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& 2 ggfreosanaspo omato oer cr: gammentado onto opr < S Fac. Direto.vEM. Manuel Didier Malang, 2013 y S Notas das aulas do direito registral civil Finalidade do registo rl-Larvcar Apublicidade é antitese do oculto e nesta base reside todo o seu fundamento, art-b oR Publicitar situagées relativas a pessoa humana terd interesse para a prépria pessoa e também para asociedade', Para o préprio sujeito, porquanto precisa de provar o seu estado pessoal c a grelha de direitos e obrigagdes associados, perante a exigéncia que se possa impor a sua demonstracio, desde o seu nascimento seguindo petos outros factos relevantes até & morte. Para a sociedade e para as pessoas circundantes, 0 conhecimento de factos respeitantes a outros intervenientes das relacdes socials assegura a seguranga da sua actuagao. Importa saber 0 estado civil das pessoas ¢ 0 conjunto de dircitos licitamente a elas ligados, aferindo-se a estabilidade nas relagdes sociais. No comum dos exemplos, se alguém pretende adquirir um imével de outro, importaré aferir estado de legitimidade do Gltimo, partindo do civil (se casado ou soltetro) para consecutivamente | apreciar 0 regime patrimonial confinante e dat avaliar se a transacgdo carece ou néo de consentimento conjugal. A informagao relativa 20 estado singular da pessoa necessita de publicitagdo registral para que iniciem os seus efeitos probatérios e principalmente na esfera de terceiros nao participantes de determinado trafico jurfdico. 0 objecto da publicidade registral cobre as situagtes juridicamente relevantes na esfera singular da pessoa humana, pela extensdio da vigéncia da sua personalidade juritica. 0 Cédigo do Registo Civil ilustra de forma taxativa no seu artigo 1 tais situagdes e mais adiante aprofundaremos os seus perimetros de ordem substantivae process. {As situag6es sujeitas ao registo incidem sobre a pessoa humana e desenvolvem-se sob miltiplas vertentes compondo a relagio juridica registral. Relagio Juridica Registral A relacao juridica incorpora em si toda a situagio da vida social juridicamente relevante. No sustento de Heinrich Ewald Horster?, a relacdo juridica traduz o vinculo da vida social disciplinado * Vide capitulo atinente 2 evolugdo histérica do registo chil ? Heinrich Ewald Horster, A Parte Geral do Cédigo Chil Portugués. Teoria Geral do Direto Civil, Coimbra, Almedins, 1992, pag. 159 [NOTAS DAS AULASDO DIRETTO RIGISTRAL CIVIL eotas breiadssdo nr: iro Registra civ, 10 pelos Fac. Direto.uem. Manuel Didier Malunga. 2019 a pelo direito, sendo atribuido a uma pessoa, um direito subjectivo e imposta a outra pessoa, uma obrigag4o correspondente de respeitar aquele direito?. A compreensio da disciplina da relacio juridica registral exige refinar, no geral, os elementos integrantes de uma relagGo juridica abstracta, para daf seccfonar a sua aplicabilidade no contexto da matéria sujeita ao registo. Assim, os elementos estruturais* da rela¢do juridica so o sujeito, 0 objecto, o facto juridico e a garantia, 2, Natureza substantiva dos factos sujeitos a registo® Correlagdo entre o direito registral e 0 direito substantive Complementando o ntimero antecedente, o direito registral, sendo adjectivo, tem uma cortespondéncia com 0 direito substantivo. Antes de entrosarmos os nivels de correlago, urgira revigorar que o registo € uma publicidade juridica, O registo sendo instrumental publicita, em regra,o que tem sua génese em normas substantivas. Quando essa publicidade se refere a pessoas singulares guia-se do inicio da personalidade juridica com o nascimento até ao seu termo com a morte. Varios factos jurfdicos medeiam estes dois extremos € 0 artigo 1 do Cédigo do Registo Civil enuncia-os, taxativamente de que passamos & descri¢ao dos mais significativos, simetrizando-os com as respectivas plataformas do direito substantivo. Nascimento Nos termos do artigo 66 do Cédigo Civil, 