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s ociologia da

j uventude
A letra grega , adotada universalmente

para simbolizar o prefixo “micro” (pequeno),

é usada nesta obra para representar o con-

junto das disciplinas relacionadas à área de

ciências sociais, em que se estudam aspectos

sócio-históricos dos grupos humanos.


s ociologia da
j uventude
Obra coletiva organizada
pela Universidade Luterana
do Brasil (Ulbra).
S1394
Informamos que é de
inteira respon­sabilidade Sociologia da juventude / [Obra] organizada
do autor a emissão de pela Universidade Luterana do Brasil
conceitos. (Ulbra). – Curitiba: Ibpex, 2008.
Nenhuma parte desta 216p.: il.
­ ublicação poderá ser
p
­reproduzida por qualquer isbn 978-85-7838-150-9
meio ou forma sem a prévia
autorização da Ulbra. 1. Sociologia histórica. 2. Teoria sociológica. 3.
A violação dos direitos Condição social. 4. Ambiente sociocultural.
autorais é crime 5. Manifestações culturais. I. Universidade
estabelecido na Lei Luterana do Brasil. II. Título.
nº 9.610/98 e punido pelo
art. 184 do Código Penal. cdd 300
A edição desta obra é 20. ed.
de ­responsabilidade da
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Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) tem uma história de conquis-
tas. Desde a primeira escola, fundada em 1911, até hoje, a Ulbra caracte-
riza-se por ser uma instituição voltada para o futuro, buscando sempre
o melhor em todas as suas áreas de atuação. Assim, disponibiliza para
acadêmicos, profissionais e toda a comunidade serviços de qualidade em
todas as áreas.

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A Ulbra assume como Missão Institucional desenvolver, difundir e pre-


servar o conhecimento e a cultura por meio do ensino, da pesquisa e da
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em que atua e estar entre as dez melhores do País.

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▪▪ Busca permanente da qualidade em educação, saúde e tecnologia;


▪▪ Preocupação permanente com a satisfação das pessoas que fazem
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ção, bem como da consciência crítica da sociedade;
▪▪ Promoção do bem-estar social por todos os meios legítimos;
▪▪ Fidelidade ao lema: “A Verdade Vos Libertará”;
▪▪ Formação integral da pessoa humana em conformidade com a filo-
sofia educacional luterana, cuja existência se desenrola na presença
de Deus, o Criador;
▪▪ Desenvolvimento do senso crítico e da ­autocrítica, sem perda dos
valores legítimos do amor, dos sentimentos, das emoções.

Informações sobre PDI – Telefone: (51) 3477-9195 – E-mail: pdi@ulbra.br


apresentação

Este livro de Sociologia da Juventude foi escrito especialmente


para você, estudante de Ciências Sociais da Universidade
Luterana do Brasil (ULBRA). Não há sociedade humana
em que não existam formas de classificar as diferentes fases
da vida, como as idades ou categorias – crianças, jovens,
adultos e velhos. Trata-se de algo mais que um fenômeno
natural, sendo representações sociais sobre o ciclo de vida
humano. A juventude consiste, assim, numa construção
social. Cada sociedade constrói uma idéia sobre essa tran-
sição, atribuindo noções, significados e papéis sociais à sua
juventude. Os próprios jovens também se percebem nessas
relações sociais e expressam sua condição juvenil de dife-
rentes maneiras. Esta disciplina busca justamente possibili-
tar intrumentos teóricos para a investigação dos processos
sociais que envolvem as juventudes. Nesta obra, você encon-
tra organizado um rico material que versa sobre diversos
aspectos dessa categoria social, política e analítica.
No primeiro capítulo, é abordada a construção social
da juventude, demonstrando como essa é uma categoria
social, cultural e historicamente construída, e propondo
algumas categorias fundamentais para o desenvolvimento
de uma sociologia diferencial da juventude.
No segundo capítulo, é apresentada a história da
Sociologia da Juventude, reconstruindo-se os principais
marcos de seu desenvolvimento. Você entrará em contato
com a Teoria Sociológica das Gerações, formulada por Karl
viii
Mannheim, no terceiro capítulo. No quarto capítulo são
Sociologia da Juventude

discutidos os alcances e limites da caracterização etária da


juventude. É apresentada, no quinto capítulo, a abordagem
sobre a juventude como uma fase de transição para a vida
adulta. O sexto capítulo trata das manifestações culturais
relacionadas à juventude, demonstrando que esta é cultu-
ralmente definida e também geradora de cultura.
No sétimo capítulo, a discussão volta-se para a com-
preensão dos jovens no atual contexto das metrópoles bra-
sileiras. O oitavo capítulo apresenta a produção acadêmica
sobre as juventudes rurais e são abordadas as caracterís-
ticas e especificidades dos jovens que vivem, trabalham
e estabelecem suas relações sociais no espaço rural. É
tematizado o movimento juvenil, no penúltimo capítulo,
retomando o histórico da participação juvenil nas lutas
políticas e sociais no Brasil. Por fim, o último capítulo obje-
tiva apresentar o debate acerca das políticas públicas de
juventude, sua definição, seus pressupostos e desenvolvi-
mento até o contexto atual no Brasil.
Para a elaboração do conteúdo foram convidados jovens
pesquisadores organizados em torno do Observatório Sul
da Juventude. Temos a convicção de que a oferta desta disci-
plina no curso de Ciências Sociais em EAD, da Ulbra, é um
importante marco na história da Sociologia da Juventude
e contribuirá indubitavelmente para a expansão e conso-
lidação desta no Brasil. Você está convidado a participar
desse processo.
Desejamos uma excelente leitura e bons estudos!

ix

Apresentação
s umário

( 1 ) A construção social da juventude, 15


1.1 Juventude e modernidade, 18

1.2 Fronteiras e características do processo juvenil, 21

1.3 Algumas categorias centrais da Sociologia da Juventude, 25

( 2 ) História da Sociologia da Juventude, 33


2.1 O que é Sociologia da Juventude, 37
2.2 Os jovens nas primeiras pesquisas sociais, 38

2.3 A constituição da Sociologia da Juventude

na primeira metade do século XX, 43

2.4 A Sociologia da Juventude na segunda metade do século XX, 48

( 3 ) Teoria sociológica das gerações, 57


3.1 A questão sociológica das gerações, 60

3.2 O conceito sociológico de geração, 62

3.3 Juventude e dinâmicas sociais, 64

3.4 Socialização como relação intergeracional: as perspectivas

funcionalista e dialética, 70

( 4 ) A juventude como faixa etária, 77


4.1 Faixa etária e contexto histórico, 80

4.2 Padrões atuais, 81

4.3 Juventude – apenas uma palavra?, 84

4.4 Uma proposta teórico-operacional de

classificação etária da juventude, 86


xii
( 5 ) A juventude como transição para a vida adulta, 93
Sociologia da Juventude

5.1 A transição para a vida adulta, 96

5.2 Um novo padrão transitório, 101

( 6 ) Culturas juvenis, 109


6.1 Juventude como produtora de cultura, 112

6.2 Cultura dos jovens ou culturas juvenis?, 116

6.3 Tribo versus circuito jovem, 118

( 7 ) Juventudes nas metrópoles, 125


7.1 A situação dos jovens no contexto atual: aspectos gerais, 129

7.2 As pesquisas em quatro capitais brasileiras, 141

( 8 ) Juventudes rurais, 147


8.1 As pesquisas sobre os jovens rurais no Brasil, 151

8.2 As diferentes juventudes rurais, 158


( 9 ) Movimentos juvenis, 163
9.1 A participação do jovem nos movimentos sociais, 166

9.2 A participação juvenil na história brasileira, 168

( 10 ) Políticas públicas de juventude, 187


10.1 O que são políticas públicas de juventude, 190

10.2 Principais marcos internacionais da constituição das PPJ, 193

10.3 Desenvolvimento das PPJ na América Latina, 195

10.4 Histórico das PPJ no Brasil, 198

10.5 O contexto atual das PPJ no Brasil, 201

Referências por capítulo, 207

Referências, 211

Gabarito, 215

xiii

Sumário
(1)

a construção social
da juventude
Nilson Weisheimer possui graduação em Ciências
Sociais (2001), mestrado (2004) e doutorado (2008) em
Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFGRS). É professor adjunto da Universidade
Luterana do Brasil (Ulbra) e coordenador dos cur-
sos de Ciências Sociais − Bacharelado e Licenciatura
− dessa instituição. É professor pesquisador do Curso
de Planejamento e Gestão de Desenvolvimento Rural
(Plageder) da UFRGS. Atuou como docente na
Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e como
professor substituto no Departamento de Sociologia do
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS.
Coordenou o Convênio MDA/FAURGS nº- 109/2006,
que resultou em Relatório Técnico de Caracterização
dos Jovens na Agricultura Familiar no Rio Grande
do Sul. É membro do Grupo de Pesquisa Estruturas e
Processos Sociais Agrários, do CNPq. Ministrou disci-
plinas de Metodologia Científica, Sociologia Clássica e
Contemporânea, Sociologia do Trabalho, do Esporte, da
Juventude, da Agricultura e Rural. Dedica-se com maior
ênfase às pesquisas relacionadas aos seguintes temas:
políticas públicas, desenvolvimento, agricultura familiar,
relações de gênero, juventudes e projetos profissionais. É
coordenador-geral do Observatório Sul da Juventude.
Nilson Weisheimer

( )

a possibilidade de uma Sociologia da Juventude


se instaura a partir do reconhecimento de que a juventude
não é simplesmente um dado natural, mas, sim, uma cons-
trução social. Desse modo, nossa primeira lição visa apontar
como a juventude é socialmente construída. Reconhecendo
a complexidade do fenômeno juvenil, visamos promover
sua reconstrução analítica como uma categoria socioló-
gica. Perseguindo esse objetivo, no presente capítulo dis-
cutiremos a construção social da juventude no contexto da
modernidade.
Abordaremos os diferentes aspectos humanos que carac-
terizam o processo juvenil, assim como as fronteiras
que marcam a entrada nessa fase da vida e a saída desta.
Apresentaremos as categorias centrais ao estudo social das
juventudes, buscando desfazer possíveis confusões entre
os termos em debate: juventude(s), jovens, condição juvenil e
situação juvenil.

(1.1)
j uventude e modernidade

A juventude é uma categoria social que passa a constituir-se


e a ter o sentido atual com a modernidade. Desse modo,
salientamos que as percepções correntes sobre essa categoria
são necessariamente social, cultural e historicamente
determinadas. Isso implica reconhecer que, mesmo que
já houvesse jovens nos períodos históricos anteriores, os
significados, as características e os papéis sociais atribuídos
a esse grupo social eram bastante diversos daqueles que se
passou a atribuir a ele recentemente.
Com os autores clássicos da Sociologia (Marx, Durkheim
e Weber) aprendemos que a modernidade corresponde ao
período histórico inaugurado pela ascensão política da bur-
18
guesia e pelo desenvolvimento do capitalismo, que rompeu
definitivamente com os laços do tradicionalismo. Entre as
Sociologia da Juventude

principais características da modernidade, podemos citar


as contínuas, cada vez mais rápidas e intensas, transfor-
mações sociais, culturais e econômicas, a acentuação da
diferenciação e da especialização social e a crescente racio-
nalização, burocratização e secularização das experiên­
cias. Essas características encontram-se relacionadas ao
surgimento da juventude. Em um só tempo, juventude e
modernidade surgem inter-relacionadas. Notemos que não
é sem justificativas que os jovens são freqüentemente adje-
tivados como modernos, diferentes, inovadores ou rebeldes.
Partindo de uma abordagem histórica, o francês
Philippe Ariès1 relacionou a emergência da categoria juven-
tude com o desenvolvimento do capitalismo e as novas
relações sociais daí resultantes. Ele demonstrou que as
noções de infância e juventude foram longamente cons-
truídas social e historicamente. Para esse autor, a juven-
tude é uma noção que emerge na modernidade, com base
em dois processos fundamentais, distintos, simultâneos e
inter-relacionados.
Conforme o mesmo autor, o primeiro processo corres-
ponde às mudanças ocorridas nas formas da organização
familiar a partir do século XII. Nesse período, processou-se
uma diferenciação entre as esferas públicas e privadas que
se institucionalizaria com a tomada do poder político pela
burguesia. Remonta a essa época uma mudança de orien-
tação no âmbito do grupo doméstico. A família passou a
voltar-se cada vez mais para si mesma, passando a organi-
zar-se em torno da criança e erguendo entre ela mesma e
a sociedade o muro da sociedade privada. Isso se refletiu,
também, na composição do grupo doméstico, que foi dei-
xando de ser caracterizado por laços amplos e voltando-se
ao convívio mais estreito e íntimo, ou seja, processou-se 19

uma importante transformação na forma de organização


A construção social
da juventude

do grupo parental da família extensa à família nuclear –


entendida esta como sendo formada pelo casal e seus filhos.
Nas palavras de Ariès2, “a família tornou-se um lugar de
uma afeição necessária entre cônjuges e entre pais e filhos,
algo que não era antes”. A juventude assumiu, então, no
interior de uma família nuclear, um novo e diferenciado
papel social, uma vez que passou a ser responsabilidade
dos pais a preparação das condições de existência e sobre-
vivência futura dos filhos.
O segundo processo, não menos importante, apontado
pelo nosso autor de referência, consiste no surgimento
da juventude como um fenômeno social moderno basica-
mente entre os setores da burguesia e da aristocracia. Essas
classes sociais podiam manter seus filhos longe da vida
produtiva e social, enviando-os para escolas e liceus a fim
de prepará-los para funções futuras. Foi justamente essa
segregação das novas gerações nas instituições educacio-
nais que substituiu a aprendizagem privada da família por
um sistema de educação via escolarização que acabou por
conferir visibilidade ao fenômeno juvenil. Posteriormente,
segundo o autor, com a institucionalização e a universa-
lização do processo educacional como etapa preparatória
para a inserção das novas gerações no mundo do trabalho,
foi tornando-se cada vez mais visível a especificidade da
etapa intermediária entre a infância e a fase adulta, con-
figurada pela adolescência e pela juventude. Observemos
que esse é um processo típico da modernização que cria
instituições de novo tipo, a instituição burocrática, como
expressão dos processos de racionalização das práticas
sociais. Tal como a industrialização do processo de tra-
balho tem em vista os objetivos da atividade econômica
20 capitalista, a escolarização como forma de educação das
novas gerações orienta-se pelo mesmo princípio. Por meio
Sociologia da Juventude

da institucionalização burocrática do ensino, possibilitaria


a reprodução das hierarquias sociais, formando os gesto-
res da indústria capitalista e do Estado burguês.
Em síntese, podemos dizer que o aparecimento da
noção de juventude como a conhecemos hoje resulta de
processos iniciados pela modernidade e que implicaram
uma crescente racionalização e individualização das práti-
cas sociais, promovendo a distinção entre a esfera privada
(família) e a pública (escola). A modernidade ocidental, que
corresponde ao período de ascensão do modo de produ-
ção capitalista, implicou uma crescente institucionalização
das fases da vida humana promovida sob a perspectiva
dos interesses da classe burguesa e de sua direção sobre
o Estado, a escolarização e a industrialização capitalista.
Desse modo, a juventude, que se diferencia dos demais
grupos etários inicialmente no âmbito das elites entre os
séculos XVII e XVIII, expandiu-se como fenômeno social
via nuclearização das famílias e universalização do ensino
para todas as classes sociais.

(1.2)
f ronteiras e características
do processo juvenil
A juventude representa em nossa cultura uma fase da
vida situada entre a infância e a vida adulta e tem como
marco inicial a conclusão do desenvolvimento cognitivo
da criança. Conforme a psicologia genética de Jean Piaget3,
este corresponde à capacidade de realizar operações for- 21
mais cujo processo de estruturação se conclui por volta dos
A construção social
da juventude

15 anos de idade e confere ao indivíduo uma nova capaci-


dade, a execução de operações mentais próprias do pensa-
mento abstrato e hipotético-dedutivo.
Segundo o modelo do equilíbrio proposto por esse
autor, o desenvolvimento cognitivo humano é marcado
por um processo contínuo de equilibração (passagem da
gênese à estrutura) que dá origem a estados de equilíbrio
sucessivos e essencialmente descontínuos, ou seja, de sis-
temas de ações organizadas que marcam os diferentes
estágios do desenvolvimento cognitivo: sensório-motor,
pré-operatório, operatório concreto e operatório formal, os
quais caracterizam as etapas cada vez mais superiores de
adaptação via interação entre sujeito e mundo exterior.
Sustentamos que, do ponto de vista das práticas sociais,
o início da juventude é representado pelo surgimento da
puberdade. Esta é marcada pelo desenvolvimento de um
novo porte físico e por novas exigências de disciplina-
mento dos corpos. Essas mudanças biológicas são acom-
panhadas pela incorporação de novos papéis sociais que
acentuam, entre outros aspectos, as distinções entre os
sexos. De modo geral, podemos dizer que a entrada na
fase juvenil da vida é marcada por múltiplos critérios que
expressam as transformações vividas pelos indivíduos nos
planos biológico, psicológico, cognitivo, cultural e social.4
Por sua vez, o término da juventude, segundo Enric
Sanchis5, John Durston6 e Olivier Galland7, é definido por
critérios eminentemente sociológicos. O fim da juventude
aparece relacionado à progressiva autonomia no plano
cívico (maioridade civil) e ligado à conjugação de responsa-
bilidades produtivas (um status profissional estável), conju-
gais (um parceiro sexual estável assumido como cônjuge),
22 domésticas (sustento de um domicílio autônomo) e pater-
nais (designação de uma prole dependente). Dessa forma,
Sociologia da Juventude

segundo Nilson Weisheimer8, as fronteiras que demarcam


o início e o término do período do ciclo de vida caracteri-
zado como juventude envolvem um conjunto de fenômenos
objetivos e subjetivos, sociais e individuais, que tendem a
variar de sociedade para sociedade.
Podemos compreender o processo juvenil como mudan-
ças em diferentes âmbitos da existência humana. Essas
diferentes alterações foram descritas pelo antropólogo chi-
leno Durston9 e sistematizadas no quadro a seguir.

Quadro 1.1 – Características do processo juvenil

Âmbito Processo

Biológico Iniciam-se e desenvolvem-se mudanças


– fisiológico fisiológicas da puberdade e adquire-se
capacidade reprodutiva.

Psicossexual Há o desenvolvimento da aprendizagem


do cortejo e do descobrimento sexual.

Cognitivo O processo de aprendizagem formal e


informal chega a seu auge.

Interpessoal As pessoas definem sua identidade juvenil


diante de seus pares de idade. Alcançam
certo grau de autonomia em relação às
figuras paternas, tão importantes na
infância.

Social Aumenta progressivamente a presença


do trabalho produtivo em sua vida coti-
diana. A pessoa desenvolve gradualmente
sua subjetividade social como um novo
adulto, assumindo uma maior responsabi-
lidade econômica e autoridade de voz na
sociedade. 23
A construção social
da juventude

Fonte: adaptado de DURSTON, 1997.

No âmbito biológico-fisiológico, produzem-se pro-


cessos descritos como puberdade, que marcam o início
da capacidade reprodutiva. Dá-se o nome de puberdade às
modificações biológicas e à maturação sexual. Conforme
estudos no campo da endocrinologia pediátrica, esse pro-
cesso ocorre entre as meninas cerca de dois anos antes do
que entre os meninos.10
No âmbito psicossexual, surgem as primeiras des-
cobertas dos jogos sexuais, as práticas do cortejo, a atra-
ção e o desejo sexual. Mas esse processo não é vivido sem
angústia e inquietação por jovens adolescentes, gerando
sentimentos ambíguos e comportamentos pendulares,
manifestados ora pelo desejo da volta à pureza das rela-
ções infantis, ora pelo desejo da experimentação sexual,
diante da dúvida quanto a esse ser o momento adequado,
ou ainda, estar com o(a) parceiro(a) certo(a) para viver essa
experiência.
No âmbito do desenvolvimento cognitivo, o processo
de aprendizagem formal e informal chega a seu auge. De
acordo com Iván Izquierdo11, isso se deve ao amadureci-
mento do córtex pré-frontal e de outras regiões corticais,
possibilitando tanto a evolução da memória quanto o apro-
fundamento do raciocínio abstrato, a maior capacidade de
atenção e gerenciamento das emoções.
No âmbito interpessoal, conforme Claude Dubar12, o
sujeito passa a construir suas identidades na interação com
seus pares de idade, produzindo e incorporando uma iden-
tidade tipicamente juvenil. Essa construção social das iden-
tidades permite sintetizar atos de pertencimento a novas
24 esferas de ação social ao mesmo tempo em que expressam
um certo grau de autonomia em relação às figuras pater-
Sociologia da Juventude

nas, tão importantes na infância.


Finalmente no âmbito social, o processo juvenil é
caracterizado por uma progressiva inserção nas esfe-
ras produtivas, que passam a ser parte significativa do
tempo cotidiano dos jovens. Simultaneamente, os jovens
buscam construir, via ingresso no mercado de trabalho,
as condições necessárias para a conquista de autonomia
em relação aos pais, principalmente no quesito financeiro,
mesmo que de modo parcial. Essa inserção no mercado de
trabalho parece ser a chave para o reconhecimento social
de que o jovem está incorporando uma nova subjetividade,
tida como típica dos adultos, que é freqüentemente atribu-
ída à maior responsabilidade econômica, completada com
maior possibilidade de exercer seu direito de opinião e voz
na família e na sociedade.
Novamente, Weisheimer13 chama atenção para a “com-
plexidade do processo juvenil, na qual as maturidades
físicas, sexuais, intelectuais, civis e profissionais não ne-
cessariamente coincidem”. O autor destaca que nessa fase
as potencialidades humanas encontram-se plenamente de-
senvolvidas. O indivíduo, como um ser social, passa a ser
mais reflexivo que em etapas anteriores, sua concepção de
mundo e sua própria identidade vão se consolidando e suas
projeções em direção ao futuro tornam-se mais realistas.
Nesse processo, a afirmação social de sua individualidade
é vivenciada na busca de autonomia por meio da progressi­
va inserção no trabalho, passando a incorporar novas res-
ponsabilidades nos âmbitos jurídico, familiar e social.

(1.3) 25

a lgumas categorias centrais


A construção social
da juventude

da s ociologia da j uventude
É possível perceber neste debate que a juventude como
categoria social é uma construção social, cultural e histó-
rica bastante complexa. Em termos sociológicos, ela reflete
os processos de individualização e racionalização cres-
centes iniciados na modernidade. O fundamental para
sua construção como categoria sociológica é ter presente
que a juventude não se constitui nem se explica simples-
mente por meio de princípios naturais ou determinações
biológicas.14
Como expressão da vida social, a juventude aparece
como uma categoria complexa que não pode ser definida
em função de um único aspecto ou característica. Podemos
recorrer às observações de François Dubet15, que consi-
dera a própria categoria juventude como portadora de uma
ambigüidade intrínseca, pois seria um momento no ciclo
de vida, experimentando as características socioculturais
de uma determinada historicidade e, simultaneamente,
um processo de inserção social ou ainda uma experiência
delimitada pela estrutura social.
Reconhecer a complexidade de um fenômeno socioló-
gico não equivale a negar sua possibilidade de compreen-
são e sistematização por meio de conceitos gerais e válidos
para múltiplas realidades. Desse modo, não podemos nos
furtar a sistematizar as categorias de análise necessárias ao
estudo dos fenômenos juvenis. Para tanto, um primeiro pro-
cedimento necessário é considerar que a juventude é uma
categoria sociológica e, por isso mesmo, seu significado é
necessariamente relacional, de tal modo que sempre somos
26 jovens ou velhos em relação a alguém. Nesse sentido, deve-
mos pensar os sentidos da juventude como algo que é pro-
Sociologia da Juventude

duzido em determinados contextos de relações sociais. Tal


como o sociólogo Pierre Bourdieu16 propõe a construção dos
objetos sociológicos, devemos “pensá-la como forma de um
espaço de relações sociais”. Ou seja, essa proposta adquire
contornos nítidos com o estabelecimento de definições teó-
rico-operacionais para as categorias de juventude, jovens,
condição juvenil e situação juvenil17.
Juventude é uma categoria social fundada em repre-
sentações sociais segundo as quais se atribui sentido ao
pertencimento a uma faixa etária, posicionando os sujei-
tos na estrutura social. A juventude é caracterizada ainda
pelo processo contínuo de incorporação de novos papéis
sociais por meio de diversos processos de socialização, o
que configura a transição da infância à vida adulta. Como
a compreendemos, a juventude é, antes de tudo, um signo
das relações que a sociedade estabelece, simultaneamente,
com seu passado e seu futuro. Com efeito, as característi-
cas dessa categoria são: a ambivalência típica de sua situa-
ção liminar por conta da própria transitoriedade; a posição
subalterna aos adultos na hierarquia social; a conflitivi-
dade originada pelo processo de individualização nessa
situação liminar e subalterna; a criatividade e a capacidade
de inovação própria do contato original das novas gera-
ções com a cultura prestabelecida.18
Por jovens, designam-se os indivíduos concretos que vi-
vem os processos de socialização específicos. Constituem-
se em sujeitos históricos cujas trajetórias implicam a
transição da condição social de criança à vida adulta. Em
outras palavras, os jovens constituem a unidade de análi-
se por excelência dos estudos da Sociologia da Juventude.
Essa unidade de análise tanto pode ser apresentada como
“agente”, isto é, como indivíduo socialmente constituído 27

na totalidade de suas determinações e dotado de poder de


A construção social
da juventude

produzir impactos significativos na ordem social, quanto


como “ator”, ou seja, aquele que desempenha um papel es-
pecífico e preestabelecido.19
Além das categorias já citadas, outras duas se impõem.
Seguindo a trilha de Miguel Abad20 e Marília Pontes
Sposito e Paulo César R. Carrano21, Weisheimer22 busca
explicitar as diferenças entre condição e situação juvenil.
A condição juvenil corresponde ao modo como a socie-
dade atribui significados às juventudes em determinadas
estruturas sociais, históricas e culturais. Dessa maneira,
busca-se destacar que, mais do que uma faixa etária, a con-
dição juvenil é uma posição na hierarquia social. No caso
dos jovens, uma posição subordinada aos adultos.
Por sua vez, a situação juvenil diz respeito aos diver-
sos percursos experimentados pela condição juvenil, ou
seja, traduz as suas diversas configurações. Esta última
categoria é utilizada então para referir-se aos variados pro-
cessos empíricos, condições conjunturais e particulariza-
das das múltiplas juventudes.
Essas definições estariam incompletas se não incor-
porassem a multiplicidade dessas representações sociais,
o que implica a necessidade de pensarmos mais em ter-
mos de juventudes, no plural, uma vez que estas refletem
realidades sociais diversas, construindo experiências e
identidades juvenis distintas.23 Ainda de acordo com Ruth
C. L. Cardoso, Helena Sampaio e Lara A. C. Bezzon24, “a
juventude só pode ser entendida em sua especificidade,
em termos de segmentos de grupos sociais mais amplos”,
e, segundo Velho, citado pelas autoras, essa postura con-
duz à necessidade de qualificá-la, percebendo-a como uma
categoria social complexa e heterogênea, na tentativa de
28 evitar simplificações e esquematismos.
Para efeito de análise, recomenda-se que a especifici-
Sociologia da Juventude

dade das juventudes possa ser estabelecida pelo exame


dos processos de socialização nos quais os jovens estão
inseridos.25 Ao serem consideradas, por exemplo, as dife-
renças de classe social, etnia e gênero, percebem-se distin-
ções relativas às posições ocupadas nos espaços sociais por
esses jovens e conseqüentemente distensões relativas aos
respectivos processos de socialização, ou seja, de acordo
com Weisheimer26, “para conferir maior precisão analí-
tica à juventude como categoria sociológica será necessá-
rio identificar os processos de socialização predominante
entre os jovens estudados”.
É importante que o leitor perceba que posicionamen-
tos teóricos dos tipos dialético, interacionista ou relacional,
tão a gosto de Pierre Bourdieu27, propõem-se a romper com
as definições de caráter substancialista sobre a juventude,
possibilitando construir a categoria analítica de modo rela-
cional, isto é, em termos de sua posição num espaço de rela-
ções sociais. Com efeito, para Weisheimer28, a reconstrução
sociológica da condição juvenil com base no processo de
socialização confere maior coerência à proposta de privile-
giar as noções de juventudes (representações) e jovens (sujei-
tos/atores/agentes), no plural.

(.)
p onto final
Neste capítulo, abordamos alguns elementos que permi-
tem considerar a juventude como uma construção social.
Desse modo, buscamos desnaturalizar as relações sociais
29
e as posições atribuídas aos jovens nas hierarquias sociais.
A construção social
da juventude

Foi destacado que a noção de juventude na contempora-


neidade corresponde a noções e valores que surgem no
contexto da modernidade capitalista por meio de dois pro-
cessos fundamentais:

a. a mudança da orientação do grupo doméstico, que


passa a constituir-se como família nuclear;
b. a universalização do sistema formal de ensino, insti-
tuindo a escolarização como agência de socialização
das novas gerações.

Como efeito desse processo, criam-se as condições que


permitem o reconhecimento da juventude como uma cate-
goria social específica.
Analisamos ainda a complexidade do processo juve-
nil, que é marcado por mudanças em diferentes âmbitos
da maturação humana, e também identificamos as frontei-
ras que demarcam o início e o término da juventude. A res-
peito dessa questão, as representações sociais sobre o início
da juventude enfatizam condicionantes físicos, biológicos
e psicológicos. Por sua vez, o término da juventude, o que
corresponde à passagem à fase adulta da vida humana, é
definido por condições propriamente sociológicas, como a
profissionalização, o matrimônio e a criação dos filhos.
Por fim, buscamos definir algumas categorias de aná-
lise importantes para o estudo sociológico das juventudes.
Nesse ponto, buscamos enfatizar que:

a. a juventude é fundamentalmente uma representação


social que sintetiza múltiplas realidades;
b. os jovens são sujeitos históricos;
c. a condição juvenil é uma posição subordinada na hie-
rarquia social;
30 d. a situação juvenil corresponde às diversas configura-
ções assumidas pela condição juvenil.
Sociologia da Juventude

Diante da complexidade do fenômeno social e da diver-


sidade como esta se manifesta, salienta-se a necessidade
de definirmos com precisão de qual juventude estamos
falando. Para isso, propomos que se recorra aos processos
de socialização como critério objetivo capaz de permitir a
caracterização das diferentes juventudes.
Indicação cultural

DAYRELL, Juarez; REIS, Juliana Batista. Juventude e escola:


reflexões sobre o ensino da Sociologia no ensino médio. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA, 13., 2007,
Recife. Disponível em: <http://www.sbsociologia.com.br/
congresso_v02/papers/GT9%20Ensino%20de%20Sociologia/
Microsoft%20Word%20-%20paper_gt_ensino_de_sociol_-_
juventude_e_escola.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2008.

atividades
1. O historiador francês Ariès (1981) relacionou a emergên-
cia da categoria juventude com dois processos inaugurados
com a modernidade. Quais são eles?
a. A expansão da industrialização e da escolarização.
b. A ascensão da burguesia ao poder político e o desenvol-
vimento do capitalismo.
c. A constituição da família nuclear e a universalização da
escolarização.
d. O desenvolvimento do capitalismo e da burocracia.

2. Enquanto o início da juventude é identificado por critérios


predominantemente físicos, biológicos e cognitivos, o tér-
31
mino da juventude relaciona-se com fatores sociológicos.
Marque a alternativa correta quanto ao fim da condição
A construção social
da juventude

juvenil:
a. Responsabilidades produtivas, conjugais, domésticas e
parentais.
b. Responsabilidades civil, política, econômica e social.
c. Fim da puberdade, capacidade de reprodução, casamen­
­to e emprego fixo.
d. Conclusão do serviço militar, finalização dos estudos e
matrimônio.

3. O sociólogo Weisheimer (2005, 2007, 2008) apresenta defi-


nições teórico-operacionais para as categorias de juven-
tude, jovens, condição juvenil e situação juvenil. Assinale
a alternativa que está de acordo com a definição presente
neste capítulo:
a. Por juventude, designam-se os indivíduos concretos que
vivem os processos de socialização específicos.
b. A situação juvenil traduz as representações sociais
segundo as quais se atribui sentido ao pertencimento a
uma faixa etária.
c. Por jovens, entendem-se os diversos percursos experi-
mentados pela condição juvenil.
d. A condição juvenil corresponde ao modo como a socie-
dade atribui significados às juventudes em determina-
das estruturas sociais, históricas e culturais.

