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teoria e prática
Indaial – 2021
2a Edição
Elaboração:
Prof. Ana Clarisse Alencar Barbosa
a
B238c
ISBN 978-65-5663-701-3
ISBN Digital 978-65-5663-699-3
CDD 375
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, caro acadêmico!
Desta forma, caro acadêmico, você perceberá que são atribuídos diversos
significados à palavra “currículo”, bem como, verificará que precisamos primar por
ele, e, consequentemente, por uma formação de professores que considere a prática
pedagógica multicultural como vozes de diferentes identidades sociais e culturais, não
limitando os conhecimentos a uma ideia única ou mesmo colocando-os em ‘caixas’
predeterminadas, fragmentadas e autoritárias, evidenciando algumas e dotando
de menor valor outras, impedindo a dinamização de criativos e potentes projetos
pedagógicos escolares. Portanto, vamos explorar este livro, revisado e editado em sua
segunda edição, trazendo ainda mais cuidado na escrita e problematização no tema
currículo, além de atualizar os assuntos pertinentes ao momento atual.
GIO
Olá, eu sou a Gio!
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 112
REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 211
REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 311
UNIDADE 1 -
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
CURRÍCULO: EXPLORANDO
SEUS CONCEITOS
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Você já se perguntou: o que é currículo? Como surgiu este
conceito? Será que temos apenas uma definição para currículo? Neste tópico, vamos
apresentar alguns modos, de entender o currículo. Acreditamos que já deve ter ouvido falar
ou até mesmo estudado o assunto em algum momento da sua caminhada acadêmica.
FONTE: <https://pedagogiaaopedaletra.com/resumo-documento-de-identidade-de-tomaz-tadeu-
da-silva/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
GIO
Quando você pensa em currículo, quais as palavras que vêm a sua mente?
Antes de iniciar a leitura, escreva essas palavras, como em uma ‘tempestade
de ideias’. Ao final da leitura deste tópico, volte, compare o que você
escreveu com o que estudou sobre currículo.
3
Caro acadêmico! Você já se perguntou qual a origem da palavra currículo? O
currículo é uma palavra proveniente do latim currere e curriculum, que indica percurso
a seguir ou trajetórias percorridas. Pensando no currículo como iremos apresentar
neste livro, podemos imaginar um labirinto, com seus contornos e muitos caminhos
que serão percorridos de diferentes maneiras. Cada percurso e estratégia a ser
realizada para encontrar a ‘saída’ fará com que saiamos diferentes por considerar todo
o trajeto percorrido.
O que queremos dizer com isso? Que o modo como entendemos o currículo,
bem como, a forma que realizamos sua construção, são fatores que influenciam na
perspectiva educacional e na formação de estudantes e professores/as. Além disso, o
currículo permeia aspectos importantes como “o que ensinar”, “como ensinar”, “por que
ensinar” e “quando avaliar” os seus resultados nos processos de ensino-aprendizagem.
Já percebemos que o conceito currículo é complexo. Por isso, traremos autores que já
estudam e escrevem sobre o tema há algum tempo, desenvolvendo muitas pesquisas
e conhecimentos na área, como: Sacristán (2000), Silva (2007), Moreira e Silva (2001),
Andrade (2003), Ferraço (2004), Morgado (2004), Pacheco (1996, 2005), Macedo e
Pereira (2009), Moreira e Candau (2007).
FIGURA 2 – LABIRINTO
FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/businessman-stand-front-maze-
entrance-business-1889289244>. Acesso em: 26 abr. 2021.
4
A representação do labirinto indica: direcionamentos, caminhos, e aqui,
especificamente, do percurso pedagógico de professores/as e estudantes para o
entendimento do currículo. Estes caminhos representam como se constrói e acontece
o processo de formação do sujeito. E no seu caso, está relacionado aos direcionamentos
e ao desenvolvimento de sua postura e perfil enquanto acadêmico e futuro professor/a e
quais os rumos que irá construir.
5
DICA
Você sabe quais são as características da Antiguidade Clássica? Que tal
conhecer mais desse período histórico e seus principais acontecimentos?
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-
antiguidade.htm.
Outro momento em que o currículo teve suas origens encontra-se na Idade Média,
cuja perspectiva técnica de conceber a escola e a formação de professores, baseou-se
no plano organizacional do trivium (estudos dedicados à linguagem: gramática, lógica e
retórica) e do quatrivium (aritmética, geometria, astronomia e música). O currículo consistia
num campo organizado e planificado, a partir das finalidades de formação de condutas
formais, por meio de objetivos previamente traçados. Segundo Silva (2007, p. 26),
6
ESTUDOS FUTUROS
Você sabe quais são as características da Antiguidade Clássica? Que tal
conhecer mais desse período histórico e seus principais acontecimentos?
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-
antiguidade.htm.
Por mais divergências que existam, falar de currículo sempre nos remete a
falar da construção do conhecimento escolar e sua intencionalidade, na formação da
identidade do sujeito.
Por isso, Morgado (2004, p. 117) diz que o currículo “é como sinônimo de
um conjunto de aprendizagens valorizadas socialmente e como uma construção
permanente e inacabada, resultante da participação de todos. Um espaço integrado e
dialético, sensível à diferenciação”.
FONTE: <https://arteeartistas.com.br/wp-content/uploads/2019/10/Desenhando-M%C3%A3os.-
MCEscher.-1948.jpg>. Acesso em: 31 mar. 2021.
7
DICA
Você conhece a imagem anterior? Ela é obra Desenhando Mãos do artista
holandês Maurits Cornelis Escher. Vamos pensar o currículo a partir dela:
onde começa? Onde termina? Quem o desenha? É um desenho sozinho?
Conheça mais o artista e sua obra em: https://www.guiadasartes.com.br/
maurits-cornelis-escher/obras-e-biografia.
FONTE: <https://i0.wp.com/www.michelliduje.com.br/wp-content/uploads/2012/08/espelho_
image1.jpg?w=197&ssl=1>. Acesso em: 31 mar. 2021.
8
DICA
O SORRISO DE MONALISA. MIKE NEWELL, 2003
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/thumb/b/b0/Mona_Lisa_Smile.
jpg/250px-Mona_Lisa_Smile.jpg>. Acesso em: 31 mar. 2021.
Que tal assistir a um filme para contribuir com seus estudos? O filme O Sorriso de
Monalisa conta a história de uma professora recém-graduada, que consegue emprego
em um colégio bastante conceituado, para lecionar aulas de História da Arte. Porém,
incomodada com o conservadorismo da sociedade e do próprio colégio em que
trabalha, a professora decide lutar contra estas normas e acaba inspirando suas alunas
a enfrentarem os desafios da vida.
Para Sacristán (2000), o currículo é uma prática motivada pelo diálogo entre
os agentes sociais, são eles: professores/as, estudantes, família, dentre outros, que
participam do movimento educacional, considerando o currículo como uma prática e
não como um objeto estático, que se referem apenas a um modelo de educação ou
aprendizagens necessárias.
9
ATENÇÃO
Com base nos escritos anteriores, devemos refletir um pouco sobre a
seguinte questão: antes de conhecer o outro, primeiramente, precisamos
conhecer a nossa história de vida, a nossa própria existência. No entanto, não
existe o outro, se não existir uma relação de igualdade independentemente
das suas diferenças e vice-versa. Ou melhor, existe uma influência recíproca
e histórica entre os indivíduos que se manifesta em tempo e espaços
diferentes, representando assim o verdadeiro aspecto da condição humana
(BARBOSA, 2011).
Caro acadêmico! Podemos verificar que o currículo não pode ser analisado fora
do contexto social e histórico da educação. O currículo está carregado de valores e
princípios que são compartilhados em um determinado tipo de sociedade. De acordo
com Silva (2007), o currículo não pode ser visto somente como um documento ou um
registro de conteúdos, e sim a partir das relações estabelecidas entre sujeitos.
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FIGURA 5 – CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO ESCOLAR
Políticas
Públicas
Gestão
Escolar Parcerias
Estratégias
Famílias
Pedagógicas
FONTE: <https://www.nucleodoconhecimento.com.br/wp-content/uploads/2019/06/Esquema-
para-uma-boa-Aprendizagem-1.jpg>. Acesso em: 31 mar. 2021.
IMPORTANTE
Os grupos que foram silenciados na história do currículo, foram grupos que não possuíam
estruturas de poder, bem como, afirmação de direitos, como: crianças, indígenas,
LGBTs, negros, mulheres e idosos. Estes grupos aqui identificados foram subordinados
por mecanismos de regulação social, que agem na constituição do sujeito e de sua
individualidade. Nesse contexto, analise as três imagens a seguir e reflita sobre o modo
como alguns grupos foram catequizados e, gradativamente, perdendo sua cultura.
DIÁLOGO DO SILENCIAMENTO
FONTE: <https://cdn.pensador.com/img/frase/de/sm/desmond_tutu_quando_os_missionarios_
chegaram_a_africa_e_l0g7vd0.jpg>. Acesso em: 31 mar. 2021.
11
REPRODUÇÃO DA TELA PRIMEIRA MISSA NO BRASIL. VÍTOR MEIRELES, 1861
FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-UAlIDoV2AL8/Tbdu3qooENI/AAAAAAAAAfI/-
5jjBGiY5XM/s1600/primeira-missa.jpg>. Acesso em: 31 mar. 2021.
FONTE: <https://www.nucleodoconhecimento.com.br/wp-content/uploads/2019/06/Aula-de-
Catecismo-dos-Padres-Jesu%C3%ADtas.jpg>. Acesso em: 31 mar. 2021.
12
Em resumo, Moreira e Candau (2007, p. 32) sugerem que se procure entender
e identificar no currículo um espaço para construção dos conhecimentos escolares.
E ainda:
GIO
Você sabe o que é subjetividade? Conforme Foucault (2011), podemos
falar em subjetividades, no plural, pois são os modos de agir e atuar que
vão nos constituindo um jeito de ser, a partir de verdades de acordo com
regras, condutas e interesses de cada época. Ou seja, as subjetividades são
construídas. Para saber mais, leia o livro Vigiar e punir: nascimento da prisão
do filósofo francês Michel Foucault.
13
Nesse sentido, é definitivamente necessário (i) reconhecer que há diferentes
percepções de currículo e (ii) buscarmos novos modos de compreendê-lo no espaço
educacional, superando a visão de um currículo que é determinante, ou ainda, sinônimo
de um conjunto de conhecimentos determinados a priori, e que são baseados em
teorias fundamentadas pelo discurso do disciplinamento.
ESTUDOS FUTUROS
Você sabe quais são as características da Antiguidade Clássica? Que tal
conhecer mais desse período histórico e seus principais acontecimentos?
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-
antiguidade.htm.
DICA
Assista ao filme Além dos muros da escola, lançado em 2008, e conheça a
história do professor François Marin, que trabalha em uma escola, localizada
na periferia de Paris. Os professores desta escola tentam fazer com que os
estudantes aprendam ao longo do ano letivo, mesmo diante de inúmeras
problemáticas como violência e tensões étnicas-raciais.
14
FIGURA 6 – ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA
FONTE: <https://w1.ezcdn.com.br/emartinsfontes/fotos/grande/19349fg1/entre-os-
muros-da-escola.jpg>. Acesso em: 11 abr. 2021.
O que queremos dizer é que o currículo escolar, na maioria das vezes, ainda
é linearmente distribuído por disciplinas, separando em caixas do conhecimento,
aquilo que o aluno deve saber de forma fragmentada, ou seja, um currículo prescritivo,
normativo e regulador.
De acordo com Morin (2002), a escola, ainda hoje, ensina a isolar os objetos
do meio ambiente dos alunos, ou ainda, a afastar os conteúdos curriculares, em vez
de relacioná-los uns aos outros e aos problemas e situações da realidade de cada
comunidade/região.
15
DICA
Neste momento, caro acadêmico, assista ao vídeo com os personagens do
desenho animado A Turma do Charlie Brown, que retrata de forma muito prática
o dia a dia de uma realidade escolar, em que o conhecimento é transmitido
de forma fragmentada e linear. Busque-o em sua trilha de aprendizagem da
disciplina ou pelo endereço: https://www.youtube.com/watch?v=DTcYuFWewrg
FONTE: <https://image.freepik.com/vetores-gratis/ilustracao-de-um-desenho-animado-estressado-
garotinho-fazendo-licao-de-casa-em-cima-da-mesa_283146-91.jpg>. Acesso em: 11 abr. 2021.
GIO
Agora, refletiremos sobre uma parte do texto Currículo para além das grades: construindo
uma escola em sintonia com o seu tempo. O texto na íntegra está disponível em: material
de apoio em seu ambiente virtual de aprendizagem. Para isso, faça a leitura do texto a seguir,
pois ela será de grande relevância para a sua formação acadêmica.
16
Para o currículo convergem as múltiplas dimensões que constituem as identidades
constitutivas do gênero humano. No currículo, relações de poder, ideologias e culturas são
afirmadas ou negadas. Enfim, o currículo é compreendido como instrumento de inclusão
ou exclusão. Toda escola exercita um currículo. Consciente ou inconscientemente, os
que atuam no contexto escolar estão envolvidos diretamente nas tramas que forjam as
identidades humanas.
Continuando...
17
Esta ideia de intersecção de práticas diversas, numa dimensão política
educacional, acaba refletindo nas relações existentes entre a escola e a sociedade, entre
os interesses pessoais e os do grupo, e ainda os interesses políticos e os ideológicos.
Gimeno (1988 apud PACHECO, 1996, p. 18), argumenta que “essa intersecção de
práticas diversas funciona como um sistema no qual se integram vários subsistemas”.
Para que possamos entender como são constituídos os subsistemas, temos que
conceituar o significado de sistema, ou seja, sistema é um conjunto de partes que
constitui um todo, portanto, os subsistemas são essas partes constituintes.
18
• O subsistema prático-pedagógico: configura a prática concreta do professor
e do aluno, contextualizada nas escolas. Assim, este subsistema faz referência
à interação entre professores e alunos, expressando as práticas de ensino-
aprendizagem sob os mais diversos enfoques metodológicos, configurando assim,
o posto de trabalho do professor e o de aprendiz dos alunos.
FIGURA 8 – ORGANOGRAMA
19
entendemos o currículo como sendo rede de saberes e fazeres, de
discursos práticos, compartilhados entre os sujeitos que praticam
os cotidianos das escolas, e que envolvem outros sujeitos para além
desses cotidianos das escolas (FERRAÇO, 2004, p. 84-85).
Assim, as reflexões discutidas até aqui, são de extrema relevância para a prática
pedagógica, remetendo para aspectos muito mais amplos, que estão legitimados
nos documentos curriculares. Portanto, objetivando ir ‘além dos muros da escola’ para
compreender diferentes concepções de criança, infância, educação e sociedade que de
forma específica ou subentendida constituem o currículo.
DICA
SABERES E INCERTEZAS SOBRE O CURRÍCULO. JOSÉ GIMENO SACRISTÁN, 2013
FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-I_hLnKrnohg/UUfDSvMlC6I/AAAAAAAAKhM/BgUaOZrjDfg/
s320/SACRISTAN_Saberes_Incertezas_Curriculo.jpg>. Acesso em: 8 jul. 2021.
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O currículo é uma palavra proveniente do latim currere, que indica caminho, trajetória,
um percurso a ser realizado nas relações existentes entre escola e sociedade.
21
AUTOATIVIDADE
1 Já estudamos bastante de currículo. Sabemos que muito já se pesquisou, argumentou
e criticou sobre o tema aqui contemplado. Agora, apresente a sua concepção de
currículo. Lembre-se de olhar quais foram suas anotações iniciais sobre o currículo.
Compare! Vamos discutir, não para chegar a um consenso, mas para formularmos
nossa visão, enquanto grupo de discussão.
FONTE: <https://www.prateleirasemfim.com.br/userfiles/post/cultura-inutil-tirinha1423330163.gif>.
Acesso: 11 abr. 2021.
22
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I, III e V estão corretas.
b) ( ) As sentenças I, II e IV e V estão corretas.
c) ( ) As sentenças II, III, IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.
e) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
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5 (IFRS – Concurso Público Edital 19/2016) 24. Sacristán (2000) afirma que as
perspectivas epistemológicas nos professores não são independentes de
concepções mais amplas, da cultura geral exterior e da prática pedagógica em si,
que conjuntamente determinam modelos educativos, delimitados e vigentes em
determinados momentos históricos (p. 187). Segundo este autor, é INCORRETO
afirmar que:
a) ( ) A atividade dos professores é uma ação que transcorre dentro de uma instituição.
Por essa razão, sua prática está inevitavelmente condicionada.
b) ( ) A análise do currículo como espaço teórico-prático, como processo de deliberação
no qual os professores participam como profissionais capazes e comprometidos
com as necessidades educativas de seus alunos, é inerente à uma concepção
educativa libertadora.
c) ( ) O currículo é uma prática desenvolvida através de múltiplos processos e na
qual se entrecruzam diversos subsistemas ou práticas diferentes, em que é óbvio
que, na atividade pedagógica relacionada com o currículo, o professor não é um
elemento de primeira ordem na concretização desse processo.
d) ( ) As concepções dos professores sobre educação, o valor dos conteúdos e
processo ou habilidades propostas pelo currículo, percepção de necessidades
dos alunos, de suas condições de trabalho etc., sem dúvida os leva a interpretar
pessoalmente o currículo.
e) ( ) A dimensão coletiva da profissionalização é congruente com a possibilidade de
que o currículo possa ter mais poder de transformação social e ser mais adequado
para um contexto, para um tipo de aluno, quando se recrie em cada situação
na qual se aplica, já que esta condição exige a profissionalização compartilhada
entre os professores.
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UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
AS FASES DO DESENVOLVIMENTO
CURRICULAR
1 INTRODUÇÃO
O currículo como uma proposta educativa e no plano das práticas pedagógicas
é formado por: estratégias, fases, níveis ou componentes que se relacionam entre si.
E para auxiliá-los em suas reflexões, neste tópico, recorremos aos autores Sacristán
(2000), Cesar Coll (1987 apud Andrade, 2003) e Pacheco (1996), que trazem questões
importantes para o desenvolvimento do currículo.
1° O que ensinar: são as intenções educativas nos conteúdos. Coll (1987 apud
ANDRADE, 2003, p. 13) diz que estes conteúdos “devem ser analisados em seus
aspectos lógicos e psicológicos”.
2° Quando ensinar: é a estrutura lógico-psicológica dos conteúdos.
3° Como ensinar: é a intervenção pedagógica, o método utilizado. Coll (1987 apud
ANDRADE, 2003) diz que é necessário considerar e respeitar as diferenças individuais
e a pluralidade cultural.
4° O que, como e quando avaliar: Coll (1987 apud ANDRADE, 2003, p. 13) nos diz que
a avaliação deve permitir o “ajuste da intervenção pedagógica às características
individuais dos alunos e de determinar o grau de consecução das intenções
educativas do projeto pedagógico”.
25
Partindo da configuração acima, trazemos Pacheco (1996), que também
esclarece as fases do desenvolvimento curricular, integrando quatro componentes que
ele denomina como:
Assim, Sacristán (2000) diz que essas fases da construção curricular são a
base ou condição necessária para entender a questões importantes que ocorrem
processualmente no desenvolvimento do currículo e que podem incidir mais
decisivamente na prática educativa.
FIGURA 9 – QUEBRA-CABEÇA
FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/missing-jigsaw-puzzle-pieces-business-
concept-373670722>. Acesso em: 12 abr. 2021.
26
Caro acadêmico! Antes de darmos sequência ao conteúdo que está sendo
estudado, precisamos ter clareza de que os níveis de decisão curricular são uma
construção que ocorre em diversos contextos, numa perspectiva macro e microcurricular.
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Assim, por currículo PRESCRITO, Sacristán (2000) define como instrumento
da política curricular, condicionamento de uma realidade que deve ser incorporada no
currículo, prescrevendo orientações curriculares.
Diante disso, ainda de acordo com Sacristán (2000), o currículo prescrito possui
algumas funções no desenvolvimento curricular, dentre as quais destacamos:
28
• O currículo prescrito e a organização do saber dentro da escolaridade:
são os conteúdos base da ordenação do sistema, estabelecendo a sequência de
progresso pela escolaridade e pelas especialidades que o compõem. O progresso
dentro da escolaridade seria a promoção dos estudantes, ao ordenar o tempo de sua
aprendizagem em ciclos ou em cursos.
• O currículo prescrito como via de controle sobre a prática de ensino: pré-
condiciona o ensino, em torno de códigos que se projetam em metodologias concretas
nas instituições educativas.
• Controle da qualidade: são as prescrições de um determinado currículo para que
se torne um referencial de controle da qualidade do sistema educativo.
• Prescrição e meios que desenvolvem o currículo: os meios podem significar
a autonomia profissional ou orientar a prática pedagógica através do controle do
processo. Sacristán (2000) diz que quando os profissionais da educação organizam a
sua prática ou quando realizam seus planos têm dois referenciais imediatos: os meios
que o currículo lhe apresenta com algum grau de elaboração, para que seja levado à
prática, e as condições imediatas de seu contexto.
• O formato do currículo: a organização do sistema escolar sobre as projeções das
escolas e da prática de ensino, em seus aspectos de conteúdos e métodos, vai
depender de determinantes históricos, políticos, de orientações técnicas e da própria
valorização que se realiza sobre a função que o formato curricular deve cumprir.
(SACRISTÁN, 2000).
ESTUDOS FUTUROS
Acadêmico, os conteúdos base da educação na Base Nacional Curricular
Comum são intitulados de competências, no ensino fundamental e ensino
médio e campos de experiência, na educação infantil. Na Unidade 3, você
conhecerá mais sobre esse documento.
29
FIGURA 11 – CONSTRUÇÃO E SELEÇÃO DE CONTEÚDOS
FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/brain-activity-abstract-concept-vector-
illustration-1902137050>. Acesso em: 13 abr. 2021.
Sacristán (2000) aponta que esses meios planejados (materiais didáticos) são
os tradutores das prescrições curriculares gerais, são depositários de competências
profissionais (elaboram os conteúdos e planejam para o professor), dão segurança ao
professor por manter durante um tempo prolongado a atividade e o tempo de execução.
No entanto, coloca também que existe a possibilidade de estabelecer estratégias de
adaptação dos conteúdos curriculares a partir desses materiais mediadores, renovando
ou ampliando suas práticas pedagógicas para o contexto real.
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Por currículo moldado pelos professores, Sacristán (2000) indica que esse
currículo é traduzido pelos/as professores/as, que são os agentes ativos e decisivos na
concretização dos conteúdos e significados do currículo, em que:
Dessa forma, os/as professores/as têm mais autonomia sobre sua didática
(atuação docente) e ação educativa que será organizada no trabalho pedagógico,
a partir da realidade social, cultural e escolar. Exemplos de currículo moldado pelos/
as professores/as, conforme Sacristán (2000), são os projetos político-pedagógicos
elaborados efetivamente por cada instituição, os projetos educativos formulados pelos/
as professores/as em períodos determinados e o planejamento das práticas, que pode
ser individual ou no coletivo.
31
Portanto, como afirma Sacristán (2000), esses efeitos fazem parte dos
“rendimentos” advindos do sistema ou dos métodos pedagógicos.
ATENÇÃO
Currículo oculto? Novo conceito? Fica tranquilo! Vamos explorar com mais
calma esse conceito. O importante neste momento é você saber que existem
alguns fatores que transcendem essas fases de construção do currículo e,
muitas vezes, não estão explicitas em nenhum documento, apenas acontecem
e precisamos estar atentos, pois elas também atuam na formação dos
estudantes, fazendo parte do currículo, chamado currículo oculto.
FONTE: <https://jpimg.com.br/uploads/2017/04/1184318877-provinha-brasil-1024x422.jpg>.
Acesso em: 13 abr. 2021.
32
DICA
Para saber mais da Prova Brasil e a Provinha Brasil, acesse o endereço: www.
mec.gov.br. E para saber mais do Enade, acesse: http://portal.mec.gov.br/ index.
php?Itemid=313&id=181&option=com_content&view=article.
FONTE: As autoras
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• César Coll (1987 apud ANDRADE, 2003) nos diz que as decisões de um Projeto
Curricular construído na escola percorrem quatro componentes do currículo: o que
ensinar? Quando ensinar? Como ensinar? O que, como e quando avaliar?
• Os níveis de decisão curricular são uma construção que ocorre numa perspectiva macro
e microcurricular. Os níveis de decisão curricular apresentados por Pacheco (1996)
são: Político-administrativo; Gestão e Realização.
34
AUTOATIVIDADE
1 César Coll (1987 apud ANDRADE, 2003) defende quatro estratégias que estruturam
o currículo, baseada em questões que nos ajudam a refletir sobre sua composição.
De acordo com o assunto estudado, escreva o que você entendeu de cada etapa e
apresente de que modo isso ocorre no cotidiano escolar.a) O que ensinar; b) Quando
ensinar; c) Como ensinar; d) O que, como e quando avaliar.
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Assinale a alternativa em que todas as afirmativas estão CORRETAS:
a) ( ) IV, V, VI.
b) ( ) VII, VIII.
c) ( ) I, II, III, V, VIII.
d) ( ) I, IV, V, VI, VII.
e) ( ) I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII.
1- Cultura comum
2- Igualdade de oportunidades
3- Organização do saber dentro da escolaridade
4- Via de controle sobre a prática de ensino
5- Controle da qualidade:
6- Prescrição e meios que desenvolvem o currículo
7- O formato do currículo
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UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
CURRÍCULO E OS CENÁRIOS HISTÓRICOS
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos percorrer a história do currículo por três principais cenários
que se influenciam e se distanciam em alguns momentos.
Estão aqui em seus estudos, algumas leis que são a base para a educação
nacional e que marcaram toda a caminhada e construção do currículo que temos hoje.
