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Diabetes 2001
Diabetes 2001
Diabetes 2001
IDF / SACA
Diabetes
ANAD
Clínica
JORNAL MULTIDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS
2001
VOL
5
JANEIRO / FEVEREIRO
MARÇO / ABRIL
MAIO / JUNHO
JULHO / AGOSTO
SETEMBRO / OUTUBRO
2001
NOVEMBRO / DEZEMBRO
VOL. 5
www.atlanticaeditora.com.br
Diabetes Clínica
Diabetes Clínica 04 (2000) 1
Índice
(vol. 5 nº1 - 2001)
EDITORIAL
Plano de reorganização da Atenção ao Diabetes mellitus e Hipertensão arterial, Fadlo Fraige Filho ....... 3
MANIFESTO
Insulina Humana Recombinante: O Governo decidindo contra si mesmo e contra o povo ........................ 5
PRODUTOS E NOVIDADES
Pêssego Grego Diet (La Pastina), Docigual (Vivalev Diatt), Freestyle (Therasense),
NC-stat (Neurometrix) ................................................................................................................................. 31
ARTIGOS CIENTÍFICOS
Características clínicas do diabetes mellitus tipo 2 no Nordeste do Brasil,
Josivan G. Lima, Lucia H. C. Nóbrega, Francisco Bandeira, William J. Jeffcoate, Geisa Macedo ........... 41
FICHAS PRÁTICAS
Insulinas humanas e animais disponíveis no Brasil..................................................................................... 63
Tabela de prognóstico de risco coronariano de Framingham ...................................................................... 64
Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos
distúrbios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre
o conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associa-
das. Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico, o conselho consultivo e profissionais
de reconhecido saber na área. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relati-
vas à diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma
maneira rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes.
Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão
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que uma verificação independente do diagnóstico e doses dos medicamentos seja realizada. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os
padrões de ética médica, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
3
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas
EDITORIAL
Obviamente, espera-se que o chamamento da mídia nação a 1a Campanha Nacional de Detecção, Educação
para a realização da Campanha seja para o grupo de ris- e Prevenção das Complicações do Diabetes. O sucesso
co de ser portador de diabetes. dessa 1a Campanha foi repetido em 1999 e 2000, onde
A questão de um grande volume de pessoas diagnosti- tivemos a parceria das nossas federadas e das secretari-
cadas, em algumas semanas, poderá eventualmente criar as da saúde de aproximadamente 500 cidades no Brasil.
uma pletora no atendimento da 2a fase, porém como defi- Assim, acreditamos que a semente que plantamos,
niu o Sr. Secretário de Políticas de Saúde do Ministério gera neste ano uma grande árvore, desenvolvida pelo
da Saúde, Dr. Claúdio Duarte da Fonseca: “Que se criem Ministério da Saúde, que seguramente frutificará em
as dificuldades que o Ministério em conjunto com as Se- grandes benefícios e melhoria das condições de vida
cretárias estaduais e Municipais buscarão as soluções.” adversas dos portadores de diabetes no Brasil.
Uma posição corajosa e correta, contrário aos raros e A 1a fase do plano, que é a Campanha de detecção,
infelizes médicos que no passado (ano de 1999) impedi- será realizada de 6 a 30 de março próximo.
ram o Ministério de entrar na 2a Campanha nacional da Destacamos, ainda, nesta edição, o trabalho produzi-
FENAD, sob alegação da pletora das Unidades Assis- do no Departamento de Diabetes e Endocrinologia do
tenciais, defendendo assim, o NÃO DIAGNOSTICO, Hospital Agamenon Magalhães de Recife, que é uma
quando sabemos ser o diagnóstico precoce um dos prin- referência para a implantação de um programa de aten-
cipais pontos da prevenção das complicações graves do dimento ao paciente portador de diabetes, enfatizando o
diabetes. atendimento por uma equipe multiprofissional. Tenho
As Campanhas têm sido, entre inúmeras atividades, impulsionado o mesmo ponto de vista a cerca de 17 anos
uma ação quase que exclusiva das associações e Ligas na ANAD e há 11 anos, quando idealizei o 1o Congresso
de todo o Brasil e de clubes como Lions e Rotary, na Brasileiro Multiprofissional em Diabetes.
maioria das vezes com o patrocínio dos laboratórios O 6o Congresso será realizado em 7, 8 e 9 de julho de
Farmacêuticos da área. Iniciamos as Campanhas na 2001, para o qual desde já convido todos os multiprofis-
ANAD, há 17 anos, coordenadas e em conjunto com as sionais da área a participarem, visto que pela excelência
Secretárias de saúde do ABC paulista e ao assurmimos na programação e amplitude de abordagem multiprofis-
a presidência da Fenad em março de 1998, já em no- sional continuará sendo “o mais completo evento em
vembro do mesmo ano foi realizado sob nossa coorde- Diabetes.”
A Lilly tem sido a líder no mercado de diabetes desde a introdução de nosso primeiro produto a base de insulina em
1922. Nossa linha de produtos tem evoluído continuamente: de insulina animal para insulina humana (Humulin) e mais
recentemente a insulina Lispro (Humalog). Esses avanços tecnológicos na produção das insulinas beneficiam os pacientes,
oferecendo maior eficácia e segurança no tratamento, melhorando o controle glicêmico e reduzindo as complicações.
Dentro desta evolução estamos comunicando que a partir de março de 2001, não estaremos comercializando mais os refis
de 1,5 ml das insulinas Humulin e Humalog. Todos os refis de Humulin e Humalog serão de 3 ml. Atualmente, os refis de
3 ml são os mais utilizados no mundo devido a sua comodidade diminuindo a freqüência da troca do refil nas canetas.
Diabetes Clínica 01 (2001) 5
Manifesto
Insulina Humana recombinante:
O Governo decidindo contra si mesmo e contra o povo
A FENAD (Federação Nacional de Associações de em todo o País, que hoje utilizam a Insulina Humana
Diabéticos), que congrega 307 associações, Ligas e Recombinante;
Centros de Diabetes, abrangendo cerca de 200.000 4) No momento que vemos o Ministério da Saúde
pacientes e 4.000 profissionais da área de saúde, vem, desenvolver um enorme esforço para manter os preços
em nome dos 5 milhões de portadores de diabetes neste dos medicamentos em patamares acessíveis às condições
país manifestar sua preocupação e indignação com a do povo brasileiro, a política dos genéricos para baratear
Circular no 5 da SECEX – Secretária de Comércio os já existentes, o acordo de não aumentar o preço dos
Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria medicamentos no ano de 2001 e às vésperas do início
e Comércio Exterior, publicada no Diário Oficial da do Plano de reestruturação da Atenção ao Diabetes e
União do dia 12/02/2001, que recomenda o aumento do Hipertensão organizado pelo Ministério da Saúde, com
preço da Insulina Humana Recombinante Importada sob apoio desta Federação e outras entidades da área, com
suposta alegação de dumping. distribuição de medicamentos e insulinas em uma
Distante de competições de ordem comercial e segunda fase, concluímos que esta decisão é
políticas, que eventualmente possam ter determinado intempestiva e lesiva aos interesses dos pacientes
essa decisão, queremos alertar para os seguintes pontos portadores de diabetes e do próprio Governo.
que temos certeza não foram considerados pelas
autoridades da área do Governo-SECEX ao sugerir o A quem interessa este aumento ?
aumento do preço do medicamento:
Diante do exposto, queremos ressaltar nossa
1) O Governo, obrigando os laboratórios a aumentar preocupação e reiterar que somos contrários a qualquer
os preços em até 76,1%, contraria seus próprios medida que resulte em aumento de preços de produtos
interesses, do Ministério da saúde, das Secretarias essenciais à vida de milhares de pacientes em todo o
Municipais de Saúde; contraria o bolso dos portadores País.
de diabetes, que há 7 anos não têm o seu salário
reajustado, e o dos idosos que recebem ume pensão A FENAD vem demonstrar a sua indignação e tornar
ínfima do INSS, também congelada; público um fato que é lesivo à Nação e ao povo
2) O impacto financeiro que sofrerão as contas do brasileiro.
próprio governo federal, que adquire Insulina Humana
Recombinante para mais de 70% da população diabética Este fato é inédito no mundo todo: Governo obrigar
de todo o país; o aumento de uma medicação considerada essencial à
3) O impacto financeiro que o possível aumento vida num país pobre, que vive momentos difíceis, onde
ocasionará aos milhares de pacientes diabéticos, há recessão e desemprego, parece inacreditável. É mais
consumidores, que adquirem o produto nas farmácias uma vergonha nacional.
6 Diabetes Clínica 01 (2001)
Entraremos contra a recomendação da Secretaria de conjunto com a Organização Mundial de Saúde (OMS)
Governo – SECEX – com ações no Ministério público, possam interferir em tal absurdo.
Procon e no Instituto de Defesa do Consumidor.
Convidamos a todos os interessados a divulgarem este
Este fato também estará denunciado à International manifesto, denunciando e lutando em todas as instâncias
Diabetes Federation (IDF), com sede em Bruxelas, da pelos interesses desta população que, além de portadora
qual somos Membros efetivos, para que medidas em de uma doença crônica, terá que arcar com custos maiores
para a sua sobrevivência.
Continuação diabetes maternal conferir risco a mais para intolerância a glicose leve mas
não declarada, os filhos de pai diabético podem apresentar relativamente rá-
pida uma tolerância a glicose anormal ou diminuída, ou as mães diabéticas
podem transmitir o risco de uma forma leve lentamente progressiva de tole-
rância anormal à glicose, em suplemento ao diabetes declarado. O risco mui-
to alto de glicose anormal entre os filhos de mães precocemente diabéticas é
consistente com a hipótese que a exposição perinatal aumento o risco de
diabetes. Dados ratios de risco equivalentes para diabetes tipo 2, os pais po-
dem transmitir fatores genéticos da mesma força do que os fatores ambien-
tais maternais.
Esse estudo foi desenvolvido para observar o uso dos diferentes compo-
nentes de ácidos graxos durante um período de 60 minutos de exercício de
bicicleta de intensidade moderada (50% de VO2max), em 8 indivíduos ho-
mens portadores de diabetes tipo 2 (idade 52,6 ± 3,1 anos, gordura corporal
35,8 ± 1,3%) e 8 homens obesos controle (idade 45,1 ± 1,4 anos, gordura
corporal 34,2 ± 1,3%), comparados por idade, composição corporal e capaci-
dade aeróbica máxima. Para quantificar os diferentes componentes do meta-
bolismo dos ácidos graxos, foi empregada uma infusão do isotópico [U-13C]-
palmitato combinada com calorimetria indireta. Em experiência separada, a
medida do 13C no ar expirado foi determinado durante uma infusão de [1,2-
13C]-acetato. Não existia diferenças nos gastos de energia ou carboidratos e
oxidação total de gordura entre os grupos. A taxa de ácido graxo livre (P <
0,05) e o aumento dessa taxa induzido pelo exercício foram significativa-
mente menores (P < 0,05), em diabéticos tipo 2 em comparação com indiví-
duos controle (linha base vs. exercício [40-60 min]; diabetes tipo 2, 11,9 ±
0,9 vs. 19,6 ± 2,2 micromol/kg de massa adiposa livre/min e controle 15,8 ±
1,8 vs. 28,6 ± 2,1 micromol/kg massa adiposa livre /min). A oxidação dos
ácidos graxos derivados do plasma era significativamente menor em diabéti-
cos tipo 2 nas duas condições (P < 0,05, linha base vs. exercício [40-60 min];
diabetes tipo 2, 4,2 ± 0,5 vs. 14,1 ± 1,9 micromol/kg massa adiposa livre/min
e controle 6,2 ± 0,6 vs. 20,4 ± 1,9 micromol/kg massa adiposa livre/min),
enquanto que a oxidação dos ácidos graxos derivados dos triglicerídeos era
mais elevada (P < 0,05). A hipótese é que essas diminuições no uso dos áci-
dos graxos podem ter um papel na etiologia da resistência insulínica hepática
e musculo-esqueletica.
12 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 01 (2001)
Oscar A. Paniagua et al, Hypertension. Hipertensão transitória diminui a vasodilatação dos microvasos
2000;36:941, dezembro de 2000 humanos
JAMA, 2001; 285: 67-72 A análise de cabelo tem pouco valor para a informação
nutricional ou mineral
A análise de cabelo de pacientes para determinar a taxa de elementos mine-
rais ou o balanço nutricional não é confiável nos Estados Unidos. Os serviços
de saúde da Califórnia recomendam aos médicos que utilizam a análise de
cabelos de verificar o balanço nutricional de seus pacientes. Os pesquisado-
res examinaram os dados de seis laboratórios comerciais que efetuam 90%
das análises minerais a partir de amostras de cabelo nos EUA. Uma amostra
de cabelo de uma mulher saudável de 40 anos, com cabelo não tratado, foi
usada. Os resultados indicam que as diferenças entre as mais altas e mais
baixas concentrações de minerais ultrapassam 10 vezes para 12 minerais.
Valores extremos foram reportados por 14 dos 31 minerais analisados por
três ou mais laboratórios. A pesquisa mostra a não confiabilidade desse tipo
de testes. A análise de cabelo já foi usada para confirmar o envenenamento
humano com elementos como arsênico ou mercúrio, mas para a maioria das
outras substancias não existe evidência experimental que o cabelo posse ser
um marcador biológico significativo.
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 01 (2001) 15
Kay-Tee Khaw et al, BMJ 2001 A concentração sanguínea de glicose é associada ao risco
322:15-18, janeiro de 2001 cardiovascular em homens não-diabéticos
Giancarlo Tonolo et al, Eur J Clin As estatinas podem ter um efeito direito sobre a regulação da
Invest 2000;30:980-987, pressão sanguínea
novembro de 2000
Em pacientes diabéticos tipo 2 hipertensos, o tratamento com sinvastatina
diminui a pressão sanguínea e a taxa de excreção de albumina urinária (AER)
independentemente da melhora do nível dos lipídios. Os pesquisadores ob-
servaram, de acordo com vários estudos anteriores, que os benefícios das
estatinas, também conhecidas como inibidores da atividade da enzima HMG-
CoA redutase, não podem ser explicados somente pelo efeito sobre o LDL-
colesterol. Uma hipótese seria que as estatinas podem restaurar a produção
de oxide nítrico dependente do endotélio, agindo independentemente da di-
minuição do LDL-colesterol. Para controlar a hipótese, os pesquisadores
mediram a pressão sanguínea e a taxa de excreção de albumina urinária du-
rante o tratamento com sinvastatina e colestiramina em 26 pacientes portado-
res de diabetes tipo 2, hipertensão e microalbuminúria. Embora que ambos
os remédios diminuem os níveis de colesterol, só a sinvastatina reduziu sig-
nificativamente a pressão sanguínea diastólica e os AER urinários. Sinvasta-
tina foi também associada à redução significativa do glicosaminoglicano uri-
nário total e a diminuição do complexo protéico condroitinossulfato, tão como
ao aumento significativo dos nitritos/nitratos no soro total. Os resultados su-
gerem que a sinvastatina ativa a produção de oxide nítrico, resultando em
uma diminuição da pressão sanguínea diastólica e AER.
18 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 01 (2001)
Frank Hu et al, Annals of Internal A atividade física reduz o risco de doenças cardíacas e derrame
Medicine, 16 de janeiro de 2001 em pessoas diabéticas
Marjolein Visser et al, Pediatrics Detecção de uma inflamação sistêmica de baixo grau em
2001;107(1), janeiro de 2001 crianças com sobrepeso
Robertsos et al, Diabetes 2001;50:47- Transplante das próprias ilhotas pancreáticas após
50, janeiro de 2001 pancreatectomia previne diabetes
O Diabetes na Imprensa
Governo faz campanha contra diabetes
14 de janeiro de 2001
Todos os adultos com mais de 40 anos de idade serão convocados aos postos
de saúde de todo o país no dia 6 de março. Eles são o alvo da campanha que o
Ministério da Saúde fará para diagnosticar por meio de exame de sangue tirado
do dedo, se sofrem ou não de diabetes. O resultado sairá em 20 segundos.
Estatísticas do Ministério indicam que 5 milhões de brasileiros têm diabe-
tes. Metade das pessoas não sabem que são portadoras da doença. Entre os
que têm conhecimento, 23% não fazem qualquer tipo de tratamento. O Mi-
nistério estima que em 2010 o número de diabéticos chegará a 11 milhões de
pessoas. O diabetes é a sexta cause de mortes no país com o registro de cerca
de 25 mil óbitos por ano.
“O diabetes é um grave problema de saúde pública”, afirma o Secretário
de Políticas de Saúde, Cláudio Duarte da Fonseca. Em parceria com as secre-
tarias estaduais e municipais, o Ministério quer fazer o diagnóstico precoce
da doença e ampliar o atendimento ao paciente na rede pública. “Se o exame
for positivo, a pessoa deve marcar consulta no poste de saúde e se inscrever
no programa de monitoramento de diabetes”, recomenda Fonseca.
Continuação sexuais. O segundo estudo constatou que crianças estão engordando por fica-
rem mais tempo à frente da televisão ou dos computadores jogando videoga-
me, ao invés de saírem de casa para brincar ou praticar algum tipo de esporte.
O primeiro estudo, feito pela Youth Intelligence a pedido da revista Playboy,
entrevistou 750 homens e 250 mulheres em todos os estados dos EUA e reve-
lou ainda que os homens estão gastando menos tempo em outras atividades
para se divertir com os aparelhos ‘hi-tech’. Cerca de 75% disseram que estão
assistindo menos à televisão e também deixando de ir tanto ao cinema, en-
quanto 36% dizem que passam cada vez menos tempo fora de casa. Um terço
dos respondentes fazem menos esportes, enquanto 80% afirmaram que preci-
sam levar um dos ‘gadgets’ quando viajam em férias.
O segundo estudo constatou que o número oficial de crianças obesas na
Grã-Bretanha dobrou e a culpa é dos jogos de computador. Pesquisadores do
King’s College, em Londres, analisou crianças entre quatro e 11 anos por
cerca de 20 anos e notou que o número de meninas com sobrepeso subiu
50%, enquanto o número de meninos dobrou. Entre 1984 e 1994 os pesquisa-
dores pesaram mais de 30 mil crianças. Em 1984 apenas 5% dos meninos e
9,3% das meninas estavam com sobrepeso. Em 1994, no entanto, os números
evoluíram para 9% e 13,5%, respectivamente.
Pessoas com diabetes e pressão alta não só tem o risco de morrer mais cedo,
12 de janeiro de 2001 como também começar a perder as faculdades mentais na maturidade, e é
importante tratar as duas condições o quanto antes, alertaram pesquisadores.
Dr. David Knopman, da Clínica Mayo, em Rochester, Minnesota, condu-
ziu um estudo abrangendo mais de 10.000 pessoas com idades entre 47 e 70
anos, nos Estados Unidos. Os pesquisadores aplicaram vários testes para medir
função mental, incluindo testes de memória e agilidade mental, contra o reló-
gio. “O que vimos especificamente foi que, na realidade, não só a memória
diminui em pessoas com diabetes e hipertensão, mas a velocidade delas em
realizar tarefas mentalmente declinou”, disse, acrescentando que a situação
se agravava em quem apresentava as duas condições.
Knopman disse que as descobertas, relatadas na publicação Neurology,
sustentam outros estudos que associam o declínio mental com diabetes. O
hábito de fumar, assim como níveis altos de colesterol, não têm relação com
o declínio mental. Mas não ficou claro, segundo Knopman, como as duas
condições possam causar a perda de uma função cerebral. Calcula-se que de
14 a 15 milhões de norte-americanos têm diabetes tipo 2, que se desenvolve
na maturidade e cerca de 50 milhões, a partir de 6 anos de idade, têm pressão
sangüínea alta.
Uma recente pesquisa mostrou que cerca de 39 por cento dos norte-ameri-
canos se consideram acima do peso, mas apenas um terço se considera sob
risco de desenvolver diabetes. Na verdade, mais da metade dos norte-ameri-
canos é obesa, fator que aumenta muito o risco de diabetes. “Esses resultados
são alarmantes porque mostram que os norte-americanos não fazem a liga-
ção entre obesidade e diabetes tipo 2,” afirmou Dr. Steven Heymsfield, dire-
tor do centro de pesquisa sobre obesidade de Nova York, no Hospital St.
Lukes-Roosevelt.
Continuação seus efeitos estéticos imediatos. Sua aplicação, acompanhada de dieta balan-
ceada e exercícios físicos, provoca a redução da gordura do corpo e aumenta
a massa muscular, além de dar uma sensação de bem-estar. Virou o anaboli-
zante do verão nas academias de ginástica de São Paulo, apesar dos prejuízos
que pode trazer à saúde. E eles não são poucos: risco de desenvolver diabetes
resistente à insulina, acromegalia, inflamação e dores crônicas nas mãos e
câncer do fígado, principalmente em pessoas com histórico familiar da doen-
ça. “O hGH é a nova moeda corrente do tráfico de ilusão”, critica o especia-
lista em medicina esportiva Victor Matsudo. A maioria dos endocrinologistas
procurados pela revista, tais como Fadlo Fraige Filho (Beneficiência Portu-
guesa) ou Geraldo Medeiros Neto (USP) são opostos ao uso indiscriminado
do hormônio: “É uma total imbecilidade jovens tomarem esse hormônio. Es-
sas pessoas estão abrindo caminho para se tornarem diabéticas”, diz Geral-
do Medeiros Neto. Mesmo entre os sabidamente deficientes, o uso é conside-
rado arriscado. Há três anos, o Hospital das Clínicas aplica o hGH em um
grupo de 20 pessoas, com idade média de 60 anos, que revelam tendência à
osteoporose, colesterol alto e diabetes. “Os resultados não foram uniformes.
Em média, houve redução de gordura, melhora no colesterol e na sensação
de bem-estar”, explica Sami Liberman. Um outro frente de estudo, com obe-
sos, está sendo coordenado pelo endocrinologista Alfredo Halpern, no Hos-
pital das Clínicas. Parte deles tem a chamada gordura perigosa, localizada no
abdômen, que predispõe a hipertensão, infartos e derrames, além de diabetes.
Halpern acredita que o medicamento pode diminuir essa gordura, mas ainda
não concluiu a pesquisa.
Carlo Caravaggi, MD, Diabetes Care Eficácia e segurança de formas de fibra de vidro versus calçados
2000;23:1746–1751, dezembro de 2000 terapêuticos no tratamento de úlceras em pé neuropático
Objetivo: Avaliar e comparar a taxa de redução da superfície de ulceras
plantares neuropáticos em pacientes diabéticos tratados com formas de fibra
de vidro com rigidez diferenciada ou calçados com palmilha rígida e correti-
vos de descarga. O objetivo secundário era avaliar os efeitos adversos e o
grau de aceitação do tratamento pelo paciente.
Desenho e métodos: 50 pacientes diabéticos com ulceras plantares neuro-
páticos foram randomizados para participar de um dos dois grupos. Dentre os
50 pacientes, 24 foram equipados com calçados especiais incluindo palmilha
rígida e corretivos de descarga (grupo calçado), e 26 pacientes foram equipa-
dos com formas rígidas de fibra de vidro (grupo formas). Todos os pacientes
foram avaliados semanalmente no consultório. As suas úlceras foram trata-
das com as técnicas padrão. Desenhos das úlceras foram realizados no dia do
início do tratamento e 30 dias depois. A presença de novas úlceras causadas
pólo uso do equipamento foi notada. A aceitação do tratamento pelo paciente
foi medida usando uma escala visual analógica.
Resultados: No fim do tratamento, um aumento de 8,3% da superfície da
úlcera foi observado em 2 pacientes do grupo calçados, enquanto que no
grupo formas, nenhum paciente apresentou um aumento. A diminuição da
superfície da úlcera foi estatisticamente mais rápida no grupo formas (teste
de Mann-Whitney, P = 0,0004). O numero de úlceras completamente cicatri-
zadas no fim do período de 30 dias era 13 (50%) no grupo formas e 5 (20,8%)
no grupo calçados (P = 0,03). Nos dois grupos, nenhum efeito adverso foi
observado. O resultado médio ± DS de aceitação pelo paciente foi 91,15 ±
9,9 no grupo calçados e 88,33 ± 17,3 (NS) no grupo formas.
Conclusões: Nosso estudo mostrou uma diferença significativa na velo-
cidade de redução de úlceras plantares neuropáticas tratadas com forma de
fibra de vidro, em comparação com calçado sob medida. O uso da fibra de
vidro com rigidez variável mostrou também dois resultados importantes:
eliminação dos efeitos adversos, incluídas as úlceras causadas pela forma,
e alto nível de aceitação. Os dados comprovam que o uso de formas feitas
de bandagens de fibra de vidro com rigidez variável é um tratamento ade-
quado para úlceras plantares neuropáticas.
26 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 01 (2001)
S. Gentile et al, Diabetes, Obesity & Estudo de eficácia comparativa de atorvastatina vs. sinvastatina,
Metabolism 2000;2(6):355-362, pravastatina, lovastatina e placebo em pacientes diabéticos tipo 2
dezembro de 2000 com hipercolesterolemia
Continuação diabéticos do que em controles (0,59 ± 0,03 vs. 0,18 ± 0,03 mmol/m2/min) e
a metformina diminuiu essa taxa em 36% (para 0,38 ± 0,03 mmol/m2/min, P
= 0,01). O método 2H2O mostra um aumento de duas vezes das taxas de
gliconeogênese em pacientes diabéticos (0,42 ± 0,04 mmol/m2/min, e uma
diminuição em 33% após tratamento com metformina (0,28 ± 0,03 mmol/m2/
min, P = 0,0002). Não há ciclo do glicogênio em indivíduos controle, mas em
portadores de diabetes o ciclo do glicogênio contribui para 25% da produção
de glicose e explica as diferenças entre os dois métodos empregados. Em
conclusão, os pacientes portadores de diabetes tipo 2 pouco controlado apre-
sentam taxas elevadas de produção de glicose endogênica, que podem ser
atribuídas às taxas elevadas de gliconeogênese. A metformina diminui a taxa
de produção de glicose em esses pacientes pela redução da gliconeogênese.
Herlitz J et al, J Diabetes Impacto do histórico diabético sobre a melhoria dos sintomas
Complications 2000;14(6):314-321, e da qualidade de vida durante 5 anos após desvio arterial
dezembro de 2000 coronariano
Carl Erik Mogensen et al, BMJ Estudo controlado randomizado do bloqueio do sistema renina-
2000;321:1440-1444, dezembro de angiotensina em pacientes portadores de hipertensão,
2000 microalbuminúria e diabetes tipo 2: o estudo candesartan e
lisinopril microalbuminúria (CALM)
Michael B Kastan, Nature Cell Biology. O gene da ataxia-telangiectasia é associado à função insulínica
2000;12:893-898, dezembro de 2000
Pesquisadores descobriram que ATM, o gene da doença rara ataxia-telan-
giectasia (AT), tem uma função potencial importante para a sinalização da
insulina nas células. Esses achados poderiam esclarecer problemas fisiológi-
cos de pacientes portadores de AT, e poderiam também explicar como a insu-
lina funciona. A proteína ATM é conhecida para ser envolvida nas respostas
celulares à terapia por radiação. A próxima etapa, segundo os pesquisadores,
será caracterizar quais são as células dependentes de ATM para as respostas à
insulina e determinar o seu impacto sobre os processos fisiológicos, tais como
o metabolismo da glicose, a formação dos vasos sanguíneos, o crescimento
celular, o crescimento corporal e o metabolismo da célula adiposa. AT é uma
doença genética rara, caracterizada por incidência elevada de cânceres, hi-
persensibilidade à radiação e alguns tratamentos quimioterapêuticos, e uma
degeneração neurológica progressiva. Essa nova função da ATM pode ajudar
os pesquisadores a explicar outros problemas dos pacientes portadores de AT,
incluídas complicações metabólicas.
Giancarlo Tonolo et al, Eur J Clin As estatinas podem ter um efeito direito sobre a regulação da
Invest 2000;30:980-987, novembro de pressão sanguínea
2000
Em pacientes diabéticos tipo 2 hipertensos, o tratamento com sinvastatina
diminui a pressão sanguínea e a taxa de excreção de albumina urinária (AER)
independentemente da melhoria do nível dos lipídios. Os pesquisadores ob-
servaram, de acordo com vários estudos anteriores, que os benefícios das
estatinas, também conhecidas como inibidores da atividade da enzima HMG-
CoA redutase, não podem ser explicados somente pelo efeito sobre o LDL-
colesterol. Uma hipótese seria que as estatinas podem restaurar a produção
de oxide nítrico dependente do endotélio, agindo independentemente da di-
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 01 (2001) 29
Vandermolen DT et al, Fertil Steril Metformina e clomifeno induzem ovulação em mulheres com
2001;75:310-315, fevereiro de 2001 síndrome de ovários policísticos
Sten Madshad et al, 17th International Melhor controle glicêmico com repaglinida comparada com
Diabetes Federation Congress, Mexico glipizida em diabetes tipo 2
City, Mexico, 5 a 10 de novembro de
2000 A eficácia a longo prazo e a segurança do regulador da glicose prandial
repaglinida foram comparadas com a sulfoniluréia glipizida em um estudo
multicêntrico de 1 ano, duplo-cego com grupo paralelo. Pacientes diabéticos
tipo 2 diabetes (n = 256; idade 40-75 anos, IMC 20-35 kg/m2, HbA1c 4,2% -
12,8%), sem sintomas de complicações severas micro ou macrovasculares,
foram randomizados para receber repaglinida, 1-4 mg durante as refeições,
ou glipizida, 5-15 mg/dia. Mudanças da glicose plasmática de jejum e HbA1c
durante os 12 meses de tratamento mostraram uma diferença significativa em
favor da repaglinida. Nos grupos repaglinida e glipizida, HbA1c diminuiu de
1,5% e 0,3% respectivamente, enquanto que a glicose plasmática de jejum
diminuiu de 2,4 mmol/l no grupo repaglinida e 1,0 mmol/l no grupo glipizida.
30 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 01 (2001)
Produtos e novidades
La Pastina: Pêssego Grego Diet
Continuação Resultados:
DM NDM p
Lesões restenóticas 12 (15,4%) 10 (4,0%) < 0,002
Hipertensão 62 (79,3%) 154 (60,9%) < 0,004
Sexo feminino 38 (48,7%) 79 (31,2%) < 0,008
Idade 65 anos 28 (55,9%) 93 (36,8%) NS
Disfunção VE mod/sev 20 (26,0%) 61 (24,4%) NS
Multiarteriais 43 (45,1%) 107 (42,3%) < 0,06
Angina estável 31 (39,7%) 56 (22,2%) NS
Angina instável 34 (43,6%) 82 (32,5%) NS
IAM 13 (16,7%) 56 (22,2%) NS
Lesões B2 + C 62 (72,9%) 198 (70,7%) NS
Sucesso do procedimento 76 (97,4%) 251 (99,2%) NS
Sucesso clínico 69 (88,5%) 246 (97,2%) < 0,005
Complicações maiores 9 (11,5%) 7 (2,8%) < 0,005
Lise Tarnow et al, Diabetes Care Efeito protetor do rim a longo prazo da nisoldipina e lisinopril
2000;23:1725–1730, dezembro de 2000 em pacientes diabéticos tipo 1 portadores de nefropatia diabética
Nelia Bueno, Bárbara Fletcher, Gerald Comparação entre o nível de desconhecimento dos fatores de
Fletcher, Salvador Serra, Pedro di risco coronariano e os hábitos de vida de indivíduos com história
marco da Cruz, Deborah Kelly, Luísa familiar de doença arterial coronariana no sudeste do Brasil e
Meirelles, Elizabeth Atkinson, Leigh dos Estados Unidos
Ann Tabor, Iran Castro, Instituto de
Cardiologia do Rio Grande do Sul Introdução: Existe maior prevalência de fatores de risco coronariano (FRC)
FUC, Porto Alegre, RS, LV Congresso em regiões economicamente menos desenvolvidas comparadas às mais de-
da Sociedade Brasileira de senvolvidas. A redução de mortalidade cardiovascular dos países desenvol-
Cardiologia, Rio de Janeiro, RJ, junho vidos foi obtida principalmente às custas de prevenção primária.
de 2000 Objetivo: Comparar o nível de desconhecimento das FRC e os hábitos de
vida dos filhos de indivíduos com DAC.
Métodos: Os pacientes completaram questionários (Q) e listaram os fi-
lhos. Q sobre FRC e hábitos de vida foram enviados aos filhos (n = 166). O
teste t de Student foi utilizado para análise das variáveis contínuas e o Qui-
quadrado para as variáveis categóricas.
Resultados: Idade [BR (31 ± 7,89); EUA (38,61 ± 7,090) p < 0,001]; sexo
masculino [BR = 41 (40,19%); EUA 36 (56,24%) p = 0,78]; Nível de desco-
nhecimento: colesterol [BR (53,7%); EUA (31,7%) p = 0,01]; glicose [BR
(51%); EUA (76,1%) p = 0,03]; PAS [BR (32,6%); EUA (20,6%) p = 0,15];
PAD [BR (31,8%); EUA (22,2%) p = 0,98]; tabagismo [BR (29,4%); EUA
(7,8%) p = 0,002]; fisicamente ativos [BR (23,7%); EUA (50%) p = 0,001];
Dieta: pouco gordura [BR (30,6%); EUA (59,3%) p = 0,01]; Alterações no
estilo de vida: relacionada a DAC [BR (48%); EUA (30,9%) p < 0,01].
Conclusão: Conclui-se que o nível de desconhecimento em relação ao
colesterol e glicose nos filhos de indivíduos com DAC difere no sudeste
do Brasil e do Estados Unidos. Não houve diferença em relação à pressão
arterial. Diferem, também, os hábitos alimentares, tabagismo, sedenta-
rismo e alterações no estilo de vida. Estas diferenças, provavelmente,
refletem fatores geográficos, sociais e/ou econômicos.
Continuação mulheres não usuárias de TRH (n = 31). TRH foi significativamente associada
(P = 0,025) com a tolerância à glicose endovenosa (KG); mulheres não usuárias
de TRH apresentaram KG maior do que mulheres usando TRH (0,83 ± 0,08 vs.
0,60 ± 0,05% por minuto). A percentagem de gordura corporal (r = – 0,37, P =
0,004) e Vo2max (r = 0,35, P = 0,007) foram marcadores similares de SI.
Conclusões: Enquanto que TRH seja associada à diminuição de Si, o
treinamento físico é associado à melhora de Si. As mulheres menopausa-
das usando TRH podem beneficiar de níveis menores de insulina plasmá-
tica mas apresentam também uma menor Si.
Suzanne E. Geerlings, Diabetes Care Fatores de risco de infecção do trato urinário em mulheres
2000;23:1737–1741, dezembro de 2000 diabéticas
Yuko Uto et al, 17th International Nateglinida melhora a fase precoce da secreção de insulina e a
Diabetes Federation Congress, Mexico hiperglicemia pós-prandial em pacientes diabéticos tipo 2
City, Mexico, 5 a 10 de novembro de
2000 Objetivo: Nateglinida é um novo agente hipoglicemiante de ação curta que
estimula diretamente as células β do pâncreas. Para confirmar o efeito agudo e
as ações farmacológicas da nateglinida, estudamos as mudanças da glicose
plasmática e os níveis de insulina durante um teste de tolerância (refeição).
Material e métodos: 10 pacientes portadores de diabetes tipo 2 recentemen-
te diagnosticados e não-tratados. Após dieta e exercício durante uma semana,
eles receberam 270 mg/dia de nateglinida. Os testes de tolerância foram reali-
zados antes (linha base) e após uma administração única de nateglinida (dia 1),
após 7 dias de tratamento (dia 7), e após o fim do tratamento (dia 8).
Resultados: A glicose plasmática de jejum era 8,1 ± 0,3 mmol/l na linha base e
7,2 ± 0,3 mmol/l no dia 7 (P = 0,01). O nível de glicose plasmática 2h após a
refeição era 12,5 ± 0,6 mmol/l n linha base, 8,0 ± 0,5 mmol/l no dia 1 (P = 0,0001),
e 10,5 ± 0,8 mmol/l no dia 8 (P = 0,01 vs. linha base, P = 0,002 vs. dia 7). O nível
de insulina de jejum era 32,4 ± 6,0 pmol/l e não mudou significativamente durante
o estudo. O nível de insulina 30 min após a refeição era 86,4 ± 11,4 pmol/l na linha
base, 237,0 ± 27,0 pmol/l no dia 1 (P = 0,00004), e 141,6 ± 21,6 pmol/l no dia 8 (P
= 0,008 vs. linha base, P = 0,002 vs. dia 7). A insulina total (AUC?IRI) era 23,9
± 4,2 x1000 pmol?min/l na linha base, 38,8 ± 4,8 pmol?min/l no dia 1 (P =
0,00003), e 36,1 ± 11,4 pmol?min/l no dia 8 (P = 0,008 vs. linha base).
Conclusões: A secreção da fase precoce da insulina aumentou, mesmo após
uma única tomada de nateglinida. A melhora da secreção de insulina foi efeti-
va reduzindo a hiperglicemia pós-prandial em portadores de diabetes tipo 2.
D.G. Carey et al, 36th Annual Meeting Rosiglitazona diminui a gordura hepática e aumenta a gordura
of the EASD, Jerusalem, 17 a 21 de subcutânea mas não a gordura intra-abodominal
setembro de 2000
Objetivos: In vitro, rosiglitazona (RSG) causa diferenciação de pré-adipocí-
tos extraídos do tecido subcutâneo, mas não da gordura intra-abdominal. O
estudo examina o efeito da RSG sobre a distribuição de gordura em pacientes
diabéticos tipo 2, usando ressonância magnética, spectroscopia e absorciome-
tria de raios-X (DXA).
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 01 (2001) 39
Carina Törn et al, Diabetes/ Anticorpos do ácido glutâmico descarboxilase (GADA) é o mais
Metabolism Research and Reviews, importante fator de prognóstico de insulinoterapia nos três
2000;16(6):442-447, dezembro de 2000 próximos anos em jovens pacientes diabéticos adultos não
classificados como diabéticos tipo 1
Tracey A. Jones et al, 17th International Rosiglitazona e eficaz quando adicionada a metformina em
Diabetes Federation Congress, pacientes obesos, insulino-resistentes e portadores de diabetes
Mexico City, Mexico, 5 a 10 de tipo 2
novembro de 2000
Objetivo: Em pacientes obesos, resistentes à insulina e portadores de dia-
betes tipo 2, inadequadamente controlados com metformina (MET), a terapia
combinada com um agente que diminui a resistência à insulina pode ser mais
apropriado do que o uso de um agente secretagogo. O estudo avaliou a eficá-
cia da rosiglitazona (RSG) administrada a pacientes obesos tratados com doses
elevadas de metformina.
Métodos: Dois estudos duplo-cego de RSG adicionada à dose quase máxi-
ma de MET (2,5 g/dia), em 550 pacientes dois quais foram avaliados glicose
plasmática de jejum e IMC. Os pacientes foram classificados em peso nor-
mal, sobrepeso e obesidade de acordo com o IMC na linha base, usando os
critérios da OMS (<25 kg.m-2, 25-30 kg.m-2, >30 kg.m-2, respectivamente).
Resultados: Os três subgrupos apresentaram melhora significativa da gli-
cose plasmática de jejum com RSG; O efeito foi mais importante em pacien-
tes obesos. Os pacientes obesos apresentaram também diminuições mais im-
portantes da resistência à insulina e da insulina de jejum com RSG (4mg
[28% e 12%], 8mg [51% e 32%], respectivamente). Os efeitos adversos não
foram diferentes em pacientes obesos e não-obesos.
ARTIGO ORIGINAL
Departamento de Diabetes e Endocrinologia do Hospital Agamenon Magalhães, Recife, Brasil e Departamento de Diabetes e Endocrinologia, City Hospital,
Nottingham NG5 1PB, UK.
Resumo
Objetivo: Determinar o perfil do diabético tipo 2 em Recife, Nordeste do Brasil. Material e métodos: Foram estudadas características clínicas
e laboratoriais de 632 pacientes com diabetes tipo 2 e encaminhados para a clínica de diabetes do Hospital Agamenon Magalhães. Resultados:
A média de idade dos 632 pacientes (415 mulheres) foi de 57,1 anos. A duração da doença (mediana) foi de 5,0 anos. 136 (22,4%) pacientes
eram obesos (IMC ³ 30) e 233 (38,3%) tinham IMC < 25 kg/m2. Doença vascular periférica, neuropatia e retinopatia foram encontrados em
32,9%, 47,4% e 38,0% dos pacientes e sua presença foi associada com uma maior duração da doença (p < 0,001) e idades maiores (p < 0,001
para vasculopatia e neuropatia e p < 0,05 para retinopatia). Proteinúria foi encontrada em 8,3% dos pacientes e também foi associada com
maior duração da doença (p < 0,05) mas não com maior idade (p = 0,72). Amputação foi realizada em 6,3% dos pacientes. A glicemia de jejum
(mediana) foi 166,0 mg/dl e a HbA1, 8,6%. Colesterol total foi > 240,0 mg/dl em 77 pacientes (23,4%) e < 200,0 mg/dl em 161 (48,9%).
Triglicerídeos de jejum foram < 150,0 mg/dl em 220 (69,6%) pacientes. Conclusões: A baixa prevalência de obesidade difere da relatada em
outros estudos também no Brasil. Apesar do mau controle glicêmico, houve uma baixa prevalência de hipertrigliceridemia, sugerindo a possi-
bilidade de uma resistência à insulina seletiva. A prevalência de complicações crônicas foi similar ou maior que a apresentada em estudos de
outros países, apesar da taxa de amputação ter sido maior. Como diabetes é uma doença com elevada prevalência no Brasil, as conseqüências
econômicas e sociais são drásticas, sendo necessária uma reestruturação do serviço de saúde atualmente vigente.
Abstract
Objective: To assess the clinical profile of type 2 diabetes in Recife, Northeastern Brazil. Research design and methods: Clinical and laboratory
characteristics were studied of 632 patients with type 2 diabetes referred to a specialist clinic. Results: 632 patients (415 female) with a mean
age of 57.1y and median disease duration of 5.0y were studied. 136 (22.4%) were obese (BMI ³ 30) but 233 (38.3%) had BMI < 25 kg/m2.
Peripheral vascular disease, neuropathy and retinopathy were found in 32.9%, 47.4% and 38.0% of the patients and their presence was associ-
ated with longer disease duration (p < 0.001) and older age (p < 0.001 for vasculopathy and neuropathy and p<0.05 for retinopathy). Proteinuria
was found in 8.3% of the patients and was also associated with longer disease (p < 0.05) but not with age (p = 0.72). Amputation had been
performed in 6.3%. Median fasting glycemia was 166.0 mg/dl and HbA1, 8.6%. Total cholesterol was > 240.0 mg/dl in 77 (23.4%) and < 200.0
mg/dl in 161 (48.9%) patients. Fasting triglycerides was < 150.0 mg/dl in 220 (69.6%) patients. Conclusions: The low obesity rate differs from
previous reported studies from Brazil. The overall glycemic control was poor but with a low prevalence of hypertriglyceridemia, suggesting the
possibility of selective insulin resistance. The prevalence of chronic complications was similar to or greater than most studies from other
countries although the amputation rate was higher. As diabetes is a disease with high prevalence in Brazil, the economic and social consequen-
ces are vast and consideration needs to be given to the structuring of health care services.
Endereço para correspondência: Dr Josivan Gomes de Lima, Rua Joaquim Fabricio, 233/1200 Petrópolis, 59012-340 Natal – RN, Telefone: (84) 222 6328 /
94319432 - Fax: (84) 211 6324, E-mail: josivan@usa.net
42 Lima JG et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 41~47
Material e métodos
Métodos estatísticos
Este é um estudo retrospectivo de todos os pacientes
com Diabetes tipo 2 acima de 18 anos encaminhados Os dados são apresentados como média ± desvio pa-
pelo Sistema de Saúde ao Serviço especializado em Di- drão ou, se não paramétricos, como mediana (interva-
abetes do Hospital Agamenon Magalhães, Recife, entre lo). Testes de Mann-Whitney-Wilcoxon, Chi-quadrado,
maio de 1995 e agosto de 1997. Como poucos pacientes Anova e Spearman foram aplicados quando necessári-
não foram incluídos, acreditamos que a população re- os, utilizando Stat100 - Biosoft [8]. Dados de idade e
crutada foi o mais consecutiva possível. A maioria era HbA1 mostraram-se com distribuição normal através do
encaminhada por clínicos gerais ou outras clínicas es- teste de Kolmogorov-Smirnov.
Lima JG et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 41~47 43
Grupo total 632 (100) 57,1 ± 12,2 ; 58,0 (22,0-90,0) 5,0 (0,1 - 40,0)
Homens 217 (34,3) 58,2 ± 12,4 ; 59,0 (22,0-89,0) 5,0 (0,1 - 40,0)
Mulheres 415 (65,7) 56,5 ± 12,1 ; 57,0 (23,0-90,0) 5,0 (0,1 - 40,0)
p* - P = 0,06 P = 0,21
* Teste de Mann-Whitney entre pacientes homens e mulheres. Figura 1 – Distribuição do IMC. do IMC
Distribuição
Tabela 2 – Distribuição do índice de massa corpórea. 151
160
Número de pacientes
140
IMC (kg/m2) Pacientes n = 608 (%) 120 104
100 81 88
80
< 20,0 48 (7,9) 60
59
39 38
20,0-24,9 185 (30,4) 40 17
20 9 8 6 8
25,0-29,9 239 (38,3) 0
30,0-39,9 122 (20,1) <17,5 17.5- 20.0- 22.5- 25.0- 27.5- 30.0- 32.5- 35.0- 37.5- 40.0- >42.5
> 40 14 (2,3) 19.9 22.4 24.9 27.4 29.9 32.4 34.9 37.4 39.9 42.4
média de 42,1 ± 21,3 unidades/dia. 102 estavam usando 255) foi 8,6 (4,5 - 16,0)%. O controle glicêmico nos 379
apenas uma aplicação de insulina por dia, enquanto 91 pacientes que tinham uma ou ambas as dosagens reali-
usavam duas ou mais. zadas foi julgado como Bom (Glicemia £ 140mg/dl e/
ou HbA1 £ 8,0%) em 112 pacientes (29,6%), Regular
Controle glicêmico e lipemia (glicemia 141-180mg/dl e/ou HbA1 8,1 - 10,0%) em 124
A mediana da glicemia de jejum (n = 321) foi 166,0 pacientes (32,7%), e Pobre em 143 (37,7%). Colesterol
mg/dl (intervalo 66,0 - 500,0) e a mediana da HbA1 (n = total sérico (n = 329) foi menor que 200 mg/dl em 161
Retinopatia 218 (38) 57,9 ± 10,4 10,6 ± 7,7 176,6 ± 75,8 8,6 ± 1,4
57,5(30-84) 10(0,1-40) 164(68-500) 8,7(4,6-11,6)
Ausência 355 (62) 55,2 ± 12,8 4,6 ± 4,9 181,4 ± 82,2 8,5 ± 2,0
8,7(4,6-11,6) 3(0,1-23) 167,5(66-500) 8,6(4,5-16)
p - P = 0,02 P < 0,001 P = 0,765 P = 0,548
Proteinúria 26 (8,4) 58,1 ± 11,8 10,4 ± 8,1 197,1 ± 85,4 8,7 ± 1,4 8,7
59(23-81) 9,5(0,1-30) 203(70-326) (5,3-11,2)
Ausência 282 (91,6) 57,7 ± 11,9 7 ± 6,6 173,6 ± 76,4 8,5 ± 1,8
58(23-85) 5(0,1-35) 164(68-470) 8,6(4,5-16)
p - P = 0,72 P = 0,04 P = 0,2 P = 0,37
Vasculopatia 207 (32,9) 62,9 ± 11 9,6 ± 8,1 178,9 ± 80,5 8,6 ± 1,7 8,6
63(25-90) 8(0,1-40) 167,5(68-500) (4,6-12,8)
Ausência 423 (67,1) 54,3 ± 11,8 6,3 ± 6,2 182 ± 81,5 8,6 ± 1,8
55(22-85) 4(0,1-33) 165,5(66-500) 8,6(4,5-16)
p - P < 0,001 P < 0,001 P = 0,83 P = 0,75
Neuropatia 299 (47,4) 59,9 ± 11,5 9,2 ± 7,9 183,7 ± 85,2 8,7 ± 1,8
61(30-89) 8(0,1-40) 168(66-500) 8,8(4,6-16)
Ausência 332 (52,6) 54,6 ± 12,4 5,9 ± 6,2 178 ± 77,4 8,4 ± 1,7
55(22-90) 4(0,1-40) 164,5(68-470) 8,4(4,5-14,7)
p - P < 0,001 P < 0,001 P = 0,647 P = 0,202
Disfunção 122 (56,2) 59,4 ± 11,2 8,1 ± 7,3 192,9 ± 83,2 8,6 ± 1,5
Erétil 60(23-83) 6(0,1-40) 183,5(75-470) 8,8(4,6-12,1)
Ausência 95 (43,8) 56,7 ± 13,7 5,8 ± 7,1 183,9 ± 97,7 8,3 ± 2,3
58(22-89) 3(0,1-30) 162(70-500) 8,1(4,5-16)
p - P = 0,12 P < 0,001 P = 0,25 P = 0,207
Background 175 (80,3) 58 ± 10,5 10,4 ± 7,9 177,5 ± 78,2 8,7 ± 1,4
57(30-84) 10(0,1-40) 164(68-500) 8,8(4,6-11,6)
Preprolife-rativa 24 (11) 57,9 ± 11,1 9,8 ± 7 193,3 ± 63,4 8,5 ± 1,1
58(40-78) 8,5(0,3-26) 187(94-310) 8,8(6-9,5)
Proliferativa 19 (8,7) 57 ± 9,3 13,2 ± 6,4 157,3 ± 67,1 8 ± 1,6
61(38-68) 15(0,4-20) 132(79-271) 7,8(5,8-11,6)
P (Anova) - P = 0,92 P = 0,29 P = 0,54 P = 0,39
pacientes (48,9%), entre 200 e 240 mg/dl em 91 (27,7%) (22,7%; p = 0,15) dos 423 sem vasculopatia. Os pacien-
e maior que 240 mg/dl em 77 (23,4%). Triglicerídeos de tes com vasculopatia eram, no entanto, mais velhos (62,9
jejum (n = 316) foi < 100 mg/dl em 123 pacientes 11,0 vs. 54,3 11,8 anos; p < 0,001) e tinham o diagnós-
(38,9%), entre 100 e 149mg/dl em 97 (30,7%) e maior tico de diabetes há mais tempo (mediana 8,0 vs. 4,0 anos;
que 150mg/dl em 96 (30,4%). Correlações significati- p < 0,001), mas não houve diferença no controle glicê-
vas foram observadas entre a concentração de triglicerí- mico (Tabela 4).
deos e a glicemia de jejum (r = 0,32; p < 0,001), HbA1 (r
= 0,12; p < 0,05) e colesterol total (r = 0,43; p < 0,001), Neuropatia
mas não com IMC (r = 0,1; p > 0,05) (Tabela 3). Evidência de neuropatia distal (sensorial e/ou moto-
ra) estava presente em 299 de 631 (47,4%) pacientes
Retinopatia cujos dados foram registrados de forma completa. Os
Fundoscopia foi realizada de acordo com o protocolo pacientes com neuropatia eram mais idosos (59,9 11,5
em 573 pacientes (90,7%) da amostra total estudada. vs. 54,6 12,4 anos; p < 0,001) e tinham uma duração de
Destes, 218 (38,0%) tinham algum grau de retinopatia, doença maior (mediana 8,0 vs. 4,0 anos; p < 0,001), mas
e quando comparados com os pacientes sem retinopatia, tinham um similar controle glicêmico (Tabela 4).
aquele grupo era mais velho (57,9 10,4 vs. 55,2 12,8
anos; p = 0,022, Mann-Whitney) e tinha maior tempo de Disfunção erétil
duração da doença (mediana 10,0 vs. 3,0 anos; p < 0,001), 122 dos 217 homens (56,2%) admitiram, frente a um
mas não encontramos diferença no controle glicêmico questionário direto, apresentar alguma forma de disfun-
global (Tabela 4). 19 pacientes (3,3% da amostra exami- ção erétil. Os homens afetados tinham maior mediana
nada) tinham retinopatia proliferativa, e 24 pacientes de duração de doença (6,0 vs. 3,0 anos; p < 0,001), mas
apresentavam (4,2%) doença pré-proliferativa. Não ha- não houve diferença na idade ou controle glicêmico (Ta-
via diferença entre qualquer desses grupos e aqueles bela 4). 42 dos 122 homens com disfunção (34,4%) eram
pacientes com alterações tipo background (n = 175, fumantes ou recentemente tinham parado de fumar (<
30,5%) em relação a idade, duração da doença, glicemia 11 anos), comparado com 33 de 95 (34,7%) com potên-
de jejum ou HbA1 (Tabela 5). cia normal.
Proteinúria Amputação
Proteinúria positiva foi detectada na primeira amos- 40 pacientes (6,3%) da amostra total estudada apre-
tra de urina da manhã em 26 (8,4%) dos 308 pacientes sentavam história prévia de cirurgia de amputação nos
pesquisados. A duração da doença foi maior que nos membros inferiores em qualquer nível (dedos, antepé
pacientes sem proteinúria (mediana 9,5 vs. 5,0 anos; p = ou joelho). Houve forte associação entre amputação e a
0,04), mas não encontramos diferença no controle gli- presença de vasculopatia e neuropatia. 33 (11,0%) de
cêmico (Tabela 4). 299 pacientes com neuropatia e 30 (14,5%) de 207 paci-
entes com doença vascular periférica tinham sofrido
Hipertensão arterial amputação, comparados com apenas 6 (1,8%) de 332 (p
A pressão arterial foi verificada em todos os 632 pa- < 0,001) e 9 (2,1%) de 423 (p < 0,001), respectivamen-
cientes. Dos 632 pacientes, 281 (44,5%) já tinham o di- te, sem neuropatia e vasculopatia. A prevalência de am-
agnóstico prévio de hipertensão e outros 65 pacientes putação nos pacientes portadores de ambas, neuropatia
(10,3%) apresentaram pressão arterial elevada no mo- e vasculopatia, foi de 17,2% (26 pacientes).
mento do exame. Dentre os pacientes com diagnóstico
prévio de hipertensão, as médias das pressões arteriais Discussão
sistólica e diastólica foram 147,7 24,6 mmHg e 88,0
13,8mmHg, respectivamente, e a pressão arterial foi A prevalência de diabetes no Brasil é alta, atingindo
considerada bem controlada (sistólica £ 140 mmHg e 7,6% da população urbana entre 30 e 69 anos de idade.
diastólica £ 90 mmHg) em 123 (43,8%). Esta prevalência excede a apresentada em outros países
da América do Sul incluindo Argentina [9] e Colômbia
Doença vascular periférica [10], e também nos brancos dos Estados Unidos [11], mas
207 (32,9%) dos 630 pacientes examinados tinham é menor que a relatada na cidade do México [12] e entre
evidências objetivas de doença vascular periférica. Des- mexicanos [13] e negros [11] dos Estados Unidos. Ape-
tes, 36 (17,4%) eram fumantes ou tinham parado de fu- sar desta elevada prevalência, há poucas tentativas de do-
mar nos últimos 10 anos, quando comparados com 96 cumentar o perfil da doença nesta população. O atual es-
46 Lima JG et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 41~47
tudo é limitado por ter sido realizado em uma população trole glicêmico e a presença ou ausência de complica-
inevitavelmente selecionada e também por seus dados te- ções foi atribuído a reflexo das limitações de um estudo
rem sido coletados durante o curso da clínica prática de transversal.
rotina e um certo número de itens estarem faltando. No A prevalência de retinopatia foi da mesma ordem de
entanto, no nosso conhecimento, este artigo representa o muitos outros estudos em diabéticos tipo 2 reportados
mais abrangente estudo até agora publicado sobre o qua- por todo o mundo [2, 16], assim como para proteinúria
dro clínico e apresentação do Diabetes tipo 2 no Brasil. positiva. A prevalência desta foi, no entanto, menor que
A aparente predominância do diabetes no sexo femi- a relatada por Paisey et al no México [17]. A prevalên-
nino observada em estudos populacionais prévios no cia de neuropatia periférica foi maior que a relatada em
Brasil [1, 4] foi confirmada em nosso estudo. Apesar de outras populações com diabetes tipo 2 [2, 18], mas simi-
não ter sido demonstrada uma diferença de idade entre lar aos 40,8% reportados no México [17] e Estados Uni-
os sexos, o que justificaria esta predominância, demons- dos [19]. Queixas de disfunção erétil também foram
tramos uma tendência das mulheres apresentarem um maiores que em outros estudos [20, 21], mas isto pode
IMC mais elevado que os homens. No entanto, a preva- ser resultado do fato da população ter sido selecionada,
lência global de obesidade foi baixa e, surpreendente- pelo menos em parte, por ser sintomática.
mente, demonstrou-se sob a forma de uma curva desvi- Hipertensão (prévia ou recentemente diagnosticada)
ada para a esquerda (Fig. 1) apesar do acesso a aconse- pareceu ser mais freqüente que em muitos estudos pre-
lhamento dietético especializado ser limitado nesta po- viamente relatados [2] talvez porque o diagnóstico de
pulação e apesar do fato da metformina não ser disponí- novos hipertensos foi dependente de uma única e casual
vel gratuitamente e ser custeada pelos pacientes que a medição clínica da pressão arterial. O nível de controle
utilizavam. As principais opções terapêuticas disponí- da pressão arterial pareceu surpreendentemente bom para
veis para pacientes com diabetes tipo 2 pobremente con- uma população com diagnóstico prévio de hipertensão
trolados com dieta são sulfoniluréias (glibenclamida, A prevalência de doença vascular periférica foi, no en-
clorpropamida) e insulina. Não encontramos evidências tanto, similar à esperada apesar de menor, mais uma vez,
que sugiram que o baixo IMC desta população relacio- que a relatada no México [22]. Por outro lado, o número
nava-se com pobre controle glicêmico e não vimos ra- de amputados de 6,3% foi muito maior que na maioria
zão para suspeitarmos que aqueles com baixo peso (IMC dos outros estudos previamente publicados. Prevalênci-
< 20) tinham diabetes tipo 1 não diagnosticado já que as neste nível têm sido relatadas apenas em Nauru (7,7%)
30 dos 48 pacientes não estavam usando insulina apesar [23], Tonga (7,0%) [2] e Holanda (5,0%) [24]. As pre-
de uma duração de doença mediana de 4 anos. No en- valências em todas as outras séries são menores que 3,0%
tanto, a prevalência de obesidade foi muito maior em [2, 16, 25, 26]. Como não há a menor razão para se crer
outros estudos, chegando a 72,6% em Foss et al [3]. A que a prevalência de doença vascular periférica seja di-
discrepância é inexplicável, porém deve se relacionar a ferente da dos outros países, esta elevada taxa de ampu-
diferenças em origens raciais nas duas populações. tação deve ser resultado de outros fatores incluindo, por
Também foi observada uma taxa relativamente baixa parte do paciente, falta de reconhecimento do risco e
de hipertrigliceridemia surgindo a possibilidade dos paci- tendência a se apresentar a serviços médicos inapropri-
entes diabéticos do Nordeste do Brasil exibirem uma adamente tarde e, por parte dos profissionais, inacessi-
menor resistência insulínica relacionada ou não à menor bilidade, falha na prescrição de antibióticos apropriados
prevalência de obesidade. Devemos ainda considerar a (por qualquer motivo), falta de recursos suficientes para
possibilidade desta população tão heterogênea sob o pon- um adequado tratamento conservador, recursos limita-
to de vista racial manifestar a resistência insulínica de uma dos para reconstrução vascular e inabilidade de prover
forma seletiva, caracterizada por hiperglicemia atingindo adequada manutenção de profilaxia para aqueles paci-
níveis diagnósticos de diabetes, porém com uma menor entes de risco.
tendência a anormalidades do metabolismo lipídico. Como 20% de todas as hospitalizações para diabéti-
O controle glicêmico em geral foi ruim, e não diferiu cos se devem a problemas nos pés [27], e a média de
de outras populações [14, 15]. Apesar disto, a prevalên- duração da internação após amputação é de 20 a 42 dias
cia de hiperlipidemia e particularmente hipertrigliceri- [28, 29], o custo direto de cada amputação (anestesia,
demia foi mais baixa que as previamente relatadas por cirurgia e hospitalização) é da ordem de U$20.000,00 a
outros grupos da América do Sul [3] e também de outras U$25.000,00 nos Estados Unidos [29], e de U$16.000,00
regiões [12]. 38,9% dos pacientes estudados tinham tri- na Holanda [28]. Se considerados os danos indiretos
glicerídeos menor que 100 mg/dl. O fato de não ter sido (problemas psicológicos, incapacidade, perda do empre-
possível definir uma associação entre qualidade de con- go e/ou carreira do paciente) o custo total de uma ampu-
Lima JG et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 41~47 47
tação torna-se incalculável. A implementação de servi- 13 – Flegal KM, Ezzati TM, Harris MI, Haynes SG, Juarez RZ,
ços especializados em pé diabético tem mostrado redu- Knowler WC et al. Prevalence of diabetes in Mexican
zir a incidência de amputação relacionada ao diabetes americans, cubans and puerto ricans from the Hispanic Health
em aproximadamente 45% [28], e deve ser considerada and Nutrition Examination Survey, 1982-1984. Diabetes Care
prioridade máxima em populações como a brasileira, que 1991;14(7), Suppl 3:628-638.
14 – Clauson P, Linnarsson R, Gottsäter A, Sundkvist G, Grill V.
parece ser de particular risco. Relationships between diabetes duration, metabolic control
Desta forma, nós mostramos neste estudo que a pre- and b-cell function in a representative population of type 2
valência de complicações do diabetes na população bra- diabetic patients in Sweden. Diabet Med 1994;11(8):794-801.
sileira é semelhante ou maior que a relatada em popula- 15 – Eriksson J, Forsén B, Häggblom M, Teppo A-M, Groop L.
ções equivalentes em outras regiões. Como o diabetes é Clinical and metabolic characteristics of type 1 and type 2
diabetes: an epidemiological study from the Närpes
mais comum no Brasil que em muitos outros países e Community in Western Finland. Diabet Med 1992;9:654-660.
afeta mais de 7,6% da população urbana entre 30 e 69 16 – Mundet X, Cano JF, Mata M, Franch J, Bundó M, Berenguer
anos de idade, as conseqüências econômicas e sociais M. Diabetic chronic complications in type 2 diabetes: a
desta condição são vastas e medidas apropriadas preci- multicentric study. Diabetologia 1997;40(Suppl 1):A208.
sam ser tomadas visando estruturar os Serviços de Saú- 17 – Paisey RB, Arredondo G, Villalobos A, Lozano O, Guevara
L, Kelly S. Association of differing dietary, metabolic and
de para atender satisfatoriamente toda esta população. clinical risk factors with microvascular complications of
diabetes: a prevalence study of 503 Mexican Type II diabetic
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48 Heleno MGV / Diabetes Clínica 01 (2001) 48~54
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas
ARTIGO ORIGINAL
Profa. Dra Coordenadora do Núcleo de Estudos e Atendimento Psicológico da Universidade Cruzeiro do Sul – UNICSUL
Pesquisa realizada no Centro de Diabetes da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP e apresentada no III Congresso Paulista de Diabetes e
Metabolismo - 1998.
Resumo
Este trabalho teve como objetivo analisar uma amostra de pacientes com diabetes do tipo 2, para servir de subsídios que pudessem orientar o
planejamento de atividades visando à manutenção ou melhora da qualidade do controle glicêmico, aprimorando o atendimento a estes pacien-
tes. Interessava saber quais variáveis apresentavam correlação significante com o controle glicêmico para que elas fossem controladas. A
amostra era composta de cinqüenta pacientes e foram coletados os seguintes dados: Idade, Sexo, Peso, Altura, Conhecimento sobre a doença,
Dieta, Tempo de Diabetes, Exercício Físico, Familiares Diabéticos, Orientação, Classe Sócio-econômica e Eficácia Adaptativa. A análise dos
dados mostrou que a classe sócio-econômica é uma variável a ser considerada pois apresenta correlação significante com o controle glicêmico.
As variáveis que apresentaram uma forte correlação com o controle glicêmico foram, orientação, eficácia adaptativa e dieta. Os resultados
mostraram que um programa eficiente para pacientes diabéticos deve visar a dieta e a promoção da melhora na eficácia adaptativa e orientação
destes pacientes.
Tabela 2 - Tabela de referência - Correlação peso/altura para adultos Quadro II - Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada
Homens(porte) Mulheres(porte)
Altura pequeno médio grande pequeno médio grande Entrevistador: _________________________________________
Resultados
A Ficha de avaliação, a análise sócio-econômica e a A análise dos dados, através de parâmetros estatísti-
EDAO revelaram os seguintes dados mostrados no qua- cos, mostrou os seguintes resultados, quando compara-
dro a seguir (Quadro IV). dos à qualidade do controle sobre o diabetes (Tabela 4).
Quadro IV - Aspectos socio-psico-somáticos de uma amostra de pacientes diabéticos do tipo2 do CD da UNIFESP
Idade Sexo Peso Alt Peso Conh Dieta Tempo Exer Fam Orie Cla Glic GrCon EDAO
Ideal Diab
69 F 78,5 1,65 NÃO SIM POBRE 2 NÃO NÃO SIM D 140 bom Gr 3
72 F 70,5 1,58 NÃO NÃO POBRE 5 NÃO NÃO SIM D 271 ruim Gr 5
47 F 65 1,54 NÃO NÃO POBRE 4 NÃO SIM SIM E 306 ruim Gr 5
39 F 65 1,6 SIM NÃO POBRE 0 NÃO SIM NÃO D 239 ruim Gr 5
41 F 72 1,67 SIM NÃO POBRE 0 NÃO SIM SIM D 141 reg Gr 5
62 M 93,5 1,74 NÃO NÃO POBRE 8 NÃO NÃO SIM D 177 reg Gr 5
70 F 71,8 1,61 NÃO SIM POBRE 10 NÃO NÃO NÃO D 294 ruim Gr 5
61 F 50,3 1,53 SIM SIM FAVOR 3 NÃO NÃO NÃO D 296 ruim Gr 5
61 F 56,8 1,56 SIM SIM FAVOR 0 SIM NÃO SIM D 159 reg Gr 3
66 M 58,1 1,72 NÃO NÃO POBRE 1 SIM NÃO SIM D 104 bom Gr 5
68 M 69 1,68 SIM NÃO POBRE 4 NÃO SIM NÃO D 296 ruim Gr 5
59 F 78,7 1,58 NÃO NÃO POBRE 7 NÃO NÃO SIM E 189 reg Gr 5
59 M 84 1,73 NÃO NÃO POBRE 0 NÃO SIM NÃO D 235 ruim Gr 5
58 F 68 1,52 NÃO NÃO POBRE 3 NÃO NÃO NÃO D 229 ruim Gr 5
66 F 62 1,54 SIM NÃO POBRE 0 NÃO NÃO NÃO D 117 bom Gr 5
70 F 65,1 1,65 SIM NÃO POBRE 8 SIM NÃO NÃO E 221 ruim Gr 5
62 F 40,1 1,65 NÃO NÃO POBRE 1 NÃO NÃO NÃO D 305 ruim Gr 5
49 F 55,1 1,45 SIM NÃO POBRE 0 NÃO NÃO NÃO C 202 ruim Gr 5
68 F 70 1,74 SIM NÃO POBRE 0 NÃO SIM SIM D 163 reg Gr 5
62 F 60,2 1,4 NÃO NÃO BOA 3 SIM SIM SIM D 130 bom Gr 5
47 M 50,4 1,5 SIM NÃO POBRE 0 NÃO NÃO NÃO C 183 reg Gr 5
31 F 76,2 1,59 NÃO SIM POBRE 11 SIM SIM SIM D 189 reg Gr 3
64 F 67 1,59 SIM NÃO BOA 8 SIM SIM SIM E 129 bom Gr 3
55 F 62,5 1,54 SIM SIM POBRE 9 NÃO SIM SIM D 133 bom Gr 3
65 F 71 1,73 SIM NÃO POBRE 20 NÃO NÃO NÃO D 207 ruim Gr 5
50 F 60,5 1,56 SIM NÃO POBRE 1 NÃO SIM NÃO D 192 reg Gr 5
68 M 67,3 1,59 SIM NÃO POBRE 1 NÃO NÃO NÃO D 265 ruim Gr 5
51 F 97,8 1,67 NÃO SIM BOA 3 SIM SIM NÃO C 237 ruim Gr 5
57 F 65,3 1,49 NÃO NÃO POBRE 11 NÃO NÃO SIM E 195 reg Gr 3
70 F 63,8 1,63 SIM NÃO POBRE 1 NÃO NÃO NÃO E 147 reg Gr 3
68 F 71.7 1,46 NÃO SIM POBRE 10 NÃO NÃO SIM D 186 reg Gr 3
64 F 55,5 1,48 SIM SIM BOA 13 NÃO NÃO NÃO D 111 bom Gr 3
56 F 54,5 1,45 SIM SIM POBRE 1 NÃO NÃO NÃO E 143 reg Gr 5
60 M 85,5 1,7 NÃO NÃO POBRE 10 NÃO SIM SIM E 195 reg Gr 3
51 F 70,9 1,67 SIM NÃO BOA 5 NÃO SIM SIM D 139 bom Gr 3
50 F 51,5 1,56 SIM NÃO BOA 0 NÃO NÃO NÃO D 140 bom Gr 5
53 F 69 1,45 NÃO SIM FAVOR 20 NÃO SIM NÃO D 220 ruim Gr 5
55 M 74,3 1,74 SIM NÃO POBRE 0 NÃO SIM NÃO D 191 reg Gr 3
70 M 47,3 1,75 NÃO SIM FAVOR 1 SIM NÃO NÃO C 184 reg Gr 3
56 F 83 1,49 NÃO SIM BOA 1 SIM SIM SIM D 132 bom Gr 3
63 F 65,5 1,59 SIM NÃO POBRE 15 SIM SIM NÃO E 142 reg Gr 5
41 F 69 1,5 NÃO NÃO POBRE 1 NÃO NÃO NÃO D 247 ruim Gr 5
57 M 82,3 1,64 NÃO SIM POBRE 5 NÃO SIM NÃO D 207 ruim Gr 5
68 F 58,3 1,52 SIM NÃO BOA 2 SIM NÃO SIM E 121 bom Gr 3
51 M 56,1 1,6 NÃO SIM BOA 0 NÃO SIM NÃO C 236 ruim Gr 5
53 F 87,3 1,54 NÃO NÃO BOA 2 NÃO SIM NÃO C 117 bom Gr 5
52 M 65 1,58 SIM NÃO POBRE 1 NÃO NÃO NÃO D 151 reg Gr 5
74 F 64 1,5 NÃO NÃO POBRE 0 NÃO NÃO NÃO E 142 reg Gr 3
55 M 78 1,66 NÃO SIM FAVOR 4 NÃO SIM NÃO E 247 ruim Gr 5
Heleno MGV / Diabetes Clínica 01 (2001) 48~54 53
Tabela 4 - Resultados
Conhecimento Família Diabética Peso Ideal Exercício Físico Sexo
2 2 2 2 2
X =0,240 X =0,320 X =2,281 X =2,973 X =3,040
0 0 0 0 0
2 2 2 2 2
X =3,841 X =3,841 X =3,841 X =3,841 X =3,841
C C C C C
H não H não H não H não H não
0 0 0 0 0
rejeitada rejeitada rejeitada rejeitada rejeitada
Este trabalho é uma referência para a implantação de 4- Howard M. et al. Retention of Knowledge and Self-Care Sills
um programa de atendimento ao paciente diabético. after na Intensive in Patient Diabetes Education Program,
Diabetes Res Clin Pract.1986;2(1):51-7.
Concluímos que o maior investimento deve ser feito junto
à equipe de profissionais. Deve-se garantir a presença 5- Simon R. Psicologia Clínica Preventiva. São Paulo, Editora
não só dos médicos e enfermeiros, mas da Nutrição e da Pedagógica e Universitária, 1989, 2a edição.
Psicologia. Além disto, é de fundamental importância
que esta equipe tenha um perfil do “orientador” descrito
acima. Com esta equipe será possível conhecer o paci-
ente e criar a possibilidade de um tratamento eficiente.
Agradecimentos
O tabagismo e o diabetes
Mário Albanesea, Rodolfo Bruminib
aAdvogado, jornalista e presidente da CIPA/CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, Fundador e presidente da ADESF – Associação
de Defesa da Saúde do Fumante, Membro da CETAB - Comissão Estadual de Prevenção e Controle do Tabagismo da Secretaria de Estado da Saúde,
bPresidente do Conselho de Educação da ADESF, Assistente técnico da Secretaria de Estado da Saúde/CVE/São Paulo.
Sumário
A informação verdadeira é um direito do consumidor e um alicerce da cidadania. Tratando-se de saúde esse direito ganha dimensão por
envolver o interesse público. Não existe cigarro isento de riscos ou efeitos colaterais e, nesse sentido, iludir com propaganda abusiva e engano-
sa, é desinformar. Enfatize-se que a desinformação, de acordo com o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, atinge um contin-
gente de 54,1 milhões de pobres, um pouco mais de um entre três brasileiros. O cigarro é um multitóxico com mais de 5000 substâncias
químicas, reconhecido como um cancerígeno completo. O tabagismo vicia, adoece e mata 4 milhões de pessoas por ano no mundo, em um
universo de mais de 1 bilhão de fumantes. Estima-se que esse número dobra nos fumantes passivos. Diante dessa realidade, não se pode mais
ignorar que o tabagismo tenha implicações determinantes nos riscos gerados pelo diabetes.
