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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

A Constituição da História Como Ciência

Nome: Pedro Guerra Senzecua

Código: 708226324

Curso: Lic. Ensino de História

Disciplina: Evolução do Pensamento


Histórico

Ano de frequência: 2º Ano

Docente: Sílvio Manuel Francisco César

Quelimane, Maio de 2023


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r

 Capa 0.5
 Índice 0.5
Estrutura Aspectos  Introdução 0.5
organizacionai  Discussão 0.5
s
 Conclusão 0.5
 Bibliografia 0.5
 Contextualização
(Indicação clara do 1.0
problema)
Introdução  Descrição dos 1.0
objectivos
 Metodologia
adequada ao objecto 2.0
do trabalho
 Articulação e
domínio do discurso
Conteúdo académico 2.0
(expressão escrita
Análise e cuidada, coerência /
discussão coesão textual)
 Revisão
bibliográfica
nacional e 2.0
internacionais
relevantes na área
de estudo
 Exploração dos 2.0
dados
Conclusão  Contributos teóricos 2.0
práticos
 Paginação, tipo e
Aspectos Formatação tamanho de letra,
gerais paragrafo, 1.0
espaçamento entre
linhas
Normas APA  Rigor e coerência
Referências 6ª edição em das
Bibliográfica citações e citações/referências 4.0
s bibliografia bibliográficas
Índice

1. Introdução ........................................................................................................................ 3

1. Objectivos ........................................................................................................................ 3

2. Metodologias ................................................................................................................... 3

2. A Constituição da História Como Ciência .......................................................................... 4

2.1.1. O aporte de Tucídides para a constituição da ciência histórica na Alemanha do


século XIX .................................................................................................................................. 6

2.2. O objecto de estudo da História, tendo em conta o caminho percorrido ......................... 8

2.2.1. História do Objecto da História ................................................................................... 9

2.3. Os principais historiadores que contribuíram para a cientificação da História. ............ 11

3. Conclusão ...................................................................................................................... 13

4. Referência bibliográfica .................................................................................................... 14


1. Introdução

Para compreendermos nossa situação actual temos, portanto, de identificar não só as


semelhanças do presente com o passado como suas diferenças em relação ao futuro.

Tornou-se corrente admitir que a reflexão histórica tem suas raízes na Antiguidade
clássica, mais especialmente em Heródoto e em Tucídides. Esses autores de língua grega
marcaram o ponto de partida de François Châtelet, que em um texto clássico publicado em
1962 definiu a Grécia como o berço do pensamento histórico ocidental. Châtelet, desde a
perspectiva filosófica, utiliza em seu título um termo próprio: historienne, cunhado pela
língua francesa para designar o sentido do pensamento histórico enquanto produzido por uma
reflexão intencionalmente voltada para a organização crítica da memória como fundamento
do sentido da sociedade, da política e da cultura respectiva. Esse termo é empregado
distintamente do adjectivo habitual, histórico (historique), aplicável para Châtelet a qualquer
pensamento racional que lide com a acção humana no tempo.

1. Objectivos

1.1.1. Objectivo Geral


 Compreender a Constituição da História Como Ciência.
1.1.2. Objectivos Específicos
 Descrever os caminhos para a consolidação da História como ciência.
 Identificar o objecto de estudo da História, tendo em conta o caminho percorrido.
 Mencionar os principais historiadores que contribuíram para a cientificação da
História.

2. Metodologias

De acordo com Marconi & Lakatos, (2003), qualquer pesquisa depende de uma
pesquisa bibliográfica, factores, magnitude e aspectos tomados no passado a partir do material
já elaborados de diversos autores sobre o assunto em análise. Este método permite
compreender as diversas opiniões de autores sobre o tema em pesquisa. Para a materialização
do trabalho utilizou se a técnica de pesquisa bibliografia.

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2. A Constituição da História Como Ciência

1. As mutações que levaram à constituição da história como ciência no começo do


século XIX
i. A reestruturação da universidade prussiana

O primeiro elemento que deve ser levado em conta é o contexto que produziu a
reestruturação da universidade prussiana. Em 14 de Outubro de 1806, a derrota dos exércitos
prussianos, em Iena, permitiu a Napoleão entrar em Berlim. A prestigiosa universidade perdeu
toda sua aura nesse momento.