Vamos aos estudos!
INTERESSANTE
A primeira constituição de universidade surgiu na Bolonha, norte da Itália, em
1088, no século XI, seguida pela Sorbonne (Paris) fundada em 1150. O termo
universidade deriva do currículo da época, denominado “essências universais”.
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O pensamento educacional europeu sofreu grandes influências dos ideais
iluministas e pode ser identificado no pensamento do John Locke (1632-1704)
considerado um dos precursores do movimento, cuja obra, Alguns pensamentos sobre
educação traçou um novo modelo para o currículo. Nele, o latim se reduzia a enfatizar as
boas maneiras do indivíduo e o trabalho era visto apenas como um hobby.
NOTA
IDEAIS ILUMINISTAS: Pensamento europeu conhecido como Século das Luzes
(século XVIII), caracterizado pela ênfase na ciência e a recusa de outros tipos
de conhecimentos, sempre na procura de uma razão e uma racionalidade
universal para explicar os fenômenos ocorridos na natureza e na vida em
sociedade, podendo este ser identificado no comportamento dos indivíduos
até atualidade. Todos os tipos de conhecimento deveriam, a partir desse
momento, passar pela ‘esteira’ de comprovação do conhecimento científico.
Com o iluminismo, o ser humano passa a ser o centro da sua própria história
e da sua humanidade. Estabelece uma nova cultura pedagógica baseada na
formação do cidadão de bom senso, cuja educação estava submetida ao
estado e ao domínio da razão para desenvolvimento da identidade. Saiba mais
em: https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/historia/iluminismo.
IMPORTANTE
O indivíduo a que Locke se referia era oriundo das classes abastadas, uma
vez que a educação da época era destinada somente à elite, que tinha forte
inclinação a seguir carreira religiosa ou se diplomava para exercer profissões
tradicionais, como: direito, medicina e engenharia. Ou seja, a educação na
Universidade era privilégio de poucos.
38
FIGURA 14 – A IDEIA DO ILUMINISMO COMO PENSAMENTO ÚNICO ‘DANDO à LUZ’ A OUTROS
TIPO DE CONHECIMENTOS
FONTE: <https://conhecimentocientifico.r7.com/wp-content/uploads/2018/10/i1-1.jpg>.
Acesso em: 14 abr. 2021.
39
Certa agitação e movimento surgem com ideias que se opunham ao absolutismo
real e da Igreja, que até então fornecia uma educação voltada para inculcar nos
estudantes um entendimento em relação ao mundo, onde o centro da criação era Deus
e o compromisso com os princípios religiosos, morais e sociais do cristianismo.
NOTA
O primeiro país a derrubar o absolutismo na Europa foi a Inglaterra (século
XVII) com a Revolução Gloriosa, seguido pela França (século XVIII) com a
Revolução Francesa.
NOTA
RACIONALISMO: método baseado exclusivamente no uso da razão e
com relação ao pensamento cartesiano, ou seja, aquele que divide os
conhecimentos em partes e não faz mais a ligação entre eles. Pense como
isso influenciou no modo como a escola é configurada hoje, com disciplinas
segmentadas. Será que existe essa divisão nas nossas ações do cotidiano?
Reflita sobre isso. Saiba mais de racionalismo em: https://brasilescola.uol.
com.br/filosofia/racionalismo.htm.
40
É nitidamente perceptível que após três séculos, nossos currículos ainda
continuam enraizados no ideário Iluminista.
NOTA
A expressão “Ordem e Progresso”, na bandeira do Brasil, representa o lema
político do Positivismo.
FONTE: <https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/
kvyAXKFyFpvD2CABCHEexscbAwSY4TKDN2aTU4VmGyrMNbXz9cZtPVMZNNBv/
gettyimages-2666369.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2021.
41
IMPORTANTE
Para o Positivismo, leis universais regulam o funcionamento da vida, com uma
concepção de realidade absoluta, governada por leis imutáveis, que definem o
conhecimento como sinônimo de exploração, experimentação e descoberta
de leis de causa e efeito, com vistas ao controle, transformação e domínio
do mundo natural. Neste pensamento, tinha-se a ideia de que seria possível
planejar o desenvolvimento da sociedade e do indivíduo com critérios das
ciências exatas e biológicas. Conheça mais em: https://novaescola.org.br/
conteudo/186/auguste-comte-pensador-frances-pai-positivismo.
O século XX foi marcado por inúmeras reações acerca deste modelo de currículo.
Diferentes movimentos sociais e culturais começaram a se formar, a partir dos anos
1960 e contribuíram para ampliar as críticas aos currículos, chamados de tecnicistas. Na
Europa, teóricos como Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, Christian Baudelot e
Roger Establet iniciaram essa crítica, na França. De acordo com Silva, M. (2006, p. 4810):
42
A partir da década de 1970, na literatura inglesa, surge a nova sociologia da
educação, e com ela, uma nova forma de pensar o currículo. O teórico precursor desse
movimento é Michael Young. Na França, esse movimento vinha acontecendo também e
foi defendido por Pierre Bourdieu e Louis Althusser.
43
A escola de massa teve início em meados do século XIX e foi vista como uma
instituição que resolveria o problema da administração social do Estado moderno. “A
educação pública estava surgindo como uma importante instituição para a transmissão
das orientações culturais, valores e estilos das abordagens cognitivas associadas à
modernidade” (POPKEWITZ, 1997, p. 60).
A escola pública americana foi criada pelos privilegiados, para o ‘bem’ dos
menos privilegiados e também destinada à classe média. A instituição era dirigida pelo
Estado, na tentativa de encontrar um caminho para a redução do crime, dos conflitos, da
homogeneização da cultura e para que se introduzisse uma tranquilidade e passividade
interna nas cidades. A cidadania era ensinada de acordo com os ideais iluministas, em que
a razão e a racionalidade eram alavancas para o progresso. Seus currículos profundamente
americanos estabeleceram uma linguagem nacional. A unificação da cultura da nova
nação favorecia ainda às metas individualistas de crescimento e avanço pessoal.
ATENÇÃO
A Pedagogia de Dewey deveria substituir costumes estabelecidos na
concepção humanista, por uma visão mais dinâmica de progresso e
harmonia social (POPKEWITZ, 1997). Dewey acreditava que a pedagogia
poderia contribuir para a industrialização, desenvolvendo o esclarecimento
moral e acreditando que a ciência e a tecnologia poderiam produzir a
reconstrução social (GOMES (2012).
44
ESTUDOS FUTUROS
Interessante é esse caminho diretivo de formação pelo currículo escolar.
Estudaremos mais da visão conservadora de Bobbit no Tópico 4.
DICA
TEMPOS MODERNOS. CHARLES CHAPLIN, 1936
FONTE: <https://radiopeaobrasil.com.br/wp-content/uploads/2018/03/Tempos-Modernos.jpg>.
Acesso em: 8 jul. 2021.
45
O Filme Tempos Modernos – um clássico de Charles Chaplin, que atuou como
diretor, roteirista, produtor e ator do filme – retrata, de maneira satirizada, a
forma tecnicista na qual é possível fazer uma reflexão e aproximar o trabalho
da indústria da escola. Assista ao filme completo em: https://www.youtube.
com/watch?v=3tL3E5fIZis.
Continuando...
DICA
Talvez você lembre as características e motivos da Guerra Fria, que aprendeu no
Ensino Médio. Se quiser refrescar a memória, selecionamos um material para
você, acesse: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/guerra-fria.htm.
46
4 CENÁRIO 3: CURRÍCULO E BRASIL
Você lembra de sua formação na educação básica? Então pergunte aos seus
familiares ou amigos que possuam 20 anos a mais que você. Faça uma comparação dos
métodos de ensino, a avaliação, o espaço físico, a relação entre professor-aluno e, se
tiver oportunidade, do que sabia sobre o currículo.
IMPORTANTE
A Leis de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei n° 9.394, foi aprovada
em dezembro de 1996. Sua criação firmou algumas garantias da educação,
como o direito a todos de ter acesso à educação gratuita e de qualidade,
valorização dos profissionais da educação e deveres da União, do
Estado e dos Municípios com a educação pública. Para saber mais das
Leis oficiais da educação como a LDB e o Plano Nacional de Educação
(PNE) de 2014, acesse : http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
content&view=article&id=12907:legislacoes&catid=70:legislacoes.
ESTUDOS FUTUROS
Você já deve ter ouvido falar na BNCC, ou seja, na Base Nacional Curricular
Comum. Este é um documento norteador da educação escolar no Brasil e
será um dos conteúdos da Unidade 3. Aguardem!
47
Como marco, podemos indicar a década de 1920, como o início das discussões
sobre o currículo no Brasil, com influências do pensamento americano, a partir de
modelos com viés funcionalista. Nesse momento, o país vivia um processo tanto de
urbanização como de industrialização.
DICA
Quer saber mais alguns pontos positivos e negativos e considerações deste
movimento? Acesse: https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/atualidades/
historia-educacao-o-manifesto-dos-pioneiros.htm.
48
John Dewey e Anísio Teixeira tiveram seus pensamentos voltados para a
identificação e a proposição de uma educação a serviço do que eles entendem por uma
sociedade democrática e justa. Uma educação que se empenhe em formar o ser humano
e não apenas formar sujeitos que estão aptos a desempenhar papéis instrumentais.
Outra reforma, nessa mesma época, foi incitada por Fernando de Azevedo. Sua intenção
era também relacionada à aproximação da sociedade com a escola.
NOTA
Em 1955, o primeiro livro sobre currículo foi publicado no Brasil pelo
INEP, escrito por João Roberto Moreira, intitulado Introdução ao Estudo
da Escola Primaria.
Após esse período, “com o golpe militar em 1964, todo o panorama político,
econômico, ideológico e educacional do país sofreu grandes transformações.
Diversos acordos foram assinados com os Estados Unidos visando à modernização e
racionalização do país” (MOREIRA, 1990, p. 83). Nesse ínterim, a influência americana
nos currículos nacionais ampliava-se nas próximas décadas, fortalecendo-se com
acordos entre MEC-USAID (United States Agency for International Development).
49
DICA
Quer explorar mais esse assunto, leia o artigo O Retrocesso na Educação,
disponível em: https://ditaduranuncamais.cnte.org.br/o-retrocesso-na-
educacao/. Ou ainda, conheça o acervo de fotos da USP que mostra alguns
movimentos contra o acordo MEC-USAID, em: http://www2.eca.usp.br/
eca50anos/pt-br/content/acordo-mec-usaid.
INTERESSANTE
Que período conturbado! Com a Constituição Federal de 1988 teve-se a
possibilidade de discutir sobre a redemocratização no Brasil. Ela foi um
dos marcos da cidadania brasileira com o intuito de assegurar o exercício
dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a educação, a igualdade e a justiça. Leia o documento
completo, e ainda em vigor, em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Lembre-se, esse documento é base
para a construção de muitos outros documentos nacionais.
50
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O século XX foi marcado por inúmeras reações acerca deste modelo de currículo.
As críticas apontavam o currículo como transmissor de conteúdos vazios,
despreocupados com questões significativas à vida. A corrente marxista defendia a
emancipação intelectual do sujeito por meio das lutas das classes trabalhadoras.
2 A escola nova foi um dos temas desse tópico. Sabemos que essa concepção teve forte
influência sobre a discussão e organização do currículo. Anísio Teixeira foi o educador
e representante importante desse movimento, que até hoje carregam algumas
referências em nossos currículos. Escreva quais as caraterísticas da Escola Nova.
52
4 (2020 Prefeitura de Jacaraú – PB) Os estudos sobre currículo têm crescido ao longo
do tempo. Com relação aos estudiosos dessas áreas, é CORRETO afirmar que:
a) ( ) Ralph Tyler e John Dewey foram contemporâneos e suas ideias sobre currículo
são convergentes na medida em que focam a resolução dos problemas sociais.
b) ( ) Michael Apple trabalha com dois conceitos, hegemonia e ideologia, para uma
análise reprodutivista do currículo.
c) ( ) William Kilpatrick é apontado como o responsável pela sistematização do método
de projetos, que utiliza as ideias de Dewey e Tyler.
d) ( ) Paulo Freire é um expoente representante da vertente pós-estruturalista do
currículo.
e) ( ) Bobbitt e Michel Young são representantes da Nova Sociologia da Educação.
a) ( ) Ação.
b) ( ) Instrução.
c) ( ) Repetição.
d) ( ) Memorização.
53
54
UNIDADE 1 TÓPICO 4 -
CURRÍCULO: TEORIAS E TENDÊNCIAS
CONTEMPORÂNEAS
1 INTRODUÇÃO
Como já estudado no tópico anterior desta unidade, sabemos que o currículo
não é definido de forma estanque. Sua caminhada de discussão é longa, muito já se
estudou, argumentou e criticou sobre o currículo. E é esse assunto que permeia a
unidade. Diferentes estudos sobre o currículo conceituam com teorias que, às vezes, se
convergem e/ou completam.
Para falar de reformas, basicamente, é preciso esclarecer que elas num primeiro
momento levaram a palavra de Deus à organização da vida individual e, posteriormente
se tornaram uma estratégia racional de aprimoramento social, marcando o surgimento
da intervenção do Estado na construção de um sistema estatal de ensino.
55
Gomes (2012) se utilizou de ideais iluministas para transferir o poder da Igreja
para o Estado, imprimindo um novo modelo disciplinar ligado à luta pela secularização
do governo da alma.
NOTA
GOVERNO DA ALMA: segundo Severino (2006), a alma, para a ética socrática era objeto
de excelência da educação na busca da interioridade humana. Ela representa o centro
do autodomínio, da ordenação dos valores, da virtude e da felicidade. Pensando num
governo da alma de forma mais crítica, podemos citar Michel Foucault (2011), quando
fala do governo de si por meio da autorregulação, em que o sujeito se autocontrola
a partir das normas e condutas existentes. Percebeu como a partir de diferentes
perspectivas, os conceitos se alteram? Ficou interessado no assunto? Que tal conhecer
o livro O Governo de si e dos outros de Michel Foucault (2010).
FONTE: <https://www.amazon.com.br/governo-si-dos-outros/dp/8578273214>.
Acesso em: 19 abr. 2021.
56
2 O CURRÍCULO COMO CONSTRUÇÃO HISTÓRIA
O papel das teorias curriculares não representa uma perspectiva sólida e
acabada para descrever os fenômenos. Ela corresponde a um conjunto organizado de
análises, interpretações e compreensões acerca do currículo.
57
NOTA
RELATIVISMO: 1) Doutrina que considera todo conhecimento relativo
como dependente de fatores contextuais, e que varia de acordo com
as circunstâncias, sendo impossível estabelecer-se um conhecimento
absoluto e uma certeza definitiva. 2) Em um sentido ético, concepção que
considera todos os valores morais como relativos a uma determinada
cultura e a uma determinada época, podendo, portanto, variar no
espaço e no tempo, não possuindo fundamentos absolutos, nem caráter
universal. Ex.: “O fogo arde na Hélade e na Pérsia, mas as ideias que
os homens têm de certo e de errado variam de lugar para lugar”. 3) O
relativismo moral designa a posição daquele que recusa toda moral
teórica, propondo regras e prescrições universalmente válidas. 4) O
relativismo científico é a atitude daquele que considera que, nas ciências,
não existe verdade definitiva, pois deve constituir uma apropriação
progressiva, uma construção inteligível do mundo sempre aproximativa
(JAPIASSU; MARCONDES, 2001, p. 165).
Todos nós sabemos que as disciplinas estão inseridas no currículo por razões
históricas, por conveniências administrativas, por motivos de emprego ou mesmo
por pressões dos grupos profissionais, e que existe ainda um sério descompasso
delas com as transformações ocorridas na sociedade, na natureza e no processo de
elaboração do conhecimento.
Por hora, a definição de currículo elaborada por Pacheco (2005, p. 80) nos ajuda
a refletir sobre esse conceito: “currículo é um produto da história humana e social, é um
meio através do qual os grupos poderosos exerceram uma influência muito significativa
sobre os processos mediante os quais eram e são educados os jovens”.
3 AS TEORIAS TRADICIONAIS
Você sabia que o termo currículo só começa a se tornar recorrente, após a
Segunda Guerra Mundial? Foi devido à franca ascensão do mundo industrial, que
determinou novos comportamentos sociais e culturais relativos à queda dos monopólios,
como também a livre competição, a produção industrial em larga escala e o aumento de
empregados nas fábricas.
58
Foi nessa época, precisamente no século XIX, que a tradição disciplinar
humanista foi retomada por John Franklin Bobbitt, nos Estados Unidos.
FONTE: <https://alchetron.com/cdn/john-franklin-bobbitt-29e86611-2529-4f75-95fd-
2f683f0872a-resize-750.jpeg>. Acesso em: 19 abr. 2021.
59
O tradicionalismo da concepção de Bobbit via o currículo como um processo de
racionalização de resultados educacionais, cuidadosamente e rigorosamente medidos e
especificados (SILVA, 2007). O modelo seguido por Bobbitt era o fabril, cuja inspiração
teórica provinha de Taylor (1949), precursor do movimento da administração científica,
cuja teoria defendia a administração do tempo nas fábricas, planejamento e divisão do
trabalho (TRAGTENBERG, 2004). Bem como a separação entre as funções de execução e
planejamento de tarefas.
Perceba, nas palavras de Bobbitt, a forma empresarial com que ele concebia
a educação: “A educação é o processo de crescimento na direção certa. Os objetivos
são as metas do crescimento. As atividades e experiências do aluno são os passos que
completam a sua jornada em direção a estas metas. As atividades e experiência são o
currículo” (PACHECO, 2005, p. 33).
Uma segunda tendência estadunidense foi liderada por Dewey, que estava mais
preocupado com a democracia do que com o funcionamento da economia.
FONTE: <https://revistacienciaemdebate.files.wordpress.com/2019/02/john.png?w=211&h=200>.
Acesso em: 21 abr. 2021.
60
Dewey, cuja teoria de base estava concentrada no livro The children and the
curriculum (1902), achava importante levar em consideração as experiências das
crianças e dos jovens. Vejamos as considerações de Popkewitz sobre o pragmatismo
de Dewey:
FONTE: <https://fedora.digitalcommonwealth.org/fedora/objects/commonwealth-oai:ff36d929c/
datastreams/thumbnail300/content>. Acesso em: 21 abr. 2021.
61
O modelo de Tyler (1949) incluía: estudos sobre os próprios aprendizes; estudos
sobre a vida contemporânea fora da escola; e sugestões dos especialistas das diferentes
disciplinas. E inova com a psicologia e as disciplinas acadêmicas.
No final dos anos 1960, alguns fatores desafiavam a sociedade americana, como:
o racismo, o desemprego, a violência urbana, a delinquência, as condições precárias
de moradia e o envolvimento dos Estados Unidos na guerra do Vietnã, contribuíram
para que se desenvolvesse no país uma contracultura, que reclamava por liberdade
sexual, gratificação imediata, naturalismo, o uso de drogas e a paz. Essas reivindicações
constituíram o movimento Hippie da década. Movimentos sociais também se
estruturavam na defesa dos negros, das mulheres, dos homossexuais, na luta pela
eliminação de aspectos patriarcais e sexistas do currículo.
62
DICA
HAIR. MILOŠ FORMAN, 1979
FONTE: <https://br.web.img3.acsta.net/c_310_420/medias/
nmedia/18/92/78/53/20217518.jpg>. Acesso em: 8 jul. 2021.
Que tal assistir ao filme Hair, dirigido por Miloš Forman? Um musical que
retrata um romance envolto no momento histórico que estamos estudando,
o movimento contracultural do pós-guerra e a cultura hippie.
Como você percebeu, existia uma grande preocupação com questões de justiça
social, liberdade e com as desigualdades que assolavam o contexto desta década.
63
4 AS TEORIAS CRÍTICAS
Com a emergência de todos esses fatores demonstrados até agora, surge
no final dos anos 1970, a necessidade de se compreender outras questões sobre o
currículo. Nesta época, começava-se a ser problematizados a adoção de procedimentos
tradicionais e puramente técnicos para a construção do currículo e com isso a avaliação,
o planejamento e também as pesquisas apenas quantitativas.
NOTA
ESTRUTURALISMO
A teoria crítica tem suas bases filosóficas iniciais contidas em Immanuel Kant,
Georg Wilhelm Friedrich Hegel e Karl Marx, que sustentam as lentes para enxergarmos
com mais reflexão as práticas e as dinâmicas das relações implicadas nos conteúdos e
no contexto escolar.
64
De posse dessas bases, os autores críticos começaram a questionar os arranjos
sociais e educacionais, desconfiando do status quo e responsabilizando-o pelas
desigualdades e injustiças sociais. Sua principal preocupação não estava em como
fazer o currículo, mas em desenvolver conceitos que nos permitam compreender o que
o currículo faz.
ATENÇÃO
Sacristán (2000) nomeia como currículo prescrito os documentos oficiais
que orientam a educação nacional. Exemplo destes, em território nacional
é a BNCC (Base Nacional Curricular Comum) e os documentos orientadores
de cada estado e município.
65
4.1 O MOVIMENTO RECONCEPTUALISTA
O movimento Reconceptualista explodiu em diferentes países ao mesmo
tempo (SILVA, 2007) e impeliu a renovação da teorização sobre o currículo e foi a
primeira corrente sociológica, primordialmente voltada para a discussão do currículo
(MOREIRA, 1990).
4.1.1 A fenomenologia
A Fenomenologia surgiu no final do século XIX e seus principais pressupostos
foram elaborados por Edmund Husserl, (1859-1958), Martin Heidegger (1889-1976) e
Maurice Merleau-Ponty (1908-1961). A perspectiva fenomenológica é a mais radical
das perspectivas críticas (SILVA, 2007) porque representa um rompimento com a
Epistemologia tradicional. Contrária à filosofia empirista, ela afirma que o objeto não
existe sozinho, quem dá significado ao objeto é o sujeito. Dessa forma, ela estabelece
uma nova relação entre o sujeito e objeto.
NOTA
O termo epistemologia, segundo Gamboa (1987), significa teoria da ciência.
Foi criada comprometida com a tradição positivista, dando conotações
reducionistas à teoria do conhecimento. Saiba mais de epistemologia em: http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40601994000100012.
Acesso em: 21 abr. 2021.
66
A Fenomenologia não dissocia experiência de experimento, nem distancia o
pesquisador da experiência, assim como fazem os positivistas. Para ela, o importante
é resgatar a experiência imediata e pessoal do observador. O conhecimento científico
deve considerar a experiência primeira captada pela consciência.
IMPORTANTE
A perspectiva fenomenológica de currículo não é constituída de fatos nem
conceitos teóricos ou abstratos. O currículo é um local onde os professores
devem examinar de forma renovada os significados da vida cotidiana que se
acostumaram a ver como naturais.
4.1.2 A hermenêutica
Hermenêutica (gr. hermeneutikós, de hermeneuein: interpretar). Esta corrente
filosófica destaca a possibilidade de múltiplas interpretações para um fato, ou seja, ela
contesta a existência de um único significado para o fato em si. Segundo Japiassu e
Marcondes (2001), o termo designa o esforço de interpretação científica de um texto difícil
que exige uma explicação. Conforme Araújo, (2007, p. 237):
67
A cosmovisão é uma perspectiva que cada comunidade é consciente, tem seus
conhecimentos, que a identifica e a caracteriza no todo (BARBOSA, 2011).
ATENÇÃO
Contemporaneamente, a hermenêutica se constitui como reflexão filosófica
interpretativa ou compreensiva sobre os símbolos e os mitos em geral.
4.1.3 O marxismo
O marxismo surgiu na Alemanha no século XIX e foi formulado por Karl Marx e
por Friedrich Engels. Esta teoria pretendia conduzir a humanidade a uma organização
social de igualdade, sem classes, sem explorados nem exploradores.
68
4.1.4 A escola de Frankfurt
Segundo Rudiger (1998), chama-se Escola de Frankfurt o coletivo de pensadores
e cientistas sociais alemães formados, principalmente por Theodor Adorno, Max
Horkhemeier, Friedrich Pollock, Erich Fromm e Herbert Marcuse.
DICA
Caro acadêmico! Para saber mais da Escola de Frankfurt, acesse o vídeo
do canal Brasil Escola: https://www.youtube.com/watch?v=wsz3FMaEkkE.
Ou ainda, assista à animação problematizadora sobre nosso modo de vida:
https://www.youtube.com/watch?v=gRkrTYdJteU.
69
FIGURA 19 – ESCOLA DE FRANKFURT
Que tal conhecer os principais autores das teorias críticas e suas linhas
filosóficas? Vamos continuar os estudos!
FONTE: <http://4.bp.blogspot.com/_eSAkSNgX7xg/TQP58QXpAGI/AAAAAAAAASE/8ulrGRHVHhM/
s1600/Michael+W.+Apple.jpg>. Acesso em: 21 abr. 2021.
70
Michael Whitman Apple, estadunidense, nascido em 1942, optou pelo
neomarxismo, corrente posterior ao marxismo, que colocava a cultura em posição
central na avaliação crítica das estruturas sociais. Sua teoria baseou-se na relação entre
educação e sociedade e foi buscar em Gramsci conceitos, como: ideologia, hegemonia
e senso comum para sua análise relacional.
Seu primeiro livro foi publicado em 1979: Ideologia e Curriculum. Nele, o autor
recorre ao conceito de hegemonia para analisar o campo social e definindo-o como um
campo contestável, onde os grupos dominantes produzem um esforço ideológico para
manter sua dominação e transformá-la em senso comum, de forma a torná-la natural.
Observe que sua perspectiva sobre currículo não está no “como”, como nas
teorias tradicionais, mas no “por que”. Vejam suas indagações:
71
DICA
Quer saber mais da história de vida e sua visão da educação e currículo
de Michael Apple? Acesse o vídeo, disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=EN1M_Jgw_Z8.
