A Protecção dos Indicadores Geográficos

Por Alexandra Grazioli

Porquê existe muita discussão sobre produtos (tais como certas técnicas
o assunto da protecção de nomes de produção ou métodos tradicionais
como Basmati, Darjeeling, Havana, de produção).
Champagne e Tequila? O que são
exactamente indicadores Para dar uma idéia da importância
geográficos? O que se esconde por destes indicadores geográficos,
de trás destes nomes? Porquê basta dar um olhar superficial nos
alguns países querem que os nomes usados para identificar
mesmos sejam protegidos enquanto produtos agrícolas tais como chá
outros assim não desejam? (Darjeeling), cacau (Chuao) e vinhos
(Bordeaux, Chianti), assim como
A nivel internacional, os debates outros produtos tais como tapetes
mais violentos sobre o assunto, (Bakhara, Kashmir), relógios
estão ocorrendo na WTO. Um (Switzerland) e porcelana (“émaux
número de países desenvolvidos e de Limoges”). Estes poucos
industrializados, estão lutando para exemplos são suficientes para
obter uma protecção internacional realçar a vasta gama de produtos
efectiva para os indicadores para os quais o uso de indicadores
geográficos. Porquê os mesmos geográficos joga um papel
agem assim? Em que sentido a importante.
presente protecção é inadequada?
O que envolve o aumento da O objectivo do indicador geográfico
protecção? O objectivo deste artigo é o de identificar o produto. O
é de dar resposta a estas perguntas. mesmo transporta uma mensagem
ao consumidor acerca das
Indicador geográfico é um sinal características e qualidades do
usado em produtos que têm uma produto ao qual é anexado.
origem geográfica precisa e Devidamente utilizado, o indicador
qualidades, ou uma reputação, como geográfico pode, por conseguinte,
resultado do local de origem. constituir um vantajoso instrumento
Geralmente consiste no nome do de comercialização para os
local de origem dos produtos. O produtores. Além disso, os
indicador geográfico pode também indicadores geográficos podem
servir para enaltecer as qualidades provar constituir instrumentos
específicas de um produto que são importantes para a protecção do
devidas a factores geográficos conhecimento tradicional, o qual é
específicos (tais como o clima e o de grande interesse para muitos
solo) e a factores humanos países em desenvolvimento.
presentes no local de origem dos
É devido a todas estas qualidades
existentes nos indicadores
geográficos que é necessário
assegurar que os mesmos
obtenham uma protecção adequada.
O desenvolvimento de um indicador
geográfico de reputação e o seu
posicionamento no mercado, requer
investimentos consideráveis em
termos económicos e humanos, os
quais merecem uma protecção
adequada.
O uso ilegal de um indicador
geográfico por uma parte alheia não
autorizada com intensões de
explorar a sua reputação, é
prejudicial para o consumidor, e para
os legítimos produtores. Os
consumidores são enganados ao
pensar que estão adquirindo um
produto autentico com qualidades e
características específicas, enquanto
estão de facto adquirindo uma
imitação. Os legítimos produtores,
por seu lado, sofrem na perda do
benefício de operações comerciais
lucrativas, e pelos danos provocados
na reputação dos seus produtos.
Os danos não são meramente
teóricos; de acordo com a protecção
actual atribuida a nível internacional,
acontece frequentemente que
produtores lançam no mercado
produtos de qualidade que são
identificados por indicadores
geográficos, os quais foram
desenvolvidos a custa de um
considerável investimento e após
longa tradição. Estes produtos
possuem características únicas que
são resultado da sua origem
geográfica.
Seja chá, arroz, tapetes, ou qualquer
outro produto, o problema mantem-
se o mesmo – o produto é posto no
Mercado e, se o mesmo se torna
popular e ganha reputação no meio
dos consumidores, a gama de
produtos expande-se rapidamente
para incluir produtos similares com
ostentação do mesmo indicador
geográfico, mas produzido em
outras regiões. Para evitar o uso
inapropriado de um indicador
geográfico, é suficiente adicionar um
correctivo ao indicador geográfiico
(tal como o “tipo Americano arroz
basmati”). O comportamento dos
consumidores pode ser facilmente
influenciado por esses
procedimentos inapropriados apesar
do uso legal de indicadores
geográficos.
Este tipo de produtos não pode
contudo oferecer a mesma
qualidade ou características do
produto original, uma vez que não
provêm da região especificada.
