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Frederico - A Imprensa de Esquerda e o Movimento Operário
Frederico - A Imprensa de Esquerda e o Movimento Operário
e o movimento operário
(1964-1984)
A imprensa de esquerda
e o movimento operário
(1964-1984)
1ª edição
Editora Expressão Popular
São Paulo - 2010
Introdução 7
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1
Cf. Celso Frederico, A esquerda e o movimento operário. A resistência à dita-
dura. São Paulo: Ed. Novos Rumos, 1987; A esquerda e o movimento operário.
A crise do “milagre brasileiro”. Belo Horizonte: Ed. Oficina de Livros, 1990; A
esquerda e o movimento operário. A reconstrução. Belo Horizonte: Ed. Oficina
de Livros, 1991.
2
Essas informações referem-se somente ao período 1964/1965. Até 1970 fo-
ram atingidos um total de 49 federações e 483 sindicatos (Cf. Argelina Chei-
bub Figueiredo, “Intervenções sindicais” e o “Novo sindicalismo”, in Dados
nº 17, 1978).
3
Cf. Escrita/Ensaio nº 6, São Paulo: 1980, p. 19.
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Ecos dessa propaganda governamental apareceram numa pesquisa que realizei
em 1970, com um grupo de operários de uma indústria metalúrgica em Santo
André, Cf. Celso Frederico, Consciência Operária no Brasil. São Paulo: Editora
Ática, 1978, esp. pp. 67-72.
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Escrita/Ensaio, op. cit pp. 20-30. Para uma crítica das teorias sobre o populis-
mo, ver Rubens Barbosa Filho, Populismo: Uma Revisão Teórica. Dissertação
de mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, 1980.
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Cf. “Informe de Balanço do CC ao VI Congresso, 1967” e “Resolução Política
do VI Congresso, 1967”, in PCB: Vinte Anos de Política. São Paulo: Livraria
Ed. Ciências Humanas, 1980; e Assis Tavares, “Causas da Derrocada de 1º de
Abril de 1964”, in Revista Civilização Brasileira, nº 8, julho de 1966.
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Cf. O trabalho do PC no movimento operário e sindical (texto
preliminar para coleta de sugestões), (novembro de 1973), p. 60.
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Cf. O metalúrgico, jornal do Sindicato Metalúrgico de Santo An-
dré, nº 4, março de 1968, p. 3.
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to. Isso significa não só que nós não podemos ter nenhuma
ilusão sobre o caráter do sindicato e, portanto, não pode-
mos, em nenhuma circunstância, nos conformar com a pre-
sente estrutura sindical, como também que temos de deixar
bem clara essa nossa atitude diante da classe operária, a fim
de não alimentar ilusões em seu seio e não contribuir para
que ela se conforme com a situação, mesmo em caso de vi-
tórias parciais.
Assim, temos que chegar até o limite extremo compatí-
vel com a situação, não só para desmascarar as lideranças
sindicais, como a própria estrutura, e travar a luta sindical
contra o Ministério do Trabalho. Isso exige que toda ativi-
dade sindical seja acompanhada por um trabalho educativo,
que em toda reivindicação econômica sejam levantadas as
implicações e consequências políticas. E significa, antes de
tudo, que não devemos nos limitar na luta às formas organi-
zatórias que o sindicato hoje oferece. As assembleias sindi-
cais, que podem chegar a ter uma importância excepcional
em diversos momentos da luta, não bastam absolutamente
para organizar e mobilizar a classe. Temos de criar as orga-
nizações de base, como Comitês de Empresas, que ultrapas-
sem a estrutura sindical. Mas, onde houver possibilidades,
em certos ramos industriais mais combativos, de criar ba-
ses sindicais nas fábricas e Conselhos de Representantes de
Fábricas junto às diretorias sindicais (igualmente proibido
pelo Estatuto Padrão) nós não devemos menosprezar essas
formas de organização.
E aí chegamos ao segundo ponto essencial, que deve
orientar nossa atividade nesse terreno. Devemos encarar os
sindicatos como instrumento para chegar às fábricas. O tra-
balho sindical não pode ser nunca um fim em si. Só pode ser
encarado como meio para atingir um fim, e esse é a classe
operária reunida nos centros de produção.
Não estamos, entretanto, querendo dizer que encontra-
mos massa nos sindicatos. Ao contrário, o que os caracteriza
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“Como os trabalhadores se organizam na fábrica para lutar contra o arro-
cho”, in Libertação, nº 4, junho de 1968, p. 5.
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Cf. Roque Aparecido da Silva, 1968 – Novo Sindicalismo, ms., p. 7.
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Cf. José Ibrahim, “Os operários”, in: A esquerda armada no Brasil. Lisboa:
Moraes Editores, 1976, p. 37.
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Um 1º de Maio de luta
Em 1967, a partir principalmente da Comissão da Co-
brasma, mas com operários de outras fábricas (para onde
haviam estendido sua influência), a FNT e o grupo de Osas-
co organizaram uma chapa para as eleições sindicais. A FNT
ficou com a maioria dos cargos, mas o grupo de Osasco teve
maior influência na definição do programa. Este colocava
claramente a luta contra o arrocho, pelo direito de greve, pela
organização de comissões de empresa, pelo reajuste trimestral
de salários; também propunha a adoção do sistema de con-
tratação coletiva de trabalho. Até hoje, este foi o programa
mais avançado de uma chapa eleita para diretoria sindical.
A chapa da situação (Azul) era encabeçada por Re-
nos Amorina (presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de
Osasco de 1965 a 1967 e de 1969 até hoje). Em quase todas
as fábricas, os resultados revelaram um certo equilíbrio en-
tre as duas chapas. A Cobrasma decidiu as eleições em favor
da Chapa Verde.
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uma seção, outro dia de outra e, num outro ainda, falta dos
moradores de um certo bairro ao trabalho.
Por volta do sexto dia, todas as fábricas de Osasco já
funcionavam normalmente. Inúmeros trabalhadores foram
despedidos, outros tiveram que ficar foragidos em função
da busca policial. Mas, tempos depois, a maior parte das
empresas, para evitar problemas, atendeu a algumas reivin-
dicações específicas e deu cotas variáveis de antecipação sa-
larial.