32
Sociologia da Juventude
(2)

h istória da s ociologia
da j uventude
Nilson Weisheimer

( )

a juventude aparece como tema de pesquisa


nos primeiros estudos empíricos precursores da Sociologia,
sendo desde então um tema recorrente de interesse socio-
lógico. Entretanto, nunca se constituiu em assunto central
que contasse com grande número de pesquisadores nem
logrou forjar conceitos consensualmente compartilhados
entre os que se dedicaram a essa especialidade disciplinar.
Esses dois aspectos por longo tempo dificultaram a institu-
cionalização dessa disciplina em larga escala.
Essa situação vem se alterando profundamente nas
últimas décadas, podendo-se dizer que a Sociologia da
Juventude como disciplina acadêmica e linha de pesquisa
vem recebendo um grande impulso neste início do século
XXI e já desponta como um dos debates mais profícuos
da sociologia contemporânea. Neste capítulo, buscamos
apresentar a especificidade disciplinar da Sociologia da
Juventude e discutir sua trajetória histórica até a última
década do século XX.
Ao buscar reconstituir a tradição dos estudos sobre
juventude, deparamo-nos com a dificuldade de encontrar
uma sistematização semelhante à que agora apresentamos,
o que tornou nosso trabalho mais desafiador. Desse modo,
o texto que apresentamos tem como referência principal a
coletânea Sociologia da juventude − organizada em quatro
volumes pela socióloga Sulamita de Britto −, cuja publicação
remonta ao ano de 1968. Também utilizamos como apoio
um catálogo de publicações organizado pelas antropólo-
gas Cardoso, Sampaio e Bezzon, sob o título de Bibliografia
sobre juventude, publicado no ano de 1995. Ainda nos foi
bastante útil o ensaio da socióloga Helena W. Abramo
“Considerações sobre a tematização social da juventude
36 no Brasil”, publicada na Revista Brasileira de Educação.
Acreditamos que, com base nessas fontes, estamos apresen-
Sociologia da Juventude

tando ao leitor um panorama conciso e ao mesmo tempo


completo dos principais marcos históricos da trajetória da
Sociologia da Juventude.
(2.1)
o que é s ociologia da j uventude
Uma disciplina acadêmica de caráter científico tem sua
especificidade definida por seu objeto de estudo. No caso
da Sociologia da Juventude, podemos dizer que esse objeto
é constituído por diversos processos sociais protagoniza-
dos por sujeitos jovens. Em outras palavras, definimos a
Sociologia da Juventude como uma área especializada da
Sociologia que se dedica ao estudo da juventude como um
fenômeno social, cultural e histórico.
Segundo Weisheimer1, as dificuldades de uma socio-
logia “diferencial”, que toma como objeto a juventude, as
relações sociais, os processos de estruturação e as ações
sociais dela, reside justamente nas dificuldades de con-
ceituação desse objeto. Podemos dizer que, no percurso
teórico que marca o desenvolvimento dessa disciplina, a
categoria sociológica que denominamos indistintamente
como juventude recebeu diferentes tratamentos analíticos
e enfoques teóricos que refletem as transformações ocor-
ridas no próprio debate sociológico. Isso implica reconhe-
cer que se processou uma ressemantização da categoria 37

juventude, que acompanhou a temporalidade dos con-


História da Sociologia
da Juventude

flitos sociais e teóricos mais amplos que permearam as


Ciências Sociais no século passado. Como resultado desse
debate dissensual, conforme Britto2, a constituição de uma
Sociologia da Juventude tem sido bem mais lenta do que
se poderia esperar.
(2.2)
o s jovens nas primeiras
pesquisas sociais
A juventude surge como tema de pesquisa social no alvo-
recer da Sociologia. Antes mesmo de esta se constituir
como ciência autônoma e institucionalizada no sistema de
ensino universitário, a juventude foi objeto de investigação
nos estudos de levantamento social que marcam a pré-his-
tória das Ciências Sociais no século XVIII. Esses estudos
precursores da Sociologia da Juventude foram, em grande
medida, impulsionados pelas transformações sociais pro-
vocadas pela emergência do capitalismo como modo de
produção dominante. Esta trouxe como efeitos o abandono,
o aumento da criminalidade juvenil e toda uma série de
violências contra jovens, como, por exemplo, a doméstica e
o abuso sexual praticado por pessoas em situações de van-
tagem em relação a suas vítimas. Esse tema passou a ser
objeto de investigação racionalista e objetivista típicas do
cientificismo da época.
38 Nesse período, surgiram diversos escritos de filoso-
fia especulativa que buscavam atribuir sentidos metafísi-
Sociologia da Juventude

cos à condição juvenil. São populares ainda os manuais


de etiqueta que versavam sobre o modelo de bom com-
portamento de infantes, direcionados a rapazes e moças.
Remontam também a esse período estudos de biologia
que faziam comparações entre as morfologias dos corpos
de diferentes idades e de ambos os sexos. Esses estudos
naturalistas eram complementados por outros de psicolo-
gia que buscavam interpretar os impulsos sexuais ou as
práticas delinqüentes dos jovens, também em perspectiva
comparada por sexos e, em alguns casos, consideravam em
suas análises as situações sociais, geralmente referentes às
características da origem familiar e da situação domiciliar.
São dessa época os primeiros tratados de natureza
pedagógica. A obra intitulada Emílio ou da educação, de Jean-
Jacques Rousseau (1712-1778), nos serve como um exemplo
paradigmático. Nesse romance, que versa sobre a traje-
tória do jovem Emílio, Rousseau3 desenvolve um tratado
de educação laica, isto é, desvinculada de valores religio-
sos, apresentando o que considerava ser os fundamentos
de uma pedagogia para o exercício da cidadania. Nesse
texto, o período de maturação que vai da infância à idade
adulta não é tratado como fase isolada, sendo considerado
por meio de minuciosa descrição ao longo de toda a escrita.
Conforme o sociólogo alemão Andreas Flitner4,

a partir de Rousseau não só se torna necessário compreen-


der a revalorização do período infanto-juvenil na literatura
romântica, no romance referente ao desenvolvimento e nas
numerosas estórias educativas, mas também a abundância
de literatura científica descritiva e observadora, caracterís-
tica do último terço do século XVIII.

Em um texto de referência intitulado Os problemas socio- 39


lógicos nas primeiras pesquisas sobre juventude, Flitner , tendo
5
História da Sociologia
da Juventude

como fonte a pesquisa social alemã, demonstra como a ca-


tegoria juventude foi se constituindo em tema de interesse
sociológico. Nesse trabalho, o autor aborda o surgimento
da temática ligada às idades infantil e juvenil nos estudos
científicos e relaciona as transformações sociais e os pro-
blemas daí decorrentes que, segundo ele, acabam contri-
buindo para delimitar a categoria juventude. Desse modo,
o autor buscou demonstrar como os primeiros soció­­logos
foram paulatinamente fazendo da juventude um campo
autônomo de pesquisa social. Conforme ele argumenta, os
estudos pioneiros tinham como objeto de suas investiga-
ções as formas de vida dos jovens segundo os meios em
que viviam.
Contudo, nesse momento de gênese da Sociologia da
Juventude, quando os precursores buscavam apontar os
traços distintivos do processo de maturação social, pre-
domina a imprecisão nas categorias utilizadas. Ainda,
segundo Flitner6, “não é possível ignorar a falta de preci-
são com que são aplicados os conceitos ‘juventude’, ‘rapa-
zes e moças’, ‘os jovens’, que são utilizados como contraste
para ‘criança’.”
Entre os precursores das pesquisas sobre juventude
encontra-se o educador e pedagogo suíço Johann Heinrich
Pestalozzi (1746-1827), que, influenciado pela leitura de
Emílio ou da educação, de Rousseau, desenvolveu uma intensa
agenda de pesquisa social empírica e debate teórico sobre a
educação. Conforme indica Flitner7, a particularidade dos
escritos de Pestalozzi reside no entrelaçamento entre argu-
mentação social e exame empírico do caso. Desse modo,
esse autor produziu uma análise pioneira, que partiu da
situação social de grupos subalternos que não lhes permi-
40 tia o reconhecimento dos direitos mais simples e naturais
e sobre os quais se fazia necessária uma ação educativa.
Sociologia da Juventude

Pestalozzi desenvolveu ainda algumas experiências socio-


lógicas no estudo da condição juvenil camponesa, de jor-
naleiros e artesões têxteis do campo. Ele analisou a adoção
de novos métodos de trabalho e estilo econômico com base
em moeda corrente novos bens de consumo e os efeitos
destes sobre o mundo rural.
Ainda em Flitner, justamente no que refere à educação
e à estabilização social, Pestalozzi superou os que se ocu-
pavam do problema juvenil de seu tempo, por considerar
de forma rigorosa a nova situação social provocada pela
industrialização. Ou seja, Pestalozzi apontou de forma pio-
neira as vinculações entre formas econômicas, hierarquia
social, moral, trabalho e novas exigências sociais geradas
pela industrialização, por meio de uma minuciosa descri-
ção e análise dos impactos dessas transformações sobre os
comportamentos dos jovens.
Aproximadamente um século após Pestalozzi e ainda
entre os precursores desses estudos, a socióloga Britto8
incluiria em sua obra o texto em que Karl Marx (1818-1883),
um dos autores clássicos das Ciências Sociais, sintetizou
suas opiniões para o Primeiro Congresso da Associação
Internacional dos Trabalhadores, em 1866. Nesse texto,
Marx9 expõe suas considerações sobre a condição juvenil
da época e o tipo de educação a ser defendido pelos traba-
lhadores. Ele argumenta que não só o problema da juven-
tude, mas sobretudo a existência plena de uma juventude
para todos os jovens de uma sociedade depende do estado
do desenvolvimento das forças produtivas e de como os
jovens se relacionam a suas dinâmicas sociais. Em particu-
lar, são determinantes, na opinião de Marx, as condições
de trabalho vigentes e a generalização da educação a toda
41
a população juvenil. Sobre esse último aspecto, Marx10
expõe sua concepção de educação:
História da Sociologia
da Juventude

Por educação queremos dizer três coisas:


1. educação mental;
2. educação corporal, tal como é produzida pelos exercícios de
ginástica e militares;
3. educação tecnológica, englobando os princípios gerais e
científicos de todo modo de produção, e, ao mesmo tempo,
iniciando os jovens no manejo dos instrumentos elementa-
res de toda indústria.
Para fechar nossa galeria de precursores, não podería-
mos deixar de citar o psicólogo norte-americano Granville
Stanley Hall (1844-1924), o primeiro estudioso a receber
o título de Ph.D em Psicologia na América, iniciador do
movimento de estudos da criança e da adolescência e fun-
dador da American Psychological Association (Associação
Americana de Psicologia) e autor de mais de 350 trabalhos
publicados.11 Esse autor foi influenciado pela psicanálise
de Sigmund Freud, pelo evolucionismo de Charles Darwin
e pelos filósofos idealistas alemães Johann G. Fichte e
Friedrich Nietzsche, construindo uma teoria sobre os
aspectos essenciais da condição adolescente em sua grande
obra intitulada Adolescente, publicada em 1904. De um lado,
segundo Flitner12, Stanley Hall defendia a tese de que as
dificuldades psíquicas perceptíveis, apresentadas nesse
período, pertencem-lhe naturalmente, pois estão em liga-
ção causal com o processo de amadurecimento biológico.
De outro, seguiu estratégias metodológicas baseadas em
levantamento de dados quantitativos por meio de aplica-
ção de questionários e materiais estatísticos. Com base em
tais procedimentos, ele analisou as condições sociais da
vida dos jovens e os problemas de seu enquadramento no
42 mundo adulto. Para Hall, segundo Britto13 a juventude se
constituía no elemento-chave da renovação social e via nas
Sociologia da Juventude

novas gerações o advento de um novo gênero humano.


Essa primeira fase de surgimento dos estudos
sobre juventude, que foi de Rousseau a Stanley Hall,
compreendeu um longo período, em que a Sociologia
estava se constituindo e ensaiava seus primeiros passos.
Desse modo, essas pesquisas iniciais foram fortemente
marcadas por perspectivas educacionais, normativas e
psicológicas sobre a condição juvenil. Essa situação só viria
a ser alterada em meados do século XX.
(2.3)
a constituição da s ociologia da
j uventude na primeira metade
do século xx
Na época que corresponde ao início do século XX e se
estende ao período entre as Guerras Mundiais, o campo
de estudo da juventude permaneceu em grande medida
ainda dominado pela educação e pela pedagogia. A consti-
tuição de uma Sociologia da Juventude se realizaria lenta-
mente como resultado direto da maior visibilidade social
adquirida pela juventude, que passou a ser considerada um
segmento e diferenciada como grupo socialmente distinto.
Para isso, foi decisivo o surgimento de um “movimento
juvenil” e da “cultura juvenil”, que apareceram ainda nos
primeiros anos do século XX. Essas manifestações dos tra-
ços culturais e políticos juvenis se fizeram sentir em movi-
mentos culturais modernistas e nas vanguardas políticas.
Com efeito, ainda na primeira década do último século,
iniciaram-se as primeiras experiências de institucionali-
43
zação das pesquisas sociais de juventude na Alemanha.
No período entre as duas Grandes Guerras, a produção de
História da Sociologia
da Juventude

pesquisas sociais deslocou-se para o outro lado do Oceano


Atlântico, encontrando na Escola de Chicago sua expressão
mais avançada.

O debate na Europa

Flitner14 faz referência ao processo de consolidação de estu-


dos sobre juventude e suas primeiras formas institucionais
na Alemanha do início do século XX. Essas experiências
articulam pesquisas psicológicas e sociológicas, como
a tentativa de criação de um instituto de Psicologia e
Sociologia da Juventude promovido por Bernfeld em 1916.
Flitner também faz referência ao cientista social William
Stern, que incentivou, em Hamburgo, uma série de traba-
lhos empíricos sobre jovens. Para Stern, a juventude existia
como produto da cultura. Esse pesquisador estabeleceu o
que entendia ser uma agenda de pesquisa de uma “socio-
logia própria da juventude”, considerando como tarefa ine-
vitável dessa especialidade sociológica a investigação das
manifestações dos “talentos juvenis” e o “estudo das asso-
ciações do movimento juvenil”. Também o sociólogo ale-
mão Aloys Fischer se ocupou do estudo da juventude na
época em análise. Ele defendia a coordenação de diversos
órgãos e institutos dedicados à pesquisa da juventude. Os
temas desenvolvidos por ele e que passaram a ser orga-
nizados nas instituições de pesquisa tinham um caráter
sociológico e pedagógico, destacando-se as investigações
referentes ao comportamento na escola e fora dela, ao cen-
tro de interesse e iniciativa dos estudantes, ao problema
do controle e seus efeitos no ambiente escolar e às práticas
político-culturais dos estudantes.
44 De acordo com Flitner15, outro autor alemão que mar-
cou essa etapa dos estudos da juventude é Eduard Spranger,
Sociologia da Juventude

que elaborou uma sociologia diferencial da juventude, cujo


propósito era compreender as “formas de vida” dos jovens
em relação com a realidade social. Com base em Wilhelm
Dilthey, Spranger desenvolveu um método que visava
compreender a psique do jovem com relação às formas e à
realidade da sociedade, na qual as perspectivas sociológi-
cas e psicológicas se fundem inseparavelmente. Nesse sen-
tido, segundo Flitner16, o fundamento teórico de Spranger
é o de que o mundo cultural, como portador de sentido,
fornece ao jovem categorias de compreensão e orientação.
Segundo Spranger, citado por Flitner17,

Uma das características mais evidentes dessa idade é a de


que o jovem se torna consciente de que não pode permanecer
na dependência espiritual e no aconchego familiar, mas que
necessita ingressar na ordem social e continuidade cultu-
ral, que é necessário compreendê-las e absorvê-las mantendo
uma atitude mental e espiritual independente a seu respeito.
O jovem se vê extraído de sua existência fechada e indiferen-
ciada, para ser colocado no mundo incongruente de múlti-
plos relacionamentos mentais e de valores; vê-se envolvido
em questões profissionais, sociais e políticas, racionais, de
gosto e religiosas, sendo intimado a tomar posição; chamado,
mas, ao mesmo tempo, ainda não bem admitido às ambições
e divergências do mundo adulto.

Percebemos que a abordagem compreensiva de


Spranger, citado por Flitner18, sobre a forma de vida dos
jovens visa captar os sentidos presentes na integração dos
jovens à sociedade. Os resultados mais importantes dessas
considerações podem ser ligeiramente esboçados assim:

1. Todas as declarações referentes às juventudes, se não


45
tiveram por base material extensivo, só podem forne-
cer descrições de um recorte historicamente situado,
História da Sociologia
da Juventude

cultural e socialmente restrito da juventude.


2. É significativo para esses jovens de um círculo social e
cultural determinado que sejam levados a perceber a
sociedade como algo que não desejaram e para o qual
tenham que ser capacitados para colaborar individual-
mente como membros produtivos e auxiliares na sua
sustentação.
3. O jovem, conforme apontado por Spranger, no entanto,
busca relações comunitárias intensivas, liberdade de
movimento, plenitude de vida e naturalidade espon-
tânea. De acordo com essa idéia, ele é estranho a essa
configuração racional, que invade sua vida com sua
exigência e intervenções.
4. Do ponto de vista sociológico, o estilo próprio da juven-
tude é de um “individualismo liberal”, sendo os jovens,
segundo Spranger, dificilmente organizáveis em gru-
pos maiores, porque tenderiam a voltar-se para peque-
nos grupos sociais de identificação recíproca.

Com a implantação dos regimes fascistas e, depois,


com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, foram suspen-
sas, por décadas, as pesquisas sociológicas sobre juven-
tude no continente europeu. Só o sociólogo húngaro Karl
Mannheim19 (1893-1947), em seu exílio na Inglaterra, desen-
volveria de modo sistemático uma teoria sociológica das
geraçõesa. Esse autor via nos jovens os recursos latentes de
que as sociedades dispõem para sua revitalização.

O debate na América

46 Foi nos Estados Unidos da América que se desenvolve-


ram os estudos sociológicos sistemáticos sobre juventude,
Sociologia da Juventude

durante a estagnação do debate europeu. Nesse novo


ambiente, a Sociologia da Juventude se constituiria defi-
nitivamente, abandonando a tendência anterior de gene-
ralizar para toda a população juvenil o que era verificado
entre apenas uma amostra dos jovens. Ou seja, nesse novo
espaço social, a juventude seria estudada em vínculo

a. A teoria das gerações, formulada por Karl ­Mannheim,


é o tema abordado no Capítulo 3 deste livro.
estreito com sua comunidade.
Já na década de 1930, ganharam destaque na Univer-
sidade de Chicago os estudos sobre a delinqüência juve-
nil por meio do fenômeno das gangues urbanas. Nessas
análises, a tensão racial e a demarcação da territoriali-
dade provocada por filhos de imigrantes italianos, judeus
e irlandeses apareceram como aspectos fundamentais da
constituição da problemática de pesquisa sobre juventude.
Nessa linha temática, destacou-se o trabalho de Frederic
M. Thrasher, que publicou The Gang em 1936 e se consti-
tuiu em uma referência para os estudos posteriores sobre
o assunto. Sob o mesmo tema, William Foote Whyte inves-
tigou, entre os anos de 1936 e 1940, as gangues de jovens
filhos de imigrantes italianos em uma região segregada de
Boston, o que resultou em uma tese de doutorado e em um
livro sob o título Sociedade de esquina. Conforme destaca
Breitner Tavares, Foote Whyte referiu-se a algumas regu-
laridades encontradas no cotidiano dos jovens.
Tavares20 afirma que:

Para ele, as gangues são resultado de relações habituais já


presentes na vida de seus integrantes, desde os primeiros
contatos sociais na infância, quando viviam próximos uns
47
dos outros. Esses grupos relativamente duradouros surgiram
espontaneamente na esquina, e seus integrantes têm entre 20
História da Sociologia
da Juventude

e 30 anos de idade. A falta de segurança social e a semelhança


entre os indivíduos propiciam uma maior interação, já que
compartilham dos mesmos problemas e expectativas. Esse é
o fator gerador da estrutura grupal.

Ambos os pesquisadores, Thrasher e Foote Whyte, tra-


taram do fenômeno social da violência e da criminalidade
juvenil num contexto de desestruturação social provo-
cada pela depressão econômica da época. Em resumo: foi
na tradição dos estudos sobre gangues que a Sociologia da
Juventude se desenvolveu na Universidade de Chicago, com
base na perspectiva analítica do que seria posteriormente
conhecido como interacionismo simbólico. Conforme indicam
as antropólogas Cardoso, Sampaio e Bezzon21, nesses estu-
dos, a delinqüência juvenil é tratada como uma subcultura
das “classes baixas” que rejeitam os valores das “classes
médias”. A idéia de subcultura delinqüente é central nos
estudos da escola de Chicago e, com as noções de papéis
sociais e da função mediadora exercida pelos símbolos ao
atribuírem sentidos às interações sociais, constitui-se num
dos principais aportes dessa geração à Sociologia Geral e à
Sociologia da Juventude em particular.

(2.4)
a s ociologia da j uventude na
segunda metade do século xx
Conforme argumenta a socióloga Abramo22, a juventude
48 foi tematizada ao longo da segunda metade do século XX,
com base em uma óptica reativa e, conforme suas palavras,
Sociologia da Juventude

“depositária de um certo medo”, ou seja, como problema


social.
Nos anos 1950, os estudos sociológicos enfatizavam
uma predisposição dos jovens à transgressão e à delinqüên­
cia e, nesse sentido, apresentavam-se em grande parte co-
mo continuidade dos estudos iniciados nos anos 1930 pela
Escola de Chicago.
Nessa década, o sociólogo norte-americano Talcott
Parsons23 publicou A classe como sistema social, operando
uma análise dos grupos juvenis a partir de sua pers-
pectiva teórica, o estrutural-funcionalismo. Nesse artigo,
Parsons discute o desenvolvimento de uma “cultura juve-
nil” como decorrência do processo de expansão do sistema
educacional a toda a população infanto-juvenil norte-ame-
ricana. Para esse autor, a “cultura juvenil” é necessaria-
mente ambígua, uma vez que, na escola, os grupos de pares
surgem como meio de proteção contra a aculturação para
os jovens das classes baixas, preservando seus vínculos
identitários de origem familiar e étnica. Parsons identifica
nesse comportamento uma postura “anti-intelectualista”,
enquanto no ensino médio os pares de idade exerceriam
outra função, estando agora vinculados à diversificação
dos papéis sociais. Desse modo, a ambigüidade reside no
duplo caráter da cultura juvenil, que pode assumir fun-
ções tanto progressivas quanto regressivas, no que diz res-
peito à incorporação dos valores da sociedade envolvente
via processos de socialização no ambiente escolar.
Torna-se importante situar o leitor: foi nesse período
que se consolidou, a partir do estrutural-funcionalismo
parsoniano, a noção predominante de juventude no sécu-
lo XX. Ou seja, conforme sintetiza Abramo24, a juventude
­passou a ser pensada como um processo de desenvolvi- 49
mento social e pessoal de capacidades e ajustes aos papéis
História da Sociologia
da Juventude

de adulto, ou ainda, como um período de transição da in-


fância à fase adulta que seria marcado pela intensificação
do processo de socialização, entendido como a incorpora-
ção das normas e dos valores sociais necessários à integra-
ção do jovem como membro da sociedade.
Ainda nos anos 1950, a Unesco passou a promover
investigações que visavam caracterizar a juventude de
países inteiros. Dessa forma, essa instituição encarregou
o pesquisador francês Jean Stoetzel de realizar essa tarefa
para o caso do Japão do período do Pós-Guerra. Para isso,
o primeiro desafio foi estabelecer com precisão a popula-
ção do estudo, o que foi feito estabelecendo-se de modo
arbitrário os limites de 15 a 25 anos. Em seu relatório de
pesquisa, publicado pela Unesco em Paris, no ano de 1953,
Stoetzel25 identificou que os jovens se encontravam em
relação de extrema dependência econômica de seus pais,
chegando à conclusão de que “a condição de jovem é uma
condição muito inferior”.
A Unesco realizaria, no ano de 1964, em Grenoble, na
França, a Primeira Conferência Mundial sobre a Juventude,
encarregando o professor de História da Sociologia da
Juventude em Viena, o austríaco Léopold Rosenmayr26, da
apresentação de um relatório sobre a situação socioeconô-
mica da juventude. Nesse relatório, encontram-se as ten-
dências mais recentes, à época, sobre os estudos e a situação
juvenil na Europa e nos EUA. O trabalho de Rosenmayrb
teve grande significado por apresentar a definição de
juventude que seria a mais usada pelos pesquisadores
desde então e por destacar um processo de universaliza-
ção da identidade juvenil como impacto da expansão dos
meios de comunicação de massa à generalização da edu-
50 cação compulsória e o surgimento de um mercado de con-
sumo juvenil.
Sociologia da Juventude

Nas décadas de 1960 e 1970, o enfoque recaiu no papel


contestador diante da ordem social. Nessa época, por meio
do rock’n’ roll, da liberação sexual, da contracultura, do
movimento estudantil e da luta por direitos civis e pela
paz, a juventude produzia uma crítica à ordem social esta-
belecida. As pesquisas buscavam explicar essas novas

b. A proposição de Rosenmayr é apresentada no Capítulo


5 deste livro.
manifestações culturais e políticas da juventude e todas
as suas formas de “comportamento desviante”, atribuindo
a essa categoria a possibilidade de transformação social.
Partes desses estudos afirmam que, naquele contexto de
transformações sociais e culturais e de modernização pro-
dutiva acelerada, a juventude aparecia como uma catego-
ria portadora de possibilidades de transformações sociais
em diferentes graus e propósitos. Isso não significa o aban-
dono do enfoque da juventude-problema. No conjunto,
predominavam pesquisas com base teórica no funciona-
lismo. Estas identificam na geração jovem uma ameaça à
ordem social nos planos político, cultural e moral, atri-
buindo esse comportamento contestador às novas dinâ-
micas de socialização que permitiam o afrouxamento dos
vínculos estruturais.
No Brasil, foi particularmente nesse período que o tema
da juventude ganhou visibilidade. Os estudos voltaram-se
principalmente para as formas de engajamento político da
juventude, surgindo nesse âmbito o texto do sociólogo bra-
sileiro Octavio Ianni intitulado O jovem radical e os estudos
realizados pela socióloga Marialice Foracchi – O estudante
e a transformação da sociedade brasileira e A juventude na socie-
dade moderna, que podem ser vistos como exemplos para- 51
digmáticos dessa produção teórica que se iniciava.
História da Sociologia
da Juventude

Em contraste a esse período, nos anos de 1980, a proble-


mática da juventude passou por um deslocamento, enfati-
zando-se a ascensão do individualismo, do consumismo e
da apática política. Conforme resume Abramo27 sobre os
estudos dessa década na área, o problema da juventude
passou a ser sua incapacidade de resistir ao individua-
lismo, ao conservadorismo moral, ao pragmatismo e à falta
de manifestações de desejo de mudar ou mesmo de corri-
gir as deficiências do sistema social.
Nos anos de 1990, os estudos mudaram um pouco em
relação à década anterior, mas o enfoque na juventude-
problema persistiu. Segundo Abramo28, “não mais a apatia
e a desmobilização que chamam a atenção; pelo contrário,
é a presença de inúmeras figuras juvenis nas ruas, envolvi-
das em diversos tipos de ações individuais e coletivas”. A
ênfase recaiu sobre o envolvimento de jovens na violência
urbana, na gravidez precoce, no desemprego e, em menor
medida, no processo migratório do campo para as cida-
des. Tratando notadamente sobre os jovens das regiões
metropo­litanas, uma série de estudos patrocinados pela
Unesco em Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro e Brasíliac
deram a tônica ao debate mais recente e pautaram a ins-
titucionalização de políticas públicas para a juventude na
primeira década do século XXI no Brasil.

(.)
p onto final
Ao longo deste capítulo, buscamos reconstituir os princi-
52 pais marcos do desenvolvimento histórico da Sociologia
da Juventude de meados do século XVIII ao fim do século
Sociologia da Juventude

XX. Nesse percurso, segundo Cardoso, Sampaio e Bezzon29,


duas tendências se alteraram ao longo do tempo: de um
lado, predominou uma noção mais generalista e abstrata
da juventude; de outro, a ênfase recaiu sobre a especifi-
cidade dos jovens vinculados a experiências concretas.

c. Esses estudos são apresentados no Capítulo 7 deste


livro.
Com efeito, recentemente vem se consolidando o entendi-
mento sobre a necessidade de se compreender a juventude
como uma construção social, cultural e histórica dinâmica,
sobre a qual se impõem diferentes mecanismos de intera-
ção social. Em vez de um grupo homogêneo, ela é cada vez
mais percebida como uma realidade múltipla. Entretanto,
não há consenso quanto ao que configuram as juventudes
e suas variações. Empiricamente é um fenômeno que apre-
senta uma crescente diversidade. No campo da pesquisa
social, vai constituindo-se como uma categoria multidi-
mensional compreendida como um conceito polissêmico,
que resiste a ser reduzida a uma única definição.

Indicação cultural

AUGUSTO, Maria Helena Oliva. Retomada de um legado:


Marialice Foracchi e a Sociologia da Juventude. Tempo social,
São Paulo, v. 17, n. 2, nov. 2005. Disponível em: <http://
www.scielo. br/ scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=0103-
207020050002&lng=pt&nrm=iso.html>. Acesso em: 25 jul.
2008.

atividades 53
História da Sociologia
da Juventude

1. No século XVIII, o suíço Johann Heinrich Pestalozzi desen-


volveu estudos sociológicos sobre a condição juvenil no
campo, nos quais analisa:
a. a adoção de novos métodos de trabalho e estilo econô-
mico com base em moeda corrente, novos bens de con-
sumo e seus efeitos sobre o mundo rural.
b. a socialização dos jovens nas atividades produtivas do iní-
cio da manufatura que antecederam à industrialização.
c. a delinqüência juvenil sob a perspectiva das novas rela-
ções de mercado capitalista e dos conflitos agrários da
Europa de sua época.
d. os conflitos de gerações que se manifestavam entre os
jovens e seus pais na orientação da produção agrícola e
na manufatura.

2. Na década de 1930, ganharam destaque na Universidade de


Chicago os estudos sobre a delinqüência juvenil por meio
do fenômeno das gangues urbanas. É correto afirmar:
a. Nesses estudos de caráter quantitativo, predominaram
os levantamentos censitários que tratam a juventude de
modo generalizado.
b. Nesses estudos, o fenômeno da delinqüência juvenil foi
abordado como sendo típico da condição juvenil nas
grandes metrópoles.
c. Nesses estudos, a delinqüência juvenil foi tratada como
uma subcultura das “classes baixas” que rejeitavam os
valores das “classes médias”.
d. Nesses estudos, predominou a idéia de que as formas de
ação coletiva dos jovens se constituiriam como uma crí-
tica à ordem social.
54
3. Durante a segunda metade do século XX, os estudos sobre
Sociologia da Juventude

a juventude variaram em abordagens e temas. A esse res-


peito, é correto afirmar:
a. Na década de 1950, os estudos abordaram os movimen-
tos juvenis e, na década de 1960, o enfoque recaiu sobre
as manifestações de individualismo dos jovens.
b. Nas décadas de 1960 e 1970, o enfoque recaiu sobre o
papel contestador diante da ordem social, enquanto, nos
anos de 1990, a ênfase recaiu sobre o envolvimento de
jovens na violência urbana, na gravidez precoce e no
desemprego.
c. Nos anos de 1950, os estudos sociológicos enfatizaram
uma predisposição dos jovens à transgressão e à delin-
qüência, enquanto, nos anos de 1960 e 1970, o problema
da juventude passou a ser sua incapacidade de resistir
ao individualismo e ao conservadorismo moral.
d. Na década de 1950, os estudos abordaram o papel con-
testador diante da ordem social e, nas décadas de 1960 e
1970, o envolvimento de jovens na violência urbana.

55
História da Sociologia
da Juventude
(3)

t eoria sociológica das gerações


Nilson Weisheimer

( )

a s ociologia da j uventude encontra no


estudo das gerações o seu principal enfoque teórico. Ao
mesmo tempo, a teoria das gerações é considerada uma
formulação clássica da Sociologia, por seu alcance expli-
cativo da sociedade humana e suas dinâmicas geracionais.
Neste capítulo, buscamos sintetizar esse importante debate
a partir da exposição do enfoque geracional elaborado pelo
sociólogo húngaro Mannheim.
Nesse sentido, veremos como a questão geracional se consti-
tui em uma questão sociológica relevante. Apresentaremos
o conceito sociológico de gerações e apontaremos qual
o papel desempenhado pela juventude nas dinâmicas
sociais. Ao fim, teceremos comparações entre as perspecti-
vas metodológicas funcionalista e dialética na análise das
relações intergeracionais.

