Você está na página 1de 4

Disciplina eletiva 2024/1

PPGHIS – PPGHC
Prof. Dr. Jorge Victor de Araújo Souza
Quarta-feira - 13:00 às 16:00
Do ipupiara ao zumbi tropical:
ficções iconográficas e textuais de monstruosidades

Enquanto categoria alocada em narrativas, a monstruosidade fornece chaves para


estudos sobre a relação entre alteridade e imagem, constituinte do que o historiador
Michel de Certeau identificou como certa heterologia subsumida nos discursos a
respeito dos encontros culturais, como os ocorridos entre os europeus e os nativos do
“Novo Mundo”. Visitaremos a tradição histórica do “monstruoso” presente em
discursos sobre as/das Américas. No século XIX, o estudo científico do considerado
então corpo monstruoso consolidou-se com o termo francês tératologie. Portanto, para
melhor esclarecimento da categoria, ampliaremos o olhar para além das Américas, pois
estamos em concordância com a crítica literária Mabel Moraña, para quem a
monstrificación é uma via de mão dupla, “uma forma de representar assimetricamente
os intercâmbios simbólicos que integram e conformam o social”. Dentre outros,
abordaremos conceitos e categorias, como: teratologia, colonização, abjeto, regimes de
verdade, corporeidade, biopolítica, regimes de visibilidade, fronteira, grotesco,
anormalidade, unheimliche, antropomorfismo e fantástico. Desta forma, do ponto de
vista teórico e historiográfico, trataremos de um tema relevante para reflexões sobre as
crises da contemporaneidade, momento este em que diversos atores políticos criam e
recriam monstros de todas as espécies, e para todas as finalidades.
Bibliografia básica:

BRAMMALL, Kathryn. Monstrous Metamorphosis: Nature, Morality, and the Rhetoric


of Monstrosity in Tudor England. The Sixteenth Century Journal. Vol.27; nº01. p. 03-
21. 1996.

BRIGOLA, João Carlos Pires; CERÍACO, Luis Miguel Pires; OLIVEIRA, Paulo de. Os
monstros de Vandelli e o percurso das colecções de história natural do século XVIII.
FILHOAIS, Carlos; SIMÕES, Carlota, MARTIONS, Décio (Eds.). História da Ciência
Luso-Brasileira: Coimbra entre Portugal e o Brasil (pp.121 - 132). Coimbra: Impressa
da Universidade de Coimbra, 2013.
CAMENIETZKI, Carlos Ziller; ZERON, Carlos Alberto. Quem conta um conto
aumenta um ponto: o mito do Ipupiara, a natureza Americana e as narrativas da
colonização do Brasil. Revista de Indias, Madrid, vol. 60, no. 218, pp. 111-134, 2000.
CORTÉS, Fabiola Villela; SANTOS, Sandra González (Coord.). La creación
tecnológica de monstruos y quimeras a 200 años de Frankenstein. México: Universidad
Nacional Autónoma de México, 2020.
COSTA, Palmira. Livros sobre monstros e prodígios. in: Catálogo da Exposição Arte
Médica e Imagem do Corpo de Hipócrates ao século XVIII. Lisboa: Biblioteca Nacional
de Portugal. 2010. p. 63-78.
CHICANGANA-BAYONA, Yobenj Aucardo. Imagens de canibais e selvagens do
Novo Mundo. Do maravilhoso medieval ao exótico colonial (séculos XV-XVII).
Campinas: Editora Unicamp, 2017.
COHEN, Jaffrey Jerome (Ed.). Monster Theory. Minneapolis: University of Minnesota
Press,
DINAMARCA, Rodrigo Ignacio González. Los niños monstruosos en El orfanato de
Juan Antonio Bayona y Distancia de rescate de Samanta Schweblin. Brumal. Vol. III,
nº2, otoño/autumn 2015.
ÉSQUILO. Prometeu prisioneiro. São Paulo: Editora 34, 2023.
ESCRAGNOLE-TAUNAY. Afonso de. Monstros e monstrengos do Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009.
ECHEVARRÍA, Roberto González. Monstros e arquivos. Textos críticos reunidos. Belo
Horizonte: UFMG, 2014.
FONTANA, Josep. A Europa diante do espelho. Bauru, SP: EDUSC, 2005.
FOUCAULT, Michel. Os anormais. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
____. Do governo dos vivos. São Paulo: Martins Fontes, 2018.
____. O corpo utópico, as heterotopias. São Paulo: N-1 Edições, 2021.
FREUD, Sigmund. O homem dos lobos. São Paulo: Penguin, Cia. das Letras, 2017.
HARAWAY Donna. Las promesas de los monstruos: Una política regeneradora para
otros inapropiados/inapropiables. Política y Sociedad. n. 30, 1999.
HARTOG, François. Memória de Ulisses. Narrativas sobre a fronteira na Grécia antiga.
Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2014.
____O espelho de Heródoto. Ensaio sobre a representação do outro.