A consumação da derrota
Tanto em Contagem quanto em Osasco, restaram núcleos
organizados. Em Contagem, em outubro (quando o movi-
mento estudantil já se desagregava) ocorreria uma segunda
greve, preparada quase que exclusivamente e detonada a par-
tir das organizações que atuavam na região. Só durou um dia.
Foi totalmente dissolvida pela polícia. E o sindicato sofreu
intervenção.
Em Osasco, os núcleos restantes, em setembro e iní-
cio de outubro, começaram a se reaglutinar para, de novo,
montar a oposição sindical. Entretanto, as lideranças mais
expressivas já estavam mais voltadas para a vida interna de
sua organização política e se preparavam para “abandonar
a cidade” em troca de realizarem a guerrilha. A dificulda-
de para reorganizar a oposição sindical foi ampliada ainda
mais quando, em virtude de sua atuação militarista, os ex-
líderes de Osasco foram sendo presos.
O desdobramento natural do movimento estudantil, o
enfrentamento armado, levara consigo, primeiro para fora
do movimento operário, e depois para a derrota armada,
as principais lideranças operárias. Os elos orgânicos entre
os movimentos de Osasco/Contagem e o movimento ope-
rário posterior foram cortados. Mas a experiência daque-
les movimentos permaneceu. Primeiro, eles foram tomados
como exemplos pelo regime para intimidar a classe operá-
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Cf. Emile Poulat, Naissance des prêtres ouvriers. Ed. Casterman, 1965.
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José Ibrahim, “Os operários”. In A Esquerda Armada, op. cit., p. 79.
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Cf. Programa, p. 25.
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Idem, p. 21.
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Idem, p. 23.
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Idem, p. 22.
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Esta política não era geral – era regional. Nem todos os companheiros da Or-
ganização estavam dentro desta preocupação. Seguiam a política do esponta-
neísmo imediatista.
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c) Quando agitar
“O chamamento dirigido às massas para a ação surgirá
por si mesmo, sempre que haja enérgica agitação política e
denúncias vivas e ressonantes” (Que fazer?). Está destacado
o “quando agitar” porque demos grande importância a esse
aspecto no nosso trabalho. Nós fizemos todas as denúncias
e chamamentos em cima de fatos concretos. O que faltou
foi “política” nesses chamamentos. Mas, assim mesmo, hou-
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e) O jornal da fábrica
Em geral, as fábricas publicam uma revista para os ope-
rários onde falam da grandeza da mesma, sua importância,
o milagre de sua produção etc., como também dos “bons
operários” que tem... Saem fotografias sobre o futebol da fá-
brica, do campeonato interno, do melhor operário da seção
tal etc. Incluindo fotografias da secretária do “Mr. fulano
ou beltrano”. Quem lê a revista vê uma verdadeira confra-
ternização de classes que vai do mais importante executivo
da empresa até o último operário; são meios que servem à
propaganda da fábrica. Um meio para entorpecer a visão do
operário.
E dentro da luta de classes devemos também usar destes
tipos de propaganda. Nesse sentido, é necessário desenvol-
ver a criação de jornais de fábricas onde exista trabalho.
Inclusive a criação de jornal por região, como foi o caso do
jornal O pião, da UNO-SIN (União Operária Sindical).
Na fábrica B, tínhamos um jornal que teve uma ótima
repercussão na massa; saíram 11 números. Saíam mensal-
mente entre os dias 1 e 5 de cada mês.28 Esse jornal fazia
sempre um balanço da situação da fábrica, as lutas que es-
tavam sendo travadas e a serem encaminhadas. Ele refletia
bem o conteúdo do nosso trabalho. Era feito em nível de
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Sempre procurávamos tirar o jornal entre os dias 1 e 5 de cada mês para poder
capitalizar a revolta dos operários contra a empresa, que se agudizava nesse
período por ser ele de pagamento. Porém, se pode correr o risco de ser desco-
berto pela empresa pelo fato de que saía regularmente numa determinada data.
É bom estar alertado à isso.
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2. Fábrica B (1968-1969)
Na fábrica B, foram travadas várias lutas tanto nas se-
ções, como de toda a fábrica. Na Seção A, se travou luta por:
equiparação salarial, pela taxa de insalubridade, e várias lu-
tas ou protestos contra: brutalidade dos chefes, injustiças
contra companheiros, a situação deplorável dos banheiros e
lavatórios (não éramos porcos) etc.
Conseguimos apenas vitórias parciais, equiparação sa-
larial para alguns e também uma maneira menos agressiva
dos chefes, incluindo o deslocamento do engenheiro da se-
ção.
Essas lutas, levadas todas de maneira clandestina, ser-
viram para aumentar o número dos companheiros organi-
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– bater no bandejão;
– jogar comida no chão;
– deixar o bandejão na mesa.
A massa aderiu às palavras de ordem colocando-as em
prática. Houve necessidade de policiar o restaurante com
os guardas da fábrica. E, mesmo assim, diante dos guardas,
houve uma reação parcial da massa. Essa luta teve o seu dia
de maior repercussão quando houve o aumento de preço
do vale para a comida. A fábrica havia colocado, no fim
da jornada, aviso em algumas seções sobre o novo preço
dos vales. E, no dia seguinte, nas filas do restaurante foram
distribuídos “papagaios e mosquitos” sobre a necessidade
de protestar com mais veemência diante de tal medida arbi-
trária. Foi algo extraordinário o protesto deste dia. E, nesse
dia, faltou um certo pulso na condução da luta, pois seria
possível subir numa mesa e chamar a massa a uma parali-
sação parcial contra tal medida injusta. Vacilamos. Quando
nosso trabalho não se fundamenta numa política correta é
em si vacilante e inconsequente. Quem falasse nesse dia seria
despedido; e valeria a pena perder um companheiro naquela
fábrica para a capitalização política de toda a fábrica? Não
tínhamos clareza, não sabíamos o que fazer... São nesses mo-
mentos que a massa passa na frente daqueles que a dirige...
Esse protesto evitou o aumento do vale. Tivemos uma
melhoria significativa da comida e só mais tarde é que veio o
aumento do vale. Já não tínhamos condições para mobilizar
a massa (a comida estava razoavelmente boa).
