. Considerado nosso
maior expoente e divulgador dos contos de fadas no e se cristaliza” (CANDIDO et al., 2011, p. 21).
Brasil, “sua obra constitui no grande padrão do texto Para Candido, é indissolúvel a ligação que existe
destinado à criança.” (CADEMARTORI, 1986, p. 43). entre a personagem e o enredo e, para confirmar
O Sítio do Picapau Amarelo é a produção literária essa afirmativa, ele menciona uma fala do autor Gide,
de Monteiro Lobato que teve maior destaque. São ao tratar sobre esse tema:
atribuídas ao autor mais de 26 publicações destinadas tento enrolar os fios variados do enredo e a
às crianças. complexidade dos meus pensamentos em
torno destas pequenas bobinas vivas que
3. 2 O gênero conto de fadas são cada uma das minhas personagens
(CANDIDO et al., 2011, p. 54).
Os contos de fadas são narrativas com caracte-
rísticas bastante específicas. A presença de fadas não A categoria personagem é um elemento criado
é o que caracteriza esses contos; podemos encontrar pelo autor do texto (narrativo ou poético), fictício,
contos de fadas sem a figura dessas personagens. escolhido a partir do que a realidade lhe oferece e
As qualidades que cercam os contos de fadas e os cuja unidade e natureza foram concebidas por aquele
distinguem de outros gêneros literários são, segundo que criou o texto (BRAIT, 1985).
Ana Maria Machado (2010), sua universalidade e sua Segundo Beth Brait (1985), em sua obra A
vizinhança com a infância. Essa autora completa: personagem, Aristóteles foi o primeiro a pensar e a
Falar em conto de fadas é evocar histórias levantar aspectos sobre a personagem na Literatura,
para crianças, lembranças domésticas, bem como a sua função em uma obra literária. Ainda
ambiente familiar. Equivale também a uma segundo a autora, o teórico grego teria apontado dois
filiação ao maravilhoso, em que tudo é
aspectos essenciais, que marcam até hoje o conceito
possível acontecer. (MACHADO, 2012, p.
10).
de personagem:
• a personagem como reflexo da pessoa
humana;
Além das qualidades dos contos de fadas • a personagem como construção, cuja exis-
apresentadas anteriormente, segundo Schneider tência obedece às leis particulares que regem o texto.
e Torossian (2009), o poder dos contos de fadas se É com base nesses dois aspectos que teceremos
expressa na magia e na fantasia que despertam na algumas considerações e tentaremos identificar as-
criança. Por esse motivo, os contos de fadas têm sido pectos fundamentais sobre a categoria personagem
alvo de diversos estudos científicos compreendendo – os quais, acreditamos, poderão contribuir para o
as mais variadas ciências, entre elas a Psicanálise. presente estudo sobre a personagem feminina nos
Teóricos literários também têm destinado seu tempo, contos de fadas.
seduzidos pelas personagens fictícias dessas narrati- Brait analisou de maneira bem didática como os
vas, na busca em compreender a construção dessa conceitos de personagem e de pessoa acabaram se
categoria literária. confundindo ao longo do tempo, confusão essa apon-
tada na obra de aristotélica e identificada até mesmo
quando se busca a definição do termo personagem Em uma obra de ficção, fica bem claro para o
nos dicionários. leitor que o conteúdo que ele vai encontrar foge do
A autora identifica que, durante a Idade Média, real e adentra na esfera do imaginário, do fantástico,
se concebia a personagem como um ente não só mas, para que essa obra tenha sentido e possa ser
semelhante, mas ainda melhor que o ser humano, compreendida e aceita pelo leitor, é necessário que
capaz de atuar como um modelo moralizante. ela carregue elementos com aparência de realidade,
No período compreendido entre o fim do século por mais ficcional que seja. Essa regra se aplica, do
XVIII e todo o século XIX, a personagem passou a mesmo modo, às personagens que aparecem na
ser entendida como uma representação do universo narrativa. É necessário que elas, também, possuam
psicológico do seu criador, ou seja, “a personagem essa carga de real.
