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Automação residencial

Capítulo I

Automação residencial:
histórico, definições e conceitos
Por José Roberto Muratori e Paulo Henrique Dal Bó*

Iniciamos nesta edição o fascículo sobre automação Domótica é a automatização e o controle aplicados à
residencial que deve abordar em seus capítulos os residência. Esta automatização e controle se realizam
seguintes assuntos (sujeitos a alterações no decorrer mediante o uso de equipamentos que dispõem de
das publicações): capacidade para se comunicar interativamente entre
• Automação residencial – histórico, definições e eles e com capacidade de seguir as instruções de
conceitos; um programa previamente estabelecido pelo usuário
• Cabeamento residencial para comunicação (dados, da residência e com possibilidades de alterações
voz e imagem); conforme seus interesses. Em consequência, a
• Automação da instalação elétrica; domótica permite maior qualidade de vida, reduz
• Soluções em automação residencial; o trabalho doméstico, aumenta o bem-estar e a
• Principais subsistemas; segurança, racionaliza o consumo de energia e, além
• Projeto integrado de infraestrutura; disso, sua evolução permite oferecer continuamente
• Interfaces para usuário – serviços especiais; novas aplicações.
• Gestão de energia;
• Automação em áreas comuns de condomínios Como se percebe, o principal fator que define
residenciais; uma instalação residencial automatizada é a
• Projeções – o futuro da automação residencial. integração entre os sistemas aliada à capacidade de
executar funções e comandos mediante instruções
Definição de automação residencial programáveis. A integração deve abranger todos os
É o conjunto de serviços proporcionados por sistemas sistemas tecnológicos da residência, a saber:
tecnológicos integrados como o melhor meio de satisfazer
as necessidades básicas de segurança, comunicação, • Instalação elétrica, que compreende: iluminação,
gestão energética e conforto de uma habitação. persianas e cortinas, gestão de energia e outros;
Nesse contexto, costumamos achar mais adequado • Sistema de segurança: alarmes de intrusão,
o termo “domótica”, largamente empregado na alarmes técnicos (fumaça, vazamento de gás,
Europa, pois é mais abrangente. No entanto, no Brasil, inundação), circuito fechado de TV, monitoramento,
optamos pela tradução literal de home automation, controle de acesso;
denominação americana mais restrita, uma vez • Sistemas multimídia: áudio e vídeo, som ambiente,
que, conceitualmente, o termo “automação” não jogos eletrônicos, além de vídeos, imagens e sons
englobaria, por exemplo, sistemas de comunicação ou sob demanda;
sonorização. • Sistemas de comunicações: telefonia e interfonia,
Uma definição bastante completa é obtida nas redes domésticas, TV por assinatura;
publicações da Asociación Española de Domótica • Utilidades: irrigação, aspiração central, climatização,
(Cedom): aquecimento de água, bombas e outros.
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Histórico e situação atual no Brasil e no mundo filmes, etc. Além disso, temos um ambiente muito propício
Com o mercado economicamente ativo, a automação para o desenvolvimento dos chamados “sistemas domóticos”.
residencial ainda é muito nova, traduzindo-se em um A partir de recentes pesquisas feitas nos Estados Unidos,
processo ainda em emergência. As primeiras incursões podemos extrair alguns dados importantes:
nestas tecnologias datam do final da década de 1970,
quando surgiram nos Estados Unidos os primeiros módulos - 84% dos construtores entendem que incorporar tecnologia
“inteligentes”, cujos comandos eram enviados pela própria às residências que constroem é um importante diferencial
rede elétrica da residência, no conceito de PLC (Power Line mercadológico;
Carrier). Tratava-se de soluções simples, praticamente não - Existe a constatação de que os consumidores na faixa etária
integradas e que resolviam situações pontuais, como ligar que estão entrando no mercado, adquirindo seu primeiro
remotamente algum equipamento ou luzes. imóvel, já convivem com naturalidade com a tecnologia e,
Com o advento dos computadores pessoais e da internet, portanto, estão sendo exigentes com relação ao seu uso nas
a explosão da telefonia móvel e outras tecnologias que residências que lhes são oferecidas;
ingressaram no mundo pessoal dos consumidores, a aceitação - Sistemas automatizados que contenham apelo pela
das tecnologias residenciais passou a ter um forte apelo. sustentabilidade, economia de energia e preservação de
Nas economias mais desenvolvidas, o cenário para as recursos naturais estão sendo cada vez mais requisitados;
chamadas “casas inteligentes” tem evoluído de maneira - Entre as tecnologias emergentes que devem alcançar
muito positiva nos últimos anos. Tem contribuído para isso elevados patamares de crescimento nos próximos anos, estão
a crescente popularização de diversas tecnologias, seja os media centers, o monitoramento a distância, o controle de
pelo aspecto educativo do consumidor, seja pelos preços iluminação e o home care.
decrescentes.
Soma-se a isso a oferta abundante e barata de serviços A seguir, a Tabela 1 mostra a evolução na adoção de
de comunicação, como acesso em banda larga, diversas algumas das tecnologias mais consolidadas para casas
modalidades de conteúdo digital, downloads de músicas e inteligentes (em porcentagem nos imóveis residenciais novos):
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Automação residencial
Tabela 1 – Evolução da adoção de algumas tecnologias

Tecnologia 2003 2004 2005 2006 2015(*)


Cabeamento estruturado 42% 61% 49% 53% 80%
Monitoramento de segurança 18% 28% 29% 32% 81%
Multiroom audio 9% 12% 15% 16% 86%
Home Theater 9% 8% 11% 12% 86%
Controle de iluminação 1% 2% 6% 8% 75%
Automação integrada 0 2% 6% 6% 70%
Gerenciamento de energia 1% 5% 11% 11% 62%

Fonte: NAHB Research Centre, CEA


(*) Previsão

Nota: para pesquisas mais atualizadas, sugerimos consultar o site da National Association of Home Builders (NAHB) – http://www.nahb.org/.

De acordo com a revista PC World, a previsão é de novas tecnologias pelos usuários na sua vida diária. No
que o uso de sistemas de automação residencial triplique entanto, esta tendência ainda não se transferiu para o mercado
nos próximos dois anos. Para embasar esta estatística, a de construção civil na mesma intensidade. Guardada a escala,
publicação menciona a sinergia entre as principais soluções nossos automóveis detêm muito mais eletrônica embarcada do
de momento que devem concorrer para este crescimento, que nossas residências, embora estas últimas tenham preços
como segurança residencial, gerenciamento de energia, dezenas de vezes mais elevados.
cuidados domésticos com a saúde e aumento do uso de Nos indicadores industriais, nota-se que a indústria
mídia centers. da construção civil tem sido uma das mais lentas no ato de
No Brasil também se observa uma rápida absorção das incorporar novas tecnologias, seja pelo seu tempo próprio
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de operação (empreendimentos podem levar anos para Desenvolvedores / Licenciadores de tecnologia


Automação residencial

serem projetados, construídos e entregues aos seus usuários),


seja pela visão conservadora de seus líderes e consequente
dificuldade em vencer paradigmas (comerciais, técnicos e
mercadológicos). Fabricantes / Importadores
O panorama tende a se modificar em breve espaço de
tempo. A rápida captação de recursos financeiros obtidos
pelas grandes construtoras que aqui operam vai forçar uma
competição em outros patamares. A escassez de terrenos Distribuidores / Revendas
em locais mais disputados e a necessidade de gerar novos
produtos rapidamente vão acirrar a disputa pelo consumidor.
Neste particular, a utilização de diferenciais nos produtos
imobiliários será fator imperativo para atrair uma base maior Projetistas / Integradores / Instaladores
de consumidores.
Aqui, a automação residencial pode ser um fator
decisivo para atingir consumidores com necessidades
específicas, das quais destacamos a segurança, o Cliente final (consumidor ou empresa construtora)
entretenimento, a acessibilidade, o trabalho em casa,
o conforto, a conveniência e a economia de energia. Entre os desenvolvedores e licenciadores, temos:
Portanto, pode se esperar uma rápida evolução dos empresas de software, alianças de diversos fabricantes
lançamentos imobiliários com forte apelo nos diferenciais em torno de um protocolo comum de interoperabilidade,
tecnológicos, aproximando o mercado doméstico aos laboratórios de eletrônica, robótica e mecatrônica públicos
padrões internacionais. e privados, universidades e outras entidades afins.
Como o número absoluto de lançamentos tem aumentado Os fabricantes e importadores podem ser atualmente
muito no Brasil, também a base de referência para qualquer grandes grupos multinacionais, algumas subsidiárias de menor
estatística de evolução da automação residencial será porte (sendo que algumas são apenas importadoras) e fábricas
necessariamente maior. nacionais de médio e pequeno porte. Os canais de distribuição
e revenda, muitas vezes, confundem-se com os importadores
Funcionamento do mercado e canais e até mesmo os integradores podem ser revendedores,
de comercialização principalmente, de equipamentos que necessitam especificação
O mercado de automação residencial no Brasil, aos poucos, técnica mais apurada.
está adquirindo características muito próximas aos de mercados Para efeito deste estudo, a abrangência dos fornecedores
mais evoluídos. A incorporação de um novo profissional no será de equipamentos típicos para projetos integrados de
mercado, intitulado “integrador de sistemas residenciais”, automação residencial:
define uma situação específica deste mercado: em função das
diferentes tecnologias em questão, da sua complexidade de 1) Automação da instalação elétrica
projeto, instalação e programação, ainda não existem soluções Compreende o fornecimento de controladores, comandos
plug-and-play, exigindo uma especialização do profissional especiais e atuadores: softwares de controle e supervisão;
que nele atua. relés, interfaces e temporizadores; sensores diversos, como
No exterior, este profissional (ou pequena empresa) detectores de gás e fumaça, de inundação; e outros.
recebe o nome de Systems Integrator ou ainda Electronic
Systems Contractor. Sua característica notória é de se tratar 2) Controles remotos universais
de um pequeno negócio, quando não de um profissional Inclui o fornecimento de controles fixos (de parede) tipo
autônomo com equipes de instalação terceirizadas. Este touchscreen, bem como painéis móveis. Interfaces necessárias
padrão é dominante, uma vez que os projetos de sistemas à integração com sistemas domóticos e licenças de softwares
integrados residenciais são extremamente personalizados, de integração também fazem parte desse grupo, que inclui
exigindo uma dedicação que só uma pequena equipe (e não ainda modernas e cada vez mais usuais interfaces homem/
um departamento de uma multinacional) pode dispensar ao máquina, como iphones, aparelhos de telefonia celular,
usuário consumidor. pocketPCs e outras. Soluções de software garantem usabilidade
Assim, o mercado atualmente se posiciona com os seguintes e confiabilidades destas aplicações.
players importantes:
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3) Gestão de energia
Sistemas gerenciadores de consumo de energia: medição de
consumo de água e gás e equipamentos para proteção elétrica
e de geração de energias alternativas.

4) Acessórios e complementos
Incluem-se, nesta classe, diversos itens do universo da
automação residencial como:

• Motorização de persianas, toldos e cortinas;


• Pisos aquecidos;
• Aspiração central a vácuo;
• Desembaçadores de espelhos;
• Irrigação automatizada;
• Fechaduras elétricas;
• Equipamentos de controle de acesso (leituras
biométricas, teclados);
• Media centers;
• Ativos de rede (switches, roteadores);
• Telefonia e interfonia (convencional e IP).

Os integradores cumprem atividades múltiplas,


como projeto, especificação, fornecimento, instalação,
programação e pós-venda dos sistemas de automação
residencial. Como podemos perceber, representam um elo
muito importante na cadeia mercadológica, pois sem eles se
tornaria muito difícil para a indústria colocar seus produtos
no mercado consumidor (ver detalhamento a seguir).
Os clientes, neste mercado, dividem-se em usuários
finais e construtores. Para os primeiros, exige-se
atendimento personalizado e total customização da sua
instalação residencial. Já os construtores são clientes
institucionais, em que o apelo de fatores subjetivos como
a segurança ou o maior conforto da família são superados
por uma análise objetiva de custo-benefício, na linha já
citada anteriormente de que a automação residencial
possa representar um diferencial positivo em seu produto
imobiliário.

O integrador de sistemas residenciais


Definimos este novo profissional, o integrador de
sistemas residenciais, como aquele que:

• Elabora o projeto integrado, baseado nas definições do


empreendimento (caso de condomínios) ou nas necessidades
de uma família especifica (residência unifamiliar);
• Acompanha a execução da obra com o intuito de validar
o seu projeto;
• Especifica fiação, equipamentos, softwares e interfaces
de integração;
• Vende os equipamentos ou participa da contratação dos
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terceiros envolvidos; independentes nas atividades em que não têm capacitação


• Supervisiona e/ou executa a instalação; específica.
• Supervisiona e/ou executa a programação e os testes Sua formação é abrangente e diversificada, no entanto,
(start up); na maioria das vezes é de base tecnológica (engenharia
• Garante o desempenho final do sistema integrado. elétrica ou eletrônica, redes e informática, automação
industrial, mecatrônica e similares). Diversos profissionais
O integrador pode ser uma empresa de pequeno porte provêm das áreas de áudio e vídeo, segurança, instalações
ou um profissional autônomo que atua com parcerias elétricas ou outras similares, em que possivelmente já
atuavam anteriormente e passaram a incluir automação
residencial em sua oferta de serviços.

*JOSÉ ROBERTO MURATORI é engenheiro de produção formado pela Escola


Politécnica da Universidade de São Paulo, com especialização em administração
de empresas pela Fundação Getúlio Vargas. Foi
membro-fundador da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside),
a qual dirigiu por cinco anos. É consultor na área de automação e palestrante.

PAULO HENRIQUE DAL BÓ é engenheiro eletrônico pela Universidade


Mackenzie e pós-graduado em automação industrial pela FEI. É professor do
curso de pós-graduação na Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec-SP) e
diretor técnico da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside).

Continua na próxima edição


Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
Figura 1 – Diagrama de integração de sistemas. e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
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Automação residencial

Capítulo II

Cabeamento residencial para dados,


voz e imagem
Por José Roberto Muratori e Paulo Henrique Dal Bó*

Atualmente, as aplicações encontradas nas caso, não se utiliza o conceito de manobras para
residências demandam diferentes tipos de cabos. Este disponibilizar um serviço de telecomunicações (dados,
cabeamento deverá ser capaz de suportar tanto as voz e imagem). As principais vantagens do cabeamento
necessidades atuais como atender minimamente as “não estruturado” são o baixo custo inicial e a rapidez
tecnologias futuras. Conceitualmente, o cabeamento na instalação. As principais desvantagens seriam o alto
residencial deve ser tratado com uma distribuição custo de manutenção, a péssima flexibilidade, pois
interna de cabos, com o intuito de permitir a não prevê um crescimento adequado da instalação
transmissão de sinais, garantindo flexibilidade e normalmente não conta com documentação
de mudanças, longevidade em relação a novas apropriada. Assim, a infraestrutura torna-se insuficiente
tecnologias, conveniência e conforto. para acomodar novos lançamentos de cabos e podem
Os principais sistemas residenciais utilizados hoje ocorrer danos ao cabeamento já instalado devido ao
em dia são: interfonia, porteiro eletrônico, telefonia lançamento de novos cabos.
compartilhada pela utilização de um PABX (que também
pode fazer o papel de interfonia e porteiro eletrônico), Cabeamento residencial estruturado
redes de dados LAN (Local Area Network), acesso a Já para um cabeamento residencial estruturado,
internet banda larga, televisão aberta analógica e/ou o lançamento de cabos é feito de forma planejada e
digital, televisão por assinatura tanto por cabo (CATV) visando atender não só às necessidades atuais como as
como via satélite (satelital), câmeras de um Circuito futuras. É concebida a instalação de vários pontos em
Fechado de Televisão (CFTV), distribuição de áudio e um mesmo ambiente, levando-se em consideração a
vídeo (home theater/ som ambiente), etc. área útil e o tipo de utilização. Emprega-se o conceito
de “ponto de serviços de telecomunicações”, por meio
Cabeamento residencial não estruturado do qual, através de uma manobra no cabeamento,
Para um cabeamento residencial convencional será possível disponibilizar o tipo de serviço desejado
ou também conhecido como “não estruturado”, a (dados, voz e imagem), conforme mostrado na Figura 1.
instalação é feita por demanda, ou seja, de acordo Isto permitirá que, em uma eventual necessidade
com as necessidades imediatas da residência. O de alteração de um ponto de serviço, por exemplo, a
lançamento de cabos é feito apenas para os pontos mudança de um ponto de telefone de um lado da cama
que estarão ativos e, a cada novo remanejamento, do casal para o outro, na suíte master, seja possível
é necessário o lançamento de um novo cabo, pois fazê-la rapidamente, simplesmente efetuando-se uma
a infraestrutura não está preparada para tal. Neste manobra no Patch Panel (painel de manobras) nos
pontos correspondentes às tomadas.
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a instalação é um pouco mais demorada devido à criação de


uma infraestrutura específica para o cabeamento e, a princípio,
o custo inicial é mais alto.

Figura 1 – Conceito de manobra ou cross-connect.