A luta pelo pagamento da taxa de insalubridade foi le-
vada conjuntamente com o sindicato. Partimos “em busca
da lei trabalhista”:
– fizemos algumas assembleias sindicais da fábrica;
– foi dirigido um ofício à direção da fábrica.
O resultado foi nulo. Começamos a luta de maneira in-
correta: não se deve lutar por pagamento de taxa de insalu-
bridade e sim contra a insalubridade (principalmente nessa
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3. Fábrica C (1970)
Nessa fábrica, as lutas foram conduzidas de maneira si-
milar às da fábrica B. E demos prioridade às lutas gerais.
Pois existia nessa fábrica um bom nível de consciência sin-
dical. No primeiro mês já estávamos com dez companheiros
organizados, reunindo-nos semanalmente. Começamos a
funcionar como Comitê de Fábrica. E pressionamos a fábri-
ca tanto no nível interno (luta reivindicatória clandestina)
como no nível externo (juntamente com o sindicato).
Também foi mandado um ofício à fábrica sobre o pro-
blema da insalubridade e inclusive foi feita uma peritagem.
Porém, nos escapou o controle dessa peritagem, pois no dia
em que a mesma foi realizada a fábrica reduziu a pressão
dos fornos; como consequência, os peritos não viram nada
de insalubre. Também não participou junto dos peritos um
representante do sindicato ou nosso. Com certeza os peritos
foram comprados pela direção da fábrica, o que quase sem-
pre acontece. A luta contra a insalubridade foi levada nos
dois sentidos: denúncia da insalubridade (como acabar com
ela – valor da vida do trabalhador) e o pagamento da taxa
correspondente.
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4. Fábrica D (1970).
Nessa fábrica, travamos as lutas por melhores salários,
contra a insalubridade, por trato humano às mulheres e por
equiparação salarial, tentando lançar o sindicato na frente
da luta sob a nossa direção. Foram distribuídos vários pan-
fletos na porta da fábrica... Eram distribuídos pelo sindicato
e assinado por ele. Mas eram confeccionados por nós, ope-
rários da fábrica.
Resultado: assembleia da fábrica e 11 companheiros
despedidos. Única vitória: pagamento da indenização e do
FGTS. Antes a fábrica não pagava para ninguém. A esses 11
companheiros a seção pessoal efetuou o pagamento da inde-
nização através das grades do portão da fábrica; não lhes foi
permitida a entrada nem mesmo na seção pessoal.
O trabalho junto às operárias dessa fábrica, que eram
um bom número (30% mais ou menos), nos mostrou até
que ponto chega a degradação e a dominação exercida
pela máquina sobre as trabalhadoras. A mulher passa a
ser totalmente dominada pela produção, mais explorada e
mais vendida do que os operários. Era difícil manter conta-
tos, conversas etc., sobre a situação de exploração em que
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Foi o trabalho realizado por O pião da UNO-SIN (União Operária Sindical).
Devemos dar importância na criação de jornais operários regionais e mesmo
nacional.
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Autocrítica – 1967-1973
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“Organizar um partido de novo tipo em função da luta armada”, 1967.
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O arrocho salarial
Em 1969, o salário de um trabalhador chefe de família
em São Paulo era quase 37% inferior a 1958. Mesmo com o
emprego de mais de uma pessoa da família, a renda familiar
ainda não atingia o nível de 1958.
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O fim da estabilidade
O direito à estabilidade no emprego após dez anos de
serviço era uma das grandes conquistas dos trabalhadores
brasileiros. Ainda que os patrões tudo fizessem para burlar a
estabilidade, despedindo os trabalhadores, em muitos casos,
ao chegarem ao limiar de sua aquisição, tratava-se de uma
garantia contra o arbítrio patronal, pois, uma vez adquirida
a estabilidade, o empregado não mais poderia ser despedi-
do, salvo por falta grave apurada em inquérito judicial.
Uma das exigências formuladas pelas empresas impe-
rialistas, que desejavam instalar-se no Brasil, foi de que a
estabilidade fosse suprimida, segundo revelou a publicação
norte-americana Hanson’s Latin American Letter.
Diante dos protestos surgidos por todo o país ao sim-
ples anúncio da possibilidade de extinção da estabilidade, o
regime resolveu adotar uma fórmula engenhosa que, crian-
do um novo sistema de indenizações por tempo de serviço,
vinculado a um fundo constituído dos depósitos de 8% do
valor dos salários, a cargo das empresas, facultava ainda
aos empregados “optar” por esse sistema, podendo em tese
qualquer empregado continuar no regime da estabilidade. A
pressão patronal jogaria aí evidentemente um papel decisivo
para esvaziar a estabilidade.
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A demagogia do PIS
Com a instituição do PIS (Plano de Integração Social), o
regime atendeu a dois importantes objetivos de sua estratégia:
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Acidentes do trabalho
Segundo dados oficiais do Ministério do Trabalho, entre
1969 e 1972, verificaram-se no Brasil mais de 5 milhões de
acidentes do trabalho. Em 1969, o número de acidentados
representava 14,57% do total dos trabalhadores inscritos no
INPS. Mas, em 1972, essa porcentagem subiu para 19,36%.
Isso quer dizer que, em cada cinco operários brasileiros, um
foi acidentado no trabalho.
Somente entre 1970 e 1972, ocorreram 7.600 mortes
e 130 mil operários ficaram definitivamente incapacitados
para o trabalho.
Quais as causas reais dos acidentes do trabalho?
A ditadura tem procurado fazer crer, através de uma mi-
lionária propaganda, que a culpa cabe ao operário e que “a
prevenção de acidentes é ponto de honra da empresa”. A
verdade é que governo e empresas juntos são responsáveis
por essa verdadeira “guerra do trabalho”.
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As formas de luta
Três formas de luta aparecem como as mais usadas.
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A redução da produção
Muito conhecida como “operação-tartaruga”, sempre
foi largamente utilizada em diversas ocasiões, principalmente
antes do golpe, quando era muito generalizada. É a primeira
ideia que passa pela cabeça do operário ao pensar em reagir.