Tabela 1 - Número de elementos identificados em 15 funções Tabela 2 - Doenças tabaco - relacionadas e prejuízos à saúde
químicas existentes no fumo
Ref: Prof. Dr. José Rosemberg Outubro/99
1 Infarto do miocárdio
Funções químicas Número identificado
2 Angina pectoris
Amidas, imidas 237 3 Hipertensão
Ácidos carboxílicos 227 4 Aterosclerose
Lactonas 150 5 Acidente vascular cerebral
Ésteres 474 6 Tromboangeite obliterante
Aldeídos 108 7 Bronquite crônica
Cetonas 521 8 Enfisema pulmonar
Álcoois 379 9 Gripe
Fenóis 282 10 Pneumonia por Legionella pneumophila
Aminas 196 11 Pneumonia por Branhamella catarrhalis
N-heterocíclicos 921 12 Pneumonite a colesterol
Hidrocarbonetos 755 13 Tuberculose
Nitrilas 106 14 Câncer do pulmão
Éteres 311 15 Câncer da boca
Carboidridos 42 16 Câncer da faringe
Anidridos 11 17 Câncer da laringe
18 Câncer do esôfago
Total 4720 19 Câncer do estômago
20 Câncer do pâncreas
Dube M, Green CR. Methods of collection of smoke for 21 Câncer da bexiga
analitical purposes. Recent Advances in Tobacco. Science 22 Câncer do rim
1982;8:42. 23 Leucemia mielóide
Janoff A, Carp H, Laurant P. et al. - The role of oxidative 24 Câncer do colo do útero
processes in emphysema. Am. Rev. Dis. 1983;127, supl. S-31. 25 Câncer da mama
Informação farmacológica. Interaciones entre tabaco y 26 Doença de Crohn (Mycobacteria paratuberculosis)
medicamentos. Bull. Of. Sanit. Panamericana. 1983;94:398. 27 Úlcera do estômago
28 Úlcera do duodeno
29 Osteoartrite
cancerígeno completo. O alcatrão é uma substância pro- 30 Osteoporose
duzida pela queima do cigarro na sua fase particulada e 31 Catarata
concentra quarenta e três substâncias comprovadamente 32 Estomatite
cancerígenas, como o arsênio, níquel, benzopireno e o 33 Bronquite
cádmio. Essas substâncias que provocam câncer têm, en- 34 Pneumonia
35 Amigdalite
tre elas, resíduos de agrotóxicos, como o DDT, e até ele- 36 Otite
mentos radioativos, como é o caso do polônio 210. 37 Sinusite
Por sua disseminação o cigarro, na comparação com 38 Morte súbita infantil
o cachimbo, charuto e fumo mascado, é o de maior ris- 39 Sindactilia
co, não obstante sejam as demais formas igualmente 40 Estrabismo
41 Lábio leporino
agressivas à saúde. 42 Prenhez tubária
43 Aborto
Aditivos 44 Descolamento precoce da placenta
45 Placenta prévia
Os fabricantes de cigarros acrescentam um número 46 Diabetes – O fumo retarda a absorção da insulina em razão
da vasoconstrição periférica provocada pela ação da nicotina
aproximado de 700 aditivos diferentes em seus produ- 47 Câncer da pleura (associado com asbesto)
tos. Entre os aditivos incluídos na lista emitida para co- 48 Aneurisma da aorta
nhecimento público pelo CDC – Center for Disease 49 Aneurisma abdominal
Control and Prevention, USA, se encontram aromatizan- 50 Câncer da próstata
51 Câncer do intestino
tes artificiais que aumentam ainda mais a toxicidade do 52 Câncer do reto
produto que já contém, in natura, 4720 substâncias tó- 53 Linfoma
xicas. Esse expediente vem se processando há mais de 54 Menopausa precoce
40 anos, com adição, entre outros, de mentol, cacau, 55 Derrame subaracnóide na mulher com associação de
melaço, canela, anis, cravo, passas, figo, cereja, folhas anovulatórios
56 Periodontite
de chá, gengibre, rum, água, levedura, limão, maçã,
caramelados e componentes químicos. Todos são irri-
58 Albanese M et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 55~61
tantes dos brônquios e, muitos deles, ao serem queima- taliza o organismo e, finalmente, que qualquer fenôme-
dos liberam substâncias cancerígenas. no possui duas funções: ação e reação.
O sabor é um elemento que os fabricantes utilizam A neuropatia, para o diabético, é uma afecção do sis-
para qualificar e distinguir seu produto. O tabaco vai tema nervoso que atinge um em cada quatro diabéticos
para a indústria de beneficiamento, onde as folhas são e torna insensíveis as extremidades do corpo.
selecionadas, picadas e classificadas em mais de 120 ti- De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina e
pos. A mistura de vários tipos de fumo é que determina Cirurgia do Pé (SBMCP), 30 mil amputações são reali-
o blend característico de cada marca de cigarro. Dessa zadas a cada ano no Brasil.
forma os fabricantes têm a sua disposição mais de 1000 O pé diabético, por não ter sensibilidade à dor, não
sabores de tabaco para escolher. reage aos impactos recebidos e sofre deformações.
Portanto, não existe fumo inofensivo, sendo o cigar- O problema levou a American Orthopedic Foot and
ro o maior multitóxico consumido livre e irresponsavel- Ankle Society (Sociedade Americana de Ortopedia do
mente pelo ser humano. Pé e Tornozelo), a instituir o ano 2000 como o Ano do
Pé Diabético. Nesse sentido empenhou-se em campa-
Novas terapias nhas de informação e prevenção, objetivando reduzir esse
elevado número de amputações.
Surgem a cada dia novidades no tratamento do diabe- As implicações para o diabético repercutem em to-
tes. A esperança se renova com os transplantes do pân- dos os setores da vida, no convívio profissional, na frus-
creas e das células bêta. tração do tratamento, quando a doença já está em estado
Depois de 30 anos de estudo, pesquisadores da Uni- avançado, pelo seu custo social, no preço inacessível
versidade de Alberta no Canadá, liderados pelo médico das próteses de reparo das amputações, pela insuficiên-
inglês James Shapiro, anunciaram a eficácia de um tipo cia de doadores para transplante e, por fim, na perda de
de transplante capaz de reverter por completo o diabetes. sua qualidade de vida.
Com muita expectativa anuncia-se também o surgi- Além disso tudo, o diabetes é significativamente agra-
mento de aparelhos para medir glicose sem a inconveni- vado pelo tabagismo.
ente dor da picada.
Fala-se em medicação oral mais eficiente e de insulina
com maior tempo de duração e que, se confirmados, pode- Agravos à saúde do diabético fumante
rão melhorar a qualidade de vida do diabético e, nesse caso,
insere-se também a insulina inalada, que funciona como No nariz, a capacidade olfativa é extraordinariamen-
um spray aspirado pela boca, de ação rápida e curta. te prejudicada pelo alcatrão, um potente cancerígeno.
Essas novidades foram apresentadas no maior con- Na laringe, além da inflamação crônica e da rouqui-
gresso americano sobre o assunto: 60ª Sessão Científica dão, o fumo é responsável por 97% do total de casos de
da Associação Americana de Diabetes, realizada nos câncer.
EUA, de 9 a 13 de junho de 2000, que prevê o lança- Nos pulmões, 90% das mortes por câncer, bem como
mento desses produtos até 2003. 85% dos óbitos por bronquite e enfisema são decorren-
Os avançados estudos médicos já estão proporcionan- tes do tabagismo.
do aos diabéticos a possibilidade de uma vida normal. No coração, além dos fatores hereditários, o fumo
Todavia, muitos diabéticos, ao fumar, destroem sua qua- aumenta o risco de infarto e dobra a probabilidade de
lidade de vida e invalidam a eficácia das terapias médi- morte por doenças cardíacas.
cas. Todos esses avanços da ciência renovam os anseios Na circulação, os níveis de açúcar no sangue, ele-
de cura por parte dos diabéticos e foram publicados no vam a taxa de triglicérides e colesterol, favorecendo o
The New England Journal of Medicine, uma publicação entupimento das artérias.
científica de renome no mundo. A vasoconstrição, provocada pela nicotina do cigar-
ro, bem como o monóxido de carbono para a formação
Ação e reação - considerações da carboxihemoglobina, são fatores agravantes da arte-
riosclerose.
Hipócrates (377 A.C.), célebre médico grego, cha- No pênis, o caminho é para a impotência, motivada
mado o Pai da Medicina, ensinou que é melhor prog- pelo entupimento dos microvasos que dificultam ou im-
nosticar do que diagnosticar, ou seja, é melhor prevenir pedem a ereção.
do que remediar. Ensinou também que a natureza cura e No cérebro, a iminência do risco de um derrame, tri-
o médico trata, que é a atividade dos membros que revi- plica.
Albanese M et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 55~61 59
Nos olhos, a irritação ocasionada pela fumaça do ci- No sistema reprodutor, favorece o câncer do colo
garro agrava a retinopatia diabética que leva à cegueira. do útero, a menopausa precoce e impede o desenvolvi-
A perda da visão é 25 vezes mais freqüente no diabético mento normal do feto. Nos homens, o fumo prejudica a
pois os vasos sanguíneos da retina, com altos níveis de potência e a fertilidade.
açúcar, ficam alterados. Nos rins, o espessamento dos microvasos evolui para
Na boca, o fumante perde o paladar e, por esse moti- insuficiência renal (nefropatias).
vo, exagera na utilização de condimentos para sentir o Na bexiga, aumenta três vezes o risco de câncer.
gosto pela comida. Conseqüentemente, esses ingredien- Na mulher, o fumo agride diretamente os ovários re-
tes aumentam a pressão arterial, predispõem à gastrite, duzindo a fertilidade e seu desempenho sexual. É muito
úlceras e outras lesões como o câncer da boca. Sigmund elevado o índice de malformações congênitas decorren-
Freud (1856-1934), inveterado fumante de charuto, teve tes do fumo, particularmente na gravidez, tais como lá-
câncer na boca. Submeteu-se a 26 cirurgias sem suces- bio leporino, fissura palatina, dactilia e estrabismo. Re-
so. A desmistificação do charuto e do cachimbo é im- almente, no útero materno o bebê é um fumante cativo,
portante pois seus usuários têm como argumento, para preso e sem opção. Com todas essas injúrias à saúde do
justificar seu consumo, o fato de não tragar a fumaça. nascituro, se conseguir nascer, terá menor peso e maior
Alimentam assim a idéia de que não terão os mesmos risco de morrer depois do nascimento (morte súbita in-
problemas de quem fuma cigarros. fantil). Fumar, durante a gravidez, irá retardar e reper-
No entanto há evidência cientifica de que o tabagis- cutir no raciocínio da futura criança e interferir no seu
mo é um potente causador de câncer na boca, com o desenvolvimento intelectual.
mesmo grau de risco para os fumantes de cigarros, cha- A beleza da mulher fica seriamente comprometida:
rutos e cachimbos. Assinale-se que o risco de câncer sua pele torna-se opaca e sem viço; os olhos, averme-
dos lábios é maior para os que fumam cachimbo. lhados e com olheiras acentuadas; os dentes, amarela-
Os estudos revelaram também forte sinergismo do dos e as gengivas inflamadas; seu timbre de voz altera-
álcool com o tabagismo para o surgimento de tumores se para o grave, além do hálito fétido. Acentue-se que,
malignos nos lábios, língua, soalho, gengivas, palato e na mulher diabética e grávida, as malformações estão
orofaringe em geral. De fato, a ação oncogênica do fumo igual e diretamente relacionadas com seu grau de hiper-
do tabaco tem vários mecanismos. Na boca, incide dire- glicemia.
tamente sobre os tecidos, o que não ocorre com outros Um simples exame bucal, feito por um dentista ou
órgãos onde os componentes carcinogênicos chegam por médico clínico, seria suficiente para o rastreamento de
via sangüínea ou linfática agindo por si ou por meio de um câncer prevenível e curável. Entretanto, a realidade
produtos metabolizados igualmente cancerígenos. revela que um crescente número de pacientes apresen-
Os aborígenes da América usavam o cachimbo nos ta-se com a doença em fase tão avançada que seu trata-
rituais religiosos e para as convenções de paz. mento torna-se paliativo. As estatísticas de câncer na
Além do tabaco mascado (fumo de rolo) e aspirado boca revelam que cerca de 95% dessas neoplasias ma-
(rapé), surgiu o charuto que difundiu-se em todos os lignas ocorrem pela ausência de diagnóstico precoce.
continentes. Acrescente-se que significativa parcela da população
Todavia foi nos Estados Unidos que alcançou maior é constituída por indigentes e analfabetos que não têm
prestígio. Os charutos tornaram-se cada vez mais volu- acesso aos indispensáveis serviços médico-odontológi-
mosos e longos chegando a 25 centímetros. Foi propa- cos e de saneamento básico, o que agrava sobremaneira
gado como símbolo de masculinidade. Assim, com o esse quadro.
nascimento de um filho homem, o orgulhoso pai, por Sabe-se que no fumante a assimilação da vitamina C
tradição, oferece ainda hoje, um charuto aos amigos para fica seriamente prejudicada, tornando-o mais suscetível
festejar o nascimento de um menino. às doenças. A depleção do ácido ascórbico (vitamina C)
A popularidade e, ao mesmo tempo o símbolo de po- compromete o status antioxidante no diabetes.
der do charuto, exteriorizou-se na figura americana do Nos ossos das mulheres, na pós-menopausa, existe
“Tio Sam”, de cartola e com um enorme charuto na boca. maior risco de osteoporose.
Nos dentes, o fumo altera sua coloração, inflama as No tabagismo passivo, por meio do aleitamento
gengivas e favorece a deposição de tártaro. O diabético materno, a absorção da nicotina pelo nenê durante a
fumante perderá os dentes por não sentir dor. Dentes amamentação, está cientificamente comprovada. A in-
quebrados e abscessos, resultam em focos de infecção. tensidade depende do número de cigarros fumados e da
No aparelho digestivo, provoca câncer no estôma- poluição ambiental existente. As comprovações foram
go, pâncreas e esôfago, além de gastrite e úlcera. feitas em análises da urina dos lactentes de zero a seis
60 Albanese M et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 55~61
meses. Da sobrevivência
Para o diabético tabagista o estresse origina-se pela
síndrome de abstinência à nicotina. Sabe-se que o fu- O ser humano diferencia-se dos animais por ser inte-
mante é compelido a fumar em intervalos de 20 a 30 ligente. Enquanto os animais se conformam com os li-
minutos, em média. mites de sua natureza, o homem tenta obstinadamente
O fumo induz ao álcool e vice-versa. O fumo associ- ultrapassar os seus.
ado ao álcool faz do diabético uma vitima desamparada, Na pré-história a média de vida do homem era de
pois quanto mais bebe mais fuma. apenas 8 anos e, mesmo assim, conseguiu sobreviver e
A explicação é simples: ao excretar a maior parte da preservar a espécie. Inteligente, criou e empunhou o ta-
nicotina pela urina, o organismo do fumante exige sua cape para multiplicar o poder de seus músculos. Ardilo-
imediata reposição. Forma-se assim um círculo vicioso so, inventou armadilhas e passou a capturar e dominar
extremamente prejudicial, principalmente para o diabé- os animais ferozes. Criativo, descobriu o fogo para ven-
tico. O sincronismo desses vícios confirma a carcinogê- cer o frio e a escuridão. Investigativo, aprendeu a plan-
nese de tumores na boca, faringe, esôfago e bexiga. tar, colher e conservar alimentos para vencer a fome, o
inverno e a seca.
Atualmente, já no 3º milênio, o homem, se souber
Fumo e alergia preservar-se na saúde, poderá viver por mais de cem
anos.
Numerosos estudos feitos para comprovar os agra- Todavia, nas guerras, no trânsito, na ignorância, na
vos à saúde, provocados pela fumaça inalada pelas cri- ambição desmedida, no preconceito, na violência urba-
anças, revelaram a precipitação e agravamento dos qua- na, na fome e no vício, o homem é vítima do próprio
dros alérgicos, com destaque para asma e rinite, aumen- homem.
to na freqüência de internações hospitalares, tudo isso
evidentemente relacionado com o número de cigarros
fumados e a conseqüente degradação do ar ambiental. O valor da esperança
A criança, ainda em formação, é mais suscetível ao
fumo e, como decorrência, tem maior incidência de do- Nada melhor do que reproduzir trechos do discurso
enças nas vias respiratórias, efusão do ouvido médio e do notável Prof. Dr. Mário Rigatto, proferido na cerimô-
síndrome da morte súbita. nia de inauguração da estátua de Asclépio, Deus da
Percebe-se que o tabagismo e o diabético, considera- Medicina, no Hospital das Clínicas da Faculdade de
dos isoladamente, têm como denominador comum, pro- Medicina da Universidade de São Paulo, em junho de
blemas circulatórios originados pela ação vasoconstri- 1999:
tora da nicotina no fumante, pelo acúmulo de gordura,
no diabético. Sendo fumante e diabético a predisposi- “A Medicina tem 250 mil anos de história enquanto a
ção à esclerose das artérias é maior. Ressalve-se ainda Ciência Médica, de tantas conquistas e avanços, tem
que a circulação sangüínea veicula por todo o corpo apenas 300 anos. A Medicina, ao longo de sua história,
humano e é de vital importância para todos os órgãos, nunca precisou da Ciência Médica para impor-se. To-
sem exceção. Que não se pense que o tabagismo é prer- dos os que vestiram a roupagem de médico, tanto o pajé,
rogativa de prejuízo somente para o sistema respiratório quanto o sacerdote e o feiticeiro, exerceram a Medicina
que é, inegavelmente, o mais atingido. com parcos recursos e foram comprovadamente úteis à
De fato, 90% dos cânceres de pulmão estão direta- sociedade de seu tempo.
mente relacionados ao fumo. Esse quadro torna-se dra- De fato, o gesto médico, quando exercido com auto-
mático em razão das últimas estatísticas que indicam ridade, mobiliza no íntimo do paciente reservas que o
que o brasileiro está fumando mais, notadamente as levam a superar o mal que o debilita. Sendo assim, os
mulheres. limites da ciência podem esgotar-se para o médico, mas
Portanto, vergar-se aos interesses da mídia e da in- se a vida ainda não se esgotou para o paciente, ele com
dústria tabaqueira e continuar admitindo a propaganda certeza buscará por outros recursos para sobreviver.”
abusiva e enganosa feita a favor do fumo, é desconhecer
a importância de preservar a saúde pública com infor- Deixando exemplo e saudade o Prof. Dr. Mário Ri-
mações corretas e verdadeiras. gatto faleceu aos 17 de janeiro de 2000.
Albanese M et al / Diabetes Clínica 01 (2001) 55~61 61
Referências
Campos S. Medicina Biomolecular e Radicais Livres, São Paulo, Holl RW, Grabert M, Heinze E, Debatin KM. Objective assessment
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products, Proc Natl Acad Sci USA 1994;25:3915-20 Howard G, Wagenknecht LE, Burke GL, Diez-Roux A, Evans GW,
Chaturvedi N, Jarrett J, Shipley MJ, Fuller JH. Socioeconomic Mc Govern P, Nieto FJ, Tell GS. Cigarette smoking and
gradient in morbidity and mortality in people with diabetes: progression of atherosclerosis: The Atherosclerosis Risk in
cohort study findings from the Whitehall Study of Vascular Communities (ARIC) Study, JAMA 1998;279(2):119-24
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population-based analysis from the Health Surveys for cigarette smoking, Cell Mol Biol (Noisy-le-grand),
England 1991-94, Diabet Med 1999;16(1):35-40 1998;44(7):1025-33
Costa AA, Almeida Neto JS. Manual de Diabetes, Servier, 1998,3ª Riva L. Noção Sumária sobre Nicotina, Laboratório Schilling,
edição. Contam 98 - Congresso Brasileiro sobre Tabagismo no
Hargrave DR, McMaster C, O’Hare MM, Carson DJ. Tobacco Ambiente de Trabalho,1998.
smoke exposure in children and adolescents with diabetes Rosemberg J. Temas sobre Tabagismo, São Paulo, Secretaria de
mellitus, Diabet Med 1999;16(1):31-4 Estado da Saúde, 1998.
FICHA DE INSCRIÇÃO
6º Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes
6ª Exposição Nacional de Produtos e Alimentos para Diabéticos
7, 8 e 9 de Julho de 2001 - Fundação Álvares Penteado - FECAP - SP BRASIL
Nome: ........................................................................................................................................................................
Endereço: ...................................................................................................................................................................
Cidade:....................................................................... Estado: ...................................................
CEP: .............................. Fone: (.......) ..................................... Fax:..........................................
Recibo em nome de:....................................................................................................................
Cheque Nr.............................. Banco:.....................Valor total:...................................................
Data: ................................ Profissão: .........................................................................................
Assinatura: _________________________________
Some os pontos de riscos de acordo com a tabela Fatores de Risco . O total de pontos avalia o risco
absoluto de evento coronariano no próximos 10 anos
Total
Eventos / Diabetes Clínica 01 (2001) 65
Calendário de Eventos
Informações: EASL Secretariat, 17 rue de
MARÇO DE 2001 Cedrier, BP 1726
CH-1211 Geneva – Switzerland
14 a 17 de março Tel: +41 22 908 0488
7th Panafrican Diabetes Study Group Congress E-mail: easl2001@volny.cz
E-mail: psdsg2001@casanet.net.ma
19 a 21 de abril
25 a 30 de março International Course on Diabetes and
4th Mayo Clinic Endocrine Course macrovascular Disease
Hapuna Beach Prince Hotel, Mauna Keat resort Lugano, Switzerland
Kohala Cosat, Gig Island of Hawaii Informações: International Atherosclerosis
Fax: (507) 284-0532 Society
E-mail: cme@mayo.edu Via A Appiani, 7 – 20121 Milano – Itália
Tel: +39 02 2906 1879
ABRIL DE 2001 E-mail: ias@icil64.cilea.it
1 a 6 de abril
10th Bone and Mineral Metabolism Society 28 de abril a 1 de maio
Congress IXo Congresso da sociedade latino americana
37th SEMDSA (Society for Endocrinology Me- de tireóide
tabolism and Diabetes of South Africa Congress) Rio de Janeiro, RJ
Holiday Inn Corwne Plaza, Sandton, South Africa Informações: JZ Congressos
Tel: +27 11 807 0794 Tel: (21) 286 2846
E-mail: rsh@novo.dk
MAIO DE 2001
4 a 7 de abril 2 a 6 de maio
First International Symposium on PPARs 10th Annual meeting and Clinical Congress of
Firenze, Itália the American Association of Clinical Endocri-
Informações: Fondazione Giovanni Lorenzini nology (AACE)
Medical Science Foundation San Antonio, Texas
Via A Appiani, 7 – 20121 Milano - Itália E-mail: info@aace.com
18 a 22 de abril Fax: (904) 353-8185
36th Annual Meeting European Association For
the Study of the Liver 5 a 9 de maio
EASL 2001 VIIIo International Symposium on Insulin
Prag, Czech Republic Receptors and Insulin Action
66 Eventos / Diabetes Clínica 01 (2001)
SETEMBRO DE 2002
21 a 24 de outubro 1 a 5 de setembro
XIVo Congresso brasileiro de nutrição 38th Annual Meeting European Association for
parenteral e enteral the Study of Diabetes
VIIo Congresso latino americano de nutrição EASD 2002
parenteral e enteral Budapest, Hungria
IIo Congresso brasileiro de nutrição clínica Informações: Budapest 5, POB 741
Salvador, BA Hungary 1365
Informações: Eventus System Tel: +36 1 269 5883
Tel: (71) 264-3477
E-mail: easd2002@congress.blavo.hu
Fax: (71) 264-0508
E-mail: eventus@cpunet.com.br
FEVEREIRO DE 2003
NOVEMBRO DE 2001 3th International Symposium on Diabetes &
11 a 15 de novembro Pregnancy
XIo Congresso ALAD – Association Geneva, Switzerland
latinoamericana de diabetes Informações: PO Box 50006 Tel Aviv 61500
IIIo Congresso Uruguaio de Diabetologia Israel
Punta del Este, Uruguai Tel 972 3 514 0014
Informações: personas SRL, Av. 8 de octubre E-mail: conventions@kenes.com
2323, of. 305, Montevideo, Uruguai
Tel: (5982) 408-1015/408-2951 AGOSTO DE 2003
E-mail: personas@cs.com.uy 24 a 29 de agosto
18th Internacional Diabetes Federation
15 a 18 de novembro Congress
XIIIo Curso nacional de atualização em Paris, França
endocrinologia e metabologia Informações: www.idf.org
Gramado, RS
Organizacão: SBEM regional RS
www.vjs.com.br
Tel: (51) 330 1134
E-mail: vjs@vjs.com.br
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244-6471
Diabetes Clínica
Diabetes Clínica 04 (2000) 69
Índice
(vol. 5 nº 2 - 2001)
EDITORIAL
Desafios e sucessos da Campanha de Diabetes do Ministério da Saúde, Fadlo Fraige Filho ................... 71
PRODUTOS E NOVIDADES
Açúcar líquido (Lowçucar), Classic Diet (Nestlé), Bolottone Light (Vivalev Diatt), Emed (Novel) ......... 109
ARTIGOS CIENTÍFICOS
Diabetes mellitus neonatal transitório – Relato de caso,
José Côdo Albino Dias, Willian Pedrosa de Lima ...................................................................................... 118
Perfil dos diabéticos assistidos em duas unidades básicas de saúde de Londrina – PR,
Ilidia Terezinha Martelli Takahashi, Henriqueta Galvanin Guidio de Almeida,
Maria Helena Dantas de Menezes Guariente, Carmen Lúcia Lázaro Garcia,
Maria do Carmo Lourenço Haddad, Olga Chizue Takahashi, Iria Roberta Staut Freitas,
Vânia Maria Vargas, Valéria de Araújo Elias, Denise R. Seigai ................................................................ 122
FICHAS PRÁTICAS
Educação: Questionário de avaliação da independência da criança diabética tipo 1 .................................. 135
Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúr-
bios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o
conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas.
Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico, o conselho consultivo e profissionais de
reconhecido saber na área. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relativas à
diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma maneira
rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes.
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71
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas
EDITORIAL
no estudo de prevalência realizado no Município de Como Presidente eleito da FENAD, neste ano de 1998
Ribeirão Preto (SP) usando os mesmos critérios do planejei e coordenei a 1ª Campanha Nacional de De-
Ministro da Saúde, que chegou ao índice de 12% no tecção, Educação, Orientação e Prevenção das Compli-
ano de 1999. Este índice de prevalência parcial obtido cações, tendo levado esta proposta para uma ação con-
está indicando que conforme dados de previsão da Or- junta em 1999 com o Ministério da Saúde, que foi re-
ganização Mundial de Saúde, o Diabetes Mellitus tipo jeitada por um membro do Comitê que entre outras ale-
2 deverá ter caráter epidêmico neste século 21, passan- gações colocava que “a rede de atendimento médico no
do dos atuais 160 milhões de portadores no mundo para país, não suportaria uma Campanha de 500 mil exa-
320 milhões nos próximos 25 anos. mes em aproximadamente 450 cidades”.
Os pacientes diagnosticados na Campanha, bem A falta de visão, a parcialidade das colocações e vai-
como aqueles já conhecedores da sua doença, foram dades individuais, impediu que com 2 anos de antece-
enviados para as Unidades Básicas de Saúde para o aten- dência o Ministério da Saúde participasse de tão impor-
dimento ambulatorial, onde serão acompanhados. Toda tante atividade.
medicação prevista para o tratamento será distribuída A verdade está aí – 36 milhões de exames realizados
gratuitamente, por verba própria do Ministério, através e não se tem noticias de nenhum tumulto, muito pelo
do referido plano ou ação conjunta com as Secretarias contrário, a grande receptividade por parte da popula-
de Saúde. ção, que com a motivação do plano e da Campanha re-
A 4ª fase do plano é o diagnóstico, encaminhamento ceberam inúmeras informações sobre Diabetes e durante
e tratamento das complicações crônicas do Diabetes, aproximadamente 45 dias muito se falou sobre a doen-
que serão realizados em Hospitais terciários, devida- ça, levando orientações, alertas, (até em novelas), e cons-
mente equipados e feitos por especialistas nas diferen- cientizando sobre o assunto.
tes áreas. Queremos deixar registrado que as ações de educa-
ção e detecção de Diabetes, são há muito tempo, a
Algumas verdades sobre a Campanha e o plano META das Associações, Ligas, Núcleos e Centros de
de atenção ao Diabetes todo o Brasil.
Aqui em São Paulo, a ANAD, em conjunto com as
1ª) Desde 1996, pessoalmente vinha insistindo com Secretarias de Saúde do ABC promoveu as primeiras
o então Sr. Ministro da Saúde, Dr. Adib Jatene, para um campanhas nos anos de 1984, 1985 e 1986, nos mes-
Programa de Atenção ao Diabetes e trocas de insulinas mos moldes do atual plano do Ministério da Saúde, por
animais para as humanas – pouco conseguimos. isso queremos dar o crédito de precursores do plano e
2ª) Em 1997 levamos as mesmas solicitações, em da Campanha às Associações de Diabéticos, Ligas,
nome da ANAD, ao Sr. Ministro Carlos Albuquerque. Núcleos de Centros de Diabetes, que há décadas vêm
3ª) No ano de 1998 o Sr. Ministro José Serra consti- realizando em suas cidades e que em conjunto com a
tui comitês de assessoramento nas diferentes áreas de FENAD, e as Secretarias de Saúde nos anos de 1998,
saúde, e o de Diabetes, do qual faço parte, e então pude 1999 e 2000 realizaram as primeiras três Campanhas
na 1ª Reunião, daquele ano atualizar a Relação Nacio- Nacionais.
nal de Medicamentos Essenciais (RENAME), com to- Em nome dos profissionais que trabalham em Dia-
dos os medicamentos disponíveis no mercado privado, betes e dos portadores, queremos deixar aqui nossa gra-
lembrando que até então apenas uma droga encontra- tidão ao Ministro José Serra e sua equipe, bem como a
va-se padronizada. Apresentei planilha de custos de todos os participantes da Comissão que integrou e ide-
Insulinas Humanas, por DNA recombinante, com cus- alizou o Plano de Atenção ao Diabetes Mellitus e Hi-
tos iguais as Insulinas animais adquiridas pelo Ministro pertensão Arterial.
da Saúde, para distribuição em todo território nacional.
Diabetes Clínica 02 (2001) 73
Earl S. Ford et al., Prev Méd Consumo de frutas e legumes está inversamente associado à
2001;32:33-39, janeiro de 2001 incidência de diabetes
Raida I. Harik-Khan et al, J Clin Distribuição de gordura no corpo influencia função pulmonar
Epidemiol 2001;54:399-406 em homens
Laura Baines et al, Diabetes Inibidor da ECA não altera a estrutura renal em pacientes
2001;50:843-850 diabéticos com albuminúria
Brazilian International Genome Pesquisa do genoma da cana pode levar a açúcar que engorda
Conference, Angra dos Reis, menos
abril de 2001
Um trabalho desenvolvido no Brasil promete levar a variedades de cana
cujo açúcar será menos calórico. O açúcar que engorda menos poderá ser um
dos primeiros frutos do desdobramento do Projeto Genoma da Cana-de-Açú-
car realizado por um consórcio de pesquisadores paulistas organizado pela
Fapesp. Os cientistas já deram por concluída a missão de seqüenciar os genes
ativos da cana. O trabalho levou à identificação de milhares de seqüências de
genes - acredita-se que a cana tenha cerca de 35 mil genes, 12 mil deles até
agora desconhecidos em outras plantas. Os genes que podem levar ao açúcar
menos calórico estão entre eles, mais precisamente entre os 200 genes de
metabolismo de carboidratos já identificados. “Descobrimos, um novo tipo
de açúcar na cana. Com o uso de novas tecnologias, seria possível produzir
novas variedades de cana, cujo açúcar será menos calórico”, explica o coor-
denador do projeto, Paulo Arruda, da Unicamp.
Os genes do metabolismo de açúcares são uma amostra do potencial do
projeto. Já se sabe que a cana compartilha muitos de seus genes com outros
cereais, como milho, trigo e arroz. A estratégia de seqüenciamento do DNA
da cana se baseou em se decodificar apenas os genes expressos, isto é, ativos
da planta. O DNA lixo, parte significativa do genoma, foi deixado de lado. A
estratégia deu ao país a maior coleção do mundo de seqüências de genes
expressos de um vegetal. “São informações valiosas pois a imensa maioria
dos genes da cana estão presentes nos cereais. E o Brasil é o segundo país do
mundo na produção de grãos”, frisa Arruda.
Carla J. Greenbaum et al, Diabetes O diabetes do tipo 1 assintomático pode se manifestar somente
2001;50:470-476, março de 2001 através anormalidade do OGTT de 2 horas
Guidance on Pioglitazone for Type 2 Pioglitazona reduz efetivamente os níveis da glicose sanguinea no
Diabetes Mellitus, National Institute diabetes do tipo 2
for Clinical Excellence, Londres, 9 de
março de 2001 O National Institute for Clinical Excellence (NICE) confirmou que a pio-
glitazona é eficaz para diminuir as taxas de glicose sanguínea em pacientes
portadores de diabetes o tipo 2. NICE recomenda que os pacientes que não
respondem a terapia conjugada metformina e sulfoniluréia, experimentam a
pioglitazona em combinação com metformina ou sulfoniluréia como alterna-
tiva ao tratamento por insulina.
NICE conclui que a pioglitazona, em combinação com metformina e
sulfoniluréia, pode ser uma opção menos onerosa do que a insulina para o
tratamento do diabetes do tipo 2, com uma diminuição de despesas de 12
milhões de libras para o NHS (National Health Service).
NICE notou também que a pioglitazona reduz os níveis de triglicérides e
aumenta os níveis de HDL-colesterol. Segundo John Betteridge, professor de
Endocrinologia da University College, Londres, “o tratamento do diabetes do
tipo 2! deve tomar em conta todos os fatores de risco que são uma parte do
síndrome altamente complexo da resistência à insulina. Vários estudos demons-
traram que a pioglitazona pode não só diminuir os níveis da glicose mas tam-
bém reduzir os triglicérides e aumentar o HDL colesterol, características da
dislipidemia presente na maioria dos pacientes diabéticos de tipo 2.”
80 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 02 (2001)
Julio Rosenstock et al, Diabetes Care Insulina de longa ação reduz risco de hipoglicemia noturna no
2001;24:631-636 diabetes tipo 2
Continuação fizeram no grupo da insulina NPH. Os pacientes tratados com insulina glargi-
na apresentaram menor ganho ponderal, qual seja, 0,4 versus 1,4 kg no grupo
da NPH. Segundo os autores, a menor hipoglicemia noturna reflete o perfil
sem picos de atividade da insulina glargina em relação ao pico de NPH, o que
pode resultar em concentrações maiores de insulina à noite quando a NPH é
administrada ao deitar. Os autores sugerem que o maior ganho ponderal se
deva à ingesta calórica adicional do grupo da NPH na tentativa de compensa-
ção da hipoglicemia.
Vera Bril et al, Diabetes Testes simples de rastreamento identificam neuropatia periférica
Care 2001;24:250-256, em pacientes diabéticos
fevereiro de 2001
Pesquisadores demonstram que três testes simples podem rapidamente
identificar pacientes diabéticos quanto à neuropatia periférica. O estudo ava-
liou a eficácia de quatro manobras de rastreamento comparadas com testes
eletrofisiológicos para o diagnóstico de neuropatia periférica em 478 pacien-
tes diabéticos. Os quatro testes foram o exame do monofilamento Semmes-
Weinstein (MSW), sensibilidade dolorosa superficial, teste vibratório pelo
método on-off e pelo método do tempo.
Foi observado que os testes apresentaram características semelhantes, com
um resultado positivo, representado como cinco respostas incorretas a 8 estí-
mulos, e negativo se até uma resposta fosse incorreta aos 8 estímulos, além
de sensibilidade e especificidade comparáveis.
Os autores concluem que dos quatro testes, MSW, teste da vibração on-off
e o da sensibilidade dolorosa foram considerados os mais fáceis de serem
realizados e podem ser feitos ao nível ambulatorial, devendo, portanto, o
médico escolher um deles e realizá-lo rotineiramente em seus pacientes dia-
béticos.
New Mexico School of Medicine, Jejum e desidratação têm efeitos diferentes sobre a patogênese
Albuquerque, New Mexico, Metabolism da cetoacidose diabética
Clinical and Experimental 2001; 50(2),
fevereiro de 2001 Variações nas concentrações da glicose plasmática na cetoacidose diabéti-
ca resultam provavelmente da importância do jejum pré-existente e da desi-
dratação. Os pesquisadores observaram que a glicemia varia muito em paci-
entes em estado de cetoacidose: concentrações de glicose plasmática entre
10 e 50 mmol/l são comuns, mas o mecanismo desta variabilidade da glice-
mia fica pouco conhecido. O estudo observou os efeitos do jejum e da desi-
dratação sobre a hiperglicemia induzida pela remoção da insulina em diabé-
ticos do tipo 1.
Para avaliar os papeis respectivos do jejum e da desidratação, foram ob-
servados 25 pacientes portadores de diabetes do tipo 1 durante 5 horas sem
tratamento de insulina antes (controle) e após 32 horas de jejum (n = 10) ou
desidratação de 4,1% ± 2,0% do peso corporal (n = 15).
Amostras sanguínea foram efetuadas cada 30 minutos durante a remoção
de insulina para determinar os níveis da linha base de hormônio contra-regu-
latório e as taxas de produção e de disponibilidade da glicose.
O jejum resultou em concentrações de glicose plasmática mais baixas e a
desidratação em concentrações mais elevadas do que nos casos controle.
Assim, em comparação com os controles, a produção de glicose cai durante a
fase de jejum e aumenta durante a fase de desidratação.
As concentrações de glucagon e as taxas de desenvolvimento de cetose e de
acidose metabólica aumentam durante ambos o jejum e a desidratação, em
comparação com controles. Esses dados sugerem que o jejum e a desidratação
têm efeitos diferentes sobre a glicemia durante a deficiência da insulina. A
desidratação favorece a hiperglicemia e o jejum resulta em diminuição das con-
centrações da glicose. Esses resultados foram atribuídos às diferenças na dispo-
nibilidade do substrato e às concentrações de hormônio contra-regulatório.
Robert Moses et al, Diabetes Care A repaglinida melhora o controle glicêmico sem ganho de peso
Diabetes Care 2001; 24:11-15, significativo em diabetes do tipo 2
janeiro de 2001
Um estudo multinacional mostra que o agente antidiabético oral repaglini-
da (Novonorm, Prandin), associado a dieta com horários variáveis, melhora
o controle glicêmico sem aumento significativo do peso corporal em pacien-
tes diabéticos do tipo 2. Os resultados são importantes porque o ganho de
peso é um problema comum com vários agentes antidiabéticos com também
com a insulinoterapia, e o excesso de peso aumento os riscos no caso do
diabetes do tipo 2.
O ganho de peso é conhecido para ser associado com terapias que aumenta a
exposição total do paciente à insulina, incluídos os agentes antidiabéticos de lon-
ga ação, tais como as sulfoniluréias ou certas formas de insulina. Isso é um desa-
fio pra o especialista porque o excesso de peso contribui para o desenvolvimento
do diabetes tipo 2 como também para as complicações cardiovasculares.
A repaglinida pertence à classe das “glinidas” que estimulam rapidamente a
secreção de insulina, o que faz que ela é especialmente preferida para o período
da refeição, quando o organismo precisa de insulina. A interrupção da estimu-
lação da secreção de insulina ocorre também muito rapidamente e o risco de
hipoglicemia é menor do que com os agentes antidiabéticos de longa ação.
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 02 (2001) 85
Pediatric Diabetes 2000; 1: 142-149, Agulhas mais finas não diminuem a dor da aplicação de insulina
janeiro de 2001 em crianças
Tiinamaija Tuomi et al, J Clin Grupos de diabéticos tipo 1 e tipo 2 nas mesmas famílias
Endocrinol Metab 2001;86:574-582,
marco de 2001 A interação de um antígeno HLA (human leukocyte antigen) poderia ex-
plicar a ligação genética entre os diabetes tipo 1 e 2, segunda a pesquisa de
Tiinamaija Tuomi et al. Eles estudaram no haplótipo HLA a expressão dos
anticorpos do ácido glutâmico descarboxilase (GADab) em 695 famílias nas
quais mais de um membro da família é portador de diabetes tipo 2. 14%
dessas famílias eram “misturadas”, tendo membros portadores também de
diabetes tipo 1
GADab e o genótipo HLA DQB1*0302/X foram encontrados com maior
frequëncia em diabéticos tipo 2 de famílias misturadas do que em diabéticos
tipo 2 de famílias com somente portadores de diabetes tipo 1. Os membros da
famílias misturadas com haplótipos de risco de classe II demonstraram res-
posta insulínica diminuída à teste de glicose oral, em comparação com paci-
entes não portadores desse haplótipo. Os pesquisadores concluem que diabe-
tes tipo 1 e 2 se encontram nas mesmas famílias. A susceptibilidade genética
ao diabetes tipo 1 conferida pelo lócus HLA predispõe à diminuição da fun-
ção da célula β em pacientes portadores de diabetes tipo 2.
88 Diabetes Clínica 02 (2001)
O Diabetes na Imprensa
2,5 milhões podem descobrir diabetes
25 de março de 2001 Cerca de 2,5 milhões de brasileiros terão um motivo importante para não
esquecer estas semanas de março. Ao longo deste mês, eles receberam ou
estarão recebendo a notícia, ainda preliminar, de que são diabéticos. Estima-
se que metade desse contingente nem desconfiasse que era portador da doen-
ça. Passado o susto da má notícia, a maioria vai constatar que seria muito pior
se não tivesse feito o teste e não fosse informado do resultado. Diagnosticado
no início e devidamente tratado, o diabetes pode ser controlado. No caso
contrário, a doença fará estragos graves quando aparecer, podendo provocar
derrames, amputações, cegueira e problemas cardíacos.
Reduzir os danos dessa doença silenciosa é o propósito da campanha do
Ministério da Saúde iniciada o dia 6 de março. Ana Luiza Vilasboas, coorde-
nadora da Campanha Nacional de Diabetes, diz que o SUS tem infra-estrutu-
ra para receber esse novo contingente de diabéticos, equivalente a mais de
duas vezes e meia a população de Campinas, em São Paulo. Segundo ela,
medicação e insumos – como fitas e aplicadores de insulina – já estão previs-
tos no orçamento. Além das 30 mil unidades de saúde – que receberão apare-
lhos glicosímetros para medir a glicose no sangue – cerca de 38 milhões de
pessoas já estão acompanhadas pelo programa de Saúde da Família.
Ainda falta um treinamento adequado dos profissionais. Segundo ministé-
rio, 5.500 multiplicadores municipais estão sendo treinados para atualizar
cerca de 40.000 profissionais da rede básica em todo o país.
Na prática, a realidade não é tão animadora. “O SUS não coloca à dispo-
sição todos os tipos de insulina e muitas cidades não recebam nenhum dos
tipos”, diz Lílian Fanny de Castilho, diretor-executiva da ANAD, Associa-
ção Nacional de Assistência ao Diabético. Com uma rede de pacientes em
todo o Estado de São Paulo e contatos com associações de muitas regiões, a
ANAD é um dos muitos “olhos” das entidades de pacientes diabéticos.
Hoje em São Paulo, pela Lei 10.782.01, cujo projeto é de autoria do depu-
tado Roberto Gouveia (PT), o SUS deve garantir medicamentos e insumos
para o autocontrole – glicosímetros e fitas – e auto-aplicadores de insulina.
Significa que cada paciente dependente da insulina terá direito a um aparelho
medidor da glicose (custo entre R$ 100,00 e R$ 200,00) e fitas para os testes,
que consomem cerca de R$ 50,00 a R$ 90,00 por mês. Um grupo a ser coor-
denado pela Secretaria de Estado da Saúde, com participação de entidades et
usuários, deverá detalhar a lei numa “norma técnica”.
“Oferecer condições para que o paciente e sua família tenham autonomia
no controle e tratamento do diabetes é a forma mais barata de evitar os
altíssimos custos da doença,” diz Gouveia.
Em 1999, O SUS gastou R$ 33 milhões com internações decorrentes de
complicações com o diabetes. Os Estados Unidos estimam em US$ 130 bi-
lhões por ano as perdas com tratamento e custos indiretos dessa doença.
O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 02 (2001) 89
25 de março de 2001 As novas insulinas são cada vez mais eficazes, têm menos efeitos colate-
rais e são mais fáceis de aplicar. Mas, para muitos pacientes, o sonho ainda
está numa “cura” ou num controle que possa vir das plantas e dos alimentos.
Os resultados ainda estão restritos aos ratos, “mas são animadores”, diz
Jecelem Mastrodi Salgado, professora titular da Esalq-USP, Escola Superior
de Agricultura Luiz de Queiroz.
Entre as várias pesquisas sobre alimentos que coordena, pelo menos três
estão relacionadas ao diabetes. Uma delas é com a Cissus cyclod, trepadeira
conhecida como “insulina vegetal”.
“Nas pesquisas, essa planta tem diminuído o nível de glicose no sangue”,
diz Jecelem. Outro estudo vem sendo feito com a manga. Os pesquisadores
destruíram as células bêta do pâncreas, que produzem insulina, deixando os
ratos diabéticos. “Com o emprego da manga, notou-se um aumento da insu-
lina nos bichinos.”
A mesma professora – autora do livro “Previna Doenças, Faça do alimen-
to o seu medicamento (Ed. Adras) – coordena um estudo com o feijão guan-
do, que também reduziria a glicose. “O próximo passo serão trabalhos com
humanos, coordenados por endocrinologistas”, diz.
90 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 02 (2001)
lispro, HbA1c era 6,7 ± 0,3% vs. NI, 7,9 ± 0,5% (p < 0,05), e o ganho de peso foi
em +0,8 ± 0,3 kg/m2 vs. NI, +2,0 ± 0,5 kg/m2 (p < 0,05). A pressão sanguínea
média era 153/83 ± 4/3 mmHg e não foi modificada pelo tratamento insulínico.
Conclusão: Em nossos pacientes diabéticos do tipo 2, uma melhora meta-
bólica persistente e um ganho de peso mínimo foram obtidos após 3 anos
de tratamento IIT utilizando insulina lispro.
Resultados:
Amostras Slope Intercept correlação
T.M. Wallace, D.R. Matthews, Oxford Uso de um sensor de cetona sanguínea portável e sua aplicação
Centre for Diabetes, Endocrinology clínica para separar a cetose da simples hiperglicemia
and Metabolism, The Radcliffe
Infirmary, Oxford, UK, 36th Annual Introdução: Estudamos o uso de um sensor eletroquímico de cetona (Me-
Meeting of the EASD, Jerusalem, disense da Abbott) que produz em 30 segundos um sinal elétrico proporcio-
Israel, 17-21 de setembro de 2000 nal à concentração de alfa-hidroxibutirato (alfa-OHB). Usando duas tiras di-
ferentes, o sistema permite medir alfa-hidroxibutirato e glicose a partir da
mesma amostral de sangue do dedo.
98 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 02 (2001)
Lawrence S. Cozma et al, 17th Efeitos da repaglinida oral sobre os perfis da glicose e insulina
International Diabetes pós-prandial
Federation Congress, Mexico
City, Mexico, 5 a 10 de Repaglinida é o primeiro membro da nova classe de secretagogos de insu-
novembro de 2000 lina de ação curta (família do ácido benzoico carbamoilmetil) disponíveis
para o uso clínico no tratamento do diabetes tipo 2. Esse estudo foi desenha-
do para observar os efeitos de doses únicas variáveis pré-prandiais de repa-
glinida sobre os perfis da glicose e da insulina durante um teste de tolerância
(refeição de 500 kcal). Estudamos 8 pacientes diabéticos do tipo 2, controla-
dos por dieta (7 homens), idade média 56 anos (intervalo 44-66), IMC médio
29 kg/m2 (intervalo 23-34), glicose plasmática de jejum 8,6 mmol/l (interva-
lo 7,4-10,0) e HbA1c média 7,6% (intervalo 7,4-8,4). Todos os pacientes
receberam o seguinte: placebo, repaglinida 0,5 mg, 1 mg, 2 mg e 4 mg em
ordem randomizada em 5 ocasiões diferentes, durante ume semana. A droga
foi administrada antes um teste de tolerância padrão (refeição) seguido por
amostra de sangue para glicose e insulina cada 30 minutos durante 4 horas.
Ambos insulina AUC0-60 e insulina AUC0-240 mostraram aumentos signi-
ficativos dependentes da dose de repaglinida 0,5 mg até 4 mg. O aumento foi
linear de 0,5 mg para 4 mg por insulina AUC0-240. A glicose AUC0-60
mostrou uma diminuição não significativa quando comparada com placebo a
qualquer dosagem. A glicose AUC0-240 mostrou diminuição significativa
com dosagem de 0,5 até 2 mg de repaglinida. Nenhum efeito suplementar
sobre glicose AUC0-240 foi observado com repaglinida 4 mg quando com-
parada com 2 mg.
100 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 02 (2001)
Cindy Rubin, Roberta Schneider. The O perfil enzimático hepático em tratamento com pioglitazona é
Pioglitazone Study Group, 17th similar ao do placebo em estudos clínicos controlados
International Diabetes Federation
Congress, Mexico City, Mexico, 5 a 10 Objetivos: Pioglitazona (PIO) é uma nova tiazolidinediona aprovada para
de novembro de 2000 administração uma vez ao dia em tratamento único ou conjugado com sulfo-
niluréia, metformina ou insulina par o tratamento do diabetes do tipo 2. pes-
quisas e experiência clínica om outros compostas desta classe sugerem que o
aumento dos enzimas hepáticos poderia ser um marcador para o risco de
eventos hepáticos adversos. O objetivo deste estudo foi pesquisar a incidên-
cia de aumentos de enzimas hepáticos durante o tratamento com PIO.
Métodos: Após o programa clínico americano PIO, foi feita ume revisão
de todos os pacientes com elevação de ALT > 3 vezes o limite superior do
normal (ULN). Durante os estudos controlados por placebo nos EUA, 4/1526
(0,26%) dos pacientes tratados por PIO e 2/793 (0,25%) dos pacientes trata-
dos por placebo apresentaram um aumento dos valores de ALT > 3xULN.
Resultados: Durante todos os estudos clínicos, 11/2561 (0,43%) dos paci-
entes tratados por PIO apresentaram ALT > 3xULN. Todos os pacientes com
testes de acompanhamento apresentaram uma diminuição secundária de ALT.
Nenhum desses aumentos foi considerado como sério.
Conclusão: Durante avaliação em monoterapia ou em tratamento conjuga-
do com outro agente antidiabético, PIO não foi diferente do placebo no
que se refere aos testes da função hepática.
Steven Kahn et al, 17th International Diminuição da relação proinsulina/insulina e melhora da função
Diabetes Federation Congress, da célula β em diabetes do tipo 2 tratado com rosiglitazona
Mexico City, Mexico, 5 a 10 de
novembro de 2000 Objetivo: Uma proinsulinemia disproporcionada significativa de um rela-
ção aumentada da proinsulina (PI) / insulina imunoreativa (IRI), foi observa-
da em diabéticos do tipo 2, e é inversamente relacionada à função da célula β,
positivamente relacionada à glicemia mas não é relacionada à sensibilidade à
insulina. As tiazolidinedionas não só aumentam a sensibilidade à insulina,
más têm também uma ação direta sobre a função da célula β.
Métodos: Para determinar se a rosiglitazona (RSG) aumenta a função da
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 02 (2001) 101
Julio Rosenstock et al, 17th Rosiglitazona combinada com glibenclamida é eficaz e bem
International Diabetes Federation tolerada em pacientes diabéticos tipo 2 inadequadamente
Congress, Mexico City, Mexico, 5 a controlados com dose máxima de glibenclamida
10 de novembro de 2000
Objetivo: O potente agonista da PPARg, a rosiglitazona (RSG) melhora o
controle glicêmico em pacientes diabéticos do tipo 2. RSG (2 ou 4mg/dia) +
glibenclamida (GLB) resultou em diminuição significativa e proporcional à
dose da HbA1c, em comparação com linha base ou com GLB em estudos
clínicos. Este estudo avaliou a eficácia, segurança e tolerabilidade da dose
máxima de RSG 8mg + GLB em pacientes diabéticos do tipo 2 inadequada-
mente controlados com dose máxima de GLB.
Métodos: GLB foi administrada durante 6 a 7 semanas em estudo único-
cego, controlado por placebo, com doses de metade do máximo até o máxi-
mo (20 mg). Após o período, 114 pacientes com FGP > 7,8 mmol/l e < 15
mmol/l foram randomizados para receber PBO + GLB 10 mg/d ou RSG 4
mg/d + GLB 10 mg/d por 26 semanas.
Resultados: RSG + GLB resultou em diminuição significativa da HbA1c
média e da FGP a partir da linha base e também quando comparada com
GLB em tratamento único após 26 semanas. Doses maiores resultaram em
diminuição maior da HbA1c. Maiores diminuições da HbA1c média (-1,7%)
e FPG (- 4,9 mmol/l) foram observadas no subgrupo de pacientes com HbA1c
102 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 02 (2001)
Continuação inicial > 9%. 47% dos pacientes do grupo RSG + GLB apresentaram FGP <
7,0 mmol/l e 64% dos pacientes tratados com RSG apresentaram uma redu-
ção da HbA1c > 1%. A proporção de pacientes reclamando de efeitos adver-
sos foi similar nos dois grupos. No grupo RSG, 5,4% dos pacientes reclama-
ram da falta de eficácia, comparados com 20,7% no grupo GLB. Hipoglice-
mia foi mais freqüente no tratamento conjugado com RSG.
J. Gordon Still, Annual meeting of Ume preparação de insulina disponível via oral oferece controle
the American Society for Clinical fisiológico da glicose
Pharmacology and Therapeutics. 12
de março de 2001 Uma nova insulina via oral pode ser absorvida pela barreira intestinal e
fornecer um controle fisiológico da glicose sanguínea diretamente no fígado
em pacientes diabéticos como em indivíduos não diabéticos, segundo J. Gor-
don Still da Nobex Corporation (North Carolina, EUA).
Esta preparação é a hexil-insulina monoconjugado 2 (HIM2) com um plie-
tilenoglicol conjugado atachado no locus lisina B-29 da insulina, o que pre-
serva a atividade, melhora a estabilidade da insulina contra a degradação
enzimática e melhora também a solubilidade. Um estudo clínico randomiza-
do, duplo-cego, de fase II está em andamento com 6 pacientes portadores de
diabetes do tipo 1. Após medições de HIM2, os níveis sanguíneos da insulina
aumentaram proporcionalmente à dose, alcançando concentrações encontra-
dos só em indivíduos não diabéticos após uma refeição. A insulina era absor-
vida muita rapidamente, com pico de concentração máxima em 10 minutos, e
diminuindo também rapidamente em 1 ou 2 horas, para voltar as concentra-
ções da linha base. Os pesquisadores notaram diminuições significativas das
concentrações de glicose sanguínea durante 4 horas nos pacientes que rece-
beram HIM2 em comparação com placebo. Nenhum efeito adverso impor-
tante em relação com a administração de HIM2 foi observado.
O fígado é o órgão corporal envolvido na homeostase da glicose. A insuli-
na administrada por via subcutânea é em grande parte absorvida pelo múscu-
lo periférico e pela gordura. Segundo os pesquisadores, a re-insulinização do
fígado pela via oral tem implicações a longo prazo sobre a prevenção das
complicações cardiovasculares do diabetes, como por exemplo a dislipide-
mia. HIM2 tem o potencial de substituir os agentes hipoglicemiantes orais ou
poderia ser usada em terapia conjugada para o tratamento a longo prazo do
diabetes do tipo 2 e eliminar o risco de tratamento do diabetes do tipo 2 por
insulina injetável.
19 de março de 2001 O sistema Innovo da Novo Nordisk está aprovado nos Estados
Unidos
Continuação Uma tela miniaturizada mostra a dose e o tempo usado desde a última
injeção, o que pode ajudar os pacientes no manejo da terapia insulínica. As
doses podem ser ajustadas de 1 UI até 70 UI. A memória e os dados de dosa-
gens evitam o esquecimento das injeções e melhoram a complacência do
paciente. Os pacientes podem também usar o sistema para administrar inje-
ções. Innovo inclui um compartimento para uma recarga de seringa de insu-
lina. Após cada injeção, o paciente abra o compartimento (similar ao com-
partimento de bateria em sistema eletrônico portátil) insere uma nova recar-
ga. A força da próxima injeção pode também ser ajustada.
George Steiner et al, Diabetes O uso do fenofibrato diminui a progressão da doença arterial
Atherosclerosis Intervention coronariana em pacientes portadores de diabetes do tipo 2
Study, Lancet 2001;357:905-
910, março de 2001 Em pacientes diabéticos do tipo 2, o uso do fenofibrato (antihiperlipidemi-
ante) diminui a progressão angiográfica da doença arterial coronariana. Um
grupo de 418 pacientes diabéticos do tipo 2, homens e mulheres, foi rando-
mizado para receber 200 mg/dia de fenofibrato micronizado ou placebo, du-
rante 3 anos.
Todos os pacientes tinham um bom controle da glicemia com anormalidades
médias das lipoproteínas e pelo menos uma lesão coronariana visível. A meta-
de dos pacientes não apresentava histórico de doença arterial coronariana.
Dentre os pacientes do grupo fenofibrato, as concentrações de colesterol
total, LDL-colesterol e triglicérides foram significativamente reduzidos a partir
da linha base, e as concentrações de HDL-colesterol aumentaram significati-
vamente, em comparação com os pacientes do grupo placebo.
A angiografia mostrou os pacientes do grupo fenofibrato apresentaram
uma progressão significativamente menor de 42% do diâmetro da estenose
em comparação com o grupo placebo. A redução média do diâmetro mínimo
do lúmen foi de – 0,06 mm no grupo fenofibrato, significativamente menor
do que o – 0,10 mm do grupo placebo.
O estudo recomenda que as medições das lipoproteínas sejam feitas no
período do diagnostico do diabetes do tipo 2 e todos os anos. A correção de
pequenas anormalidades pode reduzir significativamente o risco de doença
coronariana.
Produtos e novidades
Composição:
Sacarose ................ 46%
Dextrose ................ 15%
Frutose .................. 15%
Água ..................... 24%
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Bolottone Light Vivalev Diatt (Frutas e Maçã com Canela) é a prova que
sabor e saúde podem estar juntos no mesmo produto. Sem adição de açúcar e
sal, o Bolottone tem redução de 82% de gordura e 33% de calorias. É acres-
cido de nutrientes como fibras, vitaminas e sais minerais. Contém
ainda, ômega 3 (ácido graxo não produzido no organismo que age
reduzindo o colesterol LDL no sangue). O Bollotone é adoçado
com Docigual Diatt, novo adoçante dietético culinário.
110 Produtos e Novidades – Diabetes Clínica 02 (2001)
Informações: www.novel.de
(21,5 ± 5,8 vs. 45,9 ± 10,4%; P < 0,01), vasodilatação dependente da acetil-
colina (331 ± 84 vs. 688 ± 192 %; P < 0,001), e vasodilatação dependente da
insulina (mediana 29,3 vs. 47,2%; P < 0,05). Análises de correlações com
ajustes para idade, sexo, IMC e relação cintura/quadril mostraram relações
significativas do recrutamento capilar após oclusão arterial com pressão san-
guínea (r = 0,68; P < 0,01), sensibilidade à insulina (r = +0,55; P < 0,01) e
vasodilatação dependente da insulina (r = + 0,51; P < 0,05), em normotensos
como em hipertensos.
Conclusão: A função microvascular da pele é associada à pressão sanguí-
nea e ações vasodilatadora e metabólica da insulina, em indivíduos nor-
motensos como em hipertensos. Esses achados propõem uma explicação
potencial do mecanismo das relações entre resistência à insulina, diminui-
ção da vasodilatação dependente da insulina e hipertensão.
112 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 02 (2001)
V Palmieri et al, Weill Medical Efeito do diabetes do tipo 2 sobre a geometria ventricular
College of Cornell University esquerda e a função sistólica em indivíduos hipertensos: estudo
(V.P., J.N.B., J.E.L., M. -Y.S., Hypertension Genetic Epidemiology Network (hyperGEN)
R.B.D.), New York, NY,
Circulation 2001;103(1):102-7, Introdução: O diabetes tipo 2 é um fator de risco cardiovascular. O estudo
janeiro de 2001 investigou em amostra populacional se o diabetes é associado com mudanças
na estrutura ventricular esquerda (VE) e na função sistólica, independente-
mente da obesidade e da pressão sanguínea (PS).
Métodos e resultados: Dentre 1950 participantes hipertensos do estudo
HyperGEN sem doença coronariana ou doença valvular significativa, 20%
(n = 386) eram portadores de diabetes. Os diabéticos eram na maioria mulhe-
res, negras, idosas e tinham um IMC e relação cintura/quadril maiores do que
os não-diabéticos. Após ajustes par sexo e idade, os diabéticos apresentaram
PS sistólica mais elevada, como também pressão no pulso e freqüência cardí-
aca; a PS diastólica foi menor e a duração da hipertensão mais longa do que
em não-diabéticos. A massa VE e a espessura relativa da parede eram mais
elevadas em diabéticos do que em não-diabéticos, independentemente das
covariáveis. Os níveis de insulina e resistência à insulina eram mais elevados
em diabéticos não tratados por insulina (n = 195) que em não diabéticos (n =
1439) (ambos P < 0,01). A resistência à insulina foi positivamente, mas leve-
mente relacionada à massa VE e espessura relativa da parede.
Conclusões: Em amostra baseada em população, relativamente saudável,
de indivíduos hipertensos, o diabetes do tipo 2 é associado à massa VE
maior, geometria VE mais concêntrica, e função miocárdica mais fraca,
independentemente de idade, sexo, IMC e PS arterial. Na coorte Framin-
gham, o diabetes era associado com massa VE maior em mulheres mas
não em homens. A pressão sanguínea elevada, obesidade e perfil lipídico
anormal, que são bastante presentes em diabetes, são associados com anor-
malidades cardiovasculares pré-clínicas e podem contribuir à associação
do diabetes com eventos cardiovasculares. As características cardíacas dos
indivíduos hipertensos diabéticos e não-diabéticos são incompletamente
descritos em amostras de população. Nos comparamos as características
clínicas e metabólicas, a geometria VE e a função sistólica entre partici-
pantes diabéticos e não diabéticos do estudo HyperGEN.
Continuação te uma correlação significativa entre os indivíduos para cada caractere, como
também correlações significativas dentro e entre indivíduos para todas as
combinações possíveis de caracteres. Entre as gerações, a pressão sistólica,
sensibilidade à insulina e IMC em pais foram correlatos com os mesmos
caracteres nos filhos; IMC em pais correlata com Si e pressão sistólica em
filhos; e Si em pais correlata com pressão sistólica em filhos. A análise esti-
mou que dentre os filhos, os efeitos genéticos não-relacionados a IMC repre-
sentavam 60,8% da variação da pressão sistólica, 36,8% da variação da Si e
31,5% das correlações entre pressão sistólica e Si após ajustes para sexo e
idade. Os efeitos genéticos ligados a IMC representaram 14,0% adicionais na
variação da pressão sistólica, 26,8% da variação da Si e 56,3% da variação de
sua correlação.
Conclusões: O conjunto de hipertensão e resistência à insulina em Hispa-
no-Americanos pode ser explicado em parte por fatores genéticos associa-
dos e independentes do IMC.
Jean-François Yale et al, Diabetes Care Ensinar aos pacientes portadores de diabetes tipo 2 que
24:222–227, 2001 incorporar açúcares no plano nutricional diário promove
complacência dietética e não deteriora o perfil metabólico
Kjeld Hermansen et al, Diabetes Care Efeitos de um suplemento dietético derivado do soja sobre os
24:228–233, 2001 níveis de lípides e os marcadores de risco cardiovasculares em
pacientes portadores de diabetes do tipo 2
Aristidis Veves et al, Grafskin, equivalente da pele humana, é eficaz para o manejo
Diabetes Care 24:290–295, das ulceras diabéticas neuropáticas não-infectadas
março de 2001
Objetivo: Este estudo prospectivo randomizado avaliou a eficácia do Grafskin,
equivalente da pele viva, no tratamento de úlceras plantares crônicas de pé diabético.
Desenho da pesquisa e métodos: Em 24 centros dos EUA, 208 pacientes fo-
ram randomizados para receber um tratamento de úlcera com Grafskin (112 pa-
116 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 02 (2001)
Continuação cientes) ou com placebo (96 pacientes, grupo placebo). Terapias complementares
adequadas, com debridamento cirúrgico extensivo ou equipamento especial para
o pé, foram fornecidos a ambos os grupos. Grafskin foi aplicado no início do
estudo e semanalmente durante um período máximo de 4 semanas (máximo 5
aplicações) ou menos se a cura completa ocorreu antes. O objetivo era constatar
a cura completa da úlcera na consulta da décima-segunda semana de seguimento.
Resultados: Na consulta da 12a semana, 63 (56%) dos pacientes tratados por
Grafskin apresentaram uma cura completa da úlcera, comparados com 36 (38%)
no grupo controle (P = 0,0042). O tempo médio de Kaplan-Meier para obter a
cicatrização da úlcera foi 65 dias com Grafskin, significativamente menor do
que os 90 dias observados no grupo controle (P = 0,0026). Os odds ratio para a
cura completa para a úlcera tratada por Grafskin comparados com a úlcera
tratada no grupo controle foi 2,14 (95% IC 1,23–3,74). A taxa de reações ad-
versas foi similar entre os dois grupos, na excepção de osteomielite e de ampu-
tações do membro inferior, os dois sendo menos freqüentes no grupo Grafskin.
Conclusões: A aplicação de Grafskin por um período máximo de 4 sema-
nas resulta em uma taxa de sucesso maior quando comparada aos trata-
mentos atualmente disponíveis e não foi associada com efeitos adversos
significativos. Grafskin pode ser um complemento muito útil no tratamen-
to das úlceras de pé diabético resistentes aos tratamentos padrões atuais.
Lawrence S. Phillips et al, Diabetes Rosiglitazona uma ou duas vezes ao dia melhora o controle
Care 24:308–315, março de 2001 glicêmico em pacientes portadores de diabetes do tipo 2
ARTIGO ORIGINAL
Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital Belo Horizonte, Centro de Atenção ao Diabético, Belo Horizonte, MG
Resumo
O diabetes mellitus neonatal é uma entidade rara ocorrendo em 1:500.000 nascidos vivos. Cerca de 50% desses pacientes apresentam o
diabetes mellitus neonatal transitório definido como inequívoca hiperglicemia desenvolvida durante o primeiro ano de vida e freqüentemente
necessitam do uso de insulina exógena para tratamento. Ocorre melhora progressiva do quadro o que torna o tratamento desnecessário dentro
de um prazo normalmente inferior a um ano. É descrito o caso de uma criança do sexo masculino que apresentou diabetes mellitus com a idade
de 45 dias, após ter sido submetida a hernioplastias inguinal e umbilical, necessitando de insulinoterapia. Quando apresentava a idade de um
ano e 8 meses a insulinoterapia foi suspensa com o paciente apresentando, até aos dez anos de idade, valores laboratoriais do perfil glicêmico
normais ou discretamente aumentados. O crescimento e desenvolvimento da criança até o momento são considerados normais. Postula-se,
como causa provável (já identificada em pelo menos 25% dos casos) a dissomia uniparental com um imprinted gene no cromossomo 6.
Abstract
Neonatal Diabetes Mellitus is a rare entity, occurring in 1:500,000 of living newborns. At about 50% of these patients display transitory defined
as a errorless hyperglycemia developed during the first year of life and frequently need the use of exogenous insulin for the treatment. A
progressive recovery of the status makes the treatment unnecessary within a period that normally is below one year. The case of a male child
who displayed Diabetes after 45 days of life is described, after having been submitted to surgical correction of inguinal and umbilical hernias,
with the need of insulin-therapy. When the child was one year and eight months old, the insulin-therapy was suspended with the patient
displaying up to ten years old, normal or only discretely increased laboratorial values of glicemic profile. The growth and development of the
child up to the moment is considered normal. It is believed that the probable cause (which has been identified in at least 25% of the cases) the
uniparental disomy with an imprinted gene in the chromosome 6.
Endereço para correspondência: Avenida Antônio Carlos 1694, Sala 17, Portaria A. Cachoeirinha, 31210-000,
Belo Horizonte - MG. Tel/fax: (31) 3421 3987, (31) 449 7017, E-mail: wpedrosa@prover.com.br
119 Dias JCA, Lima WP / Diabetes Clínica 02 (2001) 118~121
um dos pais. O termo pode ser aplicado a uma parte de Os casos de recorrência do diabetes mellitus após um
um cromossomo ou mesmo a marcadores moleculares período variável de remissão estão associados a perío-
somente [23]. Temple [24] descreve duas famílias não dos de estresse e à puberdade. Nestes pacientes, o teste
relacionadas que independentemente sugerem a existên- de infusão de glicose com a aferição da liberação de in-
cia de um imprinted gene expresso paternalmente e ma- sulina na primeira fase pode ser utilizado no seguimen-
peado em 6q22-q23. Uma família tem uma duplicação to predizendo, em alguns pacientes, o fim do período de
enquanto a outra, com DMNT familiar, mostra relação remissão [11, 29, 30, 31].
com um marcador nesta região sugerindo uma herança Hermann [32] sugere que o diabetes neonatal transitó-
dominante. rio provavelmente tem uma herança genética heterogê-
Em outro estudo, na tentativa de se conseguir dados de nea, e que um gene responsável pelo desenvolvimento do
valor diagnóstico e prognóstico com relação ao diabetes diabetes neonatal em um subgrupo de pacientes está lo-
mellitus neonatal, foram avaliadas 19 crianças não se con- calizado no cromossomo 6. Possivelmente, a dissomia
seguindo diferenciar o diabetes definitivo do transitório uniparental do cromossomo 6 tem um papel crítico no
levando-se em consideração o peso e comprimento ao desenvolvimento da doença e pode estar relacionado com
nascimento, valores de glicemia e peptídeo-C, marcado- a maturação da célula beta e secreção insulínica e pode
res de auto-imunidade, resposta ao tratamento e fatores também influenciar a nutrição fetal e crescimento intra-
de desencadeamento. Apesar desse achado muitos auto- uterino. Trabalhos mais recentes têm demonstrado uma
res encontraram concordância em alguns dados e propu- associação ainda maior entre o DMNT com a dissomia
seram tabelas de auxílio diagnóstico [25, 26]. uniparental do cromossomo 6 tornando-se esse uma enti-
Estudando-se um número maior de pacientes pode- dade diferente do diabetes mellitus neonatal definitivo não
se assegurar, após avaliação genética, a presença da dis- ligado à auto-imunidade e o tipo 1 precoce. Os genes can-
somia uniparental em 20 a 25% dos pacientes com didatos foram mapeados na região 6q24 e tiveram suas
DMNT [7, 27].Técnicas laboratoriais modernas de cito- seqüências estabelecidas [33, 34].
genética e genética molecular são altamente sensíveis e A diferenciação entre as duas formas de diabetes
específicas. Entretanto, baixo nível de mosaicismo é fre- mellitus neonatal é baseada inteiramente no seguimento
qüentemente de difícil detecção. Sua relevância fenotí- clínico e laboratorial. Pode-se sugerir que as formas per-
pica poderia ser imensa. Deve-se manter em mente que manente e transitória dessa doença possam representar
na teoria e na prática é impossível excluir mosaicismo. dois componentes de um espectro de insuficiência da
Uma revisão abrangente sobre a dissomia uniparental célula beta de patogênese similar [35]. Por se apresentar
pode ser encontrada em outras fontes [23, 28]. como uma entidade distinta com diagnóstico e prognós-
450
400
Glicemia (em mg/dl)
ja *
ag 3
6
*
de 2
8
m 2
m 7
90
O /91
93
no 0
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5
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ab
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ja
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ut
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Período analisado
121 Dias JCA, Lima WP / Diabetes Clínica 02 (2001) 118~121
tico diferentes dos outros tipos de diabetes habitualmente C et al. Congenital absence of insulin cells in a neonate with
encontrados, o diabetes neonatal transitório necessita de diabetes mellitus and mutase-deficient methylmalonic
acidaemia. Diabetologia 1993;36:352-257.
maior grau de suspeição clínica e acompanhamento per- 22 - Abramowicz MJ, Andrien M, Dupont E, Dorchy H, Parma J,
manente após o período de remissão. O seguimento des- Duprez L et al. Isodsomy of chromosome 6 in a newborn with
ses pacientes deve ser feito com avaliação do perfil gli- methylmalonic acidemia and agenesis of pancreatic beta cells
cêmico, principalmente durante a puberdade e períodos causing diabetes mellitus. Am Soc Clin Invest 1994;94:418-
de maior estresse. 422.
23 - Kotzot D. Abnormal phenotypes in uniparental disomy
(UPD): fundamental aspects and a critical review with
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Macroglossia, transient neonatal diabetes mellitus and 34 - Arima T, Drewell RA, Oshimura M, Wake N, Surani MA. A
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in half sisters. Am J Dis Child 1982;136:626627.
21 - Blum D, Dorchy H, Mouraux T, Vamos Y, Kumps A, De Prez
122 Takahashi ITM et al / Diabetes Clínica 02 (2001) 122~128 Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas
ARTIGO ORIGINAL
Universidade Estadual de Londrina e Diretora de Enfermagem do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná, fProfessora Adjunta do
Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina e Vice-Diretora do Centro de Ciências da Saúde da UEL, gEnfermeira do Ambulatório
do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Londrina, hPsicólogas do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná, iResidente de
Endocrinologia do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná
Resumo
Este trabalho foi desenvolvido em duas unidades básicas de saúde (UBS) do município de Londrina-PR, tendo como objetivo traçar o perfil dos
diabéticos assistidos nestas unidades. Foi aplicado um questionário com perguntas abertas e fechadas, abordando aspectos das diferentes áreas
de atuação da equipe profissional de atendimento ao diabético (social, enfermagem, médica, nutricional e psicológica). Constatou-se que a
maioria dos 103 pacientes avaliados eram diabéticos do tipo 2, não complicados, encontrando-se na faixa etária dos 41 a 80 anos, com baixo
grau de instrução e baixa renda. Os resultados mostraram que os pacientes apresentavam conhecimento insatisfatório sobre a doença, suas
complicações e o auto-cuidado, demandando ações educativas por parte dos profissionais que atuam na assistência a nível primário.
