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CURSO DE

SEGURANÇA DE BARRAGENS

1
MÓDULO I – BARRAGENS: ASPECTOS
LEGAIS, TÉCNICOS E SÓCIOAMBIENTAIS

UNIDADE 1: DIRETRIZES, LEGISLAÇÃO E


REGULAMENTAÇÃO

2
FICHA TÉCNICA
Realização

EQUIPE TÉCNICA

Carlos Henrique de A. C. Medeiros


Elaboração de conteúdo

- Alexandre Anderáos - Etore Funchal de Faria


Revisor Técnico ANA Revisor Técnico Itaipu

- Carlos Leonardi - Fabio Luiz Willrich


Revisor Técnico Itaipu Revisor Técnico Itaipu

- Cesar Eduardo B. Pimentel - Josiele Patias


Revisor Técnico ANA Revisor Técnico Itaipu

- Claudio Neumann - Josimar Alves de Oliveira


Revisor Técnico Itaipu Revisor Técnico ANA

- Claudio Osako - Ligia Maria Nascimento de


Revisor Técnico Itaipu Araújo
Revisor Técnico ANA

- Dimilson Pinto Coelho - Silvia Frazão Matos


Revisor Técnico Itaipu Revisor Técnico Itaipu

Revisão Ortográfica
ICBA – Centro de Línguas
www.cursodeidiomasicba.com.br

Este obra foi licenciada sob uma Licença Creative Commons


Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.

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CURRICULO RESUMIDO

Prof. Carlos Henrique de A. C. Medeiros

I. Dados Pessoais

• Eng. Civil: Escola Politécnica da


Universidade Federal da Bahia
(UFBA) - Período: 1971 - 1975
• MSc. em Geotecnia, Escola de
Engenharia de São Carlos /
Universidade de São Paulo – USP.
Conclusão: 1985
• PhD. em Engenharia Geotécnica,
University of Newcastle upon Tyne
(Inglaterra). Período: 1990 – 1994
• Professor Titular das Disciplinas:
Fundações e Obras de Terra,
Barragens de Terra e Mecânica dos
Solos e Tópicos Especiais de
Geotecnia (Geotecnia Ambiental).
Univ. Estadual de Feira de Santana
– UEFS, desde 1981.
• Coordenador de Segurança de Barragens da CERB – Companhia de
Engenharia Ambiental e Recursos Hídricos, Estado da Bahia, desde 2008.
• Membro Conselheiro do CREA-BA, período 2004 – 2005.
• Delegado Convidado do CBDB – Comitê Brasileiro de Barragens, para
participar 72rd Anual Meeting, ICOLD, Commission on Dam Safety – CODS
do ICOLD, Irã, Teerã, 2005.
• Delegado Convidado do CBDB – Comitê Brasileiro de Barragens, para
participar 76th Anual Meeting, ICOLD, Commission on Dam Safety – CODS
do ICOLD, Hanoi, Vietnã, Teerã, 2009.
• Delegado Convidado do CBDB – Comitê Brasileiro de Barragens, para
participar 77th Anual Meeting, ICOLD, Commission on Dam Safety – CODS
do ICOLD, Kyoto, Japão, 2012.
• Diretor do Núcleo Regional da Bahia – CBDB – Comitê Brasileiro de
Barragens, período: 2002 – 2011.
• Membro Convidado da CTAP – Câmara Técnica de Análise de Projetos do
CNRH – Conselho Nacional de Recursos Hídricos, para elaboração da minuta
do PL 1181 – Projeto de Lei sobre Segurança de Barragens e Sistema
Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens, Brasília – DF, 2004
a 2005.
• Consultor Convidado do GTI – Grupo Técnico Interministerial sobre

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Regulamentação de Segurança de Barragens e acompanhamento da
implementação do PL 1181 sobre Segurança de Barragens e Sistema
Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens, Brasília – DF, desde
janeiro de 2005. Apoio da UNESCO.
• Membro Convidado do GT – Segurança de Barragens da CTIL – Câmara
Técnica de Assuntos Institucionais e Legais do CNRH – Conselho Nacional de
Recursos Hídricos, para elaboração das Resoluções para efeito de
regulamentação dos Art. 7 e Art. 20 da Lei No. 12.334/2010 – Política
Nacional de Segurança de Barragens, na qualidade de representante das
Associações Técnicas e de Pesquisa: CBDB, ABES e ABGE, Brasília – DF,
período: setembro de 2011 a abril 2012.
• Membro Convidado do CBDB no SGTIC – Barragens, da Presidência da
República, Gabinete de Infraestrutura Crítica, na qualidade de representante
do CBDB – Comitê Brasileiro de Barragens, Brasília – DF, início em setembro
de 2012.
• Conselheiro do CBDB – Comitê Brasileiro de Barragens, período: 2011 –
2013.
• Representante Regional da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia
e Ambiental – ABGE (2012 – 2014).

II. Estágios e Treinamentos Técnicos no Exterior

• Faculty of Agriculture and Water Resources Management, University of


Novi Sad, Serbia, Visitor Professor, 2010. Speech: Risk and Dam Safety
Regulation.
• UNESCO - IHE Institute for Water Education, Holland, Delft – Integrated
Water Basin Management, Visitor Professor, Feb/2009. Speech: A
Non-Technical Approach on Dam Safety.
• Colorado State University, Fort Collins, Colorado, Estados Unidos (EUA).
Visita de estudos, Departamentos de Geotecnia, Meio Ambiente e
Recursos Hídricos (Segurança de Barragens). Período Março/99.
• Bureau of Reclamation (BUREC), Department of Interior of United States
of America (EUA), Denver, Colorado. Visita técnica aos Setores de
Segurança de Barragens, Programa de Segurança de Barragens do
BUREC, SEED - Safety Evaluation of Existing Dams e Projeto e
Construção de Barragens. Período Maio/92.
• LNEC - Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal. Visita
Técnica ao Departamento de Barragens e Grupo de Segurança de
Barragens. Período: Junho/Julho de 1992.
• LNEC - Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal. Visita
Técnica ao Departamento de Barragens e Núcleo de Fundações Rochosas
de Barragens. Período: Fev./Marco de 1987.
• SGI - Swedish Geotechnical Institute, Linköping, Suécia, Visita técnica ao
Laboratório de Mecânica dos Solos e Setor de Instrumentação Geotécnica
de Barragens. Período Abril/96.

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• NGI - Norwegian Geotechnical Institute, Oslo, Noruega. Visita técnica ao
Laboratório de Mecânica dos Solos e Setor de Engenharia de Barragens.
Período Abril/93.
• Carleton University, Ottawa, Canadá. Visita técnica ao Departamento de
Engenharia Civil, setor de estudos de fraturamento hidráulico em
barragens. Período Maio/93.
• University of West-Ontario, London, Canadá. Visita técnica ao
Departamento de Engenharia Civil, setor de estudos sobre fraturamento
hidráulico em barragens e laboratório de Mecânica dos Solos. Período
Maio/93.

Eng. Civil Carlos Henrique de A. C. Medeiros


CREA No. 7979-D
Celular: 71 9962 7924
chmedeiros@terra.com.br

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS 08
LISTA DE QUADROS 08
APRESENTAÇÃO 09
1 DIRETRIZES DE ENTIDADES RELACIONADAS À BARRAGENS 11
1.1 Diretrizes do International Commission on Large Dams (ICOLD) 11
1.2 Diretrizes do Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) 14
1.3 Diretrizes do Ministério da Integração (MI) 14
2 REGULAMENTAÇÕES INTRERNACIONAIS 18
3 REGULAMENTAÇÃO NACIONAL 27
3.1 Evolução do Processo no Brasil 27
3.2 Histórico da Lei de Segurança de Barragens 28
4 POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA DE BARRAGENS 31
4.1 Leis Federais Complementares 34
4.2 Regulamentação da PNSB 37
4.3 Obrigações Legais do Proprietário e Órgão Fiscalizador 45
5 CONCLUSÕES E RECOMENTAÇÕES 47
REFERÊNCIAS 50
ANEXOS I 58
ANEXO II 62

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Principais Acidentes e Incidentes Registrados no período de formulação


e tramitação da Lei No. 12.334 30

LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Importância 15
Quadro 2 – Periculosidade 16
Quadro 3 – Grau de vulnerabilidade (condição da barragem) 17
Quadro 4 – Quadro de Periodicidade para a realização das inspeções 39

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Prezado Aluno,
No decorrer desta unidade você deverá desenvolve competência para:
• Interpretar a legislação pertinente aplicando no processo de análise dos
relatórios e pareceres técnicos;
• Cadastrar as barragens com vistas à manutenção da base de dados;
• Intercambiar experiências entre instituições governamentais que operem
com barragens.

APRESENTAÇÃO

O presente trabalho foi elaborado com o objetivo de contribuir no processo de


formação dos profissionais que atuam na fiscalização de Segurança de Barragens
da Agencia Nacional de Águas – ANA e representantes de outros órgãos do
governo que atuam na referida área de conhecimento, como parte integrante do
Projeto Água: Conhecimento para Gestão, através da disciplina: DIRETRIZES,
LEGISLAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO, instrumento de avaliação e capacitação
na área de “Segurança de Barragens”.

Entendemos que para um melhor entendimento dos aspectos da lei, suas


exigências, compromissos entre os atores envolvidos (órgão fiscalizador e
empreendedor) e seus desafios impostos na fase de implementação e de
monitoramento do cumprimento da Lei, é imperativo que sejam apresentados e
discutidos os principais aspectos inerentes ao projeto, construção, operação e
manutenção de barragens; assim como, os conceitos e procedimentos utilizados
na identificação, avaliação, classificação do risco e a gestão do risco, com
destaque para o uso das ferramentas recomendadas em lei, necessárias para a
elaboração do Plano de Segurança da Barragem (PSB) e do Plano de Ação de
Emergência (PAE). Tais aspectos serão apresentados e estudados ao longo do
Curso de Segurança a de Barragens em unidades específicas.
A legislação será apresentada sobre o prisma de um membro de equipe que
participou de sua construção desde a sua fase embrionária, quando prevalecia o

9
compromisso com a elaboração de um documento legal, capaz de disciplinar as
ações praticadas em vários setores da sociedade, dedicada a elaboração de
projeto, construção e operação de estruturas com a complexidade e elevado
potencial de risco, inerente às barragens. Foi unânime a compreensão sobre a
necessidade de construção de um instrumento legal que pudesse coibir e/ou
estancar a iminente trajetória na direção da pratica da má engenharia e no
aumento do imenso passivo de estruturas de barragens em condições de
insegurança por razões de natureza técnica, administrativa e decorrente do
desconhecimento da necessidade de serem tratadas ou legadas a empresas,
organizações publicas e profissionais de comprovadas expertises nas diversas
áreas que contribuem para a consecução desse tipo de empreendimento:
multidisciplinar e interdisciplinar. A Lei N o. 12.334/2010 foi concebida tendo como
premissas essas considerações.

Os participantes deverão ser capacitados para desenvolver suas funções de


agente de fiscalização que compreendem a análise crítica de relatórios, pareceres
técnicos de inspeção de barragens, em atendimento a Lei No. 12.334/2010.
Deverão ser habilitados para o exercício da atividade da fiscalização, de
acompanhamento do processo de implantação e de gestão do Sistema Nacional
de Informação sobre Segurança de Barragens – SNISB.

Cabe destacar os motivos que levaram a concatenação de esforços para a


elaboração e aprovação da Lei No. 12.334. Dentre eles, o reconhecimento do
elevado nível de problemas de natureza organizacional, responsável pelo estado
geral de abandono de milhares de barragens brasileiras, com vulnerabilidades
latentes em projetos, construção e operação de estruturas existentes.

Nosso objetivo é destacar os diversos fatores que contribuem para a instalação de


situações de risco e as ferramentas ao alcance dos agentes de fiscalização que,
uma vez aplicadas, contribuem para a garantia da segurança do empreendimento
(MEDEIROS, C. H., 2010, 2011).

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1 DIRETRIZES DE ENTIDADES RELACIONADAS À
BARRAGENS

Antes mesmo da lei de segurança de barragens no Brasil, alguma entidades


nacionais e internacionais, estabeleciam diretrizes visando a, se não regular,
disciplinar o tratamento do tema. Alguns proprietários, mais preocupados com a
importância do assunto e, principalmente, com a relevância do risco para seus
negócios adotaram por anos essas diretrizes em suas barragens.

1.1 Diretrizes do International Commission on Large Dams(ICOLD)

Há quase 30 anos, o ICOLD já se preocupava em saber sobre a existência de


regulamentações de segurança de barragens e como os países membros lidavam
com danos a terceiros, em caso de ruptura. O assunto seguro contra terceiros (em
caso de acidente), foi tema central de consulta. Conclusão, todos no mesmo
barco, sem arcabouço legal específico. Segundo o ICOLD a privatização pode
implicar em novos proprietários de barragens, sem o necessário conhecimento
(background) em engenharia de barragens que, em princípio tem como foco o
lucro ou ganhos financeiros. O aumento do nível de instrução (educação) da
população afetada pelo empreendimento resulta num aumento da demanda por
transparência e prestação de contas por parte dos gestores (ou proprietários)
sobre as decisões que irão afetar a qualidade de vida da população.

Segundo o ICOLD (1997) a maioria das causas de acidentes com barragens, com
consequências catastróficas (com perdas de vidas), ocorreu em barragens com
altura inferior a 30 m. Essas barragens passaram a ser motivo de preocupação e
de maior interesse de profissionais de segurança de barragens.

Cabe registrar que, independentemente do porte da barragem, aquelas que


atendem aos aspectos que se enquadram em situações de risco potencial, os
quais devem ser evitados a todo custo e, portanto, devem ser objeto de máxima

11
atenção, são:
• Barragens localizadas a montante de cidades, vilas ou outros elementos de
grande valor, para os quais a ruptura representa risco elevado;
• Barragens contendo rejeitos de mineração, com metais pesados, material
radioativo, poluente ou tóxico;
• Barragens cuja crista é utilizada como via de transporte de importância para
a interligação entre os diversos aglomerados urbanos, para o escoamento
de materiais, produção agrícola e industrial e as atividades de comércio;
• Barragens cujo reservatório tem importância na economia e/ou
sobrevivência de determinada região;
• Barragens sobre fundações muito deformáveis (argilas moles, solos
colapsíveis, solos expansivos, etc.)
• Barragens sobre fundações muito permeáveis (aluviões, rochas muito
fraturadas e sobre falhas geológicas).

Para a análise de risco o ICOLD sugere a adoção dos seguintes procedimentos


(Draft No.9, ICOLD, Bulletin, 1999):

o Definição de objetivos,
o Avaliação das condições de segurança da barragem;
o Identificação do(s) evento(s) inicial(ais): internos ou externos;
o Identificação do risco;
o Avaliação da resposta do sistema aos riscos de: transbordamento, ruptura e
incidente;
o Determinação do perigo potencial e dano associado decorrente da: liberação
súbita de água do reservatório, em diversas magnitudes;
o Estimativa das consequências devido a: perdas de vida e danos econômicos
e sociais;
o Avaliação do impacto da respectiva ruptura sobre a sociedade;
o Determinação da sequência de eventos a partir do evento inicial e a resposta
do sistema. Definido como modo de ruptura (failure mode).
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o Modos plausíveis de ruptura
o Outro tipo de consequências com potencial para conduzir a um acidente
significativo.

A definição do risco, por sua vez, compreende a execução das seguintes


atividades:

• Descrição das questões que motivaram a análise,


• Descrição do sistema (que integra a barragem) a ser analisado;
• Identificação do ponto de partida para a análise, ou seja, o início do problema
a ser analisado;
• Formulação do(os) objetivo(os) da analise de risco, com base em
elemento(s) que representa(am) motivo(s) de preocupação(ões);
• Identificação das decisões a serem tomadas, dos critérios para tomada de
decisão e dos elementos que deverão tomar as decisões;
• Descrição do processo de análise de risco proposto, incluindo as
justificativas, hipóteses e limitações que nortearam as análises;

Por outro lado, as barragens envelhecem e ficam vulneráveis aos efeitos


deletérios do tipo: fadiga dos materiais, redução da sua capacidade de resistência
estrutural (elementos de concreto, aço, etc.), obstrução dos sistemas de drenagem
interna (filtros e drenos) por colmatação de natureza física, química ou
bacteriológica. Por outro lado, as intervenções antrópicas na área da bacia
hidrográfica, no entorno do reservatório; através de construções de edificações,
pavimentação, etc., associadas às alterações de ordem meteorológicas e
hidrológicas; podem tornar inadequados os dispositivos de extravasão de cheias,
com risco de transbordamentos por insuficiência hidráulica dessas estruturas.

Essas recomendações devem ser observadas durante a realização das inspeções


e analise e interpretação dos resultados dos dispositivos de monitoramento. É
imprescindível a participação dos agentes de fiscalização em todas as fases de

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desenvolvimento do empreendimento, com destaque para as fases de concepção
e de construção (melhor forma de compreender o “as built” em situação de alerta
de emergência).

1.2 Diretrizes do Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB)

No Brasil, o CBDB publicou em 1983, o documento intitulado: Diretrizes para a


Inspeção e Avaliação de Segurança de Barragens em Operação. Poucos fazem
referência a este documento, apesar de ter sido pioneiro e possuir uma estrutura
de um regulamento.

Os avanços tem sido significativos, é muito grande o interesse pelo tema por parte
de profissionais brasileiros, com contribuições a nível internacional a exemplo de
MELLO (1977, 2000), SILVEIRA (1999, 2000), CASTRO (1999) MEDEIROS e
MOFFAT (1998) e MEDEIROS (1999, 2000). Em 1999, o CBDB publicou em sua
edição especial o artigo: A Análise de Risco Aplicada a Segurança de Barragens;
bem elaborado e abrangente sobre o tema em termos mundiais (SILVEIRA, 1999).

1.3 Diretrizes do Ministério da Integração (MI)

O Ministério da Integração Nacional (MI) publicou o Manual de Segurança e


Inspeção de Barragens, com o apoio do PROÁGUA/SEMI ÁRIDO, UNESCO e
Banco Mundial; contendo normas de construção, operação e manutenção das
barragens, assim como, os procedimentos necessários em casos de emergências.
Um ponto de destaque do manual é sua preocupação com as consequências ao
meio ambiente, com a destruição da fauna e flora, em caso de acidente e,
principalmente, a necessidade de capacitação das equipes envolvidas com a
operação e manutenção. No manual MI/PROÁGUA são utilizados os seguintes
parâmetros, para a obtenção do potencial de risco da barragem (MI, 2002; 2005;
FONTENELE, A. S., 2005, 2007):

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• Importância (I) - que inclui o valor estratégico associável à barragem no
caso de ruptura;
• Grau de Periculosidade (P) - um conjunto de parâmetros ou características
técnicas do projeto que, pela sua magnitude, permitem retratar o potencial
de risco inerente ao empreendimento;
• Grau de Vulnerabilidade (V) - envolvendo aspectos relacionados com o
estado atual da barragem, com a sua história e com a operacionalidade
e/ou facilidade de manutenção de suas estruturas hidráulicas;
• Potencial de Risco (PR) - que enquadra a barragem segundo o nível de
risco à sua segurança.

Quadro 1 – Importância
POPULAÇÃO CUSTO DA
VOL. ÚTIL
A JUSANTE BARRAGEM
(hm3)
(No. de habitante) (R$)
(m)
(n) (o) I=m+n+o
Grande (2) > 800 Grande (2,5) Elevado (1,5) 3
Médio (1,5) 200 a
Média (2,0) Médio (1,2)
800
Baixo (1) < 200 Pequena (1,0) Pequeno (1,0)

Considera as seguintes informações:

o Volume útil do reservatório (hm3),

o População residente a jusante (hab),

o Custo da barragem (R$).

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Quadro 2 - Periculosidade

DIMENSÃO DA VOL. TOTAL DO TIPO DE TIPO DE VAZÃO DE


BARRAGEM RESERVATÓRIO BARRAGEM FUNDAÇÃO PROJETO
(a) (b) (c) (d) (e)
Altura < 10m e
Pequeno TR = 10.000
Comprimento Concreto Rocha
< 20 hm3 anos
< 200m (4) (1)
(3) (1)
(1)
10m < Altura <
Alvenaria de Rocha
20m e Médio até TR = 1.000
Pedra / Alterada ou
Comprimento 200 hm3 anos
concreto rolado saprólito
< 200m (5) (2)
(6) (4)
(3)
20 < Altura <
50m e ou Regular Terra Solo residual /
TR = 500 anos
Comprimento 200 a 800 hm3 Enrocamento Aluvião até 4m
(4)
200m a 300m (7) (6) (5)
(6)
Aluvião
Altura < 50m e TR < 500 anos
Muito Grande Arenoso
Comprimento Terra ou
< 200 hm3 espesso
> 500m (10) Desconhecida
(10) / solo orgânico
(10) (2)
(10)
NOTA: Se a vazão for desconhecida,
deverá ser reavaliada,P > 30 - Elevado P =  (a a e)
independentemente da pontuação.
20 < P < 30 - Significado
10 < P < 20 - Baixo a Moderado

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Quadro 3 – Grau de Vulnerabilidade (Condição da Barragem)
EXISTÊNCIA DE CONFIABILIDADE DEFORMA - ÇÕES DETERIORAÇÃO DOS
TEMPO DE
PROJETO DA ESTRUTURA TOMADA D’ÁGUA PERCOLAÇÃO AFUNDAMENTOS / ASSENTA - TALUDES /
OPERAÇÃO
(as built) VERTEDOURA (i) (j) MENTOS PARÂMETROS
(f)
(g) (h) (k) (l)
Existem “as built”, Satisfatória Com total Controle
< 30 anos Projetos e Muito Satisfatória Controle a pelo sistema de Inexistente Inexistente
(a) Avaliação do (2) montante drenagem (0) (1)
desempenho (1) (1) (1)
Satisfatória Sinais de umedeci Falhas no
De 10 a 30 Existem Projetos e Pequenos abatimentos da
Satisfatória Controle a -mento nas áreas de “rip-rap” e na proteção
anos “as built” crista
(3) jusante jusante, taludes e de jusante
(1) (3) (2)
(3) ombreiras (4) (3)
Zonas úmidas em
Falha nas proteções,
taludes de jusante,
De 05 a Só Projeto Básico - Ondulações pronunciadas drenagens
Suficiente Aceitável ombreiras, área
10 anos PB fissuras insuficientes
(6) (3) alagada a jusante
(2) (5) (6) e sulcos nos taludes
devido ao fluxo
(7)
(6)
Depressão
Surgência de água
Depressão na crista, no “rip rap”,
em taludes,
< 5 anos Não Existe Projeto Insatisfatório Deficiente afundamentos nos taludes, ou escorregamento,
ombreiras e área de
(3) (7) (10) (5) na fundação / trincas sulcos profundos
jusante
(10) de erosão, vegetação
(10)
(10)
NOTA: Pontuação (10) em qualquer coluna implica intervenção na
V > 35 - Elevado V =  (f a l)
barragem, a ser definida com base em inspeção especial.
20 < V < 35 - Moderada a Elevada
5 < V < 20 - Baixa a Moderada
V<5
2 REGULAMENTAÇÕES INTERNACIONAIS

Bem antes do Brasil, muitos países implementaram leis sobre segurança de


barragens. Essa diferença temporal histórica deixa clara a importância da questão,
bem como evidencia o atraso do Brasil no tratamento do assunto.

Inglaterra
Na Inglaterra, a segurança das barragens foi regulamentada por Ato do Parlamento,
em 1930; garantindo assim as ações de inspeção dessas estruturas, por engenheiro
especialista em barragens, membro de um grupo de engenheiros (panel engineers),
constituído para atender aos objetivos do Reservoirs Act 1930, que foi por sua vez
reforçado através do Safety Dam Act, promulgado em 1970 e ampliado através do
The Reservoirs Act 1975. Posteriormente foi implementado pelo Statutory Instrument
1985. Mais de 2.000 barragens britânicas foram atingidas por essa legislação que,
inclui barragens com volume acumulado, superior a 25.000 m 3 e altura superior a 7,5
m.

A Inglaterra tem cerca de 80% das barragens com altura inferior a 15 m, sendo que
média de idade das barragens esta em torno dos 90 anos, construídas com um
núcleo de vedação denominado puddle-clay (devido à técnica de compactação da
argila, com elevado teor de umidade através do amassamento) ou concrete cut-off;
sendo que a maioria não dispõe de registros sobre sua construção. Devido ao
desenvolvimento das vilas e cidades nas áreas de influência direta de jusante, ao
“desconhecimento” da situação dos aterros construídos anteriormente ao advento da
Mecânica dos Solos, etc.; o governo britânico vem promovendo programas de
avaliação da segurança dessas barragens, à luz do conhecimento técnico e
ferramentas tecnológicas atuais, através do Building Research Establishment (BRE).
BRE publicou o documento: BRE CI/SfB 187, intitulado “An Engineering Guide to the
Safety of Embankment Dams in The United Kingdom” (BRE, 1999).

18
Estados Unidos
Nos Estados Unidos, o Congresso Americano promulgou o The Dam Inspection Act
de 1972, autorizando a elaboração de um programa nacional de inspeção de
barragens. Num primeiro momento o U.S. Corps of Engineers constatou que 18%
das 49.300 barragens inventariadas, nunca tinham sido inspecionadas e que cerca
de 20.000 estavam localizadas em áreas onde, em caso de ruptura, poderiam
provocar perdas de vidas, danos a propriedades, edificações, etc. Dando
continuidade aos trabalhos, o Bureau of Reclamation (BUREC), em Denver,
Colorado desenvolveu os programas Safety Evaluation on Existing Dams (SEED) e
Safety of Dams (SOD), ambos implementados em 1978 e reforçados através do
Reclamation Safety of Dams Act of 1978.

Em 1988, o U.S. Bureau of Reclamation publicou um trabalho intitulado:


Downstream Hazard Classification Guidelines, onde classifica o risco a jusante em
caso de ruptura em termos de numero de vidas ameaçadas e perdas econômicas. O
BUREC, em 1989, publicou o documento intitulado “Policy and Precedures for Dam
Safety Modification Decision-Making”.

Atualmente, as barragens são avaliadas sob o ponto de vista estrutural,


hidráulico-hidrológico e sísmico. Os objetivos são os de identificar as barragens que
representam ameaças ao público e rapidamente providenciar as medidas corretivas
que garantam a sua proteção, assim como, os recursos financeiros necessários.

Uma importante conferência foi realizada em Asilomar, Califórnia, em 1975 sobre o


tema “Evaluation of Dam Safety” e o programa contínuo de treinamento em
segurança de barragens, promovido anualmente pelo BUREC (ASCE, 1975, 2000).

Algumas particularidades das abordagens das diversas entidades responsáveis pelo


tema nos Estados unidos:

19
Bureau Of Reclamation (BUREC)

O Programa de Recuperação de Segurança de Barragens (Reclamation's Dam


Safety Program) foi oficialmente implantado em 1978 com a aprovação do Programa
de Recuperação e Segurança e Lei Pública 95-578 (Reclamation Safety of Dams
Act, Public Law 95-578). Este ato foi alterado em 1984 pela Lei Pública 98-404
(2000), sendo sucessivamente substituída pela Lei Pública 106-377 (2002), Lei
Pública 107-117 (2004) e finalmente, pela Lei Pública 108-439 (2004). O Programa
de Desenvolvimento e administração de segurança das barragens é de
responsabilidade do Escritório localizado em Denver, Colorado (U.S. BUREAU OF
RECLAMATION, 2003).

A ênfase principal da avaliação da segurança de barragens existentes (Safety


Evaluation of Existing Dams - SEED) é a realização de avaliações da condição de
segurança da barragem e identificação de deficiências nos procedimentos de
segurança. O objetivo é identificar com rapidez, as barragens que representam uma
ameaça para o público, e rapidamente concluir as análises a fim de acelerar as
decisões sobre a adoção de ação corretiva e salvaguardar os recursos públicos e
correlatos. O Programa de Segurança de Barragens (The Safety of Dams - SOD)
tem por base a avaliação e implementação de ações para a resolução de problemas
de segurança em barragens do BUREC. O desenvolvimento das atividades depende
da ação selecionada com base nas avaliações de riscos e responsabilidades, sendo
permitida a participação pública e o cotejo de temas ambientais no processo de
tomada de decisão (U.S. BUREAU OF RECLAMATION, 1982).

U.S. Army Corps Of Engineers (USCE)


O U.S. Corps of Engineers foi designado para elaborar um programa nacional
abrangente para a inspeção e regulação para fins de segurança das barragens. As
atividades realizadas no âmbito do programa foram: inventário de barragens;
levantamento das capacidades operacionais de cada órgão do Estado e Federal, as

20
práticas e regulamentações relativas à concepção, construção, operação e
manutenção de barragens, o desenvolvimento de diretrizes para a inspeção e
avaliação da segurança de barragens; formulação e de recomendações para um
programa nacional abrangente. Um relatório sobre estas atividades e propostas
legislativas para implementar um programa de segurança Federal de barragem,
foram transmitidos ao Congresso em novembro de 1976, mas a falta de
financiamento impediram a execução das inspeções das barragens selecionadas
(U.S. ARMY CORPS OF ENGINEERS, 1976).

Federal Energy Regulatory Commission - FERC


O objetivo do Programa de Segurança de Barragens para Instalações Licenciados
(Dam Safety Program for FERC Licensed Facilities) é o de assegurar a contínua
operação da barragem, de forma segura e compatível ao empreendimento. As
políticas e expectativas em relação à segurança da barragem devem estar em
conformidade com a regulamentação vigente, e tem como objetivo, contribuir com
implantação de instrumentos de programa de qualidade e implementar as mudanças
organizacionais necessárias para assegurar o cumprimento dos requisitos da FERC,
relativo à segurança de barragens. São definidos os protocolos para as
comunicações sobre os problemas de segurança de barragem e formas de
comunicação entre os atores, para o relato dos problemas, inclusive o fluxo de
informações para efeito de tomada de decisão e a definição da autoridade do
Engenheiro Chefe Segurança de Barragens.

No referido programa é apresentado um plano abrangente de treinamento para


segurança de barragens e inclusive, para a realização de serviços de auditorias
internas e externas e avaliações para assegurar o cumprimento pela FERC dos
requisitos do regulamento de segurança. Tem como objetivo criar e implementar um
Programa de Inspeção de Segurança da Barragem (Dam Safety Inspection
Program). O coordenador de segurança e a equipe de operação da barragem devem
desenvolver e implementar instrumentos de gestão da qualidade, incluindo mas não
limitados a: Engenheiro Chefe de Segurança da Barragem (ou representante),

21
independente de revisão e aprovação das modificações propostas. Os
procedimentos escritos para realizar as inspeções de barragens são documentados.
São definidas normas de qualificação para o pessoal de inspeção de barragens, a
forma de supervisão da execução do Plano de Monitoramento, que atende aos
requisitos da FERC, e um programa de calibração de instrumentos, de avaliação de
risco para priorizar os problemas identificados durante a inspeção.

Segundo CARDIA, R. J. R., ANDERÁOS, A (2012) a FERC desenvolveu um modelo


de PAE que tem sido usado como base para o desenvolvimento do EAP (PAE em
inglês) pela Federal Emergency Management Agency (FEMA) – vide publicação
FEMA 64 - para as barragens controladas por diversas Agências dos EUA, tais como
US Bureau of Reclamation e US Army Corps of Engineers (USACE), Agências
Estaduais, etc.

FEMA – U.S. Department Of Homeland Security Federal Emergency Management


Agency
As recomendações da FEMA (Federal Guidelines For Dam Safety) aplicam-se na
gestão de risco, para segurança de barragens dos órgãos federais responsáveis
pela sua, construção, concepção, planejamento e operação. Entretanto conforme
mencionado pela FEMA, elas servem como diretrizes e normas para serem
utilizadas na engenharia de barragens. Os princípios básicos das diretrizes se
aplicam a todas as barragens.

Estas diretrizes são destinadas a promover o monitoramento da segurança de


barragens e uma abordagem simples para as agências. Embora as orientações
sejam destinadas a todos as agencias, é notório que os métodos e o nível de
aplicação podem variar conforme a missão e função das agencias. No entanto, as
decisões devem ser compatibilizadas ao porte de cada barragem, sua complexidade
e risco potencial (FEMA, 2003; 2004). As agências federais americanas tem boa
reputação em segurança de barragens.
Cabe registrar que em 1929, após o acidente com a barragem Saint Francis, o

22
Estado da Califórnia aprovou um programa de segurança de barragens.
Posteriormente, ocorreram outros acidentes com barragens, causando perda de
vidas e propriedades, fato que motivou a elaboração de legislações adicionais a
nível estadual e federal.

O Congresso Americano, em 1972, promulgou a Lei Pública 92-367, conhecida


como a "Lei Nacional de Segurança de Barragem". Na oportunidade até o Secretário
do Exército foi autorizado a inspecionar as barragens não federais existentes nos
Estados Unidos que atendiam os critérios de altura e capacidade de armazenamento
de água, conforme estabelecido na Lei, para avaliar sua segurança.

Os resultados do relatório de inspeção serviram para aconselhar os


Estados-Membros sobre as ações necessárias para garantir a segurança da
barragem; sendo as recomendações utilizadas num inventario nacional e
submetidas à apreciação do Congresso, para definir as responsabilidades nos
termos da lei.

A segurança de barragens tem sido a principal preocupação das agências federais


envolvidas com o planejamento, construção, operação e desativação. Os eventos de
incidentes e acidentes destacaram a necessidade de se rever os procedimentos e
critérios empregados pelas agências, com o objetivo de assegurar que os
mecanismos de controle mais eficazes fossem estabelecidos para a melhoria da
segurança de barragens, dentro das limitações do estado da arte disponível no meio
técnico. A segurança dos projetos de barragens assumiu papel relevante, com
destaque para a responsabilidade do chefe de cada agência e seu compromisso de
assegurar a adequação de sua estrutura organizacional (organograma) ao o
programa de segurança de barragens (BALBI, D. A., 2012).

Austrália
Na Austrália, o Australian National Committee on Large Dams (ANCOLD), publicou
uma revisão dos documentos intitulados: Guidlines on Dam Safety Management e,

23
Guidlines on Risk Assessment, em 1994; com o objetivo de contribuir no
planejamento, projeto, construção e operação de grandes barragens, e seus
reservatórios. O Prof. Robin Fell, da University of New South Wales, Sidney, tem
liderado as discussões sobre o tema, com destaque para o seu trabalho intitulado: O
Estado Atual dos Métodos Utilizados na Avaliação Quantitativa de Risco, Através da
Estimativa de Probabilidades de Rupturas de Barragens (FELL, R., 2000). A Nova
Zelândia segue a mesma linha da Austrália. Ambas, acompanham os avanços dos
ingleses.

Canadá
No Canadá, The Canadian Dam Association (CDA) publicou uma edição revisada do
Dam Safety Guidlines, contendo recomendações para avaliação de segurança de
barragens existentes, atentos a problemas de ordem construtiva e principalmente,
no intuito de contribuir com a legislação e regulamentação sobre segurança de
barragens (CDA, 1999).

Portugal
Em Portugal, onde muitas barragens de concreto foram construídas na década de
50, foi realizado em Coimbra, em 1984 um importante seminário sobre o tema
“Safety of Dams”. Desde 1986, o Ministério das Obras Públicas, com a participação
do LNEC – Laboratório de Engenharia Civil de Lisboa tem procurado avaliar, as
condições de segurança dessas estruturas antigas, através de retroanálises,
utilizando resultados dos estudos das características de resistência dos materiais e
parâmetros geomecânicos do maciço da fundação, à luz das ferramentas de
investigação modernas, de campo e laboratório, das técnicas de simulações
computacionais e de modelagem matemática do comportamento das estruturas, dos
materiais e interfaces solo-rocha-concreto. Novamente, temos que lidar com
incertezas em conjunto com modelos matemáticos sofisticados e bastante sensíveis
às pequenas variações nos dados de entrada (RSB, 1990; ALMEIDA, B., 2006).

O primeiro regulamento português sobre projeto e construção de barragens de terra

24
intitulado: Regulamento de Pequenas Barragens de Terra, foi oficializado através do
Decreto-Lei No. 48.373/68, em 08/05/1968. Em 1990, o governo português instituiu
um novo Regulamento para Segurança de Barragens, na forma de anexo ao
Decreto-Lei No. 11/90 de 06/01/90.

A revista portuguesa, Geotecnia No. 62 publicou um trabalho sobre análise


probabilística de risco, intitulado: Dimensionamento de Barragens de Aterro: Novos
Critérios de Segurança (MINEIRO, 1991). Neste trabalho procura-se descrever
cenários de acidentes com ruptura em barragens (devido a ações sísmicas) e o
método de avaliação do custo do risco, decorrentes das consequências da ruptura
em termos de perdas de vidas humanas e bens econômicos.

Em 1993 foi publicado um novo Regulamento de Pequenas Barragens, anexo ao


Decreto Lei No. 409/93. Em 1996 a Comissão Nacional Portuguesa de Grandes
Barragens (CNPGB), promoveu o Seminário sobre Segurança de Barragens
Portuguesas em Serviço. Em 1999 foi publicada a Legislação Sobre Segurança de
Barragens: Matérias Pertinentes, de autoria do Investigador-Coordenador do LNEC,
Dr. Manuel Martins. O trabalho contou com o apoio da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN).

Espanha
Na Espanha, em 1992 foi publicada a Legislación Española Sobre Seguridad de
Presas, produzida pela Comission de Normas de Grandes Presas. Em 12 de março
de 1996, por ordem ministerial, foi aprovado “El Regulamento Técnico sobre
Seguridad y Emblases”, com ênfase para a classificação das barragens em função
do risco potencial e com os seguintes objetivos de definir: i) sobre quais barragens
precisavam de um PAE, ii) os critérios de projeto, operação e inspeção ou Plano de
Manutenção e Operação e, iii) estabelecer as prioridades de investimentos nos
programas de segurança de barragens.

25
Outros aspectos:
Os Estados Unidos, Austrália, Inglaterra e outros países preocupados com o ataque
terrorista ao World Trade Center (WTC), em 11 de setembro de 2001, reviram os
seus Planos de Ação de Emergência (Emergency Action Plan – EAP) e de
Segurança de Barragens (Dam Safety Plan) com o objetivo de adaptá-los para a
resposta a um eventual ataque de adversários potenciais, com foco nas
vulnerabilidades a esses ataques (terrorismo) e suas consequências; fato que
resultou no reforço do controle do acesso as barragens, instalação de sistemas de
alarme e câmeras de segurança.

Trata-se de uma nova abordagem e reflete a realidade do novo milênio. Os planos


consideram 2 (dois) tipos de sabotagens: terrorismo e vandalismo. O primeiro
interrompe o suprimento de água e, o segundo, contamina a água e compromete
sua qualidade. Nos Estados Unidos os trabalhos são acompanhados pela EPA –
Environmental Protection Agency e FBI – Federal Bureau of Investigation.

O Banco Mundial apresentou uma revisão do documento OP 4.37 – Safety of Dams,


onde destaca a sua preocupação com os impactos ambientais com ênfase para os
aspectos sociais dos projetos financiados pelo banco, no sentido de que sejam
identificados, evitados, minimizados, mitigados e monitorados pelo proprietário.

Em outubro de 2002, o Banco Mundial publicou o livro Regulatory Frameworks for


Dam Safety: A Comparative Study; contendo modelo de regulamento, operação,
manutenção e inspeção de barragens. Neste documento, o significado de segurança
de barragens engloba fatores que contribuem para a operação com segurança da
estrutura e obras complementares, o risco potencial para a vida humana, aspectos
sanitários e de saúde pública, danos a propriedades e proteção da área no entorno
do reservatório. Segurança tem a ver com a operação adequada, manutenção,
inspeção e planos de emergência para lidar com situações de risco ao meio
ambiente, assim como definição das medidas mitigadoras dos impactos ambientais
(WORLD BANK, 1996).

26
3 REGULAMENTAÇÃO NACIONAL

3.1 Evolução do Processo no Brasil

No Brasil, a década de 70 foi marcada por grandes obras de barragens e


empolgação (anos dourados ou do milagre brasileiro), com os barrageiros focados
em hidrelétricas. Poucos dedicaram tempo ou tiveram oportunidade de enxergar as
barragens do outro setor, também em franco crescimento e voltado para o
atendimento do aumento da demanda por água para abastecimento e irrigação.
Neste setor, as equipes também ousaram, construindo grandes barragens e
também, pequenas barragens, mas com grandes problemas e carentes em recursos
técnicos e financeiros.

Na prática esses dois setores não se conheciam ou mantinham entre si, uma
distância que impedia a troca de experiências e de conhecimento. Cabe lembrar que
as barragens não identificam setor pobre do rico quando o assunto é ruptura. O
aprendizado com o acidente pode ser replicado em qualquer outra estrutura, não
importa qual seja a sua pujança.

São muitas as iniciativas e interesse pela discussão do tema, como neste seminário
e em eventos, promovidas por organizações governamentais e privadas, a exemplo
do Ministério de Integração Nacional (MI), ANA, ANNEL, ELETROBRAS, DNOCS,
CHESF, CESP, FURNAS e CEMIG, dentre outras associações técnicas, a exemplo
do Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB). As empresas CESP, FURNAS, CEMIG e
ITAIPU, por exemplo, promovem a busca ininterrupta da garantia de segurança de
suas barragens; hoje em sua maioria com mais de 30 anos.

O Eng. Paulo Teixeira da Cruz, trouxe uma grande contribuição para a engenharia
de barragens, ao relatar a sua rica, surpreendente e detalhada experiência ao lidar
com 100 barragens brasileiras, com seu relato histórico e sobre aspectos de projeto,

27
construção e acompanhamento do desempenho dessas estruturas.
Considerando-se que não temos o hábito de escrever sobre as nossas experiências
com sucesso e insucessos, refuto ao seu trabalho um grande mérito (CRUZ, P. T.;
2004).

3.2 Histórico da Lei de Segurança de Barragens

Segundo CARDIA, R. J. R. e ANDERÁOS, A. (2012) existiram tentativas de se obter


uma legislação adequada, desde 1977 (Decreto Lei N°. 10.752/77 SP), como
consequência das rupturas de 2 (duas) Barragens no rio Pardo, em São Paulo, mas
que nunca foi regulamentado. O mesmo esforço foi dedicado através da Comissão
de Deterioração e Recuperação de Barragens do Comitê Brasileiro de (Grandes)
Barragens, desde 1986.

Contudo, a legislação de segurança de barragem, ora em vigor, teve como ponto de


partida uma versão preliminar de projeto de lei, denominado Substitutivo de PL No.
1181, de autoria do Dep. Leonardo Monteiro, motivada pelo rompimento da
Barragem de Cataguazes, em 2003, lançando 1,2 bilhões de litros de resíduos
tóxicos nos rios Pomba e Paraíba do Sul, atingindo o norte e o noroeste fluminense.

O PL No. 1181/2003, foi elaborado no GT de Segurança de Barragens, criado na


Câmara Técnica de Estudos e Projetos (CTAP) do Conselho Nacional de Recursos
Hídricos (CNRH) e aprovado após 7 anos de tramitação na Câmara dos Deputados.
O próximo passo foi a aprovação no Senado Federal, na Comissão de Infraestrutura;
com a designação de PLC No. 168.

Após a aprovação no Senado Federal foi encaminhado para sanção da Presidência


da República (em 21/09/2010), resultando na Lei No. 12.334. Infelizmente, ao longo
desses 7 anos de espera assistimos aos graves acidentes e incidentes, conforme
figura 1:

28
O acidente da Barragem de Algodões I, com perdas de vidas, danos econômicos,
ambientais e a exposição pública de colegas de profissão, foi o divisor de águas
entre o ceticismo e o desejo de mudanças na conduta das ações focadas na
consecução de empreendimentos de barragens.
Foram grandes os prejuízos para a sociedade com reflexos negativos para o
prestígio da engenharia brasileira, com destaque nos meios de comunicação que,
paradoxalmente, contribuiu para momentos de reflexão sobre as nossas limitações e
deficiências técnicas e/ou administrativas.

Uma única lei para setores desiguais quanto à cultura de segurança e estrutura
organizacional. Esses acidentes contribuíram para a intensificação da mobilização
da comunidade técnica que, através de suas associações de classe: ABGE, CBDB,
ABMS, IBRACON, CREA.

Os principais acidentes e incidentes registrados no período de formulação e


tramitação da Lei No. 12.334 foram: Cataguases - MG (2003), Camará – PB (2004),
Campos Novos - SC (2006), Miraí – MG (2007), UHE de Apertadinho – RO (2008),
PCH Espora – GO (2008), Algodões I – PI (2009), PCH Bocaiuva (2010) e dezenas
de barragens na região no nordeste (KANJI, M. A., 2004; SILVEIRA, J. F. A., 1999;
2001; U.S. BUREAU OF RECLAMATION, 1976).

29
FIGURA 1 - Principais Acidentes E Incidentes Registrados No Período De
Formulação E Tramitação Da Lei No. 12.334

Barragem de Rejeito Cataguazes


Barragem de Camará (2004)
(2003)

PCH de Apertadinho (2008) PCH de Espora (2008)

UHE de Campos Novos, SC (2007) Barragem de Algodões I, PI (2009)


Fonte: Nota do autor.

30
4 POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA DE BARRAGENS
(PNSB)

A Lei 12.334, que estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens, passa


a ser, desde 2010, o instrumento nacional para regular o setor de barragens no
Brasil.

Fundamentos e Instrumentos
São fundamentos da política: a segurança de uma barragem deve ser considerada
nas suas fases de planejamento, projeto, construção, primeiro enchimento e primeiro
vertimento, operação, desativação e de usos futuros; a população deve ser
informada e estimulada a participar, direta ou indiretamente, das ações preventivas e
emergenciais; o empreendedor é o responsável legal pela segurança da barragem,
cabendo-lhe o desenvolvimento de ações para garanti-la; a promoção de
mecanismos de participação e controle social e, que a segurança de uma barragem
influi diretamente na sua sustentabilidade e no alcance de seus potenciais efeitos
sociais e ambientais (BRASIL, 2010).

São instrumentos da Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB): o


sistema de classificação de barragens por categoria de risco e por dano potencial
associado; o Plano de Segurança de Barragem (PSB); o Sistema Nacional de
Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB); o Sistema Nacional de
Informações sobre o Meio Ambiente (SINIMA); o Cadastro Técnico Federal de
Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; o Cadastro Técnico Federal de
Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais e o
Relatório de Segurança de Barragens.

Segundo a Lei No. 12.334, no Art. 7, as barragens serão classificadas pelos agentes
fiscalizadores, por categoria de risco, por dano potencial associado e pelo seu
volume, com base em critérios gerais estabelecidos pelo Conselho Nacional de
Recursos Hídricos (CNRH). A classificação por categoria de dano potencial

31
associado à barragem em alto, médio ou baixo será feita em função do potencial de
perdas de vidas humanas e dos impactos econômicos, sociais e ambientais.

A lei coíbe a prática da má engenharia e a participação de atores não qualificados


para a consecução de projeto, construção e operação de barragens - um
empreendimento complexo e de grande impacto sobre a sociedade -, e se justifica
na medida em que objetiva a organização do “sistema” (conjunto de atores em torno
do empreendimento) com amparo da legislação vigente e com o intuito de contribuir
para o exercício da pratica profissional com responsabilidade e cidadania, tendo
como foco os atores que: contratam, projetam, constroem, fiscalizam, operam e
zelam pela segurança das barragens (BRASIL, 2000, 2009, 2019).

As barragens experimentam situações de operação que caracterizam risco para as


comunidades situadas à jusante, durante a ocorrência de vazões defluentes, acima
do previsto em projeto, que implica no “galgamento” ou liberação de grande volume
de água para a calha do rio a jusante, causando inundação e enchente; mesmo sem
uma condição de colapso estrutural (rompimento da barragem). Isso determina a
obrigatoriedade de elaboração do PSB e do PAE, atentos a condição de risco
potencial e o dano potencial associado, na eventualidade de um acidente com
rompimento. Deve-se observar também, a função, a importância estratégica e o
porte da barragem (CARDIA, R. J. e ANDERÁOS, A., 2012). É preciso compilar e
adequar o conhecimento às nossas necessidades. Segurança é inversamente
proporcional a risco. Os riscos são decorrentes de erros potenciais ou
vulnerabilidade que por sua vez depende de uma serie de natureza dos erros devido
a fatores técnicos e não técnicos. Dentre os fatores técnicos cabe destacar: o
desconhecimento técnico-científico que na maioria dos casos, resultam da ausência
absoluta de dados e/ou informações relevantes ao projeto; como por exemplo, a
participação de empresas e/ou profissionais que se aventuram no desenvolvimento
de estudos, projetos e obras de engenharia de barragens, sem a devida qualificação
e especialidade.

32
Em muitas situações a responsabilidade técnica e legal dos atores é diluída ou de
difícil apuração nos casos de insucessos, devido a fatores não técnicos - quando as
decisões sobre o empreendimento sofrem influencias de ordem econômica e/ou
política, a exemplo de a contratação pelo critério de menor preço e negociações
para a redução de prazos de projeto e construção.

Muitos fatores não técnicos contribuem para a formação de uma cadeia de ações
que resultam em omissão em momentos de decisão, em simplificações no projeto
por desconhecimento das implicações técnicas implícitas ou por prioridades
(DEKKER, 2003; REASON, 1997; MEDEIROS, 2012).

Abrangência e Determinações
Na opinião de SILVA, J. M. e POSSAN, E. (2012), no Brasil, as Leis que possam
gerar descontentamentos ou prejudicar “interesses” ou trazer, sobretudo, prejuízos
de cunho político, tem certa deficiência na sua aplicação e cumprimento desde o não
atendimento do seu objetivo até mesmo da sua não publicação. Complementa
dizendo que isso causa entraves ao desenvolvimento do país, gerando discussões
de aspectos técnicos, econômicos e socioambientais, sobre a importância do
cumprimento da Lei que afeta diretamente a sociedade que depende desse tipo de
empreendimento. Entretanto, vale ressaltar que esse obstáculo será vencido,
considerando que a Lei No. 12.334, conta com o apoio da comunidade técnica
brasileira e suas entidades de classe; todas empenhadas no seu sucesso.

A Lei No. 12.334 estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens


destinadas à acumulação de água para quaisquer usos, à disposição final ou
temporária de rejeitos e à acumulação de resíduos industriais, cria o Sistema
Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens e altera a redação do Art.
35 da Lei No. 9.433, de 08/01/1997, e do Art. 4 da Lei No. 9.984, de 17/07/2000.

Sistema Nacional de informações sobre Segurança de Barragens (SNISB)


O Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB) tem o

33
objetivo de coletar, armazenar, tratar, gerir e disponibilizar para a sociedade as
informações relacionadas à segurança de barragens em todo o território nacional.
Os responsáveis diretos pelas informações do SNISB são:

• Agência Nacional de Águas (ANA), como gestora e fiscalizadora;


• Os órgãos fiscalizadores, conforme definido no Art. 5 da Lei Nº. 12.334 e,
• Empreendedores.

Compete à ANA,. organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações


sobre Segurança de Barragens (SNISB) e promover a articulação entre os órgãos
fiscalizadores de barragens (ANEEL, DNPM, IBAMA, órgãos estaduais de meio
ambiente e recursos hídricos);

O SNISB deverá buscar a integração e a troca de informações, no que couber, com:


o Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente (SINIMA); o Cadastro
Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; o Cadastro
Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de
Recursos Ambientais. O Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos
(SNIRH) e demais sistemas relacionados com segurança de barragens.

4.1 Leis Federais Complementares

LEI Nº. 9.433, de 08/01/1997 (D.O.U de 09/1/1997)


Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos. Cabe registrar o que determina o Art. 1 desta
lei, no capítulo que trata dos fundamentos, com destaque para os incisos III, IV e VI;
os quais são relevantes no que tange a garantia da segurança socioeconômica e
ambiental do empreendimento ou sua sustentabilidade (CNRH, 2011):

III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo

34
humano e a dessedentação de animais;
IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das
águas;
VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a
participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

o Art. 35 define as competências do Conselho Nacional de Recursos Hídricos


(CNRH), as quais foram acrescidas dos incisos XI, XII e XIII.

XI - zelar pela implementação da Política Nacional de Segurança de Barragens


(PNSB);
XII - estabelecer diretrizes para implementação da PNSB, aplicação de seus
instrumentos e atuação do Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de
Barragens (SNISB);
XIII - apreciar o Relatório de Segurança de Barragens, fazendo, se necessário,
recomendações para melhoria da segurança das obras, bem como encaminhá-lo ao
Congresso Nacional.

Lei Nº. 9.984, DE 17/07/2000 (D.O.U dE 18/7/2000).


Dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Águas (ANA), entidade federal de
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação do
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, e dá outras
providências. O Art. 4 define a forma de atuação da ANA com foco no cumprimento
dos fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos da Política Nacional de
Recursos Hídricos e em articulação com órgãos e entidades públicas e privadas
integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (CNRH,
2011).

Caberá a ANA, de acordo com o Art. 4, incisos V, VII e X, que tratam de aspectos da
política de segurança de barragens:

35
V - fiscalizar os usos de recursos hídricos nos corpos de água de domínio da União;
VII - estimular e apoiar as iniciativas voltadas para a criação de Comitês de Bacia
Hidrográfica;
X - planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos de
secas e inundações, no âmbito do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, em articulação com o órgão central do Sistema Nacional de Defesa Civil,
em apoio aos Estados e Municípios;

O Art. 4, com base no estabelecido na Lei No. 12.334, passa a vigorar acrescido dos
seguintes incisos XX, XXI e XXII:

XX - organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações sobre


Segurança de Barragens (SNISB);
XXI promover a articulação entre os órgãos fiscalizadores de barragens;
XXII - coordenar a elaboração do Relatório de Segurança de Barragens e
encaminhá-lo, anualmente, ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), de
forma consolidada.

Lei Nº. 9.605, de 12/02/1998 – Dos crimes contra o Meio Ambiente


Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos na lei
9.605/98, estará sujeito às penalidades, na medida da sua culpabilidade, bem como
o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o
gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta
criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para
evitá-la. As pessoas jurídicas serão responsabilizadas: administrativa, cível e
penalmente, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu
representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou
benefício da sua entidade (BRASIL, 1998).

36
4.2 Regulamentação da PNSB

De acordo com a Lei 12.334/2010, as regulamentações da complementares ao texto


são de responsabilidade do órgão outorgante daquele uso. A outorga do uso da
água depende diretamente do domínio do curso d”água, sendo que os rios estaduais
serão regulados por órgão dos estado e os rios federais atenderão às
regulamentações e regulações da Agência Nacional de Águas (ANA). De forma
similar, os setores de negócios também estarão submetidos às regulamentações de
suas agências reguladoras. Por exemplo, o setor hidrelétrico terão suas barragens
sob fiscalização da Agencia Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e o setor de
mineração fica sob a responsabilidade do Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM).

Devido à sua influência e importância na PNSB, a ANA já emitiu algumas


regulamentações que têm servido de base para os trabalha da maioria das demais
entidades do Brasil. De maneira semelhante, PNSB incumbiu ao CNRH a definição
de critérios gerais de classificação, por categoria de risco, por dano potencial
associado e pelo seu volume, bem como atribuiu-lhe a competência de zelar pela
implementação da Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB);
estabelecer diretrizes para implementação da PNSB, aplicação de seus
instrumentos e atuação do Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de
Barragens (SNISB); apreciar o Relatório de Segurança de Barragens encaminhado
pela ANA, fazendo, se necessário, recomendações para melhoria da segurança das
obras, bem como encaminhá-lo ao Congresso Nacional.

Resolução ANA NO. 91, de 09/04/2012


Estabelece a periodicidade de atualização, a Qualificação do Responsável Técnico o
conteúdo mínimo e detalhamento do Plano de Segurança da Barragem (PSB) e da
Revisão Periódica de Segurança da Barragens fiscalizadas pela ANA.(Art. 8., Art.10.
e Art. 19., da Lei No. 12.334).

37
Resolução ANA NO. 742, de 17/10/2011
Estabelece a periodicidade, a qualificação da equipe responsável, o conteúdo
mínimo e o nível de detalhamento das inspeções de segurança regulares de
barragens fiscalizadas pela ANA, conforme art. 9° da Lei 12.334/2010...

Segundo NEUMANN, C. JR., OSAKO, C., PATIAS, J. e PORCHETTO, C. (2011) a


obrigatoriedade de monitoramento das barragens reflete-se em mais incumbências,
as quais trarão maior responsabilidade e exigirão grande especialização dos
profissionais que atuam na engenharia de barragens. Consequentemente, estes
profissionais devem se preocupar com o constante aprimoramento de sua
qualificação, através de programas de educação continuada.

Segundo a Resolução No. 742 da ANA, as Inspeções de Segurança Regulares da


Barragem terão os produtos: Fichas de Inspeção Preenchida, o Relatório de
Inspeção Regular e o Extrato da Inspeção de Segurança Regular da Barragem. O
Relatório de Inspeção Regular deverá conter as seguintes informações:

• Identificação do representante legal do empreendedor,


• Identificação do responsável técnico pela segurança da barragem,
• A avaliação das anomalias com indicação do mau funcionamento,
deteriorações ou defeitos de construção,
• Documentação fotográfica,
• Reclassificação quanto ao nível de perigo de cada anomalia identificada
(normal, atenção, alerta e emergência), dentre outros.

NOTA: A classificação por Nível de Perigo, segundo a resolução, deverá ser


utilizada para efeito de definição da periodicidade da Inspeção de Segurança
Regular. Essa classificação não deverá prevalecer sobre a classificação quanto à
categoria de risco, definida pela Matriz de Risco da Resolução No. 143 do CNRH.

38
O Art. 4 define as periodicidades das Inspeções de Segurança Regular , conforme
quadro 4, em função da classificação em termos de categoria de risco e dano
potencial associado (conforme as matrizes de categoria de risco e dano potencial
associado).

Quadro 4 – Quadro de Periodicidade para a Realização das Inspeções


CLASSSIFICAÇÃO DANO POTENCIAL
PERIODICIDADE
DE RISCO ASSOCIADO
BAIXO BAIXO BIANUAL
BAIXO
MÉDIO ANUAL
MÉDIO
BAIXO
ALTO MÉDIO SEMESTRAL
ALTO

NOTA: A Inspeção de Segurança Especial, será definida através de resolução especifica,


a ser emitia pela ANA.

A Inspeção de Segurança Regular da Barragem deverá ser executada por equipe ou


profissional com registro no sistema CONFEA-CREA, cujas atribuições sejam
comprovadas para projeto, construção, operação ou manutenção de barragens de
terra ou de concreto.

Resolução CNRH Nº 37, de 26/03/2004 (D.O.U em 24/6/2004)


Estabelece as diretrizes para a outorga de recursos hídricos para a implantação de
barragens em corpos de água de domínio dos Estados, do Distrito Federal ou da
União. No Art. 2, a Resolução apresenta algumas definições interessantes que, de
certa forma, difere da contida na Lei No. 12.334, quando define barragem: estrutura
construída transversalmente em um corpo de água, dotada de mecanismos de
controle com a finalidade de obter a elevação do seu nível de água ou de criar um
reservatório de acumulação de água ou de regularização de vazões.

A Lei No. 12.334 define barragem da seguinte forma: barragem: qualquer estrutura
em um curso permanente ou temporário de água para fins de contenção ou

39
acumulação de substâncias líquidas ou de misturas de líquidos e sólidos,
compreendendo o barramento e as estruturas associadas.

Segundo a Resolução No. 37, art. 2°, inciso V - Plano de Ação de Emergência
(PAE): documento que contém os procedimentos para atuação em situações de
emergência, bem como os mapas de inundação com indicação do alcance de ondas
de cheia e respectivos tempos de chegada, resultantes da ruptura da barragem. No
Art. 6 determina que as regras de operação dos reservatórios, assim como o PAE
poderão ser reavaliados pela autoridade outorgante, considerando-se os usos
múltiplos, os riscos decorrentes de acidentes e os eventos hidrológicos críticos,
observado o inciso XII, do Art. 4, combinado com o § 3º desse mesmo artigo da Lei
No. 9.984, de 2000.

No Art. 8 o outorgado é responsável pelos aspectos relacionados à segurança da


barragem, devendo assegurar que seu projeto, construção, operação e manutenção
sejam executados por profissionais legalmente habilitados.

O outorgado deverá informar ao órgão outorgante sempre que houver designações


ou alterações dos responsáveis técnicos.

A Lei No. 12.334, no Art. 12 determina que, o PAE, deve estabelecer as ações a
serem executadas pelo empreendedor da barragem em caso de situação de
emergência, bem como identificará os agentes a serem notificados dessa
ocorrência, devendo contemplar, pelo menos:

I - identificação e análise das possíveis situações de emergência;


II - procedimentos para identificação e notificação de mau funcionamento ou de
condições potenciais de ruptura da barragem;
III - procedimentos preventivos e corretivos a serem adotados em situações de
emergência, com indicação do responsável pela ação;
IV - estratégia e meio de divulgação e alerta para as comunidades potencialmente

40
afetadas em situação de emergência.

O PAE deve estar disponível no empreendimento e nas prefeituras envolvidas, bem


como ser encaminhado às autoridades competentes e aos organismos de defesa
civil. Em seu Art. 7, atribuiu ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos a
competência de estabelecer critérios gerais de classificação das barragens por
categoria de risco, dano potencial associado e volume.

Resolução CNRH Nº 143, de 10 de Julho de 2012


Estabelece os critérios gerais de classificação de barragens por categoria de risco,
dano potencial associado e pelo seu volume, em atendimento ao Art. 7 da Lei No.
12.334. No Art. 4º, quanto à categoria de risco, as barragens serão classificadas de
acordo com aspectos da própria barragem que possam influenciar na possibilidade
de ocorrência de acidente, levando-se em conta os seguintes critérios gerais
(CNRH, 2011):

i) Características Técnicas: altura do barramento; comprimento do


coroamento da barragem; tipo de barragem quanto ao material de
construção; tipo de fundação da barragem; idade da barragem; tempo de
recorrência da vazão de projeto do vertedouro;
ii) Estado de Conservação da Barragem: confiabilidade das estruturas
extravasoras; confiabilidade das estruturas de adução; eclusa; percolação;
deformações e recalques e deterioração dos taludes;
iii) Plano de Segurança da Barragem (PSB): existência de documentação de
projeto da barragem; estrutura organizacional e qualificação dos
profissionais da equipe técnica de segurança da barragem; procedimentos
de inspeções de segurança e de monitoramento; a regra operacional dos
dispositivos de descarga da barragem; os relatórios de inspeção de
segurança com análise e interpretação.

O órgão fiscalizador poderá adotar critérios complementares tecnicamente

41
justificados.

No Art. 7 Para a classificação de barragens para acumulação de água, quanto ao


volume de seu reservatório, considerar-se-á: pequena: reservatório com volume ≤ 5
milhões de m3; média: reservatório com volume > 5 milhões de m3 e ≤ ou igual a 75
milhões de m3: reservatório com volume > a 75 milhões de m3 e ≤ 200 milhões de
m3; muito grande: reservatório com volume > 200 milhões de m3.

A classificação por Categoria De Dano Potencial Associado à ruptura da barragem,


em ALTO, MÉDIO ou BAIXO, será feita em função do potencial de perdas de vidas
humanas e dos impactos econômicos, sociais e ambientais.

Com base em critérios gerais estabelecidos pelo Conselho Nacional de Recursos


Hídricos (CNRH): Categoria De Risco - diz respeito aos aspectos da própria
barragem que possam influenciar na probabilidade de um acidente: aspectos de
projeto, integridade da estrutura, estado de conservação, operação e manutenção,
atendimento ao Plano de Segurança da Barragem - PSB, entre outros aspectos e
Dano Potencial Associado - o dano que pode ocorrer devido a rompimento,
vazamento, infiltração no solo ou mau funcionamento de uma barragem,
independentemente da sua probabilidade de ocorrência, podendo ser graduado de
acordo com as perdas de vidas humanas e impactos sociais, econômicos e
ambientais.

Conforme o Art. 8, da Lei No. 12.334, para a classificação das barragens por
categoria de risco, dano potencial associado e pelo seu volume, os órgãos
fiscalizadores deverão considerar os quadros constantes dos ANEXOS I e II,
respectivamente: Matriz de Categoria de Risco e Matriz de Dano Potencial
Associado, para barragens de acumulação de água, desta Resolução.

Estabelece critérios gerais de classificação de barragens por categoria de risco,


dano potencial associado e pelo seu volume, em atendimento ao Art. 7 da Lei No.

42
12.334. O Art. 4, quanto à categoria de risco, as barragens serão classificadas de
acordo com aspectos da própria barragem que possam influenciar na possibilidade
de ocorrência de acidente, levando-se em conta os seguintes critérios gerais: i)
características técnicas: altura do barramento; comprimento do coroamento da
barragem; tipo de barragem quanto ao material de construção; tipo de fundação da
barragem; idade da barragem (aging); Tempo de Recorrência (TR) da vazão de
projeto do vertedouro; ii) estado de conservação da barragem: confiabilidade das
estruturas extravasoras; confiabilidade das estruturas de adução; eclusa;
percolação; deformações e recalques e deterioração dos taludes.

Resolução CNRH Nº 144, de 10 de Julho de 2012


O Relatório de Segurança de Barragens deverá conter, no mínimo, informações
atualizadas sobre: i) os cadastros de barragens mantidos pelos órgãos
fiscalizadores; ii) a implementação da Política Nacional de Segurança de Barragens;
iii) relação das barragens que apresentem categoria de risco alto; iv) as principais
ações para melhoria da segurança de barragem implementadas pelos
empreendedores; v) a descrição dos principais acidentes e incidentes durante o
período de competência do relatório, bem como análise por parte dos
empreendedores e o respectivo órgão fiscalizador sobre as causas, consequências
e medidas adotadas; vi) a relação dos órgãos fiscalizadores que remeteram
informações para a ANA com a síntese das informações enviadas; vii) os recursos
dos orçamentos fiscais da União e dos Estados previstos e aplicados durante o
período de competência do relatório em ações para a segurança de barragens
(CNRH, 2012). Compreende o detalhamento do instrumento PSB - Plano de
Segurança da Barragem, com base no conteúdo mínimo já estabelecido no Art. 8 da
Lei No. 12.334.

O PSB - Plano de Segurança da Barragem deve compreender, no mínimo, as


seguintes informações: identificação do empreendedor; dados técnicos referentes à
implantação do empreendimento, inclusive, no caso de empreendimentos
construídos após a promulgação desta Lei, do projeto como construído, bem como

43
aqueles necessários para a operação e manutenção da barragem; estrutura
organizacional e qualificação técnica dos profissionais da equipe de segurança da
barragem; os manuais de procedimentos dos roteiros de inspeções de segurança e
de monitoramento e relatórios de segurança da barragem; a regra operacional dos
dispositivos de descarga da barragem; indicação da área do entorno das instalações
e seus respectivos acessos, a serem resguardados de quaisquer usos ou ocupações
permanentes, exceto aqueles indispensáveis à manutenção e à operação da
barragem e o PAE, quando exigido.

O PAE estabelecerá as ações a serem executadas pelo empreendedor da barragem


em caso de situação de emergência, bem como identificará os agentes a serem
notificados dessa ocorrência, devendo contemplar, pelo menos: identificação e
análise das possíveis situações de emergência; procedimentos para identificação e
notificação de mau funcionamento ou de condições potenciais de ruptura da
barragem; procedimentos preventivos e corretivos a serem adotados em situações
de emergência, com indicação do responsável pela ação; estratégia e meio de
divulgação e alerta para as comunidades potencialmente afetadas em situação de
emergência (BRASIL, 2010).

De acordo com BALBI, D. A. F., BARBOSA, L. R. A. e SILVA, E. S. (2012) a estrutura


dos planos deve ser sintética, direta e conter todas as informações necessárias ao
gerenciamento da emergência. A segurança do sistema vale-barragem só pode ser
garantida por meio da adoção de medidas integradas de gerenciamento de risco e
emergências por parte dos responsáveis por ambos os conjuntos do sistema. A
Defesa Civil deve identificar mudanças no vale, mantendo o planejamento de
emergências para os diversos riscos que ameaçam a população, entre eles,
inundações. Dessa forma poderá contar com uma estrutura de resposta integrada
permitindo agir com maior eficiência.

Na opinião de CARDIA,R. J. R., ANDERÁOS, A (2012), a elaboração de um PAE


“adequado” e “completo”, envolve custos elevados, principalmente devido a

44
necessidade de levantamentos topo batimétricos e estudos especiais com
simulações de rompimento e de propagação de onda de cheia e geração de mapas
de inundação. Do exposto, cabe lembrar que os requisitos a serem estabelecidos,
com exigências mínimas obrigatórias, e procedimentos complementares opcionais
para a elaboração do PAE; ainda não foi objeto de regulamentação pela ANA;
apesar de fazer parte do PSB, já regulamentado pelo CNRH.

O PAE deve estar disponível no empreendimento e nas prefeituras envolvidas, bem


como ser encaminhado às autoridades competentes e aos organismos de defesa
civil.

4.3 Obrigações Legais do Proprietário e Órgão Fiscalizador

Barragens devem ser operadas e mantidas de forma segura, através de inspeções


para identificação de anomalias que comprometam a segurança, análises utilizando
as tecnologias atuais e elaboração de projetos e ações corretivas, se necessário,
com base em boas práticas de engenharia. Nas avaliações devem ser consideradas
as perdas de benefícios decorrentes da construção da barragem, com destaque
para as atividades de pesca e preservação da vida selvagem.

Segundo o Art. 17 da Lei No. 12.334, o empreendedor da barragem obriga-se a


prover os recursos necessários à garantia da segurança da barragem; providenciar,
para novos empreendimentos, a elaboração do projeto final como construído;
organizar e manter em bom estado de conservação as informações e a
documentação referentes ao projeto, à construção, à operação, à manutenção, à
segurança e, quando couber, à desativação da barragem; informar ao respectivo
órgão fiscalizador qualquer alteração que possa acarretar redução da capacidade de
descarga da barragem ou que possa comprometer a sua segurança; manter serviço
especializado em segurança de barragem, conforme estabelecido no Plano de
Segurança da Barragem; permitir o acesso irrestrito do órgão fiscalizador e dos

45
órgãos integrantes do Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC) ao local da
barragem e à sua documentação de segurança.

O órgão fiscalizador, no âmbito de suas atribuições legais definidas no art. 16 da Lei


de Segurança de Barragens, é obrigado a: i) manter cadastro das barragens sob sua
jurisdição, com identificação dos empreendedores, para fins de incorporação ao
SNISB; ii) exigir do empreendedor a anotação de responsabilidade técnica, por
profissional habilitado pelo Sistema Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia (CONFEA) / Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
(CREA), dos estudos, planos, projetos, construção, fiscalização e demais relatórios
citados nesta lei; iii) exigir do empreendedor o cumprimento das recomendações
contidas nos relatórios de inspeção e revisão periódica de segurança; iv) articular-se
com outros órgãos envolvidos com a implantação e a operação de barragens no
âmbito da bacia hidrográfica e v) exigir do empreendedor o cadastramento e a
atualização das informações relativas à barragem no SNISB.

46
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Apesar dos avanços obtidos com segurança de barragens, ainda não dominamos o
conhecimento sobre os mecanismos que conduzem aos incidentes e acidentes com
ruptura em barragens. São muitas as incertezas, e crescente a utilização de
modelos e simulações matemáticas quando ainda dependemos de dados não
confiáveis, inexistentes, sem tratamento e avaliação critica por profissional
qualificado, de equipes sem capacitação e treinamento técnico adequado para as
atividades de operação e manutenção, sistemas de auscultação deficiente e/ou sem
regularidade nas leituras, analises e interpretação, desorganização da
documentação sobre a memória técnica da barragem, etc.

Alguns fatores precisam ser incorporados nas analise de segurança de barragens:

• A falha humana,
• A falta de capacitação do pessoal envolvido com obras da complexidade e
risco, inerentes às barragens e,
• A precariedade dos dados e/ou disponibilidade de dados sem análise e
interpretação por parte de profissional qualificado. Refiro-me aos dados que
alimentam os modelos hidráulico-hidrológicos e aqueles obtidos através do
sistema de auscultação instalado na estrutura,
• A sofisticação dos sistemas de auscultação com controle em estações
remotas e o “descuido” com o método observacional (inspeções visuais),
• A sofisticação dos sistemas informatizados e/ou especialistas (expert
systems) que devem ser tratados com cautela uma vez que, demandam
confiabilidade nos dados de entrada. Os sistemas especialistas, que
demandam o tratamento do conhecimento ou “judgement” e lidam com
cenários que interagem com o usuário, etc.

Para efeito do cumprimento das exigências estabelecidas na Lei N o. 12.334, deve-se

47
estar atento para: a descrição geral do sistema incluindo os perigos potenciais que
motivaram a analise de risco / definição da Categoria de Risco (Matriz de Risco); a
descrição das condições operacionais relacionados ao risco em análise e limitações
relevantes e, o detalhamento de todos os aspectos do empreendedor e do
empreendimento: técnicos e ambientais, organizacionais, recursos humanos e
circunstancias que sejam relevantes para o problema a ser analisado.

Os critérios de determinação de categorias de risco e dano potencial associado


foram estabelecidos com foco, único e exclusivo no planejamento das ações de
monitoramento e preservação continua do bom estado de conservação da barragem
e na definição do grau de dano potencial associado, no caso de rompimento da
barragem, para efeito de definição sobre a exigência de elaboração do PAE. Isso
tem sido objeto de erros na interpretação da Lei No. 12.334; visto que o PSB, não
define o elenco de procedimentos a serem adotados pelo empreendedor, quando da
detecção de situação de alerta e de emergência. Isso é objeto do PAE. O sinal de
condição de emergência eventualmente apontado no PSB deve sinalizar a
necessidade de melhorias nas ações de operação, manutenção e de segurança da
barragem; incluído o apoio para a alocação de recursos materiais e/ou humanos (no
que tange a qualificação técnica).

Os estudos para a avaliação dos danos potenciais associados gerados pelo


rompimento das barragens através de simulação e análise da propagação de ondas
de cheias tem por objetivo a determinação de áreas inundáveis, na ocorrência de um
evento de rompimento e/ou liberação compulsória de grande volume de água;
elaboração de mapas de inundação, a indicação das áreas de risco de inundação,
com destaque para as aglomerações populacionais e infraestrutura, a indicação das
áreas de risco para os meios de transporte: estradas, obras de arte, etc.

A metodologia para a definição das áreas de inundação, a ser utilizada de forma


generalizada e sem prejuízo do método de simulação de rompimento tradicional, tipo
“dambreak”; deve ser objeto de resolução específica dos órgãos fiscalizadores

48
federais e estaduais..

Os estudos para a avaliação dos danos potenciais associados gerados pelo


rompimento das barragens através de simulação e análise da propagação de ondas
de cheias permitem a elaboração de modelos de ruptura de barragens de terra e
barragens de concreto, o estabelecimento dos cenários de rompimento, a
determinação de linhas d´água resultantes de processo de rompimento e a
estimativa dos tempos de propagação das ondas de cheias efluentes.

O Plano de Segurança de Barragem (PSB) e o Plano de Ação de Emergência (PAE)


devem estabelecer os procedimentos a serem seguidos pelos proprietários de
barragens, em caso de eventos excepcionais ou incidentes que possam evoluir para
uma situação de risco a: vidas humanas, propriedades e de danos à jusante.

O conteúdo mínimo do PSB é estabelecido no Art. 8 da lei e compreende a


identificação do empreendedor, os dados técnicos referentes à implantação a
estrutura organizacional, o manual de procedimento dos roteiros de inspeção, o
resultado das inspeções de segurança, a programação das revisões periódicas de
segurança, a regra operacional dos dispositivos da barragem, a indicação da área
do entorno das instalações e respectivos acessos e o PAE.

A Lei No. 12.334, tem contribuído para a integração e troca de conhecimentos entre
os diversos setores. Todos preocupados com os critérios que definem as
responsabilidades que na lei, são claras e objetivas, contribuindo para a
padronização de procedimentos de inspeção e de monitoramento, o que reforça o
sistema de controle já imposto pelo CONFEA-CREA. A lei é um grande desafio para
todos nos, profissionais, empresários e contratantes. Começa com um enorme
esforço no sentido de focar nossos questionamentos sobre as causas dos acidentes
recentes. ‘

49
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57
ANEXO I

58
Anexo II

62
CURSO
SEGURANÇA DE BARRAGENS

1
MÓDULO II : INSPENÇAO E AUSCULTAÇÃO
DE BARRAGENS

UNIDADE 1: ANOMALIAS EM BARRAGENS

2
FICHA TÉCNICA
Realização:

EQUIPE TÉCNICA

Ruben José Cardia e Selmo Kupermann Glauco Gonçalves Dias


Elaboração de conteúdo Revisor Técnico Geral

Etore Funchal de Faria


Alexandre Anderáos
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico ANA

Fabio Luiz Willrich


Carlos Leonardi
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Josiele Patias
Cesar Eduardo b. Pimentel
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico ANA

Josimar Alves de Oliveira


Claudio Neumann
Revisor técnico ANA
Revisor técnico Itaipu

Ligia Maria Nascimento de


Claudio Osako Araújo
Revisor técnico Itaipu Revisora técnica ANA

Silvia Frazão Matos


Dimilson Pinto Coelho
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Revisão Ortográfica

ICBA – Centro de Línguas


www.cursodeidiomasicba.com.br

Este obra foi licenciada sob uma Licença .Creative Commons Atribuição-
NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada

3
CURRICULO RESUMIDO

Prof: Ruben Ramos Cardia

Ruben José Ramos Cardia, graduado em


Engenharia Civil (1974) pela Escola de
Engenharia de Bauru, SP (hoje UNESP), 34
anos de carreira em Engenharia
Civil,voltados para Barragens e
Aproveitamentos Hidrelétricos em Operação.
Para se preparar, participou de cursos sobre
Segurança de Barragens, promovidos por:
Eletrobrás (BR), BoR e FERC (US), além de

INAG (PT). Atua, regularmente, como conferencista sobre Segurança de Barragens


em eventos promovidos pela Fundação COGE. É Diretor Técnico da RJC
Engenharia (de Bauru, SP), tendo anteriormente trabalhado na AES Tietê, CGEET,
CESP e LIGHT. É membro do CBDB, ABMS e ASDSO. Autor de 40 trabalhos
técnicos, apresentados em Congressos nacionais e internacionais. Para contatos:
e-mail: rjcardia@terra.com.br

4
CURRICULO RESUMIDO

Prof: Selmo Chapira Kuperman

Graduação: Engenharia Civil, em 1969, pela


Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo. Pós-graduações: especialização em
Materiais de Construção pelo
LaboratórioNacional de Engenharia Civil de
Portugal; em Materiais para Construção Civil
na Taylor Woodrow Research Laboratories
da Grã-Bretanha;

em Concrete Construction na Universidade da California – Berkeley


(EUA );mestrado e doutorado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da USP
Empresas em que trabalhou: IPT, Themag Engenharia, USP e Desek Cargos
exercidos: membro de comitês técnicos da ABNT, do American Concrete Institute e
da American Society for Testing and Materials, presidente do Ibracon e professor
convidado da USP.

5
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS........................................................................................... 08
LISTA DE QUADROS......................................................................................... 11
LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................... 12
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 14
2 MANUTENÇÃO .............................................................................................. 15
2.1. Manutenção Preditiva ................................................................................. 15

2.2. Manutenção Preventiva............................................................................... 15

2.3. Manutenção Corretiva.................................................................................. 16

3 ANOMALIAS OU DETERIORAÇÕES DO CONCRETO................................. 17


4 DETECÇÃO DE DETERIORAÇÕES.............................................................. 18
5 TIPOS DE ANOMALIA.................................................................................... 19
6. ANOMALIAS EM BARRAGENS DE CONCRETO........................................ 21
6.1. Fissuras ou Trincas ..................................................................................... 21
6.2. Expansão..................................................................................................... 39
6.3. Lixiviação ou Dissolução.............................................................................. 44
6.4. Corrosão da armadura................................................................................. 48
6.5. Desalinhamentos e Deslocamentos Diferenciais......................................... 62
6.6. Infiltração...................................................................................................... 64
6.7. Abrasão e Cavitação.................................................................................... 67
7. ANOMALIAS EM BARRAGEM DE TERRA.................................................. 74
7.1. Recalques, Fissuras e Trincas..................................................................... 74
7.2. Surgência..................................................................................................... 78
7.3. Erosão.......................................................................................................... 78
7.4. Colmatação de Drenos................................................................................ 86
7.5. Falha na Proteção dos Taludes ................................................................... 89
8. CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DAS ANOMALIAS..................................... 93
8.1.Falhas de Projeto.......................................................................................... 94
8.2. Falhas de Construção.................................................................................. 95
8.3. Falhas de Operação e Manutenção............................................................. 96

6
9. CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DAS DETERIORAÇÕES....................... 98
10.EXECUÇÃO DE MANUTENÇÃO.................................................................. 103
10.1. Escolha do processo de reparo................................................................. 104

CONCLUSÃO .................................................................................................... 105


REFERÊNCIAS.................................................................................................. 106

7
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mecanismo de formação das fissuras


Figura 2 – Tipos de fissuração após o endurecimento
Figura 3 – Fissuras por retração
Figura 4 – Fissura térmica em lateral do bloco de fundação
Figura 5 – Fissura térmica em bloco de fundação
Figura 6 – Fissuras térmicas em laje de vertedouro
Figura 7 – Fissura térmica em barragem de concreto
Figura 8 – Fissura estrutural em laje
Figura 9 – Fissura estrutural em viga
Figura 10 – Fissuras em pilares causadas pela reação álcali agregado
Figura 11– Fissuras em barragem causadas pela reação álcali agregado
Figura 12– Fissuras em tomada d’água devido a reação álcali agregado
Figura 13– Fissura com grande abertura devido a reação álcali agregado
Figura 14– Fissuras causando deformação de guia de comporta devido a reação
álcali agregado
Figura 15 – Fissura em parede causada por formação de etringita tardia
Figura 16 – Fissura causada por formação de etringita tardia
Figura 17 - Fissuras típicas de reação álcali-agregado ou de retração plástic.
(fissuras aleatórias ou tipo “pele de crocodilo”)
Figura 18 – Processo de deterioração por reação álcali agregado
Figura 19 – Deterioração pelo ataque de sulfatos
Figura 20 – Deterioração por ataque ácido
Figura 21 – Superfície deteriorada por ataque ácido
Figura 22 – Lixiviação do concreto em barragem
Figura 23 – Efeitos da corrosão da armadura
Figura 24 – Corrosão das armaduras no encontro
Figura 25 – Corrosão das armaduras
Figura 26 – Proteção da armadura pela alcalinidade do concreto
Figura 27 – Carbonatação do concreto.

8
Figura 28 – Carbonatação do concreto em barragem
Figura 29 – Carbonatação do concreto no teto da galeria de drenagem
Figura 30 - Carbonatação do concreto na parede da galeria de drenagem
Figura 31 – Carbonatação do concreto no piso da galeria de drenagem.
Figura 32 – Corrosão do aço no concreto – Esquema simplificado
Figura 33– Corrosão da armadura após a dissolução da camada de passivação
Figura 34 – Bicheira formada por excesso de armadura e concreto inadequado
Figura 35 – Bicheira formada por adensamento inadequado
Figura 36 – Bicheira comumente encontrada em pé de pilar
Figura 37 – Elevação do piso
Figura 38 – Surgência de água em galeria de drenagem
Figura 39 – Surgência de água em barragem de concreto
Figura 40 – Surgência de água entre camadas de concretagem
Figura 41 – Surgência de água em junta
Figura 42 – Possibilidades de ocorrência de cavitação em superfícies irregulares.
Figura 43 – Erosão por cavitação em túnel vertedor da Barragem Glen Canyon,
Colorado
Figura 44 – Erosão por cavitação em dente da bacia de dissipação
Figura 45 – Buraco formado devido à erosão por cavitação
Figura 46 – Erosão por cavitação das chapas metálicas
Figura 47 – Deterioração por ataque ácido
Figura 48 – Recalque localizado, perceptível na crista da barragem
Figura 49 – Trinca provocado por recalque diferencial dos materiais do aterro
Figura 50 - Ravinamento em Talude de Barragem
Figura 51 - Erosão na Canaleta do Encontro Direito
Figura 52 - Erosão por Piping na Barragem
Figura 53 - Ruptura por Piping, apesar dos Colares
Figura 54 - Drenagem à Volta de Galeria no Aterro
Figura 55 - Filtro Invertido ao Pé Jusante da Barragem
Figura 56 - Ravinamento / Erosão no Talude Montante
Figura 57 - Subsidência na Crista Causada por Piping

9
Figura 58 - Situação de Colmatação em Dreno Exposto
Figuras 59 – Colmatação de dreno de origem biológica
Figuras 60 – Colmatação de drenos de origem química
Figura 61 - Erosão na Proteção e/ou no Pé do Talude Jusante

10
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Tipos de fissuração – Antes do endurecimento do concreto

Quadro 2 - Tipos de fissuração – Concreto endurecido

Quadro 3 - Fissuração grave para a segurança de barragens de concreto

Quadro 4 - Tipos, sintomas, mecanismos e causas da deterioração do concreto por


erosão

Quadro 5 - Ficha de inspeção da crista da barragem de concreto

Quadro 6 - Ficha de inspeção da crista barragem de concreto

11
LISTA DE ABREVIATURAS

ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas


ACI - American Concrete Institute
ASTM - American Society Testing and Materials
DEF - Delayed Ettringite Formation
NBR - Norma Brasileira
PVC - Policloreto de Polivinila
RAA - Reação álcali-agregado
UHE - Usina Hidrelétrica

12
Prezado Aluno,

no decorrer desta unidade você deverá desenvolver competência para:


• Verificar a existência de anomalias e especificando métodos de reparo e
manutenção.
• Identificar causas de anomalias avaliando medidas preditivas, preventivas e
corretivas.

13
1 INTRODUÇÃO

Até este ponto do Curso de Segurança de Barragens, vimos como é constituída


uma barragem, tipo e materiais, fenômenos envolvidos e grandezas a serem
consideradas em projetos e construções. A partir de agora, veremos que aspectos
estão envolvidos na manutenção das barragens e sua segurança, a partir do
momento em que esta entra em operação.

Nesta unidade estudaremos teorias de manutenção e as principais anomalias que


acometem barragens de concreto e de aterro, suas causas e tratamentos. As duas
próximas unidades são dedicadas às “metodologias de identificação” dessas
deteriorações, quais sejam: inspeções visuais e instrumentação civil.

Uma barragem e suas estruturas auxiliares, assim como os equipamentos


empregados no controle da vazão de água, são projetados para durar e operar por
longo tempo, tornando-se necessário que a segurança e o desempenho sejam
garantidos durante todo o intervalo de vida útil estabelecido para o barramento.

É sabido que os materiais usados na construção sofrem uma deterioração contínua


com o passar do tempo, devido às alterações em suas propriedades, originadas de
causas internas, processos ambientais e uso. A deterioração desses materiais pode
comprometer a operação e eventualmente a vida útil do barramento, influenciando a
capacidade da barragem de acumular água e resistir às cargas impostas. Portanto,
a deterioração deve ser evitada ou reparada reduzindo as possibilidades de uma
interrupção na operação.

A garantia da durabilidade das estruturas impõe, assim, a aplicação de


procedimentos de inspeção, conhecimento do mecanismo das manifestações
patológicas e, consequentemente, a adoção de decisões corretas no momento
certo, para execução adequada de serviços de manutenção e reparo.

14
2 MANUTENÇÃO

Manutenção é a adoção de medidas para conservar o produto e assegurar que ele


continue a cumprir as funções para as quais foi projetado. A Manutenção é definida
como “a combinação de ações técnicas e administrativas, incluindo as de
supervisão, destinadas a manter ou recolocar um item em um estado no qual possa
desempenhar uma função requerida” (ABNT,1994).

No caso de barragens, a manutenção representa um papel importante para a


segurança das estruturas, pois algumas deteriorações consideradas graves podem
causar incidentes e até acidentes. A manutenção adequada das estruturas reduz os
custos de reparos e recuperações. As manutenções podem ser classificadas como:
preditiva, preventiva e corretiva.

2.1 Manutenção Preditiva

A manutenção preditiva tem a finalidade de evitar que as falhas ocorram. Segundo


Gomide (2006), a manutenção preditiva visa ao estudo de sistemas e equipamentos
com análises de seus comportamentos e usos, a fim de predizer e apontar
eventuais anomalias, além de direcionar e implementar os procedimentos de
manutenção preventiva.

No caso de barragens, a manutenção preditiva é geralmente realizada através da


análise dos resultados dos instrumentos de auscultação e, às vezes após as
inspeções visuais serem avaliadas.

2.2 Manutenção Preventiva

A manutenção preventiva visa evitar problemas que possam afetar o funcionamento

15
dos componentes ou equipamentos. De acordo com Gomide (2006), manutenções
preventivas são atividades programadas em datas preestabelecidas obedecendo a
critérios técnicos e administrativos, baseados em dados estatísticos ou do próprio
histórico da manutenção realizada.

No caso de barragens, a manutenção preventiva é baseada nas informações das


inspeções visuais periódicas e se refere às atividades de manutenção realizadas
periodicamente.

2.3 Manutenção Corretiva

A manutenção corretiva visa à reparação das falhas ocorridas. Uma vez detectada a
deficiência, ela deve ser estudada, visando obter subsídios para o diagnóstico do
problema e subseqüente definição de conduta, ou seja, da escolha da alternativa
adequada de intervenção.

Esse estudo, realizado por especialistas, abrange a identificação pormenorizada da


deficiência e a investigação de suas possíveis causas, permitindo classificá-la,
levando-se em conta inclusive, o seu grau de influência sobre a segurança da
estrutura.

16
3 ANOMOLIAS OU DETERIORAÇÕES EM BARRAGENS

As comumente chamadas deteriorações e atualmente denominadas - com o


advento da PNSB - anomalias de barragem são quaisquer manifestações, visual ou
não, de alteração negativa do comportamento da estrutura. De acordo com a
Resolução ANA 742/2011, anomalia é “qualquer deficiência, irregularidade,
anormalidade ou deformação que possa vir a afetar a segurança da barragem, tanto
a curto como a longo prazo”.

A anomalia é, portanto, a constatação do comportamento anormal da estrutura. É a


constatação que determina a tomada de ação para a recolocação da estrutura em
estado normal de operação e o grau de intensidade da intervenção necessária.

As barragens têm que ser estruturas estáveis e estanques, ou pelo menos


permeáveis até o possível. As principais deteriorações estão ligadas a esses dois
aspectos, de maneira geral. Algumas anomalias podem acometer, também, o
funcionamento de determinadas estruturas adjacentes, como vertedouros e
condutos.

17
4 DETECÇÃO DE DETERIORAÇÕES

As deteriorações existentes nas estruturas de concreto podem ser detectadas por


meio da inspeção visual ou da instrumentação instalada. A inspeção visual é
importante para a verificação da segurança das barragens, pois através dela é
possível identificar as degenerações existentes e recomendar os procedimentos de
manutenção e recuperação necessários para manter a integridade e segurança das
estruturas. Os resultados da inspeção visual são apenas qualitativos, daí a
importância da instrumentação.

18
5 TIPOS DE ANOMALIA

De acordo com a natureza de cada deterioração é possível separá-las em diferentes


tipos. É comum classificar os fenômenos de deterioração que provocam as
deficiências do concreto em três grandes tipos:

• Deterioração Físico-Mecânica: relacionada à ação mecânica do meio sobre a


estrutura, tais como fissuração e erosão;

• Deterioração Físico-Química: relacionada à ação físico-química do meio


sobre a estrutura, tais como expansão por sulfatos e lixiviação, ou às reações
químicas que podem ocorrer no concreto, provocadas principalmente por
alguns de seus componentes;

• Corrosão da Armadura: relacionada aos fenômenos eletroquímicos.

Outras deteriorações podem ter origem na fase de construção, denominadas aqui


de “Defeitos Construtivos”. Há também as deficiências que podem ocorrer em razão
da presença de anomalias no concreto, tais como os deslocamentos e
vazamentos/surgências. Finalmente, existem deteriorações que podem ser
causadas por acidentes durante a operação da estrutura, dentre os quais são
descritos os manchamentos e avarias por impacto.

Já as barragens de aterro podem ser classificadas como sendo: Superficiais; e


Profundas ou Internas.

• Superficiais: são aquelas que ocorrem na superfície externa ou na pequena


profundidade abaixo da casca superficial. Em alguns casos elas podem ser
simples e de pouca importância. Mas, em outros casos, elas podem
representar a evidência externa de uma ameaça maior à segurança.
• Profundas ou Internas: são aquelas que ocorrem em profundidade, bem
abaixo da casca superficial. Em alguns casos elas podem até mesmo
apresentar uma ramificação que se prolongue até a superfície. E em um caso

19
como esse, pode-se ter um pouco de dificuldade em sua diferenciação, para
constatar que não se trata de um problema simples e de pouca importância.

Em síntese, pode-se assumir que a segurança das barragens está ligada a dois
aspectos principais: sua estabilidade e estanqueidade. Logo, as anomalias mais
relevantes são aquelas que ameaçam ou prejudicam esses dois aspectos. Hartford
(2003) sugere que essas anomalias que afetam a segurança da barragem sejam
agrupadas em modos de falha, que são os mecanismos pelos quais uma barragem
pode romper. Os modos de falha sugeridos por Hartford são Movimentação de
Massa (Instabilidade Estrutural), Falhas Hidráulicas e Erosão interna.

Uma anomalia pode estar ligada à segurança da barragem, mas também pode ter
seu dano restrito a alguma estrutura mais específica. Por exemplo, problemas na
válvula da tubulação de captação, pode prejudicar o abastecimento de água, mas
não ameaça diretamente a segurança da barragem; erosões nas margens do
reservatório podem ser consideradas dano ambiental e provocar o assoreamento do
reservatório, mas não ameaça diretamente a segurança da barragem. Diante disso,
é importante que o responsável pela inspeção das estruturas faça uma avaliação no
momento da detecção da anomalia para determinar que aspecto ela compromete.
Dias (2010) sugere que as anomalias sejam separadas pelos seguintes grupos de
manutenção:

• Segurança da Barragem;
• Segurança da operação/funcionamento;
• Conservação ambiental, segurança do trabalho, aspectos legais;
• Conservação patrimonial.

Independente do tipo de anomalia, o importe na análise de segurança de barragens


é saber identifica-las determinando seu correto tratamento.

20
6 ANOMALIAS EM BARRAGEM DE CONCRETO

6.1 Fissuras ou Trincas

Fissuras ou trincas são anomalias físicas que surgem quando as tensões de tração,
que se estabelecem na estrutura, superam a resistência à tração do concreto,
provocando sua ruptura como mostra no esquema da figura 1.

Figura 1 – Mecanismo de formação das fissuras

21
Fonte: Acervo pessoal.

O sintoma da deterioração do concreto por fissuração é a ruptura da massa de


concreto, eventualmente dividindo-se em duas ou mais partes, que pode ocorrer
tanto na superfície da peça estrutural como em seu interior. A fissura aberta pode
facilitar o ingresso de agentes agressivos e ser uma das causas de mais
deterioração do concreto.

Uma barragem de concreto deve resistir a consideráveis pressões hidrostáticas


oriundas da água do reservatório. A água, em certas situações, pode penetrar na
fissura ou numa junta de construção, por exemplo, caso o esforço resultante seja na
forma de subpressão (quando atua na direção vertical), pode vir a provocar o
deslizamento ou tombamento de partes da barragem.

No caso de um conduto de concreto que atravesse uma barragem de terra, a


ocorrência de fissura no concreto pode causar erosão da barragem ao longo do
conduto e eventual “piping”. Fissurações com grandes aberturas num canal de
descarga podem levar o concreto ao colapso devido a uma erosão do material de

22
suporte, principalmente caso o material seja um arenito. Mesmo que uma fissura
não apresente sérios problemas por si só, os mecanismos que a causa podem
representar riscos para a estrutura.

Há vários mecanismos básicos que geram tensões, são eles:

• Movimentos gerados no interior do concreto;

Exemplos deste caso são retração por secagem, expansão ou contração devido
à variação de temperatura e reações químicas.

• Condições impostas externamente.

Alguns exemplos são os carregamentos ou as deformação impostas, tais como o


recalque diferencial da fundação ou terremotos. A fissuração, portanto, advém
das mais variadas causas, que podem atuar sozinhas ou conjuntamente,
dificultando seu reconhecimento.

No Quadro 1 e 2 e nas Figuras 2 a 16, apresentam-se vários tipos e possíveis


causas de fissuração. É usual definir as fissuras do concreto em função do
comprimento, direção abertura, profundidade, comportamento e posição.

Quadro 1 - Tipos de fissuração – Antes do endurecimento do concreto

CAUSA CAUSA LOCALIZAÇÃO AÇÃO


TIPO SINTOMA
PRINCIPAL SECUNDÁRIA MAIS COMUM CORRETIVA

Assentamen
Reduzir
Condições Fissuração
to plástico Excesso de exsudação
para secagem direcionada Seção espessa.
(sedimenta exsudação. ou efetuar
rápida. .
revibração.
ção)
Secagem Umidade Pavimentos e
Fissuração Resfriar o
rápida relativa baixa; na forma de lajes.
Retração concreto;
evapora vento;
plástica pele de Lajes de concreto evitar
ção na temperatura crocodilo ou exposição
superfície. alta. fissuração armado. ao vento;

23
Idem +
barras
Lajes de concreto
próximas a
paralela. armado. melhorar
superfície
excessiva. São cura nas
comuns primeiras
fissuras de idades;
2 a 3mm de garantir
abertura.
Fonte: Adaptado de American Concrete Institute, 1992, p. 481. cobrimento

Quadro 2 Tipos de fissuração – Concreto endurecido

CAUSA LOCALIZA POSSÍVEL


CAUSA
TIPO SECUNDÁ SINTOMA ÇÃO MAIS AÇÃO
PRINCIPAL
RIA COMUM CORRETIVA
Retração Reduzir o teor de
Fissuração
por água no concreto
Retração paralela
secagem Lajes e e melhorar o
Juntas excessiva; usualmente
ao longo paredes processo de
insuficientes. cura mais fina se o
do tempo delgadas. cura; diminuir o
insatisfatória concreto é
(retração espaçamento
armado.
hidráulica) das juntas.
Forma Misturas Camada de
impermeável. ricas. cobrimento.
Alisamento Fissuração na Melhorar o
Aleatória com colher ou forma de pele processo de cura
uso excessivo Cura de crocodilo. e acabamento.
Lajes
de insatisfatória
desempenade
ira.
Fissuração ao
longo das
Cobrimento barras, Pilares e
Corrosão insuficiente; Concreto de inicialmente vigas;
Eliminar as
da uso de cloreto baixa fina, crescendo concreto
causas.
armadura de cálcio no qualidade. com o tempo sujeito a ação
aditivo. levando ao de cloretos.
desplacamento
do concreto.

24
Fissuração
aleatória
característica
em concreto
Reação pouco armado Usar material
Locais
álcali Agregados reativos. e fissuração na pozolânico no
úmidos.
agregado direção da concreto.
armadura
principal em
concreto
armado.
Fissuração
geralmente de
pequena
abertura, se o
projeto for
satisfatório, e
Solicitação maior do que a em ângulo com
estrutura pode resistir; relação aos
condições extremas de eixos principais Projeto/constru
Estrutural carregamento; projeto da estrutura ção/ operação
inadequado; problemas podendo adequados.
construtivos; materiais abruptamente
inadequados mudar de
direção. A
abertura tende
a aumentar
como resultado
da solicitação e
da fluência.
Fissuração Usar concreto
Estruturas em
característica adequado;
Ação de Expansão devido à contato com
na forma de executar
sulfatos formação de etringita. água/solo
pele de proteção à
sulfatados.
crocodilo. estrutura.
Geração Fissuração Reduzir a
.Retração
excessiva de geralmente Concreto geração de calor,
térmica Resfriamen
calor ou ortogonal a massa e reduzir a
nas
gradiente de to rápido. direção da peças restrição e
primeiras
temperatura restrição a espessas. refrigerar o
idades
excessivo. movimentação. concreto fresco.
Fonte: Adaptado de American Concrete Institute, 1992, p. 481.

25
Figura 2 – Tipos de fissuração após o endurecimento

a) Fissuras típicas de retração por secagem b) Fissuras no concreto por oxidação da armadura

c) Fissuras típicas de reação álcali-agregado ou de retração d) Fissuras por concentração de esforços em mudança de
plástica (fissuras aleatórias ou tipo “pele de crocodilo”) direção da armadura

f) Fissuras por sedimentação do concreto impedida pela


e) Fissuras por concentração de esforços nos cantos
armadura (assentamento plástico ou retração plástica)

g) Fissuras por sedimentação da argamassa impedida pelo h) Fissuras por retração superficial na fase plástica
agregado (assentamento plástico ou retração plástica)
Fonte: Acervo pessoal.

26
Figura 3 – Fissuras por retração.

Fonte: Acervo pessoal.

27
Figura 4 – Fissura térmica em lateral do bloco de fundação.

Fonte: Acervo pessoal.

28
Figura 5 – Fissura térmica em bloco de fundação.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 6 – Fissuras térmicas em laje de vertedouro.

Fonte: Acervo pessoal.

29
Figura 7 – Fissura térmica em barragem de concreto.

Fonte: Acervo pessoal.

30
Figura 8– Fissura estrutural em laje.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 9 – Fissura estrutural em viga.

Fonte: Acervo pessoal.

31
Figura 10 – Fissuras em pilares causadas pela reação álcali agregado.

Fonte: Acervo pessoal.

32
Figura 11 – Fissuras em barragem causadas pela reação álcali agregado.

Fonte: Acervo pessoal.

33
Figura 12 – Fissuras em tomada d’água devido à reação álcali agregado.

Fonte: Acervo pessoal.

34
Figura 13 – Fissura com grande abertura devido à reação álcali agregado.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 14 – Fissuras causando deformação de guia de comporta devido à reação álcali


agregado.

Fonte: Acervo pessoal.

35
Figura 15– Fissura em parede causada por formação de etringita tardia.

Fonte: Acervo pessoal.

36
Figura 16 – Fissura causada por formação de etringita tardia.

Fonte: Acervo pessoal.

O Quadro 3 apresenta uma relação importante entre fissuras, que podem vir a ser
danosas ao comportamento do concreto de uma barragem, e locais, onde mais
costumam aparecer. O esquema também traz possíveis causas e recomendações
de ações corretivas. Deve ser relembrado que a causa exata de uma fissura nem
sempre pode ser determinada com exatidão. Além disto, o leque de ações corretivas
pode vir a ser ampliado e cada caso específico deve ser devidamente analisado

37
antes que se tomem decisões a respeito.

Quadro 3 - Fissuração grave para a segurança de barragens de concreto

TIPO E CAUSAS POSSÍVEIS AÇOES


LOCAL
CARACTERÍSTICAS POSSÍVEIS CORRETIVAS
BARRAGEM DE CONCRETO
Sobrecarga excessiva
Transversal, estendendo-se
da barragem;
de montante para jusante,
terremoto; recalque de
com profundidade igual ou Eventualmente
fundação tensões de
superior a 30cm. rebaixamento do
origem térmica.
Crista reservatório e
Recalque diferencial da tratamento da
Transversal com
fundação; terremoto; fundação.
continuidade vertical ou
sobrecarga excessiva
lateral e aberturas
em blocos da
superiores a 1mm.
barragem.
Injeção com epóxi para
selar as fissuras e
restaurar a
Vertical e diagonal, mais de Tensões excessivas; monoliticidade do
Paramentos ou
1,5m de comprimento e tensões de origem concreto; utilizar
faces
30cm de profundidade. térmica. membrana sobre as
fissuras para vedar
eventuais infiltrações
que estejam ocorrendo.
Fissuras verticais contínuas
Tensões de origem
através de paredes, teto e
térmica na massa do Injeção de calda de
Galerias piso, com abertura superior
concreto e restrição de cimento ou resina.
a 1mm e ocorrência de um
fundação.
pouco de infiltração.
Fissuras verticais,
Injeção de epóxi;
Contrafortes e laje contínuas a partir da Recalque de fundação;
eventual reforço com
em barragem de fundação, comprimentos tensões de origem
protensão no
contrafortes iguais ou superiores a térmica; terremoto.
contraforte.
15cm.
VERTEDOUROS E CONDUTOS
Limpar, remover
concreto solto; injetar
Paredes, muros, Aberturas de fissura
Variações de epóxi nas fissuras,
lajes de fundo de superiores a 1mm e com
temperatura; armadura refazer acabamento
canais ou bacias profundidades superiores a
insuficiente. superficial;
de dissipação 15cm.
eventualmente
acrescentar armadura.

38
Selar as fissuras com
Fissuração causando resina; injetar em torno
Conduto de infiltração na barragem; Recalques diferenciais; do conduto para
adução e de fuga fissuras estruturais e erosão da fundação. melhorar as condições
paredes. de suporte; tratamento
de fundação.
Fonte: Adaptado de Training Aids for Dam Safety, 1990, p. I-14.

6.2. Expansão

A deterioração química por expansão é consequência da formação de novos


compostos estáveis na massa endurecida do concreto, acompanhada de aumento
de volume. Compostos, dificilmente solúveis, remanescentes na pasta de cimento,
recristalizam os poros e canais capilares existentes no concreto. Se eles ocupam
mais espaço que a forma original do poro, por exemplo, ocorrem tensões de tração
que podem levar a ruptura da estrutura do concreto. Esses compostos podem
também se formar na interface entre os agregados e a pasta de cimento, causando
fissuração devido a sua expansão.

As principais causas de expansão são:

a) Reações álcali-agregado: Os álcalis do cimento (sódio, potássio) dissolvidos


nos poros da pasta de cimento podem reagir com a sílica presente nos agregados,
causando aumento de volume, que pode levar a deterioração do concreto.

Os agregados são reativos caso contenham sílica amorfa ou parcialmente


cristalizada. O gel de alcali-sílica absorve água e o inchamento resultante causa
uma pressão expansiva com consequente ruptura do concreto.

Para que a expansão seja destrutiva, vários fatores devem cooperar individualmente
ou, na maioria dos casos, interagindo:

39
Fatores principais;

• Conteúdo de álcalis no cimento;

• Tipo de cimento;

• Mineralogia, quantidade de sílica reativa;

• Volume de poros e umidade do concreto.

Fatores secundários.

• Conteúdo de álcalis na água de amassamento;

• Álcalis provenientes dos agregados;

• Álcalis provenientes da água do reservatório;

• Temperatura e umidade relativa do meio.

A deterioração do concreto pela reação álcali agregado é caracterizada pela


expansão com fissuras aparentes na superfície do mesmo com conformação típica
de pele de crocodilo, como mostra a Figura 17.

40
Figura 17 - Fissuras típicas de reação álcali-agregado ou de retração plástica (fissuras
aleatórias ou tipo “pele de crocodilo”)

Fonte: Acervo pessoal.

A ocorrência da reação pode ser notada através de deslocamentos diferenciais,


fechamento de juntas na crista da barragem, emperramento ou deslocamento de
peças mecânicas (comportas, grades, desalinhamento de turbina, etc). O processo
de deterioração por reação álcali agregado é apresentado na Figura 18.

Figura 18 – Processo de deterioração por reação álcali agregado

41
Fonte: Acervo pessoal.

b) Sulfatos: Apesar de não ser muito comum em barragens, esta é importante


causa da deterioração química do concreto. O composto formado pela principal
reação (denominado etringita) é altamente expansivo.

A expansão causa a fissura do concreto, tornando-o friável, de baixa resistência e


suscetível à penetração de outros agentes agressivos, como mostra o esquema do
mecanismo de deterioração por sulfatos apresentado na figura 25.

42
Figura 19 – Deterioração pelo ataque de sulfatos

43
Fonte: Acervo pessoal.

A expansão também pode causar deslocamentos de partes da estrutura. Sulfatos e


sulfetos podem estar presentes nos agregados empregados no concreto (nas
formas de pirita, pirrotita e outros), na água do reservatório, na rocha de fundação e
ombreiras.

A etringita pode ocorrer como etringita tardia (DEF – delayed ettringite formation)
quando a temperatura a que o concreto é submetido nas primeiras idades supera
65oC e o cimento empregado apresenta propensão para esta formação.

6.3. Lixiviação ou Dissolução

A corrosão por lixiviação consiste na dissolução progressiva dos compostos da


pasta de cimento endurecido. Compostos facilmente solúveis podem ser lavados do
concreto ou da pasta de cimento pelo acesso contínuo da água, verificando-se a
perda do material.

44
Um sintoma desse tipo de deficiência são as eflorescências verificadas na superfície
do concreto (manchas brancas pontuais ou lineares) causadas pela lixiviação do
hidróxido de cálcio do cimento - Ca(OH)2 - que se carbonata em contato com o gás
carbônico do ar - quando da percolação de água através da massa de concreto
pelos poros, fissuras ou juntas de concretagem mal executadas. Se o processo é
contínuo, formam-se estalactites e às vezes estalagmites.

Eflorescências de cor castanho-avermelhadas podem ser provenientes da lixiviação


dos produtos da corrosão do aço da armadura ou de colóides oriundos de argila
presente no reservatório. No caso de barragens, as "eflorescências" em galerias
podem ser, às vezes apenas originárias do carreamento de matéria orgânica ou
argila dissolvida na água do reservatório. Daí a necessidade de análises químicas,
quando a descoberta do fenômeno, para identificá-lo.

Na figura 20, esquematiza-se outro exemplo de deterioração por lixiviação que é


causada pelo ataque de soluções ácidas, pouco comum no caso de barragens .

Figura 20 – Deterioração por ataque ácido

45
Fonte: Acervo pessoal.

Os principais agentes da lixiviação são:

• Substâncias ácidas (por exemplo, ácido sulfúrico, ácido sulfuroso, ácido


carbônico, ácido húmico, chuvas ácidas ou águas de condensação de
processos industriais);

• Substâncias alcalinas (por exemplo, soda cáustica);

• Águas puras ou pouco salinas (água de chuva, águas subterrâneas de


grandes profundidades, águas pantanosas poucos salinas.);

• Fungos e bactérias.

As Figuras 21 e 22 apresentam exemplos de estruturas afetadas pela lixiviação.

46
Figura 21 – Superfície deteriorada por ataque ácido

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 22 – Lixiviação do concreto em barragem.

Fonte: Acervo pessoal.

47
6.4. Corrosão da armadura

A deterioração do concreto por corrosão da armadura pode-se dar através de:

• Redução de seção da barra de aço, comprometendo a segurança da


estrutura;

• Fissuração do cobrimento de concreto, na direção paralela à barra corroída,


devido às forças de expansão causadas pelo aumento de volume original da
barra de aço na formação de ferrugem, podendo causar o lascamento do
concreto, favorecendo a penetração de agentes agressivos.

Os efeitos da corrosão de armadura são mostrados nas Figuras 23, 24 e 25..

48
Figura 23 – Efeitos da corrosão da armadura

Fonte: Acervo pessoal.

49
Figura 24 – Corrosão das armaduras no encontro.

Fonte: Acervo pessoal.

50
Figura 25 – Corrosão das armaduras.

Fonte: Acervo pessoal.

O aço dentro do concreto é protegido contra corrosão pela passivação, isto é, a


formação de uma camada protetora que impede a corrosão do ferro. A razão para a
passivação é a alcalinidade do concreto, como mostra o esquema da figura 26. O
pH da água dos poros atinge até pH>12,5.

51
Figura 26 – Proteção da armadura pela alcalinidade do concreto

Fonte: Acervo pessoal.

Todos os processos que influenciam a corrosão da armadura são mais ou menos


controlados por Recursos de difusão, ou seja:

52
• Carbonatação: difusão de CO2 nos poros cheios de ar. (Figuras 27 a 31)

Figura 27 – Carbonatação do concreto

Fonte: Acervo pessoal.

53
Figura 28 – Carbonatação do concreto em barragem.

Fonte: Acervo pessoal.

54
Figura 29 – Carbonatação do concreto no teto da galeria de drenagem.

Fonte: Acervo pessoal.

55
Figura 30 - Carbonatação do concreto na parede da galeria de drenagem

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 31 – Carbonatação do concreto no piso da galeria de drenagem.

Fonte: Acervo pessoal.

56
• Corrosão da armadura: difusão de O2 nos poros cheios de ar. (Figura 32)

Figura 32 – Corrosão do aço no concreto – Esquema simplificado

Fonte: Acervo pessoal.

57
• Penetração de cloreto: difusão de cloretos nos poros cheios de água. (Figura
33)

Figura 33 – Corrosão da armadura após a dissolução da camada de passivação

Fonte: Acervo pessoal.

Essa difusão é facilitada quando a origem das deficiências do concreto é o projeto


(ex: cobrimento insuficiente; barras muito próximas sem espaço para o
envolvimento pelo concreto), execução (ex: concreto inadequadamente dosado,
poroso, mal vibrado, com segregação, bicheiras) e solicitação não prevista no
projeto (ex: fissuração, abrasão, ação de agentes agressivos).

Devido à carbonatação, por exemplo, o valor do pH do concreto pode ser reduzido


em trechos ou em grandes áreas na superfície. Se o valor do pH do concreto baixar
de 9 junto à armadura, a camada de passivação será perdida e, em consequência,
a proteção contra a corrosão, como se verifica no esquema da figura 33.

58
De um modo simplificado o processo de corrosão pode ser separado em dois
processos simples, como mostra a Figura 32. Após alguns estágios intermediários,
o ferro vai combinar-se e formar a ferrugem que, pelo menos teoricamente, pode ser
escrita como Fe2O3.

Isso significa que, apenas o oxigênio é consumido para formar os produtos da


ferrugem. Esse oxigênio normalmente deve se difundir através do concreto do
cobrimento na direção da armadura. A água é apenas necessária para permitir que
o processo tenha lugar. Como consequência das interrelações descritas a corrosão
não ocorrerá nem em concreto seco nem em concreto saturado de água (falta de
oxigênio livre), mesmo que tenha sido destruída a camada passiva na superfície da
armadura. Então há a maior incidência de corrosão a ser encontrada nas regiões de
molhagem e secagem.

A corrosão da armadura é comumente facilitada por falhas no processo de


construção de barragens de concreto. As deficiências do concreto originadas
durante a construção, em geral, são defeitos de natureza não agressiva que não
apresentam perigo imediato para a estrutura, podendo, no entanto, ao longo do
tempo, facilitar a ação de agentes agressivos se não reparadas convenientemente.

Esses tipos de deficiências são normalmente devido a alguns problemas ocorridos


durante a construção, tais como:

• Deficiência na dosagem e/ou manuseio do concreto (mistura, transporte,


lançamento e adensamento);

• Excesso de armadura ou outro obstáculo na peça;

• Movimentação e/ou falta de estanqueidade das formas.

59
São consideradas as seguintes deteriorações:

• Bicheira ou ninho - é um vazio deixado no concreto por falta de argamassa


de mistura, por adensamento insuficiente, ou, por excesso de armadura ou de
outro obstáculo na peça que dificulte o acesso do concreto a determinadas
áreas, como mostram as figuras 34, 35 e 36.

Figura 34 – Bicheira formada por excesso de armadura e concreto inadequado.

Fonte: Acervo pessoal.

60
Figura 35 – Bicheira formada por adensamento inadequado.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 36 – Bicheira comumente encontrada em pé de pilar.

Fonte: Acervo pessoal.

61
• Segregação - é a separação dos componentes do concreto, em virtude de
deficiências de dosagem e/ou de manuseio do material (mistura, transporte,
lançamento e adensamento), podendo essa desuniformidade ressaltar em
áreas fracas e permeáveis ou porosas na estrutura.

•Abertura das fôrmas - é a movimentação que ocorre quando as fôrmas não


possuem resistência suficiente para suportar a pressão resultante do
lançamento e adensamento do concreto e que pode provocar a perda dos
finos do mesmo concreto, desníveis em superfícies e juntas e
desalinhamento da peça.

6.5. Desalinhamentos e Deslocamentos Diferenciais

Trata-se da movimentação da estrutura, ou de parte da mesma, de sua posição


original. Há dois tipos principais de deslocamentos de uma barragem de concreto:

• Desalinhamento - é qualquer variação em relação à configuração estrutural


original;

• Deslocamento diferencial - é o movimento de uma parte da estrutura com


respeito a partes adjacentes da mesma, como mostra a Figura 37.

62
Figura 37 – Elevação do piso.

Fonte: Acervo pessoal.

Os deslocamentos podem ser causados por fatores como:

• Recalque da fundação;

• Subpressão não prevista na estrutura;

• Reações químicas no concreto com expansão do material;

• Solicitações de magnitude excepcional;

• Efeitos térmicos.

As consequências de um deslocamento podem ser:

• Movimentação de peças metálicas e/ou de equipamentos, cuja indicação


pode ser o desalinhamento ou a quebra de uma peça e o travamento de uma
comporta ou de outra peça móvel;

• Fissuras de caráter estrutural.

63
6.6. Infiltração

Vazamento/surgência é o fluxo de água através de juntas, fissuras ou outras


aberturas na estrutura, como mostram as Figuras 38 a 41.

Figura 38 – Surgência de água em galeria de drenagem.

Fonte: Acervo pessoal.

64
Figura 39 – Surgência de água em barragem de concreto.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 40 – Surgência de água entre camadas de concretagem.

Fonte: Acervo pessoal.

65
Figura 41 – Surgência de água em junta.

Fonte: Acervo pessoal.

As principais causas de vazamentos são: fissuração; vedajuntas deficientes ou


rompidos; concreto deteriorado; juntas de construções mal tratadas e tubulações
mal vedadas. Os escoamentos dos vazamentos e surgências estão, muitas vezes,
correlacionados com o nível d'água do reservatório (maior nível d'água - maior
vazão) e com a temperatura ambiente (menor temperatura - maior vazão).

66
6.7. Abrasão e Cavitação

Essas anomalias acometem estruturas sujeitas ao fluxo de água, como é o caso de


vertedouros de superfície.

Erosão é o trabalho mecânico de desgaste realizado pelas águas correntes, ou seja,


é a desintegração progressiva do concreto pela ação abrasiva ou de cavitação da
água em movimento, carreando ou não sólidos, como mostram as Figuras 42 a 46.

Figura 42 – Possibilidades de ocorrência de cavitação em superfícies irregulares

67
Fonte: Adaptado de Falvey, 1990, p.15.

68
Figura 43 – Erosão por cavitação em túnel vertedor da Barragem Glen Canyon, Colorado.

Fonte: Falvey, 1990, p.82.

Figura 44 – Erosão por cavitação em dente da bacia de dissipação.

Fonte: Acervo pessoal.

69
Figura 45 – Buraco formado devido à erosão por cavitação.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 46 – Erosão por cavitação das chapas metálicas.

Fonte: Acervo pessoal.

70
No Quadro 4, apresentam-se os tipos, sintomas, mecanismo e causas da
deterioração do concreto por erosão.

Quadro 4 - Tipos, sintomas, mecanismos e causas da deterioração do concreto por erosão

POSSÍVEIS AÇÕES
TIPO SINTOMA MECANISMOS/CAUSAS
CORRETIVAS
Eliminar as causas.
Erosão por Superfície com Ação de partículas sólidas Combate-se, quando
abrasão de textura de uma (argila, areia, cascalho, impossível eliminar as
água (existe superfície jateada; detritos, madeira) carregadas causas, através do uso,
também erosão remoção de pela água, especialmente em na construção,
por abrasão agregados “moles” regiões sujeitas a grande reparação ou
seca causada ou da argamassa em velocidade de água. reabilitação das
pela ação de torno dos Exemplo: Bacias de estruturas, de concreto
equipamentos, agregados; perda de dissipação que não tenham adequadamente
ou ventos que parte do concreto da sido adequadamente limpas dosado, com alta
carream superfície; as vezes poderão ser erodidas pelo resistência, concreto
materiais severa destruição do efeito abasivo dos materiais com polímeros;
sólidos). concreto. sólidos lá encontrados. proteção com resinas
epoxídicas, etc.
Formação e subsequente
colapso de micro bolhas de
vácuo que produzem ondas
Superfície áspera, de choque na superfície da
rugosa, com estrutura destruindo a
agregados à vista, continuidade da estrutura.
dando aspecto de Tem papel importante a
uma “bicheira”; velocidade da água que deve
superfície com atingir o regime turbulento Eliminar as causas.
inúmeros buracos de criando áreas de baixa Combate-se projetando,
pouca profundidade pressão. Tais turbulências construindo, reparando
eventualmente poderão ocorrer devido a ou reabilitando as
Erosão por mostrando que o ângulos, cantos vivos, estruturas hidráulicas,
cavitação agregado foi projeções e depressões que de modo a ter uma
arrancado. mudem a direção da água. A superfície que produza
Pequenos buracos onda de choque produzida é um escoamento simples
localizados, semelhante ao golpe de um e uniforme, evitando
principalmente, a martelo. A repetição deste variações abruptas.
jusante de juntas de fenômeno produz diversos
contração em orifícios na superfície da
soleiras de estrutura, mesmo em
vertedouros e bacias concreto de alta qualidade ou
de dissipação. em placas de aço. Exemplo:
Regiões sujeitas à alta
velocidade da água
(superfície do vertedouro, por
exemplo) onde pode haver

71
uma diferença de deflexão
abrupta entre a linha de fluxo
e a superfície de escoamento
(reparo em junta de
contração causando
descontinuidade, trincas,
sarrafo deixado no concreto,
etc) que resulta em
turbulência e,
consequentemente, áreas de
subpressões, causando
remoção das partículas do
concreto.
Fonte: Adaptado de Training Aids for Dam Safety, 1990, p. I-25, I-26.

Nota: Se a água contiver substâncias químicas agressivas ao concreto, formando


produtos solúveis que são removidos pelo fluxo da água, como mostrado no item e
na Figura 47, tem-se a ação combinada, isto é, erosão/corrosão que é
evidentemente, mais prejudicial e rápida do que suas ações isoladas.

Figura 47 – Deterioração por ataque ácido

72
Fonte: Acervo pessoal.

73
7. ANOMALIAS EM BARRAGEM DE TERRA

7.1. Recalques, Fissuras e Trincas

Uma vez que a Barragem de Terra e Enrocamento é uma estrutura construída com
o lançamento e compactação de materiais terrosos em camadas, ela possui uma
característica tal que permite, ao longo da passagem do tempo, a acomodação das
partículas e consequentemente dessas camadas.

O adensamento resulta em movimentação do maciço, normalmente na forma


vertical (ou mesmo subvertical, caso haja alguma componente lateral de
escorregamento), dirigida para baixo. No entanto, em função de problemas
construtivos e/ou de fundações, a resultante dos esforços poderá até mesmo forçar
uma movimentação lateral (acentuada, para montante e/ou para jusante).

A movimentação em si é normalmente considerada normal, até certo valor, o qual


pode-se prever em estudos na fase de projeto. A partir daí, podem ocorrer
descolamentos de camadas ou em encontros de estruturas e materiais diferentes, o
que poderá representar perigo para a Segurança da Barragem.

Os recalques podem resultar em problemas, caso esse abaixamento da crista seja


muito exagerado, principalmente em trecho localizado, o que representará perda de
Borda Livre. Nesse caso, haverá o risco de danos (principalmente para o talude
jusante, em caso de níveis elevados no Reservatório e a formação de altas ondas,
lançando água por cima da crista).

O problema para a Segurança só se agrava no caso de ocorrerem Recalques


Diferenciais (ou seja, partes próximas apresentarem valores de Recalques muito
diferentes). Com isso, há grande possibilidade da geração de Trincas.

74
Estruturas de terra e enrocamento (Barragens) que devem reter água, não podem
sofrer com a formação de aberturas, ou podem ser levadas à Ruptura.

No caso de Recalques no maciço (e sendo um fator particularmente crítico, no caso


de Núcleos de Barragens de Enrocamento) é bastante perigosa a formação de
trincas, pela interferência de Instrumentação de Auscultação dotada de hastes e/ou
de tubos. Podem ocorrer trincas, que acabam levando à Ruptura.

Existem materiais que são ávidos por água e no caso de não haver umidade
suficiente, com situação piorada pela exposição ao sol forte e ao calor, ocorre um
rápido ressecamento. Com isso, há uma forte retração do material. Esse esforço
pode superar as forças do material compactado e isso resultará na formação de
trincas.

As Trincas de Retração (por Ressecamento) são simples, normalmente superficiais


e geralmente não constituem problemas sérios. Apesar de considerada superficial,
sua profundidade pode alcançar até cerca de 5 m a 7 m e se nota a tendência de
diminuição da abertura, com o aprofundamento.

Sendo mais recorrentes no talude jusante e até a crista, não sofrem risco de
vazamento de água do Reservatório. Mas, devemos fazer com que sejam
investigadas e tratadas, para evitarmos que ocorra penetração de águas pluviais (o
que agravaria o problema).

Esse tipo de ocorrência é facilitado no uso de geometria compacta na seção


transversal do aterro, a qual é assim determinada pelo uso de taludes mais
íngremes (por exemplo, 1 H: 1,8 V), o que diminui o tamanho da base do aterro. Ao
ser usado material com esse tipo de comportamento, em taludes muito íngremes
(por exemplo: 1:1,8) a falta de sistema de irrigação em proteção vegetal (em região
de forte insolação) pode permitir o ressecamento da camada de aterro e gerar a
formação de Trinca.

75
Outro tipo de Deterioração relacionada com a movimentação interna no aterro é a
Trinca causada por Recalque Diferencial. Essa deformação do corpo do aterro pode
ocorrer em locais com fundações frágeis, normalmente compressíveis e/ou com
geometria variável e desfavorável.

A Trinca por Recalque é normalmente transversal ao aterro e pode ser bastante


profunda, representando elevado risco de ruptura. Devemos procurar ainda, ao
longo das bordas jusante da crista ou das bermas, as Trincas devido ao
Escorregamento de material do talude.

A perda de estabilidade de trecho do maciço (junto ao talude jusante) pode dar


origem a Trinca longitudinal na forma retilínea (ou quase) ou ligeiramente curvada.
Isso porque o material instabilizado no talude tende a formar uma concha ou uma
cunha de escorregamento.

As causas desse tipo de ocorrência podem ser diversas, incluindo escavações por
animais, falhas construtivas, diferenciação nas características de materiais
adjacentes, etc. Mas, principalmente, pela elevação nas pressões neutras devido à
saturação interna, propiciando a Ruptura por Cisalhamento.

76
Figura 48 – Recalque localizado, perceptível na crista da barragem

Fonte: CEMIG GT

Figura 49 – Trinca provocado por recalque diferencial dos materiais do aterro

Fonte: CEMIG GT

77
7.2. Surgência

Quando a água que percola pelas estruturas das barragens de aterro ou suas
fundações “aparecem” na superfície em lugares não previstos, a essa anomalia
damos o nome de surgência. A surgência pode ser consequência de entupimento
das drenagens ou falhas de projeto e construção. O encharcamento provocado por
elas altera as propriedades físicas dos aterros, como diminuição da coesão entre
partículas, podendo gerar instabilidade no maciço.

7.3. Erosão

Inicialmente podemos considerar que ocorra a Erosão quando um fluido


(normalmente, água ou ar) esteja provocando o carreamento de partículas do
material do barramento (nas fundações, no corpo do aterro ou nos sistemas de
proteção e superfície do talude). Trata-se de ação física de caráter mecânico.

Essa erosão pode ser apenas por ação externa e de caráter superficial.
Normalmente a ação de águas pluviais (impacto da chuva e escoamento das
enxurradas) provoca a formação de ravinamentos, que progridem e dão origem às
grandes erosões. Essas erosões podem chegar a ser denominadas de Voçoroca,
caso haja afloramento de água (subterrânea) minando na base do talude de erosão.

As canaletas de águas pluviais (mesmo no caso de meias-canas) de descida no


encontro do talude da Barragem com o terreno natural da Ombreira (denominado
Groin, em inglês), são bastante sensíveis ao erro de dimensionamento e às falhas
de execução.

O fluxo elevado de águas de chuva pode provocar a Erosão geral ou até mesmo só
localizada (inclusive provocar o escorregamento de alguns dos segmentos, no caso

78
de revestimentos pré-fabricados).

Figura 50 - Ravinamento em Talude de Barragem

Fonte: appud M.I., 2002

Também pode ocorrer a Erosão lateral por transbordamento das águas (no caso de
incapacidade de contenção) e/ou pela saída das águas em caso de desvio de
alinhamento ou entroncamento de linhas de canaletas, sem caixas de passagem.

79
Figura 51 - Erosão na Canaleta do Encontro Direito e obras de controle

Fonte: Deadman’s Basin terminal Outlet Replacement Project Overview and Lessons
Learned

O surgimento de águas (internas) de percolação no talude jusante também pode dar


origem à Erosão Superficial, através do esforço concentrado de sua enxurrada
resultante do escoamento abaixo do olho d’água.

No entanto, esse fenômeno pode provocar outro tipo de deterioração: o


carreamento de solo. O processo descontrolado de carreamento de material pode
evoluir para formação de erosão interna (Piping), levando a barragem à ruptura.

80
Figura 52 - Erosão por Piping na Barragem

Fonte: 319 Medford Genstar piping failure HVA larger

O problema de Erosão Interna tipo Piping também pode ocorrer no caso de


existirem estruturas auxiliares, em concreto, embutidas no aterro ou logo abaixo nas
fundações em solo. E isso ocorre, principalmente se a estrutura for feita na forma
circular ou ovalada, onde há dificuldade de sua construção (lançamento e
compactação e preenchimento de espaços) na parte curva inferior.

Anteriormente, eram usadas abas transversais (chicanas) para formar um tipo de


colar ou colarinho e provocar um aumento no caminho de percolação, reduzindo o
esforço da pressão de percolação, tentando evitar o carreamento do material.

81
Figura 53 - Ruptura por Piping, apesar dos Colares

Fonte: RCP Spillway Anti-seep Collars Schnabel Engineering Piping Failure

Mais recentemente tem sido preferida a execução de camada de Filtro à volta da


estrutura (principalmente no caso de Galeria de Desvio ou de Descarregador), para
coletar e direcionar o escoamento das águas. Com isso se tenta reduzir a pressão e
evitar o carreamento do material.

Sabemos que a possibilidade de ocorrência de Piping nas fundações e/ou


Ombreiras está muito ligada às possíveis falhas (de projeto e/ou de construção ou
eventualmente de colmatação) no Sistema de Drenagem Interna. Eventualmente
podem existir falhas construtivas, que não tenham permitido lidar corretamente com
o tratamento de problemas geológicos e isso poderá permitir a passagem não bem
controlada das águas, o que dará início a uma Erosão Hídrica Interna, que poderá
chegar a formar um Piping.

82
Figura 54 - Drenagem à Volta de Galeria no Aterro

Fonte : rjc/dpcardia

Para evitar o problema da pressão elevada por percolação, deveríamos fazer uma
escavação na fundação (denominada Cut-off’ ou Trincheira de Vedação), para
colocação de material impermeabilizante.

Essa escavação deveria ser aprofundada até o encontro com rocha sã ou pouco
alterada e pouco permeável. No entanto, em muitos casos, a escavação é
interrompida a alguns metros acima desse contato. No caso de solos de alteração,
pouco coesivos e porosos, a percolação poderá ser intensa, criando condição
indesejada de elevada linha de fluxo, acarretando surgência junto ao pé jusante do
aterro. Nesse caso, é necessária a instalação de um Filtro Invertido.

83
Figura 55 - Filtro Invertido ao Pé Jusante da Barragem

Fonte: appud Massad, 2003

A Segurança pode até ser considerada restabelecida. Porém, ali será uma região
crítica, e será monitorada pelo resto de sua vida útil.

Procuramos tentar identificar indícios de Erosão Interna iniciada, pelo


monitoramento. A colocação de Instrumentos de Auscultação e a avaliação de seus
resultados, pode até ajudar a se detectar esses indícios. No entanto, o fenômeno
pode se iniciar em local não abrangido pela ação de um Instrumento de
Auscultação. Assim, haverá necessidade de usar o melhor Instrumento: o Olho
Humano.

Apenas a Inspeção Visual pode ajudar a detectar indícios de situação anormal (a


ser investigada). Eventualmente, no período entre duas datas de Inspeção, a
passagem de alguma pessoa pelo local, possa ajudar a levantar dúvidas sobre uma
ocorrência fora dos padrões normais.

Conforme já comentado anteriormente, existe ainda a ação permanente e de caráter


intermitente das ondas (Batillage) sobre a proteção do talude, que provoca um efeito
conjugado de Deterioração por Desgaste e/ou Envelhecimento. Também por Erosão
Superficial e/ou Escorregamento de materiais do talude.

84
Dependendo da granulometria do enrocamento usado e do porte das ondas e da
posição do nível d’água, e eventualmente da inclinação do talude, as enxurradas
causadas pelas ondas e o impacto sobre as pedras, pode iniciar o ravinamento.
Ao se prolongar essa situação, a Erosão vai se aprofundando e pode chegar ao solo
subjacente, do corpo da Barragem. Em materiais mais coesivos (como a Argila)
pode ocorrer formação de talude subvertical, podendo então ocorrer o progresso da
Erosão, pela queda ou tombamento de blocos do talude, situados acima do ponto
de contato da água. Note-se que se está denominando de “subvertical” um talude
cuja inclinação (em relação à horizontal) se aproxima de 90° e tem alguma
irregularidade, não sendo totalmente na vertical.

Figura 56 - Ravinamento / Erosão no Talude Montante

Fonte :rjcardia

Essa ocorrência fica evidente pelo turvamento (normalmente na coloração


vermelho-alaranjada, quando da presença de material argiloso) na superfície do
Reservatório, nas proximidades do contato com o talude que está sendo erodido. O
problema da Erosão pelo impacto das ondas nas águas contra a proteção do talude
montante pode ser notado também, caso o nível no Reservatório seja mantido
durante algum tempo na elevação aproximada da base do trecho de proteção, ou
em emenda ou contato de materiais.

85
A situação pode gerar uma erosão no talude, reduzindo a estabilização da porção
na parte superior do talude, que poderá escorregar, rolar ou cair. Devemos lembrar
ainda a possibilidade de ocorrência de outro tipo de evento, mas que pode acabar
sendo denominado de Erosão, por sua aparência (na superfície), que seria a
formação de Subsidência. Essa ocorrência está ligada à remoção interna de
material, provocando o colapso do material situado acima da caverna formada, que
pode chegar à formação de cratera na superfície.

Figura 57 - Subsidência na Crista Causada por Piping

Fonte: Sinkhole in crest of new Dam in Maryland-Piping along Spillway Conduct.

A formação da caverna pode-se dar por dissolução de materiais (em locais com
solos solúveis, principalmente karsticos, e/ou colapsáveis), mas, na maioria das
vezes, costuma ser causada pelo carreamento mecânico (hídrico) das partículas.

7.4. Colmatação de Drenos

Esse tipo de Deterioração, em Barragem de Terra e Enrocamento, normalmente é


do tipo externo (mas podendo se aprofundar, dependendo das condições de

86
aeração interna).

Já há algum tempo tem sido considerado que a existência de Ferrobactérias


Aeróbicas (que precisam de oxigênio do ar) nas águas de drenagem e a existência
de íons de ferro no solo (e/ou nas águas) podem levar à formação de crosta de
material endurecido nos vazios do sistema de drenagem.

Figura 58 - Situação de Colmatação em Dreno Exposto

Fonte :appud Infanti Jr & Kanji

O endurecimento de material carreado e/ou solubilizado, com eventual contribuição


de Ferrobactérias Aeróbicas, irá provocar o que normalmente se denomina
‘Colmatação de Filtro’.

Outra ocorrência que podemos incluir nessa classificação seria a Dissolução e/ou
Lixiviação de material de preenchimento de camadas ou descontinuidades rochosas
nas fundações e/ou ombreiras. Principalmente no caso desses materiais serem de
natureza solúvel, como por exemplo, a Calcita.

A passagem das águas de percolação pode promover a dissolução e carreamento


do material, provocando a criação de vazios nesses contatos, descontinuidades ou
falhas. Isso iria provocar um aumento no fluxo de água, ampliando o fenômeno da

87
dissolução. Mas iria provocar também a ocorrência de problemas classificados em
outras categorias. Por exemplo, aumento de subpressão, possibilidade de
movimentação relativa (recalques e/ou escorregamentos, etc), afundamentos.

Para tentarmos identificar sinais de ocorrência desse tipo de Deterioração, devemos


manter o adequado monitoramento e buscar tendências de variações no padrão
histórico. Em princípio, no caso de Colmatação, os Instrumentos de Auscultação
situados a montante (antes do Filtro) terão a tendência de indicar aumento nas
pressões e níveis de água e eventualmente uma redução de vazões. Para aqueles
situados na parte jusante (depois do Filtro afetado), a situação tenderá a ser
inversa: redução nas pressões e níveis de água. E eventualmente também a
redução de vazões. Ou poderá ocorrer fuga de água, com a ocorrência de
Surgências nas proximidades.

Uma vez que o caminho tradicional de passagem (o Filtro) se torne obstruído, as


águas irão buscar um caminho mais prático para permitir seu fluxo. Com isso, irão
encontrar alguma falha de compactação (região mais fofa ou mais permeável, ou
com falha no contato de camadas, por exemplo, por laminação e/ou por
arqueamento ou recalque, etc).

Através desse caminho, poderão surgir no talude ou terreno jusante, sem grandes
problemas, a menos que sua pressão de saída seja tão elevada, que possa
propiciar o carreamento de material (erosão hídrica que pode chegar a um Piping)
ou provocar instabilização no solo arenoso ao pé do talude jusante da Barragem
(efeito semelhante ao da Areia Movediça).

A colmatação de drenos pode acometer também as barragens de concreto e suas


galerias de drenagem.

88
Figuras 59 e 60 – Colmatação de drenos de origens biológica (raízes) e química

Fonte: CEMIG GT

7.5. Falha na Proteção dos Taludes

Devemos considerar que a Deterioração de Recobrimentos ocorre normalmente


pelo Desgaste e/ou Envelhecimento, principalmente pela inadequação na escolha e
uso de materiais de acabamento superficial. E logicamente, pela permanente
exposição às intempéries.

Existe ainda a ação permanente e de caráter intermitente das batidas das ondas
(Batillage) sobre a proteção do talude, que provoca um efeito conjugado de
Deterioração por Desgaste e/ou Envelhecimento e também por Erosão Superficial
e/ou Escorregamento e/ou Tombamento de materiais do talude.

No talude montante o Desgaste e/ou Envelhecimento dos blocos do Enrocamento


de Proteção (Riprap) é o fator mais comum.

89
A existência de argilominerais na rocha (normalmente um material esverdeado)
permite a ação de intempéries, provocando o desmanche dos blocos e a tendência
à pulverização da rocha. Eventualmente, mesmo alguns tipos de rochas brandas
não contaminadas por outros minerais podem não possuir a resistência e
apresentar deterioração (como o caso de rochas brandas tipo Arenito Friável).

Há o problema da ciclagem por exposição à ação sazonal (variação térmica e de


umidade em épocas ou estações de tempo diferentes e mesmo no dia e na noite).
Em países de clima frio, as ações opostas de congelamento e degelo também
provocam o desmanche dos blocos de rocha e a quebra de bordas em trincas nas
estruturas de concreto (Estruturas Complementares).

Para a proteção no talude jusante, a ocorrência de Desgaste e/ou Envelhecimento


se dá pela Deterioração do material de proteção superficial, na mesma forma. Nos
casos de Enrocamento (Riprap), podemos considerar como válidos os mesmos
comentários feitos para a proteção do talude montante. Logicamente, caso não haja
contato direto do pé do talude jusante, com níveis normais de água (por exemplo,
com o remanso do Reservatório da Barragem situada a jusante, na forma de
cascata do rio), não haverá o problema da ação de ondas.

90
Figura 61 - Erosão na Proteção e/ou no Pé do Talude Jusante

Fonte: rjcardia

A desagregação dos blocos de rocha pode causar alteração visual na superfície do


talude e provocar nossa apreensão quanto a possível escorregamento e potencial
de ruptura.

Na realidade, a desagregação do bloco provoca o rearranjo de outros que estejam a


sua volta e estejam escorados por ele. Assim, haverá uma tendência de formar uma
depressão um afundamento ou cavidade, nos dando a impressão de que possa ter
ocorrido movimentação de material (por escorregamento ou por remoção interna)
que estivesse querendo formar uma subsidência. E isso realmente poderia ser uma
condição inicial de risco à Segurança e deveria ser melhor investigada.

Anteriormente, a ocorrência de vegetação em meio aos blocos do enrocamento


montante (Riprap) exigia sua retirada e muitas vezes, com aplicação de herbicidas
apropriados, para tentar eliminar a vegetação. Às vezes a aplicação era feita em

91
época tardia e as sementes já lançadas, permitiam o renascimento.

Atualmente, há uma possibilidade de se permitir a permanência de vegetação,


desde que rasteira e na borda da linha d’água do Reservatório. Esse material irá
contribuir para proteção contra o efeito negativo de ondas.

No caso de proteção jusante por recobrimento vegetal, a falta de manutenção


adequada pode levar à Deterioração por Desgaste e/ou Envelhecimento. Não sendo
feito o despraguejamento correto antes da poda do gramado, a grama poderá ser
sufocada pelo crescimento mais rápido da praga.

Além disso, pode ocorrer a intrusão de espécies vegetais mais fortes (e menos
adequadas à proteção superficial). Essa contaminação pode se dar por ação dos
ventos, das aves ou até mesmo por falta de cuidado no uso de veículos de
transporte de cargas, sem a limpeza adequada, no uso após o carregamento de
vegetação estranha (ou de suas sementes, normalmente no caso de forrageiras
para animais).

No caso do uso de materiais industrializados (mantas, grelhas, blocos de concreto,


telas, etc), a Deterioração por Desgaste e/ou Envelhecimento, pode ser acelerada,
de forma pontual, em locais de fraqueza superficial do sistema.

A Deterioração e o Envelhecimento da proteção superficial podem ocorrer também,


pelo ataque biológico (ação de insetos, aves e outros animais). Com a formação de
cavidades, ataque às raízes e/ou aos caules e folhas, a vegetação pode se
deteriorar e morrer.

Em vários casos, a vegetação não sendo do tipo nativo (ou seja, daquela particular
região), iria exigir um tratamento mais adequado, para seu fortalecimento e
adaptação. E logicamente, poderia necessitar de um sistema de irrigação
permanente, para garantir sua sobrevivência em local de pouca existência de água.

92
8. CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DAS ANOMALIAS

As barragens são suscetíveis aos efeitos de Deteriorações causadas por problemas


externas e internas.

Eventualmente, a ocorrência de apenas um tipo de anomalia já poderá causar


danos consideráveis, mas (dependendo de seu tipo, causa e localização) poderá
afetar apenas a questão operacional, mas não a estrutural (ou seja, sem
comprometer a Segurança).

Essa situação provavelmente poderá causar apreensão e urgência de ações


corretivas, mas provavelmente o maior problema será para a questão financeira e
eventualmente para a imagem pública da Empresa Proprietária da Barragem.

Por isso a Alta Direção da Empresa deve ter claro conhecimento da importância em
dedicar esforços e liberar as verbas necessárias para as ações de Manutenção e
Monitoramento. Com isso, evita-se que a ocorrência indesejável force um maior
gasto para sua recuperação (do que teria sido gasto na manutenção e prevenção).

E fato muito importante, é que a equipe responsável pelas ações em Segurança de


Barragens deve ser não apenas treinada periodicamente, mas deve ter consciência
de sua responsabilidade, na prevenção.

Logicamente, caso ocorra uma conjugação de efeitos de diversas deteriorações, é


mais provável que se chegue a ter risco de Incidente ou de Acidente, que pode até
mesmo levar à Ruptura da Barragem. E nesse caso, com certeza, os gastos serão
considerados astronômicos, se comparados com o que teria sido gasto com a
Manutenção Periódica e Monitoramento permanente.

Eventualmente, alguns tipos de Deteriorações podem ser considerados como sendo


de difícil observação. Mas, assim como em uma pessoa doente, o corpo está

93
fornecendo indícios de uma doença que esteja aparentemente escondida. Basta
que o Atendente (Médico) esteja disposto a ouvir e seja experiente e cuidadoso na
busca dos sintomas. E saiba o que e onde procurar.

As causas de problemas em barragens podem, então, ser assim agrupadas:

8.1. Falhas de Projeto

A escolha de materiais inadequados ou dimensionamento de capacidade reduzida


ou de transições indevidas (mesmo por indisponibilidade de materiais) pode levar a
uma Deterioração mais rápida que o normal.

Uma das principais ocorrências em barragens de aterro seria a falha no


dimensionamento de materiais para atuarem como Filtro e como Dreno (conforme o
Critério de Terzaghi, para determinados tipos de solos). Assim, poderia ocorrer o
carreamento de materiais do maciço (ou das fundações) para o Filtro. Ou a
incapacidade de escoamento do fluxo, poderia provocar instabilização, pelo
aumento da pressão e busca de novos caminhos de saída, alterando a rede de
fluxo.

O uso de resultados de Ensaios de Amostras que não tenham sido rigorosamente


executados, conforme as exigências de Normas (ABNT ou outras
internacionalmente reconhecidas) e por pessoas com o devido conhecimento
teórico e experiência nesse tipo de material, pode dar margem a estruturas menos
estáveis que o projetado.

Eventualmente a falta de verba não permite a adequada pesquisa prévia de


materiais e fundações, os valores a serem usados no Projeto serão teóricos e
assumidos pelo pessoal. Isso poderá resultar em uma diferenciação grande entre
esses valores assumidos e os valores reais.

94
8.2. Falhas de Construção

A utilização de materiais inadequados ou não previstos (apesar de serem


aparentemente similares, caso tivessem sido realmente analisados em Laboratório,
teriam suas diferenças reconhecidas) pode levar a uma instabilização de parte da
estrutura, pois sua geometria e/ou seu método construtivo teriam de ser modificados
e receber a adequação à nova situação.

Não pode ser aceita a substituição de materiais sem a adequada avaliação de suas
características físicas (em Laboratório) e sem as considerações do Projetista.

Eventualmente a falta de Fiscalização (principalmente nos períodos noturnos) pode


ocasionar perda de qualidade dos serviços, por ação negativa de mão de obra.
Também pode ocorrer a falha na aplicação correta dos detalhes de Especificação
(por exemplo, alteração no número de passadas do equipamento).

Nas barragens de aterro, as atividades no campo em períodos chuvosos


(principalmente de compactação) podem gerar trechos sem a devida qualidade e
sem a esperada resistência. Ou também, a concentração na passagem de veículos
e equipamentos, pode gerar um excesso de compactação da camada. Esse
excesso de energia concentrada causa o endurecimento de parte da camada, que
provoca certa retração, forçando o descolamento, como se fosse uma tábua solta
em meio ao solo. Tal ocorrência é chamada de “Laminação” e conhecida como
‘Borrachudo’.
De maneira similar, o lançamento de uma camada de concreto com menor
resistência a compressão pode gerar um ponto de fragilidade na estrutura da
barragem. Erros cometidos na execução dos sistemas de impermeabilização, como
colocação correta de veda-juntas também pode criar uma região de fragilidade.

A região de contato com estruturas auxiliares ou mesmo principais, em concreto


e/ou até mesmo com a rocha, pode sofrer descolamento por ação da gravidade e/ou

95
do adensamento do material do aterro. Isso é facilitado se a inclinação do
paramento (face de concreto) ou talude de corte, não tiver uma inclinação
adequada. Uma superfície muito íngreme reduz o efeito de empuxo exercido pelo
aterro sobre ela. Mas, se a inclinação for muito suave, pode ocorrer recalque
diferencial e formar trinca em local um pouco afastado (em relação ao encontro na
crista) superficialmente, mas ainda na área de influência do contato. Essa situação
pode facilitar a percolação concentrada indesejada, a qual pode levar à Erosão
Hídrica.

8.3. Falhas de Operação e Manutenção

Fica muito claro entender como falhas em projeto e construção podem ocasionar
anomalias em barragens, porém tais problemas também podem se originar da
incorreta operação e manutenção das estruturas.

Como estruturas de reserva, seja de água ou de rejeito, os empreendedores têm


sempre a tendência de buscar a maximização de capacidade de seus reservatórios.
Isto dado, não são incomuns os casos de barragens que passaram a operar com
níveis acima daqueles para os quais foram projetadas. Esse aumento da solicitação
impõe novas tensões à estrutura que podem manifestar anomalias. Este exemplo
seria típico de anomalia causada por falha de operação. Outros problemas podem
ser causados por falhas na operação de extravasores e suas comportas,
rebaixamento rápido do reservatório, entre outros.

Os problemas causados por falha de manutenção seriam aqueles que surgem da


negligência das equipes de manutenção em executar sucessivamente manutenções
preventivas rotineiras. Atividades como manejo e controle de pragas de taludes
protegidos por vegetação, reposição de enrocamentos escorregados,
desentupimento periódico de drenos, limpeza de canaletas são atividades que
precisam ser executadas de maneira continuada para garantir a segurança das

96
barragens. Portanto, problemas podem surgir do agravamento de situações de falta
de manutenção, ou seja, são causados por falha de manutenção.

97
9. CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DAS DETERIORAÇÕES

Antes da sanção da Lei 12.334/2010, era comum que os diversos proprietários de


barragens fizessem a classificação de suas barragens das mais diversas formas,
apenas com o intuito de facilitar a manutenção das mesmas. Algumas tentativas e
propostas tinham como objetivo tentar promover a homogeneização dessa
classificação, algo que só vem sendo alcançado por meio da PNSB,

A classificação das degenerações das estruturas das barragens, atualmente, é


realizada de forma subjetiva, ou seja, através das informações fornecidas pela
inspeção visual. O Ministério da Integração Nacional elaborou o manual de
preenchimento da ficha de inspeção de barragem que apresenta uma metodologia
de inspeção criteriosa em que as deteriorações são observadas, registradas,
quantificadas e qualificadas.

Segundo o Ministério da Integração Nacional (2010), a inspeção visual é realizada


para avaliar os aspectos de segurança e operação da barragem. As fichas de
inspeção foram elaboradas para orientar e auxiliar o técnico na identificação e no
registro das deteriorações.

Para o preenchimento das fichas de inspeção é necessário observar a situação,


magnitude e nível de perigo das deteriorações existentes na barragem. O quadro 5
apresenta o modelo de ficha de inspeção utilizado para a barragem de concreto.

98
Quadro 5 - Ficha de inspeção da crista da barragem de concreto

Fonte: Ministério da Integração Nacional, 2010, p. 42.

As informações sobre as legendas apresentadas nas fichas de inspeção são


detalhadas a seguir:

• Situação: se refere à situação da barragem em relação ao item que esteja


sendo examinado:

• NA – Este item Não é Aplicável: O item examinado não é pertinente à


barragem que esteja sendo inspecionada;

• NE – Anomalia Não Existente: Quando não existe nenhuma anomalia em


relação ao item que esteja sendo examinado;

• PV – Anomalia constatada pela Primeira Vez: Quando da visita à


barragem, e a anomalia for constatada pela primeira vez, não havendo
indicação de sua ocorrência nas inspeções anteriores;

• DS – Anomalia Desapareceu: Quando em uma inspeção, uma determinada


anomalia verificada na inspeção anterior, não mais esteja ocorrendo;

• DI – Anomalia Diminuiu: Quando em uma inspeção, uma determinada


anomalia se apresente com menor intensidade ou dimensão, em relação ao
constatado na inspeção anterior, conforme pode ser verificado pela inspeção

99
ou informado pela pessoa responsável pela barragem;

• PC – Anomalia Permaneceu Constante: Quando em uma inspeção, uma


determinada anomalia se apresente com igual intensidade ou a mesma
dimensão, em relação ao constatado na inspeção anterior, conforme pode ser
verificado pela inspeção ou informado pela pessoa responsável pela
barragem;

• AU – Anomalia Aumentou: Quando em uma inspeção, uma determinada


anomalia se apresente com maior intensidade, ou dimensão, em relação ao
constatado na inspeção anterior, capaz de ser percebida pela inspeção ou
informada pela pessoa responsável pela barragem;

• NI – Este item Não foi Inspecionado: Quando um determinado aspecto da


barragem deveria ser examinado e por motivos alheios à pessoa que esteja
inspecionando a barragem, a inspeção não foi realizada. Nesse caso, na parte
reservada para comentários, deverá haver uma justificativa para a não
realização da inspeção.

d) Magnitude: procura tornar menos subjetiva a avaliação da dimensão do


problema ou da falha encontrada:

• I – Insignificante: Anomalia que pode simplesmente ser mantida sob


observação pela Administração Local;

• P – Pequena: Quando a anomalia pode ser resolvida pela própria


Administração Local;

• M – Média: Anomalia que só pode ser resolvida pela Administração Local


com apoio da Administração Regional;

• G – Grande: Anomalia que só pode ser resolvida pela Administração


Regional com apoio da Administração Central.

c) Nível de perigo: procura-se quantificar o nível de perigo causado pela


anomalia e indicar a presteza com que esta anomalia deva ser corrigida:

100
• 0 – Nenhum: Não compromete a segurança da barragem, mas pode ser
entendida como descaso e má conservação;

• 1 – Atenção: Não compromete a segurança da barragem a curto prazo, mas


deve ser controlada e monitorada ao longo do tempo;

• 2 – Alerta: Risco a segurança da barragem, devendo ser tomadas


providências para a eliminação do problema

• 3 – Emergência: Risco de ruptura iminente, situação fora de controle.

Por meio da análise das fichas de inspeção é possível verificar o comportamento


das estruturas e verificar a necessidade de manutenção ou recuperação das
mesmas.

Para que as deteriorações sejam classificadas corretamente é necessário que a


inspeção visual seja realizada por uma pessoa capacitada. As inspeções devem ser
executadas por pessoal qualificado e treinado para identificar desvios em relação às
normas e irregularidades, denominadas de anomalias, que possam afetar
potencialmente ou de imediato a segurança da barragem (MINISTÉRIO DA
INTEGRAÇÃO NACIONAL, 2010). Dessa forma, as fichas de inspeção são
essenciais para a classificação das deteriorações existentes em barragens.

O Quadro 6 apresenta outro modelo proposto para a ficha de inspeção a ser


utilizada para barragens de concreto com o acréscimo de quadro de ações a serem
tomadas.

101
Quadro 6 - Ficha de inspeção da crista barragem de concreto

BARRAGEM / MURO DE CONCRETO SITUAÇÃO MAGNITUDE NÍVEL DE PERIGO AÇÃO

Perman. Constante

Não Inspecionado

Investigar
IT

Monitorar

Reparar
Desapareceu

Insignificante
CRISTA DA BARRAGEM

Primeira Vez

Emergência
Não Existe

Aumentou

Pequena
Diminuiu

Nenhum
Atenção
Grande
Média

Alerta
1 Movim entos diferenciais entre blocos NE PV DS DI PC AU NI I P M G 0 1 2 3
2 Fissuras no concreto NE PV DS DI PC AU NI I P M G 0 1 2 3
3 Armadura exposta ou sinais de corrosão NE PV DS DI PC AU NI I P M G 0 1 2 3
4 Deterioração da superfície do concreto NE PV DS DI PC AU NI I P M G 0 1 2 3
5 Juntas danificadas NE PV DS DI PC AU NI I P M G 0 1 2 3
6 Falta de drenagem ou ineficiência do sistema NE PV DS DI PC AU NI I P M G 0 1 2 3
7 Defeitos no guarda-corpo NE PV DS DI PC AU NI I P M G 0 1 2 3
8 Corrosão de postes ou pórticos NE PV DS DI PC AU NI I P M G 0 1 2 3
9 Pavim ento danificado NE PV DS DI PC AU NI I P M G 0 1 2 3
10 Presença de vegetação NE PV DS DI PC AU NI I P M G 0 1 2 3

Fonte: Acervo pessoal.

102
10. EXECUÇÃO DE MANUTENÇÃO

Toda a observação das anomalias que acometem uma barragem tem por fim
garantir a segurança da obra. Para isso, os responsáveis pela segurança têm que
ser capazes de detectar e classificar as anomalias, suas causa e possíveis
consequências, para assim tomar, em tempo hábil, as corretas medidas de
execução da manutenção, seja ela preditiva, preventiva ou corretiva.

Uma vez cumpridas essas etapas, a manutenção pode assumir as seguintes


alternativas possíveis de intervenção:

• Prevenção da ocorrência;

• Aumento do monitoramento (inspeções ou instrumentação);

• Realização de Estudos e Investigações;

• Reparos;

• Recuperação;

• Reabilitação;

• Precauções de segurança;

• Reforço estrutural;

• Demolições.

A detecção, o diagnóstico, a definição de conduta, a escolha da alternativa


adequada de correção para cada deficiência detectada na inspeção periódica são
atividades que demandam um trabalho minucioso que deve ser executado por
técnicos habilitados, munidos de ferramentas, equipamentos e materiais
adequados.

103
10.1. Escolha do processo de reparo

Uma vez estudada e caracterizada a deficiência, deve-se eleger o processo de


correção a ser empregado. Cada caso deve ser analisado separadamente, pois
pode existir mais que um processo adequado. Deve-se considerar, também, a
evolução tecnológica associada aos processos de reparo, o que implica o ingresso
de novos materiais e procedimentos no mercado. Há ainda que se considerar os
prazos e os custos envolvidos para se tomar a decisão final.

Apesar de cada problema exigir um tratamento particular, pode-se afirmar que o


tratamento será mais eficiente quanto maior for o grau de conhecimento sobre
aquela anomalia. É neste ponto que se afigura a grande importância da
determinação da causa da anomalia, pois o processor de recuperação tem
preferencialmente que passar pela eliminação deste fato causador. Essa postura
permite que a segurança da barragem seja restabelecida, como também dificulta a
reincidência do problema.

104
CONCLUSÃO

Este texto sobre anomalias de barragens tem sua ênfase no conhecimento das
deficiências que ao serem descobertas possam vir a comprometer o desempenho e
até a segurança de uma barragem. As deficiências que não possam afetar
imediatamente a segurança da barragem são consideradas como um problema de
manutenção.

A garantia da durabilidade das estruturas impõe a aplicação de procedimentos de


inspeção, conhecimento do mecanismo das manifestações patológicas e,
consequentemente, a adoção da decisão correta no momento certo, para execução
adequada de serviços de manutenção e reparo. A atuação de agentes agressivos
com intensidade maior que a resistência da estrutura ou sua parte, causa o
problema patológico e na maioria das vezes as manifestações patológicas estão
associadas a várias causas e não a uma única.

A descoberta de uma patologia na estrutura sempre requer seu adequado estudo e


monitoramento, para que seja possível descobrir suas causas. A partir daí há uma
série de procedimentos corretivos que podem ser aplicados, cada um deles com
suas vantagens e suas limitações. A manutenção das estruturas de modo adequado
tende a melhorar seu desempenho ao longo dos anos e a reduzir os custos de
eventuais futuras intervenções corretivo.

Acidentes e incidentes podem ocorrer em barragens, caso o projeto, a construção e


a operação, em conjunto ou isoladamente, não sejam adequados. Como alguns
incidentes em barragens de concreto podem induzir futuros acidentes, é necessário
que a manutenção das estruturas seja realizada de maneira adequada e que um
sistema de monitoramento seja implantado.

105
REFERÊNCIAS

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Setembro 12 / 22:45 h.

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CURSO
SEGURANÇA DE BARRAGENS

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MÓDULO III: GESTÃO E DESEMPENHO DE


BARRAGENS

UNIDADE 1: ANÁLISE E GESTÃO DE RISCOS

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FICHA TÉCNICA
Realização:

EQUIPE TÉCNICA
Tereza Cristina Fusaro Glauco Gonçalves Dias
Elaboração de conteúdo Revisor Técnico Geral

Alexandre Anderáos Etore Funchal de Faria


Revisor técnico ANA Revisor técnico Itaipu

Carlos Leonardi Fabio Luiz Willrich


Revisor técnico Itaipu Revisor técnico Itaipu

Cesar Eduardo b. Pimentel Josiele Patias


Revisor técnico ANA Revisora técnica Itaipu

Claudio Neumann Josimar Alves de Oliveira


Revisor técnico Itaipu Revisor técnico ANA

Claudio Osako Ligia Maria Nascimento de Araújo


Revisor técnico Itaipu Revisora técnica ANA

Dimilson Pinto Coelho Silvia Frazão Matos


Revisor técnico Itaipu Revisora técnica Itaipu

Coordenação Executiva
Celina Lopes Ferreira (ANA)
Revisão Ortográfica

ICBA – Centro de Línguas


www.cursodeidiomasicba.com.br

Este obra foi licenciada sob uma Licença Creative Commons Atribuição-
NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada

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CURRICULO RESUMIDO

Prof: Teresa Cristina Fusaro

Graduada em Engenharia Civil pela UFMG


em 1984 e Mestre em Geotecnia de
Barragens pela UFOP em 2005.
Trabalha na Companhia Energética de Minas
Gerais - Cemig desde 1986, atuando nas
atividades de inspeções e análise da
instrumentação de barragens e manutenção
civil de estruturas civis de geração.
Gerente de Segurança de Barragens e
Manutenção Civil da Cemig GT desde 2004.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS........................................................................................... 06
LISTA DE TABELAS.......................................................................................... 07
1 INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE RISCOS............................................. 08
2 PORQUE FALAR SOBRE RISCOS ASSOCIADOS A BARRAGENS........... 11
3 FONTES DE RISCOS EM BARRAGENS....................................................... 14
3.1 Riscos ligados a fatores naturais ou ambientais........................................... 16
3.1.1 Riscos Hidrológicos ................................................................................... 16
3.1.2 Sismicidade................................................................................................ 21
3.1.3 Escorregamento de massa em reservatórios............................................ 24
3.1.4 Ações agressivas....................................................................................... 24
3.2 Riscos associados a fatores dependentes da barragem.............................. 25
3.2.1 Riscos na operação do reservatório.......................................................... 25
3.2.2 Riscos geológicos...................................................................................... 27
3.2.3 Riscos estruturais....................................................................................... 29
3.2.4 Riscos associados ao monitoramento....................................................... 30
3.2.5 Riscos técnico-organizacionais.................................................................. 31
3.2.6 Riscos associados gestão de emergências............................................... 32
3.2.7 Riscos de ruptura de barragens em cascata............................................. 32
3.3 Riscos ligados a fatores socioeconômicos .................................................. 33
4 GESTÃO DE RISCOS EM BARRAGENS....................................................... 35
5 GESTÃO DE RISCOS EM BARRAGENS SEGUNDO A LEI 12.334/2010.... 44
6 AVALIAÇÃO DE RISCOS EM BARRAGENS SEGUNDO A LEI 2.334/2010 46
7 CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS................................................................... 49
7.1 Altura............................................................................................................. 49
7.2 Comprimento................................................................................................. 51
7.3 Tipo da Barragem quanto ao material de construção................................... 53
7.4 Tipo de fundação.......................................................................................... 54
7.5 Idade da Barragem....................................................................................... 56
8 ESTADO DE CONSERVAÇÃO....................................................................... 58
9 ATENDIMENTO AO PLANO DE SEGURANÇA DE BARRAGENS.............. 63
10 CATEGORIA DE DANO POTENCIAL ASSOCIADO................................... 66
10.1 Volume total do reservatório....................................................................... 67
10.2 Potencial de perda de vidas ....................................................................... 68
10.3 Impacto ambiental....................................................................................... 71
10.4 Impacto socioeconômico............................................................................. 71
11 ANÁLISE FINAL DE RISCOS....................................................................... 72
CONCLUSÕES................................................................................................... 74
12 AGRADECIMENTOS..................................................................................... 75
REFERÊNCIAS.................................................................................................. 76

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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Gerenciamento de riscos em projetos
Figura 2 – Pilares básicos da segurança de barragens
Figura 3 – Incertezas em segurança de barragens, com destaque para os fatores de
incertezas internos, ou seja, dependentes da barragem.
Figura 4 - Amortecimento da Cheia de Projeto em Reservatórios
Figura 5 - Dados sobre tremores de terra, com magnitude 3.0 ou mais, ocorridos no
Brasil até 1996.
Figura 6 - A água pressionada para baixo preenche os poros das rochas ou infiltra-
se lentamente pelas fraturas existentes na região abaixo do reservatório, produzindo
um desordenamento no balanço das forças geológicas preexistentes. Outro efeito
que se deve levar em consideração é o peso do reservatório.
Figura 7 - Efeito do tremor de terra ocorrido na UHE Cajuru no dia 21/01/72: o
afloramento em rocha trincou em toda sua extensão.
Figura 8 - Modelo geral de operação de um reservatório
Figura 9 - Etapas do processo de gestão de riscos em barragens
Figura 10 – Análise de Efeitos e Modos de Falha (FMEA)
Figura 11 – Árvore de Eventos (ETA)
Figura 12 – Árvore de Falhas (FTA)
Figura 13 – Modelagem probabilística de riscos em barragens
Figura 14 – Tabela de Índices do GRI
Figura 15 – Tabela do LCI
Figura 16 – Elementos para gestão de riscos em barragens segundo a Lei
12.334/2010.
Figura 17- Correlações entre número de barragens rompidas até 1988 e sua altura
Figura 18- Correlações entre número de barragens rompidas até 1988 e tipo de
material de construção
Figura 19- Causas de ruptura de barragens
Figura 20- Idade de ruptura de barragens
Figura 21- Árvore lógica de estados que condicionam a árvore de eventos,
mostrando o primeiro enchimento do reservatório como um possível evento iniciador
ou gatilho

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Figura 22- Causas de ruptura de barragens de terra/enrocamento

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Proposta de definição de termos associados a riscos geológicos


Tabela 2: Critérios para classificação de barragens segundo a Lei 12.334/2010
Tabela 3 - Matriz de classificação quanto à categoria de risco
Tabela 4 - Matriz de classificação quanto à categoria de risco
Tabela 5 - Matriz de classificação quanto à categoria de risco
Tabela 6 - Matriz de classificação quanto ao Dano Potencial Associado – DPA
Tabela 7 – Casos de Ruptura de Barragens
Tabela 8– Definição das consequências do risco hidrodinâmico
Tabela 9 – Alguns exemplos de distâncias a ser avaliadas a jusante
Tabela 10 – Classificação das barragens de acumulação de água quanto à categoria
de risco e dano potencial.

