Diabetes 2001

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apoio:

IDF / SACA

Diabetes
ANAD

Clínica
JORNAL MULTIDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

2001
VOL

5
JANEIRO / FEVEREIRO

MARÇO / ABRIL

MAIO / JUNHO

JULHO / AGOSTO

SETEMBRO / OUTUBRO
2001
NOVEMBRO / DEZEMBRO
VOL. 5

www.atlanticaeditora.com.br
Diabetes Clínica
Diabetes Clínica 04 (2000) 1

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Índice
(vol. 5 nº1 - 2001)

EDITORIAL
Plano de reorganização da Atenção ao Diabetes mellitus e Hipertensão arterial, Fadlo Fraige Filho ....... 3

MANIFESTO
Insulina Humana Recombinante: O Governo decidindo contra si mesmo e contra o povo ........................ 5

INFORMES DO DIABETES NO MUNDO ............................................................................................ 7

O DIABETES NA IMPRENSA ................................................................................................................ 21

AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS ............................................................................ 25

PRODUTOS E NOVIDADES
Pêssego Grego Diet (La Pastina), Docigual (Vivalev Diatt), Freestyle (Therasense),
NC-stat (Neurometrix) ................................................................................................................................. 31

RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ................................................................................. 33

ARTIGOS CIENTÍFICOS
Características clínicas do diabetes mellitus tipo 2 no Nordeste do Brasil,
Josivan G. Lima, Lucia H. C. Nóbrega, Francisco Bandeira, William J. Jeffcoate, Geisa Macedo ........... 41

Aspectos sócio-psico-somáticos de uma amostra de pacientes diabéticos tipo 2,


Maria Geralda Viana Heleno ...................................................................................................................... 48

NOTÍCIAS DAS ASSOCIAÇÕES


O tabagismo e o diabetes,
Mário Albanese, Rodolfo Brumini ............................................................................................................... 55

FICHAS PRÁTICAS
Insulinas humanas e animais disponíveis no Brasil..................................................................................... 63
Tabela de prognóstico de risco coronariano de Framingham ...................................................................... 64

CALENDÁRIO DE EVENTOS ............................................................................................................... 65

Formulário de assinatura de Diabetes Clínica ............................................................................................. 68


Inscrição ao 6º Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes ......................................................... 62
Diabetes Clínica
2 Diabetes Clínica 04 (2000)

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos
distúrbios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre
o conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associa-
das. Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico, o conselho consultivo e profissionais
de reconhecido saber na área. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relati-
vas à diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma
maneira rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes.

Diabetes Clínica Dr. Marcos Tambascia (SP) ATLANTICA EDITORA


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presidente da FENAD e ANAD, Professor Dr. Nelson Rassi (GO) Maurício Galvão Costa Anderson
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3
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

EDITORIAL

Plano de reorganização da Atenção ao


Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial

Fadlo Fraige Filho

Desde abril de 2000 estamos nos reunindo no Ministério da Saúde,


em uma comissão em que participam técnicos e autoridades do Ministé-
rio da Saúde, das Sociedades Brasileiras de Diabetes, Cardiologia e Hi-
pertensão, a FENAD e a Associação Paulista de Assistência ao Hiper-
tenso, para elaborar o projeto do plano de reorganização da Atenção ao
Diabetes Mellitus e Hipertensão arterial.
Vem este plano, preencher uma lacuna dentro da saúde pública (até
então de um programa inexistente), para atender aos diabéticos e hiper-
tensos, tal qual como foi concebido.
Constará de três fases, sendo que a primeira será numa mega Campa-
nha de detecção da doença, através da glicemia capilar, onde serão reali-
zados 36 milhões de testes, em aproximadamente 6500 municípios no
Brasil, para a população acima de 40 anos de idade.
Lembramos que os locais serão as Unidades básicas de Saúde do SUS.
Em virtude da complexidade e do custo da 2a e 3a fases, optou-se, em
todo o Brasil, com exceção de São Paulo, para ser um plano apenas de
Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho, atenção ao diabetes. Naquele Estado, serão feitas medições de pressão
Coordenador - Editor Científico arterial juntamente com outras ações específicas de hipertensão.
de Diabetes Clínica A 2a fase do plano, após a detecção, é o encaminhamento para o trata-
mento secundário nas Unidades de Saúde do SUS, bem como assegura-
do o acesso gratuito aos medicamentos necessários para o controle da
doença.
Estão sendo treinados, em todo o Brasil, através de um programa de
capacitação multiprofissional, os profissionais de saúde da rede SUS que
irão operacionalizar o plano.
A 3a fase constará do tratamento das complicações tardias do diabetes
em hospitais, por especialistas de cada setor, sempre assegurada a medi-
cação gratuita.
Considerando que o defasado estudo de prevalência do Ministério da
Saúde (publicado em 1990) estimava em 7,6% da população entre 30 e
69 anos de idade como portadores de diabetes, com o agravante de 50%
desconhecer sua doença, a 1o fase terá como objetivo a busca do diag-
nóstico precoce nesta população, que embora portadora, desconhece a
doença.
4 Diabetes Clínica 01 (2001)

Obviamente, espera-se que o chamamento da mídia nação a 1a Campanha Nacional de Detecção, Educação
para a realização da Campanha seja para o grupo de ris- e Prevenção das Complicações do Diabetes. O sucesso
co de ser portador de diabetes. dessa 1a Campanha foi repetido em 1999 e 2000, onde
A questão de um grande volume de pessoas diagnosti- tivemos a parceria das nossas federadas e das secretari-
cadas, em algumas semanas, poderá eventualmente criar as da saúde de aproximadamente 500 cidades no Brasil.
uma pletora no atendimento da 2a fase, porém como defi- Assim, acreditamos que a semente que plantamos,
niu o Sr. Secretário de Políticas de Saúde do Ministério gera neste ano uma grande árvore, desenvolvida pelo
da Saúde, Dr. Claúdio Duarte da Fonseca: “Que se criem Ministério da Saúde, que seguramente frutificará em
as dificuldades que o Ministério em conjunto com as Se- grandes benefícios e melhoria das condições de vida
cretárias estaduais e Municipais buscarão as soluções.” adversas dos portadores de diabetes no Brasil.
Uma posição corajosa e correta, contrário aos raros e A 1a fase do plano, que é a Campanha de detecção,
infelizes médicos que no passado (ano de 1999) impedi- será realizada de 6 a 30 de março próximo.
ram o Ministério de entrar na 2a Campanha nacional da Destacamos, ainda, nesta edição, o trabalho produzi-
FENAD, sob alegação da pletora das Unidades Assis- do no Departamento de Diabetes e Endocrinologia do
tenciais, defendendo assim, o NÃO DIAGNOSTICO, Hospital Agamenon Magalhães de Recife, que é uma
quando sabemos ser o diagnóstico precoce um dos prin- referência para a implantação de um programa de aten-
cipais pontos da prevenção das complicações graves do dimento ao paciente portador de diabetes, enfatizando o
diabetes. atendimento por uma equipe multiprofissional. Tenho
As Campanhas têm sido, entre inúmeras atividades, impulsionado o mesmo ponto de vista a cerca de 17 anos
uma ação quase que exclusiva das associações e Ligas na ANAD e há 11 anos, quando idealizei o 1o Congresso
de todo o Brasil e de clubes como Lions e Rotary, na Brasileiro Multiprofissional em Diabetes.
maioria das vezes com o patrocínio dos laboratórios O 6o Congresso será realizado em 7, 8 e 9 de julho de
Farmacêuticos da área. Iniciamos as Campanhas na 2001, para o qual desde já convido todos os multiprofis-
ANAD, há 17 anos, coordenadas e em conjunto com as sionais da área a participarem, visto que pela excelência
Secretárias de saúde do ABC paulista e ao assurmimos na programação e amplitude de abordagem multiprofis-
a presidência da Fenad em março de 1998, já em no- sional continuará sendo “o mais completo evento em
vembro do mesmo ano foi realizado sob nossa coorde- Diabetes.”

Comunicado: fim da comercialização dos refis 1,5 ml de Humulin e Humalog (Lilly)

A Lilly tem sido a líder no mercado de diabetes desde a introdução de nosso primeiro produto a base de insulina em
1922. Nossa linha de produtos tem evoluído continuamente: de insulina animal para insulina humana (Humulin) e mais
recentemente a insulina Lispro (Humalog). Esses avanços tecnológicos na produção das insulinas beneficiam os pacientes,
oferecendo maior eficácia e segurança no tratamento, melhorando o controle glicêmico e reduzindo as complicações.
Dentro desta evolução estamos comunicando que a partir de março de 2001, não estaremos comercializando mais os refis
de 1,5 ml das insulinas Humulin e Humalog. Todos os refis de Humulin e Humalog serão de 3 ml. Atualmente, os refis de
3 ml são os mais utilizados no mundo devido a sua comodidade diminuindo a freqüência da troca do refil nas canetas.
Diabetes Clínica 01 (2001) 5

Manifesto
Insulina Humana recombinante:
O Governo decidindo contra si mesmo e contra o povo

A FENAD (Federação Nacional de Associações de em todo o País, que hoje utilizam a Insulina Humana
Diabéticos), que congrega 307 associações, Ligas e Recombinante;
Centros de Diabetes, abrangendo cerca de 200.000 4) No momento que vemos o Ministério da Saúde
pacientes e 4.000 profissionais da área de saúde, vem, desenvolver um enorme esforço para manter os preços
em nome dos 5 milhões de portadores de diabetes neste dos medicamentos em patamares acessíveis às condições
país manifestar sua preocupação e indignação com a do povo brasileiro, a política dos genéricos para baratear
Circular no 5 da SECEX – Secretária de Comércio os já existentes, o acordo de não aumentar o preço dos
Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria medicamentos no ano de 2001 e às vésperas do início
e Comércio Exterior, publicada no Diário Oficial da do Plano de reestruturação da Atenção ao Diabetes e
União do dia 12/02/2001, que recomenda o aumento do Hipertensão organizado pelo Ministério da Saúde, com
preço da Insulina Humana Recombinante Importada sob apoio desta Federação e outras entidades da área, com
suposta alegação de dumping. distribuição de medicamentos e insulinas em uma
Distante de competições de ordem comercial e segunda fase, concluímos que esta decisão é
políticas, que eventualmente possam ter determinado intempestiva e lesiva aos interesses dos pacientes
essa decisão, queremos alertar para os seguintes pontos portadores de diabetes e do próprio Governo.
que temos certeza não foram considerados pelas
autoridades da área do Governo-SECEX ao sugerir o A quem interessa este aumento ?
aumento do preço do medicamento:
Diante do exposto, queremos ressaltar nossa
1) O Governo, obrigando os laboratórios a aumentar preocupação e reiterar que somos contrários a qualquer
os preços em até 76,1%, contraria seus próprios medida que resulte em aumento de preços de produtos
interesses, do Ministério da saúde, das Secretarias essenciais à vida de milhares de pacientes em todo o
Municipais de Saúde; contraria o bolso dos portadores País.
de diabetes, que há 7 anos não têm o seu salário
reajustado, e o dos idosos que recebem ume pensão A FENAD vem demonstrar a sua indignação e tornar
ínfima do INSS, também congelada; público um fato que é lesivo à Nação e ao povo
2) O impacto financeiro que sofrerão as contas do brasileiro.
próprio governo federal, que adquire Insulina Humana
Recombinante para mais de 70% da população diabética Este fato é inédito no mundo todo: Governo obrigar
de todo o país; o aumento de uma medicação considerada essencial à
3) O impacto financeiro que o possível aumento vida num país pobre, que vive momentos difíceis, onde
ocasionará aos milhares de pacientes diabéticos, há recessão e desemprego, parece inacreditável. É mais
consumidores, que adquirem o produto nas farmácias uma vergonha nacional.
6 Diabetes Clínica 01 (2001)

Entraremos contra a recomendação da Secretaria de conjunto com a Organização Mundial de Saúde (OMS)
Governo – SECEX – com ações no Ministério público, possam interferir em tal absurdo.
Procon e no Instituto de Defesa do Consumidor.
Convidamos a todos os interessados a divulgarem este
Este fato também estará denunciado à International manifesto, denunciando e lutando em todas as instâncias
Diabetes Federation (IDF), com sede em Bruxelas, da pelos interesses desta população que, além de portadora
qual somos Membros efetivos, para que medidas em de uma doença crônica, terá que arcar com custos maiores
para a sua sobrevivência.

“UNIDOS SEREMOS FORTES”.

Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho


Presidente da FENAD
Delegado Executivo IDF – SACA- Brasil
Membro da Comissão do plano de reorganização da Atenção ao Diabetes e Hipertensão do Ministério da Saúde

Manifestações de protesto podem ser enviadas a:


Ministério do desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior
Exmo. Sr. Ministro Alcides Lopes Tapias
Esplanada dos Ministérios – Bloco J – 6o andar
70058-900 Brasília DF

Exmo. Sr. Ministro da Saúde D.D Dr. José Serra


Esplanada dos Ministérios – Bloco G – 5o andar
70058-900 Brasília DF
E-mail: ministro@saude.gov.br
Diabetes Clínica 01 (2001) 7

Informes do Diabetes no Mundo

Meigs JB et al, Diabetes Transmissão parental do diabetes tipo 2 no estudo Framingham


2000;49:2201-7, dezembro de 2000
Estudo da transmissão parental de diabetes fornece informações sobre as
contribuições relativas das influências maternal e paternal. Avaliamos o risco
para o diabetes tipo 2 e graus mais leve de intolerância à glicose associados a
diabetes parental em indivíduos do Framingham Offspring Study, no qual os
participantes são caucasianos com relativamente baixo risco de diabetes, e
cujos fenótipos dos pais e filhos foram avaliados por exame clínico. O diabe-
tes parental, avaliado por 40 anos de acompanhamento bi-anual, foi definido
pelo uso de tratamento hipoglicemiante ou pela observação de uma taxa de
glicose plasmática > 11,1 mmol/l em qualquer consulta. A tolerância dos
filhos à glicose, avaliada durante 20 anos de acompanhamento, foi definida
pela taxa de glicose plasmática de jejum > 7,8 mmol/l em pelo menos duas
consultas, o uso de tratamento hipoglicemiante, ou pela realização de um
teste de tolerância à glicose oral 75g, na consulta a mais recente. Os 2.527
filhos nasceram em 1.303 famílias nucleares, das quais 77,6% tinham dois ou
mais irmãos por família e nas quais a prevalência do diabetes era 24,6%. A
idade média era 54 anos (26-82), 53% mulheres, 8,6% portadores de diabe-
tes, 11,4% com tolerância à glicose diminuída, 76,3% não tinham pais diabé-
ticos, 10,5% tinham diabetes maternal, 11,5% diabetes paternal, e 1,7% dia-
betes dos dois pais. Para os indivíduos sem diabetes parental, o odds ratio
ajustado à idade (IC 95%) para diabetes tipo 2 ou tolerância anormal à glico-
se (glicose plasmática de jejum > 6,1 mmol/l ou tolerância à glicose 2h pós-
carga > 7,8 mmol/l), eram, para os indivíduos com diabetes maternal 3,4 (2,3
– 4,9) e 2,7 (2,0 – 3,7), respectivamente, para os indivíduos com diabetes
paternal 3,5 (2,3 – 5,2) e 1,7 (1,2 – 2,4), respectivamente, e para os indivídu-
os com diabetes biparental 6,1 (2,9-13,0) e 5,2 (2,6-10,5), respectivamente.
Apesar de que o diabetes paternal ou maternal apresenta o mesmo risco de
diabetes tipo 2 para a descendência, os filhos com diabetes maternal apresen-
taram mais riscos de tolerância anormal à glicose do que os com diabetes
paternal (OR 1,6, 95% CI 1,1 - 2,4). Os filhos com diabetes maternal e idade
< 50 anos apresentam risco aumentado para ambos diabetes tipo 2 (9,7, 4,3 -
22,0) e tolerância anormal à glicose (9,0, 4,2 – 19,7). Concluímos que os
ratios de risco para o diabetes tipo 2 são consistentes com um modelo de
adição simples de riscos, onde o risco, quando os pais são portadores da
doença, está igual à adição dos riscos quando um dos pais é diabético. Para o
8 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 01 (2001)

Continuação diabetes maternal conferir risco a mais para intolerância a glicose leve mas
não declarada, os filhos de pai diabético podem apresentar relativamente rá-
pida uma tolerância a glicose anormal ou diminuída, ou as mães diabéticas
podem transmitir o risco de uma forma leve lentamente progressiva de tole-
rância anormal à glicose, em suplemento ao diabetes declarado. O risco mui-
to alto de glicose anormal entre os filhos de mães precocemente diabéticas é
consistente com a hipótese que a exposição perinatal aumento o risco de
diabetes. Dados ratios de risco equivalentes para diabetes tipo 2, os pais po-
dem transmitir fatores genéticos da mesma força do que os fatores ambien-
tais maternais.

Mauvais-Jarvis F et al, Diabetes Um modelo para estudar a interação entre a resistência à


2000;49(12):2126-34, dezembro de insulina no músculo e a disfunção da célula β no
2000 desenvolvimento do diabetes tipo 2

Diabetes tipo 2 é uma doença poligênica caracterizada por defeitos da se-


creção e da ação da insulina. Já observamos que a resistência isolada à insu-
lina no músculo pelo receptor tissular especifico de insulina (rato MIRKO)
não é suficiente para alterar a homeostase da glicose, enquanto que os ratos
com receptor de insulina específico de célula β (betaIRKO) apresentam into-
lerância progressiva severa à glicose, em razão da perda de produção de insu-
lina na fase aguda estimulada pela glicose. Para estudar a interação entre a
resistência à insulina no músculo e a secreção alterada de insulina, criamos
um receptor tissular de insulina duplo-específico nesses tecidos. Surpreen-
dentemente, os ratos betaIRKO-MIRKO apresentaram uma melhora mais do
que uma deterioração em relação aos ratos betaIRKO. Isso é o resultado da
melhora da produção da insulina na fase aguda estimulada pela glicose e da
redistribuição dos substratos com uma melhora da absorção da glicose em
tecido adiposo e fígado in vivo, sem diminuição significativa da absorção da
glicose no músculo. A resistência à insulina no músculo aumenta a secreção
da primeira fase insulínica estimulada pela glicose e provoca a derivação de
substratos para os tecidos não-musculosos, melhorando assim a tolerância à
glicose. Esses dados sugerem que o músculo, seja por mudanças na disponi-
bilidade do substrato seja agindo como tecido endócrino, comunica com ou-
tros tecidos e regula a sensibilidade à insulina.

Nielsen MF et al, Diabetes Eficácia da glicose prandial e gliconeogênese de jejum em


2000;49(12):2135-41, dezembro de parentes de primeiro grau resistentes à insulina de pacientes
2000 diabéticos tipo 2

A eficácia diminuída da glicose (i.e., a capacidade diminuída da glicose


per se para facilitar o seu próprio metabolismo), a gliconeogênese aumen-
tada, e a produção de glicose endogênica, são juntas, com a resistência à
insulina e as anormalidades das células β, as características do diabetes
tipo 2. Para estudar a fisiopatologia atrás o diabetes tipo 2, avaliamos em
grupo de indivíduos saudáveis predispostos a desenvolver diabetes tipo 2
(n = 23), chamados parentes de primeiro grau de pacientes diabéticos tipo 2
(FDR), 1) a produção de glicose endogênico e a gliconeogênese de jejum
medidas usando a técnica 2H2O e 2) a eficiência da glicose. O grupo FDR
10 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 01 (2001)

era resistente à insulina comparado ao grupo controle (idade, sexo, IMC)


sem histórico familiar de diabetes tipo 2 (n = 14), (clamp: 6,07 ± 0,48 vs.
8,06 ± 0,69 mg/kg peso corporal magro/min; P = 0,02). Taxas de gliconeo-
gênese de jejum (1,28 ± 0,06 vs. 1,41 ± 0,07 mg/kg peso corporal magro/
min; FDR vs. controle, P = 0,18) não foram diferentes nos dois grupos e
representaram 53 ± 2 e 60 ± 3% da produção total de glicose endogênica. A
eficiência da glicose foi observada usando uma infusão combinada de so-
matostatina e insulina (0,17 vs. 0,14 mU/kg/min, FDR vs. controle), a últi-
ma restaurando a insulina plasmática aos níveis da linha base. Uma infusão
de glicose de 360 min. foi instaurada para simular o perfil da glicose pran-
dial. Após infusão de glicose, a resposta integrada da glicose plasmática
em cima da linha base (1,817 ± 94 vs. 1,789 ± 141 mmol/l per 6h), a capa-
cidade da glicose para simular sua própria absorção (1,50 ± 0,13 vs. 1,32 ±
0,16 ml/kg peso corporal magro/min), e a capacidade da glicose per se para
suprimir a produção da glicose endogênica, não foram diferentes entre o
FDR e o grupo controle. Em conclusão, ao invés dos pacientes portadores de
diabetes tipo 2 declarado, os indivíduos saudáveis com risco de desenvolver
diabetes tipo 2 apresentam eficiência normal da glicose quando insulinemia é
próxima da linha base e com níveis normais de gliconeogênese de jejum.

Blaak EE et al, Diabetes Diminuição da oxidação dos ácidos graxos plasmáticos em


2000;49(12):2102-7, dezembro de 2000 pacientes diabéticos tipo 2 durante exercício de intensidade
moderada

Esse estudo foi desenvolvido para observar o uso dos diferentes compo-
nentes de ácidos graxos durante um período de 60 minutos de exercício de
bicicleta de intensidade moderada (50% de VO2max), em 8 indivíduos ho-
mens portadores de diabetes tipo 2 (idade 52,6 ± 3,1 anos, gordura corporal
35,8 ± 1,3%) e 8 homens obesos controle (idade 45,1 ± 1,4 anos, gordura
corporal 34,2 ± 1,3%), comparados por idade, composição corporal e capaci-
dade aeróbica máxima. Para quantificar os diferentes componentes do meta-
bolismo dos ácidos graxos, foi empregada uma infusão do isotópico [U-13C]-
palmitato combinada com calorimetria indireta. Em experiência separada, a
medida do 13C no ar expirado foi determinado durante uma infusão de [1,2-
13C]-acetato. Não existia diferenças nos gastos de energia ou carboidratos e
oxidação total de gordura entre os grupos. A taxa de ácido graxo livre (P <
0,05) e o aumento dessa taxa induzido pelo exercício foram significativa-
mente menores (P < 0,05), em diabéticos tipo 2 em comparação com indiví-
duos controle (linha base vs. exercício [40-60 min]; diabetes tipo 2, 11,9 ±
0,9 vs. 19,6 ± 2,2 micromol/kg de massa adiposa livre/min e controle 15,8 ±
1,8 vs. 28,6 ± 2,1 micromol/kg massa adiposa livre /min). A oxidação dos
ácidos graxos derivados do plasma era significativamente menor em diabéti-
cos tipo 2 nas duas condições (P < 0,05, linha base vs. exercício [40-60 min];
diabetes tipo 2, 4,2 ± 0,5 vs. 14,1 ± 1,9 micromol/kg massa adiposa livre/min
e controle 6,2 ± 0,6 vs. 20,4 ± 1,9 micromol/kg massa adiposa livre/min),
enquanto que a oxidação dos ácidos graxos derivados dos triglicerídeos era
mais elevada (P < 0,05). A hipótese é que essas diminuições no uso dos áci-
dos graxos podem ter um papel na etiologia da resistência insulínica hepática
e musculo-esqueletica.
12 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 01 (2001)

Weyer C et al, Diabetes A concentração elevada de insulina plasmática de jejum é um


2000;49(12):2094-101, dezembro de fator de prognóstico de diabetes tipo 2 independente da
2000 resistência à insulina: evidência para o papel patogênico da
hiperinsulinemia relativa

A hiperinsulinemia de jejum é uma medição muito usada de resistência à


insulina e é um fator de prognóstico do diabetes tipo 2 em várias populações.
Não sabemos se a hiperinsulinemia de jejum prevê o diabetes independente-
mente da resistência à insulina. Em 319 índios Pima com tolerância normal à
glicose, a concentração plasmática de insulina de jejum e a glicose estimula-
da por glicose (M) (clamp hiperinsulínico) eram em relação invertida, mas,
para um M dado, foram observadas variações importantes, em indivíduos
hiperinsulínicos e outros hipoinsulínicos em função de seu grau de sensibili-
dade à insulina. Em 262 dos 319 pacientes acompanhados durante 6,4 ± 3,9
anos, a concentração elevada de insulina plasmática de jejum era um fator de
prognóstico independente significativo de diabetes, mais do que o M baixo e
baixa resposta de insulina aguda (AIR). Em 161 dos 319 pacientes com acom-
panhamento das medições de M e AIR (5,1 ± 3,9 anos), uma concentração
elevada relativa de insulina plasmática de jejum era um fator prognóstico da
diminuição de AIR mas não de M antes a declaração do diabetes. A concen-
tração ajustada de insulina plasmática de jejum era uma característica famili-
ar e a pesquisa genética mostrou uma ligação com uma região do cromosso-
mo 3q, que possui o gene GLUT2. Esses resultados representam a primeira
evidência em seres humanos que a hiperinsulinemia de jejum tem um papel
na patogênese do diabetes, independentemente da resistência à insulina. Ain-
da deve-se elucidar se a melhora da hipersecreção de insulina pode prevenir
o diabetes.

Oscar A. Paniagua et al, Hypertension. Hipertensão transitória diminui a vasodilatação dos microvasos
2000;36:941, dezembro de 2000 humanos

Hipertensão é associada à diminuição da vasodilatação dependente do en-


dotélio. Mais é desconhecido se a disfunção endotelial é a causa ou a conse-
quência da elevação da pressão sanguínea. Para determinar se a hipertensão
pode causar diretamente uma disfunção endotelial, investigamos o efeito de
aumentos da pressão intra-arterial sobre a vasodilatação dependente do en-
dotélio em microvascularização humana. Pequenas artérias (diâmetro inter-
no 202 ± 75 µm) foram isoladas a partir de biopsias de gordura glútea em 12
indivíduos saudáveis normotensos (8 homens e 4 mulheres; idade, 46 ± 10
anos). As artérias foram perfusadas em câmaras oxigenadas a 37°C. As res-
postas dependentes e independentes do endotélio a acetilcolina (Ach; 10-9
para 10-4 mol/l) e sódio nitroprussiato (SNP; 10-9 to 10-4 mol/l), respectiva-
mente, foram obtidas após ter incubado o vaso com pressão intravascular
incremental de 50, 80, e 120 mm Hg para 60 minutos cada um. A resposta a
Ach foi também obtida em artérias diferentes após 3 incubações consecuti-
vas a 50 mmHg. O diâmetro interno arterial foi medido diretamente a partir
de imagens digitalizadas amplificadas. Uma diminuição significativa da res-
posta vasodilatadora a Ach foi observada com aumentos da pressão (vasodi-
latação média, 40%, 52%, e 57% a 50, 80, e 120 mm Hg, respectivamente; P
= 0,10). Não foram observadas diferenças nas curvas dose-resposta a Ach
obtidas com a mesma pressão intravascular (vasodilatação média 48%, 46%,
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 01 (2001) 13

Continuação e 49%; P = 0,61). Aumentos transitórios da pressão intravascular diminui


significativamente a vasodilatação dependente do endotélio em artérias hu-
manas. Esses achados sugerem que a elevação da pressão sanguínea per se
pode causar uma disfunção endotelial em seres humanos e ter implicações na
fisiopatologia da disfunção endotelial na hipertensão.

Torffvit O et al, J Diabetes Prognóstico em pacientes diabéticos tipo 2 portadores de doença


Complications 2000;14(6):301-306, cardíaca. Estudo de 10 anos em 385 pacientes
novembro de 2000
O objetivo foi estudar o desenvolvimento e a progressão da doença cardí-
aca em pacientes diabéticos tipo 2 e avaliar a influência dos processos de
revascularização e seus sucessos. Foi realizado um estudo de observação de
385 pacientes acompanhados em ambulatório hospitalar. 156/385 pacientes
apresentaram infarto do miocárdio (n = 68), angina (n = 44), insuficiência
cardíaca (n = 34) ou morreram (n = 109). A taxa elevada de óbito foi observa-
da em pacientes com infartos (73%) e insuficiência cardíaca (71%), ao invés
dos pacientes com angina (25%). 30 pacientes foram submetidos à angiogra-
fia coronariana em razão da angina, dos quais 23 foram revascularizados.
Quatro pacientes (17%) submetidos à cirurgia bypass ou angioplastia falece-
ram em comparação de 57 (67%) dos pacientes sem intervenção (p < 0,001).
A ocorrência de infarto do miocárdio foi associada com idade (p < 0,0001),
pressão sanguínea sistólica (p < 0,05) e diastólica (p < 0,05) média e grau de
albuminúria no início (p < 0,05). Insuficiência cardíaca foi associada à idade
(p < 0,0001) e níveis médios de HbA1c (p < 0,05) e angina foram associados
só à idade (p < 0,05). O óbito foi associado à idade (p < 0,0001), duração do
diabetes (p < 0,05), pressão sanguínea média diastólica (p < 0,05), e grau de
albuminúria no início (p < 0,0001). Esse estudo mostra a elevada incidência
da doença cardíaca em pacientes diabéticos tipo 2. O prognóstico melhorou
em pacientes submetidos à revascularização. Um atitude mais ativa em rela-
ção à revascularização pode melhorar o prognostico dos pacientes diabéticos
tipo 2 com doença cardíaca aterosclerótica.

JAMA, 2001; 285: 67-72 A análise de cabelo tem pouco valor para a informação
nutricional ou mineral
A análise de cabelo de pacientes para determinar a taxa de elementos mine-
rais ou o balanço nutricional não é confiável nos Estados Unidos. Os serviços
de saúde da Califórnia recomendam aos médicos que utilizam a análise de
cabelos de verificar o balanço nutricional de seus pacientes. Os pesquisado-
res examinaram os dados de seis laboratórios comerciais que efetuam 90%
das análises minerais a partir de amostras de cabelo nos EUA. Uma amostra
de cabelo de uma mulher saudável de 40 anos, com cabelo não tratado, foi
usada. Os resultados indicam que as diferenças entre as mais altas e mais
baixas concentrações de minerais ultrapassam 10 vezes para 12 minerais.
Valores extremos foram reportados por 14 dos 31 minerais analisados por
três ou mais laboratórios. A pesquisa mostra a não confiabilidade desse tipo
de testes. A análise de cabelo já foi usada para confirmar o envenenamento
humano com elementos como arsênico ou mercúrio, mas para a maioria das
outras substancias não existe evidência experimental que o cabelo posse ser
um marcador biológico significativo.
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 01 (2001) 15

Kay-Tee Khaw et al, BMJ 2001 A concentração sanguínea de glicose é associada ao risco
322:15-18, janeiro de 2001 cardiovascular em homens não-diabéticos

O aumento das concentrações de HbA1c pode ser um marcador da morta-


lidade cardiovascular para todos os homens e não só para com os portadores
de diabetes. Os pesquisadores coletaram os dados de todas as causas de óbito
como também de mortalidade cardiovascular em 4662 homens, idade entre
45 e 79 anos, que participaram na coorte Norfolk do European Prospective
Investigation into Cancer and Nutrition (EPIC-Norfolk). Na linha base, de
1995 a 1997, HbA1c foi medida e os pacientes foram acompanhados até
dezembro de 1999. Como esperado, os pacientes diabéticos apresentam uma
mortalidade aumentada para todas as causas, doenças cardiovasculares e is-
quêmicas. Foi notado também que as concentrações de HbA1c foram cons-
tantemente relacionadas à mortalidade cardiovascular e isquêmica em toda a
população. As taxas de mortalidade as mais baixas foram associadas com
concentrações de HbA1c inferiores a 5%. O grupo de pesquisa notou que um
aumento de 1% da HbA1c é associada com um aumento de 28% do risco de
morte, independentemente de idade, pressão sanguínea, colesterol, IMC ou
tabagismo. 18% da população ultrapassa o risco de mortalidade associado à
concentração e HbA1c de 5% ou mais, como ocorrendo em homens com
diabetes, mas 82% ocorreram em homens com concentrações de 5% a 6,9%
(a maioria da população). Os pesquisadores propõem que as concentrações
elevadas de HbA1c sejam um marcador de risco absoluto maior para os ho-
mens, e que o tratamento preventivo da pressão sanguínea ou do colesterol
seja empregado em tais pacientes. Se a concentração de HbA1c diminuir em
0,1% na população de homens não diabéticos, a mortalidade total poderia ser
diminuída em 5%, e se a concentração diminuir em 0,2%, então a mortalida-
de total poderia ser diminuída em 10% nessa população.

Giancarlo Tonolo et al, Eur J Clin As estatinas podem ter um efeito direito sobre a regulação da
Invest 2000;30:980-987, pressão sanguínea
novembro de 2000
Em pacientes diabéticos tipo 2 hipertensos, o tratamento com sinvastatina
diminui a pressão sanguínea e a taxa de excreção de albumina urinária (AER)
independentemente da melhora do nível dos lipídios. Os pesquisadores ob-
servaram, de acordo com vários estudos anteriores, que os benefícios das
estatinas, também conhecidas como inibidores da atividade da enzima HMG-
CoA redutase, não podem ser explicados somente pelo efeito sobre o LDL-
colesterol. Uma hipótese seria que as estatinas podem restaurar a produção
de oxide nítrico dependente do endotélio, agindo independentemente da di-
minuição do LDL-colesterol. Para controlar a hipótese, os pesquisadores
mediram a pressão sanguínea e a taxa de excreção de albumina urinária du-
rante o tratamento com sinvastatina e colestiramina em 26 pacientes portado-
res de diabetes tipo 2, hipertensão e microalbuminúria. Embora que ambos
os remédios diminuem os níveis de colesterol, só a sinvastatina reduziu sig-
nificativamente a pressão sanguínea diastólica e os AER urinários. Sinvasta-
tina foi também associada à redução significativa do glicosaminoglicano uri-
nário total e a diminuição do complexo protéico condroitinossulfato, tão como
ao aumento significativo dos nitritos/nitratos no soro total. Os resultados su-
gerem que a sinvastatina ativa a produção de oxide nítrico, resultando em
uma diminuição da pressão sanguínea diastólica e AER.
18 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 01 (2001)

Dennis C. Mynarcik et al, J Acquir O estímulo inflamatório pode contribuir à lipodistrofia do


Immune Defic Syndr 2000;25:312-321, portador de HIV
janeiro de 2001
Os pacientes portadores de lipodistrofia associadas a HIV são severamen-
te resistentes à insulina, mesmo quando os níveis plasmáticos são normais.
Essa síndrome é associada também com taxas elevadas de tumor necrosis
factor (TNF)-alfa tipo 2, sugerindo que o responsável é um processo infla-
matório. Os pesquisadores avaliaram a sensibilidade à insulina e a ativação
imunológica em 12 indivíduos controle saudáveis, 14 pacientes portadores
de HIV sem lipodistrofias e 15 pacientes portadores de HIV com lipodistro-
fias. Todos os indivíduos apresentaram taxas normais de glicose de jejum e
randomizada. A resistência severa à insulina, determinada como a taxa de
glicose injetada para manter a normoglicemia durante a infusão de insulina,
foi demonstrada nesses pacientes que apresentam uma perda patológica de
gordura periférica. A resistência à insulina foi significativamente correlacio-
nada à TNF-alfa solúvel tipo 2. A origem celular dessa citocina é até hoje
desconhecida. Os indivíduos com lipodistrofias são diferentes dos indivídu-
os diabéticos porque os níveis do fator de crescimento insulin-like binding
protein-1 de jejum são abaixo do normal. O tecido adiposo do tronco não era
significativamente associado a lipodistrofia e os níveis plasmáticos de ácidos
graxos livres eram normais. Os pesquisadores sugerem que as lipodistrofias
do HIV aparecem como formas raras de lipodistrofias adquiridas e congêni-
tas. Os pacientes portadores de HIV com redistribuição de gordura e níveis
elevados de triglicerídeos devem ser observados para prevenir uma progres-
são prematura do diabetes tipo 2 e da doença arterial coronariana.

Frank Hu et al, Annals of Internal A atividade física reduz o risco de doenças cardíacas e derrame
Medicine, 16 de janeiro de 2001 em pessoas diabéticas

Risco de doenças do coração é de duas a quatro vezes maior em pessoas


diabéticas do que na população em geral, e em mulheres diabéticas o risco é
de três a cinco vezes maior. É sabido que o exercício reduz o risco de doenças
cardiovasculares na população em geral, mas não estava claro se era benéfico
em pessoas com diabetes tipo 2 pois pode haver complicações. O quadro é
mais complicado para diabéticos do que para a população em geral. No pas-
sado, médicos viam a atividade física para diabéticos com cautela, porque o
exercício muda a taxa de açúcar no sangue, podendo induzir a uma hipogli-
cemia em diabéticos ou reduzir a quantidade de insulina que um diabético
precisa. No entanto, um estudo recente sugere que, apesar dos vários proble-
mas, atividade física moderada, como andar rápido, pode beneficiar os dia-
béticos. No estudo, que avaliou 5.125 enfermeiras diabéticas tipo 2 de 1980 a
1994, os pesquisadores descobriram que mulheres que praticavam exercícios
reduziram substancialmente o risco de complicações cardiovasculares. As
que se exercitaram de forma moderada e vigorosa por pelo menos quatro
horas semanalmente reduziram o risco de terem um ataque cardíaco ou um
derrame 40% mais do que as que eram sedentárias. Até andar vigorosamente
provou ser tão benéfico quanto exercícios mais pesados, como fazer jogging
ou correr, pois um ritmo mais intenso pode reduzir mais o risco do que andar
devagar. Os benefícios de reduzir problemas cardíacos podem ser mais im-
portantes do que possíveis perigos associados à atividade física no passado.
20 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 01 (2001)

Marjolein Visser et al, Pediatrics Detecção de uma inflamação sistêmica de baixo grau em
2001;107(1), janeiro de 2001 crianças com sobrepeso

As crianças com sobrepeso apresentam concentrações maiores de proteína


C-reativa e número maior de células sanguíneas brancas do que as crianças
com peso normal, o que é o sintoma de uma inflamação sistêmica de baixo
grau, podendo prognosticar futuras doenças cardiovasculares e diabetes. Os
dados foram coletados por um estudo multicêntrico a partir de 3512 crianças
de 8 a 16 anos de idade. Os pesquisadores encontraram níveis elevados de
proteína C-reativa (> 0,22 mg/dl) em 7,1% dos meninos e 6,1% das meninas.
As crianças com sobrepeso – os com índice de massa corporal ou três dobras
cutâneas em cima do 85o percentil específico do genro – tinham mais risco de
apresentar níveis elevados de proteína C-reativa, comparados com as crian-
ças de peso normal. Ainda mais os pesquisadores acharam que a taxa de
células brancas é significativamente mais elevada em crianças com sobrepe-
so. Esses achados, que não podem ser explicados por doenças sub-clínicas ou
outros fatores associados à inflamação, mostram que existe uma inflamação
sistêmica de baixo grau em crianças com sobrepeso. Embora que os efeitos
desta inflamação sobre a saúde das crianças sejam desconhecidos, já foi de-
monstrado que eles aumentam os riscos de doença cardiovascular e diabetes
mellitus em adultos saudáveis.

Robertsos et al, Diabetes 2001;50:47- Transplante das próprias ilhotas pancreáticas após
50, janeiro de 2001 pancreatectomia previne diabetes

Os pesquisadores demonstram que mais pacientes submetidos à pancrea-


tectomia por pancreatite crônica devem ser considerados para realização de
transplante das próprias ilhotas pancreáticas dentro do fígado, devido ao su-
cesso no tratamento em longo prazo na prevenção de diabetes. O estudo acom-
panhou seis pacientes não diabéticos submetidos ao transplante após pancre-
atectomia de 99% durante um período de 13 anos (6,2 anos média). Entre
290.000 e 678.000 células ilhotas foram transplantadas em cada paciente.
Foi demonstrado que o diabetes clínico com leve hiperglicemia de jejum de-
senvolveu-se em apenas um paciente, justamente o que recebeu menor nú-
mero de células. Dois dos pacientes apresentaram HbA1c elevada, porém a
dosagem declinou para dentro de níveis do controle glicêmico em diabéticos
tratados. Entretanto, foi evidenciada uma deterioração aparente na resposta
da insulina à presença de glicose. Parece que 500.000 ilhotas devem ser o
suficiente para normalizar a tolerância a glicose. Os autores concluem que a
função a longo prazo das ilhotas auto-transplantadas para prevenção de dia-
betes é possível em pacientes submetidos à ressecção de pâncreas devido a
pancreatite crônica.
Diabetes Clínica 01 (2001) 21

O Diabetes na Imprensa
Governo faz campanha contra diabetes
14 de janeiro de 2001
Todos os adultos com mais de 40 anos de idade serão convocados aos postos
de saúde de todo o país no dia 6 de março. Eles são o alvo da campanha que o
Ministério da Saúde fará para diagnosticar por meio de exame de sangue tirado
do dedo, se sofrem ou não de diabetes. O resultado sairá em 20 segundos.
Estatísticas do Ministério indicam que 5 milhões de brasileiros têm diabe-
tes. Metade das pessoas não sabem que são portadoras da doença. Entre os
que têm conhecimento, 23% não fazem qualquer tipo de tratamento. O Mi-
nistério estima que em 2010 o número de diabéticos chegará a 11 milhões de
pessoas. O diabetes é a sexta cause de mortes no país com o registro de cerca
de 25 mil óbitos por ano.
“O diabetes é um grave problema de saúde pública”, afirma o Secretário
de Políticas de Saúde, Cláudio Duarte da Fonseca. Em parceria com as secre-
tarias estaduais e municipais, o Ministério quer fazer o diagnóstico precoce
da doença e ampliar o atendimento ao paciente na rede pública. “Se o exame
for positivo, a pessoa deve marcar consulta no poste de saúde e se inscrever
no programa de monitoramento de diabetes”, recomenda Fonseca.

Descoberto um dos genes responsáveis pelo diabetes tipo 2


4 de janeiro de 2001 Cientistas da Universidade Livre de Bruxelas acreditam ter descoberto um
dos genes responsáveis pelo diabetes tipo 2, que afeta cerca de 100 milhões de
pessoas em todo mundo. O SHIP2, nome dado pelos cientistas ao gene, parece
agir como um freio na produção de insulina, hormônio que controla os níveis
de açúcar no sangue. Sem o gene, os níveis de insulina no organismo podem se
elevar sem controle, empurrando os níveis de açúcar no sangue para baixo.
Para Stephane Schurmans a descoberta pode estimular pesquisas de drogas que
façam o gene SHIP 2 funcionar adequadamente. Assim, a sensibilidade da in-
sulina do paciente poderia ser recomposta fazendo com que seus níveis de
açúcar no sangue voltassem ao normal. Além disso, a descoberta pode motivar
a criação de testes para diagnosticar a doença precocemente. Normalmente,
muitas pessoas só ficam conhecendo sua condição de portadoras de diabetes
tipo 2 quando surgem as complicações como cegueira e insuficiência renal.

Estudos culpam computadores por falta de apetite sexual e


gordura
2 de janeiro de 2000
Dois estudos recentes sugerem que a sociedade moderna foi afetada de
forma negativa pelo advento dos computadores. O primeiro estudo revela
que homens americanos reclamam que perderam apetite sexual e, muitas ve-
zes, preferem ficar mais tempo à frente do computador do que tendo relações
22 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 01 (2001)

Continuação sexuais. O segundo estudo constatou que crianças estão engordando por fica-
rem mais tempo à frente da televisão ou dos computadores jogando videoga-
me, ao invés de saírem de casa para brincar ou praticar algum tipo de esporte.
O primeiro estudo, feito pela Youth Intelligence a pedido da revista Playboy,
entrevistou 750 homens e 250 mulheres em todos os estados dos EUA e reve-
lou ainda que os homens estão gastando menos tempo em outras atividades
para se divertir com os aparelhos ‘hi-tech’. Cerca de 75% disseram que estão
assistindo menos à televisão e também deixando de ir tanto ao cinema, en-
quanto 36% dizem que passam cada vez menos tempo fora de casa. Um terço
dos respondentes fazem menos esportes, enquanto 80% afirmaram que preci-
sam levar um dos ‘gadgets’ quando viajam em férias.
O segundo estudo constatou que o número oficial de crianças obesas na
Grã-Bretanha dobrou e a culpa é dos jogos de computador. Pesquisadores do
King’s College, em Londres, analisou crianças entre quatro e 11 anos por
cerca de 20 anos e notou que o número de meninas com sobrepeso subiu
50%, enquanto o número de meninos dobrou. Entre 1984 e 1994 os pesquisa-
dores pesaram mais de 30 mil crianças. Em 1984 apenas 5% dos meninos e
9,3% das meninas estavam com sobrepeso. Em 1994, no entanto, os números
evoluíram para 9% e 13,5%, respectivamente.

Pesquisas brasileiras em genética do diabetes


20 de novembro de 2000
Quem acredita que produto nacional é de menor qualidade que o importado,
engana-se. Mal a equipe do Departamento de Biologia da USP anunciou ter con-
seguido obter linhagens de células-tronco embrionárias de camundongos, dois
candidatos apareceram para usá-las: o Instituto Fernandes Figueira, da Fiocruz, e
o Instituto de Biofísica da UFRJ. No primeiro, as células estão viabilizando pes-
quisas para comprovar a relação de uma mutação genética com a diabetes tipo 1.
No segundo, em breve, elas participarão de estudos de sangue artificial.
A geneticista Letícia Guida, do Instituto Fernandes Figueira, está alterando
geneticamente o gene galanina, presente tanto em camundongos como em hu-
manos no cromossomo 11. Uma mutação neste gene, que os pesquisadores
ainda não identificaram, faz com que ele atue no organismo inibindo a libera-
ção de insulina, hormônio que regula a taxa de glicose no sangue. Embora não
haja comprovação de que o gene mutante esteja relacionado com a diabetes
tipo 1 - caracterizada pela não produção do hormônio -, Letícia acredita que o
galanina é forte candidato a ser um dos genes causadores da doença. “Estamos
na fase de alterar o gene. A partir do ano que vem vamos introduzir os genes
mutantes em camundongos e observar seu comportamento. Se as cobaias se
tornarem diabéticas nossa hipóteses está certa”. Esta é apenas uma parte da
pesquisa. Letícia também selecionou 20 famílias com histórico de diabetes -
pelo menos dois casos - para analisá-las geneticamente à procura de mutações
no gene galanina. Das 10 já analisadas, 1 já apresentou alterações no gene. “É
cedo para afirmar qualquer coisa, mas acho que estamos no caminho certo”.

Insulina: inalação substitui injeção


11 de fevereiro de 2001 Em vez de picadas, a insulina inalada pode ser usada, com ação igual a das
injeções, no tratamento do diabetes. Absorvida pelos alvéolos pulmonares,
ela começa a agir em 15 minutos e seu efeito perdura por até 4 horas. A idéia
O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 01 (2001) 23

Continuação surgiu há 76 anos na Alemanha. Mas só recentemente a formulação em pó de


insulina para inalação, da Inhalc Therapeutics Systems e dos laboratórios
Pfizer e Aventis, mostrou eficácia. A forma inalada da insulina permitiria a
introdução precoce do hormônio no tratamento de diabéticos que ainda pro-
duzem um pouco de insulina orgânica, mas em quantidade insuficiente, o que
permitiria melhor controle da doença tipo 2 e reduziria as complicações. No
Brasil, conduzem estudos comparando a eficácia da insulina inalada em dia-
béticos tipo 2 as médicas Cristiani Adão Poço, Adriana Valente e Valéria Cos-
ta Bueno, sob chefia do médico Freddy Eliaschewitz, chefe da Endocrinolo-
gia do Hospital Heliópolis, do SUS.

Diabetes e pressão alta causam declínio mental

Pessoas com diabetes e pressão alta não só tem o risco de morrer mais cedo,
12 de janeiro de 2001 como também começar a perder as faculdades mentais na maturidade, e é
importante tratar as duas condições o quanto antes, alertaram pesquisadores.
Dr. David Knopman, da Clínica Mayo, em Rochester, Minnesota, condu-
ziu um estudo abrangendo mais de 10.000 pessoas com idades entre 47 e 70
anos, nos Estados Unidos. Os pesquisadores aplicaram vários testes para medir
função mental, incluindo testes de memória e agilidade mental, contra o reló-
gio. “O que vimos especificamente foi que, na realidade, não só a memória
diminui em pessoas com diabetes e hipertensão, mas a velocidade delas em
realizar tarefas mentalmente declinou”, disse, acrescentando que a situação
se agravava em quem apresentava as duas condições.
Knopman disse que as descobertas, relatadas na publicação Neurology,
sustentam outros estudos que associam o declínio mental com diabetes. O
hábito de fumar, assim como níveis altos de colesterol, não têm relação com
o declínio mental. Mas não ficou claro, segundo Knopman, como as duas
condições possam causar a perda de uma função cerebral. Calcula-se que de
14 a 15 milhões de norte-americanos têm diabetes tipo 2, que se desenvolve
na maturidade e cerca de 50 milhões, a partir de 6 anos de idade, têm pressão
sangüínea alta.
Uma recente pesquisa mostrou que cerca de 39 por cento dos norte-ameri-
canos se consideram acima do peso, mas apenas um terço se considera sob
risco de desenvolver diabetes. Na verdade, mais da metade dos norte-ameri-
canos é obesa, fator que aumenta muito o risco de diabetes. “Esses resultados
são alarmantes porque mostram que os norte-americanos não fazem a liga-
ção entre obesidade e diabetes tipo 2,” afirmou Dr. Steven Heymsfield, dire-
tor do centro de pesquisa sobre obesidade de Nova York, no Hospital St.
Lukes-Roosevelt.

Hormônio de crescimento - A droga do verão

Em busca de um corpo perfeito e da eterna juventude, homens e mulheres


28 de janeiro de 2001
recorrem ao GH – hormônio de crescimento – que pode causar doenças como
diabetes e hipertensão.
Produzido no corpo pela hipófise, o GH começou a ser usado há cerca de
35 anos, em crianças com problemas de nanismo. Na última década, sua ver-
são sintética, também chamada de hGH, deixou os consultórios médicos,
ganhou ar de novidade e conquistou adeptos entre adultos interessados em
24 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 01 (2001)

Continuação seus efeitos estéticos imediatos. Sua aplicação, acompanhada de dieta balan-
ceada e exercícios físicos, provoca a redução da gordura do corpo e aumenta
a massa muscular, além de dar uma sensação de bem-estar. Virou o anaboli-
zante do verão nas academias de ginástica de São Paulo, apesar dos prejuízos
que pode trazer à saúde. E eles não são poucos: risco de desenvolver diabetes
resistente à insulina, acromegalia, inflamação e dores crônicas nas mãos e
câncer do fígado, principalmente em pessoas com histórico familiar da doen-
ça. “O hGH é a nova moeda corrente do tráfico de ilusão”, critica o especia-
lista em medicina esportiva Victor Matsudo. A maioria dos endocrinologistas
procurados pela revista, tais como Fadlo Fraige Filho (Beneficiência Portu-
guesa) ou Geraldo Medeiros Neto (USP) são opostos ao uso indiscriminado
do hormônio: “É uma total imbecilidade jovens tomarem esse hormônio. Es-
sas pessoas estão abrindo caminho para se tornarem diabéticas”, diz Geral-
do Medeiros Neto. Mesmo entre os sabidamente deficientes, o uso é conside-
rado arriscado. Há três anos, o Hospital das Clínicas aplica o hGH em um
grupo de 20 pessoas, com idade média de 60 anos, que revelam tendência à
osteoporose, colesterol alto e diabetes. “Os resultados não foram uniformes.
Em média, houve redução de gordura, melhora no colesterol e na sensação
de bem-estar”, explica Sami Liberman. Um outro frente de estudo, com obe-
sos, está sendo coordenado pelo endocrinologista Alfredo Halpern, no Hos-
pital das Clínicas. Parte deles tem a chamada gordura perigosa, localizada no
abdômen, que predispõe a hipertensão, infartos e derrames, além de diabetes.
Halpern acredita que o medicamento pode diminuir essa gordura, mas ainda
não concluiu a pesquisa.

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Diabetes Clínica 01 (2001) 25

Avanços terapêuticos e tecnológicos

Carlo Caravaggi, MD, Diabetes Care Eficácia e segurança de formas de fibra de vidro versus calçados
2000;23:1746–1751, dezembro de 2000 terapêuticos no tratamento de úlceras em pé neuropático
Objetivo: Avaliar e comparar a taxa de redução da superfície de ulceras
plantares neuropáticos em pacientes diabéticos tratados com formas de fibra
de vidro com rigidez diferenciada ou calçados com palmilha rígida e correti-
vos de descarga. O objetivo secundário era avaliar os efeitos adversos e o
grau de aceitação do tratamento pelo paciente.
Desenho e métodos: 50 pacientes diabéticos com ulceras plantares neuro-
páticos foram randomizados para participar de um dos dois grupos. Dentre os
50 pacientes, 24 foram equipados com calçados especiais incluindo palmilha
rígida e corretivos de descarga (grupo calçado), e 26 pacientes foram equipa-
dos com formas rígidas de fibra de vidro (grupo formas). Todos os pacientes
foram avaliados semanalmente no consultório. As suas úlceras foram trata-
das com as técnicas padrão. Desenhos das úlceras foram realizados no dia do
início do tratamento e 30 dias depois. A presença de novas úlceras causadas
pólo uso do equipamento foi notada. A aceitação do tratamento pelo paciente
foi medida usando uma escala visual analógica.
Resultados: No fim do tratamento, um aumento de 8,3% da superfície da
úlcera foi observado em 2 pacientes do grupo calçados, enquanto que no
grupo formas, nenhum paciente apresentou um aumento. A diminuição da
superfície da úlcera foi estatisticamente mais rápida no grupo formas (teste
de Mann-Whitney, P = 0,0004). O numero de úlceras completamente cicatri-
zadas no fim do período de 30 dias era 13 (50%) no grupo formas e 5 (20,8%)
no grupo calçados (P = 0,03). Nos dois grupos, nenhum efeito adverso foi
observado. O resultado médio ± DS de aceitação pelo paciente foi 91,15 ±
9,9 no grupo calçados e 88,33 ± 17,3 (NS) no grupo formas.
Conclusões: Nosso estudo mostrou uma diferença significativa na velo-
cidade de redução de úlceras plantares neuropáticas tratadas com forma de
fibra de vidro, em comparação com calçado sob medida. O uso da fibra de
vidro com rigidez variável mostrou também dois resultados importantes:
eliminação dos efeitos adversos, incluídas as úlceras causadas pela forma,
e alto nível de aceitação. Os dados comprovam que o uso de formas feitas
de bandagens de fibra de vidro com rigidez variável é um tratamento ade-
quado para úlceras plantares neuropáticas.
26 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 01 (2001)

S. Gentile et al, Diabetes, Obesity & Estudo de eficácia comparativa de atorvastatina vs. sinvastatina,
Metabolism 2000;2(6):355-362, pravastatina, lovastatina e placebo em pacientes diabéticos tipo 2
dezembro de 2000 com hipercolesterolemia

Embora exista pouca informação sobre estudos de prevenção primária ou


secundária com agentes anticolesterol em pacientes diabéticos, a diminuição
do colesterol elevado é altamente recomendada nesse grupo. A American
Diabetes Association (ADA) recomenda terapia em pacientes diabéticos se o
LDL-colesterol é > 130 mg/dl, ou > 100 mg/dl em pacientes portadores de
macroangiopatia, após tratamento dietético. Quando o tratamento anticoles-
terol é indicado, a escolha do remédio deve considerar as outras anormalida-
des lipidicas e a necessidade de manter o controle glicêmico ótimo. Nesse
estudo, comparamos a eficácia e a segurança do inibidor da HMG-CoA redu-
tase atorvastatina, na dose de 10mg/dia com sinvastatina, lovastatina e pra-
vastatina nas doses de 10, 20 e 20 mg/dia, respectivamente, e placebo, em
pacientes diabéticos tipo 2 com aumento moderado do LDL-C com ou sem
aumento dos triglicerídeos. Todos os agentes são inibidores enzimáticos efe-
tivos para a diminuição do LDL-C em seres humanos. A eficácia foi medida
pela média das percentagens de diminuições em concentrações de LDL-C
plasmático, colesterol total, triglicerídeos, HDL-C a partir da linha base até o
fim do tratamento (24 semanas). Atorvastatina na dose de 10 mg/dia produz:
1) diminuição significativa do LDL-C (- 37%) em comparação com doses
equivalentes de sinvastatina (- 26%), pravastatina (- 23%), lovastatina (- 21%),
e placebo (- 1%); 2) aumento do HDL-C (7,4%) igual ou melhor do que os
obtidos por sinvastatina (7,1%), pravastatina (3,2%), lovastatina (7,21%), e
placebo (- 0,5%); 3) redução significativa do colesterol total (- 29%) maior
do que o resultado obtido por sinvastatina (- 21%), pravastatina (- 16%), lo-
vastatina (- 18%), e placebo (1%); e 4) diminuição significativamente maior
dos triglicerídeos em comparação com outros remédios e placebo. Em todos
os grupos de tratamento não foi observada variação significativa da concen-
tração do fibrinogênio. Todos os inibidores de redutase estudados apresen-
tam os mesmos níveis de tolerância. Não foram observados aumentos persis-
tentes de aminotransferases plasmáticas ou miosite.

Hundal RS et al, Diabetes Mecanismo da diminuição da produção de glicose pela


2000;49(12):2063-9, dezembro de 2000 metformina em diabetes tipo 2

Para examinar o mecanismo pelo qual a metformina abaixa a produção


endogênica de glicose em pacientes diabéticos tipo 2, estudamos 7 indivídu-
os diabéticos tipo 2, com hiperglicemia de jejum (15,5 ± 1,3 mmol/l), antes e
depois três meses de tratamento com metformina. Sete indivíduos saudáveis,
e comparáveis para sexo, idade e IMC foram empregados como controle. As
taxas de glicogênese hepática, estimada pela ressonância magnética nuclear
13C, foram combinadas com as estimações das contribuições à produção de
glicose provenientes da gliconeogênese e da glicogenólise, medidas pela la-
belização da glicose sanguínea por 2H a partir de 2H2O ingerido. A taxa de
produção de glicose foi duas vezes mais elevada nos pacientes diabéticos do
que em controles (0,70 ± 0.,5 vs. 0,6 ± 0,03 mmol/m2/min, P < 0,0001).
Metformina diminuiu essa taxa em 24% (para 0,53 ± 0,03 mmol/m2/min, P =
0,0009) e a glicose plasmática de jejum em 30% (para 10,8 ± 0,9 mmol/l, P =
0,0002). A taxa da gliconeogênese era três vezes mais elevada em indivíduos
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 01 (2001) 27

Continuação diabéticos do que em controles (0,59 ± 0,03 vs. 0,18 ± 0,03 mmol/m2/min) e
a metformina diminuiu essa taxa em 36% (para 0,38 ± 0,03 mmol/m2/min, P
= 0,01). O método 2H2O mostra um aumento de duas vezes das taxas de
gliconeogênese em pacientes diabéticos (0,42 ± 0,04 mmol/m2/min, e uma
diminuição em 33% após tratamento com metformina (0,28 ± 0,03 mmol/m2/
min, P = 0,0002). Não há ciclo do glicogênio em indivíduos controle, mas em
portadores de diabetes o ciclo do glicogênio contribui para 25% da produção
de glicose e explica as diferenças entre os dois métodos empregados. Em
conclusão, os pacientes portadores de diabetes tipo 2 pouco controlado apre-
sentam taxas elevadas de produção de glicose endogênica, que podem ser
atribuídas às taxas elevadas de gliconeogênese. A metformina diminui a taxa
de produção de glicose em esses pacientes pela redução da gliconeogênese.

Herlitz J et al, J Diabetes Impacto do histórico diabético sobre a melhoria dos sintomas
Complications 2000;14(6):314-321, e da qualidade de vida durante 5 anos após desvio arterial
dezembro de 2000 coronariano

O objetivo do estudo é observar o impacto do histórico de diabetes melli-


tus sobre a melhoria dos sintomas e vários aspectos da qualidade de vida
(QoL) durante 5 anos após desvio arterial coronariano (CABG). Os pacientes
que foram submetidos a CABG entre 1988 e 1991 na Suécia responderam a
um questionário antes a cirurgia e 5 anos depois. QoL foi estimada por três
índices: Physical Activity Score (PAS), Nottingham Health Profile (NHP) e
Psychological General Well-Being (PGWB). 876 pacientes participaram na
avaliação, dos quais 87 (10%) tinham um histórico de diabetes. Sintomas de
dispnéia e dor no peito aumentaram em pacientes diabéticos e não diabéticos.
Os pacientes diabéticos apresentaram escores piores do que os não diabéti-
cos antes e 5 anos depois a CABG, mas sem diferença significativa na me-
lhoria entre os dois grupos segundos os dados dos índices de QoL. O PAS
melhora um pouco mais em não diabéticos do que em diabéticos, enquanto
que a melhoria em NPH e PGWB foi similar independentemente do histórico
de diabetes. Os pacientes diabéticos têm escores de QoL inferiores antes e 5
anos depois CABG. Pacientes diabéticos e não diabéticos melhoram em sin-
tomas e QoL após a operação. Em alguns aspectos, a melhoria é menos signi-
ficativa em pacientes diabéticos mas a melhoria total é similar em compara-
ção com não-diabéticos.

Carl Erik Mogensen et al, BMJ Estudo controlado randomizado do bloqueio do sistema renina-
2000;321:1440-1444, dezembro de angiotensina em pacientes portadores de hipertensão,
2000 microalbuminúria e diabetes tipo 2: o estudo candesartan e
lisinopril microalbuminúria (CALM)

Objetivos: Avaliar e comparar os efeitos de candesartan ou lisinopril, ou


ambos, sobre a pressão sanguínea e a excreção de albumina urinária em paci-
entes com microalbuminúria, hipertensão e diabetes tipo 2.
Desenho e métodos: Estudo duplo-cego, randomizado, com grupo parale-
lo, período de 4 semanas de placebo, monoterapia 12 semanas com candesar-
tan (916 mg uma vez ao dia) ou lisinopril (20 mg uma vez ao dia), seguida de
12 semanas de monoterapia ou tratamento conjugado. Foram envolvidos 199
28 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 01 (2001)

Continuação pacientes com idade entre 30 e 75 anos em 37 centros de 4 países. As princi-


pais medições foram pressão sanguínea e ratio albumina/creatinina urinário.
Resultados: A diminuição media da pressão sanguínea diastólica em 12 se-
manas (IC 95%) foi 9,5 mm Hg (7,7 mm Hg para 11,2 mm Hg, P < 0,001) e
9,7 mm Hg (7,9 mm Hg para 11,5 mm Hg, P < 0,001), respectivamente, e a
diminuição do ratio albumina/creatinina foi 30% (15% to 42%, P < 0,001) e
46% (35% para 56%, P < 0,001) para candesartan e lisinopril, respectivamente.
Em 24 semanas, a diminuição média da pressão sanguínea diastólica com o
tratamento combinado (16,3 mm Hg, 13,6 mm Hg para 18,9 mm Hg, P < 0,001)
estava significativamente maior do que com candesartan (10,4 mm Hg, 7,7 mm
Hg para 13,1 mm Hg, P < 0.,01) ou lisinopril (média 10,7 mm Hg, 8,0 mm Hg
para 13,5 mm Hg, P < 0,001). A diminuição do ratio albumina/creatinina uriná-
rio com o tratamento conjugado (50%, 36% para 61%, P < 0,001) foi maior do
que com candesartan (24%, 0% para 43%, P = 0,05) e lisinopril (39%, 20%
para 54%, P < 0,001). Todos os tratamentos foram bem tolerados.

Conclusão: Candesartan 16 mg uma vez ao dia é tão eficaz com lisinopril


20 mg uma vez ao dia para diminuir a pressão sanguínea e a microalbuminú-
ria em pacientes hipertensos portadores de diabetes tipo 2. O tratamento
conjugado é bem tolerado e mais eficaz para reduzir a pressão sanguínea.

Michael B Kastan, Nature Cell Biology. O gene da ataxia-telangiectasia é associado à função insulínica
2000;12:893-898, dezembro de 2000
Pesquisadores descobriram que ATM, o gene da doença rara ataxia-telan-
giectasia (AT), tem uma função potencial importante para a sinalização da
insulina nas células. Esses achados poderiam esclarecer problemas fisiológi-
cos de pacientes portadores de AT, e poderiam também explicar como a insu-
lina funciona. A proteína ATM é conhecida para ser envolvida nas respostas
celulares à terapia por radiação. A próxima etapa, segundo os pesquisadores,
será caracterizar quais são as células dependentes de ATM para as respostas à
insulina e determinar o seu impacto sobre os processos fisiológicos, tais como
o metabolismo da glicose, a formação dos vasos sanguíneos, o crescimento
celular, o crescimento corporal e o metabolismo da célula adiposa. AT é uma
doença genética rara, caracterizada por incidência elevada de cânceres, hi-
persensibilidade à radiação e alguns tratamentos quimioterapêuticos, e uma
degeneração neurológica progressiva. Essa nova função da ATM pode ajudar
os pesquisadores a explicar outros problemas dos pacientes portadores de AT,
incluídas complicações metabólicas.

Giancarlo Tonolo et al, Eur J Clin As estatinas podem ter um efeito direito sobre a regulação da
Invest 2000;30:980-987, novembro de pressão sanguínea
2000
Em pacientes diabéticos tipo 2 hipertensos, o tratamento com sinvastatina
diminui a pressão sanguínea e a taxa de excreção de albumina urinária (AER)
independentemente da melhoria do nível dos lipídios. Os pesquisadores ob-
servaram, de acordo com vários estudos anteriores, que os benefícios das
estatinas, também conhecidas como inibidores da atividade da enzima HMG-
CoA redutase, não podem ser explicados somente pelo efeito sobre o LDL-
colesterol. Uma hipótese seria que as estatinas podem restaurar a produção
de oxide nítrico dependente do endotélio, agindo independentemente da di-
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 01 (2001) 29

Continuação minuição do LDL-colesterol. Para controlar a hipótese, os pesquisadores


mediram a pressão sanguínea e a taxa de excreção de albumina urinária du-
rante o tratamento com sinvastatina e colestiramina em 26 pacientes portado-
res de diabetes tipo 2, hipertensão e microalbuminúria. Embora que ambos
os remédios diminuem os níveis de colesterol, só a sinvastatina reduziu sig-
nificativamente a pressão sanguínea diastólica e os AER urinários. Sinvasta-
tina foi também associada à redução significativa do glicosaminoglicano uri-
nário total e a diminuição do complexo protéico condroitinossulfato, tão como
ao aumento significativo dos nitritos/nitratos no soro total. Os resultados su-
gerem que a sinvastatina ativa a produção de oxide nítrico, resultando em
uma diminuição da pressão sanguínea diastólica e AER.

Vandermolen DT et al, Fertil Steril Metformina e clomifeno induzem ovulação em mulheres com
2001;75:310-315, fevereiro de 2001 síndrome de ovários policísticos

Em mulheres com síndrome de ovários policísticos resistentes ao trata-


mento com citrato de clomifeno, o acréscimo de metformina aumenta a res-
posta ovulatória. O estudo multicêntrico, liderado por Dr. avaliou 27 mulhe-
res não-diabéticas com síndrome de ovário policístico e anovulatórias a des-
peito de curso de cinco dias de clomifeno. Doze mulheres foram aleatoria-
mente alocadas para receber metformina 500mg três vezes ao dia, enquanto
que 15 receberam placebo. O índice de massa corporal médio foi de 37,6 kg/
m2 e de 38,4 kg/m2 nos dois grupos, respectivamente. Depois de sete sema-
nas, as 25 pacientes anovulatórias receberam 50mg diárias de clomifeno por
cinco dias. Se necessário, o clomifeno foi repetido por até seis ciclos ovulató-
rios, com aumento de 50mg/dia por ciclo até 150mg/dia. A ovulação ocorreu
em 75% das mulheres com metformina e 27% das mulheres com placebo,
enquanto os índices de gravidez foram de 55% e de 7%, respectivamente. As
mulheres sob tratamento com metformina apresentaram índices de concep-
ção compatíveis com a fecundidade de ciclos normais, o que sugere que o
tratamento não apresente efeitos adversos nos eventos reprodutivos pós-ovu-
latórios. Os autores observam que o tratamento com metformina e clomifeno
é menos caro e mais seguro do que a ovulação induzida por gonadotropinas
ou fertilização in vitro.

Sten Madshad et al, 17th International Melhor controle glicêmico com repaglinida comparada com
Diabetes Federation Congress, Mexico glipizida em diabetes tipo 2
City, Mexico, 5 a 10 de novembro de
2000 A eficácia a longo prazo e a segurança do regulador da glicose prandial
repaglinida foram comparadas com a sulfoniluréia glipizida em um estudo
multicêntrico de 1 ano, duplo-cego com grupo paralelo. Pacientes diabéticos
tipo 2 diabetes (n = 256; idade 40-75 anos, IMC 20-35 kg/m2, HbA1c 4,2% -
12,8%), sem sintomas de complicações severas micro ou macrovasculares,
foram randomizados para receber repaglinida, 1-4 mg durante as refeições,
ou glipizida, 5-15 mg/dia. Mudanças da glicose plasmática de jejum e HbA1c
durante os 12 meses de tratamento mostraram uma diferença significativa em
favor da repaglinida. Nos grupos repaglinida e glipizida, HbA1c diminuiu de
1,5% e 0,3% respectivamente, enquanto que a glicose plasmática de jejum
diminuiu de 2,4 mmol/l no grupo repaglinida e 1,0 mmol/l no grupo glipizida.
30 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 01 (2001)

Continuação Na população do estudo, as mudanças da HbA1c após 12 meses foram signi-


ficativamente melhores com repaglinida. Repaglinida mantém o controle gli-
cêmico (ao nível HbA1c), enquanto que o controle deteriorou significativa-
mente com glipizida. A mais, a glicose plasmática de jejum deteriorou signi-
ficativamente no grupo glipizida em comparação com o grupo repaglinida. O
peso corporal diminuiu (não significativamente) no grupo repaglinida. Ne-
nhum paciente em ambos os grupos experimentou um evento hipoglicêmi-
co significativo. Em conclusão, repaglinida é eficaz e seguro para o trata-
mento do diabetes tipo 2, e é superior à glipizida para o controle dos níveis
de HbA1c e da glicose plasmática de jejum. A ausência de ganho de peso e
a baixa incidência de eventos hipoglicêmicos com repaglinida são também
fatos positivos.

Yoshinori Miyazaki et al, 17th Efeito da pioglitazona sobre o metabolismo da glicose em


International Diabetes Federation pacientes diabéticos tipo 2 tratados com sulfoniluréias
Congress, Mexico City, Mexico, 5 a 10
de novembro de 2000 Esse estudo foi desenhado para observar os mecanismos pelos quais a
pioglitazona melhora o metabolismo da glicose em pacientes portadores de
diabetes tipo 2. 23 pacientes diabéticos tipo 2 (idade = 54 ± 2 anos; IMC =
29,3 ± 0,8 kg/m2), tratados com dose estável de sulfoniluréia, foram rando-
mizados para receber placebo ( n = 11) ou pioglitazona 45 mg/dia (n = 12)
durante 4 meses. Antes e após a meses, os indivíduos realizaram um teste de
tolerância à glicose 75 g via oral (OGTT) e um clamp euglicêmico (taxas de
infusão de insulina: 40 e 160 um/m2.min) com 3 horas de glicose e medição
da calorimetria indireta. Após 4 meses de tratamento com pioglitazona, a
glicose plasmática de jejum FPG (184 ± 15 para 135 ± 11 mg/dl, P < 0,01), o
pico de glicose médio durante OGTT (293 ± 12 para 225 ± 14 mg/dl, P <
0,05), e HbA1c (8,9 ± 0,3 para 7,2 ± 0,5%, p < 0,01) diminuíram significati-
vamente sem mudanças nas concentrações de C-peptídeo ou de insulina de
jejum ou estimulada por glicose. FFA plasmática de jejum (0,65 ± 0,04 para
0,49 ± 0,05 mEq/l, P < 0,01) e a concentração media de FFA durante OGTT
(0,48 ± 0,03 para 0,35 ± 0,03 mEq/l, P < 0,01) diminuíram significativamen-
te após pioglitazona. Antes e após pioglitazona, a produção de glicose hepá-
tica (HGP) e a glicose plasmática de jejum (FGP) eram fortemente relaciona-
das (r = 0,67, p < 0,01). Durante a primeira etapa do clamp insulínico (1a
HGP), a supressão do HGP era significativamente maior após pioglitazona
(17,6 ± 4,2 para 12,6 ± 3,7 mg/m2.min, p < 0,05). A glicose total durante a 2a
etapa do clamp (2a TGD) aumentou de 222 ± 30 to 299 ± 28 mg/m2×min (P <
0,01) após pioglitazona. Nenhuma mudança importante em glicose plasmáti-
ca de jejum ou pós-OGTT/FFA/insulina/C-peptídeo, HGP ou TGD foi obser-
vada no grupo placebo. Em conclusão, a pioglitazona em pacientes diabéti-
cos tipo 2 tratados por sulfoniluréias melhora o controle glicêmico pelo au-
mento da sensibilidade à insulina no fígado e no tecido periférico (músculo),
apesar de um aumento do peso corporal (4,3 ± 1,4 kg, P < 0,05).
Diabetes Clínica 01 (2001) 31

Produtos e novidades
La Pastina: Pêssego Grego Diet

Especialista da importação de produtos alimentares de qualidade, La Pas-


tina amplia a sua linha de produtos com o lançamento de uma fruta dirigida
ao consumidor portador de diabetes, o Pêssego Grego Diet. A empresa im-
porta o tradicional pêssego grego desde o início da década de 90 e desenvol-
veu pouco tempo depois a versão Light da conserva, diminuindo a teor de
açúcar. Agora existe uma nova opção o Pêssego Diet que, além de saudável,
é indicada para portadores de diabetes. O Pêssego Diet, que contém 5,5 g de
carboidratos (naturais da fruta)/100 g ao invés de 16g/100g na versão nor-
mal, passou pelos testes do Ministério da Saúde e recebeu o aval da ANAD
(Associação Nacional de Assistência ao Diabético).

Vivalev Diatt: Adoçante dietético culinário Docigual

Docigual de Diatt é o primeiro adoçante dietético culinário líquido no Bra-


sil, para o preparo de alimentos de forno e fogão. Os pratos criados com
Docigual possuem volume e sabor iguais aos dos doces feitos com açúcar. A
Vivalev Diatt está lançando este ano vários produtos dirigidos aos portadores
de diabetes: o Bolottone Light (Frutas ou Maçã com canela) é produzido sem
adição de açúcar e sal. Tem redução de 82% de gordura e 33% de calorias. É
acrescido de nutrientes como fibras, vitaminas e sais minerais. Bolottone
contêm ainda Ômega 3, ácido graxo não produzido no organismo que age
reduzindo o colesterol LDL no sangue. Outro novo produto é o Pão de Mel
Diatt em duas versões: com cobertura ao leite e com cobertura branca (sem
adição de açúcar). Enfim a Vivalev completa a sua linha de adoçantes com
Frutose Light, usado como adoçante de sucos, cafés e bebidas (redução de
38% de calorias e 38% de carboidratos), e Lev Stévia Diatt, multiadoçante
para ser consumido diariamente (ciclamato, sacarina e stévia).
32 Produtos e Novidades – Diabetes Clínica 01 (2001)

Continuação Freestyle de Therasense: a menor amostra de sangue e


resultados em 15 segundos

Freestyle é o primeiro produto da empresa Therasense (Califórnia, EUA),


inaugurada em 1996. É um medidor de glicose, composto de uma lanceta
original, usando uma amostra de sangue do antebraço e não do dedo, o que é
menos doloroso. A amostra é uma das menor do mercado, porque Freestyle
precisa de somente de 0,3 microlitro de sangue. O resultado aparece na tela
de freestyle em 15 segundos.
1 2 3

1 – Insere a tira, ligando automaticamente o Freestyle.


2 – Usa a lancete especial para tirar uma gota de sangue da pele do antebraço.
3 – Toca a gota de sangue com a tira até ouvir o bip do sistema.

Mais informações: www.therasense.com

NC-stat de Neurometrix: novo biosensor para avaliar a


neuropatia no território do nervo mediano

A empresa Neurometrix (Massachusetts, EUA), fundada em 1996, é espe-


cialista no desenvolvimento de tecnologias para estudar e avaliar as doenças
neuro-musculares. O NC-stat, recentemente comercializado, é um sistema
que integra um biosensor flexível, de fácil instalação, permitindo medir em
alguns minutos a condução nervosa no nervo mediano. Essas medições são
importantes para estudar o desenvolvimento de uma neuropatia, síndrome do
túnel do carpo e ferimentos de estresse. O biosensor é instalado no punho do
paciente e conectado ao monitor, onde os resultados aparecem em 4 minutos.
O sistema mede a latência motor distal (intervalo entre o estímulo e a ação
muscular nos músculos de eminência tênar) e outros parâmetros.

Mais informações: www.neurometrix.com


Diabetes Clínica 01 (2001) 33

Resumos de trabalhos e congressos


Leopoldo Piegas, Álvaro Avezum, Klas Impacto do diabetes mellitus no prognóstico da angina instável e
Malmberg, Hertzel Gerstein, Joanne infarto do miocárdio sem supradesnivelamento de ST: resultados
Brown, Feng Zhao, James Calvin, do registro OASIS
Andrzej Budaj, Matyas Keltai, Salim
Yusuf, Centro coordenador brasileiro de Introdução: Pacientes com diabetes mellitus (DM) apresentam reconheci-
estudos clínicos em cardiologia & damente morbidade e mortalidade mais elevadas do que pacientes não-DM
OASIS Registry Coordinating Centre, após um infarto agudo do miocárdio (IAM).
São Paulo, SP e Hamilton, Canadá, LV Objetivo e métodos: Os tratamentos utilizados e o prognóstico durante um
Congresso da Sociedade Brasileira de seguimento de 2 anos de pacientes com e sem DM, hospitalizados com angi-
Cardiologia, Rio de Janeiro, RJ, junho na instável e IAM sem supradesnivelamento de ST, foram coletados prospec-
de 2000 tivamente em 6 diferentes países participantes do registro OASIS.
Resultados: Foram analisados os dados de 8013 pacientes. Destes, 1718
(21%) apresentavam DM, variando a prevalência de 16% a 31% entre os
países participantes. Durante a fase hospitalar, os pacientes com e sem DM
apresentaram taxas similares de cinecoronarografia e ATC, sendo que uma
maior proporção de pacientes com DM foram submetidos à cirurgia de revas-
cularização miocárdica (11% vs. 9%; p < 0,05). Durante os dois anos de
seguimento, as taxas de intervenção não diferiram, e a presença de DM foi
um marcador independente de maior mortalidade após ajuste para as diferen-
tes características basais [risco relativo (RR) 1,57; 95% IC 1,38 – 1,81; p <
0,001)] e para novo infarto (RR = 1,34; 1,14 – 1. 57; p < 0,001), novo episó-
dio de insuficiência cardíaca (RR = 1,41; 1,24 – 1.60; p < 0,001) e acidente
vascular cerebral (RR = 1,45; 1,09 – 1, 92; p < 0,01).

Conclusão: SCA sem supradesnivelamento de ST são comuns em DM


e sua presença é marcador prognóstico desfavorável e independente a lon-
go prazo. Hospitalização por SCA sem supradesnivelamento de ST reflete
doença crônica contínua subjacente, mais avançada e progressiva em paci-
entes com DM. Novas estratégias de tratamento a longo prazo são urgente-
mente necessárias para este grupo de alto risco.

Antônio J Néri-Souza, Gilson L Stents em diabéticos. Diferente dos não-diabéticos ?


Godinho, Nilson B. Ramos, Rogério
Santos-Jesus, Álvaro Rabelo, Fundação Objetivo: Identificar diferenças entre os pacientes submetidos a implante
Bahiana de Cardiologia UCCV- de stents, estratificando para a variável diabetes mellitus.
HUPES-UFBA, Salvador, BA, LV Fundamentos: Portadores de diabetes mellitus estão sob risco aumentado
Congresso da Sociedade Brasileira de de mortalidade cardiovascular. Diabéticos tratados por angioplastia têm su-
Cardiologia, Rio de Janeiro, RJ, junho cesso semelhante, porém maior número de complicações.
de 2000 Delineamento: Estudo de corte transversal.
Material e métodos: 331 pacientes foram submetidos a implante de stents
no período de 10/95 a 01/2000, sendo 78 (23,6%) diabéticos (DM) e 253
(76,4%) não diabéticos (NDM). Foram tratadas 83 lesões nos DN e 280 nos
NDM. Utilizou-se o teste de Qui-quadrado ou teste exato de Fisher bi-cau-
dal; considerando p < 0,05 estatisticamente significante.
34 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 01 (2001)

Continuação Resultados:
DM NDM p
Lesões restenóticas 12 (15,4%) 10 (4,0%) < 0,002
Hipertensão 62 (79,3%) 154 (60,9%) < 0,004
Sexo feminino 38 (48,7%) 79 (31,2%) < 0,008
Idade 65 anos 28 (55,9%) 93 (36,8%) NS
Disfunção VE mod/sev 20 (26,0%) 61 (24,4%) NS
Multiarteriais 43 (45,1%) 107 (42,3%) < 0,06
Angina estável 31 (39,7%) 56 (22,2%) NS
Angina instável 34 (43,6%) 82 (32,5%) NS
IAM 13 (16,7%) 56 (22,2%) NS
Lesões B2 + C 62 (72,9%) 198 (70,7%) NS
Sucesso do procedimento 76 (97,4%) 251 (99,2%) NS
Sucesso clínico 69 (88,5%) 246 (97,2%) < 0,005
Complicações maiores 9 (11,5%) 7 (2,8%) < 0,005

Conclusões: Lesões restenóticas, hipertensão e sexo feminino foram


significativamente mais freqüentes nos DM. Além disso, DM obtiveram
menor sucesso clínico e maior percentual de complicações maiores com
diferença estatisticamente significante.

Lise Tarnow et al, Diabetes Care Efeito protetor do rim a longo prazo da nisoldipina e lisinopril
2000;23:1725–1730, dezembro de 2000 em pacientes diabéticos tipo 1 portadores de nefropatia diabética

Objetivo: Comparar os efeitos a longo prazo sobre a função renal de um


antagonista do cálcio (nisoldipina) vs. inibidor de ACE (lisinopril) em paci-
entes diabéticos tipo 1 hipertensos com nefropatia diabética.
Desenho e métodos: Estudo prospectivo de 4 anos, randomizado, contro-
lado, duplo-cego, comparando nisoldipina (20-40 mg uma vez ao dia) com
lisinopril (10-20 mg uma vez ao dia). O estudo era duplo cego o primeiro
ano. O estudo incluiu 51 pacientes diabéticos hipertensos tipo 1 com nefro-
patia diabética. Três pacientes desistiram durante o primeiro mês. Os resulta-
dos de 48 pacientes são apresentados.
Resultados: Na linha base, os dois grupos são comparáveis: taxa de filtração
glomerular (GFR) era 85 ± 5 e 85 ± 6 ml · min–1 · [1,73 m]–2; a pressão sanguí-
nea média ambulatória de 24 horas era 108 ± 3 e 105 ± 2 mmHg, e a albuminú-
ria era 1,554 mg/24 h (95% CI 980–2,465) e 1,033 mg/24 h (760–1,406), nos
grupos lisinopril e nisoldipina, respectivamente. A pressão arterial média de 24
horas durante o estudo não foi significativamente diferente entre os grupos
lisinopril e nisoldipina (100 ± 2 e 103 ± 1 mmHg, respectivamente). As varia-
ções das taxas de albuminúria foram diferentes entre os grupos (P < 0,001). O
início do tratamento com lisinopril resultou em diminuição da albuminúria de
52% (95% IC 14–73), e a albuminúria não mudou no grupo nisoldipina durante
o estudo. A GFR diminuiu de maneira bifásica com redução inicial (0-6 meses)
de 1,3 ± 0,3 ml · min–1 · mes–1 no grupo lisinopril, comparado com 0,2 ± 0,4 ml
· min–1 · mes–1 no grupo nisoldipina (P < 0,01). A diminuição posterior (6-48
meses ou até o fim do tratamento) foi idêntica nos dois grupos: 0,5 ± 0,1 ml ·
min–1 · mes–1 (NS). Dois pacientes do grupo lisinopril e três do grupo nisoldipi-
na começaram uma terapia para estagio de funcionamento renal terminal.

Conclusões: O tratamento a longo prazo com lisinopril ou nisoldipina


tem efeitos similares sobre a progressão da nefropatia diabética em paci-
entes hipertensos diabéticos tipo 1.
36 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 01 (2001)

Nelia Bueno, Bárbara Fletcher, Gerald Comparação entre o nível de desconhecimento dos fatores de
Fletcher, Salvador Serra, Pedro di risco coronariano e os hábitos de vida de indivíduos com história
marco da Cruz, Deborah Kelly, Luísa familiar de doença arterial coronariana no sudeste do Brasil e
Meirelles, Elizabeth Atkinson, Leigh dos Estados Unidos
Ann Tabor, Iran Castro, Instituto de
Cardiologia do Rio Grande do Sul Introdução: Existe maior prevalência de fatores de risco coronariano (FRC)
FUC, Porto Alegre, RS, LV Congresso em regiões economicamente menos desenvolvidas comparadas às mais de-
da Sociedade Brasileira de senvolvidas. A redução de mortalidade cardiovascular dos países desenvol-
Cardiologia, Rio de Janeiro, RJ, junho vidos foi obtida principalmente às custas de prevenção primária.
de 2000 Objetivo: Comparar o nível de desconhecimento das FRC e os hábitos de
vida dos filhos de indivíduos com DAC.
Métodos: Os pacientes completaram questionários (Q) e listaram os fi-
lhos. Q sobre FRC e hábitos de vida foram enviados aos filhos (n = 166). O
teste t de Student foi utilizado para análise das variáveis contínuas e o Qui-
quadrado para as variáveis categóricas.
Resultados: Idade [BR (31 ± 7,89); EUA (38,61 ± 7,090) p < 0,001]; sexo
masculino [BR = 41 (40,19%); EUA 36 (56,24%) p = 0,78]; Nível de desco-
nhecimento: colesterol [BR (53,7%); EUA (31,7%) p = 0,01]; glicose [BR
(51%); EUA (76,1%) p = 0,03]; PAS [BR (32,6%); EUA (20,6%) p = 0,15];
PAD [BR (31,8%); EUA (22,2%) p = 0,98]; tabagismo [BR (29,4%); EUA
(7,8%) p = 0,002]; fisicamente ativos [BR (23,7%); EUA (50%) p = 0,001];
Dieta: pouco gordura [BR (30,6%); EUA (59,3%) p = 0,01]; Alterações no
estilo de vida: relacionada a DAC [BR (48%); EUA (30,9%) p < 0,01].
Conclusão: Conclui-se que o nível de desconhecimento em relação ao
colesterol e glicose nos filhos de indivíduos com DAC difere no sudeste
do Brasil e do Estados Unidos. Não houve diferença em relação à pressão
arterial. Diferem, também, os hábitos alimentares, tabagismo, sedenta-
rismo e alterações no estilo de vida. Estas diferenças, provavelmente,
refletem fatores geográficos, sociais e/ou econômicos.

Michael D. Brown, Diabetes Care Sensibilidade à insulina em mulheres menopausadas


2000;23:1731–1736, dezembro de 2000
Objetivo: Os efeitos da atividade física combinada com terapia de reposi-
ção hormonal (TRH) sobre a sensibilidade à insulina em mulheres menopau-
sadas não são bem conhecidos. O objetivo do estudo era testar as seguintes
hipóteses: 1) As mulheres menopausadas bem treinadas apresentam sensibi-
lidade à insulina maior do que as mulheres menopausadas simplesmente ati-
vas ou sedentárias, e 2) as mulheres usando TRH são mais sensíveis à insuli-
na do que as mulheres que não usam TRH. Também procuramos descobrir se
a composição corporal ou o exercício cardiovascular eram marcadores da
sensibilidade à insulina nessas mulheres.
Desenho e métodos: Três grupos de mulheres classificadas em sedentárias
(n = 18), fisicamente ativas (n = 19), e atletas (n = 23) efetuaram testes de
tolerância à glicose endovenosa para avaliar o índice de sensibilidade à insu-
lina (Si) e absorciometria para determinar a composição corporal.
Resultados: Existe uma associação significativa entre ambos atividade física
(P = 0,036) e TRH (P = 0,007) e os níveis plasmáticos de insulina de jejum. As
mulheres menopausadas atléticas apresentaram os níveis de insulina plasmática
os mais baixos e o Si o mais elevado. Qualquer seja o nível de atividade física,
as mulheres menopausadas usando TRH (n = 29), apresentaram taxas de insu-
lina plasmática de jejum significativamente mais baixas e um Si menor que
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 01 (2001) 37

Continuação mulheres não usuárias de TRH (n = 31). TRH foi significativamente associada
(P = 0,025) com a tolerância à glicose endovenosa (KG); mulheres não usuárias
de TRH apresentaram KG maior do que mulheres usando TRH (0,83 ± 0,08 vs.
0,60 ± 0,05% por minuto). A percentagem de gordura corporal (r = – 0,37, P =
0,004) e Vo2max (r = 0,35, P = 0,007) foram marcadores similares de SI.
Conclusões: Enquanto que TRH seja associada à diminuição de Si, o
treinamento físico é associado à melhora de Si. As mulheres menopausa-
das usando TRH podem beneficiar de níveis menores de insulina plasmá-
tica mas apresentam também uma menor Si.

Suzanne E. Geerlings, Diabetes Care Fatores de risco de infecção do trato urinário em mulheres
2000;23:1737–1741, dezembro de 2000 diabéticas

Objetivo: Mulheres portadoras de diabetes têm infecções do trato urinário


(ITUs) mais freqüentes que as mulheres não-diabéticas. O objetivo desse
estudo multicêntrico foi avaliar as características clínicas associadas ao de-
senvolvimento de UTI sintomática durante um período de acompanhamento
de 18 meses.
Desenho e métodos: Pacientes portadores de diabetes tipo 1 ou 2, com idade
entre 18 e 75 anos, foram incluídas no estudo. Os resultados de acompanhamen-
to foram disponíveis para 589 das 636 mulheres incluídas no estudo. Todas as
pacientes foram entrevistadas sobre histórico medical e pelo menos uma cultu-
ra de urina não-contaminada foi coletada no momento da entrada no estudo.
Resultados: 115 (20%) das 589 mulheres desenvolveram uma UTI sinto-
mática, e 96 (83%) receberam um tratamento antibiótico. 34 mulheres (14%)
portadores de diabetes tipo 1 desenvolveram uma UTI. O fator de risco o
mais importante para essas mulheres foi relações sexuais durante a semana
antes de entrar no estudo (44% sem vs. 53% com relação sexual, risco relati-
vo [RR] = 3,0, P = 0,01). 81 mulheres (23%) portadores de diabetes tipo 2
desenvolveram uma UTI. O fator de risco o mais importante para essas mu-
lheres era a presença de uma bacteriúria assintomática na entrada no estudo
(25% sem vs. 42% com bacteriúria, RR = 1,65, P = 0,04).
Conclusões: Os fatores de risco para desenvolvimento de UTI são a
presença de bacteriúria assintomática em mulheres diabéticas tipo 2 e as
relações sexuais durante a semana anterior ao estudo em mulheres diabé-
ticas tipo 1.

Theodora S. Temelkova-Kurktschiev, Glicose plasmática pós-carga e picos glicêmicos são mais


Diabetes Care 2000;23:1830–1834, associados com aterosclerose do que glicose de jejum e
dezembro de 2000 nível de HbA1c

Objetivo: Observar a relação da glicose plasmática de jejum (FGP), a glico-


se plasmática pós-carga (PG) (30, 60, 90, e 120 min. durante um teste de tole-
rância à glicose oral [OGTT], bem como a PG máxima durante o OGTT, os
picos de glicose pós-carga (PGS), a glicose abaixo da curva de OGTT), e HbA1c
com a espessura da intima-media (IMT) como marcador da aterosclerose.
Desenho e métodos: OGTT, medição com ultra-som da IMT carotídea, fato-
res de risco de aterosclerose, histórico familiar de diabetes, obesidade e/ou
hiperlipoproteinemia, mais sem diabetes conhecido, foram analisados em 582
indivíduos de 40-70 anos de idade e apresentando risco de diabetes tipo 2.
38 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 01 (2001)

Continuação Resultados: Em uma análise univariável, todos os parâmetros glicêmicos


analisados foram significativamente correlatos à IMT. A glicose plasmática
pós-carga mostrou o odds ratio (OR) o mais elevado de 1,88 (1,34–2,63) em
relação à IMT anormal. Todos as variáveis PG, exceto a glicose 30 min no
OGTT, mostraram um OR significativo, enquanto que o OR para HbA1c e
FPG não era significativo. Na análise regressiva, a PG de 2h foi identificada
com o mais importante parâmetro da IMT de todos os parâmetros glicêmi-
cos. A PG de 2h e a PGS, mas não a FGP, foram associados com um aumento
significativo da IMT. Os parâmetros glicêmicos eram fortemente relaciona-
dos uns aos outros e com vários fatores de risco de aterosclerose. Em análise
multivariáveis incluindo vários fatores de risco de aterosclerose, a PG 2h foi
um determinante independente significativo de IMT.
Conclusões: PG e PGS são mais associados com IMT carotídea que os
níveis de FPG e HbA1c e modificam sensivelmente o risco de ateroscle-
rose, estimado pelo nível de HbA1c só, em uma coorte com risco de dia-
betes e em estádio de diabetes iniciante.

Yuko Uto et al, 17th International Nateglinida melhora a fase precoce da secreção de insulina e a
Diabetes Federation Congress, Mexico hiperglicemia pós-prandial em pacientes diabéticos tipo 2
City, Mexico, 5 a 10 de novembro de
2000 Objetivo: Nateglinida é um novo agente hipoglicemiante de ação curta que
estimula diretamente as células β do pâncreas. Para confirmar o efeito agudo e
as ações farmacológicas da nateglinida, estudamos as mudanças da glicose
plasmática e os níveis de insulina durante um teste de tolerância (refeição).
Material e métodos: 10 pacientes portadores de diabetes tipo 2 recentemen-
te diagnosticados e não-tratados. Após dieta e exercício durante uma semana,
eles receberam 270 mg/dia de nateglinida. Os testes de tolerância foram reali-
zados antes (linha base) e após uma administração única de nateglinida (dia 1),
após 7 dias de tratamento (dia 7), e após o fim do tratamento (dia 8).
Resultados: A glicose plasmática de jejum era 8,1 ± 0,3 mmol/l na linha base e
7,2 ± 0,3 mmol/l no dia 7 (P = 0,01). O nível de glicose plasmática 2h após a
refeição era 12,5 ± 0,6 mmol/l n linha base, 8,0 ± 0,5 mmol/l no dia 1 (P = 0,0001),
e 10,5 ± 0,8 mmol/l no dia 8 (P = 0,01 vs. linha base, P = 0,002 vs. dia 7). O nível
de insulina de jejum era 32,4 ± 6,0 pmol/l e não mudou significativamente durante
o estudo. O nível de insulina 30 min após a refeição era 86,4 ± 11,4 pmol/l na linha
base, 237,0 ± 27,0 pmol/l no dia 1 (P = 0,00004), e 141,6 ± 21,6 pmol/l no dia 8 (P
= 0,008 vs. linha base, P = 0,002 vs. dia 7). A insulina total (AUC?IRI) era 23,9
± 4,2 x1000 pmol?min/l na linha base, 38,8 ± 4,8 pmol?min/l no dia 1 (P =
0,00003), e 36,1 ± 11,4 pmol?min/l no dia 8 (P = 0,008 vs. linha base).
Conclusões: A secreção da fase precoce da insulina aumentou, mesmo após
uma única tomada de nateglinida. A melhora da secreção de insulina foi efeti-
va reduzindo a hiperglicemia pós-prandial em portadores de diabetes tipo 2.

D.G. Carey et al, 36th Annual Meeting Rosiglitazona diminui a gordura hepática e aumenta a gordura
of the EASD, Jerusalem, 17 a 21 de subcutânea mas não a gordura intra-abodominal
setembro de 2000
Objetivos: In vitro, rosiglitazona (RSG) causa diferenciação de pré-adipocí-
tos extraídos do tecido subcutâneo, mas não da gordura intra-abdominal. O
estudo examina o efeito da RSG sobre a distribuição de gordura em pacientes
diabéticos tipo 2, usando ressonância magnética, spectroscopia e absorciome-
tria de raios-X (DXA).
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 01 (2001) 39

Continuação Material e métodos: 33 pacientes (27 homens, 6 mulheres) foram rando-


mizados para receber em duplo-cego RSG 8 mg ao dia (em duas doses diári-
as) ou placebo. A distribuição de gordura e os parâmetros biológicos de je-
jum foram medidos no início e após 16 semanas de tratamento.
Resultados: A gordura hepática foi significativamente reduzida após trata-
mento com RSG (-30% D da média da linha base) más não com placebo. O
peso corporal total e a massa adiposa aumentaram com RSG (D médio 2,1
kg; DXA D 1,4 kg), más não com placebo (0,08 kg; -0,23 kg de gordura).
95% do aumento da massa adiposa ocorreram em regiões não-abdominais.
Na região abdominal, RSG aumenta a área de gordura abdominal subcutânea
(SAFA) (8%D da linha base), más não na gordura intra-abdominal (IAFA) (<
2% da linha base). Essas mudanças acompanham-se de diminuições signifi-
cativas da insulina de jejum (- 63,5 pmol/l), da glicose plasmática (-1,9 mmol/
l) e dos ácidos graxos livres no grupo RSG.

Conclusões: RSG diminui significativamente a gordura hepática, ha-


bitualmente elevada em pacientes portadores de diabetes tipo 2. O uso de
RSG é associado ao aumento da gordura subcutânea más não da visceral
(hepática e intra-abdominal).

Placebo (n = 14) RSG (n = 10)


IAFA (cm2)
Linha base média 205,4 ± 67,33 191,6 ± 47,72
D Médio da linha base (valor de p) 2,9 ± 23,57 (0,652) 2,8 ± 21, 54 (0,695)
SAFA (cm2)
Linha base média 307,4 ± 90,16 304,8 ± 123, 62
D Médio da linha base (valor de p) 4,8 ± 29,95 (0, 559) 25,0 ± 28,67 (0,022)
Gordura hepática (%)
Linha base média 27,4 ± 15,35 22,0 ± 17,96
D Médio da linha base (valor de p) 0,69 ± 6,81 (0,692) -6,7 ± 9,72 (0,036)

Carina Törn et al, Diabetes/ Anticorpos do ácido glutâmico descarboxilase (GADA) é o mais
Metabolism Research and Reviews, importante fator de prognóstico de insulinoterapia nos três
2000;16(6):442-447, dezembro de 2000 próximos anos em jovens pacientes diabéticos adultos não
classificados como diabéticos tipo 1

Objetivo: A diferenciação entre diabetes tipo 1 e 2 em adultos é um diag-


nóstico difícil. O estudo testou a hipótese que os auto-anticorpos são fatores
de prognóstico para o tratamento insulínico no prazo de 3 anos em pacientes
que não foram classificados inicialmente como diabéticos tipo 1.
Métodos: No estudo de população, amostras de sangue foram obtidos de
764 pacientes, todos diagnosticados como portadores de diabetes durante um
período de 2 anos. No momento do diagnostico, 583 (76%) foram classifica-
dos como tipo 1, 110 (14%) como tipo 2 e 71 (9,3%) não foram classificados.
Resultados: Dentre os pacientes não classificados como diabéticos tipo 1,
52 (47%) de tipo 2 e 42 (59%) dos pacientes não classificados foram positi-
vos para os anticorpos de células de ilhotas (ICA), anticorpos de ácido glutâ-
mico descarboxilase (GADA) ou anticorpos de tirosina fosfatase (IA-2A).
Esses pacientes (n = 94) apresentaram índice de massa corporal (IMC) me-
nor (p < 0,001) e C-peptídeo menor (p < 0,001) em comparação com os paci-
entes negativos para auto-anticorpos (n = 87). Comparados com pacientes
40 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 01 (2001)

classificados como diabéticos tipo 1 e positivos para auto-anticorpos (n =


477), eles apresentaram IMC maior (p < 0,001), C-peptídeo maior (p < 0,001)
e as mesmas taxas de ICA, GADA e IA-2A. Após 3 anos, 93% dos pacientes
positivos para os auto-anticorpos e não classificados inicialmente como dia-
béticos tipo 1 eram submetidos ao tratamento insulínico. Quando ICA, GADA,
IA-2A, IMC e C-peptídeo foram usados em uma regressão logística múltipla,
somente GADA foi significativo para o tratamento insulínico no intervalo de
3 anos (OR = 18,8), em pacientes tratados com dieta ou agentes hipoglicemi-
antes no momento do diagnostico.

Conclusões: A classificação correta é difícil em pacientes diabéticos


adultos. A presença de auto-anticorpos pancreáticos, especialmente
GADA, é um fator de prognóstico da necessidade de tratamento insulíni-
co nos próximos três anos a partir do diagnostico.

Tracey A. Jones et al, 17th International Rosiglitazona e eficaz quando adicionada a metformina em
Diabetes Federation Congress, pacientes obesos, insulino-resistentes e portadores de diabetes
Mexico City, Mexico, 5 a 10 de tipo 2
novembro de 2000
Objetivo: Em pacientes obesos, resistentes à insulina e portadores de dia-
betes tipo 2, inadequadamente controlados com metformina (MET), a terapia
combinada com um agente que diminui a resistência à insulina pode ser mais
apropriado do que o uso de um agente secretagogo. O estudo avaliou a eficá-
cia da rosiglitazona (RSG) administrada a pacientes obesos tratados com doses
elevadas de metformina.
Métodos: Dois estudos duplo-cego de RSG adicionada à dose quase máxi-
ma de MET (2,5 g/dia), em 550 pacientes dois quais foram avaliados glicose
plasmática de jejum e IMC. Os pacientes foram classificados em peso nor-
mal, sobrepeso e obesidade de acordo com o IMC na linha base, usando os
critérios da OMS (<25 kg.m-2, 25-30 kg.m-2, >30 kg.m-2, respectivamente).
Resultados: Os três subgrupos apresentaram melhora significativa da gli-
cose plasmática de jejum com RSG; O efeito foi mais importante em pacien-
tes obesos. Os pacientes obesos apresentaram também diminuições mais im-
portantes da resistência à insulina e da insulina de jejum com RSG (4mg
[28% e 12%], 8mg [51% e 32%], respectivamente). Os efeitos adversos não
foram diferentes em pacientes obesos e não-obesos.

Mudanças da FPG (mM) após tratamento de 6 meses


MET + placebo MET + RSG 4 mg MET + RSG 8 mg
IMC N Média±DP N Média±DP N Média ± DP
<25 21 +1,2 ± 0,7 13 -2,2 ± 0.8 21 -1,8 ± 0.5
25-30 80 +0,6 ± 0,3 44 -1,6 ± 0.4 94 -2,1 ± 0.3
>30 118 0,0 ± 0,2 59 -2,0 ± 0.4 100 -3,6 ± 0.3

Conclusões: RSG é eficaz para melhorar o controle glicêmico, a sensi-


bilidade à insulina e diminuir a insulina de jejum em pacientes obesos
inadequadamente controlados por metformina.
Lima JG et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 41~47 41
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 01 (2001) 41~47

ARTIGO ORIGINAL

Características clínicas do Diabetes Mellitus tipo 2 no Nordeste do Brasil


Josivan G. Limaa, Lucia H. C. Nóbregaa, Francisco Bandeirab, William J. Jeffcoatec, Geisa Macedod

Departamento de Diabetes e Endocrinologia do Hospital Agamenon Magalhães, Recife, Brasil e Departamento de Diabetes e Endocrinologia, City Hospital,
Nottingham NG5 1PB, UK.

aMédico Endocrinologista – Centro de Endocrinologia de Natal - RN.


bF.A.C.E. Professor de Endocrinologia – Universidade de Pernambuco, Unidade de Endocrinologia – Hospital Agamenon Magalhães, Recife - Pernambuco.
cMédico Endocrinologista – Departamento de Diabetes e Endocrinologia, City Hospital, Nottingham NG5 1PB, UK.
dMédico endocrinologista – Chefe da Unidade de Diabetes do Hospital Agamenon Magalhães, Recife – Pernambuco.

Resumo
Objetivo: Determinar o perfil do diabético tipo 2 em Recife, Nordeste do Brasil. Material e métodos: Foram estudadas características clínicas
e laboratoriais de 632 pacientes com diabetes tipo 2 e encaminhados para a clínica de diabetes do Hospital Agamenon Magalhães. Resultados:
A média de idade dos 632 pacientes (415 mulheres) foi de 57,1 anos. A duração da doença (mediana) foi de 5,0 anos. 136 (22,4%) pacientes
eram obesos (IMC ³ 30) e 233 (38,3%) tinham IMC < 25 kg/m2. Doença vascular periférica, neuropatia e retinopatia foram encontrados em
32,9%, 47,4% e 38,0% dos pacientes e sua presença foi associada com uma maior duração da doença (p < 0,001) e idades maiores (p < 0,001
para vasculopatia e neuropatia e p < 0,05 para retinopatia). Proteinúria foi encontrada em 8,3% dos pacientes e também foi associada com
maior duração da doença (p < 0,05) mas não com maior idade (p = 0,72). Amputação foi realizada em 6,3% dos pacientes. A glicemia de jejum
(mediana) foi 166,0 mg/dl e a HbA1, 8,6%. Colesterol total foi > 240,0 mg/dl em 77 pacientes (23,4%) e < 200,0 mg/dl em 161 (48,9%).
Triglicerídeos de jejum foram < 150,0 mg/dl em 220 (69,6%) pacientes. Conclusões: A baixa prevalência de obesidade difere da relatada em
outros estudos também no Brasil. Apesar do mau controle glicêmico, houve uma baixa prevalência de hipertrigliceridemia, sugerindo a possi-
bilidade de uma resistência à insulina seletiva. A prevalência de complicações crônicas foi similar ou maior que a apresentada em estudos de
outros países, apesar da taxa de amputação ter sido maior. Como diabetes é uma doença com elevada prevalência no Brasil, as conseqüências
econômicas e sociais são drásticas, sendo necessária uma reestruturação do serviço de saúde atualmente vigente.

Abstract
Objective: To assess the clinical profile of type 2 diabetes in Recife, Northeastern Brazil. Research design and methods: Clinical and laboratory
characteristics were studied of 632 patients with type 2 diabetes referred to a specialist clinic. Results: 632 patients (415 female) with a mean
age of 57.1y and median disease duration of 5.0y were studied. 136 (22.4%) were obese (BMI ³ 30) but 233 (38.3%) had BMI < 25 kg/m2.
Peripheral vascular disease, neuropathy and retinopathy were found in 32.9%, 47.4% and 38.0% of the patients and their presence was associ-
ated with longer disease duration (p < 0.001) and older age (p < 0.001 for vasculopathy and neuropathy and p<0.05 for retinopathy). Proteinuria
was found in 8.3% of the patients and was also associated with longer disease (p < 0.05) but not with age (p = 0.72). Amputation had been
performed in 6.3%. Median fasting glycemia was 166.0 mg/dl and HbA1, 8.6%. Total cholesterol was > 240.0 mg/dl in 77 (23.4%) and < 200.0
mg/dl in 161 (48.9%) patients. Fasting triglycerides was < 150.0 mg/dl in 220 (69.6%) patients. Conclusions: The low obesity rate differs from
previous reported studies from Brazil. The overall glycemic control was poor but with a low prevalence of hypertriglyceridemia, suggesting the
possibility of selective insulin resistance. The prevalence of chronic complications was similar to or greater than most studies from other
countries although the amputation rate was higher. As diabetes is a disease with high prevalence in Brazil, the economic and social consequen-
ces are vast and consideration needs to be given to the structuring of health care services.

Endereço para correspondência: Dr Josivan Gomes de Lima, Rua Joaquim Fabricio, 233/1200 Petrópolis, 59012-340 Natal – RN, Telefone: (84) 222 6328 /
94319432 - Fax: (84) 211 6324, E-mail: josivan@usa.net
42 Lima JG et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 41~47

Introdução pecializadas, mas alguns não tinham encaminhamentos


(auto-referidos). Alguns não tinham freqüentado o hos-
O Brasil é o quinto maior país do mundo, com uma pital previamente e, dos que já eram pacientes do Hos-
população de aproximadamente 160 milhões e com uma pital, nenhum deles era acompanhado regularmente no
elevada prevalência de diabetes, pelo menos nas co- ambulatório de Diabetes.
munidades urbanas. Malerbi et al. [1] mostraram em Diabetes tipo 2 foi definido pelos seguintes critéri-
um grande estudo, multicêntrico, em nove cidades, que os (National Diabetes Data Group) [6]: Capacidade de
diabetes acomete 7,6% da população entre 30 e 69 anos. controlar a doença com dieta ou hipoglicemiantes orais,
Isto contrasta com as prevalências apresentadas em pa- ausência de história de cetoacidose e tempo de dura-
íses das Américas Central (3,2%) e do Sul (2,3%) [2]. ção da doença prévio ao início da insulinoterapia. Es-
Apesar de ser reconhecido como um grande problema ses critérios clínicos têm comprovadamente uma boa
de saúde pública no Brasil, poucas tentativas têm sido correlação com as dosagens de peptídeo C basal e após
feitas para avaliar o impacto clínico do diabetes. [1, 3, estímulo [7].
4, 5]. História clínica e o exame físico foram colhidos. O
No entanto, é muito difícil obter uma visão compre- índice de massa corpórea (IMC = peso/altura2) foi cal-
ensível do perfil da doença na população brasileira – culado a partir das medidas do peso e estatura. A pres-
em parte pelo grande número de áreas rurais esparsas, são arterial foi verificada com o paciente sentado e
remotas de esquemas de estruturas de saúde e por ou- hipertensão foi definida como pressão arterial sistóli-
tro lado, porque aproximadamente 50% dos casos de ca > 140 e/ou diastólica > 90mmHg, ou pelo uso de
diabetes não são diagnosticados mesmo em populações terapia antihipertensiva. Macroproteinúria foi deter-
urbanas [1, 4]. Além disso, o Sistema de Saúde pública minada na amostra da primeira urina da manhã, na
brasileiro, apesar de gratuito, constitui-se de um servi- ausência de infecção do trato urinário. Medida de mi-
ço primariamente baseado em hospitais e dirigido a sin- croalbuminúria não era disponível no serviço. Doen-
tomas. As facilidades para a detecção de doenças crô- ça vascular periférica foi definida pela ausência ou
nicas como diabetes e que objetivam aumentar a so- considerável diminuição de dois ou mais pulsos peri-
brevida de diabéticos não são utilizadas plenamente e féricos, confirmados por dois examinadores diferen-
as medidas que visam a acessar o impacto clínico do tes e neuropatia periférica, por diminuição da sensi-
diabetes atingirão uma população selecionada – em bilidade vibratória (diapasão 128 Hz), tátil ou dolo-
parte por ter mais fácil acesso a profissionais de saúde rosa em qualquer membro ou ausência de ambos os
ou por ter uma prevalência maior de complicações e reflexos patelares e aquileus – confirmado por dois
de sintomas já que o paciente só procura ajuda médica observadores. Fundoscopia foi realizada por dois ob-
quando está com alguma sintomatologia. Um estudo servadores através de pupilas dilatadas e a retinopa-
com estas características também exclui os pacientes tia, no olho com grau mais avançado, foi classificada
que desfrutam de planos de saúde privados e seguros de acordo com critérios convencionais nas seguintes
saúde. categorias: ausente, background, pré-proliferativa e
Estudamos pacientes com diabetes que compareceram proliferativa. Quando possível, foi coletada amostra
ao ambulatório de Endocrinologia no Hospital Agame- de sangue venoso após jejum de não menos que 12
non Magalhães, um Hospital Universitário em Recife, horas e realizado as dosagens de glicemia, HbA1 (va-
Nordeste do Brasil. A grande maioria das pessoas nessa lores normais em não diabéticos 6-8%), colesterol total
região são de raça mestiça, sem predominância de um (normal < 240 mg/dl) e triglicerídeos (normal 40-150
grupo étnico específico (seja índio, negro ou branco). mg/dl).

Material e métodos
Métodos estatísticos
Este é um estudo retrospectivo de todos os pacientes
com Diabetes tipo 2 acima de 18 anos encaminhados Os dados são apresentados como média ± desvio pa-
pelo Sistema de Saúde ao Serviço especializado em Di- drão ou, se não paramétricos, como mediana (interva-
abetes do Hospital Agamenon Magalhães, Recife, entre lo). Testes de Mann-Whitney-Wilcoxon, Chi-quadrado,
maio de 1995 e agosto de 1997. Como poucos pacientes Anova e Spearman foram aplicados quando necessári-
não foram incluídos, acreditamos que a população re- os, utilizando Stat100 - Biosoft [8]. Dados de idade e
crutada foi o mais consecutiva possível. A maioria era HbA1 mostraram-se com distribuição normal através do
encaminhada por clínicos gerais ou outras clínicas es- teste de Kolmogorov-Smirnov.
Lima JG et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 41~47 43

Resultados mal (Distância Kolmogorov-Smirnov = 0,08, p < 0,05;


Tabela 2, Fig. 1). 136 (22,4%) foram classificados como
Pacientes obesos (IMC ³ 30) sendo 14 (2,3%) com obesidade mór-
Estudamos 632 pacientes, sendo 415 (65,7%) mulhe- bida (IMC ³ 40), mas 233 (38,3%) foram classificados
res. A idade média do grupo total foi de 57,1 ± 12,2 anos como normais ou mesmo com baixo peso (IMC < 25 e <
(mediana 58,0 anos; intervalo 22,0 - 90,0); sem diferença 20, respectivamente). Não encontramos diferença esta-
entre a idade média de homens (58,2 ± 12,4 anos) e mu- tística nos níveis de glicemia entre o grupo de baixo peso
lheres (56,5 ± 12,1 anos; p = 0,06, Mann-Whitney). A e o restante da amostra (227,7 ± 124,9 vs. 177,8 ± 75,9
mediana (intervalo) da duração da doença desde o diag- mg/dl; p > 0,05, Mann-Whitney).
nóstico foi de 5,0 anos (0,1 - 40,0; Tabela 1). 375 (59,3%)
tinham história familiar positiva para diabetes. Tratamento
A mediana do IMC para a população estudada (n = No momento do cadastramento, 131 (20,7%) estavam
608; 206 homens, 402 mulheres) foi 26,1 kg/m2 (inter- controlando o diabetes apenas com dieta enquanto 308
valo 16,1 - 50,0), com as mulheres se mostrando signifi- (48,7%) estavam usando hipoglicemiantes orais (gliben-
cantemente mais pesadas (p < 0,001, Mann-Whitney). clamida 134, clorpropamida 123, metformina 23). 193
A distribuição da obesidade entre os grupos não foi nor- (30,6%) estavam em uso de insulina, com uma dose

Tabela 1 – Características clínicas.

Pacientes Idade (anos) Duração da doença (anos)


n (%) Média ± SD ; mediana (intervalo) Mediana (intervalo)

Grupo total 632 (100) 57,1 ± 12,2 ; 58,0 (22,0-90,0) 5,0 (0,1 - 40,0)
Homens 217 (34,3) 58,2 ± 12,4 ; 59,0 (22,0-89,0) 5,0 (0,1 - 40,0)
Mulheres 415 (65,7) 56,5 ± 12,1 ; 57,0 (23,0-90,0) 5,0 (0,1 - 40,0)
p* - P = 0,06 P = 0,21

* Teste de Mann-Whitney entre pacientes homens e mulheres. Figura 1 – Distribuição do IMC. do IMC
Distribuição
Tabela 2 – Distribuição do índice de massa corpórea. 151
160
Número de pacientes

140
IMC (kg/m2) Pacientes n = 608 (%) 120 104
100 81 88
80
< 20,0 48 (7,9) 60
59
39 38
20,0-24,9 185 (30,4) 40 17
20 9 8 6 8
25,0-29,9 239 (38,3) 0
30,0-39,9 122 (20,1) <17,5 17.5- 20.0- 22.5- 25.0- 27.5- 30.0- 32.5- 35.0- 37.5- 40.0- >42.5
> 40 14 (2,3) 19.9 22.4 24.9 27.4 29.9 32.4 34.9 37.4 39.9 42.4

Tabela 3 – Correlação entre triglicerídeos e glicemia, HbA1, Colesterol e IMC.

Triglicerídeos <100mg/dl 100-149mg/dl > 150 mg/dl P


(n = 316) Anova

Pacientes (%) 123 (38,9) 97 (30,7) 96 (30,4) -


Glicemia* 149,1 ± 58,5 173,0 ± 75,1 213,6 ± 89,2 P < 0,001
(mg/dl) n = 247 136,0 (66,0 - 326,0) 163,0 (75,0 - 398,0) 196,0 (70,0 - 470,0)
HbA1* 8,3 ± 1,7 8,5 ± 1,7 9,0 ± 1,8 P < 0,05
(%) n = 231 8,5 (4,5 - 14,7) 8,3 (4,7 - 13,6) 9,0 (5,0 -16,0)
Colesterol* 186,2 ± 30,4 206,6 ± 46,5 234,3 ± 48,7 P < 0,001
(mg/dl) n = 314 184,0 (119,0 - 280,0) 200,0 (115,0 - 396,0) 231,0 (115,0 - 439,0)
IMC* 26,5 ± 5,2 26,6 ± 5,8 27,9 ± 5,6 P = 0,17
(kg/m2) n = 302 26,1 (16,8 - 41,0) 25,7 (17,7 - 49,6) 27,0 (17,7 - 47,7)

* Dados apresentados como média ± DP e mediana (intervalo)


44 Lima JG et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 41~47

média de 42,1 ± 21,3 unidades/dia. 102 estavam usando 255) foi 8,6 (4,5 - 16,0)%. O controle glicêmico nos 379
apenas uma aplicação de insulina por dia, enquanto 91 pacientes que tinham uma ou ambas as dosagens reali-
usavam duas ou mais. zadas foi julgado como Bom (Glicemia £ 140mg/dl e/
ou HbA1 £ 8,0%) em 112 pacientes (29,6%), Regular
Controle glicêmico e lipemia (glicemia 141-180mg/dl e/ou HbA1 8,1 - 10,0%) em 124
A mediana da glicemia de jejum (n = 321) foi 166,0 pacientes (32,7%), e Pobre em 143 (37,7%). Colesterol
mg/dl (intervalo 66,0 - 500,0) e a mediana da HbA1 (n = total sérico (n = 329) foi menor que 200 mg/dl em 161

Tabela 4 - Características de pacientes com e sem complicações crônicas.

Complicação Paciente(%) Idade (a)* Doença (a)* Glicemia(mg/dl)* HbA1(%)*

Retinopatia 218 (38) 57,9 ± 10,4 10,6 ± 7,7 176,6 ± 75,8 8,6 ± 1,4
57,5(30-84) 10(0,1-40) 164(68-500) 8,7(4,6-11,6)
Ausência 355 (62) 55,2 ± 12,8 4,6 ± 4,9 181,4 ± 82,2 8,5 ± 2,0
8,7(4,6-11,6) 3(0,1-23) 167,5(66-500) 8,6(4,5-16)
p - P = 0,02 P < 0,001 P = 0,765 P = 0,548

Proteinúria 26 (8,4) 58,1 ± 11,8 10,4 ± 8,1 197,1 ± 85,4 8,7 ± 1,4 8,7
59(23-81) 9,5(0,1-30) 203(70-326) (5,3-11,2)
Ausência 282 (91,6) 57,7 ± 11,9 7 ± 6,6 173,6 ± 76,4 8,5 ± 1,8
58(23-85) 5(0,1-35) 164(68-470) 8,6(4,5-16)
p - P = 0,72 P = 0,04 P = 0,2 P = 0,37

Vasculopatia 207 (32,9) 62,9 ± 11 9,6 ± 8,1 178,9 ± 80,5 8,6 ± 1,7 8,6
63(25-90) 8(0,1-40) 167,5(68-500) (4,6-12,8)
Ausência 423 (67,1) 54,3 ± 11,8 6,3 ± 6,2 182 ± 81,5 8,6 ± 1,8
55(22-85) 4(0,1-33) 165,5(66-500) 8,6(4,5-16)
p - P < 0,001 P < 0,001 P = 0,83 P = 0,75

Neuropatia 299 (47,4) 59,9 ± 11,5 9,2 ± 7,9 183,7 ± 85,2 8,7 ± 1,8
61(30-89) 8(0,1-40) 168(66-500) 8,8(4,6-16)
Ausência 332 (52,6) 54,6 ± 12,4 5,9 ± 6,2 178 ± 77,4 8,4 ± 1,7
55(22-90) 4(0,1-40) 164,5(68-470) 8,4(4,5-14,7)
p - P < 0,001 P < 0,001 P = 0,647 P = 0,202

Disfunção 122 (56,2) 59,4 ± 11,2 8,1 ± 7,3 192,9 ± 83,2 8,6 ± 1,5
Erétil 60(23-83) 6(0,1-40) 183,5(75-470) 8,8(4,6-12,1)
Ausência 95 (43,8) 56,7 ± 13,7 5,8 ± 7,1 183,9 ± 97,7 8,3 ± 2,3
58(22-89) 3(0,1-30) 162(70-500) 8,1(4,5-16)
p - P = 0,12 P < 0,001 P = 0,25 P = 0,207

Tabela 5: Características de pacientes com retinopatia background, pré-proliferativa e proliferativa.

Retinopatia Pacientes* Idade** Doença** Glicemia** HbA1**


(anos) (anos) (mg/dl) (%)

Background 175 (80,3) 58 ± 10,5 10,4 ± 7,9 177,5 ± 78,2 8,7 ± 1,4
57(30-84) 10(0,1-40) 164(68-500) 8,8(4,6-11,6)
Preprolife-rativa 24 (11) 57,9 ± 11,1 9,8 ± 7 193,3 ± 63,4 8,5 ± 1,1
58(40-78) 8,5(0,3-26) 187(94-310) 8,8(6-9,5)
Proliferativa 19 (8,7) 57 ± 9,3 13,2 ± 6,4 157,3 ± 67,1 8 ± 1,6
61(38-68) 15(0,4-20) 132(79-271) 7,8(5,8-11,6)
P (Anova) - P = 0,92 P = 0,29 P = 0,54 P = 0,39

*Dados apresentados como n (%)


** Dados apresentados como média ± DP e mediana (intervalo)
Lima JG et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 41~47 45

pacientes (48,9%), entre 200 e 240 mg/dl em 91 (27,7%) (22,7%; p = 0,15) dos 423 sem vasculopatia. Os pacien-
e maior que 240 mg/dl em 77 (23,4%). Triglicerídeos de tes com vasculopatia eram, no entanto, mais velhos (62,9
jejum (n = 316) foi < 100 mg/dl em 123 pacientes 11,0 vs. 54,3 11,8 anos; p < 0,001) e tinham o diagnós-
(38,9%), entre 100 e 149mg/dl em 97 (30,7%) e maior tico de diabetes há mais tempo (mediana 8,0 vs. 4,0 anos;
que 150mg/dl em 96 (30,4%). Correlações significati- p < 0,001), mas não houve diferença no controle glicê-
vas foram observadas entre a concentração de triglicerí- mico (Tabela 4).
deos e a glicemia de jejum (r = 0,32; p < 0,001), HbA1 (r
= 0,12; p < 0,05) e colesterol total (r = 0,43; p < 0,001), Neuropatia
mas não com IMC (r = 0,1; p > 0,05) (Tabela 3). Evidência de neuropatia distal (sensorial e/ou moto-
ra) estava presente em 299 de 631 (47,4%) pacientes
Retinopatia cujos dados foram registrados de forma completa. Os
Fundoscopia foi realizada de acordo com o protocolo pacientes com neuropatia eram mais idosos (59,9 11,5
em 573 pacientes (90,7%) da amostra total estudada. vs. 54,6 12,4 anos; p < 0,001) e tinham uma duração de
Destes, 218 (38,0%) tinham algum grau de retinopatia, doença maior (mediana 8,0 vs. 4,0 anos; p < 0,001), mas
e quando comparados com os pacientes sem retinopatia, tinham um similar controle glicêmico (Tabela 4).
aquele grupo era mais velho (57,9 10,4 vs. 55,2 12,8
anos; p = 0,022, Mann-Whitney) e tinha maior tempo de Disfunção erétil
duração da doença (mediana 10,0 vs. 3,0 anos; p < 0,001), 122 dos 217 homens (56,2%) admitiram, frente a um
mas não encontramos diferença no controle glicêmico questionário direto, apresentar alguma forma de disfun-
global (Tabela 4). 19 pacientes (3,3% da amostra exami- ção erétil. Os homens afetados tinham maior mediana
nada) tinham retinopatia proliferativa, e 24 pacientes de duração de doença (6,0 vs. 3,0 anos; p < 0,001), mas
apresentavam (4,2%) doença pré-proliferativa. Não ha- não houve diferença na idade ou controle glicêmico (Ta-
via diferença entre qualquer desses grupos e aqueles bela 4). 42 dos 122 homens com disfunção (34,4%) eram
pacientes com alterações tipo background (n = 175, fumantes ou recentemente tinham parado de fumar (<
30,5%) em relação a idade, duração da doença, glicemia 11 anos), comparado com 33 de 95 (34,7%) com potên-
de jejum ou HbA1 (Tabela 5). cia normal.

Proteinúria Amputação
Proteinúria positiva foi detectada na primeira amos- 40 pacientes (6,3%) da amostra total estudada apre-
tra de urina da manhã em 26 (8,4%) dos 308 pacientes sentavam história prévia de cirurgia de amputação nos
pesquisados. A duração da doença foi maior que nos membros inferiores em qualquer nível (dedos, antepé
pacientes sem proteinúria (mediana 9,5 vs. 5,0 anos; p = ou joelho). Houve forte associação entre amputação e a
0,04), mas não encontramos diferença no controle gli- presença de vasculopatia e neuropatia. 33 (11,0%) de
cêmico (Tabela 4). 299 pacientes com neuropatia e 30 (14,5%) de 207 paci-
entes com doença vascular periférica tinham sofrido
Hipertensão arterial amputação, comparados com apenas 6 (1,8%) de 332 (p
A pressão arterial foi verificada em todos os 632 pa- < 0,001) e 9 (2,1%) de 423 (p < 0,001), respectivamen-
cientes. Dos 632 pacientes, 281 (44,5%) já tinham o di- te, sem neuropatia e vasculopatia. A prevalência de am-
agnóstico prévio de hipertensão e outros 65 pacientes putação nos pacientes portadores de ambas, neuropatia
(10,3%) apresentaram pressão arterial elevada no mo- e vasculopatia, foi de 17,2% (26 pacientes).
mento do exame. Dentre os pacientes com diagnóstico
prévio de hipertensão, as médias das pressões arteriais Discussão
sistólica e diastólica foram 147,7 24,6 mmHg e 88,0
13,8mmHg, respectivamente, e a pressão arterial foi A prevalência de diabetes no Brasil é alta, atingindo
considerada bem controlada (sistólica £ 140 mmHg e 7,6% da população urbana entre 30 e 69 anos de idade.
diastólica £ 90 mmHg) em 123 (43,8%). Esta prevalência excede a apresentada em outros países
da América do Sul incluindo Argentina [9] e Colômbia
Doença vascular periférica [10], e também nos brancos dos Estados Unidos [11], mas
207 (32,9%) dos 630 pacientes examinados tinham é menor que a relatada na cidade do México [12] e entre
evidências objetivas de doença vascular periférica. Des- mexicanos [13] e negros [11] dos Estados Unidos. Ape-
tes, 36 (17,4%) eram fumantes ou tinham parado de fu- sar desta elevada prevalência, há poucas tentativas de do-
mar nos últimos 10 anos, quando comparados com 96 cumentar o perfil da doença nesta população. O atual es-
46 Lima JG et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 41~47

tudo é limitado por ter sido realizado em uma população trole glicêmico e a presença ou ausência de complica-
inevitavelmente selecionada e também por seus dados te- ções foi atribuído a reflexo das limitações de um estudo
rem sido coletados durante o curso da clínica prática de transversal.
rotina e um certo número de itens estarem faltando. No A prevalência de retinopatia foi da mesma ordem de
entanto, no nosso conhecimento, este artigo representa o muitos outros estudos em diabéticos tipo 2 reportados
mais abrangente estudo até agora publicado sobre o qua- por todo o mundo [2, 16], assim como para proteinúria
dro clínico e apresentação do Diabetes tipo 2 no Brasil. positiva. A prevalência desta foi, no entanto, menor que
A aparente predominância do diabetes no sexo femi- a relatada por Paisey et al no México [17]. A prevalên-
nino observada em estudos populacionais prévios no cia de neuropatia periférica foi maior que a relatada em
Brasil [1, 4] foi confirmada em nosso estudo. Apesar de outras populações com diabetes tipo 2 [2, 18], mas simi-
não ter sido demonstrada uma diferença de idade entre lar aos 40,8% reportados no México [17] e Estados Uni-
os sexos, o que justificaria esta predominância, demons- dos [19]. Queixas de disfunção erétil também foram
tramos uma tendência das mulheres apresentarem um maiores que em outros estudos [20, 21], mas isto pode
IMC mais elevado que os homens. No entanto, a preva- ser resultado do fato da população ter sido selecionada,
lência global de obesidade foi baixa e, surpreendente- pelo menos em parte, por ser sintomática.
mente, demonstrou-se sob a forma de uma curva desvi- Hipertensão (prévia ou recentemente diagnosticada)
ada para a esquerda (Fig. 1) apesar do acesso a aconse- pareceu ser mais freqüente que em muitos estudos pre-
lhamento dietético especializado ser limitado nesta po- viamente relatados [2] talvez porque o diagnóstico de
pulação e apesar do fato da metformina não ser disponí- novos hipertensos foi dependente de uma única e casual
vel gratuitamente e ser custeada pelos pacientes que a medição clínica da pressão arterial. O nível de controle
utilizavam. As principais opções terapêuticas disponí- da pressão arterial pareceu surpreendentemente bom para
veis para pacientes com diabetes tipo 2 pobremente con- uma população com diagnóstico prévio de hipertensão
trolados com dieta são sulfoniluréias (glibenclamida, A prevalência de doença vascular periférica foi, no en-
clorpropamida) e insulina. Não encontramos evidências tanto, similar à esperada apesar de menor, mais uma vez,
que sugiram que o baixo IMC desta população relacio- que a relatada no México [22]. Por outro lado, o número
nava-se com pobre controle glicêmico e não vimos ra- de amputados de 6,3% foi muito maior que na maioria
zão para suspeitarmos que aqueles com baixo peso (IMC dos outros estudos previamente publicados. Prevalênci-
< 20) tinham diabetes tipo 1 não diagnosticado já que as neste nível têm sido relatadas apenas em Nauru (7,7%)
30 dos 48 pacientes não estavam usando insulina apesar [23], Tonga (7,0%) [2] e Holanda (5,0%) [24]. As pre-
de uma duração de doença mediana de 4 anos. No en- valências em todas as outras séries são menores que 3,0%
tanto, a prevalência de obesidade foi muito maior em [2, 16, 25, 26]. Como não há a menor razão para se crer
outros estudos, chegando a 72,6% em Foss et al [3]. A que a prevalência de doença vascular periférica seja di-
discrepância é inexplicável, porém deve se relacionar a ferente da dos outros países, esta elevada taxa de ampu-
diferenças em origens raciais nas duas populações. tação deve ser resultado de outros fatores incluindo, por
Também foi observada uma taxa relativamente baixa parte do paciente, falta de reconhecimento do risco e
de hipertrigliceridemia surgindo a possibilidade dos paci- tendência a se apresentar a serviços médicos inapropri-
entes diabéticos do Nordeste do Brasil exibirem uma adamente tarde e, por parte dos profissionais, inacessi-
menor resistência insulínica relacionada ou não à menor bilidade, falha na prescrição de antibióticos apropriados
prevalência de obesidade. Devemos ainda considerar a (por qualquer motivo), falta de recursos suficientes para
possibilidade desta população tão heterogênea sob o pon- um adequado tratamento conservador, recursos limita-
to de vista racial manifestar a resistência insulínica de uma dos para reconstrução vascular e inabilidade de prover
forma seletiva, caracterizada por hiperglicemia atingindo adequada manutenção de profilaxia para aqueles paci-
níveis diagnósticos de diabetes, porém com uma menor entes de risco.
tendência a anormalidades do metabolismo lipídico. Como 20% de todas as hospitalizações para diabéti-
O controle glicêmico em geral foi ruim, e não diferiu cos se devem a problemas nos pés [27], e a média de
de outras populações [14, 15]. Apesar disto, a prevalên- duração da internação após amputação é de 20 a 42 dias
cia de hiperlipidemia e particularmente hipertrigliceri- [28, 29], o custo direto de cada amputação (anestesia,
demia foi mais baixa que as previamente relatadas por cirurgia e hospitalização) é da ordem de U$20.000,00 a
outros grupos da América do Sul [3] e também de outras U$25.000,00 nos Estados Unidos [29], e de U$16.000,00
regiões [12]. 38,9% dos pacientes estudados tinham tri- na Holanda [28]. Se considerados os danos indiretos
glicerídeos menor que 100 mg/dl. O fato de não ter sido (problemas psicológicos, incapacidade, perda do empre-
possível definir uma associação entre qualidade de con- go e/ou carreira do paciente) o custo total de uma ampu-
Lima JG et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 41~47 47

tação torna-se incalculável. A implementação de servi- 13 – Flegal KM, Ezzati TM, Harris MI, Haynes SG, Juarez RZ,
ços especializados em pé diabético tem mostrado redu- Knowler WC et al. Prevalence of diabetes in Mexican
zir a incidência de amputação relacionada ao diabetes americans, cubans and puerto ricans from the Hispanic Health
em aproximadamente 45% [28], e deve ser considerada and Nutrition Examination Survey, 1982-1984. Diabetes Care
prioridade máxima em populações como a brasileira, que 1991;14(7), Suppl 3:628-638.
14 – Clauson P, Linnarsson R, Gottsäter A, Sundkvist G, Grill V.
parece ser de particular risco. Relationships between diabetes duration, metabolic control
Desta forma, nós mostramos neste estudo que a pre- and b-cell function in a representative population of type 2
valência de complicações do diabetes na população bra- diabetic patients in Sweden. Diabet Med 1994;11(8):794-801.
sileira é semelhante ou maior que a relatada em popula- 15 – Eriksson J, Forsén B, Häggblom M, Teppo A-M, Groop L.
ções equivalentes em outras regiões. Como o diabetes é Clinical and metabolic characteristics of type 1 and type 2
diabetes: an epidemiological study from the Närpes
mais comum no Brasil que em muitos outros países e Community in Western Finland. Diabet Med 1992;9:654-660.
afeta mais de 7,6% da população urbana entre 30 e 69 16 – Mundet X, Cano JF, Mata M, Franch J, Bundó M, Berenguer
anos de idade, as conseqüências econômicas e sociais M. Diabetic chronic complications in type 2 diabetes: a
desta condição são vastas e medidas apropriadas preci- multicentric study. Diabetologia 1997;40(Suppl 1):A208.
sam ser tomadas visando estruturar os Serviços de Saú- 17 – Paisey RB, Arredondo G, Villalobos A, Lozano O, Guevara
L, Kelly S. Association of differing dietary, metabolic and
de para atender satisfatoriamente toda esta população. clinical risk factors with microvascular complications of
diabetes: a prevalence study of 503 Mexican Type II diabetic
subjects. II. Diabetes Care 1984;7(5):428-433.
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48 Heleno MGV / Diabetes Clínica 01 (2001) 48~54
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 01 (2001) 48~54

ARTIGO ORIGINAL

Aspectos sócio-psico-somáticos de uma amostra


de pacientes diabéticos tipo 2

Maria Geralda Viana Heleno

Profa. Dra Coordenadora do Núcleo de Estudos e Atendimento Psicológico da Universidade Cruzeiro do Sul – UNICSUL
Pesquisa realizada no Centro de Diabetes da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP e apresentada no III Congresso Paulista de Diabetes e
Metabolismo - 1998.

Resumo

Este trabalho teve como objetivo analisar uma amostra de pacientes com diabetes do tipo 2, para servir de subsídios que pudessem orientar o
planejamento de atividades visando à manutenção ou melhora da qualidade do controle glicêmico, aprimorando o atendimento a estes pacien-
tes. Interessava saber quais variáveis apresentavam correlação significante com o controle glicêmico para que elas fossem controladas. A
amostra era composta de cinqüenta pacientes e foram coletados os seguintes dados: Idade, Sexo, Peso, Altura, Conhecimento sobre a doença,
Dieta, Tempo de Diabetes, Exercício Físico, Familiares Diabéticos, Orientação, Classe Sócio-econômica e Eficácia Adaptativa. A análise dos
dados mostrou que a classe sócio-econômica é uma variável a ser considerada pois apresenta correlação significante com o controle glicêmico.
As variáveis que apresentaram uma forte correlação com o controle glicêmico foram, orientação, eficácia adaptativa e dieta. Os resultados
mostraram que um programa eficiente para pacientes diabéticos deve visar a dieta e a promoção da melhora na eficácia adaptativa e orientação
destes pacientes.