Endereço para correspondência: Ilidia Terezinha Martelli Takahashi, Rua Shangai, 55 – 86 050-350 Londrina PR,
Tel: (43)339 0703, E-mail: nupe@uel.br
123 Takahashi ITM et al / Diabetes Clínica 02 (2001) 122~128
Abstract
This report was developed in two primary health care unit at Londrina‘s municipality-PR (Brazil) and it has the aim to describe the profile of
the diabetic patients that were attended in these units. It was applied a questionnaire including multiple choice and short answer questions
(during the period of March until December of 1995). It allowed to get information about different areas of multidisciplinary team work for
diabetic care (social, nursiny, clinical, nutritional and psychological aspects). The majority of the 103 evaluated patients were diabetics of type
2, without complications, and they were between 41 to 80 years old, with low degree of instruction and low income. The results show that
patients had few information about this disease, complications and self-care. It requests more educational actions of primary health care.
Key words: Diabetes mellitus, diabetes care, diabetes education, multiprofissional teamwork.
te, respondendo a um questionário padrão. Inicialmente cípio está inserida em famílias que sobrevivem com renda
106 pacientes responderam o questionário sendo que de até dois salários mínimos mensais, sendo que desse
destes, três foram excluídos por não terem o diagnóstico contingente populacional 3,23%, não dispõe de nenhu-
de diabetes confirmado e outros quatro pacientes por ma renda [8]. Vale ressaltar que o índice da população
não terem respondido todo o questionário. economicamente ativa no município é 43,21% segundo
O instrumento constava de 104 perguntas do tipo dados do Censo Demográfico IBGE de 1991 [7].
múltipla escolha e de preenchimento de lacunas, elabo- Em relação à situação habitacional dos pacientes, o
radas de forma a atender as diversas áreas de interesse Gráfico 4 demonstra que 76% possuíam casa própria.
assim distribuídas: identificação do paciente e determi- Em Londrina, 8,39% da população vivem em situação
nação do padrão sócio-econômico (23), auto-cuidado habitacional irregular, como assentamentos e favelas [7].
corporal, monitorização, aplicação de insulina (16), co- Um aspecto relevante estudado é que 49% referiam
nhecimento sobre as patologias associadas e tratamento não usufruir rede de esgoto. Importante frisar que o sis-
(34), hábitos alimentares, freqüência alimentar, fracio- tema de esgoto sanitário na cidade contempla somente
namento e tabus (14) e emoções do paciente frente a 58,3% da população [7].
doença (17). . Os entrevistados referiram dificuldades relacio-
nadas com as filas de espera para consulta e a falta de
medicamentos disponíveis, mesmo assim, o posto de
Resultados e discussão saúde ainda era a referência na concessão da medicação
A) Identificação e perfil sócio econômico básica. Dificuldades financeiras para adquirir os medi-
Dos pacientes entrevistados, 52 eram do Jardim Pi- camentos foram mencionadas por 25,3% dos diabéticos.
zza e 51 do Parque das Indústrias, sendo 66% do sexo Para 70% dos pacientes, a atividade e participação
feminino e 44% do sexo masculino. Este resultado re- social resumia-se à vida religiosa, sendo que 75% eram
flete o que ocorre no município, onde a maioria da po- católicos e 21% evangélicos. A maioria não participava
pulação de Londrina é do sexo feminino [7]. Noventa e de grupos ou associações ligados à comunidade e des-
quatro por cento (94%) dos indivíduos encontravam-se conheciam formas associativas destinadas aos diabéti-
na faixa etária dos 41 a 80 anos, diferentemente do que cos.
ocorre no município onde somente 28% encontram-se
nesta faixa etária. Foss et al [5] observaram em sua amos- Gráfico 1 – Nível de escolaridade dos diabéticos entrevistados nas duas UBS.
tra que 77,5% dos pacientes eram do sexo feminino e
idade variando entre 2 –84 anos. Malerbi e Franco [2]
citam taxas semelhantes de diabetes entre homens e
mulheres na faixa etária de 30 – 69 anos.
Com relação a naturalidade, 27% eram procedentes
do Estado de São Paulo; 24% de Minas Gerais, 10% da
Bahia e somente 20% eram do Paraná.
O estado civil predominante (73%) era de união con-
jugal estável sendo o restante viúvos e solteiros.
Quanto ao grau de instrução, 40% não eram alfabeti-
zados, 52% apresentavam escolaridade mínima, ou seja,
de semi-alfabetizados a 4ª série. Somente 3% tinham o
colegial completo e nenhum com o curso superior (Grá-
fico 1). Gráfico 2 - Distribuição dos diabéticos das UBS segundo a situação
Os Gráficos 2 e 3 demonstram a situação profissional profissional.
e a renda familiar. Observa-se que 39% eram donas de
casa e 34% eram aposentados ou pensionistas. A renda
familiar encontrava-se na faixa de dois ou mais salários
mínimos em 69% dos casos, semelhante aos resultados
obtidos por Foss et al. [5]. O número de pessoas que
contribuíam no orçamento familiar era em média de duas
a três pessoas.
Conforme o último Censo Demográfico realiza-
do pelo IBGE em 1991, 38,86% da população do muni-
125 Takahashi ITM et al / Diabetes Clínica 02 (2001) 122~128
Gráfico 3 - Renda familiar em salários mínimos dos diabéticos faziam uso de prótese dentária e somente 10% dos dia-
entrevistados das UBS. béticos referiram problemas tais como gengivite, hali-
tose e cárie dentária.
Quanto aos cuidados com os pés, 50,5% referiam pres-
tar cuidados especiais tais como: secar os espaços inter-
digitais, lubrificação e verificação de presença de lesões.
Como os diabéticos apresentam maior propensão ao
desenvolvimento de complicações arteriais e nervosas
e, como o “pé diabético” é uma das complicações crôni-
cas mais graves, a prevenção através do auto-cuidado
ainda é a melhor forma de evitá-lo [11, 12].
Gráfico 4 - Distribuição dos diabéticos das UBS segundo a situação A obesidade foi observada em 44% das mulheres e
habitacional. 27,6% dos homens. Esta alta prevalência de obesos en-
tre diabéticos do tipo 2 está de acordo com outras refe-
rências [9, 13] e também com o diagnóstico de graves
erros alimentares detectados no histórico alimentar des-
te grupo. Foss et al. [5] detectaram obesidade em 72,6%
de seus pacientes. Malerbi e Franco [2] observaram que
o diabetes apareceu com freqüência duas vezes maior
entre os indivíduos.
O inquérito relativo ao conhecimento dos pacientes
quanto ao diabetes, suas complicações e patologias as-
sociadas evidenciou que:
- Somente 50% dos entrevistados tinham informa-
B) Aspectos gerais da doença ções corretas relativas à doença e quem mais forneceu
A média de duração do diabetes entre os pacientes essas informações foi o médico da Unidade Básica de
foi de 5 anos. Foss et al. [5] encontraram duração medi- Saúde. Mais da metade dos pacientes (55,6%) não sabe
ana de 6 anos com uma variação de 0,1 – 43 anos. Cons- qual a etiologia do diabetes, e aqueles que dizem conhe-
tatou-se que a clientela era constituída, na maioria, por cer, relacionavam a doença principalmente ao excesso
diabéticos do tipo 2, sendo que 14,1% destes faziam uso de ingestão de açúcar.
de insulina, 73,5% de hipoglicemiantes orais e 13,4% - A maioria dos pacientes (70,6%) conhecia os si-
controlavam a doença apenas com dieta. nais e sintomas da doença, sendo as queixas mais cita-
Lessa e Pousada [5] observaram o uso de insulina em das poliúria, polidipsia e fraqueza. Entretanto, 68,8%
6,3% de sua amostra e em 62,1% o uso de hipoglicemi- dos pacientes desconheciam os sinais e sintomas de hi-
antes orais. Malerbi e Franco [2] verificaram o uso de poglicemia.
insulina em 7,9% e em 40,7% o de antidiabéticos orais. - Praticamente metade dos entrevistados (42,4%)
A população diabética descrita por Foss et al [5] teve não conheciam as complicações específicas do diabe-
uma taxa maior do uso de insulina (47,7%) e menor de tes, e os que tinham conhecimento, mencionaram a ce-
hipoglicemiantes orais (32,6%). As diferenças verifica- gueira como principal complicação. Quando questiona-
das devem ser consideradas, observando a diversidade dos se eram portadores de complicações, 85,8% dos en-
da clientela, lembrando que no caso de Foss et al [5], os trevistados negaram qualquer doença renal; 62,2% refe-
pacientes eram assistidos em um hospital de atendimen- riram alterações circulatórias ou neuropáticas nos mem-
to terciário. A alta taxa de diabéticos do tipo 1 encontra- bros inferiores; 67,9% relataram doença em outro órgão
dos neste estudo vai de encontro à literatura que mostra ou sistema, sendo as mais comuns frigidez ou impotên-
maior prevalência de diabéticos do tipo 2 [9, 3]. cia sexual e cardiopatias.
Dos diabéticos que utilizavam insulina, todos referiam - Dentre as doenças associadas, 75,4% referiram
usar material descartável, 93,7% conservavam a insulina ser portadores de hipertensão arterial e/ou obesidade,
na geladeira, 50% realizavam auto-aplicação, 81% não sendo que a maioria (59,4%) utilizava antihipertensivos.
apresentavam lipodistrofias e 31% não aplicavam insuli- A hipertensão também foi bastante freqüente (42,1%)
na regularmente, principalmente antes do jantar. entre os pacientes de Lessa e Pousada [4]. Foss et al. [5]
Em relação aos cuidados com a boca, 35% mencio- encontraram hipertensão arterial sistólica em 44% dos
naram realizar higiene oral 2 a 3 vezes ao dia, 69% já pacientes e diastólica em 37%.
126 Takahashi ITM et al / Diabetes Clínica 02 (2001) 122~128
- Quanto à oftalmologia, 74,5% referiram sofrer de cia para diabéticos assistidos pelas UBS. Estes pacien-
alterações visuais, mas nenhum mencionou retinopatia, tes tem maior chance de serem portadores de um diabe-
apesar da maioria (69,8%) ter realizado consultas perió- tes mais grave, de tratamento mais complexo e com com-
dicas ao oftalmologista mais de uma vez ao ano. plicações específicas da doença.
- Pouco mais da metade dos pacientes (52,8%) ne- Lessa e Pousada [4] observaram que nenhum de seus
garam infecções freqüentes do trato urinário, dos geni- pacientes era assistido em centros e postos de saúde,
tais e pele. sendo a maioria na rede privada (31,6%).
Verificou-se que os pacientes tinham um nível insufi- Malerbi e Franco [2] enfocaram pacientes que obe-
ciente de informações sobre a doença e suas complica- decem critérios de faixa etária pré-definida.
ções, demandando portanto, a introdução de um progra-
ma educacional pelos profissionais das Unidades Básicas.
A literatura é farta em recomendar a educação em diabetes C) Aspectos nutricionais
como condição básica no tratamento da doença [3, 14]. No contexto do tratamento do paciente com diabetes
Com relação à presença de complicações específi- a orientação nutricional é parte fundamental. Dos paci-
cas, a neuropatia periférica foi a mais observada, con- entes entrevistados, 97% referiram ter recebido orienta-
cordando também com dados da literatura [3, 15, 5]. A ção nutricional sendo 5% realizadas pelo profissional
caracterização da retinopatia diabética tornou-se difícil de nutrição e a grande maioria (65%) pelo médico.
somente com os dados disponíveis, mas a presença de Em relação aos hábitos alimentares, observou-se que
amaurose não foi constatada. Também verificou-se a 76% dos pacientes consumiam as mesmas preparações
ausência de pacientes portadores de úlceras dos mem- dos familiares e os demais não o faziam devido a restri-
bros inferiores ou pé diabético, comum em muitos dia- ção de sódio.
béticos do tipo 2. Entre os pacientes 34% consumiam açúcar e mel quase
No que se refere aos hábitos de vida e vícios, 79,5% diariamente e a grande maioria apresentava baixa in-
dos pacientes negaram tabagismo e 93,7% etilismo. gestão de fibras. A Nutrition [16] enfatiza que os car-
Outros pontos observados foram: boidratos complexos e ricos em fibras devem ser prefe-
- A maioria dos pacientes (76,4%) nunca necessi- ridos, embora os simples poderiam ser consumidos quan-
tou de internação por descompensação do diabetes. do bem orientados e na presença de bom controle meta-
- 75,5% não realizavam qualquer atividade física. bólico. Os chás como de flor de pitanga, folha ou casca
- A maioria (76,4%) não costumava monitorizar a de caju, carambola e folha de insulina entre outros são
glicosúria em casa. consumidos por 55% dos pacientes.
- 83% dos entrevistados controlava o diabetes na Dos entrevistados, 91% utilizavam o óleo vegetal no
UBS, onde realizavam em torno de cinco consultas mé- preparo dos alimentos. Este é um ponto positivo já que
dicas e quatro ou mais glicemias ao ano. uma das medidas preventivas da aterosclerose e de do-
- 49,1% dos pacientes procuravam as UBS quando enças cardíacas, é a inclusão de uma dieta com restrição
havia descompensação da doença. no consumo de gordura animal [17, 18].
Estas observações permitiram supor que o grupo de As proteínas de alto valor biológico faziam parte do
pacientes entrevistados, embora não estivessem adequa- cardápio diário de 57% dos pacientes, sendo a carne
damente informados sobre sua doença e não realizas- bovina a mais consumida, seguida de aves e peixe. No
sem a dieta e os exercícios físicos necessários, não apre- entanto, 43% apresentavam baixo consumo desses ali-
sentavam graves complicações da doença, talvez por mentos. Somente 11,3% dos pacientes relataram inges-
terem um período relativamente curto de evolução da tão de leite ou derivados suficiente para suprir as neces-
mesma. A literatura relata que além do controle glicê- sidades de cálcio.
mico adequado, contribuem para a prevenção das com- Os vegetais como verduras e legumes, embora em
plicações, o tempo de duração da doença e o combate à pouca quantidade, foram citados como hábito diário por
hipertensão arterial e ao fumo [3, 14]. 72% dos pacientes e as frutas por 39% sendo que outros
É importante salientar que as clientelas brasileiras 39% raramente faziam ingestão de frutas. Destes paci-
comparadas na discussão deste trabalho apresentaram entes, 26% referiram cultivar suas próprias hortaliças.
algumas diferenças significativas que devem ser cita- Outro ponto a considerar foi o fracionamento alimen-
das, a saber: tar, onde 21% dos entrevistados realizavam de 4 a 5 re-
Foss et al [5] estudaram diabéticos assistidos em um feições ao dia; 44% faziam 3 refeições e o restante de 1
hospital de nível terciário, não sendo portanto referên- a 2 refeições diárias.
127 Takahashi ITM et al / Diabetes Clínica 02 (2001) 122~128
Atualmente, estas e outras sugestões estão sendo pro- 8 - Junges C. A demanda reprimida de assistência social em
postas pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e a Londrina – PML Secretaria de Ação Social (mimeo), maio
2000, 9p.
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia 9 - Ministério da Saúde. Departamento de Assistência e Promoção
(SBEM) na “Proposta Básica para a Assistência ao Dia- à Saúde, Coordenação de Doenças Crônico-Degenerativas.
bético no Município” [22], destinada a motivar as auto- Diabetes Mellitus: guia básico para diagnóstico e tratamento.
ridades municipais brasileiras à implementar serviços Brasília, 1996, 83p.
especializados de assistência ao diabético. 10 - Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Programas
Especiais de Saúde, Divisão de Programas Crônico-
Na perspectiva da vigência destas propostas, ganha Degenetativas. Manual de Diabetes. Brasília, 1990. 91p.
importância o trabalho da equipe multiprofissional na 11 - Pedrosa HC. Pédiabético: aspectos fisiopatológicos,
implementação da educação em diabetes. Este processo tratamento e prevenção. Revista Brasileira de Neurologia e
envolve profissionais das diversas áreas de conhecimen- Psiquiatria, Brasília,v.1, n.3, p.131-135, dez./1997.
to, atuando de forma integrada, tanto em nível da Uni- 12 - Guariente MHDM, Haddad MCL, Takahashi O. Auto-cuidado
em Diabetes. In: ALMEIDA HGG. de (org). Diabetes
dade Básica como nos serviços de referência ao diabéti- Mellitus: uma abordagem simplificada para profissionais de
co. Desta maneira poderão contribuir efetivamente para saúde, São Paulo, Atheneu, 1997. p.47-55.
a melhoria da assistência aos pacientes, fazendo-os alia- 13 - Dib SA et al. Diabetes Melito do tipo 1. In: Wajchenberg BL.
dos participativos na busca de uma sobrevida longa e Tratado de Endocrinologia Clínica, São Paulo, Roca, 1992.
mais saudável. p.683-738.
14 - Organización Panamericana de la Salud. Educación sobre
diabetes: Disminuyamos el costo de la ignorancia.
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Diabetes Mellitus. Geneva. World Health Organization, 15 - Jadzinski M. Cambios estructurales de la Neuropatia
1994:1–7 (WHO Technical report. Series n. 844). Diabética. In: Rull JA et al. Diabetes Mellitus: Complicações
2 - Malerbi DA, Franco LJ. Multicenter estudy of the prevalence Crônicas. México: Interamericana, 1992. p.283-93.
of diabetes mellitus and impaired glucose tolerance in the 16 - Nutrition. Recomendations and Principles for People With
urban brasilian population aged 30 – 69 yr. Diabetes Care Diabetes Mellitus. Capturado em 18 de janeiro de 1999.
1992;15(11):1505-16. Online. Disponível na Internet http:// www. Diabetes. Org./
3 - Franco LJ, Ferreira SRG. É possível prevenir o diabetes Diabetes Care supplement/516. HTM. Arquivo.
mellitus não-insulino dependente? Terapêutica em diabetes: 17 - Martinez TL. da R, Rabelo LM. Tratamento da
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4 - Lessa I, Pousada MDC. Qualidade da assistência médica ao 18 - Gianini SD. Aterosclerose dislipidemias: Clínica e
diabético. Arq Bras Endocrinol 1988;62(6):459-463. terapêutica: fundamentos prático São Paulo, BG Cultural,
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uma amostra populacional de diabéticos tipo II da região de 19 - Harris MA, Lustman PJ. The Psychologist in Diabetes Care.
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6 - Almeida HGG, Haddad MCL, Takahashi OC. Diabetes 20 - Scarinci IC et al. Atualização da Psicologia no atendimento
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Síntese do Perfil do Município de Londrina 1998, jan. 2000. atenção ao diabético para o município de Londrina. Saúde em
Capturado em 07 de julho de 2000. Online. Disponível na Debate 1989;27:70-76.
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perfil, php3 . diabético no município. Diabetes Clínica 2000;4(2):146-152.
129 Borges VC, Duhda A / Diabetes Clínica 02 (2001) 129~130 Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas
aGrupo de apoio nutricional enteral e parenteral, São Paulo, Brasil, bAll Índia Institute of Medical Sciences, New Delhi, Índia
cos e não diabéticos, e foram pareados por diagnostico, 50 centavos por dieta contra US$ 5-12 de dieta industri-
idade, sexo e duração de terapia enteral. Os resultados alizada. Os frascos utilizados para a infusão das dietas
não mostraram diferenças significativas em relação ao enterais são os de glicose endovenosa, vazios e mesmo
déficit calórico cumulativo, saída de sonda naso-ente- assim faltam em número. As práticas sanitárias são es-
ral, obstrução da sonda, retardo do esvaziamento gástri- cassas e o clima desfavorável (18 a 40o C). Entretanto, a
co, diarréia, vômitos ou obstipação entre os dois grupos. maior necessidade na Índia é a educação. Durante o ques-
Entretanto a mortalidade foi significativamente maior tionário aplicado para nutricionistas sobre as complica-
nos diabéticos (46% contra 39%). ções inerentes ao paciente diabético, 35% destas não ti-
Estes dois trabalhos sugerem que existe uma associa- nham certeza da relação do diabetes com o risco de de-
ção entre morbidade e mortalidade e o diabetes, que pode senvolvimento da doença vascular coronariana.
ser atribuída primariamente às complicações metabóli- No que pese a falta de recursos para uso da terapia
cas presentes nesta população. nutricional enteral, as nutricionistas na Índia continuam
Durante o painel, várias recomendações foram feitas se esforçando para solucionar este problema. A educa-
para os pacientes diabéticos em terapia nutricional ente- ção continuada para pacientes, familiares, profissionais
ral, como dosagem de glicemia de jejum antes do início de saúde em países como a Índia, com a finalidade de
da dieta enteral, glicemia capilar de 4/4 horas. E antes melhorar o atendimento aos pacientes incluindo os dia-
de deitar, glicemia sanguínea e capilar para pacientes béticos que necessitam de terapia nutricional, parece ser
internados em UTI de 4 a 8vezes ao dia conforme ne- o recurso menos oneroso.
cessidade, e uso de dietas enterais enriquecidas com áci-
dos graxos mono-insaturados. Referências
Embora nos EUA e na Europa a terapia enteral seja 1 - Campbell S, Schiller M. Considerations for enteral nutrition
administrada de forma continuada para a maior parte support of patients with diabetes. Topics Clin Nutr 1991;7:23-
32.
dos pacientes, o GANEP mostrou que a técnica intermi- 2 - Bak LB, Heard KA, Kearney GP. Tube feeding your diabetic
tente é a mais utilizada em seu meio, quer por falta de patient safely. Am J Nurs 1996;96(12):47-49
bombas infusoras para todos os pacientes ou por eleva- 3 - McMahon MM, Rizza RA. Nutrition support inn hospitalized
ção do custo operacional. Relata também que esta reali- patients with diabetes mellitus. Mayo Clin Proc
dade vem se alterando. 1996;7‘1(6):587-594
4 - Teixeira da Silva ML, Waizberg DL. Diabetes Mellitus.
Nutrição enteral e parenteral na prática cl;inica 1995;52:446-
New Delhi, Índia 450.
A qualidade dos cuidados com pacientes diabéticos 5 - Porcari JM, Maillet OS. Care for persons with diabetes during
em regime de terapia nutricional na Índia sofre a influ- surgery. In; Powers MA (ed) Handbook of diabetes Medical
ência da política governamental de saúde. É reflexo de Nutrition, 2nd Ed. Aspen 1996.
6 - May R, Goyal R. Effects of diabetes Mellitus on digestive
uma população extremamente grande com parcos recur- system. In: Kahn CR, Weir GC (eds) Joslin’s Diabetes
sos. A cada ano, 125.000 mulheres morrem por proble- Mellitus. 13th Ed Philadelphia: Lea & Febiger, 1994.
mas durante a gravidez ou parto [7]. Embora existam 7 - Unicef. Facts for life: a communication challenge. UNICEF,
diferenças sociais regionais, os recursos necessários para WHO and UNESCO 1993;4.
terapia nutricional adequada são inviáveis. Os hospitais 8 - Goenka S, Shah P, Lobo J, Patel T, Reddy KS. Impediments to
diabetes care in private medical practice in a developing
particulares estão distribuídos pelo país, mas uma mi- country. Canadian Journal of Cardiology 1997;13(3
noria dos pacientes utiliza estes serviços e quando o fa- suppl):201B (abstract 0706).
zem, despendam parte de seus recursos financeiros para
obtenção de serviço especializado. Nos hospitais gover-
namentais a proporção de enfermeiras para os pacientes
é de 1:10-, da mesma formam um nutricionista pode es-
tar responsável por 600 pacientes, o que torna inviável a
avaliação e monitorização destes pacientes [8]. Isto ocor-
re também com os pacientes diabéticos. O nutricionista
consegue somente visitar pacientes nos quais haja uma
solicitação médica.
As dietas enterais tornam-se inacessíveis frente ao
custo e as bombas infusoras ten valor alto, US$ 600,00
cada, sendo utilizadas em casos bem específicos. As for-
mulações enterais são blenderizadas com custo de 40 a
Diabetes Clínica 02 (2001) 131
Diabetes Clínica
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Tel +46 18 150080
Maio de 2001 e-mail: uppsalakongress@hotmail.com
site: http://welcome.to/sssd01
5 a 9 de maio
VIIIo International Symposium on Insulin Receptors and
Insulin Action Junho de 2001
Molecular and clinical aspects of insulin Action in the New
Millenium 20 a 23 de junho
Geneva, Switzerland Endo 2001
Informações: Symporg SA 83th Annual Meeting of the Endocrine Society
Tel: (41) 22 839 8484 Denver, Colorado
Fax: (41) 22 839 8485 Tel (301) 941-0241
E-mail: bglover@endo-society.org
10 a 12 de maio
VIIº Jornadas internacionales de vasculopatías, factores de 22 a 26 de junho
riesgo y pie diabético 61th Annual Scientific Sessions of the American Diabetes
Palais Rouge, Buenos Aires, Argentina Association
Organização: Dr. Adolfo V. Zavala , Hospital de Clínicas José de Philadelphia, Pennsylvania
San Martín Informacões: www.diabetes.org
Informações: Larrea 1403. (1117) Capital Federal, Argentina
Tel/Fax: (5411) 4805-7651
E-mail: azavala@intramed.net.ar. Julho de 2001
19 a 20 de maio 6 a 10 de julho
Atualização em pé diabético Local Organising Committee of The Pediatric Endocrinology
IIIo Encontro multidisciplinar de avaliação e tratamento do pé 2001
diabético Montreal, Quebec, Canadá.
São Paulo, SP Tel: (514) 398 3770
Informações: Centre de Estudos HSPM E-mail: pedendo@ums1.lan.mcgill.ca
Tel: (11) 278-2211 ramal 248 Site: www.med.mcgill.ca/pedendo
Fax: (11) 270-0914
7 a 9 de julho
25 a 27 de maio 6o Congresso brasileiro multiprofissional em diabetes
IVº COPEM - Congresso Paulista de Endocrinologia e 6a Exposição nacional de produtos e alimentos para o diabético
Metabolismo Fundacão Álvares Penteado, Av Liberdade, 532
Maksoud Plaza Hotel - São Paulo, SP São Paulo, SP
Organização: Paradigma Eventos Informações: ANAD
Tel: (11) 3813-8896/3815-9003 Tel: (11) 5572-6559
Fax: (11) 3815-2285 www.anad.org.br
E-mail: paradigma@uol.com.br
www.sbemsp.org.br
Agosto de 2001
25 a 27 de maio 16 a 19 de agosto
36th SSSD Meeting (Scandinavian Society for the Study of IXo Congresso brasileiro de obesidade
Diabetes) Hotel Bourbon, Foz de Iguaçu, PR
Uppsala, Suécia Organização: ABESO
Informações: SSSD 2001 Informações: (41) 342 7175
Dragarbrunnsgatan 35, 753 20 Uppsala www.abeso.org.br
140 Diabetes Clínica 02 (2001)
4 a 6 de outubro
IIo Congresso Internacional de Nutrição, Alimentação e Agosto de 2002
Tecnologia - CINAT
Centro de Convenções São Camilo, São Paulo SP 24 a 29 de agosto
Informações: SINESP (11) 3277 8422/8291, 278 7144 9th International Congress on Obesity
www.sindicatonutricionistas.com.br São Paulo, SP
Informações: Abeso
10 a 14 de outubro Tel: (11) 3079-2298
XIIIo Congresso brasileiro de diabetes Fax: (11) 3079-4232
Hotel Intercontinental, Rio de Janeiro, RJ
Informações: JZCongressos
Tel: (21) 286-2846/537-9134 Setembro de 2002
E-mail: mail@jz.com.br
1 a 5 de setembro
21 a 24 de outubro 38th Annual Meeting European Association for the Study of
XIVo Congresso brasileiro de nutrição parenteral e enteral Diabetes
VIIo Congresso latino americano de nutrição parenteral e EASD 2002
enteral Budapest, Hungria
IIo Congresso brasileiro de nutrição clínica Informações: Budapest 5, POB 741
Salvador, BA Hungary 1365
Informações: Eventus System Tel: +36 1 269 5883
Tel: (71) 264-3477 E-mail: easd2002@congress.blavo.hu
Fax: (71) 264-0508
E-mail: eventus@cpunet.com.br
Fevereiro de 2003
Novembro de 2001 3th International Symposium on Diabetes & Pregnancy
Geneva, Switzerland
11 a 15 de novembro Informações: PO Box 50006 Tel Aviv 61500 Israel
XIo Congresso ALAD – Association latinoamericana de Tel 972 3 514 0014
diabetes E-mail: conventions@kenes.com
IIIo Congresso Uruguaio de Diabetologia
Punta del Este, Uruguai
Informações: personas SRL, Av. 8 de octubre 2323, of. 305, Agosto de 2003
Montevideo, Uruguai
Tel: (5982) 408-1015/408-2951
E-mail: personas@cs.com.uy 24 a 29 de agosto
18th Internacional Diabetes Federation Congress
15 a 18 de novembro Paris, França
XIIIo Curso nacional de atualização em endocrinologia e Informações: www.idf.org
metabologia
Gramado, RS
Organizacão: SBEM regional RS
www.vjs.com.br
Tel: (51) 330 1134
E-mail: vjs@vjs.com.br
Diabetes Clínica
Diabetes Clínica 04 (2000) 141
Índice
(vol. 5 nº 3 - 2001)
EDITORIAL
O mais completo evento em Diabetes
6o Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes, Fadlo Fraige Filho ....................................... 143
PRODUTOS E NOVIDADES
Wafer Light (Lowçucar), Body fat monitor (Omron), Obesidade infantil (Guia prático) .......................... 175
ARTIGOS CIENTÍFICOS
O tratamento do diabetes mellitus do tipo 2, Fadlo Fraige Filho ............................................................... 187
Autocuidado, trabalho e diabetes mellitus: uma abordagem de enfermagem, Rita Batista Santos ............ 194
FICHAS PRÁTICAS
Avaliação do Pé diabético ........................................................................................................................... 203
Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúr-
bios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o
conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas.
Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico, o conselho consultivo e profissionais de
reconhecido saber na área. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relativas à
diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma maneira
rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes.
EDITORIAL
Laurence Kessler et al., 61st Scientific Monitoramento contínuo da glicose em pacientes diabéticos do
Sessions, American Diabetes tipo 1 tratados por bomba de insulina vs. transplante de
Association, Philadelphia, pâncreas ou de células de ilhotas
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001
O objetivo deste estudo foi de comparar o perfil glicêmico de pacientes
diabéticos do tipo 1 tratados por bomba de insulina ou transplante de pâncre-
as ou de células de ilhotas, pelo meio do sistema de monitoramento contínuo
de glicose (CGMS, Continuous Glucose Monitoring System, Minimed Inc).
CGMS pode registrar concentrações subcutâneas de glicose (2,2 para 22 mmol)
durante 72 horas (288 medições por dia). Essas medições precisaram ser va-
lidadas por 4 medições capilares da glicose sanguínea por dia (calibração).
Durante 3 dias, CGMS foi conectado em 17 pacientes diabéticos do tipo 1: 6
pacientes (49,8 ± 74,4 anos, duração do diabetes 31 ± 11,3 anos) foram trata-
dos por infusão intra-peritoneal de insulina por bomba (grupo IPH), 8 paci-
entes (42,2 ± 11,6 anos, duração do diabetes 27,2 ± 8,7 anos) por transplante
simultâneo rim-pâncreas (grupo SPK) e 3 pacientes (43,3 ± 13,6 anos, dura-
ção do diabetes 26,6 ± 12,5 anos) por transplante de células de ilhotas após
transplante de rim (grupo IAK). Todos os pacientes SPK e 1 paciente IAK
eram insulino-independentes, e 2 pacientes IAK apresentavam uma função
parcial do transplante e necessidades reduzidas de insulina exógena. Todos
os pacientes transplantados tinham um tratamento imunosupressivo (ciclos-
porina, micofenolate mofetil e esteróides: 0 a 5 mg/dia). O controle glicêmi-
co foi avaliado pela medições das concentrações médias de glicose, amplitu-
de média das variações da glicemia (índice MAGE), durante 3 dias, e pela
HbA1c. Durante 3 dias, ambas as concentrações médias da glicose e amplitu-
de média das variações glicêmicas em pacientes transplantados por pâncreas
e por células de ilhotas foram significativamente menores do que as observa-
das em pacientes tratados por IPH: 5,38 ± 1,12 e 6,09 ± 0,86 vs. 8,06 ± 1,03
mmol (p < 0,001) e 1,44 ± 0,42 e 1,42 ± 0,57 vs. 3,46 ± 0,71 mmol (p <
0,001), respectivamente. As concentrações médias de glicose e as variações
da glicose sanguínea foram similares em pacientes tratados por transplantes
de pâncreas ou de células de ilhotas. HbA1c em pacientes tratados por trans-
plantes de pâncreas ou de células de ilhotas foi respectivamente de 5,35 ±
0,37% e 6,03 ± 1,02% e este valor aumentou significativamente para atingir
7,21 ± 0,55% em pacientes tratados por IPH (p < 0,001). O monitoramento
contínuo da glicose subcutânea sugere que o transplante de células de ilhotas
pode ser tão eficiente como o transplante de pâncreas e superior a bomba de
insulina para restaurar um bom controle metabólico e diminuir a variabilida-
de da glicose sanguínea.
Informes do Diabetes no Mundo / Diabetes Clínica 03 (2001) 145
Joseph C Cappelleri et al., 61st Relação entre a melhora da satisfação do paciente e o controle
Scientific Sessions, American Diabetes glicêmico em pacientes portadores de diabetes do tipo 1 e 2
Association, Philadelphia, tratados por insulina inalada: resultados de dois estudos
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 controlados multicêntricos
Satish K. Garg et al., 61st Scientific Perfis da glicose plasmática em pacientes tratados com insulina
Sessions, American Diabetes glargina ou insulina NPH
Association, Philadelphia,
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 Observamos o controle glicêmico em indivíduos utilizando uma aplicação
ao dia do novo análogo de insulina de longa ação, a insulina glargina (Lantus),
vs. Indivíduos utilizando duas aplicações ao dia de insulina humana NPH.
45 pacientes portadores de diabetes do tipo 1 (C-peptídeo 0,5 mmol/l)
foram randomizados para receber, uma aplicação de glargina (22 pacientes)
ou 2 aplicações de insulina NPH (23 pacientes) ao dia, em adição a insulina
lispro (Humalog) ou insulina humana regular (Humulin) antes a refeição. A
duração do estudo foi de 28 semanas. Todos os pacientes realizaram perfis da
glicose de 24h em um centro de pesquisa clínica, no início do estudo, após 8
semanas e no fim do estudo.
Os níveis da glicose plasmática de jejum não foram significativamente
diferentes entre os usuários da glargina e da NPH. A dose total de insulina
glargina diminuiu significativamente desde o início do estudo e a consulta
final, e era significativamente menor do que a dose de insulina NPH na últi-
ma consulta. Em contrasto, a dosagem das insulinas de ação curta foi signifi-
cativamente diferente entre os dois grupos. Não houve diferença nas insuli-
nas de ação curta dentre de cada grupo.
146 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001)
Kjed Hermansen et al., 61st Scientific Insulina Aspart bifásica 30 melhora o controle glicêmico pós-
Sessions, American Diabetes prandial
Association, Philadelphia,
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 Introdução: A insulina Aspart bifásica 30 (BIAsp30) é uma nova formula-
ção lowmix de insulina Aspart (Iasp) 30% solúvel e 70% cristalizada em
protamina. O controle glicêmico pós-prandial obtido com BIAsp30 e com
insulina humana bifásica padrão 70/30 (BHI 30) foi comparado em testes de
refeições rigorosamente controlados.
Métodos: Neste estudo randomizado, 50 pacientes portadores de diabetes
do tipo 1 (35,7 ± 9,4 anos; IMC 24,0 ± 2,6 kg/m2; HbA1c 8,6 ± 1,1%) foram
observados em três dias diferentes, recebendo o seguinte tratamento em or-
dem randomizada: BIAsp30 aplicada imediatamente antes um café da manhã
padrão, BHI 30 aplicada 30 minutos antes o café da manhã (BHI 30t-30) e
BHI 30 aplicada imediatamente antes o café da manhã (BHI 30t0). A dose era
0,40 U/kg para os três tratamentos. Nenhuma insulina intermediária ou de
ação longa foi administrada durante as 24 horas antes o período do estudo, e
os níveis da glicose sanguínea foram estabilizados entre 5 e 8 mmol/l por
uma aplicação de insulina endovenosa noturna.
Resultados: A área sob a curva da glicose plasmática pós-prandial de 4 ho-
ras (AUC0-4h) ajustada para o início foi diminuída em 23% com BIAsp30 quando
comparada com BHI 30t0 (p < 0,0001) e em 9% quando comparada com BHI
30t-30 (p = 0,013). A concentração máxima da glicose plasmática (Cmax) foi
maior com BHI 30t0 em comparação com BIAsp 30 (16,5 ± 2,8 vs. 14,0 2,4
mmol, p < 0,0001), e o prazo para a concentração máxima da glicose plasmáti-
ca (tmax) foi aproximadamente mais curto de 20 minutos com BIAsp30, qual-
quer seja o período de aplicação da BHI 30 (p < 0,0001). Os níveis médios da
glicose plasmática pré-teste foram similares entre os grupos (6,7 para 6,9 mmol).
Conclusões: Em razão da entrada mais rápida da insulina no fluxo sanguí-
neo, o controle glicêmico pós-prandial é mais eficiente com BIAsp30 do que
com BHI 30, qualquer seja o momento de aplicação da insulina BHI 30.
Edwards S. Horton et al., 61st Scientific Riscos/benefícios de atingir objetivos de HbA1c com nateglinida
Sessions, American Diabetes
Association, Philadelphia, Apesar de que a recomendações usuais preconizam uma meta de HbA1c <
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 7%, os efeitos adversos dos agentes hipoglicemiantes orais são, às vezes, per-
cebidos com maiores do que os benefícios em pacientes com HbA1c < 8%.
Em mais, a contribuição relativa das variações da glicose pós-prandial à HbA1c
é maior em esses pacientes e necessita o uso de agentes hipoglicemiantes que
podem diminuir essas variações sem causar hipoglicemia pós-refeição ex-
cessiva. Avaliamos a nateglinida (NAT), novo agente hipoglicemiante deri-
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001) 147
Bruno Geloneze, José C Pareja, Enrico Efeitos da cirurgia bariátrica sobre o controle glicêmico e a
M Repetto, Sylva R Geloneze, Luis A resistência à insulina em diabetes tipo 2
Magna, Marcos A Tambascia,
Campinas – SP, 61st Scientific Sessions, Introdução: A cirurgia bariátrica foi comprovada como a técnica terapêu-
American Diabetes Association, tica a mais eficiente para a obesidade extrema. Vários estudos reportaram
Philadelphia, Pennsylvania, 22-26 de que a cirurgia pode melhorar o controle glicêmico. É conhecido que a cirur-
junho de 2001 gia bariátrica permite a supressão ou a diminuição drástica do uso dos agen-
tes antidiabéticos. A relação entre o controle glicêmico e a sensibilidade à
insulina nesses pacientes é pouco estudada.
Material e métodos: Acompanhamos 10 pacientes diabéticos do tipo 2
submetidos à cirurgia bariátrica (gastroplastia vertical com bypass Y-Roux)
em um ano, observando o controle glicêmico e a sensibilidade à insulina
estimada por um teste de tolerância à insulina (ITT), realizado no início, 6 e
12 meses após a cirurgia.
Resultados: A diminuição massiva de 70% do excesso de peso foi obtida
em um ano após a cirurgia. O índice de sensibilidade à insulina (Kitt) mos-
trou um aumento significativo durante o período de acompanhamento (r =
0,53, p < 0,001). Nós observamos uma correlação linear forte entre Kitt e os
níveis da glicose (r = -0,50, p < 0,01) e HbA1c (r = -0,51, p < 0,01). Essa
melhora metabólica foi observada apesar da interrupção do tratamento far-
macológico do diabetes durante o primeiro ano de acompanhamento.
Alfredo Halpern, São Paulo – SP, Estudo multicêntrico latino-americano com orlistat em pacientes
61st Scientific Sessions, American diabéticos do tipo 2 obesos ou com sobrepeso
Diabetes Association, Philadelphia,
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 Um estudo de 6 meses, multicêntrico, randomizado, controlado por place-
bo foi realizado em 5 países latino-americanos para avaliar os efeitos do or-
listat sobre a perda de peso, o perfil glicêmico e outros fatores de risco cardi-
ovasculares em relação com a obesidade em pacientes diabéticos do tipo 2
obesos ou com sobrepeso. Os pacientes (idade 18-70 anos, IMC 27 kg/m2,
portadores de diabetes tipo 2 e com HbA1c 6-11%) foram observados duran-
te um período inicial de 2 semanas, no qual receberam um placebo e uma
dieta reduzida em calorias (déficit de 600kcal/dia, 30% em gordura). Os pa-
cientes que completaram o teste inicial foram então randomizados para rece-
ber orlistat 120 mg ou placebo três vezes ao dia e dieta para um período de 6
meses. Tratamento complementar com agente antidiabético (fora da insulina
152 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001)
Continuação e da acarbose) foi permitido durante o estudo. Um total de 365 pacientes foi
aceito, dos quais 338 participaram do tratamento duplo-cego e foram aceitos
para a análise (orlistat n = 164; placebo n = 174). Após 24 semanas, o grupo
orlistat + dieta mostrou uma diminuição significativamente maior do peso do
que o grupo placebo + dieta (4,7% vs. 3,0%; p = 0,0003). Quase duas vezes
mais pacientes recebendo orlistat + dieta perderam 5% do peso corporal ini-
cial, quando comparados com grupo controle (30% vs. 17%; p = 0,003). Or-
listat foi associada com uma melhora significativa do controle glicêmico,
comprovada por diminuições maiores da HbA1c (-0,6% vs. –0,2%; p = 0,06),
da glicose plasmática de jejum (-1,00 vs – 0,01 mmol/l; p = 0,04) e da glicose
pós-prandial (-1,06 vs. +0,17mmol/l; p = 0,05). Orlistat foi também associa-
do com a melhora significativa do colesterol total (-4,2% vs. +1,19%; p =
0,0001) e colesterol LDL (-3,6% vs +4,7%; p = 0,0002). Orlistat foi bem
tolerado. Os eventos gastrintestinais foram mais freqüentes no grupo orlistat
do que no grupo placebo (65% vs. 37%), mas foram geralmente de intensida-
de leve a média, transitórios e limitados a 1 ou 2 episódios por paciente. Em
conclusão, o tratamento com orlistat + dieta resultou em perda de peso clini-
camente significativa e melhorou o controle glicêmico e o perfil lipídico em
pacientes diabéticos do tipo 2 obesos ou com sobrepeso.
Maria I Schmidt, Ethel R Spichler, Diabetes mellitus gestacional diagnosticado com teste de tolerância
Judith M Pousada, Ângela J Reichelt, à glicose 75g – 2 horas e problemas adversos na gravidez
Adriana C Forti, Bruce B Duncan,
Porto Alegre – RS, 61st Scientific O 4th Workshop sobre o diabetes gestacional incluiu em suas recomenda-
Sessions, American Diabetes ções para o diagnostico do diabetes gestacional (DMG), o uso do teste 75 g
Association, Philadelphia, oral de tolerância a glicose de 2 horas (OGTT). O objetivo de nosso estudo
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 foi de avaliar a capacidade do DMG de prognosticar vários problemas na
gravidez. Foram observadas mulheres brasileiras grávidas de 20 anos e mais,
em consultórios pré-natais em 6 capitais do Brasil. Essas mulheres realiza-
ram o teste OGTT 75g entre as 24 e 28 semanas de gestação e foram acompa-
nhadas até o parto e período do pós-parto. As que mostraram uma hiperglice-
mia, considerada como diabética, sem relação com a gravidez, foram elimi-
nadas das principais análises. DMG foi definido por dois valores de pelo
menos 95, 180 e 155 mg/dl para as glicemias de jejum, de 1h e 2h após carga
de glicose, respectivamente. Dentre as 4977 mulheres do estudo, 2,4% (IC
95% 2,0%-2,9%) apresentavam DMG, de acordo com os critérios da ADA
(American Diabetes Association). Após ajuste pelos efeitos da idade, obesi-
dade e outros fatores de risco, DMG, segundo os critérios da ADA, prognos-
ticou risco aumentado de pré-eclampsia (RR 2,28; IC 95% 1,22-4,16), e mor-
te perinatal (RR 3,10; IC 95% 1,42 – 6,47). Apesar de que uma associação
estatisticamente significativa com macrossomia (RR 1,78; IC 95% 1,14 –
2,79) era presente nas análises não-ajustadas, incluídas as mulheres com hi-
perglicemia diabética, a associação era pequena e não estatisticamente signi-
ficativa (RR 1,29; IC 95% 0,73-2,18) nas análises ajustadas que excluíram
essas mulheres. Em conclusão, os critérios DMG 2h, como definidos pela
ADA, prognosticam os problemas adversos na gravidez.
EASO – European Association for the O que precisa saber sobre a obesidade
Study on Obesity, 11th European
Congress on Obesity, Viena, Áustria, 1 – A obesidade é um dos mais importantes problemas de saúde pública de
30 de maio – 2 de junho de 2001 nossos tempos. Ela atinge proporções epidêmicas e está começando substi-
tuir a má-nutrição e as doenças infecciosas como o fator de contribuição o
mais significativo de problemas de saúde em todo o mundo.
154 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001)
AN Faria, KMB Carvalho, CH Arasaki, Efeitos da perda de peso induzido por cirurgia gástrica sobre a
JC Del Grande, A Beani Jr, MT pressão sanguínea e os parâmetros metabólicos
Zanella, Universidade Federal de São
Paulo, São Paulo – SP, 11th European Introdução: A cirurgia gástrica foi indicada para tratar pacientes obesos
Congress on Obesity, European com IMC > 40 kg/m2, principalmente para os que apresentam sintomas as-
Association for the Study of Obesity sociados de morbidade, tais como hipertensão, diabetes e dislipidemias, que
(EASO), Viena, Áustria, aumentam o risco cardiovascular.
30 de maio – 2 de junho de 2001 Métodos: Neste estudo 15 pacientes obesos (12 mulheres, 3 homens), idade
38 ± 10 anos e IMC 50 ± 6 kg/m2, foram submetidos à cirurgia gástrica
(band + by-pass) e avaliados para IMC, pressão sanguínea, taxas de glicose
de jejum, triglicérides e colesterol, antes e após 6 ± 3 meses. Um relatório
diário de ingestão alimentar foi utilizado para calcular o consumo total de
energia após cirurgia.
Resultados: A cirurgia resultou em uma diminuição do IMC de 23,6 ±
6,0% (p < 0,01). O consumo total de energia era entre 220 e 1400 kcal com
uma correlação positiva no período pós-cirurgia (r = 0,79; p < 0,01), indi-
cando um processo de adaptação. A pressão sanguínea sistólica e diastólica
diminuiu de 151 ± 85 para 106 ± 64 (p < 0,01). Os níveis de glicose diminu-
íram de 101 ± 19 para 93 ± 7 mg/dl (p = 0,06) sem alterações no colesterol.
Nenhuma correlação entre alterações em pressão sanguínea e IMC foi en-
contrada.
Conclusão: A perda de peso posterior à cirurgia bariátrica é eficaz para
diminuir a pressão sanguínea, os níveis de triglicérides e de glicose, con-
tribuindo para diminuir o risco cardiovascular nesses pacientes. O au-
mento do consumo energético, provavelmente responsável da estabiliza-
ção do peso após um ano, poderia comprometer os resultados da cirurgia
a longo prazo, a que necessita futuras avaliações.
156 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001)
WF Coutinho, LC Povoa, R Meirelles, Uso de um índice para avaliar a eficácia de agentes anti-
JC, Appolinário, Rio de Janeiro – RJ, obesidade na diminuição de peso
11th European Congress on Obesity,
European Association for the Study of Introdução: A análise categórica é muito utilizada pra avaliar a eficácia na
Obesity (EASO), Viena, Áustria, diminuição de peso de agentes anti-obesidade, dividindo os pacientes entre
30 de maio – 2 de junho de 2001 respondedores e não-respondedores, de acordo com vários critérios de eficá-
cia de perda de peso. Todavia, vários estudos mostraram que a eficiência de
terapias complementares altera fortemente o resultado das avaliações. Em
alguns estudos, uma percentagem elevada de pacientes do grupo placebo atinge
uma perda de peso de 5 ou 10%, o que pode constituir um importante fator de
confusão na avaliação da eficácia.
Métodos: Desenvolvemos um índice muito simples de eficácia da dimi-
nuição de peso, dividindo a percentagem de respondedores do grupo droga
pelo percentagem de respondedores do grupo placebo. Um índice de eficácia
(IE) igual a 2, indica, teoricamente, que a droga poderia duplicar a probabili-
dade de sucesso na população definida.
Resultados: Dados de vários estudos publicados foram utilizados para ava-
liar o índice de eficácia de alguns agentes anti-obesidade. Considerando uma
perda de peso de 10% após 12 meses, achamos os seguintes EI: Orlistat (ORL)
estudo 119C: EI = 1,57; ORL estudo Sjostrom: EI = 2,35; ORL estudo 161:
EI = 1,82; ORL Davidson: EI= 2,2; ORL 149: EI = 1,86; ORL Lindgärde: EI
= 1,32; Sibutramina (SIB) 15 mg Jones: EI = 4,86; SIB 10 mg Jones: EI =
2,79; Dexfenfluramina Guy Grand: EI = 2,05.
Conclusão: O Índice de Eficácia (IE) pode ser uma ferramenta útil para
avaliar a eficácia de agentes de perda de peso, atenuando as influências de
terapias complementares (dieta, exercícios, terapia comportamental). Um
IE baixa não indica dificuldade na perda de peso, mas, provavelmente,
uma baixa taxa de resposta da população estudada a um agente anti-obesi-
dade específico. Para a mesma droga (ORL), IE mostra uma importante
variação, de 1,35 para 2,35, dependendo da população estudada, com a
mesma dose e protocoles similares.
AN Faria, FF Ribeiro Filho, N Kholman, Sibutramina diminui a intolerância à glicose em pacientes obesos
SRG Ferreira, D Lerario, T Zanella, hipertensos
Universidade de São Paulo, São Paulo –
SP, 11th European Congress on Obesity, Introdução: Intolerância à glicose e diabetes são freqüentes em pacientes
European Association for the Study of obesos com distribuição central de gordura, e contribui para um risco cardio-
Obesity (EASO), Viena, Áustria, vascular elevado. Neste estudo, avaliamos os efeitos da sibutramina sobre o
30 de maio – 2 de junho de 2001 peso corporal e o perfil da glicose plasmática.
Métodos: 86 pacientes obesos hipertensos (IMC = 39,5 ± 5,5 kg/m2), com
distribuição central de gordura (WHR = 0,98 ± 0,09), dos quais 74 mulheres
(86%) e 12 homens (14%), foram submetidos a uma terapia randomizada
duplo-cega de 6 meses, com sibutramina (S) ou placebo (P). Avaliamos a
resposta a um teste de tolerância oral à glicose (OGTT) e calculamos o índice
de sensibilidade à insulina (ISI), baseado em níveis de glicose e insulina no
pico do OGTT. As freqüências de níveis anormais de glicose de jejum (glico-
se > 110 mg/dl) e glicose às 2h do OGTT (glicose120 > 140 ou 200 mg/dl)
antes e após terapia, foram comparados em ambos os grupos.
Resultados: A percentagem de perda de peso foi de 6,7 ± 4,7% para sibu-
tramina e 2,4 ± 4,2% para placebo (p < 0,05) e a proporção de pacientes com
perda de peso superior a 5% foi respectivamente de 63% e 23% (p < 0,05). O
ISI passou de 0,52 para 0,70 no grupo sibutramina (p = 0,03) e de 0,5 para
0,66 no grupo placebo (p = 0,04). Todavia, a freqüência da intolerância à
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001) 157
Continuação glicose diagnosticada por OGTT (glicose120 > 140 ou < 200 mg/dl) dimi-
nuiu no grupo sibutramina (de 40% para 19%, p = 0,025) e persistiu inaltera-
da no grupo placebo (de 28% para 31%). Nenhumas alterações nas taxas
anormais de glicose de jejum (glicose > 120 mg/dl) nem diabetes (glicose
120 > 200 mg/dl) foram observadas em ambos os grupos.
Conclusão: Em pacientes hipertensos com obesidade central e prevalência
elevada de intolerância à glicose, a sibutramina comparada com placebo
foi associada a maior diminuição de peso e melhora do perfil da glicose
plasmática, sendo uma ferramenta útil na prevenção do diabetes.
June Stevens et al, 11th European IMC prognostica risco de diabetes, hipertensão e taxas de
Congress on Obesity, European colesterol em brancos e afro-americanos
Association for the Study of Obesity
(EASO), Viena, Áustria, O IMC (índice de massa corporal) elevado é significativamente associado
30 de maio – 2 de junho de 2001 a risco aumentado de diabetes, hipertensão arterial e diminuição dos níveis
de HDL-colesterol em mulheres brancas e afro-americanas, de acordo com
os dados do estudo ARIC (Atherosclerosis Risk in Communities). Mas o im-
pacto do IMC é diferente em função do grupo étnico.
A obesidade aumenta o risco de doenças em ambos os grupos estudados,
mas o peso associado ao mesmo nível de doença varia muito, segundo os
pesquisadores: para conseguir aproximadamente o mesmo risco de hiperten-
são do que as mulheres brancas moderadamente obesas (IMC = 30), as mu-
lheres negras devem ser muito finas. Para apresentar o mesmo risco de diabe-
tes, as mulheres negras devem ser 5 kg mais magras do que as mulheres
brancas. No que se refere a hipertrigliceridemia, as mulheres negras muito
obesas apresentam um risco inferior do que as mulheres brancas com IMC
igual a 30. Esses dados foram obtidos do estudo ARIC em mulheres com
idade entre 45 e 64 anos, das quais 757 desenvolveram diabetes, 1518 apre-
sentaram pressão sanguínea elevada e 2281 baixos níveis de HDL colesterol.
A incidência desses fatores foi ajustada de acordo com educação, atividade
física, consumo de álcool e fumo.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais do que 300 mi-
lhões de adultos são obesos no mundo, dos quais 115 milhões moram em
paises desenvolvidos. A Europa e os Estados Unidos apresentam taxas de
obesidade entre 15 e 25% da população, Nos paises asiáticos, tais com a
China e o Japão, as taxas de obesidade são inferiores mas vão aumentando.
Os paises que apresentam níveis os mais elevados de obesidade têm também
as taxas as mais elevadas de doenças ligadas ao peso, tais como diabetes tipo
2, elevação das taxas de colesterol e doenças cardíacas. A OMS atribui o
aumento dos níveis de obesidade às mudanças na dieta, métodos de trabalho
e estilo de vida.
Eva Black, 11th European Congress on O risco de diabetes aumenta em 250% em adultos obesos de
Obesity, European Association for the meia idade
Study of Obesity (EASO), Viena, Áustria,
30 de maio – 2 de junho de 2001 Ser obeso na idade adulta pode aumentar o risco de desenvolver diabetes
em 250%, comparativamente com as pessoas de peso estável e normal e em
30% comparativamente com os obesos de peso estável, segundo uma análise
de 30 anos de dados do exercito da Dinamarca.
Ganhar peso para aumentar o IMC em 5 kg/m2 pode elevar o risco de
tolerância anormal à glicose em 250% em pessoas que anteriormente apre-
sentavam um peso saudável, comparativamente a indivíduos que conservam
um peso normal. A mudança do IMC com a idade é um dos mais importantes
158 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001)
Handijev Svetoslav et al., 11th European O estresse, a imobilidade e a dieta aumentam o risco de diabetes
Congress on Obesity, Viena, Áustria, 30 e de doenças cardíacas em trabalhadores do transporte
de maio – 2 de junho de 2001
O trabalho de transporte, seja em caminhões, aviões ou barcos, aumenta
significativamente o risco de diabetes ou doenças cardíacas, segundo os da-
dos de um estudo efetuado em Bulgária. Esta profissão apresenta vários fato-
res de risco, como estresse elevado, atividade física diminuída, nutrição in-
correta, imobilidade relativa, viagem de alta velocidade e fatores do meio
ambiente, que contribuem para o desenvolvimento de doenças metabólicas e
cardiovasculares. O estudo coletou dados de 5659 empregados de transporte
em Bulgária, sendo 1529 trabalhando em transporte de trem, 1434 em bar-
cos, 1715 em aviões e 925 em caminhões. 89,6% dos indivíduos eram ho-
mens, com idade média de 39 anos, e 65% deles apresentavam um sobrepeso
ou eram obesos. Comparativamente com a população geral da Bulgária, os
trabalhadores do transporte apresentam uma taxa mais elevada de diabetes
tipo 2, de colesterol e de pressão sanguínea. Na população do estudo, os
trabalhadores com sobrepeso mostraram taxas significativamente mais ele-
vadas destas doenças, comparativamente aos trabalhadores com IMC normal
(entre 20 e 25).
François Ledru e al., J Am Coll As estenoses são mais prevalentes em pacientes com diabetes
Cardiol 2001;37:1543-1550, moderado do que em não-diabéticos
maio de 2001
Apesar de que os pacientes portadores de diabetes tipo 2 moderado apre-
sentam um padrão de aterosclerose coronariana similar aos dos não-diabéti-
cos, eles têm uma prevalência maior de estenoses menores. Os pesquisadores
do Hospital europeu Georges Pompidou (Paris) avaliaram 466 pacientes in-
dicados por angiografia coronariana. Nenhum deles receberam terapia insu-
línica, nem apresentaram enfarte ou intervenção coronariana.
93 pacientes apresentavam uma glicose plasmática de jejum > 7,0 mmol/l
ou usavam um tratamento hipoglicemiante via oral. Após ajuste pelos outros
fatores de risco, os pacientes diabéticos tinham aterosclerose coronariana mais
difusa, com prevalência maior para estenoses leves, moderadas e severas e
uma taxa de oclusão vascular duas vezes mais elevada.
Em mais, estes pacientes com glicose plasmática de jejum entre 7 e 7,7
mmol/l, considerados agora como diabéticos, desenvolveram um tipo de ate-
rosclerose similar à dos não diabéticos, com exceção de uma maior prevalên-
cia de estenoses < 50%.
Este excesso de lesões vulneráveis pode explicar o aumento de mortalida-
de cardíaca observado neste subgrupo de pacientes e justificar a necessidade
de cuidados cardiovasculares e metabólicos específicos. Os pesquisadores
concluem que o controle dos fatores de risco – pressão sanguínea, diminui-
ção do colesterol, tabagismo – e especialmente importante no caso destes
pacientes, com o objetivo de estabilizar o desenvolvimento da aterosclerose
e melhorar a sobrevida a longo prazo e a qualidade de vida.
Beverley Balkau et al, Diabetes Care Hiperinsulinemia prognostica o câncer fatal do fígado em
2001;24:843-849, maio de 2001 homens não-diabéticos – Paris Prospective Study
Objetivo: Pesquisar se a insulina é um fator de risco de óbito em função da
localização do câncer.
Métodos: Estudo prospectivo de coorte de 6237 trabalhadores franceses
não-diabéticos com idade entre 44 e 55 anos da coorte do Paris Prospective
Study. O óbito por localizações de cânceres foi estudado em relação com as
concentrações de insulina durante jejum e duas horas após teste de tolerância
à glicose oral de 75g.
Resultados: Dos 6237 homens da coorte, 1739 morreram durante os 23,8
anos de acompanhamento, dos quais 778 (45%) de câncer. A hiperinsuline-
mia de jejum e de 2 horas, foi significativamente associada com o câncer
fatal do fígado, com hazards ratios ajustados segundo a idade de 2,72 (95%
IC 1,87–3,94) e 3,41 (2,23–5,21). Em contrasto, a hiperinsulinemia de jejum
foi inversamente associada com o câncer dos lábios, da cavidade oral, da
garganta e da laringe, com hazards ratios de 0,55 (0,41–0,75) e 0,63 (0,47–
0,83), respectivamente, e as concentrações de insulina 2 horas foram inversa-
mente associadas aos cânceres de estomago e da laringe (hazards ratios 0,62
[0,43–0,90] e 0,66 [0,50–0,89], respectivamente). Essas relações ficaram es-
táveis após ajustes para os outros fatores de risco. As concentrações de insu-
160 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 03 (2001)
Continuação lina ficaram negativamente associadas aos óbitos por câncer nos estudos so-
bre os homens ex-fumantes ou não consumidores crônicos de álcool.
Conclusões: A hiperinsulinemia periférica, indicativa de concentrações
muito elevadas de insulina portal, prognosticou o câncer fatal do fígado
em esses homens não-diabéticos, mas foi inversamente associada aos cân-
ceres fatais dos lábios, cavidade oral, garganta, estomago e laringe.
O Diabetes na Imprensa
O diabetes encurta a vida radicalmente
O Globo, 8 de junho de 2001 Os diabéticos têm menor expectativa de vida e são muito mais propensos a
desenvolver doenças cardíacas do que pessoas saudáveis, afirma estudo de-
senvolvido no Middlesbrough General Hospital, na Grã-Bretanha.
Após analisar dados de 4.800 diabéticos, os pesquisadores descobriram
que a redução na expectativa de vida era mais acentuada nos portadores de
diabetes tipo 1, a forma mais grave da doença. Mas mesmo as pessoas diag-
nosticadas com o subtipo mais comum (2 ou o chamado diabetes de adulto),
provavelmente morrerão oito anos antes do que seus contemporâneos.
Estado de São Paulo, Adultos obesos têm maiores problemas crônicos de saúde do que os fu-
7 de junho de 2001 mantes, os bebedores contumazes ou os pobres, segundo uma pesquisa di-
vulgada hoje na Califórnia, EUA. O informe do instituto RAND afirma que
os obesos têm em média o dobro dos problemas de saúde que as pessoas de
peso normal. “Não esperávamos uma diferença tão grande”, disse Roland
Sturm, autor principal do estudo, que apareceu na revista britânica Public
Health. A pesquisa também determinou que o tabagismo é mais danoso para
a mulher do que para o homem, e que as fumantes têm 40% mais problemas
crônicos do que as não-fumantes. No caso dos homens, a cifra é de 30% a
mais de problemas para os que fumam. O estudo sugere que as autoridades
sanitárias devem intensificar a campanha contra a obesidade a níveis pelo
menos similares aos da campanha contra o tabaco. Segundo a pesquisa, há
mais pessoas gordas do que fumantes e bebedores A pesquisa telefônica per-
guntou a 9.585 adultos sobre seu peso, estatura, hábitos de tabagismo e de
ingestão de álcool renda e qualidade de vida. Foi-lhes perguntado se sofriam
de problemas crônicos de saúde tais como asma, câncer, diabetes e proble-
mas cardíacos. Da amostra, 1,1% das pessoas de peso normal sofrem de do-
enças crônicas - cifra que aumenta em 0,2 ponto percentual para os gordos,
0,6 para os obesos e 0,9 para os muito obesos.
ro transplante desse tipo no ano passado, está no Brasil para participar do sim-
pósio. O encontro realizado nesta quinta-feira no Einstein serviu para ajudar no
aprimoramento da técnica no País. “Ainda não conseguimos o número neces-
sário de ilhotas em cada processo de isolamento”, diz o endocrinologista Fre-
ddy Goldberg Eliaschewitz, chefe do grupo no País. Lakey visitou o laborató-
rio no Instituto de Química da Universidade de São Paulo e se disse muito
satisfeito com o trabalho dos brasileiros. “O procedimento não é só a cirurgia,
pois é muito importante que o local de isolamento de ilhotas esteja em perfei-
tas condições”. O transplante consiste em transferir para o paciente, por meio
de uma injeção, novas ilhotas produtoras de insulina, que são retiradas do pân-
creas de um cadáver. Isso é necessário porque o organismo dos diabéticos tipo
1 destrói totalmente essas ilhotas. O procedimento exige apenas uma noite de
internação, mas pode custar cerca de R$ 100 mil. Segundo Eliaschewitz, isso
ocorre porque o transplante exige um rígido controle de laboratório e alta tec-
nologia para dosar as drogas contra rejeição. O acordo com o Einstein deve
pagar até metade do valor - o resto está em negociação. O único problema é
que, ao se submeter à cirurgia, o paciente precisa passar a tomar drogas imu-
nossupressoras contra a rejeição das novas estruturas, assim como ocorre em
qualquer transplante. Por causa disso, o grupo de especialistas vai selecionar
com muito cuidado os voluntários. “A diabete precisa estar sendo uma amea-
ça imediata à vida da pessoa”, explica Eliaschewitz. “Só assim se justifica
fazer o paciente deixar de tomar insulina para tomar drogas contra a rejeição,
que aumentam o risco de infecções e de câncer.” Podem ser voluntários do
experimento diabéticos que sofrem de crises de hipoglicemia graves e não têm
os sintomas que servem de alerta para que o indivíduo procure por açúcar.
Outras condições para fazer o transplante são a falta de controle da doença,
mesmo recebendo várias doses de insulina, ou alterações crônicas, como a ce-
gueira por exemplo, em virtude do diabetes.
Estado de São Paulo, Os graves problemas de saúde causados pela obesidade já são um fenôme-
16 de maio de 2001 no mundial e começam a ser tratados como uma epidemia (...). “Os níveis de
mortalidade estão tão altos que somos forçados a repensar nossa forma de
viver”, diz o cardiologista Rogério Bicudo Ramos, do Instituto do Coração
(Incor). No Brasil, onde os adultos obesos e os que estão com sobrepeso
representam 40% do total, as doenças cardiovasculares já são responsáveis
por 30% das mortes. “O perfil das pessoas que adoecem por esse tipo de
enfermidade inclui obesidade, colesterol alto, hipertensão e diabetes”, afir-
ma Ramos (...). A comunidade médica mundial passa a dar maior importân-
cia ao controle e à prevenção da obesidade. “Quanto maior for o controle das
doenças associadas à obesidade, menores serão ao índices de doenças car-
diovasculares e, conseqüentemente, menores serão as incidências de enfarte,
parada cardíaca e derrame cerebral”, diz o cardiologista Sérgio Timermam,
que além de integrar o Incor e a Fundação do Coração (Funcor), preside a
Fundação Interamericana do Coração (...).
Na avaliação do cardiologista Rogério Ramos, que integra o grupo Brasil
Saudável, “o grande problema na prevenção das doenças cardíacas é a arte-
riosclerose”. O caminho é tentar eliminar ou controlar alguns dos fatores de
risco da arteriosclerose, como o fumo e outras doenças como o diabetes, a
hipertensão e o colesterol alto. Atividade física é uma das ferramentas mais
comprovadamente eficientes nesta tarefa: “O fluxo sanguíneo aumenta de
cinco para 25 litros por minuto com exercícios”, diz o cardiologista do Incor.
166 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 03 (2001)
Nigel P. Jones et al., 17th International Eficácia a longo prazo da rosiglitazona combinada com a
Diabetes Federation Congress, Mexico metformina ou em monoterapia
City, México,
5 a 10 de novembro de 2000 Objetivo: Rosiglitazona (RSG) melhorou significativamente o controle
glicêmico quando administrada em combinação com metformina (MET)
ou em monoterapia em estudos duplo-cego, controlados, de mais de 12
meses. Esta análise avaliou o efeito da RSG sobre o controle glicêmico e os
lípides plasmáticos em estudos abertos de longo prazo, com MET ou em
monoterapia.
Métodos: RSG 8 mg/dia foi administrada em monoterapia ou conjugada a
2,5 g/dia de MET em estudos de tratamentos de 24 meses (MET+RSG) e de
30 meses (monoterapia MET).
Resultados: A terapia combinada de RSG e MET resultou em importantes
diminuições na HbA1c, que permaneceram 24 meses. A monoterapia RSG
também produziu diminuições significativas da HbA1c mantidas sobre 30
meses (Tabela). No grupo MET+RSG, a função da célula β aumentou de uma
média de 52% no início para 75% a 24 meses (mantida no intervalo 72%-
85% de 6 a 24 meses). No grupo monoterapia RSG, a função estimada de
célula β aumentou de 38% no início até 75% após 30 meses (intervalo: 74%-
95% de 9 para 30 meses). Ambos os níveis de colesterol LDL e HDL foram
elevados. Todavia, os níveis de LDL não aumentaram mais após 6 meses
embora que os níveis de HDL continuaram aumentar. As diminuições inici-
ais dos ácidos graxos livres de mais de 33,7% foram mantidas a longo prazo.
Grupo de tratamento
MET + RSG Monoterapia RSG
Mês n HbA1c média (%) n HbA1c média (%)
Início 87 8,7 171 8,2
6 87 7,8 171 7,4
12 87 7,6 168 7,3
18 86 7,6 164 7,3
24 86 7,7 159 7,3
30 - - 160 7,4
Teresa P.C. Monsod et al, Diabetes Care Epipen como alternativa ao glucagon no tratamento da
2001;24:701-704, abril de 2001 hipoglicemia em crianças portadoras de diabetes
William T. Cefalu et al., American A insulina em pó seco inalada é promissora para o tratamento do
Thoracic Society’s 97th International diabetes
Conference, San Francisco, California,
22 de maio de 2001 Uma formulação de insulina para inalação parece controlar os níveis de
glicose sanguínea em pacientes diabéticos sem diminuir a função pulmonar,
segundo este estudo. O pó seco de insulina, desenhado para atingir profun-
damente os pulmões, poderia ajudar a diminuir o número de aplicações diári-
as de insulina, e também ser usado pelos portadores de diabetes do tipo 2, em
complemento dos tratamentos via oral.
O estudo incluiu 140 pacientes que participaram de um estudo sobre a
eficácia e segurança da insulina inalada. Este estudo de 24 meses de duração
avaliou os níveis da glicose plasmática, e concluiu que o tratamento contro-
lou as taxas de glicose durante os dois anos. O estudo confirmou que a fun-
ção pulmonar dos pacientes não foi afetada pelo tratamento.
Estudos anteriores sugerem que a eficácia da insulina inalada é compará-
vel a da insulina injetável, e é tão eficaz ou até melhor do que os agentes
antidiabéticos orais.
Os pacientes portadores de diabetes tipo 1 ou 2 preferiram a insulina inala-
da, de acordo com o estudo, como já foi notada em estudos anteriores. Mas os
pacientes portadores de diabetes do tipo 2 podem ter medo de começar uma
terapia insulínica, apesar de que a glicose sanguínea não seja bem controlada
por dois ou mais agentes antidiabéticos orais. Se a insulina inalada é uma
alternativa aceitável, os pacientes poderiam iniciar o tratamento insulínico
mais cedo, com efeito de controlar melhor a glicemia e diminuir as complica-
ções do olho, do rim ou do sistema nervoso.
Kenneth R. Pitzer et al, Diabetes Care Detecção da hipoglicemia com o Biographer GlucoWatch
2001; 24:881-885, maio de 2001
Objetivo: Hipoglicemia é uma complicação aguda comum da terapia do
diabetes. O Biographer GlucoWatch fornece medições freqüentes e automá-
ticas com alarma ajustável de nível baixo de glicose. Estudamos a perfor-
mance do alarme do Biographer quando aparece uma hipoglicemia, definida
como glicose sanguínea ≤ 3,9 mmol/l.
Desenho da pesquisa e métodos: A análise foi baseada nas utilizações de
1091 Biographers em 4 estudos clínicos, que resultaram em 14.487 medições
(Biographer e glicose sanguínea).
Resultados: Os resultados mostram que quando o nível da glicose do alar-
me do Biographer é aumentado, aumenta o número de alertas positivos ver-
dadeiros (o alarme toca e a glicose sanguínea é ≤ 3,9 mmol/l) e de alertas
positivos falsos (alarme toca mas a glicose sanguínea é > 3,9 mmol/l). Quan-
do analisados como uma função de níveis variáveis de hipoglicemia, os re-
sultados mostram que as curvas características do sistema são consistentes
como ferramenta muito útil de diagnóstico. Estabelecendo o nível de alerta
de 1,1 para 1,7 mmol/l a cima do nível de referência otimiza a troca entre
resultados positivos verdadeiros e falsos para cada usuário. Quando os mes-
mos dados de glicose sanguínea são analisados por sistemas atuais de moni-
torização (2/4 medições por dia), os resultados mostram que menos eventos
hipoglicêmicos são detectados do que com o Biographer.
Conclusão: Os resultados freqüentes e automáticos do Biographer permi-
tem uma detecção mais eficiente da hipoglicemia do que os sistemas atual-
mente utilizados na prática médica.
Diabetes Clínica 03 (2001) 175
Produtos e novidades
Obesidade infantil: Guia prático para pais e profissionais de
saúde
O Dr. Nataniel Viuniski, pediatra (Caxias do Sul, Nova Petrópolis – RS),
especialista pela Sociedade Brasileira de Pediatria, membro do comitê de
ética da ABESO (Associação brasileira para o Estudo da Obesidade) está
lançando o livro “Obesidade infantil, Guia prático”. Este livro é dirigido aos
médicos (pediatras, clínicos, endocrinologistas), psicólogos, nutricionistas,
profissionais da atividade física, fisioterapeutas, assistentes sociais, e todo
profissional da saúde, que atue ou se interesse pelo fascinante universo que é
a obesidade na infância e adolescência. “Desejamos porém, ser tão didáticos,
claros e objetivos, que qualquer pai ou mãe, familiar, professor ou alguém
que conviva com um jovem obeso, possa entender as várias facetas desse
problema de saúde e, sem preconceito, ajudar essa pessoa a superar esse de-
safio”, explica o autor.
Contato: Dr. Nataniel Viuniski, Tel: (54) 281 1767, E-mail: natan@royalnet.com.br
Homem Mulher
Magro < 10% < 2%
Normal 10% - 20% 20% - 30%
Sobrepeso 20% - 25% 30% - 35%
Obeso 25% - 30% 35% - 40%
Obeso mórbido > 30% > 40%
Percentagem de gordura corporal
180 Diabetes Clínica 03 (2001)
J. Plank et al, 36th Annual Meeting Estudo controlado da redução de peso usando a técnica do duplo
of the EASD, Jerusalem, Israel, estímulo em diabetes do tipo 2
17-21 de setembro de 2000
Introdução e objetivos: Em vários estudos de pacientes obesos, a redução
de peso é usada como o único estímulo para alcançar uma diminuição de
peso. Este estudo foi realizado para testar se a técnica do duplo estímulo
(primeiro estímulo: HbA1c, segundo estímulo: peso corporal) poderia me-
lhorar o controle metabólico e manter uma perda de peso a longo prazo em
pacientes diabéticos do tipo 2 com sobrepeso.