0 nascimento dita 0 inicio da personalidade juridica do cidadao. O registo de nascimento esté previsto na al nea a) do nimero 1 do artigo 1 Gédigo do Registo Civil e constitui um direito fundamental para a integrasao da crianga na cidadania e na familia. Como prevé o artigo 205 da Lei da Familia, os filhos tm 0 direito a ser imediatamente registados depois do seu nascimento, atribuindo-se-Ihe o nome e apelido da familia dos pais, O imperativo de registo de nascimento & nascenga também se emana do artigo 26 da Lei 7/2008, de 9 de Julho (sobre a Promocdo dos Direitos da Crianga), ao preconizar o dever de registo da crianga apés 0 seu nascimento para materializar o direito a ter uma familia, nome préprio e apelido. Alids, estes sto os pressupostos bisicos para garantir a efectivagao do direito ao convivio da crianga com os seus pais e demais membros da fam\ *Iyesma linha dafendida por inocéncio Galvio Teles, Introdugdo 20 Estudo do Direlto, Vo! Il, 10 Ed. Reimprassio, Usbos, 2010, pag.151 “ Sepuindo a base do Heinrich Ewald Horster, obra citade, pag, 164 * apenas os factos mats representativos da relagao jurica registral so arrolados nestas notas. No livro em conclusio este material merece mais desenvolvimento. 'NOTAS DAS AULAS DO DIRETTO REGISTRAT CIVIL (ts abrevadas do ire: Deel Regia Cnt, 20 area rac Dretowen. Manuel Didier Malunga, 2013 SEES © direito ao registo imediato de nascimento decorre ainda dos instrumentos juridicos internacionais ratificados por Mogambique, designadamente a Convengao sobre os Direitos da Crianga ea Carta Africana sobre os Direltos e Bem-Estar da Crianga que fixam, nos mesmos moldes, © imperativo de os Estados garantirem a implementago do dever de registo & nascenga para que se cubra o direito a um nome, nacionalidade e integrago numa familia. (conferir os artigos 7 e 6, respectivamente ¢ infra, 0 capttulo sobre as Fontes do registo civil). >Filiagdo A fillagdo representa um estado jurtdico pelo qual se define a maternidade ea paternidade, O direito da filiagdo tem consagragdo constitucional nos termos dé mimero 1 do artigo 120 da Constituigao da Repiblica ao exigir a dignificagao da maternidade e paternidade. Do ponto de vista substantivo, a Lei da Famflia prevé no seu artigo 213 que a prova da filiaglo s6 pode fazer-se pelos meios previstos nas leis do registo civil. Com efeito, a alinea b) do nimero 1 do supradito artigo 1 do Cédigo do Registo Civil sujeita a filiagdo ao registo. O registo da filiaco incorpora, em si, a maternidade e a paternidade e mais adiante esiniugaremos 0 mecanismo apropriado para o estabelecimento destes dois institutos reveladores do estado juridico familiar da pessoa singular. »Casamento 0 casamento, cuja previséo para o seu registo obrigatério decorre da alinea d) do niimero 1 do artigo 1 do Codigo do Registo Civil, constitui uma das privilegiadas fontes das relagdes juridicas familiares. 0 casamento é a unio pela qual homem e mulher unem-se de forma singular com 0 propésito de constituir familia, mediante comunhdo plena da vida, Bsta noo inserta no artigo 7 da Lei da Familia niio cede duividas quanto ao cardcter contratual do casamento. Sendo contrato difere do regista, constituindo este um outro momento. Contudo, a falta do registo do casamento dita a ininvacabilidade do mesmo, seja pelos cOnjuges ou seus herdeiros, seja por terceiro, Bsta regra decorre dos artigos 91 da Lei da Familia e 2 do Cédigo do Registo Civil Convengio antenupcial A sua registabilidade se encontva prevista na alfnea e) do ntimero 1 do artigo 1 do Cédigo do Registo Civil mas decorre substantivamente do artigo 118 da Lei da Familia como instrumento através do qual os nubentes podem fixar livremente o regime de bens do casamento, Aconvengo antenupcial esta condicionada a celebrago do casamento e conforme estipula 0 artigo 137 da Lel da Familia, a mesma caduca se 0 casamento nao for celebrado dentro de um ano apés a sua outorga. NOTAS DAS AULAS DO DIRECTO RECISTRAL CIVIL (ants abroviada o iro: Dirt Registrate 220 prea) rec. bieito.uen. Manuel Didier Malunga. 