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Poder
do
Louvor
Merlin Carothers
“Agradeço a Deus pelas minhas limitações físicas, pois foi através delas que
achei a mim mesma, meu trabalho, e meu Deus.”
Helen Keller
“Peça a Deus a graça de ver sua mão em toda e qualquer provação, e depois
a graça... de se submeter imediatamente à situação. E não somente de se
submeter, mas também de concordar com aquela conjuntura, e regozijar -se
com ela... Creio que as dificuldades geralmente se acabam quando chegamos
a esse ponto.”
Charles H. Spurgeon
CAPÍTULO 1
O Poder do Louvor
O pai de Jim foi alcoólatra durante trinta anos. E todo esse tempo, a mãe do
rapaz, e mais tarde ele próprio e a sua jovem esposa, tinham pedido a Deus
que o curasse, mas sem nenhum resultado aparente. O pai nem ao menos
reconhecia que o álcool era um problema para ele. Além disso, se alguém
lhe falasse em religião ficava muito zangado e se afastava.
Certa vez, Jim ouviu-me falar sobre o poder que liberamos quando
começamos a louvar a Deus por tudo que acontece em nossa vida, em vez
de lhe suplicarmos que mude as circunstâncias que nos são adversas.
Jim levou para casa uma fita da conferência e tocou-a repetidamente para os
seus amigos. Um dia ocorreu-lhe uma lembrança: ele jamais louvara a Deus
pela situação do pai. Animadamente, comentou com a esposa: “Querida,
vamos agradecer a Deus porque papai bebe tanto, e louvá-lo por ser isso
uma parte do seu plano maravilhoso para a vida do papai!”
Durante o resto do dia, agradeceram e louvaram a Deus por todos os aspectos
da situação; à noite, sentiram uma sensação nova de excitação e expectativa.
No dia seguinte, os pais vieram, como sempre faziam, para o ajantarado de
domingo. O pai de Jim costumava ficar ali o mínimo tempo possível, saindo
logo depois da refeição. Desta vez, na hora do cafezinho, ele os surpreendeu
com uma pergunta.
"O que você acha desta Revolução de Jesus?" indagou de Jim. “Li alguma
coisa sobre isso nos jornais ontem à noite. Será uma mania ou estará mesmo
acontecendo alguma coisa a esses garotos que eram viciados em drogas?"
A pergunta levou-os a uma longa e franca discussão sobre o cristianismo. O
casal só partiu muito tarde naquela noite.
Algumas semanas depois, o pai de Jim reconheceu o seu problema de bebida.
Pediu o auxílio de Jesus Cristo e se curou completamente. Agora,
juntamente com a família, ele conta a outros o quanto o louvor a Deus é
poderoso!
"Pense só", disse-me Jim, “durante trinta anos pedimos a Deus que
modificasse o papai. Levamos apenas um dia louvando-o pela situação, e
veja o que aconteceu."
As frases “Glória ao Senhor!” ou “Graças a Deus!” são proferidas tão
levianamente, que a maioria das pessoas nem presta atenção ao seu
significado real.
Louvar quer dizer exaltar, elogiar, glorificar, aplaudir, aprovar. Louvar é,
portanto, ratificar, expressar a nossa aprovação a respeito de alguma coisa.
Dando a nossa aprovação, aceitamos ou concordamos com o que acontece.
Portanto, louvar a Deus por uma situação difícil, por uma doença ou
desgraça, quer dizer literalmente que aceitamos e aprovamos este
acontecimento como parte do plano de Deus para nossa vida.
Não podemos louvar a Deus sem estarmos agradecidos pelo que nos
acontece. E não podemos estar agradecidos sem estarmos felizes com as
circunstâncias. O louvor envolve, portanto, gratidão e alegria.
Louvar a Deus também significa que reconhecemos ser dele a
responsabilidade do que nos está acontecendo, e não um acaso. Senão, não
faria sentido agradecer-lhe.
"Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo dai graças, porque esta é
a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.” (1 Ts 5.16-18.)
Conheço muitas pessoas que aprenderam a louvar a Deus pelas
circunstâncias em que se encontram, apenas porque aceitaram a
determinação bíblica de que devem louvar a Deus por tudo. Louvando-o,
veem o resultado do seu constante agradecimento e da sua alegria; e,
consequentemente, sua fé é aumentada e elas continuam a louvar ao Senhor.
Há pessoas, entretanto, que acham isso um pouco mais difícil.
“Não consigo entender isto”, dizem elas. Tento louvar a Deus, mas é difícil
acreditar que ele tenha algo a ver com todas estas coisas horríveis que vêm-
me acontecendo ultimamente.”
Dizemos que não entendemos, e aí está a nossa dificuldade. O fato de não
entendermos se torna um obstáculo ao nosso relacionamento com Deus. Mas
Deus tem um plano perfeito para o nosso entendimento, e se o usarmos à
sua maneira, não será mais um empecilho, mas um maravilhoso impulso
para a nossa fé.
“Pois Deus é o Rei de toda a terra”, diz o salmista. “Cantai louvores com
inteligência.” (SI 47.7 — Rev. e Cor.)
Ninguém deve deixar de usar a inteligência, nem tampouco cerrar os dentes
obstinadamente e dizer: “Isso não faz sentido para mim, mas louvarei o
Senhor de qualquer maneira, se esta for a única maneira de eu sair desta
situação!”
Isso não é louvor; é manobra. É verdade que todos nós já tentamos manobrar
Deus. É maravilhoso pensar que ele nos ama tanto que nos deixa impunes!
Temos que louvar a Deus com o nosso entendimento, e não apesar dele.
Nosso entendimento nos atrapalha quando nos leva a tentar saber por que e
como Deus introduz certas circunstâncias em nossa vida. Jamais poderemos
compreender por que e como Deus age, mas ele quer que aceitemos, com o
nosso entendimento, que ele o faça. E isto é a base para o nosso louvor.
Deus quer que entendamos que ele nos ama e que ele tem um plano para nós.
“Sabemos que tudo quanto nos acontece está operando para o nosso próprio
bem, se amarmos a Deus e estivermos nos ajustando aos planos dele.” (Rm
8.28.)* 1
Será que você está rodeado por circunstâncias difíceis? Está lutando para
entender por que isto está acontecendo? Então procure aceitar, com todo o
seu entendimento, que Deus o ama, e que ele permitiu que tudo acontecesse
para o seu bem. Louve-o pelo que pôs à sua frente. Faça-o deliberadamente
e com entendimento.
Um certo casal foi a uma das minhas conferências. Falei sobre o louvor a
Deus em toda e qualquer circunstância. Os dois foram para casa muito
perturbados. Estavam aflitos, já havia alguns meses, porque sua filha estava
internada numa clínica para doentes mentais e o diagnóstico era:
irremediavelmente demente.
Diversos grupos de oração por todo o país estavam orando por ela, e
diariamente seus pais dobravam os joelhos e suplicavam a Deus que a
curasse. Mas tudo continuava na mesma.
1 As referências bíblicas identificadas por asterisco foram extraídas de O Novo Testamento Vivo.
O desafio de louvar a Deus pela condição em que se achava a filha d eixou-
os confusos e mais aflitos.
“Parece-me uma blasfêmia”, disse a esposa, “agradecer a Deus por essa
desgraça. Será que agradecer a Deus não é acusá-lo de estar deliberadamente
fazendo mal à nossa filha? Isso não se harmoniza com minha ideia de um
Deus amoroso.”
“Não parece certo”, concordou o marido. “Mas, e se o pregador estiver com
a razão?”
Ela olhou para o marido, desanimada. “Não sei o que fazer.”
“Não temos nada a perder, respondeu ele pensativamente. “Por que não
tentamos?”
Ajoelharam e oraram.
“Deus querido”, começou o esposo, “sabemos que tu nos amas e que o teu
amor por nossa filha é ainda maior do que o amor que temos por ela. Nós
vamos crer que tu estás realizando em sua vida aquilo que achas melhor para
ela. Portanto, nós te agradecemos pela sua doença, agradecemos-te porque
ela está no hospital, agradecemos-te porque os médicos não sabem o que
fazer para curá-la. Nós te louvamos, ó Deus, pela tua sabedoria e pelo teu
amor para conosco...”
Quanto mais eles oravam naquele dia, mais convencidos ficavam de que
Deus estava mesmo fazendo o que era melhor.
Na manhã seguinte, o psiquiatra do hospital telefonou.
“Houve uma mudança extraordinária em sua filha. Gostaria que viessem vê -
la.”
Duas semanas depois, ela saiu do hospital.
Passou-se um ano, e certo dia um jovem veio me procurar ao término de
uma reunião. Ele se apresentou como o irmão daquela moça, e contou-me
que ela estava casada, esperando nenê, e “era a mulher mais feliz do
mundo”!
Certa vez uma senhora pediu-me que orasse em favor de sua filha que era
dançarina de um cabaré. Eu lhe disse que teria prazer em orar juntamente
com ela, agradecendo a Deus pela situação da filha. Aquela mãe me olhou
horrorizada.
“Não me diga que o senhor espera que eu agradeça a Deus por minha filha
zombar dos preceitos morais e da religião. Eu teria que agradecer era ao
diabo por essa desgraça, não a um Deus amoroso!”
Essa mãe tinha diante de si uma escolha muito difícil. Tinha sido
condicionada durante toda sua vida a agradecer a Deus por tudo que fosse
bom e a responsabilizar o diabo por tudo que fosse mau. Juntos, procuramos
na Bíblia os versículos que declaram que Deus é capaz de fazer com que
todas as coisas se tornem em bem para aqueles que o amam e confiam nele,
e que ele quer que sejamos agradecidos em tudo, mesmo que a nossa situação
seja a pior possível.
“A senhora pode continuar pensando que o que acontece à sua filha é
controlado pelo diabo, e, pela sua falta de fé, impedir que o Senhor realize
os seus perfeitos desígnios para ela. Ou pode crer que Deus está tomando
conta da situação, agradecer-lhe por tudo, e com isso, liberar o poder para
modificar a vida de sua filha.”
Finalmente, a senhora concordou em experimentar.
“Não entendo por que deva ser assim”, disse ela, “mas vou acreditar que
Deus sabe o que está fazendo, e vou agradecer-lhe por isso.”
Oramos, e a mãe foi embora com a paz de coração renovada.
“Pela primeira vez, não estou absolutamente preocupada com a minha filha”,
disse-me com satisfação.
Mais tarde ela me contou o que aconteceu.
Naquela mesma noite, sua filha estava dançando quase nua no seu pequeno
tablado, quando um jovem entrou no cabaré. Ele foi direto à garota, olhou
para ela, e disse: “Jesus a ama, e muito!”
A garota estava acostumada a ouvir todo tipo de piadinhas, mas jamais uma
frase como aquela. Desceu dali, sentou-se com o rapaz numa mesa, e
perguntou: “Por que você disse isso?”
Ele explicou que estava passando por ali quando sentiu que Deus o impelia
a entrar e dizer à dançarina que Jesus Cristo lhe estava oferecendo a dádiva
gratuita da vida eterna.
A garota fitou-o estupefata. E com os olhos cheios de lágrimas,
tranquilamente, respondeu: “Gostaria de receber esta dádiva.” E a recebeu,
ali mesmo, na mesa do cabaré.
Louvar a Deus não é um remédio patenteado, uma panaceia ou uma fórmula
mágica para o sucesso. É um modo de vida, firmemente baseado na Palavra
de Deus. Nós louvamos a Deus, não pelos resultados que esperamos, mas
pela situação tal como ela é.
Se louvarmos a Deus, pensando intimamente nos resultados que gostaríamos
de obter, estamos apenas nos enganando, e podemos estar certos de que a
nossa situação não se modificará.
O louvor é fundamentado numa aceitação total e prazerosa do que está -nos
acontecendo, como sendo parte da tema e perfeita vontade de Deus para
nós. O louvor não é baseado no que pensamos nem tampouco naquilo que
esperamos que aconteça no futuro. Isto é uma “lei” essencial. Não é possível
praticar o louvor, sem observá-la.
Louvamos a Deus não pelo que esperamos que aconteça em nós ou ao nosso
redor, mas pelo que ele é, e pelo lugar e situação em que nos achamos agora,
neste momento!
É verdade que, quando louvamos a Deus sinceramente, algo acontece em
consequência. Obviamente o seu poder penetra na dificuldade, e notamos,
mais cedo ou mais tarde, que se operou uma mudança em nós ou nas
circunstâncias que nos cercam. Pode ser que passemos a sentir alegria e
felicidade em meio a uma situação que antes nos parecia terrível; ou a
própria situação pode se modificar inteiramente. Mas isto deve resultar do
louvor. Não deve ser a motivação dele.
O louvor não é uma barganha. Nós não dizemos: “Eu te louvarei, ó Senhor,
para que me abençoes.”
Louvar a Deus é alegrar-se nele. O salmista escreveu: “Deleita-te também
no Senhor, e ele te concederá o que deseja o teu coração.” (SI 37.4 — Rev.
e Cor.)
Notemos aqui a ordem do versículo. Não é que façamos primeiramente uma
lista dos nossos desejos e depois nos alegremos no Senhor para consegui -
los. Não. Devemos nos alegrar primeiro, e, quando tivermo-nos realmente
alegrado em Deus, descobriremos que todas as outras coisas se tornam
secundárias. Entretanto, é verdade que Deus quer nos conceder todos os
desejos do nosso coração. O seu desejo e o seu plano para nossa vida não é
nada menos do que isso.
Ah, se pudéssemos ao menos aprender a nos alegrar no Senhor por todas as
coisas, em primeiro lugar!
Um casal crente tinha dois filhos. Um deles era o seu orgulho e a sua alegria.
Morava com os pais e partilhava da sua fé cristã, num ambiente de
compreensão e harmonia.
Certa vez, quando eu jantava com eles, contaram-me que o filho mais velho
tinha se rebelado e saído de casa. Formara-se na universidade com distinção,
mas abandonara os pais e a sociedade. Agora, perambulava pelo país como
“hippie”, aparentemente sem objetivo na vida.
Os pobres pais queriam o meu auxílio. Expliquei-lhes que eu acreditava que
esse filho tinha-lhes sido dado por Deus para que fosse salvo, e que o Senhor
estava atendendo às orações deles.
“Se as orações são sinceras, podem estar certos de que a vida que o seu filho
leva é exatamente o que Deus sabe ser o melhor para ele e para vocês!”
disse-lhes.
“Entendo”, disse o pai. “Desejamos para o nosso filho aquilo que seja
melhor para ele, e isto deve ser o plano e a vontade de Deus para todos nós.”
Demo-nos as mãos ao redor da mesa de jantar e agradecemos a Deus por
estar realizando o seu plano da maneira que ele sabia ser a melhor. Depois
disto, os pais sentiram um grande alívio e uma nova paz.
Dentro de pouco tempo, a família me escreveu. Após aquele encontro, os
pais tinham persistido em agradecer a Deus pelo modo de vida do filho,
apesar de não entendê-la muito bem. Então, certo dia, o rapaz sofreu um
acidente de bicicleta, contundindo o pé.
Temporariamente incapacitado de andar, decidiu passar uns dias em casa.
Disse aos pais que tinha dívidas por todo o país. Estes oraram a respeito do
assunto e decidiram que, se Deus estava mesmo realizando o seu plano em
todos os acontecimentos da vida do filho, ele também tinha permitido que
contraísse dívidas. Assim, agradeceram-lhe por elas, e pagaram tudo!
O jovem ficou grandemente admirado! Esperava ser repreendido. Pensava
que iriam dizer-lhe para resolver tudo ele mesmo. Em vez disso, os pais
agiam com calma, mostravam-se carinhosos, e pareciam aceitar a sua
maneira diferente de vestir e o seu cabelo eternamente despenteado.
Certa noite, alguns jovens cristãos vieram visitar o rapaz mais moço. O mais
velho ficou muito irritado com essa intromissão, mas por causa do pé
machucado viu-se impedido de sair de casa. Os jovens começaram a
testemunhar entusiasticamente acerca do que Jesus Cristo tinha feito e
estava fazendo em sua vida. A princípio, o rapaz fez críticas mordazes ao
que ele chamava de maneira ingênua e visionária de encarar a vida, mas
depois passou a escutar atentamente e a fazer perguntas. E o que aconteceu?
Antes que os jovens se retirassem, ele havia entregue sua vida a Jesus Cristo!
Foi com muita alegria que os pais me escreveram contando a drástica
mudança operada no filho. Ele passou a seguir a Jesus e a servi-lo. Começou
a estudar a Bíblia avidamente. Pediu e recebeu o batismo do Espírito Santo,
a experiência que os seguidores de Jesus receberam no primeiro dia de
Pentecostes, depois da morte e ressurreição de Cristo. Não demorou muito,
encontrou uma garota cristã. Duas semanas depois ficava noivo dela.
Meses de oração angustiosa e preocupações não tinham trazido mudança
alguma à vida do jovem. Somente depois que os pais se voltaram para Deus,
numa atitude de plena aceitação das condições em que o rapaz vivia, foi que
a porta se abriu para que o Senhor realizasse seu plano perfeito para a família
toda.
Deus tem um plano perfeito para nossa vida. Acontece que, muitas vezes,
nós olhamos para as circunstâncias que nos rodeiam e cremos que estamos
eternamente parados no mesmo lugar. Quanto mais oramos, e suplicamos a
Deus o seu auxílio, mais a situação parece piorar. A mudança só virá quando
começarmos a louvar a Deus por tudo, do modo como está, ao invés de
suplicar que ele afaste a dificuldade do nosso caminho.
Uma senhora ainda jovem escreveu-me contando que estava numa situação
aflitiva. Alguns acontecimentos de circunstâncias muito embaraçosas
fizeram com que ela perdesse o respeito próprio, e ela começou a se
descuidar de sua aparência.
“Meu consolo era comer”, escreveu ela; “e comecei a engordar tanto que
parecia um barril. Meu marido começou a se interessar por outras mulheres
e, por fim, abandonou-me e pediu o divórcio.”
As dívidas foram-se acumulando, e ela foi ficando mais e mais tensa,
passando a pensar em suicídio, ideia que se tornava cada vez mais insistente.
“Durante todo esse tempo não parei de orar”, continuou. “Lia a Bíblia, ia à
igreja em toda e qualquer oportunidade, e pedia a todos os conhecidos que
orassem por mim. Meus amigos cristãos viviam me dizendo: “Conserve a
fé. Não deixe que isso a deprima. As coisas vão melhorar.” Mas tudo ia de
mal a pior. Então deram-me um exemplar de Louvor que Liberta. Li, e a
princípio não me parecia que o senhor estivesse falando sério. Ninguém em
seu juízo perfeito podia esperar que eu fosse agradecida por tudo o que
estava-me acontecendo no momento! Quanto mais eu lia, mais eu chorava.
Aos poucos, comecei a compreender que o senhor dizia a verdade. Aqueles
versículos sobre agradecimento a Deus por todas as coisas... Eu já os tinha
lido inúmeras vezes na Bíblia e, na verdade, nunca os tinha entendido.”
Ela resolveu passar a agradecer a Deus por tudo. Afinal de contas, o que é
que ela tinha a perder? Sabia que estava engordando tanto que, a qualquer
momento, poderia ter um ataque cardíaco. Com um tênue vislumbre de
esperança, ajoelhou-se para orar.
“Deus, agradeço-te pela minha vida, como ela é. Foste tu que me deste cada
um dos problemas para que eu me achasse justamente no estado em que
estou. Tu não permitirias que isso acontecesse, se não fosse para o meu bem.
Ó Senhor, sei que tu realmente me amas! É isto mesmo que eu quero dizer,
Deus; eu sei que me amas...”
Nesse ponto a sua oração foi interrompida pelo latido do cão. Era o carteiro
que chegava. Ele sempre fazia um grande alarido a cada pessoa estranha que
ali chegava. Isto era um destes incidentes extremamente irritantes que
tornavam sua vida intolerável. Ela ergueu-se e foi até a porta para zangar
com o cachorro, e então uma lembrança lhe ocorreu: “Devo ser agradecida
por tudo.’’ “Está bem, Senhor, agradeço-te por meu cachorro gostar tanto
de latir.”
Olhou espantada para o sobrescrito do envelope feito à mão. Impossível! Há
meses o marido não dava sinal de vida! Deus não podia ter agido tão
rapidamente. Com mãos trêmulas, abriu a carta e leu: “Se você ainda quiser,
pode ser que haja um jeito de resolvermos nossos problemas.”
O senso de oportunidade de Deus tinha sido perfeito. Com alegria no
coração, ela agora cria que Deus estava mesmo interferindo em sua vida,
para o seu bem. Passou a perder o excesso de peso como manteiga
escorrendo de um prato quente. Os amigos começaram a comentar: “Você
está tão bem! O que lhe aconteceu? Nem parece a mesma pessoa!”
A mesma pessoa? Sim e não. Era a mesma pessoa física, mas vivia agora em
uma nova dimensão de fé, sabendo que Deus estava atuando em cada detalhe
de sua vida, para o seu bem. O marido voltou para ela. Escreveu-me uma
carta: “Algumas vezes, acordo pela manhã falando com Deus, dizendo
coisas tais como: “ô Deus, obrigada por este dia tão bonito. Eu te amo,
Senhor!”
O momento decisivo de sua vida ocorrera quando ela passara a aceitar as
situações difíceis com gratidão. Esta é uma ilustração perfeita da atuação
deste princípio espiritual.
Deus tem um plano perfeito para nossa vida. Todavia, ele não pode nos
auxiliar antes de aceitarmos alegremente nossa situação atual, como sendo
parte do seu plano. Depois disto, o passo seguinte é de Deus, não nosso.
Algumas pessoas negam esse fato. Vendo a transformação na vida das
pessoas que aprendem a louvar a Deus por tudo, elas argumentam que a
explicação é muito simples.
Dizem: “A mudança da atitude interior muda as circunstâncias. É
psicológico. Quando alguém para de se queixar e começa a sorrir, sente-se
diferente. Os outros o tratam melhor, e a sua vida sofre uma mudança radical
para melhor.”
