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Copyright ® 2023 por Val Barboza

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prévia autorização por escrito do autor, exceto no caso de breves citações
incluídas em revisões críticas e alguns outros usos não comerciais permitidos
pela lei de direitos autorais.

Esse é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, lugares,


incidentes são exclusivamente produtos da imaginação do autor.

Título Original: O Herdeiro do Magnata Italiano

Capa: Val Barboza

Leitura Beta: Milena Tainara

Revisão: Lidiane Mastello e Angelica Pedrolli

Ilustrações: Carlos Miguel e Val Barboza

Diagramação: Val Barboza

BARBOZA, Val. O Herdeiro do Magnata Italiano │Donos do Mundo


1

Primeira Edição.
 
Playlist

 
Ou busque “O Herdeiro do Magnata Italiano”
 
Sinopse

- AGE GAP;
 
- Gravidez inesperada;
 
- Magnata arrogante e ranzinza;
 
- Italiano Possessivo;
 
- Mocinha brasileira;
 
- Velhinho cupido;
 
- Hots de tirar o fôlego.
 

Matteo Sartori foi implacável nos negócios, o que o fez ficar


conhecido como Dono do Mundo. Um homem ambicioso, ranzinza,
arrogante e perfeccionista, ele estava acostumado a ter o mundo aos seus pés,
mas isso estava prestes a mudar.
Uma viagem de negócios ao Brasil acabou se transformando em um
pesadelo quando seu avô foi supostamente sequestrado, e a principal suspeita
era uma linda mulher, vestida de noiva, que parecia não se importar com o
quão poderoso ele era, nem com a ameaça de ser presa.

Alice Albuquerque tinha acabado de ter o pior dia de todos. Horas


antes do seu casamento, foi traída pelo seu noivo com sua melhor amiga,
acusada de roubar um carro e de sequestrar o avô do homem mais arrogante e
lindo que ela já tinha visto.

Alice decidiu mudar e começou aceitando uma proposta de emprego


na Itália, mas a primeira pessoa que encontrou foi Matteo. O desejo falou
mais alto e eles acabaram tendo uma noite tórrida. No dia seguinte, descobriu
que ele seria seu novo chefe.

Ele não se envolve com funcionárias.

Ela não quer se apaixonar.

Ele nunca cogitou ter filhos.

Ela não consegue mais confiar nas pessoas.

Um bebê seria capaz de uni-los?

Este é o primeiro livro da Trilogia Donos do Mundo. Os livros da


trilogia são de casais independentes e podem ser lidos separadamente.
 
 
Dedicatória

Para toda garota que já sonhou com um príncipe encantado, mas que
hoje só quer um italiano gostoso que te pegue pelo pescoço e mande ficar
quietinha. Afinal, quem precisa de um príncipe encantado quando tem um
gostoso te comendo bem?
 
Prólogo

Campos do Jordão - Brasil

Era o dia do meu casamento, iria me casar com o meu primeiro e


único namorado. Raphael e eu namorávamos há três anos e finalmente
iríamos nos casar. Sempre foi meu sonho ter uma família grande, com
crianças correndo pela casa, talvez por ser filha única, e isso se concretizaria
muito em breve, mas algo estava errado, eu não estava feliz como pensei que
ficaria.

— Prontinho — disse a maquiadora. — Você está linda.

— Obrigada.

Ao me encarar no espelho quase não me reconheci, meu cabelo


ondulado estava firmemente amarrado em um coque que não deixava um
único fio fora do lugar, o meu vestido era simples com alças ombro a ombro,
cauda sereia e um discreto cinto de pérolas que minha sogra usou em seu
casamento.
Toquei o cinto me sentindo estranha. Não foi com isso que sonhei. Eu
queria meu cabelo solto e com cachos volumosos, grinalda gigante, igreja
cheia de amigos e o meu vestido dos sonhos com renda e saia esvoaçante,
não aquele vestido elegante de seda que, se não fosse a cor, poderia ser usado
em uma festa qualquer. Era para ser um dia perfeito, que eu lembraria para
sempre como o dia mais feliz da minha vida, mas, enquanto me encarava no
espelho, eu só conseguia pensar em como odiava me ver naquele vestido,
com aquele penteado e a maquiagem sem graça.

Aquilo não era eu, não era o que queria.

— Nossa, nem parece você. — A voz admirada de Adriana, minha


sogra, chegou aos meus ouvidos, me fazendo respirar fundo. — Após a lua
de mel, vou te ensinar tudo o que sei...

Parei de prestar atenção ao que ela falava.

Cadê os meus pais? Cadê a Larissa? Preciso da minha melhor amiga


e madrinha.

— Agora que você fará parte da nossa família...

Ela não achava que eu estava no mesmo nível do seu filho e nunca
escondeu sua opinião.

Comecei a hiperventilar. Ela, o vestido e aquele penteado tão apertado


que fazia a minha cabeça doer estavam me sufocando.

— Preciso dar uma volta — cortei minha sogra e deixei o quarto


como se ele estivesse em chamas.

Eu só precisava me acalmar, que alguém me dissesse que ficaria tudo


bem e que eu só estava surtando devido ao nervosismo.

Segurei a barra do vestido e desci a escada correndo.

Aquilo era mais uma coisa que eu não queria, a cerimônia seria
realizada na casa que os pais do Raphael tinham em Campos do Jordão,
porque a mãe controladora dele estava bancando a cerimônia e queria que o
filho se casasse no mesmo lugar que ela. Adriana decidiu tudo, nem os
convidados pude escolher, ela queria “pessoas do mesmo círculo social do
Raphael” no casamento.

— A noiva? A cerimônia já vai começar? — Ouvi alguém perguntar,


e andei na direção oposta, em direção ao jardim.

Assim que pisei os pés para fora da casa, o vento fresco do fim de
tarde me envolveu, me fazendo arrepiar. Fechei os olhos e respirei fundo,
tentando controlar a minha respiração, mas um gemido chamou a minha
atenção.

— Isso! Me fode gostoso! — A voz era de Larissa e soube porque ela


havia sumido.

Girei nos calcanhares para sair dali. Procuraria Raphael, ele saberia
me dizer a coisa certa, ele sempre sabia. No entanto, a voz masculina me
paralisou.

— Isso, sua gostosa! Geme na minha pica.

Meu estômago embrulhou e me neguei a acreditar.

Com passos vacilantes e o coração disparado, andei em direção aos


gemidos. Uma voz gritava na minha cabeça para dar meia-volta. Quando
meus olhos pousaram sobre a minha melhor amiga em um canto do jardim,
com as pernas entrelaçadas na cintura do meu noivo e a cabeça jogada para
trás, desejei ter dado meia-volta. O desespero de segundos atrás se tornou
insignificante diante do que os meus olhos viam. O ar deixou meus pulmões
e, quando voltou, foi como se eu tivesse engolido litros de água pelo nariz.
Doeu, foi sufocante e desesperador.

Parecia mentira, o homem que eu amava, com quem planejei ter


filhos, dividi meus sonhos e medos, jogou tudo fora por sexo escondido no
jardim com minha melhor amiga, a nossa madrinha de casamento, horas
antes do nosso casamento.

— Rapha, não para.


Um soluço escapou de mim. As costas de Raphael enrijeceram, ele se
virou e seus olhos dobraram de tamanho ao me ver.

— Alice!? — Exclamou, assustado e começou arrumar as calças.

— Ai, meu Deus! — Larissa praticamente gritou, mas não havia


nenhum sinal de constrangimento ou culpa em seu rosto, o que deixou a
situação ainda pior.

Saí dali o mais rápido que pude, ouvi-o me chamar, mas não parei.
Parecia que se eu não saísse dali minha cabeça explodiria. Os convidados me
olharam confusos e começaram a cochichar.

Quantos deles sabem o que está acontecendo? Alguém os viu no


jardim?

Ignorei todos e, quando percebi, estava na garagem, sem pensar duas


vezes entrei no carro do Raphael, rezando para ele ter deixado as chaves no
contato como sempre fazia. Liguei o carro aos prantos e me assustei com
Raphael.

— Amor, vamos conversar, eu posso te explicar o que...

Pisei no acelerador sem querer e o carro deu ré com tudo, bati no


portão da casa e ouvi um estrondo. O baque me fez bater a testa no volante.
Levei a mão à cabeça e senti algo quente e úmido.

— Puta merda, Alice! — Raphael gritou. 

Olhei pelo retrovisor e vi que havia derrubado o portão.

— Alice, abre esse carro! — Raphael esmurrou o vidro enquanto


tentava abrir a porta, nem percebi que as travei. — Olha o que você fez com
o carro!

O desespero em sua voz me fez querer passar com o carro em cima


dele. O canalha estava mais preocupado com o maldito carro do que comigo,
que estava sangrando após vê-lo me traindo.
Comecei a rir, e Raphael me encarou como se eu fosse louca, talvez
eu fosse. Como eu nunca percebi isso? Como fui tão cega?

— Amor, abre o carro — disse, mais calmo, e a raiva me inundou.

Como ele tem coragem de me chamar de amor?

— Vai se foder, seu idiota!

Seus olhos se arregalaram. Provavelmente era a primeira vez que me


via xingando, mas ser doce, educada e boazinha só me trouxe um par de
chifres no dia do meu casamento.

Olhei uma última vez para o único homem que fez meu coração
disparar e o despedaçou, dei ré, passando por cima do portão, ignorando seus
pedidos para que eu parasse.

Saí dali me sentindo em pedaços e prometi a mim mesma que jamais


deixaria ninguém me magoar novamente.
 
Capítulo 1

São Paulo – Brasil

— Se essa droga tocar mais uma vez, vou jogá-lo pela janela,
Antonella!

Era a terceira vez que seu celular vibrava em menos de 5 minutos.

Minha secretária arregalou os olhos e, apressadamente, desligou o


aparelho.

— D-desculpa, Sr. Sartori, é que faz uma semana que estamos no


Brasil e minha mãe está com saudad...

— Posso te demitir, assim você terá todo o tempo do mundo para


conversar com sua mãe.

— Me demitir?! Não, Sr. Sartori, vou desligar agora mesmo. Olha,


desligado — mostrou a tela do celular desligando —, falo com a minha mãe
depois...

Levantei a mão, fazendo-a se calar. Ficou rígida na cadeira, talvez


esperando que eu a mandasse embora, mas arrumar uma secretária
minimamente decente demoraria uma eternidade, e eu não precisava de
dezenas de idiotas que gaguejavam o tempo todo, não sabiam atender uma
simples ligação ou mandar um e-mail.

O Grupo Sartori era um conglomerado que possuía e controlava


dezenas de companhias aéreas, mas também tínhamos hotéis e resorts cinco
estrelas e havíamos acabado de expandir os nossos hotéis comprando a nossa
maior concorrente no mercado. Encontrar outra secretária, naquele momento,
estava fora de cogitação, mas Antonella não precisava saber disso. Quando
não estava testando a minha paciência, era extremamente eficiente.

— Continue, Oscar — disse para o arquiteto, que estava pálido e me


encarava como se eu fosse uma ameaça.

— É-é-é...

— Cazzo![1]
— Xinguei, ele se sobressaltou e, com a voz trêmula,
voltou a falar.

— Esse é o projeto que eu e minha equipe montamos baseado nos


seus outros hotéis...

— Para fazer o que já temos continuo com a minha equipe na Itália.

Vim ao brasil exclusivamente para fechar a negociação de compra da


rede de hotéis e vi o trabalho do escritório do Oscar, era exatamente o que eu
queria, mas o que ele me mostrou não parece em nada com o que eu havia
visto.

— Bom, eu pensei...

— Não pense. Se você não tem nada melhor para me mostrar, pode se
retirar.

— M-m-mas... — Calou-se quando o encarei friamente e se levantou.

Desviei minha atenção para Antonella enquanto ele saía do escritório.


— Ligue para Aldo, quero que me apresente um projeto ainda hoje.
— Enquanto eu falava, ela já estava discando o contato do arquiteto.

— Sr. Sartori. — Ao ouvir Oscar, encarei-o querendo saber o que ele


ainda estava fazendo ali. — Desculpe incomodar, mas...

— Não estou com tempo agora — falei, mas ele teve a ousadia de
continuar falando.

— Sei que seu tempo é precioso, mas tenho um projeto que irá
agradá-lo.

— Já vi o suficiente.

— Dois minutos! Só isso que peço. — Andou apressado até mim e,


sem a minha autorização, colocou seu computador sobre a minha mesa. —
Esse é um projeto mais moderno, elegante, mas sem deixar de lado o clássico
que seus clientes estão acostumados a ver em seus hotéis.

Eu queria arrancar a cabeça do homem por ainda estar falando quando


havia o mandado embora, mas o projeto que ele me mostrava era exatamente
o que queria, na verdade, ele era ainda melhor.

— Esse…

Levantei a mão, e ele se calou. Tirei o computador dele e dei mais


uma olhada, sem deixar de notar o quão nervoso ele estava. Sua respiração
era audível e sua mandíbula estava travada, o homem parecia prestes a
explodir.

Sem pressa, terminei de ver todos os detalhes. Era impressionante,


não havia nada a ser mudado, desde a escolha da iluminação até a área
externa, tudo estava impecável.

— Antonella, pode dispensar Aldo — avisei ao ver que ela marcava


uma reunião com o arquiteto para às 20h.

O queixo de Oscar tremeu e pensei que ele fosse chorar, mas,


felizmente, ele endireitou os ombros e abriu um sorriso.
— Sr. Sartori, muito obrigado pela oportunidade de trabalhar com o
Grupo...

— Esteja na Itália na semana que vem com todos os envolvidos no


projeto. Quero acompanhar de perto a execução de tudo.

Oscar podia fazer isso do Brasil, mas eu gostava de ter tudo sob
controle e ter a equipe dele em Roma era a melhor alternativa.

— Sim, senhor! Mais uma vez muito...

— Pode se retirar.

Voltei ao trabalho, pensando que finalmente conseguiria trabalhar em


paz, mas alguém começou a bater a minha porta.

— Mas que dro... — Calei-me ao ver meu avô entrando no meu


escritório.

— Oi, prazer, sou Lorenzo di Sartori, e você, minha jovem? —


Perguntou para Antonella, apesar de se conhecerem há anos.

— Já nos conhecemos, sou Antonella, secretária do seu neto.

Esse era um dos motivos para suportar o comportamento de


Antonella, ela o tratava bem. Mesmo sendo evidente sua falta de paciência,
ela respirava fundo e repetia tudo para ele quantas vezes fosse preciso.

Há alguns meses descobri o Alzheimer do meu avô e desde então tive


que reduzir o meu ritmo de trabalho. Ele e minha falecida avó me criaram
como filho, após minha mãe me abandonar recém-nascido para fugir com o
amante. Eu faria qualquer coisa pelo senhor sentado a minha frente, inclusive
levá-lo em todas as minhas viagens de trabalho se fosse preciso para garantir
seu bem-estar.

Ele encolheu os ombros com sempre fazia quando esquecia de algo.

— Desculpa, minha cabeça não anda muito boa.


— Está tudo bem — Antonella disse, puxando uma cadeira para ele,
mas ele recusou com um sorriso que eu conhecia muito bem.

— Não precisa, só vim chamar meu neto pra a gente visitar a minha
casa. Sabia que ele morou comigo e minha falecida esposa? — A tristeza em
sua voz ao citar minha avó não passou despercebida.

A minha avó, Catarina, era brasileira. Morei com eles durante toda a
minha infância no Brasil, mais especificamente em São José dos Campos.

Por mim, já teria me desfeito da casa em São José, mas meu avô
falava dela quase que diariamente, então a mantinha apenas por ele.

Recostei-me na cadeira, cansado.

— Nonno[2], estou cheio de trabalho, não posso sair de São Paul...

— Cazzo!  

Respirei fundo, sentindo minha cabeça começar a doer e esperei o


costumeiro surto que seguiria o palavrão, era sempre a mesma coisa.

— Sempre trabalho! Você está sempre trabalhando. Para quem está


fazendo essa fortuna? Você não tem esposa, nem filho. Será que vou morrer
igual a minha Catarina? Sem ter a alegria de ter alguém me chamando de
bisavô? Dio abbi pietà di mi[3].

Saiu da sala proferindo uma sequência de palavrões em italiano e


respirei fundo. Se tinha alguém que testava o limite da minha paciência era o
meu avô.

— Sr. Sartori...

— Agora não, Antonella!

— Mas...

— Eu disse que agora não!


 
Após tentar achar o hotel onde meus pais estavam hospedados pelo
que pareceu horas, percebi que estava perdida. Traída, perdida e sem celular.
Eu havia chegado ao fundo do poço, não tinha como o dia piorar a não ser
pelo fato de que a gasolina estava na reserva.

Eu não sabia como iria encarar os meus pais. Como eu olharia pra
eles e diria que o homem que os convenci ser o certo para mim, não era. E
ainda tinha a Larissa, ela era como uma irmã para mim, sua traição era ainda
mais dolorosa. Meu pai nunca gostou dela, mas eu insistia em sempre ver o
melhor das pessoas. Talvez ele estivesse certo e eu devia começar a confiar
menos nas pessoas.

Minha cabeça doía de tanto chorar e não aguentava mais as imagens e


gemidos que se repetiam na minha cabeça com uma riqueza assombrosa de
detalhes.

Liguei o som na esperança de me distrair e meu corpo estremeceu


quando Mozart preencheu o carro. Lacrimosa tocou no último volume. Num
excesso de fúria, esmurrei o rádio. Eu odiava música clássica, elas sempre me
deixavam triste, mas fui obrigada a ouvir por causa do Raphael, que amava.
Tantas coisas que fiz por ele, até do meu emprego dos sonhos eu havia
desistido para ser a mulher que ele e a família dele queriam. A única coisa
que recebi foi um par de chifres.

Ao olhar para frente, freei com tudo ao ver um senhorzinho


atravessando a rua.

— Minha nossa senhora! — Gritei, com o coração quase saindo pela


boca.

Matei uma pessoa! — Foi a única coisa que me veio à mente.


Tremendo, desci do carro. Não sei explicar o alívio ao ouvir uma voz
me xingando.

— Mulher maluca, como ela não me viu aqui? Ela podia ter me
matado e matado você também. — O senhor, de uns 80 anos, perguntou para
o gatinho preto que estava em seu colo.

— O senhor está bem? — Perguntei, desesperada.

— Não graças a você, mocinha! — Sorri e ele me encarou incrédulo.


— Você me atropelou e ainda está rindo de mim?

— Não! É que, se o senhor está aí todo bravo e brigando comigo, é


porque deve estar bem, então não vou precisar gastar meu réu primário por
matar um velhinho e um... Isso é um gato, né? — indaguei, encarando melhor
o bichinho em seu braço, o coitado estava tão feinho que precisaria de alguns
banhos e comida antes de ser considerado um gato.

— Sim, é um gato e você quase o matou e me levou junto. Não olha


por onde anda?

— Desculpa, eu estava meio distraída. — Suspirei aliviada quando


ele se levantou com o gato no colo, ele parecia realmente bem. — Nossa, eu
podia ter matado vocês.

Minha garganta travou, tive consciência do quão ruim o meu dia


estava sendo e comecei a chorar. Era para eu estar na minha festa de
casamento com o homem que achei ser o homem da minha vida, mas, em vez
disso, estava perdida e quase tinha matado um senhorzinho que, apesar de
muito bravo, era tão fofinho com o cabelo e barba branca e o seu gatinho
horroroso.

— Também não precisa chorar.

Encarei o senhorzinho que, devido às lágrimas, era só um borrão.

Seus braços me envolveram e minhas costas foram afagadas.


— Está tudo bem, caí mais pelo susto do que pelo impacto do carro,
pode ficar tranquila. Você pode ir para o seu casamento, não vou prestar
queixa contra você.

Sua fala só me fez chorar mais. Ele era tão fofo, aposto que não traiu
a noiva com a madrinha.

— Não vou me casar. — Saí do abraço, o gatinho fedia mais que


bueiro.

Enxuguei o rosto, me recusando a derrubar mais uma lágrima por


Raphael e Larissa.

— Desculpa, é que sua roupa...

— Dá para perceber que essa coisa sem graça que minha ex-sogra
escolheu é um vestido de noiva? — Perguntei, alisando o vestido que
pretendia colocar fogo.

— Ex-sogra?

Só balancei a cabeça concordando e o cheiro podre do gato me fez


franzir o nariz.

— O senhor devia soltá-lo, ele deve ter alguma doença.

— Não vou soltá-lo, ele vai fugir e acabar morrendo. — Ele se


aproximou de mim com a testa franzida. — Isso na sua testa é sangue?

Levei a mão à cabeça e senti uma leve ardência. Fui até o carro e
peguei uma garrafinha de água que devia estar ali há pelo menos uma
semana. Molhei a barra do meu vestido e passei na minha testa, ignorando a
pontada de dor.

— Está melhor?

Não queria falar de como aquele sangue foi parar na minha testa.
— Não foi nada. O senhor tem dinheiro? Estou sem carteira, quando
saí do meu casamento, não deu tempo de pegar — perguntei, com uma ideia
maluca surgindo em minha cabeça, mas era muito melhor do que ficar
andando sem rumo e pensando em Raphael.

— Você fugiu do seu casamento?

Ótimo, eu e minha boca enorme.

— O senhor tem ou não tem dinheiro?

Ele balançou a cabeça lentamente.

— Ótimo, vamos levar o Pulguinha aí no pet shop, aposto que após


um banho ele vai parecer um gato de verdade.

Ele me encarou por um tempo, como se eu fosse louca, e começou a


sorrir lentamente.

Segurei seu braço e o ajudei a dar a volta no carro para entrar.

Sorri ao imaginar como Raphael ficaria furioso ao ver seu precioso


carro fedendo a gato de rua.

— Mãos para o alto! — Virei a cabeça e vi dois policiais apontando


suas armas para... mim? — Solte ele e deixe as mãos onde possamos ver.

— Solta o gato — falei para o velhinho, era a única coisa que fazia
sentido na minha cabeça.

— Não vou soltá-lo!

Por acaso esse velhinho teimoso não viu que os policiais estão
armados?

— Solte o senhor Lorenzo e se afaste com as mãos onde possamos


ver.

Olhei para o senhor que eu imaginava ser o Lorenzo sem entender


nada.
— O que o senhor fez?

— O que você fez?! — Perguntou de volta.

Ergui as mãos quando a policial gritou.

— O que está acontecendo? — Indaguei quando a policial se


aproximou de mim.

— Você está sendo presa pelo sequestro de Lorenzo Sartori.

— O quê?! — Eu e Lorenzo perguntamos ao mesmo tempo.

— Eu não sequestrei ele.

— Ela não me sequestrou.

— Digam isso para o delegado. — A policial tentou me algemar e


Lorenzo interveio.

— Solte a menina, eu já disse que ela não me sequestrou!

Fui solta e, ao me virar, vi a policial tentando se livrar do Lorenzoh,


que gritava com ela dizendo que não havia sido sequestrado.

— Senhor, pare, ou terei que prendê-lo por desacato.

Ele não parou, o outro policial o conteve e quase não pude acreditar
ao ouvir o policial.

— Vocês dois vão presos — o policial disse, puxando os braços do


velhinho para trás com mais força que o necessário. O gato caiu no chão e
correu para debaixo do carro.

— Ei! Cuidado, ele é um senhor de idade, não precisa dessa força.

O policial pegou uma algema e andou na minha direção.

O senhor, que agora eu sabia se chamar Lorenzo, sorriu para mim em


agradecimento.
— Espera, eu posso pegar o gatinho? — Perguntei com um sorriso,
mas o policial negou.

— Deixa ela pegar a droga do gato, a mulher está usando saltos mais
altos que a gente, não tem como fugir — a policial mulher disse e abri um
sorriso enorme em agradecimento.

Abaixei-me sem me importar com a droga do meu vestido e peguei o


gato após quase me enfiar debaixo do carro.

— Pronto!

O policial olhou para mim com cara de tédio.

— Essa noite fica pior a cada segundo. Agora me diz onde esse gato
vai?

— Ué, no colo dela — Lorenzo respondeu.

— Eu não sei se o senhor percebeu, mas ela está sendo presa e precisa
ser algemada... Ah, quer saber, entrem logo na viatura.

— Não somos bandidos par... — Lorenzo tentou dizer, mas a policial


perdeu a paciência e nos fez entrar contra a nossa vontade.

Durante todo o caminho, tentei dizer que aquilo era um terrível


engano. Lorenzo praticamente gritava que os faria pagar por aquilo.

— Vocês não sabem com quem estão mexendo e vão pagar caro por
isso!

Estou ferrada, ele é louco!

— Garcia, olha isso — a policial disse e mostrou algo no celular para


o outro policial.

— Parece que você vai passar um tempinho na cadeia, noivinha — o


policial falou, me encarando pelo retrovisor.

— Eu já disse que não sequestrei ningu...


— Mas roubou o carro que estava dirigindo.

— O quê?! — perguntei, pensando ser uma brincadeira de muito mau


gosto, mas, aparentemente, o canalha do Raphael não achou suficiente me
trair e resolveu fazer da minha vida um inferno, me denunciando por roubo.

Eu havia dito cedo demais que não tinha como o dia piorar, ele piorou
de forma astronômica.
 

Chegamos à delegacia e estranhei o movimento, havia pelo menos


uns 20 homens de terno e com cara de poucos amigos.

— Cazzo! — Lorenzo xingou ao ver os homens.

— O que foi?

— Acho que meu neto está aqui.

Olhei novamente para a quantidade de segurança.

— Seu neto é um mafioso por acaso?

— Pior.

A resposta me fez ficar com um leve medo, eu estava sendo acusada


de ter sequestrado o senhorzinho simpático e maluco que tinha um neto pior
que mafioso.

Assim que entramos na delegacia, um Deus Grego marchou em nossa


direção. O homem usava um terno de três peças que parecia ter sido
desenhado no seu corpo, e que corpo. Ele parecia ter sido esculpido de tão
perfeito, ombros largos e fortes, com certeza passava horas na academia.
Cabelo negro, sobrancelhas grossas, olhos de um azul quase cinza, um
maxilar marcado e uma irresistível covinha no queixo.

Exalava poder. Na hora eu soube que era o neto do Lorenzo.


No entanto, o que tinha de lindo, também tinha de furioso, seus olhos
praticamente faiscavam quando pousaram nos policiais.

— Vocês demoraram uma eternidade para encontrarem o meu avô!


Meus homens o teriam encontrado na metade do tempo, provavelmente eu
faria um trabalho melhor. A incompetência de vocês podia ter custado a vida
do meu avô — O Deus grego de tirar o fôlego falou com os policiais como se
fossem seus subordinados e ele um patrão terrível. — Sou amigo do
presidente Heitor Martins[4] e podem ter certeza de que vou garantir que
sejam punidos pela incompetência.

Meu queixo caiu, senti uma certa pena dos policiais. Quem o Sr.
Arrogância pensava que era? Mas a arrogância dele acabaria assim que o
prendessem por desacato, sorri.

— Senhor Sartori, por favor, peço mil desculpas. Perdemos o sinal do


rastreador e tivemos de procurar seu avô sem rumo — o policial disse, quase
em desespero.

Encarei-o como se ele fosse louco.

Ele pediu desculpa? — Perguntei-me, pensando estar imaginando


coisas.

— Isso só mostra o quanto vocês são incompetentes! — Os policiais


abaixaram a cabeça como cachorrinhos ao receberem uma bronca. O que está
rolando aqui? — Espero que os sequestradores já estejam atrás das grades.

— É... Vamos prender ela agora mesmo.

— Ela? — O Sr. Arrogância perguntou. — Está me dizendo que uma


mulher sequestrou meu avô?  

— Pela milésima vez, eu não sequestrei ninguém! — Falei e os olhos


furiosos do italiano pousaram sobre mim, me arrependi instantaneamente de
ter aberto a boca. Eu e minha boca gigante sempre se enfiando em problema.

— Ela não me sequestrou — Lorenzo disse, mas ele pareceu não


ouvir, ou simplesmente ignorou.
Seus olhos percorreram o meu corpo e vi algo diferente cruzar as
írises acinzentadas, mas foi tão rápido que duvidei se realmente havia visto.
Seu olhar era tão intenso que me deixou desconfortável, me sentia nua
enquanto ele me observava com um vinco na testa.

— Que tipo de roupa é essa? Isso é o quê? Algum tipo de disfarce?

Antes que eu pudesse responder, o gato fedorento pulou do meu colo.


Tentei me abaixar para pegá-lo, mas dedos firmes envolveram meu braço, me
segurando. Uma corrente elétrica poderosa percorreu o meu corpo, meu
coração acelerou como nunca e, ao encarar os olhos intensos, engoli em seco.
Eu podia estar ficando realmente louca, mas podia jurar, pelo jeito que ele me
olhava, que sentiu a mesma coisa, o que era muito estranho e confuso.

Sem entender porque meu corpo tinha reagido daquela forma a um


simples toque, tentei puxar o braço, mas seu aperto se tornou mais firme,
aumentando as batidas do meu coração.

— Não me ouviu? Te fiz uma pergunta.

Pisquei ao ouvi-lo, foi como se me tirasse de um transe estranho.

— Ah, eu ouvi, mas quem parece não estar ouvindo aqui é você.

— Como é que é?

Incredulidade cruzou seu olhar. Definitivamente esse homem estava


acostumado a ter todos se curvando as suas vontades.

Puxei meu braço novamente e dessa vez ele me soltou.

— Eu e seu avô já falamos que não o sequestrei.

— E eu devo acreditar na palavra de uma mulher com um gato


sarnento e um vestido de noiva?

Revirei os olhos e vi seu maxilar travar.

— Se não quer acreditar em mim, o problema é seu, mas seu avô...


— Você quer que eu acredite no que um homem com Alzheimer fala?

— O quê?!

Olhei para Lorenzo, que agora tinha o gato nos braços e nos encarava
com um sorriso enorme no rosto. Porcaria! Ele não me pareceu totalmente
bom da cabeça quando o vi resgatando o Pulguinha, mas Alzheimer? Isso não
era nada bom para mim, mas meu coração se partiu por ele. Devia ser
horrível perder suas lembranças, ficar oscilando entre momentos de lucidez e
de completa confusão.
 
Capítulo 2

Três
horas! Meu avô ficou desaparecido por três horas até alguém ter
competência suficiente para encontrá-lo. Isso é inadmissível. Ainda mais
inadmissível é a principal suspeita estar querendo bater boca comigo quando
deveria estar presa. No entanto, isso não mudava o fato de que, de repente,
minha gravata se tornou apertada demais e, a cada segundo que eu encarava a
linda morena a minha frente, a minha calça também ficava mais apertada.

