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G RU PO T R I PÉ: A P R I M EI R A D ÉC A DA

Realização:
Grupo Tripé | Ana Quintas, Gustavo Haeser e João Pedreira

Projeto gráfico:
Gabriel Guirá

Produção:
Desvio Produções Culturais | Elisa Mattos

Revisão:
Thaís Costa

www.grupotripe.com
emaildotripe@gmail.com
@grupotripe
05 Texto de
Apresentação 11 Nossa
Trajetória

17 Entre
Quartos 33 O Novo
Espetáculo

45 todo mundo
perde alguma
coisa aos
57 Aquário

oito anos

63 Ocupação
Independente 67 Prêmio
Web

77 Cenas
de Uma
Década
81 Tripé
em Números

82 Agradecimentos
T e xt o d e A p r e s e n t a ç ã o
po r Victor Hugo Le ite

BT-16. Coordenadas em meio a uma cidade em que as ruas não têm nome.
Letras e números em um corredor que vai se enchendo de significado.
Um lugar de passagem, que transformamos em terreno e território de
muitas permanências. Essa sigla (BT-16) nos destina a uma sala do
Departamento de Artes Cênicas da Universidade de Brasília.
Na cidade em que as siglas (per)fazem sentido, escrevem no espaço
uma poesia repleta de letras e números. Grupo Tripé! A memória
também tem suas letras e números, vamos fazendo sentido para as
coisas. 3 é um número que faz a gente pensar Tripé, à primeira
vista, mas, ao mesmo tempo, não dá conta de inúmeras pessoas que já
foram atravessadas por esse grupo. Eu mesmo conheci um grupo de 4.
Eram Davi, Quintas, Gustavo e Miguel. Conheci assim. Embora eu já
conhecesse o Davi e o Gustavo de outras histórias-antes, eu conto
já-já. 10. 10 é um número que faz sentido para nós, na partilha
desse momento e desse texto que nos são presentes agora. 10 é um
número que vem a desenhar a porção de tempo que nós estamos aqui,
juntes, celebrando, mas vocês podem estar se perguntando se eu
estou falando disso num sentido real ou num sentido figurado, né?
Quanto tempo pode caber dentro do tempo? Quanto tempo pode caber
dentro de 10 anos? É aí que vamos tecendo nossos sentidos e
significados para as coisas. Desse jeito que a memória tem de
embalar o tempo, esculpindo nele os momentos (e)ternos que vivemos
juntes.
Esse texto pode estar parecendo um pouco surreal, um pouco confuso,
um pouco incompleto e, talvez, seja porque ele se move entre
memória, tempo, emoção e experiência. Talvez, também, porque ele
não deseja se encerrar em si, aqui, sem vocês, que agora estão lendo
essas palavras, que serão eternamente presentes na boca de quem lê
, na memória de quem se recorda e de quem viveu. Assim como
o teatro, desejo que esse texto seja um eterno presente a este tão
amado acontecimento-aniversariante, que é o Grupo Tripé, que ao
longo de sua vida, com tantas vidas dentro da sua existência, nos
entregou e entrega instantes de paixão, sentimento, reflexão,
brincadeira, exposição, partilha e comunhão. Escrevo para fazermos
um brinde e um hino à memória desse grupo que nos atravessa, escrevo
com uma enorme gratidão, em prece para que minhas palavras finitas
possam dar conta da grandeza dos acontecimentos que evocam o Grupo

05
BT-16 é uma sala do Departamento de Artes Cênicas da Universidade
de Brasília que hoje tem um nome, sala João Antônio, nosso jeito de
dar significado e sentido para os espaços. Foi lá que eu vi pela
primeira vez, no Cometa Cenas, uma peça do Tripé, que ainda estava
em nascência, Entre Quartos. O Tripé já começa em nosso íntimo:
livros espalhados, uma melancolia amorosa, aquela gostosa dor e
ferida de amor, música envolvente, sim, Miguel, você mexeu com a
gente! Aquelas casquinhas cicatrizando boas de cutucar, sabe? Tinha
até cena do balcão de Romeu e Julieta de Shakespeare! Meio, ou, toda
adolescente e, que engraçado, a gente se identifica. Imagina poder
ver este povo do grupo, 10 anos depois, mais adultes, fazendo esse
mesmo espetáculo, tudo novo, de novo, nos trazendo mais e mais
camadas de sentires, impactos, sensações, saudades, sonhos
diretamente no Cena Contemporânea, um dos festivais de teatro mais
importantes da cidade. A gente começa a falar desse grupo, com es
integrantes nos trazendo para a sala de suas casas, para contar e
falar de amor, delus, nosso, nos transportamos para o espaço de seus
íntimos, a gente até se constrange algumas vezes, desabrocham por
dentro delus e de nós. BSS-51/BSS-59 são outras salas-espaços
possíveis de eu ter visto mais versões de Entre Quartos em estado
de nascimento. Ao longo de dez anos, além de nós do público, esta
sala foi casa de convidades especiais, como Ultra Martini, Zé Reis,
Nine Ribeiro em Brasília, no avião e fora dele, em teatros
especiais, alguns falecidos, embora vivos e eternos na nossa
memória, como o Teatro Goldoni, em quebradas e além-mar, nas terras
da Irlanda, movendo corações-continentes, com o movimento e a
dinâmica que precisa ter uma obra viva.
Costumo dizer que as coisas começam antes de começar, as histórias
começam antes do começo. Se pensarmos a história do Tripé como uma
dança, daquilo que vai para frente e também vai para trás,
saudaremos gerações de artistas que vieram antes de nós e claro, as
gerações que vieram antes de artistas que vieram antes de nós. Falar
de teatro em Brasília, no Distrito Federal é se aperceber dessas
gerações que nos formaram e transformaram, EVOÉ! ou AGÔ! para quem
for de AGÔ!
Tenho uma história de como conheci Davi e Gustavo na oficina
Teatrando de Férias com Adriana Lodi no Espaço Cultural Renato
Russo na 508 Sul. A paixão deles pelo teatro me encantou de cara.
Davi, Gustavo, vocês mexeram comigo hehe. Eu que já queria fazer
teatro, quis fazer também. Isso tem 11 anos, me lembro até hoje

1 João Antônio de Lima Esteves é uma das importantes personagens da história do


Departamento de Artes Cênicas da Universidade de Brasília, sobretudo no que diz
respeito à profissionalização no teatro candango. É ator, professor, diretor,
curador, crítico e em 2015 recebeu o título de professor emérito pela UnB.

06
desse tempo especial. Com Davi, fiz um exercício do espelho, o qual
nunca me esqueci de nossa conexão, não sabíamos mais quem era um e
o outro, guiados pela voz de Adriana Lodi, a potência de um
exercício! Quando estava ensaiando para a prova específica de Artes
Cênicas, fazendo uma cena aos berros, nas entrequadras 403/404 sul,
Gustavo, que, muito provavelmente, assistia à sessão da tarde,
ouviu uns gritos e quis saber o que ocorria ali. Ele desceu para
ver o que era e acompanhou com olhar atento o ensaio de minhas
cenas. Existimos assim, em comunidade, partilhamos dentre tantas
coisas, de afeto em rede. Nos apercebemos parte de uma geração.
Naquela época da oficina da Lodi, Davi e Gustavo chegaram a comentar
de outras oficinas que fizeram/faziam com Abaetê Queiroz, de
montagem teatral. Assim como a Universidade de Brasília foi um
espaço de encontro, impulsão e propulsão desses artistas e das
gerações que nos formaram, faço questão de saudar esses espaços de
arte e educação que encontramos ao longo de nossas caminhadas.
Pensar hoje é pensar o antes, para, assim, pensar futuros. Aliás,
falando em pensar futuros, o Tripé fez futuros ao pensar o Novo.
O Novo, que vem para modificar, transformar, sacudir, brincar,
ficar em pé, agir, rir, se soltar, tem tanto verbo para o Novo, que
vem para inventar, propor, não definir, desestabilizar, celebrar,
comungar, ritualizar, narrar. O Novo é uma dessas coisas sobre o
Tripé, que celebramos ali em cima, um encontro de
(intérpretes-criadores, performers), ou melhor, pessoas soltas com
uma figura ancestral, complexa, generosa, inventiva, grandiosa que
é Similião Aurélio. Enquanto Quintas se deslocava para estudar na
Irlanda, Elisa foi uma das pessoas soltas que compôs o espetáculo,
depois do retorno de Quintas, compuseram juntes.
O Novo celebra gerações em estado de encontro e espetacularidade.
Nesse acontecimento, mais que espetáculo, nessa comunhão, mais que
experiência cênica deslizamos entre o jogo das representações,
performatividades, elevando o teatrar, o fazer cênico ao nível do
brinquedo, digno da poesia de Manoel de Barros. É assim que vamos
sentindo, ou simplesmente vivendo as inscrições no efêmero que o
Tripé vai tecendo, desafiando, desfiando e desbravando espaços
não-convencionais, com a encenação engenhosa, conferidora de tanta
vida à trama da epopeia de herois e heroias contra um ditador. E a
iluminação cheia de artimanhas e artefatos? Sim, Quintas, você
mexeu com a gente hehe! Nós nos perguntamos quem somos nesse jogo
e em que sistema estamos vivendo, diante de uma distopia

2 Adriana Lodi, nossa mestra, é uma importante professora, atriz e diretora na


cena teatral brasiliense. Por muitos anos ofertou cursos de teatro no Espaço
Cultural Renato Russo na 508 Sul. Lodi foi e é responsável pela formação de muitas
gerações de atrizes e atores de nosso Distrito Federal, bem como apresenta
contribuições imensas para a comunidade local no cenário da arte-educação.

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assustadoramente tão próxima de nós.
O Novo Espetáculo (Tudo está a venda), carinhosa e engenhosamente
apelidado, semantizado como O Novo é um convite ao brinquedo, linda
história bailada, festejada e vivida por tantos tempos, espaços,
gentes e anos. Anos que, para mim, se tornam tantos, se retomarmos
a pergunta: Quanto tempo há dentro do tempo? Inclusive,
recentemente, ou nem tão recentemente assim dependendo de como
vocês sentiram esse tempo. Em 2020, o Novo teve uma de suas
vivencialidades lindamente presentificada, eternizada semanas
antes dessa onda toda de COVID-19 nos atravessar dessa forma, que
coisa, né? E de Novo, teríamos que lidar com O Novo, de Novo!
Neste livro tão precioso de memórias, imagens, relatos vivos de
experiência, documentos de cena, afetividades em trânsito você
encontrará um entrecruzamento entre Tripé e Liquidificador,
importantes grupos quando falamos desse aniversário de 10 anos do
Grupo Tripé e do que memoramos desse intervalo de 2012-2022 na
história do teatro do DF.
O Grupo Liquidificador é um desses que marcaram a geração que veio
alguns anos antes da minha e da de algumas pessoas do Tripé. O
espetáculo Aquário apresenta instâncias de performatividade,
invenção e tecnologias da encenação-iluminação aplicadas ao
espetáculo e acontecimento cênico que deslinda contornos clássicos
de operação, concepção, desenho e executividade desse elemento em
cena. Coisas que nos orgulhamos, coisas típicas de Ana Quintas, que
mexe com a gente, que revoluciona poéticas da luz, a partir de
espaços não-convencionais ou de não-convencionalidades luminosas
para espaços convencionais, em um jogo de subversão e ocupação
inventiva da cena. Subversão e ocupação quando percebemos a
importância de sua presença em uma cena de iluminação ainda marcada
pela presença masculina, entre de machismos e misoginias
estruturais. Alegria de destacar a assinatura desse
iluminadore-criadore em tantas produções brasilienses. Quintas
percebeu a oportunidade de integrar Tripé e Liquidificador por meio
da assunção e concepção de uma Equipe Invisível de iluminação,
lindezas poéticas, estéticas de uma engenharia espetaculosa que
vocês poderão conferir em páginas mais à frente e na própria
dissertação dele.
Essa vontade de fazer junte, de comungar, de trocar, de pesquisar,
de encontrar que o Tripé movimenta não parou por intercâmbios com

3 Abaetê Queiroz é um importante artista da cena teatral brasiliense, que possui


atuação múltipla com trabalhos entre ator, diretor, oficineiro e nas tecnologias
aplicadas ao espetáculo. As oficinas de Abaetê também marcaram algumas gerações
do teatro candango, como nossos queridos Davi e Gustavo, por exemplo.

