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ciências humanas e suas tecnologias

HISTÓRIA
PROPOSTA CURRICULAR DE
HISTÓRIA PARA O
ENSINO MÉDIO

Secretaria de Estado de
Educação e Qualidade do Ensino
Copyright © SEDUC – Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino, 2012

Editor
Isaac Maciel

Coordenação editorial
Tenório Telles

Capa e Projeto Gráfico


Heitor Costa

Diagramação
Bruno Raphael

Revisão
Núcleo de Editoração Valer

Normalização
Ycaro Verçosa

S729p Proposta Curricular de História para o Ensino Médio. –


Manaus: Seduc – Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino, 2012.

122 p.­­

ISBN 978-85-87707-46-8

1. História – Proposta Curricular


2. Reforma Curricular – Ensino Médio I. Título.

CDD 372.89
22 Ed.

Resolução no 162/2011 – CEE/AM, aprovada em 13/12/2011

2012

Seduc – Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino


Rua Waldomiro Lustoza, 250 – Japiim II
CEP – 69076-830 – Manaus/AM
Tel.: Seduc (92) 3614-2200
GEM: (92) 3614-2275 / 3613-5481
www.seduc.am.gov.br
SUMÁRIO

Compromisso com a Educação 7

Carta ao Professor 9

Proposta Curricular de História para o Ensino Médio 11

Introdução 13

Proposta Curricular do Ensino Médio: Pressupostos teóricos 15

Currículo Escolar: Aproximação com o cotidiano 21

Um conhecimento Fundado Sobre Competências e Habilidades 23

Áreas de Conhecimento: A integração dos saberes 27

1. O Componente Curricular integrador da Matriz do Ensino Médio 29


1.1 A História no Ensino Médio 31
1.2 Quadro demonstrativo do Componente Curricular 40
1.3 Alternativas Metodológicas para o ensino de História 55
1.3.1 Sugestões de atividades didático-pedagógicas 56
1.3.2 Sugestões para Pesquisa 103

Avaliação: O culminar do processo educativo 109

Considerações Finais 113

Referências 115
HISTÓRIA 7

COMPROMISSO COM A EDUCAÇÃO

É inquestionável o valor da Educação na mento do mérito dos professores, do acesso


formação do ser humano e na construção de às novas tecnologias, da promoção de forma-
uma sociedade próspera e cidadã. Ao longo ções para melhor qualificar os mestres que
da História, as nações que conquistaram o estão na sala de aula, empenhados na pre-
reconhecimento e ajudaram no processo de paração dos jovens, sem descurar do cuida-
evolução do conhecimento foram aquelas do com a melhoria das condições de trabalho
que dedicaram atenção especial à formação dos profissionais que ajudam a construir uma
da juventude e valorizaram o saber como fa- realidade educacional mais promissora para o
tor de afirmação social e cultural. povo amazonense.
Consciente do significado social da apren- Fruto desse comprometimento que tenho
dizagem e do caráter substantivo do ensino com a Educação, é com satisfação que apre-
como fundamento da própria vida, elegi a sento aos professores e à sociedade em geral
Educação como pressuposto de governo – esta Proposta do Ensino Médio – nascida do
consciente da minha responsabilidade como debate dos educadores e técnicos que fazem
governador do Estado do Amazonas. Tenho parte da rede pública estadual de ensino. Esta
a convicção de que a construção do futuro reestruturação, coordenada pela Secretaria
é uma tarefa do presente – e que o conheci- de Estado da Educação e Qualidade do Ensi-
mento é o substrato do novo tempo que ha- no, objetiva a renovação e atualização do pro-
verá de nascer do trabalho dos professores e cesso da aprendizagem, considerando os Pa-
demais profissionais que se dedicam ao ofício râmetros Curriculares do Ensino Médio, bem
de educar em nossa terra. como as inovações ocorridas com a implan-
Essa é uma missão de todos: não só dos tação do Exame Nacional do Ensino Médio –
educadores, mas igualmente dos pais e dos Enem. Com o aprimoramento da aprendiza-
agentes públicos, bem como de todo aquele gem e com a promoção de uma nova sistemá-
que tem compromisso com o bem comum e a tica de ensino e avaliação, almejamos o avan-
cidadania. Tenho empreendido esforços para ço da Educação e a melhoria da qualidade da
promover a Educação no Amazonas, sobretu- prática educacional no Estado do Amazonas.
do por meio da valorização e do reconheci- Reitero, assim, meu compromisso com a
Educação.

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DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 9

CARTA AO PROFESSOR

Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.

Cecília Meireles

A mudança é o sentido e o fundamento da de Educação, por meio da ação de seus educa-


vida. A verdade é que não há vida sem trans- dores e técnicos, coordenou de forma eficaz os
formação e sem o aprimoramento permanen- trabalhos de discussão e elaboração das pro-
te de nosso modo de pensar e ser e, sobretu- postas curriculares de cada componente que
do, de agir. O poema da professora e escritora integra as quatro áreas de conhecimento do
Cecília Meireles traduz esse entendimento Ensino Médio – norteadoras da prática pedagó-
e essa verdade inquestionável. Por isso, esse gica dos professores no cotidiano escolar neste
tem sido o espírito de nossas ações à frente novo momento do ensino em nossa terra.
da Secretaria de Estado de Educação do Ama-
zonas: buscar novos caminhos para melhorar Acreditamos que os novos referenciais
a aprendizagem de nossas crianças e jovens metodológicos, enriquecidos com sugestões
– motivo pelo qual elegemos a formação dos de Competências, Habilidades e práticas faci-
professores como um dos fundamentos desse litadoras da aprendizagem, estabelecidos nas
propósito. propostas, contribuirão para dinamizar e en-
riquecer o trabalho pedagógico dos professo-
Fruto dessa iniciativa, empreendida com o res, melhorando a compreensão e formação
objetivo de construir um futuro promissor para intelectual e espiritual dos educandos. Vive-
a Educação no Amazonas, apresentamos os re- mos um momento de renovação da prática
sultados do trabalho de reestruturação da Pro- educacional no Amazonas, experiência que
posta Curricular do Ensino Médio. A Secretaria demanda, de todos os envolvidos nesse pro-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
10 C IÊ NCIAS H UMANAS E S UAS TEC N OLOGI AS

cesso, novas respostas, novas atitudes e novos de e atenção com a formação educacional dos
procedimentos de ensino. Dessa forma, com nossos educandos.
compromisso, entusiasmo e consciência de
nosso papel como educadores, ajudaremos a Temos consciência do desafio que temos
construir uma nova realidade educacional em pela frente e entendemos que este é o primeiro
nosso Estado, fundada na certeza de que o co- passo de uma longa jornada, que dependerá da
nhecimento liberta, enriquece a vida dos indi- participação construtiva, não só dos professo-
víduos e contribui para a construção de uma res, corpo técnico e educandos, mas também
consciência cidadã. dos pais, agentes públicos e da sociedade.

O chamamento de Cecília Meireles – “Re- Que todos aceitemos o desafio da renova-


nova-te / Renasce em ti mesmo” – é uma ção e do comprometimento com a vida, com
síntese do fundamento que orienta o nosso a educação dos nossos jovens e com a busca
caminho e norteia as nossas ações. O governa- de novas práticas pedagógicas – capazes de
dor Omar Aziz assumiu a responsabilidade de nos ajudar no forjamento de uma nova consci-
fazer do seu governo um ato de compromisso ência e na construção de uma sociedade fun-
com a educação das crianças e jovens do Ama- dada no conhecimento e na cidadania, ideais
zonas. Os frutos dessa ação, que resultou na que herdamos da cultura clássica e que têm
reestruturação da Proposta Curricular do En- na Paideia Grega (entendida como a verdadei-
sino Médio, são uma prova da sua sensibilida- ra educação) o seu referencial por excelência.

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HISTÓRIA 11

PROPOSTA CURRICULAR DE
HISTÓRIA PARA O
ENSINO MÉDIO

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HISTÓRIA 13

INTRODUÇÃO

A Proposta que chega ao Ensino Médio sur- LDB (Lei nº 9.394/96), que requer um homem
giu das necessidades que se verificam não só cidadão, com capacidades para seguir os es-
no campo educacional, mas também nas de- tudos em um Nível Superior ou que seja capaz
mais áreas do saber e dos segmentos sociais. de inserir-se, com capacidades concretas, no
Dito por outras palavras, a vertiginosidade com mundo do trabalho.
que as mudanças ocorrem, inclusive situando- Mas para que esse homem-cidadão possa
-nos em um novo tempo, cognominado pelos ter o arcabouço teórico exigido, ele precisa
filósofos como pós-modernidade, é o que nos conhecer o seu entorno, ou seja, ele precisa
obriga a repensar os atuais paradigmas e a ins- ser e estar no mundo, daí, então, que ele par-
taurar-se, como se faz necessário, novos. tirá para a construção da sua identidade, da
A mudança, na qual somos agentes e pa- sua região, do seu local de origem. Somente
cientes, não só desestabiliza a permanência após a sua inserção na realidade, com suas
do homem no mundo como também requer emoções, afetos e sentimentos outros, é que
novas bases, o que implica novos exercícios ele poderá compreender o seu entorno em
do pensamento. Considerando que é na Esco- uma projeção, compreendendo as suas des-
la, desde a educação infantil, que também se continuidades mais ampliadas, ou seja: so-
estabelecem os princípios e valores que nor- mente assim ele poderá ser e estar no mundo.
tearão toda a vida, é a ela que, incisivamente, As situações referidas são as norteadoras
as novas preocupações se dirigem. desta Proposta, por isso ela reclama a Inter-
É nesse contexto que esta Proposta se ins- disciplinaridade, a Localização do sujeito no
creve. É em meio a essas inquietantes angús- seu mundo, a Formação, no que for possível,
tias e no encontro com inúmeros caminhos, os integral do indivíduo e a Construção da cida-
quais não possuem inscrições, afirmando ou dania. É, portanto, no contexto do novo, do
não o nível de segurança, que ela busca insti- necessário que ela se organizou, que ela mo-
tuir alguma estabilidade e, ainda, a certeza de bilizou a atenção e a preocupação de todos os
que o saber perdurará, de que o homem conti- que, nela, se envolveram.
nuará a produzir outros/novos conhecimentos. Para finalizar, é opinião comum dos cida-
As palavras acima se sustentam na ideia de dãos, que pensam sobre a realidade e fazem
que a Escola ultrapassa a Educação e a Instru- a sua leitura ou interpretação, que o momen-
ção, projetando-se para o campo da garantia, to é de transição. Essa afirmação é plena de
da permanência, da continuidade do conheci- significados e de exigências, inclusive corre-se
mento do homem e do mundo. o risco maior de não se compreender o que
Os caminhos indicadores para a redefini- é essencial. É assim que o passado se funde
ção das funções da Escola seguem, a nosso com o presente, o antigo se funde com o novo,
ver, a direção que é sugerida. É por isso que criando uma dialética essencial à progessão
a Escola e o produto por ela gerado – o Co- da História. A Proposta Curricular do Ensino
nhecimento – instituem um saber fundado Médio, de 2011, resguarda esse movimento e
em Competências e Habilidades, seguindo a o aceita como uma necessidade histórica.

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HISTÓRIA 15

Proposta Curricular do Ensino Médio:


Pressupostos Teóricos

A educação brasileira, nos últimos anos, Ensino Médio desenvolveu ações educacio-
perpassa por transformações educacionais nais para fundamentar as discussões acerca
decorrentes das novas exigências sociais, do currículo vigente.
culturais, políticas e econômicas vigentes no Os professores da Rede Estadual de Ensino
país, resultantes do processo de globalização. Médio receberam orientações, por meio de
Considerando esta nova reconfiguração mun- palestras e de uma jornada pedagógica, que
dial e visando realizar a função formadora da proporcionaram aos professores reflexões so-
escola de explicar, justificar e de transformar bre: O fazer pedagógico, sobre os fundamen-
a realidade, a educação busca oferecer ao tos norteadores do currículo e principalmente
educando maior autonomia intelectual, uma sobre o que se deve ensinar. E o que os edu-
ampliação de conhecimento e de acesso a in- candos precisam apreender para aprender?
formações numa perspectiva integradora do Os trabalhos desenvolvidos tiveram, como
educando com o meio. subsídios, os documentos existentes na Secre-
No contexto educacional de mudanças re- taria de Educação, norteados pela Proposta
lativas à educação como um todo e ao Ensino Curricular do Ensino Médio/2005, pelos PCN,
Médio especificamente a reorganização curri- pelos PCN+ e pelos referenciais nacionais. As
cular, dessa etapa do ensino, faz-se necessária discussões versaram sobre os Componentes
em prol de oferecer novos procedimentos que Curriculares constantes na Matriz Curricular
promovam uma aprendizagem significativa e do Ensino Médio, bem como sobre as refle-
que estimulem a permanência do educando xões acerca da prática pedagógica e do papel
na escola, assegurando a redução da evasão intencional do planejamento e da execução
escolar, da distorção idade/série, como tam- das ações educativas.
bém a degradação social desse cidadão. Os resultados colhidos nessas discussões
A ação política educacional de Reestrutu- estimularam a equipe a elaborar uma versão
ração da Proposta Curricular do Ensino Médio atualizada e ampliada da Proposta Curricular
foi consubstanciada nos enfoques educacio- do Ensino Médio, contemplando em um só
nais que articulam o cenário mundial, bra- documento as orientações que servirão como
sileiro e local, no intuito de refletir sobre os referência para as ações educativas dos profis-
diversos caminhos curriculares percorridos na sionais das quatro Áreas do Conhecimento.
formação do educando da Rede Estadual de Foi a partir dessa premissa que se perce-
Ensino Médio. beu a necessidade de refletir acerca do Currí-
Dessa forma, a fim de assegurar a cons- culo, da organização curricular, dos espaços e
trução democrática e a participação dos pro- dos tempos para que, dessa maneira, fossem
fessores da Rede Estadual de Ensino Médio, privilegiados, como destaques:
na Reestruturação do Currículo, a Gerência de

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16 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

• o foco no processo de ensino-aprendi- divíduos, do corpo social, da comunidade em


zagem; geral, levando em consideração os conceitos,
• os diferentes tipos de aprendizagem e as representações, os saberes oriundos das
de recursos; vivências dos educandos que concretamente
• o desenvolvimento de competências estão envolvidos, e nas experiências que vi-
cognitivas, operativas e afetivas; venciam no cotidiano.
• a autonomia intelectual; A proposta é que os educandos possam
• a reflexão antes, durante e após as posicionar-se de maneira crítica, ética, res-
ações. ponsável e construtiva nas diferentes situa­
ções sociais, utilizando o conhecimento como
É válido ressaltar que os caminhos defi- instrumento para mediar conflitos e tomar
nidos enquadram-se na perspectiva atual do decisões; e, assim, perceberem-se como
projeto filosófico educativo do país que re- agentes transformadores da realidade social
quer a interdisciplinaridade, a transdiscipli- e histórica do país, identificando as caracte-
naridade e a transversalidade, na qualidade rísticas estruturais e conjunturais da realida-
de meios de garantia de um ensino-aprendi- de social e as interações entre elas, a fim de
zagem bem-sucedido. Ou seja, os objetos pri- contribuírem ativamente para a melhoria da
vilegiados nos Componentes Curriculares do qualidade da vida social, institucional e indi-
Ensino Médio deverão ser focados em uma vidual; devem, ainda, conhecer e valorizar a
perspectiva abrangente, na qual eles serão diversidade que caracteriza a sociedade bra-
objetos de estudo do maior número possível sileira, posicionando-se contra quaisquer for-
de Componentes Curriculares. Dessa forma, mas de discriminação baseada em diferenças
entende-se que o educando poderá apreen- culturais, classe social, crença, gênero, orien-
dê-los em toda a sua complexidade. tação sexual, etnia e em outras característi-
É assim que temas como a diferença socio- cas individuais e sociais.
cultural de gênero, de orientação sexual, de Espera-se que esta Proposta seja uma fer-
etnia, de origem e de geração perpassam por ramenta de gestão educacional e pedagógica,
todos os componentes, visando trazer ao de- com ideias e sugestões que possam estimular
bate, nas salas de aula, os valores humanos o raciocínio estratégico-político e didático-
e as questões que estabelecem uma relação -educacional, necessário à reflexão e ao de-
dialógica entre os diversos campos do co- senvolvimento de ações educativas coerentes
nhecimento. Nesse sentido, foi pensado um com princípios estéticos, políticos e éticos,
Currículo amplo e flexível, que expressasse orientados por competências básicas que esti-
os princípios e as metas do projeto educati- mulem os princípios pedagógicos da identida-
vo, possibilitando a promoção de debates, a de, diversidade e autonomia, da interdiscipli-
partir da interação entre os sujeitos que com- naridade e da contextualização enquanto es-
põem o referido processo. truturadores do currículo (DCNEM, 2011,11),
Assim, os processos de desenvolvimento e que todo esse movimento chegue às salas
das ações didático-pedagógicas devem possi- de aula, transformando a ação pedagógica e
bilitar a reflexão crítica sobre as questões que contribuindo para a excelência da formação
emergem ou que resultem das práticas dos in- dos educandos.

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HISTÓRIA 17

Para que se chegasse a essa fundamen- gerais, e colegial, com duração de três anos,
tação pedagógica, filosófica, sociológica da que oferecia os cursos Clássico e Científico.
educação, foram concebidas e aperfeiçoa­das O cenário político brasileiro de 1964,
Leis de Diretrizes e Bases da Educação Na- que culminou no golpe de Estado, determi-
cional. No contexto legislativo-educacional, nou novas orientações para a política edu-
destacam-se as Leis nº 4.024/61, 5.692/71 e cacional do país. Foram estabelecidos novos
9.394/96 que instituíram bases legais para a acordos entre o Brasil e os Estados Unidos da
educação brasileira como normas estrutura- América, dentre eles o MEC-Usaid. Constava,
doras da Educação Nacional. no referido acordo, que o Brasil receberia re-
Todavia, o quadro da educação brasileira cursos para implantar uma nova reforma que
nem sempre esteve consolidado, pois antes atendesse aos interesses políticos mundiais,
da formulação e da homologação das Leis objetivando vincular o sistema educacional
de Diretrizes e Bases, a educação não era o ao modelo econômico imposto pela política
foco das políticas públicas nacionais, visto norte-americana para a América Latina (ARA-
que não constava como uma das principais NHA, 2010). É no contexto de mudanças sig-
incumbências do Estado garantir escola pú- nificativas para o país, ocasionadas pela nova
blica aos cidadãos. conjuntura política mundial, que é promulga-
O acesso ao conhecimento sistemático, da a nova LDB nº 5.692/71. Essa Lei é gerada
oferecido em instituições educacionais, era no contexto de um regime totalitário, portan-
privilégio daqueles que podiam ingressar em to contrário às aspirações democráticas emer-
escolas particulares, tradicionalmente reli- gentes naquele período.
giosas de linha católica que, buscando seus Nas premissas dessa Lei, o ensino profis-
interesses, defendiam o conservadorismo sionalizante do 2.o grau torna-se obrigatório.
educacional, criticando a ideia do Estado em Dessa forma, ele é tecnicista, baseado no
estabelecer um ensino laico. modelo empresarial, o que leva a educação a
Somente com a Constituição de 1946, o adequar-se às exigências da sociedade indus-
Estado voltou a ser agente principal da ação trial e tecnológica. Foi assim que o Brasil se in-
educativa. A lei orgânica da Educação Primá- seriu no sistema do capitalismo internacional,
ria, do referido ano, legitimou a obrigação do ganhando, em contrapartida, a abertura para
Estado com a educação (Barbosa, 2008). Em o seu crescimento econômico. A implantação
meio a esse processo, e após inúmeras reivin- generalizada da habilitação profissional trou-
dicações dos pioneiros da Educação Nova e xe, entre seus efeitos, sobretudo para o ensino
dos intensos debates que tiveram como pano público, a perda da identidade que o 2.o grau
de fundo o anteprojeto da Lei de Diretrizes passará a ter, seja propedêutica para o Ensino
e Bases, é homologada a primeira LDB, nº Superior, seja a de terminalidade profissional
4.024/61, que levou treze anos para se con- (Parecer CEB 5/2011). A obrigatoriedade do
solidar, entrando em vigor já ultrapassada e ensino profissionalizante tornou-se faculta-
mantendo em sua estrutura a educação de tiva com a Lei nº 7.044/82 que modificou os
grau médio: ginasial, com duração de quatro dispositivos que tratam do referido ensino, no
anos, destinada a fundamentos educacionais 2.o grau.

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18 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

Pode-se dizer que o avanço educacional do rização dos Profissionais da Educação – Fun-
país estabeleceu-se com a Lei de Diretrizes e deb, que oferece subsídios a todos os níveis
Bases da Educação nº 9.394/96, que alterou da educação, inclusive ao Ensino Médio.
a estrutura do sistema educacional brasileiro Na atual Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
quando no Titulo II – Dos Princípios e Fins da cação, o Ensino Médio tem por finalidade pre-
Educação Nacional – Art. 2.o, declara: A edu- parar o educando para a continuidade dos es-
cação, dever da família e do Estado, inspira- tudos, para o trabalho e para o exercício da ci-
da nos princípios de liberdade e nos ideais de dadania, primando por uma educação escolar
solidariedade humana, tem por finalidade o fundamentada na ética e nos valores de liber-
pleno desenvolvimento do educando, seu pre- dade, justiça social, pluralidade, solidariedade
paro para o exercício da cidadania e sua qua- e sustentabilidade. As prerrogativas da Lei su-
lificação para o trabalho. pracitada acompanham as grandes mudanças
Essa Lei confere legalidade à condição do sociais, sendo, dessa forma, exigido da escola
Ensino Médio como parte integrante da Edu- uma postura educacional responsável, capaz
cação Básica, descrevendo, no artigo 35, os de forjar homens, não somente preparados
princípios norteadores desse nível de ensino: para integrar-se socialmente, como também
de promover o bem comum, concretizando a
O Ensino Médio, etapa final da educação afirmação do homem-cidadão.
básica, com duração mínima de três anos, Norteadas pela Lei de Diretrizes e Bases
terá como finalidades: I – a consolidação e da Educação, apresentam-se as Diretrizes
o aprofundamento dos conhecimentos ad- Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
quiridos no Ensino Fundamental, possibili- (Parecer CEB 5/2011), que tem como pres-
tando o prosseguimento de estudos; II – a supostos e fundamentos: Trabalho, Ciência,
preparação básica para o trabalho e a cida- Tecnologia e Cultura.
dania do educando, para continuar apren- Quando se pensa em uma definição para
dendo, de modo a ser capaz de se adaptar o conceito Trabalho, não se pode deixar de
com flexibilidade a novas condições de ocu- abordar a sua condição ontológica, pois essa é
pação ou aperfeiçoamento posteriores; III – condição imprescindível para a humanização
o aprimoramento do educando como pes- do homem. É por meio dele que se instaura o
soa humana, incluindo a formação ética e o processo cultural, ou seja, é no momento em
desenvolvimento da autonomia intelectual que o homem age sobre a natureza, transfor-
e do pensamento crítico; IV – a compreen- mando-a, que ele se constitui como um ser
são dos fundamentos científico-tecnológi- cultural. Portanto, o Trabalho não pode ser
cos dos processos produtivos, relacionando desvinculado da Cultura, pois estes se com-
a teoria com a prática, no ensino de cada portam como faces da mesma moeda. Sinte-
disciplina. tizando, pode-se dizer que o homem produz
sua realidade, apropria-se dela e a transfor­
Com a incorporação do Ensino Médio à ma, somente porque o Trabalho é uma con-
Educação Básica, entra em vigor, a partir do dição humana/ontológica e a Cultura é o re-
ano de 2007, o Fundo de Manutenção e De- sultado da ação que possibilita ao homem ser
senvolvimento da Educação Básica e de Valo- homem.

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HISTÓRIA 19

Trabalho, Ciência, Tecnologia e Cultura surgem como propiciadoras de um novo mun-


constituem um todo que não se pode disso- do, inclusive, determinando o nível de desen-
ciar, isso porque ao se pensar em Trabalho volvimento socioeconômico de um país.
não se pode deixar de trazer ao pensamento Seguindo as orientações das Diretrizes
o resultado que ele promove, ou seja, a pro- Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, a
dução. Imediatamente, compreende-se que a formação integral do educando deve promo-
Tecnologia não é possível sem um pensamen- ver reflexões críticas sobre modelos culturais
to elaborado, sistemático e cumulativo, daí, pertinentes à comunidade em que ele está
pensar-se em Ciência. Para se ter a ideia do inserido, bem como na sociedade como um
que é referido, pode-se recorrer aos primór- todo. Sob essa ótica, é de fundamental impor-
dios da humanidade, quando o homem trans- tância haver unicidade entre os quatro pres-
formou uma pedra em uma faca, a fim de se supostos educacionais: Trabalho, Ciência,
proteger das feras. Nos dias de hoje, quando a Tecnologia e Cultura que devem estar atrela-
Ciência tornou-se o núcleo fundante das nos- dos entre pensamento e ação e a busca inten-
sas vidas, retirando o homem do seu pedes- cional das convergências entre teoria e práti-
tal, pois foi com o seu triunfo que ele deixou ca na ação humana (Parecer CEB 5/2011).
de ser o centro do universo, as Tecnologias

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HISTÓRIA 21

Currículo Escolar: Aproximação com o cotidiano

A discussão sobre o Currículo Básico é O excerto em destaque trata da vinculação


hoje um tema presente nos projetos políti- ou da dependência do Currículo ao contexto
co-pedagógicos das escolas, nas pesquisas, no qual ele está inserido. Nele, as várias re-
nas teorias pedagógicas, na formação inicial lações que se estabelecem socialmente estão
e continuada dos professores e gestores, e, incluídas, dado que se trata de uma represen-
ainda, nas propostas dos sistemas de ensino, tação social e, por isso, todas as sensações,
tendo no seu centro a especificidade do co- especulações, conhecimentos e sentimentos,
nhecimento escolar, priorizando o papel da para que ele contemple as necessidades dos
escola como instituição social voltada à tare- educandos, são abordadas. Por outro lado,
fa de garantir a todos o acesso aos saberes não se pode desprezar a produção cognitiva,
científicos e culturais. resultado do acúmulo de conhecimentos que
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacio- garantem a permanência da humanidade.
nais para o Ensino Médio, em seu artigo 8.°: Conforme diversos autores citados por
Sabini (2007), esses fundamentados no texto
O Currículo é organizado em áreas de co- de Sacristán e de Seed (2003), o Currículo é
nhecimento, a saber: um conjunto de conhecimentos ou de maté-
rias a ser apreendido pelo educando dentro
I – Linguagens. de um ciclo-nível educativo ou modalidade
II – Matemática. de ensino; o Currículo é uma experiência re-
III – Ciências da Natureza. criada nos educandos, por meio da qual po-
IV – Ciências Humanas. dem desenvolver-se; o Currículo é uma tarefa
e habilidade a serem dominadas; o Currículo
§1.° – O currículo deve contemplar as qua- é um programa que proporciona conteúdos e
tro áreas do conhecimento, com tratamen- valores, para que os educandos melhorem a
to metodológico que evidencie a contextu- sociedade, podendo até mesmo reconstruí-la.
alização e a interdisciplinaridade ou outras Para Silva (2004), o Currículo é definido,
formas de interação e articulação entre portanto, como lugar, espaço, território, rela-
diferentes campos de saberes específicos. ção de poder. Como sabemos, ele também é
o retrato da nossa vida, tornando-se um do-
§2.° – A organização por área de conheci- cumento de identidade em termos de apren-
mento não dilui nem exclui componentes dizagem e construção da subjetividade. Isso
curriculares com especificidades e sabe- serve para mostrar a importância que o Currí-
res próprios construídos e sistematizados, culo pode tomar nas nossas vidas.
mas implica no fortalecimento das relações Considerando a história do Currículo es-
entre eles e a sua contextualização para colar, remetemo-nos ao momento em que se
apreensão e intervenção na realidade, re- iniciam as reflexões sobre o ensino ou quan-
querendo planejamento e execução conju- do ele é considerado como uma ferramenta
gados e cooperativos dos seus professores. pedagógica da sociedade industrial. Assim,

PROPOSTA CURRICULAR
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22 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

partindo do contexto social, o Currículo se faz teo­ria única, mas um conjunto de teorias e
presente em formas de organização da socie- saberes, ou seja, o Currículo, desatrelado do
dade. Dessa forma, podemos compreendê-lo aspecto de simples listagem de conteúdos,
como produto de um processo de conflitos passa a ser um processo constituído por um
culturais dos diferentes grupos de professores encontro cultural, de saberes, de conheci-
que o elaboram (LOPES, 2006). Lopes com- mentos escolares na prática da sala de aula,
preende, ainda, que é necessário conhecer local de interação professor e educando.
as várias formas de conceituação de Currículo Nesse sentido, cabe àqueles que condu-
que são elaboradas para nortear o trabalho zem os destinos do país, e, especificamente,
dos professores em sala de aula. Para Lopes aos que gerem os destinos da Educação no
(idem), o Currículo é elaborado em cada esco- Amazonas encontrar o melhor caminho para
la, com a presença intelectual, cultural, emo- o norteamento do que é necessário, conside-
cional, social e a memória de seus participan- rando a realidade local, a realidade regional
tes. É na cotidianidade, formada por múltiplas e a nacional. E, ainda, sem deixar de conside-
redes de subjetividade, que cada um de nós rar os professores, os gestores, os educandos,
forja nossas histórias de educandos e de pro- os pais e a comunidade em geral. Não basta,
fessores. apenas, a fundamentação teórica bem alicer-
Considerando a complexidade da história çada, mas o seu entendimento e a sua aplica-
do Currículo, não é possível conceber uma ção à realidade.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 23

Um conhecimento FUNDADO SOBRE Competências


e Habilidades

A Secretaria de Estado de Educação e Qua- conhecimentos adquiridos em sala de aula e


lidade do Ensino, com base nas Diretrizes Cur- fora dela, o que necessariamente implica um
riculares do Ensino Médio, reitera em sua Pro- trabalho interdisciplinar.
posta Curricular os seguintes pressupostos: Ao falarmos em Interdisciplinaridade no
formação integral dos educandos; o trabalho ensino, é preciso considerar a contribuição
e a pesquisa como princípio educativo e peda- dos PCN. Um olhar mais atento a esse docu-
gógico; a indissociabilidade entre educação e mento revela-nos a opção por uma concep-
prática social, considerando-se a historicidade ção instrumental de Interdisciplinaridade:
dos conhecimentos e dos sujeitos do processo
educativo, bem como entre teoria e prática no Na perspectiva escolar, a interdisciplinari-
processo de ensino-aprendizagem; a integra- dade não tem a pretensão de criar novas
ção de conhecimentos gerais e, quando for o disciplinas ou saberes, mas de utilizar os
caso, de conhecimentos técnico-profissionais. conhecimentos de várias disciplinas para
Os pressupostos garantidos implicam a resolver um problema concreto ou compre-
responsabilidade dos atores perante o pro- ender um fenômeno sob diferentes pontos
cesso educativo na busca constante dos me- de vista. Em suma, a Interdisciplinaridade
canismos que o transformem em ação efetiva. tem uma função instrumental. Trata-se de
Esses mecanismos dizem respeito ao porquê recorrer a um saber útil e utilizável para
e como trabalhar determinados conhecimen- responder às questões e aos problemas
tos de forma a atingir a formação integral do sociais contemporâneos (BRASIL, 2002, p.
cidadão, vivenciando, assim, a dimensão so- 34-36).
ciopolítica da educação, o que define o Cur-
rículo como ferramenta de construção social. Nos PCN+ (2002), o conceito de Interdis-
Nesse sentido, esta Proposta sugere o Ensino ciplinaridade fica mais claro. Neles é destaca-
fundado em Competências e a não fragmen- do que um trabalho interdisciplinar, antes de
tação dos conhecimentos em disciplinas iso- garantir associação temática entre diferentes
ladas, o que exige uma postura interdiscipli- disciplinas – ação possível, mas não impres-
nar do professor. Os Parâmetros Curriculares cindível – deve buscar unidade em termos de
Nacionais do Ensino Médio (PCN +) orientam prática docente, independentemente dos te-
a organização pedagógica da escola em tor- mas/assuntos tratados em cada disciplina iso-
no de três princípios orientadores, a saber: a ladamente. Essa prática docente comum está
Contextualização, a Interdisciplinaridade, as centrada no trabalho permanentemente vol-
Competências e Habilidades. tado para o desenvolvimento de Competên-
Para melhor compreender os pressupos- cias e de Habilidades, apoiado na associação
tos, apresenta-se a definição: contextualizar ensino-pesquisa e no trabalho expresso em
significa localizar um conhecimento determi- diferentes linguagens, que comportem diver-
nado no mundo, relacionando-o aos demais sidades de interpretação sobre os temas/as-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
24 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

suntos abordados em sala de aula. Portanto, Os caminhos na busca da Interdisciplina-


são esses elementos que dão unidade ao de- ridade devem ser percorridos pela equipe
senvolvimento dos diferentes Componentes docente de cada unidade escolar. O ponto de
Curriculares, e não a associação dos mesmos partida é determinado pelos problemas esco-
em torno de temas supostamente comuns a lares compartilhados pelos professores e por
todos eles. sua experiência pedagógica. O destino é de-
Esta Proposta é expressiva porque ela pro- terminado pelos objetivos educacionais, ou
move a mobilização da comunidade escolar melhor, pelo projeto político pedagógico da
em torno de objetivos educacionais mais am- escola. A Interdisciplinaridade, nesse sentido,
plos, que estão acima de quaisquer conteúdos, assume como elemento ou eixo de integração
porém sem descaracterizar os Componentes a prática docente comum voltada para o de-
Curriculares ou romper com os mesmos. Sua senvolvimento de Competências e Habilida-
prática na escola cria, acima de tudo, a possi- des comuns nos educandos.
bilidade do “encontro”, da “partilha”, da coo- No que diz respeito à Competência, cabe
peração e do diálogo e, por isso, traz-se nesta dizer que numa sociedade em que o conhe-
Proposta a perspectiva da Interdisciplinaridade cimento transformou-se no principal fator
como ação conjunta dos professores. de produção, um dos conceitos que transita
Ivani Fazenda (1994, p. 82) fortalece essa entre o universo da economia e da educação
ideia, quando fala das atitudes de um “profes- é o termo “competência”. A ideia de compe-
sor interdisciplinar”: tência surge na economia como a capacidade
de transformar uma tecnologia conhecida em
Entendemos por atitude interdisciplinar um produto atraente para os consumidores.
uma atitude diante de alternativas para No contexto educacional, o conceito de com-
conhecer mais e melhor; atitude de espera petência é mais abrangente. No documento
ante os atos consumados, atitude de reci- básico do Enem, as competências são associa-
procidade que impele à troca, que impele das às modalidades estruturais da inteligên-
ao diálogo – ao diálogo com pares idênti- cia ou às ações e às operações que utilizamos
cos, com pares anônimos ou consigo mes- para estabelecer relações com e entre obje-
mo – atitude de humildade diante da limi- tos, situações, fenômenos e pessoas.
tação do próprio saber, atitude de perple- Para entendermos o que se pretende, é
xidade ante a possibilidade de desvendar necessário dizer que o ensino fundado em
novos saberes, atitude de desafio – desafio Competências tem as suas bases nos vários
perante o novo, desafio em redimensio- documentos elaborados, a partir das discus-
nar o velho – atitude de envolvimento e sões mundiais e nacionais sobre educação,
comprometimento com os projetos e com dentre eles a Conferência Mundial de Edu-
as pessoas neles envolvidas, atitude, pois, cação Para Todos, realizada na Tailândia, em
de compromisso em construir sempre, da 1990, os “Pilares da Educação para o Século
melhor forma possível, atitude de respon- XXI”1: aprender a conhecer, a fazer, a viver, a
sabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de
revelação, de encontro, de vida. 1 Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre
Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques
Delors. O Relatório está publicado em forma de livro no
Brasil, com o título Educação: Um Tesouro a Descobrir (São
Paulo: Cortez Editora, Unesco, MEC, 1999).