O seu rosto bonito e curvas perfeitas por um segundo me fizeram


pensar que aquela mulher linda não poderia ser capaz de sequestrar um
senhor de idade, mas graças a Deus recobrei o juízo a tempo. Sua beleza e a
estranha reação que meu corpo teve ao tocá-la não tinham importância para
mim. Ela seria presa nem que para isso eu tivesse que tirar o presidente do
Brasil da cama.

— O senhor tem Alzheimer? — Sua pergunta saiu repleta de


incredulidade, e meu avô franziu a testa enquanto continha o gato dela.

Suspirei cansado, passei o dia trabalhando e tive as piores três horas


da minha vida. Eu não tinha tempo para perder em uma delegacia, mas
parecia que ninguém ali era competente o suficiente para encontrar um
senhor de 80 anos e muito menos prender uma mulher que não devia pesar
nem 70kg.

— Não! De onde você tirou isso, menina?

Ela soltou um gemido de lamento, que me pau interpretou de maneira


errada. O cansaço estava me afetando, só pode. Pigarreei desconfortável com
a reação do meu corpo.

— O que estão esperando para prendê-la?

Meu celular voltou a tocar. Era a quinta ligação de Antonella em 20


minutos. Algo estava acontecendo, algo grave ou ela não me ligaria quando
sabia que meu avô estava desaparecido.

Silenciei o celular e o guardei, encarei os policiais e esperei que


fizessem algo imediatamente.

— É-é... — a policial gaguejou. Odiava pessoas que ficavam


gaguejando sem parar ao falar comigo. — Não acho que ela tenha
sequestrado seu avô, senhor Sar...

— E você chegou a essa conclusão baseada em quê? Porque até agora


vocês só se mostraram extremamente incompetentes!

Antes que a mulher voltasse a gaguejar sem parar, algo chamou a


minha atenção.

— O senhor lembra de mim? — Ela perguntou.

— Sim, é a menina que quase me atropelou — Pelo seu tom de voz,


eu tinha certeza de que ele estava com um vinco enorme na testa, sem
entender a pergunta dela.

Virei-me e vi meu avô segurando o gato no colo enquanto a mulher


parecia radiante por ele lembrar dela.

— Ah, o senhor lembra!


— Você o atropelou? — Perguntei.

Ela me encarou e seu sorriso se desfez.

— Não, quase.

— Muito bem lembrado, precisamos levá-la pelo roubo do carro —


disse o policial.

— Roubo?

Aparentemente, o rostinho bonito escondia uma imensa ficha


criminal.

Os policiais se aproximaram dela para levá-la, mas meu avô se


colocou na frente dela, protegendo-a.

— Vocês não vão encostar um dedo nela! Se prenderem ela, terão que
me prender também.

Os policiais me encararam, sem saber o que fazer, mas Dante, meu


chefe de segurança, me interrompeu.

— Senhor Sartori, a senhorita Antonella precisa falar com o senhor.


— Ele me entregou o seu telefone e o atendi, preocupado.

— Fale.

— Mil...

Interrompi-a, ela começaria com milhões de desculpa, não tinha


tempo para isso.

— Fale logo o que está acontecendo para você estar me ligando sem
parar.

— Dante me disse que o seu avô foi encontra...

— Antonella! — Rugi.
— O hotel de Barcelona sofreu um ataque de um grupo...

— Um dos meus hotéis é alvo de um ataque e você só me avisa


agora?!

— Eu tentei...

— Garanta que todos os hóspedes sejam realocados e com todas as


despesas pagas, inclusive serviço de quarto. Prepare o avião, quero pousar
em Barcelona o mais rápido possível.

— Sim, senhor.

Desliguei, e meu avô continuava protegendo a mulher que, eu já nem


tinha mais tanta certeza se realmente tinha feito algo contra ele.

— Dante, garanta que meu avô chegue em casa sem um único fio de
cabelo fora do lugar. — Minha ordem foi quase uma ameaça.

Dante era uma das poucas pessoas, talvez a única, a quem eu


confiaria a vida do meu avô, e, se ele queria passar a noite em uma delegacia,
que passasse, eu tinha um ataque a um dos meus hotéis para resolver.

— Sim, senhor. Vou mandar metade dos homens ficarem comigo para
garantir a segurança do seu avô, os outros o acompanharão.

Virei as costas para sair dali, mas uma voz feminina me parou.

— Você vai deixar seu avô?!

Encarei a mulher, que tinha os lábios entreabertos enquanto me


encarava com incredulidade e a achei ainda mais bonita.

— Você e o seu gato sarnento não serão uma ameaça para ele, Dante
garantirá que não sejam.

— O gato não é meu!

Não me dei ao trabalho de perguntar de quem era o gato, pois tinha


certeza de que não iria gostar da resposta.
Saí da delegacia e, enquanto voava para Barcelona, entrei em contato
com o gerente do hotel. Segundo ele, era apenas mais um grupo de ativistas
que andavam atacando locais de luxo para chamarem atenção para a causa
deles, que eu não fazia ideia do que era, nem tinha o menor interesse em
saber. Eu não me importava com o que um bando de adulto fazia, desde que
não interferissem nos meus negócios novamente, pois, se isso acontecesse, a
próxima causa pela qual eles lutariam seria a liberdade deles.

— Você tem até o fim da semana para tirar todas as suas coisas da sua
sala — falei para o gerente do Sartori Barcelona Hotel.

— M-mas... Senhor Sartori, não tenho culpa...

— Garantir a segurança do hotel é obrigação sua, se eles conseguiram


entrar e incomodaram meus hospedes, é porque você foi incompetente.

— Senhor...

Desliguei o telefone.

Fiquei alguns segundos achando que aquilo era uma brincadeira, mas o
bonitão realmente foi embora. Seu avô parecia supertranquilo com aquilo,
mas, também, não era para menos, o neto dele deixou um cão de guarda e
outros brutamontes de babá.

— Será que seremos demitidos, Garcia? — A policial perguntou para


seu amigo.

— Não sei, mas é melhor a gente não irritar ainda mais o Sr. Sartori
ou nossas cabeças vão rolar. — Segurou-me pelo braço. — Vem, mocinha.

— Eu vou ligar para o meu advogado.

Sorri com a fala de Lorenzo, ele era um fofo.


— Não precisa, isso não passa de uma confusão e meu ex-noivo vai
tirar a denúncia.

— Mas...

— É melhor o senhor ir embora, deve estar cansado. Cuide bem do


Pulguinha. — Ele sorriu com minha fala.

Deixaram-me ligar para os meus pais, que estavam desesperados atrás


de mim. Só consegui dizer que estava na delegacia e então a ligação ficou
muda.

Após o que pareceu horas, ouvi a voz de Francesca, minha madrasta.

— Cadê a minha filha? Exijo que me deixem ver ela imediatamente!

— Senhora...

— Eu quero a minha filha!

A preocupação em sua voz fez meu coração se apertar.

Em instantes, a mulher que me criou como filha me abraçou e chorei,


logo meu pai se juntou ao abraço. Eu nem sabia mais pelo que estava
chorando, eu só estava exausta de tudo, só queria que o dia acabasse logo.

— Te procuramos por horas, filha. — Ao ouvi-lo, me senti culpada


por ter desaparecido.

Ele desfez o abraço e começou a me apalpar.

— O que está fazendo? — Perguntei.

— Você está machucada?

— Pai...

— Alguém fez alguma coisa com você?

— Pai, para! Estou bem.


Ele começou a chorar e o abracei.

— Desculpa, eu não queria deixar vocês preocupados.

Ele segurou meu rosto entre as mãos e me encarou com o rosto


úmido.

— Nunca mais desapareça, eu e sua mãe quase enlouquecemos sem


saber onde a nossa menininha estava.

— Desculpa...

— Você não tem que pedir desculpa, só não faça mais isso —
Francesca falou. — Da próxima vez corra para os nossos braços, minha
bambola[5].

Os quase 30 anos no Brasil não tiraram o seu delicioso sotaque


italiano.

Francesca me criou desde o meu primeiro dia de vida. Minha mãe


morreu no meu parto e ela era minha babá. Meu pai era tão apaixonado pela
minha mãe que demorou 5 anos para ver a mulher incrível que tinha ao seu
lado. Por mais que eu desejasse que a minha mãe ainda estivesse viva, não
tinha do que reclamar, Francesca foi uma mãe maravilhosa para mim.

— Vem, vamos te levar para casa — meu pai avisou.

— Pai... — Minha voz falhou, desviei o olhar para o chão,


envergonhada. Em 22 anos, nunca tive tanta vergonha de olhar nos olhos do
meu pai.

Ele segurou meu queixo, me obrigando a encará-lo.

— Eu sei que você não fez nada do que estão te acusando. Nem que
eu precise trazer aquele playboy aqui pela orelha, mas ele vai tirar essa
acusação absurda.

Dei um pequeno sorriso e senti minha mãe afagar minhas costas.


Agradeci silenciosamente por eles não tocarem no assunto do casamento, eu
ainda não queria falar sobre aquilo.

Um policial nos guiou para a sala do delegado, mas, antes que


entrássemos, meu nome foi pronunciado.

— Alice?

Todo o meu corpo enrijeceu. Ouvir a voz do único homem que amei
causou um reboliço em meu peito, um ruim, do tipo que eu sempre acreditei
que ele nunca seria capaz de causar. A leve hesitação em sua voz confirmava
que era tudo real, eu não estava presa em um pesadelo.

Toquei minha barriga e senti as pérolas do cinto, uma lembrança de


tudo o que fiz por ele. Eu me submeti a ter um casamento que eu odiaria
olhar as fotos no futuro por aquele homem. Isso me fez ver que não
importava o que ele falasse, não havia volta.

A mão da minha mãe tocou a minha. Dei um sorriso hesitante e voltei


a andar, mas meu nome foi chamado novamente e, antes que eu tivesse
qualquer reação, meu pai se manifestou.

— Se aproxime da minha filha e eu é que serei preso, seu moleque!

— André, estamos em uma delegacia — minha mãe interveio, mas


não pareceu surtir efeito. Ele continuou com o olhar mortal que eu nunca
tinha visto meu pai dirigir a ninguém.

Por um segundo, senti vergonha por ter sido traída, mas eu sabia que
não era a pessoa que devia estar envergonhada.

— Alice, vamos conversar...

Meu pai deu um passo na direção de Raphael, mas o segurei.

— Pai, por favor.

— Esse moleque merece...


— Eu sei, mas ele não vale a pena. — Minha fala transpareceu uma
força e determinação que naquele momento eu não tinha, a ferida ainda
estava aberta, mas eu não deixaria meu pai avançar naquele canalha dentro de
uma delegacia.

Reuni todas as forças que tinha e me virei. O olhar culpado de


Raphael me fez ferver de raiva, ele devia ter pensado antes no quanto aquilo
me magoaria, agora não valia de nada para mim.

— Amor...

Meu maxilar travou e, como me conhecia, calou-se e isso fez a ferida


doer um pouco mais. Aquele homem me conhecia como ninguém e mesmo
assim me magoou.

Ouvi-lo me chamar assim me causava ânsia. Como ele tinha coragem


de me chamar assim depois de tudo?

— Alice, a gente precisa conversar, sei que errei, mas me deixe


explicar...

— Não temos nada para conversar. — Fiquei contente por minha voz
sair firme.

— Alice...

Ele deu um passo em minha direção, e, institivamente, dei um para


trás. Ele parou e teve a audácia de me dirigir um olhar magoado.

— Quando soube sobre essa coisa do roubo do carro, eu vim


correndo, preciso que saiba que eu jamais faria isso com você.

Foi impossível não rir, todos me olharam como se eu fosse louca,


talvez eu realmente fosse.

— Você não tem coragem de me denunciar por roubo, mas não


hesitou em me trair. — Minha risada terminou em um som estranho e
estrangulado.
— Eu...

— Acho que é melhor você ir embora, rapaz. — A voz de Lorenzo


me fez arregalar os olhos, encarei-o e ele tinha um olhar sério.

— O senhor ainda está aqui? — Perguntei, me sentindo


estranhamente feliz.

— Não te deixaria aqui, menina.

Meu sorriso foi involuntário.

— Obrigada.

— Alice, por favor, me dê um minuto...

Meu sorriso morreu.

— Eu não tenho nada para falar com você.

Virei as costas para ele e vi meu pai sendo contido pela minha mãe
enquanto dirigia a Raphael um olhar assassino.

— Eu não desisti de você, Alice, você é o amor da minha vida.

Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto. Horas atrás isso me
faria a mulher mais feliz do mundo, mas agora, causou apenas dor. Um amor
que trai jamais será o amor que eu quero.
 

Já havia amanhecido quando pude finalmente sair da delegacia. Havia


imagens de câmera de segurança que provavam que eu o encontrei onde os
policiais nos achou. Raphael retirou a queixa de roubo feita pela sua mãe.
Adriana provavelmente estava saltitante por eu não me casar com seu filho,
mas não mais que eu por não a ter como sogra.
Assim que coloquei meus pés do lado de fora da delegacia, vi
Lorenzo e o gatinho sarnento.

— O senhor não deveria estar agarrado ao Pulguinha, ele deve ter um


milhão de doenças — falei, com um pequeno sorriso.

Lorenzo era um velhinho simpático que, estranhamente, me fazia


sorrir, mesmo depois de tudo.

— Nada que não possa ser resolvido com um banho.

— Não sei se um banho é suficiente. — Ele riu. — Bom, eu preciso


ir... Posso dar um abraço no senhor?

— Eu adoraria.

— O grandão aí vai me dar um mata-leão?

— O Dante? Ele é inofensivo. — Riu.

Olhei para o segurança que devia ter mais de 100kg de músculos.

— Não tenho tanta certeza.

Lorenzo se aproximou de mim e me abraçou, ele me fazia lembrar do


meu avô, que faleceu quando ainda era criança e fazia uma falta danada.
 
Capítulo 3

Roma - Itália

— Uau, acabei de transar com o homem mais rico do mundo. —


Madeline riu após ler a matéria da Forbes que falava sobre a recente
expansão do Grupo Sartori. — Aqui diz que sua fortuna está avaliada em 300
bilhões. Me pergunto como eles fazem essas contas.

— Não acredite em tudo o que lê — falei, sentando-me em uma


poltrona e acendendo um cigarro.

— E por acaso eles estão mentindo?

— Sim, minha fortuna é muito maior que isso.

— Nossa, pensei que crescer cercada de políticos tinha me preparado


para a arrogância de um homem, mas você supera, Matteo. — disse com um
sorriso.

A loira de corpo escultural se levantou da cama e andou em minha


direção. Meus olhos percorreram seu corpo, adorando o que via. Segurei sua
cintura e a puxei para o meu colo. Beijei-a, mas Madeline interrompeu.
— No fim de semana será o aniversário da minha mãe...

— Madeline...

Meu caso com Madeline era antigo. Eu odiava tornar meus casos
amorosos públicos, e ela sabia ser discreta por causa do seu pai, o atual
presidente dos Estados Unidos. Madeline é uma mulher linda, uma ótima
companhia, mas sempre deixei claro que não passaria disso. E ela concordou,
mas ultimamente andava me fazendo uma série de cobranças.

— Não estou te pedindo em casamento, é só o aniversário da minha


mãe. — Levantou-se do meu colo e começou a se vestir. — Você não precisa
ir, só se quiser... Quer saber, esquece.

Fiquei observando-a se vestir e, quando terminou, me encarou. Os


olhos que sempre eram calmos e sedutores estavam em chamas.

— Eu não estou te cobrando nada, mas só esquentar sua cama não é


suficiente para mim, Matteo. Eu vivo atravessando o mundo para te
encontrar, mas você não pode me acompanhar no aniversário da minha mãe?

— Se quiser sair para jantar, tudo bem, escolha o restaurante que


quiser, eu te levo, mas comparecer a esse aniversário só fará todos se
perguntarem sobre um casamento que nunca acontecerá.

Ela me encarou por um tempo e balançou a cabeça.

— Arrume outra pessoa para esquentar a sua maldita cama. —


Marchou até a porta, mas parou e se virou. — Não vai dizer nada?

— Boa noite, Madeline.

A porta do quarto foi fechada em um baque seco.


 

— Antonella, mande uma joia ou qualquer coisa que uma mulher


goste de presente à primeira-dama — ordenei e o barulho dos saltos dela me
perseguiu.

— Qual primeira-dama, Sr. Sartori?

Encarei a mulher que até um segundo atrás eu achava competente.

— A-a-a mãe da senhorita Madeline?

Voltei a andar e novamente o barulho irritante dos saltos me


perseguiu, parecia que ela estava fazendo sapateado.

— O novo gerente do Sartori Barcelona já assumiu?

— Sim, o senhor tem uma reunião agendada com ele após a sua
reunião com os arquitetos — disse, mas a única coisa que consegui ouvir
foram os seus saltos batendo contra o piso enquanto andávamos em direção à
sala de reuniões.

— Meu Deus, Antonella, troque esses malditos sapatos!

— Ah, claro! — concordou ofegante, tirou os sapatos.

— Por que você está ofegante? — perguntei, enquanto ela abria a


porta da sala de reuniões com os sapatos na mão.

— É que correr com esses saltos... é horrível — ofegou.

— E por que você correu?

Abriu um sorriso amarelo.

— O senhor estava andando muito rápido.

Olhei para os seus pés descalços, os sapatos em sua mão e entrei na


sala de reuniões.

Assim que me viram, Oscar e sua equipe se levantaram de suas


cadeiras, fazendo um barulho estrondoso.
— Sentem — ordenei, me sentei e encarei Oscar, que parecia
nervoso. — O que está esperando para começar?

— A-ah, claro. — Empurrou sua cadeira para se levantar, mas


pareceu desistir da ideia. — É...o que o senhor gostaria de saber?

Encarei o arquiteto, repensando minha decisão de contratá-lo,


esperava que trabalhasse melhor do que fazia reuniões.

— O arquiteto é você, o que acha que eu gostaria de saber, já que vou


gastar milhões de euros com sua empresa?

Ele arrumou a postura e começou a apresentar o projeto de forma


mais detalhada, os membros de sua equipe responsável por cada parte do
projeto falaram sobre as possíveis mudanças que poderiam acontecer e os
prazos.

— Ok, mas e as outras plantas? Quem é responsável por isso?

Eles só haviam falado de uma única planta e havia dezenas de plantas


para serem projetadas.

A sala ficou em silêncio e eles se entreolharam antes de responder.

— A arquiteta que fez essa planta não trabalha mais...

— Como?

O único motivo pelo qual fechei com a Trentini, empresa de Oscar,


foi por causa do projeto que ele me mostrou e o principal responsável por ele
não estava ali, aquilo era simplesmente inadmissível. Eu não deixaria a
reforma dos meus hotéis nas mãos de quem não fosse fazer exatamente o que
contratei.

— Alice se casou e...

Alice... ouvir esse nome me fez lembrar da brasileira atrevida e de


corpo escultural que meu avô não parava de falar, ele estava obcecado por
ela.
Poucas pessoas erguiam a voz para mim. Na verdade, meu avô era a
única pessoa que fazia e ver a brasileira brigando comigo na delegacia,
mesmo correndo o risco de ser presa, me deixou curioso para saber como
seria tê-la em minha cama e fazê-la se submeter.

— Tenho certeza de que fui bem claro quando disse que queria todos
os envolvidos no projeto.

— Eu sei, mas...

— Quero essa arquiteta aqui até o fim da semana ou pode esquecer o


contrato.

Levantei-me e os olhos do homem se arregalaram.

— Sr. Sartori, é quase impossível eu conseguir trazer ela...

— Bom, parece que a sorte está do seu lado e não é impossível,


apenas quase.

São Paulo - Brasil

— Alice! — Meu nome foi seguido de uma buzina, respirei fundo e


enfiei um pedaço de lasanha na boca tentando ignorar, mas meu nome
continuou sendo chamado.

Meu pai deu um murro na mesa, assustando a mim e minha mãe. Ele
sempre foi um homem controlado, acessos de fúria eram incomuns.

— Pai...

— Não, Alice! Você está fingindo que não se importa, mas eu vejo o
tremor em suas mãos toda vez que ele aparece aqui e fica gritando sem parar.
Ao ouvi-lo, soltei o garfo que tremia em minha mão, minha garganta
travou. A última coisa que eu queria era que os meus pais percebessem o
quanto a insistência do Raphael em falar comigo me afetava.

Desde o dia desastroso, que deveria ter sido o nosso casamento, o


Raphael ligava o dia inteiro para mim e para os meus pais, ficava na frente de
casa e chamava por mim até o meu pai se enfurecer. Da última vez, ele jogou
um balde de água suja nele.

Antes que meu pai saísse da cozinha me levantei.

— Pai, eu vou falar com ele.

— Você não vai...

— Se eu não falar com ele, não vamos ter paz nunca mais.

— Você acha que eu estou preocupado com a minha paz? —


Perguntou, com voz elevada. — Estou preocupado é com você, minha filha.
Esse canalha já fez o suficiente, não vou deixar que ele continue te
atormentando.

Sorri, feliz por tê-lo e encarei minha mãe, que nos olhava com
preocupação estampada em seu lindo rosto.

— Segura esse velho cabeça dura aqui, por favor — pedi, e ela
concordou com um balançar de cabeça.

Sob os protestos do meu pai, saí de casa.

Assim que me viu, os olhos de Raphael se arregalaram levemente,


surpresos. Meu coração se apertou ao vê-lo, mas não do jeito que eu
imaginava, foi mais decepção do que qualquer outra coisa. De alguma forma,
Raphael matou o amor que nutri por ele durante todos os nossos anos juntos.

Atravessei o jardim que minha mãe cuidava com toda a sua dedicação
e abri o velho portão branco, que rangeu.

— Alic...
— Você precisa ir embora, está incomodando meus pais, os vizinhos e
eu.

— Amor, por favor... — Tentou se aproximar, mas dei um passo para


trás. — Alice, não faz isso.

— Isso o quê? Não aceitar a sua traição? Você sabia que eu jamais
perdoaria uma traição e mesmo assim traiu, agora me deixe em paz.

Virei as costas para ele e, antes que eu pudesse abrir o portão de casa,
ele me segurou pelo braço com mais força que o necessário.

— Me solta!

— Você é minha, Alice! Minha!

— Você está me machucando. — Tentei me soltar do seu aperto, o


que só fez com que ele apertasse mais.

— Vamos conversar, eu juro que nunca mais vou fazer uma idiotice
como aquela.

— Raphael, o meu braço.

— Eu não tive culpa, aquela piranha da sua amiga que se jogou em


mim.

A cada palavra dita, ele parecia mais descontrolado, fora de si.


Começou a me assustar.

— Raphael, por favor, me solta, você está...

Fui beijada contra a minha vontade. Nunca em toda a minha vida


senti tanto pavor e repulsa. O seu beijo em nada lembrava os beijos que tanto
desejei por tantos anos, eles eram brutos e asquerosos.

De repente, tudo parou e respirei aliviada para, em seguida, me


apavorar ao ver meu pai levar a mão ao peito após dar um soco em Raphael.
— André! — Minha mãe gritou e correu em direção ao meu pai,
enquanto fiquei paralisada por alguns instantes.

— Pai — falei, saindo do transe e andando até ele.

Sua respiração estava ofegante.

— Estou bem... — Puxou uma longa respiração. — Estou bem.

Minha mãe, que já foi enfermeira, verificou a pulsação dele e,


lentamente, seus ombros relaxaram. Soltei uma lufada de ar e senti meus
olhos ficarem marejados.

— Alice, eu não...

— Sai daqui! — Gritei, descontrolada. — Some da minha vida, você


não acha que já a desgraçou o suficiente? O que quer agora? Matar o meu
pai, seu canalha?!

Esmurrei seu peito até minha mãe me segurar.

— Vai embora — minha mãe falou para Raphael, em um tom que ela
raramente usava. — Não pedirei outra vez, rapaz.

Raphael me olhou por um longo tempo. A cada segundo que seus


olhos permaneciam sobre mim, tudo o que já senti por ele se transformava
em rancor e algo que eu me recusava a acreditar ser ódio.

— Eu... Eu ainda te amo, Alice. Fomos feitos um para o outro.

Pensei em dizer que aquilo era um delírio dele, mas fiquei calada, só
queria que ele fosse logo embora e não voltasse nunca mais.
 

— Ele passou dos limites, filha. Se fez isso na frente de casa, o que
ele fará quando você voltar a trabalhar? — Minha mãe perguntou baixo para
o meu pai, que descansava no sofá da sala, não ouvir.
O tremor em sua voz não passou despercebido.

— Você precisa denunciá-lo.

Não disse nada, e ela me encarou seriamente.

— Você não está pensando em perdoá-lo? Está?

— O quê?! Não! — Minha mãe suspirou aliviada. — Eu fiquei com


medo, mãe — admiti em voz baixa, e ela me abraçou.

— Nunca permita que um homem te deixe com medo, isso dará poder
para ele te destruir.

Meu telefone começou a tocar e corri para atender, não queria que
meu pai acordasse.

— Alô — atendi sem ver quem estava me ligando.  

— Alice, preciso de você.

— Oscar? — perguntei, indo para a varanda de casa e minha mãe me


seguiu, como boa fofoqueira que era, o que me fez sorrir.

Oscar era meu antigo chefe, ouvir sua voz fez o meu peito se apertar
dolorosamente. Amava trabalhar na Trentini, é simplesmente uma das
maiores empresas de arquitetura do país, trabalhar para eles era um sonho
realizado do qual eu me desfiz por Raphael. Ele e sua mãe insistiram que eu
não teria como trabalhar, já que Raphael se dedicaria à carreira política e eu
precisava acompanhá-lo.

Naquele momento, eu me sentia uma idiota, desisti do emprego que


sempre sonhei para ser uma esposa troféu. Meu pai era professor e sempre
me incentivou a estudar, e foi o que fiz, estudei dia e noite para entrar na
federal e me formei aos 20 anos como a melhor da turma, mas desisti tão
fácil de tudo que conquistei que chegava a me envergonhar das minhas
escolhas.
— Alice, eu sei que o que vou te pedir é demais, você deve estar em
lua de mel, mas estou desesperado. Eu pago o dobro se você vier para Roma
até o fim da semana — falou em um único fôlego.

— O quê?!

— O que foi? — Minha mãe gesticulou a pergunta, mas a ignorei.

— Eu pago a sua estadia e a do seu marido, mas...

— Oscar, do que você está falando?

— É seu ex-chefe? — Minha mãe perguntou baixinho, fingi não


ouvir.

— Aquele projeto secreto que você fez para a reforma de um hotel foi
aprovado pelo cliente, mas ele é um idiota podre de rico e exigiu que você
esteja aqui ou vai cancelar o contrato. Ele quer que você faça todos os
projetos e quer você aqui até o fim da semana.

Imediatamente me lembrei do projeto, havia sido motivo de fofoca o


projeto secreto que Oscar pediu que todos os seus arquitetos fizessem, mas
não deu nenhuma informação sobre o cliente, nem o que ele queria, só pediu
para darmos o nosso melhor. Eu havia adorado como ficou e fiquei feliz em
saber que o cliente aprovou.

— Eu... Você pode repetir, mas devagar, para eu conseguir raciocinar?

Eu queria ter certeza que estava ouvindo certo.

— Coloca no viva-voz — minha mãe pediu, e coloquei.

Oscar repetiu e, a cada palavra, meu coração parecia bater mais


rápido. Um cliente grande que podia fazer meu nome e meu trabalho como
arquiteta serem reconhecidos no mundo todo queria o meu projeto. Aquilo
parecia bom demais para ser verdade, eu era formada há apenas dois anos,
não conhecia ninguém que teve uma oportunidade tão boa quanto aquela.
Tinha acontecido tanta coisa ruim comigo ultimamente que custei a
acreditar que aquilo era real.

— Alice, é sua chance de fazer seu nome. Sei que é sua lua de mel...
— Oscar disse, na tentativa de me convencer.

— Ela não se casou — minha mãe entrou na conversa.

— Mãe!

— Ela vai.

— Sério? — Oscar questionou aliviado.

— Não! — Eu disse, mas minha mãe pensava diferente.

— Sim!

Respondemos ao mesmo tempo.

— Ela já te liga — falou, pegando meu celular. Desligou a ligação e


entrou em casa.

— Mãe, a senhora enlouqueceu? — Perguntei, seguindo-a.

— André, acorda! — Gritou, balançando o ombro do meu pai. — E


você, mocinha, não me chame de louca novamente.

— Eu não te chamei...

— André, acorda logo, homem! — Gritou.

Meu pai pulou no sofá, assustado.

— O que foi? Aquele canalha voltou? — Meio grogue, ele se


levantou do sofá.

— Não, é outra coisa.


— A senhora está tentando matá-lo? — Indaguei, ao ver meu pai
pálido.

Ela me ignorou e contou para o meu pai sobre a ligação do Oscar.

— Isso é ótimo. Quando você vai? — Meu pai perguntou, ainda


sonolento.

— Eu não vou.

— Como não?

— Não vou deixar vocês aqui.

Meu pai riu da minha resposta.

— Você ia nos deixar por aquele canalha. — Sei que ele não falou por
mal, mas sua fala me atingiu de forma dolorosa. — Filha, você se empenhou
tanto na sua faculdade, essa é sua chance e isso veio em um ótimo momento,
você precisa ver gente nova. Ir para a Itália agora será ótimo para você e não
tem como aquele canalha te achar.
 
Capítulo 4

Roma – Itália

— Como seu avô está? — Eros perguntou do nada. — Soube que


você o deixou em uma delegacia no Brasil após um suposto sequestro e com
a suposta sequestradora.

— Dante estava com ele.

Eros riu.

— Então é verdade? Você realmente deixou seu avô em uma


delegacia? — Indagou, incrédulo.

— Houve uma emergência em Barcelona.

Arrumei meu terno, pronto para me levantar e ir embora daquela


boate que eu não fazia ideia de como Eros me convenceu a ir, mas, antes que
eu pudesse me levantar, ele me fez uma pergunta que me fez encará-lo.

— Você pensa em ser pai?

Semicerrei os olhos com a mudança brusca de assunto.


Ele se ajeitou no sofá de couro do camarote de uma das boates mais
exclusivas de Roma como se estivesse sentado no lugar mais desconfortável
do mundo.

Ele estava parecendo o meu avô com aquele papo de herdeiro.

— Sabe, ter um herdeiro, afinal, você tem um império — continuou,


arregaçando as mangas da camisa e revelando suas tatuagens, parecendo
nervoso.