Endereço para correspondência: Maria Geralda Viana Heleno,


rua Gilda, 173, 09190-510 São Paulo SP,
Tel: (11) 4992-1643, E-mail: heleno@syscom.com.br
Heleno MGV / Diabetes Clínica 01 (2001) 48~54 49

Introdução sidade Federal de São Paulo (UNIFESP), para servir de


subsídios que pudessem orientar o planejamento do tra-
A importância dos estudos sobre diabetes se deve ao balho, com o intuito de aprimorar o atendimento desta
fato de que ela está entre os quatro mais importantes população. Também interessava saber quais as variáveis
problemas de saúde no País, em termos de pessoas afe- que apresentavam, nesta amostra, uma correlação signi-
tadas. E os elevados custos para controle e tratamento ficante com o controle glicêmico.
das complicações, aliados aos casos de mortalidade e
incapacidade decorrentes da doença justificam que o Método
problema seja tratado como público. Além disso, o Censo
Nacional de Diabetes (MS/CNPq-1989) [2], mostrou que Amostra
7,6% da população adulta urbana do Brasil é diabética; A amostra, composta de cinqüenta pacientes diabéti-
desses 46,5% desconheciam sua condição e 22,3%, em- cos do tipo 2, foi atendida no primeiro semestre de 1997
bora soubessem, não faziam qualquer tipo de tratamen- no CD da UNIFESP.
to. Isto quer dizer que 69% dos pacientes diabéticos não Os pacientes de ambos os sexos tinham idade varian-
tinham qualquer tipo de cuidado com sua saúde. A não do entre 31 e 70 anos e pertenciam as classes sociais E,
aceitação da doença e conseqüentemente do tratamento D e C. Este número foi determinado em função da po-
justificam as pesquisas nesta área, principalmente no pulação mensal do CD de aproximadamente 400 paci-
contexto preventivo. entes.
Considerando os dados acima, observamos a impor-
tância do atendimento ao paciente diabético, principal- Instrumentos
mente pensando a equipe como facilitadora das mudan- 1) Ficha de avaliação
ças que o paciente precisa imprimir em sua vida. Para a Esta ficha serviu para a coleta de dados com o objeti-
eficiência do tratamento é necessário, em primeiro lu- vo de traçar o perfil do paciente que frequenta o CD e
gar, conhecermos os pacientes que serão atendidos. As- para a analise de variáveis com influência sobre o con-
sim, este trabalho teve como objetivo, analisar uma amos- trole glicêmico.
tra de pacientes do Centro de Diabetes (CD) da Univer-
Quadro I - Ficha de avaliação

Nome: __________________________________________________________________________________Data: ___/___/___


Data Nascimento: ___/___/___ Idade: _____ Natural: ____________________________________________________________
Peso: ________Altura: _______ Peso Ideal: ______Sexo: _________________
Endereço: _______________________________________________________________________________________________
Tempo de Residência __________ Filiação: __________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Estado Civil : _____________ Número de Filhos: ________________________
Setor Econômico:
Renda Mensal Familiar: ____________________________________________
Habitacional:
Casa Própria, Aluguel, outros: _________________ Água Encanada: ________ Esgoto: ____________ Luz: ______________
Alvenaria: _____________
Asfalto: ______________ Números de Cômodos: ________________________
Diabetes: Sabe o que é diabetes?
_________________________ _______________________________________
Quantas vezes foi internado por diabetes?______________________________
Qual o tipo de dieta?__________________________________________________________________________________________
Já foi orientado? _________________Onde?____________________________ Como foi ? ________________________________
__________________________________________________________________________________________________________
Faz exercícios físicos? ___________ Quantas vezes por semana?___________
50 Heleno MGV / Diabetes Clínica 01 (2001) 48~54

2) Classificação sócio-econômica nos quatro setores de funcionamento do indivíduo que


Foram utilizados os critérios da Associação Brasilei- são: 1) Afetivo-Relacional: compreende os sentimen-
ra de Pesquisa de Mercado (ABIPEME) para a classifi- tos, atitudes e ações do indivíduo com relação a si pró-
cação da classe sócio-econômica a qual pertenciam os prio e ao semelhante; 2) Produtividade: relacionado com
pacientes. os sentimento e atitudes do indivíduo frente ao trabalho,
estudo ou qualquer atividade produtiva considerada como
Tabela 1 - Classificação de classes sócio-econômicas no Brasil* principal em sua vida; 3) Sócio-Cultural: engloba sen-
timentos, atitudes e ações em relação ao ambiente soci-
Itens e pontuação levados em conta na classificação sócio-econô-
al, normas e valores frente à cultura e tradições e 4)
mica dos indivíduos no Brasil
Orgânico: compreende o estado e funcionamento do
Escolaridade do Chefe da Casa Pontos organismo, e ainda os sentimentos, ações e cuidados do
indivíduo em relação ao próprio corpo.
Analfabeto 00 A avaliação de cada resposta é feita a partir de
Primeiro Grau incompleto 01
Primeiro Grau completo / Segundo Grau incompleto 03 três possíveis tipos de adequação. Resposta Adequa-
Segundo Grau completo / Superior incompleto 05 da: proporciona satisfação e não provoca conflitos in-
Superior completo 10 ternos ou externos; Resposta Pouco Adequada: solu-
ciona e proporciona satisfação, mas provoca conflitos
internos ou externos, ou não provoca conflitos internos
Itens de conforto
ou externos mas não traz satisfação e Resposta Pou-
Pontos 0 1 2 3 4 5 6 ou + quíssimo Adequada: soluciona mas não proporciona
satisfação e ainda traz conflitos internos ou externos.
Itens de conforto Para cada setor são atribuídas de um a três pon-
TV 0 2 4 6 8 10 12 tos. As respostas adequadas terão três pontos (+++); as
Rádio 0 1 2 3 4 5 6
pouco adequadas dois pontos (++) e as pouquíssimo
Banheiro 0 2 4 6 8 10 12
Empregada fixa 0 6 12 18 24 24 24
adequadas um ponto (+).
Aspirador de pó 0 5 5 5 5 5 5 A classificação do grau de adaptação foi obtida a
Máquina de 0 2 2 2 2 2 2
partir da somatória dos pontos nos quatro setores e da
lavar roupa presença ou não de crises.
Automóvel 0 4 8 12 16 16 16
Procedimentos

Classificação: Os pacientes foram atendidos individualmente e foi


preenchida a Ficha de Avaliação (Quadro I). Os dados
Se X = soma de pontos de um particular sujeito (S), vem: coletados nesta ficha serviram para caracterizar a amos-
se X > 35 S ∈ Classe A
tra estudada e observar possíveis variáveis com influên-
se 21 < X < 34 S ∈ Classe B
cia sobre o controle glicêmico. Foram analisados os se-
se 10< X < 20 S ∈ Classe C
guintes dados: idade, sexo, peso ideal, conhecimentos
se 5 < X < 9 S ∈ Classe D
sobre o diabetes, tipo de dieta, prática de exercícios físi-
se 0< X < 4 S ∈ Classe E cos, ocorrência de diabetes na família e orientação so-
bre diabetes.
* ABIPEME - Associação Brasileira de Institutos de Pesquisa de Em seguida foi realizada a coleta dos dados para a
Mercado análise e classificação da classe sócio-econômica a que
pertenciam os pacientes (Tabela1).
Finalmente foi realizada a Entrevista Clínica Preventiva
3) Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionaliza- conforme proposta do Prof. Dr. Ryad Simon (1989) [5],
da - EDAO onde procurou-se abordar os quatro setores de adapta-
A EDAO foi elaborada pelo Dr. Ryad Simon (1989) ção (Afetivo-Relacional, Orgânico, Produtividade e Só-
[5] e tem como objetivo identificar a eficácia adaptati- cio-Cultural) para avaliação através da Escala Diagnósti-
va, através da classificação do sujeito a partir da ade- ca Adaptativa Operacionalizada - EDAO (Quadro II).
quação das respostas que ele apresenta para solucionar Para determinar o peso ideal consideramos a tabela
as necessidades provocadas por estímulos provenientes de referência adaptada do Metropolitan Life Fundation
do mundo interno e externo. As respostas são avaliadas (Tabela 2).
Heleno MGV / Diabetes Clínica 01 (2001) 48~54 51

Tabela 2 - Tabela de referência - Correlação peso/altura para adultos Quadro II - Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada
Homens(porte) Mulheres(porte)
Altura pequeno médio grande pequeno médio grande Entrevistador: _________________________________________

1,47 46 -50 49 - 55 54 - 59 Paciente :_____________________________________________


1,50 47 - 51 50 - 56 54 - 61
1,52 47 - 52 51 - 57 55 - 62 ______________________________________________________
1,56 48 - 54 52 - 59 57 - 64
1,58 58 - 61 59 -64 63 - 68 49 - 55 54 - 60 59 - 65 Nº;___________
1,60 59 - 62 60 - 65 64 - 69 50 - 56 55 - 61 59 - 67
1,63 60 - 63 61- 66 64 - 71 52 - 58 56 - 63 61 - 68 Idade: _______ Sexo: ________________
1,65 61 - 64 62 - 67 65 - 73 53 - 59 58 - 64 62 - 70
1,68 62 - 65 63 - 68 66 - 74 54 - 60 59 - 65 64 - 72 Estado Civil: _________________________________________
1,70 63 - 66 64 - 69 68 - 78 59 - 62 60 - 67 65 - 74
1,73 64 - 67 66 - 71 69 - 79 57 - 63 62 - 68 66 - 76
1,75 64 - 68 67 - 73 70 - 80 59 - 64 63 - 69 68 - 77 Dados relevantes por setor
1,78 65 - 69 68 - 74 72 - 82 60 - 66 64 - 71 69 - 78
1,81 66 - 71 70 - 75 73 - 83 61 - 67 66 - 72 70 - 80 Afetivo - Relacional
1,83 68 - 73 71 - 77 74 - 85 63 - 68 67 - 73 71 - 81
1,85 69 - 74 73 - 79 76 - 87
1,88 70 - 76 74 - 81 78 - 89 Produtividade
1,90 72 - 78 76 - 83 80 - 92
Adaptado de Metropolitan Life Foundation - Shroeder et al. Ed.
1990 Sócio - Cultural

A qualidade da dieta foi determinada a partir da adap- Orgânico


tação da tabela da Clínica Joslin (Tabela 3)

Tabela 3 - Padrões de aderência à dieta Grupo Adequação


Classificação Características 1 AR PR Soma
+++ +++
Pobre Evitam-se doces e massas, mas a dieta é variável e 3 2 5 { }Adaptação Eficaz
em geral irrestrita { }Em Crise
Favorável Estimam-se as quantidades de alimentos com a ++ +++
restrição de doces e alimentos ricos em açúcar,
2 2 2 4 { }Adap. Ineficaz Leve
mas não há discriminação no resto da dieta
{ }Em Crise
Boa Aderência cuidadosa à dieta com medida do
+++ ++
alimento não menos que uma vez por mês e quase
nunca indiscriminações dietéticas. 2 3 1 4
Adaptado de Krall LP. Manual do Diabetes de Joslin, 1983, 11ª ++ ++
edição, p. 43 3 2 1 3 { }Adap.Ineficaz Mod
+ +++ { }Em Crise
A análise da qualidade do controle glicêmico foi feita 3 1 2 3
por uma médica residente do Centro de Diabetes atra- +++ +
vés da coleta de dados dos prontuários dos pacientes, 3 3 0,5 3,5
considerando a média das glicemias de jejum de seis ++ +
meses. 4 2 0,5 2,5 { }Adap.Ineficaz Severa
Tabela 4 - Qualidade do controle glicêmico + ++ { }Em Crise
4 1 1 2
bom regular ruim
+ + { }Adap.Ineficaz Grave
< 140 > 140 e < 200 > 200 5 1 0,5 1,5 { }Em Crise
52 Heleno MGV / Diabetes Clínica 01 (2001) 48~54

Resultados

A Ficha de avaliação, a análise sócio-econômica e a A análise dos dados, através de parâmetros estatísti-
EDAO revelaram os seguintes dados mostrados no qua- cos, mostrou os seguintes resultados, quando compara-
dro a seguir (Quadro IV). dos à qualidade do controle sobre o diabetes (Tabela 4).
Quadro IV - Aspectos socio-psico-somáticos de uma amostra de pacientes diabéticos do tipo2 do CD da UNIFESP

Idade Sexo Peso Alt Peso Conh Dieta Tempo Exer Fam Orie Cla Glic GrCon EDAO
Ideal Diab

69 F 78,5 1,65 NÃO SIM POBRE 2 NÃO NÃO SIM D 140 bom Gr 3
72 F 70,5 1,58 NÃO NÃO POBRE 5 NÃO NÃO SIM D 271 ruim Gr 5
47 F 65 1,54 NÃO NÃO POBRE 4 NÃO SIM SIM E 306 ruim Gr 5
39 F 65 1,6 SIM NÃO POBRE 0 NÃO SIM NÃO D 239 ruim Gr 5
41 F 72 1,67 SIM NÃO POBRE 0 NÃO SIM SIM D 141 reg Gr 5
62 M 93,5 1,74 NÃO NÃO POBRE 8 NÃO NÃO SIM D 177 reg Gr 5
70 F 71,8 1,61 NÃO SIM POBRE 10 NÃO NÃO NÃO D 294 ruim Gr 5
61 F 50,3 1,53 SIM SIM FAVOR 3 NÃO NÃO NÃO D 296 ruim Gr 5
61 F 56,8 1,56 SIM SIM FAVOR 0 SIM NÃO SIM D 159 reg Gr 3
66 M 58,1 1,72 NÃO NÃO POBRE 1 SIM NÃO SIM D 104 bom Gr 5
68 M 69 1,68 SIM NÃO POBRE 4 NÃO SIM NÃO D 296 ruim Gr 5
59 F 78,7 1,58 NÃO NÃO POBRE 7 NÃO NÃO SIM E 189 reg Gr 5
59 M 84 1,73 NÃO NÃO POBRE 0 NÃO SIM NÃO D 235 ruim Gr 5
58 F 68 1,52 NÃO NÃO POBRE 3 NÃO NÃO NÃO D 229 ruim Gr 5
66 F 62 1,54 SIM NÃO POBRE 0 NÃO NÃO NÃO D 117 bom Gr 5
70 F 65,1 1,65 SIM NÃO POBRE 8 SIM NÃO NÃO E 221 ruim Gr 5
62 F 40,1 1,65 NÃO NÃO POBRE 1 NÃO NÃO NÃO D 305 ruim Gr 5
49 F 55,1 1,45 SIM NÃO POBRE 0 NÃO NÃO NÃO C 202 ruim Gr 5
68 F 70 1,74 SIM NÃO POBRE 0 NÃO SIM SIM D 163 reg Gr 5
62 F 60,2 1,4 NÃO NÃO BOA 3 SIM SIM SIM D 130 bom Gr 5
47 M 50,4 1,5 SIM NÃO POBRE 0 NÃO NÃO NÃO C 183 reg Gr 5
31 F 76,2 1,59 NÃO SIM POBRE 11 SIM SIM SIM D 189 reg Gr 3
64 F 67 1,59 SIM NÃO BOA 8 SIM SIM SIM E 129 bom Gr 3
55 F 62,5 1,54 SIM SIM POBRE 9 NÃO SIM SIM D 133 bom Gr 3
65 F 71 1,73 SIM NÃO POBRE 20 NÃO NÃO NÃO D 207 ruim Gr 5
50 F 60,5 1,56 SIM NÃO POBRE 1 NÃO SIM NÃO D 192 reg Gr 5
68 M 67,3 1,59 SIM NÃO POBRE 1 NÃO NÃO NÃO D 265 ruim Gr 5
51 F 97,8 1,67 NÃO SIM BOA 3 SIM SIM NÃO C 237 ruim Gr 5
57 F 65,3 1,49 NÃO NÃO POBRE 11 NÃO NÃO SIM E 195 reg Gr 3
70 F 63,8 1,63 SIM NÃO POBRE 1 NÃO NÃO NÃO E 147 reg Gr 3
68 F 71.7 1,46 NÃO SIM POBRE 10 NÃO NÃO SIM D 186 reg Gr 3
64 F 55,5 1,48 SIM SIM BOA 13 NÃO NÃO NÃO D 111 bom Gr 3
56 F 54,5 1,45 SIM SIM POBRE 1 NÃO NÃO NÃO E 143 reg Gr 5
60 M 85,5 1,7 NÃO NÃO POBRE 10 NÃO SIM SIM E 195 reg Gr 3
51 F 70,9 1,67 SIM NÃO BOA 5 NÃO SIM SIM D 139 bom Gr 3
50 F 51,5 1,56 SIM NÃO BOA 0 NÃO NÃO NÃO D 140 bom Gr 5
53 F 69 1,45 NÃO SIM FAVOR 20 NÃO SIM NÃO D 220 ruim Gr 5
55 M 74,3 1,74 SIM NÃO POBRE 0 NÃO SIM NÃO D 191 reg Gr 3
70 M 47,3 1,75 NÃO SIM FAVOR 1 SIM NÃO NÃO C 184 reg Gr 3
56 F 83 1,49 NÃO SIM BOA 1 SIM SIM SIM D 132 bom Gr 3
63 F 65,5 1,59 SIM NÃO POBRE 15 SIM SIM NÃO E 142 reg Gr 5
41 F 69 1,5 NÃO NÃO POBRE 1 NÃO NÃO NÃO D 247 ruim Gr 5
57 M 82,3 1,64 NÃO SIM POBRE 5 NÃO SIM NÃO D 207 ruim Gr 5
68 F 58,3 1,52 SIM NÃO BOA 2 SIM NÃO SIM E 121 bom Gr 3
51 M 56,1 1,6 NÃO SIM BOA 0 NÃO SIM NÃO C 236 ruim Gr 5
53 F 87,3 1,54 NÃO NÃO BOA 2 NÃO SIM NÃO C 117 bom Gr 5
52 M 65 1,58 SIM NÃO POBRE 1 NÃO NÃO NÃO D 151 reg Gr 5
74 F 64 1,5 NÃO NÃO POBRE 0 NÃO NÃO NÃO E 142 reg Gr 3
55 M 78 1,66 NÃO SIM FAVOR 4 NÃO SIM NÃO E 247 ruim Gr 5
Heleno MGV / Diabetes Clínica 01 (2001) 48~54 53

Tabela 4 - Resultados
Conhecimento Família Diabética Peso Ideal Exercício Físico Sexo
2 2 2 2 2
X =0,240 X =0,320 X =2,281 X =2,973 X =3,040
0 0 0 0 0
2 2 2 2 2
X =3,841 X =3,841 X =3,841 X =3,841 X =3,841
C C C C C
H não H não H não H não H não
0 0 0 0 0
rejeitada rejeitada rejeitada rejeitada rejeitada

Tempo de duração Classe sócio Orientação Eficácia adaptativa Dieta


econômica
2 2 2 2 2
X = 3,706 X = 5,622 X = 11,940 X = 15,900 X = 22,675
0 0 0 0 0
2 2 2 2 2
X = 3,841 X = 3,841 X = 3,841 X = 3,841 X = 3,841
C C C C C
H não H rejeitada H rejeitada H rejeitada H rejeitada
0 0 0 0 0
rejeitada

A análise dos dados mostrou, nesta amostra, que co- Discussão


nhecimento sobre a doença e familiares diabéticos são
variáveis que não afetam o controle glicêmico. Peso ide- Os resultados mostraram que um programa eficiente
al, prática de exercícios físicos, sexo do paciente e tem- para pacientes diabéticos deve voltar-se para a dieta, para
po de duração do diabetes, são variáveis que apesar de a promoção da melhora na eficácia adaptativa e para a
não terem uma forte correlação com o controle glicêmi- orientação destes pacientes. Faz necessário ressaltar a
co devem ser consideradas, pois o número referente ao diferença entre conhecimento e orientação. O primeiro
dado observado e o dado crítico estão bem próximos. A restringe ao fato do paciente saber (= informação), su-
classe sócio-econômica é uma variável a ser considera- põe-se que o paciente tendo acesso às informações e
da pois apresenta uma correlação significante com o “sabendo” como deveria ser o tratamento, estaria garan-
controle glicêmico. As variáveis que apresentaram uma tindo um bom controle sobre a doença, principalmente
forte correlação com o controle glicêmico são: orienta- evitando complicações agudas e crônicas. A prática e
ção, eficácia adaptativa e dieta. alguns estudos [1, 3. 4] não corroboram essa suposição.
Outro dado a ser considerado refere-se ao tempo de O fato do paciente “saber” como deve proceder para
duração do diabetes. De maneira geral o tempo de dura- manter um bom controle nem sempre é suficiente. As
ção do diabetes parece ter pouca influência sobre a qua- informações a respeito do diabetes e do tratamento são
lidade do controle. Mas, analisando os dados separada- importantes, mas o profissional da saúde deve reconhe-
mente (Quadro III) podemos observar que a maior difi- cer que esta não é uma condição para a aderência do
culdade para um bom controle encontra-se nos primei- paciente ao tratamento.
ros anos de diabetes, até 5 anos, e após 11 anos. Apesar Nos casos em que apesar da informação não ocorre a
do número reduzido da amostra pensamos que este dado aderência ao tratamento deve-se considerar a possibili-
deveria ser investigado em outras pesquisas. dade de orientação a este paciente. O modelo de orien-
tação que citamos é diferente da oferta de informações,
Quadro III - Correlação entre tempo de duração do diabetes e pois implica no vínculo estabelecido entre o paciente e
qualidade do controle o profissional de saúde. O profissional possui a técnica
controle ruim regular bom que é de fundamental importância para o paciente dia-
bético, mas não se restringe a ela. Este profissional não
tempo pode ter a ingenuidade de imaginar que tudo que é ensi-
até 5 anos 16 11 9 nado é automaticamente aprendido e leva a uma trans-
de 6 a 10 anos 2 4 3
após 11 anos 2 3 0
formação interna acompanhada de uma mudança da ati-
54 Heleno MGV / Diabetes Clínica 01 (2001) 48~54

tude do paciente. O orientador é capaz de passar infor- Referências


mações importantes e ao mesmo tempo escutar seu pa-
ciente sobre a intensidade de sua dor. Ele funciona como 1- Docherty M. Glycaemic Control, Regimen Compliance and
um facilitador para as transformações do paciente. O Causal Attribution in Diabetic People. Pract
Diabetes.1988;5(6):274-6.
orientador não se coloca em uma condição de saber to-
tal, mas é alguém que vai caminhar com seu paciente na 2- Franco LJ (coord). Estudo Multicêntrico da Prevalência do
tentativa de juntos descobrirem uma maneira do pacien- Diabetes Mellitus no Brasil, Ministério da Saúde, CNPq,
te aderir ao tratamento e melhorar, consequentemente, Fapesp, OPASm, INAMPS, SEMS,1989.
sua eficácia adaptativa.
3- Heleno MGV. Estudo da Eficácia Adaptativa e do Controle
Glicêmico em pacientes diabéticos do tipo II. Tese de Mestrado.
Conclusão Universidade Metodista de São Paulo, 1992.

Este trabalho é uma referência para a implantação de 4- Howard M. et al. Retention of Knowledge and Self-Care Sills
um programa de atendimento ao paciente diabético. after na Intensive in Patient Diabetes Education Program,
Diabetes Res Clin Pract.1986;2(1):51-7.
Concluímos que o maior investimento deve ser feito junto
à equipe de profissionais. Deve-se garantir a presença 5- Simon R. Psicologia Clínica Preventiva. São Paulo, Editora
não só dos médicos e enfermeiros, mas da Nutrição e da Pedagógica e Universitária, 1989, 2a edição.
Psicologia. Além disto, é de fundamental importância
que esta equipe tenha um perfil do “orientador” descrito
acima. Com esta equipe será possível conhecer o paci-
ente e criar a possibilidade de um tratamento eficiente.

Agradecimentos

Nossos sinceros agradecimentos à Cristina Khawali


pela colaboração.
Albanese M et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 55~61 55

NOTÍCIAS DAS ASSOCIAÇÕES

O tabagismo e o diabetes
Mário Albanesea, Rodolfo Bruminib

aAdvogado, jornalista e presidente da CIPA/CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, Fundador e presidente da ADESF – Associação
de Defesa da Saúde do Fumante, Membro da CETAB - Comissão Estadual de Prevenção e Controle do Tabagismo da Secretaria de Estado da Saúde,
bPresidente do Conselho de Educação da ADESF, Assistente técnico da Secretaria de Estado da Saúde/CVE/São Paulo.

Sumário

A informação verdadeira é um direito do consumidor e um alicerce da cidadania. Tratando-se de saúde esse direito ganha dimensão por
envolver o interesse público. Não existe cigarro isento de riscos ou efeitos colaterais e, nesse sentido, iludir com propaganda abusiva e engano-
sa, é desinformar. Enfatize-se que a desinformação, de acordo com o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, atinge um contin-
gente de 54,1 milhões de pobres, um pouco mais de um entre três brasileiros. O cigarro é um multitóxico com mais de 5000 substâncias
químicas, reconhecido como um cancerígeno completo. O tabagismo vicia, adoece e mata 4 milhões de pessoas por ano no mundo, em um
universo de mais de 1 bilhão de fumantes. Estima-se que esse número dobra nos fumantes passivos. Diante dessa realidade, não se pode mais
ignorar que o tabagismo tenha implicações determinantes nos riscos gerados pelo diabetes.

Endereço para correspondência: Mario Albanese, rua Haddock Lobo, 1663/171,


01414-001 São Paulo SP, Tel: (11) 3081-2159, E-mail: albanese@cetesb.sp.gov.br,
homepage: www.adesf.com.br
56 Albanese M et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 55~61

Introdução plantio de tabaco e para a utilização da lenha como com-


bustível nos 96 mil fornos utilizados no processo de se-
A Classificação Internacional de Doenças (CID), em cagem das folhas de fumo. Além do dano ambiental ir-
sua 10ª Revisão, conceitua no capítulo V, o tabagismo reparável a indústria tabaqueira enriquece, enquanto os
como uma desordem mental e de comportamento, em pobres e indigentes morrem de fome...
razão da síndrome de abstinência a nicotina. Seu código
é F17.2
No presente trabalho os termos cigarro e fumo refe- Diabetes e os principais elementos tóxicos do fumo
rem-se a todas as formas de utilização do tabaco e ma-
neiras de fumar. A nicotina é responsável pelo vício (dependência quí-
O tabagismo é um fator de risco que mata 4 milhões mico-física), pela vasoconstrição, hipertensão e pela ele-
de pessoas a cada ano no mundo e interage para agravar vação da freqüência cardíaca do fumante. O impacto da
mais de 50 doenças, entre elas o diabetes. O tabaco con- nicotina na arteriosclerose é muito maior no diabético.
centra 4720 substâncias tóxicas (Dube & Green, 1982) Se para um indivíduo sadio o cigarro é altamente no-
às quais somam-se, de acordo com o Centro de Controle civo, para o diabético, que já possui um distúrbio meta-
e Prevenção de Doenças (Center for Disease Control bólico que exige medicação permanente, o risco de morte
and Prevention – CDC/USA) um número aproximado é ainda maior. O que caracteriza a arteriosclerose é o
de 700 aditivos diferentes. Portanto, são mais de 5000 acúmulo de gordura (colesterol) na parede interna das
substâncias tóxicas responsáveis pela degradação do ar artérias. A vasculopatia e a neuropatia têm no tabagis-
que se respira nos ambientes fechados e que, interagin- mo um inimigo de alto poder destrutivo. Releve-se que
do com outros poluentes ambientais, produzem a PTA - as amputações, decorrentes dos problemas circulatórios
Poluição Tabágica Ambiental. nos diabéticos, são freqüentes (pé diabético).
A queima do cigarro, da qual se origina a fumaça, Outro componente do fumo, em sua fase gasosa, é o
tem uma parte gasosa representada primordialmente pelo monóxido de carbono, que facilita a formação da carbo-
monóxido de carbono, uma fase particulada identifica- xihemoglobina, que favorece e acelera o depósito de
da pelo alcatrão e seus subprodutos, além da nicotina e gordura nas artérias, dificultando e impedindo a livre
água. Ora, se o ar e a água são elementos vitais para a circulação do sangue.
sobrevivência, seria insensato oferecer para consumo, O diabético é um doente crônico com predisposição
água turva e cheia de impurezas. Beber água límpida e para alguns fatores de risco como a hipertensão, estres-
pura é o desejo de todos. Comparativamente, nos ambi- se, alterações da taxa de colesterol, obesidade, fatores
entes fechados de qualquer natureza, respira-se um ar genéticos e sedentarismo, aos quais soma-se ainda o ta-
poluído, por mais de 5000 elementos tóxicos, tudo em bagismo, de séria e nefasta repercussão no agravamento
nome de um suposto “convívio civilizado”. de sua saúde.
Sabe-se que a indoor pollution (poluição dos ambi- Saliente-se ainda, que na fase particulada da queima
entes internos) foi detectada em 1976, nos Estados Uni- do cigarro, origina-se o alcatrão e seus derivados cance-
dos, onde gerou a SED – Síndrome do Edifício Doente rígenos.
(Sick Building Syndrome), que ainda não foi suficiente- A extraordinária mistura química da fumaça do ci-
mente avaliada no Brasil. garro contém, entre seus componentes (Tabela 1)
Na respiração, os pulmões isolam o oxigênio do ar
para distribuí-lo, pela circulação arterial, por todo o cor- O tabaco, um cancerígeno completo
po. É característica do sangue arterial ser vermelho, lim-
po e vivo, tendo como contraponto o sangue venoso, Os tóxicos do cigarro produzem na cadeia metabóli-
que corre nas veias e é mais escuro pelas impurezas que ca a formação de produtos terminais chamados glicoto-
carrega. O sangue venoso devolve à natureza, pela expi- xinas que reagem, por ligação cruzada, com as proteí-
ração, o gás carbônico. Com as plantas acontece o in- nas, provocando efeitos mutagênicos no DNA (ácido
verso, absorvem o gás carbônico de que necessitam e desoxirribonucléico) que induzem ao câncer e às neo-
eliminam oxigênio. Assim, quando uma árvore é abati- plasias em geral.
da, esse processo chamado fotossíntese não se realiza e, As glicotoxinas, além das doenças malignas, contri-
como conseqüência, respira-se ar poluído pelo acúmulo buem para o envelhecimento precoce, catarata, arterios-
de gás carbônico. clerose, insuficiência renal e retinopatias.
No Brasil são abatidas 25 milhões de árvores, 50 por De fato, sendo indutor do efeito mutagênico e promo-
minuto, a cada ano. Esse desmatamento destina-se ao tor de multiplicação de células, o fumo é considerado um
Albanese M et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 55~61 57

Tabela 1 - Número de elementos identificados em 15 funções Tabela 2 - Doenças tabaco - relacionadas e prejuízos à saúde
químicas existentes no fumo
Ref: Prof. Dr. José Rosemberg Outubro/99
1 Infarto do miocárdio
Funções químicas Número identificado
2 Angina pectoris
Amidas, imidas 237 3 Hipertensão
Ácidos carboxílicos 227 4 Aterosclerose
Lactonas 150 5 Acidente vascular cerebral
Ésteres 474 6 Tromboangeite obliterante
Aldeídos 108 7 Bronquite crônica
Cetonas 521 8 Enfisema pulmonar
Álcoois 379 9 Gripe
Fenóis 282 10 Pneumonia por Legionella pneumophila
Aminas 196 11 Pneumonia por Branhamella catarrhalis
N-heterocíclicos 921 12 Pneumonite a colesterol
Hidrocarbonetos 755 13 Tuberculose
Nitrilas 106 14 Câncer do pulmão
Éteres 311 15 Câncer da boca
Carboidridos 42 16 Câncer da faringe
Anidridos 11 17 Câncer da laringe
18 Câncer do esôfago
Total 4720 19 Câncer do estômago
20 Câncer do pâncreas
Dube M, Green CR. Methods of collection of smoke for 21 Câncer da bexiga
analitical purposes. Recent Advances in Tobacco. Science 22 Câncer do rim
1982;8:42. 23 Leucemia mielóide
Janoff A, Carp H, Laurant P. et al. - The role of oxidative 24 Câncer do colo do útero
processes in emphysema. Am. Rev. Dis. 1983;127, supl. S-31. 25 Câncer da mama
Informação farmacológica. Interaciones entre tabaco y 26 Doença de Crohn (Mycobacteria paratuberculosis)
medicamentos. Bull. Of. Sanit. Panamericana. 1983;94:398. 27 Úlcera do estômago
28 Úlcera do duodeno
29 Osteoartrite
cancerígeno completo. O alcatrão é uma substância pro- 30 Osteoporose
duzida pela queima do cigarro na sua fase particulada e 31 Catarata
concentra quarenta e três substâncias comprovadamente 32 Estomatite
cancerígenas, como o arsênio, níquel, benzopireno e o 33 Bronquite
cádmio. Essas substâncias que provocam câncer têm, en- 34 Pneumonia
35 Amigdalite
tre elas, resíduos de agrotóxicos, como o DDT, e até ele- 36 Otite
mentos radioativos, como é o caso do polônio 210. 37 Sinusite
Por sua disseminação o cigarro, na comparação com 38 Morte súbita infantil
o cachimbo, charuto e fumo mascado, é o de maior ris- 39 Sindactilia
co, não obstante sejam as demais formas igualmente 40 Estrabismo
41 Lábio leporino
agressivas à saúde. 42 Prenhez tubária
43 Aborto
Aditivos 44 Descolamento precoce da placenta
45 Placenta prévia
Os fabricantes de cigarros acrescentam um número 46 Diabetes – O fumo retarda a absorção da insulina em razão
da vasoconstrição periférica provocada pela ação da nicotina
aproximado de 700 aditivos diferentes em seus produ- 47 Câncer da pleura (associado com asbesto)
tos. Entre os aditivos incluídos na lista emitida para co- 48 Aneurisma da aorta
nhecimento público pelo CDC – Center for Disease 49 Aneurisma abdominal
Control and Prevention, USA, se encontram aromatizan- 50 Câncer da próstata
51 Câncer do intestino
tes artificiais que aumentam ainda mais a toxicidade do 52 Câncer do reto
produto que já contém, in natura, 4720 substâncias tó- 53 Linfoma
xicas. Esse expediente vem se processando há mais de 54 Menopausa precoce
40 anos, com adição, entre outros, de mentol, cacau, 55 Derrame subaracnóide na mulher com associação de
melaço, canela, anis, cravo, passas, figo, cereja, folhas anovulatórios
56 Periodontite
de chá, gengibre, rum, água, levedura, limão, maçã,
caramelados e componentes químicos. Todos são irri-
58 Albanese M et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 55~61

tantes dos brônquios e, muitos deles, ao serem queima- taliza o organismo e, finalmente, que qualquer fenôme-
dos liberam substâncias cancerígenas. no possui duas funções: ação e reação.
O sabor é um elemento que os fabricantes utilizam A neuropatia, para o diabético, é uma afecção do sis-
para qualificar e distinguir seu produto. O tabaco vai tema nervoso que atinge um em cada quatro diabéticos
para a indústria de beneficiamento, onde as folhas são e torna insensíveis as extremidades do corpo.
selecionadas, picadas e classificadas em mais de 120 ti- De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina e
pos. A mistura de vários tipos de fumo é que determina Cirurgia do Pé (SBMCP), 30 mil amputações são reali-
o blend característico de cada marca de cigarro. Dessa zadas a cada ano no Brasil.
forma os fabricantes têm a sua disposição mais de 1000 O pé diabético, por não ter sensibilidade à dor, não
sabores de tabaco para escolher. reage aos impactos recebidos e sofre deformações.
Portanto, não existe fumo inofensivo, sendo o cigar- O problema levou a American Orthopedic Foot and
ro o maior multitóxico consumido livre e irresponsavel- Ankle Society (Sociedade Americana de Ortopedia do
mente pelo ser humano. Pé e Tornozelo), a instituir o ano 2000 como o Ano do
Pé Diabético. Nesse sentido empenhou-se em campa-
Novas terapias nhas de informação e prevenção, objetivando reduzir esse
elevado número de amputações.
Surgem a cada dia novidades no tratamento do diabe- As implicações para o diabético repercutem em to-
tes. A esperança se renova com os transplantes do pân- dos os setores da vida, no convívio profissional, na frus-
creas e das células bêta. tração do tratamento, quando a doença já está em estado
Depois de 30 anos de estudo, pesquisadores da Uni- avançado, pelo seu custo social, no preço inacessível
versidade de Alberta no Canadá, liderados pelo médico das próteses de reparo das amputações, pela insuficiên-
inglês James Shapiro, anunciaram a eficácia de um tipo cia de doadores para transplante e, por fim, na perda de
de transplante capaz de reverter por completo o diabetes. sua qualidade de vida.
Com muita expectativa anuncia-se também o surgi- Além disso tudo, o diabetes é significativamente agra-
mento de aparelhos para medir glicose sem a inconveni- vado pelo tabagismo.
ente dor da picada.
Fala-se em medicação oral mais eficiente e de insulina
com maior tempo de duração e que, se confirmados, pode- Agravos à saúde do diabético fumante
rão melhorar a qualidade de vida do diabético e, nesse caso,
insere-se também a insulina inalada, que funciona como No nariz, a capacidade olfativa é extraordinariamen-
um spray aspirado pela boca, de ação rápida e curta. te prejudicada pelo alcatrão, um potente cancerígeno.
Essas novidades foram apresentadas no maior con- Na laringe, além da inflamação crônica e da rouqui-
gresso americano sobre o assunto: 60ª Sessão Científica dão, o fumo é responsável por 97% do total de casos de
da Associação Americana de Diabetes, realizada nos câncer.
EUA, de 9 a 13 de junho de 2000, que prevê o lança- Nos pulmões, 90% das mortes por câncer, bem como
mento desses produtos até 2003. 85% dos óbitos por bronquite e enfisema são decorren-
Os avançados estudos médicos já estão proporcionan- tes do tabagismo.
do aos diabéticos a possibilidade de uma vida normal. No coração, além dos fatores hereditários, o fumo
Todavia, muitos diabéticos, ao fumar, destroem sua qua- aumenta o risco de infarto e dobra a probabilidade de
lidade de vida e invalidam a eficácia das terapias médi- morte por doenças cardíacas.
cas. Todos esses avanços da ciência renovam os anseios Na circulação, os níveis de açúcar no sangue, ele-
de cura por parte dos diabéticos e foram publicados no vam a taxa de triglicérides e colesterol, favorecendo o
The New England Journal of Medicine, uma publicação entupimento das artérias.
científica de renome no mundo. A vasoconstrição, provocada pela nicotina do cigar-
ro, bem como o monóxido de carbono para a formação
Ação e reação - considerações da carboxihemoglobina, são fatores agravantes da arte-
riosclerose.
Hipócrates (377 A.C.), célebre médico grego, cha- No pênis, o caminho é para a impotência, motivada
mado o Pai da Medicina, ensinou que é melhor prog- pelo entupimento dos microvasos que dificultam ou im-
nosticar do que diagnosticar, ou seja, é melhor prevenir pedem a ereção.
do que remediar. Ensinou também que a natureza cura e No cérebro, a iminência do risco de um derrame, tri-
o médico trata, que é a atividade dos membros que revi- plica.
Albanese M et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 55~61 59

Nos olhos, a irritação ocasionada pela fumaça do ci- No sistema reprodutor, favorece o câncer do colo
garro agrava a retinopatia diabética que leva à cegueira. do útero, a menopausa precoce e impede o desenvolvi-
A perda da visão é 25 vezes mais freqüente no diabético mento normal do feto. Nos homens, o fumo prejudica a
pois os vasos sanguíneos da retina, com altos níveis de potência e a fertilidade.
açúcar, ficam alterados. Nos rins, o espessamento dos microvasos evolui para
Na boca, o fumante perde o paladar e, por esse moti- insuficiência renal (nefropatias).
vo, exagera na utilização de condimentos para sentir o Na bexiga, aumenta três vezes o risco de câncer.
gosto pela comida. Conseqüentemente, esses ingredien- Na mulher, o fumo agride diretamente os ovários re-
tes aumentam a pressão arterial, predispõem à gastrite, duzindo a fertilidade e seu desempenho sexual. É muito
úlceras e outras lesões como o câncer da boca. Sigmund elevado o índice de malformações congênitas decorren-
Freud (1856-1934), inveterado fumante de charuto, teve tes do fumo, particularmente na gravidez, tais como lá-
câncer na boca. Submeteu-se a 26 cirurgias sem suces- bio leporino, fissura palatina, dactilia e estrabismo. Re-
so. A desmistificação do charuto e do cachimbo é im- almente, no útero materno o bebê é um fumante cativo,
portante pois seus usuários têm como argumento, para preso e sem opção. Com todas essas injúrias à saúde do
justificar seu consumo, o fato de não tragar a fumaça. nascituro, se conseguir nascer, terá menor peso e maior
Alimentam assim a idéia de que não terão os mesmos risco de morrer depois do nascimento (morte súbita in-
problemas de quem fuma cigarros. fantil). Fumar, durante a gravidez, irá retardar e reper-
No entanto há evidência cientifica de que o tabagis- cutir no raciocínio da futura criança e interferir no seu
mo é um potente causador de câncer na boca, com o desenvolvimento intelectual.
mesmo grau de risco para os fumantes de cigarros, cha- A beleza da mulher fica seriamente comprometida:
rutos e cachimbos. Assinale-se que o risco de câncer sua pele torna-se opaca e sem viço; os olhos, averme-
dos lábios é maior para os que fumam cachimbo. lhados e com olheiras acentuadas; os dentes, amarela-
Os estudos revelaram também forte sinergismo do dos e as gengivas inflamadas; seu timbre de voz altera-
álcool com o tabagismo para o surgimento de tumores se para o grave, além do hálito fétido. Acentue-se que,
malignos nos lábios, língua, soalho, gengivas, palato e na mulher diabética e grávida, as malformações estão
orofaringe em geral. De fato, a ação oncogênica do fumo igual e diretamente relacionadas com seu grau de hiper-
do tabaco tem vários mecanismos. Na boca, incide dire- glicemia.
tamente sobre os tecidos, o que não ocorre com outros Um simples exame bucal, feito por um dentista ou
órgãos onde os componentes carcinogênicos chegam por médico clínico, seria suficiente para o rastreamento de
via sangüínea ou linfática agindo por si ou por meio de um câncer prevenível e curável. Entretanto, a realidade
produtos metabolizados igualmente cancerígenos. revela que um crescente número de pacientes apresen-
Os aborígenes da América usavam o cachimbo nos ta-se com a doença em fase tão avançada que seu trata-
rituais religiosos e para as convenções de paz. mento torna-se paliativo. As estatísticas de câncer na
Além do tabaco mascado (fumo de rolo) e aspirado boca revelam que cerca de 95% dessas neoplasias ma-
(rapé), surgiu o charuto que difundiu-se em todos os lignas ocorrem pela ausência de diagnóstico precoce.
continentes. Acrescente-se que significativa parcela da população
Todavia foi nos Estados Unidos que alcançou maior é constituída por indigentes e analfabetos que não têm
prestígio. Os charutos tornaram-se cada vez mais volu- acesso aos indispensáveis serviços médico-odontológi-
mosos e longos chegando a 25 centímetros. Foi propa- cos e de saneamento básico, o que agrava sobremaneira
gado como símbolo de masculinidade. Assim, com o esse quadro.
nascimento de um filho homem, o orgulhoso pai, por Sabe-se que no fumante a assimilação da vitamina C
tradição, oferece ainda hoje, um charuto aos amigos para fica seriamente prejudicada, tornando-o mais suscetível
festejar o nascimento de um menino. às doenças. A depleção do ácido ascórbico (vitamina C)
A popularidade e, ao mesmo tempo o símbolo de po- compromete o status antioxidante no diabetes.
der do charuto, exteriorizou-se na figura americana do Nos ossos das mulheres, na pós-menopausa, existe
“Tio Sam”, de cartola e com um enorme charuto na boca. maior risco de osteoporose.
Nos dentes, o fumo altera sua coloração, inflama as No tabagismo passivo, por meio do aleitamento
gengivas e favorece a deposição de tártaro. O diabético materno, a absorção da nicotina pelo nenê durante a
fumante perderá os dentes por não sentir dor. Dentes amamentação, está cientificamente comprovada. A in-
quebrados e abscessos, resultam em focos de infecção. tensidade depende do número de cigarros fumados e da
No aparelho digestivo, provoca câncer no estôma- poluição ambiental existente. As comprovações foram
go, pâncreas e esôfago, além de gastrite e úlcera. feitas em análises da urina dos lactentes de zero a seis
60 Albanese M et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 55~61

meses. Da sobrevivência
Para o diabético tabagista o estresse origina-se pela
síndrome de abstinência à nicotina. Sabe-se que o fu- O ser humano diferencia-se dos animais por ser inte-
mante é compelido a fumar em intervalos de 20 a 30 ligente. Enquanto os animais se conformam com os li-
minutos, em média. mites de sua natureza, o homem tenta obstinadamente
O fumo induz ao álcool e vice-versa. O fumo associ- ultrapassar os seus.
ado ao álcool faz do diabético uma vitima desamparada, Na pré-história a média de vida do homem era de
pois quanto mais bebe mais fuma. apenas 8 anos e, mesmo assim, conseguiu sobreviver e
A explicação é simples: ao excretar a maior parte da preservar a espécie. Inteligente, criou e empunhou o ta-
nicotina pela urina, o organismo do fumante exige sua cape para multiplicar o poder de seus músculos. Ardilo-
imediata reposição. Forma-se assim um círculo vicioso so, inventou armadilhas e passou a capturar e dominar
extremamente prejudicial, principalmente para o diabé- os animais ferozes. Criativo, descobriu o fogo para ven-
tico. O sincronismo desses vícios confirma a carcinogê- cer o frio e a escuridão. Investigativo, aprendeu a plan-
nese de tumores na boca, faringe, esôfago e bexiga. tar, colher e conservar alimentos para vencer a fome, o
inverno e a seca.
Atualmente, já no 3º milênio, o homem, se souber
Fumo e alergia preservar-se na saúde, poderá viver por mais de cem
anos.
Numerosos estudos feitos para comprovar os agra- Todavia, nas guerras, no trânsito, na ignorância, na
vos à saúde, provocados pela fumaça inalada pelas cri- ambição desmedida, no preconceito, na violência urba-
anças, revelaram a precipitação e agravamento dos qua- na, na fome e no vício, o homem é vítima do próprio
dros alérgicos, com destaque para asma e rinite, aumen- homem.
to na freqüência de internações hospitalares, tudo isso
evidentemente relacionado com o número de cigarros
fumados e a conseqüente degradação do ar ambiental. O valor da esperança
A criança, ainda em formação, é mais suscetível ao
fumo e, como decorrência, tem maior incidência de do- Nada melhor do que reproduzir trechos do discurso
enças nas vias respiratórias, efusão do ouvido médio e do notável Prof. Dr. Mário Rigatto, proferido na cerimô-
síndrome da morte súbita. nia de inauguração da estátua de Asclépio, Deus da
Percebe-se que o tabagismo e o diabético, considera- Medicina, no Hospital das Clínicas da Faculdade de
dos isoladamente, têm como denominador comum, pro- Medicina da Universidade de São Paulo, em junho de
blemas circulatórios originados pela ação vasoconstri- 1999:
tora da nicotina no fumante, pelo acúmulo de gordura,
no diabético. Sendo fumante e diabético a predisposi- “A Medicina tem 250 mil anos de história enquanto a
ção à esclerose das artérias é maior. Ressalve-se ainda Ciência Médica, de tantas conquistas e avanços, tem
que a circulação sangüínea veicula por todo o corpo apenas 300 anos. A Medicina, ao longo de sua história,
humano e é de vital importância para todos os órgãos, nunca precisou da Ciência Médica para impor-se. To-
sem exceção. Que não se pense que o tabagismo é prer- dos os que vestiram a roupagem de médico, tanto o pajé,
rogativa de prejuízo somente para o sistema respiratório quanto o sacerdote e o feiticeiro, exerceram a Medicina
que é, inegavelmente, o mais atingido. com parcos recursos e foram comprovadamente úteis à
De fato, 90% dos cânceres de pulmão estão direta- sociedade de seu tempo.
mente relacionados ao fumo. Esse quadro torna-se dra- De fato, o gesto médico, quando exercido com auto-
mático em razão das últimas estatísticas que indicam ridade, mobiliza no íntimo do paciente reservas que o
que o brasileiro está fumando mais, notadamente as levam a superar o mal que o debilita. Sendo assim, os
mulheres. limites da ciência podem esgotar-se para o médico, mas
Portanto, vergar-se aos interesses da mídia e da in- se a vida ainda não se esgotou para o paciente, ele com
dústria tabaqueira e continuar admitindo a propaganda certeza buscará por outros recursos para sobreviver.”
abusiva e enganosa feita a favor do fumo, é desconhecer
a importância de preservar a saúde pública com infor- Deixando exemplo e saudade o Prof. Dr. Mário Ri-
mações corretas e verdadeiras. gatto faleceu aos 17 de janeiro de 2000.
Albanese M et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 55~61 61

Referências

Campos S. Medicina Biomolecular e Radicais Livres, São Paulo, Holl RW, Grabert M, Heinze E, Debatin KM. Objective assessment
1996, Francolor, Coletâneas vol I . of smoking habits by urinary cotinine measurement in
Cerami C, Founds H, Nicholl I, Mitsuhashi T, Giordano D, adolescents and young adults type 1 diabetes. Reliability of
Vanpatten S, Lee A, Al-Abed Y, Vlassara H, Bucala R, Cerami reported cigarette consumption and relationship to urinary
A. Tobacco smoke is a source of toxic reactive glycation albumin excretion, Diabetes Care 1998;21(5):787-91
products, Proc Natl Acad Sci USA 1994;25:3915-20 Howard G, Wagenknecht LE, Burke GL, Diez-Roux A, Evans GW,
Chaturvedi N, Jarrett J, Shipley MJ, Fuller JH. Socioeconomic Mc Govern P, Nieto FJ, Tell GS. Cigarette smoking and
gradient in morbidity and mortality in people with diabetes: progression of atherosclerosis: The Atherosclerosis Risk in
cohort study findings from the Whitehall Study of Vascular Communities (ARIC) Study, JAMA 1998;279(2):119-24
Disease in Diabetes, BMJ 1998;316:100-5 Mehler OS, Jeffers BW, Biggerstaff SL, Schrier RW. Smoking as a
Colhoun HM, Dong W, Barakat MT, Mather HM, Poulter NR. The risk factor for nephropathy in non-insulin-dependent
scope for cardiovascular disease risk factor intervention diabetics, J Gen Intern Med 1998;13(12):842-5
among people with diabetes mellitus in England: a Nicholl ID, Bucala R. Advanced glycation endproducts and
population-based analysis from the Health Surveys for cigarette smoking, Cell Mol Biol (Noisy-le-grand),
England 1991-94, Diabet Med 1999;16(1):35-40 1998;44(7):1025-33
Costa AA, Almeida Neto JS. Manual de Diabetes, Servier, 1998,3ª Riva L. Noção Sumária sobre Nicotina, Laboratório Schilling,
edição. Contam 98 - Congresso Brasileiro sobre Tabagismo no
Hargrave DR, McMaster C, O’Hare MM, Carson DJ. Tobacco Ambiente de Trabalho,1998.
smoke exposure in children and adolescents with diabetes Rosemberg J. Temas sobre Tabagismo, São Paulo, Secretaria de
mellitus, Diabet Med 1999;16(1):31-4 Estado da Saúde, 1998.
FICHA DE INSCRIÇÃO
6º Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes
6ª Exposição Nacional de Produtos e Alimentos para Diabéticos
7, 8 e 9 de Julho de 2001 - Fundação Álvares Penteado - FECAP - SP BRASIL

Nome: ........................................................................................................................................................................
Endereço: ...................................................................................................................................................................
Cidade:....................................................................... Estado: ...................................................
CEP: .............................. Fone: (.......) ..................................... Fax:..........................................
Recibo em nome de:....................................................................................................................
Cheque Nr.............................. Banco:.....................Valor total:...................................................
Data: ................................ Profissão: .........................................................................................
Assinatura: _________________________________

INSTRUÇÕES PARA INSCRIÇÃO


Preencher esta ficha de inscrição e enviá-la junto com o comprovante de depósito (via fax ou carta) para:
ANAD - Associação Nacional de Assistência ao Diabético
Rua Eça de Queiróz, 198 - Vila Mariana
Cep: 04011-031 - São Paulo - SP BRASIL
Fone/Fax: (11) 5549-6704 / 5572-6559
IMPORTANTE: Sua inscrição só estará confirmada após o recebimento do comprovante
do depósito junto com a impressão desta ficha de inscrição.

TAXA DE INSCRIÇÃO PRINCE TOUR - Viagens e Turismo


até 07 de junho de 2001 Rua da Glória, 234 - Liberdade - CEP
Profissionais: R$ 80,00 01510-000 São Paulo SP
Estudantes: R$ 50,00 Tel. (11) 3104-3111 / Fax: (11) 3106-7564
Após esta data, acréscimo de R$ 20,00 E-mail: princetr@zaz.com.br
OBS: Se você for Nutricionista e quiser participar das Com Cláudia ou Vera
OFICINAS deverá depositar mais R$ 10,00 e informar Reserva de Hotel - Passagens - Transfer
na sua inscrição (temos 180 vagas). Tour by night - Ônibus - Vans

FORMA DE PAGAMENTO ORGANIZAÇÃO:


Depósito bancário - Banco Real - Agência 0985 - C/ ANAD - Associação Nacional de
C 37-5, em nome da Associação Nacional de Assis- Assistência ao Diabético
tência ao Diabético Rua Eça de Queiróz, 198 - Vila Mariana
VAGAS LIMITADAS - Confirmar se há vaga Cep: 04011-031 - São Paulo - SP - BRASIL
antes de efetuar depósito Fone/Fax: (11) 5549-6704 / 5572-6559
AGÊNCIA DE TURISMO OFICIAL
FICHA PRÁTICA
Diabetes Clínica 06
Ficha Prática / Diabetes Clínica

Insulinas humanas e animais disponíveis no Brasil


(Ref: Recomendação da SBD – Sociedade Brasileira de Diabetes, 2000)

INSULINAS HUMANAS AVENTIS BIOBRÁS LILLY NOVO-NORDISK


Ação ultra-lenta (UR) Humalog
Ação rápida (R) Insuman R Biohulin R Humulin R Novolin R
Ação intermediária
· NPH (N) Insuman N Biohulin N Humulin L Novolin N
· Lenta (L) Biohulin L Humulin N Novolin L
Ação prolongada (U) Biohulin U Novolin U
Pré-misturas (N+R)
90/10 Biohulin 90/10 Humulin 90/10 Novolin 90/10
85/15 Insuman Comb 85/15
80/20 Biohulin 80/20 Humulin 80/20 Novolin 80/20
75/25 Insuman Comb 75/25
70/30 Biohulin 70/30 Humulin 70/30 Novolin 70/30
Pré-misturas (N+UR)
75/25 Humalog Mix25

INSULINAS ANIMAIS BIOBRÁS LILLY NOVO-NORDISK


Ação rápida (R) Neosulin R (suína) Insulina Mista Purificada R Actrapid (suína)
Monolin R (suína)
Iolin R (mista)
Ação intermediária
· NPH (N) Neosulin N (suína) Insulina Mista Purificada N Protaphane (suína)
Monolin N (suína)
Iolin N (mista)
· Lenta (L) Neosulin L (suína) Monotard (suína)

Perfil médio de ação das insulinas humanas e animais

INSULINAS HUMANAS PERFIL DE AÇÃO (HORAS)


INÍCIO PICO DURAÇÃO EFETIVA DURAÇÃO MÁXIMA
Ultra-rápida (R) 0,25 0,5 – 1,5 3-4 4-6
Rápida (R) 0,5 – 1,0 2 -3 3-6 6-8
NPH (N) 2-4 6 -10 10 - 16 14 - 18
Lenta (L) 2-4 6 - 12 12 -18 16 - 20
Ultralenta (U) 6 - 10 10 -16 18 - 20 20 - 24

INSULINAS ANIMAIS PERFIL DE AÇÃO (HORAS)


INÍCIO PICO DURAÇÃO EFETIVA DURAÇÃO MÁXIMA
Rápida (R) 0,5 – 2,0 3-4 4 -6 6 - 10
NPH (N) 4-6 8 - 14 16 - 20 20 - 24
Lenta (L) 4-6 8 - 14 16 - 20 20 - 24
Ultralenta (U) 8 - 14 Mínimo 24 - 36 24 - 36
Ficha Prática / Diabetes Clínica

Tabela de prognóstico de risco coronariano de Framingham


(Ref: Hospital de Clínicas José de San Martin, División Nutrición, Dr. Adolfo V. Zavala)

Some os pontos de riscos de acordo com a tabela “Fatores de Risco” . O total de pontos avalia o risco
absoluto de evento coronariano no próximos 10 anos

PONTOS DE RISCO RISCO ABSOLUTO


FATORES DE RISCO HOMENS MULHERES PONTOS DE RISCO ATÉ 10 ANOS (%)
HOMENS MULHERES
Idade (anos)
< 34 -1 -9 1 2 1
35 - 39 0 -4 2 3 2
40 - 44 1 0 3 4 2
45 - 49 2 3 4 5 2
50 - 54 3 6
55 - 59 4 7 5 6 2
60 - 64 5 8 6 7 2
65 - 69 6 9 7 9 3
70 - 74 7 10 8 13 3
Colesterol total (mg/dl) 9 16 3
< 160 -3 -2 10 20 4
160 - 199 0 0
11 25 7
200 - 239 1 1
240 - 279 2 2 12 30 8
> 280 3 3 13 35 11
HDL Colesterol (mg/dl) 14 45 13
< 35 2 5 15 15
35 - 44 1 2 16 18
45 - 49 0 1 17 20
50 - 59 -1 0
>60 -2 -3
Pressão arterial sistólica (mmHg)
< 120 0 -3
120 - 129 0 0
130 - 139 1 1
140 - 159 2 2
>160 3 3
Glicemia (mg/dl)
< 110 0 0
110 - 126 1 2
> 126 2 4 Risco elevado: > 20 %
Tabagismo Risco médio: 10-20 %
Não 0 0
Sim 2 2 Risco baixo: < 10 %

Some os pontos de acordo com a tabela


- Idade
- Colesterol total
- Colesterol HDL
- Pressão arterial sistólica
- Glicemia
- Tabagismo

Total

Eventos / Diabetes Clínica 01 (2001) 65

Calendário de Eventos
Informações: EASL Secretariat, 17 rue de
MARÇO DE 2001 Cedrier, BP 1726
CH-1211 Geneva – Switzerland
14 a 17 de março Tel: +41 22 908 0488
7th Panafrican Diabetes Study Group Congress E-mail: easl2001@volny.cz
E-mail: psdsg2001@casanet.net.ma
19 a 21 de abril
25 a 30 de março International Course on Diabetes and
4th Mayo Clinic Endocrine Course macrovascular Disease
Hapuna Beach Prince Hotel, Mauna Keat resort Lugano, Switzerland
Kohala Cosat, Gig Island of Hawaii Informações: International Atherosclerosis
Fax: (507) 284-0532 Society
E-mail: cme@mayo.edu Via A Appiani, 7 – 20121 Milano – Itália
Tel: +39 02 2906 1879
ABRIL DE 2001 E-mail: ias@icil64.cilea.it
1 a 6 de abril
10th Bone and Mineral Metabolism Society 28 de abril a 1 de maio
Congress IXo Congresso da sociedade latino americana
37th SEMDSA (Society for Endocrinology Me- de tireóide
tabolism and Diabetes of South Africa Congress) Rio de Janeiro, RJ
Holiday Inn Corwne Plaza, Sandton, South Africa Informações: JZ Congressos
Tel: +27 11 807 0794 Tel: (21) 286 2846
E-mail: rsh@novo.dk
MAIO DE 2001
4 a 7 de abril 2 a 6 de maio
First International Symposium on PPARs 10th Annual meeting and Clinical Congress of
Firenze, Itália the American Association of Clinical Endocri-
Informações: Fondazione Giovanni Lorenzini nology (AACE)
Medical Science Foundation San Antonio, Texas
Via A Appiani, 7 – 20121 Milano - Itália E-mail: info@aace.com
18 a 22 de abril Fax: (904) 353-8185
36th Annual Meeting European Association For
the Study of the Liver 5 a 9 de maio
EASL 2001 VIIIo International Symposium on Insulin
Prag, Czech Republic Receptors and Insulin Action
66 Eventos / Diabetes Clínica 01 (2001)

Molecular and clinical aspects of insulin Ac- 22 a 26 de junho


tion in the New Millenium 61th Annual Scientific Sessions of the American
Geneva, Switzerland Diabetes Association
Informações: Symporg SA Philadelphia, Pennsylvania
Tel: (41) 22 839 8484 Informacões: www.diabetes.org
Fax: (41) 22 839 8485
JULHO DE 2001
10 a 12 de maio
VIIº Jornadas internacionales de 6 a 10 de julho
vasculopatías, factores de riesgo y pie diabético Local Organising Committee of The Pediatric
Palais Rouge, Buenos Aires, Argentina Endocrinology 2001
Organização: Dr. Adolfo V. Zavala , Hospital de Montreal, Quebec, Canadá.
Clínicas José de San Martín Tel: (514) 398 3770
Informações: Larrea 1403. (1117) Capital Federal, E-mail: pedendo@ums1.lan.mcgill.ca
Argentina Site: www.med.mcgill.ca/pedendo
Tel/Fax: (5411) 4805-7651
E-mail: azavala@intramed.net.ar. 7 a 9 de julho
6o Congresso brasileiro multiprofissional em
25 a 27 de maio diabetes
IVº COPEM - Congresso Paulista de 6a Exposição nacional de produtos e alimentos
Endocrinologia e Metabolismo para o diabético
Maksoud Plaza Hotel - São Paulo, SP Fundacão Álvares Penteado, Av Liberdade, 532
Organização: Paradigma Eventos São Paulo, SP
Tel: (11) 3813-8896/3815-9003 Informações: ANAD
Fax: (11) 3815-2285 Tel: (11) 5572-6559 - www.anad.org.br
E-mail: paradigma@uol.com.br
www.sbemsp.org.br AGOSTO DE 2001
16 a 19 de agosto
IXo Congresso brasileiro de obesidade
25 a 27 de maio Hotel Bourbon, Foz de Iguaçu, PR
36th SSSD Meeting (Scandinavian Society for Organização: ABESO
the Study of Diabetes) Informações: (41) 342 7175
Uppsala, Suécia E-mail: idealiza@idelaiza.com.br
Informações: SSSD 2001
Dragarbrunnsgatan 35, 753 20 Uppsala
Tel +46 18 150080
e-mail: uppsalakongress@hotmail.com SETEMBRO DE 2001
site: http://welcome.to/sssd01 9 a 13 de setembro
37th Annual Meeting European Association for
JUNHO DE 2001 the Study of Diabetes
20 a 23 de junho EASD 2001
Endo 2001 Glasgow, Escócia
83th Annual Meeting of the Endocrine Society Informações: Concorde Services Ltd
Denver, Colorado $b, 50, Speirs Wharf, Port Dundas
Tel (301) 941-0241 Glasgow, G4 9TB UK
E-mail: bglover@endo-society.org Tel +44 141 331 0123
E-mail: easd@concorde-uk.com
Eventos / Diabetes Clínica 01 (2001) 67

OUTUBRO DE 2001 DEZEMBRO DE 2001


4 a 6 de outubro 1 a 3 de dezembro
IIo Congresso Internacional de Nutrição, Ali- IIo Encontro paranaense de Endocrinologia
mentação e Tecnologia - CINAT Informações: (41) 342-1415 Ramal 213 e 214
Centro de Convenções São Camilo, São Paulo SP (Fax)
Informações: SINESP (11) 3277 8422/8291 E-mail: amp@amp.org.br
www.sindicatonutricionistas.com.br
JUNHO DE 2002
10 a 14 de outubro
XIIIo Congresso brasileiro de diabetes 14 a 18 de junho
Rio de Janeiro, RJ 62th Annual Scientific Sessions of the American
Informações: JZCongressos Diabetes Association
Tel: (21) 286-2846/537-9134 San Francisco, California
E-mail: mail@jz.com.br Informacões: www.diabetes.org

SETEMBRO DE 2002
21 a 24 de outubro 1 a 5 de setembro
XIVo Congresso brasileiro de nutrição 38th Annual Meeting European Association for
parenteral e enteral the Study of Diabetes
VIIo Congresso latino americano de nutrição EASD 2002
parenteral e enteral Budapest, Hungria
IIo Congresso brasileiro de nutrição clínica Informações: Budapest 5, POB 741
Salvador, BA Hungary 1365
Informações: Eventus System Tel: +36 1 269 5883
Tel: (71) 264-3477
E-mail: easd2002@congress.blavo.hu
Fax: (71) 264-0508
E-mail: eventus@cpunet.com.br
FEVEREIRO DE 2003
NOVEMBRO DE 2001 3th International Symposium on Diabetes &
11 a 15 de novembro Pregnancy
XIo Congresso ALAD – Association Geneva, Switzerland
latinoamericana de diabetes Informações: PO Box 50006 Tel Aviv 61500
IIIo Congresso Uruguaio de Diabetologia Israel
Punta del Este, Uruguai Tel 972 3 514 0014
Informações: personas SRL, Av. 8 de octubre E-mail: conventions@kenes.com
2323, of. 305, Montevideo, Uruguai
Tel: (5982) 408-1015/408-2951 AGOSTO DE 2003
E-mail: personas@cs.com.uy 24 a 29 de agosto
18th Internacional Diabetes Federation
15 a 18 de novembro Congress
XIIIo Curso nacional de atualização em Paris, França
endocrinologia e metabologia Informações: www.idf.org
Gramado, RS
Organizacão: SBEM regional RS
www.vjs.com.br
Tel: (51) 330 1134
E-mail: vjs@vjs.com.br
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604 // 1102
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RJ -- 22010-010
22010-010 --
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(21) 244-6471
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Diabetes Clínica
Diabetes Clínica 04 (2000) 69

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Índice
(vol. 5 nº 2 - 2001)

EDITORIAL
Desafios e sucessos da Campanha de Diabetes do Ministério da Saúde, Fadlo Fraige Filho ................... 71

INFORMES DO DIABETES NO MUNDO ............................................................................................ 73

O DIABETES NA IMPRENSA ................................................................................................................ 88

AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS ............................................................................ 91

PRODUTOS E NOVIDADES
Açúcar líquido (Lowçucar), Classic Diet (Nestlé), Bolottone Light (Vivalev Diatt), Emed (Novel) ......... 109

RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ................................................................................ 111

ARTIGOS CIENTÍFICOS
Diabetes mellitus neonatal transitório – Relato de caso,
José Côdo Albino Dias, Willian Pedrosa de Lima ...................................................................................... 118

Perfil dos diabéticos assistidos em duas unidades básicas de saúde de Londrina – PR,
Ilidia Terezinha Martelli Takahashi, Henriqueta Galvanin Guidio de Almeida,
Maria Helena Dantas de Menezes Guariente, Carmen Lúcia Lázaro Garcia,
Maria do Carmo Lourenço Haddad, Olga Chizue Takahashi, Iria Roberta Staut Freitas,
Vânia Maria Vargas, Valéria de Araújo Elias, Denise R. Seigai ................................................................ 122

Cuidados nutricionais para pacientes diabéticos em uso de terapia nutricional enteral,


Viviane Chaer Borges, Anuraha Dudha ...................................................................................................... 129

NOTÍCIAS DAS ASSOCIAÇÕES


São Paulo: Lei estadual e projeto de lei municipal beneficiam portadores de diabetes ............................ 133
Insulina: Diminui o risco de aumento do preço.......................................................................................... 134

FICHAS PRÁTICAS
Educação: Questionário de avaliação da independência da criança diabética tipo 1 .................................. 135

CALENDÁRIO DE EVENTOS ............................................................................................................... 139

6o Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes .............................................................................. 131


Inscrição ao 6º Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes ......................................................... 137
Formulário de assinatura de Diabetes Clínica ............................................................................................. 138
Diabetes Clínica
70 Diabetes Clínica 04 (2000)

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúr-
bios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o
conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas.
Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico, o conselho consultivo e profissionais de
reconhecido saber na área. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relativas à
diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma maneira
rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes.

Diabetes Clínica Dr. Marcos Tambascia (SP) ATLANTICA EDITORA


Editor científico : Dr. Fadlo Fraige Filho, Enfermeria Mônica Antar Gamba (SP) Marketing
presidente da FENAD e ANAD, Professor Dr. Nelson Rassi (GO) Maurício Galvão Costa Anderson
Titular de Endocrinologia Faculdade de Dr. Orsine Valente (SP) ATMC - Av. São João, 56 sala 7
Medicina ABC Enfermeira Paula Pascali (SP) 12940-000 Atibaia – SP
Coordenação: Dra. Reine Marie Chaves (BA) tel/fax: (11) 4411-7629
Educadora Lilian Fanny de Castilho Dr. Saulo Cavalcanti da Silva (MG) cel: (11) 9218-0570
Editor: Dr. Jean-Louis Peytavin, Dr. Sérgio Atala Dib (SP) marketing@atlanticaeditora.com.br
faculdade de Medicina de Lyon (França)
Administração: Claudiane Benavenuto Apoios Redação
IDF - SACA : International Diabetes Jean-Louis Peytavin
Conselho Consultivo Federation South America Central America Av. Atlantica, 604 - 1102
Psicóloga Ada Verônica da Silva Maciel (SP) FENAD : Federação Nacional de Associa- 22010-000 Rio de Janeiro - RJ
Dr. Adolpho Milech (RJ) ções de Diabéticos tel/fax: (21) 244-6471
Dr. Airton Golbert (RS) ANAD : Associação Nacional de Assistên- atlantica1@globo.com
Dra. Alcina Vinhais (BA) cia ao Diabético
Dra. Ana Míriam G. Carboni (SP) COREN-SP : Conselho Regional de ISSN 1517-6428
Dr. Antônio Carlos Lerário (SP) Enfermagem de São Paulo © ATMC - Atlântica Editora Ltda
Dr. Arual Augusto da Costa (SP)
Dr. Balduíno Tschiedel (RS) Federação Nacional de Associações de Assinatura
Nutricionista Celeste Elvira Viggiano (SP) Diabéticos (FENAD) 6 números ao ano: R$ 60,00
Educador Cláudio Cancelliéri (SP) Associação Nacional de Assistência ao www.atlanticaeditora.com.br/assinaturas
Dr. Edgard d’Ávila Niclewicz (PR) Diabético (ANAD) tel: (21) 244-6471
Dr. Freddy Goldbert Eliaschewitz (SP) Rua Eça de Queiroz, 198
Dra. Geisa Macedo (PE) 04011- 031 São Paulo - SP I.P. (Informação publicitária)
Dra. Hermelinda Pedrosa (DF) tel: (11) 5572-6559 As informações são de responsabilidade dos
Dr. João Roberto de Sá (SP) fax: (11) 5549-6704 anunciantes
Dr. José Egídio Paulo de Oliveira (RJ) http://www.anad.org.br
Dr. Leão Zagury (RJ) anad@anad.org.br

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que uma verificação independente do diagnóstico e doses dos medicamentos seja realizada. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os
padrões de ética médica, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
71
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

EDITORIAL

Desafios e sucessos da Campanha de Diabetes do Ministério da Saúde

Fadlo Fraige Filho

A Campanha levada a cabo em todo o território brasileiro durante o


mês de março faz parte do Plano de reorganização da atenção ao Dia-
betes Mellitus e Hipertensão Arterial que é constituído por 4 fases.
Embora a mídia e para muitos e até para profissionais tenha sido
entendido apenas como uma Campanha é importantíssimo que se
entenda que estas 4 fases constituem o 1º Programa Nacional do
Governo Federal de Atenção ao Diabetes, planejado por uma comis-
são composta por membros do Ministério da Saúde, das Sociedades
de Profissionais das áreas de Diabetes e Hipertensão, Sociedade Bra-
sileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Diabetes, Sociedade
Brasileira de Hipertensão Arterial e FENAD (Federação Nacional
das Associações de Diabetes).
A primeira fase que foi iniciada em outubro de 2000 e foi até
fevereiro deste ano, constituiu-se na capacitação dos multiprofissio-
nais, principalmente médicos e enfermeiros para o atendimento dos
portadores de Diabetes na rede pública do SUS e das Secretarias de
Saúde dos Estados e Municípios. Esta capacitação partiu dos especi-
alistas em Diabetes que transmitiram para os profissionais de cada
Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho, região. Estes atuaram e ainda continuaram atuando como multiplica-
Coordenador - Editor Científico dores de conceitos básicos para o diagnóstico e tratamento corretos e
de Diabetes Clínica adequados do Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial associada,
bem como as hiperlipemias comuns a esses pacientes.
A 2ª fase, que constitui-se na Campanha de detecção, foi planeja-
da para 36 milhões de glicemias capilares, que teoricamente seria
suficiente para abranger a população acima de 40 anos. Teve como
objetivo principal a detecção dos 50% de portadores de Diabetes que
desconhecem a sua doença. Segundo os dados do estudo de preva-
lência do Ministério da Saúde, realizado em 1988 e 1989, este grupo
seria de dois e meio milhões de pessoas, e se mantido o mesmo per-
centual de 7,6%, obtido naquele estudo, na faixa etária de 30 a 69
anos, aplicado a atual população do ano 2000, seria de aproximada-
mente 4 milhões de pessoas.
Os dados ainda não foram totalmente compilados, no Brasil todo,
porém, parciais do Estado de São Paulo apontam para um índice en-
tre 12 e 13% de glicemias alteradas, alias índices iguais aos obtidos
72 Diabetes Clínica 02 (2001)

no estudo de prevalência realizado no Município de Como Presidente eleito da FENAD, neste ano de 1998
Ribeirão Preto (SP) usando os mesmos critérios do planejei e coordenei a 1ª Campanha Nacional de De-
Ministro da Saúde, que chegou ao índice de 12% no tecção, Educação, Orientação e Prevenção das Compli-
ano de 1999. Este índice de prevalência parcial obtido cações, tendo levado esta proposta para uma ação con-
está indicando que conforme dados de previsão da Or- junta em 1999 com o Ministério da Saúde, que foi re-
ganização Mundial de Saúde, o Diabetes Mellitus tipo jeitada por um membro do Comitê que entre outras ale-
2 deverá ter caráter epidêmico neste século 21, passan- gações colocava que “a rede de atendimento médico no
do dos atuais 160 milhões de portadores no mundo para país, não suportaria uma Campanha de 500 mil exa-
320 milhões nos próximos 25 anos. mes em aproximadamente 450 cidades”.
Os pacientes diagnosticados na Campanha, bem A falta de visão, a parcialidade das colocações e vai-
como aqueles já conhecedores da sua doença, foram dades individuais, impediu que com 2 anos de antece-
enviados para as Unidades Básicas de Saúde para o aten- dência o Ministério da Saúde participasse de tão impor-
dimento ambulatorial, onde serão acompanhados. Toda tante atividade.
medicação prevista para o tratamento será distribuída A verdade está aí – 36 milhões de exames realizados
gratuitamente, por verba própria do Ministério, através e não se tem noticias de nenhum tumulto, muito pelo
do referido plano ou ação conjunta com as Secretarias contrário, a grande receptividade por parte da popula-
de Saúde. ção, que com a motivação do plano e da Campanha re-
A 4ª fase do plano é o diagnóstico, encaminhamento ceberam inúmeras informações sobre Diabetes e durante
e tratamento das complicações crônicas do Diabetes, aproximadamente 45 dias muito se falou sobre a doen-
que serão realizados em Hospitais terciários, devida- ça, levando orientações, alertas, (até em novelas), e cons-
mente equipados e feitos por especialistas nas diferen- cientizando sobre o assunto.
tes áreas. Queremos deixar registrado que as ações de educa-
ção e detecção de Diabetes, são há muito tempo, a
Algumas verdades sobre a Campanha e o plano META das Associações, Ligas, Núcleos e Centros de
de atenção ao Diabetes todo o Brasil.
Aqui em São Paulo, a ANAD, em conjunto com as
1ª) Desde 1996, pessoalmente vinha insistindo com Secretarias de Saúde do ABC promoveu as primeiras
o então Sr. Ministro da Saúde, Dr. Adib Jatene, para um campanhas nos anos de 1984, 1985 e 1986, nos mes-
Programa de Atenção ao Diabetes e trocas de insulinas mos moldes do atual plano do Ministério da Saúde, por
animais para as humanas – pouco conseguimos. isso queremos dar o crédito de precursores do plano e
2ª) Em 1997 levamos as mesmas solicitações, em da Campanha às Associações de Diabéticos, Ligas,
nome da ANAD, ao Sr. Ministro Carlos Albuquerque. Núcleos de Centros de Diabetes, que há décadas vêm
3ª) No ano de 1998 o Sr. Ministro José Serra consti- realizando em suas cidades e que em conjunto com a
tui comitês de assessoramento nas diferentes áreas de FENAD, e as Secretarias de Saúde nos anos de 1998,
saúde, e o de Diabetes, do qual faço parte, e então pude 1999 e 2000 realizaram as primeiras três Campanhas
na 1ª Reunião, daquele ano atualizar a Relação Nacio- Nacionais.
nal de Medicamentos Essenciais (RENAME), com to- Em nome dos profissionais que trabalham em Dia-
dos os medicamentos disponíveis no mercado privado, betes e dos portadores, queremos deixar aqui nossa gra-
lembrando que até então apenas uma droga encontra- tidão ao Ministro José Serra e sua equipe, bem como a
va-se padronizada. Apresentei planilha de custos de todos os participantes da Comissão que integrou e ide-
Insulinas Humanas, por DNA recombinante, com cus- alizou o Plano de Atenção ao Diabetes Mellitus e Hi-
tos iguais as Insulinas animais adquiridas pelo Ministro pertensão Arterial.
da Saúde, para distribuição em todo território nacional.
Diabetes Clínica 02 (2001) 73

Informes do Diabetes no Mundo

Earl S. Ford et al., Prev Méd Consumo de frutas e legumes está inversamente associado à
2001;32:33-39, janeiro de 2001 incidência de diabetes

Pesquisadores afirmam que o alto consumo de frutas e legumes pode redu-


zir o risco de diabetes, especialmente em mulheres. O estudo do Centers for
Disease Control and Prevention, em Atlanta, avaliou adultos americanos de
25 a 74 anos que participaram do primeiro National Health and Nutrition
Examination Survey e que foram acompanhados por 20 anos.
Ao todo, 1018 indivíduos da amostra de 9.665 participantes apresentavam
diabetes. A porcentagem de indivíduos que consumiam cinco ou mais frutas
e legumes ao dia foi menor entre aqueles que desenvolveram diabetes do que
entre os que não desenvolveram.
Os autores calcularam que 19,6% dos homens diabéticos e 18,9% das mu-
lheres diabéticas consumiam cinco ou mais porções ao dia, comparados a
25,6% dos homens não diabéticos e 30,2% das mulheres não diabéticas. A
diferença foi estatisticamente significativa apenas entre mulheres.
Depois do ajuste de inúmeros fatores, incluindo idade, raça e pressão sis-
tólica, a razão de chances para os consumidores de cinco ou mais porções de
frutas e legumes ao dia comparados aos não consumidores foi de 0,73 para
todos os participantes, 0,54 para mulheres e 1,09 para homens.
Quando a escolaridade foi incluída no modelo, a razão de chances foi de
0,79 para todos os participantes, 0,61 para mulheres e 1,14 para homens.
Os autores concluem que os resultados corroboram os poucos estudos que
sugerem que o consumo de frutas e legumes reduz o risco de diabetes. Acres-
centam que a escolaridade pode se relacionar à incidência de diabetes por sua
relação positiva com o consumo de frutas e legumes.

Raida I. Harik-Khan et al, J Clin Distribuição de gordura no corpo influencia função pulmonar
Epidemiol 2001;54:399-406 em homens

Uma relação cintura-quadril (RCQ) elevada acarreta efeitos adversos em ho-


mens mais do que em mulheres. O estudo avaliou a associação entre a RCQ
e a função pulmonar em 1094 homens e 540 mulheres que participaram do
Baltimore Longitudinal Study of Aging, sendo que os pacientes tinham entre
18 e 102 anos. Foi observada uma associação inversa significativa entre RCQ
74 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 02 (2001)

Continuação e o volume expiratório forçado em 1 segundo (VEF1) em homens, mas não


em mulheres. Além disso, valores maiores da RCQ também estavam associ-
ados com reduções maiores na capacidade vital forçada em homens. Os auto-
res concluem que esta diferença na distribuição de gordura corporal parece
afetar os mecanismos torácicos em homens ao contrário das mulheres e que
esta distribuição diferente pode explicar a associação entre um baixo VEF1 e
um risco coronariano elevado.

Laura Baines et al, Diabetes Inibidor da ECA não altera a estrutura renal em pacientes
2001;50:843-850 diabéticos com albuminúria

Pesquisadores demonstram que os efeitos da terapia com inibidor da enzi-


ma conversora de angiotensina (IECA) em pacientes com nefropatia diabéti-
ca (redução da taxa de filtração glomerular e redução da excreção de albumi-
na) não são alcançados por amenizar anormalidades estruturais nos gloméru-
los. O estudo randomizou 54 pacientes para receber somente enalapril 10mg,
nifedipina retard 2 vezes/dia ou placebo. Todos os pacientes apresentavam
uma taxa de excreção de albumina elevada, mas eram normotensos. Aproxi-
madamente todas as biópsias mostraram lesões glomerulares significativas
no início do estudo. Foi observado que enalapril reduziu a taxa de excreção
de albumina de 26% após seis meses, entretanto esta redução não foi susten-
tada em três anos. Nifedipina e placebo não mostraram efeitos significativos
na taxa de excreção de albumina. A taxa de filtração glomerular foi reduzida
de forma similar nos três grupos de tratamento, com uma média de declínio
de 4ml/min/ano e em todos os grupos também não houve mudança na pres-
são arterial e nos níveis de hemoglobina A1c ao longo dos três anos de estu-
do. Os autores concluem que IECA não alterou a estrutura glomerular em
três anos.

Nish Chaturvedi et al, Os inibidores da ECA diminuem a progressão para a


Ann Intern Med macroalbuminuria em diabetes do tipo 1
2001;134:370-379,
março de 2001 Em pacientes normotensivos portadores de diabetes do tipo 1 e de micro-
albuminúria, o uso de inibidores da enzima de conversão da angiotensina
(ECA) reduz significativamente a progressão para a macroalbuminúria e au-
menta a possibilidade de regressão. O Diabetic Nephropathy Trialist Group,
Londres, realizou uma meta-análise dos dados de 12 estudos.
Os 698 pacientes observados eram diabéticos com microalbuminúria e
eram tratados por inibidores da ECA ou placebo e acompanhados pelo me-
nos durante um ano. A análise mostrou que em pacientes recebendo inibido-
res da ECA a progressão para a macroalbuminúria foi reduzida (odds ratio
0,38), e a regressão para a normoalbuminúria foi aumentada (odds ratio 3,07).
Dentre os 646 pacientes de 10 estudos, acompanhados por 2 anos, a taxa
de excreção de albumina foi reduzida em 50,5% em pacientes recebendo
inibidores de ECA em comparação com grupo placebo controle. Mesmo após
ajuste para a pressão sanguínea de repouso na primeira consulta de pós-ran-
domização, a redução da taxa de excreção de albumina era significativamen-
te em 45,1%. Em conclusão, os inibidores da ECA podem prevenir e até
reverter a disfunção renal, segundo os pesquisadores.
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 02 (2001) 75

Brazilian International Genome Pesquisa do genoma da cana pode levar a açúcar que engorda
Conference, Angra dos Reis, menos
abril de 2001
Um trabalho desenvolvido no Brasil promete levar a variedades de cana
cujo açúcar será menos calórico. O açúcar que engorda menos poderá ser um
dos primeiros frutos do desdobramento do Projeto Genoma da Cana-de-Açú-
car realizado por um consórcio de pesquisadores paulistas organizado pela
Fapesp. Os cientistas já deram por concluída a missão de seqüenciar os genes
ativos da cana. O trabalho levou à identificação de milhares de seqüências de
genes - acredita-se que a cana tenha cerca de 35 mil genes, 12 mil deles até
agora desconhecidos em outras plantas. Os genes que podem levar ao açúcar
menos calórico estão entre eles, mais precisamente entre os 200 genes de
metabolismo de carboidratos já identificados. “Descobrimos, um novo tipo
de açúcar na cana. Com o uso de novas tecnologias, seria possível produzir
novas variedades de cana, cujo açúcar será menos calórico”, explica o coor-
denador do projeto, Paulo Arruda, da Unicamp.
Os genes do metabolismo de açúcares são uma amostra do potencial do
projeto. Já se sabe que a cana compartilha muitos de seus genes com outros
cereais, como milho, trigo e arroz. A estratégia de seqüenciamento do DNA
da cana se baseou em se decodificar apenas os genes expressos, isto é, ativos
da planta. O DNA lixo, parte significativa do genoma, foi deixado de lado. A
estratégia deu ao país a maior coleção do mundo de seqüências de genes
expressos de um vegetal. “São informações valiosas pois a imensa maioria
dos genes da cana estão presentes nos cereais. E o Brasil é o segundo país do
mundo na produção de grãos”, frisa Arruda.

Michael Dosch et al, J Immunol Os pacientes portadores de diabetes de esclerose múltipla


2001;166:2831-2841, fevereiro de 2001 possuem auto-antígenos similares

Células T auto-reativas provenientes de pacientes diabéticos e portadores


de esclerose múltipla (EM) alcançam auto-antígenos em células de ilhotas e
no sistema nervoso central, segundo os pesquisadores, que mostram “que o
que protege geralmente os diabéticos da EM e os pacientes EM do diabetes
poderia ter conseqüências terapêuticas.” Eles analisaram a auto-reatividade
das células T em 38 pacientes com EM estável ou recidivante, 54 crianças
portadores de diabetes recentemente diagnosticado, 105 de seus familiares
no primeiro grau, e 34 indivíduos controle.
Fora de identificar os epítopos de proteína de mielina básica, as células T
provenientes de pacientes EM alcançaram freqüentemente os auto-antígenos
associados ao diabetes auto-imune, fenômeno que ocorre raramente com as
células T de indivíduos saudáveis.
Similarmente, as células T de dois terços dos pacientes diabéticos e de
seus familiares com risco elevado de desenvolver diabetes mostraram res-
postas proliferativas para pelo menos um antígeno associado à EM. Os pa-
rentes com risco baixo tinham menos desse tipo de células T auto-reativas.
A auto-imunidade em diabetes e EM alcança o mesmo conjunto de auto-
proteínas, sem seletividade de tecido ou de doença, segundo os pesquisadores,
para os quais existiria uma longa e clinicamente silenciosa fase de pré-EM,
análoga à do pré-diabetes. De acordo com Michael Dosch, “existe um forte
78 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 02 (2001)

Continuação consenso sobre o tratamento do diabetes, em um prazo razoável, por terapias


dirigidas para a cura precoce do pré-diabetes. Esperamos que pode ser possí-
vel também no caso do EM, para o qual os tratamentos atuais são ineficazes.”

Carla J. Greenbaum et al, Diabetes O diabetes do tipo 1 assintomático pode se manifestar somente
2001;50:470-476, março de 2001 através anormalidade do OGTT de 2 horas

Pesquisadores do Diabetes Prevention Trial of Type 1 Diabetes descobriram


um subgrupo anteriormente desconhecido de diabéticos do tipo 1 assintomáticos
e diagnosticados somente pelo teste oral de tolerância à glicose de 2 horas (OGTT).
O fato que estes pacientes apresentam glicose de jejum normal ou diminu-
ída sugere que fatores outros do que a diminuição da resposta insulínica de
primeira fase devem contribuir à tolerância a glicose pós-prandial em esses
pacientes, segundo os pesquisadores. Eles rastrearam os auto-anticorpos de
células de ilhotas em mais do que 65.750 parentes do primeiro e segundo
grau de pacientes portadores de diabetes do tipo 1. Dentre os indivíduos po-
sitivos, 585 apresentavam auto-anticorpos contra a insulina ou baixa respos-
ta da insulina de primeira fase, e foram testados por OGTT.
O diabetes foi identificado segundo o único critério do OGTT de 2 horas
em 61 indivíduos. Foi notado que pouco se sabe sobre a historia natural deste
tipo de fenótipo diabético, o risco de desenvolver um diabetes sintomático ou
os benefícios de uma intervenção precoce.
“Muitas pessoas entram no diabetes tipo 1 através este estádio no qual a
glicose sanguínea de jejum é normal e a pós-prandial anormal, mas, por
enquanto, não parece relevante de identifica-los. Alguns vão desenvolver uma
doença clínica, e não existe dados justificando um tratamento precoce”, se-
gundo Carla J. Greenbaum. Os autores recomendam uma avaliação freqüen-
te da progressão potencial da doença.

Guidance on Pioglitazone for Type 2 Pioglitazona reduz efetivamente os níveis da glicose sanguinea no
Diabetes Mellitus, National Institute diabetes do tipo 2
for Clinical Excellence, Londres, 9 de
março de 2001 O National Institute for Clinical Excellence (NICE) confirmou que a pio-
glitazona é eficaz para diminuir as taxas de glicose sanguínea em pacientes
portadores de diabetes o tipo 2. NICE recomenda que os pacientes que não
respondem a terapia conjugada metformina e sulfoniluréia, experimentam a
pioglitazona em combinação com metformina ou sulfoniluréia como alterna-
tiva ao tratamento por insulina.
NICE conclui que a pioglitazona, em combinação com metformina e
sulfoniluréia, pode ser uma opção menos onerosa do que a insulina para o
tratamento do diabetes do tipo 2, com uma diminuição de despesas de 12
milhões de libras para o NHS (National Health Service).
NICE notou também que a pioglitazona reduz os níveis de triglicérides e
aumenta os níveis de HDL-colesterol. Segundo John Betteridge, professor de
Endocrinologia da University College, Londres, “o tratamento do diabetes do
tipo 2! deve tomar em conta todos os fatores de risco que são uma parte do
síndrome altamente complexo da resistência à insulina. Vários estudos demons-
traram que a pioglitazona pode não só diminuir os níveis da glicose mas tam-
bém reduzir os triglicérides e aumentar o HDL colesterol, características da
dislipidemia presente na maioria dos pacientes diabéticos de tipo 2.”
80 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 02 (2001)

International Journal of Epidemiology As taxas de diabetes e hipertensão aumentam com o avanço da


2001;30:111-117, março de 2001 ocidentalização

As taxas de diabetes e hipertensão, ajustadas em função da idade, estão


aumentando com o avanço da ocidentalização entre as população de origem
africana. Pesquisadores de vários países (Inglaterra, Camarões, Jamaica e
França), realizaram estudos padronizados sobre a intolerância à glicose e a
hipertensão sanguínea em quatro populações representativas da origem afri-
cana: população de zona rural dos Camarões, população urbana dos Cama-
rões, população da Jamaica, e grupo de emigrantes dos Caribes na Inglaterra,
dos quais 80% provenientes da Jamaica.
O número de casos de diabetes aumentou com a ocidentalização. A taxa
de diabetes ajustada em fubnção da idade era de 0,8% na população rural dos
camarões. Ela aumenta para 2,4 e 8,5% nas populações urbanas dos cama-
rões e Jamaica, respectivamente. E 16,4% dos emigrantes do Caribe na In-
glaterra foram diagnosticados como portadores de diabetes.
O diagnóstico de hipertensão mostrou um aumento similar, com uma taxa
ajustada em função da idade de 7 e 16% respectivamente entre as populações
rurais e urbanas dos Camarões, o que deve ser comparado com as taxas de 21
e 34% de hipertensos entre as populações da Jamaica e dos emigrantes na
Inglaterra, respectivamente. Os fatores de riscos mostraram poucas altera-
ções, apesar que o IMC (índice de massa corporal) mostrou um aumento
similar ao da hipertensão e do diabetes.
Os autores concluem que o balanço energético e as influências sócio-eco-
nômicas têm muito mais importância na origem do diabetes e da maioria das
doenças crônicas do que os fatores étnicos ou genéticos. Entretanto o genóti-
po é menos importante do que o fenótipo. Eles sugerem que nas sociedades
ocidentalizadas com prevalência relativamente baixa de diabetes e doenças
crônicas, o rastreamento genético é bastante ineficaz e impreciso. O rastrea-
mento genético nestes grupos é geralmente oneroso e pouco confiável. En-
tretanto, os autores acrescentam que seria possível identificar deflagradores
ambientais que influenciam os genes.

Julio Rosenstock et al, Diabetes Care Insulina de longa ação reduz risco de hipoglicemia noturna no
2001;24:631-636 diabetes tipo 2

A insulina glargina menos provavelmente leva à hipoglicemia noturna e


associa-se menos ao ganho de peso do que a NPH. O estudo multicêntrico
avalia pacientes em uso de insulina por pelo menos três meses. Para o ensaio
de 28 semanas, 259 pacientes foram aleatoriamente escolhidos para o trata-
mento com insulina glargina ao deitar e outros 259, para tratamento com
NPH ao deitar ou pela manhã e ao deitar. Os medicamentos foram individua-
lizados com base em glicose sérica alvo de jejum de 4,4 a 7,8mmol/l. A
insulina regular antes das refeições foi mantida conforme uso habitual. Os
pacientes apresentaram melhoras na HbA1c e na glicose de jejum durante o
estudo, sendo as diferenças não significativas. Nove pacientes sob tratamen-
to com insulina glargina e sete com NPH foram retirados do estudo por efei-
tos adversos. Dor leve no sítio de injeção foi mais freqüente no grupo da
insulina glargina. Redução de 25% na hipoglicemia noturna foi alcançada no
grupo da insulina glargina em relação ao grupo da NPH. Um paciente do
grupo da insulina glargina apresentou hipoglicemia grave, enquanto seis o
82 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 02 (2001)

Continuação fizeram no grupo da insulina NPH. Os pacientes tratados com insulina glargi-
na apresentaram menor ganho ponderal, qual seja, 0,4 versus 1,4 kg no grupo
da NPH. Segundo os autores, a menor hipoglicemia noturna reflete o perfil
sem picos de atividade da insulina glargina em relação ao pico de NPH, o que
pode resultar em concentrações maiores de insulina à noite quando a NPH é
administrada ao deitar. Os autores sugerem que o maior ganho ponderal se
deva à ingesta calórica adicional do grupo da NPH na tentativa de compensa-
ção da hipoglicemia.

Vera Bril et al, Diabetes Testes simples de rastreamento identificam neuropatia periférica
Care 2001;24:250-256, em pacientes diabéticos
fevereiro de 2001
Pesquisadores demonstram que três testes simples podem rapidamente
identificar pacientes diabéticos quanto à neuropatia periférica. O estudo ava-
liou a eficácia de quatro manobras de rastreamento comparadas com testes
eletrofisiológicos para o diagnóstico de neuropatia periférica em 478 pacien-
tes diabéticos. Os quatro testes foram o exame do monofilamento Semmes-
Weinstein (MSW), sensibilidade dolorosa superficial, teste vibratório pelo
método on-off e pelo método do tempo.
Foi observado que os testes apresentaram características semelhantes, com
um resultado positivo, representado como cinco respostas incorretas a 8 estí-
mulos, e negativo se até uma resposta fosse incorreta aos 8 estímulos, além
de sensibilidade e especificidade comparáveis.
Os autores concluem que dos quatro testes, MSW, teste da vibração on-off
e o da sensibilidade dolorosa foram considerados os mais fáceis de serem
realizados e podem ser feitos ao nível ambulatorial, devendo, portanto, o
médico escolher um deles e realizá-lo rotineiramente em seus pacientes dia-
béticos.

Ann Intern Med 2001;134: Insulina inalada no tratamento do diabetes do tipo 2


203-207, fevereiro de 2001
A absorção pulmonar da insulina melhorou o controle glicêmico em paci-
entes portadores de diabetes do tipo 2 sem efeitos adversos pulmonares du-
rante um período de tratamento de 3 meses. Este estudo aberto e randomiza-
do avaliou a eficácia e a segurança do tratamento com insulina inalada em 26
pacientes portadores de diabetes do tipo 2. Os pacientes foram observados
durante uma consulta de rastreamento, uma fase de 4 semanas de linha base e
uma fase de 12 semanas de tratamento.
Eles receberam insulina inalada antes cada refeição com uma aplicação de
insulina ultralente ao deitar. Os pacientes realizaram testes de monitorização
da glicose em casa e a dose de insulina era ajustada cada semana de acordo
com o objetivo de alcançar um nível de glicose plasmática pré-prandial de
5,55 até 8,88 mmol/l.
Os resultados mostraram que o controle glicêmico melhorou significativa-
mente após insulina inalada em comparação com a linha base. O tratamento
foi bem tolerado e os testes da função pulmonar não detectaram efeitos ad-
versos após três meses.
84 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 02 (2001)

New Mexico School of Medicine, Jejum e desidratação têm efeitos diferentes sobre a patogênese
Albuquerque, New Mexico, Metabolism da cetoacidose diabética
Clinical and Experimental 2001; 50(2),
fevereiro de 2001 Variações nas concentrações da glicose plasmática na cetoacidose diabéti-
ca resultam provavelmente da importância do jejum pré-existente e da desi-
dratação. Os pesquisadores observaram que a glicemia varia muito em paci-
entes em estado de cetoacidose: concentrações de glicose plasmática entre
10 e 50 mmol/l são comuns, mas o mecanismo desta variabilidade da glice-
mia fica pouco conhecido. O estudo observou os efeitos do jejum e da desi-
dratação sobre a hiperglicemia induzida pela remoção da insulina em diabé-
ticos do tipo 1.
Para avaliar os papeis respectivos do jejum e da desidratação, foram ob-
servados 25 pacientes portadores de diabetes do tipo 1 durante 5 horas sem
tratamento de insulina antes (controle) e após 32 horas de jejum (n = 10) ou
desidratação de 4,1% ± 2,0% do peso corporal (n = 15).
Amostras sanguínea foram efetuadas cada 30 minutos durante a remoção
de insulina para determinar os níveis da linha base de hormônio contra-regu-
latório e as taxas de produção e de disponibilidade da glicose.
O jejum resultou em concentrações de glicose plasmática mais baixas e a
desidratação em concentrações mais elevadas do que nos casos controle.
Assim, em comparação com os controles, a produção de glicose cai durante a
fase de jejum e aumenta durante a fase de desidratação.
As concentrações de glucagon e as taxas de desenvolvimento de cetose e de
acidose metabólica aumentam durante ambos o jejum e a desidratação, em
comparação com controles. Esses dados sugerem que o jejum e a desidratação
têm efeitos diferentes sobre a glicemia durante a deficiência da insulina. A
desidratação favorece a hiperglicemia e o jejum resulta em diminuição das con-
centrações da glicose. Esses resultados foram atribuídos às diferenças na dispo-
nibilidade do substrato e às concentrações de hormônio contra-regulatório.

Robert Moses et al, Diabetes Care A repaglinida melhora o controle glicêmico sem ganho de peso
Diabetes Care 2001; 24:11-15, significativo em diabetes do tipo 2
janeiro de 2001
Um estudo multinacional mostra que o agente antidiabético oral repaglini-
da (Novonorm, Prandin), associado a dieta com horários variáveis, melhora
o controle glicêmico sem aumento significativo do peso corporal em pacien-
tes diabéticos do tipo 2. Os resultados são importantes porque o ganho de
peso é um problema comum com vários agentes antidiabéticos com também
com a insulinoterapia, e o excesso de peso aumento os riscos no caso do
diabetes do tipo 2.
O ganho de peso é conhecido para ser associado com terapias que aumenta a
exposição total do paciente à insulina, incluídos os agentes antidiabéticos de lon-
ga ação, tais como as sulfoniluréias ou certas formas de insulina. Isso é um desa-
fio pra o especialista porque o excesso de peso contribui para o desenvolvimento
do diabetes tipo 2 como também para as complicações cardiovasculares.
A repaglinida pertence à classe das “glinidas” que estimulam rapidamente a
secreção de insulina, o que faz que ela é especialmente preferida para o período
da refeição, quando o organismo precisa de insulina. A interrupção da estimu-
lação da secreção de insulina ocorre também muito rapidamente e o risco de
hipoglicemia é menor do que com os agentes antidiabéticos de longa ação.
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 02 (2001) 85

Continuação Em um estudo duplo-cego controlado por placebo, 408 pacientes de 61


centros em 13 países portadores de diabetes tipo 2 foram randomizados para
receber repaglinida 0,5 – 1,0 mg (n- 270) ou placebo (n = 138), imediatamen-
te antes a refeição principal. Os pacientes nunca foram tratados por agentes
antidiabéticos orais e eram livres de seguir horários flexíveis de refeições
durante as 16 semanas do estudo.
Um total de 316 pacientes completaram o estudo. Os que tomaram repa-
glinida mostraram uma melhora significativa do controle glicêmico, como
demonstrado pela diminuição média de 1,14% da HbA1c e a diminuição de
1,8 mmol/l da glicose plasmática de jejum (dois resultados significativos p <
0,001). Estas melhoras foram obtidas sem aumento significativo do peso cor-
poral (ganho médio de peso: 0,35 kg, não significativo), qualquer sejam os
padrões de refeições dos pacientes. Não foi observada melhora do controle
glicêmico em pacientes tratados por placebo et foi observado um pequeno
ganho de peso, não significativo.
Como previsto, os efeitos adversos os mais freqüentes foram episódios de
hipoglicemia, reportados por 17% dos pacientes tratados por repaglinida e
3% dos pacientes controle. Os outros efeitos adversos foram raros e similares
nos dois grupos. Os mais comuns efeitos reportados por vários estudos, fora
da hipoglicemia, são os sintomas de resfriado, dor de cabeça, diarréia, dores
das articulações e das costas.

Pediatric Diabetes 2000; 1: 142-149, Agulhas mais finas não diminuem a dor da aplicação de insulina
janeiro de 2001 em crianças

A diminuição do diâmetro das agulhas de injeção de 0,4 para 0,3 mm não


diminuiu a percepção da dor durante as aplicações de insulina, segundo pes-
quisadores do Udevalla Hospital, da University de Linköping na Suécia e da
Novo-Nordisk, Dinamarca, em dois estudos randomizados e duplo-cego.
Estudo A: 60 crianças e adolescentes de 9 a 21 anos receberam injeções
com 3 agulhas: Novo 27G/13 mm (N27), B-D MicroFine IV 28G/13 mm
(B28) e NovoFine 28 G/12 mm (N28).
Estudo B: 40 crianças e adolescentes de 8 a 20 anos receberam também
injeções com 3 agulhas: NovoFine 28G/12 mm (N28), B-D MicroFine+ 29G/
13 mm (B29) e NovoFine30G/8 mm (N30).
As aplicações foram feitas com um ângulo de 45o em uma dobra de pele
em lugares diferentes (abdômen e coxa). A dor foi avaliada usando uma es-
cala visual análoga. Os resultados não mostraram diferenças significativas
na percepção da dor nos dois estudos. O sangramento era menos comum com
a agulha B29 (35,5%) comparada com a agulha N28 (48,1%). Nenhuma dife-
rença foi observada entre as agulhas B29 e N30. Nenhuma diferença entre as
agulhas foi observada para o vazamento de insulina, que ocorreu em todos os
casos em 14% das injeções abdominais e 25% das aplicações na coxa. Se-
gundo os pesquisadores, a diminuição do diâmetro de 0,4 para 0,3 mm não
parece diminuir a sensação de dor neste grupo de idade.
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 02 (2001) 87

Tiinamaija Tuomi et al, J Clin Grupos de diabéticos tipo 1 e tipo 2 nas mesmas famílias
Endocrinol Metab 2001;86:574-582,
marco de 2001 A interação de um antígeno HLA (human leukocyte antigen) poderia ex-
plicar a ligação genética entre os diabetes tipo 1 e 2, segunda a pesquisa de
Tiinamaija Tuomi et al. Eles estudaram no haplótipo HLA a expressão dos
anticorpos do ácido glutâmico descarboxilase (GADab) em 695 famílias nas
quais mais de um membro da família é portador de diabetes tipo 2. 14%
dessas famílias eram “misturadas”, tendo membros portadores também de
diabetes tipo 1
GADab e o genótipo HLA DQB1*0302/X foram encontrados com maior
frequëncia em diabéticos tipo 2 de famílias misturadas do que em diabéticos
tipo 2 de famílias com somente portadores de diabetes tipo 1. Os membros da
famílias misturadas com haplótipos de risco de classe II demonstraram res-
posta insulínica diminuída à teste de glicose oral, em comparação com paci-
entes não portadores desse haplótipo. Os pesquisadores concluem que diabe-
tes tipo 1 e 2 se encontram nas mesmas famílias. A susceptibilidade genética
ao diabetes tipo 1 conferida pelo lócus HLA predispõe à diminuição da fun-
ção da célula β em pacientes portadores de diabetes tipo 2.
88 Diabetes Clínica 02 (2001)

O Diabetes na Imprensa
2,5 milhões podem descobrir diabetes
25 de março de 2001 Cerca de 2,5 milhões de brasileiros terão um motivo importante para não
esquecer estas semanas de março. Ao longo deste mês, eles receberam ou
estarão recebendo a notícia, ainda preliminar, de que são diabéticos. Estima-
se que metade desse contingente nem desconfiasse que era portador da doen-
ça. Passado o susto da má notícia, a maioria vai constatar que seria muito pior
se não tivesse feito o teste e não fosse informado do resultado. Diagnosticado
no início e devidamente tratado, o diabetes pode ser controlado. No caso
contrário, a doença fará estragos graves quando aparecer, podendo provocar
derrames, amputações, cegueira e problemas cardíacos.
Reduzir os danos dessa doença silenciosa é o propósito da campanha do
Ministério da Saúde iniciada o dia 6 de março. Ana Luiza Vilasboas, coorde-
nadora da Campanha Nacional de Diabetes, diz que o SUS tem infra-estrutu-
ra para receber esse novo contingente de diabéticos, equivalente a mais de
duas vezes e meia a população de Campinas, em São Paulo. Segundo ela,
medicação e insumos – como fitas e aplicadores de insulina – já estão previs-
tos no orçamento. Além das 30 mil unidades de saúde – que receberão apare-
lhos glicosímetros para medir a glicose no sangue – cerca de 38 milhões de
pessoas já estão acompanhadas pelo programa de Saúde da Família.
Ainda falta um treinamento adequado dos profissionais. Segundo ministé-
rio, 5.500 multiplicadores municipais estão sendo treinados para atualizar
cerca de 40.000 profissionais da rede básica em todo o país.
Na prática, a realidade não é tão animadora. “O SUS não coloca à dispo-
sição todos os tipos de insulina e muitas cidades não recebam nenhum dos
tipos”, diz Lílian Fanny de Castilho, diretor-executiva da ANAD, Associa-
ção Nacional de Assistência ao Diabético. Com uma rede de pacientes em
todo o Estado de São Paulo e contatos com associações de muitas regiões, a
ANAD é um dos muitos “olhos” das entidades de pacientes diabéticos.
Hoje em São Paulo, pela Lei 10.782.01, cujo projeto é de autoria do depu-
tado Roberto Gouveia (PT), o SUS deve garantir medicamentos e insumos
para o autocontrole – glicosímetros e fitas – e auto-aplicadores de insulina.
Significa que cada paciente dependente da insulina terá direito a um aparelho
medidor da glicose (custo entre R$ 100,00 e R$ 200,00) e fitas para os testes,
que consomem cerca de R$ 50,00 a R$ 90,00 por mês. Um grupo a ser coor-
denado pela Secretaria de Estado da Saúde, com participação de entidades et
usuários, deverá detalhar a lei numa “norma técnica”.
“Oferecer condições para que o paciente e sua família tenham autonomia
no controle e tratamento do diabetes é a forma mais barata de evitar os
altíssimos custos da doença,” diz Gouveia.
Em 1999, O SUS gastou R$ 33 milhões com internações decorrentes de
complicações com o diabetes. Os Estados Unidos estimam em US$ 130 bi-
lhões por ano as perdas com tratamento e custos indiretos dessa doença.
O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 02 (2001) 89

Associações auxiliam pacientes


25 de março de 2001 As mais de 300 associações de diabéticos em atividade no país ilustram a
importância do trabalho de formiga que ONGs e voluntários vêm realizando.
O diabetes é uma doença que avança sem dar sinal e, quando diagnosticada,
exige cuidados cotidianos. Sem o apoio de associações e grupos de pacien-
tes, o abandono do tratamento seria maior.
No sobrado que abriga a Associação Nacional de Assistência ao Diabético
(ANAD), em São Paulo, a psicologia Ada verônica lida primeiro com o medo
dos pacientes, geralmente adultos que descobriram ser diabéticos necessitan-
do de insulina. “Imaginam que são pacientes graves porque precisam de
insulina”, diz a psicóloga. “Quando descobrem que todo organismo necessi-
ta de insulina, aderem ao tratamento e passam a viver melhor.”
Ada descobriu que tinha diabetes do tipo 1 aos 22 anos. Desde então ela se
aplica insulina duas vezes ao dia.
No mesmo sobrado, a voluntária Maria de Fátima Borges, bancária apo-
sentada, diabética há seis anos, é a primeira a receber os novos pacientes.
“Eles chegam desorientados e deprimidos”, diz Maria. “Ficam mais clmos
quando digo que também sou diabética.”
As associações, reunidas na Federação Nacional das Associações de Dia-
béticos (FENAD), são pontos de encontro de pacientes que chegam pedindo
informação e ajuda ou que já participam dos grupos. São também uma espé-
cie de “mercadinho para diabético”, onde o paciente pode encontrar de ali-
mentos a publicações.

Plantas podem controlar glicose

25 de março de 2001 As novas insulinas são cada vez mais eficazes, têm menos efeitos colate-
rais e são mais fáceis de aplicar. Mas, para muitos pacientes, o sonho ainda
está numa “cura” ou num controle que possa vir das plantas e dos alimentos.
Os resultados ainda estão restritos aos ratos, “mas são animadores”, diz
Jecelem Mastrodi Salgado, professora titular da Esalq-USP, Escola Superior
de Agricultura Luiz de Queiroz.
Entre as várias pesquisas sobre alimentos que coordena, pelo menos três
estão relacionadas ao diabetes. Uma delas é com a Cissus cyclod, trepadeira
conhecida como “insulina vegetal”.
“Nas pesquisas, essa planta tem diminuído o nível de glicose no sangue”,
diz Jecelem. Outro estudo vem sendo feito com a manga. Os pesquisadores
destruíram as células bêta do pâncreas, que produzem insulina, deixando os
ratos diabéticos. “Com o emprego da manga, notou-se um aumento da insu-
lina nos bichinos.”
A mesma professora – autora do livro “Previna Doenças, Faça do alimen-
to o seu medicamento (Ed. Adras) – coordena um estudo com o feijão guan-
do, que também reduziria a glicose. “O próximo passo serão trabalhos com
humanos, coordenados por endocrinologistas”, diz.
90 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 02 (2001)

Um terço dos diabéticos não recebe tratamento necessário para


Ophtalmology evitar a perda de visão
março de 2001
Mais de um terço dos portadores de diabetes não recebe o tratamento mé-
dico necessário para evitar a perda de visão, segundo George Blankenship,
presidente da American Academy of Ophtalmology O alto nível de açúcar no
sangue associado ao diabetes pode danificar os vasos sanguíneos da retina,
região sensível à luz no fundo do olho. A doença que resulta desta degenera-
ção, chamada de retinopatia diabética, deixa 8 mil pessoas cegas a cada ano
apenas nos Estados Unidos. Os primeiros sinais de retinopatia diabética po-
dem ser observados em um exame em que a pupila é dilatada por colírios e a
retina pode ser vista claramente Em uma pesquisa com 2.308 portadores de
diabetes, uma equipe de pesquisadores verificou que 35% dos pacientes não
havia sido submetido a um exame com dilatação de pupila no ano anterior.
Deste grupo, um terço foi submetido a exame sem dilatação da pupila. Os
portadores de diabetes do tipo 1, que pode causar perda de visão mais severa,
observaram mais as orientações de tratamento, verificaram os pesquisadores.
Pacientes mais velhos e os que receberam programas de educação formal
sobre diabetes foram mais propensos a ser submetidos anualmente a exame
ocular com dilatação de pupila. As pessoas que não seguiram as orientações
tenderam a procurar um optometrista (especialista na medição da acuidade
visual) para cuidar do olho em vez de procurar um oftalmologista.
Diabetes Clínica 02 (2001) 91

Avanços terapêuticos e tecnológicos


S Schumacher et al, Diabetologia Farmacocinética da repaglinida em pacientes portadores de
1999;42:A242 diabetes tipo 2 apresentando ou não diminuição da função renal

Objetivos: Comparar a farmacocinética da repaglinida após dose única ou


múltipla em pacientes diabéticos do tipo 2, apresentando ou não diminuição
da função renal.
Metodologia: Estudo aberto, em centro único, com grupo paralelo. Após
avaliação da clearance da creatinina (Clcr), 34 pacientes (idade 45-75 anos)
foram separados em três grupos, em função do grau de insuficiência renal;
normal (NORM), leve/moderada (MOD) e severa (SEV). Os pacientes rece-
beram uma dose única 2 mg nos dias 1 e 5, e 3 doses 2 mg em pré-prandial
nos dias 2-4. Amostras de sangue foram coletadas durante 24 horas (dia 1) e
48 horas (dia 5) para observar os perfiles plasmáticos da repaglinida.
Resultados: AUC (área embaixo da curva) diminuiu quando CLcr aumenta
ambos nos dias 1 (p = 0,03) e 5 (p = 0,01). Quando os pacientes SEV foram
excluídos, a correlação entre AUC e CLcr nos dias 1 (p = 0,88) e 5 (p = 0,75)
desapareceu. Os valores médios de AUC após dose única (dia 1) ou múltipla
(dia 5) foram similares (aproximadamente 55 ng/ml.h) para os pacientes
NORM e MOD. Os valores de AUC em pacientes SEV foram aproximada-
mente 1,5 (dia 1) para 1,75 (dia 5) vezes mais elevados em comparação com
os outros grupos, o que é estatisticamente significativo. AUC aumentou a
partir dos dias 1-5 nos três grupos: para 5% no grupo NORM (NS), 21% no
grupo MOD (p = 0,0002) e 27% no grupo SEV (p = 0,0001). A taxa média de
eliminação e os valores de t½ foram similares para os pacientes NORM e
MOD nos dias 1 e 5, enquanto que para os pacientes SEV, a taxa de elimina-
ção foi similar no dia 1 mais menor do que nos dois outros grupos no dia 5 (p
= 0,014/0,017 respectivamente). Nos dias 1-5, foram observadas poucas
modificações da taxa de eliminação nos grupos NORM e MOD mas uma
diminuição significativa de 0,27/h (p = 0,019) no grupo SEV, com um au-
mento correspondente do t½ de 1,5 h no dia 1 para 3,6 h no dia 5 nesse grupo.
O perfil de segurança geral foi similar nos três grupos.
Conclusões: Os grupos de função renal NORM e MOD não podiam ser
distinguidos para todos os parâmetros farmacocinéticos estudados, enquanto
que o grupo SEV divergiu significativamente no que se refere a AUC e
taxa de eliminação. Por isso, baseando-se em considerações farmacociné-
ticas, os pacientes apresentando uma diminuição leve a moderada da fun-
ção renal podem ser tratados com repaglinida.
94 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 02 (2001)

B Ludvik et al, Department Melhora da sensibilidade à insulina e da tolerância à glicose em


of medicine, University of diabéticos do tipo 2 tratados com caiapó
Vienna, Austria; LADSEB-
CNR, Padova, Itália, 36th Objetivos: Resultados primários de estudos não controlados sobre Caiapó,
Annual Meeting of the extrato de batatas doces brancas, demonstrou uma melhora do controle da glico-
EASD, Jerusalem, Israel, se em ratos e em pacientes diabéticos do tipo 2. O objetivo desse estudo duplo-
17-21 de setembro de 2000 cego, randomizado, controlado por placebo foi de avaliar a eficácia, a tolerabili-
dade e o modo de ação de Caiapó em pacientes portadores de diabetes tipo 2.
Material e métodos: Efetuamos teste de tolerância oral (75 g) e testes fre-
qüentes de tolerância à glicose endovenosa (FSIGT) com modelos matemáti-
cos antes e após 6 semanas de administração oral diária de 2 g (B-baixa) ou 4
g (A-alta) de Caiapó ou placebo (P) em 18 homens diabéticos (idade = 58 ± 8
anos, IMC = 27,7 ± 2,7 kg/m2).
Resultados: Todos os resultados são dados como médios ± DP. Os 6 paci-
entes em cada grupo foram avaliados para a idade, IMC e glicose plasmática
de jejum (FPG). FPG mostrou uma diferença significativa (p < 0,05) entre os
respectivos grupos na sexta semana (7,1 ± 0,3 em H, 8,7 ± 0,3 in L, 8,6 ± 0,7
mmol/l in P). Após tratamento o ratio entre glicose e insulina AUC1 durante
OGTT estava significativamente menor em A em comparação com P (0,07 ±
0,07 vs. 0,11 ± 0,02 mg min/dl, p < 0,05). O índice de sensibilidade à insulina
(SI) avaliado a partir do FSIGT aumentou em B em 37% (2,0 ± 1,7 vs. 2,8 ±
2,2 (104 min-1/(µU/ml), p < 0,05) e em A em 42% (1,2 ± 0,8 vs. 1,7 ± 1,0 (104
min-1/(µUml), p < 0,05). Nenhuma modificação foi observada no grupo pla-
cebo. A eficiência da glicose e a extração hepática da insulina não foram
modificadas pelo tratamento com Caiapó. Nenhum efeito adverso foi obser-
vado.
Conclusões: O tratamento a curto prazo com Caiapó foi bem tolerado e
aumenta significativamente a sensibilidade à insulina e a tolerância à gli-
cose em pacientes portadores de diabetes do tipo 2, proporcionalmente à
dose. Esses achados necessitam estudos mais extensos sobre o caiapó para
avaliar o seu potencial no tratamento do diabetes do tipo 2.

E. Jungmann, T. Helling, Melhora persistente do controle metabólico em diabetes do tipo 2


G. Jungmann, C. Mertens, controlado por tratamento intensivo de insulina usando insulina
U. Snelting, St. Vincent’s Hospital lispro
Rheda-Wiedenbrück, Germany 36th
Annual Meeting of the EASD, Introdução e objetivos: Em pacientes diabéticos do tipo 2 do UKPDS, a
Jerusalem, Israel, 17-21 de prevenção da deterioração metabólica progressiva pela terapia insulínica con-
setembro de 2000 vencional (CIT) era bem menos satisfatória do que previsto. Decidimos ob-
servar se um tratamento intensivo com insulina (IIT) utilizando insulina lis-
pro poderia dar resultados a longo prazo, no que se refere ao controle meta-
bólico, peso corporal e microalbuminúria.
Material e métodos: Avaliamos os dados clínicos de 50 pacientes diabéti-
cos do tipo 2 (idade: 62 ± 2 anos, duração conhecida da doença: 10 ± 2 anos,
HbA1c: 9,7 ± 0,4%), acompanhados durante três anos após participação em
nosso programa de tratamento e treinamento. 25 pacientes tinham CIT com
duas aplicações diárias de insulina. 10 pacientes tinham IIT com insulina
humana normal (NI) e 15 pacientes usavam insulina lispro.
Resultados: Em todos os grupos, foi observada uma melhora persistente do
controle metabólico (HbA1c: 7,4 ± 0,3%, p < 0,01 vs. antes tratamento). Com
96 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 02 (2001)

lispro, HbA1c era 6,7 ± 0,3% vs. NI, 7,9 ± 0,5% (p < 0,05), e o ganho de peso foi
em +0,8 ± 0,3 kg/m2 vs. NI, +2,0 ± 0,5 kg/m2 (p < 0,05). A pressão sanguínea
média era 153/83 ± 4/3 mmHg e não foi modificada pelo tratamento insulínico.
Conclusão: Em nossos pacientes diabéticos do tipo 2, uma melhora meta-
bólica persistente e um ganho de peso mínimo foram obtidos após 3 anos
de tratamento IIT utilizando insulina lispro.

N. Peled, G. Moss, Avaliação da exatidão do sistema de teste da glicose sanguínea


M. Yung, Amira Medical, AtLast
Scotts Valley, CA, USA,
36th Annual Meeting of Introdução e objetivos: A performance dos glicosímetros usados em casa
the EASD, Jerusalem, é uma modalidade importante no manejo do diabetes. O sistema da glicose
Israel, 17-21 de setembro sanguínea AtLast, da empresa Amira Medical (Scotts Valley, Califórnia), é
de 2000 um sistema inovador. Ele mede as concentrações da glicose em sangue capi-
lar obtido a partir de lugares com poucas terminações nervosas, tais como o
antebraço, evitando assim as picadas dolorosas do dedo. AtLast combina tes-
te de glicose com amostras de sangue em sistema todo-em-um. O sistema é
aplicado sobre o antebraço e um leve movimento de pressão faz aparecer
ume pequena amostra de sangue na pele. Por ação capilar o sangue entre na
área reativa do teste, onde ocorrem as reações químicas. Reportamos os re-
sultados de um estudo desenhado para determinar a exatidão e a reprodutibi-
lidade dos resultados de um grande número de sistemas AtLast, como tam-
bém a performance de lotes de tiras.
Material e métodos: O estudo avaliou a performance de 46 glicosímetros,
um para cada participante. Cada indivíduo foi testado duas vezes com um de
dois lotes de tiras, totalizando 4 medidas por indivíduo. Os resultados foram
comparados com a glicose capilar plasmática medida com o YSI 2300 Glu-
cose Analyzer (Yellow Springs Instruments, Ohio).

Resultados:
Amostras Slope Intercept correlação

Tiras lote 1 92 1,03 2,59 0,968


Tiras lote 2 91 1,02 3,97 0,966

Conclusões: O estudo mostra a excelente reprodutibilidade dos sistemas


AtLast como demonstrado pela exatidão dos dados dos 46 equipamentos
usados. Resultados comparáveis foram também obtidos pelos lotes de ti-
ras de testes AtLast, indicando uma performance confiável.

T.M. Wallace, D.R. Matthews, Oxford Uso de um sensor de cetona sanguínea portável e sua aplicação
Centre for Diabetes, Endocrinology clínica para separar a cetose da simples hiperglicemia
and Metabolism, The Radcliffe
Infirmary, Oxford, UK, 36th Annual Introdução: Estudamos o uso de um sensor eletroquímico de cetona (Me-
Meeting of the EASD, Jerusalem, disense da Abbott) que produz em 30 segundos um sinal elétrico proporcio-
Israel, 17-21 de setembro de 2000 nal à concentração de alfa-hidroxibutirato (alfa-OHB). Usando duas tiras di-
ferentes, o sistema permite medir alfa-hidroxibutirato e glicose a partir da
mesma amostral de sangue do dedo.
98 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 02 (2001)

Continuação Objetivos: Estudar a relação entre a glicose sanguínea e a cetona sanguí-


nea em pacientes apresentando ou não descompensação metabólica para de-
senvolver recomendações clínicas sobre o uso do sensor de corpos cetônicos
em casa e no hospital.
Métodos: Foram recrutados 20 pacientes portadores de diabetes do tipo 1.
O sangue obtido por picada do dedo para medição da glicose foi testado para
alfa-OHB usando o sensor de cetona sanguínea em 14 pacientes do ambula-
tório e em 6 pacientes hospitalizados por cetoacidose. As concentrações de
alfa-OHB foram também medidas na entrada usando um metido enzimático
(Sigma diagnostics).
Resultados: 862 resultados de glicose e alfa-OHB em 14 pacientes sem
evidência de descompensação metabólica demonstraram que os níveis de alfa-
OHB não ultrapassaram 1 mmol/l, qualquer seja os níveis da glicose. O nú-
mero médio de leituras alfa-OHB/glicose foi 61,6, com um período médio de
acompanhamento de 30 dias. Na série de 6 pacientes com cetoacidose, as
concentrações de alfa-OHB ultrapassaram 3,8 mmol/l na entrada (intervalo:
3,9 – 9,34). Os pacientes foram observados durante um período médio de
49,4 horas e o número médio de leituras de alfa-OHB foi de 21,8 por indiví-
duo. A meia-vida média do alfa-OHB foi de 10,9 horas. O tempo necessário
para as concentrações de alfa-OHB cair para 1 mmol/f foi entre 10 e 54,5
horas.
Conclusão: A medição da cetona sanguínea do paciente é um teste útil ao
lado do monitoramento da glicose e apresenta a vantagem de separar a ceto-
se da simples hiperglicemia. Os dados do estudo sugerem como recomenda-
ção clínica que nível de cetona > 1 mmol/l necessitaria consulta médica.

Lawrence S. Cozma et al, 17th Efeitos da repaglinida oral sobre os perfis da glicose e insulina
International Diabetes pós-prandial
Federation Congress, Mexico
City, Mexico, 5 a 10 de Repaglinida é o primeiro membro da nova classe de secretagogos de insu-
novembro de 2000 lina de ação curta (família do ácido benzoico carbamoilmetil) disponíveis
para o uso clínico no tratamento do diabetes tipo 2. Esse estudo foi desenha-
do para observar os efeitos de doses únicas variáveis pré-prandiais de repa-
glinida sobre os perfis da glicose e da insulina durante um teste de tolerância
(refeição de 500 kcal). Estudamos 8 pacientes diabéticos do tipo 2, controla-
dos por dieta (7 homens), idade média 56 anos (intervalo 44-66), IMC médio
29 kg/m2 (intervalo 23-34), glicose plasmática de jejum 8,6 mmol/l (interva-
lo 7,4-10,0) e HbA1c média 7,6% (intervalo 7,4-8,4). Todos os pacientes
receberam o seguinte: placebo, repaglinida 0,5 mg, 1 mg, 2 mg e 4 mg em
ordem randomizada em 5 ocasiões diferentes, durante ume semana. A droga
foi administrada antes um teste de tolerância padrão (refeição) seguido por
amostra de sangue para glicose e insulina cada 30 minutos durante 4 horas.
Ambos insulina AUC0-60 e insulina AUC0-240 mostraram aumentos signi-
ficativos dependentes da dose de repaglinida 0,5 mg até 4 mg. O aumento foi
linear de 0,5 mg para 4 mg por insulina AUC0-240. A glicose AUC0-60
mostrou uma diminuição não significativa quando comparada com placebo a
qualquer dosagem. A glicose AUC0-240 mostrou diminuição significativa
com dosagem de 0,5 até 2 mg de repaglinida. Nenhum efeito suplementar
sobre glicose AUC0-240 foi observado com repaglinida 4 mg quando com-
parada com 2 mg.
100 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 02 (2001)

Continuação Dose Med p Med p Med p Med p


AUC 0-60 ins 0-240 ins 0-60 gluc 0-240 gluc
placebo 12570 - 62647 - 717 - 2571 -
0,5mg 19282 0,02 89186 0,01 689 0,2 2313 0,02
1mg 20670 0,02 92550 0,01 672 0,1 2192 0,04
2mg 22852 0,01 98842 0,01 646 0,1 2003 0,01
4mg 22578 0,01 123780 0,01 692 0,1 2163 0,03

Conclusão: Como regulador da glicose prandial, a repaglinida inicia sua


ação 1 hora após a ingestão. Aumentos significativos da insulina pancreá-
tica em relação com a dose foram observados na primeira hora. Existia
uma tendência não-significativa para diminuir a glicose AUC0-60, o que
poderia ser explicado pelo pequeno número de pacientes estudados e a
presença de resistência à insulina.

Cindy Rubin, Roberta Schneider. The O perfil enzimático hepático em tratamento com pioglitazona é
Pioglitazone Study Group, 17th similar ao do placebo em estudos clínicos controlados
International Diabetes Federation
Congress, Mexico City, Mexico, 5 a 10 Objetivos: Pioglitazona (PIO) é uma nova tiazolidinediona aprovada para
de novembro de 2000 administração uma vez ao dia em tratamento único ou conjugado com sulfo-
niluréia, metformina ou insulina par o tratamento do diabetes do tipo 2. pes-
quisas e experiência clínica om outros compostas desta classe sugerem que o
aumento dos enzimas hepáticos poderia ser um marcador para o risco de
eventos hepáticos adversos. O objetivo deste estudo foi pesquisar a incidên-
cia de aumentos de enzimas hepáticos durante o tratamento com PIO.
Métodos: Após o programa clínico americano PIO, foi feita ume revisão
de todos os pacientes com elevação de ALT > 3 vezes o limite superior do
normal (ULN). Durante os estudos controlados por placebo nos EUA, 4/1526
(0,26%) dos pacientes tratados por PIO e 2/793 (0,25%) dos pacientes trata-
dos por placebo apresentaram um aumento dos valores de ALT > 3xULN.
Resultados: Durante todos os estudos clínicos, 11/2561 (0,43%) dos paci-
entes tratados por PIO apresentaram ALT > 3xULN. Todos os pacientes com
testes de acompanhamento apresentaram uma diminuição secundária de ALT.
Nenhum desses aumentos foi considerado como sério.
Conclusão: Durante avaliação em monoterapia ou em tratamento conjuga-
do com outro agente antidiabético, PIO não foi diferente do placebo no
que se refere aos testes da função hepática.

Steven Kahn et al, 17th International Diminuição da relação proinsulina/insulina e melhora da função
Diabetes Federation Congress, da célula β em diabetes do tipo 2 tratado com rosiglitazona
Mexico City, Mexico, 5 a 10 de
novembro de 2000 Objetivo: Uma proinsulinemia disproporcionada significativa de um rela-
ção aumentada da proinsulina (PI) / insulina imunoreativa (IRI), foi observa-
da em diabéticos do tipo 2, e é inversamente relacionada à função da célula β,
positivamente relacionada à glicemia mas não é relacionada à sensibilidade à
insulina. As tiazolidinedionas não só aumentam a sensibilidade à insulina,
más têm também uma ação direta sobre a função da célula β.
Métodos: Para determinar se a rosiglitazona (RSG) aumenta a função da
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 02 (2001) 101

Continuação célula β, medimos o ratio PI/IRI em dois estudos de pacientes portadores de


diabetes do tipo 2. O estudo 011 comparou RSG 2 mg/dia e 4 mg/dia a place-
bo durante um período de tratamento de 26 semanas, enquanto que o estudo
020 comparou essas duas doses de RSG com o tratamento adequadamente
titrado com gliburide durante 52 semanas.
Resultados: Como detalhado na tabela, nos dois estudos RSG foi associa-
da com redução proporcional à dose do ratio PI/IRI a partir da linha base. A
redução já é significativa com RSG 4 mg/dia. Ao contrário, a relação PI/IRI
aumenta significativamente em pacientes recebendo placebo ou gliburide.
No estudo 020, ambas as doses de RSH diminuíram significativamente o
ratio PI/IRI, em comparação com gliburide, apesar de os seus efeitos simila-
res sobre o controle glicêmico.

Tratamento Linha base Diferença média Diferença média


média PI/IRI Linha base(95% IC) Comparador (95% IC)
Placebo (N=158) 0,307 +0,036 (+0,017, +0,056)
RSG 2 mg bd (n=166) 0,267 -0,017 (-0,033, -0,001) -0,053 (-0,082, -0,023)
RSG 4 mg bd (n=169) 0,278 -0,044 (-0,063, -0,026) -0,081 (-0,111, -0,051)
Glyburide (n=157) 0,294 +0,028 (+0,005, +0,056)
RSG 2 mg bd (n=152) 0,293 -0,019 (-0,039, 0,0) -0,046 (0,078, -0,016)
RSG 4 mg bd (n=145) 0,282 -0,037 (-0,056, -0,019) -0,062 (-0,093, -0,035)

Conclusão: Pelo fato que o ratio PI/IRU seja inversamente relacionado ao


grau da função da célula β, esses dados sugerem que RSG melhora a fun-
ção da célula β para um período de mais de que 52 semanas, em mais do
que seu efeito de melhorar a sensibilidade à insulina. Esse efeito da RSG
sobre a função da célula β poderia aumentar sua capacidade a sustentar o
controle glicêmico a longo prazo em diabéticos do tipo 2.

Julio Rosenstock et al, 17th Rosiglitazona combinada com glibenclamida é eficaz e bem
International Diabetes Federation tolerada em pacientes diabéticos tipo 2 inadequadamente
Congress, Mexico City, Mexico, 5 a controlados com dose máxima de glibenclamida
10 de novembro de 2000
Objetivo: O potente agonista da PPARg, a rosiglitazona (RSG) melhora o
controle glicêmico em pacientes diabéticos do tipo 2. RSG (2 ou 4mg/dia) +
glibenclamida (GLB) resultou em diminuição significativa e proporcional à
dose da HbA1c, em comparação com linha base ou com GLB em estudos
clínicos. Este estudo avaliou a eficácia, segurança e tolerabilidade da dose
máxima de RSG 8mg + GLB em pacientes diabéticos do tipo 2 inadequada-
mente controlados com dose máxima de GLB.
Métodos: GLB foi administrada durante 6 a 7 semanas em estudo único-
cego, controlado por placebo, com doses de metade do máximo até o máxi-
mo (20 mg). Após o período, 114 pacientes com FGP > 7,8 mmol/l e < 15
mmol/l foram randomizados para receber PBO + GLB 10 mg/d ou RSG 4
mg/d + GLB 10 mg/d por 26 semanas.
Resultados: RSG + GLB resultou em diminuição significativa da HbA1c
média e da FGP a partir da linha base e também quando comparada com
GLB em tratamento único após 26 semanas. Doses maiores resultaram em
diminuição maior da HbA1c. Maiores diminuições da HbA1c média (-1,7%)
e FPG (- 4,9 mmol/l) foram observadas no subgrupo de pacientes com HbA1c
102 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 02 (2001)

Continuação inicial > 9%. 47% dos pacientes do grupo RSG + GLB apresentaram FGP <
7,0 mmol/l e 64% dos pacientes tratados com RSG apresentaram uma redu-
ção da HbA1c > 1%. A proporção de pacientes reclamando de efeitos adver-
sos foi similar nos dois grupos. No grupo RSG, 5,4% dos pacientes reclama-
ram da falta de eficácia, comparados com 20,7% no grupo GLB. Hipoglice-
mia foi mais freqüente no tratamento conjugado com RSG.

Parâmetro/gr. de tratamento Modif. a partir Efeito do


da linha base tratamento
(média ± DP) (média ± 95% IC)
HbA1c (%) (linha base = 9,0)
PBO + GLB (n = 56) - 0,0 ± 0,13
RSG 8mg + GLB (n = 53) -1,4 ± 0,15* -1,3 (-1,66, -0,9*)
FPG (mmol/l) (linha base = 11,6)
PBO + GLB (n = 56) + 0,5 ± 0,29
RSG 8mg + GLB (n = 53) - 3,5 ± 0,43* -3,9 (-4,8, -2,9)*
*P < 0,0001

Conclusões: RSG 8mg/dia + GLB foi bem tolerado e eficaz, responsável


de uma melhora significativa do controle glicêmico em pacientes portado-
res de diabetes do tipo 2, anteriormente inadequadamente controlados por
monoterapia com GLB.

Archana Mahankali, Yoshinori Efeito da pioglitazona sobre a tolerância à glicose e sensibilidade


Miyazaki, Masafumi Matsuda, à insulina em pacientes diabéticos do tipo 2 controlados por dieta
Kenneth Cusi, Lawrence Mandarino,
Ralph A. Defronzo, 17th International Pioglitazona é uma nova tiazolidinediona sensibilizante à insulina aprova-
Diabetes Federation Congress, da para o tratamento do diabetes do tipo 2. O objetivo do estudo foi entender
Mexico City, Mexico, 5 a 10 de o mecanismo responsível de seus efeitos sobre a homeostase da glicose utili-
novembro de 2000 zando a técnica do clamp insulínico euglicêmico. 8 pacientes diabéticos do
tipo 2 controlados por dieta sem tratamento antidiabético anterior (H/M = 5/
3; idade = 49 ± 4 anos; IMC = 28 ± 1 kg/m2; peso = 76 ± 5 kg) fizeram um
teste de tolerância à glicose com 75 g de glicose via oral (OGTT) e um clamp
insulínico euglicêmico em duas etapas (taxas de infusão de insulina: 40 e 160
mU/m2.min) com calorimetria glicose-3H e indireta. Esses testes foram repe-
tidos após 4 meses de tratamento com pioglitazona (45 mg/dia via oral).
Mudanças significativas foram observadas nos seguintes parâmetros meta-
bólicos: peso (76 ± 5 para 78 ± 5 kg; p < 0,05), HbA1c (7,8 ± 0,4 para 6,6 ±
0,4%; p < 0,0001), glicose plasmática de jejum (174 ± 12 para 147 ± 15 mg/
dl; p < 0,01), Glicose plasmática média durante OGTT (283 ± 15 to 246 ± 22
mg/dl; p < 0,01), FFA plasmática de jejum (695 ± 60 to 550 ± 50 mEq/l; p <
0,05), FFA média durante OGTT (524 ± 43 to 402 ± 30 mEq/l; p < 0,05),
insulina plasmática de jejum (12 ± 2 to 8 ± 1mU/ml; p < 0,05). A glicose
dependente da insulina aumentou significativamente durante ambos a pri-
meira (86 ± 8 to 120 ± 11 mg/m2.min; p = 0,01) e a segunda etapa (227 ± 21
to 303 ± 27 mg/m2.min; p < 0,01) do clamp insulínico. O aumento da glicose
foi em primeiro explicado pelo aumento da glicose não-oxidativa (2a setapa:
131 ± 18 to 187 ± 23 mg/m2.min; p < 0,05). A supressão da FFA plasmática
(260 ± 27 to 164 ± 16 mg/l) e a oxidação lipídica (22 ± 3 to 15 ± 3 mg/
m2.min) durante a primeira etapa foram significativamente melhoradas por
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 02 (2001) 103

Continuação pioglitazona (p < 0,05). A concentração de triglicérides diminuiu de 162 ± 23


to 112 ± 18 mg/dl (p < 0,01) após tratamento com pioglitazona. HGP em
pacientes diabéticos não mostrou alterações significativas antes e após trata-
mento. Estes resultados sugerem que a melhora dos tecidos periféricos a sen-
sibilidade à insulina tem um papel importante na melhora da tolerância à
glicose após tratamento com pioglitazona em pacientes tratados por dieta. O
efeito positivo da pioglitazona sobre a sensibilidade à insulina pode ser rela-
cionada, em parte, à melhora do metabolismo lipídico.

J. Gordon Still, Annual meeting of Ume preparação de insulina disponível via oral oferece controle
the American Society for Clinical fisiológico da glicose
Pharmacology and Therapeutics. 12
de março de 2001 Uma nova insulina via oral pode ser absorvida pela barreira intestinal e
fornecer um controle fisiológico da glicose sanguínea diretamente no fígado
em pacientes diabéticos como em indivíduos não diabéticos, segundo J. Gor-
don Still da Nobex Corporation (North Carolina, EUA).
Esta preparação é a hexil-insulina monoconjugado 2 (HIM2) com um plie-
tilenoglicol conjugado atachado no locus lisina B-29 da insulina, o que pre-
serva a atividade, melhora a estabilidade da insulina contra a degradação
enzimática e melhora também a solubilidade. Um estudo clínico randomiza-
do, duplo-cego, de fase II está em andamento com 6 pacientes portadores de
diabetes do tipo 1. Após medições de HIM2, os níveis sanguíneos da insulina
aumentaram proporcionalmente à dose, alcançando concentrações encontra-
dos só em indivíduos não diabéticos após uma refeição. A insulina era absor-
vida muita rapidamente, com pico de concentração máxima em 10 minutos, e
diminuindo também rapidamente em 1 ou 2 horas, para voltar as concentra-
ções da linha base. Os pesquisadores notaram diminuições significativas das
concentrações de glicose sanguínea durante 4 horas nos pacientes que rece-
beram HIM2 em comparação com placebo. Nenhum efeito adverso impor-
tante em relação com a administração de HIM2 foi observado.
O fígado é o órgão corporal envolvido na homeostase da glicose. A insuli-
na administrada por via subcutânea é em grande parte absorvida pelo múscu-
lo periférico e pela gordura. Segundo os pesquisadores, a re-insulinização do
fígado pela via oral tem implicações a longo prazo sobre a prevenção das
complicações cardiovasculares do diabetes, como por exemplo a dislipide-
mia. HIM2 tem o potencial de substituir os agentes hipoglicemiantes orais ou
poderia ser usada em terapia conjugada para o tratamento a longo prazo do
diabetes do tipo 2 e eliminar o risco de tratamento do diabetes do tipo 2 por
insulina injetável.

19 de março de 2001 O sistema Innovo da Novo Nordisk está aprovado nos Estados
Unidos

A Novo Nordisk anunciou que a Food and Drug Administration (FDA)


dos Estados Unidos aprovou o plano de lançamento da nova geração de siste-
ma de administração de insulina, Innovo, a ser lançado no mercado america-
no no segundo semestre de 2001. Innovo tem o tamanho de um telefone celu-
lar, e é não só uma caneta de injeção mas um doser.
106 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 02 (2001)

Continuação Uma tela miniaturizada mostra a dose e o tempo usado desde a última
injeção, o que pode ajudar os pacientes no manejo da terapia insulínica. As
doses podem ser ajustadas de 1 UI até 70 UI. A memória e os dados de dosa-
gens evitam o esquecimento das injeções e melhoram a complacência do
paciente. Os pacientes podem também usar o sistema para administrar inje-
ções. Innovo inclui um compartimento para uma recarga de seringa de insu-
lina. Após cada injeção, o paciente abra o compartimento (similar ao com-
partimento de bateria em sistema eletrônico portátil) insere uma nova recar-
ga. A força da próxima injeção pode também ser ajustada.

George Steiner et al, Diabetes O uso do fenofibrato diminui a progressão da doença arterial
Atherosclerosis Intervention coronariana em pacientes portadores de diabetes do tipo 2
Study, Lancet 2001;357:905-
910, março de 2001 Em pacientes diabéticos do tipo 2, o uso do fenofibrato (antihiperlipidemi-
ante) diminui a progressão angiográfica da doença arterial coronariana. Um
grupo de 418 pacientes diabéticos do tipo 2, homens e mulheres, foi rando-
mizado para receber 200 mg/dia de fenofibrato micronizado ou placebo, du-
rante 3 anos.
Todos os pacientes tinham um bom controle da glicemia com anormalidades
médias das lipoproteínas e pelo menos uma lesão coronariana visível. A meta-
de dos pacientes não apresentava histórico de doença arterial coronariana.
Dentre os pacientes do grupo fenofibrato, as concentrações de colesterol
total, LDL-colesterol e triglicérides foram significativamente reduzidos a partir
da linha base, e as concentrações de HDL-colesterol aumentaram significati-
vamente, em comparação com os pacientes do grupo placebo.
A angiografia mostrou os pacientes do grupo fenofibrato apresentaram
uma progressão significativamente menor de 42% do diâmetro da estenose
em comparação com o grupo placebo. A redução média do diâmetro mínimo
do lúmen foi de – 0,06 mm no grupo fenofibrato, significativamente menor
do que o – 0,10 mm do grupo placebo.
O estudo recomenda que as medições das lipoproteínas sejam feitas no
período do diagnostico do diabetes do tipo 2 e todos os anos. A correção de
pequenas anormalidades pode reduzir significativamente o risco de doença
coronariana.

22 de março de 2001 Indicações antidiabéticos para o orlistat (Xenical)

O laboratório Hoffman-La Roche anunciou que depositou um pedido na


Food and Drug Administration dos Estados Unidos para ampliar as indica-
ções do orlistat (Xenical), indicado desde abril de 1999 para a perda de peso,
mas que poderia ser também um tratamento de complemento para o diabetes
do tipo 2.
Como inibidor da lípase intestinal, orlistat impede a digestão e a absor-
bção de aproximadamente um terço da gordura alimentar. Segundo pesquisas
do laboratório, estudos clínicos mostraram que orlistat, em conjugação com
dieta reduzida em calorias, promove a perda de peso e ajuda em diminuir a
hemoglobina glicosilada e a glicose plasmática de jejum. Os estudos mos-
tram também que os pacientes tratados por orlistat pode reduzir, e, às vezes,
108 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 02 (2001)

Continuação interromper o uso de medicamentos antidiabéticos. Orlistat poderia auxiliar


para reduzir ou inverter o ganho de peso associado ao uso de alguns medica-
mentos antidiabéticos, ou ainda atrasar a administração de medicamentos
antidiabéticos no início do tratamento do diabetes do tipo 2.

22 de março de 2001 Aprovação do lançamento do GlucoWatch da Cygnus pela FDA

A FDA (Food and Drug Administration dos Estados Unidos) aprovou o


plano de lançamento do Biographer GlucoWatch da empresa Cygnus, siste-
ma de monitoramento não-invasivo da glicose sanguínea, desenhado para ser
usado como um relógio de pulso pelos pacientes diabéticos acima de 18 anos.
O sistema, que funciona extraindo fluídos da pele pelo uso de minúsculos
correntes elétricos, é um das primeiras etapas em direção da tecnologia que
substituirá o tradicional método da picada de dedo para monitoramento da
glicose. Por enquanto, segunda a FDA, o GlucoWatch deve ser usado em
conjugação com as clássicas tiras em razão do potencial de erros do sistema.
Em estudos clínicos, os resultados obtidos por GlucoWatch diferem em 30%
dos resultados da medida direta da glicose sanguínea, em 25% dos casos. Em
mais, o GlucoWatch é menos confiável para detectar as baixas concentrações
do que as altas, e não funciona se o braço do paciente transpira demais.
Segundo a empresa Cygnus, apesar da taxa de erro, o GlucoWatch fornece
muita mais informações medindo a glicose sanguínea em continuo e sem
precisar de amostras sanguíneas. O sistema não funciona quando o paciente
apresenta taxa elevada de transpiração, porque o sistema não mostra as medi-
ções até o fim da transpiração. Cygnus estabeleceu essa norma para prevenir
as leituras erradas dos altos níveis de glicose, porque a glicose é também
presente na suor. Os especialistas acreditam que o método clássico de pica-
das do dedo vai persistir muito tempo.
Diabetes Clínica 02 (2001) 109

Produtos e novidades

Açúcar líquido de Lowçucar: fonte de glicose para episódios de


hipoglicemia

Desenvolvido em parceria com a ANAD, o Açúcar líquido aromatizado


de Lowçucar é uma fonte alternativa de açúcar para consumo oral, nos casos
emergenciais de hipoglicemia em diabéticos ou pessoas que por qualquer
razão possam momentaneamente necessitar de glicose. O açúcar líquido está
apresentado em sachets com 15 g no formato de Melzinho com sabor moran-
go, tornando fácil, prático e prazeroso o seu consumo nos casos de carência.
A quantidade de 15 g por sachet oferece mais segurança no controle da
dosagem ingerida de glicose, sendo possível, se necessário, a ingestão con-
trolada de maior quantidade de açúcar líquido. Quando o açúcar líquido é
ingerido, a absorção da glicose é rápida, propiciando conforto instantâneo às
pessoas que necessitam consumi-la.

Composição:
Sacarose ................ 46%
Dextrose ................ 15%
Frutose .................. 15%
Água ..................... 24%

Informações: www.lowcucar.com.br

Vivalev Diatt: dois tipos de Bolottone dietéticos

Bolottone Light Vivalev Diatt (Frutas e Maçã com Canela) é a prova que
sabor e saúde podem estar juntos no mesmo produto. Sem adição de açúcar e
sal, o Bolottone tem redução de 82% de gordura e 33% de calorias. É acres-
cido de nutrientes como fibras, vitaminas e sais minerais. Contém
ainda, ômega 3 (ácido graxo não produzido no organismo que age
reduzindo o colesterol LDL no sangue). O Bollotone é adoçado
com Docigual Diatt, novo adoçante dietético culinário.
110 Produtos e Novidades – Diabetes Clínica 02 (2001)

Avaliação da distribuição da pressão plantar com o sistema


Emed de Novel

Emed é um novo sistema eletrônico para avaliar a distribuição da pressão


plantar. O sinal é produzido por 9.000 sensores de pressão e os resultados são
exibidos na tela em 4 cores ou impressos. O especialista pode ler imediata-
mente os resultados de pressão (em Newton/cm2), de tempo (em segundos) e
de localização da pressão (em coordenadas x/y), com programas simples de
usar (baseados em Windows). Todos os parâmetros importantes são calcula-
dos automaticamente, agilizando o diagnóstico. O sistema Emed está usado
por especialistas de ortopedia, cirurgiões, fisioterapeutas, especialistas do
esporte, de neurologia, e de diabetes, para avaliar as neuropatias diabéticas e
desenhar calçados para a prevenção das ulcerações.

Informações: www.novel.de

Nestlé Classic Diet: um gigante do chocolate ao serviço do


diabético

Nestlé lançou recentemente o seu primeiro chocolate dietético, o Classic


Diet (sabor Leite e Aveia em embalagens de 30 ou 200 g), onde a sacarose é
substituída pelo edulcorante maltitol. O maltitol, ou 4-0-a-D-glicopiranosil-
D-sorbitol, é um poliol dissacarídico não encontrado na natureza. Ele é pro-
duzido por hidrogenação da D-maltose obtida de hidrolisado enzimático de
amido de milho ou de batata. A hidrogenação do xarope de maltose resulta
no xarope de maltitol, que é purificado, desidratado e cristalizado. Os polióis
se comportam como carboidratos, mas são absorvidos independentemente da
insulina por absorção passiva (10-20 g/h) e sem elevação da taxa de glicose
sanguínea, podendo ser consumidos por diabéticos. Somente a porção utili-
zada para transformação em glicose ou glicogênio, necessita de insulina. Al-
guns estudos, segundo Nestlé, revelam que a presença simultânea de sorbitol
e glicose retarda a absorção de glicose pelo intestino. O maltitol procura uma
doçura relativa de 80 a 90% em relação à sacarose, induz uma resposta glicê-
mica baixa e é não cariogênico.

Composição nutricional do chocolate ao leite (100 g)


Valor energético ................................................................ 472 Kcal
Proteínas6,4 g
Carboidratos Lactose Sacarose Frutose ................................. 56,2 g
divididos em: 11,2 g menos de 0,1 g menos de 0,2 g
Gorduras ................................................................................ 32,3 g
Fibra alimentar ........................................................................ 2,3 g
Ingredientes: cacau, leite em pó integral, soro de leite em pó, flocos de aveia, edulcorante
maltitol, emulsifiante lecitina de soja e aromatizante.
Informações: falecom@nestle.com.br, Tel: 0800 11 24 11
Diabetes Clínica 02 (2001) 111

Resumos de trabalhos e congressos

EH Serne et al., Department of O recrutamento capilar é diminuído na hipertensão essencial e


Medicine, Academic Hospital Vrije correlato às ações metabólicas e vasculares da insulina
Universiteit, De Boelelaan 1117,
1007 MB, Amsterdam, The Objetivo: Em pacientes portadores de hipertensão essencial, defeitos em
Netherlands, Cardiovasc Res ambos atividades vasculares e metabólicas da insulina já foram observadas.
200;49(1):161-168, janeiro de A diminuição da função microvascular, anormalidade bem conhecida da hi-
2001 pertensão essencial, pode explicar parte desses defeitos. Neste trabalho, estu-
damos se a função microvascular é diminuída na hipertensão essencial e cor-
relata à ação metabólica e vasodilatadora da insulina.
Métodos: Medimos a pressão sanguínea ambulatória de 24 horas, o recru-
tamento capilar após oclusão arterial e a resposta do fluxo sanguíneo da pele
à iontoforese da acetilcolina e nitroprussiato de sódio em 18 pacientes com
hipertensão essencial não tratada e 18 indivíduos controle. A sensibilidade à
insulina total do corpo e a vasodilatação da perna dependendo da insulina
foram avaliadas com clamp insulínico e pletismografia.
Resultados: Pacientes hipertensos, comparados com normotensos, apre-
sentaram sensibilidade à insulina diminuída (0,8 ± 0,3 vs. 1,7 ± 0,6 mg.kg-
1min-1 per pmol.l-1; P < 0,001), recrutamento capilar após oclusão arterial

(21,5 ± 5,8 vs. 45,9 ± 10,4%; P < 0,01), vasodilatação dependente da acetil-
colina (331 ± 84 vs. 688 ± 192 %; P < 0,001), e vasodilatação dependente da
insulina (mediana 29,3 vs. 47,2%; P < 0,05). Análises de correlações com
ajustes para idade, sexo, IMC e relação cintura/quadril mostraram relações
significativas do recrutamento capilar após oclusão arterial com pressão san-
guínea (r = 0,68; P < 0,01), sensibilidade à insulina (r = +0,55; P < 0,01) e
vasodilatação dependente da insulina (r = + 0,51; P < 0,05), em normotensos
como em hipertensos.
Conclusão: A função microvascular da pele é associada à pressão sanguí-
nea e ações vasodilatadora e metabólica da insulina, em indivíduos nor-
motensos como em hipertensos. Esses achados propõem uma explicação
potencial do mecanismo das relações entre resistência à insulina, diminui-
ção da vasodilatação dependente da insulina e hipertensão.
112 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 02 (2001)

V Palmieri et al, Weill Medical Efeito do diabetes do tipo 2 sobre a geometria ventricular
College of Cornell University esquerda e a função sistólica em indivíduos hipertensos: estudo
(V.P., J.N.B., J.E.L., M. -Y.S., Hypertension Genetic Epidemiology Network (hyperGEN)
R.B.D.), New York, NY,
Circulation 2001;103(1):102-7, Introdução: O diabetes tipo 2 é um fator de risco cardiovascular. O estudo
janeiro de 2001 investigou em amostra populacional se o diabetes é associado com mudanças
na estrutura ventricular esquerda (VE) e na função sistólica, independente-
mente da obesidade e da pressão sanguínea (PS).
Métodos e resultados: Dentre 1950 participantes hipertensos do estudo
HyperGEN sem doença coronariana ou doença valvular significativa, 20%
(n = 386) eram portadores de diabetes. Os diabéticos eram na maioria mulhe-
res, negras, idosas e tinham um IMC e relação cintura/quadril maiores do que
os não-diabéticos. Após ajustes par sexo e idade, os diabéticos apresentaram
PS sistólica mais elevada, como também pressão no pulso e freqüência cardí-
aca; a PS diastólica foi menor e a duração da hipertensão mais longa do que
em não-diabéticos. A massa VE e a espessura relativa da parede eram mais
elevadas em diabéticos do que em não-diabéticos, independentemente das
covariáveis. Os níveis de insulina e resistência à insulina eram mais elevados
em diabéticos não tratados por insulina (n = 195) que em não diabéticos (n =
1439) (ambos P < 0,01). A resistência à insulina foi positivamente, mas leve-
mente relacionada à massa VE e espessura relativa da parede.
Conclusões: Em amostra baseada em população, relativamente saudável,
de indivíduos hipertensos, o diabetes do tipo 2 é associado à massa VE
maior, geometria VE mais concêntrica, e função miocárdica mais fraca,
independentemente de idade, sexo, IMC e PS arterial. Na coorte Framin-
gham, o diabetes era associado com massa VE maior em mulheres mas
não em homens. A pressão sanguínea elevada, obesidade e perfil lipídico
anormal, que são bastante presentes em diabetes, são associados com anor-
malidades cardiovasculares pré-clínicas e podem contribuir à associação
do diabetes com eventos cardiovasculares. As características cardíacas dos
indivíduos hipertensos diabéticos e não-diabéticos são incompletamente
descritos em amostras de população. Nos comparamos as características
clínicas e metabólicas, a geometria VE e a função sistólica entre partici-
pantes diabéticos e não diabéticos do estudo HyperGEN.