Eu concordo que a afirmação: “Sorria e o mundo sorrirá para você; chore e
chorará sozinho”, é verdadeira até certo ponto. Mas, louvar a Deus não é
apenas uma mudança de atitude.
Não há poder em nossas palavras de louvor, pelas palavras em si. Não há
poder em nossa atitude de gratidão e de alegria. Todo o poder vem de Deus.
Precisamos nos lembrar disso constantemente. Ê fácil cair no erro de pensar
que nós temos o poder de manipular ou mudar a conjuntura, simplesmente
recitando uma certa oração.
Quando aceitamos uma situação e agradecemos a Deus por ela com toda a
sinceridade, acreditando que foi causada por ele, liberta-se uma força
sobrenatural, divina, que opera mudanças realmente notáveis.
Quando eu era capelão em Fort Benning, Geórgia, um soldado trouxe a sua
esposa ao meu escritório para que eu a ajudasse. Ela estava sofrendo com os
horríveis “reverteres” do LSD e os médicos não conseguiam curá-la. Q medo
e a dor tinham deixado rugas profundas no seu lindo rosto.
“Não consigo dormir. Não posso nem fechar os olhos um minuto, sem ve r
animais horríveis arremetendo contra mim”, disse ela.
Seu marido explicou que, todas as vezes que sua esposa adormecia dominada
pela exaustão, começava imediatamente a berrar.
Ele contou: “Tento acordá-la, sacudindo-a, mas às vezes demora uns dez
minutos para que ela recobre a consciência, e durante o tempo todo ela grita
tão angustiada, que eu também já estou desesperado.”
Escutei atentamente a trágica história, e depois disse: “Tenho apenas uma
sugestão. Por favor, ajoelhem-se comigo, e vamos agradecer a Deus pelo
que acontece com vocês.”
Ambos me encararam muito admirados, como se não estivessem muito
certos do que eu queria dizer com aquilo. Calmamente, contei-lhes como eu
tinha descoberto que Deus quer que sejamos agradecidos por todas as coisas.
“Tudo que aconteceu na vida de vocês até hoje”, disse-lhes, “serviu para
trazê-los para o ponto em que se encontram agora. Sei que Deus os ama e
lhes dará uma bênção maravilhosa. Mas ele quer que agora vocês lhe
agradeçam por todas as coisas que lhes aconteceram, fazendo com que
viessem aqui procurá-lo.”
Abri a Bíblia e lhes mostrei alguns versículos que havia sublinhado.
Ambos concordaram com o que acabavam de ouvir, e se ajoelharam para
agradecer a Deus por tudo o que acontecia em suas vidas, principalmen te
pelas alucinações resultantes das drogas. E eu pude sentir a presença de
Deus no meu gabinete.
“O Espírito Santo está curando-a agora”, falei-lhes. Coloquei a mão na
cabeça da moça e orei: “Agradeço-te, Senhor, por estares curando esta
moça.”
Ela abriu os olhos e fitou-me admirada: “Alguma coisa me aconteceu.
Quando fechei os olhos para orar, não vi nenhuma alucinação!”
“Jesus curou-a”, respondi. “Agora ele deseja entrar em sua vida como
Salvador. Quer aceitá-lo?”
Prontamente os dois disseram: “Sim!” E, ainda de joelhos, pediram a Jesus
que entrasse em suas vidas. Saíram do meu escritório exultantes.
A cura da moça foi definitiva. Nunca mais lhe voltaram as alucinações. O
domínio que a droga exercia sobre sua mente foi quebrado pelo poder de
Deus.
A medicina já confessou sua incapacidade de curar os viciados em drogas
que fazem uso delas há muito tempo. Entretanto, nos últimos anos, temos
ouvido casos, cada vez mais numerosos, de viciados com dez, vinte ou trinta
anos de forte dependência dos entorpecentes, que conseguem se libertar do
vício graças à intervenção sobrenatural de Deus em suas vidas.
Essa mudança não resulta de uma nova atitude do viciado, nem tampouco
de uma força de vontade obstinada, e sim de uma operação do poder de Deus
em vidas humanas.
Nossas orações sinceras abrem a porta para o poder de Deus penetrar em
nossa vida. Mas a oração de louvor liberta o poder de Deus mais que
qualquer outra. A Bíblia está cheia de exemplos que demonstram esse fato.
“Contudo tu és Santo, entronizado entre os louvores de Israel”, é o que
lemos no Salmo 22, v.3. Não é de admirar que o poder de Deus e a sua
presença sejam tão sentidos quando o louvamos. Ele praticamente mora,
vive, reside em nossos louvores!
Em 2 Crônicas, capítulo 20, acha-se um exemplo extraordinário de como
Deus atua quando o louvamos.
Josafá era rei de Judá, e certo dia descobriu que o seu pequeno reino estava
rodeado pelos poderosos exércitos de seus inimigos: os filhos de Moabe, os
de Amon e alguns amonitas. Josafá sabia que a pequenina nação de Judá não
tinha poder para rechaçar os inimigos, e clamou a Deus:
“Porque em nós não há força para resistirmos a essa grande multidão que
vem contra nós, e não sabemos nós o que fazer; porém os nossos olhos estão
postos em ti.” (2 Cr 20.12).
Uma providência importante no ato de louvar a Deus é afastar os olhos das
circunstâncias ameaçadoras e fixá-los somente em Deus. Notemos que
Josafá não estava fechando os olhos à ameaça que vinha contra o seu reino,
e tampouco estava procurando ignorar os inimigos que o rodeavam. Ele fez
um balanço cuidadoso da situação, reconheceu a sua própria incapacidade,
e voltou-se para Deus pedindo o seu auxílio.
Nós não podemos ignorar as tremendas forças do mal que nos ameaçam.
Reconhecê-las, exatamente como são, dá-nos um motivo ainda maior para
louvar e agradecer a Deus por estar ele modificando essas ameaças, com a
sua autoridade e o seu controle perfeitos. Não precisamos ficar preocupados
porque o mal aparece em nossa vida. Basta reconhecê-lo, admitir a nossa
incapacidade de luta, e nos voltarmos para Deus.
Deus disse a Josafá: “Não temais, nem vos assusteis por causa dessa grande
multidão, pois a peleja não é vossa, mas de Deus.” (2 Cr 20.15.)
Isso é uma afirmação de grande peso. Nós não temos capacidade para
superar as dificuldades que nos cercam, portanto, a batalha não é nossa, mas
de Deus!
“Neste encontro não tereis de pelejar; tomai posição, e ficai parados, e vede
o salvamento que o Senhor...”
Que promessa! Que posição será que Deus desejava que Josafá tomasse,
parado e observando a ação de Deus?
No outro dia, pela manhã, Josafá deu a seguinte ordem ao seu exército:
“Ordenou cantores para o Senhor, que, vestidos de ornamentos sagrados, e
marchando à frente do exército, louvassem a Deus, dizendo: Rendei graças
ao Senhor, porque a sua misericórdia dura para sempre!” (2 Cr 20.21.)
Esta cena teve lugar bem em frente à massa militar inimiga, pronta a
massacrar os homens de Judá. Imagine-se a reação daqueles capitães de
exército ao verem o pequeno bando de cantores vindo ao encontro deles no
campo de batalha?
Fui capelão do exército durante muitos anos, e várias vezes tive o ensejo de
ver homens se prepararem para a batalha. Mas jamais vi um general ordenar
a suas tropas que permanecessem quietas defronte às linhas inimi gas,
enquanto um grupo de cantores avançava cantando louvores a Deus.
Não parece uma ideia estranha? O nosso entendimento tem uma forte
tendência para não aceitar tal tipo de situação.
“Está certo louvar a Deus quando em situação difícil”, podemos raciocinar,
“mas não sejamos ridículos. Deus ajuda aqueles que se ajudam. O mínimo
que podemos fazer é lutar valentemente da melhor forma que pudermos.
Então deixaremos o resto para ele.”
Mas o que foi que aconteceu a Josafá e os seus homens?
“Tendo eles começado a cantar e a dar louvores, pôs o Senhor emb oscadas
contra os filhos de Amon e de Moabe, e os do monte Seir que vieram contra
Judá, e foram desbaratados. Porque os filhos de Amon e de Moabe se
levantaram contra os moradores do monte Seir, para os destruir e
exterminar; e, tendo eles dado cabo dos moradores de Seir, ajudaram uns
aos outros a destruir-se.” (2 Cr 20.22-23.)
É lícito presumir que, se Josafá tivesse resolvido a se precaver, e mandasse
os seus homens à luta, o resultado teria sido muito diferente.
Muitos de nós somos constantemente derrotados pelas circunstâncias que
nos rodeiam porque não estamos prontos a aceitar o fato de que a batalha é
de Deus, e não nossa. Mesmo quando nos damos conta da nossa própria
incapacidade de enfrentar o inimigo, temos receio de nos confiarmos
inteiramente ao poder de Deus. Deixamos que o nosso entendimento adote
uma posição errada em nossas vidas. Dizemos: “Não entendo, portanto não
tenho coragem de acreditar.”
A Palavra de Deus esclarece que o “andar na fé” é a única saída para o
dilema. Acreditar que as promessas de Deus são válidas, aceitá-las, e ter a
coragem de confiar nelas leva-nos a um entendimento delas. O princípio
bíblico a este respeito é muito claro: a aceitação vem antes do entendimento.
A razão é muito simples. Nosso entendimento humano é tão limitado que
não nos é possível compreender a magnitude do plano divino e o seu
proposito para a sua criação- Se o nosso entendimento tivesse que vir antes
da aceitação, não teríamos capacidade para aceitar muita coisa.
Josafá jamais se atreveria a seguir o plano de Deus para a batalha se
insistisse em entendê-lo. Indubitavelmente, a proposta e a promessa de Deus
o confundiram bastante, pois estavam acima de sua compreensão. Mas,
conforme lemos no relato, Josafá era um homem que acreditava e confiava
em Deus. Com o seu entendimento, ele confiou em Deus.
Josué foi outro líder que recebeu ordens de Deus em campo de batalha,
ordens que devem tê-lo espantado e devem ter desafiado a sua disposição de
aceitar um fato que pareceria absurdo a muitos.
Existe até um corinho que diz: “Vem com Josué lutar em Jerico, ...e as
muralhas ruirão.”
A cidade de Jerico era uma fortaleza inexpugnável, e os israelitas, um povo
nômade que andara pelo deserto durante quarenta anos, certamente não
tinham armas nem a força bélica para tomar a cidade. Mas Josué acreditou
na promessa de Deus de que entregaria os inimigos de Israel em suas mãos.
Deus ordenou a Josué que todos os seus homens de guerra marchassem em
fila ao redor de Jerico durante seis dias. No sétimo dia, eles deviam tocar as
buzinas e gritar. “... e o muro da cidade cairá abaixo, e o povo subirá nele,
cada qual em frente de si.” (Js 6.5.)
Josué confiou em Deus. Imagino o que nós teríamos pensado e dito se
fossemos um de seus seguidores. Teríamos resmungado e rejeitado aquela
temerária sugestão? Posso imaginar o que os habitantes de Jerico pensaram
ao ver os israelitas marcharem ao redor da sua cidade, carregando a A rca da
Aliança, enquanto eles próprios se achavam dentro das resistentes e bem
fortificadas muralhas da cidade.
Houve um tempo em que eu pensei que este relato da batalha de Jericó fosse
uma mistura de mito, exagero e conto de fadas. Entretanto, recentemen te
alguns arqueólogos localizaram as ruínas da antiga Jerico, e comprovaram
que os muros da cidade realmente ruíram em época correspondente ao relato
bíblico. Na verdade, os muros de Jerico desmoronaram. O poder de Deus
operava enquanto o seu povo demonstrava a sua confiança e a sua fé nele,
louvando-o com trombetas e brados.
Os exemplos de Josafá e Josué demonstram claramente que Deus consegue
nossas vitórias por métodos e princípios que parecem inteiramente ridículos
e incoerentes aos olhos da nossa sabedoria e estratégia humanas.
Nossa parte consiste em confiar nele, louvá-lo, e ficar atentos ao seu
trabalho. Jesus agiu sempre assim durante o seu ministério em Israel. Ele
admitiu francamente que por si mesmo nada podia fazer. Sua tarefa era
submeter- se à vontade do Pai em obediência perfeita, com confiança e fé, a
fim de que o poder de Deus pudesse fluir para satisfazer as necessidades do
povo.
Podemos examinar algumas das orações de Jesus diante de problemas
difíceis.
Vejamos, por exemplo, o caso dos cinco mil que o seguiram para fora da
cidade para ouvi-lo pregar. Estavam com fome. O único alimento disponível
era o lanche de um garotinho: cinco pães e dois peixes.
Qual foi a oração de Jesus? Será que ele implorou a Deus que operasse um
milagre?
“... olhou para o céu, e agradeceu a Deus. Depois partiu os pães e entregou
aos discípulos para distribuírem ao povo. E dividiu os dois peixes com
todos. Todos comeram e ficaram satisfeitos. E os discípulos recolheram
ainda doze cestos cheios de pedaços de pão e de peixe.” (Mc 6.41-43 — A
Bíblia na Linguagem de Hoje.)
Alguém poderia dizer: “Mas isto foi feito por Jesus. Ele sabia o que Deus
podia fazer. Isso não funcionaria para nós!”
Mas Jesus disse aos seus seguidores: “Em verdade, em verdade vos digo que
aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço, e outras maiores
fará, porque eu vou para junto do Pai. E tudo quanto pedirdes em meu nome,
isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho.” (Jo 14.12 -13.)
Jesus disse que nós poderíamos fazer coisas maiores. Quererá isso dizer que
Deus provavelmente tem algum plano com relação à fome do mundo e à
esperada falta de alimento predita tão solenemente por especialistas em
meio-ambiente e em agricultura?
Acredito que sim. Conheço diversos casos de pessoas que levaram a Palavra
de Deus a sério, agradeceram-lhe, e o louvaram por ter pouco alimento, e
viram este alimento satisfazer mais pessoas do que era de se esperar.
Quando Jesus se defrontou com a questão da morte de Lázaro, ele
novamente fez uma oração muito simples de agradecimento. Quando a pedra
foi retirada da entrada do túmulo onde Lázaro tinha sido sepultado havia
quatro dias, Jesus levantou os olhos e disse: “Pai, eu te agradeço porque me
ouviste.” (Jo 11.41.) Ordenou, então, que Lazaro deixasse o túmulo. E
aquele homem que tinha estado morto durante quatro dias saiu andando da
sepultura. A Bíblia diz que Jesus desceu à terra para que nós pudéssemos
louvar a Deus. O profeta Isaías profetizou a vinda de Jesus e disse que ele
viria “para pregar boas-novas... curar os quebrantados de coração, a
proclamar libertação aos cativos (física e espiritualmente) e a pôr em
liberdade os algemados, a consolar todos os que choram... vestes de louvor
em vez de espírito angustiado.” (Is 61.1-3.)
Nessa exposição pode estar incluída a sua situação. Você está abatido? Preso
por limitações físicas, por doenças ou por limitações espirituais? Está em
prisão física, ou preso por sua própria cegueira espiritual? Está com o
coração em prantos? Incapaz de regozijar-se, de ser agradecido, ou de louvar
a Deus? Será que o seu espírito está fortemente oprimido e enfraquecido?
Talvez isso aconteça por você não ter ainda aceitado e entendido as boas -
novas que Jesus veio trazer à terra.
O louvor é uma reação positiva de nossa parte a algo que sabemos que Deus
fez e está fazendo para nós e por nós, em nossa vida, e neste mundo, através
do seu Filho Jesus Cristo e da pessoa do Espírito Santo.
Se duvidamos do que Deus fez e está fazendo, não podemos louvá-lo de todo
o coração. Uma barreira se levanta, e tornamo-nos incapazes de louvar a
Deus, se não temos certeza de que as boas-novas nos pertencem. Para sermos
capazes de louvar a Deus em todas as coisas, é preciso que a nossa base seja
sólida, e que não haja dúvidas nem incertezas.
CAPÍTULO 2
Ouça as Boas-Novas!
Se eu oferecer ao leitor cinquenta centavos de presente, é claro que isso não
lhe causará emoção alguma. Você achará estranho, e talvez até se ria de
mim. Se eu lhe der outra moeda de cinquenta centavos, você não entenderá
minha atitude. Se eu continuar a lhe dar moedas, chegando a lhe dar vinte
moedas de cinquenta centavos,’ você poderá talvez se interessar um pouco,
mas ainda assim não sabe a razão de tal procedimento.
Se, porém, eu lhe oferecer a quantia de dez mil cruzeiros, certamente você
vai ficar felicíssimo. Se eu lhe der quinhentos mil cruzeiros? Você vai me
olhar muito espantado, e pensara que e uma pessoa de sorte. É capaz de dar
um berro de alegria, e provavelmente vai querer contar a outros,
imediatamente, o que lhe aconteceu! Você falará nisso pelo resto de sua
vida. “Escuta; já lhe falei do presente de quinhentos mil cruzeiros que
recebi?”
Deus oferece aos homens muitas dádivas maravilhosas. Basta solicitá -las.
Pode ser que você só conheça dádivas divinas no valor de cinquenta
centavos. E ninguém se entusiasma muito com um presente de cinquenta
centavos. Você não chora lágrimas de gratidão e alegria quando pensa na
bondade de Deus. Onde está o erro? Estaria nas dádivas de Deus?
Absolutamente não!
Acontece que você está vivendo numa mentalidade de cinquenta centavos!
O mundo está cheio de gente que vai à igreja e se diz religiosa, mas cuja
concepção da dádiva da vida eterna que nos foi dada por Deus é de apenas
cinquenta centavos. Essas pessoas acham que devem despender todas as suas
forças para viver uma vida adequada a fim de conservar a “dádiva” recebida.
E esse esforço para viver uma vida adequada deixa-as numa tensão tal, que
muitas vezes elas se indagam se vale mesmo a pena ser cristão.
Não é de se admirar que tais cristãos não tenham entusiasmo algum para
falar aos outros a respeito das boas-novas. Para eles, as boas-novas
significam apenas ir ao culto aos domingos, afastar-se de coisas que podiam
ser muito divertidas, e dar à igreja uma parte do seu dinheiri nho —
duramente ganho — na hora das ofertas.
Se é esta a sua “salvação”, entendo perfeitamente por que você passa as suas
horas de lazer vendo televisão. Se esta é a sua “salvação”, entendo muito
bem por que você jamais falou ao seu vizinho ou a um desconhecido sobre
o amor de Deus, sobre o maravilhoso amor de Deus por nós. Para você, a
dádiva de Deus é como se fosse um presente de cinquenta centavos. Que
interesse tem isso para você? Você não precisa de um presente desses.
Mas, se você recebesse um presente de milhares de cruzeiros, até gostaria
de receber mais! E estaria disposto a contar isso a todo o mundo, para que
outros também pudessem ganhá-los.
Todos nós queremos presentes de valor. Gastam-se bilhões de cruzeiros
anualmente na esperança de se obter algo. Temos uma ânsia inerente de
adquirir qualquer coisa de valor.
Acontece que as dádivas que Deus nos dá valem muito e muito mais do que
milhões ou bilhões de cruzeiros. E ele não as dá somente àqueles que têm
um certo padrão de conduta. O preço delas já foi pago por Cristo.
Diz o Senhbr: “Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a inteligência
dos entendidos.” (1 Co 1.19.)
No contexto da vida que levamos, não nos é fácil compreender que Deus nos
ofereça gratuitamente o perdão dos pecados e, também, a vida eterna.
Durante toda a nossa existência temos sido condicionados a acreditar que
receberemos somente aquilo que merecemos ou o que estamos dispostos a
pagar. O plano de Deus de nos dar uma dádiva inteiramente gratuita parece -
nos tão impossível, que tentamos acrescentar algo à sua oferta. Pensamos ou
dizemos: “Receberei a sua dádiva gratuita se eu fizer isso ou aquilo.”
“Porque é de Deus que procede, exclusivamente, que vocês tenham essa vida
por meio de Cristo Jesus”, escreveu Paulo. “Foi Ele quem nos fez aceitáveis
diante de Deus; Ele nos fez puros e santos, e deu-Se a Si mesmo para
comprar a nossa salvação.” (1 Co 1.30.)*
Quando ouvimos uma notícia maravilhosa como essa, o mais importante a
fazer é decidir se Cristo tem ou não tem autoridade e poder para nos dar vida
eterna, sem pedir que façamos alguma coisa para merecê-la. Se achamos que
ele não tem poder nem autoridade, então será preciso fazermos algo para
nos entendermos com Deus. Teremos que nos esforçar durante toda a vida
para nos igualarmos aos padrões propostos por ele. Mas a Palavra de Deus
declara que jamais conseguiremos isso, por mais que nos esforcemos. O fato
de nos esforçarmos para mostrar nossa própria bondade equivale a dizer que
Deus é mentiroso!
“Toda a bondade divina foi derramada sobre nós, pecadores indignos,
através de Cristo; e assim Ele nos envia por todo o mundo a fim de contar
ao povo — em toda parte — as grandes coisas que Deus tem feito por eles”,
escreveu Paulo. (Rm 1.5.)*
Paulo recebera um presente no valor de “milhares de cruzeiros”, e estava
entusiasmado com ele. Estava decidido a contar o fato a todo o mundo.
"Esta Boa Nova nos diz que Deus nos prepara para o céu — e nos faz justos
aos olhos de Deus — quando colocamos nossa fé e nossa confiança em
Cristo como Salvador.” (Rm 1.17.)*
Paulo disse que Deus nos prepara. E se ele nos prepara, você crê que ele faz
tudo bem feito? Ou quer melhorar a obra de suas mãos? Você se tomou a
obra de suas mãos; não será isso o suficiente para você poder se encontrar
com ele no final desta sua vida terrena?
Por nós mesmos, jamais chegaremos a ser bons, por mais que tentemos.
“Ninguém pode jamais ser declarado justo aos olhos de Deus por fazer o
que a lei ordena. Quanto mais conhecemos as leis de Deus, mais claro fica
que não as obedecemos.” (Rm 3.20.)*
Quanto mais aprendemos o que é certo, mais côns- cios nos tornamos dos
nossos erros. Somente as pessoas de coração orgulhoso acham que
conseguem ser boas. É Cristo a única força abnegada e pura existente no
mundo. Somente a sua presença em nós nos torna um pouco melhores que o
pior pecador da terra!