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artistas de diversas gerações que aconteceram desde as primeiras
peças do grupo, entre elencos, criações e direção. A prática
coletiva e colaborativa foi guiando o grupo em composições
múltiplas, refletindo, criticando e propondo ações que movimentaram
e movimentam a cena contemporânea de teatros em Brasília.
No espetáculo Todo mundo perde alguma coisa aos oito anos, vemos
essa energia gostosa do Tripé de continuar fazendo junte, mesmo
quando o caminho é por uma estrada mais autônoma, digo isso porque
foi a direção do Gustavo, mas a realização é do grupo, elus sempre
estão jogando juntes e reunindo mais gente para estar no jogo, gente
que ama estar, que é atravessada por, gostoso é ler e ouvir quem
fez parte, sempre com essa vontade de pensar e movimentar seus
lugares no mundo.
Ainda nessa pulsão coletiva, o Grupo Tripé promoveu a Oficina de
Investigação Cênica em Processo Coletivo, uma Ocupação Independente
e o Prêmio Web de Teatro do DF. Essas iniciativas nos retomam e
recolocam como comunidade de pessoas fazedoras de teatro no DF,
impulsionando e mobilizando distintas e diversas gerações do setor
de cultura e economia criativa em nosso território. Aqui, me
arrisco em pluralizar o tom coletivo do discurso, a primeira pessoa
do plural, assumir o nós, porque o Tripé nos convida a fazer parte
da festa, movemos afetos, reconhecimentos, saberes, emoções,
pensamentos nesses dez anos com esse grupo. O Prêmio Web de Teatro
do DF trouxe uma partilha comunitária, democrática e celebrativa de
visibilidade das realizações e produções artísticas de nosso tempo,
de nosso aqui e agora, comemoramos o movimento redivivo de um teatro
que assume diversos elencos, diversas representatividades,
estéticas e representações. Uma premiação nossa, que termina em
rito de encontro, daquelas, daqueles, daquelus que se misturam a
mística e mágica experiência do fazer com e em comunidade, saudando
as origens de nossas artes espetaculares.
de nosso aqui e agora, comemoramos o movimento redivivo de um teatro
que assume diversos elencos, diversas representatividades,
estéticas e representações. Uma premiação nossa, que termina em
rito de encontro, daquelas, daqueles, daquelus que se misturam a
mística e mágica experiência do fazer com e em comunidade, saudando
as origens de nossas artes espetaculares.
Parabéns, palavra que trazemos nos aniversários. Bravo! Palavra que
nos sai da boca diante do espetáculo da vida. Vida longa! Nosso
desejo para contar e recontar as histórias tantas de nosso amado
Tripé ao longo de mais e mais tempo. Muito obrigado! Nosso
agradecimento aos eternos e efêmeros mo(vi)mentos que
experimentamos junto e com o Grupo Tripé. Fé! Porque temos que
acreditar para seguir. Esperança! Porque ela tem vindo a partir de
suas ações.

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No meio desse texto, falei de alguns falecidos teatros em nossa
cidade, acho que fui duro demais, graças a nós, gentes de teatro,
entre profissionais e públicos, os teatros nunca morrem, se
eternizam, no jeito que a gente faz as eternidades bailarem em nossa
memória e de efêmeros, só nos restam os momentos, pois nos tomamos
de um sentimento que se faz presente, este é o meu para vocês, hoje,
Quintas, Gustavo, Miguel, num ontem, bem pertin, Davi, um cheiro em
todes passantes, transformantes, amantes, encenantes, ficantes,
realizantes.
entre profissionais e públicos, os teatros nunca morrem, se
eternizam, no jeito que a gente faz as eternidades bailarem em nossa
memória e de efêmeros, só nos restam os momentos, pois nos tomamos
de um sentimento que se faz presente, este é o meu para vocês, hoje,
Quintas, Gustavo, Miguel, num ontem, bem pertin, Davi, um cheiro em
todes passantes, transformantes, amantes, encenantes, ficantes,
realizantes.

Te amo, Tripé!

Com amor profundo,


vhfro

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Nossa
Traje t ó r i a
Com 10 anos de trabalho continuado, o Grupo Tripé
iniciou sua trajetória entre as quadras do Plano
Piloto, misturando experiências das escolas de teatro
da capital com referências acadêmicas da Universidade
de Brasília. Os processos, a criação e a administração
do grupo são influenciados pelos conceitos de teatro de
grupo e teatro em estado de encontro, até então
marcados também por construção de dramaturgias
autorais, uso da iluminação enquanto ferramenta de
criação e a discussão de questões ligadas à juventude.
09
j u lh o Queremos ser um grupo de teatro.
2 0 12

2 01 4 O Grupo Tripé estreia seu 1º espetáculo, Entre Quartos,


que por meio de um financiamento coletivo faz
temporada no Teatro Goldoni;
É convidado pelo Grupo Liquidificador a integrar o espetáculo
Aquário como Equipe Invisível, trabalho de operação de luz,
som e contra regragem em espaço alternativo;
Entre Quartos é aprovado no Edital de Ocupação dos
Espaços da CAIXA Cultural 2015-2016.
2 01 5 O Grupo Tripé estreia sua 2ª montagem, O Novo Espetáculo
(Tudo Está à Venda), com direção de Similião Aurélio e
participação especial da Oficina e Bloco Eletrônico PATUBATÊ,
a produção foi financiada pela loja virtual-performática
do grupo;
Participa da oficina Capacitação: Caminhos para a
Produção Nacional e Internacional, com Marcelo Bones (MG),
pelo Cena Contemporânea 2015;
Apresenta de forma independente a 2ª temporada de
Entre Quartos, no Teatro Sesc Garagem.

2 01 6 Participa do projeto ULTRA-TROCA, com o Grupo Liquidificador,


resultando em performance apresentada na peça-festa
Ultra-Romântico, no Subsolo do Teatro Dulcina;
Ocupa a Caixa Cultural Brasília com a 3ª temporada do
espetáculo Entre Quartos e a oficina Investigação Cênica
em Processo Coletivo;
Realiza o projeto Ocupação Independente no Teatro Plínio
Marcos e Área Externa da Funarte, mostra de espetáculos
independentes de Brasília, produzida e financiada pelo Tripé
com espetáculos da Andaime Cia. de Teatro, Cia. viÇeras,
Grupo 1/Quarto, Grupo Liquidificador e Trupe Raiz do Circo;
Realiza a 2ª temporada de O Novo Espetáculo (Tudo Está à
Venda), contemplada em 1º lugar na sua linha de apoio pelo
FAC - Fundo de Apoio a Cultura e realizada no USINA Centro
de Arte e Entretenimento de julho à dezembro;
Entre Quartos recebe o Prêmio SESC do Teatro Candango:
Melhor Dramaturgia e Melhor Ator (Gustavo Haeser), sendo
indicado também as categorias Melhor Direção (O Grupo),
Melhor Sonoplastia (João Pedreira), Melhor Ator (Davi Maia),
Melhor Atriz (Ultra Martini), Melhor Figurino (Fernanda
Alpino) e também Melhor Espetáculo.

2 01 7 Realiza Oficinas de Iniciação Teatral no Centro de


Ensino Médio Setor Leste;
Faz a produção e assessoria de três edições do Workshop
O Ator em Caos Criativo, com Rosanna Viegas;
Entre Quartos integra a programação local do
Festival Palco Giratório;
Entre Quartos é selecionado para o Dublin Fringe Festival,
na Irlanda, onde realiza 6 apresentações no
Studio 2 - The Lir Academy;

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2 0 17 Entre Quartos é selecionado para o XIX Festival do Teatro
Brasileiro e realiza duas apresentações no Galpão 4 da
Funarte Belo Horizonte;
Apresenta o projeto musical Eletronicidades e Os Gêmeos da
Destruição, com composições de João Pedreira;
Participa do projeto Teatro Bar - ANO 1, apresentando a 4ª
temporada de Entre Quartos;
O Novo Espetáculo (Tudo Está à Venda) recebe o Prêmio SESC do
Teatro Candango nas categorias Melhor Espetáculo, Melhor
Dramaturgia (Similião Aurélio e Grupo Tripé) e Melhor Direção
(Similião Aurélio), sendo indicado também em Melhor Iluminação
(Ana Quintas), Melhor Sonoplastia (Luiz Alberto Pires),
Melhor Atriz (Ana Quintas) e Melhor Ator (João Pedreira).

2 0 18 Entre Quartos é aprovado no FAC - Fundo de Apoio a Cultura


para circulação em Ceilândia, Taguatinga e Gama;
O Novo Espetáculo (Tudo Está à Venda) integra a programação
local do Festival Palco Giratório;
É convidado pelo Teatro do Concreto a participar da oficina
Dramaturgia Expandida, com João Dias Turchi, parte do projeto
Concreto Expandido;
Participa como Equipe Invisível da 2ª temporada de Aquário,
do Grupo Liquidificador, trabalho de operação de luz, som
e contrarregragem em espaço alternativo;
Participa da oficina Internacionalização Teatral, com Iva
Horvat (Croácia), pelo Cena Contemporânea 2018;
O Grupo Tripé estreia sua 3ª montagem, todo mundo perde alguma
coisa aos oito anos, com direção de Gustavo Haeser.
O espetáculo faz sua primeira temporada na Casa dos Quatro;
Lança o projeto Prêmio Web de Teatro do DF, iniciativa
voltada a celebração e valorização das artes cênicas do DF.