continua sendo vista como ser antropomórfico, cuja No entanto, a verossimilhança propriamente dita
medida de avaliação é o ser humano” (BRAIT, 1985, se dá de acordo com a organização interna da obra,
p. 39). pois, embora o vínculo com a vida, o desejo de repre-
Somente com o Formalismo Russo, os conceitos sentar o real sejam a chave mestra da eficácia de um
de personagem (ser ficcional) e de pessoa (ser vivo) romance, a condição de seu pleno funcionamento, e,
acabam se distinguindo. A partir de estudos sobre as portanto, do funcionamento das personagens, depen-
particularidades da narrativa, os formalistas passa- de de um critério estético de organização interna.
ram a chamar de fábula “o conjunto de eventos que Tal critério estético pode ser identificado nos ele-
participam da obra de ficção” (BRAIT, 1985, p. 44), mentos apontados por Rosenfeld, quando ele afirma
diferenciando-os da trama, ou seja, da forma como que é
esses mesmos eventos se interligam. graças ao vigor dos detalhes, à ‘veracida-
A personagem foi inserida, portanto, como um de’ de dados insignificantes, à coerência
dos componentes da fábula, de modo que ela “só interna, à lógica das motivações, à causa-
adquire sua especificidade de ser fictício na medida lidade dos eventos etc. (CANDIDO et al.,
em que está submetida aos movimentos, às regras 2011, p. 20),
próprias da trama” (BRAIT, 1985, p. 44). Com isso, ela
passa a ser entendida como um ser de linguagem e que se constrói a verossimilhança nas narrativas
ganha fisionomia própria, de modo que se pode final- ficcionais. Ou seja, são os pequenos detalhes elabo-
mente concebê-la como o fizeram Ducrot e Todorov rados pelo autor que descrevem as personagens, os
(1972 apud BRAIT, 1985, p. 32): “as personagens ambientes e as ações que tornarão verossímil até
representam pessoas, segundo modalidades próprias mesmo um conto de fadas.
da ficção”. E, uma vez que falamos de contos de fadas, é im-
Esclarecida a confusão conceitual, podemos portante para o nosso estudo fazermos essa ressalva,
passar para o segundo aspecto da personagem abor- pois, ainda que esse gênero narrativo apresente um
dado por Aristóteles: a de que ela só existe se seguir mundo imaginário que, em muito pouco, corresponde
as leis que regem o texto. à realidade empírica, notamos que tem sido possível,
Bebendo ainda na fonte aristotélica, podemos ao longo dos séculos, a leitura dessas obras sem que
afirmar que uma das principais leis aplicadas a uma as consideremos falsas. Para Rosenfeld, um fator
narrativa ficcional é a importância da verossimilhança crucial para essa possibilidade é a conivência firmada
para a concepção de uma obra literária dessa natu- entre autor e leitor: “O leitor, parceiro da empresa
reza. Assim, no processo de construção da persona- lúdica, entra no jogo e participa da ‘não-seriedade’
gem, desse ser fictício e inventado, para que seja um dos quase-juízos e do ‘fazer de conta’” (CANDIDO et
tipo eficaz para a narrativa, deverá manter vínculos al, 2011, p. 21).
necessários com a realidade na qual se inspira, seja a O papel da personagem para a elaboração da
realidade individual do romancista, seja a do mundo realidade na ficção também foi tratado por Candido
que o cerca. et al (2011). Para ele, a leitura de um romance, por
A mímesis é o termo mais corrente para conce- exemplo, vai depender da aceitação da verdade da
ber a relação entre realidade e ficção e é, também, de personagem por parte do leitor, de modo que essa
grande valia, quando nos colocamos a refletir sobre deve dar a impressão de que vive, mantendo certas
verossimilhança no mundo imaginário. relações com a realidade do mundo, participando de
um universo de ação e de sensibilidade que possa se atua como protagonista. Como são protagonistas,
comparar ao que enfrentamos em nossa vida. Desse podemos afirmar que as duas se encaixam na função
modo, nos contos de fadas, podemos identificar per- denominada por Bourneuf e Ouellett de agente de
sonagens que trabalham, adoecem, alimentam-se, ação, pois é em torno dessas personagens que o jogo
caçam, casam-se e realizam várias outras ações que de conflitos e as ações da história se desenrolam.
seriam comuns a uma pessoa viva. Indo mais a fundo, Souriau e Propp (apud BRAIT,
Assim, verificamos que não basta a descrição 1985) subdividem o agente de ação em seis catego-
de pormenores para trazer a noção de realidade rias: condutor da ação, oponente, objeto desejado,
para um texto. O detalhe sensível é um poderoso destinatário, adjuvante e árbitro/juiz.
elemento de convicção, que pode ser alcançado A nosso ver, as protagonistas de A Bela Ador-
através da vida que se dá às personagens e, aliado à mecida e de Branca de Neve podem ser classificadas
organização interna da obra, faz com quem surjam as como condutoras da ação, entendendo-as como
mais instigantes e reais obras de ficção. sendo as personagens que dão “o primeiro impulso
à ação; é o que representa a força temática: pode
3.3.1 As funções e categorias da nascer de um desejo, de uma necessidade ou de uma
personagem nos contos A bela adormecida carência” (SOURIAU; PROPP apud BRAIT, 1985, p.
e Branca de Neve 50).