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Prezado Aluno,

no decorrer desta unidade você deverá desenvolve competência para:


 Examinar técnicos dados de classificação categorizando o grau de risco da
barragem;
 Estimar riscos de ruptura e suas consequências.

1. INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE RISCOS

Falar de “risco” é falar, simultaneamente, de oportunidade e de incerteza. Esta


grandeza possui múltiplos significados na linguagem corrente e na terminologia
técnico-científica, é um indicador de segurança e um operador de decisão.

Quando falamos de barragens, estamos tratando de um risco tecnológico,


usualmente definido como as consequências esperadas associadas à ocorrência de
um evento adverso. Em linguagem matemática:

Risco = Probabilidade x Consequência


Ou ainda:
Risco = P(evento) x P(reação adversa para dado evento) x Consequência do
evento

Num primeiro momento, a definição acima pode nos parecer uma novidade.
Entretanto, de forma intuitiva, fazemos “análises de risco” a todo o momento,
associando mentalmente eventos, sua probabilidade e consequências.

Se você vai atravessar uma rua, por exemplo:


 O que pode dar errado (evento)? – pode não dar tempo para você atravessar
a rua e você pode ser atingido por um veículo
 Quanto isso é provável (probabilidade do evento)? – você verifica
mentalmente se há grande movimento de veículos na via e se há algum se
aproximando
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 Que perdas isto causará (consequências)? –você pode ser atropelado e isto
custar a sua saúde ou, até mesmo, a sua vida.
Com base nestes três elementos, evento, probabilidade e consequências, tomamos
uma decisão, estabelecemos controles e, até mesmo, delineamos planos de
contingência para esta ameaça.

Voltando ao exemplo, após a avaliação do risco de atravessar a rua, tomamos uma


decisão:
 Aceitar o risco, atravessando a rua imediatamente.
 Minimizar o risco, atravessando a rua quando não houver nenhum veículo
próximo.
 Eliminar o risco, apenas atravessando a rua apenas na faixa para pedestres
quando o sinal de pedestres estiver verde e todos os veículos parados.

Também estabelecemos controles e até mesmo planos de contingência (se um


veículo se aproximar rapidamente, posso correr).

Estes elementos são as bases do Gerenciamento de Riscos em Projetos,


conforme apresentado na figura 1 e descrição das etapas a seguir:

Figura 1 – Gerenciamento de riscos em projetos

Fonte: Modificado de Mulcahy, 2010.

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Identificação de riscos: Processo de determinação do que pode dar errado, porque e


como e quais as consequências.

Análise dos riscos: Processo de quantificação da probabilidade de ocorrência e


gravidade das consequências.

Avaliação dos riscos: Processo de exame e julgamento do significado dos riscos.

Resposta aos riscos: Processo decisório de como tratar os riscos identificados,


sendo que as respostas às ameaças podem ser (Mulcahy,
2010):
 Evitar: eliminar a ameaça eliminando a causa;
 Mitigar ou controlar: reduzir o valor monetário esperado
do risco, reduzindo o impacto ou a probabilidade de
ocorrência;
 Transferir: transferir o risco para outros através de
subcontratação ou seguro;
 Aceitar passivamente (se acontecer, aconteceu) ou
ativamente (criação de um plano de contingência).

Planos de Contingência: Estabelecimento de plano de ação para tratar os riscos não


eliminados.

Monitoramento e Controle: Processo periódico de reavaliação dos riscos e do plano


geral de gerenciamento. Usualmente utiliza controles para
garantir que os objetivos do projeto sejam atingidos e que
eventos indesejáveis sejam prevenidos ou detectados e
corrigidos.

Assim, verificamos como os conceitos básicos de riscos são de fácil compreensão,


por fazerem parte do nosso cotidiano e por serem aplicáveis à gestão de projetos de
qualquer natureza.

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2. PORQUE FALAR SOBRE RISCOS ASSOCIADOS A


BARRAGENS

A segurança deve constituir o objetivo fundamental no projeto, construção e


operação de barragens. Este deve ser referencial a ser buscado, uma vez que a
ruptura de uma barragem pode ter consequências imensuráveis em termos de
impactos socioeconômicos e ambientais.

Apesar de reduzido, o risco de ruptura de uma barragem constitui uma realidade


potencial para tais empreendimentos. De acordo com o Boletim 99 do ICOLD (1995),
a percentagem de ruptura de grandes barragens é de 2,2% para as barragens
construídas antes de 1950 e de cerca de 0,5% para as construídas após esta data.
A maior parte das rupturas, cerca de 70%, ocorreu com barragens nos seus
primeiros 10 anos de operação e, mais especialmente, no primeiro ano após o
comissionamento.

Foster et al. (1998) analisaram um total de 11.192 grandes barragens de


enrocamento construídas até 1986, registrando 136 casos de ruptura neste universo.
A frequência média de ruptura (nº total de rupturas / nº total de barragens) foi de
0,012, ou 0,011 se consideradas apenas as barragens que estavam em operação,
ou seja, de cada 100 barragens construídas, uma se rompe. A frequência anual
histórica foi de 4,5x10-4. Assim, para o mesmo grupo de 100 barragens, a
probabilidade de ruptura anual é de 0,045, portanto, a cada 22 anos, uma barragem
se romperia.

Sabendo-se então da existência de uma probabilidade, ainda que baixa, de ruptura


de uma barragem e do alto impacto que este evento teria a jusante, a questão é
como este risco pode ser reduzido. Biedermann (1997) considera que a segurança
de barragens pode ser obtida apoiando-se em três pilares básicos: segurança

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estrutural (projeto, construção e manutenção adequados), monitoramento e gestão


de emergência, como apresentado na figura a seguir.
Figura 2 – Pilares básicos da segurança de barragens

Fonte: Biedermann, 1997, adaptado.

Nas fases de projeto e construção, devem ser feitos investimentos de forma que os
riscos associados a cada estrutura civil sejam minimizados. Entretanto, sabe-se que
alguns riscos são inerentes à construção de uma barragem, como transbordamento
por falha na operação dos extravasores ou envelhecimento dos materiais de
construção.

Assim, mesmo sendo o projeto e construção adequados, existe um risco


remanescente a ser controlado através de um processo de acompanhamento e
avaliação permanentes do desempenho das estruturas. Este processo é usualmente
denominado de auscultação de barragens, e engloba as atividades de observação,
detecção e caracterização de eventuais deteriorações que possam aumentar o
potencial de risco de uma estrutura (Fonseca, 2003). O objetivo final da auscultação
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é fornecer elementos para as avaliações do comportamento de barragens e indicar a


necessidade de reparos para o restabelecimento das condições de segurança
desejadas ou mesmo a necessidade de adoção de medidas emergenciais.
A auscultação de barragens tem como ferramentas as inspeções visuais e a
instrumentação. O olho humano treinado é geralmente o melhor instrumento para
avaliar a performance de uma barragem. Segundo o Corps of Engineers (2000),
“apesar das inspeções visuais certamente terem limitações, nenhum outro método
tem o mesmo potencial de integrar rapidamente toda a situação do comportamento”.
A instrumentação agrega valor a estas avaliações, como um meio de fazer medidas
da aferição do comportamento de uma barragem. Estas medidas (leituras dos
instrumentos) não eliminam a necessidade do julgamento de engenharia, mas
fornecem informações importantes sobre o comportamento das estruturas e
permitem uma visão ‘de dentro’ sobre a existência ou não de determinado problema.

Entretanto, pouca importância terá o monitoramento se, quando detectadas


necessidades de manutenção (reparo ou melhorias), estas não forem realizadas em
tempo hábil para que sejam restaurados os níveis de segurança estrutural
desejados. Em outras palavras. “medidas estruturais” devem ser tomadas para o
restabelecimento da segurança.

Nem sempre essas medidas são suficientes para eliminar o perigo a que está
submetido o sistema vale-barragem. Passou-se, então, a conceber a adoção de
“medidas não estruturais”, como a instalação de sistemas de alerta e planos de
atendimento a emergências como formas de gerenciamento de riscos. Constituiu-se,
assim, o terceiro pilar da segurança, a gestão de emergências, considerando que a
segurança do sistema vale-barragem só pode ser garantida por meio da adoção de
medidas integradas de gerenciamento de risco e emergências por parte dos
responsáveis por ambos os conjuntos do sistema. Os documentos que consolidam
os procedimentos para o gerenciamento do risco e as respostas a situações de
emergência são os Planos de Ações Emergenciais ou Planos de Atendimento a
Emergências.

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3. FONTES DE RISCOS EM BARRAGENS

Como dito anteriormente, apesar de toda a atenção geralmente dedicada às grandes


obras de engenharia, é impossível considerar que o risco associado às barragens
seja nulo. Castro (2008) destaca que consideramos a Engenharia como uma ciência
exata, quando, na verdade, engenharia é a “arte de aplicar conhecimentos
científicos e empíricos e certas habilitações específicas à criação de estruturas,
dispositivos e processos utilizados para converter recursos naturais em formas
adequadas ao atendimento das necessidades humanas” (Dicionário Aurélio).

Em outras palavras, a engenharia, na maioria das situações, utiliza modelos


simplificados para representar a realidade e, com isso, sempre haverá inexatidões e
incertezas envolvidas nesta representação.

Desta forma, podemos considerar que a gestão da segurança de barragens é


uma questão de controle de riscos e tomada de decisões sob condições de
incertezas. Estas incertezas são intrínsecas aos processos de engenharia e, não
reconhecê-las explicitamente reflete na confiabilidade dos resultados obtidos.

Existem várias abordagens possíveis para a categorização das fontes de incertezas


em barragens. Neste trabalho, faremos uma reflexão acerca das incertezas e riscos
classificando-os em:

 fatores naturais ou ambientais


 fatores internos (dependentes da barragem)
 fatores socioeconômicos.

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Figura 3 – Incertezas em segurança de barragens, com destaque para os fatores de


incertezas internos, ou seja, dependentes da barragem.

Fonte: Nota do autor.

Uma vez que é reduzida a possibilidade de atuação ou mesmo previsão da


ocorrência dos eventos naturais e externos, a segurança da barragem fica
condicionada ao bom desempenho dos fatores internos (projeto, construção,
operação e manutenção). Entretanto, observamos que existem incertezas nos três
pilares da segurança de barragens, as quais precisamos compreender para que
possamos tomar as decisões adequadas de gestão para a redução dos riscos.

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3.1 – RISCOS LIGADOS A FATORES NATURAIS OU AMBIENTAIS

Classificaremos neste grupo os riscos associados a fenômenos naturais e que


estariam, de certa forma, fora do nosso controle direto.
 Risco Hidrológico
 Sismicidade
 Escorregamento de massa em reservatórios
 Ações agressivas

3.1.1- Risco hidrológico

O conceito de risco é frequentemente associado à probabilidade de ocorrência de


eventos adversos. Em hidrologia, esses são os chamados eventos extremos, cheias
e estiagens prolongadas, os quais podem produzir sérios prejuízos econômicos,
sociais e ambientais. Desta forma, ao projetar, instalar e operar um aproveitamento
de recursos hídricos, o engenheiro deve presumir a coexistência desse
empreendimento com um vale já sujeito a cheias e estiagens, em decorrência da
variabilidade climática e seu nível de ocupação, muitas vezes com população e
infraestrutura significativas e, portanto, vulneráveis ao impacto de uma falha
estrutural ou de funcionamento da obra hidráulica que venha a ser implantada a
montante.

Em análise de segurança de barragens, risco hidrológico é a probabilidade de


falha de uma estrutura hidráulica face à ocorrência de vazão superior àquela
para a qual foi dimensionada. Costuma ser avaliado como o produto entre a
probabilidade de ocorrência de uma cheia associada a um determinado período de
retorno e os danos que se espera dessa ocorrência.

Vejamos como ocorre, de forma bem simplificada, a operação de um reservatório


num período chuvoso:
O volume de uma onda de cheia chega ao reservatório de uma barragem
aumentando o volume de água acumulado e elevando seu nível. A
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transferência ou saída de água para jusante, no retorno ao leito natural do rio,


ocorrerá através dos órgãos extravasores (geralmente vertedores de
superfície e/ou descarregadores de fundo) implantados junto ao barramento.
Portanto, essas importantes estruturas hidráulicas devem ser dimensionadas
para permitir a passagem da cheia de projeto pelo reservatório, com elevação
do nível de água até o N.A. máximo maximorum. Ou seja, suas dimensões
deverão ser suficientes para evitar que o nível do reservatório ultrapasse o
nível máximo maximorum estabelecido em projeto, impedindo o galgamento
do maciço, o que poderia colocar em risco tanto a estabilidade da barragem,
quanto a segurança do vale a jusante.

No projeto de estruturas hidráulicas admite-se a probabilidade de falha durante sua


vida útil, aceitando-se certo nível de convivência com o risco de ocorrência de
vazões maiores do que aquela adotada no dimensionamento. Isto porque o custo
dessas estruturas é elevado e, em alguns casos, pode ser economicamente inviável
dimensioná-las para a maior cheia possível. Assim, a probabilidade de falha pode
ser maior ou menor, dependendo do tipo de estrutura e do grau de proteção que se
pretende dar ao próprio empreendimento e às áreas em seu entorno. Se a falha
desta estrutura provocar grandes prejuízos materiais, ambientais e a possibilidade
de perdas de vidas, esse risco deve ser bastante reduzido.

Segundo o Guia para Cálculo de Cheia de Projeto de Vertedores, publicado pela


Eletrobrás em 1987, “entende-se por Cheia de Projeto a hidrógrafa afluente ao
aproveitamento tal que a capacidade dos vertedores e os efeitos de amortecimento
do reservatório sejam definidos conjuntamente para garantir a segurança da
barragem na hipótese de ocorrência deste evento”.

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Figura 4 - Amortecimento da Cheia de Projeto em Reservatórios

Fonte: Guia Prático Para Projetos De Pequenas Obras Hidráulicas, Departamento de Águas
e Energia Elétrica da Secretaria de Estado de Energia, Recursos Hídricos e Saneamento de
São Paulo, 2005.

Existem duas metodologias usualmente empregadas na definição das cheias de


projeto:
 Abordagem Física ou Hidrometeorológica
Cheia Máxima Provável (CMP) - Limite meteorológico/físico de produção de
cheia numa bacia.
 Abordagem Estatística
Cheia associada a uma probabilidade de excedência (período de retorno)
durante a vida útil da estrutura - Tempo de Recorrência (TR).

Faremos uma revisão rápida dos conceitos envolvidos nestes métodos, para
conseguirmos identificar as incertezas envolvidas nas duas metodologias.
Cheia Máxima Provável (CMP) é um indicador de vazão máxima baseado na
aplicação da Precipitação Máxima Provável (PMP) sobre uma bacia já saturada de
umidade. A PMP, por sua vez, é entendida como a altura máxima de precipitação
fisicamente possível de ocorrer, com duração, distribuição temporal e espacial
críticas para bacia hidrográfica. É estimada através da maximização da umidade de
uma tempestade numa dada bacia, para uma duração específica, numa determinada
época do ano, com base em registros históricos. Representaria desta forma, a maior

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cheia fisicamente possível de ocorrer em uma bacia e tem a pretensão de resultar


em um “risco zero” de falha e, assim, assegurar à proteção das populações a
jusante em relação às consequências da ruptura de uma barragem.

No entanto, o critério de projeto que recomenda o uso da CMP para


dimensionamento de vertedores tem sido questionado por várias razões:
 As estimativas da PMP e CMP são mais complexas, demandam mais tempo e
recursos na sua elaboração, e os resultados podem alterar ao longo do tempo
em decorrência da incorporação de novos dados, da variabilidade climática e
das mudanças no uso e ocupação da bacia. Esta alteração fragiliza sua
premissa conceitual de que um projeto que cumpra esta diretriz assegura
“risco zero”.
 A disponibilidade de recursos de órgãos estatais ou investidores privados
financiadoras de projetos com risco zero, por isso de custos vultuosos, estão
cada vez mais escassos e a metodologia da CMP não permite flexibilização
da análise econômica, com avaliações de custos, benefícios associados a
diversos riscos.
 A utilização de um método sofisticado pode levar à falsa impressão de
estarmos obtendo bons resultados. Na realidade, estes estudos são
complexos e, para que resultados de qualidade sejam obtidos, necessitam de:
o Dados históricos de variáveis meteorológicas (precipitação e
temperatura de ponto de orvalho) para determinação da Precipitação
Máxima Provável – PMP.
o Modelagem dos processos de transformação Chuva-Vazão, que
demanda dados fisiográficos da bacia e séries concomitantes de
chuva, vazão e evaporação, para as etapas de calibração e verificação
do modelo e determinação da CMP.
o Tempo maior no desenvolvimento do estudo (disponibilidade de
tempo).

Devido a essas questões, análises baseadas no risco têm sido frequentemente


adotadas como proposta alternativa de critério de projeto de órgão extravasores.

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Nessa abordagem, o risco admitido no dimensionamento de uma obra hidráulica


associa-se ao período de retorno a ser adotado e ao tempo de vida útil previsto para
o empreendimento. Aqui, a metodologia se baseia na análise de frequência de
vazões máximas, onde são úteis os conceitos de probabilidade de excedência e de
tempo de retorno de uma dada vazão. A probabilidade anual de excedência de uma
determinada vazão é a probabilidade que esta vazão venha a ser igualada ou
superada num ano qualquer. O tempo de retorno desta vazão é o intervalo médio de
tempo, em anos, que decorre entre duas ocorrências subsequentes de uma vazão
maior ou igual. O tempo de retorno é o inverso da probabilidade de excedência.
Essas metodologias são descritas com detalhes em publicações de hidrologia
estatística.

A aplicação deste método tem como requisitos:


 A existência de série de vazões diárias (período histórico > 30 anos).
 Dados históricos representativos do regime hidrológico da bacia hidrográfica
da barragem em avaliação.
 Aplicativo estatístico para análise de frequência de variáveis aleatórias, com
ajuste a distribuições de probabilidades de extremos.

É importante lembrar que a escolha do período de retorno para o dimensionamento


de uma obra deve ser precedida de análises relativas aos prejuízos tangíveis e
intangíveis que possam vir a ser causados por eventos críticos que levem à ruptura
de barragem ou a sua operação em condições extremas. Maior rigor na segurança é
obtido pela adoção de menores probabilidades de excedência (maiores TRs).

Em resumo, a abordagem a ser adotada depende do grau de proteção que se


pretende para o vale a jusante, mas também das informações e ferramentas
disponíveis, para que tenhamos um produto de qualidade: Qualquer que seja a
abordagem utilizada existe incertezas no processo de determinação da cheia de
projeto e, portanto, estaremos sempre nas mãos dos processos naturais.

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3.1.2- Sismicidade

“A ideia propagada por muito tempo de um Brasil essencialmente estável, livre da


ocorrência de terremotos é errônea. A sismicidade brasileira é modesta se
comparada a da região andina, mas é significativa porque aqui já ocorreram vários
tremores com magnitude acima de 5,0 indicando que o risco sísmico em nosso país
não pode ser simplesmente ignorado” (UnB, 2012-1).

Existem dezenas de relatos históricos sobre abalos de terra sentidos em diferentes


pontos do país. Afortunadamente, tremores maiores como o de Mato Grosso
(1955/mb=6.6), litoral do Espirito Santo (1955/mb=6.3) e Amazonas (1983/mb=5.5)
ocorreram em áreas desabitadas.

O Brasil situa-se no interior da Placa Sul-Americana e, portanto, distante das bordas


das placas, onde ocorrem mais terremotos. Por isso, a grande parte dos sismos
brasileiros é de pequena magnitude (até 4.5), ocorrendo à baixa profundidade (30
km) e, portanto, sentidos até poucos quilômetros do epicentro. O estado do Acre é o
que apresenta maior nível de atividade sísmica, devido ao processo de subducção
da Placa de Nazca em relação à Placa Sul-Americana, que gera uma área de
instabilidade na fronteira entre o Peru e Acre.

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Figura 5 - Dados sobre tremores de terra, com magnitude 3.0 ou mais, ocorridos no Brasil
até 1996. As informações mais antigas, indicadas por triângulos, são chamadas históricas.
Os dados epicentrais, indicados por círculos, são mais novos e obtidos por equipamentos
sismográficos.

Magnitude
>= 6.5
5.5 - 6.4
4.5 - 5.4
3.5 - 4.4

Intensidade

>= IV
< IV
Zona de sismos profundos

Fonte: Adaptado de Berrocal, 1984 apud UnB, 2012.

“Além das forças naturais, certas ações do homem podem produzir terremotos
localizados como as explosões nucleares. A formação de lagos artificiais, com o
propósito de gerar energia, também pode gerar tremores de terra e este fenômeno é
denominado sismicidade induzida por reservatórios (SIR).” (UnB, 2012-2).

A construção da barragem cria um novo lago, que irá alterar as condições estáticas
das formações rochosas do ponto de vista mecânico (em virtude do próprio peso da
massa d’água), e do ponto de vista hidráulico (em consequência da infiltração do
fluido na subsuperfície, que causa pressões internas nas camadas rochosas
profundas). A combinação das duas ações pode desencadear distúrbios tectônicos
e, eventualmente, gerar sismos, caso as condições locais sejam propícias.

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Figura 6 - A água pressionada para baixo preenche os poros das rochas ou infiltra-se
lentamente pelas fraturas existentes na região abaixo do reservatório, produzindo um
desordenamento no balanço das forças geológicas preexistentes. Outro efeito que se deve
levar em consideração é o peso do reservatório.

Fonte: Adaptado de UnB, 2012.


No Brasil, a preocupação com os efeitos sísmicos se manifestou pela primeira vez
na Usina Hidrelétrica de Peti (1948). Cajuru foi à primeira usina a receber
instrumentação sismográfica no país, em 1975, e se mantém desde então operando
normalmente.

Figura 7 - Efeito do tremor de terra ocorrido na UHE Cajuru no dia 21/01/72: o afloramento
em rocha trincou em toda sua extensão.

Fonte: Nota do autor.


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Atualmente, é recomendável que, ao construir uma usina hidrelétrica com grande


reservatório, se avalie a necessidade de instalação de uma estação sismográfica
antes do início do enchimento do reservatório, para que se possa conhecer a
atividade sísmica do local antes e pós enchimento.

A ocorrência de um sismo natural ou induzido pode ter como consequências:


 Queda de blocos de rocha e escorregamento de taludes, podendo danificar
comportas, estruturas da casa de força, equipamentos eletromecânicos,
condutos etc.;
 Movimentos de massa para dentro do reservatório, formando ondas que
podem vir a galgar a barragem;
 Assentamentos e recalques por liquefação, adensamento do solo ou
enrocamento, causando deformações na barragem.

3.1.3- Escorregamento de massa em reservatórios

Possibilidade de escorregamento de taludes de terra ou rochosos nas margens dos


reservatórios, movimentando uma massa significativa para dentro do lago, podendo
vir a causar ondas significativas no reservatório e o galgamento da barragem.

3.1.4- Ações agressivas

Atuação das intempéries (chuva, vento, calor, frio) alternadamente sobre a barragem
e estruturas associadas podendo causar, ao longo do tempo, desagregação,
envelhecimento, erosão e corrosão, dentre outros fenômenos térmicos, mecânicos e
químicos.

Como exemplo, podemos citar o processo físico de fragmentação das rochas devido
a variações da temperatura, a ação do gelo e dos ventos, pelo enfraquecimento de
suas estruturas e pela fragmentação devido aos diferentes coeficientes de dilatação
dos minerais que as compõem.

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Destaca-se ação da água da chuva carregada de elementos atmosféricos, como o


CO2, que resulta em reações químicas nos materias de construção: oxidação,
hidratação, dissolução, hidrólise e acidólise.

3.2 – Riscos associados a fatores dependentes da barragem

São riscos internos ao sistema barragem e impostos pela construção da estrutura do


barramento, presentes nas fases de projeto, construção e operação.

3.2.1- Riscos na operação do reservatório

Além dos riscos hidrológicos (risco natural), existem fatores determinados pelo
reservatório e órgãos extravasores que impõem riscos adicionais à segurança do
sistema vale-barragem, como mostrado na figura a seguir.

Figura 8 - Modelo geral de operação de um reservatório

Modelo da Bacia Precipitação modelada


como um evento
randômico

Vazões
afluentes ao
reservatório Modelo do vertedouro
E(t)
Vazões
defluentes
controladas
Volume do Tempo (t) Vazões
Escoamento defluentes
NA controladas
Reserv. Nível
“previsto” do
reservatório

Tempo (t) Tempo (t)


Modelo do reservatório Vazão de fluente
de projeto

Fonte: Traduzido de Hartford e Baecher, 2004.

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Mesmo com valores de cheias de projeto adequados, podemos ter vertedouros


hidrologicamente subdimensionados e/ou apresentando grau de incerteza na
determinação da capacidade de descarga devido a dimensionamento por critérios
empíricos, dados cadastrais e informações geométricas inconsistentes e ações
hidrodinâmicas não consideradas no projeto.

Devemos ter em mente a necessidade de regras operativas adequadas e a


necessidade de manutenção dos dispositivos extravasores. O mau funcionamento
das comportas coloca em risco todos os esforços e investimentos feitos no cálculo
de cheias e construção de órgãos extravasores adequados. São causas frequentes
de falha no funcionamento de comportas:

 Falta de energia
 Obstruções provocadas por material transportado especialmente em períodos
de cheia

 Emperramento do equipamento de manobra


 Impossibilidade de acesso do pessoal de operação ao comando dos
equipamentos em situações de tempestade
 Manutenção deficiente.

Além disso, durante a estação chuvosa, o reservatório deverá ser operado de tal
modo que a Cheia de Projeto possa ser seguramente controlada. Para controlar
esses riscos, a operação da barragem deve ser executada por pessoal qualificado e
treinado, de modo a garantir um nível aceitável de condições de segurança,
seguindo orientação de um manual contendo instruções e documentação com todos
os requisitos para operação segura.

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3.2.2- Riscos geológicos

A enorme variabilidade e surpresas dos maciços rochosos têm requerido o


aparecimento de diversas metodologias associadas à definição de riscos geológicos.
Atualmente existem duas componentes do risco geológico normalmente aceitas. A
primeira diz respeito à ocorrência de fenômenos geológicos naturais que podem
ameaçar um projeto, de maneira semelhante ao risco que afeta encostas, cidades e
estradas. A segunda é a probabilidade da geologia efetivamente encontrada na obra
se afastar das condições inicialmente previstas.

Na contratação e execução de obras de engenharia o conceito risco geológico está


mais ligado a esta segunda componente, ou seja, à possibilidade de ocorrência de
condições geológicas durante uma obra, diferentes daquelas previstas nos estudos
de projeto, gerando impactos nas soluções adotadas no projeto, no prazo de
execução e no custo da obra.

Normalmente associa-se o risco geológico a ocorrências imprevisíveis e/ou


inevitáveis, sendo muitas vezes utilizados os termos Incidente, Surpresa e
Imprevisto Geológico como sinônimos. Visando um entendimento comum destes
termos para as obras de engenharia civil, Brito apud Castro (2008) propõe as
definições resumidas na tabela a seguir:

Tabela 1 – Proposta de definição de termos associados a riscos geológicos


(adaptado de Castro, 2008).
Mudança geométrica:

feição identificada, mas com


dimensões ou orientação
diferentes das previstas. Incidente Geológico:
Feição geológica
conhecida / Mudança de qualidade ou de
comportamento modificações de quantitativos relativos
prevista
a feições conhecidas
feição encontrada, mas com
propriedades ou
comportamento diferentes dos
previstos.

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Feição previsível: Surpresa Geológica:

a feição é comum, seja por ocorrência de feições geológicas não


associação com o tipo de identificadas previamente, mas
maciço, seja por experiência comumente associadas ao tipo de
regional. maciço em questão
Feição
geológica Imprevisto Geológico:
desconhecida Feição Inesperada:
ocorrência de uma feição geológica
que não poderia ser prevista
a feição nunca foi encontrada
(imprevisível), ou por não estar
associada ao tipo de maciço
normalmente associada às condições
ou na região.
locais ou regionais ou por se tratar de
algo não conhecido pelo meio técnico.

Internacionalmente, os casos de mudanças de condições do contrato, devido a


ocorrências geológicas imprevistas e inevitáveis, já contam com uma grande
experiência e jurisprudência. Analisando diversos casos de mudança de condições
de contrato e pleitos ou “claims” de construtores, verifica-se que os casos de
condições inesperadas do subsolo perfazem menos de 20% dos casos, mas são
responsáveis por 35% dos valores pagos aos construtores. Por isso, é interessante
que as definições do que será considerado como riscos geológicos estejam
explícitas nos contratos de construção de barragens.

Segundo Castro (2008), dois princípios básicos devem nortear o projeto e a


construção, visando minimizar os riscos:
 “Na fase de projeto”, apoiar-se no conhecimento geral da área, baseando-se
em todo o arcabouço de informações locais e na experiência global em
maciços semelhantes; utilizar as mais modernas técnicas de prospecção,
além das tradicionais, para definir exatamente o risco em regiões localizadas;
 Na fase de construção, aplicar as técnicas mais modernas de construção
associadas a mapeamentos geológicos, monitoração e controle, de maneira a
assegurar que não houve negligência, e se a preocupação com a implantação
técnica e bem controlada foi à diretriz primordial da obra.”

Durante a operação do empreendimento deve ser constantemente monitorada a


evolução das feições identificadas nas fases anteriores do projeto, bem como a
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integridade de tratamentos e suportes aplicados, com especial atenção às estruturas


subterrâneas.

São fatores de risco geológico nas fases de projeto e construção:


 Estudos geológicos e geotécnicos insuficientes
o Mapa geológico-geotécnico, excessivamente geológico, sem devida
atenção aos parâmetros geotécnicos, com detalhamento insuficiente para
o planejamento do programa de sondagens e demais etapas do projeto;
o quantidade e qualidade das sondagem e demais investigações
insuficientes, aliados a falta de interpretação dos dados geológico
estruturais, levando a erros na formulação do modelo geomecânico,
compreendendo desde erros de representação dos contatos e/ou
interfaces, atitudes, compartimentação do maciço e descontinuidades até
a desconsideração de dados relevantes, para a simplificação do modelo.

 Possibilidade de mudança nas condições geológicas de uma feição geológica


prevista, ou seja, feição conhecida com condições diferentes das antecipadas
nos modelos propostos. Isto pode ocorrer por mudanças geométricas
(extensão e/ou orientação são diferentes das previstas), por mudança de
qualidade (propriedades ou comportamento diferentes do previsto).

 Possibilidade de ocorrência de feição geológica nunca associada ao tipo de


maciço e na região encontrada ou não relatada na bibliografia (desconhecida
pelo estado da arte).

3.2.3- Riscos estruturais

Serão aqui considerados os principais fatores ligados ao dimensionamento estrutural


e geotécnico, que podem levar a falha de estruturas da barragem na resposta aos
carregamentos a elas impostas:

 Definição incorreta de carregamentos e de parâmetros de projeto.


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 Incertezas nas propriedades dos materiais, materiais estes criados pela


natureza por processos randômicos. Marr (2001) nos lembra da variabilidade
e limitações dos resultados de ensaios. Na maioria das vezes não é possível
fazer todas as investigações e estudos pertinentes no sentido de se eliminar
todas as incertezas sobre os parâmetros geotécnicos a serem utilizados no
projeto. Existem limitações financeiras, físicas, de tempo e mesmo
inexistência ou limitações dos ensaios existentes. Desta forma, os parâmetros
de projeto são extraídos de campanhas de investigações e ensaios via de
regra limitados e, muitas vezes, são extraídos de bibliografia ou de
informações relativas a obras similares.
 Variabilidade natural das propriedades dos materiais de construção,
adicionando-se as introduzidas pelos métodos construtivos nas
características dos materiais de construção do maciço.
 Simplificações inadequadas nos modelos matemáticos.
 Falta de aplicação da tecnologia disponível por baixo conhecimento ou
desatualização técnica.
 Utilização de métodos construtivos inadequados.

3.2.4- Riscos associados ao monitoramento

São aqueles relativos ao controle permanente do comportamento das estruturas por


meio das atividades de auscultação de barragens (manutenção preditiva), ou seja,
das inspeções visuais e da análise dos dados da instrumentação instalada:
 Inspeções visuais sem conhecimento dos aspectos de projeto e construção
 Insuficiência de instrumentação ou instrumentação não condizente com os
possíveis modos de falha da barragem
 Falhas na coleta dos dados na instrumentação, com a introdução de erros nas
leituras
 Demora ou falta de análise dos dados da instrumentação
 Deficiência na avaliação e gestão permanente dos riscos
 Simplificação de avaliação e gestão de riscos em PCHs (correlacionando
indevidamente pequena geração com estruturas pequenas)
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 Falta de profissionais habilitados

3.2.5- Riscos técnico-organizacionais

Tratam-se dos fatores associados à gestão dos riscos pelas empresas de projeto,
construção e operação dos empreendimentos. Considerando que a gestão de riscos
engloba as fases de identificação, análise, apreciação, tratamento e monitoramento
dos riscos, o estabelecimento de processos organizacionais que permitam esta
gestão é de suma importância.

Nas fases de Projeto e Construção, Medeiros (2008) destaca as falhas do “sistema”,


infelizmente bem conhecidas, que levam ao aumento dos riscos:
 Adoção de prazos curtos como símbolo de eficiência
 Foco obsessivo na economia a qualquer preço
 Avaliação simplista do grau de complexidade e inabilitação técnica para os
desafios do empreendimento
 Ingerência sobre as atividades inerentes à fiscalização e supervisão,
 Omissão em assuntos relevantes
 Problemas de comunicação entre os atores responsáveis pelo
empreendimento, dentre outros.

Como exemplos de falhas técnico-organizacionais na fase de operação, podemos


citar:
 Nível deficiente de avaliação e gestão permanente dos riscos
 Ingerência sobre atividades de monitoramento e controle,
 Falta de treinamento dos operadores nas regras de operação dos órgãos
extravasores
 Equipe técnica pouco habilitada
 Protelação de medidas corretivas.

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3.2.6- Riscos associados gestão de emergências

São aqueles relativos às respostas às emergências para se evitar uma ruptura ou,
se esta for inevitável, reduzir as suas consequências na área industrial e no vale a
jusante:

 Incertezas na elaboração dos PAEs (incertezas nos parâmetros de ruptura,


nas propagações das ondas de cheia, nos dados topográficos, nas avaliações
dos danos a jusante)
 Falhas no planejamento das ações de resposta, como na avaliação da
vulnerabilidade e exposição
 Falha nos sistemas de comunicação, alerta e aviso
 Falta de mapas de zoneamento de risco para planejamento e ordenamento do
uso e ocupação do solo
 Deficiência na manutenção do estado de prontidão

3.2.7- Riscos de ruptura de barragens em cascata

São aqueles causados pela possibilidade de ruptura de uma barragem, causando


uma onda de cheia e transbordamento de barragens existentes a jusante, podendo
levá-las à ruptura.

Quando existem várias barragens em um mesmo curso d’água, é necessário que


cada empreendedor trate adequadamente os riscos impostos pelas barragens de
sua propriedade, para não impor riscos adicionais às outras barragens na cascata. A
onda de cheia causada por uma ruptura é, na grande maioria dos casos, maior do
que as vazões de projeto dos orgãos extravasores da barragem imediatamente a
jusante, pois o volume do reservatório é liberado em um pequeno intervalo de
tempo. Assim, esta onda de cheia pode causar o transbordamento (“overtopping”) da
barragem a jusante e ameaçar a sua estabilidade.

Este risco dependerá principalmente de:


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Volume dos reservatórios e volumes armazenados pelo conjunto de barragens no


momento da ruptura, capacidade de defluência dos órgãos extravasores das
barragens a jusante, amortecimento da cheia de ruptura ao longo do vale e no
reservatório, tempo de viagem da onda de cheia gerada pela ruptura, tempo de
identificação e notificação do evento, existência de ações previstas no PAE para
esta situação de risco.

3.3 – RISCOS LIGADOS A FATORES SÓCIO-ECONÔMICOS

São riscos externos ao sistema barragem e associados às consequências humanas


e econômicas no caso de ruptura.

Lembramos que, dentro o conceito de Risco (R=Probabilidade x Consequência),


estes fatores são usualmente analisados como consequências da ruptura hipotética
de uma barragem.

A determinação destas consequências diferencia-se de outros ramos de negócio


devido ao grande impacto que exerce fora dos limites da área onde está instalada.
Além dos prejuízos ao próprio negócio, os danos provocados se estendem por todo
o vale a jusante onde está instalado, o que torna complexa a mensuração e agrava
substancialmente o risco percebido. (Dias, 2010).

Nos estudos de riscos associados a barragens, geralmente são considerados os


seguintes três grandes grupos de consequências:

 Consequências para a Segurança Pública: Mortes, lesões e doenças;


 Consequências para o Meio Ambiente: Perda de espécies e perda de habitat
 Consequências Econômicas:
Perda da barragem (custo de reconstrução e perda de geração)
Danos à propriedade (edificações, indústria, comércio e agricultura);

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Danos à infraestrutura (transporte terrestre, navegação, suprimento de


energia, água e esgoto);

De maneira geral, as consequências são mais altas, quanto mais próximas


estiverem às ocupações humanas a jusante da barragem em questão, ou seja, o
número de perda de vidas esperado é tanto maior quanto menor for o tempo para a
retirada da população exposta ao risco das planícies de inundação. Segundo Dias
(2010), populações em risco (PAR) que dispõem de menos quinze minutos de alerta
até a chegada de uma onda de cheia sofrem danos severos; quando o tempo fica
entre quinze e noventa minutos, o número de perda de vidas (LOL) se reduz
estatisticamente de maneira não linear; e quando o tempo de alerta é superior a
noventa minutos a taxa de auto salvamento é próxima de 100%.

Estes mesmos fatores, que são tratados como consequências de uma ruptura,
também podem ser vistos como riscos ao sistema vale-barragem, uma vez que
podem apresentar variações no tempo após a construção da barragem, fora do
controle dos empreendedores:

 Aumento da população no vale a jusante


 Ocupação indevida de áreas da planície de inundação ao longo do curso do
rio a jusante da barragem.
 Aumento da infraestrutura existente a jusante (vias de acesso, instalações
residenciais, agrícolas e industriais) devido ao crescimento econômico,
crescimento populacional, crescimento de áreas urbanas e industriais.

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4. GESTÃO DE RISCOS EM BARRAGENS

Agora que conhecemos as principais fontes de riscos para uma barragem, vejamos
como gerenciá-las dentro de processo de operação de barragens.

Neste contexto, a análise de risco pode ser considerada um processo sistemático


composto pelas seguintes etapas:

Figura 9 - Etapas do processo de gestão de riscos em barragens

Processo de determinação do que pode dar


IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS errado, porque e como e quais as consequências.
MONITORAMENTO E CONTROLE

Processo de quantificação da probabilidade de


ANÁLISE DOS RISCOS ocorrência e gravidade das consequências.

Processo de exame e julgamento do significado


AVALIAÇÃO DOS RISCOS dos riscos

Processo decisório de como tratar os riscos


RESPOSTA AO RISCOS identificados

Estabelecimento de plano de ação para tratar os


PLANOS DE AÇÃO EMERGENCIAL riscos não eliminados

Fonte: Modificado Bowles, 2001 apud Perini, 2009.

No meio técnico de barragens, podemos verificar que as três primeiras etapas são,
muitas vezes, denominadas de Análise de Risco em Barragens, como mostrado
na definição a seguir:

“Por análise de riscos entende-se o conjunto de procedimentos referentes à


identificação dos acontecimentos indesejáveis, que conduzem a
materialização dos riscos, à análise dos mecanismos que desencadeiam
esses acontecimentos e à determinação das respostas das estruturas e das
respectivas consequências (estimativa da extensão, da amplitude e da
probabilidade da ocorrência de perdas).” (Pinto, 2008).

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Neste treinamento também consideraremos estes três itens que tornam possível o
exame da categorização do grau de risco de uma barragem conforme a Lei 12.334 e
suas regulamentações, e a estimativa qualitativa da probabilidade de ruptura e suas
consequências.

Na fase de operação, os riscos são identificados através das inspeções visuais e


análise dos dados da instrumentação, informações estas analisadas nas Inspeções
Regulares e nas Revisões da Segurança de Barragens, objeto de estudo anterior.
Depois de identificados os riscos, iniciamos o processo de quantificação da
probabilidade de ocorrência do evento indesejado e da gravidade das
consequências.

Uma análise de riscos pode ser realizada de forma qualitativa, quantitativa, ou como
variações destas. Segundo Perini (2009), tal escolha dependerá do detalhamento
desejado, dos tipos de risco estudados, do propósito da análise e, principalmente,
das informações, dados e recursos disponíveis. Na análise quantitativa as
probabilidades e consequências são descritas por palavras. Na semiquantitativa,
associamos valores numéricos a essas descrições. Já nas análises quantitativas, as
quantificações são numéricas.

Os métodos quantitativos não devem ser tomados como mais corretos ou


adequados. A análise qualitativa pode ser suficiente para alguns tipos de decisão e,
muitas vezes, a única possível, seja por falta de informações numéricas sobre
determinado modo de falha, seja por insuficiência de recursos e tempo. Por outro
lado, a qualidade das análises quantitativas depende da precisão e qualidade dos
valores numéricos e modelo de análise adotado.

Os métodos de índices e matrizes de riscos têm sido os mais utilizados nas análises
de risco de barragens. A estes, somam-se algumas metodologias trazidas da
engenharia mecânica que também têm tido aceitação na avaliação da probabilidade
na análise do risco de barragens: Análise de Efeitos e Modos de Falha (FMEA),
Análise de Árvore de Eventos (ETA) e Análise de Árvore de Falhas (FTA).

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Análise de Efeitos e Modos de Falha (FMEA) é uma forma de análise de


confiabilidade (reliability) usada para mapear as consequências de eventos
específicos que podem ocorrer durante a operação de qualquer sistema de
engenharia e usa essas informações para identificar e priorizar ações necessárias.

FMEA é uma técnica desenvolvida originalmente para projetos, que encontrou


aplicações na análise do potencial de falha de sistemas existentes. Seu uso não fica
restrito a sistemas de engenharia e já vem sendo aplicado em diversas áreas de
atividades sociais, sendo a saúde um exemplo.

As técnicas do FMEA são estruturadas num fluxograma lógico que permite a


operadores e especialistas usarem seus conhecimentos e informações de maneira
sistemática para compreender os riscos dos sistemas. Os principais benefícios da
técnica são a transparência e facilidade de auditoria.

Figura 10 – Análise de Efeitos e Modos de Falha (FMEA)

Fonte; Adaptado de ANCOLD (2003).


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Análise por Árvore de Eventos (ETA) é uma das técnicas usadas por engenheiros para
conduzir análises de segurança ou confiabilidade de barragens.

O método é indutivo, procura estabelecer relações entre eventos, a partir de um evento


iniciador. Ele foi desenvolvido no início da década de 1970 em apoio à implementação de
análises de riscos em centrais nucleares. Atualmente, é utilizado nas mais diversas áreas
técnico-científicas (Ladeira, 2007).

ETA é um método lógico, qualitativo ou quantitativo, usado para identificar as possíveis


saídas e, se necessário, suas probabilidades dada à ocorrência de um evento inicial (figura
11). Trata-se de uma análise indutiva, na qual as questões básicas são conduzidas para
perguntas do tipo 'o acontece se...'. Por exemplo, 'o que acontece se tiver início um
processo de retro erosão numa barragem de terra?'

Figura 11 – Árvore de Eventos (ETA)

Fonte: Modificado de Silveira e Machado (2005) apud Ladeira (2007).

Análise da Árvore de Falha (FTA) é um método de análise de sistemas pelo qual condições
e fatores que podem contribuir para um evento indesejado específico são identificados de
maneira dedutível, organizados de forma lógica e representados graficamente. Diferencia-se
da ETA, que é uma metodologia indutiva, ou seja, o analista conduz os eventos para uma
ocorrência indesejada.

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O componente principal da FTA é a árvore de falhas, uma construção gráfica que apresenta
como as interações lógicas entre os elementos de um sistema que falha por inteiro,
parcialmente ou em combinação pode contribuir para uma ocorrência indesejada, como a
falha do sistema.

Segundo Hartford (2004), FTA foi desenvolvida em 1961 por H. A Watson da Bell Telephone
Laboratories. Watson e sua equipe da Bell Labs foram motivadas pela necessidade de
avaliar a confiabilidade de sistemas de controle de sistemas de lançamento de mísseis.
Posteriormente, o método foi modificado pela Boeing por meio do uso do computador. A
técnica utilizada tem fundamentação teórica bem desenvolvida e têm sido aplicados
extensivamente na avaliação de segurança e confiabilidade de sistemas como base de
mísseis, processos químicos, usinas nucleares, barragens, sistemas de controle e
computadores.
Figura 12 – Árvore de Falhas (FTA)

Sentido de Leitura

Fonte: Traduzido de ANCOLD (2003).

As análises quantitativas de riscos por métodos probabilísticos são bastante


complexas, pois envolvem a análise das probabilidades em três esferas:

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 A existência de incertezas externas e internas que possam ser o evento


iniciador para um determinado modo de falha.
 A existência de fragilidades internas na resposta a este evento iniciador
 A avaliação probabilística das consequências no vale à jusante

Figura 13 – Modelagem probabilística de riscos em barragens


ÁRVORE LÓGICA
(Estados pré-existentes ÁRVORE DE EVENTOS
e/ou incertezas) (Modelo de resposta
da barragem)

ÁRVORE DE
CONSEQUÊNCIAS
β
α

Evento iniciador ou Gatilho

Fonte: Adaptado de Hartford e Baecher, 2004.

Dada à relativa complexidade dos métodos de análise quantitativa de riscos, os


métodos mais usuais de análise de risco qualitativas ou semi-quantitativas são os
métodos de índices, associados ou não a matrizes de riscos. Têm sido
utilizados na análise de risco de um portfólio de barragens, assumindo diferentes
formas não padronizadas, podendo ser citados como exemplos (Pimenta, 2011):

 Risk Based Profiling System (USBR, 2001)


 The global risk index (ICOLD, 1982)
 Lafitte index (Lafitte, 1996).

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Os riscos são avaliados de forma simplificada, utilizando índices, criados


especificamente para cada necessidade. O “Global Risk Index”, por exemplo, utiliza
três índices parciais:
 Índice externo e ambiental (sismicidade, instabilidade de taludes no
reservatório, cheias superiores a de projeto, operação do reservatório e ações
ambientais agressivas)
 Índice de confiabilidade (dimensionamento estrutural, fundações, capacidade
de descarga e manutenção)
 Índice de consequências humanas e econômicas no caso de ruptura
(capacidade de armazenamento do reservatório e instalações a jusante)

Figura 14 – Tabela de Índices do GRI

Fonte: ICOLD, 1995

Este método, por sua simplicidade de utilização e por permitir uma visão macro dos
riscos associados a um portfólio de barragens, é o proposto e que vem sendo
regulamentado para atendimento à Lei 12.334/2010, que estabelece a Política
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Nacional de Segurança de Barragens. Como este método é particularizado para


aplicações específicas, passaremos a seguir a estuda-lo já dentro do contexto da Lei
e respectiva regulamentação.

Podemos citar ainda outra metodologia qualitativa de análise de risco, conhecida


pela sigla LCI, de Localização, causa e indicadores de falha. Nesta metodologia o
responsável pela inspeção ou pela análise de risco determina, para cada anomalia
apontada, sua localização, a causa provável e qual a importância do elemento
afetado para a segurança da estrutura, a probabilidade dele realmente falhar e a
confiabilidade do meio de detecção da anomalia (Figura 15). Então, o índice não
fornece uma informação quantitativa, mas aponta de maneira qualitativa a
importância da anomalia para o siste, como também subsidia a tomada de decisão.

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Figura 15 – Tabela do LCI

Fonte: Risk and Reservoirs in the UK. Mark Morris, Henry Hewlett2 Craig Elliott

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5. GESTÃO DE RISCOS EM BARRAGENS SEGUNDO A LEI


12.334/2010

Segundo a lei 12.331/2010, a gestão do risco de barragens em âmbito nacional será


conduzida de acordo com a Política Nacional de Segurança de Barragens (artigo 6º)
e, especificamente para cada barragem, através do Plano de Segurança da
Barragem (artigo 8º). Estes dois artigos são apresentados a seguir:

Art. 6o São instrumentos da Política Nacional de Segurança de Barragens:


I - o sistema de classificação de barragens por categoria de risco e por
dano potencial associado;
II - o Plano de Segurança de Barragem;
III - o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens
(SNISB);
IV - o Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente (Sinima);
V - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa
Ambiental;
VI - o Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou
Utilizadoras de Recursos Ambientais;
VII - o Relatório de Segurança de Barragens.

Art. 8º O Plano de Segurança da Barragem deve compreender, no mínimo, as


seguintes informações:
I – identificação do empreendedor;
II – dados técnicos referentes à implantação do empreendimento, inclusive,
no caso de empreendimentos construídos após a promulgação desta Lei, do
projeto como construído, bem como aqueles necessários para a operação e
manutenção da barragem;
III – estrutura organizacional e qualificação técnica dos profissionais da
equipe de segurança da barragem;

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IV – manuais de procedimentos dos roteiros de inspeções de segurança e de


monitoramento e relatórios de segurança da barragem;
V – regra operacional dos dispositivos de descarga da barragem;
VI – indicação da área do entorno das instalações e seus respectivos
acessos, a serem resguardados de quaisquer usos ou ocupações
permanentes, exceto aqueles indispensáveis à manutenção e à operação da
barragem;
VII – Plano de Ação de Emergência – PAE, quando exigido;
VIII – relatórios das inspeções de segurança;
IX – revisões periódicas de segurança.

Como podemos observar, os itens necessários uma gestão adequada de riscos está
contemplada no dispositivo legal, em especial na fase de operação. Apesar de não
citados explicitamente, o projeto, construção e manutenção adequados estão
incluídos nas Revisões de Segurança, tornando completo o conjunto de elementos
necessários:

Figura 16 – Elementos para gestão de riscos em barragens segundo a Lei 12.334/2010.


• Dados técnicos referentes à implantação do
IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS empreendimento
• Manuais de procedimentos dos roteiros de inspeções de

• Relatórios das inspeções de segurança e Revisões


periódicas de segurança
MONITORAMENTO E CONTROLE

• Sistema de classificação de barragens por categoria


ANÁLISE DOS RISCOS de risco e por dano potencial associado

• Estrutura organizacional e qualificação técnica dos


segurança e de monitoramento

AVALIAÇÃO DOS RISCOS profissionais da equipe de segurança da barragem

• Regra operacional dos dispositivos de descarga


RESPOSTA AO RISCOS
• Indicação da área do entorno das instalações e seus
respectivos acessos
• Relatórios das inspeções de segurança e Revisões
periódicas de segurança

PLANOS DE AÇÃO EMERGENCIAL • Plano de Ação de Emergência – PAE, quando exigido

Fonte: Nota do autor.

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6 AVALIAÇÃO DE RISCOS EM BARRAGENS SEGUNDO A LEI


12.334/2010

A classificação de barragens segundo o risco tem como finalidades principais:


 Servir como ferramenta de análise preliminar das condições de segurança da
barragem: a análise é capaz de identificar as características e condições da
barragem que contribuem para sua vulnerabilidade;
 Identificar informações adicionais necessárias para reduzir as incertezas;
 Possibilitar o estabelecimento das periodicidades de monitoramento das
estruturas através das inspeções regulares e revisões de segurança.
 Avaliar as opções de redução de risco.
 Comunicar o risco: a quantificação do risco informa aos tomadores de decisão
a gravidade do risco e suas potenciais consequências;
 Servir como motivador para a implementação de ações de segurança de
barragens;
 Apoiar na alocação de recursos, pois indica as prioridades de acordo com a
classificação relativa do risco.

A Lei 12.334/2010 determina a classificação das barragens no artigo 7º, a seguir:

Seção I – Da Classificação
Art. 7º As barragens serão classificadas pelos agentes fiscalizadores, por categoria
de risco, por dano potencial associado e pelo seu volume com base em critérios
gerais estabelecidos pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

§ 1º A classificação por categoria de risco em alto, médio ou baixo será feita


em função das características técnicas, do estado de conservação do
empreendimento e do atendimento do plano de segurança de barragem.
§ 2º A classificação por categoria de dano potencial associado à barragem em
alto, médio ou baixo será feita em função do potencial de perdas de vidas

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humanas e dos impactos econômicos, sociais e ambientais decorrentes da


ruptura da barragem.

Podemos observar que o texto da Lei de certa forma conduz à utilização do método
de análise de risco por índices ou matrizes de classificação, visto por nós
anteriormente. Os índices a serem utilizados para atendimento à Lei seriam:

Tabela 2: Critérios para classificação de barragens segundo a Lei 12.334/2010

Índices principais Índices

CT Características Técnicas
Categoria de risco EC Estado de Conservação
PS Atendimento ao Plano de Segurança
Potencial de perdas de vidas humanas
Categoria de dano potencial
Impactos econômicos, sociais e ambientais
associado DPA
decorrentes da ruptura
Volume do reservatório Volume do reservatório

Estes critérios foram regulamentados pelo CNRH por meio da Resolução nº 143, de
10 de julho de 2012, que “Estabelece os critérios gerais de classificação de
barragens por categoria de risco, dano potencial associado e pelo seu volume em
atendimento ao art. 7º da Lei 12.334, de 20 de setembro de 2010”.

Esta regulamentação confere operacionalidade a determinados dispositivos da Lei


de Segurança de Barragens, tornando efetiva a classificação das barragens de
acordo com os três critérios definidos.

Para o atendimento ao parágrafo 1º do art.7º, foram estabelecidas as Matrizes de


Características Técnicas, Estado de Conservação e Atendimento ao Plano de
Segurança de Barragens. Para o atendimento ao parágrafo 2º do mesmo artigo, foi
estabelecida a Matriz de Dano Potencial Associado.

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Retomando o conceito básico de risco:


Risco = Probabilidade x Consequência

Neste caso, os índices CT, EC e OS teriam a função de quantificar a probabilidade


de falha da barragem (observa-se a utilização de certa forma errônea do termo
Categoria de Risco), ou seja:

Risco = Categoria de risco x Categoria de dano potencial associado


Risco = (CT + EC + PS) x DPA

Concluímos que a proposta de classificação proposta pela Lei e regulamentada pelo


CNRH é uma ferramenta de análise de riscos simples, mas que permite uma visão
panorâmica da segurança das barragens brasileiras, abrindo o caminho para
decisões de estudos mais aprofundados nesta área.

Passaremos agora a analisar cada índice incluído nas Matrizes de Classificação de


Barragens regulamentadas pelo CNRH, dando uma visão crítica dos fatores
definidos na matriz e apresentando uma proposta de como avaliá-los, de forma a
permitir a análise de riscos de uma barragem utilizando esta ferramenta.

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7. CATEGORIA DE RISCO
Os fatores relacionados para determinação da Categoria de Risco das barragens
são aqueles que buscam estimar por meio de aspectos técnicos e organizacionais a
probabilidade de ruptura da estrutura, separados em Características Técnicas,
Estado de Conservação e Atendimento ao Plano de Segurança de Barragens.

7.1. Características Técnicas

Iniciaremos pelo índice CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS, cujo objetivo seria


identificar características das barragens que determinariam, a priori, estruturas mais
ou menos seguras. Em outras palavras, independentemente dos riscos associados
ao projeto, construção ou manutenção das estruturas, uma barragem apresentaria
determinado potencial de risco dadas as suas características técnicas básicas.

Tabela 3 - Matriz de classificação quanto à categoria de risco (acumulação de água) –


CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS - CT
Tipo de Barragem
Altura Comprimento quanto ao material de Tipo de Fundação Idade da Barragem Vazão de Projeto
(a) (b) construção (d) (e) (f)
(c)

Decamilenar ou CMP
Comprimento Concreto
Altura ≤ 15m Rocha sã entre 30 e 50 anos (Cheia Máxima Provável)
≤ 200m Convencional
(0) (1) (1) - TR = 10.000 anos
(2) (1)
(3)

Alvenaria de Pedra /
Comprimento Concreto Ciclópico / Rocha alterada dura Milenar - TR = 1.000
15m< Altura< 30m entre 10 e 30 anos
> 200m Concreto Rolado - com tratamento anos
(1) (2)
(3) CCR (2) (5)
(2)
Rocha alterada
Terra Homogenea sem tratamento /
30m≤ Altura≤ 60m /Enrocamento / Terra Rocha alterada entre 5 e 10 anos TR = 500 anos
-
(2) Enrocamento fraturada com (3) (8)
(3) tratamento
(3)

Rocha alterada < 5 anos ou > 50 TR < 500 anos ou


Altura > 60m mole / Saprolito / anos ou sem Desconhecida / Estudo
- -
(3) Solo compacto informação não confiavel
(4) (4) (10)

Solo residual /
- - - aluvião - -
(5)

CT = ∑ (a até f)

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Vamos analisar detalhadamente cada um dos fatores da matriz de Características


Técnicas, que determinariam um “potencial de risco” associado à determinada
barragem.

Altura

Os gráficos a seguir, extraídos do Boletim 99 (ICOLD, 1995), mostram o número de


rupturas pela altura da barragem. Constatamos que ocorrem mais casos de rupturas
em barragens de pequena altura. Possivelmente isto se explicaria pela baixa
percepção do risco em estruturas menores, levando ao projeto e construção de
qualidade inferior e ao monitoramento insuficiente na fase de operação. Entretanto,
comparando o percentual de barragens existentes por altura, verificamos que o
percentual de ruptura praticamente independe deste fator.

Figura 17- Correlações entre número de barragens rompidas até 1988 e sua altura

Fonte: ICOLD (1995).

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No caso da Matriz, quanto maior a altura, maior a pontuação, ou seja, uma estrutura
maior implicaria num maior potencial de risco. Este raciocínio é aceitável,
considerando o potencial de dano a jusante é maior no caso de barragens mais
altas.

Como avaliar: A altura é geralmente definida como a diferença entre a elevação


nominal da crista e a elevação do ponto mais baixo da fundação, mesmo que este
não esteja sob a crista, não sendo considerados muros, mesmo quando utilizados
como parte do freeboard (Critério do Registro Mundial de Barragens, do ICOLD).
Quando não existirem informações de projeto e construção da barragem, a altura
poderá ser calculada como a diferença entre a cota da crista e a cota mais baixa da
linha da barragem, cota mais baixa da fundação medida no local.

Comprimento
Este tipo de associação não é usual nos estudos estatísticos de ruptura de
barragens. Entretanto, dentro da mesma lógica anterior, barragens mais longas
estariam sujeitas a um potencial de risco maior pela sua extensão permitir uma
maior variabilidade nos materiais de fundação e de construção.
Como avaliar: Considerar a extensão total do barramento, de ombreira a ombreira
sobre a crista da barragem. No caso um barramento único (contínuo) constituído por
mais de um tipo de barragem (por exemplo, barragem de concreto no leito do rio e
barragens de terra nas ombreiras), considerar a soma dos comprimentos, ou seja, o
comprimento total do barramento.

7.2 Tipo da Barragem quanto ao Material de Construção

Este é um fator que sempre é analisado nos estudos estatísticos de rupturas de


barragens. O maior número de casos de ruptura ocorre em barragens de terra e
enrocamento, levando a uma falsa percepção de que este tipo de barragens seria
muito mais “insegura” que barragens de concreto.

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Entretanto, raciocinando em termos de percentual de barragens existentes de cada


tipo e incluindo o fator altura nesta análise, observamos que esta não é uma verdade
absoluta. Estatisticamente, o percentual de falhas em barragens de terra e
enrocamento é realmente maior, mas esta diferença é em parte compensada pela
quantidade e altura das estruturas, como mostrado nas figuras a seguir:

Figura 18- Correlações entre número de barragens rompidas até 1988 e tipo de material de
construção

Fonte: Segundo o ICOLD (1995).

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Como avaliar: Como, no caso de uma ruptura, esta ocorrerá no ponto mais frágil da
barragem, considerar a combinação mais desfavorável do Tipo de barragem x
Altura. Assim, ao preencher a planilha, considerar a altura da barragem considerada.

7.3 Tipo de Fundação

Todos os estudos de causas de ruptura em barragens mostram a importância do tipo


de fundação e seu tratamento para a segurança. No caso de barragens de concreto,
a causa principal de ruptura está associada a problemas de fundação, com destaque
para resistência ao cisalhamento e erosão interna. No caso de barragens de
terra/enrocamento, a fundação também se destaca como causa de rupturas, embora
os maiores “vilões” sejam o galgamento (overtopping) e erosão interna.
Figura 19- Causas de ruptura de barragens

Fonte: Adaptado de ICOLD, 1995.

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Logo, concluimos que este fator é adequado, pois podemos correlacionar o tipo de
fundação de uma barragem com a sua probabilidade de ruptura.

Como avaliar: Dada a importância deste fator e considerando que a ruptura de uma
barragem se dará sempre no ponto de maior fragilidade, deverá ser considerado o
tipo de fundação mais desfavorável.

7.4 Idade da Barragem

Este é um fator bastante interessante, no sentido que as estatísticas indicam


claramente que o maior risco existe para as barragens com até 10 anos de idade.
Entretanto, as barragens com idade inferior a 5 anos ou superior a 50 anos são as
pontuadas mais desfavoravelmente na matriz de Características Técnicas.

Figura 20- Idade de ruptura de barragens

Fonte:Adaptado de ICOLD, 1995.

O grande número de rupturas nos primeiros anos de operação pode ser explicado
pelo fato do carregamento da barragem e suas fundações ocorrer durante o primeiro
enchimento do reservatório. Este carregamento poderá ser o gatilho para um modo
de falha associado a eventuais deficiências de projeto e construção. Adicionalmente,
as equipes de monitoramento muitas vezes ainda não detêm todo o conhecimento
necessário sobre a barragem e podem subestimar a necessidade de uma ação
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emergencial.

De forma esquemática, a figura a seguir mostra a existência de estados e/ou


incertezas intrínsecos ao sistema barragem/fundação, dados por limitações no
conhecimento, projeto e construção. Um evento, como o primeiro enchimento do
reservatório, poderá se o gatilho para o desenvolvimento de um modo de falha que
poderá levar à ruptura da barragem.

Figura 21- Árvore lógica de estados que condicionam a árvore de eventos, mostrando o
primeiro enchimento do reservatório como um possível evento iniciador ou gatilho

Fonte: Modificado de Hartford e Baecher, 2004.

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Como avaliar: Contar a idade da barragem a partir do início do enchimento do


reservatório ou, caso esta informação seja inexistente, do início de operação.

7.5 Vazão de Projeto

Como já discutido amplamente nos fatores de risco, os riscos hidrológicos são de


grande relevância, especialmente para as barragens de terra, incapazes de suportar
galgamento. A partir das estatísticas do ICOLD sobre ruptura de barragens Ramos e
Melo, 2006 apud Colle, 2008, o mais antigo citado pelo mais recente conclui que a
insuficiente capacidade de vazão ou o mau funcionamento dos órgãos de descarga
de cheias representam cerca de 42% das causas de rupturas de barragens. No caso
das barragens de aterro com altura inferior a 15 metros esta proporção sobe para
77%.

Daí a importância da inclusão deste índice na matriz de classificação, em especial


para as barragens de terra e/ou enrocamento, onde o galgamento se apresenta
como uma das principais causas de ruptura.

Figura 22- Causas de ruptura de barragens de terra/enrocamento

Fonte: Adaptado de ICOLD, 1995

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Como avaliar: Considerar a vazão de projeto dos órgãos extravasores, incluindo a


capacidade do vertedouro principal, descarregadores de fundo e vertedouros
auxiliares, quando existentes. A capacidade de amortecimento da cheia de projeto
poderá ser considerada.

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8 ESTADO DE CONSERVAÇÃO

Este índice tem por objetivo mensurar a vulnerabilidade (ou confiabilidade) das
estruturas, ou seja, avaliar a probabilidade de ruptura de uma barragem com base
nas inspeções visuais, dados da instrumentação e avaliação geral do
comportamento das estruturas.

A maioria dos estudos de risco publicada sobre segurança de barragens foca em


três categorias de possíveis modos de falha Lafitte, 1993 apud HARTFORD, 2004:

 Falha hidráulica devido a níveis anormais:


Inclui galgamento e subsequente erosão do aterro da barragem,
tombamento de barragens tipo gravidade e deslizamento pela
fundação. Falhas hidráulicas incluem, ainda, danos a comportas de
vertedouros ou erros de operação associados a comportas e
vertedouros.
 Movimentação de Massa:
Causada por carregamentos extraordinários, propriedades
inadequadas de materiais ou falhas geológicas não detectadas. Inclui
limite de estabilidade dos aterros de barragem, liquefação dos solos de
fundação, percolação ou instabilidade de fundações, deslizamento da
face de montante devido a rebaixamento rápido.
 Deterioração e erosão interna:
Inclui desenvolvimento de caminhos preferenciais no aterro e “piping”
(retroerosão ou erosão interna) no núcleo da barragem e erosão de
solos de fundação ou juntas.

Estes principais modos de falha são comprovados estatisticamente, como verificado


por Ramos e Melo, 2006 apud COLLE 2008 analisando as estatísticas do ICOLD
sobre ruptura de barragens:

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 cerca de 42% do número total de rupturas de barragens é devida à


insuficiente capacidade de vazão ou o mau funcionamento dos órgãos de
descarga de cheias
 cerca de 23% das rupturas estão relacionadas com as fundações (percolação,
erosão interna), com as erosões localizadas e com o deficiente
comportamento estrutural.

Assim, os principais modos de falha justificam a escolha dos fatores definidos na


matriz regulamentada pelo CNRH, apresentada na Tabela 4:

Tabela 4 - Matriz de classificação quanto à categoria de risco (acumulação de água) –


ESTADO DE CONSERVAÇÃO - EC

Confiabilidade das Deformações e Deterioração dos


Confiabilidade das Estruturas Extravasoras Percolação Eclusa (*)
Estruturas de Adução Recalques Taludes / Paramentos
(g) (i) (m)
(h) (j) (l)

Estruturas civis e
Estruturas civis e eletromecânicas em Percolação
disposiivos
pleno funcionamento / totalmente
hidroeletromecanicos em
canais de aproximacao ou de restituicao controlada pelo Inexistente Inexistente Não possui eclusa
condicoes adequadas de
ou vertedouro (tipo soleira livre) sistema de (0) (0) (0)
manutencao e
desobstruidos drenagem
funcionamento
(0) (0)
(0)
Estruturas civis
comprometidas ou
Estruturas civis e eletromecânicas Umidade ou Falhas na proteção
Dispositivos
preparadas para a operação, mas sem surgência nas áreas dos taludes e
hidroeletromecanicos Existência de trincas Estruturas civis e
fontes de suprimento de energia de de jusante, paramentos,
com problemas e abatimentos de eletromecânicas
emergencia / paramentos, taludes presença de
identificados, com pequena extensão e bem mantidas e
canais ou vertedouro (tipo soleira livre) ou ombreiras arbustos de
reducao de capacidade impacto nulo funcionando
com erosões ou obstruções, porém sem estabilizada e/ou pequena extensão e
de aducao e com (1) (1)
riscos a estrutura vertente. monitorada impacto nulo.
medidas corretivas em
(4) (3) (1)
implantacao
(4)

Estruturas civis comprometidas ou Estruturas civis Erosões superficiais,


Estruturas civis
Dispositivos hidroeletromecanicos com comprometidas ou Umidade ou Trincas e ferragem exposta,
comprometidas ou
problemas identificados, com reducao de Dispositivos surgência nas áreas abatimentos de crescimento de
Dispositivos
capacidade de aducao e com medidas hidroeletromecanicos de jusante, impacto considerável vegetação
hidroeletromecanico
corretivas em implantacao / com problemas paramentos, taludes gerando generalizada,
s com problemas
canais ou vertedouro (tipo soleira livre) identificados, com ou ombreiras sem necessidade de gerando
identificados e com
com erosões e/ou parcialmente reducao de capacidade tratamento ou em estudos adicionais necessidade de
medidas corretivas
obstruídos, com risco de de aducao e sem fase de diagnóstico ou monitoramento. monitoramento ou
em implantacao
comprometimento da estrutura vertente. medidas corretivas (5) (5) atuação corretiva.
(2)
(7) (6) (5)

Depressões
Estruturas civis comprometidas ou
acentuadas nos Estruturas civis
Dispositivos hidroeletromecanicos com Surgência nas áreas Trincas, abatimentos
taludes, comprometidas ou
problemas identificados, com reducao de de jusante, taludes ou escorregamentos
escorregamentos, Dispositivos
capacidade de aducao e sem medidas ou ombreiras com expressivos, com
sulcos profundos de hidroeletromecanico
corretivas/ - carreamento de potencial de
erosão, com s com problemas
canais ou vertedouro (tipo soleira livre) material ou com comprometimento da
potencial de identificados e sem
obstruidos ou com estrutruras vazão crescente segurança
comprometimento da medidas corretivas
danificadas (8) (8)
segurança. (4)
(10)
(7)

EC = ∑ ( g até m )

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Concluímos que os fatores escolhidos para a avaliação do estado de conservação


da barragem são satisfatórios, com as seguintes considerações e ressalvas:

 Confiabilidade das estruturas extravasoras: fator que busca avaliar o risco


de ruptura por falha hidráulica, ou seja, pelo galgamento das estruturas. É de
grande importância, pois não adiantaria termos vertedouros bem
dimensionados se não estiverem em condições de operação quando
solicitados. Os principais problemas que podem ser encontrados são falhas
nos equipamentos eletromecânicos (incluindo manutenções deficientes,
avarias nos equipamentos ou sistemas de alimentação e de comando), falta
de energia para abertura de comportas, obstruções provocadas por materiais
transportados em períodos de cheia e erosões nas estruturas ou a jusante
que impeçam sua operação.

 Confiabilidade das estruturas de adução: fator que busca avaliar o risco de


ruptura de uma estrutura de adução, permitindo a liberação de volume
significativo do reservatório para jusante. Este fator é especialmente
importante quando não existem estruturas de controle de vazão a montante
de canais de adução e de condutos enterrados, implicando na impossibilidade
de fechar a entrada de água quando detectado qualquer problema.
Portanto, apesar de não explicitado na matriz, devemos atentar para a
existência de tubulações e galerias enterrados no corpo da barragem e o
posicionamento das estruturas de controle de vazão destes condutos (a
montante ou a jusante do corpo da barragem). A existência de um conduto
enterrado dificulta a compactação na sua proximidade, podendo criar um
caminho preferencial de percolação, além de um possível recalque do maciço
ou fundação poder causar a ruptura do próprio conduto.

 Percolação: este fator visa avaliar a possibilidade de ruptura por piping pelo
maciço ou fundação (risco de ruptura por erosão interna) ou por vazamentos
sem controle por juntas de construção ou entre blocos. A matriz apresenta, de
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forma explícita, apenas evidências visuais como umidade e surgências com


ou sem carreamento para avaliação de falhas por percolação. Entretanto,
indiretamente propõe a instrumentação de barragens como forma de
diagnóstico e acompanhamento de alterações nas poropressões e/ou nas
vazões percoladas, para análise da probabilidade de ocorrência deste modo
de falha.

 Deformações e recalques: este fator busca avaliar a existência de


problemas estruturais associados a deformações, tanto em estruturas de terra
quanto em concreto e avaliar o risco de ruptura por movimentação de massa.
No caso de barragens de terra, está incluída neste fator a avaliação de trincas
e deformações causadas por deslizamentos, por recalques do maciço ou
fundação, por deslocamentos diferenciais, dentre outros. No caso de
barragens de concreto, inclui-se neste fator a avaliação de deformações do
concreto por reações expansivas (reação álcali-agregado por exemplo) e a
avaliação de trincas estruturais causadas por esforços de tração, insuficiência
de armadura, recalques diferenciais, recalque de fundação, dentre outros.

 Deterioração de taludes/paramentos: este fator busca avaliar a


probabilidade de ruptura por erosão superficial de um talude ou deterioração
do concreto dos paramentos. Em barragens de terra, avalia a existência de
falha na proteção superficial de taludes, presença de vegetação sobre o
maciço e junto ao pé da barragem, que poderiam criar caminhos preferenciais
de percolação ou causar a obstrução de sistema de drenagem, a existência
de sulcos de erosão causados por águas pluviais, depressões causadas pela
movimentação ou degradação de blocos de enrocamento, depressões no
talude de montante causadas por ondas no reservatório. Em barragens de
concreto, avalia a existência de erosões no concreto, eventualmente com a
presença de ferragem exposta, trincas de retração.

 Eclusa: a existência de uma eclusa, por si só, não torna uma estrutura mais
ou menos segura. Eventuais problemas associados à existência de uma
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eclusa já poderiam ser avaliados pelos demais fatores existentes na matriz:


possibilidade de percolações indevidas no contato estrutura da
eclusa/barragem de terra e/ou enrocamento (já avaliado pelo fator
Percolação), recalques diferenciais entre as estruturas (já avaliado pelo fator
Deformações e recalques) etc. Entretanto, a matriz de classificação propõe
uma análise à parte desta estrutura, uma vez que sua ruptura também
poderia levar à liberação de vazão significativa para jusante.

Como avaliar: Utilizar a pontuação da matriz, a partir da inspeção de campo e


avaliação da gravidade das deteriorações observadas e das medidas de controle
que estão sendo tomadas para cada uma delas.
Os dados da instrumentação civil instalada deverão ser utilizados para avaliar os
valores absolutos, evolução e tendências dos níveis d’água, poropressões, vazões
percoladas, deformações, movimentos diferenciais, abertura/fechamento de juntas e
trincas. Estudos de tensão e deformação, de percolação e de estabilidade poderão
ser necessários para o diagnóstico da gravidade de determinado problema
identificado.
A nota máxima deverá ser dada quando a deterioração impactar diretamente a
segurança das estruturas, ou seja, quando o problema observado colocar em risco
sua estabilidade estrutural.

Podemos concluir que a análise de riscos utilizando a matriz de Estado de


Conservação é de certa forma simplista, pois não explicita a necessidade de
informações aprofundadas sobre o projeto e construção (critérios de projeto,
materiais empregados, técnicas construtivas, por exemplo). Entretanto, pode ser
considerada satisfatória devido à facilidade de utilização e por forçar uma reflexão
sobre os possíveis modos de falha de cada estrutura componente de uma barragem.

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9 ATENDIMENTO AO PLANO DE SEGURANÇA DE BARRAGENS

Este índice tem por objetivo avaliar a qualidade da gestão dos riscos associados à
barragem pelo empreendedor, utilizando seguintes fatores, apresentados na matriz
Plano de Segurança de Barragens:

Tabela 5 - Matriz de classificação quanto à categoria de risco (acumulação de água) –


PLANO DE SEGURANÇA DE BARRAGENS – PS
Estrutura organizacional e
Procedimentos de roteiros de Regra operacional dos Relatórios de inspeção
Existência de qualificação técnica dos
inspeções de segurança e de dispositivos de descarga de seguranca com
documentação de projeto profissionais da equipe de
monitoramento da barragem analise e interpretacao
(n) Segurança da Barragem
(p) (q) (r)
(o)

Possui estrutura
Possui e aplica
Projeto executivo e organizacional com técnico Sim ou Vertedouro Emite regularmente
procedimentos de
"como construído" responsável pela tipo soleira livre os relatórios
inspeção e monitoramento
(0) segurança da barragem (0) (0)
(0)
(0)

Possui técnico Possui e aplica apenas


Projeto executivo ou Emite os relatórios
responsável pela procedimentos de Não
"como construído" sem periodicidade
segurança da barragem inspeção (6)
(2) (3)
(4) (3)

Não possui estrutura


Possui e não aplica
Projeto Básico organizacional e Não emite os
procedimentos de
(4) responsável técnico pela - relatórios
inspeção e monitoramento
segurança da barragem (5)
(5)
(8)
Não possui e não aplica
Anteprojeto ou Projeto procedimentos para
conceitual - monitoramento e - -
(6) inspeções
(6)
Inexiste
documentação de
- - - -
projeto
(8)

PS = ∑ ( n até r )

Vamos conhecer e analisar como avaliar cada um destes fatores:


 Existência de documentação de projeto: a disponibilidade de informações
sobre projeto e construção é essencial para o entendimento do comportamento
das estruturas e para permitir análises e avaliações de segurança.

Como avaliar: Utilizar a pontuação da matriz. No caso de barragens antigas,


onde inexistem ou são desconhecidos os projetos, o empreendedor poderá fazer

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um levantamento cadastral das estruturas para obter: a geometria, informações


sobre as fundações e materiais de construção. O grau de detalhamento deste
levantamento depende da complexidade das estruturas, mas deve permitir a
análise de estabilidade global do barramento e a determinação da capacidade
dos órgãos extravasores. O conjunto destes estudos poderá ser considerado
como “projeto básico” (“as is”) para fins de pontuação, ou, no caso pouco
provável da obtenção de um volume substancial de informações, até mesmo um
“projeto como construído” (“as built”).

 Estrutura organizacional e qualificação técnica dos profissionais da equipe


de Segurança da Barragem: o fluxo de informações sobre a segurança da
barragem deve estar estruturado, para que o monitoramento contínuo das
estruturas seja assegurado e para que medidas corretivas, quando necessárias,
sejam tomadas em tempo hábil. É importante que as responsabilidades dos
diversos atores (leituristas, engenheiros responsáveis pelas inspeções regulares,
responsáveis pela análise da instrumentação, auditores e consultores externos,
proprietário) estejam bem definidas, bem como os fluxos de informação e
tomada de decisão.

Como avaliar: Utilizar a pontuação da matriz. A Lei 12.334/2010, no Artigo 17,


inciso V trata de manter serviço especializado em segurança de barragem e
entendemos que não exige que os técnicos responsáveis pela segurança da
barragem façam parte do quadro da empresa, mas sim que exista uma estrutura
que assegure a gestão dos riscos, com responsabilidades bem definidas.

 Procedimentos de roteiros de inspeções de segurança e de


monitoramento: estes procedimentos devem ser específicos para cada
barragem e englobam as atividades de manutenção preditiva, visando antecipar
possíveis riscos para o empreendimento.

Como avaliar: Deverá ser verificada a existência de procedimentos


documentados para os roteiros de inspeção e monitoramento da barragem

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(locais a serem inspecionados e itens a serem verificados). No caso de


barragens instrumentadas, deverão existir procedimentos documentados para
coleta dos dados da instrumentação. Deverá ser verificada a realização das
atividades conforme metodologia e periodicidades previstas nestes
procedimentos.

 Regra operacional dos dispositivos de descarga: define a regras de


operação das comportas, visando proteger o barramento de um possível
galgamento, sem agravar as condições de cheia a jusante.

Como avaliar: Utilizar a pontuação da matriz, que é binária e não deixa


margens para interpretações.

 Relatórios de inspeção de segurança com análise e interpretação:


documentos que consolidam as informações sobre a segurança da barragem,
avaliando de forma integrada os dados obtidos por meio das inspeções visuais e
dados da instrumentação instalada, quando pertinente.

Como avaliar: Utilizar a pontuação da matriz, avaliando se os relatórios vêm


sendo emitidos de acordo com a periodicidade prevista. Da forma como previsto
na matriz, não é avaliado o nível de aderência do conteúdo dos relatórios com a
regulamentação específica.

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10 CATEGORIA DE DANO POTENCIAL ASSOCIADO

Este índice busca quantificar as consequências causadas pela eventual ruptura da


barragem. A determinação dos danos decorrentes da ruptura de uma barragem é
normalmente feita por meio da simulação computacional do evento e da avaliação
de sua extensão e impactos no vale a jusante. Mesmo com tal ferramenta, a
determinação da consequência e a graduação de danos não é uma tarefa simples,
essencialmente no que se refere à perda de vidas humanas.

A Resolução CNRH nº 143, de 10 de julho de 2012, no art. 5º, define “os critérios
gerais a serem utilizados para a classificação quanto ao dano potencial associado
na área afetada”:
I- existência de população a jusante com potencial de perda de vidas
humanas;
II- existência de unidades habitacionais ou equipamentos urbanos ou
comunitários;
III- existência de infraestrutura ou serviços;
IV- existência de equipamentos de serviços públicos essenciais;
V- existência de áreas protegidas definidas em legislação;
VI- natureza dos rejeitos ou resíduos armazenados;
VII- volume.

Estes fatores são agrupados em uma matriz de classificação quanto ao dano


potencial associado (Tabela 6), similar à proposta pela COPAM (Minas Gerais), para
barragens de rejeito, através das Deliberações Normativas DN nº 62 de 17/12/2002
e DN nº 87 de 17/06/2005, considerando os seguintes fatores para fins de
classificação:
 Volume total do reservatório
 Potencial de perdas de vidas humanas
 Impacto ambiental
 Impacto socioeconômico

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Tabela 6 - Matriz de classificação quanto ao Dano Potencial Associado – DPA


(acumulação de água)
Volume Total do
Reservatório para
barragens de uso Potencial de perdas de vidas
Impacto ambiental Impacto sócio-econômico
múltiplo ou humanas
(u) (v)
aproveitamento (t)
energético
(s)
SIGNIFICATIVO
(quando a área afetada da
INEXISTENTE INEXISTENTE
barragem não representa área de
(Não existem pessoas (Quando não existem quaisquer
PEQUENO interesse ambiental, áreas
permanentes/residentes ou instalações e servicos de navegacao
< = 5hm³ protegidas em legislação
temporárias/transitando na área a na área afetada por acidente da
(1) específica ou encontra-se
jusante da barragem) barragem)
totalmente descaracterizada de
(0) (0)
suas condições naturais)
(3)
BAIXO
POUCO FREQUENTE MUITO SIGNIFICATIVO
(quando existe pequena
(Não existem pessoas ocupando (quando a área afetada da
MÉDIO concentração de instalações
permanentemente a área a jusante barragem apresenta interesse
5 a 75hm³ residenciais e comerciais, agrícolas,
da barragem, mas existe estrada ambiental relevante ou protegida
(2) industriais ou de infraestrutura na
vicinal de uso local. em legislação específica)
área afetada da barragem)
(4) (5)
(4)
FREQUENTE
ALTO
(Não existem pessoas ocupando
(quando existe grande concentração
permanentemente a área a jusante
de instalações residenciais e
da barragem, mas existe rodovia
GRANDE comerciais, agrícolas, industriais, de
municipal ou estadual ou federal ou
75 a 200hm³ - infraestrutura e servicos de lazer e
outro local e/ou empreendimento
(3) turismo na área afetada da barragem
de permanência eventual de
ou instalações portuárias ou servicos
pessoas que poderão ser
de navegacao)
atingidas.
(8)
(8)
EXISTENTE
(Existem pessoas ocupando
MUITO GRANDE
permanentemente a área a jusante
> 200hm³ - -
da barragem, portanto, vidas
(5)
humanas poderão ser atingidas.
(12)

DPA = ∑ (s até v)

10.1 Volume total do reservatório

Este fator não se refere diretamente às consequências advindas da ruptura


hipotética da barragem, mas corresponde a um potencial de dano. No entanto, como
as consequências estão associadas ao volume de água liberado para jusante numa
eventual ruptura e como não existe mapa de inundação elaborado para a maioria
das barragens brasileiras com a indicação das áreas alagadas nesta situação, a
inclusão deste fator pode ser considerada importante.

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Como avaliar: considerar o volume total no NA máximo normal. No caso de diques,


considerar o volume do reservatório acima da cota da fundação, que é o volume
possível de ser liberado no caso de ruptura desta estrutura.

10.2 Potencial de perda de vidas humanas

Pela sua relevância e dificuldade de mensuração quando da ocorrência de uma


catástrofe, o fator perda de vidas pode ser considerado o mais importante na análise
de consequência de uma ruptura.

O número de fatalidades decorrentes de uma ruptura é função, dentre outros fatores,


do número de pessoas que ocupam a planície de inundação, nível de preparação
das pessoas expostas ao evento e severidade da inundação.

Como itens determinantes da severidade da inundação, citamos:


 Altura máxima a ser atingida pelo nível d’água (H)
Almeida 1999 apud BALBI 2008 citando casos reais de inundação quase
estática nos países baixos, indica que para H>3,5m as pessoas atingidas em
geral não sobrevivem, enquanto que para H<2m, existe forte probabilidade de
sobrevivência (possibilidade de evacuação vertical).

 Tempos de chegada da frente da onda de cheia (importante nos tempos


de alerta e evacuação) e tempo de chegada da altura máxima de água (T)
Muitos trabalhos sobre o tema determinam parâmetros de estimativa de perda
de vidas com base na capacidade de auto salvamento das pessoas expostas
ao risco, se avisadas a tempo. Alguns estudos indicam que, quando o tempo
de alerta é superior a noventa minutos, a taxa de auto salvamento é próxima
de 100%, como mostrado na tabela 7.
Com base nestas informações, existem várias propostas de estimativa do
número de vítimas esperado em função do tempo de alerta, como a proposta
do Bureau of Reclamation.

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Tabela 7 – Casos de Ruptura de Barragens


Localização Ano População Perda de Horas de
em Risco Vidas Alerta
Baldwin Hills, CA 1963 16500 5 1,5
Bearwallow, NC 1976 4 4 0
Big Thompson, CO 1976 2500 139 <1,0
Black Hills, SD 1972 17000 245 <1,0
Buffalo Creek, WV 1972 4000 125 <1,0
Bushy Hill Pond, CT 1982 400 0 2,3
Denver, CO 1965 3000 1 3
DMAD, UT 1983 500 1 1,12
Kansas City, Ks 1977 1000 25 <1,0
Kansas River, Ks 1951 58000 11 >1,5
Kelly Barnes, GA 1977 250 39 <0,5
Laurel Run, PA 1977 150 40 0
Lawn Lake, CO 1982 5000 3 <1,5
Lee Lake, MA 1968 80 2 <1,0
Little Dear Creek, UT 1963 50 1 <1,0
Malpasset, França 1959 6000 421 0
Mohegan Park, CT 1963 500 6 0
Swift and Two Medicine Dams, MT 1964 250 27 <1,5
Northern, NJ 1984 25000 2 >2
Prospect Dam, CO 1980 100 0 >5
Teton, ID 1976 2000 7 <1,5
Texas Hill Country 1978 1500 25 <1,5
Vega DeTera, Espanha 1959 500 150 0

Fonte: USBR, 1999 apud Balbi, 2008.

 Risco hidrodinâmico
Alguns autores consideram que os principais parâmetros para classificação
dos danos provocados por uma cheia induzida por reservatórios são a
profundidade da cheia (H) e a sua velocidade de propagação (V). A ameaça
provocada por esses fatores combinados corresponde ao Risco
Hidrodinâmico, dado em m2/s, cujas consequências são apresentadas na
tabela 8.
Risco Hidrodinâmico = H x V

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Tabela 8 – Definição das consequências do risco hidrodinâmico

Fonte: Synaven et al., 2000 apud Balbi, 2008.


Como podemos ver, a análise do potencial de perdas de vida decorrentes da ruptura
de uma barragem é um exercício bastante complexo. O estudo deve ser feito com
base em mapas de inundação desenvolvidos num contexto de incertezas. A
definição do tempo de chegada da onda de cheia, por exemplo, é função do tipo de
ruptura e formação da brecha, potencial gravitacional da água acumulada, volume
do reservatório, topografia e características do vale a jusante. Além disso, vimos que
a estimativa do número de perdas de vida demanda estudos e análises que vão
além da elaboração do mapa de inundação.

No entanto, uma primeira avaliação deste fator muitas vezes necessitará ser feita
sem a existência do mapa de inundação. Neste caso, BALBI (2008) relata que
algumas legislações permitem estudos de ruptura simplificados para a avaliação
preliminar de danos a jusante e cita algumas sugestões das áreas a jusante a serem
avaliadas. Estas simplificações devem ser empregadas com cautela, pois
desconsideram todos os pontos discutidos anteriormente.

Tabela 9 – Alguns exemplos de distâncias a serem avaliadas a jusante

Finlândia 50km a jusante


Graham 30km a jusante, distância a partir da qual não haveria
(Bureau of Reclamation, 1999) mais riscos a vidas humanas
NRM - Natural Disaster Para reservatórios com V>0,2hm3, considerar uma
Organization distância de propagação maior que 5km, para V>2hm3,
3
(Australia, 1992) 20km e para V> 20hm , igual a 60km.
Adicionar a profundidade do reservatório à cheia de
Québec
projeto com recorrência de 100 anos, até um ponto de
(Dam Safety Act, 2007)
atenuação.

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Como avaliar: A delineação da área que seria afetada pela ruptura de uma
barragem e a identificação de suas características para fins de avaliação do
potencial de perdas de vidas humanas deve ser baseada nos estudos de ruptura.
No caso de inexistência de estudo de ruptura e mapa de inundação para a barragem
em avaliação, verificar em imagens aéreas a existência de habitações permanentes,
rodovia municipal, estadual ou federal ou outro local e/ou empreendimento de
permanência eventual de pessoas até o ponto de atenuação ou restrição, como a
confluência com um grande lago, rio ou outra barragem.

10.3 Impacto ambiental

Este fator busca avaliar a área afetada pela ruptura hipotética de uma barragem sob
o ponto de vista de impacto ambiental. É considerada a existência de áreas de
interesse ambiental e áreas protegidas em legislação específica.

Como avaliar: analisar as informações disponíveis no SIGEL-ANEEL e em sistemas


de informações estaduais, como por exemplo o Geosisemanet (Minas Gerais),
considerando impacto muito significativo quando a área afetada pela barragem
estiver inserida em uma unidade de conservação, área indígena ou o rio seja
classificado como de proteção permanente.

10.4 Impacto socioeconômico

Este fator avalia a severidade dos impactos socioeconômicos decorrentes da


eventual ruptura de uma barragem, levando em consideração a existência de
instalações residenciais, comerciais, agrícolas, industriais, de infraestrutura e
serviços de lazer e turismo na área afetada à jusante ou instalações portuárias ou
serviços de navegação.
Como avaliar: verificar a existência de instalações residenciais, comerciais,
industriais, agrícolas e serviços de navegação e turismo na área afetada pela
barragem por meio de imagens aéreas, preferencialmente considerando o mapa de
inundação.

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11 ANÁLISE FINAL DE RISCOS

Finalmente, para a definição da Categoria de Riscos e Dano Potencial Associado, o


CNRH utiliza a métrica empírica apresentada na tabela a seguir:

Tabela 10 - Classificação das barragens de acumulação de água quanto à categoria de


risco e dano potencial
NOME DA BARRAGEM
NOME DO EMPREENDEDOR
DATA:

II.1 - CATEGORIA DE RISCO Pontos


1 Características Técnicas (CT)
2 Estado de Conservação (EC)
3 Plano de Segurança de Barragens (PS)
PONTUAÇÃO TOTAL (CRI) = CT + EC + PS 0
CLASSIFICAÇ

CATEGORIA DE RISCO CRI


FAIXAS DE

ALTO > = 60 ou EC*=8 (*)


ÃO

MÉDIO 35 a 60
BAIXO < = 35

(*) Pontuação (8) em qualquer coluna de Estado de Conservação (EC) implica


automaticamente CATEGORIA DE RISCO ALTA e necessidade de providências
imediatas pelo responsável da barragem.

II.2 - DANO POTENCIAL ASSOCIADO Pontos


DANO POTENCIAL ASSOCIADO (DPA) 0
CLASSIFICAÇ

DANO POTENCIAL ASSOCIADO DPA


FAIXAS DE

ALTO > = 16
ÃO

MÉDIO 10 < DP < 16

BAIXO < = 10

RESULTADO FINAL DA AVALIAÇÃO:

CATEGORIA DE RISCO
DANO POTENCIAL ASSOCIADO

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Observe que a Categoria de Risco é obtida pela soma dos pontos obtidos nas
matrizes de Características Técnicas, Estado de Conservação e Plano de
Segurança de Barragens, sendo que a pontuação (8) em qualquer coluna de Estado
de Conservação (EC) implica automaticamente em CATEGORIA DE RISCO ALTA e
necessidade de providências imediatas pelo responsável da barragem.

Finalmente, podemos concluir que a CLASSIFICAÇÃO DA BARRAGEM QUANTO À


CATEGORIA DE RISCO E DANO POTENCIAL regulamentado pelo CNRH, apesar
de conduzir a uma análise de riscos bastante simplificada, cumpre os principais
objetivos de uma classificação de barragens.

É uma ferramenta de análise preliminar capaz de identificar as características e


condições da barragem que contribuem para sua vulnerabilidade e possibilita a
avaliação de opções de redução de risco. Além disso, facilita a comunicação do
risco para os tomadores de decisão, seja na esfera empresarial, governamental ou
para a sociedade, apesar de reconhecermos a dificuldade de compreensão da real
situação de uma barragem pelos diferentes públicos.

Deve-se sempre ter em mente que o resultado numérico de uma análise de riscos
não incrementa a segurança da estrutura analisada. Mas deve orientar estudos
adicionais, pesquisas, a priorização de obras de reparo e a alocação de recursos.

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CONCLUSÕES

O conhecimento das fontes de riscos para a segurança é muito importante no


desenvolvimento de estratégias de minimização de riscos nas várias fases da vida
de uma barragem. É essencial que a gestão do projeto, construção e operação
assegure que as incertezas sejam adequadamente balanceadas com julgamento
técnico competente.

Da quantificação (análise quantitativa) do risco não decorre diretamente a melhoria


do processo de gerenciamento da manutenção. Nos processos de análise
quantitativa, assim como naqueles de análise qualitativa, a mensuração da
probabilidade está estritamente ligada à capacidade de avaliação do profissional
responsável e sua eficácia está relacionada à capacidade de subsidiar as decisões
que garantirão a segurança da barragem.” (Dias, 2010)

É fundamental considerar sempre que a análise do risco é apenas uma etapa no


processo de gerenciamento que não se encerra em si, ou seja, de nada vale a
evolução do estudo baseado nesta análise se for perdido de vista o foco na
manutenção da segurança.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à equipe de Segurança de Barragens da Cemig GT, Adelaide de Carvalho


Carim, Paula Luciana Divino e Alexandre Vaz de Melo, pela troca de ideias e
inúmeros debates. À geóloga Laurenn Wolochate A. de Castro, da gerência de
expansão civil da geração, pela redação do texto sobre Riscos Geológicos e ao
eng.º Luiz César Botelho, da gerência de planejamento hidrometeorológico pela
redação do texto sobre Riscos Hidrológicos.

Agradeço às engenheiras geotécnicas Paula Luciana Divino e Adelaide Linhares de


Carvalho Carim e ao engenheiro Diego Antônio Fonseca Balbi pelas discussões
sobre o tema e colaboração na elaboração deste trabalho.

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REFERÊNCIAS

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BALBI, Diego A.F. (2008). Metodologia para a Elaboração de Planos de Ação


Emergencial para Inundações Induzidas por Barragens. Estudo de caso: Barragem
de Peti-MG. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais.

BIEDERMANN, R. (1997). Safety Concept for Dams: Development of the Swiss


concept since 1980. Wasser, Energie, Luft, 89: 55-72.

CASTRO, L.W.A. (2008). Risco geológico-geotécnico associado a projetos de


implantação de PCHs: caso da PCH Cachoeirão. Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal de Ouro Preto.

COLLE, G.A. (2008). Metodologias de Análise de Risco para Classificação de


Barragens segundo a Segurança. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal
do Paraná.

DIAS, G.G. (2010). Proposta de metodologia de avaliação qualitativa da segurança


de barragens com base no risco. Dissertação de Mestrado. Centro Federal de
Educação Tecnológica de Minas Gerais.

FONSECA, A.R. (2003). Auscultação por Instrumentação de Barragens de Terra e


Enrocamento para Geração de Energia Elétrica – Estudo de Caso das Barragens da
UHE São Simão. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Ouro Preto, pp.
6-47.

FOSTER, M., SPANNAGLE, M.,FELL, (1998). Report on the Analysis of


Embankment Dam Incidents. The University of South Wales, pp 35.

Gazette Officielle du Québec. Dam Safety Regulation - Dam Safety Act. (2007).

HARTFORD, D.N.D., BAECHER, G.B. (2004). Risk and Uncertainty in Dam Safety.
CEA Technologies Dam Safety Interest Group. Thomas Telford Ltd., London.

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ICOLD (1995). Dam Failures Statistical Analysis, Bulletin 99: 1-73.

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MARR, A.W. (2001). Why Monitor Geotechnical Performance. Disponível em:


<http://www.geotest.com/Papers/Why%20Monitor%20Geotechnica%20Performance.
pdf>

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MEDEIROS, C.H. (2008). Fatores de risco em barragens: técnicos e operacionais.


In: 3º Simpósio de Segurança de Barragens e Riscos Associados, Salvador.
Disponível em: http://www.cbdb.org.br/documentos/CHMedeiros-
Fatores%20de%20Risco.pdf

MORRIS, M., Hewlett, H., Elliott, C. Risk and Reservoirs in the UK.

MULCAHY, R. (2010). Risk Management- Tricks of the Trade for Project Managers
and PMI-RMP Exam Prep Guide, RMC Publications Inc, USA.

PERINI, D. S. (2009). Estudo dos processos envolvidos na análise de risco de


barragens de terra. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Brasília.

PIMENTA, L., CALDEIRA, L., NEVES, M. (2011). Preliminary Risk Analysis of Dam
Portfolio in Operation. In: 6th International Conference on Dam Engineering, LNEC,
Lisbon, Portugal.

PINTO, A.V. (2008). Gestão de Riscos e Segurança de Barragens. In: 3º Simpósio


de Segurança de Barragens e Riscos Associados, LNEC, Lisboa, Portugal.

UnB (2012-1). Sismicidade Brasileira. Disponível em:


<http://vsites.unb.br/ig/sis/sisbra.htm>

UnB (2012-2). Sismicidade Induzida. Disponível em:


<http://vsites.unb.br/ig/sis/induzido.htm>

Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011,


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77
CURSO
SEGURANÇA DE BARRAGENS

1
MÓDULO I – BARRAGENS: ASPECTOS
LEGAIS, TÉCNICOS E SÓCIOAMBIENTAIS

UNIDADE 2: ASPECTOS GERAIS DA SEGURANÇA


DE BARRAGENS

2
FICHA TÉCNICA
Realização:

EQUIPE TÉCNICA

Corrado Piasentin Glauco Gonçalves Dias


Elaboração de conteúdo Revisor Técnico Geral

Etore Funchal de Faria


Alexandre Anderáos
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico ANA

Fabio Luiz Willrich


Carlos Leonardi
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Josiele Patias
Cesar Eduardo b. Pimentel
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico ANA

Josimar Alves de Oliveira


Claudio Neumann
Revisor técnico ANA
Revisor técnico Itaipu

Ligia Maria Nascimento de


Claudio Osako Araújo
Revisor técnico Itaipu Revisora técnica ANA

Silvia Frazão Matos


Dimilson Pinto Coelho
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Revisão Ortográfica

ICBA – Centro de Línguas


www.cursodeidiomasicba.com.br

Este obra foi licenciada sob uma Licença .Creative Commons Atribuição-
NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada
3
CURRICULO RESUMIDO

Prof: Corrado Piasentin

Formado em engenharia civil hidráulica


pela Universidade de Pádua, Itália.

Tem participado do projeto da UHE Itaipu


desde a fase de inventário até o projeto
executivo, sendo atualmente consultor da
entidade binacional. Teve uma
experiência bastante variada no campo
da engenharia de barragens.
Teve uma experiência bastante variada no campo da engenharia de barragens e
obras hidráulicas em geral, desde os estudos de viabilidade até os projetos básicos
e detalhados, atuando em diversos campos da engenharia civil e especialmente na
área de geotecnia, hidráulica e hidrologia, no projeto de sistemas de auscultação
até a interpretação de seus resultados especialmente em relação a sua segurança.

Foi responsável da edição de diversos livros técnicos para o Comitê Brasileiro de


Barragens CBDB e tradução de diversos boletins do ICOLD.

Atualmente atua na organização e acompanhamento das atividades de auscultação


de diversas barragens incluindo estabelecimento de procedimentos, check list para
as vistorias, definição de frequências de leituras, vistorias e emissão de relatórios
de diagnostico.

É autor de varias publicações sobre diversos temas, especialmente sobre o


comportamento e segurança de barragens.

4
SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS.................................................................................................... 07
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 08
2 TIPOS DE BARRAGENS......................................................................................... 12
3 INCIDENTES E ACIDENTES E DETERIORAÇÕES................................................ 18
4 RUPTURAS DE BARRAGENS, IMPACTOS SOCIAS E AMBIENTAIS.................. 19
5 ESTATÍSTICAS SOBRE ACIDENTES DE BARRAGENS....................................... 21
6 ALTERAÇÃO DAS CONDIÇÕS DE RISCO............................................................. 26
7 MONITORAMENTO E PROCEDIMENTOS DE EMERGÊNCIA.............................. 27
8 CONCLUSÃO........................................................................................................... 30
REFERÊNCIAS............................................................................................................ 31

5
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Açude do Cedro em arco gravidade de alvenaria.....................................13


Figura 2 – Barragem de soleira vertente de Marmelos gravidade de alvenaria........13
Figura 3 – Barragem de Concreto Gravidade............................................................14
Figura 4 – Barragem de concreto compactado a rolo (CCR).....................................14
Figura 5 - Barragem de Terra Homogênea................................................................15
Figura 6 - Barragem de Enrocamento........................................................................15
Figura 7 – Barragem de enrocamento com face de concreto....................................16
Figura 8 - Barragem em Arco de Funil sobre o Rio Paranaíba ….............................16
Figura 9 – Barragem em Arco de Funil – Seção........................................................17
Figura 10 – Planta da Barragem de Malpasset ….....................................................23
Figura 11 – Vista de Montante da Barragem Malpasset............................................23
Figura 12 – Seção da Barragem de Terra de Euclides da Cunha reconstruída.........24

6
Prezado aluno,

no decorrer desta Unidade você deverá desenvolver competência para:


• Explicar o objetivo da construção, identificando os impactos sociais e
ambientais;
• Disseminar conceitos de segurança de barragens e sua importância.

Bom estudo!

7
1 BARRAGENS: SEUS BENEFÍCIOS E SEUS IMPACTOS

Barragens são estruturas construídas pelo homem há milhares de anos. Inicialmente


as estruturas eram construídas para fins de abastecimento humano, e hoje são
executadas com as mais diversas finalidades. Os benefícios relacionados às
barragens são múltiplos:
• Produção de energia elétrica;
• Abastecimento de água para uso humano;
• Abastecimento de água para uso industrial;
• Irrigação;
• Regularização de vazões atenuando os efeitos das enchentes e das secas;
• Navegação;
• Aquicultura;
• Lazer e turismo;
• Disposição de rejeitos de mineração;
• Acumulação de resíduos industriais líquidos.

Entretanto, as barragens com seus reservatórios têm certo potencial de risco, o qual
não deve ser menosprezado, em vista dos danos econômicos ou até catastróficos,
provocados pelos efeitos de operações erradas, mau funcionamento ou até ruínas
dessas obras. Mesmo um pequeno incidente que interrompa o abastecimento de
água de uma cidade ou fábrica ou a produção de energia elétrica pode causar
ingentes danos econômicos.

Além do risco inerente à existência da barragem com seu reservatório, há


eventualmente outros impactos, mais ou menos sérios e importantes dependendo de
cada caso:
• Modificações e até destruição de ecossistemas;
• Modificação do regime fluvial;
• Influência na qualidade da água;

8
• Interrupção da migração de peixes;
• Acumulação de sedimentos;
• Deslocamento dos habitantes da região do reservatório (por exemplo:
barragens em áreas densamente habitadas como na China);
• Submersão de locais de interesse arqueológico, histórico ou artístico (caso
dos templos de Abu Simbel na barragem de Assuan no Egito);
• Aumento de doenças ligadas à água (por exemplo: malária,
esquistossomose);
• Sismicidade induzida (por exemplo: Koyna na India, Barragem Hoover nos
EUA,
• Kariba na Zâmbia, Porto Colômbia MG).

As vantagens e desvantagens da construção de uma barragem e seu impacto no


meio social e ambiental devem ser avaliadas inicialmente nos estudos de viabilidade
e aprofundados nas seguintes etapas de projeto.

A segurança das barragens deve ser perseguida desde o início do projeto. A


concepção geral do projeto, o arranjo e o dimensionamento das estruturas são
fundamentais para o sucesso do empreendimento, pois erros ou estudos
insuficientes podem levar a consequências graves. Os estudos geológicos/
geotécnicos são fundamentais para a escolha do tipo de barragem no que se refere
às fundações e aos materiais de construção.

As investigações geológicas e geotécnicas, hidrológicas e dos materiais são muito


importantes nesta fase, pois os problemas mais frequentes são devidos a fatores
geológicos/geotécnicos e hidrológicos. Outros problemas menos frequentes são
provocados por problemas construtivos e pelo uso de materiais inadequados ou
realizados sem controle de qualidade (por exemplo, núcleo impermeável erodível ou
filtro inadequado que ocasiona o fenômeno chamado de erosão interna ou “piping”
nas barragens de materiais soltos, reação álcali-agregado do concreto devido ao

9
emprego de agregados reativos com os álcalis do cimento).

A construção deve obedecer fielmente ao projeto e seguir as normas e


especificações. As eventuais alterações de projeto devem ser aprovadas pelo
projetista e registradas em documentos como construído.

As fases mais delicadas em termos de risco durante a construção são aquelas de


desvio do rio e fechamento da estrutura de desvio. Estas operações são
normalmente realizadas na estação das baixas vazões e eventuais problemas
podem acarretar atrasos importantes na obra, já que em caso de insucesso deve-se
esperar a próxima estação seca.

O primeiro enchimento do reservatório é considerado a fase mais delicada da


barragem; de fato, de acordo com as estatísticas dos acidentes, a maioria dos
problemas ocorre durante o enchimento do reservatório e no primeiro ano
subsequente. Isto é bastante óbvio, pois qualquer falha estrutural ou de
estanqueidade existente se manifesta com os primeiros carregamentos e
percolações.

O risco tende a decrescer ao longo da vida útil da barragem, no entanto, durante a


fase de operação podem ocorrer fenômenos lentos, como por exemplo:
- Percolações através do concreto, da argila compactada e de alguns tipos de
fundações devido à baixa permeabilidade desses materiais entre 10 -5 a 10-8 cm/s;
- reação álcali-agregado que demora dezenas de anos para produzir seus efeitos
deletérios;
- fluência dos materiais em geral (concreto, argila e fundação).

Estes fenômenos, desenvolvendo-se em uma região frágil ou com problemas


preexistentes podem provocar incidentes e acidentes mesmo depois de vários anos
de uma operação aparentemente tranquila.

10
Por esse motivo a importância da auscultação e manutenção das barragens. A partir
da sua construção, , cada barragem tem uma trajetória de vida diferente
dependendo do seu grau de segurança.
O Boletim diz:
“[...] são muito importantes os efeitos de monitoramento e verificações de
segurança periódicas, segundo esta visão. Se estas atividades forem
realizadas de maneira efetiva, ações corretivas serão tomadas de tempos
em tempos...” (CIGB, 2008)

De fato, sem uma manutenção adequada, a vida de uma estrutura evolui


naturalmente para o colapso, portanto a manutenção é essencial para prolongar a
vida da barragem.

11
2 TIPOS DE BARRAGENS

De acordo com o livro Design of Small Dams do U.S. Bureau of Reclamation as


barragens
podem ser classificadas segundo diversos critérios:

1) De acordo com a utilização:


• Barragens de armazenamento ou regularização das vazões.
• Barragens de derivação para desviar o fluxo para canais.
• Barragens para controle das cheias.
• Barragens para contenção de rejeitos industriais
2) De acordo com o projeto hidráulico:
• Barragens vertedoras ou de soleira livre.
• Barragens não vertedoras.
3) De acordo com o comportamento estrutural
• Barragens tipo gravidade
• Barragens estruturadas
4) De acordo com os materiais de construção:
• Barragens de concreto ou alvenaria.
• Barragens de aterro (terra ou enrocamento)

A quarta classificação é a mais usualmente adotada.

12
Figura 1 – Açude do Cedro em arco gravidade de alvenaria

Fonte: CBDB (2011)

Figura 2 – Barragem de soleira vertente de Marmelos gravidade de alvenaria.

Fonte: CBDB (2011)

13
Figura 3 – Barragem de Concreto Gravidade

Fonte: CEMIG GT

Figura 4 – Barragem de Concreto Compactado a Rolo (CCR)

Fonte: Internet

14
Figura 5 – Barragem de Terra Homogênea

Fonte: CEMIG GT

Figura 6 – Barragem de Enrocamento

Fonte: CEMIG GT

15
Figura 7 – Barragem de enrocamento com face de concreto

Nota: Foto do autor

Figura 8 - Barragem em arco de Funil sobre o Rio Paraíba – altura 86 m, comprimento na


crista 360 m.

Fonte: CBDB (1982)

16
Figura 9- Barragem em arco de Funil – Seção

Fonte: CBDB (1982)

17
3 INCIDENTES E ACIDENTES E DETERIORAÇÕES

As barragens, assim como outras estruturas, estão sujeitas a incidentes e acidentes.


De acordo com as definições, um incidente é um “fato acessório que ocorre no
desenvolvimento do fato principal”, enquanto o acidente seria uma “indisposição
repentina que priva de sentido ou movimento” determinado equipamento, sistema,
objeto ou processo. Desta forma, podemos determinar que um acidente de
barragem seria sua ruptura, enquanto incidentes seriam quaisquer ocorrências
relevantes de que podem levar a barragem a ruptura.

Os incidentes de barragens ocorrem por sua vez em decorrência do


desenvolvimento de comportamentos anômalos ou inesperados das estruturas. Os
problemas encontrados nas estruturas de barragens são comumente chamados de
anomalias ou deteriorações: a primeira denominação sugere o comportamento
anômalo, enquanto a segunda nomenclatura aponta para o processo natural de
envelhecimento ou perda de capacidade funcional de parte da estrutura. A Política
Nacional de Segurança de barragens adora o nome anomalia.

Para fixar: uma anomalia pode dar origem a um incidente de barragens que pode
desencadear um acidente.

Alguns acidentes no Brasil e no exterior são apresentados ou citados no próximo


item.

18
4 RUPTURAS DE BARRAGENS, IMPACTOS SOCIAS E AMBIENTAIS

A ruína de uma barragem acarreta sempre consequências traumáticas, mesmo


quando não ocorrem perdas humanas ou catástrofes ambientais. Ainda que a onda
provocada pela ruptura tenha um impacto limitado, a perda da barragem e sua
função, seja abastecimento de água, irrigação ou produção de energia, afeta
sobremaneira as comunidades servidas. O dano econômico relacionado ao custo da
reconstrução da barragem também representa um encargo importante.

Um acidente entre os mais famosos e catastróficos afetou a barragem do Vajont


(nordeste da Itália), onde um deslizamento de terra de enormes proporções (250
milhões m3) caiu no reservatório a uma velocidade de 25 m/s provocando uma
enorme onda que, ultrapassando a crista da barragem, desceu pelo vale destruindo
quatro vilas matando milhares de habitantes. A causa do deslizamento foi o
enchimento do lago, que saturou certas camadas de solo e diminuiu sua resistência.
Deve-se ressaltar que a barragem nada sofreu e ainda está intacta, enquanto que o
reservatório está fora de uso, já que foi preenchido pelo deslizamento de terra.

Felizmente, no Brasil não ocorreram acidentes dessa magnitude, no entanto,


rupturas recentes de algumas barragens no nordeste provocaram extensas
inundações e danos significativos nas cidades próximas à jusante. Os acidentes
ocorridos no Brasil recentemente foramnas barragens de rejeitos da Paraibuna de
Metais, Rio Pombas Mineração e nas barragens de água de Açu, Câmara,
Apertadinho, Espora, Santa Helena, Bocaiuva, Algodões, das Nações.

O acidente mais relevante ocorrido em foi em Cataguases de Papel em 2003, na


qual foram despejados 1,4 milhões de metros cúbicos de efluente industrial (licor de
madeira mais soda cáustica) que escoaram até o rio Paraíba do Sul, deixando mais
de 500 mil pessoas sem abastecimento de água por vinte dias. Os danos ambientais
na vida aquática foram imensos em todo o trecho do rio afetado até a
desembocadura do rio e foram sentidos também nas atividades pesqueiras no mar

19
ao redor da foz do Paraíba do Sul.

O relato destes casos de ruínas e acidentes e seu entendimento são importantes,


pois no campo das barragens muito foi aprendido pelos erros cometidos. A análise e
o entendimento de alguns acidentes provocaram um grande avanço no
conhecimento.

20
5 ESTATÍSTICAS SOBRE ACIDENTES DE BARRAGENS

Neste tópico são feitas algumas considerações sobre as estatísticas de acidentes e


ruínas de barragens, conforme relatado no Boletim 99 da CIGB e mencionados
alguns casos famosos e exemplares.

Deve ser observado que a determinação das causas da ruína nem sempre é fácil, e
em muitos casos há mais de uma causa que leva ao colapso da barragem. No
entanto, todas as análises estatísticas chegam a conclusões bastante coerentes
sobre as principais causas.

Uma primeira conclusão importante é que 70% das rupturas ocorrem nos primeiros
dez anos de vida da barragem.

Nas tabelas abaixo são indicadas as causas principais por tipo de barragem.
Causas de acidentes - Barragens de concreto %
Problemas de Erosão interna 21
fundações

Causas de acidentes - Barragens de aterro %


Galgamento 49
Problemas de Erosão interna do corpo da barragem 28
fundações Erosão interna da fundação 17

Fonte: Boletim 99 do CIGB (1995)

A principal causa dos acidentes foi a insuficiente capacidade dos órgãos de


descarga (vertedouro e descarregador de fundo), e secundariamente
problemas estruturais ou de erosão das fundações.

Para todos os tipos de barragem os demais acidentes foram atribuídos a diversas

21
outras causas com porcentagens menores. O tipo de barragem que tem maior
potencial de risco de acordo com os resultados das estatísticas é a barragem de
terra, pois ela é mais vulnerável na ocorrência de galgamento. Entre as barragens
de concreto as mais seguras são as barragens em arco.

Portanto, as estatísticas indicam que as causas mais frequentes dos acidentes das
barragens são relacionadas com os campos onde é menor o conhecimento e
não é possível ter um bom controle, ou seja, as fundações e a hidrologia. Os
campos da geologia e hidrologia, nos quais existem as maiores incertezas e é mais
difícil, se não impossível, ter um conhecimento completo, registram as causas mais
frequentes dos acidentes das barragens.

De fato, as fundações, mesmo que bem investigadas durante as fases preliminares


do projeto, sempre oferecem alguma surpresa na fase construtiva quando são
efetuadas as escavações finais. A análise, avaliação e liberação das fundações são
fases importantes para a segurança da barragem. Os casos da barragem de
Malpasset (concreto em arco) na França (Figuras 10 e 11) e da barragem de
Camará (gravidade CCR) no Brasil são exemplos clássicos de ruínas de barragens
de concreto devido a problemas de fundações não detectados nas fases de projeto e
construção. Outros casos famosos de ruína de barragens de aterro são aqueles de
Teton nos EUA por erosão interna na interface aterro/fundação e Orós, no Brasil por
galgamento.

22
Figura 10 – Planta da barragem de Malpasset com a cunha de ruptura na ombreira
esquerda

Fonte: CIGB (1974)


Figura 11 – Vista de montante da barragem de Malpasset

Fonte: CIGB (1974)

23
Uma pesquisa recente sobre acidentes ou ruínas de pequenas barragens (SMALL
DAMS, Design, Surveillance and Rehabilitation - Boletim da CIGB) mostrou os
seguintes resultados:
• Galgamento 65%
• Erosão interna (piping) 12%
• Escorregamento de taludes 12%
• Outras causas 12%
Nesta segunda estatística aumentou a porcentagem atribuída ao galgamento, talvez
devido ao fato de que para as pequenas barragens o tempo de retorno da enchente
de projeto para dimensionamento do vertedouro é inferior ao calculado para as
barragens de maior porte. Também se deve observar que a maioria das pequenas
barragens é do tipo de aterro e, portanto mais sujeita ao colapso por galgamento.

A ruína por galgamento nas barragens de aterro pode ser atribuída a um evento
muito raro ou a uma avaliação incorreta da enchente de projeto, resultando na
construção de órgãos de descarga com capacidade insuficiente.

O galgamento pode ocorrer também por causa da ruína de uma barragem a


montante, resultando no colapso de diversas barragens em serie quando há
represas em cascata. Este é o caso da ruína das barragens de Euclides da Cunha e
Limoeiro (Armando Salles de Oliveira) sobre o Rio Pardo-SP (Figura 12), em 1977,
que foram reconstruídas posteriormente.
Figura 12 – Seção da barragem de terra de Euclides da Cunha reconstruída.

Fonte: CBDB (1982)


24
A causa deste grave acidente foi atribuída ao fato de que no manual de operação
dos vertedouros faltavam regras claras para enfrentar situações de emergência. As
outras duas causas, erosão interna e escorregamento, podem ser atribuídas a erros
humanos na avaliação incorreta das propriedades do solo ou da fundação e/ou
falhas na construção, e insuficiente controle de qualidade da compactação.

Os estudos das enchentes são realizados com base nos registros de eventos
passados, cobrindo um período que pode variar de algumas dezenas a centenas de
anos, que quando comparados com os ciclos das épocas glaciais e geológicas são
insignificantes. Além dos ciclos e variações próprias da natureza devem ser
acrescentadas as mudanças provocadas pelas intervenções antrópicas, como os
desmatamentos e o cultivo em grandes extensões, que afetam o clima e a resposta
das bacias hidrográficas. No Brasil podemos citar as alterações ocorridas no estado
de São Paulo nos anos trinta a cinquenta e no estado do Paraná nos anos
sessenta/setenta. As mudanças da floresta para o cultivo do café e depois da
soja/milho/cana afetam a resposta hidrológica das bacias.

25
6 ALTERAÇÃO DAS CONDIÇÕS DE RISCO

As condições de risco de uma barragem podem ser alteradas durante a fase de


operação (vida útil da barragem) quando sejam modificadas as hipóteses de projeto
como, por exemplo, nos seguintes casos:
- Um aumento das cargas (alteamento dos níveis do reservatório ou de jusante, um
assoreamento acima do previsto na face de montante);
- O entupimento do sistema de drenagem que aumente a subpressão;
- Uma diminuição da resistência dos materiais ou das estruturas devido
à deterioração ou um dano provocado por um terremoto;
- Deslocamentos provocados pelo comportamento da fundação, não previstos; ou
- Por fatores externos a barragem, como chuvas, terremotos e deslizamentos de
terra.

26
7 MONITORAMENTO E PROCEDIMENTOS DE EMERGÊNCIA

Uma vez construída e em fase operação, a barragemdeve passar por uma série de
procedimentos visando à prevenção de incidentes e acidentes, ou mesmo a
atenuação das consequências dessas ocorrências. Os procedimentos são
normalmente separados em processos de monitoramento e manutenção.

O monitoramento é muitas vezes denominado de auscultação. Auscultação é o “ato


de ouvir a opinião”. O termo é aplicado para designar a utilização dos sentidos
humanos (e conhecimento) para verificação das condições de segurança das
estruturas de barragens por meio das inspeções visuais. O monitoramento seria
composto, além das inspeções visuais, pela aquisição e análise de dados coletados
de instrumentação civil instalada na barragem. A etapa de monitoramento,
auscultação, pode também receber a denominação de manutenção preditiva, ou
seja, a manutenção que pretende “predizer” os possíveis problemas da estrutura.

O plano de auscultação deve detalhar as ações a serem realizadas para a


auscultação das estruturas com a definição de todos os procedimentos aplicáveis,
responsabilidade, periodicidade, tratamento de dados e registros a serem adotados.
Este sistema não é estático e imutável,e poderá ser modificado com base no
desempenho da barragem.

No plano completo de auscultação devem ser previstas todas as fases da vida da


barragem e todas as atividades a serem realizadas:
- Projeto da instrumentação a ser instalada que inclui desde a concepção do arranjo
até os detalhes e as especificações da instalação e montagem.
- Definição dos valores de alerta e controle para todos os instrumentos instalados e
para as diversas fases de sua vida.
- Plano de operação da instrumentação incluindo as frequências das leituras nas
diversas fases de vida da obra e durante possíveis eventos excepcionais.
- Plano de observações visuais e inspeções in situ com suas frequências.

27
- Plano de análise e interpretação do comportamento da barragem com base nos
resultados da instrumentação e das inspeções visuais.
- Plano para armazenamento das informações históricas, como relatórios e a base
de dados da instrumentação.

As inspeções visuais são da maior importância e devem ser estendidas a toda a


barragem, suas ombreiras, fundações e áreas próximas, cobrindo as áreas pouco
instrumentadas, possibilitando a verificação de pequenos detalhes, defeitos ou
fenômenos imprevistos. Estas inspeções devem ser realizadas por pessoas
experientes e familiarizadas com o tipo de barragem.

Complementando este programa de auscultação é fundamental também manter um


registro de dados e grandezas que interferem no comportamento das estruturas de
barragens, como dados da pluviometria, das vazões afluentes e defluentes, dos
níveis do reservatório e do canal de fuga para que a segurança hidráulica e
hidrológica do empreendimento seja assegurada.

O conjunto de atividades de monitoramento tem por finalidade subsidiar a tomada de


decisões e execução de medidas preventivas de manutenção que evitem os
indesejáveis incidentes e acidentes. As medidas preventivas podem ser estudos ou
serviços de reparo e reabilitação que aumentam o grau de conhecimento ou os
fatores de segurança das estruturas, diminuído o risco de falha.

Quando as etapas de manutenção preditiva (monitoramento) e preventiva (obras de


reparo) não são suficiente para evitar a ruptura de uma barragem é de fundamental
importância que haja um plano para atenuar as consequências do evento,
especialmente no que diz respeito ao salvamento das vidas que ocupam o vale a
jusante do barramento. Ao conjunto de ações a serem adotadas no caso de uma
ruptura da-se o nome Plano de Ações Emergenciais (PAE).

O plano de ação de emergência ou PAE deve identificar e analisar as possíveis

28
situações de emergência (acidentes e incidente) do empreendimento, classificar o
grau de risco de cada evento perigoso, verificar se constitui apenas um problema
interno do empreendimento ou se pode afetar as áreas externas ao
empreendimento.

Neste plano devem ser indicados os meios de comunicação disponíveis, as vias de


acesso, os endereços, telefones e outros meios de comunicação dos responsáveis e
das autoridades.

Uma vez identificada a situação e definidas suas características deverão ser


tomadas as devidas providências, e no caso de risco elevado avisar às autoridades
competentes. No caso de risco elevado é conveniente avisar também aos
empreendimentos situados a jusante e a montante.

A tempestividade e a rapidez nas intervenções recomendadas é muito importante. A


experiência de acidentes ocorridos mostra que uma série de pequenas falhas ou
imprudências pode levar a sérias consequências quando da ocorrência de um
evento excepcional.

29
8 CONCLUSÃO

Os benefícios proporcionados pelas barragens são múltiplos, no entanto, estas


obras com seus reservatórios têm um potencial de risco, que em caso de acidentes
ou incidentes pode provocar graves prejuízos e até desastres.

Nas fases de projeto e implantação devem ser estudados em profundidade seus


efeitos no meio social e ambiental e previstas as eventuais medidas de mitigação.
Os tipos de barragens são basicamente definidos com base nos materiais de
construção utilizados (concreto/alvenaria ou aterro) e no funcionamento estrutural.

As barragens de aterro são as mais suscetíveis a acidentes por galgamento quando


o vertedouro não tem capacidade suficiente para evacuar a cheia, e de fato este é o
tipo de acidente mais comum para estas barragens. A causa mais frequente de
evento de ruptura para as barragens de concreto é relacionada à fundação (erosão
interna ou insuficiente resistência ao cisalhamento). As estatísticas apontam a
elevada frequência de acidentes nos primeiros anos após o primeiro enchimento do
reservatório.

Com o passar dos anos as barragens vão se deteriorando, mas um programa de


manutenção adequada pode prolongar bastante sua vida útil.
Para manter um nível de segurança adequado é preciso elaborar e pôr em execução
um plano de auscultação com ênfase nas atividades de inspeção efetuadas com
frequência regular por pessoal experiente.

Para as barragens com um potencial de danos elevado a nova lei de segurança de


barragens prevê a obrigação de desenvolver um plano de ações de emergência, de
maneira que em caso de um evento que possa pôr em risco a integridade da
barragem e as áreas a jusante sejam tomadas as medidas necessárias para evitar,
mitigar e em caso extremo avisar e evacuar a população.

30
REFERÊNCIAS

COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS CBDB; Auscultação e Instrumentação


de Barragens no Brasil. In II Simpósio sobre Instrumentação de Barragens. Belo
Horizonte, agosto de 1996.

COMISSÃO INTERNACIONAL DE GRANDES BARRAGENS CIGB; A Barragem de


Gravidade – Uma Barragem para o Futuro. Boletim 117 tradução do CBDB, 2004.

COMISSÃO INTERNACIONAL DE GRANDES BARRAGENS CIGB; Dam Failures


Statistical Analysis. Boletim 99 Paris, 1995.

COMISSÃO INTERNACIONAL DE GRANDES BARRAGENS CIGB; Lessons from


Dam Incidents. Paris,1974.

COMISSÃO INTERNACIONAL DE GRANDES BARRAGENS CIGB; Procedimentos


computacionais para engenharia de barragens. Boletim 122. Tradução do
CBDB, 2008.

MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL; Manual de Segurança e Inspeção de


Barragens. Brasília, 2002.

31
CURSO
SEGURANÇA DE BARRAGENS

1
MÓDULO II : INSPENÇAO E AUSCULTAÇÃO DE
BARRAGENS

UNIDADE 2: INSTRUMENTAÇÃO DE BARRAGENS

2
FICHA TÉCNICA
Realização:

EQUIPE TÉCNICA

Sérgio Zuculin Glauco Gonçalves Dias


Elaboração de conteúdo Revisor Técnico Geral

Etore Funchal de Faria


Alexandre Anderáos
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico ANA

Fabio Luiz Willrich


Carlos Leonardi
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Josiele Patias
Cesar Eduardo b. Pimentel
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico ANA

Josimar Alves de Oliveira


Claudio Neumann
Revisor técnico ANA
Revisor técnico Itaipu

Ligia Maria Nascimento de


Claudio Osako Araújo
Revisor técnico Itaipu Revisora técnica ANA

Silvia Frazão Matos


Dimilson Pinto Coelho
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Revisão Ortográfica

ICBA – Centro de Línguas


www.cursodeidiomasicba.com.br

Este obra foi licenciada sob uma Licença .Creative Commons Atribuição-
NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada

3
CURRICULO RESUMIDO

Prof: Sérgio Zuculin

Sérgio Zuculin, brasileiro, 52 anos,


sergio.zuculin@yahoo.com.br.
Assessor da Diretoria de Geração na
Companhia Energética de São Paulo
(CESP), empresa concessionária de geração
de energia elétrica, onde exerceu cargos
executivos nas áreas de Operação,
Planejamento Energético, Assuntos
Regulatórios e Recursos Hídricos. Atuou nas
áreas de segurança de barragens e
laboratório de engenharia civil.

Formado em Engenharia Civil na UNESP de Ilha Solteira com Especialização em


Operação do Setor Elétrico (COSE) na UNICAMP e Especialização em Setor
Elétrico (CESE) na UNIFEI.
Projetos: Sistema CESP de Segurança de Barragens (SICESP), Metodologia de
Proteção Associada ao Tempo de Retorno Implícito (PATRICh) para controle de
cheias. Sistema de Operação em Situação de Emergências (SOSEm). Retomada
do conceito de eficiência em Usinas Hidrelétricas Reversíveis (UHR) no Sistema
Interligado Nacional.

4
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS.......................................................................................... 07
LISTA DE TABELAS......................................................................................... 08
1 OBJETIVO DA INSTRUMENTAÇÃO – POR QUE MONITORAR AS
BARRAGENS? ..........................................................................................
09
1.1 Monitoramento de Barragens – Instrumentação e Inspeção.......................
11
2 OBJETIVOS DA INSTRUMENTAÇÃO DE BARRAGENS............................
14
3 INSTRUMENTAÇÃO PARA MONITORAMENTO DE BARRAGENS............
15
3.1 Fase de Planejamento e Projeto..................................................................
15
3.2 Fase de Construção.....................................................................................
16
3.3 Primeiro Enchimento....................................................................................
17
3.4 Fase de Operação.......................................................................................
18
4 BARRAGENS DE TERRA E ENROCAMENTO – O QUE MONITORAR?....
19
4.1 Causas mais comum de acidentes..............................................................
19
4.2 A instrumentação de Vazões........................................................................
21
4.3 A instrumentação de Deslocamentos...........................................................
23
4.4 A instrumentação de Tensões......................................................................
27
5 BARRAGENS DE CONCRETO – O QUE MONITORAR...............................
31
5.1 A instrumentação de Barragem de contraforte............................................
32
5.2 A instrumentação de Barragem em arco......................................................
33
5.3 A instrumentação de Barragem em CCR.....................................................
33
5.4 Barragens de concreto – Grandezas e Instrumentos..................................
35
6 PROJETO DE INSTRUMENTAÇÃO E AUSCULTAÇÃO DE BARRAGENS
42
6.1 Considerações de instrumentação...............................................................
42
6.2 Blocos Chave ou Seções Chave...............................................................
43
6.3 Quantidade de instrumentos........................................................................
44

5
6.4 Tipos de instrumentos..........................................................................
44
6.5 Barragens Pequenas.............................................................................
46
6.6 Aquisição dos instrumentos........................................................................
46
6.7 Aferição e calibração dos instrumentos.......................................................
46
6.8 Instalação de instrumentação......................................................................
47
6.9 Manutenção de instrumentação de barragens............................................
51
6.10 Reinstrumentação......................................................................................
53
7 TRATAMENTO E ANÁLISE DE DADOS DE INSTRUMENTAÇÃO...............
54
7.1 Aquisição automática de dados...................................................................
59
7.2 Valores de controle ou valores de referência..............................................
60
7.3 Análise dos dados da instrumentação (Autor: Glauco Gonçalves Dias)
62
CONCLUSÃO..........................................................................................
68
REFERÊNCIAS..........................................................................................
69

6
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Instrumentação e Inspeções Visuais de Barragens


Figura 2 - Processo de piping - Barragem Teton - EUA – 1976
Figura 3 - Acidente com barragens no Rio Pardo – 1977.
Figura 4 - Medidor de Vazão Triangular
Figura 1 - Marcos superficiais
Figura 2 - Medidor de recalque Magnético
Figura 3 - Célula de Pressão Total instalada no encontro entre concreto e aterro
Figura 4 – Célula de piezômetro de tubo aberto
Figura 5 – esquema de instalação do piezômetro Casagrande
Figura 6 – Piezômetros: a) Elétrico b) Pneumático e c) hidráulico
Figura 7 - Barragem Zeuzier
Figura 8 - Grandezas x Instrumentos
Figura 9 – Pêndulo invertido (primeiro plano) e pêndulo direto (segundo plano)
Figura 10 - Esquema de instalação do Pêndulo Direto
Figura 11 - Medidor triortogonal de junta
Figura 16 - Projeto do medidor triortogonal de junta
Figura 17 - Base de alongâmetro
Figura 18 - Termômetro
Figura 19 - Extensômetro para Concreto (acima à esquerda) e Termômetros para
Concreto, com equipamento medidor
Figura 20 - Instalação Medidor de Deformação
Figura 21 - Extensômetros de concreto dispostos em roseta para medição de
tensões
Figura 22 - Câmara Atensorial e roseta de extensômetros (ao fundo)
Figura 23 - Gráfico de marcos de superfície com recalques em curso com tendências
de estabilização
Figura 24 - Gráfico de piezômetros com comportamento similar às oscilações do
reservatório

7
LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Tipos, variantes e modelos de instrumentos para barragem.


Tabela 2 - Periodicidade de Leituras

8
Prezado Aluno,

no decorrer desta unidade você deverá desenvolve competência para:


 Identificar alguns instrumentos das barragens e sua finalidade no processo de
manutenção;
 Analisar os dados de instrumentação para diagnóstico básico do
comportamento da estrutura.

1. OBJETIVO DA INSTRUMENTAÇÃO – POR QUE MONITORAR AS


BARRAGENS?

“Toda barragem deve ser instrumentada, de acordo com seu porte e


riscos associados e ter os dados analisados periodicamente com a
realização das leituras. Todos os instrumentos devem ser dotados de
valores de controle ou limites.” (Manual de Segurança e Inspeção de
Barragens, MME, 2002).

No Brasil, convivemos com barragens de todos os tipos, graus de risco, graus de


instrumentação e idades. “Nossas barragens estão ficando velhas” afirmou
ZUCULIN (1999), referindo-se às barragens destinadas à exploração do potencial
hidrelétrico. De fato, qual o tempo de vida esperado para uma barragem? 100 anos?
500 anos? Essa pergunta ainda não tem resposta, pois, depois de construída, uma
barragem terá vida útil enquanto tiver saúde e cumprir sua função social.

Segurança de Barragens é a área da engenharia que cuidará da “saúde” da


barragem. A Instrumentação de Barragens e as Inspeções Visuais são as
ferramentas que permitem diagnosticar o desempenho das estruturas.

No Brasil, as barragens mais antigas ainda em operação datam de meados do


século XIX. Algumas destas barragens perderam suas funções ao longo do tempo,
sem que tenham sido devidamente desativadas. Outras, mesmo cumprindo ainda
seus objetivos, passaram por várias sucessões de responsáveis, perdendo-se no

9
tempo o vínculo de responsabilidade sobre sua manutenção e operação,
enquadrando-se hoje no grupo das “barragens abandonadas”.

Exemplos de abandono de barragens e ausência de responsável existem muitos no


Brasil. Um exemplo é o caso do Açude de Serra Grande, no Rio Grande do Sul. O
risco dessa barragem pode ser constatado até por um leigo e foi confirmado por
laudo de engenharia. A solução, no entanto, esbarra nos entraves burocráticos e
políticos. O Guia Básico de Segurança de Barragens (2001) já expressava a
preocupação com a “barragem sem dono”:

“Quando a posse de uma barragem for transferida, as partes devem coletar e reunir
toda a documentação técnica existente, especialmente aquela contendo os dados e
eventuais preocupações concernentes à sua segurança e a responsabilidade pela
continuidade ou criação da supervisão das condições de segurança da barragem
deve ser claramente definida”.

De fato, hoje um empreendedor transfere/adquire uma propriedade onde existe uma


barragem, sem qualquer preocupação com sua documentação e sem sequer
conhecer seu “estado de saúde”.

Para compreendermos melhor a dimensão deste problema no Brasil, citamos a


declaração do diretor da Agência Nacional de Água (ANA), durante o XVIII
Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem (CONIRD-2008), em São Mateus,
Espírito Santo, quando afirmou que existiam cerca de 200 mil barragens no Brasil,
sendo que 10 mil de médio a grande porte, e que “a maioria é desconhecida do
poder público”.

MENESCAL (2004) estimou esse número em “300 mil barragens de todos os tipos e
tamanhos”. Naquele ano de 2008, foram 350 notificações de acidentes. Este número
varia em torno disso, ano a ano. A região onde se concentra o maior número de
açudes nesta condição é o nordeste.

10
Conforme apresenta SILVEIRA (2011) no XXVIII Seminário Nacional de Grandes
Barragens, segundo levantamento feito por satélite, existem atualmente no Brasil,
cerca de 3.500 barragens com mais de 15 metros de altura (grande porte), sendo
que, apenas 30% delas estariam cadastradas, mais provavelmente, as barragens
para fins de geração de energia hidrelétrica. Segundo informações da Agência
Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, em 02 de julho de 2012 existiam 1.000
barragens para geração hidrelétrica, sendo 185 UHE (Usinas Hidrelétricas), 431
PCH (Pequenas Centrais Hidrelétricas) e 384 CGH (Centrais de Geração
Hidrelétricas, ou, microgeradoras) classificadas segundo sua potência instalada.

1.1 Monitoramento de Barragens – Instrumentação e Inspeção

Pela abordagem adotada na unidade 1 deste módulo, é responsabilidade da


Manutenção Preditiva, que é a etapa da manutenção que busca “predizer” os
problemas que determinada estrutura pode apresentar ou está apresentando. A
manutenção preditiva por sua vez pode ser distinta entre Preditiva Objetiva e
Preditiva subjetiva. Todas as metodologias que se baseiam nos sentidos humanos
(visão, audiçõa, olfato, tato) para detectar as anomalias de uma barragem são
denominadas de Preditiva Subjetiva, pois dependem da análise pessoal e qualitativa
do profissional que a realiza. Quando a detecção de anomalias lança mão de
metodologias e instrumentos que permitem quantificar determinados parâmetros do
comportamento da estrutura (deslocamentos, vazões, tensões, etc) por meio de
instrumentos, a manutenção preditiva objetiva. Juntas, inspeções de campo e
instrumentação compõe a manutenção preditiva de barragens.

SILVEIRA (2011), nos mostra que a instrumentação e as inspeções periódicas nas


barragens, são ferramentas complementares e imprescindíveis para identificar os
problemas, como vemos na figura que segue.

11
Figura 12 - Instrumentação e Inspeções Visuais de Barragens

Fonte: SILVEIRA (2011).

Chega a ser óbvia para nós, a importância de monitorar barragens. Mas, onde
entram os instrumentos? O que é instrumentação de segurança de barragens?
Nós devemos monitorar as barragens, porque são estruturas falíveis. Ao longo de
sua vida útil, a barragem se degrada e alteram-se seus indicadores de
confiabilidade.

E devemos instrumentá-las, porque a instrumentação é a ferramenta objetiva do


monitoramento. A instrumentação, em conjunto com as inspeções visuais, garante a
segurança da estrutura.

As barragens são obras de engenharia múltipla, em que o projeto, a construção e

12
operação envolvem vários ramos do conhecimento que se integram e resultam numa
grande intervenção artificial na natureza. Toda barragem, independente do tipo,
constituição, localização e destinação, deve ter instrumentação adequada, para seu
monitoramento.

Conforme estudamos no Módulo I, unidades 8 e 9, o comportamento que esperamos


das estruturas indica seu dimensionamento. Os estudos que antecedem a
construção de uma barragem, sondagens geotécnicas, ensaios em laboratórios,
ensaios “in situ”, vão nos dizer quais serão os parâmetros de comportamento das
estruturas, quanto irão deformar com o peso do concreto, da terra compactada ou do
enrocamento; quanto irão se deslocar durante o primeiro enchimento e em qual
direção, quais serão as vazões que vão percolar pelo maciço, que pressões podem
ser suportadas até o limite de tombamento.

A relação intrínseca, entre os parâmetros de projeto e de monitoramento, vai


estabelecer os valores de controle ou de referência, que devem ser observados
durante a vida útil da barragem. Durante a construção, a instrumentação da
barragem possibilita ao projetista, verificar se os parâmetros estão de acordo com os
previstos e corrigir o projeto segundo as características de materiais e fundação
verificados, optando por soluções mais econômicas. Daí a importância do “as built”
ou “como construído”, para a operação e fiscalização de barragens.

Em suma, a instrumentação de uma barragem vai depender de sua dimensão, da


fundação onde foi assentada; do tipo ou arranjo, material empregado, uso e de sua
região de influência.

13
2. OBJETIVOS DA INSTRUMENTAÇÃO DE BARRAGENS

Barragens são intervenções do homem na natureza, de grande magnitude. Qualquer


falha em sua estrutura na construção ou na operação e manutenção; pode causar
catástrofes.

A preocupação com a segurança de barragens remonta a antiguidade, como se


comprova no Código de Hamurábi (1.700 AC).

No Brasil existe cerca de 300.000 barragens, a maioria delas de pequenas alturas,


sem qualquer tipo de documentação sobre sua construção. Um grande número
delas rompe anualmente, em particular no período de chuvas.

Embora a Lei 12.334 de 2010 venha resolver a questão, abrange apenas barragens
com mais de 15 metros de altura, ou cerca de 3.500 barragens.

O monitoramento é a ferramenta de diagnóstico da saúde da barragem e possibilita


intervenções preventivas e corretivas, minimizando o risco de acidentes,
preservando a segurança da estrutura, do meio ambiente e de terceiros em sua área
de influência.

14
3. INSTRUMENTAÇÃO PARA MONITORAMENTO DE BARRAGENS

Segundo a Lei 12.334, artigo 4º, inciso I, temos que:

“a segurança de uma barragem deve ser considerada nas suas fases


de planejamento, projeto, construção, primeiro enchimento, primeiro
vertimento, operação, desativação e de usos futuros”.

Como podemos ver, em cada fase, o comportamento da barragem deverá ser


monitorado. A instrumentação para monitoramento depende da dimensão da
barragem, de seu objetivo, características do local onde está construída e dos
aspectos construtivos e operativos.

3.1 Fase de Planejamento e Projeto

Segundo FIORINI (2008), para qualquer barragem, durante o planejamento e


projeto, é possível e necessário, conhecermos: características geotécnicas e
geológicas do local da barragem; materiais para construção; investigações e ensaios
de campo; estudos hidrológicos e hidráulicos; estudos de sedimentação; estudos de
estabilidade; tratamentos das fundações e do concreto e as condições sociais e
ambientais de sua inserção.

A partir destes parâmetros, vamos definir o tipo e o arranjo da barragem e a partir


destes, quais as principais grandezas que deverão ser monitoradas pela
instrumentação, que, segundo LUZ (1993 apud MATOS 2002, pág. 5) são:
 Deslocamentos;
 Deformações e tensões;
 Temperatura;
 Níveis piezométricos em fundações;
 Pressões de água;
 Vazões.

15
E os principais fatores que influenciam essas grandezas, segundo o mesmo autor,
são:
 Carga direta: forças exercidas pelos contatos do aterro e enrocamento,
ou concreto, com a fundação e, pelos níveis d’água de montante e
jusante (empuxo);
 Subpressões na fundação: devido à percolação ou infiltração de água
pela rocha de fundação, durante e após o enchimento do reservatório.
 Pressão intersticial: pressão exercida pela água que infiltra pelos
interstícios do concreto, juntas de construção e falhas de construção
durante a concretagem, e por falhas nas rochas;
 Calor de hidratação: gerado pela reação do cimento com a água de
amassamento no processo de cura do concreto, e que fica armazenado
no interior de um bloco, provocando tensão de compressão no concreto.
O posterior resfriamento da estrutura provoca tensões de tração;
 Sismos naturais: causados pelo deslocamento de placas tectônicas e
atividades vulcânicas;
 Sismos induzidos: causados pela implantação do reservatório, que altera
as condições estáticas das formações geológicas, do ponto de vista
mecânico (peso da massa d’água) e do ponto de vista hidráulico (a
infiltração de fluidos pode causar pressões internas nas camadas
rochosas profundas). É um fenômeno dinâmico, resultante das novas
forças induzidas, e que passam a interferir sobre o regime das forças pré-
existentes.

3.2 Fase de Construção

A fase de construção de uma barragem é o momento de avaliarmos se as hipóteses


de projeto estão se verificando a contento. Se os carregamentos estão causando as
tensões especificadas, se as deformações da fundação e dos maciços se acham
dentro dos limites previstos. Se as fissuras de origem térmica e as mudanças no
plano de concretagem exigirão medidas alternativas.
Nesta fase podemos resumir os objetivos da instrumentação sem se limitar a:

16
 Avaliar eventos não previstos e detectar anomalias no comportamento da
barragem, de outras estruturas, ou de condições que as possam
favorecer;
 Prever novas zonas de risco;
 Fornecer informações mais realistas e representativas sobre os materiais
e sobre a fundação;
 Aferir soluções técnicas adotadas na fase de projeto e possibilitar
revisões com uso de soluções menos conservadoras.

3.3 Primeiro Enchimento

Segundo Andriolo (1993 apud MATOS 2002, pág. 4) a fase de enchimento do


reservatório é o período em que a barragem passa a entrar em carga total pela
primeira vez, sendo considerado este o período mais crítico na sua vida útil.

O monitoramento assume um papel importante, pois permite um diagnóstico preciso


da obra, comparando os dados com os limites de projeto. Há o controle de
parâmetros como: deslocamentos horizontais e verticais, movimentos de algumas
juntas, temperatura e deformação do concreto, para prevenir ruptura ou fissuramento
excessivo durante esse primeiro enchimento. Sempre que possível, o enchimento
deve ocorrer de forma lenta e gradual, para a adaptação da estrutura com as novas
condições criadas.

Nesta fase, a instrumentação deve:


 Alertar sobre a ocorrência de anomalias que possam colocar em risco a
segurança das estruturas de barramento;
 Possibilitar uma avaliação do desempenho estrutural das obras de
barramento, através de comparações entre grandezas medidas “in situ” e
aquelas consideradas no projeto, visando verificar a adequação aos
critérios de projeto.
Cabe destacar, que a maioria dos acidentes em barragens, ocorre durante o primeiro
enchimento e até os primeiros cinco anos de operação.

17
3.4 Fase de Operação

A fase de operação engloba toda a vida útil da barragem. Durante esta fase, a
barragem vai “trabalhar”, isto é, deformar, recalcar, deslocar, aquecer, esfriar.
Passará por situações de cheias e secas e, algumas até, por sismos.

A instrumentação nesta fase, objetiva:


 Acompanhar o atendimento aos critérios de projeto;
 Monitorar o desempenho geral da barragem, da fundação e das
estruturas associadas, como: deslocamentos, tensões internas,
subpressão, vazões de drenagem, e outras;
 Observar com detalhe, o desempenho de áreas e situações críticas e
prever possíveis zonas de risco;
 Caracterizar o comportamento das estruturas, após algum tempo de
operação e reavaliar suas condições de segurança.

Além da instrumentação das estruturas do barramento poderá ser de interesse


monitorar a área do reservatório, visando verificar:
 Escorregamentos de encostas nas margens;
 Fugas de água do reservatório;
 Assoreamento junto às estruturas.

Escorregamentos de encostas podem formar ondas no reservatório, as quais podem


galgar a barragem e causar graves danos nos taludes a jusante.

As condições meteorológicas, hidrológicas e limnológicas podem influenciar o


desempenho de alguns instrumentos, motivo pelo qual, a área de segurança de
barragens faz também a gestão de instrumentos periféricos obrigatórios das
barragens, como: estações hidrometeorológicas, sismológicas e sedimentológicas -
importantes para a operação, e estações de monitoramento da qualidade da água –
requisito ambiental.

18
4. BARRAGENS DE TERRA E ENROCAMENTO – O QUE MONITORAR?

4.1 Causas mais comum de acidentes

As duas principais causas de ruptura de barragens de terra são:


 Erosão interna ou entubamento (em inglês, piping) e
 Galgamento (em inglês, overtopping).

A ruptura por piping ocorre quando há uma erosão interna de jusante para montante,
formando um tubo (em inglês, pipe), com carreamento de partículas de solo pelo
maciço, devido ao fluxo de água excessivo de montante para jusante. O
deslocamento de partículas do barramento desestabiliza o equilíbrio de forças na
matriz do solo e o estado de tensões no maciço por onde ocorre esse fluxo. O
fenômeno é progressivo até a formação de uma brecha e o colapso da estrutura.

O piping ocorre com mais frequência no primeiro enchimento e nos cinco primeiros
anos de operação. É mais comum de ocorrer no barramento, mas ocorre também na
fundação.

19
Figura 13 - Processo de piping - Barragem Teton - EUA – 1976

Disponível em: http://web.mst.edu/~rogersda/teton_dam/


Acesso em 10/06/2012

O galgamento decorre geralmente de uma cheia extraordinária, para a qual a


barragem não estava projetada, ou por falha de operação nos sistemas
extravasores. Durante a construção, não é incomum que ocorra galgamento das
ensecadeiras, pois seu dimensionamento é sempre calculado com um risco maior
(menor tempo de retorno) que a barragem principal, por ser uma obra provisória.

Nas barragens de geração hidrelétrica, podemos perceber que recentemente, os


maiores problemas decorrem de aspectos construtivos e operativos.

Um exemplo de problema operativo foi o acidente com a Usina Hidrelétrica de


Euclides da Cunha, no Rio Pardo, estado de São Paulo, em 1977, que culminou com
a ruptura daquela barragem. Em decorrência da onda de cheia daquela ruptura,
rompeu-se a barragem de Limoeiro, mais a jusante.

20
Figura 3 - Acidente com barragens no Rio Pardo – 1977.

Fonte: Nota do autor.

Cabe lembrarmos, que, as inspeções visuais rotineiras tomam maior relevância em


barragens de terra, quando podem ser percebidos mais precocemente, alguns
problemas como: tocas de animais no maciço, vegetação com raízes danosas,
surgências de água e subsidências.

Em barragens de terra e enrocamento, é importante o monitoramento por


instrumentação, das vazões, deslocamentos, tensões, subpressões e pressões
neutras.

4.2. A instrumentação de Vazões

Há uma correlação direta entre a análise das vazões de drenagem e o desempenho


da barragem. Os locais, quantidade e qualidade da água que percola pelo maciço ou

21
pela fundação, e as variações mais ou menos bruscas, são indicativos de
problemas, como: drenos obstruídos, erosão interna ou pressões excessivas.
Também é importante correlacionar as vazões com os níveis de montante do
reservatório.

Em geral, a medição de vazões é feita por meio da concentração do fluxo em


canaletes ou tubos, nas galerias de drenagem ou outros locais indicados no projeto
da barragem, onde se instalam os medidores de vazão. Pode ser relevante conhecer
as origens de cada vazão de contribuição: ombreira, fundação, dreno, etc.

Em barragens de grande porte, as vazões são direcionadas a poços de drenagem,


onde bombas elétricas de drenagem recalcam a água para jusante, evitando que as
galerias inundem.

Leituras de vazões antes do primeiro enchimento são particularmente importantes


para caracterizar vazões provenientes do freático. A análise das características
físicas e químicas da água de percolação pode dar indicativos de carreamento de
materiais ou sinais de piping ou lixiviação de materiais solúveis de origem geológica.
Entre os instrumentos de medição de vazão, destacamos:

 Medidores de Vazão Triangular - Possibilitam maior precisão de


leituras, para vazões variáveis e reduzidas, até 30 litros por
segundo. É uma chapa, geralmente metálica, com uma abertura
triangular ou em “V”, com lados iguais e ortogonais. A vazão é
determinada de forma direta, com a leitura da altura da lâmina
d’água que passa pelo “V” e aplicando a regra de Thompson: Q =
1,4 x H5/2, onde Q é a vazão em m³/s; H é a altura da lâmina d’água
em relação ao vértice do “V” em metros.

22
Figura 4 - Medidor de Vazão Triangular

Fonte: MATOS (2003)

 Calha Parschall - Medidor de vazão usado em canais abertos, nos


quais seja possível construir as três partes componentes da calha:
uma seção convergente com o fundo de canal mais alta, uma seção
estrangulada e uma divergente, segundo relações trigonométricas
padronizadas. A partir da leitura da altura da lâmina d’água “H” na
seção estrangulada aplica-se a relação: Q = 2,2 x W x H3/2, onde:
Q é a vazão em m³/s e W é a largura da seção estrangulada em
metros.

4.3. A instrumentação de Deslocamentos

Sejam deslocamentos verticais ou horizontais, recalques do maciço e/ou da


fundação, trincas de tração por recalque diferencial ou trincas de cisalhamento

23
induzidas por deslocamentos horizontais diferenciais, devemos monitorar estes
movimentos com medidores de deslocamentos.

Se a fundação tem baixa resistência, torna-se particularmente importante


acompanharmos estes deslocamentos horizontais e verticais, até sua estabilização e
depois disso.

Os deslocamentos podem ser medidos de forma absoluta ou relativa.


Deslocamentos absolutos são aqueles calculados ou medidos, considerando um
referencial imóvel, em relação ao ponto medido. Deslocamentos relativos são
aqueles, cujo referencial também se desloca.

Os seguintes instrumentos podem ser usados para medir deslocamentos:

 Placas de recalque com tubos telescópicos – são dispositivos


muito utilizados para medição de deslocamentos verticais ou
recalques. Trata-se de instalar placas, em várias profundidades do
maciço, desde a fundação. A cada placa é fixado um tubo
telescópico que irá se movimentar junto com a sua respectiva placa,
caso o maciço sofra recalque naquele ponto. Como os tubos
trabalham de forma independente, é possível conhecer os
deslocamentos verticais em cada profundidade do maciço.

24
Figura 5 – Marcos superficiais

Fonte: ALMEIDA (2010)

 Marcos superficiais – usados para medir deslocamentos


horizontais e verticais em maciços de terra e enrocamento.
Composto por uma barra de ferro de 11/2 polegadas, com 1,1 metros
de comprimento e uma esfera de aço de 15 mm de diâmetro
adaptada ao topo da barra. O dispositivo é colocado nas regiões da
crista da barragem e taludes de jusante, sendo fixado em um bloco
de concreto de 0,3 m de diâmetro e 1,2 de profundidade. Por meio
de acompanhamento topográfico se obtém os deslocamentos em
relação a um marco fixo indeformável, ou de referência, instalado
fora da região da barragem.
 Medidores de recalque KM – Fabricados pelo Laboratório CESP de
Engenharia Civil, é aplicado na medição de deslocamentos verticais
(recalques) absolutos de fundações ou de pontos específicos em
maciços compactados.

25
Figura 6 – Medidor de recalque Magnético

Fonte: ALMEIDA (2010)

Pode ser instalado em furos de sondagem, ou acompanhando a construção do


aterro. Compõem-se de hastes de aço trefilado, tubo de referência e tubo de
proteção e placas de aço. É construído e instalado de tal modo, que a cada placa é
solidarizada um segmento de haste metálica, à medida que o aterro sobe. A haste-
referência é um tubo galvanizado de 25 mm de diâmetro, chumbado em rocha sã. As
hastes, dispostas em torno do tubo de referência, são mantidas na posição por meio
de discos perfurados que funcionam como espaçadores e são mantidas livres do
contato com o solo, em sua extensão, através de um conjunto de tubos
galvanizados, emendados por juntas telescópicas que as envolvem. As leituras são
efetuadas através de um paquímetro adaptado, cujo corpo se encaixa
adequadamente no tubo de referência e cujo bico móvel é apoiado na extremidade
superior de cada haste.

 Medidores de recalque magnéticos – Composto por anéis


magnéticos, conhecidos como aranhas magnéticas, que são

26
instaladas em várias profundidades, ao longo de um tubo vertical de
PVC rígido, dotado de emendas telescópicas a cada 1,5 metros e
protegidos externamente por outro tubo de diâmetro maior. As
medidas são obtidas por uma sonda eletromagnética, que desce
pelo tubo acoplada a uma trena. Ao passar pelo anel magnético, a
sonda aciona um alarme na superfície e é feita a medida pela trena.
O anel magnético mais profundo dá a referência e por isso deve ser
instalado em um ponto onde não haverá qualquer deslocamento.
Este medidor apresenta a vantagem de permitir instalar tantos anéis
quanto forem necessários e dispensa as campanhas de
nivelamento topográfico.

 Medidores de recalque USBR – usa o mesmo princípio do medidor


magnético, apenas substituindo os anéis magnéticos por um
sistema de cunhas, que são acionadas à medida que vai descendo
a trena. Na base do tubo-guia é instalada uma conexão especial
que então retrai as cunhas e libera o tubo para a retirada da trena.

4.4. A instrumentação de Tensões

Medir as tensões em barragens de terra e enrocamento é importante para conhecer


a distribuição dos esforços, zonas de tração, de fissuração e de plastificação do
maciço. Esta variável é particularmente importante nas interfaces entre aterro e
fundação, ombreiras e entre materiais diferentes. Para esta grandeza, é comum a
utilização de:

 Células de tensões totais – consistem de almofadas de aço inox,


geralmente circulares, dotados de extensômetro elétrico (strain
gage), de corda vibrante ou pneumático.

27
Figura 7 – Célula de Pressão Total instalada no encontro entre concreto e aterro.

Fonte: CEMIG GT

A instrumentação de Subpressões e Pressões Neutras


Função da percolação de água no maciço, as subpressões precisam ser
monitoradas, para garantia da segurança. Os instrumentos usados para isso são os
piezômetros.
 Piezômetros de tubo aberto (Standpipe ou Piezômetro
Casagrande) – são instrumentos de fácil confecção e instalação,
alta durabilidade e confiabilidade. É constituído de um bulbo, no
local onde se pretende medir a carga de pressão, e um tubo que
liga o bulbo até o local onde será feita a leitura. Ao redor do bulbo
se coloca uma camada de areia sobre ela um selo de bentonita ou
solo-cimento, para isolar o bulbo. O resto do furo de sondagem é
preenchido com o solo natural. A leitura do instrumento é feita com
uso de um pio elétrico: uma trena com uma ponteira elétrica que
emite som assim que entrar em contato com a água, dando a
medida entre a boca do tubo e o nível de água. Por subtração

28
encontra-se a altura de coluna de água sobre o bulbo. Soma-se a
esta altura, a cota de instalação, obtendo-se a cota piezométrica,
em metros sobre o nível do mar (m.s.n.m.). A cota piezométrica é a
carga hidráulica total no ponto, em relação ao nível do mar.

Figuras 8 e 9 – Célula de piezômetro de tubo aberto e esquema de instalação do


piezômetro Casagrande

Fonte: Cemig GT
Além do piezômetro de tubo aberto, existem outros, mais sofisticados como o
piezômetro elétrico, pneumático e hidráulico, como mostram as figuras a seguir.

29
Figura 10 – Piezômetros: a) Elétrico b) Pneumático e c) hidráulico

Disponível em www.cesp.com.br

30
5. BARRAGENS DE CONCRETO – O QUE MONITORAR

É bem conhecido o caso da barragem em arco de Zeuzier, na Suíça. Com 156


metros de altura, operou durante 21 anos sem apresentar sinais preocupantes, até
quando os pêndulos diretos passaram a indicar deslocamentos crescentes da crista
da barragem para montante, apesar do reservatório estar cheio. Medições
geodésicas indicavam movimentos de aproximação entre as ombreiras e recalques
do maciço de fundação em toda a região da barragem. Fissuras apareceram no
concreto, com abertura de 10 mm e desenvolveram-se junto às ombreiras. As
investigações e os dados da instrumentação provaram que os problemas estavam
associados à escavação de um túnel rodoviário, a mais de um quilômetro. A
escavação foi paralisada e a barragem foi reparada e equilibrada, estando hoje em
operação normal.

Figura 11 – Barragem Zeuzier

Fonte: Nota do autor.

31
Conforme MATOS (2002) a instrumentação e o monitoramento de barragens de
concreto devem ser planejados em função do tipo da barragem: gravidade,
contraforte ou gravidade aliviada, arco e ainda, em função do método construtivo,
como o caso de barragem em concreto compactado a rolo. Instrumentação adicional
pode ser necessária, se for prevista ou observada presença de Reação Álcali
Agregado (RAA).

O MSIB (2002) informa que para estruturas de concreto, a subpressão e percolação


de água são as principais causas de instabilidade em potencial sob condições
normais de carregamento, de parte ou da totalidade das estruturas. Reações álcali-
agregado podem ocasionar sérios impactos na segurança das estruturas.

Instrumentação de Barragem tipo Gravidade


A maioria das barragens de concreto no Brasil é do tipo gravidade. Neste tipo de
barragem, é importante monitorar:
 Subpressão de fundação no contato entre concreto e rocha;
 Temperatura do concreto e sua dissipação ao longo do tempo;
 Deslocamentos, e recalques da fundação.

A dissipação de temperatura do concreto nestas barragens pode causar tensões de


origem térmicas, em valores significativos. São previstas juntas de dilatação e de
contração, que também devem ser instrumentadas para acompanhamento dos
deslocamentos.

5.1 A instrumentação de Barragem de contraforte

Monitoram-se as mesmas grandezas da barragem tipo gravidade, porém o


comportamento difere, pois as tensões no concreto são mais altas e mais uniformes.
Como são mais esbeltas, deformam mais e sofrem maior influência térmica. As
subpressões no contato concreto e rocha são menos importantes e estão limitadas
as cabeças dos blocos.

32
A drenagem do maciço ocorre pelas cavidades e vãos entre os contrafortes,
devendo se cuidar, porém, das infiltrações por meio das rochas. A estanqueidade
das cabeças dos blocos e seu contato com a rocha exigem um concreto de melhor
qualidade e uma rocha de fundação de boa qualidade ou convenientemente tratada.

5.2 A instrumentação de Barragem em arco

As medidas das tensões nestas barragens são de fundamental importância, pois o


concreto trabalha somente com compressão, criando um nível elevado de tensões,
sendo muito utilizados os deformimetros e tensômetros de concreto.
Este tipo de barragem também é muito afetado pelas variações térmicas, tanto em
termos de deslocamentos quanto das tensões no concreto.

Por serem estruturas muito esbeltas, sua deflexão sob a ação do empuxo
hidrostático é bem superior às barragens tipo gravidade, contraforte ou gravidade
aliviada de mesma altura, merecendo especial atenção à instalação de pêndulos
direto e invertido.

A instalação de rede geodésica é facilitada pelas condições topográficas e


geológicas do local de implantação destas barragens.

A observação das subpressões na região do contato concreto – rocha limita-se a


apenas alguns blocos chave.

5.3 A instrumentação de Barragem em CCR

O concreto compactado a rolo (CCR) é um método construtivo muito mais rápido e


barato que o concreto convencional. Neste tipo de concreto, o fator água/cimento é
bem menor e o concreto é muito seco, não aceitando a convencional vibração,
sendo por isso, compactado com rolo, de forma similar à uma barragem de solo. Em
consequência, apresenta muitos vazios ficando mais permeável e exigindo, por
vezes, a aplicação de uma manta de borracha em todo o paramento de montante,

33
constituindo um ponto de fragilidade. Em consequência, tomam maior relevância os
medidores de vazões.

A medição da evolução das temperaturas do concreto é uma das principais


recomendações, em virtude da maior facilidade de fissuração.

Em barragens com altura maior que 30 metros, é conveniente prever a instalação de


pêndulos diretos entre a crista e a base da estrutura. Também são indicadas galerias
de inspeção e de drenagem, piezômetros para medição das subpressões e
medidores de vazão.

Barragens afetadas por reatividade álcali-agregado (RAA)

A RAA é um processo químico onde alguns constituintes mineralógicos do agregado


reagem com os hidróxidos alcalinos (proveniente do cimento, água de
amassamento, pozolanas, agentes externos, etc.) que são dissolvidos na solução
dos poros do concreto. Como produto dessa reação forma-se um gel higroscópico
expansivo.

Uma vez instalada a RAA, nada se pode fazer para acabar com a reação. É preciso
então, conviver com ela. Quando este problema é detectado ainda na fase de
planejamento da obra, ele pode ser minimizado com o uso de pozolanas ou de
cimento-pozolânico. Pozolanas são cinzas siderúrgicas. Sua incorporação a
construção de grandes obras foi um grande passo da engenharia.

A reação álcali agregado, geralmente causa expansão no concreto, deslocamentos


diferenciais nas estruturas e até formação de bolhas, exsudação do gel e redução
das resistências à tração e compressão. A instrumentação dessas grandezas vai
permitir acompanhar o processo, até quando for possível manter a barragem.

34
5.4 Barragens de concreto – Grandezas e Instrumentos

Na figura a seguir, SILVEIRA (2003) nos apresenta uma didática correlação de


grandezas a serem monitoradas em barragens de concreto e instrumentos indicados
para seu monitoramento.

Figura 12 - Grandezas x Instrumentos

SILVEIRA (2003)

A seguir, vamos descrever alguns destes instrumentos.

 Pêndulo direto - Medidas de deslocamentos horizontais relativos,


entre dois pontos de cotas diferentes de estruturas de concreto ou
com a fundação; resultantes da rotação das mesmas em torno do
eixo horizontal.

Deve ser instalado em poços na estrutura e recessos na galeria. Consiste de um fio


de prumo onde uma das extremidades é presa em um ponto de cota elevada e a

35
outra extremidade é presa a um peso, que se encontra imerso em um recipiente de
óleo. Pode ser instalado para medir rotação transversal ou longitudinal. Funciona
como um pêndulo de oscilação. Os deslocamentos são medidos com um
coordinômetro ótico, ou através de um sistema potenciométrico para leitura e
registro remoto, que fornecerão leituras em duas direções ortogonais, possibilitando
assim definir a posição do fio de prumo em plano. As leituras nas duas direções são
obtidas posicionando-se o coordinômetro em cada uma das bases, orientadas em
direções ortogonais. Desloca-se a luneta de modo a enquadrar perfeitamente o fio
do prumo no retículo e em seguida repetindo a operação para enquadramento da
referência.

Dados do site da Itaipu: http://www.itaipu.gov.br/energia/instrumentacao (acesso pela


rede mundial de computadores em 06 de junho de 2012), nos dão conta de outros
instrumentos de barragens de concreto, instalados.

 Pêndulo invertido – Similar ao pêndulo direto, diferindo em relação


ao ponto fixo, pois neste, uma das extremidades está presa em um
ponto da fundação e a outra extremidade, presa a um peso que se
encontra imerso em um recipiente de óleo.

36
Figura 13 – Pêndulo invertido (primeiro plano) e pêndulo direto (segundo plano)

Fonte: CEMIG GT
Figura 14 – Esquema de instalação do Pêndulo Direto

Fonte: CEMIG GT

37
 Medidor de junta - Mede os deslocamentos de abertura e
fechamento de determinadas juntas de contração de estruturas de
concreto.
Figura 15 – Medidor triortogonal de junta

Fonte: CEMIG GT

Figura 16 – Projeto do medidor triortogonal de junta

Fonte: CEMIG GT

 Base de alongâmetro - Mede abertura, fechamento, recalque e


deslizamento entre blocos ou juntas de monólitos.

38
Figura 17 – Base de alongâmetro

Fonte: CEMIG GT

 Deformímetro (Extensômetro) de armadura - Mede as tensões


em barras de armadura, no interior de estruturas de concreto;
 Tensômetro de concreto - Mede a tensão no interior do concreto;
 Termômetro de resistência - Mede a temperatura no interior do
concreto;

39
Figura 18 – Termômetro

Fonte: CEMIG GT

 Deformímetro (Extensômetro) de concreto - Mede a deformação


do concreto e, por esta deformação, obtém-se a tensão que está
atuando na estrutura.