Conheci Eros em Oxford University. Ele já era coberto de tatuagens e


arrumava um problema atrás do outro. Jamais imaginei que tornaria a
KLantiz, farmacêutica que herdou, na maior e mais respeitada farmacêutica
do mundo. Eles se tornaram pioneiros em pesquisa e desenvolvimento de
medicamentos, não há um único lugar no mundo que não tenha pelo menos
uma cartela dos medicamentos deles.

— Você definitivamente está parecendo o meu avô.

Novamente ele se remexeu no sofá.

— Qual é o seu problema? — Perguntei.

Ele paralisou com a minha pergunta.

— Meu problema? Nenhum.

— Te conheço há mais de 15 anos e você nunca nem falou a palavra


filho. O que foi, está pensando em fazer igual o Rafiq e se casar só para ter
herdeiros?

Recentemente, Rafiq, nosso amigo, colocou na cabeça que precisa se


casar e ter um herdeiro. Conheço Rafiq desde criança, nossas famílias são
amigas, ele é sheik do riquíssimo país árabe, Al-Rayyan. Eles possuem uma
das maiores reservas de petróleo do mundo, tornando a família de Rafiq uma
das mais importantes que existem. Só foi preciso ele dizer que estava
pensando em se casar que toda mulher com idade entre 18 e 25 anos em seu
país pareceu mais do que disposta a se casar com ele e gerar o seu herdeiro.
Ao me ouvir, Eros pareceu relaxar.

— Ah, não deve ser tão ruim ter alguém para herdar o que
construímos.

Dei de ombros, mas sua fala me deixou pensativo, logo eu faria 40


anos, e, segundo meu avô, infartaria antes dos 50 se mantivesse o meu ritmo
de trabalho. Eu não tenho irmãos para comandar os negócios, meu pai e avô
são meus únicos parentes vivos, mas meu avô às vezes não lembra nem quem
era seu neto e meu pai, bom, após ser abandonado por minha mãe, ele
simplesmente desistiu de viver.

Eu não tinha para quem deixar o império que construí e nunca me


importei com isso, mas, desde que Rafiq anunciou que teria um herdeiro,
comecei a ficar pensativo, mas eu jamais iria tão longe quanto ele. O mais
distante que eu pudesse ficar de um casamento eu ficaria.

Uma voz feminina irritada me tirou dos pensamentos.

— Eu já disse que não! — Gritou em inglês e várias pessoas viraram


a cabeça na direção do bar.

Meu olhar foi diretamente para a mulher curvilínea que estava de


costas para mim. O cabelo castanho ondulado caía por suas costas em
cascatas volumosas. Ela usava um vestido preto de alcinha que contornava
perfeitamente a bunda redonda e empinada, e botas rosas que iam até o meio
das suas coxas douradas e torneadas. Acho que nunca tinha visto nada tão
rosa quanto aquelas botas, elas destacavam as belas pernas. 

— Aquele é Rinaldi? — Eros perguntou, e só então olhei para o


homem que encarava a morena parecendo furioso.

Demorei um tempo para lembrar dele. Era Giovanni Rinaldi, diretor


financeiro da sede europeia do Grupo Sartori.

A mulher pegou sua bolsa em cima do balcão e virou as costas para


ele, quase não acreditei ao ver quem era.

— O que essa mulher faz aqui?


— Você a conhece? — Eros indagou.

— É a mulher que sequestrou meu avô.

Eros disse algo que não consegui ouvir, pois toda a minha atenção
estava na mão de Rinaldi, que segurava firmemente o braço dela. Quando dei
por mim, já estava andando até eles.

— Me solta, seu idiota!  

— Escute o que ela está dizendo e saia imediatamente — falei em


italiano.

Rinaldi pareceu surpreso ao me ver.

— Você?! — Ouvi-a perguntar em português, mas minha atenção


estava em Rinaldi, que ainda segurava seu braço.

— Sr. Sarto...

— Agora.

Seu maxilar travou ao me ouvir, mas soltou o braço dela e


imediatamente seguranças o levaram até a saída.

Encarei a mulher, que parecia muito mais bonita sem aquele


vestido de noiva. Sem permissão, meu olhar foi para as suas mãos. Não havia
uma aliança, o que fez várias perguntas se formarem na minha cabeça.

Uma coisa era certa, ela ficava inegavelmente mais bonita sem aquele
vestido de noiva e com o longo cabelo solto.

— Obrigada...

— Você não consegue ficar um segundo sem se enfiar em problemas?


Tome mais cuidado, a polícia aqui não costuma ser ineficiente como no
Brasil.

Ela me encarou como se quisesse atear fogo em mim.


— Retiro o meu muito obrigada, você é tão...

— Muito obrigada? Eu não ouvi essas palavras saindo da sua boca.

Ela bufou, roubando a minha atenção para os seus lábios carnudos em


formato de coração, tingidos de vermelho.

— Eu não acredito que cruzei o oceano na esperança de deixar os


últimos dias para trás e a primeira pessoa que encontro é você. O universo
com certeza me odeia, não existe outra explicação.

Ela girou nos calcanhares para ir embora, mas bateu de frente com
uma mulher loira que me parecia familiar.

— Ai!

— Vamos embora, Bruna.

— O quê?! Mas... — A fala da mulher morreu ao me ver. — Senhor...

Antes que ela terminasse sua fala e eu pudesse descobrir de onde a


conhecia, Eros interrompeu.

— Boa noite, senhoritas — disse em inglês e parou ao meu lado. —


Não me digam que estão indo embora logo agora que eu ia chamar as duas
para se juntarem a nós para um drink.

Encarei Eros com uma careta que só aumentou ao ver seu olhar sobre
Alice.

Por que ele a está encarando?

— Obrigada, mas estamos... — Alice começou a dizer, mas a amiga a


interrompeu.

— Nós adoraríamos. — Elas se encararam.


Eu não podia acreditar que deixei meus pais me convencerem a vir
para a Itália a trabalho sabendo apenas que trabalharia em um projeto de
hotéis, nem o meu salário foi acertado. Oscar mandou uma passagem de
primeira classe para mim e pediu que eu viesse o mais rápido possível.

Estava em um país que sempre quis conhecer, iria trabalhar com o


que amo e não teria que lidar com Raphael e Larissa. Bom, Larissa não era
um problema, já que desde que ela decidiu ser a pior amiga e madrinha do
mundo, nunca mais entrou em contato comigo, nem para um simples “foi
mal”, já que desculpa eu sabia que ela jamais pediria.

No entanto, menos de 24 horas depois de “recomeçar”, o passado de


quase dois metros de arrogância em um terno que deixava impossível não o
olhar duas vezes de tão gostoso que o deixava voltou e fez meu coração
disparar.

— Eu sou a Bruna e essa é Alice.

— É um prazer, sou Eros. — Depositou um beijo em nossas mãos em


um gesto exagerado. — Esse é meu amigo Matteo.

Ao ouvir seu nome o encarei, meu coração acelerou de forma


dolorosa.

— Ayla? De onde tirou esse nome, meu amor? — Raphael gargalhou.

— É um nome lindo! — Empurrei seu peito, tentando ficar brava com


ele, mas era impossível quando ele ria daquele jeito.

Raphael me segurou pela cintura e me beijou.

— Ok, se tivermos uma filha será Ayla, mas se for menino...


— Será Matteo!

— Eu não posso escolher o nome dos nossos filhos? — Brincou.

— Não, eu que vou passar 9 meses com eles na barriga, nada mais
justo eu escolher.

Ele riu e me beijou.

— Desculpa, mas preciso ir — falei, querendo sair dali.

Eu não aguentava mais, todas as lembranças felizes se tornaram algo


doloroso e, por mais que eu tentasse e dissesse para mim mesma que não me
importava, doía.

Bruna me encarou como se eu fosse louca.

— Qual é o seu problema? — Sussurrou a pergunta com sorriso


congelado. — Há dois homens que parecem ter saído da capa de uma revista
nos convidando para beber e você quer ir embora? 

Tem apenas um homem nos convidando. — Pensei, estranhamente


querendo que Matteo também convidasse.

Bruna me convenceu a gastar um dinheiro que eu não tinha para ir


àquela boate que, segundo ela, era a melhor de Roma. Eu não era acostumada
a beber, sem falar no fato de que era possível que eu acabasse babando no
homem que, apesar de ter me acusado de sequestro, era desconcertantemente
bonito.

É o fuso horário! Ele está afetando o meu cérebro. Matteo nem é tão
bonito assim. Ele só é alto, forte, tem um rosto que parece desenhado com
perfeição e exala masculinidade, fora isso ele é só mais um cara normal. —
Pensei, justificando o leve arrepio na minha coluna toda vez que seus olhos
pousavam sobre mim.

— Por minha conta — Eros disse com um sorriso galanteador de tirar


o fôlego de qualquer mulher.
O loiro com barba por fazer parecia frequentar constantemente uma
academia, era alto e muito bonito, mas, por mais que eu não gostasse de
admitir, ele não chegava aos pés do amigo.

— Você pode realizar dois itens da sua lista: ficar bêbada e transar
com um estranho — Bruna sussurrou no meu ouvido, fazendo-me arregalar
os olhos com a mínima possibilidade de eles ouvirem.

Não existia a mínima possibilidade de eu transar com o Matteo.

— O loiro gostoso não tira os olhos de você — Bruna disse e só então


notei o olhar do homem. Dei um sorriso sem graça para ele.

Bruna é secretária do Oscar e acabamos criando uma amizade, mas


ela era a pessoa mais enxerida do mundo, por isso acabou lendo a lista idiota
que fiz após uma taça de champanhe no avião, talvez mais de uma.

Eu estava pronta para negar, a última coisa que eu queria era que o
loiro achasse que estava minimamente a fim dele, mas Matteo abriu a boca,
me fazendo mudar de ideia instantaneamente.

— É melhor vocês irem pra casa antes que sua amiga se meta em
mais problemas — falou para Bruna e virou as costas para a gente.

— Adoraria um drink — declarei com um sorriso.

Matteo parou e me encarou, meu sorriso se ampliou e não me


reconheci. Eu não tentava desafiar as pessoas, então por que estava fazendo
aquilo?

Sentamo-nos e fiquei feliz quando o loiro, Eros, se ofereceu para


escolher nosso drink. Eu não saberia o que pedir.

— Dois Aperol Spritz para as senhoritas e dois conhaques para...

— Whisky — Matteo disse com sua voz rouca, carregada de sotaque


italiano, e a garçonete sorriu igual boba. Revirei os olhos.

Em instantes, as nossas bebidas foram servidas. No meio da minha


taça eu já estava arrependida da minha decisão de ficar. A cada gole, Matteo
parecia ficar um pouco mais bonito, a minha sorte é que ele era tão calado
quanto uma porta e, para azar, seus olhos pareciam grudados em mim e
aquele maldito arrepio na coluna parecia se intensificar a cada segundo.

— Alice, soube que você sequestrou o avô do Matteo — Eros disse.

Encarei Matteo sem acreditar que ele disse isso. Ele sabia que não
sequestrei seu avô.

— Você fez o quê?! — Bruna gritou para o lugar inteiro ouvir.

— Eu não sequestrei o seu avô — falei irritada para Matteo.

O álcool já devia estar fazendo efeito. Vi o canto da boca de Matteo


se repuxar, mas pisquei e, quando olhei novamente, não havia nada.
— Mas não tem como negar que roubou um carro — Matteo
provocou.

— Você roubou um carro?! — Dessa vez Bruna perguntou em


português.

— Era o carro do Raphael, foi apenas um mal-entendido e esse... Esse


idiota só está falando isso para me tirar do sério.

Bruna arregalou os olhos.

— Você enlouqueceu? Quer perder seu emprego? — Sussurrou, me


deixando sem entender nada.

Perder o emprego? Por que eu perderia meu emprego? Eu não roubei


o carro nem sequestrei ninguém, não tem porque me demitirem.

Antes que eu pudesse perguntar o que ela quis dizer, Eros riu alto.

— Ela te chamou de idiota, já gosto dela — disse, em inglês e o


encarei. — Eu entendo português. — Piscou, mas Matteo apenas me encarou
mais profundamente, me deixando desconfortável com o que seu olhar
causava em mim. Meu corpo parecia em constante estado de formigamento
diante do seu olhar.

Sentindo-me desconfortável, remexi-me no sofá e cruzei as pernas.


Ao olhar para Matteo, vi que encarava minhas pernas e meu corpo esquentou.
Tomei um longo gole do meu drink na esperança de que meu corpo voltasse
ao normal, que o calor que seu olhar sobre mim causou se fosse, mas só
piorou.

Meu celular começou a tocar e, ao ver que era o Raphael, virei o meu
copo e me levantei.

— Aonde você vai? — Bruna perguntou, mas não respondi.

— Me dá alguma coisa bem forte — pedi para o barman. Ele me deu


um copinho minúsculo e, ao ver o meu olhar incrédulo, ele sorriu.
— Confia em mim, isso é forte e você vai adorar. — Peguei o copo,
confiando na palavra dele. — Vira de uma vez.

Novamente confiei na palavra dele, um erro.

— Isso queima! — Tossi.

Raphael voltou a me ligar, desliguei o meu celular e desci para a


pista. Ouvi Bruna me chamar, mas não dei ouvidos. Flowers, da Miley
Cyrus, começou a tocar e, quando eu percebi, estava cantando o mais alto
que eu podia, enquanto dançava como se minha alma precisasse daquilo.

Ao abrir os olhos, vi Matteo me encarando.

Eros encarou o amigo, sorriu e veio em minha direção, mas eu não


conseguia desviar o olhar do Matteo, era como se algo físico me impedisse
de olhar para qualquer outro lugar a não ser os seus intensos olhos
acinzentados.

— Vamos dançar? — Eros perguntou. Pisquei algumas vezes e o


encarei.

— O quê?

— Dança comigo?

Antes que eu pudesse responder, a voz rouca de Matteo interrompeu.

— Ela não dança.

Eros encarou o amigo e eu também.

— Mas eu danço — Bruna disse. Eu não sabia de onde ela surgiu,


mas agradeci mentalmente ֫— Vamos? — Não esperou uma resposta de Eros,
apenas o arrastou para o meio da pista.

Fiquei observando os dois dançarem e, ao me virar, esbarrei no peito


de Matteo, sua mão circulou minha cintura e tive que prender a respiração ao
sentir algo parecido com uma poderosa corrente elétrica percorrer o meu
corpo, foi desconcertante. Encarei-o e ele parecia impassível, a mesma
expressão dura e máscula que manteve durante toda a noite.

Por um minuto, pensei estar atraída por ele, mas percebi que talvez eu
estivesse com medo do seu olhar intenso.

É isso! Ele me causa medo, não é atração, eu sei o que é estar


atraída por alguém. Raphael me causava paz, uma sensação de alegria toda
vez que o via, não essa inquietação que o simples olhar de Matteo causa.

Não pude deixar de notar como seu peito e pegada eram firmes, e o
quanto ele era cheiroso.

— Eu danço — foi a única coisa que consegui dizer com ele tão
perto.

Eu queria que ele me soltasse, mas, ao mesmo tempo, queria


continuar em seus braços. Ali parecia o lugar mais seguro do mundo.

— Não dança — falou em português, e abri a boca para negar, mas


ele continuou. — Não com Eros.

Calei-me sem saber o que dizer. Ele estava bagunçando a minha


cabeça e eu não conseguia pensar com clareza. Esperei que ele me soltasse,
mas não aconteceu, ele apenas me encarou.

— Por que está me olhando assim?

— Estou pensando em formas de te fazer pagar pelo idiota.

A simples fala misturada ao álcool no meu corpo fez um incômodo se


instalar entre minhas pernas, deixando-me atordoada e provavelmente louca,
pois minha próxima fala foi essa.

— Se não posso dançar com o Eros, então dança comigo.

Ele me encarou mais intensamente e me arrependi da minha fala.


— Eu não danço. — Seu braço continuou firme na minha cintura, o
que me fez abrir novamente a minha boca sem pensar.

— Tudo bem, eu danço para você.

Seus lindos olhos brilharam e, com uma confiança que não me


pertencia, comecei a dançar ao som de uma música sexy.

Suas mãos não deixaram meu corpo nem seus olhos deixaram os
meus. Eles pareciam em chamas, me aqueciam em partes do meu corpo que
um olhar não deveria ser capaz de aquecer. Sem conseguir sustentar seu
olhar, girei em seus braços, ficando de costas para ele e senti seus dentes
mordiscarem a pele sensível do meu pescoço, todo o meu corpo se arrepiou.
Seus lábios subiram de forma lenta, causando mais arrepios quando seus
dentes prenderam a minha orelha e seu hálito quente tocou minha pele. Parei
de dançar. Ele me puxou para si e tive que prender a respiração ao sentir o
seu pau duro contra a minha bunda.

— Continua dançando — sussurrou com sua voz rouca no meu


ouvido, me deixando fraca.

— Matteo... — Seu nome saiu gemido, ele me apertou mais contra si.

— Fala meu nome assim mais uma vez e sou capaz de te arrastar para
o canto mais próximo e te foder até que me peça para parar.

A fala devia ter me chocado, mas só fez um calor se concentrar entre


minhas pernas e me fazer desejar desesperadamente que ele fizesse
exatamente aquilo. Isso me assustou, eu mal o conhecia e meu corpo estava
agindo daquele jeito desesperado a ele.

Girei em seus braços e encarei os olhos penetrantes, me sentindo nua


diante deles. Desviei o olhar para os seus lábios, desejando que me beijasse, e
ele pareceu ler meu pensamento. Em uma lentidão torturante, sua boca se
aproximou da minha. Meu coração batia cada vez mais rápido. Quando
nossos lábios finalmente se tocaram foi como se eu estivesse sendo beijada
pela primeira vez, nenhum outro beijo foi minimamente parecido. Seu beijo
era intenso, possessivo, bruto, arrebatador. Roubava meu fôlego, deixava
minhas pernas bambas e meu corpo desejando por mais.
 
Capítulo 5

Alice estava linda, dançando como se fosse a única pessoa daquela


pista, seu corpo curvilíneo se movimentava de forma hipnótica e sensual.
Quando Eros se aproximou dela e a chamou para dançar, não pude me
controlar, não havia a mínima possibilidade de eu deixar qualquer homem se
aproximar dela, muito menos Eros.

Não lembrava de já ter ficado tão dolorosamente duro quanto no


momento em que Alice me encarou corada e começou a dançar. Cada
movimento seu parecia ser uma verdadeira tortura para o meu pau. Quando
ela girou em meus braços, ficando de costas para mim, não pude resistir e
mordisquei a pele sensível e macia do seu pescoço. Subi sentindo o seu
delicioso cheiro doce e floral, que combinava perfeitamente com ela.

Aqueles grandes olhos castanhos me encararam com súplica e a


beijei, sentindo o seu gosto doce misturado ao álcool. Intensifiquei o beijo, e
ela gemeu deliciosamente, me fazendo querer ouvi-la gemer daquele jeito a
noite inteira.

Sem fôlego, ela interrompeu o beijo e me encarou com os lindos


olhos em chamas. Seu peito subia e descia em um ritmo acelerado, ela estava
deliciosa me encarando com os lábios inchados pelo beijo e aquele batom
vermelho, que brincou com a minha mente a noite toda, borrado.

— Alice, estou indo... Uau, eu não queria... Atrapalhar — a amiga


dela disse, e Alice se afastou de mim na velocidade da luz.

— Não está atrapa...

— Estou indo embora, tchau. — Deu um beijo no rosto de Alice e


sumiu entre as pessoas.

— Eu acho melhor eu ir embora també...

Segurei sua nuca e a calei com um beijo. Em instantes ela estava


agarrada a mim e gemendo na minha boca como fez momentos atrás.

— Você vai embora, mas é comigo — falei ao terminar o beijo. Ela


apenas balançou a cabeça.

Guiei-a para fora e quase agradeci quando finalmente me vi livre


daquele barulho infernal da música. Meu motorista e seguranças já nos
aguardavam. Mandei irem para o hotel e notei Alice tensa.

Toquei sua coxa, e ela se sobressaltou.

— Por que está tensa? — Perguntei, sem encará-la.

— Não estou...

Ela se calou quando a minha mão subiu pela pele macia da sua coxa,
seus pelos se eriçaram e senti que ela me encarava, mas continuei olhando
para frente. Subi mais minha mão até encontrar o elástico da sua calcinha,
sua mão segurou meu pulso, então a encarei. Seus olhos brilhavam de desejo
e sua respiração estava irregular.

— Quer que eu pare? — Ela mordeu o lábio inferior e continuou me


encarando. — Foi o que pensei — disse, afastando lentamente o elástico da
sua calcinha e voltei a olhar para frente.
Deslizei meu dedo por sua boceta quente e molhada, desejando ser
minha língua em vez dos dedos. Alice abriu levemente as pernas, me dando
livre acesso. Massageei seu clitóris, e ela apertou o meu braço. Pela visão
periférica, vi que castigava o lábio enquanto tentava manter a expressão
neutra. Penetrei-a bruscamente e ela deixou um gemido escapar, notei seu
corpo tensionar e arregalar os olhos em direção a Dario, meu motorista, mas
em nenhum momento os olhos dele desviaram da estrada, ele não era louco
de olhar para ela.

— Matteo... — sussurrou o meu nome, e movimentei os dedos, então


suas pernas fecharam.

— Abre as pernas para mim, Principessa[6] — murmurei em seu


ouvido. Ela estremeceu e lentamente abriu as pernas.

Comecei a masturbá-la e, quanto mais próxima de gozar ela ficava,


mais castigava o lábio e apertava o meu braço para conter os gemidos. Cada
espasmo seu deixava meu pau a ponto de rasgar a calça de tão duro. Ela
estava tão meladinha e era tão apertadinha, só conseguia imaginar sua boceta
apertando meu pau.

Aumentei o movimento dos meus dedos e todo o seu corpo


estremeceu. Ela apertou tão forte meu braço enquanto gozava nos meus
dedos que pensei que suas unhas rasgariam o tecido da minha camisa.

Senti o carro parar. Dario desceu e nos aguardou.

Tirei os dedos de sua bocetinha e os lambi. Os olhos de Alice


acompanharam meus movimentos.

— Deliciosa. — Ela soltou um suspiro.  

Desci do carro e abri a porta para ela. Quando desceu, franziu a testa.

— Como você sabia que estou hospedada aqui? — Perguntou,


encarando a fachada do Sartori Roma Hotel.

— Eu não sabia — respondi, tocando sua cintura, enquanto a guiava


para o interior do hotel.
Pelo visto, ela tinha muito bom gosto e dinheiro, ficar hospedado em
nossos hotéis não era algo barato.

— Boa noite, Sr. Sartori — um funcionário, usando o nosso


tradicional uniforme marsala, me recepcionou.

O funcionário tinha um sorriso polido que era dirigido a todos que


pisavam os pés nas dependências de qualquer hotel Sartori, mas eu conseguia
ver o tremor em sua pálpebra ao me recepcionar.

— Senhorita — cumprimentou Alice, que deu apenas um sorriso.

Continuei andando, atravessei o imponente hall de entrada do hotel


em direção ao elevador. O mármore sob meus pés podia servir de espelho de
tão brilhante, as colunas e arabescos folhados a ouro refletiam por todo o
piso. O hotel era ricamente decorado com tudo o que havia de melhor e mais
luxuoso para nossos hóspedes. Havia palácios menos luxuosos e exuberante
que os hotéis do Grupo Sartori.

Entrei no elevador e coloquei minha digital para ir a minha cobertura.


Todas as coberturas dos hotéis Sartori eram exclusivamente minhas,
decoradas de forma semelhante. Todos os móveis e disposição dos cômodos
eram idênticas, pois eu gostava de ter minha casa em cada canto do mundo.

As portas do elevador se fecharam e pressionei Alice contra a parede


de espelho. Ela arfou. Segurei sua nuca e a beijei, sentindo o leve sabor
metálico de sangue. Separei nossas bocas e deslizei o dedo por seu lábio
ferido.

Meu celular começou a tocar, mas ignorei.

— Nunca mais faça isso, menina — falei, encarando os olhos cheios


de desejo.

— É melhor você atender — disse, tocando o local ferido.

Sem me afastar dela, atendi o telefone.

— Senhor Sartor...
— Não importa o que houve — deslizei meu dedo entre seus lábios e
meu pau se contorceu com a imagem —, não me incomode pelas próximas
24 horas!

— Mas...

Desliguei e voltei a beijar Alice. Ela correspondeu, tão ou mais


ansiosa que eu. Pressionei o meu volume contra ela, que arfou.

Ouvi a porta do elevador abrindo e segurei suas coxas, fazendo-a


cruzar suas pernas na minha cintura e saí do elevador que dava acesso direto
a minha suíte. Pressionei seu corpo contra a parede e um dos quadros caiu.
Não me importei, a única coisa que importava era tomá-la para mim.

Minhas costas bateram contra a parede e ouvi o barulho de algo


caindo. Pensei que aquilo faria Matteo parar de me atacar vorazmente, ou,
pelo menos, me faria recobrar a consciência e me fazer ver que eu não devia
estar ali, agarrada com um completo estranho, mas teve efeito contrário,
desejei que ele me possuísse ali mesmo e com toda aquela intensidade que
exalava dele. Isso me assustava, não lembrava de já ter sentido aquilo com
Raphael, nem de já ter gozado como Matteo me fez gozar dentro do carro.
Foi quase tão torturante me segurar para não gritar de prazer quanto foi
maravilhoso o orgasmo que ele me proporcionou com apenas seus dedos.

Agarrei seu terno e tentei desesperadamente tirar aquele pano todo,


mas ele parou e se afastou. Encarei-o confusa e ofegante.

— Você vai ter o que quer, mas primeiro eu vou chupar essa sua
bocetinha gostosa até você gritar.

Meu sexo pulsou e meus mamilos ficaram doloridos. De algum modo,


eu sabia que ele me faria gritar e estava ansiosa por aquilo.
Seus dedos deslizaram por minha coxa, subindo meu vestido em uma
lentidão que beirava à tortura.

— Matteo... — Seu nome saiu como uma súplica.

— Nem parece que acabou de gozar, Principessa. — Ouvi-lo me


chamar daquele jeito causou um reboliço em mim, ele conseguiu ficar ainda
mais gostoso falando italiano.

Em um movimento rápido, ele envolveu o elástico da minha delicada


calcinha e a rasgou.

Matteo se ajoelhou, colocou minha perna sobre seu ombro, me


deixando completamente aberta para ele. Senti meu rosto esquentar, mas,
antes que eu pudesse me envergonhar, sua língua quente me fez soltar um
gemido.

Com uma habilidade assustadora ele me chupou e, em instantes, eu


estava gemendo e me segurando em seus ombros para me manter em pé. A
cada lambida, meu corpo parecia atingido por um golpe quente, elétrico,
excitante e que me fazia estremecer e gemer cada vez mais alto.

Eu não aguentava mais, precisava senti-lo dentro de mim.

— Matteo, por favor. — Segurei seu cabelo e tentei puxá-lo, mas ele
não parou de me chupar. — Preciso de você dentro de mim... Agora —
implorei.

Ele se levantou e, se eu não envolvesse seu pescoço com os braços,


provavelmente cairia. Minhas pernas pareciam gelatinas de tão bambas que
estavam, mal conseguia me equilibrar naqueles saltos.

Matteo me beijou e, ao sentir meu próprio gosto, meu tesão pareceu


aumentar. Ansiosa e tomada por um desejo incontrolável que nunca havia
sentido, abri sua calça e liberei o seu pau. Minha mão mal se fechava.
Arregalei os olhos e ele sorriu. Nossa, era um sorriso destruidor de calcinhas,
corações e qualquer outra coisa capaz de fazer uma mulher pensar
racionalmente.
— Você pediu, não pode fugir, Principessa — grunhiu. Fui penetrada
e soltei um grito de prazer misturado com surpresa.

Senti-me alargada, preenchida e desejando que ele não parasse nunca.

A cada estocada, minhas costas batiam contra a parede e a única coisa


que me mantinha em pé era a sua mão, que segurava firmemente a minha
coxa em volta da sua cintura. Minha excitação escorria por minha coxa, o
barulho dos nossos corpos se chocando só não era mais alto do que os meus
gemidos.

Meu vestido foi puxado, fazendo a alça se partir. Antes que eu


pudesse reclamar, Matteo sugou meu mamilo, que estava dolorido de tão
intumescido. Cada centímetro de pele estava sensível, implorando,
necessitando dele, do seu toque.

— Matteo, eu vou...

Sua mão envolveu o meu pescoço, quase me sufocando, e aquilo me


excitou. Beijou-me e não precisou de mais nada para eu gozar violentamente.
Um orgasmo arrebatador me tomou, deixando-me sem ar. Abracei-o e pude
senti-lo dar algumas estocadas fortes, gozando. Ficamos parados, nossas
respirações aceleradas e corpos suados. Por alguns instantes, fiquei sem
acreditar no que havia acontecido, transamos como animais selvagens contra
uma parede e eu mal o conhecia, mas o que mais me assustou foi como meu
corpo respondeu a ele. Eu já havia gozado, mas nunca foi daquele jeito
intenso e desenfreado, nunca perdi as forças após um orgasmo.

Eu havia acabado de ter o melhor orgasmo da minha vida e havia sido


em um sexo rápido contra a parede. Minha calcinha estava em frangalhos e
meu vestido rasgado, mas Matteo não tinha um único fio de cabelo fora do
lugar.

Novamente, ele me fez sentir como se tivesse sido a minha primeira


vez.
 
Capítulo 6

Meu coração batia acelerado e a bocetinha apertada de Alice ainda


pulsava em volta do meu pau enquanto eu tentava entender em que momento
perdi o controle, se foi quando gemeu daquele jeito que fez meu pau doer de
tão duro, ou quando ela implorou para ser fodida.  O problema foi que eu
perdi o controle e esqueci da porra da camisinha. Provavelmente por isso foi
tão bom. Isso deveria me preocupar, mas só estava preocupado em fodê-la
novamente, o mais rápido que pudesse.

— Por favor, faça isso de novo — pediu em um sussurro e rebolou,


fazendo meu pau voltar a endurecer, roubando qualquer pensamento coerente
que se formava em minha mente por alguns segundos.

— Eu não usei camisinha.

Eu não sabia como, mas havia esquecido.

Alice prendeu a respiração.

— Existe a possibilidade de você... — Sua pergunta começou como


um sussurro e foi morrendo aos poucos, mas a entendi.

— Não, eu sempre uso camisinha.