(3.1)
a questão sociológica
das gerações
A questão das gerações figura como um dos dilemas cen-
trais da vida social, ganhando força nas pesquisas e nos
debates das Ciências Sociais. Esse processo foi problemati-
zado do ponto de vista teórico principalmente pelo soció-
logo Mannheim1, que inicia sua abordagem destacando que
60
entre as características fundamentais da sociedade estão:
Sociologia da Juventude

a. surgem continuamente novos participantes no pro-


cesso cultural;
b. enquanto antigos participantes daquele processo estão
continuamente desaparecendo;
c. os membros de quaisquer uma das gerações podem
participar de uma sessão temporalmente limitada do
processo histórico;
d. é necessário, portanto, transmitir continuamente a
herança cultural acumulada;
e. a transição de uma geração para outra é um processo
contínuo, por meio da série ininterrupta das gerações.
Tais aspectos impõem-se como condições estruturan-
tes das relações entre indivíduo e sociedade, assim como
a transmissão e a adaptação da herança cultural nas socie-
dades. Ainda segundo o autor, como a criação e a acumula-
ção cultural nunca são realizadas pelos mesmos indivíduos,
cada geração tem a seu tempo um contato original com a
herança cultural acumulada.
A idéia de que uma nova geração estabelece um con-
tato original com a cultura prévia de uma sociedade é
extremamente relevante para o entendimento da juven-
tude e de seu papel como mediadora geracional nos pro-
cessos de desenvolvimento e mudança social. Isso porque
cada nova geração encontra-se em condição de incorpo-
rar os conhecimentos produzidos por gerações anteriores
e, simultaneamente, acrescentar algo de novo. Essa situa-
ção deriva do fato de que as novas gerações estabelecem
um relacionamento modificado, distanciado de sua abor-
dagem original, permitindo a produção de transformações
no pensamento e nas práticas sociais. Uma passagem do
texto de Mannheim2 é bastante esclarecedora no que diz
61
respeito a esse papel da juventude:
Teoria sociológica das gerações
Que a experiência dependa da idade é, de muitas maneiras,
uma vantagem. Que, por outro lado, falte experiência à
juventude significa um alívio do fardo para os jovens: pois
facilita a vida deles num mundo em transformação. Uma
pessoa é velha, em primeiro lugar, na medida em que
passa a viver dentro de um quadro de referência específico,
individualmente adquirido e baseado em experiências
passadas utilizáveis, de modo que toda a experiência nova
tem sua forma e situação determinadas em grande parte
antecipadamente. Na juventude, por outro lado, onde a vida
é nova, as forças formativas estão começando a existir, e as
atitudes básicas em processo de desenvolvimento podem
aproveitar o poder modelador de situações novas. Assim,
uma raça humana vivendo eternamente teria que aprender a
esquecer para compensar a inexistência de gerações novas.

Podemos perceber que essa elasticidade mental possi-


bilitada pelo contato original das sucessivas gerações tem
permitido a adaptação das sociedades humanas às novas
situações, sendo, portanto, fator essencial para a produção
das condições de reprodução social da espécie. Em resumo,
Mannheim apresenta uma dialética da reprodução trans-
formação das sociedades humanas cuja mediação é reali-
zada pela sucessão das novas gerações.

(3.2)
o conceito sociológico de geração
O conceito sociológico de geração busca romper com
62
resquícios naturalistas da explicação do fenômeno
Sociologia da Juventude

geracional. Com base em Mannheim3, podemos definir


uma geração como uma condição situacional frente
ao processo histórico e social. Assim, uma geração é
constituída por aqueles que vivem uma “situação” comum
perante as dimensões históricas do processo social, o que
caracteriza uma situação de geração.
De acordo com Mannheim4, “para se participar da
mesma situação de geração, isto é, para que seja possível
a submissão passiva ou o uso ativo das vantagens e dos
privilégios inerentes a uma situação de geração, é preciso
nascer dentro da mesma região histórica e cultural”.
A situação de geração corresponderia a certos locais
geracionais que estruturam posições sociais compartilhadas
por indivíduos de um mesmo grupo etário, mas não se
reduz à idade deles. Desse modo, compreendemos que
geração é um conceito situacional.
Para Weisheimer5, sucedendo-se no tempo, as gerações
se apresentam como a não-simultaneidade do simultâneo,
o que significa que cada ponto do tempo é um espaço de
tempo que não se reduz a uma única e homogênea rela-
ção com o tempo histórico. Ou seja, indivíduos de gera-
ções diferentes experienciam de modos diferenciados os
processos históricos simultâneos.
Os membros de uma mesma geração também podem
atribuir significados distintos ao mesmo contexto histórico.
Com efeito, a geração, assim como a classe social, apre-
senta-se mais como uma potencialidade do que como um
grupo concreto, que resultaria da transformação dialética
do grupo em si em um grupo para si.
A partir desse ponto, Mannheim6 desenvolve uma
importante distinção entre os termos geração como realidade
e unidade de geração:
63

Pode-se dizer que os jovens que experienciam os mesmos pro-


Teoria sociológica das gerações
blemas históricos concretos fazem parte da mesma geração
real; enquanto aqueles grupos dentro da mesma geração real,
que elaboram o material de suas experiências comuns atra-
vés de diferentes modos específicos, constituem unidades de
geração separadas.

Para o autor, a geração como realidade implica algo


mais que co-presença em uma região histórica e social.
Implica a criação de um vínculo concreto entre os mem-
bros de uma geração, pela exposição deles aos mesmos
sintomas sociais e intelectuais de um processo de desesta-
bilização dinâmica.
Por sua vez, a unidade de geração implica um vínculo
ainda mais concreto do que o verificado na geração como
realidade e refere-se a um compartilhar de experiên­cias
comuns que confere unidade aos membros de uma gera-
ção. Essa unidade de geração ocorre quando os jovens
compartilham conteúdos mais concretos e específicos for-
mados por uma socialização similar. Eles desenvolvem,
em função disso, laços mais estreitos, levando à identifi-
cação e ao reconhecimento mútuo, devido à similaridade
das situações e das experiências, constituindo uma comu-
nidade de destino.
Destacamos que uma unidade de geração não é um
grupo concreto, embora possa ser acompanhada de gru-
pos concretos nos quais a similaridade de situação possi-
bilita atividades integradoras que provocam a participação
e capacita-os a expressarem exigências dessa situação
comum. Ainda segundo o mesmo autor, os grupos con-
cretos das novas gerações encontrariam no movimento
juvenil a expressão de sua localização na configuração his-
tórica prevalecente.
64
Sociologia da Juventude

(3.3)
j uventude e dinâmicas sociais

Podemos perceber que essa abordagem das gerações


desenvolvida por Mannheim confere importância central
às experiências dos jovens, apontadas como fator propul-
sor da dinâmica da sociedade e identificadas como impor-
tantes veios de mudanças e transformações culturais e de
relações socais.
Para Mannheim7, a juventude corresponde “aos recur-
sos latentes de que toda a sociedade dispõe e de cuja mobili-
zação depende sua vitalidade”. Nesse sentido, ele estabelece
uma distinção entre dois tipos de sociedades, umas estáti-
cas e outras dinâmicas, identificando o tipo de relações que
cada uma delas mantém com suas novas gerações.
Sobre as sociedades estáticas, o autor se refere nos
seguintes termos:

Não é muito difícil conjeturar quais são as sociedades em que


o prestígio cabe aos velhos e em que as forças revitalizantes
da mocidade não se inserem num movimento, permanecendo
apenas como reserva latente. Acredito que as sociedades está-
ticas, que só se desenvolvem gradativamente e em que a taxa
de mudança é relativamente baixa, confiarão sobretudo na
experiência dos velhos. Mostrar-se-ão relutantes em encora-
jar as novas potencialidades latentes nos jovens. A educação
destes será concentrada na transferência da tradição; seus
métodos de ensino serão mera cópia e repetição. As reservas
vitais e espirituais da juventude serão deliberadamente negli-
genciadas, visto não haver uma vontade de romper com as 65

tradições existentes na sociedade.8


Teoria sociológica das gerações
Por sua vez, sobre as sociedades dinâmicas, Mannheim9
escreveu a seguinte passagem:

Em contraste com estas sociedades estáticas ou em lenta muta-


ção, as sociedades dinâmicas que querem dar uma nova saída,
qualquer que seja sua fisionomia social ou política, confiarão
normalmente na cooperação da mocidade. Elas organizarão
seus recursos vitais e os utilizarão para pôr abaixo a direção
consagrada do desenvolvimento social. [...] desde que haja
vontade para dar novas saídas, isto terá de ser por intermédio
da juventude. As gerações mais velhas e intermediárias talvez
possam prever a natureza das futuras mudanças e sua imagi-
nação criadora pode ser empregada para formular novas dire-
trizes, porém a nova vida só será vivida pelas gerações mais
moças. Elas viverão os novos valores que as novas gerações
professam apenas teoricamente. Aceita esta verdade, a fun-
ção específica da mocidade é a de um agente revitalizante; é
uma espécie de reserva que só se põe em evidência quando
essa revitalização for necessária para ajustamento a circuns-
tâncias em rápida mudança ou completamente novas.

Essas distinções entre sociedades e o papel reservado


à juventude é um achado sociológico fundamental para o
entendimento das dinâmicas sociais e das manifestações con-
flitivas que a juventude estabelece com as estruturas sociais.
Isso porque, para Mannheim10, uma nova geração “não está
completamente enredada no status quo da sociedade”.
Sob esse aspecto, os jovens de uma época estão sujeitos
a contradições próprias ante o estágio referente ao desen-
volvimento capitalista. Emergem conflitos dos jovens com
a ordem social já estabelecida. Esses conflitos revelam as
66
contradições mais agudas da própria organização social,
uma vez que, do ponto de vista sociológico, a juventude e a
Sociologia da Juventude

sociedade encontram-se em reciprocidade total. Nas pala-


vras de Mannheim11,

o fato relevante é que a juventude chega aos conflitos de


nossa sociedade moderna vinda de fora. É esse fato que faz
da juventude o pioneiro predestinado de qualquer mudança
da sociedade. [...] Na linguagem sociológica, ser jovem signi-
fica, sobretudo, ser um homem marginal, em muitos aspectos
um estranho ao grupo.

Segundo Weisheimer12, esse estranhamento, possibi-


litado pelo contato original das sucessivas gerações com
a cultura criada e acumulada socialmente, permite que
novos valores e comportamentos sejam facilmente incorpo-
rados pela juventude. Desse fato, podem ser obtidas duas
possibilidades de equação das relações intergeracionais.
A primeira tende a enfatizar os potenciais de conflito
entre as gerações, entre os jovens e a ordem social estabe-
lecida ou mesmo entre os próprios jovens. Com base nessa
perspectiva, podem ser extraídos dois tipos de posicio-
namentos sobre a juventude: um, de caráter voluntarista,
que se baseia na idéia ingênua de que os jovens são ine-
rentemente contestadores; outro, num pólo mais conserva-
dor, apresenta uma postura cética de que essa “rebeldia” é
necessariamente transitória como a juventude.
Na segunda possibilidade, a juventude passa a ser vista
com base em seus potenciais de mudança, enfatizando-se
sua capacidade criadora e inventiva. Ela passa a ser perce-
bida como parte dos recursos latentes de que a sociedade
dispõe, e de seu engajamento depende a vitalidade da pró-
pria sociedade.
Como destaca Mannheim13 a esse respeito, “a juventude
67
não é progressista nem conservadora por índole, porém é
uma potencialidade pronta para qualquer nova oportuni- Teoria sociológica das gerações
dade”. Nessa última abordagem, o maior ou o menor grau
desse potencial de mudança é atribuído às sociedades
dinâmicas, enquanto as que buscam conter a juventude
podem ser entendidas como sociedades estáticas.
Os jovens, como parte dos “recursos latentes” de que
dispõem as sociedades, aparecem como grupo estraté-
gico não apenas na reprodução das relações sociais, como
também para a sua transformação. Como mencionado, as
gerações são ainda “uma potencialidade”, sem que a elas
corresponda uma consciência, tal qual as classes que não
se tornam “para si”.
O potencial transformador da juventude, para ser exer-
cido em toda a sua potencialidade, necessita de que ela se
constitua em “geração para si”, com alto nível de identi-
dade e capacidade de organização. Isso só ocorre quando a
juventude se encontra ciente de si mesma, percebendo sua
unidade de geração e avançando em direção à construção
de grupos concretos. Mannheim14, em uma nota de rodapé,
sugere que uma questão para a pesquisa social possa ser
identificar em quais condições os membros individuais de
uma geração se tornam conscientes de sua situação comum
e fazem dessa consciência a base da solidariedade grupala.
A abordagem das gerações, por sua dimensão dialética,
permite perceber que sociologicamente a juventude é um veí-
culo de ligação entre o passado e o futuro e que por meio dela
a sociedade se renova permanentemente. O instigante é que
esse processo de transição ininterrupto das gerações esta-
belece-se por meio das interações constantes entre jovens e
adultos. Por conta dessas interações intergeracionais, os mais
velhos se tornam cada vez mais receptivos às influências dos
mais novos, o que é resultante da dialética entre as gerações,
68
a partir do caráter dinâmico da própria sociedade.
Sociologia da Juventude

Isso se evidencia pela mudança de paradigma que


coloca a centralidade do conhecimento como motor do
crescimento, o que faz dos jovens agentes de propagação
de novos saberes, uma vez que possuem maior facilidade
para o aprendizado e disposição para inovação. Como
exemplo, atualmente os mais jovens passam a ensinar aos
mais velhos como fazerem uso das novas tecnologias e dos
recursos informacionais, como no caso da utilização de

a. No Brasil, o principal esforço para responder à questão


proposta por Mannheim foi desenvolvido pela estudiosa
Marialice Mencarini Foracchi.
caixas eletrônicos, da telefonia móvel e da internet.
Além disso, segundo Souza15, o caráter experimental do
“contato original” dos jovens permite a atribuição de novos
sentidos às práticas sociais e o surgimento de um novo qua-
dro de antecipações. Devido a isso, as juventudes não são
suscetíveis de comparação, pois, ao viverem épocas históri-
cas diferentes, têm definidos seus conflitos e vivência social
de maneiras também diferentes. Logo, não é de estranhar-se
a tendência ao distanciamento de projetos entre as gerações.
Conforme Weisheimer16, o enfoque geracional aporta
questões importantes para a análise dos processos de
reprodução e de transformação social por chamar atenção
para as alterações na situação dos padrões históricos e cul-
turais que diferem pais e filhos.
Por exemplo, os achados teóricos de Mannheim têm
possibilitado a compreensão dos impasses na sucessão
geracional de categorias profissionais, como a da agricul-
tura familiar, por exemplo, permitindo analisá-la no qua-
dro das transformações de referências históricas, sociais,
culturais e econômicas a partir das quais recebem sua
69
forma e informam seu conteúdo.
As formas socialmente estabelecidas para interpretar Teoria sociológica das gerações
tais conteúdos serão sempre e necessariamente reapropria-
das e ressignificadas pelo contato original da nova geração.
Entendemos que os impasses na reprodução e na transfor-
mação social apresentam-se como objeto de estudo que
requer essa abordagem por serem justamente as relações
familiares e as de parentesco os elementos decisivos para
se pensarem a conformação e a sucessão das gerações.
Estas só se configuram pelas vivências individuais e cole-
tivas dos agentes e dos processos reflexivos associados a
essas vivências, às experiências que constituem a própria
vida social.
(3.4)
s ocialização como relação
intergeracional: as perspectivas
funcionalista e dialética
Conforme Durkheim17, cada geração deve se socializar com
base nos modelos culturais transmitidos pela geração pre-
cedente. Dessa maneira, segundo Weisheimer18, ela ocorre
pela coerção externa que visa à interiorização dos valores e
das normas de comportamentos socialmente aceitos.
Seguindo a trilha de Durkheim sobre o processo de
socialização, Shmuel Noah Eisenstadt fornece uma expli-
cação teórica, a partir do ponto de vista funcionalista,
para o surgimento, a estrutura e as funções das diferen-
tes gerações nas sociedades. Conforme Weisheimer19,
Eisenstadt buscou entender em que condições a idade é
decisiva à alocação de papéis e fronteiras entre os grupos,
verificando se as graduações etárias seriam traduzidas
70
em interações concretas, produzindo efeitos integrativos.
Sociologia da Juventude

Segundo Eisenstadt20, uma das tarefas principais com que


se defronta toda a sociedade e o sistema social é estabele-
cer as condições para a perpetuação de sua própria estru-
tura, normas e valores:

Por esse motivo a passagem de um indivíduo pelos diferentes


estágios que não só a ele dizem respeito, mas uma questão de
importância crucial para todo o sistema social, enfatizando
os perigos em potencial da descontinuidade e da ruptura e a
necessidade de superá-los. É por esta razão que o indivíduo,
em todos os momentos de sua vida, não só desempenha deter-
minados papéis e interage com outras pessoas, mas é também
obrigado a garantir, por seu desempenho, um certo grau de
continuidade do sistema.

Os papéis desempenhados pelos indivíduos em qual-


quer etapa de sua vida, na interação com indivíduos de
outras gerações, devem “aguçar” e reforçar seu papel
como transmissor e receptor da herança cultural e social.
Conseqüentemente, as relações entre gerações e a ênfase
dada às diferenças etárias decorrem das característi-
cas básicas do processo de socialização. Portanto, para
Eisenstadt21, “a função das definições de idade é tornar o
indivíduo capaz de aprender e adquirir novos papéis para
tornar-se um adulto, e desta maneira manter a continui-
dade social”. Nessa perspectiva, segundo Weisheimer22, a
socialização aparece como um mecanismo de modelagem
das personalidades que estruturam as condutas essenciais
ao funcionamento social. Destacamos que, na perspectiva
funcionalista, os processos de socialização são responsá-
veis pela interiorização de normas, valores, estruturas cog-
nitivas e conhecimentos práticos.
Para Raymond Boudon e François Bourricaud23, o 71

“esquema do condicionamento” implica a assimilação pre-


Teoria sociológica das gerações
coce e inconsciente de esquemas corporais e atitudes cul-
turais que presumivelmente determinam suas condutas
futuras. Assim, Weisheimer24, em sua análise, aponta que
Boudon e Bourricaud enfatizam que certas aprendizagens
cognitivas ou corporais levam à aquisição de aptidões
específicas e outras ao domínio de procedimentos opera-
tórios gerais, mais ou menos indefinidamente adaptáveis à
diversidade das situações concretas.
Ainda conforme Weisheimer25, o conteúdo desses
conhecimentos socializados transforma-se a partir do
caráter dinâmico da própria sociedade, que encontra sua
contrapartida nas novas gerações. Estas, por estabelece-
rem um contato original com a cultura, encontram-se mais
abertas a incorporarem as mudanças em seus sistemas
de comportamentos, processo que só é possível por meio
de uma interação constante. Por isso, esse paradigma da
“socialização/condicionamento” traz uma visão parcial dos
processos de socialização, uma vez que, segundo Dubar26,
“faz do indivíduo uma espécie de autômato determinado
ou programado por suas experiências passadas, e não um
ator livre para escolher e responsável por seus atos”.
Como apontamos anteriormente, o enfoque geracional
produzido por Mannheim27 é dialético e enfatiza a
experiência comum a toda uma geração, de modo que os
membros de um mesmo grupo etário têm uma situação
comum perante as dimensões históricas do processo
social. Sob esse aspecto, segundo Weisheimer28, é possível
reconhecer que os jovens de uma época estão sujeitos a
contradições próprias ante o estágio do desenvolvimento
capitalista. A juventude aparece marcada por uma posição
72 social subalterna em relação aos adultos e por uma posição
liminar típica dos processos de transição caracterizados
Sociologia da Juventude

pela aprendizagem, pela busca de afirmação pessoal


e inserção social naquilo que pode ser compreendido
como espaço social dos adultos. Destaca-se, então, que
cada nova geração tem uma função de mediar as relações
entre o passado e o futuro. Assim, as gerações somente
se constroem em processos de interação com as outras
gerações.
Compreendemos, portanto, que as gerações se consti-
tuem a partir das vivências intergeracionais que configu-
ram as sucessões entre gerações, que assumem um caráter
de processos reflexivos associados a essas vivências. Com
efeito, os processos de socialização também possuem essa
dimensão interacional, aspecto desconsiderado nos enfo-
ques funcionalistas.
Desse modo, não podemos tomar a noção de socia-
lização como um processo de mão única. Ao contrário,
devemos perceber esse processo numa perspectiva que
salienta a dinâmica das interações na aquisição de know-
how e insiste no vínculo entre conhecimento de si e conhe-
cimento do outro, construção de si e construção do outro.29
Tal como nas palavras de Mannheim30, “não apenas o pro-
fessor educa seu aluno, mas o aluno também educa o pro-
fessor”. Desse modo, a análise dialética do processo de
socialização o reconhece em sua transformação dinâmica,
apontando que este extrapola a função de reprodução
social via imposição da identificação entre sujeito e socie-
dade e abrindo espaço para a transformação e a inovação.

(.)
p onto final 73

Neste capítulo, abordamos o conceito sociológico de Teoria sociológica das gerações

gerações que aparece na Sociologia de Mannheim como


uma condição situacional perante o processo histórico e
social e a diferenciação conceitual que esse autor estabe-
lece entre geração como realidade, unidade de geração e
grupos concretos. Também discutimos o papel desempe-
nhado pela juventude nas dinâmicas sociais, em que os
jovens aparecem como os recursos latentes de que toda
a sociedade dispõe para viabilizar seus processos de
transformação. Finalmente estabelecemos comparações
entre a perspectiva metodológica dialética, representada
pela obra de Mannheim, e a funcionalista, presente na
obra de Eisenstadt, no que diz respeito ao debate acerca
dos processos de socialização que marcam as relações
intergeracionais.

Indicação cultural

DOMINGUES, José Maurício. Gerações, modernidade e


subjetividade coletiva. Tempo Social, São Paulo, v. 14, n. 1,
p. 67-89, maio 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/
pdf/ts/v14n01a04.pdf>. Acesso em: 4 dez. 2008.

atividades
1. O conceito sociológico de geração busca romper com res-
quícios naturalistas da explicação do fenômeno geracional.
Conforme visto nesse capítulo, como Mannheim (1982)
define geração?
a. Uma geração implica a criação de um vínculo concreto
entre os membros de uma geração, pela exposição deles
74
aos mesmos sintomas sociais e intelectuais.
b. Uma geração é constituída por aqueles que vivem uma
Sociologia da Juventude

“situação” comum perante as dimensões históricas do


processo social.
c. Uma geração corresponde a uma posição da distribui-
ção etária dos membros da sociedade, formada a cada
30 anos.
d. Uma geração é formada por todos que ocupam a mesma
posição numa dada hierarquia social.
2. Mannheim (1982) buscou estabelecer uma distinção entre
dois tipos de sociedades, as estáticas e as dinâmicas.
Assinale a alternativa correta conforme a formulação desse
autor:
a. As sociedades estáticas só se desenvolvem gradativa-
mente, suas mudanças são relativamente baixas e con-
fiam seu destino sobretudo à experiência dos velhos.
b. As sociedades dinâmicas apresentam mudanças acele-
radas e conduzidas pelas velhas gerações, que buscam
conter a participação dos jovens nessas mudanças.
c. As sociedades estáticas só se desenvolvem quando reco-
nhecem nos jovens os seus recursos latentes.
d. As sociedades dinâmicas apresentam mudanças relati-
vamente baixas e confiam seu destino sobretudo à expe-
riência dos velhos.

3. Eisenstadt (1976) fornece uma explicação teórica para o


surgimento, a estrutura e as funções das diferentes gera-
ções nas sociedades. Segundo ele, qual é a função dos gru-
pos de idade?
75
a. A função sociológica dos grupos de idade é permitir os
processos caracterizados como contato original de cada Teoria sociológica das gerações
nova geração.
b. A função das definições de idade é gerar critérios de
condicionamento que permitam a transformação gra-
dual das sociedades humanas.
c. A função dos grupos de idade é promover as interações
intergeracionais pelas quais os adultos ensinam os jovens
e simultaneamente os jovens ensinam os adultos.
d. A função das definições de idade é tornar o indivíduo
capaz de aprender e adquirir novos papéis para tor-
nar-se um adulto e, dessa maneira, manter a continui-
dade social.
(4)

a juventude como faixa etária


Francisco dos Santos Kieling é licenciado e bacha-
rel em Ciências Sociais (2005) pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) e mes-
tre em Sociologia (2008) pela mesma instituição.
Foi professor de Ciências Humanas no Programa
Nacional de Inclusão de Jovens (2006/07).
Atualmente é membro do Grupo de Pesquisa
Sociologia das Desigualdades e professor substi-
tuto do Departamento da Faculdade de Educação
da UFRGS. É também membro da Coordenação
do Observatório Sul da Juventude.
Francisco dos Santos Kieling

( )

a bordaremos agora a juventude sob o enfoque das


faixas etárias. O objetivo deste capítulo é apontar as possi-
bilidades de diferenciação de faixas etárias que correspon-
dem à juventude, bem como indicar os limites dessa prática
quando confrontada com a realidade. Para isso, faremos
uso de um exemplo histórico marcante que indica o quanto
uma delimitação por faixa etária está vinculada a contextos
históricos, sociais e culturais específicos. Em seguida, ana-
lisaremos os padrões atuais de classificação etária para a
juventude. Para isso, recorreremos às faixas definidas por
organismos nacionais e internacionais. A problematização
desses padrões será realizada com base no entendimento
da juventude como construção social, o que nos levará à
adoção de uma proposta específica de delimitação etária
para a juventude considerada adequada ao contexto bra-
sileiro atual.

(4.1)
f aixa etária e contexto histórico
Não há uma definição única para os contornos da juven-
tude, mesmo os que se apóiam em critérios etários. Ao
considerarmos as realidades de diferentes sociedades,
podemos identificar que os critérios de enquadramento
das categorias etárias tendem a apresentar uma grande
80
variação. Desse modo, pessoas consideradas jovens num
Sociologia da Juventude

determinado contexto tendem a não ter o mesmo estatuto


em outros contextos. Assim, o primeiro pressuposto de
uma abordagem da juventude com base em critérios etá-
rios é reconhecer que uma definição dessa natureza será
sempre realizada de modo arbitrário.
Uma solução para fugir desse problema seria rejeitar
qualquer delimitação por idade para se definir um grupo
jovem. Porém, isso acarreta outras limitações, tais como a
impossibilidade do estabelecimento de critérios objetivos
para definir a unidade de análise. Ou seja, como definir
critérios que permitam determinar de antemão quem será
incluído ou excluído da categoria juventude?
Em primeiro lugar, é necessário indicar que uma classi­
ficação de grupos por faixas etárias, por mais objetiva que
possa parecer, tem historicidade e correspondência com
realidades específicas e por isso não pode ser estabelecida
sem prévia problematização. Vejamos um exemplo que
comprova essa afirmação
Em meados do século XIX, o movimento dos traba-
lhadores reivindicava limites e graduações ao trabalho de
crianças e jovens. Segundo Marx1, a situação de exploração
do trabalhador era tal que a reivindicação incluía a subdi-
visão da juventude em três etapas: a primeira correspon-
deria à faixa de idade entre 9 e 12 anos; a segunda, entre
13 e 15; e a terceira, entre 16 e 17. Progressivamente, seria
permitido o trabalho desses grupos por duas, quatro e seis
horas diárias, respectivamente. Os 18 anos correspondiam
à passagem para a idade adulta. As faixas de idade apon-
tadas representavam uma perspectiva progressista de pro-
teção à infância e à juventude no século XIX. Mas, para a
realidade atual, elas são adequadas? Sabemos que não pela
81
simples análise da legislação brasileira, que proíbe o traba-
lho para crianças com idade inferior a 14 anos.

(4.2) A juventude como faixa etária

padrões atuais
Na seção anterior, vimos que a definição das faixas etá-
rias delimitadoras do período juvenil depende muito do
contexto histórico. Pois bem, como definimos as faixas
de idade limitadoras da juventude na atualidade? Vamos
ingressar agora nessa discussão. Como vimos, a noção de
juventude está intimamente ligada a um critério de medi-
ção cronológica da existência individual, o que permite o
estabelecimento de diferentes faixas etárias. Essa aborda-
gem freqüentemente constitui indicadores demográficos,
recorrendo para isso a critérios normativos ou padrões
estabelecidos pelos organismos internacionais para definir
os limites de quem é ou não considerado jovem.
O sociólogo Weisheimer2, por exemplo, descreve as fai-
xas etárias propostas por diferentes organismos interna-
cionais. De acordo com a análise desse estudioso, para a
Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência é
definida como um processo fundamentalmente biológico,
abrangendo as etapas da pré-adolescência (10-14 anos) e
da adolescência (15-19 anos). A puberdade constitui a fron-
teira que delimita o começo da adolescência. Conforme
relata este autor, o início desse processo varia de indiví-
duo para indivíduo. Entre as meninas, em média, ele se
dá por volta dos 12 anos e, entre os meninos, um ou dois
anos mais tarde. A capacidade biológica de reprodução
82
é o marco desse processo. Para essa mesma organização,
essa fase biológica da adolescência corresponderia, quase
Sociologia da Juventude

perfeitamente, a uma etapa social, a juventude. De acordo


com Julio J. Waiselfisz3, esta se iniciaria na mesma faixa
etária, mas como uma categoria essencialmente socioló-
gica e “indicaria o processo de preparação para os indi-
víduos assumirem o papel adulto na sociedade, tanto no
plano familiar quanto no profissional, estendendo-se dos
15 aos 24 anos”.
Outro organismo que diferencia a juventude da fase
infantil e da fase adulta é a Organização Ibero-Americana
de Juventude, a qual estabelece como critério de juventude
o pertencimento à faixa entre os 14 e os 30 anos de idade.
Já na pesquisa espanhola intitulada Informe Juventude na
Espanha e na pesquisa realizada pelo Instituto Mexicano de
La Juventud intitulada Encuesta Nacional de Juventud 2000,
publicada pela Unesco, citada por Weisheimer4, foi utili-
zado o intervalo entre 15 a 29 anos de idade.
Waiselfisz e Rosana Baeninger, citados por Weisheimer5,
ainda fazem referência a alguns países, como o Japão, que
classificam como jovens os indivíduos com idades entre
15 e 35 anos. Já no caso do Brasil, a abordagem demográ-
fica do IBGE classifica como “grupo jovem” os indíviduos
entre 15 e 24 anos, subdividindo essa população em três
recortes etários: 15-17 anos como jovens adolescentesa;
18-20 anos como jovens; 21-24 anos como jovens adultos.
Com esses exemplos, Weisheimer busca demonstrar que
há vários critérios para se definir a faixa etária que com-
preende a juventude, problematizando a construção de
pesquisas que se apóiam exclusivamente nas representa-
ções etárias para caracterizar o público juvenil. Ou seja,
podemos perceber com esses critérios cronológicos que
todas elas compartilham do entendimento de que o marco
83
inicial da juventude é a adolescência, variando em poucos
anos a idade de ingresso. Contudo, essas mesmas institui-

A juventude como faixa etária


ções diferenciam-se quanto à idade de encerramento dessa
fase da vida.
Em resumo, com base nesse debate, podemos indicar
a existência de um consenso em relação à faixa etária de
início da juventude, que se dá em torno dos 14 e 15 anos.
No entanto, o mesmo não acontece no que diz respeito ao
encerramento dessa etapa. Entre a idade máxima estabe-
lecida como indicador pela OMS, 19 anos, e a idade utili-
zada no Japão, 35 anos, há um hiato de 16 anos. Isso nos

a. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente,


considera-se adolescente a pessoa na faixa de 12 a 18
anos, conforme Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Para
consultar essa lei, acesse o site: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil/LEIS/L8069.htm>.
permite perceber que os critérios delimitadores das fron-
teiras da juventude não são naturais, mas, sim, sociais,
reforçando o entendimento de que a juventude é uma
construção social.

(4.3)
j uventude –
apenas uma palavra?
Weisheimer6 enfatiza que a juventude não pode ser tratada
como uma unidade social relacionada apenas a critérios
etários de enquadramento e menciona a problematiza-
ção de Pierre Bourdieu7, que destaca que juventude é ape-
nas uma palavra: “a juventude e a velhice não são dados,
84 mas construídos socialmente na luta entre os jovens e os
velhos. As relações entre a idade social e a idade biológica
Sociologia da Juventude

são muito complexas”.