FONTE: <https://mdg30.weebly.com/uploads/2/3/8/5/23859476/avt-henry-a-giroux-4602_orig.jpeg>.
Acesso em: 21 abr. 2021.
72
Giroux (1983) utilizou conceitos de autores da Escola de Frankfurt (Adorno,
Herkheimer, Marcuse) para apontar que as teorias tradicionais não levavam em
consideração o caráter histórico, ético, social e político das ações humanas e também
afirmou que o currículo tradicional contribuía para a reprodução das desigualdades e
das injustiças sociais.
73
4.4 ALTHUSSER: CONEXÃO ENTRE EDUCAÇÃO E
IDEOLOGIA MARXISTA
FONTE: <https://actualitte.com/uploads/images/Louis-Althusser-Arte-da969022-06ef-4db7-9a8f-
038251ef0329.jpg>. Acesso em: 21 abr. 2021.
Isso se explica com o abandono precoce das escolas por parte das crianças
das classes desprivilegiadas. Em contraposição da permanência e dos níveis mais altos
de ensino alcançados pelas crianças das classes dominantes. Neste período, essas
crianças aprendiam atitudes e valores próprios de sua classe, enquanto as crianças das
classes subalternas aprendiam a subserviência e a obediência.
74
Para o autor, a escola pregava uma falsa ideologia. Essa ideologia era essencial
na luta das classes dominantes para a manutenção de suas vantagens e de seus
privilégios. Quanto à ideologia, o autor coloca:
Althusser (1983) percebeu que a escola contribui para garantir habilidades não
só por meio de seu currículo, mas porque espelha seu funcionamento nas relações do
trabalho. O autor estabelece o conceito correspondência para compreender as relações
entre escola e trabalho, e afirma que o processo educacional contribui para a reprodução
da escola capitalista.
75
4.5 PAULO FREIRE
FONTE: <https://www.hypeness.com.br/1/2020/01/Paulo_Freire_Download_02.jpg>.
Acesso em: 21 abr. 2021.
• O que é ensinar?
• O que significa conhecer?
Sua concepção de cultura não faz distinção entre cultura erudita e cultura
popular, entre alta ou baixa cultura. Portanto, não há cultura no sentido monolítico, mas
sim “culturas”, apagando as fronteiras entre cultura erudita e cultura popular.
Paulo Freire (1983) se utilizou de conceitos humanistas ainda não usados pelas
teorias críticas, como: amor, fé nos homens, esperança e humildade. Seu foco não
estava em dizer como a pedagogia é, mas como ela deve ser (SILVA, 2007). Sua crítica
ao currículo está sintetizada no conceito de educação bancária, na qual faz alusão ao
ato de depósito bancário.
76
Paulo Freire defendia uma educação problematizadora e conscientizadora.
Essa educação era uma resposta à concepção bancária que ele criticava, em uma
perspectiva fenomenológica em que se utilizava desta vertente para afirmar que ‘o
conhecimento é sempre intencionado’, isto é, ele está sempre dirigido a alguma coisa
(BRIGHENTE; MESQUIDA, 2016).
É importante salientar que Freire não nega o papel dos especialistas, que de
forma interdisciplinar devem organizar as unidades programáticas, porém, o conteúdo
partirá sempre das experiências dos educandos ou dos educadores. Nesse sentido, o
conteúdo programático não é uma doação ou imposição, mas a devolução (organizada,
sistematizada e acrescentada) ao povo, daqueles elementos que eles lhes entregaram
de forma desestruturada.
DICA
Conheça mais da história de Paulo Freire e a sua atuação na educação,
principalmente, com jovens e adultos no Brasil? Acesse: https://www.youtube.
com/watch?v=VjjV8ROzMho.
77
4.6 PIERRE BOURDIEU
FIGURA 24 – BOURDIEU
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/c0/Pierre_
Bourdieu_%281%29.jpg/250px-Pierre_Bourdieu_%281%29.jpg>. Acesso em: 21 abr. 2021.
78
No entanto, Bourdieu não quis inverter as relações de dominância, empoderando
os dominados em detrimento dos dominantes. Ele discutia e apresentava que as crianças
das classes dominadas tivessem as mesmas oportunidades e a mesma imersão na cultura.
A teoria de Bourdieu e Passeron (1975) ficou conhecida por entender o currículo não
como algo oficial a ser transmitido e absorvido passivamente. O autor entendia o currículo
como um terreno de produção e criação simbólica cultural.
79
A NSE não queria estabelecer conceitos sobre verdade e demonstrava o
conhecimento escolar enquanto invenções sociais, como o resultado de um processo
envolvendo conflitos e disputas em torno de quais conhecimentos deveriam fazer parte
de um currículo. De forma geral, a NSE buscava investigar as conexões entre os princípios
de seleção de um currículo, a organização e distribuição do conhecimento escolar e dos
recursos econômicos e sociais mais amplos. Ou seja, ela investigou as conexões entre
currículo e poder, entre a organização do conhecimento e a distribuição do poder.
Nas palavras de Dreeben (1985 apud PACHECO, 2005, p. 54), “currículo oculto
é sinônimo de escondido, latente, tácito, implícito – não estudado. Encerra duas ideias
principais: o que os alunos aprendem com experiência social da escola, a imprevisibilidade
da ação pedagógica”.
80
O currículo oculto é determinante também nas questões de gênero, de
sexualidade e de raça. A partir dele criam-se identidades, aprende-se a ser homem
ou mulher, heterossexual ou homossexual, bem como: a identificação com uma
determinada raça ou etnia.
Para Silva (2007) a própria disposição do espaço escolar contribui para enviar
mensagens escolares, por exemplo: um espaço rigidamente organizado emite certo tipo
de juízo, enquanto espaços cujas disposições são mais democráticas emanam outro
tipo de raciocínio.
FONTE: <https://diversa.org.br/wp-content/uploads/2020/04/Marcos-Santos_USP-Imagens_6-
1024x704.jpg>. Acesso em: 21 abr. 2021.
ATENÇÃO
Acadêmico, analise a Figura 25. O que queremos quando dispomos as
carteiras nessa disposição? O que se aprende? Conforme o currículo oculto,
há aprendizados que não estão descritos nos currículos prescritos.
81
O currículo oculto, portanto, modela as subjetividades e seu processo vai
penetrando na opacidade da vida cotidiana da sala de aula, porém, Silva (2007) afirma
que a era Neoliberal acabou por desocultar o currículo oculto e afirmou-o explicitamente
nas subjetividades por meios dos valores do capitalismo. Com a ascensão neoliberal, o
currículo tornou-se assumidamente capitalista.
5 AS TEORIAS PÓS-CRÍTICAS
Quanto conteúdo e quantas reflexões? Mas, vamos continuar, pois queremos
que você compreenda, neste momento, que ao falarmos pós, não queremos remetê-
los ou remetê-las a um sentido de superação das teorias críticas. Até porque as teorias
pós-críticas retomam alguns objetos que foram tomados nas teorias críticas e os
combina em algumas de suas análises, utilizando-se, especialmente suas premissas
relativas ao poder.
82
Segundo Corazza (2002), as teorias pós-críticas não formulam uma verdade
absoluta, mas verdades sempre parciais, cujos resultados se encontram abertos
pelas possibilidades de outras linguagens. Elas também não se comprometem com
verdades totalizantes e unificadoras sobre o que seja verdade ou o que seja verdadeiro
para um currículo.
83
FIGURA 26 – DIVISÃO DO TEMPO ESCOLAR
Essa análise coloca o currículo, como prática subjetivadora que exige isolar e
reconceitualizar uma dimensão específica. Esse campo de pesquisa indaga ainda a
ética de si, onde nossas condições subjetivas devem ser tomadas no plano da reflexão
crítica para se perceber a violência das autoidentificações, abandonando o valor das
subjetividades plenas que estão cristalizadas.
84
5.1 OS ESTUDOS PÓS-COLONIAIS E O CURRÍCULO
A partir dos anos 1980, os estudos pós-coloniais se constituíram em um vasto
campo de estudos em torno das culturas ditas subalternas, ou pós-coloniais (PACHECO,
2005). A emergência desses estudos se deu a partir do questionamento teórico que
considera a cultura no sentido lato, antropológico, no qual a reflexão está centrada na
relação cultura/nação.
Segundo Silva (2007), a relação saber-poder faz parte das teorias críticas e pós-
críticas e aparece ao longo de toda a história de dominação europeia. O saber sempre
esteve ligado aos objetivos de poder e controle, nos quais as próprias populações
nativas formavam o objeto de conhecimento, assim como os recursos naturais e a terra
descoberta. O conhecimento do outro era central aos objetivos de conquista colonial. É
importante salientar que a análise pós-colonial não tem como foco a imagem subjetiva,
mas procura ver como o outro está representado em obras de arte, filmes, peças
publicitárias, fotografias e, especialmente, em grandes textos literários.
85
5.2 O MULTICULTURALISMO E O CURRÍCULO
As teorias pós-críticas analisam o multiculturalismo e a diversidade como uma
questão que pode ser fabricada e tomada por grupos dominantes, que se aproveitaram
do termo para a utilização de: “[...] políticas afirmativas como incentivo de ação e
participação a grupos discriminados. O multiculturalismo foi utilizado com enfoques
positivistas que tratavam a cultura como uma ideologia de instância determinante,
promovendo a exaltação da diversidade” (GOMES, 2012, p. 125).
ESTUDOS FUTUROS
Caro acadêmico! Você lerá mais sobre o multiculturalismo no próximo tópico,
em que serão abordadas as tendências contemporâneas do currículo.
86
5.3 O PÓS-MODERNISMO E O CURRÍCULO
O movimento pós-modernista alerta que estamos vivendo na pós-modernidade,
por meio de um conjunto variado de perspectivas políticas, intelectuais, estéticas e
epistemológicas. O pós-modernismo vai questionar os princípios e pressupostos do
pensamento social e político, estabelecido a partir da modernidade.
Para esse movimento, o nosso currículo atual está fincado nas ideias modernas
de transmissão do conhecimento científico para formar um sujeito racional e autônomo
desejado pela sociedade do ideal pós-moderno.
87
A teoria feminista apontava, principalmente, a profunda desigualdade que
dividia homens e mulheres no currículo escolar. Estereótipos ligados ao gênero estavam
relegando as mulheres a papéis secundários, impulsionados pelo tratamento dado a
certas disciplinas que compõem o currículo. Ou seja, as ciências duras tinham um
caráter mais masculino, enquanto as humanas tinham pretensões mais femininas.
DICA
Para exemplificar o apontamento de Silva, leia o artigo As imagens do
“natural”: uma análise da dominação masculina nos livros didáticos de Ciências,
no qual os autores fazem uma análise de imagens de três livros de ciências
e mostram como homem e mulher, masculino e feminino são retratados
nestes materiais. Disponível em: https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.
br/index.php/educacao/article/view/4765/4831.
GIO
Acadêmico, converse com seus familiares e colegas de classe. Como são as
relações de trabalho na questão de gênero? E sua classe, tem mais homens
ou mulheres? Reflita sobre isso e quais seriam os motivos históricos e
sociais para isso acontecer. Relacione com as teorias curriculares que você
estudou até aqui.
88
Essas teorias perguntam ao currículo: Que conexões existem entre as
formas como o currículo produz e reproduz a masculinidade ou feminilidade
e as formas de violência, controle e domínio que caracterizam o mundo social
mais amplo?
Uma especial vigilância deve ser dedicada no espaço escolar aos processos de
constituição do gênero e da sexualidade e no modo como socialmente vivemos nossa
masculinidade ou feminilidade, ou seja, nossa identidade de gênero, e “a forma cultural
pela qual vivemos nossos desejos e prazeres corporais” (WEEKS, 1986 apud BRITZMAN,
1996, p. 76). Ou seja, nossa identidade sexual, são alvos fundamentais na normalização
empreendida pela instituição escolar, no qual
89
FIGURA 27 – SÍMBOLO DO MOVIMENTO LGBTQIA+
FONTE: <https://adnews.com.br/marcas-levantam-bandeira-e-representam-acoes-ao-orgulho-lgbtqia/>.
Acesso em: 21 abri 2021.
NOTA
Acadêmico, você sabe o que é LGBTQIA+? É um movimento político e social
que defende a diversidade e busca mais representatividade e direitos para a
comunidade entre Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Queer,
Intersexo, Assexual e o + é utilizado para incluir outros grupos e variações
de sexualidade e gênero. Ainda, existe um movimento sem gênero, no qual
são pessoas que preferem descrever sua identidade sem gênero ou nenhum
gênero. Conheça mais do assunto nos seguintes endereços:
• https://orientando.org/listas/lista-de-generos/sem-genero/.
• https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/dicas/qual-o-significado-da-
sigla-lgbtqia.
A teoria “Queer” teve seu início em países, como EUA e Inglaterra e surgiu da
unificação dos estudos sobre gays e lésbicas. O termo “Queer”, historicamente, havia
sido utilizado com uma conotação pejorativa ao se referir às pessoas homossexuais,
especialmente do sexo masculino.
O termo “Queer” tem seu significado nas palavras: “estranho”, “incomum”, “fora
do normal”, mas seu uso foi retomado de forma positiva por grupos homossexuais, como
uma forma irreverente de problematizar a identidade sexual que estava sendo considerada
normal nos currículos escolares.
90
O “Queer” é uma atitude epistemológica que não se restringe à identidade sexual,
mas que permeia a identidade de um modo geral.
Essa teoria pergunta então ao currículo: Como pensar? O que torna algo
possível? Podemos dizer, portanto, que a teoria “Queer” não quer apenas estimular uma
atitude de respeito ou tolerância à identidade homossexual, tampouco aceita a abordagem
terapêutica no tratamento do preconceito e da discriminação.
91
5.7 O PÓS-ESTRUTURALISMO E O CURRÍCULO
Para a compreensão pós-estruturalista, a diferença não pode ser concebida fora
dos processos linguísticos e de significado. Para a teoria pós-estruturalista ser diferente
está relacionado ao outro, considerado como “não diferente” (POPKEWITZ, 2001).
INTERESSANTE
Para entender mais desses autores e suas ideias, é preciso pesquisar
mais. São conhecimentos construídos por um longo tempo da vida de
cada um, portanto necessitam de um aprofundamento dos estudos
filosóficos. Deleuze, por exemplo, produziu muitas suas ideias e seus
conceitos em diálogo com Félix Guattari, outro pensador francês. Para
conhecer mais, acesse o site que explora com texto e imagens as ideias
de Deleuze: https://razaoinadequada.com/2013/05/10/deleuze-maquinas-
desejantes/. Ou ainda, conheça no Abecedário de Deleuze, um conjunto
de entrevistas realizadas com ele, disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=SlNYVnCUvVg&list=PLiR8NqajHNPbaX2rBoA2z6IPGpU0IPlS.
92
A teoria tem forte oposição ao marxismo, na medida em que compreende as
relações de poder, não como algo que se possui, ou pode ser eliminada por completo, mas
como relações móveis e que estão em toda parte, em diferentes situações vivenciadas.
Segundo Silva (2007), não podemos falar propriamente em uma teoria pós-
estruturalista para o currículo, porque o pós-estruturalismo rejeita qualquer tipo de
sistematização. No entanto, autores como Cherryholmes e Thomas Popkewitz vêm se
dedicando há alguns anos sobre o desenvolvimento do currículo fundamentado na
teorização de Michel Foucault.
Parece confuso, não é? Mas são conhecimentos que pedem nossa atenção e
maior aprofundamento para refletir sobre o currículo. Elaboramos uma síntese que o
ajudará, trazendo as três teorias do currículo e seus principais conceitos explorados. Você
perceberá as tendências em cada teoria. O Quadro 1 tem como base o livro Documentos
de Identidade: uma introdução às teorias do currículo, de Tomaz Tadeu da Silva (2007).
93
O campo do currículo vem ampliando suas discussões, o que torna possível o seu
desdobramento na prática pedagógica, a partir de diferentes discursos contemporâneas,
como: currículo híbrido, currículo e os estudos culturais, currículo e o multiculturalismo
e currículo e as tecnologias.
6.1 MULTICULTURALISMO
O multiculturalismo teve sua origem nos países de hemisfério norte, chamados
de países desenvolvidos ou dominantes, entendido como “um movimento legítimo de
reivindicação dos grupos culturais dominados” (SILVA, 2007, p. 85).
Desse modo, para Silva (2007, p. 86), “as diversas culturas seriam o resultado
das diferentes formas pelas quais os variados grupos humanos, submetidos a
diferentes condições ambientais e históricas, realizam o potencial criativo que seria
uma característica comum de todo ser humano”.
94
DICA
Que tal assistir a um filme para perceber ainda mais as características do multiculturalismo
na vida real? Imagine isso influenciando no currículo? Conheça o filme Eu não sou seu negro,
produzido pelos países EUA, Suíça, França, Bélgica, em 2016, e dirigido por Raoul Peck.
FONTE: <https://www.reservacultural.com.br/wp-content/uploads/2017/02/capa-nao-sou-
seu-negro.jpg>. Acesso em: 26 abr. 2021.
95
FIGURA 28 – PARA PENSAR O MULTICULTURALISMO
DICA
Quer conhecer mais da obra Operários de Tarsila do Amaral? Acesse e leia a
intenção da obra e outros temas que perpassam sua criação. Disponível em:
https://www.culturagenial.com/quadro-operarios-de-tarsila-do-amaral/.
96
Os estudos culturais também se preocupavam com questões de ideologia e
da influência da mídia, principalmente em relação às mídias de massa que, em muitas
vezes, vislumbram o conformismo político e consenso.
Ainda que a cultura seja entendida pelos estudos culturais como um campo de
luta (SILVA, 2007), também é reconhecida como “um campo de produção de significados
no qual os diferentes grupos sociais, situados em posições diferenciais de poder, lutam
pela imposição de seus significados à sociedade mais ampla” (2007, p. 133-134). Desse
modo, os estudos culturais, na atualidade, buscam entender a origem e os processos
que foram possíveis a existência de uma cultura.
A relação que podemos fazer dos estudos culturais com o currículo é baseada
na ideia de campo de luta, tanto de significação como de identidade do currículo. Ou
seja, no currículo há produções culturais que dependem de disputas e interpretações,
frente à seleção dos conhecimentos curriculares.
GIO
Caro acadêmico! Tente lembrar-se de sua aula de Geografia e/ou História,
nos anos finais do ensino fundamental. Não pense em um conteúdo
específico, mas do modo como as aulas eram conduzidas. Como eram
discutidos os conceitos dessa área? Eram apenas apresentados? De que
modo? Havia possibilidade de questionar sobre as ‘verdades’ e fatos
apresentados? Reflita sobre o modo que os conteúdos eram trabalhados
e se havia possibilidade de se aproximar dos estudos culturais, explorar
acontecimentos e grupos e situações desprivilegiadas.
97
A partir do que foi apresentado e da reflexão sobre sua vivência escolar, definimos
o currículo como “um artefato cultural em pelo menos dois sentidos: 1) a ‘instituição’ do
currículo é uma invenção social como qualquer outra; 2) o ‘conteúdo’ do currículo é uma
construção social” (SILVA, 2007, p. 135). E que privilegia conhecimentos culturais em
detrimentos de outros.
DICA
Você quer descansar um pouco, sem deixar de refletir sobre o conteúdo? Assista ao
filme O visitante para contribuir com seus estudos. Sinopse: Walter, solitário professor
universitário, tem 62 anos e já não encontra prazer na vida. Ao viajar a Nova York para uma
conferência, encontra o casal Tarek e Zainab, imigrantes sem documentos, morando em
seu apartamento. Eles não têm para onde ir e Walter acaba deixando que fiquem. Para
retribuir, o talentoso Tarek ensina Walter a tocar o tambor africano e os dois ficam amigos.
Quando a polícia prende o jovem e decide deportá-lo, Walter faz de tudo para ajudá-lo,
com uma garra que há muito não sentia. Surge então a mãe de Tarek em busca do filho e
um improvável romance tem início.
FONTE: <https://br.web.img3.acsta.net/c_310_420/
pictures/210/332/21033212_20130829192303451.jpg>. Acesso em: 26 abr. 2021.
98
6.3 CURRÍCULO HÍBRIDO
Alguns autores, na década de 1990, iniciaram a discussão de culturas híbridas,
que compactuassem com as mudanças da contemporaneidade. Teóricos como Nestor
Canclini, Hommi e Stuart Hall investiram nessa perspectiva. Os objetos de pesquisa
desses autores eram a hibridação das identidades coletivas e individuais, os objetos
culturais e as práticas simbólicas e materiais (DUSSEL, 2002). Portanto, conforme Dussel
(2002), com o termo hibridação em questão, é possível analisarmos a complexidade dos
processos de produção culturais, políticos e sociais.
NOTA
Caro acadêmico! Se você não tem clareza sobre o termo híbrido, pesquise no dicionário para
conhecer o conceito. Isso ajudará no entendimento da tendência. Inicialmente, o termo foi
utilizado para classificações nas áreas de botânica e zoologia. Conforme o dicionário Houaiss
(HÍBRIDO, 2009 apud BARBOSA; FAVERE, 2013, p. 91), o termo é denominado como:
Nesse sentido, é possível pensar em uma quebra e uma mescla das coleções
organizadas pelos sistemas culturais, ou ainda, a desterritorialização dos processos
simbólicos e a expansão dos gêneros impuros.
99
DICA
Leia mais no artigo Hibridismo e currículo: ambivalências e possibilidades,
de Matos e Paiva. Disponível em: www.curriculosemfronteiras.org/
vol7iss2articles/matos-paiva.pdf.
100
DICA
Quer saber mais de Ensino Híbrido? Acesse a reportagem e leia. Disponível
em: https://novaescola.org.br/conteudo/19715/ensino-hibrido-quais-sao-
os-modelos-possiveis.
ATENÇÃO
Atualmente podemos dizer que os aparelhos celulares e o custo da internet
ou acesso a ela também têm favorecido essa expansão. Mesmo sabendo que
ainda há pessoas e lugares com pouco ou nenhum acesso.
101
Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e
comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas
diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar,
acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver
problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e
coletiva (BRASIL, 2018, p. 9).
DICA
Quer conhecer mais desse documento? Saiba que ele está divido em três eixos: cultura
digital, pensamento computacional e tecnologia digital. No site do CIEB você pode navegar
clicando nos conteúdos da imagem abaixo. Já para orientações do Ensino Médio, o
documento Currículo de referência – Itinerário Formativo em Tecnologia e Computação
é apresentado no mesmo site, aba Ensino Médio e tem como principal objetivo oferecer
também diretrizes e orientações para apoiar escolas a incluir os temas tecnologia e
computação em suas propostas curriculares a partir dos mesmos eixos, porém com
organização distinta. Acesse: https://curriculo.cieb.net.br.
FONTE: <https://cieb.net.br/wp-content/uploads/2018/10/mandala_600x314-1.png>.
Acesso em: 8 jul. 2021.
102
Nesse sentido, o currículo escolar deve considerar as mudanças e inovações
tecnológicas e de acordo com Fusari (1994, p. 44),
Com a pretensão de expandir o uso das tecnologias digitais, o CIEB indica alguns
caminhos, flexíveis e para autonomia das redes de ensino, na construção do currículo
com as tecnologias digitais (CIEB, 2018, s. p.):
As TDs não são ações ‘fins’, mas o meio para a concretização de aprendizados
que não seriam possíveis em outros tempos, utilizando apenas tecnologias antigas.
Exemplos são: fotos, vídeos, imagens, simulações que, muitas vezes, auxiliam para o
entendimento do conteúdo estudado. Os conhecimentos não ficam restritos às quatro
paredes da sala de aula, pois é possível navegar pelo mundo das informações em apenas
um ‘clique’. E ainda, acessar conteúdos e ou mesmo lugares praticamente impossíveis.
103
DICA
Você sabia que pode visitar museus sem sair de casa? Ou ainda, usar essa
visita em propostas pedagógicas em sua prática escolar? Acesse e conheça
lugares inusitados: https://canaldoensino.com.br/blog/50-museus-virtuais-
para-voce-visitar.
DICA
Caro acadêmico! Não podemos ser ingênuos e desconsiderar a questão
ambiental e social que de certo modo as tecnologias digitais estão ligadas.
O alto consumo de produtos cada vez mais sofisticados nos faz produzir
diversos lixos eletrônicos. Isso tudo para acompanhar as inovações
tecnológicas. E outro ponto é a relação entre as pessoas – o contato humano
–, a qual não pode ser extinta, mas sim as tecnologias digitais da informação
e comunicação possibilitam mais um espaço de interação e aprendizado,
sem substituir outras formais pessoais de interação. Sugerimos, assim que
assista ao vídeo A história das coisas, para você realizar uma leitura crítica
e sustentável do uso das tecnologias digitais, disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=rs5vx0O7o1c.
104
NOTA
Para saber mais dos enfoques globalizadores de currículo, leia o livro A prática
educativa: como ensinar, de Antoni Zabala. Desse enfoque, podem-se citar três
vantagens, como: mais comprometimento com os processos de ensinar e
aprender baseado em uma prática reflexiva; práticas interdisciplinares e; um
método objetivo e planejado, estruturado por centros de interesses, projetos,
investigação do meio e/ou projetos de trabalho. O currículo com enfoques
globalizadores acompanha a sociedade contemporânea, com suas mudanças
e seu dinamismo. Além disso, o currículo, nessa perspectiva, não é entendido
como conteúdos ‘engavetados’, mas que se interligam constantemente. Nesse
sentido, o enfoque globalizador de currículo contribui para a prática pedagógica
e na construção de conhecimento, tanto ao discente como ao docente.