É também, hoje, a mais utilizada. Isso porque requer muito
pouco grau de organização e consegue unir mais facilmente
os operários mais atrasados. É também eficaz, quando se
consegue certa união, pois uma operação-tartaruga de uma
semana poderá significar para o patrão a perda de produção
de um dia.
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A greve disfarçada
O Estado de S. Paulo, tradicional diário das classes domi-
nantes brasileiras, escreveu em sua edição de 25 de novembro
de 1973, sobre a “operação zelo”: “Greve é uma palavra que
não se usa nas relações entre empregados e patrões, porém,
às vezes, somente a palavra não é utilizada. Fala-se muito do
movimento contra as horas extraordinárias, manutenção de
boas relações, operação-tartaruga e, mais recentemente, sur-
giu uma expressão nova, a chamada ‘operação zelo’: o operá-
rio, zeloso ao extremo, diminui o ritmo de produção para que
a máquina não sofra dano. Zela também pela peça acabada.
Zela tanto que o melhor é saber o que está havendo, e para
isso chama-se o sindicato. Uma antecipação salarial acaba
com tanto ‘zelo’ e tudo volta ao normal”.
Mas há outras formas de greves disfarçadas, pequenas
paralisações não declaradas como tais. Consistem geral-
mente em aproveitar uma interrupção normal do trabalho
– mudança de turno, hora do almoço ou do lanche – para
retomar o trabalho 15, 20, 30 minutos depois da hora esta-
belecida.
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Nossa crítica
Antes de mais nada, o artigo começa falando de luta
por uma reivindicação concreta (pagamento integral dos
43% e não desconto da antecipação) e termina sem dizer
se a reivindicação foi conquistada ou não. Sabemos que o
mais importante numa luta por uma reivindicação parcial
(econômica ou política) não é a conquista da reivindicação
em si, mas sim o saldo deixado no grau de consciência e
de organização das massas trabalhadoras. Mas, analisar os
resultados de qualquer luta sem dar-se ao trabalho de dizer
se a reivindicação foi conquistada ou não, como se isso não
tivesse a menor importância, é algo que revela um descom-
promisso com os interesses imediatos dos trabalhadores.
De qualquer forma, estamos certos de que a reivindica-
ção não foi conquistada. A precipitação na deflagração da
operação-tartaruga, os erros na escolha de uma reivindica-
ção que estava muito acima das forças acumuladas pelos
trabalhadores na fábrica não poderiam conduzir o movi-
mento a nenhum tipo de vitória – nem na conquista da rei-
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Como começar
Devemos partir de uma base fixa, que é a nossa própria
seção. Concentramos aí a atividade, para depois estendê-la a
toda a fábrica. Isso pelo seguinte: ao entrarmos na fábrica, ge-
ralmente não contamos com nenhum colega ativo para ajudar
a iniciar o trabalho. Precisamos começar sozinhos, criar as pri-
meiras amizades, conhecer as relações de serviço da seção.
Além disso, sabemos que existe toda uma série de difi-
culdades de comunicação de uma seção para outra, que são
impostas pelos patrões procurando impedir a união entre os
operários. E só com certo tempo é que vamos conseguindo
descobrir as formas de contornar essas dificuldades.
Sabemos que não podem existir receitas ou esquemas
prontos para o início do trabalho porque a realidade varia
de fábrica para fábrica. Existem, é claro, características e
situações gerais que são comuns a todas elas. Mas a particu-
laridade da fábrica, o modo como se aplica a engrenagem da
exploração, somente é possível conhecer através da convi-
vência no serviço e da pesquisa dos problemas mais sentidos
pelos colegas.
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Como organizar
Já vimos que é na própria luta, por pequena que seja,
que nasce a união e o sentido da organização. No início
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Pesquisar e estudar
Nosso método parte sempre da experiência vivida. Os
operários têm um cabedal imenso de conhecimentos nas-
cidos da prática, da experiência da vida, da experiência do
trabalho, da experiência da luta.
O que o operário necessita em primeiro lugar, não é
ser instruído, receber conhecimentos de fora, mas ordenar
o mundo de sua experiência. Só depois devemos ampliar e
aprofundar esses conhecimentos, de modo que os conheci-
mentos científicos transmitidos correspondam a uma exi-
gência e necessidade do operário; senão ele não se assimila,
não faz do conhecimento uma arma.
Ao iniciar o trabalho na fábrica, na convivência do dia
a dia, o militante deve pesquisar e analisar junto aos com-
panheiros como está organizada a produção; como está
evoluindo a mecanização; como está organizado o trabalho;
qual é o custo do produto; qual é o destino do produto, para
onde vai, para quem é vendido, quais os intermediários, até
chegar ao consumidor.
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Questionário da Pesquisa:
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ANEXO 2
Dados gerais
– Estado:
– Cidade:
– Ramo e tipo da produção da fábrica onde houve a
experiência:
– Número de operários da fábrica:
– Época da luta (se possível a data):
A – Preparação da luta
1. Como surgiu e quem propôs a luta?
2. Começou por seção? Qual?
3. Que objetivos foram propostos?
4. Que forma de luta foi proposta?
5. Como se propagou a luta?
6. Se era luta salarial, foi em época de dissídio?
7. Foi luta de uma só fábrica, de algumas, ou da categoria?
8. Foi distribuído algum material escrito de agitação? Qual
ou quais?
9. Houve alguma pichação dentro da fábrica?
10. Que forma de organização foi proposta?
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B – Desenvolvimento da luta
11. Houve que tipo de reuniões na fábrica? Em que partes
da fábrica e em que horário?
12. Houve reuniões fora da fábrica? Em que tipo de locais?
13. Procurou-se o sindicato? Quem e quantos o fizeram?
14. Que expectativa os operários depositaram nos sindicatos?
15. Qual a participação da oposição sindical?
16. Houve assembleias nos sindicatos? Com que participa-
ção de massas?
17. Como foi a atuação dos pelegos?
18. Qual foi o papel do Ministério do Trabalho/Delegacia
Regional?
19. As lideranças foram de que tipo?
– antigas lideranças sindicais;
– novas lideranças sindicais;
– lideranças surgidas espontaneamente na luta.
20. Houve lideranças de fora da fábrica?
21. Qual o nível de participação das diversas camadas da massa?
22. Como foi a participação por seções?
23. As formas de organização propostas foram praticadas
ou surgiram novas formas?