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 25

ser; e nas Diretrizes Curriculares Nacionais – • Localizar, acessar e usar melhor a infor-
Parâmetros Curriculares Nacionais. Todos es- mação acumulada;
ses documentos enfatizam a necessidade de • Planejar, trabalhar e decidir em grupo.
centrar o ensino e a aprendizagem no desen-
volvimento de Competências e de Habilidades Concebe-se que uma pessoa é competen-
por parte do educando, em lugar de centrá-lo, te quando tem os recursos para realizar bem
apenas, no conteúdo conceitual. uma determinada tarefa, ou seja, para resol-
Como se pode comprovar, tanto o Ensino ver uma situação complexa. O sujeito está ca-
Fundamental quanto o Ensino Médio têm tra- pacitado para tal quando tem disponíveis os
dição conteudista. Na hora de falar de Com- recursos necessários para serem mobilizados,
petência mais ampla, carrega-se no conteúdo. com vistas a resolver os desafios na hora em
Não estamos conseguindo separar a ideia de que eles se apresentam. Nesse sentido, educar
Competência da ideia de Conteúdos, porque a para Competências é, então, ajudar o sujeito
escola traz para os educandos respostas para a adquirir as condições e/ou recursos que de-
perguntas que eles não fizeram: o resultado é verão ser mobilizados para resolver situações
o desinteresse. As perguntas são mais impor- complexas. Assim, educar alguém para ser um
tantes do que as respostas, por isso o enfo- pianista competente é criar as condições para
que das Diretrizes/Parâmetros nos conteúdos que ele adquira os conhecimentos, as habili-
conceituais, atitudinais e procedimentais, o dades, as linguagens, os valores culturais e os
que converge para a efetivação dos pilares da emocionais relacionados à atividade específica
Educação para o século XXI. Todavia, é hora de tocar piano muito bem (MORETTO, 2002).
de fazer e de construir perspectivas novas. As- Os termos Competências e Habilidades,
sim, todos nós somos chamados a refletir e a por vezes, se confundem; porém fica mais fá-
entender o que é um ensino que tem como cil compreendê-los se a Competência for vista
uma das suas bases as Competências e Habi- como constituída de várias Habilidades. Mas
lidades. uma Habilidade não “pertence” a determina-
O Ministério da Educação determina as da Competência, uma vez que a mesma Ha-
competências essenciais a serem desenvolvi- bilidade pode contribuir para Competências
das pelos educandos do Ensino Fundamental diferentes. É a prática de certas Habilidades
e Médio: que forma a Competência. A Competência é
algo construído e pressupõe a ação intencio-
• Dominar leitura/escrita e outras lingua- nal do professor.
gens; Para finalizar, convém dizer que esta Pro-
• Fazer cálculos e resolver problemas; posta caminha lado a lado com as necessida-
• Analisar, sintetizar e interpretar dados, des educacionais/sociais/econômicas/filosófi-
fatos, situações; cas e políticas do país, que não deixam de ser
• Compreender o seu entorno social e as do mundo global. Assim sendo, é interesse
atuar sobre ele; dos educadores preparar a juventude amazo-
• Receber criticamente os meios de co- nense para enfrentar os desafios que se apre-
municação; sentam no século XXI, daí ao conhecimento
fundado em Competências e Habilidades.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 27

Áreas dE conhecimento: A integração dos saberes

A Proposta Curricular do Ensino Médio totalidade. Uma perspectiva, como se pode


compreende as quatro Áreas de Conhecimen- ver, dos novos tempos.
to, constantes da base nacional comum dos Em Matemática e suas Tecnologias abor-
currículos das escolas de Ensino Médio e es- daram-se conhecimentos que destacassem
tabelece, como fundamento pedagógico, con- aspectos do real, cabendo ao educando com-
teúdos os quais devem ser inclusos, fundados preender os princípios científicos nas tecno-
sobre Competências, previamente analisados, logias, associando-os aos problemas que se
reagrupados e organizados em conformidade busca resolver de modo contextualizado. E,
com as necessidades dos envolvidos: educan- ainda, trazendo a Matemática para a concre-
dos, professores, gestores, todos os profissio- tude do educando. Com isso, quer-se dizer
nais do processo educativo. que a Matemática abandona o espaço abs-
A organização nas quatro Áreas de Conhe- trato, apenas atingível pelo pensamento, para
cimento tem por base compartilhar o objeto explicar a rea­lidade do educando, por meio
de estudo, considerando as condições para das situações-problema em que se situam o
que a prática escolar seja desenvolvida em homem concreto, real, em um universo ma-
uma perspectiva interdisciplinar, visando à terial, espiritual, emocional. Podendo-se até
transdisciplinaridade. mesmo dizer que a proposta de Matemática
Em Linguagens, Códigos e suas Tecnolo- é feita com as nossas emoções, com as nos-
gias, elencaram-se Competências e Habili- sas paixões, discutindo-se esse conhecimento
dades que permitam ao educando adquirir na sua região de saber, problematizando-se o
domínio das linguagens como instrumentos próprio império da razão.
de comunicação, em uma dinamicidade, e si­ Em Ciências da Natureza e suas Tecnolo-
tuada no espaço e no tempo, considerando as gias, consideraram-se conhecimentos que
relações com as práticas sociais e produtivas, contemplem a investigação científica e tecno-
no intuito de inserir o educando em um mun- lógica, como atividades institucionalizadas de
do letrado e simbólico. Como se sabe, a lin- produção de conhecimento. Mais uma vez,
guagem é instauradora do homem. Sem ela, entende-se que o conhecimento não pode
ele não existe, pois somente assim, quando se mais ser concebido de forma compartimen-
considera que o homem fala, é que se diz que tada, como se cada uma das suas esferas fos-
ele existe, pois é a linguagem que o distingue se de direito e de posse de cada um. Assim,
dos demais animais. Nesse sentido, a lingua- vislumbram-se, sobretudo, a interdisciplina-
gem é ampla, explicitada pela fala, pelo corpo, ridade e a transdisciplinaridade. O momento
pelo gesto, pelas línguas. Aqui, discute-se as em que se constrói um novo conhecimento
Áreas de Conhecimento, superando-se o com- é privilegiado, pois ele retorna a um estágio
partimento das disciplinas, porque somente inaugural, no qual o saber não se comparti-
agora o homem se compreendeu como um menta, mas busca a amplitude, visando com-
ser que poderá ser visto e reconhecido na sua preender o objeto de forma ampla, conside-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
28 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

rando sua complexidade. Por isso, a Física, Para o Ensino Médio do Estado do Amazo-
por exemplo, pode ser expressa em forma de nas, pensou-se em organizar os Componentes
poema, e a Biologia, que trata da vida dos se- Curriculares fundamentados nas diretrizes nor-
res, pode ser expressa em forma de música. teadoras desse nível de ensino, sem desconsi-
Somente assim o homem poderá falar de um derar as questões de cunho filosófico, psicoló-
homem mais humano, em uma perspectiva gico, por exemplo, que as mesmas implicam,
total, integradora. expressas pelo Ministério da Educação, consi-
Em Ciências Humanas e suas Tecnologias, derando a autonomia das instituições escola-
em que se encontra também a Filosofia, con- res e a aprendizagem dos educandos de modo
templam-se consciências críticas e criativas, efetivo. Os conteúdos apresentam-se por meio
com condições de responder de modo ade- de temas, os quais comportam uma bagagem
quado a problemas atuais e a situações novas, de assuntos a serem trabalhados pelos profes-
destacando-se a extensão da cidadania, o uso sores, conforme as especificidades necessárias
e a produção histórica dos direitos e deveres para cada nível de ensino. As Competências e
do cidadão e, ainda, considerando o outro em Habilidades expressam o trabalho a ser pro-
cada decisão e atitude. O importante é que o posto pelo professor quanto ao que é funda-
educando compreenda a sociedade em que mental para a promoção de um educando mais
vive, como construção humana, entendida preparado para atuar na sociedade. E os pro-
como um processo contínuo. Não poderia dei- cedimentos metodológicos, como sugestões,
xar de ser mais problemática a área de Ciên- auxiliam o professor nas atividades a serem
cias Humanas, pois ela trata do homem. Ten- experienciadas pelos educandos, ressaltando-
do o homem como seu objeto, ela traz para -se que se trata de um encaminhamento que
si muitos problemas, pois pergunta-se: Quem norteará a elaboração de um Planejamento
é o homem? Quem é este ser tão complexo Estratégico Escolar.
e enigmático? Estas são questões propostas Ressalta-se, também, que foram acrescen-
pela própria Área de Conhecimento de Ciên- tadas alternativas metodológicas para o ensi-
cias Humanas. Todavia, ela existe porque o ho- no dos Componentes Curriculares constantes
mem existe e é por isso que ela exige a forma- do Ensino Médio, no intuito de concretizar
ção e a atenção de profissionais competentes. esta Proposta, além de propiciar ao profes-
Considerando-se toda a problemática que a sor ferramentas com as quais poderá contar
envolve é que a atenção sobre a mesma é re- como um recurso a mais no encaminhamento
dobrada e que os cuidados são mais exigidos. de seu trabalho em sala de aula.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 29

1
O COMPONENTE CURRICULAR
INTEGRADOR DA MATRIZ DO
ENSINO MÉDIO

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 31

1.1 A História no Ensino Médio a) Discutindo nossas possíveis limitações


acadêmicas e pedagógicas, bem como
Não nos enganemos: a imagem que faze- as existentes no sistema educacional,
mos de outros povos, e de nós mesmos, ou
está associada à História que nos ensi- b) Tentando entender o histórico das dis-
naram quando éramos crianças. Ela nos ciplinas que ministramos, para que pos-
marca para o resto da vida. Sobre essa re- samos interagir com as diferentes situa-
presentação, que é para cada um de nós ções de nossa existência.
uma descoberta do mundo e do passado
das sociedades, enxertam-se depois opi­ Diante de tais questões, nos restam algu-
niões, ideias fugazes ou duradouras, como mas perguntas direcionadas mais especifi-
o amor... mas permanecem indeléveis as camente ao componente curricular História:
marcas das nossas primeiras curiosidades, Quais os caminhos trilhados pela História no
das nossas primeiras emoções.[...] Contro- Brasil como disciplina? Quais as dificuldades
lar o passado ajuda a dominar o presente e enfrentadas pelo ensino da História e como
a legitimar tanto as dominações quanto as os programas de ensino de História foram
rebeldias (FERRO, 1983, p. 11). aplicados às nossas crianças e jovens na reali-
dade escolar? Enfim, quais desafios foram en-
A epígrafe chama atenção para uma das frentados pelos intelectuais que discutiram o
consequências que o homem moderno hoje como e o quê deveria ser ensinado? Sem dúvi-
vivencia, notadamente nos grandes centros da, questões profundas. Tentar respondê-las
urbanos: ter de entregar e confiar, cada vez é o nosso desafio.
mais cedo, à instituição escolar a responsa- Quando da constituição do Estado na-
bilidade pela educação formal das gerações cional brasileiro, em 1822, o jovem Império
futuras. passou a enfrentar um novo problema: como
Essa nova realidade só aumenta a respon- se transformar em uma nação. Debate difícil
sabilidade de nós professores que, muitas para um país marcado pelo trabalho escravo
vezes, temos de agir como pais dos nossos e pela existência de amplas populações indí-
educandos, mesmo sem conhecer a realidade genas. Tal dificuldade já havia sido salienta-
da educação doméstica à qual eles estão sub- da por José Bonifácio de Andrada e Silva, em
metidos. Sem dúvida, é um desafio adicional. 1813, ao refletir sobre a realidade brasileira:
Estamos aptos a enfrentá-lo? ...amalgamação muito difícil será a liga de
A resposta tem de ser buscada no âmbi- tanto metal heterogêneo, como brancos, mu-
to individual e também no coletivo. À medi- latos, pretos livres e escravos, índios etc., em
da que nos preparamos, cada vez mais, para um só corpo sólido e político (JOSÉ BONIFÁCIO
agirmos como professores nos colocamos apud DIAS, 1972, p. 174).
disponíveis para enfrentar os desafios impos- Resposta a essa pergunta, com certeza, era
tos pela sociedade na qual estamos inseridos formulada por outros intelectuais da época,
e procuramos agir também como sujeitos do preocupados com o desenvolvimento do fu-
processo educacional, seja: turo da nação. Mas essa tarefa ficou ao encar-
go do Instituto Histórico e Geográfico Brasilei-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
32 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

se confundem em seu principal objetivo, que


Como se pode ver, no Brasil a História era o de conformar um discurso sobre a nacio-
acadêmica e a História disciplina nascem nalidade brasileira, problema central enfren-
juntas e se confundem em seu principal tado pelo Império, em meados do século XIX.
objetivo, que era o de conformar um Esse breve histórico, guardadas as devi-
das proporções, é válido também para cada
discurso sobre a nacionalidade brasileira,
Componente Curricular (Geografia, Matemá-
problema central enfrentado pelo tica etc.), e constitui um exercício de reflexão
Império, em meados do século XIX. importante para que possamos perceber que,
desde os primórdios, não só no Brasil, ensinar
nos meios públicos oficiais tornou-se uma ta-
ro (IHGB), fundado em 1838, a quem coube­ refa onde o Estado intervém direta e podero-
o delineamento de um perfil para a ‘nação samente.
brasileira’, capaz de garantir uma identidade Uma dessas intervenções acontece por
própria no conjunto mais amplo das ‘nações’, meio dos currículos e programas, instrumen-
de acordo com os novos princípios organiza- tos poderosos de intervenção do Estado no
dores da vida social do século XIX (GUIMA- ensino. Essa interferência conduz ao ajus-
RÃES, 1988, p. 6). tamento daquilo que o Estado julga impres-
Quando da criação do IHGB, o discurso his- cindível que os jovens minimamente saibam
toriográfico já havia ganhado foros de cientifi- e como devem saber, além de mostrar como
cidade e, na Europa, a História já havia ganha- esses conteúdos devem ser postos em prática
do espaço para discussões nas universidades. no exercício da cidadania.
No Brasil, coube aos letrados do IHGB a tarefa No campo específico da História, é impor-
de escrever a História do Brasil. Mas a vulgari- tante sabermos que esse passado não só não
zação do ensino da História, no meio escolar, é o mesmo para todos como, para cada um de
foi responsabilidade de outra instituição, o nós, sua lembrança modifica-se com o tempo:
Colégio D. Pedro II, também criado em 1838. essas imagens mudam à medida que muda,
Aos sócios do IHGB, segundo Kátia Abud, na sociedade, a função da História (FERRO,
coube a missão de construir a genealogia na- 1983, p. 11). Portanto, ter o controle do que
cional, no sentido de dar uma identidade à na- se deve ensinar é uma tarefa da qual os Es-
ção brasileira, e ao Colégio D. Pedro II, a res- tados modernos não podem prescindir. Mas
ponsabilidade de formar os filhos da nobreza isso não significa que não haja reação por par-
da Corte do Rio de Janeiro e prepará-los para te de outros membros da sociedade, organi-
o exercício do poder. De que maneira a Histó- zada ou não.
ria deveria ser ensinada? Como uma ciência Abud, refletindo sobre o significado dos
social geral que (ensinasse) aos educandos, Currículos e Programas como um dos campos
ao mesmo tempo, a diversidade das socieda- de interferência do Estado, assim se manifesta:
des do passado e o sentido de sua evolução
(ABUD, 2002, p. 30) Através dos programas divulgam-se as
Como se pode ver, no Brasil a História aca- concepções científicas de cada disciplina,
dêmica e a História disciplina nascem juntas e o estado de desenvolvimento em que as

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 33

ciências de referência se encontram e, ain- égide republicana, a necessidade de imple-


da, que direção devem tomar ao se trans- mentar novas relações racionais de trabalho
formar em saber escolar. Nesse processo, livre e o incentivo ao processo migratório
o discurso do poder se pronuncia sobre a como forma de substituir as relações escravis-
educação e define seu sentido, forma, fi- tas até então vigentes, mostravam os novos
nalidade e conteúdo e estabelece, sobre desafios políticos a serem enfrentados. Nes-
cada disciplina, o controle da informação a se contexto, ganham forças as propostas que
ser transmitida e da formação pretendida. apontavam a educação, em especial a ele-
Assim, a burocracia estatal legisla, regula- mentar, como forma de realizar a transforma-
menta e controla o trabalho pedagógico ção do país (PCN Ensino Fundamental, 1997,
(2002, p. 30). v. 5, p. 21).
Na República, a História teve como função,
Discutido o significado dos currículos e apregoada no currículo, um duplo papel: o ci-
programas, vejamos, em linhas gerais, os con- vilizatório e o patriótico. A busca da nacionali-
teúdos da disciplina História, ministrada aos dade continuava ainda como meta e, ao lado
jovens no Império e na República. das disciplinas de Geografia e da Língua Pá-
No Império, a partir de 1827, a História tria, formavam o tripé da nacionalidade, cujo
aparecia como disciplina optativa do currí- objetivo nos anos da escola elementar seria
culo nos programas das escolas elementares o de esculpir um novo tipo de trabalhador: o
(PCN Ensino Fundamental, 1997, v. 5, p. 19) cidadão patriótico.
constituindo-se como autônoma no secundá- Somente nos anos de 1930, com a criação
rio, somente em 1938, ministrada no Colégio do Ministério da Educação e Saúde Pública,
D. Pedro II. houve uma uniformização nacional dos currí-
A concepção de História que vigia era a culos e dos conteúdos que passaram a ser os
sacra, religiosa, fato justificado pela ampla in- mesmos em nível nacional. No tocante ao en-
fluência da religião católica no governo, que sino da História, deu-se ênfase ao estudo da
pode ser explicado pela união Estado e Igreja.
A partir de 1870, com a influência das concep-
ções centradas no cientificismo, houve a in- Na República, a História teve como
clusão de outras disciplinas como as Ciências
função, apregoada no currículo,
Físicas, História Natural e tópicos de História e
Geografia Universal, História do Brasil e Histó-
um duplo papel: o civilizatório e o
ria Regional. patriótico. A busca da nacionalidade
A história sagrada, até então dominante, continuava ainda como meta e, ao
começou a ser contestada. A história profana lado das disciplinas de Geografia e
ou laica era a resposta daqueles que critica- da língua pátria, formavam o tripé da
vam a escravidão, defendiam o seu fim e al- nacionalidade, cujo objetivo nos anos
mejavam, também, a destituição do sistema
da escola elementar seria o de esculpir
monárquico.
No final do século XIX, os novos desafios
um novo tipo de trabalhador: o cidadão
enfrentados pela sociedade brasileira sob a patriótico.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
34 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

História Geral. O Brasil e a América eram vis-


tos como apêndices da civilização ocidental. Com a democratização do país nos
O método de ensino em vigor, o de decorar as anos 80, começa-se a assistir o
lições, passou a ser questionado pelos adep- retorno da História e da Geografia,
tos da Escola Nova, decorrente da influência mediante a nova realidade vivida pelo
da pedagogia norte-americana, que apregoa-
país que apresentava uma intensa
va um ensino mais dinâmico com a utilização
de filmes, visitas a museus, isto é, um ensino movimentação de ideias, de pessoas,
que levasse em conta o ato de fazer por parte migrações dos campos em direção às
dos educandos. cidades, deslocamentos estaduais,
O conteúdo de História sustentava a cren- a presença cada vez mais marcante
ça na democracia racial, advogando que, no das novas tecnologias no cotidiano
Brasil, a miscigenação resultante da mistura das pessoas, a televisão, o rádio e os
entre brancos, negros e índios, tendo como
computadores. Enfim, a compreensão
resultado os mestiços, produziria uma socie-
dade onde todos viveriam de forma harmô- de uma realidade que não mais
nica e sem contradições. Até então, acredi- poderia ser ignorada e, portanto,
tava-se que o atraso do Brasil em relação às exigia sua entrada na sala de aula.
outras sociedades era devido justamente à
mestiçagem. Houve, portanto, uma mudança
de enfoque. Os anos 30 significaram também
o início da influência norte-americana nos tação da LDB nº 5.692/71, operaram-se pro-
nossos programas e currículos escolares. No fundas modificações no ensino. Introduziu-se
ensino elementar, paulatinamente, a História o ensino de 1º grau de oito anos e excluiu-se
e a Geografia foram sendo substituídos pelos História e Geografia como disciplinas inde-
Estudos Sociais. pendentes, da 1ª à 4ª séries. No nível supe-
Nos anos 50 e 60, inspirados pelo “nacio- rior, criou-se a Licenciatura curta em Estudos
nal desenvolvimentismo”, período de ampla Sociais. A reação a essa mudança foi se con-
influência norte-americana na economia bra- solidando e as associações de profissionais de
sileira, a história do continente americano, História e de Geografia, a ANPUH – Associa-
principalmente os EUA, ganhou espaço no ção Nacional de Professores Universitários de
currículo escolar. O conteúdo de História a ser História, e a AGB – Associação dos Geógrafos
ministrado levou em consideração os currícu- Brasileiros, respectivamente, acusavam que
los concêntricos: ciclo do pau-brasil, da mi- a unificação das disciplinas levou a uma frag-
neração, do gado, da cana-de-açúcar etc. Ao mentação do conhecimento produzido, impe-
mesmo tempo, a História também era ensina- dindo que se ensinasse aos educandos a rea-
da por meio dos modos de produção, explica- lidade crítica do processo histórico brasileiro.
ção marxista da história, significando a influ- Sem dúvida, um dos objetivos da lei.
ência da universidade no ensino secundário. As críticas feitas pelas associações eram de
Com a vigência do regime militar no Brasil, que os conteúdos de História e de Geografia,
1964 a 1982, por intermédio da implemen- substituídas por Estudos Sociais, haviam sido

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 35

esvaziados e substituídos por Educação Moral em quase todo o país, por meio das Secreta-
e Cívica, disciplina de cunho ufanístico e pa- rias de Educação do Estado e do Município,
triótico, cujo objetivo era legitimar o governo a reformulação das propostas curriculares em
militar implantado no país, em 1964. vigor, tendo como uma das preocupações a
o Com a democratização do país nos anos regionalização do ensino. Era o colocar em
80, começa-se a assistir o retorno da História prática o resultado de anos de crítica feita pe-
e da Geografia, mediante a nova realidade los profissionais do ensino, em particular os
vivida pelo país que apresentava uma inten- professores de História, por meio da Anpuh,
sa movimentação de ideias, de pessoas, mi- nos diversos encontros regionais e nacionais
grações dos campos em direção às cidades, desde os anos de 1970. Esses debates produ-
deslocamentos estaduais, a presença cada ziram reflexões importantes na qual avaliaram
vez mais marcante das novas tecnologias no a produção historiográfica anterior e propuse-
cotidiano das pessoas, a televisão, o rádio e os ram novos encaminhamentos expressos em
computadores. Enfim, a compreensão de uma obras como Repensando a História, História
o
realidade que não mais poderia ser ignorada em quadro-negro, O ensino de História e a
e, portanto, exigia sua entrada na sala de aula. criação do fato, para a pesquisa e o ensino
A nova realidade do país, ancorada por (JANOTTI, 2002, p. 45).
intenso debate entre os movimentos sociais Na educação, os professores de História,
que passaram a ser estudados por pesquisa- durante o regime militar, vivenciaram uma
dores universitários, ampliou o debate e con- separação acentuada da produção historio-
clamou os professores a assumirem um papel gráfica realizada nas universidades brasileiras
mais ativo diante das reformas curriculares, e a produção escolar, sendo que no período
minimizando, dessa forma, o papel e a influ- chamado de “abertura democrática” os pro-
ência dos técnicos em Educação. fessores do Ensino Médio e das universidades
iniciaram uma fase de reaproximação entre os
O reencontro com a democracia e a nova LDB dois níveis de ensino. O novo momento polí-
tico, marcado por críticas ao regime expres-
Brasil, início da década de 1980. O país sas em greves e reivindicações por melhores
finalmente encontra-se com a democracia, condições de trabalho e salários, indicava a
pondo fim a um longo período em que a so- necessidade de mudanças no plano educacio-
ciedade brasileira havia sido silenciada pelos nal visto que, na década de 70, grupos sociais
governos militares, no poder desde os anos oriundos das classes trabalhadoras passaram
de 1964. Historiadores, geógrafos, filósofos, a ocupar os bancos das escolas que, até en-
físicos, sociólogos, cientistas sociais, artistas, tão, haviam sido pensadas e organizadas para
trabalhadores e tantos outros profissionais setores privilegiados ou da classe média as-
em suas associações de classe vinham, desde cendente (BITTENCOURT, 2002, p. 13).
anos anteriores, reivindicando, de diversas O processo de discussão e a reforma cur-
formas, o encontro com o livre pensar. ricular tiveram continuidade agora diante de
Ao iniciar a década de 1980, os governa- uma nova realidade, com características dife-
dores eleitos, em sua maioria de oposição ao rentes das vivenciadas pelo Brasil da década
regime agonizante, começam a implementar, de 70, quando o governo militar propôs a pro-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
36 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

educacional, as mudanças enfrentadas pelo


O Brasil, ao incorporar as demandas mundo capitalista vinha experimentando.
e as necessidades do ideal neoliberal Dessa forma pode-se afirmar que as reformas
vigente no mundo contemporâneo, teve educacionais ocorridas nos países em desen-
que atualizar o sistema educacional visto volvimento, dentre eles o Brasil, estão ancora-
das nos mesmos pressupostos. Isso reforça a
que a LDB de 1971 encontrava-se em
ideia de que há um novo projeto de sociedade
dissintonia com os novos paradigmas sendo pensado e desenvolvido pelos intelec-
em vigor. Diante da constatação da nova tuais produtores da ideologia que sustenta o
realidade e das novas necessidades capitalismo (FORNAZARI et al, 2007, p. 2). No
exigidas pelo capitalismo neoliberal, Brasil, signatário do encontro, o documento
o governo do presidente Fernando foi publicado, em 1990, sob os auspícios da
Henrique Cardoso aprovou a Lei n.° Unesco juntamente com o MEC.
O Brasil, ao incorporar as demandas e as
9394/96. O Ensino Médio, como parte
necessidades do ideal neoliberal vigente no
integrante da educação escolar, “deverá mundo contemporâneo, teve de atualizar o
vincular-se ao mundo do trabalho e à sistema educacional visto que a LDB de 1971
prática social” (Art. 1§ 2.°). encontrava-se em dissintonia com os novos
paradigmas em vigor. Diante da constatação
da nova realidade e das novas necessidades
fissionalização compulsória por meio da LDB exigidas pelo capitalismo neoliberal, o gover-
nº 5.692/71, período no qual o país vivia o no do presidente Fernando Henrique Cardoso
chamado “milagre brasileiro”. A escola secun- aprovou a Lei n.° 9.394/96. O Ensino Médio,
dária, portanto, formava os futuros trabalha- como parte integrante da educação escolar,
dores na perspectiva de um modelo fordista. “deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à
Ainda nesse período, no contexto mundial, as prática social” (Art. 1§ 2.°). Essa lei pretende
nações viveram a “crise do petróleo” de 1973 instituir para esse nível de ensino que integre,
acompanhada de uma reestruturação profun- numa mesma e única modalidade, finalidades
da no mundo capitalista. Nesses novos tem- até então dissociadas, conforme a lei anterior,
pos de reestruturações planetárias faziam-se oferecendo de modo articulado uma educa-
necessárias mudanças no modelo de organiza- ção equilibrada e com funções equivalentes a
ção e na qualificação dos trabalhadores, visto todos os educandos:
que o processo de formação dos trabalhado-
res não havia acompanhado tais modificações. •• A formação da pessoa, de maneira a desen-
Em 1990, intelectuais do mundo intei- volver valores e competências necessárias
ro reúnem-se em Jomtiem, na Tailândia, em à integração de seu projeto individual ao
Conferência Mundial de Educação Para Todos, projeto da sociedade em que se situa;
evento patrocinado pela Unesco, Unicef, Pnud •• O aprimoramento do educando como pes-
e Banco Mundial e aprovam um relatório inti- soa humana, incluindo a formação ética e o
tulado Educação: um tesouro a descobrir. Esse desenvolvimento da autonomia intelectual
documento sintetizava, inclusive no plano e do pensamento crítico;

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 37

•• A preparação e orientação básica para a é sujeito da história) e a necessidade (ações


sua integração ao mundo do trabalho, com determinadas pela sociedade, que é produ-
as competências que garantam seu apri- to de uma história) (PCNEM, 1999, p. 299).
moramento profissional e permitam acom- Com isso, queremos dizer que a proposta ou
panhar as mudanças que caracterizam a a reestruturação curricular em curso não se
produção no nosso tempo; preocupou, em primeiro plano, com um currí-
•• O desenvolvimento das competências para culo voltado para o conteúdo pelo conteúdo,
continuar aprendendo, de forma autôno- e, sim, em estabelecer um aprendizado que
ma e crítica, em níveis mais complexos de levasse em conta as Competências e Habi-
estudos (PCNEM, 1999, p. 22). lidades que o educando deve adquirir para
enfrentar os problemas do nosso tempo con-
Portanto, a Proposta Curricular que ora se temporâneo.
desenha propõe um conteúdo programático
para o Componente Curricular História, o qual
necessita ser pensado como um componente A questão que se coloca como de
da área de Ciências Humanas e suas Tecnolo- fundamental importância é o porquê
gias e sua relação com as demais ciências. ensinar História e tão importante quanto
A questão que se coloca como de funda- o porquê é o que ensinar em História?
mental importância é o porquê ensinar His- Questões centrais num mundo dominado
tória é tão importante quanto o que ensinar
pelas tecnologias cuja informação
em História. Questões centrais num mundo
dominado pelas tecnologias, cuja informação
instantânea faz nos sentir viver numa
instantânea faz-nos sentir, viver numa espé- espécie de presente contínuo.
cie de presente contínuo. Nesse sentido, os
professores têm de ter clareza de seu papel
e saber como atuar nesse novo cenário, cuja Com essa preocupação, algumas dezenas
quantidade da informação e, não necessa- de professores de História, consultores e téc-
riamente a sua qualidade, ganha status de nicos da Seduc se reuniram em novembro de
“conhecimento”. A clareza por parte dos pro- 2010 e refletiram sobre a necessidade de no-
fessores sobre o significado do Ensino Médio vos caminhos a perseguir em busca de uma
e sua relação com o processo de formação educação e de um ensino que dê conta desses
anterior, o Ensino Fundamental, evidencia a novos desafios.
importância da integração da História com os Estar atentos à necessidade de que as apro-
demais Componentes Curriculares que com- ximações entre a História ensinada e a produ-
põem as denominadas Ciências Humanas per- ção acadêmica têm se intensificado a partir do
mite sedimentar e aprofundar temas estuda- final dos anos setenta, estabelecendo relações
dos no Ensino Fundamental, redimensionando muitas vezes profícuas, mas que apontam para
aspectos da vida em sociedade e o papel do as dificuldades de consensos e ou definições
indivíduo nas transformações do processo his- simplificadas sobre os conteúdos e métodos de
tórico, completando a compreensão das rela- ensino (PCNEM, 1999, p. 300), faz-nos pensar
ções entre a liberdade (ação do indivíduo que na necessidade de refletirmos sobre a intensi-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
38 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

dade do debate historiográfico, que tem sido dos indivíduos, rearticulando a subjetividade
intenso, com abordagens diversas sobre an- ao fato de serem produtos de determinado
tigos temas e inclusão de novos objetos que tempo histórico, no qual as conjunturas e as
constituem as múltiplas facetas da produção estruturas estão presentes. A produção histo-
humana, e que se sustentam em uma plurali- riográfica, no momento, busca estabelecer diá-
dade de fundamentos teóricos e metodológi- logos com o seu tempo, reafirmando o adágio
cos. de que “toda história é filha do seu tempo”,
Essa renovação historiográfica pode ser da- mas sem ignorar ser fruto de muitas tradições
tada, a partir do final dos anos de 1920, com de pensamento (PCNEM, 1999, p. 300).
a história dos “Annales”. Sem dúvida, o fazer Dar conta da dimensão dessa relação é
historiográfico, a partir de então, tornou-se também uma responsabilidade do professor
muito mais complexo, tendo como resulta- no seu cotidiano escolar, comprometido com
do novas indagações sobre o funcionamento uma educação de melhor qualidade e imbuí-
das sociedades, integrando as multiplicida- do de compromisso social. Compromisso so-
des temporais, espaciais, sociais e culturais cial, aqui entendido, quando o professor tem
presentes em uma coletividade, favorecendo uma participação ativa e decisiva sobre o quê
estudos sobre a história das mentalidades na e o como ensinar. Ou seja, sobre o conteúdo
interpretação da realidade e das práticas so- e os métodos de ensino aliados à sua concep-
ciais (PCNEM, 1999, p. 300). ção teórica.
Desse desenvolvimento histórico, enfo- Mas é bom deixar claro também para que
cando as questões que os homens iam expe- esses esforços deem certo, é necessário o
rimentando no seu cotidiano, a História foi desenvolvimento de algumas Competências
refinando seus instrumentais na busca de dar a serem adquiridas pelo educando como as
conta das novas dimensões da realidade que ligadas à leitura, análise, contextualização e
nem sempre respondiam, a contento, a todas interpretação das diversas fontes e testemu-
as interrogações, posto que deixava de fora nhos das épocas passadas – também do pre-
da explicação histórica sujeitos importantes sente. Ao exercitar essas competências, temos
na construção da trama histórica. Inseri-los na a clareza de que não estamos constrangendo
explicação histórica passou a ser desafio de nenhum professor a adotar uma determinada
muitos historiadores. Assim, com o afã de in- concepção teórica e/ou metodológica.
troduzir os “vencidos”, as “minorias”, os fatos Com essas preocupações, julgamos que
cotidianos, a História vem construindo novos o educando, no Ensino Médio, seja capaz de
percursos desde inícios do século XX. aprofundar as noções de temas antes discuti-
A História social e cultural tem se imposto dos no Ensino Fundamental, como a constru-
de maneira a rearticular a História econômica e ção dos laços de identidade e a consolidação
a política, possibilitando o surgimento de vozes da formação de cidadania, diferença, e de
de grupos e de classes sociais antes silencia- semelhança, além de ampliar e consolidar as
dos. Mulheres, crianças, grupos étnicos diver- noções de tempo histórico (PCNEM, 1999, p.
sos têm sido objeto de estudos que redimen- 302).
sionam a compreensão do cotidiano em suas Portanto, a proposta de reestruturação
esferas privadas e políticas, a ação e o papel curricular da disciplina História, da área de

