Você está na página 1de 19
© do texto, 2002 by Muniz Sodré ¢ Jardim © diregio da colega ; Waly Salomio & Maria Vitoria de Seixas Caldas Direitos de edigio adquirides por Manart PRopucOks Ebrronials Ltpa, ‘Telefax: (21) 2274-2942, 2512-4810 manati@uninet.com.br; www.manati.com.br £ terminantemente proibida a reproducio do texto e/ou das ilustragdes desta obra, em parte ou no todo, para qualquer fim, sem autorizacio expressa ¢ por escrito da editora Pesquisa: Laura Maria Cabral de Medeiros Revisio de originais: Luzia Ferreira de Souza Revisio tipogrifica: Tereza da Rocha Projeto grafico: Silvia Negreiros CIP-BRASIL, CATALOGAGAO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS. RJ 663m, Sodré, Muniz, 1942 Mestre Bimba : corpo de mandinga / Muniz Sodré ; organizacao Waly Salomio, Maria Vitoria de Seixas Caldas ; ilustragSes Filipe Jardim. — Rio de Janeiro : Manati, 2002 [112] p.:il. (Bahia com H ; 1) Inclui bibliografia ISBN 978-85-86218-13-2 1, Bimba, Mestre ~ Biografid.'2. Capoeira (Luta) ~ Brasil — Histéria. I. Salom3o, Waly. TI. Caldas, Maria Vitoria de Seixas. II.Titulo. IV. Série. 01-1308 CDD 927.968! CDU 92:796. 16 por dentro (nio por desvio), de uma estrutura qualquer. Dizig da comunidade”, pary “a eterna ironl cio feminins a dominagio 1 falar de Bimbal Mas é exatamente is- Hegel que a mulher ¢* ulgo eternamente resis. firmar que existe na condi jecido pel masculin tente ao sentido estabel a ria enrolada para « velhos condiscipy apoeira foram, “Tanta hist -poderio di- zer alguns dos meu! los to: Mestre Bimba ¢ sua ¢ da ironia objetiva do no conjunto, uma ex- negro na Bahia, do negro no Bras pressio tf a ou nao cons C Nio me ¢ tinha ciéncia plena, uma vez que ja soberal o ele da ironia esti principalmente dividual na impo- abe determinar se diss a objetividade na superacio d nia da consciéncia in 9 coletiva de um jogo de linguagem sigh Ou de um jogo de corpo E é disso. mesmo que se trata: de corpo. As culturas costumam definir-se pelt tonica do soma (cor- uma cultura ironica do po) ou do signo (escrita). A cultura ocidental é predominante- mente signica, porque fez da escrita e do, conceito os e1Xo» dasua universalidade, do seu poder de ros complexos civilizatérios. Trans- irradiacio planetirio, Isso nio passou despercebido a out parece até mesmo em nomes proprios, como o de um iniciado Maktubingar, que significa “a escrita & 0 poder afri- sar no Camerun Numerosas culturas tradicionais, como as asiaticas ¢ as canas, sio basicamente simbélicas, 0 que equivale a dizer “cor porais”, pois partem do corpo para relacionar-se com © mundo. O simbolo, diferentemente do signo, nio se universaliza nem s¢ reduz ao conceito. Precisa do aqui-e-agora de uma situagio, da concretude corporal de um individuo para interpreti-lo ¢ vive lo, Pode até mesmo utilizar alguma letra, mas vive da oralidade. ni ea : io como mero recurso técnico, e sim como o arcabougo de um rel : Jacionamento com o mundo, que inclui a respira¢ao, @ vitalida- da . Je fsica,a orca de realizago,a movimentacio no espago.0 cul 4 transcendéncia. Mestre Bimba: corpo de mandinga O simbolo é como uma cebola que, arrancando-se uma apés outra as stas Camadas, no final nie tem nada, mas deixa as marcas da experiéneia corporal do descascamento Tal experiéneta imphea uma cultura, De reconhecimento dificil. to, porque nos habituamos a ver cultura apenas ali onde o conceit ea letra exercem o seu mandato de onipoténcia, Por isso, temos dificuldade em reconhecer a sabedoria do analfabeto ou do pobre, cegos para a evidéncia de que culto ou sibio (¢ nao erudito letrado) & aquele que produz saber a partir da sua pre cariedade no mundo. Essa dificuldade sempre teve grandes conseqiiéneias na hie rarquizagio social. Sempre esteve associada 4 resisténcia que tém 0s individuos “claros” da sociedade global em reconhecer atribu- tos de pessoa plena aos homens de pele escura. Dificuldade, por exemplo, em perceber ou mesmo admitir que gente negra ¢ sem dominio da escrita tenha consciéncia politica: ou entio em atri- buir ao pertencimento a cultos iniciiticos motivagio profunda para atuar criativamente nas relagdes sociais. E uma dificuldade esperta ¢ desonesta, como sabemos, E que. com ela, 6 preconceito passa facilmente da auséncia da letra para