Entretanto, os consumidores ao
efectuarem a sua escolha, não
podem confiar nos indicadores
geográficos estampados nos
produtos. Por sua vez, os legítimos
produtores perdem uma
considerável partilha do Mercado
como resultado desta pilhagem, uma
vez que os seus produtos típicos são
produzidos ao mesmo nivel que
dúzias de outros produtos que
ostentam o mesmo nome, e colhem
os benefícios da sua reputação,
mesmo não tendo a mesma
qualidade ou características. As
consequências negativas destas
manobras comerciais são
consideráveis nas economias de
todos os países, e talvéz
particularmente para os países em
desenvolvimento, uma vez tartar-se
de países pobres e carentes de
fontes de receitas.
Deverão tais práticas continuar a ser
toleradas? Não existirá maneira de
prevenir tamanha pilhagem?
Há tratados internacionais
designados à protecção dos
indicadores geográficos. A para os indicadores geográficos para
mecanismo mais promissor de
momento, o qual poderá no futuro,
possibilitar o asseguramento de uma
protecção efectiva a nível
internacional para os indicadores
geográficos, é o WTO, em aspectos
relacionados com o comércio de
direitos de propriedade intelectual (o
TRIPs). O TRIPs já cobre a
protecção internacional dos
indicadores geográficos. Isto
representa um progresso real
comparado com a situação que
existia anteriormente à sua
implementação. Não obstante, no
presente momento, o mesmo
possue a maior desvantagem de
possuir dois níveis de protecção
para os indicadores geográficos –
um alto nível de protecção para
vinhos e espirituosas (Artigo 23) e
um nível baixo apara todos os outros
produtos (Artigo 22).
A diferença fundamental entre estes
dois níveis de protecção – e que
constitue uma nota importante – é o
facto de, no sentido de previnir o uso
incorrecto de um indicador
geográfico sob protecção mais
baixa, a parte que se considera
prejudicada deve fornecer uma
prova de que o uso ilegal do
indicador geográfico é erróneo para
o público, ou constitue uma
competição desleal. Isto resulta em
diferentes níveis de protecção para o
mesmo indicador geográfico em
diferentes países, criando deste
modo séria insegurança legal. Toda
a protecção é deste modo baseada
no conhecimento ou ingnorância dos
consumidores e na circunspecção
da arbitragem …
Por outro lado, a situação é diferente
vinhos e espirituosas: de acordo
com o Artigo 23 do TRIPs, o uso
indevido destes indicadores
geográficos é simplesmente
proibido, sem a necessidade do
fornecimento da prova anteriormente
mencionada. O uso de uma
correcçẵao é igualmente proibida
(por exemplo, não é possível o uso
de ‘Napa Valley wine, produced in
Argentina’). Aqui, a protecção é
automática e objectiva, e esta
constitue uma considerável
vantagem quando se pretende obter
real protecção para um indicador
geográfico e reforçar o direito nele
contido.
Entretanto, o TRIPS, devido a estes
dois níveis de protecção, é incapaz
de providenciar uma protecção
verdadeiramente efectiva para os
indicadores geográficos para
produtos além de vinhos e
espirituosas, este, contudo, já
contém a chave para a solução
deste problema. Para a Ronda de
Urugai, os membros já agendaram
um trabalho para o melhoramento da
protecção dos indicadores
geográficos do TRIPS. Sob o acordo
(Artigo 24.1), os estados membros
da WTO, concordam em entrar em
negociações com vista ao aumento
da protecção de indicadores
geográficos individuais de acordo
com o Artigo 23.
Tais melhoramentos de protecção a
nível internacional, podem ser
atingidos pela simples extensão do
nível de protecção dos indicadores
geográficos actualmente existentes
para vinhos e espirituosas para
outros produtos. Todos os países, e
não somente os que produzem
vinhos e espirituosas, devem
consequentemente pelo menos ter a
sua disposição um mecanismo
efectivo para assegurar a protecção
dos seus indicadores geográficos.
Chegou a hora de terminar com este
desiquilíbrio, e para a afirmação
comercial dos indicadores
geográficos para todos os produtos
serem reconhecidos e efectivamente
protegidos.
E para lutar contra esta incoerente e
diecriminatória situação que, de a
alguns anos para cá, um número de
países, de entre outros a Bulgaria,
Cuba, a República Checa, Egipto,
Islândia, India, Jamaica, Quénia,
Liechtenstein, Maurícia, Nigéria,
Paquistão, Eslovénia, Sri Lanka,
Suíça, Turquia e Venezuela, têm
estado a lutar junto a WTO para que
os indicadores geográficos tenham o
benefício do mesmo nível de
protecção para todos os produtos.