2 0 19 Realiza, com recursos próprios, a Noite de Premiação, evento


de encerramento do 1º Prêmio WEB de Teatro do DF, anunciando
as produções e projetos de mais votados de 2018 pelo público,
contando também com homenagens a 5 iniciativas virtuais
ligadas ao teatro do DF, sendo elas: Trabalho de Mesa,
Precisamos Falar De, Inventários de Cenas, Ana Tirana e Rotina
Equilibrada
Realiza o projeto Conexões Locais, em comemoração aos 05 anos
em cartaz do espetáculo Entre Quartos, circulando com a peça
e a oficina Investigação Cênica em Processo Coletivo pelo Sesc
Paulo Autran, Sesc Newton Rossi e Sesc Paulo Gracindo;
Lança o álbum Entre Quartos em CD e nas plataformas
digitais, a trilha sonora original do espetáculo composta
por João Pedreira;
Seguindo as comemorações dos 05 anos em cartaz de Entre
Quartos, realiza temporada no Bem Te Vi - Restaurante,
Café e Algo Mais;
Realiza, de forma independente, a 2ª temporada de todo mundo
perde alguma coisa aos oito anos, na Sala Multiuso do Espaço
Cultural Renato Russo;

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2020 Realiza o Ciclo de Debates do Prêmio Web de Teatro do DF,
reunindo nas mesas alunos das instituições de graduação em
artes cênicas do DF, gestores de espaços culturais e grupos
com experiência em circulação, além de uma roda aberta
sobre censura nas artes;
Realiza, com recursos próprios, a Noite de Premiação, evento
de encerramento da 2ª Edição do Prêmio Web de Teatro do DF
2019, anunciando as produções e projetos mais votados pelo
público, contando com homenagens a Hugo Rodas, Iara
Pietricovsky, Alexandre Ribondi e também a 3 iniciativas
virtuais ligadas ao teatro do DF, sendo elas: Vá Ao Teatro,
3 Perguntas e @teatrobsb;
Em comemoração aos 05 anos em cartaz com O Novo Espetáculo
(Tudo Está à Venda), realiza, de forma independente, curta
temporada no Teatro Sesc Garagem, com apoio do Programa de
Incentivo à Produção Cultural do SESC DF;
Adere a campanha #TeatroParaTemposIsolados, disponibilizando
todo o repertório de espetáculos do grupo de forma gratuita e
aberta durante o isolamento social em decorrência da pandemia
de Covid-19;
Junto de outros 7 coletivos teatrais da cidade, faz nascer
e se integra a GARRA - Grupos de Artistas em Rede Associada;
Junto aos coletivos da GARRA, integra a programação do
Cena Contemporânea 2020 - Festival Internacional de Teatro
de Brasília;
É aprovado no edital Aldir Blanc Gran Circular,
realizado pela SECEC - DF.

2021 O grupo começa a desenvolver o projeto CENAS DE UMA DÉCADA:


teatros de grupo do DF, aprovado na categoria Patrimônio
Histórico e Artístico, Material e Imaterial do Edital FAC
Brasília Multicultural I.

2022 Realiza o chamamento para coletivos da cidade integrarem a


exposição CENAS DE UMA DÉCADA: teatros de grupo do DF,
totalizando ao final do processo de curadoria mais de 60
grupos participantes;
Entre Quartos é selecionado para a 23ª edição do Cena
Contemporânea - Festival Internacional de Teatro de Brasília.

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Entr e
Quar t o s
Três pessoas vivem um triângulo amoroso confinadas dentro de um
apartamento, do momento que se conhecem e decidem morar juntas até
a decisão de terminarem o relacionamento. Um homem se preparando pra
mudar, pega seu violão e relembra tudo que viveu morando ali.
A sala-de-estar abriga as quatro personagens e, de forma não-linear,
mistura realidade, memória, presença e ausência, criando uma
dramaturgia sensível que versa sobre o amor, sobre estar apaixonado
e sobre o fim.
“owem foi dia de gerg no nosso apartamewo.
limpamos os tapbes, piwamos as paredes,
arrumamos os livros em ordem gffética,
compramos gmofadas novas pro sofá velho, trocamos
de cadeira. agora só fxam três caixas.”
10 de fril de 2014
EN T RE QUARTOS
CO M EÇOU...
Entre Quartos estreou em uma quinta-feira, mais precisamente dia 10
de abril de 2014, na sala Adolfo Celi do Teatro Goldoni para uma
plateia recheada de pessoas queridas que tinham sido colaboradoras
da nossa campanha de financiamento coletivo, e que eram as grandes
responsáveis por conseguirmos levantar essa primeira temporada. Além
das colaboradoras da campanha, também convidamos artistas e
coletivos de Brasília para conhecer o nosso primeiro espetáculo.
Essa noite, que chamamos de pré-estreia foi muito especial, pois
havia uma sensação de estarmos finalmente colocando o Tripé no
mundo. A temporada oficial seguiu do dia 12 de abril ao dia 27, três
finais de semana, aos sábados e domingos. Porém, Entre Quartos
começou a ser gerado dois anos antes de sua estreia oficial,
iniciamos o processo de criação do espetáculo em julho de 2012, após
a fundação do grupo no dia 9 do mesmo mês. Esse processo de criação
foi o que marcou os dois primeiros anos do grupo. Na época, estávamos
interessades em experimentar, em nos jogar em horas a fio de
improvisos, inventar textos, cenas, músicas.
Não tínhamos tanta pressa em estrear logo, queríamos usufruir do
processo, no qual experimentamos a criação coletiva e assumimos
juntes a direção e a dramaturgia. E assim foi, ao longo desses 2
anos, aproveitamos a presença da Quintas como aluna da UnB e fizemos
da mostra de final de semestre do curso de Artes Cênicas, o Cometa
Cenas, o nosso lugar para fazer testes e experimentar o que
estávamos criando com o público. Fizemos então três ensaios abertos:
O primeiro chamado Bloco 3 (dezembro de 2012), o segundo chamado
Eloquência (junho de 2013) e o terceiro já chamado de Entre Quartos
(dezembro de 2013).
E por fim no início de 2014, decidimos que era hora de sair dos
palcos universitários e colocar profissionalmente o espetáculo no
mundo. Fizemos uma campanha de financiamento coletivo, arrecadamos
um mínimo possível para se levantar uma peça — salvo engano algo em
torno de R$ 5000,00 — convidamos pessoas amigas e amores para compor
a equipe, e aqui fazemos um adendo especial para Nine que chegou para
trabalhar como assistente de direção, mas além disso colaborou de
forma maravilhosa na dramaturgia, e para Fernanda Alpino que
colaborou na concepção dos figurinos e seguiu depois dali sendo uma
super parceira, operando as luzes e sendo uma espécie de conselheira
oficial. Compramos o nosso sofá, os figurinos, a samambaia,
desenhamos de próprio punho o primeiro cartaz, e conseguimos assim
fazer a primeira temporada desse espetáculo que depois dali ganhou
asas e voou.

20
D ep o i m e n t o
L eon a r d o
S ham a h

Sábado passado fui convidado para assistir um espetáculo de uns


moleques da UnB que ganharam um financiamento colaborativo e que
estão em cartaz na Sala Adolfo Celi, na Casa D'Itália. Eu fui.
Daquele meu jeito de muito mau humor interno, nem reclamei da vida.
Só falei que eu não gostava de teatro e como eu não estava na Marília
Gabriela ninguém me encheu a paciência. Daí assisti a peça Entre
Quartos, do Grupo Tripé. Fico a-d-m-i-r-a-d-o com a força que só a
juventude dos 20 anos tem. Eles falaram de relacionamento, de
amizade, de amor, dos vazios pessoais, de como viver juntos, entre
tantos quartos que estamos, das lacunas, das coisas que não foram
ditas. Enfim, os atores se disponibilizam a um jogo que muito me
interessa no meu processo criativo que é, o jogo das próprias
descobertas.
Nunca tinha visto gente tão jovem, em Brasília, dizendo e fazendo
algo tão particular sem o olhar e sem o dedo de um grande
diretor-professor. Gostei do compromisso que os atores têm com a
busca de uma verdade, com a busca de uma linguagem. Eles conseguiram
me surpreender muito. Confesso que não esperei aquilo tudo. Alguém
pode me perguntar: mas é tão bom assim? Não tem nenhum problema?
Penso que sempre haverá um problema. É Teatro, ou seja, tudo pode
estar bem e aí, nesse bem está o problema. Resquícios que o Teatro
roubo da vida. Voltando, sim sempre teremos problemas, mas vale
muito a pena ver atores jovens que batem de frente com suas
limitações e tentam virar o jogo.
O  espetáculo propõe outra forma de interpretação, quando em geral
nessa  idade os atores estão perdidos em arremedos de teatro
clássico, em Entre  Quartos eles se colocam para chegar nesse lugar
em alguns momentos(que  pra mim são os piores). Alguém me falou do
quanto eles são blasé(é o que  eu mais gosto e acho que podem ser
ainda mais). Alguém e eu lembramos  do teatro argentino(não me
incomoda, até acho legal). Alguém e eu  pensamos que eles parecem

21
Fiquei feliz de ter presenciado essa estreia na vida profissional
naquele lugar onde eu também comecei. Cheguei em casa e fiquei
pensando no poder de transformação do pensamento e da ação jovem,
daquilo que ainda não se contaminou com as nossas carcaças
ideológicas. Fiquei feliz de ver que tem gente que escolhe o caminho
que quer trilhar, com os recursos que tem, do jeito que quer e pode.
O espetáculo propõe outra forma de interpretação, quando em geral
nessa idade os atores estão perdidos em arremedos de teatro
clássico, em Entre Quartos eles se colocam para chegar nesse lugar
em alguns momentos (que pra mim são os piores). Alguém me falou do
quanto eles são blasé (é o que eu mais gosto e acho que podem ser
ainda mais). Alguém e eu lembramos do teatro argentino (não me
incomoda, até acho legal). Alguém e eu pensamos que eles parecem
hipsters, meio neo-punk suave (ótimo, os atores exploram a
humanidade dentro desse universo, e isso é bom). Enfim, de novo,
adorei e se eu fosse você iria assistir nesse fim de semana.
Vale a pena!

18 de abril de 2014
em sua página pessoal de Facebook

22
E N T RE QUAR TOS SEGUIU.. .

Depois da primeira temporada de Entre Quartos, a peça nunca mais


parou, foram inúmeras, temporadas, apresentações, participações em
festivais, viagens e prêmios. Mudanças de elenco, de texto, de
espaço. A verdade é que se em algum momento, lá no início da história
do espetáculo a gente achava que ele tinha uma estética jovem demais,
fomos descobrindo que o espetáculo faz tão parte da gente que ele
ganha maturidade junto com a gente, e que quanto mais maduros vamos
ficando, mais contornos complexos o espetáculo vai ganhando.
Foi com Entre Quartos que passamos pela primeira vez em um edital,
com o qual ocupamos o Teatro da Caixa Cultural em Brasília por um
final de semana no início de 2016. Foi nesse mesmo ano que o
espetáculo entrou na programação do Prêmio Sesc do Teatro Candango,
concorreu a melhor espetáculo, figurino, atriz, ator, trilha sonora
e acabou saindo com os prêmios de dramaturgia e ator para Gustavo
Haeser.
Foi também em 2016 que experimentamos a primeira mudança de elenco,
Ana Quintas foi fazer um mestrado em Dublin na Irlanda e para
substituí-la, Ultra Martini começou a compor o elenco. Em 2017, a
trajetória do espetáculo ultrapassou as linhas geográficas e fez sua
estreia em palcos fora do DF. Ao mesmo tempo, recebemos no elenco Zé
Reis, que entrou para substituir Davi Maia. O espetáculo fez
temporadas em Belo Horizonte, como parte do Festival de Teatro
Brasileiro, e em Dublin, como parte do Fringe Festival.
Em 2019, o espetáculo seguiu ganhando mais fôlego e em uma temporada
comemorativa de 5 anos desde sua estreia, foi apresentado em
Taguatinga, Gama e Ceilândia no Distrito Federal. Foi nesse ano
também que a dramaturgia do espetáculo ganhou novos contornos a
partir da observação minuciosa ocasionada pelas mudanças de elenco,
mudamos textos de lugar, entendemos melhor sobre certas cenas,
sentimos o amadurecimento do espetáculo a partir do nosso próprio
amadurecimento.
A verdade é que se pudéssemos Entre Quartos poderia ter um livro
apenas dele, de tantas histórias que o atravessaram e seguem
atravessando. A única certeza que temos é que esse espetáculo hoje
tem vida para além de nós e segue reverberando em corações pelo mundo
a fora. O desejo é seguirmos fazendo, seguirmos amadurecendo,
seguirmos amando e nos propondo a estar em um eterno processo de
criação, desconstrução e reelaboração. Essa talvez seja uma das
características mais incríveis desse espetáculo, a sua capacidade de
se transformar com o tempo e de seguir sendo parte do presente.