24. Qual a forma de luta adotada durante a luta?
– greve legal;
– greve ilegal;
– operação-tartaruga;
– reivindicação através do sindicato;
– reivindicação através da Justiça do Trabalho;
– abaixo-assinado;
– reclamação coletiva;
– ou outras (que deverão ser explicadas).
25. Quais foram as principais discussões durante a luta?
26. Houve divergências na orientação e propaganda duran-
te a luta? Na fábrica e junto a outros setores do movimento
operário?
28. Foi formada alguma comissão durante a luta?
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C – Desfecho da luta
32. Quais os resultados da luta, considerando as reivindica-
ções feitas?
33. Houve negociação direta com os patrões?
34. Quem representou os operários?
35. Após a luta houve dispensas?
36. Resultou alguma forma de organização que permaneceu
funcionando?
Comissão? Comitê? Grupo?
37. A Oposição Sindical se fortaleceu? Como?
38. Surgiram novas lideranças?
39. Que ligação teve com as lutas seguintes?
40. Aumentou a sindicalização?
41. Que repercussão teve essa luta junto a outras seções, ou
outras fábricas e setores do movimento operário?
***
31
Grupos de Militantes Sindicais da OSMSP dos Setores Sul, Leste, Oeste e Cida-
de Ademar, março de 1979.
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O surgimento da ideia
Quando da grande derrota da classe operária em 1964,
e a consequente repressão e controle sobre a vida sindical
por parte da ditadura instalada, imediatamente os sindica-
listas mais combativos começaram a pensar nas formas mais
adequadas para a retomada da luta. O debate que se abriu
enfrentou imensas dificuldades, principalmente porque a área
sindical era o alvo principal da ação repressiva do novo go-
verno. Além do mais, a única força política organizada no
meio operário tinha como proposta para os seus militantes na
área sindical a pura e simples preservação de posições onde
quer que isso fosse possível, não importa a que preço. Contra
essa proposta de preservar posições através do imobilismo
levantaram-se algumas vozes, e foi dessa crítica que nasceu a
Oposição Sindical. Para um número não desprezível de qua-
dros sindicais de qualidade, a questão não se colocava em
termos da preservação do espaço político através do imobilis-
mo, mas sim, e isso é fundamental, recolocar a questão da luta
sindical em novos termos. Para esses militantes, tratava-se de
iniciar, desde então, a luta por um novo tipo de sindicalismo,
o que colocava a questão da estrutura sindical no centro dos
debates. Essa ideia, que no começo passou apenas pela cabeça
de alguns militantes, encontrou, a partir de 1968-1969, con-
dições para se traduzir em política sindical mais eficiente.
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O momento da autoidentificação
A ação sindical unitária que se estrutura com a reto-
mada da luta da Oposição Sindical, em meados do ano de
1975, diferia profundamente daquela que havia começado e
conduzido esse trabalho até as prisões de 1974. A alteração
da conjuntura política nacional, cujo alcance não era ain-
da muito claro para ninguém, propiciou o renascimento de
muitos dos pequenos grupos que resultaram dos “rachas”
sucessivos do período foquista. Ao mesmo tempo, os mi-
litantes operários ligados à Igreja Católica, e que haviam
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APRESENTAÇÃO
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Amador Bueno, “Metalúrgicos de São Bernardo”, in Voz operária, julho de
1970, p. 7.
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Cf. IstoÉ, nº 58, 1978, p. 9.
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I – A greve de 1978
Os anos de 1978-1980 foram marcados pelas grandes
greves que tiveram à frente os metalúrgicos de São Bernardo
do Campo.
O ciclo grevista iniciou-se no dia 12 de maio de 1978,
quando os trabalhadores da Saab-Scania pararam as máqui-
nas. A greve espontânea logo se alastrou por São Bernardo e,
em seguida, por todo o país, forçando as indústrias a negocia-
rem em separado com os trabalhadores de cada fábrica.
A greve de 1978 foi a primeira resposta operária coletiva
aos longos anos de arrocho. A resistência nas indústrias, que
vinha se processando durante toda a década de 1970, teve nas
denúncias de manipulação salarial levantadas pela grande im-
prensa um acontecimento capaz de potenciar a revolta operá-
ria. A deflagração da greve, sem uma liderança, sem preparo,
sem piquetes, sem a presença coordenadora do sindicato, é
um fenômeno único em nossa história social. Os operários
limitaram-se a cruzar os braços diante das máquinas e perma-
neceram nessa posição silenciosa de recusa e rebeldia.
O ciclo de greves iniciado em 1978 gerou copiosa litera-
tura. O afrouxamento da censura à imprensa permitiu que
os grandes jornais dessem uma cobertura diária aos aconte-
cimentos. Paralelamente, esse é o momento de consolidação
da imprensa sindical e de emergência dos jornais
Uma novidade do período é a realização de filmes, do-
cumentários, vídeos e álbuns fotográficos sobre o movimen-
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DOCUMENTOS
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Balanço
Como podemos, nesta altura dos acontecimentos, tentar
organizar as ideias sobre esse movimento e alinhar elemen-
tos de um balanço? A primeira ideia central a fixar é a de
que essas greves são um momento de cristalização de um
longo processo de acumulação de forças, processo que se
havia acelerado desde antes das eleições parlamentares de
1974 (e que foi, portanto, um dos fatores da amplitude da
vitória então obtida pela oposição). Não houve nada pare-
cido com uma “explosão” a não ser para aqueles que não
estavam vendo o que ocorria.
Movimento espontâneo? Não há movimento social sem
base espontânea. No sentido de que não foram manipuladas,
decididas fora das fábricas e dos sindicatos, articuladas em
segredo por quem quer que seja, cabe o adjetivo espontâneo
para falar dessas greves. Mas só nesse sentido. A verdade é
que os próprios sindicatos previram com grande antecedên-
cia, cerca de um ano, a possibilidade de eclosão do movimento
grevista, basta folhear a imprensa da época para verificá-la.
Para entender por que essas greves começaram em
maio de 1978, como se tornaram possíveis e porque tive-
ram determinadas características é preciso considerar todo
um conjunto de iniciativas e de atividades políticas que as
precedeu. Se a eclosão das greves e seu sucesso fortalecem
o movimento democrático, ela foi influenciada por esse pró-
prio movimento.