ndo letrado, o ne: TO per- a presenga da cor. Ou seja, mesmo qu manece objeto de juizos de valor desfavoriveis, originalmente as- sociados a coisas como escrita, cultura, capacidade civilizada para as ciéneias, as artes, a politica e © amor. © exquecimento hist6rico ¢ 0 recaleamento social ajudam 0 preconceito. No Brasil, por exemplo, as elites posteriores 4 Abo- — em seus roman ligdo da Escravatura “esqueceram” de dizer ces, manuais, ensaios, artigos de jornal ete. — que muitos misi- cos, pintores, escultores ¢ politicos de destaque ma vide nacional é Por isso, os nos séculos XVII © XIX cram negros ou mutlatos. Por sso, 0 des conscientes ¢ sub “escuros” ficaram relegados, nas represents conscientes do imaginirio coletive, 4 esfera do popular, do que em princfpio dispensa a letra. a 30 Bahiann, A cidade & de fato trans-historica, africana, jorjamadig Jorge Amado & praticamente 0 nome de um de seus dan mitologices. O visitante decidido a fazer a experiéncia heteg” nea da cidade fala a sua linguagem, para aprender, com a . abe. ¢a (ori) & propriamente uma divindade, a ser alimentada; o, Corpy baiano, a usar o corpo ter boa cabega. Na sabedoria nagé, um templo. Essa, a cultura que Levenson, 0 personager belg, de ‘Tenda dos milagres, vai buscar junto aos terreiros de candombie © as rodas de capoeira. Nada disso é idlilico, nem cheira a flor de laranjeira,como gj zem os antigos, Por mais peculiar que seja, toda cultura é atraye, sada por relagdes de domin 10, Mais OU MeNos Opressivas, entre classes ¢ fiangdes sociais, e hi uma historia de lutas acetbas ent povo e estamentos dominantes na Bahia. Mas, no discurso sobre 0 éthos baiano, o plano mitico mantém uma continuidade Por qué? Muito possivelmente, porque Salvador sempre foi uma nario, no sentido de comunidade ampliada, com todas as vantagens ¢ todos os 6nus que ensejam a aproximacio e a diferenciacio for- tes, caracteristicas do comunitario. Quando as coisas do mundo real-hist6rico opdem, para além do discurso, o seu desmentido 4 narrativa, nio sobrevém o desencanto niilista, ¢ sim a recom- posi¢io afirmativa, mitolégica, do espirito da cidade. Esse espiti to foi trazido e fortificado, como bem se sabe, pelos africanos Primeiro, os povos do grupo lingiiistico banto, originarios de Angola e do antigo reino do Congo. Deixaram suas marcas gr a irmandades religiosas cat6licas, a suas religides tradicional * tetizadas nos candomblés angola e congo, a sua presenga m8 festas populares e no Carnaval, 4 difusio da capoeira € do samba Depois, a influéncia dita sudanesa, com supremaci dos A e dos nagés. Foi tudo isso, em linhas gerais, que literalmente ® e canizou Salvador e fez com que, em torno da familia-de-san’® te — singular de das comunidades litargicas, se criasse um modelo sing Gas in- ganizagio social da gente negra. 34 Bat igen, ssignagio de “moleque Ténue era a linha entre a designagio wees. ma Fe ex-escravo, O CAPOEITA Cra, entre, “fiel” ou “grato” para o ex-eser: aa tanto, a “cala a boca ry in aquele negro que, ouvindo algo como “cala a boca, mutegueyn . 7 Era provoca e Muleque é tu!” Era um 5 cador Perm, responderia no atc 1 Rozentino: nente, como bem verseja Manoel Rozent Eu ano © capadécio da Bahia, Esse eterno alegrete, Que passa provocante em nossa frente, Brandindo 0 seu cacete, A reagao social ¢ policial era dura, como testemunha 6 pro- prio Bimba: Um dos castigos que davam a capoeirist as que fossem presos brigando era amarra * um dos punhos num rabo de cavalo ¢ alelo. Os dois cavalos eram soltos ¢ tos a correr em disparada até o quartel. C brincadeira, que era melho outro em cavalo par; pos- -omentavam até, por r brigar perto do quartel, pois houve muitos casos de morte. O individuo nio agiientava Ser arrastado em vel locidade pelo chio e mortia antes de chegar ao seu destino, o quartel de policia. Houve perfodos de Tea¢ao ainda pior, Entre 1864 € 1870, 0s dos 4 forca para lutar na Guerra do Te! Stava in casa Mestre Bimba: corpo de mandinga Sem pensé, sem magind Salomao mands chamé Pra ajudé a veneé Esta batalha liberd Eu que nunca viajei Nem pretendo viajé Dé meu nome, eu v6 Pro sorteio milita Quem nao pode nao intima Deixe quem pode intimd Quem nao pode com mandinga Nao carrega patud Quem podia “intimar” (0 patriciado