Ora, pode-se dizer que as duas personagens
Para a estudiosa da categoria personagem Beth citadas não devam ser consideradas como aquelas
Brait (1985, p. 12), esse ser fictício que dá vida ao que primeiro impulsionaram a ação nos contos. A
enredo pertence à história, de modo que, Bela Adormecida é fruto de um feitiço de uma fada
se quisermos saber alguma coisa a res- magoada por não ter sido convidada para o banque-
peito de personagens, teremos de enca- te. E Branca de Neve, a todo instante, é vítima de
rar frente a frente a construção do texto, armadilhas que a sua madrasta elabora para matá-la.
a maneira que o autor encontrou para dar Dessa forma, as personagens apareceriam como
forma às suas criaturas, e aí pinçar a in- secundárias, atuando apenas depois de terem sido
dependência, a autonomia e a vida desses
enfeitiçadas ou assediadas.
seres de ficção.
Mas, pensar de tal forma, é esquecer de um
outro ponto destacado por Souriau e Propp: o de
Dessa forma, para entendermos quais as funções que a força temática da personagem nasce de uma
que uma personagem pode assumir, faz-se neces- motivação prévia. Assim, as protagonistas, por mais
sário encará-la não isoladamente, mas dentro do que não tenham sido as primeiras a agir na história,
contexto da história em que ela interage e se revela desencadearão, por meio de suas ações, o enredo do
pelas outras personagens que aparecem na trama. conto, seja por um desejo (a princesa de A Bela Ador-
Com base nessa ideia de que as personagens mecida queria tocar o fuso), por uma necessidade
agem umas sobre as outras, Bourneuf e Ouellett (Branca de Neve precisava fugir de quem lhe queria
definiram quatro funções que uma personagem pode fazer mal e, a partir da fuga, é conferida dinamicidade
desempenhar no universo ficcional de um romance. à narrativa) ou por uma carência.
Por analogia, cremos que são essas mesmas funções Para reforçar essa nossa reflexão, podemos
que podem ser atribuídas às personagens de contos evocar Brait, ao afirmar que
de fadas: elemento decorativo; agente de ação;
porta-voz do autor; e ser fictício com forma própria no Antigo Testamento, assim como nas
epopéias (sic) clássicas ou nos contos de
de existir, sentir e perceber os outros e o mundo
fada, a personagem não é posta em cena
(BOURNEUF; OUELLETT apud BRAIT, 1985, p. 49). por ela mesma, mas por suas aventuras,
Como forma de pôr em prática o que o presente pelo relato de suas ações (1985, p. 56, grifo
trabalho propõe, ou seja, analisar as personagens fe- do autor).
mininas nos contos de fadas, adotamos como corpus
dois contos a partir dos quais iremos trabalhar: A Bela Sendo assim, é mediante as ações das persona-
Adormecida e Branca de Neve. gens protagonistas dos dois contos estudados que
A personagem por nós destacada em cada o enredo dessas histórias faz sentido, de modo que
narrativa é aquela que dá nome à história em que
elas podem ser classificadas, sim, como condutoras pelos principais leitores dos contos ao longo da nar-
da ação. rativa, isto é, as crianças. Essa facilidade em invocar
Uma vez que tratamos sobre as funções das os traços que marcam as personagens protagonistas
personagens em uma narrativa ficcional, podemos femininas dos contos que analisamos contribui para a
buscar identificar como os teóricos categorizam esses assimilação desses pelas crianças e sua identificação
elementos da narrativa. Candido observou que, no sé- com as personagens.
culo XVIII, Johnson (1960) dividiu as personagens em A partir do que foi discutido, passaremos a tratar
duas famílias, levando em consideração as técnicas mais especificamente das personagens femininas
de caracterização das personagens: as personagens protagonistas nos dois contos de fadas analisados no
de costumes e as personagens de natureza. presente trabalho, mas sob a ótica da Psicanálise.