105
LEITURA
COMPLEMENTAR
O ENSINO HÍBRIDO VEIO PARA FICAR
José Valente
Todas essas transformações fizeram com que o foco das atividades, que
anteriormente estavam nos agentes que proviam esses serviços, passasse para
os usuários. Além disso, as tecnologias permitiram que o cliente se desvinculasse
de um determinado local para realizar suas atividades, como aconteceu com as
agências bancárias.
Primeiro o aluno pode trabalhar com o material no seu ritmo e tentar desenvolver
o máximo de compreensão possível. Os vídeos gravados têm sido um dos recursos mais
utilizados pelo fato de o aluno poder assisti-los quantas vezes for necessário e dedicar
mais atenção aos conteúdos em que apresenta maior dificuldade. Além disso, se o
material é navegável, com recursos tecnológicos como animação, simulação, laboratório
virtual, entre outros, ele pode aprofundar ainda mais seus conhecimentos.
106
Terceiro, o resultado da autoavaliação, que normalmente faz parte do material
sendo trabalhado antes da sala de aula, é um bom indicador do nível de preparo do aluno.
Esse resultado sinaliza para o professor os temas em que os estudantes apresentaram
maior dificuldade e que devem ser trabalhados em sala de aula. Nesse sentido, o professor
pode customizar as atividades presenciais segundo as necessidades dos aprendizes.
O próprio estudante, de acordo com as deficiências observadas, pode identificar áreas
nas quais precisa de ajuda. Essas dificuldades podem ser o ponto de partida para as
atividades que o professor seleciona para trabalhar em sala de aula.
Como qualquer outra iniciativa inovadora, o ensino híbrido tem recebido críticas
negativas. Alguns professores argumentam que, se já́ é difícil os alunos aprenderem por
meio das exposições e apresentações no sistema tradicional, será́ ainda mais difícil que
aprendam via atividades on-line ou assistindo a vídeos. Outros críticos também afirmam
que o modelo é bastante dependente da tecnologia, o que pode criar um ambiente de
aprendizagem desigual. Um aluno que acessa a informação de sua casa e dispõe de
recursos tecnológicos estará́ em vantagem com relação àquele que não dispõe desses
recursos. E o ponto considerado mais problemático é o risco de o aluno não se preparar
antes da aula e, com isso, não ter condições de acompanhar o que acontece na sala de
aula presencial. [...]
FONTE: <https://www2.ifal.edu.br/ensino-remoto/professor/apostilas-e-livros/ensino-hibrido.pdf>.
Acesso em: 26 abr. 2021.
107
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O modelo seguido por Bobbitt era o fabril, cuja inspiração teórica provinha de
Taylor, precursor do movimento da administração científica, cuja teoria defendia
a administração do tempo nas fábricas, planejamento e divisão do trabalho
(TRAGTENBERG, 2006), bem como, a separação entre as funções de execução e
planejamento de tarefas.
• As teorias críticas têm suas bases filosóficas iniciais contidas em Kant, Hegel e Marx.
Por meio dessas bases, os autores críticos começaram a questionar os arranjos
sociais e educacionais, desconfiando do status quo e responsabilizando-o pelas
desigualdades e injustiças sociais. Sua principal preocupação não estava em como
fazer o currículo, mas em desenvolver conceitos que nos permitam compreender o
que o currículo faz.
108
• O currículo híbrido aproxima conhecimentos como o popular e o culto, teoria e
prática e escola e realidade, distanciando-se da desigualdade e entendendo que o
hibridismo “provê uma estratégia de luta significativa contra o essencialismo de todo
o tipo”. Além disso, atualmente, o ensino híbrido é uma fusão do ensino presencial e
a distância, ainda com muitos desafios para a educação escolar básica.
109
AUTOATIVIDADE
1 Estudamos, neste tópico, as diferentes teorias do currículo e seus principais
conceitos para conceber a realidade. Nesta questão, relacione cada teoria com suas
características, numerando corretamente a coluna da direita de acordo com a da
esquerda (IFSC, EDITAL 007/2010).
( ) Classe social.
( ) Ideologia.
( ) Identidade.
( ) Planejamento mecanizado.
( ) Reprodução social e cultural.
( ) Avaliação diversificada.
( ) Ensino unificado.
( ) Cultura.
( ) Currículo oculto.
( ) Currículo e tecnologias.
2 Caro acadêmico! Reflita sobre os propósitos dos estudos em torno das culturas ditas
subalternas, a partir da década de 1980 e aponte sua importância para os currículos.
3 Trace um paralelo entre o currículo que temos e o currículo que queremos, abordando
os aspectos da Teoria Multicultural curricular.
110
4 Na concepção pós-crítica, o que está implicado as categorias ocidentais atribuídas
ao sujeito, como homem, mulher, aluno, branco, anormal e louco? Ou seja, que ideias
esses conceitos trazem embutidas? Que funções desempenham na sociedade?
5 (ENADE, 2017 – Filosofia Licenciatura) As escolas brasileiras não têm um único jeito
de ensinar sobre gênero e sexualidade; pesquisas evidenciam currículos e práticas
pedagógicas e de gestão marcadas pela discriminação. Distinções sexistas nas
aulas, na chamada, nas filas de meninos e meninas, nos uniformes, no tratamento
e nas expectativas sobre alunos ou alunas, tolerância da violência verbal e até física
entre meninos e meninas, representações de homens e mulheres nos materiais
didáticos, abordagem quase exclusivamente biológica da sexualidade no livro
didático, estigmatização referente à manifestação da sexualidade das adolescentes,
perseguição sofrida por homossexuais, travestis e transexuais, evidenciam o quanto
a escola (já) ensina, em diferentes momentos e espaços, sobre a masculinidade,
feminilidade, sexo, afeto, conjugalidade, família.
Neste contexto, para construir uma prática pedagógica que promova transformações no
sentido de igualdade de gênero a partir do respeito às diferenças, espera-se que a escola:
111
REFERÊNCIAS
ALTHUSSER, L. P. M. Aparelhos ideológicos de estado: nota sobre os aparelhos
ideológicos de estado (AIE). Rio de Janeiro: Graal, 1983.
ARANHA, M. L. de A. Filosofia da educação. Ed. rev. ampl. São Paulo: Moderna, 2006.
ÁRIES, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
BARBOSA, N. V. S.; MOTA, C. R. Currículo para além das grades: construindo uma
escola em sintonia com o seu tempo. Proletrando em Taguatinga, Brasília, DF, 2004.
Disponível em: http://proletrandoemtaguatinga.blogspot.com/2011/08/curriculo-para-
alem-das-grades.html. Acesso em: 4 jul. 2021.
112
BARRETO, R. G. A apropriação educacional das tecnologias da informação e
da comunicação. In: LOPES, A. C.; MACEDO, E. (Orgs.). Currículo: debates
contemporâneos. São Paulo: Cortez, 2002. (Volume 2).
113
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília, DF: MEC, 2002.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf. Acesso em: 4 jul. 2021.
114
CORDIOLLI, M. A relação entre disciplinas em sala de aula: a interdisciplinaridade,
a transdisciplinaridade e a multidisciplinaridade. Curitiba: A Casa de Astérion, 2002.
Disponível em: https://www.yumpu.com/pt/document/view/16765204/a-relacao-
entre-disciplinas-em-sala-de-aula. Acesso em: 4 jul. 2021.
COSTA, M. Vr. Sobre as contribuições das análises culturais para a formação dos professores
do início do século XXI. Educ. rev., Curitiba, Vol. 37, p. 129-152, maio 2010. Disponível em:
https://doi.org/10.1590/S0104-40602010000200009. Acesso em: 4 jul. 2021.
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jomtien-1990. Acesso em: 4 jul. 2021.
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F. de M. (Orgs.). Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto
Alegre: Penso, 2015. Disponível em: https://www2.ifal.edu.br/ensino-remoto/professor/
apostilas-e-livros/ensino-hibrido.pdf. Acesso em: 26 abr. 2021.
121
122
UNIDADE 2 —
METODOLOGICAMENTE
FALANDO: CURRÍCULO NA
PRÁTICA EDUCATIVA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
123
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
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124
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
DISTANCIAMENTOS E APROXIMAÇÕES
CONSTRUÍDAS ENTRE CURRÍCULO,
CULTURA E PRÁTICA EDUCATIVA
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Como já estudamos no tópico anterior, o currículo não é neutro.
Freire (1996, p. 124) corrobora com esse pensamento quando afirma que “é impossível a
neutralidade na educação”. Dessa forma, apontamos a estreita relação entre currículo,
conhecimentos escolares e cultura, pois um currículo vai sempre comunicar, transmitir
conhecimentos, competências, crenças, hábitos, valores, que constituem o que
chamamos de cultura. Portanto, um currículo é uma seleção culturalmente estruturada
que determina a lógica do ensino.
125
Com o Iluminismo, a palavra cultura passou a ser relacionada à ideia de
civilização e, consequentemente à noção de progresso, conhecimento acumulado,
refinamento e desenvolvimento dos povos. Esse conceito de cultura recebeu influência
do evolucionismo linear e unilinear de Charles Darwin (1809-1882), o que significa aplicar
às sociedades humanas o mesmo princípio da natureza.
FONTE: <https://miro.medium.com/max/640/1*J8wL7FC5-nddY4HxNbD_MA.png>.
Acesso em: 7 maio 2021.
NOTA
Analise a Figura 1 com o que foi dito até aqui sobre cultura. Você acredita
ser possível pensar na noção de progresso, evolução e civilização dos povos
por um mesmo caminho? O que isso aconteceria com os diferentes grupos
sociais e suas culturas? Pense sobre isso e se possível, converse com alguém
que está estudando esta temática.
126
Por volta do século XX, ocorreram algumas transformações no conceito de
cultura. Ela passa então a ser compreendida como “a teoria das relações entre os
elementos de um sistema geral de vida” (COSTA, 2010). Esta definição tem implicações
na interpretação das grandes e profundas transformações pelas quais a humanidade
tem passado.
Giroux e Simon (2001) apontam que o discurso dominante define baixa cultura
como o que sobra após a subtração da alta cultura na totalidade das práticas culturais. Ela
é vista como banal e insignificante e, geralmente é considerada indigna de legitimação
acadêmica ou alto prestígio social.
Para Veiga Neto (2003) a alta cultura passou a funcionar como um modelo –
como a cultura daqueles homens cultivados que “já tinham chegado lá”, ao contrário
da “baixa cultura” – a cultura daqueles menos cultivados e que, por isso, “ainda não
tinham chegado lá”. De tal diferenciação ocuparam-se muitos pedagogos, uma vez que
a educação foi – e ainda é – vista por muitos como o caminho natural para a “elevação
cultural” de um povo.
127
Apple (1982 apud MOREIRA; SILVA, 2001, p. 72) indica que:
Sim, você já percebeu que o currículo é um campo que tenta impor uma definição
particular de cultura de um determinado grupo, assim como também o conteúdo dessa
cultura. Entretanto, essa forma de conceber o currículo deixa a instituição escolar
relegada a uma parcela muito restrita do conhecimento, permitindo que ela escute uma
só voz e tenha apenas uma forma para olhar e compreender o conhecimento.
GIO
Perceba como é importante pensar na construção do currículo, seus
conhecimentos selecionados e também o currículo oculto que está implícito
na educação escolar. Esse olhar é imprescindível para quem quer ser um
professor que consiga ver e analisar o currículo e a formação como um todo.
FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-V6B-I1OonIE/UUNSIlKHCuI/AAAAAAAAApA/1GiOpVysWS8/
s400/multiculturalismo+%25281%2529.jpg>. Acesso em: 10 maio 2021.
129
É fundamental que percebamos as diferenças e desigualdades não de forma
natural, mas como uma construção histórica possível de ser desestabilizada em sua forma
rígida, para ser transformada em algo que possa ser identificado e reconhecido como base
para a construção de relações interpessoais mais democráticas dentro da escola.
A postura docente deve estar naturalmente voltada para ação reflexiva do sentido
e do significado do que foi oficializado como cultura, valorizando sempre a contribuição
do educando na construção e na produção de novos mundos. E novos saberes culturais
por meio de trocas, de estratégias dialógicas, em que ambas as partes participem como
produtoras e semeadoras de culturas e que possibilite a ampliação de seus horizontes.
Nesta relação, o diálogo das diferenças e dos diferentes se impõe, apesar das dificuldades
envolvidas em sua concretização no cotidiano das experiências educacionais.
130
Desta forma, a cultura expressava uma forma absoluta no processo de conhecer
e pressupunha uma forma de separação, dominação e controle entre os sujeitos,
expectativa que corresponde aos interesses de grupos dominantes em integrar os
grupos subalternizados à sua cultura.
DICA
Acadêmico, você já deve ter lido o livro O Alienista de Machado de Assis,
publicado em 1882. Neste livro, a história contada é do Médico Simão
Bacamarte que começa a analisar os habitantes de uma cidade a partir
da loucura de cada um, percebendo que muito (ou quem sabe todos)
precisariam ser internados. O que podemos relacionar esse conto com
essa limpeza do mundo, ou ainda, com o movimento higienista? Saiba mais
no artigo publicado intitulado O Movimento Higienista: interfaces com a
Educação Física Brasileira a partir do conto “O Alienista” de Machado De Assis.
Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/educereeteducare/
article/view/23269. Acesso em: 10 maio 2021.
Para Veiga Neto (2003) esse idealismo era uma condição necessária para se
acreditar na possibilidade e desejabilidade de uma cultura única e universal. As teorias
tradicionais colocam o currículo num território unitário e incontestado, onde se negam
e silenciam as diferentes culturas e vozes, com vistas a dar continuidade ao processo
cultural de reprodução das relações classistas da sociedade. Neste caminho:
131
O currículo tradicional em sua concepção cultural reflete a epistemologia
da lógica dominante, que determina um currículo claramente eurocêntrico, cristão,
masculino, branco e heterossexual, referendado em interesses hegemônicos e
dominantes que valorizam a racionalidade, a lógica, a ciência, a tecnologia e o
individualismo, em detrimento das ligações pessoais, da interação, da intuição e do
pensamento divergente, das artes e da estética, do comunitarismo e da cooperação
(SILVA, 2007).
DICA
Para saber mais de higienismo, acesse e faça a leitura do texto Relações
entre educação, higienismo, moral e patriotismo, que faz uma compilação
dos discursos pedagógicos na década de 1920 sobre a formação do
cidadão republicano baseado em hábitos civilizados. Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/
view/8640136/7695.
132
as culturas ou vozes dos grupos sociais minoritários e marginalizados
que não dispõem de estruturas de poder costumam ser excluídas das
salas de aula chegando mesmo a ser deformadas ou estereotipadas,
para que dificultem (ou de fato se anulem) suas possibilidades de
reação, de luta e de afirmação de direitos (SANTOMÉ, 1995, p. 161).
Moreira (2002) chama atenção também para o aspecto que nominou como
daltonismo cultural, que se refere à postura docente que desvaloriza o ‘arco-íris’ de
culturas encontradas nas salas de aulas. O professor daltônico cultural é aquele que
não se mostra sensível à heterogeneidade, ao arco-íris de culturas que têm nas mãos
quando trabalha com seus estudantes. Nesta perspectiva:
133
4 CURRÍCULO E CULTURA NA PERSPECTIVA CRÍTICA
Para a perspectiva crítica, a ideia de cultura é inseparável de grupos e de
classes sociais. Para esta corrente, cultura é terreno de excelência onde se dá a luta
pela manutenção ou superação das divisões sociais e o currículo é o espaço privilegiado
de manifestação desses conflitos.
134
GIO
Grande desafio! A escola e a cultura escolar foram e são alvos de críticas.
Mas isso não deve desanimar, ao contrário, deve fortalecer nossas ideias e
ampliar nossos pensamentos. Quanto a nossa vida também agimos assim,
achando que existe uma cultura melhor que a outra, ou ainda, acreditando
que existem verdades únicas?
135
Além disso, a partir das condições históricas e políticas das abordagens
curriculares, que foram persuasivas em determinadas épocas, é possível desocultar as
relações de poder em que o discurso curricular foi moldado.
136
Neste sentido, a função docente está em problematizar os cânones literários,
estando sempre abertos para a leitura da diferença, com o olhar voltado para as tradições
culturais, atos linguísticos, categorizações, sistemas classificatórios, narrativas e imagens,
examinando-as não como textos exóticos ou como um sistema diverso de crenças ou
tradições, mas com as lentes voltadas à compreensão das sutis e evidentes operações
constitutivas de identidade e diferença que regulam a subjetividade do sujeito.
Mas, tem acima de tudo, a preocupação de fazer aparecer o que não estava
ou ainda não tinha um significado, capaz de problematizar as promessas modernas de
liberdade, conscientização, justiça, cidadania e democracia.
6 CURRÍCULO E INTERCULTURALIDADE
Considerando o caráter plural das sociedades ocidentais contemporâneas é
indispensável a elaboração da promoção do caráter intercultural do currículo como
condição inescapável de considerar o novo mundo cultural.
137
DICA
De onde veieram essas influências? Quais são os contextos históricos que
podem ter marcado esse ‘novo mundo cultural’? Que tal ler um pouco sobre
As Configurações do Mundo Contemporâneo? Podemos dizer que houve
acontecimentos que contribuíram para a sociedade apresentar certas
características atuais. Vamos explorar, acadêmico? Disponível em: https://
brasilescola.uol.com.br/geografia/configuracoes-do-mundo-contemporaneo.htm.
138
[...] para resgatar valores culturais ameaçados, visando-se garantir a
pluralidade cultural. Pode-se, ainda, buscar reduzir os preconceitos
e as discriminações (CANEN, 1998). Pode-se, com o auxílio da
educação multicultural, destacar a responsabilidade de todos
no esforço por tornar o mundo menos opressivo e injusto. Como
acentuou Beck (2001, p. 4), não sem certo tom de cinismo, “ajudar os
que foram excluídos não é mais uma tarefa humanitária. É do próprio
interesse do Ocidente: a chave de sua segurança”. Com o apoio da
educação multicultural pode-se, por fim, propiciar a contextualização
e a compreensão do processo de construção das diferenças e das
desigualdades, enfatizando-se que elas não são naturais e que,
portanto, resistências são possíveis. A educação multicultural pode
também ser usada, em outro enfoque, para integrar grupos que
contestem valores e práticas dominantes, celebrar manifestações
culturais dominantes, garantir a homogeneidade e tentar apagar (ou
esmaecer) as diferenças, bem como evitar que a compreensão da
constituição das diferenças questione hierarquias estabelecidas.
FONTE: <https://i1.wp.com/educacaobilingue.com/wp-content/uploads/2010/01/educacao-
indigena.jpg?resize=400%2C320>. Acesso em: 15 maio 2021.
139
Essa questão nos leva a repensar o papel do professor no estabelecimento
do respeito, da ética e na garantia dos direitos sociais, rompendo com a ideia de
homogeneidade que ainda impera em nossos currículos. Nesse sentido, o trabalho
docente deve voltar-se para a compreensão das diferenças de cada grupo social. O
trato desigual das diferenças produz práticas intolerantes, arrogantes e autoritárias que
contribuem para o processo de exclusão.
Nesse sentido, conforme afirma Paulo Freire (1979 apud BARBOSA 2011, p. 60),
“a educação precisa se afastar de um modelo manipulador e massificador das culturas”,
que é incompatível com uma educação autêntica.
DICA
Para saber mais sobre a Lei Federal n° 10.639/2003, legislações posteriores
e a BNCC, leia o texto A Base Nacional Comum Curricular e a aplicação da
política de Educação para Educação das Relações Étnico-Raciais do Técnico em
Assuntos Educacionais CGERER/SECADI/MEC, John Land Carth. Sobre a BNCC,
ainda falaremos mais detalhadamente na Unidade 3. Disponível em: http://
etnicoracial.mec.gov.br/images/pdf/artigos/A-BNCC2018-e-a-ERER.pdf.
140
DICA
Acadêmico! Sugerimos que você faça a leitura da publicação eletrônica Escola
baiana cultiva tradições e a autoafirmação dos alunos, no Portal do Professor
(MEC), para conhecer uma escola indígena que valoriza seus conhecimentos
no currículo escolar. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/
conteudoJornal.html?idConteudo=2079.
141
LEITURA
COMPLEMENTAR
A entrevista aqui descrita é da professora Rita Potiguara ao Jornal do Professor
– Edição 65 –, sobre o estudo da história e da cultura afro-brasileira e indígena em todas
as escolas de educação básica (Lei n° 11.645/2008), que ainda é uma realidade em
construção. A mesma autora diz que os sistemas de ensino deverão promover cursos
de formação inicial e continuada para os professores, bem como oferecer suportes
didáticos e pedagógicos para trabalhar esta temática.
[...]
142
escolares da educação básica, pouco efetivamente se tem avançado neste campo.
É sabido que a inclusão da temática indígena nas escolas não indígenas favoreceria,
dentre outras coisas, a diminuição do preconceito corrente contra os grupos indígenas
e seus direitos socioculturais.
Nas escolas indígenas, a língua portuguesa pode figurar como a primeira ou a segunda
língua, em grupos bilíngues ou multilíngues. Há ainda os casos em que o português é a
única língua falada pelo grupo. Assim, a importância do seu ensino assume significados
diferentes em contextos particulares.
O ensino da língua indígena nas escolas diferenciadas deve ter a mesma importância
que o português, tendo em vista a sua condição de expressão privilegiada de referências
identitárias. Com isso quero chamar a atenção para o fato de que as línguas indígenas
não devem se limitar a formas de expressão oral, servindo também de suporte para o
registro escrito de conhecimentos comunitários e escolares.
Já nas escolas não indígenas que possuam estudantes índios, o que se espera é
que a comunidade escolar como um todo respeite e valorize a língua falada por estes
estudantes. Além disso, dada a diversidade sociolinguística existente em nosso país,
havendo atualmente mais de 180 línguas indígenas faladas, é preciso promover o
conhecimento desta diversidade por meio de pesquisas nas escolas.
143
JP – O aluno indígena deve ter uma didática e pedagogia diferenciadas?
RP – Como tenho chamado a atenção é preciso considerar as especificidades de cada
caso. Há os alunos indígenas nas escolas de suas comunidades que fazem parte de
um projeto pedagógico diferenciado que trabalha as questões de interculturalidade, do
bilinguismo, da diferenciação e da especificidade da história e cultura de seu grupo de
pertencimento. Dentre outras questões, é por causa disso que, nas escolas indígenas, há
a necessidade dos professores serem indígenas, desenvolvendo pedagogias e didáticas
apropriadas aos contextos comunitários em que se situam as escolas.
Por outro lado, as escolas não indígenas, na construção de suas práticas pedagógicas
e didáticas, deveriam considerar os diferentes estudantes que se fazem presentes na
escola, tendo em vista as várias histórias de vida, valores, aprendizados. Vale lembrar,
neste sentido, que a perspectiva homogeneizante da educação escolar tem provocado
efeitos perversos na tentativa de tornar todos os estudantes iguais.
JP – Como o professor que tem apenas poucos alunos na turma deve trabalhar
as questões da cultura indígena?
RP – É sabido que a questão da cultura indígena não deve ser limitada aos contextos
escolares dos índios. Aí reside a importância da Lei n° 11.645, de 2008, que estabelece a
necessidade para todas as escolas de educação básica, independentemente de serem
indígenas ou não, de se ensinar a história e cultura indígenas para não indígenas. A
partir daí, os sistemas de ensino, deverão promover cursos de formação inicial e
continuada para os professores, bem como: oferecer suportes didáticos e pedagógicos
para trabalhar esta temática, utilizando vídeos, livros, brinquedos, jogos, softwares etc.
144
No caso dos professores não indígenas e que atuam em escolas não indígenas, os
sistemas de ensino deveriam se responsabilizar pela formação adequada destes
profissionais, inserindo, nos cursos de formação, conteúdos relativos à temática
indígena. Além disso, também é importante que o professor procure conhecer mais o
assunto, pesquisando e se instrumentalizando para lidar com esta temática.
A partir destes marcos legais surgiram várias conquistas no âmbito das políticas
públicas educacionais brasileiras, como a oferta dos cursos de formação de professores
indígenas pelos sistemas de ensino, a construção de escolas e mais recentemente,
dentre outras conquistas, a instituição dos territórios etnoeducacionais como um novo
modelo de gestão para essa modalidade de educação.
Mas, apesar de no campo das leis e das políticas públicas haver conquistas, o
ordenamento jurídico próprio das escolas indígenas nem sempre é respeitado. Uma
questão na qual ainda se tem pouco avançado está ligada à diversidade linguística
dos povos indígenas. O Estado brasileiro ainda não conseguiu construir uma política
sociolinguística que reconheça e valorize tal diversidade. Além disso, grande parte dos
professores indígenas trabalha de forma precária, pelo não reconhecimento da categoria
professor indígena nos quadros do magistério público.
145
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O mais antigo dos significados da palavra cultura data do século XV e estava associado
ao cultivo da terra, plantações e animais. Já no século XVI o significado da palavra
permeava a ideia de mente humana cultivada, em que apenas alguns indivíduos ou
classes sociais tinham este privilégio.
• O século XVII acabou então por consolidar esse caráter classista de cultura,
reafirmando a ideia de que somente as classes privilegiadas da sociedade europeia
podiam atingir o nível de refinamento que as caracterizariam como cultos.
146
• A concepção tradicional atribui um sentido à cultura curricular centrada em uma
estrutura, de acordo com as características dominantes e definem uma única ideia
para o conceito de religião, masculino, feminino, branco, negro etc.
147
AUTOATIVIDADE
1 Já percebemos que as sociedades ocidentais contemporâneas são plurais. Diante
disso, considerar a elaboração de um currículo intercultural é pertinente para
considerar essas características diversas, respeitando as diferenças e os diferentes.