dominante) deixou na miséria, sem pensio, os negros capoeiras retornados da guerra, E, ainda por cima, terminaria criminalizando a “pritica da ca- poeiragem” no Codigo Penal de 1890. Capoeira, como se vé, nio era nada que encorajasse 0 apren- dizado, nem que um pai recomendasse ao filho, sem mais nem menos. Mas Bimba nio apenas era filho de um campeio de ba tuque, como também pertencia por destino J linhagem do povo Jes. a quem ninguém cha- de santo e por vocacio a estirpe daquel As técnicas do batuque jé lhe maria impunemente “moleque™ aos 12 anos eram familiares desde muito pequeno, mas foi mesmo de idade que se iniciou na capoeira com © africano Nozinho mo Bentinho, capitio da Compa nhia de Navegagio Baiana, na antiga Estrada das Boiadas, hoje o diz Bule-Bule bairro da Liberdade, em Salvador. Conn Bento, também conhecido cor Bimba aprenden com Bentinke O toque, a ginga, a malicia Com pouco tempo sabia Tindo com grande pericia Estava pronto pra briga Com paisana ou com policia 36 Baliiae, Mas Bentinho era um mestre da capoeira ANtIga, disse depois passou a chamar-se “capoeira angola”. Segundo “dar um salto mortal ue Cong capazes de , era desses capoeiristas capa: fram ma bon ”, como relata Decinio, de uma caixa de cebola”, como land Bing “Di um sirtu mort na boca dum caxdu di cebola!” Epa a da mesma estirpe de Besouro Mangangi que Seria capa2 i ang di costa i cai de vorta dentru dus chinélu!” Em principio, capoeira seria uma Coisa s6, uma arte Marcial praticada por descendentes de africanos no Brasil. Mas, no deta. Ihe, as coisas nao so exatamente assim. S30 varias as modal, des de luta existentes na Africa, em geral a base de Pernadas algumas das quais chegaram a0 Brasil com escravos, basicameny, 05 angolanos. Hi referéncias, por exemplo, & modalidade nok, que tem a ver com a zebra € suas patadas. Na Angola de hoje,o pesquisador pode assistir & bassula, uma luta de agarrar e derry. bar; 4 cabangula, luta de tapas e chutes; e outras, Foi esse tipo variado de técnica de ataque e defesa que re- sultou na pernada, banda ou batuque (Rio de Janeiro), na pungs (Maranhao), no tombo da itina (sertéo da Bahia), no batuque baiano, que alguns vém como matriz da capoeira. possivel. Mas, quando Bimba sustentava que a capoeira era uma criagio brasileira, tinha toda a razio, por referir-se 4 sintese operada no Recéncavo a partir da miltipla heranga africana. Quando a sintese se consolida, confirma-se igualmente 0 home “capoeira” como um genérico, j4 que entre os proprios Praticantes os nomes variavam segundo oO momento e 0 bel- Prazer de cada um: “jogo de Angola”, “brincadeira”,“vadiagio"- Sobre © vocabulo capoeira (em suas varias acepcdes, fi7-® Presente em quase todo o territério nacional), fildlogos nacio- hais jd gastaram muita tinta e papel, Parece mesmo ser palavra de origem tupi, para significar 0 mato baixo que cresceu na derrt- bada de dar aves ( i : ae uma mata virgem. Significa também cesto para se : : eee aliés, capoeira € 0 nome de uma ave especifica), a Mestre Bimba: corpo de mandinga conchisio do fildlogo Antenor Nascentes no sentido de que os escravos que traziam capociras de galinhas para 0 mercado pra ticavam 0 jogo de corpo nos intervalos. Capoeira de Angola é, por sua vez,o nome de um dos estilos (modo de tocar e de jogar) de capoeira, caracterizado pela manha € por movimentos quase coreogrificos. Ea antitese, por exemplo, do sio-bento, jogo de movimentagio ripida. Hé muitos outros, a cada um dos quais corresponde um toque especifico. O conhe- cido Mestre Pastinha tocava sio-bento-grande, sio-bento-peque- no, angola, santa-maria, cavalaria, amazonas ¢ itina. J Waldemar Paixdo, o refinado capoeira do bairro da Liberdade, praticava to- dos esses, mais benguela, ave-maria, samongo, angolinha, jeje ¢ estandarte. E assim por diante, cada mestre administrava, cortando ‘ou acrescentando, um repertério de toques ¢ estilos. Igual quase sempre era a roda da capoeira, formada com or- questra de berimbaus, pandeiros e ganzas. Em certas vilas do Re- céncavo, podia haver viola no lugar do berimbau, além de pan- deiro, atabaque ¢ chocalho. Mas em Salvador nao podia, nem pode, faltar o berimbau. Tudo isso posto, dava-se 0 preceito do jogo: Formada a roda, dois capoeiristas agacham-se, silenciosos, na