As greves, concretamente, foram influenciadas pela
atividade do MDB, dos comunistas e outras forças com as
quais trabalhamos em comum, da Igreja Católica e de cor-
rentes socialistas como a que produziu a crítica acadêmica
recente do movimento sindical.
Além disso, foram influenciadas pela análise da situação
política nacional que se foi tornando consensual no país, e
que permitiu o início concreto da formação de uma ampla
frente pela democracia. E também pela chamada grande im-
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As greves de 1978
(Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo)
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2. As greves de maio-junho
Não foi por acaso que as greves ressurgiram no ABC,
pois foi aí, principalmente, que as mudanças no sindicalis-
mo vieram se somar à situação econômica precária dos ope-
rários e às mudanças políticas no país, que aumentavam a
disposição de luta da massa. Foi só os operários da Scania
em São Bernardo pararem no dia 12 de maio, que, uma após
outra, as grandes e as pequenas fábricas do ABC foram pa-
rando e obtendo aumentos acima dos permitidos pela lei
do arrocho, não sem ter que resistir às ameaças e mentiras
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3. A greve de outubro-novembro
Em outubro-novembro, os sindicatos pelegos estimula-
ram e ajudaram a preparar as greves para não perder o con-
trole do movimento e em seguida sabotá-lo de mil formas.
Para isso, se apoiaram nos setores menos organizados e mais
atrasados da classe.
Quando as assembleias de outubro ainda tinham peque-
no comparecimento e os pelegos abriam a campanha sala-
rial com negociações na Fiesp sentindo a perspectiva inevi-
tável da greve, eles já publicamente ameaçavam de convocar
a classe à greve, tentando obter um acordo que a evitasse.
Nas grandes assembleias que se seguiram, não havia outra
alternativa aos pelegos senão decretar a greve. Caso não
o fizessem, a massa passaria por cima deles. Além de que,
decretando a greve, eles a mantinham em suas mãos para
acabar com ela na primeira oportunidade. Foi o que fizeram
obrigando a massa a aceitar uma contraproposta patronal
que ela não queria aceitar. Conseguiram isso através do uso
de todo o seu arsenal de manobra, que ia desde estender a
assembleia e provocar nela conflitos, até boa parte da massa
se retirar cansada e desiludida, desde mentir sobre os itens
da contraproposta patronal ou deixá-los confusos, desde fa-
lar em iminente intervenção no sindicato, até adiar a vota-
ção para o voto individual no dia seguinte, até simplesmente
manusear desonestamente o sistema de som...
A greve foi decretada nas assembleias dos sindicatos,
mas, afora raros casos de piquetes, os operários tinham que
tomar a iniciativa de parar dentro da fábrica. Isso exigia al-
gum grau de organização e o surgimento de líderes em cada
fábrica. Mas os dirigentes sindicais, em vez de estimularem
a formação e a experiência da organização fabril nesse mo-
mento extremamente favorável, apenas deixavam os operá-
rios esperar as negociações e as assembleias. E para as nego-
ciações utilizavam as comissões anteriormente eleitas como
apêndices corresponsáveis pelas manobras deles, sem pro-
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Tolices
As críticas começam com resmungos contra a “ausência
de organização das massas e o excesso de centralização das
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Desvairio
E que leviandade falar em desmobilização da categoria
por causa da suspensão da greve! Por que os “críticos” não
defenderam a manutenção da greve na assembleia que vo-
tou por unanimidade pela sua suspensão? Na hora se enco-
lheram, para depois dar entrevistas em jornais, dizendo que
a suspensão foi desmobilizadora.
Que os críticos tenham se desmobilizado é um proble-
ma deles. Os metalúrgicos do ABC, especialmente os de São
Bernardo, que eram o coração da greve, não se sentiram
desmobilizados. Prosseguiram fazendo greve de horas ex-
tras, minando a resistência da Fiesp, obrigando-a a correr
atrás dos dirigentes sindicais “cassados” pela intervenção
para negociar, obrigando-a a tornar-se menos intransigente
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Direção correta
Os críticos do movimento do ABC deveriam ser menos
pedantes, menos cabeças-duras e mais humildes para estu-
dar sem preconceitos “ultraesquerdistas” a luta do ABC e
aprender com ela.
A direção imprimida à luta pelas lideranças do ABC
foi essencialmente concreta em todas as questões decisivas.
Uma direção para ninguém botar defeito. Uma direção que,
no plano sindical, extraiu tudo que a correlação de forças
permitia que se extraísse, tanto do ponto de vista da mobi-
lização e organização das massas, quanto do ponto de vista
das conquistas salariais para os trabalhadores.
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O verdadeiro sindicato
No primeiro de maio, Lula disse que um verdadeiro sin-
dicato são os trabalhadores organizados nas fábricas. No
dia 13, ele comprovou isso. Não era ele o verdadeiro sindi-
cato, mas sim os trabalhadores da Volks, da Ford, da Villa-
res, que decidiram, organizaram e fizeram a greve, obrigan-
do os patrões a recuarem. É esta a tarefa dos metalúrgicos
do ABC: organizarem um verdadeiro sindicato, de toda a
categoria, baseado nas comissões de fábricas eleitas seção
por seção. Um sindicato livre. Os trabalhadores precisam se
organizar por conta própria e seguirem a direção não de um
homem, de um líder, mas uma direção coletiva, construída
desde as fábricas. O presidente desse sindicato livre pode ser
até o Lula, ou qualquer trabalhador, mas as decisões serão
tomadas pelos próprios trabalhadores, organizados em suas
comissões e em seu comando de greve.
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Chega de pelegos!
(Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo)
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Em São Luís do Maranhão, em setembro, e Florianópolis, em novembro de
1979, estudantes e outros setores populares foram às ruas protestar contra a
carestia e a falta de liberdades. Em Florianópolis, investiram contra o presiden-
te Figueiredo e alguns ministros.