AH Xiang et al., Department of Evidência para controle genético da sensibilidade à insulina e


Preventive Medicine, the pressão sanguínea sistólica em famílias hispânicas com probando
Atherosclerosis Research Unit, and hipertenso
the Department of Medicine,
University of Southern California Introdução: O conjunto hipertensão, resistência à insulina e obesidade não
Keck School of Medicine, é explicado até hoje. Estudamos as influências genéticas e não genéticas so-
Circulation 2001;103(1):78-83, bre essa associação em famílias hispânicas com hipertensão. Os resultados
janeiro de 2001 da pressão sanguínea e o índice de massa corporal (IMC) foram obtidos de
331 membros de 73 famílias hispânicas, nas quais existia um caso indicador
(probando) de hipertensão. A sensibilidade à insulina (Si) foi medida em 287
indivíduos e conjugues ou filhos adultos. A análise de correlação estudou as
ligações da síndrome dentro e entre as gerações. Foram estimadas as contri-
buições genéticas e não-genéticas à variabilidade da pressão sistólica sanguí-
nea, sensibilidade à insulina e a correlação entre elas. Na descendência, exis-
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 02 (2001) 113

Continuação te uma correlação significativa entre os indivíduos para cada caractere, como
também correlações significativas dentro e entre indivíduos para todas as
combinações possíveis de caracteres. Entre as gerações, a pressão sistólica,
sensibilidade à insulina e IMC em pais foram correlatos com os mesmos
caracteres nos filhos; IMC em pais correlata com Si e pressão sistólica em
filhos; e Si em pais correlata com pressão sistólica em filhos. A análise esti-
mou que dentre os filhos, os efeitos genéticos não-relacionados a IMC repre-
sentavam 60,8% da variação da pressão sistólica, 36,8% da variação da Si e
31,5% das correlações entre pressão sistólica e Si após ajustes para sexo e
idade. Os efeitos genéticos ligados a IMC representaram 14,0% adicionais na
variação da pressão sistólica, 26,8% da variação da Si e 56,3% da variação de
sua correlação.
Conclusões: O conjunto de hipertensão e resistência à insulina em Hispa-
no-Americanos pode ser explicado em parte por fatores genéticos associa-
dos e independentes do IMC.

José C Tarastchuk, Ronaldo da Pacientes diabéticos: o tipo do tratamento influi na re-estenose


RL Bueno, Ênio E Guérios, clínica após o implante de stents?
Paulo MP Andrade, Deborah C
Nercolini, Álvaro LA Pacheco, Fundamento: Pacientes com doença arterial coronariana e diabetes melli-
hospital Universitário tus (DM), submetidos a angioplastia com balão, têm alto índice de re-esteno-
Evangélico de Curitiba, PR, LVo se, quando comparados a pacientes sem DM. O implante de stents melhora
Congresso da Sociedade este índice nestes pacientes. No entanto, a influência da modalidade de trata-
Brasileira de Cardiologia, Rio mento do DM sobre re-estenose não está definida.
de Janeiro, RJ, junho de 2000 Objetivos: Comparar a evolução clínica de pacientes diabéticos em trata-
mento com dieta (D), hipoglicemiantes orais (HO) e insulina (I), após im-
plante de stents.
Material e métodos: Entre dezembro de 1998 e outubro de 1999, 67 paci-
entes diabéticos foram submetidos a implante de stent coronariano. Após um
período médio de 229,6 83,6 dias, estes pacientes foram entrevistados e ava-
liados quanto à presença de re-estenose clínica, julgada pela necessidade de
re-intervenção e/ou isquemia demonstrável no teste ergométrico
Resultados: As características clínicas e angiográficas e os índices de re-
estenose clínica encontrados encontram-se na tabela abaixo:

D (n = 14) HO (n = 40) I (n = 13) P


Sexo masc. 57,1% 67,5% 69,2% n/s
Idade 61,4 ± 12,5 61,4 ± 7,77 59 ± 9,3 n/s
HAS 71,4% 77,5% 76,9% n/s
Tabagismo 14,2% 20% 23% n/s
Dislipidemia 35,7% 37,5% 46,1% n/s
Diâm ref. 2,8 ± 0,7 3,1 ± 1,87 2,8 ± 0,66 n/s
Lesão B ou C 85,7% 80% 92,3% n/s
Lesão Res. 2,42 ± 17,9 -3,5 ± 12,05 -0,7 ± 16,67 n/s
Reest. clínica 20% 20% 11,1%

Conclusão: A modalidade de tratamento de DM não teve influência sobre


o índice de re-estenose clínica na população estudada.
114 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 02 (2001)

GR Franco, AL Moreno, RS Padula, Tratamento fisioterapêutico do diabetes mellitus gestacional –


AM Bertini, Io Congresso de pesquisas Estudo de caso
em Fisioterapia, São Carlos, São
Paulo, 1 de maio de 2001 Objetivos: O objetivo deste estudo foi aplicar um programa de exercícios
em uma gestante com diagnóstico de diabetes mellitus gestacional (DMG),
com o intuito de observar se a atividade física em conjunto com dieta e insu-
linoterapia complementa a manutenção da euglicemia. Os estudos mostram
que a obtenção da normoglicemia é fundamental para promover reduções
nos níveis de morbidade e mortalidade do concepto.
Material e métodos: Neste estudo de caso foram selecionadas duas gestan-
tes do ambulatório do diabetes da Unifesp por meio de um protocolo de ava-
liação no qual gestantes portadoras de doenças associadas não foram inclu-
sas. No estudo, a gestante que se exercitou teve o diagnóstico de DMG na 22a
semana de gestação, com o início do programa de exercícios no mesmo perí-
odo. A gestante controle teve o diagnóstico na 16a semana, não realizando os
exercícios. Para o controle da glicemia foram colhidas duas medidas pela
equipe de enfermagem do ambulatório por meio do aparelho Advantage (Ro-
che). O primeiro valor glicêmico da gestante que se exercitou foi colhido
uma hora após a refeição e o segundo, após uma hora de exercícios diversos
(caminhada, exercícios em solo, relaxamento e percepção corporal). No caso
da gestante controle, o valor glicêmico foi colhido duas horas após a refei-
ção, correspondendo assim o mesmo tempo transcorrido ao da coleta dos
valores glicêmicos da gestante que se exercitou.
Resultados: Os resultados mostraram que a euglicemia foi mantida sem a
necessidade do uso de insulina na gestante que seguiu o programa de exercí-
cios propostos e não houve mortalidade nem morbidade do concepto. Em
média os valore glicêmicos foram mantidos em 89,4 mg/dl, havendo assim
uma redução de 30% em relação aos valores obtidos antes do exercício. Já a
gestante controle permaneceu durante todo o acompanhamento com valores
glicêmicos altos, além de ter sido necessária a administração de insulina após
a 23a semana, para manter os valores glicêmicos controlados.
Conclusão: Os resultados preliminares demonstram a viabilidade deste pro-
grama de exercícios na manutenção da euglicemia, porém há a necessida-
de de uma casuística maior.

Jean-François Yale et al, Diabetes Care Ensinar aos pacientes portadores de diabetes tipo 2 que
24:222–227, 2001 incorporar açúcares no plano nutricional diário promove
complacência dietética e não deteriora o perfil metabólico

Objetivo: Determinar que se ensinar aos portadores de diabetes do tipo 2 a


incorporar açucares ou doces na dieta diária resulta em maior consumo de
calorias (gorduras ou açucares) e deteriora os perfiles glicêmicos ou lipídicos
mas melhora a percepção da qualidade de vida.
Desenho da pesquisa e métodos: Em estudo controlado de 8 meses, 48
portadores de diabetes do tipo 2 foram randomizados para receber dieta con-
vencional (C) ou dieta permitindo ingerir 10% da energia total na forma de
acurares adicionados ou doces (A). A quantidade média de nutrientes por
indivíduo foi determinada usando a média de amostras feitas por telefone
durante 4 meses. Controle metabólico e qualidade de vida foram avaliados
cada 2 meses. Qualidade de vida foi medida usando o Medical Outcome Sur-
vey e o questionário Diabetes Quality of Life.
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 02 (2001) 115

Continuação Resultados: O grupo A não consumou mais calorias (gordura ou açúcar) e,


na realidade, comeu significativamente menos carboidratos (–15 vs. 10 g) e
menos polissacarídeos (–7 vs. 8 g) e tinha uma tendência de comer menos
calorias (–77 vs. 81 kcal) do que o grupo C. O peso ficou estável e o estudo
não mostrou que o maior consumo de açúcar deteriora o perfil metabólico ou
melhora a qualidade percebida da qualidade de vida.
Conclusões: Dar aos indivíduos portadores de diabetes do tipo 2 a liberda-
de de incluir açúcar no plano nutricional diário não tinha impacto negativo
sobre os hábitos dietéticos ou o controle metabólico. Os profissionais de
saúde devem ser estimulados a ensinar novas recomendações sobre o açú-
car, que podem resultar em um consumo mais consciente de carboidratos.

Kjeld Hermansen et al, Diabetes Care Efeitos de um suplemento dietético derivado do soja sobre os
24:228–233, 2001 níveis de lípides e os marcadores de risco cardiovasculares em
pacientes portadores de diabetes do tipo 2

Objetivo: Foi demonstrado recentemente que o consumo de proteínas de


soja aumenta os níveis de lípides no sangue em indivíduos não diabéticos. O
objetivo deste estudo foi avaliar se um suplemento dietético de proteínas de
soja, de isoflavonas e de fibras de cotilédone (Abalon) altera os marcadores
de risco cardiovasculares, a glicose sanguínea e os níveis de insulina em
pacientes portadores de diabetes do tipo 2.
Desenho da pesquisa e métodos: 20 pacientes portadores de diabetes do
tipo 2 participaram deste estudo transversal. Eles foram randomizados para
receber um suplemento durante 6 semanas de Abalon (proteína de soja [50 g/
dia] com altos níveis de isoflavonas [mínimo 165 mg/dia] e fibra de cotilédo-
ne [20 g/dia]) ou placebo (caseína [50 g/day] e celulose [20 g/dia]), separa-
dos por um período de 3 semanas para eliminação.
Resultados: Os resultados são dados em médias ± DP. A diferença média
entre Abalon e placebo mostrou valores médios significativamente menores
após Abalon para LDL colesterol (10 ± 15%, P < 0,05), relação LDL/HDL
(12 ± 18%, P < 0,05), apolipoproteina (apo) B100 (30 ± 38%, P < 0,01),
triglicérides (22 ± 10%, P < 0,05), e hemocisteína (14 ± 21%, P < 0,01). O
valor do colesterol total foi menos significativo mas menor ainda (8 ± 15%, P
< 0,08). Nenhuma alteração ocorreu para o HDL colesterol, relação apo B100/
apo A1, inibidor 1 do ativador do plasminogênio, fator VIIc, fator de von
Willebrand, fibrinogênio, lipoproteína(a), glicose, HbA1c ou pressão sanguí-
nea de 24 horas.
Conclusões: Estes resultados mostram os benefícios de um suplemento
dietético como Abalon sobre os marcadores de risco cardiovasculares em
portadores de diabetes do tipo 2. Esta melhora é significativa também em
indivíduos com valores de lípides perto do normal.

Aristidis Veves et al, Grafskin, equivalente da pele humana, é eficaz para o manejo
Diabetes Care 24:290–295, das ulceras diabéticas neuropáticas não-infectadas
março de 2001
Objetivo: Este estudo prospectivo randomizado avaliou a eficácia do Grafskin,
equivalente da pele viva, no tratamento de úlceras plantares crônicas de pé diabético.
Desenho da pesquisa e métodos: Em 24 centros dos EUA, 208 pacientes fo-
ram randomizados para receber um tratamento de úlcera com Grafskin (112 pa-
116 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 02 (2001)

Continuação cientes) ou com placebo (96 pacientes, grupo placebo). Terapias complementares
adequadas, com debridamento cirúrgico extensivo ou equipamento especial para
o pé, foram fornecidos a ambos os grupos. Grafskin foi aplicado no início do
estudo e semanalmente durante um período máximo de 4 semanas (máximo 5
aplicações) ou menos se a cura completa ocorreu antes. O objetivo era constatar
a cura completa da úlcera na consulta da décima-segunda semana de seguimento.
Resultados: Na consulta da 12a semana, 63 (56%) dos pacientes tratados por
Grafskin apresentaram uma cura completa da úlcera, comparados com 36 (38%)
no grupo controle (P = 0,0042). O tempo médio de Kaplan-Meier para obter a
cicatrização da úlcera foi 65 dias com Grafskin, significativamente menor do
que os 90 dias observados no grupo controle (P = 0,0026). Os odds ratio para a
cura completa para a úlcera tratada por Grafskin comparados com a úlcera
tratada no grupo controle foi 2,14 (95% IC 1,23–3,74). A taxa de reações ad-
versas foi similar entre os dois grupos, na excepção de osteomielite e de ampu-
tações do membro inferior, os dois sendo menos freqüentes no grupo Grafskin.
Conclusões: A aplicação de Grafskin por um período máximo de 4 sema-
nas resulta em uma taxa de sucesso maior quando comparada aos trata-
mentos atualmente disponíveis e não foi associada com efeitos adversos
significativos. Grafskin pode ser um complemento muito útil no tratamen-
to das úlceras de pé diabético resistentes aos tratamentos padrões atuais.

Lawrence S. Phillips et al, Diabetes Rosiglitazona uma ou duas vezes ao dia melhora o controle
Care 24:308–315, março de 2001 glicêmico em pacientes portadores de diabetes do tipo 2

Objetivo: Determinar a eficácia da rosiglitazona comparada com placebo


para diminuir a hiperglicemia.
Desenho da pesquisa e métodos: Após um período de 4 semanas de place-
bo, 959 pacientes foram randomizados para receber placebo ou rosiglitazona
(dose total por dia 4 ou 8 mg), durante 26 semanas. A medição primordial da
eficácia foi a alteração na concentração de HbA1c.
Resultados: O uso de rosiglitazona resultou em reduções dependentes da
dose na taxa de HbA1c de 0,8, 0,9, 1,1, and 1,5% respectivamente para os
grupos 4 mg 1 vez/dia, 2 mg 2 vezes/dia, 8 mg 1 vez/dia, e 4 mg 2 vezes/dia.,
em comparação com placebo. Diminuições clinicamente significativas da HbA1c
foram observadas em pacientes que nunca receberam tratamento antidiabético
para todas as doses de rosiglitazona e em pacientes anteriormente tratados com
monoterapia via oral para as doses de 8 mg 1 vez/dia e 4 mg 2 vezes/dia.
Diminuições significativas da HbA1c foram também observadas com rosiglita-
zona 4 mg 2 vezes/dia em pacientes anteriormente tratados por terapia conju-
gada via oral. Aproximadamente 33% dos pacientes não tratados anteriormen-
te do grupo rosiglitazona alcançaram HbA1c £ 7% no final do estudo. A propor-
ção de pacientes que apresentaram pelo menos um efeito adverso foi similar
entre os grupos rosiglitazona e placebo. Não foi observada nenhuma evidência
de toxicidade hepática nos dois grupos. Não foram observados aumentos esta-
tisticamente significativos do peso e do lípides séricos nos grupos tratados por
rosiglitazona quando comparados com placebo. Quanto o colesterol HDL e
LDL, o aumento observado parece relacionado com a dose.
Conclusões: Rosiglitazona, na dose total de 4 ou 8 mg/dia melhora signifi-
cativamente o controle glicêmico em pacientes diabéticos do tipo 2 e foi
bem tolerado.
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 02 (2001) 117

Reine M. Chaves-Fonseca et al., 17th Resultados da implantação do Staged Diabetes Management


International Diabetes Federation (SDM) em um sistema de saúde público da Bahia
Congress, Mexico City, Mexico, 5 a 10
de novembro de 2000 O Centro de Diabetes e Endocrinologia do Estado da Bahia (CEDEBA) é
um centro público de referência para o diabetes do Estado da Bahia. CEDE-
BA emprega uma equipe multidisciplinar e sua meta é melhorar os cuidados
do diabetes na Bahia. O Staged Diabetes Management (SDM) desenvolvido
pelo International Diabetes Center, Minneapolis, EUA, é um programa cien-
tífico para os cuidados primários. SDM usa algoritmos de estágios de trata-
mento para ajudar a tomada de decisão clínica e demonstrou melhoras no
controle metabólico e complicações relacionadas ao diabetes. CEDEBA adap-
tou os algoritmos de SDM para os recursos disponíveis do sistema de saúde
público da Bahia. O objetivo principal era avaliar o controle metabólico em
pacientes examinados em consultas de rotina usando o SDM versus os paci-
entes que receberam cuidados usuais não SDM. Os pacientes foram observa-
dos entre junho de 1998 e julho de 1999 e eram portadores de diabetes do tipo
2. Os médicos administrando os cuidados SDM eram diferentes dos que ad-
ministravam os cuidados usuais. Os pacientes SDM foram avaliados por uma
equipe multidisciplinar usando uma metodologia individual ou de grupo, com
o objetivo metabólico de HbA1c ao máximo 1,5% acima do limite. O grupo
SDM incluiu 121 pacientes (53 homens, 68 mulheres), com idade média de
50 anos e duração média de diabetes de 6,5 anos. Hipertensão arterial era a
complicação a mais freqüente (34,6%). Foram marcadas consultas individu-
ais para 60% dos pacientes e de grupo para 40%. 70% dos pacientes voltaram
para 100% das consultas agendadas e só 6,6% faltaram mais do que 50%. O
grupo não SDM incluiu 101 pacientes com idade média de 43,5% e duração
média de diabetes de 10,3 anos (51% homens, 49% mulheres). A incidência
de complicações era comparável à do grupo SDM. No grupo SDM a HbA1c
média diminuiu de 8,6% (normal 4,4-6,4%) para 7,34% em 6 meses e a gli-
cose sanguínea de jejum média diminuiu de 183,88 mg/dl (84-409 mg/dl)
para 163,73 mg/dl. No grupo não SDM a HbA1c aumentou de 8,61% para
10,96%. 68% do grupo SDM recebia uma monoterapia oral e 32% uma tera-
pia conjugada com agentes orais e/ou insulina. 50% dos pacientes do grupo
SDM alcançaram a mata de HbA1c estabelecida. Não foi notada diferença
em HbA1c entre os pacientes vistos em grupo ou em consultas individuais.
Concluímos que o método SDM pode ser um modelo menos oneroso para os
sistemas de saúde públicos que têm objetivos de controles metabólicos.
118 Dias JCA, Lima WP / Diabetes Clínica 02 (2001) 118~121 Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 02 (2001) 117~120

ARTIGO ORIGINAL

Diabetes mellitus neonatal transitório – Relato de caso


José Côdo Albino Dias, Willian Pedrosa de Lima

Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital Belo Horizonte, Centro de Atenção ao Diabético, Belo Horizonte, MG

Resumo
O diabetes mellitus neonatal é uma entidade rara ocorrendo em 1:500.000 nascidos vivos. Cerca de 50% desses pacientes apresentam o
diabetes mellitus neonatal transitório definido como inequívoca hiperglicemia desenvolvida durante o primeiro ano de vida e freqüentemente
necessitam do uso de insulina exógena para tratamento. Ocorre melhora progressiva do quadro o que torna o tratamento desnecessário dentro
de um prazo normalmente inferior a um ano. É descrito o caso de uma criança do sexo masculino que apresentou diabetes mellitus com a idade
de 45 dias, após ter sido submetida a hernioplastias inguinal e umbilical, necessitando de insulinoterapia. Quando apresentava a idade de um
ano e 8 meses a insulinoterapia foi suspensa com o paciente apresentando, até aos dez anos de idade, valores laboratoriais do perfil glicêmico
normais ou discretamente aumentados. O crescimento e desenvolvimento da criança até o momento são considerados normais. Postula-se,
como causa provável (já identificada em pelo menos 25% dos casos) a dissomia uniparental com um imprinted gene no cromossomo 6.

Palavras-chave: Diabetes mellitus neonatal transitório, dissomia uniparental, imprinted gene.

Abstract
Neonatal Diabetes Mellitus is a rare entity, occurring in 1:500,000 of living newborns. At about 50% of these patients display transitory defined
as a errorless hyperglycemia developed during the first year of life and frequently need the use of exogenous insulin for the treatment. A
progressive recovery of the status makes the treatment unnecessary within a period that normally is below one year. The case of a male child
who displayed Diabetes after 45 days of life is described, after having been submitted to surgical correction of inguinal and umbilical hernias,
with the need of insulin-therapy. When the child was one year and eight months old, the insulin-therapy was suspended with the patient
displaying up to ten years old, normal or only discretely increased laboratorial values of glicemic profile. The growth and development of the
child up to the moment is considered normal. It is believed that the probable cause (which has been identified in at least 25% of the cases) the
uniparental disomy with an imprinted gene in the chromosome 6.

Keywords: Transient neonatal diabetes mellitus, uniparental disomy, imprinted gene.

Endereço para correspondência: Avenida Antônio Carlos 1694, Sala 17, Portaria A. Cachoeirinha, 31210-000,
Belo Horizonte - MG. Tel/fax: (31) 3421 3987, (31) 449 7017, E-mail: wpedrosa@prover.com.br
119 Dias JCA, Lima WP / Diabetes Clínica 02 (2001) 118~121

Introdução associação da síndrome com quadros infecciosos. Os


O diabetes mellitus neonatal é definido como hiper- estudos com análise histológica do pâncreas mostraram
glicemia com aparecimento no primeiro mês de vida e achados variados com relação às ilhotas, com predomí-
duração de pelo menos duas semanas requerendo insu- nios de atrofia, infiltrado celular e ausência de anorma-
linoterapia. O diabetes mellitus neonatal transitório lidades em algumas das séries [3, 5, 6].
(DMNT) ocorre caracteristicamente em recém-natos À medida que os casos foram sendo descritos mais
pequenos para a idade gestacional, apresentando-se, fre- freqüentemente, foram-se delineando características clí-
qüentemente, nas primeiras seis semanas de vida com nicas e patogenéticas que contribuíram sobremaneira
desidratação, glicosúria, hiperglicemia, acidose metabó- para a caracterização do DMNT. Pode-se apontar, por
lica e cetonúria ausente ou leve. Caracteriza-se pela re- exemplo, o tempo médio para início da remissão entre
missão espontânea num período variável [1]. A incidên- três e seis meses, a já mencionada associação com in-
cia do diabetes mellitus neonatal tem sido reportada en- fecção (gangrena, caxumba e outros), hidrocefalia e ou-
tre 1:450.000 a 1:600.000 nascidos vivos, sendo que tras anormalidades do sistema nervoso central, cetonú-
aproximadamente 50% serão caracterizados como ria discreta ou ausente, hipercortisolismo, hérnias ingui-
DMNT [2]. nal e umbilical, disfunção placentária, baixo peso ao
nascer, imaturidade das ilhotas pancreáticas, macroglos-
Descrição do caso sia e fatores genéticos além da correlação com baixos
Criança do sexo masculino nascida em 01/03/90, parto níveis fetais de IGF-1 [5-16]. O maior tempo em uso de
normal a termo, pesando 2450 gramas. Aos 45 dias de insulinoterapia é de 18 meses, até o presente momento.
vida, foi submetida a hernioplastias inguinal e umbili- Esses pacientes usualmente necessitavam de insulina
cal. Durante o ato cirúrgico apresentou parada cardio- para controle do diabetes. As insulinas regulares e NPH
respiratória e diagnóstico subseqüente de pneumonia foram utilizadas na grande maioria dos casos. Um paci-
aspirativa. Após tratamento com antibióticos, recebeu ente fez uso de clorpropamida com bom controle meta-
alta hospitalar. Dois dias após, retornou com quadro de bólico [17]. Esse resultado não conseguiu ser reprodu-
desidratação e hiperglicemia (glicemia inicial de 380 mg/ zido em dois outros trabalhos que também utilizaram a
dl). Iniciou uso de insulina NPH humana com doses va- clorpropamida como forma de tratamento [1, 18]. O uso
riando entre 2 a 4 unidades/dia. Manteve insulinotera- da insulina ultralenta também foi relatado mostrando-
pia, com doses progressivamente menores, até a idade se, nesse trabalho, com vantagens para o controle glicê-
de 1 ano e 8 meses quando foi suspensa após a verifica- mico [19].
ção do bom controle glicêmico. O acompanhamento Os estudos familiares, inicialmente, foram pouco con-
dessa criança, até a idade atual de 10 anos, mostra de- sistentes, com a história familiar positiva para diabetes
senvolvimento somático normal sem déficit cognitivo e mellitus detectada numa porcentagem pequena dos casos
sensorial e ausência de sinais e sintomas de diabetes [6, 10]. No entanto, a partir da descrição de duas meias-
mellitus. Seu crescimento manteve-se sempre adequa- irmãs, ambas com diagnóstico de DMNT, a possibilidade
do, mantendo as medidas de peso e altura no percentil de uma causa genética foi levantada [14]. Sucessivos re-
10. Laboratorialmente o controle evidencia glicemias de latos de pacientes com DMNT e com membros da mes-
jejum e glicohemoglobinas no valor normal ou muito ma família acometidos foram surgindo, constituindo a base
discretamente aumentadas (Figura 1). A pesquisa de para os estudos genéticos posteriores. Coincidentemente,
auto-anticorpos (anti-ilhota/anti IA2, anti-GAD e anti- um meio-irmão paterno das duas meias-irmãs, acima re-
insulina) foi realizada em seis ocasiões sendo o resulta- latadas, também desenvolveu DMNT [20]. Foram tam-
do sempre negativo (a última realizada em setembro de bém observados casos em dois primos de primeiro grau e
1999). Mantém-se em dieta com restrição de açúcar. A em irmãos gêmeos idênticos [1, 10, 18].
história familiar de diabetes mellitus é negativa. Nos anos de 1993 e 1994, Blum e Abramowicz des-
creveram o caso de uma criança com diabetes mellitus
Discussão neonatal e acidemia metilmalônica. Tal paciente foi ava-
As primeiras revisões sobre o diabetes mellitus neo- liado através da análise do DNA do locus HLA-B e HLA
natal foram publicadas na década de 30, no século pas- classe II. Demonstraram através desses estudos que a
sado [3, 4]. Nesses artigos os autores mencionam o pri- criança apresentava isodissomia paternal. Pela primeira
meiro caso de DMNT descrito em 1927. Interessante- vez especulou-se a existência de um gene no cromosso-
mente, este mesmo paciente é reportado futuramente já mo seis envolvido na diferenciação das células bêta das
com 25 anos de idade e sem sintomas de diabetes melli- ilhotas do pâncreas [21, 22]. A dissomia uniparental sig-
tus [5]. A característica fundamental nessa ocasião é a nifica a herança de um par de cromossomos de somente
120 Dias JCA, Lima WP / Diabetes Clínica 02 (2001) 118~121

um dos pais. O termo pode ser aplicado a uma parte de Os casos de recorrência do diabetes mellitus após um
um cromossomo ou mesmo a marcadores moleculares período variável de remissão estão associados a perío-
somente [23]. Temple [24] descreve duas famílias não dos de estresse e à puberdade. Nestes pacientes, o teste
relacionadas que independentemente sugerem a existên- de infusão de glicose com a aferição da liberação de in-
cia de um imprinted gene expresso paternalmente e ma- sulina na primeira fase pode ser utilizado no seguimen-
peado em 6q22-q23. Uma família tem uma duplicação to predizendo, em alguns pacientes, o fim do período de
enquanto a outra, com DMNT familiar, mostra relação remissão [11, 29, 30, 31].
com um marcador nesta região sugerindo uma herança Hermann [32] sugere que o diabetes neonatal transitó-
dominante. rio provavelmente tem uma herança genética heterogê-
Em outro estudo, na tentativa de se conseguir dados de nea, e que um gene responsável pelo desenvolvimento do
valor diagnóstico e prognóstico com relação ao diabetes diabetes neonatal em um subgrupo de pacientes está lo-
mellitus neonatal, foram avaliadas 19 crianças não se con- calizado no cromossomo 6. Possivelmente, a dissomia
seguindo diferenciar o diabetes definitivo do transitório uniparental do cromossomo 6 tem um papel crítico no
levando-se em consideração o peso e comprimento ao desenvolvimento da doença e pode estar relacionado com
nascimento, valores de glicemia e peptídeo-C, marcado- a maturação da célula beta e secreção insulínica e pode
res de auto-imunidade, resposta ao tratamento e fatores também influenciar a nutrição fetal e crescimento intra-
de desencadeamento. Apesar desse achado muitos auto- uterino. Trabalhos mais recentes têm demonstrado uma
res encontraram concordância em alguns dados e propu- associação ainda maior entre o DMNT com a dissomia
seram tabelas de auxílio diagnóstico [25, 26]. uniparental do cromossomo 6 tornando-se esse uma enti-
Estudando-se um número maior de pacientes pode- dade diferente do diabetes mellitus neonatal definitivo não
se assegurar, após avaliação genética, a presença da dis- ligado à auto-imunidade e o tipo 1 precoce. Os genes can-
somia uniparental em 20 a 25% dos pacientes com didatos foram mapeados na região 6q24 e tiveram suas
DMNT [7, 27].Técnicas laboratoriais modernas de cito- seqüências estabelecidas [33, 34].
genética e genética molecular são altamente sensíveis e A diferenciação entre as duas formas de diabetes
específicas. Entretanto, baixo nível de mosaicismo é fre- mellitus neonatal é baseada inteiramente no seguimento
qüentemente de difícil detecção. Sua relevância fenotí- clínico e laboratorial. Pode-se sugerir que as formas per-
pica poderia ser imensa. Deve-se manter em mente que manente e transitória dessa doença possam representar
na teoria e na prática é impossível excluir mosaicismo. dois componentes de um espectro de insuficiência da
Uma revisão abrangente sobre a dissomia uniparental célula beta de patogênese similar [35]. Por se apresentar
pode ser encontrada em outras fontes [23, 28]. como uma entidade distinta com diagnóstico e prognós-

Fig. 1 Valores de glicemia de jejum x tempo

450
400
Glicemia (em mg/dl)

* Insulina NPH 3 para 4 UI/dia


350
** Insulina NPH 2 UI/dia
300
*** Suspenso insulina
250
200
150
100
50
0
*

ja *

ag 3

6
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de 2

8
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1

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ju

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ou

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ab

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fe
Ju

ut
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Período analisado
121 Dias JCA, Lima WP / Diabetes Clínica 02 (2001) 118~121

tico diferentes dos outros tipos de diabetes habitualmente C et al. Congenital absence of insulin cells in a neonate with
encontrados, o diabetes neonatal transitório necessita de diabetes mellitus and mutase-deficient methylmalonic
acidaemia. Diabetologia 1993;36:352-257.
maior grau de suspeição clínica e acompanhamento per- 22 - Abramowicz MJ, Andrien M, Dupont E, Dorchy H, Parma J,
manente após o período de remissão. O seguimento des- Duprez L et al. Isodsomy of chromosome 6 in a newborn with
ses pacientes deve ser feito com avaliação do perfil gli- methylmalonic acidemia and agenesis of pancreatic beta cells
cêmico, principalmente durante a puberdade e períodos causing diabetes mellitus. Am Soc Clin Invest 1994;94:418-
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Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 02 (2001) 00000043~49

ARTIGO ORIGINAL

Perfil dos diabéticos assistidos


em duas unidades básicas de saúde de Londrina - PR
Diabetic’s profile from two health care units of Londrina - PR
Ilidia Terezinha Martelli Takahashia, Henriqueta Galvanin Guidio de Almeidab. Maria Helena Dantas de
Menezes Guarientec, Carmen Lúcia Lázaro Garciad, Maria do Carmo Lourenço Haddade, Olga Chizue
Takahashif, Iria Roberta Staut Freitasg, Vânia Maria Vargash, Valéria de Araújo Eliash, Denise R. Seigaii
aNutricionistaresponsável pelo setor de Nutrição do Ambulatório do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Londrina, bMédica Endocrinologista,
professora adjunta do Departamento de Clínica Médica da Universidade Estadual de Londrina, cProfessora Assistente do Departamento de Enfermagem da
Universidade Estadual de Londrina e Coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Enfermagem do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná,
dAssistente Social do Ambulatório do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Londrina, eProfessora Adjunta do Departamento de Enfermagem da

Universidade Estadual de Londrina e Diretora de Enfermagem do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná, fProfessora Adjunta do
Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina e Vice-Diretora do Centro de Ciências da Saúde da UEL, gEnfermeira do Ambulatório
do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Londrina, hPsicólogas do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná, iResidente de
Endocrinologia do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná

Resumo
Este trabalho foi desenvolvido em duas unidades básicas de saúde (UBS) do município de Londrina-PR, tendo como objetivo traçar o perfil dos
diabéticos assistidos nestas unidades. Foi aplicado um questionário com perguntas abertas e fechadas, abordando aspectos das diferentes áreas
de atuação da equipe profissional de atendimento ao diabético (social, enfermagem, médica, nutricional e psicológica). Constatou-se que a
maioria dos 103 pacientes avaliados eram diabéticos do tipo 2, não complicados, encontrando-se na faixa etária dos 41 a 80 anos, com baixo
grau de instrução e baixa renda. Os resultados mostraram que os pacientes apresentavam conhecimento insatisfatório sobre a doença, suas
complicações e o auto-cuidado, demandando ações educativas por parte dos profissionais que atuam na assistência a nível primário.

Palavras-chave: Diabetes mellitus, cuidados em diabetes, educação em diabetes, equipe multiprofissional.

Endereço para correspondência: Ilidia Terezinha Martelli Takahashi, Rua Shangai, 55 – 86 050-350 Londrina PR,
Tel: (43)339 0703, E-mail: nupe@uel.br
123 Takahashi ITM et al / Diabetes Clínica 02 (2001) 122~128

Abstract
This report was developed in two primary health care unit at Londrina‘s municipality-PR (Brazil) and it has the aim to describe the profile of
the diabetic patients that were attended in these units. It was applied a questionnaire including multiple choice and short answer questions
(during the period of March until December of 1995). It allowed to get information about different areas of multidisciplinary team work for
diabetic care (social, nursiny, clinical, nutritional and psychological aspects). The majority of the 103 evaluated patients were diabetics of type
2, without complications, and they were between 41 to 80 years old, with low degree of instruction and low income. The results show that
patients had few information about this disease, complications and self-care. It requests more educational actions of primary health care.

Key words: Diabetes mellitus, diabetes care, diabetes education, multiprofissional teamwork.

Introdução tico atuante no Ambulatório do Hospital Universitário


O diabetes mellitus é doença de prevalência signifi- da UEL desde 1984, decidiu no ano de 1995 participar
cativa e crescente em todo o mundo. Segundo a World do PROUNI –LD. Entre as propostas do grupo consta-
Health Organization [1], estas taxas variam bastante nas vam o desenvolvimento de ações que incluíam o treina-
diversas regiões do mundo, diferindo desde taxas me- mento de equipes das unidades básicas de saúde na aten-
nores que 5% na Coréia até 50% entre os índios Pima ção ao diabético e a descrição das características bio-
dos Estados Unidos. psico-sociais dos portadores de diabetes assistidos por
No Brasil, o Censo Brasileiro de Diabetes realizado profissionais da região sul de Londrina-PR.
no final da década de 80 mostrou uma prevalência mé- Em 1997, uma parte dos resultados destas ações foi
dia de 7,6% na faixa etária de 30 – 60 anos [2]. relatada por Almeida et al. [6]. O objetivo deste traba-
Segundo Franco e Ferreira [3], a doença acomete to- lho é apresentar o perfil dos diabéticos assistidos em
das as classes sócio-econômicas constituindo-se um gra- duas unidades básicas de saúde (UBS) da região envol-
ve problema universal de saúde do homem moderno, vida pelo PROUNI-LD.
atingindo populações de países em todos os estágios de O resultado do presente estudo poderá contribuir para
desenvolvimento. que se conheça o perfil dos diabéticos assistidos nas
Algumas características de grupos específicos de pa- demais 52 Unidades Básicas de Saúde existentes no
cientes diabéticos brasileiros foram pesquisadas por di- município de Londrina, e também proporcionar dados
versos autores. Lessa e Pousada [4] estudaram a quali- que subsidiem a comparação das características dos di-
dade da assistência oferecida a um grupo de diabéticos abéticos de cidades do mesmo porte de Londrina em
em Salvador, Bahia. Foss et al. [5], verificaram a preva- outras regiões do país.
lência de complicações do diabetes em pacientes trata-
dos no Hospital de Clínicas de Ribeirão Preto, São Pau-
lo, e Malerbi e Franco [2] em diabéticos identificados Metodologia
durante os trabalhos do Censo Brasileiro de Diabetes. A equipe de profissionais que atuou junto as duas
No início da década de 90 a Universidade Estadual Unidades Básicas de Saúde estudadas constituiu-se de:
de Londrina - UEL, apoiada pela Fundação W.K. Kello- quatro enfermeiras, uma assistente social, uma psicólo-
gg iniciou os trabalhos de um grande projeto interinsti- ga, dois médicos endocrinologistas, nove médicos resi-
tucional na área da saúde, envolvendo a academia (Cen- dentes de clínica médica e uma nutricionista.
tro de Ciências da Saúde - CCS), os serviços de saúde Foram realizadas cinco visitas a UBS do Jardim Pi-
(Prefeitura Municipal de Londrina - PML) e a comuni- zza e quatro à UBS do Parque das Indústrias com perio-
dade da região sul do município. Este projeto foi deno- dicidade mensal.
minado PROUNI–(LD). Os objetivos envolviam melho- Além das atividades assistenciais e didáticas desen-
rias no modelo acadêmico, no modelo assistencial e na volvidas pela equipe multiprofissional junto a pacientes
participação comunitária nas ações de saúde. e profissionais da UBS, os diabéticos foram entrevista-
A equipe multiprofissional de atendimento ao diabé- dos individualmente por um membro da equipe visitan-
124 Takahashi ITM et al / Diabetes Clínica 02 (2001) 122~128

te, respondendo a um questionário padrão. Inicialmente cípio está inserida em famílias que sobrevivem com renda
106 pacientes responderam o questionário sendo que de até dois salários mínimos mensais, sendo que desse
destes, três foram excluídos por não terem o diagnóstico contingente populacional 3,23%, não dispõe de nenhu-
de diabetes confirmado e outros quatro pacientes por ma renda [8]. Vale ressaltar que o índice da população
não terem respondido todo o questionário. economicamente ativa no município é 43,21% segundo
O instrumento constava de 104 perguntas do tipo dados do Censo Demográfico IBGE de 1991 [7].
múltipla escolha e de preenchimento de lacunas, elabo- Em relação à situação habitacional dos pacientes, o
radas de forma a atender as diversas áreas de interesse Gráfico 4 demonstra que 76% possuíam casa própria.
assim distribuídas: identificação do paciente e determi- Em Londrina, 8,39% da população vivem em situação
nação do padrão sócio-econômico (23), auto-cuidado habitacional irregular, como assentamentos e favelas [7].
corporal, monitorização, aplicação de insulina (16), co- Um aspecto relevante estudado é que 49% referiam
nhecimento sobre as patologias associadas e tratamento não usufruir rede de esgoto. Importante frisar que o sis-
(34), hábitos alimentares, freqüência alimentar, fracio- tema de esgoto sanitário na cidade contempla somente
namento e tabus (14) e emoções do paciente frente a 58,3% da população [7].
doença (17). . Os entrevistados referiram dificuldades relacio-
nadas com as filas de espera para consulta e a falta de
medicamentos disponíveis, mesmo assim, o posto de
Resultados e discussão saúde ainda era a referência na concessão da medicação
A) Identificação e perfil sócio econômico básica. Dificuldades financeiras para adquirir os medi-
Dos pacientes entrevistados, 52 eram do Jardim Pi- camentos foram mencionadas por 25,3% dos diabéticos.
zza e 51 do Parque das Indústrias, sendo 66% do sexo Para 70% dos pacientes, a atividade e participação
feminino e 44% do sexo masculino. Este resultado re- social resumia-se à vida religiosa, sendo que 75% eram
flete o que ocorre no município, onde a maioria da po- católicos e 21% evangélicos. A maioria não participava
pulação de Londrina é do sexo feminino [7]. Noventa e de grupos ou associações ligados à comunidade e des-
quatro por cento (94%) dos indivíduos encontravam-se conheciam formas associativas destinadas aos diabéti-
na faixa etária dos 41 a 80 anos, diferentemente do que cos.
ocorre no município onde somente 28% encontram-se
nesta faixa etária. Foss et al [5] observaram em sua amos- Gráfico 1 – Nível de escolaridade dos diabéticos entrevistados nas duas UBS.
tra que 77,5% dos pacientes eram do sexo feminino e
idade variando entre 2 –84 anos. Malerbi e Franco [2]
citam taxas semelhantes de diabetes entre homens e
mulheres na faixa etária de 30 – 69 anos.
Com relação a naturalidade, 27% eram procedentes
do Estado de São Paulo; 24% de Minas Gerais, 10% da
Bahia e somente 20% eram do Paraná.
O estado civil predominante (73%) era de união con-
jugal estável sendo o restante viúvos e solteiros.
Quanto ao grau de instrução, 40% não eram alfabeti-
zados, 52% apresentavam escolaridade mínima, ou seja,
de semi-alfabetizados a 4ª série. Somente 3% tinham o
colegial completo e nenhum com o curso superior (Grá-
fico 1). Gráfico 2 - Distribuição dos diabéticos das UBS segundo a situação
Os Gráficos 2 e 3 demonstram a situação profissional profissional.
e a renda familiar. Observa-se que 39% eram donas de
casa e 34% eram aposentados ou pensionistas. A renda
familiar encontrava-se na faixa de dois ou mais salários
mínimos em 69% dos casos, semelhante aos resultados
obtidos por Foss et al. [5]. O número de pessoas que
contribuíam no orçamento familiar era em média de duas
a três pessoas.
Conforme o último Censo Demográfico realiza-
do pelo IBGE em 1991, 38,86% da população do muni-
125 Takahashi ITM et al / Diabetes Clínica 02 (2001) 122~128

Gráfico 3 - Renda familiar em salários mínimos dos diabéticos faziam uso de prótese dentária e somente 10% dos dia-
entrevistados das UBS. béticos referiram problemas tais como gengivite, hali-
tose e cárie dentária.
Quanto aos cuidados com os pés, 50,5% referiam pres-
tar cuidados especiais tais como: secar os espaços inter-
digitais, lubrificação e verificação de presença de lesões.
Como os diabéticos apresentam maior propensão ao
desenvolvimento de complicações arteriais e nervosas
e, como o “pé diabético” é uma das complicações crôni-
cas mais graves, a prevenção através do auto-cuidado
ainda é a melhor forma de evitá-lo [11, 12].
Gráfico 4 - Distribuição dos diabéticos das UBS segundo a situação A obesidade foi observada em 44% das mulheres e
habitacional. 27,6% dos homens. Esta alta prevalência de obesos en-
tre diabéticos do tipo 2 está de acordo com outras refe-
rências [9, 13] e também com o diagnóstico de graves
erros alimentares detectados no histórico alimentar des-
te grupo. Foss et al. [5] detectaram obesidade em 72,6%
de seus pacientes. Malerbi e Franco [2] observaram que
o diabetes apareceu com freqüência duas vezes maior
entre os indivíduos.
O inquérito relativo ao conhecimento dos pacientes
quanto ao diabetes, suas complicações e patologias as-
sociadas evidenciou que:
- Somente 50% dos entrevistados tinham informa-
B) Aspectos gerais da doença ções corretas relativas à doença e quem mais forneceu
A média de duração do diabetes entre os pacientes essas informações foi o médico da Unidade Básica de
foi de 5 anos. Foss et al. [5] encontraram duração medi- Saúde. Mais da metade dos pacientes (55,6%) não sabe
ana de 6 anos com uma variação de 0,1 – 43 anos. Cons- qual a etiologia do diabetes, e aqueles que dizem conhe-
tatou-se que a clientela era constituída, na maioria, por cer, relacionavam a doença principalmente ao excesso
diabéticos do tipo 2, sendo que 14,1% destes faziam uso de ingestão de açúcar.
de insulina, 73,5% de hipoglicemiantes orais e 13,4% - A maioria dos pacientes (70,6%) conhecia os si-
controlavam a doença apenas com dieta. nais e sintomas da doença, sendo as queixas mais cita-
Lessa e Pousada [5] observaram o uso de insulina em das poliúria, polidipsia e fraqueza. Entretanto, 68,8%
6,3% de sua amostra e em 62,1% o uso de hipoglicemi- dos pacientes desconheciam os sinais e sintomas de hi-
antes orais. Malerbi e Franco [2] verificaram o uso de poglicemia.
insulina em 7,9% e em 40,7% o de antidiabéticos orais. - Praticamente metade dos entrevistados (42,4%)
A população diabética descrita por Foss et al [5] teve não conheciam as complicações específicas do diabe-
uma taxa maior do uso de insulina (47,7%) e menor de tes, e os que tinham conhecimento, mencionaram a ce-
hipoglicemiantes orais (32,6%). As diferenças verifica- gueira como principal complicação. Quando questiona-
das devem ser consideradas, observando a diversidade dos se eram portadores de complicações, 85,8% dos en-
da clientela, lembrando que no caso de Foss et al [5], os trevistados negaram qualquer doença renal; 62,2% refe-
pacientes eram assistidos em um hospital de atendimen- riram alterações circulatórias ou neuropáticas nos mem-
to terciário. A alta taxa de diabéticos do tipo 1 encontra- bros inferiores; 67,9% relataram doença em outro órgão
dos neste estudo vai de encontro à literatura que mostra ou sistema, sendo as mais comuns frigidez ou impotên-
maior prevalência de diabéticos do tipo 2 [9, 3]. cia sexual e cardiopatias.
Dos diabéticos que utilizavam insulina, todos referiam - Dentre as doenças associadas, 75,4% referiram
usar material descartável, 93,7% conservavam a insulina ser portadores de hipertensão arterial e/ou obesidade,
na geladeira, 50% realizavam auto-aplicação, 81% não sendo que a maioria (59,4%) utilizava antihipertensivos.
apresentavam lipodistrofias e 31% não aplicavam insuli- A hipertensão também foi bastante freqüente (42,1%)
na regularmente, principalmente antes do jantar. entre os pacientes de Lessa e Pousada [4]. Foss et al. [5]
Em relação aos cuidados com a boca, 35% mencio- encontraram hipertensão arterial sistólica em 44% dos
naram realizar higiene oral 2 a 3 vezes ao dia, 69% já pacientes e diastólica em 37%.
126 Takahashi ITM et al / Diabetes Clínica 02 (2001) 122~128

- Quanto à oftalmologia, 74,5% referiram sofrer de cia para diabéticos assistidos pelas UBS. Estes pacien-
alterações visuais, mas nenhum mencionou retinopatia, tes tem maior chance de serem portadores de um diabe-
apesar da maioria (69,8%) ter realizado consultas perió- tes mais grave, de tratamento mais complexo e com com-
dicas ao oftalmologista mais de uma vez ao ano. plicações específicas da doença.
- Pouco mais da metade dos pacientes (52,8%) ne- Lessa e Pousada [4] observaram que nenhum de seus
garam infecções freqüentes do trato urinário, dos geni- pacientes era assistido em centros e postos de saúde,
tais e pele. sendo a maioria na rede privada (31,6%).
Verificou-se que os pacientes tinham um nível insufi- Malerbi e Franco [2] enfocaram pacientes que obe-
ciente de informações sobre a doença e suas complica- decem critérios de faixa etária pré-definida.
ções, demandando portanto, a introdução de um progra-
ma educacional pelos profissionais das Unidades Básicas.
A literatura é farta em recomendar a educação em diabetes C) Aspectos nutricionais
como condição básica no tratamento da doença [3, 14]. No contexto do tratamento do paciente com diabetes
Com relação à presença de complicações específi- a orientação nutricional é parte fundamental. Dos paci-
cas, a neuropatia periférica foi a mais observada, con- entes entrevistados, 97% referiram ter recebido orienta-
cordando também com dados da literatura [3, 15, 5]. A ção nutricional sendo 5% realizadas pelo profissional
caracterização da retinopatia diabética tornou-se difícil de nutrição e a grande maioria (65%) pelo médico.
somente com os dados disponíveis, mas a presença de Em relação aos hábitos alimentares, observou-se que
amaurose não foi constatada. Também verificou-se a 76% dos pacientes consumiam as mesmas preparações
ausência de pacientes portadores de úlceras dos mem- dos familiares e os demais não o faziam devido a restri-
bros inferiores ou pé diabético, comum em muitos dia- ção de sódio.
béticos do tipo 2. Entre os pacientes 34% consumiam açúcar e mel quase
No que se refere aos hábitos de vida e vícios, 79,5% diariamente e a grande maioria apresentava baixa in-
dos pacientes negaram tabagismo e 93,7% etilismo. gestão de fibras. A Nutrition [16] enfatiza que os car-
Outros pontos observados foram: boidratos complexos e ricos em fibras devem ser prefe-
- A maioria dos pacientes (76,4%) nunca necessi- ridos, embora os simples poderiam ser consumidos quan-
tou de internação por descompensação do diabetes. do bem orientados e na presença de bom controle meta-
- 75,5% não realizavam qualquer atividade física. bólico. Os chás como de flor de pitanga, folha ou casca
- A maioria (76,4%) não costumava monitorizar a de caju, carambola e folha de insulina entre outros são
glicosúria em casa. consumidos por 55% dos pacientes.
- 83% dos entrevistados controlava o diabetes na Dos entrevistados, 91% utilizavam o óleo vegetal no
UBS, onde realizavam em torno de cinco consultas mé- preparo dos alimentos. Este é um ponto positivo já que
dicas e quatro ou mais glicemias ao ano. uma das medidas preventivas da aterosclerose e de do-
- 49,1% dos pacientes procuravam as UBS quando enças cardíacas, é a inclusão de uma dieta com restrição
havia descompensação da doença. no consumo de gordura animal [17, 18].
Estas observações permitiram supor que o grupo de As proteínas de alto valor biológico faziam parte do
pacientes entrevistados, embora não estivessem adequa- cardápio diário de 57% dos pacientes, sendo a carne
damente informados sobre sua doença e não realizas- bovina a mais consumida, seguida de aves e peixe. No
sem a dieta e os exercícios físicos necessários, não apre- entanto, 43% apresentavam baixo consumo desses ali-
sentavam graves complicações da doença, talvez por mentos. Somente 11,3% dos pacientes relataram inges-
terem um período relativamente curto de evolução da tão de leite ou derivados suficiente para suprir as neces-
mesma. A literatura relata que além do controle glicê- sidades de cálcio.
mico adequado, contribuem para a prevenção das com- Os vegetais como verduras e legumes, embora em
plicações, o tempo de duração da doença e o combate à pouca quantidade, foram citados como hábito diário por
hipertensão arterial e ao fumo [3, 14]. 72% dos pacientes e as frutas por 39% sendo que outros
É importante salientar que as clientelas brasileiras 39% raramente faziam ingestão de frutas. Destes paci-
comparadas na discussão deste trabalho apresentaram entes, 26% referiram cultivar suas próprias hortaliças.
algumas diferenças significativas que devem ser cita- Outro ponto a considerar foi o fracionamento alimen-
das, a saber: tar, onde 21% dos entrevistados realizavam de 4 a 5 re-
Foss et al [5] estudaram diabéticos assistidos em um feições ao dia; 44% faziam 3 refeições e o restante de 1
hospital de nível terciário, não sendo portanto referên- a 2 refeições diárias.
127 Takahashi ITM et al / Diabetes Clínica 02 (2001) 122~128

D) Aspectos psicológicos 65% revelaram estar satisfeitos e 35% afirmaram estar


Há na literatura um consenso de que aspectos psico- parcialmente satisfeitos. Vinte e seis por cento (26%)
lógicos influenciam o controle do diabetes [19, 14, 20]. sentiam-se constantemente tristes. Destes, 13% evita-
O estado psíquico influencia na quantidade e na quali- vam demonstrar seus sentimentos para outras pessoas,
dade dos cuidados necessários com a doença. Nesta pes- 7% tendiam ao isolamento e 7% apresentavam compor-
quisa, verificou-se que dos pacientes entrevistados ape- tamento de revolta.
nas 10% já tiveram algum tipo de atendimento psicoló- Quanto à participação da família no tratamento, 25%
gico, outros 90% nunca tiveram contato com o profissi- relataram que há da parte da família uma atitude contro-
onal psicólogo. ladora em relação ao diabetes, 25% dos familiares ex-
Sobre o surgimento do diabetes associado a algum pressam uma atitude compreensiva e de apoio e 50%
momento crítico em suas vidas, apenas 35% responde- uma atitude considerada por eles como indiferente.
ram afirmativamente, e, destes, a crise em questão rela- Quanto à influencia do diabetes no relacionamento
cionava-se com problemas familiares. interpessoal, 85% sentiam-se tranqüilos, não perceben-
Quanto a reação dos pacientes frente à confirmação do a doença como um fator de interferência, 10% senti-
do diagnóstico do diabetes, 55% mencionaram que acei- am-se em desvantagem ou com raiva das demais pesso-
taram bem o fato, 25% reagiram depressivamente, 10% as e 5% mentiam sobre a doença para os amigos.
negaram a situação e 10% se revoltaram ao saber do Em relação à vida como diabético, 90% afirmaram
diagnóstico. que é possível levar uma vida normal e 10% sentiam
Quanto ao controle de açúcar e a aderência à dieta, dificuldades, mas buscavam alternativas para sentirem-
66% disseram seguir a orientação recebida, embora, 30% se bem.
destes relataram sofrer demais com isso. Segundo a Or-
ganização Panamericana de Saúde [14] quanto mais Conclusão
avançada a idade, ou seja, um diagnóstico de diabetes A clientela diabética assistida nas duas Unidades Bá-
em pacientes mais velhos, tem-se limitada a capacidade sicas de Saúde (UBS) da região sul de Londrina – PR,
de seguir às ordens terapêuticas. Estas ordens se refe- objeto do presente estudo é composta em sua maioria
rem à administração de medicamentos, prática de exer- por indivíduos idosos portadores de diabetes do tipo 2 e
cício e monitorização glicêmica. Não há uma afronta cuja situação sócio-econômica não difere da maioria da
direta em relação às orientações sobre o diabetes, mas população residente nos bairros da cidade. Para o aten-
no dia a dia, a aderência à estas orientações, está relaci- dimento de seus problemas na área da saúde, esta clien-
onada à dificuldade ligada à adaptação frente aos novos tela tem como referência a Unidade Básica e os profissi-
eventos da vida. onais que lá atuam.
Quanto a freqüência aos retornos médicos, 70% dis- Os pacientes demonstraram conhecimentos insufici-
seram comparecer regularmente para as consultas do tra- entes a respeito do diabetes, de suas complicações e de
tamento do diabetes. doenças a ela associada, requerendo informações mais
Quanto a história de depressão anterior ao apareci- detalhadas sobre o auto-cuidado corporal, os aspectos
mento do diabetes, 65% responderam afirmativamente. nutricionais, a terapêutica medicamentosa e os parâme-
Destes 35% superaram rapidamente a crise depressiva, tros de controle da doença.
35% tiveram reincidências e 30% fizeram tratamento Estes resultados demandam minimamente algumas
com antidepressivos. Uma parcela significativa dos pa- medidas, a saber:
cientes (35%) referiu crise depressivas após o diag- - Capacitação dos profissionais das Unidades Bási-
nóstico do diabetes alegando motivos familiares, saúde, cas de Saúde para que possam assistir adequadamente
morte, desentendimento no trabalho e separação conju- os diabéticos e implementar a educação em diabetes.
gal. Harris e Lustman [19] afirmam que tratamentos psi- - Hierarquização da assistência ao diabético no mu-
cológicos podem ser usados para propiciar aderência à nicípio, buscando otimizá-la com a contribuição de pro-
dieta e mais genericamente desenvolver e sustentar um fissionais especializados.
estilo de vida para estes pacientes. Os autores observam - Fornecimento pelo sistema público de saúde de me-
que um entre quatro pacientes diabéticos sofre com pro- dicamentos e insumos necessários para a terapia e con-
blemas de depressão recorrente, ansiedade e desordens trole do diabetes.
alimentares. Estas condições respondem muito bem ao Algumas destas medidas foram sugeridas há uma dé-
tratamento psicológico e em muitos casos alivia a an- cada dentro de uma proposta específica para o municí-
gústia e influencia a melhora do controle glicêmico. pio de Londrina buscando organizar e melhorar a aten-
Em relação ao grau de satisfação com a vida atual, ção aos diabéticos [21].
128 Takahashi ITM et al / Diabetes Clínica 02 (2001) 122~128

Atualmente, estas e outras sugestões estão sendo pro- 8 - Junges C. A demanda reprimida de assistência social em
postas pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e a Londrina – PML Secretaria de Ação Social (mimeo), maio
2000, 9p.
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia 9 - Ministério da Saúde. Departamento de Assistência e Promoção
(SBEM) na “Proposta Básica para a Assistência ao Dia- à Saúde, Coordenação de Doenças Crônico-Degenerativas.
bético no Município” [22], destinada a motivar as auto- Diabetes Mellitus: guia básico para diagnóstico e tratamento.
ridades municipais brasileiras à implementar serviços Brasília, 1996, 83p.
especializados de assistência ao diabético. 10 - Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Programas
Especiais de Saúde, Divisão de Programas Crônico-
Na perspectiva da vigência destas propostas, ganha Degenetativas. Manual de Diabetes. Brasília, 1990. 91p.
importância o trabalho da equipe multiprofissional na 11 - Pedrosa HC. Pédiabético: aspectos fisiopatológicos,
implementação da educação em diabetes. Este processo tratamento e prevenção. Revista Brasileira de Neurologia e
envolve profissionais das diversas áreas de conhecimen- Psiquiatria, Brasília,v.1, n.3, p.131-135, dez./1997.
to, atuando de forma integrada, tanto em nível da Uni- 12 - Guariente MHDM, Haddad MCL, Takahashi O. Auto-cuidado
em Diabetes. In: ALMEIDA HGG. de (org). Diabetes
dade Básica como nos serviços de referência ao diabéti- Mellitus: uma abordagem simplificada para profissionais de
co. Desta maneira poderão contribuir efetivamente para saúde, São Paulo, Atheneu, 1997. p.47-55.
a melhoria da assistência aos pacientes, fazendo-os alia- 13 - Dib SA et al. Diabetes Melito do tipo 1. In: Wajchenberg BL.
dos participativos na busca de uma sobrevida longa e Tratado de Endocrinologia Clínica, São Paulo, Roca, 1992.
mais saudável. p.683-738.
14 - Organización Panamericana de la Salud. Educación sobre
diabetes: Disminuyamos el costo de la ignorancia.
Referências Washington: Oficina Sanitária Panamericana, 1996. 73p.
1 - World Health Organization. Study Group on Prevention of (Comunicación para la Salud, n.9).
Diabetes Mellitus. Geneva. World Health Organization, 15 - Jadzinski M. Cambios estructurales de la Neuropatia
1994:1–7 (WHO Technical report. Series n. 844). Diabética. In: Rull JA et al. Diabetes Mellitus: Complicações
2 - Malerbi DA, Franco LJ. Multicenter estudy of the prevalence Crônicas. México: Interamericana, 1992. p.283-93.
of diabetes mellitus and impaired glucose tolerance in the 16 - Nutrition. Recomendations and Principles for People With
urban brasilian population aged 30 – 69 yr. Diabetes Care Diabetes Mellitus. Capturado em 18 de janeiro de 1999.
1992;15(11):1505-16. Online. Disponível na Internet http:// www. Diabetes. Org./
3 - Franco LJ, Ferreira SRG. É possível prevenir o diabetes Diabetes Care supplement/516. HTM. Arquivo.
mellitus não-insulino dependente? Terapêutica em diabetes: 17 - Martinez TL. da R, Rabelo LM. Tratamento da
Boletim médico do centro BD de educação em diabetes, São hipertrigliceridemia associada a quadros de diabetes mellitus.
Paulo 1995;2(7):1-6. Atheros 1995;6(3):23-28.
4 - Lessa I, Pousada MDC. Qualidade da assistência médica ao 18 - Gianini SD. Aterosclerose dislipidemias: Clínica e
diabético. Arq Bras Endocrinol 1988;62(6):459-463. terapêutica: fundamentos prático São Paulo, BG Cultural,
5 - Foss MC, Paccola GMGF, Souza NV et al. Estudo analítico de 1998. p.57-63.
uma amostra populacional de diabéticos tipo II da região de 19 - Harris MA, Lustman PJ. The Psychologist in Diabetes Care.
Ribeirão Preto (SP) Rev Ass Med Brasil 1989;35(5):179-183. Clinical Diabetes, 1998;16(2):1-6.
6 - Almeida HGG, Haddad MCL, Takahashi OC. Diabetes 20 - Scarinci IC et al. Atualização da Psicologia no atendimento
mellitus: a universidade no treinamento de equipes das interdisciplinar ao Diabético. Semina, Londrina
unidades básicas de saúde. R Gaúcha de Enferm, Porto Alegre 1988;9(3):151-156.
1997;18:71-75. 21 - ALMEIDA HGG, MARQUEZINE FJ, HADDAD MCL et al.
7 - PML/SEPLAN. Gerência de Pesquisa e Informações – DPI. Proposta de um programa integrado e hierarquizado de
Síntese do Perfil do Município de Londrina 1998, jan. 2000. atenção ao diabético para o município de Londrina. Saúde em
Capturado em 07 de julho de 2000. Online. Disponível na Debate 1989;27:70-76.
Internet http://www.londrina.pr.gov.br/planejamento/perfil/ 22 - SBD e SBEM. Proposta básica para a assistência ao paciente
perfil, php3 . diabético no município. Diabetes Clínica 2000;4(2):146-152.
129 Borges VC, Duhda A / Diabetes Clínica 02 (2001) 129~130 Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 02 (2001) 00000043~49

Cuidados nutricionais para pacientes diabéticos em uso de terapia


nutricional enteral

Viviane Chaer Borgesa, Anuraha Dudhab

aGrupo de apoio nutricional enteral e parenteral, São Paulo, Brasil, bAll Índia Institute of Medical Sciences, New Delhi, Índia

Introdução (Dr. Peter Fürst) São Paulo, Brasil


A utilização da terapia nutricional enteral em pacien- O grupo de apoio nutricional enteral e parenteral –
tes diabéticos exige cuidados específicos na tentativa de GANEP, atendeu de janeiro a dezembro de 1996 no Hos-
manter um controle glicêmico adequado durante a infu- pital da Beneficência Portuguesa de São Paulo, 2232
são da nutrição enteral [1]. Sem este controle, as com- pacientes em regime de terapia nutricional. A terapia
plicações a curto e longo prazo podem interferir na me- nutricional enteral foi instituída em 74% dos pacientes e
lhora clínica destes pacientes. O uso de formulações es- destes 13% eram pacientes diabéticos. O diabetes do tipo
pecíficas com teores aumentados de gorduras mono-in- 2 esteve presente em 91% dos pacientes e a maioria
saturadas podem ser benéficas para controle metabólico destes pacientes eram cirúrgicos em período do pós-ope-
dos pacientes [2]. ratório de cirurgia cardíaca e estavam internados na
A terapia nutricional enteral deve ser sempre que pos- Unidade de terapia intensiva (UTI). A observação mais
sível a primeira via de escolha por ser mais fisiológica, importante deste estudo retrospectivo foi de mortalida-
segura e menos onerosa quando comparada à terapia de significativamente maior (p < 0,05), naqueles paci-
nutricional parenteral [3]. Entretanto, as alterações fun- entes que receberam nutrição enteral e eram diabéticos
cionais decorrentes deste distúrbio (metabólicas e fisio- (39% de mortalidade contra 32% no grupo não diabéti-
lógicas), podem interferir negativamente para o sucesso co). As complicações metabólicas estiveram presentes
da terapia enteral [4]. A nefropatia diabética pode com- em 85% dos pacientes diabéticos sendo estas; hipergli-
prometer o metabolismo dos micronutrientes e de flui- cemia, hipoglicemia, cetoacidose e dislipidemia (tendên-
dos (sódio e potássio) [5]. A gastroparesia, manifesta- cia a elevação dos triglicérides e das lipoproteínas de
ção da neuropatia diabética, pode levar a complicação baixa densidade e redução dos valores das lipoproteínas
grave da terapia enteral, que é o refluxo gastro-esofági- de alta densidade). Pacientes diabéticos podem apresen-
co e a aspiração deste conteúdo para o pulmão [1, 3]. tar também complicações gastrintestinais. Os estudos
A aplicação da terapia nutricional enteral em pacien- mostram que a gastroparesia pode estar presente em 30-
tes diabéticos difere de acordo com protocolos criados 40% dos pacientes, a diarréia em 20-30% e a obstipação
por diversas instituições. O artigo mostra duas realida- em 20-60% [4, 6]. Em outro estudo retrospectivo, o
des diferentes vivenciadas pelas nutricionistas Viviane GANEP avaliou a sobrevida e a evolução de 56 pacien-
Chaer Borges do GANEP-Brasil e Anuradha Dudha de tes em pós-operatório complicado de cirurgia cardíaca.
New Delhi, Índia. Os pacientes foram divididos em dois grupos, diabéti-
130 Borges VC, Duhda A / Diabetes Clínica 02 (2001) 129~130

cos e não diabéticos, e foram pareados por diagnostico, 50 centavos por dieta contra US$ 5-12 de dieta industri-
idade, sexo e duração de terapia enteral. Os resultados alizada. Os frascos utilizados para a infusão das dietas
não mostraram diferenças significativas em relação ao enterais são os de glicose endovenosa, vazios e mesmo
déficit calórico cumulativo, saída de sonda naso-ente- assim faltam em número. As práticas sanitárias são es-
ral, obstrução da sonda, retardo do esvaziamento gástri- cassas e o clima desfavorável (18 a 40o C). Entretanto, a
co, diarréia, vômitos ou obstipação entre os dois grupos. maior necessidade na Índia é a educação. Durante o ques-
Entretanto a mortalidade foi significativamente maior tionário aplicado para nutricionistas sobre as complica-
nos diabéticos (46% contra 39%). ções inerentes ao paciente diabético, 35% destas não ti-
Estes dois trabalhos sugerem que existe uma associa- nham certeza da relação do diabetes com o risco de de-
ção entre morbidade e mortalidade e o diabetes, que pode senvolvimento da doença vascular coronariana.
ser atribuída primariamente às complicações metabóli- No que pese a falta de recursos para uso da terapia
cas presentes nesta população. nutricional enteral, as nutricionistas na Índia continuam
Durante o painel, várias recomendações foram feitas se esforçando para solucionar este problema. A educa-
para os pacientes diabéticos em terapia nutricional ente- ção continuada para pacientes, familiares, profissionais
ral, como dosagem de glicemia de jejum antes do início de saúde em países como a Índia, com a finalidade de
da dieta enteral, glicemia capilar de 4/4 horas. E antes melhorar o atendimento aos pacientes incluindo os dia-
de deitar, glicemia sanguínea e capilar para pacientes béticos que necessitam de terapia nutricional, parece ser
internados em UTI de 4 a 8vezes ao dia conforme ne- o recurso menos oneroso.
cessidade, e uso de dietas enterais enriquecidas com áci-
dos graxos mono-insaturados. Referências
Embora nos EUA e na Europa a terapia enteral seja 1 - Campbell S, Schiller M. Considerations for enteral nutrition
administrada de forma continuada para a maior parte support of patients with diabetes. Topics Clin Nutr 1991;7:23-
32.
dos pacientes, o GANEP mostrou que a técnica intermi- 2 - Bak LB, Heard KA, Kearney GP. Tube feeding your diabetic
tente é a mais utilizada em seu meio, quer por falta de patient safely. Am J Nurs 1996;96(12):47-49
bombas infusoras para todos os pacientes ou por eleva- 3 - McMahon MM, Rizza RA. Nutrition support inn hospitalized
ção do custo operacional. Relata também que esta reali- patients with diabetes mellitus. Mayo Clin Proc
dade vem se alterando. 1996;7‘1(6):587-594
4 - Teixeira da Silva ML, Waizberg DL. Diabetes Mellitus.
Nutrição enteral e parenteral na prática cl;inica 1995;52:446-
New Delhi, Índia 450.
A qualidade dos cuidados com pacientes diabéticos 5 - Porcari JM, Maillet OS. Care for persons with diabetes during
em regime de terapia nutricional na Índia sofre a influ- surgery. In; Powers MA (ed) Handbook of diabetes Medical
ência da política governamental de saúde. É reflexo de Nutrition, 2nd Ed. Aspen 1996.
6 - May R, Goyal R. Effects of diabetes Mellitus on digestive
uma população extremamente grande com parcos recur- system. In: Kahn CR, Weir GC (eds) Joslin’s Diabetes
sos. A cada ano, 125.000 mulheres morrem por proble- Mellitus. 13th Ed Philadelphia: Lea & Febiger, 1994.
mas durante a gravidez ou parto [7]. Embora existam 7 - Unicef. Facts for life: a communication challenge. UNICEF,
diferenças sociais regionais, os recursos necessários para WHO and UNESCO 1993;4.
terapia nutricional adequada são inviáveis. Os hospitais 8 - Goenka S, Shah P, Lobo J, Patel T, Reddy KS. Impediments to
diabetes care in private medical practice in a developing
particulares estão distribuídos pelo país, mas uma mi- country. Canadian Journal of Cardiology 1997;13(3
noria dos pacientes utiliza estes serviços e quando o fa- suppl):201B (abstract 0706).
zem, despendam parte de seus recursos financeiros para
obtenção de serviço especializado. Nos hospitais gover-
namentais a proporção de enfermeiras para os pacientes
é de 1:10-, da mesma formam um nutricionista pode es-
tar responsável por 600 pacientes, o que torna inviável a
avaliação e monitorização destes pacientes [8]. Isto ocor-
re também com os pacientes diabéticos. O nutricionista
consegue somente visitar pacientes nos quais haja uma
solicitação médica.
As dietas enterais tornam-se inacessíveis frente ao
custo e as bombas infusoras ten valor alto, US$ 600,00
cada, sendo utilizadas em casos bem específicos. As for-
mulações enterais são blenderizadas com custo de 40 a
Diabetes Clínica 02 (2001) 131

6º Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes


a
6 Exposição Nacional de Produtos e Alimentos para Diabéticos
Dias 7, 8 e 9 de Julho de 2001 - Fundação Alvares Penteado - FECAP - São Paulo - SP
DISTRIBUIÇÃO DOS SIMPÓSIOS POR SALA
SÁBADO, 07 DE JULHO DE 2001 Simpósio 7 - Sala 333 Considerações sobre alimentos Funcionais
Atuação da Enfermagem Tratamento Medicamentoso
09:00 ÀS 10:00
Abertura Solene Conde Honório Al- Programa de Prevenção e Controle do DM Simpósio 14 - Sala 333
Consulta de Enfermagem - Programa de Atendi-
vares Penteado (transmissão ao Auto-Monitorização
mento
vivo para todas as salas Auto Monitorização - Princípios e adesão
Interpretando os Controles Glicêmicos para Melhor
Qualidade de Vida
Manh㠖 Das 10:00 às 12:00 Insulinoterapia - Cuidados Especiais Avaliação Crítica dos Testes -Glicemia - Glicosuria
WorkShop: Insulinoterapia - Centonuria
Simpósio 1
Simpósio 8 - Sala 334 Recentes Lançamentos
DIABETES MELLITUS – CONCEITUAÇÃO
Nefropatia Diabética Workshop - Oficinas de Demonstração
BÁSICA
Conferência de Abertura - Plano de Reorganização História Natural e Avaliação Clínica da Hipertenão Simpósio 15 - Sala 334
da Atenção ao Diabetes Mellitus e Hipertensão Ar- Arterial na Nefropatia Diabética Insuficiência Renal: Diálises
terial do Ministério da Saúde: Resultados Atuais Tratamento da Hipertensão Nefropatia Diabética Diabetes e Insuficiência Renal Crônica
Impacto Epidemiológico e Classificação OMS - É Possível Prevenir ou Reverter a Nefropatia Dia- Diálise no Paciente diabético
ADA bética Preparo do Paciente com Nefropatia Diabética para
Sindrome Plurimetabólica e sua Importância Etiopatologia da Hipertensão Arterial no Diabetes o Transplante Renal
Simpósio 9 - Sala 531 Resultados de Transplante renal em Paciente Dia-
Debates – 11:30 – 12:00 Dificuldades no Atendimento do Diabetes béticos
Tratamento Combinado - Como e quando indicar Manejo do Paciente Diabético com Insuficiêcia
Tarde – Das 14:00 às 18:00 prevensão e tratamento da polineuropatia diabética Renal Crônica
Diagnósticos de Complicações e Orientações prá- Simpósio 16 - Sala 531
Simpósio 2 - Auditório ticas Diabetes e a Sexualidade
Nutrição: Aspectos Básicos da Terapia Combinando Insulinoterapia e Antidiabéticos orais A Sexualidade na Mulher Diabética
Nutricional em Diabetes Mellitus - Quando indicar e como Gravidez e Diabetes
Recomendações Nutricionais Atuais - Pirâmide
Anticoncepção na Mulher com Diabetes
Alimentar
DOMINGO, 08 DE JULHO DE 2001 Climatério e Menopausa
Terapia Nutricional na Criança e Adolescente Dia-
bético Manh㠖 das 08:00 às 12:00 Atividade Física na Mulher Diabética na Gravidez
Terapia Nutricional no Adulto Jovem e Adulto Idoso e Climatério
Simpósio 10 - Auditório Disfunção Erétil - Diagnostico e Tratamentos Atuais
Terapia Nutricional da Gestante Diabética Atualidades em terapia nutricional
Terapia Nutricional com Contagem de Carboidratos O fenômeno de transição nutricional e incidência Tarde – das 14:00 às 18:00
Simpósio 3 - Sala 131 do DM T2
Avanços Terapêuticos I - Sensibilizadores da In- Caracterização do Consumo de Adoçantes e Pro- Simpósio 17 - Auditório
sulina dutos Dietéticos por Diabéticos Obesidade e Diabetes Mellitus (Medley)
PPAR – Glitazonas, aonde estamos? A Contribuição do Farelo de Arroz no Controle do Epidemiologia,Fatores Ambientais e Genética
Rosiglitazona Diabetes Diabetes Mellitus tipo 2 e o Tecido Adiposo - Cau-
sa - Efeito
Simpósio 4 - Sala 131 Simpósio 11 - Sala 131
Tratamento medicamentoso: Análise Crítica
Avanços Terapêuticos II Avanços Terapêuticos no Controle da
Abordagem Nutricional
Pioglitazona - Uma nova opção no tratamento do Hiperglicemia Pós Prandial
Diabetes Tipo 2 A Importância do controle da Hiperglicemia Pos- Simpósio 18 - Sala 131
Benefícios potenciais da Pioglitazona Prandial Avanços Terapêuticos - I I I
Repaglinida Perspectivas com a Insulina Glargina e seu perfil
Simpósio 5 - Sala 331 Nateglinida de ação
Diabetes na Criança e Adolescente Acarbose: Novas ações e novas perspectivas de uso Terapia Combinada: Quando e como
Etiopatologia e Classificação do Diabetes na Cri-
ança em Idade Escolar Simpósio 12 - Sala 331 Simpósio 19 - Sala 131
Tratamento Medicamentoso Avaliação do Pé em Risco Lispro Mix 25
O Crescimento e Desenvolvimento na Criança Avaliação dos Pés no Diabetes e Definição do Pé Insulina inalada
com Diabetes em Risco
O Atendimento do Pé em Risco no Brasil Simpósio 20 - Sala 331
Complicações Agudas Tratamento do Pé Diabético
Complicações Crônicas Fisioterapia no Pé em Risco
Orteses para Prevenção das Ulcerações Cirurgia Profilática
Simpósio 6 - Sala 332 Tratamento Ortopédico
Laboratório em Diabetes Simpósio 13 - Sala 332 Reconstrução Vascular e Angioplastia
Monitorização da glicemia fora do laboratório Dislipidemias e Diabetes Reabilitação
Controle de qualidade na dosagem de glicemia fora Fisiopatologia das complicações macrovasculares
do laboratório Considerações fisiopatológicas e Diagnóstico das
Diagnóstico laboratorial do paciente diabético Dislipidemias no paciente diabético
Acompanhamento laboratorial do paciente diabético Tratamento dietético da dislipidemia do diabético.
132 Diabetes Clínica 02 (2001)

Simpósio 21 - Sala 332 Simpósio 28 - Sala 332 Simpósio 34 - Sala 331


Educação Oftalmopatias A Psicologia Contribuindo no Controle Meta-
Educação em Diabetes: A grande surpresa do Alterações Oculares na Diabetes bólico do Diabético
Século XXI Retinopatia Diabética Suporte psiquiatrico para pacientes Diabéticos
Conceituação Básica Novos Tratamento Aspectos Sócio-Psico-Somáticos de uma amostra
Abordagem Pedagógica Repercursões Oculares do Tratamento Sistêmico da de Pacientes Diabéticos Tipo 2
Aderência ao Tratamento Diabetes O Diabético e seu Corpo
Por que Educar ? Epidemiologia e Atendimento Público Terapia Adaptativa da Criança Diabética
Atuação do Psicólogo Hospitalar - Hospital Briga-
Simpósio 22 - Sala 333 Simpósio 29 - Sala 333 deiro
O Diabético Hospitalizado Sistema de Infusão Contínua de Insulina /
Abordagem terapeutica da Cetoacidose Diabética Hipoglicemias Simpósio 35 - Sala 332
em diferentes situações Casos Clínicos antes e após Bomba: Resultados Atividade Física e Diabetes
Controle metabólico pré - intra e pós operatório Contagem de Carboidratos na terapia de Bomba de Agita São Paulo - Agita Brasil
Cirurgia Bariátrica no Diabético obeso morbido Insulina Introduzindo a Atividade Física no Tratamento do
Nutrição Enteral e Parenteral - Indicações e Princí- WorkShop: Demonstração Prática DM
pios Básicos Hipoglicemias não diabética do adulto: Diagnósti- Avalaliação e Prescrição do Exercício no DM 1 e 2
co diferencial e tratamento Atividade física na Gestante
Simpósio 23 - Sala 334 Hipoglicemias em diabéticos : Manuseio Cínico Programa de Exercicios : da Aula de Educação
Transplante de Pancreas - A Cura do Diabetes Física ao Esporte
Transplante de Ilhotas: Estado Atual Simpósio 30 - Sala 334
Processos Laboratoriais do Transplante de Ilhotas Exercícios em Condições Especiais Simpósio 36 - Sala 333
O Transplante de Pancreas: As Cirurgias e Riscos Efeito Agudo do exercício em Condições Especi- Terapias Complementares
Intra e Pós Operatórios ais O Reconhecimento de Estrutura Molecular seme-
Seguimento Pós Operatório tardio: Sucesso e Difi- Exercício para o Diabético Obeso lhante à Insulina em Plantas
culdades Exercício para o Diabético Hipertenso O uso do GH em Diabeticos Idosos
Exercício na Presença de Disfunção Neurovascular Terapeutica Biomolecular do Diabetes
Simpósio 24 - Sala 531 Exercício na Presença de Complicações Tratamento Homeopático do Diabético
Doença Cardio Vascular no Diabetes Microvasculares Reabilitação Aplicada ao DM
Doença Coronariana: Epidemiologia e Fisiologia
Doença Coronariana: Avaliação Crítica e Indica- Simpósio 31 - Sala 531 Simpósio 37 - Sala 334
ção dos Métodos Diagnósticos Abordagem Odontologica Genética e Diabetes
Angioplastias e Revascularização do Miocardio Responsabilidade do Cirurgião Dentista no Trata- O Projeto Genoma
Doença Vascular Periférica: Diagnóstico Clínico e mento do Paciente Diabético Diabetes e o Genoma
Laboratorial Avaliação Médica e Odontológica do Paciente Di- Marcadores imuno genéticos e DM
Doença Vascular Periférica: Tratamento Cirúrgico abético Genética do Diabetes Tipo Mody
Diagnóstico e Tratamento das Principais Lesões
Orais do Diabetes Melitus Simpósio 38 - Sala 531
SEGUNDA-FEIRA, 09 DE JULHO DE 2001 Complicações Odontológicas
Avaliação Clínica do Paciente Diabético -
Manh㠖 Das 08:00 às 12:00 Anamnese e Exames Complementares Importan- Doença Periodontal: Avaliação e Tratamento
tes em DM Ortopedia e Ortodontia em D.M.
Simpósio 25 - Auditório Cirurgia e Implantes em D.M.
Marketing e Comunicação em Nutrição Infecção e Medicação - Focos Agudos e Crônicos
Odontológicos em DM Urgência e Emergências do Paciente Diabético
Informação Nutricional - Novas Regras de
Rotulagem
Comunicação Virtual em Nutrição - Tendências em Tarde – das 14:00 às 18:00
Hábitos Alimentares
Alimentos Diet no Dia a Dia do Diabético - Cardá- Simpósio 32 - Auditório
pios Terapia Nutricional nas Complicações do D.M.
A Piramide Alimentar do Brasil - Tabela das Por- Terapia Nutricional em Hipertensão arterial e
ções Alimentares do Ministério da Saúde Cardiopatias
Mitos e Fatos em Alimentação (Funcionais) Influ- Terapia Nutricional nas Dislipidemias
ência nos Índices Glicêmicos e Lipídicos Terapia Nutricional na Nefropatia diabética
O paciente diabético em Uso de terapia Nutricional
Simpósio 26 - Sala 131 Parenteral e Enteral
Educação Nutricional em Diabetes Mellitus O paciente diabético em atividade Física - Como
Conceitos e Princípios básicos da educação Evitar e Tratar a Hipoglicemia
Nutricional em Diabetes
Técnicas didáticas usadas em educação em Diabetes Simpósio 33 - Sala 131
Vivência de oficinas de nutrição - salas 531, 532, REUNIÃO FENAD
533 e 534 - Bloco A Plano de Reorganização da Atenção ao DM e HA
do Ministério da Saúde
Simpósio 27 - Sala 331 Campanha de Diabetes e Hipertensão - Ministério
Aspectos Psicológicos do Paciente Diabético da Saúde e Parcerias - FENAD
Psicodrama “Relação Profissional com Paciente” Apresentação de Resultados dos Comitês Assesso-
Psicodinamicas do Paciente Diabético na Infância, res Constituídos em Reunião Anterior
Adolescencia, Adulta e 3ª idade
Casos Clínicos - Atuação ANAD
Diabetes Clínica 02 (2001) 133

Notícias das Associações

São Paulo tem lei de atenção integral aos portadores de diabetes

No dia 09 de março de 2001 foi sancionada a Lei no 10.782, de autoria do


deputado estadual Roberto Gouveia (PT), que institui diretrizes para uma
política integral à saúde da pessoa portadora de diabetes no âmbito do SUS
(Sistema Único de Saúde). Fruto do trabalho e da mobilização das associa-
ções de portadores de diabetes, de técnicos da saúde e de diversos movimen-
tos sociais, a lei inova em, pelo menos, quatro aspectos:
- Garante a todos os cidadãos diabéticos os medicamentos e instrumentos
de autocontrole necessários (hipoglicemiantes orais, insulina, fitas, glicosí-
metros, auto-aplicadores, etc), que devem ser fornecidos, gratuitamente a to-
dos, pelo Poder Púbico, por meio do SUS;
- Aponta para a autonomia do paciente frente aos serviços de saúde, trans-
formando o usuário em sujeito do processo de controle ou cura;
- Garante às entidades de usuários, técnicos e pesquisadores das universi-
dades públicas o direito de participarem da elaboração das normas técnicas
de atendimento, democratizando o saber sobre os cuidados;
- Reforça as ações coletivas, enfrentando os determinantes sociais da do-
ença, por meio da prevenção, interdisciplinaridade e ação inter-setorial (tais
como exercícios físicos, alimentação e qualidade de vida).
“No Estado de São Paulo, há em torno de dois milhões de portadores de
diabetes. Muitos só descobrem que são diabéticos quando desenvolvem ou-
tras doenças graves, como infarto do miocárdio, derrame cerebral, ceguei-
ra, úlceras e amputações, entre outros males”, diz Roberto Gouveia. O depu-
tado lembra que o governo gasta com as seqüelas da doença muito mais do
que investiria em programas de prevenção. Cita que o dinheiro gasto em
hemodiálise de um paciente poderia custear o tratamento e controle adequa-
dos para quatro diabéticos. “O tratamento tem um preço, mas a vida não. A
gravidade da situação dos diabéticos fica evidente pela perda de 12,7 anos
de vida produtiva para os homens e 11,3 anos para as mulheres, em média.
Complicações, muitas vezes fatais, promovidas pela desassistência, têm cus-
to incalculável, que em boa medida pode ser suprimido por ações de promo-
ção, prevenção, tratamento e reabilitação”, conclui Roberto Gouveia.
Ao lado desta lei estadual e de um projeto de lei federal, a Câmara Muni-
cipal de São Paulo prepara uma lei específica, encaminhada pelo Vereador
Carlos Neder (PT), (no 595/99 – Câmara Municipal de São Paulo). Este pro-
jeto define diretrizes para uma política de prevenção e atenção integral à
134 Notícias das Associações - Diabetes Clínica 02 (2001)

saúde de pessoas portadoras de Diabetes, no âmbito do Sistema Único de


Saúde no Município de São Paulo.
Este projeto garante “o apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico
voltado para o enfrentamento e controle do diabetes e dos problemas relaci-
onados, e seus determinantes, assim como para a formação permanente dos
trabalhadores de rede de serviço de saúde” (Art. 1, parágrafo 3). Ele também
garante “o direito às medicações e aos instrumentos e matérias de auto-
aplicação e auto-controle, visando a maior autonomia possível por parte do
usuário” (Art. 1, parágrafo 5). Enfim, “a direção do SUS municipal garante
o fornecimento universal de medicamentos, insumos, materiais de auto-con-
trole e auto-aplicação de medicações, além de outros procedimentos neces-
sários à atenção integral da pessoa portadora de diabetes” (Art. 3).

Correspondência: Câmara Municipal de São Paulo, Vereador Carlos Neder,


Viaduto Jacareí, 1000 / sala 1010, Bela Vista 01380-900 São Paulo SP, Tel: (11)
3111-2236/3115-1651, Fax: (11) 3111-3023, E-mail: neder@alternex.com.br

Diminui o risco de aumento da insulina e o Governo cria lei para


isentar os fabricantes do medicamento de impostos

A Novo Nordisk conseguiu liminar suspendendo as sanções antidumping


de 76,1% sobre as importações de insulina determinadas na resolução da
Camex (Câmara do Comercio Exterior), em 23 de fevereiro desse ano.
Em sua defesa, a Novo Nordisk conseguiu demonstrar a justiça de seus
pleitos ao Juiz Federal Titular da 8a vara do Distrito Federal, que acatou os
vários fundamentos apresentados pela empresa.
Na concessão do liminar, o Juiz entendeu que, prevalecendo a decisão da
Camex, que impôs as sanções, a empresa sofreria injusta perda de mercado e
milhares de diabéticos brasileiros teriam que pagar mais caro pelos medica-
mentos; além disso, a Novo Nordisk não poderia honrar o contrato firmado
com a União (concorrência No 03/2000) para o fornecimento de insulina
suína e humana ao Sistema Público de Saúde.
A decisão é em sede de liminar, o que não afasta o risco de ser derrubada
pelas partes interessadas, mas já é uma grande vitória contra a decisão do
governo de aumentar os preços da insulina. Como se sabe, tanto a Novo
Nordisk quanto a Eli Lilly, foram obrigadas a sobretaxar os seus preços do
medicamento. Por enquanto, a primeira não precisará repassar os custos ao
consumidor.
Por outro lado, o Governo decidiu por isentar dos impostos PIS/COFINS
medicamentos de uso contínuo, sendo então que os preços vão ser reduzidos
proporcionalmente. Os preços das insulinas serão reduzidos em 3,65%.
Essa decisão, entretanto, não tem qualquer relação com a decisão dada no
processo de dumping, pois ainda há risco de sobretaxa sobre as insulinas
dinamarquesas, pois a decisão favorável ainda é provisória.
FICHA PRÁTICA
Diabetes Clínica 07
Ficha Prática / Diabetes Clínica

38 PERGUNTAS PARA AVALIAR A INDEPENDÊNCIA DA CRIANÇA PORTADORA DE DIABETES DO TIPO 1

Este questionário permite ao médico, com 10 anos, a criança respondeira a 28


educador ou pais da criança portadora de perguntas. Para avaliar os conhecimentos de
diabetes do tipo 1, avaliar o grau de uma criança, coloque no gráfico o número de
independência do jovem diabético. Quanto respostas exatas dele em função de sua idade.
mais ele souber responder às perguntas, mais Assim aparecerá claramente se ele está na
independente e capaz de se auto-cuidar. O média de sua idade, ou em um patamar
gráfico mostra as médias de respostas exatas superior ou inferior de conhecimento de sua
em função da idade. Na idade de 10-12 doença em relação a maioria das crianças
anos, uma criança bem instruida (e com mais diabéticas da mesma idade (adaptado de Tim
de seis meses de diabetes) é capaz de Wysocki, The ten keys to helping your child
responder a quase todas as questões, como grow up with diabetes, American Diabetes
75% das crianças de sua idade. Em média, Association, 244 páginas).

É a criança capaz de:


SIM NÃO
1 – Reconhecer os sintomas da hipoglicemia e falar sobre isso com alguém? ............................................................... o o
2 – Tratar a hipoglicemia comendo alguma coisa com açúcar ? ................................................................................... o o
3 – Saber quando uma reação hipoglicêmica pode ocorrer e prevenir sua ocorrência ? ................................................ o o
4 – Saber que os sintomas da hiperglicemia incluem sede muito forte, maior quantidade
de urina do que o normal, náuseas, vômito e fadiga ? ............................................................................................ o o
5 – Saber o que fazer para baixar o nível de açúcar quando elevado ? ........................................................................ o o
6 – Saber quando a glicose sanguínea pode ser alta demais e o que fazer para impedir esta ocorrência ? .................... o o
7 – Saber porque é importante levar uma identificação de portador de diabetes ? ........................................................ o o
8 – Fazer um teste urinário de cetona ? ....................................................................................................................... o o
9 – Picar o dedo com uma lanceta e tirar uma gota de sangue para os testes de glicose sanguínea ? ............................ o o
10 – Fazer um teste de glicose sanguínea visualizando a tira do teste ? ........................................................................ o o
11 - Fazer um teste de glicose sanguínea usando um glicosímetro ? ............................................................................. o o
12 – Escrever os resultados dos testes em um caderno ? .............................................................................................. o o
13 – Conhecer cada tipo de insulina que usa ? ........................................................................................................... o o
14 – Conhecer as doses de insulina que usa ? ............................................................................................................. o o
15 – Saber os horários diários de aplicação de insulina ? ........................................................................................... o o
16 – Preparar uma aplicação com um tipo só de insulina ? .......................................................................................... o o
17 – Preparar uma aplicação usando uma mistura de dois tipos de insulina ? .............................................................. o o
18 – Fazer uma auto-aplicação de insulina ? ............................................................................................................... o o
19 – Usar lugares diferentes para cada aplicação de insulina ? .................................................................................... o o
20 – Escrever os tipos de insulina utilizados e as doses no caderno ? ............................................................................ o o
21 – Avaliar o pico de ação de cada tipo de insulina usado ? ...................................................................................... o o
22 – Conhecer a duração de ação de cada tipo de insulina usado ? ............................................................................ o o
23 – Alterar as doses de insulina de acordo com o nível da glicose ? ............................................................................ o o
Ficha Prática / Diabetes Clínica

24 – Conhecer as razões de necessidade de alterar as doses de insulina ? ................................................................... o o


25 – Arrumar o material de aplicação de insulina adequadamente ? ............................................................................ o o
26 – Reconhecer uma insulina vencida e descarta-la ? ................................................................................................. o o
27 – Classificar os alimentos em grupos de alimentos ? ............................................................................................... o o
28 – Usar um plano nutricional ? ................................................................................................................................ o o
29 – Usar um plano nutricional em restaurantes e lanchonetes? ................................................................................... o o
30 - Ajustar a quantidade de comida de acordo com o nível da glicose sanguínea ? .................................................... o o
31 – Conhecer as razões para alterar a dieta prescrita ? .............................................................................................. o o
32 – Conhecer a importância da dieta no tratamento do diabetes ? ............................................................................. o o
33 – Saber que as atividades como correr, nadar, andar de bicicleta e jogar tênis são os melhores exercícios
o
para as pessoas portadoras de diabetes ? .............................................................................................................. o
34 – Planejar exercícios diários de acordo com a quantidade e o horário das refeições ? .............................................. o o
35 – Ajustar a quantidade de exercícios quando a taxa da glicose é maior ou menor do que o habitual ? ...................... o o
36 – Saber que o exercício deve ser evitado em caso de doença ou se há cetonas na urina ? ........................................ o o
37 – Enumerar duas precauções de segurança sobre o exercício para pessoas portadoras de diabetes ? ....................... o o
38 – Enumerar alimentos apropriados para comer antes do exercício ? ........................................................................ o o

Total de respostas “SIM” ________

T Wysocki et al. Psychometric Properties and Normative Data


for the Diabetes Independence Survey – parent version, The
Diabetes Educador 22:587-91, 1996.
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Diabetes Clínica 02 (2001) 139

Calendário de Eventos
Tel +46 18 150080
Maio de 2001 e-mail: uppsalakongress@hotmail.com
site: http://welcome.to/sssd01
5 a 9 de maio
VIIIo International Symposium on Insulin Receptors and
Insulin Action Junho de 2001
Molecular and clinical aspects of insulin Action in the New
Millenium 20 a 23 de junho
Geneva, Switzerland Endo 2001
Informações: Symporg SA 83th Annual Meeting of the Endocrine Society
Tel: (41) 22 839 8484 Denver, Colorado
Fax: (41) 22 839 8485 Tel (301) 941-0241
E-mail: bglover@endo-society.org
10 a 12 de maio
VIIº Jornadas internacionales de vasculopatías, factores de 22 a 26 de junho
riesgo y pie diabético 61th Annual Scientific Sessions of the American Diabetes
Palais Rouge, Buenos Aires, Argentina Association
Organização: Dr. Adolfo V. Zavala , Hospital de Clínicas José de Philadelphia, Pennsylvania
San Martín Informacões: www.diabetes.org
Informações: Larrea 1403. (1117) Capital Federal, Argentina
Tel/Fax: (5411) 4805-7651
E-mail: azavala@intramed.net.ar. Julho de 2001
19 a 20 de maio 6 a 10 de julho
Atualização em pé diabético Local Organising Committee of The Pediatric Endocrinology
IIIo Encontro multidisciplinar de avaliação e tratamento do pé 2001
diabético Montreal, Quebec, Canadá.
São Paulo, SP Tel: (514) 398 3770
Informações: Centre de Estudos HSPM E-mail: pedendo@ums1.lan.mcgill.ca
Tel: (11) 278-2211 ramal 248 Site: www.med.mcgill.ca/pedendo
Fax: (11) 270-0914
7 a 9 de julho
25 a 27 de maio 6o Congresso brasileiro multiprofissional em diabetes
IVº COPEM - Congresso Paulista de Endocrinologia e 6a Exposição nacional de produtos e alimentos para o diabético
Metabolismo Fundacão Álvares Penteado, Av Liberdade, 532
Maksoud Plaza Hotel - São Paulo, SP São Paulo, SP
Organização: Paradigma Eventos Informações: ANAD
Tel: (11) 3813-8896/3815-9003 Tel: (11) 5572-6559
Fax: (11) 3815-2285 www.anad.org.br
E-mail: paradigma@uol.com.br
www.sbemsp.org.br
Agosto de 2001
25 a 27 de maio 16 a 19 de agosto
36th SSSD Meeting (Scandinavian Society for the Study of IXo Congresso brasileiro de obesidade
Diabetes) Hotel Bourbon, Foz de Iguaçu, PR
Uppsala, Suécia Organização: ABESO
Informações: SSSD 2001 Informações: (41) 342 7175
Dragarbrunnsgatan 35, 753 20 Uppsala www.abeso.org.br
140 Diabetes Clínica 02 (2001)

Setembro de 2001 Dezembro de 2001


9 a 13 de setembro 1 a 3 de dezembro
37th Annual Meeting European Association for the Study of IIo Encontro paranaense de Endocrinologia
Diabetes Informações: (41) 342-1415 Ramal 213 e 214 (Fax)
EASD 2001 E-mail: amp@amp.org.br
Glasgow, Escócia
Informações: Concorde Services Ltd
$b, 50, Speirs Wharf, Port Dundas Junho de 2002
Glasgow, G4 9TB UK
Tel +44 141 331 0123 14 a 18 de junho
E-mail: easd@concorde-uk.com 62th Annual Scientific Sessions of the American Diabetes
Association
San Francisco, California
Outubro de 2001 Informacões: www.diabetes.org

4 a 6 de outubro
IIo Congresso Internacional de Nutrição, Alimentação e Agosto de 2002
Tecnologia - CINAT
Centro de Convenções São Camilo, São Paulo SP 24 a 29 de agosto
Informações: SINESP (11) 3277 8422/8291, 278 7144 9th International Congress on Obesity
www.sindicatonutricionistas.com.br São Paulo, SP
Informações: Abeso
10 a 14 de outubro Tel: (11) 3079-2298
XIIIo Congresso brasileiro de diabetes Fax: (11) 3079-4232
Hotel Intercontinental, Rio de Janeiro, RJ
Informações: JZCongressos
Tel: (21) 286-2846/537-9134 Setembro de 2002
E-mail: mail@jz.com.br
1 a 5 de setembro
21 a 24 de outubro 38th Annual Meeting European Association for the Study of
XIVo Congresso brasileiro de nutrição parenteral e enteral Diabetes
VIIo Congresso latino americano de nutrição parenteral e EASD 2002
enteral Budapest, Hungria
IIo Congresso brasileiro de nutrição clínica Informações: Budapest 5, POB 741
Salvador, BA Hungary 1365
Informações: Eventus System Tel: +36 1 269 5883
Tel: (71) 264-3477 E-mail: easd2002@congress.blavo.hu
Fax: (71) 264-0508
E-mail: eventus@cpunet.com.br
Fevereiro de 2003
Novembro de 2001 3th International Symposium on Diabetes & Pregnancy
Geneva, Switzerland
11 a 15 de novembro Informações: PO Box 50006 Tel Aviv 61500 Israel
XIo Congresso ALAD – Association latinoamericana de Tel 972 3 514 0014
diabetes E-mail: conventions@kenes.com
IIIo Congresso Uruguaio de Diabetologia
Punta del Este, Uruguai
Informações: personas SRL, Av. 8 de octubre 2323, of. 305, Agosto de 2003
Montevideo, Uruguai
Tel: (5982) 408-1015/408-2951
E-mail: personas@cs.com.uy 24 a 29 de agosto
18th Internacional Diabetes Federation Congress
15 a 18 de novembro Paris, França
XIIIo Curso nacional de atualização em endocrinologia e Informações: www.idf.org
metabologia
Gramado, RS
Organizacão: SBEM regional RS
www.vjs.com.br
Tel: (51) 330 1134
E-mail: vjs@vjs.com.br
Diabetes Clínica
Diabetes Clínica 04 (2000) 141

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Índice
(vol. 5 nº 3 - 2001)

EDITORIAL
O mais completo evento em Diabetes
6o Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes, Fadlo Fraige Filho ....................................... 143

INFORMES DO DIABETES NO MUNDO ............................................................................................ 144

O DIABETES NA IMPRENSA ................................................................................................................ 161

AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS ............................................................................ 168

PRODUTOS E NOVIDADES
Wafer Light (Lowçucar), Body fat monitor (Omron), Obesidade infantil (Guia prático) .......................... 175

RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ................................................................................ 180

ARTIGOS CIENTÍFICOS
O tratamento do diabetes mellitus do tipo 2, Fadlo Fraige Filho ............................................................... 187

Autocuidado, trabalho e diabetes mellitus: uma abordagem de enfermagem, Rita Batista Santos ............ 194

Vacinação contra gripe e vacinação antipneumocócica em pacientes diabéticos,


João Toniolo Neto ....................................................................................................................................... 201

FICHAS PRÁTICAS
Avaliação do Pé diabético ........................................................................................................................... 203

CALENDÁRIO DE EVENTOS ............................................................................................................... 211

Programa do 6o Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes ........................................................ 205

Normas de Publicação ................................................................................................................................. 138


Diabetes Clínica
142 Diabetes Clínica 04 (2000)

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúr-
bios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o
conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas.
Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico, o conselho consultivo e profissionais de
reconhecido saber na área. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relativas à
diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma maneira
rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes.

Diabetes Clínica Dr. Nelson Rassi (GO) ATLANTICA EDITORA


Editor científico : Dr. Fadlo Fraige Filho, Dr. Orsine Valente (SP)
presidente da FENAD e ANAD, Professor Enfermeira Paula Pascali (SP) Redação
Titular de Endocrinologia Faculdade de Dra. Reine Marie Chaves (BA) Jean-Louis Peytavin
Medicina ABC Dr. Saulo Cavalcanti da Silva (MG) Av. Atlantica, 604 - 1102
Diretora comercial: Dr. Sérgio Atala Dib (SP) 22010-000 Rio de Janeiro - RJ
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Editor: Dr. Jean-Louis Peytavin, Apoios atlantica1@globo.com
faculdade de Medicina de Lyon (França) IDF - SACA - International Diabetes
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FENAD - Federação Nacional de Associa- Maurício Galvão Costa Anderson
Conselho Consultivo ções de Diabéticos ATMC - Av. São João, 56 sala 7
Psicóloga Ada Verônica da Silva Maciel (SP) ANAD - Associação Nacional de Assistên- 12940-000 Atibaia – SP
Dr. Adolpho Milech (RJ) cia ao Diabético
Dr. Airton Golbert (RS) SBD - Sociedade Brasileira de Diabetes ISSN 1517-6428
Dra. Alcina Vinhais (BA) COREN-SP - Conselho Regional de © ATMC - Atlântica Editora Ltda
Dra. Ana Míriam G. Carboni (SP) Enfermagem de São Paulo
Dr. Antônio Carlos Lerário (SP) COSEMS-SP - Cons. de Secretarías Assinatura
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Dr. Balduíno Tschiedel (RS) www.atlanticaeditora.com.br
Nutricionista Celeste Elvira Viggiano (SP) Federação Nacional de Associações de tel: (21) 2244-6471
Educador Cláudio Cancelliéri (SP) Diabéticos (FENAD)
Dr. Edgard d’Ávila Niclewicz (PR) Associação Nacional de Assistência ao
Dr. Freddy Goldbert Eliaschewitz (SP) Diabético (ANAD)
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que uma verificação independente do diagnóstico e doses dos medicamentos seja realizada. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os
padrões de ética médica, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
143
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

EDITORIAL

O mais completo evento em Diabetes


o
6 Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes

Fadlo Fraige Filho

Mais uma edição deste Congresso pioneiro no Brasil em atualização e


reciclagem de multiprofissionais em Diabetes.
Além de ser do interesse de todos aqueles que militam na área da saúde, a
programação cuidadosamente preparada pela presidência e pela comissão
científica e coordenadores, levou a extensão do problema que pode ser apre-
ciado nesta edição.
Sua amplitude de abordagem faz jus ao seu “slogan”: “O mais completo
evento em diabetes.” Serão sete anfiteatros com atividades simultâneas, du-
rante os três dias de congresso, dando uma gama bem ampla de opções de
temas, que foram escolhidos de acordo com sua importância na prática do
diabetes, bem como a atualização dos mesmos. Estes temas estão dispostos
de maneira didática e agrupados em simpósios que os correlacionam.
Iniciamos, desde a conceituação até abordagens nas áreas multidisciplina-
res, outras especialidades e patologias correlatas, tais como: cardiologia, obe-
sidade, distúrbios do metabolismo lipídico, nefrologia e transplantes, oftal-
mologia, etc.
Destacamos também os simpósios de atualização terapêutica com aborda-
gem clínica das novas drogas lançadas, e também do simpósio de Genética,
Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho,
onde será abordado o Projeto Genoma e o Diabetes.
Coordenador - Editor Científico
Nesta edição de Diabetes Clínica, também trazemos, quase em tempo real,
de Diabetes Clínica
resumos de trabalhos do 61st Scientific Sessions of American Diabetes Asso-
ciation, realizado em Filadélfia, EUA, em junho de 2001, privilegiando os
pesquisadores brasileiros que lá apresentaram seus trabalhos em posters.
Também passamos a partir desta edição abordar com mais freqüência as
patologias associadas ao diabetes, como obesidade, dislipidemias e suas re-
percussões cardiovasculares; dando uma maior visão e da amplitude do dia-
betes em seus acometimentos universais, no organismo.
Assim selecionamos diversos informes de 11th European Congress on
Obesity, realizado em maio de 2001, onde se destacou o uso do orlistat e da
sibutramina como auxiliares no tratamento do diabetes.
Espero mais uma vez brindar os nossos leitores de mais uma rodada ampla
de atualidades, de maneira prática e rápida, como propõe esta revista.
144 Diabetes Clínica 03 (2001)

Informes do Diabetes no Mundo

Laurence Kessler et al., 61st Scientific Monitoramento contínuo da glicose em pacientes diabéticos do
Sessions, American Diabetes tipo 1 tratados por bomba de insulina vs. transplante de
Association, Philadelphia, pâncreas ou de células de ilhotas
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001
O objetivo deste estudo foi de comparar o perfil glicêmico de pacientes
diabéticos do tipo 1 tratados por bomba de insulina ou transplante de pâncre-
as ou de células de ilhotas, pelo meio do sistema de monitoramento contínuo
de glicose (CGMS, Continuous Glucose Monitoring System, Minimed Inc).
CGMS pode registrar concentrações subcutâneas de glicose (2,2 para 22 mmol)
durante 72 horas (288 medições por dia). Essas medições precisaram ser va-
lidadas por 4 medições capilares da glicose sanguínea por dia (calibração).
Durante 3 dias, CGMS foi conectado em 17 pacientes diabéticos do tipo 1: 6
pacientes (49,8 ± 74,4 anos, duração do diabetes 31 ± 11,3 anos) foram trata-
dos por infusão intra-peritoneal de insulina por bomba (grupo IPH), 8 paci-
entes (42,2 ± 11,6 anos, duração do diabetes 27,2 ± 8,7 anos) por transplante
simultâneo rim-pâncreas (grupo SPK) e 3 pacientes (43,3 ± 13,6 anos, dura-
ção do diabetes 26,6 ± 12,5 anos) por transplante de células de ilhotas após
transplante de rim (grupo IAK). Todos os pacientes SPK e 1 paciente IAK
eram insulino-independentes, e 2 pacientes IAK apresentavam uma função
parcial do transplante e necessidades reduzidas de insulina exógena. Todos
os pacientes transplantados tinham um tratamento imunosupressivo (ciclos-
porina, micofenolate mofetil e esteróides: 0 a 5 mg/dia). O controle glicêmi-
co foi avaliado pela medições das concentrações médias de glicose, amplitu-
de média das variações da glicemia (índice MAGE), durante 3 dias, e pela
HbA1c. Durante 3 dias, ambas as concentrações médias da glicose e amplitu-
de média das variações glicêmicas em pacientes transplantados por pâncreas
e por células de ilhotas foram significativamente menores do que as observa-
das em pacientes tratados por IPH: 5,38 ± 1,12 e 6,09 ± 0,86 vs. 8,06 ± 1,03
mmol (p < 0,001) e 1,44 ± 0,42 e 1,42 ± 0,57 vs. 3,46 ± 0,71 mmol (p <
0,001), respectivamente. As concentrações médias de glicose e as variações
da glicose sanguínea foram similares em pacientes tratados por transplantes
de pâncreas ou de células de ilhotas. HbA1c em pacientes tratados por trans-
plantes de pâncreas ou de células de ilhotas foi respectivamente de 5,35 ±
0,37% e 6,03 ± 1,02% e este valor aumentou significativamente para atingir
7,21 ± 0,55% em pacientes tratados por IPH (p < 0,001). O monitoramento
contínuo da glicose subcutânea sugere que o transplante de células de ilhotas
pode ser tão eficiente como o transplante de pâncreas e superior a bomba de
insulina para restaurar um bom controle metabólico e diminuir a variabilida-
de da glicose sanguínea.
Informes do Diabetes no Mundo / Diabetes Clínica 03 (2001) 145

Joseph C Cappelleri et al., 61st Relação entre a melhora da satisfação do paciente e o controle
Scientific Sessions, American Diabetes glicêmico em pacientes portadores de diabetes do tipo 1 e 2
Association, Philadelphia, tratados por insulina inalada: resultados de dois estudos
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 controlados multicêntricos

Muitos pacientes portadores de diabetes acham difícil o uso de insulina sub-


cutânea (SC). Em mais, os estudos sobre a relação entre as alterações na satis-
fação do paciente e as alterações no controle glicêmico (HbA1c) são raras.
Os dados de dois estudos de fase 2 com 128 pacientes (n = 72 pacientes
diabéticos tipo 1 no primeiro e n = 56 pacientes diabéticos tipo 2 no segundo)
foram combinados. Os pacientes foram randomizados para receber insulina
inalada (INH, n = 63) ou subcutânea (n = 65) durante três meses. Os indivíduos
randomizados por INH receberam insulina pré-refeição mais uma aplicação de
insulina ultralente ao deitar, e os randomizados para subcutânea continuaram o
tratamento instaurado antes o estudo (2/3 aplicações por dia). Um questionário
de 15 itens (satisfação global, facilidade de uso, conforto social) foi utilizado
para avaliar a satisfação do paciente no início e no final do estudo.
Uma análise do modelo de covariância incluiu percentagem de alteração,
desde o início até o fim do período de três meses, para cada item de satisfa-
ção. As dietas foram comparadas usando o estudo e as alterações no controle
glicêmico (percentagem de alteração da HbA1c) como covariáveis.
Um total de 111 indivíduos apresentava dados completos de todas as vari-
áveis. Comparado com SC, INH resultou em média significativamente maior
(p < 0,05) da percentagem de aumento da satisfação global do paciente (38,3%
INH vs. 11,6% SC), facilidade de uso (43,4% INH vs. 13,6% SC), e conforto
social (35,7% INH vs. 14% SC). Uma diminuição absoluta de 1% da HbA1c
(média: -0,74%) foi associada à melhora significativa (p < 0,05) de 11,1% da
satisfação global (r = -0,26), 8,7% (r = -0,19) em facilidade de uso e 14,5% (r
= -0,24) em conforto social.
Esses dados sugerem que INH procura uma melhor satisfação global do
paciente do que a insulina SC em pacientes portadores de diabetes tipo 1 ou
2. Em mais, a melhora da satisfação do paciente é associada à melhora do
controle glicêmico.

Satish K. Garg et al., 61st Scientific Perfis da glicose plasmática em pacientes tratados com insulina
Sessions, American Diabetes glargina ou insulina NPH
Association, Philadelphia,
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 Observamos o controle glicêmico em indivíduos utilizando uma aplicação
ao dia do novo análogo de insulina de longa ação, a insulina glargina (Lantus),
vs. Indivíduos utilizando duas aplicações ao dia de insulina humana NPH.
45 pacientes portadores de diabetes do tipo 1 (C-peptídeo 0,5 mmol/l)
foram randomizados para receber, uma aplicação de glargina (22 pacientes)
ou 2 aplicações de insulina NPH (23 pacientes) ao dia, em adição a insulina
lispro (Humalog) ou insulina humana regular (Humulin) antes a refeição. A
duração do estudo foi de 28 semanas. Todos os pacientes realizaram perfis da
glicose de 24h em um centro de pesquisa clínica, no início do estudo, após 8
semanas e no fim do estudo.
Os níveis da glicose plasmática de jejum não foram significativamente
diferentes entre os usuários da glargina e da NPH. A dose total de insulina
glargina diminuiu significativamente desde o início do estudo e a consulta
final, e era significativamente menor do que a dose de insulina NPH na últi-
ma consulta. Em contrasto, a dosagem das insulinas de ação curta foi signifi-
cativamente diferente entre os dois grupos. Não houve diferença nas insuli-
nas de ação curta dentre de cada grupo.
146 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001)

Continuação Glicose plasmática Dose de insulina Dose de insulina


de jejum (mmol/l) (U/kg/dia) de ação curta
(U/kg/dia)
início fim início fim início fim
Glargina 11,4 ± 1,0 8,1 ± 0,9 0,6 ± 0,1 0,4 ± 0,1 0,3 ± 0,02 0,3 ± 0,02
NPH 10,1 ± 1,1 9,3 ± 0,8 0,6 ± 0,1 0,6 ± 0,1 0,2 ± 0,01 0,2 ± 0,01
Valor de P 0,416 0,169 0,859 0,008 0,007 0,002

A disponibilidade de um novo análogo de insulina pode fazer a insulinote-


rapia mais fácil para os portadores de diabetes necessitando de aplicações de
insulina. Esses dados sugerem que a insulina glargina administrada uma vez
ao dia é tão eficaz como duas aplicações ao dia de insulina NPH.

Kjed Hermansen et al., 61st Scientific Insulina Aspart bifásica 30 melhora o controle glicêmico pós-
Sessions, American Diabetes prandial
Association, Philadelphia,
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 Introdução: A insulina Aspart bifásica 30 (BIAsp30) é uma nova formula-
ção lowmix de insulina Aspart (Iasp) 30% solúvel e 70% cristalizada em
protamina. O controle glicêmico pós-prandial obtido com BIAsp30 e com
insulina humana bifásica padrão 70/30 (BHI 30) foi comparado em testes de
refeições rigorosamente controlados.
Métodos: Neste estudo randomizado, 50 pacientes portadores de diabetes
do tipo 1 (35,7 ± 9,4 anos; IMC 24,0 ± 2,6 kg/m2; HbA1c 8,6 ± 1,1%) foram
observados em três dias diferentes, recebendo o seguinte tratamento em or-
dem randomizada: BIAsp30 aplicada imediatamente antes um café da manhã
padrão, BHI 30 aplicada 30 minutos antes o café da manhã (BHI 30t-30) e
BHI 30 aplicada imediatamente antes o café da manhã (BHI 30t0). A dose era
0,40 U/kg para os três tratamentos. Nenhuma insulina intermediária ou de
ação longa foi administrada durante as 24 horas antes o período do estudo, e
os níveis da glicose sanguínea foram estabilizados entre 5 e 8 mmol/l por
uma aplicação de insulina endovenosa noturna.
Resultados: A área sob a curva da glicose plasmática pós-prandial de 4 ho-
ras (AUC0-4h) ajustada para o início foi diminuída em 23% com BIAsp30 quando
comparada com BHI 30t0 (p < 0,0001) e em 9% quando comparada com BHI
30t-30 (p = 0,013). A concentração máxima da glicose plasmática (Cmax) foi
maior com BHI 30t0 em comparação com BIAsp 30 (16,5 ± 2,8 vs. 14,0 2,4
mmol, p < 0,0001), e o prazo para a concentração máxima da glicose plasmáti-
ca (tmax) foi aproximadamente mais curto de 20 minutos com BIAsp30, qual-
quer seja o período de aplicação da BHI 30 (p < 0,0001). Os níveis médios da
glicose plasmática pré-teste foram similares entre os grupos (6,7 para 6,9 mmol).
Conclusões: Em razão da entrada mais rápida da insulina no fluxo sanguí-
neo, o controle glicêmico pós-prandial é mais eficiente com BIAsp30 do que
com BHI 30, qualquer seja o momento de aplicação da insulina BHI 30.

Edwards S. Horton et al., 61st Scientific Riscos/benefícios de atingir objetivos de HbA1c com nateglinida
Sessions, American Diabetes
Association, Philadelphia, Apesar de que a recomendações usuais preconizam uma meta de HbA1c <
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 7%, os efeitos adversos dos agentes hipoglicemiantes orais são, às vezes, per-
cebidos com maiores do que os benefícios em pacientes com HbA1c < 8%.
Em mais, a contribuição relativa das variações da glicose pós-prandial à HbA1c
é maior em esses pacientes e necessita o uso de agentes hipoglicemiantes que
podem diminuir essas variações sem causar hipoglicemia pós-refeição ex-
cessiva. Avaliamos a nateglinida (NAT), novo agente hipoglicemiante deri-
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001) 147

Continuação vado da D-fenilalanina, que age diretamente sobre as células β do pâncreas


para potencializar rapidamente a secreção da insulina induzida pela refeição.
O grau de potencialização é dependente do nível da glicose e é rapidamente
reversível quando os níveis de glicose estão caindo. NAT (120 mg, n = 99),
quando administrada imediatamente antes de uma das 3 refeições em pacien-
tes nunca tratados com agentes hipoglicemiantes orais, resultou em controle
glicêmico global similar ao da metformina (500 mg, n = 98), em um estudo
de 24 semanas. A diminuição média ajustada da HbA1c foi –0,8% (p < 0,001),
para cada grupo a partir de um nível de 8,1% (NAT) e 8,3% (metformina). A
meta HbA1c 7% foi atingida em 34% dos pacientes tratados por NAT e em
41% dos pacientes tratados por metformina. Estes benefícios da NAT foram
obtidos com risco mínimo de hipoglicemia; a incidência da hipoglicemia
confirmada foi de 1,9%. Os benefícios foram também obtidos com mínimo
ganho de peso (0,9 kg). O risco hipoglicêmico é máximo quando aproxima-
se da glicemia normal e, por isso, fizemos uma análise dos estudos clínicos
controlados por placebo nas quais a HbA1c inicial era 8%, e encontramos
hipoglicemia em 3,6%, 0,9% e 26% dos casos, com NAT, metformina e gli-
buride (5 ou 10 mg), respectivamente. A experiência com NAT indica que o
objetivo nível de HbA1c pode ser atingido em muitos pacientes com uma boa
relação risco/benefício.

Bruno Geloneze, José C Pareja, Enrico Efeitos da cirurgia bariátrica sobre o controle glicêmico e a
M Repetto, Sylva R Geloneze, Luis A resistência à insulina em diabetes tipo 2
Magna, Marcos A Tambascia,
Campinas – SP, 61st Scientific Sessions, Introdução: A cirurgia bariátrica foi comprovada como a técnica terapêu-
American Diabetes Association, tica a mais eficiente para a obesidade extrema. Vários estudos reportaram
Philadelphia, Pennsylvania, 22-26 de que a cirurgia pode melhorar o controle glicêmico. É conhecido que a cirur-
junho de 2001 gia bariátrica permite a supressão ou a diminuição drástica do uso dos agen-
tes antidiabéticos. A relação entre o controle glicêmico e a sensibilidade à
insulina nesses pacientes é pouco estudada.
Material e métodos: Acompanhamos 10 pacientes diabéticos do tipo 2
submetidos à cirurgia bariátrica (gastroplastia vertical com bypass Y-Roux)
em um ano, observando o controle glicêmico e a sensibilidade à insulina
estimada por um teste de tolerância à insulina (ITT), realizado no início, 6 e
12 meses após a cirurgia.
Resultados: A diminuição massiva de 70% do excesso de peso foi obtida
em um ano após a cirurgia. O índice de sensibilidade à insulina (Kitt) mos-
trou um aumento significativo durante o período de acompanhamento (r =
0,53, p < 0,001). Nós observamos uma correlação linear forte entre Kitt e os
níveis da glicose (r = -0,50, p < 0,01) e HbA1c (r = -0,51, p < 0,01). Essa
melhora metabólica foi observada apesar da interrupção do tratamento far-
macológico do diabetes durante o primeiro ano de acompanhamento.

Início 6 meses 12 meses


IMC (kg/m2) 54,1 ± 5,7 40,6 ± 8,7 35,5 ± 6,1
Glicose (mmol) 10,8 ± 4,9 5,7 ± 1,3 4,6 ± 0,5
HbA1 (%) 7,6 ± 2,2 4,9 ± 0,3 4,6 ± 0,7
KITT (%/min) 1,65 ± 1,02 3,76 ± 1,65 4,43 ± 2,34

Conclusões: A perda de peso é o objetivo principal para o tratamento dos


pacientes obesos diabéticos do tipo 2, e a perda agressiva de peso mostrou
uma melhora do controle glicêmico. Este efeito sobre o metabolismo da
glicose pode ser explicado pelo aumento significativo da sensibilidade à
insulina observada nesta população.
150 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001)

Magid Lunes, Sandra RG Ferreira, Fatores de prognóstico de diabetes em população de nipo-


Suely Gimeno, Regina Moises, Laércio brasileiros
Franco, São Paulo – SP, 61st Scientific
Sessions, American Diabetes A obesidade central é associada à resistência à insulina, a qual é implicada
Association, Philadelphia, na gênese do diabetes do tipo 2. Os níveis de insulina e proinsulina podem ser
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 os indicadores precoces da disfunção pancreática. Em 1993, uma coorte de
primeira (n = 238) e segunda gerações (n = 292) de Japoneses brasileiros
(4~79 anos) foi submetida a um teste de tolerância à glicose (GTT). Foram
medidas a glicose plasmática de jejum e 2 horas após administração da glico-
se oral os níveis de insulina e proinsulina. 18,3% dos indivíduos eram diabé-
ticos, 16,8% apresentavam IGT e 3,2% IFG (critérios OMS 1999). O objeti-
vo do estudo era identificar os fatores de prognóstico de diabetes em 113
nipo-brasileiros com tolerância normal à glicose, acompanhados durante um
período de 7 anos. Em 2000, o GTT oral foi repetido: 60 indivíduos mantive-
ram o seu status de tolerância normal à glicose (grupo 1), e 53 se tornaram
diabéticos (grupo 2). No início, o grupo 2 apresentava uma circunferência de
cintura (88,7 ± 9,2 vs. 80,3 ± 10,7 cm, p < 0,001), e uma relação cintura/
quadril maiores do que o grupo 1, mas os grupos não apresentam diferenças
no que se refere aos níveis de insulina de jejum e 2 horas pós-refeição e na
relação proinsulina/insulina. Após classificação por gênero e idade, as mu-
lheres que se tornaram diabéticas mostraram níveis mais elevados de proin-
sulina de jejum (> 59 anos: 20,3 ± 17,2 vs. 9,9 ± 10,0 pmol/l; > 60 anos: 23,1
± 15,0 vs. 12,5 ± 8,4 pmol/l; p < 0,05), quando comparadas com as que per-
maneceram normais. A taxa de incidência do diabetes foi 20,2/1000 indiví-
duos-ano (IC 95% 15,5-26,5). Essas taxas aumentaram com os tertiles dos
parâmetros antropométricos e hormonais, sem alcançar um nível estatistica-
mente significativo. O modelo de regresso de Cox incluindo a circunferência
da cintura como variável dependente, ajustado por genro e idade, mostrou
um hazard ratio de 1034 (IC 95% 1004-1064), o que significa que cada cen-
tímetro de cintura em mais aumenta o risco de diabetes em 3,4%. Modelos
similares tomando em conta insulina e proinsulina como variáveis dependen-
tes não sugerem que os parâmetros hormonais são fatores de prognóstico de
diabetes. Nossos dados confirmam o papel da obesidade central na patogêne-
se do diabetes em imigrantes japoneses. Apesar de que as mulheres que de-
senvolveram intolerância à glicose mostraram níveis de proinsulina maiores
no início, nossos dados não permitem considerar isso como um fator de prog-
nóstico da doença neste acompanhamento de 7 anos. Nossos achados podem
ter implicações pela prevenção do diabetes através a prevenção da acumula-
ção de gordura abdominal.

Alfredo Halpern, São Paulo – SP, Estudo multicêntrico latino-americano com orlistat em pacientes
61st Scientific Sessions, American diabéticos do tipo 2 obesos ou com sobrepeso
Diabetes Association, Philadelphia,
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 Um estudo de 6 meses, multicêntrico, randomizado, controlado por place-
bo foi realizado em 5 países latino-americanos para avaliar os efeitos do or-
listat sobre a perda de peso, o perfil glicêmico e outros fatores de risco cardi-
ovasculares em relação com a obesidade em pacientes diabéticos do tipo 2
obesos ou com sobrepeso. Os pacientes (idade 18-70 anos, IMC 27 kg/m2,
portadores de diabetes tipo 2 e com HbA1c 6-11%) foram observados duran-
te um período inicial de 2 semanas, no qual receberam um placebo e uma
dieta reduzida em calorias (déficit de 600kcal/dia, 30% em gordura). Os pa-
cientes que completaram o teste inicial foram então randomizados para rece-
ber orlistat 120 mg ou placebo três vezes ao dia e dieta para um período de 6
meses. Tratamento complementar com agente antidiabético (fora da insulina
152 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001)

Continuação e da acarbose) foi permitido durante o estudo. Um total de 365 pacientes foi
aceito, dos quais 338 participaram do tratamento duplo-cego e foram aceitos
para a análise (orlistat n = 164; placebo n = 174). Após 24 semanas, o grupo
orlistat + dieta mostrou uma diminuição significativamente maior do peso do
que o grupo placebo + dieta (4,7% vs. 3,0%; p = 0,0003). Quase duas vezes
mais pacientes recebendo orlistat + dieta perderam 5% do peso corporal ini-
cial, quando comparados com grupo controle (30% vs. 17%; p = 0,003). Or-
listat foi associada com uma melhora significativa do controle glicêmico,
comprovada por diminuições maiores da HbA1c (-0,6% vs. –0,2%; p = 0,06),
da glicose plasmática de jejum (-1,00 vs – 0,01 mmol/l; p = 0,04) e da glicose
pós-prandial (-1,06 vs. +0,17mmol/l; p = 0,05). Orlistat foi também associa-
do com a melhora significativa do colesterol total (-4,2% vs. +1,19%; p =
0,0001) e colesterol LDL (-3,6% vs +4,7%; p = 0,0002). Orlistat foi bem
tolerado. Os eventos gastrintestinais foram mais freqüentes no grupo orlistat
do que no grupo placebo (65% vs. 37%), mas foram geralmente de intensida-
de leve a média, transitórios e limitados a 1 ou 2 episódios por paciente. Em
conclusão, o tratamento com orlistat + dieta resultou em perda de peso clini-
camente significativa e melhorou o controle glicêmico e o perfil lipídico em
pacientes diabéticos do tipo 2 obesos ou com sobrepeso.

Maria I Schmidt, Ethel R Spichler, Diabetes mellitus gestacional diagnosticado com teste de tolerância
Judith M Pousada, Ângela J Reichelt, à glicose 75g – 2 horas e problemas adversos na gravidez
Adriana C Forti, Bruce B Duncan,
Porto Alegre – RS, 61st Scientific O 4th Workshop sobre o diabetes gestacional incluiu em suas recomenda-
Sessions, American Diabetes ções para o diagnostico do diabetes gestacional (DMG), o uso do teste 75 g
Association, Philadelphia, oral de tolerância a glicose de 2 horas (OGTT). O objetivo de nosso estudo
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 foi de avaliar a capacidade do DMG de prognosticar vários problemas na
gravidez. Foram observadas mulheres brasileiras grávidas de 20 anos e mais,
em consultórios pré-natais em 6 capitais do Brasil. Essas mulheres realiza-
ram o teste OGTT 75g entre as 24 e 28 semanas de gestação e foram acompa-
nhadas até o parto e período do pós-parto. As que mostraram uma hiperglice-
mia, considerada como diabética, sem relação com a gravidez, foram elimi-
nadas das principais análises. DMG foi definido por dois valores de pelo
menos 95, 180 e 155 mg/dl para as glicemias de jejum, de 1h e 2h após carga
de glicose, respectivamente. Dentre as 4977 mulheres do estudo, 2,4% (IC
95% 2,0%-2,9%) apresentavam DMG, de acordo com os critérios da ADA
(American Diabetes Association). Após ajuste pelos efeitos da idade, obesi-
dade e outros fatores de risco, DMG, segundo os critérios da ADA, prognos-
ticou risco aumentado de pré-eclampsia (RR 2,28; IC 95% 1,22-4,16), e mor-
te perinatal (RR 3,10; IC 95% 1,42 – 6,47). Apesar de que uma associação
estatisticamente significativa com macrossomia (RR 1,78; IC 95% 1,14 –
2,79) era presente nas análises não-ajustadas, incluídas as mulheres com hi-
perglicemia diabética, a associação era pequena e não estatisticamente signi-
ficativa (RR 1,29; IC 95% 0,73-2,18) nas análises ajustadas que excluíram
essas mulheres. Em conclusão, os critérios DMG 2h, como definidos pela
ADA, prognosticam os problemas adversos na gravidez.

EASO – European Association for the O que precisa saber sobre a obesidade
Study on Obesity, 11th European
Congress on Obesity, Viena, Áustria, 1 – A obesidade é um dos mais importantes problemas de saúde pública de
30 de maio – 2 de junho de 2001 nossos tempos. Ela atinge proporções epidêmicas e está começando substi-
tuir a má-nutrição e as doenças infecciosas como o fator de contribuição o
mais significativo de problemas de saúde em todo o mundo.
154 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001)

Continuação 2 – O aumento da obesidade em um nível global resulta da combinação


de suscetibilidade genética, do aumento do consumo de gorduras e da dimi-
nuição da atividade física.
3 – O maior desafio para os pacientes obesos e os profissionais da área é
melhorar a capacidade de manter mais do que conseguir a perda de peso.
4 – O uso de medicamentos para a perda de peso, combinado com dieta
adequada e programa de exercícios, ajuda os pacientes obesos a perder peso
e manter a perda de peso pelo menos durante um ano.
5- A obesidade é diretamente relacionada a várias doenças, tais como:
doença arterial coronariana, hipertensão arterial, câncer, acidente vascular
cerebral, diabetes mellitus, osteoartrite.
6 – As pessoas com IMC (Índice de massa corporal) > 25 são considera-
das como apresentando sobrepeso, e obesas se IMC > 30. Mais do que 20%
dos Europeus apresentam um IMC > 30.
7 – Os quatro pilares do manejo da obesidade são: dieta, modificação do
comportamento, atividade física e ajuda comunitária.
8 – A obesidade e as condições a ela relacionadas são hoje a segunda
causa de morte prevenível, após o tabagismo.
9 – Os indivíduos inativos apresentam mais riscos de ganhar peso.
10 – A OMS (Organização Mundial da Saúde) está dando mais atenção ao
problema pela criação da IOTF (International Obesity Task Force). O objetivo
da IOTF é fazer reconhecer a obesidade como uma doença e pressionar os
governos para implantar o manejo da obesidade nos cuidados primários.

AN Faria, KMB Carvalho, CH Arasaki, Efeitos da perda de peso induzido por cirurgia gástrica sobre a
JC Del Grande, A Beani Jr, MT pressão sanguínea e os parâmetros metabólicos
Zanella, Universidade Federal de São
Paulo, São Paulo – SP, 11th European Introdução: A cirurgia gástrica foi indicada para tratar pacientes obesos
Congress on Obesity, European com IMC > 40 kg/m2, principalmente para os que apresentam sintomas as-
Association for the Study of Obesity sociados de morbidade, tais como hipertensão, diabetes e dislipidemias, que
(EASO), Viena, Áustria, aumentam o risco cardiovascular.
30 de maio – 2 de junho de 2001 Métodos: Neste estudo 15 pacientes obesos (12 mulheres, 3 homens), idade
38 ± 10 anos e IMC 50 ± 6 kg/m2, foram submetidos à cirurgia gástrica
(band + by-pass) e avaliados para IMC, pressão sanguínea, taxas de glicose
de jejum, triglicérides e colesterol, antes e após 6 ± 3 meses. Um relatório
diário de ingestão alimentar foi utilizado para calcular o consumo total de
energia após cirurgia.
Resultados: A cirurgia resultou em uma diminuição do IMC de 23,6 ±
6,0% (p < 0,01). O consumo total de energia era entre 220 e 1400 kcal com
uma correlação positiva no período pós-cirurgia (r = 0,79; p < 0,01), indi-
cando um processo de adaptação. A pressão sanguínea sistólica e diastólica
diminuiu de 151 ± 85 para 106 ± 64 (p < 0,01). Os níveis de glicose diminu-
íram de 101 ± 19 para 93 ± 7 mg/dl (p = 0,06) sem alterações no colesterol.
Nenhuma correlação entre alterações em pressão sanguínea e IMC foi en-
contrada.
Conclusão: A perda de peso posterior à cirurgia bariátrica é eficaz para
diminuir a pressão sanguínea, os níveis de triglicérides e de glicose, con-
tribuindo para diminuir o risco cardiovascular nesses pacientes. O au-
mento do consumo energético, provavelmente responsável da estabiliza-
ção do peso após um ano, poderia comprometer os resultados da cirurgia
a longo prazo, a que necessita futuras avaliações.
156 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001)

WF Coutinho, LC Povoa, R Meirelles, Uso de um índice para avaliar a eficácia de agentes anti-
JC, Appolinário, Rio de Janeiro – RJ, obesidade na diminuição de peso
11th European Congress on Obesity,
European Association for the Study of Introdução: A análise categórica é muito utilizada pra avaliar a eficácia na
Obesity (EASO), Viena, Áustria, diminuição de peso de agentes anti-obesidade, dividindo os pacientes entre
30 de maio – 2 de junho de 2001 respondedores e não-respondedores, de acordo com vários critérios de eficá-
cia de perda de peso. Todavia, vários estudos mostraram que a eficiência de
terapias complementares altera fortemente o resultado das avaliações. Em
alguns estudos, uma percentagem elevada de pacientes do grupo placebo atinge
uma perda de peso de 5 ou 10%, o que pode constituir um importante fator de
confusão na avaliação da eficácia.
Métodos: Desenvolvemos um índice muito simples de eficácia da dimi-
nuição de peso, dividindo a percentagem de respondedores do grupo droga
pelo percentagem de respondedores do grupo placebo. Um índice de eficácia
(IE) igual a 2, indica, teoricamente, que a droga poderia duplicar a probabili-
dade de sucesso na população definida.
Resultados: Dados de vários estudos publicados foram utilizados para ava-
liar o índice de eficácia de alguns agentes anti-obesidade. Considerando uma
perda de peso de 10% após 12 meses, achamos os seguintes EI: Orlistat (ORL)
estudo 119C: EI = 1,57; ORL estudo Sjostrom: EI = 2,35; ORL estudo 161:
EI = 1,82; ORL Davidson: EI= 2,2; ORL 149: EI = 1,86; ORL Lindgärde: EI
= 1,32; Sibutramina (SIB) 15 mg Jones: EI = 4,86; SIB 10 mg Jones: EI =
2,79; Dexfenfluramina Guy Grand: EI = 2,05.
Conclusão: O Índice de Eficácia (IE) pode ser uma ferramenta útil para
avaliar a eficácia de agentes de perda de peso, atenuando as influências de
terapias complementares (dieta, exercícios, terapia comportamental). Um
IE baixa não indica dificuldade na perda de peso, mas, provavelmente,
uma baixa taxa de resposta da população estudada a um agente anti-obesi-
dade específico. Para a mesma droga (ORL), IE mostra uma importante
variação, de 1,35 para 2,35, dependendo da população estudada, com a
mesma dose e protocoles similares.

AN Faria, FF Ribeiro Filho, N Kholman, Sibutramina diminui a intolerância à glicose em pacientes obesos
SRG Ferreira, D Lerario, T Zanella, hipertensos
Universidade de São Paulo, São Paulo –
SP, 11th European Congress on Obesity, Introdução: Intolerância à glicose e diabetes são freqüentes em pacientes
European Association for the Study of obesos com distribuição central de gordura, e contribui para um risco cardio-
Obesity (EASO), Viena, Áustria, vascular elevado. Neste estudo, avaliamos os efeitos da sibutramina sobre o
30 de maio – 2 de junho de 2001 peso corporal e o perfil da glicose plasmática.
Métodos: 86 pacientes obesos hipertensos (IMC = 39,5 ± 5,5 kg/m2), com
distribuição central de gordura (WHR = 0,98 ± 0,09), dos quais 74 mulheres
(86%) e 12 homens (14%), foram submetidos a uma terapia randomizada
duplo-cega de 6 meses, com sibutramina (S) ou placebo (P). Avaliamos a
resposta a um teste de tolerância oral à glicose (OGTT) e calculamos o índice
de sensibilidade à insulina (ISI), baseado em níveis de glicose e insulina no
pico do OGTT. As freqüências de níveis anormais de glicose de jejum (glico-
se > 110 mg/dl) e glicose às 2h do OGTT (glicose120 > 140 ou 200 mg/dl)
antes e após terapia, foram comparados em ambos os grupos.
Resultados: A percentagem de perda de peso foi de 6,7 ± 4,7% para sibu-
tramina e 2,4 ± 4,2% para placebo (p < 0,05) e a proporção de pacientes com
perda de peso superior a 5% foi respectivamente de 63% e 23% (p < 0,05). O
ISI passou de 0,52 para 0,70 no grupo sibutramina (p = 0,03) e de 0,5 para
0,66 no grupo placebo (p = 0,04). Todavia, a freqüência da intolerância à
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001) 157

Continuação glicose diagnosticada por OGTT (glicose120 > 140 ou < 200 mg/dl) dimi-
nuiu no grupo sibutramina (de 40% para 19%, p = 0,025) e persistiu inaltera-
da no grupo placebo (de 28% para 31%). Nenhumas alterações nas taxas
anormais de glicose de jejum (glicose > 120 mg/dl) nem diabetes (glicose
120 > 200 mg/dl) foram observadas em ambos os grupos.
Conclusão: Em pacientes hipertensos com obesidade central e prevalência
elevada de intolerância à glicose, a sibutramina comparada com placebo
foi associada a maior diminuição de peso e melhora do perfil da glicose
plasmática, sendo uma ferramenta útil na prevenção do diabetes.

June Stevens et al, 11th European IMC prognostica risco de diabetes, hipertensão e taxas de
Congress on Obesity, European colesterol em brancos e afro-americanos
Association for the Study of Obesity
(EASO), Viena, Áustria, O IMC (índice de massa corporal) elevado é significativamente associado
30 de maio – 2 de junho de 2001 a risco aumentado de diabetes, hipertensão arterial e diminuição dos níveis
de HDL-colesterol em mulheres brancas e afro-americanas, de acordo com
os dados do estudo ARIC (Atherosclerosis Risk in Communities). Mas o im-
pacto do IMC é diferente em função do grupo étnico.
A obesidade aumenta o risco de doenças em ambos os grupos estudados,
mas o peso associado ao mesmo nível de doença varia muito, segundo os
pesquisadores: para conseguir aproximadamente o mesmo risco de hiperten-
são do que as mulheres brancas moderadamente obesas (IMC = 30), as mu-
lheres negras devem ser muito finas. Para apresentar o mesmo risco de diabe-
tes, as mulheres negras devem ser 5 kg mais magras do que as mulheres
brancas. No que se refere a hipertrigliceridemia, as mulheres negras muito
obesas apresentam um risco inferior do que as mulheres brancas com IMC
igual a 30. Esses dados foram obtidos do estudo ARIC em mulheres com
idade entre 45 e 64 anos, das quais 757 desenvolveram diabetes, 1518 apre-
sentaram pressão sanguínea elevada e 2281 baixos níveis de HDL colesterol.
A incidência desses fatores foi ajustada de acordo com educação, atividade
física, consumo de álcool e fumo.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais do que 300 mi-
lhões de adultos são obesos no mundo, dos quais 115 milhões moram em
paises desenvolvidos. A Europa e os Estados Unidos apresentam taxas de
obesidade entre 15 e 25% da população, Nos paises asiáticos, tais com a
China e o Japão, as taxas de obesidade são inferiores mas vão aumentando.
Os paises que apresentam níveis os mais elevados de obesidade têm também
as taxas as mais elevadas de doenças ligadas ao peso, tais como diabetes tipo
2, elevação das taxas de colesterol e doenças cardíacas. A OMS atribui o
aumento dos níveis de obesidade às mudanças na dieta, métodos de trabalho
e estilo de vida.

Eva Black, 11th European Congress on O risco de diabetes aumenta em 250% em adultos obesos de
Obesity, European Association for the meia idade
Study of Obesity (EASO), Viena, Áustria,
30 de maio – 2 de junho de 2001 Ser obeso na idade adulta pode aumentar o risco de desenvolver diabetes
em 250%, comparativamente com as pessoas de peso estável e normal e em
30% comparativamente com os obesos de peso estável, segundo uma análise
de 30 anos de dados do exercito da Dinamarca.
Ganhar peso para aumentar o IMC em 5 kg/m2 pode elevar o risco de
tolerância anormal à glicose em 250% em pessoas que anteriormente apre-
sentavam um peso saudável, comparativamente a indivíduos que conservam
um peso normal. A mudança do IMC com a idade é um dos mais importantes
158 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001)

Continuação fatores de risco de desenvolvimento de tolerância anormal à glicose, medida


pelo teste de tolerância oral à glicose. Os homens que ganham peso têm também
um risco 30% superior de diabetes, comparativamente aos homens inicialmente
obesos mas que conservaram um peso estável durante o período do estudo.
Os pesquisadores revisaram os dados de IMC de 380.000 homens de 19,9 ±
1,9 anos e selecionaram dois subgrupos, um de 192 obesos com IMC inicial de
33,1 ± 6,1 kg/m2 e um segundo de 288 indivíduos selecionados por randomiza-
ção com IMC médio de 21,7 ± 2,5 kg/m2. Os dois subgrupos, agora com idade
de 49,2 ± 5,7 anos, foram submetidos a testes de tolerância à glicose.
O estudo demonstrou que, desde a idade da seleção até hoje, os homens do
grupo controle ganharam em médio 1,9 kg/m2, com intervalo de –8 a +24,9.
Foi encontrada uma tolerância anormal à glicose em 28% dos homens com
peso inicial normal e em 48% dos homens inicialmente obesos.

Handijev Svetoslav et al., 11th European O estresse, a imobilidade e a dieta aumentam o risco de diabetes
Congress on Obesity, Viena, Áustria, 30 e de doenças cardíacas em trabalhadores do transporte
de maio – 2 de junho de 2001
O trabalho de transporte, seja em caminhões, aviões ou barcos, aumenta
significativamente o risco de diabetes ou doenças cardíacas, segundo os da-
dos de um estudo efetuado em Bulgária. Esta profissão apresenta vários fato-
res de risco, como estresse elevado, atividade física diminuída, nutrição in-
correta, imobilidade relativa, viagem de alta velocidade e fatores do meio
ambiente, que contribuem para o desenvolvimento de doenças metabólicas e
cardiovasculares. O estudo coletou dados de 5659 empregados de transporte
em Bulgária, sendo 1529 trabalhando em transporte de trem, 1434 em bar-
cos, 1715 em aviões e 925 em caminhões. 89,6% dos indivíduos eram ho-
mens, com idade média de 39 anos, e 65% deles apresentavam um sobrepeso
ou eram obesos. Comparativamente com a população geral da Bulgária, os
trabalhadores do transporte apresentam uma taxa mais elevada de diabetes
tipo 2, de colesterol e de pressão sanguínea. Na população do estudo, os
trabalhadores com sobrepeso mostraram taxas significativamente mais ele-
vadas destas doenças, comparativamente aos trabalhadores com IMC normal
(entre 20 e 25).