O cabeamento seguirá uma topologia física em estrela em


que os pontos de serviços (tomadas) serão as extremidades da
estrela e o seu centro será um painel de manobras (patch panel) Figura 2 – Exemplo de um centro de conectividade.
que ficará acomodado em um quadro denominado “centro de
conectividade”, conforme ilustra a Figura 2. Cabeamento metálico: pares trançados
A instalação segue normas e padrões internacionais O principal cabo utilizado para redes de dados e voz é o
e possui como premissa o fornecimento de uma previsão cabo de quatro pares trançado não blindado, também conhecido
suficiente de dutos e cabos. As principais vantagens são: alta como cabo UTP (Unshielded Twisted Pair). Devido à sua
flexibilidade no atendimento às necessidades do morador, uma construção (trançamento dos pares) e à forma de transmissão
excelente previsão do crescimento da instalação, capacidade empregada (transmissão balanceada), este cabo fornece um
de suportar tecnologias futuras e, principalmente, a existência bom grau de imunidade a interferências eletromagnéticas,
de uma documentação clara e precisa de toda a instalação. principalmente considerando a aplicação em um ambiente
Se pudéssemos destacar algumas desvantagens, estas seriam: residencial. A Figura 3 mostra um cabo UTP de quatro pares.
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divide os tipos de cabos em “categorias” de acordo com a


Automação residencial

sua largura de banda. No mercado europeu é mais comum


a utilização desta divisão em “classes”. A relação entre as
“categorias/classes” e as larguras de bandas dos cabos são
apresentadas na Figura 5.
Devido aos requisitos atuais das principais aplicações
utilizadas nas residências e, levando-se em consideração uma
boa relação de custo/benefício, as categorias de cabos mais
utilizadas nos projetos residenciais são as categorias 5E e 6.
O conector utilizado para cabos UTP é denominado
Figura 3 – Cabo UTP (Unshielded Twisted Pair). “conector modular de oito vias”, conhecido popularmente
como conector “RJ-45”. Este conector possui oito posições

Em casos mais específicos, como a utilização de um e oito conexões (8P8C) e sua conectorização deve ser feita

cabeamento de dados ou voz em um local com alto índice utilizando-se um alicate de crimpar específico. Cabe lembrar

de ruído eletromagnético, faz-se necessária a utilização de que, devido à blindagem utilizada nos cabos S/FTP, os

cabos de pares trançados com blindagem por par (lâmina) e conectores “RJ-45” para estes cabos são diferentes, ou seja,

blindagem geral (malha) – S/FTP (Screened/Foiled Twisted Pair), o conector deve possuir uma parte metálica internamente

conforme exibe a Figura 4. e nas laterais que irão fornecer a conexão elétrica entre a
blindagem do cabo e a tomada blindada, seja ela do painel
de manobras ou da própria tomada de parede.
Uma confusão que ocorre com certa frequência refere-se
ao tipo de terminação que deve ser adotado na conectorização
dos cabos UTP: T568A ou T568B. Na realidade, a única
diferença entre as terminações T568A e T568B é a inversão
da ligação dos pares dois e três. Tecnicamente, não há
nenhum ganho ou perda de desempenho em se utilizar
um padrão de terminação ou outro. O padrão T568B foi
adotado nos Estados Unidos pela AT&T e é reconhecido
Figura 4 – Cabo S/FTP (Screened/Foiled Twisted Pair). pela norma americana. O único cuidado que se deve ter é
que, ao se adotar um tipo de terminação (T568A ou T568B),

Uma característica muito importante dos cabos é a sua este deve ser mantido ao longo de toda a instalação. A

largura de banda que deve ser expressa sempre em MHz. conectorização de um patch panel no padrão T568A e da

Ela representará a capacidade de um cabo em transmitir tomada correspondente no padrão T568B produzirá um cabo

informações que, dependendo da codificação de linha “cross” (cruzado), o que não é permitido no cabeamento

empregada, se traduzirá na velocidade de transmissão horizontal, conforme as normas vigentes. Os padrões de

alcançada, que é expressa em bits por segundo (bps). terminação T568A e T568B estão descritos na Figura 6.

A classificação mais comumente utilizada no mercado


brasileiro é a mesma utilizada no mercado americano, que

Categoria / Classe Largura da Banda


CAT 3 / Classe C 16 MHz
CAT 4 20 MHz
CAT 5 / Classe D 100 MHz
CAT 5E / Classe D 100 MHz
CAT 6 / Classe E 250 MHz
CAT 6A / Classe E 500 MHz
CAT 7 / Classe F 600 MHz

Figura 5 – Categorias/classes dos cabos e suas respectivas larguras de


Figura 6 – Padrões de terminação T568A e T568B.
banda.
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Cabeamento metálico: coaxiais


Automação residencial

Para aplicações de sinais de imagem para televisão aberta


analógica e/ou digital (VHF/UHF), utilizam-se os cabos coaxiais
RG-59, que atendem perfeitamente aos requisitos de transmissão
dessas aplicações. Já para os sinais de imagem para televisão
por assinatura, tanto a cabo (CATV) como via satélite (satelital),
utilizam-se os cabos coaxiais RG-6 que possuem uma bitola
relativamente maior e que proporcionam uma menor perda por
metro, possibilitando, assim, melhor qualidade do sinal recebido.
Figura 9 – Conector BNC.
As diferenças entre os dois principais tipos de cabos coaxiais
utilizados em sistemas residenciais (RG-59 e RG-6) podem ser
observadas na Figura 7. Cabeamento ótico: fibra ótica
O cabeamento ótico ainda é pouco utilizado em instalações
residenciais, pois os benefícios advindos da sua utilização
ainda não são demandados pela maioria das aplicações hoje
encontradas em uma residência. Uma aplicação residencial
que utiliza cabos óticos é a interligação de sinais de áudio
RG-59 digital em equipamentos de home theater, que utiliza o padrão
de conexão TOSLINK (Toshiba Link) e que é uma aplicação
específica de equipamentos de áudio e vídeo.
Alguns provedores de acesso de internet banda larga
passaram a fornecer um cabo de fibra ótica até o equipamento
RG-6
do usuário ou CPE (Customer Premises Equipment), ou seja,
dentro da residência. Dessa forma, sedimenta-se o conceito de
Figura 7 – Cabos coaxiais RG-59 e RG-6.
FTTH (Fiber To The Home) preconizado há algumas décadas.
O conector utilizado para cabos coaxiais é chamado de No futuro, seguramente as aplicações residenciais passarão
conector “Tipo F”, sendo a sua conectorização feita por meio a demandar por larguras de banda maiores, principalmente as
da utilização de um alicate de crimpar específico para cabos aplicações de vídeo sob demanda. Nestes casos, a utilização
coaxiais. O uso mais recomendado é o método de compressão de fibras óticas será fundamental para a implementação dessas
do conector pois garante uma melhor fixação mecânica entre o tecnologias.
cabo e o conector. Cabe lembrar que, devido às diferenças no
diâmetro interno dos cabos RG-59 e RG-6, os conectores “Tipo Normas
F” são diferentes para cada tipo de cabo. A Figura 8 mostra os As principais normas que tratam sobre o cabeamento
conectores “Tipo F” de compressão. residencial são: a ISO IEC 15018:2004/Amendment 1:2009
(Edition 1.0) – Information technology – Generic cabling for
homes e a ANSI/TIA/EIA 570B (Residential Telecommunication
Cabling Standard). No Brasil, ainda não temos uma norma
específica para o cabeamento residencial, mas já há uma
mobilização do setor para a formação de um grupo de estudos.
A norma americana ANSI/TIA/EIA 570B estabelece graus
(grades) de instalação baseados em serviços e sistemas que
poderão ser suportados dentro de cada residência e também
para acompanhar a escolha do tipo de infraestrutura para o
Figura 8 – Conectores “Tipo F” de compressão. cabeamento.
Outro tipo de conector utilizado principalmente em
aplicações de CFTV (Circuito Fechado de Televisão) e em Grau 1: Provê um cabeamento genérico básico, que atinge os
cabos coaxiais RG-59 é o conector BNC (Bayonet-Neill- requisitos mínimos para serviços de telecomunicações como:
Concelman ou British Naval Connector). Este conector telefone, dados, satélite e CATV. Cada ponto de serviço deverá
possui uma baioneta (pino central) que pode ser soldada ou ter no mínimo:
crimpada ao elemento central do cabo coaxial. A Figura 9
traz um conector BNC. • 1 cabo Cat 3 (recomenda-se CAT 5E ou 6);
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• 1 cabo coaxial. Outra premissa estabelecida pela norma americana é a


utilização de um cabeamento que siga uma topologia física
Grau 2: Provê um cabeamento genérico avançado, que atinge em estrela e, por isso, implemente um dispositivo centralizado
os requisitos atuais e futuros serviços de telecomunicações e para a distribuição dos serviços de telecomunicações dentro da
multimídia. Cada ponto de serviço deverá ser composto por: residência. Este dispositivo de distribuição (distribution device)
• 2 cabos CAT 5e (recomenda-se CAT 6); é concebido no conceito do “centro de conectividade”. A
• 2 cabos coaxiais; Figura 10 ilustra o conceito apresentado.
• 1 par de fibras óticas (opcional). No próximo capítulo, abordaremos os fundamentos da
automação residencial e os aspectos relacionados à instalação
elétrica, trazendo um comparativo entre uma instalação
convencional e uma automatizada.

*JOSÉ ROBERTO MURATORI é engenheiro de produção formado pela Escola


Politécnica da Universidade de São Paulo, com especialização em administração
de empresas pela Fundação Getúlio Vargas. Foi
membro-fundador da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside),
a qual dirigiu por cinco anos. É consultor na área de automação e palestrante.

PAULO HENRIQUE DAL BÓ é engenheiro eletrônico pela Universidade


Mackenzie e pós-graduado em automação industrial pela FEI. É professor do
curso de pós-graduação na Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec-SP) e
diretor técnico da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside).

Continua na próxima edição


Fonte: Norma ANSI/TIA/EIA 570B Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
Figura 10 – Conceito de dispositivo de distribuição (distribution device).
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Automação residencial

Capítulo III

Automação da instalação elétrica


Por José Roberto Muratori e Paulo Henrique Dal Bó*

Um grande desafio a ser enfrentado com a cliente com mais idade, provavelmente, preferirá um
implantação de um sistema de automação residencial sistema mais simples, ou mesmo complicado, mas que
refere-se ao aculturamento dos profissionais envolvidos atenda a todas as suas necessidades.
no projeto e na instalação. Primeiramente, há certo Por essa razão, há espaço para os mais diversos
ar de descrédito em relação à automação em si, tipos de equipamentos e fabricantes, dos sistemas mais
principalmente se o profissional em questão já contar simples aos mais complexos, dos sistemas mais caros
com uma experiência negativa anteriormente. Há aos mais baratos, mas que possam atender aos anseios
alguns anos, muitas empresas integradoras importavam de automação do cliente e futuro usuário.
equipamentos e se aventuravam na missão de instalar A responsabilidade pela escolha do sistema de
um sistema de automação residencial. Embora os automação residencial a ser adotado não é do cliente,
equipamentos em si fossem, na maioria das vezes, de mas sim do profissional que se denomina um integrador
boa qualidade, o projeto e a instalação deixavam muito de sistemas residenciais. Aliás, é justamente pelo fato
a desejar. Se o sistema não funciona a contento, ele cai de não ter conhecimento técnico nesse assunto que
no descrédito e a confiança na sua operação é perdida. o cliente busca a contratação de um profissional
Quando isso ocorre, a instalação elétrica convencional qualificado para auxiliá-lo.
ganha força, pois é um sistema consagrado e que Cabe ao integrador de sistemas residenciais
funciona muito bem há anos. Nesse caso, os mais não apenas a elaboração do projeto e a instalação
céticos se enchem de argumentos para continuarem propriamente dita. É preciso que esse profissional esteja
refratários à automação residencial. disposto a orientar os demais profissionais envolvidos
Para que se tenha sucesso em relação à nessa implantação, principalmente aqueles que estão
implantação de um sistema de automação residencial, tendo contato pela primeira vez com a automação
é preciso primeiro ouvir as reais necessidades do residencial. Nessa gama de profissionais incluem-se
cliente, já que o “sucesso” não está em implantar engenheiros eletricistas e civis, mestres e encarregados
sistemas caros e complexos, mas em atender a todas de obra e os eletricistas que irão executar a instalação.
as expectativas desse cliente. Essas expectativas É natural que o pessoal técnico esteja, a princípio,
podem ser mais ou menos complexas de acordo com refratário em relação às mudanças na forma de se fazer
o perfil do proprietário do imóvel. Um cliente mais a instalação. Ouve-se frequentemente a frase: “Faço
jovem seguramente se interessará por interfaces mais deste jeito há 20 anos e as coisas sempre funcionaram...
sofisticadas e que muitas vezes já fazem parte do seu por que vou mudar agora?”. Esta pergunta deve ser
dia a dia, como smartphones e tablets; ele já está respondida naturalmente pelo integrador, mostrando
acostumado com todo este aparato tecnológico. Já um justamente todos os benefícios que a automação
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irá trazer e que, tecnicamente, se colocarmos em uma balança, à forma de onda na saída do gerador, na etapa de geração de
o trabalho de instalação para um sistema convencional ou com energia elétrica.
automação, veremos que este será equivalente. Contudo, o “choque Uma zona de iluminação é constituída por uma ou mais
do novo” é sempre mais impactante do que os benefícios que virão lâmpadas que são acionadas simultaneamente. Uma zona de
depois com a instalação automatizada. iluminação é alimentada por um circuito. Um circuito poderá
alimentar várias zonas de iluminação.
Uma boa prática é procurar equalizar os termos comumente Esses três importantes conceitos podem ser exemplificados
utilizados pelo pessoal técnico para que não haja confusão futura. na Figura 1.
Primeiro, precisamos fazer três questões básicas sobre instalações
elétricas residenciais:
N1 N2 N2
Teto
• O que é um circuito?
• O que é uma fase?
• O que é uma zona de iluminação?

Em uma instalação elétrica residencial, os circuitos A B C


C1 C2 C3
correspondem às saídas dos disjuntores, sendo que estes são Interruptor
Zona A
Interruptor
Zona B
Interruptor
Zona C

alimentados pelos barramentos do quadro de elétrica. Se o


Piso
disjuntor for unipolar, o circuito será monofásico. Se o disjuntor for
bipolar, o circuito será bifásico. No caso de circuitos monofásicos, LEGENDA: C1= Fase do Circuito 1 A = Retorno da Zona A

é necessário ter um fio neutro exclusivo para cada circuito. N1= Neutro do Circuito 1 B = Retorno da Zona B

O sistema de geração, transmissão e distribuição de energia C2= Fase do Circuito 2 C = Retorno da Zona C

elétrica em corrente alternada é um sistema trifásico. Este N2= Neutro do Circuito 2 QE = Quadro de Elétrica

sistema incorpora o uso de três ondas senoidais balanceadas


(R, S e T), defasadas em 120 graus entre si, que correspondem Figura 1 – Exemplo de uma ligação para três zonas de iluminação.
Apoio
68

Uma vez consolidados esses fundamentos de um instalação centralizada. Nesse caso, a utilização de uma central de controle
Automação residencial

elétrica convencional, vamos entender como proceder para nos obriga a levar todos os retornos das cargas automatizadas até o
projetar uma instalação com automação. Um conceito inicial a ser quadro de automação.
passado é que, para um sistema centralizado, todos os retornos das No nosso exemplo, devemos levar o retorno da lâmpada
cargas (lâmpadas, tomadas comandadas, cortinas, etc.) deverão ser não mais para a caixa do interruptor, mas sim para o quadro de
levados para um quadro de automação. automação. A pergunta que sempre surge é: “Então terei que levar
Dependendo do tamanho da instalação, opta-se durante a fase todos os retornos das lâmpadas para o quadro de automação? Isso
de projeto pela utilização de dois ou mais quadros de automação, vai dar muito trabalho!”. A resposta é “Sim, todos os retornos deverão
com o objetivo de reduzir a quantidade de cabos e a infraestrutura ser levados até o quadro de automação e com os seus respectivos
a ser utilizada. Nesse caso, setorizar a instalação é uma boa prática, neutros”. Esta resistência inicial oferecida pelo eletricista é natural,
visto que um quadro de automação, por exemplo, atenderá às uma vez que ele ainda não visualizou os benefícios provenientes
cargas do pavimento térreo e outro atenderá as cargas do pavimento dessa centralização. Nesse momento ele só está pensando que,
superior. aparentemente, haverá mais trabalho, que será gasto mais fiação
Para visualizar melhor essa questão, vamos analisar na Figura com os retornos, etc. Contudo, devemos continuar introduzindo o
2 um exemplo de ligação simples de uma lâmpada (uma zona de conceito de automação centralizada e passar então a fazer perguntas
iluminação), fazendo um comparativo entre uma instalação elétrica que levem o eletricista a conclusões mais realistas.
convencional e uma instalação com automação. A primeira delas seria: “Como você instala o circuito (fase) de
alimentação das lâmpadas?”. Seguindo a instalação convencional,
a resposta seria “Tenho que levar um fio desse circuito para
Convencional Com automação
cada caixinha de interruptores”. Pois bem, com uma instalação
N R N R centralizada, bastará que esse circuito de iluminação seja levado do
Teto Teto
quadro de elétrica para o quadro de automação, ou seja, apenas uma
R ligação será suficiente, em vez de ter de percorrer todas as caixas
ao longo da instalação. Com isso, haverá uma redução significativa
Cabo
R
C multivias (4) de trabalho e fiação de alimentação (circuito de iluminação) que
C
Pulsador possivelmente será equivalente ao aumento de gasto proporcionado
Interruptor ou Keypad
por levar os retornos até o quadro de automação. Vale lembrar
Piso Piso
que o objetivo aqui não é economia de cabos propriamente dita,
LEGENDA: C = Fase do Circuito de Iluminação mas se pudermos trazer uma solução com um consumo de cabos
N = Neutro do Circuito de Iluminação equivalente à instalação convencional já estaremos em equilíbrio.
R = Retorno da Zona de Iluminação Outro ponto importante a ser questionado é como é feita
QE = Quadro de Elétrica
a ligação de uma zona de iluminação com acionamentos em
QA= Quadro de Automação
paralelo. Cabe lembrar que, para este tipo de ligação, é necessária
Figura 2 – Comparação entre a instalação convencional e automatizada a utilização de mais um fio entre as caixas, quando comparado com
de uma zona de iluminação. o acionamento simples, além da utilização de dois interruptores do