E realmente sempre usava, mas não sabia explicar como cometi esse
erro.

— Não é isso que está parecendo.

Encarei-a seriamente ao ver o tom de diversão em sua voz e senti sua


boceta pulsar.

— Alice... — Segurei sua coxa que ainda envolvia minha cintura, e


mordeu o lábio inferior. Novamente sua bocetinha pulsou, dei uma estocada
forte, e ela gemeu. Meu pau ficou completamente duro outra vez. Suas unhas
cravaram em meus ombros por cima do terno e ela fechou os olhos. Quando
os abriu, me encarou em chamas.

— Eu tomo anticoncepcional. — Alívio, acho que nunca fiquei tão


aliviado. — Agora, por favor, me fode de novo. Eu preciso que você me foda
de novo, Matteo.

O jeito que ela pediu, uma súplica sensual que só um louco não
atenderia.

— Você não sabe o que está pedindo, Principessa.

— Então, me mostre.

Beijei-a e a fiz cruzar as duas pernas na minha cintura. Levei-a para a


sala e a coloquei sobre o piano.

— Isso é um Steinway & Sons? — Perguntou, referindo-se ao piano.


— Me tire de cima dessa obra de arte agora!

A urgência em sua voz quase me fez sorrir, parecia que ela estava
falando da Monalisa e não de um piano que eu tinha pelo menos mais meia
dúzia.

Minhas mãos subiram por sua cintura, mantendo-a sobre o piano.

— Não existe a menor possibilidade de você sair daqui.


Rasguei seu vestido em dois, ela soltou um gritinho. Seus redondos,
empinados e perfeitos seios ficaram expostos, os mamilos durinhos
imploravam por atenção. Segurei firme seu seio, fazendo-a soltar um leve
gemido. Lambi o mamilo, ela se contorceu e arqueou as costas. Mordisquei o
bico intumescido, ganhando mais um de seus deliciosos gemidos. Lambi e
mordisquei sua pele sensível e fui subindo por seu ombro, pescoço, até sua
orelha. Quando prendi o lóbulo da sua orelha entre os dentes, ela procurou a
minha boca em busca de um beijo, mas segurei seu cabelo pela nuca,
impedindo-a de me beijar.

— Quem manda aqui sou eu, Principessa.

— Isso é injusto, estou nua e você está completamente vestido.

Soltei-a e ela tentou me beijar, mas a segurei novamente.

— Tire a minha roupa.

Liberei o aperto em seu cabelo e, delicadamente, ela desfez o nó da


minha gravata, tirou meu terno e colete. Uma pilha de roupa foi se formando
e, a cada instante, ela parecia mais afobada. Seus dedos apressados
começaram a abrir os botões da minha camisa. Segurei seu pulso e ela me
encarou.

— Temos a noite toda e não estou com pressa.

— Você deve estar querendo me enlouquecer — resmungou baixinho,


mas ouvi.

Ela que estava me enlouquecendo, até a droga da camisinha eu


esqueci. Minha vontade era debruçá-la sobre aquele piano e fodê-la como um
animal, forte, rápido e sem dó. Ela provavelmente acordaria no dia seguinte
toda roxa e dolorida. Eu queria passar a noite dentro dela e isso não seria
possível se eu a fodesse do jeito que estava acostumado.

A cada botão aberto, ela depositava um beijo no meu peito. No último


botão, ela já estava ajoelhada.
Timidamente, ela mordeu o lábio e sorriu. Apesar do tesão explícito
em seu olhar, ele era doce e havia uma inocência que há muito tempo eu não
via, nem sabia se um dia já vi.

— Acho que mereço meu beijo. — Bom, de inocente era apenas o


olhar, a mulher era uma verdadeira diaba.

Segurei firme meu pau, que estava completamente duro e na altura do


seu rosto, envolvi seu cabelo e a fiz virar o rosto em minha direção.

— É isso que você merece. — Pressionei meu pau contra seus lábios.
— Chupa!

Ela começou a me chupar lentamente, mas eu queria mais, então


comecei a estocar, fazendo-a me levar ao fundo da sua garganta. Quanto mais
fundo eu ia, mais os seus olhos se enchiam de lágrimas e desejo, aumentando
o meu prazer. Joguei a cabeça para trás, adorando o boquete e, quando a olhei
novamente, Alice se masturbava enquanto me chupava. Aquilo foi o meu
fim, joguei a porra do autocontrole para o inferno e a fiz se levantar.
Debrucei-a sobre o piano e acertei um tapa forte em sua bunda, adorando o
delicioso tom de vermelho contrastando com a sua pele morena.

Rapidamente, coloquei uma camisinha, pois não pretendia cometer o


mesmo erro mais uma vez.

— Segure-se, Principessa.

Penetrei-a em um único movimento, segurei sua cintura e dei


estocadas firmes, que foram se intensificando a cada gemido. Alice estava tão
molhadinha que eu podia sentir sua excitação escorrer. Acertei sua bunda
gostosa com mais tapas até vê-la toda vermelhinha, a safada se empinava
mais e mais a cada tapa.
Eu vou morrer!  Foi o que pensei enquanto era fodida brutalmente
sobre aquele piano de milhares de dólares. Parecia que eu iria morrer de tanto
tesão que estava sentindo, meu corpo inteiro parecia sensível, excitado e, a
cada estocada, desejava gozar e implorava para não ser a última vez.

Horas antes, eu acreditava não ser capaz de transar com um estranho,


mas ali estava eu descobrindo que era mais do que capaz e que também era
possível ter vários orgasmos em uma única noite.

Um tapa forte atingiu minha bunda já sensível e gozei. Para o meu


horror, eu nem sabia que gostava daquilo, aquela pequena dor misturada ao
prazer era incrivelmente boa.

Não tive tempo de me recuperar, fui virada e penetrada novamente.


Puxei-o para um beijo e dessa vez ele não me impediu, beijei-o como se
precisasse daquele beijo para saber se era real tudo o que ele estava fazendo
comigo.

Fui levantada daquele piano e logo senti minhas costas serem


pressionadas contra algo gelado. Antes que eu pudesse tentar descobrir contra
o que estava escorada, sua boca deixou a minha e desceu por meu pescoço.
Meu ombro foi mordido delicadamente e as estocadas se intensificaram.
Senti aquela coisa gostosa e poderosa que só ele fazia o meu corpo sentir se
acumulando novamente e mordi seu ombro. Ele deu uma estocada forte e
parou. Pensei que havia mordido muito forte e o encarei assustada, mas não
havia dor em seus olhos, apenas tesão. Segurou o meu pescoço e me deu um
beijo que roubou todo o meu fôlego. Sem dizer uma única palavra, fui
colocada no chão e girada. Só então descobri que estava sendo fodida contra
uma parede de vidro e aquilo me excitou. Dali eu podia ver toda a cidade de
Roma, era a vista mais linda do mundo.

Antes que eu pudesse me envergonhar, fui penetrada. Fechei os olhos


com força.

— Abra os olhos — sussurrou no meu ouvido e obedeci. — Quero


que veja... — uma estocada forte me fez arfar — o mundo aos seus pés
enquanto é fodida.
Apoiei as mãos no vidro e deixei que ele me fodesse da forma que eu
tinha certeza que me estragaria para qualquer homem e logo estávamos
gozando diante da vista mais bonita que meus olhos já viram.
 

Não sei em que momento dormi, ou desmaiei, não sabia ao certo, a


única coisa que eu tinha certeza era de que todo o meu corpo doía quando a
luz solar atingiu meu corpo.

— Luz? — resmunguei e me levantei assustada. Estava claro, eu


dormi com um estranho. — Minha Nossa Senhora, meu trabalho!

Tentei sair da cama o mais rápido que pude e quase caí no chão, mas
fui salva por quase dois metros de músculos que passaram por cima de mim
na noite anterior como um rolo compressor.

— Bom dia — cumprimentei, tendo certeza de que nunca estive mais


constrangida em toda a minha vida.

A minha desastrosa primeira vez com Raphael não chegava nem perto
do meu constrangimento ao dar bom dia para o completo estranho com quem
transei até sentir dor em lugares que nem sabia que eram possíveis. Será que
tenho um músculo na vagina? Devo ter e acho que foi distendido.

— Precisamos conversar sobre ontem.

Sobre ontem? O quê?

Afastei-me e vi que Matteo já estava completamente vestido.

— Não usei camisinha.

— Não precisa se preocupar, tomo anticoncepcional há anos.

— Tem certeza?
— Que tomo um remédio há anos? Tenho sim — falei, tentando
parecer que eu não estava nervosa por estar tendo aquela conversa
completamente pelada. — Aquele é o meu vestido? — Perguntei ao ver o que
um dia foi meu vestido jogado no chão.

— Meu segurança trouxe uma roupa para você.

— Ah, obrigada.

Vesti a roupa como pude, precisava ir para o meu quarto e me arrumar


o mais rápido possível.

— Eu... — Eu olhava para todo lugar menos para ele, enquanto


pensava no que dizer.

Tocou meu queixo, me obrigando a olhar para ele e, droga, à luz do


dia ele era incontestavelmente bonito, chegava a ser crime ele ser tão bonito.
Por um segundo, me perguntei se não bebi a ponto de ter imaginado que
aquele homem lindo tivesse transado comigo, mas a dor entre as minhas
pernas dizia que foi bem real.

— Você? — Sua pergunta saiu quase ríspida.

— Preciso muito, muito mesmo ir trabalhar.

— Meu motorista pode te levar.

— Não precisa, estou hospedada aqui — disse, me sentindo meio


idiota por estar encarando-o como se ele fosse uma obra de arte.

Ele soltou meu queixo e deu um passo para trás, me dando


passagem. Ok, nada de beijo. Então é assim sexo casual?

— Então, tchau — me despedi, sem graça, e andei até a porta.

— Até logo, Principessa.

Senti um leve frio na barriga, só não sabia se pelo  Até logo  ou


pelo Principessa.
 
Capítulo 7

Fui para o quarto que estava sendo pago pela empresa e tomei o
banho mais rápido da minha vida, sem parar de pensar na noite anterior e, por
mais que tentasse, não conseguia esquecer o descuido com a camisinha. Eu
não era do tipo que andava por aí pegando estranhos e transando sem
camisinha, mas eu não podia pensar nisso naquele momento, estava atrasada.

Com a sensação de que estava esquecendo algo, fui para o endereço


que Oscar me passou e fiquei um tempo admirando a fachada do prédio de
esquina, que mais lembrava a residência da família real do que um prédio
comercial. O prédio parecia recém-construído de tão bem-cuidado. Ao
mesmo tempo que ele combinava perfeitamente com toda a arquitetura
histórica de Roma, ele se destacava por sua opulência. O lugar mesclava o
barroco e o renascentista, lembrava a Fontana di Trevi, era lindo.

Parei de admirar o lugar e entrei, a recepcionista me guiou até a sala


de reuniões. Durante o caminho, ela disse algo, mas eu estava distraída
repassando tudo sobre o projeto e tentando ignorar a leve dor entre as minhas
pernas a cada passo que eu dava. Por um segundo, sorri. Nem quando perdi
minha virgindade foi daquele jeito. Matteo parecia um rolo compressor, um
gostoso que sabia me fazer gozar como ninguém.
— Aqui, senhorita Albuquerque.

Agradeci e entrei na sala. Oscar abriu um sorriso enorme ao me ver e


se levantou para me cumprimentar.

— Acho que nunca fiquei tão feliz em te ver.

— Hã... Obrigada?

Oscar riu.

Os outros membros da equipe me cumprimentaram também.

— E cadê o tal... Como é mesmo o nome do cliente?

Oscar abriu a boca para responder, mas Ricardo, engenheiro da


Trentini Engenharia & Arquitetura, respondeu.

— A gente chama ele carinhosamente de Filho da Puta Mal Amado,


mas fique à vontade para escolher um nome pra ele.

Os membros da equipe riram. Comecei a ficar com medo do tal


cliente que, aparentemente, era a pessoa mais odiada do mundo.

— Gente! — Oscar alertou em um tom sério, mas parecia conter a


risada. — Ele é um cliente muito exigente e é por isso que você está aqui, ele
quer que você... — Oscar se calou ao ouvir passos e todos começaram a se
arrumar em suas cadeiras como se estivessem na escola e a professora
malvada estivesse chegando.

Em segundos, todos estavam sentados em volta da mesa e ninguém


emitia uma única palavra.

— O que foi isso? — Perguntei para Oscar.

— Ele detesta conversas paralelas, e que estejamos conversando


quando ele chega.

Revirei os olhos, o cara era um tremendo idiot... Meu pensamento foi


interrompido pelo som da porta se abrindo. Meus olhos se arregalaram ao ver
Matteo entrando.

O que ele está fazendo aqui?

Foi impossível não me lembrar da nossa noite. Partes do meu corpo,


que pensei nem funcionarem mais de tão doloridas, se contraíram ao vê-lo
naquele terno que o deixava quente como o inferno. Meu rosto esquentou.

— Espero que todos estejam aqu... — Calou-se quando seus olhos


pousaram em mim. Vi perguntas atravessarem as írises acinzentadas e tinha
certeza de que eram as mesmas que as minhas.

— Bom dia, Sr. Sartori, essa é nossa arquiteta, a senhorita


Albuquerque. — Oscar apontou para mim, e a testa de Matteo franziu.

Meu cérebro pareceu demorar horas para processar a informação, mas


foram apenas segundos para perceber que eu era uma idiota por não ter
percebido antes. Lembrei-me da Bruna perguntando se eu estava querendo
ser demitida por chamá-lo de idiota na noite anterior. Dei-me um tapa mental
por ser tão lerda, como não liguei o nome dele ao hotel? Droga, eu tinha que
ter percebido. Os funcionários do hotel o trataram como um rei, e a cobertura
mais parecia um apartamento do que um quarto de hotel. Eu com certeza era
a pessoa mais lenta do universo.

— Você é arquiteta? A arquiteta que fez os projetos?  — Sua voz era


incrédula. — Você tem o quê? 19 anos?

— 22 anos — respondi, um pouco irritada com a forma que ele


perguntou, como se não fosse possível eu ter feito os projetos.

Na noite anterior, ele não parecia preocupado com a minha cara de 19


anos.

— Sei que ela é jovem, mas é uma das melhores arquitetas que tenho
na minha equip... — Oscar tentou dizer.

— Você pelo menos terminou a faculdade? Ou está fazendo estágio?

— Sim, sou formada.


— Alice é modesta, mas é uma pequena gênia. Entrou na faculdade
com 16 anos e se formou como a melhor da turma — Oscar disse, me
fazendo encolher os ombros. Odiava quando as pessoas me chamavam de
gênia. Eu estava muito, muito longe mesmo de ser uma gênia, eu só era
esforçada e tive pais que me ajudaram muito a focar nos estudos.

— Ok, então me mostre — Matteo falou, olhando diretamente para


mim e uma parte pervertida do meu cérebro interpretou errado, muito errado.

— O quê?! — Quase sorri por minha voz não ter tremido.

Sem pressa, Matteo se sentou em sua cadeira como se fosse um rei e


me encarou.

— O projeto, me mostre o projeto.

— Ah, claro.

Folheei algumas páginas meio sem jeito até Ricardo empurrar um


tablet para mim.

— Obrigada — sussurrei e ele piscou.

Estava nervosa, minhas mãos tremiam por ter que olhar para o Matteo
como se ele fosse um cliente qualquer depois da noite anterior. Minha mente
só conseguia lembrar da nossa noite, mas eu estava trabalhando e não podia
misturar as coisas. Lembrei-me que quase fui presa por sequestro por causa
dele e, mesmo assim, meu cérebro continuou formando imagens de nós dois
suados e arfantes. Contudo, assim que comecei a falar do projeto foi como se
tudo sumisse. Eu estava na frente de um cliente, fazendo o que eu amava, em
uma das cidades que sempre sonhei em conhecer.

— Podemos adicionar elementos arquitetônicos de cada região dos


hotéis, nada muito drástico para não tirar a identidade dos hotéis. — A cada
palavra dita, ele parecia ficar mais sério. — Por exemplo, podemos seguir a
arquitetura local na fachada e seguir com isso pelo hall...

Matteo se levantou, me interrompendo.


— Ok, reunião encerrada.

Ele saiu da sala e fiquei encarando a porta. pensando que tinha feito
algo errado. Ele odiou o projeto ou está muito puto por termos transado e vai
me tirar do projeto, ou pior, tirar a empresa do Oscar.

— Droga — resmunguei, minhas mãos começaram a suar.

— Graças a Deus, ele adorou! — Oscar suspirou aliviado do meu


lado e todos da equipe sorriam largamente.

— Mas... Ele saiu sem dizer uma palavra.

— Exatamente, isso é sempre bom sinal — disse Fernanda, a designer


de interiores. — Toda vez que ele abre a boca é para falar mal ou criticar.

— É, na última semana, toda vez que ele abriu a boca, tivemos que
mudar algo — Ricardo lamentou.

— Então, não fui

demitida?

— Não — disse Oscar, e suspirei aliviada. — Vem, vou mostrar o


nosso escritório aqui.

Levantei-me e segui Oscar. No caminho, encontrei Bruna, a fuzilei e


ela sorriu.

— A noite deve ter sido boa, sua pele está maravilhosa. E esse roxo
diz que o sexo foi... selvagem — sussurrou, enquanto seguíamos Oscar.

Olhei para o braço e arregalei os olhos, havia um leve roxo, quase


imperceptível, mas Bruna era muito boa em ser enxerida.

— Droga! — Puxei a manga da minha blusa desesperadamente. —


Você é a pior amiga do mundo! — Falei, me dando conta de como eu era
péssima em arrumar amizades. — Devia ter me dito que ele é meu chefe! —
Exclamei brava.
Bruna parou e me encarou de olhos arregalados.

— Você... Meu Deus, Alice... Você acha que fiz de propósito? Como
eu ia imaginar que você é tão lerda? Você é a pessoa mais inteligente que
conheço, pensei que tinha sacado assim que viu que o Sr. Sartori era o Sartori
que contratou a Trentini. O rosto dele está literalmente em todos os jornais e
vocês se conheciam, teve aquele papo maluco de sequestro, eu não...

Ela parecia tão chocada ao dizer isso que me senti meio mal.

— Desculpa, é que...

— Está tudo bem, também não é pra tanto. — Abriu um sorriso e


bateu o seu ombro no meu. — Pega meu blazer pra tampar esse roxo.

Ela me deu seu blazer e, apesar de não ser preciso, pois apostaria que
ninguém veria o roxo e quem encarasse o meu braço igual um louco até
conseguir ver não desconfiaria de nada, sorri pelo seu gesto.

— Obrigada.

— Não precisa ficar envergonhada, por que você acha que estou com
gola alta? — Ela puxou a gola da blusa, e vi um roxo enorme em seu
pescoço. — Gregos são uau na cama.

Dei risada dela e fui obrigada a ouvir sobre sua noite.


 

Após conhecer a sala que iria dividir com mais três pessoas, arrumei
as minhas coisas para ir conhecer o prédio em que eu faria o projeto
arquitetônico. Não seria possível conhecer todos os prédios, eu receberia as
plantas de cada um e faria o projeto em cima delas, mas eu gostava de visitar
os prédios e queria conhecer os que podia, que, no caso, era só esse de Roma.

Resolvi ir a pé, o local ficava a apenas algumas quadras, mas, assim


que atravessei a rua, meu braço foi segurado e um perfume delicioso e já
conhecido me envolveu.
— O que está fazendo? — Matteo perguntou.

Encarei-o, pensei que depois da noite passada eu não o veria nunca


mais.

— Estou indo visitar o prédio...

— O que está fazendo em Roma? Na minha empresa?

— Eu sei que...

— Se isso for algum tipo de perseguição, ou vingança, pode ter


certeza...

Puxei o braço.

— O que está insinuando? Que atravessei o oceano, te seduzi e agora


estou trabalhando na sua empresa como parte de uma vingança sem sentido
por você ter me acusado de sequestrar o seu avô?

— É exatamente isso que está parecendo. Não quero dentro da minha


empresa uma pessoa que não confio.

Revirei os olhos e comecei a rir.

— Você deve se achar o homem mais importante do mundo pra achar


que alguém, que eu, perderia meu tempo com isso.

Virei as costas para ele, mas novamente segurou o meu braço.

— Me solta! Se quer me acusar de alguma coisa, me acuse de ser


tonta a ponto de não ter percebido que você é o dono da empresa que nos
contratou.

Ele ficou lá me encarando com os lindos olhos acinzentados repletos


de incredulidade.

— O que aconteceu ontem não se repetirá e espero que você seja


discreta...
Mesmo sabendo que nunca voltaria a acontecer algo entre nós, foi
como levar um tapa ao ouvi-lo.

— Não se preocupe, vou fingir que nem te conheço.

Girei nos calcanhares e voltei para o prédio da Sartori. Assim que


entrei na minha sala, Bruna entrou em seguida.

— Achei que você ia visitar o prédio...

— Eu ia, mas fui demitida.

— O quê?! Então foi você? Ouvi que alguém tinha sido demitido,
mas não imaginei que fosse você. Que canalha!

— Ele acha que estou perseguindo ele ou seja lá o que a cabeça


perturbada dele inventou — sussurrei, fechando minha bolsa.

Saí da sala e Bruna me acompanhou.

— Vamos falar com o Oscar, ele...

— Oscar não vai arriscar um contrato tão grande para me manter.

Virei o corredor e esbarrei em um homem. Se não fosse por Bruna, eu


teria caído.

— Olhe por onde anda! — Bruna brigou.

O homem me encarou e o reconheci imediatamente. Era o cara do bar


que estava dando em cima de mim. Eu falei diversas vezes que não estava a
fim, mas ele ficou insistindo e querendo me tocar até o Matteo chegar e o
expulsá-lo.

Ele me encarou com ódio e foi embora.

— Desculpem, o Sr. Rinaldi não costuma ser assim — disse a


recepcionista. — O Todo Poderoso o demitiu hoje sem motivo.
— Pelo visto, ele está empolgado hoje — Bruna zombou, e a
recepcionista a encarou sem entender.

— Ele trabalha aqui? — Perguntei.

— Trabalhava, era diretor financeiro. Estou surpresa com a demissão


dele.

Ela voltou para a recepção.

— Não é o cara que deu em cima de você na boate?

— Ele mesmo.

Os olhos de Bruna brilharam e sua boca se abriu em choque como se


ela tivesse acabado de descobrir algo sensacional.

— O cara foi demitido “sem motivo.” E se tiver um motivo? —


Franzi a testa e a encarei como se fosse louca, talvez fosse mesmo. — E se
ele demitiu o Reginaldo porque ele te assediou?

Ela parecia muito empolgada ao terminar. Revirei os olhos para a


loucura dela.

— O nome é Rinaldi, e para de surtar, eu também fui demitida.

Bruna murchou, voltei a andar, e ela me seguiu.

— Vou falar com o Oscar, ele vai resolver esse negócio de demissão.
Acho que ele nem pode te demitir.

— Bruna, não...

— Tchau. — Virou as costas e me deixou falando sozinha.


Quando entrei na sala de reuniões e vi Alice, pensei que ela era
alguma maluca perseguidora, não podia ser coincidência tantos encontros.
Jamais imaginaria que ela era a arquiteta, na verdade, imaginei que fosse uma
pessoa bem mais velha, o trabalho dela parecia o de alguém com muito mais
experiência. Apesar disso, meu pau ficou duro ao vê-la e a única coisa que
quis ao ir atrás dela foi arrastá-la até a minha sala e fodê-la como na noite
anterior, ainda podia sentir seu perfume.

— Ele vai nos processar.

Tirei os olhos dos papéis que eu lia sem prestar atenção e encarei
Antonella.

— Quem vai nos processar, e por quê? Independente da resposta,


ligue para os nossos advogados e mande processarem antes.

— Rinaldi! Ele saiu daqui furioso, gritou aos quatro ventos...

Levantei a mão, e ela se calou.

— Você me interrompeu por causa disso?

Antonella engoliu em seco.

— Bom, eu achei...

— Pare de achar as coisas e volte ao trabalho.

Voltei a minha atenção aos papéis.

— Mas...

Calou-se quando a encarei.

— O que eu te disse?

— É... Voltar ao trabalho, vou fazer isso imediatamente...

— Não me faça te demitir, Antonella — ameacei.


— Ah! Advogados. Processar. Ok! — Ouvi o barulho suave dos seus
passos se distanciando e quase, apenas quase sorri, mas ela voltou a falar —
Vamos processar ele por quê? Se fomos nós que o demitimos sem motivo.

Não demiti Rinaldi sem motivo, eu não admito que meus funcionários
do alto escalão se envolvam em escândalo e ter meu diretor financeiro
assediando mulheres em boates não era algo que eu queria em algum site
sensacionalista.

Olhei para ela, pensando seriamente que talvez não fosse tão ruim
passar os próximos meses trocando de secretária até achar uma minimamente
competente.

— Eles vão achar um motivo. Com licença. — Saiu apressada da sala,


e voltei a trabalhar, porém o objetivo de Antonella era ser demitida. —
Desculpa, acabei esquecendo, mas o senhor tem uma reunião em 5 minutos
— disse baixinho, seus ombros estavam encolhidos e sorria fraco. — A sala
de reunião já está pronta.

Levantei-me. Os ombros de Antonella relaxaram, e fui para a tal


reunião.

— Como assim estamos sem diretor financeiro? — Indagou


D’Angelo, vice-presidente da Sartori. — Você enlouqueceu? Estamos no
meio de uma expansão!

Toda a sala ficou em completo silêncio, meus funcionários olhavam


para todos os lugares menos para mim.

— Creio que quem enlouqueceu aqui não tenha sido eu. — Minha
voz saiu baixa e controlada como sempre. O homem na casa dos 50 anos
afrouxou a gravata e abriu a boca várias vezes, mas nada saiu. — Se dirija a
mim dessa forma novamente e se juntará a Rinaldi à procura de um novo
emprego.

— Desculpe, Sr. Sartori, não quis faltar com respeito, é que... —


Calou-se ao ver meu olhar. — Desculpe, Senhor.
— Faça o seu trabalho e arrume alguém para substituir Rinaldi ou
você é que será substituído.

— Sim, senhor.

Assim que a reunião terminou, vi os funcionários da Trentini


transitando de um lado para o outro. Ao me verem, praticamente saíram
correndo como se tivessem visto o diabo.

— O senhor tem um almoço marcado com os japoneses — disse


Antonella, enquanto me seguia para fora da Sartori.

Meus seguranças me esperavam como sempre em três carros. Eu e


Antonella entramos no mesmo carro, e ela começou a tagarelar sobre a tal
reunião.

— Marquei o almoço no Sartori mesmo, ouvi o senhor Iwauchi dizer


que amou a comida do chefe, então...

Levantei a mão e ela se calou. O restante do caminho foi feito na mais


plena paz.
 

A reunião estava chegando ao fim quando algo chamou a minha


atenção. Alice estava sentada no bar enquanto ria de algo que Eros disse, ria
até demais.

— Estou muito feliz em fechar esse contrato com o senhor... —


Iwauchi disse.

— Só um momento.

Levantei-me e fui até onde eles estavam.

O que esse grego quer com ela? O que ela quer com ele?!
Alice usava uma camiseta ridícula escrito “I Love Italy”, que tinha
um coração com a cor da bandeira italiana no lugar da palavra Love, e uma
calça jeans que marcava seu corpo tanto quanto uma daquelas calças de
academia. Seus olhos se arregalaram ao me ver, em seguida fez uma careta.

— O que faz aqui? — Perguntei para ela, e Eros se virou.

— Matteo, junte-se a nós — Eros convidou, o ignorei.

— O que foi? Você também não quer nas dependências do hotel


alguém que você não pode confiar?

Não entendi sua pergunta, mas isso não importava, só uma coisa
importava.

— Por que você está enchendo a cara e paquerando quando deveria


estar trabalhando?

— O quê?! Você é louco? Você me demitiu e eu posso fazer o que eu


bem entender.

Por que ela não negou que está paquerando?

— Costumo ter uma tolerância muito baixa com insubordinação,


senhorita Albuquerque.

Ela revirou os olhos, ela tinha a irritante mania de revirar os olhos


como uma criança malcriada.

— Insubordinação? Deixa eu te lembrar novamente, você me demitiu.

— Minha memória é boa o suficiente para eu ter certeza de que não a


demiti.

— Você disse “Não quero dentro da minha empresa uma pessoa que
não confio.” — A cada palavra a sua voz ficava mais baixa e seu rosto mais
corado.
— Espero que seja melhor trabalhando do que interpretando frases,
senhorita Albuquerque. — Parecia impossível, mas ela conseguiu corar mais.
— Amanhã pela manhã quero na minha mesa uma planta detalhada do hotel
de Roma.

Eu a queria em minha mesa, mas definitivamente não era com a


planta do hotel.

— O quê?! Isso é impossível...

— Se estivesse trabalhando não seria. Deixe namorinhos para depois


do seu expediente.

Virei as costas e voltei para a minha reunião, mas não deixei de notar
que Alice foi embora imediatamente, deixando Eros sozinho no bar.
 
Capítulo 8

Após a “demissão”, eu só queria dar uma de turista pela cidade antes


de ter que voltar para o Brasil, mas encontrei Eros, e ele me arrastou até o bar
e, quando vi, estava rindo. Ele era um cara legal, mas esperava seriamente
que ele não estivesse dando em cima de mim, porque ele não me atraía
minimamente, principalmente depois de ficar com seu amigo. E ele também
havia ficado com a Bruna, nem se ele fosse o homem mais atraente do mundo
eu ficaria com ele.

Contei para ele que fui demitida e estávamos rindo da minha desgraça
quando Matteo apareceu e esqueci completamente da sua presença. Matteo
era como um elefante em uma sala de cristais, impossível não ser notado, e
como um ímã que me atraía perigosamente.

Quando Matteo foi embora, a vergonha me corroeu. Justifiquei a


minha má interpretação da sua fala pelo fato dele ser muito bonito e sua
beleza não me deixar pensar racionalmente. Era a justificativa mais idiota e
sem sentido do mundo, mas só isso podia explicar o fato de eu ter entendido
a fala dele como demissão. Como eu iria olhar para a cara da Bruna? Será
que ela contou para alguém? Minhas pernas fraquejaram com o pensamento
de ter que explicar para todo mundo que fui uma idiota precipitada que não
sabe interpretar uma simples frase.
— Pensa pelo lado positivo, você ainda tem um emprego — Eros
comentou, e só então lembrei-me da sua presença.