Esses autores buscam chamar a atenção para o fato
de que essa demarcação etária corresponde necessaria-
mente a um jogo de lutas pela imposição de sentido que
demarca quem é incluído e quem é excluído da catego-
ria. Com efeito, segundo Bourdieu8, devemos estar atentos
ao jogo de manipulações dessas construções normativas,
visto que as divisões entre idades são arbitrárias e a fron-
teira que separa a juventude e a velhice é um objeto de dis-
puta que envolve a dimensão das relações de poder. Logo,
Weisheimer9 busca evidenciar as associações cronológicas
simplistas como manipulações de linguagem que enco-
brem, sob uma mesma categoria, realidades sociais que
conservam pouca similaridade.
Ao contrário do que ocorre no início da adolescência,
no final da juventude são múltiplos os critérios sociais que
podem estar relacionados à passagem pela fronteira entre
as duas etapas da vida. Por isso, é tão complexo delimitar
esse tempo. Conforme argumenta este autor, para o pro-
cesso de pesquisa é mais instigante à imaginação socioló-
gica ir além da aparência do fenômeno:

Neste caso, compreender como as faixas etárias são social-


mente constituídas e como podem constituir-se em parâ-
metros para posicionar os sujeitos num espaço de relações
sociais. Desse modo, o que está em disputa é a noção de estra-
tificação etária associada à atribuição de papéis sociais espe-
cíficos, implicando em certa escala de posição na hierarquia
social.10

Tendo isso em conta, podemos identificar que esses


padrões etários, tal como propõe o sociólogo José Maurício
85
Domingues11, são sempre mediados pela dimensão herme-
nêutica da vida social, o que se torna importante para a

A juventude como faixa etária


definição geral do universo simbólico, assim como para a
mediação entre as diversas perspectivas que constituem os
diversos grupos etários e suas diferentes situações de gera-
ção. Esse posicionamento apresenta a vantagem de superar
a imprecisão dos limites que demarcam as gerações.
(4.4)
u ma proposta teórico-operacional
de classificação etária da
juventude
Weishemer12 destaca que a abordagem cronológica que
estabelece as faixas etárias torna-se importante para a
pesquisa social empírica e para a implantação de políti-
cas públicas, principalmente para a definição precisa dos
critérios de inclusão e exclusão de indivíduos na catego-
ria juventude. Isso exige do pesquisador, como em qualquer
outra forma de classificação, a explicitação dos parâmetros
teóricos que definem a construção operacional da catego-
ria analítica.
Levando em consideração os diferentes processos de
86
maturação social que envolvem o processo juvenil, assu-
Sociologia da Juventude

mimos a proposta elaborada por este autor, que define a


faixa etária dos 15 aos 29 anos de idade para demarcar
operacionalmente a juventude, estabelecendo, com base
na análise psicossocial desenvolvida por Domingues13, a
seguinte estratificação etária interna:

▪▪ Jovens adolescentes (de 15 a 19 anos) − Nesta etapa,


juventude e adolescência se interpõem na superação
progressiva da primeira pela segunda, uma vez que
as mudanças fisiológicas se completam e as capacida-
des cognitivas encontram-se plenamente desenvolvi-
das. O processo de socialização leva os indíviduos a
uma constante interação social, possibilitando a incor-
poração a atividades diversas. Estabelecem-se con-
dutas mais autônomas, assumem-se novos papéis
e responsabilidades, desenvolvendo-se habilidades
produtivas, e o futuro passa a ocupar um lugar mais
importante. O presente passa a ser cada vez mais
influenciado por objetivos conscientemente planeja-
dos. Nesse sentido, o começar a pensar sobre o que se
deseja ser no futuro, a escolha da profissão e a proje-
ção geral da vida tomam o centro dos interesses e das
ações fundamentais que se realizam nesta etapa, infor-
mando a construção reflexiva da auto-identificação dos
sujeitos.
▪▪ Jovens (de 20 a 24 anos) − Este grupo se caracteriza pela
maturidade biológica, que geralmente não está acom-
panhada ainda da maturidade social. Os indivíduos
desenvolvem e adquirem categorias que lhes permi-
tem refletir sobre realidades sociais mais amplas, e
seus juízos de valor tornam-se mais críticos e objetivos.
Em geral, gozam de mais liberdade e menor dependên-
87
cia em relação aos pais. Ao mesmo tempo, a imposi-
ção social de assumir novos papéis de adulto, muitas

A juventude como faixa etária


vezes, torna-se conflitiva, porque nesta fase existe uma
tendência à não-identificação com eles. A definição de
um projeto profissional, mais do que uma possibili-
dade, passa a ser uma exigência social. A personali-
dade já se encontra consolidada e as decisões sobre a
carreira profissional impõem-se com todo o peso da
coerção social. Trata-se de um período em que a inser-
ção profissional se generaliza a partir das experiências
acumuladas, da concepção de mundo e da consolida-
ção que vai adquirindo a auto-avaliação.
▪▪ Jovens adultos (de 25 a 29 anos) − Nesta fase, os jovens
já alcançaram seu nível de plena maturidade psicoló-
gica. Consolida-se a formação profissional. Amplia-se
o desempenho social, e os papéis na sociedade passam
a ser mais diversificados. O âmbito profissional adquire
importância central na vida social, servindo de suporte
à consolidação identitária. Verifica-se um distancia-
mento dos grupos de idade, e a tendência para o esta-
belecimento de uma relação conjugal mais estável e
uma nova família passa a ser construída. Nesta idade,
a maioria já assumiu responsabilidades familiares, e os
que se encontram na condição de pai ou mãe passam a
desempenhar papéis mais complexos. Nesta etapa, os
jovens tendem a refletir mais intensamente sobre seus
sucessos e avanços pessoais; a auto-avaliação é mais
profunda e efetiva. Buscam corrigir os rumos com a
tendência à procura de alternativas que favoreçam a
reorientação dos planos futuros, que se tornam mais
objetivos e complexos e em relação mais estrita com as
esferas profissionais e familiares.

88 Essas etapas do desenvolvimento juvenil têm algumas


dimensões centrais, indicadas na caracterização apresen-
Sociologia da Juventude

tada, que podem ser visualizadas num modelo idealizado


graficamente (Gráfico 4.1), visto que não se constituem
numa realidade empírica, tendem a ser plurais, contradi-
tórias, porque são marcadas por idas e vindas, e essencial-
mente desiguais no que diz respeito às situações juvenis nos
dias atuais. Contudo, com base em Weisheimer14, podemos
apresentar um esquema teórico-analítico das tipologias
das diferentes faixas etárias da juventude. Nele podemos
perceber que, à medida que decrescem as transforma-
ções de natureza psicofisiológica que marcam os jovens
adolescen­tes, ocorre a ampliação da autonomia social e
das responsabilidades, tanto pela consolidação profissio-
nal como pela constituição da própria família que predo-
mina entre os jovens adultos.
Gráfico 4.1 – Representação gráfica das tipologias das faixas etárias

15 18 21 24 27

Autonomia
Responsabilidades
Dependência
Adolescência
Constituição familiar
Profissão

89

Como mencionamos anteriormente, essas característi-

A juventude como faixa etária


cas gerais das faixas etárias juvenis não devem ser enten-
didas como homogêneas para todas as juventudes, nem
mesmo ocorrem simultaneamente dentro da mesma faixa
etária. Os diversos grupos e classes sociais diferenciam-se
em relação aos elementos constitutivos da condição juve-
nil. Com efeito, a proximidade do mundo do trabalho, as
urgências da vida cotidiana, os investimentos em relação
às oportunidades de inserção profissional, enfim, os fato-
res sociais que determinam as diferentes situações juve-
nis acabam por atuar como condicionantes estruturais dos
processos de maturação social que diferem as faixas etá-
rias. Segundo Weisheimer15, essa pluralidade de modos de
diferenciar socialmente a juventude é que faz com que seja
tão difícil determinar de forma precisa o início e o final
dessa etapa da vida: “[por isso] assume-se a posição de que
a abordagem da juventude como um recorte etário deve
ser utilizado com cautela, evitando-se a naturalização de
um fenômeno eminentemente sociológico”.
Além disso, conforme este autor, devemos ter em conta
que a juventude definida por critérios etários constitui um
princípio de abordagem eminentemente empírico, o que
por si só não forma uma categoria teórica. Mesmo assim,
essa argumentação não significa que devemos ignorar a
importância dessa variável para a compreensão do fenô-
meno juvenil e para a delimitação do universo de uma
pesquisa.

(.)
p onto final
90
Sociologia da Juventude

Neste capítulo, problematizamos a demarcação da juven-


tude apenas pela faixa etária. Por meio de um exemplo
histórico, verificamos que a delimitação de faixas etárias
depende dos contextos específicos aos quais os grupos
estão submetidos. Vimos que organismos, instituições e
países situam idades diferentes para delimitar a passagem
da juventude para a etapa adulta. Isso ocorre porque são
múltiplos os fatores e os processos socioindividuais que
permitem diferenciar as etapas da vida em povos, grupos
e classes sociais distintas.
Para o início dessa fase, há fatores psicofisiológicos que
tornam possível um consenso etário. Já para o final da juven-
tude e o início do período adulto, a pluralidade de experiên-
cias possíveis e fatores sociais passíveis de serem apontados
como limítrofes fazem com que as instituições e os países
adotem múltiplas faixas etárias, estabelecidas em conformi-
dade com critérios não mais biológicos, mas, sim, sociais.
Por fim, o período compreendido como típico da juven-
tude foi subdividido e caracterizado em três blocos: o pri-
meiro corresponde ao do jovem adolescente, o segundo, ao
do jovem e o terceiro, ao do jovem adulto, cada um com
suas peculiaridades em relação ao amadurecimento fisio-
lógico, cognitivo, psicológico e social.
Por mais que se deva ter controle sobre os limites ao
se definir a juventude pela faixa etária, esta se torna uma
dimensão empírica inescapável quando se estuda esse
grupo, ainda mais num contexto de expansão e complexi-
ficação das políticas públicas de juventude como o vivido
no Brasil no início deste século.

Indicação cultural

WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da violência III: os jovens 91


do Brasil. Juventude, violência e cidadania. Brasília: Unesco,

A juventude como faixa etária


2002.

atividades
1. A passagem da infância à juventude tem uma razoável
homogeneidade quando demarcada por faixas etárias. Isso
ocorre porque os fatores que caracterizam
essa passagem variam pouco entre as sociedades moder-
nas. Já as faixas etárias que marcam a passagem da juven-
tude para a vida adulta apresentam grande variedade entre
os países, os pesquisadores e as organizações internacio-
nais. Isso porque os fatores que demarcam
essa passagem variam muito.
A alternativa que completa respectivamente e de forma
adequada as lacunas é:
a. Biológicos; sociais.
b. Culturais; psicológicos.
c. Sociais; biológicos.
d. Sexuais; fisiológicos.

2. Leia as seguintes afirmações e assinale a alternativa que


indica as que estão corretas:
I. A faixa etária juvenil é marcada pela estabilidade
fisiológica.
II. A delimitação da faixa etária que compreende o período
da juventude apresenta consenso entre pesquisadores.
Essa fase da vida é definida internacionalmente como o
período da vida compreendido entre 15 e 24 anos.
III. Os múltiplos critérios que definem a passagem da juven-
tude à vida adulta são responsáveis pela falta de con-
92
senso na delimitação da faixa etária desse período da
vida.
Sociologia da Juventude

a. I e II.
b. I e III.
c. I.
d. III.

3. As faixas etárias propostas no texto do capítulo dividem a


juventude em três períodos específicos: de 15 a 18 anos, de
19 a 24 anos e de 25 a 29 anos. Eles são denominados res-
pectivamente como:
a. jovem novo, jovem e jovem velho.
b. jovem adolescente, jovem e jovem adulto.
c. jovem infantil, jovem adolescente e jovem adulto.
d. criança, adolescente e jovem.
(5)

a juventude como transição


para a vida adulta
Nilson Weisheimer
Francisco dos Santos Kieling

( )

n este capítulo, vamos estudar a juventude sob


a perspectiva da transição para a vida adulta. O cumpri-
mento dessa tarefa nos levará à problematização dos crité-
rios socialmente estabelecidos para demarcar as fronteira
da juventude. Isso nos conduzirá à identificação dos aspec-
tos sociais específicos só encontrados nesse período transi-
tório. Caracterizaremos em seguida um padrão transitório
estabelecido no período Pós-Guerra e com as transforma-
ções ocorridas nas décadas finais do século passado, que
culminaram com a complexificação da realidade social e,
conseqüentemente, desse modelo de transição para a vida
adulta. Apontaremos, por fim, alguns aspectos centrais
que caracterizam o novo padrão transitório da juventude
para a vida adulta e as dimensões em que isso ocorre.

(5.1)
a transição para a vida adulta
Criança, jovem, adulto e idoso são categorias que nos reme-
tem a períodos específicos da vida humana pelos quais, em
condições ideais, todos os homens e mulheres passam. No
capítulo anterior, verificamos a dificuldade para se esta-
96
belecerem os limites etários entre um grupo e outro, espe-
cialmente no que diz respeito à passagem da fase jovem
Sociologia da Juventude

para a adulta.
Indicamos que, em cada época histórica, podemos dis-
tinguir marcas sociais que diferenciam quem pertence a
cada grupo e quando ingressa em cada um deles. A defini-
ção da juventude por limites de idade nos conduziu a uma
discussão sobre os papéis sociais que se espera que sejam
assumidos pelos sujeitos de cada grupo etário. Neste capí-
tulo, vamos aprofundar o debate em torno da definição
dessa etapa da vida como uma transição para a vida adulta.
Essa definição é a que marca de forma mais profunda
o senso comum sobre juventude. Poucos discordam da
importância desse período como fase de maturação cog-
nitiva, psicossocial e profissional. A inserção autônoma e
positiva dos sujeitos no mercado de trabalho tem íntima
relação com as oportunidades e as possibilidades que
experimentam na juventude.
Conforme aponta o sociólogo Weisheimer1, a noção de
juventude como um período de transição para a vida adulta
adquire importância na medida em que foi assumida
pela Unesco a partir da Conferência Internacional sobre
Juventude, realizada em Grenoble, na França, no ano de
1964, sendo uma das mais utilizadas por pesquisadores
desde então. Conforme o relatório apresentado pelo
sociólogo Rosenmayr2 para a conferência,

O termo “juventude” designa um estado transitório, uma


fase da vida humana de começo bem definido pelo apare-
cimento da puberdade; quanto ao fim da juventude, varia
segundo critérios e os pontos de vista que se adotam para
determinar se os indivíduos são “jovens”. Por “juventude”
compreendemos não somente uma fase da vida, mas também
97
os indivíduos concretos que pertencem aos grupos de idade

A juventude como transição


para a vida adulta
definidos como jovens.

Segundo Weisheimer3, essa definição buscou respon-


der à necessidade de uma definição operacional que desse
conta de diferentes aspectos envolvidos no fenômeno
juventude, estando presentes:

a. a idéia de transição;
b. a noção de fronteiras demarcadas por critérios biológi-
cos (início) e culturais (término);
c. a representação sobre indivíduos concretos que per-
tencem a uma faixa etária.

Como demonstramos anteriormente, o problema da


caracterização etária traz suas vantagens e desvantagens,
cabendo aqui apenas retomar a necessidade de ruptura
com o senso comum, mesmo aquele mais consolidado ins-
titucionalmente. Cabe refletir como esse estado transitório
vai se constituindo em um atributo substantivado como
valor permanente.
A transição para a vida adulta é delimitada pelas pes-
quisadoras do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) Ana Amélia Camarano e Juliana Leitão Mello4 a
partir de certas dimensões institucionais desse processo,
como família, escola, trabalho e constituição do domicí-
lio. Dessa maneira, as autoras buscam superar as perspec-
tivas de análise que encaram essa transição apenas como
passagem da escola para o trabalho.

A delimitação da passagem da juventude para a vida


adulta não é uma tarefa simples de se realizar. Que tipo
de evento marca essa passagem? Término da escolariza-

98
ção formal? Independência financeira? Saída da casa dos
pais? Constituição familiar? Em relação à constituição
Sociologia da Juventude

familiar, qual evento seria decisivo: casamento, parenta-


lidade ou saída da casa dos pais?

De acordo com as autoras, após a Segunda Guerra,


estabeleceu-se uma linearidade histórica na transição para
a vida adulta. A seqüência envolvia a finalização dos estu-
dos, a entrada no mercado de trabalho, a saída da casa dos
pais e a constituição de um novo domicílio pelo casamento
e pelo nascimento de filhos, nessa ordem.
As autoras ainda acrescentam que estudos recentes
indicam que essa linha unidirecional que caracterizava a
transição está cada vez menos perceptível, dificultando a
análise do processo de transição da juventude para a idade
adulta. Os interesses e as expectativas da atual geração são
mais complexos e diversos do que os das gerações ante-
riores. Isso implica uma situação de prolongamento da
juventude, percebido pelo aumento do tempo de formação
– para aqueles que dispõem de recursos familiares –, pela
dificuldade de inserção no mercado de trabalho e pelas
mudanças na estrutura familiar.
As mesmas autoras explicam que as transformações
que culminaram com a mudança de padrão transitório se
dão em duas dimensões: uma pública e outra privada. A
dimensão pública refere-se às transformações no mundo
do trabalho e às dificuldades de inserir-se nele. E isso
ocorre mesmo com o crescimento do grau de escolarização
dessa faixa da população nas últimas décadas. A dimen-
são privada diz respeito à desvinculação entre atividade
sexual e união conjugal e desta com a parentalidade. Nesse
contexto, é possível captar uma flexibilização da seqüência
transitória da juventude para a idade adulta. A esse res-
peito, Weisheimer5 destaca que “a idéia de transição é ine-
rente à vida e por si só não permite a definição completa da 99

categoria Juventude. Até porque todas as etapas do ciclo

A juventude como transição


para a vida adulta
vital são necessariamente transitórias, logo, as categorias
nesse campo devem refletir as dinâmicas dessa transição”.
Por isso, indica-se que a marca da transição juvenil
encontra-se fortemente relacionada aos percursos que
caracterizam os processos de socialização relacionados à
família, à escola, ao trabalho e aos amigos.
Conforme salienta o mesmo autor, a transição que
caracteriza a juventude é marcada pela mudança da famí-
lia – de orientação para procriação, do aprendizado para
a produtividade – e pela crescente ascensão da autono-
mia, além de outras características que carregam o sentido
de passagem da condição de dependência da infância à de
independência na vida adulta. Até que essa transição se
complete, os jovens encontram-se subordinados à autori-
dade dos adultos dos quais dependem, encontrando-se aí
um dos fundamentos de sua condição subalterna.
A idéia central para esse autor é que a juventude é um
estágio no qual acontece a entrada na vida social plena e
que, como situação de passagem, segundo Abramo6, com-
põe uma “condição de relatividade: de direitos e deveres,
de responsabilidade e independência mais amplas do que
as das crianças e não tão completas quanto às dos adultos”.
Desse modo, é perceptível que essa transitoriedade implica
uma relativa fragilidade social, subalternidade e ambiva-
lência que caracteriza a liminaridade da juventude.
Conforme Leccardi7, essa perspectiva da transição enfa-
tiza a juventude como maturação biográfica de prepara-
ção para a vida adulta. Assim, de acordo com Guerreiro e
Abrantes8, o processo de individualização ocorre, sobretudo,
nesse período transitório, sendo sucedido por certa estabiliza-
ção nos padrões de vida mais convencionais que idealmente
100 marcariam a fase posterior. Assim, a instabilidade da juven-
tude aparecia em oposição à estabilidade da fase adulta.
Sociologia da Juventude

Weisheimer9 destaca ainda o viés ideológico dessa


perspectiva. Segundo sua análise e de acordo com Giddens,
Beck e Lash10, a estabilidade social da condição de adulto
não encontra lastro na realidade concreta nos dias ­atuais,
marcada pelo risco e ainda, conforme Bauman11, pela
incerteza. Além disso, despreza os sucessivos desequilí-
brios, idas e vindas, constituintes da vida humana como
um todo e que não são privilégio da juventude.
A importância primordial de entendermos a juventude
como transição para a vida adulta reside no condiciona-
mento que esse período impõe aos seguintes, influenciando
decisivamente o modo como os sujeitos se posicionarão na
sociedade futuramente, tal como argumenta Leccardi.12
(5.2)
u m novo padrão transitório
A discussão da seção anterior apontou a emergência, em
meados do século XX, de um padrão linear de transição
para a vida adulta. Vimos que esse padrão foi rompido a
partir das transformações histórico-sociais das últimas
décadas do século passado. Como podemos definir o novo
padrão transitório emergente é o foco desta seção.
Conforme Weisheimer13, o ingresso no trabalho perma-
nece como elemento central dessa transição, já que é por
meio dele que os jovens começam a adquirir uma relativa
autonomia perante a família de origem. Porém, é preciso
101
lembrar que essa inserção profissional é ainda precária
entre eles, devido, entre outras razões, à fragilidade de sua

A juventude como transição


para a vida adulta
posição social e das próprias relações de trabalho atuais,
o que intensifica a situação ambígua da juventude. Além
disso, numa conjuntura de crescente flexibilização das
relações de trabalho e precarização do emprego, a entrada
dos jovens no mercado de trabalho passa a ser mais dificul-
tada. Esse aspecto torna a transição bem mais complexa e
menos linear.
A partir dessas reflexões, pensar a autonomia da vida
adulta como estando vinculada à autonomia financeira
passa a ser cada vez mais problemático à medida que se
ampliam as transformações no mundo do trabalho e a
crise da formalização do contrato de trabalho assalariado.
Como problematiza Weisheimer14, com o desemprego
tornando-se cada vez mais uma categoria estrutural da
subordinação do trabalho ao capital, reduzir a condição de
adulto à autonomia financeira implicaria considerarmos
que esta poderá nunca se realizar para parcelas cada vez
maiores da humanidade, que não conseguem inserir-se no
mercado de trabalho, ou, no mínimo, que esta seria feita de
muitas idas e vindas. Com efeito, constata-se uma flexibili-
zação da linearidade na seqüência de eventos, implicando
uma despadronização do processo de transição15.
Weisheimer16, nesse ponto, apóia-se nos argumentos
desenvolvidos pelo sociólogo português José Machado
Pais17, que descreve essas idas e vindas da transição juvenil
como um efeito denominado de “geração yo-yo”. Com essa
metáfora, Machado Pais ilustra os processos experimenta-
dos por parcelas significativas da atual geração jovem: de
idas e vindas entre o sistema educativo e o mercado de tra-
balho; entre a saída e o retorno à casa dos pais; entre a con-
102 jugalidade e a vida de solteiro.
A análise desses estudos permite a conclusão de que a
Sociologia da Juventude

construção da autonomia entre os jovens contemporâneos


como fator de reconhecimento social como adultos não
obedece necessariamente a uma sincronia nem a uma
linearidade. Ou seja, essa transição é marcada por idas e
vindas. Conforme as palavras de Pais, Caims e Pappámikail18,
“este fato teria pressionado os jovens a fazerem um uso ‘ativo’
de sua agência individual para inventar novos caminhos,
criar novos estilos de vida, compor novas identidades, numa
multiplicidade de opções disponíveis ou inventadas”.
Weisheimer destaca a advertência feita por Pais e
demais autores. Segundo eles, a análise dessa agência
individual não deve negligenciar o peso que as estruturas
econômicas, sociais e culturais têm nas trajetórias juvenis,
entendendo-a como um processo temporal de ação social
em que os hábitos e as rotinas passados são contextualiza-
dos e as possibilidades futuras são emolduradas nos qua-
dros das contingências do presente.19
Weisheimer20 compreende, assim, por que na sociedade
contemporânea há certa inclinação à ampliação do período
da juventude: devido à dificuldade de inserção de parcelas
significativas desse grupo no mercado de trabalho, há um
alongamento do período de escolarização. A dificuldade
de acesso a uma condição profissional estável tem ainda
impactos no adiamento dos matrimônios e conseqüente-
mente na constituição de uma nova família. Desse modo,
podemos deduzir que o processo de transição para a vida
adulta é cada vez mais complexo e heterogêneo, refletindo
a diversidade das condições de inserção social das novas
gerações, marcada por antinomias que configuram a pró-
pria sociedade.
O autor aponta ainda para o fato de que a abordagem
da juventude como transição para vida adulta pode estar 103

permeada por perspectivas tanto etnocêntricas quanto

A juventude como transição


para a vida adulta
adultocêntricas. Recorre, então, às etnografias de Bronislaw
Malinowski21 e Margaret Mead22 para demonstrar que há
importantes variações sociológicas e culturais na produção
dos significados atribuídos às juventudes e aos processos
transitórios que distinguem a infância da vida adulta. Ou
seja, o modo de se tornar adulto não é um fato natural
tampouco universal. Ele é construído historicamente, tendo
como fundamento uma ampla diversidade sociocultural.
Desse modo, não podemos tomar um único padrão como
se fosse típico a todas as juventudes.
Quanto ao risco de um viés adultocêntrico da abor-
dagem da juventude como transição para a vida adulta,
o autor destaca que essa maneira de conceber a condição
juvenil tende a refletir uma perspectiva que coloca a idade
adulta como sendo o principal momento no ciclo vital
humano. Dessa maneira, as gerações adultas, ao se debru-
çarem sobre o universo juvenil, geralmente não indagam
pelo presente da sua condição: seus ritmos, suas caracte-
rísticas particulares, a diversidade e a heterogeneidade
objetiva de seu universo material e simbólico. Conforme
destaca Weisheimer23, procedendo dessa forma, “deixam
de contribuir para a vivência plena dessa fase com quali-
dade de vida e garantia de direitos específicos, reforçando
a posição de sub-cidadania a [sic] qual estariam submeti-
dos os jovens”. Com base em sua posição de adulto e em
experiências de sua própria juventude, tais pesquisadores
produzem freqüentemente uma visão distorcida da juven-
tude e de seus dilemas nas sociedades em mudança.
Tendo clara essa problematização, é importante desta-
car que, quando analisamos a juventude em sua dimensão
de transição para a vida adulta, devemos destacar as parti-
104 cularidades históricas que influenciam os padrões transitó-
rios e as implicações dessas especificidades na constituição
Sociologia da Juventude

dos complexos desafios enfrentados pela população como


um todo e por essa faixa especificamente.

(.)
p onto final
Neste capítulo, estudamos a juventude sob o enfoque da
transição para a vida adulta. Para isso problematizamos os
critérios sociais que definem fronteiras entre a juventude
e a idade adulta, mostrando que essa transição envolve
aspectos sociológicos específicos da condição juvenil.
Caracterizamos um padrão transitório estabelecido no
período Pós-Guerra que colocava em seqüência a formação
escolar, a inserção produtiva, o matrimônio e o nascimento
de filhos como etapas de um processo linear que marca-
ria a transição para a vida adulta. Contemporaneamente
essa linearidade vem sendo abalada pelas dinâmicas
sociais próprias do regime de acumulação flexível, tra-
zendo impactos para a transição juvenil e sendo refletida
nos estudos sociológicos recentes. Desse modo, os estudos
atuais das transições destacam a complexidade das traje-
tórias juvenis diante desse novo contexto histórico, social
e cultural.
A partir dessa reflexão, apontamos um relativo prolon-
gamento da juventude como uma tendência da transição
nos dias atuais. Isso ocorre em função das transformações
do padrão transitório em duas dimensões: uma pública, que
aponta as mudanças no mundo do trabalho e nos ­processos
de escolarização, e outra privada, que vincula a modifica- 105

ção aos novos padrões sexuais, conjugais e parentais.

A juventude como transição


para a vida adulta
Desse debate, destaca-se a necessidade de analisarmos
as transformações no processo de transição para a vida
adulta concomitantemente às mudanças na própria vida
adulta, tem como os impactos que estas produzem nos
modos de relacionamento dos jovens entre si, com os adul-
tos e com a sociedade em geral. Em resumo: a passagem da
condição de dependência à de autonomia não depende ape-
nas de fatores individuais, sendo afetada também pelas con-
dicionantes estruturais.

Indicação cultural

CAMARANO, Ana Amelia; MELLO, Juliana Leitão.


Introdução. In: CAMARANO, Ana Amelia. (Org.). Transição
para a vida adulta ou vida adulta em transição? Rio de Janeiro:
Ipea, 2006. p. 13-28.
atividades
1. As marcas que definem a fronteira entre a juventude e a
idade adulta são fundamentalmente:
a. sociais.
b. biológicas.
c. genéticas.
d. familiares.

2. Leia atentamente as frases a seguir:


I. Até os dias de hoje foi mapeado um único padrão tran-
sitório entre a juventude e a idade adulta.
II. As marcas biológicas que delimitam a fronteira entre a
juventude e a idade adulta são os cabelos brancos e as
106
doenças típicas do avanço da idade.
As mudanças na própria vida adulta impactam as
Sociologia da Juventude

III.

transformações da transição da juventude para a idade


adulta.
Sobre essas afirmativas, podemos indicar que estão
corretas:
a. I e II.
b. II.
c. I.
d. III.

3. As transformações nas dimensões pública (trabalho e edu-


cação) e privada (padrões sexuais, conjugais e parentais)
impactam a transição da juventude para a vida adulta.
Uma das conseqüências desse processo é:
a. o prolongamento da juventude.
b. a ampliação de doenças características da fase adulta
entre os jovens.
c. a ampliação da qualidade de vida entre os jovens.
d. menos dificuldade dos jovens para se inserirem no mer-
cado de trabalho.

107

A juventude como transição


para a vida adulta
(6)

c ulturas juvenis
Analisa Zorzi é graduada em Ciências Sociais
(2005) e mestre em Sociologia (2008) pela
Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS). Tem experiência na área de
Sociologia, com ênfase em Sociologia Rural,
atuando principalmente com os seguintes temas:
gênero, políticas públicas, Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(Pronaf) e empoderamento. É membro do Grupo
de Pesquisa Estruturas e Processos Sociais
Agrários, do CNPq e atualmente trabalha com
as linhas de pesquisa Políticas Públicas para
a Agricultura Familiar e para o Meio Rural e
Gênero e Agricultura. É também membro da
Coordenação do Observatório Sul da Juventude.
Analisa Zorzi
Nilson Weisheimer

( )

no presente capítulo, entraremos em con-


tato com a discussão existente sobre as definições de cul-
tura ou culturas juvenis. Nesse sentido, o objetivo é apre-
sentar algumas abordagens sobre a noção de cultura e as
diferentes maneiras como os jovens se inserem nela. Para
tanto, dividimos o texto em três partes. A primeira refe-
re-se à condição da juventude como produtora da cultura;
na segunda, abordamos a discussão acerca da existência
de uma cultura juvenil ou de várias culturas juvenis; por
fim, na terceira parte, destacamos o debate a respeito dos
termos tribos e circuito jovem para delimitar as ações e as
representações culturais dos jovens.

(6.1)
j uventude como produtora
de cultura
O sociólogo Weisheimer1 destaca que entre as múltiplas
abordagens da cultura no âmbito da antropologia existem
112
três que tiveram mais influência nesse ramo das Ciências
Sociais. A primeira delas refere-se à obra de Edward B.
Sociologia da Juventude

Tylor, citado por Ferrari2, que definiu cultura como todo


complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei,
costumes e todas as outras capacidades e hábitos adquiri-
dos pelo homem como membro da sociedade. A segunda
abordagem encontra-se em Robert Redfield, também
citado por Ferrari, que considera a cultura constituída por
manifestos, atos e artefatos que caracterizam as socieda-
des. Já na terceira abordagem, Clifford Geertz3 define cul-
tura como sistema simbólico de significados que operam
como um conjunto de mecanismos de controle por onde
trafegam símbolos significantes, como palavras, gestos,
desenhos, sons e qualquer elemento usado para impor um
significado à experiência. Em comum, essas três vertentes
atribuem ao homem a condição de principal agente desse
processo, ou de produtor dos aspectos configurantes da
cultura, ou de produto da articulação dos elementos que
a constituem.
A idéia de pensarmos a juventude não só como um
período de transição entre a idade infantil e a idade adulta
leva-nos a pensar também que os jovens são sujeitos ativos
que contribuem tanto quanto os adultos para a construção
do mundo social. Isso significa que, como bem argumenta
Weisheimer4, “a juventude não é apenas um produto da cul-
tura como, também, é ela mesma produtora desta”.
Existe uma corrente teórica nas Ciências Sociais – a
estrutural funcionalista – que atribui o comportamento
juvenil à emergência de uma subcultura subordinada à
cultura mais ampla. Ocorre que, segundo Weisheimer5,
essa subcultura juvenil diferencia-se por constituir normas
próprias e traços singulares que rejeitam, muitas vezes, as
normas sociais vigentes. A expressão cultural principal 113
dos jovens, dentro dessa perspectiva, seria o modismo.