Observa-se que, na instalação convencional, o fio de retorno da tipo paralelo, conforme mostra a Figura 3.

lâmpada deve ser levado até a caixa plástica embutida na alvenaria,


sendo que esta irá abrigar o interruptor. Também deverá ser levado N1
Teto
até esta caixa o circuito (fase) de iluminação correspondente para Interruptor Interruptor
Paralelo Paralelo
essa zona de iluminação (uma ou mais lâmpadas). Este circuito
será fornecido pelo quadro de elétrica e que, seguindo o nosso
exemplo, corresponde a um disjuntor unipolar.
Considerando que a lâmpada receberá a ligação de um fio C1 A
neutro (correspondente ao mesmo circuito de iluminação), ao ser
ligado o interruptor, será comutada a fase do circuito de iluminação Piso
com o retorno da lâmpada, fazendo esta se acender. Esse é o LEGENDA: C1= Fase do Circuito 1
esquema clássico de uma ligação elétrica residencial e que está
N1= Neutro do Circuito 1
presente na maioria das residências.
A = Retorno da Zona A
Continuando com a análise da Figura 2, vamos agora verificar a
QE = Quadro de Elétrica
mesma ligação simples de uma lâmpada (uma zona de iluminação),
porém, utilizando o conceito de uma instalação com automação Figura 3 – Esquema de ligação de uma lâmpada com acionamento paralelo.
Apoio
70

Temos de considerar também as famosas ligações com entre os eletricistas são as famosas “tomadas comandadas”. A Figura
Automação residencial

acionamentos intermediários. Neste tipo de ligação, é necessária 5 mostra um exemplo de ligação de uma tomada convencional
a passagem de quatro fios no ponto de acionamento intermediário e de uma tomada comandada, que poderá ser controlada
e do fio adicional nos pontos extremos, além da utilização de dois individualmente pelo sistema de automação.
interruptores do tipo paralelo e um interruptor do tipo intermediário,
Convencional Com automação
conforme mostra a Figura 4.
Teto Teto
Além da quantidade de fios envolvidos para a execução deste
tipo de ligação, todo eletricista sabe do trabalho e do cuidado que R
é preciso na identificação dos fios para que seja possível efetuar
essas ligações com sucesso. Devido à sua relativa complexidade, é
muito comum que o eletricista cometa algum tipo de erro. Isso só
N
irá contribuir para aumentar o tempo total da instalação. Tomada
N Tomada
C Convencional R Convencional
Piso Piso

N1 LEGENDA: C = Fase do Circuito de Iluminação


Teto N = Neutro do Circuito de Iluminação
Interruptor Interruptor Interruptor R = Retorno da Zona de Iluminação
Paralelo Paralelo Paralelo
QE = Quadro de Elétrica
QA= Quadro de Automação

Figura 5 – Comparação entre a instalação convencional e automatizada


de uma tomada.
C1 A
Em projeto de automação residencial, muitas vezes são designadas
Piso algumas tomadas para algum tipo de controle específico, como uma

LEGENDA:
tomada designada especificamente para a ligação de um abajur que
C1= Fase do Circuito 1
N1= Neutro do Circuito 1 poderá ser dimerizado para proporcionar um ambiente mais confortável.
A = Retorno da Zona A Pode-se prever uma tomada instalada na bancada da cozinha e que será
QE = Quadro de Elétrica
utiliza para ligar e desligar uma cafeteira em horários pré-programados.
Figura 4 – Esquema de ligação de uma lâmpada com acionamento A confusão ocorre porque se utiliza o termo “tomada” para designar
intermediário. essa função e, mesmo ela sendo de fato montada em uma tomada
No caso da instalação com uma central de automação, esse convencional, ela não estará sempre energizada, pois dependerá de
tipo de ligação com acionamento paralelo e/ou intermediário é um controle, como um interruptor que liga/desliga uma lâmpada. É
feito fisicamente diretamente no quadro de automação e/ou por como se fôssemos instalar uma zona de iluminação em uma tomada
software, alterando-se a programação no controlador. Qualquer convencional, só que, nesse caso, deve-se tomar o cuidado de utilizar
alteração poderá ser executada facilmente mesmo quando o cliente o circuito específico de iluminação daquele ambiente, caso contrário,
já estiver morando na residência, e até mesmo remotamente, via pode-se observar ruídos provenientes de equipamentos ligados a esse
internet, por exemplo. Nesse caso, será fácil perceber os ganhos circuito de tomadas convencional. Já no caso da utilização de uma
que serão obtidos com uma instalação elétrica automatizada. tomada comandada para o acionamento de eletrodomésticos, como
Existe ainda mais um elemento que precisa ser levado em mencionado anteriormente, faz-se necessária a utilização do mesmo
consideração em relação à instalação com automação. Na Figura 2, circuito elétrico designado para as tomadas daquele ambiente, também
observa-se que o interruptor foi substituído por um pulsador que nada para se evitar ruídos nos circuitos de iluminação.
mais é do que uma chave normalmente aberta que possui retorno No próximo capítulo, abordaremos os conceitos de pré-automação,
por mola (botão tipo campainha). Esses pulsadores têm a finalidade sistemas stand-alone, centrais de automação e sistemas sem fio.
de fornecer para o sistema uma entrada, indicando que alguma carga
*JOSÉ ROBERTO MURATORI é engenheiro de produção formado pela Escola
deverá ser acionada. Em sistemas mais elaborados, esses pulsadores
Politécnica da Universidade de São Paulo, com especialização em administração
poderão ser substituídos por equipamentos eletrônicos denominados de empresas pela Fundação Getúlio Vargas. Foi membro-fundador da Associação
keypads, que são pequenos teclados (com eletrônica embarcada) em Brasileira de Automação Residencial (Aureside), a qual dirigiu por cinco anos. É
que é possível programar a função de cada uma de suas teclas. consultor na área de automação e palestrante.
PAULO HENRIQUE DAL BÓ é engenheiro eletrônico pela Universidade
Em ambos os casos, há a necessidade de se prever no projeto
Mackenzie e pós-graduado em automação industrial pela FEI. É professor do
uma infraestrutura específica para os cabos desses pulsadores,
curso de pós-graduação na Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec-SP) e
sendo que esta deve ser separada da infraestrutura dos cabos de diretor técnico da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside).
elétrica. Com essa nova infraestrutura, será possível interligar todos Continua na próxima edição
os pulsadores até o quadro de automação. Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
Outro conceito importante que quase sempre causa confusão e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
Apoio
54
Automação residencial

Capítulo IV
Soluções em automação residencial
Por José Roberto Muratori e Paulo Henrique Dal Bó*

Nos últimos anos temos vivenciado uma crescente instalados possam ser “integrados”, ou seja, é necessário
evolução nos mais variados sistemas residenciais, que estes sistemas se comuniquem por meio de um
incluindo as próprias soluções em automação sistema centralizado ou distribuído, mas que seja
residencial. Vários fatores impulsionaram este possível unificar a plataforma de controle. Dessa forma,
desenvolvimento, como o crescimento da indústria de será possível utilizar diferentes tipos de interfaces para
sistemas de segurança com alarmes e monitoramento comandar diversos sistemas residenciais.
via câmeras (CFTV); a difusão do conceito de home Outra pergunta que deixa o usuário iniciante com
theater como um ambiente quase obrigatório dentro certa dúvida é: o que é uma cena ou cenário? Trata-se
de uma residência; a redução de preços dos televisores de um conjunto de ações pré-programadas que irão
viabilizando a implantação de sistemas de distribuição ocorrer de forma sequencial, atuando nos diversos
de áudio e vídeo residencial; além da diversidade de sistemas instalados em uma residência. Uma cena ou
sistemas de som ambiente. cenário pode ser acionado por qualquer dispositivo de
O desenvolvimento de novos protocolos de controle interface, como um simples pulsador, um keypad, uma
e comunicação permitiu a interação inteligente entre tela de toque, um SMS, um e-mail, um comando de
equipamentos, incentivando e muito o mercado de voz, uma página na internet, etc. Outro fator importante
automação residencial. Pesquisas mostraram que o neste processo é a escolha do tipo de sistema a ser
mercado de automação residencial nos Estados Unidos implantado. Este processo envolve diversos fatores,
movimentou, até 2002, aproximadamente US$ 1,6 como o estágio atual do andamento da obra, o capital
bilhão e, até 2008, algo em torno de US$ 10,5 bilhões. que se pretende investir e, finalmente, a adoção de uma
Além do status, da praticidade e do conforto, tecnologia adequada a esta instalação.
outros fatores como segurança, economia de energia Os primeiros sistemas voltados para a automação
e valorização do imóvel vem sendo considerados residencial surgiram no início dos anos 1970 e eram
na decisão de implantar um sistema de automação baseados na tecnologia chamada de PLC (Power
residencial. Contudo, uma vez tomada a decisão de Line Carrier), que utiliza a própria rede elétrica para
automatizar um imóvel, inúmeras dúvidas surgem em fazer a transmissão dos comandos. Esta tecnologia
relação a quais subsistemas irão se integrar ao sistema deu origem a uma categoria de redes denominadas
de automação residencial. Muitas vezes, é necessário Powerline Networks. Os desenvolvedores que se
esclarecer este conceito ao cliente respondendo à basearam nesta tecnologia partiram da necessidade de
pergunta: o que é integração de sistemas residenciais? seus clientes de controlar a iluminação e até mesmo
Para que o usuário possa controlar totalmente sua eletrodomésticos, presentes em diferentes pontos da
residência, é importante que todos os sistemas nela casa, sem a necessidade de executar a instalação de
Apoio
55

um novo cabeamento. O controle é feito por meio do envio de Outro protocolo que seguiu na linha das “Powerlines Networks”
mensagens dos transmissores para os receptores, utilizando a própria foi o UPB (Universal Powerline Bus), que teve sua origem voltada
rede elétrica existente e incorporando funções básicas do tipo liga/ para aplicações de automação residencial. Ele foi desenvolvido em
desliga, dimerização e cenários. 1999 pela empresa americana PCS (Powerline Control Systems). O
O precursor neste segmento foi o protocolo X10, desenvolvido projeto do UPB foi baseado no princípio de funcionamento do X10,
em 1975 pela empresa escocesa “Pico Eletronics”, e que tinha porém, algumas melhorias foram conseguidas no protocolo, como o
como objetivo permitir o controle de dispositivos de maneira aumento da velocidade da transmissão dos dados e, principalmente,
remota em uma residência. O sistema X10 é considerado a melhoria na confiabilidade da rede.
como a primeira tecnologia desenvolvida exclusivamente para O LonWorks é uma tecnologia de redes desenvolvida em
a automação residencial. A grande vantagem do X10 está na 1988 pela empresa americana Echelon, Inc. A técnica teve seu
facilidade de instalação, pois utiliza o cabeamento elétrico já desenvolvimento baseado em padrões da automação industrial e
existente, e na simplicidade da programação. Porém, como toda predial. A tecnologia LonWorks é sofisticada, constituindo uma
tecnologia pioneira, o X10 enfrentou seus problemas e estes foram rede de alto desempenho e que utiliza roteadores e repetidores
sendo solucionados ao longo do tempo. Um deles era o envio que garantem o não looping de mensagens, comum em redes
de comandos (mensagens) para equipamentos que estão sendo com roteamento. Uma prova de sua complexidade é que a pilha
alimentados por fases diferentes, neste caso, por não haver uma de protocolos Lon Works implementa as sete camadas do modelo
conexão física faz-se necessário o emprego de acopladores de fases OSI (Open Systems Interconnection). Na camada física, o LonWorks
que normalmente são instalados no quadro elétrico. Outra questão pode utilizar cabos de pares trançados, coaxiais, fibras óticas,
importante era em relação à instabilidade do sistema em instalações infravermelho e também powerline, além de prever comunicações
elétricas mal projetadas ou com alto grau de ruído elétrico. A via rádio (sem fio).
patente original do protocolo X10 expirou em dezembro de 1997, O HomePlug Powerline Alliance desenvolveu dois padrões
possibilitando que vários fabricantes passassem a desenvolver e para comunicação em “Powerlines Networks”, o HomePlug 1.0
fabricar novos produtos baseados em X10. Dessa forma, mesmo – que é baseado na tecnologia Intellon PowerPacket e permite
com o surgimento de novas tecnologias, o X10 ainda mantém seu boa velocidade de comunicação – e o padrão HomePlug AV –
espaço, principalmente considerando o seu legado instalado. que é ainda mais avançado e pode chegar a taxas de 200 Mbps,
Apoio
56

sendo capaz de transmitir conteúdo multimídia e HDTV por a uma grande variedade de aplicações que vão desde dispositivos
Automação residencial

meio da rede elétrica. que trabalham à bateria até dispositivos mais sofisticados para
Em 1984, a EIA (Electronic Industries Association), atualmente serem aplicados em automação comercial e industrial. Por esta
chamada de CEA (Consumer Electronics Association), formou razão, a sua operação está baseada em uma rede mesh (malha)
um comitê técnico para desenvolver um ambicioso padrão para de alta resiliência (capacidade de se readaptar a mudanças), com
interconectar todos os tipos de dispositivos dentro de uma residência. dispositivos que consomem pouca energia e tenham baixo custo.
Este padrão foi batizado de CEBus (Consumer Electronics Bus) e Embora a transmissão de um único dispositivo consiga alcançar
despendeu um enorme esforço para unificar as comunicações em alguns metros, todos os dispositivos da rede se comportam como
aplicações residenciais. Para tal, foram escolhidas sete diferentes retransmissores de mensagens, o que aumenta significativamente o
tipos de meios de transmissão para que fosse analisado qual seria alcance da rede como um todo.
o mais adequado para esta aplicação. Os meios de comunicação O Z-Wave é um padrão de rede roteada e sem fio desenvolvida
selecionados foram os cabos coaxiais, cabos de pares trançados, pela empresa dinamarquesa ZenSys AS e foi concebida para
cabos de fibras óticas, powerline, rádio, infravermelho e áudio/ aplicações de controle de dispositivos residenciais. É uma tecnologia
vídeo. O comitê técnico do CEBus recebeu inúmeras soluções de que também mantém seu foco no desenvolvimento de dispositivos
diversos fabricantes que defendiam sua tecnologia e demonstravam de baixo custo, fáceis de instalar, confiáveis, que possuam baixo
as suas principais características em relação aos demais. Ao final, o consumo de energia. Os fabricantes de equipamentos Z-wave
comitê técnico escolheu a tecnologia Intellon que é baseada em uma precisam homologar seus produtos com a Z-Wave Alliance, para
combinação de comunicação powerline e rádio. O Intellon utilizava que seja possível garantir a sua interoperabilidade em qualquer
a técnica de espalhamento espectral (spread spectrum), o que era rede Z-wave. Cada módulo Z-wave é considerado um nó da
muito inovador para aquela época. Em 1994, os membros da EIA rede, sendo que a topologia formada é de uma única rede mesh
publicaram o padrão CEBus sob a designação EIA-600. O principal (malha), ou seja, qualquer nó da rede consegue se comunicar com
fator que impediu o progresso e a disseminação massiva do padrão outro, pois há um processo de roteamento das mensagens pelas
CEBus foi a sua complexidade e, consequentemente, o seu custo. Os demais nós da rede. À medida que a quantidade de nós da rede
principais fabricantes da época não abraçaram o padrão CEBus e ele aumenta, naturalmente, o tempo de latência da comunicação pode
não conseguiu ser adotado plenamente pelo mercado. aumentar. Contudo, com novos nós na rede, há a possibilidade de
Seguindo o conceito do CEBus, em 2001, foi desenvolvido pela serem estabelecidas novas rotas, que poderão propiciar valores de
“SmartLabs Inc.” o padrão Insteon que também utiliza as tecnologias atrasos iguais ou até mesmo menores.
de powerline e rádio combinadas. Contudo, o seu desenvolvimento A banda de UHF (Ultra-High Frequency) é muito utilizada
esteve atrelado à fabricação de equipamentos de baixo custo, que por inúmeros métodos de sinalização proprietários, que operam
possibilitasse uma melhor penetração desta tecnologia no mercado. na faixa de frequência de 260 MHz a 470 MHz. Existem muitos
Trata-se de uma rede ponto a ponto (peer-to-peer), em que todos equipamentos no mercado que já utilizam esta faixa de frequência,
os dispositivos da rede podem transmitir, receber ou repetir as sendo que muitas destas aplicações são populares e operam
mensagens sem a necessidade de um controlador principal (master) em 433 MHz. Exemplos delas estão em sistemas de alarmes,
ou algum tipo de roteamento de dados mais complexo. Um controladores de luz, controle remoto para carros e controle
ponto interessante no desenvolvimento da tecnologia Insteon foi a remoto de portões de garagem. Como se trata de uma banda de
preocupação em manter a sua compatibilidade com a tecnologia frequência não licenciada, os órgãos regulamentadores exigem que
X10, respeitando todo um legado de equipamentos já instalado. O estes dispositivos operem apenas em caráter intermitente e a baixas
Insteon procurou resolver os problemas de sinalização em redes potências de transmissão, o que normalmente resulta em alcances
exclusivamente baseadas em powerline, utilizando uma topologia de da ordem de dezenas de metros. Há muitos anos, esta tecnologia
rede denominada dual mesh (malha dupla), em que os dispositivos vem sendo desenvolvida de maneira independente e por diversos
podem se comunicar utilizando tanto via powerline como via rádio. fabricantes, sendo que estes utilizam diferentes tipos de esquemas
O protocolo utilizado para esta comunicação foi denominado de modulação e métodos diversificados de codificação de dados.
Insteon RF. Ou seja, não há um padrão de comunicação efetivamente aberto,
Partindo para o segmento de tecnologias totalmente baseadas em desta forma, não é possível garantir a interoperabilidade entre
rádio (sem fio), as principais tecnologias utilizadas em automação equipamentos de fabricantes diferentes.
residencial são o ZigBee, o Z-wave e o UHF (Ultra-High Frequency). Todos os sistemas mencionados até o momento possuem
O ZigBee é um padrão de rede roteada e sem fio desenvolvida uma característica muito importante que é a pouca interferência
em 2005 pela ZigBee Alliance e baseada no padrão IEEE 802.15.4. na instalação elétrica já existente, ou seja, devido a esta maior
O nome ZigBee deve-se ao fato de que, por conta do roteamento, facilidade de instalação, eles são mais indicados para instalações
as mensagens trafegam na rede em zigue-zague (Zig) como se existentes e em pequenas reformas. Voltando para o segmento
fossem abelhas (Bee). A tecnologia foi desenvolvida para atender dos sistemas efetivamente cabeados, ou seja, sem a utilização
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Apoio
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dos cabos da rede elétrica (sistema powerline), precisamos ainda preços mais acessíveis quando comparados com grandes centrais de
Automação residencial