40
Figura 19 - Extensômetro para Concreto (acima à esquerda) e Termômetros para
Concreto, com equipamento medidor.

Fonte: Acervo do autor

Na figura 8, ao lado, temos acima à esquerda, um extensômetro para concreto,


modelo Carson A-10, ainda com invólucro protetor, e em primeiro plano, termômetros
para concreto, dispostos em três níveis. Cada instrumento se conecta ao rolo de
cabos, que levarão as informações até uma caixa seletora, quando instalados. Os
aparelhos para leitura, também são mostrados.

41
6 PROJETO DE INSTRUMENTAÇÃO E AUSCULTAÇÃO DE BARRAGENS

Instrumentação de segurança de barragens é matéria amplamente discutida.


Centenas de tipos de instrumentos são conhecidas e não raro, encontramos artigos
e livros a respeito. O Plano de Instrumentação, definição dos blocos a instrumentar,
análise das medidas e reinstrumentação, são assuntosencontrados com certa
facilidade. Mais amplamente, porém, a instrumentação de barragens poderia ser
expressa nas seguintes fases:
i) Projeto de instrumentação de barragens;
ii) Aquisição dos instrumentos;
iii) Aferição e calibração dos instrumentos;
iv) Instalação;
v) Manutenção;
vi) Reinstrumentação

6.1 Considerações de instrumentação


No projeto de instrumentação e de auscultação, definimos as grandezas a serem
monitoradas; os pontos de monitoramento, periodicidade de leituras, etc. É
importante que a barragem nasça junto com alguma instrumentação, para o
monitoramento de seu comportamento durante a construção. O projeto deve ser feito
por profissional capacitado e experiente, conforme inciso II, artigo 16, da Lei 12.334
da PNSB:

“exigir do empreendedor a anotação de responsabilidade técnica, por profissional


habilitado pelo Sistema Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
(CONFEA) / Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA),
dos estudos, planos, projetos, construção, fiscalização e demais relatórios citados
nesta Lei”.

A seguir, vamos discorrer sobre projeto de instrumentação e auscultação de


barragens. Este tópico do nosso curso está fortemente embasado na publicação
“Critérios de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas” da ELETROBRÁS (2003).

42
Segundo ELETROBRÁS (2003):

“Deve-se sempre ter em mente que um dos objetivos principais do plano de


auscultação é a supervisão das condições de segurança estrutural do
empreendimento, durante toda sua vida útil, procurando-se detectar
antecipadamente qualquer eventual anomalia que possa comprometer o seu
desempenho ou ameaçar a sua estabilidade, aferindo as hipóteses de projeto e a
supervisão do desempenho das obras de reparo que venham, eventualmente, a ser
implementadas”.

FIORINI (2008) no Minicurso de Segurança de Barragens, oferecido no VI SPMCH


(ver literatura de apoio), afirma que ao projetarmos a instrumentação de barragem,
devemos considerar:
 As características geotécnicas e geológicas do local;
 Os materiais construtivos;
 As investigações (sondagens) e ensaios de campo;
 Os estudos hidrológicos e hidráulicos;
 Os estudos de sedimentação;
 Estudos de Estabilidade;
 Tratamentos das fundações e do concreto;
 O sistema de auscultação.
Podemos incluir ainda, o tipo da barragem, como parâmetro significativo para sua
instrumentação.

6.2 Blocos Chave ou Seções Chave

Uma das primeiras ações do projeto será definirmos os “blocos-chave” identificados


como sendo aqueles blocos que melhor representam o comportamento das
estruturas. Partindo-se deste, as demais seções a serem instrumentadas são
aquelas que tenham características com variações importantes, como altura,
alteração na fundação, transições, etc.

43
6.3 Quantidade de instrumentos

Não é possível estabelecermos uma regra para definir a quantidade de


instrumentos. A avaliação do projetista é que a determinará. Para duas barragens
similares, podemos ter quantidades diferentes, por exemplo, dependendo das
condições de fundação.

A quantidade de instrumentos será função: do comprimento e altura da barragem,


das características de sua fundação; dos materiais, do arranjo estrutural e das
etapas construtivas.

6.4 Tipos de instrumentos


Os instrumentos serão escolhidos, conforme a grandeza a ser medida e
considerando a escala dessa grandeza, desde as medições iniciais até durante a
vida útil da estrutura. É importante conhecer com detalhe os instrumentos
(ZUCULIN, 1999). Uma incompatibilidade entre a escala da grandeza a ser lida e a
capacidade de leitura do instrumento, poderá danificá-lo definitivamente.

FONSECA (2003) inclui com propriedade os seguintes cuidados para a escolha do


tipo de instrumento:
 Simplicidade de funcionamento e instalação;
 Confiabilidade;
 Sensibilidade, faixa de medição;
 Durabilidade;
 Resistência;
 Estabilidade;
 Custos de aquisição, instalação, operação e manutenção;
 Experiência previa com sua utilização;
 Disponibilidade e assistência técnica do fabricante;

Os critérios gerais e específicos de um projeto de instrumentação de barragem

44
devem ser estabelecidos com base nos seguintes parâmetros:
 Fatores de segurança a serem atendidos no dimensionamento;
 Propriedades dos materiais de fundação, do concreto e do aço a ser
utilizado;
 Cargas de Projeto e Condições de carregamento;

O plano de auscultação da barragem deve prever todas as fases da vida da


barragem e todas as atividades a serem realizadas.

O projeto da instrumentação deve conter desde o arranjo até os procedimentos de


instalação; a definição dos valores de controle para todos os instrumentos instalados
e para as diversas fases; o plano de operação da instrumentação incluindo a
frequência de leituras nas diversas fases de vida da obra e durante possíveis
eventos excepcionais; o plano de observações visuais e inspeções in situ; o plano
de análise e interpretação do comportamento da obra com base nos resultados da
instrumentação e das inspeções visuais.

A publicação ELETROBRÁS (2003) apresenta uma importante listagem de


instrumentos, nomenclaturas, abreviações e simbologia para uso em projetos de
instrumentação. Também, apresenta uma sequência de etapas de desenvolvimento
de um projeto, segundo as fases de projeto da barragem:
Projeto Básico:
 Concepção do arranjo geral da instrumentação;
 Definição dos tipos de instrumentos;
 Definição das quantidades, inclusive reservas;
 Listagem dos materiais de instrumentação;
Projeto executivo:
 Detalhamento da instrumentação, localização, aterramentos;
 Especificações técnicas;
 Procedimentos para instalação e operação;
 Complementação da instrumentação;

45
 Testes de laboratório e de campo, calibração e aceitação;
Projeto “como construído” ou “as built”:
 Desenhos e plantas de localização dos instrumentos;
 Relatórios de instalação; operação e manutenção;
 Plano de medições; periodicidade segunda cada fase da obra;
 Valores de referência; limites;
 Plano de análise da instrumentação.

6.5 Barragens Pequenas

É importante destacarmos, que estamos tratando em geral, da instrumentação de


barragens grandes. Para barragens pequenas, com nível de risco baixo, a
instrumentação recomendada pode ficar restrita a:
 Alguns piezômetros, para acompanhamento das subpressões;
 Marcos superficiais e marco de referência de nível, para verificar
deslocamentos;
 Medidores de vazão, para verificar infiltrações e risco de piping;

6.6 Aquisição dos instrumentos

Ao elaborarmos as especificações técnicas, restará pouca margem de ação à área


de suprimentos que irá adquirir os instrumentos. Isso por que há poucos
especialistas e poucos fornecedores. É comum que um especialista, conheça ou
tenha mais experiência com este ou aquele fornecedor, e saiba que este instrumento
atende melhor as características do local a ser instalado enquanto desconhece
aquele outro.

6.7 Aferição e calibração dos instrumentos

Muitos instrumentos vêm com características de fábrica, aferido e calibrado. Mas por
vezes, o transporte e as condições de temperatura em que vão trabalhar, alteram
estas características, exigindo uma nova aferição e calibração.

46
6.8 Instalação de instrumentação

A instalação é um momento crítico da instrumentação. Quase sempre, instalar


instrumentos em barragem durante sua construção, implica em “atrapalhar” ou
atrasar a frente de obra, pois são procedimentos construtivamente complicados, e os
mestres de obra em geral são pressionados para cumprir prazos.

Também, a dicotomia entre a delicadeza de um instrumento e a rusticidade das


atividades construtivas da obra, com tratores, rolos compressores e materiais brutos
como pedras e concreto, pode causar avarias nos instrumentos ou dificuldades para
a boa instalação.

Outra complicação, é que após instalar instrumentos elétricos, os fios precisam ser
levados até o ponto onde haverá o acesso dos medidores. É comum que os cabos
elétricos tenham 30, 40 metros.
Figura 20 – Instalação Medidor de Deformação

http://www.dee.feis.unesp.br/museu/
Acesso em 02/06/2012

47
Considerando que se espera que estes instrumentos funcionem por 50, 100 anos,
emendas nos cabos não são recomendadas, pois são pontos de fragilidade elétrica.
Estes aspectos, além de causar dificuldades construtivas, ainda podem dar origem a
outros problemas como infiltrações e danos a vedação, levando a baixa na isolação
e perda do instrumento.

É importante documentarmos a instalação de cada instrumento, elaborando


relatórios, com fotografias, registro de ocorrências, fichas técnicas do fabricante,
dados de aferição e calibração.

Exemplo de Instalação de um Instrumento – Medidor de Tensões


Roseta com Extensômetros de Concreto

Vamos estudar com detalhe, a instalação de extensômetro de concreto, instrumento


que poderíamos classificar entre os mais difíceis de instalar, devido aos requisitos
técnicos associados à delicadeza do instrumento. MATOS (2003) descreve estes
procedimentos com muita riqueza, conforme segue.

As variações de dimensões do concreto podem ser causadas por tensões, por


fluência (deformação lenta), temperatura, variação higroscópica ou variação
autógena do concreto. Assim, para obtermos a tensão, pura, é preciso levar em
conta as demais variáveis.

A instalação de extensômetros em forma de “roseta” permite o cálculo de tensões


em várias direções do plano.

48
Figura 21 - Extensômetros de concreto dispostos em roseta para medição de
tensões

Fonte: MATOS (2003)

Para que a tensão final seja somente devido à carga, devemos expurgar as
variações do concreto devido a outros motivos. Para isso utiliza-se um extensômetro
corretor instalado a 1,5 m da roseta, numa câmara atensorial, isto é, uma câmara
isolada de tensões, sendo a sua distância ao topo camada do bloco igual a dos
deformímetros medidores, envolvido pelo mesmo concreto da roseta.

Embora os deformímetros tenham sido projetados para serem embutidos no


concreto, eles são razoavelmente delicados e cuidados adicionais devem ser
tomados para sua instalação.

49
Figura 22 - Câmara Atensorial e roseta de extensômetros (ao fundo)

Fonte: MATOS (2003)

Antes do início da concretagem do local onde ficará instalado o aparelho, deverá ser
feita uma inspeção detalhada, verificando os condutores, emendas, recessos,
terminais, codificação dos terminais e medidores, posicionamento e outros
requisitos. Quanto à codificação de cada aparelho, deverá ser colocada uma chapa
metálica, com o número de identificação no final do cabo, e outra próxima ao
aparelho. As extremidades dos cabos não devem ficar no chão devido ao
escoamento de água.

50
Caso os cabos tenham que ficar mergulhados temporariamente devemos preparar o
isolamento de suas pontas como segue:
- Manter durante 10 minutos em parafina a 95ºC;
- Enrolar com fita de borracha natural, mergulhando em massa isolante. Após a
secagem aplicar nova camada de fita de borracha e repetir novamente a última fase.
O concreto não deve ser lançado diretamente sobre o medidor. Ele deve ser lançado
em camadas ao redor e vibrado com cuidado. Cuidados especiais devem ser
tomados quando no preparo para concretagem da camada superior ao instrumento.
Após a concretagem os cabos devem ser conduzidos através de um tubo até a caixa
seletora, onde serão conectados. Esta caixa seletora será envolvida por uma
proteção especial e uma lâmpada ficará acesa, para a proteção contra a umidade
nas conexões.

Dispondo um grupo de deformímetros em um só plano, determinam-se as tensões e


direções principais. Para a colocação dentro do concreto dispõe-se o processo
construtivo de “block-out” que consiste em uma forma de madeira para formar o
recinto onde será colocado o deformímetro.

O concreto é inicialmente colocado a uma distância de 10 cm da aranha. Colocam-


se os deformímetros coplanares no sentido do fluxo, sendo colocado o primeiro no
sentido a jusante e o quinto na direção normal ao fluxo. Posteriormente, prossegue-
se o concreto em camadas de 10 cm e com agregados de diâmetro igual ou menor a
38 mm, orientando os cabos no tubo.

Logo após o término de concretagem da camada fazer uma canaleta de união das
rosetas com a tubulação que vai até a central de leitura. No dia seguinte os cabos
serão argamassados.

6.9 Manutenção de instrumentação de barragens

Existe pouca literatura a respeito da manutenção de instrumentos de segurança de


barragens. Mesmo os catálogos dos fabricantes, pouco se referem ao assunto.

51
O MSIB (2002) determina que os proprietários de barragens mantenham Programas
Anuais e de longo prazo de manutenção para as estruturas de concreto, que devem
incluir, mas não se limitar, à limpeza regular de drenos ou sistemas de drenagem,
manutenção dos sistemas impermeabilizantes, equipamentos de bombeamento e
instrumentação de monitoramento, necessários para garantir a segurança das
estruturas.

Em barragens de terra, as estruturas em aterro necessitam de trabalhos de


manutenção essencialmente direcionados ao controle da percolação e erosão a fim
de prevenir a deterioração do maciço e/ou fundação, e o desenvolvimento de
caminhos preferenciais de percolação.

Programas de manutenção periódicos para estruturas em aterro devem incluir a


manutenção regular da instrumentação, da crista e do enrocamento; o controle
desde a vegetação até as tocas de animais; estabilização de taludes; manutenção
dos sistemas de drenagem e a remoção de entulhos a montante, a fim de garantir a
segurança da estrutura.

Os drenos são equipamentos para alívio de subpressões e pressão neutra e


avaliação da percolação nos maciços, algumas vezes tratados como instrumentos
por terem sua vazão monitorada. O dreno fornece um caminho preferencial e
controlado de percolação da água. A água é drenada pelo tubo, por pressão ou por
gravidade, e conduzida para as canaletas das galerias de drenagem, ou,
diretamente para o exterior do maciço, para aliviar subpressões e pressões neutras.
É importante acompanhar a coloração das águas vertidas pelos drenos, verificando
a ocorrência de carreamento de materiais cimentícios ou material dos filtros, que
possam indicar piping. Se ocorrer entupimento dos drenos, a retrolavagem pode ser
aplicada para desobstrução.

Os piezômetros e outros instrumentos de tubo vertical precisam sempre estar com


suas proximidades limpas, evitando que caiam pedrinhas no tubo, que poderiam

52
danificar o instrumento, para o resto da vida útil da barragem.

Um programa de manutenção preventiva deve ser planejado de acordo com a


classificação por consequência de ruptura da barragem, padrão da indústria,
recomendações do fabricante e do histórico operacional de cada peça, em particular,
do equipamento.

6.10 Reinstrumentação

Duas situações indicam a necessidade de se reinstrumentar uma barragem: quando


queremos monitorar grandezas ainda não instrumentadas, ou, para reposição de
instrumentação perdida.

53
7 AQUISIÇÃO, TRATAMENTO E ANÁLISE DE DADOS DE INSTRUMENTAÇÃO

Num sistema de gestão e banco de dados de instrumentação, merece especial


atenção a implantação de uma base de dados informatizada, para gestão das
informações da instrumentação de segurança de barragens, como nós poderemos
concluir a seguir.

A quantidade de instrumentos de monitoramento em uma barragem, pode ser muito


grande, assim como, os tipos diferentes e suas variantes.

Conforme ZUCULIN (1999) existiam cerca de 18.000 instrumentos instalados em 26


barragens de usinas hidrelétricas outorgadas a uma concessionária, sendo 63 tipos
diferentes de instrumentos. Conforme SILVEIRA (2003) o portfólio de instrumentos
para monitorar seis usinas dessa mesma companhia, era de 4.900. O site
http://www.itaipu.gov.br/energia/instrumentacao, acessado em 8 de junho de 2012,
informava que para monitorar a UHE Itaipu:

“Os técnicos têm o auxílio de 2.400 instrumentos (1.358 no concreto, 881 nas
fundações e 161 para geodesia), sendo 270 automatizados e 5.295 drenos (949 no
concreto e 4.346 nas fundações) para acompanhar o desempenho das estruturas de
concreto e fundações”.

A tabela a seguir, extraída de ZUCULIN (1999), apresenta uma relação dos tipos e
variantes dos instrumentos, sem se limitar a estes.

Tabela 1- Tipos, variantes e modelos de instrumentos para barragem.


Instrumento Tipo Modelo
Base para Alongâmetro Mecânico LCEC
Base para Tensotast Mecânico LCEC
Cadeia Clinométrica Mecânico LCEC
Célula de Carga Elétrico Maihak

54
Instrumento Tipo Modelo
Célula de Carga Elétrico LCEC
Célula de Tensão Total Pneumático Gloetzl
Célula de Tensão Total Pneumático Maihak
Célula de Tensão Total Pneumático LCEC
Célula de Tensão Total Pneumático Carlson/Kyowa
Detetor de Trinca Mecânico -
Dreno Hidráulico LCEC
Extensômetro Mecânico de Grande Base
Extensômetro Elétrico para Concreto
Extensômetro Elétrico de Fios
Extensômetro Mecânico de Hastes
Inclinômetro Mecânico 200B
Inclinômetro Mecânico Digital/40
Inclinômetro Mecânico Digital/50
Pino de
Marco Superficial LCEC
referência
Medidor de Junta Elétrico LCEC
Medidor de Nível d’água Hidráulico de Tubo
Medidor de Recalque Mecânico USBR
Medidor de Recalque Mecânico Caixa Sueca
Medidor de Recalque Mecânico KM
Medidor de Recalque Mecânico de Hastes
Medidor de Recalque Magnético Magnético
de Tubo
Medidor de Recalque Mecânico
Telescópico
Medidor de Vazão Calha Parshall Parshall
Medidor de Vazão Hidráulico Triangular
Medidor de Vazão Hidráulico Trapezoidal
Medidor de Vazão Vertedouro Retangular
Medidor de Vazão Hidráulico de Tubo

55
Instrumento Tipo Modelo
Medidor Triortogonal Mecânico LCEC
Pêndulo Pêndulo Direto
Pêndulo Pêndulo Invertido
Pêndulo Pêndulo Invertido
Piezômetro Hidráulico de Tubo Fechado
Piezômetro Elétrico Carlson/Kyowa
Piezômetro Elétrico Telemac
Piezômetro Elétrico Geonor
Piezômetro Elétrico Maihak
Piezômetro Elétrico LCEC
Piezômetro Hidráulico LCEC
Piezômetro Hidráulico Geonor
Piezômetro Hidráulico Bishop
Piezômetro Hidráulico USBR
Piezômetro Pneumático Sinco
Piezômetro Pneumático Warlan
Piezômetro Pneumático LCEC
Piezômetro Hidráulico de Tubo Aberto
Poço de Alívio Hidráulico LCEC
Tensômetro Elétrico para Concreto
Tensômetro Elétrico para Armadura
Termômetro Elétrico para Concreto
Termômetro Elétrico para Reservatório

Para termos ideia da dimensão do trabalho exigido para gestão da das informações
de instrumentação, vamos considerar a periodicidade de medição em cada
instrumento variando a cada fase, conforme exemplo da tabela que segue extraída
de MATOS (2002):

56
Tabela 2 - Periodicidade de Leituras
Auscultação de Barragens – Fase
Grandeza
Primeiro Início da
Construção Operação
Enchimento Operação
Deslocamento Ao final da
Mensal Trimestral Semestral
absoluto construção
Deslocamento
Quinzenal Semanal Mensal Mensal
angular
Deslocamento
Semanal 2 x Semana Quinzenal Mensal
relativo
Deformação
Semanal 2 x Semana Semanal Mensal
interna
Tensão Semanal 2 x Semana Semanal Mensal
Temperatura do
Semanal Semanal Quinzenal Mensal
concreto
Pressão
intersticial no Semanal 2 x Semana Quinzenal Mensal
concreto
Subpressão na
Semanal 3 x Semana 2 x Semana Quinzenal
fundação
Infiltração
- Diária 3 x Semana Semanal
(Vazão)
Carga (cabos Diária durante a
2 x Semana Semanal Mensal
de protensão) protensão

Ou seja, uma barragem com grande quantidade de instrumentos distribuídos por


todas as estruturas, dentro e fora do maciço, implicam uma trabalhosa tarefa.

Dentro dos maciços, os instrumentos podem estar instalados em vários níveis


(alguns na fundação, outros em níveis intermediários, outros na superfície).

Podemos imaginar que é necessária uma equipe de leituristas muito grande, para

57
dar conta de todas essas leituras, não é?

E não é só isso! Existem instrumentos que fornecem várias medidas a cada “leitura”,
a partir das quais devemos fazer vários cálculos até obter a grandeza a ser
monitorada. Vamos detalhar apenas dois exemplos, um simples e outro complexo:

Medidor de Vazões Triangular – MV

O leiturista vai até a galeria, diariamente, e anota o a altura (H) da água no MV, em
relação ao vértice do triângulo. Ao retornar, irá compilar a leitura no sistema
informatizado, que vai calcular a vazão, por meio da equação: Q = 1,4 x H 5/2.

Extensômetro Carlson A-10 – EC

O leiturista portando um equipamento de medição conhecido como Ponte de


Wheatstone (em função do princípio elétrico de mesmo nome), vai até a Caixa
Seletora (caixa metálica, geralmente instalada na parede de uma galeria de
inspeção no maciço, onde se concentram os cabos oriundos dos instrumentos de
medição por princípio elétrico). Conecta os 4 fios ao equipamento e faz as leituras
das resistências elétricas, para cada extensômetro. De posse das constantes de
fábrica: Z0 = relação de resistências (%); f = constante de calibração (mm/%); ZK =
soma da relação de resistências (%) e YZ = tolerância (%) e das constantes de
aferição: R4w0 = resistência (4 fios) obtida a zero grau Celsius () e  = constante
de variação de temperatura (ºC/) e das constantes de instalação: L = Comprimento
da Base (mm); Zi = relação de resistências inicial (%) e R4Wi = resistência a 4 fios,
inicial (), calcula as grandezas de interesse, usando a fórmula:

(Zdir− Z0 )∗ f
ε=
L∗ 106
T= (R4w− R0 )∗ β
Onde:
 = Deformação específica (m/m) e

58
T = Temperatura do concreto naquele ponto (ºC)

Os tempos estimados para leitura convencional de cada instrumento, assim como a


quantidade de leituristas, podem ser conhecidos em ZUCULIN (1999).

Podemos agora imaginar a dimensão e a dificuldade para gestão destes dados, que
é parcialmente resolvida com Sistema Informatizado de Gestão de Instrumentação.
Cada empresa certamente tem o seu sistema.

O artigo de PÍNFARI (2011) menciona o SICESP - Sistema CESP de Segurança de


Barragens, como ferramenta de gestão de informação de segurança de barragens
naquela empresa. FONSECA (2003) cita o programa MONITOR, como banco de
dados de gestão de instrumentação na CEMIG.

Sistemas informatizados possibilitam que o especialista em segurança de barragens,


avalie o comportamento das estruturas e perceba a tempo, os instrumentos com
comportamentos não normais e as seções da barragem que apresentem anomalias
a ser melhor investigadas.

7.1 Aquisição automática de dados

Para além do Banco de Dados, o sistema informatizado deve também, na medida do


possível, adotar a aquisição automática de dados.

A aquisição automática pode ser feita várias maneiras.

Existem equipamentos registradores, que podem ser levados pelos leituristas, os


quais contém sequencialmente a campanha de leituras e, na medida em que vão
percorrendo os instrumentos, vão anotando as leituras, que depois podem ser
“descarregadas” automaticamente e diretamente ao Sistema, por meio de um
computador.

59
A tendência atual é de automatizar os instrumentos. Sensores estão sendo
desenvolvidos e implantados, buscando alternativas econômicas que viabilizem a
aquisição de medidas on-line, conforme consta em PÍNFARI et al (2011).

É preciso destacar que a inspeção visual na barragem durante as campanhas de


leituras é muito importante. Não se trata aqui, daquela inspeção especializada e
regulamentada em Lei, mas, das visitas dos técnicos de instrumentação e leituristas
aos instrumentos, momento no qual circulam pela barragem e podem observar
comportamentos anômalos que mereçam verificação mais acurada. Em
http://www.itaipu.gov.br/energia/instrumentacao (acesso em 8 de junho de 2012), a
Itaipu Binacional expressa esta preocupação:
“No projeto original da Itaipu foi adotado o critério da leitura periférica da
instrumentação, em vez da leitura centralizada e automática, pois a leitura periférica
obriga os técnicos a visitar rotineiramente toda a barragem, assegurando assim a
observação das estruturas e fundações e dos próprios instrumentos”.

Não podemos nos esquecer, que a instrumentação e as inspeções visuais periódicas


(as legais) são complementares. A Unidade 4, que se segue em nosso curso, será
inteiramente dedicada às inspeções visuais.

7.2 Valores de controle ou valores de referência

Da mesma forma que os médicos se baseiam em estatísticas, para afirmar que


nosso nível de colesterol está acima do recomendado, barragens dispõem de
parâmetros que nos indicam seu estado.

Conforme comentado, cada instrumento instalado na barragem deve ter seu


respectivo valor teórico de referência ou de controle, para comparação com os
valores que serão lidos.

Conforme ELETROBRÁS (2003), os valores de controle, devem ser


estipulados com base em:

60
Critérios de projeto: alguns instrumentos devem ter valores definidos no
projeto, como por exemplo, os tensômetros e os piezômetros; estes para medição de
subpressões sob condições de drenos operantes e inoperantes;

Estudos em modelos matemáticos: deslocamentos são grandezas que


podem advir de modelos matemáticos bidimensionais ou tridimensionais. É
importante conhecer os valores de referência de deslocamentos, para pelo menos
três níveis de enchimento do reservatório, para acompanhamento deste momento
crítico;

Estudos em modelo reduzido: para condições normais de operação do


reservatório, nível máximo normal e para nível máximo maximorum, este último, que
pode ser atingido apenas em situações de cheias extraordinárias, como por
exemplo, as decamilenares.

Fase de operação: nas fases anteriores, é comum que os valores de


referência estejam muito majorados em relação aos valores medidos durante a fase
de operação, pois naquelas, normalmente se utilizam modelos matemáticos com
base em análises elásticas lineares, não se computando a deformação lenta da
fundação e do concreto (fluência), nem as influências térmicas ambientais (variações
verão - inverno). É fundamental que, decorridos alguns anos após o enchimento de
reservatório, quando as grandezas medidas adquirem estabilidade, seja feita uma
reavaliação dos valores de referência para a instrumentação, os quais devem ser
aferidos com base em suas próprias medições, bem como considerando as reais
características reológicas dos materiais empregados na execução da barragem e de
suas fundações, as quais podem ser mais bem representadas pela série de ensaios
executados durante a construção.

Além disso, é oportuno que os valores de referência sejam reavaliados a intervalos


regulares de tempo, verificando-se sua validade, especialmente em função de
eventos inesperados, fenômenos de fluência, e sempre que o acervo de dados
coletados permita uma boa calibragem dos modelos existentes.

61
7.3 Análise dos dados da instrumentação:

“A análise dos dados da instrumentação envolve a correlação dos valores medidos


com os carregamentos, determinação de tendências de variação e cuidadosa
comparação dos valores medidos com aqueles previstos teoricamente ou
experimentalmente. Para que essa análise seja possível, as informações completas
devem estar disponíveis em um formato tal que facilite a sua interpretação. Este
formato pode ser uma tabela ou gráfico, se possível correlacionando as medidas
com parâmetros que possam influenciá-las, como nível de montante, de jusante,
temperatura ambiente e progresso da construção. Além disso, toda a informação
sobre os critérios e considerações de projeto e sobre o método de estabelecimento
dos ‘limites de tolerância’ teóricos pré-estabelecidos para os parâmetros monitorados
devem estar disponíveis” (Fusaro, 2007).

“A avaliação detalhada dos dados deve ser feita por pessoal experiente e
familiarizado com o objetivo geral do esquema de instrumentação, com
conhecimento das tolerâncias e das limitações de cada tipo de instrumento, do
comportamento esperado das estruturas analisadas e dos impactos relativos das
leituras fora das faixas admissíveis pré-estabelecidas. Uma análise sem estes
requisitos prescinde de foco e de consistência, implicando em conclusões ou ações
inadequadas” (Fusaro, 2007).

“Os dados da instrumentação devem ser analisados sob duas óticas: primeiro, em
função do tempo para identificar mudanças de tendências, como aumento da vazão
de percolação ou aumento na velocidade dos recalques verticais, por exemplo;
segundo, dentro do contexto do comportamento esperado em relação aos critérios
de projeto, como a verificação da relação entre os valores de poropressões medidas
e previstas pelas redes de fluxo de projeto, por exemplo” (Fusaro, 2007).

Quando há possibilidade comparar as medidas de campo com dados de projeto,


chamamos essa análise de modelo determinístico. Esse modelo lança mão de
valores-limites ou de referência (item 7.2) determinados pelas análise de

62
estabilidade ou análise estruturas das barragens. As demais análises tem caráter
estatístico.

Para tanto, a ferramenta mais utilizada e que demonstra maior eficiência no


processo de interpretação dos dados obtidos pela instrumentação é a análise
gráfica. Depois de coletados em campo ou de maneira automática, os dados já
transformados em medidas são expressos em forma de gráficos. Esses gráficos é
que auxiliarão no processo de identificação de tendências e mesmo da superação
de valores limites determinados pelo projeto.

Figura 23 – Gráfico de marcos de superfície com recalques em curso com


tendências de estabilização

Fonte: CEMIG GT

63
Figura 24 – Gráfico de piezômetros com comportamento similar às oscilações do
reservatório

Fonte: CEMIG GT

Os principais tipos de gráficos traçados para a análise dos dados são:


• medida (seja ela deslocamento, pressões, tensões, vazões, etc) x tempo: este tipo
de gráfico permite ao analista identificar mudanças de tendências ao longo do tempo
de operação da barragem;
• medida x grandezas externas: as medidas colhidas nos instrumentos podem (e
devem) ter correção com alguma grandeza externa. Por exemplo, numa barragem
de terra espera-se que o comportamento dos piezômetros do aterro tenham
correlação com as medidas do nível do reservatório. Numa barragem de concreto
espera-se que as medidas de deslocamentos de junta tenhm relação com a
temperatura ambiente. Assim, a criação desse tipo de gráfico permite evidenciar
correlações importantes para a compreensão do comportamento;
• Instrumentos semelhantes, de uma mesma seção ou mesma elevação podem ser
plotados num mesmo gráfico para evidencias aqueles que têm maior sensibilidade
às alterações de carga ou se há correlação entre os comportamentos observados.
Uma infinidade de gráficos são possíveis e sua criação depende apenas do

64
interesse do responsável pela análise em compreender os fenômenos que regem o
comportamento da instrumentação.

A análise gráfica permitirá que o responsável se faça algumas perguntas relevantes


para interpretação a segurança da barragem, como por exemplo:
• as medidas registradas são superiores àquelas previstas pelo projeto?
• os tratamentos de fundação (cortina de injeção, cut off, tapete impermeável de
montante) foram efetivos?
• os dispositivos de drenagem têm capacidade adequada e vêm mantendo sua
eficiência? Os gradientes de saída da água são aceitáveis?
• há carregamentos excessivos na barragem? ;
• há deformações excessivas? As deformações estão em fase de estabilização?
• a operação das estruturas anexas em concreto (extravasores, casa de força e
tomada d’água) ocorre normalmente?
• a borda livre de projeto está sendo mantida?
• os dados indicam variações, que possam indicar riscos de ruptura da barragem?
Essas são algumas perguntas entre tantas que os analistas da instrumentação se
podem fazer.

Em qualquer das hipóteses de análise de dados o executor das leituras em campo


também tem responsabilidade sobre parte da análise, no que poderíamos chamar de
análise preliminar. Na ocorrência de um problema de segurança de uma barragem
que por ventura seja indicado pela instrumentação o leiturista deve alertar os
responsáveis pela barragem da detecção de leituras que diferenciem do
comportamento normal da estrutura. O alerta imediato disparada pela análise previa
realizada pelo responsável pelas leituras dos instrumentos pode ser vitar a a
segurança de uma barragem no caso da ocorrência de um processo de acidente ou
incidente desencadeado de maneira muito rápida.

No processo de análise não deve ignorar a possibilidade de que medidas


discrepantes do conjunto de dados podem ser fruto de falhas no processo de
aquisição de dados, seja por falha humana, seja por falha no equipamento. Desta

65
forma, é imprescindível garantir que os leituristas estejam bem treinados e passem
pro capacitações frequentes e que os instrumentos sejam sempre calibrados e bem
mantidos durante toda sua operação.

Sob qualquer uma destas duas óticas, para se proceder a esta análise deve-se ter
em mente que (Fusaro apud ICOLD, 1989):
• existe um time-lag entre um fenômeno físico, como variação do nível d’água do
reservatório, por exemplo, e a resposta dada pelo instrumento;
• escalas distorcidas para a representação gráfica dos dados coletados podem levar
a interpretações e conclusões também distorcidas;
• variações bruscas e/ou inesperadas devem ser correlacionadas criteriosamente
com as informações relativas à construção e à operação da barragem, de forma a
proporcionar interpretações lógicas para estes registros coletados;
• as conclusões devem ser baseadas em tendências estabelecidas ao longo de um
período de tempo razoável das observações;
• correlações com diferentes tipos de dados devem ser estabelecidas de forma a
garantir confiabilidade aos processos de monitoramento;
• as limitações inerentes a cada instrumento devem ser previamente conhecidas, de
forma a se evitar tentativas improdutivas de se avaliar dados cuja magnitude está
dentro da margem de erro do instrumento utilizado;
• os limites aceitáveis para os dados da instrumentação devem ser estabelecidos na
fase de projeto, antes do início do enchimento do reservatório (as estruturas e
fundações sendo capazes de suportar certas magnitudes de deslocamento, pressão,
etc.), evitando-se tais proposições baseadas nos registros posteriores indicados pela
instrumentação;
• a ocorrência de dados da instrumentação em desacordo com os valores previstos
não implicam necessariamente a existência de um problema; por outro lado, também
é verdade que mesmo dados inseridos dentro das faixas admissíveis dos
instrumentos não implicam necessariamente que não existam problemas.

A análise dos dados da instrumentação envolve tanto a verificação do


comportamento esperado em relação aos critérios de projeto quanto à verificação de

66
tendências ou padrões de comportamento ao longo do tempo. Em ambos os casos,
as análises baseiam-se na observação de desvios entre valores esperados e valores
observados, sejam estes os valores previstos pelo projeto ou os valores
historicamente medidos por determinado instrumento. Por isso, a possibilidade de
comparar o comportamento real de uma obra com o teórico, obtido através de um
modelo numérico, constitui uma ferramenta importante para a avaliação do estado
de segurança de uma estrutura e para o seu controle contínuo ao longo do tempo
(Fusaro apud Menga et al., 1999).

67
CONCLUSÃO

Na fase de operação de uma barragem a segurança da estrutura é garantida pela


observação e detecção de anomalias e a correta atuação para correção das
mesmas. Apensar de ter grande importância se imprescindível para tal objetico, as
inspeções visuais de campo muitas vezes não são suficiente para alacanças esse
objetivo uma vez que o processo está sempre atrelado à subjetividade do
responsável e pela limitação da visão ao comportamento externo à estrutura.

A instrumentação civil de barragens se configura como alternativa de manutenção


preditiva objetiva, uma vez que permite extrais dados de comportamento externos ou
internos (deslocamentos, pressões, vazões, tensões, deformações, etc) que os
sentido humanos não poderiam levantar.

Existe uma série de instrumentos indicados e dedicados às barragens de concreto e


aterro. Da correta especificação na fase de projeto, da sua correta instalação, do
correto processo de manutenção, operação e calibração, dependem o bom
aproveitamento dos benefícios que podem ser auferido por meio do uso de
instrumentos civis de barragens. Igualmente importante são as fases de aquisição
das leituras, inserção dos dados nos bancos de dados e de análise dessas
informações para a segurança das barragens. A estruturação dessas etapas, tanto
ponto de vista de capacitação dos leituristas, quanto dos analistas são fundamentais
para o sucesso do processo.

Os instrumentos são excelentes ferramentas para darem “respostas” relevantes para


“perguntas” importantes, especialmente em lugares que o olhar humano não
alcança, a respeito do comportamento das barragens ao longo da sua vida útil, mas
para isso devem receber cuidados em todas as fases de implantação e operação.

68
REFERÊNCIAS

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terra e enrocamento, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Ouro
Preto, 2010, Ouro Preto, MG, Brasil. Acesso em 10 de junho de 2012:
http://www.nugeo.ufop.br/joomla/attachments/article/19/15.%20Marinis%20Maria%20
de%20Almeida.pdf

ELETROBRÁS - Critérios de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas – Publicado


pelo Eletrobrás com apoio do Comitê Brasileiro de Barragens – CBDB / ICOLD e
apoio das empresas: Chesf, Cemig, Copel, Engevix, Eletronorte, Furnas, Itaipu,
Themag, Lactec/Cehpar, 2003 – Acesso pela rede mundial de computadores em 10
de junho de 2012:
http://www.eletrobras.com/elb/data/Pages/LUMISF99678B3PTBRIE.htm

FERREIRA, JAMIL – Reavaliação da Segurança da Barragem de Terra da Usina


Hidrelétrica Piau, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Ouro Preto,
2007, Ouro Preto, MG, Brasil. Acesso em 10 de junho de 2012:
http://www.nugeo.ufop.br/joomla/attachments/article/11/Disserta%C3%A7%C3%A3o
%20Jamil%20Ferreira.pdf

FIORINI, ADEMAR SÉRGIO – Minicurso de Segurança de barragens, VI SPMCH


– Simpósio de Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas / CBDB, 2008 – Acesso
pela rede mundial de computadores em 06 de junho de 2012:
http://www.cbdb.org.br/site/trabalhosapre.asp

FONSECA, ALESSANDRA ROCHA – Auscultação por instrumentação de


barragens de terra e enrocamento para geração de energia elétrica – Estudo de
caso das barragens da UHE São Simão, Dissertação de Mestrado, Programa de
Pós-graduação da Universidade Federal de Ouro Preto, 2003. Acesso pela rede
mundial em 04 de junho de 2012.

69
http://www.nugeo.ufop.br/joomla/downloads/MESTRADO-
ACADEMICO/Dissertacoes/PaginasArquivos_22_85.pdf

Guia Básico de Segurança de Barragens, Comitê Brasileiro de Barragens, São


Paulo, 2001. Acesso na rede mundial de computadores em 02/06/12:
http://www.cbdb.org.br/simposio/Guia%20Seg.%20Barr%20-%20CBDB-SP.pdf

Lei Federal 12.334 de 2010 – Subchefia de Assuntos Jurídicos da Casa Civil da


Presidência da República do Brasil. Portal da Legislação. Acesso pela rede mundial
de computadores em 05 de junho de 2012: http://www4.planalto.gov.br/legislacao

MATOS, SILVIA FRAZÃO - Avaliação de instrumentos para auscultação de


barragem de concreto. Estudo de caso: deformímetros e tensômetros para
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http://www.ppgcc.ufpr.br/dissertacoes/d0018.pdf

MSIB, Manual de Segurança e Inspeção de Barragens - 2002 - Ministério da


Integração Nacional, Brasília, 2002. Acesso na rede mundial de computadores em
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PÍNFARI, JULIO CESAR; CARNEIRO, EDVALDO FÁBIO; CESTARI, EUCLYDES JR


- Aquisições automáticas de leituras de instrumentos de auscultação
utilizando sensores de baixo custo - XXVIII Seminário Nacional de Grandes
Barragens / CBDB – 2011 – Rio de Janeiro, Brasil. Acesso em 10 de junho de 2012:
http://www.eticaeventos.com.br/eventos/cbdb/trabalhos_sngb/T%20104%20-
%20A%2006%20JCPinfari%20SBB.pdf

PORTELA, ELIANE - Sistemas inteligentes de apoio à decisão no controle de


Segurança de barragens, CBDB - XXVIII Seminário Nacional de Grandes

70
Barragens, 2011, Rio de janeiro – RJ – Brasil

SILVEIRA, JOÃO FRANCISCO ALVES – Segurança e Controle de Risco na


Realização e Operação de Barragens, XXVIII Seminário Nacional de Grandes
Barragens, 2011, Rio de Janeiro, Brasil.
ZUCULIN, SÉRGIO, BERNARDES, HAROLDO DE MAIO – Instrumentos de
observação de barragens; Trabalho de formatura - Faculdade de Engenharia Civil
de Ilha Solteira – FEIS, UNESP, 1999, Ilha Solteira, SP, Brasil.

Disponível na literatura:

FERREIRA,AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA; Dicionário Aurélio Eletrônico


Século XXI, Editora Nova Fronteira, 1999, São Paulo, Brasil

FUSARO, TERESA CRISTINA; Estabelecimento Estatístico de Valores de


Controle para a Instrumentação de Barragens de Terra: Estudo de Caso das
Barragens de Emborcação e Piau, UFOP, 2007, Ouro Preto, Brasil.

MENESCAL, ROGÉRIO DE ABREU (Organizador) – A segurança de barragens e


a gestão de recursos hídricos no Brasil, Ministério da Integração Nacional, 2004,
Estação Gráfica, Brasília, Brasil.

SILVEIRA, JOÃO FRANCISCO ALVES – Instrumentação e comportamento de


fundações de barragens de concreto, Oficina de Textos, 2003, São Paulo, Brasil.

Acessível na rede mundial de computadores:

MUSEU VIRTUAL DE FOTOS HISTÓRICAS DE ILHA SOLTEIRA E REGIÃO,


Departamento de Engenharia Elétrica - DEE, Faculdade de Engenharia de Ilha
Solteira – FEIS, UNESP - Acesso na rede mundial de computadores em várias datas
entre 24 de abril e 02 de junho de 2012: http://www.dee.feis.unesp.br/museu/

71
CURSO
SEGURANÇA DE BARRAGENS

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1
MÓDULO III: GESTÃO E DESEMPENHO DE
BARRAGENS

UNIDADE 2: PLANOS DE AÇÕES DE EMERGÊNCIA

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2
FICHA TÉCNICA
Realização:

EQUIPE TÉCNICA
Diego Antonio Fonseca Balbi Glauco Gonçalves Dias
Elaboração de conteúdo Revisor Técnico Geral

Alexandre Anderáos Etore Funchal de Faria


Revisor técnico ANA Revisor técnico Itaipu

Carlos Leonardi Fabio Luiz Willrich


Revisor técnico Itaipu Revisor técnico Itaipu

Cesar Eduardo b. Pimentel Josiele Patias


Revisor técnico ANA Revisora técnica Itaipu

Claudio Neumann Josimar Alves de Oliveira


Revisor técnico Itaipu Revisor técnico ANA

Claudio Osako Ligia Maria Nascimento de Araújo


Revisor técnico Itaipu Revisora técnica ANA

Dimilson Pinto Coelho Silvia Frazão Matos


Revisor técnico Itaipu Revisora técnica Itaipu

Coordenação Executiva
Celina Lopes Ferreira (ANA)
Revisão Ortográfica
ICBA – Centro de Línguas
www.cursodeidiomasicba.com.br

Esta obra foi licenciada sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados
3.0 Não Adaptada

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3
CURRICULO RESUMIDO

Prof: Diego Antonio Fonseca Balbi

 Engenheiro Civil pela Universidade Federal de Minas Gerais


(UFMG)

- Período: 1996 - 2000

 Mestre em Saneamento, Meio ambiente e Recursos Hídricos pela


UFMG
- Conclusão: 2008
- Dissertação: Metodologias para a Elaboração de Planos de
Ações Emergenciais para inundações induzidas por barragens.
Estudo de caso: Barragens de Peti – MG

 Atuando desde 2002 na Gerência de Segurança de Barragens e


Manutenção civil da Cemig Geração e Transmissão
- Entre 2002 e 2006 na Equipe de estudos especiais e de
Instrumentação
- Desde 2007 na Equipe de Estudos Hidráulicos e de
Planejamento para Ações Emergenciais

 Contatos:
- E-mail: diegoafbalbi@yahoo.com.br

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4
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 09
2 SEGURANÇA DE BARRAGENS E PLANOS DE EMERGÊNCIA................ 16
2.1 Gerenciamento do risco e das emergências................................................ 16
2.2 Gestão de riscos e emergências de Barragens........................................... 21
2.3 Gerenciamento de riscos e emergências no Brasil...................................... 24
2.4 Aspectos da legislação relativa a s no mundo............................................. 27
2.5 Legislação ligada à proteção da população ou à defesa civil...................... 28
3 PLANO DE AÇÕES DE EMERGÊNCIA (INSTITUICIONAIS EXTERNOS)... 30
3.1 Introdução aos planos de atendimento a emergências............................... 30
3.2 Os planos de ações emergenciais de barragens......................................... 35
4 CARTAS DE RISCO E OCUPAÇÃO DO SOLO............................................ 69
5 ESTUDOS DE CAUSA X EFEITO EM CENÁRIOS DE RUPTURA............... 71
6 CENÁRIOS POTENCIAIS DE RISCO............................................................ 78
7 CRITÉRIOS E FERRAMENTAS PARA MAPEAMENTO DE PLANÍCIES
DE INUNCAÇÃO............................................................................................... 82
8 TREINAMENTOS, ATUALIZAÇÃO E REVISÃO........................................... 99
9 PLANOS EMERGÊNCIA EXTERNOS – PEE – DEFESA CIVIL................... 101
9.1 Estimativa dos danos................................................................................... 104
9.2 Administração das ações em função do tempo de elevação do nível
d’água a jusante................................................................................................. 115
10 SISTEMAS DE ALERTA............................................................................... 119
11 MÉTODOS DE INTERAÇÃO COM A SOCIEDADE..................................... 131
CONCLUSÃO.................................................................................................... 136
REFERÊNCIAS................................................................................................. 137

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5
LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Ciclo de gerenciamento de riscos e emergências


Figura 02– Gestão operacional do risco nas barragens e vales a jusante
Figura 03 - Gestão operacional da segurança integrada Barragem/Vale
Figura 04 – Exemplo proposto de medidas de intervenção para um problema detectado
Figura 05 – Organograma da barragem de Irabia, na Espanha
Figura 06 - Organograma para situações de emergência
Figura 07 - Sala de emergência da barragem de Penacova, em Portugal
Figura 08 - Esquema geral de um eventual sistema de notificação Barragem-Vale
Figura 09 - Exemplo de Fluxograma de notificação
Figura 10 – Exemplo de notificação adotado pela BCHydro
Figura 11 - Classificação do perigo adotado pelo Bureau of Reclamation
Figura 12 – Níveis de água de interesse para o planejamento da Defesa Civil
Figura 13 – Zoneamento de emergência para ameaça nuclear no município de Angra dos
Reis, RJ
Figura 14 – Mapa de ameaça e áreas potencialmente inundáveis no município de
Manhuaçu, MG
Figura 15 - Mapa de risco a deslizamento no município de Ipatinga, MG
Figura 16 – Processo de evacuação
Figura 17 - Fluxo de comunicação entre os envolvidos na Defesa Civil
Figura 18 – Exemplo de sirene instalada nos Estados Unidos
Figura 19 – Modelo de sinaleira
Figura 20 – Guia de evacuação do sistema de alerta para ruptura da barragem de Tuttle
Creek, nos Estados Unidos
Figura 21 – Partes da apostila do ORSEP sobre a convivência das pessoas com as
barragens

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6
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Níveis de segurança e situações em que são ativados


Tabela 2 – Exemplos de ocorrências e seus níveis
Tabela 3 – Número esperado de vítimas em função do tempo de alerta
Tabela 4 – Definição das conseqüências do risco hidrodinâmico
Tabela 5 – Critérios para graduação do perigo para seres humanos
Tabela 6 – Nível de perigo para edificações
Tabela 7 - Parâmetros de formação da brecha
Tabela 8 - Fórmulas empíricas para cálculo da vazão de ruptura
Tabela 9 - Hidrograma de ruptura
Tabela 10 – Distâncias recomendadas entre seções e comprimento total do curso d’água
principal a serem considerados para a propagação de onda de ruptura
Tabela 11 – Eqüidistância máxima e escala associada desejadas para profundidades médias
envolvidas na propagação
Tabela 12 – Tipologia dos danos
Tabela 13 - Níveis de emergência para as ações de resposta da Defesa Civil
Tabela 14 - Prós e contras dos meios de aviso à população
Tabela 15 – Exemplo de sistema de alarme adotado para um vale a jusante de barragem

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7
Prezado Aluno,

no decorrer desta unidade você deverá desenvolve competência para:

 Criticar o plano de ação emergencial discutindo sua abrangência e aplicação.

Bom estudo!

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1. INTRODUÇÃO

As inundações são transbordamentos de água provenientes de rios, lagos e açudes,


provocando o alagamento temporário de terrenos, normalmente secos, como
conseqüência de um aporte atípico de um volume de água superior ao habitual, o
que pode provocar danos a pessoas e bens. Quando extensas, destroem ou
danificam plantações, residências e indústrias, e exigem um grande esforço para
garantir o salvamento de animais e pessoas. Essa situação de crise é mais agravada
pelos prejuízos que sofrem os serviços essenciais, especialmente os relacionados à
distribuição de energia elétrica, ao saneamento básico e à saúde.

Segundo o guia da Organização das Nações Unidas (United Nations) para redução
de perdas devido a inundações (UNITED NATIONS, 2002), as inundações, dentre
todos os desastres naturais do mundo, têm o maior potencial de causar danos. Elas
lideram todos os desastres no número de pessoas afetadas e nas perdas
econômicas resultantes, com números que chegam a taxas alarmantes.

Segundo o Centre for Research on the Epidemiology of Disasters (CRED), no Brasil,


desde 1948, morreram 5905 pessoas em grandes inundações naturais. Foram
considerados 90 eventos, totalizando mais de 13 milhões de atingidos e mais de 4,6
bilhões de dólares de perdas (EM-DAT, 2007).

Cheias ao longo dos vales são eventos comuns que se repetem periodicamente, de
maior ou menor magnitude. Inúmeras estruturas são construídas freqüentemente
para interferir na natureza dos cursos d’água. Algumas delas, como as barragens,
exercem papel importante nas estratégias de gestão dos recursos hídricos por
permitirem um melhor aproveitamento dessas cheias sazonais regularizando as
vazões. Além de garantir maior segurança para a população, as barragens exercem
um impacto positivo no bem estar dos indivíduos, por permitir a geração de energia,
o abastecimento de água, favorecer a agricultura, a navegação e o lazer.

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Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado entre
a Agência Nacional de Águas - ANA e a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu - Brasil - FPTI.
9
A implantação de reservatórios cumpre seu papel de propiciar uma considerável
regularização da vazão, o que faz com que as cheias de menor porte sejam
absorvidas, reduzindo, num primeiro momento, o impacto a jusante. Dessa forma,
áreas que eram freqüentemente inundadas passam a ser mais protegidas e mais
habitadas. O aumento do número de pessoas vivendo ao longo desses vales e
planícies a jusante gera, muitas vezes, uma ocupação urbana densa e contribui para
elevar a vulnerabilidade dessas zonas. Trata-se de um processo dinâmico, que pode
ocorrer de forma desordenada, por meio da invasão de áreas legalmente protegidas
ou, em outros casos, seguindo as diretrizes equivocadas da administração pública.

Paradoxalmente há um aumento do risco às pessoas devido à propagação de


grandes vazões associadas a eventos chuvosos de período de retorno elevado, ao
deplecionamento rápido do reservatório ou um acidente na barragem.

As barragens apresentam um grande potencial de causar danos sérios ao vale a


jusante, devido ao grande volume de água ou rejeitos concentrados em seus
reservatórios. Só no século XX foram registrados cerca de 200 acidentes graves
com barragens no mundo, que causaram a morte de mais de 8.000 pessoas e
deixaram outras milhares desabrigadas. Incidentes e rupturas de conseqüências
trágicas, ocorridos na Europa e nos Estados Unidos entre as décadas de 50 e 70
(Malpasset, França, 1959; Vajont, Itália, 1963; Baldwin Hills e Teton, Estados Unidos,
1951 e 1976), tiveram grande importância para o desenvolvimento das políticas de
segurança de barragens e de vales e dos estudos de ruptura e propagação em seus
respectivos países, possibilitando um controle mais rigoroso do comportamento das
barragens.

A Engenharia de monitoramento e observação de obras hidráulicas desenvolveu-se


bastante nas últimas décadas, produzindo um importante avanço tecnológico,
influenciando nos critérios de projeto, construção e exploração. Até os anos 50,
existiam no mundo poucas regulamentações relativas à segurança de barragens e
dos vales a jusante; nesse período, alguns acidentes na Europa e nos Estados

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Unidos deram origem a um controle do comportamento dessas estruturas com base
em instrumentos legais. Até aquele momento, o campo da segurança de barragens
considerava apenas a segurança das próprias estruturas, sem incluir a hipótese de
um provável cenário de acidente, como uma ruptura do barramento. O vale a jusante
era considerado imperturbável. A partir de então, entrou-se no que Almeida (1999)
chama de segunda e terceira fases na evolução dos regulamentos de segurança de
barragens, quando se começou a considerar a segurança do vale a jusante, seus
riscos potenciais de inundação, estudo de perdas econômicas e de vidas humanas.
A gestão de riscos e emergências passou a ser considerada, motivando a
elaboração de Planos de Ações Emergenciais.

Durante as décadas de 70 e 80, nos Estados Unidos, agências federais, como o


Bureau of Reclamation (USBR), produziram um elevado número de recomendações
e procedimentos técnicos aplicáveis às barragens, destacando-se os critérios para
fixação das cheias de projeto tendo em conta os efeitos no vale a jusante e os
planos de emergências e de evacuação. Na Europa, a França e a Espanha
apresentaram suas primeiras regulamentações referentes à segurança de barragens
em 1966 e 1967, respectivamente, mas foi a década de 90 a mais marcante no
desenvolvimento desses documentos. Nesse período, vários países europeus
promulgaram ou iniciaram estudos de novas regulamentações ou normas técnicas
de segurança considerando as conseqüências nos vales a jusante e a elaboração de
planos de emergência e de sistemas de alerta às populações. Foi o caso de
Portugal, em 1990, Suécia, Finlândia e Noruega, em 1997, e a própria França e a
Espanha, com a revisão de seus regulamentos, em 1994 e 1996, respectivamente.

Nessa fase, iniciada na década de 90, começou-se a unir a segurança da barragem


e do vale, em termos da preparação de um plano integrado de emergência e
evacuação, com sistemas de alerta, treinamentos e exercícios, tendo por base o
estudo de zonas inundáveis e dos danos esperados a partir de cenários de ruptura.

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Foram iniciados, ainda, questionamentos relativos à informação e participação
pública, critérios para o uso e ocupação do solo e gerenciamento do risco.

Apesar dos diversos custos potenciais resultantes de danos materiais ou da perda


de benefícios diretos, a perda de vidas humanas é, na escala dos danos, a mais
significativa. As conseqüências da ruptura de uma barragem são geralmente de uma
gravidade tal que só a possibilidade de falha implica uma altíssima responsabilidade,
tanto para os técnicos encarregados do seu projeto, operação e controle, que devem
se esforçar ao máximo para minimizar esse risco, quanto para as autoridades
públicas, que devem assegurar os recursos humanos e econômicos imprescindíveis
para sua gestão.

Como não existe risco zero, é necessário gerenciá-lo por meio de ações orientadas
a mantê-lo em níveis socialmente aceitáveis. Essa gestão é tratada de forma distinta
em cada país, ou melhor, em cada grupo de pessoas. As soluções são muito
específicas e dependem da forma como as autoridades e as populações percebem
os riscos e dos recursos disponíveis para se prepararem (estruturas de previsão de
desastres, de defesa civil ou recursos financeiros). Essas estratégias influenciam
diretamente o grau de vulnerabilidade do vale. Os procedimentos para o
gerenciamento do risco e as respostas a situações de emergência geralmente são
materializados em documentos chamados Planos de Ações Emergenciais ou Planos
de Atendimento a Emergências.

Segundo Martins (2000), a possibilidade de proteger vidas humanas em caso de


uma ruptura de barragem depende de três fatores: o tipo da barragem (terra ou
concreto), a distância entre ela e as áreas habitadas e a existência de sistemas de
alerta. Uma sociedade que deseja um sistema de alerta civil eficiente tem no uma
ferramenta essencial, na qual são identificados e compilados em documento único
os procedimentos e ações que devem ser tomados para mitigar riscos e responder
com eficácia às emergências resultantes de desastres que possam ameaçar a
segurança das populações.

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O sucesso dos planos em certos países se deve ao fato de estarem acostumados a
lidar com ameaças freqüentes de algum tipo de fenômeno natural (climáticos,
terremotos, vulcões) ou de guerras e terrorismo, e ao seu grau de desenvolvimento
econômico e cultural.

Em países com uma herança sócio-cultural advinda de governos autoritários e/ou


populistas, como é o caso dos sul-americanos, inclusive o Brasil, o Estado
centralizava as informações relativas a riscos e desastres, o que resultou em
desconhecimento e fez com que as populações negligenciassem significativamente
ameaças naturais e tecnológicas. Características sócio-culturais como essas,
associadas a situações de pobreza, levaram muitas pessoas a ocuparem áreas com
risco potencial de inundações, dificultando significativamente a gestão do risco
nessas regiões. Assim, uma abordagem relativa à mitigação de riscos, preparação
da população e implantação de planos de ações emergenciais, principalmente a
jusante de barragens, é um assunto político e socialmente muito delicado e que
sempre exigiu muita cautela. Esse fato, associado à inexistência de uma legislação
específica para o assunto, propiciou o fraco desenvolvimento desses planos.

Embora em 1960 houvesse acontecido a ruptura da barragem de Orós, no Ceará,


com um número de vítimas não oficial estimado em 1000 pessoas, somente nos
últimos anos, com o colapso das barragens da Mineração Rio Verde, em 2001, da
indústria Rio Pomba-Cataguases, em 2003 e de Camará, em 2004, a sociedade
brasileira foi alertada para o problema das catástrofes associadas a essas estruturas
hidráulicas. Esses acidentes aumentaram a discussão pública e política no Brasil
sobre a segurança das estruturas barragens e das populações a jusante.

O Brasil ainda conta com uma legislação específica relativa à segurança de


barragens e de vales a jusante. A Lei 12.334, de 20 de setembro de 2010,
estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) e cria o Sistema
Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens SNISB - (BRASIL, 2003).
Existem também alguns artigos da Constituição Federal de 1988 que tratam da

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segurança e dos direitos da população e deveres do Estado (BRASIL, 2006) e a Lei
de Crimes Ambientais, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente (BRASIL, 1998). Há
também normas nos estados da federação, como as Deliberações Normativas do
COPAM n°62/2002 e n° 87/2005, que tratam de critérios de classificação de
barragens no estado de Minas Gerais (MINAS GERAIS, 2002 e MINAS GERAIS,
2005).

A Política Nacional de Segurança de Barragens tem, entre seus objetivos, o de


garantir a observância de padrões mínimos de segurança de barragens de maneira
a reduzir as possibilidades de acidentes e suas conseqüências, visando à proteção
da população e do meio-ambiente. A PNSB prevê a criação do Plano de Segurança
da Barragem, que requer, entre outras informações, o Plano de Ação Emergencial
para as barragens classificadas como “danos potenciais altos”.

Um dos fundamentos da PNSB, que vai de encontro ao que é aplicado


mundialmente, é de que o proprietário da barragem é o responsável pela sua
segurança, devendo desenvolver ações para garantir isso. Essas ações devem se
sustentar em três pilares básicos:

 O projeto e a construção corretos;

 A manutenção e o controle do comportamento durante a fase de operação


(segurança técnico-operacional, monitoramento e vigilância) – Mitigação do Risco;

 A preparação para atuar eficientemente e a tempo se ocorrer uma emergência


(gestão do risco e das emergências) – Preparação e Resposta a situações de
emergência.

Em relação à organização do vale para responder a desastres como as inundações,


o Brasil conta com o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil – SINPDEC. Os
órgãos que o constituem objetivam à redução dos desastres ou a dos seus efeitos e

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têm, entre suas finalidades: planejar e promover a defesa permanente contra
desastres naturais, antropogênicos e mistos; atuar na iminência e em circunstâncias
de desastres; prevenir ou minimizar danos, socorrer e assistir populações afetadas,
e reabilitar e recuperar os cenários dos desastres (BRASIL, 2005).

O aumento da discussão relativa aos riscos impostos à sociedade pela implantação


de reservatórios, associado ao amadurecimento das leis de segurança de barragens
e políticas de proteção civil, demanda maior preparo dos proprietários de barragens
e das autoridades de defesa civil. Torna-se necessário um maior conhecimento
sobre os procedimentos de gestão dos riscos para se implantar nacionalmente
planos que efetivamente servirão para proteger a população.

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2 SEGURANÇA DE BARRAGENS E PLANOS DE EMERGÊNCIA

2.1 Gerenciamento do risco e das emergências

O ciclo de gerenciamento do risco e das emergências, comuns às cheias naturais e


também aplicável a rupturas e cheias induzidas por barragens, é normalmente
apresentado dividido nas fases de Mitigação (Prevenção e Preparação), Resposta e
Recuperação (ver Figura 1 – Ciclo de gerenciamento de riscos e emergências).
Operacionalmente, pode-se dividir esse ciclo em três fases: antes, durante e após a
emergência. Segundo essa abordagem, que consta em UNDRO (1991), a mitigação
compõe a primeira fase denominada “antes da emergência”. Essa fase consiste na
adoção de procedimentos de “prevenção” e “preparação” e seu funcionamento
depende do estado de prontidão dos envolvidos para agirem num momento de crise.

A prevenção, pelo lado do proprietário da barragem, consiste na redução da


probabilidade de ocorrer um acidente através de medidas estruturais, como obras de
reforço, de aumento da capacidade de extravazão ou de manutenção. Pode-se
também implementar medidas não-estruturais que permitam detectar eventos
perigosos em tempo hábil, como monitoramento, ou que reduzam o risco através de
medidas operativas preventivas, como criação de volume de espera no reservatório
ou seu deplecionamento emergencial. Os procedimentos operacionais relativos a
essa etapa de prevenção geralmente são compilados nos “Planos de Segurança das
Barragens”, nas “Normas de Exploração ou de Operação”, guias e instruções
técnicas de manutenção, entre outros documentos adotados por cada proprietário de
barragem. Pelo lado da Defesa Civil, consiste no monitoramento de eventos
causadores de desastres, na elaboração e aplicação de leis de uso e ocupação dos
solos, da remoção de estruturas localizadas em área de risco, na criação de
programas educativos e de conscientização e outras medidas de segurança.

A preparação atua mais na redução do fator vulnerabilidade. Consiste


essencialmente na implementação de medidas não–estruturais para reduzir os

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danos produzidos pela cheia induzida. Ao mantenedor da barragem compete
comunicar as ocorrências excepcionais a todos os envolvidos nas ações de
emergência e se manter preparado e de prontidão ao ser detectada uma anomalia.
Aos responsáveis pela segurança da população a jusante compete atuar na redução
da vulnerabilidade das pessoas ao longo do vale. As principais medidas
“preparadas” nesta etapa, por ambos planejadores, são a implantação de sistemas
de alerta e aviso, elaboração de planos de ações emergenciais e mapeamento das
áreas de risco.

A fase de resposta ocorre quando a emergência é declarada. Uma anomalia foi


detectada, as tentativas de controlar o incidente se mostram ineficazes e o acidente
é iminente ou já foi detectado, avaliado e tomou-se a decisão de agir. Aplica-se o
planejamento preparado anteriormente para orientar os envolvidos nas ações a
serem tomadas daí por diante. Nessa fase são dados os avisos, os recursos são
mobilizados, os Centros de Operações de Emergência (COEs) são ativados,
iniciando-se a evacuação e socorro da população.

Após a fase de emergência, iniciam-se os processos de recuperação do que foi


atingido, a começar pela restauração dos serviços essenciais, como água, energia e
saúde pública, seguida da reconstrução, seja dos bens destruídos, seja da
barragem, se julgar viável.

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Figura 1 – Ciclo de gerenciamento de riscos e emergências

Fonte: Nota do autor.

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2.1.1 Gerenciamento do risco

O gerenciamento do risco abrange processos de avaliação e mitigação e busca


assegurar que certo nível de risco relacionado a acidentes com barragens e cheias
de ruptura seja controlado e socialmente aceitável. A Figura 2 – Gestão operacional
do risco nas barragens e vales a jusante (VISEU, 2006) mostra esquematicamente o
processo contínuo de gerenciamento de risco no vale e na barragem, que
compreende as fases de avaliação e de mitigação do risco.

A avaliação do risco corresponde aos riscos associados à barragem que devem ser
gerenciados internamente através de procedimentos de segurança de barragens e
de redução de riscos, e riscos no vale a jusante que requerem procedimentos
externos.

Figura 2 – Gestão operacional do risco nas barragens e vales a jusante

Fonte: VISEU, 2006.

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Considerando a barragem, o gerenciamento consiste na adoção de um plano de
segurança que visa identificar e caracterizar situações que ameacem as suas
estruturas e, quando o risco é considerado inaceitável, promover a sua reabilitação
através da adoção de medidas estruturais ou não.

No vale, dados os riscos a que está sujeito – grau de perigo da onda, vulnerabilidade
e exposição – pode-se reduzir o risco investindo no preparo. Esse preparo é feito,
essencialmente, através da implementação de medidas não estruturais como o
planejamento das ações de resposta, os sistemas de comunicação, alerta e aviso,
treinamentos, e a preparação de mapas de zoneamento de risco para planejamento
e ordenamento do uso e ocupação do solo.

2.1.2 Gestão de emergências

A gestão de crises e de emergências é constituída por um conjunto de metodologias


e ações coordenadas de resposta para minimizar a magnitude dos danos devidos a
incidentes e acidentes com barragens (impacto), bem como as perdas potenciais na
barragem e no vale a jusante, assegurando a melhor resposta durante e após o
acidente (ALMEIDA et al., 2003).

Nessa fase, espera-se que as medidas adotadas na fase de mitigação tenham sido
eficientes na redução das consequências e que todos os procedimentos preparados
na fase anterior ao impacto sejam adequados e seguidos pelos responsáveis por
sua execução.

A resposta implica a ativação e a implementação dos planos e procedimentos de


emergência, bem como a coordenação dos esforços de resposta, designadamente,
na emissão de alertas e avisos; disponibilidade de informação adequada ao público;
assistência durante e após o desastre, inclusive no cuidado a mortos e feridos,
provendo abrigos de emergência e locais para evacuação, cuidados médicos,
alimentação e vestuário.

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2.2 Gestão de riscos e emergências de barragens

Breve histórico

Cada sociedade aprendeu a lidar com os desastres de forma distinta. No passado, a


ideia de que as ameaças tinham origem divina teve como consequência sacrifícios e
outros rituais religiosos. Com o desenvolvimento, veio a melhor compreensão dos
desastres, com a caracterização das contingências pela razão e ciência e,
posteriormente, gerenciando as incertezas, com ações preventivas e de resposta,
comunicação etc.

Blasco e Ortega (1998) atribuem o sucesso de planos de ações emergenciais em


alguns países a duas condições. A primeira engloba países que sofrem frequentes
ameaças de algum tipo de fenômeno natural (climáticos, terremotos, vulcões) ou de
guerras e terrorismo; isso colabora para que as pessoas envolvidas sejam mais
receptivas às indicações de um, colaborem mais na sua concepção e participem
ativamente de programas de treinamento. A segunda condição diz respeito ao alto
grau de desenvolvimento econômico e cultural desses países, permitindo acesso a
novas tecnologias para combater as consequências de um desastre, além de
favorecer atitudes mais positivas das pessoas frente à prevenção, devido ao melhor
padrão de vida.

Desastres causados por rupturas de barragens em diversos países serviram de


motivação para que se desenvolvessem leis, normas e regulamentações destinadas
a garantir a segurança da barragem e do vale. Cada país desenvolveu, muitas vezes
na sequência de grandes desastres, ou antecipando-se a eles, seus documentos
oficiais de segurança de barragens e de gestão de emergências.

Os acidentes com as Barragens de Malpasset, na França, em 1959, Vajont, na Itália,


em 1963, e Baldwin Hills, nos Estados Unidos, em 1963, motivaram os governos
desses e de vários outros países a decretarem novas leis e regulamentos relativos à
construção e à operação de barragens e reservatórios. No caso de Baldwin Hills

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(1963), sistemas de alerta e de evacuação, já em desenvolvimento nos Estados
Unidos, foram utilizados, resultando na redução significativa de vítimas fatais (5 em
16.500 pessoas em risco). Ao contrário, a ruptura da barragem de Vega de Tera na
Espanha, quando não houve aviso, 150 das 500 pessoas em risco morreram.

Fatos como esses contribuíram para que, a partir da década de 60, surgissem
regulamentos e procedimentos de segurança de barragens e de prevenção contra
os potenciais efeitos de acidentes nos vales a jusante, incluindo sistemas de alerta e
planos de evacuação das populações. Almeida (2001) considera que, nessa época,
a regulamentação começou a sair de um primeiro estágio, onde o foco era
unicamente na segurança das estruturas do barramento - sem incluir a hipótese de
um cenário de acidente - e começou a entrar no segundo estágio evolutivo, o qual
considerava as consequências a jusante de um possível acidente. Conceitos como
sistemas de alerta, mapas de inundação e avaliação de risco a jusante passaram a
ser considerados.

A França é um importante exemplo, considerando que seu Regulamento de


Segurança de 1966 (reflexo do acidente de Malpasset) já tornava obrigatória a
preparação de planos de alerta e socorro às populações a jusante de barragens,
baseados em mapas de inundação (Almeida, 1999). Em 1967, a Espanha
apresentou seu primeiro regulamento sobre o tema.

Nos Estados Unidos, as agências federais, nomeadamente o Bureau of Reclamation


(USBR) e a Federal Energy Regulatory Commission (FERC) produziram, durante as
décadas de 70 e 80, um elevado número de recomendações e procedimentos
técnicos aplicáveis às barragens sob suas respectivas jurisdições. Essas ações
resultaram, principalmente, no “Presidential Memorandum”, de outubro de 1979, e
nos “Federal Guidelines for Dam Safety”, de junho de 1979, que surgiram após a
ruptura da barragem de Teton, 1976. Esses procedimentos passaram a ser
estudados e adotados por agências ligadas à segurança de barragens de diversos
países.

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Na província de Alberta, no Canadá, a partir de 1988, a legislação passou a exigir
dos donos de barragens a elaboração de Planos de Emergência e de Sistemas de
Aviso específicos para cada local (Almeida, 1999).

Na Itália, na década de 80, a legislação obrigou os responsáveis pelas barragens a


efetuarem estudos relativos às áreas inundáveis a jusante, por efeito de descargas e
de hipotéticos colapsos estruturais, inclusive considerando o sistema de alarme e a
sinalização de perigo, em caso de ruptura (ITÁLIA, 1986).

Nas décadas de 80 e 90, foram propostos e desenvolvidos novos conceitos e


metodologias integradas para a segurança nos vales a jusante, conjugando os
conhecimentos de engenharia de barragens com novas tecnologias de apoio à
decisão e à proteção civil, com metodologias de ciências sociais aplicadas, como a
sociologia e a psicologia social e, finalmente, com a gestão da ocupação do vale,
tendo em conta os riscos de ocorrência de cheias (Almeida, 2001).

Na década de 90, vários países europeus promulgaram ou iniciaram estudos de


novas regulamentações ou normas técnicas de segurança, envolvendo o estudo das
conseqüências nos vales a jusante e a elaboração de planos de emergência e de
sistemas de alerta às populações, como foi o caso de Portugal, em 1990, e da
França e da Espanha, com a revisão de seus regulamentos em 1994 e 1996.

Essa nova fase corresponde ao terceiro estágio do que Almeida (2001) considera
processo evolutivo da regulamentação de segurança de barragens, envolvendo a
Segurança da barragem e do vale em termos da preparação de um plano de
emergência e evacuação, da implementação de um sistema de aviso e da execução
de treinos e exercícios, mapeamento de risco de áreas inundáveis e estimativa de
danos.

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2.3 Gerenciamento de riscos e emergências no Brasil

2.3.1 O gerenciamento do risco na barragem

Embora o Brasil seja um país com um grande número de barragens construídas nas
últimas décadas, 594 grandes barragens até 1998, segundo WCD (2000), o seu
histórico de rupturas que causaram grandes perdas e comoção popular é pequeno.

Acidentes ocorridos no século passado, já têm gerado discussão há alguns anos


sobre os métodos aplicados à segurança de barragens no país. Cardia (2007) cita a
preocupação da comunidade ligada à segurança de barragens com as garantias de
performance das estruturas quando o governo iniciou seu plano de privatizações na
década de 1990. O autor ainda recorda a realização de eventos técnicos que
visavam auxiliar os envolvidos na operação dessas estruturas a encontrarem um
modo melhor de compatibilizar os objetivos da privatização, num mercado
competitivo, com os critérios de segurança adequados. Esse desafio ainda existe
como tema em discussão.

Foram produzidos, então, dois importantes documentos no início desta década. O


primeiro, coordenado pela Eletrobrás, é o “Critérios de Projeto Civil de Usinas
Hidrelétricas” (ELETROBRÁS, 2001), e o segundo, produzido pelo Ministério da
Integração Nacional (MI), é o “Manual de Segurança e Inspeção de Barragens” (MI,
2002). Esses manuais são aplicados ao projeto e à segurança das barragens,
respectivamente. Ambos já tratavam, ainda que simplificadamente, do planejamento
de ações emergenciais para o caso de ruptura ou acidente envolvendo as
barragens, embora o foco não fosse esse.

Em 2003, o acidente da barragem da Cataguases motivou a proposição no


Congresso Nacional de um projeto de lei relativo à segurança das barragens, que
será visto adiante no item sobre legislação. Os acidentes posteriores com as
barragens de Camará, em 2004, e Mineração Rio Pomba-Cataguases, em 2007,

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ganharam divulgação na imprensa, fazendo com que a sociedade passasse a exigir
mais comprometimento das autoridades e dos proprietários das barragens.

Com relação aos Planos de Emergências de Barragens Brasil ainda são poucos os
planos divulgados no país.

2.3.2 A gestão das emergências no vale

A Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC) conceitua Defesa Civil


como: “conjunto de ações preventivas, de socorro, assistenciais e recuperativas,
destinadas a evitar ou minimizar os desastres, preservar o moral da população e
restabelecer a normalidade social”.

Mesmo não havendo uma cultura mais disseminada de defesa civil no Brasil,
medidas emergenciais de proteção da população já foram tomadas por autoridades
públicas em diversos casos de acidentes com barragens. Essas ações promoveram
a proteção da população ameaçada nos vales a jusante, reduzindo muito o número
de vítimas. Citam-se aqui os desastres envolvendo a barragem de Orós, em 1960,
quando mais de 100.000 pessoas foram evacuadas pelas forças armadas (ver item
3.1.9), e da barragem Santa Helena, em 1985, quando a defesa civil evacuou mais
de 5.000 pessoas, durante a noite, em três cidades situadas a jusante (Cardia,
2007).

A organização Defesa Civil no Brasil teve início em 1942 e atualmente está


organizada sob a forma do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil –
SINPDEC, composto por vários órgãos. A Secretaria Nacional de Defesa Civil –
SEDEC é o órgão central desse Sistema, responsável por coordenar as ações de
defesa civil em todo o território nacional.

A atuação da defesa civil compreende ações de prevenção, de preparação para


emergências e desastres, de resposta aos desastres e de reconstrução, e se dá de

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forma multisetorial, nos três níveis de governo – federal, estadual e municipal – com
ampla participação da sociedade.

No nível municipal, o órgão responsável é a Coordenadoria Municipal de Defesa


Civil – COMDEC, de extrema importância por ser o primeiro a ter que atuar em uma
situação emergencial. O município deve estar preparado para atender
imediatamente à população atingida por qualquer tipo de desastre, reduzindo perdas
materiais e humanas. Dentre os principais exemplos de ações ligadas à defesa civil
e à prevenção de riscos à população brasileira podem ser citados:

 os Planos Preventivos de Defesa Civil (PPDC) para escorregamentos de encostas


na Serra do Mar, elaborados pelo IPT-IG/SMA e coordenados pela Defesa Civil
Estadual (CEDEC). Estão implantados desde 1988 nos municípios paulistas da
Baixada Santista;

 o Plano de Emergência Externo do Estado do Rio de Janeiro (PEE/RJ) para


atender a uma situação de emergência nuclear na Central Nuclear Almirante Álvaro
Alberto (CNAAA) (SEDEC/RJ, 2002). Atualmente na 3ª revisão, conduzida pelo
Departamento Geral de Apoio Comunitário da Secretaria de Estado da Defesa Civil
do Estado do Rio de Janeiro, insere-se no âmbito do Sistema de Proteção ao
Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON); e

 o Sistema de Alerta contra Enchentes na Bacia do Rio Doce, em Minas Gerais, tem
o objetivo é o de alertar 16 municípios da bacia quanto ao risco de ocorrência de
enchentes. Vem sendo operado desde 1997 pelo Serviço Geológico do Brasil
(CPRM), em parceria com o Sistema de Meteorologia e Recursos Hídricos do
Estado de Minas Gerais/Instituto Mineiro de Gestão das Águas (SIMGE/IGAM) e a
Agência Nacional de Águas (ANA).

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Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado entre
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26
2.4 Aspectos da legislação de segurança de barragens no mundo

O conteúdo apresentado pela legislação de cada país pode assumir características


muito distintas, principalmente quanto ao seu caráter técnico ou não. Alguns países
apresentam documentos legais apenas de caráter jurídico-administrativo, como é o
caso da França e da Suíça. Outros vão além, incluindo em seus textos requisitos
técnicos que estabelecem critérios a serem seguidos e servem de orientação aos
envolvidos no gerenciamento dos riscos das barragens, como é o caso dos Estados
Unidos, da Espanha e do Reino Unido.

2.4.1 Responsabilidades

Os países tratam de maneira semelhante a questão da responsabilidade pela


segurança das estruturas do barramento e elaboração dos s. Em geral é uma
atribuição do dono da concessão, seja ele o Estado, uma agência governamental ou
uma empresa privada. As autoridades normalmente apenas fiscalizam e
supervisionam essas atividades.

O “guia para elaboração de planos de ações emergenciais” da Federal Energy


Regulatory Commission (FERC, 2007) dos Estados Unidos estabelece que os
mapas de inundação devem ser desenvolvidos pelos proprietários em coordenação
com as agências locais e estatais de gestão de emergências.

FERC (2007) frisa que o desenvolvimento do em conjunto com todas as entidades,


jurisdições e agências que poderiam ser afetadas por uma cheia proveniente da
barragem, ou que têm responsabilidades sobre alertas, evacuação e ações pós-
inundação possibilita a redação de um documento final mais amigável e realista
quanto às responsabilidades e capacidades organizacionais. O propósito dessa
coordenação é garantir que os mapas contenham informações suficientes para as
agências alertarem e evacuarem todas as pessoas do risco de uma ruptura com
mais eficácia.

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Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado entre
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27
2.5 A Legislação brasileira de segurança de barragens

Como não existem legislações específicas sobre a proteção da população para


desastres produzidos por barragens, a seguir são citados alguns documentos legais
cujo conteúdo se relaciona ao tema tratado neste trabalho.

O inciso XVIII do Art. 21 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 2006) estabelece


que compete à União “planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades
públicas, especialmente as secas e as inundações.” O § 5º do Art. 144 determina que
cabe aos Corpos de Bombeiros Militares, além das atribuições definidas em lei, a
execução de atividades de defesa civil. A segurança pública, onde se insere a defesa
civil, é portanto dever do Estado e compete à União legislar sobre o tema.

Usualmente, em diversos países, os proprietários, ou concessionários de barragens


devem fornecer informações adequadas e suficientes para que os órgãos de defesa civil
se organizem e possam atuar em situações de emergência.

Os planos de contingência ligados à população têm como objetivos essenciais salvar


vidas, reduzir o sofrimento das pessoas e minimizar os prejuízos econômicos e em
situações de desastre, as ações de resposta e de reconstrução e recuperação serão de
responsabilidade do Prefeito Municipal ou do Distrito Federal. Quando a capacidade de
atendimento da administração municipal estiver comprovadamente empregada, compete
ao Governo, estadual ou federal, confirmar o estado de calamidade pública ou a
situação de emergência, e atuar de forma complementar na resposta aos desastres e na
recuperação e reconstrução, no âmbito de suas respectivas administrações.

Esse artigo estabelece, ainda, que cabe aos órgãos públicos localizados na área
atingida por desastres a execução imediata das medidas que se fizerem necessárias e
que a atuação dos órgãos federais, estaduais e municipais na área atingida far-se-á em
regime de cooperação, cabendo à COMDEC, ou ao órgão correspondente, ativar
imediatamente um comando operacional para administrar todas as ações e medidas de
resposta ao desastre, estabelecendo, dependendo de suas características e
complexidade, comando unificado acordado entre as entidades envolvidas com o

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atendimento do desastre. Os s são as ferramentas mais adequadas preparadas,
anteriormente aos desastres, para responder a eles.

A Política Nacional de Proteção e Defesa Civil tem, entre as suas diretrizes, a atuação
articulada entre a União, os Estados e os Municípios para redução de desastres e apoio
às comunidades atingidas e a participação da sociedade civil.

O planejamento contra desastres de natureza tecnológica, como as inundações


induzidas por barragens, está inserido na Política Nacional de Defesa Civil através dos
“Projetos de Proteção de Populações contra Riscos de Desastres Focais” (BRASIL,
2007). Esses projetos objetivam o planejamento e a preparação dos órgãos do
SINPDEC, em interação com as comunidades locais, para atuarem frente a desastres
de natureza tecnológica.

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3 PLANO DE AÇÕES DE EMERGÊNCIA (INSTITUCIONAIS E EXTERNOS)

A segurança do sistema vale-barragem só pode ser garantida por meio da adoção


de medidas integradas de gerenciamento de risco e emergências por parte dos
responsáveis por ambos os conjuntos do sistema. O documento que consolida os
procedimentos para o gerenciamento do risco e as respostas a situações de
emergência são os Planos de Ações Emergenciais ou Planos de Atendimento a
Emergências.

Neste capítulo são apresentadas metodologias utilizadas em diversos países para o


planejamento ao atendimento a emergências relacionadas a inundações induzidas
por barragens tanto no âmbito do responsável pela barragem quanto no âmbito dos
responsáveis pela proteção da população que vive no vale a jusante. Inicialmente
será apresentada uma breve introdução onde se justifica a necessidade de dividir os
s em Plano de Emergência da Barragem e Plano de Emergência Externo (à
barragem). Em seguida são apresentadas as revisões dos elementos que os
compõem, estruturados em tópicos, e serão propostos passos a serem seguidos na
elaboração dos respectivos planos.

3.1 Introdução aos Planos de Atendimento a Emergências

Segundo Viseu e Almeida (2000), existem razões teóricas e vantagens práticas em


decompor os em: Interno à barragem e Externo (município). O primeiro corresponde
ao conjunto de ações a serem tomadas pela operação da barragem a fim de detectar
o problema, tomar as decisões necessárias e notificar os demais envolvidos
(populações e autoridades), devendo conter os mapas de inundação. O segundo
plano contempla os sistemas de alerta e procedimentos de evacuação da população.

O Bureau of Reclamation dos Estados Unidos (USBR) trabalha, para suas


barragens, com o conceito de “Early Warning System”, ou Sistema de Alerta
Antecipado, e o define como consistindo de cinco fases (USBR, 1995):

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30
Sob responsabilidade do operador e do proprietário estão:
 a Detecção;
 a Tomada de Decisão; e
 a Notificação.
Sob responsabilidade das autoridades de proteção da população estão os processos
de:
 Alerta e Alarme; e
 Evacuação.

Em Portugal, o Plano de Emergência da Barragem, chamado de Plano de


Emergência Interno (PEI), deve ser elaborado pelos responsáveis pela operação da
barragem, técnicos em diversas especialidades. É um documento onde o conjunto
de situações desencadeadas por potenciais eventos anômalos perigosos para a
barragem em risco deverá estar caracterizado e as ações de resposta para evitar ou
minimizar os efeitos de um acidente deverão estar fixadas. O objetivo final do plano
é notificar todos os envolvidos no processo e orientar na execução das ações que
devem ser tomadas imediatamente após o evento.

Por outro lado, o Plano de Emergência Externo (PEE) está centrado na gestão da
emergência no vale a jusante e seu desenvolvimento deve ser responsabilidade das
autoridades de Defesa Civil. É um documento onde se identificam as ações que
devem ser tomadas, a partir dos indicadores de ameaças e da notificação advinda
do Plano de Ações Emergenciais da Barragem (), para assegurar a segurança no
vale a jusante, tendo em vista uma rápida e adequada intervenção das autoridades e
da população potencialmente afetada, no caso da ocorrência de uma inundação.

Nos Estados Unidos, a Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA -


Federal Emergency Management Agency), em seu guia técnico relativo ao
planejamento de emergências para proprietários de barragens (FEMA, 1998), se
preocupa em definir as responsabilidades dos envolvidos em cada ambiente. Assim,

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o , que é tratado no guia, é de responsabilidade do proprietário da barragem e trata
das ações que devem ser tomadas por ele na gestão de emergência. O Estado ou
as autoridades locais de gestão de emergências deverão dispor de algum tipo de
plano para a comunidade potencialmente atingida, seja um Plano Local de
Operações Emergenciais ou um Plano de Alerta e Evacuação.

A Diretriz Básica de Planejamento de Proteção de Civil ante Risco de Inundações


Espanhola (ESPANHA, 1995) considera dois níveis de planejamento: Estatal e de
Comunidades Autônomas (integrados aos Planos de Ações de Âmbito Municipal).
Fazem parte desta estrutura geral os Planos de Emergência de Barragens (PEPs –
Planes de Emergência de Presas) elaborados pelos proprietários das mesmas.
Esses planos são integrados aos correspondentes Planos de Comunidades
Autônomas e, em caso de emergência de interesse nacional, ao Plano Estatal. O
planejamento de emergências ante o risco de ruptura de barragens se fundamenta
(i) na elaboração dos PEPs; (ii) na previsão das atividades de proteção de pessoas e
bens, a serem tratados nos Planos Estatais, nos Planos das Comunidades
Autônomas e nos Planos Ações Municipais; e (iii) no estabelecimento de sistemas de
notificação de incidentes e de alerta e alarme que permitam à população e às
organizações envolvidas intervir em tempo real.

Observa-se aqui a mesma necessidade de se trabalhar com planos distintos para as


barragens e para as comunidades.

A Argentina trabalha com um sistema um pouco distinto de gestão da emergência e


formatação dos Planos. As concessionárias de barragens devem elaborar os Planos
de Ação Durante Emergências (PADE), a serem seguidos pela operação das
mesmas, e o Organismo Regulador de Segurança de Barragens (ORSEP) deve
desenvolver o Plano Interno Durante Emergências, com suas próprias funções e
formas de atuação. As autoridades de proteção civil das “províncias e municípios”
devem elaborar seus próprios Planos de Emergência.

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No Brasil, o setor de geração de energia nuclear é precursor no gerenciamento
integrado de emergências ligadas a riscos tecnológicos. O planejamento de ações
para eventuais situações de emergência nuclear prevê a adoção de Planos
(Internos) de Emergência Local e Setorial pela ELETRONUCLEAR e pela Comissão
Nacional de Energia Nuclear (CNEN), respectivamente. Externamente, são
preparados os Planos de Emergência Externo, Municipal e Complementares.

Com relação às barragens, a Lei 12.334/10 prevê que o tratado no documento como
sendo o da barragem, deve estabelecer as ações a serem implementadas pelo
empreendedor da barragem em caso de situação de emergência e identificar os
agentes a serem notificados. O plano deverá estar disponível no empreendimento e
nas prefeituras envolvidas e deve ser encaminhado às autoridades competentes e
aos organismos de Defesa Civil. Além disso, o órgão fiscalizador deverá informar
imediatamente à ANA e ao Sistema Nacional de Defesa Civil sobre qualquer não
conformidade que implique risco imediato à segurança ou sobre qualquer
incidente/acidente ocorrido nas barragens sob sua jurisdição.

Um exemplo de integração entre planos internos e externos de um sistema


vale/barragem, e seus respectivos procedimentos é ilustrado esquematicamente na
3.

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Figura 3 – Gestão operacional da segurança integrada Barragem/Vale

SEG U R AN Ç A IN T EG R AD A
B arragem / V ale

G E S T Ã O D O R IS C O
M O N IT O R A M E N T O
O P E R A C IO N A L

E M E R G Ê N C IA
V IG IL Â N C IA
T É C N IC O -

In u n d a ç ã o
M ap as d e
Controle de qualidade nas
M edidas de urgência pré-
fases de projeto, construção e O bservação e análise
program adas
operação/exploração

C o n tro le d a o c u p a ç ã o
d o v a le
Previsão de situações Controle de níveis de risco

M edidas de prevenção Declaração de níveis de


especiais em ergência/alerta

Aplicação de planos de
Acom panham ento de situação
em ergência

Plano de Em ergência de Plano de Resposta a


Barragem - PEB Inundações - PRI

Aviso próxim o Notificação Defesa Civil

Aviso no vale

Evacuação

Fonte: ALMEIDA, 2001.

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3.2 Os Planos de Emergência de Barragens

A segurança de barragens consiste na adoção de uma rotina eficaz de


monitoramento, num plano de manutenção adequado e na prontidão para situações
de emergência. A rotina de monitoramento e manutenção possui procedimentos
operacionais específicos que devem apontar para um plano de emergência sempre
que for detectado um evento não usual ligado à segurança da barragem. Esse
conjunto de procedimentos de emergência é consolidado no chamado Plano de
Ações Emergenciais da Barragem, ou simplesmente, Plano de Emergência da
Barragem (PAE), que é um dos focos deste trabalho.

O Plano de Emergências deve estar implementado antes do primeiro enchimento da


barragem, quando ela sofre sua primeira grande solicitação, sendo efetivamente
testada. O PAE deve ser testado e atualizado periodicamente, garantindo sua
eficiência nas diferentes fases da vida da barragem e quando for necessária sua
colocação em prática.

Trata-se de uma medida não-estrutural de gestão de emergências. Outros


procedimentos para adoção de medidas estruturais devem ser tratados em
documentos específicos como “Instruções de Procedimentos Operacionais” ou
Normas Técnicas. Esses procedimentos e normas devem ser adaptados ao contexto
local e os funcionários devem ser treinados para atuar rapidamente em situações de
crise.

3.2.1 Conteúdo dos Planos de Emergência de Barragens

As pessoas reagem aleatoriamente quando se vêem envolvidas em uma situação de


perigo; normalmente são reações naturais e instintivas, os quais, sem o preparo e
treinamento adequados, podem não ser as melhores ações a serem adotadas em
caso de emergência, a tempo de se evitar um desastre.

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Os envolvidos na operação e manutenção da barragem freqüentemente se deparam
com questões como essas:

 Que evento ou deterioração pode ameaçar a segurança da barragem?

 Se houve uma ocorrência excepcional, como avalio a gravidade?

 O que fazer? Agir imediatamente, aguardar instruções, fugir?

 Quem e como avisar/notificar/alertar?

 Como lidar com o problema? Como devo agir?

 Consigo agir sozinho ou devo contactar outras empresas/pessoas?

 Quais áreas estão ameaçadas e quais são seguras?

O PAE deve conter informações e recomendações para responder a essas questões


através de procedimentos a serem adotados para gerenciar as fases de uma
emergência deflagrada a partir da detecção de uma situação anormal ou de
insegurança. Seu objetivo é evitar ou minimizar o possível acidente e os danos
provenientes dele através de medidas tecnicamente adequadas e ágeis.

De forma a facilitar o trabalho dos proprietários ou concessionários de barragens e a


padronizar os procedimentos, alguns países propõem um conteúdo mínimo que o
PAE deve apresentar, seja através de regulamentações legais, seja através da
própria experiência de seus pesquisadores no assunto. Embora as terminologias
adotadas variem um pouco em cada país, o conteúdo básico das exigências é, de
modo geral, semelhante ao apresentado abaixo:

 Detecção, Avaliação e Classificação da Emergência;

 Preparação (Procedimentos de Resposta, Sistemas de comunicação, Recursos


necessários);

 Responsabilidades;

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 Procedimentos de notificação;

 Mapas de Inundação; e

 Documentos para desenvolvimento e manutenção do plano.

Portanto, um PAE deve conter: a identificação dos potenciais eventos ou


deteriorações que podem oferecer perigo para a barragem e as formas de os mitigar
ou de responder a eles caso ocorram; os mapas de inundação para diferentes
cenários de acidentes, que possibilitarão avaliar os efeitos que o acidente pode
trazer caso se concretize, permitindo o adequado planejamento por parte das
autoridades de defesa civil; e a definição das responsabilidades para cada ação ou
tomada de decisão associada ao fluxo de notificações.

Os sistemas de comunicação e de alerta internos e externos (população e


autoridades) devem garantir que as ações sejam tomadas com segurança pelas
pessoas indicadas. Os recursos humanos e materiais disponíveis e necessários para
o desenvolvimento das ações devem estar previamente listados e disponíveis a fim
de garantir a agilidade do processo de resposta a emergências. Dentre os
documentos a serem agregados ao plano há formulários de notificação, listas de
recursos e de entidades e pessoas a serem comunicadas, dados de caracterização
do vale e da barragem, entre outros.

Os planos devem ser organizados de forma a facilitar o acesso às informações e a


agilizar os processos de notificações e tomada de decisões. Viseu e Almeida (2000)
recomendam, em Portugal, que um PEI (Plano de Emergência Interno, em Portugal)
seja organizado em duas partes: a primeira deve abordar a caracterização da
barragem, do vale a jusante e da cheia de ruptura, mapas de inundação e
identificação dos aspectos mais vulneráveis do vale a jusante; a segunda deve
caracterizar os procedimentos a seguir em caso de acidente.

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Seguindo também uma linha de separação, o plano proposto pela FEMA, nos
Estados Unidos, sugere a separação do plano em Básico e Completo (FEMA, 1998).
O primeiro, sem a inclusão de Apêndices, é usado por todos os envolvidos durante a
emergência. Os Apêndices fazem parte do plano completo e contêm o material de
referência e as justificativas das soluções implantadas no PAE Básico. Abaixo é
apresentada a estrutura proposta por FEMA (1998) para a formatação do plano:

Capa/Página de rosto

Índice

I. Fluxograma de Notificação
II. Propósito/Âmbito
III. Descrição da Barragem
1 IV. Detecção, Avaliação e Classificação de Emergências
2 V. Responsabilidades Gerais sob o PAE
A. Responsabilidades do Proprietário da Barragem
B. Responsabilidade pela Notificação
C. Responsabilidade pela Evacuação
D. Responsabilidade pelo Término e Continuação dos trabalhos
E. Responsabilidades do Coordenador do PAE
VI. Prontidão
VII. Mapas de Inundação
VIII. Apêndices
A. Investigação e Análise das Cheias de Ruptura
B. Planos para Treinamento, Exercícios, Atualização e Divulgação do
C. Características Específicas do Local
D. Aprovações do

No Canadá, a BCHydro também trabalha com dois planos distintos. Um mais


simples, contendo apenas as informações realmente importantes para que os órgãos
de resposta elaborem seus próprios planos, é entregue para as entidades ligadas
aos serviços de emergência dos municípios, e outro, mais detalhado, contendo os
estudos de ruptura e propagação, fica na empresa com toda a memória de cálculo

Na Espanha, a proposta do Guia Técnico (ESPANHA, 2001) é de um documento


organizado em três volumes. O primeiro contém todos os elementos que podem ser

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necessários durante uma situação de emergência e incluem todos os capítulos e
apêndices. O segundo contém o chamado “documento de operação”, destinado à
divulgação externa, e no terceiro estão os anexos com as justificativas sobre o que
foi adotado na parte principal do documento.

No Brasil, a Lei 12.334/10 não traz definições sobre a estrutura do PAE, mas apenas
sobre seu conteúdo, que deve prever pelo menos:

 identificação e análise das possíveis situações de emergência;

 procedimentos para identificação e notificação de mau funcionamento ou


condições potenciais de ruptura da barragem;

 procedimentos preventivos e corretivos a serem adotados, com indicação do


responsável por cada ação, para as situações de emergência; e

 estratégia e meio de divulgação e alerta para as comunidades potencialmente


afetadas, em situação de emergência.

Nos tópicos a seguir serão apresentadas algumas formas de compor esses itens.

3.3.2 Procedimentos para identificação e análise de situações de emergência

A análise da segurança da barragem consiste, basicamente, na detecção, avaliação


e classificação de situações que possam colocar em risco as estruturas. A partir
desse trabalho rotineiro, é possível analisar a qual risco o barramento está sujeito.

Este assunto foi tema de outros módulos desse curso e não será melhor detalhado
aqui neste trabalho, em especial nas unidades 3 e 4 do Módulo II.

3.2.2.1 Avaliação da segurança da barragem

O objetivo da avaliação de segurança de barragens é determinar as condições


relativas à sua segurança estrutural, funcional e hidrológica, identificando os
problemas, suas causas e recomendando reparos preventivos e corretivos,

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restrições operacionais e estudos para solução dos problemas. Os processos de
“monitoramento de barragens”, também denominados “auscultação de barragens”,
são compostos de inspeções visuais e instrumentação com o objetivo de coletar
informações que permitam uma adequada avaliação. Esses processos são
contínuos e devem atuar nas três fases da vida de uma barragem: projeto e
construção, primeiro enchimento do reservatório e operação ou exploração.

As principais ferramentas do monitoramento de barragens são as inspeções visuais


e a instrumentação. Essas ferramentas são complementares entre si e, enquanto a
primeira constitui excelente instrumento de avaliação global da performance das
estruturas, a segunda agrega informações pontuais, por vezes dificilmente
detectadas pelo olho humano, por mais treinado que esse seja.

As atividades de auscultação estão assim intrinsecamente ligadas aos PAEs, visto


que a qualidade na detecção, avaliação e classificação das emergências garantirá o
melhor funcionamento dos procedimentos de notificação e atuação das equipes de
resposta.

Biedermann (1997) apud Viseu (2006) considera que deve ser dada atenção
particular às inspeções visuais, já que a experiência comprovou que cerca de 70%
de todas as situações de emergência podem ser identificadas visualmente. Isso se
deve, principalmente, ao fato de que as inspeções visuais permitem uma avaliação
mais global do comportamento das estruturas, enquanto que a instrumentação
permite uma avaliação mais pontual.

3.2.2.2 Níveis de segurança, de alerta ou de emergência

Os níveis de segurança orientam os envolvidos na definição do grau de perigo em


situações de emergências auxiliando nas tomadas de decisão e indicando os passos
a serem seguidos após a identificação de uma situação que possa colocar em risco
a segurança da barragem. Essa classificação deve ser escolhida cuidadosamente,
para que os responsáveis pelas repostas a emergências, tanto das barragens

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quanto das comunidades a jusante, as compreendam clara e rapidamente quando
enviarem e receberem notificações. A sua utilização influencia significativamente a
eficiência das etapas que sucedem a sua definição durante uma emergência,
devendo a sua utilização ser a mais correta e rápida possível.

Usualmente, são adotados três ou quatro níveis de segurança, que podem estar
caracterizados em cores, números ou letras.

Nos Estados Unidos (FERC, 2007) e na Suíça (MARTINS, VISEU, RAMOS, 1999),
são propostos, geralmente, três níveis de classificação para emergências: dois,
envolvendo risco de ruptura, e um para emergências sem risco de ruptura. No
primeiro nível, considera-se que foi registrado um acidente e que a ruptura é
iminente ou já ocorreu, enquanto no segundo, uma situação potencial de ruptura
está se desenvolvendo e pode ou não ser controlada. O terceiro nível prevê uma
situação anormal de operação ou o registro de um incidente sem a expectativa de
ruptura.

Outros autores propõem uma classificação em quatro níveis, com o acréscimo de


um nível de controle de rotina, onde os eventos detectados não implicam o aumento
de perigo para a barragem (ESPANHA, 1995; ALMEIDA, 1999 e MI, 2002). Viseu
(2006) apresenta uma estrutura em 4 níveis, conforme mostrado na tabela 1. Nessa
estrutura, os nomes dos níveis de segurança são dados em função da cor que os
representa e se referem tanto às inundações provocadas pela ruptura da barragem
quanto àquelas relativas à propagação de cheias naturais.

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Tabela 1 – Níveis de segurança e situações em que são ativados

Nível de Situações
Perigo
Probabilidade de acidente desprezível.
Plano de Segurança da Barragem - monitoramento rotineiro e ações corretivas de deteriorações que
não comprometem a segurança estrutural.
NORMA
L Quando não foram encontradas anomalias ou as anomalias encontradas não comprometem a
segurança da barragem, mas devem ser controladas e monitoradas ao longo do tempo.
As previsões meteorológicas não indicam condições adversas.

Probabilidade de acidente baixa.


Quando as anomalias encontradas não comprometem a segurança da barragem a curto prazo, mas
devem ser controladas, monitoradas ou reparadas ao longo do tempo.
AMARE
Obriga a um estado de prontidão na barragem onde serão necessárias as medidas preventivas e
LO corretivas previstas e os recursos disponíveis para evitar um acidente.
OU
ATENÇÃ Eventual rebaixamento do reservatório (depende da avaliação técnica da situação).
O O fluxo de notificações do PAE é apenas interno, a menos que sejam necessárias descargas
preventivas ou o rebaixamento do reservatório.
É conveniente testar os sistemas de comunicação neste momento.

Probabilidade de acidente elevada.


Cenário excepcional e de alerta
“Espera-se que ações a serem tomadas evitem a ruptura, mas pode sair do controle.”
LARANJ
A A exploração do reservatório deverá ser interrompida. Esvaziamento do reservatório.
OU Entende-se que a segurança do vale à jusante está gravemente ameaçada e será necessário acionar
ALERTA os procedimentos de comunicação e notificação externos previstos no PAE.
Avaliar a necessidade de evacuação interna.
A Defesa Civil avalia a necessidade de evacuação externa.

Acidente inevitável - catástrofe iminente.


VERMEL A ruptura é iminente, inevitável, já iniciou ou já ocorreu.
HO
Segurança do vale à jusante está gravemente ameaçada. Acionar os procedimentos de comunicação
OU e notificação previstos no PAE e as ações emergenciais previstas no PEE das comunidades à
EMERG jusante.
ÊNCIA
Evacuação necessária.

Fonte: Adaptado de Balbi, 2008.

Usualmente, os níveis de operação aplicados à instrumentação não estão


associados aos níveis de segurança e alerta da barragem, restringindo-se a um
primeiro nível de avaliação de rotina da segurança, devendo ser considerados
alertas internos (ASCE, 2000). Entretanto, alguns instrumentos, como acelerômetros
e sismômetros, podem fornecer dados muito diretos da ocorrência de um grande

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sismo ou da própria ruptura. Na barragem de Alqueva, em Portugal, por exemplo,
esses instrumentos são os únicos que estão diretamente ligados ao sistema de
alerta, que é ativado quando atingem valores pré-estabelecidos. É um caso raro para
o qual os instrumentos de auscultação ativam automaticamente o sistema de alerta
sem o julgamento humano.

3.2.2.3 Modos de falha – indicadores e seus limites

Historicamente, as principais causas de ruptura de barragens de concreto, no


mundo, são problemas de fundação. Para barragens de terra e de enrocamento, as
causas mais comuns são o galgamento e a erosão interna no maciço da barragem e
na fundação. Nas barragens tipo gravidade, as causas mais comuns são
galgamento e erosão interna na fundação (ICOLD, 1995).

Geralmente, os eventos externos que causam essas rupturas estão relacionados às


cheias extremas a montante (induzidas ou naturais), aos problemas na operação ou
no funcionamento dos extravasores, aos sismos e a atos de vandalismo ou
sabotagem. Os eventos internos estão relacionados à evolução de deteriorações
causadas pelos eventos supracitados ou pelo comportamento da própria barragem.
À exceção dos sismos e dos atos de vandalismo, os demais modos de falha,
normalmente, podem ser evitados ou previstos com certa antecedência ou, pelo
menos, apresentam sintomas identificáveis antes que evoluam a ponto de romper a
barragem.

Os indicadores de falha importantes para a elaboração de um PAE estão, portanto,


relacionados aos eventos ou situações potencialmente perigosos às estruturas e a
sua análise deverá ser cuidadosa, seguindo guias e procedimentos específicos de
orientação com as causas prováveis, as principais ações corretivas e os limites
associados aos níveis de segurança adotados.

São inúmeros os itens a serem monitorados, mas o PAE deve focar aqueles cuja
evolução poderá ameaçar a segurança das estruturas do barramento, que indicam

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fenômenos ou situações como os que são apresentados abaixo (adaptado de
ESPANHA, 2001):

Internos

 Transbordamento;
 Erosão interna no maciço ou na fundação;
 Movimentos diferenciais;
 Deslizamentos dos taludes ou das ombreiras;
 Infiltrações e subpressões no maciço;
 Deformações anormais e recalques;
 Fissuras, trincas ou cavidades;
 Água nas galerias e drenagens;
 Erosões e cavitações (turbulências); e
 Operação dos equipamentos.

Externos

 Cheias naturais extremas;


 Sismos;
 Deslizamentos de encostas nas margens do reservatório;
 Vertimentos de grandes vazões das barragens a montante ou sua ruptura;
 Fogos ou atos de vandalismo;
 Ações bélicas ou atos de sabotagem; e
 Outras causas.

Os principais problemas que afetam as barragens de concreto, de terra e estruturas


anexas, os seus indicadores, consequências e medidas reparadoras podem ser
encontrados na bibliografia especializada brasileira como o “Manual de Segurança e
Inspeção de Barragens” (MI, 2002), “Auscultação e Instrumentação de barragens no

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Brasil” (CBDB, 1996) ou ainda na literatura internacional, como o “Safety evaluation
of existing dams - SEED Manual” (USBR, 1983), que foi traduzido para o português
em 1987 pela Eletrobrás. Fusaro (2007) propõe uma série de questões a serem
estudadas e investigadas durante a avaliação do comportamento das estruturas do
barramento.

Grande parte dos indicadores utilizados para determinação dos níveis de segurança
vem dos parâmetros que são monitorados para responder a essas perguntas.
Definidos os principais eventos ou situações que ameaçam a segurança do
barramento, é necessário apresentar quais serão os indicadores utilizados no seu
monitoramento e quais os limites para sua classificação em cada nível de
segurança. Serão apresentados, a seguir, apenas indicadores utilizados que
compõem o barramento, como barragens, vertedouros e tomadas d’água, cuja falha
poderia resultar na propagação de cheias a jusante.

Indicadores utilizados nas inspeções visuais

As inspeções visuais são responsáveis pelo monitoramento dos indicadores


qualitativos, que devem apresentar níveis de controle e alerta, orientando os
inspetores na definição dos respectivos níveis de segurança. Esses níveis são
baseados no grau de ameaça que uma deterioração pode causar à segurança das
estruturas. Em alguns casos, as deteriorações indicadas nas inspeções podem ser
analisadas em conjunto com os instrumentos, o que leva a uma avaliação mais
fidedigna do real nível de risco apresentado pela barragem. A orientação, quanto aos
níveis de controle para definição dos níveis de segurança, pode ser feita através de
uma tabela indicativa. A Tabela é um exemplo de ocorrências, suas principais
consequências em potencial e os respectivos níveis de alerta relacionados.

Para a maior parte dos indicadores é possível determinar, previamente, apenas os


níveis de segurança 0 e 1, principalmente para aqueles relativos a eventos internos

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às estruturas. Isso se refere a uma primeira aproximação e a classificação em níveis
maiores dependerá quase sempre do julgamento de um especialista.

Indicadores utilizados na interpretação dos dados da instrumentação

Os instrumentos normalmente são instalados para monitorar um possível modo de


ruptura. É necessário que sejam confiáveis e que seus limites estejam estabelecidos
de forma a orientar os processos de tomada de decisão. Como foi visto no item
relativo à análise da instrumentação, esses limites geralmente são divididos em três
categorias e, para aplicação do PAE, serão tratados como dois níveis de segurança:
normal, para a situação de mudança de tendência no seu comportamento até o
momento que se determine que essa tendência indicie uma deterioração na
estrutura, instante em que esses indicadores passam a ser tratados dentro do
segundo nível – no qual serão adotadas as primeiras medidas preventivas e de
monitoramento intensivo, como será visto adiante.

Tabela 2 – Exemplos de ocorrências e seus níveis


Ocorrência
excepcional Conseqüências Nível de alerta

Aumento excessivo do nível de água no reservatório Definido com


Possibilidade de galgamento base em
Cheias
indicadores
quantitativos
Risco de ruptura da barragem
Sismos Falha na operação dos órgãos de segurança da Idem
barragem
Falha na operação de mecanismos, perda de Verde (i.e., pode
alinhamento de órgãos hidráulicos afetar a
Falha de órgãos de Impossibilidade de manobra ou de esvaziamento do funcionalidade da
segurança ou de reservatório barragem)
equipamento de Amarelo/Laranja
operação Redução da capacidade de vazão, aumento
(i.e., pode afetar
excessivo do nível de água no reservatório,
a segurança da
possibilidade de galgamento
barragem)
Falha dos sistemas Impossibilidade de notificação Verde/Amarelo
de alerta e de aviso Impossibilidade de aviso Amarelo/Laranja
Falha dos
equipamentos de Falta de dados de observação
Verde
medição e
aquisição

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Fissuração, infiltrações no corpo da barragem e Definido com
fundação e movimentos diferenciais; Fenômenos de base em
deterioração no concreto; Instabilidade estrutural, indicadores
risco de ruptura qualitativos
pormenorizados
Anomalias A definir, com
relacionadas com o base em
comportamento indicadores
estrutural Conjunto de grandezas (deslocamentos horizontais e quantitativos, de
verticais, movimentos de juntas, vazões e sub- acordo com o
pressões) a definir no final do primeiro enchimento comportamento
da obra durante o
primeiro
enchimento
Ruptura de Sem possibilidade de galgamento Verde/Amarelo
barragem a Possibilidade de galgamento Laranja/Vermelho
montante
Obstruções a jusante Verde
Deslizamentos de Geração de ondas anormais (sem possibilidade de Verde/Amarelo
encostas galgamento)
Possibilidade de galgamento Laranja/Vermelho
Possibilidade de afetar a funcionalidade da barragem Verde
Sabotagem, Possibilidade de afetar a segurança da barragem Amarelo
ameaça de bomba
ato de guerra Possibilidade de afetar a segurança da barragem Laranja
Perigo de instabilidade ou ruptura Vermelho
Possibilidade de afetar a funcionalidade da barragem Verde
Incêndios florestais
Possibilidade de afetar a segurança da barragem Amarelo
Acidentes pessoais,
Verde (pode
incêndios,
afetar a
inundações e Eventual impossibilidade de operar a distância órgãos
funcionalidade)
vandalismo na de manobra
Amarelo (pode
central hidrelétrica, Eventual impossibilidade de notificação e de aviso
afetar a
POC e pontos
segurança)
importantes
Fonte: VISEU E ANTÃO da SILVA, 2004.

Procedimentos de ação

Os procedimentos de ação tratam da preparação para agir baseado no planejamento


prévio de ações que devem ser tomadas ao se detectar qualquer anomalia ou
evento que ameace a barragem. Visam manter a segurança estrutural do
barramento antes da ocorrência de um acidente e, caso esse ocorra, garantir que
todos os envolvidos na operação da barragem e autoridades no vale a jusante sejam
avisados para agir, evitando consequências mais graves. Segundo Viseu (2006), “a
dificuldade em fornecer a resposta adequada à anomalia ou perigo que afeta uma

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barragem pode ser uma das principais causas para a falha de um alerta útil em
casos de ruptura de barragens”.

O estado de prontidão contempla, essencialmente, duas fases que devem funcionar


integradas:

 Fase de tomada de decisão, na qual procedimentos preventivos e corretivos de


resposta a problemas nas estruturas do barramento ou a eventos externos são
atribuídos aos envolvidos e são previstos os meios para sua execução; e

 Fase de notificação, com procedimentos específicos de notificação e alerta


associados a um sistema eficiente de comunicação.

Essas fases devem levar em consideração vários tipos de situações e adversidades


para que o estado de prontidão seja garantido e seja eficiente, quando uma resposta
for necessária. Segundo FERC (2007), as ações devem ser planejadas
considerando-se:

 a vigilância constante através de sensores, câmeras e observadores;

 as respostas durante a noite, finais de semana e feriados e períodos de clima


adverso;

 manutenção de acessos ao local;

 suprimentos de emergência; e

 sistemas alternativos de comunicação.

Os planos de ação podem ser divididos em quatro conjuntos principais:


 os procedimentos de ação imediata, preventivos e corretivos (o que fazer?);

 as funções e responsabilidades de cada um na cadeia de decisões (quem


faz?);

 os recursos humanos e materiais necessários; e

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 os procedimentos de comunicação e notificação.

3.2.3.1 Fase de tomada de decisões

Os procedimentos preparados para essa fase são materializados em planos de


ações de resposta a ameaças. Essa resposta consiste na aplicação de normas de
atuação elaboradas em fases anteriores aos desastres, testadas convenientemente.
São acionadas em situações que tirem o barramento de sua condição normal de
segurança e devem estar previstas em função do evento detectado e dos níveis de
segurança classificados a partir da análise dos indicadores apresentados e seus
respectivos níveis de segurança e alerta.

Os procedimentos de ações preventivas e corretivas são normalmente apresentados


na forma de uma lista que é associada a cada nível de controle e à ocorrência
excepcional. As medidas corretivas são normalmente constituídas por obras de
estabilização e reforço do corpo ou da fundação da barragem, obras de drenagem e
intervenções nos equipamentos eletromecânicos de extravasão.

As medidas preventivas em caso de anomalias, em qualquer nível de segurança,


visam manter a estabilidade das estruturas até que seja possível avaliar a situação e
agir adequadamente. Essas medidas podem ser essencialmente operativas. Dentre
as medidas preventivas, provavelmente as que causam mais impacto são as que
envolvem a operação do reservatório da própria barragem e das demais da cascata.
Segundo Hope (2007), ocorrem preventivamente cerca de seis deplecionamentos de
grandes reservatórios por ano somente no Reino Unido.

Espanha (2001) sugere que o deplecionamento deve ser adotado, se possível, na


maioria das situações de emergência, já que o nível do reservatório está associado à
grande maioria dos esforços aplicados sobre a barragem, tanto estruturais como
hidráulicos. No PAE deverá ser estabelecida a velocidade máxima aconselhável de
esvaziamento, de forma a evitar danos aos taludes e ao vale a jusante. O
rebaixamento do reservatório elimina, na prática, a ameaça para a população, que

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só será evacuada se não houver tempo para esvaziá-lo (VISEU, 2006). Essa medida
deverá ser, sempre que possível, definida pelo Coordenador Técnico do PAE, a
menos que a necessidade seja imediata ou não envolva riscos estruturais, e deverá
sempre seguir a Instrução Operativa existente para a operação do reservatório. Essa
instrução deve prever autonomia ao operador local na tomada de decisões, no caso
de falha na comunicação com o centro de operações.

A legislação espanhola prevê que a decisão de se rebaixar o reservatório será de um


“Comitê Permanente”, contemplado no Regulamento da Administração Pública de
Água e do Planejamento Hidrológico (Real decreto 927/1988, 28 de julho), salvo
casos de imediata e grande necessidade.

A operação conjunta de reservatórios da cascata consiste em solicitar aos


operadores de barragens a montante (quando existem) que retenham o máximo de
água possível e reduzam suas descargas e, àqueles das barragens a jusante, que
descarreguem o máximo de água possível, para aumentar o respectivo volume de
espera. Essas solicitações devem ser feitas seguindo o fluxo de notificações previsto
no PAE e, no caso das grandes barragens de hidrelétricas, envolvem a comunicação
com alguma entidade externa.

No Brasil, a coordenação operativa dos reservatórios de grandes usinas em


operação normal é do ONS - Operador Nacional do Sistema e, na emergência, é do
proprietário, que mantém a comunicação com o ONS e com os operadores das
usinas a jusante. O conceito de emergência adotado pelo ONS é quando a vazão
que passa pela usina é maior que a vazão de restrição estimada para o rio a jusante,
que geralmente envolve o tipo de uso e ocupação nas planícies de inundação. A
figura 4 mostra um exemplo de medidas de intervenção associadas a um problema
detectado na barragem.

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Figura 4 – Exemplo proposto de medidas de intervenção para um problema detectado

Fonte: Nota do autor.

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3.2.3.2 Recursos Humanos – funções e responsabilidades dentro do plano

O fluxo de tomada de decisão com a determinação de seus responsáveis e suas


funções deve ser elaborado segundo uma estrutura mínima, mas sempre adequada
à estrutura da empresa mantenedora da barragem. Geralmente as empresas
possuem uma estrutura organizacional para a operação normal e outra para
emergências, como é o caso apresentado na figura 5, da barragem de Irabia, na
Espanha.

Figura 5 – Organograma da barragem de Irabia, na Espanha

Fonte: SORALUCE, 2003.

A definição dos responsáveis pelas ações é fundamental para possibilitar a


elaboração ao fluxo de comunicação, como será visto adiante. Uma possível
organização para lidar em situações de emergências é apresentada na figura 6.

A adoção de um responsável pelo plano e pelas tomadas de decisões técnicas mais


importantes é comum na maioria dos guias para elaboração de PAEs pesquisados.
Trata-se, normalmente, do responsável pela exploração da barragem, que assume a
função de responsável pelo PAE. A terminologia dada a essa função varia em cada
país, sendo comum adotar-se o termo “Diretor do Plano”. Neste trabalho, será
chamado de Coordenador Executivo.

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Dentre as funções do Coordenador Executivo, relativas à segurança da barragem,
alguns guias o colocam como responsável pela avaliação das situações
emergenciais e classificação dos níveis de segurança, intensificação da vigilância ou
monitoramento, determinação da execução das medidas técnicas ou de exploração
necessárias para a diminuição do risco, manutenção permanente do nível de
informação adequado para os organismos públicos envolvidos na gestão da
emergência e emissão do alarme, quando os níveis de alerta remetem a uma
probabilidade de acidente considerável.

Figura 6 - Organograma para situações de emergência

Fonte: Nota do autor.

Referências como Defra (2006), Viseu (2006), Espanha (2001) e FERC (2007)
apontam as responsabilidades do coordenador executivo e suas atuações em todos
os níveis de segurança. Suas funções gerais devem ser definidas na

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regulamentação específica, lembrando que o mesmo contará com uma estrutura
organizacional para cumprir a maior parte delas. Os documentos citados consideram
somente a participação do Coordenador Técnico, não descrevendo essa estrutura
organizacional.

Dadas as funções que deve exercer, é importante que o coordenador executivo


tenha condições de compreender bem as emergências e tomar decisões
tecnicamente, em cenários envolvendo cheias extremas, que conheça da área de
hidrometeorologia, e, para cenários envolvendo ameaças às estruturas, que conheça
da área de segurança e manutenção civil. Em muitas barragens, o responsável pela
operação é diferente do responsável pela manutenção civil ou gestão do reservatório
e, mesmo onde fazem parte da mesma estrutura organizacional, há distinções.
Portanto, tornam-se necessárias as coordenações técnicas, subordinadas à
executiva, responsáveis pelas ações de resposta a eventos que possam pôr em
risco a segurança estrutural da barragem (coordenação técnica de segurança de
barragem) ou hidrológica (coordenação técnica hidrológica).

A coordenação técnica é a principal responsável pelo controle e resposta a esses


riscos e a coordenação executiva deve ser informada, periodicamente, das
deteriorações e da situação dos indicadores e, imediatamente, quando esses
atingirem níveis que interfiram na operação normal da barragem, como, por
exemplo, a sua interrupção ou rebaixamento do NA. Em contrapartida, a detecção
de quaisquer situações anormais envolvendo as estruturas do barramento ou
variações hídricas deverá ser imediatamente reportada às coordenações técnicas.
Nas condições que envolvem a atuação das três coordenações, será instituído o
Comitê de Emergência, do qual partirão as decisões das ações a serem tomadas
para evitar os desastres.

A primeira função do Coordenador Técnico é visitar o local onde se detectou uma


anomalia e classificar a estrutura segundo os níveis de segurança estabelecidos no
PAE. As funções seguintes consistem no monitoramento intensivo, na execução de

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medidas preventivas e corretivas, na informação e notificação aos envolvidos
internamente, às autoridades externas locais e aos operadores das barragens a
jusante.

As coordenações técnicas costumam atuar no monitoramento rotineiro dos fatores


de risco e na detecção dos eventos e situações causadoras de emergências.
Possuem assim uma participação extremamente proativa, sendo em grande parte
das vezes são os responsáveis pela detecção das principais anomalias, já partindo
para implementar medidas corretivas ou preventivas. Como as situações
emergenciais mais frequentes são as de riscos hidrológicos, a coordenação
hidrometeorológica deverá informar à de segurança de barragens sempre que a
condição normal de operação do reservatório for ultrapassada, como, por exemplo, a
previsão ou própria redução da borda livre de operação ou operações extremas dos
extravasores.

Um comitê diretivo deve ser envolvido sempre que a situação estiver saindo do
controle e o alerta à população a jusante for obrigatório, pois dele dependerão
algumas decisões e autorizações pertinentes à sua hierarquia na empresa, como
aprovação de recursos emergenciais ou a comunicação com a imprensa e
governantes.

Algumas empresas operam e mantêm uma quantidade muito grande de barragens e


optam por dividir a coordenação da operação e da manutenção em diferentes
equipes que serão tratadas aqui por Supervisão Técnica Regional Local. Essas
equipes geralmente possuem um contato mais próximo com a operação da
barragem e estão mais envolvidas com indicadores do comportamento de suas
estruturas. Nesses casos, é interessante que as funções iniciais como classificação
do nível de segurança, as medidas corretivas e preventivas sejam gerenciadas por
essas equipes de coordenação locais. Ainda assim, sempre que houver iminência de
acidente, o Coordenador Técnico deverá ser, obrigatoriamente, notificado e ele
deverá agir conforme o estabelecido no PAE.

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As equipes responsáveis pelo monitoramento hidrometeorológico, normalmente, são
distintas das equipes de manutenção. Entretanto qualquer cenário hidrológico que
implique o aumento dos cuidados a jusante deverá ser notificado à Coordenação
Técnica do PAE.

As equipes de apoio são aquelas que os coordenadores utilizam para executar as


ações e promover adequadamente a comunicação. Uma das formas possíveis de
organização é dividir as equipes de acordo com as ações que desenvolverão:

 Operação e manutenção eletromecânica, responsável pela operação adequada


dos equipamentos de descarga principalmente;

 Manutenção civil, responsável pela execução das medidas de resposta às


anomalias identificadas nas estruturas do barramento;

 Logística, responsável pelo apoio às operações de emergência, segurança de


acessos, alimentação etc;

 Comunicação, responsável pelos processos de notificação e comunicação


externos, a autoridades, população, meios de comunicação e outras empresas;
e

 Equipe de apoio externa (recursos extra barragem), responsáveis pela


execução ou análise das anomalias - é o caso dos consultores, entidades
externas e fornecedores de materiais e serviços.

As quatro primeiras são compostas de recursos humanos internos e deve-se


assegurar que estejam disponíveis em situações potenciais de acidentes. Para isso,
devem ser listadas no PAE os responsáveis por cada equipe e os respectivos
suplentes. Deve-se treinar todo o pessoal envolvido nas atividades inerentes às suas
equipes. A equipe de apoio externa é composta por consultores, prestadores de
serviço e fornecedores de material e esses são acionados para prover conhecimento
técnico, recursos humanos e materiais, respectivamente.

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3.2.3.3 Recursos materiais

São os recursos necessários durante as situações e ações de emergência. Fazem


parte os meios de comunicação, de aviso e de transporte, equipamentos para
fornecimento de energia, materiais de segurança e de construção civil para reparos
emergenciais. Esses recursos podem ser fixos, mobilizáveis ou exigir renovação.

Os recursos fixos são constituídos pelos sistemas de vigilância, de comunicação, de


aviso e pelos sistemas de alimentação de energia elétrica para os equipamentos
vitais da barragem. Esses últimos, geralmente, são compostos por grupos geradores
de emergência, movidos a óleo diesel e devem estar preparados para atender aos
equipamentos de acionamento dos extravasores, a iluminação do paramento de
jusante, das galerias de inspeção e circuitos elétricos dos centros de comando. Nas
usinas menores, pode-se avaliar a utilização de equipamentos manuais no
acionamento dos equipamentos de descarga, mas deve-se considerar a eficácia
desses métodos, de forma a não impor tempos grandes nessa operação.

A vigilância envolve os meios pelos quais a barragem é monitorada. Os operadores


muitas vezes estão localizados em áreas potencialmente inundáveis, mais distantes
da barragem, e têm um tempo muito curto para procurarem um lugar seguro. Nesse
caso e nos casos em que a barragem é operada a distância (tele-operada), é
recomendável que seja previsto um sistema de vigilância remota que inclua
instrumentação e telemetria. São exemplos as leituras freqüentes do nível d’água do
reservatório, o monitoramento da barragem através de câmeras e os sismômetros.
Alertas devem estar associados a mudanças bruscas que indiquem algum problema.
Os equipamentos devem dar respostas instantâneas para facilitar a ação imediata
dos operadores. Pode ser recomendável enviar um observador para a barragem,
durante períodos com previsão de grandes vazões, munido de aparelhos portáteis
de comunicação.

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O PAE deve descrever como é monitorada a barragem e explicar como os sistemas
de alerta serão ativados. Se não há um sistema remoto de vigilância, o plano deve
conter essa informação.

Os recursos mobilizáveis e renováveis dizem respeito àqueles que a usina deverá


dispor para responder a emergências e devem ser inventariados para efetuar essa
gestão. Alguns podem já existir em alguma quantidade na própria área da barragem,
mas podem ser necessários itens adicionais ou renovação dos que já existem, caso
não sejam suficientes. Dentre os mobilizáveis, existem: os equipamentos
especializados, como gruas, caminhões e tratores; os meios de transporte para a
evacuação das equipes da operação da barragem e possíveis operações de aviso a
jusante; os meios de transporte fluviais; e os equipamentos de segurança auxiliares
como geradores móveis, lanternas ou outros materiais de iluminação, meios
portáteis de amplificação da voz e outros meios de comunicação suplementares. Os
planos devem prever, ainda, a renovação de recursos como combustíveis e
lubrificantes, materiais para primeiros socorros e materiais diversos para
manutenção e reparo de equipamentos eletromecânicos ou de estruturas civis.

Quando uma barragem está sujeita a um risco conhecido, podem-se prever recursos
materiais visando às emergências mais prováveis de ocorrerem, para garantir as
operações e as ações por um determinado período de tempo, já possuindo, às
vezes, alguns equipamentos móveis e material estocado, inclusive areia, brita e
jazidas de terra para possíveis intervenções no barramento. Ainda assim, é preciso
inventariar os recursos que podem ser necessários emergencialmente, listando as
formas de obtenção, os seus locais e o tempo para a sua mobilização. Devem ser
consideradas as prefeituras e empresas privadas (como os depósitos de materiais
de construção ou construtoras e empreiteiras, além dos postos de combustíveis).

É necessário prever iluminação para os vertedouros e barragem para facilitar as


ações nesses locais durante a noite. A iluminação pode ser fixa ou mobilizável e
deve ter um sistema de energia confiável.

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Devem-se prever as condições dos acessos durante as emergências, sua obstrução
ou não e os meios alternativos de chegar ao local do acidente. Em alguns casos
pode ser necessário mobilizar barcos, helicópteros e veículos apropriados.

Estruturas de apoio (Centro de Operações de Emergência)

O Centro de Operações de Emergência (COE) é o local onde o Comitê de


Emergência deverá se reunir para monitorar e gerenciar as ações em situações
extremas. O COE deve possuir sistemas de comunicação e de energia confiáveis e
será o principal local de onde será possível recolher e disseminar informações,
coordenar e emitir ordens para ações, mobilizar e gerir recursos, manter e arquivar
registros do desenvolvimento da situação e dos custos relacionados com as
operações de emergência e manter a comunicação com os agentes envolvidos no
controle da situação de emergência. É onde estarão sediadas as interfaces de
comunicação com as entidades envolvidas na gestão da emergência e as
autoridades de defesa civil. Tendo em consideração que as emergências ligadas a
eventos hidrológicos são mais comuns, tem-se maior utilização do COE nessas
situações. Salvo quando a magnitude do evento exigir uma presença no local,
grande parte das decisões poderá ser tomada à distância, assim como a
comunicação com as autoridades de defesa civil.

No caso de riscos estruturais, poderá ser conveniente dividir o COE em dois - um


corporativo e outro local, de forma que no COE corporativo fiquem os níveis
hierárquicos mais altos envolvidos nas tomadas de decisão (comitê diretivo) e no
local os principais responsáveis pela execução das ações. Essa medida visa à
agilizar os processos de tomada de decisões técnicas para atuação mais imediata. O
COE local é denominado Sala de Emergência e deve ficar, preferencialmente,
próximo à barragem, em local seguro e com visibilidade.

A Diretriz espanhola estabelece como obrigatória a existência de uma sala de


emergência para cada barragem ou conjunto de barragens de um mesmo

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Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado entre
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reservatório (ESPANHA, 2001). Viseu (2006) descreve a sala de emergência como
sendo um Posto de Observação e Comando onde o Diretor do Plano e os recursos
humanos internos deverão permanecer em situação de alerta, localizado em uma
zona segura e de preferência com possibilidade de observação visual da barragem.
Em Portugal, as salas de emergência são consideradas imprescindíveis, embora
muitas barragens ainda não as possuam. No Canadá, por exemplo, a BCHydro
possui centros de emergência locais, nas próprias barragens, e outros corporativos,
centralizados (FUSARO, 2004).

Na Sala de Emergência, a coordenação técnica deverá se reunir com a coordenação


executiva ou com a operação, para gerenciar as operações de emergência em nível
local, a partir de orientações centralizadas no COE corporativo. Quando a
coordenação executiva está descentralizada, a sua comunicação com o COE deverá
ser assegurada por meios de comunicação confiáveis e permanentes.

No caso de uma estrutura organizacional com muitas barragens, poderá ser


necessário criar COEs regionais para atender a um grupo de barragens. É
importante assegurar que o acesso ao COE não seja interrompido, principalmente
pela ruptura da barragem.

A figura 7 mostra um exemplo de sala de emergência muito simples, disponível na


barragem portuguesa de Penacova. Essa sala, embora simples, permite a
visualização constante da barragem, possui os comandos para operação do
vertedouro (uma sirene) e é dotada de um sistema de comunicação por rede celular
GSM, telefonia e rádio, possibilitando a operação a distância e troca de mensagens
entre os envolvidos.

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Figura 7 - Sala de emergência da barragem de Penacova, em Portugal

Fonte: BALBI, 2007.

3.2.3.4 Fase de notificação

Os procedimentos de notificação compreendem, essencialmente, a determinação do


fluxo e dos meios de comunicação entre pessoas e entidades e a forma como
deverão ser as mensagens. A instalação e a manutenção de meios de comunicação
que permitam o funcionamento eficaz de toda a cadeia de notificação são
fundamentais e fazem parte do estado de prontidão.

A fase de notificação é basicamente um conjunto de procedimentos de alerta que


envolvem a comunicação estabelecida entre os agentes responsáveis pela
segurança da barragem e da defesa civil, indicativa de que existe, ou que poderá
existir, uma situação de emergência. Deve-se considerar o fluxo de comunicação

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entre os envolvidos no nível interno da barragem (alerta interno), entre as
coordenações e as autoridades externas e, quando for uma exigência legal, os
sistemas de alarme às pessoas nas zonas imediatamente a jusante da barragem
considerada no auto-salvamento.

A notificação deve ser feita ao responsável pelo PEE (Plano de Emergência Externo)
a jusante, ou ao serviço de plantão 24 horas, vinculado ao sistema de Defesa Civil,
que deverá avisar aos demais agentes utilizando os procedimentos de alerta
definidos no respectivo plano.

O sistema de alarme, também chamado de sistema de aviso, é considerado aquele


estabelecido para avisar à população no vale a jusante, o que, segundo Viseu
(2006), é uma atribuição da Defesa Civil. Embora a própria autora considere que
pode ser conveniente o alarme estar contemplado no PAE, no sentido de que
aumenta o tempo para salvamento das pessoas potencialmente atingíveis. Em
Portugal, cabe ao responsável pelo PAE fazer o aviso à população nas Zonas de
auto-salvamento (VISEU, 2006).

Deve-se ter sempre em mente que o treinamento da população para o auto-


salvamento deverá ser atribuição do Estado, através da Defesa Civil, assim como é
de sua responsabilidade o aviso e a evacuação das demais populações
potencialmente atingíveis.

Os procedimentos de alarme serão tratados no capítulo referente aos Planos de


Emergência Externos, juntamente com os procedimentos de comunicação e alerta
dos agentes envolvidos nesses planos.

Dependendo da localização das instalações industriais associadas à barragem, é


necessário, ainda, prever o alerta e evacuação dessas áreas. É o caso da casa de
força e edifício de controle nas usinas hidrelétricas.

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Fluxograma de notificações

O fluxograma é a forma mais usual de apresentação dos procedimentos de


notificação. Nele é mostrado quem são os responsáveis por notificar cada envolvido,
quem deve ser notificado e em que ordem deve ser feita a notificação. Normalmente,
todos os fluxos se iniciam com os operadores da barragem ou de um observador
externo. Deve ser acionado o coordenador técnico, que toma decisões orientado
pelo plano e pelo seu julgamento técnico, dando prosseguimento ao fluxo. Como
exemplos, nas Figuras 8 e 9 são mostrados fluxogramas propostos por autores
portugueses e estadunidenses, respectivamente.

Segundo FERC (2007), é melhor que seja criado apenas um fluxograma para
atender a todos os níveis de emergência, por questões de eficiência e simplicidade,
mas podem ser criados fluxogramas por nível, sob certas condições de facilidade de
compreensão. Podem ser usadas cores para traçar as linhas ou áreas coloridas para
separar as fases de notificação segundo os níveis de classificação, ou ser criada
uma lista de ações de comunicação na página posterior ao fluxograma.

O número de pessoas a serem notificadas pela coordenação do plano deverá ser


relativamente pequena, de forma a evitar confusão numa situação de emergência,
melhorando assim a sua eficácia. Para os contatos diretos são incluídos todos os
meios possíveis de comunicação com a pessoa.

A cadeia de tomada de decisões, em situações de emergência, deverá ser definida


de forma a não apresentar dúvidas quanto ao fluxo, aos responsáveis pelas ações e
às ações. Os fluxogramas são formas fáceis de exibir esses dados e deverão
apresentar os fluxos de comando e de informações relativos a cada nível de
segurança atingido. Todos os participantes devem ser devidamente identificados e o
poder de decisão de cada um deles deve estar claramente definido e reconhecido.

É necessário garantir a notificação dos principais envolvidos nas ações de


emergência e entre os centros de operações existentes, notificando as autoridades

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responsáveis pela proteção da população quando necessário, e se a legislação
exigir, o aviso à própria população em locais específicos. Dentre os possíveis
envolvidos podem-se citar:

 o proprietário da barragem;

 o operador;

 Autoridade de defesa civil;

 Operadores de barragens a montante e a jusante;

 Gerentes de estabelecimentos nas margens do rio e do reservatório;

 Serviços de meterorologia;

 Imprensa apropriada;

 Agências federais, estaduais ou municipais; e

 Residentes em áreas de risco.

Para que o fluxograma não fique muito extenso são adotadas listas de pessoas a
serem contatadas em casos de emergência. Deve-se ter em conta que as
autoridades relacionadas à segurança da população, como polícia e bombeiros,
podem receber a informação antes dos responsáveis pela barragem, já que estão
permanentemente de plantão.

Como exemplo de fluxo de notificação externa, o plano de emergência da barragem


do Alqueva, em Portugal, foi formatado de forma que o seu Diretor do Plano Interno
(Coordenador Executivo) deve alertar sempre às autoridades dos serviços
municipais de proteção civil, de todos os municípios que abrangem a área afetada.
Paralelamente, deve alertar aos coordenadores dos centros nacional e distritais de
operações de socorro. Informalmente, ainda está estabelecido que, no Posto de
Observação e Comando (equivalente ao COE), deverá estar presente um

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representante do Sistema de Proteção Civil desde o primeiro nível de alerta. Esse
representante estará em contato direto com o Diretor do Plano (VISEU, 2006).

Figura 8 - Esquema geral de um eventual sistema de notificação Barragem-Vale

(1) Prioridade de comunicação

Fonte: Almeida, 2001

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Figura 9 - Exemplo de Fluxograma de notificação

Fonte: Nota do autor.

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Meios de notificação e alerta interno

No nível do PAE, os meios de alerta mais usuais são:

 Telefonia fixa e fax (adequados para mensagens escritas e transmissão de


dados);

 Rádio;

 Redes de fibra ótica;

 Servidores de e-mails, conectados via telefone, rádio ou satélite;

 Telefonia móvel (celulares);

 Rádios móveis para comunicação;

 Comunicadores via satélite; e

 Sirenes.

Deve-se prever a utilização de mais de um sistema de comunicação. Essa


redundância deverá ser prevista tanto no tipo de comunicação quanto no número de
canais de comunicação. Muita atenção deverá ser dada a sistemas baseados em
rede de telefonia fixa, para que a comunicação não seja interrompida por falhas nas
linhas que poderão estar em áreas de risco.

Mensagens de notificação

As mensagens e frases de alerta devem estar pré-estabelecidas, o seu significado


deve ser claro, direto e de rápida compreensão. A mensagem de notificação a ser
difundida pela coordenação do PAE, através dos meios de comunicação previstos,
deverá ser, preferencialmente, falada e, sempre que possível, enviada também sob a
forma escrita.

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Essa mensagem normalmente deve trazer algumas informações básicas sobre a
emergência como, por exemplo:

 Quem está notificando e função;

 Data e hora;

 Situação anormal detectada ou condições da barragem;

 Contatos; e

 Cenário ou nível de emergência estabelecido.

Na Figura 10 é mostrado um exemplo de notificação de emergência adotado pela


BCHydro no Canadá.

Figura 10 – Exemplo de notificação adotado pela BCHydro


________________________________________________________________Fax
de notificação de emergência de segurança de barragens
____Dam Alert – Existe situação ou performance anormal da barragem
____Dam Breach – Ocorreu a ruptura da barragem ou uma severa situação anormal
tem grande probabilidade de levá-la a ruptura
____Cancelamento da situação declarada de emergência
Emergência declarada por ..................nome/posição
Favor implementar seu Plano de Resposta a Emergências apropriado
Fonte: FUSARO, 2004.

As mensagens devem ser periódicas, de forma a manter os agentes da Defesa Civil


atualizados quanto à evolução da ameaça.

Finalização da Emergência

Dar-se-á quando as causas que motivaram a sua declaração tiverem desaparecido.


Normalmente é determinado pelo Coordenador Executivo. Deverão ser informadas
às mesmas entidades envolvidas na notificação dos níveis de emergência.

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4. CARTAS DE RISCO E OCUPAÇÃO DO SOLO

Num primeiro momento, o mapeamento das áreas de risco a jusante, no contexto


dos Planos Emergenciais da Barragem, tem o objetivo principal de subsidiar a
classificação das barragens quanto ao risco potencial. Assim, a cartografia com uma
escala razoável, como 1:25.000, pode ser útil na estimativa do número de
edificações, rodovias, ferrovias e da ocupação do solo ao longo do vale. Nessa fase,
a caracterização exaustiva do vale não influi diretamente na classificação do seu
grau de risco, já que, em diferentes legislações internacionais, basta ameaçar a vida
de um pequeno grupo de pessoas para que a barragem passe a ser considerada de
alto risco.

Essa classificação é de grande importância, pois determinará o rigor e o grau de


detalhamento exigido nos demais passos do planejamento de emergência da
barragem, em um segundo momento.

Na fase de planejamento de emergência, são realizados estudos de propagação


mais precisos, baseados em cenários de ruptura, e será necessário maior
conhecimento da ocupação nas áreas de risco. O zoneamento do risco é a divisão
do território potencialmente atingido em áreas classificadas segundo o risco
envolvido, a magnitude do dano, a vulnerabilidade e os tempos de alerta envolvidos.
Essa informação pode ser utilizada para estimar os danos materiais e à pessoas,
para definição do sistema de aviso, para planejamento municipal do uso e ocupação
do solo, para definição das responsabilidades pelo alerta e evacuação etc.

As representações gráficas desse zoneamento em imagens aéreas ou em mapas


cartográficos compõem os mapas de inundação, os quais têm importância
fundamental nos planos de emergência e são exigidos na maioria dos países
estudados, em suas respectivas legislações, regulamentos e guias técnicos
relacionados aos s. No âmbito do Política Nacional de Segurança de Barragens, o

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mapa se insere no item de estratégia e meios de divulgação para as comunidades
potencialmente atingidas.

Seu principal objetivo é mostrar a extensão e o tempo esperado de uma cheia


proveniente da ruptura de barragens, auxiliando o gerenciamento das ações de
emergências por parte das autoridades e proprietários de barragens. Esses mapas
devem fornecer informações para que as autoridades do vale a jusante possam
preparar os sistemas de alerta, os planos de emergência e organizar a ocupação
urbana ao longo do vale.

No âmbito do PAE, os mapas de inundação auxiliam na avaliação de danos


provenientes de um desastre e na determinação dos procedimentos de comunicação
com as autoridades responsáveis pela defesa civil ao longo do vale. Externamente,
o mapeamento do risco é fundamental para que as comunidades a jusante e suas
respectivas autoridades de segurança promovam o planejamento de uso e ocupação
do solo e de ações de resposta emergenciais provocadas por inundações. Os mapas
devem fornecer informações suficientes para que as autoridades possam planejar
suas ações e procedimentos de comunicação, além de melhorar a gestão do uso e
ocupação do solo e determinar as áreas prioritárias de evacuação com suas rotas de
fuga.

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5 ESTUDOS DE CAUSA X EFEITO EM CENÁRIOS DE RUPTURA

O vale a jusante sofre impactos da cheia induzida de formas distintas e o


zoneamento de risco consiste em classificar as áreas potencialmente inundáveis em
função do impacto, do grau de perigo e da vulnerabilidade a que estão expostas. As
medidas de defesa civil são estabelecidas considerando esses riscos, assim como
os estudos de estimativa de danos. As principais características hidrodinâmicas
envolvidas nesse zoneamento são (adaptado de ALMEIDA, 2001 e FLOODSITE,
2007):

 Áreas atingidas (determina quais elementos em risco serão afetados, como a


existência de aglomerados populacionais, estruturas etc.);

 As cotas máximas dos níveis d’água ou alturas máximas (talvez a maior


influência no total de danos);

 Os instantes de chegada da frente de onda ou da cheia (importante nos tempos


de alerta e evacuação);

 Os instantes de chegada da altura máxima;

 O valor máximo do produto da velocidade v pela altura h de água (V x H, em


m2/s, corresponde ao perigo que a água oferece às pessoas e edificações);

 A velocidade máxima do escoamento (que pode caracterizar a capacidade


destrutiva); e

 A duração das submersões (para avaliação dos custos materiais e o tempo de


recuperação).

Observa-se que os três parâmetros principais fornecidos pelos estudos de


propagação necessários ao mapeamento das zonas de risco são: os tempos de
chegada da onda de cheia, as profundidades e as velocidades do fluxo.

Grau de perigo em função do tempo de chegada da onda

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O tempo entre a identificação da emergência e a chegada da onda nos locais
habitados é o primeiro parâmetro para classificação das áreas de risco de
inundações provenientes de ruptura. O tempo eficaz de aviso, que permite às
pessoas e às organizações prepararem a mobilização de meios e a evacuação das
zonas mais sensíveis, talvez seja o fator mais importante na mitigação dos efeitos
das cheias ao longo do vale (PLATE, 1997 apud ALMEIDA e VISEU, 1998). Isso
pode ser observado no critério adotado pelo USBR em 1999 (Tabela 3) para
estimativa de perdas de vidas em função do tempo de alerta. É necessário,
portanto, que as autoridades saibam exatamente o tempo disponível para atuar e
que a operação da barragem atue para garantir esse tempo.

Tabela 3 – Número esperado de vítimas em função do tempo de alerta

Tempo de aviso Perda de vidas Número esperado de vítimas (NEV)

NEV = 50% no número de pessoas em


0 a 15 minutos Significante
risco
0,6
15 a 90 minutos Potencialmente significante NEV = (número de pessoas em risco)

Mais que 90 Perda de vidas virtualmente NEV = 0,0002 x número de pessoas em


minutos eliminada risco
Fonte: USBR, 1999.

Geralmente, os guias para elaboração de s pesquisados definem duas zonas de


perigo principais: a próxima à barragem, onde as ações da defesa civil são mais
limitadas dado o tempo de aviso reduzido, e aquelas mais distantes. As zonas
próximas correspondem à área onde a população deverá estar preparada para sua
própria evacuação ao ser alertada pela operação da barragem ou pela defesa civil.
Nas zonas mais distantes considera-se que há tempo para que as autoridades
orientem a evacuação.

Cada país possui uma classificação de zoneamento que adota critérios específicos e
nomenclaturas distintas. Na Suíça, a chamada “zona de segurança imediata” é

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delimitada pela distância percorrida pela onda em duas horas (SUÍÇA, 1998). Na
França, a zona do “quarto de hora” corresponde à distância percorrida pela onda em
15 minutos (FRANÇA, 1999). Na Espanha (Espanha, 2001) e Portugal (Viseu, 2006)
utiliza-se a denominação “Zona de Auto-Salvamento” (ZAS) e o tempo considerado é
de trinta minutos. Na Itália, essa área corresponde a um comprimento de 10
quilômetros ao longo do vale (ITÁLIA, 1986). USBR (1995) recomenda que a zona
“1”, próxima à barragem, compreenda o trecho cujo tempo de alerta corresponda a
até quatro horas. Em países como Inglaterra, Austrália e os Estados Unidos, o auto-
salvamento costuma estar intrínseco nos planos de resposta a desastres causados
por diversos outros fatores de riscos naturais ou tecnológicos.

Além da zona próxima à barragem, que conforme já foi dito exige atenção especial,
existem ainda as zonas mais afastadas, onde considera-se haver um tempo hábil
para a atuação da defesa civil. Essas áreas se estendem por muitos quilômetros e
precisam ser classificadas de forma a otimizar a atuação das equipes de resposta.
Nesse sentido, a legislação francesa divide essas áreas em zonas de alerta I e II; na
primeira são previstas submersões significativas e necessidade de s e na segunda
se consideram pouco importantes as submersões (FRANÇA, 1999).

Grau de perigo em função da profundidade e da velocidade

A importância de uma submersão se deve à capacidade da cheia de provocar danos


às pessoas, edificações e aos bens. Os principais parâmetros para se classificar os
danos são: a área atingida, a profundidade da cheia (H) e a sua velocidade de
propagação (V). A ameaça provocada por esses fatores combinados corresponde ao
Risco hidrodinâmico, dado em m2/s:

Risco hidrodinâmico = H x V (5.1)

sendo
H = profundidade [m]
V = velocidade do fluxo [m/s]

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Segundo FLOODSITE (2007), os métodos de avaliação de danos materiais e a
edificações utilizam principalmente as profundidades, enquanto que a avaliação do
risco às vidas é bastante influenciada pelas velocidades de propagação.

Almeida (1999), citando casos reais de inundação quase estática nos países baixos,
indica que, em geral, para profundidades maiores que 3,5 metros, as pessoas
atingidas não sobrevivem; para profundidades maiores que 2 metros, 5% da
população atingida não sobrevive; para profundidades menores que 2 metros, existe
forte probabilidade de sobrevivência. O autor considera ainda que a regra empírica
para o fator HxV de sobrevivência é menor que 1 m2/s.

Diversos estudos foram realizados a fim de estabelecer valores para os quais as


cheias provocam danos. Em um desses projetos, chamado RescDam (SYNAVEN et
al., 2000), foram realizadas simulações com pessoas e modelos físicos de
edificações para tentar obter o grau de perigo de uma inundação. Alguns parâmetros
são mostrados na Tabela 4.

Cada país ou agência utiliza um critério específico no mapeamento do risco. Viseu e


Martins (1998) sugerem que o limite para o risco hidrodinâmico HxV é de 1 m2/s para
se considerar uma zona como de perigo alto. Em Defra (2006), estabelece-se que a
população a ser considerada em risco é aquela na área onde HxV é maior que 0,5
m2/s. Conforme mostra a Tabela 4, o valor de 0,5 m2/s corresponde ao limite máximo
que crianças e deficientes suportam sem serem arrastadas, enquanto que valores
até 1 m2/s correspondem ao mesmo limite para um adulto.

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Tabela 4 – Definição das conseqüências do risco hidrodinâmico

Parâmetro HxV (m2/s) Conseqüências


<0,5 Crianças e deficientes são arrastados
0,5 – 1 Adultos são arrastados
1–3 Danos de submersão em edifícios e estruturais
em casas fracas
3–7 Danos estruturais em edifícios e possível colapso
>7 Colapso de certos edifícios
Fonte: SYNAVEN et al., 2000.

As Tabelas 5 e 6 apresentam os critérios adotados por Viseu (2006), em Portugal,


para graduação do risco em função da profundidade e da velocidade. A graduação
de importância é feita considerando-se que, na área de inundação, podem existir
edificações capazes de proteger as pessoas em diferentes profundidades. Esse é o
princípio da evacuação vertical, que considera que as pessoas podem se deslocar
para pavimentos superiores na tentativa de evitar a cheia.

Tabela 5 – Critérios para graduação do perigo para seres humanos

Nível Classe Inundação Inundação dinâmica


estática (H) (HxV)
Reduzido Verde H<1m HxV <0,5 m2/s
Médio Amarela 1m<H<3m 0,5 < HxV <0,75 m2/s
Importante Laranja 3m<H<6m 0,75 < HxV < 1 m2/s
Muito Vermelha H>6m HxV > 1 m2/s
importante
Fonte: VISEU, 2006.

Tabela 6 – Nível de perigo para edificações

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Nível Classe Inundação dinâmica Velocidade (V)
(HxV)
Reduzido Verde HxV < 3 m2/s V < 2 m/s
2
Médio Amarela 3 < HxV < 5 m /s 2 < V < 4 m/s
2
Importante Laranja 5 < HxV < 7 m /s 4< V < 5,5 m/s
Muito importante Vermelha HxV > 7 m2/s V > 5,5 m/s
Fonte: VISEU, 2006.

O USBR utiliza curvas de perigo para classificar o risco decorrente da inundação. Um


exemplo dessas curvas é apresentado na Figura 11.

Figura 11 - Classificação do perigo adotado pelo Bureau of Reclamation

Fonte: USBR, 1998.

Formatação dos mapas de inundação

Cada país determina seus padrões para apresentação dos mapas a serem
elaborados, tipos de representação e de informações, nomenclaturas, escalas etc.

O guia espanhol (ESPANHA, 2001), por exemplo, estabelece que os mapas devem
indicar a delimitação da área inundável, com detalhes das zonas que possam

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progressivamente ser afetadas pela ruptura, devendo ser confeccionados sobre
cartografia oficial, de escala adequada.

FERC (2007) recomenda que os mapas mostrem áreas inundadas devido a rupturas
em dias secos e em condições de cheias de projeto. Os mapas também devem
mostrar os níveis normais de água, devendo-se evitar a representação de muitas
curvas no mesmo mapa. Devem-se usar linhas que permitam identificar os limites de
inundação sem atrapalhar a visualização de estruturas do local. As áreas entre as
linhas de inundação e os níveis de água devem ser preenchidos ou coloridos para
distinguir a área de inundação. Adicionalmente, locais críticos ou estruturas devem
ser marcadas para assegurar a sua visibilidade.

Existem diversos programas de geoprocessamento disponíveis no mercado como o


ArcGIS (ArcInfo e ArcView) da ESRI, o MapInfo, o Geomedia (Intergraph), AutoCAD
Map, MicroStation Geographics, entre outros. São programas que geralmente
implicam um alto investimento, porém são muito úteis nos trabalhos de mapeamento
de riscos. As atuais tecnologias de Sistemas de Informações Geográficas (SIG)
auxiliam esses trabalhos, permitindo uma apresentação virtual e mais rica dos dados
a serem divulgados e analisados.

Alguns programas, inclusive, são capazes de ler os resultados dos modelos de


propagação hidráulica e apresentá-los em Modelos Digitais de Terreno (MDT),
facilitando significativamente o trabalho. Esse é o caso mostrado em Rubís (2006),
que apresenta resultados da elaboração de mapas de inundação e de riscos
baseados nas determinações da legislação espanhola, utilizando o modelo hidráulico
HEC-RAS combinado ao software de geoprocessamento ArcView através da
ferramenta HEC-GeoRAS. Já o Centro de Desastres do Pacífico (www.pdc.org)
propõe a utilização do FLDWAV interagindo com o ArcView através de um programa
chamado M2M.

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6 CENÁRIOS POTENCIAIS DE RISCO

Cenário é a combinação única de circunstâncias de um ambiente como: evento


iniciador, velocidade do vento, nível de água no reservatório, posicionamento das
comportas, modo de ruptura, onda de cheia provocada pela ruptura e fatores que
determinam a presença de pessoas a jusante da barragem no momento da ruptura.

O cenário define a combinação de circunstâncias com interesse para uma avaliação


de riscos. Pode-se falar, por exemplo, em cenários de ações, cenários de ruptura e
cenários de inundação a jusante. Verifica-se que, para cada barragem, pode-se
construir um número elevado de cenários. É necessário estabelecer um conjunto de
cenários que viabilize o estudo e seja representativo das situações potencialmente
mais graves a atingir o vale.

Na Espanha, o guia técnico recomenda que, em geral, se considerem unicamente


“dois” cenários extremos de ruptura (ESPANHA, 2001):

H1. Cenário de ruptura sem cheia – Reservatório no seu nível máximo


normal.

H2. Cenário de ruptura em situação de cheia – Reservatório com seu nível no


coroamento e vertendo a cheia de projeto.

O mesmo guia ainda considera um terceiro cenário raro, não envolvendo a


segurança estrutural do barramento, mas, sim, dos equipamentos de
extravasamento.

A1. Cenário de ruptura de comportas – Reservatório inicialmente no nível


máximo normal. Ruptura das comportas seqüencial e progressiva de 5 a 10
minutos para a totalidade das comportas.

O cenário de ruptura em cascata exige uma avaliação conjunta entre os proprietários


das barragens envolvidas para a elaboração dos planos e cada proprietário é

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responsável pela elaboração do PAE da sua barragem. O proprietário de uma
barragem precisa conhecer as análises e estudos efetuados em barragens
imediatamente a montante para estudar as conseqüências para a sua própria e para
o vale a jusante. Assim são analisadas as seguintes situações:

 O reservatório é capaz de reter a onda de ruptura afluente, não se produzindo uma


ruptura em cascata, mas sim uma situação de emergência com vazões extremas; e

 Pode-se produzir o transbordamento da barragem, devendo-se considerar o


cenário de ruptura em cascata.

Em Portugal, o Regulamento de Segurança de Barragens define cenários como


situações que devem ser encaradas para avaliação da segurança das obras e que
se classificam em duas categorias: conforme correspondam às condições de uso
normal (cenários correntes) ou sejam associadas a uma ocorrência excepcional
(cenários de ruptura). Na prática, são considerados dois cenários. No primeiro, a
simulação da cheia induzida correspondente ao cenário de ruptura mais provável ou,
quando há dificuldade em estabelecê-lo, ao cenário de ruptura extremo. No
segundo, considera-se um incidente sem ruptura com propagação de grandes
vazões ou esvaziamento do reservatório (VISEU, 2006).

Brasil (2005) sugere a seguinte classificação de cenários de ruptura:

 Cenário 1 ou cenário extremo de ruptura: é o cenário que define a envoltória


máxima para as áreas de risco a jusante. Ele deve ser utilizado para o
estabelecimento do sistema de aviso e alerta e do plano de emergência.

 Cenário 2 ou cenário de ruptura mais provável: esse cenário ajusta-se melhor a


uma situação real. Pode ser utilizado para fins de uso e ocupação do território a
jusante.

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 Cenário 3 ou cenário considerando somente a ruptura: onda de cheia proveniente
somente da ruptura da barragem. O hidrograma afluente ao reservatório é
desconsiderado.

 Cenário 4 ou cenário de operação extrema: esse cenário considera um evento de


cheia que leva os órgãos extravasores da barragem a um funcionamento em
condições críticas, sem, entretanto, ocorrer o colapso da estrutura.

Outra metodologia, dos Estados Unidos, considera 3 cenários (FERC, 2007): dois
cenários de ruptura, prevendo o “dia de sol” e outro associado a uma grande
afluência natural, e um cenário só com a propagação desta. Assim, assegura-se a
simulação da pior situação de inundação, estabelecendo-se os tempos e cotas de
inundação, a favor da segurança do vale. Esse cenário permite conceber as ações
resposta a situações mais prováveis de operação extrema. A redução dos cenários
de ruptura simplifica o entendimento e as comunicações durante emergências.

Almeida (2001) aconselha a não se multiplicar desnecessariamente o número de


cenários a simular dada a dificuldade de manipulação de grande quantidade de
informações. Segundo FERC (2007), em muitos casos, somente um cenário de
ruptura, seja em situações normais (sem cheias naturais) ou durante inundações,
requer uma análise desde a lista de notificações, e a prioridade para notificações,
normalmente, permanece a mesma, independente da condição inicial investigada.

Algumas vezes, a cheia de projeto é muito inferior à de ruptura e sua significância


para a simulação é pequena. Ao analisar a bacia como um todo, os afluentes de
jusante podem ter uma contribuição significativa nos períodos chuvosos, sendo
responsáveis por grandes inundações, independente da barragem, mesmo num
cenário de ruptura. Isso pode ser observado, por exemplo, no estudo da ruptura
hipotética da barragem de Rio de Pedras e os efeitos induzidos nas cidades a
jusante apresentado em Cemig (2006). Situações como essas são mais complexas

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e, normalmente, são necessários modelos hidrológicos que requerem mais dados do
que aqueles disponíveis na operação da barragem.

Em todos os casos, a sensibilidade do projetista e considerações práticas devem


governar as análises de rupturas, de forma a se desenvolver o melhor aplicável
(FERC, 2007).

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7 CRITÉRIOS E FERRAMENTAS PARA MAPEAMENTO DE PLANÍCIES DE
INUNDAÇÃO

A propagação da onda de ruptura é uma das etapas do mapeamento dos riscos, a


partir da qual se obtém as cotas de inundação, os tempos de chegada,
profundidades e velocidades alcançadas pela onda de inundação. Os resultados
dessas simulações permitem compor os mapas temáticos de inundações,
necessários para estabelecer os tempos de resposta, planos de comunicação e de
atuações de emergência no vale a jusante da barragem.

As características dinâmicas da onda de inundação provocada por ruptura


dependem essencialmente de (MARTINS E VISEU, 1997):

 características da brecha de ruptura;

 condições iniciais no reservatório e nos trechos do rio a jusante; e

 morfologia do vale a jusante, que influencia a propagação da onda, e que inclui a


rugosidade do leito e margens, as perdas de carga localizadas, as zonas de
armazenamento e a ocorrência de singularidades como as confluências, pontes e
planícies de inundação.

A propagação envolve, essencialmente, o estudo da formação da brecha de ruptura,


com sua respectiva vazão de pico e hidrograma efluente, levantamento de dados
topográficos e hidráulicos do rio a jusante e a modelagem e propagação da onda no
trecho de interesse.

A indefinição relacionada com o caráter aleatório destes aspectos, principalmente


dos dois primeiros, obriga os planejadores a atribuir valores predeterminados a eles.

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Formação da brecha e hidrograma gerado

O processo de ruptura é de grande influência para a magnitude, duração e forma do


hidrograma de saída da barragem. Os tipos de barragens interferem
significativamente nessas características e os modelos de formação de brecha
existentes podem ser divididos em: modelos baseados em equações empíricas,
modelos físicos ou semi-físicos, modelos estocásticos e modelos paramétricos,
sendo estes últimos os mais populares na engenharia prática (ALMEIDA et al.,
2003). Para a avaliação do risco no vale a jusante, espera-se que um modelo de
ruptura forneça:

 Vazão de pico e hidrograma de saída;

 Duração do colapso ou tempo de esvaziamento do reservatório; e

 Forma, profundidade e largura final da brecha e tempo de abertura da mesma.

Para definição desses elementos, não existe uma formulação que se possa dizer
verdadeira e, embora algumas regulamentações sugiram o que deve ser usado, é
um processo ainda muito cercado de incertezas.

Nos Estados Unidos, existem muitos modelos desenvolvidos por suas agências
estatais que permitem calcular o hidrograma de ruptura e a propagação no vale a
jusante (USBR, NWS, USACE, USGS). Em Brasil (2005), Espanha (2001) e Almeida
(2001) podem ser encontradas informações mais detalhadas sobre modelos de
ruptura e propagação para diversos tipos de barragens.

Existem programas computacionais, como o HEC-RAS e o DAMBRK, que permitem


calcular os elementos citados acima, mas pode-se utilizar, para se obter uma
resposta mais rápida, os modelos paramétricos baseados em formulações
apresentadas na literatura, como feito em Cemig (2006).

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A seguir, são apresentadas algumas formulações que podem ser utilizadas como
referência na determinação da forma da brecha e do hidrograma de ruptura. A
escolha da mais adequada deve vir do julgamento de quem está analisando o
processo da ruptura. A Tabela 7 apresenta alguns parâmetros propostos para
determinar as características da brecha. Para a determinação da vazão de pico,
Brasil (2005) propõe as formulações empíricas apresentadas na Tabela 8 - Fórmulas
empíricas para cálculo da vazão de ruptura. A Tabela 9 serve de referência para
concepção do hidrograma de ruptura, também proposta por Brasil (2005). A
aplicação dessas três tabelas associadas e a seleção dos valores por elas
apresentados permitem dar início aos estudos de propagação.

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Tabela 7 - Parâmetros de formação da brecha

País ou Tipo de Tempo de Forma da Profundidade Largura da


pesquisador barragem ruptura ruptura da brecha brecha
Completa,
Instantânea,
admitindo
Arco entre 5 e 10
geometria
minutos
trapezoidal
Espanha O maior entre:
Instantânea, Até o contato
(Espanha, Gravidade e  1/3 do comp.
entre 10 e 15 Retangular com o leito no
2001) contrafortes da crista
minutos pé
 3 blocos
0,5 Até o contato
Terra e/ou T(h)=4,8 . V b(m)=20(V(hm
3 Trapezoidal com o leito no 3 0,25
enrocamento (hm )/h(m) ) . h(m))

Formular a ruptura de cada uma de suas partes, selecionando o
Barragens
modo e o tipo de ruptura que dê lugar à maior vazão de ponta no
mistas
hidrograma de ruptura
Completa,
Largura total
Arco 0 a 6 minutos igual à parede H (barr)
do vale
do vale
Múltiplos
Estados Concreto inteiros de
6 a 30 minutos Retangular H (barr)
Unidos Gravidade larguras
DOE (1992) monilíticas
0,5 a 4 horas
Vertical a 0,5 a 3 vezes a
(USACE)
Terra trapezoidal (1 : H (barr) altura da
0,1 a 2 horas
1) barragem
(NWS)
Menor do que Declividade da lateral da brecha Comprimento da
Arco
0,1 horas entre zero e a declividade do vale crista

Declividade da lateral da brecha


Contraforte Entre 0,1h e 0,3h Múltiplos trechos
normalmente igual a zero
Um ou mais
trechos
Brasil (usualmente
Declividade da lateral da brecha
(ELETROBRÁS, Gravidade Entre 0,1h e 0,3h menor do que
normalmente igual a zero
2003) metade do
comprimento da
crista)
Entre 1 e 5
Entre 0,1 e 1,0h
vezes a altura da
(compactada) e
Terra e Declividade da lateral da brecha barragem
entre 0,1h e 0,5h
enrocamento entre 0,25 e 1 (normalmente
(não
entre 2 a 4
compactada)
vezes)

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Tabela 8 - Fórmulas empíricas para cálculo da vazão de ruptura (BRASIL, 2005)
Autor Vazão de Pico [m³/s] Característica

Lou Q max =7,683 H Fórmula baseada na análise de 19 diferentes


d 1,909 casos de ruptura de natureza diversa

8 Fórmula desenvolvida por Saint-Venant para o


Saint-Venant Q max = B√gY 3 caso de remoção instantânea e total do
27 2
médio barramento

( )
1/2
8 Bd Fórmula considerando a situação em que a
Schoklistch Q max = Bb √ g Y 3 ruptura se dá em parte da crista de uma
27 Bb
médio 2 barragem
Fórmula baseada em dados coletados de
Bureau of Q max =19 H vazões de pico históricas, e da profundidade
Reclamation d 1,85
da lâmina d’água no reservatório no momento
Vertedor de da
De ruptura
acordo com Singh, o escoamento que
Soleira Q max =1,7 B b H 3 passa pela brecha pode ser assumido como
Espessa 2 análogo ao escoamento que passa por um
b
SINGH vertedor retangular de soleira espessa

{ [ ]}
3
As
1, 94 Fórmula considerando a formação de uma
Wetmore e Bb
Q max =1,7 B b brecha retangular, desenvolvendo-se em um
Fread 1, 94 As
T p+ intervalo de tempo (t)
( Bb √ H d )

Em função da altura:
Curva superior
Q max =48 H
d 1,63
Melhor ajuste
Q max =19 H
d 1,85
Em função do volume
Curva superior Fórmula proposta pelo pesquisador, baseada
Q max =4000 V 0,57 em dados coletados de vazões de pico
históricas, devido à ruptura e em função da
Costa
profundidade da lâmina d'água presente no
Q max =961V 0,68 Melhor ajuste reservatório no momento da ruptura

Em função do volume e da
altura
Curva superior
Qmax = 1150(H d  V) 0,44
Melhor ajuste
Q max =325( H d ×V )0,42
sendo: Qmax: Descarga máxima defluente da barragem em ruptura [m³/s]; V: Volume do reservatório
para o NA máximo [hm³]; As: Área do reservatório para o NA máximo [m²]; Bd: Largura da barragem
[m]; Hd: Altura da barragem [m]; Bb: Largura final da brecha [m]; Hb: Altura final da brecha [m]; e
Ymédio: Profundidade média no reservatório no instante da ruptura [m]; Tp: Tempo para
desenvolvimento da brecha [s].