23
Mensagens
do
Púb l i c o

24
D ep o i m e n t o
Zé Reis Era um dia comum quando recebi um
convite urgente para fazer a peça
Entre Quartos no lugar do artista
imenso que é o Davi Maia. Assim o Tripé me trouxe de volta
ao teatro quando eu não acreditava mais no ator que eu
sou. Eu achava que não fosse dar conta, mas o Davi foi
generoso e disse que confiava em mim para o papel.
Rapidamente eu me apaixonei pelo texto, pelas músicas,
pelas possibilidades de intervenção. Pude trazer o que
tinha de precioso e ali encontrei um novo espaço para
existir. Voltei a decorar texto, a contracenar e perdi o
medo de atuar que estava latente em mim.
A peça já estava pronta, mas quando eu entrei era como se
tudo estivesse recomeçando. Para mim, era sempre novo
falar “Oi” e ouvir o silêncio da Quintas. Enfrentar o
Gustavo na cena me ajudava a ser mais firme na vida,
enchendo as palavras de verdade. Ouvir o som do João e
cantar baixinho me deixava mais doce. Falar de amor fez
ser possível eu me apaixonar de novo e de novo. Voltei a
ser um jovem apaixonado pelo teatro, pelos atores, pelo
público, pelas andanças. Me apaixonei em Brasília, em
Belo Horizonte e em Dublin. Vivi um frescor raro com
Quintas, Fernanda, João, Gustavo e Ultra.
Tomava vinho até ficar de boca roxa na Irlanda, brincando
de fazer teatro contemporâneo à beira do rio. Pela
primeira e última vez cruzei o Atlântico, cheio de orgulho
de mim e de nós por fazermos um longo voo para mostrar ao
mundo nossa singularidade artística. Sempre lembro dos
meninos e agradeço por terem me levado junto, eu sem um
centavo no bolso na época, mas amparado por eles que até
roupas compraram para mim no exterior. Eles também
conheciam meu sol em touro e faziam questão de escolher o
bolo para a cena do biscoito. Quando não era bolo, era
doce de leite de Viçosa comprado em Belo Horizonte para
eu me lambuzar enquanto dançava com a Ultra e depois com
a Quintas.
Nunca me esqueço do quanto abri meu coração e meu sorriso
para me aproximar desses artistas e falar de amor e de
juventude, arriscando um inglês terrível no aeroporto de
Addis Ababa na companhia da master tradutora
international Fernanda Alpino, esse anjo do grupo que
acompanhava com rigor e delicadeza todos os detalhes da
obra, de um texto esquecido a uma mudança de luz, sem
falar dos acolhimentos, dos pratos maravilhosos e da
companhia generosa. Aguardo vocês em Teresina!

25
Depoiment o
Uma das minhas maiores felicidades
do teatro foi realmente ter podido
Ul t r a
participar um pouco do rolê do
Tripé! Que delícia! Foi tipo me Martini
jogar na roda com geral e deixar o
amor do fazer teatro tomar conta. Essa parceria me
atravessou de tal forma que ouço aquelas canções no Spotify
na minha própria sala com meu próprio vinho e meus próprios
amores. Fazer é um pouco ser, saquei isso no primeiro ensaio
que eu tive com elus. Gus, meu generoso, pró-criativo e meu
primeiro guia pessoal na família tripé. Quintas a pessoa
mais doce, entregue e divertida que me fez sentir como se
eu estivesse em casa. João praticamente me viu crescer junto
com ele nos nossos destinos artísticos, ele e seu violão
foram sempre canto pra cantar e canto pra estar dentro do
grupo. E tantos outros artistas que cruzaram comigo por
estar lá com eles. Tá aí, quero ver Tripé ganhar o Brasil,
quero ver Tripé amar no mundo. Um ultra-beijo para vocês.
Depoimento
Nin e

A primeira vez que publiquei uma carta para o Grupo Tripé foi no
dia 8 de junho de 2015, pré-golpe. Hoje é 10 de junho de 2022. 7
nos de lá pá cá, o mundo conseguiu ficar pior. Como eu publicava
no blog sem ser blogueirinhe, o texto passou despercebido. Peço
licença para trazê-lo de volta, pois o sentimento comeu o próprio
rabo e ficou maior. A carta me lembra o quanto eu sempre estive
a fim de vocês, a ponto de inventar um lance de investigação só
para encontrar vocês no rolê.
Dizia assim:
“Tenho acompanhado vocês em busca de inspiração para escrever um
texto sobre vocês. Tudo começou, porque eu queria sair de casa
naquele dia do picnik. Era terça-feira, 21 de abril. Deveria ser
proibido feriados na terça, porque eles são mais deprimentes que
o domingo. É tipo um intervalo de escola, ‘tá legal galera 15
minutos e já voltamos’. E o que a gente faz se o intervalo dura
o dia todo e você tá deprê? Para onde eu vou? Minha família não
era mais a mesma e eu havia cansado de todes meus amigues, lá em
casa, ressaqueades do tédio da noite passada. Eu a fim de
movimento — ficar deprê pra quê? — vi no jornal que vocês iam se
apresentar no parque. Pronto, já sabia o que queria fazer no
feriado. Investigação, pesquisa! Peguei o buzão. Cheguei na
apresentação pronte para uma terça inesquecível, me atrasei. Que
espécie de jornalista é essa que não chega a tempo de pegar seu
flagrante? Conversamos meia dúzia de palavra sobre brincadeira
de criança, gravamos uns vídeos... Perdi tudo. Nada realmente
foi usado. Aquela investigação não era real. Na vera, era. Eu
estava ali em busca de amizade. Gosto de vocês. Sei lá! Vocês são
legais para caralho, tipo gente descolada, tipo gangue do mal que
todo mundo quer ser amigue. Esse tipo de gente me deixa louca de
vontade de tá junte. Esperei sair de lá com vocês, mas vocês
foram tirar uma foto de grupo. Eu fiquei de fora. Achei outros
amigues e vida que segue.”
Sinceridade. É o que dá pra oferecer em tempos de guerra. Escrevi
essa carta 1 ano depois de termos trabalhado juntes para a
estreia do “Entre Quartos”, no demolido (por que será?) Teatro
Goldoni. Lembro do nosso primeiro ensaio, experimentações
Lecoquianas, as 7 energias do corpo, que começa na “larva” e

27
e termina com o “alerta”. Na época eu queria que o corpo de vocês
saísse da atitude “adolescente”. Engraçado, hoje faço parte do
elenco do “Entre” e tudo que o meu corpo mais quer é lembrar como
é ser adolescente, sentir tudo como se fosse a primeira vez.
Precisar sem culpa. Sem desculpa. Não tem ilusão. Eu quero estar
junte e continuar escrevendo cartas de amor, brincando joguinhos
de reaproximação.
Esse ano vocês me chamaram para dar rolê, eu estava aqui só
esperando. De olho, a fim de mais um lance, comer biscoito, tomar
café, F1. Dar continuidade ao que nunca acaba — o nosso tesão. E
a gente segue metendo as caras. Se mantendo. Gratidão pelas
trocas e pelas aventuras que vivemos juntes. Do fundo do meu
introspectivo, grito aos quatro cantos: Vida longa ao Grupo
Tripé! Meu xodó.

28
Depoimento
Giov a n n a L i s b o a

É sobre amor. Entre Quartos movimenta muitos afetos aqui dentro.


Seria uma traição não falar a partir de um olhar profundamente
apaixonado. Porque, do início ao fim, é sobre amor. No momento em
que põe os pés no palco, o grupo Tripé te imerge no cenário do
romance jovem que é despretensioso, mas com todas as pretensões, e
no completo caos rotineiro do gozo do amor. O sentimento de
nostalgia te afeta como se estivesse visitando o cenário dos dias
de um amor pregresso. A nostalgia é tanta, a conexão é tanta... Que
como público e ainda assim do lado do grupo, não me abstive da
relação com o outro. Completamente encarregados das maquinações do
ser, me fizeram cair de amores. As trocas de olhares que nos chegam,
o flerte, o mistério.
Segui o caminho mais clichê — em todas as suas boas conotações — e
me apaixonei. Voltei mais uma vez. E outra. Só mais uma última — que
mentira. O eterno retornar àquele amor me tornou meticulosa, quis
internalizar cada detalhe de minha paixão. Me encarreguei do fardo
feliz de testemunhar as flutuações de presenças em cena.
A narrativa se modificava a cada elenco, as dinâmicas de paixões se
transformavam e o grupo continuava a criar outras histórias de amor,
tão envolvente e doloridas quanto as que vieram antes. A (re)criação
se torna uma amante feroz e bem-vinda. E da mesma forma, o retorno
sempre carrega um tesão de um novo amante. A verdade é que não vejo
outro caminho senão o de retorno. Porque é tudo sobre amor. E desse
amor, não pude viver sem. Mesmo dos sufocamentos da vida, continuam
a fazer carnavais em cena. Continuam a fazer carnavais no meu
estômago. Continuem os carnavais.
F i c h a t é c n i ca
Ent r e
Qua r t o s
direção
GRUPO TRIPÉ | ANA QUINTAS, GUSTAVO HAESER E JOÃO PEDREIRA

texto
GRUPO TRIPÉ, BEATRIZ ROEDEL, JULIANA MOTTER e adaptações
de CAIO FERNANDO ABREU, TCHEKOV, MOLIÉRE e CARPINEJAR

dramaturgia
GRUPO TRIPÉ e NINE

elenco regular
ANA QUINTAS, GUSTAVO HAESER e JOÃO PEDREIRA

outros atuantes
NINE, ULTRA MARTINI e ZÉ REIS

iluminação
ANA QUINTAS e GRUPO TRIPÉ

trilha sonora original


JOÃO PEDREIRA

figurinos
FERNANDA ALPINO e GRUPO TRIPÉ

cenografia
GRUPO TRIPÉ

identidade visual
GABRIEL GUIRÁ e LUISA MALHEIROS

equipe de criação
ANA QUINTAS, DAVI MAIA, GUSTAVO HAESER e JOÃO PEDREIRA

direção de produção
GUSTAVO HAESER

produção associada
ELISA MATTOS | DESVIO PRODUÇÕES CULTURAIS

realização
GRUPO TRIPÉ

32
O No v o
E spe t á c u l o
Tu d o E stá à Venda
Imagine um mundo onde a música foi banida e o único sistema de som
se encontra nas mãos de um ditador...
O Novo Espetáculo (Tudo Está à Venda) é um experimento de teatro
altamente interativo, um lugar onde tudo pode acontecer, um convite
a dançar e celebrar a alegria de estar vivo e a capacidade de superar
os desafios.
S obre o
p roc e s s o