A ocupação francesa provocou, igualmente, a perda da universidade de Halle, na


Vestfália, fundada em 1694 pelo eleitor8 Frederico III de Brandeburgo. Ora, na luta contra o
invasor e na obra de recuperação, imediatamente, empreendidas sob o nome de “guerras de
liberação” (Freiheitskriege), a reconstrução da universidade ocupou um lugar
importantíssimo. Essa escolha, que pode causar admiração, haja vista a cultura militar das
elites prussianas, proveio do fato de que os fundadores da universidade eram altos
funcionários e muito cultos, produtos do Estado e da Aufklãrung, estabelecidos na Prússia.

A partir de 1810, foi fundada, por iniciativa de Humboldt, a nova universidade de Berlim
(seguiram-se a de Breslávia e a de Bonn) e reaberta a Academia. Berlim tornou-se então, em
alguns anos, o centro mais importante dos estudos “filológicos” na Europa. Por “filologia”,
entendiam-se todas as disciplinas dedicadas à Antiguidade Clássica.

As universidades criadas não eram mais as dos lander, mas as da Alemanha inteira. As
“ciências” ali ensinadas tinham, igualmente, valor universal. Um “Estado da razão liberto de
todo particularismo, como se quer a Prússia através de sua universidade” (Nipperdey 1992).

Nos anos que seguiram, imediatamente, à fundação da nova universidade de Berlim, o


estudo da Antiguidade passou por três mudanças importantes.

Em contacto com os recursos cruzados da filologia e da história, renovou,


profundamente, seus métodos;
Institucionalizou-se e adquiriu um grande prestígio na sociedade alemã;
Enfim, foi concebido de início com a finalidade de colaborar para a recuperação da
Prússia, após a dissolução do Sacro Império Romano-Germânico, em 1806, e, por essa

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razão, foi considerado um instrumento que deveria contribuir para se pensar os
problemas políticos do presente.

ii. A implantação da Altertumswissenschaft

Após as teorias de Wolf, a ideia essencial era de que era preciso “reunir as diferentes
disciplinas” relativas à Antiguidade “em um conjunto orgânico”, para introduzir a
Antiguidade grega e romana dentro de uma “ciência filosófico-histórica bem-ordenada”. A
essa “enciclopédia filológica” Wolf deu o nome de altertumswissenschaft.

Não é de espantar, portanto, que os historiadores antigos fossem, particularmente,


estudados e que, nesse momento, nascessem as primeiras histórias da historiografia, a de
Georg Friedrich Creuzer (1771-1858) para a tradição grega a partir de 1803 (Creuzer 1803,
1845).

O desenvolvimento da ciência da Antiguidade dependeu, em seguida, da elaboração


sistemática de grandes corpora documentais. Em 1815, Niebuhr lançou o projecto de um
corpus inscriptionum (gregas e latinas). Em um primeiro momento, só foi publicada a parte
grega, sob o título de Corpus inscriptionum graecarum – o primeiro volume foi lançado em
1828, por iniciativa de August Böckh (1785-1867), amigo de Wolf (Bravo 1988) –, que se
tornou Inscriptiones graecae em 1903.

Foi através desses instrumentos e das edições críticas das fontes literárias, de uma
erudição, então sem igual, que se desenvolveu um conhecimento dos mundos antigos
associado a um modelo do conhecimento histórico: o historismus ou historicismo.

A refundação da universidade de Berlim e a implementação da altertumswissenschaft são


dois contextos que modificariam, profundamente, o estatuto e o regime de autoridade que os
historiadores antigos detinham, até aquele momento, na elaboração do saber histórico.

iii. As mudanças no estatuto e no regime de autoridade dos historiadores antigos

A maior consequência dos dois grandes contextos assinalados acima foi os historiadores
antigos deixarem o domínio das belas-letras, excepto, em parte, na tradição francesa. Eles
foram considerados como fontes que tinham o mesmo status do que os outros documentos. O
seu valor próprio vinha das informações que forneciam para analisar a natureza e o
desenvolvimento dos Estados ” (Tucídides II).
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A confiança no historiador antigo, no entanto, não era mais total. Ao contrário do que fez
Rollin, “citar exatamente” um historiador antigo não autorizaria fazer dele uma “garantia para
os fatos que [o historiador moderno] afirma” (Rollin , 1998).

