Você está na página 1de 7

IDEIAS, HISTORIOGRAFIA E TEORIA 3 (PÓS-GRADUAÇÃO)

Repensar o conceito moderno de História:


Novos tempos, outros tempos, depois do fim da história

Prof. Daniel Faria

Em várias frentes, discussões teóricas dos últimos anos apontam para um


esgotamento ou, ao menos, questionam os limites do conceito moderno de História. Esse
conceito é fundamental em nossas práticas, porque foi sob sua égide que se definiu a
profissionalização da História. Nele, encontramos formas de articular passado, presente e
futuro, pensando-se o tempo histórico como um processo contínuo, por vezes homogêneo
- nesse horizonte, a escrita da história é uma forma privilegiada para se desvendar como
as coisas humanas se transformam ao longo do tempo.
A proposta desse curso é repensarmos o conceito moderno de história a partir de
três eixos. O primeiro, “novos tempos”, é o estudo de trabalhos que defendem a tese de
que a historicidade do século XXI já é outra, não mais elucidada pelas categorias
temporais do conceito moderno de história, e sim marcada pela perspectiva distópica das
catástrofes, das mudanças climáticas, das novas tecnologias sociais, que engendram
novas relações entre humanidade, natureza e tempo histórico; nesse horizonte, as práticas
historiográficas teriam que ser repensadas, porque inclusive o passado já não seria mais
o mesmo. O segundo, “depois do fim da História”, refere–se à construção de uma espécie
de eterno presente neoliberal, em que o capitalismo parece operar como horizonte
inescapável, onde o futuro se fecha, numa espécie de eterna repetição do mesmo; e é
importante observar que ao mudarmos nossa relação com o futuro, também o fazemos em
relação ao passado. O terceiro, “outros tempos”, aponta para as discussões em torno da
visada eurocêntrica do conceito moderno de História e a necessidade de abrir a
historiografia para outras temporalidades, talvez mesmo rompendo com os paradigmas
de sua localização institucional.
A ideia desse curso é que ele seja organizado em torno de leituras de textos-base,
escolhidos entre os indicados na bibliografia de cada unidade, apresentados sob a forma
de seminários individuais. Ao fim do curso, teremos duas possibilidades de avaliação: um
ensaio abordando o tema do tempo histórico, em diálogo mais direto com os temas e
textos lidos no curso; um trabalho conectando o tema do tempo histórico ao projeto de
pesquisa a cargo de cada aluna.

Sobre o conceito moderno de História:


ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. Tradução de Mauro W. Barbosa de
Almeida. 5ª ed., São Paulo: Perspectiva, 2000.
KOSELLECK, Reinhardt. Futuro passado. Contribuição à semântica dos tempos
históricos. Tradução portuguesa. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.

1. Novos tempos

AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Tradução de Vinícius


Nicastro Honesko. Chapecó, SC: Argos, 2009.

ALEKSIÉVITCH, Svetlana. Vozes de Tchernóbil. Crônica de um desastre. Trad. Sônia


Branco. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

ARAÚJO, Valdei e PEREIRA, Mateus. Atualismo 1.0. Como a ideia de atualização


mudou o século XXI. Mariana: Editora SBTHH, 2018.

BUCK-MORSS, Susan. Dialéctica de la mirada: Walter Benjamin y el proyecto de los


Pasajes. Madrid:Visor, 1995.

CHAKRABARTY, Chakrabarty. The crises of civilization. Exploring global and


planetary histories Oxford University Press, 2018.

FREIXO, André et alii. Dossiê sobre nostalgia, em:


https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/issue/view/26

LACAPRA, Dominick. Historia y memoria después de Auschwitz. Buenos Aires :


Prometeo Libros, 2009.

ROTHEBERG, Michael. Multidirectional memory : remembering the Holocaust in the


age of decolonization. Stanford: Stanford University Press, 2009.

RUNIA, Eelco. Moved by the Past: Discontinuity and Historical Mutation. Nueva
York: Columbia University Press, 2014
SIMON, Zoltán Boldizsár. History in Times of Unprecedented Change: A Theory for
the 21st. Century. London: Bloomsbury, 2019.

