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InterSer, a Iniciação

Um homem sai para desenhar o mundo. Ao longo dos anos ele povoa um espaço
com imagens de províncias, reinos, montanhas, baías, navios, ilhas, peixes, salas,
instrumentos, estrelas, cavalos e indivíduos. Pouco tempo antes de morrer, descobre
que esse paciente labirinto de linhas e coisas revela os traços de seu próprio rosto.
(Jorge Luís Borges)

É preciso escolher a história na qual você quer estar. Escolha uma história
que melhor encarna a pessoa que você realmente é, que você quer ser e que de
fato você está se tornando.
Quem é você?
Tire tudo que te liga ao mundo: dinheiro, relacionamentos, braços, pernas,
linguagem e ainda restará algo que é você - eu não sou isso, eu não sou aquilo.
Algo menos tudo, é igual a nada, então você é nada.
Mas quando estamos aí, nesse ponto, descobrimos que nada não é nada, é
tudo: tudo brota do vazio e uma partícula de energia tem um bilhão de sóis. Então
você é tudo!
Mas retire o menor relacionamento e você ficará diminuído. Some um
relacionamento e você será aumentado. Modifique um ser deste cosmo e você será
alterado também. Você portanto é tudo: uma teia de relacionamentos, cada um
contendo todos.
Este é um InterSer, despido da situação, sua atenção é a minha atenção e a
atenção de todo mundo. Somos o mesmo ser olhando o mundo através de olhos
diferentes. E nesses olhos, esses pontos de vista são todos únicos.
Você é um ser totalmente único, igual a todo mundo!
O ser separado, inverso do InterSer, tem medo de dar, medo de servir, pensa
que é vítima de forças impessoais e se sente impotente para afetar o mundo hostil
lá fora, é o mesmo ser que quer provas de que não é esse ser.
Talvez você se pergunte: “e o que acontece se escolher ser InterSer e viver
numa história em que vou me iludir?”, que é uma pergunta substituta para - “será
que conseguirei, conseguiremos?”. Esse é o grito de dor de um ser separado - “...e
se eu estiver sozinho? E se eu doar e servir e mais ninguém no mundo hostil doar
ou cuidar de mim?” Que traz a conclusão que é melhor prevenir e maximizar minha
segurança. Agora imagine milhões de pessoas pensando o mesmo e agindo de
acordo e então vamos perceber a causa coletiva de nós criarmos a imagem e
semelhança do mundo à nossa volta. Nós criamos as provas e em seguida as
justificamos.
A maioria de nós não consegue se manter sozinho no InterSer - seria
contradizer o princípio de InterSer - pois se você é parte de mim e você está
separado, então uma parte de mim também está.
Quando escolhemos viver uma nova história, há uma iniciação, nos
fortalecemos como portadores da nossa história; então nossas palavras e ações se
tornam parte da narração da história toda, fortalecendo sua posição dentro desse
território e assim abrem espaço para que outros venham. Se uma pessoa não
acredita em InterSer, você, iniciado, forte, pode acreditar por ela, segurando a porta
aberta até que ela esteja pronta para entrar.