frente dos instrumentistas, um dos quais canta a chula inicial ow ladainha, No instante em que se chega aos versos “Tai, volta do mundo / Ioié, que 0 mundo da”, os jogadores levantam-se € Per~ fazem um circulo completo no interior da roda, um atris do outro, ¢ 0 que esti 3 frente executa o primeiro golpe, dando ini- cio ao jogo. Este, normalmente, consiste em uma simulagio de combate, uma espécie de balé marcial, sempre ritmado por ins” trumentos e cantos, em que OS contendores experimentam, sem realmente bater, golpes, gingando € negaceando. De modo geral, o objetivo € desequilibrar o outro, mas POF malicia ou“mandinga” do que por forga fisica, No mero do jogo, pode dar-se a"'chamada de Angola”, sto é um instante de inter= 37 Tupcio, em que os jogadores abragam-se, dangando para a frente © para tris, até que um deles desarme 4 chamada, reiniciando 9 jogo. Frisamos “normalmente” 1 festas de Ia *, porque sempre houve € ainda hi so — rodas mais agressi — em geral na rua ou en go ressivas, ao som dos berimbaus € das chulas, a capacidade 4 prova. As vezes, apenas uma es, jogo mais duro, de em que, mesmo de luta dos jogadores pode ser posta prova de destr malicia, outras ve! corpos que se estranham. Nis rodas fixas, tudo depende do espirito do mestre. Tradicio- a seu discipulo, pelo menos no nalmente, 0 mestre no ensinava sentido que a pedagogia ocidental nos habituou entender 0 1 seja, o mestre nao verbalizava, nem -lo metodicamente ao aluno. e de n conceituava verbo ensinar. Ou © seu conhecimento para transmiti Ele criava as condi¢des de aprendizagem (formando a roda da ca- pocita) e assstia a ela, Era um processo sem qualquer intelectua- lizacio, como no zen, em que se buscava um reflexo corporal, comandado nio pelo cérebro, mas por alguma coisa resultante da sua integragio com © corpo. Dessa maneira ¢ com essa mesma tradigao de relacionamen- to do individuo com seu corpo, o baiano Bimba foi iniciado pe- lo africano Bentinho no jogo nacional da capoeira. 40 Baliiae’ nentado na belts dO Cs ¢ Leis Machado tornou indava 0 figuring pidamente, o ormado por Bentinho, exper! es, Manoel dos nas rodas dos valent iro, como 1 se o Mestre Bimba, angole Mas 0 figurit entender a capoei yo mudava Fj do jogo em sua por : que o deixava insatisfcito Pa implicavam is cidades, por ques ra se ra baiana do pay- bem claro na cabega 0 que como Recife ¢ sado e a capoeita praticada ent uu Rio de Janeiro. Nio se sabe Recife, mas sa- 1 da capoeira nO e faca eram Jidade, porrete ues de banda de mé- muito da historia ara afirmar que agi “moleq es de bandas rivais mi- be-se o suficiente P; recursos freqiientes dos famigerados “Estes costumavam proteger 08 desfill ambucano. De seus lideres, 0 mais famoso inspirava verdade do Rio e da Bahia, a capoei- icdo policial: no inicio da se- danga do frevo sica litares no Carnaval perna foi Nascimento Grande, que o conheceram. Mas, diferent fense nio sobreviveu a persegu do século XX, a luta deu lugar abe-se até demais, para desgos- iro terror a quantos mente ra recil gunda década Sobre o Rio, por outro lado, s to da policia do passado. E que, lo XIX, sempre houve contatos estreitos entre fi testemunham a literatura € @ primeiramente, desde 0 sécu- guras das classes dirigentes e capoeiristas, conforme que, quando se mencionam as faga~ imprensa da época. Assim & a, Plicido de has de gente do povo como Chico Carne-Sec Abreu, Trinca-Espinho, Quebra-Coco, Manduca da Praia ¢ deze- nas de outros, nao se esquece de citar o grande diplomata Bario do Rio Branco € 0 escritor Coelho Neto como bons capoeiristas. Juca Reis, capoeira temivel, autor de muitas tropelias, era filho do Primeiro Conde de Salvador de Matosinhos ¢ foi pivé de uma séria crise politica no governo provisorio do generalissimo Deodoro da Fonseca, na transigao do Império para a Repabl Eram, na ve sam, na verdade, bi ambi, fe ade, bastante ambiguas as relagdes entre o Poder ica. constituil e tuido ¢ © mundo da capoeira. Os epitetos de cafajestes, Tr minosos € « : : >utros no cram sempre undnimes, uma vez que bavi 48 Bahia. AT Com os pg os § pé . 