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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS


INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

OFERTA DE DISCIPLINA DE FILOSOFIA PÓS-COLONIAL

1.1. Departamento: Fundamentos de Ciências da Sociedade


1.2. Disciplina: Tópicos Especiais em Filosofia (Optativa)
1.3. Número de Créditos: 04
1.4. Carga Horária: 60h
1.5. Professor: Claudio Medeiros
1.6. Semestre: 2023.1
1.7. Horário: quarta-feira - 18:00/22:00

TÍTULO:
De Nietzsche a Mbembe: considerações sobre memória, historiografia, oralituras e luto

EMENTA:
O curso é dividido em duas partes. A primeira consiste em analisar a constituição do
conceito de “história a serviço da vida” a partir da filosofia de Nietzsche. O fio condutor
será o estudo da Segunda consideração intempestiva (1874), que nos permite pensar o
conceito de “força plástica” como medida para a determinação dos graus de memória e
esquecimento requeridos para a saúde de uma forma de vida. Para tal, realizaremos
excursões a textos nietzscheanos alternativos, ou tomaremos parte de disputas filosóficas
às quais o autor se refere. Como a historiografia útil à vida é aquela que não age como
entrave para o processo de constituição de uma poética, analisaremos a vocação do
“esquecimento” na composição do tempo histórico e a relação desse conceito com a
ideia de “felicidade” nos desdobramentos da filosofia de Nietzsche em Genealogia da
Moral (1887).
Porém, de antemão, a introdução a estes temas filosóficos será precedida pelo estudo de
algumas contribuições fornecidas pela obra do historiador/filósofo Reinhart Koselleck,
pontualmente aquelas que compõem sua análise semântica dos tempos históricos contida
no livro Futuro Passado (1979) e História dos Conceitos (2006). Será importante este
desvio para que se circunscreva o caráter do sentido histórico tal como retratado por
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Nietzsche, em meados do XIX. Ou seja, como uma cultura que compartilha o imaginário
de uma historiografia capaz de restituir verdade e justiça a um regime de coisas, sob a
crença em uma objetividade extraída da contemplação passiva de uma unidade de
fenômenos. Em Kosselleck encontramos um balanço, realizado pela teoria da História,
de um inédito acontecimento moderno: o surgimento do conceito de História como
sequência unificada de eventos que constituem a marcha da humanidade, e como objeto
de disputa de lutas políticas que farão dos revolucionários intérpretes privilegiados do
processo universal. Tomaremos como exemplo desta fase do estudo o 18 de Brumário:
Marx situa as épocas de crise revolucionária como referenciais para avaliação do
acontecimento histórico. Como contraexemplo, Benjamin, nas Teses sobre o conceito de
História, irá fornecer a imagem do revolucionário que acende no passado a centelha da
esperança exigida para a destituição do progresso da barbárie.
A segunda parte do curso, reorientada pelo espírito do texto nietzscheano, e em
conformidade com os procedimentos que deram margem a uma “Genealogia” ou à
escrita de uma “história efetiva” em Michel Foucault, consiste em desenvolver a
indissociabilidade entre a História da Razão no Ocidente e a Arqueologia do silêncio.
Para tal, faremos um estudo de caso do prefácio à História da Loucura na Idade
Clássica, e veremos como a análise das visibilidades e enunciabilidades em Arqueologia
do saber nos fornece uma “fenomenologia do arquivo”. Daí em diante, introduziremos a
discussão pós-colonial sobre as afrografias da memória na constituição de uma
temporalidade própria às tradições da diáspora negra. Das relações entre a pré-história
do Estado e a institucionalização do arquivo oficial, (Derrida, Mbembe) às “estéticas da
oralidade” nas tradições do sagrado popular no Brasil, retomaremos o percurso crítico
contemporâneo dos Black Studies, que têm viabilizado o elemento ensaístico nas
narrativas de uma passado irrecuperável e que, por isso mesmo, alcança a forma de uma
história que “talvez tivesse sido” ou “poderia ter sido”. Através da análise do
“pensamento do rastro/resíduo” (Glissant), do “erotismo” (Audre Lorde), do “excedente
ineliminável” (A. Mbembe) e do “ruído negro” (S. Hartman), veremos como uma
História escrita com e contra o arquivo colonial, na luta antirracista, terá sido uma
alternativa em uma governamentalidade onde o excedente das forças vitais convive com
o dispêndio de vidas.

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