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A beleza e a leveza do dia

Havia um prego preso frouxamente à parede de um colecionador de quadros. Ele vivia


bem, estava cercado de amigos e sempre poderia ver a beleza que o cercava. Em
dias alternados, o colecionador trocava os quadros de lugar e o prego poderia
aproveitar a leveza e a beleza. No entanto, nos dias em que tinha que suportar o peso
de um quadro, a situação aborrecia-o profundamente.
Cansado das condições de vida que levava, aproveitou uma oportunidade de leveza
para escapar; fez força e saiu do seu buraco na parede. Seus companheiros
reclamaram e um ficou totalmente arrasado, pois na queda, o prego fugitivo rasgou
seu quadro.
O dono, triste, presumiu que a culpa era sua e tornou a colocá-lo em seu lugar com
um quadro. O prego ficou irritadíssimo, pois aproveitara a sensação de queda e
liberdade de movimento.
Esperou a oportunidade de um dia sem o habitual peso e se soltou novamente. Só que
dessa vez, não foi um quadro rasgado, mas sim, o olho da netinha do colecionador;
ela quase ficou cega... o prego não se importou, tudo o que buscava era a sua
liberdade e estaria disposto a tudo para alcançá-la.
Até que bolou um plano ousado, um plano que seus amigos tentaram, feito loucos,
impedir. O colecionador acreditava que nenhum dos acidentes fora culpa do prego e,
sim, dele mesmo. Por isso, o prego o forçaria a ter outro destino, um que ele mesmo
imaginou e trabalhou para.
O prego esperou pacientemente até o dia em que estivesse com um quadro
razoavelmente valioso; o dia chegou e ele pulou. Caíram ele e o quadro em frente aos
olhos do colecionador que entendeu que não havia como o prego voltar à parede, pois
não poderia confiar mais nele. E, indiretamente, deu a ele o que o prego mais queria: a
liberdade da queda e a beleza do dia na caixa de usados do colecionador.
Caixa esta que continha outros pregos que pensavam igualmente a ele e que
sonharam sonhos iguais aos dele. Finalmente, depois de anos na parede, o prego
conseguiu a beleza e a leveza, pois o colecionador abria a caixa todos os dias.
Autoras: Izabela Fernandes Simão e Luisa Lucchesi de Carvalho Leite,

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