7 PS nao € exatamente um golpe, ¢ sim um espe Petacular de defesa, de ampliacio de espaco, Mas a esséncia da luta sempre esteve no desnoy adversario por meio d vim, team, fa malicia e da negaca.A estraté “Poeira era tentar iludir o oponente envolvendo-o como a uma DLO do Bia do bo Mios e ps, lr aplicarg do othar gy tuma verdage Or exemplo), mas pela falsidade, isto é, pela tapeacio do adversitio, com trejeitos de aranha na teia, até pod Bolpe. No fundo, uma arte de sedugio e engano Outro, Cuja tOnica no se definia pela pretensio a identitaria do corpo (como no boxe anglo-saxio, p. Capocirg € bicho ‘farso’”, resumiam os antigos O problema & que toda essa arte podia seduzir a s Propria € deixar-se levar pelo fascinio estético dos movimentos, esque. cendo que eles estavam a servigo do combate ou do que a peri- gosa tradicao da capoeira conhecia como “mardade” (maldate) Em outras palavras, a destreza estetizada perigava converter 0 mortifero jogo em um belo rito dramético, ou em uma “prese- ranges com pada” (como se costuma dizer na Bahia), em que se encenava cat, um confronto manhoso entre dois corpos. Foxe como fos E que, nas formas inicidticas de transmissio do conhecimen- «xo so anday to, ndo se pergunta muito o porqué das coisas. Sempre foi assim, ade ats Ag ssim, € pronto. S6 aos mais graduados, portanto aos mais ve- i a) ‘Arias, lhos, cabe estabelecer gradativamente as conexdes ws é a palavra- mas sem jamais perder de vista que o importante é a Pp: ca -e-agora da existéncia. agdo no aqui-e-agi i spa capo | Isso diz respeito a0 candomblé, mas tar icopocne | . loreio, s dicional. © aprendiz pode imitar um gesto, um ee i m mi indagar sobre a sua eficdcia, O mesmo acontece et ee : ico, ii fu cinematogral de luta orientais,a exemplo do kung fi an matico assumem 0 primeiro P! ai y ter sido a marca r 6 grupal, que as, como © coreogrifico ¢ 0 drar ; i le Assim, um movimento qualquer po ir or. iri estilo gular de um grande capoeirista ou de um 8 ’ s » foi criado. M: faz pleno sentido no contexto em que esere Bimbas carpe de mandings passar do tempo, ° que era produto da sabedoria inst { ania nstintiva de um corpo torma-se pura retorica corporal, mero ornamento, | ent, Dai og risco de enfiaguecer se o lado guerre de jogo. asco d aquilo de que se advert ssquiecel + Pe le esquecer por exemplo, na chula prove, rativa dos capoeitay permambueamos: “Creseen, cam /Pae morreu.) Foi esse risco que inquietou o Mestre Bimba, deixand jnsatisfeito com uma certa capoeira angola do seu tempo. £ pre ciso frisar“uma certa”, porque havia facgdey diversas de angoley ros na Bahia, A capoeira jogada por Tiburcinho, Totonho Maré Waldemar da Paixio, Traira, Aberré, Onga Preta, Samucl (Qu do de Deus ¢ outros do mesmo quilate no era a meyma que s¢ exibia na porta do Mercado Modelo ow nay proximicades de pontos tursticos, “apanhando dinheim no chio com a boos” como costumava dizer zombeteiramente 0 Mestre Bimba. Ele sabia que o lutador faz a luta deixava clato que nada tinha con tra angoleiros como Traira, Cosme bo, Totonho da Maré ¢ outros. Fosse como fosse, firmou-se nele a conviegio de que aangola como estilo, andava fraca. E provou. Eu 0 ouvi narrar certa feita uma de stas lutas péiblicas com um angoleiro, cujo nome exato me havia fugido da memoria, mas que agora, conferindo levan tamentos feitos em jornais da época, deduzo que se tratou de um capoeirista chamado Vitor Benedito Lopes. Tendo recebido do juiz 0 sinal de come¢o do combate, Bimba aproxima-se do ad- versirio, sem gingar, sem maiores delongas, ¢ pespega-Ihe um galopante” — nome técnico para um violento murre na cara —, que o faz cair ¢ sangrar. Surpreso & apavorado, © oponente arita:“Assim no vale!” Ea resposta pronta de Bimba, referen- dada pelo juiz: “Isto aqui é luta, nao & roda.” Como disse, ouvi de Bimba a historia sem © nome do adversirio, mas depois 0 associel, POF © outros, a Lopes. De fato, em um texto da década de 1980) sobre er podido fixar Jusio de 49 82 Bahiaem» A lembranga é forte, porque o momento foi de pura epifania: a tensdo entre os corpos em movimento, 0 som da viola ea la~ dainha monocérdia provocaram o aparecimento de uma forma para mim inédita, surpreendente e, a0 mesmo tempo, sedutora. Eu buscaria repeti-la anos depois, no inicio da vida adulta. Foi, alis, quando fiquei sabendo de meus primos residentes em Acupe que me marcara no jogo de Santugri que toda aquela lenti era coisa de dia de