Roger D. Cone et al, Nature Proposta para um modelo de ação da leptina


2001;411:480-484, maio de 2001
A leptina, hormônio do adipócito experimentalmente ligado à perda de peso,
parece estimular os neurônios produtores de proopiomelanocortin (POMC)
anorexigênica através redes neurais localizados no núcleo arciforme.
A obesidade comum é atualmente associada a taxas aumentadas de lepti-
na, sugerindo que os indivíduos obesos são resistentes à leptina. POMC e os
neurônios neuropeptídeo-Y do núcleo arciforme exprimem os receptores de
leptina, apesar que eles produzem peptídeos que têm efeitos opostos sobre
alimentação e metabolismo. Este estudo propõe clarificar o efeito da leptina
sobre os neurônios POMC.
Os pesquisadores avaliaram o mecanismo de ação da leptina usando ratos
transgênicos transformados par exprimir uma proteína verde fluorescente
(GFP) na regiões POMC do sistema nervoso central.
Os registros eletrofisiológicos dos neurônios POMC mostraram que a lep-
tina aumentou a freqüência dos potenciais de ação. Os dois mecanismos res-
ponsáveis incluem uma despolarização através o canal cátion não-específico
e uma redução da inibição pelos neurônios neuropeptídeo-Y orexigênico/
ácido gama-aminobutirico.
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001) 159

Continuação Os peptídeos de melanocortina produzidos pelos neurônios POMC apare-


cem auto-inibir o circuito de estimulação. Segundo os pesquisadores, “pare-
ce existir dois classes de neurônios responsáveis da sensibilidade à leptina
no cérebro: os que são ativados para produzir peptídeos anorexigênicos e os
que são inibidos, com redução da produção de peptídeos orexigênicos.”

François Ledru e al., J Am Coll As estenoses são mais prevalentes em pacientes com diabetes
Cardiol 2001;37:1543-1550, moderado do que em não-diabéticos
maio de 2001
Apesar de que os pacientes portadores de diabetes tipo 2 moderado apre-
sentam um padrão de aterosclerose coronariana similar aos dos não-diabéti-
cos, eles têm uma prevalência maior de estenoses menores. Os pesquisadores
do Hospital europeu Georges Pompidou (Paris) avaliaram 466 pacientes in-
dicados por angiografia coronariana. Nenhum deles receberam terapia insu-
línica, nem apresentaram enfarte ou intervenção coronariana.
93 pacientes apresentavam uma glicose plasmática de jejum > 7,0 mmol/l
ou usavam um tratamento hipoglicemiante via oral. Após ajuste pelos outros
fatores de risco, os pacientes diabéticos tinham aterosclerose coronariana mais
difusa, com prevalência maior para estenoses leves, moderadas e severas e
uma taxa de oclusão vascular duas vezes mais elevada.
Em mais, estes pacientes com glicose plasmática de jejum entre 7 e 7,7
mmol/l, considerados agora como diabéticos, desenvolveram um tipo de ate-
rosclerose similar à dos não diabéticos, com exceção de uma maior prevalên-
cia de estenoses < 50%.
Este excesso de lesões vulneráveis pode explicar o aumento de mortalida-
de cardíaca observado neste subgrupo de pacientes e justificar a necessidade
de cuidados cardiovasculares e metabólicos específicos. Os pesquisadores
concluem que o controle dos fatores de risco – pressão sanguínea, diminui-
ção do colesterol, tabagismo – e especialmente importante no caso destes
pacientes, com o objetivo de estabilizar o desenvolvimento da aterosclerose
e melhorar a sobrevida a longo prazo e a qualidade de vida.

Beverley Balkau et al, Diabetes Care Hiperinsulinemia prognostica o câncer fatal do fígado em
2001;24:843-849, maio de 2001 homens não-diabéticos – Paris Prospective Study
Objetivo: Pesquisar se a insulina é um fator de risco de óbito em função da
localização do câncer.
Métodos: Estudo prospectivo de coorte de 6237 trabalhadores franceses
não-diabéticos com idade entre 44 e 55 anos da coorte do Paris Prospective
Study. O óbito por localizações de cânceres foi estudado em relação com as
concentrações de insulina durante jejum e duas horas após teste de tolerância
à glicose oral de 75g.
Resultados: Dos 6237 homens da coorte, 1739 morreram durante os 23,8
anos de acompanhamento, dos quais 778 (45%) de câncer. A hiperinsuline-
mia de jejum e de 2 horas, foi significativamente associada com o câncer
fatal do fígado, com hazards ratios ajustados segundo a idade de 2,72 (95%
IC 1,87–3,94) e 3,41 (2,23–5,21). Em contrasto, a hiperinsulinemia de jejum
foi inversamente associada com o câncer dos lábios, da cavidade oral, da
garganta e da laringe, com hazards ratios de 0,55 (0,41–0,75) e 0,63 (0,47–
0,83), respectivamente, e as concentrações de insulina 2 horas foram inversa-
mente associadas aos cânceres de estomago e da laringe (hazards ratios 0,62
[0,43–0,90] e 0,66 [0,50–0,89], respectivamente). Essas relações ficaram es-
táveis após ajustes para os outros fatores de risco. As concentrações de insu-
160 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001)

Continuação lina ficaram negativamente associadas aos óbitos por câncer nos estudos so-
bre os homens ex-fumantes ou não consumidores crônicos de álcool.
Conclusões: A hiperinsulinemia periférica, indicativa de concentrações
muito elevadas de insulina portal, prognosticou o câncer fatal do fígado
em esses homens não-diabéticos, mas foi inversamente associada aos cân-
ceres fatais dos lábios, cavidade oral, garganta, estomago e laringe.

Jonhson 1/2 pág 4 cores


Diabetes Clínica 03 (2001) 161

O Diabetes na Imprensa
O diabetes encurta a vida radicalmente

O Globo, 8 de junho de 2001 Os diabéticos têm menor expectativa de vida e são muito mais propensos a
desenvolver doenças cardíacas do que pessoas saudáveis, afirma estudo de-
senvolvido no Middlesbrough General Hospital, na Grã-Bretanha.
Após analisar dados de 4.800 diabéticos, os pesquisadores descobriram
que a redução na expectativa de vida era mais acentuada nos portadores de
diabetes tipo 1, a forma mais grave da doença. Mas mesmo as pessoas diag-
nosticadas com o subtipo mais comum (2 ou o chamado diabetes de adulto),
provavelmente morrerão oito anos antes do que seus contemporâneos.

Obesidade traz mais risco à saúde do que o fumo

Estado de São Paulo, Adultos obesos têm maiores problemas crônicos de saúde do que os fu-
7 de junho de 2001 mantes, os bebedores contumazes ou os pobres, segundo uma pesquisa di-
vulgada hoje na Califórnia, EUA. O informe do instituto RAND afirma que
os obesos têm em média o dobro dos problemas de saúde que as pessoas de
peso normal. “Não esperávamos uma diferença tão grande”, disse Roland
Sturm, autor principal do estudo, que apareceu na revista britânica Public
Health. A pesquisa também determinou que o tabagismo é mais danoso para
a mulher do que para o homem, e que as fumantes têm 40% mais problemas
crônicos do que as não-fumantes. No caso dos homens, a cifra é de 30% a
mais de problemas para os que fumam. O estudo sugere que as autoridades
sanitárias devem intensificar a campanha contra a obesidade a níveis pelo
menos similares aos da campanha contra o tabaco. Segundo a pesquisa, há
mais pessoas gordas do que fumantes e bebedores A pesquisa telefônica per-
guntou a 9.585 adultos sobre seu peso, estatura, hábitos de tabagismo e de
ingestão de álcool renda e qualidade de vida. Foi-lhes perguntado se sofriam
de problemas crônicos de saúde tais como asma, câncer, diabetes e proble-
mas cardíacos. Da amostra, 1,1% das pessoas de peso normal sofrem de do-
enças crônicas - cifra que aumenta em 0,2 ponto percentual para os gordos,
0,6 para os obesos e 0,9 para os muito obesos.

Nova técnica para curar diabetes vai ser usada no País


Estado de São Paulo, A técnica experimental que conseguiu curar a diabete de 17 pacientes no
24 de maio de 2001 Canadá está cada vez mais próxima do Brasil. Foi anunciado, em simpósio
internacional, que está pronto o laboratório onde cientistas brasileiros farão o
isolamento de ilhotas do pâncreas onde estão as células responsáveis pela pro-
dução de insulina. O grupo agora começa a selecionar voluntários para se sub-
meterem aos transplantes de ilhotas de Langerhans, que devem ser feitos no
início de 2002. Também acaba de ser fechado um acordo com o Hospital Albert
Einstein, que dará a estrutura para a sua realização. O cientista Jonathan Lakey,
da Universidade de Alberta, no Canadá, chefe da equipe que realizou o primei-
162 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 03 (2001)

ro transplante desse tipo no ano passado, está no Brasil para participar do sim-
pósio. O encontro realizado nesta quinta-feira no Einstein serviu para ajudar no
aprimoramento da técnica no País. “Ainda não conseguimos o número neces-
sário de ilhotas em cada processo de isolamento”, diz o endocrinologista Fre-
ddy Goldberg Eliaschewitz, chefe do grupo no País. Lakey visitou o laborató-
rio no Instituto de Química da Universidade de São Paulo e se disse muito
satisfeito com o trabalho dos brasileiros. “O procedimento não é só a cirurgia,
pois é muito importante que o local de isolamento de ilhotas esteja em perfei-
tas condições”. O transplante consiste em transferir para o paciente, por meio
de uma injeção, novas ilhotas produtoras de insulina, que são retiradas do pân-
creas de um cadáver. Isso é necessário porque o organismo dos diabéticos tipo
1 destrói totalmente essas ilhotas. O procedimento exige apenas uma noite de
internação, mas pode custar cerca de R$ 100 mil. Segundo Eliaschewitz, isso
ocorre porque o transplante exige um rígido controle de laboratório e alta tec-
nologia para dosar as drogas contra rejeição. O acordo com o Einstein deve
pagar até metade do valor - o resto está em negociação. O único problema é
que, ao se submeter à cirurgia, o paciente precisa passar a tomar drogas imu-
nossupressoras contra a rejeição das novas estruturas, assim como ocorre em
qualquer transplante. Por causa disso, o grupo de especialistas vai selecionar
com muito cuidado os voluntários. “A diabete precisa estar sendo uma amea-
ça imediata à vida da pessoa”, explica Eliaschewitz. “Só assim se justifica
fazer o paciente deixar de tomar insulina para tomar drogas contra a rejeição,
que aumentam o risco de infecções e de câncer.” Podem ser voluntários do
experimento diabéticos que sofrem de crises de hipoglicemia graves e não têm
os sintomas que servem de alerta para que o indivíduo procure por açúcar.
Outras condições para fazer o transplante são a falta de controle da doença,
mesmo recebendo várias doses de insulina, ou alterações crônicas, como a ce-
gueira por exemplo, em virtude do diabetes.

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O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 03 (2001) 163

EUA tornam mais rígidos os parâmetros para colesterol


Gazeta Mercantil, 15 de junho de 2001
O Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos declarou guerra ao co-
lesterol e anunciou ontem novos parâmetros que podem levar milhões de
americanos a começar a tomar remédio para evitar risco de enfarte. O nível
de colesterol total normal não foi alterado e continua de 200 miligramas por
decilitro de sangue e o de colesterol alto vale para quem apresenta mais de
240 mg/dl. A novidade é que dentro daqueles 200 mg considerados normais,
o ideal é que 100 mg apenas sejam de colesterol ruim (LDL). Pacientes que
apresentarem taxas de LDL na faixa dos 130 a 159 mg/dl estarão no limite da
normalidade; os que tiverem 160 mg terão colesterol alto e 190 mg, muito
alto, exigindo intervenção médica mesmo se o colesterol total estiver dentro
dos 200 mg. O índice baixo demais de LDL passa de 35mg/dl para 40 mg/dl.
Os parâmetros foram divulgados por um grupo de especialistas consultados
pelo instituto. Eles fizeram um apelo para que os médicos prescrevam um
tratamento mais agressivo para pacientes com alto nível de colesterol no san-
gue, incluindo medicamentos e mudança no estilo de vida, com uma dieta
mais pobre em gorduras. As doenças coronárias são a principal causa de morte
nos EUA, causando cerca de 500 mil mortes por ano. Pelas novas orienta-
ções, publicadas no Journal of the American Medical Association, os médi-
cos devem tentar identificar melhor as pessoas com risco de enfarte. Só com
a redução do LDL, o risco de enfarte cai 40%. Scott Grundy, que chefiou o
grupo, disse que tanto os médicos quanto os pacientes têm de assumir a res-
ponsabilidade pelos riscos. Pelos novos padrões, o número de americanos
fazendo dieta para baixar o colesterol deve subir de 52 para 65 milhões e os
que tomam remédio, de 13 milhões para 36 milhões.

Excesso de peso já virou epidemia mundial

Estado de São Paulo, Os graves problemas de saúde causados pela obesidade já são um fenôme-
16 de maio de 2001 no mundial e começam a ser tratados como uma epidemia (...). “Os níveis de
mortalidade estão tão altos que somos forçados a repensar nossa forma de
viver”, diz o cardiologista Rogério Bicudo Ramos, do Instituto do Coração
(Incor). No Brasil, onde os adultos obesos e os que estão com sobrepeso
representam 40% do total, as doenças cardiovasculares já são responsáveis
por 30% das mortes. “O perfil das pessoas que adoecem por esse tipo de
enfermidade inclui obesidade, colesterol alto, hipertensão e diabetes”, afir-
ma Ramos (...). A comunidade médica mundial passa a dar maior importân-
cia ao controle e à prevenção da obesidade. “Quanto maior for o controle das
doenças associadas à obesidade, menores serão ao índices de doenças car-
diovasculares e, conseqüentemente, menores serão as incidências de enfarte,
parada cardíaca e derrame cerebral”, diz o cardiologista Sérgio Timermam,
que além de integrar o Incor e a Fundação do Coração (Funcor), preside a
Fundação Interamericana do Coração (...).
Na avaliação do cardiologista Rogério Ramos, que integra o grupo Brasil
Saudável, “o grande problema na prevenção das doenças cardíacas é a arte-
riosclerose”. O caminho é tentar eliminar ou controlar alguns dos fatores de
risco da arteriosclerose, como o fumo e outras doenças como o diabetes, a
hipertensão e o colesterol alto. Atividade física é uma das ferramentas mais
comprovadamente eficientes nesta tarefa: “O fluxo sanguíneo aumenta de
cinco para 25 litros por minuto com exercícios”, diz o cardiologista do Incor.
166 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 03 (2001)

Aumenta o número de amputados em hospitais


O Globo, 21 de junho de 2001 O Rio de Janeiro tem uma legião de mutilados que aumenta a cada ano. E
o problema é resultado da falta de estrutura da rede pública para atender
pessoas que sofrem de diabetes. A falta de atendimento reflete-se no cresci-
mento das amputações. Um indicativo do tamanho do problema pode ser
avaliado pelos sete primeiros meses do ano passado. No período, 863 pesso-
as tiveram membros inferiores (dedos, pés, pernas ou coxas) amputados. Desse
total, 73% (630) eram pacientes diabéticos e sofreram a cirurgia em decor-
rência do agravamento da doença. A grande maioria dos casos, porém, pode-
ria ter sido evitado com um programa permanente de informação sobre o
diabetes, que atendesse sobretudo a população de baixa renda.
No Rio, de acordo com a Secretaria municipal de Saúde, moram 220 mil
diabéticos. O programa municipal de atendimento ao diabético, porém, tem
apenas 58 mil pacientes cadastrados (27% do total). Mas, mesmo assim, o
número de beneficiados é menor, já que mais de 14 mil doentes abandonaram
o tratamento.
O deputado Paulo Pinheiro, vice-presidente da Comissão de Saúde da Alerj,
estima que aproximadamente 35% dos diabéticos têm plano de saúde e não de-
pendem da rede pública. Restam 143 mil doentes que necessitam dos postos de
saúde e hospitais públicos. Como apenas 58 mil são atendidos, outros 85 mil
desconhecem ter a doença: “Temos um número alarmante de pessoas que não
imagina ter a doença. E, pior, o Governo não sabe quem são essas pessoas e,
muito menos, onde elas estão. Esses doentes vão parar nas emergências dos
grandes hospitais, onde chegam com alto risco de amputação”, alerta Pinheiro.
Nem mesmo a recente campanha do Governo federal, que identificou 32
mil diabéticos alivia a preocupação de Pinheiro. Segundo ele, aumentou o
número de pessoas portadoras da doença, mas isso não significa tratamento
para todas elas.
O problema é tão grave que virou investigação judicial. No ano passado, o
presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze, encami-
nhou ao Ministério Público estadual um pedido de ação penal pública contra
o município por causa do crescimento do número de amputações. No docu-
mento, Darze afirma que os grandes hospitais de emergência municipais (Sal-
gado Filho, Souza Aguiar e Miguel Couto) registraram um aumento conside-
rável desse tipo de cirurgia. Ainda segundo Darze, há pouco mais de dez
anos, o índice de amputações nessas unidades era de 10% e saltou para até
40%. Ele afirma que boa parte dos casos poderia ser evitados com cirurgias
de revascularização (similar a uma ponte de safena), que evitariam o surgi-
mento da gangrena.
Uma saída seria a construção de uma unidade especializada em angiologia
e cirurgia vascular. A falta de tratamento dos diabéticos afeta a qualidade dos
serviços dos grandes hospitais. Cerca de 73% das cirurgias vasculares reali-
zadas nessas unidades são amputações de portadores da doença. Além de
superlotar os hospitais, os amputados têm recuperação lenta, com ocupação
dos leitos de 28 dias, em média, segundo explicou Hermengarda Wanderley
Pires, responsável pelo Programa de Diabetes do município. Ela reconhece
as dificuldades, mas afirma que houve investimentos.
Há sete anos, somente 11 mil pessoas eram atendidas. Hoje, são 58 mil.
diz. E adianta que a SMS está mapeando as regiões do município, onde a
incidência de amputações é maior, para combater a doença: “O problema
cresceu, mas as ações também. Hoje, das 104 unidades básicas, 74 têm salas
de curativos e nós distribuímos medicamentos. A maior dificuldade é de en-
contrar profissionais especializados em lidar com a doença.”
168 Diabetes Clínica 03 (2001)

Avanços terapêuticos e tecnológicos

Nigel P. Jones et al., 17th International Eficácia a longo prazo da rosiglitazona combinada com a
Diabetes Federation Congress, Mexico metformina ou em monoterapia
City, México,
5 a 10 de novembro de 2000 Objetivo: Rosiglitazona (RSG) melhorou significativamente o controle
glicêmico quando administrada em combinação com metformina (MET)
ou em monoterapia em estudos duplo-cego, controlados, de mais de 12
meses. Esta análise avaliou o efeito da RSG sobre o controle glicêmico e os
lípides plasmáticos em estudos abertos de longo prazo, com MET ou em
monoterapia.
Métodos: RSG 8 mg/dia foi administrada em monoterapia ou conjugada a
2,5 g/dia de MET em estudos de tratamentos de 24 meses (MET+RSG) e de
30 meses (monoterapia MET).
Resultados: A terapia combinada de RSG e MET resultou em importantes
diminuições na HbA1c, que permaneceram 24 meses. A monoterapia RSG
também produziu diminuições significativas da HbA1c mantidas sobre 30
meses (Tabela). No grupo MET+RSG, a função da célula β aumentou de uma
média de 52% no início para 75% a 24 meses (mantida no intervalo 72%-
85% de 6 a 24 meses). No grupo monoterapia RSG, a função estimada de
célula β aumentou de 38% no início até 75% após 30 meses (intervalo: 74%-
95% de 9 para 30 meses). Ambos os níveis de colesterol LDL e HDL foram
elevados. Todavia, os níveis de LDL não aumentaram mais após 6 meses
embora que os níveis de HDL continuaram aumentar. As diminuições inici-
ais dos ácidos graxos livres de mais de 33,7% foram mantidas a longo prazo.

Grupo de tratamento
MET + RSG Monoterapia RSG
Mês n HbA1c média (%) n HbA1c média (%)
Início 87 8,7 171 8,2
6 87 7,8 171 7,4
12 87 7,6 168 7,3
18 86 7,6 164 7,3
24 86 7,7 159 7,3
30 - - 160 7,4

Conclusão: RSG em monoterapia ou com metformina melhora o controle


glicêmico e a função da célula β, sem efeitos adversos a longo prazo sobre
os níveis de lípides.
170 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 03 (2001)

Teresa P.C. Monsod et al, Diabetes Care Epipen como alternativa ao glucagon no tratamento da
2001;24:701-704, abril de 2001 hipoglicemia em crianças portadoras de diabetes

Objetivo: O medo de uma hipoglicemia severa é o maior obstáculo ao


objetivo de manter os níveis da glicose plasmática perto do normal. Apesar
que a aplicação de glucagon seja eficiente para tratar essas reações, ele é
difícil de usar, especialmente na escola, e é responsável de náusea severa. A
epinefrina é disponível em injeções pré-misturadas (Epipen), podendo ser
utilizadas por todos. Usar Epipen para tratar a hipoglicemia pode ser uma
alternativa eficaz, segura e simples ao glucagon.
Desenho da pesquisa e métodos: Dez crianças (idade 11,7 ± 2,4 anos)
portadoras de diabetes tipo 1 foram observadas em duas situações. Após
um período de uma noite de observação, a hipoglicemia foi induzida por
uma bomba de insulina (1 mU·kg–1·min–1). Quando o nível da glicose che-
gar a 2,8 mmol/l, seja glucagon (1 mg) ou epinefrina (0,3 mg), em ordem
randomizada, foram administrados por via intramuscular e as respostas fo-
ram monitorizadas.
Resultados: As concentrações de insulina livre plasmática foram similares
nos dois estudos. Os níveis de glicose plasmática aumentaram em 1,7 ± 0,2
mmol/l (média ± DP) em 10 minutos e em 2,6 ± 0,2 mmol/l em 15 minutos
após aplicação de glucagon, e não foram significativamente aumentadas após
aplicação de epinefrina (P < 0,01). Os picos de concentração de glucagon
após aplicação de glucagon foram > 60 vezes maiores do que as concentra-
ções basais. Após aplicação de epinefrina, os picos de epinefrina foram 20
vezes mais elevados do que as concentrações basais.
Conclusões: Epinefrina não parece ser um substituto adequado ao gluca-
gon para o tratamento da hipoglicemia grave. A eficiência do glucagon
para reverter a hipoglicemia e seus efeitos adversos como a náusea e o
vomito são ligados às concentrações plasmáticas suprafisiológicas obtidas
com a dose padrão intra-muscular.

22 de maio de 2001 Lançamento de Lantus (insulina glargina) nos EUA e em 2002


no Brasil
Aventis anunciou o lançamento da insulina injetável Lantus (insulina glar-
gina) nos EUA. Aprovada pela FDA (Food and Drug Administration) em
abril de 2000, Lantus é um análogo da insulina, permitindo uma concentra-
ção relativamente constante sobre 24 horas, ao contrario de outros tipos de
insulina, com ação mais curta, necessitando várias aplicações ao dia. O trata-
mento é indicado para ambos adultos e crianças portadores de diabetes do
tipo 1, e adultos portadores de diabetes do tipo 2 necessitando de uma insuli-
na de longa ação para controlar a hiperglicemia.
Lantus era esperada pelo mercado em setembro de 2000, e foi finalmente
lançado em maio de 2001 nos EUA, após a aprovação de uma fábrica para o
mercado americano. Segundo Aventis do Brasil, Lantus está já registrado e
será disponível no mercado nacional no primeiro semestre de 2002.

22 de maio de 2001 Orlistat para o tratamento do diabetes do tipo 2

A FDA (Food and Drug Administration) concordou em revisar as indica-


ções do orlistat (Xenical), que poderia receber uma indicação para o trata-
mento do diabetes do tipo 2. O objetivo do laboratório Roche é lançar o Xe-
172 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 03 (2001)

Continuação nical como terapia complementar para a melhora do controle glicêmico em


pacientes diabéticos tipo 2 obesos ou com sobrepeso.
De acordo com a Roche, a indicação está baseada em dados mostrando
que os pacientes tratados com Xenical mais uma dieta levemente reduzida
em calorias perdem mais peso que os tratados com placebo mais dieta. O
grupo Xenical apresenta também uma diminuição maior da HbA1c e da gli-
cose plasmática de jejum.
A Roche especulou que alguns dos efeitos favoráveis sobre o controle
glicêmico poderiam ser independentes da perda de peso. A diminuição da
glicose plasmática de jejum foi observada precocemente – duas semanas após
o início do tratamento – e, às vezes, antes que uma perda significativa de
peso ocorresse. Os pacientes tratados com Xenical podem reduzir as doses
dos outros medicamentos antidiabéticos a apresentam menos efeitos adver-
sos gastrintestinais.
Xenical foi aprovado nos EUA para o tratamento da obesidade em abril de
1999, incluído a perda de peso de o manejo do peso. Xenical é também usado
para diminuir o risco de voltar de novo ao sobrepeso.

William T. Cefalu et al., American A insulina em pó seco inalada é promissora para o tratamento do
Thoracic Society’s 97th International diabetes
Conference, San Francisco, California,
22 de maio de 2001 Uma formulação de insulina para inalação parece controlar os níveis de
glicose sanguínea em pacientes diabéticos sem diminuir a função pulmonar,
segundo este estudo. O pó seco de insulina, desenhado para atingir profun-
damente os pulmões, poderia ajudar a diminuir o número de aplicações diári-
as de insulina, e também ser usado pelos portadores de diabetes do tipo 2, em
complemento dos tratamentos via oral.
O estudo incluiu 140 pacientes que participaram de um estudo sobre a
eficácia e segurança da insulina inalada. Este estudo de 24 meses de duração
avaliou os níveis da glicose plasmática, e concluiu que o tratamento contro-
lou as taxas de glicose durante os dois anos. O estudo confirmou que a fun-
ção pulmonar dos pacientes não foi afetada pelo tratamento.
Estudos anteriores sugerem que a eficácia da insulina inalada é compará-
vel a da insulina injetável, e é tão eficaz ou até melhor do que os agentes
antidiabéticos orais.
Os pacientes portadores de diabetes tipo 1 ou 2 preferiram a insulina inala-
da, de acordo com o estudo, como já foi notada em estudos anteriores. Mas os
pacientes portadores de diabetes do tipo 2 podem ter medo de começar uma
terapia insulínica, apesar de que a glicose sanguínea não seja bem controlada
por dois ou mais agentes antidiabéticos orais. Se a insulina inalada é uma
alternativa aceitável, os pacientes poderiam iniciar o tratamento insulínico
mais cedo, com efeito de controlar melhor a glicemia e diminuir as complica-
ções do olho, do rim ou do sistema nervoso.

7 de maio de 2001 O sistema de inalação de insulina AERx controla a dosagem com


precisão

Foi apresentado o novo sistema eletrônico de administração de insulina, o


AERx insulin Diabetes Management System (AERx iDMS), desenvolvido
por Novo Nordisk e Aradigm Corporation. Este aparelho, que tem o tamanho
e aparência de uma pequena câmera vídeo, ao contrario do sistema de admi-
nistração de pó seco de insulina da Pfizer, produz uma dose padrão de aerosol
de insulina solúvel automaticamente administrada nos pulmões do paciente
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 03 (2001) 173

Continuação em função de sua respiração. AERx, controlado por bateria e microprocessa-


dor, guia a inalação e libera automaticamente a dose quando o fluxo inspira-
tório é ótimo, para realizar a melhor libertação no pulmão. Um pacote de
insulina de uso único é colocado pelo paciente e a dose correta, em unidades
padrão de insulina, é visualizada em uma pequena tela. Quando o fluxo respi-
ratório é adequado, um minúsculo pistão entrega a insulina através um arran-
jo de 400 buracos de 1 mícron de diâmetro. Este sistema faz que o sistema
produz um aerosol com partículas de 2 a 3 mícrons, o que é ideal para a
deposição nos pulmões. AERx controla assim a dose, o momento de liberta-
ção da droga e o volume inalado, segundo a empresa Aradigm. Dados sobre
horário e dosagem são registrados pelo sistema, o que pode ser um auxiliar
de complacência. Estudos de fase III vão começar ainda este ano.

Kenneth R. Pitzer et al, Diabetes Care Detecção da hipoglicemia com o Biographer GlucoWatch
2001; 24:881-885, maio de 2001
Objetivo: Hipoglicemia é uma complicação aguda comum da terapia do
diabetes. O Biographer GlucoWatch fornece medições freqüentes e automá-
ticas com alarma ajustável de nível baixo de glicose. Estudamos a perfor-
mance do alarme do Biographer quando aparece uma hipoglicemia, definida
como glicose sanguínea ≤ 3,9 mmol/l.
Desenho da pesquisa e métodos: A análise foi baseada nas utilizações de
1091 Biographers em 4 estudos clínicos, que resultaram em 14.487 medições
(Biographer e glicose sanguínea).
Resultados: Os resultados mostram que quando o nível da glicose do alar-
me do Biographer é aumentado, aumenta o número de alertas positivos ver-
dadeiros (o alarme toca e a glicose sanguínea é ≤ 3,9 mmol/l) e de alertas
positivos falsos (alarme toca mas a glicose sanguínea é > 3,9 mmol/l). Quan-
do analisados como uma função de níveis variáveis de hipoglicemia, os re-
sultados mostram que as curvas características do sistema são consistentes
como ferramenta muito útil de diagnóstico. Estabelecendo o nível de alerta
de 1,1 para 1,7 mmol/l a cima do nível de referência otimiza a troca entre
resultados positivos verdadeiros e falsos para cada usuário. Quando os mes-
mos dados de glicose sanguínea são analisados por sistemas atuais de moni-
torização (2/4 medições por dia), os resultados mostram que menos eventos
hipoglicêmicos são detectados do que com o Biographer.
Conclusão: Os resultados freqüentes e automáticos do Biographer permi-
tem uma detecção mais eficiente da hipoglicemia do que os sistemas atual-
mente utilizados na prática médica.
Diabetes Clínica 03 (2001) 175

Produtos e novidades
Obesidade infantil: Guia prático para pais e profissionais de
saúde
O Dr. Nataniel Viuniski, pediatra (Caxias do Sul, Nova Petrópolis – RS),
especialista pela Sociedade Brasileira de Pediatria, membro do comitê de
ética da ABESO (Associação brasileira para o Estudo da Obesidade) está
lançando o livro “Obesidade infantil, Guia prático”. Este livro é dirigido aos
médicos (pediatras, clínicos, endocrinologistas), psicólogos, nutricionistas,
profissionais da atividade física, fisioterapeutas, assistentes sociais, e todo
profissional da saúde, que atue ou se interesse pelo fascinante universo que é
a obesidade na infância e adolescência. “Desejamos porém, ser tão didáticos,
claros e objetivos, que qualquer pai ou mãe, familiar, professor ou alguém
que conviva com um jovem obeso, possa entender as várias facetas desse
problema de saúde e, sem preconceito, ajudar essa pessoa a superar esse de-
safio”, explica o autor.

Sumário: Uma Autobiografia – Retrato de uma Criança Obesa; Requisitos


Para Quem Vai Tratar uma Criança Obesa; A Família do Obeso; Essa Criança
é Obesa? O Diagnóstico; A Fisiopatologia – Como Funciona a Obesidade;
Prevenindo a Obesidade – Trabalhando com Fatores de Risco; Vale a Pena
Tratar a Obesidade Infantil? As Complicações; A Criança e o Colesterol; Os
Sentimentos e a Comida; A Amamentação; A Obesidade na Adolescência;
Olho Vivo com os Transtornos Alimentares; E Fumar? Será que Emagrece?;
Quando Começar o Tratamento? O melhor momento; O Tratamento: Enca-
rando o Desafio; Os Grupos de Crianças e Adolescentes Obesos.

Contato: Dr. Nataniel Viuniski, Tel: (54) 281 1767, E-mail: natan@royalnet.com.br

Biscoitos Wafer Light Lowçucar sem açúcar

Em parceria com a ANAD, a Lowçucar está lançando uma novidade, “o


Biscoito Wafer Light Lowçucar sem açúcar”, desenvolvido para consumido-
res que procuram um biscoito crocante e saboroso. O biscoito Wafer light
Lowçucar é apresentado em uma embalagem prática com 140g nos sabores
chocolate e morango sem açúcar, sem colesterol, sem sorbitol, manitol e lac-
titol, e possui redução de 20% das calorias e de 35% de gorduras. O Wafer
light Lowçucar pode ser consumido por diabéticos, pessoas que querem manter
a forma física e também para consumidores que procuram levar a vida mais
saudável e dentro de uma alimentação equilibrada sem o consumo de açúcar.
Informações: www.lowcucar.com.br
178 Produtos e Novidades – Diabetes Clínica 03 (2001)

Body Fat Monitor de Omron controla a gordura corporal

A perda de peso é sempre saudável mas deve acompanhar-se de uma dimi-


nuição da gordura corporal. Para avaliar a percentagem de gordura, Omron
está lançando um sistema bastante simples que mostra em alguns segundos a
composição de gordura do corpo, em percentagem e em kg. Para usar o siste-
ma, basta ficar em pé e pegar o monitor com as duas mães, os braços bem
alongados, após ter informado o sistema de seu peso, altura, idade e genro.
Uma corrente elétrica de intensidade fraca vai atravessar o corpo (os laços do
monitor servem de elétrodos) e avaliar a composição tecidual do organismo,
em particular a composição em gordura. O resultado aparece na tela do moni-
tor. Se você emagreceu de 6 kg e se a percentagem de gordura aumentou de
24% para 27%, há alguma coisa errada na sua dieta.

Homem Mulher
Magro < 10% < 2%
Normal 10% - 20% 20% - 30%
Sobrepeso 20% - 25% 30% - 35%
Obeso 25% - 30% 35% - 40%
Obeso mórbido > 30% > 40%
Percentagem de gordura corporal
180 Diabetes Clínica 03 (2001)

Resumos de trabalhos e congressos

J. Plank et al, 36th Annual Meeting Estudo controlado da redução de peso usando a técnica do duplo
of the EASD, Jerusalem, Israel, estímulo em diabetes do tipo 2
17-21 de setembro de 2000
Introdução e objetivos: Em vários estudos de pacientes obesos, a redução
de peso é usada como o único estímulo para alcançar uma diminuição de
peso. Este estudo foi realizado para testar se a técnica do duplo estímulo
(primeiro estímulo: HbA1c, segundo estímulo: peso corporal) poderia me-
lhorar o controle metabólico e manter uma perda de peso a longo prazo em
pacientes diabéticos do tipo 2 com sobrepeso.
Métodos: 36 pacientes diabéticos do tipo 2 com sobrepeso [média (DP)]
[idade 58 (11) anos, peso 88 (15) kg] receberam um programa de educação
básica sobre o diabetes do tipo 2 (nutrição, diminuição de peso, estratégias
sociais e psicológicas, e outros assuntos ligados ao diabetes), uma vez por
semana durante 4 semanas. Após randomização, o grupo tratado recebeu cada
mês outros conselhos nutricionais e estímulos verbais adicionais referentes à
redução do peso corporal ou diminuição da HbA1c, alternativamente. As
aulas foram realizadas por uma nutricionista clínica, especialmente treinada
em alteração do comportamento. O grupo controle foi treinado com o progra-
ma clássico sem nenhum tipo de estímulo adicional. O estudo durou um ano.
Resultados:
Grupo tratado Grupo controle Valor de p
mês 0 mês 12 mês 0 mês 12
HbA1c [%] 8,6 (1,63) 7,7 (1,45) 8,0 (1,53) 8,3 (1,48) 0,001
Peso [kg] 88 (16,7) 82 (13,6) 88 (13,2) 86 (11,7) 0,021

Conclusões: O estudo mostrou uma diminuição significativa de HbA1c e


do peso corporal no grupo tratado, quando o peso e a HbA1c são usados
alternativamente como estímulos. Este método pode aumentar significati-
vamente a perda de peso sem uso de medicamentos anti-obesidade.

Jean-Louis Chiasson et al, Diabetes O efeito sinérgico da associação de miglitol e metformina no


Care 2001; 24:989-994, junho de 2001 tratamento do diabetes do tipo 2

Objetivo: Investigar a eficácia e segurança da associação de miglitol e


metformina na melhora do controle glicêmico em pacientes não suficiente-
mente controlados pela dieta.
Desenho da pesquisa e métodos: Estudo multicêntrico, duplo-cego, con-
trolado por placebo, na qual 324 pacientes portadores de diabetes tipo 2 fo-
ram randomizados, após um período de 8 semanas de observação, para rece-
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 03 (2001) 181

Continuação ber placebo, miglitol ou metformina em tratamento único, ou uma associação


de miglitol e metformina durante 36 semanas. Miglitol (100 mg) foi adminis-
trado 3 vezes/dia e metformina (500 mg) três vezes/dia. O critério de eficácia
principal foi a alteração de HbA1c no final do estudo. Os outros fatores in-
cluíram as alterações da glicose e da insulina plasmática de jejum e pós-
prandial, os níveis dos triglicérides plasmáticos e a velocidade da resposta.
Resultados: Um total de 318 pacientes foram validados para a análise.
Uma diminuição de 1,78% da HbA1c em relação com o placebo foi observa-
da com a associação de miglitol e metformina, significativamente diferente
da diminuição obtida com a metformina em tratamento único (-1,25%; P =
0,002). A associação resultou também em melhor controle metabólico do
que metformina em tratamento único considerando a glicose plasmática de
jejum (-44.8 vs. -20.4 mg/dl; P = 0.0025), a glicose pós-prandial 2h (-59.0 vs.
–18.0 mg/dl; P = 0.0001), e a taxa de resposta (70.6 vs. 45.52%; P = 0.0014).
Todos os tratamentos foram bem tolerados.
Conclusões: Em pacientes diabéticos do tipo 2, a associação de miglitol e
metformina resulta em um melhor controle glicêmico do que a metformi-
na em monoterapia.

Juan José Gagliardino et al, Um programa educacional para os portadores de diabetes do


Diabetes Care 2001; 24:1001-1007, tipo 2. Estudo latino-americano de implantação (Programa de
junho de 2001 Educación de Diabéticos No Insulinodependientes en América
Latina - PEDNID-LA)

Objetivo: Implantar um programa educacional em 10 paises latino-ameri-


canos e avaliar seu efeito sobre os dados clínicos, laboratoriais, bioquímicos,
terapêuticos bem como sobre o custo econômico do diabetes.
Desenho da pesquisa e métodos: Educadores de cada pais foram treinados
para implantar o modelo educacional. A população de pacientes incluiu 446
indivíduos portadores de diabetes do tipo 2; Todos os pacientes tinham idade
inferior a 65 anos, não precisavam insulina, e não apresentavam complica-
ções graves do diabetes ou doenças responsáveis de limitações, e nunca par-
ticiparam em programas educacionais de diabetes. Os dados clínicos e tera-
pêuticos e o custo do tratamento farmacológico foram coletados 6 meses
antes a inclusão no programa educacional, na entrada, e 4, 8 e 12 meses após
o início do programa.
Resultados: Após um ano, todos os parâmetros melhoraram significativa-
mente (P < 0,001): A glicose plasmática de jejum (média ± DP) 10,6 ± 3,5 vs.
8,7 ± 3,0 mmol/l; HbA1c 9,0 ± 2,0 vs. 7,8 ± 1,6%; peso 84,6 ± 14,7 vs. 81,2 ±
15,2 kg; pressão sanguínea sistólica 149,6 ± 33,6 vs. 142,9 ± 18,8 mmHg;
colesterol total 6,1 ± 1,1 vs. 5,4 ± 1,0 mmol/l; e triglicérides 2,7 ± 1,8 vs. 2,1
± 1,2 mmol/l. Após 12 meses, a diminuição da farmacoterapia exigida para o
controle do diabetes, da hipertensão, da hiperlipidemia representava uma di-
minuição de 62% do custo anual do tratamento (US$ 107.939,99 vs 41.106,30).
Após dedução de custo adicional do monitoramento da glicosúria (US$
30.604,00), a diminuição anual do custo se estabeleceu em 34%.
Conclusões: Os resultados benéficos deste modelo educacional, implanta-
do em 10 paises latino-americanos, reforçam o valor da educação do paci-
ente como parte essencial da cura do diabetes. Eles sugerem também que
uma perspectiva educacional, promovendo hábitos de vida saudáveis e res-
ponsabilidade do paciente é uma estratégia eficiente, tendo o potencial de
diminuir o desenvolvimento de complicações relacionadas com o diabetes
bem como os custos sócio-econômicos da doença.
182 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 03 (2001)

Yuichiro Nishida et al, Diabetes Care Efeito do exercício de intensidade moderada sobre a glicose em
2001; 24:1008-1013, junho de 2001 homens saudáveis

Objetivo: Observar se a atividade física leve melhora a eficácia da glicose


(SG), ou capacidade da hiperglicemia para colocar a glicose a disposição da
insulina basal, em homens saudáveis.
Desenho da pesquisa e métodos: Oito homens saudáveis (idade 18-25 anos),
executaram treinamento em bicicleta ergonomêtrica na intensidade do limiar
do lactato (LL) 60 minutos por dia, 5 dias por semana durante 6 semanas. Um
teste de tolerância endovenosa com insulina modificada foi realizado no iní-
cio, às 16h e uma semana após a ultima sessão de exercício.
Resultados: Após o exercício, VO2max e VO2 a LT aumentaram respectiva-
mente de 5 e 34% (P < 0,05). O exercício melhora SG medida 16h após a
última sessão de treino, de 0,018 ± 0,002 para 0,024 ± 0,001 min-1 (P < 0,05).
A SG elevada após exercício é mantida durante uma semana após o treina-
mento (0,023 ± 0,002 min-1, P = 0,09). A sensibilidade à insulina (SI) medida
16 h após a última sessão de treino aumentou significativamente (treino pré-
exercício 13,9 ± 2,2; 16 h, 18,3 ± 2,4, x10-5 · min-1 · pmol/l-1, P < 0,05) e ficou
elevada ainda uma semana após o fim do período de exercício (18,6 ± 2,2,
x10-5 · min-1 · pmol/l-1, P < 0,05).
Conclusões: O exercício a LL melhora SG em homens saudáveis sem alte-
ração na composição corporal. Melhorar não somente SG mas também SI
através do exercício moderado é considerado um método eficiente para
prevenir a intolerância à glicose.

Ryan J. Anderson et al, Diabetes Care Prevalência da depressão comórbida em adultos portadores de
2001; 24:1069-1078, junho de 2001 diabetes – Meta-análise

Objetivo: Avaliar o odds e a prevalência da depressão clinicamente signifi-


cativa em adultos portadores de diabetes do tipo 1 ou 2. A depressão está asso-
ciada à hiperglicemia e ao risco aumentado de complicações diabéticas; Cura
da depressão é associada à melhora do controle glicêmico. Uma estimação
mais precisa da prevalência da depressão do que a disponível hoje é necessária
para avaliar o impacto potencial do manejo da depressão em diabetes.
Desenho da pesquisa e métodos: As referências dos bancos de dados de
Medline e Psycinfo foram usadas para identificar os estudos que reportaram
a prevalência da depressão no diabetes. A prevalência foi calculada como
média agregada ponderada pelo número combinado de indivíduos dos estu-
dos tomados em conta. Usamos as estatísticas χ2 e odds ratios para avaliar a
freqüência e o quadro clínico da depressão como uma função do tipo de dia-
betes, sexo, método de avaliação da depressão e desenho do estudo.
Resultados: 42 estudos foram identificados, das quais 20 incluíram um gru-
po de controle não diabético. Nos estudos controlados, o odds da depressão no
grupo diabético era duas vezes o do grupo controle não diabético (odds ratio =
2,0, IC 95% 1,8–2,2) e não apresentava alteração em função do tipo de diabe-
tes, sexo, método de avaliação da depressão e desenho do estudo. A prevalên-
cia da depressão comórbida era significativamente mais elevada em mulheres
diabéticas (28%), do que em homens diabéticos (18%), em estudos não contro-
lados (30%) do que em estudos controlados (21%), em amostras de clínicas
(32%) do que em comunidades (20%), e quando avaliada por questionários
personalizados (31%) do que em entrevistas padrões de diagnóstico (11%).
Conclusões: O diabetes duplica o odds da depressão comórbida. As esti-
mativas de prevalência são afetadas por vários fatores clínicos e metodo-
lógicos que não afetam a estabilidade dos odds ratios.
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 03 (2001) 183

M.T.C.G. Torquato, R.M. Montenegro, Prevalência do diabetes mellitus, diminuição da tolerância à


L.A.L. Viana, R.A.H.G. Souza, C.M. glicose e fatores de risco cardiovascular em uma população
Lanna, J.C.B. Lucas, C.B. Durin, M.C. urbana adulta de Ribeirão Preto, São Paulo
Foss, Ribeirão Preto- SP, 17th
International Diabetes Federation Este estudo foi desenhado para determinar a prevalência do diabetes me-
Congress, Mexico City, México, 5 a 10 llitus (DM), diminuição da tolerância à glicose e fatores de risco cardiovas-
de novembro de 2000 cular na população adulta e urbana de Ribeirão Preto. Empregamos uma
amostra randomizada de 1473 indivíduos com idade entre 30 e 69 anos. Os
indivíduos foram avaliados pelas concentrações da glicose capilar de jejum.
Todos os indivíduos positivos (glicose > 5,6 mM), e cada sexto indivíduo
negativo receberam um teste OGTT 75g e foram classificados como portador
de diabetes, intolerância à glicose ou normais, de acordo com as recomenda-
ções da OMS. As taxas finais foram 12,1% e 7,7% para diabetes e intolerân-
cia à glicose, respectivamente. Homens (12,1 e 7,9%) e mulheres (12,0 e
7,3%) apresentam taxas similares de diabetes e intolerância à glicose. Níveis
similares foram também observados em brancos (11,6%) e não-brancos
(13,3%). A prevalência do diabetes aumentou de 3,3% no grupo 30-39 anos
para 7,1% no grupo 40-49 anos, 15,2% no grupo 50-59 anos e 23,5% no
grupo 60-69 anos. O histórico familiar de diabetes foi associado com um
aumento duplo na prevalência da doença (16,4% vs. 8,0%), e o diabetes é
mais freqüente nas classes menos educadas. O diabetes não diagnosticado
representa 25% da prevalência total. Obesidade (IMC > 30) foi observada em
42,5% dos indivíduos com DM e 37,7% dos indivíduos com intolerância à
glicose, em comparação com os 22,1% da amostra total. Pressão sanguínea
elevada (> 140/90 mmHg) foi verificada em 55,0% dos diabéticos, 42,3% da
intolerância à glicose e 32,0% da amostra total. Níveis sanguíneos elevados
de colesterol total (> 200 mg/dl) foram também mais freqüentes em diabéti-
cos (41,2%). Em conclusão, a prevalência do diabetes e da intolerância à
glicose na população urbana adulta desta cidade é elevada, associada à fre-
qüência alta de fatores de risco de doença cardiovascular.

Yoshinori Miyazaki et al, Diabetes Care Melhora do controle glicêmico e da sensibilidade à insulina em
2001;24:710-719, abril de 2001 pacientes diabéticos tipo 2 tratados por pioglitazona

Objetivo: Observar os efeitos da pioglitazona sobre o metabolismo da gli-


cose e dos lípides em pacientes portadores de diabetes tipo 2.
Desenho da pesquisa e métodos: 23 pacientes diabéticos (idade 30–70
anos, IMC < 36 kg/m2), tratados por dose estável de sulfoniluréias foram
randomizados para receber placebo (n = 11) ou pioglitazona (45 mg/dia) (n =
12) durante 16 semanas. Antes e após 16 semanas de tratamento, todos os
pacientes receberam um teste OGTT 75g. A sensibilidade à insulina hepática
e periférica foi medida por um clamp euglicêmico em duas etapas (40 e 160
mU · min-1 · m–2). HbA1c foi medida cada mês durante o período do estudo.
Resultados: Após 16 semanas de tratamento com pioglitazona, a glicose
plasmática de jejum (184 ± 15 to 135 ± 11 mg/dl, P < 0,01), a glicose plasmá-
tica média durante OGTT (293 ± 12 to 225 ± 14 mg/dl, P < 0,01), e HbA1c
(8,9 ± 0,3 to 7,2 ± 0,5%, P < 0,01) diminuíram significativamente sem altera-
ções nas concentrações da insulina/C-peptídeo de jejum ou estimulado por
glicose. Os ácidos graxos plasmáticos livres (647 ± 39 to 478 ± 49 µEq/l, P <
0,01) e os ácidos graxos plasmáticos durante OGTT (485 ± 30 to 347 ± 33
µEq/l, P < 0,01) diminuíram significativamente após o tratamento por piogli-
tazona. Antes e após o tratamento por pioglitazona, a produção de glicose
endógena e a glicose plasmática de jejum foram fortemente correlatas (r =
184 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 03 (2001)

Continuação 0,67, P < 0,01). A glicose endógena diminuiu significativamente durante a


primeira etapa do clamp insulínico após tratamento por pioglitazona (P <
0,05), e a glicose não-oxidativa e estimulada por glicose durante a segunda
etapa do clamp aumentou (P < 0,01). A alteração na glicose plasmática de
jejum era ligada à alteração na glicose endógena basal, à glicose endógena
durante a primeira etapa do clamp, e à glicose total durante a segunda etapa
do clamp. A alteração da concentração da glicose plasmática média durante
OGTT era significativamente relacionada à alteração da glicose total do cor-
po durante a segunda etapa do clamp.
Conclusões: Estes resultados sugerem que o tratamento com pioglitazona
em pacientes portadores de diabetes do tipo 2 diminui os níveis da glicose
plasmática de jejum e pós-prandial por aumento da sensibilidade à insuli-
na dos tecidos hepáticos e periféricos (músculo).

Silmara A.O. Leite, Paulo A. Avaliação do impacto do Staged Diabetes Management em um


Bracarense Costa, Clovis Guse, sistema de saúde privado em Curitiba
Janislei G. Dorociaki, Rosangela
Teodorovicz,, Jucelma S. Martinatto, Este estudo foi realizado para avaliar o impacto do Staged Diabetes Ma-
Marines C. Silveira, Edgard A. nagement (SDM) na melhora do controle glicêmico, perfil lipídico e pressão
Niclewicz, Centro de Diabetes, sanguínea e para avaliar a satisfação do paciente com este método. Desde
Hospital Nossa Senhora das Graças, 1998, Staged Diabetes Management, guia prático desenvolvido pelo Inter-
Universidade Federal do Parana, national Diabetes Center (Minneapolis, EUA), foi utilizado como modelo
Curitiba – PR, 17th International para o treinamento da equipe e a prática clínica no Hospital Nossa Senhora
Diabetes Federation Congress, das Graças de Curitiba. A equipe era composta de endocrinologistas, nutrici-
Mexico City, México, 5 a 10 de onistas, enfermeiras e assistente social. Documentos foram entregues a cada
novembro de 2000 membro da equipe para preencher os resultados dos 11 medições de qualida-
de de cuidados recomendados pela American Diabetes Association. 78 paci-
entes completaram um ano de acompanhamento. 27 pacientes era portadores
de diabetes do tipo 1 e 51 eram portadores de diabetes do tipo 2; 13 homens
e 65 mulheres, idade média 51,7 +1,1. A duração média do diabetes era 8,7
anos (1-28 anos) e IMC = 29,8 ± 5. Após um ano, HbA1c diminuiu de 8,06%
± 2,25 no início para 7,49% ± 2,0 (p = 0,045) sem alteração significativa no
IMC. O perfil lipídico foi normal e não apresentou alterações. Hipotireoidis-
mo foi diagnosticado em 14,3% dos pacientes. A microalbuminúria foi maior
do que 20 mcg/min em 7 pacientes. A pressão sanguínea foi >135/85 em
72% dos pacientes no início e, após um ano, 66% dos pacientes tinham uma
pressão >135/85. Os pacientes foram contatados por telefone e 80% deles
declararam ser satisfeitos pelo modelo SDM. Nossos resultados são impor-
tantes para mostrar que a qualidade em cuidados para diabéticos e melhora
do controle glicêmico podem ser atingidos em um sistema de saúde privado,
com treinamento adequado e uso de profissionais de saúde qualificados.

Marcos A. Tambascia, Bruno Geloneze, A disfunção da célula β é o principal fator para determinar a
Sylka O. Rodovalho, Jose C. Pareja, intolerância à glicose em pacientes resistentes à insulina
Daniela M. Franco, Enrico M. Repetto.
UNICAMP, Campinas - SP, 17th A patogênese do diabetes mellitus do tipo 2 envolve ambas a resistência à
International Diabetes Federation insulina e a deficiência de secreção. Alguns pacientes com grau elevado de
Congress, Mexico City, México, 5 a 10 resistência à insulina, como visto na obesidade, não mostram intolerância à
de novembro de 2000 glicose porque têm a capacidade de secretar insulina e desenvolver uma hi-
perinsulinemia compensatória.
Para estudar a relação da resistência à insulina e a secreção de insulina,
utilizamos o método HOMA (Homeostasis Model Assessment) com 2 esco-
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 03 (2001) 185

Continuação res diferentes para resistência à insulina (HOMA-IR) e função da célula β


(Homa-β). Estudamos 347 pacientes de Campinas classificados por IMC (37
normais, 69 sobrepeso, 142 obesos e 99 obesos severos) e por tolerância à
glicose usando os critérios ADA 1997 (222 normais, 46 com tolerância à
glicose diminuída e 79 diabetes mellitus do tipo 2). A tabela mostra nossos
resultados.

IMC (kg/m2)
<25 25-30 30-40 >40
HOMA-IR Normal (n) 2,8±0,9 (17) 3,7±2,1 (43) 6,4±4,6(101) 11,0±6,9 (61)
IGT (n) 4,7±1,5 (7) 6,2±3,6 (12) 8,5±4,0(10) 11,8±10,0 (17)
DM2 (n) 6,9±4,3 (13) 9,4±6,4 (14) 12,3 ±12,7(31) 24,4±17,0 (21)
HOMA-β Normal 235,5±85,5 279,3±145,6 535,7±801,6 654,4±328,8
IGT 124,1±9,8 159,1±66,3 234,0±144,5 414,3±275,0
DM2 85,8±54,1 156,2±211,3 182,5±179,7 331,8±329,7

Podemos concluir que paralelamente ao aumento do peso corporal existe


um aumento do HOMA-IR observado em todos as categorias de tolerância à
glicose (r = 0,78). HOMA-β aumenta significativamente com o IMC. Existe
uma HOMA-β diminuída e HOMA-IR elevada na categorias de intolerância
à glicose, em comparação com os indivíduos normais com o mesmo IMC. A
capacidade de secreção da célula β determina a ocorrência ou não do diabe-
tes do tipo 2.
187 Fraige Fo F/ Diabetes Clínica 03 (2001) 187~193 Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 02 (2001) 187~193

ATUALIZAÇÃO

O tratamento do diabetes mellitus do tipo 2


Fadlo Fraige Filho*

*Professor Titular de Endocrinologia da Faculdade de Medicina do ABC, Doutor em medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Chefe
do Serviço de Endocrinologia do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, Membro da Comissão do Plano de Reorganização da Atenção ao Diabetes
Mellitus e H.A do Ministério da Saúde, Delegado Executivo no Brasil da IDF (International Diabetes Federation) – SACA (South and Central América)

I - Tratamento não medicamentoso A adequação da dieta aos hábitos familiares, raciais,


bem como de acordo com a situação econômica do pa-
O tratamento do DM tipo 2 pode ser não medicamen- ciente, melhora a aderência à dieta e ao tratamento.
toso que compreende: A dieta deverá conter todos os nutrientes, assim, re-
1. Dieta comenda-se em torno de 50 % de carboidratos, 30% ou
2. Exercícios menos de gorduras e 10 a 20% de proteínas, do total das
3. Educação calorias necessárias diárias. Observa-se redução das pro-
teínas, no máximo a 10% para pacientes com nefropatia
1 - Dieta diabética instalada.
A dieta, dentro do possível, deverá ser constituída das
É um ponto importante no contexto do tratamento, três refeições principais, seguidas de três lanches, nos
visto que os intolerantes à glicose ou mesmo o diabetes intervalos de manhã, tarde e noite e prover quantidades
em sua forma inicial com discretas elevações das glice- abundantes de vegetais e frutas, o suficiente para o su-
mias podem ser controlados e os parâmetros glicêmicos primento de fibras, vitaminas e sais minerais.
revertidos aos valores normais, apenas com administra- Todo o alimento que possui o equivalente em sua for-
ção de uma dieta adequada. ma integral, deverá ser prescrito (arroz, trigo, aveia), pois
De maneira geral, considerando-se que os diabéticos sabemos, pelos novos conceitos, que o teor de carboi-
tipo 2 são indivíduos obesos, a dieta deverá ser hipoca- drato de um alimento não será aquele que irá aumentar a
lórica, com um mínimo de 1200 kcal/dia para mulheres glicemia, mas sim a velocidade com que o organismo
e 1500 kcal/dia para homens, sem açúcar e congêneres, irá digeri-lo e absorvê-lo.
com teor reduzido de gorduras e carboidratos, rapida- Assim, um carboidrato, quando ingerido com fibras
mente absorvidos. Porém, em cada caso a dieta deverá vegetais, quer na sua forma natural ou misturado com
ser adaptada às necessidades metabólicas e nutricionais outros alimentos ricos em fibras, terá sua digestão e ab-
do paciente (exemplo: atletas, gestantes) e quando asso- sorção retardadas.
ciada a outras doenças como hipertensão, deverá ser hi- Estudos recentes têm demonstrado que esta absorção
possódica, hiperuricemia, deverá ser hipouricêmica, e os índices glicêmicos podem também variar de acordo
doenças gastrintestinais, etc. com a forma de preparo deste alimento. Assim, arroz

Endereço para correspondência: Rua Maestro Cardim, 889, 01323-001 São Paulo SP, Tel: (11)288-0054
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branco recém preparado e purê de batatas recém cozi- açúcar, quando adquire alimentos light.
das, elevarão muito mais a glicemia do que o arroz e Outro aspecto é o teor calórico de alguns alimen-
batata resfriados e depois preparados. tos diet, que embora isentos de açúcar, têm alto teor de
Esses novos conceitos deverão modificar as prescri- gordura, como os chocolates e sorvetes, ou alto teor de
ções e as dietas dos diabéticos. carboidratos como os alimentos com glúten, pão, bis-
Existem hoje recomendações da ADA (American coito e macarrão, cuja utilização na alimentação deve
Diabetes Association) liberando pequenas quantidades ser em quantidades vigiadas e moderadas.
de açúcar para pacientes muito bem controlados, desde
que façam parte da ingestão total de carboidratos. Em Adoçantes artificiais: todos os adoçantes comerci-
nossa opinião uma liberação perigosa, visto que é difícil alizados são de inteira segurança e suas diferentes com-
o entendimento de quantidades moderadas e nos paci- posições deverão ser testadas de acordo com o paladar
entes que fazem monitoração de glicemia pós-prandial, do consumidor. Observe que aqueles a base de frutose,
a ingestão de açúcar e/ou doces, sempre é seguida de não são indicados quando se quer uma redução de peso,
fortes hiperglicemias. pois têm valor calórico igual ao da sacarose.
Temos observado nos últimos dois anos uma verda-
deira revolução no “ataque” às hiperglicemias pós-pran- 2 - Exercícios
diais, pois segundo trabalhos recentes, estão correlacio-
nadas com as complicações tardias do diabetes, princi- Benefícios:
palmente doenças cardiovasculares arterioscleróticas [4]. · Ajuda a manter baixos os níveis de glicemia, duran-
Ultimamente um verdadeiro arsenal terapêutico tem te e depois do exercício.
sido desenvolvido para o controle das hiperglicemias pós- · Pode melhorar o controle glicêmico a longo prazo
prandiais, porém a nosso ver a melhor arma é a correção (verificado pela redução de hemoglobina glicosilada).
de sua causa, que é a dieta inadequada, daí nossa posi- · Melhora a sensibilidade à insulina por aumento di-
ção mais clássica em não permitir o uso de açúcar e, em reto dos transportadores de glicose – GLUT4 – podendo
pequenas quantidades os carboidratos rapidamente ab- diminuir as quantidades de hipoglicemiantes orais ou
sorvidos, usando os conceitos já descritos para diminuir mesmo de insulina.
o índice glicêmico. · Melhora o condicionamento cardiovascular.
· Reduz fatores de risco cardiovasculares, por dimi-
Bebidas alcoólicas: Para aqueles em que a bebida nuição da pressão arterial e dos lípides.
alcoólica faz parte de seu hábito alimentar, deverão sa- · Quando combinada com dieta hipocalórica, auxilia
ber que: na redução de peso através da perda de gorduras, preser-
Pode causar hipoglicemia quando ingerida em perío- vando a massa muscular.
dos de jejum, risco este aumentado quando se toma in- · Melhora o bem estar e qualidade de vida.
sulina e sulfoniluréias. · Favorece a sociabilidade.
Não deverá conter açúcar em sua composição.
Dar preferência aos destilados, evitando as fermenta- Precauções:
das. · Inspecionar os pés antes e depois dos exercícios.
Não deverá ser ingerida por pacientes com hipertrigli- · Usar calçado adequado para cada tipo de atividade.
ceridemias, obesos ou em mau controle metabólico [5]. · Pode causar hipoglicemia quando realizado no pico
Não ingerir depois de exercício intenso. da insulina, devendo portanto ser adequado à alimenta-
Não beber sozinho. ção e à terapêutica medicamentosa.
· Medir o nível de glicemia, antes e durante o exercí-
Alimentos dietéticos: A confusão entre alimentos diet cio, principalmente se for intenso, já que o exercício pode
e light por parte dos pacientes e dos próprios profissio- baixar a glicemia entre 12 a 24 horas após sua prática.
nais médicos tem justificativa frente à uma legislação · Portar alimentação ou bebida que contenha glicose.
complexa e dúbia. · Exercitar-se preferencialmente com um companhei-
O desconhecimento da legislação por parte de al- ro, que saiba reconhecer uma hipoglicemia.
guns fabricantes, aliado às dificuldades de fiscalização, · Não se exercitar em períodos de mau controle meta-
gerou confusões iniciais que aos poucos têm sido resol- bólico.
vidas. Os alimentos dietéticos são aqueles para o sabor · Não fazer exercícios em vigência de complicações
doce, que não tem açúcar e os light, às vezes não têm presentes e ativas (retinopatia proliferativa, nefropatia e
açúcar (como o caso de um refrigerante) ou podem con- outras) devendo dar preferência ao simples caminhar.
ter açúcar até 45% do teor de um produto normal. As- · Parar o exercício se algum dos seguintes sinais ocor-
sim sendo, é possível, sem observar atentamente a rotu- rer:
lagem, que uma parcela de pacientes esteja ingerindo Cefaléia ou tontura.
189 Fraige Fo F/ Diabetes Clínica 03 (2001) 187~193

Dor ou desconforto torácico. complicações que podem levar risco aos pés, e uso de
Náuseas. calçados adequados.
Sensação de desmaio [6]. Como vemos o educador faz um elo de conexão entre
o profissional médico e o paciente, visto que o tempo
3 - Educação destinado a uma consulta, no sistema público e conveni-
ado no Brasil, é muito curto para atividades educativas.
O fato da doença ser metabólica e com pouca expres-
são clínica, faz com que uma boa parte dos pacientes II - Tratamento medicamentoso
não dêem importância e até mesmo negligenciem sua
doença. Deve ser instituído conjuntamente com a dieta e exer-
É difícil convencer os pacientes de algo que não vêem cícios, se estes últimos não terem tido sucesso no con-
ou não sentem. trole glicêmico, ou quando a doença já se manifesta com
Consideramos o diabetes como principal doença em altos índices glicêmicos.
que a educação é importante, levando informação, ori-
entações e alertas, aos seus portadores. 1 - Antidiabéticos orais
Estudos comparativos de populações de pacientes não Podem ser classificados como:
educados com aqueles que tiveram um processo educa- Secretores de insulina de ação prolongada: sulfoni-
tivo, mostram que estes têm grandes benefícios como: luréias (Clorpropamida, Glibenclamida, Glipizida, Gli-
Melhor controle da doença. cazida, Glimepirida)
Menor índice de hospitalização. Secretores de insulina de ação rápida: Glinidas (Re-
Menor índice de complicações tardias. paglinida, Nateglinida)
Menor índice de faltas ao trabalho, licenças médicas
e até aposentadoria precoce. Sensibilizadores da insulina: Metformina; Glitazonas
Menor ônus financeiro pessoal e de plano de saúde (Rosiglitazona, Pioglitazona)
ou governo.
Melhor expectativa de qualidade de vida. Inibidores da α-Glicosidase: Acarbose; Miglitol

Educar é transferir conhecimentos e através destes, Uma breve descrição das propriedades destes fárma-
convencer os pacientes a cumprirem suas dietas, exercí- cos nos dará conhecimento de como e quando prescrevê-
cios e medicamentos. los, adaptando-os e adequando-os a cada paciente [5-7].
Sem dúvida alguma, uma consulta médica não per-
mite a extensão de tempo para a educação. 1- Secretores de insulina
Os órgãos públicos bem como a medicina privada e 1.a - De ação prolongada - Sulfoniluréias (Clorpro-
os seguros de saúde, não reconhecem esta importante pamida, Glibenclamida, Glipizida, Glimepirida, Glica-
função - de educador - do ponto de vista funcional e zida): estimulam a secreção de insulina ligando-se a re-
econômico. ceptor nas células beta do pâncreas.
Assim, quem faz educação neste país, o faz de forma 25% dos pacientes podem se controlar com estes fár-
filantrópica como os programas desenvolvidos na ANAD macos com monoterapia e 60 a 75% necessitarão de te-
(Associação Nacional de Assistência ao Diabético) e rapia combinada para um bom controle glicêmico.
outros centros. Podem aumentar o peso devido a hiperinsulinemia, o
Educar é também conseguir a mudança de estilo de que é indesejável no controle global do portador de dia-
vida pois como já foi dito anteriormente, a maioria dos betes. O estudo UKPDS mostrou associação das Sulfo-
diabéticos, por ocasião dos diagnósticos e mesmo de- niluréias com a hipertensão arterial e não demonstrou
pois, na evolução de sua doença, tem hábitos arraigados redução significativa de retinopatias e mortalidade car-
que precisam ser corrigidos, propiciando a orientação diovascular [3] mesmo em tratamento intensivo.
para habilidades de: As sulfoniluréias são os fármacos de primeira esco-
Combate ao sedentarismo com a prática regular de lha quando iniciamos o tratamento do diabético tipo 2,
exercícios. não obeso.
Que venham auxiliar na suspensão do tabagismo. A clorpropamida que tem ação muito prolongada
Corrigir excesso de bebidas alcoólicas inadequadas. (meia vida igual a 33 horas), não é recomendada para
Que venham incentivar a prática de automonitoriza- pacientes acima de 60 anos devido a um maior risco de
ção e auto-aplicação de insulina. episódios de hipoglicemia.
Conhecimento para interagir entre as glicemias capi- Considerada sua excreção renal, as sulfoniluréias são
lares e sua medicação. contra-indicadas em presença de insuficiência renal,
Cuidados com os pés, de higiene, reconhecimento das ocasião em que devem ser substituídas pela insulinote-
190 Fraige Fo F/ Diabetes Clínica 03 (2001) 187~193

rapia. Outra característica é a perda de seu efeito ao lon- nal, hepática, respiratória, cardíaca ou coronariana, al-
go do tempo do diabetes, caracterizando a falência tera- coolismo, em surto infeccioso e na idade avançada.
pêutica secundária, quando deverá ser indicada a insuli- Tem efeito colaterais tais como: Desconforto abdo-
noterapia. minal, gastrite, diarréia, que melhoram com a suspen-
são da droga. A acidose láctica mencionada em raros
1.b - De ação rápida: Deste grupo recém lançado no pacientes é praticamente inexistente quando se observa
Brasil, designados de glinidas, temos a repaglinida e a suas contra indicações.
nateglinida.
Agem no pool intracelular da insulina de secreção rá- 2.b Glitazonas: Esta classe de fármacos, também de-
pida, em receptores das células b, diferente das sulfoni- signados de tiazolidinedionas tem dois representantes
luréias, promovendo pico de ação em torno de uma a duas lançados recentemente no Brasil que são a rosiglitazo-
horas, por isso mesmo indicadas no controle das hipergli- na, e a pioglitazona que têm perfis bioquímicos seme-
cemias pós-prandiais, um novo enfoque no tratamento do lhantes.
diabetes, após recentes trabalhos publicados que demons- Estes são os verdadeiros fármacos sensibilizadores
tram correlação entre as glicemias pós-prandiais com en- de insulina, visto que seu mecanismo de ação diminui a
farte do miocárdio e não as glicemias de jejum [4]. resistência à insulina, que é o foco principal da etiologia
Se as complicações são dependentes das hiperglice- do Diabetes Mellitus tipo 2.
mias estas atingem seus maiores níveis após alimenta- Além de melhorarem a interação da insulina e seus
ção copiosa e rica em carboidratos. Assim, as glinidas receptores periféricos, principalmente a nível de tecido
têm papel importante nesta modalidade terapêutica, prin- muscular hepático e adiposo, têm ação sui generis atra-
cipalmente quando associadas à metformina, com po- vés da ativação dos receptores nucleares PPARg – re-
tencialização do efeito terapêutico. ceptor ativado do proliferador de peroxisomas gama –
Considerando-se que são absorvidas e eliminadas ra- que aumenta a transcrição de genes, cujo efeito é o au-
pidamente e pelo seu perfil rápido de ação, devem ser mento dos transportadores de membrana de glicose –
administradas imediatamente antes das refeições, con- GLUT4 – intracelulares, cujo efeito final será a de mai-
ferindo um perfil terapêutico com menos ricos hipogli- or captação celular da glicose, por isso produzindo seu
cêmicos, conveniente no tratamento diabéticos idosos efeito hipoglicêmico [11].
ou portadores de alguma forma de doença neurológica, Têm ação importante na redução da hipertrigliceri-
principalmente em seqüelas de acidente vascular cere- demia, muito freqüente nos diabéticos tipo 2. O efeito
bral isquêmico. colateral que é o aumento discreto de peso quando usa-
Também por não terem uma ação secretagoga de in- do em associações com insulinas ou sulfoniluréias nos
sulina prolongada, podem se adequar à melhor flexibili- pacientes que não cumprem programa de dieta estabele-
dade de horários de refeições tão necessários nos dias cido.
de hoje, em que o tempo e horário das refeições são im- Podem ocorrer também edemas discretos, fato este
previsíveis em função de trabalho. Assim, só serão ad- que deve ser levado em consideração em pacientes dia-
ministradas se ocorrer a refeição, por isso menor risco béticos hipertensos e/ou cardiopatas com tendência a
de hipoglicemias [10]. retenção hídrica.
Como este fármaco é de metabolização hepática é
2 - Sensibilizadores de insulina recomendável que no primeiro ano de tratamento se in-
2.a Metformina: Constitui o medicamento de primei- vestiguem as enzimas hepáticas a cada dois meses con-
ra escolha de pacientes diabéticos obesos, pois além de forme recomendação do FDA (Food and Drug Admi-
sua ação hipoglicemiante, tem efeito anoréxico produ- nistration) endossada pela Agência de Vigilância Sani-
zindo perda de peso concomitante, altamente benéfica tária do Ministério da Saúde
para a melhoria das condições clínicas e metabólicas Por isso mesmo, estes medicamentos são contra-in-
destes pacientes. dicados em hepatopatias ativas, e a meu ver nas seqüe-
Seu principal mecanismo de ação é a diminuição da las de doenças hepáticas graves.
produção hepática de glicose que está aumentada. Sua principal indicação em nossa experiência, é em
A metformina quando associada a fármacos secreta- pacientes tipo 2 que não conseguem um bom controle
gogos de insulina tem seu efeito hipoglicemiante poten- com os medicamentos secretores de insulina, após sua
cializado. associação com metformina. Nesta situação de início de
O UKPDS [8] demonstrou que a metformina foi o falência secundária à aqueles fármacos, introduz-se as
único medicamento que diminuiu significativamente as glitazonas que poderão melhorar o controle antes do iní-
complicações cardiovasculares e conseqüentemente, os cio da insulinoterapia.
índices de mortalidade. Aqueles pacientes que já em falência secundaria de-
É contra indicada em pacientes em insuficiência re- finida e em uso concomitante de insulinas poderemos,
191 Fraige Fo F/ Diabetes Clínica 03 (2001) 187~193

ao introduzir as glitazonas, reduzir as doses de insulina desconforto abdominal, por vezes intensos, acarretando
ou mesmo substituí-las, se usadas em pequenas doses. na desistência do uso da medicação.
Esta redução ou mesmo substituição é benéfica, visto É necessário ressaltar que devemos insistir na medi-
que por vezes a insulinoterapia provoca aumento de peso, cação, pois esta, quando prescrita corretamente, tem
o que é indesejado.10 minimizado os efeitos colaterais e mesmo desaparecen-
Por se tratar da única terapêutica genética tem seu do, após o 6º ou 8º mês de tratamento, quando então
efeito maior após três a quatro semanas do inicio de seu temos uma excelente arma terapêutica no controle da
tratamento, e também esse efeito potencializado quan- hiperglicemias pós-prandiais através de um fármaco que
do do uso concomitante com a metformina. não é absorvido pelo intestino e portanto desprovido de
qualquer toxicidade.
3- Inibidores da a-glicosidase Outra vantagem deste medicamento é não provocar
Este grupo tem dois representantes (Acarbose e Mi- hiperinsulinemia e sua conseqüente hipertrigliceridemia
glitol) como mecanismo de ação semelhantes: Inibem pós-prandial. Não existem interações medicamentosas,
parcial e temporariamente a enzima a-glicosidase que devendo ser indicado em quase todos os pacientes com
degrada os carboidratos, transformando-os em glicose diabetes tipo 2, quando associados às outras categorias
na digestão intestinal. de medicamentos descritos.
Como inibe temporariamente esta enzima, ocupan- Como monoterapia tem indicação apenas no controle
do-a como um falso carboidrato, não impede a sua ab- da glicemia nos pacientes com intolerância à glicose ou
sorção mas sim um retardo da mesma nos períodos pós- mesmo naqueles com glicemias discretamente alteradas,
prandiais. sempre associado a dieta adequada..
A liberação posterior destes carboidratos principal- Obviamente está contra-indicada em pacientes que
mente nos cólons, leva a um aumento da flatulência por tenham alguma doença gastrointestinal.
fermentação destes pela flora intestinal. A tabela 1 resume os medicamentos antidiabéticos
Este é o principal efeito colateral observado quando orais disponíveis em nosso meio.
não se faz doses iniciais menores e com aumento lento e
progressivo, maiores do que aqueles preconizados pelo II. Insulinoterapia
fabricante.
Costumo definir esta situação baseado em experiên- A insulinoterapia deve ser instituída quando ocorrer
cia pessoal, de que devemos preparar e adaptar o paci- a falência secundária aos antidiabéticos orais, que usa-
ente com doses que se iniciam com 12,5 mg, mantidas das em doses máximas não produzem o controle glicê-
por meses inicialmente, com aumento na mesma pro- mico adequado, mesmo quando combinados entre si.
porção, lento e progressivo para chegarmos após seis É importante não confundir falências secundárias com
meses de preparo, a uma dose terapêutica efetiva. A não descontrole glicêmico por um episódio de infecção, ci-
observância desses procedimentos leva à flatulência e rurgia ou estresse, e mesmo abusos alimentares que uma

Tabela 1 – Antidiabéticos orais


ANTIDIABÉTICOS ORAIS SECRETADORES DE INSULINA – SULFONILURÉIAS
Apresentação Dose Duração da Possível
Nome Genérico Nome Comercial mg/comp Mínima - Máxima Ação Alteração
no peso
Clorpropamida Diabinese 250 1/2 - 2 comp > 48 horas Aumento
Glibenclamida Daonil, Euglucon 5 1/2 - 4 comp 12 a 24 h Aumento
Glipizida Minidiab 5 1/2 - 4 comp 12 a 24hs Aumento
Glicazida Diamicron 80 1/2 - 4 comp 12 a 24hs Aumento
Glimepirida Amaryl 1, 2, e 4 1 mg - 8 mg 24 horas Aumento
SECRETADORES DE INSULINA – GLINIDAS
Repaglinida Novorm, Prandim 0,5; 1 e 2 0,5 mg - 16 mg 2 a 6 horas Aumento
Nateglinida Starlix 120 1 comp - 6 comp 2 a 4 horas Aumento
SENSIBILIZADORES DE INSULINA
Metformina Glifage, glycoformin 500 e 850 500 - 2550 mg 6 a12 horas Diminuição
Rosiglitazona Avandia 4e8 2 mg - 8 mg semanas Aumento
Pioglitazona Actos 15 15 mg - 45 mg semanas Aumento
INIBIDORES DA a-GLICOSIDASE
Acarbose (Miglitol) Glucobay (a ser lançado) 50 e 100 25 mg - 300 mg < 4 horas Diminuição
192 Fraige Fo F/ Diabetes Clínica 03 (2001) 187~193

vez corrigidos obteremos o controle glicêmico restabe- Lembrar que a insulinoterapia induz a aumento de
lecido. peso e por isso mesmo devemos insistir e enfatizar a
Também a insulinoterapia deve ser utilizada quando importância e o rigor da dieta hipocalórica.
o paciente portador de diabetes tipo 2 se apresenta em Permite-se o uso de insulina de ação rápida em com-
descontrole glicêmico com perda acentuada de peso em binação com a NPH para glicemias muito elevadas por
um pequeno espaço de tempo, de dias ou semanas. ocasião de descompensações devidas a diferentes fato-
É também indicada para o tratamento na paciente di- res.
abética que ficou grávida ou mesmo no diabetes gesta- Os pacientes diabéticos tipo 2 que forem submeter-se
cional, que se manifestou durante a gestação, onde rei- a cirurgias de grande porte deverão ser insulinizados e
teramos a contra indicação dos antidiabéticos orais. controlados como pré-operatório e mantidos em até 6
O uso de insulina também está indicado substituindo meses, como nos casos de cirurgias de revascularização
os fármacos orais na intercorrências de infecções gra- de miocárdio.
ves, acidente vascular cerebral, enfarte agudo do mio- Sem dúvida a insulinoterapia requer conhecimentos
cárdio, em que o controle glicêmico melhora o prognós- mais profundos, bem como habilidade prática no manu-
tico, bem como diminui a mortalidade cardiovascular seio de tal medicamento, que se usado inadequadamen-
em até 30% [9]. te pode agravar e até mesmo comprometer a vida do
paciente.
Como insulinizar o paciente diabético tipo 2 Por isso recomendo concurso de um endocrinologis-
ta por ocasião de situações como as acima descritas.
Devemos iniciar o uso de insulina humana DNA re- Talvez esses motivos levem insegurança àqueles que
combinante – NPH – em doses pequenas - de início 10 não estão habituados a prescrever insulina, levando a
unidades à noite, ao deitar. Aumentar 2 unidades a cada um grande número de pacientes que deveriam estar re-
2 ou 3 dias até conseguir uma diminuição da glicemia cebendo insulina e mantidos em parâmetros de controle
de jejum dos dias seguintes, atingindo o máximo de 20 considerados ruins.
unidades. Acima desse valor passamos a usar uma dose O Estudo Multicêntrico do Ministério da Saúde, em
matinal, em jejum. um dos seus aspectos, mostra que 7,9% dos diabéticos
Para doses maiores que 30 unidades pela manhã, se tipo 2 recebem insulina no Brasil, enquanto sabemos que
não houver controle, poderá ser desmembrado em duas esse número deveria ser idealmente de 25%.
doses: Matinal e noturna.
Em muitos casos mantemos os antidiabéticos orais, A tabela 2 destaca os diferentes tipos de insulina e as
combinados, porém diminuindo sua quantidade. apresentações disponíveis no mercado.

Tabela 2 - Insulinas humanas e animais disponíveis no mercado brasileiro – 2000


INSULINAS HUMANAS AVENTIS BIOBRÁS LILLY NOVO NORDISK
Ação Ultra-Rápida (UR) Humalog
Ação Rápida R Insuman R Biohulin R Humulin R Novolin R
Ação Intermediária
NPH (N) Insuman N Biohulin N Humulin N Novolin N
Lenta(L) Biohulin L Humulin L Novolin L
Ação Prolongada (U) Biohulin U
Pré-Misturas (N+R)
90/10 Biohulin 90/10 Humulin 90/10 Novolin 90/10
85/15 Insuman Comb 85/15
80/20 Biohulin 80/20 Humulin 80/20 Novolin 80/20
75/25 Insuman Comb 75/25
70/30 Biohulin 70/30 Humulin 70/30 Novolin 70/30
Pré – Misturas (N+UR)
75/25 Humalog Mix 25
INSULINAS ANIMAIS
Ação Rápida (R) Neosulin R (suína) Insulina Mista Actrapid (suína)
Monolin R (suína) Purificada
Ação Intermediária Iolin R (mista)
NPH (N) Neosulin N (suína) Insulina Mista N Protaphane (suína)
Monolin N (suína) Purificada
Iolin R (mista)
Lenta (L) Neosulin L (suína) Monotard (suína)
193 Fraige Fo F/ Diabetes Clínica 03 (2001) 187~193

III. Objetivos do tratamento Referências

É muito importante que se conheçam os parâmetros 1 - The Expert Committee on the diagnosis and classification of
bioquímicos e clínicos que se almeja e que são conside- Diabetes Mellitus .Report of the Expert Committee the
diagnosis and classification of Diabetes Mellitus Diabetes
rados na literatura mundial como de bom controle. Care 1997;20:1183.
Os dois grandes estudos prospectivos DCCT (Diabe- 2 - Alberti KGMM, Zimmet PZ, for the WHO Consultation.
tes Complications Control Trial 13) publicado em 1993 Definition, diagnosis and classification of Diabetes Mellitus
para o diabetes tipo 1 e UKPDS (United Kindon Pros- and its complications, Part 1, diagnosis and classification of
pective Diabetes Study 3), publicado em 1998 para o Diabetes Mellitus, provisional report of a who consultation,
Diabetic Med 1998;15:539-53.
diabetes tipo 2, demonstraram que o tratamento intensi- 3 - UK Prospective Diabetes Study Group, Intensive blood-glucose
vo e o conseqüente controle rigoroso de glicemia dimi- control with sulfonylureias or insulin compared with
nuem drasticamente as complicações tardias degenera- conventional treatment and risk of complications in patients
tivas do diabetes e também a morbi-mortalidade desta with type 2 diabetes: UKPDS 33, Lancet 1998;352:837-853.
doença. 4 - Fraige FF. Importância do controle da hiperglicemia pós
prandial. Diabetes Clínica 2000;04(1):40-49.
Portanto as metas a serem alcançadas no tratamento 5 - Consenso brasileiro sobre Diabetes. Diagnóstico e
do diabetes são, sem dúvida, aquelas próximas à norma- Classificação do Diabetes Mellitus e tratamento do diabetes
lidade dos parâmetros bioquímicos e clínicos. melittus Tipo 2 – Sociedade Brasileira de Diabetes – 2000.
6 - The Diabetes ready – Reference guide for health care
Tabela 3 - Resumo dos valores bioquímicos professionals. American Diabetes Association – 2000.
7 - De Fronzo RA. Pharmacologic therapy for type 2 Diabetes
Risco Risco Risco Melittus. Ann Intern Med 1999;131:281-303.
baixo arterial microvascular 8 - UK prospective Diabetes Study Group. Effect of intensive
HBA1C blood-glucose control with metformin on complications in
(% hemoglobina) ≤ 6,5 > 6,5 > 7,5 overweight patients with type 2 Diabetes: UKPDS34. Lancet
1998:352;854-865.
Glicose plasmática venosa 9 - Malmberg K. Prospective ramdomised study of intensive
De jejum/pré-prandial(mg/dl) < 110 ≤ 110 > 125 insulin treatment on long term survival after acute myocardial
Pós – prandial(mg/dl) < 135 ≤ 135 > 160 infarction in patientes with diabetes melittus. BMJ
1997;314:1512-5.
Pressão sangüínea (mm Hg) < 140/85 - - 10 - Avanços Terapêuticos, Diabetes Clínicas 2001;04:26.
HDL – Colesterol (mg/dl) > 46 39-46 < 39 11 - Avanços Terapêuticos, Diabetes Clínicas 2001;04:12.
LDL – Colesterol (mg/dl) < 115 115-155 > 155 12 - Atualização – American Diabetes Association, Diabetes
Triglicerídeos (mg/dl) < 150 150-200 > 200 Clínica 2000:04(6):431-438.
13 - DCCT Research group: The effect of intensive treatment of
O desconhecimento destes valores, a evolução assin- diabetes on the development and progression of long term
complications in IDDM . N England J Med 1993;329:977-86.
tomática do diabetes tipo 2, a “permissividade conveni-
ente” ao paciente e a profissionais, fazem com que a
maioria dos pacientes evolua e desenvolva complica-
ções tardias que comprometerão sua qualidade de vida
com graves danos à saúde.

(O próximo artigo tratará do uso das agentes anti-


hipertensivos, hipolipemiantes e da aspirina no trata-
mento do diabetes).
194 Santos RB / Diabetes Clínica 03 (2001) 194~200 Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 03 (2001) 194~200

ARTIGO ORIGINAL

Autocuidado, trabalho e diabetes mellitus: uma abordagem de enfermagem


Rita Batista Santos*
*Professora Assistente do departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Tese de Doutorado apresentada a Coordenação de Pós-Graduação do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de
Medicina

Resumo
Trata-se de um estudo de caso qualitativo sobre a representação, opinião e atitudes de sujeitos portadores de diabetes mellitus, servidores de
uma universidade pública, sobre seu autocuidado. Os objetivos traçados foram: identificar quais são os fatores das condições de trabalho que
interferem no autocuidado, analisar a influência do surgimento do diabetes mellitus na vida dos sujeitos e discutir e analisar a representação,
opinião e atitudes dos sujeitos sobre seu autocuidado. A coleta de dados deu-se entre os meses de julho a outubro de 1999, mediante a
realização de entrevista aberta, com 7 sujeitos, sem quatro homens e três mulheres, com idade entre 44 a 65 anos, com nível funcional de apoio
e médio, percebendo entre 2 a 10 salários mínimos. A organização dos dados e a revisão crítica sobre o tema subsidiaram a elaboração das
categorias autocuidado, saúde no trabalho e autocuidado, trabalho e gênero, que foram interpretadas pela técnica de análise temática, confor-
mando novas descobertas cuja compreensão contribui para a melhora da qualidade de vida e autocuidado dos sujeitos.

Palavras-chave: Auto-cuidado, trabalho, diabetes mellitus, enfermagem

Abstract
This study is a qualitative case study on workers attitude, opinion an representation about Diabetes Mellitus (DM) self-care of a Federal
University. The following objectives are proposed: identify the impact of working conditions against self-care; analyze emergence of DM in
subjects’ lives; discuss and analyzing representations and subjects’ opinions about self-care, as well as their actions related to self-care. Its
objective is to contribute enhancement to subjects’ lives and their self-care through nursing care. Seven subjects have been interviewed, four
men and three women, aged 44 to 65, blue-collar workers, whose salaries were within two to ten minimum wages. As research techniques,
simple observation and open interviews were used, complemented by a field diary – as well as information found in their medical files. Data
collecting extended as far as July to October, 1999. Results were categorized as: self-care; health at work; and self-care, work and gender. This
study intends to contribute to the improvement of nursing assistance as concerned with self-care for diabetic patients.

Key-words: Self care, work, diabetes mellitus, nursing care

Endereço para correspondência: Rita Batista Santos, Praia de Botafogo, 484/405, 22250-040 Rio de Janeiro RJ,
Tel: (21) 2293 8999, E-mail: ritabatistas@aol.com
195 Santos RB / Diabetes Clínica 03 (2001) 194~200

Introdução multidisciplinar, para a promoção do autocuidado do


sujeito. Nesse contexto o sujeito possui uma responsa-
A relação entre o autocuidado, o trabalho e o gênero bilidade pelo seu próprio cuidado, necessitando de apoio
é compreendida a partir da ótica das representações, estímulo e motivação, que são fatores necessários na
opiniões e atitudes dos sujeitos integrantes do Labora- facilitação do processo de aprendizagem e cumprimen-
tório de Diabetes para os servidores de uma universida- to dos objetivos da educação para a sua saúde. A relação
de pública (LADIS), servindo como instrumento para a entre o autocuidado, o trabalho e a educação residem no
ação educativa da enfermeira. fato de um fator poder ajudar o outro. A educação para o
O termo sujeito designará tanto homens quanto mu- autocuidado enfoca as necessidades e objetivos do su-
lheres, que vivenciam afetivamente a situação de auto- jeito, sendo determinada por um processo histórico-cul-
cuidado, prazer e sofrimento no trabalho, expressando a tural, privilegiando os afetos, emoções, sentimentos e
forma pela qual convive como esses mundos, aqui enca- reações dos sujeitos em relação ao DM, no delineamen-
rada como subjetividade, considerando as diferenças de to de seu cuidado com a saúde [12,13].
gênero. Por conseguinte o objeto de estudo é o autocuidado
O autocuidado é visto como uma construção mais dos sujeitos portadores de DM atendidos no LADIS.
social do que biológica, porque recebe mais interferên- A preocupação ou problema do estudo pauta-se com
cias de fatores ligados a convivência dos sujeitos com o a busca do surgimento do DM na vida dos sujeitos, na
seu trabalho e seu meio ambiente social, que tanto mo- influência das condições de trabalho às quais estão sub-
dificam quanto podem ser transformados em benefício metidos, que interferem no autocontrole metabólico, na
das ações de auto-cuidado desses sujeitos, que lhe con- história de vida antes e depois da manifestação da doen-
fere significados [1,2]. ça, incluindo sensações, sentimentos surgidos a partir
A representação, opinião e atitudes dos sujeitos so- de então, que escondem em seus hiatos novas oportuni-
bre o autocuidado configuram-se numa visão microsso- dades de revisitar cantos oclusos e negligenciados pelas
cial em que a presença do diabetes mellitus (DM) pode ações educativas, assim como as demais práticas profis-
ser evidenciada através dos seus afetos, emoções, senti- sionais, baseadas no modelo de atenção à saúde vigente,
mentos e reações em relação à doença, mesmo na au- que privilegia seu aspecto biológico.
sência de sinais e sintomas de descompensação aguda Com base nestas considerações surgiram as questões
do DM, considerado o desafio da ação educativa da en- norteadoras despertando interesse para proporcionar al-
fermeira para lidar com o auto-cuidado [3-7]. gumas respostas sobre: Como se deu a surgimento do
As relações entre o autocuidado e o trabalho dos su- DM na vida dos sujeitos; quais as representações, opini-
jeitos, incluem as noções de sofrimento e prazer no tra- ões e atitudes dos sujeitos portadores de DM acerca do
balho [8], argumentações que utilizam para justificar sua seu autocuidado; quais as relações entre o trabalho, o
não realização, denotando o caráter qualitativo e dinâ- autocuidado e gênero nesses sujeitos.
mico da carga psíquica do trabalho. Conceitos como ide- Tentando captar a realidade a ser estudada, a investi-
ologias e mecanismos defensivos, sofrimento criativo e gação possui os seguintes objetivos: Identificar qual o
patogênico, explicitam o conflito entre a economia psi- impacto das condições de trabalho no autocuidado dos
cossomática e a organização do trabalho que potenci- sujeitos portadores de diabetes atendidos na DVST/
aliza os efeitos patogênicos das más condições físicas, UFRJ; Analisar a emergência do DM na vida desses su-
químicas e biológicas do trabalho sobre seu autocuida- jeitos; Discutir e analisar a prática de autocuidado dos
do [9,10]. sujeitos portadores de diabetes mellitus atendidos na
A compreensão das relações ocultas de dominação DVST/UFRJ.
entre os gêneros facilita o desvendar das diferenças re- A finalidade do estudo é fornecer subsídios visando
lativas ao autocuidado entre os homens e mulheres por- contribuir com a melhoria da qualidade de vida e de au-
tadores (as) de diabetes. O conceito de gênero se refere tocuidado dos servidores e servidoras portadores(as) de
às relações sociais baseadas nas diferenças percebidas diabetes da UFRJ, mediante o cuidado de enfermagem.
entre os sexos, evidenciando-se como representações
existentes na nossa sociedade sobre feminilidade. Es- Metodologia
tendo esta representação a masculinidade, a informação
a respeito das mulheres é necessariamente informação O desenho metodológico é do tipo Estudo de Caso
sobre os homens, pois o estudo de um implica no estudo Qualitativo, submetido a uma análise interpretativa base-
de outro. A partir do conceito de gênero de Scott [11] ada no conceito da representação, opinião e atitudes fren-
são utilizados os elementos da noção de identidade sub- te ao DM e ao autocuidado [3-7], já que se pretende iden-
jetiva e a rejeição do sentido do masculino e do femini- tificar fatores que influem sobre a saúde dos sujeitos por-
no como uma oposição binária. tadores de DM, para garantir seu controle metabólico, bem
A educação desempenha papel de destaque na equipe como apreender, entender, discutir e utilizar o discurso
196 Santos RB / Diabetes Clínica 03 (2001) 194~200

desses para prestar uma melhor atenção à sua saúde, pro- Foram escolhidos 7 entre os 34 sujeitos atendidos no
movendo o autocuidado. A promoção da saúde dos sujei- LADIS: quatro homens (Crisântemo, Lírio, Girassol e
tos do LADIS, realidade que apesar de ser similar a ou- Jasmim) e três mulheres (Camélia, Gardênia e Margari-
tras, é ao mesmo tempo distinta, pois possui interesse pró- da), com idade entre 44 a 66 anos, do nível médio e de
prio, singular, no que tem de particular, único, as repre- apoio que recebiam entre 2 a 10 salários mínimos. Fo-
sentações sobre o autocuidado desses sujeitos. O estudo ram escolhidos casos típicos (homens e mulheres que
de caso permitiu um amplo e detalhado interrogatório pertencem ao nível de apoio e médio, percebem entre 2
sobre o relato oral dos sujeitos a respeito da sua convi- a 10 salários mínimos e com mau controle do DM), ca-
vência com a DM e o seu trabalho, para elaborar catego- sos marginais (uma mulher que apesar de ser do nível de
rias de análise elucidativas ao estudo do tema. apoio recebe entre 5 a 10 salários mínimos e outra que é
Esse estudo de caso possuiu quatro fases: 1) A deli- do mesmo nível e recebe entre 2 a 5 salários mínimos) e
mitação do estudo ou unidade caso; 2) A coleta de da- um caso atípico, de um homem que está dentro das ca-
dos; 3) A análise e interpretação dos resultados; e 4) a racterísticas dos sujeitos da pesquisa e é bem controlado
elaboração do relatório final [14]. em relação ao DM.
A Divisão de Saúde do Trabalhador, local onde são Os nomes dos sujeitos são fictícios obedecendo à ga-
desenvolvidas as atividades do LADIS, é um subsistema rantia do anonimato e do sigilo das respostas, seguindo
da Sub-Reitoria de Pessoal e Serviços Gerais da Univer- orientação da Resolução 196 do Conselho Nacional de
sidade, e se compõe de três Seções: Seções de Perícias Saúde (1995) para pesquisa em seres humanos. Todos
Médicas (SEPEM), Seção de Programas Especiais (SEPE, freqüentam a consulta de enfermagem, portanto conhe-
onde se encontra o LADIS) e Seção de Saúde e Seguran- cidos pela pesquisadora, que reconhece a representati-
ça no Trabalho (SEST), contendo as linhas de planeja- vidade significativa das tendências favoráveis a discus-
mento, desenvolvimento, pesquisa e avaliação. são da problemática inicial de autocuidado referida pe-
Em julho de 1996 o LADIS iniciou-se como um pro- las enfermeiras da DVST. Designou-se o nome de flores
jeto de extensão sendo desenvolvido às quartas feiras de para apresentar os sujeitos, embora flores produzam néc-
13:00 às 16:00 horas, com o atendimento dos sujeitos tar, que é doce, e doce foi a restrição mais enfatizada
pela equipe multidisciplinar, composta por médico, en- pelos sujeitos do estudo.
fermeira, nutricionista, psicóloga e assistente social. A A coleta de dados deu-se entre os meses de julho a
partir dos registros do setor de arquivo da DVST, deli- outubro de 1999 e utilizou-se como técnica de pesquisa
mitou-se a unidade caso. para o trabalho de campo a observação simples e a entre-
vista aberta, usando o relato oral de vida, uma forma tópi-
Tabela I - Número e percentual de atendimentos do LADIS, por ca, menos ampla e livre de solicitar ao sujeito que aborde,
tipo de consulta, Rio de Janeiro, entre os anos de 1997, 1998 e de modo mais especial, aspectos do autocuidado, embora
1999.
dando ao mesmo total liberdade de exposição, de forma
1997 1998 1999
que o direcione ao tema ou tópico de interesse para o
ATENDIMENTO N % N % N %
Consulta Médica 6 22,0 30 30,0 98 49,0
estudo, numa tentativa de revelar o ambiente inatingível
Perícia Médica - - 20 20,0 68 34,0 dos acontecimentos que fazem parte da experiência desse
Licença médica 52 50,0 07 7,0 07 3,5 grupo social. Essas técnicas visam descobrir seu ponto
Palestra educativa - - 05 5,0 03 1,5 de vista e as suas motivações, enquanto sujeitos prota-
Consulta de Enfermagem 27 24,0 41 38,0 22 11,5 gonistas dos fatos sociais, porém excluídos na visão ofi-
Junta Médica - - - - 1 0,25
Consulta Odontológica - - - - 1 0,25
cial dos setores dominantes [15-17].
Serviço Social 4 4,0 - - - - Os dados foram complementados por um diário de
TOTAL 89 100 103 100 200 100 campo e pelas informações contidas no prontuário dos
sujeitos cadastrados no LADIS, assim como nos docu-
Segundo o relatório anual, o total de atendimentos na mentos técnicos (Normas Regulamentadoras de Segu-
DVST no ano de 1999, foi de 13.003. Desta forma o rança e Saúde no Trabalho do Ministério do Trabalho),
percentual de atendimento do LADIS, foi 1,53%. econômicos (o Regime Jurídico Único dos Servidores
Nota-se um aumento progressivo dos atendimentos Civis da União) e científicos (as fontes secundárias uti-
dos sujeitos pelos profissionais da equipe e uma conco- lizadas como respaldo teórico na análise, discussão e
mitante diminuição das licenças médicas, que se encon- interpretação dos dados).
tram estabilizadas. A interpretação dos dados mediante a Análise Temá-
Dos 75 sujeitos atendidos no LADIS, 24 realizam tica, como uma das técnicas de Análise de Conteúdo,
controle do DM em unidades de saúde externas. Destes foi subdividida na fase de Pré-Análise, que consistiu na
atendimentos, dez (10) foram para processos de aposen- escolha de documentos a serem analisados, na retomada
tadoria. Após investigação houve um caso em que não das questões norteadoras e dos objetivos iniciais do es-
se confirmou o diagnóstico de DM. tudo, reformulando-os frente ao material coletado, le-
197 Santos RB / Diabetes Clínica 03 (2001) 194~200

vantando questões sobre os problemas relativos ao tra- subcategorias foram elaboradas a partir da coleta de da-
balho e a saúde, a partir das categorias horizontais Au- dos, sendo mais específicas e concretas, visando a clas-
tocuidado, Saúde no Trabalho e Autocuidado, Trabalho sificação dos dados encontrados no trabalho de campo.
e Gênero, elaboradas das fontes secundárias, ou ancora- O conjunto de categorias foi estabelecido a partir um
gem sobre assistência de enfermagem na saúde do tra- único princípio de classificação, a relação entre prazer,
balhador de HAAG e colaboradores (1994), num esfor- sofrimento e autocuidado no trabalho. O princípio da
ço para detectar as relações existentes entre o sofrimen- exaustividade permitiu a inclusão das respostas dos su-
to, ou o prazer, as expressões positivas ou os silêncios jeitos numa das três grandes categorias teóricas gerais,
quanto a esta temática, e as características da organiza- temas elaborados na fase anterior ao trabalho de campo.
ção do trabalho, ancoradas nas idéias acerca do sofri- A observação do princípio da exclusão mutua ou de ex-
mento e prazer no trabalho de Dejours [8]. clusividade do conjunto de categorias, fez com que um
A aleatoriedade intercambiável da representativida- depoimento não aparecesse em mais de duas categorias.
de qualitativa dos sujeitos traduz a confiabilidade e va- Procurou-se designar as subcategorias com temas
lidação do estudo na medida em que os modelos cultu- concretamente ligados aos itens de seguimento das ori-
rais internalizados revelam-se na entrevista e possuem entações, bem como sinais e sintomas de descompensa-
um caráter histórico e específico das relações sociais. ção aguda e crônica do DM, na categoria Autocuidado,
Os depoimentos são colocados num contexto de classe, aos itens ligados as condições de risco ocupacional no
de pertinência a uma geração, a um sexo, para caracteri- trabalho, na categoria Saúde no trabalho, e as diferenças
zar a participação do sujeito no seu tempo histórico, nos de ações de autocuidado e de trabalho entre homens e
seus grupos sociais, informando uma subcultura, espe- mulheres na categoria Autocuidado, Gênero e Trabalho,
cífica e com relações diferenciadas com a cultura domi- obedecendo ao princípio de objetividade e fidelidade na
nante. A representatividade é garantida pela validade das classificação dos elementos das categorias [17,18,20].
informações coletadas, isto é, se os dados expressam A categoria Autocuidado destacou o não seguimento
autenticamente a visão do sujeito, com interferência das orientações da enfermeira e demais membros da equipe
mínima no processo de pesquisa. A noção de argumen- de saúde, na realização de exames e cuidados domicilia-
tação substitui a noção formal da lógica de demonstra- res e no trabalho (higiene pessoal, dos pés, cuidados com
ção dos métodos de pesquisa convencional. [9,17-19]. ferimento); e do regime terapêutico (plano dietético, uso
A generalização é denominada “naturalística”, envol- de antidiabético oral e auto-aplicação de insulina).
vendo conhecimento formal, impressões, sensações, in-
tuições, conhecimento tácito, das enfermeiras no âmbi- Tabela 2 - Número e percentual de subcategorias de autocuidado
to profissional ou acadêmico, para formar novas idéias, no trabalho entre os sujeitos portadores de diabetes mellitus do
Laboratório de Diabetes para os Servidores da UFRJ, Rio de
novos significados, novas compreensões, reconhecen- Janeiro, 1999.
do as bases comuns, permitindo uma maior solidez e
conhecimento do autocuidado dos sujeitos, apontando Subcategorias realizam/ não realizam/ total
para uma tendência a universalização no estudo desse presente ausente
objeto de investigação. Desse modo proporciona uma Exames domiciliares - 7 7
oportunidade única de ir além das aparências superfici- Alimentação 3 4 7
ais do dia a dia, de analisar teoricamente os fenômenos Medicação 4 3 7
Complicações agudas 5 2 7
sociais baseados no cotidiano dos sujeitos e numa apro- Complicações crônicas 5 2 7
ximação críticos das categorias e formas como se confi- Cuidados com os pés 3 4 7
gura essa experiência diária, condição sine qua non da Exercício físico 4 3 7
pesquisa qualitativa. A dificuldade de generalização é Utilização de EPI - 7 7
superada pelo conhecimento preciso das características
da população intencional dos sujeitos do estudo, com a Os sentimentos de impropriedade, insatisfação e es-
possibilidade de expansão ou generalização das novas banjamento em relação ao DM e ao autocuidado, confi-
descobertas e proposições teóricas a respeito do seu au- guraram uma subcategoria e foram representados pelos
tocuidado [9,14,17-19]. sinais de hiperglicemia (polidipsia, polifagia, insônia,
cansaço físico, fraqueza muscular, tontura, problemas
Analisando e discutindo os resultados ginecológicos, disfunção erétil e estresse), hipoglicemia
(fome súbita, desmaio, suor frio e abundante), glicosú-
As categorias teóricas Autocuidado, Saúde no traba- ria (poliúria, nictúria) e alimentação (os sujeitos que se-
lho e Autocuidado, Trabalho e Gênero foram elabora- guem as orientações, mas sentem-se insatisfeitos com a
das antes do trabalho de campo, ainda na fase explora- sugestão de cardápio no tocante a qualidade ou a quan-
tória da pesquisa, representando conceitos mais gerais e tidade dos alimentos e; os que não seguem a orientação
abstratos, a partir de uma fundamentação teórica. As alimentar).
198 Santos RB / Diabetes Clínica 03 (2001) 194~200

A fantasia insulino-pancreática foi outra subcatego- trabalho e o auto-cuidado entre homens e mulheres su-
ria representada por dúvidas e resistências ao uso da jeitos do estudo.
medicação (insulina e antidiabéticos orais). O conceito de gênero mostra que o feminino e o mas-
O sujeito portador de DM é um ser doente, que vive culino são construções sociais, constituídas por relações
uma vida diferente, cujos sintomas inserem-se numa to- simbólicas de poder, e desta forma abre espaço para tor-
talidade indivisível do seu comportamento. O silêncio nar visíveis as desigualdades existentes nas experiênci-
dos órgãos não equivale à ausência de doenças, lesões as entre homens e mulheres, modificando o olhar sobre
ou perturbações funcionais que são imperceptíveis para o mundo da saúde e do trabalho, possibilitando que no-
os sujeitos, cuja vida está em risco. Cuidar-se é difícil, vas questões sejam levantadas e que multiplicidades e
porque significa se poupar, diante de uma série de exi- diferenças sejam percebidas.
gências, que geralmente não fazem sentido para as pres- O homem é sempre levado a associar a saúde à virili-
crições médicas [5,6,21-23]. dade, portanto ir ao médico pode representar uma dimi-
As medidas de autocuidado adotadas pelos sujeitos nuição do seu papel masculino, levando-o a não valori-
foram os exames laboratoriais, o uso de chás e remédios zar a realização de exames periódicos para o controle de
caseiros e religião. Essas medidas denotam a influência sua saúde e autocuidado. Houve queixa de dependência
do modelo exógeno de explicação das formas elementa- de álcool por dois sujeitos interpretados como uma re-
res da doença, em que não se percebe nenhum agente presentação da virilidade, além de uma ideologia defen-
patogênico, propriamente dito, ou que não tem localiza- siva da vergonha. O alcoolismo corresponde a uma fuga
ção precisa como o DM, onde por não poder se assinalar em direção a uma decadência mais rápida e a um desti-
a responsabilidade causal da doença, ela só pode ser no mental e somático particularmente grave. É uma ide-
apreendida como sua complicação, a conseqüência ana- ologia defensiva funcional, que tem o objetivo de mas-
tômica de uma disfunção fisiológica preexistente [5]. carar, conter, ocultar uma ansiedade particularmente gra-
Na Saúde no Trabalho emergiu a subcategoria de iden- ve. A explicação da resistência ao sofrimento dos sujei-
tidade negada na relação entre o trabalho, o DM e o au- tos em relação aos atributos do trabalho masculino, pas-
tocuidado, representadas: pela não realização do exercí- sa pelo sentimento de vergonha do homem ficar doente,
cio físico (substituído pelo gasto energético da jornada ou não dar conta do trabalho, onde a virilidade é a repre-
de trabalho dentro e fora de casa); pelo desconhecimen- sentação de uma reticência de falar do DM, do autocui-
to do risco de complicações crônicas, cuidados com os dado e do sofrimento no trabalho.
pés; pela não utilização de Equipamento de Proteção A representação da ideologia da vergonha, uma ide-
Individual (EPI´s); não reconhecimento da existência de ologia defensiva coletiva, explica a atitude da mulher da
riscos ocupacionais no trabalho (incluindo o desloca- classe popular, que não se permite ficar doente por cau-
mento casa-trabalho-casa, instalações físicas, elétricas sa dos filhos, representando uma carga de trabalho e
e hidráulicas, condições de higiene no posto de trabalho angústia maiores, pois não se trata de evitar a doença,
para a realização do autocuidado; não associação do tra- mas de domesticá-la, contê-la, controlá-la, viver com ela.
balho com doenças ocupacionais e estratégias defensi- Portanto para que uma doença seja reconhecida, é ne-
vas (uso do álcool, dores em MMII, problemas visuais, cessário exprimir sintomas muito evidentes para serem
ginecológicos e disfunção erétil) e conseqüente descum- escondidos, como no caso do prurido vaginal, ou dor
primento do autocuidado. abdominal a atividade profissional das mulheres sujei-
Na relação entre o prazer e o sofrimento, observa-se tos do estudo [8,24].
a ética do trabalho na construção social da doença. É Os homens queixaram-se de problemas músculo-es-
dotado de conteúdo, significado, descrição e interpreta- queléticos decorrentes de sua condição de saúde e de
ção, que apontam como conseqüências práticas as inter- seu trabalho, como dores e cansaço em membros inferi-
venções no funcionamento psíquico frente à organiza- ores, além de disfunção erétil e impotência funcional no
ção do trabalho, para transformá-la. Pode-se identificar dedo mínimo da mão esquerda.
traços da saúde mental e social nos sujeitos que desen- O autocuidado é uma ação deliberada do sujeito, mas
volvem comportamentos estereotipados exigidos pelo que é realizada por outra pessoa, nos casos estudados,
trabalho, fontes de sofrimento, cujos efeitos se manifes- por uma figura feminina, tanto em casa quanto no traba-
tam por irritabilidade e fadiga, tornando suas vidas e o lho. A relação entre escolaridade, nível funcional, fun-
autocuidado deficientes [8]. ção e remuneração é melhor para os homens que para as
A categoria Autocuidado, trabalho e gênero configu- mulheres. Apesar de não possuírem segundo grau com-
rou o feminino e o masculino como formas de auto-cui- pleto, os homens sujeitos do estudo possuem funções
dado, a hierarquia do masculino no trabalho, atributos consideradas mais duras e perigosas (contra mestre de
femininos e atributos masculinos no auto-cuidado e no ofício, servente de obras, técnico de laboratório e im-
trabalho, exposição aos riscos ocupacionais e o gênero pressor de Off set), logo possuem melhor remuneração.
no auto-cuidado e no trabalho e a múltipla jornada de A mulher tem maior capacidade de adaptação a qual-
199 Santos RB / Diabetes Clínica 03 (2001) 194~200

quer situação, levando a crer que as tarefas desempe- O acolhimento oferecido pelos profissionais da equi-
nhadas são simples, naturalmente inferior, bastando ser pe que compõem o LADIS contribuiu para a humaniza-
mulher para executá-las, um mito construído sobre a ção, amenizando a ansiedade e o estresse cotidiano. Isso
natureza feminina, com as quais as mulheres se identifi- auxiliou na tomada de decisões para o autocuidado, evi-
cam para garantir a sobrevivência. Todas devem ser dó- tando atropelos em relação à condução de suas vidas
ceis, minuciosas, disponíveis para desempenhar a tarefa como portadores dessa condição crônica.
de auxiliar de biblioteca (Margarida) e de servente de Encorajar busca de orientação, desejo de melhorar
limpeza (Gardênia e Camélia) uma regra de aceitação conhecimentos sobre os determinantes sociais da doen-
do papel sexual assumido pelas mulheres [24]. ça, auto-estima e autonomia é fundamental nesse pro-
As mulheres relataram sintomas como dor no estô- cesso de tomada de consciência sobre os direitos do su-
mago, boca seca, cansaço físico, prurido vaginal e acui- jeito à saúde.
dade visual diminuída. A venda de comidas caseiras, a O autocuidado para os sujeitos e para os profissio-
lavagem e passagem de roupas, as faxinas, fazem parte nais da equipe de saúde do LADIS tem um significado
da jornada múltipla enfrentada pelas mulheres. mais amplo e se refere a uma variedade de atividade
Os resultados demonstram que ambos, homens e relacionada com uma alternativa para satisfazer as ne-
mulheres, sujeitos do estudo logram um pobre controle cessidades individuais de saúde: uma primeira fonte de
glicêmico. As suas experiências de vida e trabalho re- atenção à saúde dos sujeitos que aliada à formulação de
fletem negativamente em seu cotidiano de autocuidado políticas de saúde de baixo custo, pode levar a aumentar
e estado geral de saúde, acarretando-lhes problemas fí- a motivação, a aderência, e melhorar o controle do su-
sicos e psíquicos. Os modos de autocuidado dos sujei- jeito sobre a sua saúde, doença e tratamento, principal-
tos são determinados pela manifestação dos vários me- mente no caso de doença crônica, como o DM.
canismos de sexualidade, em que seu corpo, seus praze- As estratégias de educação para o autocuidado de-
res e seus saberes afloram, como uma possibilidade de vem privilegiar o aspecto emocional e intelectual do
resistência às captações do poder do exercido sobre os sujeito, tendo em vista a sua dinâmica psicossomática.
mesmos pelas orientações para a sua saúde e autocuida- Nesse sentido, a abordagem clínica psicossomática se
do, provenientes de uma hegemonia de saberes e práticas cruza com a visão historicizada de Vigotski [12], para
dominantes em relação a estes temas, sobre as quais exer- promover a educação para o autocuidado dos sujeitos.
cem um poder, mesmo que inconsciente e negado [25]. A técnica de formação de grupos educativos é uma
opção mais adequada, entretanto a abordagem individu-
Considerações finais al é essencial e deve centrar-se na relação entre a enfer-
meira e o sujeito para melhor interação, comunicação e
O DM é uma síndrome de evolução crônica, cujo tra- compreensão do processo educativo para o autocuida-
tamento implica em mudanças importantes no estilo de do. Os sentimentos, as reações, as habilidades para ela-
vida do sujeito, atingindo seu ambiente familiar e de tra- boração do autocuidado devem ser trabalhados. A parti-
balho. Evidenciou-se a desinformação dos sujeitos so- cipação da equipe multiprofissional faz-se mister, abrindo
bre o DM, desconhecimento da sua verdadeira dimen- um leque de possibilidades de comunicação e interação,
são em termos de risco agudo e crônico, tornando a do- baseado na identificação do sujeito com esse ou aquele
ença um problema de saúde em expansão no LADIS. profissional, ou tema. O processo de aprendizagem deve
Os fatos vivenciados e valorizados nos depoimentos ser colaborativo, cooperativo e evolutivo, na medida em
identificam as percepções e sentimentos que marcam ou que os sujeitos dominam formas alternativas de auto-
marcaram a experiência nas suas trajetórias de vida. cuidado, mais capazes de modificar seu perfil de saúde.
O estudo aponta o DM como doença de adaptação, É um processo compartilhado, livre e aberto, assim como
eqüivalando-a aos fenômenos do estresse crônico e pro- é sua avaliação. Portanto prevê a sua participação vo-
longado. E conseqüentemente as doenças psicossomáti- luntária e consentida em todo o processo, acompanhan-
cas, que contribuem para a mortalidade de grupos de do e verificando sua mudança.
sujeitos adultos e idosos, ligando sua capacidade de au-
tocuidado à integração de sua personalidade. Referências
A implementação do LADIS se baseia no fortaleci-
mento do relacionamento interpessoal entre os profissi- 1. Canadá. Health Promotion and Programs Branch, Health
onais que o compõem e os sujeitos. As diretrizes dessa Canada. Supporting self-care: the contribution of nurses and
physicians. Minister of Public works and Government
implementação têm sido a solidariedade, em que os pro- Services Canada, 1977, 126 p.
fissionais são mobilizados pela compreensão dos pro- 2. Pontifícia Universidade Católica de Chile. Escuela de
blemas e limitações dos sujeitos e pela valorização e Enfermeria. Oficina de Promoción de Salud y autocuidado.
apoio ao potencial da reação dos sujeitos às dificulda- Educação sobre autocuidado para Legos. In: Educação em
des porventura surgidas no autocuidado. saúde para o autocuidado em salud - EPAS. Sum. Per. Enf.
200 Santos RB / Diabetes Clínica 03 (2001) 194~200

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Universitaires de France. 1989. p. 31-61. 1999. p. 72-74.
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Universitaire de France, 1984. (mimeo) e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. p. 99-
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Fontes, 1991. 274 p. 16. Lang ABSG. História oral: muitas dúvidas, poucas certezas.
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Forense Universitária, 1995. 307 p. São Paulo: Xamé. 1996. p. 33-47.
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muñeca rusa. Revista Avespo. 1993;16:1-3,3–11. qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 1998, 269 p.
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trabalho. São Paulo: Cortez. 168 p. Paulo: Atlas. 1999. p. 55-69.
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Petrópolis: Vozes, 1995. p. 48-57. Minayo MCS. Pesquisa social: teoria, método e criatividade.
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JJC. Sofrimento psíquico nas organizações: Saúde mental e Brasil, 1996. 226 p.
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201 Toniolo Neto J / Diabetes Clínica 03 (2001) 201~202 Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 03 (2001) 201~202

ATUALIZAÇÃO

Vacinação contra gripe e vacinação antipneumocócica em pacientes diabéti-


cos
João Toniolo Neto*

*Professor Assistente da Disciplina de Geriatria da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina

A diabetes atinge cerca de 7,6% da população maior pneumonias, meningites, otites, sinusites, bacteremia) e
de 30 anos no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de mortes, principalmente em crianças, adultos com doen-
Diabetes [1]. Esta enfermidade por si só pode levar a ça crônica e idosos no mundo inteiro [7]. São cerca de
complicações importantes, como cardiopatias, acidente 3.000 casos de meningite, 50.000 casos de bacteremia,
vascular cerebral, hipertensão arterial, cegueira, doença 500.000 casos de pneumonia e 7 milhões de casos de
renal, doenças do Sistema Nervoso Central, cetoacido- otite média e sinusite causados pelo pneumococo por
se, entre outras [2]. Quadros infecciosos, como gripes e ano nos EUA [7]. As infecções pneumocócicas causam
infecções bacterianas, descompensam o quadro do dia- cerca de 40.000 óbitos por ano nos EUA, somando mais
bético e aumentam o risco de complicações, significan- mortes do que qualquer outra doença bacteriana imuno-
do muitas vezes risco iminente de vida [2,3]. O paciente prevenível, sendo que aproximadamente 50% destes
diabético possui 3 vezes maior risco de morte em decor- óbitos poderiam ser evitados eficazmente pela vacina-
rência de gripe e pneumonia que um indivíduo hígido ção [7].
[3]. Calcula-se que anualmente 10.000 a 30.000 diabéti- Por isso, a vacinação contra influenza e a vacinação
cos morram em decorrência de complicações causadas antipneumocócica são oficialmente recomendadas para
por uma gripe ou por uma pneumonia nos EUA [3]. os diabéticos, uma vez que são o método primário o mais
A gripe é uma doença freqüente que atinge 10% a efetivo de prevenção contra estas infecções freqüentes e
20% da população mundial por ano e cuja taxa de hos- potencialmente graves, constituindo-se uma importante
pitalização por complicação cardiopulmonar chega a arma de saúde pública na redução da morbidade e da
13% durante o inverno [4]. Entre crianças de até 4 anos mortalidade da gripe e da pneumonia [5,7,8].
de idade portadoras de alguma patologia de base, a taxa A vacinação contra influenza deve ser realizada anu-
de mortalidade associada à gripe é de 500 óbitos para almente, enquanto a vacinação contra o pneumococo é
cada 100.000 habitantes [5]. Para crianças de 5 a 14 anos, feita a cada 5 anos. Em termos gerais a eficácia da vaci-
essa taxa é de 200 para 100.000 habitantes [5]. Em adul- na contra gripe varia de 70% a 90% para prevenir a in-
tos, a taxa é de cerca de 600 mortes para cada 100.000 fecção pelo vírus influenza, chegando a 70% para pre-
habitantes, podendo chegar a 870 para cada 100.000 venir hospitalização e pneumonia associada à gripe e
quando os indivíduos possuem mais de um único fator 80% para prevenir óbitos em decorrência da infecção
de risco [6]. [5,9]. A vacina antipneumocócica polissacarídica 23-
O Streptococcus pneumoniae ou pneumococo, por sua valente possui eficácia que varia de 60% a 80% para
vez, é responsável por doenças invasivas (entre as quais prevenir infecções causadas pelos 23 diferentes soroti-

Endereço para contato: João Toniolo Neto, Tel: (11) 3842-5144


202 Toniolo Neto J / Diabetes Clínica 03 (2001) 201~202

pos do S. pneumoniae contidos na vacina, os quais cor- Referências


respondem a cerca de 90% dos principais causadores de
infecções invasivas no Brasil. Ambas as vacinas são 1. Sociedade Brasileira de Diabetes. In internet:
muito seguras. As reações adversas são pouco freqüen- www.diabetes.org.br
2. CDC. National Diabetes Fact Sheet. National estimates and
tes e em geral de leve intensidade, sendo dor no local da general information on diabetes in the United States. 1998. In
aplicação a principal delas. internet: www.cdc,gov.
Uma vez que as indicações para vacinação contra in- 3. CDC. Flu Shots Can Be a Life Preserver for People With
fluenza e contra o pneumococo são coincidentes, a ad- Diabetes, CDC Says. 1998 In: www.cdc.gov/od/oc/media/
ministração simultânea das vacinas contra gripe e antip- pressrel/r980914.htm.
4. Walsh EE, Falsey AR, Hennessey, PA. Respiratory Syncytial
neumocócia é adequada e também, segundo dados bra- and Other Virus Infections in Persons with Chronic
sileiros e internacionais, segura [5-7,10-12]. Cardiopulmonary Disease. Am J Repir Crit Care Med 1999;
Para os pacientes portadores de diabetes a vacinação 160: 791-795.
contra gripe é tão imunogênica quanto em indivíduos 5. CDC. Prevention and Control of Influenza: recomendations of
sadios e permite uma redução de 79% nas hospitaliza- the Advisory Committee on Imunization Practices (ACIP).
MMWR 2000; 49(RR-3).
ções durante as temporadas de gripe (inverno) [13-15]. 6. Barker WH, Mullooly JP. Pneumonia and Influenza Deaths
Ademais, a imunização contra influenza mostrou-se cus- During Epidemics. Implications for Prevention. Arch Intern
to-efetiva em pacientes de alto risco, tanto na redução Med 1982;142:85-89.
de gastos médicos quanto na melhoria da saúde, com- 7. CDC. Prevention of Pneumococcal Disease: recomendations
provando os benefícios médicos e socioeconômicos pro- of the Advisory Committee on Imunization Practices (ACIP).
MMWR 1997;46(RR-8).
porcionados pela vacinação [16-18]. 8. CDC. Influenza and Pneumococcal Vaccination Rates Among
Apesar da eficácia garantida e dos benefícios médi- Persons with Diabetes Mellitus – United States, 1997. MMWR
cos e socioeconômicos assegurados para os pacientes 1999; 48(42):961-7).
de alto risco, essas vacinas ainda são pouco utilizadas, 9. CDC. MMWR 1998;47(RR-6):1-27.
permitindo que a influenza, única infecção viral respi- 10. Toniolo-Neto et al. Safety of Simultaneous Pneumococcal and
Influenza Vaccination in Elderly Patients in Brazil. Drugs and
ratória prevenível por vacinação, e o pneumococo ainda Aging 1999;15(Suppl1):43-45.
façam muitas vítimas [3,8,18]. 11. Fletcher TJ, Tunnicliffe WS, Hammond K, Roberts K, Ayres
Assim, conforme a recomendação do Comitê Asses- JG. Simultaneous immunisation with influenza vaccine and
sor de Práticas em Imunização (ACIP) do Centro de pneumococcal polysaccharide vaccine in patients with chronic
Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) e respiratory disease. BMJ 1997;314:1663-5.
12. Grilli G, Fuiano L, Biasio LR, Pregliasco F, Plebani A,
também do Ministério da Saúde Brasileiro, os pacientes Leibovitz, Ugazio AG, Vacca F, Profeta ML. Simultaneous
diabéticos devem ser vacinados para evitar a influenza, influenza and pneumococcal vaccination in elderly
as infecções pneumocócicas e as possíveis complicações, individuals. European J Epidemiol 1997;13:287-91.
reduzindo o risco de óbito [3,5,7.8,19]. Além disso, es- 13. Pozzilli P, Galle EAM, Visalli N, Baroni M, Crovari P, Frighi
tudos mostraram que a vacinação contra gripe dos pro- V, Cavallo MG, Andreani D. The immune response to
influenza vaccination in diabetic patients. Diabetologia
fissionais da saúde que atendiam em unidades de trata- 1986;29:850-854.
mento reduziu o risco de mortalidade entre os pacientes 14. Brian J, Feery MD, Leonard J, Hartman MBBS, Alan W,
[20]. Por isso, a vacinação contra influenza também é Hampson MSc, Joseph Proietto MBBS. Influenza
recomenda para as pessoas em contato de pacientes de Immunization in Adults with Diabetes Mellitus. Diabetes Care
risco, ou seja, pessoas que possam transmitir a gripe ao 1983; 6(5):475-478.
15. Colquhoun AJ, Nicholson KG, Botha JL, Raymond NT.
doente crônico, como familiares, médicos, enfermeiros Effectiveness of influenza vaccine in reducing hospital
e outros profissionais da saúde [5]. admissions in people with diabetes. Epidemiol. Infect.
Dentro de sua importante missão de salvar vidas, o 1997;119:335-341.
médico assume também o papel de conscientizador do 16. Glezen WP, Greenberg SB, Atmar RL, Piedra PA, Couch RB.
portador de diabetes e dos familiares de que a adminis- Impact of Respiratory Virus Infections on Persons with
Chronic Underlying Conditions. JAMA 2000;283 (4):499-505.
tração das vacinas contra influenza e antipneumocócica 17. Dados de arquivo. Aventis Pasteur 1999.
é imprescindível para a diminuição do risco de compli- 18. Poland GA, Couch RB, Faggett WL, Nichol KL, Sisk JE.
cações decorrentes destas doenças e também do poten- Improving influenza and Pneumococcal Immunization Rates
cial risco de vida associado a elas. Prevenção é a melhor amog High-risk Adults. Summary of a Roundtable Hosted by
arma contra estas freqüentes e importantes infecções. The National Coalition For Adult immunization.
19. Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo (CVE-SP).
Informe técnico. Campanha Nacional de Vacinação para o
Idoso. In internet: ftp://ftp.cve.saude.sp.gov.br/
informeidoso.pdf
20. Zimmerman RK, Ahwesh ER. Adult Vaccination, Part 2:
Vaccines for Persons at High Risk. Teaching Immunization for
Medical Education (TIME) Project. The Journal of Family
Practice 2000; 49(9):S51:S63.
FICHA PRÁTICA
Diabetes Clínica 08
Ficha Prática / Diabetes Clínica

Avaliação do pé diabético

Preencha com “S” ou “N” para indicar ocorrências nos pés direito ou esquerdo.
D E
- Existe um histórico de ulceração do pé? _____ _____
- O pé apresenta uma forma anormal? _____ _____
- Existe uma deformação dos dedos? _____ _____
- As unhas são grossas ou encravadas? _____ _____
- Existem calos? _____ _____
- Existe inchaço? _____ _____
- O paciente apresenta uma elevação da temperatura da pele? _____ _____
- Existe uma fraqueza muscular? _____ _____
- O paciente pode examinar a planta de seus pés? _____ _____
- O paciente usa sapatos adequados para sua categoria? _____ _____

Indique o nível de sensação nos círculos:


+ = Pode perceber o filamento de náilon 10g
- = Não pode perceber o filamento de náilon 10g

Pé Direito Pé Esquerdo

Indique sobre o desenho


do pé os locais onde tem:
1234567
1234567
1234567
1234567
1234567
1234567 Calos
123456
123456
123456
123456
123456
123456 Pré-ulceração
Ulceração
Ficha Prática / Diabetes Clínica

Avaliação do pé diabético

Formação da ulceração
A largura interna do calçado dever ser igual a
por estresse repetitivo.
largura do pé.

1 – Formação do calo.

2 – Hemorragia subcutânea.

3 – Abertura da pele.

Áreas de risco para ulcerações de pé em


pacientes diabéticos.
4 – Infecção do pé
com osteomielite.

Como cortar as unhas.

Pressão interdigital

Diabetes Clínica 03 (2001) 205

6º Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes


a
6 Exposição Nacional de Produtos e Alimentos para Diabéticos
Dias 7, 8 e 9 de Julho de 2001 - Fundação Alvares Penteado - FECAP - São Paulo - SP
DISTRIBUIÇÃO DOS SIMPÓSIOS POR SALA
Sábado 07/07 - 10:00h às 12:00h Dra. Mônica Gabbay Domingo 08/07 - 08:00h às 12h:00
O Crescimento e desenvolvimento na criança com
Aud. Honório Alvares Penteado diabetes Aud. Honório Álvares Penteado
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básica Complicações agudas nutricional do diabetes mellitus
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Conferência de abertura - Plano de reorganização Complicações crônicas O Fenômeno de transição nutricional e incidência
da atenção ao diabetes mellitus e hipertensão arte- Dr. Paulo Cesarini do diabetes melito tipo 2
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Impacto epidemiológico e classificação OMS - Simpósio Nº 6 - Laboratório em diabetes tos dietéticos por diabéticos
ADA Prof. Dr. Adagmar Andriolo Profª. Adriana Garcia Peloggia de Castro
Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho Monitorização da glicemia fora do laboratório A contribuição do farelo de arroz no controle do
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alimentar 14:00h às 18h:00 - Sala 332 prandial
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Prof. Dr. Adolfo Peres Comas Combinando insulinoterapia e antidiabéticos orais
Tratamento medicamentoso - Quando indicar e como
Profª. Drª. Rosa Ferreira dos Santos
206 Diabetes Clínica 03 (2001)

08:00h às 12h:00 - Sala 333 16:00h às 18h:00 - Sala 131 Prof. Dr. Sérgio Ferreira de Oliveira
Angioplastias e revascularização do miocárdio
Simpósio Nº 14 - Auto-monitorização Simpósio Nº 19 - Avanços terapêuticos IV: Aná- Prof. Dr. Sérgio Ferreira de Oliveira
Profa. Dra. Enfª Odete de Oliveira logos de insulina Doença vascular periférica: Diagnóstico clínico e
Interpretando os controles glicêmicos para melhor Prof. Dr. Adolpho Milech laboratorial
qualidade de vida Lispro Mix 25 - Considerações terapêuticas Prof. Dr. Bonno Van Bellem
Enfª Paula Maria de Pascali Honório Prof. Dr. Adolpho Milech Doença vascular periférica: tratamento cirúrgico
Avaliação crítica dos testes -Glicemia - Glicosúria Insulina inalada Prof. Dr. Bonno Van Bellen
- Cetonúria Prof. Dr. José Egídio Paulo de Oliveira
Psico-Pedagoga Leda Márcia Pagnozzi 14:00h às 18h:00 - Sala 331 Segunda-Feira 09/07 - 08:00h às 12:00h
Recentes lançamentos
Enfª Nivia Aparecida Pissaia Sanches Simpósio Nº 20 - Tratamento do pé diabético Aud. Honório Álvares Penteado
Workshop - Oficinas de demonstração Dr. Roberto Tadeu Barcelos Betti Simpósio Nº 25 - Marketing e Comunicação em
08:00h às 12h:00 - Sala 334 Cirurgia profilática Nutrição
Dr. Renato Mazagão Nutr. Marcia Terra
Simpósio Nº 15 - Insuficiência renal: Diálises Tratamento ortopédico Informação nutricional - Novas regras de rotulagem
Dr. Adenauer Peres Prof. Dr. Osni Salomão Nutr. Eliane Miyasaki
Diabetes e insuficiência renal crônica Reconstrução vascular e angioplastia Comunicação virtual em nutrição - Tendências em
Prof. Dr. Miguel Riella Prof. Dr. David Spichler hábitos alimentares
Diálise no paciente diabético Reabilitação Nutr. Márcia Terra
Prof. Dr. Miguel Riella Profª. Drª. Marta Imamura Alimentos Diet no dia a dia do diabético - Cardápios
Preparo do paciente com nefropatia diabética para 14:00h às 18h:00 - Sala 332 Nutr. Flora Spolidoro
o transplante renal A piramide alimentar do brasil - tabela das porções
Dr. Paulo Sérgio Luconi Simpósio Nº 21 - Educação
alimentares do Ministério da Saúde
Resultados de transplante renal em pacientes dia- Dr. Raimundo Sotero de Menezes Filho
Dra. Sônia Tucunduva Philippi
béticos Conceituação básica
Mitos e fatos em alimentação (funcionais) influên-
Dr. Paulo Sérgio Luconi Profª. Drª. Enf. Sonia Aurora Alves Grossi
cia nos índices glicêmicos e lipídicos
Manejo do paciente diabético com insuficiência Por que educar ?
Profª. Drª. Silvia Yokoyama
renal crônica Profª. Drª. Enf. Odete de Oliveira
Dr. Paulo Rossas Mota Educação em diabetes, currículo modelo para trei- 08:00h às 12:00h - Sala 131
08:00h às 12h:00 - Sala 531 namento de educadores Simpósio Nº 26 - Educação nutricional em dia-
Prof. Dr. MD. Phd. Face Adolfo Peres Comas betes mellitus
Simpósio Nº 16 - Diabetes e a sexualidade Aderência ao tratamento Profª. Nutr. Celeste Elvira Viggiano
Prof. Dr. Mauro Sancovski Profª. Drª. Maria Lúcia Zanetti Conceitos e Princípios básicos da educação nutri-
A Sexualidade na mulher com diabetes Educação em diabetes: A grande surpresa do sécu- cional em diabetes
Psic. Ana Rosa Sancovski lo XXI Profª. Nutr. Celeste Elvira Viggiano
Gravidez e diabetes Dr. Raimundo Sotero de Menezes Filho Técnicas didáticas usadas em educação em Diabetes
Prof. Dr. Mauro Sancovski 14:00h às 18h:00 - Sala 333 Nutr. Gisele Rossi Govêia
Anticoncepção na mulher com diabetes
Dr. Marcelo Ettruri Santos Simpósio Nº 22 - O Diabético hospitalizado Vivência de oficinas de nutrição - salas 531 a 535
Climatério e menopausa Prof. Dr. Orsine Valente - Bloco A
Prof. Dr. Eliano Pellini Urgências metabólicas: Cetoacidose - Hiperosmo- Equipe do GEND
Atividade física na mulher diabética na gravidez e laridade 08:00h às 12:00h - Sala 331
no climatério Prof. Dr. Orsine Valente
Profª. Denise Rodrigues Amaral Controle metabólico pré, intra e pós-operatório Simpósio Nº 27 - Aspectos psicológicos do paci-
Disfunção erétil - Diagnostico e tratamentos atuais Dra. Ana Tereza Santo Mauro ente diabético - Experiência da ANAD
Dr. Paulo Roberto Teixeira Rodrigues Cirurgia bariátrica no diabético obeso mórbido Profª. Drª. Psic. Maria Geralda V. Heleno
14:00h às 18:00h Prof. Dr. Marcelo Roque de Oliveira Psicodrama “relação profissional com paciente”
Infecções e imunizações em portadores de diabetes Psic. Ada Verônica da Silva Maciel e Psic. Magda
Aud. Conde Honório Álvares Penteado Prof. Dr. Vicente Amato Neto Aparecida Passos
Simpósio Nº 17 - Obesidade e diabetes mellitus 14:00h às 18h:00 - Sala 334 Psicodinamicas do paciente diabético na infância,
Prof. Dr. Amélio Fernando de Godoy Matos adolescencia, adulto e 3ª idade
Epidemiologia, fatores ambientais e genética Simpósio Nº 23 - Transplante de pâncreas - A Psic. Ada Verônica da Silva Maciel
Dr. Daniel Diniz Gonçalves Lerário cura do diabetes Casos Clínicos - Atuação ANAD
Diabetes mellitus tipo 2 e tecido adiposo - Causa - Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho Psic. Magda Aparecida Passos
Efeito Transplante de ilhotas: Estado atual
Prof. Dr. Freddy Goldberg Eliaschewitz 08:00h às 12:00h - Sala 332
Prof. Dr. Amélio Fernando de Godoy Matos Simpósio Nº 28 - Oftalmopatias
Tratamento medicamentoso: Análise crítica Processos laboratoriais do transplante de ilhotas
Dr. Carlos Alberto Mayor Aita Prof. Dr. Rubens Belfort Filho
Prof. Dr. Márcio Corrêa Mancini Alterações oculares no diabetes
Abordagem nutricional O Transplante de pâncreas: As cirurgias e riscos
intra e pós-operatórios Dr. Paulo Henrique Morales
Profª. Drª. Nutr. Ana Maria Pita Lottenberg Retinopatia diabética
Dr. Pedro Luis Bertevello
14:00h às 16h:00 - Sala 131 Seguimento pós-operatório tardio: Sucesso e difi- Profª. Dra. Juliana Moraes Ferraz Sallun
culdades Novos Tratamentos
Simpósio Nº 18 - Avanços terapêuticos III: Insu- Prof. Dr. Jorge Mitre
lina glargina, o alicerce da terapia do DM 1 e 2 Dra. Anita Leme da Rocha Saldanha
Repercussões oculares do tratamento sistêmico do
Prof. Dr. Marcos Tambascia 14:00h às 18h:00 - Sala 531 diabetes
Perspectivas com a Insulina Glargina e seu perfil Dr. João Roberto de Sá
de ação Simpósio Nº 24 - Doença cardiovascular no dia-
betes Epidemiologia e Atendimento Público
Prof. Dr. Marcos Tambascia Dr. Paulo Henrique Morales
Terapia Combinada: Quando e como Prof. Dr. Antônio Carlos Lerário
Prof. Dr. José Egídio Paulo de Oliveira Doença coronariana: Epidemiologia e fisiologia
Prof. Dr. Antônio Carlos Lerário
Doença coronariana: Avaliação crítica e indicação
dos métodos diagnósticos
Diabetes Clínica 03 (2001) 207

08:00h às 12:00h - Sala 333 14:00h às 18h:00 14:00h às 18h:00 - Sala 332
Simpósio Nº 29 - Sistema de infusão contínua de Aud. Honório Alvares Penteado Simpósio Nº 35 - Atividade física e diabetes
insulina / hipoglicemias Simpósio Nº 32 - Terapia nutricional nas com- Dr. Mário Maia Bracco
Dra. Karla Mello plicações do DM. Agita São Paulo - Agita Brasil: A importância do
Casos clínicos antes e após bomba: Resultados Prof. Nutr. Celeste Elvira Viggiano exercício
Dra. Karla Mello Terapia nutricional em hipertensão arterial e cardi- Prof. Dr. Victor Keihan Rodrigues Matsudo
Contagem de carboidratos na terapia de bomba de opatias Introduzindo a atividade física no tratamento do DM
insulina Nutr. Ana Lucia Chaloub Prof. Cláudio Cancellieri
Nutr. Heloísa Ferraz Cid Terapia nutricional nas dislipidemias Avaliação e prescrição do exercício no DM 1 e 2
WorkShop: Demonstração Prática Prof. Dra. Nutr. Ana Maria Pita Lottenberg Prof. Willian Komatsu
Hipoglicemia não diabética do adulto: Diagnósti- Terapia nutricional na nefropatia diabética Atividade física na gestante
co diferencial e tratamento Profª. Nutr. Carla Maria Avesani Profª. Denise Rodrigues Amaral
Prof. Dr. Orsine Valente O paciente diabético em uso de terapia nutricional Programa de exercícios : da Aula de Educação Fí-
Hipoglicemia em diabéticos : Manuseio Cínico parenteral e enteral sica ao Esporte
Prof. Dr. Orsine Valente Nutr. Viviane Chaer Borges Profª. Denise Maria Martins
08:00h às 12:00h - Sala 334 O paciente diabético em atividade física: Como 14:00h às 18h:00 - Sala 333
evitar e tratar a hipoglicemia
Simpósio Nº 30 - Exercícios em condições espe- Nutr. Lisia Khiel Simpósio Nº 36 - Terapias complementares
ciais Dr. Roberto Piesco
Prof. Dr. Carlos Eduardo Negrão O reconhecimento de estrutura molecular semelhan-
Efeito Agudo do exercício em condições especiais 14:00h às 18h:00 - Sala 131 te à insulina em plantas
Prof. Dr. Paulo Rizzo Ramires Simpósio Nº 33 - REUNIÃO FENAD Prof. Dr. José Xavier Filho
Exercício para o diabético obeso Presidente: Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho O uso do GH em diabéticos idosos
Profª. Ms. Ivani Credídio Trombeta International Diabetes Federation - SACA: Objeti- Prof. Dr. Rogério Francisco Corrêa de Oliveira
Exercício para o diabético hipertenso vos e atuação Terapêutica biomolecular do diabetes
Profª. Dra. Maria Urbana P. Brandão Rondon Prof. Dr.Adolfo Peres Comas Prof. Dr. José de Felipe Jr.
Exercício na presença de disfunção neurovascular Principais atuações da FENAD - (IDF - Ministério Tratamento homeopático do diabético
Dra. Maria Janiere N. Nunes Alves da Saúde - Insulinas) Dr. Fernando Bignardi
Exercício na presença de complicações microvas- Palestrante: Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho Reabilitação aplicada ao diabetes mellitus
culares Projeto de Lei nº 10782/2000: De atenção integral Ft.Giulliano Gardenghi
Profª. Denise de Oliveira Alonso aos portadores de diabetes Implementação no Es- 14:00h às 18:00h - Sala 334
08:00h às 12:00h - Sala 531 tado de São Paulo
Dr. José da Silva Guedes Simpósio Nº 37 - Genética e diabetes
Simpósio Nº 31 - Abordagem odontologica Apresentação de resultados dos comitês assessores Prof. Dr. Horácio Bernardo Rosário
Drª. Ana Míriam Gebara Carboni Manifestação dos presidentes de associações O Projeto Genoma
Responsabilidade do cirurgião dentista no tratamen- Prof. Dr. Daniel Giannella Neto
to do paciente diabético 14:00h às 18h:00´ - Sala 331 Diabetes e o genoma
Drª. Ana Míriam Gebara Carboni Simpósio Nº 34 - A Psicologia contribuindo no Dra. Maria Lúcia C. Corrêa Giannella
Avaliação médica e odontológica do paciente dia- controle metabólico do diabético Marcadores imunogenéticos e diabetes mellitus
bético Psic. Roseli Grimaldi Dra. Maria Elizabeth Rossi da Silva
Dr. Luis Antônio Cherubini Carvalho Psiquiatria dinâmica: um suporte para o paciente Genética do diabetes tipo Mody
Diagnóstico e tratamento das principais lesões orais diabético Dr. André Fernandes Reis
do diabetes mellitus Dr. Elko P. Perissinotti 14:00h às 18h:00 - Sala 531
Drª. Karem Lopez Ortega Aspectos sócio-psico-somáticos de uma amostra de
Avaliação clínica do paciente diabético: Anamne- pacientes diabéticos tipo 2 Simpósio Nº 38 - Complicações odontológicas
se e exames complementares Importantes em Dia- Profª. Dra. Psic. Maria Geralda V. Heleno Drª. Ana Míriam Gebara Carboni
betes Mellitus O diabético e seu corpo Doença periodontal :Avaliação e tratamento
Dr. Walmyr Ribeiro Mello Terapeuta Corporal Meireluci Costa Ribeiro Dra. Erica K. J. Miglionati
Infecção e medicação - Focos agudos e crônicos Terapia adaptativa da criança diabética Ortopedia e ortodontia em D.M.
odontológicos em diabetes mellitus Psic. Maristela Bittar C. Cancellieri Dr. Luis Carlos Arias Araújo
Prof. Dr. Jayro Guimarães Júnior Atuação do psicólogo hospitalar Cirurgia e implantes em D.M.
Psic. Terezinha Marin Di Biaggi Dr. João Miguel Falqueiro
Urgência e emergências do paciente diabético
Drª. Ana Míriam Gebara Carboni
208

Normas de publicação

A revista Diabetes Clínica é uma publicação com peri- wer-Point, Excel, etc.
odicidade bimestral e está aberta para a publicação e divul- Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
gação de artigos científicos das áreas relacionadas ao dia- bibliográficas.
betes. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos
serão o de rigor metodológico científico, novidade, origi-
Os artigos publicados em Diabetes Clínica poderão tam- nalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade
bém ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) literária do texto.
assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou ou-
tros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revis- 3. Revisão
ta os autores já aceitem estas condições. Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas
A revista Diabetes Clínica assume o “estilo Vancouver” relacionadas ao Diabetes, ao encargo do Comitê Científico,
(Uniform requirements for manuscripts submitted to bio- bem como remetida espontaneamente pelo autor, cujo inte-
medical journals, N Engl J Med. 1997;336(4):309-315) pre- resse e atualidade interessem a publicação na revista.
conizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revis- Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
tas Médicas, com as especificações que são detalhadas a dos artigos originais.
seguir.
4. Comunicação breve
Os autores que desejarem colaborar em alguma das se- Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com
ções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem ob-
eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica en- servações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclu-
tendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que sive realizar comentários a trabalhos já editados na revista,
será notificado ao autor. com condições de argumentação mais extensa que na se-
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou ção de cartas do leitor.
retorno de acordo com a circunstância, realizar modifica- Texto: Recomendamos que não seja superior a três pá-
ções nos textos recebidos; neste último caso não se alterará ginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman)
o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como
literário. negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e
1. Editorial figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ser editados em Power Point, Excel, etc
ou por um de seus membros. Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referên-
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato cias bibliográficas.
A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Ti-
mes Roman) com todas as formatações de texto, tais como 5. Resumos
negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e
conter mais que dez referências. artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo
do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de
2. Artigos originais outros idiomas.
Serão considerados para publicação, aqueles não publi-
cados anteriormente, tampouco remetidos a outras publi- 6. Correspondência
cações, que versem sobre investigação, clínica, diagnósti- Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
co, terapêutica e tratamento dentro das áreas definidas an- necessariamente haja relação com artigos publicados, po-
teriormente. rém relacionados à linha editorial da revista.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 pági- Caso estejam relacionados a artigos anteriormente pu-
nas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) ta- blicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes
manho 12, com todas as formatações de texto, tais como de se publicar a carta.
negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as espe-
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato cificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou
Excel/Word. figuras.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas
(formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Po-
209

PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)


Na segunda página deverá conter um resumo (com no
1. Normas gerais máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em pro- palavras para os estruturados), seguido da versão em in-
cessador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de glês.
formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times O conteúdo do resumo deve conter as seguintes infor-
Roman (English Times) tamanho 12, com todas as forma- mações:
tações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. - Objetivos do estudo.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para - Procedimentos básicos empregados (amostragem, me-
cada tabela junto a mesma. todologia, análise)
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo - Descobertas principais do estudo (dados concretos e
com as especificações anteriores. estatísticos)
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais colo- - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
ridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). novidade.
Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-
.tif ou .gif. chave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo.
1.4 As seções dos os artigos originais são estas: resumo, Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista de
introdução, material e métodos, resultados, discussão, con- cabeçalhos de matérias médicas (Medical Subject Headin-
clusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela gs – MeSH do Index Medicus ou, no caso de termos recen-
tradução do resumo para o inglês e também das palavras- tes que não figurem no MeSH, os termos atuais).
chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo,
por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para 5. Referências
os artigos enviados por correio em mídia magnética (dis- As referências bibliográficas devem ser numeradas e re-
quetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com lacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo
etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e as seguintes normas:
autor, incluir informação dos arquivos, tais como o proces-
sador de texto utilizado e outros programas e sistemas. Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras
iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In:
2. Página de apresentação autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do
A primeira página do artigo apresentará as seguintes in- livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pon-
formações: tos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, pá-
- Título em português e inglês. ginas inicial e final, ponto.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curri-
cular e títulos acadêmicos. Exemplo:
- Local de trabalho dos autores. 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH,
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and ma-
o respectivo endereço, Telefone e E-mail. nagement. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 to- 78.
ques, para paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
aparelhos, etc. letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço),
ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de
3. Autoria publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não
participado do trabalho o suficiente para assumir a respon- utilizar maiúsculas ou itálicos.
sabilidade pública do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contri- Zavala AV, Braver D. Semiologia do Pé – Prevenção e
buições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvi- tratamento do pé diabético. Diabetes Clínica 2000; 4:137-
mento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do 144.
artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu
conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamen- Jean-Louis Peytavin
te as condições a), b) e c). A participação exclusivamente Atlantica Editora
na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica Avenida Atlântica, 604/1102
a participação como autor. A supervisão geral do grupo de 22010-000 Rio de Janeiro RJ
pesquisa também não é suficiente. tel: (21) 2244-6471
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22010-010 --
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(21) 244-6471
244-6471
Diabetes Clínica 03 (2001) 211

Calendário de Eventos
Julho de 2001 Setembro de 2001
6 a 10 de julho 9 a 13 de setembro
Local Organising Committee of The Pediatric Endocrinology 37th Annual Meeting European Association for the Study of
2001 Diabetes
Montreal, Quebec, Canadá. EASD 2001
Tel: (514) 398 3770 Glasgow, Escócia
E-mail: pedendo@ums1.lan.mcgill.ca Informações: Concorde Services Ltd
Site: www.med.mcgill.ca/pedendo $b, 50, Speirs Wharf, Port Dundas
Glasgow, G4 9TB UK
7 a 9 de julho Tel +44 141 331 0123
6o Congresso brasileiro multiprofissional em diabetes E-mail: easd@concorde-uk.com
6a Exposição nacional de produtos e alimentos para o diabético
Fundacão Álvares Penteado, Av Liberdade, 532
São Paulo, SP Outubro de 2001
Informações: ANAD
Tel: (11) 5572-6559 3 a 6 de outubro
www.anad.org.br Avanços no diagnóstico e terapêutica das doenças
neuroendócrinas
Hospital Brigadeiro, São Paulo SP
Agosto de 2001 Informações: Serviço de Endocrinologia Hospital Brigadeiro
Tel: (11) 3846-3272/3846-3273 Sra Marilene
4 de agosto E-mail: acukiert@uol.com.br
Jornada Bahiana de Endocrinologia do Hospital Roberto
Santos 4 a 6 de outubro
Salvador, BA IIo Congresso Internacional de Nutrição, Alimentação e
Informações: Associação Bahiana de medicina Tecnologia - CINAT
Tel/fax: (71) 331 9666 Centro de Convenções São Camilo, São Paulo SP
E-mail: st-eventos@terra.com.br Informações: SINESP (11) 3277-8422/8291, 278 7144
www.sindicatonutricionistas.com.br
16 a 19 de agosto
IXo Congresso brasileiro de obesidade
Hotel Bourbon, Foz de Iguaçu, PR Diabetes Club
Organização: ABESO
Todas as 2as quarta-feira de cada mês
Informações: (41) 342 7175
www.abeso.org.br Auditório Vivali Editora
Rua Cotoxó, 841
23 a 25 de agosto Sumaré – São Paulo SP
VIo Congresso Brasileiro de Nutrologia Tel: (11) 3672-2033 / 3864-6852
IIIo Fórun de nutrição
IIa Conferência sobre obesidade Organização: Prof. Dr. Daniel Giannella Neto
Centro de convenções Rebouças, São Paulo, SP Equipe Médica de Diabetes LIM-25/HCFMUSP
Informações: Associação brasileira de nutrição Av.Dr. Arnaldo, 455, sala 4305
Tel: (17) 523-9732 01246-903 São Paulo SP
Fax: (17) 523-3645
Tel/fax: (11)3066-7467
E-mail: abran-so@zaz.com.br
Confirmar presença pelo e-mail:
dag@lim25.fm.usp.br
As aulas podem ser assistidas em sua integra no
endereço:
www.topmedical.com.br/diabetes club/index.htm
212 Diabetes Clínica 03 (2001)

7 a 10 de outubro
Clinical Endocrinology Update 2001 Maio de 2002
Fairmont Hotel, Chicago, Illinois, EUA
Informações: The Endocrine Society 4 a 7 de maio
Tel: 1 (301) 941 0226 5th International Diabetes Federation Western Pacific Region
www.endo-society.org/scimeetings/ceu.cfm Congress
Pequim, China
10 a 14 de outubro
XIIIo Congresso brasileiro de diabetes
Informacões +86 10 6527-8803
Hotel Intercontinental, Rio de Janeiro, RJ Fax +86 10 6512-3754
Informações: JZCongressos E-mail: ldwpr@chinamed.com.cn
Tel: (21) 286-2846/537-9134
E-mail: mail@jz.com.br
Junho de 2002
21 a 24 de outubro
XIVo Congresso brasileiro de nutrição parenteral e enteral 14 a 18 de junho
VIIo Congresso latino americano de nutrição parenteral e 62th Annual Scientific Sessions of the American Diabetes
enteral Association
IIo Congresso brasileiro de nutrição clínica San Francisco, California
Salvador, BA Informacões: www.diabetes.org
Informações: Eventus System
Tel: (71) 264-3477 Fax: (71) 264-0508
E-mail: eventus@cpunet.com.br Agosto de 2002
25 a 27 de outubro 24 a 29 de agosto
IIo Congresso Internacional de metabolismo ósseo e mineral 9th International Congress on Obesity
Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Rio de Janeiro RJ São Paulo, SP
Informações: Tempo Eventos Assessoria Informações: Abeso
Tel/Fax: (21) 2235-0997 Tel: (11) 3079-2298
E-mail: tempoeventos@uol.com.br Fax: (11) 3079-4232

Novembro de 2001 Setembro de 2002


11 a 15 de novembro 1 a 5 de setembro
XIo Congresso ALAD – Association latinoamericana de 38th Annual Meeting European Association for the Study of
diabetes Diabetes
IIIo Congresso Uruguaio de Diabetologia EASD 2002
Punta del Este, Uruguai Budapest, Hungria
Informações: personas SRL, Av. 8 de octubre 2323, of. 305, Informações: Budapest 5, POB 741
Montevideo, Uruguai Hungary 1365
Tel: (5982) 408-1015/408-2951 Tel: +36 1 269 5883
E-mail: personas@cs.com.uy E-mail: easd2002@congress.blavo.hu

15 a 18 de novembro
XIIIo Curso nacional de atualização em endocrinologia e Fevereiro de 2003
metabologia
Gramado, RS 3th International Symposium on Diabetes & Pregnancy
Organizacão: SBEM regional RS Geneva, Switzerland
www.vjs.com.br Informações: PO Box 50006 Tel Aviv 61500 Israel
Tel: (51) 330 1134 Tel 972 3 514 0014
E-mail: vjs@vjs.com.br E-mail: conventions@kenes.com

Dezembro de 2001 Agosto de 2003


1 a 3 de dezembro
IIo Encontro paranaense de Endocrinologia
Informações: (41) 342-1415 Ramal 213 e 214 (Fax) 24 a 29 de agosto
E-mail: amp@amp.org.br 18th Internacional Diabetes Federation Congress
Paris, França
Informações: www.idf.org
Março de 2002
6 a 9 de março
5th International Symposium on Clinical Advances in Osteoporosis
Informações: National osteoporosis Foundation
Tel: 1 (202) 223 2226
E-mail: iso@nof.org
Diabetes Clínica
Diabetes Clínica 04 (2000) 213

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Índice
(vol. 5 nº 4 - 2001)

EDITORIAL
Bem-vindo ao XIIIo Congresso Brasileiro de Diabetes no Rio de Janeiro,
Marília de Brito Gomes .................................................................................................................................. 215

INFORMES DO DIABETES NO MUNDO ............................................................................................... 216

O DIABETES NA IMPRENSA ................................................................................................................... 231

AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS ............................................................................... 238

PRODUTOS E NOVIDADES
One Touch Basic Plus (Lifescan), InDuo (Novo Nordisk), massa de soja Soj & Tal (Beijing Brasil) .......... 247

RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ................................................................................... 252

AMERICAN DIABETES ASSOCIATION ANO 2001


Recomendações para os portadores de diabetes mellitus ............................................................................... 258

ARTIGOS CIENTÍFICOS
Protegendo o endotélio vascular de pacientes diabéticos com aspirina – Parte 1,
Freddy Goldberg Eliaschewitz, Ana Carla Goldberg, Christiani Adão Poço ............................................... 263

Proposta de pirâmide alimentar para o diabético, Celeste Elvira Viggiano ................................................... 278

FICHAS PRÁTICAS
A resistência à insulina ................................................................................................................................... 281

CALENDÁRIO DE EVENTOS .................................................................................................................. 283

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Diabetes Clínica
214 Diabetes Clínica 04 (2000)

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúr-
bios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o
conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas.
Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico, o conselho consultivo e profissionais de
reconhecido saber na área. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relativas à
diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma maneira
rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes.