“Então, de que podemos nos gabar com respeito a fazermos alguma coisa
para ganharmos nossa salvação? Absolutamente de nada. Por quê? Porque a
nossa absolvição não está baseada em nossas boas obras; está, sim, baseada
naquilo que Cristo fez e na fé que temos nele. Assim é que somos salvos
pela fé em Cristo e não pelas coisas boas que fazemos.” (Rm 3.27-28.)*
Paulo ensinou que esta doutrina da fé não tinha nada de novo. Ele mostrou
que Abraão não foi aceito por Deus por causa de suas boas obras, mas por
causa de sua fé.
Abraão não foi um homem bom, mesmo considerando-se os padrões morais
de sua época. Certa vez, quando ia para um país estrangeiro, ele se lembrou
que os naturais daquele lugar poderiam se apoderar de parte dos seus
haveres, dos seus rebanhos, ou até mesmo de sua bela esposa. Assim, a fim
de ter mais segurança em sua viagem, decidiu apresentar sua esposa, Sara,
como sendo sua irmã. Ele raciocinou que, agindo assim, aqueles que
poderiam se tornar os seus perigosos rivais iriam beneficiá-lo em vez de
tentar matá-lo. Efetivamente, aconteceu o que Abraão previra. O próprio rei,
ao ver Sara, a quis para esposa. Ela foi levada para o palácio, e Abraão
recebeu maravilhosos presentes.
E Abraão? O que ele fez? Tentou libertar a esposa? Absolutamente não.
Desfrutou de sua boa sorte. Foi preciso que o próprio Deus interviesse e
mostrasse ao rei que Abraão o tinha enganado.
Se você fosse pastor, aceitaria Abraão como membro de sua igreja? Pense
nisso cuidadosamente.
Deus aceitou a Abraão. Não por ter ele um alto padrão moral. Apenas porque
Abraão cria em Deus. A única bondade exigida de Abraão era a sua fé. Aos
nossos olhos, Abraão não foi um homem bom. Porém, ele foi bom aos olhos
de Deus, porque tinha fé.
Nós podemos nos achar melhores do que Abraão. Podemos nos considerar
melhores do que algumas pessoas que conhecemos. Acontece que, aos olhos
de Deus, o pecado do ser humano é total e completo. O grau de bondade ou
de maldade não determina nem a nossa salvação nem o nosso valor no reino
de Deus. Não foi pela sua própria bondade que Abraão ganhou os céus.
Paulo escreveu: “Ser salvo é um dom; se alguém pudesse ganhá-lo sendo
bom, então não seria de graça — mas é! É dado a todos os que não trabalham
para esse fim. Deus declara que os pecadores são bons a seus olhos, se eles
crerem que Cristo pode salvá-los da ira de Deus.” (Rm 4.5.)*
Nós nos tornamos bons aos olhos de Deusl
Se realmente acreditasse nisso, você não ficaria entusiasmado? Não lhe
daria vontade de contar aos outros como é simples tornar-se cristão? Pense
só: você está rodeado de milhares de pessoas que verdadeiramente acreditam
que, para se tornarem cristãs, é preciso serem suficientemente boas. E elas
sabem muito bem que não conseguirão isso. Que futuro desolador as espera!
Como precisam de ouvir as boas-novas!
A dádiva de Deus é de graça! Paulo escreveu: “Se é devido à benignidade
de Deus, então não é por eles serem “bonzinhos”. Porque neste caso o
presente não seria mais gratuito não e gratuito quando é conseguido como
retribuição.” (Rm 11.6.)*
As boas-novas deviam ser proclamadas por toda a parte. Entretanto, os
cristãos — na sua grande maioria
— tornam-se estranhamente mudos quando chega a hora de falar sobre isso.
Você já se dirigiu a uma pessoa desconhecida pedindo que lhe ensinasse
como ir a algum lugar? Entrou em pânico para fazer isso? Será que o seu
coração começou a bater mais forte e a sua língua ficou paralisada? Ê claro
que não. Então, por que não usa da mesma naturalidade ao contar a um
desconhecido o que Jesus Cristo já fez por ele?
Deus quer que nós contemos as boas-novas a todas as pessoas. Jesus mandou
que os seus discípulos falassem a toda a criatura o que ele fez por nós. Então,
quem foi que mandou guardar segredo?
Há um inimigo nos rondando furtivamente. O seu ardil favorito é tornar -nos
inibidos de proclamar a notícia maravilhosa das dádivas gratuitas de Deus.
Mas, se estivermos absolutamente certos do que Deus fez por nós, se
aceitarmos os seus “milhares de cruzeiros de presente, vamos transbordar
de alegria e participar as boas-novas a todc^ aqueles que nos rodeiam.
Sempre haverá pessoas que se preocuparão com a ideia do que Deus requer
de nós em termos de bondade, depois de termos sido perdoados pelos nossos
pecados e termos então recebido a dádiva gratuita da vida eterna. Paulo
escreveu sobre esse assunto aos romanos.
“Agora, então, a pergunta: Será que esta bênção só é dada àqueles que têm
fé em Cristo mas também guardam a lei judaica, ou a bênção é dada também
àqueles que não guardam as leis judaicas, mas tão-somente confiam em
Cristo? Bem, que dizer de Abraão? Dizemos que ele recebeu essas bênçãos
por meio da fé. Foi só pela fé mesmo? Ou porque também guardou as leis
judaicas?” (Rm 4.9.)*
Paulo chega a uma conclusão surpreendente: Abraão não guardou a lei; pois,
naquela epoca, ela ainda não havia sido dada aos judeus!
“Portanto, é claro que a promessa divina de dar toda a terra a Abraão e seus
descendentes não foi porque Abraão obedecia às leis de Deus, mas porque
ele confiou que Deus guardaria sua promessa.” (Rm 4.13.)*
Deus também nos prometeu uma herança. E a condição para a recebermos
não são nossas boas qualidades, mas nossa fé. Este é o plano de Deus. Ê
possível que discordemos dele. Podemos não concordar que o plano de Deus
seja a melhor solução. Acontece, porém, que o seu plano é a solução divina
para os nossos problemas.
Os judeus tinham o hábito de se justificar, e afirmar que não eram pecadores.
Muitos cristãos não entendem bem a réplica de Jesus a esta ideia judaica.
Ele declarou que a lei de Deus era muito mais pura do que o conceito que
os judeus faziam dela. Por exemplo, eles se julgavam puros quando
deixavam de praticar adultério. Entretanto, Jesus explicou que olhar para
uma mulher e desejá-la, aos olhos de Deus é o mesmo que cometer adultério
com ela. Disse-lhes que poderiam até arrancar os olhos para conservar a
mente pura. Jesus conhecia a mente humana. Mesmo que o homem não
queira pecar, dentro dele há uma inclinação para o pecado. Nós, seres
humanos, estamos sempre nos defrontando com esta batalha interna.
O que estava Jesus querendo dizer com isto? Que teríamos de lutar ainda
mais para tentar guardar a lei? Não; ele queria somente nos mostrar o quanto
precisamos dele. Quase todas as parábolas e ensinamentos de Jesus visam
nos convencer da nossa necessidade de um Salvador. Paulo declarou que a
fé em Cristo é a única maneira de guardarmos toda a lei.
Digamos que alguém consiga dobrar o próprio “eu”, e ser bem sucedido na
guarda de algumas leis. Qual é a vantagem? Nenhuma. Jesus deixou bem
claro que, aos olhos de Deus, a sua culpa é sempre a mesma, seja por ter
infringido todas as leis ou apenas uma.
O intento de Cristo não era desencorajar-nos. Pelo contrário, ele quer nos
dar um novo ânimo! Ele prometeu que faria algo para livrar-nos do
problema.
“Cristo dá àqueles que confiam nele tudo quanto vocês estão procurando
conseguir através da guarda de suas leis!” (Rm 10.4.)*
Quando Cristo entra em nossa vida, continuamos a ter o mesmo corpo físico
e, com ele, algumas das inclinações pecaminosas. Mas haverá, então, uma
enorme diferença: "Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as cousas
antigas já passaram, eis que se fizeram novas." (2 Co 5.17.) Já não somos
mais a mesma pessoa. Podemos parecer os mesmos, mas não somos os
mesmos.
“Mesmo que Cristo viva dentro de vocês, seus corpos morrerão por causa
do pecado; no entanto, o espírito viverá, pois Cristo o perdoou.” (Rm 8.10.)*
Nosso "eu” agora é um novo ser espiritual, porque Cristo está morando nele
através do Espírito Santo. O corpo físico morrerá um dia, mas nós jamais
morreremos. Viveremos para sempre, com Cristo.
Tenho conversado com milhares de pessoas que frequentam igrejas,
perguntando-lhes o que um homem deve fazer para chegar ao céu. Fiz essa
pergunta em algumas das nossas igrejas mais fundamentalistas, igrejas estas
que acreditam na Bíblia tal como ela é, e ouvi sempre a mesma resposta.
Noventa e nove por cento das pessoas me falaram de coisas que precisamos
fazer. Guardar os mandamentos, ir à igreja, contribuir, não tratar mal os
outros, etc... uma longa lista de ações que eles estão tentando praticar.
Essas pessoas vão regularmente à igreja. Ouviram e acreditaram na mentira
de que a salvação depende do que nós fazemos. Não é de se admirar que as
boas-novas se espalhem tão vagarosamente. Quem é que vai querer ir à
igreja, receber um presente de “cinquenta centavos”, e depois espalhar a
notícia entre amigos e conhecidos?
Será que você ainda acha que Deus lhe oferece um presente de apenas
“cinquenta centavos”? Você ainda acha que para receber as promessas de
Deus precisa ter fé ... mais alguma coisa?
“Se ainda vocês alegam que as bênçãos de Deus vão para aqueles que são
“bonzinhos”, afirmam então que não têm sentido nenhum as promessas
divinas àqueles que têm fé.” (Rm 4.14.)* “Quando procuramos ganhar a
bênção e a salvação de Deus pela guarda de suas leis, terminamos sempre
debaixo da Sua ira, porque falhamos sempre em guardá-las.” (Rm 4.15.)*
Assim, se tentarmos receber a salvação e as bênçãos de Deus procurando
guardar as suas leis, seremos sempre alvo de sua ira, pois jamais
conseguiremos ser perfeitos.
Será que isso quer dizer que Deus fica irado conosco por tentarmos ser bons
e guardar a sua lei? Claro que não. Ele fica zangado porque sabe a razão de
nossa atitude. Se guardarmos a lei de Deus por medo do seu castigo, nossos
esforços serão sem valor. Se a guardarmos para merecer suas bênçãos,
estamo-nos esforçando à toa. Nesse caso, surge a pergunta: vale então a pena
produzir algo de bom? Será que não podemos fazer o mal que quisermos já
que a salvação é gratuita mesmo?
Isso é completamente absurdo. O bem deve ser feito, mas somente porque
amamos a Deus e queremos agradá-lo. Se tivermos uma percepção completa
do que é a dádiva de Deus, a nossa reação ao seu amor será amá-lo. Se nós
nos apegarmos, porém, à ideia de sermos bons e corretos para merecer o
perdão de Deus, é provável que nunca aprendamos a amá-lo. Quem assim
procede não pode se entusiasmar com um presente, que na realidade vale
“milhares de cruzeiros”.
“Agora, porém, Deus nos mostrou um caminho diferente para o céu — não
o fato de sermos “bonzinhos” e procurarmos guardar suas leis, mas um novo
caminho (ainda que não seja tão novo assim, pois as Escrituras falaram dele
há muito tempo). Agora Deus diz que nos aceitará e nos absolverá — Ele
nos declarará “sem culpa" — se nós confiarmos em Jesus Cristo para Ele
tirar os nossos pecados. E todos nós podemos ser salvos deste mesmo modo,
vindo a Cristo, não importa o que somos ou o que temos sido.” ( Rm 3.21-
22.)*
Há uma condição: “Se nós confiarmos em Jesus Cristo". Se confiarmos em
nós mesmos para sermos “bons”, ou pelo menos ou não muito “ruins”
estaremos agindo exatamente ao contrário do que nos é recomendado.
O que Jesus Cristo fez por nós?
"Deus foi quem enviou Cristo Jesus para levar o castigo pelos nossos
pecados, e assim pôr fim a toda a ira de Deus contra nós. Ele usou o sangue
de Cristo e a nossa fé como o meio de salvar-nos da Sua ira.” (Rm 3.25.)*
Ambos os elementos, sangue e/é, são essenciais. Um não subsiste sem o
outro. Cristo fez o que era necessário, mas isso não nos ajudará se não
correspondermos exercitando a fé. Se nós nos envolvermos no “fazer”,
jamais estaremos livres para crer.
“Ele morreu por nossos pecados e voltou à vida a fim de fazer-nos retos para
com Deus, enchendo-nos com a justiça divina.” (Rm 4.25.)* “O pecado
reinou sobre todos os homens e os levou à morte, mas agora reina em seu
lugar a bondade de Deus, dando-nos uma posição correta perante Ele, e
como resultado a vida eterna por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor.” (Rm
5.21.)*
A nossa opção está claramente definida: temos que escolher entre a bondade
de Deus e o seu julgamento imparcial. Assim ele nos oferece a dádiva
gratuita da vida eterna. A outra alternativa é simplesmente a morte.
Lembro-me de uma enfermeira do exército, jovem e atraente, que trabalhava
num hospital do Vietnam quando eu era capelão ali. Quando chegou, ela era
cheia de vida e vitalidade, mas aos poucos o seu sorriso feliz foi
desaparecendo. Ela não suportava ver os jovens soldados voltarem da frente
de batalha gravemente feridos e sofrendo muito. Ela vinha frequentemente
ao meu gabinete para desabafar os seus sentimentos.
"Como é que o senhor pode dizer que Deus ama esses homens, se ele os
deixa sofrer tanto?” perguntou-me ela certo dia.
"Seria mais fácil se você entregasse suas angústias e preocupações pelos
doentes a Deus, e confiasse nele para ajudá-los”, sugeri. “Deus ama esses
soldados feridos muito mais do que você ou eu somos capazes de amá -los."
A enfermeira sacudiu a cabeça.
“Não posso, Capelão”, disse ela. “Talvez algum dia, mas agora não. Dói-me
demais ver tanto sofrimento. Não posso agradecer a Deus por isso,
presentemente.”
Suas visitas ao meu escritório foram-se tornando cada vez menos frequentes.
Observando a expressão embaciada dos seus olhos outrora brilhantes,
comecei a suspeitar que estava tomando comprimidos para combater a
depressão. Ela não parecia mais reagir ao que lhe acontecia ao redor. Foi
transferida, e perdi-a de vista.
Há pouco tempo, recebi dela uma carta. Vinha de um reformatório para
mulheres, de um estado do meio-oeste americano.
“Prezado Capelão:
"Andei muito, e sempre na direção errada, depois que o vi pela última vez
naquele hospital do Vietnam. Parece-me que perdi o resto de decência que
havia em mim. Depois de me defrontar com o Vietnam, não achei mais paz
de espírito, e comecei a ser levada pela corrente da vida.
“Tudo começou quando passei a testemunhar aquelas mortes inúteis e os
aleijões dos jovens, no hospital. Culpei a Deus por tudo o que acontecia, e
compreendo agora que, culpando-o, eu me separei inteiramente dele e me
destruí. Sinto-me agora incapaz de reagir a coisa alguma ou a pessoa
alguma. Apenas vegeto num vácuo sinistro e insensível.
“Sei que Deus é a solução de tudo. Lutei contra essa ideia durante muitos
anos, mas agora eu sei. Há muito desejava lhe escrever, mas tinha vergonha.
Lembro-me de como me sentia bem quando me desabafava no seu gabinete.
Naquela época eu não quis aceitar a solução. Espero que não seja tarde
demais. Por favor, ore por mim...”
A jovem enfermeira não quis aceitar a dádiva que Deus lhe estendia. Tinha
agora que admitir e aceitar as consequências. Mas pense só em todo o
sofrimento suportado por ela.
Aceitar a dádiva de Deus da vida eterna é uma das coisas mais fáceis do
mundo! Não há dificuldade alguma. Não é necessário que sejamos
inteligentes nem bons. Até uma criancinha pode fazer isto!
Paulo escreveu: “Pois a salvação que vem da confiança em Cristo ... já é de
fácil acesso a cada um de nós; de fato, ela está tão perto como nossos
próprios corações e nossas bocas. Pois, se vocês contarem aos outros com
seus próprios lábios que Jesus Cristo é o seu Senhor, crendo do fundo
coração que Deus O levantou dentre os mortos, serão salvos.” (Rm 10.8-9.)*
Por que as pessoas hesitam? De que têm medo?
A jovem enfermeira do exército teve medo de se confiar a um Deus que
permitia que jovens soldados fossem mortos ou ficassem aleijados numa
batalha. Ela não confiou no amor divino.
“Nós não precisamos ter nenhum receio de alguém que nos ama com
perfeição; Seu perfeito amor por nós afasta todo o temor daquilo que Ele
poderia nos fazer. Se estamos com medo, é porque tememos aquilo que ele
poderia nos fazer...” (1 Jo 4.18.)*
Deus é amor, e tudo o que ele faz é uma manifestação do seu amor. O nosso
problema é que o conceito humano do amor é extremamente limitado. Todos
nós já tivemos oportunidade de nos sentir feridos e desiludidos com o amor
humano. Este tipo de amor nos recompensa e nos aceita quando somos bons,
e nos castiga e nos rejeita quando agimos mal. Mas isso não se parece
absolutamente com o amor de Deus.
A versão grega do Novo Testamento usa duas palavras para o que
traduzimos simplesmente como “amor”. Uma é “philos”, amor fraterno;
significa uma afeição pessoal, inata e profunda. A outra palavra é “ágape”;
é o amor divino. É a espécie de amor que Paulo aconselha que os maridos e
esposas tenham um ao outro. O vocábulo “ágape" é também usado para
descrever o amor de Deus por nós. Significa uma devoção espiritual,
deliberada, propositada e com raciocínio. Não provém de sentimentos ou
emoções. É um ato ponderado de amor, originário da vontade. Jamais muda
e pode-se contar com ele, porque não depende do merecimento da pessoa
amada.
É assim que Deus nos ama. Ele nos ama mesmo quando o rejeitamos, quando
lhe desobedecemos, ou quando somos desprezíveis. Ele nos ama mesmo que
malbaratemos nossa vida. Ele está sempre pronto a nos aceitar e a nos
perdoar. Está sempre pronto a nos dar a sua alegria e paz.
A dádiva gratuita do amor de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, uma
dádiva tão acessível a nós como a nossa boca e o nosso coração. Basta
apenas aceitar o que Jesus tez por nós, acreditar de todo o coração que ele
vive, e revelar isso a outros. É realmente muito simples, mas há muitas
pessoas que ficam perplexas quando sabem que é só isso.
Nicodemos, um judeu reverente e religioso, foi certa noite a Jesus e lhe
perguntou como poderia ele entrar no reino de Deus. Aquele homem sabia
que Jesus era enviado de Deus e sabia de tudo.
“Jesus respondeu: “Com toda a sinceridade que tenho, digo isto: Se você
não nascer de novo, nunca poderá entrar no Reino de Deus.”
“Nascer de novo!” exclamou Nicodemos. “Que quer o Sr. dizer? Como pode
um homem velho voltar para o ventre da mãe e nascer outra vez?”
"Jesus respondeu: “O que eu lhe estou dizendo tão sinceramente é isto: Se
alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus.
Os homens só podem reproduzir a vida humana, mas o Espírito Santo d á a
nova vida do céu.” (Jo 3.3-6.)*
Nicodemos sabia quem Jesus era, mas isso não bastava. É preciso também
agir, baseado neste conhecimento, e aceitar a Jesus Cristo como nosso
Salvador pessoal, convidando-o para entrar e tomar parte em nossa vida. No
momento em que ele entra em nossa vida, por intermédio do Espírito Santo,
nós nascemos espiritualmente. Comunicamo-nos com Deus apenas em nosso
espírito; assim, precisamos nascer espiritualmente para estarmos aptos a
conhecer Deus. Se não nascermos de novo, estaremos ainda espiritualmente
mortos.
Paulo escreveu aos gálatas: “Eu já fui crucificado com Cristo; eu próprio
não vivo mais, e sim é Cristo quem vive em mim. E a vida genuína que tenho
agora dentro deste corpo é resultado da minha confiança no Filho de D eus,
o qual me amou e a Si mesmo Se entregou por mim.” (G1 2.19-20.)*
Ele também escreveu aos coríntios: “Façam a verificação em vocês mesmos.
Vocês são realmente cristãos?
Passam pela prova? Sentem cada vez mais a presença e o poder de Cristo
dentro de vocês? Ou estão apenas fingindo-se cristãos, quando não são
absolutamente nada?” (2 Co 13.5.)*
Você é realmente cristão? Já nasceu de novo?
Nossas igrejas estão cheias de Nicodemos. Eles passam o tempo estudando
as Escrituras, e oram diariamente. Frequentam estudos bíblicos e grupos de
oração, e ensinam na escola dominical. Alguns são até pastores. Cresceram
na igreja, e se denominam “nascidos” metodistas, presbiterianos, luteranos,
católicos, pentecostais, batistas, ou qualquer outra denominação.
Eles sabem tudo sobre o Cristianismo. Sabem que Jesus, o Filho de Deus,
morreu pelos seus pecados. Sabem que ele ressuscitou. Mas, realmente
nunca entregaram sua vida inteiramente a ele, nem o convidaram para ser o
Senhor e Salvador do seu coração. Há milhares de pessoas que assistem
regularmente aos cultos, e passam por todas as formas exteriores do
cristianismo, sem jamais terem experimentado Cristo em sua vida.