Leia as afirmativas:
148
FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=fUsO4A8z4Vg>. Acesso em: 27 jul. 2021.
149
5 (Questão 243669 SEE SP, CETRO, 2010) Para Candau (2002), vem crescendo a
consciência da positividade do caráter multicultural de cada país do continente latino-
americano. Daí decorre a importância da educação intercultural para a afirmação de
sociedades democráticas e igualitárias. Todavia, a perspectiva de interculturalidade
apresenta uma grande complexidade, não pode ser trivializada. Nessa direção, a
autora defende que esse processo é:
150
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
1 INTRODUÇÃO
Você consegue identificar como estavam organizados os componentes
curriculares da escola em que você estudou? Ou da escola onde você trabalha? Existe
diferença entre os termos saber e conhecimento? Estudamos no Tópico 1 várias teorias
e tendências com base no contexto histórico, social e econômico. Agora é o momento
de falar da organização curricular e a influência de todo contexto histórico. Também
existem ênfases e interesses em determinados conhecimentos. No currículo escolar os
diversos compartimentos também nos mostram raízes históricas.
151
FIGURA 4 – OBRA O CONTADOR ANTROPOMÓRFICO DE SALVADOR DALI (1936) – PROVOCAÇÃO
INICIAL PARA PENSAR O CURRÍCULO ESCOLAR
IMPORTANTE
Acadêmico, você já ouviu falar sobre Maio de 68? Esse movimento foi realizado
em Paris em 1968 mobilizado pelos jovens e todo movimento estudantil. Seu
mote eram demandas estudantis e discussões sociais que questionavam
as estruturas sociais e exigiam liberdade individual. Palavras de ordem do
movimento eram resistência e revolução. Será que ainda vimos algum resquício
desse movimento em nossa sociedade? Saiba mais sobre esse movimento na
matéria Maio de 1968: você sabe o que foi esse movimento social? Acesse:
https://www.politize.com.br/maio-de-1968/.
152
Para Fazenda (2001), a interdisciplinaridade passa a existir como oposição a
todo conhecimento que privilegiava o capitalismo epistemológico de certas ciências,
como oposição à alienação da academia e as verdades únicas.
A discussão gerou em torno de qual seria a grafia correta. Além de não se chegar
a um consenso de como seria sua tradução, não se chegava também a um acordo sobre
qual o significado do termo.
GIO
Será que esse termo está claro para nós atualmente? Depois de tantas
discussões, será que as escolas já ensaiam algum caminho interdisciplinar
em suas organizações escolares? Pense e pesquise sobre isso!
153
A interdisciplinaridade “deriva da palavra primitiva disciplinar (que diz respeito à
disciplina), por prefixação (inter - ação recíproca, comum) e sufixação (dade - qualidade,
estado ou resultado da ação)" (ANDRADE, 2012).
FONTE: <https://organizacaocurricularept.files.wordpress.com/2010/11/inter1.
jpg?w=480&h=394>. Acesso em: 16 maio 2021.
Zabala (1998, p .143) diz que “interdisciplinaridade é a interação entre duas ou mais
disciplinas, que podem ir desde uma simples comunicação de ideias até a integração
recíproca dos conceitos fundamentais e da teoria do conhecimento, da metodologia e
dos dados da pesquisa”.
154
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (documento anterior da BNCC) indicaram
que a interdisciplinaridade:
Neste mesmo caminho, a BNCC indica como uma ação da escola “decidir sobre
formas de organização interdisciplinar dos componentes curriculares” (BRASIL, 2018,
p. 16). Essa ação fortalece o trabalho pedagógico e possibilita adotar estratégias mais
dinâmicas, interativas e colaborativas no ensino e ba aprendizagem (BRASIL, 2018).
Cordiolli (2002, p. 19) nos diz que “o professor que atua numa perspectiva
interdisciplinar é aquele que domina o conteúdo de sua área e recorre a outras disciplinas
para explorar plenamente os temas de que está tratando”. Vejamos o seguinte exemplo
ilustrado pelo mesmo autor:
155
Outros autores nos ajudam a compreender esse termo (GALLO, 2011, p. 41):
DICA
Caro acadêmico! Para ampliar os seus conhecimentos acerca deste conteúdo, é importante
fazer a leitura do livro Práticas interdisciplinares na escola.
FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/41mTa7LjpXL._
SX336_BO1,204,203,200_.jpg>. Acesso em: 13 jul. 2021.
156
3 CONCEPÇÕES MULTIDISCIPLINARES DE CURRÍCULO
Conforme Japiassu (1976), a multidisciplinaridade seria o primeiro nível de
integração entre as disciplinas. Embora neste nível possa haver um trabalho em torno
de um tema comum, este é ainda muito fragmentado e individual, não havendo nem
relação, nem cooperação entre as disciplinas envolvidas, apenas uma discussão em
torno de um tema comum a todas elas.
FONTE: <https://organizacaocurricularept.files.wordpress.com/2010/11/multi.
jpg?w=480&h=215>. Acesso em: 16 maio 2021.
157
4 CONCEPÇÕES TRANSDISCIPLINARES DE CURRÍCULO
A transdisciplinaridade estabelece uma abordagem mais complexa, em que
a divisão por disciplinas, deixa de existir, promovendo as relações que devem existir
entre as disciplinas. A palavra transdisciplinaridade foi usada pela primeira vez por Jean
Piaget na década de 1970.
Ou ainda segundo Nicolescu (1999, p. 53) “[...] o prefixo ´trans´ indica, [...] àquilo
que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além
de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do mundo presente [...]”.
FONTE: <https://organizacaocurricularept.files.wordpress.com/2010/11/trans.
jpg?w=480&h=337>. Acesso em: 16 maio 2021.
158
INTERESSANTE
Acadêmico! Fique sabendo que, no ano de 1994, foi realizado o 1° Congresso
Mundial de Transdisciplinaridade, em Portugal. Nesse Congresso, foi elaborada
e adotada a Carta da Transdisciplinaridade. Para conhecer o conteúdo desse
documento e seus principais argumentos, acesse: http://www.gthidro.ufsc.br/
arquivos/CARTA-DA-TRANSDISCIPLINARIDADE.pdf.
FONTE: <https://organizacaocurricularept.files.wordpress.com/2010/11/pluri.
jpg?w=768&h=299>. Acesso em: 17 maio 2021.
159
6 CURRÍCULO: O SABER E O CONHECIMENTO
Vimos as formas de organização curricular e suas principais diferenças. Mas
e os termos “saber e conhecimento” como tem sido empregados nestes contextos?
Muitas vezes, têm sido usados como sinônimos. No entanto, são diferentes, “pois, não
basta saber, é preciso saber fazer”. O saber fazer pode, assim, ser indicado como a
síntese do conhecimento.
160
Aprender a fazer significa, sem dúvida, a aquisição de uma profissão e dos
conhecimentos e práticas que lhe estão associados. A aquisição de uma profissão
passa necessariamente por uma especialização. Não se pode fazer uma operação de
coração aberto se não se aprendeu cirurgia; não se pode resolver uma equação de
terceiro grau se não se aprendeu matemática; não se pode ser diretor de teatro sem
conhecer as técnicas teatrais. [...]
FONTE: <https://inovareducacaodeexcelencia.com/image/catalog/BLOG/cristofani-os-quatro-
pilares-da-educacao.png>. Acesso em: 19 maio 2021.
161
O saber, como o próprio nome já traduz, significa fragmentos ou dados que
precisam ser analisados em seus mínimos detalhes, bem como, as suas características
históricas e sua veracidade. Só assim, poderemos ter conhecimento, conectado com a
realidade existente. De acordo com Cordiolli (2002, p. 16):
Segundo Paulo Freire, citado por Scocuglia (2011, p. 104), “o homem é um ser
de relações, que estando no mundo é capaz de ir além, de projetar-se, de discernir, de
conhecer [...] e de perceber a dimensão temporal da existência como ser histórico e
criador de cultura”.
162
Ao considerar os saberes populares, é possível perceber que é uma fonte de
conhecimentos práticos. O currículo escolar precisa preocupar-se com os saberes
presentes no contexto em que a escola está inserida. Nesse sentido, a partir de
uma atitude reflexiva é possível conceber um currículo, tendo como ponto de
partida os saberes populares, pois o conhecimento dos diversos saberes gera novos
conhecimentos, que por sua vez irão gerar novos saberes numa relação dialética.
Considerando estes aspectos que permeiam o processo educacional será possível gerar
novos conhecimentos.
De acordo com Tomelin e Tomelin (2007, p. 13), “o termo sensação pode ser
compreendido como a capacidade de captar, mediante os sentidos, a realidade que nos
cerca”. Do conhecimento gerado, a partir da percepção surge o saber, que é o conjunto
de informações obtidas no processo de interpretar e dar sentido a cada sensação
experimentada.
163
Os novos conhecimentos são construídos, a partir dos saberes já instituídos.
Pensando na escola, a pesquisa é uma ferramenta que possibilita conhecer a origem
dos saberes e problematizá-los, a fim de buscar as respostas para as mais diferentes
indagações humanas. Por este motivo, torna-se necessário um currículo cujos saberes
sejam significativos para o aprendiz, pois, do contrário, a insignificância dos conteúdos
pode gerar desinteresse por parte daqueles que deveriam ser os maiores interessados
em conhecer e construir novos saberes.
DICA
Acadêmico, A discussão parece longa, não é? Mas no seu cotidiano e prática
docente você pode perceber ainda mais sobre o conhecimento e o saber.
Que tal assistir aos episódios de Donald no País da Matemágica e o Número
de Ouro, para fazer essa relação? Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=g8oqgrVhA_8.
Os problemas locais e globais que nossos estudantes vivenciam devem ser o ponto
de partida e de chegada para a tomada de decisão sobre o que é importante que ser abordado
no processo de ensino aprendizagem, em que “Ao enfatizar determinados conhecimentos,
possibilita-se aprender outros conhecimentos e quais os métodos de investigação próprios
de cada campo da ciência, o que assegurará aos alunos poder continuar aprendendo”
(MONTYSUMA, 2005, p. 22).
DICA
Caro acadêmico! Sugerimos que você faça a leitura da publicação eletrônica
da Série Salto para o futuro, Currículo: conhecimento e cultura. Nesta publicação
do MEC estão disponíveis três artigos que discutem sobre a seleção dos
conhecimentos escolares, a organização do currículo, que estudamos neste
tópico, e os tempos e espaços do currículo. Amplie seus conhecimentos e faça
outras leituras. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/
materiais/0000012193.pdf.
164
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Saber pode ou não estar ligado a um fato, a uma realidade existente ou que de fato
existiu. O saber é a soma de conhecimentos adquiridos.
165
AUTOATIVIDADE
1 Defina, com suas palavras, o que é disciplinaridade, interdisciplinaridade,
multidisciplinaridade e transdisciplinaridade.
1 Conhecimento
2 Saber
166
Considerando as implicações da educação transdisciplinar na organização do trabalho
pedagógico, assinale a opção CORRETA.
5 (2020 Banca: IBADE Órgão: Prefeitura de Linhares – ES) Um dos caminhos que
trazem melhores resultados para fazer a relação entre as disciplinas é se basear em
uma situação real. Os transportes ou as condições sanitárias do bairro, por exemplo,
são temas que rendem desdobramentos em várias áreas do conhecimento.
167
168
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
CURRÍCULO, EDUCAÇÃO, ENSINO E
TREINAMENTO: APROXIMAÇÕES E
DISTANCIAMENTOS NA PRÁTICA EDUCATIVA
1 INTRODUÇÃO
Dedicamos este tópico para uma discussão específica de determinadas
palavras, que amplie nosso olhar nos momentos de nossa prática pedagógica e para
que possamos sempre refletir quando formos desenvolver uma fundamentação teórica.
169
FIGURA 10 – POEMA PONTINHO DE VISTA
FONTE: <https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.
com/6pesSHjpVhpAMekMbrYgh8QA6BjEwT7Pj2q5q3C4QKtMmcAKxdargzMMTPWa/
contextualizacao>. Acesso em: 22 maio 2021.
Vamos começar pela palavra “educação”. Ela vem do latim educare, no grego
paidós, que significa criança e agogós, que conduz. Ou seja, é a condução das crianças.
Essa condução não pode ser vista como um processo neutro, pois já sabemos que é um
processo humano, social e político.
170
NOTA
Outra definição encontrada no dicionário nos indica que: Ensino – 1
Ação ou efeito de ensinar; ensinamento. 2 Forma sistemática de transmitir
conhecimentos, geralmente em escolas. 3 Método usado para transmissão
de conhecimento. 4 Boas maneiras; civilidade, educação, polidez. E
Educação – 1 Ato ou processo de educar(-se). 2 Processo que visa ao
desenvolvimento físico, intelectual e moral do ser humano, através da
aplicação de métodos próprios, com o intuito de assegurar-lhe a integração
social e a formação da cidadania.
Sob este prisma, Paulo Freire em seu livro “Pedagogia do Oprimido” nos mostra:
171
a educação atua sobre a vida e o crescimento de uma sociedade,
tanto no desenvolvimento de suas forças produtivas quanto de
seus valores culturais”. Já ensino “constitui-se num caminho para
se adquirir conhecimento, de forma organizada, intencionada por
alguém (BARALDI, 1999, p. 40).
Assim, podemos notar que a discussão sobre esses termos, ainda permanece
atual. Mckernan (2009), no livro “Currículo e imaginação”, nos apresenta a diferenciação
dos termos: educação, instrução e treinamento.
A partir das ideias de Peters, em seu trabalho Ethics and education no ano de
1966, a educação implica a transmissão daquilo que vale a pena, ou seja, dos processos
de pensamento e atividades cognitivas que não são inertes. Já instrução procura
comunicar informações no modelo bancário, alguém deposita e alguém apenas recebe.
O treinamento, assim como a instrução, não é equivalente à educação. Treinamento
está relacionado com a intensificação das habilidades e competências mecanizadas.
Deste modo, há uma grande diferença, não apenas quantitativa, entre ensinar
e instruir na educação escolar. Podemos instruir, mas não ensinar um cachorro a agir
de determinada maneira quando uma pessoa se aproxima de minha casa, por exemplo.
Há nesta relação uma desigual troca de sinais, de estímulos, de ordens e de vantagens
entre modos também desiguais de consciências.
Ainda nesta perspectiva, Keim (2011) nos apresenta esses três termos da na
imagem a seguir, a partir dos conceitos de Freire, de uma Escola Bancária e uma Escola
Freireana (emancipadora).
172
FIGURA 11 – EDUCAÇÃO, ENSINO E TREINAMENTO
FONTE: <https://metodoss.com/wp-content/uploads/M%C3%A9todo-Dial%C3%A9ctico.jpg>.
Acesso em: 22 maio 2021.
173
Já a Educação Bancária tem como princípio a domesticação e alienação dos
sujeitos, culminando em uma educação que deposita os conteúdos sem que haja
reflexão, somente memorização, como um arquivo humano. Freire (1987, p. 68) diz
que a educação bancária “se torna um ato de depositar, em que os educandos são
depositários e o educador o depositante [...]. Na visão “bancária” da educação, o ‘saber’
é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber”.
FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-ZA8cM6ZMpCA/WusrxyP08vI/AAAAAAAAAPM/
mAbmJ1Gonh02oIe-jQvoFgNMm0js5eCugCLcBGAs/s200/esc%2Btradicional.png>.
Acesso em: 22 maio 2021.
174
DICA
Vamos conhecer mais? Faça a leitura dos livros Pedagogia do oprimido e Educação e mudança,
de Paulo Freire. Essas leituras farão você ampliar o seu conhecimento sobre educação e
formação humana.
FONTE: <https://www.amazon.com.br/Pedagogia-esperança-reencontro-
pedagogia-oprimido-ebook/dp/B00HPZWD8U>. Acesso em: 22 maio 2021.
175
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Para uma educação escolar com foco na vida, na mudança e nos conhecimentos, torna-
se necessário que se considere a realidade e a busca melhorias em nossa sociedade.
176
AUTOATIVIDADE
1 Com os estudos deste tópico, percebemos que há diferenças entre Educação e Ensino.
O modo como percebemos cada uma delas influencia no nosso modo de atuar na
escolarização e está imbricado em nossas práticas pedagógicas. Para exercitar,
escreva sobre Educação e Ensino, trazendo algumas características relevantes e, ao
final, traga ou represente com um desenho cada conceito.
1- Educação
2- Ensino
3- Treinamento
177
4 (2020 COTEC Prefeitura de São Francisco – MG) Freire (1996), em seu livro “Pedagogia
da Autonomia”, afirma que pensar coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola,
o dever de não só respeitar os saberes dos educandos, sobretudo os das classes
populares, mas também o de discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses
saberes em relação ao ensino dos conteúdos. Sobre essa exigência, é CORRETO
afirmar que:
5 (Adaptado – 2020 GUALIMP Prefeitura de Areal – RJ) A educação para Freire, segundo
afirma Zitkoski (2006, 28), “[…] Deve ser trabalhada, intencionalmente, para humanizar
o mundo por meio de:
178
UNIDADE 2 TÓPICO 4 -
CURRÍCULO E AVALIAÇÃO:
SUAS TEORIAS, RELAÇÕES E O
DESENVOLVIMENTO ESCOLAR
1 INTRODUÇÃO
A avaliação faz parte da constituição do currículo e, muitas vezes, pode ser
legitimadora do fracasso escolar, ocupando papel central nas relações escolares. Ela é
parte do processo ensino-aprendizagem e, segundo Perrenoud (1999), é um processo
mediador na construção do currículo. Ou ainda, conforme Sacristán (2000, p. 311), a
avaliação “atua como uma pressão modeladora da prática curricular, ligada a outros
agentes, como a política curricular, o tipo de tarefas nas quais se expressa o currículo e
o professorado escolhendo conteúdos ou planejando atividades”.
179
FIGURA 14 – AVALIAÇÃO QUALITATIVA
FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/e/jogos_matematicos.jpg>.
Acesso em: 22 maio 2021.
180
relações cooperativas e compartilhadas. Percebeu como a avaliação não é apenas
o instrumento de mensuração, mas está atrelado ao modo como entendemos o
currículo? Relembre os conhecimentos que adquirimos na Unidade I.
3 CURRÍCULO E AVALIAÇÃO
Você já se perguntou para que serve a avaliação dentro da instituição escolar? Pois
saiba que existem três principais tipos de avaliação dentro dessa instituição, que são:
Esta avaliação necessita de um ‘fio condutor’ que sirva de base para definir seus
objetivos, planejamentos e métodos utilizados. Sua referência será o Projeto Político
Pedagógico que é um mecanismo de acompanhamento para a implantação, viabilização
e correção dos rumos de uma instituição educativa.
Em 1995, o Brasil optou por um sistema de testagem por meio da Lei n° 9.131/95,
que afirma que o então Ministério da Educação e do Desporto deverá realizar exames
de avaliação dos conhecimentos adquiridos pelos estudantes das últimas séries dos
cursos de graduação das instituições de Ensino Superior, firmando assim, a avaliação
do sistema escolar.
181
IMPORTANTE
Você já deve ter ouvido falar em algumas dessas provas nacionais. Agora já
sabe para que elas servem, apesar de cada uma ter funções diferenciadas.
O IDEB, Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, indica resultados do
desempenho dos estudantes em língua portuguesa e matemática. O SAEB,
Sistema de Avaliação da Educação Básica, mede rendimento e gestão escolar.
Ainda existe a Prova Brasil, aplicada aos estudantes de 5° e 9° anos do ensino
fundamental público. E a Provinha Brasil, uma avaliação diagnóstica do nível
de alfabetização. Quer saber mais? Explore o conteúdo completo: Disponível
em: http://portal.mec.gov.br/proinfancia/190-secretarias-112877938/setec-
1749372213/18843-avaliacoes-da-aprendizagem.
Nosso foco será a avaliação da aprendizagem que tem dois grandes objetivos:
auxiliar o estudante no seu desenvolvimento pessoal, no seu processo de compreensão
dos conhecimentos escolares e contribuindo para a construção de seu processo de
crescimento enquanto sujeito e cidadão; e responder à sociedade pela qualidade do
trabalho educativo realizado.
182
FIGURA 15 – PROCESSO DE AVALIAÇÃO
FONTE: <https://educacao.estadao.com.br/blogs/vital-brazil/wp-content/uploads/
sites/309/2017/11/avaliar-ensino-aprendizagem-vital.jpg>. Acesso em: 22 maio 2021.
Por exemplo, aquele professor que trabalha com métodos reflexivos e analíticos,
pode assentar sua avaliação nesse sentido, cobrando em suas avaliações respostas de
caráter qualitativo e reflexivo.
183
DICA
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR, CIPRIANO CARLOS LUCKESI
FONTE: <https://d1pkzhm5uq4mnt.cloudfront.net/imagens/capas/_
d2f523c7eeb92270673c4b948a737c8a42d01cea.jpg>. Acesso em: 13 jul. 2021.
Caro acadêmico! Queremos destacar que toda avaliação deve ser realizada
com ética. A prática de avaliar deve partir de critérios muito claros do que se quer
avaliar, pois um instrumento mal elaborado pode causar distorções na avaliação e suas
consequências podem ter implicações na aprovação e reprovação dos estudantes. As
informações obtidas na avaliação não podem ser usadas com outro objetivo, que não
seja o de contribuir para a aprendizagem do estudante.
184
Apresentamos a seguir um quadro com exemplos de critérios avaliativos:
No entanto, é preciso ficar claro que a avaliação não pode expor os estudantes
a situações constrangedoras. É importante entendermos que não estamos avaliando
nossos estudantes, mas as aprendizagens que eles realizam.
185
O professor que faz uso da avaliação como uma prática de ações punitivas.
Como por exemplo, tirando pontos do aluno por conta de sua indisciplina em sala de
aula. A função classificatória da avaliação predomina quando a única preocupação do
professor está em atribuir ao estudante uma classificação, através de notas ou conceitos.
Uma cultura meritocrática, ainda muito presente nas relações sociais, tende a
naturalizar o uso das notas com fins classificatórios e excludentes, onde os melhores
poderão seguir em frente e os piores voltarão para o início da fila.
186
Para Tardif (2002), grande parte da subjetividade do professor é formada pelas
experiências que ele obteve enquanto estudante, o que faz da avaliação uma experiência
muito marcante em sua trajetória acadêmica. Hoffmann (2009) aponta como necessária
a tomada de consciência dessas influências para que a prática avaliativa não reproduza,
inconscientemente, a arbitrariedade e o autoritarismo, para assim desvelar contradições
e equívocos teóricos dessa prática.
Para Luckesi (2005), avaliação é um constante olhar crítico sobre o que se está
fazendo, olhar que possibilita a tomada de decisões sobre como melhorar a construção
do projeto no qual estamos trabalhando.
187
Esse modelo nasceu da estratificação da revolução francesa. Após a Revolução
Francesa, a burguesia tornou-se reacionária e conservadora, para garantir e aprofundar
seus benefícios econômicos e sociais adquiridos.
FONTE: <https://1.bp.blogspot.com/-axS0f3azMno/TrSsQY_NudI/AAAAAAAAADQ/vGp8zAu_
EwA/s1600/tonucci.2jpg.jpg>. Acesso em: 22 maio 2021.
189
Em Atenas, Sócrates submetia seus alunos a um exaustivo e preciso inquérito
oral. Suas arguições tinham como objetivo o “Conhece-te a ti mesmo”. Neste caso, a
autoavaliação era um pressuposto básico para o encontro com a verdade. Seu método
pedagógico era conhecido como Maiêutica, que pôs em evidência o processo da
conceituação.
NOTA
A avaliação era considerada um fim em si mesma e a supervalorização
do individual sem quaisquer vínculo com valores transcendentais. Este
humanismo viria mais tarde imprimir no pensamento moderno um caráter
predominantemente naturalista.
190
O primeiro diz respeito aos testes psicológicos, com base nos estudos
de Sperman (1904, 1907, 1913) sobre a Psicometria, e de Binet e Simon
(1905), que criaram o primeiro teste de inteligência para crianças e
adultos. Essa possibilidade de mensuração de comportamentos por
meio de testes propiciou a expansão de uma cultura dos testes e
medidas na educação (CHUEIRI, 2008, p. 55).
Veja como Silva (1998) baseada nos estudos de Kilpatrick (ICMI Study –
International Commission on Mathemathical Instruction, Dordrecht/Boston/ London:
Kluwer Academic Publishers, 1993) explica o modelo de avaliação criado por Tyler, no
qual o professor:
Ficou claro então, que o modelo proposto por Tyler propunha um sistema de
avaliação por objetivos, cujo procedimento permitia ainda verificar se os objetivos
educacionais estavam sendo atingidos pelo programa de ensino. Sua finalidade era
fornecer informações sobre o desempenho dos alunos frente aos objetivos esperados,
que expressavam as mudanças desejáveis nos padrões de comportamento.
191
Segundo Silva (1998), Kilpatrick aponta que o passo seguinte em direção à
avaliação no contexto estadunidense foi dado por Benjamin Bloom e seus colegas,
Krathwohl e Harrow, que organizaram os objetivos em uma taxonomia dedicada a
Tyler, que refletia a preocupação dos professores em serem lógicos e internamente
consistentes. Além de refletirem a preocupação de serem, ao mesmo tempo, neutros
e compreensivos.
FONTE: <http://missglauedu.weebly.com/uploads/1/0/0/8/10089790/8704175_orig.png>.
Acesso em: 22 maio 2021.
192
Com essas discussões, a adoção do sistema de provas começa a florescer
dentro e fora das escolas e universidades. Educadores evidenciam a preocupação com
a confiabilidade e a objetividade das avaliações. Surge então a ciência da mensuração
educacional em busca de um “novo tipo” mais objetivo, de avaliação, diferente dos
ensaios da época.