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Tabela 9 - Hidrogramas de ruptura (BRASIL, 2005)

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sendo: Qp = descarga máxima defluente da barragem em ruptura [m³/s]; V = volume do
reservatório da barragem no momento da ruptura [m³]; Tp = tempo de pico [s];
Tb = tempo de base [s]; K = fator de ponderação, varia entre 1,5 e 5,0.

Condições iniciais de afluências

A associação de vazões afluentes ao reservatório ao hidrograma de ruptura é


necessária quando se considera um cenário de ruptura em dia chuvoso. Podem ser
usadas cheias naturais históricas, vazões médias de períodos chuvosos ou
hidrogramas das cheias de projeto.

Segundo Viseu (2006), alguns autores consideram que as vazões afluentes ao


reservatório de uma barragem em ruptura podem ser ignoradas, exceto quando se
tratar de uma pequena barragem, se for considerado um cenário de ruptura por
galgamento, ou quando o reservatório for atingido pela onda de ruptura de uma
barragem a montante.

Levantamento de dados

A caracterização do vale envolve o levantamento de dados topográficos e hidráulicos


necessários aos modelos de propagação e vai desde o levantamento de dados
qualitativos, como pontos peculiares que possam influir na forma e característica da
cheia, até a obtenção de dados quantitativos, como perfis longitudinais e seções
transversais do curso d’água, e delimitação de áreas rurais e urbanas.

É necessário levantar a curva cota-área-volume do reservatório, as seções


topobatimétricas do trecho a jusante, as séries de vazões afluentes, os registros de
cheias naturais e estudos de vazões extremas, os dados de configuração das
margens (tipo de cobertura vegetal e uso do solo) e os dados de sedimentos.

Geralmente, a geometria do vale pode ser obtida a partir da topografia levantada


para estudos preliminares para construção da barragem ou em cartografia oficial

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disponibilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Podem ser
utilizadas imagens aéreas e de satélites reconstituídas com apoio de campo,
modelos digitais do terreno, dados obtidos por equipamentos a laser ou obtenção de
perfis através de topografia clássica. As seções transversais dos pontos mais
relevantes para o estudo da propagação da onda e avaliação dos danos potenciais
são extraídas desses modelos.

Na Tabela 10 são mostradas algumas recomendações do Departamento de Minas e


Recursos Naturais do Estado de Queensland (NRM), Austrália, para a escolha do
espaçamento de seções transversais (NRM, 2002).

Tabela 10 – Distâncias recomendadas entre seções e comprimento total do curso d’água


principal a serem considerados para a propagação de onda de ruptura

Volume do reservatório Distância recomendada


(hm3) entre seções (km)
20,0 D>1
2,0 0,5 < D < 1
0,2 D < 0,5
Fonte: NRM, 2002.

Cunge et al.(1980) sugerem que as seções devem ser levantadas em intervalos


regulares de 200 a 5.000 metros, observando-se a variação da geometria do curso
d’água principal e a presença de irregularidades.

Com relação à escala dos mapas a serem utilizados para os levantamentos dos
dados dos modelos de propagação, os limites máximos para o intervalo entre curvas
de nível e o mínimo para a escala de mapas são, respectivamente, 1 m e 1:10.000.
Entretanto, para grandes áreas, esse tipo de mapa raramente existe, sendo mais
comuns os mapas com escala de 1:25.000, 1:50.000 e 1:100.000, com curvas de
nível espaçadas em intervalos de 5 m, 10 m e 20 m, respectivamente. Assim,
levantamentos topográficos complementares são usualmente necessários, de forma

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a assegurar a qualidade da representação da geometria do curso d’água e seu vale
no modelo (BRASIL, 2005).

As simulações apresentadas em Almeida et al. (2003) se basearam em mapas


topográficos na escala 1:25.000. Espanha (2001) recomenda que se utilizem perfis
transversais e longitudinais obtidos diretamente de cartografia existente, quando
essa cumprir os requisitos mostrados na Tabela 11, em função da magnitude da
profundidade de análise. Se a topografia existente não atende, é necessário obter os
dados através de topografia clássica ou restituição direta a partir de fotografias
aéreas na escala adequada (escala não inferior a seis vezes a especificada na
tabela). Esse guia estabelece ainda que, em qualquer caso, obter-se-ão diretamente
no campo, por topografia clássica ou restituição, aqueles perfis que correspondem a
configurações morfológicas particulares do rio ou a infraestruturas que possam
adquirir papel de controle hidráulico.

Tabela 11 – Eqüidistância máxima e escala associada desejadas para profundidades médias


envolvidas na propagação

Profundidade de Eqüidistância Escala associada


análise (m) máxima (m)
1 0,5 1:500
2 1,0 1:1.000
4 2,0 1:2.000
10 5,0 1:5.000
1:10.000 ou
20 10,0
1:25.000
40 20,0 1:50.000
Fonte: ESPANHA, 2001.

Estudos realizados pela Cemig têm considerado uma distância entre seções de
aproximadamente 10 km, acrescentando-se o levantamento de seções em locais

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como pontes, confluências e áreas urbanas. Além disso, podem-se utilizar modelos
digitais de terrenos, obtidos de imagens aéreas restituídas a partir de trabalhos de
campo. A vantagem deste último modelo é que a definição da quantidade de seções
não envolve custos de levantamento, podendo-se adotar uma quantidade
expressiva, o que contribui para o melhor detalhamento do trabalho.

Brasil (2005) apresenta critérios para a seleção e levantamento das seções e


definições de coeficientes de rugosidade, mas pode–se dizer, resumidamente, que o
importante é locar as seções em trechos retilíneos, sem alargamentos ou
estreitamentos bruscos, próximo a singularidades e controles hidráulicos e em
confluências de rios.

Ramos e Viseu (1999) propõem que a escala base de trabalho e de apresentação


dos resultado seja de 1:25.000; em zonas urbanas, devem ser adotadas escalas
maiores, como 1:5.000, e deve-se executar levantamento topográfico em áreas
muito planas, especialmente para utilização de modelos 2D. Em Rubís (2006) foi
utilizada uma restituição na escala 1:5000, com curvas de nível a cada 5 metros.

Outro ponto importante diz respeito à representação do leito do canal (a parte


submersa). Existe uma dificuldade de se medir a real importância do levantamento
batimétrico das seções para o caso de propagação de grandes vazões, como as de
ruptura. Estudos realizados em Portugal consideram a simplificação do fundo
aproximando-o a uma seção trapezoidal ou triangular baseada em algumas poucas
seções levantadas no campo (BALBI, 2007).

Estudos recentes, conduzidos pela CEMIG GT, de simulação de cheias de ruptura


de grandes barragens utilizando o modelo unidimensional NWS FLDWAV indicam
que os levantamentos batimétricos são mais importantes na definição da declividade
do fundo do rio já que, aparentemente, esse parâmetro exerce maior influência nos
resultados das propagações que a forma da seção do canal propriamente dita.

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O limite de estudo a jusante ou fronteira a jusante diz respeito à definição da
distância de simulação da onda de cheia ao longo do vale, o que varia para cada
situação particular. Almeida (2001) propõe os seguintes critérios:

 A foz do rio;

 A confluência com outro rio;

 Uma seção, em que as alturas de água da cheia simulada sejam da ordem de


grandeza das correspondentes a cheias com um período de retorno definido ou
da maior cheia natural conhecida;

 Uma seção a partir da qual se verifiquem alturas de água inferiores a um dado


valor fixado (por exemplo, 1 metro); e

 Uma seção a partir da qual se estabeleça um grau de risco que se considere


aceitável.

Na Espanha, se estabelece que os estudos se realizem até onde os cálculos


indiquem que já não existe perigo para as populações e pessoas situadas a jusante.
Além das citadas anteriormente, existem outras situações que permitem demarcar o
limite de estudo (ESPANHA, 2001):

 Alcançar uma vazão máxima inferior à capacidade do leito, sem produzir


inundações significativas nem nas margens nem a jusante;

 Entrada em um reservatório capaz de receber a onda total de ruptura sem


produzir vertimentos importantes a jusante, ou extravasamentos que possam
produzir danos importantes a jusante. Neste último caso, sempre que a
barragem que barre o dito reservatório necessite dispor de PAE; e

 Entrada em um reservatório em que se possa produzir o cenário de ruptura em


cascata, e que necessite normativamente dispor de PAE.

Em NRM (2002) propõe-se que, para reservatórios com volumes superiores a 0,2
hm3 , a distância a ser feito o estudo de propagação deva ser maior que 5 km, para

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volumes maiores que 2 hm3, 20 km, e para volumes maiores que 20 hm 3, igual 60
km.

A legislação francesa permite que seja utilizado um dos seguintes critérios


(ALMEIDA et al., 2003):

 A seção onde a cheia de ruptura é menos significante que uma de Tempo de


Retorno de 100 anos, ou mais recentemente, 10 anos;

 A seção onde a cheia é menos significante que a maior cheia conhecida;

 A seção onde a cheia não constitui perigo para a vida humana; e

 A seção onde os níveis de água são menores que 1 metro, medida referente ao
nível que não se espera alcançar em cheias normais.

O guia canadense define que a população que vive a mais de 3 horas de


propagação da onda, está em uma zona considerada fora de risco. Na Finlândia, a
legislação especifica que o cálculo da onda deve ser feito nos primeiros 50 km a
jusante (ALMEIDA et al., 2003).

Graham (1999) sugere que os estudos de simulação se concentrem nos primeiros


30 quilômetros a jusante da barragem analisada por considerar que a
vulnerabilidade das pessoas em risco diminui muito a partir dessa distância. O autor
considera que isso acontece, primeiro porque as áreas mais jusante são mais e
melhor alertadas, segundo, porque a capacidade da onda de causar danos vai
diminuindo.

Para barragens em cascata, é usual que o limite seja o início do reservatório de


jusante, situação em que estudos de ruptura devem ser desenvolvidos para as duas.
Quando a barragem de jusante não se encaixa nas regulamentações existentes,
devido à sua pequena altura ou volume armazenado por exemplo, os estudos para a
barragem de montante devem considerar todo o trecho, inclusive considerando a

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ruptura daquela. Um exemplo dessa metodologia pode ser encontrada no
regulamento espanhol (ESPANHA, 2001).

Modelos de propagação

Os modelos para simulação do escoamento podem ser divididos em cinco tipos, por
ordem crescente de precisão:

 modelos simplificados;

 modelos hidrológicos (pouco comuns);

 modelos hidrodinâmicos 1-D (dos quais o mais conhecido é o modelo


DAMBRK);

 modelos hidrodinâmicos 2-D; e

 modelos físicos 3-D.

Segundo Almeida (2001), a escolha do modelo deverá depender das características


específicas de cada caso, incluindo a complexidade e ocupação do vale a jusante, a
importância da barragem, a escala do levantamento topográfico de base e do
mapeamento das áreas inundáveis, entre outras.

FERC (2007) recomenda a utilização de modelos que utilizam métodos de


escoamento não-permanente e de propagação dinâmica, como o HEC-RAS, do
Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos (USACE – United States
Army Corp of Engineers).

Estudos apresentados em Almeida et al. (2003) utilizaram os modelos DAMBRK


unidimensional e BIPLAN bi-dimensional para propagação e validação através de
um modelo físico. Enquanto o DAMBRK apresentou algumas dificuldades
operacionais e erros ao tentar simular a ruptura instantânea da barragem, com
variações abruptas de fluxo no vale a jusante, o modelo BIPLAN apresentou

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instabilidades devido às irregularidades topográficas, dificuldades com as condições
de contorno de jusante e grande dependência da definição do modelo digital do
terreno. O modelo físico validou os resultados do BIPLAN para simular níveis d’água
e tempos de chegada da cheia devido à ruptura. Na comparação entre o modelo 1D
e 2D, concluiu-se que o DAMBRK apresentou níveis d’água mais altos e os tempos
de chegada das cheias foram maiores com o modelo BIPLAN.

Sobre esse mesmo estudo, para Viseu et al. (1999) “o fato de se obterem alturas de
água menores com o modelo BIPLAN altera o mapeamento das zonas de inundação
e conseqüentemente o domínio de intervenção dum Plano de Emergência, que
constitui o objeto final do cálculo da onda de inundação. Por outro lado, o atraso
significativo no instante de chegada desta onda, que é conferido pelos resultados do
mesmo modelo, é favorável à implementação de medidas de proteção da população
no vale a jusante. A diferença de resultados obtidos não põe em risco, na
generalidade, a validade de estudos com modelos unidimensionais, podendo
salientar-se mesmo a vantagem de, na elaboração de um planejamento de
emergência, fornecerem valores do lado da segurança. Obviamente que este fato de
segurança adicional tem, como conseqüência, um aumento de custos econômicos
tanto no planejamento de emergências como no ordenamento do território, impondo
restrições mais severas. Esse aspecto aponta claramente para a continuação de um
investimento nos modelos bidimensionais que, ao longo da próxima década, se
tornarão, certamente, de utilização corrente, sobretudo pela facilidade de pré e pós
processamentos conferidos pelos Sistemas de Informação Geográfica.”

O guia espanhol (ESPANHA, 2001) recomenda que se utilize para barragens


categoria A (Risco Alto) modelos hidráulicos completos e dinâmicos que permitam
analisar simultaneamente regimes sub e supercríticos, sendo preferíveis os modelos
unidimensionais aos bidimensionais, já que aqueles proporcionam precisão
suficiente contra a complexidade que necessitam.

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São inúmeras as opções de modelos facilmente encontrados nas referências
bibliográficas e na internet.

Segundo Rubís (2006), o modelo mais utilizado para simulação de ruptura de


barragens é o NWS DAMBRK, mas, atualmente, o HEC-RAS possui um módulo que
permite a simulação de ruptura de barragens e funciona no Windows há bastante
tempo gratuitamente. O USACE ainda disponibiliza uma aplicação chamada HEC-
GeoRAS, para permitir ao HEC-RAS importar informações geométricas de softwares
de SIG para simulação e retornar os resultados para a elaboração de mapas de
inundação e de risco. Todas essas facilidades o tornam um programa muito atrativo.

Rubís (2006) apresenta as seguintes opções para a realização da simulação de


ruptura de uma barragem:

 Modelos unidimensionais de regime variável se dividem em dois tipos: aqueles


que resolvem as equações completas de Saint-Venant e os que as resolvem
com alguma simplificação. Dentre os que resolvem as equações completas,
podem ser citados: HEC-RAS (USACE) e MIKE 11 (DHI), SOBEK (Delf
Hydraulics) e DAMBRK (NWS). São mais adequados a vales com alta
declividade e sem planícies de inundação;

 Modelos quase-bidimensionais aplicam as equações de Saint-Venant


unidimensionais no leito principal e a planície de inundação é representada
através de um reservatório de armazenamento conectado ao leito. Aceitam
casos com planícies de inundação, mas exigem mais experiência e habilidade
para cada tipo de situação; e

 Modelos bidimensionais podem se dividir em Clássicos e de Alta Resolução.


Embora os clássicos sejam bons para fluxos gradualmente variados,
geralmente não servem para rapidamente variados. Os de alta resolução
possuem modelos comerciais, geralmente caros, o que restringe a sua
utilização de forma generalizada, sendo mais comuns em universidades e

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centros de pesquisa. Esse tipo de modelo exige topografia muito detalhada
para que sejam atingidos bons resultados.

Em Zhou et al. (2005) é feita uma comparação entre o NWS FLDWAV e o HEC-RAS,
e, dentre as principais conclusões, está a que o FLDWAV é mais estável e produz
resultados consumindo menor tempo de processamento. O HEC tem a favor uma
saída gráfica melhor e possui funções melhores de pré e pós processamento. Ambos
produzem resultados de simulações semelhantes, com algumas limitações, e
possuem capacidade para interagir com programas de SIG, embora, no FLDWAV,
estas funcionalidades ainda estejam em fase de testes.

Segundo Rubís (2006) utilizaram o HEC-RAS, que atende às condições previstas


nas normas espanholas vigentes, está no mesmo nível de cálculo do FLDWAV
(NWS), está em ambiente Windows e possui a aplicação HEC-GeoRAS, que permite
alimentar o modelo hidráulico com dados geométricos de um MDT e utilizar os
resultados da simulação na geração dos mapas de inundação diretamente em GIS.
O estudo citado fornece uma metodologia de utilização do software ArcView para
geração dos mapas de inundação e de risco, passo a passo a partir do HEC-RAS.

O estudo apresentado em CEMIG/UFMG (2006), para a modelagem da propagação


da ruptura da barragem de Rio de Pedras, seguiu metodologia elaborada no escopo
de um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento em parceria com a UFMG. Nesse
estudo foram utilizados os modelos NWS FLDWAV (unidimensional), do National
Weather Service (NWS) dos Estados Unidos, e o modelo FESWMS (bidimensional).
Este último, restrito apenas à área urbana de um município atingido, se mostrou
inviável pela quantidade de dados que devem ser gerados para sua utilização,
devendo ser usado apenas para áreas pequenas.

Saída do modelo

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O resultado principal das simulações efetuadas é fornecer dados para o
mapeamento das áreas potencialmente inundáveis no caso de uma ruptura. Para as
próximas etapas de mapeamento é necessário que o modelo hidráulico adotado
forneça os seguintes elementos por seção do curso d’água:

 Cotas máximas atingidas e respectivo tempo de ocorrência;

 Temos de chegada da frente de onda;

 Velocidade da propagação, pelo menos por trecho da seção, planícies de


inundação e canal principal; e

 Duração da inundação.

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8 TREINAMENTOS, ATUALIZAÇÃO E REVISÃO

A implementação do PAE exige treinamentos e testes para assegurar a sua


adequação antes de ser colocado em prática. Nesse momento, são acertados os
detalhes e feitas as primeiras revisões.

Após implantado, o plano deve conter, entre seus apêndices, informações sobre
treinamento periódico dos envolvidos, operadores e outros que possuam alguma
responsabilidade. Os treinamentos contribuem para manter o estado de prontidão,
uma vez que permitem uma maior familiarização dos envolvidos com os seus
elementos e atribuições.

Os exercícios permitem identificar as fraquezas do plano, melhorá-lo e atualizá-lo. As


agências dos Estados Unidos prevêem que os exercícios devem ser compostos de
cinco tipos (FERC, 2007):

 Seminários de orientação - são os mais simples e envolvem participantes


internos e externos para discutirem os procedimentos. Não envolve um teste real.

 Simulados de comunicação - corresponde a um exercício mais leve, conduzido


pelo proprietário da barragem, e, basicamente, são testados os procedimentos de
notificação.

 Simulados em sala de treinamento - são simulados em salas de treinamento,


onde são aplicados os procedimentos descritos nos planos interno e externo.

 Exercícios funcionais - é um teste de nível superior, que não requer a ativação e


mobilização total dos envolvidos internos e externos. É feito em sala de
treinamento, com situações de tempo próximas ao real previsto. É feito para avaliar
a capacidade e o tempo de resposta do proprietário e das autoridades de defesa
civil para um evento em particular.

 Exercícios completos - compreende os exercícios de campo, simulando uma


situação mais realista possível, e envolve a ativação total e mobilização dos

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centros de operação de emergências, pessoal e recursos disponíveis, inclusive dos
procedimentos de evacuação.

Uma grande discussão é feita com relação à necessidade e aplicabilidade dos


exercícios completos. A BCHydro do Canadá, por exemplo, acredita que o ônus do
risco de ruptura de uma barragem é do proprietário e que essa preocupação não
deve ser repassada ao público em geral. Os mapas de inundação são informações
confidenciais, somente acessadas pelo proprietário e pelos agentes de resposta, até
porque poderiam indicar possíveis estruturas alvo de terrorismo (FUSARO, 2004).

Acreditamos que enquanto não for estabelecida uma cultura popular de preparação
e prevenção para emergências e o público não tiver razoável conhecimento dos
riscos impostos pelas barragens, os treinamentos deverão ser restritos às equipes
de operação e manutenção das barragens e autoridades de proteção e defesa civil,
se limitando aos três primeiros apresentados aqui.

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9 PLANOS EMERGÊNCIA EXTERNOS – PEE – DEFESA CIVIL

Quando a cheia que está sendo propagada no trecho a jusante da barragem pode
ameaçar as comunidades a jusante, a Defesa Civil deve ser notificada pelo
responsável pelo PAE da Barragem conforme procedimentos descritos nos
respectivos Planos de Emergência de Barragens e Plano de Emergências
Hidrológicas. O PEE é um plano com características especiais que se baseia no
risco imposto pela barragem e deve prever, essencialmente, a atuação das
autoridades de proteção e defesa civil nas fases de alerta, alarme e de evacuação.

Para as demais ações envolvidas no atendimento a emergências, é desejável que o


PEE esteja integrado e se articule com os demais planos relativos a riscos de outra
natureza, em particular às cheias naturais, já constituídos. Todas as comunidades ou
municípios devem contar com uma estrutura de Defesa Civil constituída e treinada,
responsável pela elaboração e manutenção de planos de contingências para os
possíveis desastres que possam ameaçá-las.

Com relação às enchentes que podem ameaçar o vale, a Figura 12 mostra os níveis
d’água de interesse para o planejamento contra inundações pela Defesa Civil. O
N.A. 1 representa o nível d’água do rio confinado no canal principal e não indica uma
contingência. O N.A. 2 representa o nível d’água que rotineiramente inunda a
planície principal do rio, a qual, muitas vezes, é tomada pela ocupação humana, seja
com construções fixas ou áreas de lazer. O N.A. 3 corresponde ao nível das cheias
naturais de maior porte, como as com grandes tempos de retorno, ou as Cheias
Máximas Prováveis (CMP). Nesses casos, mesmo onde existe um bom plano de uso
e ocupação do solo, áreas com construções permanentes podem ser atingidas. O
N.A. 4 representa uma cheia de ruptura cuja grande profundidade atingida é apenas
uma de suas características peculiares.

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Figura 12 – Níveis de água de interesse para o planejamento
da Defesa Civil

Considerando a ocupação humana nas margens dos rios, as autoridades de defesa


civil, os membros da comunidade e os responsáveis pelo monitoramento
hidrometeorológico devem se articular com o objetivo de desenvolver sistemas de
proteção contra inundações. Esses sistemas se referem à previsão de cheias,
estudo do impacto e da vulnerabilidade das áreas potencialmente atingidas, aos
planos de contingência com procedimentos de alerta e aviso, evacuação e demais
necessidades que a população pode ter durante um desastre.

Nos planos ligados aos riscos focais, como os riscos impostos por barragens, os
seguintes aspectos devem ser considerados com prioridade (BRASIL, 2007):

 Monitoramento, alerta e aviso;


 Definição da área de risco;
 Cadastramento da população;
 Realização de campanhas de esclarecimento público para a população-alvo;
 Realização de exercícios simulados; e
 Atualizações permanentes.

Esses itens devem ser cuidadosamente articulados com o Plano de Atendimento a


Emergências da instalação, em especial com o Plano de Emergência da Barragem,
e com os planos de contingências municipais. O mapeamento das áreas
potencialmente inundáveis deve estar indicado no PAE e o monitoramento das

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áreas, com cadastramento de residências, campanhas de esclarecimento e
treinamentos, são atividades a serem desenvolvidas de forma coordenada entre o
proprietário da barragem e os agentes de Defesa Civil. Os demais componentes do
PEE devem ser elaborados e conduzidos pelos próprios responsáveis pela defesa
civil.

O proprietário da barragem tem a atribuição de monitorar suas estruturas e as


vazões afluentes e defluentes. Seu Plano de Atendimento a Emergências, no caso
hidrológicas e da barragem, deve prever a comunicação com a defesa civil quando
ocorrer um evento que coloque em risco o vale a jusante. Essa atribuição do
proprietário da barragem tende a facilitar os trabalhos das autoridades de defesa civil
no que se refere à previsão de curto prazo de cheias. Com base nos dados
hidrológicos fornecidos pela operação da barragem, a defesa civil pode iniciar as
medidas emergenciais, considerando o tempo disponível para a chegada de uma
eventual onda de cheia. A identificação das áreas potencialmente atingidas pela
inundação é fornecida no PAE e materializada pelos mapas de inundação, devendo
essa informação ser cedida às autoridades de defesa civil dos vales a jusante pelos
responsáveis da barragem.

Essa divisão de atribuições na elaboração dos planos é coerente com a de outros


países, como a Espanha, onde os Planos de Emergência de Barragens devem ser
levados em consideração quando as administrações públicas elaborarem seus
planos de proteção contra inundações em nível estatal e em nível de comunidade
autônoma (ESPANHA, 1995). Em Portugal, o desenvolvimento de Planos de
Atendimento a Emergências no município, ainda que induzidas por barragens, é de
responsabilidade do Sistema de Proteção Civil, tendo em conta e incorporando os
meios e recursos mobilizáveis que constam dos respectivos planos existentes em
nível municipal, distrital e nacional (VISEU, 2006).

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9.1 ESTIMATIVA DOS DANOS

O estudo da situação do vale, onde se pretende preparar um plano de emergência,


permite caracterizar a ocupação do solo no vale a jusante da barragem, identificando
recursos e vulnerabilidades. Esse estudo permite definir as zonas que deverão ser
priorizadas no desenvolvimento e implementação de planos de emergência,
sistemas de aviso à população e a sua preparação tendo em vista as ações da
defesa civil e auto salvamento.

A defesa civil de qualquer município deveria ter à sua disposição mapas


representativos de todos os riscos que ameaçam a população: seca, doenças,
inundações, terremotos, incêndios, contaminação química ou radioativa, explosões
etc. No caso dos riscos tecnológicos, é natural que as entidades que provocam esse
risco preparem seus respectivos mapas de ameaças, no nosso caso, de inundação
induzida pela ruptura da barragem. A elaboração dos mapas de riscos a partir deste
mapa de ameaças fica a cargo da Defesa Civil.

O Capítulo 7 apresentou alguns métodos para a elaboração dos mapas de


inundação decorrentes da ruptura de barragens. Este capítulo tratará, de forma
simplificada, das atividades a serem desenvolvidas pelas autoridades de proteção e
defesa civil para o adequado mapeamento e análise dos riscos nas áreas
potencialmente atingidas e sob sua responsabilidade.

9.1.1 Mapeamento de riscos

Os agentes da defesa civil devem se informar da situação existente no município


como, estrutura, organização, preparo da comunidade, treinamentos, ações
anteriores e os problemas ou dificuldades que existem para lidar com emergências.
Devem ser levantados todos os desastres e emergências que poderão acontecer,
para os quais as comunidades e municípios deverão estar preparados.

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O primeiro objetivo dos agentes responsáveis pela defesa civil é o de evitar que
vidas sejam perdidas. O número de vítimas resultantes da ruptura de uma barragem
depende basicamente de quatro fatores (GRAHAM, 1999):

 O número de pessoas que residem na área de risco;


 O perigo ou severidade da cheia (profundidade, velocidade, permanência);
 O tempo de aviso às populações em risco; e
 A capacidade das pessoas de reagir a um alerta de ruptura.

O PEE é um projeto de grande responsabilidade com relação à identificação de


vulnerabilidades e a informação obtida no PAE deve ser complementada dos
objetivos de salvar vidas. A defesa civil deve proceder a (VISEU, 2006):

 uma estimativa do número de indivíduos em risco;


 uma caracterização sócio-econômica da população e identificação (e
contabilização do número) de indivíduos mais vulneráveis (por exemplo,
idosos e deficientes);
 uma caracterização da ocupação do solo (calculando, em hectares, o valor da
área de risco) e das atividades econômicas na zona de risco;
 uma estimativa do número de edificações fixas que se encontram no limite da
área de inundação e que sofrem impacto da cheia induzida (com uma
identificação das povoações e localidades)
 uma caracterização das edificações no que diz respeito à idade, ao número
de pavimentos e ao material de construção e funções (se são de uso
residencial, comercial, serviços públicos ou que cumprem alguma outra
utilização especial);

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 uma identificação das principais infra-estruturas como pontes, viadutos,
diques e barragens, estradas, redes de água e esgoto, redes de distribuição
de energia elétrica, redes de telecomunicações, aterros sanitários etc;
 uma identificação e contabilização dos pontos considerados como
estratégicos ou mais vulneráveis no vale a jusante como: corpo de bombeiros,
hospitais, centros de saúde, escolas, asilos, prisões, bibliotecas, áreas de
lazer e esportes, centros culturais, teatros e cinemas, locais de culto religioso,
cemitérios etc;
 uma caracterização sociológica e cultural da população, no que diz respeito à
percepção do risco e à resposta a um aviso de acidente.

O conhecimento desses fatores permite classificar mais adequadamente a


vulnerabilidade do vale. Por exemplo, as características sociais, como a idade e a
capacidade de mobilidade da população, podem ser fatores que reduzem a
vulnerabilidade de um determinado local, uma vez que pessoas jovens e sem
deficiências têm maior facilidade de se auto-socorrerem. Características das
edificações permitem tanto estimar parte dos prejuízos econômicos devido aos
danos e ao esforço de reconstrução, quanto à capacidade de evacuação vertical das
pessoas diante de uma inundação.

A qualidade dos serviços de saúde, a distância das pessoas aos centros urbanos e a
densidade demográfica podem contribuir em maior ou em menor grau para a
redução da vulnerabilidade dessas regiões e a expectativa de vítimas.

Numa primeira fase, a classificação de risco deve apenas ser relativa ao número de
pessoas que residem na área exposta ao risco e aos valores estimados dos bens
materiais e ambientais que sofrem o impacto da cheia induzida, não se devendo
considerar determinadas características intrínsecas do vale, como as de ordem
econômica, social etc (VISEU, 2006). A consideração dessas outras características

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pode minimizar a ameaça a pessoas e bens, gerando uma menor sensibilidade a
esse risco.

Ainda segundo Viseu (2006), nessa primeira fase, não devem surgir na classificação
do risco os funcionamentos dos sistemas de aviso e alerta, a eventual evacuação,
ou o grau de preparação da população, que podem reduzir drasticamente o número
de vítimas mortais. A vulnerabilidade efetiva resultante deve considerar essas
condições potencialmente vantajosas numa segunda fase, após a implantação das
medidas de mitigação.

Alguns autores, como Graham (1999), Almeida (1999) e Alexander (2002), propõem
índices para analisar o risco potencial que uma ruptura oferece às pessoas, à
economia e ao meio ambiente e para caracterizar a vulnerabilidade do vale a
jusante. Esses índices, associados ao mapeamento das áreas potencialmente
inundáveis, permitem aos agentes de resposta planejar melhor as ações necessárias
para diminuição dos prejuízos.

As primeiras fontes de informação para a elaboração do PEE são os estudos de


inundação induzida pela barragem e o PAE desenvolvidos pelo proprietário da
mesma. Segundo Viseu (2006), a caracterização da ocupação do solo, necessária
ao PEE, deve ser estabelecida em fontes de informação topográficas nas escalas
1:25.000, 1:10.000 e em plantas de organização do território dos planos diretores
municipais dos municípios que se encontram dentro da área de inundação. Nessa
caracterização, deverão ser ouvidos os operadores das barragens, que têm, muitas
vezes, um conhecimento empírico das áreas que são ameaçadas pelas descargas
das barragens que operam.

No Brasil, outro instrumento fundamental para essa caracterização do vale são os


dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), através
dos censos gerais da população. A identificação mais detalhada da população
potencialmente atingida pode obrigar, ainda, a realização de um trabalho de campo,

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com pesquisas direcionadas, para obter determinado tipo de informação mais
atualizada.

9.1.2 Mapeamento de riscos – Representação cartográfica

A representação cartográfica dessas grandezas facilita o entendimento, a previsão, a


prevenção e gestão dos desastres e são úteis em todas as fases envolvidas em um
desastre. Durante as fases de prevenção e preparação, a representação cartográfica
auxilia na indicação das zonas mais vulneráveis, orientando no planejamento das
medidas a serem tomadas.

Durante a fase de resposta, os mapas são fundamentais, visto que o fato de


sintetizar inúmeras informações em um único plano, agiliza as tomadas de decisões.
Os mapas devem dar uma boa idéia da área atingida, indicando os locais críticos
que requerem maiores esforços e os tempos disponíveis para as ações de resposta.

O uso de um Sistema de Informações Geográficas (SIG) permite trabalhar com


grande número de informações sobre a mesma base cartográfica. Mapas temáticos
são úteis para mostrar a distribuição dos diferentes tipos de desastres que podem
ameaçar a área em estudo e como afetam a infra-estrutura, as ocupações humanas
e o meio ambiente. Alexander (2002) apresenta metodologia de utilização de
cartografia, SIG e Sensoriamento Remoto para planejamento e gerenciamento de
emergências provenientes de múltiplas ameaças.

As figuras13, 14 e 15 mostram alguns exemplos do uso de mapas para a


representação de ameaças em locais habitados. A Figura 13 representa o mapa do
município de Angra dos Reis, demonstrando a divisão em zonas circulares de
planejamento de emergência centradas no edifício do reator da Central Nuclear
Álvaro Alberto. A Figura 14 mostra o mapa de ameaças para inundações naturais
com período de retorno de 10 anos no município de Manhuaçu, estado de Minas
Gerais. A Figura 15 mostra o mapa das zonas sob risco de deslizamentos de terra na

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área urbana de Ipatinga, Minas Gerais, onde a suscetibilidade de escorregamento é
classificada de muito fraca (1) a muito forte (5).

Figura 13 – Zoneamento de emergência para ameaça nuclear no município de Angra dos


Reis, RJ

Fonte: www.eletronuclear.gov.br

Os mapas devem conter informações que possibilitem uma rápida compreensão dos
efeitos hidrodinâmicos da cheia induzida às áreas potencialmente atingidas como:
profundidades, velocidades, tempos de chegada e de permanência.

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Figura 14 – Mapa de ameaça e áreas potencialmente inundáveis no município de
Manhuaçu, MG

Fonte: CANÇADO et al., 2007.

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110
Esses mapas, associados aos dados fornecidos nos Planos de Atendimentos a
Emergências da entidade causadora do risco tecnológico, devem subsidiar as
autoridades na elaboração de seus próprios planos de emergência e mapas de risco.
Porém, a Defesa Civil deve ir além e complementar as informações dentro do PEE
com a estimativa da população em risco e identificação das zonas que sofrem o
impacto da cheia e das vias que ficam inacessíveis.

Os dados obtidos devem ser constantemente atualizados e consistidos de forma a


serem os mais confiáveis possível. Os modelos computacionais disponíveis nos SIG
mostram os resultados de análises solicitadas em função da demanda dos gestores
das ações de defesa civil. Esses podem manipular os dados seguindo os critérios
que julgarem mais interessantes como, por exemplo, verificar todos os hospitais que
podem atender às vítimas de uma determinada área inundada ou quais são as
melhores rotas para os pontos de encontro de desabrigados.

Figura 15 - Mapa de risco a deslizamento no município de Ipatinga, MG

Fonte: PEREIRA et al., 2007.

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111
A implantação de tecnologias de SIG exige investimentos consideráveis em
programas computacionais, equipamentos (computadores, impressoras e plotter) e
treinamentos, devendo ser cuidadosamente avaliada. Essa tecnologia possui
ferramentas muito poderosas e a sua utilização pode ser expandida para outros
departamentos do governo, como os de saúde, educação, desenvolvimento urbano
etc.

Devem ser avaliados os prós e os contras de sua utilização, mas é fato que estações
de trabalho dotadas de programas de geoprocessamento permitem grande
flexibilidade na gestão de informações antes e durante os desastres. As vantagens
dos métodos computacionais incluem (ALEXANDER, 2002):

 A habilidade de lidar e sintetizar um grande número de planilhas de dados num


tempo muito reduzido;

 A habilidade para atualizar dados armazenados rápida e eficientemente;

 Facilidade e flexibilidade de exibição e impressão; e

 Portabilidade, uma vez que grande volume de dados e programas complexos


podem ser facilmente transportados de um lugar a outro.

Os avanços das tecnologias de geoprocessamento têm produzido programas de


utilização cada vez mais amigável e facilidade de operação para pessoas com pouco
conhecimento computacional. A integração com equipamentos de posicionamento
global, como os GPSs, com bases de dados acessadas via Internet, e com sistemas
especialistas de auxílio à tomada de decisão faz com que o uso de métodos
computacionais de geoprocessamento cresça a cada dia na gestão de emergências.

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9.1.3 Classificação dos danos

As perdas ocasionadas pela ruptura de uma barragem vão além das vidas humanas.
Os prejuízos podem ainda ser econômicos e ambientais. Quando se parte para uma
avaliação mais detalhada e busca-se mensurar financeiramente os danos
decorrentes de um desastre como a inundação, passa-se para uma fase de
estimativa de perdas.

Alexander (2002) destaca que a estimativa de perdas dentro de um planejamento de


emergências pode gerar alarme o suficiente para convencer políticos,
administradores e o público em geral para garantir o apoio à formulação do PAE.

Os danos podem ser classificados em tangíveis ou intangíveis e em diretos ou


indiretos, como mostrado na tabela 12.

Tabela 12 – Tipologia dos danos

Medida

Tangíveis Intangíveis
- Perda de vidas
- Edificações
Diretos - Saúde e Segurança Pública
- Infraestrutura
Forma - Danos ambientais
dos - Perda de produção - Inconveniência da
danos industrial recuperação pós enchente
Indiretos
- Interrupção do tráfego - Acréscimo de vulnerabilidade
- Custos de emergência dos sobreviventes
Fonte: FLOODSITE, 2007.

A estimativa de perdas é, em geral, exaustiva e não é fácil chegar a uma estimativa


real do que será perdido em uma catástrofe. Outra limitação é a enorme dificuldade
de se “colocar preço” nos mais variados tipos de danos, como é o caso da vida
humana, por exemplo. Estudos realizados nos Estados Unidos na década de 1990
avaliaram em US$ 2.200.000 o valor para vítimas com ferimentos que acarretassem
em morte ou para morte instantânea decorrente de desastres (ALEXANDER, 2002).

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Esse valor foi baseado na capacidade produtiva média e na idade média de uma
pessoa, podendo variar em função de fatores sociais, sexo e idade.

Para uma avaliação mais detalhada e completa, convém buscar bibliografia


especializada ou documentos ligados à segurança de barragens que se propõem a
discutir esse assunto, como Defra (2006), ANCOLD (2003), Alexander (2002),
FLOODSITE (2007), além de documentos ligados à Proteção e Defesa Civil no Brasil.

Entretanto, entre os critérios mais importantes de avaliação estão os seguintes tipos de


danos:

 À vida: n° de mortos, desaparecidos, desabrigados, afetados;

 À incolumidade, saúde e sobrevivência da população;

 Materiais:

o À cidade e à área rural (infra-estrutura e edificações, casas, prédios


públicos etc)

o Aos serviços essenciais (eletricidade, água, sistema viário, transporte


etc)

 Aos setores produtivos: industria, comércio, pecuária e agricultura.

 Ao estado geral da população (serviços essenciais).

No Brasil, a Secretaria Nacional de Defesa Civil classifica os danos em humanos,


materiais, econômicos e sociais.

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9.2 ADMINISTRAÇÃO DAS AÇÕES EM FUNÇÃO DO TEMPO DE ELEVAÇÃO
DO NÍVEL D’ÁGUA A JUSANTE

A parte dos procedimentos de ações emergenciais é o núcleo de um tradicional e o


PEE deve enfatizar os alertas e alarmes necessários e atuar na evacuação da
população, quando a defesa civil é notificada de um evento ameaçador proveniente
da barragem. Os procedimentos descritos no plano visam a, justamente, auxiliar no
processo de tomada de decisões numa tentativa de agilizar a resposta propriamente
dita, devendo-se sempre contar com a experiência dos envolvidos na gestão da
emergência.

A evacuação é um dos meios mais efetivos de redução no que se refere à proteção


das vidas das pessoas localizadas nas áreas potencialmente ameaçadas a jusante
de uma barragem. Esse procedimento se torna ainda mais importante na iminência
de um desastre, principalmente quando ele não pôde ser previsto com muita
antecedência.

Segundo o Emergency Management Australia (EMA, 1999b), o processo de


evacuação pode se dividir em cinco fases:

 Tomada de decisão;

 Alarme;

 Deslocamento;

 Abrigo; e

 Retorno.

A figura 16 mostra esquematicamente o processo de evacuação, no qual a primeira


fase consiste na tomada da decisão de evacuar as áreas de risco, cuja
responsabilidade é do responsável pelo plano, que se apóia em condições de
acionamento (“quando?”) pré-planejadas. No plano, são ainda definidas as ações a

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serem tomadas, os procedimentos a serem seguidos de alerta, alarme e evacuação
(“o quê?” e “como?”) e a definição dos envolvidos, suas responsabilidades e
atribuições (“quem?”). A etapa de deslocamento é a evacuação em si, que é definida
pela retirada organizada das pessoas das áreas ameaçadas para locais seguros.

Essas três primeiras fases devem estar contempladas no PEE, uma vez que lidam
com um fator de risco especial e tecnológico materializado pela barragem. As etapas
de abrigo e retorno envolvem a gestão de diversos fatores, como cuidados médicos
e veterinários, resgate, informação e segurança pública, serviços essenciais (água e
energia, por exemplo), manejo de mortos etc. Esses aspectos devem estar
preparados dentro dos planos de contingências para desastres gerais desenvolvidos
pela defesa civil municipal num âmbito mais amplo. Essas ações devem ser
agrupadas por área de atuação e detalhadas em procedimentos específicos, sendo
complementares aos procedimentos planejados no âmbito do PEE, e serão vistas
adiante.

Figura 16 – Processo de evacuação

Fonte: EMA, 1999b.

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9.2.1 Tomada de decisões - condições e níveis de resposta (o quê? e
quando?)

Os níveis de resposta para emergências hidrológicas podem ser compostos por


várias fases de mobilização. Processos mais complexos apresentados por modelos
dos Estados Unidos, USBR (1995), para emergências envolvendo barragens, e
Alexander (2002), para desastres basicamente naturais, pode-se classificar os níveis
de resposta como sintetizado na Tabela 13.

Quando se tratar de um incidente envolvendo a segurança estrutural da barragem,


os processos de mobilização devem ser mais simples. Se o impacto não pode ser
previsto, na melhor das hipóteses apenas detectado, como é a ruptura instantânea
de uma barragem de concreto, por exemplo, considera-se que existe apenas um
estágio, onde a detecção do evento leva a uma mobilização geral dos esforços
externos de resposta.

Rocha (2002) considera ainda que, se a ruptura não tiver ocorrido e houver tempo
suficiente, a decisão de disparar o alarme deve ser tomada em conjunto entre o
responsável pelo PAE e o responsável pelo PEE.

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Tabela 13 - Níveis de emergência para as ações de resposta da Defesa Civil

Na prática, quando for notificada uma emergência, deve-se ativar um centro de


operações de emergência da defesa civil (COEDC), onde se reúnem representantes
de todos os órgãos de defesa civil, responsáveis pelas equipes de resposta e
representantes da operação da barragem, fisicamente, quando possível, ou por
telefone. Uma vez constituído esse centro de operações, as decisões serão tomadas
para tentar responder adequadamente ao desastre que pode atingir o local.

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10 SISTEMAS DE ALERTA

Os procedimentos de alerta e de alarme especificam as ações necessárias para


ativar os sistemas de alerta e de aviso no vale a jusante, após a notificação recebida
do responsável pelos planos de emergência da usina.

O alerta, segundo CEDEC/MG (2007?), é “um sinal para avisar sobre um perigo ou
risco previsível a curto prazo”. É composto por um conjunto de procedimentos que
visa garantir que os agentes de resposta se preparem, permanecendo de prontidão
até o momento de agir, a ser definido pelo responsável pelo plano em função da
evolução da emergência.

O PEE deve especificar os nomes dos envolvidos nas ações de resposta que serão
colocados em prontidão no caso de uma emergência. Devem figurar os nomes dos
responsáveis pelo plano de emergência do vale a jusante, dos agentes responsáveis
pelas ações de resposta por área de atuação, os seus telefones e as formas de
comunicações alternativas (telefones de vizinhos, por exemplo).

Deve-se designar a pessoa que ficará responsável por emitir os alertas e quais os
meios de comunicação. Os responsáveis por receber as mensagens enviadas pela
operação da barragem devem ser capazes de interpretá-las e repassá-las
adequadamente. Na Fonte: Adaptado de Calheiros, Castro e Dantas, 2007 é mostrado
um esquema de fluxo de informação entre os envolvidos nas diversas fases de
comunicação de uma emergência.

O alarme é “um sinal de alarme para avisar sobre um perigo ou risco iminente”
(CEDEC/MG, 2007?). A comunicação às populações ao longo do vale deve ser
desencadeada pela COMDEC e, nos casos em que a legislação estabelecer, pelos
responsáveis pelo PAE.

O objetivo do aviso é reduzir o número de vítimas mortais e os prejuízos materiais,


dando à população a oportunidade de agir antes de a água atingir um nível limite de

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segurança. Um fator fundamental para que o aviso seja eficaz é o intervalo de tempo
para desencadear o processo de aviso e de eventual evacuação das populações
prioritariamente em risco. Um bom aviso dará aos envolvidos tempo suficiente para
reagir, mas não permitirá perder tempo com incertezas e falta de credibilidade
(ALEXANDER, 2002). Considera-se que o tempo entre o aviso e o impacto é um dos
principais, senão o principal fator, para o êxito de um processo de alarme e eventual
evacuação das populações em risco.

Um sistema de alerta e alarme contra inundações deve contemplar (adaptado de


EMA, 1999a):

 A interpretação das previsões para determinar os impactos da cheias na


comunidade;

 A construção de mensagens de alerta e de alarme descrevendo o que está


acontecendo, os impactos esperados e quais ações a serem tomadas;

 A disseminação da mensagem para os agentes de resposta e para a


população;

 A revisão do sistema de alerta e alarme após a emergência; e

 Um mecanismo de monitoramento da eficácia das respostas às mensagens.

Figura 17 – Fluxo de comunicação entre os envolvidos na Defesa Civil

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Fonte: Adaptado de Calheiros, Castro e Dantas, 2007.

Meios de alerta e de alarme

Dentro dos procedimentos de alerta e alarme devem estar cadastrados os meios de


comunicação disponíveis, devendo-se levantar as redes de comunicação
alternativas e outras necessidades de equipamentos. A Defesa Civil em Minas
Gerais trata esses dispositivos com a nomenclatura de “sistemas de alerta e alarme”.

Os dispositivos de alerta são os meios de telecomunicações públicas e privadas e


compreendem as redes de serviço telefônico, fax e celulares, os serviços de
radiofreqüência da Defesa Civil, a internet e a rede de radioamadores. Esses
dispositivos são mais recomendados para os órgãos de defesa civil e outras
instituições.

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Para a escolha do meio de alarme, deve-se avaliar a extensão da área ameaçada,
do tipo e dispersão geográfica da população, a localização dos agentes de resposta
da Defesa Civil e os meios e recursos já disponíveis para as autoridades. Para o
alarme, acrescentam-se ainda outros dispositivos além dos já citados:

 Sirenes;
 Carros de polícia com auto-falantes;
 Rádio e televisão;
 Publicação e afixação de comunicados de aviso;
 Contatos diretos através de telefonia fixa e móvel; e
 Aviso porta a porta.

As sirenes são um meio muito direto e imediato de alarme, mas podem não ser tão
efetivas dada a capacidade de compreensão do sinal pela população. Deve-se
prever um sistema de energia auxiliar para permitir sua utilização mesmo após
longos períodos sem energia. O seu alcance máximo é de aproximadamente 2
quilômetros. As sirenes são consideradas o canal de comunicação que oferece
maior eficácia no aviso a regiões mais populosas. A Fonte: USACE, 2005 mostra
uma sirene implantada no âmbito do sistema de alerta para ruptura da barragem de
Tuttle Creek, nos Estados Unidos. É interessante notar os painéis solares e o
conjunto de baterias de emergência para garantir o seu funcionamento mesmo
durante períodos de falta de energia. Essa sirene é usada também para outros tipos
de emergência, como, por exemplo, tornados. O plano de evacuação do local alerta
que o som emitido no caso de ruptura da barragem é diferente do utilizado para
outros fins.

O aviso através de telefonia e porta a porta só é possível para regiões pouco


habitadas, acessíveis em tempo hábil ou dotadas de redes de telefonia fixa ou sinal
para celular. Neste último caso, existe o inconveniente de a pessoa estar em local
fora da cobertura do sinal ou distante do seu aparelho.

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Figura 18 – Exemplo de sirene instalada nos Estados Unidos

Fonte: USACE, 2005.

Segundo Viseu (2006), diversas características, como idade, grau de alfabetização e


situação socioeconômica, influenciam a forma como a população recebe os avisos.
Segundo a autora, ao avisar a população, deve-se ter em conta que:

 As pessoas acreditam residir em áreas seguras ou simplesmente não


percebem o risco;

 As pessoas duvidam dos avisos;

 Os avisos são considerados mais seriamente quando provêm de diversas


fontes;

 O aviso tem de ser simultaneamente ouvido e visto; e

 As pessoas avisadas necessitam de instruções para agirem.

De uma maneira geral, observa-se que um grande desafio reside no treinamento das
pessoas que receberão o aviso para garantir a compreensão e atuação que se
espera delas. Entretanto, um treinamento que vá além dos agentes de resposta e

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busque também a população é um assunto delicado e pouco abordado na
bibliografia referente ao planejamento para emergências induzidas por barragem.
Mais adiante serão apresentadas algumas formas de disseminação do plano para a
população, disponíveis na bibliografia consultada.

Tabela 14 - Prós e contras dos meios de aviso à população

Método Prós Contras


É um meio simples de som de alarme, de
Sirenes podem ser facilmente ignoradas ou mal
aplicação imediata, que pode ser usado
Sirenes interpretadas por pessoas que não entendem
durante a noite para acordar as pessoas
porque elas estão sendo acionadas.
e avisá-las para ações de resposta.
É um processo lento para percorrer uma área
Pode emitir instruções verbais simples
Carros de que precisa ser avisada. Nem todas as pessoas
sobre o que fazer (ex. evacuar). Um carro
polícia com na área podem ver o carro de polícia e ouvir a
de polícia é um sinal de autoridade visível
alto-falantes mensagem.
e facilmente interpretável.
Uma grande proporção da população pode não
É fácil de transmitir, e retransmitir, um estar ouvindo o rádio, especialmente à noite.
Mensagens conjunto simples de instruções verbais Algumas das pessoas que estiverem ouvindo
de rádio sobre o que fazer para evitar o impacto podem não estar atentas. A mensagem deverá
do desastre. ser necessariamente transmitida por todas as
estações que podem ser sintonizadas no local.
A audiência da televisão é relativamente
Assim como o rádio, muitas pessoas podem não
grande em qualquer hora do dia.
estar assistindo televisão. Todos os canais
Mensagens Mensagens áudios-visuais podem ser
recebidos localmente precisam ser utilizados. Há
de televisão transmitidas repetidamente, se
poucos expectadores durante a madrugada e
necessário. O impacto da mensagem é
em alguns horários do dia.
maior que o do rádio.

Pode ser combinada com mapas, casos Não é útil para avisos de curto prazo (menores
Anúncios de de interesse público e entrevistas para que 24 horas). Uma quantidade relativamente
jornal incrementar sua efetividade. pequena de pessoas compra jornais
acrescentando quantidade considerável diariamente.
de detalhes.
Campanhas generalizadas de publicidade contra
Pode usar todas os meios de
Campanhas ameaças e riscos não são realmente
comunicação disponíveis, em
gerais de apropriadas para processos de alarme
combinações criativas, para enviar as
publicidade imediatos; elas servem para necessidades de
mensagens.
alerta a médio e longo prazo.
Fonte: ALEXANDER, 2002.

Outro problema reside no fato de que normalmente, os planos prevêem o aviso à


população somente quando se constata que a ruptura da barragem é inevitável, o
que, segundo Rocha (2002), nasce do receio de causar incômodos desnecessários
à população ou de perder a credibilidade da comunidade, caso a ruptura não venha

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a acontecer. Daí a grande necessidade de interação entre os agentes da defesa civil
e os responsáveis pela operação da barragem.

No estudo de caso apresentado por Viseu (2006), onde as áreas potencialmente


atingidas foram divididas em três zonas, preconizou-se o esquema de sistema de
alarme como apresentado na Tabela 15 – Exemplo de sistema de alarme adotado
para um vale a jusante de barragem . A tabela apresenta ainda as características
das áreas afetadas e as justificativas para a escolha dos sistemas adotados.

Tabela 15 – Exemplo de sistema de alarme adotado para um vale a jusante de barragem

Justificativas do meio
Zona afetada Características da área Meios de alarme
escolhido
Sirenes -
Área rural – distante a 30 O tempo disponível para os
Zona de auto- acionada pelo
minutos de propagação da agentes da Defesa Civil
salvamento proprietário da
onda de cheia de ruptura atuarem é escasso
barragem
O tempo de aviso é
Zona de Área urbana de Silves –
Carros equipados suficiente para que a
segurança distante entre 30 e 60 minutos
com alto-falantes Defesa Civil utilize seus
principal da onda
próprios recursos

Zona de O tempo e a distância


Área rural – distante a mais de
segurança Televisão e rádio oferecem aos agentes
60 minutos
secundária opções múltiplas

Fonte: VISEU, 2006.

Convém lembrar que os alarmes preventivos podem não ser seguidos do desastre, e
que isso deve ser trabalhado junto à população para que não seja perdida a
confiança no sistema de alerta ou prejudique a imagem de segurança que possui a
barragem.

Construção das mensagens de alerta e alarme à população

Independente dos sistemas de alerta e alarme escolhidos, o conteúdo das


mensagens, principalmente faladas e transmitidas por agentes da defesa civil, deve
ser previamente definido para cada nível de alerta e de resposta. As mensagens

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deverão expressar com razoável certeza quais eventos específicos irão ocorrer em
uma zona definida em um período de tempo determinado. Elas deverão explicar
claramente qual ação deverá ser tomada e a quem ela é direcionada.

As mensagens de alarme deveriam ser um processo repetitivo, onde a primeira


mensagem viria seguida por outras que detalhariam as mudanças ligadas à ameaça,
ao impacto e às respostas requeridas (EMA, 1999a). No caso da mensagem estar
associada à evacuação, deve-se informar sobre as rotas de fuga, meios de
transporte disponíveis (ônibus, a pé, veículo próprio etc) e os pontos de encontro
(locais seguros) para os quais as pessoas devem se direcionar. Segundo Viseu
(2006), o alarme deverá ser atualizado periodicamente, de forma a mostrar que a
situação está sendo controlada. Almeida (2001) indica que a mensagem de aviso
deve ainda incluir o tempo disponível para a população se colocar a salvo.

No caso das sirenes, os sons emitidos devem se distinguir de quaisquer outros e ser
audíveis em todas as zonas habitadas. Viseu (2006) recomenda a adoção de quatro
tipos de sinal:

 Sinal de aviso de descarga;

 Sinal de aviso de estado de prontidão;

 Sinal de aviso de evacuação; e

 Sinal de aviso de experiência, teste ou exercício.

Essa grande variação de tipos de sinal só é possível com o uso de sirenes


eletrônicas, que permitem sintetizar diversos sons. As sirenes acústicas são mais
limitadas quanto a essa variabilidade.

Na Espanha, o sistema nacional de defesa civil está tentando criar um padrão para o
som emitido pelas sirenes, de forma que pessoas que vivam em lugares diferentes
consigam identificar facilmente o seu significado, como é feito com os sinais de

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trânsito. É um trabalho difícil, já que cada autoridade regional já possui seus próprios
padrões e reluta em alterá-los.

Um estudo para a aplicação de um sistema de alerta para cheias naturais numa


micro-bacia do município brasileiro de São Carlos, no estado de São Paulo, propõe a
utilização de uma “sinaleira ambiental”, baseada no modelo de semáforos, com
cores referentes a vazões específicas, alertas visuais e sonoros (GUEDES E
MENDIONDO, 2007). O dispositivo proposto pode ser visto na Figura 19.

Figura 19 – Modelo de sinaleira

Fonte: Guedes e Mendiondo (2007)

As características socioculturais da população que receberá o alarme devem ser


levadas em consideração. Stallings (2002) sugere que, se tratando de emergências
de origem tecnológicas, a perda de credibilidade e de confiança aos olhos do público
é sintomática das interferências na comunicação, que derivam do fato de que a
percepção do risco tem raízes na sociologia. Entre outros, os seguintes fatores
tendem a contribuir para uma resposta adequada às mensagens de aviso e alerta
(ALMEIDA, 2001):

 Recursos econômicos;

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 Cultura;

 Atributos psicológicos;

 Atividade profissional;

 Conhecimento (dos perigos, dos planos de ação etc)

 Cognição (otimismo, fatalismo, stress etc);

 Experiência;

 Atributos fisiológicos; e

 Deficiências físicas ou mentais.

Na Figura 20 mostra-se um exemplo de mensagem a ser noticiada em caso de


iminência de ruptura de barragens no rio Savannah, no estado da Georgia, Estados
Unidos, e na Figura 21 são mostrados modelos de mensagens de alerta, de alarme
e de retorno, a serem divulgadas repetidamente para a população no âmbito de um
plano de emergências para inundações induzidas por barragens, fornecidos pela
Divisão de Segurança de Barragens do Departamento de Proteção Ambiental (DEP),
na Pensilvânia, também nos Estados Unidos.

10.1.1.1 Deslocamento - procedimentos de evacuação

A etapa de deslocamento corresponde à evacuação propriamente dita e envolve a


remoção das pessoas de áreas perigosas ou potencialmente atingidas para uma
área segura. Uma vez que as autoridades tenham decidido pela evacuação, ativam-
se os sistemas de alarme e os deslocamentos são iniciados seguindo uma ordem de
prioridades conforme planejado no plano de evacuação. Esse plano deve se basear
nos mapas de risco, que informam os tempos disponíveis para atuação e as áreas
potencialmente atingidas. Rotas de fuga, pontos de encontro e abrigos devem ser
previamente definidos e o processo de evacuação precisa ser constantemente
supervisionado pela polícia e autoridades de defesa civil.

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A divisão dos setores é feita com base no tempo disponível de evacuação em cada
área e em outras características, como a topografia, o acesso, a densidade de
construções e de pessoas. Naqueles locais cujo tempo disponível para a Defesa
Civil atuar é muito curto, deve-se considerar o princípio do auto-salvamento.
Segundo esse princípio, a população deve se deslocar para locais seguros,
previamente informados, após serem avisadas pelos sistemas de alarme. As demais
áreas a serem evacuadas serão gerenciadas pelo próprio sistema de Defesa Civil.

Para cada setor, um ou dois locais públicos devem ser designados para onde as
pessoas são direcionadas durante o processo de evacuação. Esses locais são
chamados de “pontos de encontro” e o seu objetivo é concentrar as pessoas de um
determinado setor para posteriormente serem encaminhadas para os abrigos pré-
determinados. Viseu (2006) recomenda que esse pontos devem ser bem
identificáveis no terreno e de fácil acesso, devendo-se evitar percursos muito longos,
que obriguem as pessoas a percorrerem grandes distâncias à pé. Deve-se, ainda,
evitar que esses locais fiquem inacessíveis a veículos rodoviários, garantindo o
acesso aos agentes da Defesa Civil, que enviarão os meios de transporte
necessários para buscar os desalojados e encaminhá-los para os locais adequados.

Geralmente são escolhidos como pontos de encontro espaços públicos como, por
exemplo, pátios de igrejas, campos de futebol, áreas de lazer e outros espaços
abertos localizados em cotas mais elevadas. É comum definirem-se pontos de
encontro secundários para um primeiro atendimento médico e triagem dos
desalojados para seu encaminhamento a abrigos ou casas de amigos e familiares.
Dependendo da situação, pode-se fazer essa triagem à medida que as pessoas vão
chegando aos abrigos.

Deve-se prever ainda o atendimento às pessoas com necessidades especiais, como


pacientes de hospitais, creches, prisões e demais pessoas com dificuldades de
locomoção. Quando possível, esses casos deverão estar listados nos planos de
emergência para atuação pontual por parte dos agentes da defesa civil.

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Adicionalmente, é necessário prever a existência de pessoas de fora, como turistas
e trabalhadores temporários, nas áreas ameaçadas ou, ainda, grandes
aglomerações de pessoas em eventos esportivos, religiosos ou de lazer.

As rotas que as pessoas e os agentes devem utilizar são informadas pelo sistema de
alarme e as autoridades devem garantir que não sejam bloqueadas (por lama ou
árvores, por exemplo), acionando, sempre que necessário, os equipamentos
destinados à liberação desses caminhos. Em alguns casos, é fundamental que as
pessoas não utilizem carros para fugirem, uma vez que podem provocar
congestionamentos e bloquear as passagens. Por isso, a utilização dos meios de
transporte fornecidos pela prefeitura é, normalmente, mais recomendável.

Algumas formas especiais de planejamento incluem a possibilidade de evacuar as


pessoas verticalmente em andares superiores de edificações quando uma cheia
ameaça a região e o processo de evacuação tradicional pode se ver prejudicado por
fatores como uma topografia muito desfavorável. Um exemplo de plano de
evacuação vertical é descrito por Viseu (2006), na cidade suíça de Zurique, onde,
decorrendo apenas uma hora entre a eventual ruptura das barragens e a chegada
da onda de inundação à cidade, a medida prática de proteção principal, fora da zona
de risco maior, consiste em deslocar as pessoas para os andares superiores ao 3°
piso dos edifícios. Segundo Alexander (2002), é necessário saber se essas pessoas
permanecerão seguras nessa situação e se possuem equipamentos e mantimentos
para permanecerem isolados antes da ajuda chegar ou a inundação cessar.

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Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado entre
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11 MÉTODOS DE INTERAÇÃO COM A SOCIEDADE

A preparação da população residente na área de risco é uma ação de mitigação do


risco para desenvolver a capacidade de antecipar um eventual desastre e, caso este
ocorra, agir positivamente, tanto em resposta, quanto na evacuação, resistir ao seu
impacto e se recuperar de suas consequências.

Cada pessoa lida com as emergências de uma forma peculiar, e as reações


individuais podem não ser as mais apropriadas, conduzindo a situações mais
perigosas. Um exemplo são pessoas que, ao receber um aviso de ameaça, se
direcionam para áreas de maior risco ou a congestionamentos, obstruindo as vias.

EMA (1999a) chama a atenção para os problemas críticos no desenvolvimento e


manutenção de sistemas de alerta e alarme, dentre os quais cita a necessidade de
assegurar o envolvimento da comunidade no projeto e desenvolvimento dos
sistemas de alerta e alarme e incorporação das organizações e sua integração nas
atividades de gerenciamento de emergências e de uso e ocupação das planícies.

É necessário avaliar o nível de conhecimento em planos de emergência da


sociedade onde se pretende implantar o PEE. No Brasil, é comum que a população
não conheça sequer os planos relativos aos desastres de maior prevalência, assim,
é provável que a disseminação direta de um plano para ruptura da barragem, que
são eventos raros, gere reações adversas nas pessoas, normalmente leigas no
assunto. Para Viseu (2006), dois tipos de ações são essenciais na preparação da
população:

 O primeiro, relativo à sensibilização das pessoas, promove sessões de


esclarecimento e divulgação de informações relativas ao risco de habitar os
vales a jusante de barragens e à existência de planos de emergência.
Inicialmente são apresentados aqueles relativos aos desastres de maior
prevalência e depois os induzidos por barragens; e

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Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado entre
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 O segundo, relativo à educação da população, promove programas de
informação pública sobre o zoneamento do risco, codificação dos significados
das mensagens e regras de evacuação, envolvendo, inclusive, a realização de
exercícios monitorados.

Uma abordagem por etapas permite o amadurecimento gradativo da população,


permitindo implantar novas estratégias de divulgação que terão maior abrangência
na sociedade.

A forma de divulgação das informações pode ser feitas através de palestras,


programas na mídia, manuais, apostilas ou através da internet. Um exemplo é o
plano de evacuação para divulgação à população da cidade de Kansas, nos Estados
Unidos , que traz recomendações sobre as formas de deslocamento, de como lidar
com as crianças que estão em escolas e creches etc. Esse plano é disseminado
tanto na forma impressa quanto online. Nesta última, é possível navegar
virtualmente pelo plano de evacuação, além de ser possível ouvir o som que será
emitido pela sirene caso ocorra uma emergência ruptura da barragem.

A Figura 21 mostra partes de uma apostila divulgada pelo ORSEP, na Argentina,


para estimular o conhecimento da população sobre a importância das barragens, os
métodos de segurança e manutenção das estruturas, e de como as autoridades
estão preparadas para atender uma situação emergencial. Esse guia é interessante
pois possui uma formatação amigável e didática sobre o tema.

No Brasil, o SINDEC é responsável por treinar as COMDECs e auxiliar na


elaboração do plano de trabalho e formação das equipes. Calheiros, Castro e
Dantas (2007) trazem recomendações sobre as reuniões com as comunidades,
sugerindo a pauta e os itens a serem tratados, inclusive a forma de abordagem. O
objetivo principal dessas reuniões é conscientizar as pessoas dos benefícios da
preparação para desastres e participação nas atividades e como isso influenciará na
redução dos riscos a elas próprias.

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Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado entre
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Figura 20 – Guia de evacuação do sistema de alerta para ruptura da barragem de Tuttle
Creek, nos Estados Unidos

Fonte: USACE, 2005.

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Figura 21 – Partes da apostila do ORSEP sobre a convivência das pessoas com as
barragens

Fonte: ORSEP, 2006.

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Em resumo, Viseu (2006) recomenda que cada cidadão residente numa área de
risco deve conhecer o plano de evacuação e, especificamente:

 Deve estar informado sobre a entidade que lhe transmite a notícia da eminência
de emergência e ordem de evacuação;

 Deve conhecer os limites de inundação; e

 Deve conhecer o local e os acessos aos pontos de encontro e abrigos;

Essas informações são importantíssimas, principalmente para os habitantes das


zonas imediatamente a jusante da barragem, onde o auto-salvamento impera. Em
Portugal, inclusive, são utilizados marcos indicativos das cotas de inundação ao
longo do rio a jusante da barragem de Penacova para orientação da população
(BALBI, 2007).

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CONCLUSÃO

Em se tratando de riscos, de uma maneira geral, a mitigação pode ser feita sempre
atuando ou na probabilidade de ocorrência, ou na atenuação das consequências.
Em segurança de barragens é desejável que a atuação se dê sempre na redução da
probabilidade de ocorrência, para evitar o acidente, que quase sempre tem
consequências de grande impacto.

Os Planos de Ações Emergências são os documentos elaborados para orientar e


sistematizar as ações a serem tomadas no caso do acontecimento da ruptura de
uma barragem ou mesmo de um incidente de maior relevância. A maioria das
entidades de pesquisa e implantação de PAE usa dividir os planos em duas esferas
de responsabilidade: plano interno (de responsabilidade do proprietário da
barragem) responsável por a Detecção, Tomada de Decisão, Notificação: e plano
externo (de responsabilidade das autoridades, especialmente Defesa Civil)
responsável por Alerta, Alarme e Evacuação.

Muitos países têm regulado o assunto relativo aos planos de ações emergenciais de
barragens, ratificando a importância do tema. No Brasil, a lei 12.334/2010 obriga a
elaboração e implantação do PAE para barragens de grande importância, mas as
regulamentações para o assunto ainda estão em fase de elaboração.

A segurança de barragens deve ser pautada pelas ações preditivas e preventivas,


mas a existência de planos bem elaborados e implantados pode ser de fundamental
importância para atenuação dos efeitos de um acidente de barragem, especialmente
no que se refere a diminuição do número de perda de vidas.

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143
CURSO
SEGURANÇA DE BARRAGENS

1
MÓDULO I – BARRAGENS: ASPECTOS
LEGAIS, TÉCNICOS E SÓCIOAMBIENTAIS

UNIDADE 3: ASPECTOS DE PROJETO,


CONSTRUÇÃO, OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO DE
BARRAGENS

2
FICHA TÉCNICA
Realização:

EQUIPE TÉCNICA

Corrado Piasentin Glauco Gonçalves Dias


Elaboração de conteúdo Revisor Técnico Geral

Etore Funchal de Faria


Alexandre Anderáos
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico ANA

Fabio Luiz Willrich


Carlos Leonardi
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Josiele Patias
Cesar Eduardo b. Pimentel
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico ANA

Josimar Alves de Oliveira


Claudio Neumann
Revisor técnico ANA
Revisor técnico Itaipu

Ligia Maria Nascimento de


Claudio Osako Araújo
Revisor técnico Itaipu Revisora técnica ANA

Silvia Frazão Matos


Dimilson Pinto Coelho
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Revisão Ortográfica

ICBA – Centro de Línguas


www.cursodeidiomasicba.com.br

Este obra foi licenciada sob uma Licença .Creative Commons Atribuição-
NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada

3
CURRICULO RESUMIDO

Prof: Corrado Piasentin

Formado em engenharia civil hidráulica


pela Universidade de Pádua, Itália.

Tem participado do projeto da UHE Itaipu


desde a fase de inventário até o projeto
executivo, sendo atualmente consultor da
entidade binacional. Teve uma
experiência bastante variada no campo
da engenharia de barragens.
Teve uma experiência bastante variada no campo da engenharia de barragens e
obras hidráulicas em geral, desde os estudos de viabilidade até os projetos básicos
e detalhados, atuando em diversos campos da engenharia civil e especialmente na
área de geotecnia, hidráulica e hidrologia, no projeto de sistemas de auscultação
até a interpretação de seus resultados especialmente em relação a sua segurança.

Foi responsável da edição de diversos livros técnicos para o Comitê Brasileiro de


Barragens CBDB e tradução de diversos boletins do ICOLD.

Atualmente atua na organização e acompanhamento das atividades de auscultação


de diversas barragens incluindo estabelecimento de procedimentos, check list para
as vistorias, definição de frequências de leituras, vistorias e emissão de relatórios
de diagnostico.

É autor de varias publicações sobre diversos temas, especialmente sobre o


comportamento e segurança de barragens.

4
SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS............................................................................................ 08
1 ESCOLHA PRELIMINAR DO LOCAL............................................................. 10
2 ESTUDOS BÁSICOS E PROJETOS............................................................... 11
3 SEQUÊNCIA E ASPECTOS CONSTRUTIVOS ….......................................... 15
3.1 Obras de desvio............................................................................................. 16
3.2 Construção – Barragens de aterro................................................................. 25
3.3 Construção - Barragens de concreto............................................................. 25
4 COMPONENTES DA BARRAGEM................................................................. 27
4.1 Reservatórios................................................................................................. 28
4.2 Barragens....................................................................................................... 29
4.3 Sistemas extravasores................................................................................... 47
4.4Tomadas de água e canais de adução........................................................... 57
4.5 Chaminé de equilíbrio e condutos forçados................................................... 61
4.6 Eclusas de navegação................................................................................... 63
5 TIPOS DE ARRANJOS.................................................................................... 65
6 ASPECTOS DE OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO............................................. 75
7 CONCLUSÕES................................................................................................. 78
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................... 80

5
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Arranjo geral do esquema de desvio de Itaipu...........................................18


Figura 2 - Fases de desvio de Itaipu..........................................................................19
Figura 3 - Ensecadeira principal de montante no leito do rio Paraná de Itaipu..........20
Figura 4 - Fases do desvio da UHE Foz do Areia......................................................21
Figura 5 - Primeira fase do desvio do rio São Francisco em Xingó...........................22
Figura 6 – Seção do vertedouro de Tucuruí com adufa de desvio.............................23
Figura 7 – Esquema de desvio da UHE Tucuruí........................................................24
Figura 8 - Barragem de Alborelo, gravidade maciça, seção no vertedouro controlado
e descarga de fundo (Itália)........................................................................................30
Figura 9 – Barragem de gravidade em CCR (Concreto Compactado a Rolo) Soleira
vertente da UHE de Monte Claro...............................................................................31
Figura 10 – Barragem principal do tipo gravidade aliviada da UHE Itaipu.................32
Figura 11 – Laje da face de montante da barragem Stony Gorge (EUA)...................33
Figura 12 – Barragem Stony Gorge (EUA) do tipo de contrafortes armados com laje
de montante …...........................................................................................................34
Figura 13 – Comparação das subpressões nas diferentes barragens de concreto...35
Figura 14 – Barragens de contrafortes de Itaipu........................................................36
Figura 15 - Barragem em arco - Lumiei (Itália) – Barragens de arco-gravidade
Hoover (EUA) e Sottocastello (Itália)..........................................................................37
Figura 16 – Barragem de Cooldge de abóbodas múltiplas com 76m de altura
(EUA)..........................................................................................................................38
Figura 17 - Barragem de enrocamento com núcleo de argila e zoneada de
Salto Santiago ...........................................................................................................40
Figura 18 – Barragem de enrocamento com face de concreto UHE Campos
Novos.........................................................................................................................41
Figura 19 – Barragem de enrocamento com núcleo impermeável de asfalto UHE Foz
do Chapecó ...............................................................................................................41
Figura 20 – Arranjo geral da UHE Itaipu.....................................................................43
Figura 21 – Barragem principal do tipo gravidade aliviada da UHE Itaipu.................44
Figura 22 - Barragem principal do tipo gravidade aliviada da UHE Itaipu – 3D.........45

6
Figura 23 – Barragem de enrocamento da UHE Itaipu..............................................45
Figura 24 – Barragem de contrafortes de Itaipu........................................................ 46
Figura 25 – Barragens de contrafortes de Itaipu – 3D...............................................46
Figura 26 – Barragem de CCR do Ribeirão João Leite com vertedouro em degraus
na parte central..........................................................................................................49
Figura 27 – Vertedouros de Cachoeira Dourada........................................................49
Figura 28 – Configuração típica de um vertedouro em degraus................................50
Figura 29 – Barragem de CCR, soleira vertente em arco e degraus da PCH Funil –
Minas Gerais..............................................................................................................51
Figura 30 – Trampolim do vertedouro de Itaipu com jato lançado no leito do rio.......52
Figura 31 – Vertedouro com salto de esqui e bacia de dissipação da PCH Retiro
Velho..........................................................................................................................52
Figura 32 - Vertedouro Tulipa da UHE Graminha.......................................................53
Figura 33 – Vertedouro de Biritiba antes do enchimento do reservatório..................54
Figura 34 - Vertedouro em labirinto PCH Bonfante RJ...............................................55
Figura 35 – Vertedouro de superfície e Descarregador de Fundo da UHE Jupiá......56
Figura 36 – Tomada de água da barragem de Pedras para irrigação na Bahia.........58
Figura 37 - Tomada de água da barragem de Caxitoré para irrigação no Ceará.......59
Figura 38 - Tomada d’ água da UHE Foz do Chapecó...............................................60
Figura 39 - Chaminé de equilíbrio e conduto forçado da usina de Macabú.............. 61
Figura 40 – Montagem do conduto forçado de Itaipu 10 m de diâmetro....................62
Figura 41 – Eclusas de Três Irmãos sobre o rio Tietê................................................63
Figura 42 - Seção transversal da eclusa de Três Irmãos...........................................64
Figura 43 - Seção esquemática da UHE Capivari/Cachoeira....................................65
Figura 44 - Interior da casa de força subterrânea de Capivari-Cachoeira.................66
Figura 45 - Barragem de terra de Capivari. Na direita hidraulica o vertedouro e a
tomada de água..........................................................................................................67
Figura 46 - Circuito hidráulico da UHE Serra do Facão.............................................68
Figura 47 - Arranjo geral da UHE Tucuruí..................................................................69
Figura 48 - Circuito hidráulico da UHE Tucuruí..........................................................70
Figura 49 - Vista aérea da usina hidroelétrica de Marmelos......................................71

7
Figura 50 - Pequena barragem com tomada de água e canal de adução UHE Chave
do Vazno rio Negro RJ...............................................................................................72
Figura 51 - Arranjo geral da UHE Foz do Chapecó....................................................73
Figura 52 - PCH Funil sobre o rio Guanhães em Minas Gerais.................................74

8
Prezado aluno,

no decorrer desta Unidade você deverá desenvolver competência para:


• Interpretar projetos identificando aspectos de construção, operação e
manutenção;
• Identificar tipos de barragens descrevendo suas estruturas componentes.

Bom estudo!

9
1 ESCOLHA PRELIMINAR DO LOCAL

A escolha preliminar do local para implantação da barragem depende da sua


finalidade, da hidrologia, da geologia, mas principalmente da topografia, já que as
condições topográficas do local afetam as dimensões do reservatório, a altura e
comprimento da barragem, o tipo de barragem, o tipo e localização do vertedouro,
das obras de desvio e de outras estruturas anexas.

Um local propício pode ser localizado onde o vale é mais estreito e as condições
geológicas favoráveis, mas que ao mesmo tempo haja espaço para acomodar o
vertedouro e outras estruturas, como a casa de força no caso de aproveitamento
hidroelétrico.

A existência de falhas, zonas de cisalhamento, estratificação e foliação são


elementos desfavoráveis. Entre os tipos de rocha as sedimentares são as menos
indicadas.

A existência de outras barragens a montante e jusante condicionam respectivamente


o nível do canal de fuga e o nível máximo do lago a altura da barragem a ser
construída. A presença de moradias, estradas, ferrovias ou outras instalações e
benfeitorias na área a ser alagada deve ser avaliada para o cálculo dos custos de
relocação ou indenização.

10
2 ESTUDOS BÁSICOS E PROJETO

Não existe um critério bem definido quanto ao alcance dos estudos e das
investigações necessárias para o projeto de uma barragem. Por exemplo, uma
pequena barragem de 10
m de altura sobre uma fundação de argila mole pode exigir muito mais investigações
e estudos que uma barragem de 30 m com fundações sobre uma rocha de boa
qualidade.

A base de todos os estudos é a cartografia, a começar pelos mapas do IBGE


(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) até estudos detalhados necessários
para o projeto executivo.

Os demais estudos básicos para o projeto de uma barragem são principalmente:


• Os estudos geológico/geotécnicos;
• Os estudos hidrológicos e sedimentológicos;
• Os estudos dos materiais de construção (concreto e solos);
• Os estudos de dimensionamento hidráulico e estrutural;
• Os estudos socioambientais.
• Os estudos energéticos (para finalidade hidroelétrica);

Os estudos geológico/geotécnicos começam com a definição da região geológica do


local, isto é, em qual formação geológica está situada; nesta fase inicial deve ser
feita uma primeira inspeção do local após ter estudado os mapas geológicos e as
fotos aéreas. Uma vez confirmadas quais formações estão presentes, os tipos de
rocha e as características principais delas e a existência de falhas, poderão ser
programadas as investigações de campo tais como as sondagens de diversos tipos
e os levantamentos geofísicos. Numa segunda fase devem ser efetuados os ensaios
de campo e de laboratório para determinar as propriedades das fundações e dos
materiais de construção.

11
As investigações geológicas e geotécnicas usualmente recomendadas para
barragens de porte são as seguintes:

- Sondagens rotativas com extração de testemunhos, verticais e inclinadas;


- Ensaios de perda de água nas sondagens;
- Amostragem integral em sondagens;
- Determinação de tensões residuais com cilindro sensível;
- Escavação de poços e trincheiras;
- Ensaios in situ: macaco plano, cisalhamento direto, carregamento de placa, ensaio
de permeabilidade.

Os ensaios de laboratório sobre as rochas incluem:


• Compressão simples e diametral.
• Determinação do módulo de elasticidade, coeficiente de Poisson, massa
específica
• e absorção.
• Estudo petrográfico de lâminas delgadas.
• Os ensaios de laboratório sobre os solos incluem:
• Ensaios triaxiais.
• Ensaios de caracterização: granulometria, teor de umidade, limites de
Atterberg.
• Compactação.
• Adensamento.
• Permeabilidade.

Os estudos hidrológicos têm como base os registros históricos das vazões do rio
que
deve ser barrado e as precipitações da região; em caso de séries históricas curtas

12
ou
inexistentes devem ser elaboradas correlações com os registros de bacias próximas.
Estas bases de dados servem para os estudos energéticos, de enchente e
estiagens.
Nesta fase são iniciadas as medições fluviométricas no rio para definir as curvas
chave do
rio em seções próximas ao local da barragem.

Os estudos de enchente fundamentam o dimensionamento dos órgãos de


evacuação (vertedouro e descarga de fundo), e para o projeto e planejamento das
obras de desvio. As enchentes de desvio podem ser calculadas com diferentes
tempos de retorno, em função da fase de desvio e do risco envolvido naquele
estágio, por exemplo, se uma fase de desvio tem duração por uma ou mais estações
chuvosas, e quais os danos que um possível alagamento da área de trabalho
produziria.

Os estudos tecnológicos do concreto são sempre necessários, já que, mesmo


quando a barragem é de aterro, há estruturas de concreto como o vertedouro, a
tomada de água ou a casa de força. Estes estudos têm a finalidade de definir os
traços das misturas do concreto para os diversos usos e resistências previstos para
a obra, como concreto estrutural de várias classes, concreto massa, concreto magro.
Para as barragens de concreto massa é importante trabalhar bem a mistura e ter um
baixo calor de hidratação para possibilitar um adequado controle da temperatura
sem afetar o ritmo da construção.

Para manter em valores aceitáveis o aumento da temperatura do concreto são


adotadas
usualmente as seguintes medidas:
• Substituir parte do cimento por materiais pozolânicos (pozolana ou cinzas
• volantes);
• Uso de aditivos para reduzir o teor de água;

13
• Resfriamento dos componentes do concreto (agregado, água, cimento);
• Concretagem de noite ou nas horas mais frescas do dia;
• Cura com água.
• Diminuição das espessuras das camadas de concretagem

Em casos especiais é utilizado o pós-resfriamento do concreto com a circulação de


água
fria em tubos embutidos no corpo da barragem.

14
3 SEQUÊNCIA E ASPECTOS CONSTRUTIVOS

Na obra de uma barragem a etapa preliminar é a implantação dos acessos ao local e


do acampamento com as acomodações para os trabalhadores, escritórios,
infraestrutura e instalações para as atividades construtivas.

Na etapa preliminar devem ser concluídas as pesquisas e a localização das áreas


de empréstimo para os materiais de construção, solos e rocha, para as obras de
aterro e para o concreto. Na etapa seguinte devem ser iniciadas as obras de desvio,
se possível a seco ou protegidas por pequenas ensecadeiras, como também as
partes da barragem situadas nas cotas superiores acima dos níveis das enchentes
de desvio.

Uma das primeiras obras deve ser a estrutura de controle do desvio, a qual é
equipada com comportas para o fechamento do rio na fase final de desvio. A
estrutura de controle pode ser uma estrutura temporária separada da barragem,
como no caso de Foz do Areia e Xingó (Figuras 4 e 5), ou fazer parte da barragem,
como no caso de Itaipu (Figura 1). No caso de Tucuruí (Figura 6), as adufas de
desvio estavam localizadas na base do vertedouro.

Uma vez atingida certa cota de segurança na estrutura de controle e terminados os


túneis ou o canal de desvio, o rio pode ser fechado com ensecadeiras e desviado.
Uma descrição mais detalhada e com exemplos das diversas fases e tipos de desvio
é feita mais adiante, quando tratamos das obras de desvio.

As etapas construtivas de qualquer estrutura são iniciadas com as escavações da


fundação em solo e rocha e, caso previstas, com as escavações subterrâneas para
os túneis de desvio ou forçados. Dependendo do planejamento, os materiais de
escavação adequados podem ser utilizados diretamente para construção das obras
em aterro, no caso de solos e enrocamento e concreto para rocha. Nem sempre esta
utilização direta é possível e em muitos casos os materiais são colocados em pilha

15
de estoque, aguardando seu uso posterior. Os materiais não idôneos são levados
para zonas de bota-fora.

Uma vez concluída a escavação até a cota estabelecida em projeto, a fundação


deve ser liberada no campo pelo engenheiro ou geólogo para a continuação da
construção, isto é a concretagem ou o lançamento do aterro. Para esta liberação é
quase sempre necessário realizar os trabalhos de tratamento das fundações, como
o tratamento dental (isto é a remoção das áreas fracas, fraturadas ou com
descontinuidades e sua substituição por concreto), captação das eventuais
surgências, execução de injeções de consolidação para melhorar as propriedades
da rocha mais próxima da superfície (caso seja inadequada) e a execução da cortina
de injeção profunda.

Em muitos casos a cortina de injeção é efetuada posteriormente a partir de uma


galeria, onde também a cortina de drenagem é realizada. A cortina de injeção de
calda de cimento tem a finalidade de formar uma barreira mais impermeável na
fundação até uma profundidade máxima da ordem da altura da barragem,
condicionada pela existência de camadas mais permeáveis em profundidade.

A cortina é constituída por uma ou mais linhas de furos, perfurados a uma distância
inicial da ordem de 6 m. A execução de furos de injeção intermediários é
determinada pela absorção de calda e é realizada pelo método da subdivisão
sucessiva do espaçamento entre furos (split spacing).

3.1 Obras de desvio

As obras de desvio podem consistir de ensecadeiras, canal ou túnel de desvio e


estrutura
de desvio e em certos casos são obras importantes e de grande responsabilidade,
mesmo
que temporárias.

16
As Figuras 1 a 3 ilustram o desvio do rio Paraná em Itaipu onde, devido às elevadas
vazões e à morfologia do rio encaixado num vale estreito, foi adotado o desvio por
um canal lateral na margem esquerda. As ensecadeiras principais construídas no
leito do rio eram barragens de enrocamento com núcleo central de argila e altura da
ordem de 60 m. A argila foi lançada em águas quase paradas após o fechamento do
rio com os diques de
enrocamento, prévia dragagem dos bancos de areia no leito do rio.

Um aspecto interessante do desvio de Itaipu foi a adoção de ensecadeiras de


concreto em arco para a última fase da escavação do canal de desvio, as quais
foram demolidas a fogo para abertura do canal. Esta escolha foi ditada pelas
seguintes razões:
• Espaço de trabalho restrito;
• Taludes quase verticais do canal;
• Demolição mais fácil em comparação com a alternativa de aterro;
• Risco menor de arraste de rochas em comparação com a alternativa de
aterro.

17
Figura 1 - Arranjo geral do esquema de desvio de Itaipu

1 Ensecadeira de montante 8 Canal de desvio


2 Barragem em arco de montante (demolida 9 Ensecadeira em arco de jusante
a fogo na época do desvio) (demolida a fogo na época do desvio)
3 Barragem principal 10 Ensecadeira de jusante
4 Estrutura de controle do desvio 11 Rio Paraná
5 Casa de força do leito do rio F Direção do fluxo
6 Casa de força do canal de desvio Nota: A Ilha de Itaipu foi coberta pela
7 Ponte de serviço ensecadeira principal de montante.

Fonte: Desvio de grandes rios brasileiros CBDB,2009.

18
Figura 2 - Fases de desvio de Itaipu

I 2 de setembro de 1978 4 Dique C


II 6 de setembro de 1978 5 Dique D
III 20 de outubro de 1978 6 Canal de desvio
IV 30 de julho de 1979 7 Estrutura de desvio
1 Rio Paraná 8 Ponte de serviço
2 Dique A 9 Ensecadeira em arco de montante
3 Dique B 10 Ensecadeira em arco de jusante
Fonte: Desvio de grandes rios brasileiros CBDB,2009.

19
Figura 3 - Ensecadeira principal de montante no leito do rio Paraná de Itaipu

A Dique A 1 Enrocamento lançado na água


B Dique B 2 Argila lançada na água
C Canal de desvio 3 Transição
D Ilha de Itaipu 4 Argila compactada
E Aterro de material não selecionado 5 Material não selecionado lançado na água
F Direção do fluxo 6 Material não selecionado compactado
Fonte: Desvio de grandes rios brasileiros CBDB,2009.

20
Em vales estreitos e vazões menos elevadas pode ser adotado o desvio por túneis,
como no caso de Furnas, Irapé, Foz do Areia (Figura 4), Corumbá, Segredo, Xingó e
Serra da Mesa, só para citar alguns empreendimentos hidroelétricos. Em Serra da
Mesa deve ser assinalada a adoção de ensecadeiras galgáveis em CCR.

Figura 4 - Fases do desvio da UHE Foz do Areia

Fonte: Desvio de grandes rios brasileiros CBDB,2009.

21
Figura 5 - Primeira fase do desvio do rio São Francisco em Xingó. À direita os emboques
dos túneis e as estruturas de controle do desvio.

Fonte: Desvio de grandes rios brasileiros CBDB,2009.

Em vales mais abertos, como no caso de Ilha Solteira, Itumbiara, Peixe Angical,
Salto Caxias e Tucuruí (Figura 6 e 7) o desvio pode ser efetuado em duas fases
principais, uma primeira com estrangulamento parcial da calha do rio para
construção das estruturas de controle do desvio nas áreas ensecadas e nas
margens, e uma segunda com o fechamento do leito natural, o rio passando a
escoar pelas estruturas de controle. Nestes casos não há canal ou túnel de desvio e

22
a estrutura de controle faz parte da própria barragem, como, por exemplo, as adufas
no vertedouro de Tucuruí (veja a Figura 6).

Figura 6 – Seção do vertedouro de Tucuruí com adufa de desvio

Fonte: Grandes Vertedouros Brasileiros CBDB, 2010.

23
Figura 7 – Esquema de desvio da UHE Tucuruí

Fonte: Desvio de grandes rios brasileiros CBDB, 2009.

24
3.2. Construção - Barragens de aterro

A construção de uma barragem de aterro exige a utilização de solos de


características adequadas com a umidade contida entre limites definidos, de
maneira a obter uma compactação ótima e, portanto, um material de resistência
apropriada e permeabilidade baixa para formar o núcleo impermeável. Os materiais
granulares podem ser obtidos diretamente das escavações com o desmonte da
rocha (enrocamento não selecionado), mas na maioria dos casos exigem o
rompimento nos britadores para obter a granulometria adequada (filtros e
transições).

Os materiais são transportados por caminhões das áreas de empréstimo, lançados


na área de trabalho, espalhados por tratores e compactados com rolos de diversos
tipos em função do tipo material e da compactação especificada. Se o solo não
possui o teor de umidade dentro da faixa ótima deve ser previamente tratado:
• Espalhado ao sol para secar ou
• Umedecido com água.

São utilizados rolos de pneus, rolos lisos vibratórios e pé de carneiro, as camadas


variam de 10 a 30 cm para os solos e entre 0,5 e 1 m ou mais para enrocamento
graúdo. Há sempre um laboratório de campo para o controle do material na saída da
área de empréstimo e para o controle de qualidade do material compactado.
Frequentemente, no começo dos trabalhos é construído um aterro teste para
determinar qual equipamento é mais adequado para obter uma boa compactação, a
espessura da camada e o número de passadas.

3.3 Construção - Barragens de concreto

Na construção das barragens de concreto deve ser implantado um laboratório de


campo para o controle dos componentes da mistura e da qualidade do concreto
produzido. Os ensaios usuais sobre os agregados para concreto são:

25
• Granulometria.
• Massa específica.
• Absorção.

Resistência à abrasão (Los Angeles)


• Resistência aos sulfatos.
• Ciclos água-estufa.
• Ciclos de etileno-glicol.
• Reatividade álcali-agregado.

As instalações para produção de concreto para uma grande barragem incluem


centrais de britagem (britadores e moinhos), centrais de concreto, central de
refrigeração, silos e pilhas de estocagem. Para o transporte e lançamento do
concreto são usados caminhões basculantes, gruas de torre e nas grandes obras
teleféricos.

O lançamento se faz em camadas com espessuras variando entre 1,5 e 2,5 m,


sendo menor próximo das fundações, e o intervalo de tempo entre duas camadas
sucessivas oscila normalmente entre 3 e 5 dias. A compactação é efetuada com
vibradores a ar comprimido.

As barragens de concreto compactado com rolo CCR são do tipo de gravidade, na


sua construção são utilizados os mesmos tipos de equipamento dos serviços de
terraplenagem ou enrocamento. O CCR é um concreto de consistência seca e com
menor quantidade de aglomerante (cimento ou pozolana) que suporta bem o peso
do rolo compactador. As vantagens deste tipo de barragem é a rapidez na
construção, já que este método possibilita o lançamento de grandes volumes em
grandes áreas, o que se reflete em custos inferiores. As velocidades de alteamento
podem atingir 60 cm/dia e assim uma barragem de 50 m de altura pode ser
concluída em cerca de 3 meses.

26
4 COMPONENTES DA BARRAGEM

A barragem é uma barreira que interrompe o fluxo de água de um rio e se destina a


represar a água para diversas finalidades. A estrutura principal é o barramento que
fecha o rio, mas outras estruturas importantes são aquelas relacionadas ao sistema
extravasor ou de evacuação das cheias e o de adução.

O sistema de evacuação das cheias pode ser composto de vertedouro de superfície


ou de descarregador de fundo, ou de ambos.

O sistema de adução é composto da tomada de água, do conduto ou túnel forçado e


do canal de adução, o qual nem sempre é presente.

As componentes de uma barragem dependem da sua finalidade e das


características do local de implantação.
• Reservatório.
• Barragens de Concreto, Barragens de Aterro e Diques.
• Sistemas extravasores: vertedouros, descarregadores de fundo.
• Tomada de Água.
• Condutos Forçados e Túneis Forçados.
• Chaminé de Equilíbrio.
• Casa de Força e Estruturas Associadas.
• Canais de Adução e de Fuga.
• Eclusas de navegação.
• Escada para peixes.

A seguir são tratados os componentes mais importantes.

27
4.1. Reservatórios

O reservatório é a finalidade da construção da barragem. É a porção de material


acumulado em decorrência do barramento executado: água ou rejeito de processos
industriais. O tamanho do reservatório está ligado a finalidade com que foi
construído e os impactos socioambientais do empreendimento, por sua vez, estão
intimamente ligados com o tamanho do reservatório.
A tendência atual nos aproveitamentos hidroelétricos recentes é reduzir a área
inundada pelos reservatórios para minimizar os impactos ambientais. No entanto, os
grandes reservatórios com seus volumes de armazenamento têm um papel
importantíssimo na regularização sazonal das vazões e controle de enchentes.

Na tabela abaixo são mostrados alguns dados de reservatórios do mundo e alguns


dos maiores do Brasil ordenados em ordem decrescente de volume.

Reservatório País/Rio Volume km³ Área km²


Bratsk Russia/ Angara 169,3 5.470
Kariba Zambia/Zimbabwe/ Zambezi 164,4 4.450
Nasser Egito/Sudão /Nilo 157,0 5.120
Volta Gana/Volta 148,0 8.420
Manicougan Canada/Manicougan 142,0 1.940
Serra da Mesa Brasil/Tocantins 54,4 1.784
Tucuruí Brasil/Tocantins 50,0 3.007
Sobradinho Brasil/São Francisco 34,1 4.124
Itaipu Brasil/Paraguai/Paraná 29,0 1.350
Furnas Brasil/Paraná 22,9 1.440

O Brasil não se situa entre os primeiros do mundo no que se refere às dimensões e


volume dos reservatórios, apesar de possuir barragens importantes em termos
mundiais para altura, extensão, capacidade do vertedouro, potência instalada e
outros parâmetros.

28
4.2 Barragens

Como sugerido na Unidade 1, adotaremos a classificação de barragens de acordo


com os materiais de construção.

Barragens de Concreto

As barragens de alvenaria foram substituídas desde as primeiras décadas do século


XX pelo uso do concreto. Como exemplos do uso da alvenaria podemos mencionar
a barragem do açude de Cedro no Ceará do tipo de arco gravidade, uma das
primeiras grandes barragens no Brasil (1906), e a pequena barragem de Marmelos
em Juiz de Fora do tipo de gravidade com soleira vertente (1889).

As barragens de gravidade resistem às forças do empuxo hidrostático e às


subpressões pelo peso próprio descarregando as tensões na fundação, enquanto as
barragens em arco descarregam todas as tensões nas ombreiras, as quais devem
ser constituídas por rochas competentes.

As barragens de concreto ou alvenaria, portanto são de três tipos principais:


• Barragens de gravidade (gravidade maciça, gravidade aliviada, CCR,
contrafortes
maciços).
• Barragens em arco (arco, abóbada).
• Barragens de contrafortes armados (laje de montante ou arcos múltiplos).

Existem ainda tipos intermediários, como as barragens de arco gravidade que


associam
a resistência devida ao peso próprio dos materiais ao efeito do arco que descarrega
o
empuxo hidráulico nas ombreiras.

29
Figura 8 – Barragem de Alborelo, gravidade maciça, seção no vertedouro controlado e
descarga de fundo (Itália)

Fonte: Introduzioneallostudiodelledighesbarramenti in muratura Claudio Datei, 1976.

30
Figura 9 - Barragem de gravidade em CCR (Concreto Compactado a Rolo) Soleira vertente
UHE Monte Claro.

Fonte: CBDB (2009)

31
Figura 10 - Barragem principal do tipo gravidade aliviada da UHE Itaipu

Fonte: Usina Hidrelétrica de Itaipu – Aspectos de Engenharia (2009)

32
Figura 11 – Laje da face de montante da barragem de contrafortes Stony Gorge (EUA)

Fonte: Impianti idroelettrici G. Evangelisti,1964.

33
Figura 12 – Barragem de Stony Gorge (EUA) do tipo de contrafortes armados com laje de
montante

Fonte: Impiantiidroelettrici G. Evangelisti,1964.

34
Figura 13 – Comparação das subpressões nas diferentes barragens de concreto

Fonte: Hydraulic Structures,1982.

35
Figura 14 - Barragem de contrafortes de Itaipu

Fonte: Usina Hidrelétrica de Itaipu – Aspectos de Engenharia (2009)

A Figura 13 ilustra a evolução das barragens de gravidade maciça (a), para


gravidade aliviada (b) e contrafortes maciços (c) com maior economia de concreto e
melhor aproveitamento de sua resistência pela distribuição uniforme das tensões. Na
mesma figura são ilustradas as barragens dos tipos de contrafortes com laje de
montante (d) e contrafortes com arcos múltiplos (e) e na Figura 11 e 12 o exemplo
da barragem de Stony Gorge (EUA) do tipo de contrafortes armados com laje de
montante. Na linha inferior da Figura 13 são ilustradas as subpressões atuantes nos
diversos tipos de barragem.

Com exceção de algum tipo de barragem de contrafortes, aquela com placa ou laje a
montante e arcos múltiplos (Figuras 11, 12 e 13), todas as barragens de concreto

36
praticamente não contêm ferro de armadura.

No entanto, outras estruturas componentes como os vertedouros controlados por


comportas são fortemente armados, já que transmitem ao concreto o empuxo
hidráulico carregado nas comportas. As casas de força também têm muita armadura
para resistir aos elevados esforços e vibrações transmitidas pela operação das
máquinas.

Figura 15 – Barragem em arco - Lumiei (Itália) – Barragens de arco-gravidade Hoover (EUA)


e Sottocastello (Itália)

Fonte: Impiantiidroelettrici G. Evangelisti,1964.

37
Figura 16 – Barragem Coolidge de abóbodas múltiplas com 76 m de altura (EUA)

Fonte: Impianti Idroelettrici G. Evangelisti (1964)

Barragens de Aterro

As barragens de aterro são construídas basicamente com terra ou terra e


enrocamento.

De acordo com Paulo T. da Cruz podem ser dos seguintes subtipos:


• Barragens com perfil homogêneo, na qual o material componente deve
apresentar
duas características, isto é, vedação e resistência.
• Barragens com núcleo interno impermeável e espaldares com maior
permeabilidade e mais resistentes (normalmente enrocamento com núcleo de
argila ou de asfalto).
• Barragens com a zona de montante em material impermeabilizante e a zona
de jusante em material granular ou enrocamento.
• Barragens de enrocamento com face de concreto (BEFC).

38
Uma classificação mais simplificada seria a seguinte:
a) Barragens de terra homogênea.
b) Barragens de terra zoneada.
c) Barragens de enrocamento.

Nos primeiros dois tipos desta classificação simplificada a estanqueidade é


garantida por zonas de terra compactada impermeável e no terceiro tipo pode ser
por um núcleo de argila, asfalto ou a montante por um paramento de asfalto, de
concreto ou até de metal. A estabilidade é garantida pelo peso próprio dos
espaldares de terra, enrocamento ou mistos.

Temos os exemplos de barragens de enrocamento com face de concreto BEFC


como Barra Grande, Campos Novos, Foz do Areia, Xingó, e de barragem de
enrocamento com núcleo de concreto asfáltico como Foz do Chapecó.

39
Figura 17 – Barragem de enrocamento com núcleo de argila e zoneada de Salto Santiago

Fonte: Highlights of Brazilian Dam Engineering - Second Edition CBDB,2006.

40
Figura 18 – Barragem de enrocamento com face de concreto UHE Campos Novos

Fonte: CBDB (2009)

Figura 19 - Barragem de enrocamento com núcleo impermeável de asfalto UHE Foz do Cha-
pecó.

Fonte: CBDB (2009)

A definição do tipo de barragem é normalmente feita com base em considerações


econômicas, especialmente impostas pela disponibilidade dos materiais e facilidade
dos métodos de construção, a menos que as condições geológicas não imponham a
exclusão de certos tipos de estrutura em função das características da fundação.

Por exemplo, num local com rocha de boa qualidade e abundancia de argila, mas
afastado de zonas povoadas e dos grandes centros, portanto com dificuldade para

41
abastecimento de cimento, a escolha será para uma barragem de enrocamento com
núcleo de argila. Em outro local com rocha de boa qualidade situado em zona
chuvosa que dificultaria a compactação de argila durante todo o tempo, pode ser
adotada uma barragem de enrocamento com face de concreto (BEFC) ou uma
barragem de enrocamento com núcleo ou revestimento de asfalto.

Uma barragem em arco ou abóbada exige que as ombreiras e as fundações tenham


rocha de boa qualidade e um vale relativamente estreito, com relação C/H (entre o
comprimento da crista C e a altura H) com valores até 4. Para valores superiores já
são adotadas barragens do tipo arco-gravidade ou a construção de blocos de
gravidade nas ombreiras, constituindo uma ombreira artificial.

Grandes Barragens
Na prática muitas vezes o barramento normalmente é composto por trechos de
diversos tipos de barragem para aproveitar os materiais existentes e as diversas
condições do local.

Por exemplo, na represa de Itaipu foram construídos seis tipos de barragem:


• Barragem de gravidade maciça (estrutura de desvio 4).
• Barragem de gravidade aliviada (barragem principal 5) (Figura 21 e 22).
• Barragem de enrocamento com núcleo de argila (barragem esquerda 2,
ensecadeiras principais) (Figura 23).
• Barragem de contrafortes (barragem lateral direita e esquerda 3 e 7) (Figura
24 e 25).
• Barragem de terra (barragem da extremidade esquerda e direita 1 e 9).
• Barragem em arco (ensecadeiras do canal de desvio).

Desta forma foi possível utilizar o material da escavação do canal de desvio


diretamente para a construção das barragens de terra e de enrocamento com
significativa economia.

42
Figura 20 - Arranjo geral da UHE Itaipu.

Fonte: Usina Hidrelétrica de Itaipu – Aspectos de Engenharia (2009)

43
Figura 21 - Barragem principal do tipo gravidade aliviada da UHE Itaipu

Fonte: Usina Hidrelétrica de Itaipu – Aspectos de Engenharia (2009)

44
Figura 22 - Barragem principal do tipo gravidade aliviada da UHE Itaipu - 3D

Fonte: Centro de Estudos Avançados em Segurança de Barragens - CEASB

Figura 23 - Barragem de enrocamento da UHE Itaipu

Fonte: Usina Hidrelétrica de Itaipu – Aspectos de Engenharia (2009)

45
Figura 24 - Barragem de contrafortes de Itaipu

Fonte: Usina Hidrelétrica de Itaipu – Aspectos de Engenharia (2009)

Figura 25 - Barragem de contrafortes de Itaipu – 3D

Fonte: Centro de Estudos Avançados em Segurança de Barragens - CEASB

46
4.3. Sistemas extravasores

Os sistemas extravasores são da maior importância para a segurança das


barragens. Eles são constituídos por vertedouros e descarregadores de fundo e tem
as seguintes funções:
• Regularização dos níveis do reservatório;
• Amortecimento dos níveis das enchentes;
• Regularização das vazões do rio a jusante;
• Descarga segura a jusante das vazões de enchente;
• Dissipação da energia das descargas vertidas sem danos a jusante;
• Prevenção do galgamento da barragem;
• Retenção de um grande volume útil a montante de suas comportas;
• Esvaziamento do reservatório em casos de emergência;
• Descarga dos sedimentos acumulados próximos da barragem.

O projeto do sistema extravasor de uma barragem envolve cálculos hidrológicos e


hidráulicos e muitas vezes ensaios em modelo hidráulico reduzido. O cálculo da
capacidade do vertedouro, além do valor de pico da enchente afluente depende da
capacidade de laminação do reservatório, sendo o valor mínimo da borda livre fixado
por
critérios de segurança.

A vazão máxima afluente pode ser calculada por métodos estatísticos ou pelo
método da enchente máxima provável EMP. A determinação da enchente de projeto
depende de um grande número de fatores, particularmente da dimensão da bacia
hidrográfica, dos reservatórios a montante (e suas regras de operação), mas
especialmente da quantidade e confiabilidade dos dados disponíveis das
precipitações e vazões nos locais representativos das bacias dos afluentes a
montante do local da barragem. Atualmente, o método determinístico de cálculo das
enchentes é considerado mais adequado para grandes empreendimentos que o

47
método probabilístico.

No século XX extensas regiões do Brasil foram objeto de grandes desmatamentos, e


diversos estudos têm mostrado que o comportamento das bacias tem se modificado
em
função de mudanças de uso da terra e de alterações no regime pluviométrico, de
maneira que nos projetos mais antigos, calculados com base em dados das bacias
ainda não afetadas pela ação antrópica, a enchente de projeto pode não ser mais
representativa.

Os problemas hidráulicos da dissipação de energia na própria estrutura e na


restituição a jusante, já causaram danos em muitas obras, e exigem um projeto
apurado e ensaios em modelo. O problema mais sério é o da erosão regressiva na
área de jusante onde ocorre a dissipação de energia (bacia de dissipação ou leito do
rio), que pode alcançar as próprias estruturas da barragem.

Na construção das superfícies hidráulicas, especialmente quando são esperadas


descargas específicas elevadas, devem ser utilizados concretos armados de boa
qualidade e resistência adequada para resistir às altas velocidades de escoamento,
como também devem ser observadas tolerâncias mínimas para evitar a presença de
irregularidades que podem causar problemas de erosão ou cavitação. Em muitas
barragens de concreto o sistema extravasor constitui parte do corpo da barragem,
sendo uma soleira vertente sem controle, como por exemplo, no caso das barragens
Dona Francisca, Jordão e Ribeirão João Leite, ou com comportas, como Cachoeira
Dourada.

48
Figura 26 - Barragem de CCR do Ribeirão João Leite com vertedouro em degraus na parte

central
Fonte: Main Brazilian Dams III CBDB, 2009.
Figura 27 – Vertedouros de Cachoeira Dourada

Fonte: Grandes Vertedouros Brasileiros CBDB, 2010.

49
Nos anos recentes foram construídos muitos vertedouros de soleira livre em degraus
aproveitando as camadas da construção de concreto compactado a rolo CCR. No
entanto, a superfície hidráulica da escadaria é formada por concreto convencional,
mais adequado para resistir ao escoamento. Este tipo de solução pode ser adotado
quando a vazão específica não é elevada.

Figura 28 – Configuração típica de um vertedouro em degraus

Fonte: Grandes Vertedouros Brasileiros CBDB, 2010.

50
Figura 29 – Barragem de CCR, soleira vertente em arco e degraus da PCH Funil – Minas
Gerais

Fonte: Brasil PCH.

O vertedouro com defletor em salto de esqui com ou sem calha e bacia de


dissipação foi adotado em muitas barragens, como Castanhão, Itaipu, Itumbiara,
São Simão, Tucuruí, e Xingó. O salto de esqui ou trampolim (Figuras 30 e 31)
constitui um sistema eficiente e econômico para a restituição das águas a jusante
quando as condições hidráulicas e geológicas são favoráveis.

51
Figura 30 – Trampolim do vertedouro de Itaipu com jato lançado no rio

Fonte: Nota do autor.


Figura 31 - Vertedouro com salto de esqui e bacia de dissipação da PCH Retiro Velho

Fonte: Brasil PCH.

52
Em muitas barragens de terra o vertedouro constitui uma estrutura separada do
corpo da barragem, como o vertedouro do tipo Tulipa (Figuras 32 e 33), casos das
barragens de Biritiba, Graminha, Itabiruçu e Paraibuna/Paraitinga.

Figura 32 - Vertedouro Tulipa da UHE Graminha

Fonte: Barragens no Brasil CBDB, 1982.

53
Figura 33 - Vertedouro de Biritiba antes do enchimento do reservatório

Fonte: Nota do autor.

54
Figura 34 - Vertedouro em labirinto da PCH Bonfante RJ

Fonte: Nota do autor.

Os vertedouros em labirinto (Figura 34) aumentam a capacidade de escoamento


com o acréscimo do comprimento do perímetro da soleira e são adotados onde as
dimensões disponíveis para o vertedouro são reduzidas.

55
Figura 35 - Vertedouro de superfície e descarregador de fundo da UHE Jupiá

Fonte: Main Brazilian Dams I CBDB, 1982.

Os descarregadores de fundo (Figura 35) são pouco adotados nas barragens


brasileiras, devido especialmente às elevadas vazões de nossos rios, que tornam
muito cara esta obra. Em algumas barragens, onde há cidades próximas a jusante,
estes descarregadores foram adotados como medida de segurança para esvaziar o
lago em caso de emergência.

Os Critérios de Projeto Civil de Usinas Hidrelétrica da ELETROBRAS estabelecem


que os escarregadores de fundo serão previstos na barragem sempre que for
imperativo manter uma vazão a jusante, independente da vazão turbinada, para
abastecimento, irrigação, água de compensação ou outros usos; quando houver a

56
necessidade de rebaixamento do reservatório abaixo da crista do vertedouro ou de
seu esvaziamento, ou quando for necessária a descarga de sedimentos. Em alguns
casos, o próprio vertedouro poderá ser concebido parcial ou totalmente como um
descarregador de fundo.

Nos rios com elevado transporte sólido, os descarregadores de fundo permitem


remover os depósitos de sedimentos acumulados por meio de operações de
descarga de limpeza.
A eficiência destas operações depende:
• Da geometria do reservatório;
• Da capacidade, geometria e posição dos dispositivos de descarga;
• Das características dos sedimentos;
• Do modo de operação;
• Da duração e vazão da descarga.

4.4. Tomadas de água e canais de adução

Os Critérios de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas da ELETROBRAS estabelecem


que: A tomada de água será projetada de forma a estabelecer uma aceleração
progressiva e gradual do escoamento do reservatório à adução, evitando-se os
fenômenos de separação do escoamento e minimizando-se as perdas de carga.

As tomadas de água e canais de adução são dimensionados em função das vazões


e dos níveis previstos no reservatório. No caso de abastecimento de água e
irrigação onde com a regularização anual das vazões há grandes variações de nível
do reservatório, a tomada é efetuada com uma tomada profunda ou por meio de
uma torre com abertura a diferentes níveis e conduzida a jusante por meio de um
conduto em pressão.

As tomadas de água para usinas hidroelétricas têm dimensões maiores e estão


localizadas a cotas superiores.

57
As Figuras 36 e 37 ilustram tomadas de água principalmente para irrigação e a
Figura 38 para hidroeletricidade.

Figura 36 - Tomada de água da barragem de Pedras para irrigação na Bahia

Fonte: Barragens no Brasil CBDB, 1982.

58
Figura 37 – Tomada de água da barragem de terra homogênea de Caxitoré para irrigação no
Ceará

Fonte: Barragens no Brasil CBDB,1982.

59
Figura 38 - Tomada d’ água da UHE Foz do Chapecó

Fonte: Main Brazilian Dams III CBDB, 2009.

Nas usinas hidroelétricas a fio d’ água, onde as variações de nível do lago são
mínimas e as condições topográficas são favoráveis, são utilizados canais de
adução que seguem as curvas de nível até a proximidade da casa de força, onde
entram no conduto forçado.

60
4.5. Chaminé de equilíbrio e condutos forçados

Nos condutos e túneis forçados à chaminé de equilíbrio têm a finalidade de reduzir


os efeitos do golpe de aríete que ocorre nas manobras de fechamento repentino das
máquinas ou de uma válvula. A chaminé de equilíbrio nem sempre é necessária,
somente quando há condutos ou túneis forçados de grande extensão em relação à
queda, em primeira aproximação um comprimento superior a cinco vezes a queda.

Os condutos e túneis forçados operam em pressão e conduzem as águas entre a


tomada
de água e a casa de força.

Figura 39 - Chaminé de equilíbrio e conduto forçado da usina de Macabú

Fonte: Foto do Engº. Flavio Miguez de Mello.

61
Figura 40 - Montagem do conduto forçado de Itaipu com 10 m de diâmetro

Fonte: Nota do autor.

62
4.6 Eclusas de navegação

Eclusas de navegação foram construídas nos barramentos dos grandes rios como
Paraná, Tietê, São Francisco e Tocantins para permitir a passagem de embarcações
e comboios de balsas.

Com o desenvolvimento da agroindústria nas regiões do interior, a navegação dos


grandes rios, possibilitada pela construção das eclusas associada a ferrovias, se
torna o meio mais seguro e econômico para o escoamento das grandes safras de
grãos.

Figura 41 – Eclusas de Três Irmãos sobre o rio Tietê

Fonte: Main Brazilian Dams II CBDB, 2000.

63
Figura 42 – Seção transversal da eclusa de Três Irmãos

Fonte: Main Brazilian Dams II CBDB, 2000.

64
5 TIPOS DE ARRANJOS

O arranjo vai depender muito da topografia do local, da queda (em caso de usina
hidrelétrica) e da finalidade do empreendimento. Nos empreendimentos do tipo
alpino, onde a vazão é pequena e há queda grande, podemos ter uma barragem alta
para formar um grande reservatório para regularização das vazões, longos condutos
ou túneis forcados até a usina localizada por vezes até um quilômetro abaixo.
Usinas deste tipo encontramos na Serra do Mar, por exemplo, Capivari-Cachoeira e
Cubatão, respectivamente nos estados de Paraná e de São Paulo.

Figura 43 - Seção esquemática da UHE Capivari/Cachoeira

Fonte: A História das Barragens no Brasil CBDB, 2011.

As características principais da UHE Capivari/Cachoeira são:


• Barragem de terra de 60 m de altura;
• Reservatório de 150 106 m3.;
• Túnel forçado de 14,5 km de comprimento;
• Uma central subterrânea com 250 MW de capacidade;

65
• Um túnel de fuga de 2,2 km;
• Uma queda de 770 m.

Figura 44 – Interior da casa de força subterrânea de Capivari-Cachoeira

Fonte: A História das Barragens no Brasil CBDB, 2011.

66
Figura 45 - Barragem de terra de Capivari. Na direita hidráulica o vertedouro e a tomada de
água

Fonte: A História das Barragens no Brasil CBDB, 2011.

Arranjos e usinas mais comuns no Brasil, onde temos rios largos com elevadas
vazões e
quedas moderadas, são aqueles com circuito hidráulico mais compacto com
barragem/tomada de água e casa de força próximas. Poderíamos citar dezenas de
exemplo, tais como Itaipu, Itumbiara, São Simão, Serra do Facão, Tucuruí, etc. Por
outro lado, por causa da altura da barragem e das dimensões do vale em muitos
destes empreendimentos, a extensão da crista da barragem por vezes mede alguns
quilômetros (Itaipu 8 km e Tucuruí 7 km aproximadamente).

A Figura 46 a seguir ilustra a barragem de gravidade em concreto compactado a rolo


CCR de Serra do Facão no rio São Marcos em Goiás, onde, depois da descoberta

67
de camadas sub-horizontais com preenchimento de materiais xistosos de baixa
resistência, foi necessário escavar um sistema de túneis de drenagem para aliviar as
subpressões na fundação e eliminar alguns blocos de concreto que foram
substituídos pela barragem de enrocamento.

Figura 46 – Circuito hidráulico da UHE Serra do Facão

Fonte: Main Brazilian Dams III CBDB, 2009.

68
Figura 47 – Arranjo geral da UHE Tucuruí

Fonte: Main Brazilian Dams II CBDB, 2000.

69
Figura 48 - Circuito hidráulico da UHE Tucuruí

Fonte: Main Brazilian Dams II CBDB, 2000.

As barragens mais antigas para finalidades hidroelétricas eram do tipo de derivação


a fio d’água, sem capacidade de regularização das vazões, isto é estruturas baixas
com a finalidade de desviar o escoamento do rio para um canal de adução até a
câmara de carga onde entrava para o conduto forçado. Exemplo deste arranjo é a
usina de Marmelos sobre o rio Paraibuna na cidade de Juiz de Fora, a primeira usina
hidroelétrica da América do Sul destinada à produção de energia para utilidade
pública.

Nos anos recentes foram construídos dois empreendimentos hidroelétricos de porte

70
com longos canais de adução e barragens de pequena altura no rio Doce e no
Paraíba do Sul (Aimoré e Simplício).

Figura 49 - Vista aérea da usina hidroelétrica de Marmelos

Fonte: A História das Barragens no Brasil CBDB, 2011.

71
Figura 50 - Pequena barragem com tomada de água e canal de adução UHE Chave do Vaz
no rio Negro RJ

Fonte: Foto do Engº. Flavio Miguez de Mello.

Exemplo de outro arranjo que se aproveita de trechos de rio encachoeirados com


grandes meandros, típico das regiões do Sul do Brasil com formações basálticas,
são as usinas do rio das Antas no Rio Grande do Sul e de Foz do Chapecó no rio
Uruguai, na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Figura 51).

72
Figura 51 – Arranjo geral da UHE Foz do Chapecó

Fonte: MBD III.

Arranjo típico de pequena central hidroelétrica PCH é ilustrado na Figura 40, onde o
rio é fechado por uma barragem não muito alta e um túnel forçado conduz a água
até a central, situada a jusante do trecho encachoeirado.

73
Figura 52 – PCH Funil sobre o rio Guanhães em Minas Gerais

Fonte: Brasil PCH.

74
6 ASPECTOS DE OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO

Os procedimentos de operação da barragem dependem da sua finalidade: produção


de energia, abastecimento de água, amortecimento de enchentes, irrigação, etc. Em
função da finalidade devem ser planejados os níveis de água e efetuado o controle
das vazões afluentes. Quando há reservatórios em cascata, como no rio Paraná ou
no rio Tennessee, e as finalidades são múltiplas, uma entidade coordena a operação
dos empreendimentos em vista da complexidade e dos requisitos por vezes
contrastantes entre os diversos usuários e finalidades.

Diversos manuais de operação das estruturas e equipamentos devem ser


elaborados ainda na fase de projeto.

Para a fase do primeiro enchimento, o primeiro ano de operação e a sucessiva de


operação normal devem ser programados os procedimentos para as inspeções das
obras, as leituras da instrumentação e suas frequências. Esta primeira fase é
importantíssima na vida da barragem, trata-se do momento mais delicado quando,
de acordo com as estatísticas, acontece o maior número de acidentes.

Outro manual de operação muito importante para um bom desempenho e a


segurança é aquele que trata da operação dos órgãos extravasores controlados por
comportas, no qual devem ser consideradas as regras hidráulicas de abertura
mínima e a sequência de abertura das comportas, as regras para evacuação de uma
enchente para evitar uma onda de cheia a jusante e ao mesmo tempo não
ultrapassar a borda livre e os procedimentos a serem adotados em caso de
impedimento de alguma comporta.

Como exemplo da importância das regras de operação, citamos o caso do


vertedouro de Marimbondo, onde a operação assimétrica das comportas provocava
a entrada de material sólido de jusante e sua recirculação na bacia de dissipação,
causando extensos

75
danos com erosão do concreto e arrancamento das armaduras.

Citamos também o caso do vertedouro de Itaipu, onde por causa do tratado tripartite
há restrições na descarga para evitar oscilações horárias dos níveis de água a
jusante que poderiam afetar a navegação no rio Paraná a jusante. Também podem
interferir nas regras operativas os usos e ocupações a jusante da barragem,
questões ambientais e outros fatores.

As comportas devem ser inspecionadas com frequência anual e efetuados ensaios


de funcionamento antes da estação de enchentes. As vigas do munhão e os tirantes
devem também ser inspecionados com a mesma frequência em vista de sua
importância para o bom funcionamento do vertedouro. Os descarregadores de fundo
devem também ser testados e inspecionados por mergulhadores antes do teste para
verificar o acumulo de sedimentos ou detritos a montante.

Nas barragens devem ser observados o corpo da barragem e suas ombreiras,


devem ser
inspecionadas as galerias e verificadas as condições da instrumentação.

As anomalias mais frequentes são devidas a:


1. Deformações e deslocamentos, incluindo fissuras, trincas e buracos e
subsidências;
• Corpo da barragem;
• Taludes e ombreiras;
2. Percolação;
3. Drenagem;
4. Deterioração dos materiais;
5. Falta de manutenção.

As eventuais anomalias, defeitos e deteriorações devem ser anotadas, fotografadas


e registradas num relatório para posterior tomada de providências.

76
Os manuais devem prever a operação em caso de eventos excepcionais, como
enchentes, tempestades e terremotos, nos quais pode haver problemas de acesso à
barragem, interrupção do fornecimento de energia, parada dos grupos geradores,
interrupção das linhas telefônicas e das comunicações.

A manutenção rotineira deve compreender o corte da vegetação, a limpeza do


sistema de
drenagem superficial e correções de pequenos defeitos. A manutenção
extraordinária se refere à correção e reparo das deteriorações de maior porte,
estabilização de taludes, desobstrução do sistema de drenagem da fundação,
captação das surgências por meio de filtro, erosões e outras anomalias.

77
7 CONCLUSÕES

Apesar dos grandes progressos realizados e grandes obras construídas e da


existência de normas, diretrizes e critérios estabelecidos para o projeto elaborados
por entidades e associações importantes e prestigiosas, as barragens são estruturas
que oferecem certo risco potencial.

No projeto das barragens devem ser consideradas situações existentes e futuras,


umas bem definidas e outras teóricas.

As vazões de projeto são calculadas a partir de registros e análises hidrológicas, da


topografia do reservatório e de outros fatores, elas podem ser afetadas por
condições meteorológicas excepcionais, causadas por mudanças climáticas, ou até
por ações antrópicas que modificam a resposta da bacia. Deve ser observado
também que durante as enchentes excepcionais podem ocorrer deslizamentos de
terra de grandes proporções, aumento das erosões e arrancaduras de árvores,
produzindo obstruções ao longo do rio e maximização da onda de cheia, efeitos
todos não considerados no cálculo da enchente.

As propriedades das fundações são definidas com base em investigações que


cobrem áreas pontuais ou restritas e em um número limitado de ensaios. Os
métodos construtivos não são uniformes e podem afetar de forma significativa o
comportamento das estruturas. Apesar das investigações, estudos e análises,
existem incertezas e áreas de sombra que exigem vigilância continua avaliando os
resultados dos estudos e o desempenho, devendo ser aplicado o bom senso e o
julgamento de engenharia em todas as fases do empreendimento.

Portanto devemos nos conscientizar das limitações e incertezas no projeto, da


influência dos aspectos construtivos, por vezes imperfeitos ou desuniformes, e dos
eventuais defeitos, da necessidade de acompanhar as estruturas durante toda sua
vida útil com uma operação judiciosa, efetuando as manutenções periódicas e

78
rotineiras de forma preventiva e reparadoras, quando necessário, por causa das
deteriorações que porventura ocorram ao longo da vida útil.

79
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Comitê Brasileiro de Barragens CBDB Barragens no Brasil 1982.

Comitê Brasileiro de Barragens CBDB MainBrazilianDams1982.

Comitê Brasileiro de Barragens CBDB MainBrazilianDams II 2000.

Comitê Brasileiro de Barragens CBDB MainBrazilianDams III 2009.

Comitê Brasileiro de Barragens CBDB Desvio de Grandes Rios Brasileiros 2009.

Comitê Brasileiro de Barragens CBDB Grandes Vertedouros Brasileiros


UmaPanorâmica da Prática e da Experiência Brasileiras em Projeto e
Construção de
Vertedouros para Grandes Barragens 2010.

Corrado Piasentin XXVI Sem. Nacional de Grandes Barragens. Um Índice para


Avaliação do Nível de Auscultação de Barragens. Goiânia abril 2005.

ELETROBRAS Critérios de Projeto Civil de Usinas Hidrelétrica 2003.

Gurmukh S. Sarkaria Safety Appraisal of Old Dams: an Updated Perspective


Inspection, Maintenance and Rehabilitation of Old Dams, Conference ASCE, Pacific
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Kuperman, S. C., Re, G. et al. XXIV Seminário Nacional de Grandes Barragens


Análise de Risco e Metodologia de Tomada de Decisões para Barragens:
Evolução do Sistema Empregado pela SABESP - Fortaleza 1994.

M. M. Grishin Hydraulic Structures tradução para o ingles Mir Editora Moscou


1982. Paulo Teixeira da Cruz 100 Barragens Brasileiras – Casos Históricos –
Materiais de construção – Projeto 2a Edição 2004.

U.S. Bureau of Reclamation Design of Small Dams 1965.

80
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CURSO
SEGURANÇA DE BARRAGENS

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MÓDULO III : INSPENÇAO E AUSCULTAÇÃO DE


BARRAGENS

UNIDADE 3: INSPEÇÕES VISUAIS

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FICHA TÉCNICA

Realização:

EQUIPE TÉCNICA

Corrado Piasentin Glauco Gonçalves Dias


Elaboração de conteúdo Revisor Técnico Geral

Etore Funchal de Faria


Alexandre Anderáos
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico ANA

Fabio Luiz Willrich


Carlos Leonardi
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Josiele Patias
Cesar Eduardo b. Pimentel
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico ANA

Josimar Alves de Oliveira


Claudio Neumann
Revisor técnico ANA
Revisor técnico Itaipu

Ligia Maria Nascimento de


Claudio Osako Araújo
Revisor técnico Itaipu Revisora técnica ANA

Silvia Frazão Matos


Dimilson Pinto Coelho
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Revisão Ortográfica

ICBA – Centro de Línguas


www.cursodeidiomasicba.com.br

Este obra foi licenciada sob uma Licença .Creative Commons Atribuição-
NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada

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CURRICULO RESUMIDO

Prof: Corrado Piasentin

Formado em engenharia civil hidráulica pela


Universidade de Pádua, Itália.

Tem participado do projeto da UHE Itaipu


desde a fase de inventário até o projeto
executivo, sendo atualmente consultor da
entidade binacional.

Teve uma experiência bastante variada no

campo da engenharia de barragens e obras hidráulicas em geral, desde os estudos


de viabilidade até os projetos básicos e detalhados, atuando em diversos campos
da engenharia civil e especialmente na área de geotecnia, hidráulica e hidrologia,
no projeto de sistemas de auscultação até a interpretação de seus resultados
especialmente em relação a sua segurança.

Foi responsável da edição de diversos livros técnicos para o Comitê Brasileiro de


Barragens CBDB e tradução de diversos boletins do ICOLD.

Atualmente atua na organização e acompanhamento das atividades de auscultação


de diversas barragens incluindo estabelecimento de procedimentos, check list para
as vistorias, definição de frequências de leituras, vistorias e emissão de relatórios
de diagnostico.

É autor de varias publicações sobre diversos temas, especialmente sobre o


comportamento e segurança de barragens.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS.............................................................................................. 06
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 07
1 INSPEÇÕES VISUAIS...................................................................................... 07
2 LIMITAÇÃO DA INSTRUMENTAÇÃO DE AUSCULTAÇÃO.............................. 09
3 TIPOS DE INSPEÇÃO....................................................................................... 12
4 EQUIPES DE AUSCULTAÇÃO DO CONCESSIONÁRIO.................................. 13
5 PROCEDIMENTOS E APLICAÇÃO PRÁTICA.................................................. 16
5.1 Preparação para a inspeção de segurança.......................................... 16
5.2 Aplicação Prática.................................................................................... 17
5.3 Inspecionando Taludes e Paramentos.................................................. 19
5.4 Inspecionando os Contatos................................................................... 21
5.5 Inspecionando a Crista........................................................................... 22
5.6 Inspecionando o Pé da Barragem e demais áreas de influência....... 24
5.7 Guias de Inspeção.................................................................................. 25
CONCLUSÕES...................................................................................................... 33
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 34
Anexo I - Check List de Inspeção Regular 35

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Exemplo de primeira página da lista de verificação


Figura 2 – Exemplo de lista de verificação mínima para barragem de concreto
Figura. 3 – Trajetória em zig-zag para inspeção de taludes
Figura 4 – Trajetórias Paralelas para Inspeção de Talude
Figura 5 – Observando ao longo da Crista
Figura 6 – Áreas de influência em barragens de aterro
Figura 7 – Áreas de influência em barragens de concreto
Figura 8 – Lista de verificação para barragens de concreto extraída de Auscultação e
instrumentação de barragens no Brasil
Figura 9 – Lista de verificação para barragens de aterro extraída de Auscultação e instrumentação
de barragens no Brasil
Figura 10 – Verificação de trica em muro lateral de vertedouro
Figura11 – Observação de trinca e lixiviação de solo sob o concreto de revestimento do
bloco de ancoragem da tubulação forçada
Figura 12 – Constatação de carreamento de material arenoso para o interior do medidor
de vazão
Figura 13 – Detecção de pequena surgência na canaleta de pé da barragem
Figura 14 – Inspeção de passarela de acesso ao vertedouro tipo tulipa
Figura 15 – Registro fotográfico de falha na identificação da instrumentação
Figura 16 – Inspeção em talude de montante próximo à ombreira
Figura 17 – Uso de ficha de inspeção em campo
Figura 18 – Equipe multidisciplinar estudando surgências pela fundação em terreno
natural

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Prezado Aluno,

no decorrer desta unidade você deverá desenvolve competência para:

 Inspecionar uma barragem e verificar a existência de anomalias


 Empregar a inspeção visual investigando anomalias.

INTRODUÇÃO

De maneira muito similar aos procedimentos médicos, a avaliação da segurança de uma


barragem é um processo complexo de análise de diversos elementos. O especialista em
Segurança de Barragens deve ser um profissional capaz de reunir uma série de
informações colhidas para diagnosticar a situação dessas estruturas e muitas vezes o
conhecimento e habilidade do são determinantes neste processo.

A inspeção visual de uma barragem é exame da estrutura a partir do conhecimento do


engenheiro. É o processo de manutenção preditiva subjetiva, onde o examinador lança
mão de seus sentidos para determinar a situação da estrutura.

Nos últimos anos tem-se dado sempre mais importância ao monitoramento das grandes
barragens por sistemas sofisticados dotados de capacidade de leituras remotas e
automáticas. Com as possibilidades crescentes e a grande variedade de equipamentos
eletrônicos disponíveis a preços sempre mais acessíveis é grande a tentação de instalar
um sistema que possa monitorar rapidamente as estruturas com o mínimo de pessoal,
obtendo leituras contínuas e imediatas em qualquer momento.

Entretanto, deve-se ressaltar que as inspeções in situ e a observação visual das


estruturas e suas fundações continuam sendo uma ferramenta importante e indispensável
para manter os níveis de segurança adequados.

Todos os autores concordam sobre a necessidade da instalação de instrumentação para


avaliar a segurança das barragens. Por outro lado, apontam enfaticamente que só a
instrumentação não é suficiente para uma boa interpretação dos resultados para

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verificação da segurança, que é preciso que ela obedeça a certas regras e que seja
complementada pela observação cuidadosa das estruturas durante as inspeções visuais
de campo. Alguns engenheiros até afirmam que é perigoso não manter um contato
frequente com a barragem por meio de inspeções in situ.

1 1INSPEÇÕES VISUAIS

Deve-se ter presente que apenas a instrumentação, por mais sofisticada que seja não é
suficiente e deve ser acompanhada por uma inspeção visual direta. Devido às grandes
dimensões de uma barragem e ao fato de que os instrumentos não estão localizados
necessariamente na região onde um fenômeno prejudicial se manifesta, é extremamente
útil vistoriar periodicamente toda a estrutura, procurando por sinais de possíveis
problemas: fissuração, áreas úmidas, novas surgências, etc. Esta vistoria tem que ser
realizada por pessoas que estejam bem a par do que deve ser observado. Não
necessitam serem engenheiros, mas devem ser treinados para esta finalidade por
engenheiros de barragens. (A Barragem de Gravidade – Uma Barragem para o Futuro.
Boletim 117 do CIGB, p.64, tradução do CBDB, 2004).

A avaliação de segurança de uma barragem deve ser um esforço contínuo, que exige a
realização simultânea de vistorias periódicas in situ e de análise pari passu dos dados da
instrumentação, durante toda a vida útil da barragem. (Auscultação e Instrumentação de
Barragens no Brasil - Comissão de Auscultação e Instrumentação de Barragens. CBDB II
Simpósio sobre Instrumentação de Barragens, agosto/1996).

O olho humano treinado é o melhor instrumento para avaliar o desempenho de uma


barragem. Apesar das inspeções visuais terem limitações, nenhum outro método tem o
mesmo potencial de integrar rapidamente toda a situação do comportamento. (ASCE
Corps of Engineers, 2000).

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2 LIMITAÇÕES DA INSTRUMENTAÇÃO DE AUSCULTAÇÃO

No projeto e operação da instrumentação devem ser bem claras suas limitações:

1 A instrumentação cobre somente um número limitado de blocos e regiões da


Obra e, portanto, para os demais a detecção dos eventuais problemas deve
contar com outros meios;

2 A instrumentação de qualquer tipo pode ser danificada, está sujeita a falhas


com maior ou menor frequência ou pode começar a fornecer resultados
imprecisos ou até errados com o envelhecimento de seus componentes. Este tipo
de comportamento muitas vezes é detectado somente com inspeções e
verificações no local;
3 Um sistema completamente automatizado pode ser danificado ou destruído por
eventos excepcionais, raros, mas possíveis, tais como terremotos, grandes
enchentes ou furacões, justamente quando medições mais frequentes e
confiáveis são necessárias;

4 Diversos relatos de acidente afirmam que o problema não foi detectado pela
instrumentação e que o alarme foi dado pela observação visual;

5 Dificilmente a instrumentação detecta fenômenos inesperados não previstos


na fase de projeto;

6 O aparecimento de uma fissura dificilmente pode ser detectada pela


instrumentação.

Alguns tipos de instrumento são mais sensíveis para verificar comportamentos anômalos,
pois refletem o desempenho integral da barragem, como por exemplo, as medidas de
percolação, as deformações da fundação e os deslocamentos da crista. No entanto, estes
instrumentos também não estão instalados em todos os blocos e não cobrem
completamente a área e o corpo da barragem.

Por exemplo, os medidores de vazão, registrando as percolações, são muito sensíveis em


assinalar o comportamento geral da barragem no que se refere à sua estanqueidade, as
percolações pelas juntas e eventuais fissuras e a qualquer mudança de suas condições

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(aberturas e fechamentos, aumento em número ou extensão); por outro lado, não é


possível saber se um aumento foi causado pela abertura excessiva e perigosa de uma
única fissura ou junta, ou por uma pequena abertura de todas as existentes devido a
efeitos de retração térmica. Neste momento unicamente uma observação do local pode
esclarecer a duvida e verificar se se trata de um fenômeno normal ou de uma ocorrência
que pode envolver algum risco para a barragem. Um aumento da percolação causado
pela abertura uniforme de todas as fissuras é inofensivo, enquanto a abertura excessiva
de uma fissura ou junta pode indicar um problema estrutural afetando a segurança da
barragem.

Um exemplo análogo pode ser feito para um extensômetro instalado em um talude onde
um aumento uniforme devido a efeitos térmicos ou à fluência não representa perigo,
enquanto que uma deformação em um curto trecho pode revelar a formação de uma
trinca e o inicio de um deslizamento.

Em alguns casos a instalação de circuitos de televisão pode resolver a dúvida e


certamente eles se mostraram úteis em vários casos, entretanto não podem cobrir
completamente a obra com resolução e detalhe suficiente.

A instalação de instrumentação é imprescindível para avaliar a segurança das barragens.


Por outro lado, só a instrumentação não é suficiente para uma boa interpretação dos
resultados para verificação da segurança: é preciso que ela obedeça a certas regras e
que seja complementada pela observação cuidadosa das estruturas durante as inspeções
de campo.

Especialmente no primeiro enchimento do reservatório e nos primeiros anos de operação


as inspeções se mostram de grande utilidade para detectar comportamentos anômalos,
para verificar a necessidade de complementar a instrumentação instalada ou de tomar
providencias preventivas ou reparadoras. Com muita frequência nas ombreiras e por
vezes nas fundações ocorrem surgências não previstas que exigem a instalação de
medidores de vazão. A ocorrência de trincas requer a instalação de pares de pinos ou
medidores triortogonais. Deslocamentos da barragem e dos taludes podem exigir a

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instalação de extensômetros.

É ilusório e perigoso contar exclusivamente com um sistema de monitoramento


completamente automatizado que possa cobrir com eficiência toda uma barragem e,
mesmo que possa vir a existir no futuro, ele precisará ser calibrado e verificado com
observações no local. As observações efetuadas por técnicos experientes e familiarizados
com a barragem são inestimáveis para apreciar corretamente seu desempenho e sua
segurança, pois cada barragem é um caso especial e único. A realização de inspeções
por parte de técnicos pouco familiarizados também pode ser de valia para a segurança da
barragem, por poder verificar pontos por vezes negligenciados ou esquecidos por
responsáveis por longos períodos, que tendem a se acostumar com as observações
visuais usuais.

A instrumentação, por sua natureza e limitações de custo, pode cobrir somente um


número limitado de pontos e áreas. As regiões que receberam um tratamento mais
completo são aquelas que na opinião do engenheiro projetista eram mais críticas de
acordo com sua experiência e critérios de projeto. Isto naturalmente deixa em aberto
outras áreas que podem estar afetadas por fenômenos pouco conhecidos ou raros, ou
regiões fracas inesperadas. A inspeção visual, por se estender a toda a barragem, cobre
bem estas áreas pouco instrumentadas, podendo verificar pequenos detalhes, defeitos ou
fenômenos imprevistos.

A experiência de muitas barragens é de que fissuras, vazamentos localizados e


deteriorações dos materiais são revelados somente pela observação visual durante as
inspeções. Mais importante ainda é o relato que, na grande maioria dos acidentes e
ruínas, o alarme do desastre incipiente foi dado pela observação de sinais externos.

Nas barragens antigas, onde a substituição dos instrumentos obsoletos ou com falhas é
muitas vezes dificultosa e cara, as inspeções tornam-se sempre mais importantes.

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3 TIPOS DE INSPEÇÃO

Antes da PNSB, os diversos proprietários de barragens determinavam os tipoS de


inspeção que adotariam. Ocorria certa convergência de periodicidade e contextos das
diferentes inspeções, sem haver padronização dos nomeS contudo.

A Lei 12.334/2010 em seu artigo 9 determina que: “As inspeções de segurança regular e
especial terão a sua periodicidade, a qualificação da equipe responsável, o conteúdo
mínimo e o nível de detalhamento definidos pelo órgão fiscalizador em função da
categoria de risco e do dano potencial associado à barragem.

§ 1o A inspeção de segurança regular será efetuada pela própria equipe de


segurança da barragem, devendo o relatório resultante estar disponível ao órgão
fiscalizador e à sociedade civil.

§ 2o A inspeção de segurança especial será elaborada, conforme orientação do


órgão fiscalizador, por equipe multidisciplinar de especialistas, em função da categoria de
risco e do dano potencial associado à barragem, nas fases de construção, operação e
desativação, devendo considerar as alterações das condições a montante e a jusante da
barragem.

A Agência Nacional de Águas (ANA) publicou em 2011, no uso de suas atribuições a


Resolução 742, que estabelece a periodicidade, qualificação da equipe responsável,
conteúdo mínimo e nível de detalhamento das inspeções regulares de acordo com o
artigo supracitado da Lei de Segurança de barragens. Apesar de aplicar-se apenas às
barragens em rios da união, sob concessão outorgada pela ANA, a referida resolução tem
indicativos relevantes sobre a abordagem que será adotada pelos demais fiscalizadores.

A ANA prevê dois tipos de inspeção:


 Inspeção de segurança regular
 Inspeção de segurança especial
A primeira é realizada com periodicidade determinada pela classificação da barragem,
enquanto a segunda ocorre apenas para verificação de anomalia considerada grave.

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As inspeções devem ser orientadas para verificar os tópicos críticos e vitais da barragem
e neste sentido é importante a utilização de uma lista de itens de verificação. Entretanto,
as observações não devem ser restritas à lista de verificação, mas indicar eventuais
outras anormalidades. As inspeções não devem limitar-se somente a observar à área da
barragem, mas também às estruturas anexas.

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4 EQUIPES DE AUSCULTAÇÃO DO CONCESSIONÁRIO

Estas equipes devem ser compostas de pessoal experiente, bem treinado, conhecedor
dos fenômenos e do comportamento da barragem, familiarizado com as singularidades e
os detalhes importantes da barragem. Estes técnicos devem participar de cursos de
treinamento e atualização periódicos. Toda a equipe de auscultação, composta pelos
engenheiros e técnicos responsáveis pelas observações de campo, como também
aqueles encarregados da analise e interpretação dos resultados, deve atender estes
cursos de reciclagem.

É fundamental que exista uma boa comunicação entre as equipes encarregadas das
inspeções e os engenheiros responsáveis pela análise e interpretação do comportamento
da obra com reuniões periódicas e intercâmbio de informações e documentos. É
recomendável efetuar uma inspeção conjunta destas duas equipes pelo menos uma vez
por ano.

Deve haver renovação periódica das equipes com a introdução de novos membros bem
antes da saída dos antigos. Considera-se que um técnico deva atuar por um período
mínimo de um ano com uma equipe de auscultação experiente para atingir sua formação
satisfatória e poder substituir um de seus componentes.

As atividades de educação, interação, atualização e auditoria das atividades de


auscultação são importantes justamente para minimizar os erros humanos, os quais são
considerados como uma das maiores causas dos acidentes. Desta forma os funcionários
estão motivados e evitam-se erros devidos à rotina e à complacência.

Para ter uma uniformidade e uma continuidade nas inspeções se recomenda que sejam
realizadas pelo mesmo engenheiro ou por membros da mesma equipe, acostumados a
trabalhar em conjunto. Em caso de não ter uma equipe própria, o concessionário pode
optar para contratar os serviços de empresas especializadas em fazer as leituras da

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instrumentação e elaborar as planilhas com os gráficos.

Esta mesma empresa pode também emitir um relatório de análise do monitoramento.


Outra opção é a contratação de um consultor de segurança de barragens para fazer as
inspeções de segurança e o relatório de análise e diagnóstico do desempenho da
barragem.

É indicado que proprietários de barragens tenham pessoal próprio para realização de


inspeções rotineiras (normalmente, a mesma equipe encarregada de leitura de
instrumentação), mas as inspeções regulares e especiais também podem ser realizadas
por engenheiros especialistas contratados.

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5 PROCEDIMENTOS E APLICAÇÃO PRÁTICA

Para a realização das inspeções de segurança de barragens, o responsável deverá estar,


além de capacitado e habilitado, preparado para aplicar seus sentidos e conhecimento
para a detecção das anomalias. A visão tem papel preponderante no processo (tanto que
a atividade é muitas vezes chamada de ‘inspeção visual’), mas audição, tato e mesmo
olfato podem ser empregados para a detecção dos problemas.

Na Sequência, são mostradas as listas de verificação (check list) dos aspectos mais
importantes que podem denotar riscos para a segurança da barragem, extraídas da
publicação do CBDB, Auscultação e Instrumentação de Barragens no Brasil.

5.1 Preparação para a inspeção de segurança

O responsável pela inspeção deve ter à disposição para consulta a documentação da


barragem, incluindo uma planta geral e algumas seções das estruturas principais, uma
planta com localização da instrumentação instalada e os gráficos das leituras da
instrumentação. O responsável pela inspeção deverá estar informado dos resultados mais
recentes do monitoramento da instrumentação e das eventuais anomalias para verificar
as regiões com estas irregularidades a fim de avaliar a necessidade de manutenção ou
reparo.

O engenheiro encarregado da inspeção deve levar numa caderneta para anotar as


observações mais importantes e fazer esboços de alguma característica de relevo, uma
máquina fotográfica para tirar fotos das anomalias, deteriorações e aspectos de interesse
(as fotos deverão ser tiradas sempre do mesmo lugar para poder comparar a distancia de
tempo as eventuais variações), uma cinta métrica para medir as eventuais trincas, zonas
úmidas ou outras anomalias, um binóculo para observação das áreas inacessíveis.

Dependendo da área a ser inspecionada podem ser necessárias botas de cano alto,
capas impermeáveis e lanternas.

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5.2 Aplicação Prática

As listas de verificação (check list) do Manual de Segurança e Inspeção de Barragens são


consideradas adequadas, no entanto devem ser elaboradas listas específicas para cada
barragem para evitar uma quantidade de itens não aplicáveis ao caso em objeto.

A seguir são reproduzidos e comentados alguns exemplos de listas.


Na primeira página devem ser indicados pelo menos os seguintes dados:
 O nome da barragem e sua localização (município e estado);
 A data da inspeção e o nome do responsável por ela;
 O nível máximo normal do reservatório;
 O nível no dia da inspeção do reservatório e o nível de jusante;
 As condições do tempo (ensolarado, nublado ou chuvoso).

A Figura 1 a seguir mostra um exemplo de primeira página com as informações


essenciais e a legenda. Dados adicionais podem ser indicados a critério do inspetor.

Figura 1 – Exemplo de primeira página da lista de verificação

Fonte: Nota tabela do autor

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Na Figura 2 são ilustrados os itens mínimos a serem verificados numa barragem de


concreto.

Figura 2 – Exemplo de lista de verificação mínima para barragem de concreto

Fonte: Nota do autor

A Lei de Seguranças de Barragens prevê que os dados decorrentes das inspeções sejam
cadastrados no Sistema Nacional. Como sugestão, a inspeção pode ser orientada a partir
do check list das informações que serão posteriormente cadastradas. A lista facilita a
execução da inspeção por um lado, mas não deve limitar a investigação de anomalias por
parte do profissional com base na sua experiência. Alguns proprietários de barragens já
desenvolveram seus check lists baseados no que está preconizado no Manual de
Segurança de Barragens do Ministérios da Integração Nacional (Anexo I).

O propósito da inspeção é identificar deficiências ou anomalias em um estágio inicial de


modo que ações preventivas possam ser executadas antes que a segurança da barragem
possa ser ameaçada. Deficiência, deterioração ou anomalia é uma condição que afeta ou
interfere com a operação segura da barragem.

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Uma inspeção efetiva requer uma cuidadosa preparação. Uma equipe técnica deve ser
destacada para inspeção, se for possível, pois geralmente o trabalho em equipe é mais
abrangente e cuidadoso. É importante que os inspetores sigam as normas técnicas
aplicáveis e que as inspeções de uma barragem sejam realizadas em diferentes épocas
do ano. Variando a época da inspeção possibilita que a barragem seja examinada quando
o reservatório estiver em níveis diferentes e em diferentes condições de vegetação. Por
outro lado, ao longo dos anos, é conveniente que a barragem seja examinada quando o
reservatório estiver nos mesmos níveis para identificar alterações de comportamento para
a mesma carga hidráulica. Porém, é igualmente importante realizar inspeções em
períodos chuvosos e de seca para avaliação do comportamento da estrutura nas
diferentes condições.

5.3 Inspecionando Taludes e Paramentos

A técnica geral de inspeção de um talude é caminhar sobre este, tantas vezes quanto for
necessário, para se ver claramente toda sua superfície. De um determinado ponto do
talude é possível ver pequenos detalhes até distâncias entre 3 a 30 metros, dependendo
das irregularidades da superfície, da vegetação e de outras condições. Assim, para
garantir que toda a barragem foi coberta é preciso caminhar indo e voltando até que toda
área tenha sido vista. Os seguintes padrões podem ser usados para caminhar sobre a
crista e os taludes:

Zig-zag
Uma trajetória em zig-zag é a recomendada para garantir que toda a área dos taludes e
da crista foi coberta. Pode ser preferível usar a trajetória em zigzag para áreas pequenas
ou taludes não muito íngremes. Figura I-3, na página seguinte, ilustra a trajetória em zig-
zag para percorrer uma barragem.

Paralela
A segunda maneira é fazer uma série de passadas paralelas à crista através dos taludes.
Usualmente, é preferível usar esta maneira quando os taludes são íngremes por ser
menos árduo. Figura I-4, na página seguinte, ilustra a trajetória em paralelo para percorrer
uma barragem.

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Figura. 3 – Trajetória em zig-zag para inspeção de taludes

Fonte: Apostila Inspeções de Barragens Delgitec

Figura 4 – Trajetórias Paralelas para Inspeção de Talude

Fonte: Apostila Inspeções de Barragens Delgitec

Em intervalos regulares, enquanto caminhando sobre o talude, deve-se parar e olhar 360
graus em para:
 Verificar a uniformidade da superfície visível.
 Confirmar que nenhuma deficiência ou anomalia passou despercebida.

Parando e olhando em volta, permite ver o talude de diferentes perspectivas, o que pode
revelar deficiências que, outra forma, poderiam não ser notadas.

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Em adição, olhando o talude a distância pode revelar anomalias como distorções da


superfície do maciço e discretas alterações na vegetação, que serão discutidas adiante.
Comumente estas situações não são notadas quando olhadas de perto. Ainda, olhando a
distância, áreas de vegetação mais verde ou mais viçosa que podem indicar infiltração
tornam-se mais facilmente visíveis. Estas áreas devem ser examinadas com mais
cuidado.

Particularidades das barragens de enrocamento

Em maciços que os taludes são de enrocamento, distorções na superfície são mais


visíveis quando examinadas de um ponto ao longe que diretamente do maciço. Isto
porque os taludes de enrocamento têm superfície irregular o que normalmente dificulta a
visualização, de perto, das distorções. A crista, o contato do reservatório com o maciço, as
ombreiras e a junção do maciço com as ombreiras são locais vantajosos para se avaliar
potenciais movimentos dos taludes. Quando a observação for feita de fora do talude ou o
histórico identificar um potencial problema em um talude de enrocamento, uma inspeção
cuidadosa da área deve ser feita.

Particularidades das barragens de concreto

Não é possível caminhar pelos paramentos de uma barragem de concreto devido a


inclinação do mesmo. A observação dessas estruturas tem que ser feita à distância.

5.4 Inspecionando os Contatos

Os encontros do maciço com as ombreiras (ou contatos) devem ser percorridos para uma
cuidadosa inspeção destas áreas.

A inspeção dos contatos é importante porque estas áreas são susceptíveis a:


• Erosão pela água superficial.
• Infiltração.

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Mais sobre a detecção destas deficiências será visto adiante.

5.5 Inspecionando a Crista

A inspeção da crista é similar à inspeção dos taludes. Pode ser usada tanto a trajetória em
zig-zag ou em paralelas. Quando inspecionando a crista lembre:

 Percorra a crista tantas vezes quanto necessário para cobrir toda a


área e garantir que nenhuma deficiência deixara de ser identificada. O ponto
chave é que todo pequeno pedaço da superfície seja examinado. Verifique se
pavimentos e parapeitos apresentam sinais de desgastes tais como: fissuras,
deslocamentos ou depressões.

 Olhe a crista de diferentes perspectivas. Algumas deficiências são


detectadas de perto enquanto outras somente são observadas a distância.

Técnicas de Observação

Quando verificando o alinhamento da crista e de bermas nos taludes de montante e


jusante, uma técnica útil de observação é centralizar a visada ao longo da linha em exame
e, então, mover-se de um lado para outro de modo a ver a linha de vários ângulos.

Alguns equipamentos e referências que ajudam a observação são:

• Binóculos e Lentes Teleobjetivas: O uso de binóculos e lentes teleobjetivas de


câmeras fotográficas podem ajudar a observar irregularidades porque as distâncias
são reduzidas e as distorções perpendiculares a linha de visada se tornam mais
aparentes.
• Linhas de Referência: Em uma barragem de eixo retilíneo, objetos ou estruturas em
linha podem servir como referência e serem de grande ajuda na observação de
movimentos do maciço. Estas referências podem ser: guarda corpo, linha de

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postes, listras no pavimento da crista, parapeitos e monumentos de observação de


deslocamento ao longo da superfície da barragem. Se desalinhamentos forem
identificados nestas estruturas, não esquecer que isto pode ser causado por
fatores outros que não sejam ligados a deficiências da barragem. Assim, uma
observação mais cuidadosa é requerida.
• Equipamentos Topográficos (Nível e Teodolito): Um nível ou um teodolito podem
ser usados para visar em linha reta, determinando qualquer desalinhamento
vertical ou horizontal. Quando usados juntamente com uma mira topográfica,
medidas exatas podem ser obtidas.

Figura 5, na página seguinte, ilustra as técnicas de observação usadas ao longo da crista


de uma barragem.

Figura 5 – Observando ao longo da Crista

Crista da Barragem

Crista Crista Crista

Fonte: Apostila Inspeções de Barragens Delgitec


Ao olhar ao longo da crista, deve-se mirar a linha de referência adotada de diversas

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perspectives. Primeiro, olhe diretamente sobre a linha, depois mova-se para um e outro
lado. A técnica de mirar ao longo da crista usando o olho nu, lentes teleobjetivas e
binóculos será mostrada em vídeo.

A técnica de observação descrita nesta seção é também útil para detectar alterações na
uniformidade dos taludes. A linha de contato do talude de montante com a superfície do
reservatório deve ser paralela ao eixo da barragem. Em outras palavras, se a barragem
tem eixo retilíneo, a linha d’água também deve ser uma linha reta.

5.6 Inspecionando o Pé da Barragem e demais áreas de influência

A inspeção de segurança não deve se ater unicamente à estrutura e corpo da barragem.


Anomalias também podem se desenvolver nas regiões adjacentes e comprometerem a
integridade física das estruturas. Isso pode acontecer especialmente (ou quase
exclusivamente) para a possibilidade ocorrência de erosão interna pela fundação.

Desta forma, a CEMIG GT recomenta que barragens de aterro e concreto tenham suas
áreas a jusante e no entorno das ombreiras verificadas durante as inspeções de campo,
conforme figuras 6 e 7.

Figura 6 – Áreas de influência em barragens de aterro

Fonte: CEMIG GT

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Figura 7 – Áreas de influência em barragens de concreto

Fonte: CEMIG GT

5.7 Guias de Inspeção

Além do apoio dos check lists, proprietários e responsáveis pela segurança de barragens
algumas vezes lançam mão de guias de inspeção para as auditorias de campo. Como o
próprio nome define, Guias de Inspeção são documentos elaborados para orientar os
responsáveis sobre o que deve ser observado em cada ponto da barragem. Os guias são
especialmente importantes no processo de formação de novos “inspetores”, para
transferência de conhecimento quando da alteração das equipes e para o processo de
padronização da atividade.

Seguem dois guias de inspeção para barragem de concreto e aterro, respectivamente


(Figuras 8 e 9).

25
[Digite texto]

Figura 8 – Lista de verificação para barragens de concreto extraída de Auscultação e


instrumentação de barragens no Brasil

Fonte: Auscultação e instrumentação de barragens no Brasil

26
[Digite texto]

Figura 9 – Lista de verificação para barragens de aterro extraída de Auscultação e instrumentação


de barragens no Brasil

Fonte: Auscultação e instrumentação de barragens no Brasil

27
[Digite texto]

Nas fotos das figuras 10 a 18 algumas imagens de inspeções de segurança realizadas em


barragens.

Figura 10 – Verificação de trica em muro lateral de vertedouro

Fonte: Arquivo Pessoal de Glauco Gonçalves Dias

Figura11 – Observação de trinca e lixiviação de solo sob o concreto de revestimento do


bloco de ancoragem da tubulação forçada

Fonte: Arquivo Pessoal de Glauco Gonçalves Dias

28
[Digite texto]

Figura 12 – Constatação de carreamento de material arenoso para o interior do medidor


de vazão

Fonte: Arquivo Pessoal de Glauco Gonçalves Dias

Figura 13 – Detecção de pequena surgência na canaleta de pé da barragem

Fonte: Arquivo Pessoal de Glauco Gonçalves Dias

29
[Digite texto]

Figura 14 – Inspeção de passarela de acesso ao vertedouro tipo tulipa

Fonte: Arquivo Pessoal de Glauco Gonçalves Dias

Figura 15 – Registro fotográfico de falha na identificação da instrumentação

Fonte: Arquivo Pessoal de Glauco Gonçalves Dias

30
[Digite texto]

Figura 16 – Inspeção em talude de montante próximo à ombreira

Fonte: Arquivo Pessoal de Glauco Gonçalves Dias

Figura 17 – Uso de ficha de inspeção em campo

Fonte: Arquivo Pessoal de Glauco Gonçalves Dias

31
[Digite texto]

Figura 18 – Equipe multidisciplinar estudando surgências pela fundação em terreno


natural

Fonte: Arquivo Pessoal de Glauco Gonçalves Dias

32
[Digite texto]

CONCLUSÕES

As inspeções visuais com a observação cuidadosa da barragem são de extrema


importância para a avaliação de suas condições e um meio necessário para
complementar e entender os resultados da instrumentação. Uma barragem unicamente
monitorada por um sistema exclusivamente automatizado não é recomendável, o contato
direto dos responsáveis pela segurança com suas estruturas é indispensável.

O plano de auscultação deve contemplar um justo equilíbrio entre inspeções de campo


com registro documentado das observações, instrumentação clássica ou tradicional,
sistemas automatizados e métodos avançados de monitoramento e investigação.

Desta forma o sistema de monitoramento recomendado para uma barragem importante


será constituído por instrumentação civil com análise dos dados e inspeções visuais de
campo periódicas.

Para pequenas barragens com pouca ou nenhuma instrumentação e de baixo dano


potencial associado às inspeções regulares e especiais realizadas conforme descrito
acima permitem manter um nível de segurança adequado.

33
[Digite texto]

REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Integração Nacional. Manual de Segurança e Inspeção de


Barragens. Jul. 2002.

Bureau of Reclamation, TADS (Trainig Aids for Dam Safety): Identification Of Visual
Dam Safety Deficiencie.

CBDB, Anais do II Simpósio sobre Instrumentação de Barragens. Auscultação e


instrumentação de barragens no Brasil. 1996.

CBDB, Núcleo Regional de São Paulo. Guia Básico de Segurança de Barragens. 2001.

JANSEN B. Robert. Dams and Public Safety. U.S. Dpt. of the Interior. 1980

MIRANDA, Antônio N. Treinamento em Segurança de Barragens, Inspeção em


Barragens. 2011

Morrison-Knudsen Engineers Inc. EPRI Electric Power Research Institute. Inspection


and Performance Evaluation of Dams. 1986.

PIASENTIN, Corrado. XXV Seminário Nacional de Grandes Barragens. Considerações


sobre a importância das observações visuais na Auscultação de Barragens.
Salvador: out. 2003.

PIASENTIN Corrado. XXVI Seminário Nacional de Grandes Barragens. Um índice para


avaliação do nível de Auscultação de Barragens. Goiânia: abr. 2005.

PORTELA, A.T. Eliane. LNEC. Inspeções visuais em obras de concreto: uma


abordagem metodológica.

SEED - Manual Safety Evaluation of Existing Dams.Avaliação da Segurança de


Barragens Existentes US Bureau of Reclamation.. Tradução da Eletrobras. 1987

XV ICOLD. Dams and Foundation Monitoring: General report. Q 56. Lausanne, 1985.

34
[Digite texto]

Anexo I – Check List de Inspeção Regular

FICHA PARA INSPEÇÃO REGULAR DE BARRAGEM DE CONCRETO

DADOS GERAIS - CONDIÇÃO ATUAL

1 – Nome da Barragem:

2 - Coordenadas: ° ’ ”S ° ’ ”O Datum:

3 – Município/Estado :

4 - Vistoriado Por: Assinatura:

5 - Cargo:

6 - Data da Vistoria: / / Vistoria N.º: /

7 - Cota atual do nível d’água:

8 – Bacia: Curso d’água barrado:

9 – Empreendedor:

Legenda:
SITUAÇÃO: MAGNITUDE: NÍVEL DE PERIGO (NP)
NA – Este item Não é Aplicável I - Insignificante 0 - Nenhum
NE – Anomalia Não Existente P - Pequena 1- Atenção
PV – Anomalia constatada pela Primeira Vez M - Média 2- Alerta
DS – Anomalia Desapareceu G- Grande 3- Emergência
DI – Anomalia Diminuiu
PC – Anomalia Permaneceu Constante
AU – Anomalia Aumentou
NI – Este item Não foi Inspecionado (Justificar)

SITUAÇÃO:
NA – Este item Não é Aplicável: O item examinado não é pertinente à barragem que esteja sendo inspecionada.
NE – Anomalia Não Existente: Quando não existe nenhuma anomalia em relação ao item que esteja sendo examinado.
PV – Anomalia constatada pela Primeira Vez: Quando da visita à barragem, aquela anomalia for constatada pela

35
[Digite texto]

primeira vez, não havendo indicação de sua ocorrência nas inspeções anteriores.
DS – Anomalia Desapareceu: Quando em uma inspeção, uma determinada anomalia verificada na inspeção anterior
não mais esteja ocorrendo.
DI – Anomalia Diminuiu: Quando em uma inspeção, uma determinada anomalia apresente-se com menor intensidade
ou dimensão, em relação ao constatado na inspeção anterior, conforme pode ser verificado pela inspeção ou informado
pela pessoa responsável pela barragem.
PC – Anomalia Permaneceu Constante: Quando em uma inspeção, uma determinada anomalia apresente-se com
igual intensidade ou a mesma dimensão, em relação ao constatado na inspeção anterior, conforme pode ser verificado
pela inspeção ou informado pela pessoa responsável pela barragem.
AU – Anomalia Aumentou: Quando em uma inspeção, uma determinada anomalia apresente-se com maior
intensidade, ou dimensão, em relação ao constatado na inspeção anterior, capaz de ser percebida pela inspeção ou
informada pela pessoa responsável pela barragem.
NI – Este item Não foi Inspecionado: Quando um determinado aspecto da barragem deveria ser examinado e por
motivos alheios à pessoa que esteja inspecionando a barragem, a inspeção não foi realizada.

MAGNITUDE:

I - Insignificante: Anomalia que pode simplesmente ser mantida sob observação pela equipe local da
barragem

P - Pequena: Anomalia que pode ser resolvida pela própria equipe local da barragem.

M - Média: Anomalia que pode ser resolvida pela equipe local da barragem com apoio da equipe sede do
empreendedor ou apoio externo.

G - Grande: Anomalia que só pode ser resolvida com apoio da equipe da sede do empreendedor ou apoio
externo.

NÍVEL DE PERIGO DA ANOMALIA:

0 - Nenhum: não compromete a segurança da barragem, mas que pode ser entendida como descaso e má
conservação.

1 - Atenção: não compromete a segurança da barragem a curto prazo, mas deve ser controlada e
monitorada ao longo do tempo.

2 - Alerta: risco a segurança da barragem, devem ser tomadas providências para a eliminação do problema.

3 - Emergência: risco de ruptura iminente, situação fora de controle.