definir alguns conceitos importantes, como o da chamada “pré- automação residencial. Estes sistemas atendem a uma grande fatia
automação”, dos sistemas denominados “stand-alone” e ainda das do mercado consumidor, em especial a aqueles clientes que desejam
“centrais de automação”. obter os benefícios da automação em apenas alguns ambientes da
O conceito de pré-automação está fundamentado na utilização residência. Com a interligação de vários controladores stand-alone,
de um equipamento eletromecânico denominado “relé de pode-se implantar sistemas de automação mais complexos.
impulso”. O relé de impulso nada mais é do que um dispositivo As centrais de automação são controladores com capacidade
que recebe pulsos provenientes dos botões (pulsadores) instalados para atender uma maior quantidade de pontos de entrada e saída
nos ambientes e que comutam a sua saída, por exemplo, a e, dessa forma, pode-se constituir sistemas complexos. A maioria
lâmpada, para o estado ligado/desligado de maneira sequencial. das centrais de automação é baseada em soluções de hardware
Para os amantes da eletrônica digital, podemos fazer uma analogia e programação proprietárias. Algumas centrais são baseadas em
com a função de um biestável, ou seja, um pulso na entrada liga a Controladores Lógico Programáveis (CLP), que possuem alto
saída; outro pulso na entrada desliga a saída. Este simples conceito grau de confiabilidade e grande capacidade de processamento.
permite estabelecer um novo conceito nos projetos de instalações Possuem diversos tipos de interfaces de entrada como pulsadores,
elétricas residenciais, pois, simplifica-se e muito a quantidade de keypads e receptores de infravermelho para efetuar comandos via
fios na instalação, principalmente, em ligações de interruptores controle remoto.
paralelos e intermediários, como explicado no capítulo anterior. As centrais de automação são instaladas em um quadro
Como o custo do relé de impulso é relativamente baixo, utilizando de automação centralizado, para onde todos os retornos das
o conceito de pré-automação, é possível implementar funções cargas são levados, formando uma topologia física em estrela.
básicas de automação residencial, como por exemplo uma cena De acordo com o projeto, pode-se dividir a instalação em dois
“Master Off” para desligar todas as lâmpadas ao sair de casa. A ou mais quadros de automação que serão interligados por meio
infraestrutura de tubulação necessária para a implantação deste de um cabo de comunicação de dados. Por exemplo, pode-se
sistema é bastante simples e já deixa a instalação preparada para, instalar um quadro de automação para atender o pavimento
no futuro, ser capaz de receber um sistema de automação sem a inferior e outro para atender o pavimento superior, sendo que
necessidade de grandes mudanças. esta prática reduz bastante a quantidade de infraestrutura e de
Os controladores autônomos, também conhecidos como stand- cabos utilizados na instalação.
alones, são controladores de pequeno porte, que têm como principal As centrais de automação são, normalmente, utilizadas
objetivo automatizar um único ambiente. Normalmente, cada para instalações maiores e com maior grau de complexidade.
controlador atende entre 4 e 8 zonas de iluminação, podendo ter Quando utilizadas em instalações de pequeno porte, as centrais
zonas dimerizadas convertidas para o acionamento de venezianas/ de automação possuem preços mais elevados em comparação
persianas/cortinas elétricas. Possuem diversos tipos de interfaces aos controladores stand-alone e aos sistemas sem fio. Contudo,
de entrada como, por exemplo: pulsadores, keypads e receptores à medida que a quantidade de pontos de entrada e saída vai
de infravermelho para efetuar comandos por meio de um controle aumentando, o custo do processador central vai sendo diluído,
remoto. Alguns modelos são instalados na própria caixa 4x4 ou 4x2, tornando o sistema financeiramente mais vantajoso em relação aos
outros requerem caixas 4x4 ou 4x8 com profundidade dupla. Este sistemas stand-alone distribuídos.
tipo de instalação requer pouca alteração na fiação, pois os retornos No próximo capítulo, abordaremos os principais subsistemas
das zonas já estão no ponto de instalação. Outra opção é a instalação utilizados em instalações residenciais, como sistemas de segurança
sob o forro de gesso, uma vez que a maioria dos retornos passa por (centrais de alarmes, circuito fechado de TV, monitoramento
este espaço. Neste caso, uma boa prática de instalação é posicionar remoto e controle de acesso), sistema de áudio e vídeo, sistemas de
o controlador próximo a uma caixa de som embutida no gesso para climatização e utilidades.
facilitar o acesso em uma futura manutenção.
É possível interligar vários controladores stand-alone para formar *JOSÉ ROBERTO MURATORI é engenheiro de produção formado pela Escola
um sistema integrado. Neste caso, o controle de toda automação Politécnica da Universidade de São Paulo, com especialização em administração
de empresas pela Fundação Getúlio Vargas. Foi membro-fundador da Associação
será distribuído pois não haverá um controlador principal do
Brasileira de Automação Residencial (Aureside), a qual dirigiu por cinco anos. É
sistema. Estes controladores poderão ser interligados por cabos de consultor na área de automação e palestrante.
comunicação de dados e instalados fisicamente distribuídos pelos PAULO HENRIQUE DAL BÓ é engenheiro eletrônico pela Universidade
ambientes da residência. Os controladores poderão ainda ser Mackenzie e pós-graduado em automação industrial pela FEI. É professor do
curso de pós-graduação na Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec-SP) e
instalados concentrados dentro de um quadro de automação central,
diretor técnico da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside).
formando uma topologia física em estrela.
Continua na próxima edição
Os controladores stand-alone são a porta de entrada para os Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
instaladores de sistemas de automação residencial, pois possuem e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
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Automação residencial

Capítulo V
Automação residencial –
principais subsistemas
Por José Roberto Muratori e Paulo Henrique Dal Bó*

Conforme mencionado em capítulos anteriores, últimos têm a vantagem de serem menos agressivos
o termo “automação residencial” no Brasil acabou esteticamente e apenas “informam” uma central
englobando todas as tecnologias de uso doméstico e não sobre a ocorrência de tentativas de invasão, enquanto
apenas os controles relacionados à instalação elétrica, os primeiros criam uma barreira física ostensiva que
já discutidos em detalhes. Portanto, é a integração de provoca choques em eventuais invasores.
diversos subsistemas que define um conceito amplo de
automação conforme adotado por aqui.
Neste capítulo, vamos abordar e discorrer sobre as
principais características destes subsistemas e quais os
tipos de integração mais comumente utilizados pelos
usuários de sistemas residenciais automatizados.

Figura 1 – Infravermelho ativo (IVA).


Sistemas de segurança
Sistemas de segurança que utilizam eletrônica Soluções mais avançadas, como cabos
embarcada são cada vez mais comuns, principalmente microfônicos, que são instalados dentro dos muros,
nas grandes metrópoles. Em um sentido mais amplo do alambrados ou mesmo no piso podem detectar
termo, podemos incluir não só a questão da segurança impactos (tentativas de arrombamento), enviando
pessoal e patrimonial, como também o sentimento de estas informações para o monitoramento. A instalação
uma liberdade sem riscos vivenciada dentro de uma destes alarmes sempre é feita considerando-se zonas
habitação. Assim, incluímos também a prevenção delimitadas, principalmente em perímetros irregulares
de acidentes, a assistência remota para pessoas ou com grandes metragens. O zoneamento facilita a
necessitadas e funções correlatas. identificação mais rápida e precisa da localização de
Dentre as soluções mais comuns, destacamos os onde partiu o alarme.
alarmes contra intrusão, o monitoramento por meio de Os alarmes de intrusão também podem ser de
câmeras (CFTV) e o controle de acesso. ocupação. Neste caso, a invasão do perímetro pode
Os alarmes contra intrusão podem ser periféricos, não ter sido detectada, mas a ocupação de algum
ou seja, instalados no entorno do imóvel para evitar que ambiente interno da residência deve ser alarmada.
intrusos adentrem a área privativa. Podem ser utilizadas Para estas situações, normalmente são utilizados
cercas elétricas ou feixes de raios infravermelhos. Estes sensores de presença e detectores de abertura
Apoio
43

de portas ou janelas. Aqui também os diversos ambientes


da casa devem ser divididos em zonas não só para permitir
a identificação do local da ocorrência, mas também para
possibilitar que determinados ambientes sejam normalmente
utilizados pelos moradores enquanto outros permaneçam
protegidos pelos alarmes ativos.
O zoneamento destes alarmes, bem como a sua programação, é
executado por uma central de alarme, a qual também se encarrega
Figura 2 – Imagem de câmera de segurança.
de sinalizar e registrar as ocorrências e comunicá-las por meio de
ligações telefônicas ou mensagens via SMS. Mais à frente, neste Uma das características mais utilizadas nestes sistemas,
capítulo, vamos abordar outras possíveis integrações a partir de quando instalados em áreas domesticas, é a possibilidade
uma central de alarme. de visualizar as imagens à distância pela internet. É possível
Já o monitoramento por câmeras, ou Circuito Fechado de Televisão utilizar tanto câmeras comuns ligadas a um DVR (gravador
(CFTV), tornou-se rapidamente um sistema de uso amplo, tanto em digital de imagens) conectado à rede, como câmeras IP, que
condomínios como em residências unifamiliares. Graças à redução têm endereço próprio e podem ser acessadas diretamente por
acentuada de custo das câmeras e ao uso intensivo da internet, a browsers com o uso de senhas.
facilidade de instalação e de uso deste sistema tem estimulado a sua Muitos usuários já se sentem à vontade no manuseio de
utilização com as mais variadas motivações. Talvez a maior delas alguns destes sistemas mais básicos e inclusive utilizam
ainda seja a proteção patrimonial, tanto contra roubos e violência dispositivos móveis, como smartphones ou tablets, para
como contra atos de vandalismo. No entanto, tem aumentado visualizar suas imagens domésticas a partir de qualquer ponto
muito a sua utilização como câmeras “de conforto” para monitorar com acesso à internet.
crianças, pessoas doentes, portadoras de deficiências ou mesmo Tanto sistemas baseados em câmeras IP como aqueles que
como supervisão de trabalhos domésticos ou áreas de lazer têm as imagens armazenadas em discos rígidos ou servidores
(piscinas, playgrounds e outras). externos dispõem de elementos adicionais que permitem
Apoio
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gerar sinais para outros sistemas da casa. Esta facilidade será Ao profissional de automação, seja projetista ou integrador,
Automação residencial

utilizada para integração no plano da automação residencial, caberá a tarefa de interligar os sistemas existentes dentro
conforme veremos adiante. do contexto da automação residencial com a finalidade
Outra solução com o uso crescente é o controle de acesso de maximizar os resultados do conjunto, sem interferir no
por meio eletrônico. Entre as interfaces mais utilizadas destaca-se funcionamento especifico programado para os alarmes,
atualmente a leitura biométrica das digitais. Acoplando uma câmeras e sistemas de acesso da residência.
leitora biométrica a uma fechadura elétrica temos um eficiente Como mencionamos ao descrever cada subsistema
sistema de controle personalizado que dispensa uso de chaves e de segurança, todos eles permitem especificar interfaces
senhas, facilitando a rotina diária e aumentando a segurança. Além relativamente simples para integração com a automação da
disso, esta solução permite personalizar comandos do sistema de casa. Por exemplo, um disparo de alarme, além de ser utilizado
automação por meio da impressão digital de cada morador. pelo sistema específico para as devidas comunicações, pode
interagir com o sistema de iluminação, iluminando as zonas
alarmadas com o sistema de vídeo da casa, abrindo a imagem
das câmeras num canal específico em qualquer monitor de TV
da casa e assim por diante.
Outro exemplo seria a criação de cenários personalizados
para cada morador quando detectada sua presença pelo leitor
biométrico da entrada. Isso pode incluir as cenas
pré-programadas de iluminação, cortinas, ar-condicionado e
som ambiente, por exemplo.
Como já comentamos, a integração proporcionada pela
Figura 3 – Controle de acesso via leitura biométrica das digitais.
automação permite maximizar os resultados esperados
Outras modalidades de controle de acesso podem usar com relação à segurança da residência sem interferir no
teclados (para senhas) ou leitores de cartão magnético, mas são funcionamento isolado de cada subsistema.
principalmente de uso em unidades comerciais e de serviço.
Ainda pouco utilizados, mas potencialmente muito Áudio e vídeo
importantes, temos os chamados alarmes técnicos, que Estes sistemas também se popularizaram muito nos últimos
incluem detectores de vazamento de gás, de fumaça e de anos. A maioria das residências já dispõe, no mínimo, de uma
inundação. Em alguns países, seu uso já é regulamentado, sala de TV que muitas vezes já pode ser considerada um home
inclusive pode ser obrigatório em determinadas construções. theater em função dos equipamentos utilizados. A propagação
No Brasil, a obrigatoriedade é restrita aos empreendimentos dos sistemas de tevê a cabo, de locação de filmes e de jogos
comerciais, em que sistemas de detecção e combate a incêndio eletrônicos também acaba por transformar este ambiente em
são regulamentados pelos órgãos competentes e incluem uma autêntica central de entretenimento.
detectores de fumaça e sprinklers. Com a facilidade que dispomos hoje em dia de obter e
No entanto, para uso residencial, antevemos um potencial armazenar músicas, imagens e filmes, aumentam as opções de
de uso elevado para estes alarmes, em primeiro lugar porque uso para equipamentos originalmente utilizados apenas para
seu custo de implantação é baixo e também porque quando assistir programas de tevê ou reproduzir filmes gravados em
utilizamos sistemas automatizados sua eficiência é ampliada mídias tradicionais como o DVD.
pela possibilidade de conexão com outros sistemas de controle Assim, é natural que moradores queiram ampliar o uso destas
da casa. No caso de apartamentos, com a utilização quase facilidades, tanto em relação à distribuição para mais ambientes,
compulsória de sistemas de medição individualizada de água quanto a criação de controles universais que integrem as funções
e gás, a instalação de válvulas de fluxo permite o corte de fundamentais de áudio e vídeo (aumento de volume, troca de
suprimento nas unidades de consumo no caso de vazamentos, fontes ou canais) com funções típicas da automação residencial
evitando acidentes. (iluminação, cortinas, ambientação em geral).
Nesta abordagem resumida dos sistemas de segurança, podemos Com relação ao ambiente “home theater” em si, a
perceber que a sua amplitude e complexidade normalmente utilização de telas de grande porte ou mesmo de projetores
vão exigir a participação ativa de profissionais especialistas na e telas retráteis é um fator mandatário. Receivers de potência
especificação e na instalação dos equipamentos. Recomenda-se que adequada integram várias fontes (DVD, radio, iPod, TV a cabo
estes sistemas tenham seu funcionamento autônomo preservado, entre outros) e simulam a ambientação dos efeitos sonoros, por
pois muitas vezes envolvem a utilização de centrais externas de meio de recursos já disponíveis na sua programação básica:
monitoramento para obter os resultados esperados. podemos assistir shows com a sensação de estar em um grande
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estádio ou em um jazz club, podemos ver filmes e sentir todo localização central.
o envolvimento criado pelos seus produtores com os efeitos Para obter máximo desempenho dos sistemas de áudio
especiais, entre outras opções. e vídeo, é cada vez mais utilizada função de mídia centers
Ao investir em uma central de áudio e vídeo, é natural que com o equipamento principal. Este pode ser um equipamento
os moradores pretendam também usufruir o entretenimento em específico, já adequado à utilização multimídia , um PC
outros ambientes da casa. Surgem assim os sistemas multizonas, adaptado a esta finalidade ou mesmo um servidor com
em que é possível levar os programas desejados (sons e/ou capacidade de memória expandida, a fim de armazenar todos
imagens) a partir da central para diversos ambientes e controlar os arquivos desejados pelo morador, normalmente compostos
individualmente a origem (fonte) do programa e o seu nível de de vídeos, trilhas sonoras, imagens, etc. organizados em pastas
volume. Isso pode ser feito por controles remotos ou dispositivos de fácil acesso.
localizados em cada ambiente (normalmente denominados Como podemos ver, os nossos conhecidos home theaters
keypads e que podem inclusive conter visores de cristal líquido não pararam de evoluir e já atingem status de verdadeiros
que indicam a programação de som/imagem do ambiente). sistemas multimídia. Com todo este potencial de conteúdo e
Os receivers mais atualizados tecnologicamente já incluem entretenimento, nada mais natural que o sistema de áudio e
uma segunda zona de áudio, mas se o morador pretende vídeo seja considerado um dos principais “pilares”, quando se
expandir o número de ambientes com controle individualizado cogita da integração de sistemas sob a perspectiva da automação
vai precisar de amplificadores e sistemas dedicados a este fim. residencial. Em capítulos posteriores, vamos detalhar quais as
Um sistema mais completo para sonorização de diversos interfaces mais comumente utilizadas para esta integração e
ambientes tem uma topologia de instalação muito similar aos quais as funções mais solicitadas pelos usuários.
sistemas de automação. Ou seja, podemos ter situações em
que a amplificação de potência é descentralizada (e os keypads Climatização
de cada ambiente fazem a função de mini-amplificadores) ou Quando se mencionam os sistemas de climatização de um
centralizada, em que um amplificador central tem diversas imóvel no Brasil, é muito comum pensar em primeiro lugar no
zonas de amplificação e os cabos das caixas acústicas são sistema de ar-condicionado. E, muito embora seja realmente o
levados diretamente dos diferentes ambientes para esta mais utilizado em função de nosso clima predominantemente
Apoio
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tropical, existem outros subsistemas que são também utilizados contrapiso. No primeiro caso, é necessária a geração de água
Automação residencial