Ainda que Tucídides pretendesse dedicar-se, inteiramente, “à busca da verdade”


(Tucídides I), ainda que toda uma tradição fizesse dele o iniciador e o mestre da “história
verdadeira” – de Dionísio de Halicarnasso (Sobre Tucídides, VIII). A Luciano de Samósata
(Como se deve escrever a História, 42), de David Hume a Gomme –, o testemunho do
historiador, que pôde “presenciar os acontecimentos dos dois lados” (Tucídides V, 26, 5) para
“melhor se dar conta, de certo modo, das coisas” (Idem, ibidem), também deveria ser
submetido à análise crítica. A “história verdadeira”, a história de acordo com a verdade de
Tucídides, não era toda a história.

Outra mutação foi produzida em um plano diferente, que abrangeu o aporte dos
historiadores antigos na construção da ciência histórica. A implantação de uma “ciência da
Antiguidade” que ilustrasse, ou melhor, que equivalesse, perfeitamente, ao que deveria ser
uma “ciência da história” era o principal desafio no qual se encontrava engajada a história da
Antiguidade e, mais particularmente, as obras que chegaram até nós dos historiadores antigos.

2.1.1. O aporte de Tucídides para a constituição da ciência histórica na Alemanha


do século XIX

O aporte exacto reconhecido a Tucídides no momento da grande mutação que transformou


o género histórico em disciplina científica foi:

i. Tucídides: a herança dos Antigos e sua sobrevivência nos Modernos

Desde o século IV a. C., Tucídides era admirado e imitado pelos seus sucessores –
Xenofonte, Cratippos, Teopompo, Philistos –, que se atribuíram a tarefa de levar a cabo o
relato que a morte o impediu de terminar. Ele era lido, reproduzido e memorizado, dizia-se,
por Demóstenes. Sobre a época helenística, um precioso artigo de Simon Hornblower
(Hornblower 1995) mostrou que Tucídides não deixou de ser lido e discutido. Cícero, no De
Oratore, o mais completo de seus tratados de retórica, escrito em 55 a. C., fez de Tucídides
um mestre de eloquência e de estilo conciso, tenso, difícil.

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Dionísio de Halicarnasso, alguns anos depois, ainda fez de Tucídides o “primeiro”
(prôton) dos “historiadores”, mas não por seu estilo, cujo “vocabulário é figurado, incomum,
ultrapassado, estranho” à sua época e cuja composição é “austera”, “densa”, “dura ao ouvido”
(Tucídides, XXIV).

Tucídides foi um mestre historiador, em primeiro lugar, porque transcreveu “a verdade


dos acontecimentos com imparcialidade e o fez, afastando-se da fábula. Quanto a seu estilo,
Luciano hesita: ele não deveria ser muito duro, muito complicado como o de Tucídides. Disso
resultou, como em Dionísio, uma hesitação na análise ou, antes, um dilema que se instaurou.

Dentre as relações originais, há aquelas em que o traço e a beleza de suas formas as


situam entre as grandes produções da arte escrita. Assim, são as obras de Tucídides sobre a
guerra do Peloponeso, de Xenofonte sobre a expedição de Ciro, o Jovem, os comentários de
César sobre a guerra Gálica, o relato da conjuração de Catilina por Salústio e as descrições
dos livros de Tácito que abrangem acontecimentos ocorridos quando ele vivia (Daunou 1842).

ii. A história como ciência: pontos de encontro com Tucídides

Desde o começo do século XIX, Tucídides foi lido, com muita atenção, como historiador
político, pelos fundadores da universidade de Berlim, particularmente, por Niebuhr, que, por
sua vez, influenciou Ranke e o aluno deste, Wilhelm Roscher, autor de um livro importante,
Leben, Werk und Zeitalter des Thukydides, publicado em Göttingen em 1842. Para esses
eruditos, “Tucídides foi o historiador de Atenas na época de Péricles” (Roscher 1842), amante
da verdade (Tucídides I), dessa forma, superior em rigor e em exactidão, a akribeia (Idem, I).
Talvez, ele fosse, mais ainda, o fundador de uma história contemporânea, antes de tudo
política, que esclarecia os desafios do seu presente.