Métodos: 36 pacientes diabéticos do tipo 2 com sobrepeso [média (DP)]
[idade 58 (11) anos, peso 88 (15) kg] receberam um programa de educação
básica sobre o diabetes do tipo 2 (nutrição, diminuição de peso, estratégias
sociais e psicológicas, e outros assuntos ligados ao diabetes), uma vez por
semana durante 4 semanas. Após randomização, o grupo tratado recebeu cada
mês outros conselhos nutricionais e estímulos verbais adicionais referentes à
redução do peso corporal ou diminuição da HbA1c, alternativamente. As
aulas foram realizadas por uma nutricionista clínica, especialmente treinada
em alteração do comportamento. O grupo controle foi treinado com o progra-
ma clássico sem nenhum tipo de estímulo adicional. O estudo durou um ano.
Resultados:
Grupo tratado Grupo controle Valor de p
mês 0 mês 12 mês 0 mês 12
HbA1c [%] 8,6 (1,63) 7,7 (1,45) 8,0 (1,53) 8,3 (1,48) 0,001
Peso [kg] 88 (16,7) 82 (13,6) 88 (13,2) 86 (11,7) 0,021
Yuichiro Nishida et al, Diabetes Care Efeito do exercício de intensidade moderada sobre a glicose em
2001; 24:1008-1013, junho de 2001 homens saudáveis
Ryan J. Anderson et al, Diabetes Care Prevalência da depressão comórbida em adultos portadores de
2001; 24:1069-1078, junho de 2001 diabetes – Meta-análise
Yoshinori Miyazaki et al, Diabetes Care Melhora do controle glicêmico e da sensibilidade à insulina em
2001;24:710-719, abril de 2001 pacientes diabéticos tipo 2 tratados por pioglitazona
Marcos A. Tambascia, Bruno Geloneze, A disfunção da célula β é o principal fator para determinar a
Sylka O. Rodovalho, Jose C. Pareja, intolerância à glicose em pacientes resistentes à insulina
Daniela M. Franco, Enrico M. Repetto.
UNICAMP, Campinas - SP, 17th A patogênese do diabetes mellitus do tipo 2 envolve ambas a resistência à
International Diabetes Federation insulina e a deficiência de secreção. Alguns pacientes com grau elevado de
Congress, Mexico City, México, 5 a 10 resistência à insulina, como visto na obesidade, não mostram intolerância à
de novembro de 2000 glicose porque têm a capacidade de secretar insulina e desenvolver uma hi-
perinsulinemia compensatória.
Para estudar a relação da resistência à insulina e a secreção de insulina,
utilizamos o método HOMA (Homeostasis Model Assessment) com 2 esco-
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 03 (2001) 185
IMC (kg/m2)
<25 25-30 30-40 >40
HOMA-IR Normal (n) 2,8±0,9 (17) 3,7±2,1 (43) 6,4±4,6(101) 11,0±6,9 (61)
IGT (n) 4,7±1,5 (7) 6,2±3,6 (12) 8,5±4,0(10) 11,8±10,0 (17)
DM2 (n) 6,9±4,3 (13) 9,4±6,4 (14) 12,3 ±12,7(31) 24,4±17,0 (21)
HOMA-β Normal 235,5±85,5 279,3±145,6 535,7±801,6 654,4±328,8
IGT 124,1±9,8 159,1±66,3 234,0±144,5 414,3±275,0
DM2 85,8±54,1 156,2±211,3 182,5±179,7 331,8±329,7
ATUALIZAÇÃO
*Professor Titular de Endocrinologia da Faculdade de Medicina do ABC, Doutor em medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Chefe
do Serviço de Endocrinologia do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, Membro da Comissão do Plano de Reorganização da Atenção ao Diabetes
Mellitus e H.A do Ministério da Saúde, Delegado Executivo no Brasil da IDF (International Diabetes Federation) – SACA (South and Central América)
Endereço para correspondência: Rua Maestro Cardim, 889, 01323-001 São Paulo SP, Tel: (11)288-0054
188 Fraige Fo F/ Diabetes Clínica 03 (2001) 187~193
branco recém preparado e purê de batatas recém cozi- açúcar, quando adquire alimentos light.
das, elevarão muito mais a glicemia do que o arroz e Outro aspecto é o teor calórico de alguns alimen-
batata resfriados e depois preparados. tos diet, que embora isentos de açúcar, têm alto teor de
Esses novos conceitos deverão modificar as prescri- gordura, como os chocolates e sorvetes, ou alto teor de
ções e as dietas dos diabéticos. carboidratos como os alimentos com glúten, pão, bis-
Existem hoje recomendações da ADA (American coito e macarrão, cuja utilização na alimentação deve
Diabetes Association) liberando pequenas quantidades ser em quantidades vigiadas e moderadas.
de açúcar para pacientes muito bem controlados, desde
que façam parte da ingestão total de carboidratos. Em Adoçantes artificiais: todos os adoçantes comerci-
nossa opinião uma liberação perigosa, visto que é difícil alizados são de inteira segurança e suas diferentes com-
o entendimento de quantidades moderadas e nos paci- posições deverão ser testadas de acordo com o paladar
entes que fazem monitoração de glicemia pós-prandial, do consumidor. Observe que aqueles a base de frutose,
a ingestão de açúcar e/ou doces, sempre é seguida de não são indicados quando se quer uma redução de peso,
fortes hiperglicemias. pois têm valor calórico igual ao da sacarose.
Temos observado nos últimos dois anos uma verda-
deira revolução no “ataque” às hiperglicemias pós-pran- 2 - Exercícios
diais, pois segundo trabalhos recentes, estão correlacio-
nadas com as complicações tardias do diabetes, princi- Benefícios:
palmente doenças cardiovasculares arterioscleróticas [4]. · Ajuda a manter baixos os níveis de glicemia, duran-
Ultimamente um verdadeiro arsenal terapêutico tem te e depois do exercício.
sido desenvolvido para o controle das hiperglicemias pós- · Pode melhorar o controle glicêmico a longo prazo
prandiais, porém a nosso ver a melhor arma é a correção (verificado pela redução de hemoglobina glicosilada).
de sua causa, que é a dieta inadequada, daí nossa posi- · Melhora a sensibilidade à insulina por aumento di-
ção mais clássica em não permitir o uso de açúcar e, em reto dos transportadores de glicose – GLUT4 – podendo
pequenas quantidades os carboidratos rapidamente ab- diminuir as quantidades de hipoglicemiantes orais ou
sorvidos, usando os conceitos já descritos para diminuir mesmo de insulina.
o índice glicêmico. · Melhora o condicionamento cardiovascular.
· Reduz fatores de risco cardiovasculares, por dimi-
Bebidas alcoólicas: Para aqueles em que a bebida nuição da pressão arterial e dos lípides.
alcoólica faz parte de seu hábito alimentar, deverão sa- · Quando combinada com dieta hipocalórica, auxilia
ber que: na redução de peso através da perda de gorduras, preser-
Pode causar hipoglicemia quando ingerida em perío- vando a massa muscular.
dos de jejum, risco este aumentado quando se toma in- · Melhora o bem estar e qualidade de vida.
sulina e sulfoniluréias. · Favorece a sociabilidade.
Não deverá conter açúcar em sua composição.
Dar preferência aos destilados, evitando as fermenta- Precauções:
das. · Inspecionar os pés antes e depois dos exercícios.
Não deverá ser ingerida por pacientes com hipertrigli- · Usar calçado adequado para cada tipo de atividade.
ceridemias, obesos ou em mau controle metabólico [5]. · Pode causar hipoglicemia quando realizado no pico
Não ingerir depois de exercício intenso. da insulina, devendo portanto ser adequado à alimenta-
Não beber sozinho. ção e à terapêutica medicamentosa.
· Medir o nível de glicemia, antes e durante o exercí-
Alimentos dietéticos: A confusão entre alimentos diet cio, principalmente se for intenso, já que o exercício pode
e light por parte dos pacientes e dos próprios profissio- baixar a glicemia entre 12 a 24 horas após sua prática.
nais médicos tem justificativa frente à uma legislação · Portar alimentação ou bebida que contenha glicose.
complexa e dúbia. · Exercitar-se preferencialmente com um companhei-
O desconhecimento da legislação por parte de al- ro, que saiba reconhecer uma hipoglicemia.
guns fabricantes, aliado às dificuldades de fiscalização, · Não se exercitar em períodos de mau controle meta-
gerou confusões iniciais que aos poucos têm sido resol- bólico.
vidas. Os alimentos dietéticos são aqueles para o sabor · Não fazer exercícios em vigência de complicações
doce, que não tem açúcar e os light, às vezes não têm presentes e ativas (retinopatia proliferativa, nefropatia e
açúcar (como o caso de um refrigerante) ou podem con- outras) devendo dar preferência ao simples caminhar.
ter açúcar até 45% do teor de um produto normal. As- · Parar o exercício se algum dos seguintes sinais ocor-
sim sendo, é possível, sem observar atentamente a rotu- rer:
lagem, que uma parcela de pacientes esteja ingerindo Cefaléia ou tontura.
189 Fraige Fo F/ Diabetes Clínica 03 (2001) 187~193
Dor ou desconforto torácico. complicações que podem levar risco aos pés, e uso de
Náuseas. calçados adequados.
Sensação de desmaio [6]. Como vemos o educador faz um elo de conexão entre
o profissional médico e o paciente, visto que o tempo
3 - Educação destinado a uma consulta, no sistema público e conveni-
ado no Brasil, é muito curto para atividades educativas.
O fato da doença ser metabólica e com pouca expres-
são clínica, faz com que uma boa parte dos pacientes II - Tratamento medicamentoso
não dêem importância e até mesmo negligenciem sua
doença. Deve ser instituído conjuntamente com a dieta e exer-
É difícil convencer os pacientes de algo que não vêem cícios, se estes últimos não terem tido sucesso no con-
ou não sentem. trole glicêmico, ou quando a doença já se manifesta com
Consideramos o diabetes como principal doença em altos índices glicêmicos.
que a educação é importante, levando informação, ori-
entações e alertas, aos seus portadores. 1 - Antidiabéticos orais
Estudos comparativos de populações de pacientes não Podem ser classificados como:
educados com aqueles que tiveram um processo educa- Secretores de insulina de ação prolongada: sulfoni-
tivo, mostram que estes têm grandes benefícios como: luréias (Clorpropamida, Glibenclamida, Glipizida, Gli-
Melhor controle da doença. cazida, Glimepirida)
Menor índice de hospitalização. Secretores de insulina de ação rápida: Glinidas (Re-
Menor índice de complicações tardias. paglinida, Nateglinida)
Menor índice de faltas ao trabalho, licenças médicas
e até aposentadoria precoce. Sensibilizadores da insulina: Metformina; Glitazonas
Menor ônus financeiro pessoal e de plano de saúde (Rosiglitazona, Pioglitazona)
ou governo.
Melhor expectativa de qualidade de vida. Inibidores da α-Glicosidase: Acarbose; Miglitol
Educar é transferir conhecimentos e através destes, Uma breve descrição das propriedades destes fárma-
convencer os pacientes a cumprirem suas dietas, exercí- cos nos dará conhecimento de como e quando prescrevê-
cios e medicamentos. los, adaptando-os e adequando-os a cada paciente [5-7].
Sem dúvida alguma, uma consulta médica não per-
mite a extensão de tempo para a educação. 1- Secretores de insulina
Os órgãos públicos bem como a medicina privada e 1.a - De ação prolongada - Sulfoniluréias (Clorpro-
os seguros de saúde, não reconhecem esta importante pamida, Glibenclamida, Glipizida, Glimepirida, Glica-
função - de educador - do ponto de vista funcional e zida): estimulam a secreção de insulina ligando-se a re-
econômico. ceptor nas células beta do pâncreas.
Assim, quem faz educação neste país, o faz de forma 25% dos pacientes podem se controlar com estes fár-
filantrópica como os programas desenvolvidos na ANAD macos com monoterapia e 60 a 75% necessitarão de te-
(Associação Nacional de Assistência ao Diabético) e rapia combinada para um bom controle glicêmico.
outros centros. Podem aumentar o peso devido a hiperinsulinemia, o
Educar é também conseguir a mudança de estilo de que é indesejável no controle global do portador de dia-
vida pois como já foi dito anteriormente, a maioria dos betes. O estudo UKPDS mostrou associação das Sulfo-
diabéticos, por ocasião dos diagnósticos e mesmo de- niluréias com a hipertensão arterial e não demonstrou
pois, na evolução de sua doença, tem hábitos arraigados redução significativa de retinopatias e mortalidade car-
que precisam ser corrigidos, propiciando a orientação diovascular [3] mesmo em tratamento intensivo.
para habilidades de: As sulfoniluréias são os fármacos de primeira esco-
Combate ao sedentarismo com a prática regular de lha quando iniciamos o tratamento do diabético tipo 2,
exercícios. não obeso.
Que venham auxiliar na suspensão do tabagismo. A clorpropamida que tem ação muito prolongada
Corrigir excesso de bebidas alcoólicas inadequadas. (meia vida igual a 33 horas), não é recomendada para
Que venham incentivar a prática de automonitoriza- pacientes acima de 60 anos devido a um maior risco de
ção e auto-aplicação de insulina. episódios de hipoglicemia.
Conhecimento para interagir entre as glicemias capi- Considerada sua excreção renal, as sulfoniluréias são
lares e sua medicação. contra-indicadas em presença de insuficiência renal,
Cuidados com os pés, de higiene, reconhecimento das ocasião em que devem ser substituídas pela insulinote-
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rapia. Outra característica é a perda de seu efeito ao lon- nal, hepática, respiratória, cardíaca ou coronariana, al-
go do tempo do diabetes, caracterizando a falência tera- coolismo, em surto infeccioso e na idade avançada.
pêutica secundária, quando deverá ser indicada a insuli- Tem efeito colaterais tais como: Desconforto abdo-
noterapia. minal, gastrite, diarréia, que melhoram com a suspen-
são da droga. A acidose láctica mencionada em raros
1.b - De ação rápida: Deste grupo recém lançado no pacientes é praticamente inexistente quando se observa
Brasil, designados de glinidas, temos a repaglinida e a suas contra indicações.
nateglinida.
Agem no pool intracelular da insulina de secreção rá- 2.b Glitazonas: Esta classe de fármacos, também de-
pida, em receptores das células b, diferente das sulfoni- signados de tiazolidinedionas tem dois representantes
luréias, promovendo pico de ação em torno de uma a duas lançados recentemente no Brasil que são a rosiglitazo-
horas, por isso mesmo indicadas no controle das hipergli- na, e a pioglitazona que têm perfis bioquímicos seme-
cemias pós-prandiais, um novo enfoque no tratamento do lhantes.
diabetes, após recentes trabalhos publicados que demons- Estes são os verdadeiros fármacos sensibilizadores
tram correlação entre as glicemias pós-prandiais com en- de insulina, visto que seu mecanismo de ação diminui a
farte do miocárdio e não as glicemias de jejum [4]. resistência à insulina, que é o foco principal da etiologia
Se as complicações são dependentes das hiperglice- do Diabetes Mellitus tipo 2.
mias estas atingem seus maiores níveis após alimenta- Além de melhorarem a interação da insulina e seus
ção copiosa e rica em carboidratos. Assim, as glinidas receptores periféricos, principalmente a nível de tecido
têm papel importante nesta modalidade terapêutica, prin- muscular hepático e adiposo, têm ação sui generis atra-
cipalmente quando associadas à metformina, com po- vés da ativação dos receptores nucleares PPARg – re-
tencialização do efeito terapêutico. ceptor ativado do proliferador de peroxisomas gama –
Considerando-se que são absorvidas e eliminadas ra- que aumenta a transcrição de genes, cujo efeito é o au-
pidamente e pelo seu perfil rápido de ação, devem ser mento dos transportadores de membrana de glicose –
administradas imediatamente antes das refeições, con- GLUT4 – intracelulares, cujo efeito final será a de mai-
ferindo um perfil terapêutico com menos ricos hipogli- or captação celular da glicose, por isso produzindo seu
cêmicos, conveniente no tratamento diabéticos idosos efeito hipoglicêmico [11].
ou portadores de alguma forma de doença neurológica, Têm ação importante na redução da hipertrigliceri-
principalmente em seqüelas de acidente vascular cere- demia, muito freqüente nos diabéticos tipo 2. O efeito
bral isquêmico. colateral que é o aumento discreto de peso quando usa-
Também por não terem uma ação secretagoga de in- do em associações com insulinas ou sulfoniluréias nos
sulina prolongada, podem se adequar à melhor flexibili- pacientes que não cumprem programa de dieta estabele-
dade de horários de refeições tão necessários nos dias cido.
de hoje, em que o tempo e horário das refeições são im- Podem ocorrer também edemas discretos, fato este
previsíveis em função de trabalho. Assim, só serão ad- que deve ser levado em consideração em pacientes dia-
ministradas se ocorrer a refeição, por isso menor risco béticos hipertensos e/ou cardiopatas com tendência a
de hipoglicemias [10]. retenção hídrica.
Como este fármaco é de metabolização hepática é
2 - Sensibilizadores de insulina recomendável que no primeiro ano de tratamento se in-
2.a Metformina: Constitui o medicamento de primei- vestiguem as enzimas hepáticas a cada dois meses con-
ra escolha de pacientes diabéticos obesos, pois além de forme recomendação do FDA (Food and Drug Admi-
sua ação hipoglicemiante, tem efeito anoréxico produ- nistration) endossada pela Agência de Vigilância Sani-
zindo perda de peso concomitante, altamente benéfica tária do Ministério da Saúde
para a melhoria das condições clínicas e metabólicas Por isso mesmo, estes medicamentos são contra-in-
destes pacientes. dicados em hepatopatias ativas, e a meu ver nas seqüe-
Seu principal mecanismo de ação é a diminuição da las de doenças hepáticas graves.
produção hepática de glicose que está aumentada. Sua principal indicação em nossa experiência, é em
A metformina quando associada a fármacos secreta- pacientes tipo 2 que não conseguem um bom controle
gogos de insulina tem seu efeito hipoglicemiante poten- com os medicamentos secretores de insulina, após sua
cializado. associação com metformina. Nesta situação de início de
O UKPDS [8] demonstrou que a metformina foi o falência secundária à aqueles fármacos, introduz-se as
único medicamento que diminuiu significativamente as glitazonas que poderão melhorar o controle antes do iní-
complicações cardiovasculares e conseqüentemente, os cio da insulinoterapia.
índices de mortalidade. Aqueles pacientes que já em falência secundaria de-
É contra indicada em pacientes em insuficiência re- finida e em uso concomitante de insulinas poderemos,
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ao introduzir as glitazonas, reduzir as doses de insulina desconforto abdominal, por vezes intensos, acarretando
ou mesmo substituí-las, se usadas em pequenas doses. na desistência do uso da medicação.
Esta redução ou mesmo substituição é benéfica, visto É necessário ressaltar que devemos insistir na medi-
que por vezes a insulinoterapia provoca aumento de peso, cação, pois esta, quando prescrita corretamente, tem
o que é indesejado.10 minimizado os efeitos colaterais e mesmo desaparecen-
Por se tratar da única terapêutica genética tem seu do, após o 6º ou 8º mês de tratamento, quando então
efeito maior após três a quatro semanas do inicio de seu temos uma excelente arma terapêutica no controle da
tratamento, e também esse efeito potencializado quan- hiperglicemias pós-prandiais através de um fármaco que
do do uso concomitante com a metformina. não é absorvido pelo intestino e portanto desprovido de
qualquer toxicidade.
3- Inibidores da a-glicosidase Outra vantagem deste medicamento é não provocar
Este grupo tem dois representantes (Acarbose e Mi- hiperinsulinemia e sua conseqüente hipertrigliceridemia
glitol) como mecanismo de ação semelhantes: Inibem pós-prandial. Não existem interações medicamentosas,
parcial e temporariamente a enzima a-glicosidase que devendo ser indicado em quase todos os pacientes com
degrada os carboidratos, transformando-os em glicose diabetes tipo 2, quando associados às outras categorias
na digestão intestinal. de medicamentos descritos.
Como inibe temporariamente esta enzima, ocupan- Como monoterapia tem indicação apenas no controle
do-a como um falso carboidrato, não impede a sua ab- da glicemia nos pacientes com intolerância à glicose ou
sorção mas sim um retardo da mesma nos períodos pós- mesmo naqueles com glicemias discretamente alteradas,
prandiais. sempre associado a dieta adequada..
A liberação posterior destes carboidratos principal- Obviamente está contra-indicada em pacientes que
mente nos cólons, leva a um aumento da flatulência por tenham alguma doença gastrointestinal.
fermentação destes pela flora intestinal. A tabela 1 resume os medicamentos antidiabéticos
Este é o principal efeito colateral observado quando orais disponíveis em nosso meio.
não se faz doses iniciais menores e com aumento lento e
progressivo, maiores do que aqueles preconizados pelo II. Insulinoterapia
fabricante.
Costumo definir esta situação baseado em experiên- A insulinoterapia deve ser instituída quando ocorrer
cia pessoal, de que devemos preparar e adaptar o paci- a falência secundária aos antidiabéticos orais, que usa-
ente com doses que se iniciam com 12,5 mg, mantidas das em doses máximas não produzem o controle glicê-
por meses inicialmente, com aumento na mesma pro- mico adequado, mesmo quando combinados entre si.
porção, lento e progressivo para chegarmos após seis É importante não confundir falências secundárias com
meses de preparo, a uma dose terapêutica efetiva. A não descontrole glicêmico por um episódio de infecção, ci-
observância desses procedimentos leva à flatulência e rurgia ou estresse, e mesmo abusos alimentares que uma
vez corrigidos obteremos o controle glicêmico restabe- Lembrar que a insulinoterapia induz a aumento de
lecido. peso e por isso mesmo devemos insistir e enfatizar a
Também a insulinoterapia deve ser utilizada quando importância e o rigor da dieta hipocalórica.
o paciente portador de diabetes tipo 2 se apresenta em Permite-se o uso de insulina de ação rápida em com-
descontrole glicêmico com perda acentuada de peso em binação com a NPH para glicemias muito elevadas por
um pequeno espaço de tempo, de dias ou semanas. ocasião de descompensações devidas a diferentes fato-
É também indicada para o tratamento na paciente di- res.
abética que ficou grávida ou mesmo no diabetes gesta- Os pacientes diabéticos tipo 2 que forem submeter-se
cional, que se manifestou durante a gestação, onde rei- a cirurgias de grande porte deverão ser insulinizados e
teramos a contra indicação dos antidiabéticos orais. controlados como pré-operatório e mantidos em até 6
O uso de insulina também está indicado substituindo meses, como nos casos de cirurgias de revascularização
os fármacos orais na intercorrências de infecções gra- de miocárdio.
ves, acidente vascular cerebral, enfarte agudo do mio- Sem dúvida a insulinoterapia requer conhecimentos
cárdio, em que o controle glicêmico melhora o prognós- mais profundos, bem como habilidade prática no manu-
tico, bem como diminui a mortalidade cardiovascular seio de tal medicamento, que se usado inadequadamen-
em até 30% [9]. te pode agravar e até mesmo comprometer a vida do
paciente.
Como insulinizar o paciente diabético tipo 2 Por isso recomendo concurso de um endocrinologis-
ta por ocasião de situações como as acima descritas.
Devemos iniciar o uso de insulina humana DNA re- Talvez esses motivos levem insegurança àqueles que
combinante – NPH – em doses pequenas - de início 10 não estão habituados a prescrever insulina, levando a
unidades à noite, ao deitar. Aumentar 2 unidades a cada um grande número de pacientes que deveriam estar re-
2 ou 3 dias até conseguir uma diminuição da glicemia cebendo insulina e mantidos em parâmetros de controle
de jejum dos dias seguintes, atingindo o máximo de 20 considerados ruins.
unidades. Acima desse valor passamos a usar uma dose O Estudo Multicêntrico do Ministério da Saúde, em
matinal, em jejum. um dos seus aspectos, mostra que 7,9% dos diabéticos
Para doses maiores que 30 unidades pela manhã, se tipo 2 recebem insulina no Brasil, enquanto sabemos que
não houver controle, poderá ser desmembrado em duas esse número deveria ser idealmente de 25%.
doses: Matinal e noturna.
Em muitos casos mantemos os antidiabéticos orais, A tabela 2 destaca os diferentes tipos de insulina e as
combinados, porém diminuindo sua quantidade. apresentações disponíveis no mercado.
É muito importante que se conheçam os parâmetros 1 - The Expert Committee on the diagnosis and classification of
bioquímicos e clínicos que se almeja e que são conside- Diabetes Mellitus .Report of the Expert Committee the
diagnosis and classification of Diabetes Mellitus Diabetes
rados na literatura mundial como de bom controle. Care 1997;20:1183.
Os dois grandes estudos prospectivos DCCT (Diabe- 2 - Alberti KGMM, Zimmet PZ, for the WHO Consultation.
tes Complications Control Trial 13) publicado em 1993 Definition, diagnosis and classification of Diabetes Mellitus
para o diabetes tipo 1 e UKPDS (United Kindon Pros- and its complications, Part 1, diagnosis and classification of
pective Diabetes Study 3), publicado em 1998 para o Diabetes Mellitus, provisional report of a who consultation,
Diabetic Med 1998;15:539-53.
diabetes tipo 2, demonstraram que o tratamento intensi- 3 - UK Prospective Diabetes Study Group, Intensive blood-glucose
vo e o conseqüente controle rigoroso de glicemia dimi- control with sulfonylureias or insulin compared with
nuem drasticamente as complicações tardias degenera- conventional treatment and risk of complications in patients
tivas do diabetes e também a morbi-mortalidade desta with type 2 diabetes: UKPDS 33, Lancet 1998;352:837-853.
doença. 4 - Fraige FF. Importância do controle da hiperglicemia pós
prandial. Diabetes Clínica 2000;04(1):40-49.
Portanto as metas a serem alcançadas no tratamento 5 - Consenso brasileiro sobre Diabetes. Diagnóstico e
do diabetes são, sem dúvida, aquelas próximas à norma- Classificação do Diabetes Mellitus e tratamento do diabetes
lidade dos parâmetros bioquímicos e clínicos. melittus Tipo 2 – Sociedade Brasileira de Diabetes – 2000.
6 - The Diabetes ready – Reference guide for health care
Tabela 3 - Resumo dos valores bioquímicos professionals. American Diabetes Association – 2000.
7 - De Fronzo RA. Pharmacologic therapy for type 2 Diabetes
Risco Risco Risco Melittus. Ann Intern Med 1999;131:281-303.
baixo arterial microvascular 8 - UK prospective Diabetes Study Group. Effect of intensive
HBA1C blood-glucose control with metformin on complications in
(% hemoglobina) ≤ 6,5 > 6,5 > 7,5 overweight patients with type 2 Diabetes: UKPDS34. Lancet
1998:352;854-865.
Glicose plasmática venosa 9 - Malmberg K. Prospective ramdomised study of intensive
De jejum/pré-prandial(mg/dl) < 110 ≤ 110 > 125 insulin treatment on long term survival after acute myocardial
Pós – prandial(mg/dl) < 135 ≤ 135 > 160 infarction in patientes with diabetes melittus. BMJ
1997;314:1512-5.
Pressão sangüínea (mm Hg) < 140/85 - - 10 - Avanços Terapêuticos, Diabetes Clínicas 2001;04:26.
HDL – Colesterol (mg/dl) > 46 39-46 < 39 11 - Avanços Terapêuticos, Diabetes Clínicas 2001;04:12.
LDL – Colesterol (mg/dl) < 115 115-155 > 155 12 - Atualização – American Diabetes Association, Diabetes
Triglicerídeos (mg/dl) < 150 150-200 > 200 Clínica 2000:04(6):431-438.
13 - DCCT Research group: The effect of intensive treatment of
O desconhecimento destes valores, a evolução assin- diabetes on the development and progression of long term
complications in IDDM . N England J Med 1993;329:977-86.
tomática do diabetes tipo 2, a “permissividade conveni-
ente” ao paciente e a profissionais, fazem com que a
maioria dos pacientes evolua e desenvolva complica-
ções tardias que comprometerão sua qualidade de vida
com graves danos à saúde.
ARTIGO ORIGINAL
Tese de Doutorado apresentada a Coordenação de Pós-Graduação do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de
Medicina
Resumo
Trata-se de um estudo de caso qualitativo sobre a representação, opinião e atitudes de sujeitos portadores de diabetes mellitus, servidores de
uma universidade pública, sobre seu autocuidado. Os objetivos traçados foram: identificar quais são os fatores das condições de trabalho que
interferem no autocuidado, analisar a influência do surgimento do diabetes mellitus na vida dos sujeitos e discutir e analisar a representação,
opinião e atitudes dos sujeitos sobre seu autocuidado. A coleta de dados deu-se entre os meses de julho a outubro de 1999, mediante a
realização de entrevista aberta, com 7 sujeitos, sem quatro homens e três mulheres, com idade entre 44 a 65 anos, com nível funcional de apoio
e médio, percebendo entre 2 a 10 salários mínimos. A organização dos dados e a revisão crítica sobre o tema subsidiaram a elaboração das
categorias autocuidado, saúde no trabalho e autocuidado, trabalho e gênero, que foram interpretadas pela técnica de análise temática, confor-
mando novas descobertas cuja compreensão contribui para a melhora da qualidade de vida e autocuidado dos sujeitos.
Abstract
This study is a qualitative case study on workers attitude, opinion an representation about Diabetes Mellitus (DM) self-care of a Federal
University. The following objectives are proposed: identify the impact of working conditions against self-care; analyze emergence of DM in
subjects’ lives; discuss and analyzing representations and subjects’ opinions about self-care, as well as their actions related to self-care. Its
objective is to contribute enhancement to subjects’ lives and their self-care through nursing care. Seven subjects have been interviewed, four
men and three women, aged 44 to 65, blue-collar workers, whose salaries were within two to ten minimum wages. As research techniques,
simple observation and open interviews were used, complemented by a field diary – as well as information found in their medical files. Data
collecting extended as far as July to October, 1999. Results were categorized as: self-care; health at work; and self-care, work and gender. This
study intends to contribute to the improvement of nursing assistance as concerned with self-care for diabetic patients.
Endereço para correspondência: Rita Batista Santos, Praia de Botafogo, 484/405, 22250-040 Rio de Janeiro RJ,
Tel: (21) 2293 8999, E-mail: ritabatistas@aol.com
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desses para prestar uma melhor atenção à sua saúde, pro- Foram escolhidos 7 entre os 34 sujeitos atendidos no
movendo o autocuidado. A promoção da saúde dos sujei- LADIS: quatro homens (Crisântemo, Lírio, Girassol e
tos do LADIS, realidade que apesar de ser similar a ou- Jasmim) e três mulheres (Camélia, Gardênia e Margari-
tras, é ao mesmo tempo distinta, pois possui interesse pró- da), com idade entre 44 a 66 anos, do nível médio e de
prio, singular, no que tem de particular, único, as repre- apoio que recebiam entre 2 a 10 salários mínimos. Fo-
sentações sobre o autocuidado desses sujeitos. O estudo ram escolhidos casos típicos (homens e mulheres que
de caso permitiu um amplo e detalhado interrogatório pertencem ao nível de apoio e médio, percebem entre 2
sobre o relato oral dos sujeitos a respeito da sua convi- a 10 salários mínimos e com mau controle do DM), ca-
vência com a DM e o seu trabalho, para elaborar catego- sos marginais (uma mulher que apesar de ser do nível de
rias de análise elucidativas ao estudo do tema. apoio recebe entre 5 a 10 salários mínimos e outra que é
Esse estudo de caso possuiu quatro fases: 1) A deli- do mesmo nível e recebe entre 2 a 5 salários mínimos) e
mitação do estudo ou unidade caso; 2) A coleta de da- um caso atípico, de um homem que está dentro das ca-
dos; 3) A análise e interpretação dos resultados; e 4) a racterísticas dos sujeitos da pesquisa e é bem controlado
elaboração do relatório final [14]. em relação ao DM.
A Divisão de Saúde do Trabalhador, local onde são Os nomes dos sujeitos são fictícios obedecendo à ga-
desenvolvidas as atividades do LADIS, é um subsistema rantia do anonimato e do sigilo das respostas, seguindo
da Sub-Reitoria de Pessoal e Serviços Gerais da Univer- orientação da Resolução 196 do Conselho Nacional de
sidade, e se compõe de três Seções: Seções de Perícias Saúde (1995) para pesquisa em seres humanos. Todos
Médicas (SEPEM), Seção de Programas Especiais (SEPE, freqüentam a consulta de enfermagem, portanto conhe-
onde se encontra o LADIS) e Seção de Saúde e Seguran- cidos pela pesquisadora, que reconhece a representati-
ça no Trabalho (SEST), contendo as linhas de planeja- vidade significativa das tendências favoráveis a discus-
mento, desenvolvimento, pesquisa e avaliação. são da problemática inicial de autocuidado referida pe-
Em julho de 1996 o LADIS iniciou-se como um pro- las enfermeiras da DVST. Designou-se o nome de flores
jeto de extensão sendo desenvolvido às quartas feiras de para apresentar os sujeitos, embora flores produzam néc-
13:00 às 16:00 horas, com o atendimento dos sujeitos tar, que é doce, e doce foi a restrição mais enfatizada
pela equipe multidisciplinar, composta por médico, en- pelos sujeitos do estudo.
fermeira, nutricionista, psicóloga e assistente social. A A coleta de dados deu-se entre os meses de julho a
partir dos registros do setor de arquivo da DVST, deli- outubro de 1999 e utilizou-se como técnica de pesquisa
mitou-se a unidade caso. para o trabalho de campo a observação simples e a entre-
vista aberta, usando o relato oral de vida, uma forma tópi-
Tabela I - Número e percentual de atendimentos do LADIS, por ca, menos ampla e livre de solicitar ao sujeito que aborde,
tipo de consulta, Rio de Janeiro, entre os anos de 1997, 1998 e de modo mais especial, aspectos do autocuidado, embora
1999.
dando ao mesmo total liberdade de exposição, de forma
1997 1998 1999
que o direcione ao tema ou tópico de interesse para o
ATENDIMENTO N % N % N %
Consulta Médica 6 22,0 30 30,0 98 49,0
estudo, numa tentativa de revelar o ambiente inatingível
Perícia Médica - - 20 20,0 68 34,0 dos acontecimentos que fazem parte da experiência desse
Licença médica 52 50,0 07 7,0 07 3,5 grupo social. Essas técnicas visam descobrir seu ponto
Palestra educativa - - 05 5,0 03 1,5 de vista e as suas motivações, enquanto sujeitos prota-
Consulta de Enfermagem 27 24,0 41 38,0 22 11,5 gonistas dos fatos sociais, porém excluídos na visão ofi-
Junta Médica - - - - 1 0,25
Consulta Odontológica - - - - 1 0,25
cial dos setores dominantes [15-17].
Serviço Social 4 4,0 - - - - Os dados foram complementados por um diário de
TOTAL 89 100 103 100 200 100 campo e pelas informações contidas no prontuário dos
sujeitos cadastrados no LADIS, assim como nos docu-
Segundo o relatório anual, o total de atendimentos na mentos técnicos (Normas Regulamentadoras de Segu-
DVST no ano de 1999, foi de 13.003. Desta forma o rança e Saúde no Trabalho do Ministério do Trabalho),
percentual de atendimento do LADIS, foi 1,53%. econômicos (o Regime Jurídico Único dos Servidores
Nota-se um aumento progressivo dos atendimentos Civis da União) e científicos (as fontes secundárias uti-
dos sujeitos pelos profissionais da equipe e uma conco- lizadas como respaldo teórico na análise, discussão e
mitante diminuição das licenças médicas, que se encon- interpretação dos dados).
tram estabilizadas. A interpretação dos dados mediante a Análise Temá-
Dos 75 sujeitos atendidos no LADIS, 24 realizam tica, como uma das técnicas de Análise de Conteúdo,
controle do DM em unidades de saúde externas. Destes foi subdividida na fase de Pré-Análise, que consistiu na
atendimentos, dez (10) foram para processos de aposen- escolha de documentos a serem analisados, na retomada
tadoria. Após investigação houve um caso em que não das questões norteadoras e dos objetivos iniciais do es-
se confirmou o diagnóstico de DM. tudo, reformulando-os frente ao material coletado, le-
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vantando questões sobre os problemas relativos ao tra- subcategorias foram elaboradas a partir da coleta de da-
balho e a saúde, a partir das categorias horizontais Au- dos, sendo mais específicas e concretas, visando a clas-
tocuidado, Saúde no Trabalho e Autocuidado, Trabalho sificação dos dados encontrados no trabalho de campo.
e Gênero, elaboradas das fontes secundárias, ou ancora- O conjunto de categorias foi estabelecido a partir um
gem sobre assistência de enfermagem na saúde do tra- único princípio de classificação, a relação entre prazer,
balhador de HAAG e colaboradores (1994), num esfor- sofrimento e autocuidado no trabalho. O princípio da
ço para detectar as relações existentes entre o sofrimen- exaustividade permitiu a inclusão das respostas dos su-
to, ou o prazer, as expressões positivas ou os silêncios jeitos numa das três grandes categorias teóricas gerais,
quanto a esta temática, e as características da organiza- temas elaborados na fase anterior ao trabalho de campo.
ção do trabalho, ancoradas nas idéias acerca do sofri- A observação do princípio da exclusão mutua ou de ex-
mento e prazer no trabalho de Dejours [8]. clusividade do conjunto de categorias, fez com que um
A aleatoriedade intercambiável da representativida- depoimento não aparecesse em mais de duas categorias.
de qualitativa dos sujeitos traduz a confiabilidade e va- Procurou-se designar as subcategorias com temas
lidação do estudo na medida em que os modelos cultu- concretamente ligados aos itens de seguimento das ori-
rais internalizados revelam-se na entrevista e possuem entações, bem como sinais e sintomas de descompensa-
um caráter histórico e específico das relações sociais. ção aguda e crônica do DM, na categoria Autocuidado,
Os depoimentos são colocados num contexto de classe, aos itens ligados as condições de risco ocupacional no
de pertinência a uma geração, a um sexo, para caracteri- trabalho, na categoria Saúde no trabalho, e as diferenças
zar a participação do sujeito no seu tempo histórico, nos de ações de autocuidado e de trabalho entre homens e
seus grupos sociais, informando uma subcultura, espe- mulheres na categoria Autocuidado, Gênero e Trabalho,
cífica e com relações diferenciadas com a cultura domi- obedecendo ao princípio de objetividade e fidelidade na
nante. A representatividade é garantida pela validade das classificação dos elementos das categorias [17,18,20].
informações coletadas, isto é, se os dados expressam A categoria Autocuidado destacou o não seguimento
autenticamente a visão do sujeito, com interferência das orientações da enfermeira e demais membros da equipe
mínima no processo de pesquisa. A noção de argumen- de saúde, na realização de exames e cuidados domicilia-
tação substitui a noção formal da lógica de demonstra- res e no trabalho (higiene pessoal, dos pés, cuidados com
ção dos métodos de pesquisa convencional. [9,17-19]. ferimento); e do regime terapêutico (plano dietético, uso
A generalização é denominada “naturalística”, envol- de antidiabético oral e auto-aplicação de insulina).
vendo conhecimento formal, impressões, sensações, in-
tuições, conhecimento tácito, das enfermeiras no âmbi- Tabela 2 - Número e percentual de subcategorias de autocuidado
to profissional ou acadêmico, para formar novas idéias, no trabalho entre os sujeitos portadores de diabetes mellitus do
Laboratório de Diabetes para os Servidores da UFRJ, Rio de
novos significados, novas compreensões, reconhecen- Janeiro, 1999.
do as bases comuns, permitindo uma maior solidez e
conhecimento do autocuidado dos sujeitos, apontando Subcategorias realizam/ não realizam/ total
para uma tendência a universalização no estudo desse presente ausente
objeto de investigação. Desse modo proporciona uma Exames domiciliares - 7 7
oportunidade única de ir além das aparências superfici- Alimentação 3 4 7
ais do dia a dia, de analisar teoricamente os fenômenos Medicação 4 3 7
Complicações agudas 5 2 7
sociais baseados no cotidiano dos sujeitos e numa apro- Complicações crônicas 5 2 7
ximação críticos das categorias e formas como se confi- Cuidados com os pés 3 4 7
gura essa experiência diária, condição sine qua non da Exercício físico 4 3 7
pesquisa qualitativa. A dificuldade de generalização é Utilização de EPI - 7 7
superada pelo conhecimento preciso das características
da população intencional dos sujeitos do estudo, com a Os sentimentos de impropriedade, insatisfação e es-
possibilidade de expansão ou generalização das novas banjamento em relação ao DM e ao autocuidado, confi-
descobertas e proposições teóricas a respeito do seu au- guraram uma subcategoria e foram representados pelos
tocuidado [9,14,17-19]. sinais de hiperglicemia (polidipsia, polifagia, insônia,
cansaço físico, fraqueza muscular, tontura, problemas
Analisando e discutindo os resultados ginecológicos, disfunção erétil e estresse), hipoglicemia
(fome súbita, desmaio, suor frio e abundante), glicosú-
As categorias teóricas Autocuidado, Saúde no traba- ria (poliúria, nictúria) e alimentação (os sujeitos que se-
lho e Autocuidado, Trabalho e Gênero foram elabora- guem as orientações, mas sentem-se insatisfeitos com a
das antes do trabalho de campo, ainda na fase explora- sugestão de cardápio no tocante a qualidade ou a quan-
tória da pesquisa, representando conceitos mais gerais e tidade dos alimentos e; os que não seguem a orientação
abstratos, a partir de uma fundamentação teórica. As alimentar).
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A fantasia insulino-pancreática foi outra subcatego- trabalho e o auto-cuidado entre homens e mulheres su-
ria representada por dúvidas e resistências ao uso da jeitos do estudo.
medicação (insulina e antidiabéticos orais). O conceito de gênero mostra que o feminino e o mas-
O sujeito portador de DM é um ser doente, que vive culino são construções sociais, constituídas por relações
uma vida diferente, cujos sintomas inserem-se numa to- simbólicas de poder, e desta forma abre espaço para tor-
talidade indivisível do seu comportamento. O silêncio nar visíveis as desigualdades existentes nas experiênci-
dos órgãos não equivale à ausência de doenças, lesões as entre homens e mulheres, modificando o olhar sobre
ou perturbações funcionais que são imperceptíveis para o mundo da saúde e do trabalho, possibilitando que no-
os sujeitos, cuja vida está em risco. Cuidar-se é difícil, vas questões sejam levantadas e que multiplicidades e
porque significa se poupar, diante de uma série de exi- diferenças sejam percebidas.
gências, que geralmente não fazem sentido para as pres- O homem é sempre levado a associar a saúde à virili-
crições médicas [5,6,21-23]. dade, portanto ir ao médico pode representar uma dimi-
As medidas de autocuidado adotadas pelos sujeitos nuição do seu papel masculino, levando-o a não valori-
foram os exames laboratoriais, o uso de chás e remédios zar a realização de exames periódicos para o controle de
caseiros e religião. Essas medidas denotam a influência sua saúde e autocuidado. Houve queixa de dependência
do modelo exógeno de explicação das formas elementa- de álcool por dois sujeitos interpretados como uma re-
res da doença, em que não se percebe nenhum agente presentação da virilidade, além de uma ideologia defen-
patogênico, propriamente dito, ou que não tem localiza- siva da vergonha. O alcoolismo corresponde a uma fuga
ção precisa como o DM, onde por não poder se assinalar em direção a uma decadência mais rápida e a um desti-
a responsabilidade causal da doença, ela só pode ser no mental e somático particularmente grave. É uma ide-
apreendida como sua complicação, a conseqüência ana- ologia defensiva funcional, que tem o objetivo de mas-
tômica de uma disfunção fisiológica preexistente [5]. carar, conter, ocultar uma ansiedade particularmente gra-
Na Saúde no Trabalho emergiu a subcategoria de iden- ve. A explicação da resistência ao sofrimento dos sujei-
tidade negada na relação entre o trabalho, o DM e o au- tos em relação aos atributos do trabalho masculino, pas-
tocuidado, representadas: pela não realização do exercí- sa pelo sentimento de vergonha do homem ficar doente,
cio físico (substituído pelo gasto energético da jornada ou não dar conta do trabalho, onde a virilidade é a repre-
de trabalho dentro e fora de casa); pelo desconhecimen- sentação de uma reticência de falar do DM, do autocui-
to do risco de complicações crônicas, cuidados com os dado e do sofrimento no trabalho.
pés; pela não utilização de Equipamento de Proteção A representação da ideologia da vergonha, uma ide-
Individual (EPI´s); não reconhecimento da existência de ologia defensiva coletiva, explica a atitude da mulher da
riscos ocupacionais no trabalho (incluindo o desloca- classe popular, que não se permite ficar doente por cau-
mento casa-trabalho-casa, instalações físicas, elétricas sa dos filhos, representando uma carga de trabalho e
e hidráulicas, condições de higiene no posto de trabalho angústia maiores, pois não se trata de evitar a doença,
para a realização do autocuidado; não associação do tra- mas de domesticá-la, contê-la, controlá-la, viver com ela.
balho com doenças ocupacionais e estratégias defensi- Portanto para que uma doença seja reconhecida, é ne-
vas (uso do álcool, dores em MMII, problemas visuais, cessário exprimir sintomas muito evidentes para serem
ginecológicos e disfunção erétil) e conseqüente descum- escondidos, como no caso do prurido vaginal, ou dor
primento do autocuidado. abdominal a atividade profissional das mulheres sujei-
Na relação entre o prazer e o sofrimento, observa-se tos do estudo [8,24].
a ética do trabalho na construção social da doença. É Os homens queixaram-se de problemas músculo-es-
dotado de conteúdo, significado, descrição e interpreta- queléticos decorrentes de sua condição de saúde e de
ção, que apontam como conseqüências práticas as inter- seu trabalho, como dores e cansaço em membros inferi-
venções no funcionamento psíquico frente à organiza- ores, além de disfunção erétil e impotência funcional no
ção do trabalho, para transformá-la. Pode-se identificar dedo mínimo da mão esquerda.
traços da saúde mental e social nos sujeitos que desen- O autocuidado é uma ação deliberada do sujeito, mas
volvem comportamentos estereotipados exigidos pelo que é realizada por outra pessoa, nos casos estudados,
trabalho, fontes de sofrimento, cujos efeitos se manifes- por uma figura feminina, tanto em casa quanto no traba-
tam por irritabilidade e fadiga, tornando suas vidas e o lho. A relação entre escolaridade, nível funcional, fun-
autocuidado deficientes [8]. ção e remuneração é melhor para os homens que para as
A categoria Autocuidado, trabalho e gênero configu- mulheres. Apesar de não possuírem segundo grau com-
rou o feminino e o masculino como formas de auto-cui- pleto, os homens sujeitos do estudo possuem funções
dado, a hierarquia do masculino no trabalho, atributos consideradas mais duras e perigosas (contra mestre de
femininos e atributos masculinos no auto-cuidado e no ofício, servente de obras, técnico de laboratório e im-
trabalho, exposição aos riscos ocupacionais e o gênero pressor de Off set), logo possuem melhor remuneração.
no auto-cuidado e no trabalho e a múltipla jornada de A mulher tem maior capacidade de adaptação a qual-
199 Santos RB / Diabetes Clínica 03 (2001) 194~200
quer situação, levando a crer que as tarefas desempe- O acolhimento oferecido pelos profissionais da equi-
nhadas são simples, naturalmente inferior, bastando ser pe que compõem o LADIS contribuiu para a humaniza-
mulher para executá-las, um mito construído sobre a ção, amenizando a ansiedade e o estresse cotidiano. Isso
natureza feminina, com as quais as mulheres se identifi- auxiliou na tomada de decisões para o autocuidado, evi-
cam para garantir a sobrevivência. Todas devem ser dó- tando atropelos em relação à condução de suas vidas
ceis, minuciosas, disponíveis para desempenhar a tarefa como portadores dessa condição crônica.
de auxiliar de biblioteca (Margarida) e de servente de Encorajar busca de orientação, desejo de melhorar
limpeza (Gardênia e Camélia) uma regra de aceitação conhecimentos sobre os determinantes sociais da doen-
do papel sexual assumido pelas mulheres [24]. ça, auto-estima e autonomia é fundamental nesse pro-
As mulheres relataram sintomas como dor no estô- cesso de tomada de consciência sobre os direitos do su-
mago, boca seca, cansaço físico, prurido vaginal e acui- jeito à saúde.
dade visual diminuída. A venda de comidas caseiras, a O autocuidado para os sujeitos e para os profissio-
lavagem e passagem de roupas, as faxinas, fazem parte nais da equipe de saúde do LADIS tem um significado
da jornada múltipla enfrentada pelas mulheres. mais amplo e se refere a uma variedade de atividade
Os resultados demonstram que ambos, homens e relacionada com uma alternativa para satisfazer as ne-
mulheres, sujeitos do estudo logram um pobre controle cessidades individuais de saúde: uma primeira fonte de
glicêmico. As suas experiências de vida e trabalho re- atenção à saúde dos sujeitos que aliada à formulação de
fletem negativamente em seu cotidiano de autocuidado políticas de saúde de baixo custo, pode levar a aumentar
e estado geral de saúde, acarretando-lhes problemas fí- a motivação, a aderência, e melhorar o controle do su-
sicos e psíquicos. Os modos de autocuidado dos sujei- jeito sobre a sua saúde, doença e tratamento, principal-
tos são determinados pela manifestação dos vários me- mente no caso de doença crônica, como o DM.
canismos de sexualidade, em que seu corpo, seus praze- As estratégias de educação para o autocuidado de-
res e seus saberes afloram, como uma possibilidade de vem privilegiar o aspecto emocional e intelectual do
resistência às captações do poder do exercido sobre os sujeito, tendo em vista a sua dinâmica psicossomática.
mesmos pelas orientações para a sua saúde e autocuida- Nesse sentido, a abordagem clínica psicossomática se
do, provenientes de uma hegemonia de saberes e práticas cruza com a visão historicizada de Vigotski [12], para
dominantes em relação a estes temas, sobre as quais exer- promover a educação para o autocuidado dos sujeitos.
cem um poder, mesmo que inconsciente e negado [25]. A técnica de formação de grupos educativos é uma
opção mais adequada, entretanto a abordagem individu-
Considerações finais al é essencial e deve centrar-se na relação entre a enfer-
meira e o sujeito para melhor interação, comunicação e
O DM é uma síndrome de evolução crônica, cujo tra- compreensão do processo educativo para o autocuida-
tamento implica em mudanças importantes no estilo de do. Os sentimentos, as reações, as habilidades para ela-
vida do sujeito, atingindo seu ambiente familiar e de tra- boração do autocuidado devem ser trabalhados. A parti-
balho. Evidenciou-se a desinformação dos sujeitos so- cipação da equipe multiprofissional faz-se mister, abrindo
bre o DM, desconhecimento da sua verdadeira dimen- um leque de possibilidades de comunicação e interação,
são em termos de risco agudo e crônico, tornando a do- baseado na identificação do sujeito com esse ou aquele
ença um problema de saúde em expansão no LADIS. profissional, ou tema. O processo de aprendizagem deve
Os fatos vivenciados e valorizados nos depoimentos ser colaborativo, cooperativo e evolutivo, na medida em
identificam as percepções e sentimentos que marcam ou que os sujeitos dominam formas alternativas de auto-
marcaram a experiência nas suas trajetórias de vida. cuidado, mais capazes de modificar seu perfil de saúde.
O estudo aponta o DM como doença de adaptação, É um processo compartilhado, livre e aberto, assim como
eqüivalando-a aos fenômenos do estresse crônico e pro- é sua avaliação. Portanto prevê a sua participação vo-
longado. E conseqüentemente as doenças psicossomáti- luntária e consentida em todo o processo, acompanhan-
cas, que contribuem para a mortalidade de grupos de do e verificando sua mudança.
sujeitos adultos e idosos, ligando sua capacidade de au-
tocuidado à integração de sua personalidade. Referências
A implementação do LADIS se baseia no fortaleci-
mento do relacionamento interpessoal entre os profissi- 1. Canadá. Health Promotion and Programs Branch, Health
onais que o compõem e os sujeitos. As diretrizes dessa Canada. Supporting self-care: the contribution of nurses and
physicians. Minister of Public works and Government
implementação têm sido a solidariedade, em que os pro- Services Canada, 1977, 126 p.
fissionais são mobilizados pela compreensão dos pro- 2. Pontifícia Universidade Católica de Chile. Escuela de
blemas e limitações dos sujeitos e pela valorização e Enfermeria. Oficina de Promoción de Salud y autocuidado.
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des porventura surgidas no autocuidado. saúde para o autocuidado em salud - EPAS. Sum. Per. Enf.
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12. Vigotski LS. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Janeiro: FIOCRUZ, 1999. 179 p.
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201 Toniolo Neto J / Diabetes Clínica 03 (2001) 201~202 Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas
ATUALIZAÇÃO
*Professor Assistente da Disciplina de Geriatria da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina
A diabetes atinge cerca de 7,6% da população maior pneumonias, meningites, otites, sinusites, bacteremia) e
de 30 anos no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de mortes, principalmente em crianças, adultos com doen-
Diabetes [1]. Esta enfermidade por si só pode levar a ça crônica e idosos no mundo inteiro [7]. São cerca de
complicações importantes, como cardiopatias, acidente 3.000 casos de meningite, 50.000 casos de bacteremia,
vascular cerebral, hipertensão arterial, cegueira, doença 500.000 casos de pneumonia e 7 milhões de casos de
renal, doenças do Sistema Nervoso Central, cetoacido- otite média e sinusite causados pelo pneumococo por
se, entre outras [2]. Quadros infecciosos, como gripes e ano nos EUA [7]. As infecções pneumocócicas causam
infecções bacterianas, descompensam o quadro do dia- cerca de 40.000 óbitos por ano nos EUA, somando mais
bético e aumentam o risco de complicações, significan- mortes do que qualquer outra doença bacteriana imuno-
do muitas vezes risco iminente de vida [2,3]. O paciente prevenível, sendo que aproximadamente 50% destes
diabético possui 3 vezes maior risco de morte em decor- óbitos poderiam ser evitados eficazmente pela vacina-
rência de gripe e pneumonia que um indivíduo hígido ção [7].
[3]. Calcula-se que anualmente 10.000 a 30.000 diabéti- Por isso, a vacinação contra influenza e a vacinação
cos morram em decorrência de complicações causadas antipneumocócica são oficialmente recomendadas para
por uma gripe ou por uma pneumonia nos EUA [3]. os diabéticos, uma vez que são o método primário o mais
A gripe é uma doença freqüente que atinge 10% a efetivo de prevenção contra estas infecções freqüentes e
20% da população mundial por ano e cuja taxa de hos- potencialmente graves, constituindo-se uma importante
pitalização por complicação cardiopulmonar chega a arma de saúde pública na redução da morbidade e da
13% durante o inverno [4]. Entre crianças de até 4 anos mortalidade da gripe e da pneumonia [5,7,8].
de idade portadoras de alguma patologia de base, a taxa A vacinação contra influenza deve ser realizada anu-
de mortalidade associada à gripe é de 500 óbitos para almente, enquanto a vacinação contra o pneumococo é
cada 100.000 habitantes [5]. Para crianças de 5 a 14 anos, feita a cada 5 anos. Em termos gerais a eficácia da vaci-
essa taxa é de 200 para 100.000 habitantes [5]. Em adul- na contra gripe varia de 70% a 90% para prevenir a in-
tos, a taxa é de cerca de 600 mortes para cada 100.000 fecção pelo vírus influenza, chegando a 70% para pre-
habitantes, podendo chegar a 870 para cada 100.000 venir hospitalização e pneumonia associada à gripe e
quando os indivíduos possuem mais de um único fator 80% para prevenir óbitos em decorrência da infecção
de risco [6]. [5,9]. A vacina antipneumocócica polissacarídica 23-
O Streptococcus pneumoniae ou pneumococo, por sua valente possui eficácia que varia de 60% a 80% para
vez, é responsável por doenças invasivas (entre as quais prevenir infecções causadas pelos 23 diferentes soroti-
Avaliação do pé diabético
Preencha com S ou N para indicar ocorrências nos pés direito ou esquerdo.
D E
- Existe um histórico de ulceração do pé? _____ _____
- O pé apresenta uma forma anormal? _____ _____
- Existe uma deformação dos dedos? _____ _____
- As unhas são grossas ou encravadas? _____ _____
- Existem calos? _____ _____
- Existe inchaço? _____ _____
- O paciente apresenta uma elevação da temperatura da pele? _____ _____
- Existe uma fraqueza muscular? _____ _____
- O paciente pode examinar a planta de seus pés? _____ _____
- O paciente usa sapatos adequados para sua categoria? _____ _____
Pé Direito Pé Esquerdo
Avaliação do pé diabético
Formação da ulceração
A largura interna do calçado dever ser igual a
por estresse repetitivo.
largura do pé.
1 Formação do calo.
2 Hemorragia subcutânea.
3 Abertura da pele.
Pressão interdigital
Diabetes Clínica 03 (2001) 205
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Dr. Luis Antônio Cherubini Carvalho Psiquiatria dinâmica: um suporte para o paciente Genética do diabetes tipo Mody
Diagnóstico e tratamento das principais lesões orais diabético Dr. André Fernandes Reis
do diabetes mellitus Dr. Elko P. Perissinotti 14:00h às 18h:00 - Sala 531
Drª. Karem Lopez Ortega Aspectos sócio-psico-somáticos de uma amostra de
Avaliação clínica do paciente diabético: Anamne- pacientes diabéticos tipo 2 Simpósio Nº 38 - Complicações odontológicas
se e exames complementares Importantes em Dia- Profª. Dra. Psic. Maria Geralda V. Heleno Drª. Ana Míriam Gebara Carboni
betes Mellitus O diabético e seu corpo Doença periodontal :Avaliação e tratamento
Dr. Walmyr Ribeiro Mello Terapeuta Corporal Meireluci Costa Ribeiro Dra. Erica K. J. Miglionati
Infecção e medicação - Focos agudos e crônicos Terapia adaptativa da criança diabética Ortopedia e ortodontia em D.M.
odontológicos em diabetes mellitus Psic. Maristela Bittar C. Cancellieri Dr. Luis Carlos Arias Araújo
Prof. Dr. Jayro Guimarães Júnior Atuação do psicólogo hospitalar Cirurgia e implantes em D.M.
Psic. Terezinha Marin Di Biaggi Dr. João Miguel Falqueiro
Urgência e emergências do paciente diabético
Drª. Ana Míriam Gebara Carboni
208
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A revista Diabetes Clínica é uma publicação com peri- wer-Point, Excel, etc.
odicidade bimestral e está aberta para a publicação e divul- Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
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cações, que versem sobre investigação, clínica, diagnósti- Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
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teriormente. rém relacionados à linha editorial da revista.
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nas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) ta- blicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes
manho 12, com todas as formatações de texto, tais como de se publicar a carta.
negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as espe-
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato cificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou
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Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas
(formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Po-
209
Diabetes Clínica
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Diabetes Clínica 03 (2001) 211
Calendário de Eventos
Julho de 2001 Setembro de 2001
6 a 10 de julho 9 a 13 de setembro
Local Organising Committee of The Pediatric Endocrinology 37th Annual Meeting European Association for the Study of
2001 Diabetes
Montreal, Quebec, Canadá. EASD 2001
Tel: (514) 398 3770 Glasgow, Escócia
E-mail: pedendo@ums1.lan.mcgill.ca Informações: Concorde Services Ltd
Site: www.med.mcgill.ca/pedendo $b, 50, Speirs Wharf, Port Dundas
Glasgow, G4 9TB UK
7 a 9 de julho Tel +44 141 331 0123
6o Congresso brasileiro multiprofissional em diabetes E-mail: easd@concorde-uk.com
6a Exposição nacional de produtos e alimentos para o diabético
Fundacão Álvares Penteado, Av Liberdade, 532
São Paulo, SP Outubro de 2001
Informações: ANAD
Tel: (11) 5572-6559 3 a 6 de outubro
www.anad.org.br Avanços no diagnóstico e terapêutica das doenças
neuroendócrinas
Hospital Brigadeiro, São Paulo SP
Agosto de 2001 Informações: Serviço de Endocrinologia Hospital Brigadeiro
Tel: (11) 3846-3272/3846-3273 Sra Marilene
4 de agosto E-mail: acukiert@uol.com.br
Jornada Bahiana de Endocrinologia do Hospital Roberto
Santos 4 a 6 de outubro
Salvador, BA IIo Congresso Internacional de Nutrição, Alimentação e
Informações: Associação Bahiana de medicina Tecnologia - CINAT
Tel/fax: (71) 331 9666 Centro de Convenções São Camilo, São Paulo SP
E-mail: st-eventos@terra.com.br Informações: SINESP (11) 3277-8422/8291, 278 7144
www.sindicatonutricionistas.com.br
16 a 19 de agosto
IXo Congresso brasileiro de obesidade
Hotel Bourbon, Foz de Iguaçu, PR Diabetes Club
Organização: ABESO
Todas as 2as quarta-feira de cada mês
Informações: (41) 342 7175
www.abeso.org.br Auditório Vivali Editora
Rua Cotoxó, 841
23 a 25 de agosto Sumaré – São Paulo SP
VIo Congresso Brasileiro de Nutrologia Tel: (11) 3672-2033 / 3864-6852
IIIo Fórun de nutrição
IIa Conferência sobre obesidade Organização: Prof. Dr. Daniel Giannella Neto
Centro de convenções Rebouças, São Paulo, SP Equipe Médica de Diabetes LIM-25/HCFMUSP
Informações: Associação brasileira de nutrição Av.Dr. Arnaldo, 455, sala 4305
Tel: (17) 523-9732 01246-903 São Paulo SP
Fax: (17) 523-3645
Tel/fax: (11)3066-7467
E-mail: abran-so@zaz.com.br
Confirmar presença pelo e-mail:
dag@lim25.fm.usp.br
As aulas podem ser assistidas em sua integra no
endereço:
www.topmedical.com.br/diabetes club/index.htm
212 Diabetes Clínica 03 (2001)
7 a 10 de outubro
Clinical Endocrinology Update 2001 Maio de 2002
Fairmont Hotel, Chicago, Illinois, EUA
Informações: The Endocrine Society 4 a 7 de maio
Tel: 1 (301) 941 0226 5th International Diabetes Federation Western Pacific Region
www.endo-society.org/scimeetings/ceu.cfm Congress
Pequim, China
10 a 14 de outubro
XIIIo Congresso brasileiro de diabetes
Informacões +86 10 6527-8803
Hotel Intercontinental, Rio de Janeiro, RJ Fax +86 10 6512-3754
Informações: JZCongressos E-mail: ldwpr@chinamed.com.cn
Tel: (21) 286-2846/537-9134
E-mail: mail@jz.com.br
Junho de 2002
21 a 24 de outubro
XIVo Congresso brasileiro de nutrição parenteral e enteral 14 a 18 de junho
VIIo Congresso latino americano de nutrição parenteral e 62th Annual Scientific Sessions of the American Diabetes
enteral Association
IIo Congresso brasileiro de nutrição clínica San Francisco, California
Salvador, BA Informacões: www.diabetes.org
Informações: Eventus System
Tel: (71) 264-3477 Fax: (71) 264-0508
E-mail: eventus@cpunet.com.br Agosto de 2002
25 a 27 de outubro 24 a 29 de agosto
IIo Congresso Internacional de metabolismo ósseo e mineral 9th International Congress on Obesity
Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Rio de Janeiro RJ São Paulo, SP
Informações: Tempo Eventos Assessoria Informações: Abeso
Tel/Fax: (21) 2235-0997 Tel: (11) 3079-2298
E-mail: tempoeventos@uol.com.br Fax: (11) 3079-4232
15 a 18 de novembro
XIIIo Curso nacional de atualização em endocrinologia e Fevereiro de 2003
metabologia
Gramado, RS 3th International Symposium on Diabetes & Pregnancy
Organizacão: SBEM regional RS Geneva, Switzerland
www.vjs.com.br Informações: PO Box 50006 Tel Aviv 61500 Israel
Tel: (51) 330 1134 Tel 972 3 514 0014
E-mail: vjs@vjs.com.br E-mail: conventions@kenes.com
Índice
(vol. 5 nº 4 - 2001)
EDITORIAL
Bem-vindo ao XIIIo Congresso Brasileiro de Diabetes no Rio de Janeiro,
Marília de Brito Gomes .................................................................................................................................. 215
PRODUTOS E NOVIDADES
One Touch Basic Plus (Lifescan), InDuo (Novo Nordisk), massa de soja Soj & Tal (Beijing Brasil) .......... 247
ARTIGOS CIENTÍFICOS
Protegendo o endotélio vascular de pacientes diabéticos com aspirina – Parte 1,
Freddy Goldberg Eliaschewitz, Ana Carla Goldberg, Christiani Adão Poço ............................................... 263
Proposta de pirâmide alimentar para o diabético, Celeste Elvira Viggiano ................................................... 278
FICHAS PRÁTICAS
A resistência à insulina ................................................................................................................................... 281
Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúr-
bios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o
conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas.
Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico, o conselho consultivo e profissionais de
reconhecido saber na área. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relativas à
diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma maneira
rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes.
EDITORIAL
Em apoio ao XIIIo Congresso Brasileiro de Diabetes da SBD, que se realizará na cidade de Rio de Janeiro, convidamos a presidente do
Congresso, Profa. Dra. Marília Gomes de Brito, para escrever o editorial deste número de Diabetes Clínica – Fadlo Fraige Filho
Continuação disso, o tratamento parece ser boa opção para os pacientes com doença vas-
cular e impossibilidade de revascularização por doença sistêmica grave ou
ausência de circulação viável no pé.
Trevor Orcard et al., Diabetes Care, Novos objetivos de pressão sanguínea e colesterol propostos para
junho de 2001 o diabetes de tipo 1
Deise L. Faustman et al., Journal of Restauração da função da célula β em modelo de diabetes de tipo 1
Clinical Investigation 2001;108:63-72.
Estudos sobre o diabetes auto-imune em modelo de rato mostraram que a
auto-imunidade dirigida à célula β pode ser revertida e a função da ilhota
pancreática restaurada, segundo a pesquisa realizada pela Dra. Denise L. Faust-
man, Harvard Medical School. Ratos diabéticos foram tratados com o adju-
vante completa de Freund (CFA) para induzir a expressão do fator de necrose
tumoral TNF-α. O objetivo era de eliminar as células T auto-reativas.
Muitos pacientes diagnosticados como portadores de diabetes de tipo 1
continuem produzir auto-anticorpos durante anos, embora que o tecido já
desapareceu. A hipótese é que o pâncreas do diabético está tentando se rege-
nerar, mas com o sistema imune errado. Os pesquisadores observaram, após
o apoptose das células T auto-reativas induzido pelo TNF-α, a reaparição de
uma função endógena celular β nas ilhotas pancreáticas. Os pesquisadores
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2001) 219
Continuação aplicaram células esplênicas de doadores aos ratos para “reeducar” as células
imunes aos próprios antígenos e impedir a destruição das células regeneradas
de ilhotas.
Esta reeducação resultou no estabelecimento de uma tolerância a longo
prazo, como demonstrado pela eliminação da hiperglicemia e da insulite.
Segundo os pesquisadores, estudos em pacientes portadores de diabetes de
tipo 1 serão possíveis no final de 2002.
Greg Arsenis et al., 83rd Annual Baixa dieta em proteínas animais melhora a glicose sanguínea
Meeting of the Endocrine Society, em pacientes diabéticos de tipo 2
Denver, Colorado,
21 e 22 de junho de 2001 Os pacientes diabéticos de tipo 2 que diminuem a ingestão de proteína
animal e de açúcar podem melhorar significativamente o perfil lipídico e
diminuir os níveis de HbA1c. Os pesquisadores observaram 51 pacientes
portadores de diabetes de tipo 2 que não foram bem tratados por doses de
hipoglicemiantes orais e/ou insulina. A ingestão de proteína animal foi redu-
zida de 2 a 3 vezes ao dia para 1 vez cada dois dias durante 6 meses, substitu-
indo-as por quantidades equivalentes de proteína vegetal. Os açucares foram
eliminados, mas a dieta calórica ficou estável para prevenir a perda de peso.
Dentre os 31 pacientes que permaneceram na dieta, o valor do HbA1c
diminuiu significativamente em 30% (de uma média de 10 para 7%). O co-
lesterol total diminuiu em 30%, as triglicérides em 60%; o LDL colesterol
diminui em 35% e o HDL colesterol aumentou em 10%. Dentre os 20 pacien-
tes que não observaram a dieta, 6 fizeram uma dieta de baixa caloria e perde-
ram peso, e 14 escolheram trocar a carne vermelha para peixe, mas o perfil
lipídico não melhorou.
Três dos pacientes que fizeram a dieta prescrita diminuíram a dose de in-
sulina em 50%, 2 pacientes interromperam a insulina, 4 pacientes pararam os
hipoglicemiantes orais e 6 interromperam um ou dois remédios hipolipemi-
antes. Segundo o Dr. Arsenis, a proteína animal contém aminoácidos essen-
ciais que estimulam a secreção de insulina pancreática. O aumento da insuli-
na aumenta os níveis de adrenalina, o que pode induzir a resistência à insuli-
na, segundo ele. O Dr Arsenis sugere que este tipo de dieta pode ajudar em
prevenir a desenvolvimento do diabetes de tipo 2
83rd Annual Meeting of the Endocrine Exercício melhora a saúde física e mental em pacientes
Society, Denver, Colorado, portadores de diabetes, câncer da mama, tal como em adultos
21 e 22 de junho de 2001 saudáveis
Bryce A Mander et al., 61st annual A falta de sono pode aumentar o risco de diabetes de tipo 2
scientific sessions of the American
Diabetes Association, Philadelphia, A falta crônica de sono pode ser responsável de problemas sérios, segundo
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 esse estudo da Universidade de Chicago. As pessoas que não dormem o sufi-
ciente e regularmente podem ser menos sensíveis à insulina. De fato, a dimi-
nuição crônica de sono – 6,5 horas ou menos por noite – tem o mesmo efeito
sobre a resistência à insulina do que a idade, segundo os pesquisadores: como
a dieta ruim, o estilo de vida sedentária, o estresse crônico e idade, a falta de
sono é um fator de risco.
No estudo, adultos saudáveis com tempo de sono médio de 316 minutos per
noite – 5,2 horas – durante 8 noites consecutivas secretaram 50% mais insulina
do que os que tinham um tempo de sono de 477 minutos, seja 8 horas. Como
resultado, os pequenos dormidores são 40% menos sensíveis à insulina.
O estudo sugere que a privação de sono, que é comum hoje nos países
desenvolvidos, pode ter um papel na atual epidemia de diabetes de tipo 2.
Existe uma diminuição constante do número de horas de sono do Americano:
em 1975, cada Americano dormia 7,5 horas, contra 9 horas em 1910. Hoje, o
tempo de sono do adulto é de 7 horas/noite.
Thomas P. Erlinger et al., 61st annual A hiperglicemia pós-prandial é comum em portadores de diabetes
scientific sessions of the American
Diabetes Association, Philadelphia, A hiperglicemia pós-prandial é comum em adultos portadores de diabetes,
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 mesmo quando o controle glicêmico é bom e com uso de sulfoniluréias. O
estudo analisou os dados do Third National Health and Nutrition Examination
Survey (NHANES III) de adultos entre 40 e 74 anos portadores de diabetes sem
uso de insulina. Todos os participantes fizeram um teste de tolerância à glicose
oral. O estudo, efetuado de 1988 até 1994, incluiu 1614 pacientes com diabetes
anteriormente diagnosticado. A hiperglicemia pós-prandial era presente em 74%
dos casos. Presente em quase todos os casos de diabéticos adultos (99%) com
224 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2001)
Copenhague, Dinamarca, Estudos mostram que NovoNorm é seguro para pacientes com
3 de abril de 2001 diabetes tipo 2 e insuficiência renal
AMK Hansen et al., 61st annual Estudo mostra que repaglinida tem único mecanismo de ação
scientific sessions of the American
Diabetes Association, Philadelphia, Um novo estudo in vitro mostra que a repaglinida estimula a secreção de
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 insulina pelo pâncreas através um mecanismo diferente do que o utilizado pela
nateglinida ou tolbutamida. Este estudo sugere que nateglinida e tolbutamida
agem sobre o mesmo lugar do receptor de sulfoniluréia nas células pancreáti-
cas, mas a repaglinida age em um lugar diferente do receptor, segundo o Prof.
226 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2001)
U.S. Department of Health and Human Dieta e exercício reduzem drasticamente o risco de desenvolver o
Services, 8 de agosto de 2001 diabetes de tipo 2
61st annual scientific sessions of the Nacional Institutes of Health (NIH) lança estudo para investigar
American Diabetes Association, os efeitos a longo prazo da perda de peso e do exercício em
Philadelphia, Pennsylvania, diabetes de tipo 2
22-26 de junho de 2001
Durante o Congresso da American Diabetes Association, foi anunciado o
lançamento do primeiro estudo a longo prazo para investigar os efeitos da
perda de peso em pacientes portadores de diabetes tipo 2. Este estudo clínico
multicêntrico, randomizado, investigará os efeitos de um programa de inter-
venção sobre o estilo de vida, desenhado para promover a perda de peso
através da diminuição da ingestão calórica e o exercício regular em aproxi-
madamente 5.000 voluntários. Este estudo, chamado Look AHEAD (Action
for Health in Diabetes) observará como as intervenções sobre o estilo de vida
alteram os acidentes cardíacos, os acidentes vasculares cerebrais e as mortes
ligadas a doenças cardiovasculares em pacientes diabéticos de tipo 2 – a do-
ença a mais afetada pelo sobrepeso e obesidade.