com a função de climatizar adequadamente um ambiente, tal quente por meio de sistemas específicos (aquecedores, boilers,
como o aquecimento de piso, calefação e sistemas de ventilação. caldeiras) para abastecer a tubulação.
Com relação ao ar-condicionado nas residências, utiliza-se Na segunda opção, utilizam-se mantas térmicas, que
amplamente o sistema de “spliters”, em que a cada máquina são condutores de eletricidade, resistentes e isolados, e
condensadora equivale uma evaporadora (aquela que fica são compostas de cabos especiais que, uma vez aquecidos,
localizada nos ambientes climatizados). As condensadoras transmitem a temperatura para o contrapiso.
podem ficar concentradas em um único local ou acompanhar
a evaporadora, mas sempre em local aberto que possibilite a
troca de calor com o ambiente externo. A operação pelo usuário
normalmente é feita por comandos na parede ou simplesmente
com controles remotos baseados em infravermelho.
Alternativamente, podem ser utilizados equipamentos
com centrais condensadoras que atendem a múltiplas saídas
(evaporadoras) e conseguem, por meio de processamento
eletrônico, controlar a temperatura e demais variáveis de
cada ambiente isoladamente. Neste caso, é mais comum
encontrarmos soluções embarcadas de automação que atuam
Figura 4 – Piso aquecido.
na central, controlando todo o funcionamento do maquinário,
uma vez que o grau de complexidade é maior e é exigida uma Em ambos os casos, existem termostatos para controle da
performance de máxima eficiência do conjunto. temperatura local em cada ambiente e que desligam o sistema
A automação embarcada nos sistemas de ar-condicionado, automaticamente quando a temperatura escolhida foi alcançada e
na maioria das vezes, é obtida com o uso de sistemas mantida, só religando em caso de uso mais prolongado e se houver
proprietários, não permitindo uma integração direta com a necessidade de recompor a temperatura novamente. É necessário
outros sistemas de automação residencial. Assim, muitas vezes, que o sistema seja ligado com alguma antecedência em relação ao
é necessário desenvolver interfaces caso a caso se o morador horário de uso efetivo, pois o calor demora algum tempo para ser
deseja um grau de integração complexo, ou seja, transferir distribuído igualmente pela superfície. Deve ser levado em conta
todos os controles originais do sistema de ar-condicionado que cada tipo de piso – madeira, cerâmica, etc. – que possui um
para o de automação residencial. No entanto, a situação mais coeficiente de absorção de calor diferente e isso afeta o tempo
comum que observamos é o desejo de comandos mais simples, inicial da operação.
tais como liga/desliga por ambiente ou liga/desliga geral. Uma De modo similar, operam diversos sistemas de calefação de
vez determinado um set point de temperatura padrão para cada ambiente, independentemente do tipo de energia que consomem.
ambiente, esta função de liga/desliga fica muito conveniente, Portanto, estes sistemas também têm um controle autônomo
tanto para operação rotineira como para comandos do tipo que pode ser utilizado pelo morador sem a necessidade de
integração com a automação. Neste caso, o sistema central,
“desliga geral” utilizados para deixar a residência vazia na
se existente, poderia cuidar de só permitir que o sistema seja
ausência dos moradores.
acionado em determinados horários ou em dias mais frios com a
Assim como em outros sistemas, o acionamento da
finalidade de poupar energia.
climatização pode ser feito à distância, via celular ou internet,
desde que a instalação da casa esteja configurada para esta
Utilidades
facilidade (ver referencia em outros capítulos – acionamentos
Neste capítulo, podemos listar uma série de subsistemas que
à distância).
se encarregam de aspectos operacionais da habitação, alguns deles
A ventilação normalmente é um recurso já disponível no
com utilização ampla outros ainda com uso restrito a determinadas
sistema de ar-condicionado e pode ser ativada por comandos
situações. Entre os mais importantes, citamos:
específicos. Outros tipos de equipamentos, como ventiladores
comuns ou de teto, podem ser controlados por tomadas
- Sistema de aspiração central a vácuo
comandadas criadas a partir do sistema utilizado para a Neste caso, a central de vácuo (aspirador) fica situada em um
automação da instalação elétrica. ambiente previamente escolhido, normalmente, em áreas de
Sistemas de piso aquecido podem utilizar dois tipos de serviço ou garagens e uma tubulação de 2” é distribuída pelo
soluções: aquecimento por meio de tubulação de cobre em imóvel, terminando nos ambientes em conexões de engate para
forma de serpentinas com água quente circulando em seu mangueiras. Trata-se praticamente de um sistema hidráulico que
interior ou por cabos especiais (ou mantas) instalados no deve ser, de preferência, implantado durante a construção do
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imóvel em vista das interferências que provoca na sua estrutura. e confiabilidade à operação rotineira do sistema pelos usuários.
A especificação das distâncias entre os engates e a central vai Dentro da mesma categoria, ainda poderíamos listar outros
se basear no tipo e na potência da central instalada e, por isso, subsistemas na área de utilidades, a saber:
o projeto é normalmente desenvolvido pelos fornecedores do
equipamento. O grau de integração com a automação da casa • Limpeza e filtragem de piscinas, hidromassagens e spas;
é mínimo, pois trata-se de um subsistema com funcionamento • Sistemas de bombas de recalque (água limpa, água servida, água
bastante autônomo. pluvial);
• Sistema de aquecimento de água, inclusive alternância entre
- Irrigação automatizada sistemas alternativos (elétrico/gás/solar);
Quando uma residência conta com um projeto paisagístico, é • Aquecimento de toalhas;
importante que a irrigação seja projetada, a fim de atender cada • Desembaçadores de espelhos.
área especifica dos jardins, tanto em função da insolação como do
tipo de vegetação escolhida. Uma vez determinada a frequência das
regadas para cada setor da área externa plantada, o sistema pode
ser automatizado, garantindo que as plantas estejam saudáveis e
atendam às características decorativas ou funcionais determinadas
*JOSÉ ROBERTO MURATORI é engenheiro de produção formado pela Escola
no projeto paisagístico. Politécnica da Universidade de São Paulo, com especialização em administração
de empresas pela Fundação Getúlio Vargas. Foi membro-fundador da Associação
A utilização de sensores de chuva e/ou de medidores de umidade Brasileira de Automação Residencial (Aureside), a qual dirigiu por cinco anos. É
do solo garante um desempenho ótimo ao sistema, evitando regadas consultor na área de automação e palestrante.
PAULO HENRIQUE DAL BÓ é engenheiro eletrônico pela Universidade
desnecessárias. A maioria dos sistemas de irrigação automatizada
Mackenzie e pós-graduado em automação industrial pela FEI. É professor do
conta com, pelo menos, timer de programação, no entanto, pode
curso de pós-graduação na Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec-SP) e
também ter algum tipo simples de automação embarcada. Será diretor técnico da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside).
decisão do profissional de automação determinar o tipo e o nível Continua na próxima edição
de integração conveniente, que não interfira no funcionamento Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
programado da irrigação, mas que possa acrescentar mais facilidade e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
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Automação residencial

Capítulo VI
O projeto integrado de infraestrutura
Por José Roberto Muratori e Paulo Henrique Dal Bó*

O que é um projeto integrado? características principais de cada sistema residencial e,


Em um projeto convencional de uma edificação, fazendo a leitura apropriada das necessidades do seu
a disciplina de engenharia elétrica é responsável pelo cliente, formular o projeto integrado.
projeto de instalações elétricas. Em uma visão simplista, Assim, um projeto integrado deve levar em conta os
durante muitos anos este projeto se limitava a definir os seguintes sistemas:
circuitos de tomadas e de iluminação da casa, cuidando
também da proteção destes circuitos. • Automação da instalação elétrica (complementos ao
As notáveis mudanças tecnológicas, principalmente projeto elétrico);
da virada dos anos 1990 para cá, passaram a exigir um • Telecomunicações (dados / voz / imagem);
projeto muito mais completo, incluindo novas disciplinas. • Segurança eletrônica;
O grande salto nas telecomunicações, segurança e • Áudio e vídeo;
entretenimento domésticos está levando algum tempo para • Climatização;
se incorporar aos novos projetos. E, quando isso acontece, • Utilidades (bombas, irrigação, aquecimento de água e outros).
muitas vezes temos projetos fragmentados, incompletos e
até mesmo redundantes. Normalmente, a infraestrutura destes sistemas é
Isso porque, ao invés de um único especialista cuidar executada por um mesmo pessoal de obra. Estamos aqui
de todo o projeto, começaram a surgir profissionais de falando, por enquanto, apenas de conduítes, caixas de
áreas emergentes (como áudio / vídeo e segurança, por passagem, quadros de distribuição, etc. ainda sem o
exemplo), interferindo nos projetos originais para agregar cabeamento e, muito menos, sem os equipamentos finais.
a eles as suas necessidades. Portanto, tratando-se de um único executor, é
Sem a contribuição de uma visão sistêmica, a importante que o projeto seja também compatibilizado e
implantação destes conceitos é muitas vezes executada no apresentado de forma conjunta para execução em obra.
decorrer da obra, sem maiores preocupações em utilizar o
que fosse possível do projeto original. Isso resulta sempre Projetos básicos e projetos complementares
em custos crescentes, atrasos, enfim, ineficiência. Existe um conjunto de projetos elaborados
Para mudar este panorama, surgiu a integração fundamental para dar início ao processo de construção de
de projetos. Basicamente, trata-se de consolidar e uma residência. Estes projetos são de:
compatibilizar em um único formato os projetos das
diversas disciplinas, observando parâmetros de máximo • Arquitetura
desempenho. Não se está descartando a importante • Estrutura e fundações
contribuição dos especialistas de cada área, mas está • Instalações elétricas e hidráulicas
se argumentando sobre a necessidade crescente da
participação de um profissional que se encarregue de Ainda na fase de planejamento podem surgir os projetos
provocar esta integração. complementares, cujos principais exemplos seriam:
E este profissional que está despontando é o integrador
de sistemas residenciais. Sua primeira atividade (na ordem • Decoração de interiores (layout de mobiliário)
cronológica de um projeto) é justamente conhecer as • Luminotécnico
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• Climatização Por onde começar um projeto integrado?


• Segurança Avaliações iniciais
O conjunto de projetos básicos citado no item anterior é o
Idealmente, seria importante começar o projeto integrado somente primeiro passo para se familiarizar com o novo projeto que se
quando este conjunto de projetos já estivesse disponível. No entanto, inicia. Se possível, procure conhecer também o local onde será
o fundamental é que se tenha em mãos pelo menos os projetos construída (ou reformada) a residência. Se a obra já estiver em
básicos. Os demais projetos podem ser desenvolvidos em paralelo, andamento, mais importante ainda será agendar uma visita in loco.
no entanto, isso tem que ser levado em conta no cronograma da obra. Sempre que possível, procure conhecer os outros profissionais
Esquematicamente, teríamos o diagrama a seguir: envolvidos com o projeto, destacadamente:
• O arquiteto responsável
Projeto • O engenheiro da obra ou empreiteiro
de Interiores • Equipe de instalações elétricas (se já contratada)
Luminotécnica Integração
(layout)
É muito comum, principalmente em obras em andamento,
que algumas alterações já tenham sido feitas nos projetos
originais durante a sua execução. Portanto, questione a validade
Automação
e a atualização dos projetos recebidos. Caso tenha alguma dúvida
Segurança
Comunicação sobre este dado, não hesite em visitar o local da obra e constatar
(dados / voz /
Imagem) pessoalmente a validade dos projetos para executar o seu.
Muitas vezes, é necessário levantar algumas informações
básicas antes ainda de ser contratado, uma vez que
Instalações
determinadas características de um trabalho podem alterar o
elétrica Áudio e vídeo Climatização
volume de horas técnicas designadas para o desenvolvimento
e hidráulica
Utilidades de um projeto integrado.
As principais informações, nesta fase, seriam:
Apoio
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Neste quesito, devemos lembrar que muitas obras têm uma


Automação residencial
Tabela 1 – Informações iniciais
Quais os projetos que já estão contratados? duração medida em anos, o que é um tempo considerável para
Quais os profissionais contratados e seus contatos? que nossa memória apague certos detalhes que só podem ser
Tipo de construção: resgatados se tiverem sido devidamente registrados e arquivados.
Nível admissível de intervenção (infraestrutura):
Estágio da obra:
Paredes: Organização dos elementos de projeto
Contrapiso: Antes de iniciar os traçados das plantas, propriamente ditos,
Pintura:
Pavimentos (se houver mais de um): recomenda-se organizar todos os elementos que farão parte do
Cronograma: projeto, dividindo-os segundo a sua aplicação e o subsistema
Previsão de entrega da obra:
Atualizações de projeto: do qual fazem parte. Segue um modelo de relação deste tipo
de organização:
Ao levantar este conjunto inicial de dados sobre o projeto
Tabela 1 – Áudio e vídeo
que se inicia, você estará criando uma base consistente de HOME THEATER PRINCIPAL
informações inclusive para formular uma proposta de trabalho. TIPO SIM/NÃO TIPO/MARCA QUANTIDADE
Quais as informações relevantes? A partir da análise Projetor multimídia
feita com base nos dados iniciais você poderá estabelecer Suporte para projetor
Lifter para projetor
cronogramas de trabalho.
Tela retrátil para projeção
Será, então, necessário entrar na segunda etapa do Monitor de tevê
levantamento de informações, estas mais diretamente ligadas às Caixas acústicas de embutir
tecnologias que serão implantadas por meio do projeto integrado. Caixas acústicas externas
Subwoofer
Nesta etapa, devem ser levantadas as informações mais
Receiver A/V
relevantes para cada um dos subsistemas.
DVD player
Blue ray
Áudio e vídeo Ipod
• Tevê por assinatura Media center
Gravador de DVD
• Rede de informática
Videokê
• Telefonia Condicionador de energia
• Segurança (alarmes / CFTV / controle de acesso)
• Controle de iluminação SISTEMA DE SOM AMBIENTE
TIPO SIM/NÃO TIPO/MARCA QUANTIDADE
• Cortinas, venezianas e todos
Caixas acústicas de embutir
• Utilidades
Caixas acústicas de
• Proteção elétrica / energia alternativa sobrepor

Caixas acústicas all


Tabulação de dados weather

Potenciômetro simples
Como vimos, a quantidade de dados levantados desde o
Keypad de comando
início de um projeto começa a tomar proporções consideráveis, (multiroom)
tornando necessário o seu planilhamento e organização. Repetidor de infravermelho
Esta organização tem três objetivos principais: Amplificador de som
ambiente