Segundo Hoffmann (2009), essa proposta passou a ser referencial básico para
Formação de Professores no Brasil e ainda pode ser constatada na ação de escolas e
universidades, assim como em documentos de órgãos oficiais da educação.
DICA
Como todo estudo e elaboração do conhecimento, a taxonomia de Bloom também foi
atualizada e ampliada, para conceitos que fazem mais sentido nos últimos tempos que
vivemos. Veja a seguir um quadro comparativo que demonstra essa mudança:
FONTE: <http://missglauedu.weebly.com/
uploads/1/0/0/8/10089790/7962888_orig.jpg>. Acesso em: 22 maio 2021.
193
Mesmo com atualizações e novas discussões da avaliação, ainda encontramos
em nossas escolas uma avaliação, cujos objetivos são estabelecidos pelo professor,
geralmente a respeito do conteúdo programático, no qual a verificação do processo de
aprendizagem se dá por meio de testes para o alcance desses objetivos.
194
A opção pela avaliação formativa e diagnóstica favorece aos processos de
autonomia na aprendizagem do estudante, numa perspectiva de interação e de diálogo,
responsabilizando-o também por seus processos de aprendizagens. Neste caso, é
necessário que o estudante conheça os conteúdos que aprenderá, os objetivos que
alcançará, bem como, os critérios que serão utilizados para verificar e analisar seus
avanços de aprendizagens.
Essa concepção acredita que todos são capazes de aprender, na qual o estudante
é sujeito de seu próprio desenvolvimento, inserido no contexto de sua realidade social e
política. Essa concepção, entretanto precisa estar legitimada e referenciada no Projeto
Político Pedagógico.
195
FIGURA 17 – AVALIAÇÃO NA PERSPECTIVA LIBERTADORA
196
GIO
Muito interessante! Tente acompanhar o olhar de uma criança que você
conhece, por onde passa. Ou ainda, peça para ela fotografar algo no
ambiente, ou mesmo, em sua sala de aula peça aos estudantes fotografarem
algo pela escola. Com certeza, terá situações inusitadas que nos passam
desapercebidos durante a rotina escolar.
DICA
Que tal assistir a um filme com seus colegas de classe e porque não com seus
estudantes sobre o olhar? Conheça o documentário brasileiro Janela da Alma,
produzido em 2001 pela direção de João Jardim e Walter Carvalho.
DICA
A governamentalidade é um conceito que o autor Foucault trabalhou por
muito tempo e cuidado. Para saber mais, leia sobre obras do autor e sobre
o termo para conhecer a linha de pensamento de Foucault. Segue a dica de
leitura do artigo O conceito de governamentalidade em Michel Foucault que
explana sobre o conceito e onde encontrar nas obras do autor. Disponível
em: https://revistas.ufrj.br/index.php/Itaca/article/view/26395/18009.
198
DICA
Caro acadêmico! Agora que já vimos questões conceituais sobre avaliação, convidamos
você a pensar no nível de autonomia que nós, enquanto professores e/ou futuros
professores, temos a respeito dos objetivos e práticas avaliativas. Em que medida a seleção
dos conteúdos em programas e currículos de nível nacional determinam comportamentos
e marcam uma linha determinando um rumo aos professores? Qual nosso grau de
autonomia? É uma pergunta sem resposta, mas que você deve fazer cotidianamente em
sua prática docente. Uma sugestão é assistir ao vídeo Avaliação da aprendizagem com a
BNCC. Neste vídeo, a entrevistada Simone Andre apresenta a avaliação da aprendizagem
em currículos por competências e as mudanças da avaliação a partir nas orientações da
BNCC. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=MXtTXsXndmA.
Você já ouviu algumas vezes sobre a BNCC. Não se preocupe. Esse documento será um dos
focos da próxima unidade.
O PROCESSO DE AVALIAR
FONTE: <https://petpedufba.files.wordpress.com/2013/03/2f2a8-avaliacao.
gif?w=640>. Acesso em: 23 maio 2021.
199
Muitas vezes é importante utilizar mais de um instrumento avaliativo para uma
mesma habilidade a ser desenvolvida, para respeitar e reconhecer as diversidades de
aprendizagem.
FONTE: As autoras
DICA
Quer conhecer mais estratégias de avaliação diagnóstica e formativa para a
prática docente? Acesse o Guia da ação avaliativa, e leia mais sobre avaliação
formativa, a relação com A BNCC e instrumentos avaliativos. Disponível em:
https://movimentopelabase.org.br/wp-content/uploads/2021/02/guia-da-
av-interativo.pdf.
200
7 PORTFÓLIO
O portfólio é um procedimento da avaliação formativa que torna explícita a
articulação entre currículo, avaliação e trabalho pedagógico.
Quando usamos a palavra portfólio nos referimos a uma coleção especial dos
melhores trabalhos, selecionada e organizada pelos próprios estudantes, das melhores
evidências de sua aprendizagem.
201
DICA
Você poderá conhecer melhor esse instrumento através da leitura do livro
Portfólio, Avaliação e Trabalho Pedagógico, de Benigna Maria de Freitas Villas
Boas. O portfólio é um dos procedimentos condizentes com a avaliação
formativa. Diferentemente de outros métodos de avaliação, ele é construído
pelo próprio aluno, observando os princípios de reflexão, criatividade,
parceria e autonomia. Disponível em: https://www.amazon.com.br/dp/
B07L9FMH92/ref=dp-kindle-redirect?_encoding=UTF8&btkr=1.
A palavra portfólio tem seu significado material como uma pasta grande e fina.
Nela, os artistas em geral apresentam suas principais produções, para demosntrar
sua qualidade e a abrangência do seu trabalho, prêmios etc. É com este material
que especialistas e professores podem conhecer a ‘caminhada’ de alguém (VILLAS
BOAS, 2004).
Hagraves et al. (2001 apud VILLAS BOAS, 2004) entende que o portfólio é um
meio valioso de os alunos apresentarem suas produções e que pode servir também para
os estudantes apresentarem para seus possíveis empregadores, pois oferece evidências
mais amplas de seus êxitos. Cada portfólio é uma produção única, porque cada aluno
escolhe as produções que incluirá e insere as reflexões sobre o desenvolvimento de sua
aprendizagem. Seguem alguns objetivos dos portfólios, segundo Hagraves et al. (2001
apud VILLAS BOAS, 2004, p. 40-41):
202
Contudo, percebemos que os portfólios representam um contexto para o
desenvolvimento profissional, além de fornecer variadas respostas para as questões
sobre currículo, oferecendo também suporte para modelos curriculares diferenciados.
8 MAPAS CONCEITUAIS
O mapa conceitual faz parte dos inúmeros instrumentos avaliativos que buscam
a promoção de uma avaliação comprometida com a aprendizagem e o desenvolvimento
do sujeito.
203
O modelo acima propõe uma hierarquia vertical, ou seja, de cima para baixo,
indicando subordinação entre conceitos. Conceitos que englobam outros conceitos
aparecem na parte superior. Enquanto conceitos que englobam outros aparecem em sua
base, ou seja, prosseguindo de cima para baixo, no eixo vertical. Outros conceitos aparecem
em ordem descendente de inclusividade, até que na sua base possua conceitos mais
específicos. As linhas conectando conceitos sugerem relações entre os mesmos.
Os mapas conceituais servem para dar uma visão mais geral, do que vai ser
estudado, devem ser usados quando os alunos já tem certa familiaridade com o
assunto. Eles integram e indicam relações entre conceitos, possibilitando a visualização
da diferenciação entre os conceitos.
204
FIGURA 20 – EXEMPLO DE MAPA CONCEITUAL
Caro acadêmico! É importante que você perceba que por meio desse
instrumento, podemos fazer uma leitura da subjetividade da forma hierárquica com que
foi composto. Assim como da abordagem temática e da particularidade de conceitos
prévios disponíveis em sua estrutura, na medida em que se compromete muito mais
com os aspectos qualitativos, se comprometendo menos com os de nível quantitativo.
Vejamos a seguir as possibilidades de aprendizagens propiciadas pelos mapas conceituais:
205
• Privilegia conceitos chave.
• Hierarquiza ideias, fazendo negociações de significados.
• Estabelece relações e integra conteúdos.
• Favorece a negociação de significados e formas de estruturação.
• Permite capacidade de síntese e análise de síntese.
• Estímulo ao pensamento reflexivo e a construção social do conhecimento.
• Proporciona o feedback.
DICA
Indicamos a leitura do livro Avaliação – da excelência à regulação das aprendizagens – entre
duas lógicas, de Philippe Perrenoud, Editora Artmed, para ampliar o conteúdo aqui estudado.
FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/41JLFn0fH0L._
SX346_BO1,204,203,200_.jpg>. Acesso em: 19 jun. 2021.
206
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A avaliação tem sido limitada também pela hipertrofia que o processo de atribuição de
notas, ou conceitos assumiu na administração escolar. Definir por meio de notas ou
conceitos as dificuldades e facilidades do estudante é apenas um recurso simplificado
que identifica a posição do mesmo em uma escala.
207
• A perspectiva pós-crítica de avaliação aponta os olhares avaliativos sempre
comprometidos historicamente em determinadas relações de poder-saber. O
entendimento desta corrente olha para a avaliação como uma tecnologia educacional
de poder, controle e regulação, normalização e disciplinamento moral que estabelecem
conexões entre currículo, subjetividade e poder inscritas no disciplinamento escolar.
208
AUTOATIVIDADE
1 Jussara Hoffmann, em seu livro Avaliação, Mito e Desafio (2009, p. 15), expõe a
seguinte situação:
“Lucas está no jardim nível B de uma escola particular. Ao final de outubro, seus pais são
convidados a comparecerem à escola. Seus trabalhos são analisados pela professora.
Não há muitos detalhes na figura humana. Utiliza poucas cores. Não se interessa pelos
desenhos e se dispersa, às vezes. Se há insistência da professora para que faça os
trabalhos, o menino responde com certa agressividade. A professora sugere que ele
repita o nível B no próximo ano. Essa é a análise da escola. Entretanto, Lucas tem sua
própria história. É um menino de seis anos. Desenha na calçada com giz, estradas,
desvios, sinaleiras para brincar com seus carrinhos. Seus desenhos representam
histórias fantásticas de mares, navios, bombas e marinheiros. O menino lê tudo desde o
início do ano e escreve algumas frases. Outro dia, escreveu num bilhete para sua mãe.
‘Mãe, tu é muito chata!’ Lucas, agora, não quer mais ir à escola! Se diz um panaca. Seus
pais, entretanto, pretendem que ele repita o nível B no próximo ano”.
Diante da situação, que características de avaliação você percebe? Descreva quais são
as incoerências verificadas na avaliação da professora da Educação Infantil.
(1) Libertadora.
(2) Diagnóstica.
(3) Formativa.
(4) Somativa.
209
Assinale a alternativa que apresenta a sequeência CORRETA:
a) ( ) 1, 4, 2, 2, 3.
b) ( ) 4, 2, 3, 1, 3.
c) ( ) 3, 1, 4, 1, 2.
d) ( ) 2, 3, 1, 4, 4.
I- Avaliar é o ato de diagnosticar uma experiência, por isso a avaliação deve ser
diagnóstica e inclusiva. Assim, o educador, durante o planejamento educacional,
deve certificar-se que os momentos avaliativos não se limitarão à simples
quantificação do conhecimento do aluno, nem serão encerrados após a atribuição
de notas ou conceitos.
II- A avaliação deve ser compreendida como um conjunto de ações organizadas
com a finalidade de obter informações sobre o que o aluno aprendeu, de forma
paramétrica e objetiva, priorizando os exames escritos e os testes de múltiplas
escolhas em detrimento das atividades de construção e análise textual, ou mesmo
de quaisquer outras formas de interação com a língua ou com os diversos tipos de
textos e mensagens disponíveis na sociedade.
III- O ensino de língua portuguesa no Ensino Fundamental deve organizar-se de
modo que os alunos sejam capazes de expandir o uso da linguagem em instâncias
privadas e utilizá-la com eficácia em instâncias públicas, sabendo assumir a palavra
e produzir textos coerentes, coesos, adequados a seus destinatários, aos objetivos
a que se propõem e aos assuntos tratados.
210
REFERÊNCIAS
ALTHUSSER, L. P. M. Aparelhos ideológicos de estado: nota sobre os aparelhos
ideológicos de estado (AIE). Rio de Janeiro: Graal, 1983.
ARANHA, M. L. de A. Filosofia da educação. Ed. rev. ampl. São Paulo: Moderna, 2006.
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BARBOSA, N. V. S.; MOTA, C. R. Currículo para além das grades: construindo uma
escola em sintonia com o seu tempo. Proletrando em Taguatinga, Brasília, DF, 2004.
Disponível em: http://proletrandoemtaguatinga.blogspot.com/2011/08/curriculo-para-
alem-das-grades.html. Acesso em: 4 jul. 2021.
211
BARRETO, R. G. Tecnologia e educação: trabalho e formação docente. Educ. Soc.,
Campinas, vol. 25, n. 89, p. 1181-1201, set./dez. 2004. Disponível em: https://www.
scielo.br/j/es/a/6HmDSHGqC5VC3RSNtYWZmWS/?lang=pt&format=pd. Acesso em: 12
jun. 2021.
BORDIEU, P.; PASSERON, J. C. A reprodução: elementos para uma teoria dos sistemas
de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.
212
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF:
MEC, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#medio.
Acesso em: 4 jul. 2021.
213
COSTA, M. Vr. Sobre as contribuições das análises culturais para a formação dos professores
do início do século XXI. Educ. rev., Curitiba, Vol. 37, p. 129-152, maio 2010. Disponível em:
https://doi.org/10.1590/S0104-40602010000200009. Acesso em: 4 jul. 2021.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 39. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.
FREIRE, P.; MACEDO, D. Alfabetização: leitura do mundo, leitura da palavra. 3. ed. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
FREIRE, P. Extensão ou comunicação. 10. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro – RJ: Editora Paz e Terra, 1987.
FREIRE, P. Educação e mudança. 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1983. Coleção
Educação e Comunicação.
214
GALLO, S. A orquídea e a vespa: transversalidade e currículo rizomático. In:
PEREIRA, M. Z. da C.; GONSALVES, E. P.; CARVALHO, M. E. P. de. (Orgs.). Currículo e
contemporaneidade: questões emergentes. 2. ed. Campinas, SP: Editora, Alínea, 2011.
GIROUX, H.; SIMON, R. Cultura popular e pedagogia crítica: a vida cotidiana como base
para o conhecimento curricular. In: MOREIRA, A. F. B.; SILVA, T. T. da (Orgs.). Currículo,
cultura e sociedade. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
HAMILTON, D. Sobre as origens dos termos classe e curriculum. Teoria & Educação,
Florianópolis, n. 6, p. 33-51, 1992.
HÍBRIDO. In: HOUAISS dicionário eletrônico. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2009.
215
JAPIASSÚ, M.; MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2001.
LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994 (Coleção magistério 2° grau. Série
formação do professor).
216
MOREIRA, A. F. B. A recente produção cientifica sobre currículo e multiculturalismo no
Brasil (1995-2000): avanços, desafios e tensões. Revista Brasileira de Educação, Rio
de Janeiro, n. 18, p. 65-153, set./ dez. 2001.
MOREIRA, A. F. B.; SILVA, Tomaz Tadeu da. (Orgs.). Currículo, cultura e sociedade. 5.
ed. São Paulo: Cortez, 2001.
MORGADO, J. C. Educar no século XXI: que papel para o(a) professor(a)? In: MOREIRA,
A. F. B.; PACHECO, J. A; GARCIA, R. L. (Orgs.). Currículo: pensar, sentir e diferir. Rio de
Janeiro: DP&A, 2004.
217
PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens – entre duas
lógicas. Porto Alegre. Editora Artmed, 1999.
218
SILVA, J. M. M. da. O currículo sob a cunha da diferença. In: REUNIÃO ANUAL DA
ANPED, 29., 2006, Caxambu. Publicações [...]. Caxambu: ANPEd, 2006. Disponível em:
http://www.fe.unicamp.br/gtcurriculoanped/29RA/29RA-programacao.html. Acesso
em: 8 jul. 2021.
TOMELIN, J. F., TOMELIN, K N. Diálogos filosóficos. 3. ed. Blumenau: Nova Letra, 2007.
VALENTE, J. O ensino híbrido veio para ficar. In: BACICH, L.; TANZI NETO, A.; TREVISANI,
F. de M. (Orgs.). Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto
Alegre: Penso, 2015. Disponível em: https://www2.ifal.edu.br/ensino-remoto/professor/
apostilas-e-livros/ensino-hibrido.pdf. Acesso em: 26 abr. 2021.
220
UNIDADE 3 —
CURRÍCULO NA FORMAÇÃO
E PRÁTICA DOCENTE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
221
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
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222
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
CURRÍCULO NA PRÁXIS DOCENTE:
FORMAÇÃO EM AÇÃO
1 INTRODUÇÃO
“Não há ensino de qualidade, nem reforma educativa, nem inovação pedagógica,
sem uma adequada formação de professores” (NÓVOA, 2000, p. 9). Com essa afirmação
inicial é inevitável não refletir sobre o papel do professor e sua atuação.
223
INTERESSANTE
Ao encontro dessa ideia, você já leu algo sobre a invenção da infância? Philippe
Ariès, no livro História Social da Família e da Criança, apresenta a infância
como um fenômeno histórico e explora essas características e questões. Que
tal ler esse livro? Além disso, como são as infâncias brasileiras? Diante das
desigualdades sociais e econômicas e o modo como vivemos atualmente, as
infâncias são iguais em todo território?
DICA
Sugerimos assistir ao documentário A invenção da Infância, de Liliana
Sulzbach. Disponível em: https://portacurtas.org.br/filme/default.aspx?name=a_
invencao_da_infancia.
Você deve se perguntar: por que falar de tudo isso se o assunto é formação
de professores? É nesse momento, que iniciamos a discussão dessa profissão. Com a
criação da escola, foi necessário a constituição do trabalho docente, enquanto estatuto
dos saberes pedagógicos.
224
É a partir da constituição do professor que se pode falar em uma profissão
docente, no qual “mais do que um lugar de aquisição de técnicas e de conhecimentos,
a formação de professores é o momento-chave da socialização e da configuração
profissional” (NÓVOA, 2000, p. 18).
FONTE: <https://www.leiaja.com/sites/default/files/field/image/carreiras/topo/2018/06/whatsapp_
image_2018-06-15_at_10.53.34_1.jpeg>. Acesso em: 31 maio 2021.
Por muito tempo, com um viés tradicional, com base em teorias de Bobbit e Tyler,
a eficiência do trabalho docente era sinônimo de controle dos estudantes e centralidade
da autoridade do professor. Nessa perspectiva, o professor tinha um papel técnico, com
ênfase em objetivos e com baixa autonomia, criatividade e capacidade intelectual e
política (LOPES; DIAS, 2003).
GIO
Você lembra que estudamos a teoria tradicional e os pensamentos de
Bobbit e Tyler na Unidade 1? Se precisar, volte no conteúdo e revise esta
concepção de currículo.
De acordo com Lopes e Dias (2003, p. 1160), o trabalho docente não possibilitava
abrir “espaço para a improvisação, a imprevisibilidade e a multidimensionalidade da
prática educacional”. Ou seja, não era prioridade lidar com os desafios e realidade de cada
comunidade escolar.
225
Por um lado, havia discussões da defesa de uma ciência da educação, que
enfatizava o desenvolvimento de uma comunidade científica nessa área, como ator
social no campo educativo o professor e por outro, resistências, que defendiam por parte
de conservadores que argumentavam não haver necessidade de uma profissionalização
docente e formação específica, desvalorizando o saber pedagógico (NÓVOA, 1997).
Nóvoa (1997, p. 22) escreve que, naquele momento: “o desafio é decisivo, pois
não está apenas em causa a reciclagem dos professores, mas também sua qualificação
para o desempenho de novas funções (administração e gestão escolar, orientação
escolar e profissional [...] etc.)”.
Essas novas funções do professor também passam por novos papéis, diante da
sociedade, na qual o professor é o centro do processo da reforma educacional, sendo
exigida uma formação em nível superior com o objetivo de qualificar melhor a formação,
um aprofundamento dos conhecimentos e um maior domínio no exercício da função.
226
INTERESSANTE
Você sabia que há uma legislação específica para a formação docente? Sim, o
documento ‘Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores
da Educação Básica’ é um deles. Indica a formação em nível superior, nos cursos
de licenciatura, de graduação plena. Nem sempre foi necessária essa formação.
Esse é um documento novo, pensando em todo o processo de escolarização
existente. Pergunte aos seus pais, avós ou outras pessoas sobre como era a
formação dos professores em sua cidade ou na dos professores deles. Para
conhecer mais da legislação específica sobre o tema, acesse o Portal do MEC.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/pet/323-secretarias-112877938/
orgaos-vinculados-82187207/12861-formacao-superior-para-a-docencia-na-
educacao-basica. Acesso em: 31 maio 2021.
IMPORTANTE
Lembre-se, caro acadêmico, de que é preciso considerar que o simples
aumento da carga horária da parte prática não é garantia de uma melhor
qualidade na formação. É preciso considerar os aspectos em que esta prática se
dá. O lugar dos saberes teóricos e de ação no currículo, visando às funções que
estes devem desempenhar para a formação do futuro professor e não apenas
em relação à carga horária. Que tal conhecer mais das discussões que vêm
ocorrendo no âmbito da educação? A Associação Nacional de Pós-Graduação
e Pesquisa em Educação (ANPEd) visa incentivar a pesquisa educacional e a
formação docente, fortalecendo e promovendo o desenvolvimento do ensino
de pós-graduação e da pesquisa em educação. Conheça essa entidade e sua
produção no Boletim da Anped. Disponível em: https://www.anped.org.br.
227
FIGURA 2 – COMPETÊNCIAS INTELECTUAIS, TÉCNICA, PEDAGÓGICA E POLÍTICA NA FORMAÇÃO
DOS PROFESSORES DE VASCONCELOS (2000)
INTERESSANTE
Apesar das reflexões sobre a formação docente em muitos países, há ainda
muito que avançar em termos de valorização profissional dos professores. No
Brasil, já possuímos leis que nos amparam em nossa formação, diretrizes e
planos nacionais, mas não é o suficiente, pois há países bem mais avançados.
Assista ao fllme Escritores da Liberdade para contribuir com seus estudos.
Esse filme estadunidense, do diretor Richard LaGravenese, de 2007, retrata
alguns conflitos na escola, além de mostrar a desvalorização da profissão
docente, ainda presente. Sinopse: Baseado em uma história real, o filme
conta a história da novata professora Erin Grunwell, que chega a uma escola
marcada por separatismos e preconceitos raciais. Obstinada a mudar a
realidade da escola e de seus estudantes, a docente parte das histórias dos
jovens para promover transformação. Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=pfwzLDj0yzM.
228
A formação deve estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que
forneça aos professores os meios de um pensamento autônomo
e que facilite as dinâmicas de autoformação participada. Estar em
formação implica um investimento pessoal, um trabalho livre e criativo
sobre os percursos e os projetos próprios, com vista à construção de
uma identidade, que é também uma identidade profissional (NÓVOA,
1997, p. 25).
De acordo com Nóvoa (1997, p. 27), “práticas de formação que tomem como
referência as dimensões coletivas, contribuem para a emancipação profissional e para
a consolidação de uma profissão que é autônoma na produção dos seus saberes e dos
seus valores”.
FONTE: <https://educacaointegral.org.br/metodologias/papel-dos-professores-e-participacao-
dos-estudantes-nas-escolas-de-educacao-integral/>. Acesso em: 7 jun. 2021.
229
DICA
Que tal uma leitura interessante? Uma sugestão pertinente, acadêmico,
é o texto Formação de Professores e Profissão Docente, do autor português
António Nóvoa. O texto apresenta o percurso histórico de formação
da profissão docente e relaciona também a vida dos professores no
desenvolvimento pessoal e escolar, compreendendo não ser possível
separar o eu pessoal do eu profissional, em que a profissão está
impregnada de valores e ideais. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/
bitstream/10451/4758/1/FPPD_A_Novoa.pdf.
Nóvoa (2000, p. 10) destaca que “ser professor obriga a opções constantes,
que cruzam a nossa maneira de ser com a nossa maneira de ensinar, e que desvendam
na nossa maneira de ensino a nossa maneira de ser”. Enfim, “a formação passa pela
experimentação, pela inovação, pelo ensaio de novos modos de trabalho pedagógico.
E por uma reflexão crítica sobre a sua utilização. A formação passa por processos de
investigação, diretamente articulados com as práticas educativas” (NÓVOA, 1997, p. 28).
230
ATENÇÃO
Algumas características do ensino mútuo são os alunos como auxiliares dos
professores, em que “Todos os alunos da escola, algumas cententas sob a
direção de um só mestre, estão reunidos num vasto local que é dominado
pela mesa do professor” (BASTOS, 1997, p. 118). Para saber mais acesse:
https://seer.ufrgs.br/asphe/article/view/30631/pdf.
FONTE: <https://cartografias.catedra.puc-rio.br/wp/wp-content/uploads/2018/02/1835.jpg>.
Acesso em: 7 jun. 2021.
231
FIGURA 5 – ESCOLA NORMAL, EM SÃO PAULO, NA PRAÇA DA REPÚBLICA (1894)
FONTE: <https://www.educacao.sp.gov.br/wp-content/uploads/legacy/16334-1024x747.
jpg>. Acesso em: 7 jun. 2021.
232
1939-1971: período em que implantam Cursos de Pedagogia e de Licenciatura.
Além de se consolidar o modelo das Escolas Normais. Com o Decreto n° 1.190, de 1939,
sobre a formação de professores.
