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Programa: O arquivo colonial é organizado pela mesma lei que forjou as fronteiras da
Colônia no limiar da História universal. Enquanto gênero acadêmico-literário, a
historiografia é um museu que diz o que pode ser dito do passado e os tipos de passado
que podem ser ditos, de modo a preservar um vínculo entre verdade e “arquivo como
prova”. Organizar, selecionar, recortar o arquivo, impedir que certas imagens
indesejáveis do passado retornem como fantasma, daí seu caráter cronofágico. A
História (como o Estado) deve converter o “desaparecido” à condição de “morto”, para
que o luto cesse, e o ontem (nas suas dívidas) não extrapole os domínios da catalogação
acadêmica. Do contrário, não participaríamos do estranho imaginário de que somos a
escuta de um tempo em comum, do direito a um vínculo originário e coletivo.
O corpo virado no santo, o passista, o angoleiro que ginga na roda, enquanto ainda não
se constituem como endereços das vibrações do tambor, não se atualizam como sujeitos
de saber nessa manufatura de espaços que é a vida na pós-colônia. Um corpo que é
menos a extensão de um conhecimento histórico representado, e mais a herança que
ensina como a ginga foi princípio de movimento permanente na luta contra a
colonização do tempo: é ele que tomaremos como tema deste curso.
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