Seletor de caixas acústicas


1. Facilitar a consulta destes dados durante o desenvolvimento
do projeto; Tabela 2 – Dados, voz e imagem
2. Criar uma documentação que sirva de base para a entrega do DADOS / VOZ / IMAGEM

projeto executivo, demarcando qual o padrão de desempenho TIPO SIM/NÃO TIPO/MARCA QUANTIDADE
Central telefônica
combinado entre o seu cliente e você no início do projeto;
Aparelho programador de
3. Facilitar a manutenção futura das instalações. telefonia

Aparelho comum
Recomenda-se arquivar cópias dos levantamentos originais, Aparelho de telefonia IP
Roteador
inclusive o questionário inicial preenchido pelo morador. Estes
Access Point
documentos muitas vezes serão confrontados pelos diversos
Servidor
participantes do projeto para se certificarem de alguns detalhes Decodificador de tevê por
que podem ter sido negligenciados no decorrer da obra. assinatura
Apoio
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Automação residencial
Tabela 3 – Sistema de segurança Tabela 5 – Utilidades
ALARMES MONITORADOS AUTOMAÇÃO ELÉTRICA
TIPO SIM/NÃO TIPO/MARCA QUANTIDADE TIPO SIM/NÃO TIPO/MARCA QUANTIDADE
Central de alarme Irrigação automatizada
Teclado - aspersor
Botoeira - sensor de umidade de
Sensor de presença solo
Sirene - sensor de chuva
Sensor de abertura de - central
portas e janelas microprocessada
Sensor de quebra de vidro Aspiração central
Cerca elétrica - central de aspiração
Infravermelho ativo - mangueira
Nobreak - pontos de conexão
Baterias - pá automática

Desembaçador de espelho
CIRCUITO FECHADO DE TV
TIPO SIM/NÃO TIPO/MARCA QUANTIDADE Aquecedor de toalhas
Micro câmera P/B Piso aquecido
Micro câmera colorida
Devemos ressaltar que parte destas informações, principalmente
Câmera especial
DVR (Digital Vídeo quantidades, pode ser estabelecida no decorrer do projeto.
Recorder) No entanto, preencher pelo menos a coluna SIM / NÃO do
Placa de captura de vídeo checklist apresentado proporciona uma maneira eficaz de não
Servidor
se esquecer de nenhuma inserção de material ou equipamento
Modulador
no projeto.
CONTROLE DE ACESSO
TIPO SIM/NÃO TIPO/MARCA QUANTIDADE
Portão automático Interfaces de integração
Porta automática Partindo desta visão analítica e detalhada de cada um dos
Cancela
subsistemas tecnológicos do nosso projeto, o passo seguinte
Fechadura elétrica
será estudar onde e quais interfaces serão necessárias para
Leitor de cartão
magnético promover a integração entre elas.
Leitora biométrica Estas interfaces são necessárias para que diferentes
Teclado protocolos de transmissão sejam “entendidos” pelos
Tabela 4 – Automação elétrica subsistemas conforme planejado. Neste sentido, também
AUTOMAÇÃO ELÉTRICA deverão ser especificados quais softwares serão utilizados e
TIPO SIM/NÃO TIPO/MARCA QUANTIDADE com qual finalidade. Resolvida esta etapa, em que tratamos
Central de automação (*)
de interfaces “técnicas” que são transparentes ao usuário final,
(*) unidade central de
será necessário tratar também das interfaces destinadas ao uso
processamento

(*) módulo de entrada rotineiro dos moradores.


(*) módulo de saída simples Por estarmos tratando de um projeto de automação
(*) módulo de saída residencial, é importante ter sempre em mente a praticidade
dimerizado
destas interfaces. O próximo capítulo vai tratar dos detalhes das
(*) fonte de alimentação
(*) modem interfaces mais utilizadas atualmente e que estão à disposição
(*) comando dos projetistas e integradores.
infravermelho

Minicentral de controle *JOSÉ ROBERTO MURATORI é engenheiro de produção formado pela Escola
de iluminação Politécnica da Universidade de São Paulo, com especialização em administração
Relé de empresas pela Fundação Getúlio Vargas. Foi membro-fundador da Associação
Interface para persianas e Brasileira de Automação Residencial (Aureside), a qual dirigiu por cinco anos. É
cortinas consultor na área de automação e palestrante.
Sensor especial PAULO HENRIQUE DAL BÓ é engenheiro eletrônico pela Universidade
Termostato Mackenzie e pós-graduado em automação industrial pela FEI. É professor do
Painel touchscreen curso de pós-graduação na Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec-SP) e
Trilho motorizado para diretor técnico da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside).
cortinas Continua na próxima edição
Keypad especial Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
Nobreak e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
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Automação residencial

Capítulo VII
Interfaces e aplicações especiais de
automação residencial
Por José Roberto Muratori e Paulo Henrique Dal Bó*

Em capítulos anteriores, mencionamos os principais keypads normalmente contêm um circuito eletrônico que
sistemas, subsistemas e requisitos para um projeto de possibilita que cada botão ao ser acionado emita um sinal
infraestrutura para automação residencial. Tratamos de código diferenciado. Assim, em um mesmo keypad
apenas de passagem a questão das interfaces com o podemos, por exemplo, comandar luzes de um ambiente
usuário. Neste capítulo, vamos avançar mais neste tema, de forma individual e utilizar outro grupo de botões para
pois, na visão do usuário de um sistema de automação, executar cenários mais complexos, inclusive envolvendo
normalmente leigo, a maneira como ele interage com o outros ambientes.
sistema é de vital importância para o seu êxito. Os formatos e o design destes keypads variam muito,
Normalmente, em uma mesma residência habitam pois cada fabricante desenvolve o seu produto de forma
diversos usuários, com idades e características pessoais proprietária.
diferentes no que tange à facilidade de interagir com a Talvez a interface que mais seja associada à
tecnologia. Além disso, existem usuários em tempo parcial automação residencial seja o controle remoto universal.
(hóspedes, alguns prestadores de serviço, por exemplo). Isso porque o próprio conceito de integração de sistemas
Por isso, em um projeto de automação bem desenvolvido sugere uma diversidade de controles específicos que, uma
pode ser necessária a utilização de diferentes interfaces vez considerados em conjunto, mostram-se excessivos,
para atender a esta diversidade entre os moradores e os redundantes e de difícil assimilação pelo usuário. Assim, é
usuários. normal que o usuário final anseie por um único controle,
Provavelmente, a interface mais simples que de preferência móvel, que lhe permita não só comandar
podemos considerar é um pulsador, substituindo um individualmente cada um dos subsistemas, mas também
tradicional interruptor e, externamente, mantendo a executar comandos mais complexos envolvendo todas as
mesma aparência. A diferença, conforme discutido em possibilidades.
capítulos anteriores, é que o pulsador consegue enviar Existem controles universais simples com teclas.
um comando, mesmo que simples, a um processador No entanto, ficam difíceis de utilizar por serem pouco
que, por sua vez, executa uma função pré-programada. intuitivos. Assim, os controles com telas que utilizam
Dessa maneira, um simples toque do usuário em um telas de toque (touchscreen) e ícones gráficos se tornaram
pulsador pode desencadear uma função complexa, desde a interface mais adequada para sistemas integrados.
que este seja o seu desejo e tenha sido assim programada. Os mais eficientes utilizam, além da transmissão
Em determinadas situações, esta interface, tão por infravermelho (comum à maioria dos aparelhos
simples, pode ser a melhor alternativa a ser utilizada, domésticos), também a transmissão por radio frequência,
dada a sua intuitividade de uso. Comandos do tipo ampliando em muito o raio de alcance dos comandos
“desligar tudo” ao sair de casa ou deixar a casa no “modo e permitindo “esconder” parte dos equipamentos a
viagem” são exemplos deste uso. serem controlados. Geralmente, estes controles também
Uma extensão do conceito de pulsador são os utilizam protocolos de transmissão proprietários de seus
chamados “painéis ou teclados inteligentes” ou, mais fabricantes, o que obriga ao integrador escolher uma
comumente, keypads. Por definição, um keypad agrupa plataforma e utilizá-la na integração, o que é feito por
diversos botões pulsadores em um teclado múltiplo e cada meio do software disponibilizado pelo mesmo fabricante.
botão pode ser programado com diferentes funções. Estes Um desenvolvimento recente que tem mudado muito
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as tendências nesta área foi o surgimento dos smartphones e, em automação residencial. Destina-se a usuários mais avançados que
Automação residencial

sequência, dos tablets. Com características similares às dos controles pretendem modificar e/ou atualizar sistematicamente sua programação
universais (uso de ícones e telas de toque), a utilização de aplicativos e esta interface se mostra bastante conveniente para esta aplicação.
específicos possibilita criar também interfaces adaptadas aos sistemas Muitas pesquisas têm sido feitas também para utilização de
de automação, potencializando o seu uso ainda mais. Ou seja, estes interfaces ainda mais avançadas como reconhecimento da fala e de
equipamentos que já permitiam utilizar a rede sem fio da casa para gestos. Aplicações práticas já são tecnicamente viáveis e poderão em
acessar e navegar na internet, assistir vídeos, ouvir musicas, manter breve ser utilizadas de forma rotineira. Entre os maiores beneficiários
agendas e se comunicar, passam a ser também controles universais dos deste tipo de interface estarão portadores de algum tipo de
equipamentos domésticos. Tudo isso sem comprometer a mobilidade, deficiência física que podem superar suas atuais barreiras e comandar
garantida pela cobertura da rede sem fio da residência. Os principais equipamentos domésticos utilizando estas soluções.
aplicativos atualmente em uso utilizam a plataforma do iPad da Apple
ou Android, mas espera-se que na medida em que novas plataforma se Aplicações especiais de automação residencial
tornem mais comercializadas, não faltarão aplicativos para se integrar Ao tratarmos do tema “interfaces”, podemos constatar o alcance
com a automação residencial. que os benefícios da automação residencial podem ter em situações
Ainda podemos utilizar os telefones celulares, por meio de especiais, como ao tratar com portadores de deficiências, idosos e
suas mensagens SMS, para acionamentos remotos de sistemas de necessitados de cuidados especiais.
automação domésticos. A transmissão pode ser tanto do usuário O tema da acessibilidade tem dominado as discussões tanto no
para a casa como vice-versa. Ou seja, a casa pode se comunicar campo da arquitetura como da engenharia. A automação residencial
enviando “torpedos” para seus moradores no caso de algum evento não poderia ficar alheia ao desenvolvimento de soluções específicas
a ser notificado, assim como os usuários podem enviar comandos ou neste sentido. Embora muitas edificações novas (principalmente
receber status de situações correntes em suas residências. Mais uma espaços públicos) tragam em seus projetos arquitetônicos a questão
vez, este tipo de interface deve ser escolhida pelo integrador desde do “desenho universal” já incorporada, os moradores de residências
que faça sentido seu uso pelo morador nas circunstâncias previstas. ainda não são privilegiados neste quesito.
Menos comum, no entanto, viável tecnologicamente, pode ser a Projetar e edificar casas “inclusivas” é uma tendência irreversível.
utilização de um PC ou notebook como interface para sistemas de Ao lado de padrões de sustentabilidade, aliados tanto à questão dos
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materiais utilizados como da eficiência energética, a acessibilidade ser feito em qualquer pulsador comum da casa quando pressionado
no decorrer de toda a vida útil da casa deve ser um recurso previsto por um tempo maior (por exemplo) ou por dispositivos móveis, como
desde o seu projeto. Por se tratar de um bem de uso contínuo e por pulseiras que emitem sinais de rádio e se comunicam com sistemas
longo prazo, uma casa deve possibilitar que seus moradores a utilizem instalados na casa. A partir do recebimento de um alarme deste tipo,
durante toda a sua vida, nas mais variadas condições físicas e de além de comunicar o evento aos interessados (parentes, centrais
saúde, independente de sua faixa etária. de monitoramento ou até mesmo centros médicos e serviços de
Levando esta questão para o campo da automação residencial, urgência), o sistema de automação local pode acionar determinados
é importante que o profissional da área projete soluções e interfaces equipamentos ou executar comandos compatíveis com a situação
que comportem esta evolução, sejam flexíveis ao longo do tempo e (ligar luzes, liberar abertura de portas, suprimir entrada de gás, dentre
adaptáveis às necessidades futuras ou eventuais dos moradores. outros).
Como exemplo, um usuário em perfeitas condições físicas pode Todas estas constatações mostram o terreno fértil que podem
sofrer algum acidente ou ter um problema de saúde temporário e se tornar as aplicações de automação residencial que visam à
necessitar de interfaces especiais durante seu período de recuperação. acessibilidade dos moradores e auxiliar nos seus cuidados especiais
Ao envelhecer, pode ter mais dificuldades em operar algum tipo sempre que for necessário.
de sistema que exija maior acuidade visual ou destreza nas mãos.
Crianças pequenas ou pessoas analfabetas podem também necessitar *JOSÉ ROBERTO MURATORI é engenheiro de produção formado pela Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, com especialização em administração
de interfaces específicas, mesmo que temporariamente.
de empresas pela Fundação Getúlio Vargas. Foi membro-fundador da Associação
Com a participação cada vez maior da terceira idade entre os
Brasileira de Automação Residencial (Aureside), a qual dirigiu por cinco anos. É
consumidores, algumas soluções tendem também a ser incorporadas e consultor na área de automação e palestrante.
integradas às residências. Uma das mais importantes é a denominada PAULO HENRIQUE DAL BÓ é engenheiro eletrônico pela Universidade

“home care”, ou seja, a possibilidade de monitorar e cuidar da saúde Mackenzie e pós-graduado em automação industrial pela FEI. É professor do
curso de pós-graduação na Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec-SP) e
dos moradores de uma residência à distância.
diretor técnico da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside).
Sistemas que utilizam de botões de pânico podem indicar que
Continua na próxima edição
um morador corre perigo, seja por ter sofrido um mal súbito, uma Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
queda ou qualquer situação atípica. Este acionamento de pânico pode e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
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40
Automação residencial

Capítulo VIII
Automação e eficiência energética
Por José Roberto Muratori e Paulo Henrique Dal Bó*

Nos últimos anos, as questões relativas à preservação personagem, que muitas vezes é considerado “o
ambiental tomaram espaço nas mídias especializadas chato” e que passa pelos cômodos apagando as luzes
e trouxeram à tona vários conceitos de preservação e reclamando da “conta de luz”. Mesmo uma casa
dos recursos naturais. Nos anos 1980, já tínhamos nas estando toda automatizada, não há como fugir da
escolas a divulgação de temas ligados à preservação premissa de que toda lâmpada ligada consome energia
ambiental e que na época eram chamados de ecologia. elétrica. Então, cabe a nós, usuários domésticos,
Em meados de 1992, ocorreu na cidade do Rio de estarmos sempre atentos aos consumos desnecessários
Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio mesmo que os sistemas de automação possam estar de
Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), que ficou alguma forma zelando por isso.
mais conhecida como ECO-92. Esta conferência tinha
como objetivo principal buscar meios de conciliar o Algumas soluções
desenvolvimento socioeconômico com a conservação e Um equipamento bastante simples, que pode
proteção dos ecossistemas da Terra. Mais recentemente, ser adotado e com baixo custo, é a utilização de
estes temas voltaram a ter maior relevância por meio sensores de presença para ligarem automaticamente
da difusão do conceito de sustentabilidade e eficiência as luzes. Porém, muitas vezes é muito mais efetivo
energética. Atualmente, as empresas, tanto grandes o uso de sensores de “não presença” para apagarem
redes de supermercados como construtoras, buscam automaticamente as luzes quando não for detectada a
formas de atrelar a sua imagem institucional a elementos presença de pessoas naquele ambiente. Estes conceitos
ligados à sustentabilidade. devem ser empregados com muita cautela, pois há
Então, podemos nos perguntar, como a automação muitas situações em que podemos ter o acionamento
residencial pode contribuir neste aspecto? Ou mais ou desligamento indevido, como o clássico exemplo de
especificamente, como a automação residencial pode aplicações em banheiros. Os sensores de presença se
colaborar para a redução do consumo de energia mostram muito eficazes, principalmente em edifícios
elétrica? em que a circulação de pessoas é mais constante. Se
Bem, vários métodos podem ser implementados combinados com uma função de temporização, como
por sistemas de automação para que possamos de as famosas minuterias, podemos alcançar resultados
alguma forma reduzir os gastos com energia elétrica. ainda melhores.
O primeiro deles é bem simples: toda lâmpada acesa Uma questão bastante interessante é a utilização
desnecessariamente pode ser desligada e assim de sistemas de aquecimento solar para residências.
contribuir para a redução do consumo de energia Resumidamente, estes sistemas são compostos por
elétrica em uma residência. placas coletoras que aquecem a água que passa pelo
Toda família tem, em sua residência, este seu interior e pelo boiler, ou caldeira, que armazena
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a água aquecida para uso posterior. Na maioria dos sistemas, a suficientemente a água durante o dia, automaticamente esta será
circulação de água é feita pelo efeito denominado “termo-sifão” sem aquecida pelas resistências elétricas.
a necessidade de bomba de circulação. Este breve descritivo serve para esclarecer por que há moradores
Como o sol não é uma fonte de energia constante, nem sempre que se queixam do consumo excessivo de energia elétrica em suas
haverá aquecimento suficiente nos coletores solares. Dessa forma, residências, mesmo tendo investido em um sistema de aquecimento
a água armazenada no boiler terá uma redução na sua temperatura solar.
podendo esfriar completamente, deixando o morador sem água Vamos imaginar uma família de quatro pessoas em que o hábito
quente para o banho. de banho, isto é, a utilização de água quente, seja no período da
Contudo, os boilers possuem isolantes térmicos que têm a manhã, entre 6h e 8h. Considere que, no dia anterior, o nível de
missão de reduzir ao máximo esta perda de calor fazendo a água insolação tenha sido alto e que os coletores solares conseguiram
permanecer quente por longos períodos de tempo. Entretanto, encher completamente o boiler com água quente. Neste caso, mesmo
dependendo do consumo e das condições climáticas, por exemplo, estando o apoio elétrico do boiler ligado (habilitado), o termostato
vários dias nublados consecutivos, haverá a necessidade de aquecer impedirá que as resistências liguem, pois a água já está quente o
a água armazenada no Boiler. Neste caso, utiliza-se um dispositivo suficiente. Neste caso, não haverá consumo de energia elétrica.
interno ao boiler denominado “apoio elétrico”. Portanto, toda a água quente que será gasta no banho da família foi
O apoio elétrico do boiler nada mais é do que uma ou mais produzida exclusivamente utilizando o aquecimento solar.
resistências instaladas internamente ao reservatório que têm a missão Entretanto, considere agora que, no dia anterior, o nível de
de aquecer a água no seu interior quando a temperatura interna da insolação foi baixíssimo (dia nublado e frio) e que os coletores
água estiver baixa. Para fazer este controle, a forma mais simples é a solares não conseguiram encher o boiler com água quente. Como o
utilização de um termostato instalado internamente ao reservatório e apoio elétrico do boiler está ligado (habilitado) e a água está fria, o
que é ligado em série com o banco de resistências. termostato permitirá que as resistências liguem iniciando o consumo
Dessa forma, estando ligado o circuito de alimentação do apoio de energia elétrica. Portanto, toda a água quente que será gasta no
elétrico, normalmente em 220 V, as resistências somente serão banho da família foi produzida utilizando o aquecimento elétrico.
ligadas se a temperatura da água estiver abaixo de um determinado Isto não é um grande problema, uma vez que um chuveiro elétrico
valor (função do termostato). Assim, caso o sol não aqueça convencional também consome energia elétrica para aquecer a água
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do banho. Porém, um chuveiro elétrico só consumirá energia elétrica ou também conhecido como “master off”. Como o nome sugere,
Automação residencial