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 39

Ciências Humanas e suas Tecnologias, se une Objetivo geral do componente curricular


aos profissionais do componente curricular
na luta pela melhoria do ensino, esperando Possibilitar aos educandos noções acerca
que um dos resultados seja a formação de do processo histórico e suas múltiplas possibi-
gerações de jovens cidadãos conscientes e lidades, tendo como elemento central as trans-
compromissados com a construção de uma formações do ser humano, a complexidade das
sociedade mais justa e igualitária. experiências vividas por homens e mulheres na
emergência de um mundo novo e as transfor-
mações daí oriundas quer sejam na sociedade,
na cultura, na política e na economia.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
40 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

1.2 Quadro demonstrativo do Componente Curricular

1ª Série

Objetivos específicos:

•• Compreender a importância da História no processo das transformações sociais;


•• Analisar as diversas formas da presença humana na terra, associando suas criações
sociais, culturais, políticas e econômicas;
•• Refletir sobre o impacto das transformações tecnológicas no desenvolvimento huma-
no;
•• Reconhecer os choques culturais, assim como a relevância dos mesmos na constitui-
ção de novas sociedades.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
Eixo Temático: Da fragilidade do homem à aurora do mundo moderno

COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Compreender a importância • Identificar os diversos pontos de Estudo da História: a História antes • Realizando leituras de historiadores e de
da História na explicação das vista acerca da História como ciência; da escrita e as sociedades do antigo arqueólogos;
transformações da sociedade e • Analisar o desenvolvimento cultural oriente • Discutindo ideias acerca da História como
as discussões científicas sobre do homem e sua relação com a ciência;
o surgimento do homem nas natureza;
diversas partes do mundo; • Introdução ao estudo da História • Visitando museus in loco e on-line;
• Conhecer a origem da humanidade • Para que serve a História? • Analisando documentos de época,
• Compreender as transformações por meio de diferentes explicações;
dos espaços geográficos • Discussões em torno da pré-história imagens de artefatos e vídeos de
como produto das relações • Caracterizar e diferenciar os escavações arqueológicas;
povoadores de origem asiática e • A formação das sociedades orientais:
socioeconômicas e culturais de • Interpretando, em textos, as diferentes
poder. de origem africana, confrontando explicações sobre a origem da
interpretações distintas sobre suas - As sociedades egípcia, mesopotâmica, humanidade;
identidades; fenícia, hebraica e persa • Interpretando, historicamente e/ou
• Conhecer as explicações históricas • O povoamento da América, do Brasil geograficamente, fontes documentais

1 º BIMESTRE
sobre as sociedades orientais, e a e da Amazônia acerca de aspectos da cultura;
memória destas, na antiguidade;
• Analisando, por meio de textos, as
• Identificar as manifestações da explicações da arqueologia acerca da
diversidade do patrimônio cultural e presença do homem no continente
artístico em diferentes sociedades; americano;
• Analisar o significado da religião e • Interpretando as explicações históricas e
sua relação com o poder; a produção da memória nas sociedades
• Identificar os elementos que orientais da antiguidade;
propiciaram a formação do Estado • Associando as manifestações culturais do
nas sociedades da antiguidade tempo presente aos processos históricos
oriental. dos diferentes povos da antiguidade;
• Analisando a produção de filmes
históricos sobre o período.
HISTÓRIA

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
41
42

DO ENSINO MÉDIO
COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

PROPOSTA CURRICULAR
• Utilizar os conhecimentos • Reconhecer os elementos O nascimento do mundo ocidental • Realizando leituras de estudiosos da História;
históricos para compreender históricos que embasam nosso • O público e o privado no mundo • Analisando fragmentos de documentos de
e valorizar os fundamentos da universo mental e que têm raízes antigo: as polis e a participação época;
cidadania e da democracia, na chamada cultura ocidental; política na sociedade grega
favorecendo uma atuação • Analisando filmes de época;
• Identificar os motivos que • No tempo das demos: a cidadania
consciente do indivíduo na possibilitaram o desenvolvimento • Realizando fichamentos de textos históricos;
sociedade. restrita
do pensamento racional entre os • Analisando, criticamente, as condições
povos gregos; • As formas de governo: a históricas que possibilitaram a formação de
democracia, a tirania e a uma sociedade escravista e das polis;
• Analisar os conflitos históricos, aristocracia
culturais, sociais, políticos e • Identificando, por meio de leitura de textos,
econômicos que contribuíram • A produção cultural grega: ciência as condições que favoreceram os levantes
para a formação de sociedades e filosofia sociais nas sociedades da Antiguidade
escravistas e das polis; • A sociedade romana: patrícios, Clássica;
CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

• Analisar a atuação dos movimentos plebeus e escravos • Analisando as diferentes formas de governo

2 º BIMESTRE
sociais que contribuíram para • As instituições políticas: da como resposta aos graves problemas sociais;
mudanças ou rupturas em realeza à República • Destacando, em textos, os aspectos históricos
processo de disputa de poder • O mundo do trabalho na Roma da difusão da cultura grega;
nas sociedades da Antiguidade antiga: A crise agrária • Analisando, de modo comparado, o
Clássica;
• A construção de um império e a significado das cidades-Estado na Grécia e no
• Compreender a formação crise do mundo romano Império Romano;
das cidades-Estados e as
• O nascimento do cristianismo • Identificando, no tempo presente, a herança
contradições que possibilitaram
• Aspectos culturais da sociedade cultural legada pelos povos greco-latinos;
a desestruturação do Império
Romano. romana • Construindo maquetes das cidades do mundo
antigo;
• Desenvolvendo trabalho interdisciplinar sobre
a realidade do mundo antigo, culminando
com exposições.
COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Compreender os elementos • Reconhecer o percurso histórico que O mundo medieval • Realizando leituras de estudiosos da
culturais que constituem as possibilitou o surgimento e a ruralização do • Um mundo em transição História;
identidades; mundo feudal; • Realizando fichamentos de textos
• Os reinos germânicos e a
• Compreender a sociedade • Analisar o caráter precário dos reinos formação do mundo medieval históricos;
e a natureza, reconhecendo germânicos; • Redigindo textos históricos, a partir da
suas interações no espaço em • Expansão árabe e a cultura
• Analisar os percursos históricos advindos com mulçumana leitura de paradidáticos;
diferentes contextos históricos a divisão do Império Romano;
e geográficos. • O mundo feudal: as relações • Analisando documentos de época;
• Analisar o significado do declínio das cidades socioeconômicas dos feudos • Analisando filmes sobre a temática;
no mundo medieval;
• O mundo cristão e as Cruzadas • Ouvindo músicas do período;
• Identificar o processo histórico que
possibilitou a expansão da cultura islâmica; • O renascimento comercial e • Realizando competições entre grupos e
urbano entre classes;
• Analisar as estruturas econômicas e políticas
A cultura no mundo medieval • Analisando, por meio de imagens, a
da sociedade feudal;
estrutura produtiva do mundo feudal;
• Analisar os fatores determinantes que
possibilitaram as Cruzadas; As primeiras sociedades • Identificando, em mapas, as rotas
americanas comerciais.
• Analisar o significado do Renascimento

3 º BIMESTRE
urbano; • Sociedades da Mesoamérica,
• Analisar o significado da fé cristã e o papel da América Central e Andina
Igreja no mundo medieval; • Sociedades indígenas da
• Identificar as contradições no mundo Amazônia: a formação das
medieval que levaram à sua dissolução; sociedades complexas

• Identificar a pluralidade étnica nas três


Américas;
• Comparar as possíveis semelhanças
e diferenças culturais entre os povos
americanos;
• Analisar as áreas nas quais se desenvolveram
as chamadas Altas Culturas;
• Avaliar o impacto demográfico oriundo dos
primeiros contatos;
• Analisar o mundo natural e as sociedades
indígenas da Amazônia na visão dos cronistas
ibéricos.
HISTÓRIA

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
43
44

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Compreender a produção • Analisar o significado das mudanças O nascimento do mundo moderno • Realizando leituras de estudiosos da
e o papel histórico das ocorridas na Europa Ocidental, na • Renascimento: uma nova História;
instituições sociais, políticas chamada época moderna; sociedade • Analisando documentos de época;
e econômicas, associando- • Analisar o significado histórico do
as aos diferentes grupos, • A formação dos Estados nacionais • Analisando filmes sobre a temática;
Renascimento; e a expansão marítima
conflitos e movimentos • Analisando, criticamente, biografias de
sociais. • Analisar o processo de formação dos • A formação do mundo capitalista personagens históricos;
Estados nacionais e suas principais
características; • Os europeus no Novo Mundo e • Pesquisando as doutrinas religiosas do
as várias “áfricas” mundo moderno;
• Compreender o significado da expansão
marítima e sua relação com o processo • O Estado Moderno: centralização • Pesquisando a arquitetura náutica e as
inicial de formação do capitalismo; e conflitos condições de salubridade existentes no
• Reformas religiosas. tráfico negreiro;
• Analisar o impacto cultural e
CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

• Identificando, em textos, aspectos da

4 º BIMESTRE
demográfico ocasionado pelo “encontro
de mundos”; cultura africana anterior à expansão
marítima.
• Identificar os processos de centralização
presente nos Estados Modernos;
• Identificar as contradições presentes que
possibilitaram as Reformas religiosas e a
expansão do protestantismo;
• Analisar como a expansão marítima
europeia inseriu os povos das várias
áfricas no tráfico transatlântico;
• Diferençar o tipo de escravidão existente
na África e o tipo implantado nas
Américas.
HISTÓRIA 45

2ª Série

Objetivos específicos

•• Analisar o nascimento do mundo moderno como o período inaugural do domínio do


Ocidente sobre outras culturas em nível planetário;
•• Compreender a influência que as ideias políticas, econômicas, culturais e sociais nas-
cidas nas sociedades modernas exercem no pensamento político contemporâneo;
•• Compreender a crise das ideias absolutistas e sua relação com os processos de inde-
pendência nas sociedades coloniais;
•• Compreender a formação da sociedade brasileira, seu passado colonial, suas ruptu-
ras e permanências;
•• Analisar o significado da Revolução industrial e das transformações tecnológicas no
processo de consolidação do capitalismo;
•• Analisar os movimentos dos trabalhadores em escala planetária como parte inerente
do processo contraditório oriundo do mundo capitalista.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
46

Eixo Temático: O nascimento do mundo Moderno: O Ocidente como centro do mundo

COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Compreender a produção • Identificar as diferentes formas da O Mundo Colonial e suas sociedades • Realizando leituras de historiadores;
e o papel histórico das colonização europeia no mundo • O império hispânico e a colonização • Analisando documentos de época, como

DO ENSINO MÉDIO
instituições sociais, políticas transatlântico; na América portuguesa manuscritos, cartográficos e iconográficos;
e econômicas, associando-

PROPOSTA CURRICULAR
• Compreender a atuação dos Estados • A política do mercantilismo • Analisando filmes, a partir de roteiros
as aos diferentes grupos, nacionais no processo de conquista
conflitos e movimentos • África e o tráfico atlântico previamente construídos;
das Américas;
sociais. • A Conquista da Amazônia (XVI-XVIII): • Descrevendo as convivências e recriações de
• Identificar as diferentes sociedades sociedades no mundo colonial;
coloniais oriundas do encontro de a estruturação administrativa e as
culturas; políticas indigenistas • Visitando comunidades com tradição afro-
• A Igreja na Amazônia: da hegemonia descendente;
• Analisar a organização administrativa
portuguesa estruturada em dois missionária ao fortalecimento do • Interpretando mapas históricos dos
Estados distintos, o Estado do Brasil clero secular e a atuação inquisitorial impérios coloniais nas Américas;
e do Maranhão; • Interpretando mapas sobre a ampliação das
• Identificar o papel das técnicas fronteiras na América portuguesa;
e tecnologias na organização do • Construindo textos sobre as rebeliões
trabalho nas sociedades coloniais; negras na América portuguesa;
• Analisar o significado das várias
CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

áfricas como fornecedoras de mão


de obra escrava para o mundo
colonial;

1 º BIMESTRE
• Comparar o processo de colonização
hispânico e português na América.
COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Reconhecer as diversas formas • Analisar as manifestações sociais A crise do Absolutismo e do sistema • Realizando leituras de historiadores;
de pensamentos anteriores e suas relações com a crise do mercantilista • Analisando documentos de época,
e o impacto das mesmas na Absolutismo; • O Iluminismo entre eles manuscritos, cartográficos e
contemporaneidade. • Avaliar o impacto do pensamento iconográficos;
• Absolutismo
iluminista nas sociedades do Antigo • Analisando filmes a partir de roteiros
Regime; • O Império luso-brasileiro em tempos
de crise previamente construídos;
• Reconhecer o império luso-brasileiro • Analisando, criticamente, biografias de
sob os influxos do despotismo • A ditadura de Pombal e suas
reformas: personagens históricos;
esclarecido;
- A criação e implantação da • Realizando seminários sobre os
• Avaliar o significado e o impacto das processos revolucionários;
medidas adotadas por marquês de Capitania de São José do Rio Negro

2 º BIMESTRE
Pombal no império português; - Os indígenas sob o Diretório • Construindo painéis temáticos sobre os
processos revolucionários;
• Identificar as forças sociais - Os tratados de Madri e de Santo
que promoveram as mudanças Idelfonso • Analisando, por meio de textos, a
revolucionárias na Europa e América; conjuntura política que culminou
• Revoluções Burguesas: Inglaterra e nos processos de independência nas
• Avaliar o impacto da Revolução França Américas;
Americana e do Haiti e as razões • Revoluções e Independências nas
para as suas eclosões; • Realizando trabalho interdisciplinar sobre
Américas o pensamento iluminista.
• Avaliar a conjuntura histórico-
política que possibilitou os processos
de independências na América
hispânica e portuguesa.
HISTÓRIA

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
47
48

COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Entender as transformações • Identificar, em fontes diversas, O mundo da indústria • Realizando leituras de historiadores;
técnicas, tecnológicas e seu o processo de ocupação dos • A Revolução Industrial e a • Analisando documentos de época, como
impacto nos processos de meios físicos e as relações da vida

DO ENSINO MÉDIO
expansão do capitalismo manuscritos, cartográficos e iconográficos;
produção no desenvolvimento do humana com a paisagem;
• O Império do Brasil e sua • Realizando leitura de textos históricos,

PROPOSTA CURRICULAR
conhecimento e na vida social; • Reconhecer a importância dos formação literários e filosóficos, analisando
• Compreender os fatores valores éticos na estruturação as diferentes abordagens sobre o
sociopolíticos que possibilitaram política das sociedades; • O processo de incorporação da
Amazônia ao Império do Brasil: desenvolvimento do capitalismo;
a emergência das democracias • Relacionar as inovações
modernas, relacionando-os com a - A constituição da Província • Selecionando, em textos, argumentos
tecnológicas no capitalismo com favoráveis ou contrários às modificações
vida em sociedade. a nova divisão internacional do do Pará e a Comarca do Alto
Amazonas impostas pelas novas tecnologias à vida
trabalho; social e ao mundo do trabalho;
• Entender a formação do império - A Província do Amazonas e a
economia extrativista • Realizando trabalho interdisciplinar com
brasileiro, relacionando-o Língua Portuguesa (literatura) e as disciplinas
às tentativas de restauração • O Brasil no tempo da Regência da área de Ciências Humanas sobre os
absolutista na Europa; • As revoltas escravas no Brasil movimentos dos trabalhadores na Europa;
• Compreender a implantação do • As Repúblicas americanas • Analisando, em textos, as condições
regime republicano nas Américas

3 º BIMESTRE
• O nacionalismo na Europa históricas que culminaram na irrupção do
a partir dos diferentes interesses e nacionalismo;
CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

projetos políticos; • Trabalhadores e o mundo nas


fábricas: novos projetos de • Realizando seminários sobre os diferentes
• Associar a economia e a política do nacionalismos na Europa, assim como as
sociedade
império brasileiro aos movimentos diferentes experiências de República nas
abolicionistas e às propostas • O Brasil e a crise da escravidão
Américas;
de substituição da mão de obra
escrava. • Comparando, por meio de documentos
históricos, o Império brasileiro e o
Absolutismo europeu;
• Analisando filmes com roteiro de discussão
previamente construído;
• Produzindo textos sobre as rebeliões escravas
no Brasil;
• Organizando mapa étnico-cultural das nações
africanas no Brasil;
• Realizando seminários sobre os temas
tratados.
COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Compreender os processos • Compreender o significado do O mundo burguês em expansão • Realizando leituras de historiadores;
de planetarização e de imperialismo como decorrência • O imperialismo em questão: A • Analisando documentos de época, como
territorialização no uso das do processo de consolidação do partilha da Ásia e da África manuscritos, cartográficos e iconográficos;
matérias-primas, oriundos do capitalismo;
• A expansão norte-americana • Analisando, em textos, o imperialismo na
avanço tecnológico, inerentes • Identificar os diferentes processos de
• A ciência em marcha e as novas Ásia e na África;
ao desenvolvimento capitalista; produção, de circulação de riquezas e
tecnologias • Comparando o expansionismo norte-
• Entender o processo histórico suas implicações socioespaciais;
• A belle époque e seus americano com os países imperialistas
de neocolonização e os • Avaliar o papel dos viajantes e
desdobramentos no Brasil europeus;
conflitos decorrentes entre os naturalistas na consolidação do
impérios na disputa por novas capitalismo; • A belle époque Amazônica: • Criando painéis explicativos sobre a
áreas a conquistar; escalada imperialista no mundo;
• Compreender o significado do regime • Apogeu da economia gumífera e
• Compreender o processo de republicano e o início do processo de a transformação das cidades do • Realizando trabalho interdisciplinar sobre
crise do sistema oligárquico, construção da cidadania no Brasil; Norte o desenvolvimento científico no tempo dos
relacionando-o à ascensão impérios;
• Identificar a atuação dos partidos • Política, economia e conflitos
de novas forças políticas e • Discutindo sobre os direitos sociais e a luta
políticos, o processo eleitoral na sociais na Primeira República: o
econômicas. pela cidadania no Brasil;
república oligárquica e os limites da modelo político, as riquezas (café
cidadania no período; e borracha) • Identificando, em textos, a construção do
• Avaliar o impacto das revoltas do • O Amazonas e as crises políticas novo ideal republicano com as revoltas
da Primeira República ocorridas;
povo na consolidação do regime
republicano; • Revoltas do povo • Discutindo os novos ideais republicanos e os

4 º BIMESTRE
limites de suas propostas.
• Avaliar o movimento dos • O mundo urbano: os
trabalhadores na república na trabalhadores e suas lutas • Relacionando as tendências ideológicas dos
construção de uma sociedade trabalhadores à ampliação dos direitos pela
• O movimento modernista e a cidadania;
democrática;
Revolução de 1930
• Relacionar o movimento modernista • Construindo textos sobre a belle époque
com a busca da nacionalidade na amazônica;
defesa de um Estado forte; • Realizando debates sobre as ideias
• Analisar a sociedade e a economia modernistas e sua relação com a Revolução
no extremo norte no período da belle de 1930;
époque; • Analisando filmes e documentários, a partir
• Analisar as lutas sociais que de roteiros previamente construídos.
culminaram na eclosão da Revolução
de 1930;
• Reconhecer o significado da arte e da
literatura na belle époque, seu papel
na consolidação do modo de vida
burguês de sociedade;
• Avaliar o desenvolvimento da ciência
HISTÓRIA

e sua relação com a produção de


novas tecnologias.

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
49
50 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

3ª Série

Objetivos específicos

•• Analisar as mudanças políticas, sociais, econômicas, ideológicas e culturais que


ocorreram no período entre as duas grandes guerras;
•• Avaliar a nova ordem mundial que emergiu do período pós-guerra;
•• Compreender a expansão do modelo socialista, o avanço dos movimentos antiimpe-
rialistas em diversas partes do mundo;
•• Avaliar a importância da cidadania na construção e manutenção de uma sociedade
democrática;
•• Analisar o papel da educação como condição vital para as sociedades em desenvol-
vimento no mundo globalizado.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
Eixo Temático: Um mundo estilhaçado: Revoluções, guerras e os desafios do novo milênio

COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Compreender a produção e o • Reconhecer a conjuntura político- Revoluções e Guerras • Realizando leituras de historiadores;
papel histórico das instituições econômica existente, na Europa, • A Primeira Guerra Mundial e o • Analisando documentos de época como
sociais, políticas e econômicas, às vésperas da eclosão da Primeira declínio da Europa manuscritos, cartográficos e iconográficos;
associando-as à busca do Guerra;
diálogo necessário entre povos • Da Revolução Russa ao stalinismo • Construindo textos analíticos sobre a
• Identificar os motivos que levaram o Revolução Russa;
e nações; mundo a viver numa “paz armada”; • O entre guerras e a ascensão dos
• Analisar o papel das instituições Estados Unidos da América • Analisando filmes sobre o Império
• Compreender a conjuntura política americano;
em tempos de crise, que viabilizou a Revolução Russa; • Democracia em xeque: nazismo
relacionando-o à busca de e fascismo • Construindo textos sobre a política
entendimentos e de soluções • Entender o período entre guerras, econômica dos países socialistas;
analisando a produção cultural e a • A Segunda Guerra Mundial: o
dos problemas transnacionais, nazismo domina a Europa • Avaliando a produção cultural que emergiu
experimentados por povos ascensão dos Estados Unidos como
potência mundial; • Novas possibilidades de no mundo entre guerras;
e nações que emergiram do
• Avaliar o impacto da crise de 1929 interpretar o mundo: as artes • Debatendo sobre a crise da economia
novo rearranjo geopolítico
na crença da economia liberal; liberal;
internacional.
• Compreender a emergência e a • Interpretando textos de dramaturgos e

1 º BIMESTRE
conjuntura política do nazi-fascismo cineastas sobre a ascensão do nazismo;
contrapondo-se aos regimes • Comparando, por meio de leitura de textos,
democráticos; a ideologia do nazismo e do fascismo;
• Avaliar o papel das instituições que • Analisando, em mapas, as fronteiras do
surgiram após os conflitos mundiais; nazi-fascismo;
• Avaliar o significado da geopolítica • Organizando grupos de debates sobre a
que emergiu no pós-guerra. política nazi-fascista que levou à eclosão da
Segunda Guerra Mundial;
• Comparando, em mapas, as mudanças
geopolíticas do pós-guerra;
• Trabalhando de modo interdisciplinar, tendo
como tema central os regimes totalitários;
• Realizando seminários sobre o significado
das instituições criadas no pós-guerra.
HISTÓRIA

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
51
52

COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

DO ENSINO MÉDIO
• Compreender a crise • Relacionar as medidas políticas O mundo Pós-Guerra: Descolonização • Construindo textos sobre o período Vargas;

PROPOSTA CURRICULAR
oligárquica, associando-a à do governo Vargas com a e Guerra Fria I • Realizando exposições de painéis sobre as
emergência e à participação de ascensão do nazi-fascismo; • A Era Vargas – do governo provisório principais medidas da Era Vargas;
novas forças políticas, no Brasil, • Identificar as ambiguidades da ao Estado Novo
em defesa de um projeto • Pesquisando, em textos históricos, o
política econômica nacionalista • A política da Era Vargas para o surgimento da Guerra Fria;
político nacional estatista; no governo Vargas; Extremo Norte – a marcha para o • Comparando, por meio de textos, a conjuntura
• Analisar os avanços e • Compreender o contexto Oeste e a “ocupação dos espaços
os recuos da cidadania, político-econômica que possibilitou as
mundial que emergiu a partir da vazios”; revoluções chinesa e cubana;
levando em consideração Guerra Fria;
os direitos sociais, os • Os Acordos de Washington e a • Contextualizando o processo de
trabalhistas, o direito ao voto • Avaliar o significado da corrida “redenção da Amazônia” descolonização da Ásia e da África;
e ao cerceamento dos direitos espacial como componente da • Superintendência de Valorização
Guerra Fria; • Discutindo a cidadania na construção e na
políticos e civis; Econômica da Amazônia – Spvea manutenção de uma sociedade democrática;
• Compreender a nova política • Analisar a conjuntura político- • O Estado e a classe trabalhadora no
econômica que possibilitou as • Discutindo, a partir da mídia, os diferentes e
internacional, oriunda do Brasil complexos problemas enfrentados pelos povos
revoluções socialistas;
CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

pós-guerra, associando-a • A nova ordem mundial e a Guerra que vivem no Oriente Médio;

2 º BIMESTRE
à crise da economia liberal • Identificar o processo de Fria
descolonização dos continentes • Relacionando os segmentos sociais, as
e ao surgimento de novas
asiático e africano; • A revolução e o socialismo na China diferentes manifestações culturais num mundo
forças políticas no cenário
• Os caminhos do Vietnã: a influência em conflito;
internacional. • Analisar e identificar o papel
das instituições, como mediador socialista (Norte) e a capitalista (Sul) • Analisando, por meio de textos, as principais
político, econômico social e • A Revolução Cubana e a Doutrina de características da Revolução Iraniana;
cultural dos conflitos do mundo Segurança Nacional • Realizando debates sobre o Oriente Médio
contemporâneo. • A corrida espacial e a cultura no como questão de interesse internacional.
pós-guerra • Identificando, em documentários, o conflito
• O Terceiro Mundo: A descolonização árabe-israelense e as sucessivas tentativas
da Ásia e da África frustradas de soluções;
• O Oriente Médio e seus impasses: o • Analisando roteiros de filmes sobre a
Estado de Israel e o conflito árabe- contracultura e os direitos civis;
israelense
• Em nome do Corão: A Revolução
Iraniana
COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Compreender a nova política • Analisar os percursos trilhados O mundo do Pós-guerra: • Interpretando textos de historiadores e de
internacional, oriunda do pós- pelos países da América Latina no Descolonização e Guerra Fria II ciências afins;
guerra, a crise da economia pós-guerra; • A América Latina no contexto do • Analisando a nomenclatura “Terceiro Mundo”
liberal, e os percursos políticos • Comparar os diversos graus do pós-guerra no contexto da Guerra Fria;
e econômicos trilhados pelos nacional desenvolvimentismo e
países da América Latina; • Nacionalismo e • Construindo textos sobre a América Latina no
o militarismo que ocorreram na desenvolvimentismo pós-guerra;
• Entender a importância da América Latina;
participação popular e o • O Brasil e a República democrática • Avaliando a experiência democrática anterior
• Compreender a crise do Estado à tomada do poder pelos militares;
fortalecimento das instituições Novo e os tempos democráticos • Brasil: a República dos generais
como condição necessária à que o sucederam; • O Regime militar e os grandes • Relacionando o nacional desenvolvimentismo
vida democrática; projetos para o Extremo Norte: e o militarismo na América Latina;
• Analisar o papel dos movimentos
• Compreender a importância sociais e a conjuntura política - Desenvolvimentismo • Pesquisando a conjuntura política e os
dos projetos do governo central anterior ao golpe militar; movimentos populares às vésperas do golpe
- Integração nacional militar;
para o desenvolvimento da
Amazônia. • Reconhecer os movimentos - Conflitos pela terra

3 º BIMESTRE
culturais e sua relação na busca da • Relacionando a crise do regime militar com o
- A Zona Franca de Manaus avanço dos movimentos sociais;
identidade amazônica;
• Identificar o crescimento • Discutindo a cidadania na construção e na
econômico do Brasil no auge do manutenção de uma sociedade democrática
regime militar; no contexto brasileiro;

• Analisar as medidas econômicas • Identificando, em textos, os projetos militares


para a Amazônia no regime militar; desenvolvidos no país, dando ênfase aos da
Região Norte;
• Analisando o modelo Zona Franca de Manaus
no contexto nacional;
• Construindo textos sobre a participação
popular no Brasil;
• Trabalhando interdisciplinarmente os
impactos ambientais, ocorridos no Brasil,
decorrentes dos projetos desenvolvimentistas.
HISTÓRIA

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
53
54

COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Reconhecer os fundamentos da • Selecionar argumentos pró ou Novo milênio, novos desafios • Trabalhando, interdisciplinarmente, em
cidadania e da democracia, nas contra as modificações impostas • Tempos de crise e a revolução textos sobre os desafios da revolução
sociedades contemporâneas, para pela adoção de novas tecnologias à técnico-científica técnico-científica;

DO ENSINO MÉDIO
a construção de uma sociedade vida social e ao mundo do trabalho; • Participando, em seminários, sobre a
ética; • A contracultura

PROPOSTA CURRICULAR
• Comparar os novos métodos contracultura num mundo em crise;
• Conhecer diferentes estratégias de trabalho implantados no • A conquista dos direitos civis
• Construindo textos sobre o direito às
que promovam mecanismos capitalismo no pós-guerra; • Brasil: reencontro com a diferenças;
de inclusão social no mundo • Relacionar as tecnologias aos democracia
contemporâneo; • Construindo seminários sobre o viver num
impactos socioambientais, em • A era neoliberal país democrático;
• Relacionar as transformações diferentes contextos histórico- • A globalização e a nova ordem
técnicas e tecnológicas que geográficos; • Debatendo sobre as crises ambientais e o
mundial futuro do planeta;
impuseram novas formas de • Analisar as reformas em curso nos
convivência em sociedade. países socialistas e suas relações • Analisando filmes sobre os direitos civis.
com o mundo globalizado;
• Comparar os distintos movimentos
sociais e culturais em diferentes
contextos histórico-geográficos;
• Avaliar o significado dos

4 º BIMESTRE
CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

movimentos sociais e da
participação popular na
consolidação do regime
democrático brasileiro;
• Entender a nova divisão
internacional do trabalho,
resultante da integração entre os
países no mundo globalizado;
• Reconhecer a função dos recursos
naturais na produção do espaço
geográfico, relacionando-os com as
mudanças provocadas pelas ações
humanas;
HISTÓRIA 55