2013 eee ‘As convengies carecem de registo para produzirem efeitos em relagéo a terceiros pelo que fixa 0 artigo 131 da Lei da Familia. Retrocedendo ao artigo 130 da mesma lei, constata-se que este acordo pode revestir a forma de escritura piiblica ou assinado perante o funcionério do registo civil durante 0 proceso preliminar de publicagées para 0 casamento. Esta disposigao atribui, em si, um regime de efeitos diferente do previsto no artigo 2 do Cédigo do Registo Civil Pela norma do citado artigo 2, os factos sujeitos a registos ndo podem ser invocados mesmo entre as partes se ndo forem registados, Para o caso da convencao, parece nfo ser directamente aplicével esta norma mas outra cautela ¢ tomada que é a sua caducidade se o casamento nao for celebrado dentro de um ano. Nesta mesma norma, verificamas que a conven¢ao caduca, igualmente, se 0 casamento vier a ser anulado. A convengao pode sobreviver durante um ano, quanto aos efeitos, entre os cénjuges mas perece caso 0 casamento no se realize no prazo fixado ou venha a ser anulado. Ha uma vida proviséria e precéria da convengao mesmo antes do registo mas sem relevancia pratica pois 0 acordo em causa visa regular uma relacdo patrimonial que sé inicia com a celebragzo do casamento. sEmancipagio 0 Cédigo Civil preconiza que o termo da incapacidade de menores decorre da maioridade ou da emancipagao (conferit artigo 129). 0 artigo 132 do mesmo diploma legal enumera os factos constitutives da emancipacdo, designadamente o casamento do menor; a concessao dos pats, quando exerpam plenamente o poder parental; a concessio do conselho de familia, na falta dos pais ou estando eles infbidos do poder parental e a decisdo judicial. 0 artigo 133 do referido cédigo esmitiga que o menor emancipado adquire plena capacidade de exercicio de direitos, habilitando-se a reger a sua pessoa e a dispor livremente dos seus bens como se fosse maior. Contudo, confrontando a norma que precede com o previsto na Lel da Familia, constata-se do artigo 73 deste tltimo diploma que 0 casamento sé confere a plenitude da capacidade jurfdica de exercicio 0 menor se ele tiver solicitado 0 consentimento dos pais ou dos seus representantes legais para casar. Na falta de consentimento para o casamento, 0 menor continuara a ser tido com incapacidade jurfdica de exercicio até atingir a maioridade, relativamente aos bens que leve ao casamento ou posteriormente lhe advierem a titulo gratuito. 0 registo da emancipagdo esta enumerado na alinea g) do niimero 1 do artigo 1 do Cédigo do Registo Civil e processualmente os artigos 259 a 269 do mesmo diploma regulam a sua materializacdo extrajudicial em sede das conservatérias. [NOTAS DAS AULAS DO DIREITO REGISTRAL CIVIL sets abrevindasdo Liz; Dire Registra Gv, 20 rele) Fac. oireito.uen. Manuel Didier Malunga, 2013 a Assim, a concessio pelos pais deve ser requerida na conservatéria da residéncia habitual destes no caso de ser emancipagio restrita, especificar-se-do os actos ou a categoria dos mesmos. Sendo o conselho de famfliaa conceder a emancipacdo, exigir-se-4 a deliberacao respectiva Quando seja o tribunal a conceder a emancipacio, incorpora-se a decisio respectiva e remete-se oficiosamente a conservatéria detentora do assento de nascimento, dentro do prazo de cinco dias ap6s 0 transito em julgado da decisao. Para todos os casos, a emancipagdo deve ser averbada & conservatéria detentora do assento do nascimento para que se cubram os efeitos desejados nos termos do artigo 2 do Cédigo do Registo Civil = Obito Seguindo-se na alinea f) do niimero 1 do artigo 1 do Cédigo do Registo Civil a sua registabi Gbito marca 0 termo da personalidade jur Cédigo Civil, lidade, 0 ica nos termos substantivos, indicados no artigo 68 Arelevancia soctal do registo de ébito decorre da