Diabetes Clínica Dr. Nelson Rassi (GO) ATLANTICA EDITORA


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215
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

EDITORIAL

Bem-vindo ao XIIIo Congresso Brasileiro de Diabetes no Rio de Janeiro

Marília de Brito Gomes

Em apoio ao XIIIo Congresso Brasileiro de Diabetes da SBD, que se realizará na cidade de Rio de Janeiro, convidamos a presidente do
Congresso, Profa. Dra. Marília Gomes de Brito, para escrever o editorial deste número de Diabetes Clínica – Fadlo Fraige Filho

Antes de completarmos o primeiro ano do novo século e milênio, iremos reali-


zar o XIIIo Congresso Brasileiro de Diabetes, o IXo Encontro de Educação e o IIo
Encontro de Diabéticos e seus familiares no período de 10 a 14 de outubro de 2001.
Para tal, a cidade de Rio de Janeiro se prepara com muito empenho para receber
nossos colegas, demais profissionais da área de saúde e diabéticos de todo o Brasil.
Ao longo deste século, muito foram as conquistas realizadas pela Medicina
no tocante ao esclarecimento e tratamento do diabetes. A descoberta da insulina,
ao permitir uma maior sobrevida ao paciente, permitiu o aprofundamento de
estudos sobre a etiopatogenia e fisiopatologia da doença, iniciando-se uma nova
era na especialidade. Se voltássemos ao passado e pudéssemos entrevistar Ban-
ting e Best, tenho certeza que, naquela época, estes dois pesquisadores imagina-
riam ter resolvido quase todos os problemas relacionados à doença. Entretanto,
chegamos ao século XXI com muitos desafios a vencer. Um dos mais importante
será deter o aumento universal da doença. Estudo da OMS, publicado em 1998,
demonstrou que, de 1995 a 2005, haverá um aumento de 35% na prevalência
mundial do Diabetes de tipo 2, sendo 300 milhões o total estimado de diabéticos.
Devido ao maior aumento populacional nos países em desenvolvimento, estes
terão o maior contingente de pessoas adultas diabéticas. Calcula-se que 75% dos
diabéticos do mundo, isto é 228 milhões, viverão nestes países.
Profa. Dra. Marília de Brito Gomes Estes dados apontam para uma epidemia de doença ainda nos primeiros anos
deste século, principalmente nas populações dos países em desenvolvimento. A
Presidente do XIIIo Congresso Brasileiro de
Diabetes maioria destes, por não possuírem Sistema de Saúde eficaz no que diz respeito à
Profa. Adj. de Endocrinologia da UERJ, Clínica detecção precoce e fornecimento de todos os medicamentos e demais itens ne-
de Diabetes e Obesidade, Rio de Janeiro cessários para um tratamento adequado, terão na doença um problema de saúde
pública de difícil solução a médio prazo.
No que diz respeito ao Brasil, dados da OMS estimam um contingente de 11,603
milhões de diabéticos. Teremos, como outros desafios, diminuir a mortalidade car-
diovascular, não só através do controle glicêmico eficaz, mas também da dislipide-
mia, da pressão arterial sistêmica e do peso corporal, da mortalidade por cetoacido-
se diabética que ainda atinge um grande contingente de pacientes com diabetes
tipo 1 no nosso meio, do número de amputações de membros inferiores e as com-
plicações renais, oftalmológicas e neurológicas. Para atingirmos estas metas prio-
ritárias, é necessário aliarmos o conhecimento científico com a prática diária de
nossa especialidade e também cobrarmos, do Sistema de Saúde vigente, ações mais
diretas e eficazes. E é objetivando estes importantes aspectos que a Comissão Or-
ganizadora e Científica destes eventos vem trabalhando sistematicamente na ela-
boração de um programa que satisfaça a todos. Vamos priorizar dados da nossa
população. Teremos o Consenso Brasileiro do Pé Diabético coordenado por seu
grupo. Vamos incentivar a apresentação dos trabalhos em posters com visita e dis-
cussão por um membro da Comissão Científica. Lembre-se de nosso compromis-
so: 10 a 14 de outubro de 2001, RioCentro, Rio de Janeiro.
216 Diabetes Clínica 04 (2001)

Informes do Diabetes no Mundo

Linda Siminerio, diretora do Instituto México: A educação em diabetes em destaque


de diabetes da Universidade de
Pittsburgh, EUA, vice-presidente da A ciência tem provado que o bom controle do diabetes é benéfico. Dois
IDF, Diabetes Voice 2001;46, grandes estudos clínicos, o controle do diabetes e suas complicações (DCCT)
março de 2001 nos Estados Unidos e o Estudo Prospectivo do Reino Unido (UKPDS) de-
monstraram a importância de manter controlada a taxa de açúcar no sangue
na prevenção das complicações nos dois tipos de diabetes. Embora os estu-
dos tenham mostrado claramente a necessidade de manter a glicose controla-
da, os resultados ainda são pobres nos países desenvolvidos e subdesenvolvi-
dos. A transferência para a prática clínica é pobre e reconhecemos que nos-
sos métodos tradicionais não têm funcionado. Novos acessos que incluem
educação ao público, aos profissionais de saúde e das pessoas portadores de
diabetes precisam ser implantados.
Autocontrole e colaboração são hoje as palavras-chave. Torna-se cada vez
mais claro que a pessoa com diabetes assume diariamente decisões sobre seu
controle e seu cuidado, sem a orientação do profissional de saúde. Temos
uma mudança no paradigma entre o acesso paternalístico, e, do companhei-
rismo e do time. Os modelos de cuidados agudos que são mais familiares não
são aplicáveis para trabalhar com aqueles que têm doenças crônicas como o
diabetes.
Dados os conhecimentos e as mudanças nas perspectivas, não está tão
longe para que os líderes de diabetes continuem a “pregar o coro”. Aqueles
interessados em promover a educação em diabetes, boa nutrição e atenção às
necessidades psicossociais da pessoa portadora de diabetes e de sua família,
precisam obter a atenção de líderes de governo e de fontes potenciais para o
apoio financeiro. Papéis importantes dos educadores de todas as disciplinas –
enfermeiras, nutricionistas, físicos, estudiosos do comportamento, farmacêu-
ticos, etc – precisam ser reconhecidos.

Mary Sogayar, 6o Congresso Isolamento de ilhotas pancreáticas humanas em São Paulo


Multidisciplinar em diabetes, São
Paulo, 7 de julho de 2001 Há cerca de 7 anos, a Coordenadora do Laboratório de Biologia Celular e
Molecular do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, foi contatada
pelo Dr. Freddy Goldberg Eliaschewitz para considerar a possibilidade de iso-
lar ilhotas pancreáticas para efeito de transplante e reversão do diabetes.
Durante cerca de 3 anos (1994-97), um grande esforço foi feito no sentido
de padronizar o procedimento utilizando pâncreas canino, mas, a partir de
1997, decidiu-se utilizar pâncreas humano de doadores cadavéricos.
Informes do Diabetes no Mundo / Diabetes Clínica 04 (2001) 217

Continuação Uma equipe multidisciplinar, composta de médicos clínicos e cirurgiões e


de pesquisadores da área básica, foi montada, sob a coordenação geral do Dr.
Freddy Eliaschewitz, para organizar a captação, o processamento, a purifica-
ção e criopreservação de ilhotas pancreáticas humanas e, ainda, para contri-
buir para a formação de pessoal qualificado para enfrentar este desafio.
Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP) e do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da
Universidade de São Paulo, foi possível montar a Unidade de Ilhotas Pancre-
áticas Humanas, numa área de 70 m2, anexa ao laboratório de Biologia Celu-
lar e Molecular. Atualmente, a Unidade de Ilhotas está totalmente equipada e
a equipe de médicos e pesquisadores, vem trabalhando de maneira extrema-
mente coordenada para atingir seus objetivos no menor prazo possível.
Além do processamento de pâncreas humanos, para obtenção de ilhotas, a
equipe tem desenvolvido diversos projetos de ciência básica e, também, de
natureza mais tecnológica. Assim, nossos alunos de doutorado e de pós-dou-
torado utilizam as ilhotas pancreáticas humanas preparadas, para: Buscar genes
marcadores das atividades mitogênica/proliferativa de glicose e prolactina:
Isolar marcadores tumorais de insulinoma, tumores pancreáticos que produ-
zem insulina em excesso; Preparar e desenvolver cápsulas de materiais bio-
compatíveis, como, por exemplo, o alginato, para envolver as ilhotas, isolan-
do-as das células do sistema imune (mas, infelizmente, não dos fatores pro-
téicos que desencadeiam a rejeição do implante); Buscar novas condições e
materiais que propiciem a sobrevivência e/ou multiplicação das ilhotas in
vitro antes de partir para o implante. Espera-se que este enorme esforço con-
junto, contando, inclusive com colaboradores estrangeiros, permita atingir
nossos objetivos.

Lawrence A. Lavery et al., Archives of Estímulo elétrico melhora cicatrização de úlceras em pé


Physical Medicine and Rehabilation diabético
2001; 82:721-724
Pesquisadores da University of Texas Health Sciences Center, em San An-
tonio, mostraram que, em conjunto com medidas posturais e cuidados locais,
a corrente galvânica pulsada e de alta voltagem parece aumentar a cicatriza-
ção de úlceras em pé diabético.
O estudo descreve o Micro-Z, instrumento de 5,5 x 6 cm que libera a
corrente elétrica em nível sub-sensorial via microcomputador para meia con-
feccionada em prata e nylon. O Micro-Z difere dos instrumentos tradicionais
de estímulo elétrico trans-cutâneo, uma vez que oferece corrente de alta fre-
qüência e penetra nos tecidos mais profundamente.
Foram tratados 40 pacientes com úlceras não infectadas já abordadas com
debridamento, gel de colágeno, medidas anti-pressão e curativos duas vezes
ao dia. Os pacientes foram randomizados para receber estímulo elétrico ou
placebo.
Durante oito horas por noite, o aparelho era programado para oferecer
repetidas doses de 50V, com 80 pulsos monofásicos por segundo por dez
minutos, seguidos de dez minutos de oito pulsos por segundo e então 40
minutos de repouso.
As úlceras cicatrizaram em 13 pacientes tratados com estímulos elétricos
e em 7 pacientes tratados com placebo, em período de 12 semanas de obser-
vação. A diferença na área seccional das úlceras foi de 86,2% no grupo trata-
do e de 71,4% no grupo controle. Os autores esclarecem que o estímulo elé-
trico não acelera a cicatrização, mas trata proporção maior de úlceras. O tra-
tamento já vem sendo usado por quatro anos e, segundo os autores, oferece
aos pacientes o estímulo metabólico que talvez faltasse à cicatrização. Além
218 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2001)

Continuação disso, o tratamento parece ser boa opção para os pacientes com doença vas-
cular e impossibilidade de revascularização por doença sistêmica grave ou
ausência de circulação viável no pé.

Trevor Orcard et al., Diabetes Care, Novos objetivos de pressão sanguínea e colesterol propostos para
junho de 2001 o diabetes de tipo 1

Por razões não completamente óbvias, os pacientes portadores de diabetes


de tipo 1 apresentam duas vezes mais riscos de doença cardiovascular do que
os indivíduos não portadores de diabetes, e não existem recomendações para
estabelecer objetivos para estes dois importantes fatores de risco para as com-
plicações da doença – lípides e pressão sanguínea, segundo Trevor Orchard,
University of Pittsburgh. O estudo seu mostra que os pacientes portadores de
diabetes de tipo 1 devem controlar com muito cuidado esses dois fatores de
risco, com objetivos até mais rigorosos que os usados nos pacientes portado-
res de doença cardiovascular.
Os pesquisadores baseiam a análise sobre os dados do Pittsburgh Epide-
miology of Diabetes Complications Study (EDC), estudo prospectivo de 10
anos que observou 589 pacientes adultos portadores de diabetes tipo 1 desde
a infância. Os pacientes tinham em média um histórico de diabetes de 20
anos. A equipe notou a pressão sanguínea dos pacientes, os níveis de HDL e
LDL colesterol, triglicérides e as datas de falecimento, ou de desenvolvimen-
to de doença arterial coronariana ou microvascular.
Baseando-se sobre esses resultados, os pesquisadores sugerem os seguin-
tes níveis para os homens e mulheres de 18-55 anos portadores de diabetes de
tipo 1: LDL colesterol < 100mg/dl; HDL colesterol > 45 mg/dl; triglicérides
< 150 mg/dl; pressão sanguínea < 120/80. As recomendações da American
Diabetes Association e do National Cholesterol Education Program são ge-
ralmente utilizadas pelo diabetes de tipo 2, segundo o Dr. Orchard. A escolha
de objetivos é mais complexa para os pacientes portadores de diabetes de
tipo 1, porque a ocorrência de complicações microvasculares é maior e é
ligada aos níveis dos lípides e da pressão sanguínea. Complicações adicio-
nais são ligadas à relação entre a doença renal e a doença arterial coronariana
nesses pacientes.
Durante o período de dez anos do estudo, 67 pacientes morreram, 105
desenvolveram doença arterial coronariana, 92 apresentaram doença arterial
dos membros inferiores, 52 uma nefropatia, 120 uma polineuropatia distal
simétrica e 148 uma retinopatia proliferativa.

Deise L. Faustman et al., Journal of Restauração da função da célula β em modelo de diabetes de tipo 1
Clinical Investigation 2001;108:63-72.
Estudos sobre o diabetes auto-imune em modelo de rato mostraram que a
auto-imunidade dirigida à célula β pode ser revertida e a função da ilhota
pancreática restaurada, segundo a pesquisa realizada pela Dra. Denise L. Faust-
man, Harvard Medical School. Ratos diabéticos foram tratados com o adju-
vante completa de Freund (CFA) para induzir a expressão do fator de necrose
tumoral TNF-α. O objetivo era de eliminar as células T auto-reativas.
Muitos pacientes diagnosticados como portadores de diabetes de tipo 1
continuem produzir auto-anticorpos durante anos, embora que o tecido já
desapareceu. A hipótese é que o pâncreas do diabético está tentando se rege-
nerar, mas com o sistema imune errado. Os pesquisadores observaram, após
o apoptose das células T auto-reativas induzido pelo TNF-α, a reaparição de
uma função endógena celular β nas ilhotas pancreáticas. Os pesquisadores
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2001) 219

Continuação aplicaram células esplênicas de doadores aos ratos para “reeducar” as células
imunes aos próprios antígenos e impedir a destruição das células regeneradas
de ilhotas.
Esta reeducação resultou no estabelecimento de uma tolerância a longo
prazo, como demonstrado pela eliminação da hiperglicemia e da insulite.
Segundo os pesquisadores, estudos em pacientes portadores de diabetes de
tipo 1 serão possíveis no final de 2002.

Greg Arsenis et al., 83rd Annual Baixa dieta em proteínas animais melhora a glicose sanguínea
Meeting of the Endocrine Society, em pacientes diabéticos de tipo 2
Denver, Colorado,
21 e 22 de junho de 2001 Os pacientes diabéticos de tipo 2 que diminuem a ingestão de proteína
animal e de açúcar podem melhorar significativamente o perfil lipídico e
diminuir os níveis de HbA1c. Os pesquisadores observaram 51 pacientes
portadores de diabetes de tipo 2 que não foram bem tratados por doses de
hipoglicemiantes orais e/ou insulina. A ingestão de proteína animal foi redu-
zida de 2 a 3 vezes ao dia para 1 vez cada dois dias durante 6 meses, substitu-
indo-as por quantidades equivalentes de proteína vegetal. Os açucares foram
eliminados, mas a dieta calórica ficou estável para prevenir a perda de peso.
Dentre os 31 pacientes que permaneceram na dieta, o valor do HbA1c
diminuiu significativamente em 30% (de uma média de 10 para 7%). O co-
lesterol total diminuiu em 30%, as triglicérides em 60%; o LDL colesterol
diminui em 35% e o HDL colesterol aumentou em 10%. Dentre os 20 pacien-
tes que não observaram a dieta, 6 fizeram uma dieta de baixa caloria e perde-
ram peso, e 14 escolheram trocar a carne vermelha para peixe, mas o perfil
lipídico não melhorou.
Três dos pacientes que fizeram a dieta prescrita diminuíram a dose de in-
sulina em 50%, 2 pacientes interromperam a insulina, 4 pacientes pararam os
hipoglicemiantes orais e 6 interromperam um ou dois remédios hipolipemi-
antes. Segundo o Dr. Arsenis, a proteína animal contém aminoácidos essen-
ciais que estimulam a secreção de insulina pancreática. O aumento da insuli-
na aumenta os níveis de adrenalina, o que pode induzir a resistência à insuli-
na, segundo ele. O Dr Arsenis sugere que este tipo de dieta pode ajudar em
prevenir a desenvolvimento do diabetes de tipo 2

83rd Annual Meeting of the Endocrine Exercício melhora a saúde física e mental em pacientes
Society, Denver, Colorado, portadores de diabetes, câncer da mama, tal como em adultos
21 e 22 de junho de 2001 saudáveis

Dois estudos mostraram que o exercício melhora o bem-estar psicológico


e a função imune em pacientes portadoras de câncer da mama e melhora o
controle da glicose sanguínea, os níveis de HDL-colesterol e a composição
corporal em pacientes portadores de diabetes de tipo 2. Um terceiro estudo
forneceu evidências de mudanças substanciais em metabolismo da glicose e
respostas hormonais em homens saudáveis durante o exercício.
No primeiro estudo, os pesquisadores mostraram que um programa controla-
do de exercícios aumenta os níveis de HDL colesterol e melhora o controle dos
níveis de glicose sanguínea em diabéticos de tipo 2. 18 pacientes com sobrepeso
moderado e diabetes de tipo 2 mal controlado foram divididos em 2 grupos. Os
pacientes participaram de um programa de exercícios controlado ou não contro-
lado 4 vezes/ semana durante meses. Segundo os resultados, os pacientes do
grupo controlado mostraram uma melhora significativa da composição corporal
e do perfil lipídico, quando comparado com o grupo não controlado.
222 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2001)

Continuação Outro estudo da Universidade de Chicago mostrou que os níveis da glicose


e vários hormônios essenciais para entender a resposta do corpo ao exercício
variam em função do momento do dia no qual o exercício está efetuado. 40
homens saudáveis entre 20 e 30 anos foram divididos em 5 grupos – um grupo
controle que não realizou exercícios e 4 grupos que efetuaram exercícios vigo-
rosos durante uma hora, seja de manhã, à tarde, no final da tarde ou à noite.
Os pesquisadores encontraram diminuições mínimas dos níveis da glicose
quando o exercício ocorreu de manhã, à tarde ou no final da tarde, e acharam
diminuições significativas quando o indivíduo faz exercícios à noite. Ao con-
trario, o hormônio de crescimento aumenta significativamente com o exercí-
cio a qualquer hora do dia.
Um estudo alemão investigou os efeitos do exercício sobre o sistema imu-
ne de 49 pacientes portadores de câncer da mama. Durante o estudo, 24 mu-
lheres fizeram exercícios 5 vezes/semana em um programa de reabilitação.
Depois, elas continuaram o treinamento 3 vezes/semana durante três meses.
Outro grupo de 25 mulheres foi usado como grupo controle. Amostras de
sangue foram recolhidas no início do tratamento, após tratamento e seis me-
ses após tratamento para determinar a função imune.
Os pesquisadores acharam que o exercício moderado re-estabiliza as fun-
ções imunológicas reduzidas em pacientes portadoras de câncer da mama,
melhora o humor e o comportamento psicológico. Os resultados mostram um
benefício direto do treinamento moderado em programa de reabilitação de
pacientes com câncer da mama.

Bryce A Mander et al., 61st annual A falta de sono pode aumentar o risco de diabetes de tipo 2
scientific sessions of the American
Diabetes Association, Philadelphia, A falta crônica de sono pode ser responsável de problemas sérios, segundo
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 esse estudo da Universidade de Chicago. As pessoas que não dormem o sufi-
ciente e regularmente podem ser menos sensíveis à insulina. De fato, a dimi-
nuição crônica de sono – 6,5 horas ou menos por noite – tem o mesmo efeito
sobre a resistência à insulina do que a idade, segundo os pesquisadores: como
a dieta ruim, o estilo de vida sedentária, o estresse crônico e idade, a falta de
sono é um fator de risco.
No estudo, adultos saudáveis com tempo de sono médio de 316 minutos per
noite – 5,2 horas – durante 8 noites consecutivas secretaram 50% mais insulina
do que os que tinham um tempo de sono de 477 minutos, seja 8 horas. Como
resultado, os pequenos dormidores são 40% menos sensíveis à insulina.
O estudo sugere que a privação de sono, que é comum hoje nos países
desenvolvidos, pode ter um papel na atual epidemia de diabetes de tipo 2.
Existe uma diminuição constante do número de horas de sono do Americano:
em 1975, cada Americano dormia 7,5 horas, contra 9 horas em 1910. Hoje, o
tempo de sono do adulto é de 7 horas/noite.

Thomas P. Erlinger et al., 61st annual A hiperglicemia pós-prandial é comum em portadores de diabetes
scientific sessions of the American
Diabetes Association, Philadelphia, A hiperglicemia pós-prandial é comum em adultos portadores de diabetes,
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 mesmo quando o controle glicêmico é bom e com uso de sulfoniluréias. O
estudo analisou os dados do Third National Health and Nutrition Examination
Survey (NHANES III) de adultos entre 40 e 74 anos portadores de diabetes sem
uso de insulina. Todos os participantes fizeram um teste de tolerância à glicose
oral. O estudo, efetuado de 1988 até 1994, incluiu 1614 pacientes com diabetes
anteriormente diagnosticado. A hiperglicemia pós-prandial era presente em 74%
dos casos. Presente em quase todos os casos de diabéticos adultos (99%) com
224 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2001)

Continuação controle glicêmico insuficiente (HbA1c = 7%), a hiperglicemia pós-prandial


era também comum (39%) dentre os com bom controle (HbA1c < 7,0%).
Dentre os usuários de sulfoniluréias, a hiperglicemia pós-prandial era pre-
sente em 99% dos casos com controle glicêmico insuficiente e 63% dos com
controle bom. Modelos similares foram encontrados em aqueles com diabe-
tes não diagnosticado. A hiperglicemia pós-prandial, definida com um nível
de glicose a 2 horas ≥ 200 mg/dl e glicose de jejum < 126 mg/dl, era presente
em 9,8% dos adultos com diabetes diagnosticado.
Os dados do estudo se aplicam somente em adultos que não usam insulina,
e é possível que o nível elevado de glicose de 2 horas seja o resultado da
supressão do tratamento hipoglicemiante oral antes a teste de glicose. O tra-
tamento com agentes hipoglicemiantes orais poderia teoricamente resultar
em uma sub-estimação da prevalência da hiperglicemia pós-prandial, especi-
almente em pacientes com HbA1c < 7%. Os achados indicam que a hipergli-
cemia pós-prandial é comum dentre as pessoas portadoras de diabetes e estu-
dos de longo prazo são necessários para determinar se os agentes que dimi-
nuem especificamente a hiperglicemia pós-prandial são úteis para reduzir o
risco de complicações cardiovasculares, em comparação com outros agentes.

Copenhague, Dinamarca, Estudos mostram que NovoNorm é seguro para pacientes com
3 de abril de 2001 diabetes tipo 2 e insuficiência renal

A Novo Nordisk anunciou que atualizará adequadamente o resumo das


características do produto e a bula do antidiabético oral NovoNorm (repagli-
nida), retirando a contra-indicação às pessoas com insuficiência renal apre-
sentada nas embalagens do medicamento. Esta foi uma decisão tomada pelo
European Medicine Evaluation Agency (EMEA, a Agência de registro Euro-
péia), baseada em dois estudos recentes que mostram que NovoNorm é segu-
ro para pacientes com graus variados de insuficiência renal.
“A retirada da contra-indicação decidida pelo EMEA é importante porque
muitos pacientes com diabetes tipo 2 desenvolvem algum grau de insuficiência
renal, o que torna NovoNorm uma opção de tratamento importante,” afirmou
Kirstine Brown Frandsen, gerente médica internacional de Novo Nordisk. Kirs-
tine acrescentou que inúmeras drogas antidiabéticas orais, incluindo glibencla-
mida, metformina, gliclazida e glipizida, estão contra-indicadas ou devem ser
usadas com cautela em pacientes que apresentem insuficiência renal, porque
essas drogas são excretadas, pelo menos em quantidade substancial, pelo rim.
Se a função renal estiver prejudicada, a eliminação destas drogas estará reduzi-
da, aumentando a sua duração de ação e, portanto, aumentando o risco de hipo-
glicemia. Ao contrario, apenas 8% de uma dose de NovoNorm são excretados
pelo rim, sendo o restante degradado no fígado, disse ela.
O NovoNorm foi premiado durante o principal congresso médico euro-
peu, realizado na França (MEDEC), que contou com a participação de 17 mil
médicos: NovoNorm foi escolhido como vencedor na categoria Pesquisa
Européia do Ano.

AMK Hansen et al., 61st annual Estudo mostra que repaglinida tem único mecanismo de ação
scientific sessions of the American
Diabetes Association, Philadelphia, Um novo estudo in vitro mostra que a repaglinida estimula a secreção de
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 insulina pelo pâncreas através um mecanismo diferente do que o utilizado pela
nateglinida ou tolbutamida. Este estudo sugere que nateglinida e tolbutamida
agem sobre o mesmo lugar do receptor de sulfoniluréia nas células pancreáti-
cas, mas a repaglinida age em um lugar diferente do receptor, segundo o Prof.
226 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2001)

Continuação Dr. Mads Krosgaard Thomsen, da Novo Nordisk. O receptor da sulfoniluréia é


um objetivo importante para vários agentes antidiabéticos orais utilizados para
tratar o diabetes estimulando a produção de insulina. Os achados podem ser em
relação com outros, que mostraram que a repaglinida aumenta a secreção de
insulina, enquanto que a nateglinida in vitro não só estimula a secreção da
insulina, mas também do hormônio de crescimento e do glucagon, o que pode
ser indesejável. Esses novos achados sugere a noção que a repaglinida tem um
único e específico efeito sobre a secreção de insulina.
Repaglinida e os sulfoniluréias tais como tolbutamida são ligados a um
receptor sobre as células do pâncreas chamado SUR1 (sulfoniluréia receptor
1), pelo qual eles estimulam a produção de insulina. Neste estudo, Ana Maria
Hansen et al. usaram técnicas de DNA recombinante para criar uma mutação
do receptor SUR1, na qual foi feita uma mudança em um único aminoácido
em uma área conhecida para ser importante para a ligação com as sulfoni-
luréias. Foi demonstrado que a repaglinida era ainda ativa sobre o receptor
modificado, enquanto que os efeitos da nateglinida e tolbutamida eram quase
completamente abolidos.
Se a repaglinida for ainda ativa sobre o receptor, concluímos que ela liga
com SUR1 em um lugar diferente do que tolbutamida e nateglinida, disse
Ana Maria Hansen. Esses dados sugerem que a repaglinida tem um mecanis-
mo de ação diferente do que os outros agentes antidiabéticos orais, mas a
significação clínica desses achados deve ser confirmada.

U.S. Department of Health and Human Dieta e exercício reduzem drasticamente o risco de desenvolver o
Services, 8 de agosto de 2001 diabetes de tipo 2

Pelo menos 10 milhões de Americanos com risco elevado de diabetes tipo


2 podem diminuir drasticamente os riscos de apresentar a doença com um
programe de dieta e exercício, de acordo com os achados do maior estudo
clínico anunciado pelo Diabetes Prevention Program (DPP) do National Ins-
titutes of Health (NIH). Segundo este estudo as pessoas com risco que exer-
cicem-se 30 minutos por dia e perdem 7% do peso corporal diminuem o risco
de diabetes em 58%, mesmo sem tratamento. Os participantes do estudo que
foram tratados por metformina (sem dieta nem exercício) diminuíram o risco
em 31%.
Esses achados são os resultados do Diabetes Prevention Program (DPP),
o maior estudo comparando dieta e exercício com metformina, que foi em-
pregado em 3.234 indivíduos portadores de uma diminuição da tolerância à
glicose. O estudo foi interrompido um ano antes o final previsto porque ele já
claramente atingiu os resultados esperados.
Estudos anteriores em China e Finlândia já mostraram que dieta e exercí-
cio podem adiar o desenvolvimento do diabetes de tipo 2 em pessoas com
risco, mas o DPP, usado em 27 centros de diabetes, é o primeiro estudo que
mostre que dieta e exercício podem efetivamente adiar o diabetes em uma
população americana variada com sobrepeso e diminuição de tolerância à
glicose.
Sobre os 3.234 participantes do estudo, 45% eram de grupos minoritários
que sofrem desproporcionalmente de diabetes de tipo 2: Afro-americanos,
Hispano-americanos, moradores das ilhas do Pacífico e Índios americanos.
O estudo integrou também outros grupos conhecidos pelo risco elevado de
diabetes de tipo 2, incluindo indivíduos de idade superior a 60 anos, mulhe-
res com histórico de diabetes gestacional e pessoas com parente de primeiro
grau diabético de tipo 2.
228 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2001)

Continuação “A intervenção sobre o estilo de vida funciona em homens e mulheres em


todos os grupos étnicos. Funciona também em pessoas de mais de 60 anos,
que apresentam uma prevalência de diabetes de 20%, reduzindo o desenvol-
vimento do diabetes em 71%. Metformina é também eficaz em homens e mu-
lheres de todos os grupos étnicos, mas foi relativamente ineficaz em voluntá-
rios mais velhos e em pessoas que não apresentavam sobrepeso”, explicou
Dr. David Nathan, Massachusetts General Hospital, Boston.
Os participantes foram randomizados para os grupos seguintes: 1) Mu-
dança intensa do estilo de vida com perda de pesos de 7% por dieta e exercí-
cio 15 minutos/semana; 2) Tratamento com metformina (850 mg duas vezes
ao dia); 3) Grupo controle tratado com placebo; Os dois últimos grupos rece-
beram informação sobre dieta e exercício.
Os participantes tinham idade entre 25 e 85 anos, com média de 51 anos.
No início do estudo, todos apresentavam tolerância à glicose diminuída, me-
dida por teste de tolerância à glicose, e todos tinham sobrepeso, com IMC
média de 34. 29% do grupo do DPP desenvolveu diabetes durante o período
de acompanhamento médio de 3 anos.
Ao contrário, 14% do grupo tratado com dieta e exercício e 22% do grupo
metformina desenvolveram diabetes. Voluntários para dieta e exercício realiza-
ram os objetivos do estudo, com perda média de 7% do peso no primeiro ano,
estabilizada a 5% durante o período do estudo. Participantes do grupo interven-
ção no estilo de vida receberam treinamento em dieta, exercício (a maioria
escolheu a caminhada) e informações sobre as mudanças de comportamento.
Podem as intervenções prevenir o diabetes ? “Simplesmente, não sabe-
mos quanto tempo, após o período de 3 anos, o diabetes pode ser adiado,”
disse Dr. Nathan. “Gostaríamos de continuar o acompanhamento da popula-
ção do DPP para descobrir até quando as intervenções são eficazes.” Os
dados serão analisados para determinar se as intervenções diminuíram a do-
ença cardiovascular e a aterosclerose, maiores causas de morte em portado-
res de diabetes de tipo 2.
“Cada ano que uma pessoa pode viver sem diabetes significa um ano a
mais sem dor, complicações e custos médicos ligados à doença. Os achados
do DPP representam o melhor avanço para controlar e talvez reverter a epi-
demia de diabetes de tipo 2”, explicou Dr. Allen Spiegel, diretor do National
Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases (NIDDK). O custo
do DPP foi de US$ 174,3 milhões.

61st annual scientific sessions of the Nacional Institutes of Health (NIH) lança estudo para investigar
American Diabetes Association, os efeitos a longo prazo da perda de peso e do exercício em
Philadelphia, Pennsylvania, diabetes de tipo 2
22-26 de junho de 2001
Durante o Congresso da American Diabetes Association, foi anunciado o
lançamento do primeiro estudo a longo prazo para investigar os efeitos da
perda de peso em pacientes portadores de diabetes tipo 2. Este estudo clínico
multicêntrico, randomizado, investigará os efeitos de um programa de inter-
venção sobre o estilo de vida, desenhado para promover a perda de peso
através da diminuição da ingestão calórica e o exercício regular em aproxi-
madamente 5.000 voluntários. Este estudo, chamado Look AHEAD (Action
for Health in Diabetes) observará como as intervenções sobre o estilo de vida
alteram os acidentes cardíacos, os acidentes vasculares cerebrais e as mortes
ligadas a doenças cardiovasculares em pacientes diabéticos de tipo 2 – a do-
ença a mais afetada pelo sobrepeso e obesidade.
Os participantes qualificados para o Look AHEAD serão randomizados para
participar no programa Estilo de vida ou no programa de educação e suporte ao
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2001) 229

Continuação diabetes. O programa Estilo de vida é um programa intensivo de dieta e exercí-


cio desenhado para incentivar as pessoas perder ao mínimo 7 a 10% do peso
inicial no primeiro ano do estudo. Os participantes devem adotar um programa
regular de exercício, do tipo caminhada, com uma meta de 25 minutos/dia. Um
grupo controle será constituído em um programe de educação. Os indivíduos
serão acompanhados durante um período de 11,5 anos. Os pesquisadores ob-
servarão os fatores de risco cardiovasculares, o controle do diabetes, a desen-
volvimento de complicações, o estado geral de saúde e a qualidade de vida.
“Temos uma excelente oportunidade para conhecer melhor o papel a longo
prazo da perda de peso para melhorar a saúde em indivíduos com sobrepeso e
diabetes de tipo 2”, explicou Rena R Wing, presidente do Look AHEAD. “Sabe-
mos que a perda de peso pode ajudar os portadores de diabetes a curto prazo,
mas não temos dados sobre os efeitos a longo prazo”. Mais de 50% da população
dos Estados Unidos apresenta um sobrepeso. A percentagem de Americanos
obesos saltou de 16 para 22% nos 15 últimos anos. Para razões ainda não com-
pletamente conhecidas, o sobrepeso afeta desproporcionalmente as minorias.

Jay Skyler et al., 61st Annual Scientific Baixas doses de insulina não ajuda para a prevenção do
Sessions of the American Diabetes desenvolvimento do diabetes de tipo 1
Association, Philadelphia,
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 Um grande e esperado estudo sobre a prevenção do diabetes tipo 1 termi-
nou com resultados pouco animadores: baixas doses de insulina não servem
para adiar o desenvolvimento do diabetes de tipo 1, segundo o Prof. Dr Jay
Skyler, que acrescentou que isso não significa que outras terapias baseadas
em insulina não funcionam. A insulina em outras apresentações ou em gru-
pos diferentes de pacientes poderia talvez mostrar efeitos diferentes.
A equipe e um grupo internacional de pesquisadores rastrearam 89.000
parentes de pacientes portadores de diabetes de tipo 1. Sabe se que as liga-
ções sanguíneas aumentam o risco de doença em 10 ou 20 vezes em compa-
ração com a população geral. Foram isoladas 340 pessoas correspondendo
aos critérios científicos do estudo, que usou testes de anticorpos para deter-
minar que os participantes – sem tratamento – tinham um risco de 50% de
apresentar a doença em um prazo de 5 anos.
A metade dos participantes foi randomizada para receber uma aplicação
de insulina (mais ou menos um terço da dose normal), duas vezes/dia, e, uma
vez por ano, um tratamento continuo intravenoso de insulina, durante 4 dias.
O outro grupo não recebeu nenhum tratamento de insulina mas foi clinica-
mente controlado durante o período do estudo.
Depois de 5 anos, os pesquisadores acharam que 60% das pessoas do grupo
insulina desenvolveram diabetes, o que é uma taxa similar a do grupo controle.
Apesar dos resultados negativos, os pesquisadores explicam que eles en-
contraram novas informações sobre a segurança da insulina: “A insulina nas
doses que usamos pode ser administrada sem risco de desenvolver diabetes
de tipo 1”, disse Skyler para responder a objeção que administrar insulina a
pessoas que não têm diabetes pode induzir hipoglicemia e distúrbios cogniti-
vos. Não existe evidência de tais distúrbios.
“É só um passo na boa direção”, disse Len Harrison, do Autoimmunity
and Transplantation Division of the Walter and Eliza Hall Institute of Medi-
cal Research at the Royal Melbourne Hospital na Australia. Ele disse que
existem outras pesquisas, tais como os transplantes de células troncos ou a
destruição de células T, para prevenir ou adiar o diabetes de tipo 1 em indiví-
duos de alto risco. Estudos começaram sobre fatores do meio-ambiente, como
vírus, que poderiam disparar a doença em indivíduos com risco genético. O
otimismo fica elevado para o futuro da prevenção do diabetes de tipo 1.
Diabetes Clínica 04 (2001) 231

O Diabetes na Imprensa
A epidemia de diabetes

Istoé, 9 de julho de 2001 (...) Nos Estados Unidos, o custo do tratamento do diabetes, tanto no setor
público quanto no privado, gira em torno de assombrosos US$ 98 bilhões.
No Brasil, um estudo feito no Hospital Universitário da Universidade Fede-
ral do Rio de Janeiro (UFRJ) revelou que cuidar do diabetes é três vezes mais
caro do que tratar doenças cardiovasculares e respiratórias, por exemplo. “Isso
porque o tempo de permanência dos pacientes no hospital é maior, devido às
complicações decorrentes da doença”, explica o endocrinologista José Egí-
dio de Oliveira. O diabetes pode provocar sérios prejuízos ao corpo, como
infarto, derrame e até cegueira. Sem falar que o mal encurta a vida do pacien-
te em dez anos, em média. “A doença já é considerada um problema de saú-
de pública”, disse o médico Robert Sherwin, presidente da Associação Ame-
ricana de Diabetes (ADA).
Por causa das estatísticas sombrias, a ciência está empenhada em encontrar
soluções. Mas de nada adianta esse esforço se a pessoa não recorrer a uma arma
decisiva contra o diabetes: a mudança do estilo de vida. Isso significa adotar uma
dieta saudável e a prática de exercícios. “Vários estudos mostraram que uma
alimentação rica em frutas e verduras e meia hora de exercícios diariamente
ajudam no controle do diabetes”, diz o endocrinologista Adolpho Milech, da
UFRJ. Dessa maneira, também é possível manter baixo os níveis de colesterol,
triglicérides, pressão arterial e peso, indicadores de risco para o diabetes quando
estão elevados. “Isso é importante porque 70% dos diabéticos morrem de proble-
mas cardiovasculares ligados a esses fatores”, reforça Oliveira.
A medicina está tão preocupada em ajudar os diabéticos a lidar melhor
com a doença que o Centro Internacional de Diabetes, em Minneapolis (EUA),
criou uma dieta mais flexível. A novidade já é adotada por alguns especialis-
tas do Brasil. Ele não precisa deixar de comer um doce ou uma bela macarro-
nada, por exemplo. Mas deve saber a quantidade desses alimentos que pode
ingerir por dia. Para cada porção ingerida, necessita tomar uma certa quanti-
dade de insulina. A dieta deve ser orientada por um médico. “Ela não incen-
tiva o paciente a comer doce, mas permite gerenciar o uso do açúcar e car-
boidratos na alimentação”, ensina a endocrinologista Silmara Leite, do Cen-
tro de Diabetes de Curitiba.
Gerenciar a alimentação nem sempre é fácil. A correria do dia-a-dia mui-
tas vezes faz com que as pessoas prefiram comer um hambúrguer em vez de
uma refeição balanceada. Sem falar na falta de tempo para a atividade física.
O pior é que as crianças estão seguindo o mesmo caminho. Repare como seus
filhos costumam passar horas na frente da televisão, comendo exagerada-
mente sanduíches, batata frita, tomando refrigerante e quase não praticando
esportes. Esse quadro contribui para agravar a obesidade na infância. Nos
Estados Unidos, já são seis milhões de crianças obesas. O que ninguém sabia
é que por causa disso algumas delas já estão tendo diabete do tipo 2.
A insulina inalada está sendo testada pelos laboratórios Aventis e Novo Nor-
232 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 04 (2001)

Continuação disk. A idéia é substituir as picadas da insulina rápida. “Será uma revolução
para o paciente, pois em vez de ele sentir o incômodo da picada, precisará
apenas inalar a insulina”, diz a endocrinologista Reine Marie Chaves Fonse-
ca, coordenadora do Centro de Referência para Assistência ao Diabético do
Estado da Bahia. Se a pesquisa der certo, há previsões de que a insulina inalada
esteja no mercado brasileiro em 2003. Alguns centros brasileiros testam a no-
vidade. Por enquanto, todos os pacientes estão satisfeitos com ela. É o caso do
aposentado gaúcho Laércio Vital, 64 anos. Apesar de ser diabético do tipo 2,
Vital resolveu participar dos testes, porque demorou muito tempo para se tratar.
A única coisa que fazia antes era tomar medicamentos. Recusava-se, por exem-
plo, a deixar os doces de lado. Suas taxas de glicemia estavam em torno de 300
miligramas por decilitro após as refeições. O normal é menos de 200 mg/dl
após a alimentação e abaixo de 126 mg/dl em jejum. Ou seja, as drogas não
davam mais conta do recado. Vital demorou tanto tempo para cair na real que
seu pâncreas deixou de produzir insulina como deveria. “Isso pode acontecer
com o diabético do tipo 2 se ele não se cuidar no início”, alerta Fadlo Fraige
Filho, presidente da Federação Nacional de Associações de Diabéticos, em
São Paulo. Vital está aliviado, pois teve chance de correr atrás do prejuízo. Ele
faz a inalação antes das refeições e agora cuida da dieta.
Há mais uma experiência que chama a atenção dos especialistas: o trans-
plante de ilhotas de pâncreas, com células produtoras de insulina. Cientistas
canadenses já realizaram o transplante em 15 pacientes. Deles, 11 estão há dois
anos sem tomar insulina. No Brasil, algumas instituições pretendem adotar
essa alternativa, por enquanto recomendada somente para quem está em situa-
ção muito crítica. Apenas nesses casos a intervenção compensaria, já que os
medicamentos usados para evitar a rejeição das células transplantadas têm for-
tes efeitos colaterais, como náuseas. Por enquanto, alguns centros que estão na
fila para começar os estudos são a Universidade de São Paulo, a Universidade

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O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 04 (2001) 233

Continuação Federal do Rio de Janeiro e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul.


Tanto para controlar o tipo 2 quanto o tipo 1, é fundamental ter disciplina.
“A maioria dos diabéticos não segue à risca as recomendações médicas”,
garante o endocrinologista Fraige Filho. O consultor de informática Júlio
Vigoroti, 44 anos, é uma dessas pessoas. Ele descobriu há 12 anos que sofre
de diabete do tipo 2. Demorou muito tempo para começar o tratamento, até
que teve uma crise de hiperglicemia (excesso de açúcar no sangue) e passou
mal. “Reconheci que tenho um problema sério”, lembra-se. Hoje, ele pratica
basquete, se alimenta bem e toma medicamentos.
Checar os níveis de glicose na circulação sanguínea deveria ser uma preocu-
pação de todos. Para os especialistas, a falta de diagnóstico é um dos principais
problemas relacionados à doença, principalmente a do tipo 2. “Como os sinto-
mas só aparecem muito mais tarde e geralmente são vagos, como o cansaço,
por exemplo, as pessoas nem desconfiam”, afirma Fraige, da Federação Naci-
onal de Associações de Diabéticos. Por causa disso, o Ministério da Saúde
lançou em março uma campanha de diagnóstico, com apoio da Sociedade Bra-
sileira de Endocrinologia (SBEM). Na semana passada, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária aprovou os primeiros medicamentos genéricos para com-
bater a doença. Eles devem ser comercializados a partir de agosto. Junto com a
SBEM, o Ministério criou um programa de capacitação médica para clínicos-
gerais. “Isso é importante porque parte dos clínicos ainda não sabe lidar com
o problema e não pede exames”, afirma o endocrinologista José Egídio Olivei-
ra. Essa medida ajuda a evitar que o paciente só descubra a doença quando o
seu organismo não está funcionando direito. Se o problema for diagnosticado
logo e a pessoa seguir direitinho as recomendações médicas, as chances de boa
convivência com a doença serão maiores. O nadador americano Gary Hall, 25
anos, é um exemplo disso. Portador do diabete do tipo 1, ele conseguiu se
destacar no esporte. “O diabetes não me atrapalha. Pelo contrário, ela me
deixou mais atento à alimentação, aos exercícios e ao meu estilo de vida”,
disse. Trata-se de uma vitória, mais valiosa até do que o bronze que conquistou
nos Jogos de Sidney, em 2000.

Iniciativa pública
Centros públicos de atendimento a pacientes carentes começam a se di-
fundir no Brasil. A primeira cidade a implantar o serviço foi Fortaleza. Em
1988, a endocrinologista Adriana Forti arregaçou as mangas e convenceu o
governo a criar o Centro de Diabetes e Hipertensão. No local, os diabéticos
têm a orientação de nutricionistas e oftalmologistas, entre outros profissio-
nais. Salvador adotou o mesmo projeto em 1994. Os dois centros oferecem
cursos de aprimoramento para clínicos-gerais. “Só assim conseguimos ga-
rantir a assistência a um número maior de pessoas”, diz a coordenadora do
programa Reine Marie Fonseca. O próximo centro será montado até 2002,
em Porto Alegre, para cuidar de crianças com a doença. “O objetivo é educar
pais e filhos”, informa o médico Balduíno Tschiedel, futuro diretor da casa.

Problema de gente grande

Istoé, 28 de julho de 2001 Já se foi o tempo em que criança saudável era gordinha e bochechuda. O
índice de obesidade na infância cresce no mundo todo, alarmando os profissio-
nais de saúde. Para a nutricionista canadense Leslie Beck, que esteve no Brasil
para participar do III Congresso Mundial de Nutrição em Pediatria, realizado
em São Paulo recentemente, já se pode falar em epidemia. “No Canadá, 25%
das crianças estão nessa situação. Falta informação a respeito da gravidade
de ser obeso nessa fase da vida”, revela. No Brasil, não há estatísticas, mas os
234 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 04 (2001)

Continuação especialistas garantem que o problema afeta países ricos e em desenvolvimen-


to, ocorrendo até mesmo em regiões pobres. “Isso é o mais grave. Temos crian-
ças obesas e ao mesmo tempo mal nutridas”, afirma o endocrinologista Luis
Calliari, da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.
Ainda não se sabe exatamente qual será o impacto do aumento da obesida-
de infantil no futuro. Mas já se calcula que o número de adultos com compli-
cações cardíacas será alarmante. A incidência de outras doenças pode ser
agravada. “Com a facilidade de se engordar que existe hoje, é bem provável
que daqui a algum tempo muitos adolescentes façam de tudo para emagrecer,
podendo sofrer de bulimia (compulsão repentina de ingerir grande quantida-
de de comida, seguida de indução de vômito) e anorexia (a pessoa se imagi-
na acima do peso e deixa de se alimentar)”, explica o psiquiatra José Eduar-
do Neves, especialista em transtornos alimentares.
Um indicador de que o mal merece atenção é que a Organização Mundial
de Saúde mostrou em 2000 que, pela primeira vez na história, a população
mundial de obesos é maior do que a de desnutridos. Um dos motivos disso é
a má alimentação. Dentro e fora de casa. Estudo recente feito pelo Instituto
Sodexho perguntou a crianças de 11 países, inclusive o Brasil, se elas comem
o que querem na escola: 68,8% responderam sim. Em 1960, esse índice foi
de 18,2%. Como é fácil imaginar o que os alunos gostam de comer no inter-
valo das aulas, o dado sugere que a dieta dos pequenos está perdendo quali-
dade. A inatividade é outra vilã. Devido à violência nas ruas, por exemplo, as
crianças saem menos de casa, o que restringe brincadeiras como pega-pega,
que serviam para exercitá-las.
Mas não adianta encher a geladeira de frutas e obrigar a criança a fazer
natação sem tentar descobrir a razão da engorda exagerada. Muitas vezes, a
questão é complexa. “A gula excessiva pode ser causada por problemas com
a família. Isso tem de ser pesquisado para que o tratamento seja adequado”,
ressalta Marina Gomes, professora de psicologia da PUC de São Paulo. Ela
diz ainda que não se deve diferenciar o cardápio do filho que está gordinho
ou proibir alimentos. O certo é equilibrar a dieta da família.
Para evitar o problema, a saída é a prevenção. A nutricionista Claudia
Juzwiak, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), diz que a criança
deve aprender mais sobre nutrição. “Precisa ser um esforço conjunto da es-
cola, dos pais e do governo.” A Unifesp, por exemplo, tem um ambulatório
especializado em obesidade infantil, formado por nutricionistas, pediatras,
psicólogos e professores de educação física. “Os jovens têm chance de divi-
dir os medos e as angústias. É uma luta conjunta”, conta Tarsila Andrade,
psicóloga da equipe.

Prefeitura vai mandar remédios pelo correio


O DIA
O Dia, 30 julho de 2001
Com receita na mão e esperança de cura, os pacientes dos postos de saúde
do Rio encontram, em vez de remédios, prateleiras vazias. E não há distin-
ção: faltam desde medicamentos simples, como o xarope Salbutamol, para
bronquite, até o Nifedipina, usado no controle da pressão arterial. Os mais
atingidos são os inscritos no Programa de Saúde de Hipertensão e Diabetes,
que fazem tratamento contínuo. “Só ganho R$ 180 de aposentadoria. Muitas
vezes, fico sem tomar o remédio e passo mal. Mas não posso comprar e no
posto não tem”, conta a hipertensa Josefa dos Santos Guimarães, 51 anos,
que se trata no Posto de Saúde Dr. Aloísio Amâncio da Silva, em Santa Cruz.
Resignado, o secretário municipal de Saúde Ronaldo Cezar Coelho admite o
problema e anuncia que, até o fim do ano, hipertensos e diabéticos receberão
seus remédios em casa, pelo Sedex. As embalagens vão ser diferenciadas e
O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 04 (2001) 235

Continuação com código de barras.


“Nossa rede de distribuição não é informatizada, ficamos sem controle. O
mesmo remédio que sobra em um posto, falta em outro”, explicou Ronaldo.
Além disso, o deputado Rodrigo Maia (PFL) deverá apresentar na Câmara
Federal um projeto de Lei que torne o desvio de remédios da prefeitura crime
inafiançável.
Segundo presidente da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa,
deputado Paulo Pinheiro (PT), o problema está na distribuição dos remédios.
“A compra é feita, mas o sistema está mal administrado. Enquanto isso, as
pessoas se arriscam e desistem do programa”, reclamou. Por iniciativa da
comissão, há um mês o problema está sendo apurado pelo Ministério Público
Estadual. Segundo dados da comissão, ano passado, dos 341.055 inscritos no
Programa de Hipertensão, 95.322 abandonaram o tratamento. Já dos 36.043
participantes do Programa de Diabetes, só 20.019 conseguiram receber me-
dicamento. Como resultado, as emergências acabam lotadas de doentes em
crises agudas. “O custo para o governo se torna muito maior”, explica Paulo.

Insulina em cápsulas

O Estado de São Paulo, Pesquisadores israelenses terminaram, com sucesso, a primeira experiên-
10 de agosto de 2001 cia médica com cápsulas de insulina para reduzir o nível de açúcar no san-
gue, o que pouparia os diabéticos de terem de aplicar injeções. Uma equipe
de cientistas do Hospital Hadas Ein Karem, de Jerusalém, ministrou cápsulas
de insulina a 12 voluntários não-diabéticos. O nível de açúcar no sangue
dessas pessoas baixou 30 minutos depois da ingestão do medicamento via
oral. A equipe concluiu o estudo preliminar sobre a influência dos comprimi-
dos de insulina, que foram desenvolvidos em Nova Iorque. O sucesso do
experimento aumenta a possibilidade de que milhões de diabéticos no mundo
possam trocar as injeções de medicamento pelo método indolor.
238 Diabetes Clínica 04 (2001)

Avanços terapêuticos e tecnológicos

Stephen Clement et al., 61st Resultados positivos nos estudos de fase II da insulina oral
Annual Scientific Sessions
of the American Diabetes A insulina via oral hexyl-insulin monoconjugate 2 (HIM2) parece ser se-
Association, Philadelphia, gura e bem tolerada em pacientes adultos portadores de diabetes de tipo 1 e 2,
Pennsylvania, de acordo com 3 novos estudos.
22-26 de junho de 2001 HIM2, desenvolvida por Nobex Corp., é o último produto que participa à
corrida para produzir um sistema de administração de insulina que não preci-
sa de injeções subcutâneas ou intramusculares. O produto, atualmente em
estudos de fase II, foi criado anexando oligômeros poliméricos em lugares
selecionados da molécula de insulina e é resistente à degradação enzimática
no intestino.
O estudo conduzido por Stephen Clement sobre 18 pacientes portadores
de diabetes de tipo 1, sugere que a administração via oral de IM2 reproduz o
esquema fisiológico da insulina, agindo sobre a glicose periférica, a glicose
hepática e sua utilização. Os pacientes não parecem ser expostos a níveis
periféricos excessivos de insulina.
Apesar do que esta insulina seja bem tolerada e aumenta a aderência ao
tratamento, as formas não-injetáveis de proteínas têm sido tradicionalmente
criticadas para não oferecer biodisponibilidade suficiente de insulina.
O controle glicêmico pós-prandial similar ao da administração subcutâne-
as de 8UI de insulina foi mostrado em 18 pacientes portadores de diabetes de
tipo 2 que receberam 1,0 mg/kg HIM2 antes de uma refeição padrão em um
estudo randomizado dirigido por Mark Kipnes, do Diabetes and Glandular
Disease Clinic, San Antonio, Texas.
Mas, em um estudo sobre 15 pacientes portadores de diabetes de tipo 1
recebendo aplicações de insulina por injeções e terapia com HIM2, Paresh
Dandona, State University of New York, Buffalo, observou que resposta hipo-
glicêmica é mais importante em pacientes tratados com doses maiores da
proteína via oral.
Duas outras insulinas via oral estão em fase de experimentação: Generex
Biotechnology Corporation com uma formulação liquida para administração
via aerosol (fase II/III) e Pfizer com um pó seco de insulina por administra-
ção via inalação, esperando a aprovação nos Estados Unidos ainda este ano.
240 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2001)

Russell O Potts, 61st Annual Detecção da hiperglicemia pós-prandial usando GlucoWatch


Scientific Sessions of the American Biographer
Diabetes Association, Philadelphia,
Pennsylvania, Hiperglicemia é uma complicação aguda comum do diabetes difícil de ser
22-26 de junho de 2001 detectada pelos métodos convencionais. O GlucoWatch Biographer, aprova-
do pela Food and Drug Administration (FDA) em março de 2001, permite
uma leitura automática, não-invasiva e freqüente dos níveis de glicose.
O estudo observou os resultados do uso em casa do Biographer em 111
pacientes diabéticos durante 5 dias. Testes de glicose sanguínea foram efetu-
ados a cada hora, com um total de 3060 medições. Sobres os 947 períodos
pós-refeições, 456 (47%) apresentaram glicose sanguínea 200 mg/dl e 238
(24) 250 mg/dl. Para avaliar a performance do Biographer, os resultados
foram analisados usando uma definição da hiperglicemia com 300 mg/dl.
Vários níveis de alerta foram determinados: por exemplo, com um nível de
alerta a 270 mg/dl, o Biographer tem uma sensibilidade (resultado positivo
verdadeiro) de 79% e uma taxa de falso positivo de 6%. Esses resultados
confirmam que a hiperglicemia ocorre freqüentemente em indivíduos diabé-
ticos e é ignorada pelos testes pré-refeições convencionais; e taxa elevada de
detecção de hiperglicemia pode ser atingida com o Biographer. Utilizar o
GlucoWatch Biographer combinado com os testes convencionais de sangue
de dedo garante uma avaliação ótima ao paciente diabético.
“A capacidade do GlucoWatch Biographer para monitorar os níveis de
glicose três vezes/hora, bem com a sua capacidade de ajustar os níveis de
alerta, oferece ao paciente e à equipe de saúde mais informações sobre as
variações das taxas de glicose e, quando utilizado com parte de um progra-
ma de monitoramento, ajuda na tomada de decisão sobre o melhor trata-
mento possível”, segundo John Buse, diretor do Diabetes Care Center de
Chapel Hill, North Carolina, e membro da comissão da American Diabetes
Association que examinou a contribuição da hiperglicemia pós-prandial nas
complicações do diabetes a longo prazo.

Enzo Bonora et al., 61st Annual Rosiglitazona pode diminuir o risco cardiovascular em 30%
Scientific Sessions of the American
Diabetes Association, Philadelphia, A rosiglitazona (Avandia) da GlaxoSmithKline poderia reduzir em 30% o
Pennsylvania, risco de desenvolvimento de complicações cardiovasculares segundo três
22-26 de junho de 2001 novos estudos.
Dois estudos de terapia combinada de 26 semanas avaliaram os efeitos de
rosiglitazona associada a sulfoniluréia ou metformina comparados com tera-
pia única sobre a resistência à insulina. Os resultados mostraram que dimi-
nuições significativas da resistência à insulina foram obtidos só com rosigli-
tazona combinada a sulfoniluréia ou metformina.
O terceiro estudo demonstrou uma diminuição significativa da resistên-
cia à insulina com o tratamento de rosiglitazona comparado a glibenclami-
da. “O que é importante é que a resistência à insulina é associada aos
fatores de risco cardiovasculares, e a resistência à insulina parece ser ela
mesma o maior fator de risco independente da doença cardiovascular”,
disse Bonora. “Baseando-se sobre esses dados e estudos anteriores, pode-
mos antecipar que a diminuição da resistência à insulina poderia ter con-
seqüências benéficas para as complicações cardiovasculares, reduzindo o
risco em 25 ou 30%”, disse.
242 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2001)

Gary TC Ko et al., Clin Drug Invest Adição de acarbose tão efetiva quanto a insulina depois da
2001; 21: 401-408, junho de 2001 falência dos hipoglicemiantes orais

A adição de acarbose ao regime convencional de hipoglicemiantes orais


depois da falência do regime original é tão efetivo quanto a insulina noturna
na redução da hemoglobina glicosilada (HbA1c).
30 pacientes chineses portadores de diabetes tipo 2 foram randomizados
para receber insulina noturna e 27 acarbose depois do tratamento com sulfo-
niluréia acrescida ou não de metformina, depois da falência em reduzir a
HbA1c a menos que 9,0%.
A acarbose foi iniciada a 50 mg/dia por 2 semanas, e então aumentada
para 100 mg. A insulina foi iniciada em 6 U noturnas e então aumentada em
2 a 4 U quatro semanas após.
Aos 3 meses e 12 meses, a acarbose e a insulina foram similares em por-
centagem de redução da HbA1c em relação à linha base. Na última avalia-
ção, HbA1c < 8,5% foi alcançada em 33,3% e 46,7% dos dois grupos, res-
pectivamente, com diferença não significativa (p = 0,419).
Tanto o grupo da insulina quanto o da acarbose melhoraram significativa-
mente a glicemia de duas horas em três meses, ainda que só em pacientes
tratados com insulina os níveis tenham continuado a cair em 12 meses.
Cinco pacientes tratados com acarbose interromperam o tratamento devi-
do à flatulência, cólicas e diarréia e um devido à creatinina plasmática eleva-
da. Nenhum episódio de hipoglicemia grave ocorreu nos grupos.
Os autores concluem que a adição de acarbose ao tratamento oferece alter-
nativa razoável, pelo menos em curto prazo, em pacientes com falência dos
hipoglicemiantes orais e não aptos ao tratamento com insulina.

H Cavaliere, I Floriano, G Medeiros- Os efeitos gastrintestinais adversos do orlistat podem ser prevenidos
Neto, Hospital das Clínicas, USP São pelo uso concomitante de fibras naturais (psílio mucilóide)
Paulo, International Journal of Obesity
2001;25:1095-1099 Objetivo: Estudo aberto controlado por placebo desenhado para observar
se a maioria dos eventos adversos induzidos pelo tratamento dos pacientes
obesos por orlistat (inibidor da lipase gastrintestinal) pode ser prevenida ou
melhorada pelo uso concomitante de fibras naturais (psílio mucilóide).
Desenho: Dois grupos de mulheres obesas (IMC > 27 kg/m2) foram trata-
dos por orlistat 3 vezes ao dia. O grupo A (n = 30) foi randomizado para
receber orlistat e aproximadamente 6g de psílio mucilóide aromatizado com
laranja dissolvidos em água e o grupo B (n = 30) recebeu orlistat e um place-
bo aromatizado (laranja). No final do estudo de 30 dias e após 2 semanas de
eliminação completa, o grupo A mudou para placebo e o grupo B recebeu
orlistat + psílio.
Pacientes: 60 mulheres com idade > 21 anos e IMC entre 27,3 e 48 kg/m2,
sem nenhum outro tratamento.
Medições: A avaliação incluiu consultas semanas com o médico, preenchi-
mento de um questionário com eventos gastrintestinais detalhados, medições
mensais do peso corporal, pressão sanguínea e lípides plasmáticos. A freqüên-
cia e a importância dos eventos gastrintestinais foram avaliadas usando um
sistema de escore, baseado em informações fornecidas pelas pacientes.
Resultados: Ambos os grupos A e B perderam peso significativamente (p
< 0,01) após 60 dias de orlistat (A = 96,8 para 94,9 kg e B = 98,7 para 96,5
kg). Os valores do IMC diminuíram em ambos os grupos. Enquanto que no
grupo orlistat + psílio (grupo A), a média DP dos escores de eventos gastrin-
testinais foi 13,0 ± 1,8, o grupo orlistat + placebo apresento o valor de 35,9 ±
244 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2001)

Continuação 2,7 (p < 0,01). Na situação invertida, o grupo placebo apresentou um resulta-
do de 36,1 ± 3,6 e o grupo psílio 8,9 ± 1,5 (p < 0,01).
Conclusões: O psílio hidrófilo mucilóide prescrito concomitantemente a
pacientes obesos recebendo 120 mg de orlistat 3 vezes ao dia é tratamento
complementar eficaz e seguro para ajudar a controlar os efeitos gastrintes-
tinais desse inibidor da lipase pancreática.

Barcelona, fevereiro de 2001 O tungstênio pode revolucionar o tratamento do diabetes

Há 6 anos, o departamento de pesquisa da Bayer está desenvolvendo um


projeto de pesquisa em colaboração com a Universidade de Barcelona sobre os
efeitos normoglicemiantes do tungstênio sódico no diabetes mellitus. Os pri-
meiros estudos pré-clínicos, tanto no diabetes tipo 1 como do tipo 2, mostram
vantagens significativos desse composto sobre os agentes antidiabéticos orais,
mostrando um mimetismo importante da ação da insulina e a capacidade de
aumentar o número de células pancreáticas, características que conferem ao
tungstênio propriedades hipoglicemiantes. Outra característica importante do
tungstênio sódico é a ausência de hipoglicemia em animais saudáveis tratado
com o produto, evitando assim um dos principais problemas do tratamento
com insulina, junto com a via de aplicação: o choque hipoglicêmico.
De acordo com o Dr R. Gomis, “o tratamento com tungstênio sódico nor-
maliza os níveis de glicose no sangue e de insulina plasmática, aumenta o
nível de insulina nas ilhotas e a população de células b. Esse aumento mani-
festa-se também depois do que o tratamento tenha recuperado a população
em células b de maneiro estável”, explicou ele no simpósio sobre íons metá-
licos no Congresso da Associação Européia de Diabetes (EASD).

William Insull et al., Francine V Van Atorvastatina diminui LDL-colesterol e triglicérides em


Venrooij et al., 61st Annual Scientific pacientes diabéticos de tipo 2
Sessions of the American Diabetes
Association, Philadelphia, Os resultados de dois estudos sobre a atorvastatina demonstraram uma dimi-
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 nuição dos níveis de LDL-colesterol e triglicérides em pacientes portadores de
diabetes de tipo 2. No estudo ASSET (Atorvastatin versus Simvastatin Safety
and Eficcacy Trial), os dados a longo prazo mostraram que atorvastatina diminui
significativamente o LDL-colesterol (p < 0,0001). O estudo mostrou também
que o grupo atorvastatina tem uma maior redução dos níveis de triglicérides do
que os pacientes tratados por sinvastatina. As diminuições eram maiores quando
os níveis iniciais de triglicérides estavam mais elevados. O estudo ASSET in-
cluiu 674 pacientes diabéticos de tipo 2 com dislipidemia, que foram randomiza-
dos para receber atorvastatina 10 mg ou sinvastatina 10 mg.
Os resultados do estudo DALI (Diabetes Atorvastatin Lipid Intervention)
mostraram que atorvastatina 10 mg ajuda pacientes com diabetes e dislipide-
mia para atingir os objetivos de tratamento de colesterol e triglicérides reco-
mendados pela American Diabetes Association. O estudo mostrou que ator-
vastatina 80 mg pode realizar redução adicional quando necessário.
Atorvastatina 10 mg e 80 mg diminuem significativamente os níveis de
triglicérides em 25% e 35%, respectivamente, versus diminuição de 10% no
grupo placebo. As recomendações de tratamento da American Diabetes As-
sociation para triglicérides foram atingidas em 75% dos pacientes tratados
por atorvastatina. Os 197 pacientes do estudo Dali controlado por placebo
foram randomizados para comparar a diminuição agressiva dos lípides com
um tratamento padrão. Os pacientes diabéticos de tipo 2 receberam atorvas-
tatina 10 mg, atorvastatina 80 mg ou placebo.
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2001) 245

Continuação As recentes recomendações da ADA preconizam que os médicos tratem o


colesterol elevado em pacientes diabéticos de tipo 2 de uma forma tão agres-
siva do que no tratamento da doença arterial coronariana.
Foi demonstrado em estudos clínicos que atorvastatina produz diminuição
de LDL-colesterol em 39-60% com dose de 10 mg a 80 mg em pacientes com
colesterol elevado. Com a mesma dosagem, as diminuições das triglicérides
foram reportadas entre 19 e 37%. Estudos sobre o efeito da atorvastatina
sobre aterosclerose e morbidade cardiovascular estão em andamento.

Washington, 22 de junho de 2001 FDA aprova una nova tira de teste de glicose da Abbott

Abbott Laboratórios anunciou que recebeu aprovação da Food and Drug Ad-
ministration (FDA) dos Estados Unidos para distribuir a tira de teste de monito-
rização da glicose que pode fornecer resultados mais exatos, diminuindo as in-
terferências de remédios comuns. Esta quinta geração de teste foi desenhada
para identificar níveis de glicose sem interferência de mais de 60 drogas co-
muns e suplementos, incluindo produtos como vitamina C ou acetaminofeno.
O teste usa um desenho de 3 eletrodos que ativa o processo de teste só quan-
do a amostra de sangue colocada na tira é suficiente, o que diminui o risco de
falsa leitura. Os pacientes podem também acrescentar uma segunda amostra na
mesma tira, se precisar, e não usar uma nova tira. A quantidade de sangue
necessária para a leitura fica pequena e o resultado é disponível em 20 segun-
dos. Essa nova tira foi desenhada para ser utilizada nos glicosimetros Precision
Xtra/Medisense e outros sistemas de Abbott ou de sua filial Medisense.

Philip Raskin et al., 61st Annual Terapia conjugada de repaglinida e sensibilizadores a insulina
Scientific Sessions of the American melhora o controle da glicose sanguínea
Diabetes Association, Philadelphia,
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 Resultados de dois recentes estudos mostraram que a terapia combinada
de repaglinida com um sensibilizador à insulina melhora o controle glicêmi-
co melhor do que cada droga em tratamento único. A repaglinida, em terapia
combinada com rosiglitazona ou pioglitazona diminui os níveis de HbA1c,
indicador do controle glicêmico a longo prazo. Atualmente repaglinida é apro-
vada por terapia conjugada com metformina.
Ambos os estudos multicêntricos usaram um desenho randomizado, aber-
to, com voluntários diabéticos de tipo 2 com controle glicêmico insuficiente
(valores de HbA1c > 7%) com monoterapia anterior com metformina ou sul-
foniluréia.
No primeiro estudo, participantes receberam uma terapia combinada de re-
paglinida e rosiglitazona, ou cada droga em tratamento única, durante 24 sema-
nas. A terapia combinada diminuiu os níveis de HbA1c em 1,4% o que é signi-
ficativamente melhor do que os 0,22% ou os 0,53% obtidos com a monoterapia
de repaglinida e de rosiglitazona, respectivamente. (p < 0,001). As diminuições
médias da glicose plasmática de jejum foram também significativamente mai-
ores com a terapia combinada em comparação com as monoterapias (p < 0,05):
91 mg/dl (5,1 mmol/l) para a terapia combinada versus 58 mg/dl (3,2 mmol/l)
para repaglinida e 62 mg/dl (3,4 mmol/l) para rosiglitazona.
Usando o mesmo desenho, o segundo estudo comparou a terapia combi-
nada de repaglinida e pioglitazona ou cada uma das drogas em monoterapia.
A terapia combinada atingiu diminuições significativamente maiores dos ní-
veis de HbA1c em comparação com a repaglinida ou a pioglitazona em mo-
noterapia: Diminuição de 1,8% versus diminuição de 0,16% e aumento de
0,24%, respectivamente (p < 0,001). Como no primeiro estudo, as diminui-
246 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2001)

Continuação ções médias da glicose plasmática de jejum foram maiores no grupo da tera-
pia combinada do que no grupo de monoterapia (p < 0,001): 86 mg/dl (4,8
mmol/l) para a terapia combinada versus 28 mg/dl (1,6 mmol/l) para a repa-
glinida e 35 mg/dl (1,9 mmol/l) para a rosiglitazona.
Nos dois estudos, mais pacientes interromperam o tratamento devido à
ineficácia nos grupos de monoterapia (18% para repaglinida, 20% para rosi-
glitazona e 50% para pioglitazona) do que nos grupos de terapia combinada
(2 e 5% para repaglinida + rosiglitazona e repaglinida + pioglitazona, respec-
tivamente). Em todos os grupos, aproximadamente 10% dos pacientes inter-
romperam o tratamento por causa dos efeitos adversos.

Irwin Goldstein et al., 61st Annual Vardenafil mostra resultados positivos na função erétil em
Scientific Sessions of the American homens diabéticos
Diabetes Association, Philadelphia,
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 Os primeiros resultados de fase III para o vardenafil, novo tratamento da Bayer
para melhorar a função erétil, mostrou melhoras estatisticamente significativas
em homens portadores de diabetes, uma das populações as mais difíceis para
tratar. Os homens diabéticos têm geralmente três vezes mais distúrbios da função
erétil do que as outras populações por causa das complicações da doença.
Neste estudo controlado por placebo com 452 participantes, 72% dos pa-
cientes do grupo vardenafil 20 mg reportaram uma melhora significativa da
função erétil em comparação com os 13% do grupo placebo. Em mais, 64%
dos participantes do estudo reportaram ereções suficientes para penetração,
comparado com 36% do grupo placebo. 54% conseguiram manter ereções o
suficiente para o ato sexual completo, versus 23% no grupo placebo.
O estudo incluiu 452 homens, de idade de 18 anos e mais, com diabetes
mellitus tipo 1 e 2 e diminuição moderada a severa da função erétil desde 6
meses ou mais. Os pacientes foram randomizados em três grupos para rece-
ber vardenafil 10 mg ou 20 mg ou placebo. Os dados do grupo 10 mg mostra-
ram também resultados positivos com uma taxa de respostas positivas de
57%, em comparação com os 13% do grupo placebo.

Department of Pediatrics and Cell Metformina poderia diminuir o ganho de peso e a resistência à
Biology at Duke University in Durham, insulina em crianças obesas
North Carolina Pediatrics,
abril de 2001 Em razão da epidemia de obesidade, a doença antigamente chamada de
diabetes do adulto não merece mais esse nome. O diabetes de tipo 2 atinge
agora todas as classes de idade. Para os adolescentes portadores de diabetes
de tipo 2, uma droga poderia interromper o ciclo de ganho de peso e de resis-
tência à insulina que conduz à doença. Segundo este estudo, a metformina
poderia ser um complemento da dieta e do exercício e diminuir o risco de
diabetes de tipo 2 em pacientes selecionados.
Metformina, que faz o corpo mais sensível à insulina, foi utilizado neste
estudo no qual participaram 29 adolescentes negros e brancos de 12-19 anos.
Todos os pacientes apresentavam sobrepeso, com IMC > 30. Eles receberam
metformina 500 mg duas vezes/dia ou placebo durante 6 meses.
O grupo metformina mostrou uma diminuição de 1,3% do IMC e o grupo
placebo um aumento de 2,3%. Em mais, metformina diminuiu a glicose plas-
mática de jejum de 84,9 mg/dl para 75,1 mg/dl, enquanto que no grupo con-
trole a glicose aumentou de 77,2 mg/dl para 82,3 mg/dl. A sensibilidade à
insulina cresceu no grupo metformina. HbA1c não foi alterada em nenhum
dos grupos. Metformina foi responsável de diarréia em 40% do pacientes
tratados, sem episódios de vômito ou de cetoacidose.
Diabetes Clínica 04 (2001) 247

Produtos e novidades
Medição de glicose no sangue com One Touche Basic Plus de
Lifescan

Lifescan (Johnson & Johnson) lança um novo sistema de automonitoriza-


ção da glicose, o One Touche Basic Plus. O paciente insere em primeiro a
fita, pois aplica a gota de sangue no lugar definido. Após 45 segundos, o
resultado aparece na tela. A visualização é simples e o sistema possui uma
memória de 75 medições com data e hora, permitindo assim ao paciente de
avaliar melhor o seu controle glicêmico.
O One Touch Basic Plus é disponível no Brasil a partir do início de setem-
bro 2001.

 !

Proteína vegetal: massa de soja Soj & Tal

A Beijing Brasil (São Paulo) está lançando a massa de soja Soj & Tal,
massa fresca feita com grãos selecionados de soja não transgênica. Apesar do
que o Brasil seja o segundo maior produtor mundial da soja, este produto é
mais consumido nos países asiáticos, na forma de tofu, shoyu ou macarrão. A
Beijing Brasil imaginou uma linha de produtos para preparar uma variedade
de pratos à base de soja, tais como talharim, lasanha, saladas ou macarrão.
As proteínas vegetais da soja, bem como os elementos que ela contém
(isoflavonas), trazem benefícios à saúde, em particular para melhorar os sin-
tomas da osteoporose, da menopausa, do diabetes e para diminuir as taxas de
colesterol no sangue.
250 Produtos e Novidades – Diabetes Clínica 04 (2001)

Hiperglicemia pós-prandial: fatos, riscos e tratamento com


acarbose

Esta monografia sobre a hiperglicemia pós-prandial e acarbose, do Prof.


Dr. Goldberg Eliaschewitz, Chefe do Departamento de Endocrinologia do
Hospital Heliópolis (São Paulo), editado pelo laboratório Bayer, trata de to-
dos os aspectos da hiperglicemia pós-prandial e de sua relação com a morta-
lidade cardiovascular. Este relativamente novo parâmetro do controle glicê-
mico ocupa hoje um lugar importante na etiopatogenia das complicações di-
abéticas e seu tratamento é cada dia mais justificado. Neste quadro, a acarbo-
se e seu modo de ação original, é uma medicação importante da hiperglice-
mia pós-prandial bem como dos distúrbios lipídicos do diabetes.

InDuo: monitorização da glicose e dosagem de insulina no


mesmo sistema

NovoNordisk e Lifescan (Johnson & Johnson) estão anunciando o lança-


mento mundial de um novo sistema de monitorização, o Induo, que apresenta
a característica de integrar no mesmo sistema duas atividades fundamentais
da vida do paciente diabético, o controle da glicemia e a aplicação de insuli-
na. Com InDuo, o paciente faz as medições clássicas, pode avaliar o controle
glicêmico pela memória do sistema, lembrar a data e voluma da última apli-
cação de insulina, e, afinal, aplicar a dose necessária e suficiente. Um estudo
feito pelos fabricantes mostra que o tempo necessário para memorizar e usar
todas as funções de InDuo é aproximadamente de 15 minutos. InDuo não é
ainda disponível no Brasil.
252 Diabetes Clínica 04 (2001)

Resumos de trabalhos e congressos

Paulo R Cesarini, Vânia Fernandes, Impacto diferente da obesidade sobre a sensibilidade à insulina
Fabiola E. Garcia, Sergio A Dib, São em adolescentes com ou sem histórico familiar de diabetes de
Paulo, 61st Scientific Sessions of tipo 2
American Diabetes Association,
Philadelphia, Pennsylvania, 22-26 de Qualquer seja o método para classificar a obesidade, os estudos reportam
junho de 2001 uma prevalência elevada de obesidade e as taxas estão aumentando. Em cri-
anças e adolescentes, obesidade aumentou em quase 50% nas duas últimas
décadas. Sabe-se que obesidade é correlacionada à resistência à insulina no
desenvolvimento do diabetes de tipo 2. Mas o histórico familiar poderia alte-
rar o impacto da obesidade sobre a sensibilidade à insulina. Comparamos a
sensibilidade à insulina em três grupos de adolescentes normoglicêmicos: o
primeiro grupo não tinha histórico familiar (HF) de diabetes (HF-, n = 127),
o segundo grupo tinha HF de diabetes de tipo 1 (HF+tipo1, n = 49), e o
terceiro grupo tinha HF de diabetes de tipo 2 (HF+tipo2, n = 129). Cada um
desses três grupos foi subdivido em normal (N) e obeso (O). A sensibilidade
à insulina (SI) e a função da célula β foram avaliadas pelo índice HOMA
(homeostasis model assessment). Os dados foram expressos como média com
intervalo de confiança de 95%. A comparação entre N e O em cada grupo
mostrou:
- No grupo NHF- n = 108 vs OHF- n = 19, idade, glicose plasmática de
jejum, insulina plasmática de jejum, SI e função celular equivalentes, mas
IMC diferente, como esperado [18,1 (17,8-18,4) kg/m2 vs. 24,6 (23,4 –25,4),
p < 0,0001].
- No grupo NHF+ tipo 1 n = 40 vs. OHF+ tipo 1 n = 9, idade, glicose
plasmática de jejum, insulina plasmática de jejum, SI e função celular equi-
valentes, mas IMC também diferente [18,9 (18,0-19,1) kg/m2 vs. 24,6 (23,4 –
25,4), p < 0,0001].
O grupo OHF+ tipo 2 n = 29 era mais jovem [11,7 (11,6-12,40 anos vs.
12,6 (12,4-12,8), p = 0,004], tinha glicose plasmática de jejum equivalente
[92,0 (90,2-93,4) mg/dl vs. 90,1 (88,0-93,80], mas IMC maior [23,8 (24,5-
27,90kg/m2 vs. 18,5 (18,1-18,9), p < 0,001; insulina plasmática de jejum
[20,2 (16,3-24,5) microU/ml vs. 13,7 (12,9-15,2), p < 0,0001]; função celu-
lar β [44,7 42,1-56,2% vs. 36,9 (35,1-39,6), p = 0,0015] e SI menor [255
(213-317)% vs. 380 (334-395), p = 0,00016] do que NHF+ tipo 2. O impacto
da obesidade na diminuição da sensibilidade à insulina foi aumentado no
grupo de adolescentes com HF+ tipo2 e não significativo nos grupos HF- ou
HF+ tipo1. Nossos resultados preliminares sugerem uma interação em HF
positivo de diabetes tipo 2 e obesidade sobre a resistência à insulina em ado-
lescentes aparentemente saudáveis.
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 04 (2001) 253

Bruno Geloneze, José C Pareja, Enrico Perfil lipídico em pacientes portadores de diabetes de tipo 2 após
M Repetto, Luis A Magna, Marcos A cirurgia bariátrica
Tambascia, Campinas, SP, 61st
Scientific Sessions of American Introdução: Obesidade e diabetes de tipo 2 são correlacionados com alte-
Diabetes Association, Philadelphia, rações qualitativas e quantitativas em lipoproteínas plasmáticas. VLDL e tri-
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 glicérides são elevadas, e HDL-colesterol diminui. A coexistência da obesi-
dade e do diabetes potencializa a dislipidemia, com aumento adicional do
LDL-colesterol e do colesterol total. Vários estudos mostraram a melhora
dessas anormalidades após perda de peso. Esses efeitos podem ser relaciona-
dos a alterações na sensibilidade à insulina.
Objetivo: Observar os efeitos da perda massiva de peso induzida pela ci-
rurgia bariátrica sobre o perfil lipídico de pacientes diabéticos obesos e suas
relações com alterações da sensibilidade à insulina.
Material e métodos: 10 pacientes diabéticos obesos foram submetidos à
cirurgia bariátrica (gastroplastia vertical com bypass gástrico Y-Roux – téc-
nica de Capella). O perfil lipídico foi determinado e a sensibilidade à insulina
estimada por HOMA (homeostasis model assessment) no início, 6 e 12 me-
ses após cirurgia.
Resultados: Uma redução massiva de peso de 70% do excesso de peso
corporal foi observada, seguida de uma diminuição significativa de todos os
parâmetros lipídicos avaliados.

Início 6 meses 12 meses


IMC (kg/m2) 54,1 ± 8,7 40,6 ± 7,6 35,5 ± 6,1
Colesterol total (mmol) 5,77 ± 0,93 5,38 ± 1,09 5,15 ± 0,80
LDL-C (mmol) 3,83 ± 0,90 3,62 ± 0,85 3,26 ± 0,70
HDL-C (mmol) 1,09 ± 0,28 1,14 ± 0,21 1,34 ± 0,28
Triglicérides (mmol) 4,24 ± 0,98 3,26 ± 0,77 2,82 ± 1,21
HOMA-IR 25,0 ± 18,7 4,2 ± 0,9 3,2 ± 1,1

O modelo de regressão linear mostrou correlações entre o índice de sensi-


bilidade à insulina HOMA-IR e HDL-colesterol (r = -0,34, p = 0,038), e com
as triglicérides (r = 0,73, p < 0,001). Não há correlações entre colesterol total
e LDL-Colesterol com HOMA-IR, apesar da diminuição significativa de seus
níveis.
Conclusões: Apesar do que a redução de peso melhorou o perfil lipídico,
só HDL-colesterol e triglicérides foram correlacionados com alterações da
sensibilidade à insulina. A técnica cirúrgica conduz a perda massiva de
peso com melhora do perfil lipídico dessa população diabética por vários
mecanismos, incluídos a melhora da sensibilidade à insulina.

Walkyria P Pimenta, Maria L Santos, Disfunção da célula β com sensibilidade normal à insulina em
Flávio F Aragon, Carlos R Padovani, brasileiros brancos com diminuição da tolerância à glicose
61st Scientific Sessions of American
Diabetes Association, Philadelphia, O diabetes mellitus de tipo 2 é o resultado da diminuição da secreção de
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 insulina e da resistência à insulina. O qual desses fatores é a primeira anor-
malidade genética é ainda desconhecido. O desenvolvimento do diabetes de
tipo 2 pode ser considerado como um processo evoluindo em três etapas:
Tolerância normal à glicose, diminuição da tolerância à glicose, diabetes.
Para determinar se a diminuição da secreção de insulina ou a resistência à
insulina é correlacionada a um defeito genético, estudamos indivíduos brasi-
leiros brancos com diminuição da tolerância à glicose, o que significa com
risco elevado de desenvolver diabetes, mas sem toxicidade à glicose. Pela
técnica do clamp hiperglicêmico (180 mg/dl por 180 minutos), comparamos
254 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 04 (2001)

Continuação as primeiras e segundas fases de secreção de insulina e a sensibilidade à


insulina (taxa de infusão de glicose dividida pela insulina plasmática durante
a última hora) em 20 pacientes (4 mulheres, 16 homens) com tolerância à
glicose diminuída e 20 voluntários com tolerância à glicose normal. A tole-
rância à glicose diminuída foi reduzida nas primeiras (95 ± 14 vs. 216 ± 25
microU/ml em tolerância à glicose normal, p < 0,01) e segundas fases de
secreção de insulina (47 ± 6 vs. 111 ± 30 microU/ml em tolerância à glicose
normal, p < 0,01). As taxas de infusão de glicose foram também menores em
tolerância diminuída do que em tolerância normal (5,38 ± 0,33 vs. 8,82 ±
0,65 mg/kg.min, p < 0,001) mas a sensibilidade à insulina foi semelhante em
ambos os grupos (15,0 ± 1,7 vs. 14,6 ± 2,2 mg.kg–1.min-1/microU.ml-1, em
tolerância normal à glicose). Nossos resultados indicam que nesse estagio de
desenvolvimento do diabetes de tipo 2, a secreção diminuída de insulina é
evidente mas a sensibilidade à insulina é normal. Em conclusão, em brasilei-
ros brancos, a disfunção da célula β e provavelmente o primário distúrbio
genético necessário para o desenvolvimento do diabetes de tipo 2.

Peter Kuhn, 6o Congresso Brasileiro Órteses para a prevenção das ulcerações


Multiprofissional em Diabetes,
7-9 de julho de 2001, São Paulo Muitos pacientes diabéticos não recebem orientação em relação ao pé, e as
conseqüências podem ser gravíssimas, podendo levar desde uma amputação
do pé, perna ou coxa, até a morte. O pé diabético é atacado pelas deficiências
da própria doença, que tira parcialmente ou totalmente a sensibilidade dele. Por
isso o pé diabético é um pé de alto risco: Sem sensibilidade o diabético não
sabe onde está pisando. Isto pode causar ferimentos graves: Um leve machuca-
do inflamado levará meses para curar ou até uma amputação. Por todos estes
motivos, devemos indicar a colocação de uma palmilha especial em todo pé
diabético, já com falta parcial ou total de sensibilidade, com ou sem lesão.
O princípio, na confecção de uma palmilha para pé diabético, é acomodar
o pé de uma maneira precisa ou, seja, a palmilha não pode ser uma tábua
rígida aonde o pé com sua carga normal se apóia sem respeitar nenhum ponto
em relação a sua forma. O pé é achatado exercendo muita pressão em áreas
de risco (metatarsos e calcanhar). O correto é um pé que pisa sobre a areia na
praia: Quando olhamos para traz, vemos as impressões perfeitas dos pés e
sabemos que praticamente não houve pressão excessiva em nenhuma região.
O princípio é respeitar a anatomia do pé com ou sem lesão, e empregar a
técnica da maneira mais correta possível.
Usamos uma técnica utilizando uma matéria-prima chamada espuma ex-
pansiva de poliuretano. Este material que inicialmente está em estado líqui-
do, quando se expande sob o pé exerce uma pressão natural sobre as partes
moles e com isso permite descarregar as sobrecargas nas regiões afetadas
com lesões ou mais suscetíveis a elas. A espuma expansiva de poliuretano
nos dá um molde perfeito dos pés, em todos os detalhes. Utilizando a espuma
expansiva agregada a uma tecnologia específica, podemos confeccionar uma
palmilha perfeita para o pé diabético.

Desmond E. Williams et al, Efeito de uma dieta tradicional ou tipo inglesa sobre a incidência
Diabetes Care 2001; 24:811-816, do diabetes em índios Pima
maio de 2001
Objetivo: Em estudo a curto prazo, a preferência para uma dieta tradicio-
nal é relacionada à diminuição de anormalidades metabólicas detectadas em
populações submetidas à alterações rápidas de estilo de vida. Observamos os
efeitos a longo prazo de um modelo dietético auto-avaliado tradicional ou
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 04 (2001) 255

Continuação não tradicional sobre o desenvolvimento de diabetes de tipo 2 em 165 índios


Pima não-diabéticos.
Desenho e métodos: A ingestão alimentar foi avaliada em 1988 por méto-
do quantitativo de freqüência de alimentos, e os indivíduos classificaram sua
dieta como “tradicional”, “inglesa” ou “misturada”. A dieta dos Índios dá a
preferência ao estilo Sonoran (deserto Sonoran na Arizona) e aos alimentos
tradicionais do deserto. A dieta chamada inglesa dá a preferência a alimentos
típicos das outras regiões dos Estados Unidos.
Resultados: Em mulheres, a ingestão de carboidratos complexos, de fibras,
de fibras insolúveis, de proteínas vegetais, e a proporção das calorias proveni-
entes de carboidratos complexos e de proteínas vegetais foram significativa-
mente maiores (p < 0,05) na dieta dos índios do que na dieta inglesa. A dieta
misturada era intermediária entre todos os nutrientes. Em homens, a ingestão
de todos esses nutrientes foi também mais elevada do que no grupo dieta ingle-
sa, mas não significativamente. 36 indivíduos desenvolveram diabetes (8 ho-
mens e 28 mulheres) durante os 6,2 anos do acompanhamento (intervalo 0,9 –
10,9). As taxas de incidência de diabetes foram 23, 35 e 63 casos por 1000
pessoas/ano nos grupos índio, inglês e misturado, respectivamente. Após ajus-
te para idade, sexo, IMC, e ingestão total de energia, o risco de desenvolver
diabetes foi 2,5 maior no grupo dieta inglesa (0,9-7,2 IC 95%), 1,3 maior no
grupo dieta misturada (0,6-3,3) do que no grupo dieta tradicional.
Conclusões: Este estudo sugere que a adoção de uma dieta tipo inglesa
pode aumentar o risco de desenvolver diabetes em índios Pima, mas não
fornece evidências não equívocas por ou contra essa hipótese.

Julio Rosenstock et al, Diabetes Care Comparação de tratamentos de 28 semanas com insulina
2001;24:631-636, abril de 2001 glargina ou insulina NPH

Objetivo: Determinar a eficácia e segurança da insulina de longa ação glar-


gina com a insulina NPH em pacientes diabéticos anteriormente tratados com
insulina em tratamento único.
Desenho e métodos: 518 pacientes portadores de diabetes de tipo 2 trata-
dos por insulina NPH com ou sem insulina regular para o controle pós-pran-
dial foram randomizados para receber insulina glargina uma vez/dia (n =
259) ou insulina NPH uma ou duas vezes/dia (n = 259) durante 28 semanas,
em um estudo aberto multicêntrico. As doses foram ajustadas para atingir a
meta glicose de jejum < 6,7 mmol/l. No final do estudo, a dose diária média
total de insulina nos dois grupos era 0,75 IU/kg.
Resultados: Os grupos de tratamento mostraram melhoras similares da
HbA1c no início até o final do estudo. A alteração média (média ± DP) da
HbA1c foi semelhante no grupo insulina glargina (-0,41 ± 0,1%) e no grupo
NPH (-0,59 ± 0,1%), com HbA1c média no início de aproximadamente 8,5%.
Os tratamentos foram associados a diminuições correspondentes nos níveis
de glicose de jejum. A hipoglicemia sintomática leve foi semelhante no gru-
po glargina (61,4%) e NPH (66,8%). Todavia, a hipoglicemia noturna no gru-
po glargina foi reduzida em 25% durante o período de tratamento após a fase
de titulação da dosagem (26,5 vs. 35,5%, P = 0,0136). Os pacientes do grupo
glargina experimentaram uma perda de peso menor do que os do grupo NPH
(0,4 vs. 1,4 kg, P < 0,0007).
Conclusões: Em pacientes portadores de diabetes de tipo 2, a insulina glar-
gina uma vez/dia ao deitar é tanto eficaz do que a NPH 1 ou 2 vezes/dia
para melhorar e manter o controle glicêmico. Em mais, a insulina glargina
mostrou um risco menor de hipoglicemia noturna e menos ganho de peso
quando comparada com insulina NPH.
256 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 04 (2001)

Lucia C. Iochida, Gerson S. Hamada, Estudo prospectivo do diabetes em nipo-brasileiros de São Paulo
São Paulo, 17th International Diabetes
Federation Congress, México City, Os estudos sobre emigrantes contribuíram para definir o papel dos fatores
México, 5-10 de novembro de 2000 do meio ambiente na etiologia do diabetes mellitus, particularmente para o
diabetes de tipo 2. As populações japonesas são muito interessantes para o
estudo do diabetes, porque apresentam prevalências muito diferentes, depen-
dendo do lugar onde moram, fato que pode ser explicado por fatores do meio
ambiente, ou, talvez, por fatores genéticos temperados por fatores de meio
ambiente. O PPAR-gama (peroxisome proliferator activated receptor gam-
ma) é um fator de transcrição intranuclear que parece ser essencial para a
função normal da insulina. Mutações no gene do PPAR-gama determina re-
sistência à insulina severa e diabetes de tipo 2. Foi também observado que os
ácidos graxos podem agir como ligandos para o PPAR-gama, diminuindo sua
sinalização e conduzindo à resistência à insulina. Os nipo-brasileiros são um
exemplo de população japonesa morando em um país ocidental, com preva-
lência elevada (> 20%) de diabetes, em comparação com a prevalência do
diabetes no Japão (10%). A obesidade não é tão prevalente em japoneses do
que em caucasianos, mas os nipo-brasileiros são significativamente mais pe-
sados do que os japoneses morando no Japão. Um estudo de coorte, no qual
participaram 10.000 descendentes de japoneses, morando em São Paulo, co-
meçou este ano e será prolongado durante 10 anos. Os participantes, com
idade 35-69 anos, sem diabetes, serão examinados e testados para diabetes
cada dois anos. No processo de seleção, os pacientes diabéticos já diagnosti-
cados foram identificados e convidados em participar a outro coorte, acom-
panhado para as complicações do diabetes. Os pacientes anteriormente diag-
nosticados, e os controles não-diabéticos foram rastreados para os polimor-
fismos de PPAR-gama. Todos os participantes foram registrados e amostras
de DNA e plasma foram conservadas, para outros comparações, por exemplo
entre participantes obesos e não obesos. O estudo terá também braços para
estudos de câncer e doenças cardiovasculares, na mesma população.

Antonio A. Ferreira Jr., Odete Oliveira, O papel da consulta de enfermagem no rastreamento e


Lucia C. Iochida, USP, São Paulo, 17th prevenção do pé diabético
International Diabetes Federation
Congress, México City, México, 5-10 de O pé diabético é uma das mais severas complicações do diabetes, e é respon-
novembro de 2000 sável da maioria das amputações não traumáticas em todos os paises do mun-
do. De agosto de 1998 até setembro de 1999, 276 pacientes (167 homens e 109
mulheres), idade média 43 anos, foram examinados no Centro de Diabetes da
Escola Paulista de Medicina, em São Paulo. O objetivo principal foi identificar,
dentre os pacientes diabéticos, os que apresentavam risco de complicações nos
pés e propor intervenções, por educação, cuidados locais para lesões do pé, ou
consultas com cirurgiões vasculares ou ortopédicos, ou especialistas do pé,
para prevenir complicações e amputações. Os resultados mostram que 65%
dos pacientes eram caucasianos, 77% eram portadores de diabetes de tipo 2, e
51% usavam insulina. Os problemas de pé os mais prevalentes eram: onicomi-
cose em 50% dos casos, calos (35%), diminuição ou ausência dos pulsos arte-
riais (26%), varizes (26%), atrofia muscular (25%). Considerando a percepção
sensitiva, encontramos perda de percepção da dor em 35% dos casos e perda da
sensação térmica em 38%. Baseando-se sobre esses dados, os pacientes rece-
beram recomendações de acordo com os seus problemas. O objetivo é continu-
ar o programa, para detectar manifestações precoces de riscos de complicações
do pé em pacientes diabéticos, e fornecer os conselhos os mais adequados e
medidas preventivas para evitar a aparição de complicações mais severas.
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 04 (2001) 257

Rogerio F. Correa de Oliveira, Rejane Hipoglicemias súbitas e insulina Lispro


B.C. Correa de Oliveira, Rio de
Janeiro, 17th International Diabetes
Federation Congress, México City, Em um grupo de 202 diabéticos de tipo 1 (81 homens), observamos, de 30
México, 5 a 10 de novembro de 2000 de abril de 1997 até 30 de novembro de 1998, que os 18 pacientes (grupo C)
usando insulina Lispro (H) 0,4 U/kg/dia em função de 8 glicemias capilares/
dia + insulina humana R 0,6 U/kg/dia dividida a cada 6 horas não apresenta-
vam hipoglicemia súbita; Eles participaram nesse grupo em razão de comas
hipoglicêmicos. Este grupo C (7 mulheres), idade 38±10,2 anos, IMC 25,5 ±
3,4 kg/m2, 32 ± 12,3 anos de diabetes, 3 ± 2 hipoglicemias/semana – 190
durante o período, todas com sintomas. Comparado com o grupo A (n = 122)
usando insulina humana N (0,5U/kg/dia) antes do café da manhã e jantar +
insulina humana R em função dos resultados das glicemias feitas 4 vezes/dia
(44 mulheres), 32 ± 8,4 anos, IMC 25,2 ± 3,6 kg/m2, 10 ± 7,4 anos de diabe-
tes, 5,4 ± 4,2 hipoglicemias/semana - 456 durante o período, 15% súbitas
(necessitando ajuda externa) e o grupo B (n = 62) usando N + R 0,6 U/kg/dia
e H 0,4 U/kg/dia em função dos resultados de 6 glicemias/dia, (30 mulheres),
24 ± 7,9 anos, IMC 24,6 ± 3,2 kg/m2, 14,6 ± 8,4 anos de diabetes, com 4,2 ±
3 hipoglicemias/semana, 228 durante o período e 4,6% súbitas. Os testes
Turkey e Qui quadrado mostraram uma associação significativa (p < 0,0001)
entre os grupos usando insulina lispro e hipoglicemias com sintomas.
Concluímos que insulina lispro ajudou na percepção das hipoglicemias,
melhorando o controle glicêmico de acordo com os resultados de HbA1c e
do teste de frutosamina feito cada três meses. No grupo A, os resultados de
HbA1c = 7 ± 1,7% (4,4 – 6,4%) e frutosamina = 4,3 ± 1,2 ng/dl (1,87-2,87),
no grupo B HbA1c = 6,3 ± 1,4 e frutosamina = 3,4 ± 0,9 ng/dl e no grupo C
HbA1c = 5,8 ± 0,8% e frutosamina 2,7 ± 0,5 ng/dl, com diferença significa-
tiva de p < 0.0001.
258 American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2001) 258~262
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 04 (2001) 278~280

ATUALIZAÇÃO

American Diabetes Association

Recomendações para pacientes portadores de diabetes mellitus

Apresentamos nessa sessão um resuma das principais recomendações da American Diabetes Association, ano 2001. As alterações são mínimas
em comparação com o ano 2000. As principais alterações são a redução de objetivo da pressão sanguínea de 130/85 mmHg para 130/80 mmHg
e a importância dada à duração do diabetes pré-puberdade no desenvolvimento de complicações microvasculares. Para uma versão mais
completa dessas recomendações, consultar Diabetes Clínica volume 4, número 2, março/abril de 2000 (pg 102) ou nosso CD-ROM 1999/2000.

O diabetes é uma enfermidade crônica que requer 4. A quase normalização da glicose sangüínea vem
cuidado clínico contínuo e educação para a prevenção demonstrando estar associada a um perfil lipídico menos
de complicações agudas e para a redução do risco de aterogênico.
complicações a longo prazo. Pessoas com diabetes
devem ser tratadas por uma equipe coordenada por um A educação para o auto-controle comporta:
médico. Estas equipes são compostas, porém não se • Freqüência apropriada de auto-monitorização da
limitam a, médicos, enfermeiras, nutricionistas e glicose sangüínea
profissionais especializados e com especial interesse pelo • Terapia nutricional
diabetes. • Exercício regular
Os padrões a seguir definem o cuidado clínico básico • Esquemas fisiologicamente baseados em insulina,
para pessoas com diabetes. Estes padrões não excluem ou seja, injeções múltiplas diárias de análogos de insulina
a necessidade de uma avaliação mais ampla e o cuidado de rápida ação (por ex., lispro), de curta ação (por ex.,
do paciente por outros especialistas. regular), de ação intermediária (por ex., NPH ou lente),
ou insulinas de longa ação (por ex., ultralente) ou infusão
Princípios gerais contínua subcutânea de insulina, em pacientes tipo 1 e
alguns pacientes tipo 2.
A hiperglicemia persistente é a característica principal • Esquemas menos complexos à base de insulina ou
de todas as formas do diabetes. O tratamento que visa agentes orais hipoglicemiantes em alguns pacientes tipo 2.
reduzir a glicose sangüínea a níveis normais ou o mais • Instrução sobre a prevenção e tratamento da
próximo deles, em todos os pacientes, faz-se necessário hipoglicemia e outras complicações crônicas e agudas.
pelos seguintes benefícios já comprovados: • Educação contínua e reforço.
• Avaliação periódica dos objetivos do tratamento.
1. O perigo da descompensação aguda devido a
cetoacidose diabética ou síndrome hiperglicêmica não Para os objetivos sejam alcançados, estes programas
cetótica hiperosmolar, com sua morbidade e mortalidade requerem apoio contínuo da equipe de tratamento.
inerente, é acentuadamente reduzida.
2. Os sintomas de visão embaçada são aliviados, e o Objetivos específicos do tratamento
risco de poliúria, polidipsia, fadiga, perda de peso com
polifagia, vaginite ou balanite pode diminuir. Ao determinar os objetivos glicêmicos de cada
3. Os riscos de desenvolvimento ou progressão da paciente deve-se considerar os resultados dos estudos
retinopatia diabética, nefropatia e neuropatia estão todos clínicos randomizados prospectivos, mas notavelmente
em grande parte reduzidos. É possível que estas o Estudo sobre o controle do Diabetes e suas
complicações possam até mesmo ser prevenidas pelo Complicações (DCCT). Este estudo demonstrou de
manejo precoce efetivo. forma conclusiva que em pacientes com diabetes tipo 1
American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2001) 258~262 259

o risco de desenvolvimento ou progressão da retinopatia, pacientes reduz o risco de desenvolver retinopatia e


nefropatia e neuropatia diminui de 50-75% com os nefropatia e possivelmente reduz a neuropatia. O índice
esquemas de tratamento intensivo quando comparados de complicações microvasculares diminui em 25% em
com esquemas convencionais de tratamento. Estes pacientes que receberam tratamento intensivo versus
benefícios foram observados com uma HbA1c média tratamento convencional. A análise epidemiológica dos
de 7,2% em grupos de pacientes tratados intensivamente dados do UKPDS mostrou uma relação constante entre
em comparação com 9,0% nos grupos de pacientes o risco de complicações microvasculares e a glicemia,
tratados de forma convencional. A redução do risco da mesma forma que para cada diminuição de um ponto
destas complicações foi correlacionada continuamente percentual na HbA1c (por exemplo, 9% para 8%) houve
com a redução na HbA1c produzida pelo tratamento uma redução de 35% no risco de complicações
intensivo. microvasculares. Estes resultados confirmam que no
diabetes tipo 2, a redução da glicose sangüínea é
Objetivos específicos do tratamento benéfica. O UKPDS também mostrou que o controle
eficiente da pressão arterial reduziu de forma
O resultado desejado do controle glicêmico no significativa os acidentes vasculares cerebrais, os óbitos
diabetes tipo 1 é reduzir a GHb (ou qualquer outra relacionados com o diabetes, a insuficiência cardíaca,
medida equivalente de glicemia crônica) de forma a as complicações microvasculares e a perda visual.
alcançar a prevenção máxima de complicações com Vários estudos, incluindo os resultados das análises
atenção para a segurança do paciente. Para alcançar estes epidemiológicas dos dados do UKPDS, mostraram fortes
objetivos com tratamento intensivo, são necessários: e estatisticamente significativas associações entre o
controle da glicose sangüínea e o risco de morbidade e
• Auto-monitorização freqüente (pelo menos três ou mortalidade por doença cardiovascular. Ao estabelecer
quatro vezes por dia) objetivos de tratamento para o diabetes tipo 2 (Tabela
• Terapia nutricional 1), as mesmas características individuais do paciente
• Educação no autocontrole e na solução de problemas devem ser consideradas como para o diabetes tipo 1: a
• Possível internação para iniciar o tratamento capacidade do paciente de entender e cumprir o esquema
de tratamento, o risco do paciente para hipoglicemia
Em situações onde não existem recursos ou estes não severa e outros fatores do paciente que possam aumentar
são suficientes, recomenda-se uma consulta com uma o risco ou diminuir o benefício.
equipe de especialistas no tratamento do diabetes. A auto-monitorização diária é especialmente
importante para pacientes tratados com insulina ou
O maior e mais longo estudo de pacientes com sulfoniluréia no acompanhamento e prevenção da
diabetes tipo 2, o Estudo Prospectivo do Diabetes do hipoglicemia assintomática. A freqüência ideal dos testes
Reino Unido (UKPDS), demonstrou de forma conclusiva não é conhecida, mas deve ser suficiente para facilitar
que um melhor controle da glicose sangüínea nestes os níveis propostos para glicose.

Tabela 1 – Controle glicêmico para pessoas com diabetes*

Normal Objetivo Ação adicional sugerida

Valores sangüíneos totais


Média da glicose pré-prandial (mg/dl)† < 100 80-120 < 80/ > 140
Média da glicose ao deitar (mg/dl) † < 110 100-140 < 100/ > 160

Valores no plasma
Média da glicose pré-prandial (mg/dl)‡ < 110 90-130 < 90/ > 150
Média da glicose ao deitar (mg/dl) ‡ < 120 110-150 < 110/ > 180

HbA1c (%) <6 <7 <8

* Os valores apresentados nesta tabela são por força generalizados para toda a população de indivíduos com diabetes. Pacientes com doenças
comórbidas, adultos muito jovens e aqueles com mais idade, e outros em condições ou circunstâncias incomuns justificam diferentes esquemas de
tratamento. Estes valores são para adultos que não estejam em estado de gravidez. A “ação adicional sugerida” depende das circunstâncias
individuais. Tais ações podem incluir a intensificação da educação para a auto-monitorização do diabetes, uma equipe complementar para o
controle do diabetes, consulta a um endocrinologista, mudança no tratamento farmacológico, início ou aumento na SMBG, ou um maior contato
com o paciente. Recomenda-se um nível não-diabético de HbA1c na faixa entre 4,0-6,0% (média 5,0%, DP 0,5%)
†Medição da glicose sangüínea capilar.
‡ Valores calibrados para glicose plasmática.
260 American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2001) 258~262

Consulta inicial quanto possível. Várias estratégias e técnicas devem ser


empregadas para proporcionar educação adequada e
Histórico clínico desenvolvimento de habilidades na solução de problemas
Se o diagnóstico do diabetes já foi feito, o histórico nos vários aspectos do controle do diabetes.
deve confirmar o diagnóstico, rever o tratamento anterior,
permitir avaliação do grau atual e anterior do controle Atendimento periódico
glicêmico, determinar a presença ou não de complicações
crônicas do diabetes, ajudar na formulação de um plano Pacientes que iniciaram tratamento com insulina ou
de controle e proporcionar uma base para a continuidade que sofreram mudança importante em seu programa
do tratamento podem precisar estar em contato com sua equipe de
tratamento diariamente até que se alcance o controle da
Exame físico glicose, o risco de hipoglicemia é baixo, e eles são
Um exame físico deve ser realizado durante a competentes e se sentem confortáveis para implementar
avaliação inicial. Portadores de diabetes têm um risco o plano de tratamento. Alguns pacientes podem necessitar
maior de desenvolver complicações visuais, dos rins, de internação para iniciar ou alterar o tratamento.
pé, nervos, cardíacas e vasculares. Pacientes com
diabetes tipo 1 apresentam uma freqüência aumentada Os pacientes que iniciaram tratamento com MNT ou
de distúrbios auto-imunes, especialmente doença da agentes orais redutores de glicose podem necessitam
tireóide. Todos os indivíduos que não estão sob um estar em contato semanalmente até que seja alcançado
controle satisfatório do diabetes têm um aumento no risco um controle razoável da glicose e eles se sintam capazes
de infecções. Crianças com controle insatisfatório do para conduzir um programa de tratamento. Devem ser
diabetes podem apresentar atraso em seu crescimento e programadas consultas regulares para todos os pacientes
maturidade. Portanto, certos aspectos do exame físico com diabetes. Os pacientes devem ir às consultas pelo
detalhado exigem uma atenção especial, que incluem: menos de quinze em quinze dias até que os objetivos de
O médico deve estar alerta também para sinais de tratamento sejam alcançados. Depois disso, a freqüência
doenças que podem causar diabetes secundário, por às consultas pode diminuir tão logo os pacientes
exemplo, hemocromatose, doença pancreática e continuem alcançando todos os objetivos de tratamento.
distúrbios endócrinos como acromegalia, Um contato mais freqüente pode também ser necessário
feocromocitoma e síndrome de Cushing. se os pacientes atualmente submetidos a tratamento
intensivo com insulina, não tenham alcançado os
Avaliação biológica objetivos glicêmicos ou pressão arterial, ou evidenciem
O teste da glicose sangüínea e da cetona urinária deve progressão de complicações microvasculares ou
estar disponível para ser realizado imediatamente no macrovasculares. Os pacientes devem ser orientados a
consultório conforme necessário. Além disso, cada reconhecer problemas com seu controle de glicose e para
paciente deve ser submetido a testes de laboratório que que relatem imediatamente suas preocupações à equipe
são apropriados para a avaliação da condição clínica de tratamento para esclarecer e fortalecer suas
geral do indivíduo. habilidades no autocontrole. Eles devem também ser
ensinados a reconhecer imediatamente sinais e sintomas
Plano de controle de complicações crônicas e agudas e a relata-las
Um sistema de registro clínico completo e organizado imediatamente. Reações hipoglicêmicas severas que
é essencial para proporcionar um cuidado constante de requerem assistência de outra pessoa devem ser
pessoas com diabetes. Os registros devem sempre estar reportadas tão logo seja possível.
acessíveis para a equipe de tratamento e organizados de
forma que eles não somente documentem o que ocorreu Exames visuais complexos e de olho dilatado devem
mas também servem como um lembrete do que deve ser ser realizados anualmente por um oftalmologista ou
feito em intervalos apropriados. optometrista que têm muito conhecimento e experiência
O plano de controle deve ser formulado como uma no manejo da retinopatia diabética para todos os
aliança terapêutica individualizada entre o paciente e a pacientes com 10 anos ou mais que tiveram diabetes
família, o médico e outros membros da equipe de saúde por 3-5 anos, todos pacientes diagnosticados após 30
habilitada no controle do diabetes, para alcançar o nível anos de idade, e qualquer paciente com sintomas visuais
desejado de controle do diabetes. Deve-se ressaltar o e/ou anormalidades.
autocontrole realizado pelo paciente. Com esta
finalidade, o plano de controle deve ser planejado com Todos os indivíduos com diabetes devem ser
a colaboração do paciente e o plano deve enfatizar o submetidos a um exame cuidadoso do pé pelo menos uma
envolvimento do paciente na solução do problema tanto vez ao ano para identificar o alto risco de condições nos
American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2001) 258~262 261

pés. Este exame deve incluir uma avaliação da sensação de microalbumina. O rastreamento para
protetora, estrutura e biomecânica do pé, condição microalbuminúria em indivíduos com diabetes tipo 1
vascular, e integridade da pele. Pessoas com uma ou mais deve começar na puberdade e após 5 anos da duração
condições de alto risco do pé devem ser avaliadas com desta doença. Devido à dificuldade de precisar com
mais freqüência quanto ao desenvolvimento de fatores exatidão a data do início do diabetes tipo 2, tal
de risco adicionais. Pessoas com neuropatia devem ser rastreamento deve começar no momento do diagnóstico.
submetidas a uma inspeção visual dos pés em cada
consulta com um profissional de saúde.
Considerações especiais
Avaliação biológica
A avaliação de rotina da GHb deve ser realizada em Crianças e adolescentes
todos os pacientes com diabetes, primeiro para documentar A maioria dos casos recentemente diagnosticados
o grau do controle glicêmico na avaliação inicial, depois como diabetes tipo 1 ocorrem em indivíduos jovens com
como parte constante do atendimento. Uma vez que a GHb idade inferior a 18 anos. No diagnóstico inicial, é
reflete a glicemia média dos 2-3 meses anteriores, é extremamente importante estabelecer os objetivos e
necessário medições a cada 3 meses para determinar se o iniciar o aprendizado do autocontrole do diabetes. A base
controle metabólico do paciente permaneceu constante educacional deve ser firme para que o indivíduo e a
dentro da faixa pretendida. Assim, medições regulares da família possam tornar-se cada vez mais independentes
GHb permitem a detecção de desvios da faixa pretendida no autocontrole do diabetes. Os objetivos glicêmicos
em determinado momento. Para cada paciente, a podem necessitar de alguma modificação considerando
freqüência do teste de GHb deve depender do esquema o fato de que a maioria das crianças com idade inferior a
de tratamento empregado e da consideração do médico. 6 ou 7 anos apresentam uma forma de “inconsciência
Na ausência de estudos bem controlados que sugerem um hipoglicêmica”, em que eles não têm a capacidade
protocolo definitivo, a opinião dos especialistas cognitiva de reconhecer e responder aos sintomas
recomenda um teste de GHb pelo menos duas vezes ao hipoglicêmicos. Doenças intercorrentes são mais
ano em pacientes que estão alcançando os objetivos do freqüentes em crianças mais novas. Uma avaliação
tratamento e que apresentam controles glicêmicos estáveis nutricional deve ser realizada, por um nutricionista, com
e com mais freqüência (avaliação trimestral) em pacientes as necessidades nutricionais de uma criança em
cuja terapia tenha sido alterada ou que não estejam crescimento e os aspectos comportamentais que possam
atingindo os objetivos glicêmicos. ter um impacto na dieta do adolescente. Deve-se evitar
uma manipulação nutricional agressiva quanto aos mais
Tabela 3 – Categoria do risco baseado nos níveis de lipoproteína novos. A avaliação das necessidades quanto ao estilo de
em adultos com diabetes vida deve ser acompanhada por possíveis modificações
do esquema diabético. Por exemplo, um adolescente que
Risco Colesterol Colesterol Triglicerídeos requer uma maior flexibilidade deve ser orientado para
LDL HDL*
um programa de três ou quatro injeções de insulina
quando necessário.
Alto ≥130 <35 ≥400 Um aspecto importante que merece ênfase nesta faixa
Limite 100-129 35-45 200-399 etária é o da “aderência”. Não importando qual seja o
Baixo <100 >45 <200 esquema clínico, ele será tão bom quanto a habilidade
Os dados são apresentados em mg/dl. da família e/ou indivíduo para implementá-lo. Os
* Para mulheres, os valores do colesterol HDL devem ser profissionais de saúde que cuidam de crianças e
aumentados em 10 mg/dl. adolescentes, portanto, devem ser capazes de avaliar os
fatores comportamentais, emocionais e psicossociais que
interferem na implementação e devem então trabalhar
Deve ser realizado um perfil lipídico em crianças com com o indivíduo e com a família para resolver os
idade acima de 2 anos após diagnóstico de diabetes e problemas que ocorrem e/ou modificar os objetivos
quando o controle da glicose tenha sido estabelecido. quando estes se fizerem necessários.
Os testes cujos resultados encontrem valores limítrofes Foi mostrado que a incidência do diabetes de tipo 2
ou anormais devem ser repetidos para confirmação. Se em crianças e adolescentes está aumentando. Apesar do
os valores caírem a níveis de risco aceitáveis, a avaliação que não existem dados suficientes para propor
deve ser repetida a cada 5 anos. recomendações definitivas, existe um consenso sobre a
prevenção, o rastreamento e o tratamento do diabetes
Na ausência de microalbuminúria previamente de tipo 2 em jovens. O objetivo ideal do tratamento é a
demonstrada, é necessário um teste anual para a presença normalização dos valores da glicose sanguinea e de
262 American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2001) 258~262

HbA1c> O diagoóstico e a classificação do diabetes é exercício, redução do sal na dieta, e limite no consumo
crucial para determinar o tratamento adequado. Muitos de álcool. Se as modificações no estilo de vida não
pacientes podem ser controlados incialmente por terapia alcançam os objetivos pretendidos, devem ser
nutritional e exercício, mas a maioria necessitará de adicionados medicamentos gradualmente até que os
remédios. O controle das comordidades, tais como a objetivos da pressão arterial sejam alcançados. Vários
hipertensão e as hiperlipidemias é também importante. medicamentos em pacientes com albuminúria (por ex.,
inibidores de ECA) parecem apresentar um benefício
Hipertensão seletivo em pacientes com diabetes. Outros fatores de
A hipertensão contribui para o desenvolvimento e risco cardiovascular, como fumo, inatividade e níveis
progressão das complicações crônicas do diabetes. Em elevados de colesterol LDL, devem ser ao mesmo tempo
pacientes portadores de diabetes tipo 1, a hipertensão controlados.
persistente é em geral uma manifestação da nefropatia
diabética, conforme indicado pelos níveis elevados Objetivos específicos do tratamento
simultâneos de albumina urinária e em estágios mais O principal objetivo do tratamento em adultos deve
avançados de uma diminuição no índice de filtração ser a redução da pressão arterial a um nível < 130/80
glomerular. Em pacientes portadores de diabetes tipo 2, mmHg. A hipertensão em adultos tem sido
a hipertensão é quase sempre parte de uma síndrome tradicionalmente definida como pressão arterial sistólica
que inclui intolerância à glicose, resistência à insulina, ³ 140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica de ³ 90
obesidade, dislipidemia e doença arterial coronariana. mmHg. A maioria dos estudos epidemiológica sugere
A hipertensão sistólica isolada pode ocorrer com longa que o risco devido à pressão arterial elevada é uma
duração de qualquer tipo de diabetes e em parte devido função contínua, de forma que estes níveis de corte são
à inelasticidade dos grandes vasos ateroscleróticos. O arbitrários. Na população em geral, os riscos de dano ao
controle da hipertensão foi demonstrado de forma órgão parecem ser menores quando a pressão arterial
conclusiva na redução do índice de progressão da sistólica é de < 120 mmHg e a pressão arterial diastólica
nefropatia diabética e na redução das complicações da é de < 80 mmHg.
nefropatia hipertensiva, doença cérebro-vascular e
doença cardiovascular. Para pacientes com hipertensão sistólica isolada de ³
180 mmHg, o objetivo é uma pressão arterial < 160
Princípios gerais mmHg. Para aqueles com pressão arterial sistólica de
As modificações no estilo de vida devem ser 160-179, o objetivo é uma redução de 20 mmHg. Se
inicialmente instituídas para reduzir a pressão arterial a estes objetivos são alcançados e bem tolerados, pode
não ser que a hipertensão se encontre em um nível ser apropriado reduzir a pressão a 140 mmHg.
intolerável. Tais modificações incluem perda de peso,
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Diabetes Clínica 04 (2001) 263~277

REVISÃO

Protegendo o endotélio vascular de pacientes diabéticos


com a aspirina - Parte I
Bases fisiopatológicas para o uso associado de vastatinas independentemente dos níveis de colesterol

Freddy Goldberg Eliaschewitz*


Anna Carla Goldberg**
Christiani Adão Poço***

*Hospital Heliópolis, Hospital Albert Einstein, Unidade de Ilhotas Pancreáticas da IQUSP


**Responsável pelo setor de Biologia Molecular do Lab. Imunologia, InCor-HCFMUSP, Livre Docente pelo ICB-USP
***Endocrinologista Assistente da Clínica Dr. Freddy Goldberg Eliaschewitz, São Paulo

Resumo

Pacientes diabéticos do tipo 2 têm risco triplicado de sofrer eventos cardiovasculares. Este risco aumentado precede o diagnóstico da doença e
não é anulado pelo bom controle glicêmico. Esse artigo faz uma revisão dos fatores de risco cardiovascular atuantes nos pacientes diabéticos
tipo 2 e analisa as justificativas fisiopatológicas para o uso da aspirina associado ao das vastatinas, independentemente dos níveis de colesterol
sérico, com a finalidade de diminuir o risco cardiovascular desta população.

Introdução culo V a.C., era o efeito antiinflamatório e analgésico da


aspirina que buscava. No entanto, a descoberta do poten-
Quando Felix Hoffmann, trabalhando no Laboratório te efeito inibidor da aspirina sobre a função das plaquetas
de Friedrich Bayer, conseguiu sintetizar a aspirina, em é relativamente recente e ocorreu em uma época na qual a
1897, não podia prever que cerca de um século depois – doença aterotrombótica, em suas diversas apresentações,
em um único ano, o de 2000 – seriam publicados 2.134 é a principal causa de morte no mundo desenvolvido. Isso
trabalhos científicos sobre sua descoberta [1]. Esse gran- transformou o antigo analgésico em um dos instrumentos
de número de investigações é, a um só tempo, causa e terapêuticos mais usados e estudados [2,3].
conseqüência do papel central que o fenômeno inflama- O uso da aspirina na prevenção de doença oclusiva
ção – em seu sentido mais amplo – ocupa na gênese dos vascular, em pacientes portadores de arteriopatia, está
processos fisiopatológicos das doenças que hoje mais pre- bem estabelecido. Numerosos estudos demonstram que
ocupam o homem. De fato, desde que Hipócrates usou, a terapia antiplaquetária com a aspirina reduz em 1/6 o
pela primeira vez, o extrato amargo de Salix alba, no sé- risco de morte cardiovascular e em 1/3 o de infarto do

Endereço para correspondência: Freddy Goldberg Eliaschewitz, Rua Goías, 91


CEP 01244-030 São Paulo - SP - Tel.: (11) 3663-0350
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miocárdio ou de acidente vascular cerebral naqueles pa- as ações relatadas sempre dependeram da inibição da
cientes que, por terem história prévia de infarto do mio- HMGCoA redutase, comum a todas, o termo genérico
cárdio, de isquemia cerebral transitória ou de acidente vastatinas foi utilizado na suposição de que o mesmo
vascular cerebral, correm sério risco (8 a 11% ao ano) efeito seria esperado de qualquer uma delas. A mesma
de apresentar complicações tromboembólicas [4]. postura foi assumida em relação aos anti-hipertensivos
Entretanto, não é apenas a população que já sofreu e aos antidiabéticos referidos como classe farmacológi-
um evento cardiovascular que apresenta grande risco de ca e não como espécie farmacêutica. Embora neste arti-
sofrer um segundo evento. Hoje, sabe-se que a popula- go se focalizem principalmente as disfunções endoteli-
ção de diabéticos que nunca sofreu nenhum evento ais provocadas pelo diabetes, chega-se a conclusões que
cardiovascular corre um risco equivalente ao da popula- provavelmente também se aplicam a pacientes não-dia-
ção não-diabética portadora de vasculopatia, ou seja, um béticos que, em virtude de hiperlipidemia, hipertensão
risco aproximadamente três vezes maior que o da popu- ou outros fatores de risco, têm aumento do estresse oxi-
lação geral [5]. dativo nas artérias e endotélio disfuncional.
Estima-se que em 2015 haverá 200 milhões de diabé-
ticos no mundo. Apesar disso, o uso da aspirina em dia- Os diferentes diabéticos diferem no risco
béticos tem sido menos estudado do que em indivíduos cardiovascular
normais. Quase sempre os pacientes diabéticos são ob-
jeto de uma análise separada, como subpopulação de um O diabetes tipo 1 é causado por uma deficiência ab-
estudo maior, sendo tratados como um grupo homogê- soluta de insulina como conseqüência da destruição auto-
neo, sem distinção entre diabéticos tipo 1 e tipo 2 [6,7,8]. imune das células β das ilhotas pancreáticas.
Discutir as razões que justificam o uso da aspirina em O diabetes tipo 2 é uma entidade clínica heterogênea e
pacientes diabéticos tipo 1 e principalmente em tipo 2, à multifatorial, caracterizada por um defeito na ação da in-
luz dos conhecimentos recentemente adquiridos sobre sulina (resistência insulínica) e em sua secreção (disfun-
os efeitos da insulina e da hiperglicemia sobre a parede ção da célula β). A contribuição relativa de cada uma des-
arterial, e de como os benefícios de seu uso podem ser sas anormalidades varia tanto de um paciente para outro,
impedidos ou ampliados, por exemplo, pelo controle como em um mesmo paciente, ao longo da doença. Fato-
adequado da glicemia, pelo tratamento da hipertensão res genéticos devem ser determinantes de importância em
com o uso de bloqueadores de cálcio e pelo uso da aspi- cada um desses mecanismos patogenéticos, embora este-
rina associado ao das vastatinas, independentemente dos ja bem demonstrado que também fatores ambientais, como
níveis de colesterol, são os objetivos deste texto. sedentarismo e dieta, entre outros, podem agravar a resis-
Para tanto, uma série de dados recentes a respeito da tência à insulina. Além disso, a forte associação com a
ação intracelular das vastatinas foi analisada. Nesses tra- obesidade decorre da ação de moléculas originadas no
balhos, diferentes vastatinas foram utilizadas. Mas como tecido adiposo, capazes de inibir ações da insulina. Entre

Fig. 1 - O risco cardiovascular de pacientes diabéticos tipo 2 equivale ao risco de pacientes não-diabéticos que já sofreram
um evento = 2 a 5 x a população geral. Mortalidade entre diabéticos e não-diabéticos - Idade e sexo 5
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Fig. 2 - A associação entre obesidade e diabetes tipo 2 se dá por efeito de peptídeos com atividade hormonal produzidos pelo
tecido adiposo

elas está a leptina e a recém identificada resistina. A des- Com a realização de um estudo de grande porte em
coberta desta última é o prelúdio de uma nova geração de diabéticos tipo 1 – o DCCT (Diabetes Control and Com-
ativadores dos PPARg não-TZDs que a inibam de modo plications Trial) – multicêntrico, controlado, padroniza-
específico, sem inibir também a leptina e assim provocar do e prospectivo, ficou inequivocamente demonstrado
aumento de peso [9,10,11]. que o uso intensivo de insulina, suficiente para levar a
Tanto a falta de ação quanto a secreção deficiente de uma queda de 2% nos índices de hemoglobina glicosila-
insulina podem ser fatores patogênicos primários em um da se comparada ao uso convencional da terapia insulí-
paciente portador de diabetes tipo 2. Em todos eles, po- nica, resultava em uma diminuição de 76% no risco de
rém, a ação e a secreção de insulina estão fisiologica- desenvolvimento de retinopatia, de 54% no de nefropa-
mente interconectadas em múltiplos níveis, na medida tia e de 60% no de neuropatia [15].
em que a resistência à insulina pode ser compensada, de Da mesma forma, no caso do diabetes tipo 2, o estudo
início, pelo aumento na produção de insulina (hiperin- de Kumamoto e o UKPDS demonstram claramente a
sulinismo), de modo que o diabetes não se manifesta importância do controle glicêmico na prevenção do de-
clinicamente até que apareça algum grau de deficiência senvolvimento dessas mesmas complicações. Porém, em
na capacidade secretora da célula β pancreática [12]. Por
outro lado, mesmo quando os níveis de hiperglicemia Fig. 3 - Efeito do controle estrito da glicemia no risco de
são ainda relativamente modestos e restritos ao período eventos cardiovasculares em diabéticos tipo 2: infarto do
pós-prandial, podem induzir a uma disfunção secretora miocárdio fatal ou não-fatal e morte súbita em 573 de 3.867
nas células β (glicotoxicidade), impedindo que o meca- pacientes (15%).
nismo de compensação seja mantido no nível necessá-
rio a fim de evitar a eclosão do diabetes [12].
A lenta evolução desse processo pode nos fazer pen-
sar que o diabetes tipo 2 é uma condição benigna quan-
do comparada a todas as causas de hiperglicemia crôni-
ca agrupadas no termo “diabetes”.
O risco muito aumentado, apresentado pelos diabéti-
cos tipo 2, de sofrer infarto do miocárdio e a importante
diminuição em sua expectativa de vida desmentem esse
mito [13,14].
Pacientes portadores de diabetes tipo 1, embora tenham
maior risco de desenvolver complicações vasculares do
que não-diabéticos, têm um risco menor que diabéticos
tipo 2. As diferenças entre as complicações ma-
crovasculares nos dois grupos foi recentemente revista.
266 Eliaschewitz FG et al. / Diabetes Clínica 04 (2001) 263~277

Fig. 4 - A hemoglobina glicosilada pode não ser um parâmetro preciso para retratar o pacientes diabéticos, sugere que
risco cardiovascular do diabetes. as artérias desses pacientes são
especialmente suscetíveis à lesão
aterosclerótica [16,17,18,22].
A alteração funcional mais
evidente na microcirculação dos
pacientes com diabetes tipo 2 é
uma limitação na capacidade va-
sodilatadora [23]. Esta poderia
ser atribuída a vários dos elemen-
tos que constituem a parede vas-
cular. Invariavelmente, porém, as
células lesadas pela hiperglicemia
são aquelas incapazes de diminuir
o transporte de glicose quando os
níveis de glicose no meio extra-
celular estão elevados [24].
É esse o caso das células endo-
relação ao desenvolvimento de doença macrovascular, teliais que, entre as muitas outras funções que desempe-
os resultados foram menos conclusivos. Os fatores mais nham, regulam localmente o tônus vascular.
estreitamente associados a uma redução no número de A insulina exerce múltiplos efeitos na parede vascu-
eventos cardiovasculares foram os níveis de HDL-co- lar, sendo que um dos mais importantes é o efeito vaso-
lesterol e o controle da pressão arterial. A redução de dilatador [25].
16% na incidência no número de eventos cardiovascula- A ativação dos receptores de insulina nas células en-
res no grupo em que foi mais rígido o controle de glice- doteliais resulta na ativação da via da PI-3 quinase (fosfa-
mia, atingiu significância estatística apenas marginal tidilinositol quinase) e no aumento da produção de NO
(p=0,052) [16,17,18,19] (veja Fig. 3). (óxido nítrico), tanto agudamente (menos de 1 minuto)
Deve-se observar que os pacientes, durante o UKPDS, quanto no decorrer de várias horas (via indução do RNA
não foram monitorados quanto às excursões pós-prandi- mensageiro da enzima NO sintetase). Este último efeito
ais da glicemia. Estudos recentes sugerem que esses ní- da insulina é inibido pela PKC (proteína quinase C)
veis são melhores preditores do risco cardiovascular do [25,26]. Esse caminho metabólico é o mesmo acionado
que a glicemia de jejum e a hemoglobina glicosilada, e pela insulina nas células musculares, para mediar o trans-
que esta última pode não refletir, de modo confiável, as porte de glicose (veja Fig. 5).
alterações glicêmicas pós-prandiais em um grande nú- Em situações nas quais há resistência à insulina, tan-
mero de pacientes [16,17,18,20,21] (veja Fig. 4). to em modelos experimentais como em pacientes huma-
Por outro lado, o enorme impacto que os fatores clás- nos, é inibido o efeito estimulador da insulina sobre a
sicos de risco vascular, como lípides séricos e hiperten- produção endotelial de NO [27].
são, têm na determinação do risco cardiovascular dos Isso demonstra que a parede vascular deve ser inclu-

Fig. 5 - Ação vasodilatadora da insulina. Fig. 6 - Disfunção endotelial na resistência à insulina: a


deficiência de NO limita a vasodilatação e permite ativação
do NF-kB.
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Fig. 7 - Limitação da ativação do NF-kB pelo NO panhados por um aumento no risco cardiovascular. Nes-
tes, a hiperinsulinemia compensadora é suficiente para
manter a homeostase da glicose, mas não para impedir a
disfunção endotelial [35,36,37,38].
Quando a hiperglicemia se inicia, agrava-se o risco.
Numerosos estudos demonstram uma correlação entre a
hiperglicemia e o risco de eventos cardiovasculares fa-
tais e não-fatais, mesmo quando é restrita ao período
pós-prandial [39-61].
Foram descritos quatro mecanismos para explicar a
lesão vascular induzida pela hiperglicemia. Todos eles
podem estar atuando tanto no diabetes tipo 1 quanto no
diabetes tipo 2.
A hiperglicemia causa:
1 - aumento na produção de espécies reativas de oxi-
gênio (ROS) [11,24,62];
2 - aumento na atividade da aldose-redutase [63];
3 - ativação da proteína C quinase (PKC) [25,63,64];
ída entre os órgãos-alvo de resistência à insulina 4 - aumento na formação de produtos de glicosilação
[14,25,28,29,30,31,32] (veja Fig. 6). avançada (AGEs) [24,63].
A menor produção de NO não compromete apenas a O aumento na produção de ROS, por efeito direto da
capacidade vasodilatadora do endotélio. O NO inibe a hiperglicemia, pode decorrer da glicosilação não-enzi-
multiplicação e o crescimento das células musculares li- mática de proteínas, pois a reação de glicosilação dos
sas dos vasos, impedindo a hiperplasia intimal e o espes- aminogrupos reativos contidos nas cadeias peptídicas
samento da membrana basal. Além disso, o NO inibe a gera radicais livres. Como a velocidade dessa reação de-
expressão de moléculas de adesão, como por exemplo, a pende da concentração média da glicose, em condições
da molécula de adesão intracelular, a da E-selectina e a da de hiperglicemia a produção de radicais livres, gerados
molécula de adesão de células vasculares-1 [28,29,30,31]. por esse mecanismo, aumenta cerca de 50 vezes.
O NO também inibe o efeito de citocinas como TNF- Um outro mecanismo pode decorrer da auto-oxida-
α e a produção de quimiocinas como a proteína atratora ção da glicose e da glicosilação de lípides – as chamadas
de monócitos-1 [33] (veja Tabela 1 e Fig.7). reações de glicoxidação.
Todos esses efeitos decorrem da produção aumenta- A hiperglicemia intracelular ativa a via das pentoses que
da de IkBa, que é um fator inibidor do Fator Nuclear de utiliza a aldose-redutase. Essa enzima também utiliza como
Transcrição: NF-kb [34]. substrato os aldeídos tóxicos resultantes da glicoxidação
Outras ações relevantes do NO incluem a inibição da de lípides. Os produtos resultantes (sorbitol e alcoóis inati-
adesão plaquetária à parede vascular e a amplificação vos) são oxidados pela sorbitol desidrogenase para formar
do efeito antiagregante plaquetário da prostaciclina frutose. A atividade desta enzima resulta em um aumento
[33,34]. da relação NADH/NAD, inibindo a oxidação das trioses
Isso pode explicar o fato de os estados de resistência à fosfatos e aumentando a síntese de diacilglicerol, o que,
insulina, mesmo sem intolerância à glicose, serem acom- por sua vez, ativa a PKC [25,63,65,66,67,68] (veja Fig. 8).