— Ele é sempre assim? — Perguntei, tentando não morrer de


vergonha, tinha quase certeza de que xinguei o Matteo de idiota arrogante
minutos antes.

— Não, normalmente é pior. — Ele parecia sério ao dizer isso.

— É melhor eu ir trabalhar ou realmente não terei um emprego. —


Levantei-me, sentindo o meu rosto quente.

— Qual é o número do quarto da sua amiga? — Só então entendi


porque ele me chamou para um drink e um alívio imenso tomou conta de
mim.

Sorri, pelo que Bruna me contou da noite deles, ela adoraria receber
uma visitinha dele.

— Meu amigo é dono, se você não falar...

— Tem como você descobrir — concluí sua frase. — Quarto 201.

Ele sorriu com minha resposta. Fui embora, afinal tinha que fazer um
projeto de semanas em uma noite.
 

Eu odiava café, mas, enquanto andava em direção à sala de Matteo


para mostrar a planta para ele, eu tomava o meu segundo copo do dia para
conseguir me manter acordada. Passei a noite em claro e não tinha
conseguido terminar, só esperava que ele não notasse os pequenos detalhes.
Se notasse, explicaria que era impossível fazer isso tão rápido.

— Alice, o que está fazendo aqui? — Bruna perguntou. — Ele te


readmitiu? Espera! Que cara é essa? — Sorriu. — Agora eu sei como ele te
readmitiu...
— Pode parar, diferente de você que recebeu visitinha de um certo
grego, eu passei a noite trabalhando, porque aparentemente eu interpretei a
fala dele errado e não fui demitida, mas fui punida.

Continuei andando e logo ouvi os passos de Bruna me seguindo.

— Primero, como você sabe sobre o Eros e que história é essa de ser
punida?

— Eu que dei o número do seu quarto e a outra parte eu explico


depois.

Bati à porta do escritório do Matteo, e Bruna praticamente saiu


correndo. Ao não obter uma resposta, bati de novo, mas nada, apenas
silêncio.

— Mat... Sr. Sartori, é a Alice, eu trouxe a planta.

Nada. Então resolvi abrir a porta e, para a minha surpresa, não havia
ninguém. Franzi a testa e resolvi ir à recepção.

— Oi, sabe se o Ma... Sr. Sartori está em reunião? É que preciso...

— O senhor Sartori não está, queridinha — respondeu uma loira de


nariz empinado e voltou a conversar com a amiga.

— Sabe essa termina essa reunião? — Ela me olhou entediada. — Ele


quer ver uma planta com urgência.

— Não deve ser assim tão urgente, porque ele viajou e só volta
semana que vem.

— Você tem certeza?

Ela não respondeu e nem precisava, o filho da... Ele me fez passar a
noite em claro por nada.

Joguei meu café fora e fui à cafeteria que ficava ao lado da Sartori,
comprei o maior capuccino e uma fatia gigante de torta. Assim que a
garçonete me serviu, dei uma garfada generosa na torta. Fechei os olhos
apreciando aquela maravilha açucarada.

— Você parece estar precisando mesmo — ela disse, em italiano e


deu uma risadinha.

— Estou mesmo — concordei em português sem pensar.

— Você. Não. Fala. Italiano? — Perguntou pausadamente, como se


isso fizesse uma pessoa que não sabe falar italiano compreender.

— Desculpa, falo sim — respondi em italiano, e ela sorriu. — Você


tem razão, estava mesmo precisando de muito açúcar no sangue. Meu chefe
me fez passar a noite em claro para apresentar um trabalho e hoje descobri
que ele viajou — lamentei, estava mais triste do que brava. Ele me fez tomar
café e eu odeio café.

— Nem me fala. — Ela puxou uma cadeira e se sentou comigo. — A


minha chefe...

Ela começou a falar mal da sua chefe e então lembrei do que eu


esqueci ontem e hoje também.

— Droga! — Saí praticamente correndo da cafeteira.

Meus colegas que dividiam a sala comigo me olharam estranho ao me


ver apressada. Vasculhei a minha bolsa e achei, ali estava a minha cartela de
anticoncepcional com os dois comprimidos que eu deveria ter tomado. Um
leve desespero tomou conta de mim, na verdade, não tinha nada de leve, eu
estava em pânico.

— Alice? — Olhei para frente, e Bruna me encarava preocupada. —


O que houve? Você está bem?

Não respondi, como eu diria que transei sem camisinha com um


estranho, que agora é meu chefe, e que esqueci de tomar meu remédio por
dois dias?
— Vem, vamos tomar uma água, ou um ar fresco. — Deu a volta na
mesa e circulou o seu braço no meu. Quando estávamos fora da sala, ela
parou e se colocou na minha frente. — O que aconteceu?

Demorei uns segundos para responder, algo me impedia de confiar


nela sem reservas.

— Não é nada.

Bruna me encarou por um tempo.

— Ei, você pode confiar em mim, mas se não quer falar tudo bem.
Vem, vamos tomar um ar fresco. — Pegou minha mão e me puxou para uma
área onde o pessoal costumava fumar.

Sua calma e o jeito com que ela me olhava me fizeram ter raiva de
mim, do Raphael e da Larissa. Eu não era essa pessoa, eu confiava nas
pessoas.

— Esqueci de tomar meu anticoncepcional — falei, me sentindo mais


leve.

— Certo, e você e o...

Tampei sua boca.

— Shh... Sim, esquecemos a... Você sabe.

— Amiga, relaxa, você toma há muito tempo? — Confirmei. —


Tenho várias amigas que esquecem e nunca...

Tampei sua boca.

— Quer que todo mundo saiba?

— Relaxa, Alice, você não vai engravidar — disse baixinho. — Mas


seria legal, né? Pensa...

— Legal? Eu nem conheço ele direito. Seria terrível, e a minha


carreira? Já imaginou? Ele provavelmente não acreditaria na paternidade, e
eu seria mãe solteira. Meu Deus! Os meus pais, eles morreriam...

— Alice! — Bruna me segurou pelos ombros. — Amiga, você está


surtando, não vai acontecer nada.

Apeguei-me às suas palavras.


 

Dias depois...

Eu dividia a sala com mais três pessoas, o que era um verdadeiro


inferno, havia muitos materiais para trabalhar, alguém sempre mexia e eu
demorava horas para achar uma simples caneta ou amostra que chegava.
Tudo estava um caos, vivia levando trabalho para o hotel, que era o único
lugar onde realmente conseguia trabalhar e, apesar do cansaço, estava
adorando. Aquela loucura era o que sempre quis, desde o ensino médio sabia
o que queria e era aquilo, claro que com um pouco mais de espaço pessoal,
mas ok.

Meu celular tocou e atendi tranquilamente sem nem olhar quem


estava ligando. Havia trocado meu número de celular e desde então Raphael
não entrava mais em contato, estava sendo maravilhoso.

— Como está a melhor arquiteta do mundo? — Meu pai perguntou.

Sua voz alegre fez o meu peito se encher de amor e saudade. Acho
que nunca fiquei mais de uma semana longe dele e agora estava a um oceano
de distância e os poucos dias pareciam uma eternidade.

— Não sei, papai, eu não a conheço — respondi, rindo.

— Santo Deus! Você dá mais valor a um cachorrinho de rua do que a


si mesma. Minha filha é a melhor arquiteta do mundo. Você é a melhor
arquiteta do mundo.

Sorri, meus olhos arderam, queria poder abraçá-lo.


— Queria ter a mesma fé que você tem em mim.

Conversamos mais um pouco e minha mãe arrancou o telefone dele.

— Bambola, você está comendo direito? — Sorri, a maior


preocupação da minha mãe era a nossa alimentação, ela achava que todos os
nossos problemas sempre seriam resolvidos se nos alimentássemos
corretamente. — Você não está se entupindo de doces, né? Isso não faz bem,
coma legumes.

Soltei a jujuba de limão que estava prestes a mastigar.

— Mãe, não sou criança e não se preocupe, não estou comendo doce
— falei, sabendo que ela perceberia a mentira só pelo meu tom de voz.

Guardei o pacote de jujubas na gaveta, que já estava cheia de doces.

Minha mãe começou a falar, mas uma pequena confusão chamou a


minha atenção.

— Senhor Sartori, é melhor o senhor...

— Você não sabe o que é melhor para mim. Saia já da minha frente!

— Mamãe, vou precisar desligar. — Não a esperei dizer tchau,


desliguei e fui para o corredor ver o que estava acontecendo.

Vários funcionários se aglomeravam para ver a confusão.

— Então é verdade, você está aqui — seu Lorenzo disse com um


sorriso enorme e se aproximou de mim. Abracei-o.

Foi como abraçar um avô, um abraço apertado, quentinho e delicioso.

— O que o senhor está fazendo aqui? — Perguntei, desfazendo o


abraço. — Espera! Seu neto sabe que o senhor está aqui? Eu não quero me
meter em confusão.

A última coisa que eu precisava era o Matteo prestando queixa contra


mim.
— Calma, todo mundo é testemunha que eu apareci aqui por vontade
própria.

Relaxei ao perceber que estava fora de problemas.

— Venha, vamos na cafeteria ao lado conversar um pouco. — Puxou-


me pela mão, mas o contive.

— Eu não posso, estou trabalhando, Lorenzo.

— Todos vocês, voltem ao trabalho, não têm nada aqui que seja da
conta de vocês.

Olhei para quem disse isso e me lembrei imediatamente, era Dante, o


segurança de Matteo. Todos voltaram para suas salas.

— Preciso ir... — falei, mas Lorenzo pensava diferente.

— Venha comigo, ou terei que pedir para Dante te levar à força.

Dei risada da sua fala, mas meu sorriso se desfez ao ver que Lorenzo
estava sério. Encarei Dante, que não esboçava nenhuma reação.

— Eu adoraria tomar um café com o senhor, mas pode ser mais tarde?
Quando acabar meu expediente?

— Eu também sou dono de tudo isso aqui e estou mandando você vir
comigo.

Olhei desesperada para os lados, mas não havia ninguém para me


ajudar.

— Não discuta — disse Dante, e, mesmo com medo de ser demitida,


segui o velhinho até a cafeteria.
Meu avô teve uma crise e, quando essas crises aconteciam, ele ficava
agressivo e nada o acalmava, mas eu gostava de estar por perto quando
acontecia, por isso voltei antes do previsto. Esse estado agressivo é comum
na doença dele, variação de humor e até longos episódios de depressão.
Contrariá-lo em qualquer uma dessas situações é garantia de uma grande dor
de cabeça para todos os envolvidos.

O avião pousou na pista da propriedade afastada do centro de Roma,


onde atualmente eu vivia com meu avô. A governanta já me aguardava.

— Sr. Sartori, seja bem-vindo.

— Onde está meu avô?

— Ele e Dante saíram, senhor.

— Como saíram? Ele precisou de atendimento médico? — Perguntei,


ao lembrar-me de que alguns meses atrás ele havia cortado a mão no meio de
uma crise.

Os funcionários tentaram contê-lo e isso só piorou a situação. Quando


elas aconteciam, a melhor coisa a fazer era esperar que ele se acalmasse.

— Não! O seu avô está bem, ele começou a falar de uma moça sem
parar e insistiu que Dante o levasse até ela. Quando Dante se negou, ele
começou a quebrar os objetos da sala.

— Por que Dante se negou? Ele está aqui exclusivamente para isso.

A governanta pigarreou.

— Ele disse que o senhor não gostaria que ele visitasse a jovem.

Não demorei nem um segundo para saber onde meu avô estava e não
gostei nem um pouco.

— Prepare o helicóptero — ordenei ao piloto, que rapidamente estava


pronto para decolarmos.
 
Assim que entrei na cafeteria, foi fácil achar meu avô, ele estava em
uma mesa no canto com Alice, eles riam alto como se fossem grandes
amigos.

— Posso saber o que está acontecendo aqui? — Parei ao lado da mesa


deles.

— Me ferrei — Alice resmungou.

— Eu vou voltar para... — A mulher que estava com eles se levantou


e só então notei sua presença. — Nossa, você é gato. Quer dizer... Vou
trabalhar.

Pelo visto, eu não era o único que tinha funcionário batendo papo em
vez de estar trabalhando.

— Meu neto, sente-se, eu estou contando pra Alice sobre aquela


nossa viagem para o Egito.

— Vô, ela deveria estar trabalhando e não ouvindo historinha.

Alice se levantou imediatamente e não pude deixar de notar como a


saia que ela usava moldava perfeitamente a sua bunda. Lembrei-me dela
debruçada sobre meu piano, a sua bunda deliciosa empinadinha e implorando
para ser fodida, meu pau pulsou.

— Eu vou voltar para o trabalho, mas, antes que você brigue comigo,
todos são testemunha, inclusive o grandão ali — apontou para Dante —, que
eu estava trabalhando e ele chegou e me arrastou para cá.

Meu avô também se levantou.

— Trabalhar? Mas a nossa conversa estava tão boa — falou,


segurando as mãos de Alice entre as suas.
— Eu sei, mas preciso mesmo trabalhar. Se quiser me visitar mais
veze…

Pigarreei e a encarei duramente.

Ela deu um beijo no rosto dele e o vi sorrir, um tipo de sorriso que há


muito tempo não via meu avô dar. Ele estava enfeitiçado pela mulher.

— Jante conosco, tenho uma surpresa para você.

— Vô!

— Hã... Eu acho melhor...

— Não aceito não como resposta e ignore meu neto. Dante irá te
buscar no hotel.

Respirei fundo.

— Lorenzo, eu não...

— Dante, vamos embora. — Meu avô saiu andando e deixou Alice


plantada no meio da cafeteria. — Preciso falar com Gioconda sobre o
cardápio de hoje à noite.

Alice ficou me encarando.

— Volte ao trabalho.

— É... Eu não trouxe minha carteira. — Sorriu.

— Per L’amor di Dio![7]

Joguei uma nota de 100 euros sobre a mesa e saí. Antes de me seguir,
ela pegou o pedaço de torta.

— Quero você na minha sala em 5 minutos — disse, no momento em


que ela ia morder a torta.

— Por que eu estou encrencada? Eu não fiz nada.


— 5 minutos.

— Ok.

Voltei a andar, mas percebi que ela não me seguia. Parei e, ao olhar
para trás, a vi do outro lado da rua conversando com uma mulher que tinha
uma criança de colo, ela parecia humilde e faminta. Vi Alice dar à mulher sua
torta e dinheiro, a mulher começou a chorar e abraçou Alice.

Naquele momento, entendi porque uma mulher em um vestido de


noiva ajudou um velhinho gagá e um gato sarnento, ela parecia fazer as
coisas sem pensar. A mulher podia ser uma ladra, coisa comum de acontecer,
elas usavam as crianças de colo para enganar as pessoas.

Respirei fundo e, antes que eu pudesse atravessar a rua, a mulher se


afastou de Alice. Girei nos calcanhares e fui para a minha sala.

Menos de 5 minutos depois minha secretária anunciou Alice.

— Olha, é verdade, pode perguntar, seu avô entrou aqui e me


chamou...

— Cadê a planta que te pedi há uma semana?

— O quê?!

— A planta do hotel...

— Eu entendi, quero saber por que está falando como se eu tivesse


atrasado, sendo que passei a noite em claro e no dia seguinte, quando vim te
mostrar, descobri que você tinha ido viajar.

— Viu como não era impossível terminar? — Ela me encarou como


se quisesse voar em mim. — Cadê?

— Aqui — respondeu, me impressionando, jurava que ela iria falar


que não estava com ela, mas ela pegou um iPad e me entregou. — Se quiser,
tenho elas em papel, só achei mais prático mostrar o digital.
— Assim está ótimo.

— Esses aqui são os quartos do primeiro andar...

Parei de prestar atenção ao que ela falava. Meus olhos foram para o
seu decote que, pela forma levemente inclinada sobre a mesa em que ela
estava, me permitia ter uma boa visão dos seus seios. Eu só queria arrancar
aquela sua roupa, debruçá-la sobre a mesa e fodê-la sem me importar que
todos os meus funcionários fossem ouvir seus gemidos. Contudo, Alice agora
era minha funcionária, e eu tinha orgulho de não me envolver com
funcionárias.

— Você vai se afastar do meu avô — falei de supetão, não precisava


dela circulando pela minha casa e muito menos sendo amiguinha do meu avô.

— Como é que é?! — Ela pareceu atordoada e se afastou.

— Você não vai a esse jantar, nem a qualquer lugar com ele. Se ele te
procurar, ignore-o. Uma hora ele desistirá, mas isso não será necessário,
Dante providenciará para que vocês não se aproximem.

— O que é? Sou boa o suficiente pra você foder e trabalhar na sua


empresa, mas não para chegar perto do seu avô? — Sua reação me pegou
desprevenido, não pensei que ela fosse mencionar a nossa noite. — Mas não
se preocupe, Sr. Sartori — o jeito que ela disse meu nome fez meu pau pulsar
—, vou ficar o mais longe possível do seu avô. Com licença.

Ela pegou o iPad e saiu da minha sala, e eu fiquei pensando em passar


por cima da minha regra de nunca me envolver com funcionárias. Irritada do
jeito que ela estava, eu tinha certeza de que seria uma delícia.
 
Capítulo 9

Passei o resto do dia controlando a minha vontade de voltar à sala do


Matteo e gritar com ele, gritar sempre resolvia todos os problemas. O único
problema é que eu não era o tipo de pessoa que saía por aí gritando como
uma criancinha, então descontei na comida, em um pacote de M&M’s, para
ser mais exata.

— Dá pra acreditar? O que ele acha que vou fazer? Sequestrar o avô
dele? — Perguntei para Bruna enquanto caminhávamos para o hotel. Ela
pirou por estar comendo muita massa e agora me obrigou a ir andando com
ela.

Comi um M&M azul e, antes que pudesse pegar outro, Bruna


arrancou o pacote da minha mão.

— Ei!

— Para de comer essa porcaria! — A cara de pau começou a comer.

— Você não estava reclamando de engordar?

Ela deu de ombros.


Peguei meu pacote de M&M’s de volta.

— Não sei como você tem esse corpo comendo toneladas de açúcar
por dia.

— É humanamente impossível comer toneladas...

— Sabe o que também é humanamente impossível? Ter esse corpo


tendo uma dieta baseada em açúcar. Agora me diz porque o Dono do Mundo
acha que você vai sequestrar o avô dele.

— Dono do Mundo? O Ego dele ficaria inabalável se ouvisse isso —


resmunguei.

— Meu Deus! Sério, Alice? Você é mesmo muito lenta.

Franzi a testa, sentindo que tinha perdido uma parte importante da


conversa.

— Conta a história que te falo porque você é lerda.

Revirei os olhos e, mesmo me sentindo um pouco ofendida por ser


chamada de lerda, contei para ela como quase atropelei o avô dele e fui
acusada de sequestro e roubo de carro.

— Nossa, até eu desconfiaria de você. 

— Agora conta porque sou lerda.

— Segundo a sua história, você fugiu do seu casamento, isso somado


a sua listinha de sexo com estranho e não se apaixonar novamente, me faz
acreditar que o idiota do Raphael te traiu. — Sua fala me fez paralisar e
imagens vívidas de Raphael e Larissa gemendo fizeram meu estômago
embrulhar, mas Bruna pareceu alheia a isso. — Quando voltarmos para o
Brasil, deveríamos riscar o carro dele. Ele gosta do carro? — Perguntou,
séria. — Deve gostar, homens amam seus carros. Ei! — Encarou-me com um
sorriso quase maligno. — Melhor, podemos pagar alguém para fazer isso,
estamos fora do Brasil, ninguém vai desconfiar da gente.
Por um segundo, achei Bruna uma pessoa cruel por falar da traição
como se não fosse nada, mas logo vi que ela só era muito, muito doidinha
mesmo, e sorri.

— Não vamos arranhar o carro dele. Você nem tem motivos pra fazer
isso.

— Claro que tenho, agora você é minha amiga e aquele desgraçado


magoou minha amiga. Eu quero que ele se foda.

Sorri genuinamente e a abracei.

— Você é louca.

— E você estranha. — Riu, me abraçando de volta. — E muito lerda


também. — Desfizemos o abraço. — Matteo Sartori é simplesmente o
homem mais rico do mundo. Ele, Eros e um amigo deles que é Sheik são
conhecidos como os Donos do Mundo.

— Uau! Dá pra ser tão rico com hotel?

Bruna revirou os olhos.

— Ele não é dono de hotéis, ele é dono do Grupo Sartori, eles


comandam o mercado aéreo. Todas as empresas grandes de aviação que você
conhece são dele. Ele é realmente o Dono do Mundo, se ele quiser, ninguém
viaja de um lugar para o outro, ele é tipo o dono do nosso direito de ir e vir.

— Uau! Por isso que recebi passagens de primeira-classe?

Bruna riu.

— Não, amiga, você recebeu passagens de primeira-classe porque o


Oscar estava desesperado. — Riu. — Vem!

— Onde?

— Sex Shop. — Apontou para o outro lado da rua, onde um led


escrito Sex Shop piscava na vitrine de uma loja de lingerie. — Vamos riscar
mais um item da sua lista.

— Não!

— Anda logo, está na sua lista.

— É, mas não é pra levar aquela lista a sério.

— Se não é para levar a sério por que você riscou transar com um
estranho?

— Você andou mexendo nas minhas coisas?

— Eu queria um doce e fui mexer na sua mesa de cabeceira.

— Bruna! — Ela encolheu os ombros e me deu um daqueles olhares


de filhotinho pedindo desculpas. — Vamos logo — falei, gostando da ideia
de riscar mais um item da minha lista.

No final, ela me fez comprar gel, óleos e um vibrador roxo com seis
velocidades diferentes que eu nunca usaria, afinal, na minha lista estava
comprar um vibrador, não usar.
 

Fomos para o hotel, mas mal pisamos na calçada e fomos


surpreendidas por Dante.

— Senhorita Albuquerque, peço que venha comigo.

— Meu Deus, homem! Não sabe falar oi, ou pelo menos não chegar
de surpresa? — Bruna reclamou, com a mão no coração.

— Por que quer que eu vá com você? — Perguntei, não querendo ir


com o homem que me aguardava como um stalker.

— Vim buscá-la para levá-la à propriedade da família Sartori.


— Acho que seu chefe não te informou, mas estou proibida de me
aproximar...

— Ele que me mandou. — Franzi a testa. — O senhor Lorenzo teve


uma crise e não para de chamar pela senhorita.

Meu coração se apertou ao imaginar aquele senhorzinho fofo


chamando por mim. Fiquei feliz em poder ver Lorenzo, mas, antes que eu
pudesse concordar em ir, Dante voltou a falar.

— O senhor Sartori disse que, se a senhorita se recusar, o contrato


com a Trentini será rompido.

Meu queixo caiu. Matteo era inacreditável.

— Por favor, me acompanhe.

Tocou o meu braço e me guiou até o carro. Olhei para Bruna por cima
do ombro, e ela sorriu.

— Salve meu emprego, adoro receber em euro pra comprar


vibradores com você!

Meus olhos se arregalaram tanto que achei que fossem pular no chão.

— Não surta, eles não falam português. — Riu, relaxei e entrei no


carro.

— Boa noite, senhorita — Dante falou em português para Bruna e foi


a vez de ela quase morrer de vergonha.

Não aguentei, o riso irrompeu de mim. Era a primeira vez que ela
ficava envergonhada e não eu.
Cheguei em casa e vi todos os funcionários andando de um lado para
o outro.

— O que está acontecendo? — Perguntei para uma camareira.

— Sr. Sartori. — Cumprimentou com leve gesto de cabeça. —


Estamos limpando toda a ala leste, pois o senhor Lorenzo terá uma convidada
para o jantar.

Suspirei e mandei a mulher parar com aquilo.

— Mande todos pararem com isso, a casa está limpa o suficiente.

— Sim, senhor.

Fui para o meu quarto e, antes que eu pudesse entrar no banho, meu
avô apareceu.

— Por que mandou os funcionários pararem a limpeza?

— Vô, é desnecessário. A casa é limpa regularmente, não tem


porque...

— Eu vou receber a Alice e não quero que ela pense que moramos em
um castelo assombrado. Quero tudo limpo e você não deveria ter se
intrometido.

— Sobre ela, lamento, mas ela não vem.

— O quê? Por quê? — Ele se virou, pensei que fosse sair do quarto e
me deixar tomar banho, mas girou nos calcanhares e apontou o dedo em riste
para mim. — Você! Você fez alguma coisa.

— Eu não fiz nada. — Nada que eu achasse errado.

Ele bufou e saiu do quarto resmungando.

Estava quase terminando o banho quando ouvi um estrondo e em


seguida alguém bateu à porta do meu quarto.
— Sr. Sartori, desculpe incomodá-lo, mas o seu avô está
incontrolável.

Vesti uma roupa o mais rápido possível e, quando desci, vi uma


armadura do século XVI jogada no chão entre outras obras de arte que
tínhamos.

— O que está acontecendo? — Perguntei à governanta, mas ela não


teve tempo de responder.

— Não precisamos de nada disso! — Meu avô gritou da sala de


troféus. — Não temos para quem deixar, nem recebemos visitas.

Andei, ouvindo barulho de outra coisa se quebrando.

— Senhor Lorenzo, por favor, se acalme — a cuidadora dele pediu.

Entrei na sala e vi metade dos troféus, armas e armaduras no chão,


alguns deles com centenas de anos.

A cuidadora estava encolhida e parecia extremamente assustada.

— Pode sair — falei para ela, que saiu correndo.

— Ah, você — resmungou irritado —, saia daqui, não quero ver sua
cara.

— Para com isso, vô.

Ele jogou algo em minha direção, mas desviei a tempo. Bravo por não
ter acertado, ele saiu pisando duro. Pelo visto, teríamos um dia daqueles.

Peguei uma espada de 200 anos e coloquei na prateleira.

Fui atrás do meu avô e o encontrei tentando convencer Dante a levá-


lo ao hotel.

—  O senhor não vai atrás dela — falei, sabendo exatamente o que ele
queria.
— Eu quero a Alice! Ela falou que ia jantar comigo!

Ele ficou repetindo isso sem parar. Encarei-o, só querendo que meu
avô voltasse ao normal. Voltasse a ser o homem inteligente e racional que me
criou, mas nem todo o meu dinheiro era capaz de trazê-lo de volta.

— Traga a Alice — avisei para Dante e pedi um whisky duplo para a


copeira.
 
Capítulo 10

Passei todo o caminho até a casa deles controlando a minha raiva por
estar sendo obrigada a ir. Eu iria sem nenhum problema pelo Lorenzo, mas o
neto dele era um tremendo babaca.

Perdida em pensamentos, não percebi quando chegamos.

— Senhorita. — Dante abriu a porta para mim e, quando desci, meu


queixo caiu.

— Minha Nossa Senhora, ele mora em um castelo?

Olhei admirada para a construção, que mexia com o meu lado


sonhador e romântico, que sempre sonhou em conhecer o meu príncipe
encantado e morar em um lindo castelo como aquele.

— Na verdade, é um palácio. Castelos são para fins militares e de


proteção, normalmente em áreas rurais, já os palácios são moradias...

Encarei o destruidor de sonhos infantis.

— Guarde os seus conhecimentos para você e me deixa sonhar com o


castelo. Ok?
Ele deu um leve sorriso, mas concordou.

— Ele é o quê? Rei? — Perguntei, enquanto ele me guiava para o


interior do “castelo”.

— Não.

Claro que não é, não existem mais reis na Itália. — Pensei.

— O Senhor Sartori é príncipe.

— Espera! Mas não existe monarquia na Itália.

— Não, mas se ainda existisse, ele já teria assumido o trono, já que


seu pai… se aposentou.

Ele hesitou brevemente, mas eu percebi.

— Isso é tão legal, estou em um castelo de um príncipe de verdade —


falei, animada, era tipo visitar os príncipes Harry e William na casa deles.

— Palácio — Dante corrigiu.

— Você é pago para ser chato?

Ao entrar no grandioso hall de entrada, meus olhos foram


imediatamente atraídos para o afresco no teto em lindos tons suaves de azul,
verde e rosa. O piso era de mármore branco e preto, cuidadosamente disposto
em um padrão geométrico intrincado.

A escadaria de mármore, que levava ao andar superior, era adornada


com corrimões de ferro trabalhados, que eram ao mesmo tempo elegantes e
robustos. No topo da escadaria, um salão majestoso se estendia com paredes
revestidas de painéis de madeira e uma série de janelas altas que permitiam a
luz do sol iluminar o local. Durante o dia, a luz solar provavelmente refletia
nos cristais do lustre, deixando o lugar quase mágico.

Aquele lugar com certeza era o que a Alice de 5 anos sonhava em


morar.
Meu olhar parou em uma armadura caída no pé da escada.

— Aquilo não deveria estar em pé?

— O senhor Lorenzo costuma ficar descontrolado em suas crises. Me


dê sua bolsa e sacola, vou pedir para um funcionário guardar para você.

— Ah, obrigada... — Minha fala morreu ao lembrar do vibrador. —


Obrigada, mas não precisa.

Segurei firme a alça da sacola.

— Como desejar. Por favor, me acompanhe.

Segui-o até uma linda biblioteca, ou era, antes de tentarem destruí-la.


Boa parte dos livros estavam jogados no chão, mas não diminuía a beleza das
prateleiras brancas com detalhes dourados que iam até o teto. Assim como o
restante do castelo, ou palácio, como o destruidor de sonhos gostava de
chamar, era quase mágico.

Ali poderia ser a biblioteca de A Bela e a Fera. O pensamento me fez


sorrir.

— Eu não quero mais saber desses livros, quem gostava deles era
Catarina! Eu não quero mais nada — Lorenzo gritou, enquanto arrancava
mais livros das prateleiras.

Parei de sonhar com conto de fadas e voltei à realidade.

Matteo observava o avô. Pela primeira vez, vi emoção em seu rosto.


Ele estava triste, e eu o entendia, devia ser difícil ver quem amamos naquela
situação.

Tentei entrar na biblioteca, mas Dante segurou meu braço.

— É melhor não se aproximar, senhorita.

— Eu não me importo de ser atingida por um livro. — Puxei o braço


e entrei, tentando não pisar nos livros.
Coloquei minha bolsa e a sacola em uma espécie de bancada que
havia nas prateleiras, provavelmente para estudo, e me aproximei de
Lorenzo, mas uma linda edição de O Pequeno Príncipe chamou a minha
atenção. Peguei-o, mas a capa se separou do miolo. Abaixei-me para pegar,
porém notei alguém me observando, provavelmente Matteo, pois Lorenzo
continuava falando sozinho e arrancando mais livros das prateleiras. Olhei na
direção do Matteo e nossos olhares se cruzaram, minha garganta pareceu
secar. Mesmo brava, ele ainda mexia comigo.