Os participantes qualificados para o Look AHEAD serão randomizados para
participar no programa Estilo de vida ou no programa de educação e suporte ao
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2001) 229
Jay Skyler et al., 61st Annual Scientific Baixas doses de insulina não ajuda para a prevenção do
Sessions of the American Diabetes desenvolvimento do diabetes de tipo 1
Association, Philadelphia,
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 Um grande e esperado estudo sobre a prevenção do diabetes tipo 1 termi-
nou com resultados pouco animadores: baixas doses de insulina não servem
para adiar o desenvolvimento do diabetes de tipo 1, segundo o Prof. Dr Jay
Skyler, que acrescentou que isso não significa que outras terapias baseadas
em insulina não funcionam. A insulina em outras apresentações ou em gru-
pos diferentes de pacientes poderia talvez mostrar efeitos diferentes.
A equipe e um grupo internacional de pesquisadores rastrearam 89.000
parentes de pacientes portadores de diabetes de tipo 1. Sabe se que as liga-
ções sanguíneas aumentam o risco de doença em 10 ou 20 vezes em compa-
ração com a população geral. Foram isoladas 340 pessoas correspondendo
aos critérios científicos do estudo, que usou testes de anticorpos para deter-
minar que os participantes – sem tratamento – tinham um risco de 50% de
apresentar a doença em um prazo de 5 anos.
A metade dos participantes foi randomizada para receber uma aplicação
de insulina (mais ou menos um terço da dose normal), duas vezes/dia, e, uma
vez por ano, um tratamento continuo intravenoso de insulina, durante 4 dias.
O outro grupo não recebeu nenhum tratamento de insulina mas foi clinica-
mente controlado durante o período do estudo.
Depois de 5 anos, os pesquisadores acharam que 60% das pessoas do grupo
insulina desenvolveram diabetes, o que é uma taxa similar a do grupo controle.
Apesar dos resultados negativos, os pesquisadores explicam que eles en-
contraram novas informações sobre a segurança da insulina: “A insulina nas
doses que usamos pode ser administrada sem risco de desenvolver diabetes
de tipo 1”, disse Skyler para responder a objeção que administrar insulina a
pessoas que não têm diabetes pode induzir hipoglicemia e distúrbios cogniti-
vos. Não existe evidência de tais distúrbios.
“É só um passo na boa direção”, disse Len Harrison, do Autoimmunity
and Transplantation Division of the Walter and Eliza Hall Institute of Medi-
cal Research at the Royal Melbourne Hospital na Australia. Ele disse que
existem outras pesquisas, tais como os transplantes de células troncos ou a
destruição de células T, para prevenir ou adiar o diabetes de tipo 1 em indiví-
duos de alto risco. Estudos começaram sobre fatores do meio-ambiente, como
vírus, que poderiam disparar a doença em indivíduos com risco genético. O
otimismo fica elevado para o futuro da prevenção do diabetes de tipo 1.
Diabetes Clínica 04 (2001) 231
O Diabetes na Imprensa
A epidemia de diabetes
Istoé, 9 de julho de 2001 (...) Nos Estados Unidos, o custo do tratamento do diabetes, tanto no setor
público quanto no privado, gira em torno de assombrosos US$ 98 bilhões.
No Brasil, um estudo feito no Hospital Universitário da Universidade Fede-
ral do Rio de Janeiro (UFRJ) revelou que cuidar do diabetes é três vezes mais
caro do que tratar doenças cardiovasculares e respiratórias, por exemplo. “Isso
porque o tempo de permanência dos pacientes no hospital é maior, devido às
complicações decorrentes da doença”, explica o endocrinologista José Egí-
dio de Oliveira. O diabetes pode provocar sérios prejuízos ao corpo, como
infarto, derrame e até cegueira. Sem falar que o mal encurta a vida do pacien-
te em dez anos, em média. “A doença já é considerada um problema de saú-
de pública”, disse o médico Robert Sherwin, presidente da Associação Ame-
ricana de Diabetes (ADA).
Por causa das estatísticas sombrias, a ciência está empenhada em encontrar
soluções. Mas de nada adianta esse esforço se a pessoa não recorrer a uma arma
decisiva contra o diabetes: a mudança do estilo de vida. Isso significa adotar uma
dieta saudável e a prática de exercícios. “Vários estudos mostraram que uma
alimentação rica em frutas e verduras e meia hora de exercícios diariamente
ajudam no controle do diabetes”, diz o endocrinologista Adolpho Milech, da
UFRJ. Dessa maneira, também é possível manter baixo os níveis de colesterol,
triglicérides, pressão arterial e peso, indicadores de risco para o diabetes quando
estão elevados. “Isso é importante porque 70% dos diabéticos morrem de proble-
mas cardiovasculares ligados a esses fatores”, reforça Oliveira.
A medicina está tão preocupada em ajudar os diabéticos a lidar melhor
com a doença que o Centro Internacional de Diabetes, em Minneapolis (EUA),
criou uma dieta mais flexível. A novidade já é adotada por alguns especialis-
tas do Brasil. Ele não precisa deixar de comer um doce ou uma bela macarro-
nada, por exemplo. Mas deve saber a quantidade desses alimentos que pode
ingerir por dia. Para cada porção ingerida, necessita tomar uma certa quanti-
dade de insulina. A dieta deve ser orientada por um médico. “Ela não incen-
tiva o paciente a comer doce, mas permite gerenciar o uso do açúcar e car-
boidratos na alimentação”, ensina a endocrinologista Silmara Leite, do Cen-
tro de Diabetes de Curitiba.
Gerenciar a alimentação nem sempre é fácil. A correria do dia-a-dia mui-
tas vezes faz com que as pessoas prefiram comer um hambúrguer em vez de
uma refeição balanceada. Sem falar na falta de tempo para a atividade física.
O pior é que as crianças estão seguindo o mesmo caminho. Repare como seus
filhos costumam passar horas na frente da televisão, comendo exagerada-
mente sanduíches, batata frita, tomando refrigerante e quase não praticando
esportes. Esse quadro contribui para agravar a obesidade na infância. Nos
Estados Unidos, já são seis milhões de crianças obesas. O que ninguém sabia
é que por causa disso algumas delas já estão tendo diabete do tipo 2.
A insulina inalada está sendo testada pelos laboratórios Aventis e Novo Nor-
232 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 04 (2001)
Continuação disk. A idéia é substituir as picadas da insulina rápida. “Será uma revolução
para o paciente, pois em vez de ele sentir o incômodo da picada, precisará
apenas inalar a insulina”, diz a endocrinologista Reine Marie Chaves Fonse-
ca, coordenadora do Centro de Referência para Assistência ao Diabético do
Estado da Bahia. Se a pesquisa der certo, há previsões de que a insulina inalada
esteja no mercado brasileiro em 2003. Alguns centros brasileiros testam a no-
vidade. Por enquanto, todos os pacientes estão satisfeitos com ela. É o caso do
aposentado gaúcho Laércio Vital, 64 anos. Apesar de ser diabético do tipo 2,
Vital resolveu participar dos testes, porque demorou muito tempo para se tratar.
A única coisa que fazia antes era tomar medicamentos. Recusava-se, por exem-
plo, a deixar os doces de lado. Suas taxas de glicemia estavam em torno de 300
miligramas por decilitro após as refeições. O normal é menos de 200 mg/dl
após a alimentação e abaixo de 126 mg/dl em jejum. Ou seja, as drogas não
davam mais conta do recado. Vital demorou tanto tempo para cair na real que
seu pâncreas deixou de produzir insulina como deveria. “Isso pode acontecer
com o diabético do tipo 2 se ele não se cuidar no início”, alerta Fadlo Fraige
Filho, presidente da Federação Nacional de Associações de Diabéticos, em
São Paulo. Vital está aliviado, pois teve chance de correr atrás do prejuízo. Ele
faz a inalação antes das refeições e agora cuida da dieta.
Há mais uma experiência que chama a atenção dos especialistas: o trans-
plante de ilhotas de pâncreas, com células produtoras de insulina. Cientistas
canadenses já realizaram o transplante em 15 pacientes. Deles, 11 estão há dois
anos sem tomar insulina. No Brasil, algumas instituições pretendem adotar
essa alternativa, por enquanto recomendada somente para quem está em situa-
ção muito crítica. Apenas nesses casos a intervenção compensaria, já que os
medicamentos usados para evitar a rejeição das células transplantadas têm for-
tes efeitos colaterais, como náuseas. Por enquanto, alguns centros que estão na
fila para começar os estudos são a Universidade de São Paulo, a Universidade
Iniciativa pública
Centros públicos de atendimento a pacientes carentes começam a se di-
fundir no Brasil. A primeira cidade a implantar o serviço foi Fortaleza. Em
1988, a endocrinologista Adriana Forti arregaçou as mangas e convenceu o
governo a criar o Centro de Diabetes e Hipertensão. No local, os diabéticos
têm a orientação de nutricionistas e oftalmologistas, entre outros profissio-
nais. Salvador adotou o mesmo projeto em 1994. Os dois centros oferecem
cursos de aprimoramento para clínicos-gerais. “Só assim conseguimos ga-
rantir a assistência a um número maior de pessoas”, diz a coordenadora do
programa Reine Marie Fonseca. O próximo centro será montado até 2002,
em Porto Alegre, para cuidar de crianças com a doença. “O objetivo é educar
pais e filhos”, informa o médico Balduíno Tschiedel, futuro diretor da casa.
Istoé, 28 de julho de 2001 Já se foi o tempo em que criança saudável era gordinha e bochechuda. O
índice de obesidade na infância cresce no mundo todo, alarmando os profissio-
nais de saúde. Para a nutricionista canadense Leslie Beck, que esteve no Brasil
para participar do III Congresso Mundial de Nutrição em Pediatria, realizado
em São Paulo recentemente, já se pode falar em epidemia. “No Canadá, 25%
das crianças estão nessa situação. Falta informação a respeito da gravidade
de ser obeso nessa fase da vida”, revela. No Brasil, não há estatísticas, mas os
234 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 04 (2001)
Insulina em cápsulas
O Estado de São Paulo, Pesquisadores israelenses terminaram, com sucesso, a primeira experiên-
10 de agosto de 2001 cia médica com cápsulas de insulina para reduzir o nível de açúcar no san-
gue, o que pouparia os diabéticos de terem de aplicar injeções. Uma equipe
de cientistas do Hospital Hadas Ein Karem, de Jerusalém, ministrou cápsulas
de insulina a 12 voluntários não-diabéticos. O nível de açúcar no sangue
dessas pessoas baixou 30 minutos depois da ingestão do medicamento via
oral. A equipe concluiu o estudo preliminar sobre a influência dos comprimi-
dos de insulina, que foram desenvolvidos em Nova Iorque. O sucesso do
experimento aumenta a possibilidade de que milhões de diabéticos no mundo
possam trocar as injeções de medicamento pelo método indolor.
238 Diabetes Clínica 04 (2001)
Stephen Clement et al., 61st Resultados positivos nos estudos de fase II da insulina oral
Annual Scientific Sessions
of the American Diabetes A insulina via oral hexyl-insulin monoconjugate 2 (HIM2) parece ser se-
Association, Philadelphia, gura e bem tolerada em pacientes adultos portadores de diabetes de tipo 1 e 2,
Pennsylvania, de acordo com 3 novos estudos.
22-26 de junho de 2001 HIM2, desenvolvida por Nobex Corp., é o último produto que participa à
corrida para produzir um sistema de administração de insulina que não preci-
sa de injeções subcutâneas ou intramusculares. O produto, atualmente em
estudos de fase II, foi criado anexando oligômeros poliméricos em lugares
selecionados da molécula de insulina e é resistente à degradação enzimática
no intestino.
O estudo conduzido por Stephen Clement sobre 18 pacientes portadores
de diabetes de tipo 1, sugere que a administração via oral de IM2 reproduz o
esquema fisiológico da insulina, agindo sobre a glicose periférica, a glicose
hepática e sua utilização. Os pacientes não parecem ser expostos a níveis
periféricos excessivos de insulina.
Apesar do que esta insulina seja bem tolerada e aumenta a aderência ao
tratamento, as formas não-injetáveis de proteínas têm sido tradicionalmente
criticadas para não oferecer biodisponibilidade suficiente de insulina.
O controle glicêmico pós-prandial similar ao da administração subcutâne-
as de 8UI de insulina foi mostrado em 18 pacientes portadores de diabetes de
tipo 2 que receberam 1,0 mg/kg HIM2 antes de uma refeição padrão em um
estudo randomizado dirigido por Mark Kipnes, do Diabetes and Glandular
Disease Clinic, San Antonio, Texas.
Mas, em um estudo sobre 15 pacientes portadores de diabetes de tipo 1
recebendo aplicações de insulina por injeções e terapia com HIM2, Paresh
Dandona, State University of New York, Buffalo, observou que resposta hipo-
glicêmica é mais importante em pacientes tratados com doses maiores da
proteína via oral.
Duas outras insulinas via oral estão em fase de experimentação: Generex
Biotechnology Corporation com uma formulação liquida para administração
via aerosol (fase II/III) e Pfizer com um pó seco de insulina por administra-
ção via inalação, esperando a aprovação nos Estados Unidos ainda este ano.
240 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2001)
Enzo Bonora et al., 61st Annual Rosiglitazona pode diminuir o risco cardiovascular em 30%
Scientific Sessions of the American
Diabetes Association, Philadelphia, A rosiglitazona (Avandia) da GlaxoSmithKline poderia reduzir em 30% o
Pennsylvania, risco de desenvolvimento de complicações cardiovasculares segundo três
22-26 de junho de 2001 novos estudos.
Dois estudos de terapia combinada de 26 semanas avaliaram os efeitos de
rosiglitazona associada a sulfoniluréia ou metformina comparados com tera-
pia única sobre a resistência à insulina. Os resultados mostraram que dimi-
nuições significativas da resistência à insulina foram obtidos só com rosigli-
tazona combinada a sulfoniluréia ou metformina.
O terceiro estudo demonstrou uma diminuição significativa da resistên-
cia à insulina com o tratamento de rosiglitazona comparado a glibenclami-
da. “O que é importante é que a resistência à insulina é associada aos
fatores de risco cardiovasculares, e a resistência à insulina parece ser ela
mesma o maior fator de risco independente da doença cardiovascular”,
disse Bonora. “Baseando-se sobre esses dados e estudos anteriores, pode-
mos antecipar que a diminuição da resistência à insulina poderia ter con-
seqüências benéficas para as complicações cardiovasculares, reduzindo o
risco em 25 ou 30%”, disse.
242 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2001)
Gary TC Ko et al., Clin Drug Invest Adição de acarbose tão efetiva quanto a insulina depois da
2001; 21: 401-408, junho de 2001 falência dos hipoglicemiantes orais
H Cavaliere, I Floriano, G Medeiros- Os efeitos gastrintestinais adversos do orlistat podem ser prevenidos
Neto, Hospital das Clínicas, USP São pelo uso concomitante de fibras naturais (psílio mucilóide)
Paulo, International Journal of Obesity
2001;25:1095-1099 Objetivo: Estudo aberto controlado por placebo desenhado para observar
se a maioria dos eventos adversos induzidos pelo tratamento dos pacientes
obesos por orlistat (inibidor da lipase gastrintestinal) pode ser prevenida ou
melhorada pelo uso concomitante de fibras naturais (psílio mucilóide).
Desenho: Dois grupos de mulheres obesas (IMC > 27 kg/m2) foram trata-
dos por orlistat 3 vezes ao dia. O grupo A (n = 30) foi randomizado para
receber orlistat e aproximadamente 6g de psílio mucilóide aromatizado com
laranja dissolvidos em água e o grupo B (n = 30) recebeu orlistat e um place-
bo aromatizado (laranja). No final do estudo de 30 dias e após 2 semanas de
eliminação completa, o grupo A mudou para placebo e o grupo B recebeu
orlistat + psílio.
Pacientes: 60 mulheres com idade > 21 anos e IMC entre 27,3 e 48 kg/m2,
sem nenhum outro tratamento.
Medições: A avaliação incluiu consultas semanas com o médico, preenchi-
mento de um questionário com eventos gastrintestinais detalhados, medições
mensais do peso corporal, pressão sanguínea e lípides plasmáticos. A freqüên-
cia e a importância dos eventos gastrintestinais foram avaliadas usando um
sistema de escore, baseado em informações fornecidas pelas pacientes.
Resultados: Ambos os grupos A e B perderam peso significativamente (p
< 0,01) após 60 dias de orlistat (A = 96,8 para 94,9 kg e B = 98,7 para 96,5
kg). Os valores do IMC diminuíram em ambos os grupos. Enquanto que no
grupo orlistat + psílio (grupo A), a média DP dos escores de eventos gastrin-
testinais foi 13,0 ± 1,8, o grupo orlistat + placebo apresento o valor de 35,9 ±
244 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2001)
Continuação 2,7 (p < 0,01). Na situação invertida, o grupo placebo apresentou um resulta-
do de 36,1 ± 3,6 e o grupo psílio 8,9 ± 1,5 (p < 0,01).
Conclusões: O psílio hidrófilo mucilóide prescrito concomitantemente a
pacientes obesos recebendo 120 mg de orlistat 3 vezes ao dia é tratamento
complementar eficaz e seguro para ajudar a controlar os efeitos gastrintes-
tinais desse inibidor da lipase pancreática.
Washington, 22 de junho de 2001 FDA aprova una nova tira de teste de glicose da Abbott
Abbott Laboratórios anunciou que recebeu aprovação da Food and Drug Ad-
ministration (FDA) dos Estados Unidos para distribuir a tira de teste de monito-
rização da glicose que pode fornecer resultados mais exatos, diminuindo as in-
terferências de remédios comuns. Esta quinta geração de teste foi desenhada
para identificar níveis de glicose sem interferência de mais de 60 drogas co-
muns e suplementos, incluindo produtos como vitamina C ou acetaminofeno.
O teste usa um desenho de 3 eletrodos que ativa o processo de teste só quan-
do a amostra de sangue colocada na tira é suficiente, o que diminui o risco de
falsa leitura. Os pacientes podem também acrescentar uma segunda amostra na
mesma tira, se precisar, e não usar uma nova tira. A quantidade de sangue
necessária para a leitura fica pequena e o resultado é disponível em 20 segun-
dos. Essa nova tira foi desenhada para ser utilizada nos glicosimetros Precision
Xtra/Medisense e outros sistemas de Abbott ou de sua filial Medisense.
Philip Raskin et al., 61st Annual Terapia conjugada de repaglinida e sensibilizadores a insulina
Scientific Sessions of the American melhora o controle da glicose sanguínea
Diabetes Association, Philadelphia,
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 Resultados de dois recentes estudos mostraram que a terapia combinada
de repaglinida com um sensibilizador à insulina melhora o controle glicêmi-
co melhor do que cada droga em tratamento único. A repaglinida, em terapia
combinada com rosiglitazona ou pioglitazona diminui os níveis de HbA1c,
indicador do controle glicêmico a longo prazo. Atualmente repaglinida é apro-
vada por terapia conjugada com metformina.
Ambos os estudos multicêntricos usaram um desenho randomizado, aber-
to, com voluntários diabéticos de tipo 2 com controle glicêmico insuficiente
(valores de HbA1c > 7%) com monoterapia anterior com metformina ou sul-
foniluréia.
No primeiro estudo, participantes receberam uma terapia combinada de re-
paglinida e rosiglitazona, ou cada droga em tratamento única, durante 24 sema-
nas. A terapia combinada diminuiu os níveis de HbA1c em 1,4% o que é signi-
ficativamente melhor do que os 0,22% ou os 0,53% obtidos com a monoterapia
de repaglinida e de rosiglitazona, respectivamente. (p < 0,001). As diminuições
médias da glicose plasmática de jejum foram também significativamente mai-
ores com a terapia combinada em comparação com as monoterapias (p < 0,05):
91 mg/dl (5,1 mmol/l) para a terapia combinada versus 58 mg/dl (3,2 mmol/l)
para repaglinida e 62 mg/dl (3,4 mmol/l) para rosiglitazona.
Usando o mesmo desenho, o segundo estudo comparou a terapia combi-
nada de repaglinida e pioglitazona ou cada uma das drogas em monoterapia.
A terapia combinada atingiu diminuições significativamente maiores dos ní-
veis de HbA1c em comparação com a repaglinida ou a pioglitazona em mo-
noterapia: Diminuição de 1,8% versus diminuição de 0,16% e aumento de
0,24%, respectivamente (p < 0,001). Como no primeiro estudo, as diminui-
246 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2001)
Continuação ções médias da glicose plasmática de jejum foram maiores no grupo da tera-
pia combinada do que no grupo de monoterapia (p < 0,001): 86 mg/dl (4,8
mmol/l) para a terapia combinada versus 28 mg/dl (1,6 mmol/l) para a repa-
glinida e 35 mg/dl (1,9 mmol/l) para a rosiglitazona.
Nos dois estudos, mais pacientes interromperam o tratamento devido à
ineficácia nos grupos de monoterapia (18% para repaglinida, 20% para rosi-
glitazona e 50% para pioglitazona) do que nos grupos de terapia combinada
(2 e 5% para repaglinida + rosiglitazona e repaglinida + pioglitazona, respec-
tivamente). Em todos os grupos, aproximadamente 10% dos pacientes inter-
romperam o tratamento por causa dos efeitos adversos.
Irwin Goldstein et al., 61st Annual Vardenafil mostra resultados positivos na função erétil em
Scientific Sessions of the American homens diabéticos
Diabetes Association, Philadelphia,
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 Os primeiros resultados de fase III para o vardenafil, novo tratamento da Bayer
para melhorar a função erétil, mostrou melhoras estatisticamente significativas
em homens portadores de diabetes, uma das populações as mais difíceis para
tratar. Os homens diabéticos têm geralmente três vezes mais distúrbios da função
erétil do que as outras populações por causa das complicações da doença.
Neste estudo controlado por placebo com 452 participantes, 72% dos pa-
cientes do grupo vardenafil 20 mg reportaram uma melhora significativa da
função erétil em comparação com os 13% do grupo placebo. Em mais, 64%
dos participantes do estudo reportaram ereções suficientes para penetração,
comparado com 36% do grupo placebo. 54% conseguiram manter ereções o
suficiente para o ato sexual completo, versus 23% no grupo placebo.
O estudo incluiu 452 homens, de idade de 18 anos e mais, com diabetes
mellitus tipo 1 e 2 e diminuição moderada a severa da função erétil desde 6
meses ou mais. Os pacientes foram randomizados em três grupos para rece-
ber vardenafil 10 mg ou 20 mg ou placebo. Os dados do grupo 10 mg mostra-
ram também resultados positivos com uma taxa de respostas positivas de
57%, em comparação com os 13% do grupo placebo.
Department of Pediatrics and Cell Metformina poderia diminuir o ganho de peso e a resistência à
Biology at Duke University in Durham, insulina em crianças obesas
North Carolina Pediatrics,
abril de 2001 Em razão da epidemia de obesidade, a doença antigamente chamada de
diabetes do adulto não merece mais esse nome. O diabetes de tipo 2 atinge
agora todas as classes de idade. Para os adolescentes portadores de diabetes
de tipo 2, uma droga poderia interromper o ciclo de ganho de peso e de resis-
tência à insulina que conduz à doença. Segundo este estudo, a metformina
poderia ser um complemento da dieta e do exercício e diminuir o risco de
diabetes de tipo 2 em pacientes selecionados.
Metformina, que faz o corpo mais sensível à insulina, foi utilizado neste
estudo no qual participaram 29 adolescentes negros e brancos de 12-19 anos.
Todos os pacientes apresentavam sobrepeso, com IMC > 30. Eles receberam
metformina 500 mg duas vezes/dia ou placebo durante 6 meses.
O grupo metformina mostrou uma diminuição de 1,3% do IMC e o grupo
placebo um aumento de 2,3%. Em mais, metformina diminuiu a glicose plas-
mática de jejum de 84,9 mg/dl para 75,1 mg/dl, enquanto que no grupo con-
trole a glicose aumentou de 77,2 mg/dl para 82,3 mg/dl. A sensibilidade à
insulina cresceu no grupo metformina. HbA1c não foi alterada em nenhum
dos grupos. Metformina foi responsável de diarréia em 40% do pacientes
tratados, sem episódios de vômito ou de cetoacidose.
Diabetes Clínica 04 (2001) 247
Produtos e novidades
Medição de glicose no sangue com One Touche Basic Plus de
Lifescan
!
A Beijing Brasil (São Paulo) está lançando a massa de soja Soj & Tal,
massa fresca feita com grãos selecionados de soja não transgênica. Apesar do
que o Brasil seja o segundo maior produtor mundial da soja, este produto é
mais consumido nos países asiáticos, na forma de tofu, shoyu ou macarrão. A
Beijing Brasil imaginou uma linha de produtos para preparar uma variedade
de pratos à base de soja, tais como talharim, lasanha, saladas ou macarrão.
As proteínas vegetais da soja, bem como os elementos que ela contém
(isoflavonas), trazem benefícios à saúde, em particular para melhorar os sin-
tomas da osteoporose, da menopausa, do diabetes e para diminuir as taxas de
colesterol no sangue.
250 Produtos e Novidades – Diabetes Clínica 04 (2001)
Paulo R Cesarini, Vânia Fernandes, Impacto diferente da obesidade sobre a sensibilidade à insulina
Fabiola E. Garcia, Sergio A Dib, São em adolescentes com ou sem histórico familiar de diabetes de
Paulo, 61st Scientific Sessions of tipo 2
American Diabetes Association,
Philadelphia, Pennsylvania, 22-26 de Qualquer seja o método para classificar a obesidade, os estudos reportam
junho de 2001 uma prevalência elevada de obesidade e as taxas estão aumentando. Em cri-
anças e adolescentes, obesidade aumentou em quase 50% nas duas últimas
décadas. Sabe-se que obesidade é correlacionada à resistência à insulina no
desenvolvimento do diabetes de tipo 2. Mas o histórico familiar poderia alte-
rar o impacto da obesidade sobre a sensibilidade à insulina. Comparamos a
sensibilidade à insulina em três grupos de adolescentes normoglicêmicos: o
primeiro grupo não tinha histórico familiar (HF) de diabetes (HF-, n = 127),
o segundo grupo tinha HF de diabetes de tipo 1 (HF+tipo1, n = 49), e o
terceiro grupo tinha HF de diabetes de tipo 2 (HF+tipo2, n = 129). Cada um
desses três grupos foi subdivido em normal (N) e obeso (O). A sensibilidade
à insulina (SI) e a função da célula β foram avaliadas pelo índice HOMA
(homeostasis model assessment). Os dados foram expressos como média com
intervalo de confiança de 95%. A comparação entre N e O em cada grupo
mostrou:
- No grupo NHF- n = 108 vs OHF- n = 19, idade, glicose plasmática de
jejum, insulina plasmática de jejum, SI e função celular equivalentes, mas
IMC diferente, como esperado [18,1 (17,8-18,4) kg/m2 vs. 24,6 (23,4 –25,4),
p < 0,0001].
- No grupo NHF+ tipo 1 n = 40 vs. OHF+ tipo 1 n = 9, idade, glicose
plasmática de jejum, insulina plasmática de jejum, SI e função celular equi-
valentes, mas IMC também diferente [18,9 (18,0-19,1) kg/m2 vs. 24,6 (23,4 –
25,4), p < 0,0001].
O grupo OHF+ tipo 2 n = 29 era mais jovem [11,7 (11,6-12,40 anos vs.
12,6 (12,4-12,8), p = 0,004], tinha glicose plasmática de jejum equivalente
[92,0 (90,2-93,4) mg/dl vs. 90,1 (88,0-93,80], mas IMC maior [23,8 (24,5-
27,90kg/m2 vs. 18,5 (18,1-18,9), p < 0,001; insulina plasmática de jejum
[20,2 (16,3-24,5) microU/ml vs. 13,7 (12,9-15,2), p < 0,0001]; função celu-
lar β [44,7 42,1-56,2% vs. 36,9 (35,1-39,6), p = 0,0015] e SI menor [255
(213-317)% vs. 380 (334-395), p = 0,00016] do que NHF+ tipo 2. O impacto
da obesidade na diminuição da sensibilidade à insulina foi aumentado no
grupo de adolescentes com HF+ tipo2 e não significativo nos grupos HF- ou
HF+ tipo1. Nossos resultados preliminares sugerem uma interação em HF
positivo de diabetes tipo 2 e obesidade sobre a resistência à insulina em ado-
lescentes aparentemente saudáveis.
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 04 (2001) 253
Bruno Geloneze, José C Pareja, Enrico Perfil lipídico em pacientes portadores de diabetes de tipo 2 após
M Repetto, Luis A Magna, Marcos A cirurgia bariátrica
Tambascia, Campinas, SP, 61st
Scientific Sessions of American Introdução: Obesidade e diabetes de tipo 2 são correlacionados com alte-
Diabetes Association, Philadelphia, rações qualitativas e quantitativas em lipoproteínas plasmáticas. VLDL e tri-
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 glicérides são elevadas, e HDL-colesterol diminui. A coexistência da obesi-
dade e do diabetes potencializa a dislipidemia, com aumento adicional do
LDL-colesterol e do colesterol total. Vários estudos mostraram a melhora
dessas anormalidades após perda de peso. Esses efeitos podem ser relaciona-
dos a alterações na sensibilidade à insulina.
Objetivo: Observar os efeitos da perda massiva de peso induzida pela ci-
rurgia bariátrica sobre o perfil lipídico de pacientes diabéticos obesos e suas
relações com alterações da sensibilidade à insulina.
Material e métodos: 10 pacientes diabéticos obesos foram submetidos à
cirurgia bariátrica (gastroplastia vertical com bypass gástrico Y-Roux – téc-
nica de Capella). O perfil lipídico foi determinado e a sensibilidade à insulina
estimada por HOMA (homeostasis model assessment) no início, 6 e 12 me-
ses após cirurgia.
Resultados: Uma redução massiva de peso de 70% do excesso de peso
corporal foi observada, seguida de uma diminuição significativa de todos os
parâmetros lipídicos avaliados.
Walkyria P Pimenta, Maria L Santos, Disfunção da célula β com sensibilidade normal à insulina em
Flávio F Aragon, Carlos R Padovani, brasileiros brancos com diminuição da tolerância à glicose
61st Scientific Sessions of American
Diabetes Association, Philadelphia, O diabetes mellitus de tipo 2 é o resultado da diminuição da secreção de
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 insulina e da resistência à insulina. O qual desses fatores é a primeira anor-
malidade genética é ainda desconhecido. O desenvolvimento do diabetes de
tipo 2 pode ser considerado como um processo evoluindo em três etapas:
Tolerância normal à glicose, diminuição da tolerância à glicose, diabetes.
Para determinar se a diminuição da secreção de insulina ou a resistência à
insulina é correlacionada a um defeito genético, estudamos indivíduos brasi-
leiros brancos com diminuição da tolerância à glicose, o que significa com
risco elevado de desenvolver diabetes, mas sem toxicidade à glicose. Pela
técnica do clamp hiperglicêmico (180 mg/dl por 180 minutos), comparamos
254 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 04 (2001)
Desmond E. Williams et al, Efeito de uma dieta tradicional ou tipo inglesa sobre a incidência
Diabetes Care 2001; 24:811-816, do diabetes em índios Pima
maio de 2001
Objetivo: Em estudo a curto prazo, a preferência para uma dieta tradicio-
nal é relacionada à diminuição de anormalidades metabólicas detectadas em
populações submetidas à alterações rápidas de estilo de vida. Observamos os
efeitos a longo prazo de um modelo dietético auto-avaliado tradicional ou
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 04 (2001) 255
Julio Rosenstock et al, Diabetes Care Comparação de tratamentos de 28 semanas com insulina
2001;24:631-636, abril de 2001 glargina ou insulina NPH
Lucia C. Iochida, Gerson S. Hamada, Estudo prospectivo do diabetes em nipo-brasileiros de São Paulo
São Paulo, 17th International Diabetes
Federation Congress, México City, Os estudos sobre emigrantes contribuíram para definir o papel dos fatores
México, 5-10 de novembro de 2000 do meio ambiente na etiologia do diabetes mellitus, particularmente para o
diabetes de tipo 2. As populações japonesas são muito interessantes para o
estudo do diabetes, porque apresentam prevalências muito diferentes, depen-
dendo do lugar onde moram, fato que pode ser explicado por fatores do meio
ambiente, ou, talvez, por fatores genéticos temperados por fatores de meio
ambiente. O PPAR-gama (peroxisome proliferator activated receptor gam-
ma) é um fator de transcrição intranuclear que parece ser essencial para a
função normal da insulina. Mutações no gene do PPAR-gama determina re-
sistência à insulina severa e diabetes de tipo 2. Foi também observado que os
ácidos graxos podem agir como ligandos para o PPAR-gama, diminuindo sua
sinalização e conduzindo à resistência à insulina. Os nipo-brasileiros são um
exemplo de população japonesa morando em um país ocidental, com preva-
lência elevada (> 20%) de diabetes, em comparação com a prevalência do
diabetes no Japão (10%). A obesidade não é tão prevalente em japoneses do
que em caucasianos, mas os nipo-brasileiros são significativamente mais pe-
sados do que os japoneses morando no Japão. Um estudo de coorte, no qual
participaram 10.000 descendentes de japoneses, morando em São Paulo, co-
meçou este ano e será prolongado durante 10 anos. Os participantes, com
idade 35-69 anos, sem diabetes, serão examinados e testados para diabetes
cada dois anos. No processo de seleção, os pacientes diabéticos já diagnosti-
cados foram identificados e convidados em participar a outro coorte, acom-
panhado para as complicações do diabetes. Os pacientes anteriormente diag-
nosticados, e os controles não-diabéticos foram rastreados para os polimor-
fismos de PPAR-gama. Todos os participantes foram registrados e amostras
de DNA e plasma foram conservadas, para outros comparações, por exemplo
entre participantes obesos e não obesos. O estudo terá também braços para
estudos de câncer e doenças cardiovasculares, na mesma população.
ATUALIZAÇÃO
Apresentamos nessa sessão um resuma das principais recomendações da American Diabetes Association, ano 2001. As alterações são mínimas
em comparação com o ano 2000. As principais alterações são a redução de objetivo da pressão sanguínea de 130/85 mmHg para 130/80 mmHg
e a importância dada à duração do diabetes pré-puberdade no desenvolvimento de complicações microvasculares. Para uma versão mais
completa dessas recomendações, consultar Diabetes Clínica volume 4, número 2, março/abril de 2000 (pg 102) ou nosso CD-ROM 1999/2000.
O diabetes é uma enfermidade crônica que requer 4. A quase normalização da glicose sangüínea vem
cuidado clínico contínuo e educação para a prevenção demonstrando estar associada a um perfil lipídico menos
de complicações agudas e para a redução do risco de aterogênico.
complicações a longo prazo. Pessoas com diabetes
devem ser tratadas por uma equipe coordenada por um A educação para o auto-controle comporta:
médico. Estas equipes são compostas, porém não se • Freqüência apropriada de auto-monitorização da
limitam a, médicos, enfermeiras, nutricionistas e glicose sangüínea
profissionais especializados e com especial interesse pelo • Terapia nutricional
diabetes. • Exercício regular
Os padrões a seguir definem o cuidado clínico básico • Esquemas fisiologicamente baseados em insulina,
para pessoas com diabetes. Estes padrões não excluem ou seja, injeções múltiplas diárias de análogos de insulina
a necessidade de uma avaliação mais ampla e o cuidado de rápida ação (por ex., lispro), de curta ação (por ex.,
do paciente por outros especialistas. regular), de ação intermediária (por ex., NPH ou lente),
ou insulinas de longa ação (por ex., ultralente) ou infusão
Princípios gerais contínua subcutânea de insulina, em pacientes tipo 1 e
alguns pacientes tipo 2.
A hiperglicemia persistente é a característica principal • Esquemas menos complexos à base de insulina ou
de todas as formas do diabetes. O tratamento que visa agentes orais hipoglicemiantes em alguns pacientes tipo 2.
reduzir a glicose sangüínea a níveis normais ou o mais • Instrução sobre a prevenção e tratamento da
próximo deles, em todos os pacientes, faz-se necessário hipoglicemia e outras complicações crônicas e agudas.
pelos seguintes benefícios já comprovados: • Educação contínua e reforço.
• Avaliação periódica dos objetivos do tratamento.
1. O perigo da descompensação aguda devido a
cetoacidose diabética ou síndrome hiperglicêmica não Para os objetivos sejam alcançados, estes programas
cetótica hiperosmolar, com sua morbidade e mortalidade requerem apoio contínuo da equipe de tratamento.
inerente, é acentuadamente reduzida.
2. Os sintomas de visão embaçada são aliviados, e o Objetivos específicos do tratamento
risco de poliúria, polidipsia, fadiga, perda de peso com
polifagia, vaginite ou balanite pode diminuir. Ao determinar os objetivos glicêmicos de cada
3. Os riscos de desenvolvimento ou progressão da paciente deve-se considerar os resultados dos estudos
retinopatia diabética, nefropatia e neuropatia estão todos clínicos randomizados prospectivos, mas notavelmente
em grande parte reduzidos. É possível que estas o Estudo sobre o controle do Diabetes e suas
complicações possam até mesmo ser prevenidas pelo Complicações (DCCT). Este estudo demonstrou de
manejo precoce efetivo. forma conclusiva que em pacientes com diabetes tipo 1
American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2001) 258~262 259
Valores no plasma
Média da glicose pré-prandial (mg/dl)‡ < 110 90-130 < 90/ > 150
Média da glicose ao deitar (mg/dl) ‡ < 120 110-150 < 110/ > 180
* Os valores apresentados nesta tabela são por força generalizados para toda a população de indivíduos com diabetes. Pacientes com doenças
comórbidas, adultos muito jovens e aqueles com mais idade, e outros em condições ou circunstâncias incomuns justificam diferentes esquemas de
tratamento. Estes valores são para adultos que não estejam em estado de gravidez. A “ação adicional sugerida” depende das circunstâncias
individuais. Tais ações podem incluir a intensificação da educação para a auto-monitorização do diabetes, uma equipe complementar para o
controle do diabetes, consulta a um endocrinologista, mudança no tratamento farmacológico, início ou aumento na SMBG, ou um maior contato
com o paciente. Recomenda-se um nível não-diabético de HbA1c na faixa entre 4,0-6,0% (média 5,0%, DP 0,5%)
†Medição da glicose sangüínea capilar.
‡ Valores calibrados para glicose plasmática.
260 American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2001) 258~262
pés. Este exame deve incluir uma avaliação da sensação de microalbumina. O rastreamento para
protetora, estrutura e biomecânica do pé, condição microalbuminúria em indivíduos com diabetes tipo 1
vascular, e integridade da pele. Pessoas com uma ou mais deve começar na puberdade e após 5 anos da duração
condições de alto risco do pé devem ser avaliadas com desta doença. Devido à dificuldade de precisar com
mais freqüência quanto ao desenvolvimento de fatores exatidão a data do início do diabetes tipo 2, tal
de risco adicionais. Pessoas com neuropatia devem ser rastreamento deve começar no momento do diagnóstico.
submetidas a uma inspeção visual dos pés em cada
consulta com um profissional de saúde.
Considerações especiais
Avaliação biológica
A avaliação de rotina da GHb deve ser realizada em Crianças e adolescentes
todos os pacientes com diabetes, primeiro para documentar A maioria dos casos recentemente diagnosticados
o grau do controle glicêmico na avaliação inicial, depois como diabetes tipo 1 ocorrem em indivíduos jovens com
como parte constante do atendimento. Uma vez que a GHb idade inferior a 18 anos. No diagnóstico inicial, é
reflete a glicemia média dos 2-3 meses anteriores, é extremamente importante estabelecer os objetivos e
necessário medições a cada 3 meses para determinar se o iniciar o aprendizado do autocontrole do diabetes. A base
controle metabólico do paciente permaneceu constante educacional deve ser firme para que o indivíduo e a
dentro da faixa pretendida. Assim, medições regulares da família possam tornar-se cada vez mais independentes
GHb permitem a detecção de desvios da faixa pretendida no autocontrole do diabetes. Os objetivos glicêmicos
em determinado momento. Para cada paciente, a podem necessitar de alguma modificação considerando
freqüência do teste de GHb deve depender do esquema o fato de que a maioria das crianças com idade inferior a
de tratamento empregado e da consideração do médico. 6 ou 7 anos apresentam uma forma de “inconsciência
Na ausência de estudos bem controlados que sugerem um hipoglicêmica”, em que eles não têm a capacidade
protocolo definitivo, a opinião dos especialistas cognitiva de reconhecer e responder aos sintomas
recomenda um teste de GHb pelo menos duas vezes ao hipoglicêmicos. Doenças intercorrentes são mais
ano em pacientes que estão alcançando os objetivos do freqüentes em crianças mais novas. Uma avaliação
tratamento e que apresentam controles glicêmicos estáveis nutricional deve ser realizada, por um nutricionista, com
e com mais freqüência (avaliação trimestral) em pacientes as necessidades nutricionais de uma criança em
cuja terapia tenha sido alterada ou que não estejam crescimento e os aspectos comportamentais que possam
atingindo os objetivos glicêmicos. ter um impacto na dieta do adolescente. Deve-se evitar
uma manipulação nutricional agressiva quanto aos mais
Tabela 3 – Categoria do risco baseado nos níveis de lipoproteína novos. A avaliação das necessidades quanto ao estilo de
em adultos com diabetes vida deve ser acompanhada por possíveis modificações
do esquema diabético. Por exemplo, um adolescente que
Risco Colesterol Colesterol Triglicerídeos requer uma maior flexibilidade deve ser orientado para
LDL HDL*
um programa de três ou quatro injeções de insulina
quando necessário.
Alto ≥130 <35 ≥400 Um aspecto importante que merece ênfase nesta faixa
Limite 100-129 35-45 200-399 etária é o da “aderência”. Não importando qual seja o
Baixo <100 >45 <200 esquema clínico, ele será tão bom quanto a habilidade
Os dados são apresentados em mg/dl. da família e/ou indivíduo para implementá-lo. Os
* Para mulheres, os valores do colesterol HDL devem ser profissionais de saúde que cuidam de crianças e
aumentados em 10 mg/dl. adolescentes, portanto, devem ser capazes de avaliar os
fatores comportamentais, emocionais e psicossociais que
interferem na implementação e devem então trabalhar
Deve ser realizado um perfil lipídico em crianças com com o indivíduo e com a família para resolver os
idade acima de 2 anos após diagnóstico de diabetes e problemas que ocorrem e/ou modificar os objetivos
quando o controle da glicose tenha sido estabelecido. quando estes se fizerem necessários.
Os testes cujos resultados encontrem valores limítrofes Foi mostrado que a incidência do diabetes de tipo 2
ou anormais devem ser repetidos para confirmação. Se em crianças e adolescentes está aumentando. Apesar do
os valores caírem a níveis de risco aceitáveis, a avaliação que não existem dados suficientes para propor
deve ser repetida a cada 5 anos. recomendações definitivas, existe um consenso sobre a
prevenção, o rastreamento e o tratamento do diabetes
Na ausência de microalbuminúria previamente de tipo 2 em jovens. O objetivo ideal do tratamento é a
demonstrada, é necessário um teste anual para a presença normalização dos valores da glicose sanguinea e de
262 American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2001) 258~262
HbA1c> O diagoóstico e a classificação do diabetes é exercício, redução do sal na dieta, e limite no consumo
crucial para determinar o tratamento adequado. Muitos de álcool. Se as modificações no estilo de vida não
pacientes podem ser controlados incialmente por terapia alcançam os objetivos pretendidos, devem ser
nutritional e exercício, mas a maioria necessitará de adicionados medicamentos gradualmente até que os
remédios. O controle das comordidades, tais como a objetivos da pressão arterial sejam alcançados. Vários
hipertensão e as hiperlipidemias é também importante. medicamentos em pacientes com albuminúria (por ex.,
inibidores de ECA) parecem apresentar um benefício
Hipertensão seletivo em pacientes com diabetes. Outros fatores de
A hipertensão contribui para o desenvolvimento e risco cardiovascular, como fumo, inatividade e níveis
progressão das complicações crônicas do diabetes. Em elevados de colesterol LDL, devem ser ao mesmo tempo
pacientes portadores de diabetes tipo 1, a hipertensão controlados.
persistente é em geral uma manifestação da nefropatia
diabética, conforme indicado pelos níveis elevados Objetivos específicos do tratamento
simultâneos de albumina urinária e em estágios mais O principal objetivo do tratamento em adultos deve
avançados de uma diminuição no índice de filtração ser a redução da pressão arterial a um nível < 130/80
glomerular. Em pacientes portadores de diabetes tipo 2, mmHg. A hipertensão em adultos tem sido
a hipertensão é quase sempre parte de uma síndrome tradicionalmente definida como pressão arterial sistólica
que inclui intolerância à glicose, resistência à insulina, ³ 140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica de ³ 90
obesidade, dislipidemia e doença arterial coronariana. mmHg. A maioria dos estudos epidemiológica sugere
A hipertensão sistólica isolada pode ocorrer com longa que o risco devido à pressão arterial elevada é uma
duração de qualquer tipo de diabetes e em parte devido função contínua, de forma que estes níveis de corte são
à inelasticidade dos grandes vasos ateroscleróticos. O arbitrários. Na população em geral, os riscos de dano ao
controle da hipertensão foi demonstrado de forma órgão parecem ser menores quando a pressão arterial
conclusiva na redução do índice de progressão da sistólica é de < 120 mmHg e a pressão arterial diastólica
nefropatia diabética e na redução das complicações da é de < 80 mmHg.
nefropatia hipertensiva, doença cérebro-vascular e
doença cardiovascular. Para pacientes com hipertensão sistólica isolada de ³
180 mmHg, o objetivo é uma pressão arterial < 160
Princípios gerais mmHg. Para aqueles com pressão arterial sistólica de
As modificações no estilo de vida devem ser 160-179, o objetivo é uma redução de 20 mmHg. Se
inicialmente instituídas para reduzir a pressão arterial a estes objetivos são alcançados e bem tolerados, pode
não ser que a hipertensão se encontre em um nível ser apropriado reduzir a pressão a 140 mmHg.
intolerável. Tais modificações incluem perda de peso,
Eliaschewitz FG et al. / Diabetes Clínica 04 (2001) 263~277 263
REVISÃO
Resumo
Pacientes diabéticos do tipo 2 têm risco triplicado de sofrer eventos cardiovasculares. Este risco aumentado precede o diagnóstico da doença e
não é anulado pelo bom controle glicêmico. Esse artigo faz uma revisão dos fatores de risco cardiovascular atuantes nos pacientes diabéticos
tipo 2 e analisa as justificativas fisiopatológicas para o uso da aspirina associado ao das vastatinas, independentemente dos níveis de colesterol
sérico, com a finalidade de diminuir o risco cardiovascular desta população.
miocárdio ou de acidente vascular cerebral naqueles pa- as ações relatadas sempre dependeram da inibição da
cientes que, por terem história prévia de infarto do mio- HMGCoA redutase, comum a todas, o termo genérico
cárdio, de isquemia cerebral transitória ou de acidente vastatinas foi utilizado na suposição de que o mesmo
vascular cerebral, correm sério risco (8 a 11% ao ano) efeito seria esperado de qualquer uma delas. A mesma
de apresentar complicações tromboembólicas [4]. postura foi assumida em relação aos anti-hipertensivos
Entretanto, não é apenas a população que já sofreu e aos antidiabéticos referidos como classe farmacológi-
um evento cardiovascular que apresenta grande risco de ca e não como espécie farmacêutica. Embora neste arti-
sofrer um segundo evento. Hoje, sabe-se que a popula- go se focalizem principalmente as disfunções endoteli-
ção de diabéticos que nunca sofreu nenhum evento ais provocadas pelo diabetes, chega-se a conclusões que
cardiovascular corre um risco equivalente ao da popula- provavelmente também se aplicam a pacientes não-dia-
ção não-diabética portadora de vasculopatia, ou seja, um béticos que, em virtude de hiperlipidemia, hipertensão
risco aproximadamente três vezes maior que o da popu- ou outros fatores de risco, têm aumento do estresse oxi-
lação geral [5]. dativo nas artérias e endotélio disfuncional.
Estima-se que em 2015 haverá 200 milhões de diabé-
ticos no mundo. Apesar disso, o uso da aspirina em dia- Os diferentes diabéticos diferem no risco
béticos tem sido menos estudado do que em indivíduos cardiovascular
normais. Quase sempre os pacientes diabéticos são ob-
jeto de uma análise separada, como subpopulação de um O diabetes tipo 1 é causado por uma deficiência ab-
estudo maior, sendo tratados como um grupo homogê- soluta de insulina como conseqüência da destruição auto-
neo, sem distinção entre diabéticos tipo 1 e tipo 2 [6,7,8]. imune das células β das ilhotas pancreáticas.
Discutir as razões que justificam o uso da aspirina em O diabetes tipo 2 é uma entidade clínica heterogênea e
pacientes diabéticos tipo 1 e principalmente em tipo 2, à multifatorial, caracterizada por um defeito na ação da in-
luz dos conhecimentos recentemente adquiridos sobre sulina (resistência insulínica) e em sua secreção (disfun-
os efeitos da insulina e da hiperglicemia sobre a parede ção da célula β). A contribuição relativa de cada uma des-
arterial, e de como os benefícios de seu uso podem ser sas anormalidades varia tanto de um paciente para outro,
impedidos ou ampliados, por exemplo, pelo controle como em um mesmo paciente, ao longo da doença. Fato-
adequado da glicemia, pelo tratamento da hipertensão res genéticos devem ser determinantes de importância em
com o uso de bloqueadores de cálcio e pelo uso da aspi- cada um desses mecanismos patogenéticos, embora este-
rina associado ao das vastatinas, independentemente dos ja bem demonstrado que também fatores ambientais, como
níveis de colesterol, são os objetivos deste texto. sedentarismo e dieta, entre outros, podem agravar a resis-
Para tanto, uma série de dados recentes a respeito da tência à insulina. Além disso, a forte associação com a
ação intracelular das vastatinas foi analisada. Nesses tra- obesidade decorre da ação de moléculas originadas no
balhos, diferentes vastatinas foram utilizadas. Mas como tecido adiposo, capazes de inibir ações da insulina. Entre
Fig. 1 - O risco cardiovascular de pacientes diabéticos tipo 2 equivale ao risco de pacientes não-diabéticos que já sofreram
um evento = 2 a 5 x a população geral. Mortalidade entre diabéticos e não-diabéticos - Idade e sexo 5
Eliaschewitz FG et al. / Diabetes Clínica 04 (2001) 263~277 265
Fig. 2 - A associação entre obesidade e diabetes tipo 2 se dá por efeito de peptídeos com atividade hormonal produzidos pelo
tecido adiposo
elas está a leptina e a recém identificada resistina. A des- Com a realização de um estudo de grande porte em
coberta desta última é o prelúdio de uma nova geração de diabéticos tipo 1 – o DCCT (Diabetes Control and Com-
ativadores dos PPARg não-TZDs que a inibam de modo plications Trial) – multicêntrico, controlado, padroniza-
específico, sem inibir também a leptina e assim provocar do e prospectivo, ficou inequivocamente demonstrado
aumento de peso [9,10,11]. que o uso intensivo de insulina, suficiente para levar a
Tanto a falta de ação quanto a secreção deficiente de uma queda de 2% nos índices de hemoglobina glicosila-
insulina podem ser fatores patogênicos primários em um da se comparada ao uso convencional da terapia insulí-
paciente portador de diabetes tipo 2. Em todos eles, po- nica, resultava em uma diminuição de 76% no risco de
rém, a ação e a secreção de insulina estão fisiologica- desenvolvimento de retinopatia, de 54% no de nefropa-
mente interconectadas em múltiplos níveis, na medida tia e de 60% no de neuropatia [15].
em que a resistência à insulina pode ser compensada, de Da mesma forma, no caso do diabetes tipo 2, o estudo
início, pelo aumento na produção de insulina (hiperin- de Kumamoto e o UKPDS demonstram claramente a
sulinismo), de modo que o diabetes não se manifesta importância do controle glicêmico na prevenção do de-
clinicamente até que apareça algum grau de deficiência senvolvimento dessas mesmas complicações. Porém, em
na capacidade secretora da célula β pancreática [12]. Por
outro lado, mesmo quando os níveis de hiperglicemia Fig. 3 - Efeito do controle estrito da glicemia no risco de
são ainda relativamente modestos e restritos ao período eventos cardiovasculares em diabéticos tipo 2: infarto do
pós-prandial, podem induzir a uma disfunção secretora miocárdio fatal ou não-fatal e morte súbita em 573 de 3.867
nas células β (glicotoxicidade), impedindo que o meca- pacientes (15%).
nismo de compensação seja mantido no nível necessá-
rio a fim de evitar a eclosão do diabetes [12].
A lenta evolução desse processo pode nos fazer pen-
sar que o diabetes tipo 2 é uma condição benigna quan-
do comparada a todas as causas de hiperglicemia crôni-
ca agrupadas no termo “diabetes”.
O risco muito aumentado, apresentado pelos diabéti-
cos tipo 2, de sofrer infarto do miocárdio e a importante
diminuição em sua expectativa de vida desmentem esse
mito [13,14].
Pacientes portadores de diabetes tipo 1, embora tenham
maior risco de desenvolver complicações vasculares do
que não-diabéticos, têm um risco menor que diabéticos
tipo 2. As diferenças entre as complicações ma-
crovasculares nos dois grupos foi recentemente revista.
266 Eliaschewitz FG et al. / Diabetes Clínica 04 (2001) 263~277
Fig. 4 - A hemoglobina glicosilada pode não ser um parâmetro preciso para retratar o pacientes diabéticos, sugere que
risco cardiovascular do diabetes. as artérias desses pacientes são
especialmente suscetíveis à lesão
aterosclerótica [16,17,18,22].
A alteração funcional mais
evidente na microcirculação dos
pacientes com diabetes tipo 2 é
uma limitação na capacidade va-
sodilatadora [23]. Esta poderia
ser atribuída a vários dos elemen-
tos que constituem a parede vas-
cular. Invariavelmente, porém, as
células lesadas pela hiperglicemia
são aquelas incapazes de diminuir
o transporte de glicose quando os
níveis de glicose no meio extra-
celular estão elevados [24].
É esse o caso das células endo-
relação ao desenvolvimento de doença macrovascular, teliais que, entre as muitas outras funções que desempe-
os resultados foram menos conclusivos. Os fatores mais nham, regulam localmente o tônus vascular.
estreitamente associados a uma redução no número de A insulina exerce múltiplos efeitos na parede vascu-
eventos cardiovasculares foram os níveis de HDL-co- lar, sendo que um dos mais importantes é o efeito vaso-
lesterol e o controle da pressão arterial. A redução de dilatador [25].
16% na incidência no número de eventos cardiovascula- A ativação dos receptores de insulina nas células en-
res no grupo em que foi mais rígido o controle de glice- doteliais resulta na ativação da via da PI-3 quinase (fosfa-
mia, atingiu significância estatística apenas marginal tidilinositol quinase) e no aumento da produção de NO
(p=0,052) [16,17,18,19] (veja Fig. 3). (óxido nítrico), tanto agudamente (menos de 1 minuto)
Deve-se observar que os pacientes, durante o UKPDS, quanto no decorrer de várias horas (via indução do RNA
não foram monitorados quanto às excursões pós-prandi- mensageiro da enzima NO sintetase). Este último efeito
ais da glicemia. Estudos recentes sugerem que esses ní- da insulina é inibido pela PKC (proteína quinase C)
veis são melhores preditores do risco cardiovascular do [25,26]. Esse caminho metabólico é o mesmo acionado
que a glicemia de jejum e a hemoglobina glicosilada, e pela insulina nas células musculares, para mediar o trans-
que esta última pode não refletir, de modo confiável, as porte de glicose (veja Fig. 5).
alterações glicêmicas pós-prandiais em um grande nú- Em situações nas quais há resistência à insulina, tan-
mero de pacientes [16,17,18,20,21] (veja Fig. 4). to em modelos experimentais como em pacientes huma-
Por outro lado, o enorme impacto que os fatores clás- nos, é inibido o efeito estimulador da insulina sobre a
sicos de risco vascular, como lípides séricos e hiperten- produção endotelial de NO [27].
são, têm na determinação do risco cardiovascular dos Isso demonstra que a parede vascular deve ser inclu-
Fig. 7 - Limitação da ativação do NF-kB pelo NO panhados por um aumento no risco cardiovascular. Nes-
tes, a hiperinsulinemia compensadora é suficiente para
manter a homeostase da glicose, mas não para impedir a
disfunção endotelial [35,36,37,38].
Quando a hiperglicemia se inicia, agrava-se o risco.
Numerosos estudos demonstram uma correlação entre a
hiperglicemia e o risco de eventos cardiovasculares fa-
tais e não-fatais, mesmo quando é restrita ao período
pós-prandial [39-61].
Foram descritos quatro mecanismos para explicar a
lesão vascular induzida pela hiperglicemia. Todos eles
podem estar atuando tanto no diabetes tipo 1 quanto no
diabetes tipo 2.
A hiperglicemia causa:
1 - aumento na produção de espécies reativas de oxi-
gênio (ROS) [11,24,62];
2 - aumento na atividade da aldose-redutase [63];
3 - ativação da proteína C quinase (PKC) [25,63,64];
ída entre os órgãos-alvo de resistência à insulina 4 - aumento na formação de produtos de glicosilação
[14,25,28,29,30,31,32] (veja Fig. 6). avançada (AGEs) [24,63].
A menor produção de NO não compromete apenas a O aumento na produção de ROS, por efeito direto da
capacidade vasodilatadora do endotélio. O NO inibe a hiperglicemia, pode decorrer da glicosilação não-enzi-
multiplicação e o crescimento das células musculares li- mática de proteínas, pois a reação de glicosilação dos
sas dos vasos, impedindo a hiperplasia intimal e o espes- aminogrupos reativos contidos nas cadeias peptídicas
samento da membrana basal. Além disso, o NO inibe a gera radicais livres. Como a velocidade dessa reação de-
expressão de moléculas de adesão, como por exemplo, a pende da concentração média da glicose, em condições
da molécula de adesão intracelular, a da E-selectina e a da de hiperglicemia a produção de radicais livres, gerados
molécula de adesão de células vasculares-1 [28,29,30,31]. por esse mecanismo, aumenta cerca de 50 vezes.
O NO também inibe o efeito de citocinas como TNF- Um outro mecanismo pode decorrer da auto-oxida-
α e a produção de quimiocinas como a proteína atratora ção da glicose e da glicosilação de lípides – as chamadas
de monócitos-1 [33] (veja Tabela 1 e Fig.7). reações de glicoxidação.
Todos esses efeitos decorrem da produção aumenta- A hiperglicemia intracelular ativa a via das pentoses que
da de IkBa, que é um fator inibidor do Fator Nuclear de utiliza a aldose-redutase. Essa enzima também utiliza como
Transcrição: NF-kb [34]. substrato os aldeídos tóxicos resultantes da glicoxidação
Outras ações relevantes do NO incluem a inibição da de lípides. Os produtos resultantes (sorbitol e alcoóis inati-
adesão plaquetária à parede vascular e a amplificação vos) são oxidados pela sorbitol desidrogenase para formar
do efeito antiagregante plaquetário da prostaciclina frutose. A atividade desta enzima resulta em um aumento
[33,34]. da relação NADH/NAD, inibindo a oxidação das trioses
Isso pode explicar o fato de os estados de resistência à fosfatos e aumentando a síntese de diacilglicerol, o que,
insulina, mesmo sem intolerância à glicose, serem acom- por sua vez, ativa a PKC [25,63,65,66,67,68] (veja Fig. 8).
• induz a vasodilatação
• amplifica o efeito da prostaciclina
• inibe a adesão plaquetária ao endotélio
• inibe o efeito de citocinas
• inibe a multiplicação de células musculares lisas
• inibe NF-kB
• inibe a produção de citocinas inflamatórias (via NF-kB)
• inibe a produção de moléculas de adesão (via NF-kB)
268 Eliaschewitz FG et al. / Diabetes Clínica 04 (2001) 263~277
As ROS também podem ativar a PKC tanto por via mulada pela insulina, e nos indivíduos diabéticos em
direta quanto por inibição da gliceraldeído fosfato desi- geral, nos quais a hiperglicemia, através da ativação da
drogenase e esta também provoca aumento dos níveis PKC, promove uma atividade sustentada do NF-kB, ve-
de diacilglicerol [25,63,65,66]. rifica-se a tendência de transformar a parede vascular na
O aumento dos produtos da glicosilação avançada sede de um processo inflamatório crônico em que se su-
(AGE) é o último mecanismo descrito capaz de lesar os cedem as alterações anatômicas que definem a ateros-
tecidos. clerose [73] (veja Tabela 3 e Figs. 9 e 10).
Além da alteração na função das proteínas intracelu- Por esse motivo, no caso desses pacientes, justifica-
lares glicosiladas, ocorrem modificações da matriz ex- se a tentativa de impedir ou retardar esse processo, por
tracelular pelas AGEs, com alteração em suas proprie- um lado diminuindo farmacologicamente a atividade do
dades, como por exemplo o aumento da permeabilidade. NF-kB e, por outro, diminuindo a capacidade de agrega-
Por outro lado, os produtos de glicosilação avançada são ção das plaquetas no endotélio disfuncional [25,33,72,73].
reconhecidos por receptores presentes em células próxi- Como veremos a seguir, a aspirina cumpre essas duas
mas ao endotélio como os macrófagos, que produzem funções.
ROS quando esses receptores são ativados [25,69,70,71]
(veja Tabela 2).
Fig. 9 - Relação entre a intolerância à glicose e a produção
Tabela 2. Ações dos radicais livres.
de NO, ROS e NF-kB e seus efeitos sobre a célula endotelial.
Tabela 3. Ativação de genes pelo NF-kB. efeito estimulador da aspirina sobre a produção de óxido
nítrico, na dose de 150 mg por dia, foi demonstrado em
• citocinas inflamatórias várias células como os neutrófilos que, por seu efeito, ad-
• quimiocinas quirem ação antiagregante plaquetária [78] (veja Fig. 11).
• enzimas Argumenta-se que as doses de aspirina utilizadas para
• óxido nítrico sintetase indutível proteção cardiovascular são consideravelmente mais
• cicloxigenase-2 (indutível) baixas do que as usadas com finalidade antiinflamató-
• lipoxigenase ria. Assim, nessas doses baixas, apenas a ação antipla-
• moléculas de adesão quetária teria relevância. Comprovou-se, porém, no Phy-
• receptores de células imunologicamente competentes sician Health Study – estudo no qual a aspirina foi utili-
zada apenas em doses cardioprotetoras – que os níveis
de proteína C reativa (marcadores de atividade inflama-
tória) caíram paralelamente com a diminuição do risco
O efeito da aspirina na ativação do NF-kB cardiovascular [79].
Fig. 12 - Ações antiplaquetárias e antitrombina da aspirina. ceptores glicoprotêicos agonistas das pro-
teínas de adesão, aumento na ligação do
fibrinogênio, diminuição na fluidez da
membrana celular e alterações das vias
metabólicas das plaquetas [84~87].
O resultado final dessas modificações
resulta em um excesso de mobilização do
cálcio e no aumento na síntese e liberação
do tromboxano. As plaquetas ativadas in-
teragem com outras células, como as en-
doteliais e os leucócitos, bem como com
o sistema de coagulação, na gênese e pro-
gressão do processo de aterosclerose.
Em pacientes diabéticos, com micro ou
macroangiopatia, o ritmo da renovação
está aumentado e a supressão da produ-
ção de tromboxano pode não ser comple-
ta, mesmo quando a aspirina (25 a 100 mg)
é dada a cada 6 horas. A fim de contornar
este problema, recomenda-se o uso da for-
mulação de aspirina de liberação lenta
quando for prescrita a pacientes diabéti-
cos [82, 83].
O uso da aspirina em pacientes diabéticos tória pregressa de infarto cerebral ou ataque isquêmico
transitório, além de outros eventos vasculares como an-
Estudos clínicos de uso de aspirina em diabéticos gina, cirurgia vascular, angioplastia e doença vascular
periférica [98].
a) Prevenção primária Estima-se que cerca de um evento vascular para cada
O Physicians Health Study é um estudo randomiza- 25 pacientes teria sido evitado, se todos houvessem re-
do, duplo-cego, incluindo 22.071 pacientes do sexo mas- cebido aspirina como parte da estratégia de prevenção
culino, sem evidência de doença vascular, dos quais 533 secundária.
eram diabéticos. A aspirina foi utilizada na dose de 325 Quanto à doença cerebrovascular, os estudos que in-
mg em dias alternados, procurando avaliar seu efeito na cluíram indivíduos com diabetes, mostraram a eficácia
prevenção da doença coronariana. Após seguimento de da aspirina na prevenção secundária dos ataques isquê-
5 anos, verificou-se uma ocorrência de infarto agudo do micos transitórios. No European Stroke Prevention Stu-
miocárdio em 4% dos diabéticos em tratamento com a dy [99] avaliou-se a associação da aspirina (990 mg/dia)
aspirina, contra 10,1% no grupo placebo [94], resultan- com o dipiridamol (225 mg/dia) na prevenção secundá-
do num risco relativo de 0,39% para os pacientes trata- ria de AVC (acidente vascular cerebral) ou morte em
dos. Proteção semelhante foi obtida no grupo não- dia- diabéticos e não-diabéticos vitimados por acidente isqu-
bético, indicando que a aspirina foi igualmente eficiente êmico recente. Foram incluídos 216 diabéticos. A redu-
nos dois grupos. ção de infarto cerebral isquêmico nos pacientes diabéti-
No Nurse’s Health Study, as mulheres diabéticas tam- cos foi de 32,4%. Vários outros estudos randomizados
bém se beneficiaram com o tratamento profilático com comparando a aspirina e placebo a outros antiagregan-
aspirina, mostrando uma redução de 29% na incidência tes, têm mostrado uma ação benéfica significativa da
de infarto do miocárdio [95]. aspirina na redução da isquemia transitória, do acidente
No ETDRS (Early Treatment Diabetes Retinopathy vascular cerebral e da morbidade/mortalidade cardiovas-
Study) a população estudada era constituída por 3.711 cular. A aspirina reduz o risco de AVC não-fatal em 30%
diabéticos tipo 1 e tipo 2, de ambos os sexos e cerca de e o risco de morte em 15% quando comparado com place-
48% deles tinha história prévia de doença cardiovascu- bo [100,101] (veja Tabelas 5 e 6).
lar. Esse estudo analisa, portanto, tanto a prevenção pri-
mária quanto a secundária. Houve uma redução de 28% Tabela 5. Estudos clínicos em diabetes: porcentagem de redução
no risco de infarto agudo do miocárdio, no grupo aloca- de infarto do miocárdio observada.
do à aspirina, após cinco anos de seguimento [96].
O estudo HOT (Hypertension Optimal Treatment Tri- HOT Study 36%
al) examinou o efeito de 75 mg de aspirina versus pla- ETDRS 28%
cebo em 18.790 pacientes hipertensos, que foram ran- APT a 25%
domizados para atingir a PA diastólica de 90 ou 85 ou Physician’s Health Study 39%
80 mm de mercúrio. Havia 1.501 pacientes diabéticos Nurse’s Health Study 29%
nessa população. O uso da aspirina reduziu os eventos European Stroke Prevention Study 32,4% AVCIb
cardiovasculares em 15% e os de infarto do miocárdio
em 36%, tanto em diabéticos quanto em não-diabéti- a - metanálise de 145 estudos
cos. Acidentes fatais, do tipo acidente vascular cere- b - acidente vascular cerebral isquêmico
bral hemorrágico, foram semelhantes nos grupos pla- Tabela 6. Metanálise de 29 estudos de avaliação de fármacos
cebo e aspirina [97]. antiplaquetários na prevenção secundária em pacientes de alto
risco.
b) Prevenção secundária Eventos vasculares
Uma metanálise de 145 estudos prospectivos e con- em pacientes (com/sem)
trolados, utilizando terapia antiplaquetária, realizado com controles tratados
homens e mulheres que sofreram acidentes vasculares sem diabetes 3466/21197 2700/21136
de diversos tipos, foi reportada pelo APT (Antiplatelet % 16,4 12,8
Trialist). A redução do número de eventos, obtida com o com diabetes 502/2254 415/2248
uso da aspirina em doses de 325 mg por dia, ou menos, % 22,3 18,5
foi de 25% tanto para homens quanto para mulheres. Os Número de eventos vasculares
resultados obtidos em pacientes diabéticos foram seme- prevenidos/1000 pacientes
lhantes aos obtidos em pacientes não-diabéticos. tratados p
A análise conclui que o uso prolongado da aspirina é
protetor em categorias de alto risco, incluindo pacientes sem diabetes 36±3 < 0,00001
com diabetes 38±12 < 0,002
com infarto agudo do miocárdio, infarto pregresso, his-
272 Eliaschewitz FG et al. / Diabetes Clínica 04 (2001) 263~277
Tabela 7. Recomendações da Associação Americana de Diabetes diabetes in a national cohort of the U.S. population, 1971-1993.
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de prevenção secundária em diabéticos de ambos os sexos que cular e 140 Congresso Brasileiro de Investigação Clínica, Caxam-
apresentam evidências de doença vascular importante. Esta bu, Minas Gerais, julho de 1998.
população inclui pacientes diabéticos, do sexo masculino e 7. Venkat Narayan KM, Gregg EW, Fagot-Campagna A, Engelgau
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Colesterol total > 200 mg/dl 200,2000.
LDL - colesterol > 100 mg/dl 15. The effect of intensive treatment of diabetes on the development
HDL - colesterol < 45 mg/dl and progression of long-term complications in insulin-dependent
Triglicérides > 100 mg/dl diabetes mellitus. The Diabetes Control and Complications Tri-
O uso da aspirina não foi estudado em diabéticos com idade al Research Group. N. Engl. J. Med. 1993; 329:977-86.
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19. Ohkubo Y,Kishikawa H, Araki E, Miyata T, Isami S, Motoyoshi
No entanto, a proteção que a aspirina proporciona não S, Kojima Y, Furuyoshi N, Shichiri M. Intensive insulin therapy
prevents the progression of diabetic microvascular complicati-
é completa, e pacientes diabéticos continuam sofrendo ons in Japanese patients with non-insulin dependent diabetes me-
eventos cardiovasculares, apesar de a utilizarem. Esse llitus: randomized prospective 6-year study. Diabetes Res. Clin.
fato sugere que a ação antiplaquetária e antiinflamatória Pract. 28:103-17, 1995.
pode não ser suficiente para evitar a progressão da ateros- 20. Temelkova-Kurktschiev TS, Koehler C, Henkel E, Leonhardt W,
Fuecker K, Hanefeld M. Postchallenge plasma glucose and glyce-
clerose e suas complicações [98], se outros fatores esti- mic spikes are more strongly associated with atherosclerosis than
verem presentes. Na população diabética, os principais fasting glucose or HbA1c level. Diabetes Care 23: 1830-4,2000.
fatores que podem diminuir o efeito protetor da aspirina 21. Schmitz O,Juhl CB, Lund S, Djurhuus CB, Nyholm B, Porksen
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high dose of aspirin (300 mg/day). Blood Coagul Fibrinolysis er MS. Evaluation of the effects of aspirin combined with an-
11: 231-4,2000. giotensin-converting enzyme inhibitors in patients with coro-
90. Szczeklik A, Musial J, Dropinski J, Krzanowski M, Krolikowski nary artery disease. Am. J. Med. 109: 371-7, 2000.
W, Undas A, Swadzba J, Duplaga M, Bodzon W: J, Duplaga M, 110. American Diabetes Association. Implications of the United
Bodzon W: Thrombinogenesis and its pharmacological modula- Kingdom Prospective Diabetes Study. Diabetes Care 24 (Sup-
tion in atherosclerosis. J Physiol Pharmacol 45: 3-11,1994.