DICA
Caro acadêmico! Que tal assistir a um vídeo que retrata a criação de
Escolas Normais no Brasil, desde o Império até a década de 1980. Acesse
e complemente seus estudos. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=FBGfE8mRmUY.
A LDB, Lei n° 9394, de 1996, foi um grande marco para e educação e fez com
que gerasse muitos investimentos, no sentido intelectual e financeiro, dos profissionais
da educação.
233
A partir daí, muitos acordos e reformas foram realizadas na educação, priorizando
a qualidade do ensino e da profissão docente. O Plano Nacional da Educação para
o decênio 2014-2024 indica algumas diretrizes que demonstram esse interesse,
enfatizando a melhoria da qualidade de ensino, a formação para o trabalho, a valorização
dos profissionais da educação, entre outras que se direcionam à formação docente.
Dentre as vinte metas traçadas do PNE para até 2024, seis (da treze até a
dezoito) pretendem aumentar a qualidade do ensino baseada na formação inicial e
principalmente continuada, em diferentes níveis.
DICA
Que tal conhecer as metas traçadas pelo PNE? Além disso, acompanhar
o monitoramento e indicadores nacionais? É uma boa oportunidade
para saber sobre seu caminho de formação docente e quais são os
interesses governamentais. Saiba mais em: http://pne.mec.gov.br/18-
planos-subnacionais-de-educacao/543-plano-nacional-de-educacao-
lei-n-13-005-2014.
234
DICA
Que tal acessar o documento que apresenta a Política Nacional de Formação
Docente e conhecer mais dos argumentos e indicadores? Acesse o material
do MEC, disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
docman&view=download&alias=74041-formacao-professor-final-18-10-17-
pdf&category_slug=outubro-2017-pdf&Itemid=30192.
DICA
Se você quiser conhecer mais do histórico das Diretrizes, o que já foi
produzido e o que já foi criado, acesse o site do MEC e acompanhe
todas as publicações. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/pet/323-
secretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/12861-formacao-
superior-para-a-docencia-na-educacao-basica.
235
QUADRO 1 – COMPETÊNCIAS GERAIS DOCENTES
DICA
Acadêmico, para conhecer o detalhamento das competências específicas
e suas habilidades, acesse os anexos das Diretrizes Curriculares Nacionais.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&v
iew=download&alias=135951-rcp002-19&category_slug=dezembro-2019-
pdf&Itemid=30192. Acesso em: 19 jun 2021.
236
Nestas Diretrizes também se encontram os fundamentos da Formação
Docente Inicial, considerando importante uma sólida formação básica com base em
conhecimentos científicos e sociais, a associação entre teorias e práticas pedagógicas
e a onsideração pelas experiências anteriores e atividades na área educacional
(BRASIL, 2019).
DICA
Caro acadêmico! Você já percebeu como é importante conhecer a legislação
brasileira, pois ela é a base de nossa formação, permite saber se estamos
cumprindo nossa jornada acadêmica e também é fundamental para nossa
prática docente, pois estrutura a base curricular. Desse modo, sugerimos
que leia na íntegra os dois documentos:
237
e estudantes, mas na reflexão para cada realidade, partindo de que “o professor reflexivo
permite-se ser surpreendido pelo que o aluno faz” (SCHÖN, 1997, p. 83), para assim poder
refletir e agir sobre o fato. Nesse sentido, a reflexão do professor acontece antes, durante
e após todo o seu trabalho pedagógico.
ATENÇÃO
Caro acadêmico! Lembre-se de que a formação de professores, sua função
e atuação estão intrinsecamente ligadas aos conceitos de escola, ensino e
currículo, de acordo com cada época.
Nóvoa (2000) aponta que há três ‘A’ de sustentação no processo identitário dos
professores: adesão de princípios e valores, ação de escolhas de melhores maneiras de agir
(sucesso ou insucesso) e autoconsciência no processo de reflexão de sua própria ação.
Para dar continuidade aos nossos estudos, vamos conhecer a Base Nacional
Curricular Comum (BNCC) que norteia o currículo e a prática pedagógica docente e deve
ser uma referência do professor e sua ação docente.
239
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A formação docente não existiu sempre, assim como a escola. A profissão professor
nasceu a partir do momento em que se pensou em um lugar de ensino às crianças
e jovens.
• A prática no currículo da formação docente foi algo que, a partir da década de 1980,
foi algo indispensável para aproximar o futuro professor do ambiente profissional.
240
AUTOATIVIDADE
1 Observe a charge a seguir de Francesco Tonucci e associe a crítica exposta com
a formação docente e o currículo. Elabore um breve texto sobre as mudanças
de concepções ao longo dos anos e o que se vê na prática. Lembre-se de que o
exercício da escrita, além de lhe ajudar a relembrar o conteúdo, ajuda na habilidade
de produção textual.
TÉCNICO AUTÔNOMO
241
3 Você conheceu as ‘Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de
Professores para a Educação Básica e Base Nacional Comum para a Formação
Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação)’ de 2019, documento
que orienta e traz indicadores para a formação docente, que devem fazer parte dos
cursos de licenciaturas. O documento apresenta competências gerais aos futuros
professores. De acordo com o exposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e
F para as falsas:
242
5 (2019 – FUNDATEC – 2019 – Prefeitura de Campo Bom – RS) Quanto aos fundamentos
em relação à formação dos profissionais da educação, de modo a atender às
especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos das
diferentes etapas e modalidades da educação básica, analise as assertivas abaixo e
assinale V, se verdadeiras, ou F, se falsas.
243
244
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
CURRÍCULO EM AÇÃO: BASE NACIONAL
COMUM CURRICULAR (BNCC)
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Você já leu a BNCC? Sabe quando foi instituída? Antes
dela, conheceu os Parâmetros Curriculares Nacionais? Esse material foi orientador
durante alguns anos no Brasil, como um material de consulta e utilização constante
no cotidiano escolar.
245
FIGURA 7 – CONSTITUIÇÃO FEDERAL
FONTE: <https://livraria.senado.leg.br/image/cache/catalog/CF88_EC105_livro_CAPA-228x228.jpg>.
Acesso em: 20 jun. 2021.
246
Paralelamente, e muitas vezes anterior a nossas leis, a educação democrática e
cidadã foi disseminada pelo mundo em documentos, reuniões e pactos mundiais como
a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, ocorridos em Jomtien – Tailândia.
IMPORTANTE
Você imagina quais foram as metas traçadas no encontro mundial que
resultou na Declaração Mundial sobre Educação para Todos? Que tal
conhecer? Os objetivos traçados são: 1) satisfazer as necessidades básicas de
aprendizagem; 2) expandir o enfoque; 3) universalizar o acesso à educação e
promover a equidade; 4) concentrar a atenção na aprendizagem; 5) ampliar
os meios do raio de ação da educação básica; 6) propiciar um ambiente
adequado à aprendizagem; 7) fortalecer as alianças; 8) desenvolver uma
política contextualizada de apoio; 9) mobilizar os recursos e 10) fortalecer
a solidariedade internacional (UNESCO, 1998). Conheça o documento na
íntegra: Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-mundial-
sobre-educacao-para-todos-conferencia-de-jomtien-1990.
247
2 DOCUMENTOS NACIONAIS ORIENTADORES
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) foram um documento importante
para educação nacional. Nele foi traçado com o objetivo de estabelecer à equipe pedagógica
uma referência curricular e apoio na elaboração do currículo e do projeto pedagógico
(BRASIL, 1997a).
FONTE: <https://3.bp.blogspot.com/-n7K7DUex8jY/XEjSXfdPRkI/AAAAAAABiGw/m3d-wObO-
fYRPuaVrC9vuR2DFAP6e1DWACLcBGAs/s640/PCN-BAIXAR.jpg>. Acesso em: 23 jun. 2021.
248
Uma das preocupações centrais dos PCN era com o tema cidadania e democracia,
pautadas em uma formação cidadã. As orientações dos parâmetros aos professores
tinham a pretensão de interferir na atividade pedagógica, no estabelecimento de etapas
do planejamento e do currículo, com ênfase tanto na autonomia como na participação
e princípios de cidadania.
DICA
Caro acadêmico! Quer conhecer mais do teor dos PCN? Que tal acessar
o site do MEC para conhecer o documento na íntegra? Acesse e explore:
Disponível em: portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf.
Citando Barretto (2000, p. 35), “o governo federal passa pela primeira vez, em
meados dos anos noventa, a fazer ele próprio prescrições sobre currículo, que vão muito
além das normas e orientações gerais que caracterizaram a atuação dos órgãos centrais
em períodos anteriores”.
DICA
Caro acadêmico! Assista ao vídeo do link a seguir para complementar seus
estudos sobre os PCN, para entender ainda mais da construção histórica
desse documento que visou, principalmente, à qualidade educacional e um
norte para uma proposta curricular, com base na formação para a cidadania:
Disponível em: https://bit.ly/3iFeswM.
249
Acadêmico! Outro documento importante do MEC, que faz parte do histórico
do currículo brasileiro, é o “Ensino Fundamental de Nove anos”, que contribuiu para a
organização desse nível de ensino, como se apresenta hoje. Foi um momento de repensar
o tempo escolar e o currículo escolar, fazendo uma transição do Ensino Fundamental de
oito para nove anos.
DICA
Para conhecer esse documento na íntegra e quais foram suas fundamentações
e orientações, acesse: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/
noveanorienger.pdf.
DICA
Os Parâmetros em Ação são divididos por áreas de conhecimento e
formação. Para conhecer o documento na íntegra acesse: http://portal.mec.
gov.br/seb/arquivos/pdf/pcn_acao/pcnacao_alf.pdf.
250
DICA
Para conhecer os documentos, respectivamente, acesse: https://bit.
ly/3jNSxmy. e https://bit.ly/3CP181c.
FONTE: As autoras
251
3 BASE CURRICULAR NACIONAL COMUM – BNCC
A primeira versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi publicada
em sua primeira versão em 2015. Depois de seminários estaduais, em 2016, foi feita a
segunda versão. Atual foi publicada em 2018 e é a referência nacional para a formulação
dos currículos dos sistemas e das redes escolares dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios e das propostas pedagógicas das instituições escolares.
252
FIGURA 9 – DEZ COMPETÊNCIAS GERAIS DA BNCC
FONTE: <http://inep80anos.inep.gov.br/inep80anos/media/tz_portfolio/article/cache/istock-79_L.jpg>.
Acesso em: 23 jun. 2021.
Com essas orientações, a BNCC indica que a “educação deve afirmar valores
e estimular ações que contribuam para a transformação da sociedade, tornando-a
mais humana, socialmente justa e, também, voltada para a preservação da natureza”
(BRASIL, 2013 apud BRASIL, 2018, p. 8).
NOTA
A BNCC define competência como a ação mobilizadora do saber e do saber-
fazer com base nos conhecimentos, nas habilidades, nas atitudes e nos
valores. Com essa ação há possibilidade de resolver as demandas da vida
cotidiana, do exercício da cidadania e do mundo do trabalho (BRASIL, 2018).
253
A ideia central é que os currículos possam ser revisitados com as orientações desse
documento nos aspectos dos direitos de aprendizagem, da formação inicial e continuada
dos educadores, da produção de materiais didáticos, das matrizes de avaliações e dos
exames nacionais. A BNCC defende e afirma seu compromisso com a educação integral,
entendendo que é a Educação Básica é responsável pela formação e o desenvolvimento
humano global. Com isso, compreende que a educação é complexa e não linear em seu
desenvolvimento e pode romper
DICA
Para saber mais sobre a BNCC assista ao vídeo Base em 1 minuto – Afinal, o
que é a Base?, que faz um breve resumo de sua construção e importância
para a educação nacional. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=W2fdWsVGzog&list=PLfarCWFbZ2Yacn6QhqGM2YGLkxmuUDmDk.
254
qual, em cada uma é importante assegurar as competências específicas com base nos
princípios da coletividade, reciprocidade, integralidade, em uma perspectiva intercultural.
Partindo desse embasamento, há uma organização de cada etapa da educação básica:
Língua
Portuguesa Matemática
Crianças
bem Crianças
Bebês pequenas pequenas
(0-1a6m) (1a7m- (4a-5a11m)
3a11m)
Unidades Objetos de
Habilidades
temáticas conhecimento
FONTE: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/templates/bncc/images/a-base/img-1.jpg>.
Acesso em: 11 ago. 2021.
255
A imagem é bem explicativa e nos mostra como está organizado esse
documento. Além disso, há um código alfanumérico criado para facilitar no momento do
entendimento e uso do objetivo de aprendizagem, habilidades e competência curricular.
Veja o exemplo na Figura 11:
Esses códigos não são organizados de forma hierárquica. Eles foram criados
para se ter mais clareza, precisão e explicitação, funcionando como organizadores e
relacionando os processos cognitivos. Vamos conhecer os outros códigos alfanuméricos
no Ensino Fundamental e Ensino Médio:
256
FIGURA 12 – ORGANIZAÇÃO DAS HABILIDADES DO ENSINO FUNDAMENTAL DA BNCC
257
DICA
Agora, para conhecer o conteúdo de cada nível de ensino (educação infantil,
ensino fundamental ou ensino médio), navegue pela BNCC. O conhecimento
desse documento é imprescindível para sua formação! Vamos lá? Acesse:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#apresentacao.
IMPORTANTE
Outro documento em nível mundial, em que a BNCC está alinhada é a Agenda 2030 da
Organização das Nações Unidas (ONU), intitulada Transformando Nosso Mundo. Este
documento traz 17 objetivos interligados de desenvolvimento sustentável, apresentando
desafios para o Brasil. O Objetivo 4 está diretamente relacionado à educação, traçando
metas para norteadas para garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa,
e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. Conheça os
objetivos e o material completo em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs.
258
Outra mudança, com esse percurso de documentos norteadores, é o papel
do professor e do estudante. Diante da sociedade em que vivemos, dominada por
tecnologias digitais e novas linguagens, capitalista e globalizada, novos conhecimentos
fizeram com que as relações entre as pessoas (profissionais e pessoais) fossem também
modificadas. Nesse contexto, os indivíduos precisam aprender a viver nesse meio,
compreendendo, por um lado, a existência da competitividade, desafios e instabilidade
(ZANLORENSE; LIMA, 2009) e por outro, a necessidade do cuidado consigo, com o outro
e com a diversidade e diferenças existentes.
Caro acadêmico! Você deve ter notado como há o que se discutir sobre a
formação docente. Os documentos norteadores irão auxiliar você em suas ações e
práticas docentes.
259
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O objetivo dos PCN (BRASIL, 1997a) foi estabelecer à equipe pedagógica uma
referência curricular e apoio na elaboração do currículo, do projeto pedagógico e das
práticas pedagógicas e organiza a estrutura escolar.
• Uma das preocupações centrais dos PCN era o tema da cidadania, que indicava uma
formação cidadã.
260
AUTOATIVIDADE
1 Estudamos que a BNCC traz em seu teor as orientações para a garantia do
desenvolvimento integral dos estudantes apoiada em dez competências gerais para
toda a educação básica. Escreva três competências, o que elas trazem de argumentos
e também apresente características de uma prática pedagógica que contemple as
competências que você indicou.
2 Apesar da BNCC orientar toda a educação básica, ela traz uma organização e
conhecimentos curriculares específicos para cada nível de ensino e processo de
ensino e aprendizagem. Combine cada nível de ensino com sua organização conforme
a BNCC.
( ) Componentes Curriculares.
( ) Unidades temáticas e objetos de conhecimento.
( ) Habilidades, Língua Portuguesa e Matemática.
( ) Campos de Experiência.
261
4 (2021 – CEV-URCA – 2021 – Prefeitura de Crato – CE) As Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCN) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) afirmam que as bases
que dão sustentação ao projeto nacional de educação responsabilizam o poder
público, a família, a sociedade e a escola pela garantia a todos os estudantes de um
ensino ministrado com base em princípios, dentre eles:
a) ( ) II e V estão incorretas.
b) ( ) V está incorreta.
c) ( ) I e V estão incorretas.
d) ( ) V está incorreta.
e) ( ) Todas estão corretas.
262
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
PLANEJAMENTO EM AÇÃO: A
CONSTRUÇÃO CURRICULAR NA ESCOLA
1 INTRODUÇÃO
Olá acadêmico! Você já imaginou sua vida sem planejamento? Na vida pessoal?
No trabalho? No estudo? Com a quantidade de atividades que temos em nossa vida, ter
planejamento é uma forma de organizar e otimizar o tempo.
A CIGARRA E A FORMIGA
Quando chegou o inverno, a cigarra veio à casa da formiga para pedir que lhe
desse o que comer.
FONTE: <https://www.revistaprosaversoearte.com/content/uploads/2018/08/A-Cigarra-e-a-
Formiga-696x365.jpg>. Acesso em: 26 jun. 2021.
263
Considerando uma parte dessa história, em relação ao planejamento, na história
clássica da cigarra e da formiga, a vida do ser humano é permeada por planejamentos.
O ser humano planeja ações e traça objetivos a partir do pensamento racional. Mesmo o
pensar e o imaginar são, de certo modo, um modo de planejar.
Desde ações mais diárias, como planejar o dia com tarefas domésticas, o
trajeto do trabalho ou estudo e a roupa que irá usar, como ações em longo prazo, como
construir uma casa, investir uma carreira profissional e planejar uma viagem ao exterior
são planejamentos em nível micro e macro, respectivamente, que necessitam uma
organização prévia. Esses planejamentos terão fatores que irão interferir na execução e
concretização do que se objetiva, como financeiro, tempo, dedicação etc.
FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-vector/business-decision-making-career-path-
600w-1842556189.jpg>. Acesso em: 26 jun. 2021.
ATENÇÃO
Lembre-se, acadêmico, de que, mesmo com os diferentes níveis de
planejamento, a vida e as situações sempre trazem novas situações e nos
fazem nosso planejamento ter modificações. O que comentamos aqui
de Planejamento é sobre ter um norte, uma orientação, principalmente
pensando em nossas práticas pedagógicas, entendendo que sempre
haverá imprevistos e situações inusitadas que precisam ser consideradas
no processo educativo.
264
FIGURA 16 – NOVOS CAMINHOS QUE SURGEM NA AÇÃO PEDAGÓGICA
FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/hands-holding-paper-arrows-crossroad-
symbol-1294887046>. Acesso em: 26 jun. 2021.
A partir dessa escrita mais geral sobre planejamento, vamos estudar o tema
focando na questão escolar.
2 PLANEJAMENTO CURRICULAR
O planejamento é uma prática necessária no campo da educação escolar,
imprescindível na prática docente e no currículo. Como vimos na Unidade 1, o termo
currículo refere-se a caminho e trajetória.
265
processo contínuo que se preocupa com o para onde ir e quais
as maneiras adequadas para chegar lá, tendo em vista a situação
presente e possibilidades futuras, para que o desenvolvimento da
educação atenda tanto às necessidades do desenvolvimento da
sociedade, quanto às do indivíduo (COARACY, 1972 apud GAMA;
FIGUEIREDO, 2012, p. 4).
De forma não tão simples, quanto aos planos realizados no dia a dia, o
planejamento curricular exige mais do que prever condições de aprendizagem, pois
está relacionado com a realização “em coerência com certas teorias ou princípios
pedagógicos, organizando os conteúdos e a atividade em função de certas teorias da
aprendizagem humana, princípios metodológicos, precisão de determinados meios,
condições do ambiente de aprendizagem etc.” (SACRISTÁN, 2000, p. 282).
266
O planejamento curricular, nessa perspectiva, não é passível de uma técnica
ou modelo rigoroso para ter êxito, mas sim, é a “realização de uma prática na qual é
preciso deliberar entre opções, considerar circunstâncias particulares da situação na
qual se aplica, para a qual não se pode dispor de estratégias rigorosas” (SACRISTÁN,
2000, p. 286). Não seguir estratégias rigorosas pode ser entendido como considerar a
realidade escolar, os envolvidos nessa construção como os professores, estudantes e
toda a comunidade para tal atividade.
DICA
Caro acadêmico! Assista ao vídeo Aspectos do planejamento escolar, que
aborda alguns pontos importantes relativos ao planejamento da escola e das
atividades do professor em sala de aula. No vídeo, a Prof.ª Priscila Monteiro
indica o documento nacional PCN, pois foi gravado antes da BNCC. Mesmo
assim, vale a pena a forma didática que ela apresenta sobre o assunto.
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=uCQCtHOnwkM.
267
3 CURRÍCULO EM AÇÃO: PLANO DE AULA
Dos níveis de planejamento, o plano de aula é o que está mais próximo do
processo de ensino-aprendizagem. É ele que efetiva o planejamento curricular e
organiza-o de forma a concretizar ações em sala de aula.
268
FIGURA 17 – PLANEJAMENTO DO PROFESSOR NA PRÁTICA DOCENTE
FONTE: <http://educacaoesuperacao.blogspot.com/2011/02/o-processo-de-planejamento.html>.
Acesso em: 26 jun. 2021.
4 A IMPORTÂNCIA E FUNÇÃO DO
PLANEJAMENTO ESCOLAR
A ação de planejar envolve um processo de racionalização, organização e
coordenação por parte dos profissionais da educação, permeada por atividades escolares
e pelo contexto social. Ou seja, o contexto social entende que toda a comunidade escolar
faz parte de uma relação social, que tem influências econômicas, políticas e culturais
(LIBÂNEO, 1994). Por esse motivo, é que os elementos do planejamento curricular e de
ensino, como os objetivos, os conteúdos e os métodos têm implicações sociais.
269
Libâneo (1994), a partir da importância do planejamento escolar define as
funções principais:
270
A construção do planejamento curricular acompanha os movimentos
democráticos de toda a sociedade, ou seja, ele é elaborado de forma participativa na
unidade escolar, ao encontro da realidade de cada escola.
DICA
Uma importante informação para você enquanto professor, ou professor em
formação, é a criação da Lei n° 11.738, publicada em 2008, que regulamenta
o trabalho dos profissionais do magistério público da Educação Básica.
Dentre outros assuntos, essa lei dispõe sobre o piso salarial e a carga horária
disponibilizada para hora-atividade, ou seja, um momento para planejamento
e avaliação da prática pedagógica, dentro do horário de trabalho. Acesse o
link para conhecer na íntegra esse documento: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11738.htm.
FONTE: <http://www.ibccoaching.com.br/portal//wp-content/uploads/2016/11/1-planejamento-2.jpg>.
Acesso em: 26 jun. 2021.
271
O que isso quer dizer? Quer dizer que seu planejamento envolve uma construção
processual, de um conjunto de ações e a própria prática, na qual há a relação entre
teoria e prática e intenção e ação (SACRISTÁN, 2000).
NOTA
Conectar o currículo com a realidade escolar é a tradução do tempo e do
espaço. Ou seja, os conteúdos, concepções e modos de organização do
currículo se distinguem de tempos anteriores. Novos assuntos são incluídos,
outros são anulados, além da importância dada à participação de toda
comunidade acadêmica. Em relação ao espaço, o currículo tem por base a
comunidade local, suas influências sociais, políticas, econômicas e culturais.
Podemos fazer uma ligação do que foi visto no início desta unidade sobre a
formação de professores e a construção do currículo. A profissionalização docente e sua
qualidade é um fator que implicará a construção do currículo. Como? O planejamento e
seu resultado indicarão qual é a concepção dos professores e o modo como se engajam
em projetos educacionais.
272
os conteúdos e a atividade em função de certas teorias de aprendizagem humana,
princípios metodológicos, previsão de determinados meios, condições do ambiente de
aprendizagem etc.” (SACRISTÁN, 2000, p. 282).
A função do currículo em uma escola vai depender do modo como ele foi
construído, com ou sem participação dos profissionais da educação, da maneira como
foi definida sua concepção pedagógica e qual a metodologia escolhida e conteúdos
organizados que vão ao encontro dessa concepção. Isso favorecerá determinadas
práticas educativas e refletirá no estilo profissional dos professores, ou melhor, de toda
a equipe pedagógica.
Não podemos deixar de lado que a prática desse professor, que tem reflexo no
currículo, tem implicações limitadoras, flexíveis, mas que dependem de determinados
fatores, conforme definido por:
a. As diretrizes curriculares que, com maior ou menor precisão e rigidez, estabelecem o currículo
e sua sequência para um determinado nível, curso, ciclo ou modalidade de ensino.
b. O tipo de avaliação ou controle externo que se exerce sobre o currículo, que não é o que o
próprio professor pode utilizar.
c. A dependência que possa existir nos professores quanto aos materiais didáticos, livros-texto
etc. Dependência condicionada não apenas pela formação dos professores, mas também
pela variedade de sua oferta e pela legislação e normas administrativas a respeito. Essa
dependência diminui o papel profissional do docente e torna-se empobrecedora do mesmo
quando a oferta é homogênea.
d. A operatividade de sua formação profissional para identificar as variáveis que determinam a
experiência e os resultados de aprendizagem, atuando sobre elas.
e. A formação para poder intervir no que chamamos de tradução pedagógica dos conteúdos
curriculares, que lhe proporcionará autonomia real para selecioná-los, ponderá-los, organizá-
los ou adaptá-los às necessidades dos alunos. Professores com escasso domínio da matéria
mal podem traduzi-la pedagogicamente.
f. O campo organizativo da escola que, quanto tem um projeto educativo conjunto, estabelece as
grandes coordenadas dentro das quais se desenvolve a atividade individual de cada professor.
g. As possibilidades materiais reais para dedicar-se a esta função de preparação da prática,
prévia à realização do ensino, devido às condições de seu trabalho.
273
ATENÇÃO
Caro acadêmico! Nesse ponto é importante lembrar que, no caso brasileiro,
não é diferente. Os documentos nacionais como a BNCC e Diretrizes de
diferentes níveis de ensino norteiam o currículo e, consequentemente, a
prática docente.