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A social-democracia é uma das correntes reformistas que atuam no movimento
operário, principalmente na Europa ocidental. Prega a conciliação entre empre-
gados e patrões e pretende chegar ao socialismo através de um caminho gradati-
vo e puramente eleitoral, combinando a democracia burguesa com o socialismo
operário. Na prática, acaba apenas fazendo reformas no capitalismo vigente,
como o demonstra a experiência do Partido Social-Democrata na Alemanha oci-
dental, do Partido Social-Democrata na Suécia ou do Partido Trabalhista na In-
glaterra. Esses partidos já estiveram no governo várias vezes e o utilizaram para
“melhorar” o capitalismo e não para substituí-lo pelo socialismo.
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O socialismo científico, fundado por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich En-
gels (1820-1895), sustenta que a libertação dos trabalhadores só pode ocorrer
pela própria luta dos trabalhadores, encabeçados pelos operários. E que, para
libertar-se completamente, os trabalhadores precisam, em primeiro lugar, con-
quistar uma democracia nova, só deles, sem a participação de capitalistas e ou-
tros exploradores; e, em seguida, acabar com todas as formas de propriedade
privada dos meios de produção e de exploração do trabalho, construindo uma
sociedade nova, socialista, baseada na propriedade social, no trabalho coletivo
e na fraternidade e ajuda mútua entre todos os trabalhadores.
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Apresentação
As greves desencadeadas a partir de 1978 no ABC mar-
cam o ressurgimento do movimento operário como eixo
fundamental e decisivo para a construção de uma verdadei-
ra democracia no Brasil.
Nós, trabalhadores, ferimos de modo consequente as
bases fundamentais do regime, o arrocho salarial, que desde
1984 é o suporte principal da política econômica da dita-
dura e ao mesmo tempo, nesse processo de lutas, rompe-
mos a legislação repressiva, como a lei de greve, uma das
amarras necessárias para a manutenção da superexploração
das massas trabalhadoras. Temos claro, no entanto, que a
liquidação desses suportes só será possível através de um
amplo e poderoso movimento democrático de massas, onde
a classe operária desempenha papel fundamental.
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Temos claro também que não foi por acaso que essa
irrupção do movimento operário se deu no ABC, pois é aqui
que se encontra o coração industrial do país, e uma das ta-
xas mais altas de exploração monopolista. Ao contrário do
que nos acusam, de constituirmos uma elite, o motor do mo-
vimento grevista foram justamente as condições miseráveis
de vida e de trabalho em que nos encontramos.
Nós, trabalhadores, imprimimos um caráter novo nas
lutas oposicionistas no Brasil. Com a perda de nossos sindi-
catos e com a destituição de todas as nossas lideranças, sem
nenhum amparo político legal e com o seu enquadramen-
to político na LSN, acarretou-nos, consequentemente, uma
temporária desorganização de nossas forças.
Nós, trabalhadores do ABC, que fazemos parte do co-
ração e da cabeça da classe operária, queremos dirigir-nos a
ela e às massas trabalhadoras em geral para uma luta fun-
damental: a retomada dos nossos sindicatos. Essa luta, no
entanto, não será possível se nós não refletirmos sobre o
último movimento grevista e todas as suas injunções. Prin-
cipalmente aquelas das quais não temos uma precisa visão
política, também contribuíram para que o inimigo – que tem
clara consciência de nosso papel – se recompusesse e nos
acertasse um profundo golpe: tirando-nos o nosso elo cen-
tral e aglutinador que é o sindicato.
Estamos atravessando os momentos seguintes aos de
uma grande luta, tal como em 1978 e 1979. Entretanto,
como a luta atual tem qualidades diferentes, o quadro atual
não é o mesmo dos momentos seguintes daquelas lutas. A
diferença básica está em que aquelas batalhas foram duas
grandes vitórias para nossa categoria e, hoje, não podemos
afirmar o mesmo.
Assistimos ao fato de ver nosso sindicato ocupado pela
polícia, dirigido por interventores, com seus melhores fun-
cionários, que são nossos companheiros, demitidos e nós
obrigados a nos reunirmos, ou reiniciarmos nossa ofensiva,
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Baluartismo – Unidade
O primeiro advém principalmente de um certo baluar-
tismo que caracterizou nosso passado recente. A grandeza
de nossa categoria, sua bravura e coragem extraordinária,
nos fez tirar conclusões erradas, pois, certamente, para im-
por uma derrota que é sempre como se coloca a luta (vitória
ou derrota de um dos lados), é preciso mais que a coragem
e a bravura dos trabalhadores de São Bernardo. A essência
desse baluartismo consistia em supervalorizar nossas forças,
desprezando as outras forças do sindicalismo. É necessário
entender, por outro lado, que bravos, explorados, em desgra-
çada situação de miséria encontra-se o conjunto dos traba-
lhadores brasileiros e, por isso mesmo, a grande disposição
de luta desse conjunto. Basta lembrar 1979: grandes greves
o ano inteiro, no país inteiro. Neste ano, a coisa começou do
mesmo jeito. Assistimos à luta vitoriosa dos companheiros
do Porto de Santos, assistimos à disposição da vanguarda
dos motoristas (mesmo com pouca preparação política) de
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A condução da greve
Por último, outra raiz determinante para a derrota, foi
a questão da condução da greve onde, a nosso ver, houve
um grave equívoco. Já dissemos o quanto foi grande nossa
preparação para a greve. Já dissemos o quanto foi grande
a energia humana com a qual iniciamos a luta e podemos
afirmar que no decorrer da luta essa energia duplicou. A
coragem, a certeza inicial de uma vitória, a vontade inque-
brantável, transformou cada companheiro trabalhador num
verdadeiro gigante. Assistimos a um verdadeiro carnaval de
terrorismo e violência por parte da polícia militar, Exército
e demais órgãos de repressão sem que isso chegasse a causar
a menor intimidação aos nossos bravos combatentes que,
presos, a única preocupação que tinham era sair da cadeia e
voltar rapidamente à luta com a coragem redobrada.