1.3 Alternativas Metodológicas para o mento do papel do indivíduo nos processos


ensino de História históricos simultaneamente como sujeito e
como produto dos mesmos;
A integração da História com as demais •• Atuar sobre os processos de construção da
disciplinas que compõem as denomina- memória social, partindo da crítica dos di-
das Ciências Humanas permite sedimen- versos “lugares de memória” socialmente
tar e aprofundar temas estudados no En- instituídos;
sino Fundamental, redimensionando as- •• Situar as diversas produções da cultura - as
pectos da vida em sociedade e o papel do linguagens, as artes, a filosofia, a religião,
indivíduo nas transformações do processo his- as ciências, as tecnologias e outras mani-
tórico, completando a compreensão das rela- festações sociais – nos contextos históricos
ções entre a liberdade (ação do indivíduo que de sua constituição e significação;
é sujeito da história) e a necessidade (ações •• Situar os momentos históricos nos diversos
determinadas pela sociedade, que é produto ritmos da duração e nas relações de suces-
de uma história) (PCNEM, p. 299). são e/ou de simultaneidade;
Espera-se que o educador, ao desenvolver •• Comparar problemáticas atuais e de outros
as suas atividades em classe, articule os conhe- momentos históricos;
cimentos de sua disciplina, quando possível e •• Posicionar-se diante de fatos presentes a
necessário, com as outras de sua área. Assim, partir da interpretação de suas relações
deseja-se que o educando possa desenvolver com o passado.
as seguintes Competências e Habilidades: •• Relativizar as diversas concepções de tem-
po e as diversas formas de periodização
•• Criticar, analisar e interpretar fontes docu- do tempo cronológico, reconhecendo-as
mentais de natureza diversa, reconhecen- como construções culturais e históricas;
do o papel das diferentes linguagens, dos •• Situar as diversas produções da cultura – as
diferentes agentes sociais e dos diferentes linguagens, as artes, a filosofia, a religião,
contextos envolvidos em sua produção; as ciências, as tecnologias e outras mani-
•• Estabelecer relações entre continuidade/ festações sociais – nos contextos históricos
permanência e ruptura/transformação nos de sua constituição e significação;
processos históricos; •• Comparar problemáticas atuais e de outros
•• Construir a identidade pessoal e social na momentos históricos;
dimensão histórica, a partir do reconheci-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
56 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

1.3.1 Sugestões de Atividades Didático-Peda-


gógicas A – Os significados do termo história;
B – O que é historiografia;
C – Os novos caminhos da historiografia;
1ª Série D – As fontes e a crítica do historiador
E – História e temporalidade.
Atividade 1
Para a realização da atividade, pedimos
Objetivo: Refletir sobre a explicação histó- que o professor divida a turma em grupos de
rica com o fim de compreender a vinculação 4 ou 5 membros e que todos os grupos leiam
entre o passado e o presente. todos os textos. Cada grupo deverá ter um re-
lator, que sistematizará as diversas opiniões.
Competência: Compreender a importân- Finalizada a leitura, o professor deverá pro-
cia da História na explicação das transforma- ceder a um sorteio para estabelecer a ordem
ções da sociedade. das apresentações. Cada grupo deverá expor
as conclusões a que chegou sobre o texto
Habilidade: Identificar os diversos pontos apresentado. Os membros dos outros grupos
de vista acerca da História como ciência. podem expor suas conclusões após a apre-
sentação do grupo responsável. Ao final das
Para uma melhor compreensão da Histó- apresentações, o professor deverá fazer uma
ria, no Ensino Médio, faz-se necessário que síntese dos textos discutidos e solicitará aos
trabalhemos algumas noções metodológicas grupos que sigam as orientações:
básicas indispensáveis para melhor entendi-
mento por parte dos educandos, acerca das 1. Discutir como vários significados do
suas especificidades. Com essa preocupação, termo história nos ajudam a construir
selecionamos um conjunto de textos, extraí- uma definição que responde às inquie-
dos do livro Aprendendo História: reflexão e tações e necessidades do nosso tempo
ensino, de Marieta de Moraes Ferreira e Re- presente;
nato Franco, Editora do Brasil, 2009. 2. Discutir por que, constantemente, há a
Os textos selecionados têm como objeti- necessidade de se reescrever a História;
vo discutir alguns procedimentos metodo- 3. Discutir as influências da escrita em
lógicos do Componente Curricular História, nosso tempo contemporâneo;
oportunizando aos educandos refletir sobre 4. Discutir sobre: as fontes históricas, as
questões cruciais da profissão do historiador análises de documentos e a escrita his-
e do Componente Curricular. Entre as ques- tórica;
tões destacamos: 5. Discutir, por que, sem a noção de tem-
po, não há História.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 57

Anexo 1 conjunto de eventos narrados por uma


pessoa: nem todo aquele que conta uma
O que é História? Vertentes historiográfi- história é historiador, assim como nem
cas, problemas e métodos. todo aquele que tem história (afinal todos
têm história) é historiador. Enfim, o que é
A – Os significados de história História e qual o papel do historiador?
De forma sintética, a palavra história
Todas as vezes que pronunciamos a pala- tem três significados fundamentais:
vra história, fazemos referência a um termo Em primeiro lugar, História é o nome
com muitos significados. Utilizamos a mes- dado a uma disciplina que analisa o que já
ma palavra para designar coisas diferentes. aconteceu, a partir de um conhecimento
Por outro lado, se fizermos um levantamento específico e de regras próprias. Para dife-
dos seus vários sentidos ao longo do tempo, renciar das outras acepções, muitos histo-
perceberemos rapidamente que a História riadores, quando se referem à disciplina,
tem também, por assim dizer, uma história. escrevem-na com a letra maiúscula.
Ora, então o significado da palavra história A palavra história também designa a
muda conforme o tempo e a sua utilização. matéria-prima de análise dos historiado-
Em sua origem, “história” vem do grego res, ou seja, o que já ocorreu, todas as
antigo historie e significa “testemunho”. Sua ações dos indivíduos no tempo. É preciso
raiz é indo-europeia (wid, weid) e está ligada à cuidado ao diferenciar a primeira e a se-
visão, ato de ver. Daí, temos do grego histor: gunda noção: a História feita pelos histo-
“aquele que vê”; “testemunha”. Historien, em riadores não é a história “total” da huma-
grego antigo, poderia ter o sentido de “pro- nidade, porque essa história é irrecuperá-
curar saber”; “informar-se”. Portanto, historie vel na sua totalidade. Os historiadores, a
poderia significar “procurar”; “pesquisar”. partir de vestígios do passado, recuperam
Diante desses sentidos, é preciso enten- aspectos da história da humanidade. Por-
der os significados que a palavra história tanto, história é o nome dado à disciplina
assume no dia a dia das pessoas, confor- e ao seu objeto de análise. Parece compli-
me suas diferentes utilizações. Se a História cado à primeira vista, mas para facilitar a
se refere ao conjunto de acontecimentos compreensão basta pensarmos num mé-
vividos por um indivíduo, uma sociedade, dico, cuja especialização é medicina e tem
ou pela humanidade, o que a definiria como por objeto de pesquisa a saúde ou doença
um campo de conhecimento específico? das pessoas. A Física tem por objeto a na-
Afinal, se todos têm história, por que a His- tureza. A História traz em si essa ambigui-
tória é escrita por historiadores? Ou, ainda, a dade: o nome da disciplina e do seu objeto
História precisa ser escrita pelos historiado- é igual.
res? Seríamos todos historiadores? A história ainda pode ter um terceiro
Essas perguntas fazem parte das confu- sentido, o da narrativa. Narrar um acon-
sões que, num primeiro momento, podem tecimento, verdadeiro ou falso, é contar
surgir ao tentarmos localizar o espaço da uma história. Em português, há quem
História como disciplina e diferenciá-la do proponha a diferenciação entre história,

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
58 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

pretensamente verdadeira, e estória, para nem todos são historiadores. Caberá ao pro-
designar uma narrativa inverídica. fessor estabelecer essa diferenciação, afinal
A escrita da História como disciplina o que torna a História um campo disciplinar
agrega, de uma só vez, os outros dois sig- específico e a distancia da simples narração
nificados (de história das pessoas e da nar- de fatos ocorridos?
rativa) sem lhes tirar a identidade. No en-
tanto, a escrita da História não se dá pelo O que é História?
simples ajuntamento de acontecimentos.
Existem regras que dizem respeito ao mé- O francês Marc Bloch (1886-1944), durante
tier (trabalho) do historiador, que o espe- a Segunda Guerra Mundial, escreveu um ensaio
cializam e o diferenciam de um contador seminal sobre o conhecimento histórico. O livro
de histórias amador. Apologia da História ficou inacabado porque
A História em questão é uma disciplina Bloch foi executado em 1944 durante a ocupação
que teve suas bases conceituais funda- alemã na França. Mesmo assim, foi publicado e
mentadas ao longo do século XIX e é im- é, até hoje, uma das obras fundadoras da histo-
portante para todo professor, historiador riografia contemporânea. Nele, Bloch discute as
ou estudante de História saber diferen- especificidades do conhecimento da História e
ciar o campo de conhecimento, da utiliza- enfatiza a sua importância como uma ciência em
ção cotidiana da palavra história, porque, contínua construção:
além de homônimas, as designações con- Diz-se algumas vezes: ‘A História é a
vergem também em vários aspectos. Sem- ciên­cia do passado’. É [no meu modo de
pre que falamos de história, estamos nos ver] falar errado. [Pois, em primeiro lugar],
referindo ao que já aconteceu, mas que a própria ideia de que o passado, enquanto
é sempre revisto por meio de interpreta- tal possa ser objeto de ciência, é absurda.
ções e reelaborações conforme as per- Como, sem uma decantação prévia, pode-
guntas que cada época faz. Embora toda ríamos fazer de fenômenos que não têm
vez que falamos em história tenhamos o característica comum a não ser não terem
passado como objeto principal, o campo sido contemporâneos, matéria de um co-
disciplinar da História possui regras bem nhecimento racional? [ ... ]
delimitadas para produzir um discurso so- Sem dúvida, nas origens da historiogra-
bre o que já se passou. fia, os velhos analistas não se constrangiam
Não há um conceito único de histó- nem um pouco com tais escrúpulos. Narra-
ria, tampouco um significado que consiga vam, desordenadamente, acontecimentos
abarcar todos os sentidos que a palavra cujo único elo era terem se produzido mais
pode assumir no dia a dia das pessoas. O ou menos no mesmo momento: os eclipses,
importante é estabelecermos diferencia- as chuvas de granizo, a aparição de espan-
ções que consigam tornar clara uma questão tosos meteoros junto com batalhas, trata-
fundamental: a História como campo dis- dos, mortes de heróis e dos reis. Mas nessa
ciplinar diferencia-se de outros tipos de primeira memória da humanidade, confusa
história, porque apresenta técnicas e méto- como a percepção de um bebê, um esforço
dos próprios. Apesar de todos terem história, constante de análise pouco a pouco ope-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 59

rou a classificação necessária. É verdade, A confecção da História é sempre afetada


a linguagem, essencialmente tradicionalis- pelo tempo, por isso estudar a historiografia
ta, conserva o nome de história para todo é rever e analisar os enfoques da narração,
estudo de uma mudança na duração. [ ... as interpretações, as visões de mundo, o uso
] Há, nesse sentido, uma história do siste- de evidências ou documentos, assim como
ma solar, na medida em que os astros que os métodos utilizados pelos historiadores no
o compõem nem sempre foram como os momento em que produziram a narrativa his-
vemos. Ela é da alçada da astronomia. Há tórica sobre os acontecimentos passados.
uma história das erupções vulcânicas que é, Por que a História é constantemente rees-
estou convencido disso, do mais vivo inte- crita em um eterno repensar sobre os acon-
resse para a física do globo. Ela não perten- tecimentos vividos? Porque as interpretações
ce à História dos historiadores [ ... ]. sobre o vivido mudam com o tempo e confor-
Há muito tempo, com efeito, nossos me a pessoa que o interpreta. A chegada dos
grandes precursores, Michelet, Fustel de portugueses às terras que hoje constituem o
Coulanges, nos ensinaram a reconhecer: Brasil, em 22 de abril de 1500, é um fato histó-
o objeto da História é, por natureza, o ho- rico com alto grau de precisão, no entanto as
mem. Digamos melhor: os homens. Mais interpretações sobre os motivos, o contexto
que o singular, favorável à abstração, o plu- e as consequências desse evento podem ser
ral, que é o modo gramatical da relativida- constantemente revistas Os vestígios do pas-
de, convém a uma ciência da diversidade. sado não fornecem uma única possibilidade
[ ... ] de compreensão, fornecem indícios possíveis
‘Ciência dos homens’, dissemos. É ain- às perguntas que o historiador apresenta no
da vago demais. É preciso acrescentar: momento de sua análise. Os historiadores
‘dos homens, no tempo’. O historiador não estão certos de que a Revolução Francesa es-
apenas pensa ‘humano’. A atmosfera em tourou em 1789 e de que desencadeou mo-
que seu pensamento respira naturalmente vimentos importantes para a formação do
é a categoria da duração. Ocidente contemporâneo, no entanto os his-
(Marc Bloch. Apologia da História, toriadores podem divergir nas interpretações,
1941·1942). por exemplo, sobre a relevância dos eventos,
ou, ainda, sobre o impacto revolucionário nas
B – O que é historiografia? populações. Isso quer dizer que a compreen-
são dos fatos está diretamente ligada à pes-
A palavra historiografia vem do grego e soa do historiador, à produção de novos tra-
designa “aquele que escreve”; “descreve a balhos sobre temas correlatos e, sobretudo,
História”. Em síntese, historiografia refere- ao tempo em que tais perguntas foram feitas.
-se à História elaborada a partir da escrita da Para além das questões de fundo subjeti-
História. Diz respeito a qualquer parte da pro- vo, ligadas ao historiador, a escrita da Histó-
dução historiográfica, ou seja, ao conjunto de ria também sofre influências das demandas
escritos dos historiadores acerca de um tema que são geradas nas instituições nas quais é
ou período histórico específico. produzida. As correntes historiográficas in-
fluenciam no estilo, nos métodos e nos temas

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
60 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

que serão escolhidos. Durante algum tempo, objetos a partir das tendências teórico-meto-
acreditou-se que a História quantitativa era a dológicas vigentes. Se no fim do século XIX, na
maneira mais “correta” de escrever a História. França, havia o predomínio da chamada Esco-
Dentro dessa perspectiva, foram produzidos la Metódica, a partir dos anos 1940 tornou-se
vários trabalhos. Mas a partir de um debate cada vez mais clara a influência dos Annales,
e da valorização de novos enfoques, os tra- propondo novas formas de utilização de fon-
balhos passaram a dar menos importância à tes e de concepções do tempo. Dentro dos
análise quantitativa e puderam formular no- Annales, é possível encontrar outras correntes
vas formas de escrita, estudar novas temáti- com enfoques diferenciados. A Micro-História,
cas, sempre de acordo com as tendências em a Nova História Política e a História Cultural
voga. Embora a História tenha buscado outras também são vertentes historiográficas que
formas de análise, os trabalhos quantitativos propõem ângulos de visão diferenciados sobre
não perderam seu valor explicativo e sua rele- o passado. Como já foi dito, as correntes his-
vância historiográfica. Examinar a História não toriográficas não devem ser entendidas como
pressupõe fornecer visões mais verdadeiras portadoras de verdades históricas. Seu exercí-
que as anteriores, mas compreender as per- cio é o da aproximação, da tentativa de forne-
guntas que foram importantes no momento cer uma versão ou leitura mais fidedigna do
de elaboração do trabalho. vivido, uma vez que a verdade absoluta é, por
Cabe ao estudo da historiografia, para que definição, inalcançável a qualquer historiador.
possamos entender o funcionamento da pró- Estudar a “História da História” ajuda a
pria disciplina, conhecer as circunstâncias e as entender como o discurso historigráfico não
redes de poder em que os historiadores esta- é neutro, e, sim, sustentado por verdades pro-
vam inseridos quando produziram uma narra- visórias, sempre sujeitas a reavaliações, fato
tiva histórica. É por meio da historiografia que que demonstra de maneira inegável que o
os especialistas conseguem perceber quais passado não é um assunto encerrado e mor-
as concepções de História vigentes, quais as to. Pelo contrário, tem por pressuposto ser
metodologias e quais os aspectos de recupe- capaz de ler a História feita por profissionais
ração do passado estão em voga num deter- também como objeto de crítica e análise: é
minado momento. preciso levar em consideração o contexto em
Questões fundamentais em certas épocas que foi escrita, onde e por quem.
são negligenciadas em outras. O predomínio
das fontes escritas deu lugar às inúmeras pos- Por que reescrever a História?
sibilidades de documentos para a análise do
historiador. Somente pelo estudo desses vá- No trecho a seguir, o historiador brasilei-
rios aspectos é possível entender o porquê de ro José Carlos Reis discute a relação entre
determinadas visões, ou a ausência de discus- passado e presente na construção do conhe-
são sobre certos assuntos. cimento histórico. Por que uma análise, tra-
Quando dizemos que uma historiografia dicionalmente aceita, sofre com frequência
está superada, temos por orientação certos alterações e muitas vezes chega a ser aban-
núcleos de pesquisa que funcionam como donada? Por que os historiadores repensam
referência. Os historiadores repensam seus suas análises? Existe uma verdade histórica

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HISTÓRIA 61

definitiva? Apoiando-se em textos de diversos mentação uns dos outros. A História é capaz
historiadores, Reis lembra que toda leitura do de recuperar tecnicamente os eventos com al-
passado é irremediavelmente afetada pelo guma segurança. Mas a questão da verdade
presente. Também, por isso, a ideia de uma histórica está no juízo que é feito desses fatos.
verdade única e definitiva não é válida para as Que juízo de valor atribuir-lhes? A teoria da
ciências humanas: História é que sustenta o sentido dos fatos e
A representação do passado é incontorna- fontes. A História vai além dos fatos e fontes.
velmente afetada pelo tempo. [ ... ] O passa- Estruturas não são observáveis; são constru-
do é delimitado, selecionado e reconstruído ções teóricas. É a teoria que decide e que con-
criticamente em cada presente. Este sempre ta-se a História é econômica ou teleológica, é
lança sobre o passado um olhar novo, ressig- a teoria que decide. Temos a necessidade da
nificando-o. No presente, o historiador se re- teoria da História, pois é ela que estrutura a
laciona também com o futuro: toma partido, subjetividade do historiador e o leva a fazer
vincula-se a planos e programas políticos, faz falar as fontes.
juízos de valor e age. O desdobramento do Uma verdade histórica caleidoscópica
tempo pode mudar o tipo e a qualidade da exige o exame da historiografia anterior. É
História. O passado é retomado em cada pre- uma representação do passado feita por um
sente sempre sob um ângulo novo. Um fato presente [ ... ] e que dialoga com as outras
pode ser anódino no presente e decisivo no representações desse mesmo passado ou
futuro. O passado é tematizado no presente de outros passados feitas em outros pre-
e reinterpretado. O presente não é um mero sentes. A verdade histórica aqui se aproxi-
receptáculo do passado. Cada presente esta- maria talvez do que se pode obter em uma
belece uma relação particular entre passado galeria de arte: temas selecionados pelo su-
e futuro, isto é, atribui um sentido ao desdobra- jeito ou até mesmo um mesmo tema, cada
mento da História, faz uma representação de presente o reconstrói e representa à sua ma-
si em relação às suas alteridades – o passado neira. Cada presente escolhe o passado e
e o futuro. [ ... ] o pinta ou esculpe com a sua sensibilidade,
Cada representação presente, portanto, com as suas técnicas, com o seu enfoque
é ao mesmo tempo original e inclui como e perspectiva, com as suas perguntas, com
interlocutoras as representações anteriores, as suas paixões e interesses. Verdade e
criando uma verdade caleidoscópica. Além perspectiva temporais são inseparáveis. [
disso, o historiador não é um falsário. E se ... ] O passado é sempre retomado em um
é parcial, não o é sem sabê-lo. A História ângulo novo, mas que supõe o conhecimen-
produz verdades: apoia-se em documen- to e o diálogo com os anteriores. A verdade
tos, busca ser controlável racionalmente. O histórica se relaciona muito com a ‘História da
historiador tem alguma liberdade de cria- História’. [ ... ]
ção: hierarquiza causas; formula problemas e A verdade histórica não pode se reduzir
hipóteses; seleciona fatos, eventos e proces- a um enunciado simples, fechado, homogê-
sos, agenciando-os. Mas a divergência entre neo e atemporal. Obtém-se algo próximo dela
os historiadores é favorável à verdade: os ad- examinando todas as leituras possíveis de
versários filtram a argumentação e a docu- um objeto. O exame exaustivo, multifacetado,

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62 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

nuançado de um tema é que diz a sua ver- presos à opinião segundo a qual o passado
dade. Como as possibilidades novas de abor- não pode mais ser mudado e, por essa razão,
dar um tema histórico são infinitas, as novas parece determinado. De acordo com essa
leituras são múltiplas no presente e ao longo opinião, só o futuro pode ser tido como incer-
do tempo. Conhecer a verdade de um tema to, aberto e, nesse sentido, indeterminado.
histórico é reunir e juntar todas as interpreta- De fato, se os fatos são indeléveis, se não
ções do passado e do presente sobre ele. podemos mais desfazer o que foi feito, nem
(José Carlos Reis. História e Teoria: historicis- fazer com que aquilo que aconteceu não te-
mo, modernidade, temporalidade e verdade, nha ocorrido, em compensação, o sentido do
2003). que aconteceu não é determinado de uma
vez por todas; além de os acontecimentos do
A necessidade de repensar a História passado poderem ser contados e interpreta-
dos de outra forma, a carga moral vinculada à
Paul Ricoeur (1913-2005) foi um dos gran- relação de dívida para com o passado pode se
des filósofos e pensadores franceses pós- tomar mais pesada ou mais leve.
-Segunda Guerra Mundial. No texto a seguir [ ... ] A historiografia também compreende
ele justifica a necessidade de reescrever o o passado como ‘retorno’ de possibilidades
passado sob as demandas do presente do escondidas.
historiador. A compreensão dos acontecimen- Paul Ricoeur. A memória, a história, o esque-
tos muda conforme o tempo e é influenciada cimento, 2000.
também pela conjuntura que cerca a escrita
da História. Por isso, ao contrário do que se C – Novos caminhos da historiografia
pode imaginar, o passado não está morto,
mas, pelo contrário, vivo, na medida em que Na virada dos anos 1970 e no decurso da
pode privilegiar ou negligenciar aspectos con- década de 1980, foram registradas transfor-
forme a época em que foi interpretado. É por mações expressivas nos diferentes campos da
meio de um exercício incessante de reavalia- pesquisa histórica: incorporou-se o estudo de
ção dos acontecimentos que a historiografia temas contemporâneos, revalorizou-se a aná-
repensa seus objetos e explicações lise qualitativa, resgatou-se a importância das
A História escrita hoje pode não ter um experiências individuais, ou seja, deslocou-se
maior grau de verdade que as interpretações o interesse das estruturas para as redes, das
passadas. A compreensão do vivido dá a co- estruturas de classe para as situações vividas,
nhecer aspectos que são mais caros aos histo- das normas coletivas para as situações singu-
riadores atuais, na medida em que responde lares. Paralelamente, ganhou novo impulso a
perguntas ligadas ao presente. Toda escrita História cultural e ocorreu um renascimento
da História deve ser entendida numa estreita do estudo da política.
ligação com o seu tempo de forma a compre- A chamada História cultural, renovada nas
ender as motivações em jogo de cada época: referidas décadas pelo contato com a “Antro-
O caráter retrospectivo da História não po- pologia”, procurou ampliar o conceito de cul-
deria constituir para ela um aprisionamento tura, agora entendido como o conjunto dos
na determinação. Seria o caso se ficássemos costumes, valores e modos de vida que dão

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HISTÓRIA 63

sentido à experiência histórica dos indivíduos.­ to, condicionam o trabalho do historiador,


Progressivamente, a cultura passou a ser en- ganhou legitimidade. Desde o século XIX, a
tendida como um elemento-chave para a necessidade de uma visão retrospectiva e o
compreensão das transformações sociais, fos- distanciamento dos fatos colocava uma inter-
sem elas de fundo político ou mesmo econô- dição para os estudos da História recente. As
mico. A partir dessa visão ampla, os historia- transformações das sociedades modernas e
dores romperam com a dicotomia das noções as consequentes mudanças no conteúdo dos
de cultura erudita e popular, valorizando os arquivos, que cada vez mais passam a dispor
aspectos de circularidade das culturas, como de registros sonoros, impulsionam a tendên-
elementos que se comunicam e se influen- cia a uma revisão do papel das fontes escritas
ciam mutuamente. e orais. Nesse sentido, a legitimidade do tem-
Distanciando-se da noção marxista de que po presente como objeto de investigação his-
a política era determinada pelas estruturas tórica abriu espaço para uma nova gama de
econômicas, os estudos começaram a perce- estudos e questões teóricas e metodológicas
ber que a política tinha consistência própria e para o ofício do historiador.
dispunha de autonomia em relação a outras O retorno da política e a revalorização
instâncias da realidade social. O resgate da do papel dos indivíduos estimularam o
temática, não como um domínio qualquer, estudo dos processos de tomada de deci-
mas como o lugar privilegiado de articulação são, do lugar dos eventos e da cultura políti-
do todo social, trouxe à tona alternativas im- ca. Esses novos objetos de análise também
portantes para a revalorização da ação dos dão maior oportunidade ao uso dos depoi-
atores e de suas estratégias. Associada à re- mentos orais.
novação da História política, e não apenas de- Outra linha de renovação no campo da
terminada por ela, ocorreu uma revaloriza- História do século XX operou pela via da
ção do papel dos indivíduos na história. história das representações, do imaginário
Dentro dessa postura, foram atribuí- social e dos usos políticos do passado pelo
dos novos significados aos depoimentos, presente por meio do debate sobre as re-
relatos pessoais e biografias, reavaliando- lações entre história e memória. Podem
-se os limites e as vantagens dessas fontes. ser citados como exemplos os trabalhos
Contra as noções de mentalidade e de lon- de Maurice Aguillon, Pierre Nora e Henry
ga duração, que diluíam os indivíduos em Rousso. Nora e seus colaboradores, utilizan-
grandes períodos históricos e em multidões do uma noção renovada de memória cole-
anônimas, a historiografia procurou renovar tiva, permitiram aos historiadores repensar
a abordagem biográfica, argumentando que o as relações entre o passado e o presente, e
relato pessoal podia assegurar a transmissão definir para a história do tempo presente o
de uma experiência coletiva, constituindo-se estudo dos usos do passado.
em uma representação que espelharia uma Pierre Nora aprofundou, ainda, a dis-
visão de mundo. tinção entre o relato histórico e o discurso
A emergência da história do tempo pre- da memória e das recordações. A História
sente, portadora da singularidade de conviver busca produzir um conhecimento racional,
com testemunhos vivos que, sob certo aspec- uma análise crítica por meio de uma expo-

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64 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

sição lógica dos acontecimentos e vidas do forças produtivas; o resto era superestrutura
passado. A memória é também uma cons- e, portanto, mera consequência ou reflexo,
trução do passado, mas pautada em emo- quando não a camuflagem que ocultava as
ções e vivências; ela é flexível, e os eventos verdadeiras realidades.
são lembrados à luz da experiência subse- Os fatos imateriais – as crenças, as convic-
quente e das necessidades do presente. ções, a religião e a política – foram relegados
Todas essas inovações se beneficiaram, de a esta superestrutura. Isto levou os historiado-
forma considerável, de outras disciplinas, re- res, preocupados em encontrar as verdadei-
forçando, assim, a importância das aborda- ras realidades, a de certa forma desvalorizar
gens multidisciplinares com a Sociologia, a um bom número de aspectos da vida coleti-
Antropologia, a Ciência Política, a Linguística va, tais como as instituições, as relações de
e a Psicanálise, por exemplo. As contribuições direito e a vida política. As constituições, por
forneceram novos estímulos para a afirmação exemplo, não passavam de atos cartoriais que
e expansão dos estudos a partir de uma linha traduziam as verdadeiras relações de força.
microanalítica, nas perspectivas abertas pela Deter-se na análise de uma constituição era,
Micro-História. de certa forma, tomar gato por lebre. A rea-
lidade estava em outro lugar. A constituição
O retorno da História política não passava de um decalque das relações de
força. Nessa perspectiva, o político, de certa
René Rémond (1918-2007), presidente do forma, não passava de um engodo, não era
Instituto Nacional de Ciências Políticas), para nada além da transcrição, em um outro regis-
defender a importância da História política tro, de realidades mais fundamentais. O po-
lançou o livro Por uma História política, no lítico, por si só, não podia agir sobre o resto,
qual apresenta as possibilidades de produção estava na dependência das verdadeiras rea-
de uma nova História política: lidades. O paradoxo – abro aqui um rápido
Mas houve ainda algo mais: houve a in- parêntese – é que esta filosofia, que negava à
fluência difusa de uma filosofia que distin- política toda razão de existir, que a declarava
guia as verdadeiras realidades daquelas que, impotente, foi, talvez, a que suscitou os mais
no fundo, não passavam de aparência. Sem políticos dos comportamentos, que levou os
nos referirmos de forma explícita a uma filo- homens a consagrar sua existência à política.
sofia materialista, e particularmente ao mar- Temos aí um enigma, um desses fatos estra-
xismo, é bem verdade que prevaleceu durante nhos, mas que só surpreenderiam aqueles que
muito tempo, de forma difusa, uma visão um imaginam que as ideologias obedecem a uma
tanto materialista, que conjugava os postula- lógica puramente racional.
dos mecanicistas de gerações anteriores com [ ... ]
o determinismo de uma visão que distinguia, Não tentarei definir aqui o que é o polí-
para usarmos o jargão da filosofia, a infra- tico, mas também não podemos perder de
-estrutura da superestrutura. Entendia-se que vista o fato de que existe um campo próprio
a infraestrutura determinava a superestrutu- do político, ainda que variável. A esfera do
ra e constituía a verdadeira realidade. O que político absorve problemas ou questões que
importava eram as relações de produção, as não se colocavam antes e que, aliás, em al-

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HISTÓRIA 65

guns casos, tornam a sair dela. Os contornos de História geral Como dizia Giovanni Levi,
são pouco nítidos, mas hoje em dia poucos ‘nenhum sistema é de fato suficientemente
domínios escapam da política. Basta ver a estruturado para eliminar toda possibilida-
diversidade das chamadas políticas públicas. de de escolha consciente, de manipulação
Existem hoje políticas públicas de saúde, de ou interpretação das regras. Assim, a bio-
biologia, de meio ambiente, enfim, de uma grafia constitui o lugar para se verificar a
série de problemas que nossos antecessores liberdade de que as pessoas dispõem e para
não imaginavam poderem tornar-se um dia se observar como funcionam concretamen-
objeto de debates políticos ou de escolhas po- te os sistemas normativos’.
líticas. Sinto-me tentado a dizer que nunca foi (René Rémond. Por uma História política,
tão difícil como hoje descartar o político como 1994).
um fator superficial ou exterior.
[ ... ] D – Problemas e métodos
Eis alguns elementos de resposta à per-
gunta ‘Por que a História do político?’. É des- As fontes e a crítica do historiador
necessário dizer – embora talvez seja melhor
dizê-lo – que nesta tentativa de reflexão e nes- O trabalho do historiador se faz a par-
te esforço de habilitação do político não vai tir de fontes, que são basicamente os ves-
nenhum tipo de reivindicação de hegemonia a tígios deixados pelos homens ao longo de
seu favor. Se o político é importante, se é pos- sua existência. Sem fontes, não há História.
sível pensar hoje em dia que ele faz necessa- Podem ter as mais distintas origens e cada
riamente parte do percurso, qualquer que seja uma, à sua maneira, traduz aspectos que
a atividade, que ele constitui um dos pontos dão a conhecer elementos do passado.
de condensação da sociedade, é preciso di- Todo trabalho de História pressupõe, em
zer também que nem tudo é político, que não primeiro lugar, uma delimitação temática
se deve reduzir tudo à política, que o político (qual o assunto), temporal (qual o período)
não está sozinho e isolado, mas guarda rela- e espacial (qual a região) do objeto a ser es-
ções com o resto, com as demais expressões tudado. A partir dessas definições, cabe ao
da atividade humana e com a sociedade civil. historiador uma seleção de fontes com as
Reivindico para o político todo o espaço a que quais ele pretende trabalhar. As fontes po-
faz jus, mas nada além desse espaço. Chego dem ser de origem diversa e oferecer ele-
às vezes a ficar preocupado quando constato mentos diferentes e complementares sobre
o sucesso de que ele goza hoje em dia. Temo uma determinada experiência histórica.
que alguns neófitos acabem por esquecer que Embora, de maneira geral, todos os vestí-
o político se inscreve num contexto mais am- gios do passado possam se constituir em
plo e que só se é historiador do político - da fontes para o historiador, nem todas têm a
mesma forma como se é historiador do eco- mesma qualidade, ou seja, dependem de
nômico ou do cultural – sendo-se também um processo de crítica que as classifica em
um historiador, não diria da totalidade, o que termos de importância e representativida-
seria presunçoso, mas um historiador preo- de para as perguntas que o historiador faz
cupado em inscrever este objeto numa visão ao seu objeto de estudo.