Fig. 8 - Mecanismos de produção de espécies reativas de oxigênio


(ROS) pela hiperglicemia

Tabela 1. Ações do óxido nítrico

• induz a vasodilatação
• amplifica o efeito da prostaciclina
• inibe a adesão plaquetária ao endotélio
• inibe o efeito de citocinas
• inibe a multiplicação de células musculares lisas
• inibe NF-kB
• inibe a produção de citocinas inflamatórias (via NF-kB)
• inibe a produção de moléculas de adesão (via NF-kB)
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As ROS também podem ativar a PKC tanto por via mulada pela insulina, e nos indivíduos diabéticos em
direta quanto por inibição da gliceraldeído fosfato desi- geral, nos quais a hiperglicemia, através da ativação da
drogenase e esta também provoca aumento dos níveis PKC, promove uma atividade sustentada do NF-kB, ve-
de diacilglicerol [25,63,65,66]. rifica-se a tendência de transformar a parede vascular na
O aumento dos produtos da glicosilação avançada sede de um processo inflamatório crônico em que se su-
(AGE) é o último mecanismo descrito capaz de lesar os cedem as alterações anatômicas que definem a ateros-
tecidos. clerose [73] (veja Tabela 3 e Figs. 9 e 10).
Além da alteração na função das proteínas intracelu- Por esse motivo, no caso desses pacientes, justifica-
lares glicosiladas, ocorrem modificações da matriz ex- se a tentativa de impedir ou retardar esse processo, por
tracelular pelas AGEs, com alteração em suas proprie- um lado diminuindo farmacologicamente a atividade do
dades, como por exemplo o aumento da permeabilidade. NF-kB e, por outro, diminuindo a capacidade de agrega-
Por outro lado, os produtos de glicosilação avançada são ção das plaquetas no endotélio disfuncional [25,33,72,73].
reconhecidos por receptores presentes em células próxi- Como veremos a seguir, a aspirina cumpre essas duas
mas ao endotélio como os macrófagos, que produzem funções.
ROS quando esses receptores são ativados [25,69,70,71]
(veja Tabela 2).
Fig. 9 - Relação entre a intolerância à glicose e a produção
Tabela 2. Ações dos radicais livres.
de NO, ROS e NF-kB e seus efeitos sobre a célula endotelial.

• induzem a disfunção da célula endotelial


• induzem a apoptose das células endoteliais
• ativam o fator NF-kB (nas células endoteliais)
• ação antiapoptótica nas células musculares lisas

Desse modo, o resultado final do efeito da hipergli-


cemia sobre a parede vascular pode ser definido como
um aumento na produção de radicais livres de oxigê-
nio (aumento do estresse oxidativo). Uma das conse-
qüências mais importantes desse aumento é que as ROS
provocam a ativação do Fator Nuclear de Transcrição
NF-kB [71] que estimula a transcrição de vários genes
envolvidos no processo inflamatório, como os que co-
dificam para as citocinas (TNF-α e interleucina1b) e
proteínas de adesão (entre outras, a E-selectina). Por-
tanto, a ativação desses últimos capacita o endotélio a se Fig. 10 - Papel da ativação do NF-kB na manutenção do
tornar uma superfície à qual podem aderir células infla- processo inflamatório.
matórias e plaquetas. Outro resultado da ativação des-
ses genes é o aumento na permeabilidade do endotélio,
o que permite uma maior penetração de lipoproteínas
oxidadas na parede arterial. A captura dessas lipopro-
teínas oxidadas pelos macrófagos gera uma produção
ainda maior de ROS, que tende a prolongar ainda mais a
ativação do NF-kB. Além disso, as próprias citocinas
produzidas pela ativação do NF-kB podem ativá-lo,
estabelecendo um círculo vicioso [72,73].
Em indivíduos normais, esse processo tende a ser li-
mitado pelo NO que, além do efeito vasodilatador, esta-
biliza o IkBa, que bloqueia a ativação do NF-kB, impe-
dindo sua migração do citoplasma para o núcleo [73].
Assim, o NO, por meio desse mecanismo, acaba tam-
bém atenuando o processo inflamatório, por inibir a ex-
pressão de moléculas de adesão, a atividade de citocinas
e a adesão plaquetária. Nos pacientes diabéticos tipo 2,
nos quais é deficiente a produção endotelial de NO esti-
Eliaschewitz FG et al. / Diabetes Clínica 04 (2001) 263~277 269

Tabela 3. Ativação de genes pelo NF-kB. efeito estimulador da aspirina sobre a produção de óxido
nítrico, na dose de 150 mg por dia, foi demonstrado em
• citocinas inflamatórias várias células como os neutrófilos que, por seu efeito, ad-
• quimiocinas quirem ação antiagregante plaquetária [78] (veja Fig. 11).
• enzimas Argumenta-se que as doses de aspirina utilizadas para
• óxido nítrico sintetase indutível proteção cardiovascular são consideravelmente mais
• cicloxigenase-2 (indutível) baixas do que as usadas com finalidade antiinflamató-
• lipoxigenase ria. Assim, nessas doses baixas, apenas a ação antipla-
• moléculas de adesão quetária teria relevância. Comprovou-se, porém, no Phy-
• receptores de células imunologicamente competentes sician Health Study – estudo no qual a aspirina foi utili-
zada apenas em doses cardioprotetoras – que os níveis
de proteína C reativa (marcadores de atividade inflama-
tória) caíram paralelamente com a diminuição do risco
O efeito da aspirina na ativação do NF-kB cardiovascular [79].

O NF-kB é um fator ativador da transcrição de vários Os efeitos da aspirina nas plaquetas


genes que codificam para citocinas, proteínas de adesão
e enzimas. Entre elas, está o gene que codifica para a A aspirina tem, ainda, efeitos importantes sobre as
enzima NO sintetase, que leva à produção de NO. Sua plaquetas, nas quais causa um defeito funcional detectá-
ativação exerce papel central nas doenças inflamatórias vel clinicamente pelo aumento no tempo de sangramen-
crônicas como a asma, a retocolite ulcerativa e a artrite to. Tal aumento se deve à inibição de prostaglandina G/
reumatóide. O aumento da expressão do NO sintetase H sintetase-1 (cicloxigenase) que catalisa a conversão
pode ser confirmado pelo aumento na quantidade de NO de ácido araquidônico em prostaglandina H2 e constitui
no ar exalado por pacientes portadores de asma, pelo o primeiro passo na síntese de prostaglandinas [8].
aumento de NO no cólon de pacientes com colite e pelo A aspirina acetila o grupo OH da serina na posição
aumento de nitrito urinário em pacientes com artrite reu- 529 da cadeia peptídica dessa enzima, causando perda
matóide. Na parede vascular, o NO inibe a ativação do irreversível de sua atividade. Como conseqüência, as
NF-kB, limitando seu efeito. A ativação crônica do NF- plaquetas ficam impedidas de produzir tromboxano-A2,
kB também é considerada um dos marcos iniciais da sintetizado e liberado em resposta a diversos estímulos
aterosclerose que, em essência, é um processo inflama- (trombina, colágeno e ADP) e que induz a agregação
tório crônico que acomete a parede vascular [72, 73, 74]. das plaquetas [8] (veja Fig. 12).
A aspirina é amplamente prescrita como
agente antiinflamatório, por inibir a sínte- Fig. 11 - A aspirina inibe o NF-kB antagonizando sua ativação pelos ROS e
se de prostaglandinas. No entanto, o ácido potencializando sua inibição pelo NO.
salicílico também exibe atividade antiin-
flamatória, mesmo sem possuir o grupo
acetil, sendo, por esse motivo, incapaz de
acetilar a cicloxigenase [75].
Esse fato levou Ghosch et al. a pes-
quisar outros mecanismos responsáveis
pela ação antiinflamatória desses compos-
tos. Em 1994, os autores demonstraram
que tanto a aspirina quanto o ácido sali-
cílico eram capazes de inibir a ativação
do NF-kB [75]. Demonstrou-se posteri-
ormente que, embora essa atividade não
fosse compartilhada por outros antiinfla-
matórios não-esteróides como a indome-
tacina, assemelhava-se à obtida com gli-
cocorticóides [75, 76, 77].
Outro efeito que distingue a aspirina dos
outros antiinflamatórios não-esteróides é
provocar vasodilatação ao invés de vaso-
constrição nas artérias coronárias, talvez
por efeito indutor do aumento de NO. O
270 Eliaschewitz FG et al. / Diabetes Clínica 04 (2001) 263~277

Fig. 12 - Ações antiplaquetárias e antitrombina da aspirina. ceptores glicoprotêicos agonistas das pro-
teínas de adesão, aumento na ligação do
fibrinogênio, diminuição na fluidez da
membrana celular e alterações das vias
metabólicas das plaquetas [84~87].
O resultado final dessas modificações
resulta em um excesso de mobilização do
cálcio e no aumento na síntese e liberação
do tromboxano. As plaquetas ativadas in-
teragem com outras células, como as en-
doteliais e os leucócitos, bem como com
o sistema de coagulação, na gênese e pro-
gressão do processo de aterosclerose.
Em pacientes diabéticos, com micro ou
macroangiopatia, o ritmo da renovação
está aumentado e a supressão da produ-
ção de tromboxano pode não ser comple-
ta, mesmo quando a aspirina (25 a 100 mg)
é dada a cada 6 horas. A fim de contornar
este problema, recomenda-se o uso da for-
mulação de aspirina de liberação lenta
quando for prescrita a pacientes diabéti-
cos [82, 83].

Como as plaquetas não possuem núcleo, não podem


sintetizar nova cicloxigenase. Assim, é irreversível a ação O efeito da aspirina na geração de trombina
da aspirina sobre elas e esta perdura por 8 a 10 dias (vida
média das plaquetas). Desse modo, a aspirina, mesmo A administração de aspirina a controles normais du-
em doses baixas, acaba inibindo seletivamente a síntese rante uma semana, para o estudo da geração de trombi-
de tromboxano-2 nas plaquetas, sem contudo diminuir na, avaliada pela determinação dos níveis séricos dos
significativamente a produção de prostaciclina pelo fragmentos da protrombina (F1 e F2) revela que a gera-
endotélio [8]. ção de trombina é atenuada. O estudo da adição “in vi-
Esse efeito é muito rápido e tem início mesmo antes tro” de agentes antiplaquetários, ou de ativadores de pla-
de a droga ser detectada na circulação sistêmica, pro- quetas, revela que pelo menos em parte, este feito anti-
vavelmente por seu efeito ainda no sistema venoso por- trombina da aspirina envolve mecanismos independentes
tal. Portanto, não há correlação entre a biodisponibi- do tromboxano [88].
lidade sistêmica e o efeito antiplaquetário da aspirina. Atribui-se esses efeitos à acetilação de receptores de
Uma única dose de 100 mg de aspirina por via oral é membrana das plaquetas ou dos fatores de coagulação.
capaz de suprimir, de modo eficaz, a síntese de trom- Esse fenômeno foi igualmente observado em doses ad-
boxano-2 em plaquetas tanto de pacientes diabéticos ministradas de 75 a 300 mg/dia [89].
quanto de indivíduos normais. Desse modo, a inibição A manutenção de um ritmo menor de formação de
da atividade plaquetária não é útil apenas para proteger trombina pode ser um dos mecanismos mais importan-
pacientes diabéticos dos fenômenos trombóticos; tam- tes para explicar a eficácia da aspirina nos seus usos tera-
bém tem potencial para evitar a progressão do próprio pêuticos e profiláticos [90] (veja Tabela 4).
processo ateromatoso. De fato, estudos recentes que
usam a íntima média das artérias carótidas como mar-
cador da aterosclerose, demonstram que o uso de agen- Tabela 4. Efeitos da aspirina.
tes antiplaquetários pode, na realidade, atenuar esse
processo [80~84] . 1. inibição da cicloxigenase plaquetária (inibição da síntese de
tromboxano)
A disfunção plaquetária no diabetes 2. inibição de NF-kB
3. inibição do espessamento da média - íntima das artérias
Além da disfunção endotelial, os pacientes diabéti- 4. aumento da produção de óxido nítrico
cos apresentam função hiperativa das plaquetas. Esta se 5. diminuição da geração de trombina
deve a múltiplas causas: aumento na expressão de re-
Eliaschewitz FG et al. / Diabetes Clínica 04 (2001) 263~277 271

O uso da aspirina em pacientes diabéticos tória pregressa de infarto cerebral ou ataque isquêmico
transitório, além de outros eventos vasculares como an-
Estudos clínicos de uso de aspirina em diabéticos gina, cirurgia vascular, angioplastia e doença vascular
periférica [98].
a) Prevenção primária Estima-se que cerca de um evento vascular para cada
O Physicians Health Study é um estudo randomiza- 25 pacientes teria sido evitado, se todos houvessem re-
do, duplo-cego, incluindo 22.071 pacientes do sexo mas- cebido aspirina como parte da estratégia de prevenção
culino, sem evidência de doença vascular, dos quais 533 secundária.
eram diabéticos. A aspirina foi utilizada na dose de 325 Quanto à doença cerebrovascular, os estudos que in-
mg em dias alternados, procurando avaliar seu efeito na cluíram indivíduos com diabetes, mostraram a eficácia
prevenção da doença coronariana. Após seguimento de da aspirina na prevenção secundária dos ataques isquê-
5 anos, verificou-se uma ocorrência de infarto agudo do micos transitórios. No European Stroke Prevention Stu-
miocárdio em 4% dos diabéticos em tratamento com a dy [99] avaliou-se a associação da aspirina (990 mg/dia)
aspirina, contra 10,1% no grupo placebo [94], resultan- com o dipiridamol (225 mg/dia) na prevenção secundá-
do num risco relativo de 0,39% para os pacientes trata- ria de AVC (acidente vascular cerebral) ou morte em
dos. Proteção semelhante foi obtida no grupo não- dia- diabéticos e não-diabéticos vitimados por acidente isqu-
bético, indicando que a aspirina foi igualmente eficiente êmico recente. Foram incluídos 216 diabéticos. A redu-
nos dois grupos. ção de infarto cerebral isquêmico nos pacientes diabéti-
No Nurse’s Health Study, as mulheres diabéticas tam- cos foi de 32,4%. Vários outros estudos randomizados
bém se beneficiaram com o tratamento profilático com comparando a aspirina e placebo a outros antiagregan-
aspirina, mostrando uma redução de 29% na incidência tes, têm mostrado uma ação benéfica significativa da
de infarto do miocárdio [95]. aspirina na redução da isquemia transitória, do acidente
No ETDRS (Early Treatment Diabetes Retinopathy vascular cerebral e da morbidade/mortalidade cardiovas-
Study) a população estudada era constituída por 3.711 cular. A aspirina reduz o risco de AVC não-fatal em 30%
diabéticos tipo 1 e tipo 2, de ambos os sexos e cerca de e o risco de morte em 15% quando comparado com place-
48% deles tinha história prévia de doença cardiovascu- bo [100,101] (veja Tabelas 5 e 6).
lar. Esse estudo analisa, portanto, tanto a prevenção pri-
mária quanto a secundária. Houve uma redução de 28% Tabela 5. Estudos clínicos em diabetes: porcentagem de redução
no risco de infarto agudo do miocárdio, no grupo aloca- de infarto do miocárdio observada.
do à aspirina, após cinco anos de seguimento [96].
O estudo HOT (Hypertension Optimal Treatment Tri- HOT Study 36%
al) examinou o efeito de 75 mg de aspirina versus pla- ETDRS 28%
cebo em 18.790 pacientes hipertensos, que foram ran- APT a 25%
domizados para atingir a PA diastólica de 90 ou 85 ou Physician’s Health Study 39%
80 mm de mercúrio. Havia 1.501 pacientes diabéticos Nurse’s Health Study 29%
nessa população. O uso da aspirina reduziu os eventos European Stroke Prevention Study 32,4% AVCIb
cardiovasculares em 15% e os de infarto do miocárdio
em 36%, tanto em diabéticos quanto em não-diabéti- a - metanálise de 145 estudos
cos. Acidentes fatais, do tipo acidente vascular cere- b - acidente vascular cerebral isquêmico
bral hemorrágico, foram semelhantes nos grupos pla- Tabela 6. Metanálise de 29 estudos de avaliação de fármacos
cebo e aspirina [97]. antiplaquetários na prevenção secundária em pacientes de alto
risco.
b) Prevenção secundária Eventos vasculares
Uma metanálise de 145 estudos prospectivos e con- em pacientes (com/sem)
trolados, utilizando terapia antiplaquetária, realizado com controles tratados
homens e mulheres que sofreram acidentes vasculares sem diabetes 3466/21197 2700/21136
de diversos tipos, foi reportada pelo APT (Antiplatelet % 16,4 12,8
Trialist). A redução do número de eventos, obtida com o com diabetes 502/2254 415/2248
uso da aspirina em doses de 325 mg por dia, ou menos, % 22,3 18,5
foi de 25% tanto para homens quanto para mulheres. Os Número de eventos vasculares
resultados obtidos em pacientes diabéticos foram seme- prevenidos/1000 pacientes
lhantes aos obtidos em pacientes não-diabéticos. tratados p
A análise conclui que o uso prolongado da aspirina é
protetor em categorias de alto risco, incluindo pacientes sem diabetes 36±3 < 0,00001
com diabetes 38±12 < 0,002
com infarto agudo do miocárdio, infarto pregresso, his-
272 Eliaschewitz FG et al. / Diabetes Clínica 04 (2001) 263~277

Efeitos adversos em pacientes diabéticos que sofreram infarto agudo do


miocárdio. Neste estudo não se notou efeito protetor em
O maior risco do uso da aspirina é a lesão da mucosa 645 diabéticos recebendo aspirina (160mg/dia), compa-
gástrica e hemorragia gastrintestinal. Estes efeitos pare- rados a 642 indivíduos do grupo placebo, o que tem le-
cem estar relacionados com a dose utilizada e são redu- vado alguns autores a preconizar o uso de doses maiores
zidos quando preparações entéricas nas doses de 75-325 (300 mg/dia) em pacientes diabéticos portadores de
mg/dia são empregadas. Alguns estudos mostram que a microangiopatia [105]. Outros estudos sugerem que bai-
ocorrência de sangramento gastrintestinal em pacientes xas doses (em torno de 75mg) são tão efetivas quanto
tratados com estas doses é 1,5 vezes maior que com pla- doses altas na inibição do tromboxano plaquetário, ar-
cebo; com probabilidade de hemorragia de 0 a 2,1/1000 gumentando que doses menores não interfeririam com a
pacientes tratados. Em outros estudos prospectivos, evi- produção de prostaciclina endotelial mas manteriam seu
denciou-se uma tendência ao aumento de hemorragia efeito sobre a cicloxigenase plaquetária [106,107]. Por
cerebral, sem entretanto, atingir significância estatísti- outro lado, o estudo SAPAT (Swedish Angina Pectoris
ca. Sabe-se que o uso da aspirina não aumenta o risco de Aspirin Trial) mostra que 160 mg de aspirina são efica-
hemorragia retiniana, portanto, a retinopatia diabética zes na prevenção secundária de eventos cardiovasculares
complicada não é uma contra-indicação ao seu uso. As em diabéticos [108].
principais contra-indicações ao uso da aspirina são: san- A metanálise do Antiplatelet Trialist’s mostra uma
gramento gastrintestinal recente, doença hepática ativa, redução dos eventos cardiovasculares de 21 ± 4% em 30
alergia, coagulopatias ou uso concomitante de antico- estudos usando a dose de 500-1500 mg/dia; redução de
agulantes [8,81,85, 102,103,104]. 28 ± 3% em 12 estudos usando dose de 160-325 mg/dia;
O uso regular de antiinflamatórios não-esteróides pode e 26 ± 11% em 7 estudos usando-se a dose entre 40-150
aumentar o risco de doença renal crônica e levar a um mg/dia. Assim, não houve evidência de que doses maio-
descontrole da pressão arterial em pacientes hiperten- res de aspirina (> 1500 mg/dia) sejam mais efetivas que
sos. Entretanto, doses baixas de aspirina são inibidores doses intermediárias (75-325 mg/dia). A maior parte dos
muito fracos das prostaglandinas vasodilatadoras renais estudos utilizou doses intermediárias. Por outro lado, nos
e não têm efeito significativo sobre a função renal ou estudos em que se utilizou a aspirina em associação com
sobre o controle da pressão arterial [86]. outros antiplaquetários, como o dipiridamol, sulfin-
pirazona, ticlopidina ou suloctidil, não houve diferenças
Dose significativas em relação ao efeito protetor da aspirina
usada isoladamente [98]. Por esse motivo, a ADA (Ame-
Há indicações que pacientes diabéticos com angiopa- rican Diabetes Association) sugere o uso da aspirina em
tia apresentam um “turnover” plaquetário aumentado. O monoterapia, na dose de 81-325 mg ao dia, tanto na pre-
uso da aspirina nesses pacientes, leva a uma redução de venção primária quanto secundária [86].
mais de 50 vezes na quantidade absoluta de tromboxano
liberado. Ainda assim, o tromboxano liberado por esses Considerações especiais
pacientes após a introdução da aspirina ainda é maior do
que a que ocorre em pacientes não diabéticos que utili- A metanálise dos estudos de prevenção secundária
zam aspirina na mesma dose. Devido a esse fato, tem se permitiu o estudo de uma população de tamanho ade-
recomendado o uso da aspirina de liberação lenta com o quado para que a eficácia da aspirina fosse analisada
objetivo de manter um nível plasmático que permita a com segurança. Assim, há evidências convincentes de
supressão contínua da formação de tromboxano [82,83]. que a aspirina deve ser usada em pacientes diabéticos
Devido a inativação permanente da cicloxigenase pla- de ambos os sexos, acima de 30 anos, já que a popula-
quetária, o efeito inibitório de pequenas doses repetidas ção estudada não continha número suficiente de paci-
(< 100 mg/dia), tem se mostrado cumulativo, levando a entes abaixo dessa idade. Entre as interações medica-
uma completa inibição da síntese plaquetária de trom- mentosas observadas, é possível que o uso da aspirina
boxano após 7-10 dias. Doses maiores apresentam efei- diminua os efeitos benéficos dos inibidores da enzima
to cumulativo similar, resultando em imediata inibição conversora da angiotensina em pacientes com doença
da síntese de tromboxano [82,83]. vascular instalada. Nesses indivíduos, agentes antipla-
É assunto ainda controverso qual seria a dose ideal da quetários alternativos podem ser considerados até que
aspirina a ser utilizada. Argumenta-se que, devido a esse resultados mais conclusivos sejam obtidos [109]. A
“turnover” aumentado das plaquetas, seria necessária a partir dos resultados dos estudos clínicos menciona-
utilização de doses maiores em pacientes diabéticos para dos, são essas as recomendações da ADA para o uso da
suprimir a produção de tromboxano. Uma das razões é o aspirina em pacientes diabéticos no ano de 2001 [86]
resultado do estudo ISIS-2 que avaliou o efeito da aspi- (Tabela 7).
rina versus placebo na mortalidade precoce (0 a 35 dias)
Eliaschewitz FG et al. / Diabetes Clínica 04 (2001) 263~277 273

Tabela 7. Recomendações da Associação Americana de Diabetes diabetes in a national cohort of the U.S. population, 1971-1993.
publicadas em 2001. Diab.Care 21: 1138-45,1998.
6. Eliaschewitz FG. Diabetes na virada do milênio. 170 Reunião
1. O tratamento com aspirina deve ser empregado como estrátegia Anual da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Miologia Mole-
de prevenção secundária em diabéticos de ambos os sexos que cular e 140 Congresso Brasileiro de Investigação Clínica, Caxam-
apresentam evidências de doença vascular importante. Esta bu, Minas Gerais, julho de 1998.
população inclui pacientes diabéticos, do sexo masculino e 7. Venkat Narayan KM, Gregg EW, Fagot-Campagna A, Engelgau
feminino, com antecedentes de infarto do miocárdio, MM, Vinicor F. Diabetes - a common, growing, serious, costly,
revascularização miocárdica, acidente vascular cerebral ou and potentially preventable public health problem. Diabetes Res.
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9. Steppan CM, Bailey ST, Bhat S, Brown EJ, Banerjee RR, Wright
2. Além de tratar os fatores de risco cardiovasculares primários CM, Patel HR, Ahima RS, Lazar MA:The hormone resistin links
identificados, deve-se considerar o tratamento com aspirina obesity to diabetes. Nature 409: 307-12,2001.
como estratégia de prevenção primária nos homens e mulheres 10. Flier JS: The missing link with obesity? Nature 409: 292-3,2001.
de alto risco com diabetes do tipo 1 ou 2. Isso inclui pacientes 11. Day C: Thiazolidinediones: a new class of oral antidiabetic dru-
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• albuminúria (micro ou macro) 14. Tooke JE. Possible pathophysiological mechanisms for diabetic
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Colesterol total > 200 mg/dl 200,2000.
LDL - colesterol > 100 mg/dl 15. The effect of intensive treatment of diabetes on the development
HDL - colesterol < 45 mg/dl and progression of long-term complications in insulin-dependent
Triglicérides > 100 mg/dl diabetes mellitus. The Diabetes Control and Complications Tri-
O uso da aspirina não foi estudado em diabéticos com idade al Research Group. N. Engl. J. Med. 1993; 329:977-86.
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19. Ohkubo Y,Kishikawa H, Araki E, Miyata T, Isami S, Motoyoshi
No entanto, a proteção que a aspirina proporciona não S, Kojima Y, Furuyoshi N, Shichiri M. Intensive insulin therapy
prevents the progression of diabetic microvascular complicati-
é completa, e pacientes diabéticos continuam sofrendo ons in Japanese patients with non-insulin dependent diabetes me-
eventos cardiovasculares, apesar de a utilizarem. Esse llitus: randomized prospective 6-year study. Diabetes Res. Clin.
fato sugere que a ação antiplaquetária e antiinflamatória Pract. 28:103-17, 1995.
pode não ser suficiente para evitar a progressão da ateros- 20. Temelkova-Kurktschiev TS, Koehler C, Henkel E, Leonhardt W,
Fuecker K, Hanefeld M. Postchallenge plasma glucose and glyce-
clerose e suas complicações [98], se outros fatores esti- mic spikes are more strongly associated with atherosclerosis than
verem presentes. Na população diabética, os principais fasting glucose or HbA1c level. Diabetes Care 23: 1830-4,2000.
fatores que podem diminuir o efeito protetor da aspirina 21. Schmitz O,Juhl CB, Lund S, Djurhuus CB, Nyholm B, Porksen
são a hiperglicemia, a hipertensão e a dislipidemia. N, Ostergard T. HbA1c does not reflect prandial plasma excursi-
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278 Viggiano CS / Diabetes Clínica 04 (2001) 278~280
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 04 (2001) 278~280

ATUALIZAÇÃO

Proposta de pirâmide alimentar para o diabético


Celeste Elvira Viggiano*

*Nutricionista clínica, Mestre em Saúde Pública – USP, Consultora em Nutrição do Instituto Racine

A terapia nutricional em diabetes melito (DM) sofreu uma adesão à dieta de 45% do tempo.
no século 20 constantes alterações. Frederick M. Allen A terapia nutricional deve também estar focada na
[1] desenvolveu em 1912 a famosa “Terapêutica da fome prevenção de complicações tardias, lembrando que a
de Allen”, oferecendo 1000 kcal/dia e 10g de carboidra- doença cardiovascular é a mais comum no diabetes do
tos (CHO)/dia, com o objetivo de manter os indivíduos tipo 2, sendo as anormalidades das lipoproteínas a prin-
vivos até que, supostamente, a insulina voltasse a tor- cipal causa da aterosclerose. Portanto, a dieta é primor-
nar-se disponível. Deste modo, até o surgimento da in- dial para o controle glicêmico, e também para normali-
sulina exógena, os diabéticos eram tratados com dietas zação dos níveis de lipoproteínas. O consumo excessivo
muito baixas em CHO e em regime de semi-inanição. de lípides contribui para obesidade, hipertensão arterial,
Mesmo após a terapia com insulina, os estudiosos ain- aterosclerose e resistência à insulina, pois reduz o nú-
da da primeira metade do século vinte, ainda recomen- mero de receptores para insulina em vários tecidos; di-
davam a dieta pobre em CHO e rica em lípides, porque minui o transporte de glicose para o músculo e tecido
poucos estudos, e ainda não conclusivos, como os de adiposo; e reduz a atividade de processos que são esti-
Geyelin et al. [2], Sansum et al [3] e Kempner et al. [4], mulados por esse hormônio.
demonstraram os benefícios da dieta com maior aporte Quando a dieta é rica em ácidos graxos monoinsatu-
de glicídios e menor de lípides. rados (MUFA), parece não ocorrer redução da sensibili-
Entretanto, no decorrer de décadas, as recomendações dade à insulina. Um estudo que comparou a dieta rica
nutricionais indicadas pela American Diabetes Associa- em CHO com dieta rica em monoinsaturados em diabé-
tion (ADA), foram sendo modificadas à luz de novos ticos tipo 2, por quatro semanas, observou que a dieta
conhecimentos, particularmente aqueles revelados pe- com MUFA reduziu de forma significativa os níveis de
los estudos sobre índice glicêmico de alimentos. De di-
etas extremamente restritas em energia e CHO e muito Tabela 1 - Recomendações nutricionais para diabéticos: 1930-
ricas em gorduras e colesterol, passou-se a recomendar 1997, segundo ADA
dietas ricas em CHO e fibras, suficiente em proteínas e Nutrientes 1930 1955 1970 1990 1997
restritas em gorduras saturadas e colesterol [5], confor- CHO total g/dia 70 176 225 290 280
me apresentado na Tabela 1. % energia 14 35 45 58 56
Há muito que a individualização da terapia nutricio- lípides totais g/dia 153 99 82 60 67
nal tem sido o ponto fundamental, dentro das recomen- % energia 69 45 37 27 30
dações de todos os órgãos voltados para DM. Os resul- saturados g/dia 87 46 35 14 18
tados apresentados pelo Diabetes Complications Con- monoinsat.g/dia 50 37 31 26 31
trol Trial (DCCT) [6] indicam que as pessoas que aderi- polinsat.g/dia 9 11 13 17 18
ram mais que 90% do tempo ao plano alimentar indivi-
colesterol mg/dia 1060 690 550 150 150
dualizado, tinham em média um nível de hemoglobina
glicada 0,9% menor do que aqueles que apresentaram Proteínas g/dia 85 101 90 75 70
% energia 17 20 18 15 14
Endereço para correspondência: Celeste Elvira Viggiano fibras diet. g/dia 8 15 20 40 35
Rua Des. Lauro Souza Alves, 7 CEP 05171-480 - São Paulo - SP
E-mail: salute@osite.com.br Valores para dieta com 2000 kcal
Viggiano CS / Diabetes Clínica 04 (2001) 278~280 279

glicose, insulina, triglicérides e VLDL-colesterol, e au- cionalmente adequada, é a mais freqüente escolha entre
mentou também significativamente o HDL-colesterol e os nutricionistas e educadores em saúde de todo o mun-
apo A-I [7]. Portanto, nos parece que o incentivo ao con- do, sendo já reconhecida pela maior parte das pessoas.
sumo de ácidos graxos insaturados, particularmente os A pirâmide alimentar como instrumento pedagógico,
monoinsaturados podem prevenir o processo ateroscle- na educação nutricional em diabetes, nos pareceu ade-
rótico, reduzindo o risco coronariano. quada e oportuna, já que a conduta nutricional nesta en-
Anderson [8] e Zeller [9] postularam que o excesso de fermidade preconiza basicamente uma dieta equilibra-
proteínas pode facilitar o desenvolvimento de nefropatia da. Foram necessárias algumas adaptações para enfati-
diabética, e que a proteína da soja reduz o índice de filtra- zar alguns aspectos fundamentais que se aplicam prin-
ção glomerular em diabéticos, recomendando que a pro- cipalmente à prevenção de complicações tardias.
teína de origem animal seja substituída por esta na dieta Esperamos que possa ser útil aos colegas nutricionis-
de diabéticos, como uma forma de prevenção da doença tas e principalmente aos pacientes, contribuindo para a
renal. Esses dados necessitam de maior investigação para dissolução de tabus alimentares até hoje disseminados
que integrem a conduta nutricional em DM. em nosso meio, não só pela população, mas também pela
Contudo, as melhores fontes vegetais de proteínas são mídia e profissionais de saúde, permitindo controle da
as leguminosas. Esses alimentos, ricos em fibras solúveis, doença e melhor qualidade de vida aos diabéticos.
devem compor a dieta, já que além das fibras que redu-
zem a resposta glicêmica pós-prandial, apresentam baixo Compreendendo a pirâmide
teor de gorduras e sódio, o que não se verifica nos ali-
mentos protéicos de origem animal. Manter proporções Cada grupo contido na pirâmide oferece um nutrien-
equilibradas entre as duas fontes, pode resultar em dieta te em especial.
mais adequada à prevenção de complicações tardias. O que nos sugere que alimentos do mesmo grupo são
O controle do sódio dietético, é também considerado substitutos ou equivalentes.
na prevenção da hipertensão arterial, da coronaropatia e
da nefropatia diabéticas. Segundo ADA (2000), reco- Cereais e tubérculos: São os alimentos energéticos,
menda-se 1000mg de sódio a cada 1000 kcal da dieta, as principais fontes de energia para a vida. Não devem
não ultrapassando 3000mg de sódio/dia, o que se traduz ser restritos na dieta. Os cereais integrais são mais nutri-
em restrição moderada de sódio. Portanto, já deve haver tivos do que os refinados.
controle do consumo de sódio intrínseco, o que limita o Cereais: arroz, milho, trigo, aveia, centeio, cevada e
uso de alimentos industrializados, além da restrição do seus produtos (farinhas, massas, pães).
cloreto de sódio. O consumo de potássio di-
etético deve ser incentivado já que contribui
para prevenção e controle da hipertensão ar-
terial [10]. As frutas frescas e dessecadas, e
hortaliças, excelentes fontes desse eletróli-
to, além de vitaminas, minerais e fibras, de-
vem integrar a dieta, sem restrição de quali-
dade, já que seu conteúdo de carboidratos
sofre interferência a nível digestivo, não al-
terando a resposta glicêmica, salvo se con-
sumidos isoladamente [11,12]. A Ingestão
Dietética Recomendada (IDR) para indiví-
duos diabéticos, seguem as recomendações
que para não diabéticos em todas as faixas
etárias, quanto às vitaminas e minerais [5].
Já é sacramentado que a educação em di-
abetes é uma das interfaces do tratamento,
sendo considerada imprescindível tanto para
o paciente, quanto para a família e aqueles
que o cercam. Sem dúvida, a educação nu-
tricional é fundamental dentro deste proces-
so, podendo inclusive ser considerada como
a base da terapia. A utilização da pirâmide
alimentar para a população, como forma de Manter ao menos no café da manhã, almoço e jantar, alimentos
orientação para escolha de uma dieta nutri- constantes da pirâmide, nas porções prescritas para você.
280 Viggiano CS / Diabetes Clínica 04 (2001) 278~280

Tubérculos: batata, mandioca, inhame, cará e mandi- Oleaginosas: Abacate, noz, amêndoas, castanhas,
oquinha. avelã.
Hortaliças: Fontes de vitaminas, sais minerais, e fi- Doces, gorduras sólidas, alimentos industrializa-
bras, que têm função reguladora do organismo. Escolha dos e sal de cozinha: Consumo esporádico. O açúcar
pelo menos um vegetal amarelo ou verde intenso. São pode prejudicar o controle do diabetes, se consumido
as melhores fontes de vitamina A e flavonóides, que são em excesso e fora do esquema alimentar. Não o utilize
anti-radicais livres, ou seja, favorecem a manutenção das se não estiver prescrito em sua dieta.
funções vitais e previnem as complicações crônicas do O excesso no consumo de gorduras sólidas na tempe-
diabetes. ratura ambiente e sódio, presente no sal de cozinha e
Hortaliças: Alface, escarola, repolho, acelga, agrião, nos conservantes de alimentos industrializados, possi-
espinafre, rúcula, almeirão, mostarda, couve, brócolos, bilitam as doenças coronarianas. Portanto, utilize o sal
couve-flor, cenoura, beterraba, abóbora, chuchu, abobri- com moderação e evite os alimentos industrializados e
nha, berinjela, pimentão, quiabo, jiló, rabanete, salsão, as gorduras que se apresentam sólidas na temperatura
erva-doce ambiente, seja de origem animal ou vegetal.
Doces: Balas, bolos, sorvetes, mel, garapa, doces con-
Frutas: Também são boas fontes de vitaminas, sais
centradas e em calda, etc.
minerais e fibras, e portanto têm função reguladora, po-
Gorduras sólidas: Toucinho, manteiga, creme de lei-
rém fornecem uma pequena quantidade de açúcares, por
te, coco, margarina, banha, etc.
isso não são equivalentes às verduras e legumes. Dentre
Alimentos industrializados: Enlatados, salgadinhos
todas as frutas do dia, consuma ao menos uma cítrica,
tipo snacks, molhos, temperos, etc.
por ser fonte de vitamina C, também anti-radicais livres.
Sal de cozinha: deve ser usado com moderação du-
Frutas frescas: Abacaxi, laranja, maracujá, tangeri-
rante o preparo dos alimentos, e não adicionado depois
na, maçã, banana, pêra, caqui, goiaba, uva, kiwi, melan-
de pronto. Evite deixar o saleiro na mesa, e tempere as
cia, mamão, melão, manga, pêssego, etc.
saladas com temperos frescos, como limão, cebola, alho,
Frutas dessecadas: Uva passa, ameixa seca, damas-
orégano.
co seco, etc.
Outra opção é o sal light que contém menor teor de
Leite, queijos e iogurte: São fontes de proteínas e as sódio.
melhores fontes de cálcio. Considerados como alimen-
tos construtores, por promoverem a renovação e multi- Álcool: O consumo de álcool traz prejuízo ao contro-
plicação das células. Procure optar pelas formas desna- le do diabetes, precipitando hipoglicemia ou hiperglice-
tadas ou as light. mia. Além disso, traz muitas calorias e favorece o au-
Carnes e ovos: Fontes de proteínas e ferro, são tam- mento dos níveis de gordura no sangue.
bém alimentos construtores. Procure consumir nas for-
mas mais magras, e dê preferência aos peixes. Referências
Carnes: Boi, aves, peixes e frutos do mar (camarão,
ostra, mexilhão, siri, lula, etc). 1. Allen FM. JAMA 1914;63:639-43.
Ovos: Galinha, codorna, pata, etc. 2. Geyelin HR et al. JAMA 1935;104:1203-8.
3. Sansum WD, Blatherwick NR, Bourden R. JAMA
Leguminosas: Fontes de proteínas vegetais e fibras. 1926;86:178-81.
Além de construtores, esses alimentos permitem melho- 4. Kempner W, Peschel RL, Schlayer C. Postgrad Med
rar os níveis de glicose no sangue, por conter fibras so- 1958;24:359-71.
5. American Diabetes Association. Diabetes Care
lúveis, que reduzem e retardam a absorção de glicose na 1998;21(S1):S5-S19.
digestão. São consideradas como a melhor fonte de fi- 6. The DCCT Research Group N Engl J Med 1993;329:977-86.
bras para o controle da glicemia e redução do colesterol. 7. Garg A, Bonanome A, Guindy SM et al. N Engl J Med
Leguminosas: Feijão, ervilha, lentilha, grã-de-bico, 1988;319:829-3
soja. 8. Anderson JW Nutrition Management of Diabetes Mellitus. In
Modern Nutrition in Health and Disease Shils ME et al. 9ª ed.
Óleos, cremes vegetais e frutas oleaginosas: Tenha Ed. Williams & Wilkins,1999.
um consumo moderado. Inclua o óleo de oliva ou cano- 9. Zeller K, Whittaker E, Sullivan L, et al. N Engl J Med
1991;324:78-84.
la na alimentação diária, por conterem gordura monoin- 10. Frolich ED. Hipertensão. Compêndio de Cardiologia
saturada que eleva os níveis do bom colesterol (HDL- Preventiva. American Heart Association, 1999;131-142.
colesterol), prevenindo o infarto. 11. Jenkins DJA, Wolever TMS, Taylor RH et al. Glycemic index
Óleos: Soja, milho, canola, arroz, girassol, oliva. of foods: a physiological basis for carbohydrates exchange.
Cremes vegetais: Margarinas com menor teor de gor- Am J Clin Nutr 1981;34:362-66
12. Crapo PA, Reaven G, Olefsky J. Postprandial plasma-glucose
dura, como as light. and insulin responses to different complex carbohydrates.
Diab 1977;26:1178-83.
FICHA PRÁTICA
Diabetes Clínica 09
Ficha Prática / Diabetes Clínica

A resistência à insulina

O que é a resistência à insulina ? duzir a quantidade suficiente de insulina para


satisfazer a demanda; a taxa da glicose au-
Resistência à insulina ocorre quando o corpo menta e o diabetes ocorre.
não responde adequadamente à insulina pro-
duzida. Insulina é o hormônio que ajuda para Como avaliar a resistência à insulina ?
regular os níveis da glicose sanguínea. A re-
sistência à insulina é uma causa do diabetes Não existe atualmente um teste simples para
de tipo 2. a resistência à insulina. É recomendado às
pessoas com diagnóstico de diabetes de tipo
Como a resistência à insulina é 2 fazer pelo menos duas vezes ao ano um
diferente do diabetes de tipo 2 ? teste de hemoglobina A1c (HbA1c) para acom-
panhar o controle da glicose. Conhecer o ní-
A resistência à insulina é um precursor do di- vel de HbA1c permite ter uma avaliação do
abetes de tipo 2. Resistência à insulina signi- controle glicêmico a longo prazo.
fica que as células são resistentes à insulina
produzida pelo corpo. O corpo precisa de in- Quais são os fatores de risco para
sulina para entregar o açúcar nas células onde desenvolver resistência à insulina ?
será convertida em energia. Quando as célu-
las não respondem corretamente à insulina, A obesidade é o principal fator de risco para a
mais insulina é requerida para manter os ní- resistência à insulina, especialmente em pes-
veis de glicose no sangue. Se o corpo não pode soas que apresentam uma obesidade tipo
produzir as quantidades de insulina maçã, caracterizada por abdômen proeminente
requeridas, os níveis de açúcares no sangue e quadril normal. O histórico familiar e étnico,
aumentam e o diabetes de tipo 2 ocorre. a inatividade e o tabagismo são também fato-
res de risco para a resistência à insulina.
Posso apresentar resistência à insulina
sem ter diabetes de tipo 2 ? Porque a resistência à insulina é tão
séria ?
Sim. Você pode ser resistente à insulina sem
ser portador de diabetes, porque o pâncreas A resistência à insulina pode conduzir ao dia-
trabalha mais e produz insulina o suficiente betes de tipo 2, doença associada a compli-
para controlar o açúcar no sangue e nas cé- cações cardiovasculares, oftalmológicas, re-
lulas. Muita gente com resistência à insulina nais e com risco de amputações dos mem-
nunca apresentarão o diabetes. Todavia, na bros. A detecção precoce e o tratamento po-
maioria das pessoas, o pâncreas sofre de dem ajudar para a prevenção e adiar o de-
exaustão e, rapidamente, não consegue pro- senvolvimento dessas complicações.

Hemoglobina glicosilada (HbA1c)

A hemoglobina glicosilada é o parâmetro mais amplamente utilizado para realizar um teste de


memória, isto é para os níveis glicêmicos prévios à data de coleta do sangue. Quimicamente,
ocorre a condensação da glicose com o amino terminal valina de cada um das cadeias b da
hemoglobina A, formando, após vários rearranjos, uma cetoamina estável, denominada HbA1c.
A concentração de hemoglobina glicosilada num determinado momento depende da meia
vida das hemácias, que em condições normais é de 120 dias, e da concentração da glicose no
sangue. Há uma relação direta entre o risco de complicações decorrentes do diabetes e o nível
de HbA1c. De uma forma geral, pode-se assumir que, em condições normais, a hemoglobina
glicosilada fornece uma boa aproximação dos níveis glicêmicos das últimas 6 a 8 semanas.
O intervalo de referência da HbA1c é de 3% a 6% do total de hemoglobina. Pacientes diabéti-
cos sem um bom controle dos níveis glicêmicos podem, freqüentemente, apresentar valores de
10%, 12% ou mais, mas raramente acima de 20%.
É aconselhável que o exame seja feito, sempre que possível, no mesmo laboratório e pela
mesma metodologia.
Diabetes Clínica 04 (2001) 283

Calendário de Eventos
25 a 27 de outubro
Setembro de 2001 IIo Congresso Internacional de metabolismo ósseo e mineral
Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Rio de Janeiro RJ
9 a 13 de setembro Informações: Tempo Eventos Assessoria
37th Annual Meeting European Association for the Study of Tel/Fax: (21) 2235-0997
Diabetes E-mail: tempoeventos@uol.com.br
EASD 2001
Glasgow, Escócia
Informações: Concorde Services Ltd Novembro de 2001
$b, 50, Speirs Wharf, Port Dundas
Glasgow, G4 9TB UK 11 a 15 de novembro
Tel +44 141 331 0123 XIo Congresso ALAD – Association latinoamericana de
E-mail: easd@concorde-uk.com diabetes
IIIo Congresso Uruguaio de Diabetologia
Punta del Este, Uruguai
Outubro de 2001 Informações: personas SRL, Av. 8 de octubre 2323, of. 305,
Montevideo, Uruguai
3 a 6 de outubro Tel: (5982) 408-1015/408-2951
Avanços no diagnóstico e terapêutica das doenças E-mail: personas@cs.com.uy
neuroendócrinas
Hospital Brigadeiro, São Paulo SP 15 a 18 de novembro
Informações: Serviço de Endocrinologia Hospital Brigadeiro XIIIo Curso nacional de atualização em endocrinologia e
Tel: (11) 3846-3272/3846-3273 Sra Marilene metabologia
E-mail: acukiert@uol.com.br Gramado, RS
Organizacão: SBEM regional RS
4 a 6 de outubro www.vjs.com.br
IIo Congresso Internacional de Nutrição, Alimentação e Tel: (51) 330 1134
Tecnologia - CINAT E-mail: vjs@vjs.com.br
Centro de Convenções São Camilo, São Paulo SP
Informações: SINESP (11) 3277-8422/8291, 278 7144
www.sindicatonutricionistas.com.br

7 a 10 de outubro
Clinical Endocrinology Update 2001
Fairmont Hotel, Chicago, Illinois, EUA Diabetes Club
Informações: The Endocrine Society Todas as 2as quarta-feira de cada mês
Tel: 1 (301) 941 0226 Auditório Vivali Editora
www.endo-society.org/scimeetings/ceu.cfm Rua Cotoxó, 841
Sumaré – São Paulo SP
10 a 14 de outubro Tel: (11) 3672-2033 / 3864-6852
XIIIo Congresso brasileiro de diabetes
Hotel Intercontinental, Rio de Janeiro, RJ
Organização: Prof. Dr. Daniel Giannella Neto
Informações: JZCongressos
Tel: (21) 286-2846/537-9134 Equipe Médica de Diabetes LIM-25/HCFMUSP
E-mail: mail@jz.com.br Av.Dr. Arnaldo, 455, sala 4305
01246-903 São Paulo SP
21 a 24 de outubro Tel/fax: (11)3066-7467
XIVo Congresso brasileiro de nutrição parenteral e enteral
VIIo Congresso latino americano de nutrição parenteral e Confirmar presença pelo e-mail:
enteral dag@lim25.fm.usp.br
IIo Congresso brasileiro de nutrição clínica As aulas podem ser assistidas em sua integra no
Salvador, BA endereço:
Informações: Eventus System
www.topmedical.com.br/diabetes club/index.htm
Tel: (71) 264-3477 Fax: (71) 264-0508
E-mail: eventus@cpunet.com.br
284 Diabetes Clínica 04 (2001)

Dezembro de 2001 Setembro de 2002


1 a 3 de dezembro 1 a 5 de setembro
IIo Encontro paranaense de Endocrinologia 38th Annual Meeting European Association for the Study of
Informações: (41) 342-1415 Ramal 213 e 214 (Fax) Diabetes
E-mail: amp@amp.org.br EASD 2002
Budapest, Hungria
2 a 5 de dezembro Informações: Budapest 5, POB 741
9th Congress of gynecological endocrinology Hungary 1365
Hong-Kong Tel: +36 1 269 5883
Informações: Biomedical Technologies Srl E-mail: easd2002@congress.blavo.hu
E-mail: biomedical@tin.it

Fevereiro de 2003
Janeiro de 2002
3th International Symposium on Diabetes & Pregnancy
15 a 18 de janeiro Geneva, Switzerland
1st International Conference and World Fórum on Technology Informações: PO Box 50006 Tel Aviv 61500 Israel
Transfer of Obesity and Nutrition Tel 972 3 514 0014
Cairo, Egypt E-mail: conventions@kenes.com
Informações: International Obesity Conference
PO Box 5950 West Heliopolis, Cairo, Egypt
Tel: 20 10 5678 123 Agosto de 2003
E-mail: hamalaway@hotmail.com

24 a 29 de agosto
18th Internacional Diabetes Federation Congress
Março de 2002 Paris, França
Informações: www.idf.org
6 a 9 de março
5th International Symposium on Clinical Advances in Osteoporosis
Informações: National osteoporosis Foundation
Tel: 1 (202) 223 2226
E-mail: iso@nof.org

Maio de 2002
4 a 7 de maio
5th International Diabetes Federation Western Pacific Region
Congress
Pequim, China
Informacões +86 10 6527-8803
Fax +86 10 6512-3754
E-mail: ldwpr@chinamed.com.cn

Junho de 2002
14 a 18 de junho
62th Annual Scientific Sessions of the American Diabetes
Association
San Francisco, California
Informacões: www.diabetes.org

Agosto de 2002
24 a 29 de agosto
9th International Congress on Obesity
São Paulo, SP
Informações: Abeso
Tel: (11) 3079-2298
Fax: (11) 3079-4232
Diabetes Clínica
Diabetes Clínica 04 (2000) 285

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Índice
(vol. 5 nº 5 - 2001) 285~356

EDITORIAL
A Sociedade Brasileira de Diabetes e o futuro, José Egídio Paulo de Oliveira ......................................... 287

INFORMES DO DIABETES NO MUNDO ............................................................................................... 289

O DIABETES NA IMPRENSA ................................................................................................................... 301

AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS ............................................................................... 305

PRODUTOS E NOVIDADES
Innovo (Novo Nordisk), Optium (Abbott Medisense), Glico-Fita Plus (Lilly),
SureStep Plus (Johnson & Johnson) ............................................................................................................... 316

RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS .................................................................................... 319

ARTIGOS CIENTÍFICOS
Perfil do paciente diabético internado no hospital universitário Presidente Dutra, São Luís, Maranhão,
Natalino Salgado Filho, Bernardete Jorge Leal Salgado, Luiz Gustavo Oliveira Brito,
Gustavo Augusto Coelho Ferro, Ana Leatrice Oliveira Sampaio ................................................................... 333

Protegendo o endotélio vascular de pacientes diabéticos com aspirina – Parte 2,


Freddy Goldberg Eliaschewitz, Ana Carla Goldberg, Christiani Adão Poço ................................................ 339

Atividade física e diabetes mellitus, Nora Mercuri, Viviana Arrechea ........................................................... 347

NOTÍCIAS DAS ASSOCIAÇÕES


Mercosul: Segundo Encontro Regional sobre a Lei do Diabetes ................................................................... 350

FICHAS PRÁTICAS
O diabetes na Internet ..................................................................................................................................... 353

CALENDÁRIO DE EVENTOS .................................................................................................................. 355

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Diabetes Clínica
286 Diabetes Clínica 04 (2000)

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos
distúrbios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre
o conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associ-
adas. Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico, o conselho consultivo e profissionais
de reconhecido saber na área. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relati-
vas à diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma
maneira rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes.

Diabetes Clínica Dr. Nelson Rassi (GO) ATLANTICA EDITORA


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presidente da FENAD e ANAD, Enfermeira Paula Pascali (SP) Redação
Professor Titular de Endocrinologia Dra. Reine Marie Chaves (BA) Jean-Louis Peytavin
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287
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

EDITORIAL

A Sociedade Brasileira de Diabetes e o futuro

José Egídio Paulo de Oliveira

Convidamos o novo presidente eleito da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Prof. Dr. José Egídio Paulo de Oliveira, para escrever o editorial deste
número de Diabetes Clínica – Fadlo Fraige Filho.

A Sociedade Brasileira de Diabetes –SBD é a entidade representativa dos


especialistas envolvidos na pesquisa, assistência e ensino do Diabetes Mellitus
no Brasil. Há cada dois anos, durante o maior evento da Sociedade, o Congresso
Brasileiro de Diabetes, é escolhida por voto direto dos associados, uma nova dire-
toria. Em janeiro de 2002, juntamente com os companheiros Nelson Rassi, Saulo
Cavalcanti, Leão Zagury, Reine Marie Chaves Fonseca, Francisco Bandeira, Anto-
nio Carlos Lerário, Maria Inêz Schmidt, Milton César Foss e Lenita Zajdenverg,
vamos assumir a direção da SBD. Sabemos de antemão, que nossa tarefa não vai
ser fácil, mas este desafio está sendo muito estimulante para todos nós.
Um dos principais objetivos da SBD é melhorar a qualidade de vida do
diabético em nosso meio. Para tanto, pretendemos promover atividades amplas
no sentido do aperfeiçoamento da qualidade dos profissionais e serviços envol-
vidos na assistência, pesquisa e ensino do diabetes. Por outro lado, não vamos
esquecer de fomentar em nível municipal, estadual e federal, o apoio a uma
legislação adequada, que garanta o direito da pessoa ter acesso ao diagnóstico
e tratamento, ao mesmo tempo em que contemple o portador de diabetes com a
necessária proteção contra a discriminação profissional ou social.
Há 15 anos atrás, a SBD apoiou o Ministério da Saúde no desenvolvimento
e realização do Estudo de Prevalência do Diabetes Mellitus no Brasil. Os dados
deste estudo revelaram a elevada prevalência do diabetes, e que metade dos
Prof. Dr.José Egídio Paulo de Oliveira, diabéticos comprovados, desconheciam o diagnóstico e, portanto estavam à
Presidente eleito da Sociedade Brasileira margem do tratamento, com alto risco para o desenvolvimento de complica-
de Diabetes – Gestão 2002-2003 ções, projetando o Diabetes Mellitus como um problema de saúde pública.
Estes dados ofereceram suporte para implantação do Plano Nacional de
Educação e Controle do Diabetes, que promoveu a criação de Programas de
Diabetes na maioria dos municípios brasileiros. Mas a prevalência do diabetes
vem aumentando na Europa e Estados Unidos e provavelmente também no
nosso meio, como mostrou o estudo realizado na cidade de Ribeirão Preto. Por
outro lado, desconhecemos em nível nacional, o grau de controle e a freqüência
de complicações entre nossos pacientes. Portanto, temos necessidade de um
novo estudo brasileiro, que contemple estas necessidades e possa apresentar
uma prevalência nacional atualizada. Os resultados deste grande estudo servi-
rão num futuro próximo, para dirigir nossas ações, no sentido do fomento da
melhor qualidade de vida do portador de diabetes. Por fim, pretendemos que a
SBD mantenha canais permanentes de comunicação com a sociedade, com
finalidade de mantê-la informada sobre o conhecimento atual e as novas pes-
quisas e conquistas científicas e também sobre os benefícios imediatos e em
longo prazo que deles advirão em favor da população diabética brasileira.
Diabetes Clínica 05 (2001) 289

Informes do Diabetes no Mundo


J.B. Holland et al., 37th Annual Uma hora de exercício por semana é suficiente: Estudo de
Meeting of the European Association programa de exercício de 3 e 6 meses em pacientes diabéticos
for the Study of Diabetes (EASD),
Glasgow, Reino-Unido, 9 - 13 de Objetivo: Atividade física reduzida já foi identificada como fator de risco
setembro de 2001 máximo para a doença arterial coronariana, sendo esta uma contribuição tão
importante como o tabagismo e a hiperlipidemia. A intensidade exata e a
freqüência da atividade necessária não são conhecidas. Neste estudo, avalia-
mos se um exercício sob controle de especialista uma vez por semana seria o
suficiente para melhorar os fatores de risco cardíacos em pacientes diabéti-
cos e após quanto tempo a melhora poderia ser constatada.
Material e métodos: Os pacientes interessados foram selecionados em clí-
nica de diabetes. Não tinha nenhum fator de exclusão e os lugares no estudo
foram propostas aos primeiros inscritos. 20 pessoas participaram do estudo
que consistia em uma serie de exercícios de 1 hora, seguido de meia-hora de
educação, uma vez por semana. O primeiro programa foi de 6 meses, e os
outros de 3 meses. Antes de participar no programa, os pacientes foram exa-
minados para medição da altura, peso, cintura, HbA1c, colesterol e respon-
deram a um questionário de qualidade de vida.
Resultados: 56 pacientes (40 mulheres) participaram do programa de 3
meses. A idade média era 60 (34-73) anos, 52 eram portadores de diabetes
tipo 2 e 4 de diabetes tipo 1. O programa melhorou significativamente o bem-
estar (22+1 vs. 27+1, p < 0,001) e cintura (42,9+0,97 vs. 41,8+0,96, p <
0,00001). O IMC mostrou uma tendência para melhorar (33,9+0,96 vs.
33,4+0,91, p = 0,10), mas o exercício não tinha efeitos sobre HbA1c (8,4+0,2
vs. 8,3+0,2, p = 0,35) ou colesterol (5,4+0,16 vs. 5,1+0,13, p = 0,18). 18
pacientes (13 mulheres) participaram do programa de 6 meses. A idade me-
dia era 62 (45-77) e 13 eram portadores de diabetes tipo 2 e 5 de diabetes tipo
1. Este exercício melhorou significativamente o bem-estar (43+3 vs. 54+3, p
< 0,01), cintura (40,7+1,6 vs. 38,9+1,6, p < 0,001), IMC (31,3+1,5 vs.
30,8+1,6, p < 0,05), colesterol (5,5+0,3 vs. 5,2+0,23, p = 0,05) e HbA1c
(8,9+0,3 vs. 8,4+0,3, p < 0,01). Triglicérides também mostraram uma ten-
dência para melhorar (2,28+0,26 vs. 1,98+0,23, p = 0,13). Sexo ou tipo de
diabetes não foram prognósticos da resposta ao exercício, mas os que inicia-
ram o programa com o menor escore de bem-estar melhoraram mais (r =
0,94, p < 0,001).
Conclusões: Uma hora uma vez por semana de exercício controlado é su-
ficiente para melhorar significativamente vários fatores de risco da doença
arterial coronariana, pelo menos se o exercício é efetuado durante um pe-
ríodo de seis meses. Se os participantes continuam o exercício após o perí-
odo do programa não foi observado.
290 Informes do Diabetes no Mundo / Diabetes Clínica 05 (2001)

Earl Ford et al., American Journal of Suplementação vitamínica e prevenção do diabetes


Epidemiology 2001, 153: 892-897,
maio de 2001 O estudo procurou confirmar a hipótese de uma pesquisa anterior, pela
qual o uso de vitaminas diminuiria o risco de doença crônica tal como o
diabetes. A equipe de Earl Ford, do National Centre for Chronic Disease
Prevention and Health Promotion, Atlanta, Geórgia, desenhou um estudo para
confirmar a relação possível do suplemento vitamínico com a incidência do
diabetes em uma coorte de adultos nos EUA. O estudo incluiu 9.573 indiví-
duos, com idade entre 25 e 74 anos. Durante os 20 anos do estudo, 1.010
indivíduos desenvolveram diabetes. Um menor percentagem de participan-
tes (21,4%), com diabetes, reportaram o uso de vitaminas durante o mês an-
terior ao início, em comparação com aqueles que nunca apresentaram a do-
ença (33,5%). Depois de ajustar os resultados em uma análise multivariada, o
risco relativo de diabetes nos consumidores foi de 0,76%. Poderia se concluir
que os adultos que recebem suplementos vitamínicos têm um menor risco de
desenvolver diabetes mellitus, mas, segundo as conclusões do estudo, “não
fica claro se a observação é o resultado do uso de vitaminas específicas ou de
outros fatores em relação com o uso de vitaminas.”

Traci L. Coleman et al., American Parto vaginal após cesárea não deve ser realizado em pacientes
Journal of Obstetrics and Gynecology com diabetes gestacional
2001;184:1104-1107, junho de 2001
Os pesquisadores demonstram que as mulheres com diabetes gestacional,
submetidas a parto vaginal após cesárea prévia, têm duas vezes mais chance
de ter parto cirúrgico do que as outras mulheres. O estudo comparou 156
mulheres com diabetes gestacional e 272 mulheres sem diabetes gestacional,
todas com história prévia de parto cesárea e submetidas a parto vaginal. Os
autores observaram que, entre as mulheres com diabetes gestacional, 35,9%
foram submetidas à cesárea comparadas a 22,8% dos controles, com razão de
chances de 1,9. Além disso, mulheres com diabetes gestacional que tiveram
parto vaginal tinham maior propensão ao uso do fórceps e vácuo. Os autores
concluem que a maioria das mulheres com diabetes gestacional e com histó-
ria de cesárea devem ser submetidas a cesáreas subseqüentes, sendo as mu-
lheres cuidadosamente selecionadas para parto vaginal após parto cesáreo.

Morris J. Birnbaum, Science Falta de uma proteína ligada à resistência à insulina em ratos
2001;292:1728-1731, 1 de junho de
2001 Em ratos faltando de Akt2 (conhecida como proteína quinase B), a insuli-
na não pode diminuir a glicose sanguínea, o que indica que Akt2 é um gene
essencial para manter os níveis normais de glicose. Ratos foram genetica-
mente transformados para apresentar uma deficiência de Akt2, e foi observa-
da neles uma elevação significativa das taxas da glicose, de 3 a 5 vezes o
nível normal, o que indique que a hiperglicemia, neste caso, é a conseqüência
de um defeito da ação da insulina.
Outras observações mostraram que os ratos deficientes em Akt2 não ti-
nham mais a capacidade de estimular o consumo de glicose pelo músculo, e
a insulina não podia mais controlar o esquema de produção de glicose pelo
fígado. “Pela eliminação de um gene, criamos uma síndrome com duas das
principais características do diabetes do tipo 2, o defeito de consumo da
glicose pelo músculo e o defeito de regulação da insulina no fígado”, disse
Birnbaum. Isso não significa que o defeito do Akt2 seja responsável do dia-
betes; ele pode reproduzir o fenótipo, e o estudo permite investigar melhor o
papel de Akt2 no diabetes tipo 2, o que nunca foi feito até agora.
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 05 (2001) 291

Patrick J. Manning et al., Arch Intern Reposição hormonal reduz risco cardiovascular em mulheres
Med 2001 161 1772-1776, diabéticas
julho de 2001
O estudo afirma que a terapia de reposição hormonal (TRH) em mulheres
pós-menopausadas com diabetes de tipo 2 apresenta benefícios no perfil de
lipoproteínas e em outros fatores de risco cardiovascular. O estudo reitera
que mulheres pós-menopausadas portadoras de diabetes estão sob maior ris-
co de doença cardiovascular que as não diabéticas. A TRH melhora o perfil
lipídico em mulheres não diabéticas. Entretanto, os efeitos da TRH em dia-
béticas não foram determinados. Conduziu-se estudo em 61 mulheres pós-
menopausadas randomizadas para tratamento de seis meses com TRH ou com
placebo. Durante o tratamento, o colesterol total caiu em 7%. A redução média
no LDL foi de 12%. Os níveis de apolipoproteína B também caíram, bem como
as concentrações de lipoproteína(a), fibrinogênio e frutosamina. Os autores
comentam que o estudo demonstra que a TRH em diabéticas reduz o risco
cardiovascular. Entretanto, não há até o momento evidências de redução nos
eventos cardiovasculares e ensaios clínicos maiores serão necessários até que a
TRH seja implementada no tratamento da doença cardiovascular.

6th Joint Meeting of the Lawson Wilkins Poderia a nicotinamida e a vitamina E ter efeitos sinérgicos para
Pediatric Endocrine Society and the reduzir o uso da insulina ?
European Society for Paediatric
Endocrinology (ESPE), Australasian A combinação da nicotinamida e da vitamina E poderia ter um efeito si-
Paediatric Endocrine Group, Japanese nérgico para diminuir o uso diário da insulina em portadores de diabetes de
Society for Pediatric Endocrinology, tipo 1 recentemente diagnosticados.
Latin American Society for Paediatric A nicotinamida é um importante complexo vitamínico do grupo B utiliza-
Endocrinology, Montreal, Quebec, do com agente intermediário em muitos remédios. Estudos anteriores mos-
Canada, 10 de julho de 2001 traram que ele pode ter um efeito sobre a preservação da função da célula β.
Vitamina E pode funcionar ao nível da célula β para diminuir a citotoxici-
dade mediada por citoquinas, mas nunca foi demonstrado que ela pode agir
sobre o processo auto-imune, conduzindo à perda da função da célula β, nem
que ela tem efeitos sobre o processo da insulina.
Este novo estudo incluiu crianças recentemente diagnosticados (idade mé-
dia 7,8 anos). 27 pacientes receberam nicotinamida (25 mg/kg/dia), e 29 re-
ceberam terapia combinada de nicotinamida e vitamina E (25 mg/kg/dia e 15
mg/kg/dia, respectivamente). Todos os pacientes receberam aplicações de
insulina – 3 doses de insulina de ação curta nas refeições e uma aplicação de
insulina intermediária ao deitar durante um período de 12 meses. As crianças
com idade inferior a 15 anos que desenvolveram diabetes de tipo 1 experi-
mentam geralmente uma perda mais rápida da função da célula β, e uma
forma mais severa da doença, com maiores riscos de lesões micro e macro-
vasculares. No estudo, o uso da insulina no início foi de 0,8 IU/kg/dia no
grupo de terapia combinada e de 0,89 IU/kg/dia no grupo de nicotinamida.
Em ambos os grupos a dosagem da insulina diminuiu durante os três primei-
ros meses da terapia, para 0,5 IU/kg/dia no grupo terapia combinada, pós aumen-
tou gradualmente. No final do estudo, ela estava ainda menor do que no início –
0,6 IU/kg no grupo terapia combinada e 0,7 no grupo nicotinamida (p = 0,01).
Os C-peptídeos plasmáticos foram significativamente mais elevados no
grupo terapia combinada. Não foi notada diferença significativa entre os dois
grupos no que se refere à HbA1c, que diminuiu de 10-11% para 7%.
“É o primeiro estudo que demonstra que a nicotinamida em jovens crian-
ças portadores de diabetes de tipo 1, utilizada em combinação com vitamina
E, pode otimizar a hemoglobina e diminuir o uso da insulina até níveis de 0,5
IU/kg/dia,” explicou o Dr. Antonino Crino.
294 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 05 (2001)

Miller WC, Exercise Science Programs, Dieta e exercícios para o sobrepeso e recomendações de
The George Washington University intervenção
Medical Center, Washington, DC,
Sports Med 2001;31(10):717-724, A dieta tradicional e os programa de exercício para obesidade não foram
setembro de 2001 eficazes para diminuir a prevalência do sobrepeso na população. O sucesso doa
tratamentos para o sobrepeso pode ser medido em termos de parâmetros físicos
(peso corporal, percentagem de gordura corporal, IMC), médicos (pressão san-
guínea, controle da glicose sanguínea, níveis de lípides sanguíneos), psicológi-
cos (patologia alimentar, auto-estima, estado de humor), e comportamentais
(freqüência de exercício, modelos alimentares, auto-cuidado). Os resultados
devem ser mantidos vários anos para ser considerados efetivos. As dietas res-
tritivas em energia são responsáveis de uma perda inicial significativa de peso,
mas são infestadas pelas taxas elevadas de abandono e reincidência. As dietas
com taxa de gordura reduzida não fizeram muito sucesso para o controle do
peso, mas podem diminuir significativamente os níveis de lípides sanguíneos.
As dietas ricas em proteínas e reduzidas em carboidratos pretendem ser mais
eficazes para perda de peso, mas não existem bases científicas. Estes tipos de
dietas podem também apresentar riscos de efeitos metabólicos adversos. Os
programas sem dietas e os que acusam a “saúde a qualquer preço” não foram
estudados cientificamente, mas os dados preliminares mostram uma perda de
peso mínima com melhora significativa do estado psicológico, patologia ali-
mentar e bem-estar. Exercício é o único fator que mostra resultados dos pontos
de vista fisiológico, psicológico, médico e comportamental. Um programa de
tratamento que tem potencial de sucesso é um programa que possui 4 compo-
nentes-chave: 1) Pré-avaliação, onde a informação histórica é usada para esta-
belecer metas e resultados; 2) Exercício, onde o exercício é encorajado para a
saúde, o controle de peso e o bem-estar; 3) Plano comportamental, baseado em
padrões alimentares e de atividade que podem resultar em objetivos desejados;
4) Plano de manutenção, para ajudar o indivíduo a manter os comportamentos
desenvolvidos e os resultados obtidos.

Guerci B et al., Diabetes & Metabolism Disfunção endotelial e diabetes de tipo 2


2001;27(4):436-447, setembro de 2001
A doença arterial coronariana, cerebrovascular e vascular periférica são as
principais causas de morbidade e mortalidade em diabetes de tipo 2. A doença
macrovascular em diabetes de tipo 2 é a conseqüência da incidência aumentada
dos fatores de risco cardiovasculares, tais como hipertensão, obesidade e disli-
pidemia. Produtos de glicação avançada, lipoproteínas de baixa densidade gli-
cosiladas e oxidadas, relacionados à hiperglicemia foram identificados em dia-
betes de tipo 2 e podem aumentar a macroangiopatia. A resistência é um fator
de risco independente adicional, em associação com o estresse oxidativo, disli-
pidemia e estados protrombico/hipofibrinolíticos. O endotélio é o maior órgão
envolvido pelos fatores de risco cardiovasculares, tais como hipercolesterole-
mia, hipertensão, inflamação, idade, status de menopausa e tabagismo. Altera-
ções na função endotelial podem fazer que a circulação arterial coronariana
seja incapaz de responder à demanda aumentada do metabolismo miocárdica,
independentemente do diâmetro arterial coronariano reduzido. Não é ainda
completamente conhecido como a função endotelial é alterada em pacientes
diabéticos, mas a perda da função endotelial normal poderia ser evocada na
patogênese da angiopatia diabética, porque uma disfunção endotelial é envol-
vida na microangiopatia e macroangiopatia diabéticas. Ao final, estudos recen-
tes indicam que a melhora do controle metabólico em pacientes diabéticos,
independentemente do tratamento empregado, é associada com uma normali-
zação e restauração da função endotelial normal.
296 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 05 (2001)

H. Hyöty et al., 37th Annual Meeting of Mais evidências da relação entre enterovírus e diabetes na
the European Association for the Study infância
of Diabetes (EASD), Glasgow, Reino-
Unido, 9 - 13 de setembro de 2001 Infecção com enterovírus na infância aumenta o risco de desenvolver dia-
betes tipo 1, segundo este estudo da Universidade de Turku, Tampere and
Oulu, Finlândia. Para analisar a associação, os pesquisadores estudaram cri-
anças de famílias que aceitaram participar no Finnish Diabetes Prediction
and Prevention Study. Neste estudo, todas as crianças foram rastreadas para
medir o risco de desenvolver diabetes e os que apresentaram riscos maiores
foram seguidos. Os pesquisadores acharam que a freqüência das infecções a
enterovírus foi de 24% entre as 248 crianças que desenvolveram diabetes
mas só 16% entre as 1116 crianças saudáveis (p = 0,004). Os jovens diabéti-
cos apresentam também taxas elevadas de anticorpos contra o vírus.
Foi determinado que as infecções a enterovírus são mais freqüentes nos 6
meses antes a primeira detecção de auto-anticorpos associados ao diabetes, e
que 51% das crianças que desenvolvem diabetes apresentaram uma infecção
durante este período versus 28% dos controles (odds ratio 3,0).
O autor conclui que é difícil estabelecer uma relação causal, mas acredita
que é possível: “As infecções repetidas podem ser importantes. Uma exposi-
ção talvez não é suficiente, mas pode ser diferente com três, quatro ou cinco
exposições ao vírus. Acreditamos que temos razão de pesquisar a relação e
talvez desenvolver uma vacina”.

Frank B. Hu et al., N Engl J Med Relação entre o risco de diabetes em mulheres e os fatores de
2001;345:790-797, setembro de 2001 risco comportamentais

O maior estudo sobre os fatores de risco para diabetes en mulheres confir-


ma os papeis importantes da dieta e dos fatores ligados ao estilo de vida no
desenvolvimento e na prevenção da doença.
Os pesquisadores investigaram os efeitos da dieta e do estilo de vida em
85.000 mulheres que participaram no Nurses’ Health Study. As mulheres eram
com idade 30-55 anos e não diabética, no início do estudo, há 25 anos.
Os pesquisadores confirmaram resultados anteriores indicando que exercí-
cio, dieta, tabagismo e álcool têm todos um papel no desenvolvimento do dia-
betes. Exercício regular e uso moderado do álcool diminuem o risco de diabe-
tes em mulheres, enquanto que dieta inadequada e tabagismo aumentam o ris-
co, mesmo apos ajuste para o IMC. Em mais, 91% dos 3300 novos casos de
diabetes tipo 2 no grupo podem ser atribuídos a esses fatores de risco.
Os resultados sugerem que nesta população a maioria dos casos de diabe-
tes de tipo 2 pode ser evitada por alteração do comportamento. Os pacientes
com risco elevado de diabetes, tais como os com sobrepeso ou obesidade, ou
histórico familiar de diabetes, devem seguir padrões de prevenção mais im-
portantes. O controle de peso parece ser o fator que oferece o maior benefício
para a prevenção do diabetes em mulheres.

A. W. Herling, Aventis Pharma, 37th Rosiglitazona libera a gordura das células musculares
Annual Meeting of the European
Association for the Study of Diabetes A rosiglitazona aumenta a sensibilidade à insulina por retirar as gorduras
(EASD), Glasgow, Reino-Unido, 9 - 13 sanguíneas das células musculares que têm um papel vital na captação da
de setembro de 2001 glicose. Os achados preliminares do estudo mostram o mecanismo pelo qual
a droga interrompe a resistência à insulina.
Os achados sugerem que, ajudando a saída dos lípides das células muscu-
lares para o tecido adiposo, a rosiglitazona melhora a capacidade do tecido
298 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 05 (2001)

Continuação muscular na absorção da glicose. Tem evidência que os níveis elevados de


lípides no músculo são associados à maior resistência à insulina.
Para medir o feito da rosiglitazona sobre o conteúdo do músculo em gor-
dura, os pesquisadores trataram um grupo de ratos resistentes à insulina com
rosiglitazona durante 3 semanas, que foram comparados co um grupo contro-
le. Foi medida a sensibilidade a insulina, e, após 3 semanas, o tecido muscu-
lar foi estudado para observar os depósitos de gordura.
Os resultados mostraram que a droga foi responsável de um aumento sig-
nificativo da utilização da glicose pelo corpo. Os testes mostraram que o
músculo dos ratos tratados por rosiglitazona era quase completamente livre
de gorduras, ao contrario do grupo controle. O estudo revelou também que a
infusão de glicose aumentou no grupo tratado, o que sugere que o tecido
muscular absorva melhor a glicose do fluxo sanguíneo. Tem ainda de deter-
minar se a droga age via efeito direito sobre o músculo para melhorar a sen-
sibilidade à insulina, ou se existe outra ação sobre o tecido adiposo.

R. Henry et al., 37th Annual Meeting of Insulina inalada é segura mas pouca absorvida pelos pacientes
the European Association for the Study asmáticos
of Diabetes (EASD), Glasgow, Reino-
Unido, 9 - 13 de setembro de 2001 Pacientes com asma absorvem menos insulina do que os diabéticos não
asmáticos, quando a droga for inalada. Asma pode afetar a farmacocinética
da insulina. O grupo asmático apresenta uma diminuição significativa da con-
centração em insulina, o que pode ser explicado pela diminuição da função
pulmonar.
Apesar disso, o mesmo estudo mostra que a insulina inalada é segura por
uso em asmáticos, e não afeta a capacidade pulmonar ou a reatividade das
vias aéreas.
Este estudo é o primeiro que investiga se a insulina inalada é uma alterna-
tiva possível para as pessoas sofrendo de doença pulmonar. Os pesquisadores
observaram um grupo de diabéticos voluntários usando o sistema AERx, tra-
tamento experimental da Aradigm Corporation (Califórnia) que libera um
aerosol líquido de insulina nos pulmões.
Os pacientes – 28 voluntários saudáveis e 16 asmáticos – receberam duas
doses diferentes da droga inalada, a primeira equivalente a 6 unidades subcu-
tâneas de insulina, a segunda equivalente a 17 unidades. Foi medida a utiliza-
ção da insulina e foi efetuada uma serie de testes para avaliar a função pul-
monar e os efeitos da droga nas vias respiratórias.
A utilização da insulina no grupo asmático foi significativamente menor
do que no grupo controle (p = 0,013). Todavia, nenhumas alterações foram
constatadas em volume expiratório máximo em 1 segundo e capacidade vital
máxima em pré ou pós-dose.

A. W. Herling, Aventis Pharma, 37th Xenical (Roche) melhora o controle da glicemia em diabéticos
Annual Meeting of the European
Association for the Study of Diabetes Os pacientes diabéticos com sobrepeso tratados coma droga antiobesidade
(EASD), Glasgow, Reino-Unido, orlistat (Xenical) perdem peso, melhoram o controle da glicose e diminuem a
9 - 13 de setembro de 2001 necessidade de remedias antidiabéticos. Participaram do estudo pacientes com
sobrepeso que receberam uma dieta reduzida em calorias e foram randomiza-
dos para receber Xenical (n = 189) ou placebo (n = 180).
Depois de um ano, os pacientes tratados por Xenical mostraram melhora
do controle glicêmico, diminuições significativas da HbA1c, da glicose de
jejum e da glicose pós-prandial, permitindo uma diminuição da dose diária
de medicação antidiabética usual.
300 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 05 (2001)

Continuação A diminuição em HbA1c foi de 0,9% vs. 0,4%, em glicose de jejum foi de
1,63 versus 0,71 mmol/l, e a diminuição da glicose pós-prandial foi de 1,81
versus 0,53 mmol/l. O grupo Xenical apresentou uma diminuição maior da
dose diária média de sulfoniluréias do que os pacientes tratados com placebo
(-1,2% versus +0,5%).
Xenical é também eficaz para diminuir o peso dos pacientes diabéticos.
Depois de um ano, o grupo Xenical perdeu 5,3 kg, vs. 3,4 kg no grupo tratado
com dieta.
“A perda de peso é uma primeira etapa vital no tratamento das pes-
soas portadoras de diabetes de tipo 2, mas menos do que 10% dos diabé-
ticos tipo 2 conseguem uma perda de peso suficiente com a dieta em trata-
mento único. Qualquer medicação que pode ajudar as pessoas a perder
peso e diminui a necessidade de uso de agente antidiabético, é benéfico
para as pessoas que precisam controlar peso de diabetes tipo 2,” segundo
o Prof. Markolf Hanefeld.
As autoridades estão revisando a licença do Xenical nos Estados Unidos e
Canadá, para incluir o tratamento do diabetes tipo 2. Segundo o laboratório
Roche, mais do que 90% dos 120-140 milhões de pessoas com diabetes tipo
2 apresentam um sobrepeso.

Jorn Nerup, President of the European União Européia criticada para a fraqueza dos investimentos
Association for the Study of Diabetes, financeiros em diabetes
37th Annual Meeting of the European
Association for the Study of Diabetes Os Estados membros da União Européia foram muitos criticados para a
(EASD), Glasgow, Reino-Unido, 9 - 13 falta de investimentos para a pesquisa em diabetes apesar do aumento rápida
de setembro de 2001 da doença na população. Segundo o Dr. Jorn Nerup, não existe ainda “um
euro único” para o diabetes. Ele enfatizou também que os melhores pesquisa-
dores são empregados por instituições americanas, que, elas, têm fundos para
investir em projetos.
O Dr. Nerup justificou a ataque pelo fato que a população de diabéticos
aumentará de 135 milhões para 250 milhões em 2010: “O diabetes é uma
bomba programada sobre os sistemas de saúde. Vai estourar na face de polí-
ticos e autoridades que não reconhecem ainda a importância da doença.”
“O diabetes consume entre 9 e 15% do todos os orçamentos de saúde dos
Estados da Europa e dos Estados Unidos e vai aumentar. Precisamos pesqui-
sas em todos os aspectos do diabetes. Mas se juntamos os esforços de inves-
timentos de todos os países da União, não chegamos em um décimo do que é
disponível nos Estados Unidos. Enfrentamos a maior fuga de cérebros em
pesquisa de diabetes, o que é triste porque o talento está aqui. Precisamos
convencer políticos da Europa que e problema é serio demais para ser negli-
genciado.”
Diabetes Clínica 05 (2001) 301

O Diabetes na Imprensa

Exercício na dose certa

Fazer exercício físico é bom para a saúde, diz o senso comum. Fazer muito
exercício, portanto, seria excelente. O raciocínio é equivocado. Depois de
Época, 8 de setembro de 2001 passar os últimos 30 anos apregoando o culto ao corpo, à malhação sem limi-
te e à transpiração desenfreada, os especialistas em medicina do esporte che-
garam a uma conclusão. Um mínimo de esforço feito com regularidade não
prepara ninguém para ganhar a Corrida de São Silvestre, mas é suficiente
para garantir uma vida mais saudável. “Nem todo mundo tem tempo, disposi-
ção ou dinheiro para freqüentar academias”, diz o médico do esporte Victor
Matsudo. “Mas pequenas ações incorporadas ao cotidiano evitam proble-
mas com o corpo.”
Presidente do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São
Caetano do Sul (Celafiscs), Matsudo é o principal divulgador no Brasil do
chamado estilo de vida ativo. Com o apoio da Organização Mundial de Saú-
de (OMS), de órgãos públicos e de empresas privadas, sustenta a campanha
de conscientização Agita São Paulo. “Para ter uma boa qualidade de vida,
basta fazer 30 minutos diários de exercícios caseiros”, resume. Não estão
mais em discussão os benefícios do esporte. O que se procura é a maneira
correta de praticá-lo. Na medida certa, a atividade física reduz o risco de
morte por doenças cardíacas, hipertensão e diabetes. Ajuda no controle do
peso e promove o bem-estar. Em contrapartida, o excesso pode provocar pro-
blemas hormonais, rupturas, lesões, torções e inflamações de músculos, ten-
dões e articulações. Em casos extremos, o impacto repetitivo do pé contra o
solo leva a fraturas ósseas, a chamada fratura por estresse.
Exames como eletrocardiograma, medição de gordura corporal, potência
aeróbica e explosão muscular especificam o esporte e a carga de exercícios
mais adequados ao indivíduo. Até recentemente se acreditava que a dose
mínima para a atividade física gerar benefícios era uma hora diária, três ve-
zes por semana, em ritmo forte. Em 1995, estudos conduzidos pelo médico
americano Russel Pate revolucionaram esse conceito. Pate constatou que meia
hora de movimentos moderados, cinco vezes por semana, é o ideal. Concluiu
também que se exercitar dez minutos de manhã, dez à tarde e dez à noite, por
exemplo, equivale a 30 minutos seguidos. As pesquisas, reconhecidas pela
OMS, associaram a atividade física ao gasto calórico. Segundo os estudos de
Pate, sedentário é quem queima menos de 500 calorias por semana. Quem
gasta entre 500 e 1.500 calorias é considerado ativo. O consumo de calorias
pelo organismo pode ocorrer em trabalhos da rotina diária. Assim, caminhar
até a banca de jornal, dançar, cuidar do jardim, passear com o cachorro, lavar
o carro substituem satisfatoriamente a ginástica na academia. Andar meia
hora por dia em ritmo moderado, por exemplo, demanda 150 calorias. É sufi-
ciente para a pessoa ser considerada ativa e para garantir-lhe os benefícios da
atividade física.
302 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 05 (2001)

Americanos criam embriões só para pesquisa


Estado de São Paulo, Médicos do Instituto Jones de Medicina Reprodutiva, uma clínica particu-
12 de julho de 2001 lar de Norfolk, na Virgínia, produziram pela primeira vez embriões descartá-
veis para uso em pesquisa, com o consentimento de homens e mulheres que
venderam óvulos (US$ 1.500 cada) e esperma (US$ 500). A experiência foi
publicada na Fertility and Sterility, jornal da Sociedade de Medicina Repro-
dutiva dos Estados Unidos. Cientificamente não há novidade, mas o fato teve
o efeito de uma bomba para a opinião pública americana.
A administração George W. Bush vai decidir em breve se o governo fede-
ral deve ou não financiar pesquisas com tecido embrionário, as chamadas
células-tronco. Bush vem sendo pressionado por vários setores - entre eles
políticos católicos e grupos de diabéticos e parkinsonianos - para liberar fi-
nanciamento federal para estudos com células-tronco, um dos poucos setores
de pesquisa em que os EUA perdem feio para os europeus.
William E. Gibbons, que chefiou o trabalho, obteve 162 óvulos, que foram
fertilizados in vitro, resultando em 110 embriões. Desse total, 50 se desen-
volveram por 6 dias, até se tornarem blastócitos, aglomerados com entre 100
e 300 células. A partir de 18 deles, foram extraídas células-tronco, que deram
origem a três linhagens diferentes de células embrionárias.
O problema para o presidente americano é desagradar os vários setores con-
servadores que o apoiaram nas eleições. Os chamados grupos pró-vida, que são
contra o aborto legalizado e acreditam que há vida desde o momento da con-
cepção - mesmo que ela ocorra numa placa de Petri - são radicalmente contra a
liberação de verba para esse tipo de pesquisa. Ontem, ao saber da experiência
da Virgínia, Douglas Johnson, porta-voz do Comitê Nacional do Direito à Vida,
qualificou-a de “hedionda”. “Isso mostra que os defensores da pesquisa embri-
onária destrutiva não falam a verdade quando dizem ao presidente Bush que só
pretendem usar os embriões que sobram nas clínicas de fertilidade”, afirmou.
Mesmo defensores da liberação das pesquisas com tecido embrionário rece-
beram mal a notícia. “Fiquei um tanto perplexo com a notícia”, admitiu John
Gearhart, pesquisador da Johns Hopkins University, de Baltimore. “Você não
ouve cientistas envolvidos neste tipo de pesquisa falar em produzir embriões
para destruí-los, porque isso não é necessário.” Michael Soules, especialista
em fertilidade da Universidade de Washington, acredita que, em certos casos, a
criação de embriões para pesquisa, com consentimento de doadores de óvulos
e esperma, poderá ser útil, mas critica a decisão dos médicos da Virgínia. “O
momento não poderia ser pior para o anúncio dessa experiência.”
“Essa pesquisa só vem mostrar a necessidade urgente de supervisão fede-
ral para esse tipo de trabalho”, afirmou Lawrence Soler, da Fundação de Pes-
quisa de Diabetes Juvenil, uma associação de pacientes que lidera a coalizão
de organizações favoráveis às pesquisas com tecido embrionário. O grupo
lançou ontem uma campanha, com anúncios em emissoras de TV e jornais,
para divulgar as vantagens da pesquisa com células-tronco.

Patas-de-vaca, mais beleza no inverno da cidade


Estado de São Paulo, Nativa da Mata Atlântica, a árvore, que dá flores brancas e roxas, também
31 de julho de 2001 é encontrada no Oriente. As folhas são indicadas para controle da diabetes
As três patas-de-vaca do quintal de uma casa de esquina na avenida Engenhei-
ro Caetano Álvares, plantadas há pouco mais de 15 anos, mostram que o inverno
também é a estação das flores. Embora essas árvores floresçam principalmente
no verão, quando aumenta a umidade, elas conseguem dar várias floradas por
O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 05 (2001) 303

Continuação ano. Neste inverno, por causa dos veranicos e das chuvas, essas árvores nativas
da Mata Atlântica são vistas floridas em quase todos os bairros da cidade.
Também chamadas de bauínias, seu nome científico é Bauhinia fortificata,
dividem-se em mais de uma dezena de espécies e são da mesma família do
pau-brasil (a das leguminosas-cesalpináceas). As espécies usadas na arbori-
zação da cidade têm flores brancas ou roxas. Essas árvores foram adotadas
em urbanismo porque crescem rápido, constituindo algumas das espécies pi-
oneiras da Mata Atlântica.
Curiosamente, assim como o pau-brasil, a pata-de-vaca ocorre também
na China e em ilhas do Oriente (sob forma de variedades que evoluíram sepa-
radamente), mostrando que os antepassados dessas árvores já existiam antes
da separação dos continentes, há 100 milhões de anos.
Ela sobreviveu a várias glaciações e continua hoje na linha de frente da
Mata Atlântica, onde abre caminho para outras espécies de árvores e desapa-
rece na mata densa, ocupando as fímbrias da floresta.
Os portugueses que descobriram o Brasil já compravam pau-brasil do Ori-
ente, onde a árvore se chamava sipango e era distribuída na Europa desde a
Idade Média para tingir tecidos. Começa, então, a ser introduzida no Brasil
uma variedade chinesa de pata-de-vaca conhecida como bauínia-de-hong-
kong (Bauhinia blakeana), que dá flores ainda mais espetaculares, formando
grandes cachos violáceos. Aqui, a multiplicação dessa espécie chinesa é
feita por alporquia. As mudas das espécies nativas são obtidas por sementes.
Segundo relatos de jesuítas, os índios já usavam as folhas de pata-de-vaca
branca como remédio. “Todas as patas-de-vaca nativas da Mata Atlântica
são medicinais, sendo indicadas para o controle da diabetes”, explica o far-
macêutico Sérgio Panizza, filho do botânico e fitoterapeuta Sylvio Panizza,
professor da Universidade de São Paulo (USP).
Panizza conta que as últimas pesquisas mostram que o chá de folhas de
pata-de-vaca diminui a glicemia por causa de dois fatores: os taninos, que
dão gosto amargo ao chá, e um sal mineral chamado cromo. “Os taninos
dificultam a absorção do açúcar e o cromo estimula o fígado e o pâncreas,
facilitando a metabolização do açúcar absorvido, o que diminui os índices
de glicose no sangue”, diz o farmacêutico.
Segundo ele, as árvores de flores brancas e folhas mais pontudas (Bahui-
nia forticata) possuem mais ingredientes ativos que as de flores roxas e fo-
lhas mais arredondadas. “Essa planta realmente funciona. Pessoas que to-
mavam comprimidos para controlar a diabetes e passarem a usar o chá de
pata-de-vaca acabaram dispensando os comprimidos sob acompanhamento
médico”, conta Panizza.

terra
Terra.com.br, 29 de junho de 2001
Açúcar pode dar dependência?

Estudos em ratos mostram que o cérebro pode criar dependência a alimen-


tos que possuam açúcares. O cérebro possui componentes semelhantes à
morfina, e que podem ser liberados por alimentos doces como tortas, sorve-
tes e gorduras, segundo o Dr. Bart Hoebel, da Universidade de Princeton.
Muitos estudos mostram a atividade do núcleo accumbens, região do córtex
frontal que está ligada aos “baratos” obtidos com anfetaminas, cocaína, cafe-
ína e outras drogas que causam dependência. Parece que a ingestão de subs-
tâncias doces faz com que este núcleo libere as substâncias morfínicas, bem
como dopamina, ligada à sensação de prazer, mas também de “busca” ao
prazer, através de drogas ou sexo, por exemplo. Parece que tal núcleo tam-
bém regula o apetite.
O estudo consistiu em dar açúcar aos ratos, parar abruptamente tal forne-
304 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 05 (2001)

Continuação cimento e administrar drogas que bloqueassem o núcleo accumbens. O que


se observou? Quando novo estoque de açúcar era fornecido, os ratos tinham
verdadeira compulsão. Quando seus cérebros foram estudados, notou-se um
aumento no número de receptores para dopamina (o que explica a dependên-
cia pelo açúcar). Como transferir esse modelo para humanos? O excesso de
ingestão de doces aumenta o número de receptores de dopamina e, portanto,
o de busca e de compulsão pelos açúcares em geral (talvez comer demais
faça o cérebro liberar muitos derivados morfínicos, o que cria um círculo
vicioso de dependência).

Cruzeiro do Sul, 3 de setembro de 2001 Transplante é esperança para os diabéticos

Apesar de recente no Brasil e das dificuldades para a doação de órgãos no


País, o transplante de pâncreas tem se firmado como uma esperança aos pacien-
tes de diabetes tipo 1. Para falar sobre as indicações e detalhes desse tipo de
transplante com médicos e pacientes, a Associação de Diabetes de Sorocaba
(ADS) promoveu uma palestra com profissionais. A palestra foi proferida pelo
endocrinologista Fadlo Fraige Filho, do Hospital Beneficiência Portuguesa, onde
já foram realizados 76 transplantes de pâncreas, média e um por semana. Um dos
médicos convidados foi o hepatologista Marcelo Perosa de Miranda, que expli-
cou que o sucesso das cirurgias é em torno de 80% a 90%. O transplante é indica-
do para diabéticos juvenis graves ou de difícil controle, proporcionando a cura do
distúrbio e até a reversão de seqüelas na visão, rins ou nervos. Com as novas
regras do Sistema Único de Saúde (SUS), o transplante de pâncreas passou a ser
mais conhecido no Brasil e novos hospitais têm disponibilizado o procedimento.
Diabetes Clínica 05 (2001) 305

Avanços terapêuticos e tecnológicos


E Renard et al., Lapeyronie Hospital, Primeiras implantações de sensor de glicose conectado com
Montpellier, France, Sansum Medical bombas de insulina em portadores de diabetes
Research Inst./Cottage Hospital, Santa
Barbara, CA, Medical Research Objetivo: As bombas de insulina implantadas têm sido empregadas em
Group/MiniMed Inc., Sylmar and pacientes diabéticos há mais de 10 anos. A conexão da bomba com um sen-
Northridge, CA, USA, 37th Annual sor de glicose intravascular pode fornecer dados em tempo real para a regula-
Meeting of the European Association ção da insulina e é um verdadeiro modelo de célula b artificial. O objetivo
for the Study of Diabetes (EASD), deste estudo é de avaliar a segurança e a eficácia de um sistema implantado
Glasgow, Reino-Unido, bomba/sensor.
9 - 13 de setembro de 2001 Métodos: Os sistemas de sensor de glicose a longo prazo (LTSS, Medical
Research Group e MiniMed Inc., CA, EUA), constituídos de um sensor de
glicose IV conectado a uma bomba de insulina intraperitoneal (P) foram im-
plantados cirurgicamente em 10 pacientes diabéticos de tipo 1 por aproximada-
mente 18 meses. Os sensores foram colocados pelas veias subclávia ou jugular
interna e as extremidades dos sensores na veia cava superior ou no átrio direi-
to. Os dados do sensor foram comparados com as amostras de seis glicemias
capilares diárias lidas com fotômetros HemoCue (HemoCue AB, Suécia).
Resultados: As complicações cirúrgicas consistiram em colocar e manter
as extremidades dos sensores no lugar adequado. Melhora do processo cirúr-
gico e modificação do cabo de conexão facilitaram fixação e prevenção da
migração.
Conclusões: Nossos dados sugerem que este modelo LTSS pode ser efi-
caz e seguro durante um longo período para controlar a administração de
insulina

M.E.J. Lean et al., 37th Annual Meeting Pioglitazona diminui a gordura intra-abdominal
of the European Association for the
Study of Diabetes (EASD), Glasgow, Objetivo: O diabetes de tipo 2 e o síndrome metabólico são caracterizados
Reino-Unido, 9 - 13 de setembro de pela resistência à insulina, obesidade e distribuição central da gordura. Toda-
2001 via, o aumento da sensibilidade à insulina é responsável de lipogênese. Este
trabalho estuda a hipótese que a pioglitazona poderia ter efeitos adversos
sobre a gordura corporal.
Material e métodos: Estudo randomizado controlado por placebo de pio-
glitazona 45 mg/dia durante 18 semanas em pacientes diabéticos tipo 2 trata-
dos com dieta para manter o peso.
Resultados: Em controle (n = 12), não há alterações no peso corporal (0,0,
IC –1,1 para 1,0 kg), mas pacientes tratados por pioglitazona (n = 13) ganha-
ram 2,5 (IC 0,7-4,2) kg, dos quais 2,2 (IC 0,6-3,9) kg eram gordura. Todavia,
a massa de gordura intra-abdominal mostrou uma diminuição significativa
de 0,12 (IC –0,19 para –0,06) kg em comparação com controles (ressonância
306 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 05 (2001)

Continuação magnética nuclear). Não foi observados aumentos significativos na espessu-


ra da dobradura da pele do tríceps e do bíceps ou das circunferência do qua-
dril dentre os pacientes tratados por pioglitazona, em comparação com con-
troles, mas diferenças não significativas na cintura ou relação cintura/qua-
dril. Estas alterações na composição corporal foram associadas com diminui-
ções significativas em HbA1c (-1,5%) e glicose de jejum (-2,4 mmol/l) em
comparação com placebo. Diminuições dos triglicérides (-1,22 mmol/l) e LDL-
colesterol (-1,8 mmol/l) com pioglitazona não foram significativas.
Conclusões: Apesar do que o tratamento com pioglitazona seja associado
com lipogênese corporal total, a gordura intra-abdominal é diminuída, em
relação com o seu papel central na síndrome metabólico e efeito da piogli-
tazona sobre o PPAR , principalmente no tecido adiposo subcutâneo. Futu-
ros estudos combinaram o tratamento de pioglitazona com programa de
perda de peso.

S. Gregersen1 e al., 37th Annual Efeitos agudos do stevioside em pacientes com diabetes de tipo 2
Meeting of the European Association
for the Study of Diabetes (EASD), Objetivo: Extratos da planta Stevia rebaudiana Bertoni (SrB) foram utili-
Glasgow, Reino-Unido, 9 - 13 de zados durante vários anos para o tratamento do diabetes na América do Sul,
setembro de 2001 mas sem fundamento clínico. Já demonstramos anteriormente que steviosi-
de, glicosídeo diterpeno presente na planta SrB, possui potencial insulinotro-
pico, glucagon-estático e anti-hiperglicêmico em estudos sobre o animal. A
questão agora é pesquisar se stevioside pode ter ação sobre o metabolismo da
glicose em diabetes de tipo 2. Hipótese: Stevioside adicionada à refeição
diminui os níveis de glicose sanguínea pós-prandial, estimula a insulina e
diminui as taxas de glucagon.
Material e métodos: O estudo foi realizado em 12 pacientes diabéticos (4
mulheres/8 homens) com HbA1c 7,4 ± 0,4 %. Uma refeição padrão (1725 kJ)
foi suplementada com 1 g de stevioside ou 1 g de gelatina (placebo). Amostras
sanguíneas foram retiradas 30 minutos antes e 240 minutes após a ingestão.
Resultados: Em comparação com placebo, stevioside diminuiu a área sob a cur-
va de resposta da glicose em 18% (p = 0,013), a área sob a curva de resposta do
glucagon em 19% (p = 0,02), e a resposta do glucagon like peptídeo (GLP-1) em
31% (p = 0,044). Stevioside não alterou significativamente a área sob a curva da
insulina e do polipeptídeo insulinotropico dependente da glicose (GIP). Não foram
encontradas diferenças nos níveis de acides graxos livres ou de triglicérides.
Conclusões: Stevioside diminui a glicose sanguínea pós-prandial e os ní-
veis de glucagon em pacientes diabéticos tipo 2. Isso indica que stevioside
apresenta benefícios para o metabolismo da glicose e pode ser útil no tra-
tamento do diabetes de tipo 2.

P. Home1 et al., 37th Annual Meeting of Efeito antihipertensivo de farglitazar, agonista do PPARγγ, em
the European Association for the Study pacientes portadores de diabetes tipo 2 e de hipertensão arterial
of Diabetes (EASD), Glasgow, Reino-
Unido, 9 - 13 de setembro de 2001 Objetivo: Farglitazar é um novo agonista do PPARγ, não-tiazolidinediona,
derivado de uma raiz L-tirosina, com afinidade elevada para o receptor nuclear
humano PPARγ, e pequena mas talvez atividade importante em relação com
o receptor PPARα. Diminuição da glicose e dos lípides sanguíneos tem sido
demonstrada em pacientes portadores de diabetes tipo 2 tratados por farglitazar.
Diminuição da pressão sanguínea também foi notada em sujeitos saudáveis
bem como em portadores de diabetes.
Material e métodos: Um estudo duplo-cego, randomizado, com grupo
paralelo em 304 pacientes diabéticos tipo 2 hipertensos foi desenhado para
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 05 (2001) 307

Continuação definir a relação dose-resposta para os efeitos antihipertensivos de farglitazar.


Pacientes receberam placebo ou farglitazar 0.5, 1, 2, 5, ou 10 mg por dia.
Resultados: Após 4 semanas, farglitazar resultou em diminuições
dependentes da dose na pressão ambulatória média de 24 horas, o que foi
estatisticamente significativo em comparação com placebo nas doses de 5
mg [diastólica −4 (95%-IC −5, −2) mmHg p < 0,001, sistólica −5 (−7, −2)
mmHg p = 0.001] e 10 mg [diastólica −6 (−8, −5) mmHg p < 0.001, sistólica
−8 (−11, −6) mmHg p < 0.001]. Farglitazar 10 mg resultou em diminuição da
pressão sanguínea média em posição sentada para a diastólica [−6 (95%-IC −
9, −3) mmHg p < 0,001] e sistólica [−6 (−10, −2) mmHg p = 0,004], com
diminuições menores e não-significativas para as dosagens inferiores.
Farglitazar foi bem tolerado, sem aumento significativo da freqüência cardíaca.
Um edema dependente da dose foi observado (> 13% com 10 mg após 4
semanas). A dosagem de 10mg não foi utilizada para os estudos de fase III.
Conclusões: Concluímos que o agonista farglitazar tem propriedades an-
tihipertensivas moderadas mas potencialmente úteis para em complemen-
to de seus efeitos sobre a diminuição da glicose e dos lípides.

Wallace TM et al., Diabet Med Uso em casa e no hospital de um novo medidor de cetonas em 30
200;18(8):640-645, agosto de 2001 segundos
Objetivos: Estabelecer o papel da medição do β-hidroxibutirato (β-OHB)
para separar a hiperglicemia da cetose, usando um medidor eletroquímico
dos cetonas sanguíneas. O objetivo do estudo é de avaliar a eficácia e a precisão
de um medidor e desenvolver recomendações para o uso do medidor de cetonas
em casa e no hospital.
Material e métodos: 20 pacientes com controle glicêmico inadequado
(HbA1c média 10,2%) foram selecionados de uma clínica de diabetes e 14
pacientes hospitalizados com cetoacidose diabética (DKA) foram selecionadas
de um Departamento de Emergência. O sangue obtido por teste de glicose foi
também usado para medições de β-OHB, usando o medidor de cetonas. As
concentrações de β-OHB plasmática foram também medidas na entrada
usando um método enzimático usual.
Resultados: As medições de glicose e β-OHB (n = 1099) nos pacientes da
clínica mostraram que, fora de doença atual, os níveis de β-OHB não
ultrapassam 1 mmol/l, independentemente dos resultados da glicose. Nos 14
pacientes com cetoacidose, a concentração média de β-OHB plasmática,
medida em laboratório, era de 7,4 mmol/l (intervalo 3,9-12,3 mmol/l). O tempo
médio, a partir do início do tratamento, para as concentrações de β-OHB cair
embaixo de 1 mmol/l foi de 8,46 h (intervalo 5-58,33 h).
Conclusão: O teste das cetonas sanguíneas é um complemento útil à moni-
torização da glicose sanguínea para separar a cetose da simples hiperglice-
mia. Os dados sugerem que β-OHB ≥ 1 mmol/l necessita uma observação
e níveis > 3 mmol/l necessitam uma revisão medical do tratamento. Em
mais, a taxa de diminuição do β-OHB em DKA pode ser usado como um
indicador da adequação do tratamento.

American Journal of Cardiology Uma nova estatina, a rosuvastatina, diminui rapidamente o


2001;88:504-508, setembro de 2001 LDL-colesterol

A rosuvastatina, nova estatina, é responsável por uma diminuição significati-


va do LDL colesterol em pacientes hipercolesterolêmicos, segundo dois estudos.
310 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 05 (2001)

Continuação O primeiro estudo selecionou 142 pacientes com hipercolesterolemia mo-


derada. Os pacientes receberam placebo, rosuvastatina nas doses de 1 a 40
mg ou atorvastatina 10 ou 80 mg. No segundo estudo, 64 pacientes recebe-
ram placebo ou rosuvastatina 40 ou 80 mg. Os pacientes foram tratados uma
vez por dia durante 6 semanas em ambos os estudos.
Rosuvastatina produziu diminuições estatisticamente significativas e depen-
dentes da dose do LDL-colesterol, quando comparado com o placebo. As di-
minuições atingiram 34% com 1 mg até 65% com 80 mg. Aproximadamente
90% da diminuição ocorre durante as duas primeiras semanas de tratamento.
Rosuvastatina produz também diminuições estatisticamente significativas
e dependentes da dose dos níveis de colesterol total e da apo-lipoproteína B.
Além disso, as concentrações de HDL-colesterol aumentaram e de triglicéri-
des diminuíram. As alterações do HDL-colesterol e dos triglicérides foram
estatisticamente significativas com doses determinadas. Todos os ratios lipí-
dicos diminuíram nas doses usadas de rosuvastatina.
Rosuvastatina é bem tolerado. Os eventos adversos foram similares no
grupo placebo e nos grupos de tratamento. Nenhum paciente apresentou ele-
vação das taxas de alanine aminotransferase ou creatine quinase.
Um tratamento de 6 semanas com rosuvastatina é responsável de uma
diminuição rápida e significativa do LDL-colesterol. Rosuvastatina é bem
tolerado pelos pacientes com hipercolesterolemia.

Saenz de Tejada et al., 37th Annual Tadalafil, nova esperança para o tratamento da disfunção erétil
Meeting of the European Association em homens diabéticos
for the Study of Diabetes (EASD),
Glasgow, Reino-Unido, 9 - 13 de Um estudo sugere que tadalafil é eficaz e seguro para o tratamento da dis-
setembro de 2001 função erétil (DE) em homens diabéticos. Tadalafil é um novo inibidor seletivo
da fosfodiesterase, desenvolvido para o tratamento da disfunção erétil. Já foi
demonstrado que este tratamento é eficaz e seguro em homens não diabéticos.
216 homens (idade média 56 anos) com DE moderada a severa e portadores
de diabetes tipo 1 ou 2, foram selecionados. Os escores do Baseline Internati-
onal Index of Erectile Function (IIEF) foram obtidos e um diário tipo Sexual
Encounter Profile (SEP), foi preenchido durante um período de 4 semanas.
Os pacientes foram randomizados para receber placebo ou tadalafil 10 ou
20 mg, durante um período de 12 semanas. Para participar do estudo, os
pacientes tinham de experimentar uma DE moderada a severa, de origem
psicológica, orgânica ou mista, durante um período de 3 meses ou mais.
Comparado com placebo, tadalafil 10 mg e 20 mg produziu um aumento
significativo (p < 0,001) da capacidade dos pacientes a realizar um ato sexu-
al. Tadalafil foi também melhor do que o placebo para melhorar a função
erétil, medida pelo escore IIEF (p < 0,001).
As doses de 10 e 20 mg são ambos superiores ao placebo par melhorar a
capacidade de penetração (p<0,001), capacidade de manter a ereção durante
o ato e melhorar os escores de satisfação.
Os resultados são independentes do tipo de diabetes, do tratamento atual,
do nível inicial da glicose sanguínea ou da presença de complicações micro-
vasculares. Ambas as doses de tadalafil foram bem toleradas e nenhum efeito
adverso sério foi reportado. Os únicos efeitos reportados por mais de que 5%
dos participantes foram dor de cabeça e dispepsia.
Apesar do que este estudo seja pequeno, os resultados sugerem que tadala-
fil é eficaz e seguro para o tratamento da DE em diabéticos. Esses dados
devem ser confirmados por outros estudos.
312 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 05 (2001)

Natalia Roudovitch et al., 37th Annual Repaglinida e metformina aumenta a secreção e a sensibilidade à
Meeting of the European Association insulina em pacientes diabéticos tipo 2
for the Study of Diabetes (EASD),
Glasgow, Reino-Unido, Este estudo de 3 semanas, randomizado, controlado por placebo, foi realiza-
9 - 13 de setembro de 2001 do em 11 pacientes portadores de diabetes tipo 2, idade 58 anos (41-66), com
IMC médio 32,2 (intervalo 23 - 45) kg/m², e duração médio de diabetes de 8,2
anos. Os pacientes eram tratados por dieta e/ou agentes antidiabéticos orais.
A semana 1 foi um período de avaliação, de exame clínico e testes de
laboratório. O tratamento começou na semana 2 com placebo (1 mg/3 vezes
por dia) mais metformina (850 mg/3 vezes por dia) e a semana 3 com repa-
glinida (1 mg/3 vezes por dia) mais metformina (850 mg/3 vezes por dia).
A resposta aguda da insulina à glicose e a segunda fase de secreção de
insulina em condições hiperglicêmicas foram ambas aumentadas nos clamps
hiperglicêmicos com repaglinida (resposta aguda da insulina [AIRglu] 1,23
± 0,4 versus 0,73 ± 0,4 h.µU/L, p < 0,01 e área sob a curva [AUC] (25-180
min) 95,8 ± 25,7 versus 52 ± 16,5 h.µU/L, p < 0,01).
O índice de sensibilidade à insulina aumentou após uma semana de terapia
conjugada repaglinida + metformina, quando comparada com a semana pla-
cebo + metformina (6,67 ± 1,8 versus 4,96 ± 1,3 mg/kg.min/mU, p < 0,05).
Esses resultados sugerem que repaglinida age sobre vários fatores envol-
vidos no metabolismo dos carboidratos, segundo os pesquisadores. A melho-
ra significativa do índice de sensibilidade à insulina observada com repagli-
nida + metformina sugere que os dois agentes têm um efeito sinérgico sobre
a sensibilidade à insulina neste tipo de pacientes.

John Gerich et al., 37th Annual Meeting Modo de ação da rosiglitazona no controle glicêmico
of the European Association for the
Study of Diabetes (EASD), Glasgow, Esta pesquisa mostram que o efeito pós-prandial da rosiglitazona é devido à
Reino-Unido, supressão do release da glicose endógena (gliconeogênese). Em mais, mostra
9 - 13 de setembro de 2001 que rosiglitazona aumenta a eficiência da captação da glicose pelos tecidos, e
aumenta a secreção e a sensibilidade à insulina no fígado e tecidos periféricos.
O mecanismo pelo qual a rosiglitazona e outras tiazolidinedionas melhora
o controle glicêmico não é até hoje totalmente conhecido. Por exemplo, não
é claro se agem pela redução da produção de glicose, especificamente, ou se
elas simplesmente aumentam a sensibilidade à insulina.
Este estudo, desenhado para investigar o modo de ação da rosiglitazona,
duplo-cego, randomizado, controlado por placebo, foi realizado com pacien-
tes diabéticos de tipo 2, homens e mulheres (idade 40-70 anos). Os pacientes
receberam rosiglitazona 8mg/dia (4 mg duas vezes ao dia) ou placebo duran-
te ume período de 12 semanas. As medições incluíram a produção de glicose,
incluindo avaliação da gliconeogênese vs. glicogenólise, sensibilidade à in-
sulina e função celular β.
Resposta a rosiglitazona foi definida como diminuição da HbA1c > 0,3%
e da glicose sanguinea de jejum > 10%. Quando comparado ao o grupo pla-
cebo, o grupo rosiglitazona exibiu diminuições estatisticamente significati-
vas em HbA1c, glicose plasmática de jejum e glicose pós-prandial em 1%,
40 mg/dl and 43 mg/dl, respectivamente (p < 0,03). A gliconeogênese pós-
prandial, mas não de jejum, foi também significativamente diminuída (p =
0,04) no grupo rosiglitazona.
A captação de glicose de jejum e pós-prandial foi também reduzida no
grupo rosiglitazona, em comparação com grupo placebo, no final do período
de 12 semanas. A resistência à insulina foi significativamente diminuída (p <
0,01) no grupo rosiglitazona quando comparado com o início mas não com o
grupo placebo no final do período de 12 semanas. Mas a melhora na secreção
314 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 05 (2001)

Continuação de insulina foi estatisticamente significativa quando comparada com o início


(p = 0,03) e com o placebo (p = 0,02).
Esses resultados mostram que a rosiglitazona pode diminuir a produção de
glicose nas condições pós-absorção e pós-prandial. O efeito pós-prandial da
droga é devido ao aumento da supressão do release da glicose endógena (gli-
coneogênese). Rosiglitazona aumenta também a eficiência da captação da
glicose pelos tecidos e melhora a secreção da insulina, a sensibilidade da
insulina no fígado e tecidos periféricos.

Satisfação do tratamento com insulina inalada em pacientes com


diabetes tipo 1

Objetivo: Em pacientes com diabetes tipo 1, o controle glicêmico pode ser


realizado com insulina inalada, sendo uma administração de insulina intra-
Robert A. Gerber et al., Pfizer Inc., pulmonar pré-prandial inalada mais uma aplicação de insulina ultralenta ao
Diabetes Care 2001;24:1556-1559, deitar. Nosso objetivo foi de comparar a satisfação do paciente entre a insuli-
setembro de 2001 na inalada e a insulina subcutânea.
Material e métodos: Os pacientes portadores de diabetes tipo 1 participa-
ram em um estudo de 12 semanas, aberto, e foram randomizados para rece-
ber insulina inalada ou insulina subcutânea. Pacientes (n = 69) completaram
um questionário de satisfação de 15 itens, no início e no final do estudo (Pa-
tient Satisfaction with Insulin Therapy Questionnaire – PSIT). Os resultados
incluíram percentagem media de alteração na satisfação global e dois sub-
itens: conveniência/facilidade de uso e conforto social.
Resultados: A percentagem média de melhora da satisfação global com
insulina inalada (35,1%, 95% IC 18,0–52,2) foi maior do que com a insulina
subcutânea (10,6%, 4,7–16,5) (P < 0,01), bem como para o item conveniên-
cia/facilidade de uso: insulina inalada 41,3% (22,9–59,6) versus insulina sub-
cutanêa 11,2% (4,1–18,3; P < 0,01). Melhora em conforto social foi também
maior com insulina inalada mais não estatisticamente significativa. A melho-
ra da HbA1c depois de 12 semanas foi também associada à melhora da satis-
fação global (r = -0,27, P = 0,04).
Conclusões: Insulina inalada pode oferecer a primeira alternativa prática,
não-invasiva, às injeções de insulina. Para os pacientes diabéticos de tipo
1, insulina inalada mantém o controle glicêmico e propôs melhor satisfa-
ção global, conveniência e facilidade de uso do que a insulina subcutânea.
316 Diabetes Clínica 05 (2001)

Produtos e novidades
Innovo: aplicador de insulina com memória para auxiliar os
pacientes

O laboratório farmacêutico Novo Nordisk está trazendo para o Brasil uma


nova geração de aplicador de insulina. Innovo é o aplicador mais completo e
fácil de usar. Encontrado sob uma forme compacta e discreta, ele torna a
aplicação de insulina muita mais fácil, rápida, segura e conveniente.
Este novo sistema possui uma memória embutida que informa o usuário a
quantidade de insulina que foi injetada na última aplicação e quando esta foi
feita, reduzindo o risco do paciente se enganar quanto ao horário e à quanti-
dade da próxima dose.
As doses de Innovo podem ser reguladas em incrementos precisos de 1
unidade, chegando a 70 unidades. O aplicador é projetado exclusivamente
para o uso com agulhas NovoFine de 6 a 8 mm e com cartuchos de insu-
lina Novolin Penfill de 3 ml. O produto é ativado por bateria,
que possui ume durabilidade média de 4 anos.
A tendência mundial no tratamento do diabetes
é o uso mais rigoroso da insulina, com bárias apli-
cações diárias visando imitar o que acontece com
indivíduos sem diabetes. Por isso, a procura por
novos aparelhos de aplicação é cada vez maior.
Innovo é disponível para a compra nas princi-
pais farmácias e centros especializados em dia-
betes a partir de outubro de 2001.

Good Foot: Palmilha em poliuretano expansivo para o


tratamento do pé diabético

A maior vantagem da utilização da espuma de poliuretano expansivo é a


grande precisão em obter a moldagem do pé. O produto, inicialmente em
estado líquido, se expande e vai moldar o pé, criando uma pressão sobre as
partes moles do mesmo, isolando naturalmente os pontos que não podem
sofrer sobrecarga. A espuma de poliuretano permita ainda determinar a den-
sidade da espuma, desde uma consistência mais regida, até uma mais macia,
dependendo das necessidades de cada caso. A palmilha em espuma de poliu-
retano deve ser usada em sapatos que permitam acomoda-la sem apertar ou
machucar o pé, o ideal é a utilização de um sapato especial para pé diabético.
Informação: Good Foot/Ortopedia suíça Ltda, Peter Kuhn, Tel: (11)
5575 8564.
Produtos e Novidades – Diabetes Clínica 05 (2001) 317

Optium de Abbott Medisense: medidor de glicose e de corpos


cetônicos

Após 5 anos de comercialização no Brasil do medidor de glicose Precision


QID, a divisão Medisense de Abbott Laboratórios está lançando o biosensor
Optium. Sua grande inovação, além do fato de as instruções em seu visor
serem em português, facilitando a interpretação da glicemia para aqueles que
não entendem inglês, é o fato de ser o único sensor a ter capacidade de medir
tantos os níveis de glicose como os de cetonas no sangue, possibilitando as-
sim a substituição dos testes em urina, sabidamente pouco precisos, pois não
detectam o principal corpo cetônico, o β-hidroxibutirato.
Este novo equipamento vai possibilitar uma sensível diminuição de ocor-
rência de casos clínicos de cetoacidose, pois o paciente poderá testar seus
níveis de cetonas no sangue precocemente, detectando a elevação dos níveis
de cetona antes da instalação da cetoacidose, podendo contatar seu médico
imediatamente.
Como interpretar os resultados de testes sanguíneos de cetonas:
Níveis de β-hidroxibutirato Ação
Menos de 0,5 Nível normal. Manutenção do metabolismo da glicose. Insulina
adequada. Continuar procedimentos atuais de tratamento.
0,6 – 1,5 Elevação moderada. Metabolismo de gorduras. Provável
deficiência de insulina. Considerar aumento de insulina de ação
rápida. Seguir procedimentos para dias de enfermidade. Fazer
acompanhamento estreito.
1,6 – 3,0 Elevação significativa. Paciente em risco de cetoacidose.
Considerar aumento de insulina de ação rápida. Seguir
procedimentos de dia de enfermidade. Fazer acompanhamento
estreito para possível intervenção de urgência.
Maior do que 3,0 Consistente em acidose metabólica. Considerar fortemente
intervenção de urgência.

Lilly: Tiras reagentes Glico-Fita Plus para determinação da


glicose na urina

Em setembro o Laboratório Lilly iniciou a comercialização da


Glico-Fita Plus. Esta é uma nova versão da antiga Glico-Fita que
foi descontinuada em janeiro deste ano. A principal diferença entre
a Glico-Fita antiga e a nova Glico-Fita Plus é que na primeira o
teste era qualitativo, isto é, apenas indicava se o paciente estava
com o nível de glicose na urina acima de 180 ml/dl ou não. Com a
Glico-Fita Plus, o método é semiquantitativo, ou seja, o paciente
tem o resultado da análise de glicose na urina por faixas, permitin-
do melhor acompanhamento e ajuste.
As tiras reagentes Glico-Fita Plus permitem monitorar os níveis
de glicose na urina, através de leitura visual. Proporciona aos dia-
béticos um auxílio no controle de suas condições, fornecendo infor-
mação indireta quanto aos níveis de glicose sanguínea. A presença
de glicose na urina pode ser uma indicação de que o diabetes está
descontrolado. O teste com Glico-Fita Plus alertará, tanto o diabéti-
co como o médico ou o educador em diabetes, das mudanças que
ocorrem em seu organismo e que necessitem de ajustes na dieta e/
ou medicação.
318 Produtos e Novidades – Diabetes Clínica 05 (2001)

Johnson & Johnson: Automonitorização da glicose sanguínea


com SureStep Plus

Johnson & Johnson está lançando a linha Lifescan para o monitoramento


da glicose sanguínea, que inclui os produtos One Touch Basic Plus e SureS-
tep Plus, ambos portáteis, de fácil manuseio, com resultados rápidos e com-
paráveis aos dos testes de laboratório. O One Touch Basic Plus possui 75
memórias com data e hora, limite de medição de o a 600 mg/dl e resultados
em 45 segundos. O SureStep Plus apresenta resultados em aproximadamente
30 segundos, possui 150 memórias com data e hora, media de resultados de
14 e 30 dias e utiliza fitas de absorção imediata.

BioEnterics: Tratamento cirúrgico da obesidade com a Lap-


Band

A solução Lap-Band é uma alternativa cirúrgica para o tratamento da obe-


sidade, recentemente aprovada pela Food and Drug Administration (FDA)
dos EUA. Lap-Band é um anel de silicone instalado em volta do estomago,
após uma pequena cirurgia por laparoscopia, menos invasiva que os métodos
clássicos. O Lap-Band pode ser ajustado (inflado ou desinflado) por meio de
uma reserva acessível através da pele. O uso de Lap-Band permite uma perda
substancial de peso no caso da obesidade severa, mas o paciente precisa con-
tinuar permanentemente a dieta e os exercícios. Um estudo em 299 pacientes
mostrou que os pacientes perderam em média 36% do peso em excesso, após
3 anos.

Microlife: Termômetros e monitores de pressão arterial digitais

A Microlife apresenta ume linha de produtos úteis para o dia-a-dia da


maioria dos pacientes. Os sistemas digitais de medição da febre são origi-
nais, fácil de usar e de alta precisão. O termômetro auricular, por exemplo,
permite a medição em 1 segundo. Os termômetros tipo caneta, a prova d’água,
dá o resultado com uma precisão de 0,1o C, bem como o termômetro em
forma de chupeta. Microlife propôs também uma linha de monitores automá-
ticos ou semi-automáticos de pressão arterial, com o prático monitor tipo
relógio de pulso, que mede a pressão e a pulsação, infla, desinfla, desliga
automaticamente e possui uma memória.
Diabetes Clínica 05 (2001) 319

Resumos de trabalhos e congressos

MA Testa et al, Harvard University, Terapia intensiva e satisfação do paciente portador de diabetes
Boston, MA, USA, 37th Annual Meeting de tipo 1: estudo randomizado sobre insulina inalada versus
of the European Association for the injetada
Study of Diabetes (EASD),
Glasgow, Reino-Unido, Objetivo: Apesar da evidência de seus benefícios para a saúde, a terapia
9 - 13 de setembro de 2001 insulínica necessita várias aplicações por dia, o que diminui a aceitação do
tratamento. Para quantificar a responsabilidade do número de aplicações em
termos de satisfação do paciente e qualidade de vida, estudamos 327 pacien-
tes portadores de diabetes de tipo 1 randomizados para receber insulina NPH
2 vezes/dia mais insulina regular pré-refeição (n = 165) ou insulina inalada
pré-refeição (n = 162).
Material e métodos: Os pacientes eram 535 homens, com idade 12-65
anos (idade média 29,5 ± 14,6 anos), e HbA1c média 8,0 ± 1,0%. Questioná-
rios de qualidade de vida e satisfação foram completados no início e 6, 12, 20
e 24 semanas após tratamento.
Resultados: A escore de satisfação global (0 a 100) aumento significativa-
mente mais para a insulina inalada do início até o fim do estudo (62,1 para
74,5) do que para aplicações por injeções (62,8 to 64,3), p < 0,0001. As mu-
danças do início até o fim do estudo para todos os itens de satisfação (0 a
100), mostraram aumentos similares da satisfação com insulina inalada com-
parada com aplicações tradicionais. Os resultados da insulina inalada ± DP
vs. Injeções ± DP foram: carga (9,9 ± 1,3 vs. 2,3 ± 1,0); conforto (12,6 ± 1,6
vs. 1,2 ± 1,1); eficácia (13,9 ± 1,7 vs. 2,9 ± 1,5); flexibilidade (12,2 ± 1,4 vs.
1,6 ± 1,3); satisfação geral (18,3 ± 2,2 vs. 0,3 ± 1,6); dor (14,2 ± 1,5 vs. 0,8 ±
1,2); preferência (27,4 ± 2,1 vs. 1,7 ± 1,5); efeitos adversos (3,4 ± 1,2 vs. ?2,6
± 1,2), p < 0,0001; confusão (9,7 ± 1,2 vs. 4,4 ± 1,2); interferência com a vida
(9,8 ± 1,2 vs. 5,1 ± 1,2); social (1,4 ± 0,8 vs. ?0,9 ± 0,7); e satisfação especí-
fica no que se refere à insulina (9,7 ± 1,7 vs. 0,8 ± 1,1), p < 0,01 a 0,03. O
escore global de qualidade de vida e os itens tais como controle comporta-
mental e emocional, sintomas de sofrimento geral e hiperglicêmica, cogni-
ção, acuidade mental e consciência evoluíram melhor com a insulina inalada,
p < 0,01 a 0,05. As diferenças no podem ser completamente explicadas pela
diminuição da HbA1c [INH (0,3 ± 0,06%) vs MDI (0,1 ± 0,07%), p = 0,08].
Conclusões: A redução do número de injeções pelo uso da insulina inalada
melhora a satisfação do paciente e a qualidade de vida, reduzindo a carga
terapêutica e os obstáculos à aderência à terapia intensiva.
320 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 05 (2001)

JG Eriksson et al., National Public Crescimento na infância e diabetes de tipo 2 na idade adulta
Health Institute, Helsinki, Finland and
Medical Research Council, Objetivo: O baixo peso de nascimento é associado a taxas aumentadas de
Southampton,UK, 37th Annual Meeting diabetes de tipo 2 na vida adulta. Isso é uma conseqüência das alterações
of the European Association for the fisiológicas e metabólicas persistentes que acompanham o crescimento lento
Study of Diabetes (EASD), Glasgow, in útero. Além disso, obesidade na infância e do adulto e importante fator de
Reino-Unido, risco para o diabetes de tipo 2. O objetivo deste estudo foi de avaliar o cres-
9 - 13 de setembro de 2001 cimento durante a infância em pessoas que desenvolveram um diabetes de
tipo 2.
Material e métodos: Homens (n = 4630) e mulheres (n = 4130) que nasce-
ram no Hospital Central da Universidade de Helsinski durante o período 1934-
44, e que consultaram em serviços pediátricos da cidade participaram no es-
tudo. Os indivíduos foram medidos aproximadamente 18 vezes (peso e altu-
ra) entre o nascimento e a idade de 12 anos. Registros detalhados sobre a
saúde das crianças foram disponíveis para todos os 8760 participantes.
Resultados: Foram identificados 208 homens e mulheres que desenvolve-
ram diabetes de tipo 2. O baixo peso de nascimento e baixo índice ponderal
(peso de nascimento/altura) foram associados com risco aumentado de diabe-
tes de tipo 2. Baixo peso (p = 0,019) e IMC em 2 anos de idade (p < 0,001)
também aumentam o risco. Após a idade de 7 anos, o ganho rápido em peso e
IMC aumenta o risco de diabetes de tipo 2. A incidência cumulativa de diabe-
tes de tipo 2 foi positiva e fortemente associada ao IMC na idade de 11 anos
para homens e mulheres.
Conclusões: Este estudo mostra que, independentemente da altura de nas-
cimento, o baixo ganho de peso durante a infância é também associado
com risco elevado da doença. Além disso, aos 7 anos de idade, o ganho
rápido de peso e o IMC elevado são também associados a risco aumentado
de diabetes de tipo 2.

J. Wainstein et al., 37th Annual Meeting Terapia com bomba de insulina versus injeções diárias em
of the European Association for the pacientes diabéticos obesos de tipo 2
Study of Diabetes (EASD), Glasgow,
Reino-Unido, Objetivo: Os pacientes obesos diabéticos de tipo 2 com resistência severa
9 - 13 de setembro de 2001 à insulina podem desenvolver uma hiperglicemia crônica apesar de respeitar
o tratamento com dieta, exercício físico e uso de agentes hipoglicemiantes
orais. A terapia com doses elevadas de insulina nesses pacientes não demonstra
controle glicêmico satisfatório e é responsável de um ganho de peso, que, em
retorno, agrava a resistência à insulina e os fatores de risco cardiovasculares.
Este estudo mostrou que a aplicação continua de insulina por meio de uma
bomba de insulina (Minimed 507R) é superior às injeções diárias múltiplas
de insulina em termos de controle da glicose, ganho de peso e dosagem diário
total de insulina.
Material e métodos: 39 pacientes obesos diabéticos de tipo 2 (IMC > 30),
não controlados (HbA1C > 8,5%), tratados com doses elevadas de insulina
(insulina > 1 unidade/kg/dia) foram randomizados para receber um tratamen-
to com bomba de insulina de 18 semanas seguido (grupo P-M) ou (grupo M-
P) por um tratamento de 18 semanas com injeções múltiplas, com um perío-
do de 12 semanas sem tratamento entre os dois.
Resultados: Durante as 18 primeiras semanas: HbA1c diminuiu de 10,2 ±
1,22 % (média ± DP) no início para 8,06 ± 1,15 % na semana 18 no grupo M-
P (p = 0,001) e de 10,23 ± 1,43 para 7,65 ± 1,04 no grupo P-M (p = 0,001). As
necessidades de insulina diária diminuíram de 102 ± 24 U/dia no início para
85 ± 29 na semana 18 (p = 0,004) no grupo P-M, e diminuíram de 113 ± 28 no
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 05 (2001) 321

Continuação início para 116 ± 30 na semana 18 no grupo M-P (não significativo). Os


números absolutos de hiperglicemia capilar extrema diminuíram na grupo P-
M mas não significativamente. Nenhum grupo apresentou um aumento sig-
nificativo de peso.
Conclusões: Os pacientes obesos diabéticos tipo 2 podem melhorar signi-
ficativamente o controle glicêmico sem ganho de peso por multiplicação
das injeções diárias, ou por uso de uma bomba de insulina, que permite
diminuir a dosagem diária de insulina. Resultados são esperados (como
monitorização continua da glicose subcutânea) para avaliar melhor o be-
nefício individual da terapia por bomba de insulina versus as injeções
múltiplas diárias nesses pacientes.

J. Gerich1 et al., University of Mecanismos pelos quais a rosiglitazona melhora o controle


Rochester, Rochester, NY; 2 SmithKline glicêmico em diabetes de tipo 2
Beecham, Philadelphia, PA, USA, 37th
Annual Meeting of the European Objetivo: Os mecanismos pelos quais as tiazolidinedionas (TZDs) melho-
Association for the Study of Diabetes ram o controle glicêmico não são ainda completamente conhecidos. Não é
(EASD), Glasgow, Reino-Unido, 9 - 13 claro se as TZDs agem principalmente por diminuição da produção de glico-
de setembro de 2001 se, melhorando a disponibilidade da glicose, ou somente por melhora da sen-
sibilidade à insulina.
Material e métodos: Estudamos vários aspectos da glicose de jejum e pós-
prandial e o metabolismo dos lípides em 30 indivíduos portadores de diabe-
tes de tipo 2, antes e após randomização para um tratamento de 3 meses com
placebo (PBO, n = 15) ou rosiglitazona (RSG, 2 vezes/dia, n = 15).
Resultados: Em comparação com o grupo placebo, os pacientes tratados
com RSG diminuíram a HbA1c, a glicose plasmática média de jejum e pós-
prandial em 1,0%, 40 mg/dl e 43 mg/dl respectivamente (p < 0,03). Os ácidos
graxos livres de jejum e pós-prandiais também diminuíram em respondedo-
res ao tratamento RSG (p = 0,011). A sensibilidade à insulina e a função da
célula b melhoraram, em respondedores somente, em 32 ± 5% (p = 0,004) e
27 ± 8% (p = 0,026), respectivamente. A produção de glicose endogênico
(técnica de duplo isótopo) diminuiu em respondedores RR (p = 0,01 e 0,023)
e nenhum desses parâmetros foram alterados no grupo placebo. A gliconeo-
gênese pós-prandial (mas não de jejum) diminuiu no grupo tratado. A entra-
da de glicose de jejum ou pós-prandial e a oxidação (calorimetria) não foram
alteradas, mas a clearance da glicose de jejum e pós-prandial aumentou (p =
0,04 and 0,007). O HDL-colesterol de jejum e pós-prandial aumentou signi-
ficativamente em respondedores (p = 0,039 e 0,014), mas nem os triglicéri-
des nem o LDL-colesterol foram alterados.
Conclusões: Em pacientes respondedores portadores de diabetes de tipo 2, a
rosiglitazona melhora o controle glicêmico por aumento da sensibilidade à
insulina e melhora da função celular β. A ação da rosiglitazona resulta em
primeiro em redução da glicogenólise e gliconeogênese na produção de gli-
cose, e, em parte menor, em disponibilidade mais eficiente da glicose.

V. Fonseca et al., Tulane University, Menos hipoglicemia sintomática com insulina glargina vs.
New Orleans, LA, EUA, 37th Annual insulina NPH em pacientes diabéticos de tipo 2
Meeting of the European Association
for the Study of Diabetes (EASD), Objetivo: A insulina glargina (Lantus) é uma insulina humana análoga que
Glasgow, Reino-Unido, 9 - 13 de fornece absorção de insulina constante, sem pico, a partir do local de injeção,
setembro de 2001 e que tem uma duração de ação prolongada em comparação com a insulina
humana NPH.
322 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 05 (2001)

Continuação Material e métodos: Neste estudo multicêntrico, randomizado, com grupo


paralelo, a insulina glargina foi comparada com NPH em pacientes portado-
res de diabetes de tipo 2 anteriormente tratados com NPH uma vez/dia. Os
pacientes receberam uma dose única por dia (ao deitar) de insulina glargina
ou NPH, e foram autorizados a usar insulina regular pré-prandial. Um total
de 100 pacientes (idade média 57,9 anos, HbA1c 8,4%, glicose plasmática de
jejum 9,3 mmol/l) foram tratados durante 28 semanas.
Resultados: Os pacientes tratados com insulina glargina e NPH atingiram
diminuições similares para HbA1c (-0,35% vs. –0,44%, respectivamente) e
para a glicose plasmática de jejum (-0,95 mmol/l vs. –1,13 mmol/l, respecti-
vamente). A percentagem de pacientes que conseguiram o objetivo final de
glicemia de jejum < 6,66 mmol/l foi também similar em pacientes tratados
por glargina (29,5%) ou por NPH (22,7%; p = 0,613). Em mais, não foi ob-
servada diferença entre glargina e NPH na proporção de pacientes que atingi-
ram HbA1c < 7% ou < 8%. A dosa diária media de insulina glargina no início
até o fim do estudo (27 UI, 33 UI, respectivamente) foi similar à da NPH (26
UI, 30 UI, respectivamente). Menos pacientes reportaram pelo menos 1 epi-
sódio de hipoglicemia com insulina glargina (46,2%) do que com NPH (60,4%;
p = 0,0488). Além disso, a percentagem de pacientes que reportaram uma
hipoglicemia sintomática confirmada por glicose plasmática < 2,8 mmol/l foi
inferior com insulina glargina (17,3%) do que com NPH (31,3%; p = 0,0017).
Uma percentagem similar de pacientes tratados com insulina glargina (15,4%)
reportaram sintomas de hipoglicemia noturna em comparação com NPH
(27,1%; p = 0,0805).
Conclusões: A insulina glargina ao deitar é tão eficaz como a NPH ao
deitar para melhorar o controle glicêmico, mas menos pacientes reporta-
ram sintomas de hipoglicemias e eventos hipoglicêmicos confirmados.

M. Herz et al., Eli Lilly and Company, Controle glicêmico equivalente com Humalog Mix25 pré ou pós-
Indianapolis, IN, USA, 37th Annual prandial em pacientes idosos diabéticos de tipo 2
Meeting of the European Association
for the Study of Diabetes (EASD), Objetivo: As aplicações de insulina pós-prandial poderiam ser uma opção
Glasgow, Reino-Unido, útil em paciente idoso que esqueceram da aplicação pré-prandial ou dos quais
9 - 13 de setembro de 2001 os hábitos alimentares são imprevisíveis. Comparamos os efeitos sobre o con-
trole glicêmico das aplicações pré-prandial de Humalog Mix25 (Mix25; 25%
insulina lispro, 75% NPL), aos das aplicações pós-prandiais de Mix25 em pa-
cientes idosos portadores de diabetes de tipo 2 e controle inadequado com sul-
foniluréias (HbA1c > 1,2 vezes o limite superior do intervalo normal).
Material e métodos: Este estudo aberto, de 16 semanas, com grupos para-
lelos, observou pacientes randomizados (idade 60-80 anos) em dois grupos:
Mix25 aplicada imediatamente antes ou 15 minutos depois o início do café
da manhã e do jantar. A HbA1c média, a glicose sanguínea e o peso corporal
não eram significativamente diferentes nos dois grupos no início do estudo.
Resultados: No fim do estudo, a HbA1c era similar nos grupos pré-refei-
ção e pós-refeição (8,54±0,22% [média ± DP] vs, 8,74 ± 0,26%, P = 0,557).
O perfil diário da glicose sanguínea mostrou esses valores (em mmol ± DP)
para as aplicações pré ou pós-refeição, respectivamente: Jejum, 8,27 ± 0,34 e
8,07 ± 0,31, P = 0,673; 2 horas após café da manhã, 9,32 ± 0,44 e 10,13 ±
0,60, P = 0,280; pré-jantar, 9,72 ± 0,52 e 9,81 ± 0,40, P = 0,897; 2 horas após
jantar, 9,79 ± 0,42 e 10,45 ± 0,47, P = 0,386; glicose sanguínea diária total,
9,27 ± 0,42 e 9,61 ± 0,39, P = 0,555. As doses de insulina nos grupos pré-
refeição e pós-refeição foram: 0,42 ± 0,03 U/kg e 0,51 ± 0,03 U/kg, respecti-
vamente (P = 0,033). A taxa de hipoglicemia no final do estudo (sintomas ou
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 05 (2001) 323

Continuação glicemia <3mmol) foi baixa (0,56 ± 0,42 episódios/30 dias vs. 0,06 ± 0,04
episódios/30 dias, P = 0,236). O peso corporal não mudou significativamente
entre o início e o fim do estudo (P = 0,727).
Conclusões: Concluímos que, em uma população idosa, a aplicação de
Mix25 pré-refeição ou pós-refeição resultou em controle glicêmico com-
parável (HbA1c) com frequência baixa de hipoglicemia. A aplicação pós-
refeição de Mix25 é uma opção terapêutica segura que pode ser útil para
pacientes idosos portadores de diabetes de tipo 2.

M. Stewart et al., 37th Annual Meeting Efeitos combinados da rosiglitazona e da atorvastatina sobre a
of the European Association for the dislipidemia associada ao diabetes de tipo 2
Study of Diabetes (EASD), Glasgow,
Reino-Unido, Objetivo: O diabetes de tipo 2 é associado a um perfil complexo de dis-
9 - 13 de setembro de 2001 lipidemia. Este estudo avalia os efeitos do tratamento com rosiglitazona
(RSG) e atorvastatina sobre o perfil lipídico em pacientes portadores de
diabetes de tipo 2.
Material e métodos: Agentes redutores de lípides foram supressos do tra-
tamento de pacientes 4 semanas antes este estudo aberto de tratamento de 8
semanas com RSG 4 mg duas vezes ao dia. Pacientes com LDL colesterol <
160 mg/dl e triglicérides < 500 mg/dl foram randomizados para receber pla-
cebo ou atorvastatina (ATV) 10 mg ou 20 mg uma vez por dia durante 16
semanas. O perfil lipídico completo e o gradiente de densidade por ultracen-
trifugação foram avaliados no início e nas semanas 8 e 24.
Resultados: Observamos um aumento de 8% do LDL-C durante as 8 pri-
meiras semanas do estudo. Mais tarde, os níveis de LDL-C ficaram estáveis
em pacientes tratados com RSG em tratamento único. Em comparação com
RSG em tratamento único, LDL-C diminuiu em 33% e 40% em pacientes
tratados com ATV 10 e 20 mg, respectivamente. Em cada grupo, as altera-
ções em LDL-C foram confirmadas pelas alterações na apo-lipoproteína b
após 24 semanas. Alterações na densidade de LDL foram maiores nos pri-
meiras oito semanas do estudo, quando os pacientes receberam RSG em tra-
tamento único. Após 16 semanas e adição de ATV, alterações na densidade de
LDL foram similares às constatadas com RSG em tratamento único. Em com-
paração com RSG em tratamento único, HDL-C aumentou em 6-7% em pa-
cientes tratados com ATV. Após 16 semanas de ATV, foram observadas altera-
ções mínimas em níveis de HDL2 em comparação com RSG em tratamento
único. A proporção de pacientes reportando efeitos adversos foi similar em
ambos os grupos.
Conclusões: RSG é responsável de uma alteração potencialmente favorá-
vel, antiaterogênica na heterogeneidade do LDL e HDL em pacientes dia-
béticos tipo 2. Em mais, as alterações causadas pela ATV em sub-frações
de colesterol são mantidas quando adicionada ao tratamento com RSG.

A. Nicolosi et al., Department of Disfunção erétil e diabetes: estudo populacional


Epidemiology (ITBA), National
Research Council, Milan, Italy, 37th Objetivo: Vários estudos sobre a disfunção erétil (DE) foram realizados
Annual Meeting of the European em populações selecionadas, usando várias definições da DE. Conduzimos
Association for the Study of Diabetes um estudo populacional multinacional em Brasil, Itália, Japão e Malásia para
(EASD), Glasgow, Reino-Unido, avaliar a prevalência e os parâmetros da DE em indivíduos de meios ambien-
9 - 13 de setembro de 2001 te, cultura e genética diferentes.
Material e métodos: Em cada país, uma amostra randomizada de aproximada-
mente 600 homens de 40-70 anos foram entrevistados sobre histórico medical,
326 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 05 (2001)

Continuação hábitos de vida, comportamento sexual usando um questionário padronizado (ou-


tubro 97 – junho 98). DE foi classificada por quantas vezes o sujeito tinha a
“capacidade de atingir ou manter uma ereção satisfatória para a realização de ato
sexual”. Homens foram classificados como normais quando a resposta era “sem-
pre” ou “habitualmente”, e como DE quando a resposta era “às vezes” ou “nun-
ca”. Homens que reportaram um diagnóstico de diabetes ou tratados com medi-
camentes antidiabéticos foram classificados como “diabéticos”. Homens que não
receberam diagnóstico e doença cardiovascular, prostática, diabética, úlcera ou
depressão, e que não eram tratados com hormônios, foram classificados com
“saudáveis”. O odds ratio (OR) ajustado à idade e intervalo de confiança (IC) de
95% foram calculados por associações entre DE e outros fatores.
Resultados: A prevalência da DE em homens diabéticos atinge 25% na
idade 40-44 anos e até 70% na idade 65-70 anos. O OR ajustado à idade para
DE em pacientes diabéticos vs. homens saudáveis era 2,6 (95% IC = 1,9-
3,6). A prevalência da DE era 16,1% em homens saudáveis, 31,7% em 104
homens com diabetes (OR = 2,4, 95% IC = 1,6-3,7), 40% em 30 homens com
diabetes e doença cardíaca (OR = 3,5, 95% IC = 1,7-7,3), 46,5% em 71 ho-
mens com diabetes e hipertensão (OR = 4,5, 95% IC = 2,8-7,4), e 55,6% em
10 homens com diabetes e doença prostática (OR = 6,5, 95% IC = 2,5-16,7).
O OR ajustado à idade para DE com duração do diabetes (> 10 anos vs. < 10
anos) foi 2,0 (95% IC = 1,1-3,7). Os homens diabéticos reportando tabagis-
mo e atividade física menor do que a média apresentaram um aumento 4
vezes superior da prevalência de DE (OR = 3,9, 95% IC = 1,4-10,9).
Conclusões: A prevalência da DE em homens diabéticos é significativa-
mente maior do que em homens saudáveis da mesma idade. O aumento da
idade, duração do diabetes, presença de doenças associadas, falta de ativi-
dade física e tabagismo são significativamente associados com o aumento
da prevalência.

L. Behrend et al., Internal Medical Sildenafil na tratamento da disfunção erétil em população de


Department, Bispebjerg Hospital, homens portadores de diabetes tipo 1 e 2. Demanda para
Copenhagen, Denmark, 37th Annual tratamento e resultados de estudo de 12 semanas com dosagem
Meeting of the European Association flexível
for the Study of Diabetes (EASD),
Glasgow, Reino-Unido, Objetivos: A disfunção erétil (DE) aumenta em diabetes tipo 1 e 2, especi-
9 - 13 de setembro de 2001 almente após os 40 anos. Sildenafil (Viagra) é um agente oral eficaz para o
tratamento da DE, independentemente da etiologia, mas o seu uso e eficácia
na DE do diabetes pode ser limitada por complicações tardias. O objetivo
deste estudo foi descrever a demanda para tratamento, elegibilidade dos pa-
cientes e resultados de um estudo de 12 semanas com dosagem flexível auto-
reportado em população ambulatória.
Material e métodos: Os diários de uma população de 187 pacientes com
idade de 40 anos e mais, portadores de diabetes tipo 1 e 2 e sofrendo de
disfunção erétil foram avaliados por diabetologista. 118 pacientes foram con-
vidados em participar do estudo e, no final, 55 pacientes foram rastreados
para receber um tratamento de 12 semanas de sildenafil, em um estudo aber-
to com escolha flexível da dosagem. Eficácia foi avaliada pelo International
Index of Erectile Function e um questionário de satisfação geral.
Resultados: 69 pacientes (36,9%) foram excluídos após avaliação dos diá-
rios, os parâmetros de exclusão sendo em primeiro lugar a doença cardiovas-
cular e o tratamento com nitratos. 49 (41,5%) dos 118 pacientes convidados
pra o estudo declinaram o convite, pretextando a idade (44,9%) ou outras
doenças (28,6%). 33 pacientes, com idade 45-75 anos (média 58,1 ± 7,2),
328 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 05 (2001)

Continuação completaram o estudo de 12 semanas. 12 pacientes (36,4%) reportaram efei-


tos adversos, mas só um interrompeu o tratamento. 12 pacientes (36,4%)
reportaram efeito satisfatório para cada uso do Viagra após ajuste e inicial da
dosagem, 9 pacientes (27,2%) apresentaram resultados vários e os últimos 12
pacientes (36,4%) não reportaram efeito nenhum. Os escores seguintes fo-
ram significativamente melhorados durante o tratamento com sildenafil
(p<0,0001): função erétil, satisfação sexual e satisfação global.
Conclusões: Sildenafil melhora significativamente a função sexual em ho-
mens portadores de diabetes de tipo 1 ou 2 e a disfunção erétil, quando
medida com instrumento válido, que avalia os domínios pertinentes da
função sexual masculina. Como previsto em população de homens diabé-
ticos de mais de 40 anos, um grande número de pacientes devem ser exclu-
ídos por causa de complicações e um grupo significativo não reporta efei-
tos do tratamento. Por isso, sildenafil não é um tratamento universal, e o
aconselhamento do paciente e do parceiro, incluído o estudo de tratamen-
tos alternativos, é ainda necessário.