Tucídides era um historiador do presente, um historiador político, um historiador de um


rigor sem igual, imposto pelos métodos de escrita e, desde sua origem grega, pelas regras da
escrita em prosa. Tucídides era idealista, construtor da operação historiográfica. Esses pontos
de convergência com a ciência histórica alemã inscreveram-se, também, no interior da história
da relação privilegiada que os alemães, pelo menos desde Winckelmann, pensaram manter
com a Grécia antiga. O lugar que ocupou Tucídides na constituição da história como ciência,
na universidade prussiana, depois em toda Europa, deveria, igualmente, ser analisado como

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parte do que se chamou de “mito greco-alemão”. Seria preciso então recomeçar das palavras
de Niebuhr: “A Grécia é a Alemanha da Antiguidade”.

2.2. O objecto de estudo da História, tendo em conta o caminho percorrido

O Uma ciência difere de uma outra por descobrir as coisas de maneira diversa. Os
pressupostos para a existência da história ciência são:

Existência do homem pois sem ele não há História;


Método histórico;
Respeito pelo passado.

Ciência é um modo rigoroso de conhecimentos, exprime-se por conceitos elaborados e


formula leis, descrevendo uma série de fenómenos comprováveis pela experiência e pela
observação. Os que negam a Cientificidade da História dizem que ela não é ciência mas arte
de escolha de dados, porque ela (a História) não tem fenómenos contínuos, por isso não se
pode conhecer o passado. A História é etno – História porque ela se ocupa no estudo das
sociedades locais e civilizações concretas. Ela tem o seu objecto e os seus métodos.

Michelet e Fustel de Coulanges ensinaram que o objecto da História é o Homem. Para


Marc (1976) é melhor que sejam os homens, em vez do Homem (no singular) que fornece a
abstracção, porque é conveniente que uma ciência da diversidade, como a História, o seu
objecto esteja no plural, que é o modo gramatical da relatividade.

“Por detrás dos traços sensíveis da paisagem, dos utensílios ou das máquinas, por detrás
dos documentos escritos aparentemente mais glaciais e das instituições aparentemente mais
distanciadas dos que as elaboraram, são exactamente dos homens que a história pretende
apreender…”. Marc (1976).

Mas o historiador não se preocupa só com o humano, pensa também na categoria da


duração, daí que Marc Bloch tenha acrescentado que o objecto da História são os homens no
tempo.

“A História tem um objecto: o conhecimento do passado dos homens tal como este é
apreendido, transformado e representado pelo historiador. Neste sentido, o objecto da história
é uma construção, uma representação do sujeito que conhece”. (Silva, 1988 p. 25).

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A determinação do objecto da História não obedece a leis, mas depende,
predominantemente, do historiador que a define, de acordo com os seus conhecimentos, com
a sua experiência e meio sociopolítico em que se encontra inserido e como goza de certa
liberdade, ao contrário de outras ciências, em contrapartida faz com que o objecto da sua
ciência seja mal conhecido.

O objecto da história antiga eram acontecimentos extraordinários: guerras, questões


dinásticas, vidas de reis e príncipes, em suma, factos super-humanos. Julgava-se que a vida
ordinária dos povos não tinha em si motivos para se impor à curiosidade dos vindouros
(Collingwood, 1981).

2.2.1. História do Objecto da História

Além Em sua evolução, a História se apresentou em diferentes formas. Do simples registo


à análise científica houve um longo processo.

O objecto da História ao longo do tempo foi a seguinte:

i. História Narrativa ou episódica

Representa o primeiro esforço da humanidade. O narrador contenta-se em apresentar os


acontecimentos sem preocupações com as suas causas, os resultados ou a própria veracidade.

Também não emprega qualquer processo metodológico; é o relato dos acontecimentos.


(Heródoto embora considerado como pai da História tinha um género narrativo). “Narram-se
os efeitos dos heróis, as gestas dos povos, os acontecimentos maravilhosos, a ascensão
religiosa, tudo envolto em agradáveis formas literárias. Nascem assim os romances, as
epopeias e os cantares dos bardos”. (Rego, 1963, pp. 14-15).

ii. História Pragmática/Didáctica

Expõe os acontecimentos com visível preocupação didáctica porque o historiador quer


mudar os costumes políticos, corrigir os contemporâneos e o caminho que utiliza é o de
mostrar os erros do passado porque “a história é mestra da vida” da qual podemos tirar lições,
mas também é má conselheira.