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66 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

É a partir das fontes que os historiado- certidões de nascimento do início do século


res extraem os fatos que utilizarão para a XX, apresentam padrões semelhantes. A
escrita da História. Os fatos nunca são coi- crítica da fonte não termina ao averiguar a
sas dadas, mas o resultado de um diálogo sua autenticidade, mas segue num contínuo
entre o documento e o seu leitor. Depen- processo de interpretação: De onde vem
dem das perguntas que o historiador pro- o documento? Quem o produziu? Quando
põe, dos elementos que tem para poder foi feito? Como foi conservado? Haveria
confrontar com outros fatos, do cruzamen- razões, conscientes ou inconscientes, para
to com outras fontes. Dito assim parece que o autor deformasse as informações?
que o fato histórico pode ser construído ao Esses procedimentos estendem-se a to-
bel-prazer dos pesquisadores; no entanto, das as fontes, porque todo documento é o
diferente dos ficcionistas, é preciso escla- resultado de uma série de fatores, jogos de
recer que todo fato histórico carece de pro- poder e influência, interesses que cabe ao
vas. Por isso, é de suma importância indicar historiador desvendar. Não há documento
as referências das fontes no trabalho do neutro, nem fonte que traga a verdade em-
historiador. Essa é uma regra da profissão: butida. Por isso, as fontes, sejam elas es-
não cabe ao historiador imaginar discursos, critas (documentos oficiais, cartas, diários,
inventar diálogos. leis), orais, iconográficas (pinturas, retra-
O trabalho do historiador deve ser passí- tos, esculturas), devem estar submetidas à
vel de confrontação, por isso ele deve indicar análise crítica.
as obras que leu e os documentos que con- O historiador Eric Hobsbawm faz uma im-
sultou. O conhecimento histórico parte dessa portante reflexão sobre a especificidade do
necessidade de clareza. Somente o exercício conhecimento histórico e estabelece a especi-
rigoroso de crítica das fontes possibilitará ao ficidade da História como uma disciplina válida
historiador a legitimidade do seu trabalho. e dotada de métodos próprios:
Obviamente, isso não garante o alcance de
uma verdade absoluta, mas determina uma História e prova
das características fundamentais do conheci-
mento histórico: trata-se de um conhecimen- Sem entrar no debate teórico sobre es-
to controlado. sas questões, é essencial que os historia-
E é preciso ressaltar que o processo de dores defendam o fundamento de sua dis-
crítica não é trabalho de principiantes. A ciplina: a supremacia da evidência. Se os
interpretação de um documento significa seus textos são ficções, como o são em cer-
confrontá-lo com tudo o que se sabe sobre to sentido, constituindo-se de composições
determinado assunto. Toda fonte deve pas- literárias, a matéria-prima dessas ficções
sar por um processo rigoroso de crítica, que são fatos verificáveis. O fato de que os for-
verifica a sua constituição física, por exem- nos nazistas tenham existido ou não pode
plo. Um documento do século X jamais se- ser estabelecido por meio de evidências.
ria feito em um tipógrafo; a sua coerência Uma vez que isso foi assim estabelecido, os
e a compatibilidade com outros textos de que negam sua existência não estão escre-
mesma natureza e época, por exemplo, vendo História, quaisquer que sejam suas

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HISTÓRIA 67

técnicas narrativas. Se um romance deve Durante muito tempo, a desconstrução


tratar do retorno de Napoleão de Santa de mitos políticos ou sociais disfarçados
Helena em vida, ele poderia ser literatu- como História foi parte das obrigações pro-
ra, mas não conseguiria ser História. Se fissionais do historiador.
a História é uma arte imaginativa, é uma (Eric Hobsbawm, Sobre História, 1997)
arte que não inventa, mas organiza objets
trouvés (objetos encontrados). A distinção Lorenzo Valla e a doação de Constantino
pode parecer pedante ao não historiador,
principalmente àquele que utiliza material A Doação de Constantino é um bom exem-
histórico para seus próprios fins. plo sobre a importância da crítica na leitura
[ ... ] das fontes. Esse documento (produzido du-
De fato, a insistência dos historiadores [...] rante a Idade Média) foi apresentado como
em ‘procedimentos estritamente científicos, um édito romano no qual o imperador Cons-
onde cada declaração é acompanhada de tantino (306-337) teria feito várias doações ao
provas, fontes de referência e citações’, é às Papa São Silvestre (314-335). Segundo doação
vezes pedante e trivial, principalmente ago- o imperador professava sua fé, dizia que fora
ra que isso não participa mais de uma fé na curado de lepra por intercessão do papa antes
possibilidade de uma verdade científica defi- de se converter, doava ao papado a autorida-
nitiva, positivista, que lhe conferia uma certa de sobre as comunidades cristãs do Oriente
grandeza simplória. No entanto, os procedi- (Antióquia, Jerusalém, Alexandria e Constan-
mentos do tribunal de justiça, que insistem na tinopla) entregava às igrejas de Latrão, de
supremacia da evidência com a mesma força São Pedro e de São Paulo – fora dos muros
que os pesquisadores históricos, e, muitas ve- de Roma – terras situadas em diversos pontos
zes quase da mesma maneira, demonstram do Império. Além disso, outorgava ao papa a
que a diferença entre fato histórico e falsidade faculdade de elevar senadores do Império ao
não é ideológica. [ ... ] nível de sacerdotes. Produzido provavelmen-
Insistir na supremacia da evidência e te no século VIII por um clérigo romano, a do-
na importância central da distinção entre ação de Constantino já havia sido contestada
fato histórico verificável e ficção é apenas no tempo do imperador germânico Otto III,
uma das maneiras de exercer a respon- no século XI. Mas foi em 1440 que o humanis-
sabilidade do historiador e, como a atual ta italiano Lorenzo Valla (1407-1457) empre-
fabricação histórica não é o que era anti- endeu um trabalho de crítica textual do do-
gamente, talvez não seja a mais importan- cumento e pôs um ponto final nas discussões
te. Ler os desejos do presente no passado sobre a sua autenticidade. Impresso em 1506,
ou, em termos técnicos, anacronismo, é a o texto de Valla mostrava que a linguagem do
técnica mais comum e conveniente de criar documento não era típica do século IV. O la-
uma História que satisfaça as necessidades tim utilizado era do século VIII! O édito, apre-
do que Benedict Anderson chamou ‘comu- sentado como verdadeiro, era falso. Falsear
nidades imaginadas’ ou coletivos, que não documentos é comum ao longo da História e
são, de modo algum, apenas nacionais. responde a interesses diversos. Nesse caso,
trata-se de uma tentativa clara da Igreja de

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68 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

legitimar como sua as possessões territoriais [Mas] não basta constatar o embuste.
oriundas do Império Romano. Por sua vez, a É preciso também descobrir seus moti-
doação de Constantino, embora não seja ver- vos. Mesmo que, a princípio, para melhor
dadeira, tem muito a dizer da época em que rastreá-lo. Enquanto subsistir uma dúvida
foi produzida. Pode ser utilizada como uma sobre suas origens, ele permanecerá em si
fonte para entender as razões dos falseamen- mesmo algo de rebelde à análise: por con-
tos. A mentira também pode ser objeto de seguinte, de apenas até semicomprovado.
estudo do historiador. A imagem abaixo, do Acima de tudo, uma mentira enquanto tal
século XIII, mostra a importância da doação é, a seu modo, um testemunho. Provar,
de Constantino no imaginário medieval. sem mais, que o célebre diploma de Car-
los Magno para a igreja de Aix-Ia-Chapelle
não é autêntico é poupar-se um erro; não
é adquirir um conhecimento. Conseguire-
mos, em contrapartida, determinar que a
falsificação foi composta pelos círculos de
Frederico Barba-Ruiva? Que iria, por to-
dos os motivos, servir aos grandes sonhos
imperiais? Uma nova visão se abre para
vastas perspectivas históricas. Eis, portan-
to, a crítica levada a buscar, por trás da
impostura, o impostor; ou seja, conforme
a própria divisa da História, o homem.
(Marc Bloch. Apologia da História, 1941-1942).

E História e temporalidade

O que é o tempo? Essa pergunta inicial é


feita há séculos por pensadores de diferentes
A mentira também tem história áreas. O tempo é, por excelência, uma inven-
ção que procura situar a ação humana dentro
Todo documento é verdade? Certamen- de uma sucessão diferenciada de aconteci-
te não. Mas, por ser falso, o documento não mentos. Se todos os dias fossem exatamen-
perde seu valor histórico. Cabe ao historiador te iguais, não haveria sentido pensar sobre
desvendar as relações de poder e interesses o tempo. Ele existe porque cada dia, para os
que produziram aquela versão sobre determi- seres humanos, é diferente de outro: ontem é
nado fato histórico. Assim, o documento falso diferente de hoje que será diferente de ama-
pode auxiliar na compreensão de uma reali- nhã. Essa é a noção que dá sentido à História,
dade pelo seu avesso, ou seja, pelo que uma porque é o tempo que dá sentido às ações das
sociedade desejava falsear e omitir. pessoas e torna possível localizar os aconteci-
mentos numa perspectiva de presente, passa-
do e futuro. O calendário é algo tão enraizado

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HISTÓRIA 69

nas sociedades contemporâneas que parece Por isso os calendários são tão importan-
um dado da natureza. tes como fontes de referência. São eles que
A natureza possui um tempo, por assim possibilitam as noções de passado, presente
dizer, exterior, imortal e homogêneo. O seu e futuro, porque estabelecem pontos fixos de
tempo é a contagem de movimentos naturais: referência e linearidade. Assim, cada dia é
consequentemente, não há passado, presen- único. No entanto, convém esclarecer que to-
te ou futuro. O tempo da Lua é a repetição dos os calendários são convenções sociais,
de seus movimentos naturais: não apresen- não têm valor universal: para os ocidentais, de
ta identidade ou irregularidade, o que foi forte tradição cristã, o nascimento de Jesus
voltará a ser. O tempo humano, por sua vez, é o marco fundador de uma nova contagem
apresenta um forte grau de irreversibilida- do tempo; para os judeus, o Gênesis aconte-
de: o dia de hoje não se repetirá jamais. O ceu em 7 de outubro de 3761 a.C; marcando
ser humano conta seu tempo, consciente de o início do calendário judaico; por sua vez, os
sua morte e, portanto, do fim da sua dura- muçulmanos contam o tempo a partir da Hé-
ção. Os calendários têm justamente esse in- gira, ou seja, a fuga de Maomé de Meca para
tuito: contar a partir do tempo natural (ciclos Medina, em 16 de julho de 622 d. C.
solar e lunar) a duração das coisas. Diferente Há outras formas de medir o tempo: o re-
da natureza, o tempo humano é uma criação. lógio é um utensílio fundamental para os con-
Por meio do calendário, é possível localizar temporâneos, mas é um instrumento de im-
ações ao longo da existência, seja de pessoas, portância muito recente na história da huma-
gerações, culturas ou sociedades. Só a partir nidade. Quando viajamos para o interior, por
da noção de tempo é possível ao historiador exemplo, o tempo parece ter um ritmo menos
produzir conhecimento, tal como adverte acelerado do que nas grandes cidades, onde
Marc Bloch: “a História é a ciência dos ho- as coisas exigem uma rapidez e precisão cada
mens no tempo”. Sem a noção de tempo, não vez maior. O historiador francês George Duby
há noção de História. (1919-1996) chamou a atenção para como as
Por isso, a pergunta “quando aconte- pessoas se orientavam em boa parte da Idade
ceu?” é tão fundamental para os historia- Média: eram os sinos das catedrais que da-
dores (e para qualquer pessoa que queira vam o ritmo de vida das pessoas, anunciando
compreender um fenômeno histórico). Não é o tempo de acordar, rezar, comer, dormir.
possível analisar nada em termos históri- A maneira como determinada sociedade
cos sem levarmos em consideração a época conta o seu tempo diz muito de sua organiza-
em que determinado fato aconteceu. Como a ção. As sociedades urbanas modernas, cada
História se constitui de eventos singulares e vez mais ocupadas, organizam-se por meio de
irrepetíveis, desconsiderar o tempo facilita in- um controle rígido do relógio; embora com-
correr num dos mais graves erros de análise: partilhem de um mesmo calendário, as socie-
comparar eventos e fatos sem levar em con- dades amazônicas, por exemplo, vivenciam
ta a época em que aconteceram. É o que os o tempo de forma bem distinta. Por isso, é
historiadores chamam de anacronismo. Cada possível dizer que dentro de uma realidade
fato histórico deve ser compreendido no tem- de análise existem inúmeras temporalidades.
po em que aconteceu. Essa consciência é fundamental à História.

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70 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

Foi o historiador francês Fernand Braudel ver – pelo menos virtualmente – se seus
(1902-1985) que, num artigo publicado em termos não pudessem ser datados.
1958, chamou a atenção para a importância (Claude Lévi-Strauss. O pensamento selva-
das diferentes temporalidades na análise his- gem, 1962).
tórica. Braudel dividiu o tempo em três gran-
des categorias: o tempo curto, dos eventos; As temporalizações em História
o tempo médio, das conjunturas; e o tempo
longo, das grandes estruturas. A proposta É comum dividir a História em épocas que
de interpretação de Braudel mostra como o supostamente guardam alguma identidade:
tempo histórico, diferente do tempo do calen- Antiguidade, Idade Média e os períodos Mo-
dário, não é linear: em toda análise histórica derno e Contemporâneo. Como todas as con-
convivem diferentes durações, interrupções, venções, essa divisão é discutível e foi conce-
dinâmicas próprias. bida pelos europeus para a História da Euro-
pa Ocidental, tendendo a se impor à História
O tempo como fundamento da História universal, embora, em diversos casos, não
seja pertinente. De acordo com essa divisão
O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss tradicional e eurocêntrica, a Antiguidade co-
faz uma reflexão sobre a importância do tem- meça com o início das sociedades humanas e
po para a História. O estudo da História não termina na Europa Ocidental no século V d. C.,
se resume a datas; no entanto, não é possível com o desaparecimento do Império Romano
prescindir delas. Um dos aspectos que carac- nessa região, ainda que ele tenha continuado
terizam o conhecimento da História é a capa- a existir no Oriente até o século XV. Esse perí-
cidade de situar temporalmente os aconteci- odo de dez séculos foi chamado de Idade Mé-
mentos humanos. dia, à qual sucederam os Tempos Modernos,
assim batizados pelos europeus no momento
Não há História sem datas; para con- em que tomaram consciência, em grande par-
vencermo-nos disso, basta verificar como te graças às informações vindas da América e
o aluno consegue aprender História, redu- dos outros continentes, de que o mundo no
zindo-a a um corpo descarnado cujo es- qual vivia passava por profundas mudanças.
queleto é formado por datas. Não foi sem As revoluções econômica e política do final
motivo que se reagiu contra esse método do século XVIII, na Grã-Bretanha e na França,
maçante, mas caiu-se, frequentemente, no abriram o Período Contemporâneo. Como o
extremo oposto. Se a História não é feita século XIX e o princípio do século XX afastam-
unicamente por datas, que nem são seu as- -se cada vez mais de nós, e com isso nos tor-
pecto mais interessante, elas constituem namos cada vez menos “contemporâneos”,
o aspecto sem o qual a própria História dei- alguns historiadores elaboraram a noção de
xaria de existir, já que sua verdadeira ori- História do tempo presente, para designar o
ginalidade e especificidade encontram-se passado recente, aquele o qual as pessoas vi-
na apreensão da relação entre um ‘antes’ e vas ainda podem testemunhar. Nesse sentido
um ‘depois’, a qual seria votada a se dissol- também podemos entender a diferença arbi-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 71

trária entre História e Pré-História, que seria o A escrita foi muitas vezes contemporânea das
período anterior à invenção da escrita. primeiras menções a calendário uma forma
No texto a seguir, o historiador francês importante de organização do tempo vivido.
Jean Chesneaux (1922-2007) adverte sobre a
importância se ter em mente que cada socie- As temporalidades
dade determina marcos com base em referen-
ciais próprios. É preciso observar com fluidez e Os estudos do alemão Reinhart Koselleck
leveza essas divisões da História: (1923-2006) discutem um tema fundamental
para o historiador: Como se deve entender o
É preciso advertir, desde já, que esse siste- tempo na História? 1492 (o ano do “desco-
ma quadripartido – História Antiga, História brimento” da América define uma dimensão
Medieval, História Moderna e História Con- temporal uniforme para os habitantes da Eu-
temporânea – de organização da História uni- ropa) para os indígenas da América ou para
versal é um fato francês. Em outros países, o os chineses na Ásia? Ou cada sociedade ela-
passado está organizado de modo diferente, bora de maneira diferente sua concepção de
em função de pontos de referência diferentes. tempo? De acordo com Koselleck, as ações
Na Grécia, a Antiguidade grega chega até o humanas e as diferentes dinâmicas sociais são
século XV e a ocupação turca corresponde a aspectos que não podem ser analisados sem
uma espécie de Idade Média. Na China, a His- levar em consideração as várias temporalida-
tória moderna vai das guerras do ópio ao mo- des que integram a experiência histórica.
vimento patriótico de maio de 1919. Começa
com este último a História ‘contemporânea’. Que é o tempo histórico? Essa é uma
Nos Estados Unidos, a História nacional se das perguntas mais difíceis de responder
organiza em dois blocos, em função dos eixos no campo da historiografia. A questão nos
fundamentais que são em função da Guerra leva necessariamente a adentrar o terreno
da Independência, em fins do século XVIII, a da teoria da História, sob uma perspecti-
Guerra de Secessão, em 1860-1864. va ainda mais profunda do que a habitual.
(Jean Chesneaux. Devemos fazer tábula Pois as fontes do passado são capazes de
rasa do passado? 1976). nos dar notícia imediata sobre fatos e ideias,
sobre planos e acontecimentos, mas não so-
Existe uma pré-história bre o tempo histórico em si.
Para tentar responder a essa questão,
O conhecimento histórico se constrói a par- recorrente no campo dos estudos da Histó-
tir das fontes, ou seja, das marcas deixadas pe- ria, precisamos lançar mão de uma aborda-
los homens ao longo do tempo. Por uma divisão gem teórica [ ... ].
arbitrária, é comum nomear de Pré-História o No curso de uma investigação comprome-
período anterior à invenção da escrita porque tida com as circunstâncias históricas não é
as sociedades que adotaram a escrita conser- necessário formular explicitamente a pergun-
varam uma memória do passado reelaborada ta sobre um tempo histórico. Ainda assim, a
e reconstruída ao longo das suas existências datação exata é imprescindível para que se
que as situa claramente num tempo histórico. possa organizar e narrar esse conteúdo cons-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
72 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

tituído de eventos. Mas a datação correta é periência e o entrelaçamento de distintas


apenas um pressuposto, e não uma deter- perspectivas de futuro, ao lado de confli-
minação da natureza daquilo que se pode tos ainda em germe. Esse olhar em volta já
chamar de ‘tempo histórico’. é suficiente para que se perceba a impos-
A cronologia – como ciência auxiliar que sibilidade de traduzir, de forma imediata, a
é – responde às questões sobre datação universalidade de um tempo mensurável
à medida que anula as diferenças entre os e natural – mesmo que esse tempo tenha
inúmeros calendários e medidas de tem uma história própria – para um conceito de
empregados ao longo da História, reunindo- tempo histórico. [ ... ]
-os em um único tempo, regido segundo­ O tempo histórico [ ... ] está associado à
nosso sistema planetário e calculado segun- ação social e política, a homens concretos
do as leis da Física e da Astronomia. Esse que agem e sofrem as consequências de
tempo único, natural, passa a ter, então, o ações, a suas instituições e organizações. To-
mesmo valor para todos os habitantes da Ter- dos eles, homens e instituições, têm formas
ra (se considerarmos as diferenças nas esta- próprias de ação e consecução que lhes são
ções do ano e nas variações na duração de um imanentes e que possuem um ritmo tem-
dia). Pode-se partir do mesmo princípio no poral próprio. Pensemos, para ficarmos em
que se refere ao tempo biológico do homem, exemplos do mundo cotidiano, nos calendá-
o qual, a despeito dos recursos da medicina, rios festivos que articulam a vida em socie-
varia de maneira bastante limitada. [ ... ] dade, na alternância dos tempos dedicados
Quem busca encontrar o cotidiano do ao trabalho e em sua duração, que deter-
tempo histórico deve contemplar as rugas minaram a sequência da vida no passado e
no rosto de um homem, ou então as cica- continuam a determiná-la diariamente. [ ... ]
trizes nas quais se delineiam as marcas de Na tentativa de tematizar o tempo his-
um destino já vivido. Ou ainda, deve evo- tórico, não se pode deixar de empregar
car na memória a presença, lado a lado medidas e unidades de tempo derivadas da
de prédios em ruínas e construções recen- compreensão físico-matemática da nature-
tes, vislumbrando assim a notável trans- za; as datas, bem como a duração da vida
formação de estilo que empresta uma pro- dos indivíduos e instituições; os momentos
funda dimensão temporal a uma simples críticos de acontecimentos políticos ou mili-
fileira de casas; que observe também o di- tares; a velocidade dos meios de transportes
ferente ritmo dos processos de moderniza- e sua evolução; a aceleração ou desacelera-
ção sofrido por diferentes meios de trans- ção da produção industrial; a velocidade dos
porte, que, do trenó ao avião, mesclam-se, equipamentos bélicos, tudo isso, para citar
superpõem-se e assimilam-se uns aos ou- apenas alguns exemplos, só pode ter seu peso
tros, permitindo que se vislumbrem, nessa histórico avaliado se for medido e datado com
dinâmica, épocas inteiras. Por fim, que o recurso à divisão do tempo natural.
contemple a sucessão das gerações dentro No entanto, a interpretação das circuns-
da própria família, assim como no mun- tâncias produzidas a partir dos fatores acima
do do trabalho, lugares nos quais se dá a citados conduz para além das determinações
justaposição de diferentes espaços de ex- temporais compreendidas de maneira física

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DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 73

e astronômica. As decisões políticas tomadas Habilidade: Interpretar as explicações his-


sob pressão de prazos e compromissos, o efei- tóricas e a produção da memória das socieda-
to da velocidade dos meios de transporte e de des da Antiguidade.
informação sobre a economia ou sobre ações
militares, a permanência ou instabilidade de Para a realização desta atividade, pedimos
determinadas formas de comportamento so- para que o professor divida a turma em gru-
cial no âmbito das exigências econômicas e pos de quatro ou cinco membros e que todos
políticas temporalmente determinadas, tudo os grupos leiam todos os textos. Cada grupo
isso conduz obrigatoriamente – seja através deverá ter um relator que sistematizará as di-
de um processo de atuação e ação recíproca versas opiniões. Finalizada a leitura, o profes-
ou de uma relação de dependência – a um sor deverá proceder a um sorteio para estabe-
tipo de determinação temporal que, sem dú- lecer a ordem das apresentações. Cada grupo
vida, é condicionada pela natureza, mas que deverá expor as conclusões a que chegaram
também precisa ser definida especificamente sobre o texto apresentado. Os membros dos
sob o ponto de vista histórico. Se contemplar- outros grupos podem expor suas conclusões
mos o conjunto dessa cadeia de eventos, isso após a apresentação do grupo responsável.
nos levará a um processo de determinação e a Ao final das apresentações, o professor deve-
uma doutrina das épocas, as quais, conforme rá fazer uma síntese dos textos discutidos e
o domínio específico visado, podem configu- solicitará aos grupos que respondam as ques-
rar-se de maneira completamente diferente, tões abaixo:
ou mesmo justapor-se umas às outras.
(Reinharr Koselleck. Futuro passado: contri- 1. Contextualize historicamente os textos
buição à semântica dos tempos históricos, 1 e 2.
2006). 2. Compare o tipo de escravidão (trabalho
Fonte: FERREIRA, Marieta de Moraes e compulsório) expresso no Código de
FRANCO, Renato. Aprendendo História: refle- Hamurábi e em Êxodo e Levítico.
xão e ensino. Editora do Brasil, 2009. 3. No texto 3, discuta o conceito de escra-
vidão em Aristóteles.
Atividade 2 4. A partir da leitura do texto 4, identifi-
que o caráter da revolta de Espártaco
Objetivo: Possibilitar aos educandos ins- no contexto da República romana.
trumentos para analisar, comparar, identificar
os tipos de escravidão e/ou trabalho compul- TEXTO 1
sórios na Antiguidade.
1. Escravidão no Código de Hamurábi
Competência: Compreender as transfor-
mações dos espaços geográficos como produ- Se um homem comprou um escravo ou es-
to das relações socioeconômicas e culturais crava e (se) este não tiver cumprido seu mês
de poder. (de serviço) e (se) uma moléstia (dos mem-
bros) se apossou dele, ele retornará a seu ven-

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DO ENSINO MÉDIO
74 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

dedor e o comprador tomará o dinheiro que a mulher quanto os filhos pertencerão ao


dispendeu. senhor e o escravo sairá sozinho.
Se um homem comprou um escravo ou No entanto, se o escravo declarar que não
uma escrava e (se) surgir uma reclamação, quer abandonar seu patrão, sua mulher e seus
seu vendedor satisfará a reclamação.1 filhos, o caso irá aos juízes e posteriormente
Se um homem, num país inimigo, com- o senhor furará a orelha do escravo para que
prou um escravo ou uma escrava de um fique identificado como seu servidor eterno.
homem, assim que for ao centro do país e No caso de um homem vender sua filha
(assim) que o senhor do escravo homem ou como escrava, ela não será tratada como se
da escrava mulher reconhecer seu escravo trata os varões.
homem ou sua escrava mulher; Se ela não agradar ao senhor que lhe ha-
Se o escravo homem ou a escrava mulher via prometido casamento, este deverá permi-
são filhos do país, eles serão postos em liber- tir seu resgate. De forma alguma poderá re-
dade sem dinheiro (lhes será concedida a li- vendê-la a povo estranho, considerando-se tal
berdade); atitude uma deslealdade para com a moça.
Se são filhos de um outro país, o compra- No caso de casá-la com seu filho, dispen-
dor declarará diante de Deus o dinheiro des- sar-lhe-á tratamento de filha. E se, além dela,
pendido, e o senhor do escravo homem ou da outra mulher for dada a seu filho, a primeira
escrava mulher dará ao dam qarum2 o dinhei- não deverá ser prejudicada nem na alimenta-
ro que este dispendeu e este tornará a com- ção, nem na roupa nem em seus direitos con-
prar seu escravo homem ou mulher; jugais.
Se um escravo diz a seu senhor: “Tu não és Caso os três itens sejam transgredidos, a
meu senhor”, seu senhor o convencerá de ser mulher poderá sair sem retribuição, nem pa-
seu escravo e lhe cortará a orelha. gamento em dinheiro.
(Código de Hamurábi, § 278 / 282 ). Se algum escravo ou escrava forem cas-
tigados com uma vara e morrerem no ato
2. Escravidão no Antigo Testamento (Torá) do castigo, o patrão será punido. No caso,
porém, de o escravo sobreviver por um ou
COM RESPEITO AOS ESCRAVOS, SERÃO ES- dois dias, o patrão não será alvo de pu-
TES OS ESTATUTOS: nição, porque tem esse direito. O escravo
poderá alcançar sua liberdade, caso o pa-
O escravo hebreu deve servir seis anos, ao trão, castigando-o, inutilize seu olho ou lhe
término dos quais será liberto. arranque um dente.
Se era solteiro, ao ser adquirido, sairá sozi- Se empobrecido, teu irmão tentar se ven-
nho. Se era casado, sua mulher sairá com ele. der a ti, não o faças servir como escravo. Terá
No caso de ter casado após a compra e as funções de jornaleiro e peregrino, servindo
a mulher ter dado à luz filhos e filhas, tanto o irmão rico até o ano do jubileu. Então junta-
mente com a mulher e os filhos, abandonará
a casa do irmão e voltará às propriedades de
1 A lei não distingue entre reclamações fundamentadas
ou arbitrárias, supondo-se que o vendedor tivesse que a seus pais. Porque meus servos que tirei do Egi-
aceitar qualquer uma. to não serão vendidos como escravos. Não de-
2 Espécie de banqueiro e negociante.

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DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 75

verão ser tratados com tirania. Teme, porém, de instrumento, o escravo um bem animado
a teu Deus. e algo assim como um instrumento prévio
Os escravos e escravas provirão das outras aos outros instrumentos. Se todos os instru-
nações ou serão comprados dos filhos dos fo- mentos pudessem cumprir seu dever obede-
rasteiros que peregrinam em sua terra. cendo às ordens de outro ou antecipando-se
Eles passarão como herança para teus fi- a elas, como contam das estátuas de Déda-
lhos, servindo tua família perpetuamente. lo ou dos tridentes de Hefesto, dos que diz o
Mas sobre os filhos de Israel não deve pesar poeta que entravam por si só na assembleia
a escravidão. dos deuses,3 se as lançadeiras tecessem sós
Quando o estrangeiro ou peregrino que e os plectros tocassem sozinhos a cítara, os
vive contigo enriquecer, e teu irmão, empo- maestros não necessitariam de ajuda e nem
brecido, tentar se vender a ele, ou alguém de de escravos os amos.
sua família, tu ou outro irmão teu ou tio ou O que é chamado habitualmente de ins-
primo deverá resgatá-lo. A menos que ele o trumento, o é de produção, enquanto que
faça sozinho. os bens são instrumentos de ação; a lança-
Para tanto, acertará contas desde o ano deira produz algo à parte de seu funciona-
em que se vendeu até o ano do jubileu. O pre- mento enquanto que a roupa ou o leito pro-
ço da venda se baseará no número de anos: duzem apenas seu uso. Além disso, como a
como se faz com um jornaleiro. produção e a ação diferem essencialmente
Se, no entanto, faltarem muitos anos, fará e ambas necessitam de instrumentos, estes
uma devolução proporcional ao dinheiro pelo apresentam necessariamente as mesmas di-
qual foi comprado. ferenças. A vida é ação, não produção, e por
(Êxodo 21, 1-11; 20-21; 26-27 e Levítico isso o escravo é um subordinado para a ação.
25, 39-52). Do termo propriedade pode-se falar no mes-
mo sentido que se fala de parte: a parte não
3. A escravidão, segundo Aristóteles somente é parte de outra coisa, senão que
pertence totalmente a esta, assim como a
A PROPRIEDADE É UMA PARTE DA CASA propriedade. Por isso o amo não é do escravo
E A ARTE AQUISITIVA uma parte da admi- outra coisa que amo, porém, não lhe perten-
nistração doméstica, já que sem as coisas ce, enquanto que o escravo não só é escravo
necessárias são impossíveis a vida e o bem- do amo, como lhe pertence por completo. –
-estar; na administração doméstica assim Daqui deduz-se claramente qual é a natureza
como nas artes determinadas, é necessário e a função do escravo: aquele que, por natu-
dispor dos instrumentos adequados se se reza, não pertence a si mesmo, senão a outro,
deseja levar a cabo sua obra. Os instrumen- sendo homem, esse é naturalmente escravo;
tos podem ser animados ou inanimados, por é coisa de outro, aquele homem que, a des-
exemplo, o timão do piloto é inanimado, o vi- peito da sua condição de homem, é uma pro-
gia animado (pois o subordinado faz as vezes priedade e uma propriedade sendo, de outra,
de instrumento nas artes). Assim também os
bens que se possui são um instrumento para
a vida, a propriedade em geral uma multidão 3 A referência é a Homero, Ilíada, XVIII, 376

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
76 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

apenas instrumento de ação, bem distinta do formes de vime e de couro, forjam seu ferro
proprietário. em forma de espadas e lanças e, para que
não falte nenhum brilho a seu exército, do-
(ARISTÓTELES, Política; Livro I, 4, 1253b 25 ss). mam os bandos que encontram formando
uma cavalaria. Levaram a seu chefe insíg-
4. Espártaco e a revolta dos escravos nias e objetos tirados dos pretores: não os
recusou, este mercenário da Trácia, admiti-
TOLERE CONTUDO A DESONRA DAS do no nosso exército, soldado desertor, ban-
REVOLTAS DOS ESCRAVOS; embora o Des- dido promovido a gladiador por sua força!
tino os faça de joguete, trata-se afinal de Ele chegou mesmo a celebrar funerais de
uma espécie de homens de segunda catego- imperator para seus comandantes mortos
ria, dos quais podemos dispor por causa de em combate, ordenando aos prisioneiros
nossa liberdade. No entanto, como chamar que combatessem entre si perto da foguei-
a guerra que Espártaco iniciou e conduziu? ra, como se lavasse toda a desonra de seu
Escravos soldados sob generais gladiado- passado, passando de gladiador a patroci-
res, os mais vis comandados pelos piores, se nador de jogos.
constituiu no escárnio aliado à calamidade. Começou inclusive a atacar os cônsules nos
Espártaco, Crixo, Enornau, destruíram Apeninos, despedaçou o exército de Lêntulo e
as portas da escola de gladiadores manti- perto de Mutina destruiu o acampamento de
da por Lêntulo, e com trinta (e não mais!) C. Cássio. Orgulhoso de suas vitórias, pensou
companheiros de destino fugiram de Cápua. (e isto basta para nossa vergonha!) em atacar
Tendo chamado os escravos à liberdade, ti- a cidade de Roma. Finalmente, todas as forças
veram consigo imediatamente mais de dez de nosso império são preparadas contra este
mil homens; não lhes bastava mais terem gladiador e Licínío Crasso reivindicou a honra
fugido: eles queriam agora se vingar. To- romana; vencidos e postos em fuga estes... –
maram por assim dizer como primeiro altar tenho vergonha de chamá-las de inimigos – re-
o Vesúvio. E, como Clódio Gláber os man- fugiam-se no extremo da Itália. Lá, confinados
tivesse bloqueados ali, deixaram-se desli- num canto do Brúcio, sem possuir embarca-
sar por cabos feitos de varas para dentro ções, procuram evadir-se para a Sicília tentan-
da montanha, atingindo assim sua base e, do em vão a violenta corrente do estreito sobre
por uma passagem impraticável, surpreen- jangadas de feixes de madeira e de conjuntos
dendo subitamente o chefe (romano), que de potes. Enfim, numa saída, correram eles em
não esperava nada disso, tomaram-lhe seu direção a uma morte digna de homens de va-
acampamento. Em seguida, trocaram de lor; e, como convinha a um general gladiador, a
acampamento: atingem o de Cora, percor- luta foi sem perdão: o próprio Espártaco, com-
rem aos poucos toda a Campanha e, não batendo com muita bravura na primeira fila,
satisfeitos com a pilhagem de fazendas e foi morto como um imperator.
burgos, arrasam terrivelmente Nola e Licé-
ria, Túrios e Metaponto. O afluxo cotidiano (FLORO, lI, 8 [III, 20])
de novas tropas, faz deles, afinal, um ver- Fonte: Obra: PINSK, Jaime. (org.) 100 textos de
dadeiro exército: confeccionam escudos in- História Antiga. Ed. Contexto, São Paulo, 1998.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 77

