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01.2 Criança Não É Manga, Não Amadurece
01.2 Criança Não É Manga, Não Amadurece
Abstract: The idea of “mature development” is based, frequently, on explanations of school failure: the
student does not learn because he is immature and the school has to wait until he gets “mature.” When
one says that a child is not mature compared to the development already attained by an adult, one focuses
only the quantitative differences between them and forgets that these new qualities of the adult did not
arise by the maturation, but by the permanent appropriation process of the human culture. Thus, this idea
of “maturity of development” expresses a deep biologization of the human being, reducing social and
educational problems explanation to the biological apparatus of the individual. The purpose of this essay is to
analyze the relationship between maturation and development, pointing out the limits of biologists’ explanations
of human phenomena and the possibilities of explanation formulated by the historical-cultural theory to the
organization of pedagogical work. This concept gives a new configuration to the role of maturation in the learning
process and gives the school education a central role in the development of higher psychological functions.
Thus, the school does not have to wait for the child’s maturation. Rather, it is its duty to create conditions for
his/her maturation to become effective.
Keywords: Human development. Learning. Childhood development. Cultural-historical theory.
Resumen: La idea de la “maduración del desarrollo” fundamenta, de modo bastante recurrente, las
explicaciones sobre el fracaso escolar: el alumno no aprende porque es inmaduro, y le resta a la escuela
esperar que él “madure”. Cuando se dice que un niño no está maduro, en comparación al desarrollo ya
alcanzado por un adulto, se focaliza apenas en las diferencias cuantitativas entre ellos y se olvida que esas
nuevas cualidades del adulto no surgieron en él por la maduración, sino, por el permanente proceso de
apropiación de la cultura humana. De esa forma, la referida idea de “maduración del desarrollo” expresa
una profunda biologización del ser humano, reduciendo al aparato biológico del individuo la explicación de
problemas sociales y educacionales. El objetivo de este ensayo es analizar las relaciones entre la maduración
y el desarrollo, apuntando los límites de las explicaciones biologicistas de los fenómenos humanos y las
posibilidades de la explicación elaborada por la teoría histórico cultural para la organización del trabajo
pedagógico. Esa concepción reconfigura el papel de la maduración en el proceso de aprendizaje y le otorga
a la educación escolar un lugar central en el desarrollo de las funciones psicológicas superiores. Así, no
le cabe a la escuela esperar que el niño madure, al contrario, es su deber crear condiciones para que la
madurez se efective.
Palabras clave: Desarrollo humano. Aprendizaje. Desarrollo infantil. Teoría histórico-cultural.
Em uma das escolas públicas em que O objetivo deste ensaio é analisar as relações
trabalhamos, uma professora de 4ª série dizia entre a maturação e o desenvolvimento,
aos seus alunos que a classe era como uma apontando os limites das explicações
grande mangueira, tinha algumas mangas biologicistas dos fenômenos humanos e
já madurinhas, prontas para aprender, mas as possibilidades da explicação elaborada
também tinha mangas verdinhas, imaturas, pela teoria histórico-cultural de Vigotski
que precisavam ser regadas até ficarem e seus colaboradores para a organização
prontas para a aprendizagem. Enquanto do trabalho escolar. Ressalta-se que outros
isso, esperar seria o melhor remédio, seria a autores elaboraram sínteses das concepções
estratégia pedagógica mais adequada. sobre desenvolvimento e aprendizagem
advindos da teoria histórico-cultural, como,
Na mesma perspectiva, temos escutado por exemplo, Facci (2004), Teixeira (2003),
tais discursos vindos de psicólogos, que, Chaiklin (2011) e Pasqualini (2009), entre
ao buscarem explicar as dificuldades de outros. No entanto, o enfoque deste artigo
aprendizagem das crianças que atendem, está no conceito de maturação e em como tal
utilizam frequentemente a maturação conceito tem permeado a prática pedagógica.
(ou melhor, sua falta) como causa dessas
dificuldades. Olhar os traços do desenho de Primeiramente, apresentaremos a análise
uma criança, muitas vezes, já é suficiente para crítica realizada por Vigotski às teorias do
dizer que ela é imatura, logo, não aprende. desenvolvimento de sua época, especialmente
ao conceito de maturação. Em um segundo
As concepções acima mencionadas aparecem momento, exporemos o conceito de maturação
para nós como portadoras de uma verdade do desenvolvimento humano presente na teoria
quase inquestionável: as crianças que histórico-cultural.
não aprendem determinados conteúdos
(particularmente aqueles que são ensinados Teorias sobre o
na escola) não desenvolveram determinadas
qualidades psicológicas. Assim, um aluno
desenvolvimento e o conceito
que não é capaz de manter sua atenção ao de maturação
realizar uma tarefa relativamente prolongada
não desenvolveu, ainda, a sua atenção A explicação sobre os processos de
voluntária. Entretanto, essa “verdade quase aprendizagem e desenvolvimento baseadas no
inquestionável” é uma verdade apenas no conceito de maturação expressa a aparência
nível da aparência. Trata-se de uma conclusão dessa relação e, ao mesmo tempo, uma
a partir da observação da realidade que nos profunda biologização desses processos. A
é apresentada imediatamente. Avalia-se biologização das explicações sobre o fracasso
que o estudante não consegue aprender escolar, incorporada de forma hegemônica
determinado conteúdo e sabe-se que tal no discurso do senso comum, está presente
conteúdo se relaciona a uma determinada em diferentes teorias psicológicas sobre o
função psíquica, logo, conclui-se que essa desenvolvimento humano, teorias essas que,
função não amadureceu e que essa seria a em última instância, servem de fundamento
causa de seu fracasso escolar. para o próprio discurso do senso comum.