Programa de Voluntariado 2022 - Experiência VIVA - Estudos Viver em Grupo


Ao escolher viver uma nova história, virá um reforço positivo semelhante.
Uma migração para um mundo diferente. Pare de tentar ser uma boa pessoa.
Escolha ser quem você é. Pois do contrário continuará a serviço de seus próprios
interesses para parecer a si mesmo e aos outros uma pessoa boa, ao invés de
realmente servir ao outro e ao mundo.
Vemos os outros pelas mesmas lentes com a qual vemos a nós mesmos.
Ao ver outros como InterSeres no desejo profundo de doar e servir, nós
abrimos espaços para que se vejam desta maneira também. Se os vemos como
egoístas também nos relacionamos com eles desta maneira e aplicamos táticas de
força, pressionando em direção a uma história que confirma que eles estão
sozinhos num mundo hostil. E para crer nisso em relação a alguém, temos que crer
nisso a respeito de nós mesmos e abrirmos espaço para que o outro desempenhe
esse papel e quando isso acontece nos sentimos justificados em relação ao modo
como os vemos.
Mude a mensagem: “Você é um magnífico ser divino que tem sede de
expressar sua divindade em forma de serviço. Você como eu, quer investir seus
dons na criação de um mundo mais bonito”.
O caminho para InterSer tem muitas curvas e viradas inesperadas. Às vezes,
escolhas reais ou condicionais, são duros aprendizados para que fique claro quem
somos. Os temores do tipo “e se…” acontecem e mostram a aparência convincente
do que acontecerá de um jeito ou de outro. Às vezes, uma curva muito fechada faz
parecer que estamos retrocedendo. Essas reviravoltas, mesmo becos sem saídas e
retrocessos são parte do caminho de um novo território do InterSer. Esse terreno é
desconhecido, há poucos mapas e não aprendemos a enxergar a trilha, estamos
seguindo um caminho invisível, aprendendo uns com outros, então o caminho se
torna visível.
Na ausência de mapas e estágios iniciais de uma nova história, só podemos
seguir nossa intuição em cada ocasião onde seja preciso escolher, guiadas pela
bússola de nosso coração sem saber como nossas voltas nos levarão a nosso
destino.
Muitas vezes nossos hábitos de separação nos fazem vagar por caminhos
batidos, antigos, do velho mundo que conhecemos. É preciso desenvolver uma
nova visão para enxergar as pistas apagadas de pegadas antigas indicando a saída
do labirinto, é preciso ver no próprio terreno, a verdade por trás das histórias. À
medida que mais pessoas vão entrando no território, os encontros acontecem com
mais frequência e juntos, achamos o caminho adiante para chegar a um mundo
mais bonito que nossos corações sabem ser possível.

Charles Eisenstein

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INTERSER

Se você for poeta ou poetisa, você verá claramente que existe uma nuvem
flutuando nesta folha de papel. Sem a nuvem, não haveria chuva: sem a chuva, as
árvores não poderiam crescer; e sem as árvores nós não poderíamos fazer papel. A
nuvem é essencial para o papel existir.
Se a nuvem não estivesse aqui, a folha de papel também não poderia estar.
Assim, nós podemos dizer que a nuvem e o papel Inter-São.
InterSer é uma palavra que ainda não está no dicionário, mas quando nós
combinamos o prefixo “Inter” com o verbo “Ser”, nós temos um novo verbo, InterSer.
Se olharmos mais profundamente para esta folha de papel, nós poderemos
ver a luz do sol nela. Se o sol não estivesse presente, a floresta não poderia
crescer. Na realidade nada poderia crescer. Mesmo nós não poderíamos crescer
sem a luz do sol. E assim, nós sabemos que a luz do sol também está presente
nesta folha de papel. O papel e a luz do sol InterSão. E se continuamos a olhar, nós
poderemos ver o lenhador que cortou a árvore e a trouxe à fábrica para ser
transformada em papel. E nós poderemos ver o trigo. Nós sabemos que o lenhador
não poderia existir sem o pão diário, e assim o trigo que se transformou em seu pão
diário também está nessa folha de papel. E o pai e a mãe do lenhador também
estão aqui. Quando nós olhamos desta forma, nós podemos ver que sem todas
estas coisas, esta folha de papel não poderia existir.
Olhando ainda profundamente, poderemos ver que nós estamos nela
também. Isto não é difícil de se perceber, porque quando nós olhamos para uma
folha de papel, a folha de papel é parte de nossa percepção. Sua mente está
presente nela e a minha também. Assim nós podemos dizer que tudo está aqui
nesta folha de papel. Nós não podemos apontar uma única coisa que não esteja
aqui - tempo, espaço, a terra, a chuva, os minerais do solo, a luz do sol, a nuvem, o
rio e o calor; Tudo co-existe com esta folha de papel. É por isto que eu penso que a
palavra InterSer deveria estar no dicionário.
Ser é InterSer. Você não pode estar sozinho. Você tem de InterSer com
absolutamente cada coisa. Esta folha de papel existe porque tudo o mais existe.
Suponha que nós tentássemos devolver um dos elementos para sua fonte.
Suponha que nós retornássemos a luz do sol para o sol. Você acha que esta folha
de papel seria possível? Não, sem a luz do sol nada poderia existir. E se nós
retornássemos o lenhador para sua mãe, nós não veríamos o papel da mesma
forma. O fato é que esta folha de papel é feita somente de “elementos não-papel”. E
se nós retornássemos esses elementos não-papel para suas fontes, não seria
possível papel algum. Sem elementos não-papel, como mente, lenhador, luz do sol
e tudo mais, não haveria papel. Tão fina esta folha de papel possa ser, ela contém
todo o Universo nela.

Thich Nhat Hanh.

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