As dádivas da salvação e da vida eterna são absolutamente gratuitas. Nada
precisa ser feito para ganhá-las ou merecê-las. Mas precisamos recebê-las,
para que se tornem nossas. Ê pelo amor que Deus nos alcança; por amor ele
prepara circunstâncias para nos mostrar o quanto precisamos dele; e assim
nos atrai para si.
Certa vez um sargento cristão trouxe um soldado do seu pelotão para o meu
gabinete. O soldado estava para ser expulso do exército; e, além disso, havia
um mandato de prisão contra ele por uso e tráfico de drogas. Era viciado em
drogas desde os seus primeiros anos de adolescência e durante os anos que
passara no exército sua situação se agravara. Estivera no Vietnam, onde era
mais fácil conseguir “drogas”, do que goma de mascar.
“Estraguei a minha vida. Ê tarde demais para mudar”, disse ele. Seu olhar
era sombrio e desesperado.
“E Deus?” perguntei. “Ele pode modificá-lo.”
Ele deu de ombros com desdém. “Por que ele haveria de fazer isso?”
comentou. “Jamais fiz coisa alguma para ele.”
“Ele o ama”, respondi. “Ele mandou Jesus ao mundo, receber o castigo por
tudo o que você fez na vida. E ele pode curá-lo também.”
O soldado estava abatido. “Já ouvi falar de Jesus”, disse ele. “Gostaria de
pedir a ele que fosse meu Salvador, mas acho que isso não vai adiantar nada.
Por mais que eu tente, não consigo largar a droga. Sou viciado há muito
tempo.”
“Deus pode curá-lo”, afirmei confiantemente. “Você não crê que ele tenha
mais poder que o tóxico?”
O soldado olhou-me indeciso.
“Quer tentar?” perguntei.
“Tento qualquer coisa”, disse. “Quero sair deste inferno em que me
encontro.”
“Então agradeça a Deus agora mesmo pelo que ele vai fazer por você nos
próximos minutos, e agradeça-lhe por tudo que aconteceu em sua vida a fim
de que você pudesse estar aqui agora!”
“Que é isso!” ele estava transtornado. “O senhor quer dizer que eu devo
agradecer a Deus por tudo que já aconteceu na minha vida até hoje, até
mesmo por ser eu um viciado em drogas?”
“É o seu vício que o traz para ele, não é? Se Deus vai curá-lo, perdoá-lo, e
dar-lhe uma vida inteiramente nova, eterna, com Jesus, não acha que pode
agradecer-lhe por tudo que o obrigou a buscá-lo?”
A sombria expressão de dúvida ainda persistia em seus olhos.
“Posso orar com você?” perguntei, e ele aquiesceu. Pus as mãos em sua
cabeça. “Querido Pai celestial”, orei. “Eu te agradeço porque tu amas este
rapaz e o estás atraindo para ti. Que o teu Santo Espírito agora o ajude a crer
que tu tens estado operando em todos os momentos sombrios e tristes de sua
vida, a fim de trazê-lo para Cristo.”
Quando acabei, havia uma nova luz em seus olhos. “É estranho”, disse ele,
“mas, não sei como, acredito agora que Deus tomou todo o mal que já me
aconteceu e o está usando para o meu bem.”
Seus olhos estavam úmidos; ele abaixou novamente a cabeça, e, desta vez,
ele mesmo orou, pedindo a Deus que o perdoasse pela sua rebeldia, e que
Jesus viesse tomar conta de sua vida.
O que aconteceu depois constitui um desafio à minha habilidade de narrar.
Impus novamente as mãos sobre a sua cabeça, orando a Deus que o curasse,
purificasse sua mente de todo o desejo pelo tóxico, e o enchesse com o seu
amor. Senti uma força fluir para o jovem soldado. Sua face brilhava como a
de uma criança, e as lágrimas desciam pelo seu rosto.
“Aconteceu!" gritou. “Não preciso mais de drogas. Jesus vive em mim!”
Para o soldado, aquele foi o momento do seu renascimento. Jamais volt aria
a ser o mesmo. Nasceu de novo, não porque tivesse sentido a presença de
Jesus, mas porque tomara a decisão de confiar em Deus.
Se nosso relacionamento com Deus dependesse de nossos sentimentos, então
a decisão não seria nossa. Não podemos determinar nossos sentimentos.
Mas, podemos resolver confiar, crer e ter fé. A Bíblia diz que somos salvos
pela fé. Acontece, porém, que muitos de nós têm uma visão distorcida da fé.
“Não tenho fé para crer”, dizemos, quando realmente queremos dizer: "Não
sinto a fé.”
Fé e sentimentos não são a mesma coisa.
“Fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não
veem.” (Hb 11.1.)
A fé não é determinada pelas emoções, sentimentos, nem pelos nossos
sentidos. Fé é uma questão de arbítrio. Nós decidimos aceitar como fato real
algo que não foi revelado aos nossos sentidos.
Ser salvo pela fé significa aceitarmos a Jesus Cristo como nosso Salvador
por um ato de nossa vontade, e não pelas nossas emoções ou sentimentos.
Somos nascidos de novo pela fé, salvos pela fé, e isto quer dizer que
aceitamos a promessa de Deus de que tal aconteceu no momento em que
aceitávamos Cristo em nosso coração. Pode ser que nós não nos sintamos
salvos ou nascidos de novo, mas esse sentimento não modifica a nossa nova
situação.
Já mencionamos como é fácil o nosso entendimento tornar-se uma pedra de
tropeço para a fé. Avaliar a fé pelos sentimentos é igualmente fácil e
perigoso. Nós já estamos tão acostumados a confundir sentimentos com
realidade, que chegamos a pensar que somos o que sentimos. Eu me sinto
doente, portanto devo estar doente. Mas os nossos sentimentos são
inconstantes, e podem ser afetados pelo estado da atmosfera, pelo nosso
regime alimentar, pelo sono, ou pelo humor do nosso chefe. Nossos
sentimentos são uma fraca amostra da realidade. Se os usamos como uma
amostra do nosso relacionamento com Deus, então nos colocamos em
dificuldade.
Jesus disse: “Orem com fé, crendo que já receberam.” Não podemos fazer a
oração da fé se insistirmos em avaliar os resultados em termos de
sentimentos. Os ensinamentos da Bíblia demonstram que, em muitas
ocasiões, temos que agir ao contrário do que sentimos.
“Ame seus inimigos”, disse Jesus.
Será que ele não sabia qual o nosso sentimento para com nossos inimigos?
Claro que sabia. Mas ele está-nos dizendo que não devemos mais deixar que
os nossos sentimentos nos controlem. Estamos livres: temos possibilidade
até de amar nossos inimigos!
Estamos livres também para aceitar a Palavra de Deus como sendo uma
realidade para a nossa vida, sem nos preocuparmos com as emoções, ou com
nosso bom senso, nosso intelecto, ou nossos sentimentos. Esta nova vida em
Jesus Cristo é uma vida de fé. Isso significa que é uma vida liberta da tirania
das emoções, do intelecto, ou do chamado bom senso. Não somos mais
obrigados a nos dobrarmos ante tais coisas!
A Bíblia nos diz que podemos ser salvos pela fé, curados pela fé, justificados
pela fé, temos o escudo da fé; podemos andar pela fé, resistir pela fé, viver
pela fé, ser herdeiros das promessas de Deus pela fé, ser ricos em fé, orar
em fé, vencer o mundo pela fé, louvar a Deus pela fé.
Nossa experiência de salvação torna-se um fato consumado quando a
aceitamos pela fé. Deus não olha para os nossos sentimentos, mas apenas
para a decisão que tomamos. Podemos estar arrasados pelas dúvidas,
sentindo-nos miseráveis, mas, enquanto aceitarmos a Cristo pela fé, Deus
considera válida a nossa experiência. Não importa o que venhamos a sentir
ou deixar de sentir depois de termos assumido o compromisso com Deus.
Ele aceitou a nossa renúncia, e nós experimentamos o novo nascimento por
intermédio do seu Espírito Santo.
Fico preocupado quando alguém me diz: “Sei que Jesus me tocou, pois eu
senti.” A mesma pessoa poderá dizer um dia: “Não estou mais certo de estar
salvo. Não sinto a presença de Deus.”
Louvemos a Deus quando tivermos a experiência maravilhosa de sua
presença, mas não deixemos nossa fé se basear no que sentimos. O cristão
que testar a sua salvação com experiências emocionais, estará sempre cheio
de dúvidas.
Uma senhora me escreveu nos seguintes termos:
“Dei minha vida a Jesus Cristo já há alguns anos, mas nada me aconteceu.
Não senti coisa alguma e, à medida que os anos passavam, perdi o alento e
deixei de cumprir minha promessa de viver para ele. Desde então, minha
vida tornou-se insuportável. Estou tão deprimida que tenho receio de
destruir meu casamento... Li o livro Louvor que Liberta e agora sei que o
que sinto é uma grande necessidade de Cristo. Já pedi perdão ao Senhor em
oração, e quero me entregar novamente a ele. Aceito Jesus Cristo como o
meu Salvador pessoal e quero, muito mesmo, fazer parte do seu reino. Não
me sinto ainda nem um pouco diferente... Por favor, ore por mim, pois não
suportarei esse sentimento por muito tempo...”
Recebi outra carta de um jovem, enviada de uma prisão:
“Creio em Jesus Cristo e espero que seja de todo o coração. Recebi -o como
meu Salvador há dois anos. Tomei essa atitude com toda a sinceridade, e me
senti maravilhosamente bem durante dois dias. Depois, voltei a me sentir
exatamente como nos dias anteriores. Desde então, há ocasiões em que sinto
aquela maravilhosa alegria, mas não consigo fazer com que ela dure. Quero
servir a Deus, mas parece-me que não consigo achá-lo. Li Louvor que
Liberta e sei que preciso daquilo de que
o senhor falou. E como achar? Será que não o desejo como devia? Como
posso querê-lo mais? Minha vida tornou-se uma confusão. Não há sentido
em viver assim. Já fiz vários cursos bíblicos. Mesmo assim, não chego a
nenhuma conclusão. E eu quero tanto encontrar Cristo! Breve deixarei a
prisão, e quero entrar no mundo com o seu amor. Ore por mim, por favor,
para que eu o ache e experimente a alegria que ele promete na Bíblia...”
Tenho recebido centenas de cartas como estas. Onde quer que eu vá,
encontro pessoas que dizem não estarem certas de terem mesmo encontrado
Jesus.
O motivo de suas dúvidas é sempre o mesmo: “Não sinto coisa alguma.”
São prisioneiras de seus sentimentos e têm mais confiança neles do que na
Palavra de Deus. Quando nos entregamos a Jesus, ele diz: “Eu lhes dou a
vida eterna, e elas nunca morrerão. Ninguém as arrebatará de mim.” (Jo
10.28.)*
Como superar nossos sentimentos e dúvidas?
Paulo escreveu: “A única condição é que vocês creiam inteiramente na
verdade, ficando firmes e seguros nela, fortes no Senhor, convictos da Boa -
Nova de que Jesus Cristo morreu por vocês, e nunca vacilando na confiança
nele como Salvador. Esta é a notícia maravilhosa que chegou a cada um de
vocês e agora está-se espalhando pelo mundo inteiro.” (Cl 1.23.)*
Quando as dúvidas e os sentimentos atacam nossa fé, Deus nos manda ficar
firmes na sua Palavra.
Conheço uma senhora que tem uma maneira muito prática de resolver este
problema. Quando surge uma dúvida, ela procura na Bíblia um versículo que
esclareça o assunto. Copia o versículo num pedaço de papel, e recita -o para
si mesma todas as vezes que a dúvida volta. Quando ela se sentia meio
desanimada, costumava ocorrer-lhe o seguinte pensamento: “ Você tem
certeza de que Deus ouviu a sua oração, quando você aceitou Jesus Cristo
conto o seu Salvador?"
Ela achou na Bíblia o seguinte versículo: “E esta é a confiança que temos
para com ele que, se pedirmos alguma cousa segundo a sua vontade, ele nos
ouve. E, se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos
certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito.” (1 Jo 5.14-15.)
Ela o copiou. Logo abaixo ela escreveu: “Em 14 de janeiro de 1969,
confessei os meus pecados e pedi a Jesus Cristo que entrasse em minha vida
como meu Salvador e Senhor. Sei que ele me ouviu porque o pedido foi feito
de acordo com o plano e a vontade de Deus para a minha vida.”
Colocou o papel no espelho do quarto e, todas as vezes que a dúvida voltava,
ela apontava para o papel e dizia em voz alta: “Lá está. Sei que nasci de
novo. Sei que Deus me aceitou, porque eu aceitei o seu Filho como meu
Salvador naquele dia. Não tenho mais que pensar nisso.”
Quando ela sentia a culpa de algum pecado já confessado a Deus, vinha-lhe
logo a dúvida quanto a ter sido perdoada ou não. Por isso copiou da Bíblia
o seguinte versículo: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo
para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” (1 Jo 1.9.)
Logo abaixo do versículo ela escrevia o pecado que tinha confessado,
colocava a respectiva data e as palavras: “Aleluia, estou perdoada!”
Aos poucos, as suas dúvidas desapareceram por completo.
Nós todos podemos vencer as dúvidas e os sentimentos negativos, se
anotarmos nosso compromisso com Jesus, com a respectiva data, juntamente
com um versículo da Bíblia que afirma a promessa de Deus.
Se você já é cristão há muitos anos, mas ainda tem dúvidas sobre a sua
salvação ou sobre a sua entrega para o Senhor, não deixe que suas dúvidas
e sentimentos o enganem. Faça uma nova entrega agora mesmo, anote num
papel com a data de hoje. Há pessoas que costumam anotar na Bíblia as datas
e as resoluções espirituais importantes.
A vida cristã é uma contínua viagem na fé. É bom termos um relatório de
como ela está-se processando. Isto serve para nos lembrar dos dias sombrios,
quando achamos que não progredimos em coisa alguma. Olhando para o
passado, podemos louvar e agradecer a Deus pela sua orientação de nossa
caminhada.
Nossa fé está baseada na realidade de Deus, e não em nossos sentimentos.
Mas Deus nos promete que experimentaremos uma parcela cada vez maior
de sua alegria e de sua paz, à medida que formos andando no seu caminho.
Regozijemo-nos quando tal acontecer, mas regozijemo-nos também quando
nos sentirmos áridos e vazios.
Nossa salvação é uma realidade maravilhosa. Dirijamos toda a nossa força
de vontade na direção de Deus e digamos: “O Deus, quero acreditar. Eu me
apoio na tua Palavra.”
Façamos isso. Iremos descobrir que a nossa dependência dos sentimentos
desaparecerá aos poucos, e estaremos livres para crer!
“Conhecereis a verdade”, foi a promessa de Jesus, “e a verdade vos
libertará.” (Jo 8.32.)
Aceite a verdade da Palavra de Deus, e você será livre!
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
Conte as Bênçãos
“Queridos irmãos, a vida de vocês está cheia de dificuldades e de tentações?
Então sintam-se felizes, porque quando o caminho é áspero, a perseverança
de vocês tem uma oportunidade de crescer. Portanto, deixem-na crescer, e
não procurem desviar-se dos seus problemas, porque quando a perseverança
de vocês estiver afinal plenamente crescida, vocês estarão preparados para
qualquer coisa, e serão fortes de caráter, íntegros e perfeitos.” (Tg 1.2 -4.)*
Deus tem um plano todo especial para nossa vida, que foi iniciado há muito
tempo, quando ele nos criou. Ele nos modelou amorosa e cuidadosamente,
obedecendo a especificações precisas, sendo cada detalhe da maneira que
ele quis — nossa aparência, habilidades, lugar de nascimento, a família em
que nascemos (ou a falta dela). Coisa alguma sobre nós ou sobre nossa vida,
acontecida até o momento, foi meramente acidental. Pelo seu amor, ele
estende sua mão e nos atrai para si através de circunstâncias que ele coloca
em nosso caminho, justamente com este propósito. Nós passamos por um
novo nascimento, uma vida nova através do Espírito Santo, na ocasião em
que aceitamos o seu Filho, Jesus Cristo, como nosso Salvador, e fomos
batizados e saturados com o Santo Espírito. Agora, o plano de Deus é
aperfeiçoar-nos.
“Pois, devido à nossa fé, Ele nos colocou neste lugar do mais alto privilégio
onde agora nos encontramos e nós, confiante e alegremente, ansiamos pelo
dia quando realmente nos tomaremos tudo quanto Deus tem em mente que
sejamos.” (Rm 5.2.)*
Deus quer nos tomar em alguma coisa; quer nos transformar.
Claro que já sabemos disso! Deus quer que nos tornemos mais amorosos,
mais bondosos, mais pacientes, quer que tenhamos mais fé, paz, docilidade,
amabilidade, humildade e autodisciplina, a fim de que possamos ser suas
testemunhas onde quer que estejamos! Não é verdade?
Todos concordam, mas a maioria acha que deve entrar num rigoroso
programa de autoaperfeiçoamento, procurando se tornar mais amorosos,
bondosos, pacientes, humildes, amáveis, e disciplinados. E o pior é que
quanto mais se esforçam as pessoas, mais frustradas se tornam.
A mudança tem que ser feita por Deus. Ele quer que nos entreguemos a ele,
e confiemos em que ele operará a transformação em nós.
“Com os olhos bem abertos para as misericórdias de Deus, peço-vos, meus
irmãos, como um ato de culto inteligente, que entregueis os vossos corpos
num sacrifício vivo, consagrando-os a Deus, que por certo os aceitará. Que
o mundo que nos rodeia não vos comprima nos seus próprios moldes, mas
deixai Deus reformar a vossa mente, de maneira a poderdes experimentar na
prática como é benéfico o plano de Deus no que vos diz respeito, como
satisfaz todas as Suas exigências e como encaminha para a meta da
verdadeira maturidade.” (Rm 12.1-2 — Cartas às Igrejas Novas.)
E como efetua Deus essa reforma de nossa mente? Como é que ele anula
nossos velhos hábitos de pensamento e de ação, nossas particularidades, as
quais gostamos de denominar de “características de personalidade”, “gostos
e aversões pessoais”, “preferências”, “opiniões fortes”, mas que, na
realidade, num exame mais cuidadoso sob o escrutínio do Santo Espírito da
verdade, veremos que não passa de um comportamento egocêntrico,
defensivo, egoísta, que durante anos nos tem separado do amor de Deus e
do amor ao próximo.
Quais são os métodos usados por Deus para nos transformar?
“É certo que isto representa uma grande alegria, embora presentemente
estejais temporariamente vexados por toda a espécie de provações e
tentações. Não se trata dum mero acaso, mas duma possibilidade de pôr à
prova a vossa fé, que é infinitamente mais valiosa do que o ouro, pois ouro,
como sabeis, não é eterno e tem de ser purificado pelo fogo. É uma provação
da vossa fé que tem por finalidade trazer-vos louvor, honra e glória no dia
em que Cristo Se revelar.” (1 Pe 1.6,7 — Cartas às Igrejas Novas.)
É assim que a nossa fé cresce. Vimos anteriormente como a paciência, a
tolerância e a perseverança se fortalecem quando nossa vida é cheia de
dificuldades, tentações e problemas.
Já ouvi muitas pessoas dizerem: “Se for esta a única maneira de se conseguir
paciência e fé, acho que prefiro não ter essas qualidades!”
Se é assim que o leitor pensa, é porque não confia em Deus. Lá no fundo
você tem dúvidas sobre o plano divino e o amor que o Senhor tem por você.
Quando Deus disse ao profeta Jeremias que ele deveria ir com os judeus
para o cativeiro na Babilônia e que lá ficaria o resto de sua vida. Deus
também disse: "Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o
Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que desejais.”
(Jr 29.11.)
Os anos de sofrimento na Babilônia faziam parte do plano de Deus para
Jeremias e para os judeus. Foi um bom plano, ótimo até, preparado para lhes
dar o que desejavam, um futuro cheio de esperança.
Todo plano de Deus, seja para você ou para mim, é um bom plano. Você
pode acreditar nesta afirmação dele?
Será que a fé pode crescer em circunstâncias fáceis e agradáveis? Pode sim,
se esperarmos e confiarmos mais e mais nas promessas de Deus. Mas a
purificação, a prova de nossa fé, terá que vir através de circunstâncias que
são um desafio à nossa determinação de crer, esperar e confiar na Palavra
de Deus, apesar do que se afigura ao nosso bom senso. No decurso de nossa
vida, sempre confiamos em nosso bom senso, em nossas emoções e em nosso
intelecto para orientar nossas crenças. Para exercitar a fé, precisamos
romper com este hábito. Lembremo-nos de que a fé é uma deliberada
determinação de acreditar em algo que não podemos ver e cuja evidência
não podemos sentir.
Quando vemos que tudo está dando errado, mas mesmo assim ficamos
firmes na Palavra de Deus e o louvamos, por sabermos que ele está operando
para o nosso bem, então nossa fé se fortalece grandemente.
Como foi que a fé de Abraão se fortaleceu?
Será que nós teríamos fé suficiente para subir uma montanha com um filho
único, preparados para sacrificá-lo no altar por ordem de Deus, e ainda
acreditar que Deus iria abençoar-nos e multiplicar nossos descendentes
através desse mesmo filho?
Se você fosse amigo de Abraão, será que poderia observar a sua louca
aventura de fé e ainda louvar a Deus, acreditando que, mesmo que Abraão
estivesse cometendo um erro, Deus transformaria este erro em bem?
Somente Deus pode nos reformar, dar-nos nova forma interior. A nossa parte
consiste em seguir o conselho de Paulo aos romanos: submeter-nos
inteiramente a ele, crer que ele está cuidando de tudo, e depois aceitar alegre
e prontamente, com agradecimentos e louvor, todas as circunstâncias
impostas por Deus para efetuar a sua transformação em nossa vida.
É muito conhecida a história do pastor que orou a Deus, pedindo que lhe
desse mais paciência. No dia seguinte, a sua eficiente e muito antiga
secretária ficou doente. No seu lugar apresentou-se uma moça voluntária
que provou ser a criatura mais vagarosa que o pastor já vira. Ele ficou muito
contrariado, e irritado, mas não disse nada. Mas finalmente compreendeu
que a nova secretária era uma resposta à sua oração. De que outra maneira
podia ele aprender a ter mais paciência? Começou a agradecer e a louvar a
Deus pela secretária substituta que ele enviara, e em pouco tempo ela
melhorou consideravelmente.