festa. O capoeira era agilissimo, dava surra em gente até com chapéu de feltro. E mais: tomava com facilidade faca da mao dos outros. ‘Ai,entio, aconteceu Bimba. Negro imenso, fortissimo, mito- Jogico, a quem todos respeitavam muito, € eu me punha, como na cena com Santugri, boquiaberto. Negro mandingueiro: em um dos dedos da mio esquerda com que segurava o berimbau resplendia um s6lido anel de prata com uma caveira incrustada. Em qualquer toque, sua levada puxava sempre, compulsoriamen- te, para a frente. Para entender isso, é preciso levar em conta que o jogo da capoeira é tradicionalmente defensivo, e isso se torna patente na movimentacio em esquiva de cabeca, tronco e mios, no jogo de corpo negaceante. Por esse motivo, 0 toque angola puxa para tras. Que fez Bimba? Recriando golpes ¢ tornando mais ofen- siva a movimentacio, puxou o toque para a frente, o que fica muito visivel nos ritmos de sio-bento e banguela. Com Bimba, tornou-se claro para mim como pode o berim- bau aumentar a energia que passa no ritmo. O jogo, os corpos dos jogadores e, eventualmente, a violéncia sdo estrategicamente controlados pelo berimbau e levados a um estado de relaxamen- to que favorece a flexibilidade do corpo e a concentragio men- tal. Desenha-se aqui um tipo sutil de saber corporal, estranho pressio caudataria da tradigdo cultural greco-latina, que faz o corpo integrar-se na civilizacio cristi do Ocidente como um objeto 4 parte do sujeito. Ja pude precisar em mais de uma ocasiao que a lingua arabe ispoe de trés palavras para dizer “corpo”: jassad (corpo inerte), jism (corpo Vivo,em movimento) e daat, que é 0 “si mesmo cor- poral”, isto €, 0 Corpo proprio enquanto componente fenome- nologico da experiéncia singular do sujeito no mundo, irredutivel j consciéncia € a representacio lingiiistica Essa precisio deixa-nos ver, nos dois primeiros casos (corpo inerte ¢ corpo vivo), a diferenga entre 0 “si mesmo” consciente (psiquico) € 0 corporal. Assim, meu corpo é capaz de funcionar ¢ agir corretamente sem que 0 “si mesmo” (enquanto autocons- ciéncia) seja mobilizado. Mas esse corpo nao pode perceber-se como um todo (0s olhos perdem a percepgao de partes internas € externas), a percep¢io total é privilégio do si mesmo consciente. A cultura ocidental supervaloriza essa autoconsciéncia, rele- gando o saber do corpo 4 dissecagao do cadaver pela medicina ou i mecanica do corpo em movimento, por abordagens as mais diversas. Sem um “si mesmo”, 0 corpo acaba tornando-se um problema, corroborado tanto pela religiio cristi como pelo de- senvolvimento das priticas médicas. Como diz 0 apostolo:“Por- que o exercicio corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa” (Timéteo, cap. IV, v. 8). Ou o jansenista Pascal: “© corpo, esse trapo.” Pensar um “si mesmo corporal”, como na tradigao arabe, im- Plica rejeitar de saida a nogio de corpo como mero habitaculo inflavel de forgas (a idéia grega de séma) e admitir uma dimensio Propria para a mecanica inteligente dos movimentos corporais. Ea cultura do grupo que dé aos individuos os meios de represen- ‘aio do seu corpo. Este, por sua vez, seleciona ¢ assimila os es- timulos da ordem social ¢ cultural em que esté imerso o indivi- duo, ensejando que a linguagem se inscreva em sua corporalidade. © corpo encarna, portanto, mediacdes simbélicas coletivas: as ar- hculacdes flexiveis do corpo do capoeirista (as conhecidas “juntas moles") associam-se a abertura inventiva da cultura dos negros ho Brasil 83 a Baiiiaw’ Por isso, pode orientagdes mene nad instantancamente, em fungi de letra me dentonalmente assimiladas, Nao ha predominio da ‘ ceito, mas forga, ritmo © “micropensamento” Corporal, que cria uma forma especial de conhecimento, uma intencionalidade fisica, Fernando Pessoa resume em verso:“Tudo que em mim sente esta pensando.” E pensamento que pode pro- vir de uma laténcia (para evitar falar aqui de inconsciente) inscri~ ta na memoria coletiva de vicissitudes hist6ricas. Por exemplo, 0 curso de especializagio em emboscada, oferecido por Bimba a alunos formados, pode ser interpretado como um retorno sim- bélico do escravo quilombola ao mato. Mas também outras formas da sabedoria corporal faziam-se presentes de modo claro e consciente no ensino do Mestre Bim- ba. Primeiro, a