O processo do NOVO começou em 2014, quando decidimos montar um novo


espetáculo após o ano de estreia de Entre Quartos. Nessa decisão, o
nome de Similião Aurélio veio para a roda e numa mistura de
nervosismo e alegria, em uma tarde de dezembro de 2014, sentamos com
ele em um café para fazermos o convite para que ele assumisse a
direção do nosso segundo espetáculo. Saímos do café com dois
objetivos: estrear em maio de 2015 e fazer uma peça que fizesse as
pessoas saírem do teatro com uma sensação de alegria e de coragem
para fazer aquilo que o coração delas mandasse.
Era janeiro quando o processo de criação começou, nosso primeiro
encontro foi na garagem do centro de convenções de Brasília, ali,
com um engradado de água mineral e uma caixa de som, Similião nos
esperava. Não demorou muito para estarmos correndo, pulando e
cantando músicas por essa garagem. Os ensaios se dividiam em ensaios
com uma cara mais tradicional, em uma sala de ensaio, com improvisos
e leitura de textos etc. e em ensaios em lugares como parque da
cidade, gramados, galpões na natureza. Pulando cordas, jogando cocos
verdes pra cima, brincando de pique-pega, misturando brincadeiras
com depoimentos pessoais, as vezes batia uma dúvida cruel de o que
será que vai ser isso que estamos criando?
Em um ensaio, quando faltava um pouco mais de um mês para a estreia,
Similião trouxe a proposta de trabalharmos em uma história com
moldes tradicionais da mitologia do herói. Em poucos ensaios criamos
a história de um pós-guerra em 2103, um ditador, um herói, um
oráculo, uma heróia. Aos poucos, textos foram se misturando às
brincadeiras e as brincadeiras foram ganhando contornos de cena, as
cenas contornos de brincadeiras e percebemos que o espetáculo
caminhava para um lugar de ser um grande jogo entre o elenco e o
público. Foi a partir dessa percepção que eliminamos as cadeiras e
decidimos que o público iria ficar em pé com a gente, na mesma altura
que nós, caminhando pelo espaço e livre para poder brincar. Aqui
gostaríamos de fazer uma citação especial para Luís Alberto Pires,
que construiu uma trilha sonora de tirar o fôlego e que fazia com
que a atmosfera do jogo se instalasse de maneira naturalmente
deliciosa.

35
Estreamos em maio e fazer um espetáculo que fosse vibrante,
pulsante, que celebrasse o fato de estarmos vivos. Entre andaimes,
batatinha-fritas 1,2,3, pulando cordas, contando a história de como
um herói destruiu um ditador em um mundo pós-apocalíptico, leilão de
cenas, músicas e finalizando com a participação super especial dos
alunos da oficina de percussão do grupo Patubatê — que topou
colaborar com o nosso espetáculo e finalizá-lo de maneira
especialmente mágica com um cortejo de música ao vivo tocada por
mais de 20 pessoas.
Fizemos uma temporada curta de dois finais de semana, mas que nos
marcou de maneira especial, a relação com o público, a liberdade de
fazer um espetáculo da forma como estávamos fazendo e várias outras
questões nos fizeram criar uma nova atitude perante as nossas
criações que seguem, até hoje, reverberando em nós.

(...) fomos ao ferro velho atrás de algumas sucatas, depois


fomos atrás de uma máquina de bolhas de sabão, compramos
muitas bolinhas de ping-pong, alugamos andaimes, descolamos
coletes salva vidas, lanternas, máquina de fumaça, tênis de
corrida, shortinhos e cropeds, perucas, megafone, cordas,
fitas de isolamento, campainha de hotel e decidimos que além
de brincarmos, faríamos as pessoas brincarem também. Acho que
esse espetáculo me mudou como pessoa. Me transformou para
sempre em pessoa solta. — João Pedreira

36
Sem cadeiras, sem muitas regras, sem divisão
palco-plateia, O Novo Espetáculo é um acontecimento
repleto de surpresas e subversões — incluindo o
pagamento do ingresso, que é feito ao final do
espetáculo. Quebras inesperadas e transições com
brincadeiras adotadas, tudo acontece em uma enxurrada
de dinâmicas construídas pelos atores e perpetuada pelo
público. Só se define público pelo fato de não termos
ensaiado com eles… — ISABELLA BAROZ

Uma inquietação que sobe por cima e desce escorrendo


pelos dedos soltos. Pessoa solta. É tudo de verdade, mas
se você acreditar pode virar representação, pode virar
outra coisa, pode virar inquietação. Tudo de novo e
voltamos ao começo e voltamos no desejo de dizer o que
nos chama. O sangue pulsa nas veias e passeia pelo meu
ser me tornando cada vez mais insaciável e tomado pelas
palavras que não se calam e não me deixam dormir. Eu nem
sei se quero mesmo dormir, não sei se quero me render à
ilusão que é estar sujeito a ver o que minha mente
planeja dentro de si. Mas as palavras me deixam cada vez
mais sujeito. Eu só quero sair, só quero brincar, só
quero tirar a roupa e dançar na chuva, quero pular corda
e beijar um estranho. Me leva nessa viagem, porque aqui
eu não quero ficar. Não quero mais esse lugar quieto,
dormente, sereno. — LUISA L’ABBATE
É pulo, é velocidade, é explosão, é bate e rebate, é
ação e reação. Estica, puxa e vai, bate palma, canta,
grita, chora, gargalha. Olha no meu olho, vê onde eu
tô, me enxerga. Treme, rebola a raba, me conta um
segredo. Segura sua mão na minha, me abraça suado. Tira
a roupa, acerta e erra. Me beija. Me cheira. Me paga.
Me vende. Brinca comigo. Brinca comigo. Brinca comigo.
Tripé me chamou pra brincar tudo isso junto e eu sempre
quero repeteco. SEMPRE. — ELISA CARNEIRO
Sobre a
trajetória
Assim como Entre Quartos, a vida do NOVO ESPETÁCULO
seguiu e segue sendo brilhantemente ativa. Temporadas,
apresentações, prêmios, mudança de elenco, mudanças
radicais de dramaturgia. Desde que foi apresentado pela
primeira vez O NOVO foi apresentado pelo menos uma vez
todos os anos seguintes, menos em 2021 por conta da
pandemia. Foi com O NOVO que tivemos a ideia de fazer
uma temporada de nove meses, fazendo duas apresentações
por mês, e compreendemos as enormes complicações dessa
proposta, mas ainda assim seguimos e fizemos, e
aprendemos pro bem ou pro mal o que é sustentar uma
temporada ao longo de tanto tempo. Aliás foi durante
essa temporada que Elisa Carneiro foi convidada pra
compor o elenco, uma vez que a Quintas foi para aquele
mestrado fora do Brasil. A entrada de Elisa modificou
as estruturas dramatúrgicas da peça, desde que quando
Quintas voltou, Elisa continuou sendo parte do elenco e
a história que já tinha sido sobre um herói, antes feito
por Davi Maia, passou a ser sobre duas heróias que se
apaixonam e juntas destroem o ditador. O cenário
pós-apocalíptico ganhou uma história de amor sapatão,
que trouxe complexidades maravilhosas para o
espetáculo. Essa nova versão teve sua confirmação de
sucesso quando o espetáculo integrou o Prêmio Sesc do
Teatro Candango de 2017 sendo indicado em todas as
categorias, e vencendo nas categorias de dramaturgia,
espetáculo e direção.
O NOVO é um espetáculo que foi criado conversando diretamente com as
questões políticas que rondavam o período de criação dele e isso não
parou no tempo, seguimos trazendo para o espetáculo questões que
foram acontecendo na esfera política social, e descobrimos aí uma
potência, uma possibilidade de criar uma catarse coletiva a partir
da criação de um novo mundo possível, com mais amor, mais música,
mais vida, mais celebração. Coincidências ou não, O NOVO, foi o
último espetáculo que apresentamos antes da pandemia causada pelo
vírus da Covid-19 assolar o mundo. Uma semana antes de decretarem
o lockdown, a gente cantou, pulou e celebrou
com uma quantidade enorme de pessoas
a alegria de estarmos vives.
O NOVO tem disso, uma capacidade
de trazer pro peito um desejo
de viver, e esse final de semana
pré-pandemia acendeu uma luz
no nosso peito que seguiu vibrando
por muito tempo depois dele.
Assim como Entre Quartos,
o espetáculo vai amadurecendo
com a gente, ganhando novos
entendimentos e significados
a partir da sua relação direta
com os acontecimentos do mundo.
E assim seguirá sendo.
F i c h a t é c n i ca
O Novo
Esp e t á c u l o

direção
SIMILIÃO AURÉLIO

texto e dramaturgia
SIMILIÃO AURÉLIO e GRUPO TRIPÉ

elenco
ANA QUINTAS, ELISA CARNEIRO, GUSTAVO HAESER e JOÃO PEDREIRA

iluminação
ANA QUINTAS e GRUPO TRIPÉ

sonoplastia
LUIZ ALBERTO PIRES
cenografia e figurinos
GRUPO TRIPÉ e SIMILIÃO AURÉLIO

participação especial
OFICINA E BLOCO ELETRÔNICO PATUBATÊ

identidade visual
LUISA MALHEIROS e MARCELO ARAÚJO

equipe de criação
ANA QUINTAS, DAVI MAIA, GUSTAVO HAESER,
JOÃO PEDREIRA e SIMILIÃO AURÉLIO

direção de produção
GUSTAVO HAESER

realização
GRUPO TRIPÉ
todo m u n do
perd e a lg um a c o i s a
aos o it o an o s
Em um tempo onde
meninos e homens
erguem armas com
as mãos, um grupo
de amigos se
reúne em uma
festa do pijama.
Depoimento
Caetano
Vill aç a
Em 2014, eu vi um cartaz de “Entre Quartos” na Caixa Cultural, saindo
do estágio. Eu tinha 17 anos, gostava de dançar e queria trabalhar em
áreas administrativas por ser bom com burocracias. Eu alisava meu
cabelo todos os dias e usava um saltinho pra ir trabalhar. Sei lá. Eu
vivia dentro de mim várias vidas que eu não mostrava pra ninguém e de
repente eu comecei a ver isso em cena. Sendo olhado no olho. Ainda
com 17 anos, eu fui atrás de todas as oficinas gratuitas das quais eu
conseguia participar e encontrei o Tripé (e alguns outros artistas do
Distrito Federal) em uma oficina do Teatro da Vertigem e de repente
eu me vi atuando com aquele povo que eu vi em cena e que me
atravessou. Por conta do Vertigem, eu peguei carona com João Miguel
nos dias que a gente precisou ensaiar e estar em cena. Eu fiquei a
fim de dar uns beijos nele, depois passou. Acho engraçado hoje em dia
como a pessoa que ele conheceu nessa época é diferente da pessoa que
eu sou hoje em dia e eu fico me perguntando de vez em quando se ele
sabe que, com 17 anos, foi muito marcante atuar com um grupo como o
Teatro da Vertigem junto com ele (mesmo que eu não fizesse ideia do
que eu estava fazendo para além da empolgação jovem) — e ainda escuto
com carinho o álbum do “Entre Quartos” de tempos em tempos. Me entendi
como transmasculino durante um trabalho com Quintas que nunca
aconteceu. A gente dormiu de conchinha numa cabana no meio do mato,
no frio, depois de 12h de ensaio. Acho que na conversa final, depois
que tudo desabou, a gente desabou junto um pouco. Sou extremamente
grato por todas as experiências e memórias construídas — são memórias
em rosa magenta, rosa-bebê e turquesa, ami —, acredito que trabalhar
com Quintas foi e continua sendo um marco essencial em quem tenho me
construído enquanto artista — sendo um grande privilégio as
possibilidades de diálogo e troca sobre teatro performativo e design
de iluminação que Quintas propõe enquanto pesquisa.
Meu trabalho mais recente com o grupo foi, então, o “Todo Mundo Perde
Alguma Coisa aos Oito Anos”, dirigido pelo Gustavo. Sei lá, o Gustavo
é o amor da minha vida, o ariano que de cara eu gosto, mesmo quando
está fazendo e falando merda. Pela curiosidade. Pela vontade genuína
de vida e de mundo. Pelo quão óbvio fica quando ele sente alguma coisa
e a sinceridade do corpo para com o sentir. Acho que a curiosidade
dele sempre andou meio perto da minha e eu sempre fiquei feliz de
poder observar. A existência do Grupo Tripé me atravessa não só como
formação artística, mas como afeto. Como relação. Como ocupação. Vida
longa aos olhares de vocês.

