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coleção
KRAFT
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KRAFT. Sf, Kräfte 1 força, vigor, energia. 2 potência. aus
eigener Kraft pelo próprio esforço. außer Kraft sein estar
revogado, sem efeito. in Kraft sein estar em vigor.
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Paulo
Braz
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Paulo
Braz
Rio de Janeiro
2016
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Uma Vida Exaltada
por Luis Maffei
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Vinagre Imparcial - 23
Questões Existenciais - 27
Coisas Mundanas - 29
Quando Acordei de Manhã - 31
Rua dos Andrajos - 36
O Sol é o Sol - 38
Eu Danço com os Hamsters na Floresta- 43
Poema Redundante - 49
Amor Profunda - 52
Ejaculando - 54
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Uma Vida Exaltada
por Luiz Maffei
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O AFA de Paulo está nos decassílabos camo-
nianos; Camões, no erro e na morte; Herberto,
na metamorfose terrena, telúrica. Acima de tudo,
uma grande vontade de alegria nos versos que
aqui irrompem. Irrupção suave — assalto com
fitinha —, erótica num sentido que posso intuir
com o sintagma metafísica do corpo: não uma
vontade de abolimento dos limites (especulados,
especulativos) corpóreos, com sua pele e as peles
que sobre a pele pousam — as palavras, inclusi-
ve, as palavras, em primeiro lugar, pois este Eros
gosta (de) beijos com língua —, mas uma trans-
cendência transitiva. Ou seja, uma vontade de su-
perar limites no jogo de os mover, transcendendo
-os com a despercebida ousadia das crianças ou o
cansaço sage de alguns velhos.
Essa potência é um movimento que posso
chamar de radical, pois procura uma radix, fun-
damento, base, lugar onde faz sentido estar e a
partir de onde faz sentido errar. É mais tópica que
utópica esta erótica de Paulo, que, quando for-
ja a utopia, forja-a enquanto procura localizá-la.
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Onde? No corpo, é claro, que, desconhecendo a
impossibilidade de uma metafísica só sua, investe
nela com serena ignorância, atravessando muros
com terna violência, doçura impiedosa. Mas, sim,
doce, aberta à alegria e a um sorriso que nada tem
de clemente, muito tem de solidário.
Se há um arcano que rege os poemas de
Paulo Braz, é o Eremita. O velho, errante,
procura, e procura conhecer-se, mas só procura
enquanto caminha, sem pressa, sem paralisia.
Estas construções poemáticas de uma metafísica
do corpo transcendem também o contrário da
irrupção, do assalto, ainda que não transcendam
a variedade de direção e algumas palavras um
pouco perigosas — coração, destino, dor, amor,
desejo. Paulo as aprendeu, entre outros, com
aqueles poetas que citei, mas, como conheço as
leituras do autor, companheiro meu de aventuras
com poetas, citar aqueles nomes é quase estragar
a brincadeira.
Então, direi outra coisa: Paulo aprendeu um
monte de palavras perigosas e as acolhe em seus
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versos pois, tal eremita aparentemente solitário
mas amigo servil de Eros (se tão contrário a si...)
e de uma parca candeia (GPS rudimentar para
erótica de busca), está em constante estado de
preparação para o encontro e exercitou um duro
desaprendimento. As rugas do velho é a veloz im-
puberdade do menino que já se deixa ver qual na
inteira idade, quando subido irá não sei aonde —
a preparação para o encontro não pode ser pre-
paração para a morte? O homem vira especial se-
mideia, criança-estrela, no delírio de 2001- uma
odisseia no espaço, poema-sinfonia em forma de
romance que Arhur C. Clarke permitiu que não
fosse apenas uma obra-prima cinematográfica
kubrickiana. Num espaço-tempo assim subversi-
vo, distante como Saturno, o homem, solitário, é
posto de volta ao mundo, qualquer mundo (este
mundo), violentado e sábio.
Assim (mas não só) se podem ler estes poemas.
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Assalto à mão amada
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a Liz
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recordações
O sinal sob a boca lia-me
às tuas zonas mais obscuras
às múltiplas possibilidades do beijo
desencontrado
e que em outras vidas (suponho)
porventura infinitas seria
o vértice ardente de desagregação das substâncias ou
somente palavras ditas a postergar o fim
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É belo ver como te despes para o olhar
o poderes estar nua ainda
que vestida ou não
Cada palavra tua aproxima e
destrói o que dentro do desejo
é quimera para versos insuportáveis
quando ouço do suspiro úmido as velozes
circunvoluções da voz ainda informe
É através do teu corpo que te erro e suspendo
e consagro a turvação
de luzes sobre o ventre até a nuca
até o íntimo da respiração pausada
Submersa em lençóis é como te vejo agora -
nômade de espasmos entre
a morte e o que vem
E és um corpo fotografado contra a memória
súbito revelado no que dizes e retenho
nos sulcos ásperos da pele
para a exaltação da vida
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Mas da minha cabeça uma flor brota
delicada
súbita sobre a terra ávida
de espanto
e pólen
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À maneira de Herberto Helder
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lentamente
serias eu um homem tu uma mulher
com o mundo inteiro a atravessar-te
o corpo e ver nascer incessantemente
o espírito extremo do amor e da beleza como um sopro
no coração
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Na morte de Manoel de Barros
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Junto ao chão que o corpo de um homem encerra
hoje planta alturas inventadas
com que renasça a terra
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a Érika
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como se correntes de sangue inclinassem
colunas, o dorso dos animais peregrinos em oração
até romperem as cores, ao mais profundo das
[imagens
em rotundos horizontes
contra os limites da paisagem para o coração
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a Naiana
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a Bethina
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e explorarás outra vez as sendas deste
ou de outros mundos
enigmática visão
através dos teus olhos trarás o silêncio
e dentro o segredo
ou mistério
de que nem sequer dás parte
quando me ensinas o laborioso exercício da morte
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ao Kigenes
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coleção
KRAFT
Novíssimos poetas em sua primeira
recolha impressa.
1 - Fernanda Morse
2 - João Gabriel Ascenso
3 - Liv Lagerblad
4 - Heyk Pimenta
5 - Sarah Valle
6 - Mariana Campos
7 - Rita Barros
8 - Rafael Zacca
9 - Paulo Braz
10 - Rafael Sperling
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Cozinha Experimental
editoracozinhaexperimental.blogspot.com.br
editores responsáveis:
Manolo Santacruz e Barateza Duran
coleção
KRAFT
conselho editorial:
Marcelo Reis de Mello, Diana Klinger,
Aline Rocha e Germano Weiss
diagramação:
Barateza Duran
revisão:
Marcelo Reis de Mello
contato
brazpr@hotmail.com
B827p
Braz, Paulo
Paulo Braz: poemas / Paulo Braz. – Rio de Janeiro:
Cozinha Experimental, 2016.
36 p. ; 18 cm. – (Kraft; v.9)
ISBN 978-85-919089-3-6
CDD: 869.1
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Impresso e encadernado na Oficina do
Prelo para Editora Cozinha Experi-
mental no inverno de 2016.
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