A fé e a paciência são características essenciais à vida e ao testemunho
cristãos. Há, porém, ainda uma outra qualidade que precisamos ter. Sem ela,
perdemos o que há de mais importante nas boas-novas de Deus.
“Segui o amor”, escreveu Paulo aos coríntios. (1 Co 14.1.)
“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos
outros.” (Jo 13.35.)
“O meu mandamento é este, que vos ameis uns aos outros, assim como eu
vos amei ... para que a vossa alegria seja completa”, disse Jesus. (Jo
15.12,11.)
Amor ... amor ... amor ... Nós, os cristãos, falamos muito sobre esse assunto.
“Deus é amor”, “Jesus o ama”, "Eu o amo”. Mas, lamentavelmente, nós não
amamos realmente o nosso próximo.
Jesus disse: “O meu mandamento é este, que vos ameis uns aos outros, assim
como eu vos amei.” (Jo 15.12.)
Para nós, o amor é a coisa mais importante do mundo. Fomos feitos para
amar a Deus e uns aos outros. Quando não amamos, tudo nos corre mal.
Tornamo-nos demasiadamente sensíveis, ressentidos, temerosos,
detestáveis, e dominados por sentimentos de culpa.
Nossos ressentimentos, nossos receios e frustrações, nossos mecanismos de
defesa, nossas armas de destruição — tudo provém da falta.de amor.
Os educadores, psicólogos, sociólogos e outras autoridades já revelaram a
diferença que o amor faz no desenvolvimento do ser humano.
Um amor que aceita, que aprova, que acredita nos outros, que é paciente,
bondoso, que não é egoísta nem invejoso, que não guarda rancor, e não se
incomoda quando sofre uma injustiça; um amor leal, que acredita e espera o
melhor, que não se alegra com a injustiça, mas sim quando a verdade vence;
um amor de tal espécie resiste a todas as circunstâncias adversas sem
fraquejar.
É esse o amor que Deus tem por nós, e é esse o amor que ele ordena que
tenhamos uns aos outros. É esse o amor que cura as velhas feridas de
mágoas, que expulsa antigos receios, que dissipa ressentimentos e rancores.
É esse o amor que nos torna íntegros e capazes de corresponder com um
amor livre do medo de ser rejeitado ou magoado.
É o amor que os gregos chamavam de ágape, uma afeição deliberada,
racional, propositada e espiritual. Esse amor é o fruto do Espírito Santo, e
quando perfeitamente maduro é a luz que conduz outros à fonte dele: o amor
de Deus por nós em Cristo Jesus.
Os dons e manifestações do Espírito Santo têm como finalidade específica
mostrar o amor e a solicitude de Deus para conosco, para com cada uma de
nossas necessidades. Deus nos cura porque ama. Faz milagres porque ama.
Deus é amor, e o seu poder manifestado em nós e através de nós é amor, um
amor sobrenatural, divino, intensamente pessoal, pelo indivíduo criado por
ele.
A mensagem que ele manda ao mundo é a mensagem do amor. Nós fomos
os escolhidos para ser seus mensageiros, os canais pelos quais seu amor
fluirá. O seu plano para que isto seja executado, é fazer-nos amar também.
Agora, se o amor somente chega até nós através de Deus, e se ele é fruto do
Espírito Santo, como pode Jesus nos ordenar que amemos? Não temos que
esperar até que ele nos torne mais aptos para amar? Nesse caso também,
entra uma promessa da Palavra de Deus, que precisamos aceitar pela fé.
O amor é fruto do Espírito, e a Palavra de Deus diz que o Espírito Santo
habita em nós. Portanto, podemos esperar que o amor esteja presente em
nossa vida. Foi-nos dada a habilidade de amar, mas é nossa a iniciativa de
praticá-lo pela fé.
Lembremo-nos de que o ágape é um amor deliberado, intencional. Deus nos
ordena que nos amemos uns aos outros, mesmo que não sintamos amor.
O que acontece quando agimos dessa maneira, resolvendo obedecer a
Palavra de Deus? A nossa atitude de fé liberta o poder sobrenatural do amor
de Deus, e esse poder começa a nos transformar, tomando-nos mais
dispostos a amar, ao mesmo tempo que o poder de Deus flui por nosso
intermédio para a pessoa que deliberadamente nos propusemos a amar.
E como é que isso funciona na prática?
Eu tinha pedido a Deus que me tornasse mais capaz de amar, e cheguei até
a pensar que eu não era uma pessoa totalmente desprovida dessa qualidade.
De fato, viajando e auxiliando espiritualmente a milhares de pessoas, e todas
sendo abençoadas, regozijava-me porque me sentia capaz de amar a todos,
constantemente.
Certo dia, porém, deparei com uma pessoa tão miserável e repulsiva que
recuei instintivamente e compreendi, com horror, que eu não sentia amor
algum por aquela criatura; desejava até que ela desaparecesse da minha
frente o mais rápido possível.
Era uma jovem que fora levada ao meu gabinete pelo seu namorado, que era
soldado. O rosto dela estava sujo e cheio de maquilagem velha. O cabelo
parecia de fios de arame, e as roupas estavam imundas e rasgadas. Suas
pernas, cheias de cicatrizes e de manchas de sujeira. O mau cheiro que se
desprendia dela enchia a sala. A expressão do seu rosto era mal-humorada e
horrível. Seus olhos estavam inchados de tanto chorar.
Essa pobre criatura fora ao quartel para contar ao soldado que estava
esperando um bebê dele. O rapaz admitia ser o responsável pelo seu estado,
mas recusava-se categoricamente a se casar com ela. Ela havia tido um
acesso de fúria e ameaçara matá-lo e depois a si própria. Ela já tinha uma
outra criança, sem pai, e desta vez estava decidida a casar-se ou a morrer.
Eu nunca tinha visto uma pessoa tão repelente, tão desesperada, tão
assustada, e tão solitária. Entretanto, até mesmo o pensamento de orar po r
ela me era repugnante. Não tinha vontade de tocá-la.
“Senhor”, orei em espírito, “por que a trouxeste para mim?”
“Ela é minha filha”, veio a resposta. “Ela está perdida, precisando do meu
amor e da minha cura. Eu a trouxe aqui para você amá-la e dar-lhe do meu
amor.”
A dolorosa compreensão disso atingiu-me em cheio. Eu me gabara de ser
capaz de amar, e agora recuava à vista de uma pessoa que necessitava
desesperadamente ser amada.
O Senhor”, clamei interiormente, “perdoa-me. Agradeço-te por me
mostrares como meu amor é superficial e egoísta. Tira de mim esse defeito,
e enche-me com o teu amor por ela.”
A moça estava soluçando e o seu olhar parecia abobalhado por causa das
pálpebras inchadas e lambuzadas de rímel.
“Por favor, senhor”, disse, ela, “faça alguma coisa.”
“Você acredita em Deus?”
“Sim”, respondeu baixinho.
“Crê que ele possa ajudá-la?”
Ela hesitou um pouco, e depois falou vagarosamente. “Eu sei que ele pode
me ajudar, mas não creio que ele o queira. Eu já fui crente, mas olhe para
mim agora. Mesmo que ele quisesse me ajudar, o que poderia fazer para me
tirar desta situação?”
“Deus pode e quer ajudá-la”, disse com uma convicção que eu mesmo não
sentia.
Ela sacudiu a cabeça e os seus ombros se curvaram em absoluto desespero.
“Por favor”, disse-lhe. “Tente entender que Deus a ama. Ele a encherá com
a sua alegria e paz e resolverá todos os seus problemas antes que você saia
deste escritório.”
A garota me encarou boquiaberta, e o soldado olhou como se pensasse que
eu ia tentar forçá-lo a se casar com ela.
“Foi Deus quem a trouxe aqui hoje”, continuei. “Ele permitiu todos esses
problemas em sua vida justamente para que você pudesse entender o quanto
ele a ama. Ele tem um plano maravilhoso para a sua vida, e, se você começar
a confiar nele e a lhe agradecer por tudo que já lhe aconteceu, descobrirá
que Deus a está ajudando neste momento.”
“Agradecer-lhe por isto?” Seu olhos chamejaram novamente com uma raiva
repentina. “Tudo o que quero é que este homem case comigo para que o meu
filho tenha um nome.”
“Olhe aqui.” Mostrei-lhe um versículo sublinhado na Bíblia, que estava
aberta. “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo
Jesus para convosco.” (1 Ts 5.18.) Virei as páginas rapidamente e abri em
Romanos 8.28: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam
a Deus.”
Seus olhos se fixaram em mim em desconfiança completa. Nesse momento
compreendi a inutilidade de expor, a uma criatura tão amargurada, o amor
de Deus ou qualquer outra espécie de amor. Ela não conhecia o significado
de tal palavra. Somente Deus poderia iluminar o seu entendimento.
“Posso orar por você?”
“Claro; por que não?”
Quando fui pôr a mão na sua cabeça, vi que estava muito suja e necessitando
de uma boa lavada. A vontade de recuar me fez estremecer.
“O Senhor”, sussurrei, “o teu amor por nós é infindo, muito maior do que o
pequenino amor que nós somos capazes de sentir. Por favor, Deus, toque -a
com teu amor agora, e ensina-me a amá-la.”
Coloquei então a mão firmemente sobre a sua cabeça e orei em voz alta:
“Senhor Deus, sei que é da tua vontade que louvemos a ti em tudo. Nada
pode acontecer neste mundo sem a tua vontade e permissão. Esta tua filha
querida já foi muito magoada. Ela está doente, humilhada, abandonada, e
desprezada pelos homens, mas eu sei que tu a amas. Agradeço-te por tudo
que a trouxe a este dia de sua vida. Abençoa-a, Senhor. Creio que, neste
momento, tu a estás ajudando a ver o teu amor e a louvar-te...”
Senti que a garota tremia debaixo da minha mão. Deus a estava tocando com
o seu amor.
“Agora, você pode agradecer a Deus por tudo?” “Sim”, esforçou-se para
responder. “Agradeço-te, Deus. De coração eu te agradeço por tudo.”
Continuei a orar: “Ó Deus, creio que estás curando este espírito
quebrantado. Estás pondo nela uma nova vida. Estás-lhe dando alegria em
lugar de tristeza, vitória em lugar de frustração.”
O seu rosto brilhava com as lágrimas.
“Que aconteceu?” indagou. “Sinto-me tão diferente! Não me sinto mais
agitada. Tudo está calmo em mim. Jamais me senti assim. Estou feliz! Estou
mesmo!” Seus olhos estavam arregalados, tamanha a surpresa. “O que foi
isso?”
“Deus modificou-a porque nós acreditamos nele e o louvamos”, respondi
compreendendo que naquele instante em mim também havia ocorrido um
milagre. Parecia-me estar vendo outra pessoa. Tinha vontade até de abraçá-
la. Parecia-me tão bonita, tão limpa, tão pura!
Senti meu espírito elevar-se. “Obrigado, Senhor. Consegui amar aquela
jovem. Obrigado por teres me modificado. Senhor.”
Eu jamais conseguiria amar aquela criatura tentando eu mesmo modificar
minha atitude. A mudança teve de ser operada por Deus. A minha parte
consistiu em reconhecer e confessar a minha incapacidade de amar, e depois,
pela fé, submeter-me à transformação feita por Deus.
Quanto mais tentamos nos modificar, mais frustrados nos tornamos, e mais
culpados nos sentimos pelos nossos defeitos.
Deus nos faz encontrar certas pessoas justamente para nos mostrar como
somos incapazes de amar os outros por nós mesmos. Ele não o faz para que
nós nos sintamos maus, mas sim para nos dar uma oportunidade de
experimentarmos seu amor transformador em nossa vida e na vida das
pessoas que foram designadas por ele para que as amássemos.
Você agradece a Deus pelas pessoas difíceis de ser amadas que encontra?
Tem algum vizinho ranzinza? Um patrão difícil? Louve a Deus por eles, pois
o Senhor nos ama e deseja completar nossa alegria fazendo com que amemos
a todos. Ele os ama também, e quer usar-nos como um veículo para que o
seu amor chegue até eles.
Acho que, talvez, a oportunidade mais maravilhosa e mais desafiante para
amar esteja dentro de nosso próprio lar, onde temos o nosso viver diário.
Será que o seu marido ou a sua esposa tem certos defeitos profunda - mentes
irritantes? É difícil viver com seus pais? Seus filhos são rebeldes?
Amai-vos uns aos outros, disse Jesus. Aceitai-vos uns aos outros. Agradecei
a Deus uns pelos outros.
Não é fácil agradecer a Deus por um marido alcoólatra ou por um filho
indiferente ou rebelde. Não é fácil amar alguém que afirma não querer o
nosso amor.
Não é fácil reconhecer a trave que está no nosso olho, nosso farisaísmo,
nossa autocomiseração, o papel de mártir sofredor que temos
desempenhado. Seremos capazes de agradecer a Deus por trazer à nossa vida
pessoas que nos mostrem a trave que está em nosso olho?
Teremos capacidade de agradecer a Deus por elas, justamente como elas
são, e acima de tudo pelas coisas que as tornam difíceis de ser amadas? Será
que podemos confessar nossa incapacidade de amá-las por causa dos seus
hábitos irritantes? Teremos capacidade de dizer a Deus que queremos amá-
las e depois nos submetermos a ele para sermos remodelados, refeitos, de
maneira a podermos amá-las perfeitamente, conforme é a sua vontade e o
seu intento para nós?
Se assim for, podemos esperar confiantemente que Deus operará um milagre
em nós. Pode ser que aconteça instantaneamente. Pode ser que venhamos a
sentir imediatamente uma centelha maravilhosa de amor, e naturalmente
iremos nos regozijar e louvar a Deus por isso. Mas fiquemos alerta para que
não nos tornemos dependentes de sentimentos. Essa primeira centelha pode
desaparecer, e há o perigo de ficarmos esperando um segundo toque, sem
procurarmos agir nesse ínterim.
Amar, deliberada e intencionalmente como Cristo nos ama, requer sempre a
atuação de nossa vontade. Tomemos a decisão de amar, sintamos ou não o
amor. Deus nos mostrará maneiras práticas e específicas de transmitir esse
amor à pessoa que ele nos apresentar e em seguida experimentaremos um
amor muito mais profundo por ela, um amor como nunca sentíramos a ntes.
Será um amor estável e constante, pois vem de uma fonte superior, que está
muito acima dos nossos limitados recursos. É o amor de Deus enchendo-nos
de tal maneira que chega a transbordar, extravasando para os outros por
nosso intermédio. É isto que significa estar arraigado no amor de Deus.
Nesse solo fértil, nossa própria habilidade de amar crescerá cada vez mais.
É desta maneira que o Espírito Santo produz seu fruto em nossa vida.
Uma senhora cristã tinha um marido alcoólatra com quem conviveu duran te
muitos anos, até que finalmente ele se meteu em apuros e acabou na prisão.
A esposa lutou muito para cuidar dos filhos com o escasso auxilio que
recebia do governo. Com toda a fidelidade, ela os criou na igreja. Toda a
comunidade tinha-lhe grande respeito e simpatia.
“Coitada da Edna”, diziam os conhecidos. “Ela criou os filhos sozinha, e
nunca deixou de vir à igreja aos domingos, e jamais se queixou. Enquanto
isso aquele marido imprestável nunca trabalhou; vivia bêbado o tempo todo
para a desgraça e vergonha de sua família, que é tão maravilhosa...”
Como o marido estava na prisão, Edna resolveu se divorciar dele. Assim,
finalmente, ela poderia criar os seus filhos num ambiente melhor.
Um dia, uma pessoa amiga lhe deu um exemplar de Louvor que Liberta.
Parecia uma tarefa impossível agradecer a Deus por todos os anos de miséria
que ela tinha passado, mas, ao ver como o louvor tinha modificado a vida
de outras pessoas, ela decidiu experimentar.
“Obrigada pelo meu marido e pelo seu vício de beber”, orou ela. “Obrigada
pelos anos de pobreza, de temores e solidão.”
Pouco depois ela soube que o seu ex-marido tinha saído da prisão e que
voltara ao vício. Mesmo assim ela continuou a agradecer a Deus pelas
circunstâncias.
Aos poucos, ela começou a perceber coisas em sua própria vida que não
tinha visto antes. À medida que continuava a agradecer a Deus pelo seu ex -
marido, pedindo a Deus que a ajudasse a amá-lo e aceitá-lo tal qual ele era,
veio a compreender que, durante anos, ela própria cometera um erro muito
mais sério do que o da bebida.
Ela tinha sempre olhado para o “argueiro” que havia no olho do marido, e
nunca tinha visto a trave do seu próprio. Ela sempre o tinha julgado mal por
causa da sua bebedeira, sentindo-se muito mais correta e melhor do que ele,
ao mesmo tempo que vivia constantemente com pena de si mesma, em
depressão, e num infeliz martírio.
“Senhor”, clamou ela certo dia. “Vejo agora que o meu pecado tem sido
muito pior do que o de meu marido. Tu mandaste que nos amássemos uns
aos outros, que nos alegrássemos nas provações, e eu não amei nem me
alegrei. Perdoa-me, Senhor. Agradeço-te por teres posto o meu marido em
minha vida, pois só assim pude enxergar a mim mesma. Agora, Senhor,
acerta a vida dele. Cura suas mágoas e tudo o que ele tem sofrido, e toca-o
com o teu amor.”
Daquele dia em diante, Edna passou a alegrar-se em quaisquer
circunstâncias. Ela compreendera que Deus as introduzira em sua vida como
parte do seu plano para encher seu coração de amor e alegria. À medida que
ela continuava a louvá-lo, todos os antigos sentimentos de autopiedade e
depressão foram desaparecendo. Cada dia era um acontecimento novo e
auspicioso. Ela se tornou consciente da presença de Jesus Cristo de um modo
mais intenso e vívido.
Certo dia, seu ex-marido foi assistir a um culto evangélico. Aceitou Cristo
como seu Salvador, e foi completamente liberto do vício do álcool, que o
havia prendido durante quinze anos. Os dois se casaram novamente. O
marido resolveu estudar a fim de começar uma nova vida servindo a Deus.
Um relacionamento difícil ou circunstâncias aflitivas podem ser uma
maneira de Deus, em seu amor, nos dar uma oportunidade de crescimento,
uma oportunidade de exercitarmos nossas energias espirituais, ou pode ser
sua forma de expor uma determinada fraqueza ou erro nosso.
Seja qual for a razão, temos motivo para nos regozijarmos. Qualquer
fraqueza, mesmo muito bem escondida, é como uma fenda no alicerce de
um edifício.
“Portanto esta maldade vos será como a brecha de um muro alto, que,
formando uma barriga, está prestes a cair, e cuja queda vem de repente, num
momento.” (Is 30.13.)
Uma fenda no alicerce, mais cedo ou mais tarde, fará com que todo o edifício
caia. Podemos confessar todos os pecados e fraquezas dos quais nos
lembramos e estar certos de que, uma vez confessados, eles são também
perdoados, e o amor de Deus cobre e cura as cicatrizes e as lembranças. E o
que acontece com as fendas ocultas, os pecados ocultos, que somente vêm à
tona em forma de uma vaga impressão de impaciência, insegurança,
confusão, ressentimento, ou quaisquer outros destes sintomas que todos
conhecemos por experiência?
A maldade a que Isaías se refere no versículo acima era a obstinada recusa
dos israelitas de agirem em conformidade com a Palavra de Deus. Ao invés
de dar atenção a ela, eles procuraram o conselho dos seus próprios adivinhos
e conselheiros humanos. Eles preferiram confiar em si mesmos em lugar de
confiarem em Deus. A autoconfiança é uma brecha muito perigosa em nosso
alicerce. Se Deus nos colocar em circunstâncias que nos revelem o quanto é
falha a nossa autoconfiança, devemos agradecer-lhe por tal incapacidade, e
regozijar- nos pela força e pelo poder que vêm dele.
Em Fort Benning, Geórgia, um aluno do curso de oficiais achou-se em
circunstâncias um tanto difíceis de serem superadas.
“Preciso de sua ajuda, senão enlouqueço”, disse-me ele.
Ele estava confiado que poderia enfrentar toda e qualquer circunstância de
sua vida com sucesso. Sua autoconfiança chegava aos limites da arrogância.
Mas, desde que viera para o quartel, ele se achava incapaz de agir como
antes, sendo que o seu conceito próprio e sua perspectiva de vida tinham
sido inteiramente destruídos.
O rigoroso treinamento do curso de oficiais é planejado de maneira a não
somente ensinar aos jovens seus deveres como oficiais do exército, mas
também a expor qualquer fraqueza da personalidade do candidato, e que
possa vir a pôr em perigo a vida dos seus comandados, quando em combate.
O candidato sofre determinadas pressões que têm a finalidade de testar sua
fibra moral. Muitos deles não resistirão a pressões assim na prática. E é
melhor que isso venha à lume antes que eles sejam postos à frente das tropas.
Os instrutores perceberam que aquele rapaz não era muito seguro de si
mesmo, apesar da sua máscara de autossuficiência. Submeteram-no ao
máximo de tensão possível. De manhã à noite ele estava sob vigilância. Era
criticado pelo menor movimento.
“Você não pode andar mais rápido?”
“Não entendeu as instruções, não? É burro?”
“Você sempre come tanto assim, é?”
“Não tem fibra?”
“Quer que a sua mamãe venha ajudá-lo?”
“Corra ao redor do prédio mais uma vez. Talvez consiga correr mais
depressa.”
A confiança que o rapaz tinha em si próprio foi desaparecendo rapidamente.
Humilhado e indefeso, ele estava completamente desnorteado, disposto a
desertar e até a fugir do país, se isso fosse necessário, para escapar à
perseguição.
Disse-me que nunca tinha acreditado em Deus, e que a Bíblia não fazia
muito sentido para ele. Mas, se houvesse um Deus que pudesse ajudá -lo, ele
queria crer.