Pragmatismo é uma doutrina filosófica que apenas aceita como critério da verdade os
efeitos práticos do conhecimento. Assim, é verdadeiro o conhecimento que tem resultados

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fecundos para a acção. É pragmático aquele que se preocupa mais com os factos e os
interesses que com as teorias. Esta doutrina pode enunciar-se assim: é verdadeiro aquilo que
for útil. Todo o saber nas ciências humanas é verdadeiro na medida em que for útil, eficaz e
prático”.

iii. História Pedagógica

É uma modalidade da História pragmática, mas acrescenta que o tempo é essencial e que
as coisas se aperfeiçoam. (S. Agostinho).

iv. História Genética/Evolutiva

Tenta explanar as causas e efeitos (Nicolau Maquiavel, Ciambattista Viço, Johann


Gottfried Herder, S. Agostinho).

v. História Sociológica: No princípio tentava reduzir a História à Sociologia (Auguste


Comte).
vi. História Holística/Universal

Há uma preocupação com a verdade, com o método, com análise crítica de causas e
consequências, tempo e espaço. O culto aos heróis e a atribuição da acção histórica aos
chamados homens ilustres, representantes das elites é rompido.

Para esta concepção histórica, o quotidiano, a arte, os afazeres do povo e a psicologia


social são elementos fundamentais para a compreensão das transformações empreendidas pela
humanidade. É História como totalidade (Max Webber, marxistas, Marc Bloch, LeFebvre).

Há divisão da história em universal (que se ocupa da actividade social de toda a


humanidade) e particular (que se circunscreve em determinado tempo, povo e determinado
aspecto da vida social). Holismo é “doutrina segundo a qual a parte só pode ser compreendida
a partir do todo, sustentando que o todo não é apenas a soma das suas partes, mas possui uma
unidade orgânica”. (Alberto, 2000, p. 81).

História Holística significa não só história de reis (governantes, monarquias, poder, papas,
bispos (religião) e generais (guerras), mas também História Económica, Social, Cultural, das
Mentalidades, costumes, moda, etc. Não se pode compreender a proliferação de igrejas,
partidos e curandeiros (que tratam tudo) sem ver os estômagos do país, etc. A inevitável perda

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que supõe a segmentação, compensa-se pela confiança em que outros historiadores farão
outras selecções, sempre parciais, que devem complementar-se.

2.3. Os principais historiadores que contribuíram para a cientificação da História.

O desenvolvimento da ciência da história no século XIX ocorreu sobretudo na França e na


Alemanha, em um contexto de efervescência filosófica e científica.

Wilhelm Von Humboldt foi um dos intelectuais que sistematizaram o conhecimento


histórico no século XIX .

Os dois países que são considerados os berços da moderna ciência da história são França e
Alemanha. A filosofia alemã, na virada do século XVIII para o XIX, estava envolta à tradição
metafísica, sobretudo derivada das reflexões de Immanuel Kant e de Herder. Depois, houve as
correntes de Hegel e de Schopenhauer. Em meio a essa atmosfera de discussão filosófica, a
história se desenvolvia enquanto um conceito singular, isto é, passava a existir como “História
Universal”, e não mais como “histórias particulares”. Era a história da humanidade como um
todo Momigliano (1983).

O chamado historicismo (corrente teórica que buscou pensar a história a partir de sua
singularidade) desenvolveu-se fundamentalmente na Alemanha ao longo do século XIX.
Nesse país houve um grande peso da tradição interpretativa de textos (que recebeu o nome de
hermenêutica), em razão, sobretudo, da Reforma Luterana, que infundiu na teologia o estudo
da exegese de textos bíblicos. Essa tradição interpretativa chegou até os círculos e intelectuais
e poetas do romantismo alemão, dentre ele Goethe e Schiller.

Esse ambiente de embate entre a tradição metafísica e a hermenêutica provou longas


discussões nas quais as reflexões sobre a história foram inseridas. A história, para os
historicistas, deveria, ao contrário das ciências naturais, pautar-se pela categoria da
compreensão, e não da explicação científica. Compreender implicava interpretar e criar ao
mesmo tempo, isto é, mesclar elementos objectivos e subjectivos Nipperdey (1992).

O principal historiador a fazer essa mescla e a defender o trabalho do historiador nessa


direcção foi Wilhelm Von Humboldt, cujo clássico ensaio “Sobre a Tarefa do Historiador” até
hoje é lido e reinterpretado.