Ao dizer que determinado aluno é infantil
A relação entre aprendizagem e ou imaturo, o professor remete-se a teorias
desenvolvimento das funções psíquicas – do desenvolvimento infantil estudadas
captadas em sua imediaticidade, tal qual durante seu curso de formação que retratam
exposta no exemplo anterior – oculta o desenvolvimento humano como algo
a essência contida nessa relação ou a maturacional, linear, determinístico. E,
verdadeira explicação sobre os processos de mesmo sem ter estudado profundamente
ensino, aprendizagem e desenvolvimento. tais teorias do desenvolvimento, são elas que
embasam seu trabalho. Sendo assim, apenas
presentes na vida da criança (Facci, Eidt, & organiza a atividade de ensino, esta sim,
Tuleski, 2006). assumindo o papel de mediação entre os
dois polos da relação, ou seja, buscando
Verifica-se que as causas do atraso mental
não podem ser explicadas somente a partir
estabelecer a relação entre o imediato (os
de anamneses, entrevistas e testagens conhecimentos empíricos que os educandos
psicométricas, ou seja, com instrumentos trazem de suas vidas) e o mediato (os
que buscam as causas do não aprender na conhecimentos teóricos que o professor quer
criança e em sua família, mas essa análise ensinar para os estudantes).
deve ser ampliada para a atividade de
ensino e de aprendizagem, especialmente
no que se refere à qualidade do conteúdo Diante dessas argumentações sobre a
ministrado, à relação professor-aluno, mediação, devemos considerar que se, por
à metodologia de ensino, à adequação um lado, não basta esperar que as crianças
de currículo, ao sistema de avaliação se desenvolvam culturalmente, por outro
adotado, em suma, ao acesso da criança lado, também não basta organizar o seu
ao mundo dos instrumentos e signos
desenvolvimento. Especialmente na escola,
culturais (2006, p. 111)
é preciso organizar de um determinado
modo esse desenvolvimento, modo esse
A mediação pedagógica vem sendo assumida
que permita às crianças se apropriarem das
cada vez mais como uma categoria central
máximas possibilidades mediadas de relação
na atividade educativa nas mais diferentes
do homem com o mundo que foram sendo
perspectivas teóricas. Nesse processo de
criadas. Por isso, valorizar as experiências
adoção da referida categoria, é comum
cotidianas dos educandos como estratégia
ouvirmos a defesa, ampla e hegemonicamente
pedagógica mediadora para a organização
aceita, de que os professores são os
do ensino (e, em consequência, para o
mediadores da aprendizagem. Além disso,
desenvolvimento dos sujeitos) significa uma
o papel de mediador aparece nessas defesas,
hipervalorização dessas experiências (que
também, como sinônimo de um facilitador
já são abundantes nas vidas cotidianas dos
da aprendizagem.
estudantes) e um abandono, dessa vez por
outras vias, do processo de desenvolvimento
Haveria algum problema em assumirmos
cultural dos sujeitos em suas máximas
essa defesa? Não é correto que o professor
possibilidades.
deve ser um mediador na sala de aula e deve
facilitar o trabalho dos educandos?
Considerações finais
Ora, quando se pensa na mediação
fundada na dialética, deve-se considerar Na perspectiva teórica assumida neste
que ela requer a superação do imediato trabalho, a escola tem papel central no
no mediato. Assim, é provável que o desenvolvimento de seus estudantes,
educador ‘dificulte’ a aprendizagem na medida em que cria condições para
do educando, pois o educador precisa
que se apropriem –através de mediações
fazer com que o educando supere a
compreensão imediata assumindo outra culturais planejadas e intencionais – dos
que seja mediata (Almeida, 2002, p.8) conhecimentos acumulados pela humanidade,
conhecimentos esses que encarnam as novas
Desse modo, o educador jamais pode possibilidades de conduta das crianças, como
ser o mediador do processo de ensino e a atenção voluntária, a memória lógica, o
aprendizagem, tampouco o facilitador, pensamento teórico, a capacidade de leitura
posto que ele mesmo é um dos polos da e escrita, etc. Essas funções ou condutas
relação a ser mediada: professor-aluno, estão presentes para cada indivíduo apenas
ensino-aprendizagem, mediato-imediato. como uma potencialidade, e estão presentes
O educador, portanto, é sujeito do processo externamente aos indivíduos, isto é, sob a
de ensino e de aprendizagem, sujeito que forma de objetos e de relações externas.
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