D. Holmes et al., 37th Annual Meeting Hiperglicemia pós-prandial em pacientes com diabetes de tipo 2:
of the European Association for the nateglinida versus acarbose
Study of Diabetes (EASD), Glasgow,
Reino-Unido, Objetivo: A resposta da glicose prandial, depende da absorção de glicose e
9 - 13 de setembro de 2001 supressão da produção de glicose endógena. Em pacientes com diabetes tipo
2, a absorção é normal mas a supressão da produção de glicose está diminu-
ída, devido à alteração na fase inicial de secreção de insulina. A utilização
clínica da acarbose, que diminui a absorção de glicose, e a nateglinida, que
estimula a secreção inicial de insulina, foram comparadas em estudos de 24
semanas duplo-cego, randomizados em pacientes com diabetes tipo 2.
Pacientes e métodos: Pacientes portadores de diabetes tipo 2 (179 homens
e mulheres = 30 anos de idade que não passaram por tratamento de dieta e
exercício pelo menos 2 meses antes do estudo) foram randomizados para rece-
ber nateglinida (120 mg antes das 3 principais refeições, n = 87) ou acarbose
(50 mg 3 vezes/dia durante 4 semanas seguido por 100 mg 3x/dia, reduzida
novamente se necessário, para 50 mg 3x/dia, n = 92). Os valores da HbA1c
basal foram comparados nos dois grupos de tratamentos (7,75% e 7,87% para
nateglinida e acarbose, respectivamente). Um total de 144 pacientes completa-
ram as 24 semanas de tratamento ( 70 com nateglinida; 74 com acarbose).
Resultados: No resultado final do estudo, a HbA1c apresentou redução
similar nos dois grupos de tratamento de nateglinida e acarbose, 0,42% e
0,39%, respectivamente (p = 0,74 de diferença). Nos pacientes que comple-
taram o estudo um nível de HbA1c < 7% foi encontrada em cerca de 60% (42/
70) dos pacientes que recebiam nateglinida, comparado com 38% (28/74)
dos pacientes que recebiam acarbose. Em termos gerais, eventos adversos
foram reportados em cerca de 65% dos pacientes que recebiam acarbose,
comparado com 49% dos que recebiam nateglinida. A incidência de eventos
adversos gastrintestinais (principalmente flatulência e diarréia) foi maior nos
pacientes tratados com acarbose do que nos grupo que recebia nateglinida
(42 x 18 relatos, respectivamente). Os relatos de sintomas sugerindo hipogli-
cemia foram reportados por cerca de 5,7% dos pacientes com nateglinida (5/
87) e 2,2% com acarbose (2/92).
Conclusões: O controle da hiperglicemia pós-prandial como forma de dimi-
nuir os níveis de HbA1c abaixo de 7% é possível com tratamento adequado.
Embora, a nateglinida e acarbose demonstrassem eficácia comparáveis, a
nateglinida foi preferida pela superioridade do seu perfil de efeito adversos,
que deve ser uma reflexão de seu mecanismo de ação mais fisiológico.
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 05 (2001) 329

Jaakko Tuomilehto et al., Finnish Prevenção do diabetes de tipo 2 após alterações no estilo de vida
Diabetes Prevention Study Group, New em indivíduos com tolerância à glicose diminuída
England Journal of Medicine
2001;344:1343-50 Introdução: O diabetes de tipo 2 está crescendo, principalmente por cause
da prevalência do estilo de vida sedentário e da obesidade. Se o diabetes de tipo
2 puder ser prevenido por intervenções sobres os estilos de vida dos indivíduos
com risco elevado de desenvolver a doença ainda não é conhecido.
Métodos: 522 indivíduos de idade média, com sobrepeso (172 homens e
350 mulheres; 55 anos; IMC 31), com tolerância à glicose diminuída, foram
randomizados por um grupo de intervenção e um grupo controle. Cada indi-
víduo do grupo de intervenção recebeu informações individualizadas sobre a
perda de peso, a ingestão de gordura, de gordura saturada e de fibras, e sobre
a atividade física. Um teste de tolerância à glicose foi realizado anualmente;
o diagnóstico de diabetes foi confirmado por um segundo teste. A duração
média do acompanhamento foi 3,2 anos.
Resultados: A perda média (±DP) de peso entre o início e o fim do primeiro
ano foi 4,2 ± 5,1 kg no grupo de intervenção e 0,8 ± 3,7 kg no grupo controle;
a perda no final do segundo ano foi 3,5 ± 5,5 kg no grupo de intervenção e 0,8
± 4,4 kg no grupo controle (p < 0,001). A incidência cumulativa de diabetes
depois de 4 anos foi 11% (IC 95%, 6-15%) no grupo de intervenção e 23% (IC
95%, 17-29%) no grupo controle. Durante o estudo, o risco de diabetes foi
reduzido em 58% (p < 0,001) no grupo de intervenção. A diminuição da inci-
dência do diabetes foi diretamente relacionada a alterações no estilo de vida.
Conclusões: O diabetes de tipo 2 pode ser prevenido por alterações no
estilo de vida de indivíduos com risco elevado de desenvolver a doença.

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330 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 05 (2001)

C Saloranta et al., 37th Annual Meeting Eficácia e segurança da nateglinida em pacientes com
of the European Association for the hiperglicemia moderada
Study of Diabetes (EASD), Glasgow,
Reino-Unido, Objetivo: Pacientes diabéticos com baixa glicemia de jejum, podem apre-
9 - 13 de setembro de 2001 sentar excursões significativas da glicose prandial. Não são conhecidos trata-
mentos especificamente mais adequados, quando dieta a exercícios não fun-
cionam, mas a nateglinida - que estimula a primeira fase de secreção de insu-
lina através do mecanismo de ação fast-on, fast off, proporciona uma dimi-
nuição da glicemia prandial, apresentando benefício clínico. Um estudo de
24 semanas, multicêntrico, randomizado, de grupos paralelos, duplo-cego,
foi conduzido de forma a avaliar a eficácia e segurança da nateglinida em
pacientes com hiperglicemia moderada.
Pacientes e métodos: Pacientes com glicemia de jejum (n = 675) 7,0-8,3
mmol/l foram randomizados para receber nateglinida 30 mg, 60 mg, 120 mg
ou placebo, antes das três principais refeições. Os valores basais médios fo-
ram: glicemia de jejum 7,6 mmol, HbA1c 6,5% (variação 4-9,1%), índice de
massa corpórea 29 kg/m2 e duração do diabetes de 3,6 anos.
Resultados: Parâmetros médios de eficácia, assim como a glicose sanguí-
nea e a resposta à insulina para refeição padrão (foi avaliada a AUC de 0-4
horas) nos pacientes selecionados (n=127), são mostrados a seguir:

Nateglinida/placebo
(antes das principais 30 mg 60 mg 120 mg placebo
refeições)
∆ HbA1c (%) -0,10 ± 0,05*† -0,15 ± 0,04*† -0,23 ± 0,05*† 0,16 ± 0,05*
∆ GJ 0,08 ± 0,12† 0,01 ± 0,11† -0,14 ± 0,12† 0,59 ± 0,12*
∆ GPP AUC 0-4h -1,97 ± 1,49† -3,63 ±1,43*† -3,95 ± 1,47*† 3,15 ± 1,33*
(h*mM)
∆ Insulina AUC0-4h 36,95 ± 18,87† 16,97 ± 17,76† 46,78 ± 19,72*† -12,6 ± 16,6
(h*mU/L)
*p < 0,05 x valor basal; † p < 0,05 x placebo

Hipoglicemia confirmada (sintomas com glicemia da jejum = 3,3 mmol)


ocorreram em 2,4; 4,0; 5,3 e 1,2% dos pacientes com nateglinida 30, 60, 120
mg antes das principais refeições e placebo, respectivamente. A incidência
geral de eventos adversos foi similar entre todos os grupos de tratamento. O
peso aumentou nos grupos com nateglinida (0,5 - 0,65 kg) e placebo (0,3 kg).
Não foi verificada nenhuma outra alteração clínica significante nos parâme-
tros de segurança.
Conclusões: Esses dados sugerem que os pacientes com diagnósticos no-
vos em diabetes, podem ser tratados de modo eficaz e seguro com agentes
como a nateglinida, que possui como alvo a hiperglicemia prandial.

Agnes Pascot et al, Diabetes Care Respectivas contribuições da tolerância à glicose diminuída e da
2001;24:902-908, maio de 2001 acumulação de gordura abdominal na deterioração do perfil de
risco metabólico em mulheres

Objetivo: Determinar se o estado de tolerância diminuída à glicose (IGT)


contribui à deterioração do perfil metabólico em mulheres depois de tomada
em conta da contribuição da acumulação de tecido adiposo visceral, medido
por tomografia computadorizada.
Desenho e métodos: Estudamos 203 mulheres com tolerância normal à
glicose (NGT) e 46 mulheres com IGT, definida com glicemia entre 7,8 e
11,1 mmol/l, medida 2h horas após teste de carga em glicose via oral.
Resultados: Mulheres com IGT foram caracterizadas por acumulação de
tecido adiposo visceral maior e por concentrações maiores de glicose plas-
332 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 05 (2001)

Continuação mática de jejum, insulina, peptídeo-C, colesterol, triglicérides, apolipoprote-


ína B, maior relação colesterol/HDL-colesterol, diminuição do tamanho das
partículas de LDL, HDL e HDL2-colesterol menor, pressão sanguínea maior
(p < 0,01) do que as mulheres NGT. Quando ajustamos o tecido adiposo e a
massa de gordura com o status de menopausa, as diferenças anteriormente
encontradas em concentrações de LDL-colesterol, partículas de LDL, HDL e
HDL2 colesterol, e também nas relações colesterol/HDL-colesterol e pres-
são sanguínea são eliminadas, mas as concentrações em triglicérides perma-
necem significativamente maiores em mulheres com IGT.
Conclusões: A acumulação elevada de tecido adiposo visceral é um fator
envolvido na deterioração de vários parâmetros metabólicos em mulheres
com IGT, com a notável exceção das concentrações das triglicérides, que
permanecem diferentes entre mulheres com IGT ou com NGT, após ajuste
para a gordura visceral.

M.B. Gomes, C.N. Cohen, F.M. Alterações precoces da pressão sanguínea em pacientes
Albanesi, M.F.R. Gonçalves. UERJ, Rio diabéticos de tipo 1 normotensivos e normoalbuminúricos
de Janeiro, 17th International Diabetes
Federation Congress, México City, Objetivo: Investigar modelos de pressão sanguínea (PS) em pacientes dia-
México, 5-10 de novembro de 2000 béticos de tipo 1 normotensivos e normoalbuminúricos durante monitora-
mento ambulatório da pressão sanguínea de 24 horas.
Desenho e métodos: Estudamos 28 pacientes diabéticos de tipo 1 com
idade 27 ± 7,1 anos com duração de doença de 9 ± 6,6 anos e 28 indivíduos
controle não-diabéticos normotensivos com idade 25 ± 6,5 anos, ajustados
com o grupo diabético no que se refere a idade, sexo, cor da pele, peso, altu-
ra, IMC, pressão sanguínea e ausência de albuminúria. Pressão sistólica (sPS)
e diastólica (dPS) foram registradas durante 24 horas, dia e noite. As relações
noite/dia da pressão sanguínea e a percentagem de diminuição da pressão
durante a noite foram determinadas.
Resultados: Ambos sPS (111 ± 7,1 vs. 104 ± 9mmHg; p = 0,003) e dPS da
noite (66 ± 6,1 vs. 61 ± 5,3mmHg; p = 0,001) foram maiores em pacientes
diabéticos do que em não diabéticos. As relações noite/dia para sPS (0,93 ±
0,04 vs. 0,89 ± 0,05; p = 0,006) e dPS (0,86 ± 0,06 vs. 0,82 ± 0,06; p = 0,007)
foram maiores em diabéticos. A perda da redução da sPS à noite era mais
prevalente em diabéticos (78 vs. 39%; p = 0,007). Os pacientes que apresen-
tavam uma redução de pressão noturna inferior em 10% para sPS e dPS no
grupo diabético tinham uma carga de pressão sanguínea mais elevada duran-
te a noite (21,4 ± 16,6 vs. 3,2 ± 3,9%; p = 0,01 e 21,9 ± 10 vs. 3,7 ± 5,5%; p
< 0,001, respectivamente). Conclusões: Nossos dados mostram sPS e dPS
maiores durante a noite e perda da caída noturna da PS em pacientes diabéti-
cos de tipo 1. Outros estudos prospectivos são necessários para definir se
uma carga elevada da pressão sanguínea em diabéticos sem diminuição da
pressão sanguínea à noite pode representar um risco de nefropatia ou doença
cardiovascular.
Salgado Fo N et al / Diabetes Clínica 05 (2001) 333~338 Diabetes 333
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 05 (2001) 333~338

ARTIGO ORIGINAL

Perfil do paciente diabético internado no hospital universitário Presidente


Dutra, São Luís, Maranhão

Natalino Salgado Filho*, Bernardete Jorge Leal Salgado**, Luiz Gustavo Oliveira Brito*** , Gustavo
Augusto Coelho Ferro**** , Ana Leatrice Oliveira Sampaio****

*Professor Adjunto-Doutor de Nefrologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Diretor Geral do Hospital Universitário Presidente Dutra,
**Professora Adjunta de Fisiologia da UFMA, Mestre em Endocrinologia, ***Acadêmico de Medicina da UFMA, Monitor de Fisiologia do Departamento de
Ciências Fisiológicas da UFMA, Bolsista do PIBIC/CNPq, ****Acadêmicos de Medicina da UFMA, Bolsistas do PIBIC/CNPq

Resumo
Os autores pretenderam delinear retrospectivamente os aspectos epidemiológicos e laboratoriais de 1145 pacientes diabéticos internados no
Serviço de Clínica Médica do Hospital Universitário Presidente Dutra (HUPD), onde foram revisados 842 prontuários. O tempo médio de
hospitalização foi de 21,04 dias. 52,7% dos pacientes eram do sexo feminino e a idade média foi de 58,6 anos. 63,2% dos indivíduos procedi-
am de São Luís, e 93,5% eram portadores de DM tipo 2. O tempo médio do diagnóstico foi de 8,3 anos. As complicações do DM foram as
principais causas primárias de internação, com 76% destas. A pressão arterial média foi 139,8/8,1 mmHg, com 41,8% de hipertensos. A
glicemia média foi 186,6 mg/dl, com 40,5% dos pacientes apresentando níveis de 200 mg/dl ou mais. A creatinina sérica foi maior que 1,4 mg/
dl em 18% dos prontuários. Procedimentos cirúrgicos foram realizados em 31,7% dos pacientes. Concluiu-se que a meta ideal seria a educação
em saúde no sentido de minorar a incidência de complicações futuras.

Palavras-chave: diabetes mellitus, epidemiologia, internações, hospitais universitários

Abstract
The authors aimed to study retrospectively epidemiological and laboratorial features of 1145 diabetic patients in the Internal Medicine Service
of Presidente Dutra Universitary Hospital, where it was revised 842 medical records. The mean time of hospitalization was 21,04 days. 52,7%
of the patients were female and the mean age was 58,6 years. 63,2% were from São Luís and 93,5% were DM type 2. Mean time of diagnosis
was 8,3 years. DM complications were main reasons of internation, with 76% of all. Mean arterial pressure was 139,8/8,1 mmHg, with 41,8%
of hipertensive patients. Mean glycemia was 186,6 mg/dl, with 40,5% of the patients presenting levels above 200mg/dl. Serum creatinine was
higher than 1,4 mg/dl in 18% of the medical records. Surgical procedures were realized in 31,7% of the patients. We concluded that the best
goal would be to invest in primary education pointing out to decrease future complications.

Key-words: diabetes mellitus, epidemiology, hospitalizations, universitary hospitals.

Endereço para correspondência: Luiz Gustavo Oliveira Brito, Rua Frei Querubim, 59, Apicum, São Luís
– 65025-420 MA, E-mail: igmalu@elo.com.br, Tel: (98) 221-2392/9603-3698
334 Salgado Fo N et al / Diabetes Clínica 05 (2001) 333~338

Introdução ção, haja um crescimento desse quadro; em Ribeirão


Preto [10] foi verificada uma prevalência de 12,1% na
O Diabetes Mellitus (DM) é um importante pro- população urbana de 30 a 69 anos.
blema de saúde pública, que afeta países em todos os Cunha et al. [11] realizaram um estudo no Rio de Ja-
níveis de desenvolvimento, acometendo pessoas de to- neiro revisando 233 prontuários de pacientes diabéticos
das as classes sócio-econômicas. Nas últimas décadas, internados num período de três meses em 1990, e verifi-
sua incidência vem crescendo em decorrência de diver- caram que as altas dos pacientes internados no mesmo
sos fatores, tais como: maior taxa de urbanização e in- período obtiveram 7,9% do total. Tal percentual foi bem
dustrialização, gradual envelhecimento populacional, superior àquele obtido no Ministério da Saúde (DATA-
hábitos alimentares inadequados, sedentarismo, estres- SUS) correspondente ao mesmo período, que foi de
se e obesidade [1]. 1,3%, mostrando uma subestimação da real prevalência
Assim, define-se como uma síndrome de etiologia das internações entre os diabéticos.
múltipla, decorrente da falta e/ou incapacidade da insu- No Maranhão não há estudo sobre hospitalização de
lina de exercer adequadamente seus efeitos, caracteri- pacientes diabéticos, o que provavelmente ajudará a fun-
zando-se por hiperglicemia crônica com distúrbios do damentar uma política de saúde pública voltada para a
metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas. As prevenção de complicações crônicas do DM.
conseqüências do DM a longo prazo incluem danos, dis-
função e falência de vários órgãos, especialmente rins, Material e métodos
olhos, nervos, coração e vasos sanguíneos. Antes do
surgimento de hiperglicemia, mantida e acompanhada O estudo é transversal, baseado em revisão de pron-
do quadro clínico clássico, a síndrome passa por um es- tuários de todos os pacientes diabéticos hospitalizados
tágio de distúrbio de metabolismo da glicose (intolerân- no Serviço de Clínica Médica do Hospital Universitário
cia à glicose) [2]. Presidente Dutra no período de 1o de janeiro de 1991 a
Existem, a partir da classificação atual, quatro tipos 31 de dezembro de 1998.
de diabetes: tipo 1, tipo 2, outros tipos específicos e di- Foi realizada uma listagem em ordem cronológica a
abetes gestacional. O DM tipo 1 resulta primariamente partir dos livros de registro de alta de todos os pacientes
da destruição das células b pancreáticas e tem tendência internados com diagnóstico de diabetes mellitus no pe-
à cetoacidose, tendo-se encontrado auto-imunidade. O ríodo supracitado. Tomou-se como base o código da CID-
tipo 2 resulta de vários níveis de resistência insulínica, 9 (Classificação Internacional de Doenças, nona edição),
sendo a maioria dos pacientes obesos e em situações para os registros de 1991 a 1997 e a CID-10 para o ano
especiais, como o coma hiperosmolar. A categoria ou- de 1998, e após a procura dos prontuários, eram então
tros tipos incluem os diabetes decorrentes de defeitos submetidos a um protocolo específico, cujas variáveis
associados com outras doenças ou por indução de fár- investigadas foram: idade, cor, sexo, estado civil, pro-
macos diabetogênicos. Já o DM gestacional é o DM ou cedência, tipo de diabetes, tempo de diagnóstico da do-
intolerância da glicose pela primeira vez durante a ges- ença, história familiar de diabetes, presença de hiper-
tação [1]. tensão arterial, glicemia, glicosúria, proteinúria, ceto-
O custo econômico e social do diabetes mellitus é núria, creatinina sérica, causas precipitantes de interna-
enorme. Nos EUA, as despesas federais per capita com ções e óbitos, tratamento usado antes e durante a hospi-
saúde são duas a três vezes maiores na população diabé- talização, tempo de internação e necessidade ou não de
tica do que na não-diabética, representando um gasto de procedimentos cirúrgicos. Os dados foram então trans-
15% do total para a saúde [3-7]. Geralmente os pacien- feridos para o programa EPI INFO 6.02 com o objetivo
tes diabéticos usam os serviços de saúde em maior in- de eliminar a multiplicidade de internações através do
tensidade que a população em geral. Tal uso está relaci- programa Validate, mantendo, nesses casos, a primeira.
onado tanto ao tratamento das desordens metabólicas Das 16623 internações ocorridas, 1515 (9,3%) foram
quanto às várias formas de complicações micro e ma- relacionadas ao diabetes mellitus. Após a eliminação das
crovasculares da doença, que resultam em internações internações múltiplas, restaram 1145 pacientes, cujos
freqüentes de custos bastante elevados [4,6,8]. Este ca- prontuários foram encontrados em 842 deles.
ráter crônico exige longos períodos de atenção e super- Para comparações entre médias foram usados testes
visão médica. de significância, sendo o alfa fixado a 0,05.
Um estudo multicêntrico sobre a prevalência do dia-
betes no Brasil (EMPDB), realizado por Malerbi & Fran- Resultados
co [9] em nove capitais no período de 1986 a 1988 na
população de 30 a 69 anos de idade, evidenciou a mes- A partir do livro de registro de alta, a média de inter-
ma em 7,6% para o conjunto da amostra. Acredita-se nações por pacientes foi de 1,32. O tempo médio de in-
que, com o aumento da expectativa de vida da popula- ternação foi 21,04 ±19,7 (1-175) dias.
Salgado Fo N et al / Diabetes Clínica 05 (2001) 333~338 335

Em relação à distribuição por sexo, 444 (52,7%) pa- fico 4). Com relação ao tipo de DM, encontramos 54
cientes eram do sexo feminino e 398 (47,3%) do sexo (6,4%) pacientes portadores de DM tipo 1, sendo a mai-
masculino. A média de idade foi de 58,6 ± 15,4 (9-94) oria (93,5%) composta por DM tipo 2. Em um paciente
anos. 751 pacientes (90,2%) estavam acima de 40 anos o diabetes foi secundário a cirurgia de pancreatectomia
(Gráfico 1). Em 791 prontuários havia informações so- total (Gráfico 5).
bre a cor. 34,4% (n = 290) eram brancos; 59,5% não- Quanto à causa primária da internação, obteve-se os
brancos. resultados expressos na Tabela 1, na qual verificou-se
Analisando–se o estado civil dos pacientes, consta- um número maior de internações por complicações da
tou-se que 57,1% (n = 481) eram casados (Gráfico 2). DM (76%). Considerou-se “acidente vascular cerebral”
Quanto à procedência, verificou-se que a maioria dos e “coronaropatia” como complicações crônicas do DM.
pacientes (63,2%) dos pacientes eram procedentes de Com relação à história familiar de diabetes, consta-
São Luís (Gráfico 3). O tempo médio de diagnóstico da tou-se que 43% (n = 367) apresentavam, enquanto 16,2%
doença (n = 801) foi de 8,3 ± 7,3 (0-45) anos, o que não havia informação a respeito (Gráfico 6).
concorda com a maioria dos pacientes estudados (Grá- As pressões arteriais sistólica e diastólica média fo-
ram, respectivamente, 139,8 ± 29,4 (60-320) mmHg e
Gráfico 1 – Distribuição dos pacientes segundo a faixa etária, 81,1 ± 14,7 (30-160) mmHg. 41,8% (n = 352) dos paci-
São Luís-MA, 1991-1998. entes eram hipertensos, com uma PA sistólica média de
159,1 ± 28,6 mmHg e diastólica de 89,9 ± 15,3 mmHg.
Já no grupo de não-hipertensos, a média da PA sistólica
foi 122,7 ± 18,4 mmHg e a diastólica 74,8 ± 10,3 mmHg.
Entre tais grupos foi verificada significância estatística
com relação à pressão sistólica e diastólica (p = 0,01)
A análise da forma de tratamento antes da internação
revelou que 46,8% (n = 394) dos pacientes utilizavam
hipoglicemiantes orais e 17% (n = 143) insulina. 13,8%
(n=116) não faziam qualquer tratamento.Quanto ao tra-
tamento durante a internação, verificou-se que a grande
maioria (79,8%) foi tratada com insulina. (Gráfico 7).

Tabela 1 – Causas primárias de internação, São Luís-MA, 1991-


1998.
Gráfico 2 – Distribuição dos pacientes conforme o estado civil,
São Luís-MA, 1991-1998. Causas Número de casos Porcentagem (%)
1. Complicações da DM 640 76
1.1 Agudas: DM descompensado 294 34,9
Cetoacidose diabética 10 1,2
Coma hiperosmolar 2 0,2
1.2 Crônicas : Pé diabético 272 32,3
Nefropatia diabética 23 2,7
Acidente vascular cerebral 20 2,5
Neuropatia diabética 13 1,7
Coronaropatia 6 0,7
2.Outras Causas 202 24
Infecções 98 11,6
Cardiopatias 20 2,4
Hipertensão Arterial 20 2,4
Gráfico 3 – Distribuição dos pacientes conforme a procedência,
Distúrbios gastroenterológicos 18 2,1
São Luís-MA, 1991-1998. Neoplasias 13 1,5
Outros distúrbios endócrinos 5 0,6
Dist. urológicos 5 0,6
Dist. reumáticos 5 0,6
Dist. neurológicos 3 0,4
Dist. pulmonares 3 0,4
Queimaduras 2 0,2
Dist. psiquiátricos 1 0,1
Trombose venosa profunda 1 0,1
Outros 8 1
Total 842 100
Fonte: Serviço de Arquivos Médicos do Hospital Universitário
Presidente Dutra
336 Salgado Fo N et al / Diabetes Clínica 05 (2001) 333~338

Gráfico 4 – Distribuição dos pacientes conforme o tempo de diagnóstico da A glicemia em jejum foi encontrada em 820
doença (anos), São Luís-MA, 1991-1998. prontuários, com uma média de 186,6 ± 78,9
(28-540) mg/dl. Em 40,5% (n = 341) destes,
esta foi de 200 mg/dl ou mais. Somente em 25,1
% (n = 211) dos indivíduos a glicemia situava-
se menor ou igual a 126 mg/dl.
O exame de rotina de urina (EAS) foi en-
contrado em 554 prontuários, sendo positivo
para glicose, proteínas e corpos cetônicos em
43,5% (n = 241), 18,2% (n = 101) e 4,5% (n =
25) dos prontuários, respectivamente.
A medida da creatinina sérica esteve presente
em 691 prontuários, com uma média de 1,1 ±
Gráfico 5 – Distribuição dos pacientes segundo o tipo de diabetes, 0,9 (0,2-11,2) mg/dl. Em 18% (n = 124) desses
São Luís-MA, 1991-1998. pacientes, a creatinina apresentou valores aci-
ma de 1,4 mg/dl .
Procedimentos cirúrgicos foram realizados
em 31,7% (n = 267) dos pacientes. Destes, cer-
ca de 31,1% (n = 83) foram amputações em
membros inferiores.

Discussão e conclusão

O trabalho de pesquisa aqui apresentado sur-


giu da necessidade de se conhecer melhor o
paciente diabético internado no HUPD. A po-
Gráfico 6 – Distribuição dos pacientes de acordo com a história pulação estudada foi retirada apenas de um úni-
familiar de diabetes, São Luís-MA, 1991-1998.
co serviço, a Clínica Médica. No entanto, os dados apre-
sentados mostram por si próprios a importância de estu-
dar os diabéticos em nosso meio, o que é reforçado pela
ausência de estudos anteriores semelhantes.
O estudo multicêntrico sobre prevalência do DM, na
população de 30 a 69 anos, revelou uma taxa nacional
de 7,6% [7]. As altas dos pacientes diabéticos hospitali-
zados na Clínica Médica do HUPD corresponderam a
9,3% do total das altas de pacientes internados no mes-
mo período, estando acima da taxa de 7,9% encontrada
por Cunha et al. [11] e abaixo da encontrada por Lei-
chter et al. [12].
Gráfico 7 – Distribuição dos pacientes conforme a forma de tratamento antes e durante a Houve um pequeno predomínio do
internação, São Luís-MA, 1991-1998. sexo feminino (52,7%), concordando
com diversos trabalhos na literatura
[8,9,13,14,15]. Igual ao que se tem re-
portado em outros estudos [5,7-9,13-
16,18], o tipo de diabetes que predomi-
nou no nosso estudo foi a DM tipo 2,
com uma freqüência de 93,5%.
A média de idade de pacientes dia-
béticos internados segundo Cunha et al.
[11] e Scott et al. [19] foi de 58,6 e 59
anos, respectivamente, muito semelhan-
te à média encontrada em nosso estu-
Salgado Fo N et al / Diabetes Clínica 05 (2001) 333~338 337

do, que foi de 58,6 ± 15,4 anos. 89,2% dos pacientes Nossos achados em relação à freqüência de neuropa-
diabéticos internados possuíam idade acima de 40 anos, tia, nefropatia e retinopatia, na internação, não devem
confirmando os dados encontrados por Dockhorn [20], refletir a realidade absoluta, uma vez que os pacientes
que foi de 85,2%. não foram submetidos, sistematicamente, a exames para
A história familiar de DM em nosso estudo teve par- diagnóstico de complicações crônicas que, poderiam
ticipação de 52%. Esses dados são muito semelhantes estar associados à doença que motivou a internação.
aos encontrados por Moura [21], que, estudando grupos O uso de insulina foi maior durante a internação
de casos-controle, concluiu que 50% dos pacientes dia- (79,8%) do que antes da internação (19,7%). Esse re-
béticos possuíam antecedentes familiares da doença, sultado foi muito superior a alguns trabalhos [17], que
contra 20% do grupo de não-diabéticos (controles). foram de 58% e 22% durante e antes da internação, res-
Com referência à presença de hipertensão arterial, pectivamente. Ressaltamos que o aumento do uso de
41,8% dos diabéticos eram hipertensos, com uma pres- insulina durante a internação não nos parece refletir uma
são sistólica média de 137,9 ± 29,4 mmHg; a média da mudança no conceito da terapêutica do diabetes tipo 2,
pressão diastólica foi de 81,1 ± 14,7 mmHg. O estudo mas ser conseqüente a um clássico hábito médico no
de Moura [21] demonstrou uma taxa menor (36%), com manuseio do paciente diabético hospitalizado, indepen-
pressões sistólica e diastólica médias de 135,6 e 85 dente da causa que motivou a internação.
mmHg, respectivamente. Verificamos uma significân- Merece uma reflexão especial o número de amputa-
cia estatística entre os grupos de hipertensos e não-hi- ções encontrado em nosso trabalho, que se mostrou ele-
pertensos quanto às pressões sistólica e diastólica, mai- vado, com grandes custos sociais, levando a uma im-
ores no primeiro grupo, concordando com outros traba- portante redução da qualidade de vida dos doentes e gran-
lhos [11]. de risco para infecções seguidas de óbito. 267 pacientes
Já Valdivia et al. [22] encontraram uma média de 52% foram submetidos a procedimentos cirúrgicos e, destes,
de diabéticos hipertensos. Infelizmente, não foi possí- 83 (31,1%) foram amputações, totalizando 9,8% do to-
vel no nosso estudo determinar quantos pacientes fazi- tal dos pacientes diabéticos.
am controle com antihipertensivos, pois este dado esta- Pelo grande potencial de morbi-mortalidade do DM
va ausente na maioria dos prontuários. Destacamos que e suas complicações, pela enorme dificuldade que a po-
foram considerados hipertensos apenas os pacientes cu- pulação de baixa renda em nosso país tem de alcançar
jos prontuários faziam referência à hipertensão, não le- serviços especializados e pelos altos custos das interna-
vando em consideração a medida da pressão arterial. ções, o diabético, quando hospitalizado, mereceria por
O tempo médio de internação em nossa pesquisa foi parte de toda equipe de saúde maior desempenho no sen-
calculado em 21 dias por paciente, coincidindo com os tido de um programa intensivo visando mudança de
trabalhos de Cunha et al. [11], que foi de 21,2 dias. Inú- comportamento do paciente em relação ao rigor do seu
meros estudos têm demonstrado que pacientes diabéti- tratamento. Em última análise, o incentivo a programas
cos internam mais vezes e por um tempo mais prolon- de educação seria a meta ideal, objetivando a prevenção
gado que os não-diabéticos [4-6,8,9,12-16,18,23-26,28- das complicações e, conseqüentemente, visando mino-
30,33-35]. rar o número, o tempo e os custos das admissões hospi-
No que tange às causas primárias de internação, veri- talares e melhorar, sobremaneira, a qualidade de vida
ficamos que 76% das internações tiveram como causa destes pacientes.
as complicações agudas e crônicas do diabetes mellitus.
A complicação aguda mais freqüente foi a descompen- Agradecimentos: Os autores agradecem ao Conse-
sação hiperglicêmica, com 34,9% das internações. En- lho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq)
tre as complicações crônicas, a mais freqüente foi o pé pelo auxílio financeiro à pesquisa.
diabético, com 32,3% das internações. As complicações
crônicas constituíram o grupo mais importante de cau-
sas de internação em relação às outras, seja pelo número Referências
de pacientes – 334 (39,7%), seja pela importância (mai-
or taxa de mortalidade e grande custo social). Nos tra- 1. Gross JL et al. Diagnóstico e Classificação do Diabetes
balhos de Cunha et al.[11] e Dockhorn et al. [20], as Melito e Tratamento do Diabetes Melito tipo 2.
Recomendações da Sociedade Brasileira de Diabetes.
complicações da DM como fatores precipitantes de in- Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e
ternação apresentaram taxas consideravelmente meno- Metabologia.2000;44(4)S1:8-24.
res às do nosso estudo, com valores de 46% e 37%, res- 2. World Health Organization. Definition, Diagnosis and
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Diabetes 339

Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 05 (2001) 339~346

REVISÃO

Protegendo o endotélio vascular de pacientes diabéticos


com a aspirina - Parte II
Bases fisiopatológicas para o uso associado de vastatinas independentemente dos níveis de colesterol

Dr. Freddy Goldberg Eliaschewitz*


Profa. Dra. Anna Carla Goldberg**
Dra. Christiani Adão Poço***

*Hospital Heliópolis, Hospital Albert Einstein, Unidade de Ilhotas Pancreáticas da IQUSP


**Responsável pelo setor de Biologia Molecular do Lab. Imunologia, InCor-HCFMUSP, Livre Docente pelo ICB-USP
***Endocrinologista Assistente da Clínica Dr. Freddy Goldberg Eliaschewitz, São Paulo

(A primeira parte deste artigo, bem como a bibliografia, foram publicados,


no número anterior de Diabetes Clínica, volume 5, julho/agosto de 2001, número 4, pg 263-277)

A importância do controle da glicemia vados. Os triglicérides transferidos para a LDL são mais
suscetíveis à ação de hidrólise pela lipase, gerando LDL
Os dados do UKPDS e do DCCT confirmam que a menores, mais densas e mais propensas à oxidação e,
hiperglicemia tem ação lesiva na parede vascular, inde- portanto, mais aterogênicas112. Nesse período, a hi-
pendentemente da causa subjacente e da faixa etária em pertrigliceridemia pós-prandial ativa o Fator VII, um
que ocorre. A análise epidemiológica da população es- outro fator independente de risco cardiovascular. Esta
tudada no UKPDS mostrou uma associação contínua e outras interações de lipoproteínas e fatores de coagu-
entre o risco de desenvolver complicações vasculares e
a glicemia. Para cada 1% de redução dos níveis de he-
moglobina glicosilada, houve uma redução de 25% nas Figura 13 - Importância do controle glicêmico na redução do risco
mortes relacionadas ao diabetes e de 14% de redução na cardiovascular em pacientes com diabetes tipo 2 (UKPDS 35)
incidência de infarto do miocárdio fatal e não-fatal. Es-
tes dados já são suficientes para recomendar que um
controle mais rigoroso da glicemia seja imperativo, mes-
mo que à custa de medidas farmacológicas mais agres-
sivas [16-22,110,111] (Fig. 13).
A hiperglicemia induz um aumento importante na
produção das ROS. De especial importância é o contro-
le de picos hiperglicêmicos, capazes de ativar a PKC.
Esta depende mais da intensidade do pico do que de sua
duração e é mais provável que esses picos ocorram no
período pós-prandial [21,22,24,25,62,63,64].
Esse período torna o endotélio especialmente vul-
nerável, porque nele os triglicérides também estão ele-

Endereço para correspondência: Dr. Freddy Goldberg Eliaschewitz,


Rua Goiás, 91, 01244-030 São Paulo – SP, tel: (11) 3663-0350
340 Eliaschewitz FG et al / Diabetes Clínica 05 (2001) 339~346

Figura 14 - Correlação entre níveis de glicemia pós-prandial e Ao lado dos efeitos benéficos sobre a parede arterial,
a insulina tem, também, uma série de efeitos potencial-
mente deletérios, entre eles o de atuar como um fator de
crescimento de células musculares lisas, diretamente ou
potencializando outros fatores de crescimento como o
fator de crescimento derivado de plaquetas [26].
As estratégias terapêuticas que corrigem a hipergli-
cemia pós-prandial sem aumentar o hiperinsulinismo são
o uso da acarbose120 e dos TZDs. Recentemente se de-
monstrou que a acarbose é capaz de corrigir a disfunção
endotelial121 e que os TDZs antagonizam os efeitos
proliferativos da insulina sobre as células musculares
lisas dos vasos, inibindo o Fator de Transcrição ETS-1
[122,123] (Fig. 15).
Um outro achado recente é que os TZDs inibem a
produção de resistina no adipócito. Esse peptídeo é do-
tado de ação hormonal capaz de antagonizar os efeitos
da insulina. Não se sabe ainda se esse peptídeo é o me-
diador da resistência à insulina na parede arterial.
Assim, ambas as medicações têm um papel a desem-
lação tornam o período pós-prandial mais favorável à penhar nesta condição, conjunta ou isoladamente
formação de trombos [13,113,114,115,116]. É exata- [9,10,111].
mente nesse período que os picos pós-prandiais da gli-
cemia tornam o endotélio ainda mais suscetível à le- A importância do controle da hipertensão
são. Infelizmente, nem sempre a glicemia de jejum e a
hemoglobina glicosilada espelham esses picos com fi- A hipertensão é duas vezes mais comum em diabéti-
delidade [117,118,119] (Fig. 14). cos tipo 1 e tipo 2 do que na população geral. No diabetes
O uso de insulina de ação rápida ou de secretagogos tipo 1, a presença de nefropatia diabética pode responder
de ação curta pode controlar os picos pós-prandiais de por esse aumento da incidência, enquanto no diabetes tipo
glicemia, mas acentua o hiperinsulinismo já existente se 2, esta está ligada à síndrome de resistência à insulina.
o paciente diabético tem predominantemente resistên- Cerca de 36% dos pacientes diabéticos são hipertensos
cia à insulina [111]. de acordo com os critérios diagnósticos atuais. Na popu-
lação estudada pelo UKPDS, 32%
dos homens e 45% das mulheres
Figura 15 - A acarbose corrige a hiperglicemia pós-prandial sem provocar hiperinsulinismo eram hipertensos [16,17,18,19,
(conforme ref. 120) 124,125] (Figs. 16 e 17).
Até recentemente, o benefício
resultante do tratamento da hiper-
tensão em pacientes com diabetes
foi deduzido por extrapolação dos
dados provenientes de grandes es-
tudos clínicos, realizados em paci-
entes não-diabéticos. Porém, já es-
tão disponíveis resultados de estu-
dos que incluíram um número sig-
nificativo de pacientes diabéticos
portadores de hipertensão. Os re-
sultados demonstram, de um modo
incontestável, a importância do
controle da pressão arterial nos di-
abéticos (veja Tabela 8).
No UKPDS foram incluídos
1.148 pacientes que eram diabéti-
cos hipertensos e que foram segui-
dos por um tempo médio de 9 anos.
Eliaschewitz FG et al / Diabetes Clínica 05 (2001) 339~346 341

Figura 16 - Efeito do controle mais estrito da pressão arterial no Figura 17 - Importância do controle da pressão arterial na redução do
risco de eventos cardiovasculares em diabéticos tipo 2 (UKPDS 35) risco cardiovascular em pacientes com diabetes tipo 2 (UKPDS 36)

Estes pacientes foram randomizados para tratamento com controle da hipertensão e o uso da aspirina têm efeito adi-
beta-bloqueadores ou inibidores da enzima conversora tivo em reduzir o risco cardiovascular. Não se sabe ao
de angiotensina (ECA). Ambas medicações foram igual- certo se esses excelentes resultados são devidos ao efeito
mente efetivas em reduzir a mortalidade em 32%, quan- dilatador coronariano, ao efeito redutor da adesividade
do a pressão arterial foi reduzida para 140/85 [126]. das plaquetas, ou à proteção que os bloqueadores dos ca-
No EUCLID, estudo que incluiu 530 pacientes, todos nais de cálcio exercem sobre as células isquêmicas sujei-
diabéticos tipo 1, os inibidores da ECA foram capazes de tas a um aumento do influxo de cálcio [128,129].
prevenir a progressão da retinopatia e da nefropatia. Isto Em 2001, a ADA modificou as metas de controle da
fez com que essa classe de fármacos fosse considerada de pressão arterial em pacientes diabéticos, recomendando
primeira escolha para o tratamento da hipertensão em que, em pacientes adultos, os níveis pressóricos ideais a
pacientes diabéticos tipo 1 com microalbuminúria126. serem atingidos sejam iguais ou menores que 130/80
Mas, os resultados mais expressivos em termos de re- [134,135].
dução de eventos cardiovasculares em pacientes diabéti-
cos tipo 2, foi obtida nos estudos clínicos em que foram A importância do controle dos lípides
utilizados bloqueadores dos canais de cálcio. O SYST-
Eur revelou uma impressionante queda de 41 a 70% em Dados do UKPDS revelam que tanto a LDL alta quan-
todos os eventos cardiovasculares [127], enquanto que to a HDL baixa são preditoras do desenvolvimento de
no estudo HOT, a queda de mortalidade e a incidência de doença coronariana em diabéticos (Tabela 9).
eventos cardiovasculares atingiram 50% [97]. Este últi- Embora não tenham sido conduzidos estudos clíni-
mo foi também o primeiro estudo que demonstrou que o cos específicos em pacientes diabéticos, os numerosos
Tabela 8. Estudos controlados e randomizados avaliando o tratamento da hipertensão em pacientes diabéticos

n Anos de seguimento Tratamento Queda da pressão (mmHg) Benefício observado

SHEP 583 5 tiazida e beta- bloqueador 9,8/2,2 todos eventos cardiovasculares (46-66%)
UKPDS 1148 9 captopril ou atenolol 10/5 AVC (44%), morte (32%),
eventos microvasculares (37%)
HOT 1501 4 antagonista de cálcio 29,2/24,3 eventos cardiovasculares e
mortalidade total (50%)
SYST-Eur 492 2 antagonista de cálcio 10,11/4,5 eventos cardiovasculares (41-70%)
CAPPP 552 6 captopril x beta-bloqueador ambos redução de IAM (34%)
ou tiazida 16/10 no grupo captopril
MICRO-HOPE 3577 4,5 inibidor ECA 2,4/1 mortalidade (24%), IAM (22%),
em pacientes com risco alto AVC (33%), evento microvascular (16%)
EUCLID* 530 2 inibidor ECA 3/2 progressão retinopatia
STENO II 160 3,8 inibidor ECA e controle de progressão a macroalbuminúria (27%)
glicemia e lipidemia e retinopatia (45%)
Tabela adaptada da ref. 124, * apenas diabéticos tipo 1
342 Eliaschewitz FG et al / Diabetes Clínica 05 (2001) 339~346

Tabela 9. Avaliação dos fatores de risco que aumentam o intervalo Tabela 10. Efeito da hipercolesterolemia na ação da aspirina: ação
de tempo até o primeiro evento de IAM, ajustados por sexo e inibidora de 325 mg de aspirina sobre o teste de agregação
idade, em 2.693 pacientes com diabetes tipo 2 (UKPDS 23)16 plaquetária induzido por 1 mg/ ml de colágeno. Respondedores =
inibição > 50% comparado com os controles (sem uso de aspirina)
(conforme ref. 146)
variável p
Colesterol total LDL Triglicérides Razão CT/
LDL-colesterol 0,0022 mg/dl mg/dl mg/dl HDL
pressão arterial diastólica 0,0074 R 191,6±49,3 118,3±46,9 187,7±163,5 5,2±2,1 n=32
tabagismo 0,025 NR 246,2±66,2 159,9±74,6 229,6±265,4 5,37±1,5 n=13
HDL-colesterol 0,026 p 0,002 0,017 n.s. n.s.
HbA1c 0,053
culares a produzir proteínas de adesão, que permitem o
estudos que correlacionam o risco cardiovascular com recrutamento e o acúmulo de monócitos circulantes.
os lípides séricos, contém um número suficiente de pa- Estes, uma vez no interior da parede vascular, se dife-
cientes diabéticos para que se possa avaliar a importân- renciam em macrófagos. Os macrófagos capturam as
cia do tratamento das dislipidemias nesses doentes16. LDL oxidadas através de receptores tipo “scavenger”
Um desses trabalhos constitui a revisão técnica do ma- dando origem às células espumosas. Além disso, as LDL
nuseio da dislipidemia em adultos com diabetes. Basea- oxidadas tem efeito citotóxico nas células vasculares. A
da nesses estudos, a ADA recomenda que o LDL-coles- magnitude deste induz desde uma disfunção endotelial
terol seja mantido em níveis menores que 100 mg em pela deficiência na produção de óxido nítrico, até a ne-
todos os pacientes diabéticos, iniciando-se imediatamen- crose das células endoteliais. Por esses motivos, a dimi-
te a terapia farmacológica com vastatinas, se a LDL for nuição da LDL oxidada é um alvo importante de qual-
/ 100 mg% em pacientes portadores de doença vascular quer estratégia que busque a diminuição do risco vascu-
ou se a LDL for / 130 mg% em pacientes sem estas com- lar aterosclerótico [138-144] (Fig. 18).
plicações. É recomendado que os triglicérides sejam
mantidos em níveis menores que 200 mg e o HDL aci- A eficácia da ação da aspirina depende dos níveis
ma de 45 mg [136,137]. de colesterol
A principal razão para esta recomendação é que a
LDL, principal carreadora de colesterol no sangue, se Os níveis de colesterol também diminuem a eficácia
torna aterogênica como resultado da oxidação. Qualquer da ação antiplaquetária da aspirina. A ação inibidora da
um dos principais componentes celulares da parede ar- aspirina sobre a geração de trombina é bloqueada na
terial pode produzir radicais livres, capazes de tornarem presença de hipercolesterolemia. Não se sabe exatamente
a LDL aterogênica. A LDL oxidada induz as células vas- por que mecanismo, mas aventa-se a hipótese de que a
hiperlipidemia cause alterações
Figura 18 - Lesão endotelial pela LDL oxidada
nas membranas plaquetárias, tor-
nando-as menos suscetíveis à ace-
tilação pela aspirina [145, 146]
(Tabela 10).

O efeito protetor da HDL se


deve à atividade da
paraoxonase e está diminuída
em pacientes diabéticos

O efeito protetor da HDL em


relação à aterosclerose, pode ser
multifacetado, envolvendo diver-
sos mecanismos. Desses, a capa-
cidade de diminuir a LDL oxida-
da vêm ganhando reconhecimen-
to crescente. Pacientes portadores
de diabetes têm uma maior capa-
cidade oxidante da parede arteri-
al devido à grande produção de
ROS provenientes da glicoxida-
ção. Isso causa um aumento na
Eliaschewitz FG et al / Diabetes Clínica 05 (2001) 339~346 343

produção de lípides peroxidados, inclu- Figura 19 - O efeito protetor das HDL se deve à paraoxonase
sive os contidos na LDL [148-151]. So-
mando-se a esse fator lesivo, pacientes
diabéticos têm deficiência na produção
de enzimas antioxidantes, que é maior
naqueles com glicemia mal controlada.
Entre estas, figura a paraoxonase-1
(PON-1), carreada pelas HDL [152,
153] (Fig. 19).
A HDL contendo a apoA1, remove
ou inibe a atividade de lípides contidos
na LDL, alvos da oxidação por células
da parede arterial (Ex: HPODE = ácido
hidroxi-peroxi-octadecanóico e HPETE
= ácido hidroxi-peroxi-eicosatetraenói-
co). Esta remoção é patrocinada pela
ação da PON-1, uma estearase cálcio-
dependente que confere atividade anti-
oxidante às HDL, capacitando-as a re-
mover lípides peroxidados das
LDL154. A importância da PON-1 na
proteção contra o desenvolvimento da
aterosclerose foi demonstrada tanto clí- Figura 20 - A ação antitrombótica das vastatinas
nica quanto experimentalmente
[155,156]. Na ausência de PON-1, a
HDL perde seu efeito protetor156. Em
seres humanos, o gene que codifica essa
enzima exibe polimorfismo e a eficiên-
cia protetora das variantes é alvo de
estudos populacionais em curso
[157,158].
Esse fato explica porque nos paci-
entes do UKPDS, os fatores isolados
mais importantes que determinam o ris-
co cardiovascular em pacientes diabé-
ticos tipo 2 são os níveis de LDL e de
HDL (nível de paraoxonase). Também
justifica que se busquem alternativas
para aumentar os níveis de HDL (e, por-
tanto, de paraoxonase) em pacientes
com risco aumentado de desenvolver
complicações vasculares [16].

As vastatinas aumentam a atividade


da paraoxonase

O recente achado que vastatinas au-


mentam a atividade da paraoxonase, de modo inde- madamente 30%, em pacientes hipercolesterolêmicos
pendente dos níveis de HDL, é de grande relevância ou não. O benefício é maior quanto maior for o risco
clínica, e seu uso deve ser considerado em pacientes do grupo estudado.
de alto risco como os diabéticos, independentemente
dos níveis de colesterol [159]. De fato, diversos estu- A ação antitrombótica das vastatinas
dos clínicos demonstram, de modo consistente, que
as vastatinas reduzem o risco de um evento coronari- Ao bloquear a síntese de colesterol, as vastatinas dimi-
ano em prevenção primária ou secundária em aproxi- nuem a disponibilidade de isoprenóides necessários à ati-
344 Eliaschewitz FG et al / Diabetes Clínica 05 (2001) 339~346

Figura 21 - Os isoprenóides participam da cascata de ativação do NF-kB A administração de vastatinas a 93


pacientes com ou sem doença coronari-
ana, levou a uma queda de cerca de 22%
nos níveis de PAI-1 e de 12% nos do
antígeno ativador do plasminogênio te-
cidual, após 6 meses de uso. Um estudo
“ex-vivo” em um subgrupo de 40 des-
ses pacientes, foi realizado para deter-
minar a capacidade de formar trombos.
Este revelou uma diminuição de 34%
na área do coágulo, nos pacientes sem
doença vascular, e de 16%, na dos paci-
entes coronarianos. Estes efeitos não se
correlacionaram com os níveis de LDL-
colesterol [163].
A formação de trombina também é
inibida pelas vastatinas. O estudo do rit-
mo de geração de trombina identifica-
da pela dosagem dos níveis séricos do
fibrinopeptídeo A (FPA), de fragmen-
tos de protrombina (F1 e F2) e pelo apa-
recimento destes elementos no sangue
emergente, após uma incisão padroni-
zada no antebraço, mostra uma expres-
Figura 22 - As vastatinas inibem a ativação do NF-kB diminuindo a disponibilidade de siva diminuição após 30 dias de uso de
isoprenóides uma vastatina [164].
Não é conhecido se o efeito inibidor
das vastatinas sobre a geração de trom-
bina é impedido pela hipercolesterole-
mia, devido ao efeito simultâneo destas
sobre os níveis de colesterol [165].

A proteção conferida pelas


vastatinas vai além da ação sobre os
lípides séricos

Hoje se reconhece que ação proteto-


ra das vastatinas não se limita à redu-
ção do colesterol sérico, mas inclui a
estabilização da placa ateromatosa pela
diminuição de seu componente inflama-
tório, além de promover aumento na ca-
pacidade anticoagulante e vasodilatado-
ra do endotélio [166-175] (Tabela 11).
A evidência mais convincente de que
as vastatinas têm também uma ação pro-
tetora que independe de sua ação sobre
o colesterol sérico – e inclusive a prece-
de – é resultado de estudos da evolução
vação das vias ras e Rho. Estas são utilizadas pela trom- da nefropatia diabética.
bina como conseqüência da ativação do receptor ativado Sabe-se que a expansão mesangial, característica do
por protease-1 (PAR-1), e levam à ampliação da produ- desenvolvimento da nefropatia diabética, é fortemente
ção da própria trombina e de PAI-1 em plaquetas e outras dependente da indução de TGFb1, causada pelos altos
células. Assim, o efeito da trombina é antagonizado, in- níveis de glicose nas células mesangiais. Não há nenhu-
duzindo um estado antitrombótico [160,161,162] (Fig. 20). ma evidência conclusiva de que a hiperlipidemia esteja
Eliaschewitz FG et al / Diabetes Clínica 05 (2001) 339~346 345

envolvida na evolução da nefropatia di- Figura 23 - Os fatores lesivos convergem na ativação do NF-kB
abética. Apesar disso, o uso de vastati-
nas tem impedido o desenvolvimento
dessa complicação, tanto clínica quan-
to experimentalmente [176,177].
As vastatinas inibem a HMG-CoA re-
dutase, enzima que promove a conver-
são de hidroximetilglutaril em mevalo-
nato. Ao fazê-lo, por um lado inibem a
síntese de colesterol, e por outro, ini-
bem a síntese de isoprenóides, que tam-
bém são produzidos intracelularmente
a partir do mesmo precursor [176]. Es-
ses isoprenóides são capazes de ativar a
cascata da MAPK via ras. O resultado
final é a ativação de uma série de fato-
res de transcrição nuclear, inclusive do
NF-kB. Dessa forma, a inibição da
HMGCoA redutase pelas vastatinas,
além de inibir a síntese do colesterol aca-
ba também inibindo a ativação de ge-
nes essencialmente envolvidos em in-
flamação e em proliferação celular
(Figs. 21 e 22).
Tão importante quanto esse achado
Figura 24 - Os fatores protetores NO, aspirina e vastatinas, convergem na inibição do NF-kB
é a descoberta de que as vastatinas são
capazes de inibir a expressão de MHC-
II, induzidos por interferon-d em uma
grande variedade de células178. O
MHC-II é essencial para a expansão e a
perpetuação da resposta inflamatória.
Esse achado reveste-se de tal importân-
cia que o estudo publicado no último
volume da revista Nature, no século XX,
propõe a utilização de vastatinas na re-
alização de estudos de várias doenças
inflamatórias crônicas, entre as quais a
artrite reumatóide e a própria ateroscle-
rose178. A mesma lógica se aplica ao
uso associado das vastatinas à aspirina
em pacientes com alto risco de desen-
volver complicações cardiovasculares,
entre eles os pacientes diabéticos [179]
(Figs. 23 e 24).

Perspectivas

Com o avanço tecnológico do últi-


mo século, grande parte das doenças
monofatoriais foi compreendida e adequadamente tra- fatal, no século XX suas complicações foram causas
tada. Restaram as patologias complexas, porque mul- muito importantes de letalidade em todo o mundo de-
tifatoriais, e assim deve ser também a abordagem te- senvolvido. O século XXI traz a esperança de que o
rapêutica a elas dirigida [180,181,182]. As diversas mecanismo das complicações crônicas do diabetes seja
formas de diabetes não constituem exceção a essa re- mais bem compreendido e que elas possam ser efici-
gra. Se no século XIX, o diabetes era uma condição entemente evitadas.
346 Eliaschewitz FG et al / Diabetes Clínica 05 (2001) 339~346

Tabela 11. Ação das vastatinas além do seu efeito sobre os lípides A visão de que a aterosclerose é uma doença degene-
séricos: diminuição do impacto da resistência à insulina, do rativa foi superada. Sabemos hoje, que os acidentes vas-
hiperinsulinismo, do aumento da produção de ROS causado pela
hiperglicemia e outros fatores agressivos ao endotélio, diminuição culares são fruto de 3 grandes processos biológicos que
do efeito agressor da LDL oxidada e potencialização dos efeitos da se perpetuam: oxidação, inflamação e trombose. A as-
aspirina pirina atua nas duas últimas, enquanto as vastatinas tem
ação antioxidante pela ativação da paraoxonase, tem efei-
AÇÕES ANTIINFLAMATÓRIAS
to antiinflamatório e tem ação antitrombótica. Não exis-
tem ainda estudos clínicos comparando sistematicamente
• inibe a atividade do NF-kB o efeito protetor das vastatinas associados à aspirina com
• inibe a expressão de MHC-II induzida por interferon-d o uso isolado desses fármacos. Mas, a evidência acumu-
• diminui atividade dos macrófagos na placa do ateroma lada a respeito do uso benéfico dessas substâncias, so-
• estabiliza a placa de ateroma
• diminui a celularidade da placa de ateroma mado ao conhecimento recém adquirido a respeito das
• diminui os níveis de proteína C-reativa ações intracelulares das vastatinas, sugere fortemente,
que sejam utilizadas, em conjunto, independentemente
dos níveis de colesterol que o paciente apresente. O ris-
AÇÕES SOBRE A FUNÇÃO ENDOTELIAL
co vascular dos pacientes diabéticos é muito grande e a
• aumenta a atividade da óxido nítrico sintetase segurança do uso continuado de ambas substâncias já
• aumenta a produção estimulada de óxido nítrico nas células foi suficientemente demonstrada.
endoteliais A tarefa de trazer este risco para valores próximos do
• diminui a disfunção endotelial
• aumenta a capacidade vasodilatadora do endotélio
da população normal não será nem simples, nem fácil. É
necessária uma abordagem multifatorial que diminua o
estresse oxidativo controlando o tabagismo [183] e ou-
AÇÕES ANTIOXIDANTES tros fatores lesivos ao endotélio, como por exemplo, a
• aumenta a atividade da paraoxonase N-metilarginina [184,185], produzida a partir da inges-
• inibe a ativação de genes envolvidos na inflamação tão de dietas ricas em gorduras, o que envolve as sem-
• inibe a ativação de genes envolvidos em proliferação celular pre difíceis modificações de estilo de vida. Além disso,
será necessária também a adoção de uma abordagem
AÇÕES ANTITROMBÓTICAS
farmacológica associada que garanta o controle estrito
da glicemia, da hipertensão, da tendência à trombose e
• diminui a liberação de trombina da inflamação crônica das artérias.
• antagoniza o efeito da trombina liberada
• diminui os níveis de PAI-1
• diminui os níveis do antígeno ativador do plasminogênio tecidual
• diminui a formação de coágulo (área trombótica) Obs.: A primeira parte deste artigo, bem como a bibliografia, foram
• diminui a agregação plaquetária publicados, no número anterior de Diabetes Clínica, volume 5, julho/
• melhora a fibrinólise intrínseca agosto de 2001, número 4, pg 263-277.
Peluso CC et al./ Diabetes Clínica 05 (2001) 347~349
Diabetes 347

Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 04 (2001) 347~349

ATUALIZAÇÃO

Atividade física e diabetes mellitus

Nora Mercuri*, Viviana Arrechea*

*Cenexa Centro de Endocrinologia experimental y aplicada - Buenos Aires - Argentina

Aumenta o gasto energético:


A atividade física é um fator importante do tratamen- - favorece a redução do peso corporal.
to do diabetes mellitus, e contribui para melhorar a qua- - diminui a massa total de gordura.
lidade de vida do portador de diabetes. Mais ainda, atu- - preserva e aumenta a massa muscular.
Melhora o funcionamento do sistema cardiovascular.
ando preventivamente e implantando um programa de Aumenta a força e elasticidade muscular.
promoção da atividade física, dieta sã e equilibrada, as- Promove uma sensação de bem-estar e melhora a qualidade de
sistência médica, educação do paciente e da equipe sa- vida.
nitária, pode se reduzir significativamente a incidência
do diabetes do tipo 2 e das complicações associadas. Dentre os benefícios a curto prazo, o aumento do con-
Segundo um estudo de Helmrich et al., o risco de di- sumo de glicose como combustível por parte do múscu-
abetes do tipo 2 aumenta à medida que aumenta o IMC lo em atividade, contribui para o controle da glicemia.
(índice de massa corporal), e, ao contrario, quando au- O efeito hipoglicemiante do exercício pode se prolon-
menta a intensidade e/ou a duração da atividade física, gar por horas e até dias após o fim de exercício. Esta
expressa em consumo calórico semanal, esse risco di- resposta metabólica normal pode ser alterada durante os
minui, especialmente em pacientes com risco elevado estados de extrema deficiência de insulina ou excesso
de diabetes. da mesma, o que é responsável por um risco maior de
Tal como ocorre em pessoas não diabéticas, a prática hipoglicemia e/ou hiperglicemia e ocorrência de cetoa-
regular de exercício pode produzir importantes benefí- cidose.
cios a curto, médio e longo prazo. Esses benefícios es- Por essa razão, a prescrição de atividade física para
tão enumerados na Tabela seguinte. melhorar o controle glicêmico em pacientes portadores
de diabetes do tipo 1 (insulino-dependentes) foi motivo
Tabela 1 - Benefícios da atividade física a curto, médio e longo de discussão e controvérsias entre especialistas.
prazo O que é certo é que o uso freqüente de técnicas de
Aumenta o consumo da glicose.
auto-monitorização glicêmica e a implantação de insu-
Diminui a concentração basal e pós-prandial da insulina. linoterapia intensificada permitem ao paciente portador
Aumenta a resposta dos tecidos à insulina. de diabetes do tipo 1 desenvolver estratégias e ajustes
Melhora os níveis da hemoglobina glicosilada. no consumo de carboidratos e doses de insulina, para
Melhora o perfil lipídico: poder participar de maneira mais segura em programa
- diminui os triglicerídeos.
- aumenta a concentração de HDL-colesterol.
de atividade física.
- diminui levemente a concentração de LDL-colesterol. Por outro lado, a prescrição de atividade física em
Contribui a diminuir a pressão arterial. paciente portador de diabetes do tipo 2 não apresenta

Endereço para correspondência: UNLP-CONICET Calles 60 y 120 – 4to piso


Facultad de Ciências Médicas, 1900 – La Plata – Buenos Aires – Argentina, E-mail: gagliardino@infovia.com.ar
348 Peluso CC et al./ Diabetes Clínica 05 (2001) 347~349

dúvidas e é hoje, junto com a per- Gráfico 1


da de peso, uma das indicações
das mais apropriadas para corri-
gir a resistência à insulina e con-
trolar a glicemia nesse tipo de di-
abetes (que representa 90% dos
casos), ainda mais se está associ-
ado à obesidade. Por outro lado,
no diabetes do tipo 2 cujo trata-
mento está baseado só em dieta,
raramente o exercício gera hipo
ou hiperglicemia.
Os benefícios a médio e longo
prazo, da prática regular de ativi-
dade física, contribuem para dimi-
nuir os fatores de risco para o de-
senvolvimento da doença cardio-
vascular (aumentado no paciente *No caso de obesidade, a prática diária é recomendada
** O tempo sugerido deve ser acrescentado de 5-10 minutos de exercícios de
portador de diabetes), através das alongamento e mobilidade articular antes e após a atividade principal.
seguintes alterações: melhora do
perfil lipídico, contribuição para a normalização da pres- O tipo de atividade indicada é de natureza aeróbica,
são arterial, aumento da circulação colateral, diminuição que envolve grandes grupos musculares e pode ser man-
da freqüência cardíaca no repouso e durante o exercício. tida por um tempo prolongado. No momento da sele-
No mais, independentemente das alterações fisiológicas ção, é essencial respeitar os gostos e interesses dos paci-
que acompanham o exercício, também ocorrem altera- entes, aumentando assim a aderência ao programa.
ções comportamentais que favorecem o cuidado e o auto- Apesar do que foram reportados aumentos significa-
controle por parte do paciente, e conseqüentemente con- tivos da tolerância à glicose e da ação da insulina em
tribuem para melhorar sua qualidade de vida. pessoas que realizam um vigoroso programa de treina-
mento, o exercício de intensidade menor (50% da fre-
Como manejar a atividade física em pacientes qüência cardíaca máxima) pode produzir benefícios im-
portadores de diabetes portantes e melhorar a condição física dos pacientes se-
dentários com estado físico debilitado, quando pratica-
Como os outros elementos do tratamento, a ativida- do com freqüência semanal maior. Essa última recomen-
de física deve ser prescrita de maneira individual para dação é válida também no caso da obesidade, pela qual
evitar riscos e otimizar os benefícios. O tipo, freqüên- será prescrita a prática diária de exercício, na medida do
cia, intensidade e duração do exercício recomendado possível.
dependerá da idade, do grau de treinamento anterior e O risco de diabetes do tipo 2 aumenta na medida que
do controle metabólico, duração do diabetes, e presença aumenta o IMC, e, na medida que aumenta a intensida-
de complicações específicas da doença. de/duração da atividade física expressa em consumo
Por isso, antes de iniciar a prática sistemática da ati- calórico semanal, esse risco diminui. Geralmente, o gasto
vidade física, o paciente portador de diabetes deve sub- energético deveria ser de 900 a 1500 calorias/semana,
meter-se a exame clínico geral (fundo de olho, presen- para obter benefícios metabólicos e cardiovasculares.
ça de neuropatia, osteoartrite, etc) e cardiovascular, in- É geralmente aceito que a duração da atividade não
cluindo na medida do possível uma prova de esforço deve ser inferior a 20 minutos para os exercícios contí-
(ergometria). nuos e não deve ultrapassar 60 minutos para o mesmo
O ajuste na prescrição do exercício será mais eficaz se exercício. O exercício prolongado apresenta grandes
os esforços forem coordenados por: o paciente, a família, vantagens, mas aumenta também o risco de hipoglice-
o médico e sua equipe de colaboradores. A educação em mia e, por isso, necessita um melhor controle.
diabetes, que permite ao paciente combinar corretamente A prática do tipo de atividade física descrita com uma
dieta, dosagem de insulina e hipoglicemiantes orais com freqüência inferior a 2 vezes por semana não fornece
o exercício, diminui notavelmente os riscos de hipoglice- benefícios significativos ao nível metabólico e cardio-
mia e/ou hiperglicemia pós-exercício. vascular.
A atividade física prescrita em pacientes portadores No Gráfico 1, foram listados exemplos de atividades
de diabetes deveria reunir as características descritas no preferenciais, sem contra-indicações em pacientes adul-
Gráfico 1. tos sedentários. A mudança mais importante antes de
Peluso CC et al./ Diabetes Clínica 05 (2001) 347~349 349

iniciar um programa formal, é a aquisição de hábitos de - Realizar um exame clínico geral (fundo de olho, pre-
vida fisicamente ativos (caminhar ou andar de bicicleta, sença de neuropatia, osteoartrite) e cardiovascular in-
subir e descer as escadas, realizar atividades domésticas cluindo uma prova de esforço (ergometria) antes de
e de lazer necessitando movimentos) o que, no final do recomendar ao paciente o tipo, intensidade e duração
dia, resulta em um gasto energético notável. da atividade física.
Para os pacientes que apresentam contra-indicações - Selecionar junto com o paciente atividades que sejam
temporárias para realizar atividades físicas aeróbicas de seu gosto e recomendar especialmente ao sedentá-
(portadores de hipertensão arterial não controlada ou rio ou obeso realizar atividades em grupo ou na com-
cardiomiopatia), ou com outro elemento de tratamento, panhia de outras pessoas. Assim diminui o risco de
deve se recomendar a prática de técnicas de relaxamen- deserção.
to e movimentos suaves do tipo yoga. Elas têm a propri- - Ensinar o paciente (se não sabe) a realizar auto-moni-
edade de desenvolver a capacidade de relaxamento psi- torização glicêmica e recomendar fazê-la antes do iní-
cofísico e diminuir a atividade simpático-adrenérgica, o cio da sessão de atividade física, porque:
que pode contribuir no controle metabólico e da pressão a – Se glicemia > 300mg/dl ou em presença de corpos
arterial, especialmente em pacientes portadores de dia- cetônicos, adiar a prática do exercício.
betes tipo 2. b – Se a glicemia está dentro os limites normais, ou ante
Toda sessão de atividade física deve começar e termi- uma hipoglicemia, ingerir carboidratos extras antes do
nar com um período de 5 a 10 minutos de exercícios exercício (de acordo com a sua intensidade e duração).
aeróbicos de baixa intensidade, alongamento e mobili- Em regra geral, consumir 10-20 gramas de carboidra-
dade articular para reduzir o risco de complicações car- tos por cada 30 minutos de atividade moderada.
díacas e lesões músculo-esqueléticas. - Para diminuir o risco de hipoglicemia se o paciente
recebe insulina ou sulfoniluréias:
Recomendações para o paciente a – Estimar a intensidade e duração da atividade física.
b – No caso de uso de hipoglicemiantes orais, pode di-
- Escolher uma atividade física a seu gosto e impor se a minuir ou suspender a dose prevista antes do exercí-
prática regular da atividade física escolhida. cio.
- Evitar metas inatingíveis. Aumentar progressivamen- c – No caso de uso de insulina, fazer a aplicação mais de
te a duração da atividade e a intensidade do esforço. uma hora antes do exercício e diminuir a dose que pro-
- Praticar diariamente pelo menos durante 20-30 minu- duz o pico no momento da atividade.
tos, ou 3 a 4 vezes por semana durante 45-60 minutos. d – Se a atividade for superior ao normal, recomende o
- Começar a sessão com exercícios de alongamento e controle da glicemia durante a noite, porque pode ser
movimentos articulares. Repetir no fim da sessão. necessário diminuir a dose de insulina ou de hipogli-
- Se você nunca praticou atividade física programada, cemiante noturno.
comece por aumentar a atividades diárias que faz ha- - Se desejar verificar o efeito do exercício sobre a glice-
bitualmente, como caminhar, subir e descer escadas, mia, recomende ao paciente controla-la a partir de meia-
etc. hora após o fim da atividade.
- Interromper o exercício ante sinais de hipoglicemia, - Ensinar o paciente a controlar sua freqüência cardíaca.
dor no peito ou respiração sibilante.
- O sapato utilizado deve ser confortável e as meias de
algodão. Examine diariamente os seus pés. Referências
- Beber uma quantidade maior de líquido sem calorias
nem cafeína, como água, antes, durante e após a ativi- 1. Nora Mercuri, Daniel Assad. La práctica de actividad física en
dade física. personas con diabetes tipo 2. Diabetes tipo 2 no
insulinodependiente: su diagnóstico, control y tratamiento.
- Se quiser conhecer a intensidade do esforço realizado, Sociedad Argentina de Diabetes (SAD), 69-80, 1998.
controle a sua freqüência cardíaca imediatamente após 2. American Diabetes Association: Diabetes mellitus and
o fim do exercício. Exercise (position Statement). Diabetes Care, 24;(1), jan
- Não esqueça de levar açúcar para a sessão de ativida- 2001.
de física. 3. Susan P Helmrich et al. Physical activity and reduced
occurrence of non-insulin-dependent diabetes mellitus. New
- Se você caminha, corre ou anda de bicicleta, evite as England Journal of Medicine. 1991;325(3):147-152.
interrupções durante o tempo proposto. 4. The Health Professional’s Guide to Diabetes and Exercice. N
Rudeman, JT Devlin (eds). American Diabetes Association.
Recomendações para a equipe de saúde Clinical Education Series, 1995.

- Determinar se o paciente é sedentário, ativo ou treina-


do.
350 Peluso CC et al./ Diabetes Clínica 05 (2001) 347~349
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 04 (2001) 347~349

ATUALIZAÇÃO

Atividade física e diabetes mellitus

Nora Mercuri*, Viviana Arrechea*

*Cenexa Centro de Endocrinologia experimental y aplicada - Buenos Aires - Argentina

Aumenta o gasto energético:


A atividade física é um fator importante do tratamen- - favorece a redução do peso corporal.
to do diabetes mellitus, e contribui para melhorar a qua- - diminui a massa total de gordura.
lidade de vida do portador de diabetes. Mais ainda, atu- - preserva e aumenta a massa muscular.
Melhora o funcionamento do sistema cardiovascular.
ando preventivamente e implantando um programa de Aumenta a força e elasticidade muscular.
promoção da atividade física, dieta sã e equilibrada, as- Promove uma sensação de bem-estar e melhora a qualidade de
sistência médica, educação do paciente e da equipe sa- vida.
nitária, pode se reduzir significativamente a incidência
do diabetes do tipo 2 e das complicações associadas. Dentre os benefícios a curto prazo, o aumento do con-
Segundo um estudo de Helmrich et al., o risco de di- sumo de glicose como combustível por parte do múscu-
abetes do tipo 2 aumenta à medida que aumenta o IMC lo em atividade, contribui para o controle da glicemia.
(índice de massa corporal), e, ao contrario, quando au- O efeito hipoglicemiante do exercício pode se prolon-
menta a intensidade e/ou a duração da atividade física, gar por horas e até dias após o fim de exercício. Esta
expressa em consumo calórico semanal, esse risco di- resposta metabólica normal pode ser alterada durante os
minui, especialmente em pacientes com risco elevado estados de extrema deficiência de insulina ou excesso
de diabetes. da mesma, o que é responsável por um risco maior de
Tal como ocorre em pessoas não diabéticas, a prática hipoglicemia e/ou hiperglicemia e ocorrência de cetoa-
regular de exercício pode produzir importantes benefí- cidose.
cios a curto, médio e longo prazo. Esses benefícios es- Por essa razão, a prescrição de atividade física para
tão enumerados na Tabela seguinte. melhorar o controle glicêmico em pacientes portadores
de diabetes do tipo 1 (insulino-dependentes) foi motivo
Tabela 1 - Benefícios da atividade física a curto, médio e longo de discussão e controvérsias entre especialistas.
prazo O que é certo é que o uso freqüente de técnicas de
Aumenta o consumo da glicose.
auto-monitorização glicêmica e a implantação de insu-
Diminui a concentração basal e pós-prandial da insulina. linoterapia intensificada permitem ao paciente portador
Aumenta a resposta dos tecidos à insulina. de diabetes do tipo 1 desenvolver estratégias e ajustes
Melhora os níveis da hemoglobina glicosilada. no consumo de carboidratos e doses de insulina, para
Melhora o perfil lipídico: poder participar de maneira mais segura em programa
- diminui os triglicerídeos.
- aumenta a concentração de HDL-colesterol.
de atividade física.
- diminui levemente a concentração de LDL-colesterol. Por outro lado, a prescrição de atividade física em
Contribui a diminuir a pressão arterial. paciente portador de diabetes do tipo 2 não apresenta

Endereço para correspondência: UNLP-CONICET Calles 60 y 120 – 4to piso


Facultad de Ciências Médicas, 1900 – La Plata – Buenos Aires – Argentina, E-mail: gagliardino@infovia.com.ar
Peluso CC et al./ Diabetes Clínica 05 (2001) 347~349 351

dúvidas e é hoje, junto com a per- Gráfico 1


da de peso, uma das indicações
das mais apropriadas para corri-
gir a resistência à insulina e con-
trolar a glicemia nesse tipo de di-
abetes (que representa 90% dos
casos), ainda mais se está associ-
ado à obesidade. Por outro lado,
no diabetes do tipo 2 cujo trata-
mento está baseado só em dieta,
raramente o exercício gera hipo
ou hiperglicemia.
Os benefícios a médio e longo
prazo, da prática regular de ativi-
dade física, contribuem para dimi-
nuir os fatores de risco para o de-
senvolvimento da doença cardio-
vascular (aumentado no paciente *No caso de obesidade, a prática diária é recomendada
** O tempo sugerido deve ser acrescentado de 5-10 minutos de exercícios de
portador de diabetes), através das alongamento e mobilidade articular antes e após a atividade principal.
seguintes alterações: melhora do
perfil lipídico, contribuição para a normalização da pres- O tipo de atividade indicada é de natureza aeróbica,
são arterial, aumento da circulação colateral, diminuição que envolve grandes grupos musculares e pode ser man-
da freqüência cardíaca no repouso e durante o exercício. tida por um tempo prolongado. No momento da sele-
No mais, independentemente das alterações fisiológicas ção, é essencial respeitar os gostos e interesses dos paci-
que acompanham o exercício, também ocorrem altera- entes, aumentando assim a aderência ao programa.
ções comportamentais que favorecem o cuidado e o auto- Apesar do que foram reportados aumentos significa-
controle por parte do paciente, e conseqüentemente con- tivos da tolerância à glicose e da ação da insulina em
tribuem para melhorar sua qualidade de vida. pessoas que realizam um vigoroso programa de treina-
mento, o exercício de intensidade menor (50% da fre-
Como manejar a atividade física em pacientes qüência cardíaca máxima) pode produzir benefícios im-
portadores de diabetes portantes e melhorar a condição física dos pacientes se-
dentários com estado físico debilitado, quando pratica-
Como os outros elementos do tratamento, a ativida- do com freqüência semanal maior. Essa última recomen-
de física deve ser prescrita de maneira individual para dação é válida também no caso da obesidade, pela qual
evitar riscos e otimizar os benefícios. O tipo, freqüên- será prescrita a prática diária de exercício, na medida do
cia, intensidade e duração do exercício recomendado possível.
dependerá da idade, do grau de treinamento anterior e O risco de diabetes do tipo 2 aumenta na medida que
do controle metabólico, duração do diabetes, e presença aumenta o IMC, e, na medida que aumenta a intensida-
de complicações específicas da doença. de/duração da atividade física expressa em consumo
Por isso, antes de iniciar a prática sistemática da ati- calórico semanal, esse risco diminui. Geralmente, o gasto
vidade física, o paciente portador de diabetes deve sub- energético deveria ser de 900 a 1500 calorias/semana,
meter-se a exame clínico geral (fundo de olho, presen- para obter benefícios metabólicos e cardiovasculares.
ça de neuropatia, osteoartrite, etc) e cardiovascular, in- É geralmente aceito que a duração da atividade não
cluindo na medida do possível uma prova de esforço deve ser inferior a 20 minutos para os exercícios contí-
(ergometria). nuos e não deve ultrapassar 60 minutos para o mesmo
O ajuste na prescrição do exercício será mais eficaz se exercício. O exercício prolongado apresenta grandes
os esforços forem coordenados por: o paciente, a família, vantagens, mas aumenta também o risco de hipoglice-
o médico e sua equipe de colaboradores. A educação em mia e, por isso, necessita um melhor controle.
diabetes, que permite ao paciente combinar corretamente A prática do tipo de atividade física descrita com uma
dieta, dosagem de insulina e hipoglicemiantes orais com freqüência inferior a 2 vezes por semana não fornece
o exercício, diminui notavelmente os riscos de hipoglice- benefícios significativos ao nível metabólico e cardio-
mia e/ou hiperglicemia pós-exercício. vascular.
A atividade física prescrita em pacientes portadores No Gráfico 1, foram listados exemplos de atividades
de diabetes deveria reunir as características descritas no preferenciais, sem contra-indicações em pacientes adul-
Gráfico 1. tos sedentários. A mudança mais importante antes de
352 Peluso CC et al./ Diabetes Clínica 05 (2001) 347~349

iniciar um programa formal, é a aquisição de hábitos de - Realizar um exame clínico geral (fundo de olho, pre-
vida fisicamente ativos (caminhar ou andar de bicicleta, sença de neuropatia, osteoartrite) e cardiovascular in-
subir e descer as escadas, realizar atividades domésticas cluindo uma prova de esforço (ergometria) antes de
e de lazer necessitando movimentos) o que, no final do recomendar ao paciente o tipo, intensidade e duração
dia, resulta em um gasto energético notável. da atividade física.
Para os pacientes que apresentam contra-indicações - Selecionar junto com o paciente atividades que sejam
temporárias para realizar atividades físicas aeróbicas de seu gosto e recomendar especialmente ao sedentá-
(portadores de hipertensão arterial não controlada ou rio ou obeso realizar atividades em grupo ou na com-
cardiomiopatia), ou com outro elemento de tratamento, panhia de outras pessoas. Assim diminui o risco de
deve se recomendar a prática de técnicas de relaxamen- deserção.
to e movimentos suaves do tipo yoga. Elas têm a propri- - Ensinar o paciente (se não sabe) a realizar auto-moni-
edade de desenvolver a capacidade de relaxamento psi- torização glicêmica e recomendar fazê-la antes do iní-
cofísico e diminuir a atividade simpático-adrenérgica, o cio da sessão de atividade física, porque:
que pode contribuir no controle metabólico e da pressão a – Se glicemia > 300mg/dl ou em presença de corpos
arterial, especialmente em pacientes portadores de dia- cetônicos, adiar a prática do exercício.
betes tipo 2. b – Se a glicemia está dentro os limites normais, ou ante
Toda sessão de atividade física deve começar e termi- uma hipoglicemia, ingerir carboidratos extras antes do
nar com um período de 5 a 10 minutos de exercícios exercício (de acordo com a sua intensidade e duração).
aeróbicos de baixa intensidade, alongamento e mobili- Em regra geral, consumir 10-20 gramas de carboidra-
dade articular para reduzir o risco de complicações car- tos por cada 30 minutos de atividade moderada.
díacas e lesões músculo-esqueléticas. - Para diminuir o risco de hipoglicemia se o paciente
recebe insulina ou sulfoniluréias:
Recomendações para o paciente a – Estimar a intensidade e duração da atividade física.
b – No caso de uso de hipoglicemiantes orais, pode di-
- Escolher uma atividade física a seu gosto e impor se a minuir ou suspender a dose prevista antes do exercí-
prática regular da atividade física escolhida. cio.
- Evitar metas inatingíveis. Aumentar progressivamen- c – No caso de uso de insulina, fazer a aplicação mais de
te a duração da atividade e a intensidade do esforço. uma hora antes do exercício e diminuir a dose que pro-
- Praticar diariamente pelo menos durante 20-30 minu- duz o pico no momento da atividade.
tos, ou 3 a 4 vezes por semana durante 45-60 minutos. d – Se a atividade for superior ao normal, recomende o
- Começar a sessão com exercícios de alongamento e controle da glicemia durante a noite, porque pode ser
movimentos articulares. Repetir no fim da sessão. necessário diminuir a dose de insulina ou de hipogli-
- Se você nunca praticou atividade física programada, cemiante noturno.
comece por aumentar a atividades diárias que faz ha- - Se desejar verificar o efeito do exercício sobre a glice-
bitualmente, como caminhar, subir e descer escadas, mia, recomende ao paciente controla-la a partir de meia-
etc. hora após o fim da atividade.
- Interromper o exercício ante sinais de hipoglicemia, - Ensinar o paciente a controlar sua freqüência cardíaca.
dor no peito ou respiração sibilante.
- O sapato utilizado deve ser confortável e as meias de
algodão. Examine diariamente os seus pés. Referências
- Beber uma quantidade maior de líquido sem calorias
nem cafeína, como água, antes, durante e após a ativi- 1. Nora Mercuri, Daniel Assad. La práctica de actividad física en
dade física. personas con diabetes tipo 2. Diabetes tipo 2 no
insulinodependiente: su diagnóstico, control y tratamiento.
- Se quiser conhecer a intensidade do esforço realizado, Sociedad Argentina de Diabetes (SAD), 69-80, 1998.
controle a sua freqüência cardíaca imediatamente após 2. American Diabetes Association: Diabetes mellitus and
o fim do exercício. Exercise (position Statement). Diabetes Care, 24;(1), jan
- Não esqueça de levar açúcar para a sessão de ativida- 2001.
de física. 3. Susan P Helmrich et al. Physical activity and reduced
occurrence of non-insulin-dependent diabetes mellitus. New
- Se você caminha, corre ou anda de bicicleta, evite as England Journal of Medicine. 1991;325(3):147-152.
interrupções durante o tempo proposto. 4. The Health Professional’s Guide to Diabetes and Exercice. N
Rudeman, JT Devlin (eds). American Diabetes Association.
Recomendações para a equipe de saúde Clinical Education Series, 1995.

- Determinar se o paciente é sedentário, ativo ou treina-


do.
FICHA PRÁTICA
Diabetes Clínica 10
Ficha Prática / Diabetes Clínica

O diabetes na Internet

Sites de órgãos de saúde ou de entidades especialmente dirigidas ao diabetes ou com seções em


relação com diabetes
International Diabetes Federation Joslin Diabetes Center
www.idf.org www.joslin.org

IDF South and Central América (SACA) Region National Institute of Diabetes and Digestive
www.nib.unicamp.br/SACA-brasil and Kidney Diseases (NIDDK)
www.niddk.nih.gov/health/diabetes/
Sociedad Argentina de diabetes diabetes.htm
www.pitt.edu/~imll/diabetes/SAD.htmail
Pan American health Organization (PAHO)
Fundación Diabetes Juvenil de Chile www.paho.org
www.geocities.com/hotsprings/bath/8549/
index.htm The society for Endocrinology
www.endocrinology.com
American Diabetes Association (EUA)
www.diabetes.org St Vincent Declaration Program
www.umds.ac.uk/diabetes-euro/svd_pcdg/
American Association of Diabetes Educators meetings/ic2_Brussels/index.htm
www.aadenet.org
World Health organization
Asociación latinoamericana de diabetes www.who.org
(ALAD)
www.pitt.edu/~imll/diabetes/alad.html Jornais e revistas
www.diabetesvoice.com
Center for Chronic Disease Control
www.cdc.gov/diabetes

Clínica diabetológica Brasil


www.clinidiabet.com
Ministério da Saúde
The Endocrine Society www.saude.gov.br/programas/diabetes/
www.endo.society.org diabete.htm

European Association for the Study of Diabetes Sociedade Brasileira de diabetes


www.easd.org www.diabetes.org.br

Fundación Iberoamericana de Diabetes Federação Nacional de Associações de


www.sgkoala.com/fidiabetes diabéticos (FENAD)
Associação Nacional de Assistência ao
German diabetes Forum diabético (ANAD)
www.diabetes-forum.com www.anad.org.br

Insuline-Free World Foundation www.tiojuliao.com.br


www.insulin-free.org (site de informação e educação em diabetes)

International Diabetes Institue Diabetes Clínica


www.idi.org.au www.atlanticaeditora.com.br

International Diabetes Athletes Association


(IDAA)
www.diabetes-exercise.org
Diabetes Clínica 05 (2001) 355

Calendário de Eventos
Outubro de 2001 Novembro de 2001
3 a 6 de outubro 11 a 15 de novembro
Avanços no diagnóstico e terapêutica das doenças XIo Congresso ALAD – Association latinoamericana de
neuroendócrinas diabetes
Hospital Brigadeiro, São Paulo SP IIIo Congresso Uruguaio de Diabetologia
Informações: Serviço de Endocrinologia Hospital Brigadeiro Punta del Este, Uruguai
Tel: (11) 3846-3272/3846-3273 Sra Marilene Informações: personas SRL, Av. 8 de octubre 2323, of. 305,
E-mail: acukiert@uol.com.br Montevideo, Uruguai
Tel: (5982) 408-1015/408-2951
4 a 6 de outubro E-mail: personas@cs.com.uy
IIo Congresso Internacional de Nutrição, Alimentação e
Tecnologia - CINAT 15 a 18 de novembro
Centro de Convenções São Camilo, São Paulo SP XIIIo Curso nacional de atualização em endocrinologia e
Informações: SINESP (11) 3277-8422/8291, 278 7144 metabologia
www.sindicatonutricionistas.com.br Gramado, RS
Organizacão: SBEM regional RS
7 a 10 de outubro www.vjs.com.br
Clinical Endocrinology Update 2001 Tel: (51) 330 1134
Fairmont Hotel, Chicago, Illinois, EUA E-mail: vjs@vjs.com.br
Informações: The Endocrine Society
Tel: 1 (301) 941 0226
www.endo-society.org/scimeetings/ceu.cfm Cepafidia
março a junho de 2002
10 a 14 de outubro 2º Curso de capacitação para a prescrição e
XIIIo Congresso brasileiro de diabetes acompanhamento da atividade física em diabetes
Riocentro - Rio de Janeiro, RJ Este curso tem o objetivo específico de fornecer informações
Informações: JZCongressos e construir o conhecimento com respeito aos métodos de
Tel: (21) 286-2846/537-9134
E-mail: mail@jz.com.br
aplicação da Atividade Física na prevenção e tratamento do
Diabetes, onde serão abordados os seguintes temas:
21 a 24 de outubro Epidemiologia, etiologia e fisiopatologia; Complicações
XIVo Congresso brasileiro de nutrição parenteral e enteral agudas, micro e macro-vasculares; Terapêutica
VIIo Congresso latino americano de nutrição parenteral e medicamentosa e nutricional; Avanços terapêuticos no
enteral tratamento; Aspectos psicodinâmicos; Fisiologia do
IIo Congresso brasileiro de nutrição clínica exercício; Acompanhamento de adaptação do exercício
Salvador, BA frente às complicações concomitantes; Noções de Educação
Informações: Eventus System terapêutica.
Tel: (71) 264-3477 Fax: (71) 264-0508 O curso terá carga horária de 48 horas/aula, distribuídos
E-mail: eventus@cpunet.com.br
em 4 finais de semana, um encontro por mês e dividido
25 a 27 de outubro em 02 módulos:
IIo Congresso Internacional de metabolismo ósseo e mineral 1º) Diabetes, da conceituação à atualização - será aberto a
Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Rio de Janeiro RJ todos os profissionais e estudantes da saúde
Informações: Tempo Eventos Assessoria interessados no tema.
Tel/Fax: (21) 2235-0997 2º) Prescrição e acompanhamento da atividade física em
E-mail: tempoeventos@uol.com.br Diabetes – exclusivo para médicos e profissionais da
Educação Física condicionado à audiência do primeiro
31 de outubro a 2 de novembro módulo.
Vo Congreso Cubano de Endocrinologia (Cocen 2001) Informações: ANAD (11) 5572-6559 ou diretamente com
La Habana, Cuba
Informações: +37 327 275
o Prof. Cláudio Cancellieri (11) 4816-2596, E-mail
diabetes@ig.com.br ou anad@anad.org.br
E-mail: diabetes@infomed.sld.cu
356 Diabetes Clínica 05 (2001)

Dezembro de 2001 Agosto de 2002


1 a 3 de dezembro 24 a 29 de agosto
IIo Encontro paranaense de Endocrinologia 9th International Congress on Obesity
Informações: (41) 342-1415 Ramal 213 e 214 (Fax) São Paulo, SP
E-mail: amp@amp.org.br Informações: Abeso
Tel: (11) 3079-2298
2 a 5 de dezembro Fax: (11) 3079-4232
9th Congress of gynecological endocrinology
Hong-Kong Setembro de 2002
Informações: Biomedical Technologies Srl
E-mail: biomedical@tin.it 1 a 5 de setembro
38th Annual Meeting European Association for the Study of
Diabetes
Janeiro de 2002 EASD 2002
Budapest, Hungria
15 a 18 de janeiro Informações: Budapest 5, POB 741
1st International Conference and World Fórum on Technology Hungary 1365
Transfer of Obesity and Nutrition Tel: +36 1 269 5883
Cairo, Egypt E-mail: easd2002@congress.blavo.hu
Informações: International Obesity Conference
PO Box 5950 West Heliopolis, Cairo, Egypt
Tel: 20 10 5678 123 Outubro de 2002
E-mail: hamalaway@hotmail.com
4 a 6 de outubro
XXIV Congressof Endocrinology and metabolic diseases of
Março de 2002 Turkey
Istambul, Turquia
6 a 9 de março Informações: +90 312 310 5350
5th International Symposium on Clinical Advances in Osteoporosis E-mail: president@semt.org.tr
Informações: National osteoporosis Foundation www.semt.org.tr
Tel: 1 (202) 223 2226
E-mail: iso@nof.org 5 a 9 de outubro
VIo International Congress on Endocrine Diseases
Teheran, Irã
Abril de 2002 Inofrmações: +98 21 241 6282
E-mail: iced@erc-iran.com
8 a 11 de abril www.erc-iran.com/iced
XXIo Reunion of British Endocrine Societies
Harrogate, RU
Informações: +44 1454 619 347 Fevereiro de 2003
E-mail: info@endocrinology.org
3th International Symposium on Diabetes & Pregnancy
Geneva, Switzerland
Maio de 2002 Informações: PO Box 50006 Tel Aviv 61500 Israel
Tel 972 3 514 0014
4 a 7 de maio E-mail: conventions@kenes.com
5th International Diabetes Federation Western Pacific Region
Congress
Pequim, China Junho de 2003
Informacões +86 10 6527-8803
Fax +86 10 6512-3754 14 a 17 de junho
E-mail: ldwpr@chinamed.com.cn 63th Annual Scientific Sessions of the American Diabetes
Association
New Orleans, Louisiana
Junho de 2002 Informações: +1 800 232 3472
E-mail: meetings@diabetes.org
14 a 18 de junho www.diabetes.org
62th Annual Scientific Sessions of the American Diabetes
Association
San Francisco, California Agosto de 2003
Informacões: www.diabetes.org
24 a 29 de agosto
18th Internacional Diabetes Federation Congress
Paris, França
Informações: www.idf.org
Diabetes Clínica
Diabetes Clínica 04 (2000) 357

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Índice
(vol. 5 nº 6 - 2001) 357~428

EDITORIAL
Projeto de lei proíbe associações de medicamentos, Marcio C. Mancini .................................................. 359

INFORMES DO DIABETES NO MUNDO ............................................................................................... 361

O DIABETES NA IMPRENSA ................................................................................................................... 373

AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS ............................................................................... 377

PRODUTOS E NOVIDADES
Insuman Optiset (Aventis), GlucoMen (SCIL) Nouvelle Cuisine (Claris Alimentos), Xaropes Diet
e Light (Saborama), Sorvetes Light (La Basque), Vidro de adoçante (Be Diet) ............................................ 389

RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS .................................................................................... 391

ARTIGOS CIENTÍFICOS
Avaliação da acuidade visual de pessoas que preparam doses de insulina no domicílio,
Marta Maria Coelho Damasceno, Regina Lúcia Lino Marques, Ana Geyse Gomes da Silva,
Geordany Rose de Oliveira Viana, Vanessa Lopes Alves, Maria Elisabeth Ribeiro da Silva,
Virgínia Lany da Silveira ................................................................................................................................ 405

A importância da educação multidisciplinar na melhora da qualidade de vida do portador de diabetes,


Lílian Fanny de Castilho, Fadlo Fraige Filho, Maria Salete Barbosa Lima ................................................ 408

A magnitude das alterações cutâneas, neurológicas, vasculares de extremidades inferiores


de pessoas com diagnóstico de diabetes mellitus – Campanha de detecção e educação da ANAD,
Mônica Antar Gamba, Odete de Oliveira, Fadlo Fraige Filho, Cleide Martinez, Márcia Yuriko Kajita ..... 414

O farelo de arroz como alimento com propriedades funcionais,


Rita de Cássia de Carvalho, Rosa Nilda Mazzill, Ney Rodriguez Junior ...................................................... 419

NOTÍCIAS DAS ASSOCIAÇÕES


Ações de combate à obesidade no Brasil: A Declaração de Brasília ............................................................. 424

CALENDÁRIO DE EVENTOS .................................................................................................................. 427

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Diabetes Clínica
358 Diabetes Clínica 04 (2000)

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos
distúrbios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre
o conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associa-
das. Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico, o conselho consultivo e profissionais
de reconhecido saber na área. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relati-
vas à diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma
maneira rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes.

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359
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

EDITORIAL

Projeto de lei proíbe associações de medicamentos


Marcio C. Mancini

Tendo em vista assuntos controversos e de grande interesse para a maioria dos endocrinologistas, convidamos o novo presidente eleito da
Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade - ABESO, Dr. Marcio C. Mancini, para escrever o editorial deste número de Diabetes
Clínica – Fadlo Fraige Filho.

No último dia 4 de dezembro, fui convidado, representando a ABESO, a


comparecer em reunião de audiência pública na Câmara dos Deputados, em
Brasília, no sentido de prestar esclarecimentos e de consultoria técnica em
relação a detalhes do Projeto de Lei No 3.466 de 2000, de autoria do Deputa-
do Fernando Coruja.
O projeto propõe a proibição da fabricação, manipulação, comercializa-
ção ou dispensação de associações de dietilpropiona, femproporex e mazin-
dol, tanto entre si quanto com outras substâncias de ação no sistema nervoso
central (inclusive benzodiazepínicos) ou com drogas de atuação sobre o sis-
tema endócrino; proíbe ainda a prescrição simultânea de anfetaminas com
benzodiazepínicos, diuréticos, hormônios ou extratos hormonais e laxantes.
A regulamentação atual, embora suficiente, baseia-se em uma portaria mi-
nisterial e em uma resolução de Conselho de Medicina (Portaria da extinta
Secretaria de Vigilância Sanitária No. 87/94 e Resolução do Conselho Fede-
ral de Medicina No. 1477/97). Uma lei federal forneceria o necessário e sóli-
Dr. Marcio C. Mancini, Endocrinologista, do respaldo legal que pode amparar melhor ações fiscalizatórias e punitivas
Presidente da ABESO firmes e legais nesse campo.
Não é a primeira vez que a ABESO é consultada.
No ano passado, houve algumas reuniões das quais a ABESO participou
convidada pelo Ministério da Saúde a pedido do Grupo de Psicotrópicos da
Comissão de Produtos para a Saúde do Mercosul. Nessas reuniões, foi repre-
sentada pelos colegas Amélio F. de Godoy Matos e Walmir Coutinho. A
ABESO não foi a única instituição consultada, mas participou de um Grupo
Técnico Assessor de Estudos sobre Medicamentos Anorexígenos ao lado da
CONATEM, Conselho Federal de Farmácia, Conselho Federal de Medicina
e ANVISA. A proposta nessas reuniões era a proibição de dietilpropiona,
femproporex e mazindol (industrializados ou manipulados). Frente aos nú-
meros expostos de comercialização de anorexígenos no Brasil (dos quais mais
de 90% manipulados), além dos conhecidos abusos na prescrição, associa-
360 Editorial - Diabetes Clínica 06 (2001)

Continuação

ções de laxantes, diuréticos e hormônios (que apesar de proibidos continuam


a ser prescritos em cápsulas separadas), surgiu a proposta de proibir a mani-
pulação, permanecendo no mercado as substâncias industrializadas à base de
dietilpropiona, femproporex e mazindol, além de aumentar a fiscalização da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária sobre médicos e farmácias. É claro
que dessa maneira, os profissionais honestos não envolvidos com práticas
comerciais anti-éticas seriam também penalizados, mas foi a maneira encon-
trada de não proibir esses fármacos no país e de termos ainda uma alternativa
terapêutica de baixo custo, acessível às camadas de renda mais baixa (onde,
aliás, mais cresce a prevalência de obesidade), diferentemente de outros paí-
ses onde já foram proibidos.
A ABESO defende a manutenção dos anoréticos acima, porém repudia o
envolvimento de médicos e farmacêuticos com más práticas. Em outubro, no
V Congresso Latino-Americano de Obesidade, no Panamá, reuniram-se de-
legados de todas as Sociedades de Obesidade da América Latina, para atuali-
zação do Consenso. O Brasil foi representado pelo Dr. Walmir Coutinho e
por mim. O capítulo está sendo redigido pelo Dr. Walmir Coutinho e mantém
como agentes anti-obesidade: sibutramina, orlistat, dietilpropiona, fempro-
porex e mazindol. Cita ainda que anti-depressivos como a fluoxetina podem
ser úteis em casos selecionados, muito embora não sejam primariamente agen-
tes anti-obesidade. O Consenso em breve estará disponível no nosso site:
www.abeso.org.br.
Diabetes Clínica 06 (2001) 361

Informes do Diabetes no Mundo

Jo Ann H. Ahern et al., 61st Annual Sobre a segurança das bombas de insulina para crianças
Scientific Sessions of the American
Diabetes Association, Philadelphia, Dois novos estudos fornecem dados contraditórios sobre eficácia e segu-
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 rança das bombas de insulina em crianças portadores de diabetes de tipo 1.
O primeiro estudo, realizado em 102 crianças com idade inferior a 12 anos,
mostrou que a bomba é mais eficaz do que as aplicações de insulina para
estabilizar a glicose sanguínea e não é responsável de efeitos adversos. Os
pacientes usaram os sistemas durante 20 meses, e as crianças de idade pré-
escolar durante 17 meses. O risco de hipoglicemia severa era de 0,2 evento
por ano e por paciente dentre os que usaram a bomba. Infecções locais no
lugar da bomba foram pequenas e facilmente tratadas com antibióticos. Se-
gundo Jo Ann H Ahern, qualquer criança que quer usar a bomba pode ser
candidato. Ela recomenda a bomba de insulina especialmente em crianças
que fazem o controle da glicose pelo menos 4 vezes/dia, que apresentam
hipoglicemias à noite e são comedores meticulosos.
Mas os resultados do segundo estudo sugerem que o risco de cetoacidose
pode aumentar com o uso da bomba. Os pacientes podem experimentar hipo-
glicemia, sede extrema e outras complicações se a bomba não é usada corre-
tamente, segundo o Dr. Nicole Celona-Jacobs e colegas do Children’s Hospi-
tal of Philadelphia. Eles observaram 34 crianças, idade média 14 anos, que
receberam múltiplas aplicações diárias de insulina ou terapia por bomba de
insulina, durante um ano. O grupo com bomba apresentou um número signi-
ficativamente mais elevado de eventos de cetoacidose e o IMC médio au-
mentou. Os pesquisadores concluíram que os pacientes que não podem con-
trolar o diabetes, qualquer seja a idade, não são candidatos à bomba.

Wilmore JH et al., Department of Relação das mudanças em ginastica aeróbica máxima e


Health and Kinesiology, submáxima e alterações nos fatores de risco para doença
Texas A&M University, cardiovascular e diabetes tipo 2 após programa de treinamento
Metabolism 2001;50(11):1255-1263, de endurance – Estudo HERITAGE Family
novembro de 2001
O objetivo deste estudo foi de determinar a relação entre as alterações da
ventilação máxima VO2 máx e os marcadores submáximos de ginástica ae-
róbica e as alterações nos fatores de risco para doença cardiovascular e dia-
betes tipo 2 após um programa de treinamento de endurance de 20 semanas.
Os 502 participantes do estudo eram todos saudáveis e anteriormente ho-
mens (n = 250) e mulheres (n = 252) sedentários de várias idades (17 para 65
anos) e raça (negros n = 142; brancos n = 360), que completaram o protocolo
de teste e treinamento do Heritage Family Study. Em função das medições
362 Informes do Diabetes no Mundo / Diabetes Clínica 06 (2001)

Continuação iniciais, os participantes treinaram em bicicletas ergométricas 3 dias/semana


por sessões de 60 exercícios iniciando com freqüência cardíaca associada
com 55% da VO2 máx durante 30 minutos por sessão. Isto foi progressiva-
mente aumentado para a freqüência cardíaca associada a 75% da VO2 máx
durante 50 minutos por sessão, o que foi mantido durante as 6 últimas sema-
nas. Foram medidos antes e depois do treinamento VO2 máx, freqüência
cardíaca, força a 60% do VO2 máx, lípides e lipoprotéinas, pressão sanguí-
nea de repouso, composição corporal e gordura abdominal por tomografia
computadorizada, glicose sanguínea, insulina de repouso e no pico após teste
de tolerância à glicose. Apos treinamento, foram observados aumentos signi-
ficativos em VO2 máx (16%), força a 60% do VO2 máx, e diminuição signi-
ficativa da freqüência cardíaca. Estas alterações em marcadores de fitness
foram significativamente correlatas só com variáveis de composição corpo-
ral, lípides e lipoproteínas. Foi observada uma variação individual considerá-
vel para todas as variáveis estudadas. No final, quando os dados de fatores de
risco foram analisados em função das alterações da VO2 máx, foram obser-
vadas poucas relações significativas. Concluímos que existe uma relação sig-
nificativa entre as alterações em marcadores de fitness aeróbica e as altera-
ções dos fatores de risco para doença cardiovascular e diabetes. Todavia, a
amplitude dessa relação é pequena.

Stalhammar J, Berne C, Svardsudd K As recomendações são úteis? Estudo populacional do uso das
Department of Public Health and drogas anti-diabéticas durante 20 anos
Caring Sciences, Uppsala University,
Sweden Scand J Prim Health Care Objetivo: Analisar o uso de drogas anti-diabéticas em uma população de-
2001;19(3):163-9, setembro de 2001 finida, durante 20 anos, em função das recomendações dos guidelines.
Desenho: Todos os registros dos pacientes diabéticos do hospital do muni-
cípio de Tierp e todas as receitas para drogas antidiabéticas do período 1975-
1994 foram coletados nas farmácias locais. Foram coletados dados de 2125
pessoas, representando a observação de 13.190 pessoas/ano.
Resultados: A prevalência anual do diabetes mellitus aumentou de 2,8%
(565 pacientes) para 3,8% (734 pacientes). Quando as recomendações enfati-
zam a dieta, a tratamento com dieta aumentou e o tratamento farmacológico
diminuiu. Quando as recomendações enfatizaram melhor o controle glicêmi-
co, a dieta diminuiu e o tratamento com biguanidas aumentou, e quando as
recomendações enfatizaram o controle glicêmico rigoroso, o tratamento com
dieta diminuiu ainda mais e o uso de sulfoniluréias e insulina aumentou. As
diferenças significativas de idade e sexo no uso de drogas anti-diabéticas no
início do período diminuíram durante o período.
Conclusões: As alterações significativas no uso das drogas anti-diabéticas
durante o período coincidiram com as alterações das recomendações. As
diferenças ligadas a idade e sexo foram menos significativas no fim do
período de estudo.

Trost S, LeWinter M Division of Cardiomiopatia diabética


Cardiology, University of Vermont
College of Medicine Current treatment Diabetes mellitus é um fator de risco maior para o desenvolvimento da
options in cardiovascular medicine doença cardíaca congestiva. A cardiomiopatia diabética foi reconhecida como
2001, 3(6):481-492, doença distinta e risco adicional para os pacientes diabéticos que desenvol-
dezembro de 2001 vem uma doença cardíaca congestiva, especialmente quando apresentam hi-
pertensão ou doença arterial coronariana epicardíaca. Em mais, a cardiomio-
patia diabética favorece a congestão cardíaca, mesmo quando não existem
outros fatores de risco. Como a combinação de diabetes e hipertensão é par-
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 06 (2001) 363

Continuação ticularmente perigosa, o controle da pressão sanguínea com objetivo 130/85


mm Hg é de importância capital. A primeira escolha de tratamento são os
inibidores da enzima de conversão da angiotensina. O tratamento com duas
ou três drogas é freqüentemente necessário para obter um controle adequado.
O risco aumentado de doença arterial coronariana epicardíaca em pacientes
diabéticos necessita um tratamento rigoroso da dislipidemia. Se o paciente
apresenta cardiomiopatia com fração de ejeção diminuída, a terapia exige
inibidores da enzima de conversão da angiotensina, digoxina, diuréticos, β-
bloqueadores e espironolactonas. Quando a disfunção cardíaca consiste em
diminuição da função diastólica, o controle da freqüência cardíaca com β-
bloqueador ou antagonista do cálcio é particularmente importante. O contro-
le da glicose sanguínea deve ser obtido, com meta de HbA1c < 7%. A hiperin-
sulinemia deve ser evitada quando possível; os agentes sensibilizadores à insu-
lina devem ser preferidos aos agentes que melhoram a secreção de insulina.
Sintomas de congestão cardíaca e de congestão descompensada devem ser tra-
tados como em pacientes não diabéticos. O tratamento de pacientes diabéticos
deve sempre incluir mudanças no estilo de vida como cessação do tabagismo,
diminuição da obesidade, exercício regular e dieta saudável para o coração.

Tan RS, Department of Family Practice Perda de memória como sintoma de andropausa
& Community Medicine,
University of TeArch Androl Andropausa parece ser menos definida do que menopausa. Este estudo em
2001;47(3):185-9, dezembro de 2001 pacientes idosos mostra como eles percebem e entendem o processo de enve-
lhecimento. Este estudo não-intervencional foi realizado para determinar o
que os homens reportam como sintomas da andropausa e confirmar se a per-
da de memória é um fator predominante. A hipótese é que os androgênios
como a testosterona são responsáveis para o desenvolvimento da memória.
Como o processo da andropausa é associado à diminuição dos níveis de tes-
tosterona, poderia também mostrar perda significativa de memória. Um ques-
tionário padronizado de 22 perguntas foi preenchido por 302 pacientes de um
centro médico. Informações sobre o paciente, entendimento da andropausa e
fatores de risco foram coletados. Dentre os 302 pacientes, 71% eram acima
de 60 anos e 87% eram brancos. Perda de memória foi reportada em 36% dos
pacientes que estimaram experimentar o processo de andropausa. A perda de
memória é o terceiro sintoma mais comum após a disfunção erétil (46%) e a
fraqueza geral (41%). 22% dos 302 pacientes tinham um histórico de diabe-
tes. Dentre os pacientes que reportaram estar no processo de andropausa, são
os pacientes diabéticos que reportaram mais distúrbios de memória (p = 0,03,
OR = 1,9, CI = 1,1-3,4). 64% dos pacientes reportaram que o início da andro-
pausa é entre 50 e 70 anos (a idade média sendo 50-60 anos). Este estudo
demonstra a importância da testosterona para manter as funções cognitivas e
reforça os estudos que preconizam a reposição em testosterona em homens
no processo de andropausa e que apresentam demência concomitante. Dia-
betes é associado à perda de memória, em razão dos distúrbios adicionais da
função cognitiva do cérebro provocados pela isquemia.

Autran D et al., Fluxo de colesterol basal e pós-prandial em indivíduos normo-


Hopital de l’Antiquaille, lipidémicos: importância da distribuição da massa adiposa
Lyon Metabolism 2001
Nov;50(11):1330-1335, Excesso de tecido adiposo pode alterar o transporte reverso do coleste-
novembro de 2001 rol regulado pela lipoproteina HDL. Alterações deste sistema pode ser
um fator possível favorecendo o desenvolvimento da aterosclerose na obe-
sidade. Para investigar se sexo e distribuição regional da massa adiposa
364 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 06 (2001)

Continuação têm influência independente sobre o transporte reverso do colesterol, es-


tudamos in vitro a capacidade do soro para promover o fluxo de coleste-
rol da célula. Medições foram realizadas de jejum e em pós-prandial, sta-
tus conhecido por estimular o transporte do colesterol e alterado na obesi-
dade. 13 mulheres obesas com fenótipo andróide, relação cintura/quadril:
0,98 para 0,85 e 51 indivíduos com peso normal: 25 mulheres e 26 ho-
mens, com relação cintura/quadril 0,96 para 0,67 foram recrutados. To-
dos os participantes eram normo-lipoproteinémicos no estado de jejum e
receberam uma dose de carga em gordura. Amostras de sangue foram
coletadas antes o teste de carga em gordura e cada 2 horas depois. As
medições da capacidade do soro para promover o fluxo de colesterol das
células foram realizadas usando célula de hepatoma (3)H-cholesterol
Fu5AH, no estado de jejum, 6 e 8 horas após a refeição rica em gordura.
Triglicérides, iAUC e AUC de palmitato retinil para as mulheres obesas e
os sujeitos não-obesos eram similares. O fluxo de colesterol basal dimi-
nuiu em mulheres obesas quando comparadas com mulheres com peso
normal (26,75% ± 3,1% vs. 30,81% ± 4,2%, P = 0,004). Todavia, a mag-
nitude do fluxo de colesterol promovido pelo soro inteiro aumentou em
todos os grupos. Em sujeitos com relação cintura/quadril similar, nenhu-
ma diferença de sexo foi observada na resposta dos triglicérides pós-pran-
diais nem na primeira etapa do transporte reverso de colesterol. Análise
de regressão indica que a concentração de HDL-colesterol plasmático é o
melhor prognosticador do fluxo de colesterol em estado de jejum com um
leve efeito adicional independente da relação cintura/quadril. O fluxo pós-
prandial aparece mais bem ligado à relação cintura/quadril com um leve
efeito adicional de HDL-C. Nossos resultados indicam que alterações na
primeira etapa do transporte reverso do colesterol podem ocorrer em su-
jeitos obesos normo-lipidémicos e são associadas à distribuição abdomi-
nal da massa adiposa. A obesidade andróide em mulheres as colocam ao
nível dos homens no que diz respeito a transporte reverso de colesterol.

Lai SW, Ng KC, Lin HF, Chen HL. Associação entre obesidade e hiperlipidemia em crianças
Department of Community Medicine,
China Medical College Hospital, Introdução: Este estudo foi realizado para mostrar a associação entre obe-
Taichung City, Taiwan, Yale J Biol Med sidade e hiperlipidemia em crianças.
2001;74(4):205-10, agosto de 2001 Métodos: Em março de 2000, observamos 2011 crianças de uma escola de
primeiro grau em Taichung City, Taiwan. Para estudar a associação entre
obesidade e hiperlipidemia, usamos o teste t, qui quadrado, e a regressão
logística multivariante.
Resultados: As crianças eram 1057 garotos (52,56%) e 954 garotas
(47,44%). A idade média era 7,27 ± 0,46 anos. A proporção de sobrepeso era
11,07% em garotos e 11,64% em garotas. A proporção de obesidade era
14,19% em garotos e 12,89% em garotas. Após controle das outras variáveis,
a análise regressiva mostrou que o sobrepeso era associado com um nível
baixo de HDL colesterol. Obesidade era associada com hipertrigliceridemia,
nível elevado e LDL colesterol, e nível baixo de HDL colesterol>.
Conclusões: Nossos achados mostraram que a prevalência de sobrepeso
e obesidade é elevada em crianças. Intervenções precoces para controlar
e prevenir a obesidade da criança devem ser realizadas. Obesidade é as-
sociada com hiperlipidemia em crianças. Um estudo de grande porte deve
ser realizado para estabelecer a relação causal entre obesidade e hiperli-
pidemia.
366 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 06 (2001)

G. Davey Smith et al., Journal of Estudo associa pernas curtas a diabetes e doença cardíaca
Epidemiology and Community Health
2001;55:867-872, novembro de 2001 Ter pernas curtas pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de
diabetes ou de doença cardíaca, segundo um estudo inglês. Não é claro por-
que o comprimento das pernas pode ser associado a estas doenças. Uma hi-
pótese seria que o comprimento das pernas é relacionado à nutrição na infân-
cia, que pode ter efeitos a longo prazo sobre a saúde.
A equipe inglesa coletou amostras de sangue e mediu o tamanho das per-
nas de 2.500 homens de 45-59 anos. A saúde dos participantes foi seguida
durante 15 anos através de consultas repetidas.
Os homens que tinham pernas curtas apresentavam mais risco de desen-
volver resistência à insulina. Esses homens mostraram também níveis menos
favoráveis de gorduras no sangue, e níveis mais elevados de fibrinogênio.
Todos esses fatores podem aumentar o risco de doença cardiovascular.
O tamanho das pernas é o componente da altura associada à resistência à
insulina e ao risco de doença arterial coronariana, segundo os pesquisadores, que
podem demonstrar que a associação inversa é especifica do comprimento das
pernas, o que se verifique com o comprimento do tronco. Estudos anteriores
acharam associações entre o tamanho da pessoa e o risco de doença cardíaca.

Brian Wilson et al., Proceedings of the Estudo sugere nova hipótese para a prevenção do diabetes tipo 1
National Academy of Sciences
2001;98:13838-13843, Em uma pesquisa que poderia ser um novo caminho para o desenvolvi-
novembro de 2001 mento de uma terapia preventiva do diabetes tipo 1, um equipe de científicos
mostrou que é possível prevenir o distúrbio em um grupo de ratos pela mani-
pulação de células do sistema imunológico.
As células, conhecidas como células iNKT, previnem o sistema imunoló-
gico do ataque a tecido saudável. No diabetes tipo 1, o sistema imunológico
destrói as células produtoras de insulina do pâncreas, o que necessite o uso de
insulina injetável para sobreviver.
Estudos anteriores mostraram que uma diminuição do número de células
iNKT pode inaugurar ou piorar o diabetes em ratos pré-diabéticos. O estudo
atual explica exatamente como funcionam essas células.
As células iNKT funcionam em um modo similar em ratos e em humanos,
e as técnicas para aumentar a produção destas células poderiam ser a base de
tratamentos preventivos para as pessoas que apresentam um risco genético
de diabetes.
As células iNKT impedem o sistema imunológico atacar os tecidos sãos na pre-
sença de uma molécula especifica de gordura, a a-galactosylceramide (a-GalCer).
Esta e outras moléculas de gordura são transportadas por proteínas na superfície de
componentes do sistema imunológico, conhecidos como as células dendriticas.
Quando injetado em ratas pré-diabéticas, a molécula de gordura previne a
desenvolvimento do diabetes. Quando os pesquisadores apagaram um gene
que regula as proteínas nas células dendriticas, elas eram incapazes de produ-
zir a a-galactosylceramide. Resultado: as células iNKT não eram ativadas e
os ratos desenvolveram um diabetes.
O impulso das células iNKT, possivelmente pela administração de a-ga-
lactosylceramide, poderia ajudar a prevenir o diabetes em pessoas que apre-
sentam condições pré-diabéticas.
“Nosso estudo sugere um novo mecanismo de ação que poderia em teoria
ser utilizado para prevenir o diabetes e ajudar no processo de implantação de
ilhotas transplantadas. Ele poderia prevenir o diabetes tipo 1 em indivíduos a
risco e ajudar os pacientes que perderam suas ilhotas, substituindo as ilhotas
destruídas pelas transplantadas”, explicou Wilson.
368 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 06 (2001)

Richard Freeman Research Institute, Indução viral do diabetes tipo 2 e doença auto-imune do fígado
Alton Ochsner Medical Institutions,
New Orleans The Journal of Nutrition, Estudos transversais realizados no mundo mostraram que o vírus da hepatite
2001;131:2805S-2808S, C é associado ao diabetes tipo 2, mas esse tipo de doenças endócrinas ou hepá-
outubro de 2001 ticas tem um início silencioso, o que dificulta comprovar que o paciente contra-
tou a hepatite antes do desenvolvimento do diabetes. Pesquisas em animais ou
in vitro são então necessárias para estabelecer a relação entre hepatite C e dia-
betes. Desenvolvemos um modelo in vitro para estudar a indução viral de uma
cirrose primária biliar (CPB) baseada no fenótipo de células biliares epiteliais
doentes. Os pacientes portadores de CPB produzem anticorpos antimitocon-
driais e exprimam proteínas reativas a esses anticorpos em seu epitélio biliar.
Achamos que as células do epitélio biliar normal desenvolvem as manifesta-
ções do fenótipo de CPB especialmente quando cultivadas com linfonodos de
pacientes CPB e não com células hepáticas doentes de indivíduos controle.
Clonamos um retrovírus humano de uma biblioteca cDNA de epitélio biliar
CPB e confirmamos que o desenvolvimento do fenótipo CPB in vitro coincida
com a presença do vírus. Em estudos clínicos usando a terapia antiretroviral,
observamos uma reversão da dutopenia como também melhoras na bioquímica
histológica e hepática de pacientes portadores de CPB. Como os postulados de
Koch não são aplicáveis às doenças crônicas, usamos o modelo de transmissão
viral in vitro e estudos clínicos antimicrobiais in vivo para estabelecer a relação
causal com uma infecção a retrovírus e a manifestação fenotípica da doença.

Graydon S. Meneilly et al., Efeito de GLP-1 sobre a glicose não mediada por insulina em
Diabetes Care 24:1951-1956, pacientes diabéticos idosos
novembro de 2001
Uma causa importante dos níveis elevados de glicose em pacientes idosos
portadores de diabetes é uma alteração na entrada de glicose não controlada
por insulina (NIMGU). O peptídeo glucagon-like 1 (GLP-1) é um hormônio
intestinal insulinotrópico. Foi proposto que este hormônio baixe os níveis de
glicose por aumento de NIMGU. O estudo foi conduzido para determinar se
GLP-1 aumenta NIMGU em pacientes idosos portadores de diabetes, grupo no
qual NIMGU é geralmente diminuído. Estudos foram feitos em 10 pacientes
portadores de diabetes tipo 2 (idade 75 ± 2 anos, IMC 27 ± 1 kg/m2) que parti-
ciparam de experiências de clamp de glicose. Em cada estudo, octreotide foi
aplicado para suprimir a produção de insulina endógena. Durante os primeiros
180 minutos, nenhuma glicose foi aplicada. De 180 para 240 minutos, a glicose
aumentou par 11 mmol/l, usando o protocolo de clamp de glicose. No estudo
GLP-1, GLP-1 foi aplicado de 30 para 240 minutos. Em um estudo de controle
posterior, insulina foi aplicada usando o protocolo de clamp de glicose de 30
para 240 minutos para igualar os níveis de insulina ocorridos durante o estudo
de aplicação de GLP-1. Durante a hiperglicemia, GLP-1 aumentou a glicose
(estudo controle: 2,52 ± 0,19 mg · kg–1 · min–1; estudo GLP-1: 2,90 ± 0,17 mg
· kg–1 · min–1; P < 0.0001). A liberação de glicose hepática não foi diferente
entre os estudos. Concluímos que GLP-1 pode reverter parcialmente o defeito
em NIMGU que ocorre em pacientes idosos portadores de diabetes.

Assali AR et al., Cardiology Resistência à insulina na obesidade: peso corporal ou balanço


Department, Rabin Medical Center, energético?
Beilinson Campus, Petah Tiqva,
Sackler Faculty of Medicine, A diminuição do peso é recomendada para o tratamento do indivíduos
Tel Aviv University, Tel Aviv, Israel, portadores de resistência à insulina; todavia, a importância relativa da dimi-
J Endocrinol 2001 Nov;171(2):293-8, nuição da gordura corporal ou o balanço energético negativo obtido durante
novembro de 2001 uma dieta hipoenergética na melhora da síndrome metabólica é ainda em
370 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 06 (2001)

Continuação discussão. Estudamos o seu impacto relativo sobre a melhora das anormali-
dades metabólicas associadas à resistência à insulina em indivíduos obesos.
12 sujeitos obesos (6 homens e 6 mulheres, IMC 36,1 ± 4,7 kg/m2), idade 38-
57 anos foram investigados. Durante o primeiro período eles foram alimenta-
dos por dieta hipoenergética de 6 semanas. Durante a segunda fase, consumi-
ram uma dieta iso-energética. Durante a terceira fase, os participantes volta-
ram à dieta hipoenergética. A sensibilidade à insulina foi avaliada por um
teste de tolerância à glicose. Todos os participantes diminuíram de peso du-
rante os dois períodos hipoenergéticos: 5,49 ± 0,75 e 2,32 ± 0,37%, média ±
DP, P < 0,005. Um terço da perda foi obtido durante a primeira semana de
cada período. Sensibilidade à insulina aumentou em 353 ± 121 e 147 ± 38%
(P < 0,005), no final dos dois períodos hipoenergéticos. Dois terços dessa
melhora foram observados durante a primeira semana de cada período. Du-
rante o período de manutenção do peso com a dieta iso-energética, sensibili-
dade à insulina diminuiu em 43,5 ± 7,9% (P < 0,002). Os níveis plasmáticos
de leptina e triglicérides seguiram o mesmo modelo, mas em um grau inferi-
or. Podemos concluir que o balanço energético negativo é mais eficaz quan-
do comparado com a manutenção de um peso estável para melhorar os parâ-
metros metabólicos da síndrome de resistência à insulina.

Reuben A, Liver Service and Liver Manutenção a longo prazo do paciente com transplante de
Transplant Program, Medical fígado: diabetes, hiperlipidemia e obesidade
University of South Carolina,
Charleston, SC A sobrevida a longo prazo aumenta após transplantação do fígado, o que
faz que as complicações cardiovasculares representam a maior causa de mor-
bidade e mortalidade tardias. Parece razoável corrigir os fatores de risco car-
diovasculares potencialmente reversíveis, como diabetes, hiperlipidemia,
obesidade e hipertensão. Os resultados da transplantação do fígado são acei-
táveis em pacientes diabéticos em termos de morbidade, mortalidade e pre-
valência de diabetes pós-transplantação, mais os resultados fracos descritos
em várias séries sugerem que testes mais rigorosos de doença micro ou ma-
crovascular devem ser empregados. A manutenção do diabetes em recebedo-
res de fígado não é substancialmente diferente do tratamento do diabetes em
pessoas não transplantadas, fora da diminuição dos esteróides. Hiperlipide-
mia ocorre em todas as transplantações de órgãos sólidos, com taxas de pre-
valência menores para os recebedores de fígado. Após transplantação de fí-
gado, 15 a 40% dos recebedores apresentam um aumento dos níveis de coles-
terol plasmático e 40% apresentam hipertrigliceridemia. As modificações da
dieta, a redução de peso, exercícios e uso das estatinas são as características
essenciais do tratamento. Estudos retrospectivos sugerem que a sobrevida a
longo prazo dos recebedores obesos após transplante do fígado não diferem
dos de recebedores não-obesos. O ganho de peso pós-transplante ocorre em
muitas pessoas, e aproximadamente dois terços dos transplantados apresen-
tam um sobrepeso. O tratamento da obesidade pós-transplante não é diferen-
te do da obesidade em pessoas não transplantadas.

Hak AE et al., Department of Marcadores de inflamação e moléculas de adesão celular em


Epidemiology & Biostatistics, Erasmus relação à resistência à insulina em idosos não-diabéticos
Medical Center Rotterdam, 3000 DR
Rotterdam, The Netherlands. A resistência à insulina, com prevalência elevada nos idosos, poderia ser
Diabetes Care, 24, setembro de 2001 acompanhada por um aumento da resposta da fase aguda. Até hoje, não é
claro se as moléculas de adesão celular são envolvidas na síndrome da resis-
tência à insulina. Neste estudo, investigamos a associação da resistência à
372 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 06 (2001)

Continuação insulina (medida pela insulina pós-carga) com níveis de marcadores de infla-
mação e moléculas de adesão celular em uma amostra randomizada de 574
homens e mulheres idosos não diabéticos, participando do Rotterdam Study.
Associações foram avaliadas por análise de regressão. Em nossa população
insulina foi forte e significativamente (P < 0.001) associada com os marcado-
res de inflamação proteína C-reativa [1,52 (0,96-2,08)], alpha-1-antichymo-
trypsin [1,25 (0,82-1,69)], e IL-6 [2,60 (1,69-3,52)], ajustados por idade e
sexo. Associações diminuíram após ajuste adicional por obesidade, tabagis-
mo e doença cardiovascular. Insulina foi associada com a molécula 1 de ade-
são intercelular solúvel [2,22 (1,29-3,16; P < 0,001)], enquanto que nenhuma
associação com a molécula de adesão celular vascular solúvel foi encontra-
da. A força das associações da insulina com a proteína C-reativa, alpha-1-
antichymotrypsin, IL-6 e molécula 1 de adesão intercelular solúvel, com ava-
liada pelos coeficientes de regressão padronizados, foi comparável à força
das associações da insulina com colesterol HDL, IMC, relação cintura/qua-
dril. Os resultados deste estudo populacional indicam que inflamação de bai-
xo grau, molécula 1 de adesão intercelular solúvel, molécula de adesão celu-
lar fazem parte da resistência à insulina em idosos não-diabéticos. Esses fato-
res podem contribuir à associação bem conhecida entre resistência à insulina
e risco de doença cardiovascular e poderiam ser objetivos terapêuticos em
indivíduos resistentes à insulina.
Diabetes Clínica 06 (2001) 373

O Diabetes na Imprensa

Cuidado com o diabetes

A incidência de casos de diabetes vem crescendo nos últimos anos. A


alimentação incorreta e o sedentarismo que caracteriza a evolução tecnológi-
Exame, 14 de novembro de 2001, ca colaboraram para levar milhões de pessoas à obesidade típica dos países
Fadlo Fraige Filho desenvolvidos. Essas condições, aliadas ao estresse da vida moderna, são
determinantes no desenvolvimento do diabetes melito, doença classificada
pela Organização Mundial da Saúde como uma epidemia emergente.
Sua incidência na população em geral varia de 8 a 14%. Em faixas etárias
acima de 60 anos, cresce assustadoramente de para 17% a 30%. Os dados
atuais mostram que cerca de 160 milhões de pessoas são portadoras de diabe-
tes no mundo. Estimativas indicam que esse número dobrará nos próximos
25 anos.
(...) A detecção do diabetes melito tipo 2 é mais difícil, pois sua evolução
é lenta e silenciosa. Há casos em que a doença demora sete anos para ser
descoberta. Isso faz com que 50% dos pacientes já apresentam complicações
graves e irreversíveis quando a doença é diagnosticada.
Muitas vezes o diagnóstico é feito nos prontos-socorros, onde o primeiro
sintoma é o infarto do miocárdio ou o acidente vascular cerebral, conhecido
popularmente como “derrame”. Esses podem ser sintomas de arteriosclerose
causada pelo diabetes, responsável por 75% dos óbitos entre os portadores da
doença.
Algumas vezes a doença é detectada depois de o paciente apresentar com-
plicações renais. O diabetes é hoje a principal causa de insuficiência renal:
40 a 45% dos pacientes que fazem hemodiálise são portadores de diabetes.
A atividade física é de muita importância para o consumo da glicose san-
guínea pelos músculos, melhorando o controle quando feita regularmente. O
exercício também produz um reforço e estimulo da microcirculação das per-
nas, das artérias carótidas e cerebrais, melhorando as condições cardio-circu-
latórias, evitando as complicações tromboembolicas nessas regiões. Quando
dieta e exercício não são suficientes para o controle da glicemia, medicações
orais deverão ser prescritas. A adequação do tratamento e a escolha de cada
medicação, bem como a combinação deles, caberão ao medico endocrinolo-
gista. Novas drogas foram lançadas nos últimos anos, ampliando as opções e
facilitando o tratamento. Elas atuam diretamente no gene que causa o diabe-
tes, diminuindo a resistência do organismo à ação da insulina. Outras promo-
vem uma rápida secreção de insulina após as refeições, o que ajuda a contro-
lar o pico da glicose no sangue.
Também já existem no mercado insulinas de ação ultra-rápida que imitam
o perfil da ação da insulina natural do corpo humano. Até 2003 deverão ser
lançadas as insulinas inaladas, que substituirão as injeções pré-alimentares.
As insulinas de ação lenta e regular nas 24 horas do dia constituirão opções
374 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 06 (2001)

Continuação mais avançadas da insulinoterapia. Os transplantes combinados de rim e pân-


creas também estão evoluindo e são uma esperança para os portadores de
diabetes de tipo 1 em fase de insuficiência renal.
Apesar do diabetes acarretar complicações severas que podem compro-
meter visão, rins, artérias coronárias, cerebrais e das pernas, é uma doença
benigna se diagnosticada precocemente. Quando tratada adequadamente com
bom controle glicêmico, todas as complicações poderão ser evitadas.

Vida saudável previne diabetes tipo 2

28 de outubro de 2001 Está provado. Dieta e exercício físico previnem o diabetes tipo 2 naqueles
pacientes que conseguem reduzir o peso.
De acordo com estudo americano, o índice de sucesso foi de 58% entre
pessoas com grandes chances de desenvolver a doença que se exercitaram,
em média, 30 minutos por dia e perderam até 7% do peso.
Os resultados podem ser ainda melhores se um remédio já utilizado para
combater a doença, a acarbose (Glucobay), for administrado preventivamen-
te em conjunto com ginástica e regime. Exercício, dieta e acarbose juntos
foram 33% mais eficientes na prevenção do que a combinação de ginástica e
regime, segundo um estudo de Montreal. “Somando resultados, podemos di-
zer que é possível prevenir a doença na maioria dos casos”, afirma o chefe
do departamento de Endocrinologia do Hospital Heliópolis de São Paulo,
Freddy Goldberg Eliaschewitz. Outro droga, a metformina (Dimefor, Glifor-
min e Glucophage), também utilizada no controle da doença, reduziu o risco
de evolução para diabetes em 31% dos casos estudados no levantamento nor-
te-americano. Essas pessoas receberam apenas orientação alimentar e de exer-
cício, mas não seguiram um programa específico.
“Os resultados com os remédios abram perspectivas para as pessoas que
não conseguem resultados com atividade física e dieta”, diz o presidente da
Sociedade Brasileira de Diabetes, José Egídio Paulo de Oliveira. “Com certa
frequência, a mudança de hábito em adultos não é fácil”, diz.
As pessoas que mais correm risco de desenvolver a doença são aquelas
que têm índices de glicose no sangue acima do normal, mas que ainda não
podem ser consideradas como diabéticas. São os intolerantes à glicose.
Elas costumam estar acima do peso e têm histórico familiar da doença.
Raramente apresentam sintomas, mas algumas podem ter triglicérides (tipo
de gordura que pode favorecer o entupimento de vasos) aumentados, pressão
alta e taxas baixas do HDL, conhecido como colesterol “bom”.
Nos Estados Unidos, 10 milhões de pessoas são intolerantes à glicose.
Segundo Oliveira, estima-se que no Brasil o número seja semelhante.
De acordo com dados do governo norte-americano, até 10% dos intoleran-
tes à glicose desenvolvem diabetes a cada ano.
A gordura é a principal “vilã” do diabetes tipo 2, principalmente quando está
localizada na barriga. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Endo-
crinologia, Amélio de Godoy Matos, essa gordura é metabolizada em ácidos
graxos livres, que afetam as células do pâncreas produtoras de insulina.
Enquanto dieta e exercício agem diretamente sobre a gordura, os remédi-
os, administrados em comprimidos, facilitam o trabalho das células produto-
ras de insulina. Outras drogas como o orlistat (Xenical), que impede a absor-
ção de gordura, também estão sendo estudadas para prevenir o diabetes.
De acordo com Matos, apesar de os resultados com remédios serem esti-
mulantes, ainda não se sabe por quanto tempo eles podem prevenir a doença.
No estudo com a acarbose ficou provado que, quando os pacientes paravam
de tomar a droga, as taxas de glicose voltavam a crescer.
O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 06 (2001) 375

Droga melhora produção de insulina


28 de outubro de 2001 Estudos mostraram que a acarbose, além de diminuir a absorção de car-
boidratos, também estimula a produção de um hormônio intestinal, o GLP-1,
que multiplicaria o número de células produtoras de insulina no pâncreas. “A
acarbose tem um efeito bárbaro”, afirma o endocrinologista Freddy Gold-
berg Eliaschewitz.
Uma nova insulina injetável, a glargina, que mantém sua ação durante
todo o dia, chega no Brasil no próximo ano. De acordo com o endocrinolo-
gista Eliaschewitz, a vantagem sobre outras é o fato de diminuir a instabilida-
de do diabético. Ao entrar em contato com o sangue do paciente a glargina
forma pequenos cristais, que são absorvidos lentamente. “O paciente não
vive em uma montanha russa”, afirma o endocrinologista.

O fim das picadas

A primeira coisa que o estudante Daniel Palma Rinder, 12, fazia logo de-
28 de outubro de 2001 pois de pular da cama, à 6h15, era dar uma picadinha na ponta do dedo para
medir a quantidade de açúcar no sangue, seguida da primeira injeção de insu-
lina do dia na barriga. A incômoda tarefa se repetia à 13h, antes de almoçar,
e às 19h, antes de jantar. Há 25 dias, a rotina de Daniel mudou, graças a um
aparelho pouco maior que um cartão de credito, que ele carrega acoplado na
cintura. É uma bomba eletrônica de insulina, permanentemente ligada ao corpo,
programada para fazer as medições e a dosagem necessária. Daniel festeja a
redução das picadas.
No Brasil, ainda são poucos os pacientes que estão usando a bomba. A de
Daniel sai por cerca de R$ 8.500,00 incluindo o programa de treinamento
que ensina o paciente a lidar com a máquina. Os gastos mensais para a manu-
tenção e acessórios variam de R$ 220 a R$ 260, dependendo da dose diária
de insulina consumida.
O endocrinologista Julio Abuchan, professor da Unifesp e médico de Da-
niel, diz que o novo equipamento previne as complicações a longo prazo,
além de possibilitar uma vida muito mais flexível ao paciente que depende de
insulina. Outra vantagem, é que o uso do equipamento libera o paciente de
dietas rígidas. A alimentação passa a ser normal, em quantidade e qualidade,
o que inclui a possibilidade de ingestão de açúcar.

Diabetes fitness

24 de novembro de 2001 Uma pesquisa feita pelo Instituto de Biociências da UNESP – Universida-
de Estadual Paulista, campus Rio Claro, revela que a prática de exercícios
físicos beneficia tanto os portadores de diabetes tipo 1 que atinge os jovens,
quanto os do tipo 2. O estudo da bióloga Eliete Luciano comprova que a
contração muscular, provocado pelo exercício, ajuda o organismo a assimilar
boa parte do excesso de açúcar no sangue: “Descobrimos que esse mecanis-
mo de captação de glicose funciona independente da ação da insulina”.
Uma das respostas do organismo ao exercício físico é a imediata melhora
da fadiga e o controle do peso. Eliete recomenda natação e caminhadas: “A
natação envolve os grandes grupos musculares e aumenta a captação de
glicose”. As caminhadas são especialmente indicadas para casos de diabetes
tipo 2, onde entra o grupo de idosos e obesos. O ideal é andar entre 20 e 30
minutos por dia, começando gradualmente, com 15 minutos.. Mas a pesqui-
376 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 06 (2001)

Continuação sadora adverte: exercitar-se regularmente não significa que o diabético vai
ficar livre da dieta, da restrição ao açúcar, nem da insulina.

Choques no estômago

Nos casos graves de obesidade, um procedimento muito utilizado hoje em


dia é o da cirurgia de redução do estômago. O órgão é cortado, grampeado,
amarrado ou estrangulado. Dessa forma, diminui a capacidade de a pessoa
ingerir comida e, conseqüentemente, faz com que ela emagreça. Uma das
21 de novembro de 2001 novidades em testes é o IGS, sigla para Implantable Gastric Stimulation Sys-
tem. Trata-se de um aparelho que funciona nos moldes do marcapasso usado
para regular os batimentos do coração. Implantada sob a pele, na região situ-
ada logo abaixo da cintura, a engenhoca bombardeia a parede externa do
estômago com pequenas descargas elétricas. Ininterruptos, os choquinhos,
por motivos ainda não bem esclarecidos, aumentam a sensação de saciedade.
Uma das explicações prováveis para esse efeito é que os impulsos elétricos
alteram de tal modo os movimentos do estômago que o cérebro é informado
de que ele não está vazio. Idealizado pelo cirurgião italiano Valério Cigaina e
fabricado pela empresa americana Transneuronix, o marcapasso gástrico está
sendo testado desde 1995 em vários paises. Ainda neste ano, deve ser autori-
zada a experiência em obesos brasileiros.

Proteína contra o diabetes


Pesquisa realizada pelo laboratório farmacêutico israelense Peptor, da ci-
dade de Rehovot, dá esperança aos novos pacientes diabéticos tipo 1. Nesse
tipo da enfermidade, o sistema imunológico da pessoa ataca as células do
pâncreas responsáveis pela produção de insulina. Os pacientes normalmente
5 de dezembro de 2001 precisam injetar-se insulina com regularidade para sobreviver. O laboratório
testou em 35 pacientes a proteína Diapep277, que se mostrou capaz de impe-
dir a destruição das células produtoras de insulina. O resultado indica que o
tratamento à base dessa proteína pode deter o diabetes se descoberto ainda
em estágio inicial.
Diabetes Clínica 06 (2001) 377

Avanços terapêuticos e tecnológicos

Orban T et al., Sections on Dieta com teor elevado em frutose preserva as células β e previne
Immunology, Cellular and Molecular o diabetes em ratos diabéticos não-obesos
Physiology, and Islet Transplantation
and Cellular Biology, Joslin Diabetes Demonstramos que uma dieta elevada em frutose diminui a incidência do
Center and Harvard Medical School, diabetes em ratos diabéticos não obesos (NOD) (31,2% vs. 57,1% com ali-
Boston, MA Metabolism mentação padrão; P = 0,009). Em uma segunda coorte de ratos, avaliamos os
2001;50(11):1369-76, mecanismos potenciais para o efeito de proteção da dieta de frutose e se as
novembro de 2001 mudanças metabólicas são uma tendência específica. 60 ratos NOD e 60 Balb/
c foram randomizados em grupos frutose e refeição padrão (30 cada um) e
acompanhados durante 28 semanas. Os testes de tolerância à glicose demons-
traram um aumento da tolerância à glicose no grupo com dieta de frutose (P
= 0,001 em Balb/c; P = 0,04 em ratos NOD apos seis meses). A massa celular
β foi preservada em ratos NOD com dieta de frutose, mas não foi alterada em
ratos Balb/c. Em ratos NOD, a expressão da protéina (IRS)-2 do receptor de
insulina hepático aumentou em 2 vezes (P = 0,01 para 2 vs. 6 meses) em ratos
com dieta de frutose e foi 53% ± 15% mais elevada (P = 0,01) no grupo
frutose vs. grupo controle na idade de 6 meses. A expressão de IRS-2 aumen-
tou também no músculo esquelético em ratos NOD e em ambos músculo e
fígado em ratos Balb/c. Nossos dados sugerem que a dieta elevada em fruto-
se aumenta a tolerância à glicose em ratos NOD e Balb/c. A tolerância au-
mentada à glicose pode ser relacionada à expressão aumentada de IRS-2 e,
em ratos NOD, à preservação da massa celular β.

Preston RA et al., Department of Farmacocinética e farmacodinâmica comparativas da


Medicine, University of Miami School amlodipina em pacientes hipertensos portadores ou não de
of Medicine, diabetes tipo 2
J Clin Pharmacol 2001;41(11):1215-
24, Estudos clínicos recentes sobre a diminuição das complicações em diabe-
novembro de 2001 tes mellitus mostraram a importância da formulação da droga e das altera-
ções da farmacocinética e farmacodinâmica em diabetes. Especificamente,
foi proposto que o status diabético seja responsável da alteração da farmaco-
cinética de várias drogas cardiovasculares, incluindo alguns antagonistas do
cálcio. Este estudo investiga os efeitos do diabetes mellitus sobre a farmaco-
cinética e a farmacodinâmica da amlodipina em pacientes hipertensos com
ou sem diabetes para determinar se o status diabético altere esses parâmetros.
O estudo consistiu em uma fase de placebo de 2 semanas, uma fase de titula-
ção de 2 semanas e uma fase de manutenção de 2 semanas. Os pacientes
foram 18 pacientes hipertensos portadores de diabetes de tipo 2 e 10 pacien-
tes hipertensos não diabéticos. As amostras sanguíneas foram recolhidas após
378 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 06 (2001)

Continuação administração de amlodipina e foram determinadas AUC, Cmáx e tmáx. A


resposta farmacodinâmica de 24 horas para a amlodipina foi avaliada pela
pressão sanguínea e as medições telemétricas da freqüência cardíaca. Não
foram observadas diferenças significativas entre amlodipina 5mg ou 10 mg
para AUC (p = 0,40 para 5 mg; p = 0,59 para 10 mg), Cmáx (p = 0,41 para 5
mg; p = 0,45 para 10 mg), e tmáx (p = 0,79 para 5 mg; p = 0,67 para 10 mg),
entre indivíduos hipertensos diabéticos ou não-diabéticos. Também os efei-
tos farmacodinâmicos da amlodipina sobre a pressão sanguínea sistólica, di-
astólica e a freqüência cardíaca são similares entre indivíduos diabéticos e
não-diabéticos, quando avaliados pela análise de variância de vários medi-
ções. Em razão da hipótese que diabetes mellitus pode ser responsável de
alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas importantes, este estudo for-
nece importantes dados para mostrar que o diabetes não altera a farmacoci-
nética e a farmacodinâmica da amlodipina.