Mostrei-lhe o que a Bíblia tinha a dizer sobre as circunstâncias que o
rodeavam; falei-lhe que Deus tinha um plano perfeito para a sua vida, que
os tormentos pelos quais ele estava passando faziam parte do plano, e que
Deus o livraria de toda a tensão se ele entregasse o controle de sua vida a
ele e lhe agradecesse por tudo.
O rapaz estava muito abatido; seu rosto e olhos demonstravam tensão e falta
de sono.
“Jamais estive numa situação como essa”, comentou abanando a cabeça.
“Estou chegando ao fim de minhas forças, e o senhor vem me dizer que foi
Deus que me colocou nisso?”
“Digamos que Deus permitiu que isso acontecesse”, expliquei-lhe. “Estou
certo de que ele teria preferido que você se voltasse para ele e aceitasse as
suas condições para a sua vida sem este sofrimento todo. Mas, já que você
insistia em dirigir a sua própria vida por si mesmo, Deus escolheu a maneira
mais rápida e mais terna de lhe mostrar que você precisa dele.”
Abri a Bíblia na segunda carta de Paulo aos coríntios e li: “Deveis saber,
meus irmãos, algo do que nos aconteceu quando viajávamos pela Ásia, altura
em que sofremos tanta sobrecarga que, quase não aguentando mais,
pensávamos estar perto do fim. Agora ainda acreditamos que esta
experiência de chegarmos ao fim de nossos recursos foi para aprendermos a
confiar, não em nós próprios, mas em Deus, que ressuscita os mortos.” (2
Co 1.8,9 — Cartas às Igrejas Novas.)
O rapaz ficou pensativo, mas permitiu que eu orasse por ele, embora não
tivesse muita certeza de que isso pudesse ajudá-lo.
Pus as mãos sobre a sua cabeça e comecei a louvar a Deus pela situação,
pedindo-lhe que desse ao jovem um novo entendimento do seu amor e do
seu interesse por ele, e todas as minúcias de sua vida. Enquanto eu orava,
ele começou a tremer. Lágrimas rolavam de seus olhos. Após um certo
tempo, começou a rir em voz alta.
“Louvado seja o teu santo nome, Senhor”, bradou ele. “Obrigado, Senhor.
Agora sei que te interessas por mim. Acredito que me amas.”
Voltou-se para mim, com o rosto brilhando. “Foi Deus quem me trouxe para
esta escola de oficiais. Ele sabia que eu encontraria a solução de tudo, aqui.
Sinto-me um novo homem.”
E era realmente. Aceitou Cristo como o Salvador, e terminou o curso com
excelente classificação.
Aquela crise revelara uma fenda muito séria no alicerce de sua vida. Quando
ele se apercebeu disso e agradeceu a Deus por estar intervindo nas
circunstâncias, a fenda foi sanada.
Os problemas que vêm derrubar as muralhas da nossa autossuficiência são
bênçãos de Deus, disfarçadas de dificuldades. Podemos agradecer a Deus
por elas com toda a sinceridade e louvá-lo pelos golpes que removem a
ilusão de que somos capazes de controlar a situação. Quando mais o
louvarmos, mais fácil se tornará a transição; nossa alegria será aumentada,
e quase não sentiremos as dores. Descobriremos também que quanto mais
tormentosas as circunstâncias, melhor será a nossa compreensão da força e
do poder de Cristo, que habita e se desenvolve em nós.
Cada desafio, cada provação ou oportunidade de crescimento nos capacita
ainda mais para sermos veículos do seu amor e do seu poder.
Uma jovem defrontou-se com uma série de tragédias. Sua mãe e dois dos
seus irmãos morreram. Seu pai casou-se novamente, divorciou-se, e casou
de novo. A garota não ia bem na faculdade e estava bebendo demais. Foi
nessa ocasião que ouviu falar sobre Jesus, e o aceitou como Salvador.
Durante um certo tempo ela se tornou muito alegre, e, contando a sua
história, contribuiu para que outras pessoas viessem a conhecer Jesus Cristo.
Sua vida corria suavemente, e ela pensou que os tempos difíceis tivessem
passado.
Mas, depois, novas dificuldades começaram a aparecer. Sofreu dois
acidentes de automóvel e em ambos ficou ferida. Apareceu um tumor no seu
pescoço, e ela sofreu muito quando teve de ser operada. Certo dia, ela tomou
um refrigerante e adoeceu seriamente: haviam colocado drogas na bebida.
Certa vez, quando ia para a escola, um homem tentou atacá-la com uma faca,
e ela ficou bastante nervosa. De outra feita, foi perseguida por um homem
com uma espingarda. Gatunos começaram a rondar sua casa uma noite, e um
deles entrou e violentou-a. Por fim, foi despedida do seu emprego de tempo
parcial, porque o seu chefe achou que se tanta coisa ruim lhe acontecia era
porque ela não devia estar procedendo bem.
Durante esse tempo todo, a moça lutava para não perder a fé. E a parte mais
difícil foi justamente ter que suportar a suspeita e desconfiança do pessoal
da sua igreja.
Nessa ocasião, alguém lhe deu o livro Louvor que Liberta. Ela leu e tomou
novo alento. Talvez Deus tivesse um motivo para permitir que todo aquele
mal lhe sobreviesse. Ela começou a lhe agradecer pelas calamidades que se
haviam abatido sobre sua vida. À medida que o fazia, a alegria ia tomando
o lugar do medo.
“Compreendi de repente que Deus era tudo o que eu tinha”, disse-me ela.
“Outros podem ter segurança. Comigo é diferente. Eu só tenho a ele, e tudo
o que me aconteceu fez com que eu enxergasse isso mais claramente.”
Agora ela possui um poder novo, radiante, para testemunhar de seu
Salvador. Ela compreende profundamente e com muita compaixão aqueles
que sofrem como ela sofreu.
Aprendeu a crer que todas as circunstâncias de sua vida eram controladas
pela carinhosa mão de Deus, e a cada nova provação ela diz: “Sei que Deus
a permitiu, portanto deve ser para o meu bem.”
Uma jovem senhora perdeu o marido repentinamente. Eles não tinham filhos
e ela se sentiu terrivelmente só. Quando procurou a família, em busca de
conforto e simpatia, eles se recusaram a falar com ela e agiram como se ela
não existisse.
Ela não podia entender essa total rejeição. Jamais tinha sido tratada assim
por eles, e a angústia de estar só e sem o apoio da família era mais do que
ela podia suportar. Sentia muitas dores, e não conseguia dormir. Começou a
emagrecer bastante.
Dia e noite, ficava sozinha em casa chorando. Chegou a perder a noção do
tempo, e percebeu que estava perdendo a lucidez.
Em desespero, ela clamou: “O Deus, será que existes? Tu te preocupas
comigo?” Não ouviu resposta, nem achou descanso.
Um dia, na livraria local, viu um exemplar de Louvor que Liberta. Leu na
capa que o autor era capelão do exército e pôs o livro de volta no balcão.
Seu marido estava no exército quando morrera, e ela não queria reavivar as
lembranças. Mas o título do livro não lhe saiu da mente o dia todo, e um
pensamento vinha-lhe constantemente: “Leia-o. Leia-o."
Ela nunca tinha sentido um impulso assim para ler qualquer publicação, e,
meio confusa com esse sentimento, voltou à livraria e comprou o livrinho.
Começou a ler no instante em que chegou em casa, e as lágrimas logo
começaram a rolar. Havia momentos em que ela chorava tanto que não
conseguia enxergar as letras, e de repente notou que estava de joelhos no
chão e ainda lendo.
Tinha certeza de que Deus estava-lhe falando diretamente através do livro,
embora a mensagem parecesse inacreditável. Será que ele estava querendo
lhe dizer para agradecer pela morte do marido? Como podia Deus ser tão
cruel? Todo o seu ser se revoltava a essa ideia. Entretanto, à medida que
continuava a leitura, seus soluços se acalmavam e uma nova paz tomava
conta do seu coração. Vagarosamente seus pensamentos foram mudando.
A mão de Deus tem estado em todos estes acontecimentos para me ajudar,
pensou ela. Ele sabia que enquanto meu marido fosse vivo eu jamais o
procuraria! Se meu irmão e sua família tivessem sido bondosos comigo, eu
teria me apegado a eles. Agora estou completamente só, e procurando Deus.
Ó Jesus, sinto a tua presença! Estás aqui comigo, e eu te louvo e agradeço
por tudo que me conduziu a ti!
Ela nunca tinha sentido tal paz em seu coração. Nos dias seguintes sua vida
irradiava alegria, o que muito admirou seus amigos e vizinhos que estavam
cada vez mais preocupados com a sua prostração pela dor.
Algum tempo depois seu irmão veio vê-la com uma triste confissão:
“Quero pedir-lhe perdão. Houve um terrível mal-entendido. Alguém nos
disse que você tinha se queixado de que nós recusáramos nosso auxílio
quando seu marido estava morrendo. Nós acreditamos. Ficamos tão
chocados e magoados que nem quisemos vê-la ou falar-lhe.” O irmão estava
mesmo envergonhado. “Soubemos hoje que o fato ocorreu com outra pessoa.
E pensar que a deixamos completamente isolada quando você mais precisou
de nós.”
“Não fique triste”, disse a jovem viúva animadamente. “Seja agradecido a
Deus por ter cometido este engano!”
“O que você quer dizer?” O irmão achou que não tinha ouvido bem. “Eu a
abandonei quando você precisava de mim. Quer que eu agradeça a Deus por
isso?’
“Isso mesmo”, disse ela rindo. “Se você não me tivesse voltado as costas,
eu não teria descoberto o quanto Deus me ama!”
Não queremos dizer que se deva acreditar em boatos ou deixar de ajudar
quem precisa do nosso amor. Mas Deus quer que entendamos que, ao
confiarmos nossa vida a ele, podemos estar certos de que ninguém nos
tratará injustamente a menos que Deus o permita, para o nosso bem.
Podemos lhe agradecer por todas as palavras cruéis ou mesquinhas, que nos
são dirigidas, ou pelas sorrateiras punhaladas dadas pelas costas.
“Deus abençoará vocês por isso, se suportarem sofrimentos injustos,
sabendo que esta é a vontade dele. Se vocês fazem o mal, e por isso são
castigados, qual é o merecimento de suportarem isso com paciência? Se
vocês sofrem por terem feito o bem, e suportam esse sofrimento com
paciência, Deus os abençoará por isso.” (1 Pe 2.19-20 — A Bíblia na
Linguagem de Hoje.)
Uma roseira precisa ser podada para dar rosas perfeitas. Jesus disse: “Eu sou
a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo o ramo que, estando em
mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto, limpa, para que
produza mais fruto ainda. Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho
falado.” (Jo 15.1-3.)
Jesus nos deu os seguintes mandamentos:
“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de
todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O
segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mt
22.37-39.)
O amor de que Jesus falou é um amor deliberado, que depende da disposição
de amar, um amor exercitado pela fé. Jesus descreveu a natureza desse amor
quando disse: “O meu mandamento é este, que vos ameis uns aos outros,
assim como eu vos amei.” (Jo 15.12.)
Tudo que nos impeça de obedecer a este mandamento precisa ser cortado,
podado. Estaremos atrasando e impedindo a obra de Deus em nós, se
rejeitarmos ou nos queixarmos das circunstâncias dolorosas, pelas quais ele
está-nos podando. Elas não acontecem por acaso, ou por um destino cruel,
mas porque o nosso Pai é um amoroso jardineiro, ou como diz a Bíblia, o
nosso Agricultor. Podemos nos regozijar nas dificuldades e agradecer a
Deus por elas, pois ele sabe o que é melhor para nós.
Um aluno do curso de oficiais de Fort Benning recebeu a notícia de que a
sua esposa tinha sido levada para um hospital de doenças mentais, após um
sério esgotamento nervoso. O prognóstico médico não era dos melhores, e
não se sabia quanto tempo ela deveria ficar no hospital.
Quando John veio ver-me, nem conseguia falar direito. Soluçava e as
lágrimas corriam-lhe pela face.
“Por que aconteceu isso?” disse por fim. “Eu e minha esposa temos
procurado ser bons cristãos. Por que Deus nos abandonou?”
“Deus não os abandonou. Ele teve um objetivo definido ao permitir que a
sua esposa fosse para o hospital. Vamos ajoelhar e agradecer-lhe por isso.”
O jovem me encarou espantado: “Sou luterano, e jamais li uma coisa dessas
na Bíblia!”
“E este versículo?” sugeri. “Dando sempre graças por tudo a nosso Deus e
Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo.” (Ef 5.20.)
Ele abanou a cabeça. “Conheço este versículo”, disse. “Mas sempre pensei
que significasse agradecer a Deus pelas coisas boas. Agradecer-lhe pelas
coisas más não parece bíblico. Sempre achei que Paulo foi um tanto
exagerado quando disse para aguentarmos as enfermidades com prazer.”
“Antigamente eu também pensava assim”, respondi. “Mas eu me convenci
de que Paulo está certo. Quando ele fala sobre regozijar-se nas
enfermidades, ele obviamente não quer dizer que devamos ter prazer na dor
em si. Mas Paulo chegou a ver o sofrimento sob um prisma diferente. Ele
descobriu que seu sofrimento servia a um propósito mais elevado e fazia
parte do perfeito plano de Deus para ele.”
John fitou-me pensativo. “Não sei”, disse vagarosamente. “Não faz muito
sentido.”
“A lição foi também muito difícil para Paulo. Lembra-se do ‘espinho na
carne’?”
Ele concordou.
“Três vezes Paulo pediu que ele fosse removido. É claro que nessa ocasião
não estava-se alegrando com a dor. E três vezes Deus lhe respondeu: “Não.
A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa
vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse
o poder de Cristo.” (2 Co 12.9.)
“Paulo não se sentia feliz pelas doenças em si”, continuei. “Ele continuou a
dizer aos coríntios “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas
necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque
quando sou fraco, então é que sou forte.” (2 Co 12.10)
John começou a folhear sua Bíblia, pensativamente.
“Tenho fé que Deus está operando em todas as coisas”, disse finalmente.
“Mas esta questão de regozijar é muito difícil para mim.”
“Se afirmamos ter fé, mas não conseguimos nos alegrar, isso não quer dizer
que ainda não nos entregamos a Deus para que ele faça o que for melhor?”
sugeri.
John permaneceu em silêncio. Depois disse com determinação: “Acho que
o senhor tem razão. Quero experimentar.”
Ajoelhamo-nos, e aquele rapaz alto soluçava ao orar: “Deus, sei que tu amas
a minha esposa muito mais do que eu. Acredito que tu estás realizando um
plano maravilhoso para nós.”
As lágrimas desciam livremente pelo seu rosto, mas os seus olhos brilhavam
com uma nova esperança.
“Deus está fazendo o que é melhor, capelão. Tenho certeza.”
Alguns dias depois John pediu transferência para outra base a fim de estar
mais perto da esposa. Quando lhe foi concedida, ele veio se despedir de
mim.
“Espere só até ouvir a melhor parte da história”, disse ele alegremente.
“Deus prometeu curar a minha esposa no momento em que eu for vê-la, se
eu colocar minhas mãos sobre a sua cabeça e disser: “Em nome de Jesus
esteja curada.”
Senti uma ponta de dúvida. E se na sua ânsia ele estivesse passando adiante
de Deus? Mas naquele instante eu também senti a confirmação do Espírito
Santo, e impus minhas mãos sobre John numa oração de despedida:
“Pai, tu disseste que se dois concordassem na terra a respeito de algum
pedido, tu o concederias. (Mt 18.19.) Portanto, eu concordo com o John de
que no momento em que ele tocar na sua esposa, tu a curarás.”
Duas semanas depois recebi uma carta dele.
“Aconteceu justamente como Jesus nos dissera. Minha esposa se achava no
consultório do psiquiatra quando a vi. Estava com uma aparência horrível.
As rugas do seu rosto e o medo que saltava dos seus olhos quase me
convenceram de que ela não tinha mais cura. Mas eu sabia que precisava
obedecer a Deus. Dirigi-me a ela e Coloquei as minhas mãos sobre sua
cabeça. No momento em que a toquei, pareceu que ela tinha tomado um
choque. Compreendi que estava curada, e disse isso para o psiquiatra. Ele
me olhou espantado, achando que eu também precisava ser internado. Mas,
no dia seguinte, chamaram-me, e o psiquiatra disse: “Não sei explicar, mas
a sua esposa parece estar curada!” Agora ela está em casa, e mais feliz do
que nunca. O sofrimento deixou-a mais forte e nós dois agradecemos a Deus
por todas as coisas. Aprendemos que o poder curativo de Cristo é liberado
quando nós o louvamos.”
A força de Cristo toma o lugar de nossas fraquezas, quando nos chegamos a
ele, reconhecendo e confessando nossas deficiências. Mas é muito comum
ficarmos envergonhados de confessar nossas fraquezas, receosos de que os
outros e Deus não nos aceitem como realmente somos. Esse modo de pensar
está baseado na ideia errônea de que precisamos fazer algo para ganhar ou
merecer o amor de Deus.
Um general cristão visitou-me certa vez e confessou que a tensão de se
apresentar sempre perfeito perante os seus comandados estava a ponto de
matá-lo. À medida que conversávamos, compreendi que esse homem, a
quem eu sempre admirara pela sua postura e autoconfiança, nunca fora capaz
de se aceitar como era. Estava obcecado pela ideia de que, se ele se
descuidasse, iria desapontar deploravelmente a sua família e seu batalhão.
Sugeri que a sua tensão diminuiria se ele agradecesse a Deus por tê-lo criado
exatamente como era.
“O senhor refere-se ao modo como sou atualmente? Tenso e cheio de
medo?” perguntou, e eu respondi que sim.
“O senhor pensa que o Deus que criou o universo e colocou as estrelas no
céu, foi menos cuidadoso quando o criou? Nem tampouco foi ele negligente,
quando permitiu certas circunstâncias em sua vida a fim de lhe mostrar o
quanto o ama.”
O general veio ao meu gabinete várias vezes. Estudou a Bíblia e leu Louvor
que Liberta com muito interesse. Aos poucos, ele foi aceitando a ideia de
que Deus tinha um plano perfeito para a sua vida, e o contínuo estado de
tensão nervosa em que vivia estava servindo ao propósito de fazê -lo confiar
em Deus.
Começou a louvar a Deus pela sua angústia, e, aos poucos, uma grande
sensação de paz foi tomando o lugar de seus velhos temores. Pela primeira
vez em sua vida, ele estava satisfeito consigo mesmo.
“Quando pensava que Deus não podia me amar por causa das minhas
fraquezas, tentava encobri-las e, em consequência, eu me afastava cada vez
mais da verdade”, disse-me ele. “Quando fui capaz de admitir que era fraco,
e de agradecer a Deus por me ter feito assim, o seu amor começou a me
transformar, e ele começou a me dar a sua paz.”
Davi escreveu: “Bendizei, ó povos, o nosso Deus. Fazei ouvir a voz do seu
louvor, pois preserva com vida a nossa alma, e não permite que nos resvalem
os pés. Pois tu, ó Deus, nos provaste; acrisolaste-nos como se acrisola a
prata. Tu nos deixaste cair na armadilha; oprimiste as nossas costas. Fizeste
que os homens cavalgassem sobre as nossas cabeças. Passamos pelo fogo e
pela água; porém, afinal, nos trouxeste para um lugar espaçoso. ... A ele
clamei com a boca, com a língua o exaltei. Se eu no coração cont emplara a
vaidade, o Senhor não me teria ouvido. Entretanto Deus me tem ouvido, e
me tem atendido a voz da oração. Aclamai a Deus, toda a terra. Salmodiai a
glória do seu nome. Dai glória ao seu louvor.” (SI 66.8-12, 17-19, 1-2.)
Davi desejava se identificar com Deus, e sabia que qualquer coisa de impuro
que existisse nele impediria que o amor de Deus enchesse seu coração, e
fluísse através dele para os outros. Por essa razão, Davi acolhia com alegria
o processo de purificação, de quebrantamento, e de limpeza usado por Deus
a fim de ajudá-lo. Ele se regozijava quando as provações revelavam os
pecados escondidos no seu próprio coração, pois assim podia confessá -los e
ser perdoado. O próprio Deus ensinara isto a Davi.
“Não, eu não preciso dos sacrifícios de carne e de sangue que vocês
oferecem! O que eu quero de vocês é o seu agradecimento verdadeiro; quero
ver cumpridas as suas promessas. Quero que vocês confiem em mim, em suas
horas de aflição, para que eu possa livrá-los, e vocês possam me dar glória!
...Não recitem mais as minhas leis, e parem de alegar as minhas promessas,
pois vocês têm recusado a minha disciplina, desrespeitando as minhas leis...
Esta é a última oportunidade para todos vocês... Mas o verdadeiro louvor é
um sacrifício valioso; isto é o que realmente Me honra. Aqueles que andam
nas Minhas veredas receberão salvação do Senhor.” (Salmos e Provérbios
Vivos.)
Os caminhos do Senhor são os caminhos do louvor!
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
A Alegria do Senhor
“A alegria do Senhor é a vossa força”, disse o profeta Neemias. (Ne 8.10.)
Não admira que Jesus estivesse tão interessado que os seus discípulos
entendessem que ele tinha vindo, não somente para lhes dar a salvação
através do seu sacrifício na cruz, como também para proporcionar-lhes o
poder reconfortante da sua alegria.
"Vocês não experimentaram fazer isso antes (mas comecem agora)”, disse
ele. “Peçam utilizando meu nome, e receberão, e o cálice da alegria de vocês
transbordará." (Jo 16.24.)*
A alegria do Senhor é nossa. Basta pedirmos!
Antes de ser preso, Jesus orou por nós nos seguintes termos: “...para que
eles tenham o meu gozo completo em si mesmos." (Para que eles tenham a
minha alegria dentro de si.) (Jo 17.13.)