A Declaração Ministerial, conforme
adoptada na conferência Ministerial
da WTO de Doha (de 9 a 14 de
Novembro de 2001) encaminha o
assunto da extensão da protecção
dos indicadores geográficos
mencionados no Artigo 23 para
outros produtos além de vinhos e
espirituosas. Enquanto muitos
membros interpretam o texto
relevante na Declaração como
sendo um claro mandato para lançar
negociações sobre este assunto no
Conselho do TRIPS, as outras
delegações não estão a favor de tais
negociações. A tarefa do próximo
ano para o Conselho do TRIPs
mostrará se os membros do WTO
serão capazes de concordar na
maior e efectiva protecção dos
indicadores geográficos.
Alexandra Grazioli é uma jurista
Suiça (lic. iur., LL.M.) especializada
em assuntos de propriedade
intelectual
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NOTAS FINAIS
1 Em particular, a Convensão de
Paris para a Protecção da
Propriedade Industrial, o acordo de
Madrid para a repressão de
indicadores de origem de produtos
falsificados ou fraudulentos, e o
acordo de Lisboa para a protecção
das denominações de origem e o
seu registo internacional.
2 Os indicadores geográficos
encontram-se na agenda do próxima
reunião do Conselho do TRIPs
egendada para 5 a 7 de Março de
2002

Objecções à extensão dos Gis
Os membros dacontrários
naArgumentos WTO discordam
á extensão dos
mandatos da Declaração Ministerial de Doha
das IGs
no que se refere à negociação da extensão da
protecção dos indicadores geográficos
(Bridges Ano 5, No.9, pag.6) Enquanto esta
não é essencialmente uma qustão Norte-Sul
(existem países desenvolvidos e em
desenvolvimento de ambos lados), um
número de países em desenvolvimento opõe-
se fortemente à extensão. Aqui estão alguns
dos principais argumentos por eles avançados
A um nível fundamental, muitos países em
desenvolvimento acreditam que a protecção
da propriedade intelectual não pode fazer
parte do mandato da WTO, e a extensão da
cobertura da TRIPs só poderá servir para
fortificar-lo no sistema de comércio
multilateral.
Mais especificamente, mesmo que alguns
países em desenvolvimento apareçam com
produtos que possam benficiar da protecção
dos indicadores geográficos, os custos podem
ultrapassar os benefícios, uma vez que os
acordos da WTO prevêm direitos assim
como obrigações.
Os Gis já gozam de uma “protecção a baixo nivel” sob
o Artigo 22 da TRIPs o qual obriga aos membros o
fornecimento de meios legais a terceiras partes
interessadas para proteger as designações geográficas
dos produtos, de maneira que o desencaminhamento do
público ou qualquer uso que constitua um acto de
concorrência desleal dentro do âmbito da Convensão de
Paris de 1967 Artigo 10. os indicadores geográficos
para vinhos e espirituosas são mais e especificamente
protegidos sob o Artigo 23 da TRIPs, o qual não inclue
o critério de política pública de não desviar o público
ou o engajamento de práticas anticomptetitivas. Para
incluir mais produtos sob o Artigo 23 – a categoria de
protecção pode fortificar o papel da TRIPs no sentido
de proteger essencialmente a propriedade privada e
diminuir a aliança da dimensão da política pública.
Mais adiante, para os produtos de muitos países em
desenvolvimento, o valor comercial para a fortificação
da protecção do GI continua teórico em vez de
qualificada, e os sistemas legais e administrativos para
tal protecção encontram-se internamente fragilizados.
Simplesmente poucos países, principalmente Europeus
possuem tais sistemas no lugar e podem, deste modo,
reforçar a protecção dos indicadores geográficos nos
seus próprios territórios. Caso esta seja uma obrigação
mundial, os países em desenvolvimento estariam
propensos a perder do que ganhar.
Os seguintes argumentos contra a extensão foram feitos
no Conselho (IP/C/W/298) do TRIPs pela Argentina,
Austrália, Canadá, Chile Guatemala, Nova Zelândia,
Paraguai, e os Estados Unidos:
•os custos de implementação de novas regras e
mecanismos administrativos que seriam necessários
para preencher as novas obrigações do TRIPs;
•os encargos administrativos e financeiros para
proporcionar uma “adicional protecção” para aumentar
o número de outros Membros de Gis;
•a possibilidade do encerramento de oportunidade do
acesso a futuros mercados para mercados emergentes, e
a dúvida na continuação do uso dos mercados
existentes
•impacto diferencial nos Membros (e indústria),
particularmente em membros que ainda não elaboraram
os sistemas do TRIPs
•desencaminhamento dos consumidores causada pela
re-denominação, re-rotução dos produtos; e
•crescente risco de disputa dos GIs entre os Membros
da WTO e entre os produtores Membros da WTO