As ‘personagens de costume’ são, portan-
3. 4 A literatura e a psicanálise
to, apresentadas por meio de traços distin-
tivos, fortemente escolhidos e marcados; Traçando um paralelo entre a psicanálise e a
por meio, em suma, de tudo aquilo que os
literatura, considera-se que esta é uma forma de
distingue vistos de fora. Estes traços são
fixados de uma vez para sempre, e cada expressão do inconsciente do artista e, ao mesmo
vez que a personagem surge na ação, tempo, é um meio capaz de instigar o imaginário do
basta invocar um deles. Personagens, em leitor, levando-o a realizar associações e a viajar no
suma, dominados com exclusividade por mundo criativo do narrador.
uma característica invariável e desde logo A literatura, porém, não se limita ao dito. O não
revelada (CANDIDO et al., 2011, p. 61).
dito, aquilo que se encontra nas entrelinhas do escri-
to, além de exercer grande atração sobre o leitor pelo
É dessa forma que Candido descreve as perso- gênero literário, aproxima-o do analista, à medida
nagens de costume, com base na definição elaborada que esse atribui significantes às histórias de vidas que
por Johnson. As personagens de natureza seriam lhes são reveladas nas sessões de psicanálise.
uma categoria oposta, cuja marca é justamente a Segundo Mendes (2005), as teorias de Freud
ausência de regularidade. Elas sempre conferiram à literatura um lugar de destaque,
não são imediatamente identificáveis, e de modo que a psicanálise se manteve para ele em
o autor precisa, a cada mudança de seu uma zona ambígua de indecisão entre a ciência e a
modo de ser, lançar mão de uma carac-
literatura, como se ambas compartilhassem objetivos
terização diferente, geralmente analítica
(CANDIDO et al., 2011, p. 62). semelhantes: a cura pela palavra, no sentido de que
as pessoas procuram a análise e a literatura, quando
Mais recentemente, Forster (apud CANDIDO et precisam de palavras melhores, palavras capazes de
al., 2011) utilizou uma categorização bem parecida, atenuar os seus conflitos e seus dilemas (PHILLIPS
porém adotando os termos personagens planas (flat apud MENDES, 2005).
characters) e personagens esféricas (round charac- Imerso nessa zona de intersecção que alcança
ters). As primeiras corresponderiam às personagens a psicanálise e a literatura, Freud, em seus estudos,
de costumes, enquanto que a definição daquelas revela que, quando nos tornamos adultos, abando-
consideradas esféricas em muito se assemelha com namos as brincadeiras, passando a fantasiar. No
a das personagens de natureza. entanto, essas fantasias são ocultadas em razão
Voltando o nosso olhar, mais uma vez, para as de serem infantis ou proibidas. Aqui, a literatura,
duas protagonistas analisadas em nosso trabalho, então, assume um papel importante, pois, de acordo
podemos considerá-las como sendo personagens com suas teorias, ela vem para substituir o brincar
de costumes ou planas. Isso porque, desde o início da infância, de maneira que, segundo Beckel (apud
dos contos, elas são apresentadas pelo narrador CORSO; CORSO, 2006, p. 16),
com características que, mais tarde, serão facilmente o artista exprime suas fantasias, torna-as
associadas a elas: beleza, pureza, curiosidade etc. aceitáveis e até prazerosas a outros, rea-
O fato de as duas protagonistas serem persona- lizando assim seus desejos e os alheios. O
gens planas facilita, inclusive, o seu reconhecimento poeta deixa sua fantasia se evadir pelo uso
das metáforas, o romancista, pela criação
O conto de fadas, no contexto da base teórica (como acontece com os pais nos contos de
psicanalítica, funciona como “uma saída para que cer- fada), pela qual ninguém pode culpá-lo, já
tas verdades se imponham” (CORSO; CORSO, 2006, que é devida a poderes superiores, além
p. 284) e, como defende Kehl (apud CORSO; CORSO, do mais, isto não a impedirá de conseguir
seu príncipe. A menina pode amar ainda
2006, p. 18), para as crianças, “como antecipações
mais sua mãe porque deposita toda sua
que lhes permitem dominar o medo do mundo raiva na mãe-competidora, que recebe o
cruel que, mais dia menos dia, terão de enfrentar”. que merece (BETTELHEIM, 2002, p. 126).