47
E Adão o primeiro dos homens… Aquele, que de bom grado
doou uma costela pra que Deus criasse uma mulher submissa.
E que futuramente a culparia, por ele mesmo ter comido do
fruto proibido.
O índio Galdino, e os 5 rapazes! Repito. 5 rapazes! E você,
quem você queimou hoje? Quem queimou ontem? Em qual
inquisição você é carrasco? E com qual parte do seu órgão
reprodutor? Eu to falando com você… Homem! E o seu pai?
Vamos falar do seu pai. Do meu pai. Ele é feliz? E quantas
vezes ele chorou? E quantas na sua frente?
Falando em Aquiles, Aqueles rapazes, homens, garotos, estão
arrancando as antenas das saúvas e colocando-as para lutar
na arena de MMA.
Atire a flecha! Atire o rifle… Que exploda o homem bomba!

Trecho do espetáculo escrito


por JOÃO QUINTO
Sobre o
proc e s s o

Era abril de 2018 quando eu, já cursando Artes Cênicas na UnB,


comecei a planejar o que seria o meu Projeto de Direção. Já havia
dois anos que eu me debruçava em estudos sobre masculinidades e suas
reverberações na criação de meninos e jovens com o desejo de criar
um espetáculo solo, o que tornou a escolha de levar esse tema para
o projeto muito fluida e assertiva, fazendo daquele monólogo uma
obra que nunca existiu (pelo menos por enquanto). A partir daí
passei a convidar artistas interessadas em trabalhar em cima do tema
“masculinidades & infância”, o que resultou em dezenas de negativas
e na chegada das cinco pessoas atuantes e performativas que
compuseram o elenco da primeira temporada: Ana Matuza, Deni Moreira,
Emanuel Lavor, João Gabriel Aguiar e João Quinto. [...]Era março ou
abril de 2019 quando, depois da temporada de estreia e alguns meses
de descanso, decidimos nos reencontrar. Não sabíamos exatamente qual
era o próximo passo, mas tínhamos saudade de estarmos juntas falando
sobre masculinidades, o que demonstra a afinidade, tanto pessoal
quanto de interesse, mantendo o coletivo.
[...]
Era um dia de sol, e nos reunimos no Parque Olhos D’água. Naquele
dia, decidimos que, durante um semestre, não pensaríamos no
espetáculo que apresentamos e nas cenas que o compunham, mas
seguiríamos nos encontrando, no que acabou se configurando como um
grupo de apoio, estudo e pesquisa sobre masculinidades. Um coletivo
com desejo de aprofundar conhecimentos e relações sem visar
estruturas ou imagens cênicas [...] Assim como tudo que permaneceu
foi alterado pela passagem do tempo, me parece que até o que foi
cortado permaneceu presente de alguma forma. Não se tratava então,
de negar a obra anterior, mas saber tirar proveito até do que não

49
desejávamos mais. Estávamos assim, movendo as questões sobre falo
por questões como a cumplicidade masculina, a padronização dos
corpos musculosos, nepotismo, violência verbal e agressões físicas
como forma de dominação. [...] Essa possibilidade de um deslocamento
mínimo ser capaz de gerar uma revolução é algo que levo em conta,
visto que, como mencionei anteriormente, o que se defendeu no
processo foi uma destruição que preserva os alicerces fundamentais
da obra. Mesmo pequenas ações/reflexões/dúvidas frente a uma
dramaturgia ou um roteiro estabelecidos já podem ser o suficiente
para a geração de novos sentidos e significações, novas provocações,
encontros, afetos e políticas. Sobre isso, João Ricken afirma que
“Não tinha uma apresentação que não acontecia alguma coisa muito
preciosa que não ia ter como repetir”. A possibilidade de manter
fértil e aberta para rasuras até mesmo obras já entregues ao
público, me parece uma maneira de abraçar a efemeridade do teatro e
seguir sempre atento às relações, aos afetos, aos acontecimentos
políticos, sociais, culturais e históricos do nosso tempo. Sendo
assim, permitir que a criação seja geradora de novos conhecimentos.

50
Acompanhar o tripé é ter a referência do que é crescer bem e ter uma
boa vida: obstinada, sólida, intensa e desfrutada. Ver de pertinho
é muito gratificante. Me dá pistas de quem sou nessa cidade-capital
tão florida e tão seca, nesse bosque de concreto. Sempre me mostra
que a potência precisa de consistência pra transformar em realidade
aqueles sonhos tão lindos, mas ainda tão abstratos na cabeça antes
dos pés darem o primeiro passo. E o tripé tem frescor infinito, mesmo
depois dessa longa caminhada. Se renovam quase como método: todo
passo é sempre o primeiro. Com esse pessoal, as coisas passam pelo
coração e tomam forma da maneira mais genuína que pode existir. Eu
sei disso porque pude fazer parte de processos do grupo, que foram,
sem dúvidas, das experiências mais especiais para uma trajetória
como a minha: artista jovem tendo como dádiva poder não só ser
inspirado por outras gerações, mas por outres artistas jovens, que
têm em comum a sede por contar as histórias mais difíceis de serem
contadas - as recitadas pela alma, por isso as mais gratificantes.
Voltando ao início, algo assim é referência. Eu amo muito!

EMANUEL LAVOR

51
Vi "todo mundo perde alguma coisa aos oito anos" nascer em um ensaio
geral para a estreia de sua primeira temporada. Até então, eu não
fazia parte do elenco; estava ali como amigo e espectador. Mesmo
antes de entrar para o elenco, cheguei a acompanhar alguns
estilhaços de conversas com o grupo quando estavam em processo de
criação/ensaios para a primeira temporada. Desde lá, já senti um
senso de propósito enorme em relação àquele trabalho; sentia
reverberar no meu corpo a urgência do que estava sendo
discutido/levantado/exposto ali, principalmente quando efetivamente
vi o espetáculo na sua primeira versão.
Também nunca tinha estado em um processo de teatro em que eu tivesse
passado tanto tempo dedicado não a levantar cenas, mas a aprofundar
discursos e dialogar afetos dentro do elenco/equipe. Vale dizer que
no nosso processo de ensaios, em meio a exercícios fisicamente
cansativos e temas desconfortáveis, duas coisas eram regra: se faz
calor, tomamos banho de mangueira; se estamos com fome, pausa no
ensaio que tá vindo o carro da pamonha! Tudo isso causou impactos
radicais na minha forma de pensar/fazer teatro e também na minha
forma de lidar comigo mesmo, com meu corpo, o como entendo minha
identidade...
Justamente por se manter ao que sempre se propôs ser, o "todo mundo
perde alguma coisa aos oito anos" que estreou em 2018 foi
radicalmente diferente do que o que reestreou em 2019 e certamente
será radicalmente diferente se/quando viermos a montá-lo novamente.
Ainda há muito a ser discutido, problematizado, aprofundado,
abandonado, resgatado… Quanto mais mergulhamos, mais fomos/vamos
provocando rachaduras por dentro e por fora. Talvez a primeira
rachadura que senti foi logo no início quando me dei conta que não
sabia responder à simples pergunta: "o que é um homem?". A palavra
"homem" significa tanto e ao mesmo tempo tão pouco…
Durante e após o processo fomos entendendo que não estávamos falando
necessariamente de "homens" ou somente de "masculinidades". Fomos
entendendo, inclusive, que nem todos de nós que originalmente
compunham aquele elenco de "meninos de oito anos" éramos/somos
homens (eu mesmo já sinto que a palavra "homem" diz respeito somente
a uma camada do meu gênero; e o rótulo "gay", que um dia abracei como
uma caixa, hoje abraço como um ponto de referência e um símbolo de
luta, não como um limitante/determinante da minha experiência de
gênero e sexualidade). Me pego voltando diversas vezes em pensamento
para as discussões e trocas que tínhamos nesse processo e entendendo
novas camadas do que esse nosso trabalho abrange. É um trabalho que
me captou enquanto artista e ser humano; tenho todas as vontades de
vê-lo tomar novas formas e seguir alcançando novas camadas, novos
públicos e novas inquietações.

JOÃO RICKEN

52
F ich a T é n i c a
t odo mu nd o
p erde a lg u m a c o i s a
a os o it o a n o s

direção & argumento


GUSTAVO HAESER

texto e dramaturgia
A EQUIPE

elenco
ANA MATUZA, CAETANO VILLAÇA, DENI MOREIRA,
EMANUEL LAVOR, JOÃO RICKEN e TAUÃ FRANCO

colaborações
JOÃO GABRIEL AGUIAR, JOÃO QUINTO e MARCOS LOPES

provocações
FERNANDA ALPINO e LEONARDO SHAMAH

dramaturgismo
RODOLFO GODOI

iluminação
ANA QUINTAS

cenografia e figurinos
GIOVANNA LISBOA e GUSTAVO HAESER

design de som
ARNOLD GULES

53
remix "Homens"
VINÍCIUS FONTENELE

texto "Papai do Céu"


MARCELINO FREIRE

vídeos
MATHEUS LIMA

design gráfico
GUILHERME NOMURA

fotos
BRUNO ARAÚJO, JOACY PINHEIRO,
MANOELA MORGADO E MARCOS LOPES

agradecimentos
DENIS CAMARGO, ELISA MATTOS, LEO SYKES e PAULA OTERO.