A compreensão, segundo Humboldt, não podia ser reduzida à explicação demonstrativa,


de carácter matemático, como ocorre na física. Compreender exigia um diálogo com o
passado, com a tradição. A tradição fornece-nos um horizonte de compreensão, as bases para
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agirmos no presente. A história, enquanto disciplina com elementos científicos, não pode
prescindir da compreensão, haja vista que, mais que explicar rigorosa e definitivamente o
passado, a história oferece aos homens do presente condições para agir, para administrar a sua
existência.

Na França, também durante o século XIX, desenvolveu-se a


chamada Escola metódica (ou Escola histórica metódica), que possuía a pretensão de tornar a
história uma ciência metodologicamente rigorosa, tendo como modelo as ciências naturais. O
modelo que se seguia, inclusive, era o das ciências físicas. Essa pretensão era infundida
pelo positivismo, pensado por August Comte, então em voga na França Nipperdey (1992).

Apesar das justas críticas que recebeu de historiadores do século XX, a Escola metódica
francesa foi de fundamental importância para atribuir confiabilidade ao método histórico. Por
exemplo, com relação à concepção de tempo (que é um dos principais conceitos históricos):
para os metódicos, o tempo era sempre passível de investigação quando era curto, o tempo
dos acontecimentos, dos fatos cumulativos. No século XX, essa ideia de tempo alargou-se,
haja vista que havia uma noção de tempos múltiplos, breves e longos que se entrelaçavam, e
não apenas o tempo linear e progressivo.

Com relação à definição de história: para os metódicos, a história era entendida como
ciência nos moldes positivistas; no século XX, a história também era concebida como ciência,
porém com a particularidade de ser uma ciência “dos homens no tempo”, como a definiu o
historiador francês Marc Bloch. Além disso, com relação às fontes (ou documentos), que é
outro conceito de grande importância para a história, os metódicos privilegiavam as fontes
escritas, os documentos escritos, não se atendo muito às demais formas de testemunho da
história humana. No século XX, os historiadores passaram a considerar “documento
histórico” tudo aquilo que o homem produziu ao longo de sua existência Momigliano (1983).

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3. Conclusão

Um enfoque intelectual, que tampouco contribui muito para entender a ciência histórica
como tal, é a subordinação do ponto de vista filosófico à historicidade, considerando toda a
realidade como produto de um devir histórico: esse seria o lugar do historicismo, corrente
filosófica que pode estender-se a outras ciências, como a Geografia.

Uma vez despojada da questão meramente nominal, resta para a historiografia, portanto, a
análise da história escrita, das descrições do passado; especificamente dos enfoques na
narração, interpretações, visões de mundo, uso das evidências ou documentos e os métodos de
sua apresentação pelos historiadores; e também o estudo destes, por sua vez sujeitos e
objectos da ciência. A historiografia, de maneira restrita, é a maneira pela qual a história foi
escrita. Em um sentido mais amplo, a historiografia refere-se à metodologia e às práticas da
escrita da história. Em um sentido mais específico, refere-se a escrever sobre a história em si e
não significa conjunto de obras históricas como a lama pode ser tentada a concluir.

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4. Referência bibliográfica

Alberto, Antunes, (2000). Dicionário Breve de Filosofia, 4ª Edição, Editorial Presença,


Lisboa.

Bloch, Marc, (1976). Introdução à História, Publicações Europa-América, Lisboa.

Kant, Immanuel. Wikipédia, a enciclopédia livre. Site. Disponível em:


<http://pt.wikipedia.org/wiki/Kant>. Acesso em: 22 de Maio. 2023.

Lakatos, E. M & Marconi, M. A., (2003). Fundamentos de metodologia científica. (6ª


ed.).

Momigliano, Arnaldo. L’histoire ancienne et l’Antiquaire. In. (1983). Problèmes


d’historiographie ancienne et moderne. Paris: Gallimard.

Nipperdey, Thomas, (1992). Réflexions sur l’histoire allemande. Paris, Gallimard.

Rollin, Charles (1821-1825). Œuvres complètes: nouvelle édition accompagnée


d’observations et d’éclaircissements historiques par M. Letronne. Paris: Firmin Didot. vol. I-
XII.

Silva, António Alves da, (1988). Introdução à História.

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