276 Eliaschewitz FG et al. / Diabetes Clínica 04 (2001) 263~277
ATUALIZAÇÃO
*Nutricionista clínica, Mestre em Saúde Pública – USP, Consultora em Nutrição do Instituto Racine
A terapia nutricional em diabetes melito (DM) sofreu uma adesão à dieta de 45% do tempo.
no século 20 constantes alterações. Frederick M. Allen A terapia nutricional deve também estar focada na
[1] desenvolveu em 1912 a famosa “Terapêutica da fome prevenção de complicações tardias, lembrando que a
de Allen”, oferecendo 1000 kcal/dia e 10g de carboidra- doença cardiovascular é a mais comum no diabetes do
tos (CHO)/dia, com o objetivo de manter os indivíduos tipo 2, sendo as anormalidades das lipoproteínas a prin-
vivos até que, supostamente, a insulina voltasse a tor- cipal causa da aterosclerose. Portanto, a dieta é primor-
nar-se disponível. Deste modo, até o surgimento da in- dial para o controle glicêmico, e também para normali-
sulina exógena, os diabéticos eram tratados com dietas zação dos níveis de lipoproteínas. O consumo excessivo
muito baixas em CHO e em regime de semi-inanição. de lípides contribui para obesidade, hipertensão arterial,
Mesmo após a terapia com insulina, os estudiosos ain- aterosclerose e resistência à insulina, pois reduz o nú-
da da primeira metade do século vinte, ainda recomen- mero de receptores para insulina em vários tecidos; di-
davam a dieta pobre em CHO e rica em lípides, porque minui o transporte de glicose para o músculo e tecido
poucos estudos, e ainda não conclusivos, como os de adiposo; e reduz a atividade de processos que são esti-
Geyelin et al. [2], Sansum et al [3] e Kempner et al. [4], mulados por esse hormônio.
demonstraram os benefícios da dieta com maior aporte Quando a dieta é rica em ácidos graxos monoinsatu-
de glicídios e menor de lípides. rados (MUFA), parece não ocorrer redução da sensibili-
Entretanto, no decorrer de décadas, as recomendações dade à insulina. Um estudo que comparou a dieta rica
nutricionais indicadas pela American Diabetes Associa- em CHO com dieta rica em monoinsaturados em diabé-
tion (ADA), foram sendo modificadas à luz de novos ticos tipo 2, por quatro semanas, observou que a dieta
conhecimentos, particularmente aqueles revelados pe- com MUFA reduziu de forma significativa os níveis de
los estudos sobre índice glicêmico de alimentos. De di-
etas extremamente restritas em energia e CHO e muito Tabela 1 - Recomendações nutricionais para diabéticos: 1930-
ricas em gorduras e colesterol, passou-se a recomendar 1997, segundo ADA
dietas ricas em CHO e fibras, suficiente em proteínas e Nutrientes 1930 1955 1970 1990 1997
restritas em gorduras saturadas e colesterol [5], confor- CHO total g/dia 70 176 225 290 280
me apresentado na Tabela 1. % energia 14 35 45 58 56
Há muito que a individualização da terapia nutricio- lípides totais g/dia 153 99 82 60 67
nal tem sido o ponto fundamental, dentro das recomen- % energia 69 45 37 27 30
dações de todos os órgãos voltados para DM. Os resul- saturados g/dia 87 46 35 14 18
tados apresentados pelo Diabetes Complications Con- monoinsat.g/dia 50 37 31 26 31
trol Trial (DCCT) [6] indicam que as pessoas que aderi- polinsat.g/dia 9 11 13 17 18
ram mais que 90% do tempo ao plano alimentar indivi-
colesterol mg/dia 1060 690 550 150 150
dualizado, tinham em média um nível de hemoglobina
glicada 0,9% menor do que aqueles que apresentaram Proteínas g/dia 85 101 90 75 70
% energia 17 20 18 15 14
Endereço para correspondência: Celeste Elvira Viggiano fibras diet. g/dia 8 15 20 40 35
Rua Des. Lauro Souza Alves, 7 CEP 05171-480 - São Paulo - SP
E-mail: salute@osite.com.br Valores para dieta com 2000 kcal
Viggiano CS / Diabetes Clínica 04 (2001) 278~280 279
glicose, insulina, triglicérides e VLDL-colesterol, e au- cionalmente adequada, é a mais freqüente escolha entre
mentou também significativamente o HDL-colesterol e os nutricionistas e educadores em saúde de todo o mun-
apo A-I [7]. Portanto, nos parece que o incentivo ao con- do, sendo já reconhecida pela maior parte das pessoas.
sumo de ácidos graxos insaturados, particularmente os A pirâmide alimentar como instrumento pedagógico,
monoinsaturados podem prevenir o processo ateroscle- na educação nutricional em diabetes, nos pareceu ade-
rótico, reduzindo o risco coronariano. quada e oportuna, já que a conduta nutricional nesta en-
Anderson [8] e Zeller [9] postularam que o excesso de fermidade preconiza basicamente uma dieta equilibra-
proteínas pode facilitar o desenvolvimento de nefropatia da. Foram necessárias algumas adaptações para enfati-
diabética, e que a proteína da soja reduz o índice de filtra- zar alguns aspectos fundamentais que se aplicam prin-
ção glomerular em diabéticos, recomendando que a pro- cipalmente à prevenção de complicações tardias.
teína de origem animal seja substituída por esta na dieta Esperamos que possa ser útil aos colegas nutricionis-
de diabéticos, como uma forma de prevenção da doença tas e principalmente aos pacientes, contribuindo para a
renal. Esses dados necessitam de maior investigação para dissolução de tabus alimentares até hoje disseminados
que integrem a conduta nutricional em DM. em nosso meio, não só pela população, mas também pela
Contudo, as melhores fontes vegetais de proteínas são mídia e profissionais de saúde, permitindo controle da
as leguminosas. Esses alimentos, ricos em fibras solúveis, doença e melhor qualidade de vida aos diabéticos.
devem compor a dieta, já que além das fibras que redu-
zem a resposta glicêmica pós-prandial, apresentam baixo Compreendendo a pirâmide
teor de gorduras e sódio, o que não se verifica nos ali-
mentos protéicos de origem animal. Manter proporções Cada grupo contido na pirâmide oferece um nutrien-
equilibradas entre as duas fontes, pode resultar em dieta te em especial.
mais adequada à prevenção de complicações tardias. O que nos sugere que alimentos do mesmo grupo são
O controle do sódio dietético, é também considerado substitutos ou equivalentes.
na prevenção da hipertensão arterial, da coronaropatia e
da nefropatia diabéticas. Segundo ADA (2000), reco- Cereais e tubérculos: São os alimentos energéticos,
menda-se 1000mg de sódio a cada 1000 kcal da dieta, as principais fontes de energia para a vida. Não devem
não ultrapassando 3000mg de sódio/dia, o que se traduz ser restritos na dieta. Os cereais integrais são mais nutri-
em restrição moderada de sódio. Portanto, já deve haver tivos do que os refinados.
controle do consumo de sódio intrínseco, o que limita o Cereais: arroz, milho, trigo, aveia, centeio, cevada e
uso de alimentos industrializados, além da restrição do seus produtos (farinhas, massas, pães).
cloreto de sódio. O consumo de potássio di-
etético deve ser incentivado já que contribui
para prevenção e controle da hipertensão ar-
terial [10]. As frutas frescas e dessecadas, e
hortaliças, excelentes fontes desse eletróli-
to, além de vitaminas, minerais e fibras, de-
vem integrar a dieta, sem restrição de quali-
dade, já que seu conteúdo de carboidratos
sofre interferência a nível digestivo, não al-
terando a resposta glicêmica, salvo se con-
sumidos isoladamente [11,12]. A Ingestão
Dietética Recomendada (IDR) para indiví-
duos diabéticos, seguem as recomendações
que para não diabéticos em todas as faixas
etárias, quanto às vitaminas e minerais [5].
Já é sacramentado que a educação em di-
abetes é uma das interfaces do tratamento,
sendo considerada imprescindível tanto para
o paciente, quanto para a família e aqueles
que o cercam. Sem dúvida, a educação nu-
tricional é fundamental dentro deste proces-
so, podendo inclusive ser considerada como
a base da terapia. A utilização da pirâmide
alimentar para a população, como forma de Manter ao menos no café da manhã, almoço e jantar, alimentos
orientação para escolha de uma dieta nutri- constantes da pirâmide, nas porções prescritas para você.
280 Viggiano CS / Diabetes Clínica 04 (2001) 278~280
Tubérculos: batata, mandioca, inhame, cará e mandi- Oleaginosas: Abacate, noz, amêndoas, castanhas,
oquinha. avelã.
Hortaliças: Fontes de vitaminas, sais minerais, e fi- Doces, gorduras sólidas, alimentos industrializa-
bras, que têm função reguladora do organismo. Escolha dos e sal de cozinha: Consumo esporádico. O açúcar
pelo menos um vegetal amarelo ou verde intenso. São pode prejudicar o controle do diabetes, se consumido
as melhores fontes de vitamina A e flavonóides, que são em excesso e fora do esquema alimentar. Não o utilize
anti-radicais livres, ou seja, favorecem a manutenção das se não estiver prescrito em sua dieta.
funções vitais e previnem as complicações crônicas do O excesso no consumo de gorduras sólidas na tempe-
diabetes. ratura ambiente e sódio, presente no sal de cozinha e
Hortaliças: Alface, escarola, repolho, acelga, agrião, nos conservantes de alimentos industrializados, possi-
espinafre, rúcula, almeirão, mostarda, couve, brócolos, bilitam as doenças coronarianas. Portanto, utilize o sal
couve-flor, cenoura, beterraba, abóbora, chuchu, abobri- com moderação e evite os alimentos industrializados e
nha, berinjela, pimentão, quiabo, jiló, rabanete, salsão, as gorduras que se apresentam sólidas na temperatura
erva-doce ambiente, seja de origem animal ou vegetal.
Doces: Balas, bolos, sorvetes, mel, garapa, doces con-
Frutas: Também são boas fontes de vitaminas, sais
centradas e em calda, etc.
minerais e fibras, e portanto têm função reguladora, po-
Gorduras sólidas: Toucinho, manteiga, creme de lei-
rém fornecem uma pequena quantidade de açúcares, por
te, coco, margarina, banha, etc.
isso não são equivalentes às verduras e legumes. Dentre
Alimentos industrializados: Enlatados, salgadinhos
todas as frutas do dia, consuma ao menos uma cítrica,
tipo snacks, molhos, temperos, etc.
por ser fonte de vitamina C, também anti-radicais livres.
Sal de cozinha: deve ser usado com moderação du-
Frutas frescas: Abacaxi, laranja, maracujá, tangeri-
rante o preparo dos alimentos, e não adicionado depois
na, maçã, banana, pêra, caqui, goiaba, uva, kiwi, melan-
de pronto. Evite deixar o saleiro na mesa, e tempere as
cia, mamão, melão, manga, pêssego, etc.
saladas com temperos frescos, como limão, cebola, alho,
Frutas dessecadas: Uva passa, ameixa seca, damas-
orégano.
co seco, etc.
Outra opção é o sal light que contém menor teor de
Leite, queijos e iogurte: São fontes de proteínas e as sódio.
melhores fontes de cálcio. Considerados como alimen-
tos construtores, por promoverem a renovação e multi- Álcool: O consumo de álcool traz prejuízo ao contro-
plicação das células. Procure optar pelas formas desna- le do diabetes, precipitando hipoglicemia ou hiperglice-
tadas ou as light. mia. Além disso, traz muitas calorias e favorece o au-
Carnes e ovos: Fontes de proteínas e ferro, são tam- mento dos níveis de gordura no sangue.
bém alimentos construtores. Procure consumir nas for-
mas mais magras, e dê preferência aos peixes. Referências
Carnes: Boi, aves, peixes e frutos do mar (camarão,
ostra, mexilhão, siri, lula, etc). 1. Allen FM. JAMA 1914;63:639-43.
Ovos: Galinha, codorna, pata, etc. 2. Geyelin HR et al. JAMA 1935;104:1203-8.
3. Sansum WD, Blatherwick NR, Bourden R. JAMA
Leguminosas: Fontes de proteínas vegetais e fibras. 1926;86:178-81.
Além de construtores, esses alimentos permitem melho- 4. Kempner W, Peschel RL, Schlayer C. Postgrad Med
rar os níveis de glicose no sangue, por conter fibras so- 1958;24:359-71.
5. American Diabetes Association. Diabetes Care
lúveis, que reduzem e retardam a absorção de glicose na 1998;21(S1):S5-S19.
digestão. São consideradas como a melhor fonte de fi- 6. The DCCT Research Group N Engl J Med 1993;329:977-86.
bras para o controle da glicemia e redução do colesterol. 7. Garg A, Bonanome A, Guindy SM et al. N Engl J Med
Leguminosas: Feijão, ervilha, lentilha, grã-de-bico, 1988;319:829-3
soja. 8. Anderson JW Nutrition Management of Diabetes Mellitus. In
Modern Nutrition in Health and Disease Shils ME et al. 9ª ed.
Óleos, cremes vegetais e frutas oleaginosas: Tenha Ed. Williams & Wilkins,1999.
um consumo moderado. Inclua o óleo de oliva ou cano- 9. Zeller K, Whittaker E, Sullivan L, et al. N Engl J Med
1991;324:78-84.
la na alimentação diária, por conterem gordura monoin- 10. Frolich ED. Hipertensão. Compêndio de Cardiologia
saturada que eleva os níveis do bom colesterol (HDL- Preventiva. American Heart Association, 1999;131-142.
colesterol), prevenindo o infarto. 11. Jenkins DJA, Wolever TMS, Taylor RH et al. Glycemic index
Óleos: Soja, milho, canola, arroz, girassol, oliva. of foods: a physiological basis for carbohydrates exchange.
Cremes vegetais: Margarinas com menor teor de gor- Am J Clin Nutr 1981;34:362-66
12. Crapo PA, Reaven G, Olefsky J. Postprandial plasma-glucose
dura, como as light. and insulin responses to different complex carbohydrates.
Diab 1977;26:1178-83.
FICHA PRÁTICA
Diabetes Clínica 09
Ficha Prática / Diabetes Clínica
A resistência à insulina
Calendário de Eventos
25 a 27 de outubro
Setembro de 2001 IIo Congresso Internacional de metabolismo ósseo e mineral
Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Rio de Janeiro RJ
9 a 13 de setembro Informações: Tempo Eventos Assessoria
37th Annual Meeting European Association for the Study of Tel/Fax: (21) 2235-0997
Diabetes E-mail: tempoeventos@uol.com.br
EASD 2001
Glasgow, Escócia
Informações: Concorde Services Ltd Novembro de 2001
$b, 50, Speirs Wharf, Port Dundas
Glasgow, G4 9TB UK 11 a 15 de novembro
Tel +44 141 331 0123 XIo Congresso ALAD – Association latinoamericana de
E-mail: easd@concorde-uk.com diabetes
IIIo Congresso Uruguaio de Diabetologia
Punta del Este, Uruguai
Outubro de 2001 Informações: personas SRL, Av. 8 de octubre 2323, of. 305,
Montevideo, Uruguai
3 a 6 de outubro Tel: (5982) 408-1015/408-2951
Avanços no diagnóstico e terapêutica das doenças E-mail: personas@cs.com.uy
neuroendócrinas
Hospital Brigadeiro, São Paulo SP 15 a 18 de novembro
Informações: Serviço de Endocrinologia Hospital Brigadeiro XIIIo Curso nacional de atualização em endocrinologia e
Tel: (11) 3846-3272/3846-3273 Sra Marilene metabologia
E-mail: acukiert@uol.com.br Gramado, RS
Organizacão: SBEM regional RS
4 a 6 de outubro www.vjs.com.br
IIo Congresso Internacional de Nutrição, Alimentação e Tel: (51) 330 1134
Tecnologia - CINAT E-mail: vjs@vjs.com.br
Centro de Convenções São Camilo, São Paulo SP
Informações: SINESP (11) 3277-8422/8291, 278 7144
www.sindicatonutricionistas.com.br
7 a 10 de outubro
Clinical Endocrinology Update 2001
Fairmont Hotel, Chicago, Illinois, EUA Diabetes Club
Informações: The Endocrine Society Todas as 2as quarta-feira de cada mês
Tel: 1 (301) 941 0226 Auditório Vivali Editora
www.endo-society.org/scimeetings/ceu.cfm Rua Cotoxó, 841
Sumaré – São Paulo SP
10 a 14 de outubro Tel: (11) 3672-2033 / 3864-6852
XIIIo Congresso brasileiro de diabetes
Hotel Intercontinental, Rio de Janeiro, RJ
Organização: Prof. Dr. Daniel Giannella Neto
Informações: JZCongressos
Tel: (21) 286-2846/537-9134 Equipe Médica de Diabetes LIM-25/HCFMUSP
E-mail: mail@jz.com.br Av.Dr. Arnaldo, 455, sala 4305
01246-903 São Paulo SP
21 a 24 de outubro Tel/fax: (11)3066-7467
XIVo Congresso brasileiro de nutrição parenteral e enteral
VIIo Congresso latino americano de nutrição parenteral e Confirmar presença pelo e-mail:
enteral dag@lim25.fm.usp.br
IIo Congresso brasileiro de nutrição clínica As aulas podem ser assistidas em sua integra no
Salvador, BA endereço:
Informações: Eventus System
www.topmedical.com.br/diabetes club/index.htm
Tel: (71) 264-3477 Fax: (71) 264-0508
E-mail: eventus@cpunet.com.br
284 Diabetes Clínica 04 (2001)
Fevereiro de 2003
Janeiro de 2002
3th International Symposium on Diabetes & Pregnancy
15 a 18 de janeiro Geneva, Switzerland
1st International Conference and World Fórum on Technology Informações: PO Box 50006 Tel Aviv 61500 Israel
Transfer of Obesity and Nutrition Tel 972 3 514 0014
Cairo, Egypt E-mail: conventions@kenes.com
Informações: International Obesity Conference
PO Box 5950 West Heliopolis, Cairo, Egypt
Tel: 20 10 5678 123 Agosto de 2003
E-mail: hamalaway@hotmail.com
24 a 29 de agosto
18th Internacional Diabetes Federation Congress
Março de 2002 Paris, França
Informações: www.idf.org
6 a 9 de março
5th International Symposium on Clinical Advances in Osteoporosis
Informações: National osteoporosis Foundation
Tel: 1 (202) 223 2226
E-mail: iso@nof.org
Maio de 2002
4 a 7 de maio
5th International Diabetes Federation Western Pacific Region
Congress
Pequim, China
Informacões +86 10 6527-8803
Fax +86 10 6512-3754
E-mail: ldwpr@chinamed.com.cn
Junho de 2002
14 a 18 de junho
62th Annual Scientific Sessions of the American Diabetes
Association
San Francisco, California
Informacões: www.diabetes.org
Agosto de 2002
24 a 29 de agosto
9th International Congress on Obesity
São Paulo, SP
Informações: Abeso
Tel: (11) 3079-2298
Fax: (11) 3079-4232
Diabetes Clínica
Diabetes Clínica 04 (2000) 285
Índice
(vol. 5 nº 5 - 2001) 285~356
EDITORIAL
A Sociedade Brasileira de Diabetes e o futuro, José Egídio Paulo de Oliveira ......................................... 287
PRODUTOS E NOVIDADES
Innovo (Novo Nordisk), Optium (Abbott Medisense), Glico-Fita Plus (Lilly),
SureStep Plus (Johnson & Johnson) ............................................................................................................... 316
ARTIGOS CIENTÍFICOS
Perfil do paciente diabético internado no hospital universitário Presidente Dutra, São Luís, Maranhão,
Natalino Salgado Filho, Bernardete Jorge Leal Salgado, Luiz Gustavo Oliveira Brito,
Gustavo Augusto Coelho Ferro, Ana Leatrice Oliveira Sampaio ................................................................... 333
Atividade física e diabetes mellitus, Nora Mercuri, Viviana Arrechea ........................................................... 347
FICHAS PRÁTICAS
O diabetes na Internet ..................................................................................................................................... 353
Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos
distúrbios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre
o conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associ-
adas. Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico, o conselho consultivo e profissionais
de reconhecido saber na área. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relati-
vas à diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma
maneira rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes.
EDITORIAL
Convidamos o novo presidente eleito da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Prof. Dr. José Egídio Paulo de Oliveira, para escrever o editorial deste
número de Diabetes Clínica – Fadlo Fraige Filho.
Traci L. Coleman et al., American Parto vaginal após cesárea não deve ser realizado em pacientes
Journal of Obstetrics and Gynecology com diabetes gestacional
2001;184:1104-1107, junho de 2001
Os pesquisadores demonstram que as mulheres com diabetes gestacional,
submetidas a parto vaginal após cesárea prévia, têm duas vezes mais chance
de ter parto cirúrgico do que as outras mulheres. O estudo comparou 156
mulheres com diabetes gestacional e 272 mulheres sem diabetes gestacional,
todas com história prévia de parto cesárea e submetidas a parto vaginal. Os
autores observaram que, entre as mulheres com diabetes gestacional, 35,9%
foram submetidas à cesárea comparadas a 22,8% dos controles, com razão de
chances de 1,9. Além disso, mulheres com diabetes gestacional que tiveram
parto vaginal tinham maior propensão ao uso do fórceps e vácuo. Os autores
concluem que a maioria das mulheres com diabetes gestacional e com histó-
ria de cesárea devem ser submetidas a cesáreas subseqüentes, sendo as mu-
lheres cuidadosamente selecionadas para parto vaginal após parto cesáreo.
Morris J. Birnbaum, Science Falta de uma proteína ligada à resistência à insulina em ratos
2001;292:1728-1731, 1 de junho de
2001 Em ratos faltando de Akt2 (conhecida como proteína quinase B), a insuli-
na não pode diminuir a glicose sanguínea, o que indica que Akt2 é um gene
essencial para manter os níveis normais de glicose. Ratos foram genetica-
mente transformados para apresentar uma deficiência de Akt2, e foi observa-
da neles uma elevação significativa das taxas da glicose, de 3 a 5 vezes o
nível normal, o que indique que a hiperglicemia, neste caso, é a conseqüência
de um defeito da ação da insulina.
Outras observações mostraram que os ratos deficientes em Akt2 não ti-
nham mais a capacidade de estimular o consumo de glicose pelo músculo, e
a insulina não podia mais controlar o esquema de produção de glicose pelo
fígado. “Pela eliminação de um gene, criamos uma síndrome com duas das
principais características do diabetes do tipo 2, o defeito de consumo da
glicose pelo músculo e o defeito de regulação da insulina no fígado”, disse
Birnbaum. Isso não significa que o defeito do Akt2 seja responsável do dia-
betes; ele pode reproduzir o fenótipo, e o estudo permite investigar melhor o
papel de Akt2 no diabetes tipo 2, o que nunca foi feito até agora.
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 05 (2001) 291
Patrick J. Manning et al., Arch Intern Reposição hormonal reduz risco cardiovascular em mulheres
Med 2001 161 1772-1776, diabéticas
julho de 2001
O estudo afirma que a terapia de reposição hormonal (TRH) em mulheres
pós-menopausadas com diabetes de tipo 2 apresenta benefícios no perfil de
lipoproteínas e em outros fatores de risco cardiovascular. O estudo reitera
que mulheres pós-menopausadas portadoras de diabetes estão sob maior ris-
co de doença cardiovascular que as não diabéticas. A TRH melhora o perfil
lipídico em mulheres não diabéticas. Entretanto, os efeitos da TRH em dia-
béticas não foram determinados. Conduziu-se estudo em 61 mulheres pós-
menopausadas randomizadas para tratamento de seis meses com TRH ou com
placebo. Durante o tratamento, o colesterol total caiu em 7%. A redução média
no LDL foi de 12%. Os níveis de apolipoproteína B também caíram, bem como
as concentrações de lipoproteína(a), fibrinogênio e frutosamina. Os autores
comentam que o estudo demonstra que a TRH em diabéticas reduz o risco
cardiovascular. Entretanto, não há até o momento evidências de redução nos
eventos cardiovasculares e ensaios clínicos maiores serão necessários até que a
TRH seja implementada no tratamento da doença cardiovascular.
6th Joint Meeting of the Lawson Wilkins Poderia a nicotinamida e a vitamina E ter efeitos sinérgicos para
Pediatric Endocrine Society and the reduzir o uso da insulina ?
European Society for Paediatric
Endocrinology (ESPE), Australasian A combinação da nicotinamida e da vitamina E poderia ter um efeito si-
Paediatric Endocrine Group, Japanese nérgico para diminuir o uso diário da insulina em portadores de diabetes de
Society for Pediatric Endocrinology, tipo 1 recentemente diagnosticados.
Latin American Society for Paediatric A nicotinamida é um importante complexo vitamínico do grupo B utiliza-
Endocrinology, Montreal, Quebec, do com agente intermediário em muitos remédios. Estudos anteriores mos-
Canada, 10 de julho de 2001 traram que ele pode ter um efeito sobre a preservação da função da célula β.
Vitamina E pode funcionar ao nível da célula β para diminuir a citotoxici-
dade mediada por citoquinas, mas nunca foi demonstrado que ela pode agir
sobre o processo auto-imune, conduzindo à perda da função da célula β, nem
que ela tem efeitos sobre o processo da insulina.
Este novo estudo incluiu crianças recentemente diagnosticados (idade mé-
dia 7,8 anos). 27 pacientes receberam nicotinamida (25 mg/kg/dia), e 29 re-
ceberam terapia combinada de nicotinamida e vitamina E (25 mg/kg/dia e 15
mg/kg/dia, respectivamente). Todos os pacientes receberam aplicações de
insulina – 3 doses de insulina de ação curta nas refeições e uma aplicação de
insulina intermediária ao deitar durante um período de 12 meses. As crianças
com idade inferior a 15 anos que desenvolveram diabetes de tipo 1 experi-
mentam geralmente uma perda mais rápida da função da célula β, e uma
forma mais severa da doença, com maiores riscos de lesões micro e macro-
vasculares. No estudo, o uso da insulina no início foi de 0,8 IU/kg/dia no
grupo de terapia combinada e de 0,89 IU/kg/dia no grupo de nicotinamida.
Em ambos os grupos a dosagem da insulina diminuiu durante os três primei-
ros meses da terapia, para 0,5 IU/kg/dia no grupo terapia combinada, pós aumen-
tou gradualmente. No final do estudo, ela estava ainda menor do que no início –
0,6 IU/kg no grupo terapia combinada e 0,7 no grupo nicotinamida (p = 0,01).
Os C-peptídeos plasmáticos foram significativamente mais elevados no
grupo terapia combinada. Não foi notada diferença significativa entre os dois
grupos no que se refere à HbA1c, que diminuiu de 10-11% para 7%.
“É o primeiro estudo que demonstra que a nicotinamida em jovens crian-
ças portadores de diabetes de tipo 1, utilizada em combinação com vitamina
E, pode otimizar a hemoglobina e diminuir o uso da insulina até níveis de 0,5
IU/kg/dia,” explicou o Dr. Antonino Crino.
294 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 05 (2001)
Miller WC, Exercise Science Programs, Dieta e exercícios para o sobrepeso e recomendações de
The George Washington University intervenção
Medical Center, Washington, DC,
Sports Med 2001;31(10):717-724, A dieta tradicional e os programa de exercício para obesidade não foram
setembro de 2001 eficazes para diminuir a prevalência do sobrepeso na população. O sucesso doa
tratamentos para o sobrepeso pode ser medido em termos de parâmetros físicos
(peso corporal, percentagem de gordura corporal, IMC), médicos (pressão san-
guínea, controle da glicose sanguínea, níveis de lípides sanguíneos), psicológi-
cos (patologia alimentar, auto-estima, estado de humor), e comportamentais
(freqüência de exercício, modelos alimentares, auto-cuidado). Os resultados
devem ser mantidos vários anos para ser considerados efetivos. As dietas res-
tritivas em energia são responsáveis de uma perda inicial significativa de peso,
mas são infestadas pelas taxas elevadas de abandono e reincidência. As dietas
com taxa de gordura reduzida não fizeram muito sucesso para o controle do
peso, mas podem diminuir significativamente os níveis de lípides sanguíneos.
As dietas ricas em proteínas e reduzidas em carboidratos pretendem ser mais
eficazes para perda de peso, mas não existem bases científicas. Estes tipos de
dietas podem também apresentar riscos de efeitos metabólicos adversos. Os
programas sem dietas e os que acusam a “saúde a qualquer preço” não foram
estudados cientificamente, mas os dados preliminares mostram uma perda de
peso mínima com melhora significativa do estado psicológico, patologia ali-
mentar e bem-estar. Exercício é o único fator que mostra resultados dos pontos
de vista fisiológico, psicológico, médico e comportamental. Um programa de
tratamento que tem potencial de sucesso é um programa que possui 4 compo-
nentes-chave: 1) Pré-avaliação, onde a informação histórica é usada para esta-
belecer metas e resultados; 2) Exercício, onde o exercício é encorajado para a
saúde, o controle de peso e o bem-estar; 3) Plano comportamental, baseado em
padrões alimentares e de atividade que podem resultar em objetivos desejados;
4) Plano de manutenção, para ajudar o indivíduo a manter os comportamentos
desenvolvidos e os resultados obtidos.
H. Hyöty et al., 37th Annual Meeting of Mais evidências da relação entre enterovírus e diabetes na
the European Association for the Study infância
of Diabetes (EASD), Glasgow, Reino-
Unido, 9 - 13 de setembro de 2001 Infecção com enterovírus na infância aumenta o risco de desenvolver dia-
betes tipo 1, segundo este estudo da Universidade de Turku, Tampere and
Oulu, Finlândia. Para analisar a associação, os pesquisadores estudaram cri-
anças de famílias que aceitaram participar no Finnish Diabetes Prediction
and Prevention Study. Neste estudo, todas as crianças foram rastreadas para
medir o risco de desenvolver diabetes e os que apresentaram riscos maiores
foram seguidos. Os pesquisadores acharam que a freqüência das infecções a
enterovírus foi de 24% entre as 248 crianças que desenvolveram diabetes
mas só 16% entre as 1116 crianças saudáveis (p = 0,004). Os jovens diabéti-
cos apresentam também taxas elevadas de anticorpos contra o vírus.
Foi determinado que as infecções a enterovírus são mais freqüentes nos 6
meses antes a primeira detecção de auto-anticorpos associados ao diabetes, e
que 51% das crianças que desenvolvem diabetes apresentaram uma infecção
durante este período versus 28% dos controles (odds ratio 3,0).
O autor conclui que é difícil estabelecer uma relação causal, mas acredita
que é possível: “As infecções repetidas podem ser importantes. Uma exposi-
ção talvez não é suficiente, mas pode ser diferente com três, quatro ou cinco
exposições ao vírus. Acreditamos que temos razão de pesquisar a relação e
talvez desenvolver uma vacina”.
Frank B. Hu et al., N Engl J Med Relação entre o risco de diabetes em mulheres e os fatores de
2001;345:790-797, setembro de 2001 risco comportamentais
A. W. Herling, Aventis Pharma, 37th Rosiglitazona libera a gordura das células musculares
Annual Meeting of the European
Association for the Study of Diabetes A rosiglitazona aumenta a sensibilidade à insulina por retirar as gorduras
(EASD), Glasgow, Reino-Unido, 9 - 13 sanguíneas das células musculares que têm um papel vital na captação da
de setembro de 2001 glicose. Os achados preliminares do estudo mostram o mecanismo pelo qual
a droga interrompe a resistência à insulina.
Os achados sugerem que, ajudando a saída dos lípides das células muscu-
lares para o tecido adiposo, a rosiglitazona melhora a capacidade do tecido
298 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 05 (2001)
R. Henry et al., 37th Annual Meeting of Insulina inalada é segura mas pouca absorvida pelos pacientes
the European Association for the Study asmáticos
of Diabetes (EASD), Glasgow, Reino-
Unido, 9 - 13 de setembro de 2001 Pacientes com asma absorvem menos insulina do que os diabéticos não
asmáticos, quando a droga for inalada. Asma pode afetar a farmacocinética
da insulina. O grupo asmático apresenta uma diminuição significativa da con-
centração em insulina, o que pode ser explicado pela diminuição da função
pulmonar.
Apesar disso, o mesmo estudo mostra que a insulina inalada é segura por
uso em asmáticos, e não afeta a capacidade pulmonar ou a reatividade das
vias aéreas.
Este estudo é o primeiro que investiga se a insulina inalada é uma alterna-
tiva possível para as pessoas sofrendo de doença pulmonar. Os pesquisadores
observaram um grupo de diabéticos voluntários usando o sistema AERx, tra-
tamento experimental da Aradigm Corporation (Califórnia) que libera um
aerosol líquido de insulina nos pulmões.
Os pacientes – 28 voluntários saudáveis e 16 asmáticos – receberam duas
doses diferentes da droga inalada, a primeira equivalente a 6 unidades subcu-
tâneas de insulina, a segunda equivalente a 17 unidades. Foi medida a utiliza-
ção da insulina e foi efetuada uma serie de testes para avaliar a função pul-
monar e os efeitos da droga nas vias respiratórias.
A utilização da insulina no grupo asmático foi significativamente menor
do que no grupo controle (p = 0,013). Todavia, nenhumas alterações foram
constatadas em volume expiratório máximo em 1 segundo e capacidade vital
máxima em pré ou pós-dose.
A. W. Herling, Aventis Pharma, 37th Xenical (Roche) melhora o controle da glicemia em diabéticos
Annual Meeting of the European
Association for the Study of Diabetes Os pacientes diabéticos com sobrepeso tratados coma droga antiobesidade
(EASD), Glasgow, Reino-Unido, orlistat (Xenical) perdem peso, melhoram o controle da glicose e diminuem a
9 - 13 de setembro de 2001 necessidade de remedias antidiabéticos. Participaram do estudo pacientes com
sobrepeso que receberam uma dieta reduzida em calorias e foram randomiza-
dos para receber Xenical (n = 189) ou placebo (n = 180).
Depois de um ano, os pacientes tratados por Xenical mostraram melhora
do controle glicêmico, diminuições significativas da HbA1c, da glicose de
jejum e da glicose pós-prandial, permitindo uma diminuição da dose diária
de medicação antidiabética usual.
300 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 05 (2001)
Continuação A diminuição em HbA1c foi de 0,9% vs. 0,4%, em glicose de jejum foi de
1,63 versus 0,71 mmol/l, e a diminuição da glicose pós-prandial foi de 1,81
versus 0,53 mmol/l. O grupo Xenical apresentou uma diminuição maior da
dose diária média de sulfoniluréias do que os pacientes tratados com placebo
(-1,2% versus +0,5%).
Xenical é também eficaz para diminuir o peso dos pacientes diabéticos.
Depois de um ano, o grupo Xenical perdeu 5,3 kg, vs. 3,4 kg no grupo tratado
com dieta.
“A perda de peso é uma primeira etapa vital no tratamento das pes-
soas portadoras de diabetes de tipo 2, mas menos do que 10% dos diabé-
ticos tipo 2 conseguem uma perda de peso suficiente com a dieta em trata-
mento único. Qualquer medicação que pode ajudar as pessoas a perder
peso e diminui a necessidade de uso de agente antidiabético, é benéfico
para as pessoas que precisam controlar peso de diabetes tipo 2,” segundo
o Prof. Markolf Hanefeld.
As autoridades estão revisando a licença do Xenical nos Estados Unidos e
Canadá, para incluir o tratamento do diabetes tipo 2. Segundo o laboratório
Roche, mais do que 90% dos 120-140 milhões de pessoas com diabetes tipo
2 apresentam um sobrepeso.
Jorn Nerup, President of the European União Européia criticada para a fraqueza dos investimentos
Association for the Study of Diabetes, financeiros em diabetes
37th Annual Meeting of the European
Association for the Study of Diabetes Os Estados membros da União Européia foram muitos criticados para a
(EASD), Glasgow, Reino-Unido, 9 - 13 falta de investimentos para a pesquisa em diabetes apesar do aumento rápida
de setembro de 2001 da doença na população. Segundo o Dr. Jorn Nerup, não existe ainda “um
euro único” para o diabetes. Ele enfatizou também que os melhores pesquisa-
dores são empregados por instituições americanas, que, elas, têm fundos para
investir em projetos.
O Dr. Nerup justificou a ataque pelo fato que a população de diabéticos
aumentará de 135 milhões para 250 milhões em 2010: “O diabetes é uma
bomba programada sobre os sistemas de saúde. Vai estourar na face de polí-
ticos e autoridades que não reconhecem ainda a importância da doença.”
“O diabetes consume entre 9 e 15% do todos os orçamentos de saúde dos
Estados da Europa e dos Estados Unidos e vai aumentar. Precisamos pesqui-
sas em todos os aspectos do diabetes. Mas se juntamos os esforços de inves-
timentos de todos os países da União, não chegamos em um décimo do que é
disponível nos Estados Unidos. Enfrentamos a maior fuga de cérebros em
pesquisa de diabetes, o que é triste porque o talento está aqui. Precisamos
convencer políticos da Europa que e problema é serio demais para ser negli-
genciado.”
Diabetes Clínica 05 (2001) 301
O Diabetes na Imprensa
Fazer exercício físico é bom para a saúde, diz o senso comum. Fazer muito
exercício, portanto, seria excelente. O raciocínio é equivocado. Depois de
Época, 8 de setembro de 2001 passar os últimos 30 anos apregoando o culto ao corpo, à malhação sem limi-
te e à transpiração desenfreada, os especialistas em medicina do esporte che-
garam a uma conclusão. Um mínimo de esforço feito com regularidade não
prepara ninguém para ganhar a Corrida de São Silvestre, mas é suficiente
para garantir uma vida mais saudável. “Nem todo mundo tem tempo, disposi-
ção ou dinheiro para freqüentar academias”, diz o médico do esporte Victor
Matsudo. “Mas pequenas ações incorporadas ao cotidiano evitam proble-
mas com o corpo.”
Presidente do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São
Caetano do Sul (Celafiscs), Matsudo é o principal divulgador no Brasil do
chamado estilo de vida ativo. Com o apoio da Organização Mundial de Saú-
de (OMS), de órgãos públicos e de empresas privadas, sustenta a campanha
de conscientização Agita São Paulo. “Para ter uma boa qualidade de vida,
basta fazer 30 minutos diários de exercícios caseiros”, resume. Não estão
mais em discussão os benefícios do esporte. O que se procura é a maneira
correta de praticá-lo. Na medida certa, a atividade física reduz o risco de
morte por doenças cardíacas, hipertensão e diabetes. Ajuda no controle do
peso e promove o bem-estar. Em contrapartida, o excesso pode provocar pro-
blemas hormonais, rupturas, lesões, torções e inflamações de músculos, ten-
dões e articulações. Em casos extremos, o impacto repetitivo do pé contra o
solo leva a fraturas ósseas, a chamada fratura por estresse.
Exames como eletrocardiograma, medição de gordura corporal, potência
aeróbica e explosão muscular especificam o esporte e a carga de exercícios
mais adequados ao indivíduo. Até recentemente se acreditava que a dose
mínima para a atividade física gerar benefícios era uma hora diária, três ve-
zes por semana, em ritmo forte. Em 1995, estudos conduzidos pelo médico
americano Russel Pate revolucionaram esse conceito. Pate constatou que meia
hora de movimentos moderados, cinco vezes por semana, é o ideal. Concluiu
também que se exercitar dez minutos de manhã, dez à tarde e dez à noite, por
exemplo, equivale a 30 minutos seguidos. As pesquisas, reconhecidas pela
OMS, associaram a atividade física ao gasto calórico. Segundo os estudos de
Pate, sedentário é quem queima menos de 500 calorias por semana. Quem
gasta entre 500 e 1.500 calorias é considerado ativo. O consumo de calorias
pelo organismo pode ocorrer em trabalhos da rotina diária. Assim, caminhar
até a banca de jornal, dançar, cuidar do jardim, passear com o cachorro, lavar
o carro substituem satisfatoriamente a ginástica na academia. Andar meia
hora por dia em ritmo moderado, por exemplo, demanda 150 calorias. É sufi-
ciente para a pessoa ser considerada ativa e para garantir-lhe os benefícios da
atividade física.
302 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 05 (2001)
Continuação ano. Neste inverno, por causa dos veranicos e das chuvas, essas árvores nativas
da Mata Atlântica são vistas floridas em quase todos os bairros da cidade.
Também chamadas de bauínias, seu nome científico é Bauhinia fortificata,
dividem-se em mais de uma dezena de espécies e são da mesma família do
pau-brasil (a das leguminosas-cesalpináceas). As espécies usadas na arbori-
zação da cidade têm flores brancas ou roxas. Essas árvores foram adotadas
em urbanismo porque crescem rápido, constituindo algumas das espécies pi-
oneiras da Mata Atlântica.
Curiosamente, assim como o pau-brasil, a pata-de-vaca ocorre também
na China e em ilhas do Oriente (sob forma de variedades que evoluíram sepa-
radamente), mostrando que os antepassados dessas árvores já existiam antes
da separação dos continentes, há 100 milhões de anos.
Ela sobreviveu a várias glaciações e continua hoje na linha de frente da
Mata Atlântica, onde abre caminho para outras espécies de árvores e desapa-
rece na mata densa, ocupando as fímbrias da floresta.
Os portugueses que descobriram o Brasil já compravam pau-brasil do Ori-
ente, onde a árvore se chamava sipango e era distribuída na Europa desde a
Idade Média para tingir tecidos. Começa, então, a ser introduzida no Brasil
uma variedade chinesa de pata-de-vaca conhecida como bauínia-de-hong-
kong (Bauhinia blakeana), que dá flores ainda mais espetaculares, formando
grandes cachos violáceos. Aqui, a multiplicação dessa espécie chinesa é
feita por alporquia. As mudas das espécies nativas são obtidas por sementes.
Segundo relatos de jesuítas, os índios já usavam as folhas de pata-de-vaca
branca como remédio. “Todas as patas-de-vaca nativas da Mata Atlântica
são medicinais, sendo indicadas para o controle da diabetes”, explica o far-
macêutico Sérgio Panizza, filho do botânico e fitoterapeuta Sylvio Panizza,
professor da Universidade de São Paulo (USP).
Panizza conta que as últimas pesquisas mostram que o chá de folhas de
pata-de-vaca diminui a glicemia por causa de dois fatores: os taninos, que
dão gosto amargo ao chá, e um sal mineral chamado cromo. “Os taninos
dificultam a absorção do açúcar e o cromo estimula o fígado e o pâncreas,
facilitando a metabolização do açúcar absorvido, o que diminui os índices
de glicose no sangue”, diz o farmacêutico.
Segundo ele, as árvores de flores brancas e folhas mais pontudas (Bahui-
nia forticata) possuem mais ingredientes ativos que as de flores roxas e fo-
lhas mais arredondadas. “Essa planta realmente funciona. Pessoas que to-
mavam comprimidos para controlar a diabetes e passarem a usar o chá de
pata-de-vaca acabaram dispensando os comprimidos sob acompanhamento
médico”, conta Panizza.
terra
Terra.com.br, 29 de junho de 2001
Açúcar pode dar dependência?
M.E.J. Lean et al., 37th Annual Meeting Pioglitazona diminui a gordura intra-abdominal
of the European Association for the
Study of Diabetes (EASD), Glasgow, Objetivo: O diabetes de tipo 2 e o síndrome metabólico são caracterizados
Reino-Unido, 9 - 13 de setembro de pela resistência à insulina, obesidade e distribuição central da gordura. Toda-
2001 via, o aumento da sensibilidade à insulina é responsável de lipogênese. Este
trabalho estuda a hipótese que a pioglitazona poderia ter efeitos adversos
sobre a gordura corporal.
Material e métodos: Estudo randomizado controlado por placebo de pio-
glitazona 45 mg/dia durante 18 semanas em pacientes diabéticos tipo 2 trata-
dos com dieta para manter o peso.
Resultados: Em controle (n = 12), não há alterações no peso corporal (0,0,
IC –1,1 para 1,0 kg), mas pacientes tratados por pioglitazona (n = 13) ganha-
ram 2,5 (IC 0,7-4,2) kg, dos quais 2,2 (IC 0,6-3,9) kg eram gordura. Todavia,
a massa de gordura intra-abdominal mostrou uma diminuição significativa
de 0,12 (IC –0,19 para –0,06) kg em comparação com controles (ressonância
306 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 05 (2001)
S. Gregersen1 e al., 37th Annual Efeitos agudos do stevioside em pacientes com diabetes de tipo 2
Meeting of the European Association
for the Study of Diabetes (EASD), Objetivo: Extratos da planta Stevia rebaudiana Bertoni (SrB) foram utili-
Glasgow, Reino-Unido, 9 - 13 de zados durante vários anos para o tratamento do diabetes na América do Sul,
setembro de 2001 mas sem fundamento clínico. Já demonstramos anteriormente que steviosi-
de, glicosídeo diterpeno presente na planta SrB, possui potencial insulinotro-
pico, glucagon-estático e anti-hiperglicêmico em estudos sobre o animal. A
questão agora é pesquisar se stevioside pode ter ação sobre o metabolismo da
glicose em diabetes de tipo 2. Hipótese: Stevioside adicionada à refeição
diminui os níveis de glicose sanguínea pós-prandial, estimula a insulina e
diminui as taxas de glucagon.
Material e métodos: O estudo foi realizado em 12 pacientes diabéticos (4
mulheres/8 homens) com HbA1c 7,4 ± 0,4 %. Uma refeição padrão (1725 kJ)
foi suplementada com 1 g de stevioside ou 1 g de gelatina (placebo). Amostras
sanguíneas foram retiradas 30 minutos antes e 240 minutes após a ingestão.
Resultados: Em comparação com placebo, stevioside diminuiu a área sob a cur-
va de resposta da glicose em 18% (p = 0,013), a área sob a curva de resposta do
glucagon em 19% (p = 0,02), e a resposta do glucagon like peptídeo (GLP-1) em
31% (p = 0,044). Stevioside não alterou significativamente a área sob a curva da
insulina e do polipeptídeo insulinotropico dependente da glicose (GIP). Não foram
encontradas diferenças nos níveis de acides graxos livres ou de triglicérides.
Conclusões: Stevioside diminui a glicose sanguínea pós-prandial e os ní-
veis de glucagon em pacientes diabéticos tipo 2. Isso indica que stevioside
apresenta benefícios para o metabolismo da glicose e pode ser útil no tra-
tamento do diabetes de tipo 2.
P. Home1 et al., 37th Annual Meeting of Efeito antihipertensivo de farglitazar, agonista do PPARγγ, em
the European Association for the Study pacientes portadores de diabetes tipo 2 e de hipertensão arterial
of Diabetes (EASD), Glasgow, Reino-
Unido, 9 - 13 de setembro de 2001 Objetivo: Farglitazar é um novo agonista do PPARγ, não-tiazolidinediona,
derivado de uma raiz L-tirosina, com afinidade elevada para o receptor nuclear
humano PPARγ, e pequena mas talvez atividade importante em relação com
o receptor PPARα. Diminuição da glicose e dos lípides sanguíneos tem sido
demonstrada em pacientes portadores de diabetes tipo 2 tratados por farglitazar.
Diminuição da pressão sanguínea também foi notada em sujeitos saudáveis
bem como em portadores de diabetes.
Material e métodos: Um estudo duplo-cego, randomizado, com grupo
paralelo em 304 pacientes diabéticos tipo 2 hipertensos foi desenhado para
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 05 (2001) 307
Wallace TM et al., Diabet Med Uso em casa e no hospital de um novo medidor de cetonas em 30
200;18(8):640-645, agosto de 2001 segundos
Objetivos: Estabelecer o papel da medição do β-hidroxibutirato (β-OHB)
para separar a hiperglicemia da cetose, usando um medidor eletroquímico
dos cetonas sanguíneas. O objetivo do estudo é de avaliar a eficácia e a precisão
de um medidor e desenvolver recomendações para o uso do medidor de cetonas
em casa e no hospital.
Material e métodos: 20 pacientes com controle glicêmico inadequado
(HbA1c média 10,2%) foram selecionados de uma clínica de diabetes e 14
pacientes hospitalizados com cetoacidose diabética (DKA) foram selecionadas
de um Departamento de Emergência. O sangue obtido por teste de glicose foi
também usado para medições de β-OHB, usando o medidor de cetonas. As
concentrações de β-OHB plasmática foram também medidas na entrada
usando um método enzimático usual.
Resultados: As medições de glicose e β-OHB (n = 1099) nos pacientes da
clínica mostraram que, fora de doença atual, os níveis de β-OHB não
ultrapassam 1 mmol/l, independentemente dos resultados da glicose. Nos 14
pacientes com cetoacidose, a concentração média de β-OHB plasmática,
medida em laboratório, era de 7,4 mmol/l (intervalo 3,9-12,3 mmol/l). O tempo
médio, a partir do início do tratamento, para as concentrações de β-OHB cair
embaixo de 1 mmol/l foi de 8,46 h (intervalo 5-58,33 h).
Conclusão: O teste das cetonas sanguíneas é um complemento útil à moni-
torização da glicose sanguínea para separar a cetose da simples hiperglice-
mia. Os dados sugerem que β-OHB ≥ 1 mmol/l necessita uma observação
e níveis > 3 mmol/l necessitam uma revisão medical do tratamento. Em
mais, a taxa de diminuição do β-OHB em DKA pode ser usado como um
indicador da adequação do tratamento.
Saenz de Tejada et al., 37th Annual Tadalafil, nova esperança para o tratamento da disfunção erétil
Meeting of the European Association em homens diabéticos
for the Study of Diabetes (EASD),
Glasgow, Reino-Unido, 9 - 13 de Um estudo sugere que tadalafil é eficaz e seguro para o tratamento da dis-
setembro de 2001 função erétil (DE) em homens diabéticos. Tadalafil é um novo inibidor seletivo
da fosfodiesterase, desenvolvido para o tratamento da disfunção erétil. Já foi
demonstrado que este tratamento é eficaz e seguro em homens não diabéticos.
216 homens (idade média 56 anos) com DE moderada a severa e portadores
de diabetes tipo 1 ou 2, foram selecionados. Os escores do Baseline Internati-
onal Index of Erectile Function (IIEF) foram obtidos e um diário tipo Sexual
Encounter Profile (SEP), foi preenchido durante um período de 4 semanas.
Os pacientes foram randomizados para receber placebo ou tadalafil 10 ou
20 mg, durante um período de 12 semanas. Para participar do estudo, os
pacientes tinham de experimentar uma DE moderada a severa, de origem
psicológica, orgânica ou mista, durante um período de 3 meses ou mais.
Comparado com placebo, tadalafil 10 mg e 20 mg produziu um aumento
significativo (p < 0,001) da capacidade dos pacientes a realizar um ato sexu-
al. Tadalafil foi também melhor do que o placebo para melhorar a função
erétil, medida pelo escore IIEF (p < 0,001).
As doses de 10 e 20 mg são ambos superiores ao placebo par melhorar a
capacidade de penetração (p<0,001), capacidade de manter a ereção durante
o ato e melhorar os escores de satisfação.
Os resultados são independentes do tipo de diabetes, do tratamento atual,
do nível inicial da glicose sanguínea ou da presença de complicações micro-
vasculares. Ambas as doses de tadalafil foram bem toleradas e nenhum efeito
adverso sério foi reportado. Os únicos efeitos reportados por mais de que 5%
dos participantes foram dor de cabeça e dispepsia.
Apesar do que este estudo seja pequeno, os resultados sugerem que tadala-
fil é eficaz e seguro para o tratamento da DE em diabéticos. Esses dados
devem ser confirmados por outros estudos.
312 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 05 (2001)
Natalia Roudovitch et al., 37th Annual Repaglinida e metformina aumenta a secreção e a sensibilidade à
Meeting of the European Association insulina em pacientes diabéticos tipo 2
for the Study of Diabetes (EASD),
Glasgow, Reino-Unido, Este estudo de 3 semanas, randomizado, controlado por placebo, foi realiza-
9 - 13 de setembro de 2001 do em 11 pacientes portadores de diabetes tipo 2, idade 58 anos (41-66), com
IMC médio 32,2 (intervalo 23 - 45) kg/m², e duração médio de diabetes de 8,2
anos. Os pacientes eram tratados por dieta e/ou agentes antidiabéticos orais.
A semana 1 foi um período de avaliação, de exame clínico e testes de
laboratório. O tratamento começou na semana 2 com placebo (1 mg/3 vezes
por dia) mais metformina (850 mg/3 vezes por dia) e a semana 3 com repa-
glinida (1 mg/3 vezes por dia) mais metformina (850 mg/3 vezes por dia).
A resposta aguda da insulina à glicose e a segunda fase de secreção de
insulina em condições hiperglicêmicas foram ambas aumentadas nos clamps
hiperglicêmicos com repaglinida (resposta aguda da insulina [AIRglu] 1,23
± 0,4 versus 0,73 ± 0,4 h.µU/L, p < 0,01 e área sob a curva [AUC] (25-180
min) 95,8 ± 25,7 versus 52 ± 16,5 h.µU/L, p < 0,01).
O índice de sensibilidade à insulina aumentou após uma semana de terapia
conjugada repaglinida + metformina, quando comparada com a semana pla-
cebo + metformina (6,67 ± 1,8 versus 4,96 ± 1,3 mg/kg.min/mU, p < 0,05).
Esses resultados sugerem que repaglinida age sobre vários fatores envol-
vidos no metabolismo dos carboidratos, segundo os pesquisadores. A melho-
ra significativa do índice de sensibilidade à insulina observada com repagli-
nida + metformina sugere que os dois agentes têm um efeito sinérgico sobre
a sensibilidade à insulina neste tipo de pacientes.
John Gerich et al., 37th Annual Meeting Modo de ação da rosiglitazona no controle glicêmico
of the European Association for the
Study of Diabetes (EASD), Glasgow, Esta pesquisa mostram que o efeito pós-prandial da rosiglitazona é devido à
Reino-Unido, supressão do release da glicose endógena (gliconeogênese). Em mais, mostra
9 - 13 de setembro de 2001 que rosiglitazona aumenta a eficiência da captação da glicose pelos tecidos, e
aumenta a secreção e a sensibilidade à insulina no fígado e tecidos periféricos.
O mecanismo pelo qual a rosiglitazona e outras tiazolidinedionas melhora
o controle glicêmico não é até hoje totalmente conhecido. Por exemplo, não
é claro se agem pela redução da produção de glicose, especificamente, ou se
elas simplesmente aumentam a sensibilidade à insulina.
Este estudo, desenhado para investigar o modo de ação da rosiglitazona,
duplo-cego, randomizado, controlado por placebo, foi realizado com pacien-
tes diabéticos de tipo 2, homens e mulheres (idade 40-70 anos). Os pacientes
receberam rosiglitazona 8mg/dia (4 mg duas vezes ao dia) ou placebo duran-
te ume período de 12 semanas. As medições incluíram a produção de glicose,
incluindo avaliação da gliconeogênese vs. glicogenólise, sensibilidade à in-
sulina e função celular β.
Resposta a rosiglitazona foi definida como diminuição da HbA1c > 0,3%
e da glicose sanguinea de jejum > 10%. Quando comparado ao o grupo pla-
cebo, o grupo rosiglitazona exibiu diminuições estatisticamente significati-
vas em HbA1c, glicose plasmática de jejum e glicose pós-prandial em 1%,
40 mg/dl and 43 mg/dl, respectivamente (p < 0,03). A gliconeogênese pós-
prandial, mas não de jejum, foi também significativamente diminuída (p =
0,04) no grupo rosiglitazona.
A captação de glicose de jejum e pós-prandial foi também reduzida no
grupo rosiglitazona, em comparação com grupo placebo, no final do período
de 12 semanas. A resistência à insulina foi significativamente diminuída (p <
0,01) no grupo rosiglitazona quando comparado com o início mas não com o
grupo placebo no final do período de 12 semanas. Mas a melhora na secreção
314 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 05 (2001)
Produtos e novidades
Innovo: aplicador de insulina com memória para auxiliar os
pacientes
MA Testa et al, Harvard University, Terapia intensiva e satisfação do paciente portador de diabetes
Boston, MA, USA, 37th Annual Meeting de tipo 1: estudo randomizado sobre insulina inalada versus
of the European Association for the injetada
Study of Diabetes (EASD),
Glasgow, Reino-Unido, Objetivo: Apesar da evidência de seus benefícios para a saúde, a terapia
9 - 13 de setembro de 2001 insulínica necessita várias aplicações por dia, o que diminui a aceitação do
tratamento. Para quantificar a responsabilidade do número de aplicações em
termos de satisfação do paciente e qualidade de vida, estudamos 327 pacien-
tes portadores de diabetes de tipo 1 randomizados para receber insulina NPH
2 vezes/dia mais insulina regular pré-refeição (n = 165) ou insulina inalada
pré-refeição (n = 162).
Material e métodos: Os pacientes eram 535 homens, com idade 12-65
anos (idade média 29,5 ± 14,6 anos), e HbA1c média 8,0 ± 1,0%. Questioná-
rios de qualidade de vida e satisfação foram completados no início e 6, 12, 20
e 24 semanas após tratamento.
Resultados: A escore de satisfação global (0 a 100) aumento significativa-
mente mais para a insulina inalada do início até o fim do estudo (62,1 para
74,5) do que para aplicações por injeções (62,8 to 64,3), p < 0,0001. As mu-
danças do início até o fim do estudo para todos os itens de satisfação (0 a
100), mostraram aumentos similares da satisfação com insulina inalada com-
parada com aplicações tradicionais. Os resultados da insulina inalada ± DP
vs. Injeções ± DP foram: carga (9,9 ± 1,3 vs. 2,3 ± 1,0); conforto (12,6 ± 1,6
vs. 1,2 ± 1,1); eficácia (13,9 ± 1,7 vs. 2,9 ± 1,5); flexibilidade (12,2 ± 1,4 vs.
1,6 ± 1,3); satisfação geral (18,3 ± 2,2 vs. 0,3 ± 1,6); dor (14,2 ± 1,5 vs. 0,8 ±
1,2); preferência (27,4 ± 2,1 vs. 1,7 ± 1,5); efeitos adversos (3,4 ± 1,2 vs. ?2,6
± 1,2), p < 0,0001; confusão (9,7 ± 1,2 vs. 4,4 ± 1,2); interferência com a vida
(9,8 ± 1,2 vs. 5,1 ± 1,2); social (1,4 ± 0,8 vs. ?0,9 ± 0,7); e satisfação especí-
fica no que se refere à insulina (9,7 ± 1,7 vs. 0,8 ± 1,1), p < 0,01 a 0,03. O
escore global de qualidade de vida e os itens tais como controle comporta-
mental e emocional, sintomas de sofrimento geral e hiperglicêmica, cogni-
ção, acuidade mental e consciência evoluíram melhor com a insulina inalada,
p < 0,01 a 0,05. As diferenças no podem ser completamente explicadas pela
diminuição da HbA1c [INH (0,3 ± 0,06%) vs MDI (0,1 ± 0,07%), p = 0,08].
Conclusões: A redução do número de injeções pelo uso da insulina inalada
melhora a satisfação do paciente e a qualidade de vida, reduzindo a carga
terapêutica e os obstáculos à aderência à terapia intensiva.
320 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 05 (2001)
JG Eriksson et al., National Public Crescimento na infância e diabetes de tipo 2 na idade adulta
Health Institute, Helsinki, Finland and
Medical Research Council, Objetivo: O baixo peso de nascimento é associado a taxas aumentadas de
Southampton,UK, 37th Annual Meeting diabetes de tipo 2 na vida adulta. Isso é uma conseqüência das alterações
of the European Association for the fisiológicas e metabólicas persistentes que acompanham o crescimento lento
Study of Diabetes (EASD), Glasgow, in útero. Além disso, obesidade na infância e do adulto e importante fator de
Reino-Unido, risco para o diabetes de tipo 2. O objetivo deste estudo foi de avaliar o cres-
9 - 13 de setembro de 2001 cimento durante a infância em pessoas que desenvolveram um diabetes de
tipo 2.
Material e métodos: Homens (n = 4630) e mulheres (n = 4130) que nasce-
ram no Hospital Central da Universidade de Helsinski durante o período 1934-
44, e que consultaram em serviços pediátricos da cidade participaram no es-
tudo. Os indivíduos foram medidos aproximadamente 18 vezes (peso e altu-
ra) entre o nascimento e a idade de 12 anos. Registros detalhados sobre a
saúde das crianças foram disponíveis para todos os 8760 participantes.
Resultados: Foram identificados 208 homens e mulheres que desenvolve-
ram diabetes de tipo 2. O baixo peso de nascimento e baixo índice ponderal
(peso de nascimento/altura) foram associados com risco aumentado de diabe-
tes de tipo 2. Baixo peso (p = 0,019) e IMC em 2 anos de idade (p < 0,001)
também aumentam o risco. Após a idade de 7 anos, o ganho rápido em peso e
IMC aumenta o risco de diabetes de tipo 2. A incidência cumulativa de diabe-
tes de tipo 2 foi positiva e fortemente associada ao IMC na idade de 11 anos
para homens e mulheres.
Conclusões: Este estudo mostra que, independentemente da altura de nas-
cimento, o baixo ganho de peso durante a infância é também associado
com risco elevado da doença. Além disso, aos 7 anos de idade, o ganho
rápido de peso e o IMC elevado são também associados a risco aumentado
de diabetes de tipo 2.
J. Wainstein et al., 37th Annual Meeting Terapia com bomba de insulina versus injeções diárias em
of the European Association for the pacientes diabéticos obesos de tipo 2
Study of Diabetes (EASD), Glasgow,
Reino-Unido, Objetivo: Os pacientes obesos diabéticos de tipo 2 com resistência severa
9 - 13 de setembro de 2001 à insulina podem desenvolver uma hiperglicemia crônica apesar de respeitar
o tratamento com dieta, exercício físico e uso de agentes hipoglicemiantes
orais. A terapia com doses elevadas de insulina nesses pacientes não demonstra
controle glicêmico satisfatório e é responsável de um ganho de peso, que, em
retorno, agrava a resistência à insulina e os fatores de risco cardiovasculares.
Este estudo mostrou que a aplicação continua de insulina por meio de uma
bomba de insulina (Minimed 507R) é superior às injeções diárias múltiplas
de insulina em termos de controle da glicose, ganho de peso e dosagem diário
total de insulina.
Material e métodos: 39 pacientes obesos diabéticos de tipo 2 (IMC > 30),
não controlados (HbA1C > 8,5%), tratados com doses elevadas de insulina
(insulina > 1 unidade/kg/dia) foram randomizados para receber um tratamen-
to com bomba de insulina de 18 semanas seguido (grupo P-M) ou (grupo M-
P) por um tratamento de 18 semanas com injeções múltiplas, com um perío-
do de 12 semanas sem tratamento entre os dois.
Resultados: Durante as 18 primeiras semanas: HbA1c diminuiu de 10,2 ±
1,22 % (média ± DP) no início para 8,06 ± 1,15 % na semana 18 no grupo M-
P (p = 0,001) e de 10,23 ± 1,43 para 7,65 ± 1,04 no grupo P-M (p = 0,001). As
necessidades de insulina diária diminuíram de 102 ± 24 U/dia no início para
85 ± 29 na semana 18 (p = 0,004) no grupo P-M, e diminuíram de 113 ± 28 no
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 05 (2001) 321
V. Fonseca et al., Tulane University, Menos hipoglicemia sintomática com insulina glargina vs.
New Orleans, LA, EUA, 37th Annual insulina NPH em pacientes diabéticos de tipo 2
Meeting of the European Association
for the Study of Diabetes (EASD), Objetivo: A insulina glargina (Lantus) é uma insulina humana análoga que
Glasgow, Reino-Unido, 9 - 13 de fornece absorção de insulina constante, sem pico, a partir do local de injeção,
setembro de 2001 e que tem uma duração de ação prolongada em comparação com a insulina
humana NPH.
322 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 05 (2001)
M. Herz et al., Eli Lilly and Company, Controle glicêmico equivalente com Humalog Mix25 pré ou pós-
Indianapolis, IN, USA, 37th Annual prandial em pacientes idosos diabéticos de tipo 2
Meeting of the European Association
for the Study of Diabetes (EASD), Objetivo: As aplicações de insulina pós-prandial poderiam ser uma opção
Glasgow, Reino-Unido, útil em paciente idoso que esqueceram da aplicação pré-prandial ou dos quais
9 - 13 de setembro de 2001 os hábitos alimentares são imprevisíveis. Comparamos os efeitos sobre o con-
trole glicêmico das aplicações pré-prandial de Humalog Mix25 (Mix25; 25%
insulina lispro, 75% NPL), aos das aplicações pós-prandiais de Mix25 em pa-
cientes idosos portadores de diabetes de tipo 2 e controle inadequado com sul-
foniluréias (HbA1c > 1,2 vezes o limite superior do intervalo normal).
Material e métodos: Este estudo aberto, de 16 semanas, com grupos para-
lelos, observou pacientes randomizados (idade 60-80 anos) em dois grupos:
Mix25 aplicada imediatamente antes ou 15 minutos depois o início do café
da manhã e do jantar. A HbA1c média, a glicose sanguínea e o peso corporal
não eram significativamente diferentes nos dois grupos no início do estudo.
Resultados: No fim do estudo, a HbA1c era similar nos grupos pré-refei-
ção e pós-refeição (8,54±0,22% [média ± DP] vs, 8,74 ± 0,26%, P = 0,557).
O perfil diário da glicose sanguínea mostrou esses valores (em mmol ± DP)
para as aplicações pré ou pós-refeição, respectivamente: Jejum, 8,27 ± 0,34 e
8,07 ± 0,31, P = 0,673; 2 horas após café da manhã, 9,32 ± 0,44 e 10,13 ±
0,60, P = 0,280; pré-jantar, 9,72 ± 0,52 e 9,81 ± 0,40, P = 0,897; 2 horas após
jantar, 9,79 ± 0,42 e 10,45 ± 0,47, P = 0,386; glicose sanguínea diária total,
9,27 ± 0,42 e 9,61 ± 0,39, P = 0,555. As doses de insulina nos grupos pré-
refeição e pós-refeição foram: 0,42 ± 0,03 U/kg e 0,51 ± 0,03 U/kg, respecti-
vamente (P = 0,033). A taxa de hipoglicemia no final do estudo (sintomas ou
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 05 (2001) 323
Continuação glicemia <3mmol) foi baixa (0,56 ± 0,42 episódios/30 dias vs. 0,06 ± 0,04
episódios/30 dias, P = 0,236). O peso corporal não mudou significativamente
entre o início e o fim do estudo (P = 0,727).
Conclusões: Concluímos que, em uma população idosa, a aplicação de
Mix25 pré-refeição ou pós-refeição resultou em controle glicêmico com-
parável (HbA1c) com frequência baixa de hipoglicemia. A aplicação pós-
refeição de Mix25 é uma opção terapêutica segura que pode ser útil para
pacientes idosos portadores de diabetes de tipo 2.
M. Stewart et al., 37th Annual Meeting Efeitos combinados da rosiglitazona e da atorvastatina sobre a
of the European Association for the dislipidemia associada ao diabetes de tipo 2
Study of Diabetes (EASD), Glasgow,
Reino-Unido, Objetivo: O diabetes de tipo 2 é associado a um perfil complexo de dis-
9 - 13 de setembro de 2001 lipidemia. Este estudo avalia os efeitos do tratamento com rosiglitazona
(RSG) e atorvastatina sobre o perfil lipídico em pacientes portadores de
diabetes de tipo 2.
Material e métodos: Agentes redutores de lípides foram supressos do tra-
tamento de pacientes 4 semanas antes este estudo aberto de tratamento de 8
semanas com RSG 4 mg duas vezes ao dia. Pacientes com LDL colesterol <
160 mg/dl e triglicérides < 500 mg/dl foram randomizados para receber pla-
cebo ou atorvastatina (ATV) 10 mg ou 20 mg uma vez por dia durante 16
semanas. O perfil lipídico completo e o gradiente de densidade por ultracen-
trifugação foram avaliados no início e nas semanas 8 e 24.
Resultados: Observamos um aumento de 8% do LDL-C durante as 8 pri-
meiras semanas do estudo. Mais tarde, os níveis de LDL-C ficaram estáveis
em pacientes tratados com RSG em tratamento único. Em comparação com
RSG em tratamento único, LDL-C diminuiu em 33% e 40% em pacientes
tratados com ATV 10 e 20 mg, respectivamente. Em cada grupo, as altera-
ções em LDL-C foram confirmadas pelas alterações na apo-lipoproteína b
após 24 semanas. Alterações na densidade de LDL foram maiores nos pri-
meiras oito semanas do estudo, quando os pacientes receberam RSG em tra-
tamento único. Após 16 semanas e adição de ATV, alterações na densidade de
LDL foram similares às constatadas com RSG em tratamento único. Em com-
paração com RSG em tratamento único, HDL-C aumentou em 6-7% em pa-
cientes tratados com ATV. Após 16 semanas de ATV, foram observadas altera-
ções mínimas em níveis de HDL2 em comparação com RSG em tratamento
único. A proporção de pacientes reportando efeitos adversos foi similar em
ambos os grupos.
Conclusões: RSG é responsável de uma alteração potencialmente favorá-
vel, antiaterogênica na heterogeneidade do LDL e HDL em pacientes dia-
béticos tipo 2. Em mais, as alterações causadas pela ATV em sub-frações
de colesterol são mantidas quando adicionada ao tratamento com RSG.
D. Holmes et al., 37th Annual Meeting Hiperglicemia pós-prandial em pacientes com diabetes de tipo 2:
of the European Association for the nateglinida versus acarbose
Study of Diabetes (EASD), Glasgow,
Reino-Unido, Objetivo: A resposta da glicose prandial, depende da absorção de glicose e
9 - 13 de setembro de 2001 supressão da produção de glicose endógena. Em pacientes com diabetes tipo
2, a absorção é normal mas a supressão da produção de glicose está diminu-
ída, devido à alteração na fase inicial de secreção de insulina. A utilização
clínica da acarbose, que diminui a absorção de glicose, e a nateglinida, que
estimula a secreção inicial de insulina, foram comparadas em estudos de 24
semanas duplo-cego, randomizados em pacientes com diabetes tipo 2.
Pacientes e métodos: Pacientes portadores de diabetes tipo 2 (179 homens
e mulheres = 30 anos de idade que não passaram por tratamento de dieta e
exercício pelo menos 2 meses antes do estudo) foram randomizados para rece-
ber nateglinida (120 mg antes das 3 principais refeições, n = 87) ou acarbose
(50 mg 3 vezes/dia durante 4 semanas seguido por 100 mg 3x/dia, reduzida
novamente se necessário, para 50 mg 3x/dia, n = 92). Os valores da HbA1c
basal foram comparados nos dois grupos de tratamentos (7,75% e 7,87% para
nateglinida e acarbose, respectivamente). Um total de 144 pacientes completa-
ram as 24 semanas de tratamento ( 70 com nateglinida; 74 com acarbose).
Resultados: No resultado final do estudo, a HbA1c apresentou redução
similar nos dois grupos de tratamento de nateglinida e acarbose, 0,42% e
0,39%, respectivamente (p = 0,74 de diferença). Nos pacientes que comple-
taram o estudo um nível de HbA1c < 7% foi encontrada em cerca de 60% (42/
70) dos pacientes que recebiam nateglinida, comparado com 38% (28/74)
dos pacientes que recebiam acarbose. Em termos gerais, eventos adversos
foram reportados em cerca de 65% dos pacientes que recebiam acarbose,
comparado com 49% dos que recebiam nateglinida. A incidência de eventos
adversos gastrintestinais (principalmente flatulência e diarréia) foi maior nos
pacientes tratados com acarbose do que nos grupo que recebia nateglinida
(42 x 18 relatos, respectivamente). Os relatos de sintomas sugerindo hipogli-
cemia foram reportados por cerca de 5,7% dos pacientes com nateglinida (5/
87) e 2,2% com acarbose (2/92).
Conclusões: O controle da hiperglicemia pós-prandial como forma de dimi-
nuir os níveis de HbA1c abaixo de 7% é possível com tratamento adequado.
Embora, a nateglinida e acarbose demonstrassem eficácia comparáveis, a
nateglinida foi preferida pela superioridade do seu perfil de efeito adversos,
que deve ser uma reflexão de seu mecanismo de ação mais fisiológico.
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 05 (2001) 329
Jaakko Tuomilehto et al., Finnish Prevenção do diabetes de tipo 2 após alterações no estilo de vida
Diabetes Prevention Study Group, New em indivíduos com tolerância à glicose diminuída
England Journal of Medicine
2001;344:1343-50 Introdução: O diabetes de tipo 2 está crescendo, principalmente por cause
da prevalência do estilo de vida sedentário e da obesidade. Se o diabetes de tipo
2 puder ser prevenido por intervenções sobres os estilos de vida dos indivíduos
com risco elevado de desenvolver a doença ainda não é conhecido.
Métodos: 522 indivíduos de idade média, com sobrepeso (172 homens e
350 mulheres; 55 anos; IMC 31), com tolerância à glicose diminuída, foram
randomizados por um grupo de intervenção e um grupo controle. Cada indi-
víduo do grupo de intervenção recebeu informações individualizadas sobre a
perda de peso, a ingestão de gordura, de gordura saturada e de fibras, e sobre
a atividade física. Um teste de tolerância à glicose foi realizado anualmente;
o diagnóstico de diabetes foi confirmado por um segundo teste. A duração
média do acompanhamento foi 3,2 anos.
Resultados: A perda média (±DP) de peso entre o início e o fim do primeiro
ano foi 4,2 ± 5,1 kg no grupo de intervenção e 0,8 ± 3,7 kg no grupo controle;
a perda no final do segundo ano foi 3,5 ± 5,5 kg no grupo de intervenção e 0,8
± 4,4 kg no grupo controle (p < 0,001). A incidência cumulativa de diabetes
depois de 4 anos foi 11% (IC 95%, 6-15%) no grupo de intervenção e 23% (IC
95%, 17-29%) no grupo controle. Durante o estudo, o risco de diabetes foi
reduzido em 58% (p < 0,001) no grupo de intervenção. A diminuição da inci-
dência do diabetes foi diretamente relacionada a alterações no estilo de vida.
Conclusões: O diabetes de tipo 2 pode ser prevenido por alterações no
estilo de vida de indivíduos com risco elevado de desenvolver a doença.
C Saloranta et al., 37th Annual Meeting Eficácia e segurança da nateglinida em pacientes com
of the European Association for the hiperglicemia moderada
Study of Diabetes (EASD), Glasgow,
Reino-Unido, Objetivo: Pacientes diabéticos com baixa glicemia de jejum, podem apre-
9 - 13 de setembro de 2001 sentar excursões significativas da glicose prandial. Não são conhecidos trata-
mentos especificamente mais adequados, quando dieta a exercícios não fun-
cionam, mas a nateglinida - que estimula a primeira fase de secreção de insu-
lina através do mecanismo de ação fast-on, fast off, proporciona uma dimi-
nuição da glicemia prandial, apresentando benefício clínico. Um estudo de
24 semanas, multicêntrico, randomizado, de grupos paralelos, duplo-cego,
foi conduzido de forma a avaliar a eficácia e segurança da nateglinida em
pacientes com hiperglicemia moderada.
Pacientes e métodos: Pacientes com glicemia de jejum (n = 675) 7,0-8,3
mmol/l foram randomizados para receber nateglinida 30 mg, 60 mg, 120 mg
ou placebo, antes das três principais refeições. Os valores basais médios fo-
ram: glicemia de jejum 7,6 mmol, HbA1c 6,5% (variação 4-9,1%), índice de
massa corpórea 29 kg/m2 e duração do diabetes de 3,6 anos.