2ª Série Professor, distribua, aos educandos, cópias


das tabelas de números 1 e 2, e peça para que
Atividade 3 eles façam uma leitura atenta das mesmas le-
vando em consideração os seguintes aspectos:
Objetivo: Analisar o processo de ocupação
lusa na Amazônia colonial. 1. Avaliar o papel que coube aos missioná-
rios, das diversas ordens religiosas, no
Competências: processo de colonização da Amazônia.
•• Compreender a produção e o papel histó- 2. Comparar as tabelas 1 e 2, ressaltando
rico das instituições sociais, políticas e eco- as relações que podem ser feitas acerca
nômicas; da presença missionária no processo de
•• Reconhecer os diferentes atores sociais; colonização da Amazônia.
•• Reconhecer os conflitos sociais; 3. Discutir como se deu o processo que
“loteou” a região amazônica entre as
Habilidades: diversas ordens religiosas e qual o sig-
•• Identificar as formas de colonização; nificado dessa partilha no processo de
•• Analisar as formas de resistências na Ama- colonização da Amazônia.
zônia colonial; 4. Discutir o papel social dos diversos
•• Identificar, no tempo presente, as heranças agentes envolvidos no processo de co-
coloniais. lonização da Amazônia.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
78

Tabela I

Distribuição, atuação e expansão das ordens religiosas na Amazônia (séculos XVII e XVIII)
Data de entrada e
expansão na

DO ENSINO MÉDIO
Amazônia

PROPOSTA CURRICULAR
Data de
Demarcação dos distritos
entrada Locais onde se Locais onde Atividades ligadas à
missionários segundo as cartas
na instalaram atuaram ocupação
régias de 1691 e 1693
Amazônia

Missionários

(Ordens religiosas)

Franciscanos da Província de 1616 ou Belém (sítio do • Tudo o que ficasse ao norte do rio • Cabo do Norte • Pacificação e conversão de
Santo Antônio 1617 Uma) Amazonas (margem esquerda), (Amapá) índios Tupinambás, Aruans e
compreedendo os rios Jari, Paru e a • Baixo Tocujus, entre outros
aldeia Urubuquara (atual Prainha) Amazonas • Aldeamentos que, mais tarde,
como limite do distrito
CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

• Rio Trombetas deram origem a vilas e cidades


• Todo o interior do sertão do distrito
acima, sem limites • Ilha de
Marajó e nas
• O sertão chamado Cabo do Norte adjacências
(atual Amapá)
• Rio Tocantins
Carmelitas 1626 Belém (rua do
Norte, atual Siquei- • Rio Negro • Aldeamentos e missões que,
ra Mendes) • Rio Urubu mais tarde, deram origem a
vilas e cidades
• Rio Solimões
• Exploração de engenhos para a
• Rio Branco fabricação de açúcar
• Rio Guamá • Criação de gado
• Rio Bujaru • Olaria
• Ilha de Marajó • Lavoura
• Icoaraci
(proximidades
de Belém),
Gurupá (Xingu)
e Vigia (Baixo
Salgado)
• Deveriam ficar no distrito que • Cabo do Norte • Pacificação e conversão de
Mercedários (Nossa Senhora 1639 ou Belém (Campina) compreendesse os rios Urubu e (Amapá) grupos indígenas variados
das Mercês) 1640
Negro, e mais o Solimões, distribuindo • Baixo e Médio • Aldeamentos e missões, que
aos jesuítas, caso eles assim o Amazonas mais tarde, deram origem a
quisessem e tivessem religiosos vilas e cidades
disponíveis. • Salgado
• Bragantina • Fazendas de criação de
gado que posteriormente se
• Ilha de Marajó tornaram cidades (ou não)
e adjacências
• Atividades extrativistas ligadas
• Rio Tocantins ao comercio das “drogas do
• Rio Itacaiúnas sertão”
• Rio Xingu • Comércio diversificado
• Rio Pacajá • Exploração de engenhos
• Rio Tapajós • Exploração da pesca de tainhas.
• Rio Madeira,
rio Branco
• Rio Negro (até
a confluência
com o Uapés)
• Limites do
Pará com o
Maranhão.
HISTÓRIA

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
79
80

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
Capuchos de são 1692 ou 1693 Gurupá (em • Todas as terras e aldeias que circundassem • Baixo e Médio • Organização de um hospital
José ou da Piedade 1749 vieram para a fortaleza de Gurupá e todas as terras Amazonas em Gurupá
(franciscanos da Belém e iniciaram que ficassem para cima da aldeia de
Província de Nossa a construção • Cabo do Norte • Aldeamento e missões que,
Urubuquara, subindo o rio Amazonas, (Amapá) mais tarde, deram origem a
Senhora da Piedade) do convento de compreendendo nesse distrito o rio vilas e cidades
São José, atual • Rio Tocantins
Trombetas e o Gueribi, como limite
presídio)

Capuchos da Conceição 1706 Belém (Arsenal da • Cabo do Norte • Atuação pequena,


da Beira e Minho Marinha) (Amapá) evangelizadora
• Ilha de Marajó • Descimentos de índios da
costa da Guiana impedindo o
contato com os franceses
CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

• Em Belém criaram um
hospital e uma enfermaria

Fonte: quadro organizado por Adélia Engrácia de Oliveira, com base em Azevedo, Estudos Históricos de História Paraense e Os jesuítas no Grão-Pará – suas missões e a colonização. Peçanha, Ação das Ordens
e Congregações Religiosas na Amazônia, Fragoso, Os aldeamentos franciscanos do Grão-Pará (1617-1755). Leite. História da Companhia de Jesus no Brasil. Maués, Congregação religiosas na Amazônia. Ro-
drigues, Os missionários na Amazônia.
Tabela 2
Exemplos de vilas e cidades da Amazônia que se originaram de aldeamentos e fazendas de missionários
Missionários

Aldeamentos
Fazendas de
Nome atual das aldeias
Aldeias (missões) missionários ou Situação geográfica
ou fazendas
engenhos
Fazendas-villas

Franciscano da Província de Camutá* Cametá Rio Tocantins – PA


Santo Antônio (capuchos Aruans Chaves Marajó – PA
de Santo Antônio) Caviana Caviana (Rebordelo) Ilha próxima de Marajó – PA
Paru Alemerim Baixo Amazonas – PA
Urubuquara Prainha Baixo Amazonas – PA

Carmelitas Mariuá Barcelos Rio Negro – AM


Caraiai (Itarendáua) Moura Rio Negro – AM
Santo Elias de Jaú Airão Rio Negro – AM
Santo Alberto de Aracari Carvoeiro Rio Negro – AM
Santa Rita de Bararoá Tomar Rio Negro – AM
Coari** Coari Rio Coari – AM
Parauari ou Paraguai** Tefé Rio Solimões – AM
Taracuatíua** Fonte Boa Rio Solimões – AM
São Paulo de São Paulo de Olivença Rio Solimões – AM
Cambebas** Boa Vista Rio Branco – RR
Nossa Senhora do Carmo
Mercedários (Nossa Saracá Mangabeira Ponta de Pedras Silves Marajó – PA
Senhora das Mercês) Silves – AM
HISTÓRIA

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
81
82

Jesuítas (Companhia de Curupatuba Gebrié Monte Alegre Baixo Amazonas – PA


Jesus) Mortigara São Caetano Barcarena Proximidades do rio Pará – PA
Sumaúma Mamaiacu Conde (Baixo Tocantins)
Bocas ou Araticum Bom Intento Beja Rio Pará – PA (Baixo Tocantins)
Urutiá (Uritá) Curuçá Oeiras Rio Pará – PA (Baixo Tocantins)
Cabu (ou dos São Caetano de Odivelas Rio Araticu – PA

DO ENSINO MÉDIO
Tupinambás) Porto Salvo Salgado – PA
Curuçá Vigia Salgado – PA

PROPOSTA CURRICULAR
Maracanã Marapanim Salgado – PA
Caeté (São João Batista) Colares Salgado – PA
Aricaru (ou Aricará) Curuçá Salgado – PA
Nossa Senhora de Maracanã Salgado – PA
Assunção de Aracurá (ou Bragança Salgado – PA
Aricará) Melgaço Rio Caeté – PA
Itacuruçá Portel Região das ilhas e dos furos – PA
Pirauiri (Piauori) Vieiros Rio Xingu – PA
Tapajós Pombal Rio Xingu – PA
Ibarari (Borari) Santarém Rio Tapajós – PA
Arapiuns ou Cumaru Alter do Chão Rio Tapajós – PA
Santo Inácio Vila Franca Rio Tapajós – PA
São José de Maitapus Boim Rio Tapajós – PA
Abacaxis Pinhel Rio Tapajós – PA
Trocano Itacoatiara Rio Madeira – AM
Borba Rio Madeira – AM
CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

Capuchos de São José ou Santo Antônio de Sorubiri Alenquer Baixo Amazonas – PA


da Piedade (Sorubiu) Faro Baixo Amazonas – PA
Jamundá Óbidos Baixo Amazonas – PA
Pauxus Carrazedo Foz do rio Xingu – PA
Arapijó Vilarinho do Monte Foz do rio Xingu – PA
Caviana Porto de Moz Foz do rio Xingu – PA
Maturá (Muturu)

Capuchos da Conceição da Formaram duas aldeias Rio Jari – limite do Pará com o Amapá
Beira e Minho novas

Fonte: Quadro organizado por Adélia Engrácia de Oliveira com base em Peçanha, Ação das Ordens e Congregações religiosas na Amazônia. Leite, História da Companhia de Jesus no Brasil, Maués, Congregações
religiosas na Amazônia, Mello, Topônimos amazonenses. Muniz, Patrimônios dos conselhos municipais do Estado do Pará.
Obs.:*Camutá aparece, também, como um aldeamento importante dos jesuítas. Parece, porém, que seus fundadores foram os franciscanos da Província de Santo Antônio e que os jesuítas depois a
desenvolveram, passando, mais tarde, para a administração dos padres da Piedade.
**Essas missões foram fundadas pelo jesuíta Samuel Fritz, do Peru, e, com a expulsão dos jesuítas espanhóis do rio Solimões, os carmelitas as desenvolveram.
Fonte: Obra: OLIVEIRA, Adelia Engrácia. Ocupação Humana. In Amazônia: desenvolvimento, integração e ecologia. São Paulo, Brasiliense, CNPq, 1983
HISTÓRIA 83

Atividade 4 •• ...Referenciar o lugar dos momentos históricos


em seu processo de sucessão e em sua si-
Objetivo: Proporcionar, aos educandos, multaneidade.
elementos para refletir sobre a complexidade •• ...Estabeleçam as relações entre continui-
da realidade histórica. dades e descontinuidades.
•• ...O sentido das revoluções como momentos
Competências: de mudanças irreversíveis da História.
•• Entender as diversas formas de pensamen- •• ...Apreenda, de forma dialética, as relações en-
tos no processo revolucionário; tre presente-passado-presente.
•• Analisar os processos de construção da me- •• ...Compreensão das problemáticas con-
mória social; temporâneas; e entre presente-passado-
•• Estabelecer relações entre continuidade/ futuro...
permanência e ruptura/transformação nos Em seguida, peça para os participantes
processos históricos. compararem a listagem produzida coletiva-
mente sobre os elementos e aspectos comuns
Habilidades: às revoluções tidas como “conteúdo” clássico
•• Identificar os locais onde os processos re- com o trecho dos Pcnem. Proponha que ti-
volucionários tiveram lugar; rem conclusões, a partir da seguinte questão:
•• Identificar a produção da memória social Esses elementos e aspectos caracterizam
legada pelas revoluções; as situações enfocadas como “revoluções” no
•• Analisar as revoluções, operando mudan- sentido proposto pelos Pcnem?
ças irreversíveis na História. Oriente os educandos, dizendo que é
em relação às passagens destacadas acima
Passo a passo: (leia o texto novamente, se necessário) que
Divida a classe em grupos de quatro ou eles deverão analisar e avaliar os itens dos
cinco componentes e proponha que cada gru- conteúdos clássicos: As revoluções estudadas
po faça uma lista das revoluções que conhece são referenciadas cronologicamente como
e com as quais costuma trabalhar na sala de processos de sucessão? As simultaneidades
aula. são consideradas? São estabelecidas relações
Feitas as listas, peça para os grupos apre- entre continuidades e descontinuidades?
sentarem-nas. Todas as revoluções estudadas representam
Selecione e registre na lousa as revoluções momentos de mudanças irreversíveis?
mais citadas, e a seguir leve a turma a iden- Prevalece o tempo num processo de
tificar e estabelecer os elementos e aspectos sucessão linear ou acentuam-se as relações
comuns a todas elas. dialéticas? Na escolha dos tópicos estudados,
Distribua o texto e leia em voz alta o tre- prevalece a preocupação com problemáticas
cho dos Pcnem, procurando enfatizar as se- contemporâneas?
guintes passagens:

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
84 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

TEXTO Competências:
•• Entender a importância das ideias do senso
O tempo histórico, compreendido nessa comum na elaboração de teses científicas;
complexidade, utiliza o tempo cronológico, •• Compreender a correlação entre as ideias
institucionalizado, que possibilita referenciar o produzidas pelas Ciências da Natureza e as
lugar dos momentos históricos em seu processo ideias produzidas pelas Ciências Humanas;
de sucessão e em sua simultaneidade. Fugindo •• Conhecer ideias que transformaram a so-
à cronologia meramente linear, procura ciedade e como elas repercutem nos dias
identificar também os diferentes níveis e ritmos de hoje.
de durações temporais. A duração torna-se,
nesse nível de ensino e nas faixas etárias por ele Habilidades:
abarcadas, a forma mais consubstanciada de •• Diferençar o conhecimento produzido pelo
apreensão do tempo histórico, ao possibilitar senso comum do conhecimento elaborado
que alunos estabeleçam as relações entre segundo critérios científicos;
continuidades e descontinuidades. A concepção •• Conhecer as relações que se estabelecem
de duração possibilita compreender o sentido entre as ideias e que definem as várias
das revoluções como momentos de mudanças ­ciências;
irreversíveis da História e favorece ainda •• Compreender as sociedades como produ-
que o aluno apreenda, de forma dialética, as tos de transformações sociais.
relações entre presente-passado-presente,
necessárias à compreensão das problemáticas Organize a classe em novos grupos de qua-
contemporâneas, e entre presente-passado- tro ou cinco componentes, formando ao todo
futuro, que permitem criar projeções e utopias. seis grupos. Em seguida, distribua os anexos
(PCNEM, 2002, p. 303). e proponha para discussão as temáticas, con-
forme indicado abaixo, orientando cada gru-
Fonte: Obra: Brasil. Ministério da Educação. po a não tomar conhecimento do conteúdo,
Parâmetros em Ação, Ensino Médio: Ciências tema ou assunto tratado pelos textos dos ou-
Humanas e Suas Tecnologias /Secretaria de tros grupos.
Educação Média e Tecnológica – MEC; Semtec, Grupo 1: Texto A – Temática: Ideia de
2002, 502 p. ciência que temos no “senso comum” e o
modelo científico criado pela Física Clássica
2ª Série (Newton, Galileu) – destacando no texto: “Essa
é uma descrição reducionista, uma estratégia
Atividade 5 amplamente adotada em todas as disciplinas
científicas: dividir e simplificar ao máximo
Objetivo: Proporcionar, aos educandos, um sistema complicado, facilitando assim a
elementos para refletir sobre a complexidade descrição de seu comportamento”.
da realidade histórica. Grupo 2: Texto B – Temática: como a ideia
da relatividade de Einstein aparece em outros
setores do pensamento, como nas elaborações
de teorias e análises sociopolíticas destacando

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 85

no texto: “a crença de que não havia mais Quando tiverem terminado, peça para cada
absolutos: de tempo e espaço, de bem e mal, grupo, por meio de um ou mais membros,
de conhecimento, sobretudo de valores”. relatar para a classe os resultados obtidos.
Grupo 3: Texto C – Temática: a procura de Importante: oriente para que os grupos
motivações e explicações psicológicas para os exponham as ideias sem citar os “pais” das
comportamentos, pesquisa do inconsciente mesmas (a fonte original), podendo, se
depois de Freud – destacando no texto: quiserem, citar os autores dos textos:
“Alguns conseguem sem desprazer sublimar o
desejo sexual, ou seja, transformar esse desejo Grupo 1: Newton/Galileu – autor:
em outro” e “O sonho é o reflexo da alma”. Marcelo Gleiser
Grupo 4: Texto D – Temática: a ideia da Grupo 2: Einstein – autor: Carlos
sobrevivência do mais forte e da mutabilidade Alberto Di Franco
ressaltadas nas teorias de Darwin sobre a Grupo 3: Freud – autor: Tostão
evolução das espécies – destacando no texto: Grupo 4: Darwin – autor: Jostein
‘’’sobrevivência’ no lugar de ‘preservação’, Gaardner
outros em ‘esforço pela manutenção da vida’, Grupo 5: Marx – autor: Paulo Freire
em vez de ‘luta pela vida’, que teria um ‘tom Grupo 6: Keynes – autor: Paul Hugon
bélico’”.
Grupo 5: Texto E – Temática: a ideia de Ao final do relato de cada grupo, proponha
Marx sobre a sociedade em constantes que se tente descobrir o autor (fonte) original
transformações provocadas pelas próprias das ideias relatadas.
contradições – destacando no texto: “Da
mesma forma como é, em situação concreta – O objetivo é demonstrar que as teorias
a da opressão – que se instaura a contradição e ideias dos cientistas e pensadores
opressor-oprimidos, a superação desta selecionados ultrapassaram o âmbito
contradição só se pode verificar objetivamente científico ou acadêmico, “contaminando”
também”. vários setores sociais, inclusive o senso
Grupo 6: Texto F – Temática: a necessidade comum. Assim, as pessoas podem não ter
da intervenção do Estado na economia um conhecimento completo e crítico da obra
capitalista, conforme Keynes – destacando no desses pensadores, mas têm, ao menos,
texto: “os mecanismos autorreguladores, nos algumas noções a respeito, além de utilizá-
quais acreditavam os economistas clássicos, los no seu dia a dia.
podem falhar”. Em seguida, solicite que o grupo conclua
Circule entre os grupos, acompanhando sua apresentação com um ligeiro comentário
a leitura dos textos, fornecendo explicações sobre o texto que lhe coube e sobre o autor
e estimulando os debates internos. Oriente- ou sobre a forma ou objetivos da exposição
os a estabelecer, a partir do texto, relações das ideias, bem como sobre o modo como a
entre o conhecimento produzido científica “fonte” aparece nelas.
ou academicamente e a vida cotidiana, isto Após as apresentações de todos os grupos,
é, a forma como esse conhecimento foi mobilize um debate em torno das questões:
incorporado no senso comum.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
86 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

Os conhecimentos que os seres humanos “modelos” de noções no âmbito do senso


adquirem podem ser considerados revoluções? comum, conforme destacado anteriormente,
Por quê? Dentro dessa perspectiva, como e como “modelos” para a crítica, a reflexão,
considerar a ideia da longa duração? o aprofundamento ou para criação de novos
Se achar oportuno, proponha que se paradigmas, utilizados como pontos de
retome a questão exposta no Anexo 2 (trecho partida para os pensadores contemporâneos.
dos Pcnem), que enfoca as revoluções
como momentos que provocam mudanças Texto A
irreversíveis, e estimule o debate com a
seguinte formulação: Uma nova ciência para um novo milênio
Podemos dizer que as pessoas podem
ser contra ou a favor de ideias – julgando-as Se existe algo que nos impressiona ao
corretas ou incorretas, válidas ou não válidas, refletirmos sobre o mundo que nos cerca é
explicativas ou não – de Newton (ou Galileu), sua diversidade: o vivo e o não vivo, animais
Einstein, Freud, Darwin, Marx ou Keynes, e pedras, árvores e nuvens, se desdobram
mas não podemos dizer que eles não tenham em incontáveis formas, expressões de uma
mudado o mundo. criatividade que nos emociona e inspira.
A fim de ressaltar as ideias que esses
pensadores combateram à sua época, sugira Nós também somos produto dessa
que os grupos retomem seus textos e reflitam criatividade. Ao que tudo indica (pelo menos
sobre: em nossa vizinhança solar), somos a única
espécie capaz de refletir sobre si própria e o
•• Grupo 1: a ideia de que a natureza, mais ambiente que a cerca.
do que simplesmente observada, pode ser
estudada, descobrindo-se leis. É por meio da ciência que procuramos
•• Grupo 2: a ideia de que certas medidas e organizar o que aprendemos sobre a natureza,
valores podem ser tomados como absolu- buscando sempre explicações simples e
tos. concretas dos fenômenos que observamos.
•• Grupo 3: a ideia de que o ser humano não
é movido apenas pela razão. De certa forma, podemos medir o sucesso
•• Grupo 4: a ideia dos seres como sujeitos a de uma teoria científica pelo seu poder de
processos de mudanças. explicação. Quanto mais completa ela for,
•• Grupo 5: a ideia da sociedade como resul- maior o número de fenômenos que ela poderá
tado da ação dos indivíduos conscientes explicar, usando o menor número possível de
das contradições. princípios ou leis. Historicamente, é na Física
•• Grupo 6: a ideia da necessidade da ação do que encontramos o modelo fundamental
Estado para o desenvolvimento do capita- para a estruturação das teorias científicas.
lismo, em oposição ao liberalismo clássico. Durante o século XVII, Galileu Galilei e Isaac
Newton desenvolveram a mecânica, que
A questão da duração pode ser apontada estuda o movimento de corpos materiais no
no sentido da permanência dessas ideias como espaço. Em seu magnífico livro “Princípios

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 87

Matemáticos da Filosofia Natural”, publicado cação do reducionismo. Mas nem tudo é


em 1687, Newton estruturou toda a mecânica um mar de rosas, e esses avanços trazem
a partir de apenas três leis básicas, as famosas seríssimos efeitos colaterais, como o po-
“leis do movimento”: der destrutivo de nossas armas, a poluição
desenfreada do meio ambiente, os perigos
Qualquer movimento que observamos na da manipulação da opinião pública pela ex-
natureza, seja ele a órbita de um cometa em ploração dos meios de comunicação. Como
torno do Sol, a queda de uma gota de chuva dizia Buda, “onde existe luz, existe sombra”.
ou o movimento de um ciclista em sua bici- Os tempos estão mudando; novas direções
cleta, pode ser explicado aplicando-se uma surgem em ciência, apontando para o pos-
ou mais leis de movimento (a mecânica to do reducionismo: o uso de técnicas glo-
newtoniana falha na descrição de movimen- bais na descrição de sistemas. Não dividir
tos muito rápidos, com velocidades compa- para entender, mas para tratar o compor-
ráveis à da luz, ou na descrição de movimen- tamento do todo como um todo, o todo é
tos na escala atômica. Mas nossa vida diária maior que a soma das partes.
é certamente newtoniana). O cérebro não é o produto de seus neu-
Para atingir esse enorme poder descritivo rônios, e a emergência da vida é um fenô-
com apenas algumas leis, Newton reduziu a meno coletivo, nosso planeta e todos os
uma coleção de pontos materiais (entre eles seus habitantes devem ser tratados como
bolas de sinuca) agindo sob a ação de for- uma unidade, em que ações locais podem
ças. Essa é uma descrição reducionista, uma ter efeitos globais. Uma nova ciência para
estratégia amplamente adotada em todas as um novo milênio, onde o reducionismo e
disciplinas científicas: dividir e simplificar ao o “holismo” se complementarão em nossa
máximo um sistema complicado, facilitando descrição do mundo.
assim a descrição de seu comportamento.
O sucesso da descrição newtoniana do Marcelo Gleiser, in: Folha de São Paulo,
mundo foi tão imenso que o reducionis- 23/8/1998.
mo tornou-se a pedra filosofal da ciência.
E, sem dúvida, quando aplicado a outras Texto B
disciplinas, o reducionismo também foi
muito bem-sucedido. Em química, falamos Verdade e liberdade, a síntese que faltava
de átomos e células; em biologia, falamos
de células e genes; e, em certos ramos da Albert Einstein não era um judeu pratican-
psicologia, falamos de categorias de com- te. Mas reconhecia a existência de Deus. Acre-
portamento ou da quantificação das várias ditava em padrões de certo e errado. Sua ati-
formas de expressão, verbais e corporais. vidade intelectual era devotada à busca não
Sem dúvida, o nosso século será lembrado só da verdade, mas também da certeza.
como o século de glória do reducionismo. Viveu o suficiente para sofrer com a in-
As nossas vidas hoje são produtos de inú- terpretação moralmente equivocada do seu
meros avanços em ciência e tecnologia, trabalho científico. “Como aquele que no con-
cujo sucesso é consequência direta da apli- to de fadas transformava tudo o que tocava

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
88 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

em ouro, comigo é em confusão que tudo princípios está o melhor antídoto contra aven-
se transforma nos jornais”. O comentário de turas ditatoriais. (...)
Einstein em carta a seu amigo Max Born, em Não se compreende de que modo obtere-
1920, reflete sua angústia. Uma leitura errô- mos uma sociedade mais justa e digna para
nea da Teoria da Relatividade Geral estimulou seres humanos (os adultos) por meio da or-
a crença de que não havia mais absolutos: de ganização da morte de outros seres humanos
tempo e espaço, de bem e mal, de conheci- igualmente vivos (as crianças não nascidas).
mento, sobretudo de valores. Há um elo indissolúvel entre a prática do abor-
Assistiu, atônito, à metamorfose de seu to, o massacre do Carandiru, a chacina da Can-
trabalho na epidemia do relativismo moral, delária e outras agressões à vida: o ser humano
assim como padeceu a dor de ver a sua equa- é encarado como objeto descartável. Os argu-
ção dar à luz o terror nuclear. Houve muitas mentos esgrimidos em defesa dessas ações,
vezes, confidenciou Einstein no final de sua alguns cruéis, outros carregados de eufemis-
vida, em que desejou ter sido um simples re- mos, não conseguem ocultar o desrespeito ao
lojoeiro. primeiro direito humano fundamental, base da
Recentemente, reli a encíclica Veritatis sociedade democrática: o direito à vida. (...)
Splendor, texto obrigatório para quem tem o Trata-se, na verdade, do corolário de um
ofício, comprometedor e fascinante, de tentar silogismo dramaticamente lógico. A vida dei-
iluminar a verdade profunda dos fatos e, ao xa de ser um fato sagrado. Converte-se, sim-
mesmo tempo, defender aquilo que está no plesmente, numa realidade utilitária. (...)
cerne do DNA da raça humana: a liberdade. Uma das doenças culturais do nosso tem-
João Paulo II, um papa dotado de extraordi- po (e certo jornalismo manifesta alguns dos
nária cabeça filosófica, pretende resgatar este seus sintomas) é o empenho em contrapor a
“mundo desconjuntado”, como tristemente verdade e liberdade. As convicções, mesmo
observava Hamlet. Na encíclica, o pontífice quando livremente assumidas, recebem o
adverte para a “decadência do sentido moral” estigma de fundamentalismo. Impõe-se em
na sociedade e suas consequências dramáti- nome da liberdade, o dogma do relativismo.
cas para a democracia. Trata-se, na feliz expressão do cineasta
“Uma democracia sem valores se transfor- marxista Pier Paolo Pasolini, da “intolerância
ma com facilidade num totalitarismo visível dos tolerantes”, que, obviamente, conspira
ou encoberto”, afirma o texto com um realis- contra o sadio pluralismo democrático. (…)
mo cortante. “A origem do totalitarismo mo-
derno deve ser vista na negação da dignidade Carlos Alberto Di Franco, in: Estado de
transcendente da pessoa, sujeito natural de S. Paulo, 22/1/2001.
direitos que ninguém pode violar; nem o indi-
víduo, nem a família, nem a sociedade, nem a Texto C
nação, nem o Estado.” (... )
Qualquer construção democrática, au- Reflexões sobre futebol
têntica e não apenas de fachada, reclama os
alicerces da lei natural. No respeito aos seus Uma semana antes da estreia, tivemos
uma folga de 24 horas para cada um se diver-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 89

tir, aproveitar para fazer o que quisesse; satis- que o que ele fala é importante. (...) Estava vi-
fazer as suas necessidades sexuais. Que eu me vendo um momento frustrante na medicina.
lembre, ninguém levou namorada nem espo- Piorava o nível de ensino, os alunos reclama-
sa, e cada um fez o que quis, à sua maneira, vam, e o hospital universitário, onde eu traba-
acompanhado ou sozinho. Alguns conseguem lhava oito horas por dia, estava cada dia pior.
sem desprazer sublimar o desejo sexual, ou Para sobreviver, a faculdade passou a atender
seja, transformar esse desejo em outro: leitu- como serviço público, recebendo ajuda do go-
ra, cinema, trabalho etc. …assim foi construí- verno. Nós, professores, viramos médicos do
da a civilização; outros, e aí é ruim para o atle- Inamps via faculdade, trabalhando em péssi-
ta, reprimem o desejo sexual na véspera da mas condições e com os alunos insatisfeitos.
partida, com prazer, sem traumas, bebidas al- Sentia-me conivente com todo esse absurdo
coólicas ou perda de sono, é benéfica e deixa que é o sistema de saúde no Brasil, que não
o jogador “levinho”, como disse Romário. (…) tem o mínimo respeito pelo ser humano. Além
Com 26 anos, encerrei a carreira, triste, disso, ganhava um salário indigno. Pensava
mas com o consolo de que era jovem e podia em largar a medicina e dedicar-me à terapia
iniciar uma nova profissão. Renasceram so- psicanalítica, pois tinha acabado de terminar
nhos adolescentes de ter uma profissão libe- o curso teórico e estava entusiasmado com a
ral, estudar e me informar mais sobre o mun- obra de Freud. (...)
do e a vida. Tinha a sensação de que o futebol Na Copa de 1994, matei a saudade do
tinha sido uma passagem, um lazer remune- futebol. Saí do Brasil só para participar da
rado, gostoso e de muitas glórias. mesa-redonda diária e acabei comentando
Agora começaria minha vida real, como várias partidas. (...) Gostei, e aprovaram a
qualquer um, sem fama, e não precisaria ficar minha atuação em frente às câmeras de TV.
constrangido em ser reconhecido, tomar uma Até hoje não entendo como virei comentarista
cerveja no bar, ir ao cinema. Era a conquista de televisão. Sou tímido, sempre tive medo de
da liberdade, da privacidade, e a identificação falar em público (...). Aos poucos fui perden-
como homem. (…) do o medo da TV, principalmente comentando
Passei 21 anos, de 1973 a 1994, longe do partidas, pois não apareço no vídeo. A terapia
futebol. Assistia só aos jogos importantes na pessoal ajudou-me a conviver com essa ansie-
TV e raramente ia aos estádios, não por des- dade, e hoje me sinto quase descontraído.
gosto, raiva, falta de saudade, e sim por co-
modidade, por estar envolvido com a medici- Tostão, Lembranças, opiniões, reflexões
na. Quando o inconsciente se manifestava, so- sobre futebol. São Paulo: DBA, 1997, p. 64,
nhava que estava fazendo gols, dando passes, 97-98, 102-104.
sendo campeão. O sonho é o reflexo da alma,
nossa verdade. (…) Texto D
Dedicava-me ao ensino com entusiasmo e
prazer. Descobrir que todo professor gosta de Teoria da evolução
aplauso e que eu não fugia à verdade núme-
ro um do ser humano: a vaidade. O professor, Já falamos sobre Marx. Vamos agora falar
como o comentarista, sempre tem a ilusão de sobre Darwin. Você certamente ainda se lem-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
90 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

bra de que os pré-socráticos queriam encon- tulo completo é On the origin of species by
trar explicações naturais para os processos da means of natural selection or the preserva-
natureza. Assim como através disso eles que- tion of favoured races in the struggle for life.
riam se libertar das antigas explicações mito- (…). Uma tradução feita hoje poderia ser a
lógicas, também Darwin precisava se libertar seguinte: Sobre “a origem das espécies por
da doutrina cristã sobre a criação do homem e meio da seleção natural ou a preservação
dos animais, vigente em sua época. de raças favorecidas na luta pela vida”. Al-
– Mas ele foi realmente um filósofo? guns preferem falar em “sobrevivência” no
– Darwin era biólogo e pesquisador natu- lugar de “preservação”, outros em “esforço
ral. Mas ele foi o cientista que, mais do que pela manutenção da vida”, em vez de “luta
qualquer outro em tempos mais modernos, pela vida”, que teria um “tom bélico”. (…)
questionou e colocou em dúvida a visão bíbli- ele dizia que todas as espécies de plantas
ca sobre o lugar do homem e da criação. e animais que vivem hoje descendem de
– Então seria bom você falar um pouco so- formas mais primitivas, que viveram em
bre a teoria da evolução de Darwin: tempos passados. Ele pressupõe, portanto,
uma evolução biológica. Em segundo lugar,
Vamos começar pelo próprio Darwin. Ele Darwin explica que esta evolução se deve a
nasceu em 1809 ( ... ). Quando Charles en- “seleção natural”.
trou para o liceu de Shrewsbury, o reitor – Só os mais fortes sobrevivem, não é isso?
dizia que ele era um jovem que vivia dis- – Vamos nos concentrar primeiro na sua
perso, não falava coisa com coisa, se gaba- reflexão sobre a evolução propriamente
va sem ter motivo para isto e não fazia nada dita. Em si, esta ideia não tinha muito de
de sensato. Para o reitor, “sensato” era fi- original (…). Só que nenhum deles [cien-
car decorando vocábulos gregos e latinos. tista como Lamarck e o avô Darwin] tinha
E quando falava em viver disperso, ele es- conseguido dar uma explicação aceitável
tava pensando, entre outras coisas, no fato para como essa evolução se processa. (…).
de Charles colecionar besouros de várias Tanto os membros da Igreja quanto muitos
espécies (…). Paralelamente ao curso de cientistas eram partidários da teoria bíbli-
teologia, porém, ele conseguiu certo reco- ca, segundo a qual as diferentes espécies
nhecimento como pesquisador natural. Da- de plantas e animais eram imutáveis. Para
rwin também interessava-se por geologia eles, cada espécie animal tinha sido criada
(…). Em agosto do mesmo ano [1831] (…) um dia, separadamente das outras e para
recebeu uma carta que viria a determinar todo o sempre, por um ato de criação espe-
todo o seu futuro (…) partiria numa expe- cial. (…) esta visão cristã estava de acordo
dição com a incumbência de fazer o mapa com as concepções de Platão e Aristóte-
cartográfico do extremo sul da América do les (…). A teoria das ideias de Platão tinha
Sul (…) Quando voltou para a casa, aos vin- como ponto de partida a noção de que to-
te e sete anos, já era um pesquisador famo- das as espécies animais eram imutáveis, já
so (…) o livro que suscitou na Inglaterra os que cada uma tinha sido criada, a partir de
mais calorosos debates foi sobre A origem um modelo correspondente a uma ideia ou
das espécies, publicado em 1859. Seu ti- forma eterna. O fato de as espécies serem