36
INFRAESTRUTURA
A.
OPERACIONAL
Falta de documentação sobre a I P M G
1 NA NE PV DS DI PC AU NI
barragem

2 Falta de material para manutenção NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G

3 Falta de treinamento do pessoal NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G

4 Precariedade de acesso de veículos NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G

5 Falta de energia elétrica NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G


Falta de sistema de comunicação I P M G
6 NA NE PV DS DI PC AU NI
eficiente
Falta ou deficiência de cercas de I P M G
7 NA NE PV DS DI PC AU NI
proteção

8 Falta ou deficiência nas placas de aviso NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G


Falta de acompanhamento da Adm. I P M G
9 NA NE PV DS DI PC AU NI
Regional
Falta de instrução dos equipamentos I P M G
10 hidromecânicos NA NE PV DS DI PC AU NI

Comentários:

B. BARRAGEM
B.l PARAMENTO DE MONTANTE
1 Presença de vegetação NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
2 Erosão nos encontros das ombreiras NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
3 Ocorrência de fissuras no concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
4 Ferragem do concreto exposta NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
5 Deterioração da superficie do concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
6 Juntas de dilatação danificadas NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Comentários:

B.2 CRISTA
1 Movimentos diferenciais entre blocos NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
2 Ocorrência de fissuras no concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
3 Ferragem do concreto exposta NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
4 Deterioração da superfície do concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
5 Juntas de dilatação danificadas NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
6 Corrosão no parapeito (guarda-corpo) NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
7 Corrosão nos postes de iluminação NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
8 Corrosão no pórtico NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Comentários:

37
B.3 PARAMENTO DE JUSANTE
1 Sinais de movimento NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
2 Ocorrência de fissuras no concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
3 Ferragem do concreto exposta NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
4 Deterioração da superfície do concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
5 Juntas de dilatação danificadas NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
6 Sinais de percolação ou áreas úmidas NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Carreamento de material na água dos
7 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
drenos
8 Vazão nos drenos de controle NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Comentários:

B.4 ESTRUTURA VERTENTE


1 Rachaduras ou trincas no concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
2 Ferragem do concreto exposta NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
3 Deterioração da superfície do concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
4 Descalçamento da estrutura NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
5 Juntas de dilatação danificadas NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
6 Sinais de deslocamentos das estruturas NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
7 Sinais de percolação ou áreas úmidas NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Carreamento de material na água dos
8 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
drenos
9 Vazão nos drenos de controle NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
10 Rachaduras nos muros laterais NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
11 Erosão nos muros laterais NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Deterioração da superfície do concreto
12 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
dos muros
13 Ocorrência de buracos na soleira NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Presença de entulho na bacia de
14 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
dissipação
Presença de vegetação na bacia de
15 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
dissipação
Erosão na base dos canais (área de
16 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
restituição)
Comentários:

B.5 GALERIA DE INSPEÇÃO

38
1 Indicação de movimentos NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
2 Deterioração da superfície do concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
3 Surgências de água no concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
4 Ferragem do concreto exposta NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
5 Rachaduras ou trincas no concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
6 Deterioração do portão de acesso NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
7 Acesso precário aos instrumentos NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
8 Deterioração da instrumentação NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
9 Piezômetros entupidos ou defeituosos NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
10 Drenos obstruídos NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
11 Precariedade de acesso à galeria NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
12 Falta de manutenção NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
13 Falta de iluminação NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
14 Defeito nas instalações elétricas NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
15 Falta de ventilação NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Presença de pedras, lixo dentro da
16 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
galeria
17 Sinais de percolação ou áreas úmidas NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Carreamento de material na água dos
18 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
drenos
19 Vazão nos drenos de controle NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
20 Vazão elevada nos drenos de alívio NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Comentários:

B.6 INSTRUMENTAÇÃO
1 Acesso precário aos instrumentos NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G

2 Piezômetros entupidos ou defeituosos NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G


3 Marcos de referência danificados NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
4 Medidores de vazão defeituosos NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
5 Outros instrumentos danificados NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
6 Falta de instrumentação NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Falta de registro de leituras da
7 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
instrumentação
Comentários:

C. SANGRADOURO / VERTEDOURO
C.1 CANAIS DE APROXIMAÇÃO E
RESTITUIÇÃO
1 Presença de vegetação NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G

39
2 Obstrução ou entulhos NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Desalinhamento dos taludes e muros
3 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
laterais
4 Ferragem do concreto exposta NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Erosões ou escorregamentos nos
5 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
taludes laterais
6 Erosão na base dos canais escavados NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Erosão na área à jusante do
7 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
sangradouro
8 Construções irregulares NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Comentários:

C.2 ESTRUTURA VERTENTE


1 Rachaduras ou trincas no concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
2 Ferragem do concreto exposta NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
3 Deterioração da superfície do concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
4 Descalçamento da estrutura NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
5 Juntas de dilatação danificadas NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
6 Sinais de deslocamentos das estruturas NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
7 Rachaduras nos muros laterais NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
8 Erosão nos contatos dos muros NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
9 Sinais de percolação ou áreas úmidas NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Carreamento de material na água dos
10 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
drenos
11 Vazão nos drenos de controle NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Deterioração da superfície do concreto
12 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
dos muros
Comentários:

C.3 COMPORTAS DO VERTEDOURO


Peças fixas (corrosão, amassamento da
1 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
guia e falha na pintura)
Estrutura (corrosão, amassamento e
2 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
falha na pintura)
3 Defeito das vedações (vazamento) NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
4 Defeito das rodas (comporta vagão) NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Defeitos nos rolamentos, buchas e
5 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
retentores.
6 Defeito no ponto de içamento NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Comentários:

40
C.4 MUROS LATERAIS
1 Erosão na fundação NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
2 Erosão nos contatos dos muros NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
3 Rachaduras no concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
4 Ferragem do concreto exposta NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
5 Deterioração da superfície do concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Comentários:

RÁPIDO/BACIA
C.5
AMORTECEDORA
1 Rachaduras ou trincas no concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
2 Ferragem do concreto exposta NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
3 Deterioração da superfície do concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
4 Ocorrência de buracos na soleira NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
5 Erosão NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
6 Presença de entulho na bacia NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
7 Falha no enrocamento de proteção NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
8 Presença de vegetação na bacia NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Comentários:

D. TOMADA D'ÁGUA
D.l ACIONAMENTO
Hastes (travada no mancai, corrosão e
1 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
empenamento)
Base dos mancais (corrosão, falta de
2 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
chumbadores)
3 Corrosão nos mancais NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Falhas nos chumbadores, lubrificação e
4 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
pintura do pedestal.
5 Falta de indicador de abertura NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
6 Falta de volante NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Comentários:

D.2 COMPORTAS
Peças fixas (corrosão, amassamento,
1 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
pintura)
2 Estrutura da comporta (corrosão, NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G

41
amassamento, pintura)
3 Defeito das vedações (vazamento) NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Defeito das rodas (comporta vagão, se
4 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
aplicável)
Defeitos nos rolamentos ou buchas e
5 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
retentores
6 Defeito no ponto de içamento NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Comentários:

D.3 POÇO DO ACIONAMENTO


Falta de guarda corpo na escada de
1 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
acesso
Deterioração do guarda corpo na escada
2 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
de acesso
Deterioração da tampa de acesso ao
3 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
abrigo
Deterioração da tubulação de aeração e
4 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
"by-pass"
Deterioração da instalação de controle
5 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
(pedestal)
Comentários:

BOCA DE ENTRADA E "STOP-


D.4
LOG"
1 Assoreamento NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
2 Obstrução e entulhos NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
3 Ferragem exposta NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
4 Deterioração na superfície do concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
5 Falta de grade de proteção NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
6 Defeitos na grade NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Peças fixas (corrosão, amassamento,
7 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
pintura)
8 Estrutura do "stop-log" (idem) NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
9 Defeito no acionamento do "stop-log" NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
10 Defeito no ponto de içamento NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Comentários:

D.5 GALERIA DA TOMADA D'ÁGUA


1 Corrosão e vazamentos na tubulação NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
2 Sinais de abrasão ou cavitação NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G

42
3 Defeitos nas juntas NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
4 Deformação do conduto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
5 Desalinhamento do conduto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
6 Vazamento nos dispositivos de controle NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Comentários:

D.6 ESTRUTURAS DE SAÍDA


1 Corrosão e vazamentos na tubulação NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
2 Ruídos estranhos NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
3 Defeitos nos dispositivos de controle NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Trincas ou surgências de água no
4 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
concreto
Precariedade de acesso (árvores e
5 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
arbustos)
6 Vazamento nos dispositivos de controle NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
7 Construções irregulares à jusante NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
8 Falta de drenagem da caixa de válvulas NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Presença de entulho dentro da caixa de
9 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
válvulas
10 Defeitos na cerca de proteção NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Comentários:

E. RESERVATÓRIO
1 Réguas danificadas ou faltando NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
2 Construções em áreas de proteção NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
3 Poluição por esgoto, lixo, pesticida etc. NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
4 Indícios de má qualidade d'água NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
5 Erosões NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
6 Assoreamento NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
7 Desmoronamento das margens NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Existência de vegetação aquática
8 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
excessiva
9 Desmatamentos na área de proteção NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
10 Presença de animais e peixes mortos NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
11 Animais pastando NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Comentários:

43
REGIÃO A JUSANTE DA
F.
BARRAGEM
Sinais de movimentos na rocha de
1 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
fundação
Desintegração / Decomposição da
2 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
rocha
3 Piping nas juntas rochosas NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Construções irregulares próximas ao
4 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
leito do rio
5 Fuga d'água NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Árvores e arbustos na faixa de 10m do
6 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
pé da barragem
7 Erosão nos encontros das ombreiras NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
8 Cavernas e buracos nas ombreiras NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Comentários:

G MEDIDOR DE VAZÃO
1 Ausência da placa medidora de vazão NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
2 Corrosão da placa NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
3 Defeitos no concreto NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
4 Falta de escala de leitura de vazão NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
5 Assoreamento da câmara de medição NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
6 Erosão à jusante do medidor NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Comentários:

J. OUTROS PROBLEMAS EXISTENTES

K. SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES

Observações importantes:
1) A Magnitude e o Nível de Perigo somente deverão ser preenchidos quando a situação do item for PV, DI, PC e
AU.
2) Tratando-se da primeira inspeção de uma barragem, as situações escolhidas devem ser NA, NE, PV e NI.
Quando o técnico basear-se em conhecimento próprio ou de terceiros para informar as situações DI, DS, PC ou
AU, deve haver esclarecimento por meio do preenchimento do espaço reservado para comentários e como este
conhecimento foi obtido.

Referência

Ficha adaptada de Ministério da Integração Nacional – disponível em http://www.mi.gov.br


44
CURSO
SEGURANÇA DE BARRAGENS

_________________________________________________________________________________
Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado
entre a Agência Nacional de Águas - ANA e a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu - Brasil - FPTI.
1
MÓDULO III – GESTÃO E DESEMPENHO DE
BARRAGENS
UNIDADE 3: FISCALIZAÇÃO DE BARRAGENS

_________________________________________________________________________________
Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado
entre a Agência Nacional de Águas - ANA e a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu - Brasil - FPTI.
2
FICHA TÉCNICA
Realização:

EQUIPE TÉCNICA

Marcelo Giulian Marques Sérgio Toledo Salgado Glauco Gonçalves Dias


Elaboração de conteúdo Elaboração de conteúdo Revisor Técnico Geral

Alexandre Anderáos Josiele Patias


Revisor técnico ANA Revisora técnica Itaipu

Carlos Leonardi Josimar Alves de Oliveira


Revisor técnico Itaipu Revisor técnico ANA

Cesar Eduardo b. Pimentel Ligia Maria Nascimento de Araújo


Revisor técnico ANA Revisora técnica ANA

Claudio Neumann Marcus Vinícius A. M. Oliveira


Revisor técnico Itaipu Revisor técnico ANA

Claudio Osako Nádia Eleutério Vilela Menegaz


Revisor técnico Itaipu Revisora técnico ANA

Dimilson Pinto Coelho Sérgio Ricardo Toledo Carvalho


Revisor técnico Itaipu Revisor técnico ANA

Etore Funchal de Faria Silvia Frazão Matos


Revisor técnico Itaipu Revisora técnica Itaipu

Fabio Luiz Willrich


Revisor técnico Itaipu

COORDENAÇÃO EXECUTIVA
Celina Lopes Ferreira (ANA)

REVISÃO ORTOGRÁFICA
ICBA – Centro de Línguas
www.cursodeidiomasicba.com.br

Esta obra foi licenciada sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-
SemDerivados 3.0 Não Adaptada

_________________________________________________________________________________
Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado
entre a Agência Nacional de Águas - ANA e a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu - Brasil - FPTI.
3
CURRICULO RESUMIDO
Prof:Marcelo Giulian Marques

Doutor em Engenharia Civil (1995) pela


Facultédes Études Supérieurs de l'Univesité
Laval - Québec - Canadá, Mestre em
Engenharia de Recursos Hídricos e
Saneamento (1991), pelo curso de Pós-
graduação no Instituto de Pesquisas
Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS), Engenheiro
Civil pela Escola de Engenharia da UFRGS
(1980).

Professor da UFRGS, atuando no IPH desde 1991 como responsável pelas


disciplinas de Obras Hidráulicas e Aproveitamento Hidrelétrico. Atualmente
coordenador do Laboratório de Obras Hidráulicas e do Laboratório de Eficiência
Energética e Hidráulica no Saneamento do IPH/UFRGS. Atua como consultor na
área de obras hidráulicas, aproveitamentos hidrelétricos e barragens desde 1986. É
revisor da Revista Brasileira de Recursos Hídricos (RBRH), da Revista de Gestão
de Águas da América Latina (REGA) e da Revista Hidro &Hydro.

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Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado
entre a Agência Nacional de Águas - ANA e a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu - Brasil - FPTI.
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CURRICULO RESUMIDO
Prof:Sérgio Toledo Salgado
Formado em Engenharia de Produção Civil
pela Faculdade Brasileira (2003), com
Mestrado em Engenharia Hidráulica e
Saneamento pela Universidade de São Paulo
(2008), Especialista em Gestão e Auditoria
Ambiental pela Fundação Iberoamericana
(2008) e Especialista em Gestão e
Tecnologia do Saneamento pela Fundação
Oswaldo Cruz (2012).

Formado em Engenharia de Produção Civil pela Faculdade Brasileira (2003), com


Mestrado em Engenharia Hidráulica e Saneamento pela Universidade de São
Paulo (2008), Especialista em Gestão e Auditoria Ambiental pela Fundação
Iberoamericana (2008) e Especialista em Gestão e Tecnologia do Saneamento pela
Fundação Oswaldo Cruz (2012).
Atuou como Analista de Meio Ambiente e Recursos Hídricos no Instituto Estadual
de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado do Espírito Santo (IEMA) nas
áreas de Avaliação de Impacto Ambiental e Licenciamento Ambiental de
empreendimentos de Geração de Energia e barragens. Ainda, atou como Analista
de Infraestrutura em atividades de avaliação de projetos de engenharia na área de
saneamento e acompanhamento e avaliação de empreendimentos selecionados no
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Atualmente, atua na fiscalização das disposições contidas na Política Nacional de
Segurança de Barragem ( Lei 12.334/2010) e os demais normativos, na Gerencia
de Fiscalização de Segurança de Barragens (GEFIS) da Agência Nacional de
Águas(ANA).

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SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS.......................................................................................... 08
LISTA DE QUADROS........................................................................................ 08
INTRODUÇÃO................................................................................................... 10
1. NORMATIVOS DA PNSB.............................................................................. 11
2. BARRAGENS DA POLITICA NACIONAL DE SEGURANÇA DE
BARRAGENS.................................................................................................... 13
3. RESPONSABILIDADE DE FISCALIZAÇÃO................................................ 14
4. COMPETÊNCIAS E OBRIGAÇÕES NA PNSB............................................ 18
4.1 Competência dos órgãos fiscalizadores...................................................... 18
4.2 Obrigações do empreendedor..................................................................... 20
5. ATRIBUIÇÕES DA FISCALIZAÇÃO............................................................. 22
5.1 Classificação das barragens........................................................................ 22
5.1.1 Classificação quanto à categoria de risco................................................. 23
5.1.2 Classificação quanto ao dano potencial associado.................................. 23
5.2 Plano de Segurança da Barragem............................................................... 24
5.3 Relatório de Segurança da Barragem.......................................................... 25
5.4 Sistema nacional de informações sobre segurança de barragens 26
6. ATIVIDADES DE FISCALIZAÇÃO................................................................ 29
6.1 Outras Atividades......................................................................................... 30
6.2 Agente fiscalizador....................................................................................... 30
6.3 Perfil técnico recomendável......................................................................... 31
7. CADASTRO DE BARRAGEM EM CAMPO.................................................. 33
8. PROCEDIMENTOS DE FISCALIZAÇÃO - SEGURANÇA DE
BARRAGENS.................................................................................................... 35
8.1 Fase I - Avaliação das Informações............................................................. 35
8.2 Fase II - Planejamento das campanhas de fiscalização.............................. 36
8.2.1 Equipamentos de vistoria.......................................................................... 38
8.3 Fase III - Campanhas de Fiscalização......................................................... 39

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6
8.4 Fase IV - Registro Interno e elaboração de relatórios................................. 44
9. INSTRUMENTOS DE FISCALIZAÇÃO......................................................... 46
9.1 Penalidades.................................................................................................. 47
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 50
REFERÊNCIAS.................................................................................................. 52
ANEXOS............................................................................................................ 54

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1– Barragem do Rio Irai- Piraquara – PR............................................... 15


Figura 2 – Itaipu - Foz do Iguaçu - PR............................................................... 15
Figura 3 – Barragem de rejeito do Estéril Sul – Carajás................................... 16
Figura 4 – Barragem de rejeito da Iberpar Empreendimentos e
Participações– Cataguases – MG...................................................................... 17
Figura 5 – Exemplo de mapa de planejamento de fiscalização......................... 40

LISTA DE QUADROS
Quadro 1– Instrumentos normativos publicados até julho de 2013.................. 11
Quadro 2 – Exemplos de equipamentos e acessórios utilizados em vistorias.. 38

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Prezado Aluno,

no decorrer desta unidade você deverá desenvolve competência para:


 Descrever a fiscalização identificando os tipos de vistorias e seus
desdobramentos;
 Utilizar adequadamente os instrumentos de fiscalização em barragens.

Bom estudo!

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INTRODUÇÃO

A Lei Nº 12.334/2010, Politica Nacional de Segurança de Barragem (PNSB),


estabeleceu para vários órgãos públicos atribuições para ações de fiscalizações em
segurança de barragem. Então, desde sua publicação observa-se a movimentação
dessas instituições para se organizar quanto a fiscalização do cumprimento do
referido marco legal.

Trata-se de um tema novo para muitos profissionais e que com avançar do


tempo pode-se verificar que as novas atribuições têm contribuído para a difusão da
importância da segurança de barragens.

O conteúdo apresenta breve revisão sobre PNSB, relembrando informações


mínimas que os agentes fiscalizadores devem ter memorizado como os tipos de
barragens previstas na PNSB, definição dos órgãos finalizadores, competência
desses órgãos e as obrigações do empreendedor.

Ainda, são apresentados os conteúdos relacionados a prática da atividades


de fiscalização, o conhecimento técnico necessário para o agente de fiscalização,
exemplos de equipamentos de vistoria e procedimentos para a realização de
fiscalização em campo da PNSB.

Dessa forma, o que se pretende é expor a importância das atividades em


campo da fiscalização de segurança de barragens e aproveitar a oportunidade para
discutir entre os atores envolvidos com a PNSB e construir a forma de atuação dos
órgãos fiscalizadores.

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1. NORMATIVOS DA PNSB

Quadro 1 – Instrumentos normativos publicados até julho de 2013


Normativos Assunto Instituição Comentário
Estabelece a Política Nacional de Segurança de
Barragens destinadas à acumulação de água
para quaisquer usos, à disposição final ou
Trata da criação da
temporária de rejeitos e à acumulação de
Lei n° Congresso Política Nacional de
resíduos industriais, cria o Sistema Nacional de
12.334/2010 Nacional Segurança de
Informações sobre Segurança de Barragens e
Barragens.
altera a redação do art. 35 da lei 9433, de
08/01/2000, e do art. 4o da lei 9984, de
17/07/2000.
Trata dos critérios
gerais de classificação
Estabelece critérios gerais de classificação de de barragens por
barragens por categoria de risco, dano potencial categoria de risco e
Resolução n°
associado e pelo seu volume, em atendimento CNRH dano potencial,
143/2012
ao art. 7° da Lei n° 12.334, de 20 de setembro aplicada a todas as
de 2010 barragens que se
enquadram no Art. 1º
da Lei nº12334/2010.
Estabelece diretrizes para implementação da Trata das diretrizes da
Política Nacional de Segurança de Barragens, PNSB, importante
aplicação de seus instrumentos e atuação do leitura para órgãos
Resolução n° Sistema Nacional de Informações sobre fiscalizadores e
CNRH
144/2012 Segurança de Barragens, em atendimento ao empreendedores que
art. 20 da Lei n° 12.334, de 20 de setembro de tenham barragens que
2010, que alterou o art. 35 da Lei nº 9.433, de 8 se enquadram no Art.
de janeiro de 1997. 1º da Lei nº12334/2010
Estabelece a periodicidade, qualificação da Regulamenta as
Resolução n° equipe responsável, conteúdo mínimo e nível de Inspeções Regulares
ANA
742/2011 detalhamento das inspeções de segurança das Barragens sob
regulares, conforme art. 9º da lei Nº 12.334 de fiscalização da ANA

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11
Normativos Assunto Instituição Comentário
20/09/2010.

Estabelece a periodicidade de atualização, a


Regulamenta o Plano
qualificação do responsável técnico, o conteúdo
de Segurança de
mínimo e o nível de detalhamento do Plano de
Barragem e a Revisão
Resolução n° Segurança de Barragem e da Revisão Periódica
ANA Periódica de
91/2012 de Segurança da Barragem, conforme art. 8o,
Segurança das
10o e 19o da lei Nº 12.334 de 20/09/2010 -a
Barragens sob
Política Nacional de Segurança de Barragens
fiscalização da ANA
(PNSB).
Regulamenta o Plano
de Segurança, Revisão
Cria o Cadastro Nacional de Barragens de
Periódica de
Mineração e dispõe sobre o Plano de
Portaria Nº Segurança e as
Segurança, Revisão Periódica de Segurança e DNPM
416/2012 Inspeções Regulares e
Inspeções Regulares e Especiais de Segurança
Especiais das
das Barragens de Mineração.
Barragens sob
fiscalização do DNPM
Estabelece a periodicidade de atualização, a
Regulamenta o Plano
qualificação do responsável técnico, o conteúdo
de Segurança de
mínimo e o nível de detalhamento do Plano de
Barragem e a Revisão
Segurança da Barragem de Acumulação de
Portaria Nº Periódica de
Água e da Revisão Periódica de Segurança da INEMA - BA
4672/2013. Segurança das
Barragem de acumulação de água, conforme
Barragens sob
art. 8°, 10 e 19 da Lei Federal n° 12.334 de 20
fiscalização do INEMA-
de setembro de 2010 – Política Nacional de
BA
Segurança de Barragens - PNSB.
Estabelece a periodicidade, qualificação da
Regulamenta as
equipe responsável, conteúdo mínimo e nível de
Inspeções Regulares
Portaria Nº detalhamento das inspeções de segurança
INEMA - BA das Barragens sob
4673/2013 regulares de barragens de acumulação de água,
fiscalização do INEMA-
conforme art. 9° da Lei Federal n° 12.334 de 20
BA
de setembro de 2010.

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12
2. BARRAGENS DA POLITICA NACIONAL DE SEGURANÇA DE
BARRAGENS

A segurança de barragens é um assunto de altíssima complexidade, visto que o


rompimento de uma barragem, além de comprometer a segurança e a vida da
população, traz grandes prejuízos econômicos e ambientais às localidades afetadas.

Nesse contexto, a Lei Nº 12.334, de 20 de setembro de 2010, estabeleceu a PNSB e


criou o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB).

Trata-se de normativo legal aplicado para as Barragens destinadas à acumulação de


água para quaisquer usos, à disposição final ou temporária de rejeitos e à
acumulação de resíduos industriais que apresentem pelo menos uma das seguintes
características:
 altura do maciço, contada do ponto mais baixo da fundação à crista,
maior ou igual a 15m (quinze metros);
 capacidade total do reservatório maior ou igual a 3.000.000m³ (três
milhões de metros cúbicos);
 reservatório que contenha resíduos perigosos conforme normas
técnicas aplicáveis;
 categoria de dano potencial associado, médio ou alto, em termos
econômicos, sociais, ambientais ou de perda de vidas humanas.

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13
3. RESPONSABILIDADE DE FISCALIZAÇÃO

Existe diversidade de tipologias de barragens e existem vários órgãos que estão


envolvidos com a implantação, operação e monitoramento das barragens, seja na
área de recursos hídricos, meio ambiente, geração de energia e mineração.

Com o intuito de evitar conflitos e sobreposições de ações no aspecto de segurança


de barragem, ficou definido no art.º 5º da Lei Nº 12.334, de 20 de setembro de 2010,
que a fiscalização da segurança de barragens caberá a quem:

 outorgou o direito de uso dos recursos hídricos, observando o domínio


do corpo hídrico, quando o objeto for de acumulação de água, exceto
para fins de aproveitamento hidrelétrico;
 concedeu ou autorizou o uso do potencial hidráulico, quando se tratar
de uso preponderante para fins de geração hidrelétrica;
 outorgou os direitos minerários para fins de disposição final ou
temporária de rejeitos;
 forneceu a licença ambiental de instalação e operação para fins de
disposição de resíduos industriais.

Os órgãos fiscalizadores são a autoridade do poder público que tem a


responsabilidade pela fiscalização do cumprimento da PNSB. Desse modo, cabe o
exercício de exemplificar quais são os órgãos responsáveis de acordo com o tipo de
barragem:
 Barragem de acumulação de água (Figura 1), exceto para fins de
aproveitamento hidrelétrico:
o Agência Nacional de Recursos Hídricos (ANA) – Barragens
situadas no corpo hídrico de domínio federal;

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14
o Órgão Estadual de Recursos Hídricos – Barragens situadas no
corpo hídrico de domínio estadual.
Figura 1– Barragem do Rio Irai- Piraquara – PR

Fonte: Zig Koch/ Banco de imagens ANA


 Barragem com uso preponderante para fins de geração hidrelétrica
(Figura 2);
o Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)
Figura 2 – Itaipu - Foz do Iguaçu - PR

Fonte: Zig Koch/ Banco de imagens ANA

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15
 Barragem para fins de disposição final ou temporária de rejeitos de
mineração (Figura 3);
o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM)

Figura 3 – Barragem de rejeito do Estéril Sul – Carajás

Fonte: Nota do Autor.

 Barragem para fins de disposição de resíduos industriais (Figura 4).


o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA)
o Órgão licenciador ambiental estadual

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16
Figura 4 – Barragem de rejeito da Iberpar Empreendimentos e Participações– Cataguases
– MG

Fonte: Osvaldo Afonso/Secom MG

Importante informar que as ações de fiscalização de segurança de barragem não


causa prejuízo as ações fiscalizatórias dos órgãos ambientais integrantes do
Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), conforme art.5º da Lei Nº
12.334/2010, e dos órgãos de recursos hídricos integrantes ao Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH).

Ainda, não altera as ações e as obrigações dos órgãos fiscalizadores quanto a suas
atribuições previstas em outras Políticas que estão inseridos.

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17
4. COMPENTÊNCIAS E OBRIGAÇÕES NA PNSB

Para que fique clara a distinção sobre as responsabilidades dos agentes de


segurança de barragens, ficais e empreendedores, é fundamental que se separe
com clareza das atividades de cada um.

4.1 Competência dos órgãos fiscalizadores

A fiscalização trata de um importante instrumento para a implementação da PNSB e


pode ser definida como o poder e o dever do Estado em garantir que os objetivos do
PNSB estão sendo cumpridos.

Conforme o Art. 7º da Lei Nº 12.334, de 20 de setembro de 2010, cabe aos agentes


fiscalizadores à classificação das barragens por categoria de risco, por dano
potencial associado e pelo seu volume, com base em critérios gerais estabelecidos
pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH).

As matrizes com os critérios por categoria de risco e por dano potencial associado e
pelo volume do reservatório foram publicadas na Resolução CNRH nº 143, de 10 de
julho de 2012.

A Lei Nº 12.334/2010, em seu artigo 16, estabelece os órgãos fiscalizadores, no


âmbito de suas atribuições legais, são obrigados a:

 manter cadastro das barragens sob sua jurisdição, com identificação


dos empreendedores, para fins de incorporação ao Sistema Nacional
de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB);

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 exigir do empreendedor a anotação de responsabilidade técnica, por
profissional habilitado pelo Sistema Conselho Federal de Engenharia,
Arquitetura e Agronomia (CONFEA) / Conselho Regional de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA), dos estudos, planos,
projetos, construção, fiscalização e demais relatórios citados nesta Lei;
 exigir do empreendedor o cumprimento das recomendações contidas
nos relatórios de inspeção e revisão periódica de segurança;
 articular-se com outros órgãos envolvidos com a implantação e a
operação de barragens no âmbito da bacia hidrográfica;
 exigir do empreendedor o cadastramento e a atualização das
informações relativas à barragem no SNISB.

Ainda, fica o órgão fiscalizador obrigado a informar imediatamente à ANA e ao


Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC) qualquer não conformidade que
implique risco imediato à segurança ou qualquer acidente ocorrido nas barragens
sob sua jurisdição.

O cadastro das barragens deve ser implantado pelo órgão fiscalizador no prazo
máximo de 2 (dois) anos a partir data de 21 de setembro de 2010, data em que foi
publicada a Lei Nº 12.334/2010.

Observa-se que cabe ao órgão fiscalizador regulamentar o conteúdo mínimo, a


periodicidade, a qualificação do responsável técnico e o nível de detalhamento para:

 Planos de Segurança de Barragem;


 Revisão periódica das barragens;
 Planos de Ações e Emergenciais;
 Inspeção Regular e Especial de Segurança de Barragem.

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19
A ANA, além das atribuições e obrigações relativas aos órgãos fiscalizadores,
recebeu novas atribuições após a publicação da Lei Nº 12.334/2010, como a
responsabilidade de:
 organizar, implantar e gerir o SNISB;
 promover a articulação entre os órgãos fiscalizadores de barragens;
 coordenar a elaboração do Relatório de Segurança de Barragens e
encaminhá-lo, anualmente, ao Conselho Nacional de Recursos
Hídricos (CNRH), de forma consolidada.

4.2 Obrigações do empreendedor

Em seu artigo 17, a Lei Nº 12.334/2010 estabeleceu que os empreendedores são


obrigados a:
 prover os recursos necessários à garantia da segurança da barragem;
 providenciar, para novos empreendimentos, a elaboração do projeto
final como construído;
 organizar e manter em bom estado de conservação as informações e a
documentação referentes ao projeto, à construção, à operação, à
manutenção, à segurança e, quando couber, à desativação da
barragem;
 informar ao respectivo órgão fiscalizador qualquer alteração que possa
acarretar redução da capacidade de descarga da barragem ou que
possa comprometer a sua segurança;
 manter serviço especializado em segurança de barragem, conforme
estabelecido no Plano de Segurança da Barragem;
 permitir o acesso irrestrito do órgão fiscalizador e dos órgãos
integrantes do SINDEC ao local da barragem e à sua documentação
de segurança;

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 providenciar a elaboração e a atualização do Plano de Segurança da
Barragem, observadas as recomendações das inspeções e as revisões
periódicas de segurança;
 realizar as inspeções de segurança previstas no art. 9o desta Lei;
 elaborar as revisões periódicas de segurança;
 elaborar o Plano de Ação de Emergência (PAE), quando exigido;
 manter registros dos níveis dos reservatórios, com a respectiva
correspondência em volume armazenado, bem como das
características químicas e físicas do fluido armazenado, conforme
estabelecido pelo órgão fiscalizador;
 manter registros dos níveis de contaminação do solo e do lençol
freático na área de influência do reservatório, conforme estabelecido
pelo órgão fiscalizador;
 cadastrar e manter atualizadas as informações relativas à barragem no
SNISB.
No caso de reservatórios de aproveitamento hidrelétrico, a alteração de que trata o
quarto item listado, deverá ser informado ao Operador Nacional do Sistema Elétrico
(ONS).

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5. ATRIBUIÇÕES DA FISCALIZAÇÃO

Abaixo estão descritas com mais detalhes as competências da fiscalização


elencadas anteriormente.

5.1 Classificação de barragens

A resolução no143 do CNRH, de 10 de julho de 2012, estabelece critérios gerais de


classificação de barragens por categoria de risco, dano potencial associado e pelo
seu volume, em atendimento ao art. 7º da Lei nº 12.334, em função da finalidade da
barragem, disposição de resíduos e rejeitos ou acumulação de água.

A Categoria de Risco de uma barragem trata dos aspectos que possam influenciar
na probabilidade de um acidente: aspectos de projeto, integridade da estrutura,
estado de conservação, operação e manutenção, atendimento ao Plano de
Segurança, entre outros.

O Dano Potencial Associado é o dano que pode ocorrer devido ao rompimento,


vazamento, infiltração no solo ou mau funcionamento de uma barragem,
independentemente da sua probabilidade de ocorrência, podendo ser graduado de
acordo com as perdas de vidas humanas e impactos sociais, econômicos e
ambientais.

A classificação da barragem deverá ser feita e reavaliada pelo órgão fiscalizador no


máximo a cada 5 (cinco) anos, sendo que o órgão fiscalizador poderá adotar
critérios complementares desde que tecnicamente justificados. Caso o
empreendedor da barragem não apresente informações sobre determinado critério

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22
para classificação, o órgão fiscalizador aplicará a pontuação máxima para o critério
em questão.

O empreendedor poderá solicitar revisão da classificação efetuada pelo órgão


fiscalizador desde que apresente estudo que comprove a necessidade de uma
reavaliação.

5.1.1 Classificação quanto à categoria de risco

As barragens serão classificadas quanto à categoria de risco de acordo com


aspectos da própria barragem que possam influenciar na possibilidade de ocorrência
de acidente, levando-se em conta os seguintes critérios gerais de Características
Técnicas (CT), Estado de Conservação (EC) e Plano de Segurança da Barragem
(PSB).

5.1.2 Classificação quanto ao dano potencial associado

Os critérios gerais a serem utilizados para classificação quanto ao dano potencial


associado deverá considerar:
 Existência de população a jusante com potencial de perda de vidas
humanas;
 Existência de unidades habitacionais ou equipamentos urbanos ou
comunitários;
 Existência de infraestrutura ou serviços;
 Existência de equipamentos de serviços públicos essenciais;
 Existência de áreas protegidas definidas em legislação;
 Natureza dos rejeitos ou resíduos armazenados;
 Volume total armazenado na barragem.

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5.2 Plano de Segurança da Barragem

O Plano de Segurança da Barragem deverá ser elaborado pelo empreendedor, e


compreender, no mínimo, os seguintes itens:

 Identificação do empreendedor;
 Dados técnicos referentes à implantação do empreendimento,
inclusive, no caso de empreendimentos construídos após a
promulgação da Lei nº 12334, de 2010, do projeto como construído,
bem como aqueles necessários para a operação e manutenção da
barragem;
 Estrutura organizacional e qualificação técnica dos profissionais da
equipe de segurança da barragem;
 Manuais de procedimentos dos roteiros de inspeções de segurança e
de monitoramento e relatórios de segurança da barragem;
 Regra operacional dos dispositivos de descarga da barragem;
 Indicação da área do entorno das instalações e seus respectivos
acessos, a serem resguardados de quaisquer usos ou ocupações
permanentes, exceto aqueles indispensáveis à manutenção e à
operação da barragem;
 Plano de Ação de Emergência (PAE), quando exigido;
 Relatórios das inspeções de segurança;
 Revisões periódicas de segurança.

A periodicidade de atualização, o conteúdo mínimo e o nível de detalhamento dos


Planos de Segurança deverão ser estabelecidos pelo órgão fiscalizador, em função
da categoria de risco, do dano potencial associado e do seu volume.

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Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado
entre a Agência Nacional de Águas - ANA e a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu - Brasil - FPTI.
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O Plano de Segurança de Barragem deverá ser atualizado em decorrência das
inspeções regulares e especiais e das revisões periódicas de segurança da
barragem, incorporando suas exigências e recomendações.

Os órgãos fiscalizadores poderão estabelecer prazos para elaboração da primeira


edição do Plano de Segurança das barragens existentes, em função da categoria de
risco, do dano potencial e do volume.

5.3 Relatório de Segurança da Barragem

A responsabilidade de coordenar a elaboração do Relatório de Segurança de


Barragens é da ANA e cabe aos órgãos fiscalizadores a responsabilidade das
informações a ser enviada a ANA para subsidiar a produção do relatório. Esse
relatório deverá compreender o período entre 1º de outubro do ano anterior e 30 de
setembro do ano de referência do relatório.

A Resolução CNRH Nº 144/2012 em seu Art. 10 da Resolução CNRH Nº 144/2012


definiu que até 30 de junho de cada ano a ANA poderá estabelecer o conteúdo das
contribuições e formulários padronizados para recebimento das informações que
compõe o Relatório de Segurança de Barragens, devendo ser disponibilizados em
seu sitio eletrônico. Caso a ANA não estabeleça novos conteúdo ou formulários,
serão mantidos os mesmos adotados no exercício do ano anterior.

Quanto aos prazos de envio de informação, os empreendedores terão prazo até 31


de outubro de cada ano para enviar aos órgãos fiscalizadores as informações e os
órgãos fiscalizadores terão prazo até 31 de janeiro de cada ano para enviar à ANA
as informações necessárias para a elaboração do Relatório de Segurança de
Barragens.

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Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado
entre a Agência Nacional de Águas - ANA e a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu - Brasil - FPTI.
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Constará no Relatório de Segurança de Barragem a identificação dos órgãos
fiscalizadores que não enviaram as informações.

A ANA deverá encaminhar o Relatório de Segurança de Barragens consolidado ao


CNRH até 31 de maio. Cabe ao CNRH, anualmente, apreciar o Relatório de
Segurança de Barragens, fazendo, se necessário, recomendações para melhoria da
segurança das obras, bem como encaminhá-lo ao Congresso Nacional até 20 de
setembro de cada ano.

5.4 Sistema nacional de informações sobre segurança de barragens

A Resolução CNRH Nº 144/2012 define que o SNISB tem o objetivo de coletar,


armazenar, tratar, gerir e disponibilizar para a sociedade as informações
relacionadas à segurança de barragens em todo o território nacional. Ainda, define
como responsáveis diretos pelas informações do SNISB:

 Agência Nacional de Águas (ANA), como gestora e fiscalizadora;


 Órgãos fiscalizadores, conforme definido no artigo 5º da Lei nº
12.334/2010;
 Empreendedores.

Na condição de gestora do SNISB, compete à ANA:

 Desenvolver plataforma informatizada para sistema de coleta,


tratamento, armazenamento e recuperação de informações, devendo
contemplar barragens em construção, em operação e desativadas;
 Estabelecer mecanismos e coordenar a troca de informações com os
demais órgãos fiscalizadores;

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Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado
entre a Agência Nacional de Águas - ANA e a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu - Brasil - FPTI.
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 Definir as informações que deverão compor o SNISB em articulação
com os demais órgãos fiscalizadores;
 Disponibilizar o acesso a dados e informações para a sociedade por
meio da Rede Mundial de Computadores.

No caso dos órgãos fiscalizadores, compete:

 Manter cadastro atualizado das barragens sob sua jurisdição;


 Disponibilizar permanentemente o cadastro e demais informações
sobre as barragens sob sua jurisdição e em formato que permita sua
integração ao SNISB, em prazo a ser definido pela ANA em articulação
com os órgãos fiscalizadores;e
 Manter atualizada no SNISB a classificação das barragens sob sua
jurisdição por categoria de risco, por dano potencial associado e pelo
seu volume.

Aos empreendedores compete:

 Manter atualizadas as informações cadastrais relativas às suas


barragens junto ao respectivo órgão fiscalizador;
 Articular-se com o órgão fiscalizador, com intuito de permitir um
adequado fluxo de informações.

O SNISB deverá buscar a integração e a troca de informações, no que couber, com:

 Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente- SINIMA;


 Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa
Ambiental;

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 Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou
Utilizadoras de Recursos Ambientais;
 O Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos – SNIRH;
 Demais sistemas relacionados com segurança de barragens.

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6. ATIVIDADES DE FISCALIZAÇÃO

Muitas das informações das barragens que os órgãos fiscalizadores possuem são
fornecidas pelo proprietário da barragem. A geração dessas informações é
importante para que os empreendedores tenham conhecimento da situação da
barragem e cumpra com as exigências legais da PNSB. Ainda, permite que o órgão
fiscalizador tenha ciência da situação das barragens sob sua jurisdição.

O envio dessas informações, em muitos casos, está diretamente ligado ao


cumprimento de uma determinação do órgão fiscalizados, como por exemplo, o
envio do extrato da inspeção estabelecido pela Resolução ANA Nº 742/2011.

No entanto, existe a necessidade de analisar e de verificar as informações prestadas


pelos empreendedores, assim como de conferir o cumprimento dos normativos
legais quanto aos seguintes aspectos:

i.Prazo de encaminhamento das informações


ii.Conteúdo mínimo exigido;
iii.Periodicidade da realização das atividades previstas em normativos legais e;
iv.Consonância do que foi relatado pelo empreendedor e o que foi vistoriado
pelo agente fiscalizador;

Os itens i, ii e iii podem ser executados na sede do órgão fiscalizador, trata de


conferencia do que foi apresentado pelo empreendedor com o exigido no conteúdo
legal. Ressalta-se que, a ação descrita no item iv apenas pode ser realizada com a
ida do agente fiscalizador em campo.

Entende-se que a atividade de fiscalizar in loco deve ser considerada como ato de
verificação das informações disponíveis no cadastro da barragem, das condições da

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segurança de barragem bem como as informações encaminhadas pelo
empreendedor, quanto as Inspeções Regulares e Especiais, Plano de Segurança,
Plano de Ação de Emergência e a Revisão periódica das barragens.

As atividades em campo da fiscalização devem ser vista como um momento de


aproximação do empreendedor e do setor público. Ainda, trata-se de uma
oportunidade da divulgação da PNSB para os empreendedores, não podendo ser
apenas de caráter punitivo.

Em muitos casos essas atividades tem o viés instrutivo, momentos em qual os


empreendedores utilizam para retirar dúvidas sobre os normativos legais e
procedimentos estabelecidos pelo órgão fiscalizador. Portanto, o agente de
fiscalização deve estar preparado para dar os esclarecimentos adequando ao
empreendedor.

6.1 Outras Atividades

Além da ação de verificação de informações e das condições da barragem em


termos de segurança, pode ser necessário que a equipe de fiscalização vá a campo
para realizar o cadastramento de novas barragens para a inclusão no Cadastro de
Segurança de Barragens previsto na Lei Nº 12.334/2010.

6.2 Agente fiscalizador

Trata-se de servidor do órgão designado para fiscalização, neste caso de segurança


de barragem. Esse servidor tem a função de exercer o poder de polícia sob os
aspectos da PNSB, devendo fazer usos de medidas e sanções de polícia
correspondente para minimizar as infrações que tomar ciência.

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O agente de fiscalização de segurança de barragem deve ter o domínio conteúdos
importante para atividade de fiscalização, como:

 Conhecer a estrutura organizacional e competências de seu órgão;


 Conhecer a Politica Nacional de Segurança de Barragem e a inserção
do seu órgão;
 Conhecer as Resoluções do Conselho Nacional de Recursos Hídricos;
 Conhecer os normativos legais emitidos pelo seu órgão.

Os agentes devem ter preocupação com a forma de abordar as pessoas durante as


campanhas e com o sigilo das informações das ações de fiscalização. Nas vitorias
devem apresentar-se adequadamente vestido e com o documento de identificação.

6.3 Perfil técnico recomendável

Existe a tendência que os Agentes de fiscalização sejam de formação pertencentes


à área da Engenharia, a princípio estes seriam os profissionais com conteúdo mais
próximo ao tema de segurança de barragem.

O órgão fiscalizador deve ter a preocupação de compor em suas equipes com


profissionais com conhecimento na área de segurança de barragem. No entanto,
nem todos os órgãos fiscalizadores possuem em seus quadros profissionais com
esse conhecimento.

A solução passa pela preparação da equipe por meio de treinamento, ou seja, o


órgão fiscalizador deve disponibilizar formas de capacitação para que seus agentes
adquiram conhecimentos em tópicos envolvidos na área de segurança de barragem,
inclusive para aqueles que têm formação na área de Engenharia.

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É recomendável que os agentes que atuam na área de segurança de barragem
devem possuir pelo menos conhecimentos técnicos, como:

 Finalidades das barragens;


 Noções de hidráulica;
 Noções de hidrologia ;
 Aspectos Geológicos e Geotécnicos;
 Noções de Barragens de Concreto;
 Noções de Barragens de terra/enrocamento;
 Aspectos Hidromecânicos;
 Noções de estrutura hidráulica;
 Deterioração em Barragens de Terra e de Concreto;
 Instrumentação de barragens;
 Noções de geotecnologias; e
 Inspeções visuais.

Observa-se que o conteúdo necessário para segurança de barragem é extenso e


que dificilmente um único profissional teria o domínio de todo estes conhecimentos.
Assim, deve-se ter entendimento que os órgãos fiscalizadores devem ter a
preocupação em montar quadros que cubram os conhecimentos de segurança de
barragem.

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7. CADASTRO DE BARRAGEM EM CAMPO

O trabalho de cadastramento tem como objetivo a identificação e o cadastramento


das barragens, concluídas ou em construção, com intuito de obter as informações
sobre as barragens e dar consistência ao Cadastro de Barragens mantido pelo
órgão fiscalizador.

Essa demanda para fiscalização pode surgir por denuncias ou por levantamentos
realizados pelo órgão fiscalizador para identificar barragens que estão sob sua
responsabilidade de fiscalização quanto à segurança de barragem, como por
exemplo, levantamentos por sensoriamento remoto identificando espelhos d’água
em determinada região.

São exemplos de informações que devem ser recolhidas em campo durante a ação
de cadastramento das barragens:

 Identificação do proprietário / responsável


 Identificação do empreendimento
 Localização/ Coordenadas
 Nome do rio barrado
 Bacia / Sub-bacia
 Altura da barragem

 Volume do reservatório
 Situação da obra
 Idade da barragem
 Documentação técnica existente
 Informações hidrológicas
 Curva chave

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 Tipo de Barragem principal e auxiliar
 Tipo do vertedouro
 Comportas
 Tomada d’água
 Drenagem interna
 Drenagem externa
 Revestimento de taludes
 Existência de Instrumentação
 Aspectos de gestão da barragem
 Área a jusante do reservatório
 Área no entorno do reservatório

Para essa atividade pode-se fazer uso da “Ficha de Cadastro de Barragens” do


Ministério da Integração disponível em seu sítio www.integracao.com.br . Junto com
o modelo da ficha está disponível o manual do seu preenchimento.

Outra demanda relativa a cadastro surge nos casos de dúvidas de uma barragem
sobre a responsabilidade de fiscalização de segurança de barragem. Nessas
situações pode existir a necessidade de vistoria em campo de agentes de
fiscalização dos órgãos envolvidos para o levantamento de informações sobre a
barragem.

As informações levantadas na vistoria em conjunta darão suporte para a resolução


das dúvidas sobre a responsabilidade de fiscalização, bem como na decisão final
dos órgãos envolvidos.

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8. PROCEDIMENTOS DE FISCALIZAÇÃO - SEGURANÇA DE BARRAGENS

A execução de uma campanha de fiscalização deve ser precedida de estudo e


planejamento, com intuito de otimizar os recursos financeiros e humanos do orgão
ficalizador, portanto entende-se que para essa atividade seja dividida em 4 fases:

 Fase I – Avaliação das Informações;


 Fase II - Planejamento das Campanhas de Fiscalização;
 Fase III – Campanhas de Fiscalização e
 Fase IV - Registro Interno e Elaboração de Relatórios.

8.1 Fase I - Avaliação das Informações

Trata-se de fase da avaliação das informações enviadas pelo empreendedor, a


equipe do órgão fiscalizador deve fazer a análise dessas informações e identificar,
no mínimo, os seguintes elementos:

 Classificação quanto ao Dano Potencial e Risco;


 Indicação do Nível de Perigo;
 Volumes do Plano de Segurança;
 Os Ciclos de inspeção que cada empreendedor deve seguir;
 Indicação dos empreendedores que não encaminharam os relatórios
de inspeção;
 Indicação dos empreendedores que descumpriram algum prazo dos
normativos legais;
 Identificação dos empreendedores que enviaram informações
inconsistentes.

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8.2 Fase II - Planejamento das campanhas de fiscalização

Com base nas informações identificadas na Fase I, será dado inicio a Fase II, onde
será realizada a priorização e o planejamento da fiscalização.

Um fator que demanda priorização é que, geralmente, a equipe do órgão fiscalizador


possui número reduzido de técnicos e que em muitos casos a fiscalização de
segurança barragens não é a única atribuição da equipe.

Dessa forma, a equipe apresenta limites técnicos, físicos e temporais para fiscalizar
todas as barragens em um período de tempo ideal, resultando na necessidade de
priorização de barragens a serem vistoriadas.

O órgão fiscalizador deve adotar algum sistema de priorização, a metodologia de


priorização da barragem deve considerar as características do órgão fiscalizador e
deve ter como base as informações disponíveis, inicialmente, identificadas na Fase
I.

Como exemplo, pode ser considerar como dados de entrada para a priorização o
nível de perigo e a periodicidade de realização de inspeções regulares. Naqueles
casos em que as barragens tenham o mesmo nível de priorização, pode-se utilizar
como critério de desempate os parâmetros descritos, na ordem que se segue:
I. Dano Potencial
II. Risco
III. Altura da Barragem
IV. Volume da Barragem

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Pode-se utilizar de informações subjetivas, como critério de priorização
complementar, as quais poderão alterar a ordem da fiscalização. Esta informações
abrangem critérios técnicos subjetivos, tais como:

 Denúncias recebidas;
 Ocorrência de eventos críticos diversos que possam afetar as
barragens;
 Verificação em campo de anomalias que afetem a segurança da
barragem;
 Constatação que o empreendedor não realizou as inspeções
regulares e se encontra inadiplente quanto ao cumprimento da
Resolução;
 Empreendedores que descumpriram algum prazo estabelecido
na Resolução e/ou apresentam pendências quanto a outorga
e/ou Cadastro

Finalizado o processo de priorização, deve ser proposto um Planejamento de


Fiscalização o qual servirá como norte para ações fiscalizatórias do órgão. Na
elaboração desse plano deve ser observado a logística de deslocamento entre as
barragens, com intuito de maximizar a quantidade de barragens a serem fiscalizadas
e otimizar os recursos financeiros e humanos.

Deve ficar claro que o planejamento proposto pode passar por ajustes devido a
surgimento de novas informações e outras demandas que requerem a atuação do
órgão fiscalizador.

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8.2.1 Equipamentos de vistoria

A necessidade de utilização de itens e dos equipamentos deve ser avaliada pela


equipe de fiscalização para cada campanha. Portanto, alguns equipamentos são
para situações especificas e não serão utilizados em todas as campanhas. Exemplo
de equipamentos e acessórios a serem utilizados em vistoria de segurança de
barragens são apresentados no quadro 2.

O agente fiscalizador deve respeitar as normas de segurança estabelecidas para


área do empreendimento a ser vistoriado, não devendo se colocar em situação de
risco.

Quadro 2 – Exemplos de equipamentos e acessórios utilizados em vistorias


Equipamentos Acessórios Outros
Uniforme de fiscalização com Capacete GPS geodésico
identificação do órgão Perneira Carro 4x4 com
Sapato adequado para campo Repelente para mosquito motorista e
Maquina fotográfica digital Par de Rádio de transmissão
identificação do órgão
GPS com alcance de 40 km
Barco com carreta;
Telefone celular Distanciômetro Laser/
Trena 50m/100m. Ultrassom
Binóculos com distanciômetro
Laptop/Notebook/Tablet com
capacidade de carga e com
modem 3G

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8.3 Fase III - Campanhas de Fiscalização

Trata-se de fase da atividade de campo na qual o objetivo é verificar as condições


da segurança de barragem, as informações do cadastro e as informações
apresentadas nas inspeções regulares encaminhadas pelo empreendedor.

Antes de ir a campo, a equipe deverá realizar uma preparação de campanha de


fiscalização, fazendo o levantamento das informações sobre a barragem podendo
utilizar as informações disponíveis no Cadastro de Barragens, em processos
existentes, em informações enviadas pelo empreendedor, em levantamentos de
vistorias anteriores e com informações provenientes de geotecnologia,
principalmente sensoriamento remoto.

Nessa preparação deve constar: o número do telefone e endereço do


empreendedor, mapa com os acessos ao local da barragem, local para
hospedagem, planejamento de locomoção e levantamento dos equipamentos
necessários para fiscalização, sempre com intuito de facilitar o desenvolvimento das
ativardes fora do escritório. Ainda, a equipe pode fazer contato prévio com o
proprietário da barragem quando julgar necessário. Na Figura 05 exemplo de mapa
com localização para planejamento de ações de fiscalização de segurança de
barragens.

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Figura 5 – Exemplo de mapa de planejamento de fiscalização

No caso das ações de fiscalização com o objetivo de verificar o cumprimento legal


da PNSB, pode-se dividir em 2 etapas:

1. Documental: Trata-se de análise documental que será realizada no


escritório do empreendedor e terá como objetivo verificar o
atendimento dos requisitos dos normativos legais.
a. São documentos que devem ser verificados: Relatório de
Inspeções, Planos de Segurança de Barragem, Plano de Ações
e Emergência e Revisão periódica das barragens.
2. Vistoria in loco: consiste de vistoria na barragem com intuito de verificar
as estruturas e as anomalias apontadas no relatório de inspeção.

Para realização das etapas é interessante que o órgão fiscalizador elabore um


Check-List com os itens que devem ser fiscalizados em campo em conformidade

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com os conteúdos exigidos nos regulamentos, principalmente para parte
documental.

Na análise documental, a equipe de fiscalização deve verificar a existência dos


documentos e os respectivos conteúdos mínimos solicitados nos normativos legais
relativos à PNSB. Sendo necessário verificar se esses documentos foram
elaborados por responsáveis técnicos habilitados pelo sistema CONFEA/CREA e
que conste a (ART).

Quanto ao tempo para efetivação de uma campanha para vistoriar uma barragem,
estima-se que será necessário um dia para realizar a análise documental quando
todos os artigos da Lei Nº 12.334/2010 estiverem regulamentado pelos respectivos
órgãos fiscalizadores.

De posse das informações da barragem, principalmente do Relatório de Inspeção e


da Ficha de Inspeção, os agentes de fiscalização devem percorrer todas as
estruturas da barragem, incluindo:

 Coroamento;
 Talude de Montante;
 Talude de Jusante;
 Região de Jusante da Barragem;
 Vertedouro;
 Canais de aproximação;
 Estrutura de Fixação da Soleira;
 Rápido/Bacia Amortecedora;
 Muros Laterais; e
 Comportas do Vertedouro.
 Reservatório;

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 Torre de Tomada d’água;
 Galerias;
 Instrumentação;
 Medidores de Vazão;
 Outras estruturas.

Durante esse percurso, os agentes de fiscalização devem verificar em campo se as


anomalias, a indicação de necessidade de pequenos reparos, os resultados e
revisão dos registros de instrumentação e a necessidade de estão de acordo com o
descrito no Relatório e Ficha de Inspeção.

Os agentes fiscalizadores devem ter o cuidado de observar a existência ou


surgimento de novas anomalias que não estão relatadas e fotografadas pelo
empreendedor nas inspeções anteriores.

O tempo para percorrer todas as estruturas irá depender do porte da barragem, para
efeitos de planejamento pode-se adotar em média um dia inteiro, o que incluiria o
tempo de chegada à barragem e a vistoria propriamente dita.

Deve-se fazer a ressalva que essa vistoria realizada pelos agentes de fiscalização
não trata da inspeção regular ou especial de segurança de barragem previsto no
artigo 9º da Nº 12.334/2010, porque estas são de responsabilidade do
empreendedor. Em resumo, trata-se de verificação em campo pelo órgão
fiscalizador do que foi descrito no relatório e ficha de inspeção do empreendedor.

Deve ficar claro que as inspeções regulares realizadas pelo empreendedor têm
como produtos finais Ficha de inspeção preenchida, Relatório de inspeção regular e
Extrato da Inspeção Regular, os quais deverão estar disponíveis para a fiscalização.

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Ao final de cada campanha de fiscalização, a equipe de fiscalização deverá fazer a
avaliação das condições gerais sob os aspectos de segurança de barragem e da
consonância destes dados com o que foi informado pelo empreendedor na Inspeção
Regular via Relatório e Ficha de Inspeção e, avaliando:

 Situação da estrutura de vertedoura;


 Situação geral do barramento;
 Anomalias observadas durante a vistoria em campo compatível
com as descritas no relatório de inspeção; e
 Adequação do nível de perigo da barragem informado pelo
empreendedor e vistoriado pela equipe de fiscalização.

Complementarmente, a equipe de fiscalização deverá indicar para o empreendedor


as providências necessárias, como por exemplo:

 Convocação do Especialista do Painel Externo, quando envolver


situações que necessitarão de avaliação de especialistas na área;
 Necessidade de Inspeção de Segurança Regular Complementar
 Orientação/advertência em caráter educativo, tendo em vista orientar
o empreendedor a atender os dispositivos dos normativos legais.
 Auto de Infração será lavrado quando for realizada vistoria ao
empreendimento e for constada irregularidade. Este caso sempre será
precedido de Orientação/advertência;
 Protocolo de Compromisso, instrumento por meio do qual o órgão
fiscalizador e o empreendedor estabelecem obrigações a serem
executadas pelo empreendedor e estabelece prazos para correção das
irregularidades;
 Encaminhamento à área do Cadastro de Barragem, quando
averiguadas inconsistências de dados junto ao cadastro de barragens;

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 Encaminhamento para outras áreas do órgão fiscalizador, nos
casos em que forem constatadas irregularidades não relacionados a
segurança de barragem;
 Encaminhamento à Procuradoria, nos casos em que forem
encontradas dúvidas sobre a aplicação da Lei nº 12.334, de 20 de
setembro de 2010.

Por último, ao final de cada campanha de fiscalização será elaborado um relatório


de fiscalização contendo os relatos e as informações obtidas na vistoria,
comparativo entre o vistoriado e o descrito no relatório e ficha de inspeção do
empreendedor e o relatório fotográfico, bem como os encaminhamentos propostos
pela equipe.

Ressalta-se, ainda, que os resultados das campanhas de fiscalização de campo são


fontes de informação, podendo levar a alteração das prioridades do órgão fiscalizado
e ou a reprogramação do Planejamento de Fiscalização.

8.4 Fase IV - Registro Interno e elaboração de relatórios

Essa fase ocorre sempre depois de terminada as campanhas de fiscalização, as


informações obtidas nas vistorias devem ir para o registro interno das informações
junto ao Banco de Dados, caso houver.

Muito importante que o órgão fiscalizador tenha ou crie um banco de dados para
armazenar os resultados das vistorias, trata-se de armazenar e deixar disponível o
acesso das memórias dos órgãos fiscalizadores no que tange as vistorias
realizadas.

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O resultado das campanhas e dos demais trabalhos da equipe de fiscalização deve
ser consolidado no Relatório das ações da Gerência responsável pela fiscalização
de segurança da de Barragem.

Esse Relatório Anual pode servir de auxilio para o órgão fiscalizador quando for
enviar as informações para ANA, que responsável pela coordenação e elaboração
do Relatório Anual de Segurança de Barragens previsto na Lei nº 12.334/2010.

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9. INSTRUMENTOS DE FISCALIZAÇÃO

Os instrumentos para efetivação da ação fiscalizatória dependem dos normativos do


órgão, nesse caso cita-se como exemplos de instrumentos a serem utilizados nas s
atividades de fiscalização: I - Auto de Vistoria (AV); II – Auto de Infração (AI); III –
Auto de Interdição Cautelar (AC); IV – Termo de Apreensão (TA); V – Termo de
Depósito (TD); e VI – Protocolo de Compromisso (PC).

Auto de Vistoria – AV - Destina-se, somente, para comprovação que o


empreendimento foi vistoriado pela área de fiscalização, em determinada data. O AV
será lavrado quando for realizada vistoria ao empreendimento, quando houver a
necessidade de se comprovar a realização da campanha de fiscalização, por parte
do empreendedor. A expedição desse documento, não é vinculada ao
empreendimento ter ou não alguma pendência, ou qualquer tipo irregularidade.

O Auto de Infração – AI deverá ser lavrado quando for constatada qualquer


irregularidade relacionada à segurança de barragem. Entende-se como
irregularidade, qualquer fato que configure falta ou desobediência a qualquer
normativo implícito a área de segurança de barragens.

O Auto de Interdição Cautelar – AC deverá ser lavrado nas situações em que a


autoridade fiscalizadora julgar necessária a intervenção no empreendimento, com
vista a prevenir aumento do risco de rompimento da estrutura. Vale ressaltar, (1) que
esse instrumento poderá ser lavrado mesmo quando o empreendedor no momento
da lavratura do AC estiver regular perante os normativos de segurança de barragem,
e (2) que também poderá ser lavrado quando for verificado que a situação estrutural
da barragem sugerir risco iminente de prejuízo a serviço público de abastecimento
de água, à saúde ou à vida, perecimento de bens ou animais ou prejuízos de
qualquer natureza a terceiros, ou risco ao meio ambiente.

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Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado
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46
O Termo de Apreensão – TA será lavrado em decorrência da necessidade do
servidor responsável pela fiscalização efetuar a apreensão dos equipamentos que
possam contribuir para agravar os problemas relativos à segurança da barragem.
Este instrumento tem como objetivo viabilizar a ação da área de fiscalização em
campo, caso seja verificado que algum equipamento, ou objeto implantado na
barragem ou nos arredores colabore, ou propicie o aumento do risco de ocorrência
de acidentes, e como pronta solução para mitigar o problema seja necessária à
retirada do equipamento do local em questão.

O Termo de Depósito – TD em nome do empreendedor, do seu preposto ou de


terceiros será lavrado em caso de apreensão dos bens e equipamentos, para que o
proprietário devidamente qualificado se responsabilize pela guarda destes. A
aplicação do TD está condicionada a aplicação do TA.

O Protocolo de Compromisso – PC se constitui no instrumento por meio do qual a


órgão fiscalizador e o empreendedor estabelecem obrigações a serem executadas e
prazos necessários para correção das irregularidades. O empreendedor poderá
manifestar a intenção de assinatura de PC, para a correção de irregularidades, nas
situações cuja regularização seja complexa ou necessite de medidas de médio ou
longo prazo.

9.1 Penalidades

Os órgãos fiscalizadores, dependendo de seu normativo, podem fazer uso das


seguintes penalidades: advertência, multa, embargo cautelar, e embargo definitivo.
Importante informar que essas penalidades podem ser aplicadas
concomitantemente, ou seja, a aplicação de uma penalidade não impossibilita a
aplicação de outra penalidade.

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Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado
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47
Devem ser observados os seguintes aspectos para imposição e gradação das
penalidades:
1. a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas
consequências para a manutenção da segurança da barragem, para a
preservação da vida e da propriedade, saúde pública e para o meio
ambiente; e
2. os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de
segurança de barragens.

A advertência deve ser aplicada na forma escrita e nesse ato ficarão estabelecidos
os prazos para correção das irregularidades constatadas, sem prejuízo das demais
sanções.

As multas podem ser classificadas como simples ou diárias. De forma geral, as


multas devem ser aplicadas como simples, ou seja, deverá ser arbitrado um valor
para ser pago, e deverá ser indicada no AI alguma ação necessária de ser realizada
pelo empreendedor. Nos Casos em que não seja pago a importância arbitrada e/ou
a exigência constante no AI não for cumprida, a multa passará a ser aplicada com a
base diária até o limite de 30 (trinta) dias.

No caso do embargo cautelar poderá ser aplicado na situação ensejar a execução


de serviços e obras necessárias ou para o cumprimento de normas referentes à
segurança de barragem, e se necessário esvaziamento parcial ou total da barragem.
Quando da aplicação do embargo definitivo este ensejará a revogação da outorga, e
o esvaziamento total e definitivo do reservatório da barragem.

Deve-se fazer a observação que todas as penalidades serão aplicadas pela


lavratura do AI, e a aplicação das penalidades de embargo provisório e definitivo
poderá ensejar apreensão e depósito de bens. Ainda, serão cobradas do

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48
empreendedor as despesas em que incorrer a órgão fiscalizador para tornar efetiva
a penalidade de embargo, independentemente da penalidade de multa, sem prejuízo
de responder pela recomposição dos danos a que der causa.

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49
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Lei Nº 12.334/2010 trouxe as diretrizes da PNSB e lançou um grande desafio para


país, que seria conhecer e cuidar de todas aquelas barragens que estão inclusas
nos incisos I, II, III e IV do art. 1º da citada lei.

Trata de um desafio para toda a sociedade, porém cabendo aos órgãos


fiscalizadores a obrigação de regulamentar os artigos da lei e garantir que esses
normativos legais estão sendo cumpridos.

Acredita-se que para esses órgãos atuarem melhor deva existir o investimento, não
apenas financeiro, nos agentes de fiscalização. Esse investimento inclui a
disponibilização de curso de capacitação e de equipamentos adequados para a
execução de ações em campo.

As ações de campo são importantes para garantir o sucesso da PNSB, por se tratar
da única forma de verificar se as informações prestadas pelo empreendedor
representam as condições reais da barragem. Possuem caráter corretivo e punitivo,
quando são detectados inconformidades na campanha de vistoria.

Trata-se de importante meio de divulgação da PNSB devido ao contato do agente


público fiscalizador e o empreendedor, o que pode proporcionar a retirada de
dúvidas do empreendedor quanto às obrigações de normativo legais.

Além disso, pode funcionar como um canal interno de retorno para o próprio órgão
fiscalizador. Seria uma forma de ver em campo e apresentar no escritório a
dificuldade de entendimento e da aplicação dos normativos legais por parte dos
empreendedores. Bem como, visualizar as barreiras que dificultam o cumprimento
dos normativos legais elaborados pelo próprio órgão.

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50
Deste modo, entende que o os órgãos fiscalizadores devem ter preocupação quanto
suas ações em campo, procurando investir em capacitação dos agentes
fiscalizadores e proporcionando condições para boa execução de trabalho. Ainda,
deve buscar a padronização de suas ações com intuito de prestar o melhor serviço a
sociedade.

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51
REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). (2011). Resolução nº 742, de outubro de


2011. Estabelece a periodicidade, qualificação da equipe responsável, conteúdo
mínimo e nível detalhamento das inspeções de segurança regulares, conforme art. º
9 da Lei nº 12.334, de 20 de setembro de 2010. Disponível em:
<http://arquivos.ana.gov.br/resolucoes/2011/742-2011.pdf> Acesso em: 21/04/2013.

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA) (2012). Relatório de segurança de


barragens 2011 / Agência Nacional de Águas. -- Brasília: ANA, 2012. Disponível em
<http://arquivos.ana.gov.br/cadastros/barragens/Seguranca/RelatoriodeSegurancade
Barragens2011.pdf> Acesso em: 7 de maio de. 2013.

BRASIL. Lei nº 12.334, DE 20 DE SETEMBRO DE 2010. Estabelece a Política


Nacional de Segurança de Barragens destinadas à acumulação de água para
quaisquer usos, à disposição final ou temporária de rejeitos e à acumulação de
resíduos industriais, cria o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de
Barragens e altera a redação do art. 35 da Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997, e
do art. 4º da Lei no 9.984, de 17 de julho de 2000. Brasília, DF, 21 set. 2010.
Disponível em : <https://www.planalto.gov.br/> Acesso em: 7 de maio de. 2013.

CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS. Resolução Nº 143, de 10 de


julho de 2012. Estabelece critérios gerais de classificação de barragens por
categoria de risco, dano potencial associado e pelo volume do reservatório, em
atendimento ao art. 7º da Lei nº 12.334 de 20.09.2010. Disponível em:
<http://www.cnrh.gov.br/sitio/index.php? Acesso em: 7 de maio de. 2013.

CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS. Resolução Nº 144, de 10 de


julho de 2012. Estabelece diretrizes para implementação da Política Nacional de

_________________________________________________________________________________
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entre a Agência Nacional de Águas - ANA e a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu - Brasil - FPTI.
52
Segurança de Barragens, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema
Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens, em atendimento ao art. 20
da Lei n° 12.334, de 20 de setembro de 2010, que alterou o art. 35 da Lei nº 9.433,
de 8 de janeiro de 1997. Disponível em: <http://www.cnrh.gov.br/sitio/index.php?
Acesso em: 7 de maio de. 2013.

INSTITUTO DO MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS (INEMA-BA). Portaria


Nº 4672, de 28 de março de 2013. Estabelece a periodicidade de atualização, a
qualificação do responsável técnico, o conteúdo mínimo e o nível de detalhamento
do Plano de Segurança da Barragem de Acumulação de Água e da Revisão
Periódica de Segurança da Barragem de acumulação de água, conforme art. 8°, 10
e 19 da Lei Federal n° 12.334 de 20 de setembro de 2010 – Política Nacional de
Segurança de Barragens - PNSB.

INSTITUTO DO MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS (INEMA-BA). Portaria


Nº 4673, de 28 de março de 2013. Estabelece a periodicidade, qualificação da
equipe responsável, conteúdo mínimo e nível de detalhamento das inspeções de
segurança regulares de barragens de acumulação de água, conforme art. 9° da Lei
Federal n° 12.334 de 20 de setembro de 2010.

MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL (2005). Manual de Preenchimento da


Ficha de Cadastro de Barragem (2005).

_________________________________________________________________________________
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53
ANEXOS

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54
ANEXO I
FICHA FISCALIZAÇÃO – INSPEÇÃO DE SEGURANÇA REGULAR
Resolução ANA nº 742 de 17 de outubro de 2011

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4
1 - DADOS CADASTRAIS
NOME DA BARRAGEM: DATA DA FISCALIZAÇÃO: CÓDIGO ANA

RIO BARRADO LOCALIZAÇÃO: Nº OUTORGA

Nº CNARH

CLASSIFICAÇÃO:
( . ) Dano Potencial ( ) Dano Potencial Médio ( ) Dano Potencial Baixo ( ) NÃO APLICA
Alto
( ) Risco Alto ( . ) Risco Médio ( ) Risco Baixo
FINALIDADE DA FISCALIZAÇÃO

2. QUANTO À FICHA DE INSPEÇÃO (art. 6°)


2.1. DATA DA REALIZAÇÃO DA INSPEÇÃO:

2.2. APRESENTOU FICHA DE INSPEÇÃO PREENCHIDA? ( ) SIM NÃO ( )


2.3. A FICHA DE INSPEÇÃO ABRANGEU TODOS OS COMPONENTES E ESTRUTURAS RELACIONADOS Á BARRAGEM? : ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

3. QUANTO AOS RELATÓRIOS DE INSPEÇÃO (art.7° e art. 10°):


3.1. APRESENTOU RELATÓRIO DE INSPEÇÃO (RI)? ( ) SIM NÃO ( ) DATA DO RI:
OBSERVAÇÕES:

3.2. O RI APRESENTA IDENTIFICAÇÃO DO REPRESENTANTE LEGAL? ( ) SIM NÃO (. )


OBSERVAÇÕES:

3.3. O RI APRESENTA IDENTIFICAÇÃO DO REPRESENTANTE TÉCNICO? ( ) SIM NÃO ( . )


OBSERVAÇÕES:

3.4. O RI APRESENTA AVALIAÇÃO DAS ANOMALIAS REGISTRADAS COM A IDENTIFICAÇÃO DO POSSÍVEL MAU FUNCIONAMENTO E INDÍCIOS DE DETERIORAÇÃO OU
DEFEITO DE CONSTRUÇÃO? ( ) SIM NÃO ( . )
OBSERVAÇÕES:

3.5. O RI APRESENTA RELATÓRIO FOTOGRÁFICO PELO MENOS DAS ANOMALIAS CLASSIFICADAS COMO DE MAGNITUDE MÉDIA E GRANDE? ( ) SIM
NÃO ( . )
OBSERVAÇÕES:

3.6. OCORREU RECLASSIFICAÇÃO QUANTO A MAGNITUDE E NÍVEL DE PERIGO DE CADA ANOMALIA IDENTIFICADA NA FICHA DE INSPEÇÃO?: ( ) SIM NÃO ( .
)
OBSERVAÇÕES:

3.7. O RI APRESENTA COMPARAÇÃO COM RELATÓRIO ANTERIOR? ( ) SIM NÃO( )


OBSERVAÇÕES:

3.8. O RI APRESENTA AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS E REVISÃO DOS REGISTROS DE INSTRUMENTAÇÃO DISPONÍVEIS, INDICANDO A NECESSIDADE DE
MANUTENÇÃO, PEQUENOS REPAROS OU DE INSPEÇÕES REGULARES OU ESPECIAIS, RECOMENDANDO OS SERVIÇOS NECESSÁRIOS? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

3.9. O RI INDICA O NÍVEL DE PERIGO DA BARRAGEM? ( ) SIM NÃO ( )


( ) NORMAL (SEM ANOMALIAS OU COM ANOMALIAS QUE NÃO COMPROMETEM A SEGURANÇA DA BARRAGEM, MAS DEVEM SER CONTROLADAS E
MONITORADAS)

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3
( ) ATENÇÃO (ANOMALIAS ENCONTRADAS NÃO COMPROMETEM A SEGURANÇA DA BARRAGEM EM CURTO PRAZO, MAS DEVEM SER CONTROLADAS E
REPARADAS)

( ) ALERTA (ANOMALIAS ENCONTRADAS REPRESENTAM RISCO À SEGURANÇA, DEVENDO SER TOMADAS PROVIDÊNCIAS PARA ELIMINAÇÃO DO PROBLEMA)
( ) EMERGÊNCIA (ANOMALIAS REPRESENTAM RISCO DE RUPTURA IMINENTE, DEVENDO SER TOMADAS MEDIDAS PARA A PREVENÇÃO E REDUÇÃO DE DANOS)
OBSERVAÇÕES:

3.10. O NÍVEL DE PERIGO INDICADO NO RI ESTÁ APROPRIADO AOS CRITÉRIOS FISCALIZADOS? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

3.11. O RI APRESENTA CIENTE DO REPRESENTANTE LEGAL: ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

3.12. O RI APRESENTA ANOTAÇÃO DE RESPONSABILIDADE TÉCNICA? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

3.13. O RI FOI ELABORADO POR PROFISSIONAL/EQUIPE HABILITADA (CREA/CONFEA): ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

4. QUANTO AO EXTRATO DE INSPEÇÃO (art.9º)


4.1. ENCAMINHOU EXTRATO DA INSPEÇÃO? ( ) SIM NÃO ( ) DATA:

4.2. CUMPRIU O PRAZO DE ENCAMINHAMENTO DO EXTRATO1: ( ) SIM NÃO ( . )


OBSERVAÇÕES:

4.3.O NÍVEL DE PERIGO INDICADO NO EXTRATO:


( ) NORMAL (SEM ANOMALIAS OU COM ANOMALIAS QUE NÃO COMPROMETEM A SEGURANÇA DA BARRAGEM, MAS DEVEM SER CONTROLADAS E
MONITORADAS)

( ) ATENÇÃO (ANOMALIAS ENCONTRADAS NÃO COMPROMETEM A SEGURANÇA DA BARRAGEM EM CURTO PRAZO, MAS DEVEM SER CONTROLADAS E
REPARADAS)

( ) ALERTA (ANOMALIAS ENCONTRADAS REPRESENTAM RISCO À SEGURANÇA, DEVENDO SER TOMADAS PROVIDÊNCIAS PARA ELIMINAÇÃO DO PROBLEMA)
( ) EMERGÊNCIA (ANOMALIAS REPRESENTAM RISCO DE RUPTURA IMINENTE, DEVENDO SER TOMADAS MEDIDAS PARA A PREVENÇÃO E REDUÇÃO DE DANOS)
OBSERVAÇÕES:

5- PERIODICIDADE DA INSPEÇÃO DA BARRAGEM (ART. 4º)2:

1
NORMAL E ATENÇÃO: ATÉ 31 DE MAIO (1° CICLO) E ATÉ 30 DE NOVEMBRO (2°CICLO)
ALERTA: ATÉ 15 DIAS APÓS A REALIZAÇÃO DA INSPEÇÃO
EMERGÊNCIA: ATÉ 1 DIA APÓS A REALIZAÇÃO DA INSPEÇÃO

_________________________________________________________________________________
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4
ATENDIDA: ( ) SIM NÃO ( ) DATA DA ULTIMA INSPEÇÃO:

OBSERVAÇÕES:
1° CICLO ( ) 2° CICLO ( )

6. CONDIÇÕES DE CONSERVAÇÃO DAS ESTRUTURAS


A- BARRAGEM PRINCIPAL:
6.1 ESTRUTURA VERTEDOURA:
- EXISTÊNCIA DE RACHADURAS, TRINCAS, DESCALÇAMENTO, JUNTAS DANIFICADAS ............................. ( ) SIM NÃO ( )
- EXISTÊNCIA DE EROSÕES, OBSTRUÇÕES, VEGETAÇÃO A JUSANTE DO CANAL DE RESTITUIÇÃO ........... ( ) SIM NÃO ( )
- EROSÃO, RACHADURAS, DETERIORAÇÃO DO MURO LATERAL ........................................................... ( ) SIM NÃO ( )
- EXISTÊNCIA DE EROSÕES, OBSTRUÇÕES, VEGETAÇÃO A JUSANTE DA BACIA AMORTECEDORA ............ ( ) SIM NÃO ( )
COMENTÁRIO:

6.2 PERCOLAÇÃO:
- TOTALMENTE CONTROLADA PELO SISTEMA DE DRENAGEM .............................................................. ( ) SIM NÃO ( )
- SINAIS DE UMEDECIMENTO NAS ÁREAS DE JUSANTE (TALUDES OU OMBREIRAS) ................................ ( ) SIM NÃO ( )
- ZONAS ÚMIDAS EM TALUDES DE JUSANTE OU OMBREIRAS................................................................ ( ) SIM NÃO ( )
- ÁREA ALAGADA À JUSANTE DEVIDO AO FLUXO ................................................................................ ( ) SIM NÃO ( )
- SURGÊNCIA DE ÁGUA EM TALUDES ................................................................................................ ( ) SIM NÃO ( )
- SURGÊNCIA DE ÁGUA EM OMBREIRAS E ÁREA DE JUSANTE .............................................................. ( ) SIM NÃO ( )

COMENTÁRIO:

6.3 DEFORMAÇÕES, AFUNDAMENTOS, ASSENTAMENTOS


- INEXISTENTE ............................................................................................................................... ( ) SIM NÃO ( )
- PEQUENOS ABATIMENTOS DA CRISTA ............................................................................................ ( ) SIM NÃO ( )
- ONDULAÇÕES PRONUNCIADAS, FISSURAS ...................................................................................... ( ) SIM NÃO ( )
- DEPRESSÃO NA CRISTA, TRINCAS, AFUNDAMENTOS NOS TALUDES OU NA FUNDAÇÃO......................... ( ) SIM NÃO ( )

COMENTÁRIO:

6.4 DETERIORAÇÃO DOS TALUDES /PARAMENTOS


- INEXISTENTE ............................................................................................................................... ( ) SIM NÃO ( )
- FALHAS NO RIP-RAP DE MONTANTE ............................................................................................... ( ) SIM NÃO ( )
- FALHAS NA PROTEÇÃO DE TALUDE DE JUSANTE .............................................................................. ( ) SIM NÃO ( )
- DRENAGEM INSUFICIENTE E SULCOS NOS TALUDES ......................................................................... ( ) SIM NÃO ( )
- DEPRESSÃO NO RIP-RAP, ESCORREGAMENTOS - SULCOS PROFUNDOS DE EROSÃO, VEGETAÇÃO ....... ( ) SIM NÃO ( )

2
ANTES DA REGULAMENTAÇÃO DO CNRH DEPOIS DA REGULAMENTAÇÃO DO CNRH

ALERTA/EMERGÊNCIA SEMESTRAL RISCO/DANO DANO DANO


DANO ALTO
POTENCIAL MÉDIO BAIXO

NORMAL/ATENÇÃO ANUAL
RISCO ALTO SEMESTRAL ANUAL ANUAL

RISCO
SEMESTRAL SEMESTRAL ANUAL
MÉDIO

RISCO
SEMESTRAL ANUAL BIANUAL
BAIXO

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5
COMENTÁRIO:

6.5 OUTRAS OBSERVAÇÕES

7. COMPARAÇÃO DA VISTORIA DE CAMPO E DO RELATÓRIO DE INSPEÇÃO:


7.1. AS ANOMALIAS OBSERVADAS DURANTE A VISTORIA EM CAMPO ESTÃO DE ACORDO COM AS DESCRITAS NO RELATÓRIO DE INSPEÇÃO?
( ) SIM NÃO ( )
COMENTAR:

7.2. OS RESULTADOS E REVISÃO DOS REGISTROS DE INSTRUMENTAÇÃO OBSERVADOS DURANTE A VISTORIA EM CAMPO ESTÃO DE ACORDO COM AS
DESCRITAS NO RELATÓRIO DE INSPEÇÃO?

( ) SIM NÃO ( )
COMENTAR:

7.3. A INDICAÇÃO DE NECESSIDADE DE PEQUENOS REPAROS INDICADOS NO RELATÓRIO DE INSPEÇÃO DE ACORDO COM AQUELES OBSERVADOS NA VISTORIA
EM CAMPO?

( ) SIM NÃO ( )
COMENTAR:

7.4. A INDICAÇÃO DE NECESSIDADE DE MANUTENÇÃO INDICADOS NO RELATÓRIO DE INSPEÇÃO ESTÃO DE ACORDO COM AQUELES OBSERVADOS NA VISTORIA
EM CAMPO?

( ) SIM NÃO ( )
COMENTAR:

7.5. OUTRAS OBSERVAÇÕES

8.PROVIDÊNCIAS:
8.1 ( ) CONVOCAR O ESPECIALISTA DO PAINEL EXTERNO PRAZO:
8.2 (...) NECESSIDADE DE INSPEÇÕES DE SEGURANÇA REGULARES COMPLEMENTARES (ART.4°, §1) PRAZO:
8.3 ( ) ORIENTAÇÃO/ADVERTÊNCIA PRAZO:
8.4 ( ) AUTO DE INFRAÇÃO PRAZO:
8.5 ( ) PROTOCOLO DE COMPROMISSO PRAZO:
8.6 ( ) EMBARGO PRAZO:
8.7 ( ) ENCAMINHAMENTO À GEFIU PRAZO:
8.8 ( ) ENCAMINHAMENTO À GECAD PRAZO:
8.9 ( ) ENCAMINHAMENTO À GESER PRAZO:
8.10 ( ) ENCAMINHAMENTO ÀS AUTORIDADES COMPETENTES (GOVERNADOR, ORGÃOS ESTADUAIS, PRAZO:
EMPREENDEDOR)
OBSERVAÇÕES:

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6
LOCAL E DATA:

ASSINATURA, CARIMBO E Nº SIAPE DO TÉCNICO ASSINATURA, CARIMBO E Nº SIAPE DA CHEFIA


IMEDIATA

_________________________________________________________________________________
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7
ANEXO II
FICHA FISCALIZAÇÃO – PLANO DE SEGURANÇA DE BARRAGEM
Resolução ANA nº 91 de 02 de abril de 2012

_________________________________________________________________________________
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8
_________________________________________________________________________________
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9
1 - DADOS CADASTRAIS
1.1 NOME DA BARRAGEM: 1.2 DATA DA FISCALIZAÇÃO: 1.3 CÓDIGO ANA
_______/_______/______

1.4 RIO BARRADO 1.5 LOCALIZAÇÃO: 1.6 Nº OUTORGA


Latitude: _____º ______’__________”
Longitude: _____º ______’__________” 1.7 Nº CNARH

1.8 CLASSIFICAÇÃO ATUAL DE DANO E RISCO (CNRH):


( ) Dano Potencial Alto ( ) Dano Potencial Médio ( ) Dano Potencial Baixo Classe de Risco e
3
( ) Risco Alto ( ) Risco Médio ( ) Risco Baixo Dano :
4
1.9 VOLUMES DO PLANO DE SEGURANÇA NECESSÁRIOS (ART. 5º)
( ) Volume I ( ) Volume II ( ) Volume III ( ) Volume IV ( ) Volume V
2. CONTEÚDO DO PLANO DE SEGURANÇA DE BARRAGEM (ART 6º)
VOLUME V - TOMO I
2.1. PRAZO DE INÍCIO RESPEITADO?: 2.2. PRAZO DE CONCLUSÃO RESPEITADO?: 2.3 DATA DE ELABORAÇÃO DO VOLUME V:
( ) SIM NÃO ( ) ( )SIM NÃO ( ) _______/_______/______
OBSERVAÇÕES:

2.4 POSSUI RESULTADO DE INSPEÇÃO DETALHADA E ADEQUADA DO LOCAL DA BARRAGEM E DE SUAS ESTRUTURAS ASSOCIADAS? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

2.5. POSSUI REAVALIAÇÃO DO PROJETO EXISTENTE, DE ACORDO COM OS CRITÉRIOS DE PROJETO APLICÁVEIS À ÉPOCA DA REVISÃO? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

2.6. POSSUI REAVALIAÇÃO DA CATEGORIA DE RISCO E DANO POTENCIAL ASSOCIADO? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

2.7. POSSUI ATUALIZAÇÃO DAS SÉRIES E ESTUDOS HIDROLÓGICOS E CONFRONTAÇÃO DESSES ESTUDOS COM A CAPACIDADE DOS DISPOSITIVOS DE
DESCARGA EXISTENTES? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

2.8. POSSUI REAVALIAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS DE OPERAÇÃO, MANUTENÇÃO, TESTES, INSTRUMENTAÇÃO E MONITORAMENTO? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

2.9. POSSUI REAVALIAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO DE EMERGÊNCIA- PAE, QUANDO FOR O CASO? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

2.10. POSSUI REVISÃO DOS RELATÓRIOS DAS REVISÕES PERIÓDICAS DE SEGURANÇA DE BARRAGEM DE ANTERIORES? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

3
Matriz de Categoria de Risco e Dano Potencial Associado (ANEXO I)

DANO POTENCIAL ASSOCIADO


CATEGORIA DE RISCO
ALTO MÉDIO BAIXO
ALTO A B C
MÉDIO A C D
BAIXO A C E

4
Volumes necessários de Acordo com a Categoria de Risco e Dano Potencial Associado (art. 6º )

CLASSE A: VOLUMES I, II, III, IV E V;

CLASSE B, C, D OU E: VOLUMES I, II, III, E V;

_________________________________________________________________________________
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entre a Agência Nacional de Águas - ANA e a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu - Brasil - FPTI.
3
2.11. POSSUI RELATÓRIO FINAL DO ESTUDO? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

VOLUME V - TOMO II
2.12 POSSUI IDENTIFICAÇÃO DA BARRAGEM E EMPREENDEDOR? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

2.13. POSSUI IDENTIFICAÇÃO DO AUTOR DO TRABALHO? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

2.14. POSSUI PERÍODO DE REALIZAÇÃO DO TRABALHO? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

2.15. POSSUI LISTAGEM DOS ESTUDOS REALIZADOS? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

2.16. POSSUI CONCLUSÕES? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

2.17. POSSUI RECOMENDAÇÕES? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

2.18. POSSUI PLANO DE AÇÃO DE MELHORIA E CRONOGRAMA DE IMPLANTAÇÃO DAS AÇÕES INDICADAS NO TRABALHO? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

3. CONTEÚDO DO PLANO DE SEGURANÇA DE BARRAGEM (ART 6º) - VOLUME IV (Plano de ação e emergência)
3.1. SE APLICA? 3.2. PRAZO DE INÍCIO 3.3. PRAZO DE CONCLUSÃO 3.4 DATA DE ELABORAÇÃO DO VOLUME IV:
( ) SIM NÃO ( ) RESPEITADO?: RESPEITADO? _______/_______/______
( ) SIM NÃO ( ) ( )SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

4. CONTEÚDO DO PLANO DE SEGURANÇA DE BARRAGEM (ART 6º) - VOLUME III


4.1. PRAZO DE INÍCIO RESPEITADO? 4.2. PRAZO DE CONCLUSÃO RESPEITADO? 4.3 DATA DE ELABORAÇÃO DO VOLUME III:
( ) SIM NÃO ( ) ( )SIM NÃO ( ) _______/_______/______
OBSERVAÇÕES:

4.4. POSSUI REGISTROS DE OPERAÇÃO? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

4.5. POSSUI REGISTROS DA MANUTENÇÃO? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

4.6. POSSUI REGISTROS DE MONITORAMENTO E INSTRUMENTAÇÃO? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

4.7. POSSUI FICHAS E RELATÓRIOS DE INSPEÇÕES DE SEGURANÇA DE BARRAGENS? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

_________________________________________________________________________________
Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado
entre a Agência Nacional de Águas - ANA e a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu - Brasil - FPTI.
4
4.8. POSSUI REGISTROS DOS TESTES DE EQUIPAMENTOS HIDRÁULICOS, ELÉTRICOS E MECÂNICOS? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

5. CONTEÚDO DO PLANO DE SEGURANÇA DE BARRAGEM (ART 6º) - VOLUME II


5.1. PRAZO DE INÍCIO RESPEITADO? 5.2. PRAZO DE CONCLUSÃO RESPEITADO? 5.3 DATA DE ELABORAÇÃO DO VOLUME II:
( ) SIM NÃO ( ) ( )SIM NÃO ( ) _______/_______/______

OBSERVAÇÕES:

5.4 PREVISTO REGRA OPERACIONAL DOS DISPOSITIVOS DE DESCARGA? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

5.5 PLANO DE OPERAÇÃO POSSUI PROCEDIMENTOS PARA ATENDIMENTO ÀS REGRAS OPERACIONAIS DEFINIDAS PELO EMPREENDEDOR OU POR ENTIDADE
RESPONSÁVEL, QUANDO FOR O CASO?( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

5.6. POSSUI PLANEJAMENTO DAS MANUTENÇÕES? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

5.7. POSSUI PLANO DE MONITORAMENTO E INSTRUMENTAÇÃO? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

5.8. POSSUI PLANEJAMENTO DAS INSPEÇÕES DE SEGURANÇA DA BARRAGEM? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

5.9. POSSUI CRONOGRAMA DE TESTES DE EQUIPAMENTOS HIDRÁULICOS, ELÉTRICOS E MECÂNICOS.? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

6. CONTEÚDO DO PLANO DE SEGURANÇA DE BARRAGEM (ART 6º) - VOLUME I


VOLUME I -TOMO I
6.1. PRAZO DE INÍCIO RESPEITADO?: 6.2. PRAZO DE CONCLUSÃO RESPEITADO?: 6.3 DATA DE ELABORAÇÃO DO VOLUME I:
( ) SIM NÃO ( ) ( )SIM NÃO ( ) _______/_______/______

6.4. POSSUI IDENTIFICAÇÃO DO EMPREENDEDOR? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

6.5. POSSUI CARACTERIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

6.6. POSSUI CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DO PROJETO E DA CONSTRUÇÃO? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

6.7. POSSUI INDICAÇÃO DA ÁREA DO ENTORNO DAS INSTALAÇÕES E SEUS RESPECTIVOS ACESSOS A SEREM RESGUARDADOS DE QUAISQUER USOS OU
OCUPAÇÕES PERMANENTES? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

6.8. POSSUI, QUANDO FOR O CASO, INDICAÇÃO DA ENTIDADE RESPONSÁVEL PELA REGRA OPERACIONAL DO RESERVATÓRIO? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

_________________________________________________________________________________
Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado
entre a Agência Nacional de Águas - ANA e a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu - Brasil - FPTI.
5
6.9. POSSUI DECLARAÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO DA BARRAGEM QUANTO À CATEGORIA DE RISCO E DANO POTENCIAL? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

6.10. POSSUI FORMULÁRIO CONSTANTE DO ANEXO IV PREENCHIDO? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

VOLUME I - TOMO II
6.11. POSSUI PROJETOS (BÁSICO E/OU EXECUTIVO)? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

6.12. POSSUI PROJETO COMO CONSTRUÍDO (AS BUILT)? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

6.14 POSSUI OS MANUAIS DOS EQUIPAMENTOS? ( ) SIM NÃO ( )


OBSERVAÇÕES:

6.14. POSSUI LICENÇAS AMBIENTAIS, OUTORGAS E DEMAIS REQUERIMENTOS LEGAIS? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

7. QUANTO AO PLANO DE SEGURANÇA DE BARRAGEM FOI ELABORADO ATÉ O INÍCIO DA OPERAÇÃO (ART 7º)
7.1 O PLANO DE SEGURANÇA FOI ELABORADO ATÉ O INÍCIO DA OPERAÇÃO? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

8. A ATUALIZAÇÃO EM DECORRÊNCIA DAS INSPEÇÕES REGULARES E ESPECIAIS E DAS REVISÕES PERIÓDICA DE SEGURANÇA DA BARRAGEM (AR
9º)
8.1 OS VOLUMES DO PLANO DE SEGURANÇA DE BARRAGEM POSSUEM FOLHA DE CONTROLE DE ATUALIZAÇÃO? ( ) SIM NÃO ( )
OBSERVAÇÕES:

9. RESUMO EXECUTIVO DA REVISÃO PERIÓDICA (AR 13º)


9.1 O RESUMO EXECUTIVO FOI ENCAMINHADO PARA ANA? ( ) SIM NÃO ( ) DATA DO ENVIO DO RESUMO EXECUTIVO
OBSERVAÇÕES: _______/_______/______

10. PROVIDÊNCIAS:
10.1 ( ) ORIENTAÇÃO/ADVERTÊNCIA PRAZO:
10.2 ( ) AUTO DE INFRAÇÃO PRAZO:
10.3 ( ) PROTOCOLO DE COMPROMISSO PRAZO:
10.4 ( ) EMBARGO PRAZO:
10.5 ( ) ENCAMINHAMENTO À GEFIU PRAZO:
10.6 ( ) ENCAMINHAMENTO À GECAD PRAZO:
10.7 ( ) ENCAMINHAMENTO À GESER PRAZO:
10.8 ( ) ENCAMINHAMENTO ÀS AUTORIDADES COMPETENTES (GOVERNADOR, ORGÃOS ESTADUAIS, PRAZO:
EMPREENDEDOR)
OBSERVAÇÕES:

11. COMENTÁRIOS GERAIS:

_________________________________________________________________________________
Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado
entre a Agência Nacional de Águas - ANA e a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu - Brasil - FPTI.
6
12. ANEXOS:
( ) 12.1 FICHA DE VISTORIA DE CAMPO
( ) 12.2 FICHA CADASTRAL
( ) 12.3 OUTRO _______________________________________________

LOCAL E DATA: INSPECIONADO POR: DE ACORDO:


_______/_______/_________
________________________________________ __________________________________________
ASSINATURA, CARIMBO E Nº SIAPE DO TÉCNICO __
ASSINATURA, CARIMBO E Nº SIAPE DA CHEFIA
IMEDIATA

_________________________________________________________________________________
Material produzido no âmbito do Convênio nº 001/ANA/2011 – SICONV nº 756001/2011, firmado
entre a Agência Nacional de Águas - ANA e a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu - Brasil - FPTI.
7
CURSO
SEGURANÇA DE BARRAGENS
MÓDULO I – BARRAGENS: ASPECTOS
LEGAIS, TÉCNICOS E SÓCIOAMBIENTAIS

UNIDADE 4: BARRAGENS E SEUS IMPACTOS


SOCIOAMBIENTAIS
FICHA TÉCNICA
Realização:

EQUIPE TÉCNICA

Patrícia Garcia da Silva Carvalho Glauco Gonçalves Dias


Elaboração de conteúdo Revisor Técnico Geral

Etore Funchal de Faria


Alexandre Anderáos
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico ANA

Fabio Luiz Willrich


Carlos Leonardi
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Josiele Patias
Cesar Eduardo b. Pimentel
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico ANA

Josimar Alves de Oliveira


Claudio Neumann
Revisor técnico ANA
Revisor técnico Itaipu

Ligia Maria Nascimento de


Claudio Osako Araújo
Revisor técnico Itaipu Revisora técnica ANA

Silvia Frazão Matos


Dimilson Pinto Coelho
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Revisão Ortográfica

ICBA – Centro de Línguas


www.cursodeidiomasicba.com.br

Este obra foi licenciada sob uma Licença .Creative Commons Atribuição-
NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada
CURRICULO RESUMIDO

Profª: Patrícia Garcia da Silva Carvalho

Possui graduação em Ciências


Biológicas pela Pontifícia
Universidade Católica de Minas
Gerais (1985) e mestrado em
Geografia e Análise Ambiental pela
Universidade Federal de Minas
Gerais (1995).
Atualmente é consultora na área de meio ambiente, membro do conselho
deliberativo do Instituto Latino-Americano de Sustentabilidade. Foi
Coordenadora Acadêmia das Faculdades Anglo-Americano (2009-
Dezembro 2011), coordenadora do curso de especialização em Análise
Ambiental, Coordenadora de Pós-graduação e Extensão (2007-2008),
Coordenadora do Curso de Ciências Biológicas (2006-2008), professora
dos cursos de Tecnologia em Gestão Ambiental e de Ciências Biológicas.
É professora da Faculdade União das Américas, no curso de Engenharia
Ambiental. Atuou como consultora da Fundação Roberto Marinho e Itaipu
Binacional no Programa Multicurso Água Boa, na Nativa Sócio-Ambiental,
na Megafoco Consultoria e Treinamento e em outras instituições de
consultoria privadas. Tem experiência na área de Zoologia, com ênfase
em Conservação de Biodiversidade, atuando principalmente nos
seguintes temas: diagnóstico ambiental, bacia hidrográfica, ecologia,
gestão ambiental e impacto ambiental.
SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS................................................................................................06
LISTA DE FIGURAS..................................................................................................06
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................08

2 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS: HISTÓRICO E APLICAÇÕES...............................09


3 CONCEITOS, IDENTIFICAÇÃO E TRATAMENTO DE IMPACTOS
SOCIOAMBIENTAIS..................................................................................................15
3.1 Impacto Ambiental...............................................................................................15
3.2 Impacto Social.....................................................................................................18
3.3 Impactos socioambientais: relação e descrição..................................................18
3.4 Classificação dos Impactos e sua Influência ......................................................21
3.5 Avaliação de Impactos.........................................................................................25
3.6 Medidas e Programas.........................................................................................27
4 IMPACTOS AMBIENTAIS EM BARRAGENS.......................................................33
4.1 Estudo de Caso: Barragem de Ipojuca................................................................34
REFERÊNCIAS .........................................................................................................61
SITES PARA CONSULTA..........................................................................................63
LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Listagem de Indicadores para Estudos de Barragens..............................26


Quadro 2 - Medidas Típicas de um programa de gestão Ambiental de Barragens....28

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Sistema de Gestão Ambiental da UHE de Foz do Apiacás.......................31


Figura 2 - Programas Ambientais da Barragem do Rio Ipojuca.................................32
Figura 3 - Transformações a Montante e a Jusante da Barragem.............................43
Prezado aluno,

no decorrer desta Unidade você deverá¡ desenvolver competência para:


• Disseminar conceitos de segurança de barragens e sua importância
sócioambiental;
• Determinar/ discutir medidas mitigadoras, potencializadoras e
compensatórias aos impactos socioambientais.

Bom estudo!
1. INTRODUÇÃO

A conservação ambiental e o uso adequado dos recursos hídricos são


indissociáveis, pois envolvem a sustentabilidade da vida nas diferentes esferas de
manifestação, incluindo o homem. Atualmente, pode-se considerar que existe a crise
da água que ameaça a sobrevivência da biosfera como um todo. O uso múltiplo da
água pela humanidade vem ocasionando degradação e diferentes tipos de poluição
hídrica que de forma direta comprometem a saúde ambiental e a qualidade de vida
das populações.

No Brasil observam-se grandes contrastes na dispersão natural e acesso à água,


gerando episódios de inundação e seca simultâneas em diferentes partes do país. A
água deve ser considerada como um recurso estratégico, e nesse sentido a
formação de recursos humanos qualificados para implementar a adequada gestão
das bacias hidrográficas e das águas torna-se essencial.

Este conteúdo está composto em 3 partes, a primeira aborda a avaliação de


impactos ambientais; a segunda apresenta conceitos e definições importantes para
a compreensão do tema E a terceira unidade trata dos impactos ambientais em
barragens.

Cabe esclarecer que o conceito de barragem envolve os usos múltiplos do


reservatório: geração de energia elétrica, abastecimento público, regularização de
vazão, navegação, pesca, lazer e esporte (recreação). Assim, em alguns momentos
as hidrelétricas serão referenciadas no texto especificando-se o uso do recurso
hídrico para a geração de energia elétrica.
2. AVALIAÇÃO DE IMPACTOS: HISTÓRICO E APLICAÇÕES

A primeira legislação voltada para a avaliação de impactos ambientais (AIA) foi a Lei
da Política Nacional do Meio Ambiente dos Estados Unidos (National Environmental
Policy Act - NEPA) aprovada em 1969 pelo Congresso e que tornou a atividade
obrigatória, a ser realizada antes da tomada de decisões de intervenções no
território que possam acarretar alterações ambientais (projetos governamentais, ou
de empresas privadas a serem aprovadas pelo governo federal).

Essa lei preconizava em seu artigo 102 que a abordagem da AIA) deveria ser
interdisciplinar e sistemática (ciências naturais e sociais); os valores ambientais
deveriam ser ponderados ao lado das considerações técnicas e econômicas e
determinava que os impactos associados ao empreendimento, bem como os efeitos
ambientais adversos, as alternativas propostas e o comprometimento reversível ou
irrecuperável dos recursos fosse devidamente aclarado.

Com o objetivo de tornar a lei operacional e exequível era necessário fornecer meios
para a ação e o mecanismo selecionado foi o environmental impact statement (EIS),
no Brasil foi adotado o termo Estudo de Impacto Ambiental, ou seja, uma lista de
verificação composta por critérios de planejamento ambiental que promova uma
mudança na tomada de decisões administrativas (SÁNCHEZ, 2008). A adoção
desse mecanismo objetivava trabalhar em consonância como o princípio de que
prevenir é melhor do que remediar. Além disso, nessa ótica o princípio da prevenção
encontra aplicabilidade no setor público e privado.

Importa referir que naquele período nos Estados Unidos havia um movimento
político atento às demandas sociais e a essa conjuntura que propiciou o surgimento
da NEPA. Ao longo dos anos a AIA foi sendo remodelada, aprimorada, adaptada às
diferentes realidades dos estados e expandiu-se para outros países, sempre com o
objetivo de prevenir danos ambientais, controlar alterações ambientais negativas
que comprometam a qualidade de vida e, sobretudo, apoiar o processo decisório
anterior à intervenção pretendida no ambiente.
Em contraposição à América do Norte, a Europa não absorveu a AIA de forma
imediata, pois os governos já incorporavam a variável ambiental nas políticas de
planejamento. A diretiva europeia que determinou a adoção de procedimentos
formais de AIA para empreendimentos considerados potencialmente promotores de
degradação ambiental significativa demorou dez anos para ser implementada. A
exceção a essa condição foi a França, que em 1976 adotou a AIA, mas uma
diferença significativa marcava os dois modelos: na NEPA a agência governamental
era a responsável pela avaliação dos impactos e na França, os estudos de impacto
ambiental deveriam ser feitos pelo interessado no empreendimento.

A disseminação da AIA na Ásia e nos países da América Latina e Central ocorreu na


década de 80 e Monosowski (apud SÁNCHEZ,2008) pontua que:
"Em 1972, na época da Conferência de Estocolmo, existiam apenas onze
órgãos ambientais nacionais, a maioria em países industrializados. Em
1981, a situação havia mudado de forma dramática, contavam-se 106
países, na maioria em desenvolvimento. Uma nova década se passa, em
1991, praticamente todos os países dispunham de algum tipo de instituição
similar".

Essa condição implica que formas similares de desenvolvimento acabam por gerar
modelos de degradação e danos ambientais similares. Associado a esse fato, as
agências de fomento internacionais (Banco Mundial, Banco Interamericano de
Desenvolvimento, USAID - US Agency for International Development), e as agências
europeias passaram a adotar e a exigir a aplicação da Avaliação de Impactos
Ambientais como um dos critérios de concessão dos financiamentos.

O Banco Mundial teve um papel fundamental na difusão da AIA, pois era o


fomentador de vários grandes projetos na América do Sul, projetos esses
associados à geração de alterações ambientais significativas. No Brasil, o Banco foi
pressionado e criticado pelas organizações não-governamentais ambientalistas, pois
os projetos financiados promoveram impactos ecológicos e socioculturais
significativos, exemplo, a pavimentação da Rodovia BR-364 de Cuiabá a Porto
Velho, no ano de 1980, que promoveu um processo perverso de ocupação da
região, incluindo a dizimação de populações indígenas. Os primeiros estudos de
impacto ambiental feitos no Brasil estão associados ao financiamento pelo Banco
Mundial, as barragens de Sobradinho, (Rio São Francisco - 1972), Tucuruí (Rio
Tocantins - 1977), esse último estudo, foi elaborado um ano após o início das obras.

Em 1974 o Banco Mundial publica o documento: Environmental, Health, and Human


Ecologic Considerations in Economic Development e em 1977, Maria Tereza
Esteven Bolea (Centro Internacional de Formación em Ciencias Ambientales) publica
o artigo Las Evaluaciones del Impacto Ambiental, que podem ser considerados os
primeiros documentos públicos voltados para a avaliação de impacto ambiental.

A década de 70 no Brasil foi marcada pelo crescimento econômico promovido sobre


áreas do cerrado e da Amazônia, a partir de investimentos governamentais em
grandes projetos, como por exemplo, a Itaipu e a rodovia Transamazônica. Nesta
época, acadêmicos e ambientalistas brasileiros partidários do pensamento
"ecológico" já questionavam esse modelo de desenvolvimento.

Ao mesmo tempo, a academia assumia o estudo dos impactos ambientais de


grandes barragens; Tundisi foi o precursor ao estudar as barragens no baixo Tietê
com foco nos aspectos limnológicos (TUNDISI, 1986.). Ao mesmo tempo, Robert
Goodland estudou os efeitos das grandes hidrelétricas brasileiras entre 1973 e 1991.

A pressão interna dos acadêmicos e ambientalistas e as pressões externas dos


órgãos de fomento forçam o Brasil a emitir o primeiro diploma legal voltado para o
controle das atividades altamente poluidoras. Assim, em 1980, o governo brasileiro
publica a Lei nº 6803/80 – inspirada no direito americano (National Environment
Policy Act de 1969), que “dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento
industrial nas áreas críticas de poluição” – zonas de uso estritamente industrial – o
diploma, contudo não previa a participação da comunidade, ou sequer fiscalização
do EIA.

Em 1981, o Poder Executivo formula o projeto de lei sobre a Política Nacional do


Meio Ambiente (Lei 6938/81), que incluiu a avaliação de impactos ambientais como
um dos instrumentos para alcançar os objetivos propostos na lei. Em 1983, o
Decreto N º 88351, de 01 de Junho regulamenta a Lei n º 6938/81 que dispõe sobre
a Política Nacional de Meio Ambiente, vincula AIA ao sistema de licenciamento,
dando competência ao Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) para fixar
critérios básicos de exigência do Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto
Ambiental.

E no Art. 3º determina a estrutura do Sistema Nacional do Meio Ambiente


(SISNAMA): constituído pelos Órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios, dos Municípios e fundações instituídas pelo Poder Público,
responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental e tem como Órgão
Superior o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).

E no Art. 18, o Decreto delineia o licenciamento de atividades assim, a construção,


instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimento de atividades utilizadoras
de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem
como os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental, dependerão de prévio licenciamento do órgão estadual competente,
integrante do SISNAMA, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis.

Em 23 de janeiro de 1986, o CONAMA emite a Resolução CONAMA Nº 001/86 na


qual são apresentadas as definições e conceitos relativos, definidas as
responsabilidades, critérios básicos e diretrizes gerais para AIA, como instrumento
da Política Nacional do Meio Ambiente. Essa resolução estabelece ainda que no
processo de avaliação de impactos ambientais o proponente do projeto deverá
apresentar dois documentos preparados por uma equipe multidisciplinar
independente, são eles: o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de
Impacto Ambiental (RIMA).

O RIMA é um documento destinado à consulta pública e deve por isso ser escrito em
linguagem acessível e apresentar as conclusões do EIA. A obrigatoriedade do EIA
significou um marco na evolução do ambientalismo no Brasil pela institucionalização
de um instrumento preventivo de tutela ambiental. Já a Resolução CONAMA Nº
006/87, de 16 de Setembro, estabelece regras gerais para o Licenciamento
Ambiental de Obras de Grande Porte, notadamente de instalações de geração de
energia elétrica associando o EIA à Licença Prévia.

A Resolução CONAMA Nº 9, de 3 de Dezembro de 1987, dispõe sobre a realização


de Audiências Públicas no processo de licenciamento ambiental, abrindo canal para
a participação comunitária na aferição do conteúdo dos EIA. O Decreto nº 99274/90
regulamenta a Lei nº 6.902, de 27 deAbril de 1981, e a Lei nº 6.938, de 31 de Agosto
de 1981 que dispõem respectivamente a criação de Estações Ecológicas e Áreas de
Proteção Ambiental e a Política Nacional do Meio Ambiente, e dá outras
providências.

Assim, compete ao CONAMA determinar, quando julgar necessário, a realização de


estudos sobre as alternativas e possíveis consequências ambientais de projetos
públicos ou privados, requisitando o EIA e respectivos relatórios, no caso de obras
ou atividades de significativa degradação ambiental.

Em seu Art. 19., o Decreto determina que o Poder Público, no exercício de sua
competência de controle, expedirá as seguintes licenças:

I - Licença Prévia (LP), na fase preliminar do planejamento de atividade,


contendo requisitos básicos a serem atendidos nas fases de localização, instalação
e operação, observados os planos municipais, estaduais ou federais de uso do solo;
II - Licença de Instalação (LI), autorizando o início da implantação, de
acordo com as especificações constantes do Projeto Executivo aprovado; e
III - Licença de Operação (LO), autorizando, após as verificações
necessárias, o início da atividade licenciada e o funcionamento de seus
equipamentos de controle de poluição, de acordo com o previsto nas Licenças
Prévia e de Instalação.
Em 1988 a AIA é corroborada na Constituição Federal, que em seu artigo 225 indica:
Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.

§ 1 º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:


[…]

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade


potencialmente causadora de significativa degradação ambiental, estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dará publicidade.

Em 1997, o CONAMA emitiu a Resolução 237, em 19 de Dezembro, dispondo sobre


licenciamento ambiental; competência da União, Estados e Municípios; listagem de
atividades sujeitas ao licenciamento; Estudos Ambientais, Estudo de Impacto
Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental. Essa Resolução revisa definições,
conceitos, competências e procedimentos para o licenciamento ambiental, define
prazos para as licenças e em empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental.

Importa destacar após a apresentação do histórico legal que no Brasil o processo de


avaliação de impacto ambiental está vinculado ao processo de licenciamento
ambiental e que não se exige a apresentação do EIA para todas as atividades
sujeitas ao licenciamento ambiental; outros documentos podem ser exigidos pelo
IBAMA e órgãos estaduais e municipais, tais como o Relatório Ambiental
Simplificado, o Relatório de Controle Ambiental/Plano de Controle Ambiental, desde
que considerados pelos órgãos ambientais como empreendimentos que não irão
causar potencial e significativa degradação ambiental.
3. CONCEITOS, IDENTIFICAÇÃO E TRATAMENTO DE IMPACTOS
SOCIOAMBIENTAIS

Nesta unidade serão apresentados os conceitos de impacto ambiental, efeito


ambiental, aspecto ambiental, áreas de influência indireta/direta e área diretamente
afetada pelos empreendimentos sujeitos à avaliação de impactos ambientais. Além
dos conceitos de ecossistema, ecologia, e suas bases teóricas, com objetivo de
apoiar a compreensão da unidade relativa aos impactos socioambientais de
barragens.

3.1 Impacto Ambiental

Apesar dos inegáveis benefícios da construção de uma barragem, esse processo


tem como efeito adverso uma série de impactos. Ambientalmente, a construção e,
especialmente, a formação do reservatório trás significativos impactos para a região
da construção.

A Resolução CONAMA 001/1986, determina:

"O Conselho Nacional Do Meio Ambiente (CONAMA), no uso das atribuições que lhe
confere o artigo 48 do Decreto nº 88.351, de 1º de Julho de 1983, para efetivo
exercício das responsabilidades que lhe são atribuídas pelo artigo 18 do mesmo
decreto, e considerando a necessidade de se estabelecerem as definições, as
responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e
implementação da Avaliação do Impacto Ambiental como um dos instrumentos da
Política Nacional do Meio Ambiente, resolve:

Art. 1º - Para efeitos desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer


alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,
causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades
humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V - a qualidade dos recursos ambientais.

Assim, impacto ambiental é qualquer alteração no ambiente de caráter positivo ou


negativo causada pela atividade antrópica. Essas alterações podem afetar o
ambiente total ou partes do ambiente (meio físico, meio biológico e meio
socioeconômico).

Outras definições podem ser apresentadas no sentido de consolidar o conceito:

Impacto ambiental: qualquer alteração no sistema ambiental físico, químico,


biológico, cultural e socioeconômico que possa ser atribuído a atividades humanas
relativas às alternativas em estudo para satisfazer as necessidades de um projeto
(CANTER, 1977). Segundo a maioria dos autores europeus, diferencia-se impacto
ambiental de efeito ambiental a partir da origem das alterações ambientais, ou seja,
o impacto tem origem nas ações humanas e os efeitos ambientais resultam de
causas/fenômenos naturais (furacões, tornados, terremotos, tsunamis).

O aspecto ambiental é o fator ambiental diretamente associado ao impacto, por


exemplo, no impacto poluição da água, o aspecto ambiental é a água.

Bolea, na década de 80, (apud SILVA,1999) define impacto ambiental de um projeto


como sendo "a diferença entre a situação do ambiente (natural e social) futuro,
modificado pela realização de um projeto e a situação do meio ambiente futuro tal
como teria evoluído sem o projeto".

Na execução de uma barragem uma das mudanças mais significativas se refere à


mudança no regime do rio. Nos rios, o fluxo da água (velocidade, quantidade,
desníveis de altitude – cachoeiras) interfere na capacidade que aquele ambiente tem
em manter o equilíbrio entre oxigênio e matéria orgânica. No fluxo de água, a rede
alimentar começa com as algas que absorvem os nutrientes (galhos, folhas, animais
mortos) para a fotossíntese, e são consumidas diretamente pelos micróbios. Os rios
com águas turbulentas transformam a energia potencial em energia cinética gerando
maior fluxo de energia no sistema, as quedas/cachoeiras oxigenam as águas
ampliando a capacidade de autodepuração dos rios.

A criação do reservatório muda o regime dos rios de lótico (mais movimento) para
lêntico (menos movimento).

Nas últimas décadas, os cientistas, ao buscarem uma melhor compreensão da


dinâmica hídrica fluvial passaram a considerar a bacia hidrográfica como unidade de
planejamento e gestão dos recursos naturais. Conceitualmente, bacia hidrográfica é
toda área de drenagem de um riacho ou rio da qual todas as águas de superfície e
de subsolo saem por um mesmo ponto.

Segundo Odum (1988), a bacia hidrográfica inteira e, não a massa de água, ou a


vegetação, deve ser considerada a unidade mínima de ecossistema quando se trata
de avaliar as ações e interesses humanos. Isso significa que os campos, as
florestas, as massas de água e as cidades, interligadas por um sistema de
drenagem superficial e/ou subterrâneo, interagem como uma unidade prática em
nível de ecossistema, seja para a pesquisa ou para a gestão ambiental.

Sob o ponto de vista do conceito de rios contínuos, em que os segmentos do


sistema fluvial interagem entre si e estão conectados às transformações físicas,
químicas, biológicas e econômicas presentes na bacia hidrográfica, qualquer fator
que leve à interrupção do fluxo de energia e de equilíbrio do ecossistema hídrico
pode ser considerado agente de descontinuidade serial (barragens, diques, açudes,
pontes).

Esta perspectiva chama a atenção para o fato de que a ocupação humana e o


manejo dos recursos ambientais (flora, solo, rochas) na bacia interferem diretamente
na qualidade dos recursos hídricos. Os processos ecológicos e as alterações
naturais ou antrópicas que ocorrem nas bacias hidrográficas, refletem-se nos
ecossistemas fluviais, sendo possível avaliar o estado ecológico da bacia
hidrográfica e dos cursos fluviais, além dos desequilíbrios provocados por práticas
incorretas do uso do solo na bacia, através da avaliação da qualidade biológica da
água e da integridade biótica das comunidades aquáticas. Assim, a qualidade da
água é um parêmetro largamente utilizado para evidencia o grande impacto e
comprometimento sofrido por uma bacia hidrográfica em função da ação antrópica.

3.2. Impacto Social

De maneira similar aos aspectos ambientais, as barragens também provocam


impactos sociais. Positivos e negativos. Estes impactos têm relação, principalmente,
com o fluxo de pessoas atraídas e removidas em decorrência da construção, ou
também remanescentes nas áreas de influência. A criação da barragem, seu
reservatório e negócio relacionado, muda a relação das pessoas com o espaço,
influenciando a economia local, os empreendimentos, os hábitos, o transporte, entre
muitos aspectos.

3.3. Impactos socioambientais: relação e descrição

As barragens de usos múltiplos geram energia elétrica, promovem o abastecimento


público e a irrigação para a agricultura, além de atividades de esporte e lazer. A
formação do lago impede a continuidade do uso do solo para a agricultura, pecuária,
extração mineral, além de potencialmente vir a comprometer o patrimônio
arqueológico, histórico e cultural. Anteriormente ao processo de enchimento do
reservatório, muitas vezes é retirada a cobertura vegetação, o que leva ao aumento
dos processos erosivos e a transformação do ambiente lótico em lêntico interferindo
na dinâmica do lençol freático, que tende a elevar-se. Vários são os fatores
ambientais a serem analisados em projetos de barragens aos quais estão
associados impactos potenciais:
Fatores físicos
• Clima: precipitação, evaporação, umidade, ventos e balanço hídrico a
montante da barragem;
• Geologia e geotecnia: aspectos estruturais, potencial sísmico (risco de
sismicidade induzida), aquíferos, risco de deslizamento e desmoronamento
de rochas;
• Pedologia: tipo de solo, erodibilidade, potencial agrícola e produtivo;
• Geomorfologia: tipo de relevo, morfogênese, potencial de erosão e
assoreamento;
• Recursos hídricos: caracterização hidrológica da bacia hidrográfica,
disponibilidade hídrica e fontes de sedimentos, quantidade de sedimentos na
calha fluvial. Águas superficiais e subterrâneas. Hidrogeologia.

Fatores biológicos:
• Fauna: aquática, terrestre, espécies endêmicas, vulneráveis, raras e
ameaçadas de extinção. Áreas de abrigo, nidificação, reprodução e migração;
• Flora: aquática, terrestre, fitoplâncton, fitobenton. Espécies endêmicas,
vulneráveis, raras e ameaçadas de extinção. Fenologia e fitossociologia;
• Unidades de conservação, reservas legais, áreas de proteção permanente.

Fatores sociais e econômicos:


• Uso e ocupação do solo;
• Planos diretores e zoneamentos municipais;
• Planos e programas de desenvolvimento regionais;
• Endemias, epidemias, zoonoses, saúde pública;
• Saúde, educação, organização social e política, demografia, geração de
renda, setores econômicos, etc. (perfil social e econômico das populações
rurais e urbanas);
• Patrimônio cultural, arquitetônico, paisagístico e arqueológico;
• Populações quilombolas, indígenas.
Alguns aspectos devem ser controlados e monitorados após o licenciamento
ambiental e início das obras são eles:

Aspectos físicos:
• Regime de escoamento dos rios (velocidade, vazão e níveis de água);
• Transporte de sedimentos (ações entrópicas a montante da barragem,
velocidade de escoamento, ciclo hidrológico e características fisiográficas das
bacias);
• Lençol freático e produtividade dos aquíferos, além da susceptibilidade à
contaminação;
• Formação de áreas úmidas e alagadas;
• Ocorrência do fenômeno de colapsividade dos terrenos, e/ou de
expansividade;
• Ocorrência de fenômenos de instabilidade e erosão de encostas marginais;
• Sismicidade induzida (enchimento do reservatório);
• Potencial agrícola, pecuário e de extração mineral das terras;
• Belezas cênicas;
• Deposição de sedimentos ou partículas no lago (assoreamento);
• Erosão pela água nas margens em função da oscilação do nível da água no
reservatório;
• Alterações físico-químicas da água e do solo em função da introdução de
substâncias químicas (por exemplo, ao agregar rochas basálticas no
concreto, pode-se acelerar o intemperismo químico das rochas).

Aspectos biológicos:

• Salvamento da fauna após o início do enchimento do lago;


• Definição de áreas para a realocação das espécies coletadas durante o
salvamento;
• Coleta para o banco de germoplasma.
Aspectos Sociais e Econômicos

• Indenizações para as famílias deslocadas da sua propriedade;


• Realocação de estruturas e edificações;
• Contratação de mão de obra local;
• Início dos programas de comunicação social, educação ambiental e
reassentamento.

Os aspectos listados acima devem ser associados às principais atividades


modificadoras do ambiente vinculadas às barragens. A partir dessa integração de
dados procede-se à identificação dos impactos ambientais. Os impactos listados
abaixo têm como fonte bibliográfica os Relatórios de Impacto Ambiental da Usina
Hidrelétrica de Foz do Apiacás e da Barragem de Ipojuca (para abastecimento de
água), foram retiradas as indicações dos locais e detalhes do empreendimento

3.4. Classificação dos Impactos e sua Influência

Os impactos ambientais podem ser classificados de acordo com a dinâmica espacial


e temporal em: impactos diretos (primários), indiretos (secundários). Os impactos
diretos resultam diretamente das ações do empreendimento, tais como a geração de
emprego, o assentamento de populações, a perda de habitat. Já os impactos
indiretos são aqueles decorrentes dos impactos de primeira ordem, como por
exemplo, o crescimento demográfico decorrente do assentamento de uma
população, a redução da diversidade biológica resultante da perda de habitat.

Em termos temporais, os impactos podem ser classificados em curto, médio e


longo prazo. Os primeiros ocorrem logo imediatamente à ação impactante, e podem
cessar em seguida, como exemplo a alteração do ambiente sonoro local (emissão
de ruído) pelo tráfego intenso de máquinas em um canteiro de obras. Um impacto de
médio prazo ocorre depois de um determinado período de tempo após o início da
ação impactante, por exemplo, o assoreamento de um recurso hídrico após a ação
de terraplenagem que expõe o solo ao intemperismo.
Já o impacto de longo prazo, ocorre tempos após o início da ação impactante, como
por exemplo, o aumento nos índices de doenças sexualmente transmissíveis em
uma localidade que tenha recebido muito operários de uma grande obra. A
determinação da escala temporal do significado de curto, médio e longo prazos deve
ser determinado pela equipe que fará a avaliação de impactos ambientais, pois
dependendo do tempo das fases de construção, operação e desativação do
empreendimento, o que é médio e longo prazo tem conotação diferente de acordo
com o empreendimento.

Os impactos podem ainda serem classificados em reversíveis e irreversíveis, de


acordo com a capacidade do ambiente em voltar ao seu estado natural sem
intervenção humana. Um impacto irreversível de uma barragem é a perda de solo
agricultável pela formação do lago. Já o aumento na perturbação da fauna pela
circulação de veículos durante a obra é reversível, pois no momento em que o
canteiro de obras for retirado a ação impactante sobre a fauna cessa.

Os impactos podem ser classificados quanto à periodicidade, se são permanentes,


temporários ou cíclicos; esses últimos têm relação com a sazonalidade das
estações do ano. Um impacto permanente em uma barragem é a alteração da
dinâmica hídrica pela implantação da barragem; ou a retenção de resíduos sólidos a
montante da barragem. Já um impacto temporário é o aumento no risco de
acidentes ofídicos durante as obras. Como exemplo de impacto cíclico tem-se o
aumento do índice de caça associado ao período de reprodução das espécies e ao
canteiro de obras.

Quanto à abrangência, um impacto pode ser considerado local, regional ou


estratégico. Um impacto local atinge apenas o sítio e imediações de intervenção do
empreendimento; um impacto regional atinge uma bacia hidrográfica, mais de um
município. Já o impacto estratégico compromete um valor ambiental de importância
coletiva, nacional e até mesmo internacional, como por exemplo, a cultura indígena
amazônica; o habitat do muriqui, espécie brasileira de primata ameaçada de
extinção.

A magnitude refere-se à intensidade do impacto quando comparada às


alterações ambientais promovidas pelo empreendimento em um determinado
parâmetro ambiental, sob o ponto de vista qualitativo ou quantitativo, como
exemplo, o nível de ruído gerado pelo maquinário durante a obra de pavimentação
de uma rodovia. A importância indica a significância de um impacto quando
ponderado com os outros impactos identificados, assim, um impacto de grande
magnitude pode ter baixa significância no contexto sob análise.

A definição da área de influência do projeto, plano, ou programa sob análise dos


impactos ambientais deve ser feita pela equipe que elaborará a avaliação ou estudo
ambiental. Neste contexto três conceitos são importantes:

• Área diretamente afetada (ADA): é o território ocupado pelo empreendimento


(ou programa/plano/projeto), no qual as ações impactantes associadas à
implantação do empreendimento se desenvolverão. No caso de uma barragem
envolve a área de formação do lago, o canteiro de obras, os acessos, as áreas
com edificações, as áreas de empréstimo e bota-fora, a área de implantação do
vertedouro, casa de máquinas, unidades geradoras, etc.

• Área de influência direta (AID): trata-se do espaço nas imediações de inserção


da ADA, pode ser uma microbacia, um bairro, uma sub-bacia, uma bacia
hidrográfica, um município, uma região.

• Área de influência indireta (AII): é o território até onde os impactos positivos e


negativos do empreendimento exercem influência, pode ser um município, uma
região, uma fronteira.

Importa destacar que as avaliações de impacto são estudos que visam prognosticar
(identificar, prevenir e interpretar) as alterações ambientais associadas a um
programa, plano, projeto ou empreendimento e devem ser encaradas como
instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente e de gestão territorial, com o
objetivo de mitigar os impactos adversos, compensar os danos ambientais ou
potencializar os impactos benéficos.

Assim, devem ser apresentados os tipos de medidas a serem adotadas para gerir o
empreendimento sob o ponto de vista ambiental:

• Medidas mitigadoras ou minimizadoras: referem-se às medidas que objetivam


minimizar os impactos adversos com a adoção de ações de controle,
monitoramento e gestão ambiental. Por exemplo, o uso de aspersão de água nos
canteiros de obras para reduzir as partículas em suspensão que possam
comprometer a qualidade do ar.

• Medidas potencializadoras: estão direcionadas a ampliar o espectro dos


benefícios do empreendimento, como por exemplo, em um polo turístico ampliar
a geração de renda para a comunidade, oferecendo cursos de formação de guias
turísticos.

• Medidas compensatórias: essas medidas são adotadas para aqueles impactos


negativos irreversíveis que configuram dano ambiental irreparável, geralmente,
no caso das barragens, a perda de habitat pode ser compensada pela
criação/manutenção de uma unidade de conservação; o assentamento de
população indígena, pela implantação de infraestrutura de saúde e de educação
na comunidade indígena.

A indicação destas medidas deve ser acompanhada de planejamento específico,


definição do processo operacional, responsabilidades e custos, além da indicação
de eficiência.
3.5. Avaliação de Impactos

Nas avaliações de impacto são adotados vários métodos e técnicas; serão


apresentadas as técnicas mais comuns adotadas no Brasil para o licenciamento de
empreendimentos com potencial gerador de significativos impactos. Contudo, para
que a previsão dos impactos seja feita de forma adequada é necessário definir os
aspectos e indicadores ambientais mais apropriados para classificar os impactos.

O Quadro 1 apresenta uma listagem de indicadores para estudo da magnitude de


aspectos e impactos ambientais de barragens, sobretudo durante a
construção/operação.
Quadro 1 - Listagem de indicadores para estudo de barragens
MEIO ASPECTO IMPACTO INDICADORES

SOLO Aumento das taxas Superfície afetada (ha), taxa de


de erosão perda de solo (t/ha/ano)

SOLO Alteração e Superfície afetada (ha)


qualidade do solo
RELEVO Alteração da Volumes de solo e rocha
topografia movimentados (m3)
hidrográfica
ÁGUA Aumento da carga de Contribuição do empreendimento
sedimentos nos em relação a outras fontes situadas
corpos d'água na mesma sub-bacia

FÍSICO RESÍDUOS Geração de resíduos Massa gerada por classe de


sólidos resíduos (t/ano)
ÁGUA Consumo de água Consumos mensal (m3/ano), vazão
consumida em relação à vazão
mínima do rio.
ÁGUA Geração de efluentes Vazão efluente, DBO,DQO, outros
líquidos
RUÍDO Geração de ruídos Aumento do nível de pressão sonora
em relação ao ruído de fundo
existente
AR Geração de material Quantidade emitida para a
particulado atmosfera em relação a outras
fontes na região
FLORA Perda de vegetação Superfície afetada em (ha)
BIOLÓGICO
nativa
TRÁFEGO Aumento do tráfego Porcentagem de aumento em
de caminhões relação ao volume médio de tráfego
preexistente
ECONOMIA Geração de impostos Montante a ser recolhido em Reais
e contribuições
EMPREGO Criação de postos de Número de postos criados
trabalho
ESTÉTICO- Impacto visual Dimensões das áreas visíveis,
PAISAGÍSTICO número de pessoas que
SOCIO potencialmente verão o sítio do
ECONÔMICO projeto
ECONOMIA Perda de áreas de Superfície afetada em relação às
cultura e pastagem áreas cultivadas no município, ou
sub-bacia hidrográfica
ECONOMIA Diminuição da Superfície afetada em (ha) em
produção agrícola relação às áreas cultivadas no
município ou sub-bacia hidrográfica
ECONOMIA Aumento da Massa tributária em relação à
arrecadação arrecadação preexistente no
tributária município

Fonte: adaptado de SANCHEZ, 2008.


Os métodos de avaliação de impacto ambiental servem de referência nos estudos
ambientais para se determinar de forma mais precisa a significância de uma
alteração ambiental. Também são usados para padronizar e facilitar a abordagem do
meio físico, que em geral leva em consideração vários aspectos.

• Quadro Síntese
Este método permite a concepção de um quadro de resumos com a identificação
dos aspectos e impactos ambientais, bem como da classificação dos impactos e
indicação de medidas de controle e gestão ambiental. Pode ser facilmente acrescido
de outras variáveis conforme a necessidade da equipe.

• Matriz de Interação
É uma listagem de controle nos quais são lançados os aspectos ambientais e as
ações do empreendimento e permite a alocação de mais uma variável no
cruzamento das duas primeiras. Permite uma boa visualização dos impactos,
contudo a avaliação da magnitude tem bom nível de subjetividade.

De forma geral, nos estudos adota-se a combinação de métodos com o objetivo de


lançar mão da qualidade de cada método. Assim, o quadro síntese e a matriz são
bastante utilizados.

Em seguida passam a serem tratados conceitos e pressupostos teóricos associados


à ecologia das águas.

3.6. Medidas e Programas

As medidas podem ser apresentadas por quadro síntese e por categoria da medida
(mitigadora, compensatória, ou maximizadora), valorização do impacto benéfico dos
impactos.

As medidas, quando agrupadas com os planos de monitoramento compõem o


programa ou plano de gestão ambiental do empreendimento (PGA). Ainda podem
ser inclusos no PGA estudos necessários ao melhor detalhamento e compreensão
dos impactos e, consequentemente, ter informações para detalhar as medidas de
gestão. Na apresentação das medidas as equipes devem indicar os responsáveis
pela implementação e na fase do licenciamento de instalação, apresentar o
detalhamento operacional e financeiro. Conforme Quardo 2.
Quadro 2 - Medidas típicas de um programa de gestão ambiental de barragens
MEIO MEDIDA
Biológico Remoção da vegetação antes da inundação
Compensação pela perda de hábitats mediante a proteção de uma
área equivalente e/ou recuperação de áreas degradadas; ou ainda a
manutenção por um número x de anos de uma unidade de
conservação na região
Construção de escada, canal da piracema, para passagem dos
Biológico peixes
Desenvolvimento da produção pesqueira no reservatório
Medidas de proteção da bacia hidrográfica (revegetação das
margens do reservatório, programas de conservação dos solos)
Documentação cultural e programa de valorizaçãp da cultura local
Salvamento de fauna
Físico Adotar medidas de controle de poluição durante as obras
Físico Adotar medidas de controle de erosão durante as obras
Físico Manutenção da vazão mínima a jusante
Regularização da vazão a jusante de forma a reproduzir o regime
Físico
hídrico preexistente
Físico Recuperar áreas degradadas
Educação ambiental e treinamento de mão de obra
Salvamento arqueológico na área diretamente afetada
Reassentamento das populações atingidas
Provisão de infraestrutura e serviços na área do reassentamento
Indenização das benfeitorias perdidas
Socio Indenização de direitos de exploração mineral
econômico Assistência técnica para os reassentados
Regularização jurídica das propriedades
Desenvolvimento do potencial turístico e recreativo
Reconstrução da infraestrutura inundada (linhas de transmissão,
estradas, armazéns e infraestrutura social)
Documentação e registro do patrimônio natural perdido
Fonte: Adaptado de Sanchéz, 2008.
Assim, os planos de monitoramento devem apresentar os parâmetros a ser
monitorados, a localização das estações de coleta, a periodicidade das
amostragens, a técnica de coleta, preservação e análise das amostras. Os objetivos
do monitoramento são verificar os impactos reais do empreendimento, fazer uma
comparação com as previsões realizadas, identificar mudanças e ocorrências não
previstas, indicar necessidade de ações imediatas caso algum parâmetro esteja
acima do permitido em lei, além de controlar o desempenho ambiental do
empreendimento.

Cabe salientar que não só os aspectos biofísicos (água, solo, ambiente sonoro,
atmosfera, fauna e flora), mas também os aspectos sociais devem ser monitorados
(os estudos de percepção ambiental, pesquisas de opinião pública, o trabalho com
as lideranças e atores sociais nas comunidades afetadas pelo empreendimento,
acompanhamento dos indicadores sociais e econômicos, são iniciativas adequadas
para o controle dos aspectos sociais e econômicos). A seguir apresenta-se um
quadro com as típicas medidas sugeridas em Estudos de Impacto Ambiental de
Barragens.

Destaca-se que na condução de empreendimentos que causem significativos


impactos ambientais, o ideal é controlar a geração de impactos a partir da evitação e
prevenção de riscos, redução dos impactos negativos, compensação dos danos
ambientais previstos e a recuperação do ambiente degradado, em cada etapa do
empreendimento.

Muitas vezes a equipe de engenharia será convocada a repensar o projeto a partir


da identificação de condicionantes ambientais sensíveis, como por exemplo, a
mudança da localização de uma das estruturas de uma ponte em função da área de
nidificação de uma espécie de aves ameaçada de extinção, enterrar parte de uma
linha de transmissão (LT) para não intervir na rota de migração de aves, aumentar o
espaçamento entre os cabos de uma LT para evitar que aves de grande
envergadura sejam eletrocutadas, aumentar a altura das estruturas da LT para evitar
desmatamento de área florestada.
Com relação às medidas compensatórias, no Brasil, a Resolução CONAMA Nº 10
DE 1987 foi revogada e a Lei Federal nº9985 de 18 de abril de 2000 - Lei do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação adotou a redação da Resolução do
CONAMA em seu ART° 36 que estipula que: [...] o empreendedor é obrigado a
apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo de
Proteção Integral [...]. A Lei inclusive prevê a destinação de no mínimo 0,5% dos
custos totais previstos para a implantação do emprendimento a ser aplicado nessas
unidades de conservação.

Na Holanda, segundo Sánchez (2008) a compensação ecológica é bem sofisticada e


deve ser buscada para situações de perda de habitat, degradação de habitat pelo
nível de ruído, iluminação ou poluição das águas, fragmentação de habitats ou
isolamento.

As medidas potencializadoras, maximizadoras dos impactos benéficos envolvem


geralmente os aspectos socioeconômicos, tais como a capacitação da população
local para determinada atividade, fornecimento de crédito, assistência técnica, com o
objetivo de dotar às comunidades atingidas de meios para poder aproveitar o
empreendimento como vetor de desenvolvimento local e regional. Por outro lado, as
empresas que já têm ações de educação ambiental em seus programas de
responsabilidade social podem alocar e articular a captação de recursos para
programas voltados para a saúde pública, difusão do conhecimento, capacitação de
professores, melhoria da infraestrurura de lazer e cultura, entre outros.

Os programas de controle e de gestão (ver Figuras 1 e 2) podem ser estruturados a


partir de um sistema de gestão ambiental; esta prática começou a ser adotada na
gestão de empreendimentos desde 1996, com a série ISO 14000 (e NBR 14.001:
2004), a norma internacional que orienta para a implantação de Sistemas de Gestão
Ambiental (SGA). A adoção do SGA permite que as medidas e programas se
articulem em torno do ciclo PDCA (planejamento, implementação, controle e adoção
de medidas corretivas), no sentido da promoção da melhoria contínua.
Figura 1 - Sistema de gestão ambiental da UHE de Foz do Apiacás

Fonte: RIMA da UHE Foz do Apiacás (2010)


Figura 2 - Programas Ambientais da Barragem do Rio Ipojuca

Fonte: RIMA da Barragem do Ipojuca (2010)


4. IMPACTOS AMBIENTAIS EM BARRAGENS

As grandes barragens têm seus impactos associados às condicionantes do projeto


de engenharia e no Brasil as experiências de Balbina, Tucuruí e Itaipu alertaram
quanto à importância da avaliação de impacto ambiental como instrumento de
análise da viabilidade técnica, ambiental e financeira dos projetos, por envolverem o
diagnóstico e o prognóstico de evolução da região a partir da inserção do projeto sob
análise. A previsão dos impactos possibilita o correto dimensionamento do
empreendimento, bem como subsidia a futura gestão ambiental da obra, da
operação e da desativação do mesmo.

As barragens podem ter usos múltiplos: abastecimento de água, recreação,


lazer/esporte, pesca, geração de energia, e nesse caso são referenciadas como
hidrelétricas.

Cabe destacar que as barragens configuram um tipo de empreendimento gerador de


impactos ambientais, contudo o equilíbrio do ecossistema aquático no reservatório
depende do tipo de uso e ocupação do solo e das técnicas de manejo e
conservação do solo adotadas nas bacias que estão a montante do reservatório.
Observa-se que em barragens que realizam programas ambientais junto aos
agricultores e produtores das bacias contribuintes do reservatório, o índice de
assoreamento do lago passa a ser controlado e reduzido a partir da adoção de
técnicas de readequação ambiental das propriedades. O controle do assoreamento
é fundamental para a manutenção da vida útil do reservatório associada à geração
de energia elétrica ou abastecimento.

Quanto ao barramento com fins de abastecimento público pode ser observado em


diferentes regiões do país que

"a proximidade das vias em relação à rede de drenagem em bacias


hidrográficas com relevo acidentado, agravada pela ausência do
planejamento de dispositivos de drenagem superficial e contenção dos
processos de erosão de taludes na construção dessas vias, potencializa a
ação da força hidráulica das enxurradas como elemento de remoção e
transporte de material em direção aos cursos d’água" (CATELANI et al.,
2004),

o que compromete a qualidade da água do reservatório.

Sabe-se que a retirada da cobertura vegetal e o uso do solo contribuem para o


assoreamento e aumento da turbidez dos rios, implicando na diminuição da
disponibilidade de oxigênio e tornando o tratamento da água para consumo mais
caro. Segundo SILVA (1999) os principais impactos associados ao uso e à cobertura
do solo em bacias hidrográficas são: a redução da capacidade de infiltração, o
aumento do escoamento superficial e erosão, a sedimentação dos cursos d’água, a
diminuição da profundidade dos cursos d’água e, consequentemente, o aumento na
ocorrência de cheias e inundações.

A vinculação entre cobertura vegetal e recarga de aquífero é direta, as áreas


florestadas são a defesa natural de um terreno e seu efeito consiste em dispersão
da água de chuva, interceptando-a e evaporando-a antes que atinja o solo; protege
o solo contra o impacto das gotas de chuvas, melhora a estrutura do solo e diminui a
velocidade de escoamento da enxurrada pelo aumento do atrito da superfície e, por
conseguinte, aumenta a infiltração e contribuição para as águas subterrâneas.
(BERTONI e LOMBARDI NETO,1993).

Além disso, o carreamento de matéria orgânica para o reservatório compromete o


equilíbrio dinâmico da biota aquática, favorecendo a proliferação de macrófitas e
algas que por sua vez, ao se decomporem, aumentam o nível de nutrientes na água
alterando toda a cadeia trófica aquática (ver Unidade 2).

4.1. Estudo de Caso: Barragem de Ipojuca

Para facilitar a compreensão, seguem os estudos reais de impactos


socioambientais. Destaca-se que no RIMA da Barragem de Ipojuca a equipe
responsável pelo estudo adotou o método da Matriz de Interação

Impactos ambientais - Meio Físico


• Geração de resíduos sólidos de diversas tipologias durante a operação do(s)
canteiro(s) de obra. Durante todo o período de construção deve ser verificada a
geração de resíduos sólidos de diversas tipologias, desde o material lenhoso
proveniente da supressão de vegetação, até os materiais excedentes da
escavação.

• Geração de efluentes industriais e domésticos com potencial poluidor durante


a operação do(s) canteiro(s) de obra: A operação do canteiro de obras produzirá
efluentes sanitários de características domiciliares, águas de cozinha, águas com
detergentes, águas oleosas. Igualmente nos canteiros serão produzidas águas
oleosas provenientes das oficinas mecânicas, das plantas de concreto, calda de
cimento para injeções dentre outros efluentes. Caso os mesmos não tenham o
devido tratamento e gerenciamento, poderá haver impacto nos recursos hídricos
da área de influência do empreendimento.
Este impacto é negativo, uma vez que poderia alterar a qualidade das águas
superficiais e subterrâneas no entorno da obra, de ocorrência imediata, de
probabilidade certa e sua magnitude média, em função do volume e tipo de efluente
gerado. Este impacto será constante durante toda a fase de construção, variando de
intensidade em função do volume de efluentes gerados no período.
• Degradação das áreas de empréstimo e bota-fora: a remoção da cobertura
vegetal, a utilização de áreas como jazidas, empréstimos e bota-foras, além de
outras ações ligadas diretamente à construção da barragem, como a instalação
de canteiros de obras, vão gerar um impacto significativo no meio. As áreas
degradadas, além de representarem elemento paisagístico altamente negativo,
mostram potencial para formação de focos de erosão ou para estabelecimento
de condições propícias à aceleração de processos biológicos patogênicos, como
a instalação de um ambiente favorável à reprodução de vetores de doenças
(valas isoladas, acúmulo inadequado e abandono indevido de restos de obra e
resíduos).

• Alterações no fluxo de água, aumento da turbidez d'água e carreamento de


partículas para jusante do ponto de barramento: para construção do eixo da
barragem, será necessário o desvio do rio com a construção de ensecadeiras.
Esta ação causará uma mudança no escoamento d’água do rio causando
impacto às populações ribeirinhas, à fauna e flora das margens dos rios. As
atividades desenvolvidas envolvem o deslocamento de grande volume de rocha
e terra, que podem escoar para a calha do rio, com o carregamento de partículas
inorgânicas e orgânicas, resíduos sólidos e líquidos de natureza diversa e outros
dejetos que contribuem para a deterioração da qualidade da água do rio a
jusante do empreendimento.
A normalização do regime de vazões a jusante da barragem durante esta fase deve
ser a mais rápida possível. Com o esvaziamento do rio poderão aparecer pontos
baixos formadores de lagoas a jusante podendo ocasionar mortandade dos peixes
retidos devido à redução do oxigênio dissolvido na água. Também poderá haver o
carregamento temporário de material de vedação das ensecadeiras aumentando a
turbidez da água para jusante durante a fase final de fechamento do rio e em
eventuais fases de desmonte de ensecadeiras, com a redução da qualidade da água
do rio a jusante.

• Perda de áreas com potencial de exploração mineral, especialmente areia.


• Alteração do regime hídrico com a redução dos picos de cheias naturais a
jusante, mas também com a elevação dos níveis de água a montante por efeitos
do remanso. Mesmo assim, alguma atenuação do hidrograma da cheia será
verificada pela presença do lago. Contudo, os benefícios à jusante dependerão
da operação correta do reservatório, em caso contrario, a presença da barragem
pode representar um fator de risco para as comunidades a jusante.

• A oscilação do nível da água do reservatório poderá induzir a instabilização das


encostas marginais do reservatório, ocorrendo escorregamentos nas encostas e
aumento da intensidade dos processos erosivos em função da exposição do solo.
O choque contínuo das ondas formadas no reservatório pela ação dos ventos na
base das encostas, em determinadas épocas do ano, poderá provocar o
solapamento das margens e em consequência, desbarrancamentos. Esse
processo poderá favorecer também o transporte de detritos para o interior do
reservatório, pela lavagem do material fino superficial das encostas.
Como medidas preventivas podem-se identificar as áreas críticas nas encostas
marginais do reservatório, nas quais as modificações das cargas hidráulicas
impostas pelo enchimento e rebaixamento do nível de água possam promover
alterações nas condições naturais do solo, definindo-se então a necessidade de
implantar estruturas especiais de forma a fortalecê-las (proteção com enrocamento,
gabiões, etc).

• Alteração do regime hídrico com a geração de períodos de vazão


reduzida a jusante da barragem, causando conflitos pelo uso da água: A
construção da barragem deverá alterar o regime hídrico para jusante até que
afluentes de jusante comecem a aportar mais água ao rio.
A sequência de meses em que se operará com vazão reduzida, dependendo da
região pode ser de aproximadamente 5 meses. Nesses períodos sem vertimento da
barragem, a vazão liberada para jusante é bastante baixa e constante, podendo
ocasionar alguns impactos negativos como: improvisação de travessias não
adequadamente dimensionadas sobre o leito do rio, com baixa profundidade em
função da baixa vazão, que podem colocar em risco pessoas, animais e bens na
eventualidade da ocorrência de picos de cheias a montante do reservatório e que
provoquem o seu enchimento até a cota do vertedor, o súbito início de vertimento e
um aumento desavisado da vazão para jusante, eventualmente afogando os pontos
de travessia improvisados; possibilidade de conflitos pelo uso da água a jusante
(abastecimento público, irrigação).

• Alterações microclimáticas: a substituição de uma área de floresta tropical por


um lago artificial ou um reservatório modifica o ambiente e, consequentemente, o
clima de uma determinada localidade e seu entorno.

Impactos ambientais - Meio Biológico/Ecológico

• Transformação do ambiente lótico para lêntico ou misto: Os ambientes de


água doce são divididos em lóticos e lênticos, sendo em termos gerais os
primeiros relacionados com água em movimento e os segundos com água
parada. A introdução de uma barreira no rio causará a mudança do ambiente
lótico para lêntico, e, devido a esta mudança, as características das águas
sofreram alterações, criando um novo ecossistema que aos poucos vai se tornar
outro com um novo equilíbrio. Este impacto representa, na verdade, um conjunto
de transformações que individualmente configuram impactos negativos pela sua
consequência na fauna e flora aquáticas e na qualidade da água.

• Ampliação dos ambientes ribeirinhos com a formação do reservatório e o


consequente aporte de espécies da fauna: Este impacto considera a
ampliação dos ambientes ribeirinhos com a formação do reservatório, que tem
como resultado o aporte de espécies da fauna associada (anfíbios, répteis, aves:
jaçanã, andorinhas, garças, socozinhos, lavandeiras, viuvinhas, maçaricos, etc.).

• Supressão de remanescentes florestais: perda de mata ciliar e várzeas


alagáveis. Os efeitos desta supressão envolvem alteração da paisagem,
comprometimento do equilíbrio populacional natural das espécies, eliminação e
diminuição de área de alimentação, abrigo, reprodução e repouso.
A remoção da vegetação e, em sequência, o enchimento do reservatório,
proporcionará a perda de ambientes diversos comprometendo, a nível local,
relações existentes entre fauna e flora, alterando a paisagem e reduzindo a
estabilidade geral dos ecossistemas.

• Perda de habitat de fauna terrestre e deslocamento de indivíduos das


espécies animais para áreas contíguas de mata não impactada, dentro de
um mesmo fragmento florestal: a supressão dos poucos fragmentos
florestados existentes na área poderá ocasionar o deslocamento de indivíduos
das espécies animais para áreas contíguas de mata não impactada, dentro de
um mesmo fragmento florestal.
O aporte de tais indivíduos aos sítios ocupados por populações estabelecidas e
dinamicamente equilibradas poderá causar uma interação competitiva cujo resultado
será a quebra da estabilidade local com possível redução de populações.

• Aumento do número de hectares florestados na Área de Influência


Direta(AID), com rebatimento direto na fauna associada:. A criação de uma
Área de Preservação Permanente (APP) com largura de 30m no entorno do
reservatório representará a introdução de vegetação nativa, aportando no
ambiente expressivos ganhos ecológicos, potencializados pela possibilidade de
interconectar os poucos fragmentos remanescentes que restam na ADA.

• Alterações florísticas e fisionômicas decorrentes da elevação do nível do


lençol freático: o enchimento do reservatório e a elevação do nível do lençol
freático fará com que áreas que antes eram secas passem a ser alagadas.
Algumas plantas só conseguem sobreviver no alagado e outras nas áreas secas.
Dessa forma, muitas delas poderão morrer durante o enchimento e, depois,
durante o funcionamento da usina, com a vegetação se modificando para se
ajustar à nova condição.

• Alteração na diversidade e nas características da vegetação: na fase de


instalação serão derrubadas árvores para a instalação do canteiro de obras,
alojamentos, acessos, etc. Já na fase de operação, o enchimento do reservatório
alagará uma grande área, o que também levará à perda de muitas árvores.

• Aumento da pressão antrópica (humana) sobre a vegetação: a melhoria e a


construção de estradas para o início das obras possibilitarão o acesso mais fácil
à floresta, o que poderá aumentar a derrubada ilegal de árvores por madeireiros
e grileiros.
• Perda de áreas de vegetação nativa: Na fase de instalação, será eliminada a
vegetação para as obras civis (canteiro, pátios, barragem, etc.).

• Alteração do número de animais nas áreas de influência: durante as obras, o


barulho de máquinas e pessoas pode afugentar alguns animais. Outros não
conseguem fugir para longe e/ou possuem o hábito de se enterrarem, podendo
não sobreviver durante a terraplanagem ou pela queda de árvores sobre eles.
Além disso, durante a fuga, muitos animais podem ser atropelados ou ser vítimas
de caçadores ou dos próprios trabalhadores da obra.

Neste último caso, as cobras e outros animais venenosos são mais vulneráveis. O
enchimento do lago levará ao desaparecimento de muitos animais por afogamento.
Além disso, serão formadas pequenas ilhas, que serão disputadas pelos animais em
fuga, com muitos deles sendo eliminados.

• Eliminação de habitats (locais de moradia) e perda de conectividade


(ligação): a criação do reservatório acarretará a perda de muitos locais que os
animais usam para repousar, se alimentar ou para se acasalar, como os pedrais
na beira de rios, praias de areia e tocas na margem. Além disso, grandes porções
de floresta, que antes eram unidas, passarão a ser separadas pelo lago, não
permitindo a passagem dos animais de um lado para o outro. Dessa forma, sua
reprodução ficará dificultada. Esses fatores poderão levar a uma redução na
população desses animais.

• Alteração no ambiente aquático e na qualidade da água: os impactos


ambientais sobre o rio e seus afluentes começam ainda na fase de instalação. A
exposição do solo pelo corte da vegetação produz sedimentos (areia e argila)
que podem ser levados para o rio pelas chuvas. Esses sedimentos prejudicam a
sobrevivência de diversos organismos aquáticos de pequeno tamanho,
conhecidos como plâncton e bentos, e também de alguns peixes que preferem
águas claras. Esses sedimentos e o fundo do rio podem estar contaminados por
mercúrio, substância muito utilizada nos garimpos.

O mercúrio pode prejudicar a flora e a fauna aquática, podendo chegar ao próprio


ser humano, caso este se alimente de peixes contaminados. Contudo, é na fase de
operação do reservatório que ocorrerão as maiores modificações no rio e em seus
tributários. O rio ficará mais profundo e calmo (águas lentas), o que modificará
muitas características físicas (luz e temperatura), químicas (haverá mais nutrientes,
como nitrogênio e fósforo, e diminuição do oxigênio da água) e biológicas (morte de
espécies sensíveis e aumento das espécies que podem viver em ambientes
alterados). Essas modificações físicas, químicas e biológicas poderão criar
problemas, tais como piorar a qualidade da água, surgimento de algas que causem
doenças, mortandade de peixes, crescimento das populações de caramujos que
transmitem doenças, entre outros.

• Aumento na população de insetos que transmitem doenças: nas obras, o


corte da vegetação e o barramento do rio favorecerão o surgimento de novos
criadouros para mosquitos transmissores de doenças, como a febre amarela, a
malária, a dengue e a leishmaniose. Poças de água criadas no solo pela
movimentação de carros, caminhões e tratores, assim como pequenos depósitos
de água formados em máquinas e/ou em materiais descartados, podem servir de
criadouros para várias espécies de mosquitos.

Além disso, o corte da vegetação deslocará os mosquitos que vivem na mata, para
os alojamentos e residências, o que poderá resultar na transmissão de doenças. A
chegada de trabalhadores com suas famílias poderá aumentar ainda mais a
circulação dessas moléstias.

• Aprisionamento de peixes nas áreas ensecadas: durante as obras, será


necessário mudar o curso natural do rio, estabelecendo um tipo de barreira junto
a cada uma das margens, que têm o nome de ensecadeiras. Com isso, alguns
peixes poderão ficar presos em ambientes semelhantes a piscinas, que se
formam nessas ensecadeiras.
O problema é que a água de dentro dessas piscinas fica muito quente com o calor
do sol, podendo até mesmo secar, prejudicando a sobrevivência dos peixes,
principalmente daqueles mais sensíveis, que poderão morrer durante das obras, se
não forem salvos.

• Alteração na dinâmica de deslocamento dos peixes: a construção da


barragem funcionará como uma barreira física, artificial e intransponível para os
peixes que têm o hábito de se deslocar para cima ou para baixo do rio. Dessa
maneira, muitas espécies, sobretudo as de piracema, que sobem o rio para
reprodução no início e durante o período de chuvas, não conseguirão ultrapassar
a barragem, o que poderá prejudicar o seu ciclo reprodutivo. Isso diminuirá a
disponibilidade desses peixes como recurso pesqueiro, se medidas adequadas
não forem introduzidas no projeto de engenharia do empreendimento.

• Alteração na estrutura da comunidade de peixes: com a construção e


operação da barragem ocorrerão alterações na comunidade de peixes, pois parte
do rio será barrado e transformado em um grande lago, modificando o tipo de
ambiente aquático e a qualidade da água. A consequência disso é a substituição
de algumas espécies de peixes, que hoje ocorrem no baixo rio por outras melhor
adaptadas ao ambiente de lago.

Esse fato modificará as relações entre as espécies, incluindo a criação de uma


competição por áreas apropriadas para sua sobrevivência. Como exemplo, a
vegetação utilizada pelos peixes como fonte de alimentação, reprodução, refúgio e
crescimento será alterada, influenciando diretamente na composição de espécies de
peixes e nas relações entre elas.

• Alteração na diversidade de peixes: a transformação de um trecho do rio em


lago, com mudanças no deslocamento dos peixes e alteração na estrutura da
comunidade desses animais, levará à alteração na variedade de peixes
encontrados no rio. Uma das consequências mais graves é a possibilidade de
extinção de espécies mais sensíveis a essas mudanças. Em geral, as alterações
na diversidade de peixes são causadas por atividades humanas, como, por
exemplo: práticas pesqueiras predatórias; desmatamento das margens e das
áreas alagáveis; lançamento de lixo e esgoto, e obras de dragagens e de
construção de barragens.
Figura 3 - Transformações a montante e a jusante da barragem.

Fonte: Compesa e ABF Engenharia (2010).

Impactos ambientais - Meio Socioeconômico (Antrópico)

• Ampliação da cobertura do serviço de abastecimento de água e da


capacidade de atendimento da demanda, no caso da Barragem de Ipojuca.

• Criação de expectativas favoráveis: as expectativas iniciais da população,


geralmente, podem ser favoráveis ao empreendimento, pois se baseiam nas
possibilidades de geração de empregos e melhoria nas condições de vida da
população, por meio da construção de equipamentos de infraestrutura e serviços,
do aquecimento do comércio e dos serviços locais e, ainda, da valorização de
muitas propriedades.
Também são geradas expectativas favoráveis nos representantes do Poder Público
local, pela possibilidade de aumento das receitas municipais e da chegada de novos
investimentos. Outros interessados, como comerciantes locais e entidades
representativas, também experimentam expectativas favoráveis em relação ao
empreendimento.

• Criação de expectativas desfavoráveis: na fase de planejamento, a


divulgação da possibilidade de implantação da barragem poderá gerar
expectativas negativas pela incerteza sobre os prazos das obras e a delimitação
precisa das áreas do reservatório e das propriedades a serem afetadas pela
inundação das terras. Preocupações também podem surgir com relação à
chegada de população migrante, atraída pelo grande número de empregos nas
obras. Essa preocupação pode estar relacionada, principalmente, com a
concorrência por postos de trabalho e a pressão sobre a infraestrutura de
serviços básicos (saúde, educação e saneamento).

Na fase de instalação, as expectativas desfavoráveis se referem à interferência que


as obras poderão causar no dia a dia dos moradores da região afetada, tais como a
possibilidade de aumento na incidência de doenças infectocontagiosas, violência,
prostituição e criminalidade, desemprego, acidentes viários, emissão de poeira e
ruídos, etc. Este impacto também deverá ocorrer ao término da fase de obras da
barragem quando a mão de obra será desmobilizada, reduzindo assim, os postos de
trabalho associados ao empreendimento.

• Possibilidade de submersão de estruturas, edificações e sítios


arqueológicos não conhecidos: Essa destruição caracteriza-se como crime ao
patrimônio histórico, cultural e arqueológico, de acordo com a Lei nº 3924 de 26
de Julho de 1961.

• Riscos e desconfortos associados à provável utilização de explosivos


para desmonte de material rochoso no leito do rio: quando necessária a
utilização de explosivos para o desmonte dos blocos de rocha, esses afloram no
leito do rio e precisam ser retirados.

• Transferência ou retirada compulsória da população que habita hoje a


ADA: o remanejamento de populações requer a realização de ações complexas,
que se desdobram em um conjunto de atividades inter-relacionadas, tais como:
preparação para a mudança – inclui o cadastramento, a escolha do novo local e
tipo de moradia, realização de acordos relativos à indenização de
bens/benfeitorias etc.; traslado – contempla providências práticas quanto à
operacionalização das mudanças, tais como aluguel de caminhões,
empacotamento dos bens, definição dos horários mais apropriados etc.;
reassentamento - implica apoio aos reassentados, de modo a garantir o bem-
estar das pessoas, na fase de adaptação aos novos locais de residência.

• Alteração da oferta de emprego: Este é um impacto positivo do


empreendimento, sobretudo, na fase de instalação, quando serão empregados
operários. Sem dúvida, o aumento da oferta de postos de trabalho contribui para
a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores empregados e suas famílias.
Há a possibilidade de maximizar este impacto, caso seja contratada mão de obra
local.

• Perda de infraestrutura pública e privada e da comunicação viária: a


formação de um espelho d'água pode comprometer a infraestrutura viária, de
comunicação da região.

• Melhoria das condições de habitação e de acesso aos serviços básicos


por parte da população reassentada: a população a ser retirada da futura área
de inundação enfrentará todos os impactos negativos inerentes ao
remanejamento involuntário de populações, entre os quais se destacam a ruptura
dos laços de vizinhança e apoio mútuo, e as dificuldades de adaptação à nova
condição de moradia, vizinhança e trabalho.

• Perda de terras produtivas de lavouras de subsistência: a desapropriação


das terras inseridas na ADA (inclusive APP) pode resultar na supressão de
lavouras existentes e no deslocamento de atividades pecuárias.

• Criação de uma situação de risco potencial para as comunidades em


função da presença da barragem: Os acidentes relacionados com as cheias do
rio durante a construção de barragens apresentam uma alta percentagem de
ocorrência, assim, considera-se o impacto relacionado com o aumento
temporário de risco para as comunidades a jusante.

• Paralisação, redução ou incremento de atividades econômicas: A


desapropriação e a desocupação das faixas inseridas na ADA representam a
paralisação permanente das atividades agrícolas praticadas, fato que repercutirá
com maior intensidade na renda dos agricultores que desenvolvem suas
atividades em escala reduzida.

Entre as formas de uso e ocupação que poderão sofrer alteração, destacam-se a


perda de poços existentes na margem do rio e as condições de realização da pesca.
Com o reservatório modificam-se também as condições de balneabilidade a
montante e a jusante. Quanto às atividades de pesca, a construção da barragem
impedirá sua prática no trecho do rio, onde serão realizadas as obras.
Após a formação do reservatório, é possível a retomada dessas atividades, embora
deva ocorrer uma mudança nas técnicas comumente utilizadas na área, já que
haverá alterações de profundidade e na dinâmica do rio.

• Riscos de acidentes com a população, principalmente afogamentos:


Durante a operação do empreendimento, a alteração no regime do rio com a
formação do reservatório poderá representar riscos para a população, em razão
da maior profundidade da água em alguns trechos.

• Ruptura de ativos/redes sociais (relações de vizinhança, ajuda mútua,


troca de favores etc.): o deslocamento de comunidades é extremamente
perturbador e normalmente causa grandes impactos negativos às comunidades e
indivíduos mais vulneráveis.
• Os principais impactos são econômicos, sociais e ambientais: Os
impactos econômicos incluem o desmantelamento de sistemas de produção, a
perda de bens produtivos, a perda de fontes de renda, a relocalização das
pessoas para áreas onde suas habilidades são menos aplicáveis e para locais
onde há uma disputa maior pelos recursos. As relações de vizinhança favorecem
a troca de favores e a ajuda em casos de necessidade, bem como o acesso a
fontes complementares de renda.

• Dinamização da economia: as demandas provenientes da instalação do


empreendimento, com consequente aumento da arrecadação tributária e da
renda disponível na região, deverão ter início na fase de planejamento e
perdurarão, na fase de instalação, até a conclusão das obras.
A maior parte da mão de obra deverá ser contratada no local, principalmente os
trabalhadores não especializados e semiespecializados (vigias, encarregados,
serventes, armadores, pedreiros, carpinteiros, ajudantes de caminhão e de
montagem, eletricistas, bombeiros de manutenção e técnicos de enfermagem do
trabalho).

• Pressão na infraestrutura de serviços: por ser um empreendimento de


grande porte, a construção da usina tenderá a atrair populações migrantes de
outras regiões em busca de oportunidades de emprego e renda, criando forte
pressão sobre os serviços públicos de saúde, educação, segurança e
saneamento básico, e afetando os mercados locais de trabalho e de habitação.

De fato, as pessoas de outras regiões, atraídas pelo empreendimento tendem a


ocupar novas áreas urbanas e rurais, aumentando o número de adultos jovens do
sexo masculino, solteiro ou longe da família e a procura de serviços básicos, o que
poderá trazer problemas consideráveis para as Prefeituras na área de influência do
empreendimento se não forem tomadas providências necessárias e adequadas.
Ainda que o empreendedor ofereça serviços de alimentação e atendimento médico
(ambulatorial) aos trabalhadores e que cumpra, obrigatoriamente, as normas de
Segurança e Saúde, os trabalhadores das obras poderão passar por imprevistos.
Poderão ocorrer problemas com animais peçonhentos (venenosos) e surgir outras
doenças, tais como malária, dengue, leishmaniose e febre amarela, demandando a
utilização dos serviços de saúde da região.

• Alteração na infraestrutura viária: o futuro reservatório alagará alguns


trechos de estrada, principal acesso a várias propriedades, e de outras estradas
rurais e vias de acesso a fazendas da região. Outros pontos que serão afetados
pelo reservatório são algumas pontes sobre afluentes do rio.

Os trechos atingidos, o traçado da estrada deverá ser alterado, de modo que as


propriedades mantenham seus acessos. Para servir como acessos às obras, serão
utilizadas as estradas a serem abertas e as existentes, que chegam pela margem
esquerda ou pela margem direita do rio, as quais receberão melhorias ao término
das obras.

• Alteração no uso e ocupação do solo: as terras que deverão ser inundadas


pelo reservatório são, em grande parte, cobertas por florestas nativas e, em outra
parte, pelas margens do rio e de seus afluentes, consideradas Áreas de
Preservação Permanente (APP).
Além disso, há áreas sem definição de uso, tendo sido muitas delas recém-
desmatadas e ocupadas, em geral, por pastagens para a criação de bovinos. No
interior de uma das propriedades, existe uma área de garimpo em atividade, que
deverá ser afetada com a formação do reservatório da barragem. Em relação à Terra
Indígena, não haverá interferência direta no uso e ocupação do solo.

• Alteração na paisagem: Com a construção da barragem haverá alteração da


paisagem da região, desde a fase de instalação até a de operação.

• Interferências com o patrimônio histórico, cultural e paisagístico: o rio


está associado à identidade, à ação e à memória de um grupo importante na
história e na formação da sociedade e da cultura regional, que é o grupo
composto pelos próprios garimpeiros e pelos que têm ligações com o garimpo.
Os bens (materiais, memória e imaginário) associados ao garimpo são parte do
patrimônio histórico-cultural da região.
Quanto aos sítios de valor paisagístico, isto é, aos locais de beleza natural que
serão impactados pela barragem, destacam-se trechos do ambiente ribeirinho,
especialmente as praias de rios, cachoeiras e ilhas, e a vegetação e fauna a eles
associados.
• Interferências com o patrimônio arqueológico: essas interferências
poderão ocasionar destruição, total ou parcial, desses sítios arqueológicos, se
houver ações que afetem as áreas dos antigos assentamentos indígenas
históricos ou pré-históricos, enterrando-os ou inundando-os, o que será uma
perda para a memória nacional. Uma vez que os bens arqueológicos estão no
solo, qualquer movimento dele poderá causar interferências, mais ou menos
graves, sobre sítios arqueológicos, de acordo com sua extensão e profundidade.

• Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE): nos últimos anos, a questão


das mudanças climáticas tem sido amplamente debatida, por causa do aumento
da temperatura global observado no último século. Esse aumento pode ter sido
causado pelas emissões de gases, conhecidos como Gases de Efeito Estufa
(GEE).

Na fase de instalação da UHE, as emissões de GEE resultarão dos equipamentos e


veículos a combustão que serão utilizados durante as obras. Quanto à fase de
operação, sabe-se que os reservatórios geram emissões de gases de várias fontes,
como a provocada pela decomposição de árvores acima da superfície da água, de
árvores mortas e de plantas aquáticas que alimentam micro-organismos no fundo do
reservatório.
Os principais GEE liberados são o gás carbônico e o metano. Ressalta-se, no
entanto, que a liberação desses gases também ocorre, em maior ou menor grau,
nos rios em seu estado natural. No atual estágio de conhecimento científico, não se
pode ainda estimar a contribuição dos reservatórios de usinas hidrelétricas na
emissão dos GEE.
Por outro lado, a geração de energia por hidrelétricas diminui a necessidade de
funcionamento das usinas termelétricas, que geralmente operam pela combustão de
óleo diesel, emitindo gases de efeito estufa e outros poluentes do ar.

As medidas para mitigação, potencialização e compensação decorrente dos


impactos listado para a barragens são normalmente denominados de programas.
Seguem alguns exemplos de programas realizados para as barragens de Ipojuca e
Foz do Apiacás.