importancia do gingado, que orienta a defesa € 0 floreio das maos, obrigando 4 flexibilizagio da coluna vertebral, ‘0 continua do tronco e dos pés, suscitando 0 equi- 4 movimenta¢a librio dinamico do corpo. Depois, o deslocamento leve dos pés a partir da cintura re- laxada, como nos passos do samba. Nao a toa, uma modalidade particular dessa danga, 0 “samba duro”, fazia parte das praticas introduzidas por Bimba. Finalmente, a obtengio de um estado mental lacido e ritmicamente integrado com a roda (desde o parceiro do jogo até todos os membros da orquestra), visando & confianca em si mesmo e ao controle do medo. Esse tipo de saber era passado nos muitos aforismas do Mes- tre:“Afobacio e ligeireza nao sio agilidade”, “nao gosto de pes- coco grosso ¢ duro... bom é pescogo comprido € forte”, “suor quente é sinal de satide”, “nao gosto de junta mole demais”, e assim por diante. Nessa sabedo- “nio abra demais os sovacos ria, divisava-se um mundo e, por que nao dizer, um projeto. E isso precisamente 0 que afirma o filésofo francés Merleau- Ponty, quando atribui a0 corpo um “projeto sobre o mundo”. Diz ele que Mestre Bimba: corpo de mandinga somos convidados a reconhecer, entre 0 movimento como processo na terceira pessoa ¢ © pensamento como representa- gio do movimento, uma antecipagio sobre uma apreensio do resultado, assegurada pelo proprio corpo como poténcia motriz, “ rojeto motor”, uma intencionalidade motriz. Em termos mais simples: 0 corpo tem l6gica propria, irredu- tivel 4 légica racionalista da cabega. Implica uma forma de co- nhecimento direto, intuitivo sobre o mundo, mais da ordem do adivinhar do que propriamente do saber. O corpo conhece, por- tanto, de modo préprio, antecipando, adivinhando, intuindo. © “micropensamento” corporal vive mais de objetos externos e de ritualizagées do que de mundo interno. Por isso que 0 corpo na capoeira, assim como na dimensio sagrada e ladica das culturas tradicionais, define-se em termos. grupais (mais do que em termos individuais), ou melhor, ritua~ listicos. Na tradigio africana, ele ¢ considerado um microcosmo do espago amplo (0 cosmo, a regio, a aldeia, a casa), tanto fisico como mitico, o que faz da conquista simbélica do espago uma espécie de “tomada de posse da pessoa”. Seja nas formas religiosas, seja nas formas ltidicas, 0 corpo integra-se ao simbolismo coletivo na forma de gestos, posturas, diregdes do olhar, mas também de signos e inflexdes microcor- porais que apontam para outras formas perceptivas. Por esse mo- tivo, um trago considerado fundamental na capoeira, como a malicia, pode ser reencontrado em priticas vigentes em outros Paises, mas nascidas de uma andloga situacio colonial e experién- ia da escravidio negra. Assim é que Matthias Rohrig, professor de Histéria na Uni- versidade de Essex (Inglaterra), pesquisando 0 “jogo do cacete™ (juego de garrote) venezuelano, observa: Chamou-me particularmente a atengio a importincia atri- buida pelos mestres do jogo do cacete 4 malicia, ao engano. Embora existam as fintas nas esgrimas de tipo europeu, no (85 a Batia”’ A ou entral se chega nunca a consutuir a malicia em categoria cent nessas artes.” zos de paus Afirma o pesquisador que sempre existiram jogos de pau 5,0 que Ihe refor- s onde houve escravi fade africana no jogo de pau ¥ nas colonias americana: aa hipotese de ancestralid: enezuc~ lano. ; ocedente. A malicia, for- ‘A observagio quanto 4 malicia é pr 1 de escravos, forros € malandros, decorre do ibo- a corporalidade atravessada pelo sim o sagrado, 0 ltidico ma de resistenci “corpo mandingueiro”” bivalente dos ritos holisticos, em que mente imbricados. No rito, entendido cosmogonicos do grupo, lismo aml © 0 guerreiro estio fort como um conjunto de procedimentos © corpo encontra um outro tipo de totalidade, na qual se produz algo como uma sinergia (integragio coletiva das energias ou dos sentidos individuais), e ele se torna ao mesmo tempo sujeito € objeto. Sujeito, no sentido da soberania dos misculos, gestos € movimentos; objeto, no sentido da entrega ao dominio do ritmo e da liturgia coletiva. O ritmo € 0 rito dio vida ¢ alma 4 capoeira. vorecem a epifania dos corpos em movimento, trazendo beleza fio eles que fa atlética para o gingado e para a execugio harmoniosa dos golpes ¢ baldes, Nao se trata, portanto, de mero esporte, nem de mera técnica de ataque e defesa, mas de um jogo, isto é, uma totalidade (holos) articulada de formas inventadas, abertas a apropriagdes liidicas ¢ guerreiras, que também se pode designar como uma cultura, se no como uma alma ou espirito de grupo. As vezes, a capoeira nao precisa sequer usar seu nome pré- prio para existir. Recentemente, numa dessas lutas de vale-tudo uc ita : que tem conhecido uma certa fortuna nos Estados Unidos e no * Assungao, M.R.