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DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 91

imutáveis também é pedra fundamental na apresentarmos essa radical exigência – a da


filosofia de Aristóteles. transformação objetiva da situação opressora
– combatendo um imobilismo subjetivista que
(Jostein Gaarder. O mundo de Sofia (Ro- transformasse o ter consciência da opressão
mance da história da filosofia). 33 ed. São numa espécie de espera paciente de que um
Paulo: Companhia das Letras, 1998, dia a opressão desapareceria por si mesma,
p. 432-436). não estamos negando o papel da subjetivida-
de na luta pela modificação das estruturas.
Texto E Não se pode pensar em objetividade sem
subjetividade. Não há uma sem a outra, que
Transformar o mundo não podem ser dicotomizadas. (...)
Confundir subjetividade com subjetivismo,
O opressor só se solidariza com os oprimi- com psicologismo, e negar-lhe a importân-
dos quando seu gesto deixa de ser um gesto cia que tem no processo de transformação
piegas e sentimental, de caráter individual, e do mundo, da história, é cair num simplismo
passa a ser um ato de amor àqueles. Quando, ingênuo. É admitir o impossível: um mundo
para ele, os oprimidos deixam de ser uma de- sem homens, tal qual a outra ingenuidade, a
signação abstrata e passam a ser os homens do subjetivismo, que implica em homens sem
concretos, injustiçados e roubados. Roubados mundo.
na sua palavra, por isto no seu trabalho com- Não há um sem os outros, mas ambos em
prado, que significa a sua pessoa vendida. Só permanente integração.
na plenitude deste ato de amar, na sua exis- Em Marx, como em nenhum pensador crí-
tenciação, na sua práxis, se constitui a solida- tico, realista, jamais se encontrará esta dico-
riedade verdadeira. Dizer que os homens são tomia. O que Marx criticou e cientificamente
pessoas e, como pessoas, são livres, e nada destruiu, não foi a subjetividade, mas o subje-
concretamente fazer para que esta afirmação tivismo, o psicologismo.
se objetive, é uma farsa. A realidade social, objetiva, que não existe
Da mesma forma como é, em situação por acaso, mas como produto da ação dos ho-
concreta – a da opressão – que se instaura a mens, também não se transforma por acaso.
contradição opressor-oprimidos, a superação Se os homens são os produtores desta realida-
desta contradição só se pode verificar objeti- de e se esta, na “invasão da práxis”, se volta
vamente também. sobre eles e os condiciona, transformar a re-
Daí, esta exigência radical, tanto para o alidade opressora é tarefa histórica, é tarefa
opressor que se descobre opressor; quan- dos homens.
to para os oprimidos que, reconhecendo-se
contradição daquele, desvelam o mundo da (Paulo Freire. Pedagogia do oprimido. 12.
opressão e percebem os mitos que o alimen- ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra,
tam – a radical exigência da transformação 1983, p. 38-39).
da situação concreta que gera opressão.
Parece-nos muito claro, não apenas nes-
te, mas noutros momentos do ensaio que ao

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92 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

Texto: F deixarem de levar em conta, em seus raciocí-


nios, e a existência da moeda. (…)
História da Ciência Econômica E só com Keynes foi que se conseguiu atrair
a atenção geral, quer para a importância do
Em 1936, foi publicado um livro: “Teoria fenômeno monetário no equilíbrio econômico,
geral do emprego, do juro e da moeda”, de quer ainda para o aspecto dinâmico – e não
autoria de J. M. Keynes. A publicação deste mais estático – assumido pelos fenômenos
livro é considerada por muitos como assina- econômicos.
lando, na história da ciência econômica, uma Keynes critica a teoria clássica, acoiman-
data tão importante quanto a de 1776, ou do-a de “particular”, por uma terceira razão:
seja, da aparição da “Riqueza das nações”, de os clássicos raciocinaram sobre os fenômenos
Adam Smith. E outros (…) julgam ser esta obra econômicos levando em conta, na maioria das
“das mais penetrantes e significativas escritas vezes, comportamentos individuais dentro de
a partir de David Ricardo”. Assim também H. um quadro econômico deliberadamente limi-
Cole a saúda como a obra mais importante tado. (…)
depois do “Capital”, de Marx. Trata-se, para Keynes, de combater e ul-
Certo é que, pelo seu conteúdo, pelos es- trapassar este ponto de vista microeconômico
tudos e discurso suscitados, o livro de Keynes para considerar o problema em termos mais
abre um novo período na evolução da ciência gerais de “rendimentos globais”, ou seja, ra-
econômica. E o mesmo se pode dizer em rela- ciocinar com base em dados de conjunto. (…)
ção à política econômica da nossa época. O problema apresentava-se, no espírito
Vamos tentar, pois, dar uma ideia de con- de Keynes, da maneira seguinte: considerada
junto dessa “revolução keynesiana” (…) uma sociedade em seu conjunto, quantos in-
Os clássicos e neoclássicos raciocinaram, divíduos encontrarão trabalho e qual será a
com efeito, como se tratasse de uma socieda- quantidade global da produção resultante?
de na qual todos os trabalhadores encontra- (…)
vam trabalho. Eliminaram deliberadamente a Ora a teoria clássica explicava o equilíbrio
existência do desemprego. E para um mundo dos mercados de trabalho, de capitais e de
econômico, assim, simplificado e deformado, mercadoria, pelo funcionamento da lei e da
estabeleceram as regras de formação e va- oferta e da procura: Keynes vai, em seu estu-
riação dos preços das mercadorias e serviços do econômico, tomar por base novos princí-
(taxa de juro, de salário, de juro, de renda). pios. (…)
Keynes julga, pois, necessária uma revisão O estudo teórico levou Keynes a mostrar
da teoria dos preços, em função da realidade, que os mecanismos autorreguladores, nos
isto é, em função de uma economia na qual o quais acreditavam os economistas clássicos,
pleno emprego não se realiza na maioria das podem falhar e, deixando de funcionar, não
vezes. (…) serão corrigidos certos desequilíbrios; e, por
Em segundo lugar, julga Keynes haverem conseguinte, as situações de subemprego po-
os clássicos apresentado, apenas, uma visão dem prolongar-se por muito tempo, não se
parcial e falsa dos problemas econômicos, ao verificando a reabsorção.

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HISTÓRIA 93

A intervenção do Estado torna-se, pois, ne-


cessária. Habilidades:
Keynes acha que a intervenção do Estado • Identificar os diferentes processos de pro-
deve-se dar de maneira mais ou menos per- dução, de circulação de riquezas e suas
manente, principalmente sob a forma de uma implicações socioespaciais;
política de manipulação monetária com o ob- • Avaliar o desenvolvimento da ciência e
jetivo de atuar sobre os três elementos variá- sua relação com a produção de novas tec-
veis acima citados, elementos esses dos quais nologias.
depende o volume do emprego e da produção.
Passo a passo:
(Paul Hugon. História das doutrinas econô- Distribua aos educandos cópias de tex-
micas. 8ª ed., São Paulo: Atlas, 1996, tos extraídos dos livros O Manifesto do Par-
p. 446-453). tido Comunista (Karl Marx), A belle époque
Fonte: Obra: Brasil. Ministério da Educa- amazônica de Ana Maria Daou e cópia de um
ção. Parâmetros em Ação, Ensino Médio: artigo que circulou em Manaus em 1914 de
Ciências Humanas e Suas Tecnologias /Se- tendência anarco-sindicalista. A seguir, so-
cretaria de Educação Média e Tecnológica licite que formem grupos de quatro a cinco
– MEC; Semtec, 2000. componentes, realizem uma leitura individu-
al. Concluída a leitura, solicite que reflitam e
2ª Série discutam sobre as seguintes questões:
As temporalidades de que tratam os tex-
Atividade 6 tos diferem? Procure discutir e situar se os
acontecimentos que se desenrolaram nas ca-
Objetivos: pitais amazônicas, Manaus e Belém, décadas
• Analisar o significado da Revolução indus- após o escrito do Manifesto Comunista; pro-
trial e das transformações tecnológicas no cure discutir de que forma se relacionam com
processo de consolidação do capitalismo; a realidade descrita por Marx.
• Avaliar como o avanço do modo de vida Discuta, ainda, com os educandos, como
burguês e sua cultura, em escala planetá- uma região periférica como a Amazônica se
ria, subjugaram povos e nações. integrou aos países do capitalismo central e
de que modo e forma participou das inova-
Competências: ções tecnológicas mais modernas do período.
• Compreender os processos de planeta- Assim como o capitalismo e o modo de
rização e de territorialização no uso das vida burguês tomaram dimensões planetá-
matérias-primas oriundos do avanço tec- rias o movimento dos trabalhadores também
nológico inerentes ao desenvolvimento se mundializou. No texto extraído do jornal A
capitalista; LUCTA SOCIAL, de tendência anarco-sindica-
• Entender o processo histórico de neoco- lista, discuta como o movimento dos traba-
lonização e os conflitos decorrentes entre lhadores, em Manaus, comungava os ideais
os impérios na disputa por novas áreas a da classe trabalhadora internacional.
conquistar.

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94 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

Para finalizar, procure orientar um debate A grande indústria criou o mercado mun-
acerca de como as elites amazônicas se be- dial preparado pela descoberta da América: O
neficiaram da economia da borracha e o que mercado mundial acelerou prodigiosamente
essa economia propiciou a região. Como as o desenvolvimento do comércio, da navega-
inovações tecnológicas possibilitaram o uso ção e dos meios de comunicação por terra.
em larga escala da borracha. Após essas dis- Este desenvolvimento reagiu por sua vez so-
cussões compare o que vem acontecendo no bre a extensão da indústria; e, à medida que
tempo presente, quando países estrangeiros a indústria, o comércio, a navegação, as vias
manifestam explícitos interesses pela bio- férreas se desenvolviam, crescia a burguesia,
diversidade amazônica. Qual o papel que a multiplicando seus capitais e relegando a se-
região amazônica pode desempenhar nesse gundo plano as classes legadas pela Idade
cenário do século XXI e manifeste sua opinião Média.
sobre o que vem sendo feito para não repetir- Vemos, pois, que a própria burguesia mo-
mos a realidade vivida pelos homens do final derna é o produto de um longo processo de
do século XIX e primeiras décadas do século desenvolvimento, de uma série de revoluções
XX. no modo de produção e de troca.
Cada etapa da evolução percorrida pela
Manifesto do Partido Comunista – burguesia era acompanhada de um progres-
Karl Marx so político correspondente. Classe oprimida
pelo despotismo feudal, associação armada
A antiga organização feudal da indústria, administrando-se a si própria na comuna – a;
em que esta era circunscrita a corporações aqui, república urbana independente, ali, ter-
fechadas, já não podia satisfazer às necessi- ceiro estado, tributário da monarquia; depois,
dades que cresciam com a abertura de novos durante o período manufatureiro, contrapeso
mercados. A manufatura a substituiu. A pe- da nobreza na monarquia feudal ou absolu-
quena burguesia industrial suplantou os mes- ta, pedra angular das grandes monarquias, a
tres das corporações; a divisão do trabalho burguesia, desde o estabelecimento da gran-
entre as diferentes corporações desapareceu de indústria e do mercado mundial, conquis-
diante da divisão do trabalho dentro da pró- tou, finalmente, a soberania política exclusiva
pria oficina. no Estado representativo moderno. O governo
Todavia, os mercados ampliavam-se cada moderno não é senão um comitê para gerir os
vez mais: a procura de mercadorias aumen- negócios comuns de toda a classe burguesa.
tava sempre. A própria manufatura tornou-se A burguesia desempenhou na História um
insuficiente; então, o vapor e a maquinaria re- papel eminentemente revolucionário.
volucionaram a produção industrial. A grande Onde quer que tenha conquistado o poder,
indústria moderna suplantou a manufatura; a a burguesia calcou aos pés as relações feu-
média burguesia manufatureira cedeu lugar dais, patriarcais e idílicas. Todos os complexos
aos milionários da indústria, aos chefes de e variados laços que prendiam o homem feu-
verdadeiros exércitos industriais, aos burgue- dal a seus “superiores naturais” ela os despe-
ses modernos. daçou sem piedade, para só deixar subsistir,
de homem para homem, o laço do frio inte-

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HISTÓRIA 95

resse, as duras exigências do “pagamento à produção e ao consumo em todos os países.


vista”. Afogou os fervores sagrados do êxta- Para desespero dos reacionários, ela retirou à
se religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do indústria sua base nacional. As velhas indús-
sentimentalismo pequeno-burguês nas águas trias nacionais foram destruídas e continuam
geladas do cálculo egoísta. Fez da dignidade a sê-lo diariamente. São suplantadas por no-
pessoal um simples valor de troca; substituiu vas indústrias, cuja introdução se torna uma
as numerosas liberdades, conquistadas com questão vital para todas as nações civilizadas,
tanto esforço, pela única e implacável liber- indústrias que não empregam mais matérias-
dade de comércio. Em uma palavra, em lugar -primas autóctones, mas, sim, matérias-pri-
da exploração velada por ilusões religiosas e mas vindas das regiões mais distantes, e cujos
políticas, a burguesia colocou uma exploração produtos se consomem não somente no pró-
aberta, cínica, direta e brutal. prio país, mas em todas as partes do globo.
(...) Em lugar das antigas necessidades, satisfeitas
A burguesia só pode existir com a condi- pelos produtos nacionais, nascem novas ne-
ção de revolucionar incessantemente os ins- cessidades, que reclamam para sua satisfação
trumentos de produção, por conseguinte, as os produtos das regiões mais longínquas e dos
relações de produção e, como isso, todas as climas mais diversos. Em lugar do antigo iso-
relações sociais. A conservação inalterada lamento de regiões e nações que se bastavam
do antigo modo de produção constituía, pelo a si próprias, desenvolvem-se um intercâmbio
contrário, a primeira condição de existência universal, uma universal interdependência
de todas as classes industriais anteriores. Essa das nações. E isto se refere tanto à produção
revolução contínua da produção, esse abalo material como à produção intelectual.
constante de todo o sistema social, essa agi-
tação permanente e essa falta de segurança Fonte: www.dominiopublico.gov.br/down-
distinguem a época burguesa de todas as pre- load/texto/cv000042.pdf
cedentes. Dissolvem-se todas as relações so- Acesso 3/3/2011.
ciais antigas e cristalizadas, com seu cortejo
de concepções e de ideias secularmente vene- A belle époque amazônica como produto
radas; as relações que as substituem tornam- do progresso – Ana Maria Daou
-se antiquadas antes de se ossificar. Tudo que
era sólido e estável se esfuma, tudo o que era É indiscutível o lugar que o Brasil assume
sagrado é profanado, e os homens são obri- no conjunto de transformações que então am-
gados finalmente a encarar com serenidade pliavam significativamente as áreas do plane-
suas condições de existência e suas relações ta sob influência e domínio das economias in-
recíprocas. dustriais e das crenças e valores a estas corre-
Impelida pela necessidade de mercados latas. Antes mesmo da presença de produtos
sempre novos, a burguesia invade todo o glo- industriais, dos bens de consumo europeus e
bo. Necessita estabelecer-se em toda parte, americanos no cotidiano de sociedades geo-
explorar em toda parte, criar vínculos em toda graficamente distantes dos centros de pro-
parte. Pela exploração do mercado mundial a dução, os valores tributários do credo liberal
burguesia imprime um caráter cosmopolita à encontravam adeptos e vieram a formar as

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96 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

bases da aceitação para que as expansões eu- A borracha, cientificamente denominada


ropeias e americanas encontrassem ambiente Hevea brasiliensis, já era conhecida dos euro-
particularmente favorável. peus desde o século XVIII, quando La Conda-
Essa entrada triunfal teve expressão parti- mine (1736) descreveu sua aplicação pelos
cular no Brasil, num momento em que se atre- nativos da Amazônia para diversos fins, como
lavam às transformações advindas da dinâmi- na fabricação de diversos utensílios de uso
ca da sociedade liberal em expansão no proje- cotidiano, como sapatos e garrafas, ou no re-
to republicano – que, no Brasil, expressará a vestimento de tecidos. Desde então, o produto
redenção da situação colonial e a consoante singularizou-se pela qualidade de impermea-
implantação de uma nova ordem de progres- bilização e pela inestimável elasticidade. Para
so. Disso são exemplares as transformações que a aplicação industrial da borracha viesse
pelas quais viria a passar a sociedade da anti- a ocorrer, foram necessárias, no entanto,
ga Corte do Império, o Rio de Janeiro, que te- investigações e pesquisas que, finalmente,
ria no traçado da cidade, nas formas de socia- permitiram tornar o produto mais estável,
bilidade da elite e nos efeitos sobre as classes não vulnerável, por exemplo, às alterações
trabalhadoras expressões dessas mudanças. da temperatura ambiente. Seu uso foi am-
No entanto, as transformações urbanísticas pliado a partir da vulcanização, tratamen-
ocorridas, já nos anos 1890, nas capitais das to com enxofre e calor feito por Goodyear
distantes províncias do Pará e do Amazonas (1839), que promovia maior durabilidade
anteciparam e estimularam o que viria a das qualidades elásticas do látex. Por toda
acontecer, no início do século, na capital da a segunda metade do século, ampliou-se
República. A atuação das elites, movidas por cada vez mais o uso da borracha.
expectativas progressistas e estimuladas pelo Na Exposição Universal de 1876, em Pa-
dinamismo da economia, alteraram de forma ris, a borracha foi exibida como produto in-
marcante a situação da Amazônia brasilei- corporado pela técnica, como matéria-pri-
ra. Nos fins do século XIX e início do XX, este ma de pneus em veículos movidos a cavalo.
imenso domínio passaria a dispor de estreita Antes mesmo da ampla vulgarização do
vinculação com as economias industriais, in- automóvel no início do século xx, o uso de
teressadas na ampliação de seus mercados luvas de borracha foi uma importante con-
para áreas do globo até então mantidas em tribuição para a assepsia médica. Preserva-
relativo isolamento da dinâmica das trocas tivos sem costuras longitudinais se difundi-
internacionais. Quanto a isso, é certa, a in- ram na Inglaterra vitoriana, facilitando o
corporação da borracha como matéria-prima controle da natalidade e da transmissão de
de novas indústrias, advindas da expansão da doenças venéreas. Bernard Shaw referiu-se
economia industrial, no final do século XIX, – a tal proteção de borracha como a maior in-
em estreita vinculação com o desenvolvimen- venção do século XIX.
to de novas técnicas aliadas à incorporação Ainda em meados do século, a borracha
de novas fontes de energia e materiais – será já ocupava a pauta de exportação como um
responsável pela notável visibilidade que teve entre os numerosos produtos extraídos da
a Amazônia durante a chamada belle époque. fauna e flora amazônicas. De acordo com
sua pureza e densidade, era classificada em

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HISTÓRIA 97

três tipos: a sernamby, de qualidade inferior; proporcionando-lhes uma inserção particular


a entrefina; e a Pará extrafina, também cha- na dinâmica das trocas materiais e simbóli-
mada fina ou Parafine, categoria utilizada nas cas. Foi (a economia da borracha que facultou
cotações internacionais para o melhor látex às elites das duas províncias, a do Amazonas
da Amazônia. e a do Grão-Pará) uma aproximação social e
O crescimento gradativo do volume e do cultural com a Europa, já de muito cultivada;
valor da produção da seringa foi criticado orgulhavam-se da riqueza promovida pela flo-
por diferentes administradores e políticos do resta – o látex da seringueira, este “dom da
Pará e do Amazonas, pois roubava braços às natureza”, então monopolizado pela produ-
atividades tradicionais. Em seus comentários ção amazônica que os conectava, afinal, com
se revela o desconforto – promovido pela “fe- o que havia de mais expressivo das conquistas
bre” da seringa – que implicou a redução de do século XIX. Era um salto qualitativo para
outras atividades produtivas (por exemplo, a aqueles que, há pouco mais de três décadas,
agricultura, a criação, a pesca e o próprio ex- queixavam-se do isolamento e clamavam pelo
trativismo) e, igualmente, da comercialização comércio entre os povos.
de produtos por elas gerados, como peles e O látex constava da confecção dos produ-
gorduras de animais, seivas e óleos vegetais, tos mais expressivos da inventividade huma-
ervas medicinais, peixe seco, castanha-do- na. Ele agregava uma série de características
-pará e cacau. que o tornava um produto de particular im-
As críticas, no entanto, pouco interferiram portância para a produção industrial e para
nos acontecimentos, e por toda a Amazônia muitas das formas de consumo que passariam
as atividades ligadas à extração e à comer- a ocupar um lugar de destaque como expres-
cialização da borracha se impuseram, mobili- são de “civilização “e “progresso”. Para as eli-
zando um enorme número de pessoas e vasto tes amazônicas, redobrava-se o valor do sen-
capital. Alterou-se a morfologia social, ao se timento de compartilhar dos acontecimentos
deslocarem para a Amazônia trabalhadores e peculiaridades de uma época marcada pela
que, rio acima, ajudaria a formar novos se- crença de que o progresso material possibili-
ringais. Estrangeiros ali se fixaram, sobretudo taria à humanidade resolver todos os proble-
nas duas capitais, sendo em grande parte os mas com razão e bom-senso.
responsáveis pela volumosa importação de O texto de William Irvins abaixo transcri-
bens de consumo e pela exportação da borra- to, publicado em uma revista americana em
cha – estando envolvidos, inclusive, na vinda, 1907, foi traduzido e inserido no Álbum do
para as capitais, do látex coagulado, ou seja, Pará, uma publicação do governo esta­dual
as bolas de borracha que eram embarcadas de 1908. Naquele momento os preços da
para o uso industrial. borracha amazônica já começavam a baixar,
A borracha foi, sem dúvida, um material pressionados pela entrada da produção asiá-
do progresso, participando da produção dos tica no mercado internacional. A exaltação do
mais modernos bens industriais, expressivos artigo é significativa por sintetizar uma ideia
dos avanços da técnica e do domínio da na- cara à elite da borracha: a de sua participação
tureza pelo homem. Foi também o veículo na construção da “vida dos povos civilizados”.
do progresso material das elites amazônicas, Poderíamos, a rigor, prescindir de vestimentas

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98 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

e de calçados impermeáveis; mas, se não ti- enviadas de Santarém chegaram ao Jardim


véssemos mais borracha, seríamos obrigados Botânico de Kew, Inglaterra, onde a seringa
a renunciar a freios pelo ar comprimido, e a foi cuidadosamente estudada e aclimatada
vida dos viajantes de estradas de ferro fica- para o cultivo no Sudeste asiático. O resultado
ria exposta a excessivos perigos. O desapare- deste exercício de racionalização foi a quebra
cimento dessa maravilhosa substância seria do monopólio amazônico da produção de bor-
ainda muito desastroso para a indústria das racha, uma vez que esta região não logrou o
bicicletas e dos automóveis. Enfim esse du- mesmo êxito no controle técnico da produção.
plo desastre nada seria comparativamente à A consequência foi o rápido declínio das ex-
perturbação universal, que transtornaria as portações amazônicas, anunciando o fim de
mais essenciais condições de existência dos nossa belle époque equatorial.
povos civilizados, e as comunicações elétricas
ficariam definitivamente interrompidas sobre Fonte: DAOU, Ana Maria. A belle époque
toda a superfície do globo. Não haveria mais amazônica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
despachos pelo fio aéreo ou pelo cabo sub-
marino, não teríamos mais luz elétrica, nem O 1º de Maio em Manáos
mais transmissões a grande distância da for-
ça produzida pelas cachoeiras, se a substân- Como tinha sido anunciado anteriormente,
cia isolante por excelência que permitisse às pela imprensa burgueza e por boletins feitos
correntes elétricas viesse a desaparecer com- distribuir pelo comité organizador Iº de Maio,
pletamente, ou pelo menos cessasse de ser realizou-se neste dia a manifestação que o ope-
produzida em assaz grande quantidade para rariado mundial comemora, cujo início teve lu-
que a indústria pudesse comprá-la por preços gar em Chicago, lá pelo anno de I884.
razoáveis. As avaliações sobre as perspectivas Apezar de várias dissensões avidas, (injus-
da exportação e as possibilidades de quebra tificadas porém), entre as classes trabalhado-
do monopólio, muito embora fizessem parte ras, o proletariado amazonense deu provas de
do repertório dos vários agentes comerciais que estuda as quêstoes sociaes, conhecendo
de nacionalidades diversas que percorreram perfeitamente os seus deveres e, não deixan-
o interior, consideraram as vantagens da pro- do postergados os seus lídimos direitos.
dução amazônica, e não chegaram a alterar Se bem que o Iº de Maio não fosse o que
os rumos do processo que promoveu o Ama- deveria ser, não é menos verdade de que ele
zonas, o Pará e seus representantes nacional assinálou uma pagina ómèrica na historia do
e internacionalmente. Afinal, entre 1898 e Trabalho no Amazonas.
1900, a borracha foi responsável por 25,7% Os estudantes uniram-se ao operariado e
dos valores das exportações brasileiras, sendo aprestaram-se em levar por diante a cauza
superada apenas pelo café (52,7%). Na pri- que, fatalmente, por lei natural da evolução
meira década do século xx a Amazônia per- cosmolojica, será um dia o palio onde se alber-
deu o monopólio da produção da borracha. garão as novas jerações num sublime abraço
Este é assunto para um outro livro, mas é im- de fraternidade, tendo por lema o Amor e o
portante destacar o episódio do traslado da trabalho.
Hevea brasiliensis em 1876, quando sementes

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HISTÓRIA 99

Foi assim que o operariado amazonen- -se pela avenida Eduardo Ribeiro, dando en-
se interpretou e sagrou o Iº de Maio levando tuziasticos vivas ao operariado livre, aos es-
a cabo manifestações diversas quer internas tudantes, e abaixo os tiranos sintetizados no
quer esternas. Aquélas nas associações de clas- Estado salva-guarda da Burguezia infrente.
se, e estas na praça publica, tendo por ponto Pacificamente observando a maior e mais
de partida o largo de S. Sebastião, o qual ás sensata cordura, ás vezes em silencio sepul-
16 oras se juntaram proletários e estudantes cral, interrompido pelas pizadas dos ómens
dando inicio ao comicio o acadêmico Adail do de trabalho a onda umana proletaria cami-
Couto que pronunciou uma bem improvizada nhou serena á rua da Instalação, detendo-se
alocução, discorrendo sobre o Iº de Maio e em frente da pequena bastilha denominada
terminando, saudou o operariado, em nome Fabrica de Roupas Amazonense, onde as ope-
da classe dos estudantes da Universidade de rarias d’aquelas industria receberam os seus
Manáos. Alguns vivas coroavam as palavras companheiros de trabalho como outr’ora, os
deste acadêmico, o qual foi procedido no uso cristãos o fizeram a Jezus cobrindo a rua com
da palavra pelo artista gráfico, J. Azpilicueta, aromaticas flores, que tambem derramaram
fazendo este o resumo historico, não só da sob as cabeças do operariado, desde o alto do
data Iº de Maio como tambem esternando-se edifício, orando em seguida a operaria Ceci-
maravilhozamense sobre a situação social, do lia Miranda que leu um belo discurso no qual
operariado jeral e em particular do operaria- ipoteca a solidariedade de sua classe ao ope-
do amazonense. Verberou com frazes logicas e rario irmão em lúta e em sacrifícios.
sinceras o procedimento dos patrões em todos Da janela da caza Avaneza, tambem orou o
os ramos de trabalho, mostrando a ambição e acadêmico Euclides Bentes pronunciando belis-
falta de escrúpulos destes no sentido desmedi- sima oração cheia de encômios ao trabaljo e
do da esploração a seus empregados que, alem ao operariado, ververando sobranceiramente
de serem mal retribuídos no fim das quinzenas o prodo comercio por conservaras portas aber-
e semanas, não recebiam os salários, passan- tas e estimulando os trabalhadores a seguirem
do, portanto, enormes vicissitudes. sua obra empregando a força para conseguir
Azpilicueta concluiu ezortando os prezen- os fins, se necessário fosse. Terminou saldando
tes a seguirem pelas diversas corporações as operarias da Fabrica e convidando-as a se-
que aguardavam a passagem dos manifes- guirem no préstito dos trabalhadores, pois que
tantes para se incorporar. Seguiu imediata- elas tambem eram esploradas! Uma salva es-
mente o imenso gentio proletário em direção trepidosa de aplauzos encerrou a oração deste
da “Federação Maritima”, na porta da qual acadêmico. Ainda se fez ouvir d’ uma das ja-
orou o camarada Fernández Varela, que, em nelas da Fabrica de Roupas o camarada Tercio
poucas palavras saudou aquela Federação Miranda dissertando sobre o dia 1º de Maio, o
concitando aos marítimos a unirem-se solida- qual era consagrado – disse o orador – como
mente tendo por diviza o Trabalho e por lema o dia de finados do operariado, sintetizando
a Justiça. os crimes ediondos cometidos pelas autorida-
A este orador respondeu o comandante de de Chicago nas pessoas de oito libertarios, e
Cruz, em nome d’aquela corporação, termi- secundados pelos governos de todos os paizes.
nando este os manifestantes encaminhavam- Uma vós fez-se ouvir então, e, de repente, a

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
100 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

multidão operária desfilava levando na van- Dissolveu-se, pois o comicio na melhor ordem
guarda o grupo de operarias da fabrica, em deixando na mentede cada trabalhador, gra-
direcão ao teatro Alcazar que fora cedido jen- vada em traços indeleveis a memoria éterna
tilmente pelo proprietario Sr. Fontenelli. Neste da cauza operaria que transformará o regi-
local que ficou totalmente repleto de trabalha- men social de tirania em que atualmente jaz
dores foi celebrada a séssão magna anuncia- o Povo trabalhador.
da, para termo da manifestação esterna, sendo
esta sessão prezidida pelo velho operário An- Fonte: Extraído do Jornal
gel Pérez Caballero o qual uzou da palavra e, A Lucta Social 1914
depois de agradecer a lembrança de seu nome (Obs: O texto mante-se como no original.)
disse que se sentia deverás comovido, que la-
mentava a falta de união dos trabalhadores 3ª Série
por que só com a união jeral poderiam fazer
valer os seus direitos conspurcados pelo capi- Atividade 1
talismo.
O trabalho, – disse P. C. estará sempre Objetivo:
sobre o capital porque é ele o fator direto • Proporcionar aos educandos noções me-
d’aquele; semdo, portanto impossível a ezis- todológicas para que possam compreen-
tencia do capital sem o trabalho:Colocai, – der e diferenciar as diversas concepções
continúa o orador – um milhão um milhão de de tempo e as diversas formas de perio-
libras dentro de uma caixa e tereis ocazião de dização do tempo cronológico reconhe-
ver como elas não se reproduzem, como são cendo-as como construções culturais e
improdutivas, sendo pó consequência o tra- históricas.
balhador a alma do capital.Ao terminar sua
oração foi ovacionado pela assistência. Competência:
Concedida a palavra ao academico Edgar • Atuar sobre os processos de construção
Castro, este leu um brilhante trabalho litera- da memória social, partindo da crítica
rio no qual descreveu com profunda erudição dos diversos “lugares de memória” social-
as fórmas da Sociedade Nova que o operaria- mente instituídos.
do aspirava Na qual predominaria o Amor, a
Verdade e a Justiça. Este orador Foi caloroza- Habilidade:
mente aplaudido. Paulo Euleterio, o moço tão • Situar as diversas produções da cultura, as
simpático dos operários seguiu-se com a pa- linguagens, as artes, a filosofia, as ciências,
lavra, deleitando com seu verbo sonoro e sin- as tecnologias e manifestações sociais, nos
cero o auditorio, que o acolheu entre palmas contextos históricos de sua constituição e
frenéticas. significação.
A ora ia avançando paulatinaMente e por
isso foi encerrada a sessão falando de entre Passo a passo:
outros camaradas Tercio Miranda que agra- Distribua os textos e dê um tempo para a
deceu a presença de todos e fez votos pela leitura dos textos.
emancipação integral dos trabalhadores.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 101