2. Depois do fim da história

BORRADORI, Giovanna. Filosofia em tempo de terror: diálogos com Habermas e


Derrida.Trad. Roberto Muggiati. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
BROWN, Wendy. Politics out of history. Princeton: Princeton University Press, 2001.

DERRIDA, Jacques. Espectros de Marx: o Estado da dívida, o trabalho do luto e a nova


Internacional. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.

DIDI-HUBERMAN, Georges. Imagens apesar de tudo. São Paulo: Editora 34, 2020.
FISHER, Mark. Realismo capitalista. É mais fácil imaginar o fim do mundo que o fim
do capitalismo? São Paulo: Autonomia Literária, 2020.

KEHL, Maria Rita. O tempo e o cão. A atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo,
2009.
LOWY, Michael. Walter Benjamin, aviso de incêndio. Uma leitura das teses Sobre o
Conceito de História. São Paulo: Boitempo, 2005.

PALTI, Elias José. Verdades y saberes del marxismo: Reacciones de una tradición
política ante su “crisis” . Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2010.

TRAVERSO, Enzo. Melancolia de esquerda. Marxismo, história e memória. Belo


Horizonte: Ayiné: 2018.

3. Outros tempos

BUCK-MORSS, Susan. Hegel, Haiti, and universal history. Pittsburgh, PA: University
of Pittsburgh Press, 2009.
FABIAN, Johannes. O tempo e o outro. Como a antropologia estabeleceu seu objeto.
Petrópolis: Vozes, 1983.
GILROY, Paul. O Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência. Rio de Janeiro:
34/Universidade Cândido Mendes, 2002.
KOPENAWA, Davi e ALBERT, Bruce. A queda do céu. Palavras de um xamã
Yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
MEZZADRA, Sandro; SRIVAK, Gayatri e outros. Estudios postcoloniales: ensayos
fundamentales. Madrid: Traficantes de sueños, 2008.
PEREIRA, Ana Carolina Barbosa. Na transversal do tempo: natureza e cultura à prova da
história. 2013. 225 f. Tese (Doutorado em História)—Universidade de Brasília,
Brasília, 2013.RATTS, Alex. Eu sou atlântica. Sobre a trajetória de vida de
Beatriz Nascimento. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006.
Quijano, Aníbal. “Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina”. Buenos
Aires, CLACSO, 2005.
SETH, Sanjay. Beyond reason. Theory and the social sciences. Oxford: Oxford
University Press, 2020.
TROUILLOT, Michel-Rolph. Silenciando o passado. Poder e a produção da história.
Curitiba: Huya, 2016.

Bibliografia
(textos do curso e algumas leituras complementares)
AGAMBEN, Giorgio. Ideia da prosa. Trad. João Barrento. Lisboa: Cotovia, 1999.
__________________. Infância e história: destruição da experiência e origem da
história. Nova edição aumentada, tradução de Henrique Burigo. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2005.
. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Tradução de Vinícius
Nicastro Honesko. Chapecó, SC: Argos, 2009.
ANKERSMITI, Rudolf. A escrita da história: a natureza da representação histórica.
tradutores: Jonathan Menezes...[et al.]. Londrina: Eduel, 2016.
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. Tradução de Mauro W. Barbosa de
Almeida. 5ª ed., São Paulo: Perspectiva, 2000.
BANN, Stephen. As Invenções da História. São Paulo: UNESP, 1994.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas. Magia e técnica. Arte e política. São
Paulo: Brasiliense, 1994.
BRAUDEL, Fernand. História e ciências sociais. A longa duração. In: Escritos sobre a
História. 2ª Ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.
BRESCIANI, Maria Stella. O charme da ciência e a sedução da objetividade.
Oliveira Vianna entre os intérpretes do Brasil. São Paulo: Ed. UNESP, 2007.
BRESCIANI, Maria Stella e NAXARA, Marcia(orgs). Memória e
(res)sentimento. Indagações sobre uma questão sensível. Campinas: Editoria da
Unicamp, 2001.
BUCK-MORSS, Susan. Dialéctica de la mirada: Walter Benjamin y el proyecto de
los Pasajes. Madrid:Visor, 1995.
__________________. Hegel, Haiti, and universal history. Pittsburgh, PA:
University of Pittsburgh Press, 2009.
CALVINO, Italo. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo: Companhia das
Letras, 1990.
CARTROGA, Fernando. Os passos do homem como restolho do tempo. Memória e
fim do fim da história. Coimbra: Almedina, 2009.
CHAKRABARTY, Dipesh. Al margen de Europa. Editorial: Tusquets Editores, 2008.
COHEN, Margaret. Profane illuminations. Walter Benjamin and the Paris of
surrealist revolution. University of Califorina Press, 1995.
DE CERTEAU, Michel. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense, 1982.
__________________. História e psicanálise. Entre ciência e ficção. Belo Horizonte:
Autêntica, 2012.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. “Devir intenso, devir animal, devir