Desviei o olhar e me aproximei de Lorenzo.

— Minha mãe costumava ler esse livro pra mim — falei, ele se virou
abruptamente e me encarou com raiva.

— O que está fazendo na minha casa?

Minha garganta travou, senhorzinhos fofos não deveriam ser doentes.


Ele estava ainda mais fofo, vestindo um terno de três peças que tinha um
ajuste perfeito.

— Sou a Alice, lembra? O senhor me convidou para um jantar.

Ele me encarou, parecendo confuso, e quis abraçá-lo, devia ser


assustador estar no lugar dele.

— Não quero jantar, quero que saia da minha casa.

— Está bem, mas pode me fazer um favor?

— Desde que saia imediatamente da minha casa.

— Minha mãe lia esse livro pra mim quando eu era criança e ela está
longe, ela e meu pai, estou morrendo de saudade deles, então o senhor
poderia ler um pouco para mim?

Minhas palavras eram verdadeiras, estava com saudade deles e


provavelmente seria a pessoa mais feliz do mundo se minha mãe lesse para
mim enquanto afagava meu cabelo.
Estendi o livro, ele o encarou por um tempo antes de pegá-lo e
acariciou a capa como se fosse algo precioso, mas havia um traço de dor em
seu rosto.

Pensei que se negaria a ler, mas disse:

— Pode pegar aquela cadeira?

Apontou para uma cadeira de madeira que devia pesar uns 200 quilos.
Olhei para Dante com um sorriso fraco, e ele a pegou para mim. Lorenzo se
sentou e eu abri espaço entre os livros no chão e me sentei a sua frente. Ele
me deu um olhar estranho e começou a ler. Sorri.
 

Sem acreditar, vi meu avô se acalmar quase que instantaneamente e


ler o livro para Alice, que se sentou sobre o tapete com as pernas cruzadas,
em posição de buda, como se fosse uma criança.

Eu era racional, não me deixava levar pelas emoções, mas ali estava
eu, paralisado em um canto da biblioteca, observando meu avô ler para Alice
com o sorriso mais sincero que vi em seu rosto desde que minha avó morreu.
Naquele momento, vi que não poderia ter tomado uma decisão melhor do que
ter trazido Alice e isso me incomodava de alguma forma, a presença dela me
incomodava, só não entendia o porquê. Gastaria todo o meu dinheiro para
fazer meu avô feliz desde que não envolvesse a mulher de longos cabelos,
sentada no meio do caos que havia se tornado nossa biblioteca.

Virei as costas para sair dali, mas parei ao ouvir a voz frágil do meu
avô.

— Você se torna eternamente responsável por aquilo que cativa.

Após ler o trecho do livro que minha avó sempre citava, ele começou
a chorar e, ao me virar, vi Alice de joelho em frente a ele, secando suas
lágrimas.

— Está tudo bem com o senhor?

Ele balançou a cabeça e sorriu.

— Minha Catarina sempre falava isso para mim. Você se torna


eternamente responsável por aquilo que cativa — os dois falaram juntos, e o
sorriso do meu avô aumentou. — Na verdade, ela falava pra todo mundo.

Soltou uma risada que foi acompanhada por Alice.

Quase pude ouvir minha avó falar a frase, já a tinha ouvido dizer
tantas vezes e em tantas línguas diferentes que era uma das memórias mais
vívidas que tinha dela.

— Com licença, o jantar está servido — a copeira disse em italiano ao


entrar na biblioteca.

Antes que eu pudesse traduzir para Alice, ela se levantou.

— Ai, que maravilha, estou azul de fome! — Falou em italiano.


Franzi a testa, ela era uma caixinha de surpresas — E o senhor não está com
fome? — Perguntou para o meu avô.

— Sim, faminto. — Levantou-se. — Espero que você goste de


Carbonara, nossa cozinheira faz a melhor Spaghetti alla Carbonara de toda a
Roma.

— Ah, agora o senhor se lembra.

— Claro que lembro, acha que sou maluco ou senil? Estou muito bem
do juízo!

Alice riu, meu avô a encarou com a testa franzida.

— Claro que não. — Entrelaçou o braço no dele. — O senhor está


longe, muito longe de ser maluco.
Ao passarem por mim, Alice me encarou, mas não havia raiva, como
imaginei após ameaçar seu emprego, apenas um olhar doce, o que me deixou
confuso.

— Fique de olho — falei para Dante.

Ele franziu a testa.

— Na senhorita Alburquerque?

— E quem mais seria?

Virei as costas e fui para o meu escritório.


 

Não sei quanto tempo fiquei trabalhando, ou pelo menos tentando.


Sem conseguir me concentrar, levantei-me e fui até a janela. Lá fora caía um
mundo d’água. Um relâmpago cortou o céu, fechei a cortina e saí do
escritório.

Tudo estava silencioso, exceto pelo barulho que vinha da biblioteca.


Estava tarde, então fui até lá para mandar os funcionários irem dormir e
terminar no dia seguinte, no entanto, assim que cheguei à porta, não foram
meus funcionários que avistei, e sim Alice, em cima de uma escada, se
espichando para alcançar a prateleira mais alta enquanto cantarolava uma
música pop irritante. Eu não sabia como o movimento suave do seu quadril
no ritmo da música me deixou hipnotizado, não conseguia tirar os olhos dela.

Ela estava tão absorta em cantar a música e se equilibrar que não


notou minha presença, e, ao se virar, se assustou ao me ver e se
desequilibrou.

Corri, consegui segurá-la, mas não pude impedir a queda. Caímos


sobre o tapete, o impacto ficou todo sobre mim, que fiquei por baixo,
praguejei. Inverti nossas posições, sentindo meu ombro doer.

— Minha Nossa Senhora, você está bem? Se machucou?


— O que você está fazendo na minha casa? — A pergunta saiu mais
ríspida do que planejei.

A preocupação em seu rosto sumiu.

— Estou aqui porque você mandou o seu cão de guarda me ameaçar...

— Já era para você ter ido embora.

Ela soltou um som parecido com um rosnado e empurrou meu peito,


mas não me movi.

— Sai de cima de mim.

— Você deveria me agradecer.

— Pelo quê? Por me ameaçar para não chegar perto do seu avô e
depois me ameaçar para vir ver ele?

Encarei-a, ela estava linda com os cabelos castanhos, quase negros,


emoldurando seu rosto vermelho e repleto de raiva.

— Por te salvar de uma queda feia.

— Você me assustou. Agora sai logo de cima de mim. — Empurrou


meu peito.

Segurei seus pulsos e os prendi acima da sua cabeça.

— O que está fazendo? — Encarou-me e engoliu em seco. O brilho


dos seus olhos mudou, me agradando mais do que deveria.

— Você fica linda assim.

— Presa? — Ironizou, mas a irritação de sua voz havia sumido e sido


substituída por um leve tremor que fez meu pau pulsar.

— Também deve ficar uma delícia algemada na minha cama sem


roupa — ela se remexeu embaixo de mim —, mas estava falando de como
fica bonita toda bravinha.
Afastei uma mecha de cabelo de seu ombro e deslizei meus dedos por
sua pele quente e macia até o seu decote. Seu peito subia e descia em um
ritmo acelerado.

— Você não precisava me ameaçar — disse, baixinho, e a fitei. — Eu


viria por Lorenzo, não precisava ameaçar meu emprego.

Encarei os lábios carnudos, ela estava tão perto e o seu perfume


testava os meus sentidos.
 
Capítulo 11

Em um momento eu estava colocando os livros na estante, já que não


conseguia dormir porque o meu cérebro não parava de pensar no Matteo a
alguns metros de distância, talvez nu ou molhado, nem podia ir embora
devido à chuva, em outro eu estava no chão e sendo encarada pelo homem
que imaginei nu e molhado, e sua boca ficava mais perto da minha a cada
segundo.

Senti o calor do seu hálito e esperei o beijo, mas fomos


interrompidos.

— Por que estão no chão? — Lorenzo perguntou. — Dios[8], vocês


caíram?!

Travei, Matteo saiu de cima de mim e me ajudou a levantar.

— Você está bem? Quer que eu chame um médico? — Lorenzo


indagou para mim, mas o meu cérebro não voltava a funcionar, eu só pensava
no Matteo sobre mim e no quanto eu queria aquele beijo, o que era uma
idiotice.
— Ela está bem, nonno — Matteo respondeu por mim. Dei um
sorriso fraco para Lorenzo e a preocupação em seu rosto sumiu.

— O que aconteceu?

— Eu... — Limpei a garganta e obriguei o meu cérebro a funcionar.


— Desequilibrei, e Matteo me impediu de levar um tombo feio. Aliás,
obrigada. — Olhei para Matteo, o que foi um erro, pois uma mecha do seu
cabelo caía sobre sua testa, deixando-o ainda mais bonito.

— Não suba em mais nada, tenho funcionários para isso.

Reviraria os olhos para a sua fala rude se não fosse o seu perfume
impregnado em mim e os meus mamilos intumescidos.

— É melhor eu ir dormir. Boa noite.

— Boa noite, senhorita Albuquerque — Matteo disse, em italiano.

Devia ser proibido esse homem falar italiano.

Lorenzo e a empregada, que eu acreditava ser sua cuidadora, me


acompanharam até o meu quarto.

Deitei-me na cama e fiquei horas rolando de um lado para o outro,


imaginando se o quarto de Matteo era longe.
 

Tinha acabado de pegar no sono quando senti a cama afundar, meu


coração disparou. Assustada, levei a mão ao abajur, mas alguém segurou o
meu pulso. Antes que eu pudesse gritar, minha boca foi coberta. Meu coração
quase saiu do peito, fiquei apavorada.

— Você fala quando dorme, Principessa — sussurrou, liberou minha


boca e senti seu peso sobre o meu corpo.
Imediatamente, o meu medo se transformou em fogo líquido
percorrendo minhas veias.

— Você gemia tão gostoso enquanto dormia que tenho certeza de que
se colocar minha mão entre suas pernas vou encontrar a sua boceta pingando
de tão molhadinha.

Meu coração galopava, mas não era mais medo que eu sentia.

— Matteo — falei seu nome baixinho.

— Não era assim que você chamava meu nome.

Seu hálito quente causou arrepios.

Prendi a respiração ao sentir o lençol ser afastado do meu corpo.

— Se eu soubesse que não estava usando nada por baixo desse lençol
teria vindo antes.

Suas mãos deslizaram lentamente por minha cintura e, quando


finalmente tocou minha boceta, seus dedos deslizaram com facilidade entre
meus lábios úmidos e necessitados.

— Matteo... — gemi quando seus dedos me penetraram.

— Isso! Era assim que você falava meu nome, Principessa — disse
baixinho em italiano no meu ouvido, parecendo propositalmente mais rouco,
aumentando meu prazer.

Meu seio foi abocanhado, sua língua circulou o meu mamilo,


deixando-o intumescido. Quando seus dentes mordiscaram o meu mamilo,
fechei os olhos com força, querendo que ele fizesse aquilo novamente e,
parecendo ler o meu pensamento, ele repetiu. Seus dedos pareciam em
sincronia perfeita, podia sentir minha própria excitação escorrer.

— Matteo, por favor, não para — implorei.


— Não vou parar até que você esteja cansada de tanto gozar. — Um
dos seus dedos começou a massagear meu cuzinho e estranhamente adorei.
— E amanhã você ainda vai me sentir dentro de você.

Seu dedo me penetrou delicadamente. Quis poder enxergá-lo para


olhar em seus olhos naquele momento, ver se aquele prazer inesperado
também o excitava tanto quanto a mim.

Beijos foram espalhados por meu pescoço e logo senti um chupão.


Segurei seus ombros.

— Matteo...

Ele segurou o meu queixo e me deu um beijo rápido.

— Quero que todos vejam que você é minha! Está entendendo?

Ele me penetrou com brutalidade. Gritei sentindo os espasmos do


orgasmo, mas ouvi um trovão estrondoso e tudo parou.

Olhei para a janela, ainda chovia e quase chorei ao perceber que tudo
não passava de um sonho. Frustrada, gritei contra o travesseiro, pareceu tão
real que eu ainda podia sentir seu toque e ainda estava com tesão, muito
tesão. Como se um diabinho sussurrasse no meu ouvido, lembrei-me do
vibrador e não pensei muito, levantei e o peguei.

Ao ligá-lo, me assustei com o barulho, parecia que eu estava fazendo


algo errado e talvez estivesse. Deslizei a minha mão por meu abdômen e
imagens das mãos do Matteo se formaram na minha mente. Quando me
toquei e senti minha boceta úmida e sensível, foi impossível não fechar os
olhos e imaginar que era Matteo. Comecei a me masturbar, mas não era
suficiente. Então, sem me importar com o barulho do vibrador, o liguei. Não
pude evitar o gemido ao sentir aquela deliciosa vibração, que só fazia as
imagens que se formavam em minha mente se tornarem mais reais. Minha
excitação chegava a molhar as minhas coxas, eu me sentia mais e mais
sensível a cada vibração, o quarto ao meu redor parou de existir e tudo o que
importava era aquela sensação deliciosa que tomava meu corpo.

Gozei como nunca havia gozado sozinha.


Fiquei alguns segundos esperando minha respiração voltar ao normal.
Um arrepio percorreu minha nuca e me senti sendo observada. Abri os olhos
e um grito apavorado irrompeu de mim ao ver duas esferas brilhantes me
encarando a centímetros do meu rosto.

Saí da cama o mais rápido que pude e, em meio à penumbra, tropecei


em algo e caí.

— Alice? O que está acontecendo? — Matteo perguntou, me


assustando. — Alice? Abre essa porta...

Aos tropeços, abri a porta e me deparei com uma parede de músculos.


Matteo estava parado na porta do meu quarto apenas com uma calça de
moletom, exibindo seu abdômen que parecia esculpido em pedra. Eu não
conseguia tirar os olhos dele, muito menos depois de ter sonhado e me
masturbado pensando nele. Meu Deus, tive um sonho erótico com o chefe do
meu chefe e ainda me masturbei pensando nele. Meu rosto esquentou.

— O que aconteceu?

— Nada.

— Então por que você gritou e está sem suas calças? — Seu olhar
estava fixo em minhas pernas.

Uma parte de mim adorou, mas outra morreu de vergonha, então


puxei a camisa que a empregada me deu.

— Você está sem camisa — falei, encarando seu peito.

— Eu estava indo dormir quando ouvi seu grito.

— Nossa! — Exclamei, sem ter ouvido uma única palavra do que ele
disse.

— Quer me dizer o que aconteceu?

— Tinha um bicho, sei lá, uma coisa me encarando.


Sem pedir permissão, ele entrou no quarto e ligou a luz.

— Foi aquilo que te assustou? — Apontou para uma bola de pelo


preta entre os lençóis que estavam no chão.

— Pulguinha? — Perguntei, sem acreditar. Ele miou e veio até mim.

Abaixei-me para pegá-lo, e Matteo pigarreou.

— Vejo que tem companhia.

— Eu não teria me assustado se soubesse que o seu avô tinha trazido


ele do Brasil... — Calei ao ver seu olhar fixo em algo atrás de mim.

Acompanhei seu olhar e senti minha alma sair do corpo, voltar e


gritar que prefere morrer a continuar passando vergonha.

Matteo encarava meu vibrador nada discreto no meio da cama.


Naquele momento eu só queria arrumar um buraco para me enfiar nele para
sempre.
 

Meu avô tinha pedido para colocarem Alice ao lado do meu quarto,
então, quando ela gritou, fui imediatamente ver o que estava acontecendo,
mas não pude imaginar que ela atenderia a porta usando apenas uma camisa
minha. Meus olhos percorreram seu corpo e as longas pernas que deveriam
estar em volta da minha cintura. Meu pau reagiu imediatamente e só piorou
ao ver aquele vibrador. Imagens dela dentro da minha camisa, se contorcendo
sobre a cama enquanto gozava, me deixaram duro como pedra.

Encarei seu rosto corado, ela estava morrendo de vergonha. Minha


vontade era arrastá-la até aquela cama e mostrar que eu era muito melhor do
que aquele vibrador, mas ela trabalhava para mim e isso não podia acontecer.
— Se quiser carona saio às 8h.

Saí daquele quarto antes que eu cometesse alguma besteira.


 

Virei em um dos corredores da Sartori e alguém esbarrou em mim.


Antes que eu pudesse ver quem era, eu soube que era Alice, seu perfume
doce e floral era inconfundível.

Segurei sua cintura, e ela engoliu em seco ao ver que era eu.

Por mais que eu tentasse, foi impossível não lembrar da noite anterior
e acho que ela também se lembrou, pois seu rosto corou violentamente.

Como esperado, ela não pegou carona comigo.

— Sobre ontem... O vibrador…

Devia ser proibido ela ficar toda coradinha daquele jeito e falar em
vibrador. Minha calça começou a ficar apertada inesperadamente.

— O que você faz entre quatro paredes não é problema meu,


senhorita Albuquerque. — A verdade é que eu adoraria que o que ela fizesse
entre quatro paredes fosse um problema completamente meu.

Soltei-a e voltei a andar.

Estava começando a ficar difícil não quebrar a regra que sempre levei
muito a sério: Nunca me envolver com funcionários.
 

Os dias passaram sem que eu percebesse. Estava atolado de trabalho,


mas sabia que Alice recebeu 3 visitas do meu avô e do maldito gato, que
arranhou minha perna na manhã anterior, comia mais doce do que uma
criança e estava recebendo atenção demais de um colega de trabalho.
— O senhor tem uma reunião... — Antonella disse, mas eu só
conseguia ouvir o tilintar irritante que vinha dela.

— Mas que barulho é esse?

— Barulho? — Perguntou, parecendo confusa, mas logo


entendimento tomou seu rosto e ela segurou o próprio pulso onde havia uma
pulseira cheia de penduricalhos.

Antonella tirou a pulseira e a guardou no bolso. Voltei a andar, mas...

— Como eu estava dizendo...

— Antonella, eu sei que tenho uma reunião, só para de me seguir com


esse barulho irritante.

Ela estancou no lugar e continuei andando sem o barulho. Eu não era


implicante, mas Antonella estava parecendo uma escola de samba com todo
aquele barulho incessante.

Ao passar por uma das salas que a Trentini estava ocupando, algo
chamou minha atenção. Alice tentava pegar uma caixa e havia um homem
sorrindo feito idiota enquanto a ajudava.

— Eu pego isso para você, Alice. É muito pesado.

— Estou acostumada, Ricardo.

Ele tirou a caixa das mãos dela.

— Enquanto eu estiver aqui, você não precisa pegar essas caixas


pesadas. — Piscou. Sim, o idiota piscou, como se ele tivesse alguma chance
com ela.

Quase ri dele, mas Alice retribuiu o charme barato dele com um


sorriso.

— Senhorita Albuquerque, na minha sala — falei, chamando a


atenção de todos.
O olhar de Alice cruzou com o meu.

— Oi, senhor Sartori... — o homem que estava ajudando Alice me


cumprimentou, mas o ignorei.

— Quero você na minha sala em 5 minutos — avisei, ainda


encarando Alice e saí dali.

Após alguns passos ouvi o barulho de Antonella me seguindo.

— Senhor Sartori, desculpa, mas o senhor tem uma reunião...

— Mande esperarem.

Entrei na minha sala e, antes que eu pudesse me sentar, alguém bateu


à porta. Mandei entrar.

— O que deseja, senhor Sartori?

Eu não sabia se a pergunta formal era uma provocação, mas meu pau
interpretou como uma.

— Saber porque você está batendo papo quando deveria estar


trabalhando.

— O quê? Eu não...

— Eu sei o que vi, senhorita Albuquerque. Você e o resto da Trentini


estão aqui para entregarem o trabalho o mais rápido possível e, se ficarem de
papinho, não conseguirão fazer isso.

— Eu não estava de papinho, o Ricardo estava me ajudando com as


caixas.

— E você não consegue pegar uma caixa?

Seu queixo caiu.

— Eu consigo, mas passar metade do meu tempo empilhando e


desempilhando coisas em uma sala cheia de gente definitivamente não é a
parte preferida do meu trabalho.

— Se esse é o problema, vamos resolver. Antonella?

Alice franziu a testa.

— Já guardei na minha mesa a pulse...

— Arrume a sala ao lado para a senhorita Albuquerque.

— Como? — Antonella perguntou.

— Aquele barulho irritante afetou sua audição, Antonella?

— Não! Não, senhor. Vou providenciar agora mesmo. — Girou nos


calcanhares, mas parou. — A sala ao lado? Tipo, essa aqui? — Apontou para
a sala ao lado da minha.

— Existe outra sala vazia que eu não saiba?

— Ok, entendi. Com licença.

— Pronto, pode arrumar as suas coisas — falei para Alice assim que
Antonella deixou a sala.

— Eu não..

— Pode se retirar, senhorita Alburquerque.

Ela respirou fundo.

— Arrogante — resmungou, mas consegui ouvir.

— O que disse?

Ela me encarou com os olhos arregalados, mas sorriu.

— Disse que você é muito...

— Muito?
— Nada.

Virou-se, mas, assim que chegou à porta, falei.

— Se for me chamar de arrogante, tenha coragem de dizer isso na


minha cara.

Seus ombros tensionaram, mas a filha da mãe se virou e me encarou.

— Você é muito arrogante, senhor Sartori.

Eu não sabia se o senhor Sartori tinha sido dito de forma proposital,


mas eu tive certeza de que tinha tomado uma decisão ruim ao colocá-la ao
lado da minha sala quando gostei mais do que deveria.

Eu definitivamente estava fodido, porque a única coisa que eu queria


era fazê-la repetir aquilo com meu pau enterrado nela.
 
Capítulo 12

Se a ideia de trabalhar na sala ao lado da do Matteo era ruim, a


realidade era pior. Era como estar na frente de um restaurante maravilhoso
com muita fome e não ter um centavo. Eu me sentia um daqueles cachorros
de rua encarando a máquina de frango e odiava isso.

— E aí, já deu uns pegas no Todo Poderoso? — Bruna perguntou, se


jogando na minha cama.

— Não! Claro que não!

Bruna parou e me encarou estranho.

— O que foi?

— Por que sua voz ficou fina e toda estranha?

— Minha voz não ficou fina — falei, reparando que ela estava sim.

— Sua vaca! Me conta tudo, eu sou sua amiga. Onde vocês se


pegaram? Na sala dele ou na sua?
— A gente não se pegou, Bruna. Ele é meu chefe, na verdade, chefe
do meu… do nosso chefe.

— É, e te comeu igual uma puta e agora você e o avô dele parecem


melhores amigos. Você está me escondendo alguma coisa. Fala, não vou te
julgar se você estiver se masturbando pensando nele.

Não sei como, mas Bruna conseguiu fazer eu me engasgar com minha
própria saliva.

— Não estou... — Não iria adiantar, Bruna iria insistir até que eu
contasse algo, então falei de uma vez. — Eu tive um sonho.

— Alice, sua safada! Me conta tudo.

— Não.

— Alice, por favor. Eu conto para você como o Eros come um cu...

— Eu não quero saber disso!

— Ótimo, conta o seu sonho, ou conto com riqueza de detalhes como


dei...

— Ok, eu conto.

Contei para ela sobre o sonho, mas com zero riqueza de detalhes, e
Bruna pareceu assustadoramente animada.

— Uau! Ainda bem que não precisei inventar como dei meu precioso
amiguinho lá atrás.

— O quê?!

— Estou me guardando pro meu marido — respondeu como se fosse


a coisa mais normal do mundo.

Eu não consegui, simplesmente caí na risada. Bruna era surreal.

— Para de rir, sua idiota! — Bruna protestou, tentando segurar o riso.


Joguei um travesseiro nela, gargalhamos.

A amizade de Bruna era diferente, ela era sempre leve. Eu não me


sentia inferior, ela não me fazia sentir inferior como Larissa sempre fez. Era
estranho pensar em minha amizade com Larissa agora que eu tinha Bruna, na
época parecia uma amizade normal, mas agora... É incrível, só percebemos o
quão tóxicas as pessoas são quando nos distanciamos e conhecemos pessoas
que realmente gostam da gente como somos.

— Levar um chifre te fez bem. — Encarei Bruna, vendo que eu era


uma idiota. Eu realmente tinha que parar de ser idiota e não confiar nas
pessoas. — Você jamais saberia como é ser bem comida se tivesse casado
com aquele mauricinho, nem como é ter a melhor amiga do mundo. Aposto
que aquela cobra albina não compraria um vibrador pra você usar pensando
no chefinho.

Uma risada irrompeu de mim. Ela era louca, e eu tinha que parar de
desconfiar de sua amizade, ou quem ficaria louca seria eu.

Joguei outro travesseiro nela.

— A gente realmente deveria pagar alguém pra pichar o carro do seu


ex e da cobra albina.

— Nem pensar, e para de chamar ela de cobra albina. — Nem eu me


contive, Larissa realmente era uma cobra e chamá-la de cobra albina
combinava, já que ela era tão loira que parecia albina.
 

Estava adorando ter uma sala só para mim, meu trabalho estava
rendendo muito. Porém, toda vez que eu precisava perguntar algo para o
engenheiro, Ricardo, ou para a designer de interiores, tinha que atravessar o
escritório.

A parte ruim de ter minha sala separada do pessoal é que não tinha
ninguém para me ajudar.
— Que droga! Quem projetou prateleiras tão altas? Não conhecia a
palavra acessibilidade, não? — Reclamei, tentando alcançar uma caixa na
última prateleira e, por mais que meus saltos fossem altos, eu não conseguia
alcançar.         

— Elas foram feitas para alguém mais alto que você — Assustei ao
ouvir Matteo tão perto do meu ouvido que pude sentir o calor do seu hálito,
eriçando os pelos da minha nuca.

Engoli em seco. Ele não faz barulho andando, não?

— Pode pegar a... — Minha fala foi interrompida ao sentir o corpo


dele contra o meu, pressionando as minhas costas.

Ele pegou a caixa e a colocou na mesa, mas não se afastou. Girei,


ficando de frente para ele.

—  Obrigada — agradeci, encarando os lábios que me acordaram hoje


no meio da noite para eu descobrir que era apenas mais um sonho.

— Precisa de uma mãozinha para mais alguma coisa?

A forma com que ele perguntou isso com aquela voz rouca carregada
de sotaque me fez querer gritar que sim, mas que eu queria uma mãozinha
com outra coisa e isso deve ter ficado explícito no meu rosto.

— Para pegar algo, senhorita Albuquerque.

— Não. Quer dizer, posso me virar com isso. — Meu rosto


esquentou, minha resposta foi péssima. — Não preciso de nada, senhor
Sartori.

Matteo se afastou de mim e saiu da sala como se nada tivesse


acontecido. E realmente não aconteceu, contudo, eu fiquei ali parada no
mesmo lugar.
 
Enfim, havia chegado o fim de semana. Eu poderia dormir até tarde,
visitar os pontos turísticos de Roma e ter o meu tão desejado detox do
Matteo. Vê-lo todos os dias estava acabando comigo e, depois de sentir
aquela vontade louca de ser fodida por ele na minha sala, eu precisava
desesperadamente ficar longe, talvez sair com alguém, mas a ideia não
parecia muito animadora.

Após um longo banho de banheira que deixou meus dedos enrugados,


me joguei na cama na esperança de dormir e só acordar no dia seguinte, mas
alguém começou a bater a minha porta como se sua vida dependesse daquilo.

— Alice, eu sei que você está aí! — Bruna gritou.

Respirei fundo, juntei a coragem que não tinha e fui abrir a porta.

— Por que está tentando derrubar minha port...

— Arrume suas malas, nós vamos para Mônaco! — Falou em uma


animação que era estranha até para ela.

— Não vamos não. Sabe como aquele lugar é caro?

— Eu sei, é por isso que vamos. Temos que aproveitar as


oportunidades que a vida nos dá. Eros acabou de me convidar para passar o
final de semana e eu, como a melhor amiga do universo, perguntei se podia te
levar, e ele disse sim, então se arrume, o avião sai em 40 minutos.

— O quê? — Ela tinha falado tão rápido que só entendi que o Eros a
chamou. — Não vou ficar de vela para...

— Amiga, é Mônaco! Você não vai ficar de vela, com certeza tem um
bilionário louco para entrar nas saias de uma brasileira gostosa como você —
disse, me cutucando.

Eu tentei, talvez não tanto quanto deveria e algumas horas depois


estávamos em Mônaco, sendo servidas de um delicioso champanhe.

— Obrigada por me obrigar a vir — agradeci a Bruna quando uma


funcionária se ofereceu para massagear os meus pés, e ela riu.
— De nada, mas prefiro que me agradeça riscando mais um item da
sua lista.

— Eu não vou fazer uma tatuagem!

— Eu sabia! Você está levando a lista a sério. — Meu sorriso se


desfez e o de Bruna aumentou. — Mas não estou falando da tatuagem, e sim,
da parte de ficar bêbada.

— Eu já fiquei bêbada. No dia que cheguei a Roma, você me levou na


boate, lembra?

— Então por que não riscou da sua lista?

Ela tinha razão, me dei por vencida e ela pegou duas doses de tequila
e viramos.

— Não era para você estar com o Eros? — Perguntei após tossir e
tentando ignorar a queimação que a tequila causou.

— Falando em mim?

Virei a cabeça e vi Eros com uma roupa de piloto igual aquelas que
usam em Fórmula 1. Bruna se levantou e se jogou nos braços dele, os dois
deram um longo beijo e desviei os olhos.

— Vim buscar vocês para uma corridinha.

— Uau! Isso é tão excitante — Bruna praticamente gemeu.

— Podem ir, vou ficar com o champanhe e a massagem.

Levantei minha taça e joguei a cabeça para trás, aproveitando a


massagem, mas minha taça foi arrancada de mim. Abi os olhos e Bruna me
encarava com um olhar fulminante.

— Levanta!

Ela era baixinha e na maior parte das vezes era até fofa, mas me
levantei com um pouco de medo.
— A gente vai nessa corrida, você vai beber quantas taças quiser, mas
não vai ficar aqui igual a uma fracassada que está sofrendo por amor.

— Eu não estou sofrendo...

— Nem aproveitando.

Ela tinha razão, pela primeira vez na vida eu estava solteira e não
estava aproveitando. Coloquei um sorriso no rosto e os acompanhei.
 

Era um inferno trabalhar com Alice.