HOFFMANN, E.T.A. As tramas do fantástico. São Paulo: Perspectiva, 2021.

JEHA, Julio; NASCIMENTO, Lyslei (Org.). Da fabricação de monstros. Belo


Horizonte: Editora, UFMG, 2009.
KAFKA, Franz. A metamorfose. Rio de Janeiro: Editora Antofágica, 2019.
KAYSER, Wolfgang. O grotesco. São Paulo: Perspectiva, 2013.

KIENING, Christian. O sujeito selvagem. Pequena poética do Novo Mundo. São Paulo:
EDUSP, 2014.
KRISTEVA, Julia. Poderes de la perversión. Mexico DF: Siglo XXI, 2004.
LESTRINGANT, Frank. A oficina do cosmógrafo ou A imagem do mundo no
Renascimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
MANDEVILLE, Jean de. Viagens de Jean de Mandeville. Bauru: EDUSC, 2007.
MORAÑA, Mabel. El monstruo como máquina de guerra. Madrid: Iberoamericana,
2017.
MOREL, Philippe. Les grotesques. Les figures de l`imaginaire dans la peinture italienne
de la fin de la Renaissance. Paris: Flammarion, 2011.
MORSE, H. Robert. O defunto carnavalesco. A morte e os mortos na literatura
brasileira moderna. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2020.
NEGRI, Antonio. El monstruo biopolítico. Vida desnuda y potencia. RODRÍGUES,
Fermín e GIORGI, Gabriel (comp.). Ensayos sobre biopolítica. Excesos de vida.
Buenos Aires: Paidós, 2007. p. 93-139.
PANOFSKY, Dora; PANOFSKY, Erwin. A caixa de Pandora. As transformações de um
símbolo mítico. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

ROMANO, Roberto. Pensamento e monstruosidade. Revista USP, São Paulo, n.50. p.


210-220. 2001.

JEHA, Júlio. Monstros como metáforas do mal. Belo Horizonte. UFMG. 2007.
KAPPLER, Claude. Monstros, demônios e encantamentos no fim da Idade Média.
Tradução de Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes. 1994.
SHELLEY, Mary. Frankenstein. Rio de Janeiro: Darkside, 2017.
SIBILIA, Paula. O homem pós-orgânico. A alquimia dos corpos e das almas à luz das
tecnologias digitais. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015.
THOMAS, Keith. Religião e o declínio da magia. Crenças populares na Inglaterra –
Séculos XVI e XVII. São Paulo: Companhia das Letras. 1991.
PLATZECK, José; TORRANO, Andrea. Zombis y cyborgs: la potencia del cuerpo
(des)compuesto. Outra Travessia, n. 22, 2016.
VERNANT, Jean-Pierre. A morte nos olhos. A figura do Outro na Grécia antiga
(Ártemis, Górgona). São Paulo: Editora UNESP, 2021.
WITTKOWER, Rudolf. Marvels of the East: A Study in the History of Monsters.
Journal of the Warburg and Courtauld Institutes, nº.05. 1942. p. 159-197.

Você também pode gostar