Abra, em seguida, uma discussão coletiva História aponta na direção da construção de


sobre o papel do historiador, tendo como pon- conhecimentos críticos e desconstrutores da
to de partida as ideias dos textos fornecidos. universalização da história humana, salien-
Caso os participantes não tomem a iniciativa tando as diferenças de interesses de grupos e
dos questionamentos, proponha a seguinte de indivíduos, o resgate de épocas passadas
questão: múltiplas, as descontinuidades de projetos
Qual é o poder do historiador? Na sequên- vencidos ou vencedores, as rupturas de lutas
cia, alimente o debate com perguntas, como: e permanências, de conquistas e de domina-
O professor de História pode ser imparcial? ções (Jornal BoIando Aula de História, nº 12, p.
Os indivíduos, os grupos sociais ou a sociedade 15, abr./1999).
têm controle sobre a sua memória? O passado
não pode ser mudado, mas a História pode? O O Texto 4, em especial, chama a atenção
que pode fazer a história vivida por uma socie- para o problema do anacronismo, que, de
dade mudar? Mudando a História, mudamos certa forma, pode ser definido como “fazer
também a contagem do tempo histórico? um discurso histórico, isto é, reconstituir um
Oriente para que as conclusões do debate ou uma série de eventos ocorridos num de-
girem em torno do uso e do poder da História terminado momento, numa determinada re-
como legitimação e da questão da memória gião, sem esquecer o que aconteceu depois.
conforme expressa nos Pcnem: O historiador conhece isso, mas os protago-
O direito à memória faz parte da cidadania nistas não” (Fernando Novais. “A invenção
cultural e revela a necessidade de debates so- do Brasil”, Teoria e Debate. Ano 13, nº 44,
bre o conceito de preservação das obras hu- p. 54, abr./maioljun.l2000; grifos acrescidos.
manas. A constituição do Patrimônio Cultural
e sua importância para a formação de uma Texto 1
memória social e nacional sem exclusões e dis-
criminações é uma abordagem necessária a ser Deus não pode mudar o passado, mas os
realizada com os educandos, situando-os nos historiadores podem.
“lugares de memória” construídos pela sociedade e
pelos poderes constituídos, que estabelecem o que (Samuel Butler, escritor inglês (1835-1902).
deve ser preservado e relembrado e o que deve
ser silenciado e “esquecido” (p. 305-306; grifos Texto 2
acrescidos).
Caso queira apontar alguns caminhos para Ora, a História é a matéria-prima para as
o ensino da História, refira orientações como ideologias nacionalistas ou étnicas ou funda-
esta: mentalistas, tal como as papoulas são a maté-
Se a sociedade quer preservar sua memó- ria-prima para o vício da heroína. O passado
ria por meio “tempos da memória”, como é o é um elemento essencial, talvez o elemento
caso das datas comemorativas, isso não signi- essencial nessas ideologias. Se não há nenhum
fica que, na escola, os conteúdos da História passado satisfatório, sempre é possível inven-
tenham de se submeter aos modelos orde- tá-lo. De fato, na natureza das coisas não cos-
nadores e míticos da memória. O ensino de tuma haver nenhum passado completamente

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
102 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

satisfatório, porque o fenômeno que essas trução espontânea de uma memória coletiva,
ideologias pretendem justificar não é antigo que se manifesta por meio de comportamen-
ou eterno, mas historicamente novo. Isso é vá- tos, de condutas e de rituais, vivos e abertos à
lido tanto para o fundamentalismo religioso reconstrução permanente da lembrança e do
em suas versões atuais – a versão do aiatolá esquecimento. (...) A tendência nas sociedades
Khomeini de um Estado islâmico não é anterior urbanas e industriais é a predominância da
ao início dos anos 70 – quanto para o nacio- história escrita sobre a memória e o desapa-
nalismo contemporâneo. O passado legitima. recimento progressivo das manifestações es-
O passado fornece um pano de fundo mais pontâneas e lembranças coletivas. (...) Nessas
glorioso a um presente que não tem muito o sociedades complexas, a identidade coletiva,
que comemorar. Eu me lembro de ter visto em constituída através da memória, é substituída
algum lugar um estudo sobre a civilização an- por lugares de memória (museus, bibliotecas,
tiga das cidades do vale dos Indus com o títu- espaços culturais, galerias, arquivos (...) ou
lo “Cinco mil anos de Paquistão”. O Paquistão por uma “grande história”, a história da na-
nem era cogitado antes de 1932-3, quando o ção, que pretende unir todos através de uma
nome foi inventado por alguns militantes estu- trajetória comum. E as datas comemorativas
dantis. Apenas se tornou uma demanda séria a nacionais são marcos históricos do que se
partir de 1940. Como Estado, apenas existiu a considera uma “grande história”, escrita por
partir de 1947. Não há nenhuma evidência de determinados grupos sociais (…) como sendo
haver conexão entre a civilização de Mohenjo elas representantes de um passado glorioso,
Daro e atuais governantes de Islamabad que que deve ser valorizado por toda uma nação.
entre a Guerra de Troia e o governo de Anca-
ra, que no momento reivindica o retorno, ainda (Calazans, Antônia Terra F. História e
que apenas para a exibição pública, do tesouro memória, in Jornal Bolando Aula de Histó-
de Schliemann do rei Príamo de Troia. Mas de ria. nº 13, maio, 1999).
certo modo, 5 mil anos de Paquistão soam me-
lhor do que 46 anos de Paquistão. Texto 4
Nessa situação os historiadores se veem no
inesperado papel de atores políticos. Eu costu- A viagem de Cabral suscita, pelo menos,
mava pensar que a profissão de historiador, dois problemas: O primeiro, muito discutido, é
ao contrário, digamos, da de físico nu­clear, que a tradição e a historiografia deram à sua
não pudesse pelo menos produzir danos. Ago- viagem o nome de “descobrimento do Brasil”,
ra sei que pode. o que envolve um claro eurocentrismo. Se os
portugueses descobriram os tupiniquins, tu-
(Eric Hobsbawn. Sobre História: ensaios. São pinambás etc., foram também descobertos
Paulo: Companhia das Letras, 1988, p. 17). pelos índios. Falar em descobrimento do Bra-
sil, como em descobrimento da América, é a
Texto 3 visão do vencedor. Isto tem sido muito discu-
tido. Nos anos 50, o historiador mexicano Ed-
Além das histórias escritas, as comunida- mundo O’Gorman escreveu La invención de Ia
des relembram o seu passado através da cons- América, um belíssimo texto em que diz que

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 103

não há descobrimento da América porque ela Fonte: Obra: BRASIL. Ministério da Educa-
não existia; havia sim um território. A América ção. Parâmetros em Ação, Ensino Médio
foi inventada, não descoberta! O Brasil tam- Ciências Humanas e suas Tecnologias/
bém teria que ser inventado. E certamente Secretaria de Educação Média e Tecnológi-
não foi Pedro Álvares Cabral quem inventou o ca – MEC; Semtec, 2002, 502 p.
Brasil, da mesma forma que a América não foi
inventada por Colombo. 1.3.2 Sugestões para pesquisa
O desdobramento dessa ideia dá, por vezes,
lugar a equívocos. Um deles se desenvolveu Biografias
nos anos 60 e 70: se essa é a visão do impe-
rialismo, então nossa História teria que ser BERNSTElN, Serge. A cultura política. ln:
escrita do ponto de vista contrário, isto é, dos RIOUX, Jean-Pierre; SlRINELLI, Jean-Fran-
vencidos, dos índios. Isso é um delírio, porque çois (Org.). Para uma História cultural. Tradu-
não podemos nos converter em índios. Esse ção Ana Moura. Lisboa: Editorial Estampa,
revisionismo – procurar fazer uma história 1998, p. 349-364.
sem etnocentrismo – produziu algumas obras
interessantes, como, por exemplo, os novos BLOCH, Marc. Apologia da História – Ou o ofí-
trabalhos sobre história da Igreja na América cio do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
Latina, escritos na perspectiva da Teologia da 2001, p. 98.
Libertação. Mas se essa obra tem contribuições
notáveis, tem também um viés complicado. A BORGES, Vavy Pacheco. O que é História. 2ª
Teologia da Libertação diz, por exemplo, que a ed. São Paulo: Brasiliense, 1993.
verdadeira catequese tem que preservar a cul-
tura do índio. Eu perguntei num debate: “Mas BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé. As escolas his-
como vocês vão preservar a cultura do índio, se tóricas. Lisboa: Europa-América, 2000.
nela a religião é fundamental?” Aí os teólogos
da corrente disseram: “Nós acreditamos que o BRAUDEL, Fernand. A Longa Duração. Escritos
cristianismo seja compatível com qualquer ou- sobre a História. São Paulo: Perspectiva, 1992.
tra cultura”. Ora, isso é uma matéria de fé que
não pode ser demonstrada. (...) CAIRE-JABINET, Marie- Paule. Introdução à his-
Os povos daqui eram iletrados, sua histó- toriografia. Tradução Laureano Pelegrin. Bau-
ria era oral, eles não tinham registros escritos. ru: Edusc, 2003.
O que temos de história são os escritos euro-
peus, alguns melhores, outros piores. CARDOSO, Ciro Flamarion. “O tempo das
­ciências naturais e o tempo da História”. En-
(Fernando Novais. “A invenção do Brasil”. saios racionalistas. Rio de Janeiro: Campus,
In: Teoria e Debate, ano 13, nº 44, p. 52, abr/ 1988, p. 25-40.
mai/jun. 2000).
CARDOSO, Ciro Flamarion. Uma introdução à
História. São Paulo: Brasiliense, 1981.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
104 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ro- GUAZELLI, César et al. Questões de teoria e meto-
naldo (Orgs.). Domínios da História: ensaios dologia da História. Porto Alegre: UFRGS, 2000.
de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Cam-
pus, 1997. HOBSBAWM, Eric. Sobre História. Tradução
Cid Knipel Moreira. São Paulo: Companhia
CARR, Edward Hallet. Que é História? 3ª ed. das Letras, 1998.
São Paulo: Paz e Terra, 1996.
HOBSBAWM, Eric J. Sobre História. São Paulo:
CERTEAU, Michel de. A escrita da História. Companhia das Letras, 1998.
2. ed. Tradução Maria de Lourdes de Me-
nezes. Rio de Janeiro: Forense Universitária, KOSELLECK, Reinhart. História. Madrid: Míni-
2002. ma Trotta, 2004.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidia- LE GOFF, Jacques. História. In: Enciclopédia
no: artes de fazer. 9ª ed. Petrópolis: Vozes, Einaudi: memória-História. Tradução R. P.
2003. Cabral. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da
Moeda, v. 1, 1984.
CHESNEAUX, Jean. Devemos fazer tábula
rasa do passado? Sobre a História e os histo- LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selva-
riadores. São Paulo: Ática, 1995, p. 92-93. gem apud PROST, Antoine. Doze lições sobre a
História. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. p.
ELIAS, Norbert. Sobre o tempo. Tradução Vera 95-96.
Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
MALERBA, Jurandir (Org.). A História escrita –
KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: con- Teoria e história da historiografia. São Paulo:
tribuição à semântica dos tempos histó- Contexto, 2006.
ricos. Tradução Wilma Patrícia Mass e Carlos
Alemeida Pereira. Rio de Janeiro: Contrapon- NOVAES, Adauto (Org.). Tempo e História. São
to, PUC-Rio, 2006, p. 13-15. Paulo: Companhia das Letras, 1992.

FALCON, Francisco. História e Poder. ln: REIS, José Carlos. Tempo História e evasão.
CARDOSO, Ciro Flamarion; VAlNFAS. Ronal- Campinas: Papirus, 1994.
do (Orgs.). Domínios da História: ensaios de
teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Cam- REIS, José Carlos. História & teoria: historicis-
pus, 1997, p. 61-90. mo, modernidade, temporalidade e verdade.
Rio de Janeiro: FGV, 2003, p. 173-175.
FREITAS, Marcos Cezar de. Historiografia bra-
sileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, RÉMOND, René. Por que a História políti-
1998. ca? Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro:
CPDOC-FGV, v. 7, nº 13, p. 7-20, 1994. (Org).

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 105

Por uma História política. Tradução Dora Ro- Nesse mesmo site, há ainda, Banco de Teses e
cha. Rio de Janeiro: UFRJ, 1996. Dissertações. Todas com acesso gratuito:

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esque- Revista Nossa História (Biblioteca Nacional)
cimento. Campinas: Unicamp, 2007. 392-393. Editora Vera Cruz (impressa)

RIOUX, Jean-Pierre; SlRINELLI, Jean-Fran- Revista Brasileira de História versão on-line:


çois. Para uma História cultural. Tradução Ana http://www.scielo.br/rbh
Moura. Lisboa: Editorial Estampa, 1998, p.
259-280. Revista Estudos Históricos versão on-line:
http://www.cpdoc.fgv.br
ROSANV ALLON, Pierre. Por uma História
conceitual do político. História. São Paulo, v. Revista História, Ciências, Saúde versão on-
15, p. 27-39, 1996. -line: http://www.coc.fiocruz.br/hscience

ROUSSO, Henry. O arquivo ou o indício de Revista de História da Unesp – http://www.


uma falta. Revista Estudos Históricos. Rio de dhi.uem.br/
Janeiro: CPDOC-FGV, v. 9, nº 17, 1996.
Revista de História de Uberlândia – www.his-
SKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes históricas. toriaperspectivas.inhis.ufu.br/
São Paulo: Contexto, 2005.
Revista de História Tempo – www.historia.
THOMPSON, Eduard P. A formação da clas- uff.br/tempo/
se operária inglesa. São Paulo: Paz e Terra,
1989, 3 v. Revista de História Tempo www.ifch.uni-
camp.br/
WHITROW, Gerald James. O tempo na Histó-
ria – Concepções do tempo da pré-história aos Outras Revistas de História:
nossos dias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993
Revista Histórica Publicação on-line do Arqui-
Revistas vo Público do Estado de São Paulo

Abaixo uma pequena lista de revistas aces- Estudos Afro-Asiáticos Publicação do Centro
síveis em versão impressa e outras em versão de Estudos Afro-Asiáticos (Ceaa) – Universida-
impressa e digital, on-line. As versões on-line de Cândido Mendes (Ucam)
encontram-se disponíveis em sites próprios
ou na base de dados http://www.scielo.br Revista Afro-Ásia Publicação semestral do
Há, ainda, o portal de periódicos Capes, cujo Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceao) –
endereço eletrônico http://www.periodicos. Universidade Federal da Bahia (UFBA)
capes.gov.br, albergando diversas Revistas de
História e de outras áreas do conhecimento.

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DO ENSINO MÉDIO
106 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

Revista Topoi Publicação do Programa de Pós- Cadernos do CHDD Publicação do Centro


-Graduação em História Social da Universida- de História e Documentação e Diplomática
de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (CHDD) – Fundação Alexandre Gusmão (Fu-
nag).
Revista de História Comparada Publicação
do Programa de Pós-Graduação em História Revista História Social Publicação dos  alunos
Comparada (PPGHC) do Instituto de Filosofia de Pós-Graduação em História - Universidade
e Ciências Sociais (IFCH) – Universidade Fede- Estadual de Campinas (Unicamp).
ral do Rio de Janeiro (UFRJ).
Revista Trapézio Publicação do Centro de Es-
Revista História Hoje Publicação quadrimes- tudos Brasileiros do IFCH – Universidade Esta-
tral da Associação Nacional de História com dual de Campinas (Unicamp).
artigos, debates e resenhas sobre temas atu-
ais e experiências didáticas. Revista de História da Arte e Arqueologia
Publicação do Centro de História da Arte e Ar-
Revista História Agora Revista On-line de His- queologia (Chaa) – Universidade Estadual de
tória do Tempo Presente. Campinas (Unicamp).

Vária História Publicação semestral do Pro- Revista Navigator Publicação do Serviço de


grama de Pós-Graduação em História – Uni- Documentação da Marinha (SDM).
versidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Cadernos CRH Publicação quadrimestral do
Revista do IHGB Publicação do Instituto Histó- Centro de Recursos Humanos (CRH), órgão
rico e Geográfico Brasileiro. suplementar da Faculdade de Filosofia da Uni-
versidade Federal da Bahia (UFBA).
Revista da SBHC Publicação da Sociedade
Brasileira de História da Ciência. Revista de Ciências Humanas Publicação do 
Centro de Filosofia e Ciências Humanas – Uni-
Revista do Patrimônio Publicação eletrônica versidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artísti-
co Nacional (Iphan). Revista Esboços Publicação do Programa de
Pós-Graduação em História – Universidade
Contributions to the History of Concepts Federal de Santa Catarina (UFSC).
Publicação do Grupo de Pesquisa em Histó-
ria dos Conceitos e Teoria Política e Social do Revista Estudos Feministas Publicação do
Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH)
Janeiro (Iuperj), em parceria com o grupo fin- e do Centro de Comunicação e Expressão
landês History of Political and Social Concepts (CCE) – Universidade Federal de Santa Cata-
Group (HPSCG) da Universidade de Helsinki. rina (UFSC).

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 107

Revista Cadernos de História Publicação da Bibliotecas Virtuais


Área de História da Escola de Educação Básica Seleção das bibliotecas virtuais de todo o
(Eseba) e do Laboratório de Ensino e Aprendi- mundo. Algumas dessas bibliotecas são se-
zagem em História (Leah) do centro de Docu- toriais enquanto outras disponibilizam acer-
mentação e Pesquisa – Universidade Federal vos com temas mais amplos, como a biblio-
de Uberlândia (UFU). teca do Congresso Americano, por exemplo.

Revista Brasileira do Caribe Publicação do Bibliotecas virtuais da América Latina


Centro de Estudos do Caribe no Brasil (Cecab)
– Universidade Federal de Goiás (UFG). Bibliotecas virtuais da Ásia

Revista Episteme Publicação do grupo de pes- Europa e Oceania


quisa em Filosofia e História das Ciências (GI-
FHC) – Universidade Federal do Rio Grande do Bibliotecas virtuais do Brasil
Sul (UFRGS).
Bibliotecas virtuais dos Estados Unidos
Saeculum – Revista de História Publicação
do Programa de Pós-Graduação em História – Bibliotecas virtuais por autores
Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Cartografia Histórica
Revista Opsis Publicação do Departamento
de História da Universidade Federal de Minas Os principais sites que disponibilizam mapas
Gerais (UFMG). antigos e temáticos para visualização e down-
load:
Revista de História Regional Publicação do Cartografia Histórica da África e Oriente
Departamento de História da Universidade Cartografia Histórica das Américas
Estadual de Ponta Grossa. Cartografia Histórica da Austrália,
Europa e Oceania
Lua Nova Publicação do Centro de Estudos de Cartografias Históricas Mundiais
Cultura Contemporânea.
Dicionários, Glossários e Enciclopédias
Cadernos Pagu Publicação do Núcleo de Estu- Mais de cem dicionários, enciclopédias e
dos de Gênero da Universidade de Campinas. glossários on-line de idiomas, termos históri-
cos e assuntos pertinentes ao estudante, pro-
Revista Espaço Plural fessor e pesquisador de História.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 109

Avaliação: O culminar do processo educativo

A avaliação é a parte culminante do pro- aprendizagem. As avaliações a que o professor


cesso que envolve o ensino e a aprendizagem. procede enquadram-se em três grandes tipos:
Benvenutti (2002) afirma que avaliar é mediar avaliação diagnóstica, formativa e somativa.
o processo ensino-aprendizagem, é oferecer Em se tratando da função diagnóstica, de
recuperação imediata, é promover cada ser acordo com Miras e Solé (1996, p. 381), esta
humano, é vibrar junto a cada educando em é a que proporciona informações acerca das
seus lentos ou rápidos progressos. capacidades do educando antes de iniciar um
E pensando assim, acredita-se que o gran- processo de ensino-aprendizagem, ou ainda,
de desafio para construir novos caminhos, segundo Bloom, Hastings e Madaus (1975),
inclusive, no contexto educacional brasileiro, busca a determinação da presença ou ausên-
está em verificar cada lugar nas suas especi- cia de habilidades e pré-requisitos, bem como
ficidades e nas suas necessidades. Segundo a identificação das causas de repetidas dificul-
Ramos (2001), uma avaliação com critérios de dades na aprendizagem.
entendimento reflexivo, conectado, compar- Em termos gerais, a avaliação diagnóstica
tilhado e autonomizador no processo ensino- pretende averiguar a posição do educando
-aprendizagem é o que se exigiria. Somente em face das novas aprendizagens que lhe vão
assim serão formados cidadãos conscientes, ser propostas e as aprendizagens anteriores
críticos, criativos, solidários e autônomos. que servem de base àquelas, no sentido de
Com isso, a avaliação ganha novo caráter, evidenciar as dificuldades futuras e, em cer-
devendo ser a expressão dos conhecimentos, tos casos, de resolver situações presentes.
das atitudes ou das aptidões que os educan- No que se refere à função formativa, esta,
dos adquiriram, ou seja, que objetivos do en- conforme Haydt (1995, p. 17), permite cons-
sino já atingiram em um determinado ponto tatar se os educandos estão, de fato, atin-
de percurso e que dificuldades estão a revelar gindo os objetivos pretendidos, verificando
relativamente a outros. a compatibilidade entre tais objetivos e os
Essa informação é necessária ao professor resultados, efetivamente alcançados durante
para procurar meios e estratégias que auxi- o desenvolvimento das atividades propostas.
liem os educandos a resolver essas dificulda- Representa o principal meio pelo qual o edu-
des, bem como é necessária aos educandos cando passa a conhecer seus erros e acertos,
para se aperceberem delas (não podem os propiciando, assim, maior estímulo para um
educandos identificar claramente as suas di- estudo sistemático dos conteúdos. Um outro
ficuldades em um campo que desconhecem), aspecto a destacar é o da orientação forneci-
e, assim, tentarem ultrapassá-las com a ajuda da por esse tipo de avaliação, tanto ao estudo
do professor e com o próprio esforço. Por isso, do educando quanto ao trabalho do profes-
a avaliação tem uma intenção formativa. sor, principalmente por meio de mecanismos
A avaliação proporciona também o apoio de feedback. Esses mecanismos permitem
a um processo que é contínuo, contribuindo que o professor detecte e identifique defici-
para a obtenção de resultados positivos na ências na forma de ensinar, possibilitando re-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
110 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

formulações no seu trabalho didático, visando cador e mediador do processo, na execução


aperfeiçoá-lo. Para Bloom, Hastings e Madaus dos processos pedagógicos da escola e, ainda,
(1975), a avaliação formativa visa informar o professores que compreendam o processo de
professor e o educando sobre o rendimento sua disciplina na superação dos obstáculos
da aprendizagem no decorrer das atividades epistemológicos da aprendizagem.
escolares e à localização das deficiências na A abordagem para o processo avaliativo
organização do ensino para possibilitar corre- se dá por meio de tópicos específicos que en-
ção e recuperação. volvem aspectos relacionados à busca do re-
Em suma, a avaliação formativa pretende sultado de trabalho: que educandos devem
determinar a posição do educando ao lon- ser aprovados; como planejar suas provas,
go de uma unidade de ensino, no sentido de bem como qual será a reação dos educandos
identificar dificuldades e de lhes dar solução. e como está o ensino em diferentes áreas do
E quanto à função somativa, esta tem conhecimento que envolvem o Ensino Médio
como objetivo, segundo Miras e Solé (1996, (Krasilchik, 2008).
p. 378), determinar o grau de domínio do Assim, a avaliação ocupa papel central em
educando em uma área de aprendizagem, o todo processo escolar, sendo necessário, des-
que permite outorgar uma qualificação que, sa forma, um planejamento adequado. Para
por sua vez, pode ser utilizada como um sinal isso, vários Parâmetros são sugeridos como
de credibilidade da aprendizagem realizada. ponto de partida:
Pode ser chamada também de função credi-
tativa. Também tem o propósito de classifi- • Servem para classificar os educandos
car os educandos ao final de um período de “bons” ou “maus”, para decidir se vão
aprendizagem, de acordo com os níveis de ou não passar;
aproveitamento. • Informam os educandos do que o pro-
Essa avaliação pretende ajuizar o progres- fessor realmente considera importante;
so realizado pelo educando, no final de uma • Informam o professor sobre o resultado
unidade de aprendizagem, no sentido de afe- do seu trabalho;
rir resultados já colhidos por avaliações do • Informam os pais sobre o conceito que
tipo formativa e obter indicadores que permi- a escola tem do trabalho de seus filhos;
tem aperfeiçoar o processo de ensino. • Estimulam o educando a estudar.
Diante do que foi visto, entende-se que
é necessário compreender que as diferentes Essas reflexões, remetem-nos a uma maior
áreas do conhecimento precisam se articular responsabilidade e cautela, para decidir sobre
de modo a construir uma unidade com vistas o processo avaliativo a respeito da construção
à superação da dicotomia entre as disciplinas e aplicação dos instrumentos de verificação
das diferentes ciências. Essa superação se dá do aprendizado e sobre a análise dos seus re-
com o intuito de partilhar linguagens, pro- sultados. Devemos tomar cuidado, ainda, em
cedimentos e contextos de modo que possa relação aos instrumentos avaliativos escolhi-
convergir para o trabalho educativo na escola. dos, para que esses estejam coerentes com
Para isso, é necessária a participação do os objetivos propostos pelo professor em seu
professor, consciente do seu papel de edu- planejamento curricular (Krasilchik, idem).

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 111

A avaliação, dessa forma, assume impor- quais teorias nos embasamos para chegar a
tância fundamental, a partir dos seus instru- uma avaliação mais próxima da realidade.
mentos e o professor, por sua vez, precisa estar Além do postulado pedagógico referido,
atento aos objetivos propostos para que a ava- é necessário debruçarmo-nos sobre as novas
liação não destoe daquilo que ele pretende. avaliações que se apresentam, quais os seus
Assim sendo, a avaliação não é neutra no fundamentos, qual a sua forma e quais as
contexto educacional, pois está centrada em suas exigências. É nesse contexto que o Enem
um alicerce político educacional que envol- (Exame Nacional do Ensino Médio), criado em
ve a escola. Assim, para Caldeira (2000 apud 1988, e que tem por objetivo avaliar o desem-
Chueiri, 2008): penho do educando ao término da escolarida-
de básica, apresenta-se como uma proposta
A avaliação escolar é um meio e não um de avaliação digna de ser analisada e assimila-
fim em si mesmo; está delimitada por uma da em seus fundamentos.
determinada teoria e por uma determina- O Enem tomou um formato de “avaliação
da prática pedagógica. Ela não ocorre num nacional”. Isso significa dizer que ele tornou-
vazio conceitual, mas está dimensionada -se o modelo que vem sendo adotado no
por um modelo teórico de sociedade, de país, de norte a sul. Nesse sentido, a ques-
homem, de educação e, consequentemen- tão é saber o motivo pelo qual ele assumiu
te, de ensino e de aprendizagem, expresso o lugar que ocupa. Para compreendê-lo, um
na teoria e na prática pedagógica (p. 122). meio interessante é conhecer a sua “engre-
nagem” e pressupostos. Assim, é necessário
Para contemplar a visão de Caldeira, o pro- decompô-lo nas suas partes, saber o que cada
fessor necessita estar atento aos processos de uma significa, qual a sua relevância e em que
transformação da sociedade, pois estes aca- o todo muda a realidade avaliativa nacional,
bam por influenciar também o espaço da esco- pois ele apresenta-se como algo para além de
la como um todo. Essa constatação é evidente, um mero aferidor de aprendizagens.
quando percebemos o total descompasso da Esse exame constitui-se em quatro pro-
escola com as atuais tecnologias e que, ao que vas objetivas, contendo cada uma quarenta
tudo indica, não estão sendo usadas na sua de- e cinco questões de múltipla escolha e uma
vida dimensão. Por outro lado, quando o pro- proposta para a redação. As quatro provas
fessor não acompanha as transformações re- objetivas avaliam as seguintes áreas de co-
feridas, a avaliação corre o risco, muitas vezes, nhecimento do Ensino Médio e respectivos
de cair em um vazio conceitual. Infelizmente, Componentes Curriculares: Prova I – lingua-
é o que vem ocorrendo em grande parte das gens, Códigos e suas Tecnologias e Redação:
escolas brasileiras. É nesse sentido que cabe a Língua Portuguesa, Língua Estrangeira (Inglês
todos nós repensarmos nossa prática, apren- ou Espanhol), Arte e Educação Física; Prova
dizado e aspirações em termos pedagógicos e, II – Matemática e suas Tecnologias: Mate-
sobretudo, como sujeitos em construção. mática; Prova III – Ciências Humanas e suas
Diante disso, precisamos ter claro o que Tecnologias: História, Geografia, Filosofia e
significa avaliar no atual contexto, que edu- Sociologia; Prova IV – Ciências da Natureza e
candos queremos, baseados em qual ou em suas Tecnologias: Química, Física e Biologia.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
112 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECN OLOGIAS

É por meio da avaliação das Áreas de Co- mos, a sua formulação e o modo como um
nhecimento que se tem o nível dos educan- item é transformado em um aval para o pros-
dos brasileiros e que lhes é permitido ingres- seguimento dos estudos. E não só isso deve
sar no ensino de Nível Superior. Nesse sen- ser levado em consideração, pois alcançar
tido, o Enem não deve ser desprezado; ao um nível de aprovação exige uma formação
contrário, é obrigatório que os professores que inicia desde que uma criança ingressa na
do Ensino Médio conheçam os seus mecanis- Educação Infantil.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 113

Considerações Finais

Após um trabalho intenso, que mobilizou a nossa ação pedagógica. Por isso, os seus
especialistas na área, professores e técnicos, elaboradores foram preparados, por meio de
vê-se concluída a Proposta Curricular para seminários, oficinas e de discussões nos gru-
o Ensino Médio. Esta Proposta justifica um pos que se organizaram, para concretizar os
anseio da comunidade educacional, da qual objetivos definidos.
se espera uma boa receptividade. Inclusive, A Proposta consta de treze Componentes
espera-se que ela exponha com clareza as Curriculares. Todos eles são vistos de forma
ideias, a filosofia que moveu os seus autores. que os professores tenham em suas mãos os
Ela propõe-se a seguir as novas orienta- objetos de conhecimento, assim como uma
ções, a nova filosofia, pedagogia, psicologia forma de trabalhá-los em sala de aula, reali-
da Educação brasileira, daí que ela tem no seu zando a interdisciplinaridade, a transversalida-
cerne o educando, ao mesmo tempo em que de, contextualizando os conhecimentos e os
visa envolver a comunidade, dotando de sig- referenciais sociais e culturais.
nificado tudo o que a envolve. Essa nova pers- E, ainda, ela pretendeu dar respostas às
pectiva da Educação brasileira, que evidencia determinações da LDB que requer um ho-
a quebra ou a mudança de paradigmas, exigiu mem-cidadão, capaz de uma vida plena em
que as leis, as propostas em curso para a Edu- sociedade. Ao se discutir sobre essa Lei e a
cação brasileira fossem reconsideradas. tentativa, via Proposta Curricular do Ensino
Durante o período da sua elaboração, mui- Médio, de concretizá-la, a Proposta sustenta-
tas coisas se modificaram, muitos congressos -se na aquisição e no desenvolvimento de
e debates foram realizados e todos mostra- Competências e Habilidades.
ram que, nesse momento, nada é seguro, É assim que esta Proposta chega ao Ensino
que, quando se trata de Educação, o campo Médio, como resultado de um grande esforço,
é sempre complexo, inconstante, o que nos da atenção e do respeito ao país, aos profes-
estimula a procurar um caminho que nos per- sores do Ensino Médio, aos pais dos educan-
mita realizar de forma consequente e segura dos e à comunidade em geral.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA 115

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PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR DO ENSINO MÉDIO PARA A REDE
PÚBLICA DO ESTADO DO AMAZONAS

Gerência do Ensino Médio


Vera Lúcia Lima da Silva
 
Coordenação Geral
Tenório Telles

Coordenação Pedagógica
Lafranckia Saraiva Paz
Neiza Teixeira

Consultoria Pedagógica
Evandro Ghedin
HELOISA DA SILVA BORGES

Assessoria Pedagógica
Maria Goreth Gadelha de Aragão

Coordenação da Área de Linguagem, Códigos e suas Tecnologias   


José Almerindo A. da Rosa
Karol Regina Soares Benfica
 
Coordenação da Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias
Sheyla Regina Jafra Cordeiro
 
Coordenação da Área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias
João Marcelo Silva Lima
 
Coordenação da Área de Matemáticas e suas Tecnologias
José de Alcântara
 
Organização do Componente Curricular
hideraldo lima da costa

Equipe do Ensino Médio


Ana Lúcia Mendes dos Santos
Antônio José Braga de Menezes
Cileda Nogueira de Oliveira
Dayson José Jardim Lima
João Marcelo Silva Lima
Jeordane Oliveira de Andrade
Kátia Cilene dos Santos Menezes
Karol Regina Soares Benfica
Lafranckia Saraiva Paz
Manuel Arruda da Silva
Nancy Pinto do Vale
Rita Mara Garcia Avelino
Sheyla Regina Jafra Cordeiro

PROFESSORES COLABORADORES
Adriana Tobar Viana
Ana Célia da Silva Mendes
Antônio Carlos Dias Muniz
Austônio Queiroz dos Santos
Carlos Alexandre R. Oliveira
Celeste Conceição Nascimento Cruz
Cybele Morais da Costa
Elyelza da Silva Brasil
Emerson de Carvalho Braga
Fábio Teixeira Lima
Francirlette Gomes da Silva
Francisca Martins de Aquino
Francisco Eleud Gomes da Silva
Franklin da Rocha Lima
Gisele Rodrigues Carneiro
Ione Maria Souza Alves
João Lopes Pereira
José Fernando de Souza
Lenilson Melo Coelho
Lúcia Aleixo dos Reis do Nascimento
Maria Emília Franco Nascimento
Maria Izanilde da Silva Carneiro
Maria Glória Ferreira da Costa
Maria José C. de Almeida
Maria Williany N. dos Santos
Marly França Miranda
Marilene de Andrade França
Marineide da Silva Ribeiro
Maurício J. Bezerra Mendonça
Nilton Carlos da Silva Teixeira
Rejane de Freitas Damasceno
Rozilda Cordeiro da Silva
Sebastião Álvaro de Lira Falcão
Sebastião Rocha da S. Filho
Silvana da Silva dos Santos
Silvio Martel Cardoso
Wanderluce A. de Souza
Washington Luiz C. de Jesus

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