Portanto, contar histórias, ainda de acordo com essa
psicanalista, “é um meio de ampará-las em suas Dessa forma, a menina não precisa se sentir
angústias, ajudá-las a nomear o que não podia ser culpada, pois o amor pela mãe verdadeira (a pré-e-
dito, ampliar o espaço da fantasia e do pensamento” dípica) não deixou de existir. Como se vê, os contos
(KEHL apud CORSO; CORSO, 2006, p. 18). de fadas permitem, de forma implícita e simbólica,
Conforme os estudos de Bettelheim, no que diz uma solução feliz para o conflito vivenciado pela
respeito ao complexo edipiano nos contos de fadas, menina ao se identificar com a personagem pro-
estes ajudam a menina a enfrentar sua situação edí- tagonista feminina, fazendo com que ela obtenha
pica de acordo com o seguinte raciocínio: o melhor dos dois mundos, que é o que
na fantasia edípica da menina, a mãe é di- necessita para se tornar num adulto segu-
vidida em duas figuras, a mãe boa, mara- ro. Em fantasia, a menina pode vencer a
vilhosa, pré-edípica e a madrasta malvada (mãe) madrasta, cujos esforços para impe-
edípica. (...) A boa mãe prossegue a fanta- dir sua infelicidade com o príncipe fracas-
sia, nunca teria ciúmes de sua filha ou im- sam (BETTELHEIM, 2002, p. 126),
pediria o príncipe (o pai) e a moça de vive-
rem juntos e felizes. Assim, para a menina ao mesmo tempo em que pode desenvolver um
edípica, a crença e confiança na bondade relacionamento saudável com sua mãe real.
da mãe pré-edípica, e uma aprofunda leal-
Acerca da identificação que se dá entre a per-
dade para com ela, tendem a reduzir a cul-
pa em relação àquilo que a menina deseja sonagem e a menina que escuta ou lê o conto, na
que aconteça à (mãe) madrasta que está esteira do pensamento de Candido et al., a perso-
no meio do seu caminho. (BETTELHEIM, nagem desperta em quem lê ou ouve o conto uma
2002, p. 125) adesão afetiva e intelectual, permitindo que a menina
se identifique com ela, projete-se em suas ações e,
Em conformidade com o raciocínio de Bette- de certa forma, transfira-se para a história narrada.
lheim, os contos de fadas permitem que as meninas Assim, “a personagem vive o enredo e as ideias, e os
se identifiquem com as personagens femininas prota- torna vivos” (CANDIDO et al., 2011, p. 54).
gonistas, vítimas das personagens também femininas Nos contos analisados, embora haja a variação
que configuram o mal. Isso ocorre porque os contos do enredo, eles se aproximam em alguns pontos a
representam, de forma simbólica, os problemas seguir elencados:
infantis, e essa representação permite-lhes conviver • todos apresentam, no centro da narrativa,
com seus conflitos e ajuda-lhes a vencer a sua angús- uma personagem feminina, em torno da qual a histó-
tia edípica, pois ria se desenvolve;
se o pai dá menos atenção à filha do que • essa personagem é alvo de perseguição por
ela deseja, ela pode suportar esta ad- uma personagem também feminina caracterizada
versidade porque chegará um príncipe a pela maldade – a fada ressentida, em A Bela Ador-
quem ela preferirá mais do que a todos os mecida, e a madrasta invejosa, em Branca de Neve;
outros rivais. Como tudo ocorre na terra- • em todos os contos, o nascimento da criança
-do-nunca, a criança não precisa se sentir é desejado pela mãe, o que representa a mãe pré-e-
culpada ou ansiosa de projetar (...) a mãe
dípica;
no papel da madrasta ou bruxa miserável.