Resultados: Parâmetros médios de eficácia, assim como a glicose sanguí-
nea e a resposta à insulina para refeição padrão (foi avaliada a AUC de 0-4
horas) nos pacientes selecionados (n=127), são mostrados a seguir:
Nateglinida/placebo
(antes das principais 30 mg 60 mg 120 mg placebo
refeições)
∆ HbA1c (%) -0,10 ± 0,05*† -0,15 ± 0,04*† -0,23 ± 0,05*† 0,16 ± 0,05*
∆ GJ 0,08 ± 0,12† 0,01 ± 0,11† -0,14 ± 0,12† 0,59 ± 0,12*
∆ GPP AUC 0-4h -1,97 ± 1,49† -3,63 ±1,43*† -3,95 ± 1,47*† 3,15 ± 1,33*
(h*mM)
∆ Insulina AUC0-4h 36,95 ± 18,87† 16,97 ± 17,76† 46,78 ± 19,72*† -12,6 ± 16,6
(h*mU/L)
*p < 0,05 x valor basal; † p < 0,05 x placebo
Agnes Pascot et al, Diabetes Care Respectivas contribuições da tolerância à glicose diminuída e da
2001;24:902-908, maio de 2001 acumulação de gordura abdominal na deterioração do perfil de
risco metabólico em mulheres
M.B. Gomes, C.N. Cohen, F.M. Alterações precoces da pressão sanguínea em pacientes
Albanesi, M.F.R. Gonçalves. UERJ, Rio diabéticos de tipo 1 normotensivos e normoalbuminúricos
de Janeiro, 17th International Diabetes
Federation Congress, México City, Objetivo: Investigar modelos de pressão sanguínea (PS) em pacientes dia-
México, 5-10 de novembro de 2000 béticos de tipo 1 normotensivos e normoalbuminúricos durante monitora-
mento ambulatório da pressão sanguínea de 24 horas.
Desenho e métodos: Estudamos 28 pacientes diabéticos de tipo 1 com
idade 27 ± 7,1 anos com duração de doença de 9 ± 6,6 anos e 28 indivíduos
controle não-diabéticos normotensivos com idade 25 ± 6,5 anos, ajustados
com o grupo diabético no que se refere a idade, sexo, cor da pele, peso, altu-
ra, IMC, pressão sanguínea e ausência de albuminúria. Pressão sistólica (sPS)
e diastólica (dPS) foram registradas durante 24 horas, dia e noite. As relações
noite/dia da pressão sanguínea e a percentagem de diminuição da pressão
durante a noite foram determinadas.
Resultados: Ambos sPS (111 ± 7,1 vs. 104 ± 9mmHg; p = 0,003) e dPS da
noite (66 ± 6,1 vs. 61 ± 5,3mmHg; p = 0,001) foram maiores em pacientes
diabéticos do que em não diabéticos. As relações noite/dia para sPS (0,93 ±
0,04 vs. 0,89 ± 0,05; p = 0,006) e dPS (0,86 ± 0,06 vs. 0,82 ± 0,06; p = 0,007)
foram maiores em diabéticos. A perda da redução da sPS à noite era mais
prevalente em diabéticos (78 vs. 39%; p = 0,007). Os pacientes que apresen-
tavam uma redução de pressão noturna inferior em 10% para sPS e dPS no
grupo diabético tinham uma carga de pressão sanguínea mais elevada duran-
te a noite (21,4 ± 16,6 vs. 3,2 ± 3,9%; p = 0,01 e 21,9 ± 10 vs. 3,7 ± 5,5%; p
< 0,001, respectivamente). Conclusões: Nossos dados mostram sPS e dPS
maiores durante a noite e perda da caída noturna da PS em pacientes diabéti-
cos de tipo 1. Outros estudos prospectivos são necessários para definir se
uma carga elevada da pressão sanguínea em diabéticos sem diminuição da
pressão sanguínea à noite pode representar um risco de nefropatia ou doença
cardiovascular.
Salgado Fo N et al / Diabetes Clínica 05 (2001) 333~338 Diabetes 333
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas
ARTIGO ORIGINAL
Natalino Salgado Filho*, Bernardete Jorge Leal Salgado**, Luiz Gustavo Oliveira Brito*** , Gustavo
Augusto Coelho Ferro**** , Ana Leatrice Oliveira Sampaio****
*Professor Adjunto-Doutor de Nefrologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Diretor Geral do Hospital Universitário Presidente Dutra,
**Professora Adjunta de Fisiologia da UFMA, Mestre em Endocrinologia, ***Acadêmico de Medicina da UFMA, Monitor de Fisiologia do Departamento de
Ciências Fisiológicas da UFMA, Bolsista do PIBIC/CNPq, ****Acadêmicos de Medicina da UFMA, Bolsistas do PIBIC/CNPq
Resumo
Os autores pretenderam delinear retrospectivamente os aspectos epidemiológicos e laboratoriais de 1145 pacientes diabéticos internados no
Serviço de Clínica Médica do Hospital Universitário Presidente Dutra (HUPD), onde foram revisados 842 prontuários. O tempo médio de
hospitalização foi de 21,04 dias. 52,7% dos pacientes eram do sexo feminino e a idade média foi de 58,6 anos. 63,2% dos indivíduos procedi-
am de São Luís, e 93,5% eram portadores de DM tipo 2. O tempo médio do diagnóstico foi de 8,3 anos. As complicações do DM foram as
principais causas primárias de internação, com 76% destas. A pressão arterial média foi 139,8/8,1 mmHg, com 41,8% de hipertensos. A
glicemia média foi 186,6 mg/dl, com 40,5% dos pacientes apresentando níveis de 200 mg/dl ou mais. A creatinina sérica foi maior que 1,4 mg/
dl em 18% dos prontuários. Procedimentos cirúrgicos foram realizados em 31,7% dos pacientes. Concluiu-se que a meta ideal seria a educação
em saúde no sentido de minorar a incidência de complicações futuras.
Abstract
The authors aimed to study retrospectively epidemiological and laboratorial features of 1145 diabetic patients in the Internal Medicine Service
of Presidente Dutra Universitary Hospital, where it was revised 842 medical records. The mean time of hospitalization was 21,04 days. 52,7%
of the patients were female and the mean age was 58,6 years. 63,2% were from São Luís and 93,5% were DM type 2. Mean time of diagnosis
was 8,3 years. DM complications were main reasons of internation, with 76% of all. Mean arterial pressure was 139,8/8,1 mmHg, with 41,8%
of hipertensive patients. Mean glycemia was 186,6 mg/dl, with 40,5% of the patients presenting levels above 200mg/dl. Serum creatinine was
higher than 1,4 mg/dl in 18% of the medical records. Surgical procedures were realized in 31,7% of the patients. We concluded that the best
goal would be to invest in primary education pointing out to decrease future complications.
Endereço para correspondência: Luiz Gustavo Oliveira Brito, Rua Frei Querubim, 59, Apicum, São Luís
– 65025-420 MA, E-mail: igmalu@elo.com.br, Tel: (98) 221-2392/9603-3698
334 Salgado Fo N et al / Diabetes Clínica 05 (2001) 333~338
Em relação à distribuição por sexo, 444 (52,7%) pa- fico 4). Com relação ao tipo de DM, encontramos 54
cientes eram do sexo feminino e 398 (47,3%) do sexo (6,4%) pacientes portadores de DM tipo 1, sendo a mai-
masculino. A média de idade foi de 58,6 ± 15,4 (9-94) oria (93,5%) composta por DM tipo 2. Em um paciente
anos. 751 pacientes (90,2%) estavam acima de 40 anos o diabetes foi secundário a cirurgia de pancreatectomia
(Gráfico 1). Em 791 prontuários havia informações so- total (Gráfico 5).
bre a cor. 34,4% (n = 290) eram brancos; 59,5% não- Quanto à causa primária da internação, obteve-se os
brancos. resultados expressos na Tabela 1, na qual verificou-se
Analisando–se o estado civil dos pacientes, consta- um número maior de internações por complicações da
tou-se que 57,1% (n = 481) eram casados (Gráfico 2). DM (76%). Considerou-se “acidente vascular cerebral”
Quanto à procedência, verificou-se que a maioria dos e “coronaropatia” como complicações crônicas do DM.
pacientes (63,2%) dos pacientes eram procedentes de Com relação à história familiar de diabetes, consta-
São Luís (Gráfico 3). O tempo médio de diagnóstico da tou-se que 43% (n = 367) apresentavam, enquanto 16,2%
doença (n = 801) foi de 8,3 ± 7,3 (0-45) anos, o que não havia informação a respeito (Gráfico 6).
concorda com a maioria dos pacientes estudados (Grá- As pressões arteriais sistólica e diastólica média fo-
ram, respectivamente, 139,8 ± 29,4 (60-320) mmHg e
Gráfico 1 – Distribuição dos pacientes segundo a faixa etária, 81,1 ± 14,7 (30-160) mmHg. 41,8% (n = 352) dos paci-
São Luís-MA, 1991-1998. entes eram hipertensos, com uma PA sistólica média de
159,1 ± 28,6 mmHg e diastólica de 89,9 ± 15,3 mmHg.
Já no grupo de não-hipertensos, a média da PA sistólica
foi 122,7 ± 18,4 mmHg e a diastólica 74,8 ± 10,3 mmHg.
Entre tais grupos foi verificada significância estatística
com relação à pressão sistólica e diastólica (p = 0,01)
A análise da forma de tratamento antes da internação
revelou que 46,8% (n = 394) dos pacientes utilizavam
hipoglicemiantes orais e 17% (n = 143) insulina. 13,8%
(n=116) não faziam qualquer tratamento.Quanto ao tra-
tamento durante a internação, verificou-se que a grande
maioria (79,8%) foi tratada com insulina. (Gráfico 7).
Gráfico 4 – Distribuição dos pacientes conforme o tempo de diagnóstico da A glicemia em jejum foi encontrada em 820
doença (anos), São Luís-MA, 1991-1998. prontuários, com uma média de 186,6 ± 78,9
(28-540) mg/dl. Em 40,5% (n = 341) destes,
esta foi de 200 mg/dl ou mais. Somente em 25,1
% (n = 211) dos indivíduos a glicemia situava-
se menor ou igual a 126 mg/dl.
O exame de rotina de urina (EAS) foi en-
contrado em 554 prontuários, sendo positivo
para glicose, proteínas e corpos cetônicos em
43,5% (n = 241), 18,2% (n = 101) e 4,5% (n =
25) dos prontuários, respectivamente.
A medida da creatinina sérica esteve presente
em 691 prontuários, com uma média de 1,1 ±
Gráfico 5 – Distribuição dos pacientes segundo o tipo de diabetes, 0,9 (0,2-11,2) mg/dl. Em 18% (n = 124) desses
São Luís-MA, 1991-1998. pacientes, a creatinina apresentou valores aci-
ma de 1,4 mg/dl .
Procedimentos cirúrgicos foram realizados
em 31,7% (n = 267) dos pacientes. Destes, cer-
ca de 31,1% (n = 83) foram amputações em
membros inferiores.
Discussão e conclusão
do, que foi de 58,6 ± 15,4 anos. 89,2% dos pacientes Nossos achados em relação à freqüência de neuropa-
diabéticos internados possuíam idade acima de 40 anos, tia, nefropatia e retinopatia, na internação, não devem
confirmando os dados encontrados por Dockhorn [20], refletir a realidade absoluta, uma vez que os pacientes
que foi de 85,2%. não foram submetidos, sistematicamente, a exames para
A história familiar de DM em nosso estudo teve par- diagnóstico de complicações crônicas que, poderiam
ticipação de 52%. Esses dados são muito semelhantes estar associados à doença que motivou a internação.
aos encontrados por Moura [21], que, estudando grupos O uso de insulina foi maior durante a internação
de casos-controle, concluiu que 50% dos pacientes dia- (79,8%) do que antes da internação (19,7%). Esse re-
béticos possuíam antecedentes familiares da doença, sultado foi muito superior a alguns trabalhos [17], que
contra 20% do grupo de não-diabéticos (controles). foram de 58% e 22% durante e antes da internação, res-
Com referência à presença de hipertensão arterial, pectivamente. Ressaltamos que o aumento do uso de
41,8% dos diabéticos eram hipertensos, com uma pres- insulina durante a internação não nos parece refletir uma
são sistólica média de 137,9 ± 29,4 mmHg; a média da mudança no conceito da terapêutica do diabetes tipo 2,
pressão diastólica foi de 81,1 ± 14,7 mmHg. O estudo mas ser conseqüente a um clássico hábito médico no
de Moura [21] demonstrou uma taxa menor (36%), com manuseio do paciente diabético hospitalizado, indepen-
pressões sistólica e diastólica médias de 135,6 e 85 dente da causa que motivou a internação.
mmHg, respectivamente. Verificamos uma significân- Merece uma reflexão especial o número de amputa-
cia estatística entre os grupos de hipertensos e não-hi- ções encontrado em nosso trabalho, que se mostrou ele-
pertensos quanto às pressões sistólica e diastólica, mai- vado, com grandes custos sociais, levando a uma im-
ores no primeiro grupo, concordando com outros traba- portante redução da qualidade de vida dos doentes e gran-
lhos [11]. de risco para infecções seguidas de óbito. 267 pacientes
Já Valdivia et al. [22] encontraram uma média de 52% foram submetidos a procedimentos cirúrgicos e, destes,
de diabéticos hipertensos. Infelizmente, não foi possí- 83 (31,1%) foram amputações, totalizando 9,8% do to-
vel no nosso estudo determinar quantos pacientes fazi- tal dos pacientes diabéticos.
am controle com antihipertensivos, pois este dado esta- Pelo grande potencial de morbi-mortalidade do DM
va ausente na maioria dos prontuários. Destacamos que e suas complicações, pela enorme dificuldade que a po-
foram considerados hipertensos apenas os pacientes cu- pulação de baixa renda em nosso país tem de alcançar
jos prontuários faziam referência à hipertensão, não le- serviços especializados e pelos altos custos das interna-
vando em consideração a medida da pressão arterial. ções, o diabético, quando hospitalizado, mereceria por
O tempo médio de internação em nossa pesquisa foi parte de toda equipe de saúde maior desempenho no sen-
calculado em 21 dias por paciente, coincidindo com os tido de um programa intensivo visando mudança de
trabalhos de Cunha et al. [11], que foi de 21,2 dias. Inú- comportamento do paciente em relação ao rigor do seu
meros estudos têm demonstrado que pacientes diabéti- tratamento. Em última análise, o incentivo a programas
cos internam mais vezes e por um tempo mais prolon- de educação seria a meta ideal, objetivando a prevenção
gado que os não-diabéticos [4-6,8,9,12-16,18,23-26,28- das complicações e, conseqüentemente, visando mino-
30,33-35]. rar o número, o tempo e os custos das admissões hospi-
No que tange às causas primárias de internação, veri- talares e melhorar, sobremaneira, a qualidade de vida
ficamos que 76% das internações tiveram como causa destes pacientes.
as complicações agudas e crônicas do diabetes mellitus.
A complicação aguda mais freqüente foi a descompen- Agradecimentos: Os autores agradecem ao Conse-
sação hiperglicêmica, com 34,9% das internações. En- lho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq)
tre as complicações crônicas, a mais freqüente foi o pé pelo auxílio financeiro à pesquisa.
diabético, com 32,3% das internações. As complicações
crônicas constituíram o grupo mais importante de cau-
sas de internação em relação às outras, seja pelo número Referências
de pacientes – 334 (39,7%), seja pela importância (mai-
or taxa de mortalidade e grande custo social). Nos tra- 1. Gross JL et al. Diagnóstico e Classificação do Diabetes
balhos de Cunha et al.[11] e Dockhorn et al. [20], as Melito e Tratamento do Diabetes Melito tipo 2.
Recomendações da Sociedade Brasileira de Diabetes.
complicações da DM como fatores precipitantes de in- Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e
ternação apresentaram taxas consideravelmente meno- Metabologia.2000;44(4)S1:8-24.
res às do nosso estudo, com valores de 46% e 37%, res- 2. World Health Organization. Definition, Diagnosis and
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Eliaschewitz FG et al / Diabetes Clínica 05 (2001) 339~346
Diabetes 339
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas
REVISÃO
A importância do controle da glicemia vados. Os triglicérides transferidos para a LDL são mais
suscetíveis à ação de hidrólise pela lipase, gerando LDL
Os dados do UKPDS e do DCCT confirmam que a menores, mais densas e mais propensas à oxidação e,
hiperglicemia tem ação lesiva na parede vascular, inde- portanto, mais aterogênicas112. Nesse período, a hi-
pendentemente da causa subjacente e da faixa etária em pertrigliceridemia pós-prandial ativa o Fator VII, um
que ocorre. A análise epidemiológica da população es- outro fator independente de risco cardiovascular. Esta
tudada no UKPDS mostrou uma associação contínua e outras interações de lipoproteínas e fatores de coagu-
entre o risco de desenvolver complicações vasculares e
a glicemia. Para cada 1% de redução dos níveis de he-
moglobina glicosilada, houve uma redução de 25% nas Figura 13 - Importância do controle glicêmico na redução do risco
mortes relacionadas ao diabetes e de 14% de redução na cardiovascular em pacientes com diabetes tipo 2 (UKPDS 35)
incidência de infarto do miocárdio fatal e não-fatal. Es-
tes dados já são suficientes para recomendar que um
controle mais rigoroso da glicemia seja imperativo, mes-
mo que à custa de medidas farmacológicas mais agres-
sivas [16-22,110,111] (Fig. 13).
A hiperglicemia induz um aumento importante na
produção das ROS. De especial importância é o contro-
le de picos hiperglicêmicos, capazes de ativar a PKC.
Esta depende mais da intensidade do pico do que de sua
duração e é mais provável que esses picos ocorram no
período pós-prandial [21,22,24,25,62,63,64].
Esse período torna o endotélio especialmente vul-
nerável, porque nele os triglicérides também estão ele-
Figura 14 - Correlação entre níveis de glicemia pós-prandial e Ao lado dos efeitos benéficos sobre a parede arterial,
a insulina tem, também, uma série de efeitos potencial-
mente deletérios, entre eles o de atuar como um fator de
crescimento de células musculares lisas, diretamente ou
potencializando outros fatores de crescimento como o
fator de crescimento derivado de plaquetas [26].
As estratégias terapêuticas que corrigem a hipergli-
cemia pós-prandial sem aumentar o hiperinsulinismo são
o uso da acarbose120 e dos TZDs. Recentemente se de-
monstrou que a acarbose é capaz de corrigir a disfunção
endotelial121 e que os TDZs antagonizam os efeitos
proliferativos da insulina sobre as células musculares
lisas dos vasos, inibindo o Fator de Transcrição ETS-1
[122,123] (Fig. 15).
Um outro achado recente é que os TZDs inibem a
produção de resistina no adipócito. Esse peptídeo é do-
tado de ação hormonal capaz de antagonizar os efeitos
da insulina. Não se sabe ainda se esse peptídeo é o me-
diador da resistência à insulina na parede arterial.
Assim, ambas as medicações têm um papel a desem-
lação tornam o período pós-prandial mais favorável à penhar nesta condição, conjunta ou isoladamente
formação de trombos [13,113,114,115,116]. É exata- [9,10,111].
mente nesse período que os picos pós-prandiais da gli-
cemia tornam o endotélio ainda mais suscetível à le- A importância do controle da hipertensão
são. Infelizmente, nem sempre a glicemia de jejum e a
hemoglobina glicosilada espelham esses picos com fi- A hipertensão é duas vezes mais comum em diabéti-
delidade [117,118,119] (Fig. 14). cos tipo 1 e tipo 2 do que na população geral. No diabetes
O uso de insulina de ação rápida ou de secretagogos tipo 1, a presença de nefropatia diabética pode responder
de ação curta pode controlar os picos pós-prandiais de por esse aumento da incidência, enquanto no diabetes tipo
glicemia, mas acentua o hiperinsulinismo já existente se 2, esta está ligada à síndrome de resistência à insulina.
o paciente diabético tem predominantemente resistên- Cerca de 36% dos pacientes diabéticos são hipertensos
cia à insulina [111]. de acordo com os critérios diagnósticos atuais. Na popu-
lação estudada pelo UKPDS, 32%
dos homens e 45% das mulheres
Figura 15 - A acarbose corrige a hiperglicemia pós-prandial sem provocar hiperinsulinismo eram hipertensos [16,17,18,19,
(conforme ref. 120) 124,125] (Figs. 16 e 17).
Até recentemente, o benefício
resultante do tratamento da hiper-
tensão em pacientes com diabetes
foi deduzido por extrapolação dos
dados provenientes de grandes es-
tudos clínicos, realizados em paci-
entes não-diabéticos. Porém, já es-
tão disponíveis resultados de estu-
dos que incluíram um número sig-
nificativo de pacientes diabéticos
portadores de hipertensão. Os re-
sultados demonstram, de um modo
incontestável, a importância do
controle da pressão arterial nos di-
abéticos (veja Tabela 8).
No UKPDS foram incluídos
1.148 pacientes que eram diabéti-
cos hipertensos e que foram segui-
dos por um tempo médio de 9 anos.
Eliaschewitz FG et al / Diabetes Clínica 05 (2001) 339~346 341
Figura 16 - Efeito do controle mais estrito da pressão arterial no Figura 17 - Importância do controle da pressão arterial na redução do
risco de eventos cardiovasculares em diabéticos tipo 2 (UKPDS 35) risco cardiovascular em pacientes com diabetes tipo 2 (UKPDS 36)
Estes pacientes foram randomizados para tratamento com controle da hipertensão e o uso da aspirina têm efeito adi-
beta-bloqueadores ou inibidores da enzima conversora tivo em reduzir o risco cardiovascular. Não se sabe ao
de angiotensina (ECA). Ambas medicações foram igual- certo se esses excelentes resultados são devidos ao efeito
mente efetivas em reduzir a mortalidade em 32%, quan- dilatador coronariano, ao efeito redutor da adesividade
do a pressão arterial foi reduzida para 140/85 [126]. das plaquetas, ou à proteção que os bloqueadores dos ca-
No EUCLID, estudo que incluiu 530 pacientes, todos nais de cálcio exercem sobre as células isquêmicas sujei-
diabéticos tipo 1, os inibidores da ECA foram capazes de tas a um aumento do influxo de cálcio [128,129].
prevenir a progressão da retinopatia e da nefropatia. Isto Em 2001, a ADA modificou as metas de controle da
fez com que essa classe de fármacos fosse considerada de pressão arterial em pacientes diabéticos, recomendando
primeira escolha para o tratamento da hipertensão em que, em pacientes adultos, os níveis pressóricos ideais a
pacientes diabéticos tipo 1 com microalbuminúria126. serem atingidos sejam iguais ou menores que 130/80
Mas, os resultados mais expressivos em termos de re- [134,135].
dução de eventos cardiovasculares em pacientes diabéti-
cos tipo 2, foi obtida nos estudos clínicos em que foram A importância do controle dos lípides
utilizados bloqueadores dos canais de cálcio. O SYST-
Eur revelou uma impressionante queda de 41 a 70% em Dados do UKPDS revelam que tanto a LDL alta quan-
todos os eventos cardiovasculares [127], enquanto que to a HDL baixa são preditoras do desenvolvimento de
no estudo HOT, a queda de mortalidade e a incidência de doença coronariana em diabéticos (Tabela 9).
eventos cardiovasculares atingiram 50% [97]. Este últi- Embora não tenham sido conduzidos estudos clíni-
mo foi também o primeiro estudo que demonstrou que o cos específicos em pacientes diabéticos, os numerosos
Tabela 8. Estudos controlados e randomizados avaliando o tratamento da hipertensão em pacientes diabéticos
SHEP 583 5 tiazida e beta- bloqueador 9,8/2,2 todos eventos cardiovasculares (46-66%)
UKPDS 1148 9 captopril ou atenolol 10/5 AVC (44%), morte (32%),
eventos microvasculares (37%)
HOT 1501 4 antagonista de cálcio 29,2/24,3 eventos cardiovasculares e
mortalidade total (50%)
SYST-Eur 492 2 antagonista de cálcio 10,11/4,5 eventos cardiovasculares (41-70%)
CAPPP 552 6 captopril x beta-bloqueador ambos redução de IAM (34%)
ou tiazida 16/10 no grupo captopril
MICRO-HOPE 3577 4,5 inibidor ECA 2,4/1 mortalidade (24%), IAM (22%),
em pacientes com risco alto AVC (33%), evento microvascular (16%)
EUCLID* 530 2 inibidor ECA 3/2 progressão retinopatia
STENO II 160 3,8 inibidor ECA e controle de progressão a macroalbuminúria (27%)
glicemia e lipidemia e retinopatia (45%)
Tabela adaptada da ref. 124, * apenas diabéticos tipo 1
342 Eliaschewitz FG et al / Diabetes Clínica 05 (2001) 339~346
Tabela 9. Avaliação dos fatores de risco que aumentam o intervalo Tabela 10. Efeito da hipercolesterolemia na ação da aspirina: ação
de tempo até o primeiro evento de IAM, ajustados por sexo e inibidora de 325 mg de aspirina sobre o teste de agregação
idade, em 2.693 pacientes com diabetes tipo 2 (UKPDS 23)16 plaquetária induzido por 1 mg/ ml de colágeno. Respondedores =
inibição > 50% comparado com os controles (sem uso de aspirina)
(conforme ref. 146)
variável p
Colesterol total LDL Triglicérides Razão CT/
LDL-colesterol 0,0022 mg/dl mg/dl mg/dl HDL
pressão arterial diastólica 0,0074 R 191,6±49,3 118,3±46,9 187,7±163,5 5,2±2,1 n=32
tabagismo 0,025 NR 246,2±66,2 159,9±74,6 229,6±265,4 5,37±1,5 n=13
HDL-colesterol 0,026 p 0,002 0,017 n.s. n.s.
HbA1c 0,053
culares a produzir proteínas de adesão, que permitem o
estudos que correlacionam o risco cardiovascular com recrutamento e o acúmulo de monócitos circulantes.
os lípides séricos, contém um número suficiente de pa- Estes, uma vez no interior da parede vascular, se dife-
cientes diabéticos para que se possa avaliar a importân- renciam em macrófagos. Os macrófagos capturam as
cia do tratamento das dislipidemias nesses doentes16. LDL oxidadas através de receptores tipo “scavenger”
Um desses trabalhos constitui a revisão técnica do ma- dando origem às células espumosas. Além disso, as LDL
nuseio da dislipidemia em adultos com diabetes. Basea- oxidadas tem efeito citotóxico nas células vasculares. A
da nesses estudos, a ADA recomenda que o LDL-coles- magnitude deste induz desde uma disfunção endotelial
terol seja mantido em níveis menores que 100 mg em pela deficiência na produção de óxido nítrico, até a ne-
todos os pacientes diabéticos, iniciando-se imediatamen- crose das células endoteliais. Por esses motivos, a dimi-
te a terapia farmacológica com vastatinas, se a LDL for nuição da LDL oxidada é um alvo importante de qual-
/ 100 mg% em pacientes portadores de doença vascular quer estratégia que busque a diminuição do risco vascu-
ou se a LDL for / 130 mg% em pacientes sem estas com- lar aterosclerótico [138-144] (Fig. 18).
plicações. É recomendado que os triglicérides sejam
mantidos em níveis menores que 200 mg e o HDL aci- A eficácia da ação da aspirina depende dos níveis
ma de 45 mg [136,137]. de colesterol
A principal razão para esta recomendação é que a
LDL, principal carreadora de colesterol no sangue, se Os níveis de colesterol também diminuem a eficácia
torna aterogênica como resultado da oxidação. Qualquer da ação antiplaquetária da aspirina. A ação inibidora da
um dos principais componentes celulares da parede ar- aspirina sobre a geração de trombina é bloqueada na
terial pode produzir radicais livres, capazes de tornarem presença de hipercolesterolemia. Não se sabe exatamente
a LDL aterogênica. A LDL oxidada induz as células vas- por que mecanismo, mas aventa-se a hipótese de que a
hiperlipidemia cause alterações
Figura 18 - Lesão endotelial pela LDL oxidada
nas membranas plaquetárias, tor-
nando-as menos suscetíveis à ace-
tilação pela aspirina [145, 146]
(Tabela 10).
produção de lípides peroxidados, inclu- Figura 19 - O efeito protetor das HDL se deve à paraoxonase
sive os contidos na LDL [148-151]. So-
mando-se a esse fator lesivo, pacientes
diabéticos têm deficiência na produção
de enzimas antioxidantes, que é maior
naqueles com glicemia mal controlada.
Entre estas, figura a paraoxonase-1
(PON-1), carreada pelas HDL [152,
153] (Fig. 19).
A HDL contendo a apoA1, remove
ou inibe a atividade de lípides contidos
na LDL, alvos da oxidação por células
da parede arterial (Ex: HPODE = ácido
hidroxi-peroxi-octadecanóico e HPETE
= ácido hidroxi-peroxi-eicosatetraenói-
co). Esta remoção é patrocinada pela
ação da PON-1, uma estearase cálcio-
dependente que confere atividade anti-
oxidante às HDL, capacitando-as a re-
mover lípides peroxidados das
LDL154. A importância da PON-1 na
proteção contra o desenvolvimento da
aterosclerose foi demonstrada tanto clí- Figura 20 - A ação antitrombótica das vastatinas
nica quanto experimentalmente
[155,156]. Na ausência de PON-1, a
HDL perde seu efeito protetor156. Em
seres humanos, o gene que codifica essa
enzima exibe polimorfismo e a eficiên-
cia protetora das variantes é alvo de
estudos populacionais em curso
[157,158].
Esse fato explica porque nos paci-
entes do UKPDS, os fatores isolados
mais importantes que determinam o ris-
co cardiovascular em pacientes diabé-
ticos tipo 2 são os níveis de LDL e de
HDL (nível de paraoxonase). Também
justifica que se busquem alternativas
para aumentar os níveis de HDL (e, por-
tanto, de paraoxonase) em pacientes
com risco aumentado de desenvolver
complicações vasculares [16].
envolvida na evolução da nefropatia di- Figura 23 - Os fatores lesivos convergem na ativação do NF-kB
abética. Apesar disso, o uso de vastati-
nas tem impedido o desenvolvimento
dessa complicação, tanto clínica quan-
to experimentalmente [176,177].
As vastatinas inibem a HMG-CoA re-
dutase, enzima que promove a conver-
são de hidroximetilglutaril em mevalo-
nato. Ao fazê-lo, por um lado inibem a
síntese de colesterol, e por outro, ini-
bem a síntese de isoprenóides, que tam-
bém são produzidos intracelularmente
a partir do mesmo precursor [176]. Es-
ses isoprenóides são capazes de ativar a
cascata da MAPK via ras. O resultado
final é a ativação de uma série de fato-
res de transcrição nuclear, inclusive do
NF-kB. Dessa forma, a inibição da
HMGCoA redutase pelas vastatinas,
além de inibir a síntese do colesterol aca-
ba também inibindo a ativação de ge-
nes essencialmente envolvidos em in-
flamação e em proliferação celular
(Figs. 21 e 22).
Tão importante quanto esse achado
Figura 24 - Os fatores protetores NO, aspirina e vastatinas, convergem na inibição do NF-kB
é a descoberta de que as vastatinas são
capazes de inibir a expressão de MHC-
II, induzidos por interferon-d em uma
grande variedade de células178. O
MHC-II é essencial para a expansão e a
perpetuação da resposta inflamatória.
Esse achado reveste-se de tal importân-
cia que o estudo publicado no último
volume da revista Nature, no século XX,
propõe a utilização de vastatinas na re-
alização de estudos de várias doenças
inflamatórias crônicas, entre as quais a
artrite reumatóide e a própria ateroscle-
rose178. A mesma lógica se aplica ao
uso associado das vastatinas à aspirina
em pacientes com alto risco de desen-
volver complicações cardiovasculares,
entre eles os pacientes diabéticos [179]
(Figs. 23 e 24).
Perspectivas
Tabela 11. Ação das vastatinas além do seu efeito sobre os lípides A visão de que a aterosclerose é uma doença degene-
séricos: diminuição do impacto da resistência à insulina, do rativa foi superada. Sabemos hoje, que os acidentes vas-
hiperinsulinismo, do aumento da produção de ROS causado pela
hiperglicemia e outros fatores agressivos ao endotélio, diminuição culares são fruto de 3 grandes processos biológicos que
do efeito agressor da LDL oxidada e potencialização dos efeitos da se perpetuam: oxidação, inflamação e trombose. A as-
aspirina pirina atua nas duas últimas, enquanto as vastatinas tem
ação antioxidante pela ativação da paraoxonase, tem efei-
AÇÕES ANTIINFLAMATÓRIAS
to antiinflamatório e tem ação antitrombótica. Não exis-
tem ainda estudos clínicos comparando sistematicamente
• inibe a atividade do NF-kB o efeito protetor das vastatinas associados à aspirina com
• inibe a expressão de MHC-II induzida por interferon-d o uso isolado desses fármacos. Mas, a evidência acumu-
• diminui atividade dos macrófagos na placa do ateroma lada a respeito do uso benéfico dessas substâncias, so-
• estabiliza a placa de ateroma
• diminui a celularidade da placa de ateroma mado ao conhecimento recém adquirido a respeito das
• diminui os níveis de proteína C-reativa ações intracelulares das vastatinas, sugere fortemente,
que sejam utilizadas, em conjunto, independentemente
dos níveis de colesterol que o paciente apresente. O ris-
AÇÕES SOBRE A FUNÇÃO ENDOTELIAL
co vascular dos pacientes diabéticos é muito grande e a
• aumenta a atividade da óxido nítrico sintetase segurança do uso continuado de ambas substâncias já
• aumenta a produção estimulada de óxido nítrico nas células foi suficientemente demonstrada.
endoteliais A tarefa de trazer este risco para valores próximos do
• diminui a disfunção endotelial
• aumenta a capacidade vasodilatadora do endotélio
da população normal não será nem simples, nem fácil. É
necessária uma abordagem multifatorial que diminua o
estresse oxidativo controlando o tabagismo [183] e ou-
AÇÕES ANTIOXIDANTES tros fatores lesivos ao endotélio, como por exemplo, a
• aumenta a atividade da paraoxonase N-metilarginina [184,185], produzida a partir da inges-
• inibe a ativação de genes envolvidos na inflamação tão de dietas ricas em gorduras, o que envolve as sem-
• inibe a ativação de genes envolvidos em proliferação celular pre difíceis modificações de estilo de vida. Além disso,
será necessária também a adoção de uma abordagem
AÇÕES ANTITROMBÓTICAS
farmacológica associada que garanta o controle estrito
da glicemia, da hipertensão, da tendência à trombose e
• diminui a liberação de trombina da inflamação crônica das artérias.
• antagoniza o efeito da trombina liberada
• diminui os níveis de PAI-1
• diminui os níveis do antígeno ativador do plasminogênio tecidual
• diminui a formação de coágulo (área trombótica) Obs.: A primeira parte deste artigo, bem como a bibliografia, foram
• diminui a agregação plaquetária publicados, no número anterior de Diabetes Clínica, volume 5, julho/
• melhora a fibrinólise intrínseca agosto de 2001, número 4, pg 263-277.
Peluso CC et al./ Diabetes Clínica 05 (2001) 347~349
Diabetes 347
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas
ATUALIZAÇÃO
iniciar um programa formal, é a aquisição de hábitos de - Realizar um exame clínico geral (fundo de olho, pre-
vida fisicamente ativos (caminhar ou andar de bicicleta, sença de neuropatia, osteoartrite) e cardiovascular in-
subir e descer as escadas, realizar atividades domésticas cluindo uma prova de esforço (ergometria) antes de
e de lazer necessitando movimentos) o que, no final do recomendar ao paciente o tipo, intensidade e duração
dia, resulta em um gasto energético notável. da atividade física.
Para os pacientes que apresentam contra-indicações - Selecionar junto com o paciente atividades que sejam
temporárias para realizar atividades físicas aeróbicas de seu gosto e recomendar especialmente ao sedentá-
(portadores de hipertensão arterial não controlada ou rio ou obeso realizar atividades em grupo ou na com-
cardiomiopatia), ou com outro elemento de tratamento, panhia de outras pessoas. Assim diminui o risco de
deve se recomendar a prática de técnicas de relaxamen- deserção.
to e movimentos suaves do tipo yoga. Elas têm a propri- - Ensinar o paciente (se não sabe) a realizar auto-moni-
edade de desenvolver a capacidade de relaxamento psi- torização glicêmica e recomendar fazê-la antes do iní-
cofísico e diminuir a atividade simpático-adrenérgica, o cio da sessão de atividade física, porque:
que pode contribuir no controle metabólico e da pressão a – Se glicemia > 300mg/dl ou em presença de corpos
arterial, especialmente em pacientes portadores de dia- cetônicos, adiar a prática do exercício.
betes tipo 2. b – Se a glicemia está dentro os limites normais, ou ante
Toda sessão de atividade física deve começar e termi- uma hipoglicemia, ingerir carboidratos extras antes do
nar com um período de 5 a 10 minutos de exercícios exercício (de acordo com a sua intensidade e duração).
aeróbicos de baixa intensidade, alongamento e mobili- Em regra geral, consumir 10-20 gramas de carboidra-
dade articular para reduzir o risco de complicações car- tos por cada 30 minutos de atividade moderada.
díacas e lesões músculo-esqueléticas. - Para diminuir o risco de hipoglicemia se o paciente
recebe insulina ou sulfoniluréias:
Recomendações para o paciente a – Estimar a intensidade e duração da atividade física.
b – No caso de uso de hipoglicemiantes orais, pode di-
- Escolher uma atividade física a seu gosto e impor se a minuir ou suspender a dose prevista antes do exercí-
prática regular da atividade física escolhida. cio.
- Evitar metas inatingíveis. Aumentar progressivamen- c – No caso de uso de insulina, fazer a aplicação mais de
te a duração da atividade e a intensidade do esforço. uma hora antes do exercício e diminuir a dose que pro-
- Praticar diariamente pelo menos durante 20-30 minu- duz o pico no momento da atividade.
tos, ou 3 a 4 vezes por semana durante 45-60 minutos. d – Se a atividade for superior ao normal, recomende o
- Começar a sessão com exercícios de alongamento e controle da glicemia durante a noite, porque pode ser
movimentos articulares. Repetir no fim da sessão. necessário diminuir a dose de insulina ou de hipogli-
- Se você nunca praticou atividade física programada, cemiante noturno.
comece por aumentar a atividades diárias que faz ha- - Se desejar verificar o efeito do exercício sobre a glice-
bitualmente, como caminhar, subir e descer escadas, mia, recomende ao paciente controla-la a partir de meia-
etc. hora após o fim da atividade.
- Interromper o exercício ante sinais de hipoglicemia, - Ensinar o paciente a controlar sua freqüência cardíaca.
dor no peito ou respiração sibilante.
- O sapato utilizado deve ser confortável e as meias de
algodão. Examine diariamente os seus pés. Referências
- Beber uma quantidade maior de líquido sem calorias
nem cafeína, como água, antes, durante e após a ativi- 1. Nora Mercuri, Daniel Assad. La práctica de actividad física en
dade física. personas con diabetes tipo 2. Diabetes tipo 2 no
insulinodependiente: su diagnóstico, control y tratamiento.
- Se quiser conhecer a intensidade do esforço realizado, Sociedad Argentina de Diabetes (SAD), 69-80, 1998.
controle a sua freqüência cardíaca imediatamente após 2. American Diabetes Association: Diabetes mellitus and
o fim do exercício. Exercise (position Statement). Diabetes Care, 24;(1), jan
- Não esqueça de levar açúcar para a sessão de ativida- 2001.
de física. 3. Susan P Helmrich et al. Physical activity and reduced
occurrence of non-insulin-dependent diabetes mellitus. New
- Se você caminha, corre ou anda de bicicleta, evite as England Journal of Medicine. 1991;325(3):147-152.
interrupções durante o tempo proposto. 4. The Health Professional’s Guide to Diabetes and Exercice. N
Rudeman, JT Devlin (eds). American Diabetes Association.
Recomendações para a equipe de saúde Clinical Education Series, 1995.
ATUALIZAÇÃO
iniciar um programa formal, é a aquisição de hábitos de - Realizar um exame clínico geral (fundo de olho, pre-
vida fisicamente ativos (caminhar ou andar de bicicleta, sença de neuropatia, osteoartrite) e cardiovascular in-
subir e descer as escadas, realizar atividades domésticas cluindo uma prova de esforço (ergometria) antes de
e de lazer necessitando movimentos) o que, no final do recomendar ao paciente o tipo, intensidade e duração
dia, resulta em um gasto energético notável. da atividade física.
Para os pacientes que apresentam contra-indicações - Selecionar junto com o paciente atividades que sejam
temporárias para realizar atividades físicas aeróbicas de seu gosto e recomendar especialmente ao sedentá-
(portadores de hipertensão arterial não controlada ou rio ou obeso realizar atividades em grupo ou na com-
cardiomiopatia), ou com outro elemento de tratamento, panhia de outras pessoas. Assim diminui o risco de
deve se recomendar a prática de técnicas de relaxamen- deserção.
to e movimentos suaves do tipo yoga. Elas têm a propri- - Ensinar o paciente (se não sabe) a realizar auto-moni-
edade de desenvolver a capacidade de relaxamento psi- torização glicêmica e recomendar fazê-la antes do iní-
cofísico e diminuir a atividade simpático-adrenérgica, o cio da sessão de atividade física, porque:
que pode contribuir no controle metabólico e da pressão a – Se glicemia > 300mg/dl ou em presença de corpos
arterial, especialmente em pacientes portadores de dia- cetônicos, adiar a prática do exercício.
betes tipo 2. b – Se a glicemia está dentro os limites normais, ou ante
Toda sessão de atividade física deve começar e termi- uma hipoglicemia, ingerir carboidratos extras antes do
nar com um período de 5 a 10 minutos de exercícios exercício (de acordo com a sua intensidade e duração).
aeróbicos de baixa intensidade, alongamento e mobili- Em regra geral, consumir 10-20 gramas de carboidra-
dade articular para reduzir o risco de complicações car- tos por cada 30 minutos de atividade moderada.
díacas e lesões músculo-esqueléticas. - Para diminuir o risco de hipoglicemia se o paciente
recebe insulina ou sulfoniluréias:
Recomendações para o paciente a – Estimar a intensidade e duração da atividade física.
b – No caso de uso de hipoglicemiantes orais, pode di-
- Escolher uma atividade física a seu gosto e impor se a minuir ou suspender a dose prevista antes do exercí-
prática regular da atividade física escolhida. cio.
- Evitar metas inatingíveis. Aumentar progressivamen- c – No caso de uso de insulina, fazer a aplicação mais de
te a duração da atividade e a intensidade do esforço. uma hora antes do exercício e diminuir a dose que pro-
- Praticar diariamente pelo menos durante 20-30 minu- duz o pico no momento da atividade.
tos, ou 3 a 4 vezes por semana durante 45-60 minutos. d – Se a atividade for superior ao normal, recomende o
- Começar a sessão com exercícios de alongamento e controle da glicemia durante a noite, porque pode ser
movimentos articulares. Repetir no fim da sessão. necessário diminuir a dose de insulina ou de hipogli-
- Se você nunca praticou atividade física programada, cemiante noturno.
comece por aumentar a atividades diárias que faz ha- - Se desejar verificar o efeito do exercício sobre a glice-
bitualmente, como caminhar, subir e descer escadas, mia, recomende ao paciente controla-la a partir de meia-
etc. hora após o fim da atividade.
- Interromper o exercício ante sinais de hipoglicemia, - Ensinar o paciente a controlar sua freqüência cardíaca.
dor no peito ou respiração sibilante.
- O sapato utilizado deve ser confortável e as meias de
algodão. Examine diariamente os seus pés. Referências
- Beber uma quantidade maior de líquido sem calorias
nem cafeína, como água, antes, durante e após a ativi- 1. Nora Mercuri, Daniel Assad. La práctica de actividad física en
dade física. personas con diabetes tipo 2. Diabetes tipo 2 no
insulinodependiente: su diagnóstico, control y tratamiento.
- Se quiser conhecer a intensidade do esforço realizado, Sociedad Argentina de Diabetes (SAD), 69-80, 1998.
controle a sua freqüência cardíaca imediatamente após 2. American Diabetes Association: Diabetes mellitus and
o fim do exercício. Exercise (position Statement). Diabetes Care, 24;(1), jan
- Não esqueça de levar açúcar para a sessão de ativida- 2001.
de física. 3. Susan P Helmrich et al. Physical activity and reduced
occurrence of non-insulin-dependent diabetes mellitus. New
- Se você caminha, corre ou anda de bicicleta, evite as England Journal of Medicine. 1991;325(3):147-152.
interrupções durante o tempo proposto. 4. The Health Professional’s Guide to Diabetes and Exercice. N
Rudeman, JT Devlin (eds). American Diabetes Association.
Recomendações para a equipe de saúde Clinical Education Series, 1995.
O diabetes na Internet
IDF South and Central América (SACA) Region National Institute of Diabetes and Digestive
www.nib.unicamp.br/SACA-brasil and Kidney Diseases (NIDDK)
www.niddk.nih.gov/health/diabetes/
Sociedad Argentina de diabetes diabetes.htm
www.pitt.edu/~imll/diabetes/SAD.htmail
Pan American health Organization (PAHO)
Fundación Diabetes Juvenil de Chile www.paho.org
www.geocities.com/hotsprings/bath/8549/
index.htm The society for Endocrinology
www.endocrinology.com
American Diabetes Association (EUA)
www.diabetes.org St Vincent Declaration Program
www.umds.ac.uk/diabetes-euro/svd_pcdg/
American Association of Diabetes Educators meetings/ic2_Brussels/index.htm
www.aadenet.org
World Health organization
Asociación latinoamericana de diabetes www.who.org
(ALAD)
www.pitt.edu/~imll/diabetes/alad.html Jornais e revistas
www.diabetesvoice.com
Center for Chronic Disease Control
www.cdc.gov/diabetes
Calendário de Eventos
Outubro de 2001 Novembro de 2001
3 a 6 de outubro 11 a 15 de novembro
Avanços no diagnóstico e terapêutica das doenças XIo Congresso ALAD – Association latinoamericana de
neuroendócrinas diabetes
Hospital Brigadeiro, São Paulo SP IIIo Congresso Uruguaio de Diabetologia
Informações: Serviço de Endocrinologia Hospital Brigadeiro Punta del Este, Uruguai
Tel: (11) 3846-3272/3846-3273 Sra Marilene Informações: personas SRL, Av. 8 de octubre 2323, of. 305,
E-mail: acukiert@uol.com.br Montevideo, Uruguai
Tel: (5982) 408-1015/408-2951
4 a 6 de outubro E-mail: personas@cs.com.uy
IIo Congresso Internacional de Nutrição, Alimentação e
Tecnologia - CINAT 15 a 18 de novembro
Centro de Convenções São Camilo, São Paulo SP XIIIo Curso nacional de atualização em endocrinologia e
Informações: SINESP (11) 3277-8422/8291, 278 7144 metabologia
www.sindicatonutricionistas.com.br Gramado, RS
Organizacão: SBEM regional RS
7 a 10 de outubro www.vjs.com.br
Clinical Endocrinology Update 2001 Tel: (51) 330 1134
Fairmont Hotel, Chicago, Illinois, EUA E-mail: vjs@vjs.com.br
Informações: The Endocrine Society
Tel: 1 (301) 941 0226
www.endo-society.org/scimeetings/ceu.cfm Cepafidia
março a junho de 2002
10 a 14 de outubro 2º Curso de capacitação para a prescrição e
XIIIo Congresso brasileiro de diabetes acompanhamento da atividade física em diabetes
Riocentro - Rio de Janeiro, RJ Este curso tem o objetivo específico de fornecer informações
Informações: JZCongressos e construir o conhecimento com respeito aos métodos de
Tel: (21) 286-2846/537-9134
E-mail: mail@jz.com.br
aplicação da Atividade Física na prevenção e tratamento do
Diabetes, onde serão abordados os seguintes temas:
21 a 24 de outubro Epidemiologia, etiologia e fisiopatologia; Complicações
XIVo Congresso brasileiro de nutrição parenteral e enteral agudas, micro e macro-vasculares; Terapêutica
VIIo Congresso latino americano de nutrição parenteral e medicamentosa e nutricional; Avanços terapêuticos no
enteral tratamento; Aspectos psicodinâmicos; Fisiologia do
IIo Congresso brasileiro de nutrição clínica exercício; Acompanhamento de adaptação do exercício
Salvador, BA frente às complicações concomitantes; Noções de Educação
Informações: Eventus System terapêutica.
Tel: (71) 264-3477 Fax: (71) 264-0508 O curso terá carga horária de 48 horas/aula, distribuídos
E-mail: eventus@cpunet.com.br
em 4 finais de semana, um encontro por mês e dividido
25 a 27 de outubro em 02 módulos:
IIo Congresso Internacional de metabolismo ósseo e mineral 1º) Diabetes, da conceituação à atualização - será aberto a
Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Rio de Janeiro RJ todos os profissionais e estudantes da saúde
Informações: Tempo Eventos Assessoria interessados no tema.
Tel/Fax: (21) 2235-0997 2º) Prescrição e acompanhamento da atividade física em
E-mail: tempoeventos@uol.com.br Diabetes – exclusivo para médicos e profissionais da
Educação Física condicionado à audiência do primeiro
31 de outubro a 2 de novembro módulo.
Vo Congreso Cubano de Endocrinologia (Cocen 2001) Informações: ANAD (11) 5572-6559 ou diretamente com
La Habana, Cuba
Informações: +37 327 275
o Prof. Cláudio Cancellieri (11) 4816-2596, E-mail
diabetes@ig.com.br ou anad@anad.org.br
E-mail: diabetes@infomed.sld.cu
356 Diabetes Clínica 05 (2001)
Índice
(vol. 5 nº 6 - 2001) 357~428
EDITORIAL
Projeto de lei proíbe associações de medicamentos, Marcio C. Mancini .................................................. 359
PRODUTOS E NOVIDADES
Insuman Optiset (Aventis), GlucoMen (SCIL) Nouvelle Cuisine (Claris Alimentos), Xaropes Diet
e Light (Saborama), Sorvetes Light (La Basque), Vidro de adoçante (Be Diet) ............................................ 389
ARTIGOS CIENTÍFICOS
Avaliação da acuidade visual de pessoas que preparam doses de insulina no domicílio,
Marta Maria Coelho Damasceno, Regina Lúcia Lino Marques, Ana Geyse Gomes da Silva,
Geordany Rose de Oliveira Viana, Vanessa Lopes Alves, Maria Elisabeth Ribeiro da Silva,
Virgínia Lany da Silveira ................................................................................................................................ 405
Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos
distúrbios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre
o conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associa-
das. Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico, o conselho consultivo e profissionais
de reconhecido saber na área. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relati-
vas à diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma
maneira rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes.
EDITORIAL
Tendo em vista assuntos controversos e de grande interesse para a maioria dos endocrinologistas, convidamos o novo presidente eleito da
Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade - ABESO, Dr. Marcio C. Mancini, para escrever o editorial deste número de Diabetes
Clínica – Fadlo Fraige Filho.
Continuação
Jo Ann H. Ahern et al., 61st Annual Sobre a segurança das bombas de insulina para crianças
Scientific Sessions of the American
Diabetes Association, Philadelphia, Dois novos estudos fornecem dados contraditórios sobre eficácia e segu-
Pennsylvania, 22-26 de junho de 2001 rança das bombas de insulina em crianças portadores de diabetes de tipo 1.
O primeiro estudo, realizado em 102 crianças com idade inferior a 12 anos,
mostrou que a bomba é mais eficaz do que as aplicações de insulina para
estabilizar a glicose sanguínea e não é responsável de efeitos adversos. Os
pacientes usaram os sistemas durante 20 meses, e as crianças de idade pré-
escolar durante 17 meses. O risco de hipoglicemia severa era de 0,2 evento
por ano e por paciente dentre os que usaram a bomba. Infecções locais no
lugar da bomba foram pequenas e facilmente tratadas com antibióticos. Se-
gundo Jo Ann H Ahern, qualquer criança que quer usar a bomba pode ser
candidato. Ela recomenda a bomba de insulina especialmente em crianças
que fazem o controle da glicose pelo menos 4 vezes/dia, que apresentam
hipoglicemias à noite e são comedores meticulosos.
Mas os resultados do segundo estudo sugerem que o risco de cetoacidose
pode aumentar com o uso da bomba. Os pacientes podem experimentar hipo-
glicemia, sede extrema e outras complicações se a bomba não é usada corre-
tamente, segundo o Dr. Nicole Celona-Jacobs e colegas do Children’s Hospi-
tal of Philadelphia. Eles observaram 34 crianças, idade média 14 anos, que
receberam múltiplas aplicações diárias de insulina ou terapia por bomba de
insulina, durante um ano. O grupo com bomba apresentou um número signi-
ficativamente mais elevado de eventos de cetoacidose e o IMC médio au-
mentou. Os pesquisadores concluíram que os pacientes que não podem con-
trolar o diabetes, qualquer seja a idade, não são candidatos à bomba.
Stalhammar J, Berne C, Svardsudd K As recomendações são úteis? Estudo populacional do uso das
Department of Public Health and drogas anti-diabéticas durante 20 anos
Caring Sciences, Uppsala University,
Sweden Scand J Prim Health Care Objetivo: Analisar o uso de drogas anti-diabéticas em uma população de-
2001;19(3):163-9, setembro de 2001 finida, durante 20 anos, em função das recomendações dos guidelines.
Desenho: Todos os registros dos pacientes diabéticos do hospital do muni-
cípio de Tierp e todas as receitas para drogas antidiabéticas do período 1975-
1994 foram coletados nas farmácias locais. Foram coletados dados de 2125
pessoas, representando a observação de 13.190 pessoas/ano.
Resultados: A prevalência anual do diabetes mellitus aumentou de 2,8%
(565 pacientes) para 3,8% (734 pacientes). Quando as recomendações enfati-
zam a dieta, a tratamento com dieta aumentou e o tratamento farmacológico
diminuiu. Quando as recomendações enfatizaram melhor o controle glicêmi-
co, a dieta diminuiu e o tratamento com biguanidas aumentou, e quando as
recomendações enfatizaram o controle glicêmico rigoroso, o tratamento com
dieta diminuiu ainda mais e o uso de sulfoniluréias e insulina aumentou. As
diferenças significativas de idade e sexo no uso de drogas anti-diabéticas no
início do período diminuíram durante o período.
Conclusões: As alterações significativas no uso das drogas anti-diabéticas
durante o período coincidiram com as alterações das recomendações. As
diferenças ligadas a idade e sexo foram menos significativas no fim do
período de estudo.
Tan RS, Department of Family Practice Perda de memória como sintoma de andropausa
& Community Medicine,
University of TeArch Androl Andropausa parece ser menos definida do que menopausa. Este estudo em
2001;47(3):185-9, dezembro de 2001 pacientes idosos mostra como eles percebem e entendem o processo de enve-
lhecimento. Este estudo não-intervencional foi realizado para determinar o
que os homens reportam como sintomas da andropausa e confirmar se a per-
da de memória é um fator predominante. A hipótese é que os androgênios
como a testosterona são responsáveis para o desenvolvimento da memória.
Como o processo da andropausa é associado à diminuição dos níveis de tes-
tosterona, poderia também mostrar perda significativa de memória. Um ques-
tionário padronizado de 22 perguntas foi preenchido por 302 pacientes de um
centro médico. Informações sobre o paciente, entendimento da andropausa e
fatores de risco foram coletados. Dentre os 302 pacientes, 71% eram acima
de 60 anos e 87% eram brancos. Perda de memória foi reportada em 36% dos
pacientes que estimaram experimentar o processo de andropausa. A perda de
memória é o terceiro sintoma mais comum após a disfunção erétil (46%) e a
fraqueza geral (41%). 22% dos 302 pacientes tinham um histórico de diabe-
tes. Dentre os pacientes que reportaram estar no processo de andropausa, são
os pacientes diabéticos que reportaram mais distúrbios de memória (p = 0,03,
OR = 1,9, CI = 1,1-3,4). 64% dos pacientes reportaram que o início da andro-
pausa é entre 50 e 70 anos (a idade média sendo 50-60 anos). Este estudo
demonstra a importância da testosterona para manter as funções cognitivas e
reforça os estudos que preconizam a reposição em testosterona em homens
no processo de andropausa e que apresentam demência concomitante. Dia-
betes é associado à perda de memória, em razão dos distúrbios adicionais da
função cognitiva do cérebro provocados pela isquemia.
Lai SW, Ng KC, Lin HF, Chen HL. Associação entre obesidade e hiperlipidemia em crianças
Department of Community Medicine,
China Medical College Hospital, Introdução: Este estudo foi realizado para mostrar a associação entre obe-
Taichung City, Taiwan, Yale J Biol Med sidade e hiperlipidemia em crianças.
2001;74(4):205-10, agosto de 2001 Métodos: Em março de 2000, observamos 2011 crianças de uma escola de
primeiro grau em Taichung City, Taiwan. Para estudar a associação entre
obesidade e hiperlipidemia, usamos o teste t, qui quadrado, e a regressão
logística multivariante.
Resultados: As crianças eram 1057 garotos (52,56%) e 954 garotas
(47,44%). A idade média era 7,27 ± 0,46 anos. A proporção de sobrepeso era
11,07% em garotos e 11,64% em garotas. A proporção de obesidade era
14,19% em garotos e 12,89% em garotas. Após controle das outras variáveis,
a análise regressiva mostrou que o sobrepeso era associado com um nível
baixo de HDL colesterol. Obesidade era associada com hipertrigliceridemia,
nível elevado e LDL colesterol, e nível baixo de HDL colesterol>.
Conclusões: Nossos achados mostraram que a prevalência de sobrepeso
e obesidade é elevada em crianças. Intervenções precoces para controlar
e prevenir a obesidade da criança devem ser realizadas. Obesidade é as-
sociada com hiperlipidemia em crianças. Um estudo de grande porte deve
ser realizado para estabelecer a relação causal entre obesidade e hiperli-
pidemia.
366 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 06 (2001)
G. Davey Smith et al., Journal of Estudo associa pernas curtas a diabetes e doença cardíaca
Epidemiology and Community Health
2001;55:867-872, novembro de 2001 Ter pernas curtas pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de
diabetes ou de doença cardíaca, segundo um estudo inglês. Não é claro por-
que o comprimento das pernas pode ser associado a estas doenças. Uma hi-
pótese seria que o comprimento das pernas é relacionado à nutrição na infân-
cia, que pode ter efeitos a longo prazo sobre a saúde.
A equipe inglesa coletou amostras de sangue e mediu o tamanho das per-
nas de 2.500 homens de 45-59 anos. A saúde dos participantes foi seguida
durante 15 anos através de consultas repetidas.
Os homens que tinham pernas curtas apresentavam mais risco de desen-
volver resistência à insulina. Esses homens mostraram também níveis menos
favoráveis de gorduras no sangue, e níveis mais elevados de fibrinogênio.
Todos esses fatores podem aumentar o risco de doença cardiovascular.
O tamanho das pernas é o componente da altura associada à resistência à
insulina e ao risco de doença arterial coronariana, segundo os pesquisadores, que
podem demonstrar que a associação inversa é especifica do comprimento das
pernas, o que se verifique com o comprimento do tronco. Estudos anteriores
acharam associações entre o tamanho da pessoa e o risco de doença cardíaca.
Brian Wilson et al., Proceedings of the Estudo sugere nova hipótese para a prevenção do diabetes tipo 1
National Academy of Sciences
2001;98:13838-13843, Em uma pesquisa que poderia ser um novo caminho para o desenvolvi-
novembro de 2001 mento de uma terapia preventiva do diabetes tipo 1, um equipe de científicos
mostrou que é possível prevenir o distúrbio em um grupo de ratos pela mani-
pulação de células do sistema imunológico.
As células, conhecidas como células iNKT, previnem o sistema imunoló-
gico do ataque a tecido saudável. No diabetes tipo 1, o sistema imunológico
destrói as células produtoras de insulina do pâncreas, o que necessite o uso de
insulina injetável para sobreviver.
Estudos anteriores mostraram que uma diminuição do número de células
iNKT pode inaugurar ou piorar o diabetes em ratos pré-diabéticos. O estudo
atual explica exatamente como funcionam essas células.
As células iNKT funcionam em um modo similar em ratos e em humanos,
e as técnicas para aumentar a produção destas células poderiam ser a base de
tratamentos preventivos para as pessoas que apresentam um risco genético
de diabetes.
As células iNKT impedem o sistema imunológico atacar os tecidos sãos na pre-
sença de uma molécula especifica de gordura, a a-galactosylceramide (a-GalCer).
Esta e outras moléculas de gordura são transportadas por proteínas na superfície de
componentes do sistema imunológico, conhecidos como as células dendriticas.
Quando injetado em ratas pré-diabéticas, a molécula de gordura previne a
desenvolvimento do diabetes. Quando os pesquisadores apagaram um gene
que regula as proteínas nas células dendriticas, elas eram incapazes de produ-
zir a a-galactosylceramide. Resultado: as células iNKT não eram ativadas e
os ratos desenvolveram um diabetes.
O impulso das células iNKT, possivelmente pela administração de a-ga-
lactosylceramide, poderia ajudar a prevenir o diabetes em pessoas que apre-
sentam condições pré-diabéticas.
“Nosso estudo sugere um novo mecanismo de ação que poderia em teoria
ser utilizado para prevenir o diabetes e ajudar no processo de implantação de
ilhotas transplantadas. Ele poderia prevenir o diabetes tipo 1 em indivíduos a
risco e ajudar os pacientes que perderam suas ilhotas, substituindo as ilhotas
destruídas pelas transplantadas”, explicou Wilson.
368 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 06 (2001)
Richard Freeman Research Institute, Indução viral do diabetes tipo 2 e doença auto-imune do fígado
Alton Ochsner Medical Institutions,
New Orleans The Journal of Nutrition, Estudos transversais realizados no mundo mostraram que o vírus da hepatite
2001;131:2805S-2808S, C é associado ao diabetes tipo 2, mas esse tipo de doenças endócrinas ou hepá-
outubro de 2001 ticas tem um início silencioso, o que dificulta comprovar que o paciente contra-
tou a hepatite antes do desenvolvimento do diabetes. Pesquisas em animais ou
in vitro são então necessárias para estabelecer a relação entre hepatite C e dia-
betes. Desenvolvemos um modelo in vitro para estudar a indução viral de uma
cirrose primária biliar (CPB) baseada no fenótipo de células biliares epiteliais
doentes. Os pacientes portadores de CPB produzem anticorpos antimitocon-
driais e exprimam proteínas reativas a esses anticorpos em seu epitélio biliar.
Achamos que as células do epitélio biliar normal desenvolvem as manifesta-
ções do fenótipo de CPB especialmente quando cultivadas com linfonodos de
pacientes CPB e não com células hepáticas doentes de indivíduos controle.
Clonamos um retrovírus humano de uma biblioteca cDNA de epitélio biliar
CPB e confirmamos que o desenvolvimento do fenótipo CPB in vitro coincida
com a presença do vírus. Em estudos clínicos usando a terapia antiretroviral,
observamos uma reversão da dutopenia como também melhoras na bioquímica
histológica e hepática de pacientes portadores de CPB. Como os postulados de
Koch não são aplicáveis às doenças crônicas, usamos o modelo de transmissão
viral in vitro e estudos clínicos antimicrobiais in vivo para estabelecer a relação
causal com uma infecção a retrovírus e a manifestação fenotípica da doença.
Graydon S. Meneilly et al., Efeito de GLP-1 sobre a glicose não mediada por insulina em
Diabetes Care 24:1951-1956, pacientes diabéticos idosos
novembro de 2001
Uma causa importante dos níveis elevados de glicose em pacientes idosos
portadores de diabetes é uma alteração na entrada de glicose não controlada
por insulina (NIMGU). O peptídeo glucagon-like 1 (GLP-1) é um hormônio
intestinal insulinotrópico. Foi proposto que este hormônio baixe os níveis de
glicose por aumento de NIMGU. O estudo foi conduzido para determinar se
GLP-1 aumenta NIMGU em pacientes idosos portadores de diabetes, grupo no
qual NIMGU é geralmente diminuído. Estudos foram feitos em 10 pacientes
portadores de diabetes tipo 2 (idade 75 ± 2 anos, IMC 27 ± 1 kg/m2) que parti-
ciparam de experiências de clamp de glicose. Em cada estudo, octreotide foi
aplicado para suprimir a produção de insulina endógena. Durante os primeiros
180 minutos, nenhuma glicose foi aplicada. De 180 para 240 minutos, a glicose
aumentou par 11 mmol/l, usando o protocolo de clamp de glicose. No estudo
GLP-1, GLP-1 foi aplicado de 30 para 240 minutos. Em um estudo de controle
posterior, insulina foi aplicada usando o protocolo de clamp de glicose de 30
para 240 minutos para igualar os níveis de insulina ocorridos durante o estudo
de aplicação de GLP-1. Durante a hiperglicemia, GLP-1 aumentou a glicose
(estudo controle: 2,52 ± 0,19 mg · kg–1 · min–1; estudo GLP-1: 2,90 ± 0,17 mg
· kg–1 · min–1; P < 0.0001). A liberação de glicose hepática não foi diferente
entre os estudos. Concluímos que GLP-1 pode reverter parcialmente o defeito
em NIMGU que ocorre em pacientes idosos portadores de diabetes.
Continuação discussão. Estudamos o seu impacto relativo sobre a melhora das anormali-
dades metabólicas associadas à resistência à insulina em indivíduos obesos.
12 sujeitos obesos (6 homens e 6 mulheres, IMC 36,1 ± 4,7 kg/m2), idade 38-
57 anos foram investigados. Durante o primeiro período eles foram alimenta-
dos por dieta hipoenergética de 6 semanas. Durante a segunda fase, consumi-
ram uma dieta iso-energética. Durante a terceira fase, os participantes volta-
ram à dieta hipoenergética. A sensibilidade à insulina foi avaliada por um
teste de tolerância à glicose. Todos os participantes diminuíram de peso du-
rante os dois períodos hipoenergéticos: 5,49 ± 0,75 e 2,32 ± 0,37%, média ±
DP, P < 0,005. Um terço da perda foi obtido durante a primeira semana de
cada período. Sensibilidade à insulina aumentou em 353 ± 121 e 147 ± 38%
(P < 0,005), no final dos dois períodos hipoenergéticos. Dois terços dessa
melhora foram observados durante a primeira semana de cada período. Du-
rante o período de manutenção do peso com a dieta iso-energética, sensibili-
dade à insulina diminuiu em 43,5 ± 7,9% (P < 0,002). Os níveis plasmáticos
de leptina e triglicérides seguiram o mesmo modelo, mas em um grau inferi-
or. Podemos concluir que o balanço energético negativo é mais eficaz quan-
do comparado com a manutenção de um peso estável para melhorar os parâ-
metros metabólicos da síndrome de resistência à insulina.
Reuben A, Liver Service and Liver Manutenção a longo prazo do paciente com transplante de
Transplant Program, Medical fígado: diabetes, hiperlipidemia e obesidade
University of South Carolina,
Charleston, SC A sobrevida a longo prazo aumenta após transplantação do fígado, o que
faz que as complicações cardiovasculares representam a maior causa de mor-
bidade e mortalidade tardias. Parece razoável corrigir os fatores de risco car-
diovasculares potencialmente reversíveis, como diabetes, hiperlipidemia,
obesidade e hipertensão. Os resultados da transplantação do fígado são acei-
táveis em pacientes diabéticos em termos de morbidade, mortalidade e pre-
valência de diabetes pós-transplantação, mais os resultados fracos descritos
em várias séries sugerem que testes mais rigorosos de doença micro ou ma-
crovascular devem ser empregados. A manutenção do diabetes em recebedo-
res de fígado não é substancialmente diferente do tratamento do diabetes em
pessoas não transplantadas, fora da diminuição dos esteróides. Hiperlipide-
mia ocorre em todas as transplantações de órgãos sólidos, com taxas de pre-
valência menores para os recebedores de fígado. Após transplantação de fí-
gado, 15 a 40% dos recebedores apresentam um aumento dos níveis de coles-
terol plasmático e 40% apresentam hipertrigliceridemia. As modificações da
dieta, a redução de peso, exercícios e uso das estatinas são as características
essenciais do tratamento. Estudos retrospectivos sugerem que a sobrevida a
longo prazo dos recebedores obesos após transplante do fígado não diferem
dos de recebedores não-obesos. O ganho de peso pós-transplante ocorre em
muitas pessoas, e aproximadamente dois terços dos transplantados apresen-
tam um sobrepeso. O tratamento da obesidade pós-transplante não é diferen-
te do da obesidade em pessoas não transplantadas.
Continuação insulina (medida pela insulina pós-carga) com níveis de marcadores de infla-
mação e moléculas de adesão celular em uma amostra randomizada de 574
homens e mulheres idosos não diabéticos, participando do Rotterdam Study.
Associações foram avaliadas por análise de regressão. Em nossa população
insulina foi forte e significativamente (P < 0.001) associada com os marcado-
res de inflamação proteína C-reativa [1,52 (0,96-2,08)], alpha-1-antichymo-
trypsin [1,25 (0,82-1,69)], e IL-6 [2,60 (1,69-3,52)], ajustados por idade e
sexo. Associações diminuíram após ajuste adicional por obesidade, tabagis-
mo e doença cardiovascular. Insulina foi associada com a molécula 1 de ade-
são intercelular solúvel [2,22 (1,29-3,16; P < 0,001)], enquanto que nenhuma
associação com a molécula de adesão celular vascular solúvel foi encontra-
da. A força das associações da insulina com a proteína C-reativa, alpha-1-
antichymotrypsin, IL-6 e molécula 1 de adesão intercelular solúvel, com ava-
liada pelos coeficientes de regressão padronizados, foi comparável à força
das associações da insulina com colesterol HDL, IMC, relação cintura/qua-
dril. Os resultados deste estudo populacional indicam que inflamação de bai-
xo grau, molécula 1 de adesão intercelular solúvel, molécula de adesão celu-
lar fazem parte da resistência à insulina em idosos não-diabéticos. Esses fato-
res podem contribuir à associação bem conhecida entre resistência à insulina
e risco de doença cardiovascular e poderiam ser objetivos terapêuticos em
indivíduos resistentes à insulina.
Diabetes Clínica 06 (2001) 373
O Diabetes na Imprensa
28 de outubro de 2001 Está provado. Dieta e exercício físico previnem o diabetes tipo 2 naqueles
pacientes que conseguem reduzir o peso.
De acordo com estudo americano, o índice de sucesso foi de 58% entre
pessoas com grandes chances de desenvolver a doença que se exercitaram,
em média, 30 minutos por dia e perderam até 7% do peso.
Os resultados podem ser ainda melhores se um remédio já utilizado para
combater a doença, a acarbose (Glucobay), for administrado preventivamen-
te em conjunto com ginástica e regime. Exercício, dieta e acarbose juntos
foram 33% mais eficientes na prevenção do que a combinação de ginástica e
regime, segundo um estudo de Montreal. “Somando resultados, podemos di-
zer que é possível prevenir a doença na maioria dos casos”, afirma o chefe
do departamento de Endocrinologia do Hospital Heliópolis de São Paulo,
Freddy Goldberg Eliaschewitz. Outro droga, a metformina (Dimefor, Glifor-
min e Glucophage), também utilizada no controle da doença, reduziu o risco
de evolução para diabetes em 31% dos casos estudados no levantamento nor-
te-americano. Essas pessoas receberam apenas orientação alimentar e de exer-
cício, mas não seguiram um programa específico.
“Os resultados com os remédios abram perspectivas para as pessoas que
não conseguem resultados com atividade física e dieta”, diz o presidente da
Sociedade Brasileira de Diabetes, José Egídio Paulo de Oliveira. “Com certa
frequência, a mudança de hábito em adultos não é fácil”, diz.
As pessoas que mais correm risco de desenvolver a doença são aquelas
que têm índices de glicose no sangue acima do normal, mas que ainda não
podem ser consideradas como diabéticas. São os intolerantes à glicose.
Elas costumam estar acima do peso e têm histórico familiar da doença.
Raramente apresentam sintomas, mas algumas podem ter triglicérides (tipo
de gordura que pode favorecer o entupimento de vasos) aumentados, pressão
alta e taxas baixas do HDL, conhecido como colesterol “bom”.
Nos Estados Unidos, 10 milhões de pessoas são intolerantes à glicose.
Segundo Oliveira, estima-se que no Brasil o número seja semelhante.
De acordo com dados do governo norte-americano, até 10% dos intoleran-
tes à glicose desenvolvem diabetes a cada ano.
A gordura é a principal “vilã” do diabetes tipo 2, principalmente quando está
localizada na barriga. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Endo-
crinologia, Amélio de Godoy Matos, essa gordura é metabolizada em ácidos
graxos livres, que afetam as células do pâncreas produtoras de insulina.
Enquanto dieta e exercício agem diretamente sobre a gordura, os remédi-
os, administrados em comprimidos, facilitam o trabalho das células produto-
ras de insulina. Outras drogas como o orlistat (Xenical), que impede a absor-
ção de gordura, também estão sendo estudadas para prevenir o diabetes.
De acordo com Matos, apesar de os resultados com remédios serem esti-
mulantes, ainda não se sabe por quanto tempo eles podem prevenir a doença.
No estudo com a acarbose ficou provado que, quando os pacientes paravam
de tomar a droga, as taxas de glicose voltavam a crescer.
O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 06 (2001) 375
A primeira coisa que o estudante Daniel Palma Rinder, 12, fazia logo de-
28 de outubro de 2001 pois de pular da cama, à 6h15, era dar uma picadinha na ponta do dedo para
medir a quantidade de açúcar no sangue, seguida da primeira injeção de insu-
lina do dia na barriga. A incômoda tarefa se repetia à 13h, antes de almoçar,
e às 19h, antes de jantar. Há 25 dias, a rotina de Daniel mudou, graças a um
aparelho pouco maior que um cartão de credito, que ele carrega acoplado na
cintura. É uma bomba eletrônica de insulina, permanentemente ligada ao corpo,
programada para fazer as medições e a dosagem necessária. Daniel festeja a
redução das picadas.
No Brasil, ainda são poucos os pacientes que estão usando a bomba. A de
Daniel sai por cerca de R$ 8.500,00 incluindo o programa de treinamento
que ensina o paciente a lidar com a máquina. Os gastos mensais para a manu-
tenção e acessórios variam de R$ 220 a R$ 260, dependendo da dose diária
de insulina consumida.
O endocrinologista Julio Abuchan, professor da Unifesp e médico de Da-
niel, diz que o novo equipamento previne as complicações a longo prazo,
além de possibilitar uma vida muito mais flexível ao paciente que depende de
insulina. Outra vantagem, é que o uso do equipamento libera o paciente de
dietas rígidas. A alimentação passa a ser normal, em quantidade e qualidade,
o que inclui a possibilidade de ingestão de açúcar.