apoio
CAIXA CÊNICA, CASA DOS QUATRO,
COLETIVO COLUMNA E UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

realização
GRUPO TRIPÉ

54
D ep oimento
F e r n a n d a Alpino

Conheci o Tripé lá no comecinho, antes de ser Tripé. Cética


que sou duvidei da longevidade desse projeto quando Quintas me
disse que agora eles seriam um Grupo. Mas por um motivo ou
outro eu estava sempre lá pra assistir, ajudar em alguma
coisa, dar um pitaco e sem perceber eu me apaixonava um
pouquinho a cada encontro.
No Entre Quartos operei a luz da apresentação que fizeram
durante o processo criativo no Cometa Cenas na UnB, depois,
quando foram estrear eu fiz os figurinos e novamente operei a
luz. E segui sendo equipe desse espetáculo, escolhendo com
eles os figurinos a cada temporada, afinal eles amam mudança.
Acho que assisti a quase todas as muitas apresentações do
Entre, mesmo quando não estava na luz, se fosse possível eu ia
assistir e via sempre de um lado diferente na arena, até
definir pra mim que a melhor plateia era a que ganhava a
serenata. Até hoje mal consigo ouvir essas músicas sem me
emocionar.
Quando foram estrear o Novo Espetáculo, eu recebi com alívio
o convite para operar som e luz ao mesmo tempo, não queria
participar do espetáculo como público. Queria estar envolvida
de algum jeito nesse projeto também. Estava apaixonada. E tudo
bem que talvez eles tenham me chamado porque era novamente uma
estreia independente e não havia como pagar outras pessoas.
Mas não importava, eu queria estar lá no meio do furacão que
era esse trabalho. Além disso, paixão é pra essas coisas
mesmo. Do Novo eu posso dizer com certeza que vivi com eles
todas as apresentações.
Sendo assim, quem me lê pode imaginar minha alegria quando me
chamaram para ir ao ensaio do Todo Mundo Perde Alguma Coisa
Aos Oito Anos propor exercícios e provocações ao elenco. Tive
ainda a felicidade de acompanhar a temporada do espetáculo no
Espaço Cultural Renato Russo como operadora de luz.
Foram muitas apresentações, produções, eventos, estivemos
juntes apresentando em Belo Horizonte, pegamos voos
internacionais lado a lado para compormos a programação de um
festival em Dublin, na Irlanda. Eu os vi mudando, uns
centímetros pra lá, outros pra cá, barbas, cabelos, pelos,
diplomas, relacionamentos, rompimentos, festivais, editais,
ocupações, manifestações, brigas, beijos, gente indo e gente
vindo. Tudo de pertinho. Tenho a ousadia de dizer que tive

55
nesses 10 anos o melhor lugar na plateia. E sentada nele (ou
em pé dançando), eu paguei minha língua (e que sensação
deliciosa). Quando eu, do alto do meu ceticismo e de toda a
experiência que eu ingenuamente achava que tinha, julguei que
esse projeto de grupo não ia muito longe eu não conhecia ainda
a insistência deles. Quintas, Gustavo e João têm um fogo
queimando inquieto dentro deles, o que faz com que eles digam
muitos sims pros sonhos deles. Um alimentando o sonho de
outre. E insistindo! Eu conheço bem a importância que a
insistência tem pro teatro de grupo, mas assumo que eles
insistem com uma alegria e ímpeto que eu acho que nunca tive.
Então, do meu lugar (camarote) eu aprendo até hoje com eles.
Aprendo sobre mudança, flexibilidade, continuidade, paixão,
confiança, atrevimento, orgulho, humildade e afeto. Espero que
eu possa seguir acompanhando de perto as próximas invenções
megalomaníacas desse Tripé, eles ainda têm muito pra me
ensinar e eu tenho amor pra dar. Entretanto, mesmo se não for
possível seguir ao lado deles, ainda assim eu seguirei movida
por esses afetos e muito grata por tudo que vivi, pelas
oportunidades, aventuras e dúvidas que o Tripé me
proporcionou. Seja como for, eu estarei atenta ao que virá na
vida longa desse Grupo, desses artistas que o constroem
diariamente e das parceiras, parceires e parceiros que
compuseram o caminho até aqui.
Se você ainda não se apaixonou pelo Grupo Tripé, eu sugiro que
você chegue um pouquinho mais perto e se deixe seduzir.
Aproveite, vai ser uma experiência emocionante.
Aqu á r i o
do Grupo Liquidificador
Foi no espetáculo Aquário que aconteceu pela primeira vez
uma troca entre o Grupo Liquidificador e o Tripé. Ana
Quintas fez a luz de Aquário e o Tripé assumiu a operação
da luz, que acontecia de forma performática e nada
tradicional. Reservamos algumas páginas para falar sobre
esse acontecimento.
Como nos reservatórios de vidro, comumente usados na
decoração de consultórios, “Aquário” é uma metáfora para um
cativeiro onde a natureza acontece ciclicamente, dentro de
um contexto restrito. No espetáculo, um casal de corretores
se destaca dentre os núcleos de pessoas que há muito
habitam aquele espaço e que, por força de suas memórias
curtas, sequer se lembraram de tentar escapar do local.
O sistema de repetição de ações entra em pane quando o
público chega para conhecer a casa, guiado pelos
corretores. O plano do casal é que alguém ocupe o espaço
para que eles consigam, finalmente, se libertar de lá.
“Aquário” segue também a intenção do Liquidificador de
sempre trabalhar próximo ao público. Não por acaso, é a
plateia quem quebra a rotina dos personagens de repetições
eternas. A peça acontece pelos cômodos de uma casa comum,
para um público reduzido, numa relação muito próxima, de
olho no olho. A esses “visitantes”, entretanto, é reservado
o direito “voyeur” de espectador. Apesar de parte
importante da dramaturgia do espetáculo, o público só
interage com as cenas se quiser.
O espetáculo marca um momento importante do Grupo
Liquidificador, o único espetáculo a ser dirigido por uma
diretora convidada, nesse caso Ana Flávia Garcia.

58
Nós estávamos mergulhados no Aquário, espetáculo colab minha
com Grupo Liquidificador. O espetáculo era ancorado numa casa
na Vila Telebrasília e tinha uma ambiência absolutamente
cinematográfica, misteriosa e assustadora. Eram camadas espaço
temporais versadas nessa mesma casa. Pra isso ser possível era
necessário trucagem. Mágica. Efeitos de aparecimento e
desaparecimento de ambientes, coisas, corpos... De repente a
gente viu que precisava contar com o assombro. Com os
fantasmas. Aí idealizamos uma espécie de contrarregragem
mágica, meio ninja, meio assombração. Essa trupe ninja fantasma
ilusionista precisava transformar o ambiente a cada mudança de
espaço do público dentro da casa. O grupo Tripé apareceu na
minha vida assim. No escuro, como gatos, deslizando
secretamente, trocando a casa toda e alterando as lógicas. É
nesse momento que eu conheço Ana Quintas e juntes dessa
potência tricoletiva, criamos e executamos uma das luzes mais
lindas que eu já tive oportunidade de fruir e mover num
trabalho. Icônica. Inesquecível a lembrança da partilha de
ideias e a fala de Quintinhas diante dos delírios: "Tudo é
possível, nós vamos dar um jeito!" . Assim brotou a Equipe
Invisível, minha trupe de mágicos ninjas gatunos fantasmas que,
manipulando tecnologias cotidianas e potência, fazia nascer
pra mim uma lua cheia na janela toda noite de espetáculo... Foi
bom demais trombar em silêncio com elus no escuro secreto do
nosso Aquário e pra sempre fazendo barulho por aí na nossa
função. Salve Tripé. Tem muito amor aqui pra vocês.

ANA FLÁVIA GARCIA


A conexão do Liquidificador e do Tripé sempre se deu de maneira
simbiótica, pois compartilhamos sempre poéticas muito parecidas
ao realizar teatro. Algo forte que temos em comum é a paixão pelo
fazer teatral com sangue nos olhos. Naquele ano de 2014 não foi
diferente, Quintas, João, Gustavo e Davi queriam começar um ramo
diferente do grupo em que fariam assistências técnicas e
contrarregragem em espetáculos de outros coletivos. O Aquário era
uma peça feita numa casa residencial, de montagem bem complexa e
precisava de uma equipe grande de bastidor pra que a magia
acontecesse. E aí casou tudo!
A participação dos Tripés foi chamada de Equipe Invisível. Eram
velocidade e técnica no silêncio pra fazer um quarto virar outro
em minutos: tira pano, troca móveis, muda lâmpadas dos bocais,
pula a janela, recoloca a grade da janela e pronto! TecnoMagia
sagaz do Teatro para brincar com a fantasia experimental do
público. Equipe nunca vista pelos visitantes. Quem entrasse
novamente no quarto teria no mínimo alguns segundos de dúvida e
delírio sobre o novo velho quarto que entrariam.
Ter trabalhado com o Tripé foi fundamental para a gente firmar
afetos em rede. Sempre foram deliciosos os cruzamentos de cena e
bastidores em que a gente trocava uma ideia rápida sobre as
pessoas visitantes do dia de apresentação, risos baixos, bolas,
acertos táticos, nos corredores da casa o cardume submerso fluía
com alegria e profissionalismo, características que acredito como
pontos fortes dessa agrupação. Depois nunca mais nos largamos. E
as histórias continuam…
Vida longa ao fantástico Grupo Tripé!

FERNANDO DE CARVALHO.
Equi pe
Invi s í v e l

Como operar a luz de uma casa? De um apartamento? Como modificar um


mesmo cômodo em questões de segundos, enquanto o público está do
outro lado da parede? Como fazer uma operação de luz invisível? Foi
assim que a “Equipe Invisível” surgiu. Quando na primeira temporada
de Aquário, eu, Ana Quintas, me deparei com uma luz extremamente
complexa de ser operada, uma vez que ela deveria iluminar todos os
cômodos de uma casa e ainda ser modificada de uma cena pra outra sem
que os espectadores vissem.
Num desejo de quebrar com os moldes tradicionais do que é imaginado
para uma iluminação cênica, no Aquário, eu quis trabalhar com
lâmpadas supostamente comuns, luzes “de casa”, mas quando operadas,
ou seja, quando modificadas suas intensidades, cores etc. podem
criar atmosferas surpreendentes. Mas para que eu conseguisse fazer
essa luz que eu desejava, eu sabia que eu precisava de uma equipe
comigo. Não precisei pensar muito para chegar à conclusão de que o
Tripé era a melhor escolha para formar essa equipe, pessoas de minha
total confiança e que acompanham desde o princípio e bem de perto a
minha relação com a iluminação. Isso de alguma forma faz deles
pessoas que têm vários conhecimentos sobre luz (aqui indico ler o
primeiro capítulo da minha dissertação de mestrado em que eu falo
exatamente sobre isso).
Quando eu apresentei pro Liquidificador a proposta de chamar o Tripé
pra fazer a operação da luz de Aquário, claro que além de querer
experimentar um novo jeito de operar uma luz, eu queria unir meus
dois grupos em um mesmo projeto.
A Equipe Invisível é um marco para mim, para minha história como
iluminadora, é uma coisa que me dá um orgulho imenso de ter proposto
e de ter conseguido fazer acontecer. A gente transformava os cômodos
a cada vez que o público se deslocava dele, subia em escada com
lanterna para fazer a luz da lua na janela, dançávamos com um
refletor junto com a atriz em cena, passamos uma quantidade enorme
de cabos por entre os cômodos, furamos paredes, batemos pregos. E
ainda dançávamos junto com o elenco em uma cena. A única a onde
éramos vistos pelo público. Em resumo uma operação de luz 100%
performativa. Não dava pra ser diferente né?

61
Realizamos, de 6 a 17 de abril de 2016, o projeto OCUPAÇÃO
INDEPENDENTE, uma mostra que reuniu uma série de espetáculos teatrais,
oficinas e rodas de conversa no Teatro Plínio Marcos e na Área Externa
da Funarte (DF), em Brasília.
A curadoria de espetáculos levou em conta produções que foram criadas
e produzidas de forma independente, sem patrocínio da iniciativa
privada nem apoio governamental, e contou com os coletivos Andaime
cia. de teatro, cia. viÇeras, cia. Mandacajú e Trupe Raiz de Circo,
além de obras do nosso repertório.
Além dos espetáculos, contamos também com a “Oficina de Improvisação
Teatral”, com o Grupo Liquidificador, a “Oficina Investigação Cênica
em Processo Coletivo”, com o Grupo Tripé, e a roda de conversa
“(in)Dependência, ou morte? – Diálogos sobre financiamento cultural”.