A menininha pode amar seu pai real mui-
• a mãe da personagem protagonista está
to bem, porque seu ressentimento quanto ausente, em razão de um encantamento ou da morte;
à falta dele em preferir sua mãe e não a • o pai, em A Bela Adormecida e em Branca
ela é explicitada pela infeliz ineficácia dele de Neve, não intervém na história, em favor da filha;
• os contos apresentam um príncipe que livra- do mesmo sexo que representa a mãe edípica (a
rá a protagonista do conflito. esposa do rei caçador), o pai omisso substituído por
Além dos elementos que se comunicam nos con- outro homem, a memória da mãe boa (pré-edípica)
tos estudados, é possível verificar o drama edípico preservada em razão do encantamento.
feminino em ambos, no entanto, cada um marcado Voltando para a versão dos irmãos Grimm,
por uma peculiaridade que incide diretamente sobre apesar de a relação edípica não ser tão explícita, os
a personagem protagonista, o que verificaremos de elementos da história permitem que a analisemos
agora em diante. segundo a visão freudiana: a protagonista enfeitiçada
Em A Bela Adormecida, aparentemente, a nar- pela fada má; o pai omisso; a mãe pré-edípica; a
rativa não enfatiza o Complexo de Édipo como em mãe edípica que com encantamento a separa do pai,
Branca de Neve. Todavia, se nos remetermos à nar- representada pela fada má, e o príncipe que dirime a
rativa original, O Sol, a Lua e Tália, escrita em 1634, trama.
por Giambattista Basile, em sua obra II Pentamerone, Nota-se que, em A Bela Adormecida, existe
veremos o drama edípico claramente. um traço marcante na protagonista que é capaz de
Tália, ao nascer, tem seu futuro adivinhado pelos isentá-la da culpa originária em Édipo: a passividade,
sábios do reino de seu pai: quando crescesse teria representada, no conto, pelo seu estado de sono. As-
o seu dedo espetado por uma farpa de linho. Desse sim, em consonância com que diz Bettelheim (1997,
ferimento decorreria um fim trágico para a menina. p. 48), “um rei substitui o outro rei no mesmo país;
No intuito de evitar que qualquer mal ocorresse à sua um rei substitui outro na vida de Tália – e o pai-rei é
filha, o rei ordena que nunca entre linho no castelo. substituído pelo amante-rei”, e, assim, a menina “não
Todavia, já grande, um certo dia Tália vê uma velha sente responsabilidade pelo que desperta ou deseja
fiando, e, por causa da sua curiosidade, fere-se e cai despertar no pai”. Como se percebe, a princesa, na
em sono profundo. Entristecido, o rei abandona o narrativa, permanece passiva, e tudo que acontece,
castelo. no decorrer da trama, parece alheio a ela, já que
Alguns anos se passam, e um outro rei encon- se encontra em sono profundo. Esse fato revela-se
tra-se caçando, quando seu falcão entra por uma como um meio da isenção da culpa mencionada por
das janelas do castelo de Tália e não retorna. Indo Bettelheim.
em busca da ave, o rei encontra Tália dormindo seu Desse modo, podemos entender que a atitude
sono profundo e se apaixona por sua beleza. Após ter passiva característica da personagem Bela Ador-
coabitado com ela por algum tempo, o rei parte. mecida traduz simbolicamente a ideia de que, ainda
Passados nove meses, Tália, mesmo adorme- que o pai seja omisso, que não lhe dê tanta atenção
cida, dá à luz duas crianças. Durante o seu sono quanto dá a sua mãe, outro homem se fará presente
profundo, as crianças se alimentam do leite materno. em sua vida, substituindo o amor paterno, dirimindo
No entanto, certo dia, não encontrando o seio, uma o conflito infantil, possibilitando a passagem pelo
das crianças suga o seu dedo com tanta força que a Complexo de Édipo de forma saudável para o seu
farpa é retirada, e Tália, finalmente, acorda. desenvolvimento.
Chegada a notícia à rainha, esposa do rei caçador No conto de fadas Branca de Neve, percebemos
que tinha sido traída pelo marido, ela busca vingar- os típicos elementos que formam a relação edípica:
se, ordenando que as crianças fossem cozidas e a figura feminina protagonista, a Branca de Neve; a
dadas de comer ao rei, e Tália fosse jogada ao fogo. mãe pré-edípica que se ausenta em razão da morte;
O cozinheiro, com pena, não cumpre o que lhe fora a rainha má que disputa simbolicamente o amor do
ordenado, esconde as crianças e prepara um cabrito pai; o pai omisso que em nenhum momento busca
no lugar delas. No último minuto que antecede o fim proteger a filha; o príncipe que substituirá o pai.