Culturas juvenis
Em contraposição a essa proposta teórica, surge, a
partir dos anos 1960, a perspectiva simbólica e, com ela,
os estudos culturais com os quais a noção de culturas
juvenis adquire uma nova roupagem teórica. O núcleo
irradiador dessa perspectiva pode ser atribuído ao Centro
de Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade
de Birmingham, que desde sua fundação em 1964, vem
ocupando um lugar de destaque na pesquisa acerca das
questões relativas à cultura e à identidade. Conforme o
antropólogo José Guilherme Cantor Magnani6, o termo
culturas juvenis “aponta mais para as formas em que as
experiências juvenis se expressam de maneira coletiva,
mediante estilos de vida distintos, tendo como referência
principalmente o tempo livre”.
Nesse contexto, conforme destaca Weisheimer7, a cul-
tura juvenil aparece associada à cultura de massas, já que a
mídia se configura como o principal veículo construtor da
imagem relacionada à juventude. Com base nisso, enten-
dem-se as culturas juvenis como um produto da abundân-
cia, conectadas à sociedade de consumo. Suas características
incluem certo tipo de vestimentas, acessórios, linguagem,
gostos musicais e práticas esportivas e de lazer.
Nesse sentido, o mercado consumidor e a indústria cul-
tural encontram nos jovens um foco potencial para a cria-
ção de produtos. É interessante destacar que esse aparato
cultural promovido pela indústria e pelo mercado consu-
midor transcende os limites de idade pela propagação da
idéia de moda jovem entre diferentes gerações. O resul-
tado disso, conforme Weisheimer8, é que:

ser jovem torna-se um estilo de vida que não mais se res-


tringe a uma faixa etária [...]. Isto porque os jovens apare-
114
cem como um mercado consumidor, cujos bens de consumo
transcendem ao público alvo original. A juventude torna-se
Sociologia da Juventude

um estilo que todos têm a oportunidade de usufruir, indepen-


dente da localidade onde moram, da sua condição de classe e
mesmo da idade que possuem.

Ao mesmo tempo, então, em que a juventude torna-se


um produto cultural, a própria cultura torna-se jovem, pois
as características e os problemas que envolvem essa faixa
etária passam a ser considerados a partir de um conjunto
de valores que transcende uma fase da vida apenas. Desse
modo, a construção da imagem juvenil aparece associada
a um valor simbólico, tendo como referência cultural o
padrão ideal de indivíduo moderno, que está sempre atua-
lizado e conectado às novidades e às tendências em perma-
nente transformação. Ainda de acordo com o mesmo autor,

Finalmente entende-se que a construção das culturas juvenis


revela traços diferenciados que vão para além da padronização
aparente. O espaço privilegiado para os jovens se apropria-
rem destes códigos geracionais e construírem sua auto-repre-
sentação são os locais de vivência com seus pares de idade.9
Nesse sentido, os processos de identificação e de auto-
identificação dos jovens dependem dos espaços de socia-
bilidade juvenil, pois é nos encontros de jovens, nos quais
estabelecem relações e interações entre si, que se consoli-
dam seus projetos e aspirações e que se promovem o com-
partilhamento e o exercício conjunto das regras sociais.
Nesses espaços de sociabilidade juvenil, os jovens cons-
troem suas visões de mundo, elemento simbólico impor-
tante para a própria constituição de suas identidades.
Para Paulo Freire10, a juventude é caracterizada pela
produção de sentidos diferenciados para a vida individual
e coletiva, marcada pela radicalidade da crítica ética e polí- 115
tica, que comumente é concebida como rebeldia ou inge-

Culturas juvenis
nuidade. O comportamento rebelde tem fundamento na
reestruturação do seu mundo individual em confrontação
com o mundo social à sua volta. A juventude é o período
de problematização do que o jovem foi durante a sua infân-
cia e pré-adolescência e do que ele quer ser no presente.
Nesse processo de encontros e desencontros consigo,
com os outros e com o mundo à sua volta, os jovens não
estão apenas preparando-se para o que vem à sua frente.
Também fazem isso, é verdade, mas, acima de tudo, pro-
duzem o seu mundo a partir:

a. das condições herdadas e aprendidas;


b. da criatividade individual;
c. das possibilidades que encontram, entre si e junto aos
outros grupos com que se relacionam.

Dessa maneira, produzem estilos, modos próprios de


vida e identidades que progressivamente se misturam à
sociedade em geral e influenciam o cotidiano das diver-
sas gerações que vivenciam um mesmo período histórico.
As oportunidades geradas em sociedade que permitem às
novas gerações se inserirem no mundo do trabalho são
fundamentais, mas a análise da juventude apenas por esse
aspecto impede o entendimento dessa etapa da vida nos
modos peculiares da sua dinâmica, das suas potencialida-
des socializadoras e dos seus limites históricos.

(6.2)
c ultura dos jovens
ou culturas juvenis?
116

Uma das discussões em pauta na pesquisas sobre juven-


Sociologia da Juventude

tude é se devemos encarar a cultura juvenil como única,


composta por jovens com idades entre 15 e 29 anos, ou se
devemos construir diferentes olhares a partir de diferen-
tes realidades e especificidades que cada grupo juvenil nos
apresenta. A respeito desse debate, um estudo de Barbosa
da Silva e Araújo11 para o Ipea propõe que

existem muitas culturas jovens, isto é, aquelas da periferia


urbana das metrópoles, das grandes cidades, dos centros de
maior renda, do interior, dos jovens indígenas, dos jovens do
mundo rural, dos jovens brasilienses, paulistas, cariocas, das
favelas etc. Cada item da descrição poderia ser multiplicado por
suas variantes, por gênero, região, etnia e assim por diante.

Entretanto, sem menosprezar essas características,


esses mesmos autores apontam que há pelo menos três
perspectivas mais abrangentes que devem ser levadas em
conta nas reflexões sobre culturas juvenis:

a. a distinção entre os jovens trabalhadores e os jovens


estudantes;
b. os problemas com o processo de socialização mais
amplo;
c. o consumo cultural jovem.

Na primeira perspectiva, a distinção entre os jovens


que já estão inseridos no mercado de trabalho e os jovens
que permanecem no sistema educacional aponta para uma
diferença também quanto às responsabilidades assumidas
por jovens que pertencem a um ou a outro grupo.
A segunda perspectiva relaciona-se aos problemas cau-
sados pelo processo de socialização mais amplo. Ou seja,
a partir do momento em que os mecanismos de integra-
117
ção social, as instituições escolares e o mercado de traba-
lham falham nesse processo, os jovens passam a estabelecer

Culturas juvenis
suas experiências, seus estilos de vida, enfim, suas sociabi-
lidades com as pessoas e os grupos mais próximos. Como
exemplos, apontam-se os movimentos sociais, a situação de
desemprego, os estilos musicais, entre outros que se consti-
tuem em elementos importantes de aproximação dos jovens,
já que estes estabelecem uma identidade em comum.
Já na terceira perspectiva de entendimento das cultu-
ras juvenis, apontada pelos estudos de Barbosa da Silva e
Araújo12 para o Ipea, aborda-se a questão do consumo cul-
tural jovem. Tudo o que é produzido pelos e para os jovens,
como literatura, cinema, teatro, televisão, rádio, entre outros,
pode ser analisado em seus conteúdos com o objetivo de
identificar as relações sociais estabelecidas nessa produção.
Nesse sentido, entende-se que tanto o Estado quanto o mer-
cado devem estimular tais práticas culturais, por causa do
forte conteúdo simbólico contidos em alguns eventos:

Os jovens constituem um dos componentes centrais desse


cenário. O que vestem, aonde vão, o que fazem no tempo livre
– suas práticas de consumo cultural, enfim, dizem algo sobre
como inventam suas identidades e como usam o consumo
para compô-las. Suas relações com as artes tradicionais, por
exemplo, se transformaram.13

Percebemos que, dependendo da abordagem que iden-


tificamos nos grupos juvenis – sua situação no mercado
de trabalho, sua relação com as pessoas próximas (ami-
gos, familiares), sua inserção no mercado cultural–, exis-
tem diferentes formas de manifestação da cultura juvenil.
Aliados a essas abordagens, ainda temos as diferentes
variantes relacionadas às situações dos jovens já destaca-
das, como jovens das metrópoles, jovens rurais, mulhe-
118
res, homens, e assim por diante. Por isso, acreditamos ser
mais interessante pensarmos em culturas juvenis e não em
Sociologia da Juventude

cultura juvenil, justamente pela diversidade de situações,


características e relações que envolvem os jovens.

(6.3)
Tribo versus circuito jovem
Outro foco de debate sobre as culturas juvenis está asso-
ciado ao termo tribos juvenis, o qual foi elaborado pelo
soció­logo francês Michel Maffesoli em um livro intitulado
O tempo das tribos, em que ele analisa o comportamento de
jovens urbanos, destacando o nomadismo, a fragmentação
e o consumo como marcas de uma geração. Sua ênfase recai
na constituição de pequenos grupos, altamente voláteis e
diferenciados, que afirmam suas identidades em trajes e
práticas culturais. Segundo Maffesoli14, os jovens vistos por
esse prisma refletiriam o novo cenário do neoliberalismo
“caracterizado pela fluidez, pelos ajustamentos pontuais e
pela dispersão”. Conforme Weisheimer15, “Entende-se que
a expressão tribo juvenil é mais metafórica do que concei-
tual”. De qualquer maneira, essa expressão vem sendo uti-
lizada para descrever grupos que compartilham estilos e
práticas culturais em comum.
No estudo Os circuitos dos jovens urbanos, Magnani16
destaca a origem desse termo, identificando-o como uma
noção pós-moderna. Nesse sentido, salienta que: “No caso
da emergência desses pequenos grupos, voláteis, altamente
diferenciados, a novidade que apresentavam era sua con-
traposição à homogeneidade e ao individualismo caracte-
rísticos da sociedade de massas, bem como às identidades 119
bem marcadas da modernidade”.

Culturas juvenis
De acordo com Weisheimer17, nesse contexto, então,
de ascensão das abordagens pós-modernas, destaca-se
nos estudos sobre juventude a expressão tribos juvenis.
Embora o termo pós-moderno tenha ocupado um lugar de
destaque no debate acadêmico recente, permanece como
uma noção imprecisa e de duvidosa comprovação empí-
rica, sendo considerado aqui um movimento cultural e não
uma época histórica.
Com o objetivo de problematizar a identificação dos gru-
pos juvenis a partir de sua definição como tribos, Magnani18
propõe pensarmos em outro termo: circuito. Para o autor,
apesar do pioneirismo da expressão tribos, esta não tem
um alcance conceitual adequado para a análise dos grupos
juvenis, pois apresenta algumas limitações em seu uso. Um
exemplo dessa limitação, aponta Magnani19, refere-se a:

um mal-entendido entre o sentido que se atribui ao termo


“tribo” nos estudos tradicionais de etnologia – que aponta para
alianças mais amplas entre clãs, segmentos, grupos locais
etc. – e seu uso para designar grupos de jovens no cenário
das metrópoles, que evoca exatamente o contrário: pensa-se
logo em pequenos grupos bem delimitados, com regras e costu-
mes particulares, em contraste com o caráter massificado que
comumente se atribui ao estilo de vida das grandes cidades.

A partir de então, a proposta de analisarmos os gru-


pos juvenis como circuitos, conforme este autor, possibi-
lita entender esses grupos em suas passagens nos espaços
por onde circulam, “onde estão seus pontos de encon-
tro e ocasiões de conflito, e os parceiros com quem esta-
belecem relações de troca”20. Dois elementos são centrais
para a compreensão das diferentes culturas juvenis: seus
120
­processos de sociabilidade e suas permanências e regula-
ridades, ou seja, os fatores que configuram e caracterizam
Sociologia da Juventude

tais grupos. De acordo com Magnani21,

O que se pretende com esse termo, por conseguinte, é chamar


a atenção (1) para a sociabilidade, e não tanto para pautas de
consumo e estilos de expressão ligados à questão geracional,
tônica das ‘culturas juvenis’; e (2) para permanências e regu-
laridades, em vez da fragmentação e do nomadismo, mais
enfatizados na perspectiva das ditas ‘tribos urbanas’.

Percebemos que, apesar de conflitantes, esses termos


não se constituem em propostas teóricas que visam à expli-
cação dos fenômenos sociais relacionados aos grupos juve-
nis e ao aparato cultural produzido por eles. No entanto, as
noções de tribo e circuito servem como recursos analíticos
que permitem compreender os elementos que constituem
esses grupos a partir de olhares diferentes, como vimos.
(.)
p onto final
Neste capítulo, entramos em contato com três debates
sobre o que é e como se constitui a cultura dos jovens, ou
as culturas juvenis:

a. juventude como produtora da cultura;


b. cultura dos jovens ou culturas juvenis;
c. tribo versus circuito jovem.

Longe de serem perspectivas opostas, podemos enten- 121

dê-las articuladas na compreensão dos grupos juvenis e

Culturas juvenis
suas manifestações.
Vimos que algumas correntes teóricas que analisam a
relação da juventude com as manifestações culturais pola-
rizam o debate colocando, de um lado, a juventude como
uma subcultura e, de outro, dentro de uma perspectiva
simbólica.
Destacamos também a discussão sobre o alcance desses
grupos, questionando se devemos entender essas relações
a partir de um olhar homogêneo, tratando as manifesta-
ções juvenis pelo paradigma da cultura juvenil, ou, ao con-
trário, se devemos procurar entender as especificidades
dos grupos juvenis e considerá-los como diferentes cultu-
ras juvenis.
Por fim, abordamos o embate entre duas noções dife-
rentes utilizadas para compreender os grupos juvenis e
suas manifestações: as noções de tribo e de circuito jovem.
Mesmo não se constituindo em conceitos teóricos, essas
duas noções servem como instrumentos analíticos para
entender o que “rola” nos grupos juvenis.
Indicação cultural

MAGNANI, José Guilherme Cantor. Os circuitos dos jovens


urbanos. Tempo Social, São Paulo, v. 17, n. 2, p. 173-205, nov.
2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ts/v17n2/
a08v17n2.pdf>. Acesso em: 5 dez. 2008.

atividades
1. No texto, afirma-se que os jovens, além de serem um pro-

122
duto da cultura, também se constituem como produtores
desta. Nesse sentido, a identificação entre eles e sua auto-
Sociologia da Juventude

identificação são elementos importantes do processo de


construção cultural, sendo que:
a. é nos espaços de sociabilidade juvenil que se realizam
os processos de identificação e de auto-identificação dos
jovens.
b. a moda juvenil dita as regras de como os jovens devem
se comportar.
c. os jovens devem fazer tudo o que os adultos
mandarem.
d. a cultura juvenil significa “estar por dentro” das músi-
cas e dos filmes da época.

2. O estudo do Ipea propõe pensarmos em diferentes cultu-


ras juvenis, pois:
a. os jovens são todos iguais.
b. os jovens são diferentes dos adultos.
c. existe uma diversidade de situações e características que
envolvem os diferentes jovens.
d. existe pouca afinidade entre os diferentes jovens.
3. No texto, há o destaque de duas noções que servem para
compreender os grupos juvenis. Quais são elas?
a. Turma e tribo.
b. Tribo e circuito.
c. Circuito e turma.
d. Galera e tribo.

123

Culturas juvenis
(7)

j uventudes nas metrópoles


Rochele Fellini Fachinetto possui graduação em
Ciências Sociais e mestrado em Sociologia pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Tem experiência na área de Sociologia,
com ênfase em Sociologia da Educação, Sociologia
da Violência e Sociologia Jurídica, atuando princi-
palmente com as temáticas: juventude, violência,
privação de liberdade, medidas socioeducati-
vas e gênero. É membro do Grupo de Pesquisa
em Políticas Públicas e Administração da Justiça
Penal, nas linhas Criminologia e Controle Social e
Administração da Justiça Penal. Atualmente está
cursando doutorado em Sociologia pela UFRGS e
atua na área de administração da justiça e confli-
tos de gênero. É também membro da Coordenação
do Observatório Sul da Juventude.
Rochele Fellini Fachinetto

( )

a temática da juventude, especialmente


no contexto contemporâneo, tende a alcançar maior visi-
bilidade a partir de situações-problema, ou seja, quando
os jovens se envolvem em casos graves de violência que
acabam chocando a opinião pública. Esses episódios tra-
zem à tona questões que envolvem o universo do jovem,
suas práticas, sua realidade social, levando-nos a procurar
possíveis explicações para esses fenômenos. Nesse mesmo
sentido, são realizados estudos de modo a aprofundar o
conhecimento sobre esses fatos e a compreender o que leva
os jovens a apresentarem esse tipo de comportamento.
Foi justamente a partir desse contexto de “situação-
problema” que a Unesco realizou uma série de estudosa,
entre os anos 1998 e 2000, sobre a situação juvenil em qua-
tro capitais brasileiras (Brasília, Curitiba, Fortaleza e Rio de
Janeiro), procurando compreender a realidade dos jovens
dessas metrópoles, com vistas a estabelecer parâmetros
para a proposição de políticas públicas para a juventude.
Mais recentemente, as sociólogas Ana Luisa Sallas
e Maria Silva Bega realizaram uma releitura dessa pes-
128
quisa da Unesco, que aqui nos interessa de maneira espe-
cial, já que possibilita pensarmos esse tema de forma mais
Sociologia da Juventude

atualizada.
Para Sallas e Bega1, o caso do índio Galdino teve tama-
nha repercussão pelo fato de os envolvidos no crime serem
jovens oriundos de famílias prestigiosas da sociedade, o
que acabou contradizendo a disseminada associação entre
pobreza e violência. A sociedade, então, passou a indagar
sobre o que teria levado esses jovens a cometerem tal ato, se
possuíam educação formal e não estavam expostos a situ-
ações de vulnerabilidade econômica. Na releitura dessa
pesquisa, as autoras procuram desenvolver uma análise
mais contemporânea dos dados encontrados.
O texto deste capítulo é inspirado de forma espe-
cial na releitura das autoras citadas, procurando refletir
sobre algumas questões que foram levantadas por elas, e

a. “O fato que motivou esse estudo ocorreu em 1997,


quando jovens da classe média alta de Brasília atearam
fogo no índio Galdino Jesus dos Santos, de 45 anos, que
dormia num ponto de ônibus no Plano Piloto da cidade.”
(SALLAS; BEGA, 2006, p. 31).
Essa pesquisa, coordenada por Julio Jacobo Waiselfisz,
baseou-se em dados quantitativos e qualitativos, com
jovens na faixa dos 14 aos 20 anos, além de professores,
pais e policiais. A pesquisa-piloto foi desenvolvida em
Brasília, no mesmo ano do caso do índio Galdino e, em
estudos posteriores, foram analisadas as outras capitais.
também retomando as principais conclusões apresentadas
pela pesquisa da Unesco, a fim de conhecer e compreen-
der a situação dos jovens das grandes metrópoles. Além
disso, este texto busca uma aproximação do leitor com a
realidade dos jovens nas grandes metrópoles brasileiras,
especialmente no contexto mais atual. Assim, são apresen-
tadas informações de fontes secundárias, como o IBGE, as
quais permitem identificarmos alguns problemas e dificul-
dades enfrentados pelos jovens, as situações às quais estão
129
expostos e, ainda, quais questões emergem a partir do que
esses autores apontam.

Juventudes nas metrópoles


Desse modo, vamos inicialmente aproximar os leito-
res da realidade dos jovens das grandes metrópoles brasi-
leiras, especialmente os jovens considerados entre a faixa
etária de 15 a 24 anos, apresentando alguns dados gerais
ligados a questões demográficas, educacionais, inserção
profissional etc., que expressam o contexto no qual esses
jovens estão inseridos. Feito isso, passaremos para as
principais conclusões encontradas a partir da pesquisa da
Unesco em quatro capitais brasileiras, discutidas e apre-
sentadas por Sallas e Bega, que também fornecem sub-
sídios para pensarmos a situação do jovem das grandes
metrópoles no contexto atual.

(7.1)
a situação dos jovens no contexto
atual: aspectos gerais
O contexto atual, segundo apontam várias pesquisas, é bas-
tante oportuno para analisarmos e refletirmos sobre a situa­
ção dos jovens, especialmente aqueles considerados entre a
faixa etária dos 15 aos 24 anos. Um desses estudos, realizado
por Fernando Rezende e Paulo Tafner2, mostra que especial-
mente na última década houve um expressivo cresci­mento
demográfico da população jovem, que em 2003 chegou a um
total de 33,85 milhões de jovens (entre 15 e 24 anos), correspon-
dendo a 19,5% da população. Entretanto, conforme aponta os
autores, pelas estimativas populacionais esse grupo etário
jamais foi ou será tão numeroso quanto é hoje, em termos
absolutos. Por isso, falamos que esse é um momento opor-
130
tuno para refletir sobre a questão dos jovens, especialmente
para pensar ações voltadas a esse público, já que, segundo
Sociologia da Juventude

esses autores “a cada ano, a crista de uma onda demográfica


(quantidade máxima de pessoas de uma determinada idade)
se desloca para idades mais avançadas”3.
De acordo com os dados do IBGE, embora o contin-
gente populacional de jovens venha apresentando um
incremento, em termos absolutos, o ritmo de crescimento
vem diminuindo desde a década de 1970b.4 Paralelamente a
isso, nota-se um crescimento relativo da população poten-
cialmente ativa e de idosos, que passaram a ter maior
representatividade na população total. Desse modo, é
importante considerarmos que o contingente de jovens, na
atualidade, tende progressivamente a se reduzir, pois essa
população vai se tornando cada vez mais “madura”, ou
seja, passa a incorporar o contingente da população poten-
cialmente ativa, enquanto que o crescimento da população
jovem vem se reduzindo, como demonstram os dados.
Conforme apontam os dados do IBGE, de acordo com a

b. Apenas para termos uma idéia desse decréscimo, esses


dados do IBGE mostram que, em 1970, as crianças de 0 a
14 anos representavam 42,1% da população total, redu-
zindo-se para 38,2% em 1980 e passando a 34,7% e 31,6%
em 1991 e 1996, respectivamente.
projeção da população brasileira, o volume de jovens de 15
a 24 anos de idade permanecerá crescendo, muito embora
com taxas declinantes, já a partir de 2000-2005, chegando a
alcançar valores negativos por volta de 2010, percorrendo
o mesmo caminho seguido pelo grupo de 0 a 14 anos, com
a devida defasagem temporal.5
Nesse sentido, diante da justificada necessidade de se
discutir a questão do jovem, especialmente em relação ao
momento atual, faz-se pertinente analisarmos, de forma
131
geral, qual a realidade e que tipos de problemas enfrentam
esses jovens.

Juventudes nas metrópoles


Conforme argumentam Rezende e Tafner6, essa “etapa”
entendida como juventude guarda algumas particularida-
des ligadas a algumas decisões que terão repercussão ao
longo de toda a vida, como a escolha profissional, a quali-
ficação, o casamento, filhos etc.
A questão da educação emerge como um tema cen-
tral quando o assunto é juventude, já que é especialmente
durante a infância e a juventude que os indivíduos estão
inseridos no sistema de ensino. Entretanto, os dados sobre
a realidade educacional brasileira mostram que a maior
parte dos jovens de 18 a 24 anos não se encontra inserida
em nenhum nível de ensino. A tabela seguinte mostra que
quase 70% dos jovens de 18 a 24 anos não estão estudando
e, entre aqueles que estudam, a maior parte ainda encon-
tra-se no ensino fundamental e médio, quando, pela faixa
etária, já deveriam estar no ensino superior. Isso nos coloca
diante de um problema: será que os jovens estão deixando
o sistema de ensino por uma questão de escolha ou por
falta de oportunidades? Diante de um mercado de traba-
lho que exige cada vez mais qualificação profissional, cus-
ta-nos imaginar que os jovens estejam deixando a escola
apenas por uma questão de escolha.
Tabela 7.1 – Jovens de 18 a 24 anos, não-estudantes, estudantes e estudantes
distribuídos por graus de instrução que freqüentam – Brasil

Jovens de 18 - 24 anos Porcentagem (%)

Total [1] 24.072.318 100,00

Não Estudantes 16.327.459 67,83

Estudantes [2] 7.744.859 32,17


132

Fundamental 1.504.012 6,25


Sociologia da Juventude

Ensino Médio [3] 3.683.112 15,30

Superior [4] 2.557.735 10,63

Nota: (1) Inclusive as pessoas que não declaram o curso freqüentado. (2) Inclusive os
estudantes de cursos de alfabetização de adultos. (3) Inclusive os estudantes de pré-
vestibular. (4) Inclusive os estudantes de curso de mestrado.

Fonte: Adaptado de NEVES; RAIZER; FACHINETTO, 2007.

Somando-se a essa quatão, segundo Rezende e Tafner7,


há o fato de que, no Brasil, a escolaridade média da popula-
ção entre 15 e 24 anos é inferior a oito anos de estudo, ou seja,
em média, os jovens brasileiros não completaram sequer a
educação fundamental. Além disso, segundo os autores,
existe uma enorme desigualdade educacional, conside-
rando dados que apontam que cerca de 12% dos jovens no
país são analfabetos funcionais, isto é, não chegaram a com-
pletar sequer a 4ª série do ensino fundamental, e apenas 6%
têm acesso à educação superior. É importante, nesse ponto,
fazer uma ressalva: esses dados refletem a situação geral do
país, mas se tomarmos os dados de cada região separada-
mente, encontraremos situações um pouco distintas, como
é o caso, por exemplo, da Região Sul, que apresenta alguns
índices educacionais mais favoráveis.
Tabela 7.2 – Número de matrículas e concluintes por nível de ensino – Brasil

Matrículas Concluintes

Ensino Ensino
Ano Ensino Médio Ensino Superior Ensino Médio Ensino Superior
Fundamental Fundamental

1999 36.059.742 7.769.199 2.369.945 2.484.972 1.786.827 324.734

2000 35.717.948 8.192.948 2.694.245 2.648.638 1.836.130 352.305

2001 35.298.089 8.398.008 3.030.754 2.707.683 1.855.419 395.988

2002 35.150.362 8.710.584 3.479.913 2.778.033 1.884.874 466.260

2003 34.438.749 9.072.942 3.887.022 2.668.605 1.851.834 528.223

2004 34.012.434 9.169.357 4.163.733 2.462.319 1.879.044 626.617

2005 33.534.561 9.031.302 4.453.156 2.471.690 1.858.615 717.858

Fonte: NEVES; RAIZER; FACHINETTO, 2007.

Juventudes nas metrópoles


133
A Tabela 7.2 nos dá uma idéia da precoce saída dos jovens
da escola, comparando o número de matrículas e de con-
cluintes por nível de ensino e mostrando o grave problema na
formação e manutenção dos alunos já durante o ensino fun-
damental. É possível verificar, ainda, que nos ensinos médio
e superior o número de matrículas decresce muito em com-
paração ao número de matrículas no ensino fundamental.
Essas dificuldades enfrentadas no campo educacio-
nal acabam repercutindo na própria inserção profissional
134
do jovem. Nesse sentido, apresentaremos também alguns
dados que mostram a relação do jovem com o mercado de
Sociologia da Juventude

trabalho. Pelas conclusões de Rezende e Tafner8, mesmo


com todo o avanço da última década, viu-se que um terço
dos jovens brasileiros não completaram a educação funda-
mental regular. Quanto à educação superior, a evolução ao
longo dos últimos 20 anos não foi capaz de acompanhar
os avanços no acesso à educação básica. Isso levou a pro-
porção de concluintes do ensino médio que têm acesso ao
ensino superior a declinar em vez de se expandir, como
seria desejável.
Um dos problemas que mais afeta negativamente os
jovens em relação ao seu ingresso no mercado de trabalho
é a falta de experiência. Assim, conforme nossos autores
de referência, forma-se um “círculo vicioso”, pois como os
jovens não têm experiência, as empresas não os contratam,
e assim eles continuam sem experiência. Ocorre que, diante
dessa dificuldade, muitos jovens precisam optar pela con-
tinuidade nos estudos ou o ingresso no mercado de traba-
lho. Esse dilema é vivenciado de forma mais intensa pelos
jovens que se situam entre os 18 e 24 anos.
O gráfico a seguir aponta a condição de atividade entre
os jovens nessa faixa etária, em que é possível verificar que
a média de freqüência cai cerca de 12% para os estudantes
que estão ocupados em algum tipo de atividade (domés-
tica, emprego, comercial etc.), sendo que os que não exer-
cem nenhuma atividade além do estudo, possuem uma
freqüência 2% maior que a média geral. É possível verifi-
car também que, à medida que a idade aumenta, ocorre a
diminuição da porcentagem daqueles que apenas estudam,
ocorrendo também uma elevação importante, cerca de 80%,
no número de jovens que apenas trabalham e não estudam.
135
Ainda conforme Rezende e Tafner9, o conflito escola-traba-
lho somente existe para aqueles que possuem essas duas

Juventudes nas metrópoles


opções. De acordo com seu estudo, cerca de 19% dos jovens
não estuda nem trabalha, sendo essa situação ainda mais
crítica quando se consideram as mulheres (26%) e os jovens
negros (21%). Por outro lado, também chega a quase 20% o
número dos jovens que estudam e trabalham ao mesmo
tempo. A questão é saber qual parcela dos outros 80% tam-
bém tem acesso à escola e ao trabalho e, por opção própria,
escolheu uma ou nenhuma das atividades.

Gráfico 7.1 – Jovens de 18 a 24 anos de idade, por grupos de idade, distribuição


percentual, por condição de atividade na semana de referência – Brasil

60.0 Jovens de 18 a 19 anos

50.0 Jovens de 20 a 24 anos

40.0
30.0
20.0
10.0
0.0
Só Trabalha Só Cuida de Não realiza
estuda e estuda trabalha afazeres nenhuma
domésticos atividade

Distribuição percentual, por condições de atividade na semana de referência (%)

Fonte: NEVES; RAIZER; FACHINETTO, 2007.


O que Rezende e Tafner10 apontam é que, no mínimo,
a terça parte dos jovens brasileiros (33%) não vivencia o
conflito trabalho-escola, seja por falta de oportunidades
educacionais, seja pela ausência de oportunidades educa-
cionais e simultâneo acesso ao trabalho. É importante con-
siderarmos que a ausência do conflito escola-trabalho pode
significar situações distintas: tanto pode ocorrer porque
os jovens são oriundos de uma situação econômica mais
estável e, portanto, esse conflito não se coloca, já que estes
136
jovens podem fazer uma opção – seja ela qual for; como, por
outro lado, há aqueles jovens para os quais o dilema escola-
Sociologia da Juventude

trabalho não existe pelo fato de, efetivamente, não estarem


em condições de escolha, e assim esse conflito nem chega a
ser cogitado.
Na tentativa de aproximar o leitor da realidade dos
jovens das grandes metrópoles, uma outra temática pre-
cisa ser incorporada nessa contextualização: a questão da
violência. Devemos considerar que não é por mero acaso
que o tema da violência aparece de forma tão recorrente
quando o assunto é juventude.
De acordo com um importante estudo de Alba Zaluar11,
os jovens figuram no cenário nacional tanto como agen-
tes quanto como vítimas da violência urbana, sendo essa
tendência também verificada internacionalmente, espe-
cialmente no continente americano. Segundo dados da
pesquisa realizada por Waiselfisz12, em 1980 as “causas
externas” já eram responsáveis por, aproximadamente,
metade (52,9%) do total de mortes dos jovens do país. No
ano de 2004, esse índice subiu para 72,1%, ou seja, ¾ dos
jovens morreram por causas externas, conforme mostra
a Tabela 7.3. Dentre as “causas externas”, o maior índice
é de homicídios, chegando a quase 40% dos casos. Nessa
tabela também é possível comparar os dados da população
Tabela 7.3 – Estrutura da mortalidade por UF e região/população jovem e não-jovem de 15 a 24 anos – ano 2004

Causas População Jovem Causas população Não-Jovem

Ac. Ac.
Naturais Externas Total Homicídio Suicídio Naturais Externas Total Homicídio Suicídio
Transp.(1) Transp.(1)

N 38,7 61,3 100 15,1 32,3 4,1 88,2 11,8 100 3,8 4 0,6

NE 33,7 66,3 100 13,9 35,1 2,9 91 9 100 2,5 2,9 0,5

SE 23,7 76,3 100 15,6 46,2 2,8 90,7 9,3 100 2,4 3,2 0,5

S 24,5 75,5 100 26,4 33,5 6,3 90,7 9,3 100 3,5 2,1 1,1

CO 25,5 74,5 100 23 37,7 5,8 86,7 13,3 100 5,1 4 1

Total 29,7 72,1 100 17,1 39,7 3,6 90,4 9,6 100 2,8 3 0,6

Nota (1): Acidentes de Transporte.


Fonte: Adaptado de WAISELFISZ, 2006, p. 22.