durante o período de tempo em que permanecer ligado. esta cena irá desligar cargas pré-programadas e que possam
A questão fundamental a ser considerada em sistemas de permanecer desligadas durante a ausência do morador, como
aquecimento solar de água é o fato de que, como relatado iluminação, aquecedores, ares-condicionados, bombas de
anteriormente, em dias nublados e frios o sistema permanecerá circulação, etc. Não serão desligados, obviamente, os circuitos
aquecendo a água sem que ela seja consumida de imediato. de tomadas, principalmente aqueles relativos à alimentação de
Voltando ao nosso exemplo, como o perfil de consumo da geladeiras e freezers. Deve-se ter bom senso na escolha dos
família é o de utilizar a água quente no período da manhã, as equipamentos que serão desligados, pois muitos equipamentos
resistências elétricas do boiler irão aquecer a água durante todo dia eletrônicos podem perder a sua programação se ficarem longos
e a madrugada, ao mesmo tempo em que as condições climáticas períodos sem alimentação, por exemplo, no caso de uma viagem
tendem a esfriar esta mesma água que está sendo aquecida (pela da família. Mas, de qualquer forma, este é um recurso muito
energia elétrica). Neste exemplo, o sistema mostra-se ineficiente, interessante, já que garante que nenhuma carga ficará ligada
pois desperdiça energia elétrica para produzir água quente desnecessariamente.
desnecessariamente.
Nesse sentido, a automação residencial pode auxiliar muito Iluminação e economia de energia
o sistema de aquecimento solar por meio da implantação de um Talvez o recurso de automação residencial mais divulgado
simples programador horário que irá habilitar e desabilitar o apoio pelos fabricantes para demonstrar a economia de energia elétrica
elétrico do boiler, inibindo o acionamento das resistências nos na iluminação seja o recurso de dimerização de lâmpadas. A
momentos em que a água não está suficientemente quente para o dimerização é feita por meio do controle da potência entregue para
banho e, portanto, não será consumida neste momento. a lâmpada, proporcionado uma variação de 0 a 100%.
Esta é uma implementação simples, bastando utilizar uma
saída do controlador de automação residencial ou um simples Pode-se dimerizar lâmpadas dos tipos:
programador horário autônomo para acionar uma contatora que
será ligada em série com o circuito de alimentação do apoio elétrico • incandescentes, halógenas e dicroicas (filamentos);
do boiler. No nosso exemplo, considerando que o apoio elétrico • fluorescentes com reatores dimerizáveis (0-10V);
consegue aquecer toda a água do boiler em três horas, bastaria • alguns tipos mais recentes de Leds.
programar a contatora para ligar às 3h e desligar às 6h. Dessa forma,
se garante que a família tenha água quente para o banho no horário Para efetuar o controle de potência em lâmpadas de filamento,
desejado e se otimiza o consumo de energia elétrica. são empregados triacs, que são componentes semicondutores nos
quais podemos controlar o início da sua condução de energia para
“Master off” a lâmpada (ângulo de disparo). As formas da onda senoidal durante
Em uma residência 100% automatizada, uma função a dimerização de lâmpadas de filamento para os principais níveis de
bastante interessante é a utilização do cenário “desliga tudo” dimerização são mostradas na Figura 1.

Figura 1 – Formas da onda senoidal durante a dimerização de lâmpadas de filamento.


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Em 100%, a tensão na carga é igual à tensão da rede (senoide Muitos fabricantes apenas invertem este discurso para demonstrar
completa). Já em 50% de regulação de potência, temos os disparos o percentual de potência economizada na lâmpada. Ou seja, se
(condução) feitos exatamente na metade dos semiciclos positivo e regulamos um dimmer para 90%, temos 10% de economia de energia
negativo. e veremos que a variação do fluxo luminoso será imperceptível.
Observe que, para 25% ou 75% de regulação, os disparos O fluxo luminoso é a quantidade total de luz emitida por uma
são feitos não exatamente em um quarto dos semiciclos positivo e fonte em sua tensão nominal de funcionamento, sendo que a unidade
negativo, pois a potência de 25% ou 75% será representada pela de medida é o lúmen (lm).
função integral desta curva (área). É importante ter em mente que, ao programar um canal de
Para entender as relações entre dimerização e eficiência dimmer para um determinado valor, estamos ajustando o nível de
energética, é preciso entender alguns conceitos importantes sobre potência que será entregue para a lâmpada e não um fluxo luminoso
lâmpadas: específico. Lembre-se que o fabricante do equipamento não conhece
o modelo da lâmpada e da luminária que estará sendo utilizada.
• potência consumida A eficiência luminosa é a relação entre o fluxo luminoso total
• fluxo luminoso emitido por uma fonte de luz e a potência por ela consumida, sendo
• eficiência luminosa que a unidade de medida é o lúmen/watt (lm/W). Na Figura 3, temos
um gráfico muito interessante que mostra a eficiência luminosa
A potência consumida na lâmpada é diretamente proporcional obtida para diferentes tipos de lâmpadas.
à potência regulada pelo dimmer, conforme mostrado na Figura 2. Observe que as lâmpadas incandescentes são as grandes “vilãs”
Potência regulada Potência consumida Potência economizada da história devido ao fluxo luminoso gerado versus o grande consumo
pelo dimmer pela lâmpada pela lâmpada de energia que ela exige. Estas lâmpadas são muito pouco eficientes
90 % 90 % 10 % do ponto de vista energético embora sejam ainda amplamente
75 % 75 % 25 % utilizadas devido ao seu custo de produção ser muito baixo.
50 % 50 % 50 %
Vamos entender agora as relações proporcionadas pela
25 % 25 % 75 %
dimerização quanto à redução do nível de luminosidade, o consumo
Figura 2 – Relação entre regulação do dimmer e consumo de potência. de potência e o aumento da vida útil da lâmpada.
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Automação residencial

Incandescente Halógenas Mista Mercurio Fluor DULUX® Metálico LUMILUX® Sódio


10 a 15 15 a 25 WHL HQL Comum 50 a 80 HQI® 75 a 90 NAV®
20 a 35 40 a 55 55 a 75 65 a 90 80 a 140
Grupo de lâmpadas

Figura 3 – Eficiência luminosa para diferentes tipos de lâmpadas.

Redução Potência Potência Aumento da Dessa maneira, conclui-se que a redução do nível de
do nível de consumida economizada vida útil da luminosidade não é proporcional à potência economizada na
luminosidade na lâmpada pela lâmpada lâmpada lâmpada, considerando que a eficiência do filamento não é
90 % 90 % 10 % 2 vezes linear, conforme os dados mostrados na tabela da Figura 4.
75 % 80 % 20 % 4 vezes
A norma ABNT NBR 14671:2001 intitulada “Lâmpadas
50 % 60 % 40 % 20 vezes
com filamento de tungstênio para uso doméstico e iluminação
25 % 40 % 60 % > 20 vezes
geral similar – Requisitos de desempenho” traz, no seu Anexo H
Figura 4 – Relações entre nível de luminosidade, potência consumida e
vida útil da lâmpada. (informativo), um estudo sobre a “Influência da tensão elétrica
A tabela da Figura 4 é muito utilizada por fabricantes e de energização no desempenho da lâmpada incandescente”. De
projetistas luminotécnicos para demonstrar os benefícios da acordo com a norma, “a tensão elétrica aplicada a uma lâmpada
dimerização. Contudo, é muito importante observar que a incandescente (que depende das características do ponto de
primeira coluna da tabela diz respeito ao percentual de redução consumo) está intimamente ligada ao desempenho da lâmpada
do nível de luminosidade (ou fluxo luminoso) e não à regulação quando em serviço, podendo alterar a potência dissipada, o fluxo
de potência do dimmer. Este detalhe é fundamental, pois, ao não luminoso produzido, a temperatura de trabalho do filamento, a
se atentar a este ponto, pode-se tomar conclusões erradas sobre eficiência luminosa e a vida útil da lâmpada”.
esta tabela. A Figura 5 nos mostra as relações entre estas grandezas
Para entender mais claramente estas relações, vamos analisar para um ensaio de uma lâmpada de filamento de 100 W sendo
um exemplo simples: alimentada por uma tensão de 127 V.
Considere que, em uma mesma luminária, estão instaladas
Tensão Potência Fluxo Eficiência Vida média
duas lâmpadas de 100 W e iremos proporcionar uma dimerização
elétrica elétrica luminoso luminosa (h)
com redução do nível de luminosidade em 50%. Pergunta-se: O
(V) (W) (lm) (lm/W)
consumo dessas duas lâmpadas equivaleria ao consumo de uma 127 100 1620 16,2 750
única lâmpada de 100 W ligada a 100%? 124 96 1438 15,5 1000
A resposta é: não, pois cada lâmpada de 100 W teria 60% de 120 92 1343 14,6 1600
potência consumida na lâmpada, ou seja, estaria consumindo 60 115 86 1161 13,5 2850
Fonte: NBR14671:2001
W. Portanto, as duas lâmpadas juntas consumem 120 W, o que é
Figura 5 – Desempenho de uma lâmpada de 100 W em diferente tensão
maior do que os 100 W consumidos por uma única lâmpada. de utilização.
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Algumas conclusões importantes podem ser observadas: limitado a sua aplicação com dimerização são o custo maior dos
Automação residencial

controladores de automação e, principalmente, o custo dos reatores


• Quanto maior for a tensão elétrica de projeto escolhida, maiores dimerizáveis que, muitas vezes, tornam a relação custo/benefício
serão o fluxo luminoso e a eficiência luminosa; proibitiva quando comparada com as novas aplicações com Leds.
• Quanto menor for a tensão elétrica, maior será a vida média e menor
será a potência elétrica (consumo). Medidores inteligentes – o futuro está chegando
Novas aplicações destinadas a garantir o máximo de eficiência
A grande diversidade de tensões de rede é um dos principais nas instalações elétricas residenciais estão surgindo com grande
problemas no projeto de lâmpadas incandescentes no Brasil. A velocidade, estimuladas pela onda do “smart grid”. Conforme as
principal dificuldade seria na Grande São Paulo, onde coexistem, concessionárias de energia conhecem melhor o padrão de consumo
principalmente, redes de 115 V, 120 V e 127 V (entre fase e neutro). de seus clientes, poderão implementar políticas de incentivo, seja pela
O problema é que esta tensão elétrica de utilização está dentro de redução de tarifas em horários de pico ou planos de fidelização (isto já
um intervalo muito extenso. Considerando estes fatos, a ABNT NBR é possível em países com políticas energéticas mais avançadas).
14671 apresenta a tensão elétrica de 127 V como a única opção de No entanto, independentemente do posicionamento das
tensão elétrica para os consumidores na faixa de 110 V a 127 V. concessionárias em relação a este tema, os consumidores
Para efetuar o controle de potência em lâmpadas fluorescentes, residenciais já dispõem de uma gama bem variada de equipamentos
é necessária a utilização de um reator dimerizável, ou seja, um que podem ser instalados imediatamente em suas casas, garantindo
reator específico para esta aplicação. Estes reatores possuem uma o melhor aproveitamento da energia.
entrada de tensão (0 a 10 V), que corresponderá ao nível de energia Estes novos produtos, os quais vamos denominar genericamente
que será entregue para a lâmpada e, consequentemente, à variação como “medidores inteligentes” (ou smart meters, em inglês), podem
do seu fluxo luminoso. ser plugados nos diferentes pontos de consumo da residência (ou no
Embora as lâmpadas fluorescentes apresentem uma boa quadro geral, opcionalmente) e mandam informações (normalmente
eficiência luminosa (vide Figura 3), um dos fatores que têm por protocolos de transmissão sem fio) para controladores no interior

Figura 6 – Exemplos de sistemas de medição de energia residencial.


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da residência. Este “controlador” pode até ser um simples PC carregado Obviamente, a introdução destes medidores no mercado brasileiro
com um software adequado para manipular as informações recebidas. ainda será tímida, pois talvez o principal incentivo à sua adoção tivesse
Com os medidores mais simples, o consumidor poderá de partir das nossas concessionárias de energia. Se as concessionárias
armazenar seus dados sobre consumo e utilizá-los para estatísticas, avaliassem a sua instalação, obteriam também um excelente retorno,
para comparativos, enfim para saber como anda o seu consumo de conseguindo acompanhar melhor as curvas de consumo de energia
energia em relação à sua vizinhança ou a outras famílias em situação dos seus consumidores, podendo distribuir a energia com mais
similar. Estas comparações vão permitir avaliar se o consumo de seus eficiência e menores custos para manutenção de suas redes. Para se
equipamentos domésticos está dentro das especificações médias ou ter uma ideia deste mercado em países mais evoluídos, a expectativa é
se precisam de ajustes ou até trocas. Aquecedores, climatizadores, de que no ano de 2014 o mercado norte-americano residencial deva
chuveiros, geladeiras, máquinas de lavar e secar, enfim, qualquer consumir 17 milhões de medidores inteligentes, o que corresponde a
equipamento cujo consumo possa afetar o gasto mensal de energia mais de 15% do total de residências do país.
poderá ser monitorado dessa forma. Na questão do uso mais eficiente da energia em ambientes
Alguns exemplos de sistemas de medição de energia residencial domésticos, o futuro da automação residencial está apenas
podem ser vistos nas imagens da Figura 6. começando...
Este tipo de aplicação é considerado como “stand alone” e
sua eficácia vai depender da dedicação que o consumidor tem *JOSÉ ROBERTO MURATORI é engenheiro de produção formado pela Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, com especialização em administração
ao avaliar os dados obtidos. Soluções muito mais eficientes serão
de empresas pela Fundação Getúlio Vargas. Foi membro-fundador da Associação
obtidas se integrarmos estes medidores a sistemas de automação
Brasileira de Automação Residencial (Aureside), a qual dirigiu por cinco anos. É
residencial. Neste caso, os “alertas” informados pelos medidores consultor na área de automação e palestrante.
poderão resultar em ações específicas, como desligar sistemas PAULO HENRIQUE DAL BÓ é engenheiro eletrônico pela Universidade

de aquecimentos, reduzir níveis de iluminação e outras ações Mackenzie e pós-graduado em automação industrial pela FEI. É professor do
curso de pós-graduação na Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec-SP) e
similares. Muitos destes medidores lançados ultimamente no
diretor técnico da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside).
mercado trabalham com protocolos de transmissão já conhecidos
Continua na próxima edição
e que permitem uma integração simples com uma variedade Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
significativa de sistemas de automação residencial já existentes. e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
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Automação residencial

Capítulo IX
Automação em áreas comuns de
condomínios residenciais
Por José Roberto Muratori e Paulo Henrique Dal Bó*

Nos últimos anos, ocorreram inúmeros esforços, “trabalho” pela frente. No entanto, temos de admitir
por parte dos fabricantes de equipamentos, de que já caminhamos bastante e que se trata de uma
profissionais qualificados e de associações, para a “viagem sem volta”. Analogamente ao que tivemos
difusão do conceito de automação residencial. O com os acessórios dos automóveis, em que travas
principal desafio sempre foi o de mostrar ao futuro e vidros elétricos que eram tratados como itens de
usuário os benefícios desta tecnologia e como ela extremo luxo, são hoje considerados itens básicos,
pode agregar valor não só na vida cotidiana dos já vindos de série em modelos mais populares.
moradores como também na valorização do imóvel Em paralelo a todo este desenvolvimento
em si. tecnológico, ocorreu uma verdadeira explosão da
Há cerca de dez anos, a automação residencial indústria da construção civil. A cada dia são lançados
era vista apenas como luxo e havia uma relação novos empreendimentos imobiliários e estes são
quase que imediata com a famosa “Casa dos vendidos a uma velocidade nunca antes imaginada.
Jetsons”. Com o passar do tempo, de um modo Fruto de uma aceleração econômica do país, as
geral ocorreu um aculturamento das pessoas com pessoas passaram a ter melhores oportunidades
itens relacionados à tecnologia. Contudo, a missão de trabalho e, consequentemente, mais acesso ao
de difundir os benefícios da automação residencial crédito oferecido por bancos e financeiras.
ainda não é uma tarefa fácil, principalmente para Desta forma, novos condomínios vêm surgindo
os mais céticos. Muitos daqueles conceitos de trazendo conceitos de segurança, sustentabilidade,
automação vistos como futuristas são hoje utilizados convivência com os amigos e qualidade de vida
com naturalidade por muitas famílias brasileiras. Os para a família. Hoje se têm nos empreendimentos,
sistemas estão cada vez mais acessíveis e as pessoas, ambientes que há poucos anos não faziam parte
no mínimo, já ouviram falar a respeito, seja pela dos projetos nem das grandes construtoras de
mídia em geral (jornais, revistas, televisão, etc.) ou condomínios de alto padrão. Bons exemplos são:
por algum amigo que já possui um sistema instalado espaço gourmet, sala de massagem, SPA, fitness
em sua residência. center, piscina coberta (25 m), salão de jogos,
A missão de divulgar a automação residencial brinquedoteca, play baby, play junior, garage band,
ainda está longe de terminar, há ainda muito espaço Pet, box para lavagem de carros, etc. A
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luzes podem ser simplificadas com um clique na tela de um


computador. Garantir que cargas, como iluminação, bombas
de recalque, saunas e ar-condicionado, não fiquem ligadas
desnecessariamente pode ser o primeiro passo para reduzir o
consumo de energia elétrica da área comum do edifício.