Nunca foi tão difícil trabalhar como na última semana, Alice não saía
da minha cabeça, muito menos da de baixo. Normalmente eu tomava ótimas
decisões, mas nuca tomei uma tão errada quanto colocá-la na sala ao lado da
minha. Ela tinha a irritante mania de trabalhar cantarolando e o meu pau
sempre interpretava seus sussurros como gemidos.

Ela é minha funcionária, ela não devia ter uma sala ao lado da minha,
nem empinar aquela bunda deliciosa enquanto tentava pegar sei lá o que na
maldita prateleira. Não me controlei, precisei me aproximar e descobrir que
não era só eu que estava achando aquela merda uma tortura. Por pouco,
muito pouco, eu não a pressionei contra a parede e a fodi até que toda a
empresa a ouvisse gemer meu nome.

No entanto, inferno maior era estar em Mônaco para o aniversário do


Eros. O problema não era Eros, nem Mônaco, o problema era a mulher que
falava sem parar independente do que eu fizesse. Não importava para onde eu
ia na maldita festa, ela me achava e voltava a falar sem dar descanso aos
meus ouvidos, já estava a um passo de esquecer a boa educação.

— Sabe, se você quiser me fazer uma visita hoje à noite.


— Ele não está disponível — Não pude acreditar ao ouvir a voz de
Alice.

Não esperava encontrá-la ali. Pego desprevenido, não pude evitar


quando ela se aproximou de mim e me deu um beijo rápido.

— Olá, querido.

Alice usava um vestido curto que mal a protegia do vento frio, nem
dos pensamentos que tive.

Ela havia bebido, pude sentir o gosto nos lábios carnudos que
andavam povoando os meus pensamentos.

— Eu não sabia que ele estava comprometido. — A mulher saiu entre


as pessoas. Esperava que não voltasse mais.

Segurei sua cintura e a afastei. Alice apenas sorriu.

— Não precisa me agradecer, querido.

— O que faz aqui?

— Uau, você é péssimo pedindo obrigado, mas, para a sua sorte, te


conheço bem o suficiente para não levar para o lado pessoal — comentou
com um sorriso brilhante. Cazzo, por que o meu pau gostava tanto daquele
sorriso? Era só um sorriso.

— Obrigada, mas isso que você fez, espero que não se repita.

— Espero que isso não se repita. — Imitou minha fala, mas não dei
atenção, era o álcool falando. — Nossa, isso já está ficando chato.

— Agora me diz o que você está fazendo aqui?

— Aceito o seu obrigado, mas o que estou fazendo aqui não é da sua
conta. Fora da Sartori, eu não recebo ordens suas!

Havia outro lugar que eu adoraria vê-la recebendo ordens minhas.


— Atrapalho? — Rafiq perguntou olhando Alice da cabeça aos pés.

— Não. — Alice sorriu. — Eu já estava de saída.

— Alice? — Chamei, mas ela não me ouviu. Saiu praticamente


desfilando entre as pessoas.

O que ela pensa que está fazendo? Com quem ela veio e por que essa
pessoa não está cuidando dela?

— Eu definitivamente atrapalhei. — Rafiq interrompeu meus


pensamentos.

— Não, você chegou em uma ótima hora.

Minha cabeça começava a doer depois de tanto tempo naquela festa, a


presença de Alice só piorou.

Percorri o lugar com o olhar e não a encontrei.

— Quem é? — Rafiq perguntou.

— Ninguém.

— Sua cara diz o contrário.

— O que faz aqui, Rafiq? Pensei que estava procurando uma esposa.

— Estou, mas é bom dar um passo sem esbarrar em alguém que liste
todos os motivos para ser uma boa esposa.

— E eu pensando que estava aqui pelo aniversário do Eros.

Rafiq riu.

— Fala sério, o que houve? Seu humor só fica bom assim quando
algo ruim acontece. Tem algo a ver com a mulher que se eu não tivesse tantos
deveres com meu país, eu me casaria?
— Tire os olhos dela! — Praticamente rosnei, o árabe filho da puta
sorriu.

— Posso saber o nome da mulher que fez Matteo Bianchi di Sartori


sentir ciúme?

— Enlouqueceu? Não estou com ciúme, ela é minha funcionária.

Eu não estava com ciúme, só queria Alice bem longe das garras de
Rafiq.

— Sua funcionária é uma belíssima mulher.

Encarei-o.

— Você não estava procurando uma esposa pra procriar?

Rafiq me encarou com um olhar estranho, como se tivesse visto algo


que só ele perceebeu.

— Matteo! Rafiq! — Eros estava acompanhado da amiga da Alice,


Barbara ou Brenda, algo assim.

Eros nos cumprimentou com um abraço. Ele parecia diferente, diria


até feliz.

— Cadê o Ali? — Perguntou, se referindo ao irmão mais novo de


Rafiq. — Ele me fez perder 100 mil dólares.

— Tenho até medo de perguntar como — Rafiq resmungou.

— Apostei no outro piloto.

— Essa pista é a segunda casa do Ali, por que apostou em outro


piloto? — indaguei, Eros sabia que Ali corria na pista de Mônaco há anos.

Ele apenas deu de ombros.

— É, parece que não é só seu irmão que é ligeiro, Rafiq.


Segui o olhar de Eros e vi um moleque, que não devia ter nem idade
para estar bebendo, conversando com Alice. Era inacreditável, ela não podia
ficar sozinha um segundo que já aparecia alguém. Eles riam de algo, mas,
assim que ele tocou a cintura dela, ela enrijeceu e seu sorriso se tornou tenso.

Quis socar Eros por levá-la para Mônaco e não cuidar dela.

Deixei eles para trás e fui até Alice sem nem pensar no que estava
fazendo.

— Vai procurar alguém da sua idade pra jogar videogame.

O playboy me encarou com raiva, mas eu não me importava, não


quando Alice estava me encarando com os olhos castanhos brilhando.

— Matteo? — Ela pareceu surpresa ao me ver.

— Você está atrapalhando — o moleque disse, segurando-a pela


cintura, e ela se retraiu.

— Não é o que parece.

Aproximei-me de Alice e circulei sua cintura. Praguejei mentalmente


ao sentir suas costas nuas no vestido e que, mesmo gelada, sua pele arrepiou
ao ser tocada por mim. Seus olhos encontraram os meus, desci meu olhar
para sua boca e acompanhei a ponta da sua língua umedecendo seus lábios.

Pigarreei, tirei meu terno e coloquei sobre seus ombros. Nela, ele
ficava gigante e cobria todo o seu vestido, fazendo parecer que ela estava nua
por baixo dele e isso era algo que eu não precisava imaginar.

— Venha.

Circulei sua cintura e a tirei dali.

— Você é grandinha o suficiente para conseguir se livrar de um


adolescente — falei enquanto dávamos a volta na casa para acessar o
estacionamento.
— Quem disse que eu queria me livrar dele?

— Se não quisesse se livrar dele não estaria aqui.

Ela bufou.

— Inacreditavelmente arrogante — resmungou. — Quer saber,


obrigada pelo terno, mas não estou com frio.

Ela me deu o terno e virou as costas para mim, mas a segurei pelo
pulso e a pressionei contra a parede.

— Vai tentar me convencer que estava gostando de ter um


adolescente dando em cima de você?

— Não, você sabe que prefiro homens mais velhos — disse, tocando
meu ombro com um sorrisinho.

Maldição! Bêbada ela fica sem nenhum filtro.

— Quanto você bebeu?

— O suficiente para querer que você me leve pra cama.

Circulou meu pescoço, mas tirei seus braços e os segurei atrás do seu
corpo.

— É por isso que gosto de homens mais velhos.

Deu um beijo molhado no meu pescoço, fazendo meu pau enrijecer.

— Sou seu chefe. Eu não me envolvo com funcionárias. — O aviso


foi mais para me lembrar do que alertá-la.

Ela sorriu.

— Se é só meu chefe, por que está com ciúmes de mim?

Ri da sua pergunta, eu definitivamente não estava com ciúmes de um


pentelho que nem tinha chances com ela.
— Eu não estou com ciúmes de você, Principessa.

— Então me solte e me deixe voltar para a festa.

— Você não vai voltar, já bebeu demais. Agora coloque esse casaco e
vamos embora.

Não havia a mínima possiblidade de eu deixá-la cheia de tesão e solta


em uma festa lotada de homens loucos para entrar em sua saia.

Coloquei o terno sobre seus ombros novamente, ela não protestou.

O manobrista trouxe meu Bugatti Centodiec, edição limitada de


aniversário de 110 anos da Bugatti. O diretor da marca me ofereceu
pessoalmente a máquina de mais de 1600 cavalos, era meu xodó.

Abri a porta para Alice. Ela tirou o terno e me entregou.

— Obrigada — agradeceu com um sorriso de quem estava armando


algo.

Fechei a porta e dei a volta no carro.

— Onde você está hospedada?

— Pensei que fosse me levar para a sua casa — falou com um sorriso
que me fez questionar porque não podia me envolver com funcionárias. Ela
nem era minha funcionária de verdade. O chefe dela era o Oscar, não eu...
Era um erro ir por esse caminho.

— Alice!

— Estou na casa do Eros, não sei onde é.

— Eu sei.

Levei a mão ao câmbio e vi uma calcinha de renda rosa pendurada


nele. Foi impossível não a imaginar nua por baixo daquele vestido.
— Alice... — Minha fala morreu ao olhar para o lado e ver Alice com
a mão entre as pernas, me encarando cheia de tesão.

— Desculpa, é que eu comecei a lembrar daquele dia na sua casa e de


como eu me masturbei pensando em você — sua voz era quase um gemido
—, daí eu fiquei tão molhada que achei melhor tirar a calcinha.

Travei o maxilar, desci meu olhar por seu corpo, parando em sua mão.

— Eu sonhei com você aquele dia...

Ela gemeu, fechando os olhos e jogando a cabeça para trás, sem parar
de se masturbar. Minhas coxas tensionaram, meu pau protestou, querendo ser
liberto da pressão que a calça fazia sobre ele. Calça essa que parecia ficar
mais apertada a cada segundo.

— O que você sonhou? — Perguntei, ignorando todos os alertas


acesos em minha mente. Eu não deveria ter ido por aquele caminho, mas eu
não estava pensando com a cabeça.

Ela abriu os olhos e começou a falar sem desviar o olhar.

— Estava escuro e você entrou no quarto, eu me assustei, mas você


tampou a minha boca, me impedindo de gritar. Disse que me ouviu gemendo
seu nome, então tocou minha boceta para ver se eu estava molhada e... Eu
estava tão molhada que seus dedos me penetraram facilmente.

Meu pau estava tão duro que chegava a doer.

Sem me controlar, segurei Alice pelo pescoço e ela sorriu.

— O quão bêbada você está, menina?

— O suficiente para dizer que você pode fazer o que quiser comigo,
chefinho.

Puxei-a, fazendo-a ficar a centímetros de mim.


— Continue me provocando assim e vou te foder tão forte que
amanhã, quando você estiver dolorida, vai se arrepender de ter me
provocado.

Ela ofegou e abriu um sorriso pervertido que ficava lindo em seu


rosto delicado.

— Duvido que eu vá me arrepender, mas ok, chefinho, vou me


comportar.

Ela não devia ter dito essas palavras, muito menos daquela forma
lenta e sedutora. Antes que ela pudesse dar uma segunda respiração, libertei
meu pau e a fiz sentar no meu colo, a penetrei em um único movimento, seu
gemido ecoou pelo carro. Porra, como era bom senti-la sem nenhuma
barreira, tão quente e molhadinha. Eu não costumava transar sem camisinha,
na verdade, eu nunca transava sem camisinha, mas com Alice era
incontrolável, ela era gostosa, atrevida e nem um pouco submissa. A mulher
me enlouquecia, eu não conseguia pensar racionalmente.

— Era isso que você queria? — Dei uma estocada forte, adorando o
gemido alto que ela soltou.

— Era... Era exatamente isso que eu queria.

Ela começou a rebolar, me cavalgando lentamente. Beijei-a e,


conforme nosso beijo se tornava mais voraz, mais rápido ela cavalgava. O
tesão me dominou, nada mais importava a não ser aquela mulher curvilínea
gemendo no meu pau.

Dei um tapa forte em sua bunda, a boceta de Alice contraiu e ela


rebolou cada vez mais forte até gozar. Segurei firme sua cintura e, com o
tesão que eu estava sentindo, não precisei de muito para gozar até a última
gota.

Alice caiu lânguida sobre meu peito, ouvi apenas o som da sua
respiração descompassada. Olhei para a frente e vi apenas o vidro embaçado.
Meu coração estava acelerado e, por mais que algo na minha mente dissesse
que aquilo havia sido um erro, eu não estava minimamente preocupado.
Alice levantou a cabeça e me olhou timidamente.

— O que foi? O álcool passou junto com seu atrevimento e está


envergonhada? — Apertei sua bunda e ela gemeu.

— Não, mas ainda não estou dolorida como você prometeu.

Era o meu fim, ela era meu fim.


 
Capítulo 13

Acordei com a minha cabeça e todo o meu corpo doendo, mas nada
disso importava, não quando uma boca experiente me chupava.

Abri os olhos e fitei Matteo, eu podia gozar só com a visão dele entre
as minhas pernas, com o cabelo bagunçado e aquele olhar safado.

— Bom dia, Principessa.

Respondi com um gemido ao sentir seus dedos me penetrarem.


Matteo parecia conhecer cada centímetro do meu corpo, onde e como tocar
para me dar o máximo de prazer.

Sua mão deslizou por minha barriga e agarrou meu seio, seus dedos
brincaram com o meu mamilo sem parar de me chupar. O prazer começou a
se acumular em mim. A cada sugada, lambida, mordiscada, toque, eu ficava
mais sensível e desesperada pelo alívio que sabia que viria. Sem conseguir
me controlar, comecei a rebolar contra o seu rosto e o ouvir soltar um gemido
grave de prazer.

Agarrei os lençóis, minha respiração ficava mais difícil a cada


momento e lágrimas se formavam tamanho era o meu prazer. Parecia que, se
eu não gozasse, eu iria explodir, chegava a doer.

Matteo segurou firmemente o meu quadril, me mantendo no lugar,


impedindo-me de buscar o meu próprio alívio. Isso me deixou ainda mais
excitada. Sua língua resvalou para o meu cuzinho e não aguentei, o sonho
que ainda estava vívido na minha memória se misturou às sensações reais e
tudo em mim explodiu, minhas mãos apertaram mais firmemente os lençóis,
joguei a cabeça para trás, encolhendo as pontas dos dedos dos pés enquanto
as minhas coxas se contraíam.

Espasmos deliciosos faziam o meu corpo convulsionar e, antes que eu


pudesse me recuperar do orgasmo recente, Matteo circulou a minha cintura e
me penetrou, pensei que fosse morrer ao sentir tudo de novo, os espasmos, as
pequenas explosões por toda parte.

— Matteo! — Gritei, me agarrando a ele enquanto gozava mais uma


vez.

— Porra, você quer me matar, Principessa?

Deu uma estocada forte e senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto.
Ao ver a minha expressão, Matteo pareceu ficar ensandecido, suas estocadas
ficaram mais fortes, fazendo o prazer não me abandonar. Sua mão deslizou
entre nossos corpos e tocou o meu clitóris, quase chorei com as sensações
que eu não podia controlar. Queria que me tocasse em todos os lugares e que
aquilo não passasse nunca, ao mesmo tempo só queria voltar a pensar,
controlar o meu corpo, pois naquele momento eu era apenas gemidos,
tremores e orgasmos loucos por mais.

Matteo deslizou para fora de mim. Choraminguei, mas logo fui


colocada de quatro. Agarrei a cabeceira da cama com firmeza esperando a
estocada forte, bruta e avassaladora que viria, mas o que senti foi sua língua
me lambendo desde a minha boceta até o meu cuzinho. Minhas pernas
tremeram, falhando, elas haviam se tornado inúteis.

Agarrei ainda mais forte a cabeceira quando o meu cuzinho ganhou


sua total atenção e só continuei de quatro porque seu braço envolveu minhas
coxas, mantendo-me naquela posição, já que minhas pernas eram gelatinas.
Raphael nunca me tocou ali, muito menos lambeu, mas eu não estava
com medo, estava excitada demais para pensar se iria doer. Eu só queria que
ele não parasse. Dedos me penetraram com facilidade, um arrepio atravessou
a minha coluna. Era estranho ser penetrada ali, mas tão bom. As lambidas de
Matteo subiram por minha coluna, seus dentes mordiscaram meu ombro.
Joguei a cabeça de lado, e ele lambeu meu pescoço.

Ele prendeu o lóbulo da minha orelha entre os dentes enquanto eu


ainda sentia seus dedos no meu cuzinho.

— Você devia ter me feito parar — sussurrou. —, não ficar gemendo


enquanto eu lambia esse seu cuzinho gostoso.

Mais um dedo me penetrou, choraminguei.

— Ah, Principessa, você é perfeita. Não sabe como estou louco para
comer esse seu cuzinho sem dó.

— Matteo, eu não... eu nunca...

Senti-o sorrir contra o meu pescoço.

— Você não sabe como isso me agrada. Porra, meu pau parece que
vai explodir se eu não entrar em você agora.

Matteo penetrou a minha boceta e arfei com a invasão inesperada.

— Sua bocetinha está pingando.

Eu podia sentir a minha excitação escorrendo pelas minhas coxas e,


mesmo assim, parecia que ainda não tinha tido o suficiente.
 

Poderia passar horas fodendo, lambendo e chupando Alice sem


enjoar. Cada gemido dela parecia ter ligação direta com o meu pau, que
ficava duro como pedra.

Tê-la toda empinadinha, gemendo e quase implorando para ser fodida


era a porra do paraíso. Saber que aquele cuzinho era virgem e eu seria o
único homem a tê-lo fez um animal dentro de mim acordar, queria marcá-la
como minha, porque era exatamente isso que Alice era, minha, só minha.

Com o pau espalhei a sua excitação, lubrificando o seu cuzinho e


Alice empinou ainda mais aquela bunda deliciosa. Aquela entrega sem
amarras dela me enlouquecia, a porra da mulher parecia não ter receio de
nada na cama, era excitante pra caralho.

Posicionei o meu pau naquele cuzinho apertado, que piscava para


mim e, sem pressa, comecei a penetrá-la. Usei tudo de mim para não colocar
tudo de uma vez até o talo. Ela era tão apertada que era quase uma tortura,
mas ela tinha que se acostumar com o meu tamanho para aproveitar tanto
quanto eu, pois pretendia comer muito aquele cuzinho.

— Matteo...

Ao ouvir o seu gemido de dor, parei e beijei suas costas, ela voltou a
relaxar. Deslizei minha mão por sua barriga e toquei seu clitóris. Como
sempre, Alice voltou a relaxar e ficar excitada. Quem estava prestes a gemer
de dor era eu, seu cuzinho começou a pulsar em volta do meu pau e por
muito pouco não meti tudo. Meu pau doía necessitado, mas quando
finalmente fiquei todo dentro dela e vi aquela bunda deliciosa e aquele
cuzinho engolindo todo o meu pau, porra, foi difícil me controlar.

Minhas estocadas eram lentas, mas os gemidos de Alice me


descontrolaram e logo eu a estava fodendo sem dó, do jeito que eu queria.

— Você quer me enlouquecer? — Perguntei pertinho do seu ouvido,


vendo a sua pele suada se arrepiar. — Olha o jeito que você está gemendo
enquanto como o seu cuzinho, Principessa.

Choramingou quando dei um estocada forte.

— Por favor, não para.


— Não para o quê? — Indaguei, dando estocadas lentas. Eu podia
sentir os seus tremores, seu corpo implorava por alívio.

— Não para de foder o meu cuzinho.

Cazzo! Dei uma estocada forte, ela contraiu deliciosamente.

Segurei firme sua cintura e dei arremetidas fortes, não demorou para
ela estar gozando.

— Isso, Principessa, goza gostoso no pau do seu macho.

Não precisei de muito para atingir o meu próprio prazer e gozar


naquele cuzinho delicioso.

Deslizei para fora dela e observei a minha porra escorrer, aquela


imagem ficaria marcada na minha mente.

Alice caiu na cama, virei o seu corpo e a beijei, seu beijo tinha um
gosto salgado.

— Por favor, me acorde assim todos os dias — falou rindo, e a


encarei.

Seu rosto estava corado, sua pele brilhando de suor, os cabelos


bagunçados e espalhados pelos meus lençóis, e os olhos tinham um brilho
satisfeito. Ela não poderia estar mais linda.

— É brincadeira — disse, quando fiquei tempo demais apenas a


encarando. — Sei que não temos nada sério, é só sexo.

Era? Se era, por que nunca foi assim com outra mulher? E por que eu
gostei tanto da ideia de acordá-la todos os dias assim?

Sem reposta para nenhuma das perguntas, a beijei.


 
Capítulo 14

Eu havia perdido o movimento das minhas pernas. Pelo menos foi o


que pensei quando Matteo se deitou e me puxou para o seu peito. Eu não
sabia que era possível uma pessoa gozar tanto e ainda sentir tesão como
Matteo me fazia sentir. Pensei que após a nossa noite, eu, e, principalmente
ele, não iria querer saber de sexo, mas ali estávamos nós deitados, suados,
ofegantes e eu não sentia as minhas pernas.

Poucos pelos cobriam seu peito musculoso, tracei círculos com a


ponta do dedo, e ele se manteve imóvel. Sorri e comecei a descer por seu
abdômen, notando a mudança da sua respiração. Assim que passei o seu
umbigo, ele segurou o meu pulso e, com uma habilidade impressionante, me
pressionou contra a cama e segurou os meus braços acima da cabeça.

— Pensei que estivesse cansada, Principessa.

O movimento brusco me deixou tonta, a tontura se transformou em


um estranho enjoo e Matteo percebeu que algo estava acontecendo, pois sua
expressão mudou e ele me soltou. Foi então que percebi que não, eu não
havia perdido o movimento das pernas, pois rapidamente desci da cama e
corri o mais rápido que pude para o banheiro.

Fechei a porta e me debrucei sobre a privada, colocando tudo o que


eu tinha no estômago para fora.

— Alice, abre essa porta! — Matteo falou, forçando a maçaneta, mas


a última coisa que eu precisava era dele me vendo naquele estado.

E, mesmo se eu quisesse, não poderia abrir a porta, era impossível


sair daquele vaso.

— Estou be... — Não consegui terminar a frase.

Quanto mais eu vomitava, mais enjoada eu ficava.

— Alice, eu vou derrubar essa port...

Um estrondo me assustou e, ao olhar na direção da porta, vi que


Matteo a havia arrombado e, pela sua cara, sem esforço nenhum. Eu ficaria
horas admirando o seu rosto preocupado após ele arrombar a porta do
banheiro nu. Ele estava exalando testosterona, mas outra onda de ânsia me
atingiu.

— Cazzo!

Ouvi Matteo xingar e logo o senti afastar o meu cabelo.

— Sai daqu...

— Sh... Quietinha — falou, acariciando a minha cabeça e minha


garganta travou, senti uma vontade absurda e completamente estranha de
chorar, mas me controlei. Era a humilhação, qualquer um que vomitasse na
frente daquele homem lindo após transar como um animal com ele teria
vontade de chorar.

A cada onda de ânsia, eu jurei nunca mais colocar uma gota de álcool
na minha boca. Toda a coragem que o álcool me deu para me jogar em cima
do Matteo, ele estava tirando de mim na base da porrada.
— Sai daqui.

— Eu não vou a lugar nenhum.

Sentei-me sobre os calcanhares e o encarei.

— Tudo bem?

Confirmei, mas, mesmo após não ter mais nada no estômago, a ânsia
continuou. A pior parte é que eu nem tinha bebido tanto assim, lembrava-me
de tudo na noite anterior e com uma maravilhosa riqueza de detalhes. Sorri.

— Ótimo, está sorrindo, consigo lidar com o vômito, mas choro não.

Dei risada.

— Eu posso ficar sozinha para remoer a minha vergonha? —


Perguntei, e ele se levantou. — Obrigad...

Eu ia agradecer, mas, em vez de sair do banheiro, ele ligou a


banheira.

— O que você está fazendo?

Matteo não disse nada, apenas jogou algo que começou a fazer
espuma e me encarou no chão.

— Em outra situação, eu adoraria ter você ajoelhada exatamente


assim, Principessa.

Foi impossível não sorrir.

Matteo estendeu a mão para mim e a peguei. Quando entrei na água,


quase gemi de felicidade. Se eu não tivesse acabado de vomitar, o beijaria
por ter enchido a banheira.

— Eu prometo não tomar mais uma gota de álcool.

— Decisão inteligente.
 
— Se arrume, vamos jantar — disse Matteo, após mais uma rodada
de sexo incrível.

Após eu garantir que estava bem e literalmente me jogar em cima


dele, passamos o dia na cama.

— Não tenho roupa para...

— Só tome banho, eu cuido do resto.

Concordei e fui tomar banho. Quando saí do banheiro, sorri de orelha


a orelha ao ver uma caixa de grife sobre a cama. Corri até ela e, ao abri-la,
meu sorriso se tornou ainda maior. Havia um lindo vestido de seda rosa.

Rapidamente o vesti, o tecido era tão macio que nem parecia que eu
estava vestindo algo. Ele era longo e a frente era bem simples, toda a beleza
dele ficava por conta do profundo decote que deixava as minhas costas nuas.
As alças finas se trançavam nas costas, chamando ainda mais a atenção, ele
era lindo.

Coloquei os altíssimos scarpins que estavam em outra caixa e admirei


o resultado no espelho.

— Talvez seja melhor adiar esse jantar.

Matteo circulou a minha cintura e me beijou.

— É lindo, obrigada. — Lembrei-me de algo. — Eu não achei


nenhuma calcinha, acho que você esqueceu.

Ele sorriu. Nossa, se eu estivesse usando uma calcinha, precisaria


trocá-la. Ele ficava um pecado quando sorria.

— Eu não esqueci, quero ter fácil acesso ao seu corpo — sua mão
resvalou pelo decote das costas e apertou a minha bunda —, mas está
faltando algo.
— Ah, eu não tenho maquiagem aqui, mas vou passar um batom... —
Calei-me ao vê-lo abrir uma caixa azul royal da Gallagher & Co[9].

Um lindo colar e par de brincos do que eu acreditava serem safiras


brilhavam no estojo.

— O que é isso?

— O que está faltando.

— Eu não posso aceitar isso, Matteo. O vestido e sapatos tudo bem,


mas isso é demais.

Ele tirou o colar com a safira enorme do estojo e ficou atrás de mim.

— Todos precisam saber quem é o seu dono, Principessa — falou


baixinho e afastou o meu cabelo.

— Matteo...

Um beijo foi depositado suavemente na curva do meu pescoço.

Ele colocou o colar e nossos olhos se encontraram no espelho.

— Quando voltarmos, quero te comer usando apenas o colar e os


brincos.

Sorri em expectativa.
 

— Acho que está fechado — comentei ao ver o restaurante vazio.

— Está. Está fechado para nós dois — falou, tocando a minha cintura
e me guiando para dentro do restaurante e só então vi um homem
devidamente uniformizado nos aguardando.

— Mas... Você fechou o restaurante?


— Sim, ou você quer acordar amanhã com o seu rosto estampando
sites de fofoca?

Foi ali que eu me dei conta de algo, eu estava saindo com o cara
considerado o Dono do Mundo. Imaginei fotos minhas naqueles sites com
títulos sensacionalistas para chamar a atenção e cheio de mentiras, e arrepiei.
A última coisa que eu queria era aquele tipo de atenção, iriam questionar o
meu trabalho e o porquê de eu ser uma arquiteta tão jovem com um projeto
como aquele.

— Não.

— Ótimo, porque não pretendo ter o seu rosto repleto de prazer após
gozar estampado nos jornais.

— O quê?!

O cretino sorriu e me guiou como se não tivesse dito que me faria


gozar dentro de um restaurante.

O lugar era extremamente elegante, desde a fachada luxuosa com o


nome Diamond Hall[10], até as paredes em vidro, que nos davam uma visão
privilegiada do mar e a sensação de que estávamos jantando à luz da lua.

— Aqui é maravilhoso — afirmei ao nos sentarmos.

— A comida é ainda melhor. É da esposa de um amigo.

Pedimos a comida e Matteo escolheu um vinho, mas, ao me servir,


recusei.

— Eu não quero passar pela humilhação de hoje de manhã


novamente.

— Não acho que uma taça de vinho faria tanto estrago, mas tudo bem.

O jantar foi simplesmente maravilhoso, acho que nunca comi algo tão
gostoso.
— Nossa, estava divino! — Falei para o garçom, que agradeceu.

— Querem sobremesa?

Eu amava sobremesa, mas só de pensar em doce meu estômago


revirou.

— Não, muito obrigado. — Recusei.

Matteo dispensou o garçom e me olhou com um sorriso cheio de


promessas.

Sua mão tocou a minha coxa e subiu de encontro a minha virilha.

— Matteo...

— Eu quero a minha sobremesa.

Essa sobremesa eu queria, e muito.


 

Comecei a subir lentamente o vestido de Alice, adorando o brilho


selvagem em seus olhos, mas meu celular começou a tocar. Ignorei.
Continuei subindo, mas o maldito celular voltou a tocar.

— Acho melh...

— Seja quem for, pode me ligar depois.

Ela sorriu, abrindo suavemente as pernas para mim. Finamente deixei


sua coxa nua. Sua pele estava arrepiada e, apesar de estar gostando, dava para
perceber o quanto ela estava nervosa por estarmos no restaurante, o garçom
podia aparecer a qualquer momento.
Em vez da droga do garçom, quem nos incomodou foi o meu
telefone.

— Atende, pode ser sério — disse Alice e abaixou seu vestido.

— Cazzo! — Era CEO do Grupo Sartori de Nova York. — Seja


breve.

— Senhor Sartori, desculpe pelo horári...

— Seja breve!

O homem havia me ligado sem parar e, em vez de ir direto ao ponto,


ficava me enrolando.

— Houve um problema na nossa segurança. Alguém entrou no nosso


sistema e obteve nossos procedimentos e medidas de segurança relacionados
a voos, esquemas de controle de acesso aeroportuário, protocolos de triagem
de passageiros, treinamento de segurança da tripulação...

— Cazzo!

O vazamento dessas informações podia comprometer a segurança e a


confiança dos nossos clientes.

— Entre em contato imediatamente com a Bauer Tec[11].

Eles eram os melhores quando o assunto era tecnologia, desde


segurança a desenvolvimento de software. Eles haviam feito todo o nosso
sistema.