Juventudes nas metrópoles


137
jovem (15 a 24 anos) com os não-jovens (0 a 14 e 25 ou mais
anos), onde verificamos a grande diferença no índice de
causa por morte externa, que é de 72,1% entre os jovens e
9,6% entre os não-jovens. Ao somarmos as três causas de
mortes externas (acidentes de trânsito, homicídio e suicí-
dio), observamos que estas são responsáveis por mais de
60% das mortes entre os jovens.
O gráfico a seguir mostra a evolução da taxa de homi-
cídio desde 1980 até 2004, comparando a população jovem
138
com a população não-jovem. Podemos observar, como dito
anteriormente, que a taxa de homicídio entre os não-jovens
Sociologia da Juventude

permanece praticamente inalterada, enquanto que a taxa


entre os jovens aumentou em índices expressivos.

Gráfico 7.2 – Taxa de homicídio jovem e não-jovem Brasil ­− 1982/2004

60
52,1 51,7
50
38,8
40
30
30
21,3
18,1 20,8 20,8
20

10

0
1980 1990 2000 2004

Taxa Jovem
Taxa Não-Jovem

Fonte: WAISELFISZ, 2006, p. 73.

Desse modo, é possível verificarmos como esse tipo de


violência, considerada grave, afeta de modo bastante parti-
cular os jovens da faixa etária entre os 15 e 24 anos. É per-
tinente, a partir disso, tentarmos compreender um pouco
mais acerca da realidade a qual estão submetidos os jovens,
especialmente aqueles das grandes metrópoles.
Para Sallas e Bega13, as conclusões da pesquisa da
Unesco apontam tanto para o despreparo das famílias
quanto para a ineficácia da escola no seu papel de socia-
lização, e ainda para as políticas públicas, que seguem
uma lógica instrumental e são, em sua maioria, destina-
das a “jovens em situação de risco” ou “infratores”. O que
as autoras ressaltam nessa pesquisa é que, em todos esses
139
segmentos da população adulta, o jovem é representado
como um “ser anômico, que coloca em xeque os modelos

Juventudes nas metrópoles


de integração social”, e é exatamente essa concepção que é
questionada por elas.
A partir dessa contextualização mais ampla, faz-se
necessário apresentarmos os dados sobre a realidade do
jovem nas quatro capitais analisadas pela pesquisa da
Unesco, mostrando como cada região possui particulari-
dades em relação a essa população.

(7.2)
a s pesquisas em quatro
capitais brasileiras
Através do projeto da Unesco apresentado no início deste
capítulo – e que teve como categorias-chave os conceitos
de juventude, violência e cidadania – foi possível realizar
uma abrangente análise sobre a questão da violência e da
cidadania no Brasil a partir da percepção de todos os envol-
vidos na pesquisa (jovens, pais, professores e policiais).
O caso do Rio de Janeiro

A pesquisa nessa capital foi realizada em 1998 e, a partir


dela, foram propostas políticas públicas para a juventude
em três blocos, em função da diversidade do objeto estu-
dado. O primeiro bloco propunha políticas levando em
conta a questão da sociabilidade do jovem, o que englo-
bava o lazer, a sexualidade e as drogas. Em relação a esse
bloco foi enfatizado especialmente o papel das instituições
140 socializadoras, como a família e a escola. A família passou
por um processo de transformações no qual o “modelo con-
Sociologia da Juventude

jugal estável” – pai, mãe e filhos −, não pode mais ser pen-
sado como um modelo dominante. Isso especialmente em
relação às classes populares, em que a questão da ausência
paterna ficou mais destacada na pesquisa.
De acordo com Sallas e Bega14, a questão da escola sur-
giu como uma defasagem existente entre o mundo juvenil
e as práticas pedagógicas e formadoras da maioria dessas
instituições e, ainda, os profissionais da educação fazem
uma leitura negativa do futuro dos jovens, ou seja, ela
ocupa um lugar distante da realidade dos jovens.
O segundo bloco de políticas foi pensado em relação a
questões da violência, que se expressa tanto na vida social
quanto doméstica, escolar ou ainda na mídia. O caminho
proposto passa por investimentos do setor público em
mecanismos que diminuam as desigualdades e a exclusão
e a importância da efetivação dos direitos estabelecidos no
Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca) no combate à
violência doméstica e escolar. À mídia foi destacada aten-
ção especial, segundo as autoras, pelo fato de ela contri-
buir para disseminar a idéia de relação entre juventude e
violência (jovens como principais responsáveis pela vio-
lência). Nesse sentido, o Estado deve intensificar a sua
participação no controle desses programas. Por fim, o ter-
ceiro bloco de políticas enfatiza as questões de cidadania,
com demandas ligadas à qualidade de vida e acesso aos
direitos sociais, com ações públicas que valorizem a demo-
cracia no cotidiano.

O caso de Brasília

Essa pesquisa, realizada no ano de 1998, em Brasília, anali-


sou a situação dos jovens da periferia da cidade. A questão 141
que sobressai no caso específico dessa capital é em relação

Juventudes nas metrópoles


à segmentação sócio-espacial, que separa e distingue os
moradores seguindo critérios de classe social. Assim, as
conclusões da pesquisa da Unesco mostram que há uma
insatisfação dos moradores da periferia no que diz res-
peito ao lazer, à sua situação de exclusão, que se manifesta
como sentimento de estigma, bem como a pouca valori-
zação e desprezo por aqueles que vivem no Plano Piloto.
Segundo Sallas e Bega15, esses pólos antinômicos entre
os ricos e os pobres são vivenciados de forma conflitu-
osa. Ocorre que, diante desse conflito, resultante da exa-
cerbada situação de desigualdade, a violência surge como
uma saída. Como comentam as autoras, “os pobres” vêem
os ricos como “inimigos”, como alvos de todo ódio resul-
tante da exclusão social, personificando as causas diretas
das suas humilhações.
Os resultados da pesquisa apontam ainda que o traba-
lho não é visto como fonte de satisfação e, assim, a busca
de reconhecimento e a construção de identidades vão se
dar através de outros caminhos. Como no caso do Rio de
Janeiro, a educação não apresenta resultados concretos na
vida do jovem nem se apresenta como campo de possibi-
lidades ou de transformação da sua realidade. Conforme
conclusões de Abramovay, citado pelas autoras,
Pode-se concluir que a falta de alternativas, a ausência de
instrumentos para lidar com um contexto globalizado e
fragmentado, no qual as mudanças são constantes, levam
os jovens a enfrentar situações em que faltam referências
nortea­doras de conduta, com repercussões nos processos de
construções identitarias.16

É interessante percebermos, pelos dois casos até aqui


apresentados, como são vários os fatores envolvidos ­nessas
142 situações de vulnerabilidade que os jovens enfrentam, co-
mo a escola, o mercado de trabalho, as desigualdades etc.,
Sociologia da Juventude

e como isso influencia nas questões do reconhecimento e


da construção da identidade dos jovens – o que ultrapassa
a dimensão individual e começa a se consolidar como uma
realidade que é comum a jovens das grandes capitais.

O caso de Fortaleza

A pesquisa em Fortaleza procurou mostrar a complexi-


dade da vida desses jovens e também os significados que
os autores atribuem às propostas de combate à violência.
A primeira questão que os autores da pesquisa enfatizam
é que a violência não pode ser entendida como fruto de
ações isoladas e individuais, o que também levaria a bus-
car soluções no nível individual. Ao contrário, a violência
deve ser entendida a partir da ausência ou ineficácia de
políticas públicas. Entretanto, os caminhos apresentados
para solução desse problema foram diferentes das outras
cidades analisadas, já que as respostas foram vislumbra-
das a partir do campo da arte e da cultura, como forma de
incentivar a saída dos jovens das ruas sem estigmatizá-la
como um espaço de sociabilidade violenta.
Nesse ponto é interessante refletirmos sobre a “situa-
ção de rua” desses jovens. Em outro trabalho, Fachinetto17
mostra como alguns autores entendem a saída desses meni-
nos para a rua, e como são difíceis as estratégias de retorno.
Para Zaluar18 e Passetti19, a saída das crianças para a rua está
ligada tanto às situações de vulnerabilidade − fragilidades
da escola, violência, exclusão social −, quanto às precárias
condições socioeconômicas das famílias, que precisam sair
de casa para garantir a sobrevivência e acabam deixando
os filhos sozinhos, abrindo, assim, uma porta de acesso ao
universo da rua. Estando na rua, o caminho inverso – de
143
retorno aos laços familiares ou escolares − torna-se muito
mais difícil, como mostra Gregori20.

Juventudes nas metrópoles


O caso de Curitiba

Para o caso específico dessa capital, o ponto central da


pesquisa foi a análise da percepção dos jovens a respeito
das diversas formas de violência, considerando, também,
como os pais e profissionais da educação percebem esse
processo. Segundo apontam as autoras Sallas e Bega21, a
cidade de Curitiba era vista como um possível contraponto,
já que possui uma experiência de planejamento urbano que
a difere das demais cidades. Entretanto, o que se verificou,
a partir da pesquisa, é que os jovens, apesar de comparti-
lharem uma visão positiva da cidade, também percebem a
ação do marketing na construção de uma imagem irreal do
lugar em que vivem. De forma semelhante ao que é verifi-
cado em Brasília, a idéia da segregação entre o “lugar dos
ricos” e o “lugar dos pobres” também marca esse espaço.
Conforme apontam as autoras, a conclusão da pesquisa
em Curitiba diferiu daquela aplicada às demais capitais, ou
seja, a idéia de elaborar propostas para subsidiar políticas
públicas. A idéia dos autores foi fazer uma relação dessa
problemática com um jogo e suas regras, e como os diferen-
tes atores percebem e vivenciam as regras desse jogo.
Assim, de acordo com Sallas e Bega22, a família, que
era vista pelos jovens como a “geração de 68” que lutou
pela liberdade, acaba assumindo uma postura ambígua
no que diz respeito ao estabelecimento das regras. Em
relação aos professores, o maior questionamento acabou
retornando a eles próprios, que não viam no seu trabalho
nenhum potencial transformador, sentindo-se impotentes
diante dos jovens, os quais são considerados como “aliena-
dos, individualistas e imediatistas”.
144
A polícia apresenta distintas representações para os
jovens, de acordo com a classe social a que pertencem. A
Sociologia da Juventude

pesquisa mostrou que, de fato, para essa instituição não há


dúvidas quanto ao seu papel de “manutenção da ordem” e
há unanimidade em relação à sua atuação violenta. Porém,
para os que possuem maior poder aquisitivo, a ação poli-
cial é violenta porque ineficaz, enquanto que para os mais
pauperizados, especialmente pardos e negros, a violência é
a da discriminação. A mídia, por sua vez, aparece como a
grande responsável pela construção da “imagem do jovem”:
quando de classe popular, como “bandido, marginal, delin-
qüente”; quando rico, como “filhinho de papai, vagabundo
e inconseqüente”; e quando estudante, o que seria reconhe-
cido como algo positivo pelas instituições socializadoras, a
mídia o transforma em “idiota, o pato e o nerd”.
Essa analogia às “regras do jogo” foi utilizada para
mostrar como o jovem, através de variadas formas – inclu-
sive a violência – pode estar reivindicando o estabele-
cimento das “regras do jogo” pelos adultos, para que se
defina o que é permitido e o que não é permitido.
(.)
p onto final
A situação dos jovens das grandes metrópoles apresenta
uma série de desafios que englobam desde a educação, a
inserção e a qualificação profissional, a violência, o acesso
à cultura e à cidadania, até a construção das identidades e o
reconhecimento. Os jovens enfrentam uma realidade bas- 145
tante complexa, muitas vezes tendo que articular a forma-

Juventudes nas metrópoles


ção e a qualificação com a experiência profissional. Mesmo
considerando que os jovens das grandes metrópoles brasi-
leiras compartilhem determinadas dificuldades ou proble-
mas, o fato é que cada região apresenta particularidades e,
por isso, fica difícil pensar numa única resposta ou solu-
ção que possa responder a todas as demandas. Cada con-
texto deve ser analisado de forma particular, para que se
conheça a realidade desses jovens, de modo a pensar em
políticas mais adequadas a cada realidade.

Indicação cultural

WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da violência 2006: os


jovens do Brasil. Brasília: Organização dos Estados Ibero-
Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2006.

atividades
1. De acordo com os dados do IBGE (2000) sobre os jovens de
15 a 24 anos, é correto afirmar:
a. A partir da década de 1970, a taxa de crescimento da
população jovem começou a decair e, atualmente, esse
índice é o menor da história.
b. A tendência é de que a taxa de crescimento dessa faixa
etária atinja seu ápice a partir de 2020.
c. A taxa de crescimento dessa população tem se mantido
constante nas últimas décadas e essa é a tendência para
os próximos anos.
d. O volume de jovens permanecerá crescendo por algum
tempo, embora para os próximos anos a tendência seja
de que as taxas de crescimento desse grupo comecem a
decair, podendo alcançar até valores negativos.
146

Como é possível pensar as diversas situações de violência


Sociologia da Juventude

2.

na realidade do jovem?
a. A juventude envolve-se em atos violentos porque é natu-
ralmente mais violenta que outros grupos sociais.
b. A violência experenciada na vida do jovem (tanto como
vítima quanto como agressor) está ligada a ausência ou
ineficácia de políticas públicas.
c. A violência associa-se mais aos jovens de classes
populares.
d. O jovem busca a violência para demarcar a sua identi­
dade.

3. Em relação às principais dificuldades que os jovens das


grandes metrópoles brasileiras enfrentam, conforme
as conclusões da pesquisa da Unesco (2004), podem ser
destacadas:
a. O despreparo das famílias e a ineficácia da escola e de
políticas públicas instrumentais.
b. As dificuldades que os jovens têm de compreender a sua
realidade.
c. O acesso aos meios de comunicação e às tecnologias
informacionais.
d. As contradições enfrentadas para decidir sobre a carrei­
­ra profissional.
(8)

j uventudes rurais
Analisa Zorzi

( )

s e pensarmos a juventude como uma realidade


múltipla, de acordo com Weisheimer1, entenderemos que
há certas especificidades que caracterizam os grupos nas
quais os jovens se inserem. As juventudes estão sujeitas a
diferentes condições sociais, históricas, econômicas, políti-
cas, culturais, entre outras. Neste capítulo, entraremos em
contato com o debate acadêmico sobre a condição juvenil
no espaço social rural.
Entre as questões que pautam o debate sobre as juven-
tudes rurais estão as condições de vida e de trabalho dos
jovens e as diferentes possibilidades de inserção produ-
tiva; a desigualdade de acesso a serviços públicos; as dife-
rentes formas de sociabilidade juvenil; as desigualdades de
gênero; o celibato masculino e tantos outros temas emer-
gentes. Para cumprir com esse objetivo, recorremos à publi-
cação intitulada Juventudes rurais: mapa de estudos recentes,
150 de autoria do sociólogo Nilson Weisheimer e publicado em
2005 pelo Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento
Sociologia da Juventude

Rural (Nead), do Ministério do Desenvolvimento Agrário


(MDA). Trata-se de uma sistematização da produção aca-
dêmica sobre juventude rural no Brasil no período de 1990
a 2004. Essa é uma obra de referência para pesquisadores
do tema, por trazer uma apurada análise, com base em
métodos quantitativos e qualitativos, dos trabalhos reali-
zados, apresentando um catálogo temático com indicação
e resumo das obras analisadas.
Nesse trabalho, o autor identificou que “migração
do campo para a cidade e a invisibilidade social” são os
dois fatores mais marcantes nos estudos sobre juventudes
rurais. Relacionados ao primeiro fator temos os dados que
mostram que apenas 18% dos jovens brasileiros, nas faixas
etárias entre 14 e 24 anos, residem no meio rural. Portanto,
a migração rural-urbana provoca o esvaziamento da popu-
lação rural, principalmente entre as mulheres, pois a parti-
cipação feminina nesse movimento é maior se comparada
à dos homens. Por outro lado, a situação de invisibilidade
dos jovens rurais está associada à falta de reconhecimento
dos jovens como sujeitos de direitos, “configurando uma
das expressões mais cruéis de exclusão social”.2
(8.1)
a s pesquisas sobre os
jovens rurais no b rasil
No período de 1999 a 2004, registraram-se poucos traba- 151
lhos científicos que tiveram como objeto de estudo, reflexão

Juventudes rurais
e pesquisa os jovens rurais. No total, de acordo com nosso
autor de referência, foram 50 trabalhos realizados por 36
pesquisadores, os quais revelam que, além da invisibilidade
social, os jovens rurais sofrem de uma invisibilidade aca-
dêmica. Como destaca Weisheimer3: “Os jovens rurais têm
estado invisíveis para a maioria dos pesquisadores brasilei-
ros, constituindo-se em um objeto ainda pouco estudado”.
Verificamos que a região Sul do Brasil tem a maior par-
ticipação nos estudos sobre os jovens rurais, seguida pelas
regiões Sudeste, Nordeste e Norte, respectivamente. Uma
das explicações apontadas pelo autor, baseada em dados
do IBGE, para o desenvolvimento dos estudos na região Sul,
relaciona-se ao fato de a produção agrícola do tipo fami-
liar ser expressiva nessa região, onde a agricultura fami-
liar representa 90,5% do total das propriedades agrícolas.
Como conseqüência desse fato, afirma o autor, há a forma-
ção de grupos de pesquisas que desenvolvem estudos sobre
as populações rurais, incluindo a população jovem, mesmo
que de forma muito tímida ainda.
Weisheimer4 verificou que as temáticas de pesquisa
mais freqüentes nos estudos sobre as juventudes rurais rela-
cionam-se a quatro dimensões, principalmente. São elas:

a. educação rural;
b. identidades e ação coletiva;
c. inserção no trabalho;
d. reprodução social na agricultura familiar.

Veremos a seguir características dessas dimensões.

Juventude e educação rural


152 A discussão que predomina sobre o processo de educa-
ção dos jovens rurais divide-se, fundamentalmente, em
Sociologia da Juventude

dois focos. No primeiro, aborda-se a inserção dos jovens


rurais nas escolas públicas que privilegiam a matriz edu-
cacional relacionada às sociedades urbanas e industriais,
deixando de lado as necessidades específicas dos jovens
rurais. Conforme Weisheimer5:

Ao mesmo tempo em que a escola aparece distanciada do


trabalho agrícola, introduz na cultura local os valores e os
estilos de vida urbanos. Eles [os trabalhos sobre juventude
e educação rural] analisam ainda as percepções e os signifi-
cados atribuídos à educação pelos jovens rurais, segundo os
quais estudar é visto como uma condição necessária para via-
bilizar sua futura inserção no mercado de trabalho urbano.

O investimento na educação pelos jovens rurais apa-


rece de forma mais intensa entre as mulheres. A situação
de invisibilidade social é agravada no caso delas, pois a
posição que estas ocupam no processo de trabalho agrícola
não é reconhecida da mesma forma que a dos homens e seu
trabalho está fadado à invisibilidade. Não por acaso, existe
um fenômeno que está se configurando em objeto de estu-
dos na Sociologia Rural, que é a masculinização do campo.
O fato de as jovens buscarem outras alternativas para a
realização pessoal e profissional fora do espaço agrícola
tem, logicamente, diminuído a população feminina nas
áreas rurais, reduzindo as chances de os rapazes herdeiros
se casarem pois, dificilmente, uma moça da cidade deseja
estabelecer-se numa unidade familiar agrícola.
O segundo foco constitui-se num conjunto de pesquisas
que tem por objeto de reflexão os projetos de capacitação e de
formação profissional dos quais participam os jovens filhos
de agricultores familiares. Esses projetos são avaliados a par-
153
tir das conseqüências sociais e econômicas que geram para
esses jovens, principalmente na contribuição para a perma-

Juventudes rurais
nência destes no campo. De acordo com Weisheimer6:

Em comum, [estes estudos] concluem que após participarem


desses programas os jovens demonstram mais disposição em
permanecer nas atividades agrícolas e ou agroindustriais,
incorporam conhecimentos que são aplicados em suas uni-
dades produtivas, geralmente com a introdução de novas téc-
nicas, resultando em mudanças nas condições materiais das
famílias, o que possibilita assim a redução da tendência de
migração e da evasão escolar.

Nota-se que, nesse processo de inserção em projetos


de educação voltados à dinâmica do processo de trabalho
agrícola, o público-alvo tem sido os rapazes. Portanto, os
dois tipos de escolas atendem prioritariamente a dois
públicos distintos. Na escola pública urbana, a maior
freqüência é do público feminino, pois essas moças
estabelecem projetos de saída da atividade agrícola. Por
outro lado, nos processos educacionais relacionados aos
projetos ligados ao trabalho agrícola, os quais incentivam a
permanência dos jovens no campo, predominam os rapazes.
Weisheimer7 conclui que: “Em ambas as abordagens
dessa temática, percebemos a influência da socialização
dos jovens no processo educacional e sua disposição de
permanência no campo e na atividade agrícola”.
Juventudes, identidades e ação coletiva

Nessa temática, aborda-se a questão da construção das


identidades coletivas dos jovens de assentamentos rurais
de reforma agrária, a partir de dois eixos de análise. Um
voltado a encontrar contrastes e semelhanças entre os
154 padrões de comportamento dos jovens urbanos e dos
jovens dos assentamentos; outro que entende a construção
Sociologia da Juventude

da identidade coletiva como uma construção política rela-


cionada com a luta de classes. Nesse sentido, Weisheimer8
destaca que:

Essas pesquisas tratam de questões bastante diversas, bus-


cando as articulações entre organização social, luta polí-
tica, trabalho, lazer, vida cotidiana, família e perspectivas dos
jovens. Nesse grupo temático, também incluímos investiga-
ções acerca das relações existentes entre espaços de sociabili-
dade e formas de organização para o lazer, com a afirmação das
identidades sociais dos jovens rurais. Esses estudos enfatizam
a importância desses espaços em contextos nos quais os jovens
rurais se encontram engajados em processos produtivos não
agrícolas ou agroindustriais. Nesses casos, os espaços lúdicos
e de lazer renovam e reafirmam as identidades. Encontramos
também trabalhos que analisam experiências de protagonismo
juvenil e de participação em organizações sindicais.

Podemos perceber que a identidade social e coletiva


relaciona-se com o processo de trabalho, mas também com
outros espaços de sociabilidade que compõem outras esfe-
ras da vida social, como a esfera cultural, por exemplo.

Juventude rural e inserção no trabalho

De acordo com Weisheimer9, os estudos que abordam a


inserção dos jovens no trabalho têm como preocupação
estabelecer e compreender as relações entre as oportuni-
dades existentes e os processos de trabalho no campo com
os movimentos migratórios dos jovens rurais. Mantendo a
análise a partir desse foco, as questões que estão em pauta
nessa temática são:

a. as formas de inserção dos jovens no processo de traba-


155
lho da agricultura familiar;

Juventudes rurais
b. a inserção precoce no trabalho;
c. a participação dos jovens no plantio de drogas ilícitas;
d. a inserção das moças provenientes do meio rural no tra-
balho doméstico urbano;
e. a participação dos jovens nos processos de pluriativi-
dade.

Em relação às formas de inserção dos jovens no pro-


cesso de trabalho da agricultura familiar, destaca-se, nesse
ponto, a ocorrência de uma divisão do trabalho por sexo
e por idade. Para o mesmo autor, “Os jovens nessas situa­
ções encontram-se subordinados à orientação dos pais e
geralmente não contam com o reconhecimento social de
um agricultor adulto”10. Por conseguinte, a necessidade
de obter uma renda própria para os gastos pessoais é um
dos principais motivos que levam os jovens a buscarem
trabalho fora do estabelecimento familiar. Por outro lado,
os estudos mostram ainda que existem situações em que
há maior valorização dos jovens quando estes trabalham
em parceria com seus pais, ou quando recebem alguma
remuneração pelo trabalho que realizam. Entre estes, os
pesquisadores destacam, existe mais predisposição para a
permanência no meio rural como agricultores.
Destaca-se que os processos de trabalho relacionados
à pluriatividade – combinação do trabalho agrícola com
outras formas de ocupação, inclusive no próprio meio rural
– aparecem como uma alternativa de renda para os jovens
que pretendem permanecer residindo no espaço rural. Um
exemplo destacado pelas pesquisas é o turismo rural.

Juventude e reprodução social na agricultura familiar

Conforme Weisheimer11, as reflexões em torno da parti-


156
cipação dos jovens no processo de reprodução social na
Sociologia da Juventude

agricultura familiar dividem-se, basicamente, em quatro


abordagens: a reprodução geracional na unidade de pro-
dução familiar agrícola; os projetos individuais dos jovens;
o acesso dos jovens filhos dos agricultores à cidadania; e
a pluriatividade. Podemos encarar essas abordagens de
forma articulada, em que o processo de reprodução social
passa a ser garantido com base na realização desses dife-
rentes aspectos.
Nas pesquisas sobre a reprodução geracional, como
destaca o autor, existem alguns fatores que garantem a
reprodução social das famílias agrícolas, como a ­sucessão
profissional, a transferência hereditária da terra, a apo-
sentadoria da geração responsável pelo estabelecimento
agrícola como elementos fundamentais para a forma-
ção de novas gerações de agricultores. Ainda conforme
Weisheimer12:

Esses estudos incorporam a suas análises a oportunidade de


trabalho independente da família; o acesso à educação; a pers-
pectiva matrimonial com um agricultor; a possibilidade de her-
dar terra; o envolvimento na unidade produtiva; o tamanho da
propriedade e a renda familiar como fatores que incidirão nas
disposições dos jovens em permanecer no trabalho, assegurando
que a unidade produtiva passe assim de geração a geração.

Os projetos individuais dos jovens estão diretamente


relacionados ao aspecto geracional, pois as condições em
torno do processo de sucessão profissional e da herança
dependem de como esses fatores relacionados acima (edu-
cação, matrimônio, herança, envolvimento no trabalho
agrícola, tamanho da propriedade e renda) se articulam e
se realizam.
Aliada a essas condições, há a própria percepção dos
jovens acerca de sua realidade e da realidade de seus pais. 157

Os jovens buscam, pelo questionamento dos projetos fami-

Juventudes rurais
liares que são constituídos tendo por base a reprodução
dos modos de vida ligados ao trabalho agrícola, reinventar
outros modos de vida que levem em conta também os valo-
res e as condições materiais relacionados à vida urbana.
Além disso, há outras variáveis em jogo que influen-
ciam na formulação de projetos individuais, como a socia-
lização dos jovens no processo de trabalho agrícola e na
escola, as representações que os jovens concebem sobre o
trabalho na agricultura e também sobre o meio rural e o
meio urbano, e a suas avaliações sobre o modo de vida de
seus pais.
O acesso dos jovens rurais à cidadania é apontado
pelas pesquisas como um aspecto importante no processo
de reprodução social da agricultura familiar. Nesse sen-
tido, os estudos destacam que os jovens filhos de agriculto-
res transitam em diferentes espaços na sociedade na busca
de seus direitos, provocando a explicitação de problemas
estruturais da sociedade, os quais repercutem no meio
rural pelo movimento migratório e pelas reivindicações
dos jovens do campo.
Por fim, as pesquisas relacionam a pluratividade como
um fator que favorece a reprodução social dos agriculto-
res familiares. Existe hoje um forte debate que aponta a
necessidade de rever a associação entre agricultura e rural,
pois o rural não se caracterizaria nem se confundiria mais
com o agrícola. Por isso, o meio rural pode se dinamizar,
embasado em outras fontes de ocupação e renda ligadas
ao trabalho não-agrícola, favorecendo a permanência dos
jovens rurais que pretendem se estabelecer com outros
tipos de trabalhos, muitas vezes combinados com a ativi-
dade agrícola.
158
Sociologia da Juventude

(8.2)
a s diferentes juventudes rurais
Os estudos verificados por Weisheimer13 indicam diferen-
tes classificações para as juventudes rurais. O autor veri-
ficou também que há basicamente duas dimensões que
englobam essas categorias: de um lado, temos a referência
geográfica onde vivem esses jovens; e de outro lado, temos
a definição das categorias com base no processo de socia-
lização em determinadas ocupações. Podemos visualizar
essa classificação no quadro abaixo.

Quadro 8.1 – Categorias de jovens segundo sua matriz de análise

Geográfica – Residencial Socialização – Ocupacional

Jovens do campo Jovens agricultores

Jovens do interior Jovens assentados

Jovens do sertão Jovens empresários rurais

Juventude rural Jovens estudantes rurais

Juventude rural Jovens sem-terra


ribeirinha

Fonte: WEISHEIMER, 2005, p. 25.


As diferenças nas localizações geográficas e nos pro-
cessos de socialização contribuem, também, para a cons-
trução de sujeitos diferentes. Logo, quando entramos em
contato com as suas realidades, devemos considerar esses
aspectos.
Essas diferentes interpretações, sugere o autor, são fru-
tos de um olhar sobre a juventude que leva em conta que a 159

condição juvenil é resultado de construções histórica, social

Juventudes rurais
e cultural dinâmicas. Por conseguinte, não é possível pensar
a juventude como um grupo homogêneo, já que ela apresenta
diferenças em seu interior, como bem mostrou o levanta-
mento das pesquisas realizadas no Brasil sobre juventudes
rurais. E é por isso que Weisheimer chama a atenção para as
noções de jovens e juventudes rurais no plural.
Por fim, o autor também destaca que existe, no
Brasil, um predomínio dos estudos de caso com um viés
microssociológico. Em contrapartida, há poucas pesquisas
realizadas em âmbito nacional e mesmo regional. Sobre isso
Weisheimer14 escreve:

Tal fato aparece como a principal lacuna dos trabalhos até


agora realizados. Sem parâmetros comparativos e dimensões
macroestruturais dos processos sociais que afetam os jovens
rurais brasileiros, ficamos presos às especificidades dos contex-
tos locais em detrimento dos aspectos globais e históricos que
afetam as diversas expressões juvenis dos espaços agrários.

Por isso, fazem-se necessários estudos mais abrangen-


tes que tenham como objeto processos e dinâmicos sociais
relacionados a essas dimensões macroestruturais dos
quais o autor fala. Há de se levar em conta que existe forte
influência dessas questões macroestruturais nas dinâmi-
cas dos contextos locais.
(.)
p onto final
De um modo geral, os estudos produzidos no Brasil sobre
os jovens rurais apontam uma diversidade de abordagens
160
que correspondem a diferentes contextos e condições de
vida em que esses jovens estão inseridos. Nesse sentido,
Sociologia da Juventude

a própria condição juvenil se constitui numa construção


social, cultural e histórica dinâmica e diversificada, impli-
cando numa realidade múltipla, pois os jovens não formam
um grupo homogêneo. O que significa levar em conta, nas
interpretações sobre as situações dos jovens rurais, as dife-
renças de classe social, etnia e gênero. Por isso, utilizar a
categoria no plural – juventudes e jovens – parece ser a
mais correta.
Segundo Analisa Zorzi15, a questão de gênero, por
exemplo, define a diferença nos destinos de rapazes e
moças com base no processo de socialização na família e,
posteriormente, na escola, pois os filhos homens aprendem
a lidar com as atividades ligadas à terra e as filhas mulhe-
res com as atividades relacionadas ao lar. A conseqüência
desse processo é a redução da possibilidade de as filhas
mulheres serem herdeiras, fazendo com que estas tenham
projetos profissionais relacionados à saída da agricultura.
Nesse sentido, o professor e pesquisador sobre as
juventudes rurais Nilson Weisheimer, em seu trabalho de
mapea­mento sobre as pesquisas com foco justamente nes-
ses jovens rurais, propõe pensarmos em diferentes cate-
gorias analíticas, respeitando as especificidades de cada
sujeito social. Esse é o exemplo da diferenciação entre
jovem agricultor e jovem rural, pois este não necessaria-
mente envolve-se com a atividade agrícola, no entanto,
contém outras características que o definem como rural.
Por outro lado, o jovem agricultor também se constitui a
partir de certas especificidades relacionadas ao processo
de trabalho que o tornam diferente de outros jovens.
Portanto, torna-se fundamental para a compreensão
das juventudes rurais refletirmos sobre as diferentes con-
dições, situações, contextos e processos que as produzem 161

e que são produzidos por esses jovens, a partir de suas

Juventudes rurais
características e especificidades próprias.

Indicação cultural

WEISHEIMER, Nilson. Juventudes rurais: mapa de estudos


recentes. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário,
2005. (Estudos Nead, 7). Disponível em: <http://www.nead.
org.br/download.php?form=.pdf&id=313>. Acesso em: 8 dez.
2008.

atividades
1. O debate atual sobre os jovens rurais leva em consideração
principalmente dois fatores que influenciam os processos
sociais relacionados a esses jovens. Um deles é:
a. o fato de os jovens rurais não terem acesso à tecnologia.
b. o fato de os jovens rurais participarem dos processos
migratórios.
c. o fato de os jovens rurais não terem acesso ao lazer.
d. o fato de os jovens rurais não terem acesso à escola.