Diabetes fitness
24 de novembro de 2001 Uma pesquisa feita pelo Instituto de Biociências da UNESP – Universida-
de Estadual Paulista, campus Rio Claro, revela que a prática de exercícios
físicos beneficia tanto os portadores de diabetes tipo 1 que atinge os jovens,
quanto os do tipo 2. O estudo da bióloga Eliete Luciano comprova que a
contração muscular, provocado pelo exercício, ajuda o organismo a assimilar
boa parte do excesso de açúcar no sangue: “Descobrimos que esse mecanis-
mo de captação de glicose funciona independente da ação da insulina”.
Uma das respostas do organismo ao exercício físico é a imediata melhora
da fadiga e o controle do peso. Eliete recomenda natação e caminhadas: “A
natação envolve os grandes grupos musculares e aumenta a captação de
glicose”. As caminhadas são especialmente indicadas para casos de diabetes
tipo 2, onde entra o grupo de idosos e obesos. O ideal é andar entre 20 e 30
minutos por dia, começando gradualmente, com 15 minutos.. Mas a pesqui-
376 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 06 (2001)
Continuação sadora adverte: exercitar-se regularmente não significa que o diabético vai
ficar livre da dieta, da restrição ao açúcar, nem da insulina.
Choques no estômago
Orban T et al., Sections on Dieta com teor elevado em frutose preserva as células β e previne
Immunology, Cellular and Molecular o diabetes em ratos diabéticos não-obesos
Physiology, and Islet Transplantation
and Cellular Biology, Joslin Diabetes Demonstramos que uma dieta elevada em frutose diminui a incidência do
Center and Harvard Medical School, diabetes em ratos diabéticos não obesos (NOD) (31,2% vs. 57,1% com ali-
Boston, MA Metabolism mentação padrão; P = 0,009). Em uma segunda coorte de ratos, avaliamos os
2001;50(11):1369-76, mecanismos potenciais para o efeito de proteção da dieta de frutose e se as
novembro de 2001 mudanças metabólicas são uma tendência específica. 60 ratos NOD e 60 Balb/
c foram randomizados em grupos frutose e refeição padrão (30 cada um) e
acompanhados durante 28 semanas. Os testes de tolerância à glicose demons-
traram um aumento da tolerância à glicose no grupo com dieta de frutose (P
= 0,001 em Balb/c; P = 0,04 em ratos NOD apos seis meses). A massa celular
β foi preservada em ratos NOD com dieta de frutose, mas não foi alterada em
ratos Balb/c. Em ratos NOD, a expressão da protéina (IRS)-2 do receptor de
insulina hepático aumentou em 2 vezes (P = 0,01 para 2 vs. 6 meses) em ratos
com dieta de frutose e foi 53% ± 15% mais elevada (P = 0,01) no grupo
frutose vs. grupo controle na idade de 6 meses. A expressão de IRS-2 aumen-
tou também no músculo esquelético em ratos NOD e em ambos músculo e
fígado em ratos Balb/c. Nossos dados sugerem que a dieta elevada em fruto-
se aumenta a tolerância à glicose em ratos NOD e Balb/c. A tolerância au-
mentada à glicose pode ser relacionada à expressão aumentada de IRS-2 e,
em ratos NOD, à preservação da massa celular β.
Lenhard JM. Department of Metabolic PPAR-γγ/RXR como objetivo molecular para o diabetes
Diseases, GlaxoSmithKline Inc,
Receptors Channels 2001;7(4):249-58, O diabetes tipo 2 é associado à resistência à insulina nos tecidos periféricos,
novembro de 2001 tais como músculo e gordura. As novas terapias que melhoram a ação da insu-
lina incluem ligandos que ligam e ativam os receptores nucleares do peroxiso-
me proliferator activating receptor gamma (PPAR-γ) e o receptor retinóide X
(RXR). PPAR-γ/RXR formam heterodímeros que regulam a transcrição de ge-
nes envolvidos na ação da insulina, a diferenciação do adipócito, o metabolis-
mo lipídico e a inflamação. Os ativadores PPAR incluem prostanóidos, ácidos
graxos, tiazolidinedionas e análogos da N-(2-benzoylphenyl)tyrosine. Os li-
gandos RXR incluem ácido retinóico e rexinóidos sintéticos. Os ligandos sele-
tivos desses receptores melhoram as anormalidades metabólicas associadas com
o diabetes tipo 2, tais como hiperglicemia, hiperlipidemia, resistência à insuli-
na e outros fatores de risco cardiovasculares. Apesar do que os tecidos adipo-
sos regulam vários efeitos dos ligandos PPAR-γ/RXR, outros tecidos regulam
os efeitos desses receptores. A atividade do heterodímeros PPAR-γ/RXR é in-
fluenciado pelas alterações pós-translationais, o turnover do receptor, polimor-
fismos, variantes de junção, co-ativadores e co-repressores. Este estudo faz
uma revisão dos recentes pesquisas sobre estes receptores, especialmente so-
bre os efeitos metabólicos, a seletividade do ligando, a estrutura e a regulação
do heterodímero PPAR-γ/RXR.
Continuação também associados com risco maior. Vários estudos indicam que os padrões
dietéticos estimulam a resistência à insulina ou a secreção, incluindo o con-
sumo elevado de açúcares. Várias fontes de amido, índice glicêmico elevado
e consumo elevado de ácidos graxos saturados, são também associados com
risco maior de câncer do cólon. Apesar do que fatores do meio ambiente e
fatores genéticos têm influência sobre o câncer do cólon, a incidência dessa
doença era significativamente baixa antes do período dos avanços tecnológi-
cos caracterizado pelo estilo de vida sedentário, a obesidade e o aumento do
consumo de açúcares e ácidos graxos saturados. Esforços para controlar es-
ses padrões de vida terão o maior potencial para diminuir a incidência do
câncer, bem como as doenças cardiovasculares e o diabetes mellitus.
American Heart Association, Anaheim, Rosiglitazona (Avandia) diminui os fatores de risco de doença
Califórnia, 13 de novembro de 2001 arterial coronariana em diabetes tipo 2
Rory Collins et al., American Heart Zocor (sinvastatina) diminui os riscos cardíacos, mais do que os
Association, Anaheim, Califórnia, antioxidantes
13 de novembro de 2001
O Zocor (sinvastatina) diminui efetivamente os riscos de infarto do mio-
cárdio e outros eventos cardíacos, sem relação com o nível de colesterol san-
guíneo, segundo um estudo apresentado no Congresso da American Heart
Association. O mesmo estudo mostrou também que os antioxidantes como
vitamina C, E e beta-carotene são menos eficazes para combater a doença
cardíaca.
20.000 pacientes portadores de doença arterial coronariana, ou com histó-
rico de infarto do miocárdio, de diabetes ou outra doença envolvendo os va-
sos sanguíneos participaram deste estudo.
Os pacientes foram randomizados para receber um de quatro tratamen-
tos: sinvastatina, sinvastatina e vitamina C, vitamina E e beta carotene;
vitaminas em tratamento único; ou placebo. Os pacientes receberam cuida-
dos básicos, de acordo com as prescrições de seu médico, e foram acompa-
nhados durante 5,5 anos.
“Não existe nenhum evidência de uma qualquer benefício dos antioxidan-
tes”, disse Collins, “como também não tem evidência de efeitos adversos.
Mas com as estatinas, os resultados foram excelentes.”
O risco de morte de qualquer origem vascular ou cardíaca, bem com o
risco de infarto ou acidente vascular cerebral, foram reduzidos em um terço,
incluso em mulheres, idosos e diabéticos.
O risco foi também reduzido em pacientes com níveis de colesterol total <
200 mg/dl, ou LDL < 120 mg/dl. Esses pacientes não são normalmente con-
siderados como candidatos ao tratamento por estatinas, segundo as recomen-
dações usuais.
386 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 06 (2001)
Adnan Gokcel et al., Diabetes Care Efeitos da sibutramina em mulheres obesas diabéticas tipo 2 e
24:1957-1960, novembro de 2001 glicemia mal controlada
Brenner BM et al., for the RENAAL Efeitos do Losartan nos sintomas renais e cardiovasculares em
Study InvestigatorsN Engl J Med. diabéticos tipo 2 portadores de nefropatia
2001;345:861-869, novembro de 2001
Um estudo duplo-cego randomizado foi realizado para estudar o efeito
protetor no rim do losartan em pacientes portadores de diabetes tipo 2 e ne-
fropatia. 1513 pacientes homens e mulheres, com idade 31-70 anos, recebe-
ram seja losartan (50 a 100 mg/ 1 vez por dia) ou placebo, e foram acompa-
nhados durante 3,4 anos em média. No início, o estudo devia acompanhar os
pacientes durante 4,5 anos, mas o estudo foi interrompido em fevereiro de
2001, em razão da não evidência que os inibidores da enzima de conversão
da angiotensina possam reduzir a incidência dos eventos cardiovasculares
em pacientes com diminuição da função renal.
Os pacientes receberam também tratamento antihipertensivo convencio-
nal (antagonistas do cálcio, diuréticos, α-bloqueadores, β-bloqueadores, e
agentes centrais antihipertensivos) com exigência de manter a pressão san-
guínea em 140/90 mm Hg. No início 93,5% de todos os pacientes receberam
terapia antihipertensiva. As consultas foram programadas para cada três me-
ses. O primeiro grupo de medição foi um composto associando o aumento
em 100% da concentração de creatinina plasmática, doença renal terminal ou
morte. O segundo grupo incluiu fatores de morbidade e mortalidade de cau-
sas cardiovasculares, proteinuria, e taxa de progresso da doença renal. 71%
dos pacientes no grupo losartan receberam uma dose de 100 mg.
Quando comparado com placebo, o tratamento com losartan foi associado
com uma diminuição em 16% do risco de atingir o primeiro grupo de resulta-
dos (P = 0,02). Losartan reduziu a incidência do aumento da concentração da
creatinina plasmática (25%; P = 0,006) e doença renal terminal (28%; P =
0,002), mas foi sem efeito sobre a taxa de morte. A morbidade e mortalidade
por causas cardiovasculares foram similares nos dois grupos. O risco de atin-
gir o estado de doença renal terminal foi pouco diminuído após correção para
a pressão sanguínea. Não foram detectadas diferenças significativas entre os
grupos losartan e placebo para a morbidade e mortalidade por causas cardio-
vasculares. O nível de proteinuria, medido pela relação albumina:creatinina
na urina, diminuiu em 35% com losartan, mas aumentou no grupo placebo e
o risco de doença renal terminal foi reduzido em 28% com losartan durante
um seguimento médio de 3,4 anos.
Diabetes Clínica 06 (2001) 389
Produtos e novidades
Insuman Optiset: A caneta descartável de Aventis
Idade (anos) 36 ± 11 36 ± 10 37 ± 10
IMC (kg/m²) 41 ± 7 41 ± 6 41 ± 6
Cintura (cm) 106 ± 13 106 ± 12 107 ± 12
% índice C/Q > 0.85 17,3 14,1 20
% de DM 7,3% 10,9% 14,4%*
% de IG 14,2% 11,7% 15,7%
% de DM + IG 21,5% 22,6% 30,1%**
*Brancas x Negras, p = 0,024; **Brancas x Negras, p = 0,058
As pacientes foram semelhantes em relação a idade, IMC, circunferência
da cintura e freqüência de obesidade andróide (índice cintura/quadril > 0,85).
A freqüência de história familiar de DM foi significantemente maior nas obesas
diabéticas do que nas obesas do grupo IG ou nas obesas não diabéticas (43,1
versus 27,1%, (p = 0,01) e versus 27,1% (p=0,03)). Setenta e dois per cento
das pacientes nas quais foi diagnosticado DM, desconheciam ter este distúr-
bio até então. Observamos maior freqüência de DM nas obesas negras do que
nas brancas. A análise de regressão múltipla mostrou que esta freqüência foi
maior nas negras em relação às brancas, mesmo quando ajustada para idade,
IMC e história familiar de diabetes.
Conclusão: Fatores raciais e genéticos influenciam a expressão de DM em
obesos.
392 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 06 (2001)
G.S. Meneilly et al., 37th Annual Administração continua durante 12 semanas de GLP-1 em
Meeting of the European Association pacientes diabéticos idosos
for the Study of Diabetes (EASD), Objetivo: O efeito insulinotrôpico do GLP-1 não tem sido confirmado em
Glasgow, Reino-Unido, pacientes idosos diabéticos tipo 2 durante um período prolongado.
9 - 13 de setembro de 2001 Material e métodos: Observamos a regulação da homeostase da glicose
pelo GLP-1 (7-36 amido) antes e depois da administração subcutânea conti-
nua de GLP-1 (0,1-0,4 nmol/kg/h) em 7 pacientes diabéticos tipo 2 (idade =
72,6 ± 1,3, IMC = 27,4 ± 1,3). Não foram usados outros agentes de regulação
da glicose nesse grupo. Um grupo controle (n = 5), foi também investigado
antes e depois de 12 semanas de terapia usual (idade = 72,2 ± 1,6, IMC = 28,0
± 1,3). Diabetes foi diagnosticado 14 ± 5 anos antes do estudo em ambos os
grupos. Um clamp hiperglicêmico (5,4 mmol/l acima do nível de jejum) foi
realizado durante uma hora, seguido por nível de jejum por 1 hora, imediata-
mente seguido por clamp euglicêmico (480 pmol/m2/min) por 2 horas antes e
12 semanas após administração de GLP-1. Durante o clamp euglicêmico, foi
permitida a diminuição da glicose plasmática até 5,3 mmol/l. Em ambos os
grupos os agentes hipoglicemiantes foram supressos durante 3 dias antes de
cada clamp, com exceção para GLP-1 no pós-clamp.
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 06 (2001) 393
Estela Wajcberg, Paulo Jose Suarez Correlação entre os auto-anticorpos para GAD (ácido glutâmico
Barbosa, Sidney Oliveira Goncalves, descarboxilase) e a função da célula β em jovens adultos
Lenita Zajdenverg, Adolpho Milech, diabéticos
Jose Egidio Paulo de Oliveira, UFRJ,
Rio de Janeiro, 17th International Objetivos: Avaliar a etiologia auto-imune do diabetes mellitus atra-
Diabetes Federation Congress, México vés o rastreamento com auto-anticorpos para GAD e seus relações com
City, México, a função de célula β em pacientes diagnosticados com idade entre 20 e
5-10 de novembro de 2000 40 anos.
Métodos: 71 pacientes, não-obesos, foram selecionados, independen-
temente da duração da doença e do tipo de tratamento. Medições dos
auto-anticorpos para GAD foram efetuados por radioimunoensaio (po-
sitivo > 1,0U/ml) e a função da célula β foi avaliada por teste ao gluca-
gon e medições do peptídeo-C plasmático de jejum e 6 minutos após
aplicação endovenosa de glucagon 1 mg (deficiência em insulina se C-
peptídeo pós-glucagon < 2,1ng/ml). Dados sobre idade no diagnóstico,
duração da doença, complicações agudas ou crônicas, histórico familiar
de diabetes, tratamento inicial e atual, IMC, outros distúrbios auto-imu-
nes, foram notados.
Resultados: 21,1% dos pacientes eram GAD positivos. Existe uma cor-
relação estatisticamente significativa entre a positividade GAD e a pre-
servação da função pancreática. 66,7% dos pacientes GAD(+) tinham uma
função celular β normal e, dentre os GAD(-), 66,1% tinham uma função
reduzida. Os GAD(+) com titulações elevadas tinham uma função pan-
creática reduzida. 93,3% dos pacientes GAD(+) tinham um IMC normal
(> 25kg/m2).
Conclusões: 1) A freqüência da auto-imunidade nesse estudo concorda
com a literatura; 2) A função pancreática residual nesses pacientes pode
ser compatível com uma destruição lentamente progressiva da célula β; 3)
As dosagens dos auto-anticorpos podem ser relacionadas com a velocida-
de da destruição celular β; 4) Os pacientes GAD(-) com função pancreáti-
ca reduzida podem apresentar uma secreção insulínica diminuída, não-
imune; exaustão celular β; ou um processo auto-imune dependente de ou-
tro anticorpo não medido nesse estudo.
394 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 06 (2001)
Bruno Geloneze, Jose C. Pareja, Diminuição da secreção da célula β determina o perfil lipídico na
Enrico M. Repetto, Aline G. Costa, obesidade severa
Marcos A. Tambascia, Unicamp,
Campinas, SP, 17th International A taxa elevada de morte cardiovascular em diabetes de tipo 2 foi relaciona-
Diabetes Federation Congress, México da a vários fatores de risco como obesidade, hipertensão, dislipidemia e resis-
City, México, 5 a 10 de novembro de tência à insulina. Existe também uma proporção elevada de dislipidemia dentre
2000 os pacientes diabéticos. A anormalidade lipídica típica inclui níveis elevados
de triglicérides combinados com baixos níveis de HDL-colesterol. O papel da
resistência à insulina e da secreção da mesma sobre a fisiopatologia da dislipi-
demia não é completamente conhecido. Para pesquisar a relação da dislipide-
mia, da ação e da secreção da insulina, estudamos pacientes portadores de obe-
sidade severa classificados por teste oral de hiperglicemia. A partir dos pacien-
tes do consultório da Universidade de Campinas, selecionamos pacientes por
idade, IMC e resistência elevada à insulina. A resistência à insulina e a secre-
ção da célula β foram analisados pelo método HOMA (Homeostasis Model
Assessment). A tabela seguinte mostra nossos resultados:
n 16 14
Idade (anos) 35,1 ± 7,1 43,9 ± 11,9 ns
IMC (kg/m2) 53,3 ± 13,6 50,3 ± 11,2 ns
Colesterol total (mg/dl) 190,8 ± 41,7 232,1 ± 57,4 p < 0,01
HDL-colesterol (mg/dl) 43,5 ± 11,2 37,4 ± 13,2 p < 0,01
Triglicérides (mg/dl) 131,5 ± 62,2 228,1 ± 109,9 p < 0,01
HOMA-IR 17,5 ± 6,0 18,1 ± 7,2 ns
HOMA-beta 875,8 ± 236,6 310,8 ± 328,0 p < 0,01
Liguori A et al., Eur Heart J Efeito do controle glicêmico e idade sobre a suscetibilidade do
2001;22(22):2075-84, LDL à oxidação em diabetes tipo 1
novembro de 2001
Introdução: Apesar do que os pacientes portadores de diabetes apresen-
tam freqüentemente dislipidemias e pressão sanguínea elevada, o risco au-
mentado de doença arterial coronariana não é explicado por esses fatores ou
outros fatores de risco clássicos. Outros fatores menos reconhecidos, tais como
suscetibilidade aumentada do LDL à oxidação, poderiam piorar a disfunção
vascular e a aterogênese em diabetes.
Objetivos: Comparamos taxas e extensão da oxidação do LDL entre 78
indivíduos portadores de diabetes tipo 1, mal controlados, idade 78 anos e
controles não diabéticos. Começamos uma terapia intensiva com insulina
398 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 06 (2001)
Tupola S et al., Hospital for Children Insulina lispro pós-prandial vs. Insulina humana regular em
and Adolescents, University of crianças diabéticas tipo 1
Helsinki, Helsinki, and Kuopio
University Hospital, Department of Objetivos: Estudar se a insulina lispro pós-prandial (PL) pode ser empre-
Paediatrics, Kuopio, Finland Diabet gada com terapia insulínica ao lugar da insulina humana regular pré-refeição
Med 2001;18(8):654-658, (HR) em crianças portadoras de diabetes tipo 1.
agosto de 2001 Pacientes e métodos: Estudo aberto, randomizado usando PL e HR no
café da manhã e no jantar. Após um mês de rastreamento, os pacientes foram
randomizados para o tratamento PL ou HR de 3 meses e trocaram de insulina
para um novo período de 3 meses. Os pacientes eram 24 crianças portadores
de diabetes tipo 1 (idade média 6,2 anos, duração do diabetes 37 meses).
Monitoramento de 24 horas do perfil glicêmico nas refeições (pré-refeição,
1h e 2h após café da manhã e jantar), e HbA1c foram medidos antes a rando-
mização, antes a troca de tratamento e durante a última consulta. Dados sobre
os episódios de hipoglicemias foram coletados durante cada uma das 7 visi-
tas. As variáveis foram comparadas entre os dois tratamentos.
Resultados: 22 pacientes completaram o estudo. Não foram observadas
diferenças significativas nas excursões da glicose entre PL e HR após o café
da manhã (DP média: 1-h PL 3,7 4,7 vs. HR 2,9 3,9 mmol/l, P = 0,3; 2-h -0,9
5,4 vs. 0,3 4,5 mmol/l, P = 0,2, respectivamente) ou após o jantar (1-h PL -2,5
4,8 vs. HR -0,4 3,7 mmol/l, P = 0,07, 2-h -4,1 5,2 vs. -0,7 5,0 mmol/l, P =
0,05, respectivamente). Alterações médias de HbA1c foram similares nos
dois grupos de tratamento (PL 0,2 0,8% vs. HR -0,4 0,7%, P = 0,1). A fre-
qüência dos episódios de hipoglicemia foi de 4,9 episódios por paciente e por
mês durante o tratamento com PL e 4,4 durante HR (P = 0,3).
Conclusão: Tratamento com lispro pós-prandial como insulina de refeição
é tão eficaz e seguro como o tratamento tradicional com insulina regular
em jovens crianças.
400 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 06 (2001)
Witthaus E et al., Health Economics Satisfação do tratamento e bem-estar psicológico com insulina
Research Group, Aventis Pharma glargina comparada com NPH em diabéticos tipo 1
Deutschland, Frankfurt, Germany,
Department of Biostatistics, Aventis Objetivos: Avaliar a satisfação com tratamento e bem-estar psicológico
Pharma, Laval, Quebec, Canada, and associados à insulina glargina e Neutral Protamine Hagewdorn (NPH). Insu-
Department of Psychology, Royal lina glargina, novo análogo de insulina de longa ação, fornece doses de insu-
Holloway, University of London, lina constante, sem picos, após uma administração diária e é associada a pou-
Egham, UK, Diabet Med cos episódios de hipoglicemia, apesar do controle metabólica equivalente ao
2001;18(8):619-625, agosto de 2001 realizado com insulina humana NPH.
Métodos: Questionários de satisfação e de bem-estar foram completados
no início e nas semanas 8, 20 ou 28 por 517 pacientes portadores de diabetes
tipo 1 participando em um estudo randomizado, controlado, de insulina glar-
gina e NPH.
Resultados: A satisfação com para o tratamento aumentou com insulina
glargina em todos os períodos, incluso no final, mas piorou levemente com
NPH. Essas diferenças foram significativas durante o estudo (mudança do
início até o fim:: +1,27 vs. -0,56; P = 0,0001). Os resultados da insulina
glargina foram melhores para o questionário de satisfação, de freqüência per-
cebida da hiperglicemia e da hipoglicemia, com diferenças estatisticamente
significativas nas semanas 28 e no final para a hiperglicemia (P = 0,0373 e
0,0379) e na semana 20 para hipoglicemia (P = 0,0024). Nenhuma diferença
no bem-estar psicológico foi observada entre os dois grupos de tratamento.
Conclusões: Os participantes do estudo apresentaram melhora do bem es-
tar independente do tratamento. As vantagens da insulina glargina são a
melhora significativa da satisfação com para a tratamento durante o estu-
do, com uma freqüência percebida menor da hiperglicemia do que para os
pacientes tratados com NPH, e sem aumento significativo da freqüência
percebida de hipoglicemia.
E. Cosson et al., 37th Annual Meeting Detecção da estenose coronariana silenciosa em diabéticos: teste
of the European Association for the de exercício de estresse ou cintigrafia miocardíaca ?
Study of Diabetes (EASD), Glasgow,
Reino-Unido, Objetivos: A estenose coronariana silenciosa (CS) é comum em pacientes
9 - 13 de setembro de 2001 diabéticos e associada com mau prognóstico. Os benefícios potenciais do
diagnóstico da CS incluem uma terapia anti-isquêmica e um processo de re-
vascularização precoces. A cintigrafia miocardíaca (MS) é apropriada para
detectar a CS mais é dispendiosa. As associações americanos e francesas de
diabetes recomendam realizar teste ECG (EST) de estresse em primeiro lu-
gar em pacientes diabéticos com fatores de risco cardiovasculares e capazes
de se exercitar. O objetivo deste estudo era de determinar se adicionar MS a
EST é efetivo para detectar mais pacientes portadores de CS silenciosa.
Material e métodos: 400 pacientes diabéticos não sintomáticos com mais
de 1 fator de risco adicional foram recrutados entre 1995 e 2000 para reali-
zar MS após estresse farmacológico (aplicação de dipyridamole) ou, quan-
do capazes de se exercitar, EST máximo (85% da freqüência cardíaca má-
xima) Os pacientes com resultados anormais receberam uma angiografia
coronariana. 262 pacientes que realizarão EST acoplado a MS foram esco-
lhidos para análise.
Resultados: Os pacientes (150 homens, 112 mulheres) apresentavam du-
ração de diabetes (256 tipo 2) de 12,8 ± 7,7 anos e idade 57,6 ± 8,8 anos. Os
resultados do EST (critérios clínicos e elétricos) foram anormais em 54 paci-
entes, inclusos 12 com resultados anormais do exame MS. Destes, 43 foram
submissos a coronarografia, mostrando CS em 18 pacientes. Apesar de resul-
tados normais no EST, resultados anormais no MS foram encontrados em 42
outros pacientes. A coronarografia foi realizada em 33 deles e mostrou CS
em 16 pacientes. O valor preditico doas resultados anormais de EST único (n
= 42), de resultados anormais de MS único (n = 42), ou ambos (n = 12) para
detectar CS foi 34,4%, 48,5% e 63,6%, respectivamente.
Conclusão: Estes achados de nossa coorte sugerem que exames incluindo
EST e MS, ao lugar de EST único, poderia ser teste de primeira linha para
detectar CS silenciosa em diabéticos capazes de se exercitar.
Continuação primeira semana e ficou baixa durante 6 semanas. Observamos uma diminui-
ção significativa na geração ROS (em 40% do início até a sexta semana; p <
0,003), diminuição do CRP plasmático em 30% (p < 0,002), MCP-1 em 15%
(p < 0,04) em 6 semanas. Todos os parâmetros voltaram à linha base em 12
semanas.
Conclusões: A rosiglitazona causa uma profunda supressão na produção
de ROS. Este efeito antiinflamatório é refletido no nível celular e molecu-
lar e no plasma. Ela melhora também a reatividade vascular.
Damasceno MMC et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 405~407
Diabetes 405
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas
ARTIGO ORIGINAL
Marta Maria Coelho Damasceno*, Regina Lúcia Lino Marques**, Ana Geyse Gomes da Silva***,
Geordany Rose de Oliveira Viana****, Vanessa Lopes Alves****, Maria Elisabeth Ribeiro da Silva*****,
Virgínia Lany da Silveira*****
Resumo
O presente estudo objetivou aferir a acuidade visual das pessoas responsáveis pelo preparo das doses diárias de insulina no domicílio. Os dados
foram coletados no Serviço de Endocrinologia e Diabetes de um hospital universitário localizado em Fortaleza-CE. Foram avaliados 206
sujeitos sendo 158 diabéticos e 48 familiares mediante a utilização da escala de Snellen e de Jaeger que permitiu aferir a acuidade visual para
longe e para perto, respectivamente. Os resultados evidenciaram que 55% dos diabéticos tinham acuidade diminuída para ambas as distâncias
enquanto 6,9% estavam com a acuidade comprometida somente para perto. Quantos aos familiares, 16,7% tinham acuidade diminuída para
longe e para perto e, 12,5% somente para perto. Além disso, constatou-se que 62,65% dos diabéticos e 33,33% dos familiares puseram na
seringa quantidades além ou aquém da prescrição, ao serem solicitados a preparar as doses. Conclui-se que a maioria dos usuários está
susceptível às complicações agudas e crônicas do diabetes e recomenda-se aos profissionais de saúde uma avaliação periódica da acuidade
visual e do preparo de doses de insulina.
Palavras-chave: Acuidade visual, insulina, preparo de doses de insulina.
Abstract
The present study objectified to check people’s visual acuity who prepare daily doses of insulin at home. The data were collected in the
Endocrinology and Diabetes Service of an university hospital located in Fortaleza-Ce-Brazil. It was evaluated 206 subjects being 158 diabetics
and 48 family by means of use of Snellen’s and Jaeger’s scale that allowed to check the resolution acuity for far away and for close, respecti-
vely. The results evidenced that 55% of the diabetics had acuity decreased to both distances while 6,9% were with the acuity only committed
for close. About the relatives, 16,7% had acuity decreased for far away and for close and, 12,5% only for close. Besides it was verified that
62,65% of the diabetics and 33,33% of the relatives put beyond in the syringe amounts or beneath of the prescription, when they were requested
to prepare the doses. It is ended that most of the users is susceptible to the acute and chronic complications of the diabetes and it is recommen-
ded the professionals of health a periodic evaluation of the visual acuity and of the prepare of insulin doses.
Key-Words: Visual acuity, insulin, prepare of insulin doses.
Endereço para correspondência: Profa. Dra. Marta Maria Coelho Damasceno, Universidade Federal do Ceará, Departamento de Enfermagem, rua Alexandre
Baraúna, 1115, Rodolfo Teófilo – 60430-160 Fortaleza - CE, Tel: (85) 288-8464, Fax: 288-8456, e-mail: marttygui@bol.com.br
406 Damasceno MMC et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 405~407
ída para perto. Outra vez chama a atenção o alto percen- Referências
tual dos que tem acuidade diminuída para perto, que
corresponde a 16 (29,2%). 1. Alves Júnior A. Análise da importância da acuidade visual na
detecção precoce da retinopatia no diabético tipo I e sua
correlação angiográfica. Revista Brasileira de Oftalmologia
Conclusão / Comentários finais 1995;54(4).
2. Costa AA, Almeida Neto JS. Manual de diabetes: alimentação,
Embora considerando as limitações das escalas utili- medicamentos, exercícios. São Paulo: Ed. Sarvier, 1992.129p.
zadas, pode-se afirmar que a maioria dos diabéticos que 3. Foster PC, Bennett AM, Dorothea E. Orem. In: GEORGE, J.
estão preparando suas próprias doses de insulina tem B. Teorias de enfermagem. Os fundamentos à prática
profissional. Porto Alegre: Artmed, 2000.375p.
acuidade visual diminuída, sobretudo para perto. E ain- 4. Freitas JAH. Oftalmologia básica. Rio de Janeiro: Colina,
da, que entre os familiares que vem tomando para si esta 1990.
responsabilidade, há um número significativo que está
com a acuidade diminuída para perto.
Neste caso, segundo Foster [3] a habilidade para a
execução daquele procedimento está aquém do neces-
sário o que exige dos profissionais que os assistem, um
método de ajuda, ou seja, guiar e orientar.
Assim, os que se incluíram nos resultados descritos
acima, foram orientados a procurar um oftalmologista
visto que a avaliação da acuidade visual é importante na
detecção precoce da retinopatia no diabético de tipo 1
[1]. Também, orientou-se a delegar para outras pessoas
a responsabilidade pelo preparo das doses. Isto porque a
diminuição da acuidade para perto pode acarretar doses
em quantidade aquém ou além do necessário, deixando
os usuários expostos às complicações agudas ou crôni-
cas características do diabetes mellitus [2].
De fato, observou-se que entre os diabéticos estuda-
dos, 62,65% puseram na seringa quantidade de insulina
aquém ou além do que foi prescrito, tendo o mesmo acon-
tecido com 33,33% dos familiares. Dessa forma, é pos-
sível afirmar que tal achado tem como fator determi-
nante à diminuição da acuidade visual para perto.
Vale acrescentar que não foi estudada uma amostra
maior em virtude de algumas dificuldades encontradas.
Por exemplo, nem sempre o local para realização da
pesquisa estava disponível. Além disso, o medo de per-
der a consulta médica fez com que alguns se recusassem
a participar.
Finalmente, recomenda-se aos profissionais de saúde
responsáveis pela assistência aos diabéticos que avali-
em periodicamente a acuidade visual desta clientela e o
preparo de doses de insulina principalmente no que diz
respeito à dose correta.
408 Castilho LF et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 408~413
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas
ARTIGO ORIGINAL
Lílian Fanny de Castilho*, Fadlo Fraige Filho**, Maria Salete Barbosa Lima***
*Educadora, Diretora executiva da Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD), **Professor titular de endocrinologia da faculdade de
medicina ABC, Presidente da ANAD, ***Educadora e pedagoga, Secretária Municipal de Educação de São Paulo
Endereço para correspondência: Lílian Fanny de Castilho, ANAD, Rua Eça de Queiroz, 198, Paraíso 04011-031 São Paulo SP
Tel: (11) 5572-5569, E-mail: anad@anad.org.br
Castilho LF et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 408~413 409
alização das atividades diárias e produtivas, compromete a poderá ser controlado se o paciente tiver orientação se-
qualidade de vida e o tratamento das mesmas é extrema- gura e conhecimentos específicos através de educação
mente oneroso para o sistema de saúde. continuada. O paciente informado terá condições de
Com a convicção de que o processo educativo é uma manter melhor controle de suas taxas glicêmicas, reali-
das formas de propiciar mudanças comportamentais ne- zando testes e outros procedimentos adequados às suas
cessárias ao controle metabólico e melhorar a qualidade necessidades, podendo assim ficar atento às diferentes
de vida das pessoas com Diabetes, a Associação Nacio- variáveis de seu estado. Isto significa, em outras pala-
nal de Assistência ao Diabético (ANAD), nos seus 22 vras, interagir diariamente com sua doença.
anos de existência, tem desenvolvido programas educa- Por outro lado, o profissional atualizado e reciclado
tivos e de atenção aos portadores de Diabetes e familia- estará apto a diagnosticar precocemente o Diabetes, ori-
res, bem como cursos de atualização e reciclagem de entar o paciente quanto à alimentação e exercícios físi-
multiprofissionais que atuam na área de Diabetes. A cos adequados e a desenvolver o seu trabalho com mai-
ANAD atende a uma população de Diabetes tipo 1 e or segurança e eficácia. As mudanças no comportamen-
tipo 2, em todas as idades. to do paciente diabético começam a acontecer quando
Quando pensamos na importância da educação mul- há consciência das variáveis da doença, quando o pro-
tidisciplinar, tendo em vista a melhoria da qualidade de fissional adota a postura de facilitador da aprendiza-
vida do paciente diabético, não podemos nos esquecer gem e quando o processo educativo é direcionado a to-
que o Diabetes é uma doença silenciosa, de instalação das as pessoas envolvidas com o paciente, ou seja, famí-
lenta e progressiva e de conseqüências irreversíveis. Por lia, amigos, profissionais de áreas afins, etc...
ser sorrateira e praticamente assintomática no tipo 2, Assim sendo, a Associação Nacional de Assistência
permite que o indivíduo a desenvolva num período de ao Diabético (ANAD) desenvolveu ao longo desses anos
até dez anos, sem se aperceber dos pequenos sinais de- um projeto educativo como parte de um programa de
latores de sua existência no organismo. Muitas vezes o atenção ao portador de Diabetes e seus familiares, atra-
paciente se dará conta quando as complicações decor- vés de cursos, palestras e vivências, bem como atualiza-
rentes já estiverem instaladas e a qualidade de vida de- ção e reciclagem para os multiprofissionais das áreas
teriorada. afins, visando a melhoria da qualidade de vida. Tem pro-
Este quadro existe tendo em vista a falta de informa- curado reestruturar e aprimorar seu projeto de educação
ção e conhecimento da população em geral, inclusive de em Diabetes no sentido de atender às demandas de paci-
alguns profissionais da Área de Saúde. entes e familiares que buscam melhor controle glicêmi-
co e de profissionais que desejam aprender novas for-
Justificativa mas de assistir e educar estes pacientes, com a finalida-
de de melhorar a qualidade de vida.
Evidências a partir de observações clínicas, epidemi-
ológicas e bioquímicas, demonstradas por dois dos es- Objetivos gerais
tudos prospectivos mais significantes em Diabetes
(DCCT, 1993 e UKPDS, 1998) indicam que a manuten- A – Para pacientes e familiares
ção de parâmetros glicêmicos e da pressão arterial pró-
ximos à normalidade podem reduzir a incidência e a se- - Facilitar a apropriação, criação e reconstrução de
veridade das complicações neuropáticas, macro e mi- novos conhecimentos e desenvolver habilidades, visan-
crovasculares. Os resultados desses estudos salientaram do à melhoria da qualidade de vida do portador de Dia-
a necessidade de expansão de equipes de cuidado à saú- betes, o aumento da força de trabalho, a longevidade e a
de (médicos especialistas, educadores em Diabetes, en- redução dos gastos pessoais e dos serviços de saúde,
tre outros), maior esforço profissional na educação em públicos e privados.
Diabetes, melhor relacionamento entre especialistas e - Desenvolver hábitos para o controle do Diabetes
cuidadores e planejamento de recursos financeiros. visando a prevenção das complicações agudas e crôni-
Tendo em vista que o Diabetes é uma doença univer- cas, através dos pilares do auto-cuidado: - aderência ao
sal, pois atinge a todos indistintamente e sendo que exis- tratamento; - dieta saudável; - atividade física; - socia-
tem portadores em todas as camadas sociais da popula- bilidade e suporte social e emocional necessários para o
ção, desinformados sobre a doença, surgiu a necessida- controle da doença, conforme preceitua a International
de de desenvolver um Projeto de Educação que contem- Diabetes Federation.
plasse o paciente diabético, a população que constitui
grupo de risco para o aparecimento da doença e também B – Para multiprofissionais
o profissional de áreas afins interessado na sua atualiza-
ção e reciclagem. - Propiciar condições para a reciclagem e atualiza-
O Diabetes, quando diagnosticado precocemente, ção dos multiprofissionais das áreas afins, visando o
410 Castilho LF et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 408~413
aprimoramento de seus conhecimentos e de suas rela- - Cirurgiões dentistas, farmacêuticos, enfermeiros, nu-
ções no trabalho, enquanto agentes multiplicadores de tricionistas, psicólogos, pedagogos, profissionais de
ações, resgatando, assim, o valor social de suas profis- atividade física, podólogos, fisioterapeutas, biomédi-
sões, além da aceitação da importância da equipe multi- cos, biólogos, etc.
disciplinar no tratamento do paciente diabético. - Estagiários: de nutrição, de psicologia, de odontolo-
gia, de podologia, de genética e biologia.
Objetivos específicos
Recursos humanos, materiais e financeiros
A – Para pacientes e familiares
- Favorecer o processo de auto-conhecimento do paci- A – Humanos
ente através de atividades que reflitam a realidade e as
experiências vividas, integrando-as aos conhecimen- Estrutura técnica e administrativa
tos adquiridos.
- Propiciar troca de experiências em Diabetes entre pa- · Estrutura técnica – Profissionais de Saúde que atu-
cientes e familiares com a finalidade de estimular a am na orientação e educação dos pacientes:
auto-aceitação e aceitação da família, de modo a tor- - 6 endocrinologistas.
ná-los agentes de sua própria enfermidade. - 3 enfermeiras.
- 2 psicólogas.
B – Para multiprofissionais - 2 profissionais de atividade física.
- Proporcionar condições para que o profissional que - 2 podólogas.
cuida e orienta o portador de Diabetes, se aproprie de - 1 pedagoga.
novos conhecimentos e fortaleça suas relações no tra- - 4 nutricionistas.
balho implementando dessa forma sua atualização pro- - 4 cirurgiões dentistas.
fissional, estando apto, assim, a melhor atender às es- - 14 especialistas (conveniados).
pecificidades do paciente. - Departamento de Odontologia (DOANAD).
- Promover entre os profissionais da área da saúde, - Departamento de Nutrição (DNA).
momentos de reflexão crítica sob sua prática cotidia- - Departamento de Podologia (DEPOD).
na e suas relações interpessoais, possibilitando, assim, - Departamento de Psicologia (DEPS).
uma melhoria na qualidade do serviço prestado. - Centro de Atividade física (CEPAFIDIA).
- 12 entidades (conveniadas).
C – Inter-relação pacientes x multiprofissionais - 9 laboratórios de análises clínicas (conveniados).
- Propiciar oportunidades de integração entre pacientes - Estagiárias de Nutrição, Psicologia, Genética, Odon-
e profissionais com a finalidade de aumentar a confi- tologia.
ança mútua e facilitar a aderência ao tratamento.
- Estimular entre pacientes e profissionais uma relação · Estrutura administrativa (Organograma - Anexo 1)
de respeito e consideração, enquanto seres que se re- - Presidente.
lacionam, ainda que de modos diferentes quanto a in- - Diretoria eleita.
tensidade e profundidade. - Conselho consultivo.
- Promover a interação paciente x profissional com o - Diretoria executiva.
objetivo de desenvolver a conscientização e aceitação - Funcionários administrativos (dez).
da doença e propiciar, mudança de hábitos de vida e - Conselho de voluntários.
melhor controle metabólico.
· Estrutura de apoio aos eventos
Cobertura (público alvo) - Funcionários da área administrativa.
- Multiprofissionais.
A – Pacientes - Estagiários.
- 12 mil associados (Diabetes tipo 1 e tipo 2), sendo 5 - Voluntários.
mil ativos, além dos familiares que participam das ati- - Contratados.
vidades educativas.
B – Materiais
B – Multiprofissionais (de todo o Brasil) - Salas disponíveis para atendimento ao público em ge-
- Médicos: endocrinologistas, clínicos, cardiologistas, ral e a pacientes individualmente.
dermatologistas, oftalmologistas, andrologistas, nefro- - Salas para exposição, palestras, vivências e cursos.
logistas, vasculares, psiquiatras, otorrinolaringologis- - Sala administrativa.
tas, etc. - Bazar.
Castilho LF et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 408~413 411
- Laboratório para detecção de glicemia, colesterol, tri- · Campanhas populacionais de detecção de Diabetes,
glicérides, aferição de pressão arterial. educação, orientação e encaminhamento.
- Cozinha. · Avaliação dos pés.
- Área para atividade física. · Avaliação dos dentes.
- Recursos audiovisuais e aparelhos eletrônicos. · Avaliação nutricional.
- Mural, flipchart. · Avaliação dos olhos.
- Publicações: cartazes, folders, jornal. · Aferição da pressão arterial.
- Mobiliário.
B – Educacionais
C – Financeiros
B1 - Direcionados ao portador de Diabetes:
C1 – Fontes de financiamento - Palestras formais semanais com multiprofissionais.
Não há. - Grupos diários: Nutrição, Psicologia, Expressão cor-
C2 – Fontes de recursos poral.
- Doações de Laboratórios farmacêuticos e de particu- - Atendimento de sala de espera – Nutricionista, Enfer-
lares. meira, Psicóloga, Genética.
- Contribuição dos associados. - Grupo de convivência – Orientação nutricional.
- Recursos provenientes de atividades externas (cam- - Grupo de convivência – Orientação psicológica.
panhas em empresas). - Grupo de convivência – Orientação odontológica.
- Congressos promovidos pela ANAD. - Dia de vivência.
- Parcerias. - Curso de culinária.
- Permutas. - Demonstração de novos produtos.
- Vendas de produtos. - Aprovação de alimentos para o consumo.
- Veículo informativo e educativo – Jornal “ANAD In-
Estratégias (atividades assistenciais e educacionais) forma”.
- Grupo de auto-conhecimento e relaxamento.
A – Assistenciais - Caminhada no Parque.
- Consciência corporal.
A1 – Direcionadas ao portador de Diabetes - Entrevistas e consultas educativas.
· Consultas diárias e individuais com: - Vídeos e palestras, demonstrações, atividades de sen-
- Médicos. sibilização, grupos de discussão, dinâmica de grupo,
- Nutricionistas. dramatizações, estudo de caso, jogos, etc.
- Psicólogos. - Divulgação interna das atividades e benefícios.
- Dentistas. - Divulgação na mídia escrita e falada para atrair novos
- Podólogos. associados.
· Atendimentos de sala de espera em grupo ou indivi- - Divulgação no jornal “ANAD Informa” para que os
duais, através de profissionais e estagiários associados participem das atividades.
· Encaminhamento para médicos especialistas (das com- - Site na Internet.
plicações): - E-mail – Tirando Dúvidas.
- Neurologista.
- Oftalmologista. B2 - Direcionados aos Multiprofissionais
- Cardiologista. - Reunião Mensal – discussão de casos clínicos
- Dermatologista. - Cursos de capacitação de:
- Otorrinolaringologista. 1.Enfermagem.
- Ginecologista. 2.Atividades Físicas (CEPAFIDIA).
- Andrologista. 3.Odontologia (DOANAD).
- Vascular. - Eventos de Atualização - Congresso Brasileiro Multi-
- Nefrologista. profissional em Diabetes (anual).
- Psiquiatra. - Palestras de atualização e reciclagem para médicos clí-
- Cirurgião Dentista. nicos e cardiologistas (em todo o Brasil).
· Encaminhamento para Laboratórios de Análises Clí- - Seminários, palestras, encontros, grupos de estudos e
nicas vivência.
· Doações de Insulina, Antidiabéticos Orais, Seringas, - Divulgação específica na Revista Diabetes Clínica.
Tiras Reagentes, Glicosímetros, Produtos Diet e Ou- - Divulgação em publicações especializadas de Socie-
tros Medicamentos dades, Conselhos e afins.
412 Castilho LF et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 408~413
B - Dados em percentagem da redução de glicemias pós- - Através de parcerias com a iniciativa privada e
prandiais em relação às de jejum em pacientes que órgãos governamentais.
participaram dos dias de vivência e conscientizados - Através de abertura de canais de comunicação com
da importância da dieta, da medicação, atividades fí- empresas e profissionais que desenvolvam projetos si-
sicas e sociabilidade: milares, via internet.
Em fevereiro .................................................. redução de 50,00%
Em março ....................................................... redução de 57,84%
Em abril ......................................................... redução de 38,00%
Agradecimentos
Em maio ......................................................... redução de 40,00%
Em junho ....................................................... redução de 53,84% Agradecemos especialmente Ada Verônica da Silva
Em julho ......................................................... redução de 43,75% Maciel – Psicóloga, Profa. Dra. Sonia A. A. Grossi –
Média Total ................................................. redução de 48,32% Enfermeira, Paula Maria de Pascali – Enfermeira, Ana
Miriam Gebara Carboni – Cirurgia Dentista, Erica Cris-
C - Num estudo de grupo de pacientes foram realiza- tina da Silva Lopes – Nutricionista, Lucinete Regina de
dos testes de Hemoglobina Glicosilada (HbA1c) entre Souza – Nutricionista e todas as pessoas que direta ou
outros, e após três meses envolvidos num processo edu- indiretamente contribuíram para o desenvolvimento deste
cativo apresentam o resultado abaixo. A 3ª Coluna refe- projeto.
re-se a diferença entre os resultados (em %). O valor de
Referência usado foi: 7,2% - 5,6% Referências
ARTIGO ORIGINAL
Mônica Antar Gamba*, Odete de Oliveira*, Fadlo Fraige Filho**, Cleide Martinez***, Márcia Yuriko
Kajita****
*Enfermeira Professora Doutora do Departamento de Enfermagem da UNIFESP-EPM, **Professor titular de Endocrinologia da FMABC- Presidente da
FENAD e ANAD, ***Podóloga da Associação Nacional de Assistência ao Diabético ANAD, ****Aluna de Graduação do Curso de Enfermagem da
UNIFESP-EPM
Resumo
O diabetes mellitus (DM) tem assumido importante destaque no cenário nacional identificado pela alta prevalência que atinge aproximadamen-
te, cinco milhões de brasileiros, entre 30 a 69 anos, estimativas atuais demonstram que esta cifra já duplicou. É relevante considerar que o
mesmo estudo revela que cinqüenta por cento desta população desconhece o diagnóstico evidenciando a possibilidade da ocorrência das
complicações crônicas precederem o diagnóstico clínico da doença. As campanhas de orientação e detecção do DM podem efetivamente
contribuir para a prevenção e diagnóstico precoce da doença, bem como propiciar a avaliação dos hábitos de vida, do controle glicêmico, das
alterações dermatológicas, neurológicas, vasculares, dos cuidados com os pés e o uso de órteses e calçados adequados. Um estudo observaci-
onal do tipo descritivo realizado por meio de um inquérito populacional, analisou indivíduos com valores de glicemia capilar superiores a 126
mg/dl e os previamente diagnosticados segundo variáveis sociodemográficas, de hábitos de vida e clínicas, tais como: conhecimento prévio do
DM, hábitos de fumar, presença da hipertensão arterial e tratamento dela e evidências clínicas da alteração da sensação protetora com a
utilização do teste do monofilamento de Semmes-Weinstein (5.07), de sinais simples da vasculopatia periférica pela simples palpação dos
pulsos distais, alterações dermato-podológicas (onicriptose, onimicose, micose interdigital), além da presença de deformidades, de feridas de
extremidades inferiores e da inadequação de órteses e calçados. De 229 pacientes avaliados, 55,9% eram do sexo masculino e 44,1% do sexo
feminino, 24% desconheciam o diagnóstico do diabetes e dos previamente diagnosticados 17,3% não realizavam nenhum tipo de tratamento
para o diabetes. Em relação as variáveis demográficas os resultados não diferem do estudo EMDM. Quanto aos hábitos deletérios de vida como
o hábito de fumar foi possível observar que 17% eram tabagistas por aproximadamente 30 anos. A hipertensão arterial, importante fator de
risco para as complicações macrocirculatórias, estava presente em 41% da população investigada e 11% também não tratavam dela. A avalia-
ção sumária dos sinais clínicos das extremidades inferiores demonstrou que 25% não perceberam o monofilamento 5.07, 18% não apresentou
pulsos periféricos palpáveis e aproximadamente 70% apresentava onimicose, 38% algum tipo de lesão plantar especialmente, a hiperqueratose,
50% já apresentava algum tipo de deformidade nos pés e 30% tinham completa inadequação de órteses. Todos estes achados demonstram a
necessidade premente do diagnóstico e tratamento precoce do diabetes mellitus, bem como, da efetiva educação em saúde realizada por equipe
multiprofissional cujo, escopo deve ser o de prevenir as complicações crônicas ocasionadas pelo mau controle glicêmico.
Endereço para correspondência: Mônica Antar Gamba - UNIFESP - Depto de Enfermagem - Rua Napoleão de Barros, 754 - Vl. Clementino - CEP 04012-000
- São Paulo - SP - Tel.: (11) 9916-0767 - e-mail: ruimo@aol.com
Gamba MA et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 414~418 415
30% entre 60 a 69 anos e 16% para pessoas com 70 Gráfico 3: Distribuição percentual de pessoas com DM segundo
anos e mais (Gráfico 1). escolaridade (em anos), município de São Paulo, 2000.
Hábitos de vida
Variáveis clínicas
Em relação à cor, uma maior proporção de brancos
(61%) foi observado quando comparados a negros Das 229 pessoas investigadas, verificou-se que 76%
(12%), pardos (22%) e amarelos (5%) (Gráfico 2). conheciam sua condição clínica e 24% desconheciam o
diagnóstico da doença (Gráfico 4). Dos previamente di-
agnosticados 17% não realizavam qualquer tipo de tra-
Gráfico 2: Distribuição percentual das pessoas com DM segundo tamento para o DM e 83% realizavam algum tipo de
cor, município de São Paulo, 2000. tratamento (dietoterapia associados ou não a antidiabé-
ticos orais, insulinoterapia, exercícios físicos, combina-
dos entre outros). Da população investigada observou-
se que 41% apresentava diagnóstico de hipertensão ar-
terial e 11% não tratava dela.
Na avaliação geral foram observadas alterações da saúde, hiperglicemia. Tais fatores contribuem para a eti-
sensibilidade protetora em 25% das pessoas pois as mes- ologia dos “pés insensíveis” e isquêmicos, com defor-
mas não perceberam o estímulo do monofilamento de midades, vulneráveis a infecções manifestadas pelas ul-
Semmes-Weinstein- 5.07 e 18% não respondeu ao estí- cerações cutâneas, e o temível desfecho clínico denomi-
mulo vibratório com o diapasão 128Hz. nado “pé diabético”. A maior parte dos aspectos relaci-
Quanto à avaliação dermato-podológicas verificou- onados pode ser evitados com a simples provisão de
se que 70% da população investigada apresentava al- cuidados adequados à saúde [7-10,2].
gum tipo de alteração como: onicomicose, micose inter- O aparecimento concomitante da retinopatia e nefro-
digital, hiperqueratose plantar, anidrose, omicriptoses e patia diabética, responsáveis pelas alterações visuais, ede-
feridas. ma generalizado e outros comprometimentos clínicos,
Na avaliação vascular observou-se que 18% das pes- impõe limitações para que as pessoas com diabetes reali-
soas investigadas apresentavam alguma alteração clíni- zem o autocontrole, tratamento e cuidados com os pés,
ca durante a palpação dos pulsos periféricos. ações fundamentais para a prevenção da formação do “pé
Quanto às alterações ortopédicas, 50% das pessoas em risco” e, conseqüentemente, das amputações. Tal fato
analisadas, apresentavam alguma deformidade nos pés aponta para a necessidade do rastreamento criterioso des-
e 30% estavam utilizando calçados completamente ina- sas pessoas, que são os mais expostos ao risco de ulcera-
dequados (Gráfico 6). ção cutânea de extremidades inferiores. Para isso, podem
ser implementados programas de prevenção e controle
Discussão do diabetes, que enfatizem a educação, assistência com
realização do diagnóstico precoce, tratamento e cuidados
Inúmeras variáveis participam da etiologia do Diabe- especiais para as complicações crônicas [4,7,11,9,12,13,2].
tes Mellitus e de suas complicações crônicas. Algumas
são descritas na literatura como fatores de risco para as
amputações de extremidades inferiores e podem ser en- Classificação das lesões segundo Wagner
tendidas como características sóciodemograficas, am- Grau 0: sem ulceração em pé de alto risco
bientais, genéticas, falta ao acesso aos serviços de saúde Grau 1: úlcera superficial
(ou pela ineficácia da política de saúde, que não garante
eqüidade ao tratamento e educação em diabetes), idade Grau 2: úlcera profunda, atingindo tendão,
avançada, duração da doença, hábitos de deletérios à articulação e/ou osso.
Grau 3: osteomielite ou abcesso profundo
Grau 4: Gangrena localizada
Gráfico 6: Percentagem de pessoas com DM segundo hábitos de
vida e variáveis clínicas, município de São Paulo, 2000.
Grau 5: Gangrena profunda
418 Gamba MA et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 414~418
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas
REVISÃO
*Mestre em Saúde Pública, opção Nutrição, **Professora Doutora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo, ***Mestre em Saúde Pública, opção Nutrição
Resumo
Realizou-se análise dos estudos relacionados ao uso do farelo de arroz na alimentação de humanos e animais, encontrados na literatura mundial
entre 1970 e 1998. O farelo é um subproduto do beneficiamento do arroz e é empregado tradicionalmente, em nosso meio, na alimentação de
animais, entre os quais o gado. Os trabalhos levantados permitem a observação de um razoável consenso a respeito das vantagens de seu uso em
doenças crônico-degenerativas, principalmente como fator de controle dos níveis de colesterol, podendo apresentar benefícios também na
urolitíase, diabetes e constipação intestinal, devido a seus nutrientes e propriedades funcionais.
Palavras-chave: Farelo de arroz, valor nutritivo, propriedades funcionais.
Abstract
An analysis of studies on the usage of rice bran for the feeding of humans and animals for the period of 1970 to 1998 was made. Rice bran is an
underproduct of milled rice, and it is traditionally used for feeding animals, among which livestock. The works that have been researched allow
the observation of a reasonable agreement about the advantages of its use in chronic-degenerative diseases, especially as a controlling factor of
cholesterol levels, being able also to cause benefits in urolitiasis, diabetes and intestinal constipation, due to its nutrients and functional
properties.
Key words: Rice bran, nutritive value, functional properties.
Endereço para correspondência: Rita de Cássia de Carvalho, Rua Custódio Serrão, 799, casa 5B, Vila Jaguará 05116-011 São Paulo – SP, Tel: (11) 3625-0216
420 Carvalho RC et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 419~423
*Ácidos fenólicos (mg/ 100g de gordura) 8,56 214,00 O papel da fibra alimentar do farelo de arroz na
*Proteína (% N x 5,95) 6,70 19,20 saúde
Aminoácidos (teor em g/ 16 g N):
Lisina 3,20 6,20
Histidina 1,34 9,90 Desde as publicações de Burkitt, Trowell et al. a par-
Arginina 5,83 10,00 tir da década de 60 sobre a importância da fibra alimen-
Ácido Aspártico 3,40 11,00 tar para a população humana, vários estudos foram rea-
Treonina 3,10 4,60 lizados para verificar sua composição nos diferentes ti-
Serina 3,19 7,80
Ácido Glutâmico 7,80 17,79 pos de farelo comercializados aqui e no exterior assim
Prolina 3,79 6,70 como seus efeitos na saúde humana e em animais.
Glicina 3,46 8,80 A Tabela 1 mostra que o farelo de arroz apresenta
Alanina 5,70 7,10 quantidades apreciáveis de fibra alimentar total, sendo
Valina 5,00 6,70
Cistina 0,70 3,90
em sua maioria fibras insolúveis.
Metionina 1,60 3,70 Pesquisadores verificaram que a suplementação de
Isoleucina 2,90 5,30 60g de farelo aumentou o volume, o peso e a freqüência
Leucina 6,60 9,20 das fezes, com o menor tempo de trânsito intestinal, o
Tirosina 2,20 5,50 que contribui para a prevenção da constipação intestinal
Fenilalanina 4,10 6,10
Triptofano 0,60 4,00
e do câncer do cólon [15,16].
Amônia 1,90 7,60 Em 1990, Windhauser et al. verificaram que dieta,
*Carboidrato disponível (g/ 100 g de farelo) 34,00 62,00 suplementada com 20g de farelo de arroz estabilizado
*Mineral (mg/ 100 g de farelo) ingerida por oito indivíduos não diabéticos provocou
Alumínio 4,30 36,90 glicemia de jejum de 85 mg/dl e curva glicêmica nor-
Cálcio 14,00 131,00
Cloro 51,00 97,00 mal. Concluíram que a resposta glicêmica foi idêntica à
Cobre 0,03 2,40 da dieta controle que não tinha a suplementação [20].
Ferro 0,90 53,00 Porém em 1992, Miller et al. observaram que 25 g de
Fósforo 77,90 2.868,00 farelo de arroz, servido como purê para indivíduos tam-
Magnésio 121,00 1.350,00 bém saudáveis de 19 a 36 anos, provocou índice glicê-
Manganês 11,00 87,70
Potássio 179,00 2.396,00 mico muito baixo (19±3), concluindo que poderia ser
Silício 47,80 1.630,00 útil suplemento em dietas para diabéticos [8].
Sódio 0,00 63,40 Oguido et al. observaram, em 1995, que o peso das
Zinco 4,00 25,80 fezes do grupo de ratos diabéticos suplementado com
*Vitamina (mg/ 100 g de farelo)
Vitamina A 0,40
15 g/% de farelo de arroz foi semelhante ao do grupo
Tiamina 1,00 4,49 que recebeu 15 g/% de farelo de trigo, e maior que o dos
Riboflavina 0,17 0,43 grupos 1 e 2 (com dieta sem suplementação).
Niacina 20,80 59,00 Verificaram também que o grupo de ratos diabéticos
Piridoxina 1,00 3,20 suplementado com farelo de arroz apresentou maior in-
Ácido pantotênico 2,80 7,10
Biotina 0,02 0,06 gestão alimentar, diminuição dos níveis glicêmicos san-
Mioinositol 460,00 930,00 güíneos e da taxa de glicogênio hepático. Quanto ao peso,
Colina 130,00 170,00 estes ratos perderam na primeira e ganharam após a se-
Ácido p - aminobenzóico 0,07 gunda semana, porém menos que o do grupo controle, e
Ácido fólico 0,05 0,15 apresentaram valores superiores de lipídeos totais, quan-
Vitamina B12 0,0005
Tocoferóis 0,30 13,30 do comparados aos ratos normais.
Tocotrienóis 0,50 0,70 Silva, em 1996, pesquisou onze pacientes diabéticas
*Valor calórico total em Kcal/100g 334,00 476,00 com idade entre 45 e 60 anos. Elas ingeriram durante
*Densidade (g/ ml) 1,16 1,29 uma semana dieta pobre em resíduos fibrosos com 10,38
*Ácido fítico (g/ 100g de farelo) 0,90 7,80
*Inibidor de tripsina (UIT/ ml) 39,67
g de fibra alimentar e durante a outra, dieta elaborada
com os mesmos componentes da primeira, porém acres-
Fonte: Carvalho, 1999 [3]. cida isocaloricamente de 100g de farelo de arroz torra-
do. Nesta segunda semana, observou-se diminuição sig-
Diante da revisão realizada sobre a composição do nificativa da glicemia de jejum a partir do primeiro dia e
farelo, constatamos que o mesmo contém uma série de da glicemia pós-prandial a partir do terceiro dia.
nutrientes, assim como antinutrientes, que despertaram Esta dieta fornecia 52,82 g de fibras por dia, sendo
a atenção de pesquisadores ao longo desses anos para 42,37 g proveniente do farelo, o que provocou para cada
verificar quais os efeitos de sua ingestão no organismo paciente o aumento médio de 158% no peso fecal e eli-
de humanos e animais, estudos estes que foram analisa- minação de lactose, glicose e galactose nas fezes duran-
dos nos itens a seguir. te esse período. Ao contrário do verificado por Oguido
422 Carvalho RC et al. / Diabetes Clínica 06 (2001) 419~423
7. Juliano BO, Hicks PA. Rice functional properties and rice food 14. Silva CR. Efeito de dieta rica em fibra alimentar, pela adição
products. Food Rev Int 1996;12:71-103. de farelo de arroz, na glicemia de pacientes diabéticos.
8. Miller JB, Pang E, Bramall L. Rice: a high or low glycemic Ribeirão Preto, 1996. [Dissertação de mestrado - Faculdade de
index food? Am J Clin Nutr 1992;56:1034-6. Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São
9. Oguido AK, Takamatsu EE, Kikuchi F. Metabolic balance of Paulo].
fibers from cereal bran in the diabetic rats. In: Simpósio Nipo- 15. Slavin JL, Lampe JW. Health benefits of rice bran in human
Brasileiro de Ciência e Tecnologia/ Biotecnologia e Problemas nutrition. Cereal Foods World. 1992;37:760-3.
Ambientais. São Paulo: Academia de Ciências do Estado de 16. Tomlin J, Read NW. Comparison of the effects on colonic
São Paulo e Sociedade Brasileira de Pesquisadores Nikkeis; function caused by feeding rice bran and wheat bran. Eur J Clin
1995. p. 151-5. Nutr 1988;42: 857-61.
10. Perrone HC, Schor N, Toporovski J. Tratamento da 17. Tsuno Foods & Rice http:// www.tsuno.co.jp. First
hiperabsorção intestinal de cálcio com farelo de arroz. J Bras International Symposium on Disease Prevention by IP6 and
Nefrol 1987; 2:33-7. Other Rice Components. Kyoto; 1998. Anais.
11. Riceweb. The plant and how it grows. [Arquivo obtido em 31/ 18. Wanasundara PKJPD, Shahidi F, Shukla VKS. Endogenous
01/97, via Internet www.cgiar.org/irri/riceweb/Plant.htm, antioxidants from oilseeds and edible oils. Food Rev Int.
1997]. 1997;13: 225-92.
12. Saunders RM. The properties of rice bran as a foodstuff. Cereal 19. Wattenberg LW. Inhibition of carcinogenesis by non nutrient
Foods World. 1990;35:632-6. constituents of the diet. In: Waldron KW, Johnson IT, Fenwick
13. Shah PJR, Green NA, Williams G. Unprocessed bran and its GR. Food and cancer prevention: chemical and biological
effect on urinary calcium excretion in idiopathic aspects. Norwich: The Royal Society of Chemistry; 1993.
hypercalciuria. BMJ 1980;281:426. 20. Windhauser MM, Hegsted M, Morris SK, Lester SB. The
glycemic response to rice bran and oat bran meals. FASEB J.
1990;4:A529, abstract nº 1523.
424 Notícias das associações / Diabetes Clínica 06 (2001) 424~425
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas
Duração: 48h (1 final de semana por mês durante 4 meses): sábado (8-12h/13-17h), domingo (8-12h)
Valor: R$ 120,00 (1º e 2º módulos); R$ 60,00 (1º módulo)
Pagamento: Os pagamentos deverão ser efetuados através de depósito, em nome da ANAD, Associação
Nacional de Assistência ao Diabético para o Banco Real / Agência 0985 / Conta: 636-3
Informações: ANAD (11) 5572-6559/5572-6704 ou diretamente com o Prof. Cláudio Cancellieri (11)
4816-2596, E-mail diabetes@ig.com.br ou anad@anad.org.br
Ficha de Inscrição
Nome..................................................................................................................
Endereço ............................................................................................................
Bairro .................................................................................................................
CEP .............. Cidade ........................................................ Estado ......................
Profissão ............................................................................................................
Estudante ...........................................................................................................
Preencher ou copiar esta ficha de inscrição e enviá-la junto com o comprovante de depósito para:
ANAD Associação Naional de Qssistência ao Diabético
Rua Eça de Queiroz, 198
Vila Mariana - 04011-031 São Paulo SP
Tel/Fax: (11) 5549-6704/5572-6559 - E-mail: anad@anad.org.br
FICHA PRÁTICA
Diabetes Clínica 11
Os adoçantes
Os adoçantes dietéticos são produzidos a partir de edulcorantes, Sorbitol
substâncias naturais ou artificiais responsáveis pelo sabor doce. Eles Substância natural presente em algumas frutas, algas marinhas etc.
possuem um poder de adoçamento geralmente muito maior que o açúcar Tem o poder edulcorante igual ao da sacarose e similar ao da glicose,
de cana (açúcar comum) e são recomendados para dietas especiais como não sendo aconselhável a pacientes obesos e diabéticos mal
as de restrição (principalmente no diabetes) e de emagrecimento. controlados. Calórico, fornece 4 cal/g e ao ser absorvido se transforma
Sacarina em frutose no organismo. A frutose é transformada em glicose no
Primeira substância adoçante sintética a ser descoberta (1878), extraída fígado, mas como o processo é lento, não altera significativamente a
de um derivado do petróleo, o ácido ciclo hexano sulfâmico, tem poder glicemia. Não provoca cáries, não é tóxico e apresenta boa
adoçante 500 vezes maior do que a sacarose e é usada desde 1900. estabilidade. Resiste, sem perder seu potencial adoçante, a processos
Em altas concentrações deixa sabor residual amargo e metálico, e não de aquecimento, evaporação e cozimento.
é metabolizada pelo organismo. É de fácil solubilidade e estável em Doses acima de 20 a 30 g/dia produzem efeito diurético e acima de
altas temperaturas, podendo ser utilizado em preparações quentes. 30 a 70 g/dia causam diarréia. Em algumas pessoas esses efeitos
IDA (Ingestão Diária Aceitável): 5 mg/kg de peso corporal. ocorrem mesmo em doses baixas, como 10 g/dia. O sorbitol (assim
como o manitol e o xilitol) aumentam a perda de minerais pelo
Ciclamato organismo, principalmente o cálcio, podendo também provocar a
Descoberto em 1939, entrou no mercado a partir da década de 50. formação de cálculos.
Como a sacarina, é edulcorante artificial largamente usado no setor
alimentício, sendo aplicado em adoçantes de mesa, bebidas dietéticas, Manitol
geléias, sorvetes, gelatinas, etc. Com o menor poder adoçante, é 40 Tem valor calórico equivalente ao da sacarose (4 cal/g), poder edulcorante
vezes mais doce que a sacarose, não calórico e possui sabor agradável 70% superior e um sabor levemente adocicado e refrescante. Não produz
e semelhante ao açúcar refinado (apresentando um leve gosto residual). fermentação no organismo, mas provoca um significativo efeito laxativo
Absorve-se parcialmente no intestino, é eliminada pelos rins. Alguns quando ingerido em doses elevadas. Quando absorvido pelo organismo
indivíduos metabolizam uma pequena quantidade no intestino, pela estimula a secreção de insulina ao ser parcialmente convertido em glicose,
ação da flora intestinal. Não perde a doçura quando submetido a altas/ porém não causa hiperglicemia.
baixas temperaturas e meios ácidos. Sinergético quando combinado IDA: 50 a 150 mg/kg de peso corporal.
com outros adoçantes de baixas calorias como acesulfame K, Xilitol
aspartame, neoesperidina, sacarina e sucralose. Fornece 4 cal/g e sabor semelhante ao da sacarose, apresentando
IDA (Ingestão Diária Aceitável): 11 mg/kg de peso corporal. uma sensação refrescante na saliva, que aumenta quando associado
Aspartame ao aroma de menta. É considerado um dos melhores preventivos
Edulcorante artificial descoberto em 1965, É uma proteína adocicada contra cáries. Precaução: doses acima de 30 g/dia podem provocar
produzida a partir de dois aminoácidos encontrados normalmente nos diarréia quando consumido pela primeira vez. A OMS não
alimentos: fenilalanina e ácido aspártico. Possui sabor agradável e estabeleceu um limite para a IDA e o FDA (USA) indica o consumo
semelhante ao açúcar branco, só que com potencial adoçante 200 vezes na quantidade necessária para o adoçamento desejado.
maior, permitindo o uso de pequenas quantidades. Seu valor energético Frutose
corresponde a 4 cal/g. Muito usado pela indústria alimentícia, É um edulcorante natural, de sabor agradável e extraído das frutas e
principalmente nos refrigerantes diet. Sensível ao calor, perde o seu do mel. Contém 4 cal/g. Estudos recentes comprovam que a frutose,
poder de adoçamento em altas temperaturas. A doçura também poderá quando ingerida junto das refeições não altera a glicemia. Quando
diminuir quando muito tempo armazenado. É contra-indicado a submetida ao calor a frutose derrete, porém mantém o seu sabor. É
portadores de fenilcetonúria, uma doença genética rara que provoca o uma vez e meia mais doce que a sacarose, com poder de adoçamento
acúmulo da fenilalanina no organismo, causando retardo mental. 173 vezes maior. Excesso de frutose pode causar aumento de
IDA: 40 mg/kg de peso corporal. triglicerídeos e pessoas com problemas no metabolismo de llpipides
Acesulfame-k e gorduras devem evitar o consumo desse edulcorante. Estudos
Criado em 1960, é o adoçante sintético de maior resistência ao comprovam que o uso por tempo prolongado dificulta a absorção do
armazenamento prolongado e a diferentes temperaturas. O cobre, mineral importante na síntese da hemoglobina (responsável
Acesulfame-K é um sal de potássio sintético produzido a partir de pela pigmentação dos glóbulos vermelhos).
um ácido da família do ácido acético Adoça 130-200 vezes mais Lactose
que a sacarose, seu gosto doce é percebido de imediato e em grandes Açúcar extraído do leite muito usado como diluente nos adoçantes
doses deixa um leve sabor residual amargo. Pode ir ao fogo por ser de mesa. Fornece 4 cal/g e precisa da presença de insulina para ser
estável a altas temperaturas Não é calórico e nem metabolizado metabolizado no organismo. Seu potencial edulcorante é cerca de
pelo organismo. Pode ser usado como adoçante de mesa e numa 15 % maior que a sacarose.
infinidade de produtos. Embora seja rapidamente absorvida, 99 % Malto dextrina
da substância é eliminada em 24 horas pela urina, de forma inalterada. Açúcar extraído do milho, também muito usado como diluente nos
IDA: 15 mg/kg de peso corporal. adoçantes artificiais. Como a lactose, é insulino-dependente e tem 4
Steviosídeo cal/g, sendo cerca de 50% mais doce que a sacarose.
Descoberto em 1905 e muito difundida no Japão, extraído da Stevia Dextrose
rebaudiana, planta originária da Serra do Amambaí, na fronteira do Outro açúcar derivado do milho com ampla aplicação na indústria
Brasil com o Paraguai. Das suas folhas se extrai o steviosídeo, alimentícia. Sua doçura é cerca de 70% maior que a da sacarose.
edulcorante natural de sabor doce retardado com poder adoçante Possui 4 cal/g e também necessita insulina para sua metabolização.
300 vezes maior do que a sacarose. Tem boa estabilidade em altas
ou baixas temperaturas. Pode ser consumida sem nenhuma contra- Neohesperidina
indicação por qualquer pessoa. Não produz cáries, nem é calórica, É aproximadamente 400 ~ 600 vezes mais doce que a sacarose. Com
tóxica, fermentável ou metabolizada pelo organismo. relação ao aspartame e ao acesulfame-K, se misturados a
IDA: 5,5 mg/kg de peso corporal. neohesperidina, é muitas vezes (de 7 a 20 vezes) mais doce,
dependendo do alimento em que se emprega essas misturas. A
Sucralose neohesperidina é um flavonoide deidrochalcone. Enquanto a
Descoberta em 1976. Trata-se de um edulcorante sintético com poder neohesperidina não é encontrado em nenhuma substancia natural,
adoçante 600 vezes maior do que a sacarose. Não é calórico e possui estruturas relacionadas com os flavonoides e seus deidrochalcones
sabor agradável. Não é metabolizada pelo organismo, sendo eliminada correspondentes se encontram de forma natural em muitas plantas.
por completo em 24 horas pela urina. Estável a temperaturas altas e É metabolizada pela flora intestinal. A neohesperidina é tipicamente
baixas e em longos períodos de armazenamento. Pode ser usada como usado em combinação com outros adoçantes. A neohesperidina
adoçante de mesa, em formulações secas (como refrescos e sobremesas também tem propriedades redutoras dos sabores amargos.É estável
instantâneas), em aromatizantes, conservantes, temperos, molhos ao calor e pode ser usado então em alimentos que requerem
prontos, compotas, etc. Não produz cáries, além de reduzir a produção pasteurização ou processos de UHT. Não provoca caries e pode ser
de ácidos, responsáveis pela sua formação. usada em produtos para diabéticos.
IDA: 15 mg/kg de peso corporal. IDA: 0,5 mg/kg de peso corporal.