imperceptível”, in: Mil Platôs. Capitalismo e esquizofrenia. Vol. 4. São Paulo: Editora
34, 2008, p. 11-113.
DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo. Uma impressão freudiana. Rio de Janeiro:
Relume-Dumará, 2001.
DOMANSKA, Ewa. Encounters. Philosophy of history after Postmodernism.
Charlottesville/London: University Press of Virginia, 1998.
ECO, Umberto. Interpretação e superinterpretação. São Paulo: Martins Fontes,
2005.
FARGE, Arlette. Lugares para a história. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.
_____________.O sabor do arquivo. São Paulo: EDUSP, 2009.
FLUSSER, Vilém. A dúvida. São Paulo: Annablume, 2011.
_______________. Língua e realidade. 3ª ed., São Paulo: Annablume, 2007.
Publicado originalmente em 1963.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 2000.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar, esquecer, escrever. São Paulo: 34, 2006.
GAY, Peter. O Estilo na História. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas e sinais. São Paulo: Companhia das
Letras, 1989.
GUHA, Ranajit. History at the limit of world history. New York: Columbia University
Press, 2002.
GUMBRECHT, Hans Ulrich. Em 1926. Vivendo no limite do tempo. Tradução de
Luciano Trigo. São Paulo: Record, 1999.
Produção de presença – o que o sentido não consegue transmitir. Hans Ulrich
Gumbrecht. Tradução de Ana Isabel Soares. Rio de Janeiro: Contraponto e PUC-Rio,
agosto de 2010.
HABERMAS, Jurgen. O discurso filosófico da modernidade. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução: Enio Paulo Giachini.
Petrópolis: Vozesn, 2017.
HARTOG, François. Regimes de historicidade. Presentismo e experiências do tempo.
Tradução portuguesa. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.
HUNT, Lynn. A Nova História Cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
JAY, Martin. Cultural semantics. Keywords of our time. Amherst, MA: University
of Massachussets Press, 1998.
JULIA, Dominique e BOUTIER, Jean (orgs). Passados Recompostos : campos e
canteiros da história. Rio de Janeiro: URFJ, 1990.