Todo cristão genuíno sabe que a sua salvação é uma dádiva gratuita. Ele
nasceu novamente do Espírito Santo quando aceitou Jesus Cristo como o seu
Salvador, pela fé. Muitos chegam a descobrir que Deus lhes dá mais uma
coisa gratuitamente: o batismo do Espírito Santo, o qual também pode ser
reivindicado pela fé. Mas são poucos aqueles que chegam a compreender
que Jesus já nos ofereceu a sua alegria e que podemos reivindicá-la pela fé
juntamente com as outras duas bênçãos.
Sendo a alegria do Senhor a nossa força, é claro que essa alegria não é uma
coisa que só podemos obter depois de muitas realizações ou
aperfeiçoamentos. Precisamos dela desde o princípio, para nos sustentar e
nos dar forças para a tarefa de espalhar as boas-novas pelo mundo.
Paulo escreveu aos coríntios: “Quando eu for, embora não possa fazer muito
para ajudar-lhes a fé, pois ela já está forte, desejo poder fazer algo para
alegria de vocês: quero deixá-los felizes, e não tristes.” (2 Co 1.24.)*
Paulo não pretendia proporcionar-lhes alegria levando-lhes lindos presentes
ou oferecendo-lhes circunstâncias agradáveis. Ele pretendia fazê-los se
lembrarem da alegria que já lhes tinha sido dada. Paulo queria que os
coríntios se regozijassem cultivando a alegria que tinha sido implantada
neles pelo Espírito Santo.
Paulo sabia que as circunstâncias externas que rodeiam uma ativa
testemunha cristã muitas vezes contêm provações e sofrimentos. A sua fonte
de alegria é interna, é a sua permanência em Cristo.
"O Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam
cadeias e tribulações. Porém, em nada considero a vida preciosa para mim
mesmo, contanto que complete a minha carreira (com alegria), e o
ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da
graça de Deus.” (At 20.23-24.)
Se a alegria já nos foi dada por Jesus, por que a maioria dos cristãos têm
uma vida tão desprovida de gozo?
Jesus orou para que a sua alegria fosse aperfeiçoada em nós. Ele queria dizer
que nós mesmos não podemos nos tornar alegres, como não podemos nos
salvar por nós mesmos, como não podemos nos dar paz, ou tornar -nos mais
cheios do seu amor. O que podemos fazer é resolver a aceitar a Jesus e
confiar no que ele fez por nós, e permitir que ele aperfeiçoe a sua alegria em
nós.
Na prática isso quer dizer que resolvemos mostrar-nos alegres,
independentemente do que sentirmos, confiando em que Deus está
operando, transformando nossas tristezas em alegrias, justamente como ele
prometeu.
Amor, alegria e paz fazem parte do fruto do Espírito Santo em nós. Jesus
explicou aos seus discípulos como deviam cultivar esse fruto.
“Como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor. Se
guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como
também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e no seu a- mor
permaneço. Tenho-vos dito estas cousas para que o meu gozo esteja em
vós.” (Jo 15.9-11.)
A origem da alegria não está em circunstâncias felizes, mas no
conhecimento dos mandamentos de Jesus, na sua obediência e no descansar
nele.
Jeremias escreveu; “Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras
me foram gozo e alegria para o coração." (Jr 15.16.)
A alegria é certamente uma coisa que devemos sentir. É para ser uma
experiência feliz, transbordante e agradável. Mas a alegria não depende d o
sentimento. Não é por nos sentirmos alegres que devemos nos regozijar.
Antes, devemos esperar que a alegria chegue até nós por estarmo -nos
regozijando.
Davi aprendeu o segredo do regozijo. “Regozijai-vos nele com tremor”,
escreveu ele no Salmo 2.11. “Agora será exaltada a minha cabeça acima dos
inimigos que me cercam. No seu tabernáculo oferecerei sacrifício de júbilo;
cantarei e salmodiarei ao Senhor.” (Sl 27.6.)
Durante muito tempo pensei que alegria fosse algo que eu experimentaria
quando estivesse satisfeito e as coisas corressem bem ao meu redor. Agora
compreendo que a alegria não brota das minhas emoções, mas é provocada
pela minha vontade e faz parte de uma vida de louvor.
“Regozijai-vos no Senhor, ó justos. Aos retos fica bem louvá-lo”, escreveu
Davi no Salmo 33.1.
A alegria, o agradecimento e o louvor se relacionam entre si, e nosso
compromisso de louvar e agradecer a Deus em todas as coisas não é
completo enquanto não nos comprometermos a nos regozijarmos em tudo
também.
Uma senhora de idade, que tinha recebido o Espírito Santo, e que tinha sido
membro ativo no trabalho do Senhor, ficou deformada pela artrite. Anos de
sofrimento tinham-lhe roubado a alegria de viver; a menor ocupação
doméstica lhe era uma agonia, e cada vez ficava mais deprimida.
Ela acreditava que Deus podia curá-la, e tinha ido a várias reuniões de cura
divina, mas piorava cada vez mais. Certo dia, ouviu falar no poder de louvar
a Deus em todas as coisas, e resolveu que ia tentar. Não era uma tarefa fácil,
pois então a dor já era quase que constante, dia e noite. Mas ela estava
mesmo resolvida a ser agradecida a Deus por tudo que fazia parte de sua
vida, até mesmo por sua dor.
Certo dia, ela atravessava vagarosamente a cozinha, carregando uma
bandeja de utensílios. Subitamente a bandeja caiu, e todas as vasilhas se
espalharam. Suas costas doloridas e os dedos entrevados não permitiam que
ela se abaixasse para pegar coisa alguma. Numa situação dessas, ela
costumava chorar de autopiedade. Mas, desta vez, ela se lembrou de sua
promessa de louvar a Deus.
"Obrigada, Senhor”, murmurou ela “por me deixar derrubar tudo no chão.
Acredito que estejas operando para o meu bem.”
Num momento, ela se deu conta de que havia outros seres na cozinha, ali ao
seu lado. Antes estivera sozinha. Agora tinha a sensação da presença de
outros. Admirada, compreendeu que estava rodeada de anjos. Os anjos riam
e se regozijavam, e ela sabia que a alegria deles era por ela. De repente,
entendeu.
Jesus disse aos seus discípulos: “Há júbilo diante dos anjos de Deus por um
pecador que se arrepende” (Lc 15.10) ou como diz a versão Phillips: “Por
um pecador cujo coração se transforma.”
Certamente, ela era uma pecadora salva, cujo coração havia-se transformado
miraculosamente. Durante anos, ela se enchera de autocomiseração e de
queixas contra Deus por deixá-la sofrer. Tinha-lhe suplicado que a curasse,
e bem lá no íntimo achava que Deus a tinha desiludido. Finalmente, chegou
a compreender que as suas queixas eram baseadas em incredulidade, e houve
regozijo entre os anjos quando ela confiou em Deus e o louvou pelo acidente
com a bandeja de utensílios.
Ela ficou parada no meio da cozinha, sentindo-se impregnada pela alegria
que enchia o lugar. E, com o coração cheio de regozijo, agradeceu
sinceramente a Deus por ter permitido o sofrimento que lhe trazia agora tal
alegria.
Algum tempo depois, ela estava assistindo um culto, onde se fazia oração
pelos enfermos. Com toda a confiança em Deus, foi à frente. Antes, a dor a
tornava tão consciente da doença, que isso prejudicava a sua capacidade de
crer. Agora a sua fé não se apoiava mais em seus sentidos. Estava livre para
crer, não importando quão intensa fosse a dor. Naquela noite ela foi curada
instantaneamente. Toda a dor se foi, e as juntas deformadas tornaram-se
perfeitas.
Somos criaturas que gostam de se fixar a hábitos. Temos sempre deixado
que os nossos sentidos comandem nossas reações. Mas Cristo veio morar
em nós para que a sua alegria possa nos encher completa e plenamente.
Não são as nossas emoções, nem a nossa mente, nem tampouco os nossos
sentidos que nos incitam a regozijar. Isso vem do nosso espírito nascido do
Espírito Santo. É ali que reside a nossa vontade. E quanto mais permitirmos
que nossa vontade tome a iniciativa de nossas ações — não permitindo que
os sentidos o façam — tanto maior será a nossa capacidade de reagir a
qualquer situação com louvor, alegria e agradecimentos. O nosso velho
hábito de depender dos sentimentos irá se tornando cada vez menos
frequente. Se persistirmos, veremos que a alegria procedente da nossa
vontade e do nosso espírito se estenderá também aos nossos sentidos.
O que a princípio é um ato de obediência à Palavra de Deus acaba
envolvendo todo o nosso ser: agora percebemos, sentimos, pensamos e
experimentamos um louvor transbordante, um coração agradecido, e uma
alegria, que jamais tínhamos provado antes.
Quando nos submetemos inteiramente à vontade de Deus, de maneira que
todos os obstáculos existentes em nós possam ser removidos, e nós
possamos ser amoldados, renovados e transformados em vasos perfeitos
para ele, é então que descobriremos que a alegria do Senhor está toda em
nós.
Durante vinte anos, aproximadamente, sofri do estômago. Muitos tipos de
alimento me faziam mal. Fui a inúmeros médicos e tomei muitos remédios,
mas sem resultado.
Orei e tentei crer que Deus me curaria; mas, não recebi a cura. Outros oraram
por mim — líderes cristãos muito conhecidos pelo seu sucesso no ministério
de cura, grupos de oração, amigos — mas o problema continuava.
Reivindiquei a promessa de Jesus, em Marcos 16, de que nem veneno me
faria mal, e comia frequentemente quaisquer alimentos que me fossem
servidos. Mas o resultado era repetidamente um "desastre” e eu passava
muito mal, incapaz de dormir, e me entregava à autopiedade.
Finalmente decidi aceitar pela fé que tinha sido curado pela virtude da morte
de Cristo por mim, e acreditar que os sintomas desapareceriam quando ele
quisesse. Durante alguns anos, descansei nessa certeza e agradeci a Deus
por estar operando em minha vida o que ele achava melhor.
Antes de eu me reformar, porém, os médicos do exército resolveram operar
meu estômago. Não acharam coisa alguma que justificasse a dor que eu
vinha sentindo todos aqueles anos, e, consequentemente, nada puderam
fazer em meu favor.
Após a operação, deitado no leito do hospital, a dor começou a ficar mais
forte que nunca. Analgésicos e narcóticos não faziam efeito. Hora após hora
estava eu ali deitado, sem conseguir dormir, e as trevas parecendo me
engolfar. Tinha a impressão que podia até tocar no sinistro poder do mal que
flutuava em derredor; lutei contra a tentação de me entregar ao pavor. Temia
morrer, e também tinha medo de viver naquele estado.
No momento em que as trevas pareciam mais densas, clamei: "Senhor, não
importa o que possa acontecer ou o que eu possa sentir, agradeço-te por toda
esta experiência. Sei que de tudo isso tu tirarás algum proveito.”
Imediatamente, as trevas daquele quarto de hospital foram dissipadas por
uma luz clara e brilhante, mais resplandecente que o sol. Era uma luz tão
resplandecente quanto aquela que eu vira, havia muitos anos, numa visão.
Quando tivera a visão, o Espírito Santo me explicara seu significado. Eu
tinha visto uma nuvem escura flutuando sobre um campo ensolarado; e,
acima da nuvem, uma luz branca resplandecente. A luz representava a
alegria e a bênção já asseguradas por Cristo para nós. Mas, para se chegar a
ela, era preciso subir numa escada que atravessava a escura nuvem de
confusão e dor. Dentro da nuvem era impossível saber-se a direção certa
pelos sentidos, fosse pela visão, pela audição ou pelo tato. Só se podia galgar
a escada pela fé, pelo louvor a Deus, degrau por degrau. Para subir aquela
escada através da escura nuvem, era preciso que não houvesse qualquer
dependência dos sentidos. Era preciso aprender a confiar na Palavra de
Deus. A escada do louvor levava diretamente aos páramos celestiais. Lá
estava o nosso lugar com Cristo Jesus.
Ali na minha cama de hospital, meu corpo agora flutuava naquela luz
brilhante e maravilhosa. Repentinamente, compreendi que aquela visão, que
eu tivera havia tantos anos, agora era realidade.
Os anos em que eu tinha andado pela fé, crendo que Deus estava usando a
minha dor para o meu bem, foram os anos em que eu estivera atravessando
a nuvem de escuridão e incerteza. Sem ter passado pela nuvem, eu não teria
aprendido a me desfazer dos sentidos e dos meus sentimentos. Agora eu
podia agradecer a Deus, de todo o coração, pelas circunstâncias de minha
vida que tinham aumentado a escuridão da nuvem. De que outra maneira
poderia eu ter aprendido a confiar nele tão plenamente? De que outra
maneira poderia eu ter experimentado esta maravilhosa imersão na luz e na
alegria?
Aquela luz permaneceu comigo vários dias, envolvendo-me, inundando todo
meu ser, e quando voltei para casa, descobri que Deus também tinha curado
o meu estômago. Os alimentos que me faziam mal antes, agora eram
inofensivos. Alegrei-me por poder comer morangos, maçãs, bananas,
sorvetes, alimentos dos quais eu me abstivera por vários anos.
Durante todo esse tempo, muitas pessoas foram curadas instantaneamente
quando eu orava por elas, mas Deus resolvera fortalecer a minha fé
esperando que eu confiasse totalmente em sua Palavra.
O louvor realmente liberta o poder de Deus para efetuar a cura, mas esta é
de importância secundária. Enquanto nosso próprio conforto, nosso desejo
de ser curado e de ficar livre da dor física forem nosso interesse primordial,
estamos na perspectiva errada. Estamos contestando o plano divino para nós.
Passei anos com receio de um dia perder os dentes. Então, certo dia, o meu
dentista me disse que as minhas gengivas estavam muito inflamadas, e que
havia uma perda óssea visível ao raio-X. A radiografia demonstrava um
quadro muito triste: eu estava prestes a perder os dentes!
Deixei o consultório do dentista muito abatido. Sabia que devia agradecer a
Deus pelo que acabara de saber, mas não me sentia feliz.
“Obrigado, Senhor”, disse. “Sou grato a ti por teres permitido que meus
dentes chegassem a esse péssimo estado. Estou certo de que tu sabes melhor
do que eu o que é bom para mim; portanto, eu te louvo, Senhor!”
À medida que eu orava, mais agradecido me sentia. Encontrei então uma
amiga e lhe contei sobre a minha nova oportunidade de louvar o Senhor.
“Já orou pedindo a cura?” perguntou ela.
“Não. Acabo de compreender que perder os dentes afinal não é tão
importante, pois só acontecerá se Deus o permitir.”
“Acho que Deus quer que você tenha dentes perfeitos”, disse a minha amiga,
pondo levemente a mão no meu ombro. “Deus querido”, orou ela, “damos -
te graças por teres deixado os dentes do Merlin chegarem a tal estado. Nós
te louvamos, e pedimos que sejas glorificado nisso; toca Merlin agora e
cura-o completamente.”
Três dias depois voltei ao consultório do dentista, e o observava enquanto
ele estudava as novas radiografias cuidadosamente. Parecia muito
interessado e um tanto perplexo. Pôs as radiografias na mesa e examinou
minha boca novamente. Sacudiu a cabeça, resmungou à meia voz, e eu
pensei: talvez estejam ainda piores do que ele esperava.
Finalmente, ele recuou, olhou-me dos pés à cabeça, e perguntou: “O que foi
que você fez nos dentes?”
“Absolutamente nada!”
“Então não entendo.” Olhou as radiografias antigas e as novas. “Os ossos
estão em perfeito estado, e as suas gengivas perfeitas. Está tudo ótimo!”
Ri silenciosamente. Era maravilhoso saber que Deus havia me curado. Mas
o mais maravilhoso era que a cura não tinha mais uma importância tão
grande. Aquele tormento, aquele medo de usar dentadura tinha
desaparecido. Não me importava mais ter ou deixar de ter dentes perfeitos,
que fossem genuinamente meus. O importante era uma perfeita união com
Cristo e uma confiança absoluta no interesse amoroso de Deus por todos os
detalhes de minha vida, mesmo os pequeninos.
Recebi recentemente uma carta de uma senhora muito amiga, de New
Hampshire. Ela mora sozinha com o filho adolescente e, quando me
escreveu, estava de cama, estirada de costas e em constante dor, após ter
sofrido duas operações importantes. Ela escreveu nos seguintes termos:
“Louvado seja Deus por sua grande fidelidade! Eu estava muito desanimada
depois da minha última operação, mas alguém me deu um exemplar de
Louvor que Liberta. Resolvi louvar a Deus pela doença e ficar firme em
Jesus. A dor não desapareceu, mas passei a conhecer meu Salvador de
maneira mais profunda, e o Espírito Santo tem-me abençoado
maravilhosamente.
“Alguns amigos me disseram que Deus me fez sofrer para me castigar. Sei
que não é isso. Jesus nunca me acusou. Pelo contrário, ele muito me tem
ensinado sobre o seu amor. Nestes últimos meses, ele usou a sua Palavra
para me mostrar coisas erradas que não deviam estar no meu coração e na
minha vida, sentimentos e pensamentos que não são de Cristo. Com o seu
maravilhoso amor. Deus me perdoou e curou todas as cicatrizes de mágoas
antigas.
“Aprendi a agradecer a Jesus pelas dificuldades todas, e até pela dor. Eu
amo a Cristo de todo o meu coração. Não entendo por que ele me dirige por
este caminho, mas, eu o louvo por poder sentir-me feliz e sentir “prazer” na
enfermidade (2 Co 12.10), e por estar sendo dirigida por Deus.
“Devo voltar ao hospital e talvez tenha que me submeter a uma terceira
operação. Agradeço a Deus por isso, sabendo que tudo redundará para o meu
bem. Sei que ele pode me curar. Agradeço-lhe, pois sei que o que ele decidir
em seu amor, será o melhor para mim.”
A sua carta transbordava de genuína alegria e gratidão. O seu corpo físico
ainda sofria dores, mas ela já tinha experimentado a cura de suas emoções e
do seu ser interior, e mantinha um relacionamento maravilhoso com Deus,
em Cristo. Todas as outras coisas, até mesmo a sua cura, tinham-se tornado
secundárias.
Identidade com Deus, em Cristo, era o objetivo de Paulo também. Jesus
sabia que a finalidade da sua vinda à terra fora remover a barreira do pecado
existente entre o homem e Deus, para que o Criador pudesse estar novamente
unido com a sua criação, como tinha sido a sua intenção desde o princípio.
Antes da sua crucificação, Jesus orou por nós:
“Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em
mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como
és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o
mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me
tens dado, para que sejam um, como nós o somos. Eu neles e tu em mim, a
fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que
tu me enviaste, e os amaste como também amaste a mim. Pai, a minha
vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para
que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da
fundação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu; eu, porém, te
conheci, e também estes compreenderam que tu me enviaste. Eu lhes fiz
conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que
me amaste esteja neles e eu neles esteja.” (Jo 17. 20-26.)
Jesus orou, e nós sabemos que a sua oração foi respondida. Paulo nos
assegura que estamos assentados com Cristo. Cristo habita em nós. Nele,
nós somos um com o Pai.
Quando começamos a compreender o significado pleno desses
acontecimentos já ocorridos, tudo o mais que aconteça em nossa vida passa
a ter uma perspectiva correta. As circunstâncias externas que nos pareciam
extremamente importantes por causa do nosso relacionamento imperfeito
com Cristo, e que recebiam quase toda a nossa atenção, se encaixam agora
perfeitamente no plano que Deus está operando em nossa vida. É verdade
que ainda não vemos o plano, mas vemos Jesus Cristo como Senhor e
Mestre; sabemos que Deus tem um plano, e que este plano é bom.
Desde a publicação de Louvor que Liberta, tenho recebido muitas cartas de
pessoas que estão em prisões e penitenciárias.
Da antecâmara da morte recebi a seguinte carta:
"Já foi pronunciada a minha sentença de morte pela cadeira elétrica. Sei que
preciso morrer. Durante muito tempo não tive esperança alguma para depois
da morte. Meus pensamentos eram controlados pelo medo. Sentia- me
abandonado por Deus e pelo homem. Foi então que li Louvor que Liberta.
O meu espírito passou a ter nova vida. Ousei acreditar que Deus existe e
está operando em todas as vidas para nos levar à aceitação do seu Filho
como Salvador e Senhor.
"Relembrei a minha própria vida, que foi sórdida, e compreendi que tudo
tinha acontecido com a permissão de Deus para que eu chegasse ao ponto
de procurar encontrá-lo. Encontrei-o, e num momento maravilhoso
compreendi que Deus opera em todas as coisas para o nosso bem e para a
sua glória. Pela primeira vez, vi que a minha vida inteira foi abençoada por
Deus, e que eu lhe pertencia pela fé no seu Filho. Estou agora inteiramente
livre e cheio de sua paz e de sua alegria.”
Outro detento escreveu:
“Aprendi a odiar a tudo e todos. Por mais que eu tentasse não via motivo
algum para ter alegria de viver. Alguém me deu um exemplar de Louvor que
Liberta. Quando o li pela primeira vez, pareceu-me um amontoado de
bobagens. Mas, quanto mais eu pensava nele, mais ficava tentado a louvar
a Deus pela minha vida enxovalhada. Afinal de contas, eu estava no fundo
do poço. Não tinha nada a perder.
“Comecei a repassar todos os eventos de minha vida, um por um, à medida
que me vinham à memória. Agradeci a Deus pelo fato de cada um deles ser
uma parte de seu plano para minha existência. A ideia geral me parecia sem
nexo, mas forcei-me a continuar. E como eu perseverasse, algo começou a
suceder em meu interior. Passei a pensar em Deus como estando
pessoalmente envolvido em minha complicada vida. Seria mesmo verdade
que ele estivesse interessado em mim? Ocorrências de que eu havia-me
esquecido, voltaram-me à lembrança. Antes eu as encarava como tragédias;
agora via-as como parte de uma ação de Deus para me atrair a si, a fim de
convencer-me de que eu precisava dele.
"Comecei a louvá-lo por todos os detalhes de minha vida. Agradeci-lhe pelas
pessoas que me odiaram, que me trataram mal, que mentiram a meu respeito,
e que me traíram. Agradeci-lhe por aqueles a quem eu havia odiado,
maltratado, traído ou a respeito de quem dissera mentiras.