trágico que Tália teria, o rei chega e consegue salvar O conto ressalta uma relação instável entre a
a princesa. Feliz por ter encontrado Tália e seus dois princesa e sua madrasta. Por parte desta, a emulação
filhos, casa-se com ela. é representada pela inveja que sente de Branca de
Mediante a versão original do conto, torna-se Neve em razão da sua absoluta beleza. A donzela
mais perceptível o drama edípico feminino, e pode- também apresenta a sua rivalidade com a rainha
mos observar a presença de elementos tais como: a má, quando, no final do conto, permite que seja
competição da protagonista com uma personagem obrigada a dançar em sapatinhos de ferro em brasa
até a morte. No entanto, ela isenta-se de culpa, pois o os acontecimentos pelos olhos de Branca de Neve.
conflito surge em razão da maldade de sua madrasta, Assim, na perspectiva da menina, não há problema
além do fato de que não tem qualquer participação na no amor do pai por ela, e também não aceita que sua
punição da rainha má. mãe tenha ciúme dela (filha) com seu pai.
A bondade da personagem é presente e também Mas, num nível pré-consciente, a criança
resguardada através da sua relação com sua mãe, sabe perfeitamente o quão ciumenta ela é
que não é sua rival, primeiro, porque deseja muito da atenção que um dos genitores dedica
conceber a filha; segundo, porque sua boa imagem é ao outro, enquanto que ela acha que deve-
protegida sob o manto da morte, já que ela se afasta ria receber essa atenção para si. Uma vez
de Branca de Neve por circunstâncias alheias a sua que a criança deseja ser amada por ambos
vontade, o falecimento. os genitores [...], é lhe por demais ameaça-
dor imaginar que o amor de um dos geni-
Importante notar ainda que, ao contrário da Bela
tores por ela possa causar ciúme no outro.
Adormecida, Branca de Neve, embora curiosa como
Quando o ciúme (como no caso da rainha
a outra (fato que dá causa ao infortúnio em ambas em Branca de Neve) não pode ser igno-
personagens e dá azo a outros estudos psicanalíticos rado, então é preciso encontrar alguma
relacionados à sexualidade), não é uma personagem outra razão que o explique, tal como nessa
passiva. história, em que ele é atribuído à beleza da
Muito pelo contrário, a protagonista revela uma menina (BETTELHEIM, 2014, p. 283-284).
personalidade laboriosa e diligente, pois, além de
persuadir o caçador para não ser morta, consegue Como se vê, a beleza, atributo da protagonista
livrar-se dos perigos da floresta, encontra abrigo e feminina, cuja inveja provoca o início do que Propp
comida na casa dos sete anões e estabelece com eles (2006) chama de nó da intriga, exerce a mediação para
regras de convivência para sua permanência na casa, que não se dê o sentimento de culpa na menina por
assumindo todas as obrigações domésticas. Enfim, a entender que sua mãe tem ciúmes dela, quando, de
personagem assume atitudes que revelam um ama- acordo com seu modo de pensar e compreender, ela
durecimento compatível com as circunstâncias a que (a menina) deveria ter o amor absoluto de ambos os
é exposta durante a narrativa. pais. A partir do presente estudo, podemos perceber
No conto ora tratado, a beleza apresenta-se que os conflitos infantis pontuados pela psicanálise,
como o impasse, como o problema em torno do qual segundo uma perspectiva edípica, são originados de
a fábula se desenvolve, mas essa situação poderia uma interpretação falsa da realidade – a agonia da
ser simbolizada de outra forma, por exemplo, através castração e o Complexo de Édipo.
do ressentimento da fada que lança a maldição sobre Não obstante seja falsa, é uma interpretação da
a Bela Adormecida. Quando, para as crianças, essa qual as crianças não escapam, e, nesse ponto, con-
situação problema aparece em seu círculo familiar, forme já dito, os contos de fadas vêm, a seu favor,
origina-se o que Bettelheim (1997, p. 29) chama de simbolicamente, apresentar uma saída, justificar o
luta para escapar da existência triádica. seu ciúme pelo genitor do sexo oposto, isentar a sua
Nessa luta, segundo o psicólogo mencionado, a culpa por rivalizar com sua mãe, enfim, provocar na
criança segue um caminho solitário em busca de si criança uma relação que possibilite uma compreen-
mesma, em que as demais pessoas podem facilitar são dessa travessia pela qual passa, sem, contudo,
ou prejudicar sua caminhada, mas não solucionar romper com o encantamento e as maravilhas do
seus problemas para ela. Em Branca de Neve, “[...] mundo do faz de conta.