Mesmo com os fatores externos, o professor precisa entender que seu papel é
de planejar e decidir, pois é um profissional com competências e autonomia para isso.
Com certeza, não podemos entender essa ação como algo fácil, pois a autonomia do
professor também se limita às possibilidades encontradas na instituição escolar em
que atua. Podemos dizer que o currículo, no seu planejamento, busca um equilíbrio
entre uma educação de qualidade, o controle sobre o sistema escolar e a autonomia das
escolas e dos professores (SACRISTÁN, 2000).
274
acordo com os objetivos traçados; se são úteis e aplicáveis à realidade dos estudantes;
se têm significado para a vida do estudante; se estão adequados ao desenvolvimento
e maturidade do estudante e se são flexíveis, possibilitando alterações, caso ocorram
novas demandas de acordo com o estudante.
DICA
Caso tenha interesse em conhecer outros modos de organização dos
conteúdos e suas vantagens, leia o livro de J. Gimeno Sácristan, O Currículo:
uma reflexão sobre a prática.
275
A construção da cidadania, democracia e a formação integral também devem
ser algo de foco no currículo, no qual a seleção do conteúdo passará a considerar a
herança cultural, a experiência da prática social e do contexto em que o estudante vive
e a perspectiva de futuro (LIBÂNEO, 1994).
DICA
Vamos nos aproximar mais da BNCC e pensar sobre nosso planejamento
pedagógico a partir desse documento. O primeiro é um teste que você
pode fazer para relembrar a função desse documento. O segundo link
traz orientações gerais e específicas de cada componente curricular, com
materiais que ajudam a pensar a BNCC em sua prática. Seguem dois links
para ajudá-lo a explorar mais esse material:
276
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A organização dos conteúdos deve fazer sentido ao estudante, deve ser desenvolvido
através de uma continuidade e sequência, que se amplia e aprofunda à medida que
se avança na escolarização.
277
AUTOATIVIDADE
1 Fomos de um nível macro para o micro de planejamento curricular. Agora é a vez de
você exercitar. Faça um quadro comparativo e identifique os níveis de planejamento
e suas principais características.
278
4 (2020 – EDUCA – Prefeitura de Cabedelo-PB) A BNCC e os currículos têm papéis
complementares para assegurar as aprendizagens essenciais definidas para cada
etapa da Educação Básica, uma vez que tais aprendizagens só se materializam
mediante o conjunto de decisões que caracterizam o currículo em ação. São essas
decisões que vão adequar as proposições da BNCC à realidade local, considerando a
autonomia dos sistemas ou das redes de ensino e das instituições escolares, como
também o contexto e as características dos alunos. Essas decisões, que resultam de
um processo de envolvimento e participação das famílias e da comunidade, referem-
se, entre outras ações, a:
Estão CORRETAS:
a) ( ) I, II, III.
b) ( ) I, III, IV.
c) ( ) I, II, IV.
d) ( ) II, III, IV.
e) ( ) I, II, III, IV.
279
5 O currículo de uma escola é o conjunto de oportunidades de ensino e aprendizagens
para todos os envolvidos no processo. Uma proposta curricular que emanada do
corpo docente, de representantes dos responsáveis e dos estudantes:
280
UNIDADE 3 TÓPICO 4 -
CURRÍCULO E A SUA ORGANIZAÇÃO NA
PRÁXIS DOCENTE: PROJETOS PEDAGÓGICOS
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico! Neste momento, nós vamos conversar sobre a organização do
currículo por projetos escolares. A ideia de projeto sugere uma ação que se direciona
para o futuro, para o que está por vir. Conforme o Dicionário Houaiss (PROJETO,2009),
a palavra “projeto” significa atirar longe, planejar, arremessar. César Coll apud Andrade
(2003) pontua que a organização do trabalho pedagógico precisa ser pensada da
seguinte maneira:
Neste sentido, trabalhar por projetos pode ser um “[...] instrumento de renovação
da prática escolar, destinado a proporcionar ferramentas ao professorado e uma visão
diferente dos conteúdos em diversas áreas do currículo” (GIMENO apud MORGADO,
2011, p. 396).
281
[...] se aquele que ensina não assume que é ele quem primeiro deve
mudar sua visão profissional sobre o que seja globalizador, sua forma
de relacionar-se com a informação para transformá-la em saber
compartilhado, dificilmente poderá viver o que seja definitivamente
uma experiência de conhecimento. Se isso não é levado em conta,
o docente que queira trabalhar por projetos reduzirá o que aqui se
trata a um conjunto de perguntas iniciais aos alunos, fará com que
o tratamento da informação se reduza à realização de um índice
e, inclusive, pensará que, a partir daí, seja a mesma coisa criar um
centro de interesses ou acompanhar um livro, mas dando-lhe a nova
denominação de Projeto (HERNÁNDEZ; VENTURA, 1998, p. 11).
282
1. O tratamento da informação.
2. A relação entre os diferentes conteúdos em torno de problemas
ou hipóteses que facilitem aos alunos a construção de seus
conhecimentos, a transformação da informação procedente dos
diferentes saberes disciplinares em conhecimento próprio.
3. E com relação à sua organização, o projeto segue um determinado
eixo, ou seja, um fio condutor que seria:
a) A definição de um conceito, um problema geral ou particular.
b) Um conjunto de perguntas inter-relacionadas, uma temática.
283
QUADRO 4 – OS PROJETOS DE TRABALHO E SUAS CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS
ATENÇÃO
Você pode encontrar nomenclaturas um pouco diferentes para descrever
a metodologia de projetos: projeto de ensino, projeto de trabalho, projeto
didático, projeto pedagógico, entre outros. A forma de uso vai depender
do autor, como define e pode apresentar pequenas diferenças em sua
estruturação, mas o fundamento é o mesmo.
284
Primeiro, que tal conversar com alguns professores de sua escola? Quem estaria
disposto a compartilhar ideias e criar um projeto coletivo? O desenvolvimento do projeto
surge a partir de uma problemática de interesse de um grupo de estudantes, fazendo
com que haja coautoria no processo pedagógico.
ELEMENTOS DO
FUNÇÃO
PROJETO
Escolha de assunto relevante; contribua para o desenvolvimento
Tema/título de habilidades para o nível/ano de ensino; estabeleça relação
com outras áreas de conhecimento
Ano Nível de ensino e ano escolar a ser desenvolvido o projeto
Duração Número de aulas, semanas ou meses do projeto
Por que é importante que os estudantes estudem esse
Justificativa tema? Quais aspectos do tema são mais relevantes para a
aprendizagem? A BNCC também pode fazer parte da justificativa
Elaboração de uma relação de questões que são fundamentais
Problema para direcionar a investigação dos estudantes, a partir de seus
conhecimentos prévios
Objetivos geral e Relacionados ao tema e problema; Indicação do que é importante
específicos aprender; utilize as competências e habilidades da BNCC
Apresentação das competências, conhecimentos e habilidades
que serão abordados e em que sequência; utilize a BNCC e o
Competências
código alfanumérico
curriculares
Elaboração da rede de interações com outros componentes
curriculares
Definição da forma de abordagem ou tratamento do conteúdo;
definição dos procedimentos de ensino e os materiais didáticos
Metodologia
significativos aos estudantes; apresentar o desenvolvimento
do projeto
Especificação dos critérios e instrumentos que serão utilizados
Instrumentos e critérios
para avaliar a aprendizagem dos estudantes. O portfólio é um
avaliativos
instrumento muito utilizado em projetos
Bibliografia e Material Material utilizado para construção do projeto: livros, revistas,
de apoio vídeos, áudios, etc.
DICA
Para conhecer mais cada etapa dos projetos de ensino, leia o artigo de Borges
(2012) que apresenta a estruturação e um exemplo, a partir do componente
curricular de Ciências, do 4° ano do ensino fundamental. Disponível em:
https://bit.ly/3jOPHxC.
285
A seguir, vamos apresentar exemplos de cada nível de ensino. Sugerimos que
leia atentamente, cada exemplo e se necessário, volte ao Quadro 5 e consulte a BNCC.
Justificativa:
Estratégias de investigação:
286
• A mãe do sapo põe ovos na água, um monte. No início, é só uma larva que respira
por brânquias (igual aos peixes), depois se cria um pulmão e ele passa a respirar
pelos pulmões, igual à gente.
• Primeiro, os sapos são girinos e isto pode demorar dias, semanas, meses,
dependendo do clima para se transformar em sapo. Ele tem um rabo que encolhe
conforme ele vai crescendo.
• Os sapos não bebem água como a gente. Em vez disso, eles absorvem líquidos
pela pele. Por isso eles sempre estão perto de riachos.
• A pele dos sapos é permeável. Isso significa que substâncias como oxigênio, água
e também, muitas vezes, perigosas substâncias químicas podem ser absorvidas
por suas peles.
• Sua língua é comprida para comer os insetos que ficam no alto voando, mas
também comem peixes pequenos, pássaros e alguns outros sapos.
• Os sapos são mais lentos no frio e mais rápidos no calor.
• Quando o inverno chega, muitos sapos hibernam (se escondem), é como tirar
um longo cochilo. Assim, quando um animal hiberna, o coração bate devagar e a
respiração também é muito lenta, por isso a temperatura do corpo baixa. O corpo
se alimenta de gordura armazenada, até que o tempo fique quente outra vez.
• Os sapos machos coaxam para atrair as fêmeas. Alguns sapos conseguem coaxar
até debaixo d´água.
• Os sapos ouvem tanto quanto a gente, com a diferença que o tímpano deles fica
do lado de fora do ouvido.
• Se o sapo é atacado ou acha que vão machucá-lo ele se ergue na ponta dos
dedos para parecer maior e espirra urina foi o que ele fez com a tia Dolores quando
ela tirou o sapo da nossa sala, ainda bem que ela estava de luva, pois, esta urina
pode ser venenosa.
Objetivo Geral:
Desenvolvimento:
287
1ª Atividade: construindo um aquário
3ª Atividade: adivinhas
4ª Atividade: trava-línguas
Trabalho com a oralidade das crianças, repetindo em voz alta: “olha o sapo
dentro do saco, o saco com o sapo dentro, e o sapo batendo papo e o papo soltando
vento”.
Cronograma: flexível
288
Brincadeiras: 1) dobradura do sapo e corrida do sapo; 2) boca do sapo (acerte o
alvo); 3) jogo do sapo e inseto (um inseto para cada jogador. Colocar os insetos no
centro, bem próximos. Cada jogador segura o seu inseto pela ponta da “asa”. Joga-se
um dado se o resultado for 1 ou 6, o sapo pega rapidamente os insetos que tentam
fugir, puxados pela asa. Se o sapo pegar, fica com o inseto. Se o resultado do dado
for 2, 3, 4 ou 5, os sapos ficam parados, mas se alguém puxar, o sapo tem o direito
de ficar com ele.
DICA
Visite o site da Jornada de Integração Acadêmica – JOIA: https://bit.ly/3jII8IV.
289
Título: Supermercado na escola
Objetivos:
Justificativa:
Este projeto teve seu início no mês de abril, iniciando com a coleta de
produtos, como: pacotes de açúcar, arroz, macarrão e demais derivados, além de
caixas de leite, suco e garrafas pet, extrato de tomate dentre outros.
290
As crianças foram orientadas em trazer estes produtos lavados para
posteriormente entregar à escola e fazer uso para reciclagem dos materiais.
Encerramento:
Tivemos forte presença dos pais destas crianças que entraram na brincadeira,
recebendo duzentos reais do banco para suas compras no supermercado.
291
Acadêmico, você pode consultar outros projetos educacionais que já foram
construídos e realizados por outros professores pelo Brasil. Claro, lembre-se sempre de
que é necessária adaptação a sua realidade.
Vamos disponibilizar aqui alguns projetos que possam interessar para conhecer
diferentes realidades. Você irá encontrar as etapas do projeto, alguns indicam os objetivos
conforme os códigos da BNCC e a possibilidade de adaptar em sua realidade escolar:
NÍVEL DE
PROJETO LINK DE ACESSO
ENSINO
https://www.slideshare.net/
SimoneHelenDrumond/apostila-quem-canta-
Quem canta seus males EI e EF – anos
seus-males-espanta-vol1?qid=182e6e89-710d-
espanta’ iniciais
4965-ac06-ab4be04e5ff1&v=&b=&from_
search=4
Brincadeiras e Arte – EI e EF – anos https://educacrianca.com.br/projeto-candido-
Cândido Portinari iniciais portinari/
Diversidade: O quê você EI e EF – anos https://educacrianca.com.br/atividade-sobre-
tem na cabeça? iniciais diversidade-o-que-voce-tem-na-cabeca/
https://novaescola.org.br/conteudo/16113/
Projeto Cosmos – EF – anos
projeto-cosmos-aproxima-a-astronomia-das-
astronomia finais
escolas-publicas-de-manaus
Afinal, que lugar é este EF – anos https://novaescola.org.br/conteudo/8446/afinal-
em que vivemos? finais que-lugar-e-este-em-que-vivemos
FONTE: As autoras
292
Habilidades trabalhadas: EF69LP03; EF69LP05; EF69LP07; EF69LP08; EF69LP13;
EF69LP16; EF69LP21; EF06LP01; EF06LP02; EF67LP04; EF67LP05; EF67LP09;
EF67LP10; EF89LP01; EF89LP03; EF89LP04; EF89LP10; EF08LP03; EF89LP21.
Apresentação do Projeto:
O que se tem feito em sala de aula parece ter um fim em si mesmo. Após mais
de uma década de ensino básico, muitos alunos estão despreparados para utilizarem
a leitura e a escrita como ferramentas e para responderem às novas demandas do
uso da linguagem nos mais diversos contextos.
293
Tal situação faz parte do meu cotidiano escolar. A insatisfação com a prática
docente se mostrou uma oportunidade para a busca de teorias que pudessem colaborar
com a ressignificação do meu trabalho como professora de Língua Portuguesa.
Isso se explica pelo fato de que a aproximação das atividades escolares com
as práticas sociais dos alunos pode ser um caminho emancipatório para o ensino.
Vale ressaltar que o estudo de gêneros e regras da língua culta não se deu
unicamente porque o tema constava no livro didático ou estava programado para
determinada turma. O conhecimento de aspectos linguísticos partiu da necessidade
real dos alunos de produzir o jornal.
294
parcerias com a comunidade e criaram pequenas propagandas para veiculação
no jornal. No total, foram mais de 40 horas de aulas até o jornal ser impresso. Os
alunos leram muito, escreveram muito, aprenderam muito. Mas, para a produção
das matérias, precisaram também desenvolver um olhar crítico sobre a própria
imprensa e sobre a realidade que os cerca. Realizado entre agosto e setembro
de 2017 (terceiro bimestre do ano letivo), o projeto de letramento se apoiou nas
interações dos alunos e nas propostas de leitura e escrita surgidas a partir das
práticas sociais nas quais estavam inseridos.
Desenvolvimento:
295
Nos meses anteriores ao projeto, percebi em muitos alunos desinteresse
pelas aulas. Eles realizavam as atividades de forma mecânica, sem um aprendizado
significativo. Não havia reflexão sobre o uso da língua. O que se aprendia num
dia deixava de ter sentido já no dia seguinte. Os alunos, de forma geral, tinham
muitas dificuldades na elaboração de textos coesos e coerentes e também para se
posicionarem sobre assuntos importantes.
Etapa 3 – Avaliar:
Por sua natureza prática e sua função social, o jornal escolar se revelou um
recurso pedagógico viável para o trabalho com a língua portuguesa, principalmente
na modalidade escrita. Ele se mostrou também um instrumento capaz de mobilizar os
alunos em torno de questões relacionadas à sua vida e ao cotidiano da comunidade,
despertando interesse pela escrita como forma de participação social e autoria.
296
Para eles, houve uma aprendizagem significativa que reinventou a noção da
escola e do espaço escolar, tornando as atividades mais dinâmicas, participativas
e relevantes. No lugar dos alunos apenas copiarem as coisas do quadro, o projeto
de letramento com jornal escolar possibilitou que eles compreendessem seu papel
como protagonistas do processo de ensino-aprendizagem e a importância da leitura
e da escrita nas ações da vida social.
297
Os estudantes e a professora-pesquisadora tiveram também de conciliar o
trabalho realizado em sala com os desafios de atuar em equipe e gerir os conflitos
resultantes de tal forma de organização, como ouvir e aceitar a opinião dos colegas,
argumentar, dialogar e se posicionar diante das questões relacionadas às matérias.
Uma pequena amostra dessa relação entre conteúdos e o projeto se deu com
as disciplinas de Língua Portuguesa e Geografia. Outras poderiam ter contribuído,
como a de História, para a discussão com os alunos sobre o processo de instauração
da imprensa no Brasil e a importância da mídia na formação da opinião pública. É
necessário também destacar que a realização de um projeto por um único professor
torna a tarefa exaustiva e de difícil desenvolvimento.
298
Título: Jogos, ludicidade, inclusão: ressignificando do processo de ensino-
aprendizagem em matemática
Área: Matemática
Materiais: jogos físicos e digitais que envolvem o fator "sorte”, como dados, cartas,
loteria, bingo, roleta e moedas; Materiais recicláveis diversos para a confecção dos jogos.
Apresentação:
Os alunos montaram uma sala temática, onde foram expostos os jogos para
experimentação e compartilhamento com alunos de outras salas.
299
• interdisciplinaridade, inclusão, criatividade, interação social e conscientização
sobre a importância do trabalho em grupo;
• participação ativa dos alunos na construção do seu próprio conhecimento.
300
Os jogos desenvolveram várias habilidades nos alunos, fazendo com que o
processo de aprendizagem fosse otimizado. Esses elementos contribuíram para que os
adolescentes interagissem e, de forma relaxada, compreendessem novos conceitos.
Vale ressaltar que a divisão e a organização das etapas não foram uma tarefa
fácil, pois ocorreram de forma dinâmica, interpessoal e integrada. Todas as etapas do
planejamento foram desenvolvidas em conjunto com os alunos.
1° Etapa:
2ª Etapa:
3ª Etapa:
Foi montada uma sala temática, onde os jogos foram expostos para
experimentação. Os alunos se dividiram entre variados jogos e convidaram colegas
de outras salas para demonstrações dos conceitos adquiridos. Os jogos foram
expostos para que professores e alunos de diferentes turmas também jogassem
e se integrassem nos vários espaços do ambiente escolar. O conhecimento foi
compartilhado de forma lúdica, dinâmica e interativa, com trocas de saberes entre
alunos e professores, numa ressignificação do processo de ensino e aprendizagem.
301
Resultados:
Ao longo do projeto, surgiram novos aspectos que não haviam sido planejados
inicialmente. Foram necessárias algumas adaptações, dentre elas:
Dica: além dos jogos de tabuleiro, que podem ser comprados a preços relativamente
baixos ou feitos com materiais baratos ou reciclados, há também uma enorme gama
de jogos on-line para utilização, caso a escola disponha de computadores e acesso à
internet. Possibilitar que os alunos criem e modifiquem regras promove o protagonismo
e a criatividade, além de despertar ainda mais o interesse pelas atividades.
DICA
Que tal assistir o vídeo que apresenta o ‘Projeto Eu sou uma obra de arte
Etnias do Mundo’, resultado do Projeto vencedor do 8° Prêmio Professores do
Brasil 2014 na categoria Ensino Médio, promovido pelo MEC? Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=JwtdlcCuZEI&t=3s. Acesso em: 2 jul. 2021.
302
Não existe um modelo correto. Apesar de ter etapas fundamentais, baseadas no
planejamento escolar.
DICA
Você conhece o portal do MEC ‘Caderno de Práticas’? Nele você encontra
os projetos propostos anteriormente e outros projetos que lhe auxiliarão
no desenvolvimento das aprendizagens conforme a BNCC. As práticas
apresentadas são de professores que foram indicados ao Prêmio Professores
do Brasil. Os relatos de cada projeto estão separados por nível de ensino
da educação básica. Interessante, não é mesmo? Há muitos profissionais
da educação brasileira que realizam trabalhos significativos e de qualidade,
contribuindo para a formação de cada estudante. Agora é sua vez de
explorar ao máximo e conhecer essas práticas, para ampliar seu repertório
e possibilitar ideias criativas e inovadoras para sua prática. Portal disponível
em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-
de-praticas.
INTERESSANTE
Curiosidade epistemológica. Paulo Freire (1996, p. 98) diz que “o exercício
da curiosidade convoca a imaginação, a intuição, as emoções, a capacidade
de conjecturar, de comparar, na busca da perfllização do objeto ou do
achado de sua razão de ser”.
Agora, para finalizar esta Unidade, faça a leitura do texto a seguir, que apresenta
um detalhamento para ficar, ainda mais clara, a função das diferentes características
dos planejamentos.
303
LEITURA
COMPLEMENTAR
PROCESSO PEDAGÓGICO/AÇÕES PEDAGÓGICAS NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
(É o cotidiano escolar)
• Planejar.
• Fazer.
• Rever, revisitar.
• Replanejar.
PLANEJAMENTO
PLANEJAMENTO – AÇÃO
Específicos:
304
PROJETOS
Investigação:
• Justificativa: por que estou fazendo este projeto? O que aconteceu para que eu
iniciasse esse projeto? Pense sempre: o que vou investigar?
• Pergunta: geralmente a criança faz uma pergunta diretamente, mas, às vezes, há
uma situação que não gera a pergunta, então o professor a faz.
• Objetivo Geral: o que se quer alcançar com este projeto? (Especificar em uma
frase).
• Objetivos Específicos: o que a criança vai fazer/desempenhar para atingir o objetivo
Geral?
• Metodologia: organização das atividades para que as crianças atinjam os objetivos
• Material Utilizado: descrição dos materiais necessários para o desenvolvimento do
projeto.
• Cronograma: aproximadamente quanto tempo irá levar o projeto, pois, às vezes,
planejamos para um tempo e ele acaba prolongando ou nem chegando ao planejado.
• Avaliação: o que se descobriu? Atingiu os objetivos? Como? Houve uma situação
que chamasse atenção? Qual?
Construção:
• Justificativa: por que estou fazendo este projeto? O que aconteceu para que eu
iniciasse esse Projeto? (Interesse, por necessidade de espaço para brincar etc.).
• Objetivo Geral: o que se quer alcançar com este projeto? (Especificar em uma frase).
• Objetivos Específicos: o que a criança vai fazer/desempenhar para atingir o objetivo
geral?
• Metodologia: organização das atividades para que as crianças atinjam os objetivos.
• Material Utilizado: descrição dos materiais necessários para o desenvolvimento do
projeto.
• Cronograma: aproximadamente quanto tempo irá levar o projeto, pois, às vezes,
planejamos para um tempo e ele acaba prolongando ou nem chegando ao planejado.
• Avaliação: o que se descobriu? Houve sugestões das crianças? Atingiu os objetivos?
Como? Houve uma situação que chamasse atenção?
305
Documentação Pedagógica:
306
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
307
AUTOATIVIDADE
1 Estudamos que um projeto educacional é construído por etapas. Sabemos também
que elas podem variar de acordo com as necessidades e característica de um grupo,
comunidade e nível de ensino. Analise cada sentença e ligue cada etapa com a
descrição correta de sua função na prática pedagógica.
( ) É uma ação a ser realizada; descrita de forma mais geral e também com o seu
detalhamento; está relacionado ao tema e problema do projeto; está alinhada à BNCC.
( ) São os conhecimento e habilidades que serão abordados; recomenda-se utilizar os
códigos alfanuméricos da BNCC e interligar com vários outros conhecimentos.
( ) Assunto de relevância, que contribuirá para o desenvolvimento de habilidade de
um grupo de estudantes e pode relacionar-se a diversas áreas do conhecimento.
( ) Como será realizado o projeto e quais os procedimentos que serão utilizados; aqui
pode-se citar materiais que serão necessários.
( ) Detalhamento do motivo do projeto e relevância em relação ao aprendizado
dos estudantes.
( ) O modo como será mensurado o aprendizado dos estudantes durante todo o
processo do projeto e p que será utilizado para isso.
( ) É uma ou mais questões a serem pesquisadas, que faz sentido para o grupo de
estudantes envolvidos com o projeto.
Por sua vez, o currículo pode ser definido como conjunto de saberes produzidos na
escola. Ele reflete todas as experiências relacionadas aos conhecimentos que serão
proporcionadas aos estudantes de um determinado curso.
309
Estes dois instrumentos ganham importância e relevância no processo educativo como
norteadores das atividades escolares. A construção coletiva é embasada na gestão
democrática, planejando-se as atividades escolares na busca do atendimento adequada
da escola à comunidade em que está inserida. Assim, a escola deve cumprir seu papel
social que é formar para a autonomia e cidadania.
I- Na prática escolar, além do currículo explícito, há o currículo oculto, não aparente aos
nossos olhos, porém muito significativo na vida escolar e na percepção do estudante.
II- No Brasil, não existe um currículo único nacional, porém a Base Nacional Curricular
Comum traz orientações e diretrizes aos componentes curriculares de cada nível de
ensino da Educação Básica.
III- A elaboração do PPP e do currículo é atribuição exclusiva da equipe gestora da
escola, de forma a inserir o currículo nas atividades educativas, visando atender os
estudantes de acordo com suas necessidades.
IV- Tanto o PPP quanto o currículo são planos que direcionam a escola na busca
do cumprimento dos objetivos; devem ser flexíveis diante das necessidades
de adaptação no cotidiano escolar e ser construídos e/ou reconstruídos
constantemente, tendo em vista as mudanças na sociedade.
V- Ao realizar a mediação entre escola e comunidade, o currículo possibilita a construção
da ação pedagógica por meio da articulação entre os conhecimentos construídos
na prática social e transmitidos, organizados e transformados na prática escolar; por
isso, o currículo, às vezes, apresenta divergências com o projeto político pedagógico
de uma instituição.
310
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