sua ligacao umbilical com o processo sucessério, Aaabertura da sucessio est condicionada a morte do dono da heranga mas este estado civil s6 pode sor invocado apés o registo, seguindo atabela do artigo 2 do Cédigo do Registo Civil. sEpilogo sobre os factos registaveis Concluindo, o estado familiar publicitdvel através do registo civil integra quatro principais momentos: Nascimento, Filiagao, Casamento e dbito. No geral, a alfnea !) do ntimero 1 do artigo 1 do Cédigo do Registo Civil sujeita ao registo todas as situagdes juridicas determinativas, modificativas ou extintivas de qualquer dos factos supra analisados. Esta norma torna-se relevante pois qualquer alteragéo a um facto registado nfo produz efeitos enquanto respectivo registo nio for realizado, garantindo, deste modo, a seguranca, principalmente na esfera de terceiros. 0 registo civil no constitui direitos apenas os publicita O artigo 2 do Cédigo do Registo Civil preconiza a nao atendibilidade dos factos antes do seu registo. Subjaz aqui a formulagao do principio da ndo atendibilidade dos factos antes do seu respectivo. Os meios de prova dos factos sujeltos a registo estdo taxativamente elencados na mesma lei ¢ partindo do artigo 3 ¢ especificados artigo 273, designadamente certidées, boletins, cédula pessoal ou bilhete de identidade. Quadro 1: Natureza Substantiva dos Factos Sujeitos Registo Civil. Art. 1 Cod. Reg. Civil Apreencher pelo estudante: descrever os processos conforme o exemplo Tascimeat | Natura Vouiade Decisio Presungse | Dedisto ‘Observags | Observags ° juicat Tegal adalnistrativa | es es NOTAS DAS AULASDO DIRHTO REGISTRAL CIVIL (ote abrevindae do iz: Drea Resta ch, rele Se asaanRRIIERRREnemnereeeeeem ee en Fac. Direito.uen. Manuel Didier Malunga, 2013 Rllagio] Ex: Be Ee Be Ex: divércio maternida | dedaracéo | averiguag | presunga | por miituo de da 4o oficiosa | 0: pater | consentimen resultante | maternidad | da isest | to da ©, Descrover 0 | maternidade procriagdo | omer "|| Samar ° natural roses ‘opeio Taam Tenens scenupe capacidade Juridica de exercilo [NOTAS DAS AULAS DO DIREITO REGISTRAL CIVIL outs srevadasdo tive Diet Resta Ct, 0 reo Fac. Direito.uen. Manuel Didier Malunga, 2013 a 3. Principios registrais Principio da legalidade (1 -° ca) Alegalidade € 0 resguardo de todos os principios de um sistema normativo. O princfpio da legalidade ser analisado transcorrendo a vertente substantiva culminando com a processual. © conservador antes de registar deve apreciar se as declaragles ou os titulos documentais apresentados esto conforme a lei na ordem substantiva. Os principios de direito revelam um sistema de comando normativo vigente num certo ordenamento juridico, Os principios constroem-se das normas juridicas em vigor (direito substantivo) e da sua posigz0 hierarquica, orientando toda a cadela de solugdes para cada caso especifico. Principio da publicidade (e-! -}ex~) Esta, a razo de ser do registo. Tornar os factos relativos & pessoa singular cognosciveis ou puiblicos para permitir o melhor convivio entre todos os sujeitos do direito. O registo visa publicitar e deste pressuposto o princfpio geral 6 o de proibir situaSes secretas excepto quando a lei assim o determina para preservar outros principios superiores. Assim, as situagSes sujeitas ao registo sio do dominio de qualquer um. 0 nome do individuo, o seu estado civil e mesmo a filiasao so importantes para quem quer com ele se relacionar. Se algném precisa de comprar um imével a outrem que seja casado e este facto esteja omisso no registo civil e no averbado no registo predial, corre-se o risco de comprar patriménio da comunhao, sem consentimento devido, tornando insegura a transacgo. Com efeito, o ntimero 1 do artigo 277 do Cédigo do Registo Civil estipula que qualquer pessoa tem legitimidade para requerer certido dos registos constantes dos livros do registo civil, salvas as excepsdes legais. As excepsies visam