2. Assinale a alternativa incorreta em relação às temáticas


mais recorrentes nos estudos sobre os jovens rurais:
a. Inserção no trabalho.
b. Educação.
c. Reprodução social da agricultura.
d. Relacionamentos e namoros.

3. As diferentes categorias de jovens, segundo o texto, estão


associadas a que fatores?
162 a. Religião e cultura.
b. Processo de socialização e namoros.
Sociologia da Juventude

c. Localização geográfica e processo de socialização.


d. Localização geográfica e religião.
(9)

movimentos juvenis
Analisa Zorzi
Rochele Fellini Fachinetto

( )

o objetivo deste capítulo é apresentar a


participação dos movimentos juvenis na história do Brasil.
Nesse sentido, descreveremos a participação dos jovens
em alguns movimentos sociais e abordaremos alguns
fatos que foram de extrema importância para o desenvol-
vimento social e político do Brasil. Os momentos históri-
cos destacados no texto são: a Abolição da Escravatura; a
Proclamação da República, o início do século XX, a criação
da UNE, a resistência à ditadura, a abertura democrática, o
movimento dos “caras-pintadas” e o movimento hip hop.
(9.1)
a participação do jovem
166
nos movimentos sociais
Sociologia da Juventude

Dentre uma infinidade de “associações” feitas ao universo


juvenil, como a questão da delinqüência, da rebeldia, do
“desvio”, da “fase de transição”, entre outras, há uma em
que ele não é visto somente como um aspecto “negativo”,
ou seja, a partir de uma relação entre o comportamento
juvenil e os problemas sociais: a capacidade que o jovem
tem de mobilização e de transformação política e social.
Conforme aponta Márcio Nuno Rabat1, a importân-
cia do movimento juvenil que deve ser ressaltada é a de
que, historicamente, a sua atuação ultrapassou a dimensão
dos fatos, tornando-se uma importante força simbólica no
processo social brasileiro, e que a juventude foi constante-
mente invocada em nossa história como fator de mudança
e de aceleração da história.
Quando se fala em movimento social, a primeira ques-
tão é saber, segundo o autor, quem está envolvido e o que
mobiliza esses indivíduos. Com base nisso, ele passa a argu-
mentar pela especificidade que carrega a categoria juven-
tude, pois de todos os movimentos (em favor de questões
de gênero, de etnia), é aquele que apresenta uma caracte-
rística mais transitória, ligada à idade, ou seja, a juventude
como uma categoria de mobilização é passageira, de dura-
ção relativamente curta e com data para acabar.
O autor defende que os jovens têm uma característica
peculiar pelo fato de apresentarem maior propensão à parti-
cipação. Eles estão mais abertos à mobilização social e política
– tanto em nome de interesses próprios quanto de interesses
mais gerais. Da mesma forma, também estão numa situa-
ção peculiar em decorrência do momento de transição na
vida pessoal e, assim, mais abertos a várias possi­bilidades. É
por isso que existe uma tendência histórica da participação 167
dos jovens em movimentos que contestem as normas esta-

Movimentos juvenis
belecidas. Nas palavras de Rabat2: “Talvez por isso a obser-
vação da história indique que os movimentos de ruptura
em relação às estruturas sociais que começam a mostrar-se
incompatíveis com novas condições de vida e de convivên-
cia atraem particularmente a participação juvenil”.
O que também ocorre, em muitos casos, é o fato de jovens
que militaram em movimentos e lutaram por algumas cau-
sas, acabarem, posteriormente, sendo absorvidos pelas hie-
rarquias sociais, nas quais passam a ocupar posições de
relevo na sociedade renovada. Isso ocorre tanto no caso de
atingirem os objetivos do movimento no qual lutavam ou
mesmo em casos em que o movimento não teve sucesso, isto
é, de qualquer maneira passam a fazer parte desses postos.
Isso mostra uma importante conseqüência da atuação de
segmentos juvenis nos movimentos, pois onde há maior par-
ticipação, ocorre também momentos privilegiados na forma-
ção de quadros para a vida futura da sociedade, ou seja, eles
não se limitam apenas à ação, mas também procuram inter-
vir de alguma maneira na sociedade.
(9.2)
a participação juvenil
168
na história brasileira
Sociologia da Juventude

Nesta seção, apresentaremos algumas das principais mo-


bilizações sociais e políticas que marcaram momentos
históricos importantes do Brasil. A idéia é mostrar a par-
ticipação juvenil nesses acontecimentos para destacar a
importância que os jovens tiveram (e ainda têm) na cons-
trução da historia do nosso país.

Os jovens e a Abolição da Escravatura

Na tentativa de resgatar as primeiras mobilizações na his-


tória brasileira, nas quais os jovens tiveram papel prepon-
derante, cabe destacar a luta abolicionista que culminou
com a implantação da República no Brasil. Segundo aponta
Rabat3, uma série de processos sociais que ocorreram nessa
época deram início a uma aceleração na história brasileira,
um momento em que rupturas políticas, sociais e econô-
micas se tornaram recorrentes. Ainda que com atraso, era
esse o momento em que o país começava a se tornar uma
sociedade capitalista moderna.
De acordo com autor, o movimento abolicionista que teve
considerável influência nas decisões políticas da época, tinha,
entre seus membros, alguns dos jovens que ingressaram nas
primeiras universidades brasileiras, como as faculdades de
Direito de Olinda e de São Paulo. Os mais conhecidos aboli-
cionistas foram Rui Barbosa e Joaquim Nabuco que, por sua
vez, eram colegas de Castro Alves, o grande poeta do movi-
mento, que morreu aos 24 anos, em 1871.
Essa geração de estudantes das primeiras universidades
brasileiras, filhos da elite do país, teve papel fundamen-
tal nesse período e, da mesma forma, ressalta-se a impor-
tância das universidades que possibilitavam o contato dos
jovens de diferentes regiões do Brasil, de modo que a arti- 169

culação entre eles fosse mais profícua.

Movimentos juvenis
Essa questão da ligação entre vários jovens do país foi
importante. Segundo o mesmo autor, os movimentos sociais
tendem a ganhar força e importância se conseguem articu-
lar grande número de pessoas em um território expressivo.
Decorre especialmente disso a influência decisiva do movi-
mento abolicionista naquele momento histórico.
Ressalta-se ainda a importância do apoio institucional
concedido aos jovens, no sentido de colaborar com as con-
dições objetivas que possibilitassem a articulação entre os
diversos segmentos juvenis nas diferentes regiões do país.
Esse apoio veio, de forma recorrente das universidades e
da inserção no meio militar. Aliás, conforme nosso autor,
nessa época os jovens universitários e militares atuavam,
com freqüência, de maneira integrada. Essa é uma caracte-
rística dos movimentos juvenis da época: o apoio de insti-
tuições de ensino e de organizações militares, que voltará
a ser preponderante em outros momentos da história bra-
sileira, como se verá mais adiante.

Os jovens e a Proclamação da República

De acordo com Arthur José Poerner4, os momentos que


antecederam a Abolição da Escravatura e a Proclamação
da República foram marcados pela transformação dos
estudantes em militantes políticos através de suas poe-
sias sociais. Nesse período, é marcante a atuação de
Castro Alves e Tobias Barreto na Faculdade de Direito
pernambucana.
Em São Paulo, a oposição estudantil a Dom Pedro II
crescia à medida que se juntavam aos acadêmicos locais,
acadêmicos de outras partes do Brasil. Nesse Estado, o
170 movimento estudantil contava com a participação de dois
futuros presidentes da República: Afonso Pena e Rodrigues
Sociologia da Juventude

Alves; a eles se juntaram Rui Barbosa e Castro Alves, trans-


feridos do Recife, com Joaquim Nabuco. As armas desses
estudantes eram seus escritos, as conferências e os deba-
tes, produzidos com o objetivo de levantar bandeira em
favor da Abolição da Escravatura e da Proclamação da
República.
Conforme Poerner5, após a morte de Castro Alves, em
1871, a juventude militar aderiu à campanha pela Abolição
a partir da fundação, pelos cadetes da Escola Militar, de
uma sociedade denominada Libertadora.
Nesse sentido, além de os jovens universitários con-
tarem com o apoio dos jovens militares, a bandeira da
abolição se desenvolve juntamente com a campanha repu-
blicana. Inclusive, muitos estudantes enfatizavam mais a
questão da República considerando que a abolição seria
uma conseqüência lógica daquela.
A partir de então, salienta o autor, surgem vários clu-
bes republicanos acadêmicos reunindo várias persona-
lidades que ficaram marcadas na história, como Júlio de
Castilhos, Borges de Medeiros, entre outros.
Como curiosidade, o autor destaca que há a afirmação
que relaciona diretamente a atuação das juventudes mili-
tares e universitárias com a decisão de Marechal Deodoro
da Fonseca de proclamar a República aos gritos de “Viva a
República”, pondo fim à Monarquia.
Antes disso, os jovens militares que faziam propa-
ganda a favor da República eram vistos como rebeldes. Há
uma situação emblemática envolvendo Euclides da Cunha
nesse processo, relatado por Andrade, citado por Poerner6:

Foi o episódio muito conhecido depois do discurso de Afrânio


Peixoto, ao suceder na Academia Brasileira de Letras àquele
171
rebelde. Dando uns passos à frente da sua companhia, em con-

Movimentos juvenis
tinência, no momento, ao ministro de Guerra, atirou o sabre
ao chão, proferindo palavras que reforçavam o gesto de desa-
cato sensacional, deixando estupefatos os próprios companhei-
ros de armas que, à hora, não tiveram coragem para cumprir o
combinado, em benefício da propaganda republicana.

Nota-se, então, a importância que os jovens tiveram,


tanto nos meios acadêmicos quanto nos meios militares,
participando decisivamente dos movimentos abolicionista
e republicano e na própria efetivação desses processos.

Os jovens no século XX

Outro contexto fundamental para analisar a atuação dos


jovens ligados a movimentos sociais foi o início do século
XX, mais precisamente a década de 1920. De acordo com
Rabat7, nesse momento havia um sentimento de insatisfa-
ção por parte de uma classe média urbana, prisioneira da
estrutura social na qual os postos de comando estavam nas
mãos das elites agrárias e de seus representantes políticos.
Diante disso, alguns jovens como Eduardo Gomes, Luiz
Carlos Prestes, Antônio de Siqueira Campos, entre outros
(todos com menos de 20 anos), colegas na Escola Militar
do Realengo, viam-se diante da necessidade de transfor-
mar aquela situação. Eles estavam dispostos a criar um
“mundo novo”.
Várias ações do Movimento Tenentista foram funda-
mentais na história brasileira, como o levante contra os
governos oligárquicos da Primeira República, em 1922. Em
1924, outro expressivo levante em São Paulo e outro ainda
no Rio Grande do Sul, de onde partiria, de acordo com o
autor, a marcha que reuniria os maiores representantes
172 do Tenentismo, que culminou na Coluna Prestes liderada,
principalmente, por jovens oficiais. Esse foi, segundo o
Sociologia da Juventude

autor, um momento decisivo da história brasileira, até por-


que, a partir dessa marcha, surgiram lideranças, como o
próprio Luiz Carlos Prestes, que marcaram o século XX.
Existem outros momentos históricos que também
são importantes para considerar a atuação e a influência
dos movimentos juvenis, como mostra Poerner8, ao reto-
mar fatos como a resistência dos estudantes dos conven-
tos e colégios religiosos à invasão do Rio de Janeiro pelos
franceses, a presença estudantil na Inconfidência Mineira
e a fundação da sociedade Dois de Julho com o objetivo
de alforriar os escravos, realizada pelos estudantes de
Medicina da Bahia, em 1825. Entretanto, segundo o autor,
o momento decisivo estaria por vir.
Esse momento marca um importante acontecimento
no avanço do movimento estudantil, a criação da União
Nacional dos Estudantes (UNE). Para esse mesmo autor,
esse é o divisor de águas na história política dos estudan-
tes brasileiros.

Os jovens e a União Nacional dos Estudantes (UNE)

A importância da criação da UNE para o movimento estu-


dantil e juvenil no Brasil, como bem destaca Poerner9,
classificando-a como um divisor de águas, significa que
pela primeira vez na história do Brasil, os jovens passa-
ram a contar com uma organização nacional e unificada.
Claro que existiram outras organizações anteriores à UNE,
como a própria “Libertadora” dos cadetes e os “Clubes
Republicanos Acadêmicos”. No entanto, esses eram movi-
mentos transitórios que visavam a problemas específicos
e determinados, como o foi a Abolição da Escravatura e a
luta pela Proclamação da República. 173
Nesse sentido, segundo o autor, esses movimentos aca-

Movimentos juvenis
bavam tendo um caráter regional, com pouca articulação
em nível nacional, o que gerava certo isolamento entre os
Estados, já que essas organizações não tinham uma uni-
dade nacional. Essas organizações atuavam basicamente
no interior das faculdades, por meio de grêmios e centros
acadêmicos, ou ainda em associações e agrupamentos de
caráter específico, como os literários e artísticos, os políti-
cos, os boêmios, entre outros.
Essa desarticulação em nível nacional explica a pouca
ou quase nenhuma atuação dos movimentos juvenis logo
após a Proclamação da República, em 1889, e a década
de 1920, já no século XX. Conforme Poerner10: “Como em
todas as ocasiões em que se vê satisfeitas suas exigências e
reivindicações mais instantâneas de progresso e de justiça
no país, a juventude universitária brasileira se aquietou no
alvorecer da Primeira República”.
Portanto, conforme esse autor, antes da criação da UNE
os estudantes participavam politicamente de outras enti-
dades como a Liga Nacionalista de Bilac, a Liga do Voto
Secreto de Monteiro Lobato, a Aliança Liberal, a Milícia
Patriótica Civil e a MMDC constitucionalista de São Paulo
e a Aliança Nacional Libertadora.
A realização do I Congresso da Juventude Operária,
alguns anos antes, foi de extrema importância para a fun-
dação da UNE, pois foi naquele momento que se tornou
clara a necessidade de criação de um instrumento que
possibilitasse aos estudantes colaborarem com a luta pela
transformação da realidade nacional.
Nesse contexto, então, surge a UNE, fundada no dia
13 de agosto de 1937, na Casa do Estudante do Brasil, no
Rio de Janeiro, após a fundação do I Conselho Nacional
174 dos Estudantes. Nas palavras de Poerner11: “Fruto de uma
tomada de consciência, quanto a necessidade da organiza-
Sociologia da Juventude

ção em caráter permanente e nacional da participação polí-


tica estudantil, a UNE representa, sem qualquer dúvida, o
mais importante marco divisor daquela participação ao
longo da história”.
A partir de então, a UNE esteve presente nos gran-
des movimentos da história do Brasil, como a luta contra
o nazi-fascismo, a luta contra o Estado Novo de Getúlio
Vargas, a campanha nacionalista do “Petróleo é Nosso”, o
regime militar, entre outros.

O movimento juvenil: da resistência


à ditadura à abertura democrática

A resistência do movimento estudantil, representado


nacionalmente pela União Brasileira dos Estudantes
Secundaristas (Ubes) e pela UNE, está diretamente asso-
ciada à resistência à repressão, às liberdades e à luta contra
a intervenção estrangeira. Nesse processo, os jovens estu-
dantes eram encarados como elementos de alta periculosi-
dade para a segurança nacional, sendo classificados como
subversivos pelas autoridades estabelecidas a partir da
instauração do regime militar em 1964.
Segundo Poerner12, a relação do movimento estudantil
com o regime militar foi extremamente tensa e conflituosa.
Uma das primeiras medidas do governo militar, realizada
no dia seguinte ao golpe militar, foi a invasão da sede dessa
entidade, que foi saqueada e queimada pelos militares.
Isso porque a ditadura não via com bons olhos nem
os estudantes nem a universidade, e as autoridades mili-
tares acreditavam que só com um “tratamento de choque”
iriam acabar com a subversão de alunos e professores que
se colocavam contrários ao regime político e à intervenção 175
externa ao país no sistema de ensino brasileiro. Nas pala-

Movimentos juvenis
vras de Poerner13:

Tratava-se, como num ritual da Inquisição, de expulsar o


demônio da rebelião patriótica daqueles corpos jovens, subs-
tituindo-os pelo anjo da subordinação aos interesses antina-
cionais [...]. As autoridades não encontravam outro recurso
senão calar os estudantes, para evitar que protestassem con-
tra o que se passava em sua pátria e para impedir que promo-
vessem novas campanhas de alfabetização de adultos, cujos
organizadores e participantes, eram, então, submetidos aos
atrabiliários Inquéritos Policiais Militares (IPM).

Essa perseguição aos estudantes, que o autor deno-


minou de inquisição, teve seu marco na destruição da
Universidade de Brasília, considerada na época uma das
mais modernas do país, comparada a universidades dos
EUA e da Europa. Nesse ato protagonizado pelo governo
militar, entre outras ações, alunos foram expulsos e presos,
professores demitidos (a maior parte do corpo docente) e
bibliotecas destruídas.
De acordo com nosso autor de referência, além do que
ocorreu com a Universidade de Brasília, com o objetivo
de enfraquecer o movimento estudantil, instaurou-se no
país a Lei nº 4.464/1964, conhecida como Lei Suplicy de
Lacerda, de autoria do Ministro da Educação, o próprio
Flávio Suplicy de Lacerda, a qual determinava a extinção
do movimento estudantil no Brasil. Com isso, as entida-
des existentes passaram a ser tuteladas pelo Ministério
da Educação. Nesse sentido, a UNE foi substituída pelo
Diretório Nacional dos Estudantes, perdendo sua autono-
mia na representação legal dos estudantes.
No início da repressão policial-militar e da interferên-
176 cia norte-americana na política educacional do governo
Castelo Branco − primeiro presidente do regime militar −,
Sociologia da Juventude

o movimento estudantil estava desmantelado pelo fato de


que seus líderes encontrarem-se presos, exilados ou fora-
gidos. No entanto, apesar da situação adversa, quando foi
sugerido pelo ministro, ao então presidente Castelo Branco,
o fechamento das entidades estudantis vigentes e a criação
dos Diretórios Acadêmicos (DA), do Diretório Central dos
Estudantes (DCE) e dos Diretórios Estaduais de Estudantes
(DEE) – todos controlados pelas autoridades – os jovens
estudantes, mesmo não contando com seus líderes, não se
calaram e tentaram, pelo diálogo, solicitar ao presidente
que não acatasse o pedido do ministro, impedindo que tal
ato se institucionalizasse.
A partir de então, travou-se um duro embate entre os
movimentos estudantis, vistos como ilegais, e o governo,
ao longo da ditadura militar. Durante esse período, os
estudantes se mobilizaram e marcaram sua resistência
ao regime com encontros, passeatas, congressos e greves.
Obviamente o governo reagiu com prisões, expulsões, tor-
turas e até assassinatos de estudantes.
O episódio da morte do estudante Edson Luís na oca-
sião da invasão dos militares ao Restaurante Universitário
no Aterro do Flamengo no Rio de janeiro, em março de
1968, fez com que outras camadas da sociedade, solidárias
ao estudante e à sua família, apoiassem o movimento estu-
dantil, fortalecendo-o. Conforme Poerner14:

Mesmo encarada com absoluta isenção política, a morte do


jovem Edson Luís constituiu um marco na história brasileira
contemporânea, pois o impacto do acontecimento despertou
forças de oposição e protestos que até então pareciam adorme-
cidas. Pessoas e setores que se mantinham apáticos de súbito
se mobilizaram num esforço coletivo que, em última instân- 177
cia, visava – embora de maneira às vezes inconsciente – a

Movimentos juvenis
deter um processo de violência que se chocava com o huma-
nismo inerente ao povo brasileiro.

A partir de então, construiu-se um elo entre os jovens


e a sociedade na luta contra o regime militar e na busca
pela abertura democrática no Brasil, na qual os estudantes
foram protagonistas importantes. A crescente mobiliza-
ção estudantil, como a Passeata dos Cem Mil, realizada em
maio de 1968, no Rio de Janeiro, e a prisão em massa dos
estudantes que participavam do clandestino Congresso
da UNE em Ibiúna, foram usados como argumento para
a recrudescimento da repressão da sessão arbitrária
dos direitos civis e políticos, com a promulgação do Ato
Institucional nº 5 em dezembro daquele ano – marco da
fase mais sombria da ditadura militar no Brasil.
Sem possibilidade de expressão política, jogados na
clandestinidade, sistematicamente perseguidos, presos e
torturados, centenas de jovens optaram pala resistência
armada à ditadura militar. Desse movimento juvenil de
resistência armada, a Guerrilha do Araguaiaa realizada no
período de 1970 a 1974 no sul do Pará aparece como exem-
plo paradigmático.
Nesse mesmo período, os setores da Igreja Católica
passam a organizar os jovens em uma pastoral própria,
com propósitos de evangelização. A Pastoral da Juventude

a. Para saber mais sobre a Guerrilha do Araguaia, acesse


o site: <http://www.ternuma.com.br/aragua.html>.
(PJ) surgiu em 1973, objetivando organizar e unir os jovens
para a evangelização através de suas próprias ações: apro-
fundando e vivendo a fé, atuando na comunidade e des-
178 cobrindo como transformar a realidade. Com isso, a Igreja
buscava uma maior aproximação com a juventude. Sendo
Sociologia da Juventude

assim, a Pastoral da juventude15 definiu-se como missão,


afirmando: “Somos jovens, cristãos, católicos, organi-
zados como ação da Igreja evangelizando outros Jovens,
para que, capacitados, atuemos na própria Igreja e nos
movimentos sociais visando à transformação da socie-
dade em todo o Brasil.”

Os jovens e a abertura democrática

Os anos de 1980 a 1985 marcam o processo de abertura


democrática do regime militar, quando se instituiu a Lei nº
6.683/1979, conhecida como Lei da Anistiab, e outras medi-
das que conduziram à redemocratização do país. Nesse
período de maior liberdade, surgiram os novos movi-
mentos sociais. Entre estes, ressurgem os movimentos
da juventude. Um marco nesse processo, e na história do
movimento juvenil brasileiro, foi a fundação da União da
Juventude Socialista (UJS) em setembro de 1984.
Essa organização foi criada com a participação de
jovens lideranças do movimento estudantil, como é o caso
do 1º Coordenador-Geral Nacional da UJS, Aldo Rebelo,
então egresso da presidência da UNE. A UJSc se apre-
sentaria à juventude como uma alternativa de militância
com base em uma plataforma de mobilização tipicamente

b. Para ver essa Lei na íntegra, acesse o site: <https://www.


planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6683.htm>.
c. Para saber mais sobre a União da Juventude Socialista,
acesse o site: <http://www.ujs.org.br/>.
juvenil, em cujo foco encontravam-se os direitos da juven-
tude, a independência do país e o socialismo. Em pouco
tempo se tornou uma organização com bases em todos os
estados do país e com ramificações nas principais cidades, 179

destacando-se nas mobilizações pelas diretas e na consti-

Movimentos juvenis
tuinte democrática.
Na Assembléia Nacional Constituinte, a UJS mobilizou
a juventude por meio de abaixo-assinados e da atuação em
conjunto com deputados constituintes, apresentando suas
propostas, das quais foram aprovados a Lei do Grêmio Livre
e o Voto aos 16 Anos. Assim, a UJS saiu desse processo de
mobilização como a maior juventude política organizada
do Brasil, passando a atuar como a principal força dentro
do movimento estudantil brasileiro, elegendo seus mem-
bros como presidentes da Ubes e da UNE de maneira inin-
terrupta desde então.
Sob sua direção, essas organizações estudantis realiza-
ram as jornadas de mobilização e passeatas estudantis do
“Fora Collor!” que resultaram no impeachment do então presi-
dente da República Fernando Collor de Mello. Pode-se dizer
que a UJS se caracteriza na atualidade como um amplo movi-
mento de jovens pelo socialismo e que tem em sua pauta a
construção de políticas publicas de juventude e busca politi-
zação do diversificando movimento juvenil brasileiro.

Os “caras-pintadas”

Após as manifestações realizadas ao longo da década de


1980, como as Diretas Já e a Constituinte de 1988, entre
outras, os jovens voltaram às ruas, em 1992, exigindo o
impeachment do então presidente da República Fernando
Collor de Mello. Conforme Poerner16:
Ante a gravidade das denúncias e revelações que se sucediam,
eles [os jovens] foram os primeiros a “sacar” que os níveis de
corrupção, enquadrilhamento e banditismo no alto escalão
180 governamental haviam gerado um daqueles momentos deci-
sivos da nação, em que não há justificativas para apatia ou
Sociologia da Juventude

omissão de qualquer brasileiro.

Como em todos os momentos decisivos da história do


país, nesse não poderia ser diferente: os jovens se engaja-
ram novamente na luta para a transformação do “estado
das coisas” existente no Brasil. Surgiram várias mobili-
zações por todo o país. Foram manifestações e passeatas
que novamente reuniram os jovens em torno de objeti-
vos comuns, principalmente de conquistarem um Brasil
melhor para todos. As atenções voltaram-se, na época, para
a maneira como os jovens se manifestavam: os rostos pin-
tados de verde e amarelo e, por vezes, de preto, intencio-
nados justamente a marcar aquele momento histórico com
a “campanha dos caras-pintadas”. O que o movimento dos
caras-pintadas demonstrou foi que os jovens queriam exer-
cer um papel de protagonistas na política brasileira e não
serem meros espectadores.

Os jovens e o movimento hip hop

O movimento hip hop constitui-se num processo de recons-


trução de identidades no qual se instaura uma nova cultura
política urbana, mesmo que não reconhecida pelas elites
do país. Como aponta Christian Carlos Rodrigues Ribeiro17,
esse movimento, no Brasil, afirmou-se como a etapa mais
recente de um processo de resistência da população afro-
descendente e complementa:
A gênese daquilo que viria a ser chamado movimento “hip
hop” no Brasil surge no final dos anos 1970, inicio [sic] dos
anos 1980, no exato momento da eclosão dos denominados
“novos movimentos sociais” (01), que passam a incorporar 181
questões como a de gênero e raça no processo de constituição

Movimentos juvenis
de um novo modelo de sociedade, mais pluralista, democrá-
tica, participativa e cidadã [...], criando novas formas, novas
práticas de exercício político reivindicatório.

Ainda segundo Ribeiro, o hip hop surgiu com passos de


músicas, como dança de rua e começa, no final da década de
1980, a ser executado em vários espaços públicos. Em seu iní-
cio, era encarado como moda passageira e não era tomado
como sério. No entanto, atraiu a juventude da periferia, prin-
cipalmente os jovens negros da cidade de São Paulo, os quais
passaram a se identificar com o ritmo da música, que no seu
início era mais descontraído e sem conteúdo crítico ou de pro-
testo, mas que mudou com o tempo, transformando-se em
um instrumento de mobilização política desses jovens.
Esse autor aponta que, entre os anos de 1988 e 1989,
­ocorreu o apogeu do hip hop por meio de sua produção musi-
cal e o lançamento de discos, o que favoreceu a conquista de
espaço tanto cultural quanto político e social no Brasil.
Conforme Ribeiro18:

Este segmento social de jovens urbanos periféricos passa


a constituir o movimento “hip hop” como o seu meio de
expressar suas agruras, suas reivindicações, suas denúncias,
geradas em seu universo social cotidiano onde a qualidade
de vida, onde os aparelhos de serviços básicos do Estado não
existem ou são extremamente precários. [...]
Estes jovens passam a se fazerem ouvir, a se fazerem
notar quando passam a divulgar através do “hip hop” esta
precariedade social a que estavam relegados e ao denuncia-
rem os processos de discriminação racial e violência policial
a que cotidianamente eram submetidos.
182
Mais uma vez na história, a exemplo de outros movi-
mentos, como o abolicionista, O hip hop conta com a arti-
Sociologia da Juventude

culação entre manifestações culturais, como a música e a


dança com o posicionamento político, tendo como obje-
tivo maior a denúncia do descaso social e a reivindicação
de direitos. E novamente os indivíduos que se sobressaem
nesse processo são os jovens.
Nesse movimento, destaca-se a Nação Hip Hop Brasil.
Conforme informações dessa organização, temos:

Fundada em 22 de Janeiro de 2005, A Nação Hip Hop Brasil


é uma entidade formada por diversas lideranças do “Hip Hop”
Nacional, visando contribuir como forma de ferramenta para
a organização e representação institucional de seus militan-
tes, para que através de planejamentos de ações gerais, possa­
mos avançar e [sic] prol do fortalecimento e cresci­mento de
um dos maiores movimentos sócios culturais [sic] na ultima
[sic] década dentre a juventude periférica brasileira, o movi-
mento “hip hop”.
A Nação Hip Hop Brasil hoje está presente em 17 estados da
federação e no Estado de São Paulo está organizada em 43
municípios. A Entidade tem em sua composição Nacional
nomes de grande representatividade no cenário nacional
como; Aliado G (Face da Morte/SP), TOTA (Graffiti/SP)
Renegado (NUC/MG), Ninna Rodrigues (Recife/PE), BOB
(Potegi/Ceará), Mano OXI (TV Hip Hop Sul/Porto Alegre)
alem [sic] de grandes colaboradores como Rappin Hood −
SP, Viela 17 − DF, MV Bill − RJ entre outros.19
(.)
p onto final
183

A partir dessa breve reconstituição histórica da participa-

Movimentos juvenis
ção dos jovens em movimentos sociais, é interessante refle-
tir como esses grupos acabam adquirindo um importante
papel de mobilização e ainda um forte impacto na trans-
formação social do país. Foram muitos momentos históri-
cos em que a participação dos jovens se tornou decisiva. E,
nesse sentido, é extremamente importante considerarmos
que essas ações não estão somente no passado do país, mas
renovam-se constantemente, adquirindo novas formas de
expressão, sob diversos signos de mobilização.
Dessa forma, é pertinente a afirmação de alguns autores,
como Rabat20, que apontam a importância do movimento
estudantil como força de aceleração da história, capaz de
“sacudir” e de “questionar” as estruturas consolidadas e,
ainda, como esses movimentos acabam sendo reconheci-
dos como fator de mudança e de mobilização social. Nesse
sentido, se a especificidade da categoria juventude nos
movimentos sociais é justamente a sua “transitoriedade”,
isto é, sua situação passageira, cabe destacarmos que se
trata de uma “transitoriedade” que se renova, que ressurge
sob novas configurações e que está constantemente atenta
às situações que afligem tanto os jovens quanto a socie-
dade de uma forma geral.

Indicações culturais

POERNER. Arthur José. O poder jovem: história da partici-


pação política dos estudantes brasileiros. São Paulo: Centro
de Memória da Juventude, 1995.
ESTUDANTENET. Portal oficial UNE e Ubes. Disponível
em: <http://www.une.org.br/>. Acesso em: 17 dez. 2008.

UNIÃO DA JUVENTUDE SOCIALISTA. Disponível em:


184
<http://www.ujs.org.br>. Acesso em: 3 out. 2008.
Sociologia da Juventude

NAÇÃO HIP HOP BRASIL. Disponível em: <http://www.


nacaohiphopbrasil.com.br/>. Acesso em: 3 out. 2008.

atividades
1. No contexto da Abolição da Escravatura e da Proclamação
da República, as mobilizações juvenis tinham como prin-
cipal característica:
a. a ligação com a literatura e as artes, especialmente a poe-
sia social, na qual os jovens poetas manifestavam suas
discordâncias em relação à situação daquele momento.
b. a maneira violenta com que expressavam sua indigna-
ção, por meio da depredação de espaços públicos.
c. a clandestinidade, já que o controle sobre essas manifes-
tações era intenso.
d. a criação de organizações próprias que pudessem faci-
litar a articulação entre os jovens de diversas partes do
país.

2. De acordo com o texto, a expressiva relevância atribuída à


criação da UNE deve-se ao seguinte aspecto:
a. A partir dela as ações motivadas pelos jovens começa-
ram efetivamente a produzir efeitos de transformação
na realidade do país.
b. Significou o ingresso de recursos estatais que passaram
a financiar as mobilizações juvenis.
c. Atendeu apenas aos interesses dos jovens, sanando os
problemas que atingiam essa faixa da população.
d. Representou uma articulação nacional unificada do
movimento estudantil, que vinha sanar as dificuldades 185
advindas da fragmentação das suas ações.