Elementos do sistema
Os conceitos de “cargas” e “acionamentos” utilizados na
automação residencial são mantidos nestas aplicações. Desta
forma, as cargas representam todos os equipamentos que serão
automatizados no edifício, por exemplo:

• Iluminação interna dos ambientes;


• Iluminação externa e paisagismo;
• Venezianas, persianas e cortinas motorizadas;
Figura 1 – Brinquedoteca da área comum de um edifício residencial.
• Bombas de recalque de água;
Figura 1 mostra a brinquedoteca da área comum de um edifício • Chamarizes e cascatas;
residencial. • Ares-condicionados;
O mercado de condomínios residenciais pode nos trazer • Sistemas de irrigação.
um novo olhar para as aplicações já desenvolvidas com a
automação residencial, porém, com o pensamento voltado para A Figura 2 mostra uma cascata da piscina que foi englobada
o uso coletivo, ou seja, na automação das áreas comuns de no sistema de automação e que pode ser acionada remotamente
edifícios residenciais. pela portaria.
Primeiro, deve-se pensar em como a automação pode Já os acionamentos, normalmente são feitos integralmente
contribuir na operação do edifício. Ações como ligar e desligar por meio de um sistema de supervisão e controle instalado na
Apoio
42
Automação residencial

Figura 2 – Cascata da piscina acionada remotamente da portaria.

portaria do edifício. Os acionamentos locais ficam limitados


a alguns pulsadores instalados em ambientes específicos,
como salão de jogos, sala de ginástica, salão de festas, etc. As
Figuras 3 e 4 mostram exemplos do computador do sistema de
supervisão e controle instalado na portaria do edifício.
Observe que o sistema de monitoramento por câmeras
(CFTV – Circuito Fechado de TV) está instalado ao lado do
sistema de supervisão e controle. Desta forma, o porteiro
pode identificar que, por exemplo, não há mais ninguém
Figura 4 – Sistema de supervisão e controle do edifício instalado na portaria.
utilizando o salão de jogos e assim desligar a iluminação e o
ar-condicionado deste ambiente. Este procedimento contribui Figura 5, temos a tela inicial de um sistema de supervisão e
para a redução do consumo de energia elétrica da área comum controle da área comum.
do edifício. Por meio deste sistema, é possível fazer a leitura
O sistema de supervisão e controle é constituído por das variáveis internas dos controladores situados no(s)
um computador tipo PC, em que é executado um software quadro(s) de automação (supervisão) e mostrar estes dados
específico para aplicações do tipo SCADA (System Control and na tela do computador, informando ao operador o status de
Data Acquisition). Deste computador, há uma comunicação funcionamento, alarmes, etc., de todas as cargas que foram
direta com o quadro de automação, instalado normalmente em automatizadas. O sistema permite também que sejam enviados
uma área reservada e que é denominada “Sala Técnica”. Na comandos para o(s) quadro(s) de automação (controle) fazendo
ser possível ligar e desligar as cargas.
O quadro de automação recebe as alimentações e todos os
“retornos” relativos às cargas automatizadas, sendo responsável
por sua comutação (ligação/desliga). Ele também abriga os
equipamentos relativos ao sistema de automação, tais como:

• Dispositivos de proteção elétrica;


• Fontes de alimentação;
• Módulos de entradas para pulsadores, sensores, etc.;
• Módulos de saídas “on/off” (relés);
• Módulos de saídas “dimerizadas” (dimmers);
• Interfaces de comunicação (serial, Ethernet, wi-fi, etc.);
• Canaletas, trilhos, bornes, cabeamento interno, etc.

Funcionalidades
Figura 3 – Sistema de supervisão e controle do edifício instalado na Algumas funções que são implementadas no sistema de
portaria.
Apoio
44
Automação residencial

Figura 5 –Tela inicial de um sistema de supervisão e controle da área comum.

controle e supervisão são: Conclusão


A cada dia surgem novos lançamentos de edifícios
• Controlar e monitorar todas as cargas que foram contempladas residenciais em que as construtoras buscam cada vez mais
no projeto de automação pela portaria do edifício, sem a oferecer um produto diferenciado em relação ao mercado.
necessidade de que o porteiro se ausente da guarita; Estes novos empreendimentos procuram aliar uma imagem de
• Um sensor crepuscular (dia/noite) fará, ao anoitecer, algumas modernidade, pela adoção de projetos voltados para o conceito
zonas de iluminação serem ligadas automaticamente conforme de sustentabilidade e inovação tecnológica. Desta forma, do
a programação definida pelo condomínio (“cena anoitecer”); ponto de vista das construtoras, a implementação de um sistema
• Será definido um horário, por exemplo às 23:00h, para que de automação para as áreas comuns do edifício traz um enorme
o edifício entre automaticamente em "modo econômico". diferencial de mercado. Do ponto de vista dos clientes e futuros
Neste horário, diversas zonas de iluminação serão desligadas moradores, a existência do sistema de automação demonstra
automaticamente sendo mantidas ligadas apenas as zonas de uma preocupação da construtora em relação à redução dos
iluminação essenciais para a operação do prédio durante o gastos do condomínio depois da obra entregue.
período noturno;
• Ao amanhecer, toda a iluminação será desligada
automaticamente, evitando assim que luzes permaneçam
acesas desnecessariamente durante o dia;
• Na ocorrência de um alarme ou evento programado, o sistema *JOSÉ ROBERTO MURATORI é engenheiro de produção formado pela
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, com especialização em
produzirá um alerta sonoro e mudará automaticamente para a
administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas. Foi membro-
tela de alarmes, informando ao porteiro sobre este evento;
fundador da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside), a
• O sistema efetua um registro de histórico de todos os alarmes qual dirigiu por cinco anos. É consultor na área de automação e palestrante.
e status do sistema de automação (gerador, bombas, níveis PAULO HENRIQUE DAL BÓ é engenheiro eletrônico pela Universidade
dos reservatórios, etc.). Estes alarmes poderão ser consultados Mackenzie e pós-graduado em automação industrial pela FEI. É professor
do curso de pós-graduação na Faculdade de Tecnologia de São Paulo
posteriormente por meio do computador da portaria;
(Fatec-SP) e diretor técnico da Associação Brasileira de Automação
• Em caso de um assalto ao edifício, pelo sistema de automação, Residencial (Aureside).
o porteiro poderá enviar um sinal de emergência para o sistema
Continua na próxima edição
de alarme. Neste caso, o sistema de alarme será responsável Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o
por reportar esta ocorrência à central de monitoramento. e-mail redacao@atitudeeditorial.com.br
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Automação residencial

Fim

Capítulo X
O futuro da automação residencial
Por José Roberto Muratori e Paulo Henrique Dal Bó*

O mercado 1,8 milhões de sistemas e a previsão para 2016 é


Será que finalmente as “casas inteligentes” farão de 12 milhões. Confirmados estes números, com
parte de nossa rotina? As mudanças no comportamento certeza teremos dentro de cinco anos um mercado
do consumidor e a chegada de novas tecnologias totalmente amadurecido.
convergentes e conectadas estão, aparentemente, Nos últimos anos, o mercado de automação
fazendo com que as pessoas passem mais tempo residencial se baseou muito em projetos para
em suas casas e também utilizando seus “gadgets”, novas residências, o que limitou de certa forma seu
aproveitando, entre outras coisas, a sua mobilidade e crescimento e abrangência. Estudos atualizados
interatividade. Um cenário perfeito para a indústria da mostram que esta tendência está mudando, ainda
automação residencial decolar de vez. lentamente, mas com indicadores firmes. No mercado
Num passado recente, as tecnologias domésticas norte-americano, por exemplo, hoje 60% dos
ainda assustavam, tanto pelo seu custo como projetos já estão voltados a imóveis existentes que
pela dificuldade de uso. O advento, entre outras passam por reformas e atualizações e apenas 40%
soluções, dos tablets e dos smartphones abriu novos são representados por projetos de novas residências.
horizontes de utilização para os usuários domésticos. Antes da crise de 2009, cerca de 90% dos projetos
Ao utilizarem estes produtos para finalidades tão eram voltados a novas edificações. Este panorama vem
diferentes como se comunicar, ouvir músicas, criar mudando inclusive devido ao surgimento de soluções
vídeos e outras, controlar a casa passou a ser apenas sem fio bastante confiáveis e simples de instalar e
mais uma das facilidades disponíveis. Além disso, a programar. Com a consolidação deste mercado, novas
ampla oferta de banda larga e de redes sem fio facilita oportunidades vão surgir referentes à manutenção e
ainda mais estas aplicações, extensíveis a qualquer re-programação de sistemas, um negócio pouco viável
ambiente da casa ou até das cidades. no dia de hoje em função de um parque instalado
Assim, direta ou indiretamente, a criação de um ainda não significativo.
estilo de vida mais conectado está trazendo muitos No Brasil, diversas construtoras estão apostando
moradores para o mercado de automação residencial no diferencial representado pela introdução da
também. Algumas estatísticas recentes dão conta automação residencial em seus projetos. E esta
que em 2011 serão comercializados globalmente característica do nosso mercado ajuda a criar potenciais
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sistemas de monitoramento a distancia utilizados não apenas para mais viáveis em termos de custo final. No entanto, barreiras comerciais
Automação residencial

segurança patrimonial como também para acompanhar a saúde dos e tecnológicas se impõem ainda no mercado e tornam este paradigma
moradores e suas necessidades especiais (de crianças, deficientes difícil de ser quebrado. Houve evolução neste cenário, logicamente.
ou idosos, por exemplo). A partir deste tipo de utilização, também A utilização, por exemplo, de plataformas IP, comuns a diversas
prevemos o surgimento de diversos serviços inovadores que vão interfaces, e o desenvolvimento de múltiplos aplicativos simples
desde “cuidadores à distância” até a entrega em domicílio de de baixar e utilizar ajudam a superar algumas destas dificuldades
bens e serviços resultantes de comandos automáticos dos sistemas para o usuário comum. No entanto, em médio prazo, ainda será
de supervisão (caso, por exemplo, de medicamentos, consultas necessário fazer a integração de equipamentos de diferentes origens e
médicas, serviços de enfermagem, de exames laboratoriais e fabricantes por meio de interfaces e softwares específicos, desenhados
similares, manutenções preventivas e corretivas). e desenvolvidos pelos integradores profissionais.
O entretenimento doméstico também passa por uma grande
transformação. O crescente abandono das mídias físicas, como CDs Uma dose de futurismo
e DVDs, substituídos por media centers que armazenam grandes Certas tecnologias ainda pouco utilizadas na automação
quantidades de arquivos (músicas, vídeos, fotos, entre outros) e a residencial, tais como GPS e RFID, podem passar a fazer parte
rápida introdução de conteúdo interativo representado por novas do cenário em breve. Projetos conceituais desenvolvidos em
modalidades de jogos eletrônicos e de canais de TV assinados estão centros de referência mundiais estão pesquisando os chamados
alterando não só os equipamentos e softwares utilizados como o “ambientes inteligentes”, bem como a “internet das coisas”, dois
próprio espaço físico das casas. Novos conceitos de armazenar conceitos inovadores e recentes. Um dos objetivos é desenvolver
e distribuir áudio e vídeo pelos ambientes domésticos implicam meios de controle utilizando sensores, comunicação sem fio,
projetos mais arrojados e bem resolvidos e, principalmente, à prova identificação por radiofrequência (RFID) e GPS para observar
do futuro, pois devem ser capazes de acompanhar a evolução o comportamento dos moradores e fazer escolhas automáticas
tecnológica por muito tempo sem a necessidade de reformas ou baseadas nos padrões detectados. A intenção é sempre tornar
intervenções na moradia. ainda mais intuitivas e amigáveis as interações dos moradores
O mote da mobilidade tem ajudado muito o desenvolvimento com os sistemas de controle e comando.
da automação residencial. Moradores podem controlar seus Este tipo de tecnologia, aliada à presença de computação
equipamentos domésticos enquanto transitam pelos diversos pervasiva, ou seja, uma grande quantidade de processadores e chips
ambientes e, logicamente, também de fora da residência. Controles nos rodeando, promete também situações de grande interatividade.
estáticos, como telas de toque fixadas na parede, estão perdendo Um sistema baseado nestes conceitos pode fazer com que Imagens
terreno rapidamente para tablets e controles remotos universais de monitores “sigam” os moradores pela casa, apresentando as
pela facilidade que estes últimos representam. condições climáticas e do transito enquanto ele se troca ou toma o
café da manhã. Checando o extrato bancário e sugerindo uma lista
Paradigmas de compras para o dia, depois de verificar o estoque de suprimentos
Muito se discute sobre a criação cada vez mais intensa de da casa. Alguns gestos podem ser captados por microcâmeras que
soluções plug & play, ou seja, o usuário comum poderá instalar identificam as necessidades traduzidas nestes gestos e preparam
e programar seus equipamentos sem a necessidade de recorrer cenários diferentes conforme a situação reportada.
a profissionais especializados. Em algumas categorias, isto vem Ficção? Nada disso! Com certeza já dispomos de tecnologia
ocorrendo com mais intensidade, como é o caso de aplicações de para construir este tipo de solução. O que é preciso é torná-las mais
jogos eletrônicos, áudio e vídeo. Sistemas mais elaborados, como baratas e fáceis de se instalar e se manter, um desafio e tanto para
segurança e iluminação, ainda estão longe de serem considerados os próximos anos.
plug & play, pois normalmente demandam a participação de
*JOSÉ ROBERTO MURATORI é engenheiro de produção formado pela
diferentes profissionais para obter resultados satisfatórios. Isto Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, com especialização em
inclui desde arquitetos a consultores especializados, cabendo ao administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas. Foi membro-

profissional de automação a tarefa de integrar o resultante destas fundador da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside), a
qual dirigiu por cinco anos. É consultor na área de automação e palestrante.
atividades em um projeto harmonioso e eficiente. Esta é uma
PAULO HENRIQUE DAL BÓ é engenheiro eletrônico pela Universidade
tendência que, acredita-se, ainda deve perdurar por muito tempo, Mackenzie e pós-graduado em automação industrial pela FEI. É professor
mesmo que sistemas mais intuitivos sejam criados com a finalidade do curso de pós-graduação na Faculdade de Tecnologia de São Paulo
de facilitar o acesso dos moradores à tecnologia (Fatec-SP) e diretor técnico da Associação Brasileira de Automação
Residencial (Aureside).
A unificação de protocolos de comunicação também é citada
muitas vezes como uma necessidade, a fim de tornar os sistemas FIM
Veja este e todos os artigos da série “Automação residencial” no site
interoperáveis. Sem dúvida, uma linguagem universal facilitaria muito www.osetoreletrico.com.br. Em caso de dúvidas, críticas e comentários,
o trabalho de integração e possivelmente tornaria as soluções ainda escreva para redacao@atitudeeditorial.com.br

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