Apesar de sabermos de tudo isso, estabelecemos a priori
uma tática de recuo – sob o pretexto de evitar o confronto
– que foi pouco a pouco nos autoesmagando, criando condi-
ções propícias para o inimigo nos combater, já a essa altura
no terreno militar. Sabíamos perfeitamente, e os patrões e
o governo também sabiam, que nossa força residia funda-
mentalmente na nossa capacidade de garantirmos o direi-
to democrático de realizarmos grandes assembleias. Que a
força de cada trabalhador consistia no ato de ele ver a seu
lado 40, 50, 60, 80, 100 mil companheiros naquelas imensas
manifestações de unidade. Era acima de tudo necessário ga-
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Comparar o projeto de programa do PT, lançado em sua primeira reunião
nacional, com o programa de fundação da CGT francesa, na primeira década
do século. Nota-se a dificuldade de ambos em separar aquilo que é do âmbito
sindical, daquilo que não é sindical, mas sim político.
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Um balanço da greve
A greve não conseguiu transformar nenhuma das rei-
vindicações dos metalúrgicos em realidade. Esse argumento
por si só bastaria para dizer que a greve não foi um inteiro
sucesso. O que dizer, então, quando consideramos que ela
teve, como consequência direta, a intervenção nos dois sin-
dicatos mais avançados e combativos – o de São Bernardo e
o de Santo André – além de ter ocasionado, até o início do
mês de junho, 13 mil desempregos registrados nos sindica-
tos da categoria.
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Com isso, estariam jogando a população consumidora, que não é pequena, con-
tra a luta dos operários. No fundo, estariam com isso ajudando o patrão a trans-
ferir a responsabilidade pela qualidade do produto colocado à venda aos operá-
rios que o produziram. Isso tudo, além de dar uma “tremenda justa causa”.
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APRESENTAÇÃO
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DOCUMENTOS
O que é a Anampos
A Anampos (Articulação Nacional de Movimentos Po-
pulares e Sindical) se constitui numa articulação ou corrente
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Os seminários da Anampos
A nossa articulação nasceu da necessidade sentida por
alguns dirigentes sindicais comprometidos com as lutas
da classe trabalhadora da cidade e do campo, de unificar
as nossas forças para podermos enfrentar aqueles que nos
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Grau de
Nº de % do Nº de
Categoria representação
delegados Conclat entidades
(em milhões)
Sind. Industriais 1.076 27% 3,3 158
Sind. Terciários 1.186 27% 3,3 197
Sind. Rurais 1.658 26% 3,1 310
Func. Públicos 483 8% 1,0 99
Assoc. (Serviços) 588 12% 1,6 134
Total 5.059* 100% 12,6 912*
Fonte: Secretaria da CUT
* As diferenças das somas devem-se ao fato de que federações e entidades
nacionais não estão lançadas na tabela.
Federações – 5 federações e 35 delegados;
Entidades nacionais – 9 entidades e 33 delegados.
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não tem mais o que propor, a não ser uma fusão completa
com o PCB, onde já encontra há algum tempo a maioria
dissidente desse agrupamento.
A criação da CUT deverá marcar não só a reformulação
da política sindical em todo o país, mas, principalmente, a
possibilidade de isolar rapidamente as diretorias sindicais pe-
legas. O avanço dessa luta colocará em xeque a visão ortodo-
xa que ainda predomina nos partidos comunistas tradicionais,
exigindo reformulações teóricas e práticas em curto prazo.
E, mais do que isso, politizará o movimento sindical porque,
além do Decreto-lei 2.045 e da reforma agrária, a CUT tem
como alvo imediato acabar com a atual legislação trabalhista
e abrir fogo contra a política econômica do governo.
A reação do regime, as reformulações que já se fazem
presentes e a consolidação da CUT são passos importantes
que implicarão, sem dúvida, a definição dos rumos políticos
do país.
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Questão sindical:
– a “Unidade” defendia a unicidade sindical, a manu-
tenção ou extinção gradual do imposto sindical e o
critério sindical, ou seja, nas organizações intersindi-
cais deveriam estar representadas as entidades;
– a “Oposição” defendia o pluralismo e o fim imediato
do imposto sindical; praticava o sindicalismo para-
lelo; nas direções das organizações intersindicais de-
fendia o critério de pessoas e não de entidades;
– a “Unidade” condicionava a criação da CUT a um
prévio fortalecimento do movimento sindical, à maior
participação das bases, à consolidação das intersin-
dicais estaduais e, principalmente, à incorporação da
maioria das entidades que não participavam. Defendia
que a Central fosse efetivamente Única, incorporando
todas as entidades, independentemente da posição po-
lítica ou da combatividade de seus dirigentes;
– a “Oposição” desejava apressar a criação da CUT, pois
acreditava que a sua existência é que propiciaria o for-
talecimento do movimento sindical e aumentaria a
participação das bases. Era contra a incorporação das
demais confederações e dos sindicalistas mais atrasa-
dos. Defendia a “CUT combativa e pelas bases”.
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Formas de luta:
– a “Unidade” pregava formas de luta compatíveis com
os diferentes níveis de organização e consciência dos
trabalhadores, procurava conjugar várias formas de
luta (greves, manifestações etc.);
– a “Oposição” subestimava qualquer forma de luta
que não fosse a greve geral. Procurou convocá-la di-
versas vezes. A greve geral era mais um fim do que
um meio de luta. Transformou-se na sua grande ban-
deira.
Tática política:
– a “Unidade” desenvolvia a política de frente democrá-
tica na luta contra a ditadura, tentava articular-se com
a sociedade civil e as forças democráticas. Levantava a
bandeira da Constituinte e da unidade das oposições;
– a “Oposição” apontava para uma política de frente
de esquerda, subestimando a luta institucional e as
alianças com os liberais. Só aceitava a Constituinte
desde que “convocada pelo povo, livre, soberana e
precedida da derrubada do regime militar”.
Essas divergências, que permearam o movimento desde
os Enclats (Encontros Estaduais da Classe Trabalhadora),
passando pela 1ª Conclat, cristalizaram-se até o momento
da divisão orgânica.
No campo das bandeiras e reivindicações, entretanto,
forjava-se uma grande unidade em torno das consignas
principais:
– contra o arrocho salarial;
– estabilidade no emprego;
– reforma agrária;
– defesa das estatais;
– liberdades democráticas.
A maior divergência, nesse campo, era com relação à
dívida externa. Enquanto na “Unidade” algumas correntes
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4, 5 e 6 de novembro de 1983
– O Congresso de Praia Grande cria a Conclat que,
mais tarde passa a chamar-se CGT.
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