KOPENAWA, Davi e ALBERT, Bruce. A queda do céu. Palavras de um xamã


Yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
KOSELLECK, Reinhardt. Estratos do tempo. Rio de Janeiro: PUC-Rio/Contraponto,
2014.
_____________________.Futuro passado. Contribuição à semântica dos tempos
históricos. Tradução portuguesa. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.
KLOSSOWSKI, Pierre. Nietzsche et le cercle vicieux. Paris: Mercure de France,
1969.
KRACAUER, Siegfried. Historia. Las últimas cosas antes de las últimas. Buenos
Aires: Las Quarenta, 2010.
Lacapra, Dominick. Historia y memoria después de Auschwitz. Buenos Aires :
Prometeo Libros, 2009.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Tradução portuguesa. Campinas: Ed. da
Unicamp, 1994.
LORAUX, Nicole. “Elogio do Anacronismo”, in Adauto Novaes. Tempo e história,
Companhia das Letras, São Paulo, 1992, pp. 57-70.
LOWY, Michael. Walter Benjamin, aviso de incêndio. Uma leitura das teses Sobre o
Conceito de História. São Paulo: Boitempo, 2005.
MBEMBE, Sair da grande noite. Ensaio sobre a África descolonizada . Luanda:
Edições Mulemba; Mangualde, Edições Pedago, 2014.
MEZZADRA, Sandro; SRIVAK, Gayatri e outros. Estudios postcoloniales:
ensayos fundamentales. Madrid: Traficantes de sueños, 2008.
MILO, Daniel. Trahir le temps (histoire). Paris: Les Belles Lettres, 1991.
NEGRI, Antonio. Kairós, Alma Venus, Multitudo. São Paulo: DP&A, 2003.
NIETZSCHE, Friedric. Escritos sobre história. Rio de Janeiro/São Paulo:
PUC/Loyola, 2005.
NOVAES, Adauto (org.). Tempo e história. São Paulo: Cia. das Letras, 1992.
POCOCK, J. G. A. Linguagens do ideário político. São Paulo: Edusp, 2003.
TULLY, James. (Ed.). Meaning and context: Quentin Skinner and his critics. Princeton:
Princeton University Press, 1988.
POMIAN, K. Tempo/temporalidade. Tradução de Maria Bragança. Lisboa: Imprensa
Nacional / Casa da Moeda, 1993. (Enciclopédia Einaudi; v. 29)
PROST, Antoine. Doze lições sobre História. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
RANCIÈRE, Jacques. “O conceito de anacronismo e a verdade do historiador”. In:
Salomon, Marlon (org.). História, Verdade e Tempo. Chapecó: Argos, 2011. pp. 21-
49
_________________. Os nomes da história. Um ensaio de poética do saber. Tradução
portuguesa. São Paulo: EDUC/Pontes, 1994.
RATTS, Alex. Eu sou atlântica. Sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento.
São Paulo: Imprensa Oficial, 2006.
REVEL, Jacques. Jogos de escalas. A experiência da microanálise. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1998.
RICOEUR, Paul, Tempo e Narrativa, Campinas, Papirus, 1994.
ROBINSON, Cedric J. Black marxism: the making of the Black radical tradition. The
University of North Carolina Press, 2000.
ROTHEBERG, Michael. Multidirectional memory : remembering the Holocaust in the
age of decolonization. Stanford: Stanford University Press, 2009.
RÜSEN, Jörn. História viva: formas e funções do conhecimento histórico. Brasília:
EdUnB, 2007.
___________. Razão histórica: teoria da história: os fundamentos da ciência
histórica. Brasília: EdUnB, 2001.
___________. Reconstrução do passado: os princípios da pesquisa histórica.
Brasília: EdUnB, 2007.
SAID, Edward. Humanismo e crítica democrática. São Paulo: Companhia das
Letras, 2004.
SAHLINS, Marshall. História e cultura: apologias a Tucídides. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2006.
SALOMON, Marlon (org.). História, verdade e tempo. Chapecó, SC: Argos, 2011.
(Coleção Grandes Temas; 14).
SANCHES, Manuela Ribeiro. Malhas que as Império Tecem. Textos Anticoloniais,
Contextos Pós-Coloniais. Lisboa: Edições 70, 2011.
SCOTT, Joan. Género e historia. Ciudad de Mexico: FCE, 2008.
SMITH, Bonnie G. Gênero e História: homens, mulheres e a prática histórica.
Bauru: EDUSC, 2003.
STALLYBRASS, Peter. O casaco de Marx. Roupas, memória, dor. Trad. Tomaz
Tadeu. Belo Horzinteo: Autêntica, 2008.
SPIVAK, Gayatri. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: UFMG, 2010.

SKINNER, Quentin. Visões da política. Sobre os métodos históricos. Lisboa: DIFEL,


2005.
TRAVERSO, Enzo. La historia como campo de batalla. Interpretar las violencias
del siglo XX. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2016.
VEYNE, Paul. Foucault: seu pensamento, sua pessoa. Trad. Marcelo Jacques de
Morais. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011

WHITE, Hayden. Ficción histórica, história ficcional y realidad histórica”. Buenos


Aires: Prometeo, 2010.
_____________.Meta-História, São Paulo, EDUSP, 1992.
______. Trópicos do Discurso, São Paulo, EDUSP, 1994.

Você também pode gostar