O Programa de Comunicação Social visa criar e manter os canais de


comunicação necessários para um bom relacionamento entre o empreendedor e os
diversos participantes envolvidos na implantação do empreendimento, de maneira
que as informações circulem adequadamente e que seja facilitada a execução das
ações planejadas nos outros programas ambientais. Este Programa justifica-se não
só em função dos impactos ambientais identificados, mas também, sobretudo, pela
necessidade de implementação de um sistema de comunicação eficaz e ágil, com
capacidade para intermediar as relações entre o empreendedor, os executores da
obra e as administrações públicas.

Outra justificativa é a necessidade de esclarecer à população residente nas áreas


afetadas acerca dos aspectos relativos às obras, uma vez que, para a implantação
da barragem será necessário contratar mão de obra, utilizar acessos alternativos,
atentar para a circulação de pessoas, maquinários e equipamentos, além de outras
medidas que alterarão o dia a dia da população local. O responsável pelo Programa
de Comunicação Social é o empreendedor, em conjunto com as empreiteiras e
empresas especializadas que vierem a ser contratadas.

Programas Especiais:

Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do Reservatório Artificial: a


legislação atual estabeleceu que deverá ser constituída uma faixa marginal de, no
mínimo, 100m de largura no entorno dos reservatórios artificiais situados em áreas
rurais, medida a partir do seu nível máximo normal de operação. Essa faixa
constituirá a nova Área de Preservação Permanente (APP), para a qual serão
criados mecanismos de proteção, de modo a impedir sua ocupação quando da
operação da Usina, e disciplinar a área do entorno do reservatório, assegurando seu
uso sustentável.
O Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do Reservatório Artificial se
justifica, portanto, por buscar harmonizar os objetivos de preservação do entorno do
futuro reservatório — expresso na legislação ambiental e nas exigências dos órgãos
licenciadores — com a redução de impactos sobre a sociedade local, com destaque
para as medidas listadas a seguir.

• Identificar, classificar e mapear as áreas críticas das encostas marginais do futuro


reservatório, nas quais as modificações das cargas hidráulicas impostas pelo
enchimento do reservatório possam promover alterações nas condições naturais dos
solos, definindo-se, então, medidas preventivas e/ ou corretivas.
• Revegetar as margens, com espécies tolerantes à variação de umidade, até o mais
próximo possível da linha d’água.
• Propor a criação de Unidades de Conservação no entorno do reservatório, para
organizar a ocupação humana na área.
• Incentivar a conservação das áreas de mata no entorno do reservatório.
• Disciplinar o uso das margens do reservatório.

O principal responsável pela implantação deste Programa é o empreendedor, com


parcerias e convênios com as Prefeituras Municipais, órgãos ambientais e
instituições científicas.

Programas Vinculados às Obras:

Programa de Gestão da Obra: tem como objetivo garantir o cumprimento e a


implementação de todos os Programas Ambientais propostos para o
empreendimento, visando à realização das medidas e ações de mitigação,
compensação e monitoramento.
Este programa deve ser abordado considerando dois grupos de atividades
principais: supervisão de obras com enfoque ambiental (acompanhamento, controle
e avaliações funcionais, qualitativas e quantitativas), estruturadas como Atividades
de Supervisão Ambiental; gerenciamento da realização dos programas do PBA,
viabilizando suas implementações, as quais envolvem o desenvolvimento dos
processos da interação, articulação e informação junto às comunidades e grupos de
interesse.
O Programa de Gestão da Obra é de responsabilidade da proponente, que poderá
executar o programa com a participação de seus próprios técnicos ou contratar
empresa especializada.

Programa de Saúde e Segurança no Trabalho: este Programa justifica-se como


uma estratégia para prevenir problemas de saúde e de segurança dos trabalhadores
nas obras, causados por doenças e por acidentes decorrentes do trânsito de
veículos, da utilização de equipamentos e ferramentas, do desmonte de rochas,
entre outras atividades do empreendimento.
Com isso, é possível determinar as necessidades de pessoal, equipamentos e
materiais capazes de atender a situações de emergência, assim como cumprir as
rotinas de saúde ocupacional e segurança, exigidas pela Legislação do Trabalho no
Brasil.

Algumas medidas recomendadas estão apresentadas a seguir :

•Tomar providências para a manutenção da saúde dos trabalhadores e do


saneamento no canteiro e nas frentes das obras, para evitar a propagação de
doenças na região.
• Realizar exames no momento da contratação dos trabalhadores das obras e
depois periodicamente, com a finalidade de controlar o padrão de saúde dessa
população e evitar possíveis ocorrências de doenças.
• Manter as estruturas de primeiros socorros nas frentes de trabalho e canteiros de
obras e ambulâncias para remoção e transporte de acidentados. Em casos bastante
graves, os pacientes deverão ser removidos para os centros com melhores recursos
hospitalares, sem sobrecarregar a infraestrutura local. O empreendedor e as
empreiteiras que vierem a ser contratadas são os responsáveis por este Programa.
Programas de Interferências Especiais

Paleontologia Preventiva: as obras civis necessárias à construção da barragem,


como terraplenagem, escavações para instalação do canteiro de obras, abertura de
acessos, desvio do rio, construção de barragem, se forem feitas sem
acompanhamento de especialistas, poderão comprometer a integridade dos sítios de
fósseis que possam vir a ser identificados. Por isso, este Programa de Paleontologia
Preventiva é importante, especialmente para as comunidades locais e para a
comunidade científica nacional, em particular, para as quais deverão ser repassados
o acervo dos dados e as informações obtidas.

Programas de Monitoramento, Manejo e Conservação

Programa de Monitoramento das Condições de Erosão e Instabilidade das


Encostas: neste Programa, são recomendadas ações e medidas a serem aplicadas
durante e após as obras da UHE, com o intuito de proteger e estabilizar as encostas
marginais do seu reservatório, áreas vizinhas, acessos às obras, locais para
canteiros e alojamentos. A possibilidade de escorregamentos e formação de
processos erosivos localizados torna necessário implementar um programa que
procure buscar soluções para evitar ou diminuir tais impactos, através de ações
preventivas ou mesmo corretivas, que os impeçam.

As obras para construção da barragem exigirão grande movimentação de solo


(terraplenagem), uso de veículos pesados e supressão de vegetação. Tais
atividades, aliadas à existência, na região, de áreas suscetíveis à erosão,
principalmente as situadas em relevos mais movimentados e encostas, nas áreas
adjacentes às estradas e na futura APP do entorno do reservatório, poderão gerar
impactos ambientais, como a alteração de solos, corpos hídricos e vegetação.

As condições climáticas, de relevo e de solos da região também contribuem para o


início ou aceleração de processos erosivos. Chuvas fortes e abundantes,
concentradas em determinados períodos do ano, e solos pouco profundos e
pedregosos provocam a instabilidade do terreno. Durante o enchimento, a saturação
e a submersão da base das encostas marginais poderão provocar uma redução na
resistência dos solos.

A paulatina elevação do nível d’água do reservatório até o seu completo enchimento


e a consequente elevação do nível das águas subterrâneas poderão provocar
efeitos nos solos dessas encostas. Deve-se considerar, também, a formação e o
choque das ondas do reservatório provocadas pelo vento, o que poderá causar
desmoronamento de massas de solo e rocha.

Considerando os aspectos mencionados, a implantação deste Programa se justifica,


principalmente, pela necessidade de reduzir ao máximo a ocorrência e a magnitude
dos danos aos solos, aos rios, aos mananciais e às vias de acesso que garantirão
maior tempo de vida ao reservatório e à própria barragem. O empreendedor é o
responsável pela implantação deste Programa e deverá fiscalizar as empresas por
ele contratadas para executar esse trabalho.

Programa de Monitoramento da Fauna: O Programa de Monitoramento da Fauna,


diretamente associado ao Programa de Manejo da Fauna, deve atender às medidas
a seguir listadas:
• Acompanhar as alterações nos parâmetros de distribuição da fauna, abundância,
riqueza e diversidade das espécies selecionadas para a análise.
• Acompanhar os impactos do empreendimento a fim de indicar, futuramente, ações
específicas para cada grupo. As espécies que podem ser selecionadas para
monitoramento são: - Mastofauna – morcegos, mamíferos de médio e grande porte;
Avifauna – aves que sofrem os efeitos da alteração das florestas; Herpetofauna
terrestre – comunidades de lagartos e anfíbios, em geral. O empreendedor é o
responsável pela execução deste Programa, em parceria com órgãos ambientais e
instituições de pesquisa.
Programa de Monitoramento Limnológico da Água: o rio apresenta, nas
margens, vegetação bem preservada, e suas características indicam que os fatores
de modificação e degradação da qualidade da água derivam de fontes de poluição
diversas. Durante as fases de instalação e operação do empreendimento, grande
parte desses ambientes será alterada, e isso resultará em mudanças na parte
aquática da Área de Influência Direta da UHE. Algumas medidas recomendadas
para esse problema estão listadas a seguir:

• Eliminar a quantidade de vegetação necessária para manter a qualidade da água


do reservatório.
• Remover mecanicamente as plantas aquáticas flutuantes, caso não seja possível
evitar ou reduzir o seu crescimento.
• Nas obras, evitar utilizar ou revolver o sedimento do leito do rio onde se constatou
mercúrio, a fim de reduzir a possibilidade de intoxicação por parte da fauna aquática
e das pessoas.
• Implementar ações que visem reduzir e/ou evitar o surgimento de criadouros
artificiais de animais transmissores de doenças e/ou a expansão de criadouros já
existentes.

Este Programa é composto por quatro Subprogramas:


• Monitoramento da Qualidade da Água
• Monitoramento Sanitário
• Monitoramento Biológico
• Monitoramento de Plantas Aquáticas

O responsável pela implantação deste Programa será o próprio empreendedor, que


poderá estabelecer parcerias e convênios com instituições científicas.

Programa de Monitoramento Fluviométrico e Hidrossedimentológico: Com o


barramento do rio serão reduzidas as velocidades da água, modificando o transporte
de sedimentos (areia e argila, por exemplo), que tenderão a se acumular no fundo
do reservatório. Além de alterações na estrutura, composição e diversidade de
comunidades de plantas e animais, a deposição de sedimentos poderá, ao longo do
tempo, diminuir a capacidade de armazenamento do reservatório, com a terra
ocupando o lugar da água (assoreamento).

Além disso, o revolvimento do leito do rio durante as obras de implantação da usina


poderá alterar a qualidade das águas, decorrente da liberação de compostos
tóxicos, como o mercúrio, por exemplo, e enriquecimento com nitrogênio e fósforo, o
que poderá alterar a estrutura e a diversidade de espécies aquáticas. O
monitoramento fluviométrico e hidrossedimentológico do rio e do reservatório da
UHE, desde a sua implantação, torna-se fundamental para a obtenção de
informações sobre as alterações do fluxo da água, do transporte de sedimentos e do
assoreamento da bacia de inundação. Em destaque, recomenda-se a medida a
seguir:

• Manter ou instalar estações fluviométricas e sedimentométricas no reservatório, no


remanso e a jusante da barragem. A implementação deste Programa é de
responsabilidade do empreendedor, que poderá estabelecer convênios ou parcerias
com órgãos públicos e instituições científicas.

Programas Compensatórios

O Programa de Indenização e Remanejamento da População se justifica pela


necessidade de liberar todas as áreas que serão inundadas com a formação do
futuro reservatório e onde serão executadas as obras da UHE, cujo uso e ocupação
do solo atual serão afetados, incluindo áreas de canteiro, acessos, jazidas,
empréstimos e bota-fora. As principais medidas associadas a este Programa estão a
seguir listadas:

• Divulgar previamente todas as ações previstas na implantação da UHE.


• Planejar a relocação das estradas que serão afetadas pelo empreendimento, de
forma a garantir que não haja interrupção dos acessos às propriedades e da
circulação da população na região.
• Proceder aos devidos remanejamentos e relocações, quando for o caso, sempre
com base em critérios justos e transparentes, contemplando as características das
propriedades atingidas e da população afetada.
• Negociar com os proprietários e atuais moradores (posseiros, etc.) a liberação das
áreas das propriedades que deverão ser afetadas com a formação do reservatório,
assim como as medidas de compensação a serem adotadas. Todas as áreas
afetadas das propriedades não poderão retornar ao seu uso anterior, devendo ser
objeto de negociação entre os proprietários de terras e o empreendedor. Nesse
sentido, este deverá efetuar o pagamento de indenização referente ao valor das
terras, das culturas e das benfeitorias que serão afetadas pelo empreendimento.

Programa de Reposição Florestal: deverá atender às medidas listadas a seguir:

• Na recomposição da vegetação que for retirada para as obras (alojamentos,


canteiro, etc.), utilizar mudas e sementes de plantas de outras localidades, com as
mesmas características das que foram cortadas.
• Firmar parcerias com instituições de pesquisa, para aproveitamento e
armazenamento do material coletado para futura plantação.
• Identificar as áreas prioritárias para proteção e/ou reflorestamento. A princípio,
propõe-se a recuperação das margens do reservatório e das áreas sujeitas a
deslizamentos, bem como aquelas onde processos erosivos intensos estejam
instalados, impedindo a regeneração natural da vegetação.
• Coletar sementes, mudas e outras estruturas de propagação anteriormente e
posteriormente à retirada das árvores, assegurando a manutenção das espécies de
valor ambiental e comercial. Tais recursos facilitarão a obtenção de mudas para
recompor as margens do reservatório. O empreendedor é o responsável pela
execução deste Programa, em parcerias ou convênios com empresas ou instituições
especializadas.

O empreendedor deverá providenciar a indenização, desapropriação e desocupação


prévias dessas áreas diretamente afetadas pelo empreendimento, assim como
adotar medidas para reduzir e compensar os impactos decorrentes do
remanejamento da população afetada. O empreendedor é o responsável pela
execução deste Programa.

Cabe salientar que para que o programa de gestão ambiental de um


empreendimento dê bons resultados é necessário que os controles gerenciais e
operacionais sejam assegurados, contudo, não se deve deixar de dar atenção à
capacitação técnica dos responsáveis pela implementação e controle desses
programas. O proponente deve ter a competência técnica comprovada para
assegurar o bom desempenho ambiental do empreendimento.

No que tange à engenharia ambiental, no Brasil, a formação dos engenheiros


ambientais contempla uma trajetória que perpassa pelas ciências exatas e da terra,
ciências humanas e sociais aplicadas e pelas ciências biológicas. A elaboração de
estudos de impactos ambientais, a análise ambiental de empreendimentos, a
concepção de planos de monitoramento e a gestão ambiental fazem parte dos
conteúdos curriculares.

Assim, a engenharia ambiental em interface com outros engenheiros, ecólogos, bió -


logos, geólogos, geógrafos, sociólogos, arquitetos, economistas, atua no sentido de
conceber inicialmente os estudos de viabilidade dos empreendimentos, até a fase do
licenciamento ambiental da fase de operação. A engenharia ambiental tem participa-
ção importante na identificação, avaliação dos impactos e consequente definição de
medidas, planos e programas ambientais.

Contudo, importa destacar que estas atividades não são atribuição exclusiva dos en-
genheiros ambientais, pois de acordo com a Resolução nº 447/2000 do CONFEA,
em seu Artigo 2º determina:
Art. 2º Compete ao engenheiro ambiental o desempenho das atividades 1 a
14 e 18 do art. 1º da Resolução nº 218, de 29 de junho de 1973, referentes
à administração, gestão e ordenamento ambientais e ao monitoramento e
mitigação de impactos ambientais, seus serviços afins e correlatos.
Parágrafo único. As competências e as garantias atribuídas por esta Resolu-
ção aos engenheiros ambientais são concedidas sem prejuízo dos direitos e
prerrogativas conferidas aos engenheiros, aos arquitetos, aos engenheiros
agrônomos, aos geólogos ou engenheiros geólogos, aos geógrafos e aos
meteorologistas, relativamente às suas atribuições na área ambiental.

Salienta-se que a avaliação de impactos e a análise ambiental são estudos


multidisciplinares e que devem prever a diversidade dos olhares científicos no
sentido de assegurar a visão sistêmica de ambiente.

Ao final deste módulo importa salientar que os estudos de avaliação de impactos


ambientais têm evoluído no Brasil e no mundo, deixando disponíveis uma série de
ferramentas aos técnicos envolvidos na gestão ambiental e cabendo à equipe
técnica a seleção dos métodos e técnicas mais ajustadas à avaliação de cada
empreendimento.

Deve-se observar a necessidade de uma equipe multidisciplinar e do contato direto


com a realidade socioambiental em análise, no sentido de aferir as percepções e
subsidiar a tomada de decisão quanto aos mecanismos de fiscalização, controle,
monitoramento e gestão ambiental do empreendimento, independente da fase em
que se encontra: projeto, implantação ou operação.

Para os fatores físicos e biológicos existem indicadores de qualidade ambiental


estabelecidos, que facilitam a atuação das equipes de monitoramento e o
desenvolvimento das medidas mitigadoras e compensatórias. Quanto aos aspectos
sociais e econômicos, as barragens comprometem sobretudo o uso e a ocupação do
solo e a dinâmica dos ribeirinhos em função da implantação do lago, porém, desde
que adotadas medidas que assegurem os direitos dessas comunidades e
implantados programas voltados para o as populações atingidas, esses impactos
podem ser mitigados.

Cabe destacar que a gestão ambiental adotada desde a fase de projeto e ao longo
de toda a obra e vida útil do empreendimento propicia a mitigação dos impactos, a
adoção de medidas compensatórias satisfatórias, mas também a indicação de
medidas potencializadoras dos impactos positivos ajustadas à realidade ambiental
local.
A participação da comunidade nas audiências públicas na fase de licenciamento e a
continuidade da mobilização durante a fase de obras e operação do
empreendimento contribuem para que os programas de gestão ambiental alcancem
bons resultados, pois muitas das intervenções propostas passam pela atuação nos
terrenos contíguos ao reservatório e nas populações diretamente afetadas. Nesse
sentido, os programas de comunicação social e educação ambiental são
importantíssimos.

Tal como no exemplo do RIMA de Foz do Apiacás, a estruturação das ações de


controle e gestão de forma integrada e sistêmica visa assegurar que as intervenções
no território e no espaço de vida das comunidades assegurem benefícios sociais e
econômicos, além da proteção e conservação ambiental. É importante observar que
a definição de uma equipe de meio ambiente à frente das ações de gestão ambiental
pode denotar o compromisso do empreendedor com as questões ambientais.
REFERÊNCIAS
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SITES PARA CONSULTA

www.cetesb.sp.gov.br
www.feam.br
www.feema.rj.gov.br
www.mma.gov.br
www.socioambiental.org
www.neofito.com.br
CURSO
SEGURANÇA DE BARRAGENS

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1
MÓDULO III – GESTÃO E DESEMPENHO DE
BARRAGENS

UNIDADE 4: RELATÓRIOS DE INSPEÇÃO

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FICHA TÉCNICA
Realização:

EQUIPE TÉCNICA

Glauco Gonçalves Dias


Elaboração e Revisão de conteúdo

Alexandre Anderáos Josiele Patias


Revisor técnico ANA Revisora técnica Itaipu

Carlos Leonardi Josimar Alves de Oliveira


Revisor técnico Itaipu Revisor técnico ANA

Cesar Eduardo b. Pimentel Ligia Maria Nascimento de Araújo


Revisor técnico ANA Revisora técnica ANA

Claudio Neumann Marcus Vinícius A. M. Oliveira


Revisor técnico Itaipu Revisor técnico ANA

Claudio Osako Nádia Eleutério Vilela Menegaz


Revisor técnico Itaipu Revisora técnico ANA

Dimilson Pinto Coelho Sérgio Ricardo Toledo Carvalho


Revisor técnico Itaipu Revisor técnico ANA

Etore Funchal de Faria Silvia Frazão Matos


Revisor técnico Itaipu Revisora técnica Itaipu

Fabio Luiz Willrich


Revisor técnico Itaipu

COORDENAÇÃO EXECUTIVA
Celina Lopes Ferreira (ANA)

REVISÃO ORTOGRÁFICA
ICBA – Centro de Línguas
www.cursodeidiomasicba.com.br

Esta obra foi licenciada sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-
SemDerivados 3.0 Não Adaptada

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3
CURRICULO RESUMIDO

Prof: Glauco Gonçalves Dias

Glauco Gonçalves Dias, 31 anos,

Técnico em Edificações, Engenharia de


Produção Civil e Mestrado em
Engenharia Civil, todos pelo CEFET/MG,
de 1997ª 2010. Dissertação: “Proposta de
Metodologia de Avaliação Qualitativa da
Segurança de Barragens com base no
Risco”.

Atuou na Gerência de Segurança de Barragens da CEMIG GT, de 2002 a 2011,


especialmente na análise de dados da instrumentação civil, inspeções visuais e
gerenciamento da segurança das barragens.

Atualmente, sócio da Thrud Engenharia atuando como Engenheiro de Segurança


de Barragens.

Contatos:
(31) 8888-6964
glaucogoncalvesdias@gmail.com

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SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS....................................................................................... 06
INTRODUÇÃO................................................................................................. 08
1 LEGISLAÇÃO E REGULAMENTAÇÕES.................................................... 09
2 RELATÓRIOS............................................................................................... 11
2.1 Estrutura e Conteúdo de Relatórios.......................................................... 12
2.1.1 Descrição da Anomalia........................................................................... 14
2.2 Fotografia Técnica..................................................................................... 16
2.2.1 Escala..................................................................................................... 17
2.2.2 Situação.................................................................................................. 19
2.2.3 Monitoramento Visual............................................................................. 20
3 SEPARAÇÃO TEMÁTICA........................................................................... 21
CONCLUSÕES................................................................................................ 23
REFERÊNCIAS............................................................................................... 26
ANEXO............................................................................................................ 27

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Exemplo de escala em fotografia 18


Figura 2 – Escala aplicada a deteriorações 18
Figura 3 - Apresentando o local das deteriorações 19
Figura 4 - Mostrando detalhes das deteriorações depois de situadas 19

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Prezado Aluno,

no decorrer desta unidade você deverá desenvolver competência para:

 Produzir relatórios técnicos explicando as condições da barragem;


 Interpretar relatórios emitindo pareceres técnicos sobre segurança de
barragens.

Bom estudo!

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INTRODUÇÃO
O processo de segurança de barragens se justifica pela importância das estruturas e
pelo grande impacto que pode ser gerado no caso de uma ruptura. A garantia da
segurança da barragem por sua vez se baseia nos processos de projeto, construção
e, posteriormente, na fase de operação pela correta manutenção das estruturas:
realização de inspeções de diagnóstico, tomada de decisão e realização de medidas
preventivas.

Muitas vezes, inspeção, diagnóstico, tomada de decisão e execução da manutenção


não são feitos por uma mesma pessoa. Por isso, a escrita se configura como
ferramenta de comunicação entre as etapas. Por meio de relatórios estabelece-se a
comunicação entre partes interessada e, além disso, cria-se o registro do
comportamento da estrutura durante sua vida útil.

Grande parte da dificuldade deste capítulo está ligada a escassez de informação


sobre os formatos de relatórios no campo da engenharia. “Não existem disciplinas
nas escolas de Engenharia que ensinem a fazer laudos. Por outro lado, também às
faculdades de Direito não se interessam pelo assunto. Embora dediquem dois anos
à parte de Medicinal Legal, sequer conhecem o termo Engenharia Legal, isto é a
parte da engenharia que auxilia o juiz na prova pericial” (Fiker, 2005). A fim de driblar
essa dificuldade o material foi elaborado a partir das definições de cada item e do
material colecionado de proprietários que já os emitiam mesmo antes da sanção da
lei.

Há, no Brasil, grande variabilidade de formatos de Relatórios de Segurança de


Barragens. Os formatos encontrados foram analisados para que as propostas aqui
apresentadas abarcassem e aprimorassem os relatórios existentes no Brasil. O
objetivo foi chegar a uma sugestão que seja aplicável em todas as regiões e nas
mais diversas barragens, unificando a forma de comunicação com clareza e
objetividade, facilitando sua interpretação e assim garantindo a segurança das
barragens por meio de tomadas de decisão acertadas.

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1 LEGISLAÇÃO E REGULAMENTAÇÕES

A promulgação da Lei 12.334/2010 que estabelece a Política Nacional de Segurança


de Barragens (PNSB) é o instrumento para alinhamento da documentação da
segurança das barragens no Brasil. Contudo, o texto da lei, no que se refere a
Relatórios, se limita a afirma que “os relatórios resultantes das inspeções de
segurança devem indicar as ações a serem adotadas pelo empreendedor para a
manutenção da segurança da barragem” e que ele será impelido a realizar as ações
indicadas.

Um pouco mais completa que a lei, a Resolução ANA 742/2011, que se aplica apena
as barragens outorgadas pelo órgão, vai um pouco além ao detalhar as exigências
sobre os relatórios. Abaixo, o trecho da resolução de interesse para este conteúdo.

“Art. 7º - Os Relatórios de Inspeção de Segurança Regular da


Barragem deverão conter:
I – identificação do representante legal do Empreendedor
II – identificação do responsável técnico pela segurança da barragem
III – avaliação das anomalias encontradas e registradas, identificando
possível mau funcionamento e indícios de deterioração ou defeitos
de construção;
IV – relatório fotográfico contendo, pelo menos, as anomalias
classificadas como de magnitude média e grande;
V – reclassificação, quando necessário, quanto a magnitude e nível de
perigo de cada anomalia identificada na ficha de inspeção;
VI – comparação com os resultados da Inspeção de Segurança
Regular anterior;
VII – avaliação dos resultados da inspeção e revisão dos registros de
instrumentação disponíveis, indicando a necessidade de
manutenção, pequenos reparos ou de inspeções regulares e
especiais, recomendando os serviços necessários;
VIII – classificação do nível de perigo da barragem, de acordo com as
definições a seguir:
a) Nomal: quando não foram encontradas anomalias ou as anomalias
encontradas não comprometem a segurança da barragem, mas
devem ser controladas e monitoradas ao longo do tempo;
b) Atenção: quando as anomalias encontradas não comprometem a
segurança da barragem a curto prazo, mas devem ser controladas,
monitoradas ou reparadas ao longo do tempo;

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c) Alerta: quando as anomalias encontradas representem risco à
segurança da barragem, devendo ser tomadas providências para
eliminação do problema; e
d) Emergência: quando as anomalias encontradas representam risco
de ruptura iminente, devendo ser tomadas medidas para prevenção
e redução de danos materiais e a humanos decorrentes de uma
eventual ruptura.
IX – ciente do representante legal do empreendedor
Paragrafo único. O Relatório de Inspeção Regular deverá ser
acompanhado da respectiva anotação de responsabilidade técnica
do profissional que o elaborou.”

Por ser um documento que regular a atividade de relatórios da segurança de


barragens, parte do material aqui disponibilizado está baseada na referida resolução.

A NBR-13752, que trata de “Perícias de Engenharia na Construção Civil” é exigida


em todas as manifestações escritas de trabalhos periciais de engenharia na
construção civil. Apesar de não se tratar de uma perícia – atividade que envolve
apuração das causas que motivaram determinado evento ou da asserção de direitos
– a engenharia de barragens se aproxima muito dessa atividade e alguns conceitos
e procedimentos podem ser baseados em tal norma.

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10
2 RELATÓRIOS

“Relatório [relato]: Exposição, mais ou menos minuciosa, do que se viu, ouviu ou


observou.” (Aurélio, 2010)

“Um relatório de uma atividade prática é uma exposição escrita de um determinado


trabalho ou experiência laboratorial.” (Jones apud Carrapiço, 2001)

Relatórios técnicos, como no caso de relatórios de segurança de barragem, são o


registro escrito da inspeção visual. Em sua elaboração duas perguntas devem ser
levadas em consideração durante todo o processo:
 A quem se destina o documento?
 O leitor será capaz de interpretar a situação relatada com base no texto que
está sendo elaborado?
Essas perguntas têm por finalidade garantir que o relatório seja capaz de alcançar
sua finalidade maior: informar. No caso da segurança de barragens o inspetor
especialista estaria informando proprietários e entidades fiscalizadoras.

Por estas considerações, pode-se dizer que o relatório seria o documento resultante
de uma inspeção ou estudo da barragem com a finalidade de informar de maneira
escrita as observações visuais extraídas em campo pelo Engenheiro ou Técnico
especialista. O relatório, então, tem que ser capaz, dentro das possibilidades, de
permitir que o leitor “visualize” a situação da estrutura examinada.

O relatório como instrumento de trabalho deverá utilizar uma linguagem simples,


clara, objetiva e precisa. Um relatório deverá ser também conciso e coerente,
incluindo a informação indispensável à compreensão do trabalho. A forma pela qual
alguma informação pode ser apresentada (tabelas, gráficos, ilustrações), pode
contribuir consideravelmente para reduzir a extensão de um relatório.

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2.1 Estrutura e Conteúdo de Relatórios

O relatório de segurança de barragens tem por objetivo reunir as informações


necessárias para que o leitor, seguindo o responsável pela elaboração do
documento, seja capaz de compreender o estado de conservação e o grau de
segurança daquela estrutura.

A determinação do estado de conservação e segurança da estrutura de uma


barragem é normalmente verificada por meio da observação dos problemas que ela
apresenta: as anomalias. Quanto maior o número ou a magnitude das anomalias
observadas numa barragem, menor será seu “grau de segurança”. Este raciocínio
tem paralelo na medicina, quando o médico avalia a saúde de seu paciente de
acordo com a relevância das doenças apresentadas.

O mais comum é que os relatórios tenham o formato de texto descritivo narrando o


processo de inspeção dizendo quais as estruturas civis foram percorridas e o que
nelas se observou de anormal.

Contudo para ser claro, conciso e objetivo, os relatórios podem assumir o formato de
fichas, sendo uma ficha para cada anomalia observada. Este formato facilita o
atendimento da Resolução ANA, que diz que prevê a “avaliação das anomalias
encontradas e registradas, identificando possível mau funcionamento e indícios de
deterioração ou defeitos de construção”. A ficha do relatório ficaria assim, sendo o
registro da anomalia reunindo nela todas as informações importantes para avaliação
de seu impacto na segurança, monitoramento ou tratamento preventivo.

São informações relevantes para o relatório:


 Data da detecção das anomalias;
 Responsável pela detecção;

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 Localização ou Estrutura afetada;
 Tipo e descrição da anomalia, inclusive sua magnitude e nível de perigo;
 Causa provável da anomalia;
 Comparação com os resultados da Inspeção de Segurança Regular anterior
 Classificação do nível de perigo da barragem
 Conclusões e Recomendação;
 Ilustrações (fotografia, croquis, vídeos etc).

Data e responsável pela detecção são dados relevantes para o acompanhamento


histórico da evolução de uma deterioração. Muitas vezes, conhecer o responsável
pela detecção do problema permitirá que dúvidas surgidas após a inspeção ou
mesmo depois de passados alguns anos.

O local da deterioração ou a estrutura afetada por ela tem relação direta com a
gravidade do problema. Por exemplo, uma surgência observada num canal de
adução pode ser menos impactante que uma surgência no corpo da barragem. A
determinação da localização deve ser mais precisa quanto possível: ou invés de
dizer apenas qual a anomalia foi detectada no pé da barragem, dizer que ela está no
pé da barragem na estaca 10 + 15,00, ao lado esquerdo do dissipador do
vertedouro, por exemplo. Isso facilitará o monitoramento por parte de outras
pessoas.

O exercício de determinação das causas prováveis de cada anomalia é de grande


valia para a análise da segurança da estrutura. Se a deterioração é o efeito, aquilo
que esse vê, ela é a manifestação de um processo causado por uma alteração do
comportamento esperado. É, portanto, sabendo a causa que se pode determinar a
correta medida de reparo ou monitoramento.

A recomendação sobre cada problema detectado é a real contribuição do


especialista que está realizando a inspeção visual para a segurança da estrutura.

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Normalmente a recomendação deve ter natureza preditiva (monitoramento visual,
instalação de instrumentação, estudo ou investigação) ou preventiva (serviço de
reparo ou recuperação da parte). Outras recomendações também podem ser
apresentadas, como alterações de processo e operação. O especialista responsável
cabe determinara qual a alternativa técnica mais indicada para cada caso.

2.1.1 Descrição das Anomalias

Como cabe à descrição de anomalias a função de reportar aos leitores o estado de


segurança da barragem em função das anomalias apresentadas por elas, o relator
tem que buscar ao máximo equilibrar concisão e detalhamento. A concisão tem a ver
com a objetividade em reportar o problema da maneira mais clara e direta, enquanto
ao detalhamento cabe esmiuçar a situação levantando todos os elementos que
subsidiarão a tomada de decisão que seguirá. Dessa forma, o leitor poderá
compreender muito de estado de segurança da estrutura sem, necessariamente, ter
que visitar a estrutura.

Há consideráveis diferenças de nomenclaturas de deteriorações ou anomalias nas


diversas regiões do Brasil. Como sugestão de padronização, podemos citar o
trabalho realizado pela CEMIG (Anexo I). Mais importante que determinar ou
padronizar o tipo da deterioração ou anomalia, é descrever com clareza o problema
observado. No texto de descrição, o responsável pela inspeção deve ainda informar
o impacto (magnitude e nível de perigo) daquela deterioração para a segurança da
estrutura como um todo.

Depois da identificação da anomalia (ver anexo I), o responsável pela elaboração do


relatório deve discorrer sobre o impacto que a anomalia causa para estrutura, a fim
de transmitir ao leitor uma ideia sobre a magnitude do problema. Por exemplo:
erosão no talude gramado de jusante da barragem de terra, ainda muito superficial,
não afetando a segurança da estrutura até o momento. Ou num exemplo oposto:
surgência com carreamento de solos no talude de jusante com dimensões e vazão

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percolada que podem colocar em risco a integridade da estrutura.

Outra informação a ser transmitida na descrição diz respeito à evolução da


anomalia. Para o leitor é importante saber a quanto tempo a anomalia é observada e
quais as expectativas quanto a sua evolução e consequente relevância. Utilizando
os exemplos acima, poderíamos abordar a evolução de um problema das seguintes
formas: erosão no talude gramado de jusante da barragem de terra, ainda muito
superficial, não afetando a segurança da estrutura até o momento. É a primeira
inspeção que o problema é observado e não deve evoluir se aplicada a correta
manutenção. E ainda: surgência com carreamento de solos no talude de jusante
com dimensões e vazão percolada que podem colocar em risco a integridade da
estrutura. A surgência já havia sido detectada anteriormente, mas o carreamento
apareceu na ultima semana conforme relato dos responsáveis e encontra-se fora de
controle, o que nos faz estimar que a evolução da magnitude da anomalia tenda a
ser rápida, demandando ação imediata. (Observação: vale notar que no caso de
uma anomalia “fora de controle” como no exemplo citado, possivelmente não haveria
tempo para elaboração de um relatório, demandando uma ação imediata.)

Utilizando-se a mesma lógica temporal e em atendimento às novas diretrizes, é


importante que o relator correlacione as observações da inspeção atual com as
inspeções anterior. Assim como mostrados nos exemplos acima, o responsável pelo
relatório deve informar se as anomalias já existiam antes da inspeção ou se elas
foram detectadas na ocasião. A informação da data de detecção tem grande
relevância para este fim.

Nas barragens instrumentadas, o relator deve aproveitar a disponibilidade de dados


quantitativos fornecidos pelos instrumentos a fim de enriquecer o diagnóstico ali
expresso. Muitas anomalias de barragens podem ser detectadas, indicadas,
apuradas ou confirmadas pelos instrumentos. Problemas relacionados a
deslocamentos, pressões neutras (pressão de água no interior do maciço),
percolação e vazões podem ser correlacionadas com leituras da instrumentação.

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Quando o responsável pelo relatório tem essa possibilidade, ela deve ser utilizada,
por aumentar sobre maneira o entendimento facilitando a determinação de causas
prováveis e, consequentemente o grau de acerto na recomendação que será
sugerida. No exemplo: surgência com carreamento de solos no talude de jusante
com dimensões e vazão percolada que podem colocar em risco a integridade da
estrutura. A surgência já havia sido detectada anteriormente, mas o carreamento
apareceu na ultima semana conforme relato dos responsáveis e encontra-se fora de
controle, o que nos faz estimar que a evolução da magnitude da anomalia tenda a
ser rápida, demandando ação imediata. A surgência está ocorrendo nas
proximidades do Piezômetro 001, instalado no interior do filtro de areia e que vinha
apresentado paulatino aumento da pressão neutra. Essa observação, agora
materializada pela ocorrência da surgência, aponta para a hipótese de colmatação
do tapete drenante,

2.2 Fotografia Técnica

Pela resolução citada, os registros fotográficos tornam-se obrigatórios (pelo


menos para anomalias de magnitude média ou grande), tamanha sua importância
para o entendimento do relatório. Alguns especialistas, trazem o relatório fotográfico
ao fim do relatório escrito, citando as fotos durante o texto. Porém, a inserção das
fotos logo abaixo da descrição da anomalia, no corpo do texto, torna a leitura mais
objetiva e fluida. Croquis e gráficos devem ser empregados sempre que sua
utilização facilitar a compreensão de fenômenos ou situações ligados à segurança
da barragem.

Se, como diz o ditado, “uma imagem vale mais que mil palavras”, a fotografia tem
importante papel de comunicação na elaboração de relatórios técnicos. A imagem
capturada transmite em segundos, informações que demandariam textos enormes
para serem descritas e que, possivelmente, não teriam a mesma eficiência.

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A facilidade de acesso às tecnologias de fotografia digital possibilita que essa
importante ferramenta de registro possa ser amplamente usada com a finalidade de
apurar o relato da situação da segurança da barragem e demais estruturas civis.
Além, a fotografia é muitas vezes um recurso para acompanhamento da evolução de
deteriorações importante, como trincas e surgências, que, pelo olhar e subjetividade
dos inspetores, poderia gerar dúvidas quanto seu aumento, estabilização ou
diminuição.

Contudo, assim como o texto exige conhecimentos linguísticos para elevar ao


máximo sua capacidade de informar o leitor, também a fotografia exige alguns
conhecimentos técnicos para potencializar a comunicação por meio de imagens.
Neste caso, dois recursos de composição fotográfica podem auxiliar nesse objetivo:
escala e situação.

2.2.1 Escala

Colocar escala numa foto nada mais é do que inserir um elemento na imagem que
permita que o leitor, que não esteve no local, consiga determinar as dimensões
aproximadas de dado registro. O exemplo (Figura 1) abaixo ilustra este caso. Como
leitor tem uma ideia do tamanho de um polegar humano, ele se torna capaz de
imaginar o tamanho da flor.

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Figura 1 – Exemplo de escala em fotografia

Fonte: Nota do Autor

De maneira similar, durante a inspeção visual de segurança, o responsável pode


(sempre que a dimensão for um fator importante para a imagem), inserir elementos
que permitam que o leitor imagine as dimensões e magnitude de determinada
deterioração.

Figura 2 – Escala aplicada a deteriorações

Fonte: Nota do Autor

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2.2.2 Situação

Além de registrar o estado da barragem ou de determinada deterioração, a fotografia


serve também para situar o problema em relação à barragem. Muitas vezes,
fotografias “muito fechadas” ou “muito próximas” do problema podem deixar o leitor
sem referências de onde o problema se insere. Neste caso, um recurso possível é
fazer duas fotos do problema: uma mostrando o problema e identificando a região e
outra “mais aberta” mostrando onde o problema se encontra na barragem.

Figura 3 - Apresentando o local das deteriorações

Fonte: Nota do Autor

Figura 4 - Mostrando detalhes das deteriorações depois de situadas

Fonte: Nota do Autor

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2.2.3 Monitoramento Visual

Apesar de ser desejável que o monitoramento da evolução de anomalias como


trincas, surgências, etc seja feito de maneira objetiva, ou seja, por meio de
grandezas mensuráveis, algumas vezes, devido à variáveis da inspeção, o
monitoramento tem que ser feito visualmente e a fotografia também pode ser útil.
Nesse caso o inspetor tem que procurar fazer a fotografia sempre de um mesmo
ângulo, em condições similares.

A foto como ferramenta de inspeção e registro deve ser utilizada sempre que
possível, pois facilita sobremaneira o entendimento da situação da estrutura civil,
principalmente, quando bem executada. É aconselhável que proprietários e
inspetores mantenham um banco de dados organizado das fotografias das
barragens registrando, sobretudo data e nome da barragem. Ao longo dos anos,
fotos antigas passam a ser muito relevantes para compreensão do comportamento
das estruturas.

Outras ilustrações também podem ser de grande utilidade. Croquis são ótimas
ferramentas de auxílio na locação das deteriorações ou como esquemas para
explicação de fenômenos. Hoje em dia é possível, inclusive, utilizar vídeos como
ilustração em relatórios digitais.

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20
3 SEPARAÇÃO TEMÁTICA

Todo relatório tem, usualmente, uma estrutura de organização para facilitar, ora o
entendimento do destinatário, ora o trabalho do elaborador. Se pensarmos o relatório
como um documento de reportagem a alguém, a comunicação pode ser mais eficaz
se pensarmos na compreensão do leitor como finalidade principal.

Por Estruturas Civis


A organização mais usual de relatórios de inspeção de barragem é aquela feita por
estrutura da barragem. Esta estrutura de relatório pode estar relacionada com a
maneira como as inspeções são feitas, passando pelas estruturas e relatando suas
deteriorações ou por estruturas de um barramento que são tratadas por diferentes
departamentos ou especialistas do quadro dos proprietários. Dessa forma, tem-se
um relatório em que as observações são agrupadas por tipos de estruturas:
barragem de aterro, barragem de concreto, extravasores etc.

Por Grupo de Manutenção e Modos de Falha


Outra possibilidade de agrupamento das observações seria relacionar as anomalias
aos grupos de manutenção aos quais as anomalias observadas estão associadas.
Por exemplo, anomalias num circuito hidráulico, seja de geração ou abastecimento,
não afetam necessariamente a segurança da barragem. Além disso, sabe-se que,
não raramente, além de avaliar a segurança da barragem, inspetores reportam
também problemas civis ligados ao correto funcionamento e operação da estrutura.
Problemas relacionados a inadequações ambientais ou a segurança do trabalho e
até problemas de menor relevância ligados à conservação patrimonial são focos de
atenção de proprietários, mas têm menor importância se comparados com a
probabilidade de uma ruptura e suas conseqüências. Separá-los pode ser de grande
importância para a objetividade do relatório.

Assim, teríamos uma estrutura de relatório com os seguintes tópicos:

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 Segurança de barragens;
 Segurança Funcional ou Operacional;
 Adequação Ambiental, Segurança do Trabalho e outros aspectos legais;
 Conservação do Patrimônio

Nesta possibilidade de organização, a segurança da barragem pode ser relatada por


modos de falha, ou seja, abordando as maneiras pelas quais a estrutura pode vir a
romper. Hartford (2004) sugere os seguintes modos de falha: Falha Hidráulica,
Movimentação de Massa (Estabilidade da Barragem) e Erosão Regressiva (Piping).
Nesta outra estrutura, deteriorações que afetam o mesmo modo de falha ficariam
agrupadas dando melhor visibilidade às maiores fragilidades da estrutura, ou seja,
aos pontos que requerem maior atenção para garantia da segurança.

Essa estrutura deixa em evidência a importância da segurança da barragem e facilita


tanto a fiscalização quanto a tomada de decisão, quando necessária. A utilização
dessa metodologia de avaliação por modos de falha pode também facilitar a redação
do laudo conclusivo.

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CONCLUSÃO

Este material teve por objetivo sugerir conteúdo e forma para elaboração de
relatórios relacionados à segurança de barragens. Partiu-se do esclarecimento e
definições de cada uma dessas etapas, suas diferença e peculiaridades para sua
construção.

Assim, determinou-se o relatório como uma coleção de “fichas descritivas”


resultantes das observações de campo durante as inspeções visuais, onde são
reunidas informações sobre as anomalias: local, data, tipo, magnitude e nível de
perigo, causa e recomendações, além de ilustrações.

Como bem colocado no prefácio do livro Linguagem do Laudo Pericial: “o laudo é


um meio e não um fim”. Relatórios não são, em si, segurança de barragens. São
ferramentas de avaliação e comunicação do estado dessas importantes estruturas e
só contribuirão para a efetiva garantia dessa segurança quando elaborados por
profissionais capacitados e éticos, quando viabilizados de maneira responsável
pelos proprietários e quando as medidas preventivas forem tomadas de maneira
eficiente.

Modelo de Relatórios sugerido


Até a edição deste material didático, não se havia padronizado o formato de
relatórios a serem adotados em todo Brasil. Assim, da mesma maneira que vinha
sendo feito, proprietários e especialista têm liberdade para elaboração da
documentação de registro das inspeções visuais de segurança.
A sugestão a seguir reflete o formato modelo da Agencia Nacional de Águas para de
Relatórios.

Independente da variação dos formatos dos documentos adotados, o documento


final deve buscar responder aos “requisitos” informando sobre os riscos existentes
ligados à falha hidráulica, risco de instabilidade da barragem e risco de erosão

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interna. As informações reunidas neste material apontam para um formato que pode
servir de base para emissão desses documentos, que seria:

1. Capa – com título do documento com nome da barragem e data da emissão


2. Folha de Rosto – contendo dados para identificação do proprietário da
barragem e do responsável pela segurança na mesma.
3. Sumário – com os itens do relatório
4. Apresentação – dizendo sobre o conteúdo do trabalho e outros aspectos. A
apresentação pode trazer informações sobre a finalidade do documento
(cumprimento de legislação, por exemplo), a equipe responsável pela redação ou
setor responsável, condições climáticas e duração da inspeção, entre outras
informações.
5. Introdução – a introdução irá contextualizar o relatório que se segue, portanto
tem papel muito importante no entendimento do documento. A introdução deve trazer
informações que não necessariamente variam com o tempo, mas são fundamentais
para o entendimento do comportamento da barragem como informações sobre a
estrutura física da barragem, suas estruturas adjacentes e finalidade, histórico da
construção, programa de segurança adotado, periodicidade, formato, responsável e
objetivo das inspeções visuais. Quando possível e disponíveis os dados, a
Introdução pode trazer um resumo das informações de projeto, como os dados
hidrológicos e de dimensionamento dos extravasores, dados sobre o estudo de
estabilidade da barragem e também de percolação pelo maciço ou pela fundação
sobre a Hidrologia da Barragem e dados de estabilidade, por exemplo.
6. Relatório – o relatório deve ser dividido por temas: por estruturas civis ou por
grupos de manutenção e modos de falha. Pode adotar o modelo descritivo ou de
fichas descritivas individuais para cada deterioração observada, sempre constando
data e responsável pela detecção, local, tipo, descrição, magnitude e nível de perigo
da anomalia, causa provável, informar se houve a reclassificação da anomalia
quanto a magnitude e nível de perigo, recomendações, comparação com os
resultados da Inspeção de Segurança Regular anterior e ilustrações.
7. Análise de Dados da Instrumentação – quando houver

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8. Conclusão e recomendações: apresentar de forma sucinta a situação da
barragem de acordo com a inspeção realizada, deve conter a informação clara sobre
a classificação do nível de perigo da barragem e recomendações sobre o tratamento
das anomalias encontradas e sobre a segurança da barragem inspecionada.
9. Fotografias e ilustrações – toda anomalia inspeção deve ser identificada por
fotografia. Devem ter tamanho que permita o entendimento do leitor. Deve ser
acompanhada de numeração e legenda explicativa sempre que necessário.
10. Ciente do Proprietário – o ideal é que o responsável assine ao fim do relatório
dando conhecimento do conteúdo.
11. Assinatura dos profissionais que realização a inspeção e elaboraram o
relatório.
12. O Relatório de Inspeção Regular deverá ser acompanhado da respectiva
anotação de responsabilidade técnica do profissional que o elaborou.

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REFERÊNCIAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10.719 – Apresentação de


Relatórios Técnicos-Científicos. 2011

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13.752 – Perícias de


engenharia na construção civil. 1996

CARRAPIÇO, F. Como Elaborar um Relatório. Disponível em: <


http://azolla.fc.ul.pt/aulas/documents/ElabRelat.pdf>, 2001

FIKER, J. Linguagem do Laudo Pericial: técnicas de comunicação e persuasão.


São Paulo: Liv. E Ed. Universitária de Direito, 2005.

HARTFORD, D; BAECHER, G. Risk and Uncertaity in Dam Safety. , London:


Thomas Telford, 2004

HOLANDA, A. B. de. Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: 6 edição, 2011

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ANEXO I

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Anexo I
Tabela de Códigos de Deteriorações

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CURSO
SEGURANÇA DE BARRAGENS

1
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MÓDULO I – BARRAGENS: ASPECTOS


LEGAIS, TÉCNICOS E SÓCIOAMBIENTAIS

UNIDADE 5: ASPECTOS HIDROLÓGICOS

2
[Digite texto]

FICHA TÉCNICA
Realização:

EQUIPE TÉCNICA

Claudio Evaldo Sousa Junior Glauco Gonçalves Dias


Elaboração de conteúdo Revisor Técnico Geral

Etore Funchal de Faria


Alexandre Anderáos
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico ANA

Fabio Luiz Willrich


Carlos Leonardi
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Josiele Patias
Cesar Eduardo b. Pimentel
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico ANA

Josimar Alves de Oliveira


Claudio Neumann
Revisor técnico ANA
Revisor técnico Itaipu

Ligia Maria Nascimento de


Claudio Osako Araújo
Revisor técnico Itaipu Revisora técnica ANA

Silvia Frazão Matos


Dimilson Pinto Coelho
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Revisão Ortográfica

ICBA – Centro de Línguas


www.cursodeidiomasicba.com.br

Este obra foi licenciada sob uma Licença .Creative Commons Atribuição-
NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada

3
[Digite texto]

CURRICULO RESUMIDO

Prof: Claudio Evaldo Sousa Junior

Graduado em Engenharia Ambiental


pela Faculdade União das Américas
de Foz do Iguaçu-PR e possui
especialização em Agrimensura e
Geoprocessamento pela mesma.
Cursando mestrado em Energia da
Universidade Federal do ABC – São
Paulo.
Atuou na UNIAmbiental empresa Júnior, trabalhando com projetos de
Consultoria Ambiental; coordenou mais de 200 Planos de Controle
ambiental na Bacia Hidrográfica Paraná III em parceria com a Itaipu
Binacional. Atualmente é sócio da empresa Palmares Geoprocessamento
e Análise Ambiental, atuando na elaboração de Inventários de Emissões
de Gases de Efeito Estufa, mapas temáticos, interpretação e
processamento de imagens de satélites.

4
[Digite texto]

SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS............................................................................................ 06
LISTA DE TABELAS........................................................................................... 07
1. INTRODUÇÃO................................................................................................. 09
1.1 Definição …................................................................................................... 09
1.2 Ciclo Hidrológico............................................................................................ 09
1.3 Aplicação da Hidrologia................................................................................. 11
1.3.1 Aplicação da Hidrologia em Barragens....................................................... 13
2. PRECIPITAÇÃO.............................................................................................. 14
2.1 Introdução...................................................................................................... 14
2.2 Tipos de Precipitação..................................................................................... 15
2.2.1 Precipitações Ciclônicas............................................................................. 15
2.2.2 Precipitações Orográficas........................................................................... 16
2.2.3 Precipitações Convectivas.......................................................................... 17
2.3 Medidas Pluviométricas................................................................................. 18
2.4 Infiltração....................................................................................................... 20
2.4.1 Grandezas características.......................................................................... 21
2.4.2 Fatores intervenientes................................................................................ 22
2.4.3 Determinação da capacidade de infiltração................................................ 23
2.5 Evaporação.................................................................................................... 23
3. ESCOAMENTO SUPERFICIAL...................................................................... 26
3.1 Hidrogramas.................................................................................................. 27
4. ESCOAMENTO SUBTERRÂNEO.................................................................. 31
5. MODELOS DE CHUVA – VAZÃO…............................................................... 34
6. TEMPO DE RETORNO................................................................................... 36
6.1 Equação de chuvas intensas......................................................................... 39
7. PREVISÃO DE ENCHENTES......................................................................... 40
7.1 Enchentes e inundações................................................................................ 40
8. CRITÉRIOS PARA DETERMINAÇÃO DE CHEIAS …................................... 43
9. MÉTODO DE DETERMINAÇÃO DE CHEIA DE PROJETO.......................... 45
9.1 Fórmulas Empíricas....................................................................................... 45
9.2 Métodos Estatísticos...................................................................................... 45
9.3 Propagação de Cheias.................................................................................. 46
10. MEDIÇÕES DE VAZÃO................................................................................ 48
10.1 Medida a partir do nível da água................................................................. 53
10.1.1 Vertedores de soleira delgada.................................................................. 53
10.1.2 Calha Parshall........................................................................................... 57
10.2 Medida da Velocidade.................................................................................. 59
10.3 Estações Fluviométricas.............................................................................. 61
10.4 Curva-Chave................................................................................................ 63
10.4,1 Método Gráfico......................................................................................... 64
10.4.2 Método Analítico....................................................................................... 66
CONCLUSÃO...................................................................................................... 68
REFERÊNCIAS................................................................................................... 69

5
[Digite texto]

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Ciclo Hidrológico...............................................................................10


Figura 2 - Precipitações Ciclônicas....................................................................16
Figura 3 - Precipitações Orográficas.................................................................16
Figura 4 - Precipitações Convectivas................................................................17
Figura 5 - Esquema de funcionamento de um pluviômetro...............................19
Figura 6 - Pluviógrafo – esquema de funcionamento........................................20
Figura 7 - Hidrograma típico..............................................................................27
Figura 8 - Hidrograma de registros de descargas diárias (Usina Barra Bonita –
rio Tietê).............................................................................................................28
Figura 9 - Letograma e Hidrógrada de uma Chuva Isolada...............................29
Figura 10 – Caracterização esquemática das zonas não saturadas e saturadas
no subsolo..........................................................................................................32
Figura 11 - Tempo de retorno e a sua relação com o diâmetro dos canos
utilizados na rede de drenagem.........................................................................38
Figura 12 - Enchente 30/01/2004, Bacia do Gregório, Centro de São Carlos –
SP.......................................................................................................................40
Figura 13 - Fotos de inundações em São Paulo................................................41
Figura 14 – Propagação de uma onda de cheia................................................46
Figura 15 – Perfil de um trecho de canal em regime de escoamento
permanente e uniforme......................................................................................49
Figura 16 – Seção transversal de um canal em regime de escoamento
permanente e uniforme......................................................................................50
Figura 17 – Seção transversal trapezoidalde um canal em regime de
escoamento permanente e uniforme ................................................................52
Figura 18 – Vertedor triangular para medição de vazão em pequenos cursos
d’água................................................................................................................54
Figura 19 – Vertedor triangular com soleira delgada em ângulo de 90°............55
Figura 20 – Vertedor trapezoidal (Cipoletti).......................................................55
Figura 21 – Vertedor retangular.........................................................................56
Figura 22 – Calha Parshall para medição de vazão em pequenos córregos ou
canais.................................................................................................................57

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Períodos de retorno para diferentes ocupações de áreas................39


Tabela 2 – Desvios para os valores do coeficiente de
obliquidade.........................................................................................................46
Tabela 3 – Valores de “n” de Manning para canais com diferentes tipos de
revestimentos de fundo e paredes.....................................................................51
Tabela 4 – Valores de n e k para determinar a vazão........................................58

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Prezado aluno,

no decorrer desta unidade você deverá desenvolve competência para:


• Examinar as condições hidrológicas relacionando com as medidas de
segurança;

Bom estudo!

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1. INTRODUÇÃO

1.1 Definição

Hidrologia é a ciência que trata da água da terra, sua ocorrência, circulação e


distribuição, suas propriedades físicas e químicas, suas reações com o meio
ambiente e sobre todas as formas de vida. (Definição recomendada pelo
United States Federal Council of Science and Technology, 1962).

1.2 Ciclo Hidrológico

Denomina-se ciclo hidrológico o processo natural de evaporação,


condensação, precipitação, detenção e escoamento superficial, infiltração,
percolação da água no solo e nos aquíferos, escoamentos fluviais e interações
entre esses componentes. (Righetto, 1998).

Para entender melhor o ciclo, pode-se visualizá-lo como tendo início quando a
água dos oceanos evapora. O vapor resultante é transportado pelo movimento
das massas de ar. Sob determinadas condições, o vapor é condensado
formando as nuvens, que por sua vez podem resultar em precipitação. Esta
precipitação que ocorre sobre a terra pode ser dispersa de várias formas. A
maior parte fica retida temporariamente no solo próximo onde caiu, e logo
retorna à atmosfera através da evaporação e transpiração das plantas. Uma
parte da água que sobra escoa sobre a superfície do solo ou para os rios,
enquanto que a outra parte penetra profundamente no solo, abastecendo o
lençol d’ água subterrâneo. A Figura 1 demonstra melhor como ocorrem essas
relações entre as fases.

As principais variáveis hidrológicas consideradas no ciclo hidrológico são:


• E: evaporação (mm/d);
• q: umidade específica do ar em gramas de vapor d’ água por quilo
de ar, ou g/kg;

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• P: precipitação (mm);
• i: intensidade de chuva (mm/h);
• Q: deflúvio superficial ou vazão (m³/s);
• f: taxa de infiltração (mm/h);
• ET: evapotranspiração (mm/d).

Figura 1 – Ciclo Hidrológico

Fonte: USGS - United States Geological Survey.

Embora o ciclo hidrológico possa parecer um ciclo contínuo, com a água se


movendo de uma forma permanente e com uma taxa constante, é na realidade
bastante diferente, pois o movimento que a água faz em cada uma das fases
do ciclo ocorre de forma bastante aleatória, variando tanto no espaço como no
tempo.

Em determinadas circunstâncias, a natureza parece trabalhar com os


excessos. Ora provoca chuvas torrenciais que ultrapassam a capacidade de
suporte dos cursos d’ água, acarretando em inundações, ora parece que todo o
ciclo hidrológico parou completamente. Esses extremos de enchente e seca

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são os que mais interessam aos engenheiros, pois muitos dos projetos de
Engenharia Hidráulica são feitos com a finalidade de proteção contra estes
mesmos extremos, e quando não previsto podem ocasionar danos.

Quando trabalhamos com projetos, necessariamente devemos definir nosso


domínio, seja ele local ou regional. A definição do domínio implica na seleção
dos componentes mais relevantes. Do ciclo hidrológico, por exemplo, para o
balanço hídrico, são considerados a evapotranspiração, a precipitação, o
escoamento superficial, a infiltração e a percolação profunda. Já nos estudos
de drenagem é necessário conhecer as distribuições espaço-temporais da
precipitação, da infiltração e das vazões nas seções de interesse.

Para cada projeto que se realize envolvendo grandes áreas que possivelmente
possam a vir sofrer algum impacto, deve ser feita uma análise hidrológica, seja
para saber se a precipitação irá interferir no processo, ou se a drenagem é
adequada para esse tipo de empreendimento, por exemplo, a construção de
uma barragem.

1.3 Aplicação da Hidrologia

Segundo Righetto (1998), a Hidrologia exerce grande influência em:


1. Escolha de fontes de abastecimento de água para uso doméstico ou
industrial;
2. Projeto de construção de obras hidráulicas:
a. Fixação das dimensões hidráulicas de obras de arte, tais como:
pontes, bueiros, etc;
b. Projeto de Barragens: localização e escolha do tipo de barragem,
de fundação e de extravasor, dimensionamento;
c. Estabelecimento do método de construção;
3. Drenagem:
a. Estudo das características do lençol freático;
b. Exame das condições de alimentação e de escoamento natural
do lençol: precipitação, bacia de contribuição e nível d’ água nos

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cursos ‘d água;
4. Irrigação:
a. Problema de escolha do manacial;
b. Estudo de evaporação e infiltração;
5. Regularização de cursos d’ água e controle de inundações:
a. Estudo das variações de vazão; previsão de vazões máximas;
b. Exame das oscilações de nível e das áreas de inundação;
6. Controle de Poluição:
a. Análise da capacidade de recebimento de corpos receptores dos
efluentes de sistemas de esgotos: vazão mínima de cursos d’
água, capacidade de reaeração e velocidade de escoamento;
7. Controle da Erosão:
a. Análise de intensidade e frequência das precipitações máximas,
determinação de coeficiente de escoamento superficial;
b. Estudo da ação erosiva das águas e da proteção por meio de
vegetação e outros recursos;
8. Navegação:
a. Observação de dados e estudos sobre construções e
manutenção de canais navegáveis;
9. Aproveitamento Hidrelétrico:
a. Previsão das vazões máximas, mínimas e médias dos cursos d’
água para o estudo econômico e o dimensionamento das
instalações;
b. Verificação da necessidade de reservatório de acumulação;
determinação dos elementos necessários ao projeto e construção
do mesmo: bacias hidrográficas, volumes armazenáveis, perdas
por evaporação e infiltração;
10. Operação de sistemas hidráulicos complexos;
11. Recreação e preservação do meio ambiente;
12. Preservação e desenvolvimento da vida aquática.

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1.3.1 Aplicação da Hidrologia em Barragens

O primeiro passo na construção de uma barragem envolvendo os estudos


hidrológicos é conhecer a fundo as características fisiográficas da bacia onde a
obra será instalada.

Segundo os manuais de implementação de hidrelétricas da Eletrobrás, os


principais aspectos hidrográficos da bacia são: área, perímetro, forma,
densidade de drenagem, declividade do rio, tempo de concentração, cobertura
vegetal, uso, ocupação e relevo. Esses dados auxiliam na interpretação dos
resultados dos estudos hidrológicos e permitem fazer comparações com outras
bacias conhecidas.
No decorrer do texto serão abordados alguns conceitos relacionados aos
aspectos hidrográficos da bacia.

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2. PRECIPITAÇÃO

2.1 Introdução

O regime hidrológico de uma região é determinado por suas características


físicas, geológicas e topográficas, e por seu clima. Os fatores climáticos mais
importantes são a precipitação, principal “input” do balanço hidrológico de uma
região, sua distribuição e modos de ocorrência, e a evaporação, responsável
direta pela redução do escoamento superficial.

Outros fatores climáticos de suma importância são a temperatura, a umidade e


o vento, principalmente pela influência que exercem sobre a precipitação e a
evaporação.

Os fenômenos atmosféricos de precipitação ocorrem quando existe uma


condensação de vapor d’ água formando nuvens, os ventos movimentam as
partículas d’ água de maneira a ocorrer aglutinação de gotículas, formando
massas d’ água suficiente a serem precipitadas.
Os processos de crescimento das gotas mais importantes são os de
coalescência e de difusão do vapor.

O processo de coalescência é aquele no qual as pequenas gotas das nuvens


aumentam seu tamanho devido ao contato com outras gotas através da
colisão, provocada pelo deslocamento das gotas, devido a movimentos
turbulentos do ar, à força elétrica e ao movimento Browniano 1. A partir do
momento em que as gotas d’ água atingem tamanho suficiente para vencer a
resistência do ar, elas se deslocam em direção ao solo. Nesse movimento de
queda, as gotas maiores caem com maior velocidade do que as menores, o
que faz com que as gotas menores sejam alcançadas e incorporadas às
maiores aumentando, portanto, seu tamanho.

1
O movimento Browniano é o movimento aleatório de partículas macroscópicas num fluido
como consequência dos choques das moléculas do fluido nas partículas.

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2.2 Tipos de Precipitação

O esfriamento dinâmico ou adiabático é a principal causa da condensação e é


o responsável pela maioria das precipitações.

O movimento vertical das massas de ar é um requisito importante para a


formação das precipitações, que podem ser classificadas de acordo com as
condições que produzem o movimento vertical do ar. Neste sentido, o rápido
resfriamento de grandes massas de ar pode ser produzido de forma ciclônica,
orográfica e convectiva. Normalmente quando ocorre a precipitação, mais de
um desses processos são ativados.

2.2.1 Precipitações Ciclônicas

Estão associadas com o movimento de massas de ar de regiões de alta


pressão para regiões de baixa pressão. A diferença de pressão normalmente é
causada pelo aquecimento desigual da superfície terrestre.
As precipitações ciclônicas podem ser classificadas como frontal ou não frontal.

A frontal resulta da ascensão do ar quente sobre o ar frio na zona de contato


entre duas massas de ar de características diferentes. Se a massa de ar fria se
move de tal forma que é substituída por uma massa de ar mais quente, a frente
é conhecida como frente quente, e se o contrário acontece, chamamos de
frente fria. A ascensão frontal pode ser vista na figura 2.

As precipitações ciclônicas costumam ser de longa duração, apresentando


intensidade de baixa a moderada, espalhando-se por grandes áreas.

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Figura 2 - Precipitações Ciclônicas

Fonte: Villela, 1975.

2.2.2 Precipitações Orográficas

Essa precipitação é resultante da ascensão mecânica, acontece quando uma


corrente de ar úmido horizontal é forçada a passar por uma barreira natural,
como as montanhas. As precipitações da Serra do Mar são exemplos típicos. A
figura 3 demonstra como ocorre.

Figura 3 - Precipitações Orográficas

Fonte: Villela, 1975

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2.2.3 Precipitações Convectivas

As precipitações convectivas são típicas das regiões tropicais. Quando ocorre


um aquecimento desigual da superfície terrestre, acaba surgindo o
aparecimento de camadas de ar com densidades diferentes, o que gera uma
estratificação térmica da atmosfera em equilíbrio estável. Caso esse equilíbrio,
por qualquer motivo (vento, superaquecimento) for quebrado, provocará uma
ascensão brusca e violenta do ar menos denso, que é capaz de atingir grandes
altitudes. Essas precipitações costumam ser de grande intensidade e curta
duração, concentradas em pequenas áreas.

A Figura 4 demonstra como esse fenômeno acontece.

Figura 4 - Precipitações Convectivas

Fonte : Villela,1975.

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2.3 Medidas Pluviométricas

A quantidade de chuva (h) é dada pela altura da água caída e acumulada sobre
uma superfície plana e impermeável. É medida em postos previamente
escolhidos, utilizando-se aparelhos denominados pluviômetros ou pluviógrafos,
que nada mais são que simples receptáculos de água precipitada, que
registram essas alturas no decorrer do tempo.

As grandezas características são:

a) Altura Pluviométrica: Medidas realizadas nos pluviômetros e


expressas em mm.
b) Intensidade da Precipitação: É a relação entre a altura e a duração
da precipitação, expressa, geralmente em mm/h ou mm/min.
c) Duração: Período de tempo contado desde o início até o fim da
precipitação (h ou min.)

O pluviômetro é o mais utilizado devido à simplicidade de sua instalação e


operação, sendo facilmente encontrado em sedes municipais e áreas rurais. No
pluviômetro se lê a altura total da água precipitada em um dado período, ou
seja, a lâmina que foi acumulada durante a precipitação, onde seus registros
são sempre fornecidos em milímetros por dia ou em milímetros por chuva. A
quantidade de chuva que entra no pluviômetro depende da exposição ao vento,
da altura do instrumento e da altura dos objetos vizinhos ao aparelho.

A distância mínima dos obstáculos próximos (prédios, árvores, morros, etc.)


deve ser igual a quatro vezes a altura desse obstáculo, devendo o local de
instalação estar protegido do impacto direto do vento. O pluviômetro deve ser
instalado a uma altura padrão de 1,50m do solo (Figura 5).

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Figura 5 - Esquema de funcionamento de um pluviômetro

Fonte: Nota do autor.

O pluviógrafo consiste em um registrador automático, que trabalha em


associação a um mecanismo de relógio. Ele registra informações em uma fita
especial de papel quando existe uma variação da altura no nível de água
dentro do receptor. Este equipamento é bastante usado, pois possibilita um
monitoramento contínuo. Seus resultados são bem mais importantes
hidrologicamente, pois o registro é contínuo (Figura 6).

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Figura 6 - Pluviógrafo – esquema de funcionamento

Fonte: Nota do autor.

2.4 Infiltração

A infiltração é o fenômeno de penetração da água nas camadas do solo


próximas à superfície do terreno, movendo-se para baixo, através dos vazios,
sob a ação da gravidade, até atingir uma camada suporte, que a retém,
formando então a água do solo (Martins, 1976).

A água de chuva precipitada sobre terreno permeável é geralmente succionada


totalmente pelo solo até o instante em que se inicia a formação de um espelho
d’água na superfície e, por conseguinte, a ocorrência de deflúvio superficial.
Esse fato pode ser observado por qualquer pessoa, porém é regido por leis
físicas complexas, cuja quantificação é supostamente conseguida por meio de
experimentos, leis empíricas e solução de equações diferenciais que governam

20
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o movimento da água no solo (Righetto, 2008).

A infiltração pode ser dividida em três fases essenciais, sendo elas a fase de
intercâmbio, de descida e de circulação.

Na fase de intercâmbio, a água está próxima à superfície do terreno, sujeita a


retornar a atmosfera por uma aspiração capilar, provocada pela ação da
evaporação ou absorvida pelas raízes das plantas e em seguida transpirada
pelo vegetal.

Quando o deslocamento vertical da água ocasionado pela ação de seu próprio


peso supera a adesão e a capilaridade, chamamos de fase de descida. Esse
movimento se efetua até atingir uma camada-suporte de solo impermeável.

A fase de circulação ocorre quando há acumulo de água onde são constituídos


os lençóis subterrâneos, cujo movimento se deve também à ação da gravidade,
obedecendo às leis de escoamento subterrâneo.

2.4.1 Grandezas características

As principais grandezas características são explicadas por Martins (1976),


como mostram os próximos itens.

Capacidade de infiltração: É a quantidade máxima de água que um solo, sob


uma dada condição, pode absorver na unidade de tempo por unidade de área
horizontal. A penetração da água no solo, na razão de sua capacidade de
infiltração, verifica-se somente quando a intensidade da precipitação excede a
capacidade do solo em absorver a água, isto é, quando a precipitação é
excedente. A capacidade de infiltração pode ser expressa em milímetros por
hora (mm/h), milímetros por dia (mm/dia), metros cúbicos por metro quadrado
(m3/m2) ou metros cúbicos por dia (m3/dia).

Distribuição granulométrica: É a distribuição das partículas constituintes do solo

21
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em função das suas dimensões.

Porosidade: É a relação entre o volume de vazios de um solo e o seu volume


total, expressa comumente em porcentagem (%).

Velocidade de infiltração: É a velocidade média de escoamento da água


através de um solo saturado, determinada pela relação entre a quantidade de
água que atravessa a unidade de área do material do solo e o tempo. Pode ser
expressa em metros por segundo (m/s), metros por dia (m/dia), metros cúbicos
por metro quadrado (m3/m2) ou metros cúbicos por dia (m3/dia).

2.4.2 Fatores intervenientes

Os principais fatores intervenientes também são explicados por Martins (1976),


e apresentados nos itens a seguir:
Tipo de solo: A capacidade de infiltração varia diretamente com a porosidade, o
tamanho das partículas do solo e o estado de fissuração das rochas. As
características presentes em pequena camada superficial, com espessura da
ordem de 1 cm, têm grande influência sobre a capacidade de infiltração.

Compactação devida ao homem e aos animais: Em locais onde há tráfego


constante de homem ou veículos ou em áreas de utilização intensa por animais
(pastagens), a superfície é submetida a uma compactação que a torna
relativamente impermeável.

Ação da precipitação sobre o solo: As águas das chuvas quando se chocam


com o solo promovem a compactação da sua superfície, diminuindo a
capacidade de infiltração e transportando os materiais finos que, pela sua
sedimentação posterior, tenderão a diminuir a porosidade da superfície,
umedecendo a superfície do solo, saturando as camadas próximas,
aumentando a resistência à penetração da água; e atuando sobre as partículas
de substancias coloidais que, ao intumescerem, reduzem as dimensões dos
espaços intergranulares.

22
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2.4.3 Determinação da capacidade de infiltração

Para a determinação da capacidade de infiltração podem ser utilizados


equipamentos chamados infiltrômetros, que são capazes de realizar uma
medição direta. São tubos cilíndricos curtos de chapa metálica, com diâmetros
que variam entre 200 e 900 mm. São cravados verticalmente no solo, de modo
a restar uma pequena altura livre sobre este.

O método de Horner e Lloyd também pode ser utilizado para conhecer a


capacidade de infiltração do solo de uma dada área, porém para pequenas
bacias hidrográficas. Ele é baseado na medida direta da precipitação e do
escoamento superficial resultante, o que possibilita a determinação da curva da
capacidade de infiltração em função do tempo.

Já em bacias muito grandes, a intensidade de precipitação não é constante em


toda a área e por isso, Horton propôs um método de avaliação da capacidade
média de infiltração. Este método indica que a precipitação seja medida por
diversos aparelhos por toda a bacia, e um deles deve ser necessariamente um
pluviógrafo.

2.5 Evaporação

Evaporação é o conjunto dos fenômenos de natureza física que transformam a


água líquida ou sólida em vapor de água da superfície do solo e transferida,
neste estado, para a atmosfera. Esse processo só ocorre naturalmente se
houver ingresso de energia no sistema, proveniente do sol, da atmosfera ou de
ambos e será controlado pela taxa de energia, na forma de vapor de água que
se propaga na superfície da Terra (TUCCI & BELTRAME, 1993). A evaporação
pode ocorrer em corpos d’água, lagos reservatórios de acumulação, águas
retidas na camada superficial do solo e mares, e é influenciada também pela
temperatura e umidade relativa do ar, vento e pressão de vapor.

Os métodos mais utilizados para determinar a evaporação são:

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Evaporímetros: instrumentos que possibilitam uma medida direta do poder


evaporativo da atmosfera, estando sujeitos aos efeitos de radiação,
temperatura, vento e umidade. Os mais conhecidos são os atmômetros e os
tanques de evaporação;

Transferência de massa: é baseado na primeira Lei de Dalton, que estabelece


a relação entre evaporação e pressão de vapor, expressa da seguinte forma:

E=C⋅( e s −e )

Onde:
• E = intensidade da evaporação;
• C = coeficiente influenciado por fatores interferentes;
• eS = pressão de saturação do vapor de água à temperatura da água;
• e = pressão do vapor d’água presente no ar atmosférico.

Equações Empíricas: foram estabelecidas com base no ajuste por regressão


das variáveis envolvidas, para algumas regiões e condições específicas. Por
isso devem ser utilizadas com cautela.

Balanço hídrico: possibilita a determinação da evaporação com base na


equação da continuidade do lago ou reservatório. A referida equação pode ser
escrita da seguinte forma:

dV
=I −Q−E 0⋅A+ P⋅A
dt

Onde:
• V = volume de água contido no reservatório (hm);
• t = tempo (s);
• I = vazão total de entrada no reservatório (m3/s);
• Q = vazão de saída do reservatório (m3/s);

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• E0 = evaporação (mm/mês);
• P = precipitação sobre o reservatório (mm/mês);
• A = área do reservatório (km2).

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3. ESCOAMENTO SUPERFICIAL

O escoamento superficial talvez seja a fase mais importante do ciclo


hidrológico e de maior importância para os engenheiros, pois é a etapa que
estuda o deslocamento das águas na superfície da Terra e está diretamente
ligada ao aproveitamento da água superficial e à proteção contra os efeitos
causados pelo seu deslocamento (erosão do solo, inundações, etc.).

Esse tipo de escoamento é presenciado fundamentalmente na ocorrência de


precipitações e considera desde o movimento da água de uma pequena chuva
que, caindo sobre um solo saturado de umidade, escoa pela sua superfície,
formando as enxurradas ou torrentes, até córregos, ribeirões, rios e lagos ou
reservatórios de acumulação.

De acordo com Martins (1993), parte da água das chuvas é absorvida pela
vegetação e outros obstáculos, e é evaporada posteriormente. Da quantidade
de água que atinge o solo, parte é retida em depressões do terreno e parte é
infiltrada. Após o solo alcançar sua capacidade de absorver a água, ou seja,
quando os espaços nas superfícies retentoras tiverem sido preenchidos, ocorre
o escoamento superficial da água restante.

No inicio do escoamento superficial é formada uma película laminar que


aumenta de espessura, à medida que a precipitação prossegue, até atingir um
estado de equilíbrio.

Dentre os fatores que influenciam o escoamento superficial estão os seguintes:


• Fatores climáticos: ligados à intensidade da chuva, duração da chuva e
a chuva antecedente;
• Fatores fisiográficos: ligados à área e forma da bacia, à permeabilidade
e capacidade de infiltração e à topografia da bacia;
• Obras hidráulicas: ligadas à construção de barragens, canalização ou
retificação e derivação ou transposição.

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3.1 Hidrogramas

O hidrograma, hidrógrafa ou fluviograma é a representação gráfica da


distribuição da vazão em função do tempo numa dada seção de um curso
d’água. Essa distribuição é interpretada como sendo a resposta da bacia
hidrográfica ou área de drenagem quando estimulada pelas chuvas que caem
sobre essa área (Righetto, 1998).

A área de drenagem, grau de permeabilidade, profundidade do lençol freático,


porosidade do solo e também o tipo de precipitação que ocorreu sobre a bacia,
são aspectos da bacia que podem refletir em um hidrograma. Precipitações
uniformes sobre toda a bacia correspondem a hidrogramas com pico suave em
relação ao hidrograma resultante de uma chuva concentrada próxima ao
exutório (ponto de um curso d'água onde se dá todo o escoamento superficial
gerando no interior uma bacia hidrográfica por este curso) ou à seção onde são
observadas as vazões Q(t) (Righetto, 1998).

Um hidrograma típico produzido por uma chuva intensa apresenta uma curva
com um pico único (Figura 7). Porém, se houver variações abruptas na
intensidade da chuva, uma sequencia de chuvas intensas ou uma recessão
anormal do escoamento subterrâneo, o hidrograma gerado pode apresentar
picos múltiplos (Porto et al., 1999).

Figura 7 - Hidrograma típico

Fonte: Porto et al., 1999

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A figura 8 representa um hidrograma mostrando as vazões médias diárias para


um ano.

Figura 8 - Hidrograma de registros de descargas diárias (Usina Barra Bonita –


rio Tietê)

Fonte: CARVALHO e SILVA, 2006

A figura 9 mostra uma hidrógrafa de uma chuva isolada (ietograma) de uma


precipitação que ocorreu em uma bacia, assim como a curva de vazão
correspondente registrada em uma seção de um curso d’água.

Alguns fatores contribuíram para o escoamento na seção considerada, sendo


eles:
• precipitação recolhida diretamente pela superfície livre das águas;
• escoamento superficial direto (incluindo o escoamento subperficial);
• escoamento básico (contribuição do lençol de água subterrânea).

É possível observar quatro trechos diferentes na Figura 3.3, aonde o primeiro


vai até o ponto A. Neste primeiro trecho o escoamento ocorre devido
exclusivamente à contribuição do lençol freático, fazendo com que a vazão

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decresça. Entre os pontos A e B acontece a contribuição simultânea dos


escoamentos superficiais e de base, formando escoamento superficial direto, o
qual promove aumento da vazão à medida que aumenta a área de contribuição
para o escoamento.

Figura 9 - Ietograma e Hidrógrada de uma Chuva Isolada

Fonte: CARVALHO e SILVA, 2006

Quando a chuva durar tempo suficiente para que toda a área da bacia
hidrográfica contribua para a vazão na seção de controle, atinge-se o ponto B,
onde ocorre a vazão de pico, ou seja, o valor máximo para a vazão resultante
da precipitação sob análise.

De qualquer forma o ponto B é um máximo da hidrógrafa, mesmo que toda a


área da bacia não contribua para a vazão, porém não representando a
condição crítica. Caso a chuva tenha duração superior ao tempo de
concentração da bacia (tempo, a partir do início da precipitação, necessário
para que toda a bacia contribua com a vazão na seção de controle), a
hidrógrafa tenderá a um patamar com flutuações da intensidade de
precipitação.
29
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As contribuições dos escoamentos superficiais e de base acontecem no trecho


entre os pontos A e B, chamado também de trecho de ascensão do
escoamento superficial direto.

Quando a chuva houver terminado, a área de contribuição do escoamento


superficial é reduzida gradualmente, como mostra o trecho BC. Este trecho é
denominado trecho de depleção do escoamento superficial direto, o qual se
encerra no ponto C.

Quando é observada apenas a contribuição do escoamento básico, chamamos


de curva de depleção de escoamento de base, fase apresentada após o
término do trecho C.

A separação do hidrograma em escoamento superficial direto e escoamento


básico é muito importante para o estudo das características hidrológicas da
bacia e para alguns métodos de previsão de enchentes.

A determinação do hidrograma de projeto de uma bacia hidrográfica depende


de dois componentes principais: a separação do volume de escoamento
superficial e a propagação deste volume para jusante. Este último componente
dos modelos hidrológicos geralmente utiliza da teoria de sistemas lineares, ou
seja, o hidrograma unitário (HU). (Tucci, 1993)

O método de HU, apresentado por Le Roy K. Sherman em 1932 e aperfeiçoado


mais tarde por Bernard e outros, baseia-se primariamente em determinadas
propriedades do hidrograma de escoamento superficial (Pinto, 1976).

O HU é o hidrograma resultante de um escoamento superficial unitário (1mm,


1cm, 1 polegada) gerado por uma chuva uniforme distribuída sobre a bacia
hidrográfica, com intensidade constante de certa duração, constituindo uma
característica própria da bacia, refletindo as condições de deflúvio para o
desenvolvimento da onda de cheia (Carvalho e Silva, 2006).

30
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4. ESCOAMENTO SUBTERRÂNEO

A infiltração da água da chuva no solo ao longo de milhares de anos resultou


na formação de reservas hídricas subterrâneas de grande valor para o
abastecimento d’água urbano e rural, principalmente pelo volume disponível e
sua qualidade. As águas subterrâneas armazenadas em pequenas
profundidades formam os lençóis freáticos, que exercem papel fundamental na
regularização das vazões dos cursos d’água nos períodos de estiagem.

A recarga natural de um lençol freático faz parte de um importante processo do


ciclo hidrológico, que ocorre através da infiltração da água da chuva que não é
escoada superficialmente. Parte dessa água que é infiltrada retorna à
atmosfera através da evapotranspiração e parte é drenada, lenta e
verticalmente até atingir a superfície freática.

Durante a infiltração, uma parcela da água sob a ação da força de adesão ou


de capilaridade fica retida nas regiões mais próximas da superfície do solo,
constituindo a zona não saturada. Já a outra parcela, sob a ação da gravidade,
atinge as zonas mais profundas do subsolo, constituindo a zona saturada. A
figura 10 apresenta como essas zonas estão dispostas.

31
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Figura 10 – Caracterização esquemática das zonas não saturadas e saturadas no


subsolo.

Fonte: Boscardin Borghetti et al. (2004) apud ABAS

Zona não saturada: também chamada de zona de aeração, é a parte do solo


que está parcialmente preenchida por água. Nesta zona, pequenas
quantidades de água distribuem-se uniformemente, e as moléculas se aderem
às superfícies dos grãos do solo. Nesta zona ocorre o fenômeno da
transpiração pelas raízes das plantas, de filtração e de autodepuração da água.

Dentro dessa zona encontra-se:


• Zona de umidade do solo: é a parte mais superficial, onde a perda de
água para a atmosfera é intensa.
• Zona intermediária: região que fica entre a zona de umidade do solo e a
franja capilar, porém com umidade menor do que nesta última e maior
do que na zona superficial do solo. Em áreas onde o nível freático está
próximo da superfície, a zona intermediaria pode não existir, pois a
franja capilar atinge a superfície do solo. Normalmente são brejos e
alagadiços, onde há uma intensa evaporação da água subterrânea.
• Franja capilar: é a região mais próxima do lençol freático, onde a

32
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umidade é maior devido à presença da zona saturada logo abaixo.

Zona Saturada: é a região abaixo da zona não saturada, onde os poros ou


fraturas da rocha estão totalmente preenchidos por água. As águas atingem
essa zona por gravidade, através dos poros ou fraturas até alcançar uma
profundidade limite, onde as rochas estão tão saturadas que a água não
pode penetrar mais. Para que ocorra infiltração até a zona saturada, é
necessário primeiro satisfazer as necessidades da força de adesão da zona
não saturada.

A superfície que separa a zona saturada da zona de aeração é chamada de


nível freático, ou seja, este nível corresponde ao topo da zona saturada (IGM,
2001 apud ABAS). Dependendo das características climatológicas da região ou
do volume de precipitação e escoamento da água, esse nível pode permanecer
permanentemente a grandes profundidades, ou em alguns casos aproximar da
superfície horizontal do terreno, dando origem às zonas encharcadas ou
pantanosas, ou transformando-se em nascentes quanto se aproxima da
superfície através de um corte no terreno.

33
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5. MODELOS DE CHUVA – VAZÃO

Um modelo de chuva-vazão é uma ferramenta baseada no processo do ciclo


hidrológico, que tem como objetivo realizar uma avaliação da vazão em uma
dada bacia hidrográfica. Esses modelos devem ser capazes de descrever em
função da precipitação, as perdas que ocorrem por evaporação, interceptação,
infiltração e percolação da água subterrânea, assim como calcular o
escoamento superficial e o de base.

Os modelos chuva-vazão são utilizados para estudo do comportamento dos


fenômenos físicos hidrológicos; análise de consistência e preenchimento de
falhas; previsão de vazão em tempo real; previsão de cenários de
planejamento; efeitos resultantes de modificações do uso do solo;
dimensionamento de obras hidráulicas (Tucci, 1998).

Quando se vai escolher um modelo de chuva-vazão deve-se levar em


consideração os seguintes aspectos: os objetivos para os quais o modelo será
utilizado, as limitações do modelo e a qualidade e quantidade de dados que
possui (Tucci, 1998). Em geral os sistemas hidrológicos são quase sempre
contínuos, espalhados, não lineares e estocásticos, porém nem todos os
modelos chuva-vazão tratam o sistema como ele realmente é ou ocorre.

Em virtude da necessidade de um levantamento exaustivo de dados, os


modelos acabam se tornando mais complexos, o que leva a indagação de qual
deverá ser o aumento da precisão na coletada de dados, que influenciará
significativamente no resultado final.

Esse tipo de estudo é utilizado para atender as seguintes finalidades:


• Fornecer dados para projetos de engenharia. É largamente
utilizado na extensão de séries de dados fluviométricos, uma vez
que a disponibilidade de dos pluviométricos é maior que os
fluviométricos;

34
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• Simular vazões em cursos de água de bacia submetida a


intervenções, principalmente com enfoque em enchentes em
bacias urbanas;
• Ajudar na previsão de vazões que subsidiem o gerenciamento de
barragens e sistemas de alerta de cheias;
• Analisar o impacto de obras hidráulicas em cursos de água;
• Avaliar o impacto de intervenções antrópicas em bacias
hidrográficas;
• Estudar, equacionar e reproduzir as diversas fases do ciclo
hidrológico, objetivos inerentes às atividades de pesquisa.

Tucci (2008) afirma que a tendência de desenvolvimento de modelos após a


década de 80 centrou-se nos seguintes aspectos:

• Previsão de cheias em tempo real;


• Simplificação dos modelos, a partir da redução do número de
parâmetros, agilizando seu emprego; e
• Busca de informações hidrológicas em circunstâncias de dados
limitados.

É importante lembrar que o objetivo do estudo, a disponibilidade de dados e as


dimensões da bacia condicionam ao tipo de modelo empregado. Atividades de
projeto exigem uma abordagem mais objetiva ao passo que os trabalhos de
pesquisa buscam um entendimento do fenômeno, que quanto mais próximo da
realidade, mais complexo fica.

35
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6. TEMPO DE RETORNO

A probabilidade de ocorrência de um evento hidrológico indesejável, seja com


relação às grandes precipitações que provocam enchentes, seja com as
grandes estiagens, é um parâmetro fundamental para a avaliação e projeto de
sistemas hídricos, como reservatórios, canais, vertedores, bueiros, galerias de
águas pluviais e outros (Righetto, 1998).

Quanto mais extremo for um evento, ou seja, quanto mais ele estiver fora da
faixa de eventos (acontecimentos) normais, mais raro ele será, isto é, espera-
se que ele demore mais tempo para se repetir. Esse tempo de repetição é
chamado de “tempo de retorno (TR)", ou seja, é o tempo médio em que o
evento é igualado ou superado pelo menos uma vez.

Quando dizemos que um evento de precipitação tem um tempo de retorno de


dez anos, isso significa que em cinquenta anos ele poderá se repetir cinco
vezes, ou seja, ele se repete em média de dez em dez anos.

O tempo de retorno pode, também, ser definido como o inverso da


probabilidade de decorrência de um determinado evento em um ano qualquer.
Por exemplo, se a chuva de 130 mm em um dia é igualada ou superada
apenas 1 vez a cada 10 anos diz-se que seu tempo de retorno é de 10 anos, e
que a probabilidade de acontecer um dia com chuva igual ou superior a 130
mm em um ano qualquer é de 10%. Veja como chegamos a esse resultado:

Tr = 1/P
Sendo:
Tr= tempo de retorno (em anos)
P = probabilidade
10 = 1/P
P = 1/10 = 0,10
P = 10%

36
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O tempo de retorno é expresso em anos. Assim, se um evento hidrológico,


como por exemplo, uma cheia é igualada ou excedida em média a cada 10
anos terá um período de retorno T = 10 anos.

O tempo de retorno utilizado na determinação da vazão de projeto e,


consequentemente, no dimensionamento do dispositivo de drenagem, deve ser
fixado em função da importância e segurança da obra e do estudo custo-
benefício, a partir da avaliação dos danos para vazões superiores à vazão de
projeto, considerando danos a terceiros e custos para restauração da obra.

O subdimensionamento pode gerar enchentes, mas o superdimensionamento


pode ocasionar gastos desnecessários. Os tempos de retorno devem ser
estimados com base em muitos fatores. As dificuldades de estabelecer
objetivamente o tempo de retorno fazem com que a escolha recaia sobre
valores aceitos pelo meio técnico.

Em resumo, o custo de implantação da estrutura hidráulica aumenta com o


tempo de retorno adotado em seu projeto. Assim, a maximização do nível de
segurança conduz ao incremento nos recursos necessários, nem sempre
disponíveis ou factíveis de serem aplicados no empreendimento.

Portanto, a decisão de se investir em obras para controle de cheias deve


contemplar forçosamente parâmetros econômicos, além dos parâmetros
puramente hidrológicos.

Acompanhe na Figura 11 a relação entre custo/diâmetro dos canos utilizados e


o tempo de retorno que está sendo considerado.

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Figura 11 - Tempo de retorno e a sua relação com o diâmetro dos canos utilizados na
rede de drenagem.

Fonte: CPTEC/INPE, 2003.

Existem várias estimativas de tempo de retorno, de acordo com o tipo de


ocupação do solo, de acordo com o tipo de via pública ou mesmo com base na
obra que será executada. Esses períodos são estimados e, por esse motivo,
podem variar de um autor para o outro, servindo de base para a realização de
projetos de drenagem. A tabela 1 mostra tempos de retorno apresentados por
Tucci et al.

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Tabela 1: Períodos de retorno para diferentes ocupações de áreas.


PERÍODO DE
TIPO DE OBRA TIPO DE OCUPAÇÃO RETORNO
TR (ANOS)
Residencial 2
Comercial 5
Microdrenagem Áreas com edifícios de serviços
5
públicos
Aeroportos 2a5
Áreas comerciais e artérias de
5 a 10
Macrodrenage tráfego
m Áreas comerciais e residenciais 50 a 100
Áreas de importância específica 500
Fonte: Tucci et al (1995)

Para cada intensidade e duração da precipitação, podemos associar um tempo


de retorno, o que é representado graficamente pelas curvas de duração,
intensidade e frequência.

6.1 Equação de Chuvas Intensas

Para o dimensionamento de estruturas hidráulicas, o hidrólogo deve determinar


a chuva de maior intensidade que se espera que ocorra com uma dada
frequência. A utilização prática desses dados requer que se estabeleça uma
relação analítica entre as grandezas características de uma precipitação, quais
sejam a intensidade (i), a duração (t) e a frequência (P).

39
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7. PREVISÃO DE ENCHENTES

7.1 Enchentes e Inundações

A enchente se caracteriza por uma vazão relativamente grande de escoamento


superficial, ocasionando o transbordamento de água, através dos rios, lagos,
mares e córregos, ou ainda pela acumulação de água por drenagem deficiente.
Ela é o resultado de chuvas intensas e concentradas, pela intensificação do
regime de chuvas sazonais, por saturação do lençol freático (Figura 12),
enquanto que a inundação se caracteriza pelo extravasamento de um canal
(Figura 13).

Uma enchente pode não causar inundação, principalmente se obras de


controle forem construídas para esse fim. Porém, mesmo não havendo um
grande aumento de escoamento superficial poderá acontecer uma inundação,
caso haja alguma obstrução no canal natural do rio (Villela e Mattos, 1985).

Figura 12 - Enchente 30/01/2004, Bacia do Gregório, Centro de São Carlos – SP.

Fonte: Mendiondo, 2004.

40
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Figura 13 - Fotos de inundações em São Paulo.

Fonte: (1) Jornal Gazeta do Tatuapé - 24/12/00, (2) CETESB, 2003.

Uma enchente é caracterizada pelo descarregamento de qualquer volume de


água acumulado a montante, rompimento de uma barragem ou a abertura
brusca das comportas de um reservatório.

Já a inundação normalmente é ocasionada pela existência, a jusante da


inundação, de qualquer obstrução que impeça a passagem de vazão de
enchente ou por um bueiro mal dimensionado que pode remansar o rio.

Depois de vários estudos, ficaram patentes as três principais causas das


enchentes e ou inundações que assolam as grandes áreas urbanas brasileiras:
impermeabilização do solo, erosão e disposição inadequada do lixo.

O termo previsão de enchentes aplica-se ao cálculo de uma enchente de


projeto por extrapolação dos dados históricos para condições mais críticas. É
um procedimento necessário ao projeto de obras de controle de enchentes. O
significado do cálculo de uma enchente pode ser:

a) estabelecer a vazão máxima de projeto;


b) definir, se possível, o hidrograma da cheia, isto é, determinar a distribuição
das vazões ao longo do tempo, desde o instante em que se tem o aumento do
escoamento superficial produzido pelo efeito da chuva, até o fim da
contribuição do escoamento superficial.

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Todos os projetos de engenharia são planejados para o futuro, não havendo


certeza absoluta das exatas condições de trabalho da obra ou estrutura. Na
previsão de enchentes podem ser utilizados métodos baseados em dados de
chuva, isto é, métodos de transformação de chuva em vazão, como o método
do hidrograma unitário e o método racional. Pode-se, ainda, quando se dispõe
de séries históricas de vazão, recorrer a modelos ou leis de probabilidade já
consagrados para a descrição das frequências de ocorrência de eventos
extremos, permitindo que o projeto seja elaborado com base em um risco
calculado.

Na previsão de enchentes, o enfoque estatístico para se determinar a


magnitude das vazões de pico das cheias (vazões críticas ou de projeto)
consiste em definir uma relação entre descargas máximas e as
correspondentes frequências de ocorrência, a partir do estudo de uma série de
dados observados. A suposição básica é que as cheias verificadas durante um
determinado período possam ocorrer em um período futuro de características
hidrológicas similares, isto é, com uma expectativa de repetição.

A seleção da técnica mais apropriada para a determinação da enchente de


projeto depende do tipo, quantidade e qualidade dos dados hidrológicos
disponíveis.

42
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8. CRITÉRIOS PARA DETERMINAÇÃO DE CHEIAS

Os métodos de estudo de frequência das vazões de enchentes constituem-se


em uma ferramenta importante para o estabelecimento de critérios de
dimensionamento de obras hidráulicas. O conhecimento da frequência com que
determinado evento pode ocorrer permite o confronto econômico entre as
possíveis consequências e o montante necessário para tornar as estruturas
suficientemente resistentes a sua ação, propiciando os elementos necessários
à definição ótima do projeto (Holtz e Pinto, 1976).

Os estudos de frequência, em geral, ignoram a existência de um limite à


máxima vazão que pode ocorrer em determinado rio. Entretanto é indiscutível a
existência de um limite físico, imposto pelas próprias dimensões da área
drenada (Holtz e Pinto, 1976).

Os métodos hidrometeorológicos procuram definir esse valor-limite a partir da


avaliação da Precipitação Máxima Provável (PMP) que é definida pela
Organização Meteorológica Mundial (WMO, 1986), como o limite máximo
teórico, fisicamente possível, da precipitação, para uma determinada duração,
em uma determinada área geográfica, em uma determinada época do ano.

Os métodos da PMP devem ser considerados como estimação e não de


cálculo, pois consistem em técnicas de aproximação do valor do limite superior
para a precipitação. A complexidade dos processos físicos atmosféricos e as
características aleatórias dos campos de precipitação tornam impossível
determinar o verdadeiro valor do limite superior. Berod et al. (1992) afirmam
que o problema da PMP não está relacionado à existência de um limite
superior para a precipitação, como implícito na sua definição, e sim no cálculo
desse limite.

Além disso, a sua estimação depende da disponibilidade de um conjunto de


observações históricas, fazendo com que a PMP seja suscetível às incertezas
impostas pelas amostras disponíveis. Por esse ponto de vista, a PMP deve ser
43
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vista como uma variável aleatória, cujo comportamento pode ser descrito por
uma distribuição de probabilidades.

De acordo com Bertoni e Tucci (1993) apud Fernades (2009), os métodos


hidrometeorológicos consideram que a precipitação tende a crescer à medida
que haja um aumento no teor de umidade no fluxo de ar que alimenta as
tempestades. Os métodos hidrometeorológicos mais empregados na prática
são descritos por Bertoni e Tucci (1993) apud Fernandes (2009) da seguinte
forma:

1) Maximização de tormentas severas


Este método busca selecionar as maiores tormentas na região de interesse e

2) Transposição de tormentas severas:


Esse método se aplica quando o histórico de precipitação de uma dada bacia
não é suficiente para caracterizar as condições mais severas possíveis para a
chuva. A transposição só é válida se existem reais condições de que as
tormentas de outras bacias possam ocorrer na bacia em estudo. Nesse caso,
as bacias devem estar expostas à incursão das mesmas massas de ar e aos
mesmos tipos de tormentas.

3) Maximização das sequências de tormentas severas:


Este método é aplicado em grandes bacias, nas quais a área de drenagem
supera expressivamente a extensão das tormentas.

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9. MÉTODO DE DETERMINAÇÃO DE CHEIA DE PROJETO

Neste item abordaremos Fórmulas Empíricas e Métodos Estatísticos para a


obtenção de cheia máxima de projeto.

9.1 Fórmulas Empíricas


Consistem em fórmulas que relacionam vazão com as características físicas ou
climáticas da bacia. Os parâmetros e coeficientes são de caracteres
experimentais, quando se possui poucos dados de observação.

• Método de Fuller :O método é baseado nas cheias do rio Tohichson,


EUA, onde foi desenvolvido o método de extrapolação de dados
históricos de vazão.

• Fórmula de Aguiar:É uma fórmula empírica proposta pelo Engenheiro


Aguiar, que usa parâmetros que correspondem às características locais
no Nordeste Brasileiro.

Esta fórmula tem sido largamente utilizada para o dimensionamento de


vertedouros de pequenas barragens.

9.2 Métodos Estatísticos

Para determinar a vazão de projeto em um rio, o mais apropriado é aplicar


métodos estatísticos em seus registros históricos de vazão.

Para que esse método seja utilizado é importante que as características do


regime do rio não tenham sofrido nenhuma modificação importante, como
desvio, construção de barragens, processo de urbanização das margens, entre
outros, que afetam diretamente o regime normal do rio.
45
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Tabela 2 – Desvios para valores do coeficiente de obliquidade

Fonte: VILLELA, 1975 apud Studart 2006

9.3 Propagação de Cheias

Após a ocorrência de uma precipitação acontece um evento de cheia, quando


forma-se uma onda que desloca o fluxo do curso d’ água de montante para
jusante. Esse deslocamento é denominado propagação. Quando acontece o
fenômeno de propagação ocorre uma diminuição da vazão máxima do evento e
o aumento do tempo de propagação.
A figura 14 demonstra a propagação de uma onda de cheia.

Figura 14 – Propagação de uma onda de cheia.

Fonte: Baptista (1995) apud Marins (2004).

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Segundo Marins (2004), pode-se dizer então que a onda de cheia sofre um
amortecimento da sua vazão máxima, ou vazão de pico. Esta redução é função
de características físicas do curso d’ água onde ocorre o escoamento.

Segundo Holtz e Pinto (1976) quando conhecemos o hidrograma das vazões


afluentes (Qa) ao reservatório ou à extremidade de montante do rio, o
problema resume a determinação do correspondente hidrograma de vazões
efluentes (Qe), através da descarga da barragem ou da seção de jusante do
trecho de rio.

O fenômeno é descrito pela equação de continuidade.

dV
Qa =Q e +
dT

Onde dV representa a variação do volume acumulado no reservatório ou no


próprio rio, devido à sua variação de nível, no intervalo elementar de tempo dT.

A resolução da equação de continuidade é bastante simples para reservatórios,


uma vez que os efeitos dinâmicos são desprezíveis e as variáveis Qe e V são
funções exclusivamente do nível das águas represadas, ou seja, em condições
existentes a montante.

Para propagação de cheias em reservatórios dotados de comportas, consultar


Holtz e Pinto (1976).

47
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10. MEDIÇÕES DE VAZÃO

Vazão é o volume de um determinado fluido que passa em uma determinada


seção, em um conduto livre ou forçado, por unidade de tempo. Neste caso o
volume é dado em litros e o tempo é medido em segundos, ficando expressa
sua unidade em l/s.

Quando estamos medindo a vazão em rios é mais usual utilizar a unidade de


medida em metros cúbicos por segundo (m³/s), onde 1m³/s corresponde a 1000
l/s (litros por segundo).

Segundo Collischonn, 2011, o escoamento varia no tempo e no espaço. As


variáveis fundamentais são a velocidade, a vazão e o nível da água. Quando
essas variáveis não sofrem variação ao longo do tempo em determinado trecho
do canal o escoamento é chamado permanente, no entanto quando as
variáveis vazão, velocidade média e nível não variam no espaço, o escoamento
pode ser chamado de uniforme.

Para realizar os cálculos primeiramente adotaremos condição perfeita no rio,


levamos em consideração um escoamento permanentemente uniforme em um
canal aberto, com declividade constante do fundo e da linha de água, dessa
forma podemos estimar a partir de equações relativamente simples, como as
de Chezy e de Manning. A equação de Manning, apresentada a seguir,
relaciona a velocidade média da água em um canal com o nível da água neste
canal e a declividade.

1
2
R 2 ⋅S
3
h
u=
n

Onde:
48
[Digite texto]

• u = velocidade média da água em m/s;


• Rh = raio hidráulico da seção transversal (m);
• S = declividade (metros por metro, ou adimensional);
• n = coeficiente empírico, denominado coeficiente de Manning.

A figura 15 apresenta um perfil longitudinal de um canal escoando em regime


permanente e uniforme.

Figura 15 – Perfil de um trecho de canal em regime de escoamento permanente e


uniforme.

Fonte: Collischonn, 2011.

A figura 16 apresenta uma seção transversal do canal, supondo que o canal


tem a forma retangular. A profundidade de escoamento é y e a largura do canal
é B.

49
[Digite texto]

Figura 16 – Seção transversal de um canal em regime de escoamento permanente e


uniforme.

Fonte: Collischonn, 2011.

Para determinar o perímetro molhado, devemos somar os segmentos da seção


transversal, em que a água tem contato com as paredes, isto é:

P=B+ 2y
Onde:
• P = perímetro molhado (m);
• B = largura do canal (m);
• y = profundidade ou nível da água (m).

Para calcularmos o raio hidráulico, devemos encontrar a relação entre a área


de escoamento e o perímetro molhado, ou seja:

A
Rh =
P

Onde:
• A = área (B.y) (m²);
• P = perímetro molhado (m)
50
[Digite texto]

A partir das equações anteriores conseguimos deduzir que quanto maior o nível
da água y, maior a velocidade média da água no canal.

Segundo Collischonn, 20122 o coeficiente “n” de Manning varia de acordo com


o revestimento do canal. Dessa forma, canais com paredes muito rugosas,
como canais revestidos por pedras irregulares e os rios naturais com leito
rochoso tem valores altos de “n”. Canais de laboratório, revestidos de vidro, por
exemplo, podem ter valores relativamente baixos de “n”. Na tabela 3 temos
alguns valores de “n” de Manning para diferentes tipos de canais.

Tabela 3 – Valores de “n” de Manning para canais com diferentes tipos de


revestimentos de fundo e paredes
Tipo de Revestimento n de Manning
Vidro (laboratório) 0,01
Concreto liso 0,012
Canal não revestido com boa
manutenção 0,020
Canal natural 0,024 a 0,075
Rio de montanha com leito rochoso 0,075 a > 1,00
Fonte: Hornberger et al., 1998.

A vazão em um canal pode ser calculada pelo produto da velocidade média


vezes a área de escoamento, ou seja:

1
2
R 2 ⋅S
3
h
Q=u⋅A= A⋅
n

Exemplo 3 proposto por Collischonn, 2011

Visando aplicar o conteúdo já exposto, determinar qual é a vazão que escoa


em regime permanente e uniforme por um canal de seção transversal
trapezoidal com base B = 5 m e profundidade y = 2 m, considerando a
51
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declividade de 25 cm por km. Considere que a parede lateral do canal tem uma
inclinação dada por m = 2, e que o canal não é revestido, mas está com boa
manutenção.

Sabendo que para determinar a área de escoamento de um canal trapezoidal,


devemos aplicar à seguinte fórmula:

( B+B+ 2⋅m⋅y )⋅y


A=
2

Onde:
• B = largura da base;
• y = profundidade em m = cotg α de acordo com a figura abaixo.

Figura 17 – Seção transversal de um canal trapezoidal em regime de escoamento


permanente e uniforme.

Fonte: Collischonn, 2011.

O perímetro molhado é dado por


P=B+ 2⋅ y 2 + ( m⋅y )
2

Portanto A = 18m² e P = 13,9 m. O raio hidráulico é Rh = 1,3m.

52
[Digite texto]

A declividade de 25 cm por km corresponde a S = 0,00025 m.m -1, o coeficiente


de Manning para um canal não revestido com boa manutenção é de 0,020,
então a vazão no canal é dada por:

1
2
R 2 ⋅S 2 1
3 2
h
3 (1,3 ) ⋅( 0, 00025 )
Q= A⋅ =18⋅ =16 ,9 m ³/ s
n 0, 020

Portanto, a vazão no canal é de 16,9 m³/s.

Além da medição demonstrada anteriormente, onde adotamos condições


perfeitas (de laboratório), em campo, com condições reais a vazão pode ser
medida num curso de água das seguintes maneiras:

a) Medindo-se o nível da água;


b) A partir do conhecimento das áreas e das velocidades;
c) Estações fluviométricas (ou linmétricas).

10.1 Medida a partir do nível da água

Existem duas formas distintas para medir a vazão a partir do nível da água em
cursos d’água de menor porte. Esses dois dispositivos são denominados calha
Parshal e de vertedor de soleira delgada, que são definidos por Collischonn
(2011).

10.1.1 Vertedores de soleira delgada

São composições hidráulicas que forçam o escoamento a passar do regime


subcrítico (lento) para o regime supercrítico (rápido), para as quais a relação
entre a cota e vazão é conhecida. Dessa forma, o nível de água medido a
montante com uma régua pode ser utilizado para estimar diretamente a vazão
(Figura 18).

53
[Digite texto]

Figura 18 – Vertedor triangular para medição de vazão em pequenos cursos d’água.

Fonte: Collischonn, 2011

Um vertedor triangular de soleira delgada com ângulo de 90° (Figura 19), por
exemplo, tem uma relação entre cota e vazão, que pode ser verificada pela
seguinte equação:
2,5
Q= 1,42⋅h

Onde:
• Q = vazão (m³/s);
• h = carga hidráulica (m) sobre o vertedor que é a distância do vértice ao
nível da água, medido a montante do vertedor (Figura 18).
A relação entre a cota e a vazão de um rio pode ser utilizada diretamente,
porém sugere-se que na maioria dos casos seja realizada a verificação em
laboratório.

54
[Digite texto]

Figura 19 – Vertedor triangular com soleira delgada em ângulo de 90°

Fonte: Collischonn, 2011

No caso de abertura trapezoidal, a forma que tem os lados com inclinação 4:1
(indicador de declividade dos taludes -1 unidade na horizontal e 4 unidades na
vertical) é conhecida como vertedor Cipoletti (Figura 20).

Figura 20 – Vertedor trapezoidal (Cipoletti)

Fonte: Pereira e Mello

A dedução da equação de vazão parte da equação de Francis para vertedores


com duas contrações laterais e que fornece:

Q= 1,861⋅.l.h 3/2

55
[Digite texto]

Onde:
• Q = vazão (m³/s);
• L = comprimento da soleira (m);
• h = carga hidráulica (m).

Além dos vertedores já apresentados, existem também os retangulares


(Figura 21). A equação mais utilizada para determinação de vazão de
vertedores retangulares é a proposta por Francis, pois é simples e oferece
bons resultados.

Figura 21 – Vertedor retangular

Fonte: Pereira e Mello

Equação de Francis para vertedores retangulares:

Q= 1,861⋅.l.h 3/2
Onde:
• Q = vazão (m³/s);
• L = comprimento da soleira (m);
• h = carga hidráulica (m).

56
[Digite texto]

10.1.2 Calha Parshall

É um dispositivo na forma de um canal aberto com dimensões padronizadas e


geometria de fundo e paredes que aceleram a velocidade da água, pois ela é
forçada por uma garganta relativamente estreita e cria uma passagem por
escoamento crítico. A medição de nível é feita a montante garganta, e pode ser
relacionada de forma a permitir a medição em diferentes faixas de vazão.

Figura 22 – Calha Parshall para medição de vazão em pequenos córregos ou canais.

Fonte: Collischonn, 2011

Na Calha Parshall a determinação da vazão é expressa em função da altura, e


principalmente pelas características da calha.

57
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Q=K⋅H n

Onde:
• Q = vazão (m³/s);
• K = constante que depende das dimensões da calha e ajuste da unidade
de engenharia;
• H = altura da calha (m);
• n = valor que difere ligeiramente de 3/2, conforme tabela 4 com valores
de K e n para diversos padrões.

Tabela 4 – Valores de n e k para determinar a vazão

Fonte: Norma ASTM 1941:1975

Apesar das calhas Parshall e dos vertedores mostrarem uma relação direta e
conhecida ou facilmente calibrável entre a vazão e a cota, possuem a
desvantagem de terem alto custo de instalação e podem ser danificados
durante eventos extremos.

58
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10.2 Medida da Velocidade

Segundo Pinto (1976) de modo geral, a velocidade da água num rio diminui da
superfície para o fundo e do centro para as margens. É uma grandeza
extremamente variável.

Apesar das dificuldades em medir através da velocidade da água que aqui não
se apontaram, costumamos medi-la com os equipamentos apresentados a
seguir.

Flutuadores: determina-se o tempo de percurso de um flutuador entre dois


pontos de distância conhecida, dessa maneira tem-se uma estimativa da
velocidade da superfície. Podemos utilizar garrafa plástica e boia para
determinar a velocidade superficial do escoamento, que é na maioria das vezes
superior à velocidade média do escoamento. A velocidade média corresponde
de 80 a 90% da velocidade superficial. Multiplicando-se a velocidade média
pela área molhada (área da seção transversal pó onde está ocorrendo o
escoamento), obteremos a vazão.

Q=V média⋅Amédia para vazões >300 l/s

Para determinarmos a área da seção, devemos realizar uma batimetria


simples. Com uma régua identificamos a profundidade em vários pontos da

59
[Digite texto]

seção. Dessa forma teremos o perfil da nossa seção. Utilizando papel


milimetrado em escritório, conseguiremos saber a área na nossa seção.

Após ter coletado as profundidades na seção, iremos determinar a velocidade


utilizando um flutuador. Devem ser feitas 3 repetições e escolher o trecho mais
reto e uniforme. Baixa precisão.

Exemplo:

• O flutuador demorou 20s para percorrer o trecho entre os pontos 1 e 2


(10m).

Sabendo que a velocidade na superfície se dá pela fórmula:

Δx
V=
Δt
Temos:
10 m
V= =0,5 m/s
20 s

Tendo a velocidade de superfície, devemos encontrar a Velocidade média do


rio.
• VMED = 0,85 x 0,5 m/s
• VMED = 0,425 m/s

Supondo uma área da seção transversal igual a 1,5 m²:


• Q = 0,425 m/s x 1,5 m²
• Q = 0,64 m³/s ou Q = 640 l/s

Molinetes: são aparelhos que permitem, desde que bem aferidos, o cálculo da
velocidade mediante a medida do tempo necessário para uma hélice ou concha
dar um certo número de rotações. Através de um sistema elétrico, o molinete

60
[Digite texto]

envia um sinal luminoso ou sonoro ao operador em cada 5, 10 ou 20 (ou outro


número qualquer) voltas realizadas.

Marca-se o tempo decorrido entre alguns toques, de forma a se ter o número


de rotações por segundo (n). Cada molinete, quando tarado, recebe a sua
curva V = a.n+b, onde “n” tem um significado acima visto e “a” e “b” são
constantes do aparelho, o que permite o cálculo da velocidade V (m/s) em cada
ponto considerado (Pinto, 1976).

10.3 Estações Fluviométricas

Nos métodos diretos demonstrados anteriormente, para termos o valor da


vazão diariamente, devemos sempre ir a campo e medir utilizando uma das
técnicas. Em virtude de esse processo acabar se tornando oneroso e
complicado em alguns casos, a implantação de uma estação hidrométrica
ajudaria significativamente.
Uma estação hidrométrica consiste em um dispositivo de medição do nível d’
água com uma régua linimétrica ou linígrafas, devidamente referidos a uma
cota conhecida e materializada no terreno.

Ao instalar essa estação chamada de fluviométrica obtemos um registro do


nível do rio em cada evento (cheia, precipitação entre outros) e a partir disso
conseguimos fazer uma relação entre a vazão e o nível, denominado curva-
chave.

Segundo Santos (2001) existem dois tipos de linígrafos do ponto de vista


funcional:
• Linígrafos de boia: faz a leitura com a ajuda de um flutuador
preso a um cabo ou a uma fita de aço, que transmite o seu
movimento, decorrente de uma variação do nível d’água, a um
eixo que se desloca e grava esse movimento em um gráfico de
papel, ou transmite esse movimento a um receptor eletrônico;
• Linígrafo de pressão: mede a pressão d’ água no fundo do rio,

61
[Digite texto]

consequentemente medindo a altura da coluna d’ água. Existe o


linígrafo de bolhas e o linígrafo com transmissor eletrônico de
pressão, que grava os valores dos níveis d’ água em um arquivo
magnético (datalogger), de onde são transferidos para um
computador. Esse último tipo é atualmente o mais utilizado nas
estações recentemente instaladas, pela sua facilidade de
instalação e aquisição dos dados.

Segundo Santos (2001), para a escolha do local de instalação das estações


fluviométricas deve-se procurar um local onde a calha obedece a alguns
requisitos básicos:

1) Boas condições de acesso a estação;


2) Presença de observador potencial (quando a estação não for automatizada);
3) Leito regular e estável;
4) Sem obstruções a jusante, ou seja, sem controle de jusante;
5) Trecho reto, ambas margens bem definidas, altas e estáveis, e de fácil
acesso durante as cheias;
6) Local de águas tranquilas, protegidas contra a ação de objetos carregados
pelas cheias;
7) Relação unívoca cota x vazão.

A operação de uma estação fluviométrica consiste basicamente em realizar


leituras diárias das cotas pelos observadores e a realização periódica de
medições de vazão pelos hidrometristas.

De acordo com Santos (2001), as principais atribuições do observador são:


• Fazer diariamente a leitura às 7h e às 17h;
• Em grandes cheias realizar o maior número de leituras
possíveis;
• Instalar réguas sobressalentes em caso de destruição da original
e/ou quando houver cotas acima ou abaixo do último e do
primeiro lance;
62
[Digite texto]

• Informar todas as ocorrências verificadas durante as


observações.
10.4 Curva-Chave

Uma vez que obtemos uma série de níveis d’ água (linigrama), conseguimos
transformar essa série em uma de vazão através do uso da curva-chave
daquela seção. Curva-chave é o termo usado pela hidrologia para designar a
relação entre a cota (nível d’ água) e a vazão que escoa numa dada seção
transversal de um rio.

Também é conhecida como curva de calibragem, cota-vazão e cota-descarga,


a qual permite o cálculo indireto da vazão na referida seção a partir da leitura
da cota em um dado momento.

Para traçar a curva-chave em um determinado posto fluviométrico, como


mencionado, devemos dispor de uma série de medição de vazão no local, ou
seja, a leitura da régua e a correspondente vazão (dados de h e Q).

Com base nessa série de valores (h e Q) a determinação da curva-chave,


segundo Pedrazzi (2003), pode ser feita de duas formas: gráfica e
analiticamente.

A experiência tem mostrado que o nível d’ água (h) e a vazão (Q) ajustam-se
bem à curva do tipo potencial, que é dada por:

b
Q=a⋅( h−h0 )

Onde:
• Q = vazão (m³/s)
• h = nível d’ água (m) – leitura na régua
• a, b e h0 = são constantes para o posto, a serem determinados

63
[Digite texto]

• h0 = corresponde ao valor de h para vazão Q = 0

A equação acima pode ser linearizada aplicando-se logaritmo em ambos os


lados:

log Q= log a+b⋅log ( h−h0 )

Fazendo: Y=log Q,A= log aeX=log(h−h 0 ) ,tem−se :


Y=A+b . X

Que é a equação de uma reta.

A maneira mais prática de se obter os parâmetros a, b e h0 é o método gráfico,


que necessita de papel di-log. Outro método bastante utilizado é o analítico. A
seguir serão apresentados de forma sucinta, os procedimentos de cálculo dos
parâmetros a, b e h0, utilizando os dois métodos: gráfico e analítico.

10.4.1 Método Gráfico

Este método é proposto por Pedrazzi (2003):

1° Lançar em papel milimetrado os pares de pontos (h e Q);


2° Traçar a curva média entre os pontos, utilizando apenas critério visual;
3° Prolongar essa curva até cortar o eixo das ordenadas (eixo dos níveis); a
intersecção da curva com o eixo de h corresponde ao valor de h0;

4° Montar uma tabela que contenha os calores de (h e h0) e as vazões


correspondentes;
5° Lançar em papel di-log, os pares de pontos (h-h0, Q);
6° Traçar a reta média, utilizando critério visual;
64
[Digite texto]

7° Determinar o coeficiente angular dessa reta, fazendo-se a medida direta


com uma régua; o valor do coeficiente angular é a constante b da equação da
curva-chave;
8° Da interseção da reta traçada com a reta vertical que corresponde a (h-h0) =
1,0 resulta o valor particular de Q, que será o valor da constante a da equação.

65
[Digite texto]

c
Na figura acima, b=tgα= e a≃8,0
d

10.4.2. Método Analítico

Pedrazzi (2003) diz que apesar deste método ser um processo matemático,
não dispensa o auxílio de gráfico na determinação do parâmetro h0. Assim
sendo, aqui valem também os quatro primeiros passos descritos no método
gráfico.

b
Reescrevendo a equação da curva-chave: Q=a⋅( h−h0 )
Linearização aplicando logaritmo: log Q = log a + b.log (h-h0)

A equação acima é do tipo Y = A + b.X


Onde: Y = log Q, A = log a e X = log(h-h0).

Os parâmetros A e b da equação da reta Y = A + b.X são calculados da


seguinte forma:

66
[Digite texto]

b=
∑ X i⋅Y i −n⋅X⋅
̄ Ȳ
∑ X 2i −n⋅X̄ 2
A=Ȳ −b⋅X
̄

Como A = log a, o valor de a é obtido pelo antilog A, ou a = 10A.

Vale ressaltar que a ANA (Agência Nacional de Águas) realiza monitoramento


hidrometeorológico em tempo real em cerca de 1.075 estações fluviométricas e
981 pluviométricas distribuídas nas 12 Regiões Hidrográficas Brasileiras,
possuindo uma rede de 283 estações telemétricas que visam a obtenção de
dados hidrológicos em tempo real. Caso um projeto for realizado em uma
dessas áreas já assistidas pela ANA, é de suma importância consultar os
dados históricos existentes.
Mais informações sobre a localização destas estações e como os dados são
transmitidos e coletados, acessar: http://200.140.135.139/Usuario/mapa.aspx

67
[Digite texto]

CONCLUSÃO

O ciclo hidrológico, embora possa parecer um mecanismo contínuo, é na


realidade bastante diferente, pois o movimento da água em cada uma das
fases do ciclo é feito de um modo bastante aleatório, variando tanto no espaço
como no tempo.

Em determinadas ocasiões a natureza parece trabalhar em excesso, quando


provoca chuvas torrenciais que ultrapassam a capacidade de suporte dos
cursos d’água, provocando inundações. Já em outras ocasiões parece que
todo o mecanismo do ciclo hidrológico parou totalmente e com ele a
precipitação e o escoamento superficial, quando temos os períodos de seca.

E são justamente estes extremos de enchente e de seca que mais interessam


aos engenheiros, pois muitos dos projetos de Engenharia Hidráulica são feitos
com a finalidade de proteção contra estes eventos extremos.

68
[Digite texto]

REFERÊNCIAS

ABAS. Associação Brasileira de Águas Subterrâneas. Águas Subterrâneas.


Disponível em <http://www.abas.org/educacao.php>. Acesso em 15 de maio de
2012.

CARVALHO, D. F.; SILVA, L. D. B., 2006. Hidrologia. Escoamento Superficial. P.


95-115.

CANHOLI, A. P. Drenagem urbana e controle de enchentes. São Paulo:


Oficina de Textos, 2005.

COLLISCHONN, W.; TASSI, R. Introduzindo Hidrologia. Porto Alegre.


UFRGS, 2011.

FERNANDES, W. S., 2009. Método para a estimação de quantis de


enchentes extremas com o emprego conjunto de análise Bayesiana, de
informações não sistemáticas e de distribuições limitadas superiormente.
2009. 185 p. Trabalho apresentado ao programa de pós-graduação em
Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Universidade Federal de
Minas Gerais.

MARINS, A. P. Simulação Hidrológica do Reservatório de Vacacaí-Mirim /


Santa Maria-RS – Utilizando o Sistema IPHS1. Santa Maria – RS, 2004.

NELSON L. de Sousa Pinto [e outros].Hidrologia Básica [por] São Paulo:


Editora Blucher, 1976. 12ª reimpressão – 2010.

PEDRAZZI, J. A. Apostila Hidrologia Aplicada. Disponível em <


http://facens.br/site/alunos/download/hidrologia/> Acesso em 15 de julho de
2012.

PEREIRA, G. M.; MELLO, C. R. Hidrometria. Aula Prática 6. Universidade


Federal de Lavras. Disponível em
<http://www.deg.ufla.br/site/_adm/upload/file/6_Aula%20pratica%206.pdf>
Acesso em 6 de julho de 2012.

PORTO, R. L.; FILHO, K. Z.; MARCELLINI, S. S., 1999. Hidrologia Aplicada –


Escoamento Superficial: Análise do Hidrograma e Hidrograma Unitário.
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, departamento de engenharia
hidráulica e sanitária. São Paulo, 1999.

RIGHETTO, A. M. Hidrologia e recursos hídricos. São Carlos: EESC/USP,


1998. 840 p. : Il.

69
[Digite texto]

SANTOS, I.et al. Hidrometria Aplicada. Curitiba: Instituto de Tecnologia para


o desenvolvimento, 2001.

STUDART, T.M.C., Hidrologia. Capítulo 9. Disponível em


<http://www.deha.ufc.br/ticiana/Arquivos/Graduacao/Apostila_Hidrologia_grad/>
Acesso em 6 de julho de 2012.

TUCCI, C. E. M. (org.). Hidrologia: Ciência e Aplicação. Porto Alegre: Editora


UFGRS, 1993.

TUCCI, C. E. M. Parâmetros do Hidrograma Unitário para bacias urbanas


brasileiras. Instituto de Pesquisas Hidráulicas. Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Porto Alegre.

TUCCI, C. E. M. Modelos hidrológicos. Porto Alegre. Ed. Da Universidade:


ABRH, 1998.

VIEIRA, A. S. Um modelo de simulação via programação linear seqüencial,


para sistema de recursos hídricos. Campina Grande/PB. 2007

VILLELA, S. M.; MATTOS, A. Hidrologia Aplicada. São Paulo, McGraw-Hill do


Brasil, 1975. 245p

70
CURSO
SEGURANÇA DE BARRAGENS

1
MÓDULO I – BARRAGENS: ASPECTOS
LEGAIS, TÉCNICOS E SÓCIOAMBIENTAIS

UNIDADE 6: NOÇÕES DE HIDRÁULICA

2
FICHA TÉCNICA
Realização:

EQUIPE TÉCNICA

Winston Hisasi Kanashiro Glauco Gonçalves Dias


Elaboração de conteúdo Revisor Técnico Geral

Etore Funchal de Faria


Alexandre Anderáos
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico ANA

Fabio Luiz Willrich


Carlos Leonardi
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Josiele Patias
Cesar Eduardo b. Pimentel
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico ANA

Josimar Alves de Oliveira


Claudio Neumann
Revisor técnico ANA
Revisor técnico Itaipu

Ligia Maria Nascimento de


Claudio Osako Araújo
Revisor técnico Itaipu Revisora técnica ANA

Silvia Frazão Matos


Dimilson Pinto Coelho
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Revisão Ortográfica

ICBA – Centro de Línguas


www.cursodeidiomasicba.com.br

Este obra foi licenciada sob uma Licença .Creative Commons Atribuição-
NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada

3
CURRICULO RESUMIDO

Prof: Winston Hisasi Kanashiro

Engenheiro Civil (1984), Mestre em


Engenharia (1989) e Doutor em
Engenharia (1996), pela Escola
Politécnica da Universidade de São
Paulo(EPUSP).
Participação em diversos cursos na
área de engenharia, no Brasil e no
Exterior(Japão).

Engenheiro na área de Barragens e Estruturas Hidráulicas no CTH – Centro


Tecnológico de Hidráulica, de 1984 a 1993, na Área de Modelação Física.
Engenheiro na área de Modelação Matemática na FCTH – Fundação Centro
Tecnológico de Hidráulica, de 1993 a 1996. Coordenador de Projetos na Área de
Barragens e Estruturas Hidráulicas da FCTH, de
1998 a 2005. Coordenador da Área de Barragens e Estruturas Hidráulicas da
FCTH, de 2005 a 2007. Engenheiro Hidráulico da Hydros Engenharia Ltda., desde
2007. Consultor em sistemas hidráulicos. Trabalhos publicados na Revista DAE,
em congressos internacionais e Capítulo 11 -
Transitórios hidráulicos em estações elevatórias, do livro "Coleta e Transporte de
Esgotos", de autoria dos professores Milton T. Tsutiya e Pedro Além Sobrinho, da
Escola Politécnica da USP. Professor de Hidráulica Geral e de Instalações
Hidráulicas no Instituto Superior de Educação Santa Cecília, Santos, SP, de março
a junho de 1999. Professor Assistente de Fenômenos de Transporte da Faculdade
de Engenharia da Fundação Armando Álvares Penteado, de março de 1986 a
dezembro de 1989.

4
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS.............................................................................................. 07
LISTA DE TABELAS.............................................................................................. 08
1. HIDRÁULICA BÁSICA...................................................................................... 10
1.1 Tipos de Escoamento....................................................................................... 10
1.2 Equação da Conservação de Massa................................................................ 11
1.3 Equação da Conservação de Energia.............................................................. 13
1.4 Equação da Quantidade de Movimento........................................................... 13
2. ESCOAMENTO EM CANAIS E CONDUTOS FORÇADOS.............................. 15
2.1 Condutos forçados........................................................................................... 15
2.2 Escoamentos a superfície livre......................................................................... 17
2.3 Curvas de remanso.......................................................................................... 20
2.3.1 Tipos de Curvas de Remanso....................................................................... 21
2.3.2 Número de Froude........................................................................................ 23
3. DESCARREGADORES DE SUPERFÍCIE OU VERTEDOUROS E
DESCARREGADORES DE FUNDO..................................................................... 24
3.1. Descarregadores de superfície....................................................................... 24
3.1.1 Vertedouros de soleira livre........................................................................... 24
3.1.2 Vertedouros de soleira controlada................................................................ 29
3.2 Descarregadores de fundo............................................................................... 30
4. TOMADAS D’ÁGUA.......................................................................................... 32
5. CANAIS DE ADUÇÃO....................................................................................... 36
6. COMPORTAS: TIPOS E FINALIDADES........................................................... 38
6.1 Classificação.................................................................................................... 38
6.1.1 Classificação quanto à função....................................................................... 38
6.1.2 Classificação quanto ao formato................................................................... 39
7. ESTRUTURAS DE DISSIPAÇÃO DE ENERGIA.............................................. 43
7.1 Tipos de Dissipadores...................................................................................... 43
7.1.1 Bacias de dissipação por ressalto hidráulico................................................. 43
7.1.2 Blocos de Impacto......................................................................................... 52
7.1.3 Estruturas com Dentes Dissipadores............................................................ 53

5
7.1.4 Salto de Esqui............................................................................................... 54
7.1.5 Válvulas Dispersoras..................................................................................... 57
8. CANAIS DE RESTITUIÇÃO.............................................................................. 59
9. CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURAS HIDRÁULICAS 60
9.1 Níveis d’água.................................................................................................... 60
9.2 Borda Livre....................................................................................................... 60
9.2.1. Borda Livre Normal da Barragem................................................................. 60
9.2.2. Borda Livre Mínima...................................................................................... 60
9.3. Vazão............................................................................................................... 60
9.3.1 Órgãos Extravasores................................................................................... 60
9.3.2 Desvio do Rio.............................................................................................. 60
9.3.3 Casa de Força............................................................................................. 61
9.4 Desvio do Rio................................................................................................. 61
9.5 Dimensionamento do Vertedouro................................................................... 61
9.6 Circuito Hidráulico de Geração....................................................................... 63
9.7 Chaminé de Equilíbrio.................................................................................... 63
9.8 Estudos de Remanso..................................................................................... 67
10 NOÇÕES SOBRE MODELOS FÍSICOS E COMPUTACIONAIS
APLICADOS À HIDRÁULICA DE BARRAGENS................................................. 68
10.1 Modelos Físicos.............................................................................................. 68
10.2 Modelos Matemáticos..................................................................................... 72
CONCLUSÃO........................................................................................................ 74
REFERÊNCIA........................................................................................................ 75

6
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Turbulência numa tubulação................................................................... 11
Figura 2– Escoamentos sob pressão e a superfície livre....................................... 15
Figura 3 – Equilíbrio de forças no escoamento livre.............................................. 18
Figura 4 – Perímetro molhado................................................................................ 18
Figura 5– Tipos de curvas de remanso.................................................................. 21
Figura 6 – Tipos de curvas de remanso................................................................. 22
Figura 7 – Coeficiente de descarga de um vertedouro com perfil tipo Creager..... 25
Figura 8 – Perfil tipo Creager................................................................................. 26
Figura 9 – Vertedouro com soleira retilínea, com paramento de jusante em
degraus. Barragem de Mairana Bolívia.................................................................. 27
Figura 10 – Vertedouro tipo labirinto...................................................................... 28
Figura 11 – Vertedouro tipo tulipa, UHE Caconde................................................. 28
Figura 12 – Vertedouro controlado com galeria de desvio embutido no seu
corpo...................................................................................................................... 29
Figura 13 – Vertedouro controlado de soleira plana.............................................. 30
Figura 14 – Descarregadores de fundo da UHE Jacutinga em operação............. 31
Figura 15 – Tomada d’água tipo torre.................................................................... 32
Figura 16 – Tomada d’água tipo gravidade, para alimentação de um conjunto
tipo Francis ou Kaplan............................................................................................ 34
Figura 17 – Tomada d’água tipo gravidade aliviada, incorporada a uma
barragem de terra................................................................................................... 34
Figura 18 – Tomada d’água integrada à casa de força.......................................... 35
Figura 19 – Canal de adução de uma usina.......................................................... 37
Figura 20 – Comporta plana................................................................................... 39
Figura 21 - Comporta tipo segmento...................................................................... 40
Figura 22 – Comportas infláveis............................................................................. 41
Figura 23 – Enchimento das comportas infláveis, (a) com ar e (b), com
água....................................................................................................................... 41
Figura 24 – Comporta de borracha........................................................................ 42

7
Figura 25 – Equilíbrio de forças e relação entre profundidades conjugadas num
ressalto hidráulico.................................................................................................. 44
Figura 26 – Tipos de ressalto em função do Número de Froude na entrada......... 45
Figura 27 – Bacia Tipo I do USBR......................................................................... 46
Figura 28 – Comprimento do ressalto segundo o tipo de bacia............................. 47
Figura 29 – Bacia Tipo II do USBR........................................................................ 48
Figura 30– Bacia Tipo III do USBR........................................................................ 49
Figura 31 – Bacia Tipo IV do USBR....................................................................... 50
Figura 32 – Estruturas de dissipação tipo concha................................................. 51
Figura 33 – Blocos de impacto............................................................................... 52
Figura 34 – Estruturas com dentes dissipadores................................................... 53
Figura 35 – Estrutura com dentes dissipadores..................................................... 54
Figura 36 – Modelo reduzido de um vertedouro com salto de esqui..................... 55
Figura 37 – Vertedouro de Itaipu............................................................................ 56
Figura 38 – Vertedouro de Itaipu............................................................................ 56
Figura 39 – Válvula dispersora............................................................................... 57
Figura 40 – Válvula dispersora em funcionamento................................................ 58
Figura 41. – Canal de restituição da casa de força (à esquerda do muro
central) e do vertedouro (à direita do muro)........................................................... 59
Figura 42 – Chaminé de equilíbrio da UHE Rio de Pedras.................................... 63
Figura 43 - Descrição física do golpe de aríete...................................................... 65
Figura 44 – Ensaio em modelo reduzido................................................................ 71
Figura 45 – Ensaio em modelo reduzido de uma bacia de dissipação.................. 71
Figura 46 – Nível d’água num determinado instante de resultante de
rompimento de uma barragem obtido com o programa HEC-RAS........................ 73

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Coeficientes de Manning para alguns materiais.......................................20


Tabela 2 - Análise de Risco........................................................................................62

8
Prezado aluno,

No decorrer desta Unidade você deverá desenvolver competência para:


• Descrever os efeitos hidráulicos sobre as estruturas, especificando ações
mitigatórias.

Bom estudo!

9
1. HIDRÁULICA BÁSICA

1.1 Tipo de Escoamento

Os movimentos dos fluídos num conduto podem ser classificados em:

• Quanto à variação no tempo: permanente e não permanente;


• Quanto à variação na trajetória: uniforme e variado;
• Quanto à direção da trajetória: laminar ou turbulento.

O regime permanente é quando, numa determinada seção, as suas características


não mudam com o passar do tempo e o não permanente, quando as suas
características mudam com o tempo.

O escoamento é uniforme quando as suas características não mudam de uma


seção para outra.
O escoamento é denominado laminar quando, devido aos efeitos de viscosidade,
o movimento se processa como se fosse de uma lâmina deslizando sobre a
outra.

Ao aumentar a velocidade, as forças viscosas já não são mais capazes de


manterem as camadas unidas e as forças de inércia passam a prevalecer e o
movimento passa a ser caótico, que é o escoamento turbulento.
Este processo pode ser visto nas figuras 1.

São 4 fotos de um tubo transparente escoando água. O filete escuro no meio é um


corante. A foto superior corresponde a escoamento com velocidade baixa, a
segunda com velocidade mais alta e assim por diante. A última foto, pode se
observar que no lado direito, o filete aparece borrado, devido à turbulência do
escoamento.

10
Figura 1- Turbulência numa tubulação.

Fonte: Rouse, 1946.

O tipo de escoamento é governado pelo parâmetro adimensional denominado


Número de Reynolds, dado por:
V .D
R=
ν
Sendo:
V = velocidade média do escoamento;
D = diâmetro do tubo;
ν = viscosidade cinemática do fluido.

Para R < 2000, o escoamento é laminar e torna-se turbulento para R>4000.

O movimento dos fluidos é governado basicamente pelos princípios de Conservação


de Massa, da Quantidade de Movimento e Conservação de Energia.

A viscosidade cinemática da água a 20 graus Celsius é de 10 -6 m². s. Se num tubo,


com diâmetro de 200 mm estiver conduzindo água com velocidade de 0,5 m/s, R =

11
0,5*0,2*106 = 100000, ou seja, regime turbulento.

Escoamentos laminares somente ocorrem em condutos com diâmetro muito


pequenos, como vasos capilares ou com viscosidade alta, como é o caso de
escoamento de óleos lubrificantes.

1.2 Equação da Conservação de Massa

A equação de conservação de massa, na sua forma mais geral, é dada por:

(1.2.1)

Sendo:

VC = volume de controle;
SC = superfície de controle;
ρ = massa específica do fluido;

= vetor velocidade

= vetor área
Esta equação diz: a variação da massa dentro de um volume de controle é igual à
diferença entre a quantidade que entra e a quantidade que sai.

Se o escoamento é permanente e o fluido incompressível, resulta na equação:

Q = V.A
Sendo Q a vazão, A a área da seção transversal e V a velocidade média do
escoamento.
Por exemplo, se num tubo com 1 m de diâmetro estiver escoando um líquido a 2
m/s, a vazão será:

A = 3,14x1²/4 = 0,785 m², Q = VxA = 2x0,785 = 1,57 m³/s.

12
1.3 Equação da Conservação de Energia

A equação da conservação de energia é a 1ª Lei da Termodinâmica escrita de forma


conveniente para estudar o escoamento de fluidos.

Para uma linha de corrente, é dada por:

2 2
P1 v 1 P 2 v2
+ +z 1= + +z +ΔH 1−2 (1.3.1)
γ 2. g γ 2. g 2
Sendo:
g = peso específico da água;
P1, P2 = pressão na seção 1 e 2;
v1, v2 = velocidade na seção 1 e 2;
z1, z2 = cota do centro do tubo na seção 1 e 2;
∆H1-2 = diferença de energia entre as seções 1 e 2 (perda de carga).

O primeiro termo representa a energia devido à pressão, o segundo a energia


cinética e o terceiro, a energia potencial.

A diferença de energia ∆H1-2 é chamada de “perda de carga” entre as seções 1 e 2 e


carga é energia por unidade de peso.

1.4 Equação da Quantidade de Movimento

A equação da quantidade de movimento nada mais é do que a 2ª Lei de Newton


escrita de forma conveniente para estudar escoamento de fluídos.

(1.4.1)

Na forma conveniente para estudos de escoamentos de fluidos:

13
(1.4.2)

Sendo:

= Somatória de todas as forças externas ao volume de controle;

= Somatória de todas as forças que agem na superfície do volume de controle


(pressão, forças concentradas, etc.);

b = Somatória de todas as forças de campo que agem no volume de controle


(gravitacional, elétricas, magnéticas, etc.);
VC = volume de controle;

= massa específica do fluido;

= massa do corpo;
SC = superfície de controle;

= velocidade de escoamento;

= vetor área elementar.

A integração da equação (1.4.2) sobre uma linha de corrente também resulta na


equação conservação de energia (Porto, 2006):

= Constante (1.4.3)

Ou seja, caso não haja perda de energia (carga = energia por unidade de peso), a
equação 1.4.3 diz que a energia na seção 1 é igual à energia na seção 2.

Ou seja, a pressão na seção 2 é menor que a pressão na seção 1. Este fato tem
aplicações importantes. Por exemplo, nos automóveis antigos, os carburadores
funcionavam desta forma: o ar passava por um estrangulamento e nesse ponto a
gasolina era injetada, pois era arrastada devida à pressão baixa e, com a
turbulência, era transformada em vapor e conduzida até a câmara de combustão,
onde era queimada pelas velas de ignição, produzindo potência.

14
2. ESCOAMENTO EM CANAIS E CONDUTOS FORÇADOS

Os escoamentos dos fluidos podem ser de dois tipos, em relação ao seu meio de
transporte: em canais ou a superfície livre e em condutos forçados (tubulação sob
pressão), como mostrado na figura 2.

Figura 2 - Escoamentos sob pressão e a superfície livre

Fonte: Martins.

2.1 Condutos Forçados

Os escoamentos em condutos fechados a seção plena atuam pressões diferentes


da atmosférica e, com isso, o escoamento pode ser através da gravidade ou por
bombeamento, uma vez que a água não “vaza” pelas paredes. Já nos canais, cujos
escoamentos são em superfície livre, o escoamento só é possível através da
gravidade.

As características dos escoamentos em condutos forçados podem ser calculados


pela Equação de Bernoulli Generalizada:

P1 v 21 P 2 v 22
+ +z = + +z +ΔH 1−2 (2.1.1)
γ 2. g 1 γ 2. g 2

Sendo:

15
γ = peso específico da água;
P1, P2 = pressão na seção 1 e 2;
v1, v2 = velocidade na seção 1 e 2;
z1, z2 = cota do centro do tubo na seção 1 e 2;
∆H1-2 = diferença de cargas entre as seções 1 e 2 (perda de carga).

A sua unidade é usualmente metros de coluna de água (mH 2O).

A perda de carga pode ser calculada pela Fórmula Universal da Perda de Carga:

L V2
ΔH=f (2.1.2)
D 2g

Sendo:
∆H = perda de carga (m);
f = fator de atrito da Fórmula Universal da Perda de Carga (adimensional);
L = comprimento da tubulação (m);
D = diâmetro da tubulação (m);
V = velocidade do escoamento (m/s);
g = aceleração da gravidade (m/s2)
ν = coeficiente de viscosidade cinemática do fluido (m 2/s)

O fator de atrito f da Fórmula Universal da Perda de Carga é função da rugosidade


do tubo (k), viscosidade cinemática do fluido (ν), diâmetro do conduto (D) e da
velocidade média do escoamento (V).

Para regime laminar, f é dado por:


64
f= (2.1.3)
Re

Re = número de Reynolds

16
V .D
Re= (2.1.4)
ν

Fórmula de Colebrook-White para regimes turbulentos liso, misto e rugoso:

1
√f
=−2 . Log
[ k
+
2,51
3,71. D Re. √ f ] (2.1.5)

Fórmula de Swamee para todos os tipos de escoamento:

0,125

{( }
6 −16

[ ( ) ( )]
8
f=
64
Re ) +9,5 . Ln
k 5,74
+ 0,9 −
3,71 . D Re
2500
Re
(2.1.6)

As perdas de carga localizadas são calculadas por:


2
ki V i
ΔH= ∑ (2.1.7)
i 2. g

Sendo, ki os coeficientes de perdas de carga de cada uma das singularidades


(curva, válvula, cotovelo, etc.).

2.2 Escoamentos a Superfície Livre

O escoamento em canal aberto se dá pelo equilíbrio entre a componente paralelo ao


fundo do canal da força peso com as forças de atrito do corpo fluido em contato com
as paredes do conduto, conforme figura 3 a seguir.

17
Figura 3 – Equilíbrio de forças no escoamento livre.

Fonte: Nota do autor.

Pode se então deduzir que, quanto maior é a área de contato do fluido com a
parede, maior será a resistência ao escoamento. Desta constatação, surgiu o
conceito de “Raio Hidráulico”, que é a relação entre a área da seção transversal e a
área de contado com a parede.

Rh=A/Pm

Sendo:
• Rh = raio hidráulico (m);
• A = área da seção transversal molhada (m2);
• Pm = perímetro molhado = linha que limita a seção molhada junto às paredes
e o fundo do canal (Figura 4).

Figura 4– Perímetro molhado.

Fonte: Nota do autor.

18
Ao contrário dos escoamentos em condutos forçados, os escoamentos a superfície
livre possui limitações para a sua movimentação e só pode ser por ação da
gravidade.

Para escoamentos em regime permanente, o escoamento é governado pela


equação de Chèzy, com o coeficiente de Manning, dada por:

Q= √ AR 23
i
h (2.2.1)
n
Sendo:
Q = vazão (m3/s);
i = declividade do canal (m/m);
n = coeficiente de rugosidade de Manning (s/m 1/3);
A = área da seção transversal molhada (m 2);

Os valores dos coeficientes de Manning para alguns materiais são dados na tabela
1.

19
Tabela 1 – Coeficientes de Manning para alguns materiais.

Valores do Coeficiente de Manning (Lencastre e Chow)


Perímetro Molhado n (s/m 1/3) Perímetro Molhado n (s/m 1/3)
A) Condutos naturais F) Condutos artificiais
Limpo e reto 0,030 Vidro 0,010
Escoamento vagarosos e com poças 0,040 Latão 0,011
Rio típico 0,035 Aço liso 0,012
B) Planícies inundadas Aço pintado 0,014
Pasto 0,035 Aço rebitado 0,015
Cerrado leve 0,050 ferro fundido 0,013
Cerrado pesado 0,075 Concreto com acabamento 0,012
Floresta 0,150 Concreto sem acabamento 0,014
C) Condutos escavados na terra Madeira aplainada 0,012
Limpo 0,022 Tijolo de barro 0,014
Cascalho 0,025 Alvenaria 0,015
Vegetação rasteira 0,030 Asfalto 0,016
Metal Corrugado 0,022
D) Condutos em rocha Alvenaria grosseira 0,025
Sarjeta de concreto, acabamento
Rocha lisa e uniforme
0,035-0,040 com colher 0,012-0,014
Sarjeta de concreto, acabamento
Rocha áspera e irregular 0,040-0,045 com asfalto 0,013-0,015
E) Gabião de pedra com tela de arame 0,035 Pedra lançada 0,024-0,035

Fonte: Martins.

2.3 Curvas de Remanso

As curvas de remanso são os perfis longitudinais que uma superfície livre pode
assumir, em função da declividade, rugosidade e das características das suas
seções transversais.
Para determinar o seu perfil, pode ser utilizado o “Standard Step Method”, que
consiste na aplicação da equação da energia em duas seções consecutivas, com as
perdas de carga calculadas pela Equação de Chèzy, com coeficiente de Manning. A
descrição deste método pode ser encontrada em Chow (1959).

20
2.3.1 Tipos de Curvas de Remanso

As figuras 5 e 6, a seguir, apresentam os diversos tipos de curvas de remanso.

Figura 5 – Tipos de curvas de remanso.

Fonte: Chow, 1959.

21
Figura 6 – Tipos de curvas de remanso.

Fonte: Chow, 1959.

As linhas tracejadas representam a profundidade crítica.

Quanto aos vocábulos, possuem os significados:


• Slope = declividade;
• Critical = crítica;
• Mild = baixa declividade;
• Steep = declividade superior à crítica;
• Adverse slope = declividade negativa (a cota do fundo do canal aumenta para
jusante).

22
As características do escoamento entre duas seções podem ser calculada por meio
da Equação de Bernoulli generalizada:

2 2
P1 v 1 P 2 v2
+ +z 1= + +z +Δe 1−2 (2.3.1.1)
γ 2. g γ 2. g 2

As curvas de remanso podem ser calculadas através dessa equação, com as perdas
de carga calculadas através da equação de Chezy.

2.3.2 Número de Froude

O Número de Froude, dado por também pode ser interpretado como a

relação entre a velocidade do escoamento e a velocidade de propagação de ondas


superficial.
Quando:

• Fr < 1, o escoamento é dito fluvial ou subcrítico, a velocidade do escoamento


é menor que a velocidade de propagação da onda;
• Fr =1, a velocidade do escoamento é igual à velocidade da onda
(escoamento crítico);
• Fr > 1, a velocidade é maior que a da onda e é chamado de torrencial ou
supercrítico.

Estes fatos possuem implicações importantes e constituem na essência da análise


de escoamentos em regime permanente ou próximos desta condição.

23
3. DESCARREGADORES DE SUPERFÍCIE E DESCARREGADORES DE FUNDO

Os vertedouros e descarregadores de fundo são órgãos de segurança das


barragens, para escoar as cheias, de modo a evitar que ocorram transbordamentos.

3.1 Descarregadores de Superfície

Os descarregadores de superfície são também conhecidos como vertedoutros ou


sangradouros. Podem ser classificados em dois tipos:
• Soleiras livres
• Controlados

3.1.1 Vertedouros de soleira livre

Os vertedouros de soleira livre são utilizados para limitar o nível do reservatório e


tem como principal vantagem a não necessidade de operação, tornando altamente
recomendado para bacias de drenagem pequenas, onde os tempos de concentração
são pequenos, e consequentemente, as cheias chegam de forma muito rápida.
A descarga do vertedouro de soleira livre é governada pela equação:

Sendo:
• Q = vazão (m³/s);
• C = coeficiente de vazão;
• H = carga sobre o vertedouro (m);
• L = largura do vertedouro (m).

A simbologia é apresentada na figura a seguir, com valores de projeto.

24
Figura 7 – Coeficiente de descarga de um vertedouro com perfil tipo Creager.

Fonte: Design of Small Dams.

Um dos formatos mais utilizados para o perfil vertente é o chamado Perfil Creager,
que foi baseado no formato da parte inferior de uma lâmina d’água vertendo
livremente através de uma parede vertical delgada.

O formato de uma lâmina d’água vertendo livremente possui forma quadrática e


imaginou-se então que seria o perfil mais natural do escoamento. Entretanto, devido
à formação da camada limite, foram observadas elevadas subpressões sob o perfil
que, além do risco de cavitação, induziam à instabilidade no escoamento. Desta
forma, foi substituído o expoente 2 por 1,85 na equação do perfil vertente.

O perfil tipo Creager (figura 20) é dada pela equação, a partir da crista para jusante:

25
Sendo:
• Hd = carga de projeto;
• X = abscissa;
• Y = ordenada.

Figura 8 – Perfil tipo Creager.

Fonte: HDC.

Este tipo de vertedouro tem como desvantagem a necessidade de subida de nível


de água para que possa escoar e, em caso de aproveitamento hidrelétrico com
baixa queda, não se aproveita todo o potencial. Além disso, não é possível controlar
a vazão e o nível do reservatório.

Os vertedouros de soleira livre podem ser do tipo:

• Soleira retilínea – figura 21;


• Labirinto – figura 22 – Utilizada quando não se permite muita elevação de

26
nível de montante;
• Tulipa – figura 23 - utilizadas em vales fechados, geralmente aproveitando
túnel de desvio.

Figura 9 – Vertedouro com soleira retilínea, com paramento de jusante em degraus.


Barragem de Mairana, Bolívia.

Fonte: Nota do autor.

27
Figura 10 – Vertedouro tipo labirinto.

Fonte: Falvey, 2003.

Figura 11 – Vertedouro tipo tulipa, UHE Caconde.

Fonte: Nota do autor.

28
3.1.2 Vertedouros de soleira controlada

Estes vertedouros possuem comportas para controlar a vazão descarregada e o


nível do reservatório.

Figura 12 – Vertedouro controlado com galeria de desvio embutido no seu corpo.

Fonte: Nota do autor.

29
Figura 13 – Vertedouro controlado de soleira plana.

Fonte: Nota do autor.

3.2 Descarregadores de Fundo

Os descarregadores de fundo, como o próprio nome diz, estão posicionados abaixo


da superfície do reservatório próximos ao fundo e são controlados por comportas
(figura 14).

Tem como finalidade:


• Escoar água para jusante no caso de enchimento do reservatório, para
garantir a vazão mínima;
• Esvaziar o reservatório quando necessário;
• Descarregar eventuais sedimentos acumulados nas suas proximidades;
• Garantir uma vazão mínima para jusante no caso de parada total das
turbinas;

30
• Escoar total ou parcialmente as vazões de cheias;
• Figura 14 – Descarregadores de fundo da UHE Jacutinga em operação

Fonte: CEMIG GT

31
4. TOMADAS D’ÁGUA

São estruturas destinadas a captar água de um reservatório, lago ou de curso


d’água, para as diversas finalidades previstas (casa de força de uma hidrelétrica,
canal para irrigação, abastecimento, etc.).

As tomadas d’água variam desde pequenas captações para irrigações de pequenas


áreas, quando são simplesmente brechas abertas nas laterais de um curso d’água,
até estruturas complexas providas de grades, comportas, comportas de emergência
e outros acessórios, para alimentar as turbinas de uma grande central hidrelétrica.

No caso de usinas hidrelétricas, os tipos mais usuais são:


• Torre – figura 15;
• Gravidade – figura 16 e 17;
• Integrado à casa de força – figura 18.
As tomadas d’água tipo torre são aquelas posicionadas no lago, não incorporadas à
barragem.

32
Figura 15 – Tomada d’água tipo torre.

Fonte: ELETROBRAS, 2007.

Os do tipo gravidade são aquelas em funcionam como parte da barragem e devem


ser estáveis aos empuxos hidrostáticos e podem ou não estar integrados ao corpo
da barragem e podem ser do tipo gravidade e gravidade aliviada.

33
Figura 16 – Tomada d’água tipo gravidade, para alimentação de um conjunto tipo Francis ou
Kaplan.

Fonte: ELETROBRAS, 2007.

Figura 17 – Tomada d’água tipo gravidade aliviada, incorporada a uma barragem de terra.

Fonte: Nota do autor.

34
Figura 18 – Tomada d’água integrada à casa de força.

Fonte: Nota do autor.

Os principais componentes são:


• Grades para retenção de detritos, para evitar que estes sejam carreados para
o interior das estruturas alimentadas pela tomada;
• Comporta de emergência “stop-logs”;
• Comporta;

Da mesma forma que os vertedouros, estes podem ser com ou sem comportas para
controle de vazão.

35
5. CANAIS DE ADUÇÃO

São canais que conduzem a água para diferentes estruturas – vertedouro, casa de
força, e deverão ser dimensionados para que tenham a mínima perda de carga.

As velocidades, para adução à casa de força, são da ordem de 1,5 m/s, para
minimizar as perdas de carga e evitar a sedimentação.
Os canais podem ser de terra, escavadas em rocha, mistas (escavadas
parcialmente em rocha e terra) e podem ser revestidos ou não.

Os revestimentos podem ser de: concreto, concreto projetado, gabião, vegetação,


mantas de PEAD (Polietileno de Alta Densidade), etc.

Os canais deverão ser estáveis para evitar as obras de contenção que, via de regra,
são onerosas. Como regra geral, os canais de terra são estáveis para taludes
laterais 1V:1,5H para solos coesivos e 1V:2H para solos não coesivos e, para
rochas, 1V:0,1H.

Evidentemente, estes valores deverão ser corroborados através de uma análise


cuidadosa feita por um geotécnico.

36
Figura 19 – Canal de adução de uma usina

Fonte: Disponível em: http://apengenharia.eng.br/7Phc_salto_belo/images/2_CANAL%20DE


%20ADU%C7%C3O%20-%20TOMADA%20D'%C1GUA.JPG.

37
6. COMPORTAS: TIPOS E FINALIDADES

Comportas são dispositivos cuja finalidade é controlar a vazão, podendo com isso
também controlar o nível d’água no reservatório.

6.1 Classificação

Segundo Erbisti (2002) as comportas podem ser classificados em 5 critérios: função,


movimentação, descarga, composição do tabuleiro, localização e forma do
paramento.

6.1.1 Classificação quanto à função

As comportas, quanto à função, podem ser classificadas em: de serviço, de


emergência e de manutenção.

As comportas de serviço são aquelas utilizadas normalmente, seja para regular a


vazão ou para manter o nível d’água ou para verter os excedentes das cheias, por
exemplo.

São as comportas de serviço: comportas dos vertedouros, de descarregadores de


fundo, de alimentação de uma eclusa, de controle de vazão num sistema de
irrigação, etc.

As comportas de emergência são utilizadas esporadicamente, seja para interromper


o fluxo em caso de ocorrência de algum problema na comporta de serviço ou no
canal de adução ou desviar o fluxo para o curso d’água, para evitar transbordamento
da estrutura no caso de algum impedimento de escoamento normal para o canal ou
casa de força.

38
6.1.2 Classificação quanto ao formato:

Plana
Figura 20 – Comporta plana.

Fonte: Rocha.

Segmento
Estas comportas possuem esta designação pelo fato do seu paramento ser um
segmento de um cilindro.

39
Figura 21 - Comporta tipo segmento.

Fonte: Nota do autor.

Infláveis

Estas são formadas por membranas flexíveis, que podem ser infladas com ar ou
água. São utilizados também como barragem, tendo as vantagens:

• Tempo de enchimento e de esvaziamento curto;


• Baixo custo;
• Rapidez na instalação;

Tem como principal desvantagem a relativa fragilidade, podendo ser rasgados por
materiais flutuantes ou cortantes e mais susceptíveis ao vandalismo.

40
Figura 22 – Comportas infláveis.

Fonte: Salbego (2010).

Figura 23 – Enchimento das comportas infláveis, (a) com ar e (b), com água.

Fonte: Salbego (2010).

41
Figura 24 – Comporta de borracha.

Fonte: Savatech.

42
7. ESTRUTURAS DE DISSIPAÇÃO DE ENERGIA

Numa barragem, ocorre uma concentração de queda e, no seu vertedouro, pelo fato
de ser uma estrutura cara, deverá ser de menor dimensão possível, resultando em
uma grande concentração de energia na saída do vertedouro.

A vazão vertente possui grande capacidade erosiva e põe em risco a segurança das
estruturas, pela erosão do leito e margens a jusante e na própria barragem.

Desta forma, esta energia deverá ser dissipada, antes do escoamento ser restituído
ao curso normal do rio e diversos são os tipos de dissipadores e serão apresentados
a seguir, alguns mais utilizados.

7.1 Tipos de Dissipadores

7.1.1 Bacias de dissipação por ressalto hidráulico

As estruturas de dissipação por ressalto hidráulico constituem numa das principais


estruturas utilizadas nas hidrelétricas.

O ressalto hidráulico é uma onda de choque estacionário que ocorre na mudança de


regime de escoamento torrencial para fluvial, gerando grande intensidade de
turbulência e consequente dissipação de energia. O ressalto permanece
estacionário devido ao equilíbrio de forças entre as seções de montante e de
jusante, conforme esquematizado a seguir.

43
Figura 25 – Equilíbrio de forças e relação entre profundidades conjugadas num ressalto
hidráulico.

Fonte: Nota do Autor.

As profundidades Y1 e Y2 são denominadas de Profundidades Conjugadas e são


correlacionadas, para ressaltos em canais retangulares horizontais, por:

(8.1.1.1)

Sendo:

(8.1.1.2)

O ressalto hidráulico varia de acordo com o número de Froude Fr1 conforme


apresentado na figura 25.

44
Figura 26 – Tipos de ressalto em função do Número de Froude na entrada.

Fonte: Peterka (1984).

Devido a sua importância, a USBR realizou estudos sistemáticos e condensou os


resultados em PETERKA (1984). Estas estruturas foram desenvolvidas para vazões
específicas pequenas (da ordem de até 30 m³/s/m) e, para estruturas com maiores
vazões específicas, é recomendável que sejam feitos ensaios em modelos
reduzidos.

45
Apresenta se a seguir, os principais tipos desenvolvidos.

Bacia Tipo I

Esta bacia possui fundo plano (figura 27), com o seu comprimento determinado
segundo a equação das profundidades conjugadas e a figura 28 a seguir.

Figura 27 – Bacia Tipo I do USBR.

Fonte: Nota do autor.

46
Figura 28 – Comprimento do ressalto segundo o tipo de bacia

Fonte: Peterka (1984).

47
Bacia Tipo II

Esta bacia possui dentes para diminuir o seu comprimento, conforme figura 29.
Entretanto, para vazões específicas maiores das que foram estudadas por Peterka,
é recomendável que sejam feitos ensaios em modelo reduzido, para determinar as
pressões na região dos dentes, pelo risco de cavitação.

Figura 29 – Bacia Tipo II do USBR.

Fonte: Peterka (1984).

48
Bacia Tipo III

Estas bacias de dissipação foram idealizadas para pequenas obras, com


velocidades de até cerca de 18 m/s e vazão específica de até 20 m³/s/m. Os dentes
podem sofrer cavitação para vazões e velocidades maiores. Quando possível, é
recomendável instalar dispositivos de aeração na calha do vertedouro, para reduzir
os riscos de cavitação nos seus dentes.

Figura 30 – Bacia Tipo III do USBR.

Fonte: Peterka (1984).

49
Bacia Tipo IV

Estas bacias de dissipação são utilizadas para barragens de baixas quedas, com o
Número de Froude entre 2,5 a 4,5 e vazões específicas não muito altas, pelo fato de
que os dentes podem sofrer cavitação, por não ser possível a aeração nos locais
dos dentes.

Figura 31 – Bacia Tipo IV do USBR.

Fonte: Peterka, 1984.

50
Estruturas de dissipação tipo concha

Estas estruturas são utilizadas para números de Froude baixo (abaixo de 2,5
aproximadamente), em que a dissipação por ressalto hidráulico é pouco eficiente.

Figura 32 – Estruturas de dissipação tipo concha.

Fonte: Peterka (1984).

51
7.1.2 Blocos de Impacto

Estas estruturas são utilizadas para pequenas vazões, como obras de drenagem e
descarga de vazões sanitárias de barragens de baixa queda. As velocidades
deverão ser menores que 10 m/s para evitar ondas excessivas a jusante e
problemas de cavitação.
Figura 33 – Blocos de impacto.

Fonte: Peterka (1984).

52
7.1.3 Estruturas com Dentes Dissipadores

Estas estruturas são utilizadas principalmente para mudança de nível num canal.

Figura 34 – Estruturas com dentes dissipadores.

Fonte: Peterka (1984).

53
Figura 35 – Estrutura com dentes dissipadores.

Fonte: Design of Small Dams.

7.1.4 Salto de Esqui

Estas estruturas são indicadas para escoamentos com número de Froude superior a
aproximadamente 12 e consistem em uma rampa de lançamento do jato de água
proveniente do vertedouro e a dissipação de energia ocorre por elevado grau de
turbulência gerado na fossa na região de impacto.

Tem como principal vantagem à compacidade, resultando numa estrutura


relativamente barata, quando comparada com alternativas.

Tem como desvantagem a geração de correntes de recirculação de alta velocidade,

54
com grande potencial erosivo.

Exige também condições geológicas compatíveis com o grau de solicitação, sendo


normalmente necessária a presença de rochas de alta resistência e baixo grau de
fraturamento, para que resista às elevadas flutuações de pressão.

Figura 36 – Modelo reduzido de um vertedouro com salto de esqui.

Fonte: Nota do autor.

55
Figura 37 – Vertedouro de Itaipu.

Fonte: Itaipu Binacional

Figura 38 – Vertedouro de Itaipu.

Fonte: Itaipu Binacional

56
7.1.5 Válvulas dispersoras

São válvulas colocadas nas extremidades de tubulações de descarga e promovem a


dissipação através de um jato de formato cônico, lançados ao ar ou contra paredes.
São utilizadas para descargas de fundo e controle de vazão.

Figura 39 – Válvula dispersora.

Fonte: Nota do autor.

57
Figura 40 – Válvula dispersora em funcionamento.

Fonte: Nota do autor.

58
8. CANAIS DE RESTITUIÇÃO

Estes canais têm como função restituir ao leito do rio os escoamentos provenientes
das estruturas – casa de força, vertedouro, etc.

Podem ser escavados em terra, rochas, etc. e podem ser revestidos ou não e
deverão ser estáveis, para evitar obras de contenção, que são onerosas.

Os canais de restituição da casa de força deverão ser projetados para minimizar as


perdas de carga e evitar a sedimentação. O canal de restituição da casa de força é
também conhecido como canal de fuga.

Os canais de restituição dos vertedouros deverão resistir às ações dos escoamentos


que, via de regra, possui quantidade apreciável de energia residual, com grande
poder erosivo. A erosão que porventura possa ocorrer, não deverá por em risco a
segurança das estruturas da barragem. Um exemplo é ilustrado na figura 41.

Figura 41 – Canal de restituição da casa de força (à esquerda do muro central) e do


vertedouro (à direita do muro).

Fonte: Nota do autor.

59
9. CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURAS
HIDRÁULICAS

As estruturas hidráulicas são dimensionadas para conduzir a vazão de projeto, para


atender à finalidade para a qual foi planejada. Em “Critérios de Projetos Civis de
Usinas Hidrelétricas”, disponível no portal da ELETROBRÁS, existem orientações
básicas para dimensionamento de estruturas hidráulicas.

São critérios para:


• Níveis d’água;
• Borda livre
• Vazão;
• Desvio do rio;
• Dimensionamento do vertedouro;
• Circuito hidráulico de geração;
• Chaminé de equilíbrio;
• Estudos de remanso.

9.1 Níveis d’água

Os níveis d’água no reservatório (máximo, máximo de cheias e mínimo) são


definidos em função de estudos energéticos e de condicionantes ambientais.
Os níveis de jusante, em função da curva chave de jusante e deverão atender às
condicionantes energéticas, ambientais e de segurança contra a inundação da casa
de força.

60
9.2 Borda Livre

9.2.1 A Borda Livre Normal da Barragem

Tem como finalidade absorver os efeitos de ondas provocadas pelo vento. Para
barragens de terra, o mínimo deverá ser de 3,0 m e de concreto, de 1,50 m. Os
ventos máximos serão de 100 km/h e a onda deverá ter 2 % de probabilidade de ser
superada.

Para ensecadeiras, a borda livre mínima deverá ser de 1,0 m, válida também para a
casa de força.

9.2.2 Borda Livre Mínima

Para barragens de terra ou enrocamento, a borda livre mínima acima do Nível


Máximo de Cheia no reservatório deverá ser de 1,0 m e, para barragens de
concreto, de 0,5 m.

9.3 Vazão

9.3.1 Órgãos extravasores


Para barragens com alturas maiores que 30 m ou cujo colapso envolva risco de
vidas humanas, a vazão de projeto deverá ser a máxima provável.

Para barragens com alturas inferiores a 30 m e sem risco de vidas humanas, a


vazão de projeto deverá ser de 1000 anos.

9.3.2 Desvio do rio

Deverá se feita análise de risco, baseada na tabela abaixo:

61
Tabela 2- Análise de risco

CATEGORIA DO DANO RISCO ANUAL


Não há perigo de vidas humanas nem se prevê que ocorram
danos importantes na obra e seu andamento. 5% a 20%
Não há perigo de vidas humanas mas já se prevéem danos
importantes na obra e seu andamento. 2% a 5%
Há algum perigo de perda de vidas humanas e são previstos
importantes danos na obra e ao seu andamento 1% a 2%
Há perigo real de perda de vidas humanas e são previstos grandes
danos à obra e ao seu andamento < 1%

Fonte: Critérios de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas

9.3.3 Casa de Força

A vazão de projeto deverá ser de 1000 anos, no mínimo.