são os anos que passa com os anões que represen-
tam o período de dificuldades, de elaboração dos pro- 4 Considerações Finais
blemas, seu período de crescimento” (BETTELHEIM,
1997, p. 29). Para a Bela Adormecida, esse período é Esta pesquisa teve como objeto o estudo das
representado pelo período de sono. personagens femininas nos contos de fadas. A partir
A mediação que o conto desempenha na psique de então, a fim de se delimitar o tema, selecionamos
da menina é explicada pelo fato de ela se identificar como fundamentação teórica a perspectiva freudiana,
com a personagem Branca de Neve. Segundo Bette- de modo que, à luz do Complexo de Édipo, buscamos
lheim (2014), ao ocorrer a identificação, a menina vê traçar aspectos psicanalíticos fundamentais das pro-
tagonistas dos contos: A Bela Adormecida e Branca ______. A psicanálise nos contos de fadas.
de Neve. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. Disponível
Partindo dos estudos teóricos realizados, ve- em: <http://www.usp.br/cje/anexos/pierre/apsi-
rificamos que as personagens femininas são objeto canalisefadas.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2015.
de identificação das meninas. Assim, delimitamos,
mais uma vez, a pesquisa, concentrando-a na análise BRAIT, B. A personagem. 3. ed.
edipiana das crianças do sexo feminino. São Paulo: Ática,1985.
A investigação revelou que, a partir da leitura dos
contos de fadas, a resolução dos conflitos enfrenta- CADEMARTORI, L. O que é literatura
dos pelas meninas em razão do Complexo de Édipo, infantil. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1986.
tais como sentimento de culpa, rivalidade com a mãe,
recalque da feminilidade, entre outros, é facilitada. CANDIDO, A. et al. A personagem de ficção.
Desse modo, essas narrativas apresentam-se como 12. ed. São Paulo: Perspectiva, 2011.
importante instrumento que pode ser empregado
para que a passagem da menina pela fase edípica CORSO, D. L.; CORSO, M. Fadas no Divã. 2006.
seja funcional, aproximando o seu desfecho da Disponível em: <http://copyfight.me/Acervo/livros/
normalidade, o que significa uma maior possibilidade CORSO,%20Diana%20Lichtenstein%20&%20
de um desenvolvimento sem desencadeamento de CORSO,%20Ma%CC%81rio%20-%20Fadas%20
distúrbios psicológicos que poderiam se refletir em no%20diva%CC%83%20-%20Psicana%CC%81
sua vida adulta. lise%20nas%20histo%CC%81rias%20
Constatamos, assim, que a leitura dos contos infantis.pdf>. Acesso em: 02 jun. 2015.
de fadas, além do seu caráter de introdução literária
da criança no mundo mágico dos livros – capaz de FREUD, S. Obras Completas: O eu eo id,
despertar sua criatividade, seu interesse pela leitura autobiografia e outros textos:(1923-1925).
– e do seu caráter de entretenimento e diversão, co- Companhia das Letras, 2011.
labora no desenvolvimento psicológico das crianças,
proporcionando ludicamente soluções para proble- MACHADO, A. M. Contos de fadas:
mas complexos que permeiam seu subconsciente, de Perrault, Grimm, Andersen e outros.
processo esse que deve ser operado unicamente pelo Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
próprio infante, mas auxiliado pelos pais, através da
sua apresentação a contos como os ora apresentados MENDES, L.. Psicanálise e teoria da literatura:
como corpus desta pesquisa. dois saberes solidários. In: CONGRESSO DE LE-
TRAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE
JANEIRO, 2., 2005, Rio de Janeiro. Anais... Rio de
REFERÊNCIAS Janiero, 2005. Disponível em: <http://www.filologia.
org.br/cluerjsg/ANAIS/ii/completos/comunicacoes/
BETTELHEIM, B. Na terra das fadas:
leonardomendes.pdf>. Acesso em: 6 jun. 2015.
análise dos personagens femininos. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1997. Disponível em:
PROPP, V. I. Morfologia do conto
<http://files.comunidades.net/ramalde/bruno
maravilhoso. 2. ed. Rio de Janeiro:
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Editora Forense Universitária, 2006.
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Acesso em: 30 abr. 2015.
SCHNEIDER, R. E. F.; TOROSSIAN, S. D.
Contos de fadas: de sua origem à clínica
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contemporânea. Psicologia em Revista, Belo
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Horizonte, v. 15, n. 2, p. 132-148, ago. 2009.