preservar outros principios superiores e nesta linha podemos exemplificar com ‘0 nimero 2 do mesmo artigo quando se refere ao assento de nascimento de filho adoptivo cuja c6pia integral (espelhando a origem biol6gica do adoptado) s6 pode ser facultada a pessoas a quem respelta, seus descendentes, herdeiros ou sob requisigao das autoridades judiciais e policiais ou administrativas hierdrquicas do registo civil. Esta norma visa proteger a dignidade da pessoa registada pois 0 filo adoptivo equipara-se aos demais filhos e se qualquer um aceder a essa informacgo até pode usé-la para atitudes Aiscriminatérias e redutoras da dignidade humana. \NOTAS DAS AULAS DO DIRETTO REGISTRAL CIVIL (not hovindaedo Livro: irae Resta ivi, 20 peor Fac, Drcito.uen. Manuel Didier Malanga, 2013 SES A questdo de se proteger sempre a dignidade da pessoa é um principio supremo de direito que pode ser retalhado de varias normas com énfase para o artigo 41 da Constituigao da Repiblica, quando se refere a0 direito & honra, ao bom nome, reputagio, 3 defesa da sua imagem piiblica e & reserva da sua vida privada. A doutrina 6, igualmente, rica sobre nesta matéria e assinalamos Baptista Machado, citado por Pedro Pais Vasconcelosé, a elucidar que o principio do respeito da dignidade da pessoa é um principio suprapositivo: 0 direito de cada um ao respeito da sua dignidade nao é uma concessa0 feita pela ordem juridica positiva, mas antes um direito natural anterior a qualquer ordenamento positive, No campo da filiagSo, 0 mtimero 2 do artigo 157 do Cédigo do Registo Civil prevé a promogio, pelo Conservador e através do Ministério Piblico, da declaracao de registo secreto quando se detecta que a filiagao revela um incesto. Exemplifica-se 0 exposto com casos em que apés estabelecidas a maternidade e paternidade se descobre que os progenitores sdo irméos entre si ou se trata de pai e filha. Como se nota, reside aqui um imperativo de proteger a dignidade de filhos incestuosos. Principio da instancia (ae{ - 4 cary ‘A instncia revela a voluntariedade do registo. 4 iniciativa de registar parte, em regra, do proprio interessado. Discute-se hoje se o registo de nascimento deve ou nao ser feito oficiosamente, atendendo a importancia desta matéria também para o proprio Estado, 0 Cédigo do Registo Civil no artigo 1 estabelece uma obrigatoriedade do registo de todos os factos respeitantes & pessoa singular e no artigo 2, orienta para que os factos sujeitos a registo nao possam ser invocados antes do mesmo se efectivar. Num contexto em que a cultura juridica do cidadto é frégil, a preocupagio em registar os factos s6 desponta quando urge prové-los, documentalmente. ‘As criangas sdo registadas quando atingem a idade escolar, o dbito é inscrito quando a prova de abertura de sucesso dita 0 acesso ao patriménio do falecido. Mais exemplos podem ser identificados demonstrando que a adesao vohuntéria ao registo ¢ ainda uma miragem. Perante a vastidao do territério nacional ante as distancias que ainda separam as populacdes da administragao piiblica, a problemética do nao registo a nascenga se forja nao sé da falta de cultura jurfdica como de factores administrativos da organizasdo estadual na base, As distncias so um factor desencerajador sobretudo quando o saber jurfdico-cultural é deficiente. Numa outra perspectiva, a migraso masculina ea rejeicio de filhos pelos progenitores ensombram este processo de registo pois na mente de muitos cidadios, o filho nao pode ser registado sem que haja condigées para se estabelecer a filiagao, principalmente a paternidade. ‘Vasconcelos, Pedro Pais, Teoria Geral de Direito Civl.3 Edied0. Coimbra, Almedina. 2005.pag. 11 NOTAS DAS AULAS Do DIRITO REGISTRAL CVT nosedive: Drea Reta Cit 0 pele Fee. Dieito.uen. Manuel Didier Malunga. 