9.4 Desvio do Rio

O tipo de desvio do rio é função das condições topográficas, geotécnicas, altura da


barragem e das condições hidrológicas do local. Por exemplo, em vales abertos, o
desvio pode ser feito por meio de ensecadeiras, enquanto que, em vales fechados,
pode ser conveniente que seja feito através de túnel.

Para desvio de 2ª fase, para barragens de baixa queda é comum que o desvio seja
por meio de soleiras rebaixadas, enquanto que, para alturas maiores, por meio de
galerias construídas no corpo do vertedouro.

9.5 Dimensionamento do Vertedouro

O dimensionamento do vertedouro deverá permitir a condução da vazão prevista e


restituir de forma segura a jusante. Nos vertedouros controlados por comportas,
deverá ser previsto 2 comportas no mínimo.

62
Para reservatórios de pequenas dimensões, para velocidades de subida de nível
maiores que 2 m/h, o vertedouro deverá ser de soleira livre ou de acionamento
automático.
A velocidade de subida de nível é dada por:

Sendo:
• R = velocidade de subida do nível do reservatório (m/h);
• Q = vazão de pico de cheia de projeto (m³/s);
• A = área do reservatório (m²).

9.6 Circuito Hidráulico de Geração

O dimensionamento do circuito hidráulico de geração deverá ser feito levando em


conta as condicionantes energéticas, minimizando as perdas de carga. As estruturas
deverão ser dimensionadas para a vazão máxima de engolimento das máquinas, no
nível mínio operacional do reservatório.

9.7 Chaminé de Equilíbrio

As chaminés de equilíbrio são dispositivos destinados a absorver os efeitos de golpe


de aríete em instalações com condutos forçados de grande extensão, como túneis
de adução, por exemplo.

63
Figura 42 – Chaminé de Equilíbrio da UHE Rio de Pedras

Fonte: CEMIG GT

O fenômeno de golpe de aríete consiste na propagação de ondas de pressões que


se propagam através da tubulação, originárias de transformação de energia cinética
em energia de pressão, conforme apresentado a seguir.

A transformação de energia cinética em energia de pressão pode ser visualizada


através de aplicação da 2a Lei de Newton a um trecho de tubo.

A variação de pressão ∆H devida à variação de velocidade ∆V é dada pela


expressão, conhecida como "Equação de Joukowski":

ΔV
ΔH=a (11.7.1.1)
g

Considera-se um sistema composto por um reservatório, um tubo e uma válvula


aberta na sua extremidade, operando em regime permanente e com perda de carga
desprezível.

64
Referindo-se à figura 43, admite-se que inicialmente a válvula esteja aberta e
escoando uma vazão Q0 (figura 43.a e figura 43b).

No instante t0, a válvula é fechada instantaneamente. A camada imediatamente a


montante da válvula é freada e a sua energia cinética é transformada em energia de
pressão, formando uma frente de onda com carga H 0+∆H, que se propaga para
montante com celeridade "a" (figura 43.c).

Na região hachurada do tubo na figura 43.c, a carga vale H=H o+∆H, sendo Ho a
carga de regime permanente.

Esta onda se propaga a montante, até o atingir o reservatório (figura 43 c, figura 43


d, figura 43 e, figura 43 f). Neste instante, após L/a segundos, o sistema encontra-se
com velocidade V=0 e tubo expandido, com a energia acumulada sob forma de
energia elástica.

Como a carga dentro do tubo é maior que no reservatório e existe uma quantidade
de água comprimida dentro do tubo que está expandido, irá ocorrer fluxo no do tubo
para o reservatório (V=-Vo) e com carga H=Ho, formando uma frente de onda que se
propaga em direção à válvula com celeridade "-a" (figura 43 g, h, i, j).

A frente de onda, ao chegar à válvula no instante 2L/a s, devida à inércia, a massa


d'água dentro do tubo tenderá se manter em movimento. Como a válvula se
encontra fechada, a camada junto a ela também permanecerá parada, originando
um abaixamento de pressão igual a ∆H (V=0, H=Ho-∆H). Supondo que a pressão
seja superior à de vapor, irá formar uma onda de descompressão, no sentido da
válvula para o reservatório (figura 43 k, l, m, n).

Quando a frente de onda atinge o reservatório (t=3L/a s), o tubo encontra-se com
velocidade V=0 e carga H=H-∆H e tubo "encolhido".

65
Como a carga no reservatório é maior que dentro do tubo, irá ocorrer escoamento do
reservatório para o tubo, com velocidade V=Vo e H=Ho formando uma nova onda que
se propaga do sentido reservatório válvula (figura 43 o, p, q, r) ou seja,
restabelecendo as condições iniciais e, quando esta frente de onda atinge a válvula
após 4L/a segundos, o ciclo se repete, lembrando que foram desprezada as perdas
de carga. Nos casos reais, as perdas de energia amortecem as amplitudes (cargas e
vazões), sem que os períodos das ondas sejam afetados, até que o sistema atinja o
repouso.

Figura 43 - Descrição física do golpe de aríete.

66
Fonte:Nota do autor.

9.8 Estudos de Remanso

Os estudos de remanso deverão ser feitos no reservatório para verificara as áreas


inundadas a montante para as várias condições de vazão e, para o trecho de
jusante,para verificar as extrapolações das curvas chave. Os cálculos poderão ser
feitos pelo “Standard Step Method”.

67
10. NOÇÕES SOBRE MODELOS FÍSICOS E COMPUTACIONAIS
APLICADOS À HIDRÁULICA DE BARRAGENS

Os Modelos são representação da realidade e tem como finalidade antever o


comportamento das estruturas nas condições para as quais foram dimensionadas.
Na Engenharia Hidráulica, são utilizados dois tipos de modelos: Modelos físicos e
Modelos matemáticos.

10.1 Modelos Físicos

Os modelos físicos são geralmente geometricamente semelhantes e são baseados


na Teoria da Semelhança Mecânica, que diz que dois escoamentos são
mecanicamente semelhantes se todos os seus grupos adimensionais que o
governam são iguais. Esses modelos são comumente chamados de Modelos
Reduzidos.

Entretanto, este somente possível se escala geométrica igual a 1.

Para suplantar este obstáculo, seleciona se o adimensional mais importante e iguala


se este adimensional, tendo como resultado os chamados “Efeitos de Escala”, que
deforma os resultados.

Entretanto, a partir de certas dimensões, os efeitos de escala podem ser


desprezados.

Alguns dos principais grupos adimensionais:


V .D
R= = número de Reynolds;
ν

V
F r= = número de Froude;
√g . y

68
V
M= = número de Mach;
c

2
ρv D
W= = número de Weber
σ

Sendo:
V = velocidade média do escoamento;
D = dimensão característica que intervém no fenômeno a ser representado;
ρ = massa específica do fluido (kg/m3);
σ = coeficiente de tensão superficial do fluido (N/m);
ν = viscosidade cinemática do fluido;
g = aceleração da gravidade;
y = profundidade média do escoamento a superfície livre;
c = velocidade de propagação de som no meio fluido.

O número de Reynolds é a relação entre as forças de inércia, representadas pela


velocidade V e as forças viscosas, representadas pelo coeficiente de viscosidade
cinemática ν do fluido na equação.

O número de Froude é a relação entre as forças de inércia (V) e as forças


gravitacionais (g).

O número de Mach relaciona a velocidade do escoamento com a velocidade de


propagação do som no meio fluido e o número de Weber relaciona as forças de
inércia com as forças de tensão superficial.

Para a modelação de escoamento a superfície livre, pelo fato da força principal ser a
de gravidade, usa-se semelhança de Froude, ou seja, igualdade de Número de
Froude entre o modelo e protótipo.

A modelação física, no caso de usinas hidrelétricas, é bastante eficaz para estudos

69
de:
• Arranjo geral das estruturas;
• Dissipação de energia;
• Tendências à erosão a jusante das estruturas de dissipação de energia;
• Determinação de coeficientes de vazão;
• Estimativa de altura de ondas, desde que a escala seja compatível;
• Determinação de campo de velocidades e de pressões nas estruturas;
• Desvio de rios;
• Etc.

Devidos aos efeitos viscosos e de tensão superficial, possuem eficiência limitada


para:
• Previsão de vórtices;
• Quantificar quantidade de ar arrastado;
• Quantificar transporte de sedimentos para granulométricas de pequenas
dimensões;
• Etc.

As figuras 44 e 45 mostram modelos reduzidos.

70
Figura 44 – Ensaio em modelo reduzido.

Fonte: Nota do autor.


Figura 45 – Ensaio em modelo reduzido de uma bacia de dissipação.

Fonte: Nota do autor.

71
10.2 Modelos matemáticos

Os modelos matemáticos variam desde um simples cálculo de remanso até


simulações numéricas de escoamentos dentro de uma turbina e com o objetivo de
otimizar o dimensionamento de seus componentes, resultando num modelo
extremamente complexo.

Nos estudos hidráulicos de uma usina hidrelétrica, os modelos matemáticos são


comumente usados para determinar linhas d’água ao longo de um determinado
trecho, estudar o campo de velocidades nas imediações de uma estrutura hidráulica,
alternativas de ensecadeiras, etc.

Tem sido usado também para prever o caminhamento de uma onda de ruptura de
uma barragem. Os modelos matemáticos vêm normalmente na forma de “softwares”
encontrados no mercado, existindo também versões gratuitas.

Os principais são: HEC-RAS e River2d (gratuitos), Mike, WaterCAD, etc.

A figura 46 apresenta o resultado de simulação de rompimento de uma barragem


pelo programa HEC-RAS, mostrando a linha d’água num determinado instante.

72
Figura 46 – Nível d’água num determinado instante de resultante de rompimento de uma barragem obtido com o programa HEC-RAS.
MWH_BarrRej5 Plan: PlanPipingB0 7/4/2012 11:08:12 PM
Geom: MWH_Araxa_Rej05_DiqueLatPiping_RevB0 Flow :
Bocaina 1
1200 Le gend

WS 01NOV2012 0020
Ground
LOB
ROB

1150

1100
Elevation (m)

1050

1000

950
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
Main Channel Distance (m)

Fonte: Nota do autor.

73
CONCLUSÃO

Por se tratarem de estruturas destinadas a trabalharem sempre na presença seja de


água, seja de rejeito, é de suma importância o conhecimento das leis que regem a
mecânica dos fluidos para o melhor projeto, construção, operação e manutenção
dessas estruturas.

Nesta óptica, dentre os ‘equipamentos’ componentes das barragens, os


extravasores são os que merecem maior cuidado. Tais estruturas, quase
invariavelmente trabalham com grandes esforços hidráulicos que precisam ser
considerados, observados e corretamente tratados ao longo da vida útil da
barragem. Não são incomuns os casos de barragens que chegaram a falhar em
decorrência de mau funcionamento de estruturas extravasoras, umas vezes por erro
de dimensionamento, outras por falhas construtivas e de tratamento de fundação, ou
mesmo erros operacionais, humanos ou por falhas mecânicas.

Outro ponto que merece destaque diz respeito aos dispositivos de dissipação da
energia hidráulica. Durante eventos de vertimento, a energia produzida pelo fluxo de
fluido para jusante tem grande poder de dano e pode causar problemas até mesmo
para a barragem e estrutura vertente quando não corretamente desenhado ou
operado.

Esta unidade se dedicou a prover informações relevantes para a consideração do


aspecto hidráulico das barragens. A correta avaliação das condições hidráulicas e de
suma relevância para garantia da segurança das estruturas.

74
REFERÊNCIA

DELMÉ, G.J., Manual de medição de vazão, Editora Edgard Blücher, 3ª. Ed., São
Paulo, 2009.

ELETROBRÁS, CBDB, Critérios de Projetos Civis de Usinas Hidrelétricas, 2003.

ELETROBRÁS, Manual de Inventário de Bacias Hidrográficas, 2007.

ERBISTI, P. C. F., Comportas Hidráulicas, Editora Interciência, 2ª Edição, Rio de


janeiro, 2002.

FALVEY, H.T., Hydraulic Design of Labyrinth Weirs, ASCE Press, 2003.

PORTO, R. L. M., Hidráulica Básica, 4ª Edição, EESC USP – REENGE, São


Carlos, SP, 2006.

MARTINS, J.R.S, Notas de Aula, FAU, USP.

ROCHA, G.C.S., Desvio de rios para construção de barragens, Dissertação de


Mestrado, EPUSP, 2006.

SALBEGO, A.G., Simulação de cenários de sustentabilidade hídrica da


orizicultura na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande através de implantação
de barragens temporárias, Tese de Doutorado, UFMS, Santa Maria, RS, 2010.

SCHREIBER, G. P., Usinas Hidrelétricas, ENGEVIX, Editora Edgard Blücher, São


Paulo, 1978.

United States Department of the Interior - Bureau of Reclamation, Design of Small


Dams, 3ª Edição, 1987.

United States Army Corps of Engineers, Hydraulic Design Criteria.

75
CURSO
SEGURANÇA DE BARRAGENS

1
MÓDULO I – BARRAGENS: ASPECTOS
LEGAIS, TÉCNICOS E SÓCIOAMBIENTAIS

UNIDADE 7: ASPECTOS HIDROMECÂNICOS

2
FICHA TÉCNICA
Realização:

EQUIPE TÉCNICA

José Carlos Cesar Amorim Glauco Gonçalves Dias


Elaboração de conteúdo Revisor Técnico Geral

Etore Funchal de Faria


Alexandre Anderáos
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico ANA

Fabio Luiz Willrich


Carlos Leonardi
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Josiele Patias
Cesar Eduardo b. Pimentel
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico ANA

Josimar Alves de Oliveira


Claudio Neumann
Revisor técnico ANA
Revisor técnico Itaipu

Ligia Maria Nascimento de


Claudio Osako Araújo
Revisor técnico Itaipu Revisora técnica ANA

Silvia Frazão Matos


Dimilson Pinto Coelho
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Revisão Ortográfica

ICBA – Centro de Línguas


www.cursodeidiomasicba.com.br

Este obra foi licenciada sob uma Licença .Creative Commons


Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada

3
CURRICULO RESUMIDO

Prof: José Carlos Cesar Amorim

Engenheiro Civil (1981) e engenheiro


mecânico (1982), Especialista em
Estudos, Projeto e Construção de
Pequenas Centrais Hidrelétricas (1986),
Mestre em Engenharia (1987) e Doutor
em Hidráulica (1991), pelo INPG - Institut
National Polytechnique de Grenoble
Grenoble – França.
Atualmente é Professor e Coordenador da Área de Recursos Hídricos e Centrais
Hidrelétricas do IME - Instituto Militar de Engenharia Rio de Janeiro – RJ.
Atividades em projetos:
Coordenador dos Projetos do IME com: FURNAS, CEPEL-ELETROBRÁS, INEA,
CODESP, SEP, entre outros.
Outras atividades Técnico-administrativas atuais:
Membro do Comitê Diretor do CERPCH – Centro Nacional de Referência em
Pequenas Centrais Hidrelétricas, MCT – MMA – MME – UNIFEI – IME – USP.
Chefe do Laboratório de Hidráulica e Máquinas Hidráulicas IME – Instituto Militar de
Engenharia Rio de Janeiro – RJ.

4
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS.............................................................................................. 07
1 EQUIPAMENTOS HIDROMECÂNICOS............................................................. 10
2. COMPORTAS.................................................................................................... 11
2.1. Componentes.................................................................................................. 12
2.2. Tipos e Classificações..................................................................................... 12
2.2.1. Comportas de Translação............................................................................ 14
2.2.1.1. Tipo de Deslizamento................................................................................ 14
2.2.1.2. Tipo de Rolamento.................................................................................... 19
2.2.2. Comportas De Rotação................................................................................ 23
2.2.3. Comportas De Translo-Rotação................................................................... 30
2.3 Critérios De Seleção........................................................................................ 31
2.3.1 Requisitos Operacionais............................................................................... 31
2.3.2 Limites De Utilização..................................................................................... 33
2.3.3. Carga Hidrostática....................................................................................... 34
2.3.4 Forças Hidrodinâmicas................................................................................. 34
2.3.5. Estimativas De Peso.................................................................................... 35
2.3.6. Esforços De Manobra.................................................................................. 36
2.4 Sistemas De Acionamento............................................................................... 37
2.5 Materiais........................................................................................................... 38
2.6 Pintura.............................................................................................................. 40
2.7 Normas Existentes........................................................................................... 40
3. GRADES............................................................................................................ 41
3.1 Tipos De Grade................................................................................................ 41
3.2 Noções De Cálculo Estrutural De Grades........................................................ 48
3.3 Materiais........................................................................................................... 49
3.4 Normas Existentes........................................................................................... 50
4. VÁLVULAS ...................................................................................................... 52
4.1 Tipos De Válvulas............................................................................................ 54
4.1.1. Válvulas Borboletas..................................................................................... 54
4.1.2. Válvulas Esféricas........................................................................................ 57

5
4.1.3 Válvula Dispersora........................................................................................ 58
4.2 Normas Existentes.......................................................................................... 59
5 TURBINAS.......................................................................................................... 60
5.1 Tipos................................................................................................................. 61
5.2 Manutenção de Turbinas................................................................................. 65
6 BOMBAS............................................................................................................ 69
6.1 Manutenção de Bombas.................................................................................. 69
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 71

6
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Comporta Gaveta


Figura 2 – Comporta Ensecadeira
Figura 3 – Viga Pescadora
Figura 4 – Comporta Cilíndrica
Figura 5 – Comporta Anel
Figura 6 – Comporta Vagão
Figura 7 – Comporta Stoney
Figura 8 – Comporta Lagarta
Figura 9 – Comporta Telhado
Figura 10 – Comporta Segmento
Figura 11 – Comporta Setor
Figura 12 – Comporta Basculante
Figura 13 – Comporta Mitra
Figura 14 – Comporta Tambor
Figura 15 – Comporta Visor
Figura 16 – Comporta Rolante
Figura 17 – Grade Fixa
Figura 18 – Painéis de Grade Móvel
Figura 19 – Grade apoiada lateralmente
Figura 20 – Grade apoiada nas extremidades inferior e superior
Figura 21 – Grade – Conjunto
Figura 22 – Grade – Painel Superior
Figura 23 – Grade – Painel Inferior
Figura 24 – Válvula borboleta: (a) disco plano e (b) disco biplano
Figura 25 – Válvula borboleta: (a) corpo bipartido e (b) obturador inteiriço
Figura 26 – Válvula borboleta: Tarbella 7530 mm de diâmetro
Figura 27– Válvula borboleta: (a) corpo inteiriço e (b) obturador desmontável
Figura 28 – Classificação das válvulas esféricas
Figura 29 – Esquema da válvula dispersora

7
Figura 30 – Válvula de jato divergente da UHE de Reza Sha Kabir, no Irã
Figura 31 - Exemplo de quadro para escolha do tipo de turbina
Figura 32 – Turbina Pelton
Figura 33 – Turbina Francis
Figura 34 – Turbina Kaplan
Figura 35 – Turbina Bulbo
Figura 36– Vista geral da barragem
Figura 37– Rotor do gerador que sofreu colapso.
Figura 38 – Aspecto da casa de força antes da ocorrência
Figura 39– Aspecto da casa de força depois do acidente
Figura 40 – geradores 7 e 9 destruídos
Figura 41 – Parte da cassa de força destruída
Figura 42 – Bomba hidráulica

8
Prezado Aluno,
no decorrer desta unidade você deverá desenvolver competência para:

• Identifcar equipamentos hidromecânicos descrevendo seu funcionamento.

9
1 EQUIPAMENTOS HIDROMECÂNICOS

Os Equipamentos Hidromecânicos são aqueles equipamentos utilizados em


barragens como elementos de fechamento e para efetuar controle de passagem de
água, com o objetivo de:

• Geração de energia;
• Manutenção de níveis de água em reservatórios;
• Passagem de embarcações (eclusas).

Os Equipamentos Hidromecânicos podem realizar as seguintes operações:

• Abrir e fechar em condições normais ou em emergência;


• Regular vazão.

Podemos dividir esses equipamentos em grupos:

• Comportas;
• Grades;
• Válvulas.

10
2. COMPORTAS

A norma da ABNT NBR 7259:2001 define comportas hidráulicas como: “Dispositivo


mecânico usado para controlar vazões hidráulicas em qualquer conduto livre ou
forçado e de cuja estrutura o conduto é independente para sua continuidade física e
operacional”.

As principais aplicações das comportas hidráulicas são:

• Obras de proteção contra enchentes (regularização de vazões);


• Proteção e manutenção de equipamentos (turbinas);
• Controle de nível nos reservatórios;
• Limpeza de reservatórios (descarga de fundo);
• Regularização de vazões;
• Manutenção de equipamentos (comportas ensecadeiras);
• Fechamento de obras de desvio de rio;
• Tomadas d’água e tubos de descarga de aproveitamentos hidrelétricos;
• Obras de irrigação;
• Eclusas de navegação;
• Escadas de peixes, entre outros.

As comportas hidráulicas utilizadas em aproveitamento hidrelétrico são previstas


com o objetivo de bloquear uma passagem hidráulica, podendo operar normalmente
fechadas ou normalmente abertas, de acordo com sua função.

As comportas que auxiliam a inspeção e a manutenção das estruturas civis, como


canal de adução, tubulação de baixa pressão e passagens hidráulicas da casa de
força, permanecem normalmente abertas, isto é, fora de operação.

11
As comportas de desarenação ou limpeza têm a função de permitir, por ocasião de
sua abertura, a eliminação de areia ou qualquer outro material decantado no fundo
do reservatório. Em geral, são comportas de pequenas dimensões, porém sujeitas a
pressões consideráveis, por estarem situadas próximas ao fundo do reservatório.

2.1. Componentes

Os principais componentes de uma comporta hidráulica são:

• Tabuleiro: É a parte que suporta a carga hidrostática e faz a estanqueidade.


O tabuleiro se compõe de parte estrutural, vedações, roda principal / rodas
guia e contraguia e By-pass.
• Peças Fixas: têm a função de apoiar e guiar a comporta, transmitir e distribuir
adequadamente as cargas ao concreto, apoiar a vedação e garantir a
estanqueidade. As peças fixas se compõem de soleira, caminho de rolamento
ou deslizamento, guias laterais, contraguias, frontal, apoios de vedação.
• Acionamento: tem por função promover a abertura e fechamento da
comporta nas velocidades e leis de manobras estabelecidas. O Acionamento
é composto de órgão de manobra (cilindro hidráulico, unidade hidráulica,
guincho mecânico, painel elétrico, indicador de posição).

2.2. Tipos e Classificações

As comportas podem ser classificadas quanto a:

• Função:
• Serviço: comportas que operam constantemente, de acordo com as
necessidades e sua finalidade. São utilizadas, normalmente para
controle de vazões em fundação da sua abertura e fechamento.

12
• Emergência: como o nome indica, são comportas utilizadas apenas
em situações de emergência, por exemplo, em caso de cheias
extremas quando as comportas de um vertedouro principal não é
capaz de suportar toda a vazão. Funcionam 100% abertas ou
fechadas.
• Manutenção: são comportas destinadas a permitir a realização de
manutenções, por exemplo, o ensecamento de montante de uma
comporta de serviço.

• Movimento:
• Deslizamento: comportas gaveta / ensecadeira / cilíndrica.
• Rolamento: comportas vagão / lagarta / Stoney.
• Rotação: segmento / basculante / Mitra.

• Descarga:
• Por cima do tabuleiro: comporta basculante.
• Por baixo do tabuleiro: gaveta / lagarta / segmento / vagão.
• Mistas: vagão dupla ou vagão ou segmento com basculante.

• Localização:
• Superfície: a coluna d’água é inferior à altura da comporta.
• Fundo: a coluna d’água é superior à altura da comporta.

• Pressão:
• Baixa Pressão: coluna d’água < 15,0 mca.
• Média Pressão: 15,0 < coluna d’água < 30,0 mca.
• Alta Pressão: coluna d’água > 30,0 mca.

• Formas do Paramento:

13
• Planas (Comporta gaveta, vagão, Stoney, ensecadeira).
• Radiais (Comporta segmento, setor, cilíndrica).
Segundo a norma da ABNT NBR 7259:2001 as comportas hidráulicas são
classificadas como:

• Comportas de Translação:
o Tipo de Deslizamento;
o Tipo de Rolamento;
• Comportas de Rotação.
• Comportas Translo-Rotação.

2.2.1. Comportas de Translação

2.2.1.1. Tipo de Deslizamento:

Comportas do tipo de deslizamento são “aquelas em que a estrutura principal


(tabuleiro) se movimenta em suas guias ou peças fixas, simplesmente vencendo o
atrito de deslizamento entre as partes fixas e móveis” (ABNT, 2001). Existem os
seguintes tipos:

• Comporta Gaveta:

É uma comporta do tipo de deslizamento, com paramento geralmente plano


(tabuleiro) e vertical, que pode ser operada sob fluxo hidráulico, isto é, com pressões
hidráulicas desequilibradas (Figura 1). Ela não utiliza cabos ou correntes, seu uso é
simples e seguro e requer pouca manutenção.

14
Figura 1 – Comporta Gaveta
(a) (b)

Fontes: (a) NBR 7259:2001 e (b) Alstom

• Comporta Ensecadeira:

É uma comporta do tipo de deslizamento, com paramento geralmente plano e


vertical, que só pode ser movimentada em suas guias ou peças fixas com pressões
hidráulicas equilibradas (Figura 2). Essa comporta também é conhecida pelo nome
de stoplog e pode ser formada por elementos independentes superpostos, sendo,
nesse caso, cada elemento chamado de painel de comporta ensecadeira.
Geralmente tal comporta é usada para permitir o reparo, a manutenção ou a troca de

15
outros equipamentos.

Figura 2 – Comporta Ensecadeira


(a) (b)

Fontes: (a) NBR 7259:2001 e (b) Alstom]

Os painéis de comporta ensecadeira são manobrados por meio de guindastes,


talhas ou pórticos rolantes, com o auxílio de vigas pescadoras. A viga pescadora é
composta de uma estrutura treliçada de perfis, dotada de ganchos de içamento
movimentados por um sistema de alavancas e contrapeso, como mostra a Figura 3.

16
Figura 3 – Viga Pescadora – a) painel da comporta; b) olhal de içamento; c) haste de
acionamento da válvula by-pass; d) contrapeso; e) roda guia.

Fonte: Alstom

• Comporta Cilíndrica:

É uma comporta do tipo de deslizamento, com paramento cilíndrico fechado, eixo


vertical e que se desloca ao longo de seu eixo (Figura 4). Em comporta cilíndrica de
superfície quando o fluxo é admitido na sua parte superior por abaixamento da
comporta, esta recebe o nome especial de “anel” (Figura 5).

17
Figura 4 – Comporta Cilíndrica

Fonte: NBR 7259:2001

18
Figura 5 – Comporta Anel

Fonte: NBR 7259:2001

2.2.1.2. Tipo de Rolamento:

Comportas do tipo de rolamento são “aquelas que a estrutura principal (tabuleiro) se


movimenta em suas guias ou peças fixas, vencendo o atrito entre as partes fixas e
móveis por meio de rodas ou rolos” (ABNT, 2001). Existem os seguintes tipos:

19
• Comporta Vagão:
É um tipo de comporta de rolamento, geralmente com paramento plano e que se
movimenta em suas guias ou peças fixas sob o fluxo hidráulico, utilizando rodas e
roletas de eixos fixos (Figura 6). Tem como inconveniente o fato de ser necessário o
levantamento de todo o seu peso, mesmo no caso de pequenas aberturas.

Figura 6 – Comporta Vagão


(a) (b)

Fontes: (a) NBR 7259:2001 e (b) Alstom

• Comporta Stoney:

É um tipo de comporta de rolamento, geralmente com paramento vertical plano e


que se movimenta em suas guias ou peças fixas sob o fluxo hidráulico, utilizando
uma cadeia de rolos de eixos horizontais independente do tabuleiro (Figura 7).

20
Essa cadeia de rolos se movimenta por meio de uma polia livre e um cabo que tem
uma extremidade fixada na comporta e outra extremidade fixada a um ponto elevado
no pilar. A cadeia de rolos se movimenta somente metade da distância percorrida
pela comporta. Ela tem alto custo inicial de implantação e maior necessidade de
manutenção, por causa dos rolos inferiores ficarem expostos à ação da água.

Figura 7 – Comporta Stoney

Fonte: NBR 7259:2001

21
• Comporta Lagarta:
É um tipo de comporta de rolamento, geralmente com paramento plano e que se
movimenta em suas guias ou peças fixas sob fluxo hidráulico, utilizando cadeias
fechadas de rolos (Figura 8). Possui baixo coeficiente de atrito dos rolos e alta
capacidade de carga. Pode substituir a comporta vagão em instalações de alta
queda com fechamento por gravidade.

Figura 8 – Comporta Lagarta


(a) (b)

Fonte: (a) NBR 7259:2001 e (b) Mitsubishi

22
2.2.2. Comportas de Rotação:

Comportas de rotação são “aquelas que executam um movimento de rotação em


torno de um eixo fixo” (ABNT, 2001). Existem os seguintes tipos:

• Comporta Telhado:

É um tipo de comporta de rotação composta de dois elementos basculantes de eixos


horizontais fixos e paralelos, na qual o elemento de montante se apoia
continuamente sobre o elemento de jusante (Figura 9).

Figura 9 – Comporta Telhado

Fonte: NBR 7259:2001

23
• Comporta Segmento:
É um tipo de comporta de rotação com paramento curvo correspondente a um
segmento de cilindro com diretriz circular, apresentando braços radiais que
transmitem a pressão hidráulica para mancais fixos (Figura 10). O perfil do tabuleiro
é um segmento circular.

Figura 10 – Comporta Segmento


(a) (b)

Fontes: (a) NBR 7259:2001 e (b) Alstom

• Comporta Setor:
É um tipo de comporta de rotação com paramento curvo correspondente a um
segmento de cilindro com diretriz circular, apresentando uma estrutura radial que
transmite a pressão hidráulica por compressão para os mancais fixos a jusante
(Figura 11). O paramento é continuado na sua parte superior por uma superfície
cheia radial, configurando o perfil da comporta como o de um setor circular.

24
Figura 11 – Comporta Setor

Fonte: NBR 7259:2001

Muito parecidas entre si, as comportas tipo segmento e setor se diferenciam pelo
fato da comporta segmento ter apenas sua face de contato com a água fechada,
enquanto a comporta tipo setor apresenta seu paramento superior igualmente
fechado, permitindo assim que a água “escoe sobre a comporta” quando da sua
abertura.

25
• Comporta Basculante:
É um tipo de comporta de rotação com paramento plano curvo, tendo a estrutura do
tabuleiro fixada a mancais-suportes e eixo horizontal incorporado ao próprio
tabuleiro (Figura 12). A pressão hidráulica é transmitida aos mancais-suportes e à
estrutura do mecanismo de operação da comporta.

Figura 12 – Comporta Basculante


(a) (b)

Fontes: (a) NBR 7259:2001 e (b) Alstom

26
• Comporta Mitra:

É um tipo de comporta de rotação composta de dois elementos basculantes de eixos


verticais fixos localizados nas paredes do conduto (Figura 13). Na posição fechada,
os dois elementos basculantes fazem apoio entre si nas extremidades livres.

Figura 13 – Comporta Mitra


(a) (b)

Fontes: (a) NBR 7259:2001 e (b) Alstom

27
• Comporta Tambor:

É um tipo de comporta de rotação com paramento radial, continuado por uma


superfície cheia cilíndrica, cujo perfil corresponde a um setor que gira em torno de
mancais fixos sitiados a montante (Figura 14). A pressão hidráulica é transmitida por
tração aos mancais.

Figura 14 – Comporta Tambor

Fonte: NBR 7259:2001

28
• Comporta Visor:

É um tipo de comporta de rotação com paramento semicilíndrico, com geratriz


vertical e eixo de rotação horizontal (Figura 15).

Figura 15 – Comporta Visor

Fonte: NBR 7259:2001

29
2.2.3. Comportas de Translo-Rotação:

As comportas de translo-rotação são aquelas que executam um movimento de


translação e rotação. Nessa classificação, destaca-se a comporta rolante.

• Comporta Rolante:
É um tipo de comporta de translo-rotação, de paramento geralmente curvo, apoiado
em uma estrutura cilíndrica de eixo horizontal, que rola em cremalheiras fixas nos
pilares em posição inclinada (Figura 16).

Figura 16 – Comporta Rolante

Fonte: NBR 7259:2001

30
2.3 CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

A Norma NBR 12289:1991 – Seleção de comportas hidráulicas para pequenas


centrais hidrelétricas (PCH) - indica diretrizes para a seleção de comportas e
fornece, em forma de tabelas, um dimensionamento preliminar da estrutura das
mesmas.

Fatores importantes na seleção do tipo de comporta:

• Segurança operacional;
• Menor peso e custo do fornecimento;
• Simplicidade de operação;
• Facilidade de manutenção;
• Requisitos estruturais (ranhuras, câmaras, guias etc.);
• Magnitude e direção dos esforços transmitidos ao concreto;
• Capacidade do mecanismo de manobra;
• Facilidade de transporte e montagem;
• Experiência em obras existentes e dos fabricantes locais.

2.3.1 Requisitos Operacionais

As comportas devem ser selecionadas para atender aos requisitos operacionais da


instalação:

 Capacidade de Descarga:
Requisito mais importante para vertedouros. As comportas com descarga por baixo
do tabuleiro (vagão e segmento) são as mais adequadas. A comporta segmento leva
vantagem por não apresentar ranhuras e, por isso, apresentar maior eficiência
hidráulica.

31
 Descarga de Detritos Flutuantes e Gelo:
Onde é necessário descarregar detritos flutuantes e gelo sem perder grande
quantidade de água, a melhor opção é a comporta com descarga por cima do
tabuleiro (comporta basculante, tambor e setor).
- Pode-se também usar comportas mistas (vagão ou segmento com basculante).

 Movimentação pela Pressão Hidráulica:


Podem ser usadas neste caso basculante, setor, tambor e telhado.

 Transmissão de Esforços ao Concreto:


Os esforços ao concreto são transmitidos através dos mancais ou das rodas.
O dimensionamento das estruturas de concreto, que servem de apoio da comporta,
deve levar em consideração a magnitude, a direção e o sentido dos esforços
transmitidos ao concreto.

 Ausência de Vibração:
Requisito indispensável para comportas de descarga de fundo. Quanto maior o atrito
entre a comporta e as peças fixas, menor será a tendência a vibrar. Por esse motivo
as comportas gaveta são as mais utilizadas em descarga de fundo.

 Funcionamento Automático:
Comportas segmento, setor, tambor, telhado e basculante podem ser operadas
automaticamente em função dos níveis d’água com o auxílio de contrapesos e
flutuadores sem necessidade de guincho.
Comportas automáticas são usadas na proteção contra enchente e na regulação de
níveis de reservatório. Podem ser usadas em áreas de difícil acesso ou condições
climáticas adversas. O funcionamento do sistema automático pode ser prejudicado
pelas impurezas da água. São usadas em canais para manter constantes os níveis
de montante ou jusante.

32
 Fechamento por Gravidade em Caso de Emergência:
Comportas vagão ou lagarta podem ser projetadas para fechar por gravidade (sem
necessidade de energia elétrica), ou seja, com o peso próprio da comporta cortando
o escoamento em caso de pane na turbina ou ruptura do conduto forçado. O
mecanismo de acionamento da comporta pode ser cilindro hidráulico ou guincho
mecânico.

2.3.2 Limites de Utilização

Devido à grande responsabilidade das comportas, os projetistas normalmente são


conservadores, preferindo usar concepções já comprovadas.

No entanto, com o desenvolvimento contínuo de novos projetos hidrelétricos, de


contenção de cheias e de eclusas, os tamanhos das comportas têm aumentado
significativamente ao longo do tempo, fazendo os projetistas evoluir nos limites
máximos de aplicação (vão, altura e carga) de cada tipo de comporta.

Por exemplo, no vertedouro da Usina de Itaipu foram instaladas 14 comportas


segmento com 20 m de vão e 21,34 m de altura, projetadas para uma altura d’água
de 20,84 m em relação à soleira do vertedouro. Na posição fechada e com o
reservatório no nível d’água máximo normal, cada comporta suporta uma carga
hidrostática de componente horizontal igual a 43,4 MN. Na Usina de Tucuruí foram
instaladas 23 comportas similares às de Itaipu, com 20 m de vão e 21 m de altura
[1].

Vários fatores colaboraram para o crescimento dos limites físicos das comportas,
tais como: o desenvolvimento de novas tecnologias de soldagem e o uso de
materiais resistentes, ancoragens protendidas (desde 1956), buchas
autolubrificantes e acionamentos óleo-hidráulicos.

33
As instalações com quedas acima de 150m utilizam comportas gaveta, com área
2
limitada a menos de 20m . As comportas vagão e segmento atendem
aproximadamente a uma mesma faixa, para alturas d’água até 100m. Para alturas
superiores a 100m as comportas lagartas são mais adequadas.

As comportas segmento e vagão dotadas de basculantes são usadas com vãos de


15 a 45m; as do tipo segmento se destinam a instalações com maior altura de
represamento (de 30 a 40% mais do que as do tipo vagão) [1].

2.3.3. CARGA HIDROSTÁTICA

O dimensionamento de uma comporta se inicia com a determinação da carga


hidrostática atuante sobre o tabuleiro nas diversas posições que a comporta possa
ocupar, desde totalmente aberta a totalmente fechada. O valor máximo da carga
hidrostática ocorre com a comporta fechada e com o reservatório no seu nível
máximo a montante.

2.3.4 FORÇAS HIDRODINÂMICAS

Quando uma comporta está totalmente fechada e o líquido retido em repouso, as


pressões agindo sobre a comporta são hidrostáticas e os esforços hidráulicos são
facilmente determinados. Na ausência de escoamento, o cálculo do componente
vertical das forças hidráulicas atuantes sobre a comporta se resume à determinação
do empuxo de Arquimedes, dado por um valor uniforme da carga piezométrica.

Com a comporta parcialmente aberta, o equilíbrio hidrostático deixa de existir, dando


lugar a uma distribuição não uniforme da carga piezométrica junto à comporta. Isso
se deve ao escoamento com elevada carga cinética que ocorre na região do perfil
inferior da comporta, que dá origem a uma consequente redução da carga de
pressão no local.

34
2.3.5. ESTIMATIVAS DE PESO

Para efeitos de estimativas de custos, de capacidade de equipamentos de


levantamento, bem como estudos comparativos entre soluções, torna-se muito
importante o cálculo, mesmo que estimado, do peso das comportas.

Baseado em dados de comportas fabricadas, Erbiste (2002) apresenta as fórmulas


para cálculo de peso estimativo de alguns tipos de comportas, utilizando os
parâmetros largura, altura e pressão na soleira, que são os dados disponíveis na
fase de estudos iniciais.

O peso G das comportas é calculado em função do parâmetro B²hH, onde B é o vão


livre, h a altura da comporta e H a altura na soleira. Nas equações B, h e H são
expressos em metros e o peso G é dado em kN. Para comportas de superfície pode
ser adotado com boa aproximação, h=H.

As expressões baseiam-se em dados estatísticos e por isso não são recomendadas


para cálculos precisos de peso.

 Comporta Segmento

G = 0,64 (B²hH)0,682 – para comportas de superfície


G = 3,688 (B²hH)0,521 – para comportas de fundo

 Comporta Vagão

4
G = 0,735 (B²hH)0,697 – para os valores de B²hH > 2000 m
4
G = 0,886 (B²hH)0,654 – para os valores de B²hH < 2000 m

 Comporta Ensecadeira

35
O peso de um jogo de comporta ensecadeira é expresso pela equação:
G = 0,601 (B²hH)0,703 – para comportas de superfície
G = 0,667 (B²hH)0,678 – para comportas de fundo

O peso de um painel é obtido dividindo-se o peso do jogo pelo número de painéis


que o compõem, caso tenham a mesma altura.

O peso G calculado acima se refere ao peso do tabuleiro.

2.3.6. ESFORÇOS DE MANOBRA

Para movimentar uma comporta, o dispositivo de manobras deve ter uma


capacidade superior ao esforço requerido já aplicado um fator de segurança. As
forças envolvidas nas manobras de comportas são:

• Peso da Comporta;
• Empuxo de Arquimedes, relativo à parte submersa da comporta;
• Forças de atrito nos apoios (rodas e mancais de articulação);
• Forças de atrito nas vedações;
• Forças hidrodinâmicas.

Em comportas que executam movimento de rotação, como por exemplo, a comporta


segmento, a carga de acionamento é determinada por meio dos momentos
exercidos pelas forças resistentes em relação ao eixo de articulação.

Uma vez calculada a força necessária ao içamento da comporta, deve-se multiplicar


este valor por 1,2 para se obter a capacidade mínima do órgão de manobra. Para as
comportas que requerem fechamento por peso próprio, principalmente as vagões de
tomada d’água ou tubo de sucção e as segmento, as forças que promovem o

36
fechamento (peso próprio, forças hidrodinâmicas e empuxo nas vedações) devem
ser no mínimo 1,25 vezes as forças que se opõem ao fechamento (atritos, empuxo
de Arquimedes, empuxo nas vedações, forças hidrodinâmicas).

Para redução dos esforços de abertura ou para garantir o fechamento por peso
próprio as vedações podem ser revestidas com camada de teflon.
Para o cálculo de esforços de manobra, ver capítulo 9 do livro Comportas
Hidráulicas [1] e a norma ABNT NBR 8883:2008.

2.4 SISTEMAS DE ACIONAMENTO

As comportas podem ser movimentadas pela ação da própria água do reservatório,


por um dispositivo de manobras fixo ou ainda por um equipamento móvel. Os
dispositivos fixos de acionamento podem ser mecanismos de fuso, manual ou
elétrico, guinchos elétricos a cabo ou corrente e cilindros hidráulicos. Os
equipamentos móveis são usados principalmente na movimentação da comporta
ensecadeira, para deslocamento em operações de manutenção. Entre os
dispositivos móveis destacam-se as talhas manuais ou elétricas, pontes e pórticos
rolantes, e guindastes.

O sistema de acionamento hidráulico, que é atualmente o sistema de maior uso em


manobras de comportas vagão e segmento, é composto de um ou dois cilindros
hidráulicos, unidade hidráulica, painel elétrico de comando, tubulações hidráulicas e
instalação elétrica.

O sistema de acionamento hidráulico apresenta alta capacidade de carga com


simplicidade de funcionamento, facilidade de controle e confiabilidade operacional.

Os cilindros hidráulicos podem ser de simples ou duplo efeito. O cilindro de simples


efeito é empregado no acionamento de comportas que fecham pela ação de seu
peso próprio e sua haste é submetida somente à tração. Já o cilindro de duplo efeito,

37
empregado no acionamento de comportas gaveta, faz força nos dois sentidos de
movimento e sua haste trabalha à compressão, devendo, portanto, ser verificada a
flambagem.

Em relação ao acionamento por guincho a cabo para comportas vagão, o cilindro


hidráulico tem a desvantagem de requerer a desmontagem de hastes para içar a
comporta até o piso de manobra. O cilindro hidráulico deve ter curso suficiente para
abrir totalmente a comporta.

As velocidades de operação são escolhidas em função do tipo e da finalidade da


comporta. Em vertedouros, por exemplo, costuma-se adotar velocidade para
abertura e fechamento de 0,15 a 0,60m/minuto, sendo o valor mais usual entre 0,25
e 0,30m/minuto.

No caso de comportas vagão de emergência de tomada d’água e tubo de sucção,


geralmente são adotados os seguintes valores:

• Abertura normal: 1 a 2m/minuto;


• Fechamento normal com equilíbrio de pressões: 1 a 2m/minuto;
• Fechamento de emergência com água em movimento: 4 a 8m/minutos;

No caso de fechamentos, recomenda-se um amortecimento no final do curso.

2.5 MATERIAIS

Os principais materiais usados na construção de comportas são:

• Aços carbono para estrutura, peças fixas, viga pescadora e


acessórios;
• Aços inoxidáveis para faces de vedação das peças fixas, pistas

38
de rolamento e eixos;
• Aços forjados e fundidos: para eixos das comportas vagão e
segmentos e cubos da comporta segmento;
• Parafusos de aço inox para fixação das vedações;
• Borrachas de vedação em composto de estireno e butadieno
(SBR) ou neoprene.
• Bronze, latão, teflon para buchas e sapatas de guia.

Com relação ao aço empregado na construção de comportas, o material mais usado


é o aço ASTM A 36, com limite de escoamento de 250 MPa. Aços de alta resistência
podem e devem ser empregados para reduzir o peso da comporta e por
consequência o esforço de manobra. Como estes aços têm custo superior ao ASTM
A 36 seu emprego requer avaliação. Em caso de comportas muito largas, onde o
dimensionamento está limitado pela deformação admissível, o uso de aço de alta
resistência pode se tornar ineficaz.

Entre os aços de alta resistência podemos citar:

• ASTM A 572 50 – limite de escoamento 345 MPa


• ASTM A 572 60 Limite de escoamento 415 MPa ( limitado a 25 mm)
• USI SAR 50 – Limite de escoamento 330 MPa
• USI SAR 55 – Limite de escoamento 360 MPa
• EN 10025 S 355 – Limite de escoamento 345 MPa.

Obs.: Alguns aços têm suas propriedades reduzidas com o aumento da espessura.
Para a execução do projeto, consultar o catálogo da siderúrgica ou a norma do
material.

39
2.6 PINTURA

Os painéis das comportas e as partes da peça fixa devem ser pintados com 2
demãos de 180 micra de epóxi alcatrão de hulha. Atualmente o alcatrão de hulha
vem sendo substituído por uma tinta epóxi sem alcatrão (tar free), conforme
esquema 4.1.5 da norma ABNT NBR 11389:1990.

As partes embutidas no concreto e de aço inoxidável não devem ser pintadas.

2.7 NORMAS EXISTENTES

ABNT NBR 8883:2008 Versão Corrigida: 2010 - Cálculo e fabricação de comportas


hidráulicas.

ABNT NBR 7259:2001- Comportas hidráulicas– Terminologia.

ABNT NBR 13115:1994- Recepção de comportas hidráulicas – Procedimento.

ABNT NBR 12289:1991- Seleção de comportas hidráulicas para pequenas centrais


hidrelétricas (PCH) – Procedimento.

ABNT NBR 12283:1991- Fabricação de comportas hidráulicas– Procedimento.

ABNT NBR 11389:1990 - Sistemas de pintura para equipamentos e instalações de


usinas hidroelétricas ou termoelétricas – Especificação.

40
3. GRADES

Grades são equipamentos mecânicos, dotados de barras verticais igualmente


espaçadas, com a finalidade de evitar a entrada de detritos que possam danificar os
equipamentos dispostos a jusante da mesma.

Os detritos a serem retidos pelas grades se classificam em duas categorias: os


naturais e os resultantes da ação poluidora do homem. Dentre os naturais
destacam-se os troncos de arvore, galhos, musgos e vegetação aquática. Dos
produzidos pelo homem se destacam os pneus, plásticos, latas e garrafas.

A acumulação de detritos junto às grades depende de fatores tais como o tipo de


barragem, a proximidade de cidades e a existência de árvores submersas no
reservatório.

Como boa parte dos detritos é flutuante, as grades superficiais sofrem mais com os
detritos que as grades profundas.

3.1 Tipos de Grade

As grades podem ser classificadas da seguinte forma:


a) Quanto à movimentação:

Grades Fixas: São grades fixadas à estrutura de concreto, por meio de parafusos
ou soldas, às peças metálicas embutidas em recessos deixados no concreto de
primeira fase (Figura 17).

Grades Móveis: São grades, que podem ser colocadas ou retiradas de suas
ranhuras a qualquer instante através do órgão de manobra que pode ser o gancho
auxiliar do pórtico rolante da tomada d’água, ou uma talha com o auxílio de uma viga
pescadora (Figura 18).

41
Figura 17 – Grade Fixa

Fonte: Rodrigues [3].


Figura 18 – Painéis de Grade Móvel

Fonte: Rodrigues [3].

42
b) Quanto ao tipo de apoio

Grades apoiadas lateralmente: É o tipo mais usado para grade móvel. A carga
hidráulica imposta à grade é descarregada à estrutura de concreto pelas cabeceiras
verticais do quadro. Nessas grades, pode-se instalar uma bandeja para coletar os
detritos no painel inferior. Para permitir a subida do rastelo limpa-grades nos painéis
é comum a colocação de uma rampa no painel superior. É recomendável a
soldagem de uma tira de aço inoxidável nas peças fixas de guias laterais no apoio
das cabeceiras dos painéis (Figura 19).

Figura 19 – Grade apoiada lateralmente

Fonte: Rodrigues [3].

43
Grades apoiadas nas extremidades inferior e superior: É o tipo mais utilizado
para grade fixa. A carga hidráulica imposta à grade é descarregada ao concreto
pelas extremidades inferiores e superiores (Figura 20).

Figura 20 – Grade apoiada nas extremidades inferior e superior

Fonte: Rodrigues [3].

44
Figura 21 – Grade – Conjunto

Fonte: ABNT NBR 7880:2001.

45
Figura 22 – Grade – Painel Superior

Fonte: ABNT NBR 7880:2001

46
Figura 23 – Grade – Painel Inferior

Fonte: ABNT NBR 7880:2001.

47
3.2 NOÇÕES DE CÁLCULO ESTRUTURAL DE GRADES

A norma ABNT NBR 11213:2001, itens 4.2 e 4.3, define as seguintes cargas a serem
consideradas no projeto das grades:

Carga Normal

• Carga de entupimento: Carga de projeto, equivalente a uma carga hidrostática


uniformemente distribuída sobre a grade quando parcialmente obstruída. Na
ausência de valores específicos, deve ser adotada carga de projeto de 30 KPa
(3,0 mca).

Carga Ocasional

• Impacto de corpos: O impacto de corpos flutuantes ou imersos contra as barras


da grade deve ser considerado em função das condições locais.

O item 5.3 da norma ABNT NBR 11213:2001 diz que as tensões e deformações
admissíveis devem ser consideradas conforme norma de cálculo de comportas
hidráulicas NBR 8883.

Quanto ao cálculo estrutural, as grades devem ser dimensionadas estruturalmente,


verificando-se:

a) Capacidade da estrutura da grade de resistir ao carregamento imposto pela


carga de entupimento e de impacto, e da peça fixa de apoio da grade de
transmitir ao concreto uma pressão dentro dos valores admissíveis.

b) Verificar que as barras verticais não estarão sujeitas a vibrações que possam
levar à ruptura.

48
A verificação da grade quanto à vibração deve ser baseada no item 5.6 da Norma
ABNT NBR 11213:2001.

A água escoando pela grade totalmente limpa produz uma perda de carga
insignificante.

Os principais parâmetros de influência na perda de carga são:

• Espessura(s) da barra;
• O espaço livre (b) entre barras;
• A forma da seção transversal da barra vertical;
• A proporção da área ocupada pelas partes metálicas da grade sobre a área
total;
• O ângulo de inclinação α da grade com a vertical.

O método de cálculo de perda de carga mais utilizado é o de Kirschmer, conforme o


item 5.7 da Norma ABNT NBR 11213:2001.

3.3 MATERIAIS

O material mais usado nas construções de painéis de grade é o aço ASTM A 36.
Esse material tem tensão de escoamento de 250 MPa e boas características de
soldabilidade.

O uso de materiais mais resistentes só se justifica se houver uma redução


significativa de peso que justifique o maior custo do material mais resistente.
Usam-se chapas para fabricação das peças da estrutura.

Para as barras verticais, recomenda-se o uso de barras laminadas de seção

49
retangular em material ASTM A 36 ou SAE 1020.
As peças fixas de guia lateral devem ser construídas de ASTM A 36. Recomenda-se
a colocação de uma tira de inox para apoio e deslizamento das cabeceiras sobre as
guias laterais.

Os patins de guia lateral devem ser de aço carbono ASTM A 36, revestidos de
bronze e fixados ao painel com parafusos de aço inoxidável.

Os painéis de grade e as partes da peça fixa devem ser pintados conforme esquema
4.1.5 da norma ABNT NBR 11389:1990. Esse esquema requer a pintura com 2
demãos de 180 micra de epóxi alcatrão de hulha. Atualmente o alcatrão de hulha
vem sendo substituído por uma tinta epóxi sem alcatrão (tar free).

As partes embutidas no concreto e de aço inoxidável não devem ser pintadas.

Deve haver previsão para limpeza periódica da grade, onde se acumulam detritos de
toda espécie, e principalmente folhas e plantas aquáticas.

Essa limpeza pode ser feita manualmente com auxílio de ancinho, ou


mecanicamente através de máquina limpa-grades.

3.4 NORMAS EXISTENTES

ABNT NBR 11213:2001- Grade de tomada d'água para instalação hidráulica –


Cálculo.
ABNT NBR 7880:2001- Grade de tomada d'água para instalação hidráulica –
Terminologia.
ABNT NBR 13160:1994- Grade fixa de barras curvas, com limpeza mecanizada.
ABNT NBR 13059:1993- Grade fixa de barras retas com limpeza mecanizada –
Especificação.
ABNT NBR 11885:1991- Grade de barras retas, de limpeza manual – Especificação.

50
ABNT NBR 12271:1991- Seleção de grade para pequenas centrais hidrelétricas
(PCH) – Procedimento.
ABNT NBR 11389:1990 - Sistemas de pintura para equipamentos e instalações de
usinas hidroelétricas ou termoelétricas – Especificação.

51
4. VÁLVULAS

As válvulas de grande porte são regidas pela norma NBR 9526:2012 e estão
classificadas em três classes:

• Válvulas de Bloqueio: operam totalmente abertas ou totalmente


fechadas;

• Válvulas Reguladoras de Vazão ou de Pressão: têm a capacidade


de operar em diversas posições, limitando o fluxo do líquido, para obter
uma determinada pressão ou vazão;

• Válvulas Dispersoras de Energia: destinadas a operar em posições


intermediárias de abertura com a finalidade de dissipar a energia do
fluido.

As válvulas utilizadas em barragens de hidrelétricas são dispositivos destinados a


estabelecer, controlar ou interromper o fluxo nos escoamentos. Elas visam o controle
direto da admissão de água às turbinas, permitindo isolá-las para manutenção e
reparos ou também em caso de falha no funcionamento do grupo gerador. No caso
de falha do grupo gerador, as válvulas recebem o nome de válvulas de segurança.

As falhas que podem ocorrer no funcionamento do grupo gerador de uma usina


hidrelétrica são:

• Falha mecânica (temperatura dos mancais).


• Falha elétrica (sobretensão, queda do disjuntor).
• Falha hidráulica (quebra de pino de ruptura, sobrevelocidade,
pressão do óleo da regulação).

52
Dependendo do arranjo das passagens hidráulicas, poderá ser necessária a
instalação de válvula de segurança, logo a montante da entrada da caixa espiral da
turbina.

A válvula de segurança é conveniente principalmente em casos de:

a) Existência de uma única tubulação de adução, dividindo-se em duas ou


mais para alimentação de diversas turbinas, quando, então, a válvula
de segurança, individual para cada turbina, poderá controlar o
fechamento de cada uma delas, sem interferência com as demais;

b) Existência de uma tubulação de adução muito longa, quando, então, a


válvula de segurança cortará o fluxo próximo da turbina, evitando que
uma grande massa d’água passe pela turbina, após a rejeição de
carga.

A válvula de segurança assume as funções da comporta de emergência da tomada


d’água, interrompendo o fluxo de água e protegendo a unidade, em caso de falha do
mecanismo de controle da turbina. Além disso, em caso de manutenção, o
fechamento da válvula permite o esvaziamento da caixa espiral e do tubo de sucção,
nesse caso havendo comporta ensecadeira de jusante.

Em geral, são abertas por meio de cilindro hidráulico com pressão do próprio
regulador de velocidade. O fechamento, por razões de segurança, é efetuado por
contrapeso ligado diretamente ao eixo do disco da válvula, após a abertura de uma
válvula solenoide, liberando o óleo da parte inferior do cilindro hidráulico.

Para pequenos diâmetros e pressões não elevadas, pode-se efetuar a abertura da


válvula por meio de volante. Nesse caso, o fechamento de emergência fica
prejudicado, pois precisará também de ação manual.

53
Existe uma grande variedade de válvulas, cuja escolha depende não apenas da
natureza da operação a realizar em um circuito de geração, mas também da vazão,
da pressão, temperatura a que são submetidas as válvulas e da forma de
acionamento necessário ou pretendido para operá-las.

As principais válvulas empregadas nas usinas hidrelétricas que podem ser


instaladas desde a casa de força até a entrada da turbina são válvulas de gaveta,
válvulas borboleta, válvulas anulares, válvulas esféricas, válvulas de cone e válvulas
para dissipação de energia.

4.1 TIPOS DE VÁLVULAS

4.1.1. Válvulas Borboletas


As válvulas borboletas têm sua abertura feita por servomotor e o fechamento por
contrapeso ou servomotor, ou combinado, que podem ser:

• Servomotor simples efeito ou duplo efeito.


• Servomotor duplo efeito alimentado pela água do conduto.
• Servomotor duplo efeito c/óleo abertura e água fechamento.

Normalmente, o tempo de fechamento desse tipo de válvula está entre 20-30


segundos. A abertura da válvula deve ser feita com pressões equilibradas dos dois
lados do obturador.

Essas válvulas são projetadas para fechar cortando o máximo fluxo de água.

A manutenção das válvulas borboletas é feita abaixando a comporta a montante ou


pela junta de manutenção da própria válvula, quando existente.

As válvulas borboletas podem ter o disco ou obturador plano ou treliçado (Figura


27).

54
Figura 24 – Válvula borboleta: (a) disco plano e (b) disco biplano
(a) (b)

Fonte: Alstom
O corpo da válvula borboleta pode ser bipartido ou inteiriço (Figuras 28 e 29).
Quando o corpo é bipartido o obturador é inteiriço. Quando o corpo é inteiriço o
obturador deve ser desmontável (Figura 30).
Figura 25 – Válvula borboleta: (a) corpo bipartido e (b) obturador inteiriço
(a) (b)

Fonte: Alstom

55
Figura 26– Válvula borboleta: Tarbella 7530 mm de diâmetro

Fonte: Alstom
Figura 27– Válvula borboleta: (a) corpo inteiriço e (b) obturador desmontável
(a) (b)

Fonte: Alstom

56
4.1.2. Válvulas Esféricas

As válvulas esféricas fabricadas pela Alstom são classificadas em três diferentes


tipos (Figura 31):

• Tipo Idikki : possui um corpo segmentado em duas partes, porém as


partes são simétricas. O obturador pode ser uma peça única.

• Tipo Dubrovnik: possui um corpo em duas partes, montados com


flanges e tirantes roscados. As partes do corpo não são simétricas. O
obturador deve ter munhões desmontáveis.

• Tipo Bissorte: usada para as quedas mais altas. Constituída de um


corpo interiço, feito em uma única peça, sem flanges. O obturador é montado
dentro do corpo da válvula.

Figura 28 – Classificação das válvulas esféricas

Fonte: Alstom

A abertura da válvula feita por servomotor e o fechamento por contrapeso ou


servomotor, ou combinado.

57
O tempo de fechamento está entre 20-30 segundos. A abertura da válvula deve ser
feita com pressões equilibradas dos dois lados do obturador.

A manutenção das válvulas esféricas é feita abaixando uma comporta a montante ou


pela junta de manutenção da própria válvula, quando existente.

4.1.3 Válvula Dispersora

Quando instaladas nas saídas dos condutos de descarga, as válvulas convencionais


lançam seus jatos com muita energia cinética, podendo provocar erosão a jusante.
As válvulas de jato divergente dissipam parte da energia, por meio da dispersão do
escoamento sobre uma grande área. Consiste em um cilindro fixo, envolto por outro
cilindro móvel. No cilindro fixo, adapta-se um cone com o vértice voltado para o lado
de montante. A vazão é regulada pelas aberturas do cilindro móvel. Os diâmetros
para esse tipo de válvula variam de 60 a 240 cm.

Figura 29 – Esquema da válvula dispersora

Fonte: Alstom

58
Figura 30 – Válvula de jato divergente da UHE de Reza Sha Kabir, no Irã

Fonte: Alstom

4.2 NORMAS EXISTENTES

• ABNT NBR 9526:1986 – Válvulas hidráulicas de grande porte – Classificação

• ABNT NBR 8609:1984 – Seleção de válvulas hidráulicas de grande porte –


Procedimento

59
5 TURBINAS

Turbinas são máquinas hidráulicas também conhecidas como máquina


motrizes,projetadas especificamente para transformar a energia hidráulica (a energia
gravitacional e a energia cinética) de um fluxo de água em energia mecânica.

As primeiras turbinas hidráulicas de que se tem notícia foram construídas no século


3 ou 4 DC, para acionar moinhos. As primeiras turbinas modernas foram
desenvolvidas na França e Inglaterra, no século 18, para substituir as rodas de pás
como fonte de energia mecânica para fábricas. Nessa aplicação, as turbinas
acionavam diretamente as máquinas de fábricas próximas, através de longos eixos
ou correias. Desde o final do século 19 elas são usadas quase que exclusivamente
para acionar geradores elétricos — quer isoladamente, em fazendas e outros locais
isolados, quer agrupadas em usinas ou centrais hidrelétricas.

Em toda turbina a água entra vinda de um reservatório ou canal de nível mais


elevado (e portanto com maior energia) e escapa para um canal de nível mais baixo
(e portanto com menor energia). A água de entrada é levada através de um duto
fechado até um conjunto de lâminas curvas (palhetas),bocais ou injectores que
transferem a energia da água para um rotor. Em consequência a pressão e/ou a
velocidade da água na saída são menores do que na entrada. A água que sai da
turbina é conduzida por um duto, o tubo de sucção, até o reservatório ou canal
inferior.

Algumas palhetas são estáticas, outras são fixas no rotor; ambas podem ser
ajustáveis para controlar o fluxo e a potência gerada ou (para geração de energia
elétrica) a velocidade de rotação. O rotor é suportado axialmente por mancais e
radialmente por mancais de guia. O tubo de sucção geralmente tem diâmetro final
maior que o inicial para reduzir a velocidade da água antes de despejá-la no canal
inferior.

A potência P que uma turbina pode extrair do fluxo de água será proporcional ao
produto da vazão volumétrica (Q) e da queda d'água disponível (H), segundo a

60
fórmula P= ρQHgη; onde ρ é a densidade da água, g é a aceleração da gravidade, e
η é a eficiência da turbina, a fração (entre 0 e 1) da energia potencial e cinética da
água que é convertida em trabalho mecânico de rotação do eixo ao passar pela
turbina. As principais causas da baixa eficiência nas turbinas são as perdas
hidráulicas (a energia cinética da água na saída da turbina) e as perdas mecânicas
(atrito nos mancais, que converte parte da energia extraída da água em calor). A
eficiência típica de uma turbina moderna varia entre 85% e 95%, dependendo da
vazão de água e da queda. Para maximizar a eficiência, grandes turbinas hidráulicas
são em geral projetadas especificamente para as condições de queda e vazão onde
serão instaladas.

5.1 Tipos

Segundo seu funcionamento as turbinas podem ser classificadas como de ação ou


impulsão (Pelton) ou reação (Francis, Kaplan, Bulbo).Cada um destes tipos tem
suas vantagens para certas combinações de altura de queda e vazão (Figura XX).
As turbinas podem também ser montadas com o eixo no sentido vertical ou
horizontal.

Figura 31 – Exemplo de quadro para escolha do tipo de turbina

Fonte: Nota do autor.

61
• Pelton

Nas turbinas Pelton não há palhetas estáticas e sim um conjunto de bocais ou


injectores, cada qual com uma agulha móvel (semelhante a uma válvula) para
controlar a vazão. Nessas turbinas, a pressão da água é primeiro transformada em
energia cinética pelo bocal, que acelera a água até uma alta velocidade. O jato
d'água é dirigido para uma série de conchas curvas montadas em torno do rotor.

Turbinas Pelton trabalham com velocidades de rotação mais alta que os outros tipos.
Elas são adequadas para operar em grandes quedas com menores vazões.

Figura 32 – Turbina Pelton

Fonte: faeitch2011.wordpress.com e meusite.mackenzie.com.br

• Francis

As turbinas Francis possuem um rotor na forma de um cilindro vazado com a parede


lateral formada por palhetas curvas. A água de entrada é dirigida por um tubo em
espiral e um sistema de palhetas estáticas que a forçam a atravessar radialmente a
parede do rotor, empurrando as palhetas deste, logo sendo uma turbian de reação. A
água sai pela base do rotor praticamente com pressão e velocidade muito reduzidas.

62
Figura 33 – Turbina Francis

Fonte: e-ducativa.catedu.es e it.wikipedia.org

Turbinas Francis são adequadas para operar entre quedas de 40 m até 400 m. A
Usina hidrelétrica de Itaipu assim como a Usina hidrelétrica de Tucuruí, Furnas e
outras no Brasil funcionam com turbinas tipo Francis com cerca de 100 m de queda
d'água.

• Kaplan

A única diferença entre as turbinas Kaplan e Francis é o rotor, que se assemelha a


um propulsor de navio. O ângulo de inclinação das pás é controlado por pistões
hidráulicos, normalmente em conjunto com as palhetas de distribuição.

Figura 34 – Turbina Kaplan

Fonte: Eletrowiki.espbs.net e www.exatecno.net

63
Turbinas Kaplan são adequadas para operar em quedas até 60 m. Elas apresentam
eficiência constante em ampla faixa de operação. A Usina Hidrelétrica de Três
Marias utiliza turbina Kaplan.

• Bulbo

A turbina bulbo (ou bolbo) é uma turbina Kaplan conectada diretamente pelo eixo a
um gerador, que é envolto por uma cápsula hermética. O conjunto fica imerso no
fluxo d'água.

Turbinas bulbo são geralmente usadas em quedas abaixo de 20 m. A maior unidade


desse tipo, com um rotor de 6,70 m de diâmetro e 65,8 MW de potência, está
instalada na usina de Tadami, Japão, com uma queda de 19,8 m. Deverá ser
ultrapassada pelas turbinas das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, com
73 MW e 75 MW, respectivamente.

Figura 35 – Turbina Bulbo

Fonte: blogdomariobento.blogspot.com e equipo2fae.wordpress.com

64
5.2 MANUTENÇAÕ DE TURBINAS

As turbinas são equipamento hidromecânicos ligados à finalidade para qual a


barragem foi construída, por exemplo, geração de energia elétrica. Portanto, sua
correta operação e manutenção não têm relação direta com a segurança da
barragem. A manutenção desses equipamentos é normalmente orientada para o
negócio, ou seja, tenta-se sempre maximizar o tempo de funcionamento das turbinas
e sua vida útil de maneira a assim aumentar também a geração de receita da usina.

De qualquer forma, o colapso de turbinas, apesar de raro pode gerar danos para
além de meramente econômicos. É o caso do acidente ocorrido na hidrelétrica
Russa de Sayano-Shushenskaya, em 17 de agosto de 2009, quando cerca de 76
pessoas morreram. Ao que consta, uma falha mecânica deve ter causado um
fechamento repentino de palhetas de distribuição e o golpe de aríete provocado a
ejeção de todo o conjunto. A falha elétrica de uma turbina provocou um efeito em
cadeia nas demais aumentnado a procporção dos danos. A casa de força foi
completamente inundada.

Figura 36– Vista geral da barragem

Fonte: Nota do autor.

65
Figura 37– Rotor do gerador que sofreu colapso.

Fonte: Nota do autor.


Figura 38 – Aspecto da casa de força antes da ocorrência

Fonte: Nota do autor.

66
Figura 39– Aspecto da casa de força depois do acidente

Fonte: Nota do autor.


Figura 40 – geradores 7 e 9 destruídos

Fonte: Nota do autor.

67
Figura 41 – Parte da cassa de força destruída

Fonte: Nota do autor.

68
6 BOMBAS

Ao contrários de turbinas, bombas são equipamentos hidromecânicos que conver-


tem energia mecânica em energia cinética para elevar fluidos. São equipamentos de
grande utilizada para o homem e têm seus dispositivos mais rudimentares inventa-
dos e utilizados desde a antiguidade.

Atualmente, são normalmente equipamentos mecânicos acionados por motores elé-


tricos ou a combustão que têm dois princípios de funcionamento:

• Bombas de deslocamento positivo


• Bombas de deslocamento não-positivo ou cinéticas.
Apricipal diferença no funcionamento das mesmas é que a de deslocamento positivo
“isola” a massa de fluido que irá recalcar, enquanto a cinética tem funcionamento
constantes, normalmente rotativas.

6.1 Manutenção de Bombas


Nas barragens, de maneira similar às turbinas, as bombas têm função operativa, ou
seja, não têm relação com a segurança da estrutura. Normalmente, seu emprego
está liga ao abastecimento de água advindo do reservatório, ou no esgotamento de
estrutura como casa de força e galerias.
Figura 42 – Bomba hidráulica

Fonte: Nota do autor.

69
Por esse motivo, sua manutenção é orientada também para o funcionamento do ne-
gócio e não necessariamente à segurança da barragem. Falhas em bombas empre-
gadas em barragens podem gerar transtornos severos como desabastecimento de
populações ou mesmo a inundação de estruturas e edifícios colocando em risco a
vida dos operadores.

70
REFERÊNCIAS

ERBISTE, PAULO C. F. Comportas Hidráulicas. Rio de Janeiro: Editora


Interciência, 2002.

LEWIN, JACK LEWIN. Hydraulic Gates and Valves in free surface flow and
submerged outlets. Editora Thomas Telford – 1995.

RODRIGUES, BENEDITO S. Equipamentos Hidromecânicos para PCHs:


Comportas e Grades. Curso de Especialização em PCHs – CERPCH-UNIFEI,
Itajubá 2009.

TECHNICAL STANDARDS FOR GATES AND PENSTOCKS – Hydraulic Gate and


Penstock Association. Edição 1986

71
CURSO
SEGURANÇA DE BARRAGENS

1
MÓDULO I – BARRAGENS: ASPECTOS
LEGAIS, TÉCNICOS E SÓCIOAMBIENTAIS

UNIDADE 8: ASPECTOS GEOLÓGICOS E


GEOTÉCNICOS

2
FICHA TÉCNICA
Realização:

EQUIPE TÉCNICA

Euzébio José Gil Glauco Gonçalves Dias


Elaboração de conteúdo Revisor Técnico Geral

Etore Funchal de Faria


Alexandre Anderáos
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico ANA

Fabio Luiz Willrich


Carlos Leonardi
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Josiele Patias
Cesar Eduardo b. Pimentel
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico ANA

Josimar Alves de Oliveira


Claudio Neumann
Revisor técnico ANA
Revisor técnico Itaipu

Ligia Maria Nascimento de


Claudio Osako Araújo
Revisor técnico Itaipu Revisora técnica ANA

Silvia Frazão Matos


Dimilson Pinto Coelho
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Revisão Ortográfica

ICBA – Centro de Línguas


www.cursodeidiomasicba.com.br

Este obra foi licenciada sob uma Licença .Creative Commons Atribuição-
NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada

3
CURRICULO RESUMIDO

Prof: Euzébio José Gil

Euzébio José Gil, geólogo em 1972,


mestrado em 1976 e doutorado em 2001
pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). Geólogo de engenharia,
contratado por diversas empresas como
Proenge Engenharia; Internacional de
Engenharia e Furnas Centrais Elétricas.
Desenvolveu estudos e investigações
geológico-geotécnicos para projeto e
obras de infraestrutura.
Atuou em rodovias, ferrovias, barragens, indústrias, portos, aeroportos, irrigação,
mapeamentos, materiais naturais de construção, na programação e
acompanhamento das investigações e ensaios de campo e laboratório.

Tem feito consultorias para diversas empresas de engenharia entre as quais


Geomecânica, Concremat, LPS; Odebrecht; COBA; PROMON; MRS Ambiental;
FURNAS; MMX; VALE; TECNOSOLO; Fonseca & Mercadante; condomínios e
prefeituras.

Participou e publicou mais de uma dezena de trabalhos em congressos e


seminários. É atualmente professor da UFRRJ, Conselheiro do CREA-RJ,
Presidente da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia – Núcleo Regional
do Rio de Janeiro, sócio da Sociedade Brasileira de Geologia e do Comitê
Brasileiro de Barragens onde foi diretor na gestão 2008-2011

4
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS.............................................................................................. 09
LISTA DE TABELAS............................................................................................. 10
1 NOÇÕES BÁSICAS DE GEOLOGIA E GEOTECNIA....................................... 12
1. 1 Litologia........................................................................................................... 13
1.2 Estruturas......................................................................................................... 14
1.3 Solos................................................................................................................ 16
1.4 Sismicidade...................................................................................................... 18
1.5 Estanqueidade …............................................................................................ 19
1.6 Estabilidade de Taludes................................................................................... 20
1.7 Conclusões...................................................................................................... 22
2 DETERMINAÇÃO EXPEDITA DAS CARACTERÍSTICAS DOS
MATERIAIS........................................................................................................... 23
2.1 Caracterização de Maciços Rochosos e Solos................................................ 23
2.1.1 Classe R1 ou Rocha Sã (RS)....................................................................... 23
2.1.2 Classe R2 ou Rocha Alterada Dura (RAD)................................................... 23
2.1.3 Classe R3 ou Rocha Alterada Mole (RAM)................................................... 24
2.1.4 Classe S2 - Solo de Alteração (SA) ou Saprolito.......................................... 24
2.1.5 Classe S1 ou Solo Eluvial (SE)..................................................................... 25
2.2 Conclusões...................................................................................................... 29
3 PROSPECÇÕES GEOLÓGICAS....................................................................... 30
3.1 Consultas a Bibliografia Disponível................................................................. 30
3.2 Reconhecimento de Campo............................................................................ 30
3.3 Programação de Investigação......................................................................... 31
3.4 Critérios de Projeto.......................................................................................... 33
3.5 Produtos........................................................................................................... 33
3.6 Sismicidade...................................................................................................... 34
3.7 Estanqueidade................................................................................................. 34
3.8 Estabilidade de Taludes................................................................................... 35
3.9 Áreas com Requerimentos para Pesquisa Mineral.......................................... 35
3.10 Assoreamento................................................................................................ 35

5
3.11 Síntese........................................................................................................... 36
4 INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS................................................................... 37
4.1 Introdução........................................................................................................ 37
4.2 Investigações Geofísicas................................................................................. 37
4.2.1 Georadar ….................................................................................................. 37
4.2.2 Sísmica de Refração..................................................................................... 38
4.2.3 Eletroresistividade......................................................................................... 39
4.3 Sondagens Mecânicas..................................................................................... 40
4.3.1 Sondagem a Trado....................................................................................... 40
4.3.2 Sondagem à Percussão …........................................................................... 41
4.3.3 Sondagem Rotativa...................................................................................... 42
4.3.4 Amostragem Integral..................................................................................... 44
4.3.5 Outros Tipos de Investigações e Ensaios de Campo em Sondagens
Mecânicas.............................................................................................................. 45
4.4 Conclusões …................................................................................................. 46
4.5 Síntese............................................................................................................. 46
5 NOÇÕES DE HIDROGEOLOGIA...................................................................... 47
5.1 Introdução........................................................................................................ 47
5.2 Infiltração e Escoamento Subterrâneo............................................................. 47
5.3 Propriedades Hidráulicas................................................................................. 49
5.4 Regimes de Fluxo............................................................................................ 50
5.5 Escoamento em Meios Fraturados …............................................................. 51
5.6 Tipos de Aquíferos …....................................................................................... 52
5.6.1 Aquíferos ….................................................................................................. 53
5.6.2 Aquicludes..................................................................................................... 53
5.6.3 Aquitardos..................................................................................................... 53
5.6.4 Aquífugos...................................................................................................... 54
5.7 Ações Mecânicas e Fenômenos...................................................................... 54
5.7.1 Subpressões................................................................................................. 54
5.7.2 Efeitos do Rebaixamento do Nível d´Água Subterrâneo.............................. 55
5.7.3 Força de Percolação..................................................................................... 56

6
5.8 Conclusões...................................................................................................... 57
6 FLUXO HÍDRICO EM MACIÇOS DE TERRA E EM FUNDAÇÕES.................. 59
6.1 Permeabilidade da Fundação.......................................................................... 59
6.2 Percolação em Maciços de terra..................................................................... 60
6.3 Permeabilidade e Lei de Darcy........................................................................ 60
6.4 Redes de Fluxo …........................................................................................... 62
6.5 Histórico do Caso de Rompimento da Barragem de Pampulha...................... 64
6.6 Síntese............................................................................................................. 65
7 – NOÇÕES DE MECÂNICA DAS ROCHAS...................................................... 66
7.1 Introdução........................................................................................................ 66
7.2 Fundações....................................................................................................... 66
7.3 Taludes............................................................................................................. 68
7.4 Túneis ….......................................................................................................... 68
7.5. Poço …........................................................................................................... 71
7.6 Síntese............................................................................................................. 72
8 ESPECIFICAÇÃO E CONTROLE DE COMPACTAÇÃO DE
ATERROS.............................................................................................................. 73
8.1 Introdução....................................................................................................... 73
8.2 Compactação................................................................................................... 73
8.3 Controle de Compactação............................................................................... 74
8.4 Especificação e controle de aterros................................................................. 75
8.5 Principais Tipos de Ocorrências Indesejáveis................................................. 77
8.6 Síntese............................................................................................................. 78
9 CAPACIDADE DE SUPORTE DOS MACIÇOS E ATERROS (COMO
ESPECIFICAR E COMO MEDIR)......................................................................... 79
9.1 Introdução........................................................................................................ 79
9.2 Deformações Devidas a Carregamentos Verticais.......................................... 79
9.3 Ensaios para Determinação da Deformabilidade dos Solos........................... 79
9.4 Ensaios para Definir a Capacidade de Suporte do Solo.................................. 81
9.5 Capacidade de Suporte dos Maciços e Aterros............................................... 82
9.6 Síntese............................................................................................................. 83

7
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 84

8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Litologias, Estruturas e Solos.
Figura 2 – Litologias: Calcário, Granito, Gnaisse e Filito.
Figura 3 – Estruturas Planares Favoráveis e Desfavoráveis
Figura 4 – Cortina de Injeção de Calda de Cimento.
Figura 5 – Solos – Tálus, Solos Coluvionar, Solo Residual e Solo Aluvionar
Figura 6 – Estanqueidade – Cortina de Vedação e Cortina Diafragma
Figura 7 - Mapa Epicentral da Sismicidade Brasileira com Magnitudes Maiores ou
iguais que 3.0 Mb
Figura 8 – Estabilidade de Talude – Rebaixamento Rápido do Nível D'água.
Figura 9 – Classificação do Maciço Quanto ao Perfil de Intemperismo
Figura 10 -Inventário de Eixos de Barragens.
Figura 11 – Métodos de Investigação Geotécnica. Método Indireto (Caminhamento
Elétrico-Geofísica) e Método Direto (sondagem Mecânica)
Figura 12 – Diagrama de Um Sistema Típico Gpr
Figura 13 – Diagrama de Um Sistema Típico De Gpr
Figura 14 – Diagrama com Esquema de Arranjo dos Eletrodos do Eletroresistímetro.
Figura 15 – Trados Manuais(esquerda) e Trado Mecânico (direita)
Figura 16 – Sondagem à Percussão
Figura 17 – Esquema do Equipamento de Sondagem Rotativa.
Figura 18 – Amostragem Integral
Figura 19 - Mapa Potenciométrico em Um Aquífero Livre.
Figura 20- Regimes de Fluxo – Variação em Função da Velocidade (v) do Gradiente
Hidráulico (i)
Figura 21 – Tipos de Aquíferos.
Figura 22 – Permeâmetro para Execução do Ensaio De Darcy.
Figura 23 – Experiência Clássica de Fluxo D’água em Uma Amostra de Areia. (Lei
De Darcy).
Figura 24 - Regimes de Fluxo – Variação em Função da Velocidade (v) do Gradiente
Hidráulico (i).
Figura 25 – Processo Erosivo de “piping” Na Barragem da Pampulha, em 1954.

9
Figura 26 – Fundação em Maciço Rochoso. Notar Fraturas no Maciço com Mergulho
a Jusante.
Figura 27- Talude com Indicação do NA. Fraturas com Mergulho a Jusante
Figura 28 – Ensaio de Compressão Uniaxial.
Figura 29 – Ensaio de Compressão Triaxial Em Rocha.
Figura 30 - Maciço Rochoso com fraturas por onde a água pode percolar.
Figura 31 - Ensaio de Compressão Edométrica
Figura 32 - Ensaio de Compressão Edométrica

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Classificação do Maciço quanto ao Grau de Coerência


Tabela 2 – Classificação do Maciço quanto ao Grau de Fraturamento

10
Prezado Aluno,

no decorrer desta unidade você deverá desenvolver competência para:

Examinar as características geológicas e geotécnicas, relacionando-as com as


medidas de segurança.

11
1 NOÇÕES BÁSICAS DE GEOLOGIA E GEOTECNIA

Sendo a Geologia a ciência que estuda a origem, a formação, a estrutura e a


composição da crosta terrestre e a Geotecnia um ramo dedicado à interferência da
geologia com as obras de engenharia, o conhecimento dessas disciplinas é de
fundamental importância para o projeto, construção e manutenção da segurança de
barragens. Em um aproveitamento de barragem o conhecimento de geologia
envolve informações das litologias, estruturas e coberturas de solo, conforme pode
ser observado na figura 1.

Figura 1 – Litologias, Estruturas e Solos.

Fonte: Nota do autor.

Adicionalmente informações relativas à sismicidade, estanqueidade e estabilidade


de taludes marginais ao lago são também importantes para a segurança da obra.

Essas informações devem constar nos estudos e serem registradas durante a


escavação para implantação das obras devendo ser fotografadas, descritas e
mapeadas em escala adequada. Para um estudo adequado das características
geológicas e geotécnicas que interessam ao empreendimento é necessário o
conhecimento prévio da geologia da região bem como da topografia para que sejam

12
adotados tipos de barragens e arranjo das estruturas compatíveis com a vocação do
sítio.

1.1 Litologia
Merecem cuidados as rochas carbonáticas (sedimentar) que podem ser
parcialmente dissolvidas facilitando a percolação e ampliando aberturas e
consequentemente aumentando a permeabilidade pelas fundações e ombreiras.
Rochas como granitos, gnaisses, xistos, basaltos geralmente indicam boas
características geomecânicas e consequente bom comportamento quanto às
fundações e baixa permeabilidade (Figura 2).

Figura 2 – Litologias: Calcário, Granito, Gnaisse e Filito.

Fonte: Nota do autor.

Rochas sedimentares como arenitos e siltitos podem apresentar permeabilidade


elevada exigindo tratamentos para reduzir a permeabilidade e percolação pelas
fundações e ombreiras. Os filitos, muitas vezes com presença de quartzitos, são
rochas com baixas características geomecânicas e podem se apresentar friáveis e
porosos.

Essas rochas não raramente apresentam sulfetos em sua matriz o que provoca

13
fragmentação mecânica por expansibilidade destes minerais quando submetidos a
ciclos de umedecimento e secagem. Há níveis de ocorrência de sulfetos nas rochas
xistosas que exigem o tratamento da interface concreto rocha para evitar a
reatividade do sulfeto com o álcali do cimento.

Da mesma forma, a presença de sílica livre em rochas ácidas pode exigir a adoção
de dope para evitar a reação álcali-agregado. A presença de minerais expansivos,
como nontronita, pode ocorrer com maior frequência em basaltos. Estas rochas
quando usadas como enrocamento podem apresentar fragmentação precoce e
fragmentação mecânica por conta dos ciclos de secagem e umedecimento a que
estão expostas e aceleradas pela insolação e mudança de temperatura noturna
levando à rápida deteriorização.

Outros cuidados ficam por conta da faixa de transição solo-rocha e da camada de


solo superficial que deve ser contemplada nos estudos com solução adequada de
projeto.

1.2 Estruturas
A geometria mais favorável das estruturas é a transversal ao leito do rio com
mergulho das camadas para montante. E em relação às ombreiras as estruturas
mais favoráveis são as que mergulham para dentro do maciço rochoso e para
montante. Essas condições favorecem a estabilidade e a estanqueidade das
fundações da barragem e estruturas hidráulicas.

Rochas com estruturas maciças apresentam melhores qualidades como granito,


gnaisse, basalto; rochas laminadas ou mesmo com foliações expressivas constituem
estruturas desfavoráveis para estabilidade e para percolação de águas pelas
ombreiras ou fundações. Os fraturamentos das rochas também são estruturas
planares que condicionam a qualidade do maciço rochoso especialmente quando
muito frequentes (intensos) e persistentes (longos) e com abertura, alteração e ou
preenchimento. Essa condição deverá exigir tratamento visando melhorar a

14
estanqueidade da fundação e ombreiras bem como a consolidação do maciço
rochoso (Figura 3).

Figura 3 – Estruturas Planares Favoráveis e Desfavoráveis

Fonte: Nota do autor.

As falhas, embora de ocorrência mais rara que os fraturamentos, podem apresentar


faixas mais amplas de rochas alteradas e fraturas no maciço rochoso encaixante.
Elas apresentam geralmente baixas características geomecânicas, podendo
constituir zonas preferenciais de percolação de água pelas fundações e ombreiras
da barragem. O tratamento no maciço rochoso da fundação e ombreiras pode ser
feito através de uma cortina de injeção de calda de cimento. (Figura 4).

15
Figura 4 – Cortina de Injeção de Calda de Cimento.

Fonte: Nota do autor.

1.3 Solos
A presença de solo de cobertura do maciço rochoso constitui um obstáculo para a
implantação das estruturas hidráulicas. Essa cobertura de solo deve ser
adequadamente caracterizada quanto a sua origem – tálus, solo coluvionar, solo
residual e solo aluvionar (Figura 5).

16
Figura 5 – Solos – Tálus, Solos Coluvionar, Solo Residual e Solo Aluvionar

Fonte: Nota do autor.

O tálus apresenta grande quantidade de fragmentos – blocos e matacões – na


matriz do solo constituindo material impróprio para fundação. Os solos coluvionares,
via de regra, são porosos e de baixa resistência mecânica sendo geralmente
removidos da fundação, embora, quando compactados, podem constituir bom
maciço terroso; o solo residual, como já foi pré-adensado, geralmente atende como
fundação de barragem de terra, devendo, porém, ser investigado para confirmar
suas características geomecânicas como fundação. Finalmente, o solo aluvionar,
raramente atende como material de fundação seja pela porosidade elevada,
presença de matéria orgânica ou baixa resistência.

Dependendo da sua origem, agregadas às informações quanto a sua textura,


espessura, resistência, presença de nível d´água, pode-se adotar solução adequada
quanto a sua remoção ou adotar o mesmo como fundação para barragem de terra
e/ou enrocamento. No estudo de arranjo as estruturas de concreto devem ser
posicionadas em locais de menor espessura de solo, devendo este material ser
escavado e as fundações ficarem assentadas em rocha de boa qualidade e tratadas
em subsuperfície.

17
Em caso de barragem de terra o solo de fundação deve ser investigado e sua
capacidade de carga e permeabilidade avaliada, podendo atender às exigências e
constituir a fundação da barragem do maciço terroso. O solo de fundação poderá
também exigir eventualmente remoção parcial da camada menos consistente ou
receber um tratamento da fundação.

Para solos - o tratamento para evitar a percolação pela fundação da barragem na


estanqueidade da seção - pode ser adotada solução de cortina de vedação com
argila adequadamente compactada (Figura 6). Para vedação em locais de maiores
espessuras de materiais não removidos sob a fundação pode-se adotar cortinas
diafragmas ou mantas de polietileno, que podem avançar com a vedação abaixo do
nível d´água. Este tipo de solução pode ser também denominado de trincheira de
vedação, ou ainda, cutoff.

Figura 6 – Estanqueidade – Cortina de Vedação e Cortina Diafragma

Fonte: Nota do autor

1.4 Sismicidade
Devem ser consultados os registros históricos de sismos ocorridos no entorno do
aproveitamento hidrelétrico num raio compatível com a dimensão da obra. No Brasil
os sismos raramente atingem magnitude superior a 5,0 e ocorrem até no máximo a

18
30 km de profundidade. Esse fato decorre do Brasil situar-se no interior de uma
grande placa tectônica (Figura 7).

Figura 7 - Mapa Epicentral da Sismicidade Brasileira com Magnitudes Maiores ou iguais que
3.0 mb

Fonte: Nota do autor.

No entanto, quando a essas condições naturais são impostas cargas adicionais de


coluna d´água, podem ocorrer sismos induzidos, especialmente para grandes áreas
alagadas e elevadas colunas d´água.

Essas exigências são maiores quando se trata de grandes áreas alagadas e no caso
de barragem de grande altura, que são fatores que predispostos às ocorrências de
sismos induzidos. A legislação é mais rigorosa para casos de barragens com altura
superior a 100 metros.

1.5 Estanqueidade
A estanqueidade pode estar ligada ao tipo de rocha e às estruturas desfavoráveis já
anteriormente abordadas. Acrescente-se também para eventuais necessidades de

19
impermeabilização da área do reservatório próxima ao barramento, podem exigir
que essas áreas sejam recobertas por um tapete de argila reduzindo a
permeabilidade e o gradiente hidráulico e aumentando o fator de segurança da obra.

Outras estruturas que podem surpreender, quando não detectados pelas


investigações, são a presença de antigos canais dos rios preenchidos por materiais
grosseiros e permeáveis; fendas alargadas por dissolução das bordas dos planos,
em caso de rochas calcárias; camadas de solos aluvionares com textura granular
grosseira, que exigem interceptação da percolação para evitar o carreamento de
finos da matriz dessa unidade de mapeamento; os tratamentos para esses casos
foram tratados nos itens Solos e Estruturas.

Adicionalmente, para reservatório que ocorrem rochas calcárias, essas áreas devem
ser mapeadas com ênfase na ocorrência de cavernas e dolinas. O enchimento do
reservatório poderá induzir a solapamentos por conta do balanço das águas,
acelerando o processo de reação da remoção e carreamento do carbonato das
fraturas das rochas cársticas, especialmente nas áreas marginais do reservatório.

1.6 Estabilidade de Taludes


Especialmente próximos às estruturas hidráulicas, os taludes marginais ao
reservatório devem ser mapeados com ênfase na extensão e inclinação da vertente.
Cuidados especiais devem ser tomados para terrenos com vertentes amplas com
inclinação acima de 30º. Esses terrenos, tendo sua base saturada conjugada com
eventuais chuvas torrenciais, podem colocar em risco a estabilidade das encostas
marginais.
Adicionalmente, para o caso de ocorrer o rebaixamento rápido do nível d´água, a
água do solo tende a acompanhar a direção desse movimento, em menor
velocidade, o que pode contribuir para desagregar a massa de solo e instabilidade
dos taludes (Figura 8).

20
Figura 9 – Estabilidade de Talude – Rebaixamento Rápido do Nível d'água.

Fonte: Nota do autor.

Em terrenos em solo devem ser levantadas eventuais erosões, sinais de


deslizamentos, como trincas, degrau de abatimento, inclinação de postes, muros
(Figura 8), prevendo-se adotar soluções para mitigar esses efeitos. Em terreno
rochoso, especialmente cortes remanescentes das escavações obrigatórias devem
ser mapeados em detalhes, com ênfase à estabilidade de taludes e com base nas
estruturas do maciço rochoso.

Normalmente intervenções leves e localizadas podem evitar efeitos desastrosos,


visto que essas intervenções aumentam o fator de segurança do conjunto. Devem
ser evitados em todo o entorno do lago que materiais sejam carreados das encostas
bem como evitado que as ondas criadas pelo reservatório provoquem erosões,
contribuindo para o assoreamento do reservatório.

1.7 Conclusões
Os estudos geológicos e geotécnicos devem estar integrados de forma que toda
informação sobre os tipos litológicos, estruturais e solos possam conduzir à definição
de parâmetros seguros das propriedades das unidades de mapeamento

21
caracterizadas pelas investigações geotécnicas nas diversas fases de estudo de um
aproveitamento hidrelétrico.

22
2 Determinação Expedita das Características dos Materiais

2.1 Caracterização de Maciços Rochosos e Solos


Na análise do perfil de intemperismo, pode ser tomada como base a classificação
proposta por Vaz (1996) a qual diferencia o perfil intempérico em cinco classes
conforme o grau de alteração e a resistência à escavação/perfuração.

Dessa forma os horizontes intempéricos podem ser separados, de baixo para cima,
em:
R1 - Rocha Sã (RS);
R2 - Rocha Alterada Dura (RAD);
R3 - Rocha Alterada Mole (RAM);
S2 - Solo de Alteração (SA);
S1 - Solo Eluvial (SE).

Uma breve descrição de cada uma das classes definida por Vaz (1996) é feita a
seguir:

2.1.1 Classe R1 ou Rocha Sã (RS)


Na classe RS os processos intempéricos são incipientes ou ausentes, os minerais
encontram-se praticamente sãos, com suas cores e resistência originais pouco
afetadas.

A distinção entre RAD e RS é feita através da alteração mineralógica já que os


processos de escavação, com explosivo e de perfuração, com rotativa, são os
mesmos para ambos os tipos. Em contratos de escavação, a RAD e a RS
constituem o material de 3a categoria e somente permitem a escavação por meio de
explosivos.

2.1.2 Classe R2 ou Rocha Alterada Dura (RAD)


Na RAD os minerais se apresentam levemente descoloridos, especialmente ao

23
longo das fraturas e superfícies expostas a percolação da água.

O limite de escavação com picareta ou escarificador, exigindo a utilização de


explosivo para o desmonte, marca a separação entre RAM e RAD.

2.1.3 Classe R3 ou Rocha Alterada Mole (RAM)


Na RAM os minerais da rocha se encontram fortemente alterados e descoloridos,
sendo incipiente a transformação para minerais de solo. O horizonte R3 é
denominado de rocha alterada mole, uma vez que somente pode ser escavado,
manualmente, com picareta e com o bico do martelo de geólogo, ou então,
mecanicamente, com escarificador.

Corresponde ao material de 2a categoria nos contratos de escavação. O horizonte de


RAM pode estar ausente nos perfis de intemperismo, especialmente em climas
semi-áridos onde as chuvas são escassas e predominam solos pouco evoluídos,
porém, quando o perfil de intemperismo é muito evoluído, a espessura de RAM pode
ser superior a 10m.

2.1.4 Classe S2 - Solo de Alteração (SA) ou Saprólito


O horizonte S2 é empregado para caracterizar a camada que se encontra ainda em
processo de alteração intempérica, onde os processos pedogenéticos são
incipientes ou muito limitados. Esse horizonte é também chamado de saprólito, solo
residual jovem ou solo de alteração.

No Solo de Alteração as estruturas eventualmente presentes na rocha, como


estratificações, xistosidade, fraturas, dobras e falhas, encontram-se preservadas,
significando que os planos constituídos por tais estruturas permanecem e são
reconhecíveis no solo.

A mineralogia dos solos de alteração é constituída por argilo-minerais neoformados


e minerais de rocha em processo de alteração química para argilo-minerais. Os

24
minerais resistatos, como o quartzo, encontram-se apenas mais fragmentados do
que na rocha.

2.1.5 Classe S1 ou Solo Eluvial (SE)


O horizonte S1 é conhecido como solo eluvial ou eluvionar (SE) e representa a
camada superior do solo residual cuja diferenciação é feita através dos processos
pedogenéticos. A ausência total de estruturas reliquiares, como a textura e as
estruturas da rocha matriz, confere maior homogeneidade e isotropia das
propriedades físicas do solo.

A mineralogia dos solos superficiais é constituída, essencialmente, pelo grupo dos


argilo-minerais e por minerais resistatos representados principalmente pelo quartzo.

A Figura 9 ilustra a diferenciação do perfil de intemperismo em classes conforme


proposto por Vaz (1996). Os horizontes de rocha definidos nos perfis de
escavabilidade (RS, RAD e RAM) também podem ser diferenciados em relação ao
grau de coerência, segundo a classificação proposta pela ABGE (1983) (Tabela 1).

Desse modo, os perfis litológicos foram diferenciados em cinco categorias (C1 a C5)
considerando a resistência das rochas ao golpe do martelo geológico, variando de
Extremamente Branda a Extremamente Resistente.

25
Figura 9 – Classificação do Maciço quanto ao Perfil de Intemperismo

Fonte: Vaz, 1996.

26
Tabela 1 – Classificação do Maciço quanto ao Grau de Coerência
SIGLA ROCHA CARACTERÍSTICA
Extremamente branda Marcada pela unha
Esmigalha-se apenas com o impacto da
C5
Muito branda ponta do martelo de geólogo; por ser
raspada por canivete.
Pode ser raspada por canivete com
C4 Rocha branda dificuldade; marcada por firme pancada
com ponta do martelo de geólogo.
Não pode ser raspada por canivete;
Medianamente
C3 amostra pode ser fraturada com um golpe
resistente
de martelo.
Amostras requerem mais de um golpe de
C2 Resistente
martelo para fraturamento.
Amostras requerem muitos golpes de
Muito resistente
martelo para fraturamento.
C1
Extremamente Amostra pode ser apenas lascada com o
resistente martelo de geólogo.
Fonte: ABGE, 1983.

O Grau de Fraturamento pode ser descrito, adotando-se os intervalos de frequência


de fraturas proposto pela ABGE (1983) (Tabela 2). O levantamento deve incluir a
tomada de medidas com bússola da orientação espacial dos planos e mergulhos das
principais famílias de fraturas presentes nos cortes.

O número de fraturas por metro é determinado segundo perfis de observação


transversais a direção do plano das fraturas. Também deve ser realizado o
levantamento das estruturas primárias (sedimentares) e secundárias (tectono-
metamórficas) existentes nos cortes observando a sua relação de mergulho e
influência na estabilidade dos taludes existentes.

Devem ser considerados os diferentes tipos de ruptura e movimentos de massa e


analisado sua interferência com a estabilidade dos taludes existentes, para posterior
projeção e previsão de soluções de contenção adequada.

27
Tabela 2 – Classificação do Maciço quanto ao Grau de Fraturamento
FRATURAMENT
ESPAÇAMENTO
GRAU DENOMINAÇÃO O Nº DE
ENTRE FRATURAS
FRATURAS/M
Muito pouco
F1 <1 ≥1m
fraturada
F2 Pouco fraturada 1a5 1m a 0,20m
Medianamente
F3 6 a 10 0,20m a 0,10m
fraturada
F4 Muito fraturada 11 a 20 0,10m a 0,05m
Extremamente
F5 > 20 ≤0,05m
fraturada
Fonte: ABGE, 1983

O levantamento permite a diferenciação das fraturas em famílias, considerando a


sua orientação espacial e sua abundância relativa por metro. O espaçamento médio
de cada família de fraturas também deve ser registrado. Os dados do levantamento
devem ser repassados para um Mapa Geológico-geotécnico relacionando as
famílias de estruturas mais penetrativas com a obra.

Adicionalmente as observações de campo devem atestar o comportamento da


alteração à medida que se aprofunda nos perfis, o quanto melhora o estado de
alteração dos minerais, o aumento da coerência e como as fraturas tendem a se
tornar menos persistentes e penetrantes e como a rocha se torna mais maciça
condicionando maior estabilidade ao conjunto.
Essa observação é importante visto que os cortes expostos naturalmente
apresentam geralmente mais baixas características geomecânicas (menor
qualidade) devido ao alívio das tensões que se manifestam mais próximas à
superfície e às intempéries a que estão submetidos. Portanto, eventuais cortes mais
profundos projetados, as rochas deverão se encontrar em melhores condições
geomecânicas e de estabilidade que as apresentadas na superfície.

28
2.2 Conclusões
Do exposto pode-se concluir que as estruturas hidráulicas poderão se posicionar
onde a rocha indicar classe R1 ou RS e RAD com os devidos tratamentos de
fundação e ombreiras, adequando o maciço rochoso à consolidação e
estanqueidade exigidas pelo projeto.

Os solos saprolíticos, via de regra, atendem à fundação para barragens de terra e


enrocamento devendo, contudo, serem investigados para confirmar sua capacidade
de suporte e permeabilidade que atendam aos critérios adotados no projeto.

O assentamento eventual de estruturas de concreto em locais de classe RAM


deverá exigir tratamentos mais amplos das fundações e ombreiras como
consolidação e impermeabilização do maciço; proteção e revestimento do maciço
rochoso, especialmente na região do vertedouro, evitando-se que essas estruturas
possam sofrer riscos de erosão. Outras medidas de segurança seriam o
chaveteamento e fixação/grampeamento das estruturas de concreto na fundação e
ombreiras como aplicadas nos aproveitamentos hidrelétricos de Itaipu Binacional e
Itapebi na Bahia.

29
3 PROSPECÇÕES GEOLÓGICAS

3.1 Consultas a Bibliografia Disponível


Os estudos geológicos de uma área objeto de investigação devem ser precedidos do
conhecimento prévio da bibliografia disponível. Essa consulta deverá informar a
geologia da região com base em relatórios e mapas de estudos anteriores
executados.

O avanço dos estudos com base em fotos aéreas, mapas geológicos e mapas
topográficos poderá facilitar a programação de campo. A fase seguinte poderá ser a
de reconhecimento da área de estudo fazendo-se o planejamento preliminar de
acesso e apoio de campo. Esse reconhecimento deverá permitir uma avaliação
suficiente para definir uma programação preliminar de investigação ao sítio de
estudo.

3.2 Reconhecimento de Campo


Nessa etapa deverão ser observadas as características das rochas aflorantes
quanto à litologia presente e ao estado de alteração, consistência, descontinuidades;
e dos solos quanto a sua textura, espessura, consistência.

Esses elementos devem ser registrados e limitadas suas áreas de ocorrências em


um mapa de escala adequada, ou seja, da ordem de 1:1.000 ou 1:2.000
dependendo da dimensão da área de estudo e/ou complexidade da área. É
recomendável, nessa ocasião, ter-se traçados os prováveis eixos de barragens para
serem investigados (Figura 10).

30
Figura 10 -Inventário de Eixos de Barragens.

Fonte: Nota do autor.

Pelas características geomorfológicas do sítio pode-se, nessa fase, prever uma


programação de investigações geotécnicas, procurando-se contemplar prováveis
sítios das estruturas hidráulicas nas ombreiras e/ou no leito do rio. Adicionalmente
nessa campanha deverão ser contempladas também indicações de áreas de
agregados miúdos (areais), agregados graúdos (pedreiras) bem como áreas de
empréstimos para compor o corpo de aterro do barramento.

3.3 Programação de Investigação


A programação de investigações geológicas poderá envolver sondagens geofísicas
e sondagens mecânicas. Essas pesquisas deverão permitir a definição das
características geomecânicas das unidades de mapeamento bem como coleta de
amostras para ensaios de laboratório.

As investigações geofísicas geralmente feitas através de sondagem sísmica ou


sondagem elétrica devem preceder as investigações mecânicas. Essas sondagens
contribuem no reconhecimento do maciço rochoso, porém necessitam serem
complementadas pelas sondagens mecânicas (Figura 11).

31
Figura 11 – Métodos de Investigação Geotécnica. Método Indireto (Caminhamento Elétrico-
Geofísica) e Método Direto (Sondagem Mecânica)

Fonte: Nota do autor.

Assim, para investigações em solos são executadas sondagens mecânicas,


utilizando-se trados na determinação da espessura dessa camada, permitindo a
obtenção de amostras, além de servir para execução de ensaios de permeabilidade
do solo.

Sondagens a trado também poderão ser feitas nas áreas de empréstimos e na


pesquisa da espessura desse material que cobrem as rochas nos locais indicados
para pedreiras. Para investigação da rocha deverá ser utilizada sondagem rotativa
que avança no maciço rochoso permitindo obtenção de amostras e execução de
ensaios de condutividade hidráulica do maciço rochoso.

Confirmação dos locais indicados para pedreiras poderão exigir também


investigação com sondagens rotativas. Os areais podem ser amostrados com os
equipamentos mecânicos – trados e/ou percussão com amostradores especiais para
coleta de areia e cascalhos.

32
3.4 Critérios de Projeto
Importante serem muito bem definidas as premissas a serem adotadas nas
investigações. Para obras de barragens, que exigem um conhecimento completo
das características dos solos e das rochas quanto a fundação, no que se refere à
estabilidade e à estanqueidade, as investigações através do maciço rochoso
deverão avançar até, pelo menos, 10 metros em rocha sã e pouco permeável.

Nos trechos em solo devem ser executados ensaios de campo por penetração
dinâmica de amostrador padrão tipo SPT para caracterização das propriedades
geomecânicas das fundações. Durante a execução dessas investigações, devem ser
executados ensaios de infiltração para conhecer a permeabilidade do maciço terroso
natural do terreno investigado.

As investigações por sondagens a trado das áreas de empréstimo deverão ter


definições claras quanto a espaçamento, profundidade, limite de sondagem e coleta
de uma quantidade de solo pré-estabelecida para ensaios de laboratório. O mesmo
deve ser adotado quanto às pedreiras e às areais. O mapeamento topográfico
deverá atender a uma cobertura em área do sítio de estudo que atenda toda a
barragem e estruturas anexas em escala compatível com os estudos geológico
envolvidos, como por exemplo 1:2.000 com curvas de nível a cada metro.

3.5 Produtos
Os produtos resultantes das prospecções geológicas deverão atender as
necessidades de elaboração de seção do eixo da barragem e pelas estruturas
hidráulicas que permitam ao projetista definir o tipo e profundidade do material a ser
escavado bem como as inclinações dos taludes a serem adotados em função dos
materiais atravessados e indicados nos perfis apresentados.

Essas investigações deverão indicar os locais onde serão necessários os


tratamentos na fundação e ombreiras de barragem. Essas informações deverão ser
consistentes, com base em mapeamentos e ensaios de campo e laboratório. Os

33
materiais de construção deverão ser suficientemente investigados para que
confirmem suas quantidades e qualidades com base em volume e qualidade e
distância da obra. Vale o mesmo para pedreiras e areais.

3.6 Sismicidade
Os estudos de sismicidade deverão ser compatíveis com as dimensões da altura e
área do lago formado e indicar as necessidades de quantos e onde os sismógrafos
deverão ser instalados.

Conhecimento prévio da geologia da região bem como de dados históricos regionais


poderão indicar um prognóstico dos resultados esperados nos registros. Dessa
forma, os locais onde se prevê a implantação de reservatórios devem ser
monitorados por um período de pelo menos um ano que precede o enchimento bem
como monitorar por pelo menos dois anos posteriores ao enchimento, registrando-se
eventuais sismos induzidos pelo enchimento do reservatório.

3.7 Estanqueidade
A estanqueidade deve ser apreciada quanto à região envolvida pelo reservatório
onde prevalecem as litologias presentes, atentando-se para a presença de rochas
cársticas que possam vir a ligar os lados montante e jusante do sítio barrado.

A presença de rochas cársticas nas bordas dos limites das áreas alagadas pelo
reservatório poderá acelerar o processo de dissolução pelo embate das ondas
podendo causar solapamentos, isso ocorre em regiões que apresentam pré-
disposição, um exemplo são regiões onde o teto está no limite de sustentação.

Outras descontinuidades de expressão – falhas, grandes lineamentos, zonas de


cisalhamento - também poderão eventualmente ser investigadas com, inclusive,
ensaios de campo para comprovação da estanqueidade. Quanto ao eixo do
barramento propriamente dito as investigações executadas deverão atender às
análises de estanqueidade do conjunto barragem-fundação.

34
3.8 Estabilidade de Taludes
Os taludes marginais ao reservatório devem ser objeto de estudos podendo, aqueles
mais próximos às estruturas hidráulicas, exigir mapeamentos para análises de
estabilidade. Essas estruturas, quando próximas ao barramento, se eventualmente
evoluírem para o rompimento, poderão produzir ondas comprometendo a segurança
do conjunto, devendo, portanto, serem consideradas no estudo geológico.

Como exemplo pode ser citado o caso de Vajont, na Itália, em que um deslizamento
de terra sobre a barragem causou uma onda que inundou e destruiu o vale do Rio
Piave e causou mais de 2.000 mortes.

3.9 Áreas com Requerimentos para Pesquisa Mineral


Estudos de ocorrências de bens minerais devem ser levantados junto ao
Departamento Nacional de Produção Mineral desde o início dos estudos da bacia
hidrográfica.

Com a evolução dos estudos e definição dos eixos dos barramentos, alturas e áreas
dos reservatórios, o DNPM deve ser consultado para informar eventuais ocorrências
de reservas minerais nestas áreas de forma a compatibilizar estas explorações com
as dos aproveitamentos hidroelétricos da bacia de estudo.

Pesquisas de bens minerais onde não houve Concessão de Lavra, os requerentes


deverão ser convocados para assinar termo que implique caducidade do pedido em
detrimento da criação do reservatório.

3.10 Assoreamento
O diagnóstico da geologia e geomorfologia da bacia de contribuição, com base no
levantamento das erosões que contribuem com sedimentos no assoreamento do rio
e consequentemente do futuro reservatório a ser formado, poderá contribuir para
indicar medidas que visem minimizar esses efeitos. Orientações por ações inibidoras
a essas práticas que levam a acelerar os processos erosivos deverão ser adotadas

35
visando à exploração dos solos de maneira sustentável.

3.11 Resumo
O presente módulo aborda os diversos tópicos que devem ser contemplados nos
estudos geológicos e geotécnicos de um sítio para construção de uma barragem,
como desde a pesquisa bibliográfica, critérios de projeto, estabilidade de taludes,
sismicidade da área e estanqueidade do barramento.

36
4 INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS

4.1 Introdução
As investigações geotécnicas envolvem meios diretos e indiretos sendo os primeiros
representados pelas sondagens mecânicas e os últimos por métodos geofísicos. As
investigações mecânicas indicam resultados pontuais e permitem a retirada de
amostras e a realização de ensaios de campo.

As sondagens geofísicas são indiretas e envolvem a análise das características de


uma parte expressiva do maciço de solo e/ou rocha, não contempla a obtenção de
amostras e execução de outros ensaios de campo. Essas últimas têm a vantagem
de ter menor custo, mais rápida e apresentam maior facilidade de acesso a locais,
ambientalmente, quase inviáveis pelos métodos diretos.

4.2 Investigações Geofísicas


As mais frequentemente utilizadas são o GPR (Ground Penetration Radar) ou
Georadar, a sísmica de refração e a eletroresistividade.

4.2.1 Georadar
O Radar de Penetração no Solo (GPR) ou Georadar trata-se de um método
geofísico – de reflexão sísmica que utiliza ondas eletromagnéticas de alta frequência
para mapear estruturas e feições rasas da subsuperfície podendo ir até 10 metros
de profundidade dependendo das características do subsolo. Poderia ser usado em
locais de pequena cobertura de solo sobre o maciço rochoso ou na detecção de
estruturas enterradas em obras já implantadas (Figura 12)

37
Figura 12 – Diagrama de um Sistema Típico GPR

Fonte: Nota do autor.

4.2.2 Sísmica de Refração


A sísmica de refração parte do princípio básico que ondas elásticas ou ondas
sísmicas emanadas de uma batida na superfície do terreno (mini-sismo), essas
ondas se propagam no subsolo, obedecendo à lei da ótica podendo refletir ou
refratar quando encontram uma superfície de separação de dois meios de rigidez
distintos.

Esse método é adotado para investigações geofísicas e podem alcançar até 50m de
profundidade. Sua recomendação e uso se prenderia a fase inicial das investigações
para determinar o topo rochoso e o nível d´água das ombreiras e fundação da
barragem e estruturas anexas (Figura 13).

38
Figura 13 – Diagrama de um Sistema Típico de GPR

Fonte: Nota do autor.

4.2.3 Eletroresistividade
Trata-se da determinação da resistividade elétrica aparente dos materiais em pontos
da superfície. Os resultados são obtidos a partir de injeções de corrente elétrica por
meio de eletrodos metálicos em pontos da área investigada. Poderia dar apoio às
investigações mecânicas bem como na determinação do topo rochoso e
profundidade do nível freático (Figura 14)

Figura 14 – Diagrama com Esquema de Arranjo dos Eletrodos do Eletroresistímetro.

Fonte: Nota do autor.

39
4.3 Sondagens Mecânicas
Dentre os tipos de sondagens e ensaios, os mais utilizados são: a sondagem a trado
que permite a execução de ensaio de infiltração em solo; a sondagem a percussão
que envolve o ensaio de penetração dinâmica de um amostrador padrão e permite a
execução de ensaio de infiltração; e para meios rochosos, a sondagem rotativa que
possibilita a execução de ensaio de condutividade hidráulica no maciço rochoso.
Nas três modalidades se obtêm amostras para ensaios de laboratório.

4.3.1 Sondagem a Trado


São normalmente programadas ao longo do eixo da barragem e nas áreas de
empréstimo de solos argilosos. No primeiro caso essas sondagens são de diâmetro
menor, normalmente 4, e se prestam também para execução de ensaios de
infiltração.

Os trados podem ser tipo concha ou tipo helicoidal, correspondendo suas formas à
geometria dos próprios nomes. Nas áreas de empréstimos o diâmetro adotado é
maior devendo atender à quantidade maior de amostras para ensaios de laboratório.
O procedimento do ensaio de infiltração para sondagens a trado e a percussão são
encontrados na Boletim nº3 da ABGE, 1999 (Figura 15).

40
Figura 15 – Trados Manuais(esquerda) e Trado Mecânico (direita)

Fonte: Geologia de Engenharia. ABGE, 1996.

4.3.2 Sondagem à percussão


Também normalmente programadas no eixo da barragem. A sua execução envolve
ensaio de penetração dinâmico. Nesse ensaio um peso de 65kg cai livremente de
uma altura de 75cm sobre uma cabeça batente acoplada nas hastes padronizadas.

No fundo do furo, essas hastes estão acopladas a um amostrador padrão que ao


penetrar no solo permite o recolhimento de amostras. Na execução do ensaio são
realizadas três séries de golpes, contando-se o número de golpes para penetrar
cada 15cm do amostrador.

Chama-se Nspt, ou seja, ensaio de resistência à penetração do amostrador, o


número de golpes necessários para penetrar os últimos 30cm do amostrador. Esses

furos de sondagens podem ser usados também para executar ensaio de infiltração
em solo. Através da análise das amostras de solo e da resistência apresentada pelo
terreno, são desenhadas seções que permitem definir as cotas das fundações das
barragens e das estruturas hidráulicas.

41
A Norma NBR-6484:2001. Solo – Sondagens de simples reconhecimento com SPT –
Método de ensaio que regulamenta os procedimentos e execução desses ensaios.
Outro documento que também orienta a execução de sondagens e ensaios é o
Boletim nº 04 da ABGE (1996). (Figura 16)
Figura 16 – Sondagem à Percussão

Fonte: Boletim nº 04 da ABGE, 1996.

4.3.3 Sondagem Rotativa


Para penetrar em maciço rochoso se faz uso de coroa diamantada que é uma
ferramenta de corte acoplada a um barrilete amostrador localizado na extremidade
inferior da sondagem. Esse processo se faz por rotação e injeção de fluido de
perfuração para resfriamento da coroa diamantada.

Essas águas também agem na retirada da fração arenosa resultante do corte da


rocha pela coroa diamantada. Para rochas brandas pode-se fazer uso de coroas de

42
wídia, bastante utilizada na sapata do revestimento externo da sondagem. A
ferramenta amostradora pode ser simples, constituída apenas por um tubo com
alargador, mola e coroa diamantada. Ou o barrilete pode ser provido de um tubo
interno com rolamento de encosto que permite estabilizar a ferramente cortante, ou
seja, rodando apenas a composição das hastes e peça externa cortante.

Há outros tipos menos frequentes, porém mais sofisticados, como equipamento wire
line, em que não é necessário retirar a composição para retirar os testemunhos de
cada manobra. Um cordão metálico é içado com o barrilete e os testemunhos.

Porém esses são mais utilizados para mineração, onde são investigadas
profundidades maiores. Acrescente-se ainda o fato de nas sondagens rotativas
podem ser executados ensaios de condutividade hidráulica do maciço rochoso.

Esses ensaios indicam o tipo e intensidade de percolação pelo maciço rochoso. São
normalmente executados a cada 3 metros ou para casos de maciços de boa
qualidade indicada nos testemunhos, a cada 6 metros. Os resultados dessas
sondagens e ensaios permitem a elaboração de seções geológico-geotécnicas pelas
fundações da barragem e das estruturas geradoras. E a partir desses resultados
tomar decisões quanto a injeção para consolidação e impermeabilização do maciço
rochoso (Figura 17).

43
Figura 17 – Esquema do Equipamento de Sondagem Rotativa.

Fonte: Geologia de Engenharia. ABGE, 1996.

4.3.4 Amostragem Integral


É um caso especial de amostragem com uso de sondagem rotativa, no qual se
podem obter testemunhos com orientação das estruturas planares – foliação e
fraturamentos. Nesse caso é feito um furo piloto central, de pequeno diâmetro, onde
é colocada uma haste metálica e cimentada ao maciço.

Em seguida o furo é recortado com diâmetro HX – cerca de 10cm – obtendo-se os


testemunhos envolvendo a haste metálica no centro indicando a orientação dos
testemunhos (Figura 18)

44
Figura 18 – Amostragem Integral

Fonte: Geologia de Engenharia. ABGE, 1996.

4.3.5 Outros tipos de investigações e ensaios de campo em sondagens


mecânicas
Poço de Inspeção, sondagem a barra-mina; ensaio de piezocone e ensaio de
palheta.

O Poço de Inspeção envolve a abertura de um poço manual escavado com pá e


picareta. A vantagem dessa investigação é que permite a retirada de amostras
indeformadas de grandes dimensões de solo para ensaios de laboratório.
A Sondagem a Barra-mina, é executada pela penetração manual de uma haste
maciça anotando-se sua localização na seção. É aplicada para identificação de
espessura e extensão de solos moles. No Ensaio de Piezocone – Cone Penetration
Test - um cone padrão é aplicado com a pressão estática onde se mede a pressão
neutra - CPTU. E o Ensaio de Palheta (Vane Test), empregado para determinação
da resistência ao cisalhamento de argilas moles saturadas, submetidas à condição
de carregamento não drenado.

45
4.4 Conclusões
O Brasil está situado em região tropical, cujo clima propicia o desenvolvimento de
solos expressivos e com isso as investigações com sondagem a percussão são de
uso corrente na definição de fundações em solo.

Há um tipo de sondagem denominado sondagem mista que é a conjugação de


sondagem a percussão com rotativa bastante utilizada nas investigações de
barragens. Os ensaios de campo indicam normalmente resultados consistentes pela
dimensão em que são executados, sendo bastante representativos do sítio
investigado.

4.5 Síntese
O presente módulo expressa os tipos de investigações básicas utilizadas na
identificação das características geotécnicas – geofísica e mecânica – bem como os
principais ensaios e campo agregados a essas investigações.

46
5 NOÇÕES DE HIDROGEOLOGIA

5.1 Introdução
O presente capítulo foi baseado no capítulo 8 do livro de Geologia de Engenharia da
ABGE (1998). A água subterrânea presente em subsuperfície exerce importância
fundamental nas alterações dos comportamentos de taludes e fundações de solos e
rochas.

O efeito da presença de água pode causar instabilidade alterando as características


de resistência e deformabilidade dos maciços. Essas águas podem estar livres ou
confinadas, sendo os efeitos dos últimos bastante complexos de solução, como, por
exemplo, o fenômeno da erosão tubular interna (piping), motivados por gradientes
elevados em maciços naturais ou compactados de barragens.

5.2 Infiltração e Escoamento Subterrâneo


No subsolo podem ser diferenciadas duas situações distintas quanto à presença de
água. A água de chuva se infiltra da superfície do terreno para as partes inferiores do
subsolo por efeito da gravidade. Essa infiltração é possível devido à porosidade e
permeabilidade do solo. E a parte inferior saturada pode estar representada por solo
ou rocha com as águas preenchendo os poros (solo) ou as fraturas (rocha).

A transição entre estas é marcada pelo nível d´água, que constitui a superfície do
lençol freático de uma região. Ao atingir o nível freático as águas que migravam
verticalmente passam a escoar lateralmente com movimento condicionado pela
força de gravidade. Contrapondo a este movimento atuam as forças moleculares e
tensões superficiais das águas higroscópicas, peliculares e capilares. Para qualquer
ponto de um meio saturado, estando o líquido em equilíbrio, existe uma pressão d
´água (carga de pressão).

A água se movimenta dos pontos de maior para o de menor potencial hidráulico. E a


diferença de potencial é denominada perda de carga e representa a dissipação de

47
energia devido à resistência que o meio oferece à passagem do fluido. Os mapas
potenciométricos expressam o potencial hidráulico por meio de linhas de pontos de
mesma carga hidráulica, semelhantes às curvas de nível das plantas topográficas.

E as linhas de fluxo podem ser traçadas perpendicularmente às linhas


equipotenciais. O nível de base de uma bacia hidrográfica corresponde à linha
equipotencial de menor valor e a linha de cumeada (divisor da bacia) aos maiores
valores de carga hidráulica. Pode ocorrer, eventualmente, feições topográficas com
pontos de maior carga hidráulica no interior de uma bacia hidrográfica, que de
alguma forma levará as águas ao nível de base da bacia.

Às áreas topograficamente mais elevadas, com maiores cargas hidráulicas


correspondem às áreas de recarga, embora toda a área de uma bacia hidrográfica
contribua para a área de recarga da mesma. Áreas de menor carga hidráulica, para
onde convergem os fluxos superficiais e/ou subterrâneos, constituem as áreas de
descarga (Figura 19). As primeiras – áreas de recarga - são sempre muito maiores
em área.

48
Figura 19- Mapa Potenciométrico em um Aquífero Livre.

Fonte: Bottura e Albuquerque Filho, 1990.

5.3 Propriedades Hidráulicas


Os solos contêm vazios denominados porosidade por onde circulam as águas em
maior ou menor intensidade dependendo da permeabilidade. Nas rochas a
porosidade é representada pelas descontinuidades (fraturas, falhas) e a percolação
pelo maciço rochoso depende da condutividade hidráulica.

No caso de rochas sedimentares, acrescenta-se a porosidade granular além das


fraturas. Há um caso particular de porosidade representado pelas rochas cársticas,
denominado porosidade cárstica que ocorrem basicamente nas rochas calcárias.

Para que haja permeabilidade é necessário que a porosidade entre os grãos permita
a circulação das águas. Da mesma forma para que a condutividade hidráulica se

49
manifeste é necessário ocorrer conexão entre as descontinuidades. Os fatores que
condicionam maior ou menor permeabilidade de um solo são o tamanho, a forma e
imbricamento dos grãos.

Nos estudos de fluxo subterrâneo a permeabilidade vai depender da porosidade


efetiva que corresponde ao grau de intercomunicação entre os poros, permitindo a
percolação da água. A porosidade efetiva corresponde à diferença da porosidade
total subtraída a capacidade de retenção específica.

5.4 Regimes de Fluxo


Quando as linhas de fluxo são determinadas pela forma do conduto pela qual escoa
o líquido, não ocorrendo deslocamentos transversais, nem havendo misturas no
processo de escoamento tem-se o denominado fluxo laminar.

Com o aumento dos gradientes, há aumento da velocidade e o escoamento passa a


apresentar mistura interna do fluido e oscilações na velocidade a nas pressões.
Ocorrem, assim, movimentos rotacionais e transversais que caracterizam um regime
denominado fluxo turbulento. No regime turbulento, as perdas de carga são muito
maiores que aquelas que ocorrem no regime laminar (Figura 20).

50
Figura 20- Regimes de Fluxo – Variação em Função da Velocidade (v) do Gradiente
Hidráulico (i)

Fonte: Quadros, 1982.

5.5 Escoamento em Meios Fraturados


Nos meios fraturados, com porosidade essencialmente de fraturas, o escoamento é
determinado pela permeabilidade da matriz rochosa e pela condutividade das
descontinuidades. Em rochas cristalinas, com baixo grau de porosidade, o
escoamento pela matriz é praticamente nulo e as descontinuidades desempenham
papel fundamental no escoamento.

Os maciços sedimentares, quando não deformados, possuem descontinuidades


essencialmente plano-horizontais, associados aos planos de acamamento, enquanto
que nos maciços metamórficos, os planos de fraturamento e de
xistosidade/gnaissificação são resultantes do tipo e da direção dos esforços
magmáticos, conforme a sua origem (intrusivos ou extrusivos, ácidos ou básicos)
com padrões de descontinuidades totalmente diversos dos anteriores.

51
Fluxos em Maciços Rochosos – O fluxo d´água em maciços rochosos se dá
através dos sistemas de fraturas do maciço. Portanto para entender o sistema de
fluxo é necessário definir as famílias de fraturas, orientação, abertura, espaçamento,
preenchimento, rugosidade, a partir das quais é obtido, por determinação analítica,
um tensor de permeabilidade, ou seja, a determinação no espaço, dos módulos e
das direções principais (triortogonais) de permeabilidade.

Os métodos de ensaios hidráulicos de campo, por outro lado, são baseados em


resultados de ensaios de bombeamento ou injeção d´água nos quais a influência
individual dos vários parâmetros do sistema de fraturas se integram nos próprios
resultados.

Alternativamente, em inúmeros casos práticos, a permeabilidade dos maciços


rochosos é estimada a partir de ensaios pontuais de permeabilidade (perda d´água
sob pressão, infiltração), obtendo-se valores de condutividade hidráulica equivalente.

5.6 Tipos de Aquíferos


A existência de porosidade em menor ou maior porcentual, as dimensões dos poros
e, sobretudo, a forma como esses vazios se interconectam permitem classificar os
materiais em quatro grupos, de acordo com a menor ou maior facilidade de
armazenar e liberar as águas subterrâneas. A Figura 21 mostra os diferentes tipos
de aquíferos.

52
Figura 21 – Tipos de Aquíferos.

Fonte: Pinto et al, 1976.

5.6.1 Aquíferos
São materiais ou rochas que armazenam água e permitem a sua circulação. De
modo geral, os solos e sedimentos são assim classificados, compreendendo, ainda
nesta categoria, as rochas sedimentares que apresentam porosidade granular
(arenitos, alguns calcários detríticos); as rochas com porosidade cárstica (calcários,
brechas calcárias) com porosidade devido à alteração, ou a efeitos tectônicos
(cataclasitos, por exemplo); e, ainda, os maciços rochosos com grande número de
descontinuidades, que apresentam porosidade de fraturas (rochas cristalinas em
geral).

5.6.2 Aquicludes
São materiais também porosos, que contém água nos seus interstícios, muitas
vezes atingindo até o grau de saturação, mas não permitem a sua circulação.

5.6.3 Aquitardos
São materiais ou rochas porosas que, embora armazenem quantidades significativas
de água no seu interior, permitem a circulação apenas de forma muito lenta. São
incluídas neste grupo as argilas siltosas ou arenosas.

53
5.6.4 Aquífugos
São materiais impermeáveis, com baixíssimo grau de porosidade, que tanto não
contêm como não transmitem água. Incluem-se neste grupo as rochas duras,
cristalinas, metamórficas e vulcânicas, sem fraturamento ou alteração.

5.7 Ações Mecânicas e Fenômenos


Em cada ponto do terreno, estando a água em equilíbrio estático, há uma pressão
agindo no interior das descontinuidades das rochas ou dos poros de um solo, que
corresponde à altura que a água ascende no interior de um piezômetro colocado
neste ponto.

A pressão exercida será então expressa pelo produto entre a massa específica da
água e a altura alcançada pela água, sendo denominada poropressão ou pressão
neutra. No interior do solo ocorrem ainda as pressões intergranulares, chamadas
pressões efetivas, de tal forma que a pressão total é a somatória das pressões
efetivas e das pressões neutras.

5.7.1 Subpressões
São as componentes verticais das poropressões ou pressões neutras que atuam de
baixo para cima, em planos determinados das estruturas das barragens de concreto
(juntas de concretagem), no contato estrutura-fundação (contato concreto-rocha), ou
em descontinuidades da fundação (fraturas, falhas, contatos litológicos). Dois fatores
são de extrema importância para a determinação dos valores de subpressão a
serem adotados nos projetos: a área efetiva de atuação da pressão d´água sob a
base da estrutura e a intensidade com que ela atua.

A fixação desses parâmetros está intimamente relacionada com as características


próprias de cada obra. A presença de descontinuidades, sua orientação espacial,
abertura das mesmas (que facilitam o acesso da água e promovem a saturação do
maciço), o estado de tensões atuantes no maciço, a porosidade da matriz rochosa,
etc., são fatores que condicionam a área de atuação das subpressões. As condições

54
hidrogeológicas, quais sejam - posição dos níveis d´água, condições geológicas
(litológicas e estruturais), zonas de alimentação e descarga dos aquíferos,
permeabilidade e contrastes de permeabilidade do meio, geometria das escavações
- são fatores que condicionam a intensidade com que as subpressões se
manifestam.

Os estudos hidrogeotécnicos permitem dimensionar os dispositivos de proteção e


controle (drenagem e injeções) das percolações d´água e suas manifestações
adversas.

5.7.2 Efeitos do Rebaixamento do Nível d´Água Subterrâneo


Num determinado ponto, no interior de um maciço, a água contida nos poros ou no
interior de descontinuidades, juntamente com a pressão que atua sobre as partículas
do esqueleto sólido suportam toda a carga de solo ou de rocha acima do referido
ponto. Como visto, essas forças são denominadas, respectivamente, pressões
neutras e pressões efetivas, cuja somatória corresponde às pressões totais.

Se a pressão ou o conteúdo de água é reduzido por qualquer meio (bombeamento,


drenagem, etc.), ocorre uma redução do “apoio” proporcionado pelo fluido às
camadas sobrejacentes (pressões neutras) com o consequente aumento da carga
sobre a parte sólida (pressões efetivas). O aumento da carga no esqueleto sólido
provoca a deformação deste, envolvendo deslocamentos relativos, deformação e
quebra das partículas, resultando na variação de volume ou da forma dos
interstícios.

Como consequência, há o rebaixamento do solo, levando a subsidências e


recalques, que são movimentos descendentes verticais da superfície do terreno.

Nesses movimentos, o deslocamento horizontal é de importância secundária, pois,


em geral, apresenta magnitudes desprezíveis. No entanto, o movimento vertical
pode atingir a ordem de dezenas de centímetros a alguns poucos metros. Na

55
maioria dos casos, os recalques se processam de forma lenta e contínua, se
distribuindo por áreas bastante amplas. Normalmente, a maior parte e os maiores
recalques observados ocorrem em aquíferos que contêm porcentagens elevadas de
materiais finos, ou mesmo em materiais essencialmente argilosos, devido à
compressibilidade elevada e à peculiaridade do esqueleto sólido desses materiais,
em geral constituído por minerais lamelares, podendo sofrer deformação por flexão e
dobramento.

5.7.3 Força de Percolação


Quando a água está confinada no interior dos poros ou das fraturas e ocorre
qualquer alteração nas condições de contorno de nível freático, ocorrerá igual
alteração nas poropressões, havendo, em contrapartida, uma variação nas tensões
efetivas.

Contudo, se a água não estiver confinada, mudanças nas cargas hidráulicas irão
causar fluxo e o escoamento estará sujeito então ao atrito entre o fluido e o meio.
Esse atrito será transmitido como força de percolação, agindo sobre o solo ou rocha,
na direção do fluxo. Dois fenômenos que ocorrem mais frequentemente em solos
têm sua origem relacionada diretamente às forças de percolação.

O primeiro diz respeito à perda total ou parcial da resistência de um solo em virtude


da perda de peso, devido às pressões geradas por um fluxo ascendente de água.
Quando as forças de percolação, agindo verticalmente de baixo para cima, tornam-
se iguais ao peso submerso do solo, as tensões efetivas no mesmo reduzem-se a
zero.

Como consequência ocorre a liquefação, perda de coesão do solo, e a sua


capacidade de suporte é reduzida a zero, fenômeno conhecido como areia
movediça. Os casos de liquefação nas condições naturais são raros, ocorrendo
eventualmente em situações muito particulares.

56
Na maioria das vezes, tais condições são criadas artificialmente como consequência
de elevados gradientes hidráulicos, tais como os instalados na base de escavações
profundas em solos arenosos e, mais frequentemente, nas fundações permeáveis
de barragens de terra. Outro tipo de ruptura hidráulica causada pelas forças de
percolação ocorre por processo semelhante, quando há coesão no solo.

Nos locais de descarga em que o gradiente atinge o valor crítico e condições


semelhantes às que a liquefação atingem, partículas do solo podem ser arrastadas,
permitindo a abertura de pequenos orifícios, pelos quais o fluxo passa a se
concentrar, promovendo o carreamento do material, criando assim pequena
cavidade.

Essa pequena cavidade acaba concentrando ainda mais fluxo subterrâneo e, por
consequência, levando a um incremento no gradiente hidráulico, num processo
cíclico de ação e reação. O resultado desse processo é erosão interna regressiva
ou, simplesmente erosão interna; erosão tubular regressiva ou, simplesmente,
entubamento.

O processo é conhecido em inglês por piping. O exemplo mais notável de erosão


interna é o das boçorocas ou voçorocas, ocorrendo também com frequência em
fundações e ombreiras, ou mesmo no corpo de barragens de terra, quando estas
não estão protegidas por filtros para prevenir a ocorrência do processo.

5.8 Conclusões
A percolação da água nos meios subterrâneos – solo e rocha – está condicionada
pela porosidade que resulta numa permeabilidade variada do meio. Nessa
circulação a água encontra barreiras impostas pela natureza, mas conta com as
diferenças de cargas hidráulicas para sua circulação.

A água presente no preenchimento dos poros favorece a sustentação de eventual


imposição de cargas minimizando os efeitos de recalque. Em outros casos acaba

57
por conduzir obras à ruína, como no caso de apresentar liquefação ou no caso de
erosão interna (piping).

58
6 FLUXO HÍDRICO EM MACIÇOS DE TERRA E EM FUNDAÇÕES

6.1 Permeabilidade da fundação


Segundo Graça e Gomes (2007), a permeabilidade da fundação, ou seja, a
facilidade ou dificuldade que o meio oferece à passagem de um fluído por seus
poros ou vazios, tem um papel dominante no fluxo (principalmente no trecho inferior
da barragem). O fluxo pela fundação pode e é dominante, na maioria das barragens
analisadas, ou seja, é bastante superior ao fluxo pelo maciço compactado, Cruz
(1996).

Segundo Souza (1975), em maciços rochosos, o regime de escoamento é


governado pela permeabilidade da rocha matriz e pela condutividade hidráulica das
fraturas ou descontinuidades, ou seja, a resistência ao fluxo oferecida por meio
confinado. Diversos são os fatores que influenciam a permeabilidade dos maciços
fraturados, tais como: permeabilidade da rocha matriz, espaçamento entre
descontinuidades, abertura e preenchimento das descontinuidades, tipo de material
de preenchimento, rugosidade das paredes da fratura.

Maciços rochosos costumam apresentar geometrias normalmente muito complexas,


onde as descontinuidades ocorrem de forma anisotrópica e heterogênea. Dessa
forma, o uso de modelos matemáticos ou físicos para a análise do fluxo em maciços
fraturados se justifica somente se houver disponibilidade suficiente de informações
acerca dos parâmetros in situ, Louis (1972) apud Souza (2005).

De acordo com Quadros (1986) apud Souza (2005), a análise da permeabilidade


dos maciços rochosos requer, em primeiro lugar, que seja definido se o meio em
estudo deverá ser tratado de forma contínua ou descontínua. Em uma abordagem
descontínua, pode-se representar a permeabilidade média equivalente de um
maciço rochoso, como uma função da permeabilidade da rocha; condutividade
hidráulica, abertura e espaçamento da fratura, Louis (1972) apud Souza (2005).

59
A abordagem contínua, por sua vez, refere-se às situações em que a parcela
essencial do escoamento se dá por intermédio de uma extensa rede de
fraturamento, e, nesses casos, os blocos rochosos delimitados pelas fraturas podem
ser, por analogia, associados aos grãos sólidos impermeáveis de um meio poroso.

Assim, a análise de fluxo em tais situações pode considerar o maciço rochoso como
um meio “contínuo”, por intermédio do conceito de permeabilidade equivalente,
Quadros (1986) apud Souza (2005).

6.2 Percolação em Maciços de terra


Estimativa das pressões neutras e subpressões - durante a construção de uma
barragem de terra, à medida que as camadas vão sendo colocadas e compactadas,
a pressão total num determinado nível vai aumentando, sendo que este aumento
provoca simultaneamente pressões intersticiais, devido à compressibilidade do
maciço e ao seu baixo coeficiente de permeabilidade.

Assim os esforços solicitantes provêm para uma determinada declividade do talude,


do peso das terras e das consequentes pressões neutras induzidas, as quais são
uma função do tipo de solo, do teor de umidade dos solos colocados e do ritmo
construtivo.

Durante o primeiro enchimento do reservatório, estabelecem-se fluxos de


percolação, constituindo-se progressivamente uma rede de fluxo permanente. Uma
vez que a água percola de montante para jusante, a pressão de percolação é
favorável à estabilidade do talude de montante e desfavorável à do talude de
jusante. Essa condição de solicitações é também denominada “a longo prazo”.

6.3 Permeabilidade e Lei de Darcy


Henry Darcy estabeleceu a base da teoria do escoamento nos meios porosos
granulares por meio de um experimento comprovando que o fluxo que atravessa um
meio poroso homogêneo e isotrópico tem velocidade constante. Nessas condições,

60
o fluxo apresenta um regime laminar. A experiência de Darcy consistiu em fazer a
água passar através de uma coluna porosa, de seção A e comprimento (L),
conforme esquematizado na Figura 22.

Figura 22 – Permeâmetro para Execução do Ensaio de Darcy.

Fonte: Shhneebeli, 1978.

O termo (Q/A), vazão por unidade de área, tem a dimensão de uma velocidade. É a
velocidade de descarga ou velocidade de Darcy, também denominada vazão
específica. Outro parâmetro obtido por esse experimento foi o coeficiente de
permeabilidade e exprime a maior ou menor facilidade com que a água percola
através de um meio poroso.

Experiência de Darcy consistiu em percolar água através de uma amostra de solo de


comprimento (L) e área (A), a partir de dois reservatórios de nível constante, sendo h
a diferença de cota entre ambos. Os resultados indicaram que a velocidade de

61
percolação (v) é proporcional ao gradiente hidráulico (i). Conforme pode ser
observado na figura 23.

Figura 23 – Experiência Clássica de Fluxo D’água em uma amostra de areia. (Lei de Darcy).

Fonte: Nota do autor.

6.4 Redes de Fluxo


Segundo Braz (2003) o traçado de uma rede de fluxo compreende em se determinar
uma série de linhas equipotenciais, espaçada a intervalos regulares entre o potencial
de entrada e o de saída, conforme pode ser mostrado na figura 24.

62
Figura 24 – Redes de fluxo em barragens.

Fonte: VARGAS, 1977 (apud Braz, 2003)

63
Através dessa figura, pode-se entender que:

• As linhas equipotenciais e as de fluxo são ortogonais (normais) entre si;


• As malhas serão quadrangulares, uma vez que a relação entre os lados
das malhas não é constante;
• Todas as superfícies de entrada e saída de água são equipotenciais e,
assim, as linhas de fluxo devem ser normais a elas;
• Toda superfície impermeável é uma linha de fluxo e as linhas
equipotenciais devem ser normais a ela, e;
• As linhas freáticas terão, em cada ponto, o potencial determinado pela
própria cota do ponto, ou seja, h=Z, a carga piezométrica nesse ponto
será nula.

6.5 Exemplo: Caso de Rompimento da Barragem de Pampulha

Segundo Braz (2003), em Abril de 1954, deu-se a ruptura do maciço da barragem de


Pampulha, em Belo Horizonte - MG, em virtude da ocorrência de erosão subterrânea
do tipo “piping” através do corpo da barragem, segundo estudos constatados pela
Comissão Técnica Especial, nomeada pelo prefeito em exercício na época, Américo
René Gianetti, para avaliação do problema.

O sistema de drenagem da barragem da Pampulha, quando de sua construção, era


constituído de drenos franceses normais ao eixo da barragem, espaçados de 7 em 7
metros, que avançavam, anormalmente, até muito próximo do talude de montante,
conforme pode se observar na figura 25.

O talude de montante era revestido por uma placa contínua de concreto armado,
que defendia o maciço contra a possibilidade de fluxo violento através dos drenos.
Contudo, após 16 anos de sua construção, a cortina de concreto se rompeu, devido,
segundo VARGAS (1954, 1977), a recalques das fundações da barragem.

64
Figura 25 – Processo Erosivo de “piping” na Barragem da Pampulha, em 1954

Fonte: VARGAS, 1977 (apud Braz, 2003).

Estabeleceu-se, então, um fluxo intenso de água entre a fenda da cortina e alguns


dos drenos franceses. O fluxo de saída, visível numa boca de lobo do sistema de
drenagem, conforme reportagens da época, aumentou progressivamente durante
cinco dias, carreando cada vez mais material, até que se formou um túnel ao longo
dos drenos.

6.6 Síntese
O presente módulo trata do fluxo hídrico em maciços de terra e em fundações onde
são apreciados os parâmetros permeabilidade do solo da fundação e do maciço
terroso compactado, bem como linhas fluxo e histórico de caso. Adicionalmente
aborda a condutividade hidráulica do maciço de fundação.

65
7 NOÇÕES DE MECÂNICA DAS ROCHAS

7.1 Introdução
Os conhecimentos de mecânica das rochas se aplicam especialmente nos estudos,
projetos e construção de grandes obras civis como, por exemplo, nas fundações de
barragens, taludes naturais e de corte remanescente, túnel hidráulico ou viário,
poços largos e profundos, cavernas amplas, na mineração, energia geotérmica,
armazenagem de rejeitos.

Outros tipos de obras afins poderiam ser citadas, mas acabariam passando por
processos construtivos adotados naqueles acima citados. E no presente trabalho
deverá ser dada ênfase às obras hidráulicas para barragens.

7.2 Fundações
São fundamentais investigações geológico-geotécnicas das características do
maciço rochoso das fundações das estruturas hidráulicas de um aproveitamento
hidrelétrico. Essas investigações deverão atravessar a camada de solo e a transição
solo-rocha e alcançar o maciço rochoso são. Assim poderão ser feitas seções
geológico-geotécnicas, identificar e quantificar os tipos de materiais a serem
escavados ou que sustentarão a estrutura a ser implantada.

Na geologia é adicionalmente importante definir o modelo geológico-estrutural


geométrico que envolve os tipos de rochas (granito, basalto, calcário) e as suas
descontinuidades (foliações, fraturas, falhas) bem como seus aspectos peculiares
(persistência, rugosidade, preenchimento e abertura das fraturas).

A mecânica de rochas avança um pouco mais, pois envolve ensaios in situ e de


amostras em laboratório. Adicionalmente deve-se conhecer o efeito da ação da água
nesse meio especialmente quanto a percolação pelo maciço rochoso. Em geometria
o tratamento às fundações de uma barragem com descontinuidades com caimento
para jusante leva a adoção de tratamentos mais expressivos especialmente quando

66
presentes materiais frágeis preenchendo as fraturas ou indicando condutividade
hidráulica elevada (Figura 26).

Figura 26 – Fundação em Maciço Rochoso. Notar Fraturas no Maciço com Mergulho a


Jusante.

Fonte: Nota do autor.

Maciços rochosos com deformabilidade podem exigir como solução a redução do


esforço ou da espessura da camada. E/ou aumentando-se o Módulo de deformação
da rocha, através das injeções de consolidação.

Soluções: Emprego de tirante de alta resistência, controle da subpressão, melhorar


a coesão e o ângulo de atrito. Quando o problema de deslizamento é mais profundo,
pode-se utilizar injeções de cimento, ou em alguns casos até mesmo a escavações
de túneis e preenchimento com concreto (chavetas).

Problemas de permeabilidade, soluções: reduzir as vazões de infiltração e as


subpressões. Utilização de injeções de impermeabilização e cortinas de drenagem,
respectivamente.

67
7.3 Taludes
Os elementos condicionantes da estabilidade de taludes naturais ou remanescentes
de escavações são a sua inclinação, extensão da vertente, forma geométrica da
encosta, direções e condições das descontinuidades, grau de alteração da rocha,
presença de água (Figura 27).

Figura 27- Talude com Indicação do NA. Fraturas com Mergulho a Jusante

Fonte: Nota do autor.

Esses parâmetros levarão à ação do mecanismo de ruptura do maciço rochoso


dimensionado através de métodos de análise de estabilidade. Para isso são
aplicados os dados disponíveis nos ensaios das rochas locais ou adotados valores
compatíveis com materiais e características similares para cálculos e soluções a
serem implementadas para a estabilidade dos taludes. Entre as soluções mais
frequentes para estabilização de taludes pode-se citar: os chumbadores tirantes, o
concreto projetado e as telas.

7.4 Túneis
São obras lineares onde é feita escavação normalmente em forma circular ou em
forma de ferradura. Podem ser feito por tuneladoras ou escavação mineira. Por
serem mais frequentes serão abordados somente o segundo tipo. Os maiores

68
cuidados ficam por conta dos emboques onde a rocha normalmente se apresenta
mais alterada e fraturada exigindo escavações podendo resultar em taludes amplos
ou adotar soluções de contenções mais robustas minimizando essas escavações
externas.

Alturas expressivas de cobertura sobre a escavação é outro fator importante, pois


deverá exigir maior cuidado nos cálculos do dimensionamento e proteção da seção
final. Para o sucesso no avanço das escavações é necessário dispor de estudo e
investigações adequadas.

O conhecimento do tipo rochoso, a geometria, características e condições de suas


descontinuidades deverão fornecer seções geológico-geotécnicas detalhadas.
Ensaios de mecânica de rochas correntes são recomendados como compressão
axial e triaxial (Figura 28 e Figura 29).

Figura 28 – Ensaio de Compressão Uniaxial.

Fonte: Introdução a Mecânica das Rochas – Faculdade de Ciência de Lisboa, 2006.

69
Figura 29 – Ensaio de Compressão Triaxial em Rocha.

Fonte: Introdução a Mecânica das Rochas – Faculdade de Ciência de Lisboa, 2006.

Esses ensaios determinam o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson da


rocha. A presença, quantidade e efetiva percolação podem ser diagnosticadas por
ensaios de perda d´água durante as investigações por sondagem rotativa indicando
assim a condutividade hidráulica ao longo da seção.

O mapeamento geológico e a caracterização das amostras e resultados de ensaios


de campo e laboratório deverão fornecer um mapa de zoneamento geológico-
geotécnico com a classificação do maciço rochoso. Na classificação do maciço
rochoso para túneis as mais adotadas são Bieniawski, Z.T. (1984) e a classificação
de Barton, N. (1996) apud Bastos (1988), p. 67.

Esses autores indicam parâmetros em que as investigações levam a classificar o


maciço rochoso em cinco classes - classes de I a V – sendo a V a mais vulnerável. A
partir dessa base de dados o projetista adota soluções tipo para cada classe. Essas

70
soluções normalmente são aplicação de telas e chumbadores para locais com rocha
fraturada e concreto projetado. E, finalmente, a instrumentação que constitui o
monitoramento durante a construção do túnel complementam os estudos que dão
suporte ao avanço das escavações.

7.5. Poço
Os poços são escavações normalmente circulares que servem para drenar águas,
passagem de ar ou de equipamentos ligando a parte externa à interna das
escavações das obras. Além dos fatores intrínsecos do maciço rochoso é
especialmente importante a condutividade hidráulica que além de provocar a
instabilidade das paredes, pode conduzir a água para dentro da cavidade e dificultar
o avanço da frente de escavação (Figura 30).

Pode-se exigir a implantação de ponteiras laterais drenantes ou no caso de saída


fazer um furo guia onde as águas poderiam drenar para dentro da escavação
inferior.

Figura 30- Maciço Rochoso com Fraturas por onde a Água pode Percolar.

Fonte: Nota do Autor.

71
7.6 Síntese
O presente módulo trata de estudos de mecânica de rochas fundamentadas na
caracterização e classificação dos maciços rochosos visando e escavação para
implantação de obras civis com ênfase na aplicação em barragem.

72
8 ESPECIFICAÇÃO E CONTROLE DE COMPACTAÇÃO DE ATERROS

8.1 Introdução
Segundo Silveira e Gaioto (1970), o fissuramento de barragens de terra e núcleos de
barragens de enrocamento se dá em função de grande número de variáveis: da
configuração tridimensional do conjunto constituído pela barragem e cada um dos
materiais que constituem esse conjunto, sob as diversas condições de solicitação a
que estarão sujeitos no transcorrer de todas as fases da vida da barragem. Como
decorrência dessas variáveis, em função das tensões, deformações e
deslocamentos de cada elemento, que resultam as diferentes combinações de
solicitações de peso próprio, dos carregamentos hidráulicos, da saturação, de forças
de percolação, de gradientes de temperatura, de variações de umidade, de
deformações lentas, de carregamentos dinâmicos, etc.

Se, após o cálculo estrutural de uma barragem, as tensões e deformações


calculadas superarem as admissíveis com determinado grau de confiança, há o risco
do aparecimento de fissuras ou escorregamentos. Em particular, no caso de tensões
de tração, abrem-se fissuras, cujo desenvolvimento progressivo depende do tipo e
condições do solo, e da existência de linhas de defesa, constituídas por filtros e
transições de materiais e dimensões convenientes, destinados a favorecer a auto-
colmatação das fissuras.

8.2 Compactação
A norma brasileira que especifica o controle de lançamento de aterros é a NBR
05681. A compactação tem por objetivo:
• O aumento da resistência à ruptura dos solos, sob a ação de cargas externas;
• A redução de possíveis variações volumétricas, quer pela ação de cargas,
quer pela ação da água que, eventualmente, percole pela sua massa;
• A impermeabilização dos solos, pela redução do coeficiente de
permeabilidade, resultante do menor volume de vazios.

73
Através da compactação de um solo obtém-se maior aproximação e entrosamento
das partículas, ocasionando o aumento da resistência ao cisalhamento e
consequentemente a obtenção de uma maior capacidade de suporte. Com a
redução do volume de vazios, a capacidade de absorção de água e a possibilidade
de haver percolação diminuem substancialmente, tornando o solo mais estável.

Dois fatores são fundamentais na compactação: o teor de umidade do solo e a


energia empregada na aproximação dos grãos, que se denomina energia de
compactação.

Apenas no teor de umidade ótimo se atinge o máximo peso específico seco, que
corresponde a maior resistência do solo.

8.3 Controle de Compactação


Para que se possa efetuar um bom controle de compactação do solo em campo, é
necessário atentar para os seguintes aspectos (NBR 7.182/86)
• Tipo de solo;
• Espessura da camada;
• Entrosamento entre as camadas;
• Número de passadas;
• Tipo de equipamento;
• Umidade do solo;
• Grau de compactação alcançado.

Assim alguns cuidados devem ser tomados:


• A espessura da camada lançada não deve exceder a 30cm, sendo que a
espessura da camada compactada deverá ser menor que 20cm.
• Deve-se realizar a manutenção da umidade do solo o mais próximo possível
da umidade ótima.
• Deve-se garantir a homogeneização do solo a ser lançado, tanto no que se

74
refere à umidade quanto ao material.

Na prática, o procedimento usual de controle de compactação é o seguinte:


• Coletam-se amostras de solo da área de empréstimo e efetua-se em
laboratório o ensaio de compactação. Obtém-se a curva de compactação e
daí os valores de peso específico seco máximo e o teor de umidade ótimo do
solo.
• No campo, à proporção em que o aterro for sendo executado, deve-se
verificar, para cada camada compactada, qual o teor de umidade empregado
e compará-lo com a umidade ótima determinada em laboratório. Este valor
não deve variar mais do que 2%, para mais ou para menos.
• Determina-se também o peso específico seco do solo no campo,
comparando-o com o obtido no laboratório. Define-se então o grau de
compactação do solo, dado pela razão entre os pesos específicos secos de
campo e de laboratório GC= dcampo γ / dmáx ) x100. Devem-se obter sempre
valores de grau de compactação superiores a 95%. γ
• Caso essas especificações não sejam atendidas, o solo terá de ser revolvido,
e uma nova compactação deverá ser efetuada.

8.4 Especificação e controle de aterros


O objetivo é obter as massas específicas indicadas pelas Especificações da Obra e
as regras básicas são:
a) Iniciar o aterro nas cotas mais baixas, em camadas horizontais;

b) Prever caimento lateral, para rápido escoamento de água de chuva;

c) Escalonar ou zonear praças de trabalho, onde as três etapas de execução do


aterro não se atrapalhem: enquanto em uma praça é feito o descarregamento de
material, em outra o material é espalhado na espessura prevista para compactação,
e em outra praça de trabalho o material é compactado;

75
d) A situação mais sensível a uma chuva é quando o material está espalhado e
pulverizado antes da compactação, pois uma pancada de chuva poderia transformá-
lo num “mar de lama”. Na possibilidade dessa ocorrência, a camada deverá ser
"selada", isto é, ser rapidamente compactada com rolos lisos ou equipamento de
pneus para que seu topo seja adensado e tornado impermeável. Uma vez que a
camada já possui um caimento, a água de chuva escorre sem penetrar na camada,
e a secagem posterior é rápida, por escarificação e gradeamento. Senão, a camada
encharcada deverá ser totalmente removida para bota-fora antes do prosseguimento
dos serviços.

e) Durante a execução do aterro, as beiradas devem ser mantidas mais altas, o que
aumenta a segurança. Isso parece contradizer o exposto nos itens (b) e (d), mas tais
beiradas podem ser rapidamente removidas com tratores e motoniveladoras. Essas
beiradas sempre devem ser removidas ao final da jornada de trabalho;

f) Os trajetos dos equipamentos de transporte sobre o aterro devem permitir uma


descarga segura e boa compactação, com o mínimo de resistência ao rolamento,
que poderia provocar a paralisação de uma unidade transportadora. Assim, esses
trajetos devem ser continuamente reajustados de modo a nunca passarem por uma
praça de compactação ou espalhamento, por exemplo.

g) Os taludes dos aterros, principalmente os de grande altura, geralmente ficam mal


compactados, pois os rolos compactadores não atuam bem nas beiradas, ou estas
recebem menos passadas. Fica então uma faixa lateral mal compactada de 30 a 50
cm, que poderia produzir uma superfície de escorregamento, com consequente
ruptura. Embora seja um serviço difícil, é preciso compactar a superfície da saia de
aterro, após o acerto final. Isto pode ser conseguido com pequenos rolos
compactadores tracionados por guincho acoplado a tratores.

h) Nunca executar uma compactação em umidade diferente da ótima. O empreiteiro


que o faz, perde por consumir combustível em excesso, além de se arriscar a ter a

76
camada recusada, e ser obrigado a arrancá-la ou a corrigir a umidade,
homogeneizar, espalhar e compactar novamente, sem ser pago por isso.

8.5 Principais tipos de ocorrências indesejáveis

a) Recalque por adensamento:


Pressões ocasionadas pelo peso próprio e por cargas móveis trafegando sobre o
aterro promovem o adensamento (decorrente do escoamento de água, expulsa dos
vazios do solo, quando esses diminuem). Sempre existirá adensamento e recalque,
mas este deverá ser previsto e mantido sob controle.

b) Ruptura por afundamento :


Quando uma camada subjacente ao aterro for de capacidade de suporte muito baixa
e de grande espessura, o corpo do aterro sofre um deslocamento vertical e pode
afundar por igual no terreno mole, expulsando lateralmente o material ruim, com a
formação de bulbos.

c) Ruptura por escorregamento


Ocorre quando o aterro é construído sobre uma camada mole, de baixa resistência
ao cisalhamento, que se apoia sobre outra camada mais resistente. Na ocasião de
chuvas intensas, a camada pouco resistente tem seu teor de umidade aumentado,
tornando ainda mais baixa a resistência ao cisalhamento.

Quando isso acontece, forma-se uma superfície de escorregamento que afeta o


aterro, levando-o à ruptura. Essa superfície de escorregamento quase sempre é
lenticular (tem forma semelhante à de uma lente).

Soluções:
Quando o subleito for fraco, composto por solos muito moles, com grandes
porcentagens de matéria orgânica, solos brejosos ou turfosos, esse material deve
ser removido e substituído visando estabilizar o terreno de fundação antes da

77
execução do aterro.

a) Remoção do solo ruim e substituição por melhor


Geralmente a remoção é feita por dragas, com imediata substituição por material
arenoso, que permita a percolação da água. Uma boa técnica é a operação por
faixas alternadas, com esgotamento da água que se acumula no fundo através de
bombas de sucção ou, se a topografia permitir, por valas de escoamento. As
vantagens desse processo residem na rapidez de execução e na possibilidade de se
saber com certeza se todo o material imprestável foi, de fato, removido, garantindo-
se a homogeneidade do aterro.

b) Emprego de bermas de equilíbrio


As bermas de equilíbrio funcionam como contrapesos, evitando a formação de
bulbos e o deslocamento do material instável.

Quando o solo mole não aguentar nem o peso da berma necessária para dar
estabilidade ao aterro, constroem-se bermas adicionais, de espessuras menores que
a inicial.

8.6 Síntese
O presente módulo aborda uma introdução ao tema especificação e controle de
compactação de aterros envolvendo as seguintes abordagens: controle de
compactação, especificação e controle de aterros, principais tipos de ocorrências
indesejáveis e soluções indicadas.

78
9 CAPACIDADE DE SUPORTE DOS MACIÇOS E ATERROS (COMO
ESPECIFICAR E COMO MEDIR)

9.1 Introdução

Segundo Pinto (2006), experiências realizadas nos primeiros tempos da Mecânica


dos Solos mostraram que ao se aplicar uma carga na superfície de um terreno,
numa área bem definida, os acréscimos de tensão numa certa profundidade não se
limitam à projeção da área carregada.

Nas laterais da área carregada também ocorrem aumentos de tensão, que se


somam às anteriores devido ao peso próprio. Como a somatória dos acréscimos das
tensões verticais, nos planos horizontais, em qualquer profundidade, é sempre
constante, os acréscimos das tensões imediatamente abaixo da área carregada
diminuem à medida que a profundidade aumenta, porque a área atingida aumenta
com a profundidade.

9.2 Deformações Devidas a Carregamentos Verticais


As deformações devidas a carregamento verticais como a de aterro sobre terrenos
podem ser de dois tipos: as que ocorrem rapidamente após a construção e as que
se desenvolvem lentamente após a aplicação de cargas.

Deformações rápidas são observadas em solos arenosos ou solos argilosos não


saturados, enquanto que nos solos argilosos saturados os recalques são muito
lentos, pois é necessária a saída da água dos vazios do solo.

9.3 Ensaios para Determinação da Deformabilidade dos Solos


• Ensaio de compressão axial:
O ensaio de compressão axial de um solo consiste na moldagem de um corpo de
prova cilíndrico e do seu carregamento pela ação de uma carga axial. Registrando-
se as tensões no plano horizontal (a carga dividida pela área da seção transversal)

79
pela deformação axial (encurtamento do corpo de prova dividido pela altura inicial do
corpo de prova) obtém-se a curva de carregamento. Para o ensaio de compressão,
o corpo de prova pode ser previamente submetido a um confinamento, quando,
então, é chamado de ensaio de compressão triaxial.

Figura 31 - Ensaio de Compressão Edométrica

Fonte: DMC-FURG.

Figura 32- Ensaio de Compressão Edométrica

Fonte: DMC-FURG.

80
• O ensaio de compressão edométrica
O ensaio de compressão edométrica consiste na compressão do solo contido dentro
de um molde que impede qualquer deformação lateral. Os ensaios simulam o
comportamento do solo quando ele é comprimido pela ação de peso de novas
camadas que sobre ele se depositam, quando se constrói um aterro de grandes
áreas. Para o ensaio, uma amostra é colocada num anel rígido ajustado numa célula
de compressão edométrica.

9.4 Ensaios para definir a Capacidade de suporte do solo


Entre os ensaios para verificar a capacidade de suporte das amostras de solo citam-
se os de cisalhamento direto e ensaio de prova de carga sobre placa.

Ensaio de cisalhamento direto - quanto ao ensaio de cisalhamento direto, os


resultados obtidos com o ensaio são coesão e ângulo de atrito interno. O
cisalhamento direto tem um plano de ruptura induzido tendo a coesão e o ângulo de
atritos definidos a partir de linha de tendência traçada por três pontos da amostra,
caracterizando uma condição de laboratório.

Esse ensaio tem baixo custo e é bastante reconhecido no meio geotécnico, sendo
realizado em grande escala em laboratórios de todo o país. A partir desses valores,
chega-se à capacidade de carga do solo, ou seja, a sua tensão de ruptura. Essa
tensão dará suporte aos dados necessários para a realização do ensaio de carga
sobre placa.

Ensaio de prova de carga sobre placa - para a execução do ensaio de prova de


carga sobre placa, utiliza-se dos resultados obtidos no ensaio de cisalhamento direto
para determinar inicialmente a capacidade de carga provável do solo, ou taxa
admissível.

Para o planejamento do ensaio, esse conhecimento prévio auxilia na escolha do


equipamento de reação e determinação das cargas a se utilizar em cada estágio de

81
carregamento. Apesar de ter um custo relativamente elevado quando comparado ao
ensaio de cisalhamento direto, a prova de carga sobre placa é o ensaio que mais se
aproxima de um teste em escala real, pois traduz com precisão a condição de
campo.

No ensaio de cisalhamento, por se efetuar a partir de retirada de amostra


(indeformada) e transporte até o laboratório, não se representa a condição real em
campo, tendo em vista a dificuldade de se reproduzir em laboratório as mesmas
condições de confinamento, poro-pressão e possíveis fraturas presentes no solo do
local da retirada da amostra.

O ensaio de prova de carga sobre placa tem como resultado a curva de tensão
recalque, que será útil para se obter a carga de ruptura real do solo, e mesmo em
casos onde o ensaio não chega até a ruptura, pode-se avaliar se a tensão de ruptura
obtida indiretamente em laboratório está ou não próxima do valor real. A norma da
ABNT – NBR 6489 estabelece os procedimentos para execução desse ensaio.

9.5 Capacidade de Suporte dos Maciços e Aterros


Os maciços naturais em solos têm sua resistência normalmente avaliada in situ, nas
sondagens a percussão, no campo, através de ensaios de penetração do
amostrador padronizado (SPT). Esses resultados permitem fazer uma correção com
diversos parâmetros, entre os quais o de capacidade de carga (resistência
mecânica).

Adicionalmente, para barragens de terra, são feitos ensaios de infiltração em solo


para medir a permeabilidade, que juntamente com os resultados de resistência,
permitem tomar decisão quanto a adoção de solução do terreno como fundação ou
remoção para instalação do aterro da barragem. Esses ensaios (SPT) indicam
também, por correlação, o ângulo de atrito e coesão do solo, que podem ser obtidos
em ensaios de laboratório através de amostras adequadamente colhidas.

82
9.6 Síntese
No tema Capacidade de Suporte nos Maciços e Aterros foram contempladas
abordagens relativas a deformações devidas a carregamentos verticais, ensaios
para determinação da deformabilidade dos solos, capacidade de suporte dos solos
envolvendo ensaio de cisalhamento direto e ensaio de prova de carga sobre placa e,
finalmente, capacidade de suporte de maciços e aterros.

83
REFERÊNCIAS

ABGE - Associação Brasileira de Geologia de Engenharia. Ensaios de


Permeabilidade em Solos – Boletim nº 04 – 3ª Edição – junho de 1996.

ABGE – Associação Brasileira de Geologia de Engenharia. Manual de Sondagens -


Boletim nº 3. 4ª Edição – São Paulo/1999.

ABGE – Associação Brasileira de Geologia de Engenharia, 1983. Métodos para


descrição quantitativa de descontinuidades em maciços rochosos. Tradução nº
12 – 132p.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 05681. Controle de


Lançamento de Aterros, 1980.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7.182 (1986b). Solo –


Ensaio de compactação. Rio de Janeiro, RJ, p 10.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR 6484. Solo – Sondagens


de simples reconhecimento com SPT – Método de ensaio. Fevereiro de 2001. 17
páginas.

BRAZ, Maria da Glória..A relação do fenômeno de ruptura hidráulica em maciços de


barragens de terra e o mau funcionamento de vertedores do tipo poço.Tese de
Doutorado – Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Engenharia Meta-
lúrgica, Departamento de Engenharia de Minas, 2003.

CRUZ, P. T.. “Permeabilidade e condutividade”, in 100 barragens brasileiras: casos


históricos, materiais de construção, projeto. Oficina de Textos, São Paulo – SP,
1996, pp. 258 – 278.

F.C.L. Faculdade de Ciências de Lisboa. Introdução a Mecânica das Rochas.


Ensaio uniaxial e ensaio triaxial, 2006.

LOUIS, C.Rock Hydraulics. In Rocks Mechanics. Ed. L. Müller, Springuer-Verlag,


Wien, Estados Unidos, 1972.

OBSERVATÓRIO SISMOLÓGICO, Sismicidade Induzida pelo homem. Disponível


em:<http://www.obsis.unb.br/index.php?
option=com_content&view=article&id=61&Itemid=73&lang=pt>. Acesso em: 02 junho
2012.

84
PINTO, C.S. Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16 Aulas. 3ª Edição. São
Paulo. Oficina de Textos. p 355, 2006.

SILVEIRA, E.B.S. & GAIOTO, N. (1970). Considerações sobre os Parâmetros de


Tração de Solos Compactados e sua Determinação. Boletim da PROMON
Engenharia. p 32.

SOUZA, V. A. D. Simulação do regime de Fluxo no Maciço de Terra Compactada da


Barragem Jaburu I – Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza – CE, 2005, pp. 33 – 34.

UFJF. Universidade Federal de Juiz De Fora. Disponível


em:<http://www.ufjf.br/nugeo/files/2009/11/togot_unid05.pdf>. Acesso em: 07 agosto
2012.

UFSM. Universidade Federal de Santa Maria. Disponível


em:<http://www.ufsm.br/engcivil/Material_Didatico/TRP1003_mecanica_dos_solos/6
_Permeabilidade.pdf>. Acesso em 07 Agosto 2012.