Movimentos juvenis
3. As mobilizações juvenis durante a ditadura militar tinham

como principais reivindicações:


a. a luta contra os problemas sociais, o descaso do governo
e a falta de recursos específicos para os jovens.
b. a resistência à repressão, a liberdade e a luta contra a
intervenção estrangeira.
c. a constituição de políticas públicas ligadas às questões
de saúde, educação e cultura.
d. o aumento das exportações, a diminuição das importa-
ções e o pagamento da dívida externa do país.
( 10 )

p olíticas públicas de juventude


Nilson Weisheimer
Rochele Fellini Fachinetto

( )

n este capítulo, apresentaremos os temas que en-


volvem o desenvolvimento das políticas públicas de, para
e com as juventudes. Podemos dizer que presenciamos, na
atualidade, um processo sem precedentes de institucionali-
zação das políticas de juventude no Brasil. Esse fenômeno,
ao mesmo tempo em que tem se apoiado no conhecimen-
to produzido pela Sociologia da Juventude, converte-se, si-
multaneamente, em objeto de estudo dessa disciplina.
Para abordar essas questões, inicialmente discutiremos
o que são políticas públicas de juventude, abordaremos os
principais marcos internacionais desse debate, o desenvol-
190
vimento das políticas públicas de juventude na América
Sociologia da Juventude

Latina, e o processo de institucionalização dessas políticas


no Brasil. Concluímos apresentando o atual estágio desse
processo, com a apresentação da perspectiva geracional-
juvenil em políticas públicas de juventude.

(10.1)
o que são políticas públicas
de juventude
Pode-se entender por políticas públicas um conjunto de ações
realizadas pelo Estado que visam equacionar problemas
políticos e sociais, objetivando responder às demandas
apresentadas pela sociedade civil. Conforme a cientista
política Celina Souza1: “A formulação de políticas públi-
cas constitui-se no estágio em que governos democráticos
traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em pro-
gramas e ações que produzirão resultados e mudanças no
mundo real”. Como desdobramento dessa primeira defini-
ção, podemos dizer que as políticas públicas de juventude
(PPJ) são as políticas desenvolvidas pelo poder público
(Estado) que pretendem responder às demandas das juven-
tudes. Porém, isso só ocorre à medida que as juventudes,
principalmente por meio dos movimentos juvenis, passam
a disputar espaço na agenda governamental.
A constituição das PPJ tem se ampliado consideravel-
mente nos últimos anos, mais precisamente a partir do
final da década de 1990. No ano de 2004, a Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco) apresentou uma publicação que se constituiu num
191
marco do debate sobre PPJ no Brasil. A equipe coordenada

Políticas públicas de juventude


por Mary Garcia Castro, pesquisadora sênior da Unesco,
apresentou uma formulação que englobou vários aspectos
sobre as políticas de, para e com as juventudes. Essas polí-
ticas são pensadas como ações integradas e transversais, as
quais tratam os jovens não apenas como público-alvo das
ações governamentais, mas também como agentes estraté-
gicos da construção e execução dessas políticas, de modo a
garantir não só a participação e a representação dos jovens
em sua definição e desenho, mas incorporando-os como
protagonistas dos processos decisórios dessas políticas.
Segundo o documento da Unesco2, a compreensão
considera políticas de juventudes como a necessidade de
incorporar a diversidade das juventudes, segundo raça,
gênero e classe social na sua formatação; políticas para os
jovens considerando o papel do Estado de garantir o bem-
estar na alocação dos recursos; e políticas com juventudes
no sentido de articular simetricamente jovens, adultos e
instituições na sua formulação, incentivando a participa-
ção política desses jovens.
A proposição das políticas de/para/com juventudes
tem por objetivo se constituir em um novo paradigma na
orientação que enfatiza a integração de agentes, institui-
ções e ações, ou seja, como orientadora de políticas integra-
das, sendo elas universais ou específicas para os públicos
jovens. Essa proposição de políticas integradas pode ser
vista no quadro a seguir.
Quadro 10.1 – Concepção de uma política integrada de/para/com juventudes
192

de para com
Sociologia da Juventude

Juventude e Articulação
juventudes; entre agência,
lugar dos adul-
tos, lugar dos
jovens;

Ações ime-
Sujeitos de direi- diatas, con-
tos e atores do siderando
desenvolvimento; Lugar do Estado. princípios
integradores;

Construção da Investimento
autonomia e for- em processos;
mação de capital
cultural. Vontade polí-
tica para mudar
a forma de
fazer política.

Fonte: Adaptado de Organização da Nações Unidas para


a Educação, a Ciência e a Cultura, 2004, p. 100.

Feita essa aproximação com a proposta de PPJ, faz-se


necessário revisar a idéia de juventude presente nessa pro-
posição. Para a Unesco3, não se pode falar em uma única
juventude, ao contrário: “A juventude tem significados dis-
tintos para as pessoas de diferentes estratos socioeconômi-
cos, e é vivida de maneira heterogênica, segundo contextos
e circunstâncias”. Com base nessa perspectiva que consi-
dera a multiplicidade das juventudes, a Organização ado-
tou a idéia de “condição juvenil”, considerada em termos de
“ideais-objetivos” orientadores das ações políticas. São eles:

1. a obtenção da condição adulta, como uma meta;


2. a emancipação e a autonomia, como trajetória;
3. a construção de uma identidade própria, como questão
193
central;

Políticas públicas de juventude


4. as relações entre gerações, como um marco básico para
atingir tais propósitos;
5. as relações entre jovens para modelar identidades, ou seja,
a interação entre pares como processo de socialização.4

Ainda conforme a proposição da Unesco, as políti-


cas de juventude deveriam procurar ultrapassar os enfo-
ques setoriais, pontuais e fragmentados que predominam
até então, e tentar imprimir uma perspectiva geracional-
juvenil a essas ações. Podemos dizer que esse enfoque
geracional-juvenil é o que tem pautado o marco atual de
institucionalização das PPJ no Brasil. Antes de passarmos a
esse debate, será necessário fazermos uma breve ­digressão
sobre os marcos internacionais, os quais influenciam o his-
tórico dessas políticas no Brasil.

(10.2)
p rincipais marcos internacionais
da constituição das ppj
A preocupação com o futuro das juventudes em âmbito
internacional tem se refletido na agenda das instituições
e organismos multilaterais desde o início dos anos de
1960. Contudo, foi só recentemente, já na década de 1980,
que a juventude passou a ser objeto de atenção sistemá-
tica da Organização das Nações Unidas (ONU). O marco
inicial desse processo foi materializado, de modo con-
tundente, com a comemoração do “Ano Internacional da
Juventude” em 1985, decretado pela ONU. A partir desse
momento, registrou-se um crescente interesse por parte da
194
comunidade internacional de fomentar a inclusão de ações
Sociologia da Juventude

voltadas aos jovens, no âmbito das agendas governamen-


tais. Desde então, vem sendo promovida a participação da
juventude e de governos em uma série de fóruns interna-
cionais que têm formulado diretrizes e estabelecido con-
venções sobre programas e políticas para as juventudes.
Apresentamos, no quadro a seguir, os principais marcos
desse debate.

Quadro 10.2 – Marcos internacionais das PPJ

Ano Marco internacional

1985 Ano Internacional da Juventude ONU

1987 Conferência Intergovernamental – Espanha

1988 Conferência Intergovernamental – Argentina

1989 Conferência Intergovernamental – Costa Rica

1989 Fórum Mundial das Juventudes das Nações


Unidas

1995 Comemoração dos dez anos do Ano Internacional


da Juventude

1995 Plano Mundial de Ação para a Juventude até o ano


2000 e seguintes

1998 Fórum de Braga “Participação da Juventude no


Desenvolvimento Humano” – Portugal

2001 Fórum Mundial de Juventude da Organização


das Nações Unidas – “Estratégia de Dakar para o
empoderamento da juventude” – Dakar

Esse conjunto de ações, apresentadas de modo sim-


plificado, traduz os principais momentos de discussão
internacional de uma estratégia de institucionalização das
195
PPJ. Em seu conjunto, materializam as expressões e anseios

Políticas públicas de juventude


das organizações de juventude de todo o planeta em obter
o reconhecimento da condição dos jovens como sujeito de
direitos políticos e sociais diferenciados. Ao mesmo tempo,
esses momentos simbolizam a tentativa do fortalecimento
da participação juvenil na alocação dos recursos e nas defi-
nições das políticas voltadas a esse público.

(10.3)
d esenvolvimento das ppj
na a mérica l atina
Quando nos aproximamos mais da realidade da América
Latina, percebemos algumas particularidades que são
importantes para compreendermos essa realidade espe-
cífica. Conforme o sociólogo uruguaio Julio Bango5, o
desenvolvimento histórico das políticas de juventude na
América Latina registram quatro etapas que traduzem os
enfoques nos quais os jovens foram tratados pelas agên-
cias governamentais.
Segundo esse autor, a etapa inicial, situada na década
de 1950, é “caracterizada como a busca da incorporação dos
jovens nos processos de modernização por meio de polí-
ticas educativas”6. Nesse contexto, a ampliação da oferta
de educação visava possibilitar itinerários de mobilidade
social ascendente. O investimento em educação aparece
como a principal resposta do Estado para a incorporação
social das novas gerações.
A fase seguinte corresponde aos anos de 1960 e 1970,
e é marcada por uma guinada autoritária no continente
196
latino-americano. A pauta governamental passou a ser a
Sociologia da Juventude

do controle da mobilização e da repressão às organizações


estudantis, as quais haviam adquirido uma maior partici-
pação social por conta da expansão do sistema de ensino.
Na terceira fase, na década de 1980, marcada por pro-
cessos de transição democrática, o enfoque passa a ser o
da “juventude-problema”, cujo foco foi o enfrentamento
da pobreza e a redução da delinqüência. No entanto, nesse
contexto, de acordo com Bango7, não podemos falar de polí-
ticas voltadas especialmente ao público juvenil, uma vez
que “puseram-se em prática diversos programas de com-
bate à pobreza, baseados especialmente na transferência
de renda, por meio de programas alimentares, de emprego
temporário ou de assistência sanitária”. Contudo, esses
programas tiveram pouco efeito diante da estagnação eco-
nômica vivida em toda a região naqueles anos.
Finalmente, a quarta etapa, já na década de 1990, cons-
tituiu-se um conjunto de políticas especialmente direciona-
das à juventude, predominando o enfoque do jovem como
capital humano, no qual os modelos de políticas visavam à
incorporação dos jovens excluídos no mercado de trabalho.
Ou seja, conforme Bango8, a tarefa de formação e qualifica-
ção de recursos humanos passou a ser prioritária: “Assim
surge uma série de programas promovidos por organis-
mos internacionais, como é o caso do BID, de capacitação
para o emprego”. No plano institucional, a década de 1990
marcou o início do processo de instalação de estruturas
governamentais de juventude na região, colaborando com
o esforço desenvolvido por diversos agentes para colocar
na agenda governamental a pauta juvenil. Ainda conforme
o mesmo autor, um importante ator desse processo foi a
Organização Ibero-Americana de Juventude (OIJ). Com
isso, percebe-se que, de modo geral, a evolução das PPJ
197
na América Latina pode ser entendida como determinada

Políticas públicas de juventude


pelos problemas de exclusão dos jovens da sociedade e por
estratégias para facilitar a transição para o mundo adulto
e a integração neste.
A Unesco discute as experiências de políticas de juven-
tude na América Latina apontando algumas limitações
dessas ações. Uma delas refere-se ao fato de que predomi-
naram políticas desarticuladas. Ao mesmo tempo em que
se concentraram em aspectos particulares da dinâmica
juvenil, apresentaram respostas setoriais e centralizadas
nos Estados Nacionais, que ficaram distantes dos proble-
mas locais. De forma geral, a Unesco9 constatou que, do
ponto de vista institucional, as PPJ na América Latina,

têm enfrentado problemas consideráveis, especialmente no


caso dos institutos e ministérios especializados criados ulti-
mamente em diversos países, que não souberam definir com
precisão suas funções, e que, em muitos casos, passam a com-
petir − em condições desiguais – com os grandes ministérios,
especialmente os da área social, na execução de programas
dirigidos aos jovens.

Esse trabalho ainda mostra os problemas enfrenta-


dos pelas políticas nas diversas áreas, como a educação, a
saúde, o trabalho etc. Em relação à educação, apesar dos
avanços, a principal questão mencionada foi em relação
à distância existente entre os jovens e a cultura escolar.
No que diz respeito à saúde, também foram constatados
alguns avanços, especialmente em relação aos programas
de prevenção; mas em relação aos acidentes de trânsito
e aos programas de combate à violência juvenil os esfor-
ços não foram suficientes. No mercado de trabalho tam-
bém foram verificados alguns avanços, porém o problema
é estrutural e está ligado à situação de desemprego de uma
198
forma mais generalizada.
Sociologia da Juventude

O mesmo documento da Unesco aponta como positivo


o fato de, nos últimos anos, haverem sido criadas estrutu-
ras de juventude nos governos municipais, pois estes estão
mais próximas à realidade dos jovens. Nesse nível de ges-
tão, são observados os maiores avanços na participação dos
jovens na definição das políticas, dentro da proposta men-
cionada anteriormente das políticas de/para/com juventude.
A esfera local tem se apresentado mais propícia ao envol-
vimento dos jovens, contando com espaço de participação
juvenil nas tomadas de posição. Desse modo, segundo os
autores, os jovens passaram a ser vistos como atores e sujei-
tos de direito e não apenas como problema social.

(10.4)
h istórico das ppj no b rasil
A história das políticas públicas no Brasil é recente. Para
compreender o desenvolvimento das ações na área da
juventude, é importante ter como referência o marco legal
que estabelecia a atuação do Estado em relação ao jovem.
Podemos dizer que a juventude no Brasil tem sido histori-
camente entendida como uma transição entre a infância e
a idade adulta. Isso está relacionado a um paradigma pro-
dutivista do desenvolvimento, que concebe a formação dos
jovens voltada para o ingresso no mercado de trabalho.
Historicamente isso se refletiu no 1º Código de Menores
– o Código Mello Matos − que marcou o início da interven-
ção do Estado na elaboração de políticas de juventude no
Brasil e vigorou até o final da década de 1970. Ainda em
1964, no início do Regime Militar, foi criada a Fundação
199
Nacional de Bem-Estar do Menor (FUNABEM), que perpe-

Políticas públicas de juventude


tuou a lógica do Código de Menores. É importante frisar
que, no Brasil, até 2004, não havia um marco legal capaz
de concentrar as normas relativas às políticas públicas
destinadas aos jovens, nas mais variadas áreas, tampouco
um órgão público voltado especificamente para essa área.
Como apontam Sposito e Carrano10, até a década de 1990 os
jovens brasileiros eram atendidos por políticas sociais des-
tinadas a todas as demais faixas etárias, que não estavam
voltadas para esse público específico.
Voltando à questão da legislação, na década de 1990
configura-se uma nova realidade no que concerne à área
das crianças e dos adolescentes, com a promulgação do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), um marco
na luta pelos direitos desse público. Conforme as mesmas
autoras, a promulgação do ECA evidencia que as atenções,
tanto da sociedade civil quanto do poder público, estavam
mais voltadas para os adolescentes, principalmente os que
encontram-se em processo de exclusão ou privados de
direitos.
É importante referenciar ainda a criação da Lei Orgânica
da Assistência Social (Loas), ainda em 1993, porém ambas
tratam apenas da questão da criança e do adolescente e
não mencionam a parcela acima dos 18 anos.
Segundo Sposito, Silva e Souza11, de modo geral, pode-
mos dizer que a emergência de ações federais na área da
juventude, por meio de políticas públicas, começaram a
ocorrer no país sobretudo a partir de 1997. Atribuem-se
essas ações em função da intensa repercussão causada
pela morte do índio Galdino por jovens da classe média
alta de Brasília, como vimos no capítulo 7, além de algumas
rebe­liões na Febem de São Paulo, que contribuíram para o
aumento da associação entre juventude e violência. A par-
200
tir de 1997 a 2000, evidenciamos um crescimento de 21%
Sociologia da Juventude

nos programas desenvolvidos, acentuando-se significativa-


mente entre 2001 e 2004, com 64,8% das iniciativas. As duas
últimas gestões dos municípios examinados na pesquisa
desses autores são responsáveis por quase 86% das ações,
mostrando mais uma vez como essa área é recente no país.
Outra informação importante sobre as primeiras ações
que foram desenvolvidas refere-se ao fato de que boa parte
delas estavam ligadas à assistência social, partindo da idéia
do jovem em situação de vulnerabilidade social. O fato de ser
predominante na área da assistência social leva a considerar
que as PPJ apareciam de forma subsidiária à questão social –
como se fosse uma questão de menor importância. Também
associa-se à vulnerabilidade os problemas do envolvimento
dos jovens na violência urbana e os elevados índices de gra-
videz entre adolescentes das classes populares urbanas.
Assim, como argumentam esses autores, as políticas de
juventude no Brasil não nasceram com base em espaço de
visibilidade da condição juvenil moderna, associada à idéia
de direitos, mas sim das vulnerabilidades – do jovem como
problema social, que precisa ser controlado pelo Estado.
O problema desse tipo de vinculação é que a sociedade,
de forma geral, acaba reivindicando demandas cada vez
mais punitivas, de controle e disciplinamento. Isso reitera
a idéia de que existem “dois tipos” de juventude: aqueles
em situação de risco e, por isso, objetos das ações repara-
doras ou preventivas do Estado; e jovens como “sujeitos de
direito”, os verdadeiros merecedores dos benefícios. Com
efeito, a ideologia que norteou as primeiras PPJ é distinta
para as classes sociais: as iniciativas para a juventude liga-
das à imagem do jovem pobre, tratado como vulnerável
ou produtor de risco, são aquelas voltadas para inserção
social, compensatórias e de caráter socioeducativo; e as ini-
201
ciativas para o “jovem”, aquele que é “entendido”, portador

Políticas públicas de juventude


de direitos, são destinadas a políticas ligadas à cultura, ao
lazer e ao esporte.

(10.5)
o contexto atual das ppj no b rasil
A partir de 2004, de acordo com Castro e Aquino12,
constatamos uma nova situação das PPJ no Brasil. Nesse
período, iniciou-se, no âmbito do Governo Federal, um
amplo diálogo sobre a necessidade de se instaurar uma
política nacional para a juventude. Logo depois, no início
de 2005, foram criados a Secretaria Nacional da Juventude
(SNJ), o Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) e um
“programa de emergência”, voltado para jovens entre 18 e
24 anos – o ProJovem. Esse programa tinha por objetivo
a elevação dos índices de alfabetização, escolaridade
e qualificação profissional. Esse projeto já passou por
algumas avaliações e reformulações, de modo a superar
suas limitações, e, a partir de 2008, entra em uma fase
ampliada no que diz respeito às ações e aos recursos
destinados ao seu desenvolvimento.
O desafio que se coloca na atualidade às PPJ é ampliar
o seu escopo para atender às diferentes necessidades das
múltiplas juventudes. Como frentes de atuação emergen-
cial, conforme os autores, foram definidas três áreas: a
aceleração da aprendizagem, a transferência de renda e a
qualificação profissional.
Essa nova geração de políticas de juventude já começa a
ser influenciada pelo enfoque geracional-juvenil proposto
pela Unesco, que vem ganhando a adesão de agentes
202
governamentais e movimentos juvenis. A idéia é de que
Sociologia da Juventude

sejam considerados os aspectos específicos de cada popu-


lação, orientando a transversalidade das ações voltadas
para atender às especificidades de cada geração, grupos
identitários e classes sociais. A Unesco13 recomenda que
essa setorialização das políticas deve estar combinada com
políticas de direitos universais:

Uma perspectiva geracional-juvenil deve se orientar pela


autonomia, pela participação, levando em consideração a
equação estudo e assistência social entre outros constru-
tos que são específicos aos jovens, procurando articular, de
forma dinâmica, as diversas fases do ciclo vital das pessoas –
infância, juventude, maturidade, terceira idade – com o obje-
tivo de responder com políticas específicas que façam parte de
um conjunto articulado de políticas públicas gerais.

Nesse sentido, destacamos a importância de considerar


as singularidades dos jovens, mas também de outras cliva-
gens que demandam políticas públicas, para que elas este-
jam articuladas e possam contribuir para a autonomia dos
beneficiados. A seguir, apresentaremos os critérios consti-
tutivos de uma perspectiva geracional-juvenil em políticas
públicas de juventude.
203
Critérios de PPJ na perspectiva
geracional juvenil

Políticas públicas de juventude


▪▪ Ver os jovens a partir de uma perspectiva dupla: como
destinatários dos serviços e como atores estratégicos do
desenvolvimento;
▪▪ Funcionar com base em um autêntico e amplo ajuste de
esforços entre todas as instituições envolvidas;
▪▪ Sustentar-se no fortalecimento das redes institucionais
existentes e/ou criando outras em esferas onde elas não
existam;
▪▪ Funcionar com base na descentralização territorial e
institucional;
▪▪ Responder à heterogeneidade dos grupos juvenis exis-
tentes, focalizando ações diferenciadas, como, por
exemplo, considerar os que só estudam, os que traba-
lham e estudam, os que só trabalham e os que não tra-
balham e não estudam;
▪▪ Promover a participação mais ampla e ativa dos jovens
em seu desenho, implementação e avaliação efetiva;
▪▪ Contar com uma perspectiva de gênero, oferecendo
oportunidades e possibilidades iguais a homens e
mulheres, e uma perspectiva contrária a discrimina-
ções e desigualdades étnico-raciais;
▪▪ Realizar um esforço deliberado para sensibilizar os toma-
dores de decisões e a opinião pública em geral;
▪▪ Desenvolver esforços deliberados para aprender coleti-
vamente com o trabalho de todos; e, por fim,
▪▪ Ser definida, com precisão e em consenso, compreen-
dendo a efetiva distribuição de papéis e funções entre
os diversos atores institucionais.

Fonte. Adaptado de Organização das Nações Unidas para a Educação,


a Ciência e a Cultura, 2004.
Enfim, pelos próprios estudos desenvolvidos em outros
204
países da América Latina, a Unesco ressalta a importân-
Sociologia da Juventude

cia das experiências de municipalização, que aproximam


as políticas dos atores envolvidos, mas, ao mesmo tempo,
alertam que o setor público deve se adaptar para que os
jovens participem na formulação e na execução das políti-
cas públicas, e assim elas possam corresponder à proposta
de políticas de/para/com juventudes.

(.)
p onto final
Neste capítulo, discutimos o que são políticas públicas de
juventude. Verificamos que estas surgem à medida que os
jovens passam a ser reconhecidos como sujeitos de direi-
tos específicos. No processo de institucionalização dessas
políticas, confluíram a atuação de diferentes agentes sociais,
cujo marco internacional inicial pode ser visto na declara-
ção do Ano internacional da Juventude pela ONU, em 1985.
Verificamos o longo processo de constituição das PPJ na
América Latina e particularmente no Brasil, que passou a
viver, a partir de 2004, um novo marco institucional com a
criação da Secretaria Nacional de Juventude e do Conselho
Nacional de Juventude, sendo o momento atual marcado
pela influência da perspectiva geracional-juvenil em políti-
cas de/para/com juventudes proposta pela Unesco.
Indicações culturais 205

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A

Políticas públicas de juventude


EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA. Políticas públicas de/
para/com as juventudes. Brasília: Unesco, 2004. Disponível em:
<http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001359/135923POR.
pdf>. Acesso em: 3 out. 2008.

BRASIL. Presidência da República. Portal da Juventude.


Disponível em: <http://www.juventude.gov.br/>. Acesso
em: 3 out. 2008.

atividades
1. Como pode ser caracterizada a evolução das PPJs na
América Latina?
a. Pelo crescente processo de valorização do jovem como
agente de transformação social.
b. Voltada para o desenvolvimento de ações ligadas à cul-
tura e à educação.
c. Determinada pelos problemas de exclusão dos jovens
da sociedade e por estratégias para facilitar a transição
para o mundo adulto e a integração neste.
d. Pelo desenvolvimento de ações que estimulem a parti-
cipação dos jovens em movimentos sociais ligados aos
problemas recorrentes da América Latina.

2. De forma geral, como tem se caracterizado o campo das


PPJs no Brasil?
a. Com políticas públicas amplas, que dão conta de toda
diversidade de demandas dos jovens.
b. Pelo desenvolvimento de ações a partir da noção do
jovem como sujeito de direitos.
c. Com políticas que ainda estão marcadas pelos pressu-
206
postos contidos no Código de Menores.
Sociologia da Juventude

d. Com políticas que dicotomizam “dois tipos de juven-


tude”: a das classes populares, vistas como objeto
de ações estatais, e aquela vista como detentora de
direitos.

3. A proposta da Unesco (2004) de políticas públicas que


sejam norteadas por um enfoque geracional-juvenil
compreende:
a. políticas orientadas pela transversalidade, integradas
num conjunto articulado de políticas gerais, mas que
considerem as especificidades de cada população.
b. políticas de caráter universal, sem considerar as especi-
ficidades de cada grupo.
c. políticas unilaterais, que procurem enfatizar uma área
específica.
d. políticas voltadas apenas para a população juvenil,
procurando atender às necessidades específicas desse
grupo.
r eferências por capítulo

Capítulo 1 17 WEISHEIMER, 2007, 2008.


1 ARIÈS, 1981. 18 WEISHEIMER, 2008.
2 ARIÈS, 1981, p. 11. 19 WEISHEIMER, 2008.
3 PIAGET, 1977. 20 ABAD, 2002.
4 WEISHEIMER, 2008. 21 SPOSITO; CARRANO, 2003.
5 SANCHIS, 1997. 22 WEISHEIMER, 2008.
6 DURSTON, 1997. 23 WEISHEIMER, 2005.
24 CARDOSO; SAMPAIO; BEZZON, 1995,
7 GALAND, 1997.
p. 18.
8 WEISHEIMER, 2008.
25 WEISHEIMER, 2005, 2007, 2008.
9 DURSTON, 1997.
26 WEISHEIMER, 2008, p. 31.
10 WEISHEIMER, 2008.
27 BOURDIEU, 1998.
11 IZQUIERDO, 2002.
28 WEISHEIMER, 2008.
12 DUBAR, 2005.
13 WEISHEIMER, 2008, p. 56.
Capítulo 2
14 WEISHEIMER, 2008.
15 DUBET, 1996. 1 WEISHEIMER, 2008.
16 BOURDIEU, 1998, p. 28. 2 BRITTO, 1968.
3 ROUSSEAU, 1999. 4 WEISHEIMER, 2008.
4 FLITNER, 1968a, p. 39. 5 WEISHEIMER, 2008.
5 FLITNER, 1968a. 6 WEISHEIMER, 2008.
6 FLITNER, 1968a, p. 40. 7 BOURDIEU, 1983, p. 113.
7 FLITNER, 1968a. 8 BOURDIEU, 1983.
8 BRITTO, 1968. 9 WEISHEIMER, 2008.
9 MARX, 1968. 10 WEISHEIMER, 2008, p. 47.
10 MARX, 1968, p. 17. 11 DOMINGUES, 2002.
11 GRINDER; STRICKLAND, 1968. 12 WEISHEIMER, 2008.
12 FLITNER, 1968a. 13 DOMINGUES, 2002.
13 BRITTO, 1968. 14 WEISHEIMER, 2008.
14 FLITNER, 1968a. 15 WEISHEIMER, 2008.
15 FLITNER, 1968a.
16 FLITNER, 1968a. Capítulo 5
17 FLITNER, 1968a, p. 52-53.
18 FLITNER, 1968a. 1 WEISHEIMER, 2008.
19 MANNHEIM, 1968, p. 69-94. 2 ROSENMAYR, 1968, p. 133.
20 TAVARES, 2006, p. 789. 3 WEISHEIMER, 2008.
21 CARDOSO; SAMPAIO; BEZZON, 1995. 4 CAMARANO; MELLO, 2006.
22 ABRAMO, 1994, p. 30. 5 WEISHEIMER, 2008.
23 PARSONS, 1968. 6 ABRAMO, 1994, p. 11.
24 ABRAMO, 1994. 7 LECCARDI, 2005.
25 STOETZEL, 1968, p. 131. 8 GUERREIRO; ABRANTES, 2005.
26 ROSENMAYR, 1968. 9 WEISHEIMER, 2008.
27 ABRAMO, 1997. 10 GIDDENS; BECK; LASH, 1997.
28 ABRAMO, 1997, p. 31. 11 BAUMAN, 1998.
29 CARDOSO; SAMPAIO; BEZZON, 1995. 12 LECCARDI, 2005.
13 WEISHEIMER, 2008.
Capítulo 3 14 WEISHEIMER, 2008.
15 CAMARANO; MELLO, 2006.
1 MANNHEIM, 1982.
16 WEISHEIMER, 2008.
2 MANNHEIM, 1982, p. 78.
17 PAIS, 2001.
3 MANNHEIM, 1982.
18 PAIS; CAIMS; PAPPÁMIKAIL, 2005,
4 MANNHEIM, 1982, p. 85.
208 5 WEISHEIMER, 2008.
p. 113.
19 PAIS, 2001; PAIS; CAIMS;
6 MANNHEIM, 1968, p. 87.
PAPPÁMIKAIL, 2005.
7 MANNHEIM, 1968, p. 71.
Sociologia da Juventude

20 WEISHEIMER, 2008.
8 MANNHEIM, 1968, p. 72.
21 MALINOWSKI, 2003.
9 MANNHEIM, 1968, p. 72.
22 MEAD, 1979.
10 MANNHEIM, 1968, p. 73.
11 MANNHEIM, 1968, p. 74-75. 23 WEISHEIMER, 2008, p. 53.
12 WEISHEIMER, 2008.
13 MANNHEIM, 1968, p. 74-75. Capítulo 6
14 MANNHEIM, 1982. 1 WEISHEIMER, 2008.
15 SOUZA, 2006. 2 FERRARI, 1983.
16 WEISHEIMER, 2007, 2008. 3 GEERTZ, 2001.
17 DURKHEIM, 1978. 4 WEISHEIMER, 2008, p. 53.
18 WEISHEIMER, 2008. 5 WEISHEIMER, 2008.
19 WEISHEIMER, 2008. 6 MAGNANI, 2005, p. 176.
20 EISENSTADT, 1976, p. 4-5. 7 WEISHEIMER, 2008.
21 EISENSTADT, 1976, p. 7. 8 WEISHEIMER, 2008, p. 55.
22 WEISHEIMER, 2008. 9 WEISHEIMER, 2008, p. 57.
23 BOUDON; BOURRICAUD, 1993. 10 FREIRE, 1995.
24 WEISHEIMER, 2008. 11 BARBOSA DA SILVA; ARAÚJO, 2008,
25 WEISHEIMER, 2007, 2008. p. 89.
26 DUBAR, 2005. 12 BARBOSA DA SILVA; ARAÚJO, 2008.
27 MANNHEIM, 1982. 13 BARBOSA DA SILVA; ARAÚJO, 2008.
28 WEISHEIMER, 2008. 14 MAFFESOLI, 1987, p. 107.
29 MOLLO-BOUVIER, 2005. 15 WEISHEIMER, 2008, p. 54.
30 MANNHEIM, 1982, p. 83. 16 MAGNANI, 2005, p. 175.
17 WEISHEIMER, 2008.
Capítulo 4
18 MAGNANI, 2005.
1 MARX, 1968. 19 MAGNANI, 2005, p. 175.
2 WEISHEIMER, 2008. 20 MAGNANI, 2005, p. 177.
3 WAISELFISZ, 2002. 21 MAGNANI, 2005, p. 177.
Capítulo 7 4 POERNER, 1995.
5 POERNER, 1995.
1 SALLAS; BEGA, 2006.
2 REZENDE; TAFNER, 2005. 6 POERNER, 1995, p. 64.
3 REZENDE; TAFNER, 2005, p. 287. 7 RABAT, 2002.
4 NEVES; RAIZER; FACHINETTO, 2007. 8 POERNER, 1995.
5 NEVES; RAIZER; FACHINETTO, 2007. 9 POERNER, 1995.
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21 SALLAS; BEGA, 2006. 2 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
22 SALLAS; BEGA, 2006.
UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A
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Capítulo 8
3 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
1 WEISHEIMER, 2008. UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A
2 WEISHEIMER, 2005. CIÊNCIA E A CULTURA, 2004.
3 WEISHEIMER, 2005, p. 10. 4 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
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Referências por capítulo


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Capítulo 9 12 CASTRO; AQUINO, 2008, p. 34.
1 RABAT, 2002. 13 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
2 RABAT, 2002, p. 4. UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A
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g abarito

Capítulo 1 Capítulo 4
1. c 1. a
2. a 2. d
3. d 3. b

Capítulo 2 Capítulo 5
1. a 1. a
2. c 2. d
3. b 3. a

Capítulo 3 Capítulo 6
1. b 1. a
2. a 2. c
3. d 3. b
Capítulo 7 Capítulo 9
1. d 1. a
2. b 2. d
3. a 3. b

Capítulo 8 Capítulo 10
1. b 1. c
2. d 2. d
3. c 3. a

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Sociologia da Juventude
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