2013 ee ene lei © Governo tem exercide a sua aceio administrativa desenhando programas de regtsto macigo das criangas, implementando um registo quase que oficioso, Programas desta natureza mostram que nos tikimos anos mais de quatro milhées de criangas foram aistadas em campanhas organizadas pelo Governo de parceria com Unicef e outras organizagbos de sociedade civil? Este processo se mostra adequado para nao s6 registar as criangas, dando-Thes acesso & cidadania ¢ protecrao, como também traduz-se em ferramenta para despertar do cidadao a importancia de registo civil para o gozo seguro dos seus direitos civis. Algummas fragilidades tém norteado o processo de registo de criangas 4 nascenca, nomeadamente a Guplicagio de dados registrals pots algumas pessoas aproximamse da brigada de resiste, declarando o registo enquanto houvera outro anteriormente feito sobre a mesma crian a. {Has Zonas fronteirigas tém sido detectadas situagbes de imigrantes legais que aproveitam-se das brigadas do registo para registarem criangas estrangeiras e vindas do estrangeiro como ce de essoas nascidas em Mogambique se tratasse. Princfpio da prova (a-4-ens"<2y O prinefpio da prova decorre dos artigos 3 ¢ 273 do Cédigo do Registo Civil ao atribuirem gxclusividade aos meios previstos neste diploma para a prova dos factos sujeitos 20 registo civil, designadamente boletins, cédulas, certidées e ainda o bilhete de identidade- Principio das presungées derivadas do registo(a-l-gecae) Nos termos do artigo 4 do Cédigo do Registo Civil o registo regularmente lavrado cria a presungao de veracidade até que se prove a sua falsidade em acco especialmente intentada e devidids ong transito em julgado, A presuncao é juris tantum, admitindo prova em contrério, Esta norma confere ao registo uma fabilidade presuntiva, garantindo a seguranca das pessoas quando o seu estado juridico estefa incorporado em documentos auténticos enquanto sentenca judicial néo determine a sua falsidade ou imperfeigao constitutiva. A aplicagio do artigo 4 do Cédigo do Registo Civil tem comunicabilidade normativa com a matéria Sobre vicios, irregularidades, rectificagdo e cancelamento dos registos que neste ensejo urge desenvolver para fechar o ciclo de abordagem. Assim, 0 valor juridico do registo pode ser prejudicado pela existéncia de vicios ou irregulatidades. Principio do trato sucessivote 4, HagscRey © trato sucessivo visa estabelecer uma cadeia ininterrupta de ingresso dos actos registrais. No registo civil, a aplica¢ao do trato sucessivo pode acorrer quando se cuide de restabelecer no assento registral, lagos sucess{veis temporalmente distantes e nao consignados. ” Dados da Unicef acessiveis em wwwunicef.org,/Mozambique/Pt NOTASDAS AULASDO DIREITO REGISTRAL CIVIL (asassbrevindcd iro Dire Repstal Ce 0 preley Fac, Dieito.veM. Manel Didier Malunga, 2019 EE A titulo de exemplo, Joshua é bisneto de Joshuama mas do seu assento registral a informacio vai s6 até aos seus pais. Acontece que existe um patriménio registado a favor de Joshuama, sendo Joshua o ‘inico sobrevivente da linha recta descendente. O reatamento do trato sucessivo, neste exemplo, implicaria recolher dados que permitatn provar que o Joshua descende do Joshuama e fazer constar do registo. Nestas circunstancias, urge recolher 0 assento de nascimento do pai do Joshua para dele verificar que 0 Joshuama é av6 (pai do pai do Joshua). Os dados recolhidos devem ser filtrados no registo civil sob forma de averbamento para encadear a continuidade da linha do parentesco desde o Joshua até ao Joshuama, Este proceso designa-se de reatamento de trato sucessivo. Efeitos do registo civil Oefeito do registo, no geral, desmembra-se a dois niveis principais. Constitutivo e declarativo. 