Ocupação
Independente

Realizamos, de 6 a 17 de abril de 2016, o projeto OCUPAÇÃO


INDEPENDENTE, uma mostra que reuniu uma série de espetáculos
teatrais, oficinas e rodas de conversa no Teatro Plínio Marcos e na
Área Externa da Funarte (DF), em Brasília.
A curadoria de espetáculos levou em conta produções que foram
criadas e produzidas de forma independente, sem patrocínio da
iniciativa privada nem apoio governamental, e contou com os
coletivos Andaime cia. de teatro, cia. viÇeras, cia. Mandacajú e
Trupe Raiz de Circo, além de obras do nosso repertório.
Além dos espetáculos, contamos também com a “Oficina de Improvisação
Teatral”, com o Grupo Liquidificador, a “Oficina Investigação Cênica
em Processo Coletivo”, com o Grupo Tripé, e a roda de conversa
“(in)Dependência, ou morte? – Diálogos sobre financiamento
cultural”.
O encerramento do projeto ficou por conta da Mostra Universitária de
Cenas, Experimentos e Montagens. Produções acadêmicas dos cursos
superiores do DF tiveram a oportunidade de ocupar o Teatro Plínio
Marcos.
Oc u p a ç ã o
Independente
Prê m i o W e b
de Teatro do DF

Idealizado durante o ano de 2018, o Prêmio Web de Teatro do


DF foi criado por nós com o desejo de criar novas narrativas
acerca do teatro produzido no Distrito Federal e novos
entendimentos quanto ao panorama cênico da cidade, gerando
assim novas inquietações, questionamentos e crises -
terrenos frutíferos para o surgimento de novas ideias que
enriqueçam a cadeia cultural, que fortaleçam a classe
artística, que a reafirmam como componente de uma economia
criativa que deve ser preservada e incentivada.
É sobre a possibilidade Em um momento
de reunir as cabeças e em que tentam asfixiar
corpos fazedores das a cultura brasileira,
artes cênicas do DF. nós resistiremos.
201 8
1 a edição

45 projetos

realizados por + de
40 coletivos teatrais

realizaram + de
250 apresentações

movimentaram + de
680 profissionais
30 espaços culturais
32.900 espectadores
20 1 9
2 a edição

72 projetos

realizaram + de
880 apresentações

circularam por + de
50 cidades em 10 países

movimentaram + de
1.500 profissionais
24 espaços culturais
73.000 espectadores

geraram + de
2.250 empregos
Fich a T én ic a
PRÊM I O WE B

PRÊMIO WEB

idealização, coordenação e gerenciamento:


GUSTAVO HAESER

assistência geral:
ANA QUINTAS, JOÃO PEDREIRA E LARISSA SOUZA

design gráfico:
PAULA OTERO

realização, patrocínio e cobertura:


GRUPO TRIPÉ
CERIMONIAL 2018 CERIMONIAL 2019

apresentação: apresentação:
ELISA CARNEIRO E NINE AS RACHAS | ANA FLÁVIA GARCIA,
ANA LUIZA BELLACOSTA
cobertura audiovisual: E ELISA CARNEIRO
BRUNO ZAKKA
cobertura audiovisual:
cobertura fotográfica: COLETIVO COLUMNA | MARCOS LOPES
NINA QUINTANA E MATHEUS LIMA

discotecagem: cobertura fotográfica:


JOÃO PEDREIRA NINA QUINTANA

coordenação técnica discotecagem:


e iluminação: JOÃO PEDREIRA
ANA QUINTAS
coordenação técnica
apoio vestuário: e iluminação:
ARMÁRIA ANA QUINTAS

equipe de apoio: equipe de apoio:


BIANCA TERRAZA, ANA MATUZA, EMANUEL LAVOR,
DENI MOREIRA, GIOVANNA LISBOA, LARISSA SOUZA
EMANUEL LAVOR, E PAULA OTERO
FERNANDA ALPINO,
JOÃO RICKEN E apoio:
KAMALA RAMERS ESPAÇO CULTURAL RENATO RUSSO,
INSTITUTO BEM CULTURAL,
LUGAR DE CULTURA,
SECRETARIA DE CULTURA E
GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL

74
Nos meus primeiros passos no teatro eles estavam lá. Eles ainda não
eram Tripé, e eu ainda não era Desvio. Quando o Tripé começou a
nascer, eu também estava nascendo na produção. Temos uma vida
profissional inteira juntos, caminhando lado a lado, trocando,
compartilhando, amando, tropeçando, enfrentando desafios, pensando
em desistir, pensando em seguir e vivenciando as dores e os prazeres
de viver o teatro.
Nosso caminho é permeado por essa temática, mas o que a vida nos
trouxe vai muito além da experiência profissional. Essa relação há
muito tempo me ensina sobre ser, acreditar, crescer e expandir. Sou
mais quando estou com eles e amo fazer parte dessa história!

ELISA MATTOS .
CENAS de uma DÉCADA

Nossa história começou em 2012 e, de lá pra cá, criamos e


produzimos espetáculos, oficinas, mostras, debates e eventos.
São 10 anos de caminhada e seria impossível chegar aqui se não
fossem as parcerias, trocas e encontros. Nossa história se
mistura com tantas outras, somos o que somos, porque outras
também são, porque outras também fizeram, fazem e seguirão
fazendo. Trilhamos a nossa jornada na última década, mas ela
faz parte de uma história muito maior e é essa história que
queremos contar.
Com quantas cenas se faz uma década? Com quantos coletivos?
Esse projeto une duas coisas muito importantes para nós, o
nosso aniversário de dez anos e nosso constante desejo, esforço
e alegria em criar projetos de valorização da produção cênica
do Distrito Federal e de seus artistas.
Cenas de uma Década é, antes de tudo, a afirmação de que os
coletivos dessa cidade constituem um patrimônio histórico que
deve ser registrado, incentivado e celebrado.
Gestado ao longo de dois anos, o projeto chega a sua formatação
final contendo este livro e uma exposição sobre mais de
cinquenta coletivos teatrais da cidade, abarcando em sua
programação um cine-clube contendo produções audiovisuais dos
grupos e diversas performances.
Com a Ocupação Independente em 2016, voltamos nossa atenção
para os espetáculos do DF criados sem patrocínio. Com as duas
edições do Prêmio Web de Teatro do DF em 2018 e 2019, passamos
a trabalhar pela multiplicação de oportunidades para o teatro
do DF, além de gerar dados e indicadores anuais sobre a cena
local e incentivar a aproximação do público com os fazedores
culturais.
Em 2020 e 2021, através da GARRA, nos reafirmamos, mais uma
vez, como parte de uma rede muito maior que nós mesmos.
Agora, seguimos celebrando, valorizando, multiplicando,
registrando, incentivando, aproximando e gerando não só dados,
mas pedaços daquilo que podemos considerar a história do teatro
do DF.
É sobre contá-la enquanto se vive, é sobre desenhar o mapa
enquanto se caminha!
Viva a potência e a força dos coletivos artísticos do DF.

77
grupos
parti c i p a n t e s

Actus Produções Coletivo Columna


Agrupação Teatral Coletivo de Teatro
Amacaca- ATA Enleio (CTE)
Andaime Companhia de Coletivo Morada
Teatro
Coletivo Mulher do
BR S.A – Coletivo de Mundo
Artistas
Coletivo Teatro da
ChamaDOS Lúdicos Sacola
Cia de Comédia Os Coletivo Truvação de
Melhores do Mundo Teatro
Cia Lumiato teatro de Companhia Dois Tempos
formas animadas
Diversos dias
Cia Plágio de teatro
EmQuadrados
Cia. Brasilenses de
Teatro EntreAberta Cia Teatral

Cia. Burlesca Esquadrão da Vida

Cia. Elefante Branco Estupenda Trupe

Cia. Ensaios Grupo de Teatro Celeiro


das Antas
Cia. Infiltrados –
Teatro de Ocupação Grupo E tal Teatro

Cia. viÇeras Grupo Embaraça

Cia. YinsPiração Grupo Liquidificador


Poéticas Contemporâneas
Grupo Momentâneo
Coletivo Antônia
Grupo Tripé

78
Grupo Teatral Pujança
Noigandres
Ser a dois
Humus de Teatro
Seu Estrelo e o Fuá do
isso NãO é Um CoLeTiVo Terreiro
NEM – Núcleo Teatro Caleidoscópio
Experimental em
Movimento Teatro do Concreto

Novos Candangos Teatro do Instante

Os Buriti Teatro dos Ventos

Paratibum Criações Tríade Brinquedo


Artísticas
Trupe Por um Fio
Poetizar Coletivo
Trupe Trabalhe Essa
Teatral
Ideia

realização:
GRUPO TRIPÉ
coordenação de produção e gestão administrativa:
DESVIO PRODUÇÕES | ELISA MATTOS
curadoria:
ADRIANA LODI, GLAUBER CURADESQUI E
GRUPO TRIPÉ (ANA QUINTAS, GUSTAVO HAESER, JOÃO PEDREIRA)
projeto expográfico:
MONICA NASSAR
cenotécnica:
ERICK PORTO
projeto gráfico:
GABRIEL GUIRÁ E MANUELLA LEITE
mediação:
GRUPO TRIPÉ
arte educadora:
GIOVANNA LISBOA
assessoria de imprensa:
MAÍRA DE DEUS BRITO
apoio:
UnB | CEN | IDA
T rip é
em números
3 espetáculos criados
86 sessões apresentadas
27 debates realizados
1 edição da OCUPAÇÃO INDEPENDENTE, com 5 coletivos teatrais
do DF
2 CD’s gravados
12 temporadas realizadas
2 temporadas de Aquário, do Grupo Liquidificador
8 participações em festivais nacionais e internacionais
15 indicações ao Prêmio Sesc do Teatro Candango
5 troféus do Prêmio Sesc do Teatro Candango
+ de 100 horas de oficinas ministradas
+ de 150 empregos diretos gerados
+ de 9.000 espectadores

2 edições do Prêmio Web de Teatro do DF, somando:


120 projetos participantes
50 premiados
8 homenageados por iniciativas virtuais ligadas ao teatro
do DF
3 homenageados pela trajetória de vida e contribuição ao
teatro do DF
4 rodas de debate com + de 100 participantes
2 cerimoniais com + de 500 visitantes

Nas redes:
+ 17,5 mil visitas no Site
+ de 1.600 seguidores no Instagram
+ de 5,7 mil visualizações no Youtube
+ de 260 horas assistidas no YouTube

81
Agr a d e c i me n t o s
Agradecemos a todas as pessoas, coletivos, espaços, empresas,
institutos e iniciativas que contribuiram com a nossa caminhada
durante esses dez anos, só foi possível com vocês.

Fotos

NINA QUINTANA
Pg. Capa, 13/14, 18, 19/20, 30, 33, 35/36, 40, 43, 44, 45/46,
47/48, 58, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74 e 77/78

EMANUEL LAVOR MARCOS LOPES


Pg. 6 e 83 Pg. 47/48, 50 e 52

MARIA VITÓRIA DUTRA JOACY OLIVEIRA


Pg. 21 Pg. 53

RAPHAEL CARMONA DUDA AFFONSO


Pg. 28 Pg. 57, 58, 59, 60, 61 e 62

DIEGO BRESANI NATHALIA AZOUBEL


Pg. 32 e 41/42 Pg. 67/68

RAISSA AZEREDO ARQUIVO PESSOAL


Pg. 38 Pg. 39

82
ESTE LIVRO FOI PUBLICADO EM 2022

Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal.

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