Lenhard JM. Department of Metabolic PPAR-γγ/RXR como objetivo molecular para o diabetes
Diseases, GlaxoSmithKline Inc,
Receptors Channels 2001;7(4):249-58, O diabetes tipo 2 é associado à resistência à insulina nos tecidos periféricos,
novembro de 2001 tais como músculo e gordura. As novas terapias que melhoram a ação da insu-
lina incluem ligandos que ligam e ativam os receptores nucleares do peroxiso-
me proliferator activating receptor gamma (PPAR-γ) e o receptor retinóide X
(RXR). PPAR-γ/RXR formam heterodímeros que regulam a transcrição de ge-
nes envolvidos na ação da insulina, a diferenciação do adipócito, o metabolis-
mo lipídico e a inflamação. Os ativadores PPAR incluem prostanóidos, ácidos
graxos, tiazolidinedionas e análogos da N-(2-benzoylphenyl)tyrosine. Os li-
gandos RXR incluem ácido retinóico e rexinóidos sintéticos. Os ligandos sele-
tivos desses receptores melhoram as anormalidades metabólicas associadas com
o diabetes tipo 2, tais como hiperglicemia, hiperlipidemia, resistência à insuli-
na e outros fatores de risco cardiovasculares. Apesar do que os tecidos adipo-
sos regulam vários efeitos dos ligandos PPAR-γ/RXR, outros tecidos regulam
os efeitos desses receptores. A atividade do heterodímeros PPAR-γ/RXR é in-
fluenciado pelas alterações pós-translationais, o turnover do receptor, polimor-
fismos, variantes de junção, co-ativadores e co-repressores. Este estudo faz
uma revisão dos recentes pesquisas sobre estes receptores, especialmente so-
bre os efeitos metabólicos, a seletividade do ligando, a estrutura e a regulação
do heterodímero PPAR-γ/RXR.

Giovannucci E. Channing Laboratory, Insulina, fatores de crescimento insulin-like e câncer do cólon


Department of Medicine, Harvard
Medical School and Brigham and Os eixos insulina e fatores de crescimento insulin-like (IGF) são fatores
Women’s Hospital, Boston importantes de proliferação e apoptose e podem influenciar a carcinogênese.
J Nutr 2001;131(11):3109S-20S, Em vários modelos animais, a variação dos níveis de insulina e IGF-1 por
novembro de 2001 vários meios, incluindo aplicação direta, excesso ou restrição de energia, obe-
sidade geneticamente induzida, alteração dos níveis de ácidos graxos e açú-
cares na dieta, inibição da secreção normal de insulina e inibição farmacoló-
gica de IGF-1, influenciam a carcinogênese no cólon. Evidências também
associam níveis elevados de insulina e IGF-1 com risco aumentado de câncer
do cólon em humanos. Condições clínicas associadas com níveis elevados de
insulina (diabetes mellitus de tipo 2 e hipertrigliceridemia) e IGF-1 (acrome-
galia) são correlacionados ao risco aumentado de câncer do cólon, e concen-
trações elevadas de insulina e IGF-1 circulantes são associadas com risco
maior de neoplasia do cólon. Marcadores de hiperinsulinemia (inatividade
física, IMC elevado, adiposidade central) e níveis elevados de IGF-1 são
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 06 (2001) 379

Continuação também associados com risco maior. Vários estudos indicam que os padrões
dietéticos estimulam a resistência à insulina ou a secreção, incluindo o con-
sumo elevado de açúcares. Várias fontes de amido, índice glicêmico elevado
e consumo elevado de ácidos graxos saturados, são também associados com
risco maior de câncer do cólon. Apesar do que fatores do meio ambiente e
fatores genéticos têm influência sobre o câncer do cólon, a incidência dessa
doença era significativamente baixa antes do período dos avanços tecnológi-
cos caracterizado pelo estilo de vida sedentário, a obesidade e o aumento do
consumo de açúcares e ácidos graxos saturados. Esforços para controlar es-
ses padrões de vida terão o maior potencial para diminuir a incidência do
câncer, bem como as doenças cardiovasculares e o diabetes mellitus.

Elina Hyppönen et al., Vitamina D diminui o risco de diabetes tipo 1


Lancet 2001; 358: 1500-03,
novembro de 2001 A suplementação dietética em vitamina D foi associada com uma diminui-
ção do risco de diabetes de tipo 1 em um grande coorte de crianças na Finlân-
dia. In vitro, a vitamina D age como agente imunossupressivo, reduzindo a
proliferação de linfócitos e a produção de citocinas. Os modelos animais mos-
tram que a administração de vitamina D parece prevenir o desenvolvimento
do diabetes tipo 1.
Uma coorte de 10.821 crianças nascidas em Oulu e Lapland, norte da Fin-
lândia, foram seguidos a partir da idade de 1 ano. Dentre as 10.366 crianças
inclusas na análise, 81 receberam o diagnostico de diabetes durante o estudo.
Os clínicos acharam que a suplementação em vitamina D foi associada com
uma diminuição do diabetes tipo 1 quando ajustada para características neona-
tais, antropométricas e sociais e comparada com dieta sem suplementação.
Crianças que tomaram a dose recomendada de vitamina D (2000 UI/dia)
apresentaram uma taxa de frequência de 0,22, em comparação com as que
receberam uma dose inferior. Crianças suspeitadas de sofrer raquitismo du-
rante o primeiro ano de vida tinham uma taxa de frequência de 3,0, em com-
paração com as sem suspeita.
Os resultados sugerem que o desenvolvimento do diabetes tipo 1 é associ-
ado com baixo consumo de vitamina D e sintomas de raquitismo durante o
primeiro ano de vida. Em razão do fato que a vitamina D age como agente
imunossupressivo, e que o diabetes tipo 1 é considerado como uma doença
auto-imune, esses resultados não são uma surpresa. A vitamina D poderia
inibir a reação auto-imune dirigida contra as células do pâncreas. Em mais, a
diminuição do sistema imunológico funcionando com um status diminuído
de vitamina D na infância poderia ter efeitos a longo prazo sobre as respostas
imunológicas mais tarde na vida. Esses resultados concordam com os resul-
tados de dois outros estudos. Não se sabe se são válidos por outras popula-
ções, porque a suplementação em vitamina D é segura e eficaz só em pessoas
que apresentam uma concentração biológica em vitamina D inferior ao nor-
mal.
No Norte da Finlândia, há só 2 horas de sol cada dia em dezembro, e 23
horas de luz por dia em junho. Para a maior parte do ano os genes de susceti-
bilidade para diabetes tipo 1 poderiam explicar esse fato, especialmente na
regiões do norte, onde as respostas imunes poderiam ser reduzidas por falta
de vitamina D.
Em razão do potencial tóxico da vitamina D, toda alteração nas recomen-
dações para crianças deve ser feita com cuidado. Antes de qualquer mudan-
ça, os autores recomendam que as crianças recebam pelo menos a dose de
vitamina D atualmente recomendada.
382 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 06 (2001)

American Heart Association, Anaheim, Rosiglitazona (Avandia) diminui os fatores de risco de doença
Califórnia, 13 de novembro de 2001 arterial coronariana em diabetes tipo 2

Novos dados demonstram que Avandia (maleato de rosiglitazona) diminui


os níveis de marcadores de risco cardiovasculares, sugerindo um benefício
cardiovascular potencial em pacientes portadores de diabetes tipo 2.
Estima-se que os pacientes portadores de diabetes tipo 2 têm 2 ou 3 mais
riscos de apresentar uma doença cardíaca que as pessoas não-diabéticas. De
acordo com este estudo, a rosiglitazona diminui significativamente o marca-
dor protéico de inflamação protéina C-reativa (CRP) e outra proteína, matrix
metalloproteinase (MMP), em pacientes portadores de diabetes tipo 2. A
matrix metalloproteinase é envolvida na alteração da placa de aterosclerose.
Segundo os pesquisadores, a doença cardíaca á a complicação a mais peri-
gosa do diabetes tipo 2, responsável de 75% das mortes ligadas ao diabetes.
Pesquisas anteriores já mostraram que a doença cardiovascular e o diabetes
tipo 2 podem dividir uma origem comum – a resistência à insulina – e que
aterosclerose e diabetes podem também dividir uma característica comum –
a inflamação sub-clínica. Este estudo avaliou diretamente os efeitos de uma
droga anti-diabética sensibilizante à insulina, a rosiglitazona, sobre os mar-
cadores da inflamação arterial e a biologia da placa de aterosclerose. O estu-
do mostrou também que a rosiglitazona tem benefícios adicionais antiinfla-
matórios que poderiam ajudar para prevenir futuras complicações cardiovas-
culares.
As proteínas C-reactivas e MMP são marcadores cardiovasculares que
podem indicar o grau de inflamação arterial e o risco de ruptura de placa em
pacientes diabéticos ou não-diabéticos. O aumento da inflamação arterial pode
ajudar ao crescimento da placa de aterosclerose, até a aparição da doença
cardiovascular. Pessoas portadoras de diabetes tipo 2 apresentam geralmente
níveis elevados de CRP.
Já foi demonstrado que a rosiglitazona diminui significativamente CRP e
MMP, mostrando propriedades antiinflamatórias e estabilizantes de placa,
que podem ter o potencial para reduzir a doença cardiovascular em diabéti-
cos tipo 2. No estudo, 350 pacientes portadores de diabetes tipo 2 foram
avaliados para determinar a eficácia da rosiglitazona sobre a glicemia, vs.
placebo. Os efeitos da rosiglitazona sobre os níveis de CRP e MMP-9 foram
determinados em um sub-grupo de pacientes. Os participantes receberam 4
ou 8 mg/dia de rosiglitazona. No início e após 26 semanas, concentrações de
CRP e MMP-9 solúvel foram medidas.
Após 26 semanas, pacientes do grupo placebo experimentaram uma pe-
quena diminuição não-significativa no CRP (-13,9%). Ao contrário, pacien-
tes tratados com rosiglitazona 4 mg ou 8 mg/dia mostraram uma diminuição
significativa (-40,7% e -35,6%, respectivamente). Na avaliação do MMP-9,
a equipe achou que o grupo placebo experimento um aumento em compara-
ção com o início do estudo (1,9%), embora que os grupos rosiglitazona 4 mg
e 8 mg experimentaram respectivamente diminuições estatisticamente signi-
ficativas a partir do início do estudo (-10,3% e -21,1%, respectivamente).
O efeito da rosiglitazona sobre os marcadores cardiovasculares é um
achado importante. Esses dados adicionam-se às observações anteriores
pelas quais a rosiglitazona pode alterar positivamente os marcadores de
risco cardiovasculares incluindo PAI-1, função endotelial, composição das
lipoproteínas e microalbuminúria. Esses estudos abrem novas perspectivas
sobre a prevenção da doença cardiovascular, mas novos estudos a longo
prazo são necessárias.
384 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 06 (2001)

American Heart Association, Anaheim, ReoPro (Abciximab) aumenta chances de sobrevida em


Califórnia, 13 de novembro de 2001 diabéticos portadores de angioplastia após doença coronariana

Reopro (abciximab) melhora a sobrevida do paciente diabético, quando


submisso à angioplastia durante infarto do miocárdio agudo. Segundo dados
apresentados no Congresso da American Heart Association, os portadores de
diabetes apresentam um risco de infarto dois a quatro vezes mais elevado do
que as pessoas não-diabéticas. Eles apresentam também mais complicações
após angioplastia.
Em uma análise de 6 meses de pacientes diabéticos do estudo ADMIRAL
(Abciximab before Direct angioplasty and stenting in Myocardial Infarction
Regarding Acute and Long term follow-up), pesquisadores do hospital Pitié-
Salpetrière de Paris acharam que os pacientes tratados por ReoPro apresenta-
vam menos risco de morrer nos seis meses pós-angioplastia (0% versus 16,7%,
p = 0,02).
ADMIRAL é um estudo randomizado, duplo-cego, controlado por place-
bo, em 300 pacientes, para comparar ReoPro com placebo em pacientes rece-
bendo stents no doença arterial coronariana.
ReoPro, único inibidor multireceptor de glicoprotéina IIb/IIIa, aVb3 (al-
pha V beta 3) e MAC-1, diminui as complicações isquêmicas associadas à
angioplastia e stents. A administração de ReoPro a pacientes durante o pro-
cedimento de abertura das artérias reduziu o risco de morte ou de infarto. Os
benefícios de ReoPro foram demonstrados a 48 horas, 30 dias, 6 meses e 1
ano. Em mais, os resultados de fase III mostraram que o uso de ReoPro em
combinação com stents diminui o risco de morte em 57% um ano após a
imlantação, em comparação com o stent em tratamento único.

Rory Collins et al., American Heart Zocor (sinvastatina) diminui os riscos cardíacos, mais do que os
Association, Anaheim, Califórnia, antioxidantes
13 de novembro de 2001
O Zocor (sinvastatina) diminui efetivamente os riscos de infarto do mio-
cárdio e outros eventos cardíacos, sem relação com o nível de colesterol san-
guíneo, segundo um estudo apresentado no Congresso da American Heart
Association. O mesmo estudo mostrou também que os antioxidantes como
vitamina C, E e beta-carotene são menos eficazes para combater a doença
cardíaca.
20.000 pacientes portadores de doença arterial coronariana, ou com histó-
rico de infarto do miocárdio, de diabetes ou outra doença envolvendo os va-
sos sanguíneos participaram deste estudo.
Os pacientes foram randomizados para receber um de quatro tratamen-
tos: sinvastatina, sinvastatina e vitamina C, vitamina E e beta carotene;
vitaminas em tratamento único; ou placebo. Os pacientes receberam cuida-
dos básicos, de acordo com as prescrições de seu médico, e foram acompa-
nhados durante 5,5 anos.
“Não existe nenhum evidência de uma qualquer benefício dos antioxidan-
tes”, disse Collins, “como também não tem evidência de efeitos adversos.
Mas com as estatinas, os resultados foram excelentes.”
O risco de morte de qualquer origem vascular ou cardíaca, bem com o
risco de infarto ou acidente vascular cerebral, foram reduzidos em um terço,
incluso em mulheres, idosos e diabéticos.
O risco foi também reduzido em pacientes com níveis de colesterol total <
200 mg/dl, ou LDL < 120 mg/dl. Esses pacientes não são normalmente con-
siderados como candidatos ao tratamento por estatinas, segundo as recomen-
dações usuais.
386 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 06 (2001)

Continuação Não existe evidência de efeitos adversos do tratamento com estatinas, e a


droga é geralmente bem tolerada, disse Collins. Participaram no estudo 5000
mulheres, 6000 pacientes com idade > 70 anos e 6000 pacientes portadores de
diabetes tipo 1 ou 2, dos quais 4000 com histórico de doença cardiovascular.

Mary Courtney Moore et al., A administração de frutose melhora a tolerância à glicose em


Diabetes Care 24:1882-1887, adultos portadores de diabetes tipo 2
novembro de 2001
Objetivo: Em adultos normais, uma pequena dose de frutose administrada
com glicose diminui a resposta glicêmica em um teste de carga em glicose,
especialmente em pessoas com tolerância à glicose diminuída. Nossa hipóte-
se é que uma dose importante de frutose melhora a tolerância a glicose em
indivíduos portadores de diabetes tipo 2.
Desenho e métodos: 5 adultos portadores de diabetes tipo 2 fizeram um
teste de tolerância à glicose oral (OGTT) em duas ocasiões separadas, com
uma semana de intervalo. Cada OGTT consistiu em 75 g de glicose com ou
sem adição de 7,5 g de frutose (OGTT + F ou OGTT – F), em ordem rando-
mizada. Amostras sanguíneas foram coletadas a partir de uma veia dorsal da
mão antes ingestão dos carboidratos e cada 15 minutes durante 3 horas.
Resultados: A áreas sob a curva (AUC) da resposta da glicose plasmática
foi reduzida pela administração de frutose em todos os sujeitos; a AUC mé-
dia durante OGTT + F foi 14% menos do que a durante OGTT – F (P < 0,05).
As concentrações de glucagon plasmático diminuíram de maneira similar
durante OGTT – F e OGTT + F. O AUC da resposta de lactato sangüíneo
durante OGTT – F foi 50% do observado durante OGTT + F (P < 0,05).
Concentrações de ácidos graxos não-esterificados nem os triglicérides diferi-
ram entre os dois OGTT.
Conclusões: Pequenas doses de frutose melhoram a resposta glicêmica du-
rante um teste de carga em glicose em adultos portadores de diabetes tipo 2,
e este efeito não é o resultado da estimulação da secreção de insulina.

Adnan Gokcel et al., Diabetes Care Efeitos da sibutramina em mulheres obesas diabéticas tipo 2 e
24:1957-1960, novembro de 2001 glicemia mal controlada

Objetivo: Avaliamos a eficácia da sibutramina combinada com drogas hi-


poglicêmicas em mulheres obesas diabéticas tipo 2 com níveis de glicose
mal controlados.
Desenho e métodos: Mulheres portadoras de diabetes tipo 2, com níveis de
glicose mal controlados, e HbA1c > 8% foram randomizadas para entrar em
dois grupos. Em mais do que as drogas hipoglicemiantes usuais (doses máxi-
mas de sulfoniluréias e metformina), um grupo (n = 30) recebeu placebo
duas vezes/dia durante 6 meses e o outro grupo (n = 30) recebeu sibutramina
10mg/dia durante o mesmo período.
Resultados: Um paciente do grupo sibutramina foi excluído durante o pe-
ríodo do estudo par causa de hipertensão. 20 resultados foram examinados.
No grupo placebo, cinco pacientes foram excluídos, em razão da eficácia
fraca do tratamento, o que deixou 25 pacientes. Comparando os resultados
ocorridos após 6 meses de tratamento nos grupos sibutramina e placebo, o
primeiro mostrou diminuições significativamente maiores na glicose de je-
jum (P < 0,0001), na glicose sanguínea pós-prandial de duas horas (P <
0,0001), na resistência à insulina (P < 0,0001), cintura (P < 0,0001), IMC (P
< 0,0001), HbA1c (P < 0,0001), pressão sanguínea diastólica, freqüência
388 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 06 (2001)

Continuação cardíaca, níveis de ácido úrico, e todos os elementos de perfil lipídico, na


exceção do colesterol HDL e apolipoproteína A1.
Conclusões: A adição de sibutramina à terapia hipoglicemiante oral resul-
tou em perda de peso significativa e melhoras dos parâmetros metabólicos
neste grupo de pacientes. Sibutramina é um complemento eficaz a terapia
anti-diabética oral em mulheres obesas portadoras de diabetes tipo 2.

Brenner BM et al., for the RENAAL Efeitos do Losartan nos sintomas renais e cardiovasculares em
Study InvestigatorsN Engl J Med. diabéticos tipo 2 portadores de nefropatia
2001;345:861-869, novembro de 2001
Um estudo duplo-cego randomizado foi realizado para estudar o efeito
protetor no rim do losartan em pacientes portadores de diabetes tipo 2 e ne-
fropatia. 1513 pacientes homens e mulheres, com idade 31-70 anos, recebe-
ram seja losartan (50 a 100 mg/ 1 vez por dia) ou placebo, e foram acompa-
nhados durante 3,4 anos em média. No início, o estudo devia acompanhar os
pacientes durante 4,5 anos, mas o estudo foi interrompido em fevereiro de
2001, em razão da não evidência que os inibidores da enzima de conversão
da angiotensina possam reduzir a incidência dos eventos cardiovasculares
em pacientes com diminuição da função renal.
Os pacientes receberam também tratamento antihipertensivo convencio-
nal (antagonistas do cálcio, diuréticos, α-bloqueadores, β-bloqueadores, e
agentes centrais antihipertensivos) com exigência de manter a pressão san-
guínea em 140/90 mm Hg. No início 93,5% de todos os pacientes receberam
terapia antihipertensiva. As consultas foram programadas para cada três me-
ses. O primeiro grupo de medição foi um composto associando o aumento
em 100% da concentração de creatinina plasmática, doença renal terminal ou
morte. O segundo grupo incluiu fatores de morbidade e mortalidade de cau-
sas cardiovasculares, proteinuria, e taxa de progresso da doença renal. 71%
dos pacientes no grupo losartan receberam uma dose de 100 mg.
Quando comparado com placebo, o tratamento com losartan foi associado
com uma diminuição em 16% do risco de atingir o primeiro grupo de resulta-
dos (P = 0,02). Losartan reduziu a incidência do aumento da concentração da
creatinina plasmática (25%; P = 0,006) e doença renal terminal (28%; P =
0,002), mas foi sem efeito sobre a taxa de morte. A morbidade e mortalidade
por causas cardiovasculares foram similares nos dois grupos. O risco de atin-
gir o estado de doença renal terminal foi pouco diminuído após correção para
a pressão sanguínea. Não foram detectadas diferenças significativas entre os
grupos losartan e placebo para a morbidade e mortalidade por causas cardio-
vasculares. O nível de proteinuria, medido pela relação albumina:creatinina
na urina, diminuiu em 35% com losartan, mas aumentou no grupo placebo e
o risco de doença renal terminal foi reduzido em 28% com losartan durante
um seguimento médio de 3,4 anos.
Diabetes Clínica 06 (2001) 389

Produtos e novidades
Insuman Optiset: A caneta descartável de Aventis

Aventis Pharma lança uma formulação original de insulina, a caneta des-


cartável Insuman Optiset. Esta caneta é a primeira insulina humana DNA
recombinante em caneta totalmente descartável, que já vem carregada com
300 UI de Insuman R ou N. Insuman OptiSet permite ajuste da dosagem
constante ou individual. É ideal para pacientes dos mais diversos perfis e
idades, e está indicada tanto para uso domiciliar quanto hospitalar. A vanta-
gem principal da Insuman OptiSet é a sua praticidade.

GlucoMen, novo sistema de controle glicêmico

A SCIL lança no Brasil o GlucoMen


Glycó de A. Menarini Diagnostics (Firen-
ze, Itália), novo sistema de controle gli-
cêmico, com técnica de leitura por bio-
sensor e compensação das variações de
temperatura por termosensor integrado ao
analisador, evitando assim alterações nos
resultados. GlucoMen liga e desliga au-
tomaticamente ao inserir a tira e necessi-
ta uma quantidade mínima de sangue
(menos de 4 microlitro). O sangue não
entra em contato com GlucoMen, dispen-
sando um procedimento de limpeza para
o aparelho. A tira pode ser manipulada
na área de reação sem risco de contami-
nação. Tempo de medição controlado au-
tomaticamente após a colocação da amos-
tra. O resultado aparece no display após
30 segundos.
390 Produtos e Novidades – Diabetes Clínica 06 (2001)

Nouvelle Cuisine: Sobremesas sem adição de açúcares de Claris


Alimentos

As sobremesas Nouvelle Cuisine são formuladas especialmente para o con-


sumidor que quer opções mais saudáveis para seus lanches e refeições. São
quatro sobremesas apresentadas em porções individuais e prontas para o con-
sumo: basta descongelar. Os quatro novos produtos são: Cheese Cake com
Cobertura de Amoras, Bolo Brigadeiro, Mousse de Chocolate e Beijoca - pu-
dim de coco. Todos têm menos de metade das calorias dos produtos tradicio-
nais, menos gorduras, sem sorbitol ou outro poliól, sem conservantes ou coran-
tes e sem açúcares, e são ainda fontes de fibras e proteínas. Podem ser consu-
midas por diabéticos além de pessoas em busca de uma alimentação mais sau-
dável, pobre em gorduras e açúcares. Produtos aprovados pela ANAD.

Xaropes Diet e Light de Saborama

A Saborama lança dois novos produtos dietéticos, os Xaropes Groselha


Diet e Uva Light. Os dois são similares no que concerne ao tipo de adoçante
usado, destinado a diabéticos e consumidores que realizam regimes. Os ado-
çantes utilizados na elaboração do Groselha Diet e Uva light são sacarina e
ciclamato. Estes dois adoçantes são resistentes à temperatura, e não sofrem
alteração ou degradação do poder adoçante durante a cocção. Groselha Diet e
Uva Diet podem também ser utilizados para sobremesas, recheio de bolo,
doces, coberturas e saladas de frutas. Produtos aprovados pela ANAD.

La Basque: Sorvetes Light

La Basque lança em embalagens de 1000 ml sua linha de sorvetes Light e


Diet, nos quais a gordura é substituída por uma proteína láctea e o açúcar
pelos adoçantes aspartame e sorbitol, resultando num produto com baixo
colesterol e com 50% das calorias dos sorvetes comuns. É uma formula
adequada para quem quer manter a saúde ou para dietas de ingestão con-
trolada de açúcares. A linha de sorvetes inclui: Light Abacaxi, Diet
Vanilla, Diet Papaya, Light Vanilla Choc Chip, Diet Chocolate.

BeDiet: Vidro de adoçante com tampa dosadora

Especialista em adoçantes para todas as preparações caseiras ou industri-


ais, utilizando os recursos de todos os produtos do mercado (maltodextrina,
ciclamato de sódio e sacarina sódica acesulfame-K, aspartame, etc), a empre-
sa BeDiet acaba de lançar um novo dosador de edulcorante, que vai facilitar
a vida do diabético e de todos os consumidores de adoçantes. O novo pote de
cristal de BeDiet, dotado de tampa dosificadora, libera a cada virada o equi-
valente em poder adoçante a 2 colheres de chá de açúcar. Não precisa mais
batalhar com o produto líquido para acertar a dose nem com os saches que, na
hora do cafezinho, acabam mais no lixo do que no café. BeDiet é prático,
higiênico e sem desperdício.
Diabetes Clínica 06 (2001) 391

Resumos de trabalhos e congressos


Leila M B Araújo, Itana Brito, Lay H Diabetes mellitus e intolerância à glicose em mulheres obesas de
Cheng, Aldenice Carvalho, Maria M uma população multi- racial
Britto, Thomaz Cruz, Hospital
Universitário da Universidade Federal Introdução: Alguns estudos mostram que a prevalência de DM é maior na
da Bahia, Salvador, Bahia, XIo raça negra do que na branca. O objetivo deste estudo foi investigar a freqüên-
Congresso ALAD, Montevidéu, cia de DM e IG em mulheres obesas de uma população multi-racial de um
Uruguay, 13 de novembro de 2001 ambulatório de obesidade, em Salvador, Bahia, onde a maior parte da popu-
lação é de mulatos e negros com ascendentes africanos.
Material e métodos: As pacientes foram classificadas pela cor da pele e
características fenotípicas em: brancas (n = 232), mulatas (n = 239) e negras
(n = 153). As pacientes, exceto as que já sabiam ser diabéticas, foram subme-
tidas ao teste de tolerância à glicose oral (75g), antes de iniciar o tratamento
com dieta hipocalórica. Foram excluídas as pacientes com doença crônica
(exceto aquelas relacionadas com a síndrome metabólica), história de alcoo-
lismo e psicopatas. As pacientes em uso de diurético suspenderam a medica-
ção três dias antes do teste. As glicemias foram determinadas no plasma pelo
método da glicose-oxidase. Os critérios de diabetes melittus (DM) e intole-
rância à glicose (IG) utilizados foram os da Organização Mundial de Saúde.
Para análise estatística, utilizou-se o EPI-INFO versão 6.0 e aplicado o teste
de proporções e o SAS para regressão múltipla.
Resultados : médias ± DP e freqüências (%) de DM e IG nas obesas.

brancas mulatas negras

Idade (anos) 36 ± 11 36 ± 10 37 ± 10
IMC (kg/m²) 41 ± 7 41 ± 6 41 ± 6
Cintura (cm) 106 ± 13 106 ± 12 107 ± 12
% índice C/Q > 0.85 17,3 14,1 20
% de DM 7,3% 10,9% 14,4%*
% de IG 14,2% 11,7% 15,7%
% de DM + IG 21,5% 22,6% 30,1%**
*Brancas x Negras, p = 0,024; **Brancas x Negras, p = 0,058
As pacientes foram semelhantes em relação a idade, IMC, circunferência
da cintura e freqüência de obesidade andróide (índice cintura/quadril > 0,85).
A freqüência de história familiar de DM foi significantemente maior nas obesas
diabéticas do que nas obesas do grupo IG ou nas obesas não diabéticas (43,1
versus 27,1%, (p = 0,01) e versus 27,1% (p=0,03)). Setenta e dois per cento
das pacientes nas quais foi diagnosticado DM, desconheciam ter este distúr-
bio até então. Observamos maior freqüência de DM nas obesas negras do que
nas brancas. A análise de regressão múltipla mostrou que esta freqüência foi
maior nas negras em relação às brancas, mesmo quando ajustada para idade,
IMC e história familiar de diabetes.
Conclusão: Fatores raciais e genéticos influenciam a expressão de DM em
obesos.
392 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 06 (2001)

MR Ehlers et al., BioNebraska, Inc., Peptídeo glucagon-like-1 recombinante diminui a glicose


Lincoln, NE, and Rainier Clinical plasmática de jejum em diabetes tipo 2
Research Center, Renton, WA, United
States, 37th Annual Meeting of the Objetivo: O peptídeo Glucagon-like-1 (7-36) amido (GLP-1) é uma nova
European Association for the Study of perspectiva para o futuro do tratamento do diabetes de tipo 2. O desenvolvi-
Diabetes (EASD), Glasgow, Reino- mento clínico do peptídeo natural foi impedido pelo custo elevado e a falta de
Unido, 9 - 13 de setembro de 2001 formulação clinicamente útil. Aplicamos o GLP-1 (rGLP-1) per via subcutâ-
nea em 40 pacientes diabéticos de tipo 2 em um estudo duplo-cego, controla-
do por placebo, no qual avaliamos a eficácia da injeção vs. infusão e a res-
posta inicial e final dos pacientes.
Material e métodos: 4 grupos de 10 pacientes foram recrutados: (1) dieta,
(2) sulfoniluréias (SU), (3) metformina (MET), e (4) insulina; os tratamentos
pré-existentes foram conservados. Antes a randomização, todos os pacientes
receberam 2 injeções de rGLP-1 (1,5 nmol/kg) duas horas após uma refeição
padrão e foram acompanhados durante 4 horas. Após o dia de teste, cada paci-
ente recebeu várias doses de rGLP-1 em ordem randomizada segundo duas
vias: (a) fase de injeção: 2 injeções (0, 0,5, 1,0, 1,5 nmol/kg/injeção) após o
jantar; (b) fase de infusão: infusão continua subcutânea de rGLP-1 (0, 1,5, 2,5,
3,5, 4,5 pmol/kg/min) durante 12 horas noturnas começando após o jantar.
Resultados: Durante o dia de teste, todos os pacientes, incluindo a coorte
de insulina, mostraram insulina aumentada e glucagon diminuído e diminui-
ções correspondentes em níveis de glicose plasmática após as injeções de
rGLP-1. As coortes de dieta, sulfoniluréias e metformina mostraram peque-
nas diminuições (15 mg/dl) dos níveis de glicose plasmática de jejum (p <
0,05) durante a fase de injeção, e diminuições dependentes da dose durante a
fase de infusão (> 44 mg/dl, p < 0,001). A coorte de insulina mostrou uma
diminuição significativa da glicose plasmática de jejum (29 mg/dl, p = 0,004)
com a dose de infusão a mais elevada. rGLP-1 diminuiu, em função da dosa-
gem, os níveis de glucagon plasmática de jejum (p < 0,05) e aumentou a insu-
lina plasmática de jejum (p < 0,03). Não foram registrados efeitos adversos
significativos. Foi observado 1 caso de hipoglicemia bioquímica (44 mg/dl).
Conclusões: Concluímos que rGLP-1 reduz a glicose plasmática de jejum
em uma grande variedade de pacientes diabéticos tipo 2 quando adminis-
trado por infusão continua subcutânea.

G.S. Meneilly et al., 37th Annual Administração continua durante 12 semanas de GLP-1 em
Meeting of the European Association pacientes diabéticos idosos
for the Study of Diabetes (EASD), Objetivo: O efeito insulinotrôpico do GLP-1 não tem sido confirmado em
Glasgow, Reino-Unido, pacientes idosos diabéticos tipo 2 durante um período prolongado.
9 - 13 de setembro de 2001 Material e métodos: Observamos a regulação da homeostase da glicose
pelo GLP-1 (7-36 amido) antes e depois da administração subcutânea conti-
nua de GLP-1 (0,1-0,4 nmol/kg/h) em 7 pacientes diabéticos tipo 2 (idade =
72,6 ± 1,3, IMC = 27,4 ± 1,3). Não foram usados outros agentes de regulação
da glicose nesse grupo. Um grupo controle (n = 5), foi também investigado
antes e depois de 12 semanas de terapia usual (idade = 72,2 ± 1,6, IMC = 28,0
± 1,3). Diabetes foi diagnosticado 14 ± 5 anos antes do estudo em ambos os
grupos. Um clamp hiperglicêmico (5,4 mmol/l acima do nível de jejum) foi
realizado durante uma hora, seguido por nível de jejum por 1 hora, imediata-
mente seguido por clamp euglicêmico (480 pmol/m2/min) por 2 horas antes e
12 semanas após administração de GLP-1. Durante o clamp euglicêmico, foi
permitida a diminuição da glicose plasmática até 5,3 mmol/l. Em ambos os
grupos os agentes hipoglicemiantes foram supressos durante 3 dias antes de
cada clamp, com exceção para GLP-1 no pós-clamp.
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 06 (2001) 393

Continuação Resultados: No grupo controle, a resposta da primeira fase de insulina


(IRI) era isenta no clamps hiperglicêmicos inicial e final e nos dois clamps,
as respostas da segunda fase de insulina eram só 50 pmol/l acima dos
níveis de jejum. Nos clamps euglicêmicos, os níveis IRI 180-240 min
eram de 1700 pmol/l em todos os clamps. No grupo tratado por GLP-1, a
resposta da primeira fase IRI era isenta no pré-clamp e aumentou no pós-
clamp. Na segunda fase os níveis IRI aumentaram em 85 ± 36 pmol/l. Em
4 pacientes que receberam o tratamento GLP-1, foram obtidas amostras
de 2 minutos durante cada um dos clamps hiperglicêmicos e os perfis de
insulina foram analisados. A amplitude dos níveis de insulina passou de
9,4 ± 1 para 31,2 ± 2 pmol/l/min. Os níveis de glucagon plasmático de
jejum (IRG) foram menores no grupo GLP-1 após 12 semanas mas não
no grupo controle (17 vs. 24 pmol/l). Os níveis de IRG durante a última
hora do clamp foram 17 vs. 24 pmol/l.
Conclusões: Concluímos que GLP-1 é bem tolerado durante um período
prolongado em pacientes idosos diabéticos de tipo 2 e tão eficaz como os
agentes usuais.

Estela Wajcberg, Paulo Jose Suarez Correlação entre os auto-anticorpos para GAD (ácido glutâmico
Barbosa, Sidney Oliveira Goncalves, descarboxilase) e a função da célula β em jovens adultos
Lenita Zajdenverg, Adolpho Milech, diabéticos
Jose Egidio Paulo de Oliveira, UFRJ,
Rio de Janeiro, 17th International Objetivos: Avaliar a etiologia auto-imune do diabetes mellitus atra-
Diabetes Federation Congress, México vés o rastreamento com auto-anticorpos para GAD e seus relações com
City, México, a função de célula β em pacientes diagnosticados com idade entre 20 e
5-10 de novembro de 2000 40 anos.
Métodos: 71 pacientes, não-obesos, foram selecionados, independen-
temente da duração da doença e do tipo de tratamento. Medições dos
auto-anticorpos para GAD foram efetuados por radioimunoensaio (po-
sitivo > 1,0U/ml) e a função da célula β foi avaliada por teste ao gluca-
gon e medições do peptídeo-C plasmático de jejum e 6 minutos após
aplicação endovenosa de glucagon 1 mg (deficiência em insulina se C-
peptídeo pós-glucagon < 2,1ng/ml). Dados sobre idade no diagnóstico,
duração da doença, complicações agudas ou crônicas, histórico familiar
de diabetes, tratamento inicial e atual, IMC, outros distúrbios auto-imu-
nes, foram notados.
Resultados: 21,1% dos pacientes eram GAD positivos. Existe uma cor-
relação estatisticamente significativa entre a positividade GAD e a pre-
servação da função pancreática. 66,7% dos pacientes GAD(+) tinham uma
função celular β normal e, dentre os GAD(-), 66,1% tinham uma função
reduzida. Os GAD(+) com titulações elevadas tinham uma função pan-
creática reduzida. 93,3% dos pacientes GAD(+) tinham um IMC normal
(> 25kg/m2).
Conclusões: 1) A freqüência da auto-imunidade nesse estudo concorda
com a literatura; 2) A função pancreática residual nesses pacientes pode
ser compatível com uma destruição lentamente progressiva da célula β; 3)
As dosagens dos auto-anticorpos podem ser relacionadas com a velocida-
de da destruição celular β; 4) Os pacientes GAD(-) com função pancreáti-
ca reduzida podem apresentar uma secreção insulínica diminuída, não-
imune; exaustão celular β; ou um processo auto-imune dependente de ou-
tro anticorpo não medido nesse estudo.
394 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 06 (2001)

Bruno Geloneze, Jose C. Pareja, Diminuição da secreção da célula β determina o perfil lipídico na
Enrico M. Repetto, Aline G. Costa, obesidade severa
Marcos A. Tambascia, Unicamp,
Campinas, SP, 17th International A taxa elevada de morte cardiovascular em diabetes de tipo 2 foi relaciona-
Diabetes Federation Congress, México da a vários fatores de risco como obesidade, hipertensão, dislipidemia e resis-
City, México, 5 a 10 de novembro de tência à insulina. Existe também uma proporção elevada de dislipidemia dentre
2000 os pacientes diabéticos. A anormalidade lipídica típica inclui níveis elevados
de triglicérides combinados com baixos níveis de HDL-colesterol. O papel da
resistência à insulina e da secreção da mesma sobre a fisiopatologia da dislipi-
demia não é completamente conhecido. Para pesquisar a relação da dislipide-
mia, da ação e da secreção da insulina, estudamos pacientes portadores de obe-
sidade severa classificados por teste oral de hiperglicemia. A partir dos pacien-
tes do consultório da Universidade de Campinas, selecionamos pacientes por
idade, IMC e resistência elevada à insulina. A resistência à insulina e a secre-
ção da célula β foram analisados pelo método HOMA (Homeostasis Model
Assessment). A tabela seguinte mostra nossos resultados:

Tolerância normal à glicose Diabetes tipo 2

n 16 14
Idade (anos) 35,1 ± 7,1 43,9 ± 11,9 ns
IMC (kg/m2) 53,3 ± 13,6 50,3 ± 11,2 ns
Colesterol total (mg/dl) 190,8 ± 41,7 232,1 ± 57,4 p < 0,01
HDL-colesterol (mg/dl) 43,5 ± 11,2 37,4 ± 13,2 p < 0,01
Triglicérides (mg/dl) 131,5 ± 62,2 228,1 ± 109,9 p < 0,01
HOMA-IR 17,5 ± 6,0 18,1 ± 7,2 ns
HOMA-beta 875,8 ± 236,6 310,8 ± 328,0 p < 0,01

Observamos que o escore elevado de resistência à insulina per se não de-


termina a presença de dislipidemia em pacientes portadores de obesidade
severa, especialmente quando eles têm uma função celular β normal. Pode-
mos ainda concluir que a incapacidade para aumentar a secreção de insulina,
analisada por HOMA-bêta, pode determinar as anormalidades lipídicas dia-
béticas típicas em pacientes obesos.

Martinez Chamorro M, Lastra Características psicossociais de crianças e adolescentes


Martinez I, Luzuriaga Tomas C, Equipo portadores de diabetes tipo 1
de Atencion Primaria Herrera del
Duque. Badajoz An Esp Pediatr Objetivos: Determinar os padrões de ajuste psicológico e social de crian-
2001;55(5):406-12, ças e adolescentes portadores de diabetes tipo 1, quando comparados com
novembro de 2001 crianças de grupo controle através de testes padronizados.
Material e métodos: Comparamos uma amostra de 81 crianças e adoles-
centes, idade 8-18 anos, de um centre de consultas de endocrinologia, com
um grupo controle randomizado (n = 162), comparados por sexo, idade e ano
de escola. Informações sobres as variáveis clínicas, sociais, familiais, auto-
estima e auto-imagem, saúde e esperanças de mudanças no status de saúde,
bem como as desordens alimentares, foram coletadas. Sintomas de depressão
e ansiedade, comportamento e ajuste psicossocial foram também avaliados.
Resultados: Crianças e adolescentes portadores de diabetes mostraram auto-
estima diminuída e auto-imagem menos valorizada do que o grupo controle.
Nenhuma diferença significativa foi encontrada no status de saúde, nem nas
esperanças de mudanças ou nos sintomas de ansiedade entre os diabéticos e os
controles. Diferenças nos sintomas depressivos ou no ajuste pessoal, social ou
escolar não mostraram relação com o status diabético, Nenhumas desordens
comportamentais significativas foram encontradas entre os grupos.
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 06 (2001) 395

Continuação Conclusões: Crianças e adolescentes portadores de diabetes tipo 1 mos-


tram ajuste psicossocial apropriado e não apresentam níveis mais elevados
de ansiedade ou depressão do que os indivíduos controle. Todavia, eles
mostram auto-estima diminuída.

Willner IR et al., Division of 90 pacientes com esteatose hepática: resistência à insulina,


Gastroenterology and Hepatology, histórico familiar e severidade da doença
Medical University of South Carolina,
Charleston, USA, Am J Objetivo: A esteatose hepática não alcoólica é uma doença comum do
Gastroenterol 2001;96(10):2957-61, fígado mas pouco entendida. Nosso objetivo foi estudar um grupo de pa-
outubro de 2001 cientes de um centro de hepatologia para poder caracterizar esse distúr-
bio, notavelmente suas características demográficas e grau de severida-
de. Procuramos também entender melhor a sua etiologia e as relações
com a síndrome de resistência à insulina, conhecido como síndrome me-
tabólica ou síndrome X.
Métodos: Revisão retrospectiva de 90 pacientes seguidos durante um perí-
odo de 4 anos.
Resultados: 90 pacientes com idade 14-70 anos, portadores de esteatose
hepática não alcoólica foram seguidos na Clínica do Fígado da Faculdade de
Medicina da Universidade do Tennessee. Onze pacientes apresentavam com-
plicações tipo hipertensão portal e sete estavam esperando uma transplanta-
ção. A doença foi encontrada em 9 famílias, seja em irmãos ou em diferentes
gerações. Diabetes ou resistência à insulina eram presentes em quase todos
os pacientes. Diabetes, hiperlipidemia, hipertensão, aterosclerose, síndrome
X, são comuns nessa população.
Conclusão: Esteatose hepática não alcoólica afeta igualmente homens e
mulheres, com grande intervalo de idade, Apesar do que a doença é geral-
mente benigna, 28% dos pacientes apresentaram cirrose e a metade deles
sofreram de complicações tipo hipertensão portal, necessitando uma trans-
plantação de fígado. Obesidade era comum nesses pacientes e a cirrose era
ainda mais freqüentes nos obesos mórbidos. Histórico familiar é comum,
com 18% dos pacientes tendo um parente do primeiro grau com a mesma
doença. As características clínicas que definem a síndrome X (diabetes,
hipertensão, hiperlipidemia e aterosclerose) eram comuns nos pacientes.
As medições da glicose mostraram diabetes não conhecido em 6 pacientes
e resistência à insulina (marca da síndrome X) em 85% das pessoas testa-
das. Nossa hipótese é que a esteatose é uma doença de origem genética e é
a manifestação hepática da síndrome X, síndrome da resistência à insuli-
na.

Liguori A et al., Eur Heart J Efeito do controle glicêmico e idade sobre a suscetibilidade do
2001;22(22):2075-84, LDL à oxidação em diabetes tipo 1
novembro de 2001
Introdução: Apesar do que os pacientes portadores de diabetes apresen-
tam freqüentemente dislipidemias e pressão sanguínea elevada, o risco au-
mentado de doença arterial coronariana não é explicado por esses fatores ou
outros fatores de risco clássicos. Outros fatores menos reconhecidos, tais como
suscetibilidade aumentada do LDL à oxidação, poderiam piorar a disfunção
vascular e a aterogênese em diabetes.
Objetivos: Comparamos taxas e extensão da oxidação do LDL entre 78
indivíduos portadores de diabetes tipo 1, mal controlados, idade 78 anos e
controles não diabéticos. Começamos uma terapia intensiva com insulina
398 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 06 (2001)

Continuação durante 3 meses para determinar o impacto da melhora do controle glicêmico


sobre a composição do LDL e oxidação.
Resultados: Sujeitos diabéticos e não diabéticos não apresentaram dife-
renças significativas no que se refere a peso corporal, dietas, pressão sanguí-
nea, função renal ou níveis de lípides plasmáticos. A composição do LDL foi
similar nos dois grupos. A presença de vitamina E no LDL foi significativa-
mente menor em pacientes diabéticos. Medições da oxidação do LDL, for-
mação de peróxido lipídico e substancias reativas ao ácido tiobarbiturico,
bem como as alteração da proteína do LDL, foram significativamente maio-
res em pacientes diabéticos. Níveis da hiperglicemia foram associados com
cada medição da oxidação lipídica do LDL (intervalo de r 0,60-0,81, P < 0,05
para cada correlação). Após melhora do controle da glicose (diminuição me-
dia de HbA1c de 5,5 unidades), todas as medições da oxidação do LDL me-
lhoraram significativamente e aproximaram-se dos valores medidos em não-
diabéticos. Valores absolutos de oxidação de LDL aumentaram dentre todas
as categorias de idade em diabéticos e indivíduos controle, e esta relação
persistiu após ajuste para as diferenças em concentrações de glicose.
Conclusão: Demonstramos que a hiperglicemia tem um efeito importante,
mas reversível, sobre a oxidação do LDL e que a idade pode aumentar
independentemente a suscetibilidade do LDL à oxidação. Estes efeitos fi-
siopatológicos podem ter um papel importante no desenvolvimento de com-
plicações vasculares e na aterogênese em pacientes diabéticos tipo 1 mal
controlados.

Tupola S et al., Hospital for Children Insulina lispro pós-prandial vs. Insulina humana regular em
and Adolescents, University of crianças diabéticas tipo 1
Helsinki, Helsinki, and Kuopio
University Hospital, Department of Objetivos: Estudar se a insulina lispro pós-prandial (PL) pode ser empre-
Paediatrics, Kuopio, Finland Diabet gada com terapia insulínica ao lugar da insulina humana regular pré-refeição
Med 2001;18(8):654-658, (HR) em crianças portadoras de diabetes tipo 1.
agosto de 2001 Pacientes e métodos: Estudo aberto, randomizado usando PL e HR no
café da manhã e no jantar. Após um mês de rastreamento, os pacientes foram
randomizados para o tratamento PL ou HR de 3 meses e trocaram de insulina
para um novo período de 3 meses. Os pacientes eram 24 crianças portadores
de diabetes tipo 1 (idade média 6,2 anos, duração do diabetes 37 meses).
Monitoramento de 24 horas do perfil glicêmico nas refeições (pré-refeição,
1h e 2h após café da manhã e jantar), e HbA1c foram medidos antes a rando-
mização, antes a troca de tratamento e durante a última consulta. Dados sobre
os episódios de hipoglicemias foram coletados durante cada uma das 7 visi-
tas. As variáveis foram comparadas entre os dois tratamentos.
Resultados: 22 pacientes completaram o estudo. Não foram observadas
diferenças significativas nas excursões da glicose entre PL e HR após o café
da manhã (DP média: 1-h PL 3,7 4,7 vs. HR 2,9 3,9 mmol/l, P = 0,3; 2-h -0,9
5,4 vs. 0,3 4,5 mmol/l, P = 0,2, respectivamente) ou após o jantar (1-h PL -2,5
4,8 vs. HR -0,4 3,7 mmol/l, P = 0,07, 2-h -4,1 5,2 vs. -0,7 5,0 mmol/l, P =
0,05, respectivamente). Alterações médias de HbA1c foram similares nos
dois grupos de tratamento (PL 0,2 0,8% vs. HR -0,4 0,7%, P = 0,1). A fre-
qüência dos episódios de hipoglicemia foi de 4,9 episódios por paciente e por
mês durante o tratamento com PL e 4,4 durante HR (P = 0,3).
Conclusão: Tratamento com lispro pós-prandial como insulina de refeição
é tão eficaz e seguro como o tratamento tradicional com insulina regular
em jovens crianças.
400 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 06 (2001)

Witthaus E et al., Health Economics Satisfação do tratamento e bem-estar psicológico com insulina
Research Group, Aventis Pharma glargina comparada com NPH em diabéticos tipo 1
Deutschland, Frankfurt, Germany,
Department of Biostatistics, Aventis Objetivos: Avaliar a satisfação com tratamento e bem-estar psicológico
Pharma, Laval, Quebec, Canada, and associados à insulina glargina e Neutral Protamine Hagewdorn (NPH). Insu-
Department of Psychology, Royal lina glargina, novo análogo de insulina de longa ação, fornece doses de insu-
Holloway, University of London, lina constante, sem picos, após uma administração diária e é associada a pou-
Egham, UK, Diabet Med cos episódios de hipoglicemia, apesar do controle metabólica equivalente ao
2001;18(8):619-625, agosto de 2001 realizado com insulina humana NPH.
Métodos: Questionários de satisfação e de bem-estar foram completados
no início e nas semanas 8, 20 ou 28 por 517 pacientes portadores de diabetes
tipo 1 participando em um estudo randomizado, controlado, de insulina glar-
gina e NPH.
Resultados: A satisfação com para o tratamento aumentou com insulina
glargina em todos os períodos, incluso no final, mas piorou levemente com
NPH. Essas diferenças foram significativas durante o estudo (mudança do
início até o fim:: +1,27 vs. -0,56; P = 0,0001). Os resultados da insulina
glargina foram melhores para o questionário de satisfação, de freqüência per-
cebida da hiperglicemia e da hipoglicemia, com diferenças estatisticamente
significativas nas semanas 28 e no final para a hiperglicemia (P = 0,0373 e
0,0379) e na semana 20 para hipoglicemia (P = 0,0024). Nenhuma diferença
no bem-estar psicológico foi observada entre os dois grupos de tratamento.
Conclusões: Os participantes do estudo apresentaram melhora do bem es-
tar independente do tratamento. As vantagens da insulina glargina são a
melhora significativa da satisfação com para a tratamento durante o estu-
do, com uma freqüência percebida menor da hiperglicemia do que para os
pacientes tratados com NPH, e sem aumento significativo da freqüência
percebida de hipoglicemia.

Lehtovirta M et al., Department of Efeitos metabólicos da metformina em pacientes com tolerância


Medicine, Helsinki University Hospital, à glicose diminuída
Helsinki, Narpes Primary Health Care
Centre, Narpes and National Public Objetivos: Avaliar o efeito da metformina sobre a sensibilidade à insulina,
Health Institute, Helsinki, Finland, and tolerância à glicose e componentes da síndrome metabólica em pacientes
Department of Endocrinology, Lund com tolerância à glicose diminuída (IGT).
University, Malmo, Sweden Diabet Métodos: 40 parentes no primeiro grau de pacientes portadores de diabe-
Med 2001;18(7):578-583, tes tipo 1 foram randomizados para receber tratamento de metformina 500
julho de 2001 mg/dia ou placebo durante 6 meses. Um teste de tolerância oral à glicose
(OGTT) e clamp euglicêmico hiperinsulinico combinado com calorimetria
indireta foi realizado no início e no sexto mês. Os pacientes foram seguidos
após o fim do tratamento por mais 6 meses e um OGTT foi realizado de novo
no mês 12.
Resultados: O tratamento com metformina resultou em uma melhora de
20% do metabolismo da glicose estimulado por insulina, quando comparado
com placebo. O que foi causado em primeiro lugar por um aumento da oxida-
ção da glicose. Essas mudanças foram associadas com uma melhora mínima
da tolerância à glicose, que foi mantida após 12 meses.
Conclusões: Metformina melhora a sensibilidade à insulina em indivíduos
com tolerância à glicose diminuída, por reversão do ciclo ácido graxo da
glicose. Estudos multicêntricos são necessários para estabelecer se esses
efeitos são suficientes para prevenir a progressão para o diabetes tipo 2 e
as complicações cardiovasculares.
402 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 06 (2001)

E. Cosson et al., 37th Annual Meeting Detecção da estenose coronariana silenciosa em diabéticos: teste
of the European Association for the de exercício de estresse ou cintigrafia miocardíaca ?
Study of Diabetes (EASD), Glasgow,
Reino-Unido, Objetivos: A estenose coronariana silenciosa (CS) é comum em pacientes
9 - 13 de setembro de 2001 diabéticos e associada com mau prognóstico. Os benefícios potenciais do
diagnóstico da CS incluem uma terapia anti-isquêmica e um processo de re-
vascularização precoces. A cintigrafia miocardíaca (MS) é apropriada para
detectar a CS mais é dispendiosa. As associações americanos e francesas de
diabetes recomendam realizar teste ECG (EST) de estresse em primeiro lu-
gar em pacientes diabéticos com fatores de risco cardiovasculares e capazes
de se exercitar. O objetivo deste estudo era de determinar se adicionar MS a
EST é efetivo para detectar mais pacientes portadores de CS silenciosa.
Material e métodos: 400 pacientes diabéticos não sintomáticos com mais
de 1 fator de risco adicional foram recrutados entre 1995 e 2000 para reali-
zar MS após estresse farmacológico (aplicação de dipyridamole) ou, quan-
do capazes de se exercitar, EST máximo (85% da freqüência cardíaca má-
xima) Os pacientes com resultados anormais receberam uma angiografia
coronariana. 262 pacientes que realizarão EST acoplado a MS foram esco-
lhidos para análise.
Resultados: Os pacientes (150 homens, 112 mulheres) apresentavam du-
ração de diabetes (256 tipo 2) de 12,8 ± 7,7 anos e idade 57,6 ± 8,8 anos. Os
resultados do EST (critérios clínicos e elétricos) foram anormais em 54 paci-
entes, inclusos 12 com resultados anormais do exame MS. Destes, 43 foram
submissos a coronarografia, mostrando CS em 18 pacientes. Apesar de resul-
tados normais no EST, resultados anormais no MS foram encontrados em 42
outros pacientes. A coronarografia foi realizada em 33 deles e mostrou CS
em 16 pacientes. O valor preditico doas resultados anormais de EST único (n
= 42), de resultados anormais de MS único (n = 42), ou ambos (n = 12) para
detectar CS foi 34,4%, 48,5% e 63,6%, respectivamente.
Conclusão: Estes achados de nossa coorte sugerem que exames incluindo
EST e MS, ao lugar de EST único, poderia ser teste de primeira linha para
detectar CS silenciosa em diabéticos capazes de se exercitar.

P Dandona et al. Diabetes- Evidência de um efeito antiinflamatório da rosiglitazona em


Endocrinology Center of Western New células mononucleares
York, Kaleida Health and State
University of New York at Buffalo, Objetivo: Já demonstramos recentemente o efeito antiinflamatório da tro-
Buffalo, New Yor, 37th Annual Meeting glitazona, agonista do peroxisome proliferator-activated receptor-γ (PPAR-
of the European Association for the γ), com atividade PPAR. Estamos investigando se existe um efeito similar da
Study of Diabetes (EASD), Glasgow, rosiglitazona, agonista específico do PPAR-γ.
Reino-Unido, Material e métodos: 11 pacientes obesos não-diabéticos receberam rosi-
9 - 13 de setembro de 2001 glitazona 4 mg/dia durante 6 semanas. Amostras de sangue de jejum foram
obtidas nas semanas 0, 1, 2, 4, 6 e 12 (6 semanas depois do fim do tratamen-
to). Produção de espécies de oxigênio reativo (ROS) e expressão da subuni-
dade p47phox da NADPH oxidase foram medidas em células mononucleares
por quemoluminescência e western blotting, respectivamente. Níveis de pro-
teína 1 quemoatratante de monócito (MCP-1) e peptídeos C-reativos (CRP)
foram medidos por ELISA. Fator nuclear B (NF-B) foi medido em extratos
nucleares por electrophoretic ability shift assay (EMSA). O fluxo pós-isquê-
mico medido na dilatação arterial braquial foi medida por ultrasonografia
Hewlett-Packard por métodos padronizados.
Resultados: Os níveis de glicose sanguínea não foram alterados. A reativi-
dade arterial braquial como refletida no fluxo pós-isquêmica aumentou de
4% para 10% (p < 0,01) em 6 semanas. NF-B diminuiu significativamente na
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 06 (2001) 403

Continuação primeira semana e ficou baixa durante 6 semanas. Observamos uma diminui-
ção significativa na geração ROS (em 40% do início até a sexta semana; p <
0,003), diminuição do CRP plasmático em 30% (p < 0,002), MCP-1 em 15%
(p < 0,04) em 6 semanas. Todos os parâmetros voltaram à linha base em 12
semanas.
Conclusões: A rosiglitazona causa uma profunda supressão na produção
de ROS. Este efeito antiinflamatório é refletido no nível celular e molecu-
lar e no plasma. Ela melhora também a reatividade vascular.
Damasceno MMC et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 405~407
Diabetes 405

Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 06 (2001) 405~407

ARTIGO ORIGINAL

Avaliação da acuidade visual de pessoas


que preparam doses de insulina no domicílio
Evaluation of the visual acuity of people
who prepare insulin doses at home

Marta Maria Coelho Damasceno*, Regina Lúcia Lino Marques**, Ana Geyse Gomes da Silva***,
Geordany Rose de Oliveira Viana****, Vanessa Lopes Alves****, Maria Elisabeth Ribeiro da Silva*****,
Virgínia Lany da Silveira*****

Trabalho desenvolvido pelo projeto integrado de pesquisa/CNPq “Cuidando da Saúde do Diabético”


*Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Docente da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, Coordenadora do
projeto, **Enfermeira do Serviço de Endocrinologia e Diabetes do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará, ***Estudante de
Enfermagem, bolsista PIBIC/CNPq, ****Estudante de Enfermagem, bolsista IC/CNPq, *****Estudante de Enfermagem, bolsista voluntária

Resumo
O presente estudo objetivou aferir a acuidade visual das pessoas responsáveis pelo preparo das doses diárias de insulina no domicílio. Os dados
foram coletados no Serviço de Endocrinologia e Diabetes de um hospital universitário localizado em Fortaleza-CE. Foram avaliados 206
sujeitos sendo 158 diabéticos e 48 familiares mediante a utilização da escala de Snellen e de Jaeger que permitiu aferir a acuidade visual para
longe e para perto, respectivamente. Os resultados evidenciaram que 55% dos diabéticos tinham acuidade diminuída para ambas as distâncias
enquanto 6,9% estavam com a acuidade comprometida somente para perto. Quantos aos familiares, 16,7% tinham acuidade diminuída para
longe e para perto e, 12,5% somente para perto. Além disso, constatou-se que 62,65% dos diabéticos e 33,33% dos familiares puseram na
seringa quantidades além ou aquém da prescrição, ao serem solicitados a preparar as doses. Conclui-se que a maioria dos usuários está
susceptível às complicações agudas e crônicas do diabetes e recomenda-se aos profissionais de saúde uma avaliação periódica da acuidade
visual e do preparo de doses de insulina.
Palavras-chave: Acuidade visual, insulina, preparo de doses de insulina.

Abstract
The present study objectified to check people’s visual acuity who prepare daily doses of insulin at home. The data were collected in the
Endocrinology and Diabetes Service of an university hospital located in Fortaleza-Ce-Brazil. It was evaluated 206 subjects being 158 diabetics
and 48 family by means of use of Snellen’s and Jaeger’s scale that allowed to check the resolution acuity for far away and for close, respecti-
vely. The results evidenced that 55% of the diabetics had acuity decreased to both distances while 6,9% were with the acuity only committed
for close. About the relatives, 16,7% had acuity decreased for far away and for close and, 12,5% only for close. Besides it was verified that
62,65% of the diabetics and 33,33% of the relatives put beyond in the syringe amounts or beneath of the prescription, when they were requested
to prepare the doses. It is ended that most of the users is susceptible to the acute and chronic complications of the diabetes and it is recommen-
ded the professionals of health a periodic evaluation of the visual acuity and of the prepare of insulin doses.
Key-Words: Visual acuity, insulin, prepare of insulin doses.

Endereço para correspondência: Profa. Dra. Marta Maria Coelho Damasceno, Universidade Federal do Ceará, Departamento de Enfermagem, rua Alexandre
Baraúna, 1115, Rodolfo Teófilo – 60430-160 Fortaleza - CE, Tel: (85) 288-8464, Fax: 288-8456, e-mail: marttygui@bol.com.br
406 Damasceno MMC et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 405~407

Introdução letra estava posicionada. Testou-se ambos os olhos, um


de cada vez, cobrindo-se com um oclusor o que não es-
Atualmente, o diabetes mellitus é considerado como tava sendo avaliado. Os que usavam óculos foram exa-
uma patologia que vem assumindo proporções epidêmi- minados com e sem eles. O resultado foi registrado em
cas em todo o mundo, com um número crescente de ca- fichas individuais observando-se até onde a pessoa con-
sos novos descobertos a cada ano. seguiu ver sem dificuldade [4].
A condição de portador pode, algumas vezes, reque- A segunda compõe-se de números de 0 a 9 e foi posi-
rer o uso de doses diárias de insulina com a finalidade cionada a 30cm de distância do olho, sendo os demais
de garantir o controle da doença. É justamente para esta procedimentos idênticos ao da escala de Snellen.
clientela que se direciona o presente estudo. Após a realização do teste, solicitou-se aos partici-
Os vários anos de experiência com os diabéticos aten- pantes que preparassem doses de insulina conforme fa-
didos no Hospital Universitário Walter Cantídio da Uni- ziam no domicílio, com o objetivo de observar se a dose
versidade Federal do Ceará, permitiram observar que preparada estava na quantidade correta. Para tanto, o
muitos dos que são responsáveis pelo preparo de suas material necessário foi colocado à disposição.
próprias doses de insulina põem na seringa, quantidades Participaram do estudo 206 pessoas, sendo 158 paci-
além ou aquém do que foi prescrito. Outros, afirmam entes que faziam a auto-aplicação e 48 familiares. Os
não serem capazes de aprender por não conseguirem achados foram analisados estatisticamente, através de
enxergar os números e traços impressos na seringa. Ca- cálculo de freqüência absoluta e relativa, estando apre-
sos idênticos têm sido observados com os familiares que sentados nas tabelas que seguem.
preparam as doses de insulina. Acreditando que tal rea-
lidade pode ter relação com o comprometimento da acui- Resultados e discussão
dade visual, formulou-se a seguinte indagação: como
estaria a acuidade visual dos envolvidos neste procedi- Tabela 1. Distribuição dos diabéticos segundo a avaliação da
mento? acuidade visual.
HUWC-UFC. Fortaleza, setembro de 1998 a julho de 2000.
Objetivo Acuidade visual N° %
Diminuída para perto e longe 87 55,0
Para responder à indagação formulada desenvolveu- Normal 31 19,7
se uma investigação com o seguinte objetivo: Aferir a Diminuída para longe 29 8,4
acuidade visual dos responsáveis pelo preparo das do- Diminuída para perto 11 6,9
Total 158 100,0
ses diárias de insulina, visando a avaliar a capacidade
para executar este procedimento.
Os dados apontam que 87 (55,0%) dos diabéticos têm
acuidade visual diminuída tanto para longe quanto para
Metodologia
perto, enquanto 31 (19,7%) estão dentro do padrão de
normalidade. Como o preparo das doses depende da boa
A pesquisa é exploratória, tendo sido realizada no
acuidade para perto, considerou-se significativo o total
Serviço de Endocrinologia e Diabetes do Hospital Uni-
de 11 (6,9%) pacientes que apresentaram deficiência com
versitário Walter Cantídio da Universidade Federal do
relação a esta distância. Isto, somado aos 87 (55,0%)
Ceará, entre setembro de 1998 e julho de 2000.
que também têm deficiência para perto, perfaz um total
Enquanto os pacientes e familiares aguardavam a con-
de 98, ou seja, 61,9%.
sulta médica, explicava-se a metodologia e os objetivos
do estudo. Somente os que concordassem em participar,
eram encaminhados para o teste da acuidade visual. Tabela 2. Distribuição dos familiares segundo a avaliação da
acuidade visual.
Os dados foram coletados pelas bolsistas de Inicia- HUWC-UFC. Fortaleza, setembro de 1998 a julho de 2000.
ção Científica do Projeto Integrado de Pesquisa/CNPq
“Cuidando da Saúde do Diabético”, as quais receberam Acuidade visual N° %
treinamento prévio acerca da aplicação dos instrumen- Normal 30 62,5
Diminuída para perto e longe 08 16,7
tos. Diminuída para perto 06 12,5
Para a obtenção dos dados utilizou-se as Escalas de Diminuída para longe 04 8,3
Snellen e de Jaeger que permitem aferir a acuidade vi- Total 48 100,0
sual para longe e para perto, respectivamente. A primei-
ra compõe-se de optótipos da letra E em diferentes posi- Na tabela acima pode-se observar que 30 (62,5%) dos
ções. Para a realização do teste a escala foi colocada em familiares avaliados possuem a acuidade visual normal;
sala com iluminação adequada, a 5 m de distância da 8 (16,7%) estão com a acuidade visual diminuída para
pessoa. Em seguida pediu-se para dizer de que lado a perto e longe, e 6 (12,5%) apresentam acuidade diminu-
Damasceno MMC et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 405~407 407

ída para perto. Outra vez chama a atenção o alto percen- Referências
tual dos que tem acuidade diminuída para perto, que
corresponde a 16 (29,2%). 1. Alves Júnior A. Análise da importância da acuidade visual na
detecção precoce da retinopatia no diabético tipo I e sua
correlação angiográfica. Revista Brasileira de Oftalmologia
Conclusão / Comentários finais 1995;54(4).
2. Costa AA, Almeida Neto JS. Manual de diabetes: alimentação,
Embora considerando as limitações das escalas utili- medicamentos, exercícios. São Paulo: Ed. Sarvier, 1992.129p.
zadas, pode-se afirmar que a maioria dos diabéticos que 3. Foster PC, Bennett AM, Dorothea E. Orem. In: GEORGE, J.
estão preparando suas próprias doses de insulina tem B. Teorias de enfermagem. Os fundamentos à prática
profissional. Porto Alegre: Artmed, 2000.375p.
acuidade visual diminuída, sobretudo para perto. E ain- 4. Freitas JAH. Oftalmologia básica. Rio de Janeiro: Colina,
da, que entre os familiares que vem tomando para si esta 1990.
responsabilidade, há um número significativo que está
com a acuidade diminuída para perto.
Neste caso, segundo Foster [3] a habilidade para a
execução daquele procedimento está aquém do neces-
sário o que exige dos profissionais que os assistem, um
método de ajuda, ou seja, guiar e orientar.
Assim, os que se incluíram nos resultados descritos
acima, foram orientados a procurar um oftalmologista
visto que a avaliação da acuidade visual é importante na
detecção precoce da retinopatia no diabético de tipo 1
[1]. Também, orientou-se a delegar para outras pessoas
a responsabilidade pelo preparo das doses. Isto porque a
diminuição da acuidade para perto pode acarretar doses
em quantidade aquém ou além do necessário, deixando
os usuários expostos às complicações agudas ou crôni-
cas características do diabetes mellitus [2].
De fato, observou-se que entre os diabéticos estuda-
dos, 62,65% puseram na seringa quantidade de insulina
aquém ou além do que foi prescrito, tendo o mesmo acon-
tecido com 33,33% dos familiares. Dessa forma, é pos-
sível afirmar que tal achado tem como fator determi-
nante à diminuição da acuidade visual para perto.
Vale acrescentar que não foi estudada uma amostra
maior em virtude de algumas dificuldades encontradas.
Por exemplo, nem sempre o local para realização da
pesquisa estava disponível. Além disso, o medo de per-
der a consulta médica fez com que alguns se recusassem
a participar.
Finalmente, recomenda-se aos profissionais de saúde
responsáveis pela assistência aos diabéticos que avali-
em periodicamente a acuidade visual desta clientela e o
preparo de doses de insulina principalmente no que diz
respeito à dose correta.
408 Castilho LF et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 408~413
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 06 (2001) 408~413

ARTIGO ORIGINAL

A importância da educação multidisciplinar na melhora da qualidade de


vida do portador de diabetes – Experiência da ANAD

Lílian Fanny de Castilho*, Fadlo Fraige Filho**, Maria Salete Barbosa Lima***

*Educadora, Diretora executiva da Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD), **Professor titular de endocrinologia da faculdade de
medicina ABC, Presidente da ANAD, ***Educadora e pedagoga, Secretária Municipal de Educação de São Paulo

Introdução processo educativo, nesse sentido, deve facilitar a aqui-


sição de conhecimentos e proporcionar condições para
O ser humano desde o seu nascimento até sua morte o desenvolvimento de habilidades, para que o tratamen-
vive numa constante interação com o meio ambiente, re- to tenha a eficácia desejada.
cebendo e exercendo influência em suas relações com ele.
Podemos dizer que a educação é toda influência Diagnóstico
que o ser humano recebe do ambiente social durante toda
a sua existência; pressupõe o crescimento pessoal assu- O Diabetes Mellitus é uma doença crônica que exige
mido pelo próprio educando ao tomar consciência de modificações importantes nos hábitos de vida para que a
sua pessoa, de suas aptidões, potencialidades e também glicemia seja mantida o mais próximo possível da norma-
de suas dificuldades e limitações. lidade. O controle inadequado do Diabetes ao longo dos
“Educação” é o comprometimento com o proces- anos representa ameaça à vida do paciente pois favorece a
so de mudança do ser humano; é envolvimento do edu- precocidade e o risco aumentado de doenças coronarianas,
cando numa verdadeira parceria. Implica na maioria das acidentes vasculares cerebrais, retinopatia, nefropatia, in-
vezes, em percepção, conscientização, mudanças de ati- suficiência vascular periférica, neuropatia periférica e au-
tudes, de valores, etc. tonômica e morte prematura, entre outras. O impacto do
Por conseqüência, a Educação em Diabetes é es- Diabetes Mellitus como um sério problema de saúde pú-
sencial ao tratamento da doença: constitui um direito/ blica está no fato de que a maioria das complicações crôni-
dever do paciente e dos responsáveis pela sua saúde. O cas inerentes à doença é altamente incapacitante para a re-

Endereço para correspondência: Lílian Fanny de Castilho, ANAD, Rua Eça de Queiroz, 198, Paraíso 04011-031 São Paulo SP
Tel: (11) 5572-5569, E-mail: anad@anad.org.br
Castilho LF et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 408~413 409

alização das atividades diárias e produtivas, compromete a poderá ser controlado se o paciente tiver orientação se-
qualidade de vida e o tratamento das mesmas é extrema- gura e conhecimentos específicos através de educação
mente oneroso para o sistema de saúde. continuada. O paciente informado terá condições de
Com a convicção de que o processo educativo é uma manter melhor controle de suas taxas glicêmicas, reali-
das formas de propiciar mudanças comportamentais ne- zando testes e outros procedimentos adequados às suas
cessárias ao controle metabólico e melhorar a qualidade necessidades, podendo assim ficar atento às diferentes
de vida das pessoas com Diabetes, a Associação Nacio- variáveis de seu estado. Isto significa, em outras pala-
nal de Assistência ao Diabético (ANAD), nos seus 22 vras, interagir diariamente com sua doença.
anos de existência, tem desenvolvido programas educa- Por outro lado, o profissional atualizado e reciclado
tivos e de atenção aos portadores de Diabetes e familia- estará apto a diagnosticar precocemente o Diabetes, ori-
res, bem como cursos de atualização e reciclagem de entar o paciente quanto à alimentação e exercícios físi-
multiprofissionais que atuam na área de Diabetes. A cos adequados e a desenvolver o seu trabalho com mai-
ANAD atende a uma população de Diabetes tipo 1 e or segurança e eficácia. As mudanças no comportamen-
tipo 2, em todas as idades. to do paciente diabético começam a acontecer quando
Quando pensamos na importância da educação mul- há consciência das variáveis da doença, quando o pro-
tidisciplinar, tendo em vista a melhoria da qualidade de fissional adota a postura de facilitador da aprendiza-
vida do paciente diabético, não podemos nos esquecer gem e quando o processo educativo é direcionado a to-
que o Diabetes é uma doença silenciosa, de instalação das as pessoas envolvidas com o paciente, ou seja, famí-
lenta e progressiva e de conseqüências irreversíveis. Por lia, amigos, profissionais de áreas afins, etc...
ser sorrateira e praticamente assintomática no tipo 2, Assim sendo, a Associação Nacional de Assistência
permite que o indivíduo a desenvolva num período de ao Diabético (ANAD) desenvolveu ao longo desses anos
até dez anos, sem se aperceber dos pequenos sinais de- um projeto educativo como parte de um programa de
latores de sua existência no organismo. Muitas vezes o atenção ao portador de Diabetes e seus familiares, atra-
paciente se dará conta quando as complicações decor- vés de cursos, palestras e vivências, bem como atualiza-
rentes já estiverem instaladas e a qualidade de vida de- ção e reciclagem para os multiprofissionais das áreas
teriorada. afins, visando a melhoria da qualidade de vida. Tem pro-
Este quadro existe tendo em vista a falta de informa- curado reestruturar e aprimorar seu projeto de educação
ção e conhecimento da população em geral, inclusive de em Diabetes no sentido de atender às demandas de paci-
alguns profissionais da Área de Saúde. entes e familiares que buscam melhor controle glicêmi-
co e de profissionais que desejam aprender novas for-
Justificativa mas de assistir e educar estes pacientes, com a finalida-
de de melhorar a qualidade de vida.
Evidências a partir de observações clínicas, epidemi-
ológicas e bioquímicas, demonstradas por dois dos es- Objetivos gerais
tudos prospectivos mais significantes em Diabetes
(DCCT, 1993 e UKPDS, 1998) indicam que a manuten- A – Para pacientes e familiares
ção de parâmetros glicêmicos e da pressão arterial pró-
ximos à normalidade podem reduzir a incidência e a se- - Facilitar a apropriação, criação e reconstrução de
veridade das complicações neuropáticas, macro e mi- novos conhecimentos e desenvolver habilidades, visan-
crovasculares. Os resultados desses estudos salientaram do à melhoria da qualidade de vida do portador de Dia-
a necessidade de expansão de equipes de cuidado à saú- betes, o aumento da força de trabalho, a longevidade e a
de (médicos especialistas, educadores em Diabetes, en- redução dos gastos pessoais e dos serviços de saúde,
tre outros), maior esforço profissional na educação em públicos e privados.
Diabetes, melhor relacionamento entre especialistas e - Desenvolver hábitos para o controle do Diabetes
cuidadores e planejamento de recursos financeiros. visando a prevenção das complicações agudas e crôni-
Tendo em vista que o Diabetes é uma doença univer- cas, através dos pilares do auto-cuidado: - aderência ao
sal, pois atinge a todos indistintamente e sendo que exis- tratamento; - dieta saudável; - atividade física; - socia-
tem portadores em todas as camadas sociais da popula- bilidade e suporte social e emocional necessários para o
ção, desinformados sobre a doença, surgiu a necessida- controle da doença, conforme preceitua a International
de de desenvolver um Projeto de Educação que contem- Diabetes Federation.
plasse o paciente diabético, a população que constitui
grupo de risco para o aparecimento da doença e também B – Para multiprofissionais
o profissional de áreas afins interessado na sua atualiza-
ção e reciclagem. - Propiciar condições para a reciclagem e atualiza-
O Diabetes, quando diagnosticado precocemente, ção dos multiprofissionais das áreas afins, visando o
410 Castilho LF et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 408~413

aprimoramento de seus conhecimentos e de suas rela- - Cirurgiões dentistas, farmacêuticos, enfermeiros, nu-
ções no trabalho, enquanto agentes multiplicadores de tricionistas, psicólogos, pedagogos, profissionais de
ações, resgatando, assim, o valor social de suas profis- atividade física, podólogos, fisioterapeutas, biomédi-
sões, além da aceitação da importância da equipe multi- cos, biólogos, etc.
disciplinar no tratamento do paciente diabético. - Estagiários: de nutrição, de psicologia, de odontolo-
gia, de podologia, de genética e biologia.
Objetivos específicos
Recursos humanos, materiais e financeiros
A – Para pacientes e familiares
- Favorecer o processo de auto-conhecimento do paci- A – Humanos
ente através de atividades que reflitam a realidade e as
experiências vividas, integrando-as aos conhecimen- Estrutura técnica e administrativa
tos adquiridos.
- Propiciar troca de experiências em Diabetes entre pa- · Estrutura técnica – Profissionais de Saúde que atu-
cientes e familiares com a finalidade de estimular a am na orientação e educação dos pacientes:
auto-aceitação e aceitação da família, de modo a tor- - 6 endocrinologistas.
ná-los agentes de sua própria enfermidade. - 3 enfermeiras.
- 2 psicólogas.
B – Para multiprofissionais - 2 profissionais de atividade física.
- Proporcionar condições para que o profissional que - 2 podólogas.
cuida e orienta o portador de Diabetes, se aproprie de - 1 pedagoga.
novos conhecimentos e fortaleça suas relações no tra- - 4 nutricionistas.
balho implementando dessa forma sua atualização pro- - 4 cirurgiões dentistas.
fissional, estando apto, assim, a melhor atender às es- - 14 especialistas (conveniados).
pecificidades do paciente. - Departamento de Odontologia (DOANAD).
- Promover entre os profissionais da área da saúde, - Departamento de Nutrição (DNA).
momentos de reflexão crítica sob sua prática cotidia- - Departamento de Podologia (DEPOD).
na e suas relações interpessoais, possibilitando, assim, - Departamento de Psicologia (DEPS).
uma melhoria na qualidade do serviço prestado. - Centro de Atividade física (CEPAFIDIA).
- 12 entidades (conveniadas).
C – Inter-relação pacientes x multiprofissionais - 9 laboratórios de análises clínicas (conveniados).
- Propiciar oportunidades de integração entre pacientes - Estagiárias de Nutrição, Psicologia, Genética, Odon-
e profissionais com a finalidade de aumentar a confi- tologia.
ança mútua e facilitar a aderência ao tratamento.
- Estimular entre pacientes e profissionais uma relação · Estrutura administrativa (Organograma - Anexo 1)
de respeito e consideração, enquanto seres que se re- - Presidente.
lacionam, ainda que de modos diferentes quanto a in- - Diretoria eleita.
tensidade e profundidade. - Conselho consultivo.
- Promover a interação paciente x profissional com o - Diretoria executiva.
objetivo de desenvolver a conscientização e aceitação - Funcionários administrativos (dez).
da doença e propiciar, mudança de hábitos de vida e - Conselho de voluntários.
melhor controle metabólico.
· Estrutura de apoio aos eventos
Cobertura (público alvo) - Funcionários da área administrativa.
- Multiprofissionais.
A – Pacientes - Estagiários.
- 12 mil associados (Diabetes tipo 1 e tipo 2), sendo 5 - Voluntários.
mil ativos, além dos familiares que participam das ati- - Contratados.
vidades educativas.
B – Materiais
B – Multiprofissionais (de todo o Brasil) - Salas disponíveis para atendimento ao público em ge-
- Médicos: endocrinologistas, clínicos, cardiologistas, ral e a pacientes individualmente.
dermatologistas, oftalmologistas, andrologistas, nefro- - Salas para exposição, palestras, vivências e cursos.
logistas, vasculares, psiquiatras, otorrinolaringologis- - Sala administrativa.
tas, etc. - Bazar.
Castilho LF et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 408~413 411

- Laboratório para detecção de glicemia, colesterol, tri- · Campanhas populacionais de detecção de Diabetes,
glicérides, aferição de pressão arterial. educação, orientação e encaminhamento.
- Cozinha. · Avaliação dos pés.
- Área para atividade física. · Avaliação dos dentes.
- Recursos audiovisuais e aparelhos eletrônicos. · Avaliação nutricional.
- Mural, flipchart. · Avaliação dos olhos.
- Publicações: cartazes, folders, jornal. · Aferição da pressão arterial.
- Mobiliário.
B – Educacionais
C – Financeiros
B1 - Direcionados ao portador de Diabetes:
C1 – Fontes de financiamento - Palestras formais semanais com multiprofissionais.
Não há. - Grupos diários: Nutrição, Psicologia, Expressão cor-
C2 – Fontes de recursos poral.
- Doações de Laboratórios farmacêuticos e de particu- - Atendimento de sala de espera – Nutricionista, Enfer-
lares. meira, Psicóloga, Genética.
- Contribuição dos associados. - Grupo de convivência – Orientação nutricional.
- Recursos provenientes de atividades externas (cam- - Grupo de convivência – Orientação psicológica.
panhas em empresas). - Grupo de convivência – Orientação odontológica.
- Congressos promovidos pela ANAD. - Dia de vivência.
- Parcerias. - Curso de culinária.
- Permutas. - Demonstração de novos produtos.
- Vendas de produtos. - Aprovação de alimentos para o consumo.
- Veículo informativo e educativo – Jornal “ANAD In-
Estratégias (atividades assistenciais e educacionais) forma”.
- Grupo de auto-conhecimento e relaxamento.
A – Assistenciais - Caminhada no Parque.
- Consciência corporal.
A1 – Direcionadas ao portador de Diabetes - Entrevistas e consultas educativas.
· Consultas diárias e individuais com: - Vídeos e palestras, demonstrações, atividades de sen-
- Médicos. sibilização, grupos de discussão, dinâmica de grupo,
- Nutricionistas. dramatizações, estudo de caso, jogos, etc.
- Psicólogos. - Divulgação interna das atividades e benefícios.
- Dentistas. - Divulgação na mídia escrita e falada para atrair novos
- Podólogos. associados.
· Atendimentos de sala de espera em grupo ou indivi- - Divulgação no jornal “ANAD Informa” para que os
duais, através de profissionais e estagiários associados participem das atividades.
· Encaminhamento para médicos especialistas (das com- - Site na Internet.
plicações): - E-mail – Tirando Dúvidas.
- Neurologista.
- Oftalmologista. B2 - Direcionados aos Multiprofissionais
- Cardiologista. - Reunião Mensal – discussão de casos clínicos
- Dermatologista. - Cursos de capacitação de:
- Otorrinolaringologista. 1.Enfermagem.
- Ginecologista. 2.Atividades Físicas (CEPAFIDIA).
- Andrologista. 3.Odontologia (DOANAD).
- Vascular. - Eventos de Atualização - Congresso Brasileiro Multi-
- Nefrologista. profissional em Diabetes (anual).
- Psiquiatra. - Palestras de atualização e reciclagem para médicos clí-
- Cirurgião Dentista. nicos e cardiologistas (em todo o Brasil).
· Encaminhamento para Laboratórios de Análises Clí- - Seminários, palestras, encontros, grupos de estudos e
nicas vivência.
· Doações de Insulina, Antidiabéticos Orais, Seringas, - Divulgação específica na Revista Diabetes Clínica.
Tiras Reagentes, Glicosímetros, Produtos Diet e Ou- - Divulgação em publicações especializadas de Socie-
tros Medicamentos dades, Conselhos e afins.
412 Castilho LF et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 408~413

- Site na Internet. Levantamento de recursos próprios com doações e par-


- E-mail – Troca de experiência – Informação. cerias para suprir a ausência de verbas governamen-
- Mala direta. tais ou de entidade mantenedora.
- Cartazes.
- Divulgação em hospitais, ambulatórios, centros de saú- Principais conquistas
des, laboratórios de análises clínicas, faculdades e es-
colas de nível técnico. - Demonstração de satisfação.
- Divulgação na imprensa escrita, falada e televisiva. - Crescimento do número de associados.
- Assiduidade.
- Freqüência às atividades.
Principais obstáculos - Confiança no trabalho da associação.
- Aderência ao tratamento.
- Espaço físico limitado. - Modificação de hábitos de vida.
- Falta de recursos financeiros. - Alimentação equilibrada.
- Ausência de entidades mantenedoras. - Diminuição do sedentarismo.
- Falta de verbas governamentais. - Melhora na sociabilidade.
- Auto-aceitação.
Os obstáculos estão sendo vencidos através de aquisi- - Melhora da auto-estima.
ção de sede própria e conseqüente ampliação do espa- - Melhor adaptação a sua condição de portador de Dia-
ço físico. betes e ao tratamento.

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em arquivo anexo -
SAUDEEMOVIMENTO
anexo em filme
Castilho LF et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 408~413 413

Avaliação técn ica da eficácia do projeto - AJS 10% 9,2% -0,8%


Mostragem de uma ação SML 9,6% 10,8% +1,2%
CHA 7,8% 8,2% +0,4%
PCS 8,9% 8,8% -0,1%
A - Na ANAD a avaliação é também realizada através GH 10,8% 10,24% -0,56%
de: HSD 7,0% 6,2% -0,8%
- Observação diária. MS 10,2% 9,8% -0,4%
- Relatórios anuais. THB 6,8% 6,8% ———-
BG 8,2% 7,9% -0,3%
- Auto-avaliação. MD 9,6% 9,2% -0,4%
- Testes e questionários. ZM 10,2% 8,7% -1,5%
Tendo a população assistida apresentando resultados tais NL 8,2% 7,0% -1,2%
como: GMS 9,1% 9,0% -0,1%
JLG 7,8% 6,2% -1,6%
- Melhora na auto-aceitação. LM 5,6% 5,2% -0,4%
- Melhora da auto-estima. JS 8,6% 9,2% +0,6%
- Maior aderência ao tratamento. MS 9,8% 9,4% -0,4%
- Desenvolvimento de condutas sociais desejáveis. JPL 10,2% 9,9% -0,3%
- Mudança nos hábitos de vida. PM 7,2% 6,8% -0,4%
LMF 6,8% 6,8% ———-
- Aceitação de novas condutas. NPH 9,2% 8,7% -0,5%
- Desenvolvimento de habilidades: FJL 14,4% 6,4% -8%
· Aplicação de Insulina. APC 10% 7,5% -2,5%
· Preparação de seu próprio alimento diet. Média 277,8% 254,6% 23,2%
· Decisão sobre a dieta.
· Uso de equipamentos. Como a experiência do projeto pode beneficiar ou-
· Adequação de doses de medicação. tras profissões similares

B - Dados em percentagem da redução de glicemias pós- - Através de parcerias com a iniciativa privada e
prandiais em relação às de jejum em pacientes que órgãos governamentais.
participaram dos dias de vivência e conscientizados - Através de abertura de canais de comunicação com
da importância da dieta, da medicação, atividades fí- empresas e profissionais que desenvolvam projetos si-
sicas e sociabilidade: milares, via internet.
Em fevereiro .................................................. redução de 50,00%
Em março ....................................................... redução de 57,84%
Em abril ......................................................... redução de 38,00%
Agradecimentos
Em maio ......................................................... redução de 40,00%
Em junho ....................................................... redução de 53,84% Agradecemos especialmente Ada Verônica da Silva
Em julho ......................................................... redução de 43,75% Maciel – Psicóloga, Profa. Dra. Sonia A. A. Grossi –
Média Total ................................................. redução de 48,32% Enfermeira, Paula Maria de Pascali – Enfermeira, Ana
Miriam Gebara Carboni – Cirurgia Dentista, Erica Cris-
C - Num estudo de grupo de pacientes foram realiza- tina da Silva Lopes – Nutricionista, Lucinete Regina de
dos testes de Hemoglobina Glicosilada (HbA1c) entre Souza – Nutricionista e todas as pessoas que direta ou
outros, e após três meses envolvidos num processo edu- indiretamente contribuíram para o desenvolvimento deste
cativo apresentam o resultado abaixo. A 3ª Coluna refe- projeto.
re-se a diferença entre os resultados (em %). O valor de
Referência usado foi: 7,2% - 5,6% Referências

1. Diabetes Clínica – Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das


Método – Anti Corpo Monoclonal / Inibição de Aglutinação de patologias associadas – Edição completa 1999 Volume 3 –
Látex Atlântica Editora / FENAD.
Resultados de exames 2. Diabetes Control Complications Trials – (DCCT). New Engl J
Pacientes Agosto Novembro Diferença Med 1993;329:977–986.
GMU 12,4% 10,8% -1,6% 3. United Kingdom Prospective Diabetes Study Group Macrov
and Microv Complication in type 2 diabetes – (UKPDS)
APEF 11% 11% ———
1998. Diabetes Clínica 2000;4:119-126
PAZ 8,9% 8,2% -0,7
MAS 12,4% 10,8% -1,6%
ZPS 7,2% 7,2% ———
AMS 9,2% 8,7% -0,5%
PPL 10,7% 10% -0,7%
414 Gamba MA et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 414~418
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 06 (2001) 414~418

ARTIGO ORIGINAL

A magnitude das alterações cutâneas, neurológicas, vasculares de


extremidades inferiores de pessoas com diagnóstico de diabetes mellitus –
Campanha de detecção e educação da ANAD

Mônica Antar Gamba*, Odete de Oliveira*, Fadlo Fraige Filho**, Cleide Martinez***, Márcia Yuriko
Kajita****
*Enfermeira Professora Doutora do Departamento de Enfermagem da UNIFESP-EPM, **Professor titular de Endocrinologia da FMABC- Presidente da
FENAD e ANAD, ***Podóloga da Associação Nacional de Assistência ao Diabético ANAD, ****Aluna de Graduação do Curso de Enfermagem da
UNIFESP-EPM

Resumo
O diabetes mellitus (DM) tem assumido importante destaque no cenário nacional identificado pela alta prevalência que atinge aproximadamen-
te, cinco milhões de brasileiros, entre 30 a 69 anos, estimativas atuais demonstram que esta cifra já duplicou. É relevante considerar que o
mesmo estudo revela que cinqüenta por cento desta população desconhece o diagnóstico evidenciando a possibilidade da ocorrência das
complicações crônicas precederem o diagnóstico clínico da doença. As campanhas de orientação e detecção do DM podem efetivamente
contribuir para a prevenção e diagnóstico precoce da doença, bem como propiciar a avaliação dos hábitos de vida, do controle glicêmico, das
alterações dermatológicas, neurológicas, vasculares, dos cuidados com os pés e o uso de órteses e calçados adequados. Um estudo observaci-
onal do tipo descritivo realizado por meio de um inquérito populacional, analisou indivíduos com valores de glicemia capilar superiores a 126
mg/dl e os previamente diagnosticados segundo variáveis sociodemográficas, de hábitos de vida e clínicas, tais como: conhecimento prévio do
DM, hábitos de fumar, presença da hipertensão arterial e tratamento dela e evidências clínicas da alteração da sensação protetora com a
utilização do teste do monofilamento de Semmes-Weinstein (5.07), de sinais simples da vasculopatia periférica pela simples palpação dos
pulsos distais, alterações dermato-podológicas (onicriptose, onimicose, micose interdigital), além da presença de deformidades, de feridas de
extremidades inferiores e da inadequação de órteses e calçados. De 229 pacientes avaliados, 55,9% eram do sexo masculino e 44,1% do sexo
feminino, 24% desconheciam o diagnóstico do diabetes e dos previamente diagnosticados 17,3% não realizavam nenhum tipo de tratamento
para o diabetes. Em relação as variáveis demográficas os resultados não diferem do estudo EMDM. Quanto aos hábitos deletérios de vida como
o hábito de fumar foi possível observar que 17% eram tabagistas por aproximadamente 30 anos. A hipertensão arterial, importante fator de
risco para as complicações macrocirculatórias, estava presente em 41% da população investigada e 11% também não tratavam dela. A avalia-
ção sumária dos sinais clínicos das extremidades inferiores demonstrou que 25% não perceberam o monofilamento 5.07, 18% não apresentou
pulsos periféricos palpáveis e aproximadamente 70% apresentava onimicose, 38% algum tipo de lesão plantar especialmente, a hiperqueratose,
50% já apresentava algum tipo de deformidade nos pés e 30% tinham completa inadequação de órteses. Todos estes achados demonstram a
necessidade premente do diagnóstico e tratamento precoce do diabetes mellitus, bem como, da efetiva educação em saúde realizada por equipe
multiprofissional cujo, escopo deve ser o de prevenir as complicações crônicas ocasionadas pelo mau controle glicêmico.

Endereço para correspondência: Mônica Antar Gamba - UNIFESP - Depto de Enfermagem - Rua Napoleão de Barros, 754 - Vl. Clementino - CEP 04012-000
- São Paulo - SP - Tel.: (11) 9916-0767 - e-mail: ruimo@aol.com
Gamba MA et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 414~418 415

Introdução 1 - Variáveis investigadas

O Diabetes Mellitus (DM) tem se destacado como im- Sociodemográficas


portante problema de Saúde Pública nacional e mundial- a) Sexo;
mente, devido ao impacto epidemiológico que produz evi- b) Cor: foram utilizados os critérios do Instituto Bra-
denciado pelas crescentes taxas de morbidade e mortalida- sileiro de Geografia e Estatística [6]: branca, negra,
de e, principalmente, pelas complicações que provoca [1]. amarela e parda;
É importante destacar que a evolução crônica, o di- c) Idade: foram agrupadas nas seguintes categorias:
agnóstico tardio da doença, a falta de acesso aos servi- inferior a 40 anos, 40 a 49 anos, 50 a 59 anos, 60 a 69
ços de saúde e de informações básicas sobre a doença, a anos e com 70 anos e mais;
não-aderência ao tratamento, entre outros fatores, deter- d) Escolaridade: foi utilizado a classificação do Cen-
minam elevados índices de glicemia que, associados a so Demográfico, apresentada pelo IBGE 1997, ou seja,
fatores genéticos e influências ambientais favorecem o indivíduos sem escolaridade ou analfabetos e aqueles
aparecimento das complicações crônicas no diabetes que tivessem cursando o primeiro, segundo ou terceiro
mellitus, tais como: macroangiopatia, microangiopatia grau (incompleto ou completo). Para a análise, a variá-
e/ou neuropatia as quais, na maioria das vezes, provo- vel foi categorizada em: indivíduos sem escolaridade ou
cam incapacidades irreversíveis e limitam a vida de seus analfabetos, com um até sete anos de estudo e com oito
portadores [2]. ou mais anos de estudo.
O atendimento ao adulto e idoso com diagnóstico de
diabetes mellitus e com complicações crônicas decor- Hábito de vida
rentes do mau controle metabólico remete ao desejo de a) Tabagismo: nunca; fumante (foi considerado aque-
identificar aspectos intervenientes e que possam efeti- le indivíduo que fumava no passado e continua fuman-
vamente colaborar na prevenção e tratamento dessas do no presente); ex-fumante.
manifestações, propondo medidas e ações de saúde que
garantam os pressupostos da reforma sanitária, ou seja, Variáveis clínicas
do direito de assistência à saúde integral e de qualidade, a) Tratamento terapêutico do DM;
com legitimidade das políticas sociais e de saúde [2]. b) Presença da hipertensão arterial (HA) e tratamen-
As campanhas de orientação e detecção do DM po- to dela;
dem efetivamente contribuir para a detecção e diagnós- c) Avaliação da alteração da sensação protetora pelo
tico precoce da doença, bem como propiciar a avaliação monofilamento de Semmes-Weinstein (5.07) e pela ava-
dos hábitos de vida, do controle glicêmico, das altera- liação do estímulo vibratório com o diapasão 128 Hz;
ções dermatológicas, neurológicas, vasculares, do uso d) Avaliação da presença dos pulsos periféricos (pe-
de órteses e calçados. dioso e tibial posterior) por meio da palpação;
e) Avaliação das alterações dermato-podológicas
Objetivo como: micoses interdigitais, onicomicoses, hiperquera-
tose plantar e presença de feridas;
Este trabalho teve por objetivo: f) Problemas ortopédicos como: deformidades e ina-
dequação de órteses e calçados.
· Identificar alterações nas extremidades inferiores
que caracterizem “pé em risco” de pessoas que compa- 2 - População de estudo
receram a uma Campanha de Detecção do DM.
Foram observados 229 pessoas que compareceram a
Metodologia Campanha de “Detecção do Diabetes Mellitus” realiza-
do pela Associação Nacional de Assistência ao Diabéti-
Este é um estudo observacional do tipo descritivo. co no ano de 2000.
Durante a “Campanha de Detecção e Educação do Dia-
betes Mellitus” realizada pela Associação Nacional de Resultados
Assistência ao Diabético (ANAD), foi realizado um in-
quérito populacional e os indivíduos com valores de gli- Características sociodemográficas
cemia capilar superiores a 126 mg/dl ou pessoas com Como descrito anteriormente, foram observados 229
diagnóstico de diabetes mellitus com tratamento tera- pessoas com DM. Quanto ao sexo verificou-se que
pêutico irregular foram examinadas quanto à presença 55,9% da população investigada pertencia ao sexo mas-
de alterações cutâneas, neurológicas e vasculares de ex- culino e 44,1% ao sexo feminino. Quanto à idade 8%
tremidades inferiores, segundo variáveis sociodemográ- do grupo investigado apresentava idade inferior a 40
ficas, hábitos de vida e clínicas [3-5] (Anexo). anos, 17% entre 40 a 49 anos, 29% entre 50 a 59 anos,
416 Gamba MA et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 414~418

30% entre 60 a 69 anos e 16% para pessoas com 70 Gráfico 3: Distribuição percentual de pessoas com DM segundo
anos e mais (Gráfico 1). escolaridade (em anos), município de São Paulo, 2000.

Gráfico 1: Distribuição percentual de pessoas com DM segundo


idade, município de São Paulo, 2000.

Hábitos de vida

Quanto ao hábito de fumar verificou-se que a grande


maioria, 65% das pessoas investigadas não era fumante,
16% era fumante por aproximadamente 30 anos e 19%
diziam-se ex-fumantes.

Variáveis clínicas
Em relação à cor, uma maior proporção de brancos
(61%) foi observado quando comparados a negros Das 229 pessoas investigadas, verificou-se que 76%
(12%), pardos (22%) e amarelos (5%) (Gráfico 2). conheciam sua condição clínica e 24% desconheciam o
diagnóstico da doença (Gráfico 4). Dos previamente di-
agnosticados 17% não realizavam qualquer tipo de tra-
Gráfico 2: Distribuição percentual das pessoas com DM segundo tamento para o DM e 83% realizavam algum tipo de
cor, município de São Paulo, 2000. tratamento (dietoterapia associados ou não a antidiabé-
ticos orais, insulinoterapia, exercícios físicos, combina-
dos entre outros). Da população investigada observou-
se que 41% apresentava diagnóstico de hipertensão ar-
terial e 11% não tratava dela.

Gráfico 4: Percentagem de pessoas com DM segundo conhecimento


do diagnóstico da doença, município de São Paulo, 2000.

Quanto à escolaridade verificou-se que a grande mai-


oria das pessoas tem nível elementar de formação, ou
seja, 6% sem escolaridade, 59% com primeiro grau in-
completo e 35% com oito e mais anos de escolaridade
(Gráfico 3), sendo um dos indicativos que fundamental-
mente está associado aos determinantes do processo saú-
de-doença, pela influência que exerce direta ou indire-
tamente no acesso aos serviços de saúde, no grau de in- Quanto à avaliação das alterações de extremidades
formação sobre a doença e nas medidas disponíveis para inferiores de pessoas com DM segundo a classificação
a prevenção de suas complicações [2]. de Wagner [3], metade da população investigada foi clas-
sificada como grau 1 e a outra metade grau 2.
Gamba MA et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 414~418 417

Na avaliação geral foram observadas alterações da saúde, hiperglicemia. Tais fatores contribuem para a eti-
sensibilidade protetora em 25% das pessoas pois as mes- ologia dos “pés insensíveis” e isquêmicos, com defor-
mas não perceberam o estímulo do monofilamento de midades, vulneráveis a infecções manifestadas pelas ul-
Semmes-Weinstein- 5.07 e 18% não respondeu ao estí- cerações cutâneas, e o temível desfecho clínico denomi-
mulo vibratório com o diapasão 128Hz. nado “pé diabético”. A maior parte dos aspectos relaci-
Quanto à avaliação dermato-podológicas verificou- onados pode ser evitados com a simples provisão de
se que 70% da população investigada apresentava al- cuidados adequados à saúde [7-10,2].
gum tipo de alteração como: onicomicose, micose inter- O aparecimento concomitante da retinopatia e nefro-
digital, hiperqueratose plantar, anidrose, omicriptoses e patia diabética, responsáveis pelas alterações visuais, ede-
feridas. ma generalizado e outros comprometimentos clínicos,
Na avaliação vascular observou-se que 18% das pes- impõe limitações para que as pessoas com diabetes reali-
soas investigadas apresentavam alguma alteração clíni- zem o autocontrole, tratamento e cuidados com os pés,
ca durante a palpação dos pulsos periféricos. ações fundamentais para a prevenção da formação do “pé
Quanto às alterações ortopédicas, 50% das pessoas em risco” e, conseqüentemente, das amputações. Tal fato
analisadas, apresentavam alguma deformidade nos pés aponta para a necessidade do rastreamento criterioso des-
e 30% estavam utilizando calçados completamente ina- sas pessoas, que são os mais expostos ao risco de ulcera-
dequados (Gráfico 6). ção cutânea de extremidades inferiores. Para isso, podem
ser implementados programas de prevenção e controle
Discussão do diabetes, que enfatizem a educação, assistência com
realização do diagnóstico precoce, tratamento e cuidados
Inúmeras variáveis participam da etiologia do Diabe- especiais para as complicações crônicas [4,7,11,9,12,13,2].
tes Mellitus e de suas complicações crônicas. Algumas
são descritas na literatura como fatores de risco para as
amputações de extremidades inferiores e podem ser en- Classificação das lesões segundo Wagner
tendidas como características sóciodemograficas, am- Grau 0: sem ulceração em pé de alto risco
bientais, genéticas, falta ao acesso aos serviços de saúde Grau 1: úlcera superficial
(ou pela ineficácia da política de saúde, que não garante
eqüidade ao tratamento e educação em diabetes), idade Grau 2: úlcera profunda, atingindo tendão,
avançada, duração da doença, hábitos de deletérios à articulação e/ou osso.
Grau 3: osteomielite ou abcesso profundo
Grau 4: Gangrena localizada
Gráfico 6: Percentagem de pessoas com DM segundo hábitos de
vida e variáveis clínicas, município de São Paulo, 2000.
Grau 5: Gangrena profunda
418 Gamba MA et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 414~418

Um dos aspectos fundamentais na assistência à pes- Referências


soa com diabetes é a avaliação dos sinais e sintomas
precoces das complicações crônicas. Infelizmente, no 1. Ministério da Saúde. Coordenação de Doenças Crônico-
Brasil, muitos serviços de saúde ainda não realizam, com Degenerativas. Estudo multicêntrico sobre a prevalência do
diabetes mellitus no Brasil resultados. Brasília (DF); 1986.
regularidade, procedimentos simples, como descalçar os p.1-32.
sapatos, examinar os pés e ainda, com menor freqüên- 2. Gamba MA. Amputações por diabetes mellitus: uma prática
cia, é observada a realização de exames clínicos nas ex- prevenível? Um estudo caso-controle. São Paulo, 2001. [Tese
tremidades inferiores para a detecção da polineuropatia de Doutorado – Faculdade de Saúde Pública da USP].
simétrica distal e vasculopatia periférica segundo reco- 3. Calhoun JH, Cantrel J, Cobos J, Lacy J, Valdez RR et al.
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mendações internacionais [14,15,2]. therapy, and outcome. Foot Ankle 1988; 9:101-6.
4. Pecoraro RE, Reiber GE, Burgess EM. Pathways to diabetic
Conclusão limb amputation. Diabetes Care 1990a;13:513-21.
5. Birke JA, Novick A, Hawhins ES. A review of causes of foot
Portanto, os resultados obtidos em consonância com ulceration in patients with diabetes mellitus. JPO: J Pract
Orthod 1994;13-22.
estudos de impacto populacional corroboram apontan- 6. Fundação IBGE. Contagem da população. Rio de Janeiro:
do que: CDDI/IBGE; 1997. V.1
• Uma grande proporção das pessoas com diabetes 7. Reiber GE, Pecoraro RE, Koepsell TD. Risk factors for
desconhecem sua condição o que demonstra a impor- amputation in patients with diabetes mellitus: a case-control
tância da cobertura de grupos de risco principalmente study. Ann Intern Med 1992;117: 97-105.
8. The Lower Extremity Amputation: Study Group. Comparing
os intolerantes à glicose (IGT) e a importância do diag- the incidence of lower extremity amputations across the
nóstico precoce do diabetes mellitus [16]; world: the Global Lower Extremity Amputation Study. Diabet
• As alterações nas extremidades inferiores podem e Med 1995;12:14-8.
devem ser avaliadas em campanhas nacionais de aten- 9. Spichler ERS, Spichler D, Lessa I, Forti AC, Franco LJ, Porte
ção à pessoa com diabetes. Ë fundamental a incorpora- RLA. Diabetes mellitus and lower extremity amputations
(1990-1996) in Rio de Janeiro, Brazil, Diabetologia 1998;
ção dos princípios da transdisciplinaridade visando pro- 41(S1):I-VI.
mover a educação em saúde na área do diabetes melli- 10. Moss SE, Klein R, Klein BE. The 14-year incidence of lower-
tus; extremity amputations in a diabetic population. The Wiscosin
• As ações de educação em saúde na área realizada Epidemiologic Study of Diabetic Retinopathy. Diabetes Care
por meio de consulta médica, atendimentos e consultas 1999;22:951-9.
11. Rivera ARF. Risk factors for amputation in diabetic patients: a
de enfermagem, grupos educativos, visitas domiciliares case-control study. Arch Med Res 1998;29:179-84.
e programas de orientação sobre o DM e suas complica- 12. Gamba MA. Cuidado de enfermagem: uma prática de saúde
ções têm se identificado como uma atitude que contri- coletiva. Acta Paul Enf 1998a;11 (no esp.): 64-6.
bui para melhor aderência ao tratamento clínico e, con- 13. Gamba MA. Amputações por diabetes mellitus: uma prática
seqüentemente, como uma ação de prevenção contra o prevenível? Acta Paul Enf 1998b;11:92-100.
14. Consensus statement: Report and recommendations of the San
aparecimento das complicações crônicas, em especial, Antonio Conference on diabetic neuropathy. San Antonio
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15. Weitz JI et al. Diagnosis and treatment of chronic arterial
insufficiency of the lower extremities: a critical review.
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Degenerativas Manual de diabetes. Brasília (DF);1994.
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19. Oliveira O de. Impacto do processo de educação em saúde no
controle do diabetes em adolescentes. São Paulo, 1999. [Tese
de Doutorado – Departamento de Enfermagem da UNIFESP-
EPM].
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Diabetes 419

Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 06 (2001) 419~423

REVISÃO

O farelo de arroz como alimento com propriedades funcionais


Rice bran as a food with functional properties
Rita de Cássia de Carvalho*, Rosa Nilda Mazzill**, Ney Rodriguez Junior***

*Mestre em Saúde Pública, opção Nutrição, **Professora Doutora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo, ***Mestre em Saúde Pública, opção Nutrição

Resumo
Realizou-se análise dos estudos relacionados ao uso do farelo de arroz na alimentação de humanos e animais, encontrados na literatura mundial
entre 1970 e 1998. O farelo é um subproduto do beneficiamento do arroz e é empregado tradicionalmente, em nosso meio, na alimentação de
animais, entre os quais o gado. Os trabalhos levantados permitem a observação de um razoável consenso a respeito das vantagens de seu uso em
doenças crônico-degenerativas, principalmente como fator de controle dos níveis de colesterol, podendo apresentar benefícios também na
urolitíase, diabetes e constipação intestinal, devido a seus nutrientes e propriedades funcionais.
Palavras-chave: Farelo de arroz, valor nutritivo, propriedades funcionais.

Abstract
An analysis of studies on the usage of rice bran for the feeding of humans and animals for the period of 1970 to 1998 was made. Rice bran is an
underproduct of milled rice, and it is traditionally used for feeding animals, among which livestock. The works that have been researched allow
the observation of a reasonable agreement about the advantages of its use in chronic-degenerative diseases, especially as a controlling factor of
cholesterol levels, being able also to cause benefits in urolitiasis, diabetes and intestinal constipation, due to its nutrients and functional
properties.
Key words: Rice bran, nutritive value, functional properties.

Endereço para correspondência: Rita de Cássia de Carvalho, Rua Custódio Serrão, 799, casa 5B, Vila Jaguará 05116-011 São Paulo – SP, Tel: (11) 3625-0216
420 Carvalho RC et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 419~423

Introdução peito a “mudanças seculares em padrões nutricionais que


resultam de modificações na estrutura da dieta dos indi-
A alimentação é uma necessidade básica do homem, víduos e que se relacionam com mudanças econômicas,
porém é essencial que seja adequada para manter a vida, sociais, demográficas e relacionadas à saúde”. Consta-
garantindo o crescimento, a reprodução e a saúde. ta-se, assim, a tendência de reduzir a ingestão de carboi-
O arroz é a base da dieta de mais da metade da popu- dratos complexos pela diminuição do consumo de cere-
lação mundial. Na China, há registros de seu cultivo ais, leguminosas e tubérculos, substituir os carboidratos
desde o século XXVII aC. No Oriente, é símbolo de vida por lipídeos, e aumentar o consumo de proteínas ani-
e fertilidade. É, provavelmente, originário do norte da mais e de açúcar, como ocorreu nos países desenvolvi-
Índia ou do sul da China e está sendo cultivado princi- dos, aspectos estes que podem ser alguns dos fatores
palmente na Ásia, além de em outros continentes. associados à maior incidência da obesidade e de dife-
Atualmente, o arroz polido (ou arroz branco) é o mais rentes doenças crônico-degenerativas [3].
utilizado, consumido por mais de dois bilhões de pesso- A seguir mostraremos as principais conclusões dos
as em todo o mundo. Em alguns países do Oriente, o estudos encontrados sobre o farelo de arroz mediante
consumo per capita de arroz é de 90 a 180 kg por ano. revisão bibliográfica realizada a partir de 1970.
No Brasil, segundo estudo multicêntrico sobre consu-
mo de alimentos realizado em 1996, constatou-se que o Material e métodos
consumo médio per capita variou de 106 a 218 g por
dia, dependendo da região, o que significou de 39 a 80 O estudo foi realizado mediante revisão bibliográfica
kg per capita naquele ano. e pesquisa documental no período de 1970 a 1998. Fo-
O arroz polido é o produto resultante do beneficia- ram feitos também contatos com pesquisadores e insti-
mento do arroz integral, durante o qual perde o gérmen tuições que utilizam o farelo através da Internet.
e as camadas externas e com elas parte do seu valor nu-
tritivo, resultando subprodutos como o farelo de arroz Análise dos estudos
com maior teor de nutrientes. O farelo é considerado o
mais importante subproduto do arroz . O farelo de arroz possui macro e micronutrientes e
A Organização das Nações Unidas para a Agricultu- fatores considerados antinutricionais, mostrados na ta-
ra - FAO - define o farelo como sendo composto de pe- bela 1.
ricarpo, tegumento, porções da camada de aleurona e
do gérmen [11]. Tabela 1 - Composição centesimal mínima e máxima de nutrientes
A natureza química e física final do farelo depende e antinutrientes do farelo de arroz integral.
da variedade do arroz, do grão, do tipo, sistema e grau
Componente Farelo de arroz integral
do beneficiamento, bem como das técnicas de fraciona- mínimo máximo
mento usadas neste processo, além do tipo de solo. As *Total de fibra alimentar (g/100g de farelo) 20,00 42,37
pesquisas referem que contém proteínas, carboidratos, Fibra alimentar solúvel (g/100g de farelo) 1,80 11,71
lipídeos, fibras, vitaminas e minerais em quantidades Fibra alimentar insolúvel (g/100g de farelo) 30,66
apreciáveis, além de outros elementos como a enzima *Gordura bruta (g/100g de farelo) 7,70 30,00
*Ácidos graxos saturados (g/ 100g de gordura):
superóxido-dismutase (SOD) e as coenzimas Q9 e Q10. Mirístico (C 14:00) 0,10 1,00
[6,7,12]. Palmítico (C 16:00) 11,00 22,20
Tendo em vista novas possibilidades de aproveitamen- Esteárico (C 18:00) 0,40 3,80
to do farelo, vários estudos e experiências nacionais, Araquidônico (C 20:00) 0,00 4,30
Behênico (C 22:00) 0,50 1,00
revelam ser uma possível fonte alimentar para a popula- Lignocérico (C 24:00) 0,40 0,90
ção humana [1,3,7]. *Ácidos graxos monoinsaturados (g/ 100g de gordura):
Os estudos mais freqüentes surgem a partir da década Palmitoléico (C 16:1) 0,00 1,60
de 70 e revelam a contribuição do farelo de arroz no Oléico (C 18:1) 37,10 60,00
controle de doenças crônico-degenerativas, como a hi- *Ácidos graxos poliinsaturados (g/ 100g de gordura):
Linoléico (C 18:2n - 6) 20,00 42,00
percolesterolemia, alguns tipos de câncer e o diabetes, Linolênico (C 18:3n - 3) < 0,10 3,00
dada a importância das mesmas no campo da saúde pú- *Cera (g/ 100g de gordura) 0,40 9,00
blica, na prevenção de outros problemas de saúde, como *Material insaponificável (g/ 100g de gordura) 1,00 5,00
a hipercalciúria idiopática por urolitíase, constipação Fitoesteróis 2,23 4,40
intestinal, úlcera duodenal, cárie dental e beribéri e, in- Hidrocarbonetos 0,80
Tocoferóis 0,03 0,04
clusive, na eliminação de substâncias tóxicas como Tocotrienóis 0,05 0,07
chumbo, policloretos de bifenil (PCBs) e óxido de bis Gama orizanol 0,90 2,90
(tri-n-butil estanho) (TBTO) [4,8,10,17]. *Coenzima Q9 (UQ - 9) (mg/ 100g de gordura) 2,89 3,19
O Brasil vive a “transição nutricional”, que diz res- *Coenzima Q10 (UQ - 10) (mg/ 100g de gordura)0,49 0,54
Carvalho RC et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 419~423 421

*Ácidos fenólicos (mg/ 100g de gordura) 8,56 214,00 O papel da fibra alimentar do farelo de arroz na
*Proteína (% N x 5,95) 6,70 19,20 saúde
Aminoácidos (teor em g/ 16 g N):
Lisina 3,20 6,20
Histidina 1,34 9,90 Desde as publicações de Burkitt, Trowell et al. a par-
Arginina 5,83 10,00 tir da década de 60 sobre a importância da fibra alimen-
Ácido Aspártico 3,40 11,00 tar para a população humana, vários estudos foram rea-
Treonina 3,10 4,60 lizados para verificar sua composição nos diferentes ti-
Serina 3,19 7,80
Ácido Glutâmico 7,80 17,79 pos de farelo comercializados aqui e no exterior assim
Prolina 3,79 6,70 como seus efeitos na saúde humana e em animais.
Glicina 3,46 8,80 A Tabela 1 mostra que o farelo de arroz apresenta
Alanina 5,70 7,10 quantidades apreciáveis de fibra alimentar total, sendo
Valina 5,00 6,70
Cistina 0,70 3,90
em sua maioria fibras insolúveis.
Metionina 1,60 3,70 Pesquisadores verificaram que a suplementação de
Isoleucina 2,90 5,30 60g de farelo aumentou o volume, o peso e a freqüência
Leucina 6,60 9,20 das fezes, com o menor tempo de trânsito intestinal, o
Tirosina 2,20 5,50 que contribui para a prevenção da constipação intestinal
Fenilalanina 4,10 6,10
Triptofano 0,60 4,00
e do câncer do cólon [15,16].
Amônia 1,90 7,60 Em 1990, Windhauser et al. verificaram que dieta,
*Carboidrato disponível (g/ 100 g de farelo) 34,00 62,00 suplementada com 20g de farelo de arroz estabilizado
*Mineral (mg/ 100 g de farelo) ingerida por oito indivíduos não diabéticos provocou
Alumínio 4,30 36,90 glicemia de jejum de 85 mg/dl e curva glicêmica nor-
Cálcio 14,00 131,00
Cloro 51,00 97,00 mal. Concluíram que a resposta glicêmica foi idêntica à
Cobre 0,03 2,40 da dieta controle que não tinha a suplementação [20].
Ferro 0,90 53,00 Porém em 1992, Miller et al. observaram que 25 g de
Fósforo 77,90 2.868,00 farelo de arroz, servido como purê para indivíduos tam-
Magnésio 121,00 1.350,00 bém saudáveis de 19 a 36 anos, provocou índice glicê-
Manganês 11,00 87,70
Potássio 179,00 2.396,00 mico muito baixo (19±3), concluindo que poderia ser
Silício 47,80 1.630,00 útil suplemento em dietas para diabéticos [8].
Sódio 0,00 63,40 Oguido et al. observaram, em 1995, que o peso das
Zinco 4,00 25,80 fezes do grupo de ratos diabéticos suplementado com
*Vitamina (mg/ 100 g de farelo)
Vitamina A 0,40
15 g/% de farelo de arroz foi semelhante ao do grupo
Tiamina 1,00 4,49 que recebeu 15 g/% de farelo de trigo, e maior que o dos
Riboflavina 0,17 0,43 grupos 1 e 2 (com dieta sem suplementação).
Niacina 20,80 59,00 Verificaram também que o grupo de ratos diabéticos
Piridoxina 1,00 3,20 suplementado com farelo de arroz apresentou maior in-
Ácido pantotênico 2,80 7,10
Biotina 0,02 0,06 gestão alimentar, diminuição dos níveis glicêmicos san-
Mioinositol 460,00 930,00 güíneos e da taxa de glicogênio hepático. Quanto ao peso,
Colina 130,00 170,00 estes ratos perderam na primeira e ganharam após a se-
Ácido p - aminobenzóico 0,07 gunda semana, porém menos que o do grupo controle, e
Ácido fólico 0,05 0,15 apresentaram valores superiores de lipídeos totais, quan-
Vitamina B12 0,0005
Tocoferóis 0,30 13,30 do comparados aos ratos normais.
Tocotrienóis 0,50 0,70 Silva, em 1996, pesquisou onze pacientes diabéticas
*Valor calórico total em Kcal/100g 334,00 476,00 com idade entre 45 e 60 anos. Elas ingeriram durante
*Densidade (g/ ml) 1,16 1,29 uma semana dieta pobre em resíduos fibrosos com 10,38
*Ácido fítico (g/ 100g de farelo) 0,90 7,80
*Inibidor de tripsina (UIT/ ml) 39,67
g de fibra alimentar e durante a outra, dieta elaborada
com os mesmos componentes da primeira, porém acres-
Fonte: Carvalho, 1999 [3]. cida isocaloricamente de 100g de farelo de arroz torra-
do. Nesta segunda semana, observou-se diminuição sig-
Diante da revisão realizada sobre a composição do nificativa da glicemia de jejum a partir do primeiro dia e
farelo, constatamos que o mesmo contém uma série de da glicemia pós-prandial a partir do terceiro dia.
nutrientes, assim como antinutrientes, que despertaram Esta dieta fornecia 52,82 g de fibras por dia, sendo
a atenção de pesquisadores ao longo desses anos para 42,37 g proveniente do farelo, o que provocou para cada
verificar quais os efeitos de sua ingestão no organismo paciente o aumento médio de 158% no peso fecal e eli-
de humanos e animais, estudos estes que foram analisa- minação de lactose, glicose e galactose nas fezes duran-
dos nos itens a seguir. te esse período. Ao contrário do verificado por Oguido
422 Carvalho RC et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 419~423

et al., o peso corpóreo das pacientes não variou signifi-


processo neoplásico nas células previamente expostas a
cativamente, mas houve concordância em relação à di-
doses de agentes carcinogênicos que, de outro modo,
minuição da glicemia sangüínea. Silva concluiu que
causariam o câncer [19].
houve diminuição significativa da glicemia de jejum a
Os estudos realizados SHAH e colaboradores, mos-
partir do primeiro dia e da glicemia pós-prandial a partir
trando os efeitos do farelo de arroz sobre a hipercalciú-
do terceiro dia.
ria idiopática e a formação de cálculos renais, revelaram
que o farelo, em quantidades iguais ou superiores a 10g
Contribuição do farelo de arroz integral no
diárias divididas em duas refeições, tem a propriedade
controle da hipercolesterolemia
de reduzir a excreção urinária de cálcio [13].
Perrone et al. avaliaram o efeito do farelo de arroz a
Embora o farelo de arroz integral tenha baixo con-
nível intestinal em sete crianças com hiperabsorção in-
teúdo de fibra solúvel, apresenta o óleo, rico em ácidos
testinal de cálcio. Este diagnóstico foi estabelecido atra-
graxos insaturados e elementos como o gama-orizanol,
vés da prova de sobrecarga oral de cálcio. A idade dos
fitoesteróis e tocotrienóis, considerados antioxidantes e
pacientes variou de cinco a treze anos, sendo quatro do
os maiores responsáveis pelo efeito hipocolesterolêmi-
sexo masculino e três do feminino. O farelo de arroz foi
co [5 ,12,18].
administrado oralmente, na dose de 10 a 20g/dia, duran-
Os principais mecanismos pelo qual o farelo influen-
te dois meses. Observaram redução significativa de 50%
cia os níveis de colesterol ainda não estão bem estabele-
na excreção urinária de cálcio após a administração do
cidos. Ele pode interferir na absorção dos lipídeos endó-
farelo. Não houve alterações nos níveis plasmáticos de
genos incluindo o colesterol, aumentar a excreção do
cálcio, magnésio ou creatinina. Não foram observados
ácido biliar resultando na utilização de mais colesterol
efeitos colaterais importantes. O trabalho sugeriu que o
para a síntese deste ácido, mudar a atividade do receptor
farelo de arroz diminui a absorção excessiva de cálcio a
da lipoproteína de baixa densidade e diminuir a síntese
nível intestinal, reduzindo sua excreção urinária, consti-
de colesterol.
tuindo alternativa no tratamento da hipercalciúria por
Alguns estudos descritos mostraram que o farelo de
hiperabsorção intestinal de cálcio [10].
arroz integral possui a propriedade de diminuir os ní-
veis de triglicérides, LDL, colesterol total, a razão LDL/
Considerações finais
HDL, assim como de aumentar os níveis de fosfolipíde-
os e a razão HDL/LDL, em humanos, dependendo da
Concluímos que o farelo de arroz pode contribuir na
quantidade fornecida [3].
prevenção e controle de alguns problemas de saúde apre-
As quantidades que determinaram efeito hipocoles-
sentados, devido às suas propriedades funcionais.
terolêmico foram de 60g diárias a mais.
O farelo de arroz é um produto natural e de baixo
custo em nosso meio. Portanto, recomendamos que no-
Pesquisas realizadas com o ácido fítico
vas pesquisas se realizem no Brasil com este alimento,
Recentemente, em seminário realizado em Kyoto,
para que seus efeitos no organismo humano possam ser
Japão, discutiram-se as atividades medicinais do ácido
mais conhecidos e divulgados entre nós.
fítico do farelo de arroz focalizando, portanto, a mudan-
ça no conceito do papel do ácido fítico na nutrição hu-
Referências
mana [17].
O aspecto do ácido fítico mais estudado tem sido o seu 1. Brandão CTT, Brandão RF. Alimentação alternativa. Brasília:
potencial para reduzir risco de câncer do cólon, pois pode Fundação Banco do Brasil / Prefeitura de Juiz de Fora; 1996.
quelar o íon ferro, bloqueando a formação de radicais li- 2. Cândido LMB, Campos AM. Alimentos funcionais - uma
vres pela reação de Fenton. A vitamina E age em siner- revisão. Bol. Soc. Bras. Ciênc Tecnol Alim 1995;29:193-203.
gismo com as menores formas de inositol fosfatos, au- 3. Carvalho RC. Utilização do farelo de arroz na alimentação:
revisão da literatura no período 1970-1998. São Paulo, 1999.
mentando a atividade antioxidante dos mesmos para pre- [Dissertação de mestrado – Faculdade de Saúde Pública da
venir a peroxidação lipídica mediada pelo íon ferro [3]. Universidade de São Paulo].
A Cancer Research American Society, em 1994, con- 4. Cúneo F, Amaya-Farfán J, Mantovani DMV. Dietas com farelo
siderou o ácido fítico um alimento funcional pelo papel de arroz e incorporação do chumbo alimentar. In: Congresso
desempenhado também na proteção do câncer de mama Brasileiro de Ciência e Tecnologia de Alimentos, 16º. Rio de
Janeiro: Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de
[2]. Alimento funcional tem sido definido como “subs- Alimentos; 1998. Anais.
tância que pode ser um alimento ou parte de um alimen- 5. Deckere EAM, Korver O. Minor constituents of rice bran oil as
to que proporciona benefícios médicos ou de saúde, in- functional foods. Nutr Rev 1996;54(11): S120-6.
cluindo a prevenção e tratamento de doenças” [2]. 6. Juliano BO. Rice Bran. In: Rice chemistry and technology.
Wattenberg referiu que o ácido fítico agiria como um Saint Paul, Minnesota: American. Association of Cereal
Chemists Incorporated; 1985. p.647-87.
agente supressor, ou seja, iria prevenir a evolução do
Carvalho RC et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 419~423 423

7. Juliano BO, Hicks PA. Rice functional properties and rice food 14. Silva CR. Efeito de dieta rica em fibra alimentar, pela adição
products. Food Rev Int 1996;12:71-103. de farelo de arroz, na glicemia de pacientes diabéticos.
8. Miller JB, Pang E, Bramall L. Rice: a high or low glycemic Ribeirão Preto, 1996. [Dissertação de mestrado - Faculdade de
index food? Am J Clin Nutr 1992;56:1034-6. Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São
9. Oguido AK, Takamatsu EE, Kikuchi F. Metabolic balance of Paulo].
fibers from cereal bran in the diabetic rats. In: Simpósio Nipo- 15. Slavin JL, Lampe JW. Health benefits of rice bran in human
Brasileiro de Ciência e Tecnologia/ Biotecnologia e Problemas nutrition. Cereal Foods World. 1992;37:760-3.
Ambientais. São Paulo: Academia de Ciências do Estado de 16. Tomlin J, Read NW. Comparison of the effects on colonic
São Paulo e Sociedade Brasileira de Pesquisadores Nikkeis; function caused by feeding rice bran and wheat bran. Eur J Clin
1995. p. 151-5. Nutr 1988;42: 857-61.
10. Perrone HC, Schor N, Toporovski J. Tratamento da 17. Tsuno Foods & Rice http:// www.tsuno.co.jp. First
hiperabsorção intestinal de cálcio com farelo de arroz. J Bras International Symposium on Disease Prevention by IP6 and
Nefrol 1987; 2:33-7. Other Rice Components. Kyoto; 1998. Anais.
11. Riceweb. The plant and how it grows. [Arquivo obtido em 31/ 18. Wanasundara PKJPD, Shahidi F, Shukla VKS. Endogenous
01/97, via Internet www.cgiar.org/irri/riceweb/Plant.htm, antioxidants from oilseeds and edible oils. Food Rev Int.
1997]. 1997;13: 225-92.
12. Saunders RM. The properties of rice bran as a foodstuff. Cereal 19. Wattenberg LW. Inhibition of carcinogenesis by non nutrient
Foods World. 1990;35:632-6. constituents of the diet. In: Waldron KW, Johnson IT, Fenwick
13. Shah PJR, Green NA, Williams G. Unprocessed bran and its GR. Food and cancer prevention: chemical and biological
effect on urinary calcium excretion in idiopathic aspects. Norwich: The Royal Society of Chemistry; 1993.
hypercalciuria. BMJ 1980;281:426. 20. Windhauser MM, Hegsted M, Morris SK, Lester SB. The
glycemic response to rice bran and oat bran meals. FASEB J.
1990;4:A529, abstract nº 1523.
424 Notícias das associações / Diabetes Clínica 06 (2001) 424~425
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 06 (2001)

Noticias das associações


A declaração de Brasília: o início de uma estratégia de prevenção
e tratamento da obesidade no Brasil
O aumento de caráter epidêmico da obesidade no Brasil, afetando todas as
camadas sociais e regiões do país (mas principalmente as populações e regiões
mais carentes), a morbidez e a mortalidade cardiovascular associadas à obesi-
dade, a elevação dos custos para o sistema de saúde e a necessidade urgente de
ações efetivas de combate à obesidade motivaram um requerimento urgente de
implementação de medidas às autoridades governamentais pela Associação
Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO) e pela Fundação Interameri-
cana do Coração (FIC, Comitê de Síndrome Plurimetabólica).
Muito embora iniciativas anteriores da ABESO (apoiadas por outras Soci-
edades de Obesidade da América Latina) tivessem recebido apoio formal de
um compromisso de ação do Ministério da Saúde do Brasil e de outros países
latino-americanos, até o momento, medidas efetivas não haviam sido inicia-
das. A ABESO e a FIC foram apoiadas pela Sociedade Brasileira de Cardio-
logia (FUNCOR e Departamento de Aterosclerose), Sociedade Brasileira de
Diabetes (SBD), Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
(SBEM), Sociedade Brasileira de Clínica Médica, World Heart Federation
(WHF) e International Obesity Task Force (IOTF).
A Declaração de Brasília, foi entregue e recebeu o apoio do Ministro da
Saúde, José Serra no dia 10 de outubro. Pessoalmente, entreguei a Declara-
ção de Brasília nas mãos do Presidente Fernando Henrique Cardoso no dia 11
de outubro (Dia Internacional de Combate à Obesidade). O Dr. Amélio Ma-
tos (SBEM), a Dra. Ana Maria Lottenberg (Departamento de Nutrição da
ABESO), o Dr. Sérgio Timerman (Federação Interamericana do Coração), o
Dr. Raul Dias dos Santos (Departamento de Arteriosclerose da SBC) e Mau-
rício de Souza estavam presentes nesse ato.
Além disso, a junção dos esforços das várias sociedades permitiu a reali-
zação de dois simpósios. O primeiro, no dia 8, dirigido aos médicos e profis-
sionais de saúde da Câmara dos Deputados, contou com a presença do Dr.
Raul Dias dos Santos Filho, do Dr. Marcio Mancini, da nutricionista Dra.
Ana Maria P. Lottenberg e do Prof. Carlos Negrão.
O segundo simpósio, Simpósio Qualidade de Vida – Obesidade, uma epi-
demia, no dia 11 pela manhã, na Plenária do Senado Federal, aberto pelo
Presidente do Senado e pelo Senador Romeu Tuma, com o seguinte progra-
ma: Epidemiologia da Obesidade no Brasil (Dra. Denise Coitinho, Ministé-
rio da Saúde), Obesidade, uma epidemia mundial (Dr. Mário Maranhão, Pre-
sidente da World Heart Federation), Panorama atual da obesidade no Brasil
(Dr. Marcio Mancini, Presidente da Associação Brasileira para o Estudo da
Obesidade), Impacto da obesidade em saúde pública (Senador Dr. Tião Via-
na), Impacto da obesidade no aparelho cardiovascular (Dr. Raul Dias dos
Santos Filho, Diretor do Departamento de Aterosclerose da SBC), Síndrome
metabólica e implicações farmacoeconômicas (Dr. Amélio de Godoy Mat-
tos, Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia),
Campanhas Públicas (Dr. Ari Timerman, Presidente da SBC/FUNCOR),
Prevenção da obesidade infantil - uma iniciativa do Instituto Cultural Mau-
Notícias das associações / Diabetes Clínica 06 (2001) 424~425 425

rício de Souza (Maurício de Souza), Declaração de Brasília (Dr. Sergio Ti-


merman, Presidente eleito da FIC).

Declaração de Brasília, 11 de outubro de 2001

Há uma apreensão crescente no que se refere ao impacto sobre a saúde e a


economia causado pelo excesso de peso e pela obesidade em nosso país. O
aumento da prevalência do excesso de peso não é só um problema sério nos
países desenvolvidos como os Estados Unidos, mas também nos países em
desenvolvimento como o Brasil. Dados do Ministério da Saúde mostram uma
prevalência de 32% para o sobrepeso e 8% para a obesidade. De acordo com
o Consenso Latino Americano de Obesidade, cerca de 200.000 pessoas mor-
rem por ano devido a doenças associadas ao excesso de peso. O excesso de
peso, em brasileiros acima de 50 anos, ocorre em mais da metade da popula-
ção. A obesidade, no Brasil, apresenta uma tendência secular de crescimento
em todas as regiões e faixas sócio-econômicas, principalmente em extratos
populacionais mais carentes e com menor acesso à informação. Esse cresci-
mento reflete mudanças de estilo de vida associadas a um ambiente que fo-
menta hábitos sedentários e excessos alimentares, principalmente gordura.
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em nosso país.
Há nítida correlação entre o ganho ponderal e o excesso de peso com risco de
doenças cardiovasculares. O excesso de peso predisporia a essas doenças devi-
do a anormalidades no metabolismo dos lípides, glicose e pressão arterial.
Apesar da morbidez que acompanha a obesidade, não existe ainda uma Estra-
tégia Nacional para prevenção e tratamento da doença crônico-degenerativa mais
comum em nosso país, o que põe em risco a qualidade de vida, a saúde futura e a
expectativa de vida não somente dos adultos com sobrepeso, como também das
crianças obesas que já sofrem das doenças relacionadas à obesidade.

Requerimento de ações de combate à obesidade no Brasil

Em virtude da necessidade urgente de ações para enfrentar a epidemia de


obesidade e doenças relacionadas ao excesso de peso, principalmente a Do-
ença Cardiovascular, a Fundação Interamericana do Coração (FIC), repre-
sentada nesta iniciativa pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesi-
Declaração assinada por: dade (ABESO) e Sociedade Brasileira de Cardiologia e o Fundo de Aperfei-
Sérgio Timerman (Fundação çoamento e Pesquisa em Cardiologia (SBC-Funcor), com o apoio de outras
Interamericana do Coração), sociedades médicas, vem requerer das autoridades governamentais brasilei-
Marcio Mancini (ABESO), ras medidas no sentido de:
Ari Timerman (SBC-Funcor), • Reconhecer que sobrepeso e obesidade causam enorme impacto para a
Amélio F.G. Matos (Sociedade saúde e a economia das comunidades;
Brasileira de Endocrinologia), • Iniciar imediatamente o desenvolvimento de uma Estratégia Nacional
Adriana Costa Forti (Sociedade para Combate à Obesidade;
Brasileira de Diabetes), • Proporcionar a capacitação de profissionais de saúde envolvidos no aten-
Antonio Carlos Lopes (Sociedade dimento básico para a prevenção e controle da obesidade;
Brasileira de Clínica Médica), • Estimular a pesquisa básica, epidemiologia e clínica;
Raul Dias dos Santos (Departamento • Incentivar o reconhecimento do problema e a implementação de progra-
de Aterosclerose da SBC), mas de prevenção e tratamento por governos estaduais e municipais.
Andrei Sposito (FIC – Comitê de
síndrome plurimetabólica), A FIC, representada pela ABESO e SBC-FUNCOR, apoiada pelas socie-
Mário Maranhão (World Heart dades médicas infra-escritas, resolve fornecer cooperação sob a forma de
Federation). liderança e consultoria, no sentido de aconselhar, instruir e guiar agências
Apoio: International Obesity Task governamentais no desenvolvimento de estratégias coerentes que permitam
Force a implementação dessas ações.
Cepafidia
2º Curso de capacitação para a prescrição e
acompanhamento da atividade física em diabetes
março a junho de 2002
Este curso tem o objetivo específico de fornecer informações e construir o
conhecimento com respeito aos métodos de aplicação da Atividade Física na
prevenção e tratamento do Diabetes, onde serão abordados os seguintes
temas: Epidemiologia, etiologia e fisiopatologia; Complicações agudas, micro
e macro-vasculares; Terapêutica medicamentosa e nutricional; Avanços
terapêuticos no tratamento; Aspectos psicodinâmicos; Fisiologia do exercício;
Acompanhamento de adaptação do exercício frente às complicações
concomitantes; Noções de Educação terapêutica.

O curso tem carga horária de 48 horas, distribuídos em 4 finais de semana, um encontro


por mês e dividido em 02 módulos:

1º) Diabetes, da conceituação à atualização: aberto a todos os profissionais e estudantes


da saúde interessados no tema.
2º) Prescrição e acompanhamento da atividade física em Diabetes: exclusivo para médicos
e profissionais da Educação Física condicionado à audiência do primeiro módulo.

Duração: 48h (1 final de semana por mês durante 4 meses): sábado (8-12h/13-17h), domingo (8-12h)
Valor: R$ 120,00 (1º e 2º módulos); R$ 60,00 (1º módulo)
Pagamento: Os pagamentos deverão ser efetuados através de depósito, em nome da ANAD, Associação
Nacional de Assistência ao Diabético para o Banco Real / Agência 0985 / Conta: 636-3

Informações: ANAD (11) 5572-6559/5572-6704 ou diretamente com o Prof. Cláudio Cancellieri (11)
4816-2596, E-mail diabetes@ig.com.br ou anad@anad.org.br

Ficha de Inscrição
Nome..................................................................................................................
Endereço ............................................................................................................
Bairro .................................................................................................................
CEP .............. Cidade ........................................................ Estado ......................
Profissão ............................................................................................................
Estudante ...........................................................................................................
Preencher ou copiar esta ficha de inscrição e enviá-la junto com o comprovante de depósito para:
ANAD – Associação Naional de Qssistência ao Diabético
Rua Eça de Queiroz, 198
Vila Mariana - 04011-031 São Paulo SP
Tel/Fax: (11) 5549-6704/5572-6559 - E-mail: anad@anad.org.br
FICHA PRÁTICA
Diabetes Clínica 11
Os adoçantes
Os adoçantes dietéticos são produzidos a partir de edulcorantes, Sorbitol
substâncias naturais ou artificiais responsáveis pelo sabor doce. Eles Substância natural presente em algumas frutas, algas marinhas etc.
possuem um poder de adoçamento geralmente muito maior que o açúcar Tem o poder edulcorante igual ao da sacarose e similar ao da glicose,
de cana (açúcar comum) e são recomendados para dietas especiais como não sendo aconselhável a pacientes obesos e diabéticos mal
as de restrição (principalmente no diabetes) e de emagrecimento. controlados. Calórico, fornece 4 cal/g e ao ser absorvido se transforma
Sacarina em frutose no organismo. A frutose é transformada em glicose no
Primeira substância adoçante sintética a ser descoberta (1878), extraída fígado, mas como o processo é lento, não altera significativamente a
de um derivado do petróleo, o ácido ciclo hexano sulfâmico, tem poder glicemia. Não provoca cáries, não é tóxico e apresenta boa
adoçante 500 vezes maior do que a sacarose e é usada desde 1900. estabilidade. Resiste, sem perder seu potencial adoçante, a processos
Em altas concentrações deixa sabor residual amargo e metálico, e não de aquecimento, evaporação e cozimento.
é metabolizada pelo organismo. É de fácil solubilidade e estável em Doses acima de 20 a 30 g/dia produzem efeito diurético e acima de
altas temperaturas, podendo ser utilizado em preparações quentes. 30 a 70 g/dia causam diarréia. Em algumas pessoas esses efeitos
IDA (Ingestão Diária Aceitável): 5 mg/kg de peso corporal. ocorrem mesmo em doses baixas, como 10 g/dia. O sorbitol (assim
como o manitol e o xilitol) aumentam a perda de minerais pelo
Ciclamato organismo, principalmente o cálcio, podendo também provocar a
Descoberto em 1939, entrou no mercado a partir da década de 50. formação de cálculos.
Como a sacarina, é edulcorante artificial largamente usado no setor
alimentício, sendo aplicado em adoçantes de mesa, bebidas dietéticas, Manitol
geléias, sorvetes, gelatinas, etc. Com o menor poder adoçante, é 40 Tem valor calórico equivalente ao da sacarose (4 cal/g), poder edulcorante
vezes mais doce que a sacarose, não calórico e possui sabor agradável 70% superior e um sabor levemente adocicado e refrescante. Não produz
e semelhante ao açúcar refinado (apresentando um leve gosto residual). fermentação no organismo, mas provoca um significativo efeito laxativo
Absorve-se parcialmente no intestino, é eliminada pelos rins. Alguns quando ingerido em doses elevadas. Quando absorvido pelo organismo
indivíduos metabolizam uma pequena quantidade no intestino, pela estimula a secreção de insulina ao ser parcialmente convertido em glicose,
ação da flora intestinal. Não perde a doçura quando submetido a altas/ porém não causa hiperglicemia.
baixas temperaturas e meios ácidos. Sinergético quando combinado IDA: 50 a 150 mg/kg de peso corporal.
com outros adoçantes de baixas calorias como acesulfame K, Xilitol
aspartame, neoesperidina, sacarina e sucralose. Fornece 4 cal/g e sabor semelhante ao da sacarose, apresentando
IDA (Ingestão Diária Aceitável): 11 mg/kg de peso corporal. uma sensação refrescante na saliva, que aumenta quando associado
Aspartame ao aroma de menta. É considerado um dos melhores preventivos
Edulcorante artificial descoberto em 1965, É uma proteína adocicada contra cáries. Precaução: doses acima de 30 g/dia podem provocar
produzida a partir de dois aminoácidos encontrados normalmente nos diarréia quando consumido pela primeira vez. A OMS não
alimentos: fenilalanina e ácido aspártico. Possui sabor agradável e estabeleceu um limite para a IDA e o FDA (USA) indica o consumo
semelhante ao açúcar branco, só que com potencial adoçante 200 vezes na quantidade necessária para o adoçamento desejado.
maior, permitindo o uso de pequenas quantidades. Seu valor energético Frutose
corresponde a 4 cal/g. Muito usado pela indústria alimentícia, É um edulcorante natural, de sabor agradável e extraído das frutas e
principalmente nos refrigerantes diet. Sensível ao calor, perde o seu do mel. Contém 4 cal/g. Estudos recentes comprovam que a frutose,
poder de adoçamento em altas temperaturas. A doçura também poderá quando ingerida junto das refeições não altera a glicemia. Quando
diminuir quando muito tempo armazenado. É contra-indicado a submetida ao calor a frutose derrete, porém mantém o seu sabor. É
portadores de fenilcetonúria, uma doença genética rara que provoca o uma vez e meia mais doce que a sacarose, com poder de adoçamento
acúmulo da fenilalanina no organismo, causando retardo mental. 173 vezes maior. Excesso de frutose pode causar aumento de
IDA: 40 mg/kg de peso corporal. triglicerídeos e pessoas com problemas no metabolismo de llpipides
Acesulfame-k e gorduras devem evitar o consumo desse edulcorante. Estudos
Criado em 1960, é o adoçante sintético de maior resistência ao comprovam que o uso por tempo prolongado dificulta a absorção do
armazenamento prolongado e a diferentes temperaturas. O cobre, mineral importante na síntese da hemoglobina (responsável
Acesulfame-K é um sal de potássio sintético produzido a partir de pela pigmentação dos glóbulos vermelhos).
um ácido da família do ácido acético Adoça 130-200 vezes mais Lactose
que a sacarose, seu gosto doce é percebido de imediato e em grandes Açúcar extraído do leite muito usado como diluente nos adoçantes
doses deixa um leve sabor residual amargo. Pode ir ao fogo por ser de mesa. Fornece 4 cal/g e precisa da presença de insulina para ser
estável a altas temperaturas Não é calórico e nem metabolizado metabolizado no organismo. Seu potencial edulcorante é cerca de
pelo organismo. Pode ser usado como adoçante de mesa e numa 15 % maior que a sacarose.
infinidade de produtos. Embora seja rapidamente absorvida, 99 % Malto dextrina
da substância é eliminada em 24 horas pela urina, de forma inalterada. Açúcar extraído do milho, também muito usado como diluente nos
IDA: 15 mg/kg de peso corporal. adoçantes artificiais. Como a lactose, é insulino-dependente e tem 4
Steviosídeo cal/g, sendo cerca de 50% mais doce que a sacarose.
Descoberto em 1905 e muito difundida no Japão, extraído da Stevia Dextrose
rebaudiana, planta originária da Serra do Amambaí, na fronteira do Outro açúcar derivado do milho com ampla aplicação na indústria
Brasil com o Paraguai. Das suas folhas se extrai o steviosídeo, alimentícia. Sua doçura é cerca de 70% maior que a da sacarose.
edulcorante natural de sabor doce retardado com poder adoçante Possui 4 cal/g e também necessita insulina para sua metabolização.
300 vezes maior do que a sacarose. Tem boa estabilidade em altas
ou baixas temperaturas. Pode ser consumida sem nenhuma contra- Neohesperidina
indicação por qualquer pessoa. Não produz cáries, nem é calórica, É aproximadamente 400 ~ 600 vezes mais doce que a sacarose. Com
tóxica, fermentável ou metabolizada pelo organismo. relação ao aspartame e ao acesulfame-K, se misturados a
IDA: 5,5 mg/kg de peso corporal. neohesperidina, é muitas vezes (de 7 a 20 vezes) mais doce,
dependendo do alimento em que se emprega essas misturas. A
Sucralose neohesperidina é um flavonoide deidrochalcone. Enquanto a
Descoberta em 1976. Trata-se de um edulcorante sintético com poder neohesperidina não é encontrado em nenhuma substancia natural,
adoçante 600 vezes maior do que a sacarose. Não é calórico e possui estruturas relacionadas com os flavonoides e seus deidrochalcones
sabor agradável. Não é metabolizada pelo organismo, sendo eliminada correspondentes se encontram de forma natural em muitas plantas.
por completo em 24 horas pela urina. Estável a temperaturas altas e É metabolizada pela flora intestinal. A neohesperidina é tipicamente
baixas e em longos períodos de armazenamento. Pode ser usada como usado em combinação com outros adoçantes. A neohesperidina
adoçante de mesa, em formulações secas (como refrescos e sobremesas também tem propriedades redutoras dos sabores amargos.É estável
instantâneas), em aromatizantes, conservantes, temperos, molhos ao calor e pode ser usado então em alimentos que requerem
prontos, compotas, etc. Não produz cáries, além de reduzir a produção pasteurização ou processos de UHT. Não provoca caries e pode ser
de ácidos, responsáveis pela sua formação. usada em produtos para diabéticos.
IDA: 15 mg/kg de peso corporal. IDA: 0,5 mg/kg de peso corporal.

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