0 primeiro reflecte que 0 facto sujeito a registo néo tem validade legal antes de inscrito na conservatéria. O segundo expressa a natureza registral como instrumento de puta publicidade para © conhecimento pelos terceiros, dos factos sujeitos a registo. O direito a registar existe e é eficaz entre as partes, cabendo ao registo a sua publicitagao juridica para que seja oponivel a terceiros. No caso especifico do registo civil, os efeitos orientam-se por uma linha combinada entre os dois acima descritos. Acontece que um facto nao registado sé pode ser invocado, mesmo entre as partes a que respelta e seus herdeiros, apés o registo. Preceitua assim o artigo 2 do Cédigo do Registo Civil. ‘Trata-se do principio de nao atendibilidade ou da ininvocabilidade que se preconiza no artigo 2 do Cédigo do Registo Civil, segundo o qual para cludir a um facto sujeito a registo, urge primeiro registé-lo. Analisando a natureza substantiva dos factos sujeltos a registo observariamos, a exemplificativo, o nascimento. lo Uma crianga néo registada existe pois 0 artigo 66 do Codigo Civil preconiza que o in{cio da personalidade juridica dé-se com 0 nascimento completo e com vida. Contudo, a falta do registo impede a crianga de ser individualizada como cidada e torna-se imposstvel legalmente vinculi-la a uma familia, pelo estabelecimento da filiago. Paradoxal parece esta norma mas é a garantia mais segura para evitar que situagbes respeitantes a pessoas singulares se tornem gcultas por muito tempo. A nossa elaboragao em relagao a esta matéria assenta no entendimento de que o efeito do registo civil é consolidativo. Os direitos a registar existem validamente pela forma substantiva mas 36 se consolidam apés 0 registo. Efeitos na cidadania 10 'NOTAS DAS AULAS DO DIREITO REGISTRAL CIVIL (ntasabrevads de tiro:Dieto Regist Ct, 20 ref Fee, direitouen. Manuel Didier Malunga. 2013 ea Este efeito estampa-se na complementaridade do anterior. O registo tem como finalidade individualizar a personalidade juridica, estabelecendo a ponte entre o individuo e uma cidadania. A cidadania vincula 0 individuo a um Estado e esta equagao legal decorre dos pressupostos previstos na Constituigdo da Repiiblica. Com efeito, ao abrigo dos artigos 23 e 24 da Constituigdo da Reptblica, a atribuigdo da naclonalidade mocambicana obedece a dois principios: Consanguinidade - determina que so mogambicanos os filhos de pat ou mie mocambicanos. No desdobramento desta norma ainda se conclui que mesmo ao individuo que tenha nascido no estrangeiro, se filho de pai ou mae mocambicanos, desde que expressamente declare que pretende sé-lo, sendo maior de 18 anos de idade (ou por meio dos seus representantes legais, em caso de menoridade), beneficia-se desta faculdade legal. Territorialidade - orienta que so mogambicanos os individuos que hajam nascido no territério mogambicano apés a proclamasao da independéncia nacional em 1975, mesmo que os pais sejam estrangeiros, desde que manifestem essa vontade. Como se apura dos pressupostos acima descritos, s6 0 registo civil pode orientar legalmente aos individuos na colecta da prova da existéncia dos principios de consanguinidade ou da territorialidade. Efeitos na governago ‘A governacio se apoia nos dados do registo civil. Os programas e estratégias de governagio desenham-se com enfoque para o cidadao. Esta plataforma de andlise conduz-nos a entender que 0 Governo elabora as suas politicas sustentando-se na tendéncia de natalidade e de mortalidade da sua populagéo. Os programas de construcdo de infra-estruturas escolares © sanitérias podem também ter orientago nos dados recolhidos pelo registo civil. Na esfera militar, decorre do artigo 9 da Lei 32/2009, 25 de Novembro (Lei do Servigo Militar) que as conservatérias do registo civil so entidades intervenientes no processo de recrutamento militar. Mais especificamente 0 numero 3 do artigo 34 do Decreto 7/2010, de 15 de Abril (aprova o Regulamento da Lei do Serviso Militar), fixa que as conservatérias, conforme a sua area de jurisdigio, devem enviar até 30 de Setembro, as listas nominals de assentos de nascimento, agrupadas por distritos, localidades e por ordem alfabética de nome dos cidados que, em cada ano

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