VAZ, l.f. 1996. Classificação genética dos solos e dos horizontes de alteração de
rochas em regiões tropicais. Solos e Rochas. V. 19. nº2. 117-136.

85
CURSO
SEGURANÇA DE BARRAGENS

1
MÓDULO I – BARRAGENS: ASPECTOS
LEGAIS, TÉCNICOS E SÓCIOAMBIENTAIS

UNIDADE 9: BARRAGENS DE TERRA E


ENROCAMENTO

2
FICHA TÉCNICA
Realização:

EQUIPE TÉCNICA

Fernando Setembrino Cruz Meirelles Glauco Gonçalves Dias


Elaboração de conteúdo Revisor Técnico Geral

Etore Funchal de Faria


Alexandre Anderáos
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico ANA

Fabio Luiz Willrich


Carlos Leonardi
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Josiele Patias
Cesar Eduardo b. Pimentel
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico ANA

Josimar Alves de Oliveira


Claudio Neumann
Revisor técnico ANA
Revisor técnico Itaipu

Ligia Maria Nascimento de


Claudio Osako Araújo
Revisor técnico Itaipu Revisora técnica ANA

Silvia Frazão Matos


Dimilson Pinto Coelho
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Revisão Ortográfica

ICBA – Centro de Línguas


www.cursodeidiomasicba.com.br

Este obra foi licenciada sob uma Licença .Creative Commons Atribuição-
NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada

3
CURRICULO RESUMIDO

Prof: Fernando Setembrino Cruz Meirelles

Fernando Setembrino Cruz Meirelles


possui graduação em Agronomia pela
Universidade Federal do Rio Grande do
Sul - UFRGS (1985) , Especialização em
Drenagem Agrícola pela UFRGS (1989) ,
Mestrado (1999) e Doutorado em
Recursos Hídricos e Saneamento
Ambiental pela UFRGS (2009), com
estágio na Universidade de Évora,
Portugal.

Atualmente é Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,


atuando no Instituto de Pesquisas Hidráulicas - IPH. É revisor da Revista Brasileira
de Recursos Hídricos e da REGA - Revista de Gestão de Águas da América Latina.
Tem experiência na área de Engenharia Agrícola, com ênfase em Engenharia de
Água e Solo, atuando principalmente nos seguintes temas: irrigação, canais e
gestão de recursos hídricos.

4
SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS............................................................................................. 06
LISTA DE TABELAS............................................................................................. 08
1 TIPOS E CARACTERÍSTICAS DE BARRAGENS DE ATERRO...................... 10
1.1 Tipos de Barragens de Aterro......................................................................... 11
1.2 Barragens de Terra......................................................................................... 12
1.3 Barragens de Enrocamento............................................................................ 15
1.4 Barragens de Aterro Hidráulico....................................................................... 17
2 NOÇÕES BÁSICAS DE MATERIAIS CONSTRUTIVOS................................ 23
2.1 Fundações....................................................................................................... 23
2.2 Solos Compactados e Enrocamentos............................................................. 26
3 PROJETO E DIMENSIONAMENTO.................................................................. 31
3.1 Dimensionamento básico................................................................................ 38
3.2 Percolação...................................................................................................... 44
3.3 Estabilidade de Taludes e Fundações............................................................. 49
4 CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS DE ATERRO.............................................. 61
4.1 Proteção dos Taludes e Coroamento.............................................................. 73
4.2 Detalhes Construtivos..................................................................................... 79
5 CONCLUSÕES.................................................................................................. 82
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 84

5
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Componentes Básicos de uma Barragem de Aterro Homogênea


Figura 2 - Barragem Homogênea Modificada
Figura 3 – Seção Tipo Barragem de Terra Zoneada
Figura 4 – Barragem de Enrocamento
Figura 5 – Barragem Mista, com Seção de Montante em Terra e Seção de Jusante
de Enrocamento
Figura 6 – Lançamento de Polpa na Construção de Aterro
Figura 7 - Açude de Orós, CE
Figura 8- Usina Campos Novos, Rio Canoas, SC
Figura 9 - Barragem Mista Hidrelétrica Moxotó, AL
Figura 10- Vista de Montante da Barragem da Barra Falsa, São José do Norte, RS
Figura 11 – Curva de Compactação e Umidade Ótima de Proctor
Figura 12 – Rompimento do Aterro Zoneado durante a Construção Da Barragem
VAC 06 Após Galgamento da Ensecadeira (São Gabriel, RS)
Figura 13 – Núcleos Mínimos e Máximos de Barragens Zoneadas
Figura 14 – Fetch de Um Lago de Uma Barragem
Figura 15 – Altura de Segurança e as Ondas Formadas no Reservatório
Figura 16 – Esquemas de Drenagem Comuns para Barragens de Aterro
Figura 17 – Dreno Horizontal Seguido de Dreno de Pé
Figura 18 – Erosão em Talude de Jusante Parcialmente Desprotegido, Barragem
VAC 06 – São Gabriel, Rs
Figura 19 – Esquema das Forças Envolvidas na Análise de Estabilidade em
Barragens
Figura 20 - Divisão da Ruptura em Barragens De Terra
Figura 21 – Distribuições de Tensões Totais Verticais no Interior na Barragem ao
Final da Construção
Figura 22 – Posição da Linha Superior de Percolação no Maciço para Diferentes
Níveis da Água Durante o Enchimento
Figura 23 – Adensamento de Barragens de Terra
Figura 24 – Ruptura por Afundamento

6
Figura 25 – Ruptura por Escorregamento
Figura 26 - Deslocamento de Material Instável pelo Peso do Aterro
Figura 27 – Drenos Verticais e Colchão de Areia
Figura 28 – Bermas de Equilíbrio
Figura 29 – Desvio do Rio por Meio de Galeria
Figura 30 – Construção da Tomada D’água
Figura 31 – Ensecadeira da Usina de Belo Monte
Figura 32 – Tratamento de Olho D’água na Fundação da Barragem
Figura 33– Preparo da Fundação, com Abertura, Colocação de Material Argiloso e
Compactação de Trincheira na Fundação
Figura 34 – Pilão para Aterro – Barragem Santa Bárbara, Pelotas, RS.
Figura 35 – Construção da Barragem de Terra da Pch Paracambi
Figura 36 – Lançamento de Rochas sobre Talude e Distribuição por Pá Carregadeira
Figura 37 – Enrocamento do Talude de Montante, Barragem em Barra do Ribeiro,
RS
Figura 38– Placas de Concreto no Talude de Montante do Açude Jaibaras (CE)
Figura 39 – Proteção dos Dois Taludes em Barragem de Terra

7
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição Mundial de Barragens de Aterro Por Tipo de Seção


Tabela 2 – Classificação dos Solos pelo Grau de Compacidade
Tabela 3 – Classificação de Solos Utilizados em Barragens Brasileiras
Tabela 4 – Seções Tipo e Inclinações de Taludes de Barragens Homogêneas
Tabela 5 – Seções Tipo e Inclinações de Taludes em Barragens Zoneadas
Tabela 6 – Altura da Borda Livre (m), Para Barragens com Altura Menor que 10 M
Tabela 7 – Altura de Segurança em Função da Dimensão do Lago
Tabela 8 – Inclinação dos Taludes de Barragens
Tabela 9 – Inclinação dos Taludes em Função da Fundação e dos Solos
Tabela 10 – Fatores de Segurança para Verificação da Estabilidade
Tabela 11 – Dimensões da Trincheira de Vedação da Base do Maciço
Tabela 12 – Espessuras Mínimas de Enrocamento
Tabela 13 – Composição da Mistura de Solo-Cimento

8
Prezado Aluno,
no decorrer desta unidade você deverá desenvolver competência para:

• Identificar tipos de barragens descrevendo suas estruturas componentes;


• Interpretar fatores condicionantes do projeto avaliando as soluções adotadas.

9
1 TIPOS E CARACTERÍSTICAS DE BARRAGENS DE ATERRO

Neste capítulo, iremos estudar as barragens construídas com aterro. As barragens


construídas com aterro são aquelas constituídas de materiais naturais, como o solo,
ou de materiais processados, como rochas e brita. Esses materiais devem ser
selecionados em uma área de empréstimo e transportados para o local da obra,
lançados nas posições definidas pelo projeto e compactados. Em relação ao seu
comportamento geotécnico, uma barragem de aterro deve ter as seguintes
características: resistência, incompressibilidade, ausência de contração quando
seca, plasticidade, aderência, mínimo de rastejo, mínimo de permeabilidade e de
erodibilidade.

Barragens de aterro (enbankment dam) podem ser divididas em:


• Barragens de terra: seção homogênea, zoneada ou aterro hidráulico.
• Barragens de enrocamento: núcleo de terra e barragens com membrana
impermeável.

Os maciços das barragens de aterro têm como elementos básicos constituintes:


• Crista ou coroamento.
• Talude de montante.
• Talude de jusante.
• Base de assentamento ou fundação.
• Linha de infiltração.
As barragens de aterro são basicamente estruturas com seção transversal
trapezoidal, constituídas de solo compactado. De forma reduzida, podem ser
caracterizadas da seguinte forma:

• Uma estrutura localizada de forma a permitir a retenção da água, denominada


de corpo da barragem, maciço ou taipa;
• Uma área a montante na qual é armazenada a água de forma a permitir o seu

10
uso na época desejada, denominada de reservatório ou açude (lago);

Um conjunto de obras e equipamentos hidráulicos que permitem efetuar a


transposição da água de montante para jusante, seja para proteção do corpo da
barragem contra eventuais galgamentos (vertedor, sangradouro ou ladrão), seja para
permitir a utilização da água para os mais diversos fins (tomada d’água). A Figura 1
apresenta uma seção típica de barragem de aterro.

Figura 1 – Componentes Básicos de uma Barragem de Aterro Homogênea

Fonte:Nota do autor.

1.1 Tipos de Barragens de Aterro

Segundo Eletrobrás (2000), a barragem de terra é apropriada para locais onde a


topografia se apresenta suavemente ondulada, nos vales pouco encaixados, e onde
existam áreas de empréstimo de materiais argilosos/arenosos suficientes para a
construção do maciço compactado. Devemos analisar a possibilidade de utilização
dos materiais terrosos provenientes das escavações exigidas para a execução da
obra, como, por exemplo, as do canal de adução, se houver, e das fundações das
estruturas de concreto.

De forma esquemática, Eletrobrás (2000) elenca as características adequadas para


a implantação de uma barragem de terra:

11
• Áreas de empréstimo e pedreiras localizadas em cotas superiores às da
barragem, visando facilitar o transporte de materiais;
• As fundações devem ter resistência e estanqueidade suficientes;

• O eixo deve ser posicionado no local mais estreito do rio, visando-se reduzir o
volume da barragem;
• As margens do reservatório devem ser estáveis, visando-se minimizar
escorregamentos;
• A correta utilização das condições topográficas na definição do
posicionamento do vertedouro situando-o fora do corpo da barragem.

Além da disponibilidade de solos, devemos verificar a existência de areia, que será


utilizada nas estruturas de drenagem e para fazer concreto, e de rochas para o
enrocamento e agregados para concreto. O estudo inicial das dimensões e locação
do vertedouro e as intervenções necessárias para o desvio do rio temporariamente
para construção da barragem também podem limitar a seleção de barragens de
terra. Por fim, as condições do meio ambiente e do clima regional podem interferir
negativamente nos processos de compactação, escavação e transporte de material
de empréstimo.

O Atlas Digital das Águas de Minas traz outros limitantes para a seleção de locais de
barramento, mais vinculados a obras de pequeno porte:

1.2 Barragens de Terra


As barragens de terra são as barragens de aterro mais comumente utilizadas.
Para a sua construção, adotamos materiais naturais (argila, areia e silte) com um
mínimo de processamento prévio. Segundo Schoklitsch (1946), as barragens de
terra podem assumir alturas de até 100 m, desde que as condições geológicas do
terreno e os custos envolvidos sejam compatíveis.

12
Para Hradilek et al (2002), essas barragens são apropriadas quando houver a
disponibilidade de solo argiloso ou areno-siltoso/argiloso próximo à área da obra,
além da existência de um local apropriado para a localização do vertedouro em uma
das margens.

As barragens de terra podem ser homogêneas ou zoneadas, sendo esta definição


decidida em função do volume e da qualidade dos materiais existentes no local, dos
processos construtivos a serem utilizados e dos solos que constituem as fundações
da barragem. Sempre que possível, devem ser utilizados no corpo da barragem os
materiais escavados para a construção do vertedouro e outras escavações
obrigatórias. Se no local da barragem existirem quantidades suficientes de solo
argiloso ou areno-siltoso/argiloso, a barragem homogênea é a mais recomendada
para alturas até 10 metros, por ser mais simples e prática em termos construtivos.

A barragem homogênea é constituída praticamente por um único material, com


permeabilidade suficientemente reduzida (depois de compactado) para permitir
níveis aceitáveis de percolação. As inclinações dos taludes a montante e jusante,
por regra, são diferentes para atenderem adequadamente ao princípio da
estabilidade.

A barragem homogênea modificada também é constituída basicamente por um único


material de muito baixa permeabilidade, sendo empregada uma pequena
percentagem de material permeável na construção de drenos para controle da
percolação, o que permite taludes muito mais inclinados do que no caso da adoção
de um perfil homogêneo puro.

Caso inexistam no local as quantidades suficientes de material para a construção de


uma barragem do tipo homogênea, recomenda-se a utilização de uma barragem do
tipo zoneada ou mista. Neste tipo de barragem, os materiais mais permeáveis são
lançados nas partes externas da seção transversal da barragem, sendo os menos
permeáveis (material mais argiloso) lançados na parte central e/ou na parte de

13
montante.

Podemos ver exemplos de perfis de barragens homogêneas, homogêneas


modificadas e zoneadas nas figuras 1, 2 e 3.

Figura 2 - Barragem Homogênea Modificada

Fonte: Eletrobrás, 2000.

Figura 3 – Seção Tipo Barragem de Terra Zoneada

Fonte: Lança, 1997.

Apesar das facilidades e adaptabilidade da barragem de terra a situações diversas,


a sua seleção deve ser examinada com cuidado, pois o processo de construção
pode ser muito afetado por fatores climáticos, sendo que as obras de aterro serão
paralisadas em períodos chuvosos.

14
1.3 Barragens de Enrocamento

Para selecionar uma barragem de enrocamento, o local considerado adequado


deverá possuir as seguintes características:

• A disponibilidade de material rochoso em quantidade suficiente. Normalmente


é necessário desmontar 100 m³ de rocha para cada 130 m³ lançados no
corpo da barragem. As pedreiras devem estar localizadas preferencialmente
em cotas superiores às da área de construção da barragem, visando facilitar
o transporte de materiais;
• A possibilidade de utilização direta do material independente da fonte seja
proveniente da escavação das fundações ou das outras estruturas, ou das
pedreiras;
• A largura do vale, na cota da crista da barragem, deve ser a mais estreita no
trecho aproveitável do rio, visando reduzir o volume da barragem;
• As fundações e as ombreiras devem ser resistentes e estanques;
• Deve haver facilidade para construção e acessos.

Nas barragens de enrocamento (Figura 4) o aterro é feito com fragmentos de rocha


ou cascalho, compactado em camadas. Devem possuir uma zona impermeável,
formada por solos e filtros de material granular. Geralmente, uma barragem de
enrocamento apresenta mais de 50% de material permeável compactado ou
descarregado.

As mais comuns são as de núcleo interno de argila, existindo algumas com face de
concreto e, mais recentemente, barragens de enrocamento com núcleo de asfalto,
sendo que no Brasil encontramos duas barragens deste tipo: nas usinas hidrelétricas
Foz do Chapecó e Jirau. A estabilidade da obra é resultante do seu peso e da
imbricação das partículas dos diferentes materiais que constituem a barragem.

15
Figura 4 – Barragem de Enrocamento

Fonte: Tariq, 2008

16
Obs.: na figura 4, os perfis (a) e (b) são barragens com núcleo de argila; (c) é uma
barragem com face de concreto ou asfalto e (d) apresenta núcleo de asfalto.

Segundo USBR (1967), as barragens de enrocamento são as preferíveis para locais


remotos, onde existe rocha de apropriada; onde não há solos de boa qualidade e
nas situações nas quais a construção de uma barragem de concreto seria muito
honerosa. As barragens mistas, como a mostrada na Figura 5, são variantes dos
dois outros tipos.

Figura 5 – Barragem Mista, com Seção de Montante em Terra e Seção de Jusante de


Enrocamento

Fonte:Lança, 1997.

1.4 Barragens de Aterro Hidráulico

Na construção de barragens com a técnica de aterro hidráulico, o material granular


misturado com água é transportado por meio de tubulações, por bombeamento ou
por gravidade, sendo lançado no local com a utilização de hidrociclones ou canhões
(Figura 6).

17
Figura 6 – Lançamento de Polpa na Construção de Aterro

Fonte: Nota do autor.

A compactação do aterro hidráulico é definida pela vazão, a concentração, a altura


de queda e o espaçamento de lançamento da lama. O aterro hidráulico apresenta
algumas vantagens quando comparadas com as técnicas convencionais, tais como:

• Alta capacidade construtiva, permitindo a construção de até 200.000 m³ de


aterro por dia;
• O método permite a execução de aterros submersos;
• Os mecanismos de construção são relativamente simples em comparação
com os métodos tradicionais;
• Menor exigência de mão de obra e menor custo unitário da obra;
• Permite a construção de barragens sobre fundações de solos colapsíveis.

Como desvantagens, podem ser citadas:


• Maior exigência em relação à composição do solo do aterro;
• O transporte do solo pela água quando realizado sob pressão exige cuidados
específicos;

18
• Grande desgaste da tubulação e dos equipamentos por efeito do atrito do
solo, principalmente das partículas mais grosseiras.

Esta técnica é muito utilizada na construção de barragens de rejeitos de mineração,


na construção de aterros em áreas inundáveis ou zonas costeiras e nas situações
nas quais o transporte do material granular na forma de polpa (água mais partículas
sólidas) seja mais econômico ou eficiente do que o transporte em caçambas ou
esteiras. A Figura 6 mostra a construção do aterro de Copacabana com essa
técnica.

Segundo Cruz (1996), nas regiões onde há solos em quantidade e qualidade


adequadas, ombreiras suaves e condições climáticas favoráveis, a barragem em
terra é a primeira opção a ser considerada. Em regiões áridas, com disponibilidade
de rocha, presença de vales mais fechados e clima seco, a barragem de
enrocamento é a alternativa inicial a ser avaliada. Nos climas temperados, com
escassez de solo, temperaturas baixas e invernos longos, as barragens de
enrocamento com face impermeável tornam-se atraentes. Em climas com muita
chuva, com solos com umidade elevada próxima da saturação por períodos longos,
as barragens de terra com drenagem nos espaldares são preferenciais. Por fim, nos
vales abertos e em grandes planícies aluvionares arenosas, a barragem hidráulica é
uma alternativa imperiosa.

A International Commission on Large Dams (ICOLD) realizou um levantamento das


grandes barragens construídas no mundo até 1982, por tipo de seção (Tabela 1)
pelo qual verificamos a importância relativa das barragens de terra e de
enrocamento e a menor ocorrência das barragens em aterro hidráulico.

19
Tabela 1 – Distribuição Mundial de Barragens de Aterro por Tipo de Seção

Tipo de seção (%)


Barragem de terra, homogênea 9,5
Terra com filtro 15,0
Terra com enrocamento de pé 6,1
Materiais de solo, areia e cascalho 35,9
Materiais de solo e enrocamento 9,3
Núcleo central de terra e enrocamento 8,4
Solo e face de concreto 4,1
Enrocamento e face de concreto 2,8
Solo e núcleo de argila em camadas 4,7
Solo com núcleo parede diafragma 2,4
Enrocamento com núcleo em parede 0,9
Núcleo hidráulico (aterro hidráulico) 0,9
Fonte: ICOLD

No Brasil, encontram-se exemplos de barragens construídas de todos os tipos de


aterro apresentados acima. O açude de Orós (Figura 7), no Ceará, e a barragem de
Sobradinho, no rio São Fran cisco, são exemplos de aterro zoneado, enquanto que a
barragem da usina hidrelétrica de Campos Novos (Figura 8), com 202 metros de
altura, é um exemplo de obra em enrocamento. A barragem da usina hidrelétrica de
Apolônio Sales (Moxotó – Figura 9) é uma barragem mista.

Barragens em terra correspondem à grande maioria das obras agrícolas de pequeno


porte. Utilizando o GoogleEarth, podemos visualizar na figura 10, a barragem da
Barra Falsa, no Rio Grande do Sul, que é um exemplo de barragem construída com
aterro hidráulico. Para isso, indique as coordenadas 31°34’27”S e 51º28’03”O.

Esta pequena barragem foi construída totalmente com areia retirada do fundo da
Laguna dos Patos. Seu objetivo é armazenar água doce para irrigação de arroz no
período em que a laguna fica salinizada pela entrada de água do oceano Atlântico.

• Exemplos Brasileiros de Barragens de Aterro

20
Figura 7 - Açude de Orós, CE

Fonte: Disponível em : http://www.dnocs.gov.br/barragens/oros/oros.htm

Figura 8- Usina Campos Novos, rio Canoas, SC

Fonte: Disponível em: http://www.camposnovos.sc.gov.br/turismo/item/detalhe/1482

21
Figura 9 - Barragem Mista Hidrelétrica Moxotó, AL

Fonte: Disponível em: http://www.sbbengenharia.com.br/links/board/imagens/moxoto.jpg

Figura 10- Vista de Montante da Barragem da Barra Falsa, São José do Norte, RS

Fonte: Nota do autor.

22
2 NOÇÕES BÁSICAS DOS MATERIAIS CONSTRUTIVOS

2.1 Fundações

Para a seleção do tipo de barragem a ser construída, devemos conhecer as


condições das fundações e a sua relação com o material que será utilizado na
construção. Para isso, devemos considerar as características geotécnicas e
geológicas do local e do material de construção em distintos momentos e situações.
Nesta análise, são investigadas a deformação da fundação ou recalque devido ao
peso da barragem e a percolação d’água do reservatório através da fundação.

Segundo USBR (1967), as fundações mais comuns são divididas em cinco tipos
básicos:
• Fundações de rocha sólida – devido a sua relativa alta resistência à carga e
sua resistência à erosão e infiltração, apresentam poucas restrições ao tipo
de barragem. Com frequência será necessário remover a camada de rocha
desagregada e fechar fendas e fraturas com injeções de cimento;
• Fundações sobre cascalhos – quando bem compactadas são boas para
construir barragens de terra e de enrocamento. Por serem usualmente
permeáveis, podem ser necessárias obras de impermeabilização destas
fundações;
• Fundação sobre silte ou areia fina – podem ser utilizadas para apoiar
barragens de gravidade de pequena altura especialmente projetadas para
elas, mas não servem para barragens de enrocamento. Os principais
problemas são o adensamento, a formação de piping, as perdas excessivas
por infiltração e a necessidade de proteção contra a erosão da fundação no
pé do talude seco;
• Fundações de argila – podem ser utilizadas para suportar barragens, mas
exigem tratamento especial. Podem gerar adensamentos significativos da
barragem se a argila não estiver consolidada e estiver saturada;
• Fundações irregulares – necessitam uma análise detalhada e projetos

23
especiais.

Segundo Babbit et al., a rocha ígnea homogênea e não estratificada é considerada o


material de fundação desejado para uma barragem de terra, mas toda a fundação
deve ser devidamente investigada. As fundações de uma barragem só serão
conhecidas após a realização de uma investigação geotécnica. Os programas de
prospecção geotécnica têm um custo relativo baixo para as obras de médio e grande
porte, situando-se entre 0,5 e 1% em relação ao custo total. Para as obras de
pequeno porte, no entanto, esse custo teria uma participação bem maior, o que
poderia explicar o grande número de obras sem informações geotécnicas ou com
análises das condições de fundação muito simplificadas.

A investigação geotécnica é normalmente executada com base em ensaios de


campo, cujas medidas permitem uma definição satisfatória da estratigrafia do
subsolo e uma estimativa realista das propriedades geomecânicas dos materiais
envolvidos.

As partir desta investigação obtemos informações como:

• Caracterização das camadas do solo, com definição de área, profundidade e


espessura de cada uma;
• Compacidade dos solos granulares e consistência dos solos coesivos;
• Profundidade do topo da rocha e suas características (litologia, área em
planta, grau de alteração, de fratura e de consistência, etc);
• Localização do nível da água (NA).

Além disto, é realizada a coleta de amostras deformadas e indeformadas do solo


para a realização de ensaios mecânicos em laboratório. As amostras indeformadas
são retiradas sem ou com pequena modificação de suas características in situ, por
meio da utilização de equipamentos e técnicas apropriadas.

24
As amostras deformadas são retiradas sem a preocupação da manutenção da
estrutura do solo. Também são chamadas de amostras amolgadas quando ocorre a
fragmentação do material amostrado pelo amassamento completo do solo. Neste
caso, mantém-se constante a sua umidade, mas perde-se a sua resistência ao
cisalhamento.

Os materiais empregados nas barragens são classificados de acordo com a


dificuldade de escavação em três categorias. O material de primeira categoria pode
ser escavado por equipamentos como o scraper, o trator de esteira e a pá-
carregadeira.

Basicamente, são solos, materiais arenosos e seixos rolados com diâmetro máximo
de 0,15 m. Os materiais de segunda categoria correspondem a rochas alteradas,
cuja extração se processe por combinação de equipamentos ou eventualmente exija
o uso de explosivos. Os de terceira categoria exige o uso contínuo de explosivos.

Os materiais sofrem alteração de volume quando são removidos, o que é conhecido


por empolamento, que é o aumento do volume sofrido por um determinado material
do seu estado Natural para o estado Solto ao ser transportado, ou seja, ocorre o
aumento do Índice de vazios entre as partículas sólidas.

Esse aumento varia entre 1,12 e 1,4, sendo maior para argila. As distâncias de
transporte são definidas como curtas (<100 m), médias (até 1.000 m) e longas (>
1.000). A distância define o tipo de equipamento a ser utilizado para a escavação e o
transporte do material de 1º categoria. A inclinação do terreno ou da rampa a ser
vencida para carregamento e descarregamento do material também influencia a
seleção do equipamento, assim como a resistência do terreno ou do aterro ao
afundamento dos equipamentos carregados.

25
2.2 Solos Compactados e Enrocamentos

Os ensaios de laboratório realizados com as amostras enviadas nos permitirão obter


diversos índices geomecânicos dos solos, tanto dos solos da fundação como os que
poderão ser utilizados na construção do maciço. Na Unidade 7 – Aspectos
Geológicos e Geotécnicos, foram abordadas as noções básicas de geotecnia e
prospecções geológicas.

Neste item, veremos as propriedades dos solos compactados. O Grau de


Compacidade (GC) de um solo varia de 0 a 1 e representa a concentração de grãos
em um dado volume, sendo calculado pelas seguintes expressões: εmáx, o índice
de vazios máximos (estado fofo), εmin, o índice de vazios mínimo (estado
compactado) e ε, o índice de vazios natural. Na Tabela 2 podemos ver a
classificação dos solos de acordo com o valor do GC.

Tabela 2 – Classificação dos Solos pelo Grau de Compacidade


Denominação Grau de Compacidade (GC)
Fofos ou soltos GC<1/3
Medianamente compactos 1/3<GC<2/3
Compactos 2/3<GC<1,00

A alteração da compacidade do solo é realizada pela compactação do mesmo. Os


estudos realizados por Proctor na década de 30 comprovaram um dos princípios da
Mecânica dos Solos, que afirma que a densidade final de um solo compactado, sob
uma determinada energia de compactação, depende da umidade do solo no
momento da compactação. Proctor verificou que a presença de maiores quantidades
de água na mistura de solo no momento da compactação resultava em uma
elevação do peso específico aparente.

A razão para tal resultado é que a água atua como um lubrificante, facilitando a
aproximação das partículas, permitindo melhor entrosamento e a redução do volume
de vazios. Em um determinado teor de umidade atinge-se um peso específico

26
aparente seco máximo, a partir do qual, ainda que se adicione mais água, o volume
de vazios passará a aumentar. A explicação desse fato reside em que quantidades
adicionais de água, após o ponto ótimo, ao invés de facilitarem a aproximação dos
grãos, fazem com estes se afastem, aumentando novamente o volume de vazios e,
por isso, causando o decréscimo do peso específico.

Próximo do ponto de umidade ótima, a variação do peso específico em relação a


uma variação da umidade é pequena. Os solos compactados na umidade ótima não
corresponderão, portanto, a resistências máximas, mas sim, a máximas resistências
estáveis, isto é, que não variam muito com uma posterior saturação. A Figura 11
exemplifica essas relações.

Figura 11 – Curva de Compactação e Umidade Ótima de Proctor

Fonte: Soares et al., 2006

27
Como vimos, a realização da investigação geotécnica e das análises de laboratório
permite classificar os solos. Uma classificação muito utilizada para barragens de
terra é a do Sistema Unificado de Solos, proposto por Casagrande, que se baseia na
identificação do tipo e do predomínio de seus elementos básicos – areia (S), silte
(M), argila (C), cascalhos (G) e matéria orgânica (O e Pt - turfa) -, considerando o
tamanho de seus grãos, a distribuição granulométrica (W – bem distribuídos; P – mal
distribuídos), a plasticidade (H – alta; L – baixa) e a compressibilidade. Como
exemplos, um solo GC é composto de cascalhos e argila; um solo ML é um silte de
baixa plasticidade, um solo SC é areno-argiloso.

Em termos gerais, a maioria dos solos pode ser utilizada para a construção de
barragens de terra, sendo exceções materiais orgânicos, silte, rocha moída e as
argilas com limites de liquidez acima de 80%.

Propondo outra classificação, Cruz (1996) analisou os ensaios de solos


compactados utilizados nas barragens brasileiras. Segundo o autor, esses solos
podem ser divididos em quatro grupos, apresentados na Tabela 3. A análise de Cruz
(1996) indica que os solos do Grupo 1 são os mais resistentes. Os solos do Grupo 3,
mesmo que apresentem teores de argila consideráveis (como 30%) têm uma fração
arenosa predominante. Se o solo for compactado em níveis médios (95%, por
exemplo) abaixo da compactação ótima, o aterro pode apresentar um
comportamento de areia fofa quando saturado, pois solos deste grupo têm uma
perda significativa de resistência por saturação. Por isso, as zonas das barragens
construídas com estes solos que serão submersas devem ter um controle e um rigor
maior no processo de compactação.

28
Tabela 3 – Classificação de Solos Utilizados em Barragens Brasileiras
• Grupo 1 - Solos lateríticos argilosos, também denominados solos
residuais maduros e/ou colúvios. São formados essencialmente por
processos de intemperismo, tanto de rochas ígneas extrusivas e intrusivas
como de rochas metamórficas. Correspondem à primeira camada do perfil
de intemperismo, são homogêneos, possuem baixa fertilidade natural, alta
porosidade, baixo grau de saturação e umidade natural próxima a da
umidade ótima de Proctor. São solos argilosos e que podem ter sido muito
ou pouco transportados. Sua trabalhabilidade pode ser considerada boa,
para umidades até 20% acima da umidade ótima de compactação.

• Grupo 2 - Solos saprolíticos ou solos residuais jovens que sofreram pouca


ou nenhuma ação do processo de laterização. Correspondem à segunda
camada do perfil de intemperismo. São compactos, frequentemente
heterogêneos, mais siltosos em algumas formações e possuem alta
umidade natural. São originados das mesmas rochas do Grupo 1 e
resultam do intemperismo in situ da rocha matriz. Sua trabalhabilidade é
boa, mesmo para altos teores de umidade, mas o produto final da
compactação é mais heterogêneo.

• Grupo 3 - Solos lateríticos arenosos, às vezes identificados como


colúvios, formados por materiais originados de rochas sedimentares,
principalmente arenitos, ou de areias cenozoicas. São solos mais
transportados que os do Grupo 1 e é comum encontrá-los misturados a
outros solos. Este é o caso de solos originados do intemperismo de
arenitos, mas que contêm uma fração argilosa proveniente de basalto
ocorrente na área. Na sua condição natural, são homogeneamente
porosos, com baixa densidade e possuem umidade natural próxima à
umidade ótima de Proctor. Sua trabalhabilidade é boa para níveis de
umidade próximos ao Limite de Plasticidade, se do lado seco.

• Grupo 4 - Solos originários de sedimentos e transportados, sendo

29
identificados em algumas áreas como solos coluviais. Podem ocorrer
naturalmente em altas densidades. Dependendo de sua origem podem ser
mais ou menos argilosos, siltosos ou arenosos e muito pouco afetados
pelos processos de laterização. Ocorrem in situ em teores de umidade
variáveis e diferentes graus de saturação ou em condições não uniformes.
Sua trabalhabilidade depende grandemente de suas condições naturais
de umidade e densidade. Têm sido empregados em larga escala, com alta
produtividade. Solos originários de outras rochas sedimentares, tais como
argilitos, siltitos, arenitos e xisto, ou de rochas metamórficas, como filitos e
micaxistos, dependendo do grau de intemperismo e laterização, podem
ser enquadrados nos Grupos 1, 2 ou 3.
Fonte: Cruz.1996

30
3 PROJETO E DIMENSIONAMENTO

De acordo com o projeto, também poderemos observar elementos de vedação,


drenantes e estabilizantes e uma estrutura de extravazamento para escoar o
excesso de água recebido da bacia de contribuição. Se uma barragem for destinada
ao armazenamento de água, deve possuir um elevado grau de estanqueidade,
condição assegurada pela presença do elemento de vedação. Já os elementos
drenantes devem assegurar a estabilidade da obra.

Devem possuir um sistema de drenagem interna e um elemento estabilizante que


previnam a ruptura por cisalhamento e um sistema de extravazamento que lhes
confira um grau elevado de segurança contra galgamento.

A concepção destes elementos é a função básica do projeto da barragem, sendo


função de princípios básicos, da disponibilidade de materiais, das condições da
fundação e dos custos envolvidos, entre outros condicionantes. Nos itens a seguir,
detalharemos os condicionantes, as soluções possíveis e os critérios a serem
observados no dimensionamento dos diferentes elementos.

Segundo Cruz (1996) o projeto de uma barragem deve obedecer a três princípios
básicos:

• Princípio do controle de fluxo


As lógicas aplicadas nas seções de montante e de jusante de uma barragem,
considerando-se o seu eixo, são opostas. Na seção de montante, deve-se buscar o
máximo de vedação, tanto do maciço como da fundação; na seção de jusante, deve-
se facilitar o processo de drenagem do maciço e da fundação.

• Princípio da estabilidade
As zonas externas ou espaldares da barragem devem garantir a estabilidade da
barragem para as várias situações da carga. O projeto destas zonas deve

31
compatibilizar o maciço com os materiais da fundação.

• Princípio da compatibilidade das deformações


Para reduzir os recalques diferenciais da fundação e dos materiais empregados na
construção da barragem e de seus efeitos, devem ser previstas zonas adicionais de
transição para compatibilização da compressibilidade destes materiais.

A escolha do tipo do barramento é função de uma série de critérios.


Frequentemente, uma seleção inicial deve ser reavaliada por meio de anteprojetos
que permitam a avaliação técnica e financeira dos arranjos propostos. Entre estes
critérios encontramos: a disponibilidade de materiais de construção, as condições
das fundações, as condições topográficas, o tipo e localização do vertedouro
necessário e a vazão de cheia, que são itens já comentados.

Além destes, devemos considerar as condições de acesso, a natureza das obras de


desvio necessárias, os volumes das escavações obrigatórias, as condições
climáticas que possam interferir no cronograma das obras, os tipos de equipamento
e laboratórios disponíveis, o custo da mão de obra e a legislação local referente às
questões trabalhistas e à segurança da obra.

Segundo Lança (1997), o perfil adotado é principalmente condicionado por:

• Materiais disponíveis: o tipo, a quantidade e a localização são fatores


importantes no projeto de uma barragem. A existência de um único material
impermeável terá como solução básica uma barragem homogênea com
drenos. Quando o material disponível é permeável (areia, seixo, cascalho), a
solução é uma barragem zonada, contendo um núcleo impermeável caso
exista algum solo impermeável. Existindo apenas solo permeável, em vez do
núcleo será colocada uma cortina impermeável. Caso existam vários solos,
será aconselhável a criação de um perfil zonado onde os solos mais

32
permeáveis são colocados no exterior (jusante) com função estabilizadora e
os solos menos permeáveis são colocados no interior (montante) com função
de estanqueidade;

• A dimensão e a forma do vale: se o vale for largo, não tem muita influência no
dimensionamento do perfil. Se o vale for estreito poderá ser necessário ter
especial cuidado com a zona de ligação entre o corpo da barragem e o talude
natural do vale, pois esta zona é propícia à ocorrência de fendilhamento e
consequentes infiltrações produzidas por assentamentos diferenciais;

• Água no subsolo: se o nível freático na zona de encontro da barragem com a


fundação for mais elevado do que o nível do leito do rio é um indicio de
possíveis fugas do futuro reservatório;

• Atividade sísmica: a atividade sísmica da zona onde está localizada a


barragem influencia o projeto da barragem, pois esta terá que estar preparada
para suportar as acelerações horizontais dos sismos mais prováveis na
respectiva região;

• Condições climáticas: é um fator de primordial importância, especialmente


durante a fase da construção, onde os aterros de materiais permeáveis não
são prejudicados pela chuva. Pode ser necessário gerenciar o cronograma da
obra para a construção do aterro nas melhores condições climáticas. As
condições climáticas também influenciam o regime de cheias e,
consequentemente, tem repercussões no dimensionamento do corpo e dos
órgãos hidráulicos da barragem;

• Desvio do rio: em certos casos será necessário efetuar o desvio do rio, sendo
que o modo como esta operação se efetua é condicionado pela forma do
vale, o regime de cheias e a vazão do rio. Em vales estreitos normalmente
opta-se por um túnel; em vales abertos, por vezes é possível aterrar numa

33
parte enquanto que o rio corre pela outra. Quando se constrói uma
ensecadeira, uma parte do reservatório é inundada, sendo necessário
verificar se as áreas de empréstimo de material irão ficar disponíveis. Se for
necessário construir uma ensecadeira de grandes dimensões, pode ser
lucrativo incorporá-la no corpo da barragem. Durante a construção deve ser
prevista a situação de galgamento das ensecadeiras, como o apresentado na
Figura 12, que demonstra a fiscalização da obra em abril de 1992. Podemos
observar o núcleo de argila compactado em camadas e o vertedor lateral em
concreto.

Figura 12 – Rompimento do Aterro Zoneado durante a Construção da Barragem VAC 06


após Galgamento da Ensecadeira (São Gabriel, RS)

Fonte: Nota do autor.

34
• Ação das ondas- a proteção do talude de montante e a altura de segurança
ou folga são diretamente influenciados pela ação das ondas, sendo
necessário prever a intensidade e altura das ondas recorrendo ao
conhecimento dos ventos predominantes na região. As soluções mais
frequentes são a colocação de um rip rap ou a diminuição da inclinação do
talude de montante;

• Frequência e velocidade de esvaziamento: o esvaziamento do reservatório é


um dos cenários críticos na vida de uma barragem, sendo o dimensionamento
do talude de montante diretamente influenciado por este fator.

• Tempo disponível para a construção: o tempo disponível para a construção da


barragem pode ser um fator que condiciona a solução adotada, já que no
tratamento das fundações, caso seja requerida uma consolidação mais
detalhada, pode não ser compatível com o tempo disponível. Por vezes o
fator prazo pode inviabilizar a construção do núcleo central, sendo preferível a
adoção de cortinas impermeáveis. No caso de se optar pela construção
rápida do núcleo central impermeável em barragens de enrocamento ou
zoneadas, pode ser necessária a colocação de filtros horizontais para a
dissipação das tensões neutras.

A Tabela 4 apresenta as inclinações dos taludes de montante e jusante para


barragens homogêneas sobre fundações estáveis, sendo diferenciados para as
obras que poderão estar sujeitas a esvaziamentos rápidos, entendidas como
rebaixamentos de nível maiores do que 0,15 metros por dia, segundo recomendação
do USBR (1967). Na tabela, os solos são classificados pela proposta de
Casagrande.

Natureza da fundação: as barragens fundadas em terrenos menos resistentes


devem possuir taludes com inclinações menores. Se a fundação for constituída por
um solo permeável é necessário construir uma vala “corta águas” ou cut off (veja na

35
Figura 3). Caso a fundação seja de material rochoso, devemos ter especial cuidado
na ligação entre a fundação e o corpo da barragem.

Tabela 4 – Seções Tipo e Inclinações de Taludes de Barragens Homogêneas


Tipo Sujeita a Classificação Inclinação de Inclinação de
esvaziamento do solo montante jusante
rápido
Homogênea ou GC, GM, SC 2,5 : 1 2:1
Homogênea Não SM CL, ML 3:1 2,5 : 1
modificada CH, MH 3,5 : 1 2,5 : 1
Homogênea GC, GM, SC 3:1 2:1
modificada Sim SM CL, ML 3,5 : 1 2,5 : 1
CH, MH 4:1 2,5 : 1
Fonte: Hradileck, 2002

Obs.: Solos classificados como GW, GP, SW, SP e Pt são inadequados. Não se
recomendam solos tipo OL e OH para porções maiores do maciço.

Para as barragens zoneadas, a inclinação dos taludes é uma função das dimensões
relativas do núcleo impermeável e dos maciços laterais estabilizadores, como
indicado na Figura 13 e na Tabela 5.

36
Tabela 5 – Seções Tipo e Inclinações de Taludes em Barragens Zoneadas
Sujeita a Classificação do Inclinação de Inclinação
Tipo esvaziamento solo montante de jusante
rápido (x na figura 10) (y na figura
10)
GC, GM, SC, SM
Núcleo Não importa CL, ML, CH ou 2:1 2:1
mínimo “A” MH
GC, GM 2:1 2:1
Núcleo Não SC, SM 2,25 : 1 2,25 : 1
máximo CL, ML 2,5 : 1 2,5 : 1
CH, MH 3:1 3:1
GC, GM, 2,5 : 1 2:1
Núcleo Sim SC, SM 2,5 : 1 2,25 : 1
máximo CL, ML 3:1 2,5 : 1
CH, MH 3,5 : 1 3:1
Fonte: Hradileck, 2002

Obs.: Núcleos mínimos e máximos são indicados na Figura 13. Os materiais


aceitáveis para os maciços laterais são enrocamento, GW, GP, SW (seixo) e SP
(seixo). Solos classificados como Pt são inadequados. Não se recomendam solos
tipo OL e OH para porções maiores do maciço.

37
Figura 13 – Núcleos Mínimos e Máximos de Barragens Zoneadas

Fonte: Hradileck, 2002

Legenda:
Núcleo máximo.
Núcleo mínimo “B” no caso de barragens sobre fundações permeáveis, sem cut
off positivo.
Núcleo mínimo “A” no caso de barragens sobre fundações impermeáveis, com
cut off positivo.

3.1 Dimensionamento básico

O levantamento básico inicial de um projeto de barragem de aterro, depois de


avaliadas de forma preliminar as condições do local, é o levantamento
planialtimétrico, com maior detalhamento nas regiões do eixo e do vertedouro.

A partir dele podemos definir preliminarmente os elementos básicos para o projeto: a


cota máxima da crista (H), o nível máximo do reservatório, a curva cota-área-volume
característica do reservatório, o posicionamento das estruturas (maciço, vertedouro,
tomada d’água) e as interferências com a cobertura vegetal e com a infraestrutura
local.

Como produtos finais, o levantamento topográfico deverá permitir a elaboração de

38
plantas com curvas de nível equidistantes de 1,0 m ou menos. A planta geral do
reservatório será realizada em escalas da ordem de 1:5.000, sendo possível que os
órgãos estaduais e municipais de licenciamento ambiental, de outorga ou de
licenciamento para construção adotem outra magnitude de escala.

Após analisadas as condições topográficas, devemos realizar os estudos


geotécnicos e hidrológicos, que permitirão a definição dos condicionantes da obra
em si, como características da fundação e disponibilidade de materiais de
construção, e das suas estruturas de segurança e vedação. Esses levantamentos
fornecerão os elementos necessários para realizarmos o dimensionamento inicial da
barragem, que poderá sofrer alterações posteriores definidas pelo estudo de
percolação e pela análise de estabilidade.

A dimensão básica de uma barragem de terra é a sua altura, que depende do nível
máximo armazenado. Esse, por sua vez, é definido com base nos estudos
hidrológicos, pelos limitantes da topografia do local, de fatores econômicos, do
impacto da desapropriação das terras que serão alagadas, de fatores políticos, da
presença de infraestruturas que não podem ser alagadas, entre muitos outros que
não fazem parte da definição técnica desta variável. A altura máxima de água
definirá a posição do vertedor, que será o responsável para escoar o volume
excedente.

Conhecida a altura da água no seu nível máximo operacional, deve-se calcular a


altura de segurança ou sobre-elevação (também conhecida como bordo ou borda
livre, free board ou revanche da barragem) do maciço. A altura de segurança deve
ser suficiente para impedir que as ondas formadas no interior do reservatório,
quando atingem o maciço, sejam capazes de ultrapassá-lo. A borda livre é função da
profundidade da água junto à barragem, da extensão (L) da superfície do
reservatório (fetch), medida perpendicularmente ao eixo da barragem, como
mostrado na Figura 14, e do vento que sopra sobre a superfície da água.

39
Figura 14 – Fetch de um Lago de uma Barragem

Fonte: Nota do autor.

A aplicação do método de Saville, conforme indicado pela Eletrobrás (2003) para o


cálculo das ondas, considerará um vento máximo de 100 km/h e uma onda com
probabilidade de 2% de ser superada. No caso de um lago com curvas, o fetch
efetivo pode ser calculado a partir da separação de i trechos retilíneos de
comprimento xi e dos ângulos θi destas retas com o maciço:

f efetivo =
∑ xi . cos 2 θ i
∑ cos θ i

Na Figura 15, a altura de segurança é representada pela letra “d”, a elevação da


onda por “h” e a altura devida à velocidade da onda por “hr”. A letra “a” indica uma
margem mínima a ser considerada no nível máximo de água na barragem, que é o
referente ao do escoamento da cheia de projeto do vertedouro. Sandoval (2011)
propõe que o valor da “a” seja igual ou maior a 0,5 m.

40
Figura 15 – Altura de Segurança e as Ondas Formadas no Reservatório

Fonte: Sandoval, 2011

Para barragem com altura de água menor que 10 m, os valores da borda livre
constam da tabela 6. A tabela 7 apresenta os valores mínimos e indicados da altura
de segurança em função do fetch.

Tabela 6 – Altura da Borda Livre (m), para Barragens com Altura Menor que 10 m
Profundidade da Extensão do espelho d’água do reservatório - L (km)
água junto à
barragem (m) 0,2 0,5 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0

P < 6,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,05 1,15 1,25

6,00 < P < 10,00 1,00 1,00 1,00 1,05 1,15 1,25 1,35
Fonte: Eletrobrás, 2000

Tabela 7 – Altura de Segurança em Função da Dimensão do Lago


Fetch (km) Altura de segurança (m)
Indicada Mínima
< 1,5 1,2 1,0
1,5 1,5 1,2
5,0 2,0 1,5
7,0 2,5 1,8
15,0 3,0 2,0

41
Fonte: Hradilek et, 2002

Para barragens de terra e de enrocamento, a borda livre máxima deve ser limitada a
3,0 m. Para quaisquer barragens, a altura de segurança pode ser calculada a partir
da estimativa da altura da onda, a velocidade das ondas e a definição da folga
mínima. A equação empírica de Stevenson permite calcular a altura da onda:

h o=0,028 √ V . L+0,76−0,26 L0,25 onde h é a altura da onda em m, V é a velocidade


0

do vento em km/h e L é o fetch em km. A partir da altura da onda, define-se a altura

de segurança por h= 1,4 ho .

Outra forma é, a partir da altura da onda, estimar a sua velocidade pela equação de

Gaillard v= 1,5+ 2h o , sendo v a velocidade das ondas expressa em m/s e ho em m. A


velocidade das ondas deve ser transformada em altura (v²/2g).

2
v
h= 1,25 ho +
A altura de segurança final será 2g .

A altura da barragem é a distância vertical entre o ponto mais profundo da fundação


até a crita ou coroamento.

A largura da crista ou coroamento em barragens de terra pode ser calculada como


uma função da altura. A largura mínima da crista, de acordo com o USBR (1967) 1

H
L= +3
pode ser calculada pela equação 5 , onde H é a altura máxima da barragem
e L é a largura mínima da crista, em metros. O USBR estabelece como largura
mínima o valor de 3,65 m (12 pés).

Eletrobrás (2000) estabelece como larguras mínimas os valores de 3,0 e de 6,0 m,

A equação original é , mas utilizando como unidade de comprimento o pé (ft).

42
caso a barragem seja utilizada como estrada. Outras equações para o cálculo da
largura mínima da crista em função da altura da barragem são as de Preese (
3
L=1,1 √ H +1 ), a de Knappen ( L=1,65 √ H ) e a de USBR ( L=3,63 √ H −1,5 ).

Com a altura da barragem e a largura da crista definidas, passa-se para a seleção


inicial da inclinação dos taludes. Esse depende do material de construção e da altura
da barragem, conforme a Tabela 8.

Tabela 8 – Inclinação dos Taludes de Barragens (*)


Material do corpo da barragem Altura da Altura da barragem (**)
barragem (**)
até 5 metros de 5,1 a 10,0 metros
Solos Montante (m1) 2,00 2,75
argilosos
Jusante (m2) 1,75 2,25
Solos Montante (m1) 2,25 3,00
arenosos
Jusante (m2) 2,00 2,25
Areias e Montante (m1) 2,75 3,00
cascalhos
Jusante (m2) 2,25 2,50
Pedras de Montante (m1) 1,35 1,50
mão
(barragens Jusante (m2) 1,30 1,40
mistas)
Fonte: Eletrobrás, 2000.(*)
Valores usuais considerando-se que o material de fundação não condiciona a estabilidade do talude (casos nos quais as
fundações são mais resistentes que os maciços compactados das barragens).(**) Para barragens com altura > 10 m podem
ser usadas as mesmas inclinações dos taludes para as barragens de terra, desde que a estabilidade da barragem seja
verificada, como citado anteriormente. Para as barragens de enrocamento convencionais (como apresentado mais adiante) os
taludes devem ter, no mínimo, uma inclinação de 1(V) : 1,65 (H).

O DNOCS (1981) apresenta uma análise mais complexa, na qual devemos


considerar as condições de fundação, o tipo de solo e a altura de pequenas
barragens para definir a inclinação dos taludes. Esses valores são apresentados na
Tabela 9.

43
Tabela 9 – Inclinação dos Taludes em Função da Fundação e dos Solos
Consistência Nº Símbolo Altura da barragem
SPT 15 12 9 6 3
Mole <4 Todos Requer análise especial
SM 4,5 4 3 3 3
SC 6 5 4 3 3
Média 4a ML 6 5 4 3 3
10 CL 6,5 5 4 3 3
MH 7 6,5 4,5 3,5 3
CH 13 10 7 4 3
SM 4 3,5 3 3 3
SC 5,5 4,5 3,5 3 3
Dura 11 a ML 5,5 4,5 3,5 3 3
20 CL 6 4,5 3,5 3 3
MH 6,5 5 4 3 3
CH 11 9 6 3 3
SM 3,5 3 3 3 3
SC 5 4 3 3 3
Rija >20 ML 5 4 3,5 3 3
CL 5 4 3 3 3
MH 5,5 4 3 3 3
CH 10 8 5,5 3 3
Fonte: Adaptado de DNOCS, 1981.

A coluna Nº SPT apresenta o número médio de golpes no ensaio de penetração SPT


relativo a uma profundidade de fundação igual à altura da barragem.
A largura da base da seção transversal da barragem em metros é calculada por:
b=L ( m1 +m2 ) . H
b é a largura da base, L é a largura da crista, H é a altura da
barragem e m1 e m2 são as inclinações dos taludes de montante e de jusante.

3.2 Percolação

A percolação ou infiltração é o movimento continuo da água a partir da face de


montante em direção a sua face de jusante. Esse movimento é afetado pelo grau de
compacidade do solo, da textura, do grau de saturação, da estrutura e da
temperatura da água, que influencia a sua viscosidade.

44
Essa infiltração deve ser limitada de acordo com o princípio do controle de fluxo,
evitando que esse fluxo aflore no talude de jusante, provoque o arraste das
partículas mais finas e cause processos erosivos internos. Para isso, é necessário
prever, na fase de projeto, o comportamento da infiltração no maciço e sob o maciço.

A inserção de elementos de drenagem visa provocar o redirecionamento do fluxo,


evitar a erosão interna e reduzir as pressões intersticiais na porção de jusante, o que
aumenta a estabilidade da obra. A presença destas estruturas é recomendável para
barragens acima de 6 metros. A Figura 16 apresenta os principais esquemas de
drenagem de barragens de aterro.

Figura 16 – Esquemas de Drenagem Comuns para Barragens de Aterro

Tapete Drenante Dreno de Pé

Dreno Vertical Dreno Inclinado


Fonte : Nota do autor

45
A eficiência do dreno depende da sua localização e extensão. Para barragens de
terra de seções homogêneas, o sistema de drenagem interna será constituído, por
filtros (ou drenos) verticais ou inclinados e sub-horizontais conjugados, além de
drenos de pé. Para alturas superiores a 15 m, os sistemas de drenagem deverão ser
dimensionados com mais de um elemento drenante.

Os tapetes drenantes não são suficientes para drenar maciços estratificados e são
adequados para fundações de comportamento uniforme. Além destas limitações,
causam saturação no pé da barragem, mas são fáceis de construir. O filtro vertical
intercepta os fluxos em fissuras no maciço. Devem ter espessuras de até 2,0 m. O
filtro inclinado elimina riscos de trincas longitudinais na crista das barragens de
aterro construídas sobre fundações rígidas, podem ter um menor volume de areia do
que os verticais, mas são mais difíceis de construir. O filtro vertical (ou inclinado)
deverá ter seu topo na cota correspondente ao nível d’água máximo maximorum do
reservatório (Eletrobrás, 2003).

Segundo Cruz (1996), drenos verticais ou chaminé somente são recomendados para
barragens de 25 a 30 m. Para maiores alturas o dreno inclinado propicia uma melhor
distribuição de tensões no maciço, evitando a inclusão de uma parede vertical de
areia que possui uma rigidez sempre muito superior à do maciço adjacente, mesmo
no caso de barragens de enrocamento.

Os drenos horizontais têm como principal função o controle do fluxo pela fundação,
embora também atuem na drenagem do maciço. A espessura destes drenos é da
ordem de 1,0 m, sendo normalmente compostos de areia. A Figura 17 apresenta um
dreno horizontal.

46
Figura 17 – Dreno Horizontal Seguido de Dreno de Pé

Fonte: UFV, 2011

A escolha do material filtrante deve obedecer a dois princípios básicos: (i) o filtro
deve ser mais permeável que o solo, o que se garante com a eleição de uma
granulometria adequada e (ii) os vazios do filtro não devem permitir a passagem dos
grãos do solo.

A execução de ensaios específicos auxilia na escolha dos materiais a serem


utilizados. Os materiais de filtro e transição, quando usados como elementos
drenantes, deverão ter permeabilidade compatível com a sua utilização e apresentar
percentagem de finos não coesivos passando na peneira 200 inferior a 5%. No
dimensionamento final dos elementos drenantes deverá ser analisado o efeito da
contaminação pelo material do aterro e da fundação.

Caso necessário, os drenos deverão ser redimensionados pelo espessamento das


camadas drenantes. Poços de alívio a jusante da barragem serão adotados nos

47
casos em que possam ocorrer subpressões elevadas na fundação.

A proteção dos elementos drenantes é feita pelas camadas de transição, podendo


ser adotados critérios convencionais de transicionamento granulométrico dos
materiais adjacentes. Para isso, considera-se “d” como o diâmetro das partículas
dos materiais a serem protegidos (base) e “D” é o diâmetro das partículas dos
materiais de filtro, podendo-se adotar para “d” o valor médio da faixa e “D” o limite
superior da faixa. Para o material ser considerado para utilização como dreno, a

condição básica geral é: D 15 filtro > 5D15 solo .

No caso de barragens de seção mista, o sistema de drenagem interna será


constituído por camadas filtrantes em conjunto com o talude de enrocamento de
jusante. Para a drenagem da fundação destas barragens, podem ser adotados
trincheiras drenantes e poços de alívio espaçados regularmente a jusante, além do
próprio filtro/dreno sub-horizontal do maciço.

Para o caso do filtro/dreno sub-horizontal em contato com a fundação, a vazão de


projeto a ser considerada incluirá a contribuição dos dois fluxos, pelo maciço e pela
fundação.

Podemos também utilizar o Método dos Elementos Finitos (MEF), incorporando a


presença e as características do próprio filtro nas análises de percolação e de
estabilidade. Se não incorporarmos o filtro neste momento, será necessário reavaliar
a estabilidade do maciço com a sua presença.

Em qualquer caso a posição da linha de saturação do filtro sub-horizontal terá


influência nas análises de estabilidade do talude de jusante. A correção dos fatores
de segurança poderá ser obtida com a utilização de filtros horizontais de camadas
múltiplas ou filtro “sanduiche” de materiais drenantes de diferentes granulometrias,
devidamente dimensionados.

48
3.3 Estabilidade de Taludes e Fundações

Quando a superfície de um terreno não é horizontal, são gerados esforços


tangenciais que tendem a mover o solo para as regiões mais baixas. Ao movimento
de massa de terra nestas circunstâncias dá-se o nome de escorregamento de
taludes. Esses escorregamentos podem ocorrer de maneira lenta, com o sem uma
causa imediata aparente, mas, em geral, estão associados a escavações,
acréscimos de carga sobre taludes existentes, liquefações do solo provocadas por
esforços dinâmicos, entre outros.

A ação da água é uma das maiores responsáveis pela ocorrência de


escorregamentos de taludes. Ao infiltrar em um maciço de terra, a água pode
produzir os seguintes efeitos favoráveis ao escorregamento:

Perda de resistência do solo por encharcamento;


• Aumento do peso específico do solo e, portanto da componente da força que
atua na direção do escorregamento;
• Diminuição da resistência efetiva do solo pelo desenvolvimento de pressões
neutras; e
• Introdução de uma força de percolação, no sentido do escorregamento.

Ao escorrer superficialmente sobre os taludes, especialmente o de jusante, a água


pode adquirir velocidade suficiente para provocar erosões. Esses processos
erosivos normalmente iniciam no pé do talude e podem assumir proporções tais que
provocam a instabilidade de grandes massas. A Figura 18 apresenta uma erosão do
talude de jusante de uma barragem zoneada.

49
Figura 18 – Erosão em Talude de Jusante Parcialmente Desprotegido, Barragem VAC 06 –
São Gabriel, RS

Fonte: Nota do autor, 1994

De modo geral os escorregamentos podem ser provocados por aumento das forças
atuantes e/ou diminuição da resistência ao cisalhamento do solo. Para analisar a
estabilidade de um talude existente ou projetado, é necessário comparar as tensões
cisalhantes e a resistência ao cisalhamento ao longo de uma superfície potencial de
escorregamento.

A resistência ao cisalhamento pode ser definida pela equação de Coulomb (USBR,

1967), s=C+ ( σ−u ) tanϕ onde s é a resistência ao cisalhamento por unidade de área,
C é a coesão do solo e ϕ é o ângulo de atrito interno. Pela equação de Coulomb,
verifica-se que a parcela de atrito da resistência ao cisalhamento ao longo de um
plano se reduz à pressão intersticial. (USBR, 1967).

50
As pressões intersticiais nos solos coesivos compactados são produzidas pelos
esforços de compressão. Estes podem ser simulados em laboratório com o ensaio
de compressão triaxial, que é o mais versátil ensaio para a determinação da
resistência ao cisalhamento dos solos.

Em solos impermeáveis sujeitos a cargas, o esforço total a qualquer plano é


composto por um esforço efetivo e da pressão do líquido. O esforço ao longo de
uma estrutura de terra pode ser escrito como σ=u+σ onde σ é o esforço total, σ é
o esforço efetivo e u é a pressão intersticial.

A ruptura de um solo de maneira ideal é produzida pelo cisalhamento ao longo de


uma superfície, na qual ocorre o deslizamento de uma parte do maciço sobre uma
zona de apoio que permanece fixa. Em todos os pontos da superfície de ruptura, a
tensão de cisalhamento atinge o valor máximo da resistência ao cisalhamento.

O fator de segurança contra a ruptura do solo é o critério para a avaliação da


estabilidade de uma barragem e é definido como a razão entre as forças
estabilizadoras e as forças desestabilizadoras. A ruptura se dá, então, quando essas
forças se igualam e o Fator de Segurança iguala a unidade. A Figura 19 apresenta
esquematicamente as forças envolvidas na análise de estabilidade do maciço.

51
Figura 19 – Esquema das Forças Envolvidas na Análise de Estabilidade em Barragens (P é
o peso de uma fatia do maciço, N é a força normal e T é a componente paralela; N.A. é o
nível de água)

Fonte: Adaptado de Carmignami e Fiori, 2009

De maneira geral, a estabilidade da barragem de terra com altura até 10 metros, que
não tenha problemas de fundação, fica assegurada pela adoção das seções
recomendadas nas tabelas 4, 5, 8 e 10. Para seções diferentes das indicadas é
necessária a realização de análises especiais, principalmente as de estabilidade
para três condições:

1ª - Final da construção: durante a construção da barragem de terra, na medida em


que as sucessivas camadas de aterro vão sendo lançadas e compactadas, a
pressão total em um determinado nível vai aumentando, gerando pressões
intersticiais resultantes da compressibilidade do aterro e da sua baixa
permeabilidade. Os esforços atuantes são função do peso do solo e das pressões
neutras induzidas, relacionadas com o tipo de solo, o teor de umidade dos solos
colocados e do ritmo da construção da barragem;

2ª - Reservatório máximo em operação: durante o primeiro enchimento do


reservatório, ocorre o estabelecimento de fluxos de percolação, que vão,

52
progressivamente, estruturando uma rede de fluxo permanente. Após a percolação
da água de montante para jusante, a pressão de percolação é favorável à
estabilidade do talude de montante e desfavorável à do talude de jusante; e

3ª - Rebaixamento rápido (se for o caso): corresponde a uma situação crítica para
o talude de montante da barragem. A análise do rebaixamento rápido considera a
manutenção das condições de pressão intersticial (ou poropressão) na condição de
reservatório em operação, diminuindo a carga estabilizadora sobre o talude de
montante.
A simulação do rebaixamento pode ser de dois tipos básicos: o primeiro variando o
nível do reservatório da cota máxima de operação (NA máx ) até o nível mínimo de
operação (NA mín ); o segundo, variando do nível máximo até o nível mais baixo que
este reservatório possa atingir.

A estabilidade estará assegurada sempre que fatores de segurança obtidos nas


análises forem iguais ou superiores a valores referenciais definidos com base em
estudos de situações reais.

Usualmente, valores dos Fatores de Segurança maiores ou iguais a 1,5 nas duas
primeiras condições e iguais ou maiores de 1,2 na terceira, são aceitos. Carvalho e
Paschoalin Filho (2004) utilizaram valores próximos a estes na análise de barragens
de terra (Tabela 10).

Tabela 10 – Fatores de Segurança para Verificação da Estabilidade


Condição de solicitação Talude FSmínimo
Montante 1,3
Final da construção
Jusante 1,3
Montante 1,5
Regime permanente de operação
Jusante 1,5
Rebaixamento do reservatório (Nível Água máximo – NA
Montante 1,1
mínimo)
Fonte: Carvalho e Paschoalin Filho, 2004

53
Os métodos de equilíbrio limite na sua maioria dividem a região do solo delimitada
pela superfície de ruptura em fatias verticais, analisando as condições de cada fatia
isoladamente, como apresentado na Figura 20.

Figura 20 - Divisão da Ruptura em Barragens de Terra.

Fonte: Sandoval, 2011

A Figura 21 apresenta a modelagem de pressões no maciço de uma barragem


(Odeluca, na região do Algarve) em dois momentos, o final da construção e ao final
do enchimento (nível da água a 73,0 m acima da superfície do terreno), ficando clara
a alteração das pressões entre as duas situações. O autor utiliza valores negativos
para as tensões, sendo que a legenda apresenta os valores de cima para baixo na
ordem crescente de tensões (azul para menor tensão, vermelho para maior tensão)

54
Figura 21 – Distribuições de Tensões Totais Verticais no Interior da Barragem ao Final da
Construção (figura superior) e ao Final do Enchimento (figura inferior)

Fonte: Adaptado de Dias, 2010.

Já a Figura 22 nos apresenta a mesma barragem, mas com a presença dos


elementos drenantes. Vemos a variação da posição da linha superior de percolação
ao longo do tempo correspondente ao enchimento do reservatório, demonstrando o
efeito do sistema de drenagem a jusante do filtro vertical.

55
Figura 22 – Posição da Linha Superior de Percolação no Maciço para Diferentes Níveis da
Água durante o enchimento

Fonte: Dias, 2010

Ao avaliarmos a estabilidade de uma barragem de terra ou de enrocamento


devemos verificar se há histórico de abalos sísmicos na região, que podem gerar
solicitações dinâmicas ao aterro. Esta análise passou a ser solicitada mesmo para
barragens em zonas sem registros de abalos sísmicos, pela possibilidade dos
mesmos serem causados pelo próprio enchimento do reservatório.

Além da possibilidade de ruptura, a barragem de terra deve ser avaliada quanto à


possibilidade de adensamento, situação na qual perderá altura, o que poderá
comprometer a sua segurança em relação ao galgamento. Um acréscimo na altura
de segurança pode compensar o adensamento, mas a observância das condições
de compactação na execução de obra é fundamental para garantir a segurança da
obra.

O adensamento é resultante das pressões devidas ao peso próprio e das cargas


móveis trafegando sobre o aterro. O adensamento sempre existirá em um aterro,
mas pode e deve ser controlado para evitar a ruptura do aterro. Essa ruptura pode
se dar por afundamento ou por escorregamento.

56
A Figura 23 ilustra essa situação e mostra o procedimento de estimativa do
adensamento. O cálculo do adensamento é realizado a partir da porosidade do
maciço antes (ε1) e depois (ε2) de receber a carga, que é resultante do peso do
próprio maciço. Seguindo as indicações da Figura 25, o cálculo seria o seguinte:
n
ε 1−ε 2
∆h= ∑ ∆hi ;∆hi =∆s 1
i=1 1+ε 1

Figura 23 – Adensamento de Barragens de Terra

Fonte: Sandoval, 2011

A ruptura por afundamento ocorre quando uma camada subjacente ao aterro tiver
capacidade de suporte muito baixa e de espessura considerável. O aterro pode
afundar por igual, expulsando lentamente o material sem capacidade de carga para
os lados, como mostra a Figura 24.

Figura 24 – Ruptura por Afundamento

57
Fonte: Almeida, s.d.
Na ruptura por escorregamento, uma camada de baixa resistência ao cisalhamento
está localizada sobre uma camada mais resistente e tem o seu teor de umidade
aumentado, reduzindo ainda mais a sua resistência. Quando esse tipo de acidente
acontece, a forma do escorregamento quase sempre é lenticular (tem forma
semelhante à de uma lente), como mostra a Figura 25.

Figura 25 – Ruptura por Escorregamento

Fonte: Almeida, s.d.

A remoção de solos sem capacidade de suporte geralmente é feito por dragas


mecânicas, sendo substituído por material arenoso. Podem ser empregadas bombas
para forçar a drenagem, facilitando a retirada do lodo, mas o aterro com material
arenoso deve ser realizado imediatamente após essa retirada. Esse procedimento é
realizado em faixas alternadas, permitindo o fluxo da água através do material
arenoso. A remoção e/ou aterramento de solos lodosos pode ser realizado ainda
com dragas de sucção, se forem extremamente moles. Quando concluído, de
acordo com o projeto, o aterro arenoso pode ser escavado para a colocação de
núcleo argiloso ou uma parede diafragma de concreto, entre outras concepções
possíveis.

O deslocamento do material de baixa resistência pode ser realizado pelo peso do


próprio aterro. Para isso, elevamos aos poucos o aterro, em setores, e o material

58
mole é deslocado para os lados, como mostra a Figura 26. Isso é viável se a
camada de baixa resistência não for muito espessa e estiver sobre um solo firme.
Como não é possível realizarmos um controle de uniformidade do aterro, essa
técnica é utilizada para obras provisórias e de baixo risco, como as ensecadeiras.

Figura 26 - Deslocamento de Material Instável pelo Peso do Aterro

Fonte: Almeida, s.d.

O deslocamento do material inconsistente também pode ser realizado com o uso de


explosivos quando a camada a ser removida estiver mais profunda ou resistir ao
peso do aterro. São feitas inicialmente explosões superficiais para a segregação das
fases líquida e sólida do solo e remoção das raízes, que podem gerar uma estrutura
reticular com razoável resistência.

O adensamento pode ser acelerado com a drenagem do terreno por meio de drenos
verticais de areia com colchão de areia. Com esta técnica, são feitos poços verticais
que são preenchidos com areia. No topo destes poços é lançada uma camada
horizontal de areia, que será pressionada pelo aterro, favorecendo a drenagem e o
consequente adensamento. Essa técnica é apresentada pela figura 27.

59
Figura 27 – Drenos Verticais e Colchão de Areia

Fonte: Almeida, s.d.

Não sendo possível a remoção dos solos moles da fundação, o projeto pode prever
bermas de equilíbrio, que são aterros anteriores e posteriores que evitam o
deslocamento do material instável, como vemos na figura 28. Por outro lado,
resultam em um aumento considerável do volume do aterro. Por fim, pode-se
aumentar o peso do aterro, causando uma sobrecarga na fundação. Depois de
verificada a inexistência de recalques, o excesso de aterro pode ser removido.

Figura 28 – Bermas de Equilíbrio

Fonte: Almeida, s.d.

60
4 CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS DE ATERRO

A técnica de compactação é relativamente recente e seu controle correto ainda mais


recente. Antes do desenvolvimento da técnica de compactação, os aterros eram
feitos simplesmente lançando-se o material pela sua ponta.

Como resultado da compactação insuficiente havia:


• Uma compressibilidade exagerada do aterro devido aos grandes vazios que
podiam formar-se entre as camadas lançadas;
• A grande porosidade do próprio material que permanecia em estado fofo; e
• A instabilidade do aterro, o qual poderia perder totalmente sua resistência se
sofresse saturação, como no caso de chuvas intensas.

Essas observações levavam à conclusão de que aterros necessitavam de certo


período de consolidação antes que pudessem ser utilizados com segurança. A
técnica moderna de compactação estabelece o lançamento de aterros em camadas
horizontais, com passagem de rolos compressores pesados, que evitam o solo fofo
e a formação de vazios entre torrões. A compactação, portanto, é um processo
mecânico, pelo qual se procura, por aplicação de peso ou apiloamento, aumentar a
densidade aparente do solo lançado e, como consequência, aumentar a sua
resistência.

Para realizar a compactação adequada de uma barragem, é necessário realizar a


preparação de sua base antes da colocação do material que será aterrado. Para
isso, o local onde será construída a barragem deverá ser devidamente delimitado,
com o uso de apoio topográfico. A equipe de topografia deve demarcar e, se for o
caso, monumentalizar os locais importantes da obra. Demarcado o local, devemos
proceder à realização das atividades preliminares, tais como o desvio do curso
d’água ou a limpeza do terreno, dependendo do porte da obra e da drenagem.

61
O desvio do curso d’água é realizado para drenar a área de construção do maciço. É
uma ação de extrema importância para a execução de barragens maiores, podendo
ser desprezada em climas com período seco bem definido e em locais onde o curso
d’água é intermitente. O desvio do rio é mais fácil quando os vales são abertos,
podendo ser realizado apenas com movimentação de terra.

Em vales fechados e com fundação rígida, pode ser necessário desviar o rio por
meio de túneis ou por galerias de concreto (figuras 29 e 30) que serão
posteriormente fechadas ou parcialmente aproveitadas para a tomada d’água ou
para o descarregador de fundo. Nestes casos, a primeira obra será justamente a
abertura do túnel ou das galerias de desvio. Os locais onde serão construídas estas
estruturas devem ser limpos e preparados para receber estas obras, além de
protegidos contra eventuais cheias que ocorram durante a sua construção.

Figura 29 – Desvio do Rio por Meio de Galeria, observando-se o Perfil do Vertedor à


Esquerda na foto (Usina no rio Cavernoso, PR)

Fonte: COPEL

62
Figura 30– Construção da Tomada D’água: (1) Vista de Montante, com a Torre de Comando;
(2) A Tubulação Atravessando o Maciço; (3) a Saída da Tubulação, com Muros de Proteção
no Lado de Jusante e Dissipador de Energia e (4) o Reservatório Concluído.

(1) (2)

(3) (4)
Fonte: UFV, 2011

A proteção das obras usualmente é realizada por meio de ensecadeiras construídas


com aterro, que poderão ou não ser incorporadas no maciço definitivo. A altura da
ensecadeira deve ser tal que não seja ultrapassada uma cheia com um tempo de
recorrência compatível com o tempo de recorrência utilizado para o cálculo do
vertedor. Para obras de médio e grande porte, tempos de recorrência de 100 anos
são suficientes para garantir um nível de risco baixo.

Concluída a obra de desvio, as ensecadeiras são removidas e o curso d’água passa


a correr de forma dirigida por dentro da estrutura, liberando a área para o trabalho
no maciço. A Figura 31 nos mostra a construção da ensecadeira da UHE Belo
Monte, iniciada em 2012.

63
Figura 31 – Ensecadeira da Usina de Belo Monte

Fonte: João Zinclar, Movimento Xingu Vivo Para Sempre

Nos vales abertos, o maciço pode ser construído em duas partes no sentido
longitudinal, sendo que a primeira deve abrigar a tomada d’água, pois a mesma
servirá para o desvio do rio na fase seguinte. Uma ensecadeira construída na
direção de montante para jusante pode separar a parte que será construída da ação
do curso d’água.

Concluída a tomada d’água e estando o maciço em cota igual ou superior à da


ensecadeira, podemos proceder ao desvio do curso d’água para a tomada d’água ou
descarregador de fundo, construindo outras ensecadeiras que agora irão proteger a
construção da outra parte. Quando as duas estiverem acima da cota das
ensecadeiras e com as proteções dos taludes já implantadas, as ensecadeiras
deixam de ser necessárias.

A ligação entre as duas partes do maciço exigirá a escarificação do aterro já


construído e uma compactação cuidadosa desta seção, sendo necessário muitas
vezes realizar um trabalho manual de apiloamento ou utilizar equipamentos
compactadores de pequenas dimensões, como os sapos, para evitar deixar uma

64
porção de solo sem a consistência necessária.

É importante observar que nestes casos há normalmente um superdimensionamento


destas estruturas, pois deverão ser capazes de conduzir uma cheia com tempo de
recorrência razoavelmente alto, enquanto que as vazões derivadas na fase de
operação usualmente são bem menores que a vazão média do curso d’água na
seção da barragem.

Por isso, é essencial observar as condições climáticas dos locais de construção de


barragens. Se há uma estação seca bem definida e os recursos de solo para
construção estão disponíveis a distâncias que permitam o bom desempenho dos
equipamentos que serão mobilizados para a construção do maciço, a estrutura de
desvio do rio poderá ter um uso em um curto espaço de tempo, permitindo assumir
um risco mais elevado para a obra.

A área que estará situada sob a barragem deve ser limpa, incluindo o
desmatamento, o destocamento e a remoção da terra vegetal até a profundidade
que for necessária. Pedras com mais de 15 cm de diâmetro também devem ser
removidas do local do maciço. Esta área deve ter uma largura igual à base da seção
transversal da barragem, mais 5 metros para montante e jusante.

O material removido da operação de limpeza deve ser transportado para locais fora
da área das obras ou do futuro lago. A área do futuro lago também deve ser limpa,
com a retirada de árvores, arbustos e raspagem da camada superficial do solo para
a retirada do material orgânico existente. A limpeza da área normalmente é bastante
onerosa, mas a sua não realização contribui para infiltrações e rupturas de
pequenas barragens (Carvalho, 2008).

Após a limpeza, o terreno deverá ser regularizado e compactado com trator de


esteiras, que deverá executar dez passadas por toda a área de fundação e
ombreiras. Após limpa e preparada a fundação, caso se verifique a existência de

65
algum olho d’água, devido à infiltração pela fundação, este deverá ser
convenientemente drenado ou desviado, o que é possível com a utilização de
manilhas de concreto ou cerâmica preenchidas com brita e uma terminação com
pasta de cimento, como nos mostra a Figura 33.

Figura 32 – Tratamento de Olho D’água na Fundação da Barragem


lançamento da pasta
de cimento

nível de lançamento
da brita (final)

1,00
NA estabilizado
camadas
compactadas
da barragem tubo de concreto ou
cerâmica (manilha)

abertura do fundação
olho d`água infiltração

TRATAMENTO DE OLHO D`ÁGUA NA FUNDAÇÃO

Fonte: Eletrobrás, 2000

Quando os estudos geotécnicos indicarem a presença de camadas permeáveis


próximas à superfície e que poderiam permitir a passagem de água com uma
velocidade capaz de transportar o material do aterro, torna-se necessário reduzir a
percolação pela fundação. A construção de um núcleo impermeável ou parede-
diafragma, que intercepte a trajetória da água dentro do solo, são opções técnicas a
serem avaliadas.

Como orientação geral, devemos prever a avaliação de um cut-off ou trincheira de


vedação sob toda a base do maciço e abrangendo uma profundidade até a rocha ou
estrato impermeável. O equipamento mais apropriado para esta escavação é a
retroescavadeira ou escavadeira hidráulica. Caso a fundação seja de um material

66
mais permeável que o material da barragem ou da parte central de uma barragem
mista, conforme a figura já apresentada, deverá ser realizada a sua
impermeabilização, seja por meio do cut-off, seja por meio de diafragmas, estacas,
injeção de concreto ou outras técnicas.

A decisão sobre qual técnica dependerá de ensaios de infiltração e permeabilidade,


conjugados com os ensaios geotécnicos e da análise de estabilidade. Sua seleção
deve ser considerada e a sua influência na estabilidade e no custo da obra devem
ser avaliadas criteriosamente.

As trincheiras escavadas na parte central da fundação terão seção trapezoidal e


serão preenchidas com o material do corpo da barragem ou da parte central, caso
seja mista. As dimensões usuais dessas trincheiras são apresentadas na Tabela 11,
e a Figura 33 nos mostra as etapas de construção de uma trincheira e o uso do rolo
pé de carneiro.

Tabela 11 – Dimensões da Trincheira de Vedação da Base do Maciço


Altura (m) Base maior (m) Base menor (m) Profundidade (m)
até 5,00 3,0 1,5 0,5
6,00 3,0 1,5 0,6
7,00 3,0 1,5 0,7
8,00 3,2 1,6 0,8
9,00 3,6 1,8 0,9
10,00 4,0 2,0 1,0
Fonte: Nota do autor

67
Figura 33– Preparo da Fundação, com Abertura, Colocação de Material Argiloso e
Compactação de Trincheira na Fundação

Fonte: UFV, 2011

Na fundação do lado de jusante, quando se tratar de barragem homogênea com o


uso de trincheira, deverá ser lançada uma camada de areia (colchão) de 0,20 m de
espessura, do fundo da trincheira até o pé do talude de jusante. A compactação do
colchão e da trincheira deverá ser executada manualmente, através de apiloamento.

Para a construção do corpo da barragem, o material deverá ser lançado com


caminhões basculantes e espalhado com trator de esteira ou motoniveladora ou
manualmente. Antes do lançamento da primeira camada de solo, devemos realizar o
revolvimento da base por aração, umedecê-la e compactá-la, com objetivo de
proporcionar maior liga com a camada superior.

68
A compactação deverá ser executada em camadas de 15 a 25 centímetros, através
de um trator de esteiras rebocando um rolo compactador. O modelo pé de carneiro,
com massa de 4 toneladas, é adequado para o trabalho em solo. Após a
compactação, a camada ficará reduzida em cerca de 5 cm de espessura. O controle
de compactação deve acompanhar toda a construção do maciço.

Caso não haja rolo compactador, as camadas de solo devem ser menores (menos
de 20 cm) e a compactação poderá ser feita por trator de pneus, pelo próprio trator
de esteiras ou por caminhões carregados com o próprio material do aterro,
circulando no sentido transversal ao rio ou paralelamente ao eixo da barragem,
percorrendo toda a área que está sendo aterrada e passando no mínimo seis vezes
pelo mesmo lugar. No caso onde não houver a possibilidade de compactação
mecânica, esta deverá ser executada manualmente através de apiloamento, como
visto na Figura 34. O uso de animais de tração também possibilita a compactação de
aterros mínimos.
Figura 34 – Pilão para Aterro – Barragem Santa Bárbara, Pelotas, RS.

Fonte: Nota do autor

69
Como visto anteriormente, o teor de umidade é um fator essencial para garantir a
qualidade da compactação. O solo deverá ter seu teor de umidade corrigido se
estiver muito seco, com a aplicação de água por meio de um tanque ou caminhão
tanque. Se o solo estiver muito úmido, o trabalho de compactação não deve ser
realizado, esperando a perda de umidade até que se atinja o ponto ótimo ou próximo
dele. Para acelerar este processo, o solo pode ser revolvido com o uso de grades.
Por isso, recomendamos que barragens de aterro devam ser construídas
preferencialmente durante o período seco do ano.

A compactação junto da tubulação ou da galeria da tomada d’água normalmente é


realizada manualmente, com o uso de pilões de madeira, dada a dificuldade de
acessar a seção inferior da tubulação com os equipamentos compactadores
mecanizados. A construção de golas e colares ao longo da tubulação deve ser
realizada com a utilização de concreto ou de tijolos, podendo ser de formato
retangular no primeiro caso e circular, no segundo. As dimensões mínimas destes
colares são da ordem de 0,2 m.
Antes da conclusão do maciço, o vertedouro deve ser construído, inclusive com a
respectiva estrutura de dissipação de energia.

Na Figura 35, observamos construção de uma barragem de terra. A obra está


protegida por duas ensecadeiras; a colocação de solo para aterro está sendo
realizada com o uso de caminhões; o espalhamento do solo é realizado por um
trator de lâminas; e a argila do núcleo é umedecida pelo caminhão pipa.

70
Figura 35 – Construção da Barragem de Terra da PCH Paracambi

Fonte: Lightger S/A.

Para barragens de enrocamento, as sequências construtivas são semelhantes às de


terra.

• Preparo da fundação e das ombreiras

A área que estará situada sob a barragem deve ser limpa, incluindo o
desmatamento, o destocamento e a remoção da terra vegetal até a profundidade de
20 cm na área a ser ocupada pelo maciço, sendo que na área central a ser ocupada
pelo material menos permeável a limpeza deve atingir no mínimo 50 cm. Esta área
deve ter uma largura igual à base da seção transversal da barragem mais 5 metros
para montante e jusante. O material removido da operação de limpeza deve ser
transportado para locais fora da área das obras ou do futuro lago. Nas margens ou
ombreiras, deverá ser removido o material de colúvio e material solto.

Após a limpeza, o terreno deverá ser regularizado e compactado com trator de

71
esteiras, que deverá executar dez passadas por toda a área de fundação e nos
trechos de ombreiras com inclinação compatível com o trânsito do trator.

Caso a fundação seja de um material mais permeável que o material da barragem


ou da parte central de uma barragem mista deverá ser escavada, na parte central da
fundação, uma trincheira de seção trapezoidal que será preenchida com o material
do corpo da barragem.

• Lançamento, espalhamento e compactação do material.


O corpo da barragem de enrocamento deve contar com mais de 50% de pedras com
tamanho superior a 200 mm. O tamanho das pedras e o cuidado na colocação das
mesmas devem aumentar desde o centro do aterro até os taludes e a fundação. As
pedras maiores devem ser colocadas nos taludes, sobretudo no de jusante.

O material para a parte central deve ser obtido nas pedreiras sem seleção, contendo
fragmentos menores, como brita e areia. No espalhamento, as partículas menores
devem ser deixadas no centro da seção e as maiores nas laterais, junto aos taludes.
Esta seleção pode ser obtida durante o espalhamento, deslocando-se o trator com a
lâmina a meia altura, sem tocar a superfície da camada anteriormente compactada.

O material da barragem, exceto as camadas finais dos taludes e das cristas, deverá
ser lançado com caminhões basculantes e espalhado com trator de esteira ou
motoniveladora. A compactação deverá ser executada em camadas de 60
centímetros, através de um trator de esteiras rebocando um rolo compactador de 4
toneladas. Caso não haja rolo, esta compactação poderá ser feita por caminhões
carregados pesando 10 toneladas ou mais e passando no mínimo duas vezes pelo
mesmo lugar. No caso da trincheira, a compactação deverá ser executada
manualmente através de apiloamento, em camadas de 10 a 15 cm de espessura.

Para as barragens de até 3 metros, a parte central do corpo do aterro deverá ser
constituída de pedras com dimensões não superiores a 200 mm, misturadas com

72
partículas menores (brita, solo e areia), compactadas em camadas de 30 cm. A
compactação, neste caso, pode ser executada até manualmente.

• Reforço da Crista e dos taludes da barragem.


As últimas camadas de pedra da crista e dos taludes, com diâmetro calculado
segundo os critérios já definidos, serão colocadas de forma cuidadosa, buscando
diminuir os espaços entre as pedras. Após a colocação das pedras, os espaços
deverão ser preenchidos com pedras menores. Finalmente, deverá ser efetuada a
compactação da camada de reforço da crista e do talude de jusante, com o rolo
compactador ou com os caminhões carregados.

4.1 Proteção dos Taludes e Coroamento

a) Barragens homogêneas

Os taludes das barragens homogêneas deverão ser protegidos contra a ação das
ondas, da variação do nível da água e das chuvas. A proteção dos taludes existe
para prevenir a erosão dos mesmos. Existem quatro tipos básicos:
Enrocamento ou rip-rap.Basicamente é utilizado na proteção dos taludes de
montante e é formado por duas camadas de materiais:
• Camada(s) interna(s): filtro ou transição, formado por areias e pedregulhos de
granulometrias controladas para prevenir a perda de solo do maciço através
dos vazios do enrocamento;
• Camada externa: formada por pedras de tamanhos suficientes para não
serem carreadas pelas ondas do reservatório, ou ocasionalmente escombros
de concreto de construção e pavimentação de demolição. É usada para
proteger o aterro da erosão, absorvendo-a, e para desviar o impacto de uma
onda antes que ela atinja o solo compactado. O tamanho e a massa do
material rip-rap absorvem a energia de impacto das ondas, enquanto que as
lacunas entre as pedras retarda o fluxo de água, diminuindo sua capacidade

73
de erosão do solo ou estruturas. A massa de rip-rap também oferece proteção
contra danos causados por impactos de gelo ou detritos.

O enrocamento comum é acomodado pelo impacto dinâmico, obtido pela simples


rolagem das pedras largadas a partir da parte mais alta da barragem. Podemos
também efetuar a distribuição das pedras com o uso da pá carregadeira, como
mostrado na Figura 36.

Figura 36 – Lançamento de Rochas sobre Talude e Distribuição por Pá Carregadeira

Fonte: Disponível em: http://www.flickr.com/photos/usacehq/with/6426081849/

O dimensionamento do enrocamento pode ser realizado pela energia das ondas


previstas, o que determinará o peso de pedras necessário e a espessura do
enrocamento. Espessuras mínimas de enrocamento situam-se entre 0,45 m e 0,9 m,
de acordo com a Tabela 12.

Tabela 12 – Espessuras Mínimas de Enrocamento


Fetch (km) Espessura mínima (cm)
<1,5 45
4 60
8 75
>10 90
Fonte: Costa e Lança, 2001

O peso específico médio das rochas mais comuns assume valores de 2,4 kgf/m³
para o arenito não friável, 2,65 kgf/m³ para o calcário, 2,7 kgf/m³ para granito e
gnaisse e 2,85 kgf/m³ para o basalto. A Figura 38 mostra o enrocamento de uma

74
pequena barragem de terra e as ondas formadas no lago.

Figura 37 – Enrocamento do Talude de Montante, Barragem em Barra do Ribeiro, RS

Fonte: Nota do autor.

• Alvenaria de pedra ou laje de concreto.


Alvenaria de pedra, laje de concreto ou solo – cimento – são alternativas de
proteção do talude de montante para regiões onde a quantidade ou a qualidade das
pedras forem restritivas. Têm uma manutenção cara e exigem monitoramento, tanto
das placas como das juntas entre elas. A constante ação das ondas pode resultar
em:

• Processo de formação de praias no pé do talude pela deposição do material


subjacente à proteção, carreado por vazios ou trincas na laje de alvenaria ou
concreto. Pode provocar a remoção/trincamento ou afundamento da proteção.
A continuidade do processo pode abater o talude; levar ao aumento da
percolação e à instabilidade do talude.
• Degradação da proteção do talude pelo trincamento e quebra da proteção
devido ao desgaste.

75
A Figura 38 mostra uma barragem protegida com placas de concreto em mal estado.

Figura 38– Placas de Concreto no Talude de Montante do Açude Jaibaras (CE)

Fonte: Disponível em :
http://carlossilvareporter.blogspot.com.br/2010/08/jaibaras-sobral-ceara.html

No caso do uso do solo-cimento, o talude de montante deverá ser protegido com


uma camada de solo-cimento com aproximadamente 1 metro de espessura. Após a
compactação da cada camada de solo, será lançada a camada de solo-cimento que
será compactada com um mínimo 4 passadas do equipamento adotado ou por
apiloamento manual, devendo este trabalho ser finalizado 60 minutos após o
espalhamento.

Sucessivamente serão executadas as camadas superiores de compactação e de


proteção, tomando-se o cuidado de manter a umidade adequada para cura nas
camadas anteriormente executadas. Poderá ser adicionada água à mistura, caso
seja necessário dar condições de trabalhabilidade. A mistura de cimento ao solo
poderá ser realizada em betoneiras ou no próprio local, obedecendo aos teores de
cimento conforme a Tabela 13.

76
Tabela 13 – Composição da Mistura de Solo-cimento
Material Teor de cimento em peso (%)
Cascalho, areia grossa e fina 6a9
Solo arenoso 7a9
Solo argiloso 10 a 12
Fonte: Nota do autor

• Proteção vegetal
A proteção vegetal só é possível para barragens de terra e não é recomendada para
regiões áridas. Falhas na proteção do talude podem gerar erosões estreitas e
profundas que deverão ser prontamente reparadas. A proteção vegetal favorece o
crescimento de árvores e arbustos, o que é indesejado pelas seguintes razões:

− Dificulta o levantamento e inspeção das estruturas e áreas adjacentes na


observação da percolação, da existência e evolução de trincas,
afundamentos, deflexões, mal funcionamento do sistema de drenagem e
outros sinais de perigo;
− Dificulta o acesso adequado às atividades de operação normal e de
emergência e manutenção;
− Gera danos às estruturas devido ao crescimento das raízes, tais como
encurtamento do caminho de percolação; vazios no maciço pela
decomposição de raízes ou extração de árvores; expansão de juntas nos
muros de concreto, canais ou tubulações, entupimento de tubos perfurados
de drenagem;
− Atrai animais ruminantes, o que pode gerar caminhos preferenciais de trânsito
e posterior erosão nestes caminhos e dificulta o fluxo livre de água.

• Proteção com brita, pedregulhos e/ou bica corrida.

No caso de existência de muito material rochoso, o talude de jusante também pode


ser protegido por enrocamento, mas, neste caso, a espessura da camada pode ser

77
reduzida.

A proteção do coroamento visa resguardar a barragem da ação dos elementos


naturais, como a chuva (impacto direto das gotas e escorrimento superficial), ventos
(erosão eólica), pisoteio de animais e tráfego de veículos.

Para pequenas barragens uma camada de brita, pedrisco ou piçarra, com espessura
de 0,30 m e compactada é suficiente. Deve ser dada uma declividade de 1% a partir
do eixo na direção dos taludes para favorecer a drenagem superficial.

A Figura 39 mostra uma barragem de terra com seus dois taludes protegidos, sendo
o de montante com enrocamento e o de jusante com leivas de grama.

Figura 39 – Proteção dos Dois Taludes em Barragem de Terra

Fonte: CMB Consultoria, disponível em


(http://www.cmbconsultoria.com.br/servicos/monitoramento/ecovillas/agosto-2007/ )

78
Para barragens maiores, se houver a passagem de estrada, devem ser previstas
obras acessórias para a sua utilização, como pavimentação, meio-fio e guarda-
corpo.

b) Barragens mistas.

A proteção do talude de montante das barragens mistas será realizada com o uso de
enrocamento, como descrito anteriormente. O talude de jusante será protegido por
uma camada de areia, com a finalidade de evitar a saída do solo do corpo da
barragem através dos espaços entre as pedras de mão da zona permeável.

É executada internamente à zona permeável de jusante em uma altura mínima de ¾


h, sendo h a profundidade da água do reservatório. A execução desta proteção será
realizada junto com o alteamento da zona impermeável mínima.

c) Barragens de enrocamento

São naturalmente protegidas contra a erosão pela própria natureza do material


utilizado.

4.2 Detalhes Construtivos

Equipamentos
Além das informações já apresentadas nos capítulos anteriores, a construção de
barragens de terra exige o entendimento da capacidade dos equipamentos
usualmente empregados.

Os serviços envolvidos na construção da barragem envolvem equipamentos como


retroescavadeira, trator de esteiras, trator de pneus, motoniveladoras, scraper,
arados, grades, rolos compactadores, caminhão basculante e caminhão pipa.

79
Os tratores de esteira são de grande potência e muito versáteis para os serviços de
terraplenagem, limpeza de terreno, destocamento, retirada de pedras, escarificação
e transporte de materiais a distâncias pequenas, além de tração de scraper.
Normalmente são equipados com lâmina frontal para escavação (Bull-dozer),
podendo ser dotados de escarificadores.

As motoniveladoras são máquinas dotadas de uma lâmina que pode trabalhar na


horizontal, na vertical ou em ângulo. São indicadas para raspagens superficiais e
espalhamento do solo. Podem ser rebocáveis ou motorizadas.

Motoscrapers são máquinas que escavam o solo, armazenam, transportam e


descarregam o solo no local de compactação. São formados por duas partes, o
cavalo ou trator e a caçamba. Possuem grande capacidade de carga, uma
velocidade alta em relação a outros equipamentos e um grande raio de ação. Podem
ser convencionais ou do tipo push-pull, quando terão tração em todas as rodas.
Scrapers isolados podem ser de pequeno porte, quando serão puxados por tratores
agrícolas. Neste caso, também são conhecidos como caixotes ou mariposas.

Os rolos compactadores são equipamentos rebocados ou motorizados, vibratórios


ou estáticos, leves ou pesados, utilizados para a compactação do solo. Os rolos pé
de carneiro são indicados para solos argilosos e siltosos, enquanto que solos
arenosos e materiais de drenos são compactados por rolos lisos.

O número de passadas do rolo varia usualmente entre 3 e 5 (Carvalho, 2008), mas


podem ser definidas por ensaios no próprio local da obra nas condições de
operação. Um número excessivo de passadas irá prejudicar por produzir uma
supercompactação na superfície ou por destruir o aterro que já havia sido
consolidado. Além do número de passadas, a compactação também depende da
velocidade do rolo, que deve variar de acordo com o tipo de rolo: pneumáticos entre
10 e 15 km/h, pé de carneiro entre 5 e 10 km/h e vibratórios entre 3 e 4 km/h.

80
Os escarificadores são utilizados no tratamento da superfície e subsuperfície,
remoção de rochas soltas e raízes e na escavação do material de 2ª categoria,
quando precedem o trabalho de outros equipamentos.

Os reboques e caminhões são utilizados para transporte de solos e pedras.


Caminhões basculantes são utilizados em conjunto com pás carregadeiras na carga
e transporte de solo em distâncias geralmente superiores a 5 km.

Os rendimentos destas máquinas são medidos em função do volume escavado,


transportado e compactado, sendo uma função basicamente do tipo de solo
(resistência à escavação e condição de drenagem), condições climáticas e da
distância de transporte, são influenciados secundariamente pelas condições da
máquina e a habilidade do operador.

Para regiões com precipitações anuais elevadas, o uso de equipamentos com pneus
não é aconselhável na época das chuvas.

81
5 CONCLUSÕES

Nesta unidade, estudamos as barragens de aterro conhecendo seus tipos, materiais


empregados e suas propriedades físicas, bem como aspectos de projeto e
dimensionamento, além de particularidades de construção deste tipo de estrutura.

As barragens de aterro são classificadas de maneira mais ampla entre barragens de


terra e barragens de enrocamento. As barragens de terra são por sua vez divididas
entre barragens de terra homogênea, quando apenas um tipo de solo é utilizado na
sua construção, enquanto as barragens de terra zoneada têm um perfil composto
por diversos solos com diferentes propriedades. As barragens de enrocamento pos
sua vez diferenciam-se apenas pela localização de seu trecho impermeável, que
pode compor o núcleo da seção transversal, constituído por matérias como argila,
asfalto, ou impermeabilizadas por montante, normalmente por uma faze de concreto.
Tratamos ainda das barragens construídas por aterro hidráulico, que utilizam solo na
sua constituição, mas se diferem das anteriores por ser construída utilizando-se
água como meio de transporte do solo de sua constituição.

Apesar da unidade 8 abordar de maneira mais profunda as caraterísticas de rochas


e solos, abordou-se também nesta unidade algumas caraterísticas importantes para
a construção de barragens de aterro, especialmente a umidade ótima essencial na
constituição e aterros de solo.

A respeito do projeto e dimensionamento de barragens de aterro, conhecemos


alguns fatores determinantes da geometria de barragens de aterro e seus critérios
de projeto. Abordaram-se aspectos de percolação e estabilidade de taludes,
determinantes para o projeto desse tipo de estrutura. Ainda sobre projeto, foi
demonstrada a importância do conhecimento e realização e investigações sobre as
condições de fundação e os possíveis impactos de problemas do subsolo para a
segurança desse tipo de estrutura.

82
Sobre a construção, o principal assunto abordado foram os cuidados necessários
durante as etapas de lançamento e compactação de camadas para a execução de
barragens de aterro. Particularidades sobre o tratamento da fundação e sobre a
proteção dos taludes de jusante e montante contra o efeito das erosões, e ainda
questões relativas aos equipamento e outros materiais empregados nessas
construções foram também apresentados.

Devido à sua constituição, versatilidade e facilidade de emprego, as barragens de


aterro acabam por se tornarem propensas à ruptura. É de total importância que
projetistas, construtores e mantenedores tenham amplo conhecimento técnico sobre
este tipo de estrutura para que seja garantida a segurança desse tipo de barragem.

83
REFERÊNCIAS

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Federal de Juiz de Fora. s.d.

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de Construção, Projeto. São Paulo: Oficina de Textos, 1996.

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ampliada. Fortaleza, 1981. 225 p. ilust. [2ª reimpressão, 1983].

84
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85
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Presas Pequeñas. México, Compañia Editorial Continental, 1967.

86
CURSO
SEGURANÇA DE BARRAGENS

1
MÓDULO I – BARRAGENS: ASPECTOS
LEGAIS, TÉCNICOS E SÓCIOAMBIENTAIS

UNIDADE 10: BARRAGENS DE CONCRETO

2
FICHA TÉCNICA
Realização:

EQUIPE TÉCNICA

Edna Possan Glauco Gonçalves Dias


Elaboração de conteúdo Revisor Técnico Geral

Etore Funchal de Faria


Alexandre Anderáos
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico ANA

Fabio Luiz Willrich


Carlos Leonardi
Revisor técnico Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Josiele Patias
Cesar Eduardo b. Pimentel
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico ANA

Josimar Alves de Oliveira


Claudio Neumann
Revisor técnico ANA
Revisor técnico Itaipu

Ligia Maria Nascimento de


Claudio Osako Araújo
Revisor técnico Itaipu Revisora técnica ANA

Silvia Frazão Matos


Dimilson Pinto Coelho
Revisora técnica Itaipu
Revisor técnico Itaipu

Revisão Ortográfica

ICBA – Centro de Línguas


www.cursodeidiomasicba.com.br

Este obra foi licenciada sob uma Licença .Creative Commons Atribuição-
NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada

3
CURRICULO RESUMIDO

Profª: Edna Possan

Edna Possan: Doutora em Engenharia Civil


(2010) pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), com mestrado
(2004) pela mesma universidade. Graduada
em Engenharia Civil com ênfase em
produção (2003) pela Universidade Estadual

do Oeste do Paraná (UNIOESTE), na qual foi professora entre 2008 e 2009.


Atualmente é professora Adjunta Nível 2 na Universidade Federal da Integração
Latino Americana (UNILA) com atuação no curso de Engenharia Civil de
Infraestrutura. Desde 2010 é pesquisadora do CEASB/PTI (Centro de Estudos
Avançados em Segurança de Barragens/PTI), desenvolvendo em paralelo diversos
trabalhos em parceria com o Laboratório de Tecnologia do Concreto de Itaipu
(LTCI). Membro fundador da Associação Latino Americana de Patologia da
Construção (ALCONPAT Brasil). Sócia do Instituto Brasileiro do Concreto
(IBRACON), da Asociación Latinoamericana de Control de Calidad, Patología y
Recuperación de la Construcción e do Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB).
Membro do comitê técnico da ABNT - CE 18:300.06 - Comissão de Estudo de
Durabilidade do Concreto, deste 2009. Membro de corpo editorial da Revista
Científica Inovação e Tecnologia e avaliadora de periódicos como Materials
Research e a Revista de Estudos Ambientais. Atua na área de patologia das
estruturas, sustentabilidade e controle tecnológico do concreto, elaborando também
previsão de vida útil de elementos e estruturas de concreto. Tem experiência na
área de Engenharia Civil, com ênfase em materiais e componentes de construção,
atuando nas áreas de dosagem de concreto, durabilidade, previsão de vida útil,
captura de CO2, análise do ciclo de vida de edificações e aproveitamento de
resíduos, com experiência em modelagem matemática, análise estatística, teoria de
confiabilidade e Cadeias de Markov. e-mail: epossan@gmail.com.

4
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS.............................................................................................. 07
LISTA DE TABELAS............................................................................................. 08
1 TIPOS E CARACTERÍSTICAS DE BARRAGENS DE CONCRETO............... 10
1.1Tipos de Barragens de Concreto...................................................................... 10
1.1.1 Barragens de Gravidade............................................................................... 12
1.1.2 Barragens em Gravidade Aliviada................................................................ 14
1.1.3 Barragens em Arco....................................................................................... 17
1.1.4 Barragens em Arco-gravidade...................................................................... 18
1.1.5 Barragens em Contraforte (pilares).............................................................. 19
2 NOÇÕES BÁSICAS DE MATERIAIS CONSTRUTIVOS E TECNOLOGIA DE
CONCRETO.......................................................................................................... 23
2.1 Noções de Barragens em Concreto Massa..................................................... 29
2.2.1 Materiais e Dosagem do Concreto Massa................................................... 33
2.2.3 Vantagens e Desvantagens do Concreto Massa.......................................... 34
2.3 Barragens de Concreto Compacto com Rolo............................. 34
2.3.1 Materiais e Dosagem do CCR...................................................................... 38
2.3.2 Vantagens e Desvantagens do CRR............................................................ 39
3. PROJETO E DIMENSIONAMENTO................................................................. 41
3.1 Carregamentos e Esforços …......................................................................... 41
3.1.1 Peso próprio................................................................................................. 44
3.1.2 Pressões hidrostáticas.................................................................................. 44
3.1.3 Subpressão................................................................................................... 45
3.1.4 Pressões hidrodinâmicas.............................................................................. 46
3.1.5 Empuxo provocado pelo acúmulo de material decantado............................ 46
3.2 Análise de Estabilidade e fundações............................................................... 46
3.2.1 Métodos de Analise de Estabilidade............................................................. 49
4 NOÇÕES DE CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS DE CONCRETO.................. 51
4.1 Fundações....................................................................................................... 51
4.2 Aspectos Principais de Construção................................................................. 52
4.3 Juntas de Contração........................................................................................ 53

5
4.4 Juntas de Construção...................................................................................... 54
4.5 Estruturas Auxiliares........................................................................................ 56
4.6 Problemas relacionado à construção de barragens de concreto.................... 57
CONCLUSÃO........................................................................................................ 59
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 61

6
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Quadro Resumo: Classificação de Barragens


Figura 2 - Hoover Dam, EUA (Barragem de Concreto em Arco-Gravidade).
Figura 3 - Representação Esquemática dos Principais Tipos de Barragem de
Concreto.
Figura 4 - Barragem de Caraíbas em Gravidade em CCR
Figura 5 - Corte Esquemático de Uma Barragem de Gravidade com Paramento de
Montante
Figura 6 - Barragem em Gravidade Aliviada Trecho Principal - UHE Itaipu Binacional,
PR
Figura 7 - Barragem principal do tipo gravidade aliviada da UHE Itaipu
Figura 8 - Barragem em Arco, Punt dal Gall Dam, Suíça.
Figura 9 - Barragem em Arco, Karun-3 Dam, Irã
Figura 10 - Barragem em Arco-Gravidade em CCR, UHE Castro Alves, RS.
Figura11 - Barragem em Contraforte Trecho D - UHE Itaipu Binacional, PR.
Figura 12- Barragem de contrafortes de Itaipu
Figura 13 - Barragem UHE Itaipu – Estrutura do Conduto Forçado em Concreto
Armado
Figura14 - Seção Transversal Típica de uma Barragem de Gravidade com CCR.
Figura 15 - Praça Típica da Construção da Barragem em CCR da UHE Castro Alves,
RS.
Figura 16 - Fases da Construção da Barragem em CCR da UHE Mauá, PR.
Figura 17 - Barragem em CCR da UHE Mauá, PR.
Figura 18 - Esforços Atuantes em Barragem de Gravidade Construída com Concreto.
Figura 19 - Distribuição das Pressões Hidrostáticas e da Sobressão.
Figura 20 - Principais Esforços Atuantes
Figura 21 - Vertedouro da Barragem em CCR da UHE Mauá, PR.
Figura 22 - Vertedouro da Barragem de Itaipu, Foz do Iguaçu, PR.
Figura 23 - Vertedouto Tipo Funil - Monticello Dam, Califórnia, EUA

7
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Propriedades dos Concretos a Determinar (x) Obrigatório (-) Facultativo (*)
Não se aplica.
Tabela 2 : Propriedades dos Aglomerantes a Determinar (x) Obrigatório (-)
Facultativo (*) Não se aplica.
Tabela 3 : Propriedades dos Agregados a Determinar (x) Obrigatório (-) Facultativo
(*) Não se aplica.

8
Prezado Aluno,
no decorrer desta unidade você deverá desenvolver competência para:

• Identificar tipos de barragens descrevendo suas estruturas componentes;


• Descrever projetos de barragens avaliando suas vulnerabilidades;
• Interpretar fatores condicionantes do projeto avaliando as soluções adotadas.

9
1 TIPOS E CARACATERÍSTICAS DE BARRAGENS DE CONCRETO

Nos primórdios, os materiais mais utilizados na construção das barragens eram


pedras, terra, alvenaria e madeira. Com o advento do concreto este passou a ser um
dos materiais de construção empregado em barragens, devido às suas
características de durabilidade, baixo custo de produção, disponibilidade de
materiais e adaptação a formas. Apesar disso, fatores como ciclo hidrológico,
deflúvio anual, geologia, entre outros, devem ser avaliados para a definição tanto da
forma quanto dos materiais que serão utilizados na construção das estruturas de
uma barragem.

1.1 Tipos de Barragens de Concreto

Sabemos que existem diferentes tipos de barragens, sendo que a classificação pode
ser dada pela rigidez, forma (geometria) ou tipo de material empregado na
construção, conforme apresentado no quadro da figura 1.

Figura 1 - Quadro Resumo: Classificação de Barragens

Material de
Rigidez Forma
construção
• Gravidade
• Gravidade aliviada
Rígida Concreto • Arco
O

Arco Gravidade
U
GG


R
P
1

• Contrafortes

• Terra
• Terra e enrocamento
Não Rígida • enrocamento com
face de concreto
-
O
U
GG
R
P
2

Fonte: Nota do autor.

Quanto à rigidez, as barragens são classificadas em rígidas e não rígidas. Sendo as


rígidas as barragens de concreto (figura 2) e as não rígidas as barragens de aterro.

10
Figura 2 - Hoover Dam, EUA (Barragem de Concreto em Arco-Gravidade).

Fonte: Disponível em:http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Hoover_dam_from_air.jpg

As barragens de concreto são aquelas construídas essencialmente com materiais


granulares naturais (areia) ou produzidos artificialmente (britas), aos quais se
adicionam aglomerantes (cimento, pozolanas, etc.) e aditivos químicos
(incorporadores de ar, retardador de pega, etc.). Conforme apresentado na figura 3,
essas barragens classificam-se, segundo sua forma e/ou geometria, em:

• Barragens de gravidade;
• Barragens de contrafortes.
• Barragens em arco ou arco-gravidade;
• Barragens de gravidade aliviada;

11
Figura 3 - Representação Esquemática dos Principais Tipos de Barragem de Concreto.
Barragem de Gravidade Barragem de Contraforte

Barragem em Arco Barragem de Gravidade Aliviada

Fonte: VIEIRA JUNIOR e SALLES, 2011

1.1.1 Barragens de Gravidade

Uma barragem de gravidade (ver figura 4) é uma estrutura maciça de concreto,


sendo que para minimizar os efeitos provocados pelas tensões de origem térmica
são constituídas por vários blocos de concreto separados entre si por juntas de
contração. Possuem forma quase trapezoidal, e é projetada de tal modo que resista
aos esforços decorrentes das pressões hidrostáticas atuantes no seu paramento de
montante assim como a outras solicitações, onde o equilíbrio estático realiza-se pelo
próprio peso da estrutura.

12
Figura 4 – Barragem de Caraíbas em Gravidade em CCR (Concreto Compactado com Rolo)

Fonte: Nota do autor.

Normalmente, utiliza-se na parte inferior um perfil transversal trapezoidal e na parte


superior, no coroamento ou crista da barragem, uma seção retangular. Conforme
apresentado na figura 5, o paramento de montante pode ser vertical ou contar com
uma inclinação a partir de determinada altura, alargando a base da barragem.
Figura 5 - Corte Esquemático de Uma Barragem de Gravidade com Paramento de Montante
a) Vertical b) Inclinado.
NA NA

h h

Ah Ah
P P

b b

S S

A) B)
Fonte: Nota do autor

13
Nestas estruturas, a resultante das forcas atuantes é transmitida, através de sua
base, ao solo do leito do rio sobre o qual se apoia, e sua segurança global é
garantida pelas suas condições de estabilidade quanto ao tombamento,
deslizamento e flutuação, que serão discutidas mais adiante.

A estabilidade destas barragens depende da sua massa. Suas fundações devem ser
construídas em rocha sã; e, segundo Vieira Júnior, et al (2010), em casos muito
excepcionais e que demandam cuidados especiais, podem ser assentadas em solo
compacto.

1.1.2 Barragens em Gravidade Aliviada

Essas barragens são simplificações do caso anterior (barragem de gravidade), as


quais admitem espaços vazios em seu núcleo com vistas à redução do volume de
concreto empregado. Por esse motivo são também chamadas de barragem de
gravidade vazadas. Na figura 6 podemos observar uma imagem do trecho principal
da barragem de Itaipu, construída em gravidade aliviada.

14
Figura 6 - Barragem em Gravidade Aliviada Trecho Principal - UHE Itaipu Binacional, PR

Fonte: Nota do autor, Junho de 2010

15
Figura 7 - Barragem principal do tipo gravidade aliviada da UHE Itaipu

Fonte: Usina Hidrelétrica de Itaipu – Aspectos de Engenharia (2009)

Schreiber (1977) destaca que, comparando esse tipo de barragem com a de


gravidade maciça de concreto constata-se economia no volume e diminuição das
áreas sobre as quais pode agir a subpressão e a pressão intersticial. No entanto, o
grande número de juntas de vedações demandados, os quais sempre apresentam
um ponto fraco, é destacado pelo autor como um inconveniente das barragens de
gravidade aliviada.

16
Outros autores ainda sugerem que face à elevada demanda de mão de obra, o
processo construtivo pode ser dificultado dado à demanda da construção de formas
e cimbramento. Todavia, os aspectos de economia de concreto superam essas
dificultadas executivas.

1.1.3 Barragens em Arco

A barragem em arco é uma barragem de concreto massa ou armado, curvada para


montante na direção do reservatório. Também chamada de barragem tipo abóbada,
é ideal para vales estreitos onde haja boas condições para apoio do arco no maciço
rochoso das ombreiras. Essa geometria faz uso da propriedade das estruturas em
arco, as quais resistem muito bem às cargas uniformemente distribuídas sobre seu
dorso. Nesse tipo de barragem os esforços da água do reservatório são transferidos
na sua maioria para as margens ou ombreiras e uma pequena parcela para o fundo
do rio. A barragem de Punt dal Gall, na Suíça (ver figura 8) é um exemplo desta
geometria.
Figura 8 - Barragem em Arco, Punt dal Gall Dam, Suíça.

Fonte: Disponível em http://www.swissdams.ch/Dams/damForm/default_e.asp?ID=14

17
Essas especificidades levam esse tipo de estrutura a consumir bem menos concreto
que as barragens de gravidade, de forma que o peso próprio desempenha um papel
secundário no equilíbrio estático. No entanto, as condições naturais necessárias
para seu emprego são bem específicas: geralmente são empregadas no barramento
de rios encaixados em vales estreitos ou gargantas/canyons (veja o exemplo
apresentado na figura 9).
No Brasil existem poucas barragens em arco, sendo, as mais conhecidas, a de
Funil, no rio Paraíba e a de Mascarenhas de Morais, no rio Grande (KUPERMAN e
CIFU, 2006).
Figura 9 - Barragem em Arco, Karun-3 Dam, Irã

Paramento de Montante Paramento de Jusante

Fonte: Wikipedia

1.1.4 Barragens em Arco-Gravidade

As barragens em arco-gravidade (veja figura 10) são estruturas que têm sua
planimetria em forma de arco, mas que, por outro lado, funcionam parcialmente
como barragens de gravidade, unindo os benefícios de ambas. Suas seções
transversais apresentam-se bem mais espessas que as barragens em arco, porém
mais esbeltas que as barragens de gravidade, podendo ser construídas em concreto
ciclópico, concreto convencional ou concreto compactado com rolo.

18
Figura 10 - Barragem em Arco-Gravidade em CCR, UHE Castro Alves, RS.

Fonte: Nota do autor, Outubro de 2007

1.1.5 Barragens em Contraforte (Pilares)


Barragens em contraforte constituem um tipo de barragem onde o esforço no
paramento montante é transmitido à fundação através de uma série de contrafortes,
perpendiculares ao eixo do paramento de montante. Na figura 11 apresenta-se uma
ilustração do trecho D da barragem da UHE de Itaipu, o qual foi construído com
contrafortes.

19
Figura 11 - Barragem em Contraforte Trecho D - UHE Itaipu Binacional, PR.

Fonte: Nota do autor, Novembro de 2010

20
Figura 12- Barragem de contrafortes de Itaipu

Fonte: Usina Hidrelétrica de Itaipu – Aspectos de Engenharia (2009)

Os contrafortes são estruturas tipo “pilares” que recebem o esforço do empuxo do


paramento de montante descarregando-o para as fundações. A parede vedante é
formada por lajes de concreto armado apoiadas nos contrafortes, ou por abóbodas
cilíndricas, em geral, em forma de semicírculo (SCHREIBER, 1977).

Neste tipo de barragem, a fundação deve atender aos mesmos requisitos exigidos
pela barragem gravidade, com algumas adequações. Em geral, são empregadas em
vales “abertos” (VIEIRA JUNIOR, et al. 2012). No Brasil são raras as barragens
deste tipo.

Em relação aos outros tipos de barragem, são de construção mais complexa e maior

21
custo, sendo cada vez menos utilizadas no mundo em favor das de gravidade
aliviada. Schreiber (1977) destaca que, mesmo que os contrafortes sejam
construções com partes relativamente finas de concreto, há a necessidade de
formas e cimbramento. Com isso, a economia no volume de concreto não é
compensada, de modo que esses tipos não podem concorrer com os outros, o que
restringe sua aplicação a casos especiais.

22
2 NOÇÕES BÁSICAS DE MATERIAIS CONSTRUTIVOS E TECNOLOGIA DE
CONCRETO

Concreto é o produto resultante do endurecimento de uma mistura adequadamente


proporcionada de cimento Portland, agregado miúdo (areia), agregado graúdo (brita)
e água. Em situações específicas em que se deseja alterar alguma de suas
propriedades, seja no estado fresco e/ou endurecido, a estes materiais básicos
podem ser acrescentados aditivos, adições, fibras, etc.

O concreto é conceitualmente um material bifásico, constituído por uma fase pasta e


outra agregado, cada uma com funções bem determinadas, a saber:
α) Funções da pasta (cimento + água):
− Dar impermeabilidade ao concreto;
− Dar trabalhabilidade ao concreto;
− Envolver os grãos dos agregados;
− Preencher os vazios entre os grãos;
− Conferir resistência mecânica ao concreto.
β) Funções do agregado:
− Reduzir o custo do concreto;
− Reduzir as variações de volume (diminuir as retrações);
− Contribuir com grãos capazes de resistir aos esforços solicitantes (terão
que ter resistência superior a da pasta).

O agregado ainda pode alterar o peso próprio e o modulo de elasticidade do


concreto.

Sendo um material estrutural, depois de endurecido, deve possuir resistência


mecânica e durabilidade. Um aspecto interessante e peculiar do concreto é que
estas propriedades podem ser modificadas de acordo com a proporção entre seus
constituintes, ou seja, de acordo com a dosagem do concreto.

23
O concreto empregado na construção de barragens e estruturas auxiliares deve
atender a requisitos técnicos específicos, o que demanda misturas com
características distintas, exigindo da área de tecnologia dos materiais a produção de
diferentes tipos de concreto, a saber:

• Concreto massa: utilizado em grandes volumes, sobretudo em barragens de


gravidade e gravidade aliviada. A característica requerida é a massa
específica do concreto adotando-se a resistência à compressão como
parâmetro para o controle de qualidade;
• Concreto compactado com rolo - CCR: é uma evolução do concreto
convencional, porém com baixo consumo de cimento e maior velocidade de
colocação;
• Concreto armado convencional: é um material estrutural com resistência na
ordem de 20 a 50 MPa, empregado em estruturas ou partes solicitadas,
sobretudo, à tração (ver figura 13);
• Concreto protendido: é um tipo de concreto armado no qual a armadura ativa
sofre um pré-alongamento, gerando um sistema autoequilibrado de esforços
(tração no aço e compressão no concreto);
• Concreto Projetado: utilizado para revestimentos de túneis e canais e para
estabilização de taludes;
• Concreto de alto desempenho: utilizado em locais que exigem características
peculiares, como em vertedouros onde se utiliza um concreto de alto
desempenho resiste à abrasão. Já nas estruturas onde se deseja a
impermeabilidade, como face a montante, pode-se utilizar um concreto de
baixa permeabilidade ou de alta resistência (superior a 50 MPa);
• Concreto ciclópico: trata-se de um concreto convencional com a adição de
pedra de mão, também conhecida como matacão ou pedra marroada, o que
aumenta o volume e peso do concreto com significativa redução de custos.

24
Figura 13 - Barragem UHE Itaipu – Estrutura do Conduto Forçado em Concreto Armado

Fonte: Disponível em http://www.abms.com.br/home/temas/barragens/indice/11-lorem-


ipsum-dolor-sit-amet

Essa disponibilidade de tipos de concreto foi possível graças aos avanços na


tecnologia do concreto, especialmente ao desenvolvimento do concreto compactado
com rolo, que segundo Marques Filho (2011) trata-se de uma evolução natural do
concreto convencional que, por meio da utilização intensa de equipamentos
empregados em grandes obras de terra, possibilitou um processo construtivo
industrial eficiente e competitivo para o setor barrageiro.

Em geral, as barragens de concreto são construídas em concreto compactado com


rolo (CCR) e concreto massa (também chamado de concreto convencional),
podendo também ser produzidas em concreto armado (concreto + aço) e concreto
ciclópico.

Face ao maior emprego em estruturas de barragem, neste texto serão discutidos o

25
concreto massa e o concreto compactado com rolo. Informações sobre os demais
tipos de concreto podem ser obtidos na literatura específica (MEHTA e
MONTEIRO,2008).

Para o Concreto compactado com rolo (CCR) e concreto massa, é conveniente a


determinação das propriedades apresentadas na tabela 1. Já para os aglomerantes
e os agregados convém a determinação das propriedades listadas na tabela 2 e 3,
respectivamente.

Tabela 1: Propriedades dos Concretos a Determinar (x) Obrigatório (-) Facultativo (*) Não se
aplica.

Tipo de concreto
Propriedades
CCR Concreto massa
Massa específica do concreto fresco e
X -
endurecido
Resistência à compressão axial simples X -
Resistência à tração por compressão
X -
diametral
Resistência à tração na flexão - X
Resistência à tração direta - -
Módulo de Elasticidade e coeficiente de
- X
Poisson
Coeficiente de dilatação linear - -
Coeficiente de dilatação térmica - X
Condutividade térmica - -
Calor específico - X
Elevação adiabática de temperatura - X
Difusibilidade térmica - X
Fluência - X
Capacidade de deformação - -
Retração por secagem - -
Fonte: Adaptado de Eletrobrás (2003).

26
Tabela 2 : Propriedades dos Aglomerantes a Determinar (x) Obrigatório (-) Facultativo (*)
Não se aplica.
Aglomerante
Propriedades
Cimento Pozolana
Massa específica X X
Resíduo na peneira # 200 X X
Resíduo na peneira # 325 - X
Superfície específica Blaine X X
Tempos de pega (início e fim) X -
Expansibilidade X -
Índice de atividade com o cimento - X
Resistência à compressão X -
Calor de hidratação X
Análise química X X
Índice de atividade com a cal - X
Fonte: Adaptado de Eletrobrás (2003).

27
Tabela 3 : Propriedades dos Agregados a Determinar (x) Obrigatório (-) Facultativo (*) Não
se aplica.

Agregados
Propriedades
Miúdo Graúdo
Composição mineralógica X -
Massa específica e absorção X X
Composição granulométrica X X
Reatividade potencial com álcalis do cimento: método
X X
acelerado
Sanidade ao ataque do sulfato de sódio - X
Massa unitária -
Inchamento - *
Teor de argila em torrões - -
Teor de material pulverulento - -
Teor de partículas leves - -
Impurezas orgânicas X -
Análise petrográfica - X
Resistência à compressão * -
Módulo de elasticidade * -
Índice de forma - -
Abrasão Los Angeles * -
Desagregabilidade pelo etileno glicol * -
Coeficiente de expansão térmica * -
Ciclagem acelerada água/estufa * -
Fonte: Adaptado de Eletrobrás (2003).

28
2.1 Barragens em Concreto Massa

Concreto massa é o concreto aplicado em uma dada estrutura (ponte, barragem,


viga, etc.), que devido ao elevado volume necessita de cuidados especiais para a
minimização dos efeitos das variações volumétricas e geração de calor advindas da
hidratação do cimento.

O cimento, logo após entrar em contato com a água dá início às reações de


hidratação. Essas reações são exotérmicas (liberam calor). O calor liberado é
denominado calor de hidratação, o qual, no interior de grandes massas de concreto,
causa um aumento de temperatura.

Tal ocorrência pode levar à fissuração e comprometer a impermeabilidade da


barragem, já que as fissuras podem constituir um caminho para a percolação de
água, o que não é desejável em barragens de concreto. Para evitar ou minimizar o
calor de hidratação do concreto, podem ser adotadas as seguintes medidas:

a) Emprego de cimentos de baixo calor de hidratação (cimentos pozolânicos ou


cimentos com baixo teor de C3A - aluminato tricálcico);
b) Redução do consumo de cimento (uso de adições pozolânicas, redução da
relação água/cimento, compactação dos agregados, etc.);
c) Emprego de concreto refrigerado (uso de gelo e/ou agregados resfriados para
a produção do concreto).

O cimento com baixo teor de Hidratação é designado por siglas e classe de seu tipo,
acrescidas de BC, por exemplo: CP III-32 (BC) é o Cimento Portland de Alto-Forno
com baixo calor de hidratação. A sua classificação é dada em função de sua
composição química (sobretudo pelo teor de C 3A), que demonstra sua propriedade
de retardar o desprendimento de calor durante a hidratação do cimento, evitando a
ocorrência de fissuras de origem térmica. De acordo com a NBR 13116 (1994), o
cimento Portland de baixo calor de hidratação é aquele que despende até 260 J/g

29
aos três dias e um valor inferior a 300 J/g aos sete dias.

É importante sabermos que o cuidado com o teor de C 3A do cimento deve-se a sua


pega instantânea, que por conseguinte, desenvolve altíssimo calor de hidratação.
Além disso, tem baixa resistência e não resiste à ação de águas sulfatadas.
Evidentemente sua quantidade deve ser pequena devido aos inconvenientes acima
citados. No entanto, a presença da alumina é importante na fase de produção do
cimento, pois ela age como fundente facilitando desta maneira a formação do
clínquer a temperaturas mais baixas. Assim, o cimento com baixo teor de C 3A é uma
alternativa pouco adotada em situações práticas, pois é difícil encontrar facilmente
no mercado materiais com essas propriedades químicas.

Uma solução é o uso de cimentos pozolânicos (CP IV) ou cimentos com escoria (CP
III), os quais possuem adição de material pozolânico (em geral cinza volante e
escória de alto forno) em substituição ao clínquer, ou seja, ajudam a reduzir o
consumo de cimento. Como a reatividade dos materiais pozolânicos é mais lenta
que a do clínquer, as reações de hidratação ocorrem em momentos diferentes, o que
reduz a temperatura do concreto advinda da hidratação logo após o seu lançamento.

Além disso, o emprego de cimentos pozolânicos ou adições é benéfico do ponto de


vista de durabilidade e custos. No caso da durabilidade esses materiais ajudam a
mitigar a reação álcali-agregado (RAA), uma reação deletéria indesejável que pode
comprometer a vida útil de uma barragem ou de suas estruturas auxiliares. No caso
do custo, esses materiais, em geral, são rejeitos de outras indústrias com preço
muito inferior ao do clínquer.

A redução do consumo de cimento contribui significativamente para a redução do


calor de hidratação do concreto, a qual pode ser conseguida por meio do uso de
adições, como já expresso acima. Também é possível reduzir o consumo de cimento
diminuindo a relação água/cimento da mistura e/ou utilizando a máxima
compactação dos agregados. Podemos obter a compactação ótima por meio da

30
determinação do esqueleto granular (relação agregado graúdo/agregado miúdo),
conforme NBR NM 248 (2003), geralmente, dada pela maior massa unitária e/ou o
menor índice de vazios da relação agregado graúdo/agregado miúdo.

Por fim, o uso de concreto refrigerado permite a redução da temperatura de


lançamento do concreto, minimizando a liberação de calor, sendo uma das
alternativas mais utilizadas no Brasil. Para essa alternativa destacamos dois
sistemas: pré-resfriamento e pós-resfriamento do concreto. O primeiro consiste na
refrigeração dos agregados graúdos, uso de água gelada e gelo na fabricação do
concreto, podendo até utilizar o resfriamento do concreto pronto por meio de
nitrogênio líquido. Já a pós-refrigeração consiste na passagem de água gelada ou ar
frio em tubulações (serpentinas) deixadas embutidas no concreto, as quais
promovem o pós-resfriamento e dissipam o calor de hidratação liberado durante a
cura do concreto.

Além da sua importância na redução do calor de hidratação e consequente


minimização da fissuração, a refrigeração do concreto possibilita a redução do
consumo de cimento. Kuperman e Cifu (2006) citam que para cada grau centígrado
de redução da temperatura de lançamento do concreto é possível reduzir
aproximadamente 0,3% do consumo de cimento.

No que se refere ao CCR, nas obras construídas no Brasil, não se fez necessária a
refrigeração deste tipo de concreto, face ao baixo consumo de cimento empregado
(média de 80 kg/m³) e os resultados de estudos térmicos (elevação adiabática da
temperatura do concreto).

Em relação às variações volumétricas do concreto massa, o controle destas é de


extrema necessidade em barragens, tanto pelo porte das estruturas quanto pela
segurança associada. Esse controle, segundo Marques Filho (2007) pode ser feito
através do controle da temperatura de lançamento do concreto, cura com pós-
refrigeração, dosagens adequadas, limitação da altura das camadas e de seus

31
intervalos de lançamento, e pelo dimensionamento de juntas de contração.

No concreto fresco devemos dar atenção à retração autógena, a qual é decorrente


da hidratação, pois a hidratação do cimento é acompanhada de uma redução de
volume, ou seja, o volume dos compostos hidratados é menor do que a soma dos
compostos anidros (sem hidratar) mais água.

Essa redução de volume é chamada de retração autógena e ocorre principalmente


em concretos ricos em cimento, levando ao aparecimento de fissuras. Sua
prevenção é difícil, a não ser que sejam utilizados cimentos ou aditivos especiais
compensadores de retração. Pode ser minimizada utilizando o menor consumo de
cimento possível no concreto.

A ordem de grandeza da retração autógena é muito variável, mas de pequena


magnitude, oscilando de 0,01 a 0,15 mm/m. Esta retração é irreversível, sendo mais
acentuada nas primeiras idades (até 90 dias, uma vez que ocorre em função da
hidratação do cimento), prolongando-se indefinidamente em menor grau.

Como as barragens possuem um tempo de execução longo, em geral superiores a 1


ano, permite que se especifiquem idades de controle mais avançadas entre 90 e 180
dias, chegando em alguns casos a 360 dias, que proporcionam a obtenção de
concretos com menores consumos de cimento. Isso corrobora a redução do calor
de hidratação e da retração autógena do concreto.

Já no concreto endurecido, devemos considerar a fluência ou deformação lenta, pois


quando uma estrutura é submetida a um carregamento, ocorrem deformações
imediatas ou instantâneas e se esta carga for mantida, com o passar do tempo a
estrutura continua alterando a forma lentamente. Essa deformação é denominada
fluência, e ocorre em consequência da saída de água dos poros capilares do
concreto situados na região comprimida das estruturas, por ação das forças de
compressão.

32
Como ocorre na fase pasta do concreto, para uma dada resistência, se forem
empregados concretos com menor volume de pasta, o seu efeito será minimizado.
Como vimos, grande parte das questões de segurança e durabilidade de uma
barragem de concreto deve-se a cuidados especiais da área de tecnologia do
concreto, sobretudo de dosagem, cujo tema será abordado de forma resumida no
próximo item.

2.2.1 Materiais e Dosagem do Concreto Massa


− Aglomerantes: a finura afeta a hidratação do cimento e, consequentemente, a
liberação de calor, uma vez que cimentos muito finos hidratam mais
rapidamente, com maior liberação de calor nas primeiras idades. O consumo
de cimento segue uma tendência similar, pois quanto maior o volume de
cimento maior a quantidade de material a ser hidratado e maior o calor
gerado. Por fim, a composição química do cimento fecha esse ciclo: cimentos
que contêm mais C3A (aluminato tricálcico) e C3S (silicato tricálcico), que são
responsáveis pela hidratação do cimento nas primeiras idades, apresentam
maior hidratação que cimentos mais grossos ou com menos quantidade
destes compostos. As adições, usadas em substituição parcial ao cimento,
melhoram a trabalhabilidade e reduzem o consumo de água do concreto,
contribuindo na redução do calor de hidratação, já que reagem em idades
mais avançadas que o cimento. Ainda têm importância na durabilidade
(mitigação da RAA) e na redução dos custos do concreto (são mais baratas
que o cimento).

− Agregados: em concretos utilizados em barragens, um dos principais


objetivos é reduzir a quantidade de água a fim de diminuir o consumo de
cimento (uma vez que são proporcionais) e custos, sendo de fundamental
importância obter uma mistura de agregados que conduza ao menor volume
de vazios possível (máxima compacidade) ou utilizar o máximo possível de
agregado na mistura. Mehta e Monteiro (2008) citam que o consumo de

33
agregado e a sua mineralogia têm grande influência sobre as principais
propriedades do concreto massa (módulo de elasticidade, coeficiente de
expansão térmica, durabilidade, etc.).

− Dosagem: a dosagem do concreto massa é a mesma utilizada para o


concreto convencional, quando se busca otimizar a resistência e minimizar a
geração de calor pela redução da relação água/cimento e o custo pelo
aumento do consumo de agregados. A granulometria, dimensão máxima e
rugosidade dos agregados afetam a trabalhabilidade da mistura e,
consequentemente, a demanda de água.

2.2.3 Vantagens e Desvantagens do Concreto Massa


− Vantagens: a facilidade de aplicação e boa adequação a formas, a
disponibilidade de mão de obra, o menor consumo de cimento em relação ao
concreto convencional e o fato do sistema construtivo demandar um número
menor de juntas de contração que o sistema em CCR são as principais
vantagens do concreto massa.

− Desvantagens: como desvantagens citam-se a necessidade de rigoroso


controle do calor de hidratação (uso de concreto refrigerado, pozolanas, etc.),
a demanda de formas e cimbramentos, a demanda de um número elevado de
mão de obra e o maior consumo de cimento em relação ao CCR.

2.3 Barragens de Concreto Compacto com Rolo

O CCR deve ser entendido como um método construtivo que proporciona elevada
capacidade de produção e de construção, reduzindo prazos em relação ao concreto
convencional e, consequentemente, gerando redução de custos. Trata-se de uma
mistura de concreto com reduzido fator água/cimento, produzida em centrais de
mistura contínua, transportada e lançada por caminhões geralmente basculantes,
espalhada por tratores de esteiras e adensada por rolos compactadores em

34
camadas da ordem de 30 cm. Na figura 4 se apresenta uma seção transversal típica
de uma barragem em CCR, com destaque para as camadas de concretagem.

Figura14 - Seção Transversal Típica de uma Barragem de Gravidade com CCR.

Fonte: Marques Filho, 2005

Nas figuras 15, 16 e 17 são apresentadas algumas fotos de barragens construídas


em CCR. A execução CCR aplica os processos executivos utilizados rotineiramente
em obras de terra, durante as fases de colocação (com espalhamento) e
compactação, os quais são descritos por Marques Filho (2005), como:

− Transporte: executado por caminhões basculantes ou utilização de correias


transportadoras;
− Espalhamento: utilizando tratores de esteiras cujas lâminas colocam o
concreto na posição final e acertam a espessura para compactação.
− Compactação: utilizando rolos compactadores vibratórios. Formas das faces
de montante e jusante executados na solução temporariamente fixas e

35
manuseadas por empilhadeiras ou guindaste leves.
− Execução dos paramentos de montante e jusante em concreto convencional.

Figura 15 - Praça Típica da Construção da Barragem em CCR da UHE Castro Alves, RS.

Fonte:Nota do autor, Outubro de 2007

Dados da obra: barragem em CCR com 84 metros de altura máxima.


Local da obra: Rio das Antas, entre os municípios de Nova Roma do Sul e Flores da
Cunha, RS.
Proprietária: Ceran (Companhia Energética Rio das Antas).
Obras Civis: Camargo Corrêa.

36
Figura 16 - Fases da Construção da Barragem em CCR da UHE Mauá, PR.

Fonte: Engª. Vanessa de Mattos Ribeiro

Figura 17 - Barragem em CCR da UHE Mauá, PR.


Face de Montante – UHE Mauá Face de Jusante – UHE MauáFonte:

Eng.ª Vanessa de Mattos Ribeiro

Dados da obra: barragem em CCR com 745 metros de comprimento e 85 metros de


altura máxima.
Local da obra: Rio Tibagi, entre os municípios de Telêmaco Borba e Ortigueira, PR.
Proprietária: Consorcio Cruzeiro do Sul (Copel/Eletrosul).
Obras Civis: J.Malucelli Construtora de Obras S/A.

37
2.3.1 Materiais e Dosagem do CCR

Mehta e Monteiro (2008) descrevem as principais características dos materiais e da


dosagem do CCR, como segue:

− Aglomerantes: não faz necessário o uso de cimentos especiais, mas em caso


de grandes volumes de lançamento deve-se optar por aglomerantes de baixo
calor de hidratação. O uso de adições é uma alternativa interessante e muito
utilizada, uma vez que permite a redução da temperatura adiabática e dos
custos e propicia um aumento de durabilidade. A redução da temperatura e
dos custos é devida à redução do consumo de cimento, dada a sua
substituição parcial por adição. O aumento da durabilidade deve-se ao fato de
as adições conferirem resistência ao concreto em idades mais avançadas,
além de constituírem uma medida mitigatória para o controle da Reação
Álcali-Agregado (RAA).

− Agregados: em geral utilizam-se agregados com dimensão máxima de 36


mm, não sendo recomendados agregados com diâmetro superior a 76 mm,
face aos problemas de compactação e espalhamento de agregados de
grandes dimensões. Todavia, o diâmetro do agregado pode variar em função
da altura da camada e da capacidade dos equipamentos de compactação
disponíveis. Destaca-se que a distribuição granulométrica exerce influência
na dosagem e compactação do concreto compactado com rolo. O uso de
materiais pulverulentos (passante na peneira no 200, diâmetro menor que 75
m) produz uma mistura mais coesa, com menor volume de vazios.

− Dosagem do concreto: Mehta e Monteiro (2008) destacam que existem duas


abordagens para dosagem do CCR: a primeira usa os princípios da
compactação do solo, buscando produzir um concreto magro, onde é o teor
ótimo de água que produz a máxima densidade seca da mistura. Neste
método a melhor compactação é a que gera a resistência máxima do

38
concreto e não a minimização da relação água/cimento como na tecnologia
do concreto convencional. A segunda abordagem usa métodos da tecnologia
tradicional do concreto e a partir dos princípios de dosagem, produz uma
mistura com elevado teor de pasta e baixa relação água/cimento, sendo a
resistência ao cisalhamento entre as camadas e a baixa permeabilidade do
concreto os critérios prioritários.

2.3.2 Vantagens e Desvantagens do CRR


Face à mecanização do processo de lançamento e compactação do concreto, uma
das maiores vantagens do CCR é a redução e otimização do custo e do tempo de
construção. É uma técnica construtiva já consagrada, com credibilidade no meio
técnico, que apresenta ainda as seguintes vantagens:

− Processo construtivo moderno, com características de industrialização da


construção;
− Produtividade superior à de outros processos construtivos devido ao uso de
equipamentos de grande produção, semelhantes aos que se empregam em
barragens de terra e enrocamento;
− Redução do uso de formas;
− Redução e otimização da mão de obra;
− Melhoria das condições de trabalho, uma vez que os processos são
mecanizados;
− Redução do custo devido ao baixo consumo de cimento;
− Redução do custo devido à velocidade construtiva que possibilita a
aceleração do cronograma (redução do tempo da obra);
− Menor probabilidade de fissuras de origem térmica devido à menor
interferência das condições climáticas no lançamento e ao menor consumo de
cimento;
− Possibilidade de aproveitamento de novos materiais.

Dentre as principais desvantagens do CCR destacam-se a redução da oferta de

39
empregos, uma vez que os processos são mecanizados e exigem mão de obra
especializada; os custos de transporte, no caso de ausência de agregados próximos
à obra; a baixa disponibilidade de mão de obra especializada; a indisponibilidade de
equipamentos de fabricação, espalhamento e compactação e a necessidade de
utilização de volumes consideráveis de água em regiões com baixo índice
pluviométrico.

Apesar de todos os benefícios do CCR, Kuperman e Cifu (2006) alertam que dada a
variedade de materiais e dosagem de concretos empregados, condições ambientais
diversas, métodos de produção da mistura de concreto e tipos de equipamentos de
compactação, é recomendável que sejam executados maciços experimentais antes
do início das concretagens de quaisquer obras de CCR.

Os autores destacam que é obrigação do projeto especificar e detalhar como será


realizado o maciço experimental e que informações pretende-se dele retirar.

40
3 PROJETO E DIMENSIONAMENTO

3.1 Carregamentos e Esforços

Para o projeto de barragens de concreto (estruturas hidráulicas) o conhecimento das


ações que se esperam compor, os esforços e a estabilidade da estrutura são
essenciais. Entende-se por ações as causas que provocam o aparecimento de
esforços ou deformações nas estruturas. Devido às condições de funcionamento e
implantação, as principais ações atuantes em barragens são:

a) Esforços verticais:
− O peso da barragem;
− Peso da água sobre os paramentos de montante e jusante (atuando
sobre os planos inclinados da barragem):
− Subpressão (esforços ascendentes da pressão d’água oriunda da
base);
− Pressão intersticial da água no concreto;
− Esforços advindos de sismos.
b) Esforços horizontais:
− Pressão da água no reservatório;
− Pressão da água de jusante;
− Esforços provenientes das ondas do reservatório (wave loads);
− Empuxo do material (lodo, sedimento) decantado;
− Esforços provenientes do atrito;
− Esforços advindos de sismos.

Além destas, quando for o caso, existem outras ações que também podem atuar em
uma barragem como as provocadas pelo gelo formado na superfície da água, as
cargas acidentais (pessoas/veículos), os efeitos dinâmicos (frenagem, impacto), as
sobrecargas, os ventos, etc.

41
A consideração e intensidade dessas variam conforme particularidades de cada
projeto e apesar de não serem as principais ações, quando existentes, devem ser
consideradas. Ademais, existem eventos excepcionais (eventos de duração muito
curta e/ou de baixa probabilidade de ocorrência ao longo da vida da estrutura) que
havendo alto risco ou probabilidade de ocorrência também devem ser inseridos no
projeto de uma barragem.

Nas imagens abaixo (figura 18) se tem a representação esquemática das principais
ações/esforços atuantes em uma barragem de gravidade.

No projeto de uma barragem de concreto, essas ações devem ser analisadas


através de diversas hipóteses, por meio da construção de diferentes cenários, a fim
de garantir a segurança. Atualmente, essa alternativa é bastante viável devido aos
avanços computacionais e programas existentes para o projeto de estruturas de
concreto. Todavia, diante de sua complexidade, essas simulações demandam alto
grau de experiência de quem as executa.

42
Figura 18 - Esforços Atuantes em Barragem de Gravidade Construída com Concreto.

a) Ação do Peso Próprio da Barragem b) Pressão da Água no Reservatório e da


Água de Jusante

c) Diagrama de Subpressão Sem Drenagem d) Diagrama de Subpressão Com Sistema


de Drenos

e) Empuxo Gerado pelo Material Decantado

Fonte: KETZER e SCHAFFER, 2010

43
Na sequência, indicam-se os valores característicos das principais ações atuantes
sobre as barragens e suas respectivas classificações, conforme Cifu (2011) e
Schreiber (1977).

3.1.1 Peso Próprio


O peso próprio da barragem (é uma ação permanente) depende do peso específico
do concreto(γc) que por sua vez depende das propriedades e características dos
agregados utilizados, sobretudo do diâmetro máximo (Dmáx). Em geral o peso
específico do concreto está compreendido entre 2300 a 2600 kg/m³, variando
conforme o peso específico e granulometria dos agregados, empacotamento dos
agregados, grau de compactação e teor de ar incorporado do concreto. Cifu (2011)
cita que, em função do diâmetro dos agregados graúdos, recomenda-se que sejam
adotados para o concreto os pesos específicos abaixo apresentados.

Dmáx < 38 mm γc = 2400 kg/m³


Dmáx > 38 mm γc = 2500 kg/m³
Para o CCR γc = 2300 kg/m³

3.1.2 Pressões Hidrostáticas


Os valores das ações correspondentes à pressão hidrostática (ver figura 19) são
determinados a partir dos níveis característicos d’água a montante e a jusante do
barramento, e do seu peso específico (γa = 10 kN/m³).

44
Figura 19 - Distribuição das Pressões Hidrostáticas e da Subbressão.
γ hm
NAmontante

γ hj
hm NAjusante

Ah
P
hj

γ hm b γ hj

Fonte : Adptado de Cifu, 2011

A pressão hidrostática fica associada às condições de permanência e probabilidade


de ocorrência dos níveis d’água do reservatório, existindo o nível normal (aquele que
ocorre durante quase toda a vida da construção e cuja variação em torno da média é
muito baixa), o nível normal máximo e nível normal mínimo (níveis normais cuja
variação em torno da média não é baixa) e o nível máximo ou máximo maximorum e
nível mínimo ou mínimo minimorum (são aqueles níveis que têm duração curta e
probabilidade muito baixa de ocorrência durante a vida da construção).

3.1.3 Subpressão
As subpressões são ações que se manifestam no contato da estrutura com a
fundação, devidas à percolação de água que se processa no maciço onde a mesma
se apoia. Têm sentido inverso ao esforço da gravidade, com esforços trapezoidais
distribuídos na base da barragem (na figura 18 essa ação é representada por “S”).
Seus valores característicos dependem essencialmente dos níveis d’água a
montante e a jusante da obra, da existência ou não de tratamentos de fundação e da
construção ou não de sistemas de drenagem instalados na estrutura (ver figuras 17
“c” e “d”). Estes fatores, que interferem nas condições de percolação no maciço de
fundação, determinam os valores característicos das ações de subpressão, por

45
exemplo, a utilização de drenos muda a distribuição das cargas (ver figura 17 “d”).

3.1.4 Pressões Hidrodinâmicas


Pressões hidrodinâmicas são ações correspondentes às pressões atuantes nas
estruturas devido ao escoamento d’água. Na maioria das vezes, sua determinação é
feita por meio de ensaios em modelos hidráulicos. Os valores característicos destas
ações são definidos durante a elaboração do projeto executivo (CIFU, 2011).

3.1.5 Empuxo Provocado pelo Acúmulo de Material Decantado


Em todos os reservatórios ocorre o depósito de material proveniente do arrasto dos
rios, esse material fica depositado em forma de lodo em frente à barragem. Este
acúmulo acontece com maior intensidade nas barragens com reservatórios
pequenos que em grandes (ver figura 5 “e”). Cifu (2011) relata que na falta de
estudos mais detalhados, as ações devidas ao assoreamento serão determinadas
considerando-se um fluído de peso específico g= 9,0 kN/m³, com coeficiente de
empuxo kh=0,39, o que corresponde a uma pressão horizontal gs=3,5 kN/m³, agindo
em 10% da altura da estrutura e que se soma ao empuxo hidrostático.
Para maiores detalhes do cálculo destas e das demais ações atuantes em uma
barragem, recomenda-se consultar a literatura específica, onde vocês encontrarão
explicações mais detalhadas assim como as memórias de cálculo e ou formulações
específicas.

3.2 Análise de Estabilidade e Fundações

A análise de segurança global de estabilidade deve ser feita, segundo a CEMIG


(1994), para todas as estruturas principais, elementos estruturais e sistemas de
interação entre fundações e as estruturas submetidas aos diversos casos de
carregamentos. Esta análise englobará a de estabilidade no contato concreto-rocha,
a análise de estabilidade em planos inferiores ao da fundação e a de tensões e
deformações; a definição dos coeficientes de segurança (que são definidos
conforme condição de carregamento) e a verificação entre as tensões atuantes e as

46
tensões admissíveis dos materiais.

Mediante a consideração dos esforços aplicados, das condições das fundações e


das condições locais da implantação da barragem, a análise de estabilidade tem
como objetivo manter o equilíbrio horizontal, vertical e o equilíbrio de rotação da
estrutura, A Verificação da estabilidade é feita considerando a estrutura como um
conjunto monolítico, podendo desse modo ser assimilada a um corpo rígido (CEMIG,
1994). Para barragem de concreto, os estudos de estabilidade devem comprovar a
segurança das estruturas nas seguintes condições:

a) Ao deslizamento em qualquer plano, seja da estrutura ou da fundação;


b) Ao tombamento da estrutura com relação ao eixo da base ou a um plano
abaixo da base;
c) À flutuação.

Os principais cálculos correlatos às estruturas de barragem são os que determinam


a segurança à flutuação (Sf), ao tombamento (St) e ao deslizamento (Sd), cujas
representações esquemáticas dos esforços atuantes são apresentadas na figura 20.

Figura 20 - Principais Esforços Atuantes


Esquema da Flutuação Esquema da Força de Esquema do
Tombamento Deslizamento

Fonte: KETZER e SCHÄFFER, 2010

47
Para Kuperman e Cifu (2006), o fator de segurança à flutuação é determinado para
cada tipo de carregamento, como a relação entre o total das forças gravitacionais
estabilizantes e o total das forças de subpressão. A garantia da segurança para cada
condição de carregamento é obtida impondo-se limitações aos fatores de segurança
acima definidos.

O fator de segurança ao tombamento é a relação entre o momento estabilizante e o


momento de tombamento em relação a um ponto ou uma linha efetiva de rotação.
Como ações estabilizantes estão o peso próprio, as cargas permanentes mínimas e
o peso próprio dos equipamentos permanentes. Os momentos de tombamento
ocorrem devido à ação de cargas desestabilizantes, tais como pressão hidrostática,
subpressão, empuxo de terra, assoreamento, etc.

Já o fator de segurança ao deslizamento é dado pela relação entre os esforços


resistentes que se opõem ao deslizamento e a resultante das forças atuantes
paralelas ao plano de deslizamento. É determinado para cada tipo de carregamento,
levando em consideração as possíveis superfícies potenciais sobre as quais a
estrutura possa sofrer movimento de deslizamento como corpo rígido. As análises
dos fatores de segurança contra o deslizamento devem incluir como esforços
resistentes a coesão e o atrito na resistência de contato concreto-rocha ou nas
superfícies do concreto.

Em geral, no início dos estudos, adotam-se como valores de coesão e ângulo de


atrito os já utilizados em outras obras com materiais similares. Entretanto, sempre
que possível devem ser realizados ensaios e determinações que levem à adoção de
valores mais realistas. Isto é particularmente importante no caso das barragens de
concreto compactado com rolo, onde juntas horizontais de construção podem ser
potencialmente elos fracos (KUPERMAN e CIFU, 2006).

48
3.2.1 Métodos de Analise de Estabilidade

A partir do final da década de 70 e início dos anos 80, o surgimento das ferramentas
computacionais com base no Método dos Elementos Finitos permitiu a adoção de
modelos matemáticos cada vez mais completos na representação e simulação do
comportamento das estruturas, e o seu emprego passou a fazer parte integrante da
metodologia empregada no desenvolvimento destes projetos. Assim também surgiu
o método das fatias a modelagem, a modelagem 3D e, mais recentemente, a
modelagem BIM (Modelagem de Informações para Construção), as quais são
apresentadas em resumo na sequência.

Métodos por Elementos Finitos (MEF): É um método numérico e de aproximação


com aplicações diversas, que independe da geometria e dos carregamentos da
estrutura, com grande utilização na Engenharia. As simulações e análises são
conduzidas por meio de softwares como o SAP 2000 ®, ANSYS®, CIVIL FEM® entre
outros.

Método das Fatias: É uma metodologia para análise de estabilidade global das
estruturas, na qual se considera uma seção unitária (fatia) transversal representando
toda a estrutura e seu respectivo peso próprio (volume da fatia vezes o peso
específico do material). A seção considerada é escolhida entre as “fatias” menos
estáveis, ou seja, a de menor área transversal e consequentemente de menor peso
próprio. Os demais esforços atuantes também são considerados levando-se em
conta a seção transversal dos mesmos, como é o caso de empuxos e subpressão, e
cargas aplicadas, que neste caso consideram-se atuando na largura desta fatia.

Modelagem Tridimensional: Também chamada de modelagem 3D, é uma área da


computação gráfica que tem como objetivo a geração de entidades em três
dimensões, as quais podem ser: sólidos, superfícies ou geometrias constituídas de
linhas. A partir dos modelos, os esforços podem ser obtidos e simulados em
computação gráfica.

49
Modelagem BIM: é a mais recente tecnologia disponível. É um avanço em relação
ao 3D, pois trabalha com a representação digital do processo de construção para
facilitar o intercâmbio e a interoperabilidade de informação em formato digital. Suas
primeiras aplicações foram na área da arquitetura, mas atualmente vem
conquistando o mercado e já está sendo aplicada em obras de engenharia, sendo
mais uma ferramenta com potencial de uso no projeto de barragens.

50
4 NOÇÕES DE CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS DE CONCRETO

4.1 Fundações

A maioria das rupturas ocorre em barragens pequenas (H < = 30 m) e em barragens


recém-construídas, ou sem inspeção/manutenção. Em geral, nas barragens de
concreto os problemas advindos de fundação são a causa mais frequente. Já em
barragens de terra e enrocamento, o galgamento, a erosão interna e a fundação são
as principais causas de ruptura. Por fim, nas estruturas auxiliares, a ruptura pode
ocorrer por insuficiência de vazão nos dispositivos de descarga (como vertedouro).

Para aumentar a segurança no projeto, na construção e na operação de barragens é


fundamental o planejamento da investigação geológica-geotécnica e dos estudos
hidrológicos, em mais de uma etapa e em função das características de construção
e operação da barragem, os quais devem ser conduzidos por um geólogo
especialista em geologia aplicada à engenharia e um especialista em hidrologia,
respectivamente.

Também se deve selecionar o método construtivo em função das condições


geológicas, utilizando-se análises de risco para a tomada de decisões no início do
projeto.

É necessário conhecer as características e a configuração do subsolo do local


(formações geológicas) onde será implantada a barragem e as estruturas auxiliares,
uma vez que são informações importantes para o projeto, sobretudo para as
fundações destas estruturas, pois quando se trata de permeabilidade e fluxo nas
fundações, as formações geológicas não aparentes e/ou não detectáveis podem
gerar fluxos intensos após o enchimento da barragem.

Neste sentido a realização de furos de sondagem pode ajudar a identificar a


estratigrafia das camadas rochosas, sua permeabilidade, a possível existência de

51
falhas geológicas, entre outros aspectos importantes. O número de furos depende
das condições geológicas locais, sendo que em condições geológicas adversas
(presença de falhas, rochas permeáveis, etc.) faz-se necessária a escavação de
poços e trincheiras para retirada de amostras de solo indeformado, inspeção visual,
etc.

Os estudos geológicos, também possuem interesse no campo dos materiais de


construção, pois determinam, por meio de sondagens rotativas, os locais
apropriados para abertura de pedreiras para extração de agregados (brita e areia) e
argila para a produção do concreto e ou construção de barragens de terra e de terra
e enrocamento.

4.2 Aspectos Principais de Construção

Após a definição do seu posicionamento/localização e do material que será


empregado para sua construção, a barragem é então projetada e sua construção
pode ser iniciada. Uma das primeiras fases é o desvio do rio, que é fortemente
dependente das condições topográficas e geológicas do local da obra, do deflúvio do
rio, do ciclo hidrológico, especialmente da vazão máxima do rio durante a
construção.

Os principais aspectos de construção das barragens de concreto estão relacionados


a fatores de cunho técnico-econômico.

Face o volume de água represado e os riscos associados, no quesito técnico, a


construção de uma barragem envolve conceitos de diferentes áreas do
conhecimento exigindo profissionais qualificados com especialidades distintas
(geologia, concreto, solos, meio ambiente, eletricidade, etc.). Já no quesito
financeiro, a economia em um projeto de barragem depende fundamentalmente:

52
a) Da concepção, ou seja, definição do melhor arranjo;
b) Do cronograma de obra, método construtivo e desembolso financeiro;
c) Da solução adequada do impacto socioambiental resultante.

A tomada de decisão técnica impacta diretamente nos custos de projeto, construção


e operação e vice-versa. Estas decisões devem ser pautadas visando, acima de
tudo, à segurança da barragem, a qual deve ser tratada com o maior rigor possível,
observando todas as normas de segurança e as etapas construtivas.

Em geral, a geometria da barragem (arco, gravidade, etc.) está relacionada com o


tipo de vale e de fundação e, consequentemente, de material empregado na
construção.

As obras de desvio são temporárias, e seu tipo depende das condições acima
descritas, podendo ser utilizadas para tal ensecadeiras, túneis, canais, etc. As
ensecadeiras são geralmente construídas de terra ou enrocamento, com
necessidade de grandes taludes para sua estabilidade, e quando galgadas podem
sofrer rupturas. Este é um dos fatores que demanda o conhecimento da vazão
máxima do rio.
Após o desvio do rio, o trecho da barragem sobre o leito do mesmo pode ser
construído, iniciando pelas fundações que devem ser assentadas sobre rocha sã e
terminando na crista da barragem. Durante a construção é necessária a instalação
de vários instrumentos (drenos, piezômetros, extensômetros, pêndulos,
termômetros, etc.), que são de fundamental importância para o monitoramento e
operação da barragem.

No caso de barragens de concreto, além da dosagem do material, a temperatura de


lançamento (no caso de concreto massa), a compactação (no caso de CCR), a
resistência à compressão, as juntas de contração e de construção, a cura, assim
como a durabilidade (reação álcali-agregado) são fatores que devem

53
obrigatoriamente ser controlados.

Após a construção da barragem e estruturas auxiliares, se for o caso, tem-se o


enchimento do reservatório. Para isso, o rio é “devolvido” a seu curso natural. Essa
fase é bastante crítica, uma vez que, segundo Menescal (2007) a maioria dos
acidentes de ruptura de barragens ocorre nos primeiros anos de vida destas
estruturas.

4.3 Juntas de Contração

No projeto de uma barragem de concreto, as juntas de contração (também


denominadas de dilatação) são elementos fundamentais, consistem na divisão da
estrutura de concreto em diversos blocos. A separação destes é feita por meio das
juntas de contração que, segundo Kuperman e Cifu (2006) objetivam controlar as
alterações dimensionais causadas pelas variações térmicas dos concretos e
restringidas pela aderência da estrutura às fundações, inibindo a fissuração.

As juntas também visam controlar os efeitos de descontinuidades das fundações. As


distâncias entre elas variam segundo o projeto e podem ser calculadas a partir de
estudos de evolução de temperatura, considerações sobre os graus de restrição
impostos pelas fundações e consequentes tensões de tração que ocorrerão. A
delimitação das juntas de contração no concreto massa convencional fica,
automaticamente, a cargo das formas.

No CCR, as juntas são formadas após o lançamento e o espalhamento do concreto.


Normalmente, são usados vedajuntas de PVC próximo do paramento montante. A
prática brasileira de inserir um plástico, lona ou peças de madeira de pequena
espessura na camada em processo de concretagem mostra-se econômica e
adequada (KUPERMAN e CIFU, 2006).

54
4.4 Juntas de Construção

Em barragens de concreto, juntas de construção são juntas entre camadas de


lançamento sucessivas. São as partes mais críticas em relação à resistência
mecânica e à permeabilidade do maciço de concreto. As juntas de construção
devem ser projetadas para satisfação do cronograma de obra, considerando os
equipamentos de construção disponíveis.

A determinação da altura das camadas será função de análise das consequências


do fenômeno térmico desenvolvido, devendo ser considerado, segundo Marques
Filho (2005):
− Propriedades mecânicas e térmicas do concreto e da fundação;
− Condições ambientais do local da obra;
− Geometria do maciço de concreto e da fundação e o grau de restrição
ao movimento da fundação;
− Presença e tipo de refrigeração do concreto;
− Tipo de formas e tempo de desforma;
− Métodos construtivos utilizados;
− Posicionamento dos equipamentos embutidos.

Em barragem em concreto massa, com altura entre 30 a 120 metros, muitas das
especificações de concreto adotam quando da ausência de dados ou estudos,
camadas de concretagem com altura entre 150 cm e 200 cm, com intervalos de
lançamento ao redor de 3 dias.

Já em barragens de CCR, face o método construtivo demandar camadas entre 20 a


80 cm de altura, o número de juntas aumenta consideravelmente, sendo um dos
pontos desta técnica mais discutido desde o início de seu surgimento.

55
4.5 Estruturas Auxiliares

A organização de uma usina hidrelétrica que contempla a barragem e as estruturas


hidráulicas auxiliares é denominada arranjo geral ou layout. Além de seu corpo
principal, destinado ao fechamento do rio, as barragens são equipadas com certas
obras acessórias e imprescindíveis como:

a) Casa de força (em Hidrelétricas);


b) Tomadas d’água e condução de água
− Condutos de baixa pressão;
− Condutos forçados.
c) Canal de adução e canal de fuga;
d) Túneis de desvio, construção de adução (de baixa e alta pressão) e de
restituição;
e) Chaminés de equilíbrio;
f) Descarregadores de vazões excedentes:
− Descarregadores de superfície ou vertedouros;
− Descarregadores de fundo.
g) Vias de acesso e outras estruturas secundárias.

Figura 21 - Vertedouro da Barragem em CCR da UHE Mauá, PR.

Fonte: Eng.ª Vanessa de Mattos Ribeiro

56
Figura 22 - Vertedouro da Barragem de Itaipu, Foz do Iguaçu, PR.

Fonte: Nota do autor, Abril de 2011

Figura 23 - Vertedouto Tipo Funil - Monticello Dam, Califórnia, EUA

Fonte: Wikipédia

4.6 Problemas relacionado à construção de barragens de concreto

Além da ruptura, um dos principais problemas que pode acometer uma barragem de
concreto (tanto de concreto massa quanto de CCR) é a reação álcali agregado
(RAA), que é um fenômeno deletério que compromete a instabilidade e durabilidade
da estrutura. Trata-se de uma reação lenta, podendo levar anos para que estes
sintomas sejam percebidos, que ocorre entre íons alcalinos advindos do cimento e
alguns minerais reativos presentes nos agregados, que na presença de água gera
um gel expansivo, podendo resultar na fissuração do concreto devido às tensões
internas de tração decorrentes da expansão. O padrão da fissura formada nesta

57
reação é irregular, atribuindo-se o termo de fissuras mapeadas.

A fissuração decorrente da RAA torna-se um caminho para o ingresso de agentes


agressivos para o interior do concreto ou, no caso de barragens, para a percolação
de água através do concreto, o que não é desejável.

Entre os principais fatores que influenciam o desencadeamento da reação, citam-se


o consumo de cimento no concreto e o teor de álcalis do cimento, a contribuição do
íon alcalino proveniente de outras fontes (aditivos, adições, sal, água do mar), a
quantidade, a dimensão e a reatividade dos constituintes reativos presentes nos
agregados utilizados, a presença de umidade na estrutura de concreto e a
temperatura ambiente. Mehta e Monteiro (2008) destacam que, isolando um ou mais
dos fatores necessários para que a reação ocorra é possível controlar a expansão
decorrente do mesmo.

A correção desta patologia depois de constatada em uma estrutura é de grande


dificuldade, pelo qual as principais ações para evitar seu aparecimento devem
concentrar-se em medidas mitigatórias, que objetivem evitar sua manifestação.
Dentre as medidas existentes, o uso de adições pozolânicas na produção do
concreto mostra-se muito eficaz, esta medida é recomendada pela ABNT NBR
15577:2008. Para isso, são usadas sobretudo a cinza volante e a escória de alto
forno, disponíveis nos cimentos CP IV e CP III, respectivamente. Recentemente,
outras adições vêm ganhando destaque, como a sílica ativa e a cinza de casca de
arroz (CCA), mas na maioria das vezes o custo benefício não é alcançado com o
uso destes materiais.

Vimos que diversas são as problemáticas que podem acometer uma barragem de
concreto, sendo necessária a adoção de fatores de segurança no projeto e
construção destas estruturas. Esses fatores em geral incrementam o custo do
empreendimento, mas garantem segurança durante sua construção e operação.

58
CONCLUSÃO

Nesta unidade discutimos os aspectos referentes às barragens de concreto


englobando desde os materiais empregados na produção do concreto até os
aspectos de geologia, fundações e construção destas estruturas e das estruturas
hidráulicas auxiliares.

Estudamos que as barragens de concreto são estruturas classificadas como rígidas


e dividem-se conforme sua geometria em barragem de gravidade, gravidade
aliviada, arco, arco-gravidade e contraforte.

Aprendemos que em uma barragem de gravidade e gravidade aliviada, sua


estabilidade depende de seu peso próprio. Já as barragens em arco, pela sua
geometria, transmitem às ombreiras a maior parte dos esforços a que estão
submetidas, sendo mais esbeltas que as barragens de gravidade e gravidade
aliviada.

As barragens em arco-gravidade unem os benefícios das barragens em gravidade e


arco. Por fim, vimos que as barragens de contrafortes transmitem seus esforços em
estruturas de reforço (contrafortes) apoiadas em lajes planas ou curvas, em
distâncias regulares, que em função dos custos de construção mais elevados que os
demais tipos são empregados em casos especiais.

Estudamos que atualmente o concreto massa vem sendo substituído pelo concreto
compactado com rolo (CCR) devido ao baixo consumo de cimento e,
consequentemente, menor custo de produção do CCR e baixo calor de hidratação.

Essa alternativa também é favorável ao meio ambiente, pois a produção do cimento


é citada como uma das vilãs no aquecimento global devido às elevadas emissões de
CO2 no processo produtivo deste material, principal componente do concreto. Logo,
com a redução do consumo de cimento contribui-se para a não emissão deste gás,

59
com contribuição significativa para a sustentabilidade.

De modo geral, estudamos que o concreto a ser empregado em uma barragem deve
possuir:
a) Baixa Permeabilidade à água;
b) Adequada resistência à compressão;
c) Baixo calor de hidratação a fim de reduzir a fissuração térmica;
d) Baixo consumo de cimento, a fim de reduzir custos e o calor de hidratação;
e) Alta resistência à abrasão, devido à passagem de água em velocidade e à
presença de sedimentos em suspensão;
f) Ser isento da reação álcali-agregado.

Para se conseguir atender a todos estes requisitos, dois aspectos, que têm
implicação no custo do empreendimento, devem ser levados em consideração:
a) Materiais disponíveis na região, pois sem materiais adequados próximos da
obra, não é possível atender a todos os requisitos a um custo, se não baixo,
aceitável;

b) A permanente atuação da projetista, que, com os “inputs” relativos às


estruturas (dimensões, tipos, fundações, formas), às ações a que estarão
sujeitas, além do conhecimento dos materiais disponíveis, faz os
dimensionamentos em todas as fases de projeto.

60
REFERÊNCIAS

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62

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