— Sim, senhor, mas tem mais uma coisa.

— Não me diga que suspeitam de alguém de dentro.

— Teria que ser alguém muito bom para acessar de fora.

Praguejei. Alguém dentro da Sartori estava tentando vender


informações confidenciais.
— Vou mandar o piloto preparar o meu avião, enquanto isso me
mantenha informado.

Não esperei que ele respondesse, desliguei o telefone.

— O que houve? — Alice perguntou preocupada.

— Nada demais, mas preciso te levar para Roma.

— Não precisa, eu vou com Bruna e Eros.

— Eu te levo.

— É sério, pode ir, parece sério. Eu não me importo de ir com eles, é


um jatinho particular com serviço de bordo maravilhoso — falou em tom
brincalhão.

Sem me importar com os funcionários, puxei sua cadeira. Ela soltou


um gritinho surpreso, e a beijei. Eu podia sentir o seu sorriso enquanto a
beijava. A última coisa que eu queria era deixar aquela mulher deliciosa, mas
precisava resolver os problemas antes que se tornassem algo pior.
 
Capítulo 15

— Tem certeza de que não quer ir com a gente? — Bruna perguntou


assim que cheguei à casa do Eros.

— Absoluta, prefiro dormir.

Bocejei, estava realmente cansada. Quase não dormi a noite anterior


e, durante o dia, tive praticamente uma maratona de sexo com Matteo.

— O italiano te cansou — falou, com um sorriso cheio de


insinuações. — Ah, adorei o colar, ele tem bom gosto.

Toquei o colar com um sorriso. Eu o havia amado, não pelo seu valor,
mas porque tinha sido Matteo que me deu. Era tão diferente estar com
Matteo, namorei por anos com Raphael e ele nunca demonstrou sentir ciúme
como Matteo, nem me dava presentes, nem me levava a jantares. Acho que
os sentimentos dele sempre estiveram escancarados, eu que nunca quis
perceber.
 
Com passos apressados, atravessei a rua para entrar na Sartori. Ontem
de manhã e hoje novamente acordei enjoada e só melhorei após colocar tudo
para fora. Eu não sabia o que havia de errado comigo, mas precisava
urgentemente ir ao médico.

Mal entrei na Sartori e meu telefone tocou.

— Cadê você?! — Bruna perguntou.

— Acabei de chegar...

— Graças a Deus!

Olhei para frente e a vi me encarando aliviada.

— Você não parece bem — falou, me olhando de cima a baixo.

— Me lembre de nunca mais beber, se você me vir com um copo na


mão jogue ele longe.

— Prometo, mas agora preciso te contar uma coisa que você não vai
gostar.

— O quê? — Perguntei preocupada.

— O Raphael está aqui.

Senti minhas pernas fraquejarem e meu coração ficar descompassado.

— Alice.

Virei o rosto e vi Raphael me olhando com um sorriso.

— Nossa, você está linda, meu amor.

Antes que eu pudesse ter qualquer reação, Raphael se aproximou de


mim e me deu um beijo, mas, assim que os seus lábios tocaram os meus, saí
do transe que a sua presença inesperada me colocou.
Empurrei o peito dele, afastando-o, e percebi porque meu coração
ficou descompassado e minhas pernas ficaram bambas. Não era por causa de
qualquer sentimento que eu ainda pudesse ter por ele, mas sim pelo
desconforto que sua presença me causava. Raphael me fazia lembrar das
minhas piores escolhas e o quanto confiar cegamente em alguém podia
machucar.

Flashbacks dele com Larissa inundaram minha mente, me corroendo


por dentro. Lembrando-me porque eu não deveria entregar novamente o meu
coração.

— O que você está fazendo aqui? — Inquiri, controlando a vontade


que crescia dentro de mim de esmurrá-lo por ter a coragem de me olhar como
se me amasse.

— Amor, você não sabe como...

Tentou tocar o meu rosto, mas dei um passo para trás.

— Não toca em mim! Como você me achou? — perguntei, mas ele


não me respondeu.

— Sei que eu errei, mas quero consertar tudo entre a gente.

Eu não sabia o que mais me incomodava: a emoção em sua voz, as


lágrimas que se formavam em seus olhos, ele estar ali ou achar que tinha
como consertar algo.

— Vai embora.

— Alice...

— Se você não sair daqui agora, eu juro que enfio a porra dessa
caneta nos seus olhos! — Disse Bruna quando ele deu um passo em minha
direção, segurando a caneta de forma ameaçadora.

Raphael deu um passo para trás com os olhos arregalados.

— Você é louca? — Perguntou para Bruna.


— Raphael, vai embora — pedi.

Ele me encarou, e eu instantaneamente reconheci aquele olhar. Era


um olhar determinado, cheio de confiança, que eu conhecia tão bem. Não
gostei daquilo.

— Eu não desisti de você, Alice.

Ele saiu e fiquei ali parada, sentindo uma estranha vontade de chorar
e eu nem sabia o motivo.

Fui direto para minha sala, Bruna me seguiu.

— Ei, tá tudo bem?

— O que ele veio fazer aqui? Ele acha mesmo que existe a mínima
possibilidade de voltarmos? — Indaguei mais para mim do que para ela, e
Bruna permaneceu em silêncio. — Eu devia ter batido o carro dele, ter
derrubado o portão da casa dele não foi nada! E devia ter feito um escândalo
para matar a chata da mãe dele de vergonha.

Joguei-me na cadeira, e Bruna me olhava, segurando o riso.

— Sério que você está rindo de mim?

Ela gargalhou e a encarei séria.

— Desculpa, amiga, mas você é fofa quando fica brava.

— Obrigada — agradeci de coração, não conhecia outra pessoa que


ameaçaria alguém com uma caneta.

Bruna se sentou.

— Como ele te achou? Os seus pais...

— Não, a última coisa que meus pais fariam é dizer onde estou. É
mais fácil o meu pai dar uma surra no Raphael.

O celular de Bruna tocou e ela se levantou.


— Amiga, preciso ir trabalhar. Se ele aparecer de novo, chuta as bolas
dele.

Não era uma ideia ruim.


 

Esqueci a existência do Raphael e foquei no trabalho, mas fui


interrompida por uma batida à porta que chamou minha atenção. Levantei a
cabeça e vi Oscar parado na porta com dois copos de café.

— Preciso de você e, caso você não aceite me ajudar, trouxe café para
te persuadir.

Olhei para o copo gigante de café pensando onde eu jogaria todo


aquele café.

— Não precisava do café.

Ele entrou na minha sala e me deu o café. Inacreditavelmente o cheiro


me agradou. Eu odiava café, mas aquele estava bastante cheiroso.

— Obrigada — agradeci pegando o café, o copo estava morno então


fiquei com ele na mão, aproveitando aquele calor. — Do que precisa?

— Que você me acompanhe em um jantar. — Eu devo ter feito uma


cara muito estranha, pois ele logo tratou de explicar: — Calma, é um jantar
beneficente, é estritamente profissional. Só estou te chamando porque você é
a única mulher solteira, o resto da equipe já tem compromisso, então você é
minha última esperança, ou terei que aparecer sozinho.

— A Bruna é solteira — falei, sem pensar. Ficaria parecendo que


estava fugindo de ir ao jantar, e realmente estava, mas ele era meu chefe.

Dei um gole no café para inutilmente disfarçar e me surpreendi com o


quanto estava bom.

— Sim, mas ela vai para Florença.


Filha da mãe! Ela não ia pra Florença coisa nenhuma.

— Tudo bem, posso ir — concordei, querendo me bater por não


conseguir dizer não.

— Muito obrigado, Bruna vai te entregar o meu cartão para você


comprar um vestido e fazer aquelas coisas que vocês mulheres gostam de
fazer.

Oscar estava quase saindo da sala quando o chamei.

— Sim?

— Onde você comprou esse café? Está uma delícia.

— Na cafeteria do lado.

Estranho, já tomei o café lá e não estava bom.

Devorei o copo de café e resolvi buscar outro.

Assim que meus pés pisaram na calçada para fora da Sartori, fui
abordada pelo Raphael.

— Você só pode estar de brincadeira comigo.

Uma irritação surreal tomou conta de mim.

— Alice, pelo menos me ouça.

— Ouvir o quê? Que não conseguiu deixar o seu pau longe da boceta
da nossa madrinha?

Raphael me olhou chocado, eu não costumava falar palavrão ou me


exaltar, mas acho que a convivência com a Bruna estava surtindo efeito.

Desviei dele e continuei andando, mas ele me seguiu.

— Eu sei que errei, mas...


— Oi, Alessia, quero um café — pedi em italiano para a garçonete
com quem acabei criando uma certa amizade.

— Café? — Alessia perguntou, estranhando. Eu sempre pedia doces e


nunca café.

— É, um copo grande.

— O gostosão do seu chefe está te obrigando a pegar café para ele?


Ele não tem secretária para fazer isso?

— Não...

— Ele não tem secretária?

— Ele tem secretária, mas o café não é para ele, é para mim.

Ela suspirou.

— É por isso que não trabalho nessas empresas grandes, é estressante


— falou, enquanto fazia o meu café.

Raphael estava do meu lado, tentando falar, mas Alessia não parava
de falar, para a minha felicidade.

— Olhe para você, está até tomando café para aguentar o ritmo.
Minha vó sempre disse que o estresse mata e deve ser verdade, você começa
com um copo de café, daqui a pouco está bebendo e viciada em álcool,
cafeína e até cigarro. Tem quem diga que alguns até usam... — ela olhou para
os lados e sussurrou — usam drogas para aguentar.

Não aguentei e soltei uma risada, eu só arrumava amigos loucos.

— Obrigada — agradeci, pegando o meu café e lhe pagando.

Dei um gole adorando o sabor. Recém-feito era ainda melhor.

— Você está tomando café? — Raphael perguntou, revirei os olhos.

— Você ainda está aí?


— Alice...

— Eu juro que se você não for embora agora, eu vou começar a gritar
e dizer que você está me assediando.

Ele olhou como se não me reconhecesse.

Saí do café e o filho da mãe me seguiu. Minha vontade era jogar


aquele café quente nele.

— Você não faria isso. — Havia uma incerteza na sua voz, sorri. Eu
não era mais a mulher que ele conheceu e isso me deixava feliz, porque a
mulher que ele conheceu era uma idiota.

— Você não sabe falar italiano, seria uma confusão.

Raphael respirou fundo.

— Eu entendo que está magoada, mas eu não vou desistir de você.

— É melhor desistir, não estou nem um pouco interessada.  


 

Entrei na Sartori com o meu copo gigante de café e dei de cara com
Bruna.

— Nossa, amiga, eu não tinha percebido, mas sua pele está incrível.
—sorriu ao me encarar.

Levei a mão ao rosto.

— Sério?

— Sim, pele de quem está transando muito.

Minha vontade era passar uma fita na boca da Bruna.


— Quer que todo mundo escute? — perguntei, brava, o que só a fez
sorrir mais ainda.

— Não, mas é sério, sua pele está incrível — disse, enquanto


andávamos em direção a minha sala. — Pergunte para qualquer pessoa que
irá te dizer que está grávida, ou transando muito. E nós duas sabemos que
você anda transando muito!

— Dispenso a parte da gravidez, mas obrigada.

Gravidez, até parece. Eu ia dar um gole no café, mas desisti, achando


estranho tomar aquilo. Não estou grávida, estou tomando meus remédios
certinho e minha menstruação... Meu coração disparou. Estou atrasada.

— Gravidez? Quem está grávida? — Lorenzo perguntou. Soltei um


grito assustado que ecoou pelo saguão.

Levei a mão ao peito e tive certeza de que não sofria de nenhum


problema cardíaco.

— Desculpe, não quis assustar. — Apenas balancei a cabeça, ainda


me recuperando do susto. — Quem está grávida? Você? — Indagou, com um
sorriso radiante.

— O quê?!

Bruna tossiu, na tentativa de esconder uma risada.

— Você está falando fino — cochichou.

Dei uma cotovelada nela.

— Ai!

— O senhor ouviu errado.

Eu me recusava a explicar a história da pele boa.

— Ah, que pena. — Ele pareceu genuinamente triste. — Um bebê é


sempre uma benção.
É, um bebê é uma benção, mas eu só estou atrasada porque tomei meu
remédio errado e isso afetou o meu ciclo.

— Cadê o Dante? — Perguntei, querendo parar de pensar naquela


história de gravidez.

Olhei em volta e não vi os brutamontes que andavam com ele.

— Não sei.

— E o senhor veio com quem?

— Sozinho.

Bruna e eu nos encaramos.

— Sozinho como? — Bruna indagou.

— Ora, vim com o meu carro. — Ele apontou para um conversível


antigo estacionado na frente da Sartori.

Meus olhos se arregalaram.

— Bruna? — Oscar chamou Bruna.

— Desculpa, preciso ir. — Ela se virou, mas parou. — Ah, já ia


esquecendo, Oscar quer que você verifique a obra.

Antes que eu ficasse ainda mais preocupada, Dante apareceu.

— O senhor deu um susto na Antonella.

— Aquela mulher só fica falando que não posso ver meu neto —
Lorenzo reclamou.

Ouvir o nome de Antonella chamou a minha atenção.

— O Matteo... O senhor Sartori já voltou dos Estados Unidos?

— Não, Antonella só veio pegar uns documentos antes de embarcar.


— Estados Unidos? O que ele foi fazer lá, não gosto de americanos
— Lorenzo resmungou. — Eu quero um café. — Saiu em direção à recepção
e parei Dante para tirar a minha preocupação.

— Ele disse que veio dirigindo aquele carro sozinho.

Dante riu do meu tom preocupado.

— Eu vim dirigindo, ele deve ter esquecido e achou que veio


dirigindo, porque foi o carro que ele usou por muitos anos.

Fui inundada por alívio.

— Graças a Deus, ele está bem! — Antonella disse ao ver Lorenzo.

Ela estava sem fôlego, provavelmente tinha corrido por toda a Sartori
procurando Lorenzo. Tive que conter a risada, Lorenzo parecia uma criança
levada.

— Nunca mais deixe ele aos meus cuidados, Dante. Eu tenho um


monte de coisa pra fazer e ele... Ele não me deixa trabalhar. O senhor Sartori
me ligou enfurecido por eu ainda não ter embarcado.

O desespero da mulher me fez soltar uma risada que disfarcei com


uma tosse.

Lorenzo voltou com uma cara nada boa, enquanto a recepcionista


insuportável, que parecia sentir prazer em me chamar de “Queridinha”, o
seguia.

— Olha. Se. Quiser. Eu busco. Café... — falou pausadamente, a


encarei tentando entender porque ela estava falando daquele jeito.

Tentou tocar o ombro dele, mas ele desviou.

— Não me toque! — Ele praticamente gritou, a mulher deu um pulo


para trás. — Você é maluca?
— O quê? Não. — A recepcionista perguntou, olhando para os lados,
talvez em busca de um segurança.

— Então por que está falando assim?

Ali eu quase vi Matteo e percebi de quem ele havia puxado o gênio


ruim.

— Eu... — Ela endireitou os ombros. — Eu só estava tentando ser


gentil e ir buscar um café na cafeteria ao lado.

— Eu não quero café, eu quero ver meu neto. Já posso vê-lo? —


indagou para Antonella.

Ele estava começando a se exaltar, e eu já tinha visto de perto o


resultado dele exaltado. Isso estava muito perto de acontecer, ele
provavelmente ficaria furioso ao ser lembrado que o neto não estava ali.

— O que o senhor acha de a gente ir visitar o hotel que o seu neto está
reformando? — Perguntei.

Era uma ideia ruim? Sim, era horrível, a cara feia de Dante ao me
ouvir confirmava isso, mas eu não conseguia deixá-lo ali.

Ele pareceu relaxar instantaneamente e sorriu.

— Claro, podemos ir com o meu carro.

— Eu não acho uma boa ideia... — Dante tentou falar, mas o ignorei.

— Eu posso dirigir? — Indaguei, eu não entraria naquele carro com


ele atrás do volante, só de imaginar a minha barriga gelou.

— Nem pensar! — Dante falou, mas Lorenzo pensava diferente.

— Dirija com cuidado. — Estendeu a chave, mas, quando tentei


pegá-la, ele não a soltou. — É um Alfa Romeu Spider de 1973, minha
Catarina que me deu.

— Vou dirigir com cuidado.


— Como o senhor tem a chave? — Dante perguntou, verificando os
bolsos do terno desesperadamente.

— Eu não posso falar com você agora, eu e Alice vamos na obra.

Novamente, ele me lembrou o neto.

— O senhor não pode...

Lorenzo envolveu o seu braço no meu e me puxou, mas Dante se


colocou a nossa frente, impedindo a passagem.

— Você não vai dirigindo, nem a chave do carro você tem. —


Mostrou uma chave que provavelmente era a certa, já que Lorenzo não era a
pessoa mais confiável do mundo. A chave que ele me deu podia ser uma
qualquer.

Encarei Dante com o meu melhor sorriso, e ele fechou o cenho.

— Dante, por favor — pedi com um sorriso —, Lorenzo fica o dia


todo preso naquele castelo...

— É um palácio, e ele não fica preso...

Bufei.

— Você gosta mesmo de me corrigir, né? Como eu ia dizendo, ele


precisa de um pouco de diversão e seria muito divertido a gente ir de carro
até a obra. Né, Lorenzo?

Lorenzo concordou com um sorriso no rosto que só aumentava


conforme a careta de Dante aumentava. Acho que Lorenzo gostava de irritar
o pobre Dante.

— Vocês não têm nada para fazer. Qual é o problema de ele ir à obra?
Eu dirijo com cuidado.

Dante respirou fundo.


— Eu e os seguranças vamos segui-la. Se andar acima do limite,
iremos parar o carro.

Eu não fazia ideia de como ele iria parar o carro, mas concordei.

Saímos da Sartori e vi Antonella entrar em uma Lamborghini


vermelha, e entendi porque ela aguentava o chefe insuportável que Matteo
era. Ele pagava bem, muito bem para ser chato daquele jeito.

Assim que entramos no carro, Dante parou ao lado da minha porta.

— Para trocar as marchas...

Revirei os olhos e liguei o carro.

— Eu sei dirigir e sou uma ótima motorista.

— Você quase atropelou o seu Lorenzo no Brasil.

Ele tinha um ponto, mas o sorriso travesso e feliz do Lorenzo não me


permitia descer do carro.

— Nem tem como eu atropelar ele, ele está no carro.

A cara de Dante era impagável. Saí com o carro e logo o vi nos


seguindo.

Lorenzo ligou o rádio e Andrea Bocelli tomou conta do carro. Sorri


ao ouvir a melodia italiana.

— Para onde estamos indo? — perguntou e falei para ele o local do


hotel. — Vire na próxima rua, vamos pegar o caminho mais longo.

Eu devia dar ouvidos a um senhor senil? Não, mas assim que ele
começou a cantar, eu apenas sorri e o acompanhei, cantando a plenos
pulmões enquanto sentia o vento no cabelo.
 
Capítulo 16

Já era quarta-feira e Matteo ainda estava nos Estados Unidos. Ele não
deu sinal de vida, nem uma mensagem. Ele devia estar muito ocupado e a
gente nem tinha nada, era só sexo. Pelo menos era isso que eu dizia para mim
mesma quando o meu coração idiota resolvia bater mais rápido só de lembrar
dele.

— Vamos? — Bruna me chamou para irmos almoçar com Lorenzo.


Ele havia ido pessoalmente na Sartori nos chamar.

— Ele está aí?

Raphael estava batendo ponto na porta da Sartori e meu plano de


fingir que ele não existia não estava mais dando certo, eu não conseguia mais
ignorá-lo. A minha indiferença virou ódio tão rápido que nem percebi. Ele
não tinha o direito de ficar me perseguindo, se ele me amasse tanto não teria
me traído.

— Não.

Levantei-me e peguei minha bolsa.


— Você tem que chamar a polícia, ele está parecendo um maldito
perseguidor.

— E falar o quê?

— Que você está temendo pela sua vida.

— Não vou mentir para a polícia. — Eu não achava que ele fosse
fazer algo contra mim.

— Ok, então pede pro Dante dar uma surra nele.

— Isso eu posso fazer. — Bruna riu, mas eu não faria isso, pelo
menos eu acho que não.

Saímos da Sartori e senti que estava sendo observada. Olhei em volta,


procurando por Raphael, mas não o vi em nenhum lugar.

— Ei, o que foi?

— Nada, vamos logo antes que nos atrasemos! — Puxei-a.

— Calma, temos que aproveitar o privilégio de almoçar com o vô do


chefão. Qualquer coisa, falamos: Desculpa, estava almoçando com Lorenzo
Sartori!

— Não vamos fazer isso.

— Não serve de nada você pegar o chefão e ser amiga do vô dele —


falou, genuinamente indignada, dei risada.

Durante todo o percurso, a estranha sensação de estar sendo


observada me perseguiu. Eu olhava disfarçadamente, não querendo que
Bruna achasse que eu estava louca. Ter o Raphael quase o dia todo na Sartori
com aquele papo de que não ia desistir de mim estava mexendo com a minha
cabeça.

Quando chegamos ao restaurante, Dante nos aguardava na porta.


— Bom dia, Dante — cumprimentei com um sorriso, porque pensei
que depois do nosso passeio até a obra ele iria ser mais amável, mas ele
continuava carrancudo.

— Eu sei que o Lorenzo gosta da senhorita, o que é um grande


problema, já que nenhum dos dois pensa antes de agir, mas o que aconteceu
não pode se repetir. — Ele treinou essa frase com o Matteo, só pode.
— Eu
gosto do meu emprego e quero mantê-lo, mas isso não acontecerá se a
senhorita continuar dando voltas de carro pela cidade com o Lorenzo — ele
falou sério, mas sorri.

— Prometo que vou tentar não colocar seu emprego em risco


novamente, mas você também não precisava ter falado pro Matteo sobre o
passeio de carro.

— Viu como a senhorita não pensa? O senhor Sartori podia descobrir


sobre o passeio e seria muito pior.

Ele estava certo, mas eu jamais admitiria que ele estava certo.

— Ei, Grandão, se nos der licença, vamos almoçar com o velhinho e


não precisa esquentar esse seu cabeção, seu chefe autorizou o almoço —
Bruna disse e segurei o riso.

Era maravilhoso provocar Dante, as reações dele eram sempre


engraçadas, mas o que chamou a minha atenção dessa vez na reação dele foi
a forma que ele olhava para Bruna. Dante está interessado na Bruna? Ela
acabou de chama-lo cabeçudo, e ele a está olhando igual a um bobo.

— Que engraçado.

— O quê? — Bruna perguntou.

— Nada.

Coitado do homem. Baseado no jeito que Bruna olhava para o Eros,


ele não tinha nenhuma chance.
Bruna me puxou pelo braço e entramos no restaurante. Lorenzo já nos
aguardava.

— Tenho algo para você — disse Lorenzo, assim que me viu.

Ele pegou uma simples sacola parda e me perguntei o que tinha nela.

— Tenho certeza de que você vai adorar.

Abri a sacola e um sorriso involuntário se desenhou em meu rosto.


Era uma edição italiana de capa dura do livro O Pequeno Príncipe e, pela
capa, era antigo. Folheei, admirando as folhas amareladas e cheiro que só os
livros possuíam. Havia marcas de uso no livro, como se ele já tivesse sido
lido diversas vezes. Vi que era uma primeira edição de 1943.

— Nossa Senhora! É primeira edição. Eu não posso aceitar.

Tentei devolver o livro, mas Lorenzo recusou.

— Minha mãe leu para mim, eu e Catarina lemos para o nosso filho e
para o Matteo. Achei que um dia eu leria para o meu bisneto, ou o Matteo
leria para o filho dele, mas isso não vai mais acontecer, então fique com ele e
leia para os seus filhos.

A sua voz era triste ao dizer isso. Era como se ele tivesse certeza de
que ele iria morrer e Matteo nunca teria filhos.

Levantei-me e o abracei.

— Muito obrigada. É lindo — falei, com a voz embargada.

Era um livro que lembrava a minha infância, a minha mãe lendo para
mim e isso fez o meu peito apertar de saudade de casa, dos meus pais.

— Eu não queria te deixar triste — disse Lorenzo.

Limpei a lágrima que escorreu.

— Eu não estou triste. É que eu amei tanto.


— Meu Deus, vocês são tão fofinhos! — Exclamou Bruna, fazendo-
nos rir e acabando com o clima meio melancólico.

O almoço foi repleto de risadas. Eu adorava Lorenzo e, ao final do


almoço, Bruna queria sequestrá-lo para levá-lo para o Brasil.

— Agora entendo porque o Matteo te mantém escondido, se meu avô


fosse fofo desse jeito, eu também o manteria trancado no meu castelo
particular.

Encarei Bruna, a achando a pessoa mais sem noção do mundo, mas,


para o meu alívio e surpresa, Lorenzo riu.

— O que vamos pedir de sobremesa? — Lorenzo perguntou, fazendo


Bruna e eu rir.

— Não sei, Alice que deve escolher, doce é com ela.

Realmente, mas estranhamente eu não conseguia nem pensar em


doce.

— Não estou muito a fim de sobremesa. — Bruna me encarou de


olhos arregalados. — O que foi?

— Você está doente? Quer que eu chame um médico?

Revirei os olhos.

— Não eu, só... Quer saber, vamos pedir uma sobremesa.

O garçom trouxe o cardápio e meu olhos brilharam ao ver que tinha


Tiramisù, normalmente eu não pegaria por causa do forte gosto de café, mas
só de imaginar as bolachas mergulhadas em café e cobertas de mascarpone, a
minha boca salivou.

Todos pediram a mesma coisa que eu e, para a minha felicidade, a


fatia era grande.
Na primeira garfada, tive que fechar os olhos e aproveitar todos os
ingredientes dançando na minha boca.

— Gar-çom... — chamei com a boca cheia. — Pode trazer um


expresso para colocar por cima?

O homem me olhou como se eu tivesse ofendido a mãe dele.

— Ora, colocar em cima? Não...

— Traga logo o expresso — Lorenzo ordenou e, a contragosto, o


homem trouxe o café.

Os italianos tinham a irritante mania de não deixar a gente mexer


minimamente nas receitas deles. Eu só queria o meu Tiramisù com mais café,
qual o problema?

Assim que ele trouxe o meu expresso, com uma expressão julgadora
eu joguei sobre a minha sobremesa, e, nossa, eu queria me casar com aquele
prato de Tiramissu.

— Estava bom? — Bruna perguntou.

— Muito... — Calei ao ver como ela encarava meu prato.

Ele realmente estava estranho, parecia uma lavagem, mas estava tão
bom.

— Vamos?

Levantei-me com tudo e o restaurante girou, muito rápido, e não


parou de girar.

— Alice? — Ouvi Bruna chamar e tudo ficou preto.


 

Abri os olhos e Bruna me encarava com verdadeiro pavor.


— Graças a Deus, você acordou!

— Ela acordou? — Ouvi Lorenzo perguntar enquanto eu sentia o


chão se mexer.

— Por que o chão está mexendo? — Perguntei.

— Ai, meu Deus, ela está delirando! Anda logo, Dante! — Bruna
gritou.

Tentei me levantar, mas ela me manteve deitada em seu colo.

Olhei para o lado e vi que não era o chão que estava mexendo,
estávamos em um carro.

— O qu... Por que estamos num carro?

— Fica deitada, não faça movimentos bruscos, já estamos te levando


para o hospital. — Lorenzo falou.

Sem paciência para aquela maluquice deles, me levantei e tudo rodou


de novo, me recostei no assento do carro e fechei os olhos.

— Para de ser teimosa — Bruna brigou comigo.

— Cuida dela direito! — Lorenzo brigou com a Bruna e, se não fosse


a tontura, eu teria rido. — Eu devia ter ido atrás. Dante, pare esse carro, eu
vou com Alice...

— Já estamo... — Dante tentou falar, mas Bruna o interrompeu.

— Nem pensar! Continua, Dante.

Abri os olhos, me sentindo um pouquinho menos tonta, pelo menos


eu não queria vomitar aquele Tiramisù. Droga, só de pensar, meu estômago
revirou.

— O que aconteceu e por que estamos indo para o hospital?

— Porque você desmaiou no meio do restaurante.


— Eu comi demais e levantei com tudo, só isso. Vocês estão
exagerando, estou bem.

— Você está pálida igual papel.

— Chegamos.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, estavam praticamente me


arrancando do carro e gritando por um médico.

Bruna avisou o Oscar que estávamos no hospital enquanto um


enfermeiro me espetava até eu parecer uma peneira.

— Não precisa de soro.

— Você é arquiteta, e ele enfermeiro, quem sabe o que você precisa é


ele!

Após a fala de Bruna, fiquei até com medo de dizer algo e ela me
prender na cama de hospital.

Não sei quanto tempo fiquei encarando a parede, pensando como era
idiota eles me levarem em um hospital só porque desmaiei. Todo mundo
desmaia, eu nunca tinha desmaiado, mas é normal.

— Eu...

— Se você falar que quer ir embora mais uma vez, eu costuro a sua
boca.

Foi impossível não rir dela. Bruna se juntou a mim e ri tanto que
minha barriga começou a doer.

— Você é muito tirana — reclamei, tentando parar de rir.

— Você é a pior doente... — Soltou uma risada. — A pior doente do


mundo.

A porta foi aberta e o médico nos encarou com a testa franzida, o que
só nos fez rir mais.
— Pode falar, doutor — falei ao recuperar o fôlego.

— Os seus exames estão ok, você não está doente — disse em


italiano.

— O que ele disse? — Bruna perguntou.

— O que estou dizendo faz horas. Que não estou doente. — Voltei a
minha atenção para o médico. — Posso ir embora?

— Sim, mas... — Ele sorriu tenso. — Pelas semanas, a senhorita não


deve estar ciente, mas meus parabéns, a senhorita será mamãe.

Paralisei, fiquei encarando o médico, esperando ele dizer que era


brincadeira. Só podia ser brincadeira, um médico não daria uma notícia
dessas desse jeito.

Eu esqueci o remédio e estava atrasada, e tinha a minha pele que


estava linda igual à de grávi... Não. Eu não estava grávida, eu saberia. Toda
mulher sabe. Se estivesse, eu teria tido enjoos... Minha barriga gelou ao
lembrar das diversas vezes que enjoei nos últimos dias. Droga, eu estava
tomando café e odeio café.

— O que foi? O que ele disse? Mamma? O que tem sua mãe? —
Bruna perguntou, e comecei a hiperventilar.

Ok, eu realmente estava passando mal.

— