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10/05/21012
Comprometido com Cristo
Juiz fala de sua conversão e de como utiliza sua influência para falar da verdadeira
liberdade
Tive o privilégio de ter tido uma educação cristã muito saudável, embora vivendo numa
situação de pobreza e humildade. Mas com o tempo acabei me afastando de Deus.
Quando nasceu minha primeira filha, fiquei preocupado com a formação dela, já que eu
estava fora da Igreja. Que futuro e base moral eu poderia dar a ela? Tive então que me
afastar dos amigos com os quais bebia e ia a festas. Alguns debocharam da minha
decisão, dizendo ser ilógica para um jovem juiz que deveria “aproveitar a vida”. Graças
a Deus, hoje os colegas me chamam mais de “pastor” do que de juiz, e os deboches
cessaram. Muitos me procuram para pedir orientação e até mesmo literatura cristã. Isso
porque minha postura no trabalho é a mesma que tenho na igreja: sou um missionário.
Que conselho o senhor dá ao profissional que quer testemunhar em seu ambiente
de trabalho e conquistar credibilidade?
Satanás utilizou vários instrumentos para me fazer desistir. Certa ocasião, uma multidão
chegou a cercar o fórum; quebraram vidros e gritaram que eu devia morrer. Era ano
eleitoral no município e alguns conseguiram dar conotação política à situação.
Chamaram-me de “juiz corrupto”, “pastor ladrão”. Meu nome foi ridicularizado na TV e
nos jornais. Movi alguns processos criminais e de indenização por danos morais, mas
não chegaram a lugar algum. Prescreveram pelo tempo que se passou. Contratei três
advogados, mas entendi que Deus tinha uma vitória muito maior para mim. Uma das
pessoas que me atacaram, uma advogada, anos depois se retratou publicamente e,
durante um seminário de que participávamos, entregou-me uma carta escrita a mão,
pedindo-me perdão, dizendo que a carga que carregava era muito grande. Eu disse a ela
que já a havia perdoado antes de ela me pedir. Os olhos dela se encheram de lágrimas.
Minha promoção teve que ver com esse meu comprometimento social e com a justiça.
O presidente do Tribunal disse que eu era um “referencial de exemplo na magistratura
paraense” e que “a magistratura se sente honrada pela minha presença entre eles”.
Quando fui transferido para a capital, houve uma comoção diferente em Viseu. As
pessoas não queriam mais que eu saísse. Deus foi honrado e tenho profunda gratidão a
Ele. E essa gratidão se expressa num compromisso cada vez maior com a obra de Deus.
Por exemplo, como falar de sugurança pública – grande problema atual – sem falar da
segurança maior que encontramos em Jesus? Certa vez, apresentei palestra para um
grupo de 300 delegados de polícia e falei sobre a conexão entre o Poder Judiciário e a
Polícia. Disse que Deus é a única pessoa que encarna estas duas figuras: a figura do
delegado, como agente de investigação do fato, do crime; e a figura do juiz, enquanto
consumador da justiça. Nessas duas visões, Deus nos transmite algo sublime,
extraordinário, que delegados e juízes precisam compreender: a visão de que a
investigação e a aplicação da justiça têm como finalidade principal a redenção, a
restauração do indivíduo. Para Deus não existe o que na linguagem policial é conhecido
como “pirão perdido”. Para o Criador, nenhum caso é perdido. Se juízes, promotores e
policiais encararem as coisas dessa maneira, essa visão vai impregnar de tal forma os
discursos, a abordagem nas audiências ou nas investigações, até mesmo no momento de
lavrar a sentença, que isso vai fazer toda a diferença no trato com as graves questões
sociais que vivenciamos.
Além de manter minha postura cristã aberta, tenho tido oportunidade de distribuir
Bíblias e livros como o Vida de Jesus para muitos magistrados. Deixo claro para eles
que o Código Penal é importante, mas que acredito que a Bíblia deveria ser o livro de
cabeceira de todo juiz. Graças a Deus, tem havido muitas conversões devido a essa
minha postura de comprometimento.
Voltando à questão da sua conversão, compare sua vida antes e depois de retornar
para Jesus.
Embora tivesse consquistado posição social, estabilidade financeira, uma boa família, a
casa dos meus sonhos e privilégios e vantagens da profissão, nada disso me satisfazia, já
que o problema estava dentro de mim. Eu sentia angústia, sofrimento de alma, e o que
havia conquistado não trazia sentido à minha vida. Houve sufocamento do meu ser,
miséria em meu lar e estrangulamento da vida conjugal. Quando me converti e voltei
para a igreja, meu casamento melhorou significativamente. O comprometimento com
Cristo afeta todas as áreas da vida, inclusive a profissional. Deus me levou a galgar
novos horizontes e me sinto um profissional plenamente realizado agora. Posso ajudar
as partes conflituosas num processo levando o enfoque espiritual e tenho conseguido
inúmeras reconciliações e acordos, pois toco na “ferida”, mostrando a origem dos
problemas, fazendo a pessoa repensar sua existência. No caso de separação e divórcio,
tem sido possível conseguir algumas reconciliações com esse enfoque. Uso as
audiências para mostrar que o evangelho é a solução definitiva para os problemas
humanos.
No que diz respeito à minha vida financeira, assumi um pacto com Deus de fidelidade
nos dízimos e ofertas. É impressionante que o dinheiro que eu utilizava integralmente
para as minhas necessidades pessoais absolutamente não daria para o que faço hoje.
Certa vez, um promotor amigo meu esteve em minha casa e perguntou qual era a fonte
da minha prosperidade (ele pensava em uma fonte clandestina desonesta). Disse para ele
que a fonte era Deus e contei meu testemunho. Ele ficou ainda mais impressionado
quando lhe disse que faço a declaração de Imposto de Renda corretamente, sem usar de
subterfúgios para receber maior restituição. E completei dizendo que aparentemente a
desonestidade pode nos trazer vantagens, mas no fim das contas é uma maldição terrível
que coloca abaixo os principais valores da vida.
Tudo teve início a partir da vontade de fazer algo verdadeiramente eficaz quanto ao
resgate da cidadania dos marginalizados. Sobretudo, diante da falência do sistema
penitenciário, que não consegue reeducar e muito menos ressocializar homens e
mulheres encarcerados. Inicialmente, promovemos uma classe de estudos bíblicos na
Delegacia de Polícia de Viseu, envolvendo jovens desbravadores. Na ocasião, mais de
vinte detentos foram evangelizados e muitos deles foram batizados.
Ao longo de seis anos de trabalho missionário, somente naquela cadeia pública, mais de
50 presos tomaram a decisão de seguir a Jesus e foram batizados. Os primeiros detentos
convertidos empenharam-se voluntariamente na construção do primeiro templo da
Igreja Adventista na cidade de Viseu. Ao cabo de quatro meses de intenso trabalho,
concluímos a construção da igreja com capacidade para 300 pessoas. A influência desse
trabalho tem motivado outros irmãos a se empenharem na evangelização de presidiários
em outras penitenciárias, presídios, cadeias e centros de recuperação.
Como deve ser feito esse trabalho com encarcerados e que cuidados se deve tomar?
Deve ser feito com muito zelo e seriedade, consciente de que aquelas pessoas são,
sobretudo, vítimas da saga assassina do diabo contra os seres humanos. Como primeiro
passo, procure cadastrar na Superintendência do Sistema Penal uma equipe de, no
máximo, cinco pessoas comprometidas com o evangelho, para cada presídio ou
penitenciária, cuidando para que as mulheres tenham contato tão somente com as
presidiárias, exatamente para evitar assédios que são frequentes nesse tipo de ambiente
poluído por toda sorte de promiscuidade. Sejam assíduos nas reuniões. É preciso adotar
alguns cuidados, tais como: (1) procure não se envolver sentimentalmente com o
detento; (2) se você não for advogado, não se envolva com a questão processual do
preso; (3) seja criterioso com relação a servir como “pombo-correio”. E tenha plena
certeza de que ao se dispor a trabalhar nessa grandiosa missão, o Espírito Santo o
capacitará e lhe concederá grandes vitórias em sua vida pessoal, em sua família e
também na experiência da libertação espiritual de homens e mulheres escravizados pelo
pecado e pelo crime.
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