“Juege ‘Juegos de palo em Lara: elementos para la historia social de un Harte marcial venezolano”, Revi i me Revista de Indias, Madri, 1999, v. lix, n. 215, 9 Batiiaen! © langar uma pedrinha no lago, vocé pode ver forma se espalham na super- rem-se circulos concéntricos, qu ficie da agua, Imagine que cada circulo possa representar um periodo de sua vida, portanto vinculado ao arco descrito pela pedrinha no ar, i forca do arremesso Quer saber © que se entende por destino? E algo assim como a linha imagindria tracada pela pedra no espaco, Destino & 0 imaginario de um lance, de uma forca de partida que, embora possa ser alterado, tende a absorver a gente para o interior daqueles circulos concéntricos. Disso costuma-se o lugar, saber muito no candomblé, porque é lugar de destino, como diz Roger Bastide, da tradi¢io mitica que fornece ao mesmo tempo os quadros dos mecanismos de pensamento, das operagdes do compor- tamento humano e, finalmente, das trocas sociais. A sociedade ocidental-européia, esta que a ordem ¢ © pro- gresso erigem como lugar da verdade absoluta, é 0 contririo do candomblé, porque, como também precisa Bastide, passa-se das trocas sociais para 0 comportamento, deste para os mecanismos das operagdes légicas ¢ finalmente para as ideologias. Na cosmogonia dos candomblés nag6-ketu-jeje-angola-con- g0, 0 destino é comandado pelo modo como se seleciona cosmi- camente a consciéncia ou cabeca do individuo. Nessa selecio consiste o “encantado” ou “orix4” ou ainda “santo”, mas tam- bém “vodum”,“inquice”, principios simbdlicos, divinizados dos cultos negro-brasileiros, esses que antes, muito tempo antes, eram genericamente chamados de “batuques” — a mesma designagao primitiva da capoeira. Os “odus”, ou narrativas miticas e divini- zadas do sistema divinatério nag6, sio os veiculos que guardam € transportam o destino de cada um. Mestre Bimba: corpo de mandinga Uma outra selecao — no cosmolégica, mas ética — é feita quando a cabeca se rege pela ancestralidade, pela forga de um pai fundador. Pertence-se a um orixa por destino cosmolégico. Des- cende-se de um ancestral por destino geracional Mas a movimentacio cosmolégica ¢ geracional (histérica) de cada individuo € assegurada por um principio dinamico, am- bivalente, indeterminado, chamado Exu. Pode-se também chamé- lo de“Elegba” ou “Legba”, cuja corruptela é“Lemba”.“E Lemba, @ Lemba / E Lemba do Barro Vermelho” — louvacio antiga de capoeira a Exu. Melhor: Lemba mesmo, pois esse é um dos nomes de Exu no candomblé de caboclo, com 0 qual Bimba tomava muito cui- dado, segundo Mie Alice. Embora nio integrem 0 panteio cultuado pelos candombleés da linha nag6-ketu, 0s caboclos sempre foram por eles reveren- ciados como donos da terra. Alids,a maior parte da flora conhe- cida e manipulada nos terreiros é de origem indigena. Em Sal- vador, eles se multiplicavam principalmente na Cidade Baixa, nos lugares onde mais havia mata. Foi famoso o candomblé-de- caboclo de Mie Silvana, quase uma contrapartida para a fama do candomblé de Angola de Tia Neném. Pois bem, Bimba era ogi-alabé (ogi encarregado do ataba- que) em candomblé-de-caboclo. E bastante possivel, alids, que o fato de pertencer a esse universo lhe tenha facilitado a primeira exibic¢io de capoeira num palacio de governo, em 1937. E que se sabe das ligagdes entre o entio interventor Juraci Magalhies e 0 Bate-Folha, candomblé da linha congo, zelador de caboclos, liderado pelo famoso babalorixa Bernardino. Conta-se mesmo que Juraci seria ogi do Bate-Folha. ‘A Decinio, Bimba disse certa vez que orque trabalha com as Tal~ “o candomblé-de- caboclo é mais forte que o afticano, A menos que se tratasse de uma outra forma de pronunciar ‘Malembs equivale a Oxalé

Você também pode gostar