“Uma intensa paz tomou conta de mim. Deus estava apagando todas as
lembranças amargas. Os muros da prisão como que se derreteram. Agora era
a paz que me rodeava. Os muros e as barras de ferro não fazem mais de mim
um prisioneiro. Sou livre em Cristo, louvado seja Deus!”
Outra carta me chegou às mãos, desta vez de uma penitenciária do Oeste dos
Estados Unidos:
“Louvado seja Deus! A frequência à nossa igreja e aos grupos de estudo
bíblico vem aumentando dia a dia. Na semana passada três homens
aceitaram Cristo como seu Salvador. Imagine só o que acontecerá dentro
destes muros se três almas se entregarem a Jesus semanalmente! (Numa
carta posterior ele contava que no mês seguinte doze homens haviam
aceitado a Cristo, e quatro recebido o batismo do Espírito Santo.)
Apreciamos imensamente as orações dos irmãos de Fort Benning. O Senhor
está fazendo sentir a sua presença nesta instituição de um modo como jamais
se teve notícia... Deus está respondendo as nossas orações e entre os
prisioneiros muitas almas ainda pertencerão a Jesus. Foi uma bênção ler
Louvor que Liberta. Regozijamo-nos com a possibilidade de realizarmos um
ministério através de fitas gravadas dentro dos muros desta prisão. Assim,
poderemos ouvir alguns dos ensinamentos de nossos irmãos cristãos que
estão “lá fora”.
“Deus é tão maravilhoso! Há oito anos passei pelos portões desta prisão com
uma sentença de dez a oitenta anos de prisão por assalto à mão armada. Nada
esperava do futuro, a não ser uma bala de um policial, ou o esquec imento
total pelo álcool. Tentei todos os programas de reabilitação, mas quando
recebi o livramento condicional, fiquei bêbado durante três meses e vinte e
cinco dias até ser recolhido novamente à prisão. Tentei modificar -me, mas
não consegui.
“Há seis meses passados, num instante, Jesus Cristo me transformou. Foi
bem como a Bíblia diz: “E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura;
as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.” (2 Co 5.17.) Desde
então, Jesus Cristo está sempre operando em minha vida para purificá-la,
fazendo com que a sua luz brilhe nos cantos escuros, cheios de teia de
aranha. Louvado seja Deus! Não existe qualquer outro programa de
reabilitação digno de nota, que possa ser comparado com o programa que
Cristo oferece. Homem algum pode modificar o homem interior. Somente
Cristo!
“Louvado seja o maravilhoso Jesus. Ele despejou sobre mim a luz do amor
de Deus. A alegria de viver com Jesus torna-se diariamente mais profunda.
“Muito lhe agradecemos por estar orando conosco em favor de um contínuo
despertamento entre os prisioneiros, e pelo fortalecimento dos novos
convertidos. Saudações dos irmãos em Jesus.”
Aquele nosso irmão está vivendo — e louvando a Deus — em circunstâncias
que muitos de nós chamaríamos de sombrias e difíceis. Entretanto, a sua
perspectiva tornou-se inteiramente diferente. Ele conhece a alegria de viver
em Jesus Cristo, e tudo o mais em sua vida tornou-se secundário. Ele
aprendeu a verdade dos seguintes versos: “Regozijai-vos sempre. Orai sem
cessar. Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus
para convosco." (1 Ts 5.16-18.)
João Wesley escreveu os seguintes comentários sobre esta passagem:
"Regozijai-vos sempre — uma felicidade incessante em Deus. Orai sem
cessar — é o resultado de regozijarmo-nos sempre no Senhor. Em tudo dai
graças — é consequência dos dois itens anteriores. Isto é a perfeição cristã.
Não podemos ir além; e não precisamos ficar aquém dela. Nosso Senhor já
pagou o preço da alegria e da justiça para nós. É este o objetivo do
evangelho: livres da culpa, podemos ser felizes no amor de Cristo. O
agradecimento é parte integral de uma oração verdadeira. As duas coisas
estão intimamente relacionadas. Aquele que sempre ora está louvando, seja
em tempos fáceis, seja em tempos de dor, tanto na prosperidade, como na
maior das adversidades; glorifica a Deus por todas as coisas, reconhece que
elas vêm de Deus, e as recebe somente porque ele assim o quer. Quem
sempre ora não escolhe nem recusa, apreciando ou deixando de apreciar;
mas aceita as ocorrências como vêm: agradáveis ou desagradáveis. Aceita
tudo conforme a sua perfeita vontade.” (Notas sobre o Novo Testamento.)
A perfeição cristã é ter uma vida de felicidade incessante com Deus, e
enxergar cada circunstância como vinda dele, agradecendo-lhe por isso.
Não há casualidades no plano de Deus para nossa vida. Nada, absolutamente
nada — por mais estranho, incoerente ou maléfico que nos possa parecer —
acontece sem o consentimento específico de Deus.
Uma senhora escreveu-me e relatou uma surpreendente história, história esta
que ilustra muito bem esse ponto.
Ela nasceu sem uma das mãos, e, desde a época em que tinha idade bastante
para compreender que era diferente das outras crianças, usava um lenço ou
uma estola cobrindo o toco do braço, a fim de esconder o defeito. Esteve
sempre terrivelmente cônscia da sua deformidade e, quando se tornou
adulta, começou a beber para esquecer a mágoa. Quando me escreveu, já era
uma senhora de cinquenta e seis anos.
“Há seis meses fui visitar minha irmã, e ela pôs no gravador uma fita na qual
o senhor falava sobre louvar a Deus por todos os problemas e tragédias da
vida. Enquanto eu escutava, senti como se tivessem me dado um soco no
estômago. Senti-me doente. Após ter culpado a Deus durante tantos anos
por causa da minha desgraça, eu não estava preparada para lhe agradecer
pela minha deformidade. Então, eu lhe disse: “Senhor, é impossível. Eu lhe
agradeço por me libertar do álcool, mas por esse outro problema não lhe
posso agradecer.”
"Por mais que eu tentasse, não conseguia esquecer a ideia de agradecer a
Deus. Perseguia-me noite e dia. Finalmente eu disse: "Senhor, por que não
me largas? Farei qualquer coisa por ti, menos isso. Acontece que não posso.”
Mas eu não achava descanso. Resolvi tocar a fita mais uma vez. Ouvi, então,
algo que me escapara antes. O senhor falou de um jovem soldado e sua
esposa, que se achavam incapazes de agradecer a Deus por aquela coisa
terrível que os ameaçava, mas disseram finalmente que queriam tentar. O
resto veio facilmente. Naquele momento, eu também havia chegado a um
ponto em que estava disposta a tentar qualquer coisa, mesmo que fosse
apenas para conseguir um pouco de paz. Assim, disse a Deus que estava
disposta a tentar, mesmo não estando certa de que conseguiria. Quando
acabei de falar, pareceu-me que uma carga de muitos anos havia sido
retirada de meus ombros. Comecei a louvar a Deus — as lágrimas correndo
— e parecia-me, como diz o corinho, que: “A paz do céu encheu meu
coração!” No meio desse regozijo todo, o Senhor me falou: “Ainda tenho
uma coisa a resolver com você!” Sentei. Que mais poderia ser? Eu tinha
feito o maior dos sacrifícios e agradecera a Deus pela deformidade que eu
tinha odiado a vida toda! Mas, muito claramente, as palavras se formaram
na minha mente:
“Você nunca mais vai pôr um lenço ou estola no toco do seu braço!”
"Fiquei tensa interiormente. “O Senhor, não”, murmurei. “Isso já é ir longe
demais. Não me peça isso.” “Enquanto estiver escondendo, você não está
agradecida. Ainda tem vergonha!” foi a suave repreensão. Em lágrimas,
cedi.
“Tentarei”, prometi. “Mas tu precisas me ajudar." “Na próxima vez que
precisei sair de casa foi para ir ao júri. Eu me vesti e, automaticamente,
peguei a estola. No mesmo momento veio o aviso: “Não! Não!”
“Eu disse: “Está bem, Senhor, irei sem ela, mas não prometo que não volte
para buscá-la!”
“Pela primeira vez na minha vida pisei a porta da rua sem esconder o defeito.
Quando fechei a porta atrás de mim, todo embaraço, vergonha e sensação de
culpa tinham desaparecido! Pela primeira vez em minha vida eu sabia o que
era ser livre. Compreendi que Deus me ama exatamente como eu sou.
Louvado seja o Senhor!” Há sempre uma justa razão para cada circunstância
que Deus permite em nossa vida. É através dessas circunstâncias que ele
pretende realizar o seu perfeito e amoroso plano para nós. Foi por amor que
Deus permitiu que aquela senhora nascesse sem a mão.
Deus permitiu que Satanás atormentasse Jó porque amava Jó. Deus permitiu
que Cristo fosse pendurado na cruz porque amava o seu Filho, bem como a
nós. Deus permitiu que as forças das trevas e do mal ganhassem uma vitória
aparente— aparente para o nosso ponto-de- vista — mas durante todo o
tempo o plano perfeito para a salvação do mundo estava sendo posto e m
ação.
Ninguém sabia isso melhor do que Jesus. Alguns leitores já me escreveram,
afirmando que Jesus se lamentou quando pendurado na cruz, gritando: “Meu
Deus, meu Deus, por que me desamparaste?”
Contudo, pensar que Jesus se lamentou está em franca contradição com tudo
que Jesus disse e fez na crucificação.
Ninguém mais do que Jesus sabia de cada detalhe do plano de Deus para
salvar o mundo. Várias vezes, ele falou aos seus discípulos sobre a sua
crucificação e ressurreição, e citava passagens dos salmos e dos profetas
predizendo o seu sacrifício na cruz. Jesus chegou mesmo a recomendar aos
discípulos que se regozijassem com o que estava para acontecer.
“Ouvistes que eu vos disse: Vou e volto para junto de vós. Se me amásseis,
alegrar-vos-íeis de que eu vá para o Pai, pois o Pai é maior do que eu.” (Jo
14.28.)
Ele também lhes disse que ninguém poderia tirar-lhe a vida sem que ele o
permitisse.
“Por isso o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir.
Ninguém a tira de mim. Pelo contrário, eu a dou espontaneamente. Tenho
autoridade para entregá-la e também para reavê-la. Este mandamento recebi
do meu Pai.” (Jo 10.17-18.)
Jesus já tinha contado a verdade aos seus discípulos, mas quando chegou a
hora, eles reagiram à vitória aparente do mal e se apressaram a defender
Jesus contra os soldados que vieram prendê-lo.
Jesus impediu-os. “Guarda a tua espada. ... Acaso pensas que não posso
rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de
anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim
deve suceder?” (Mt 26.52-54.)
Jesus sabia que a Palavra de Deus, as Escrituras, precisavam ser cumpridas.
Nenhuma circunstância ou atitude de nossa parte pode alterar a obra final
que a Palavra de Deus produzirá. Até Jesus se submeteu à Palavra, apesar
de ele ser o Verbo feito em carne.
Os judeus que rodeavam a cruz onde Jesus foi crucificado conheciam muito
bem as passagens do Velho Testamento que profetizavam a vinda do
Messias, o qual seria crucificado pelos pecados deles.
As palavras pronunciadas por Jesus: “Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?” são as palavras iniciais do Salmo 22, um salmo muito
conhecido, um cântico de louvor e de vitória, que fala da crucificação e do
futuro reino do Rei Messias.
A agonia de Jesus na cruz foi muito real. Os pregos que perfuraram as suas
mãos feriram-no tanto quanto nos feririam se estivéssemos pendurados lá.
Mas Jesus sabia que o seu sofrimento não era uma vitória para Satanás e
para as forças do mal, mas sim parte do plano de Deus. Jesus louvou a Deus
pelo sofrimento, porque ele sabia que o seu sofrimento seria a vitória sobre
o mal no mundo.
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” clamou Jesus, e o Salmo
continua: “Por que se acham longe de meu salvamento as palavras de meu
bramido? ...Contudo tu és santo, entronizado entre os louvores de Israel.
Nossos pais confiaram em ti; ...confiaram em ti, e não foram confundidos.
Mas eu sou verme, e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do
povo. Todos os que me veem zombam de mim; afrouxam os lábios e
meneiam a cabeça: Confiou no Senhor! Livre-o ele, salve-o, pois nele tem
prazer... Muitos touros me cercam, fortes touros de Basã me rodeiam. Contra
mim abrem as bocas, como faz o leão que despedaça e ruge. Derramei - me
como água, e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu coração fez-se
como cera, derreteu-se-me dentro de mim. Secou-se o meu vigor, como um
caco de barro, e a língua se me apega ao céu da boca; assim me deitas no pó
da morte. Cães me cercam; uma súcia de malfeitores me rodeia;
traspassaram-me as mãos e os pés. Posso contar todos os meus ossos; eles
me estão olhando e encarando em mim. Repartem entre si as minhas vestes,
e sobre a minha túnica deitam sortes. Tu, porém. Senhor, não te afastes de
mim; força minha, apressa-te em socorrer-me. ... A meus irmãos declararei
o teu nome; cantar-te-ei louvores no meio da congregação; vós que temeis
o Senhor, louvai-o; glorificai-o, vós todos, descendência de Jacó;
reverenciai-o, vós todos, posteridade de Israel. Pois não desprezou nem
abominou a dor do aflito, nem ocultou dele o rosto, mas o ouviu, quando lhe
gritou por socorro. De ti vem o meu louvor na grande congregação;
cumprirei os meus votos na presença dos que o temem.
"Os sofredores hão de comer e fartar-se; louvarão o Senhor os que o buscam.
Viva para sempre o vosso coração. Lembrar-se-ão do Senhor e a ele se
converterão os confins da terra; perante ele se prostrarão todas as famílias
das nações. Pois do Senhor é o reino, é ele quem governa as nações. Todos
os opulentos da terra hão de comer e adorar, e todos os que descem ao pó se
prostrarão perante ele, até aquele que não pode preservar a própria vida. A
posteridade o servirá; falar-se-á do Senhor à geração vindoura. Hão de vir
anunciar a justiça dele; ao povo que há de nascer, contarão que foi ele quem
o fez." (SI 22.)
Há uma versão da Bíblia (The Amplified Bible) que acrescenta na última
linha: “Está consumado!”, as últimas palavras emitidas por Jesus antes de
render o espírito. (Jo 19.30.)
Jesus citou muitas vezes o profeta Isaías que profetizou com surpreendente
exatidão a sua vida, sua morte, e o reino futuro.
"Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas
iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas;
cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor tez cair sobre ele a
iniquidade de nós todos. Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a
boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha, muda perante
os seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca. Por juízo opressor foi
arrebatado, e de sua linhagem quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da
terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo foi ele ferido.
Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua
morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou na sua boca.
"Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a
sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os
seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos. Ele verá o fruto
do penoso trabalho de sua alma, e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo,
com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque a iniquidade deles
levará sobre si. Por isso eu lhe darei muitos como a sua parte e com os
poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derramou a sua alma na morte;
foi contado com os transgressores, contudo levou sobre si o pecado de
muitos, e pelos transgressores intercedeu.” (Is 53.5-12.)
Jesus sabia que a sua crucificação não era a frustração do plano de Deus,
mas o seu cumprimento. Os discípulos, entretanto, não entenderam assim.
Para eles, a crucificação de Jesus era o fim de todas as suas esperanças e
sonhos para o futuro. Eles não se lembraram das palavras de Jesus, quando
lhes disse: “Assim também agora vós tendes tristeza; mas outra vez vos
verei; o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar."
(Jo 16.22.)
Os discípulos não esperavam ver Jesus novamente. Quando lhes disseram
que ele não estava no túmulo, pensaram que o seu corpo tivesse sido
roubado.
Naquele mesmo dia, dois dos seguidores de Jesus iam pela estrada que
ligava Jerusalém a Emaús. Falavam sobre a morte de Cristo, quando
repentinamente o próprio Jesus começou a andar ao lado deles. Mas eles não
o reconheceram.
Ele olhou para os seus rostos tão tristes, e lhes perguntou: “Que é isso que
vos preocupa?”
"Não ouviste contar?” disse um deles chamado Cléopas. "És o único,
porventura, que tendo estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes
últimos dias?
Jesus ouviu-os contar a triste história do maravilhoso Jesus de Nazaré, que
havia realizado milagres tão grandes que eles estavam certos de que ele era
o Messias que tinha vindo redimir Israel; mas os líderes religiosos o haviam
entregado para o governo romano para que fosse crucificado. E os homens
falavam como se tivessem acabado de presenciar a maior tragédia já
ocorrida no mundo. Além disso, disseram os homens, o corpo de Jesus tinha
desaparecido do túmulo; algumas mulheres disseram que viram anjos, os
quais lhes informaram que Jesus estava vivo. E eles pareciam achar que esta
parte era um "conto de fadas”.
“Então lhes disse Jesus: Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que
os profetas disseram!
Porventura não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E,
começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha -lhes o
que a seu respeito constava em todas as Escrituras.” (Lc 24.25-27.)
Já estavam chegando perto de Emaús. Como estava ficando tarde, os dois
homens convidaram o estranho para passar a noite com eles. Ainda não o
haviam reconhecido!
Jesus os acompanhou, e quando “estavam à mesa, tomando ele o pão,
abençoou-o, e, tendo-o partido, lhes deu. Então se lhes abriram os olhos, e
o reconheceram.” (Lc 24.30-31.)
Então eles creram. Durante todo aquele tempo tinham enxergado apenas as
circunstâncias exteriores e deixaram de ver o perfeito plano de Deus que
lhes era revelado.
Os discípulos tinham visto seu líder ser crucificado, um triunfo aparente do
mal sobre o bem, e acharam que isso era uma demonstração de que Deus
não estava ali com eles. Se, porém, tivessem acreditado na Palavra de Deus
falada pelos profetas, eles teriam aceitado as mesmas circunstâncias como
prova de que Deus estava com eles e estava operando o seu plano.
Nós, também, somos iguais aos discípulos. Quando as provações e os
sofrimentos aparecem em nosso caminho, a nossa primeira reação é: “Ó
Deus, por que me abandonaste?"
Mas Jesus disse: “No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu
venci o mundo.” (Jo 16.33.)
Se nós verdadeiramente acreditássemos nas palavras de Jesus, veríamos que
as nossas circunstâncias são evidências da presença de Deus conosco, e o
louvaríamos e lhe agradeceríamos por elas, em vez de nos queixarmos e de
nos aborrecermos.
Nós abanamos a cabeça em tristeza pelas condições em que o mundo está e
dizemos: “Isso tudo é sinal de que Deus não está agindo muito atualmente.”
Mas Jesus disse aos seus seguidores que esperassem guerras, terremotos,
fomes, revoltas, epidemias, poluições, revolução sexual, e por aí vai a lista
— um retrato perfeito do mundo em que vivemos, e uma promessa de que
ainda vai piorar muito.
Jesus disse: “Ora, ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei as
vossas cabeças; porque a vossa redenção se aproxima.” (Lc 21.28.)
Quando as coisas piorarem neste mundo a que pertencemos, isso não é sinal
de que Deus está ausente ou indiferente. Muito ao contrário. Todos esses
sinais são evidências de que Deus está muito perto. É sinal de que todas as
partes do seu plano e do seu propósito estão sendo cumpridas, justamente
como nos promete a sua Palavra.
Jesus disse aos seus discípulos que se regozijassem com ele pela sua
crucificação. Se tivessem podido confiar na sua Palavra, teriam
experimentado alegria ao invés de tristeza. A Palavra de Deus nos diz para
nos regozijarmos em nossas provações.
Pedro escreveu: “...crendo (em Jesus), exultais com alegria indizível e cheia
de glória.” (1 Pe 1.8.)
Em que você vai acreditar? Andará pela estrada como aqueles dois homens
em direção a Emaús, entristecido e preocupado com as circunstâncias
aparentes, convencido de que Deus está longe? Ou manterá os olhos bem
abertos e dará graças a Deus?
Receba o pão, a Palavra, a vida, a paz, a alegria que Jesus está-lhe
oferecendo. Veja que Jesus está com você, e que Deus está operando em
cada uma das circunstâncias de sua vida, para satisfazer suas necessidades.
Aquilo que você pensa ser uma prova espinhosa da ausência de Deus em sua
vida, é justamente a sua terna providência para trazê-lo para si, a fim de que
a sua alegria seja perfeita!
Olhe para os céus e louve-o! Ele o ama, e ele habita no louvor do seu povo!
EXULTAI, Ó JUSTOS, NO SENHOR!
Aos retos fica bem louvá-lo!
Celebrai o Senhor com harpa, Louvai-o com cânticos no saltério de dez
cordas!
Entoai-lhe novo cântico, tangei com arte e com júbilo!
Porque a palavra do Senhor é reta e todo o seu proceder é fiel.
Ele ama a justiça e o direito; a terra está cheia da bondade do Senhor.
Os céus por sua palavra se fizeram, e pelo sopro de sua boca todas as
estrelas.
Ele ajunta em montão as águas do mar; e em reservatório encerra as grandes
vagas.
Tema ao Senhor toda a terra, temam-no todos os habitantes do mundo.
Pois ele talou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir.
O Senhor frustra os desígnios das nações e anula os intentos dos povos. O
conselho do Senhor dura para sempre, os desígnios do seu coração por todas
as gerações.
Feliz a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo que ele escolheu para sua
herança.
O Senhor olha dos céus; vê todos os filhos dos homens; do lugar de sua
morada observa todos os moradores da terra, ele que forma o coração de
todos eles, que contempla todas as suas obras.
Não há rei que se salve com o poder dos seus exércitos; nem por sua muita
força se livra o valente. O cavalo não garante vitória; a despeito de sua
grande força, a ninguém pode livrar.
Eis que os olhos do Senhor estão sobre os que o temem, sobre os que
esperam na sua misericórdia, para livrar-lhes a alma da morte, e, no tempo
da fome, conservar-lhes a vida.
Nossa alma espera no Senhor, nosso auxílio e escudo.
Nele o nosso coração se alegra, pois confiamos no seu santo nome.
Seja sobre nós, Senhor, a tua misericórdia, como de ti esperamos.
— Salmo 33 —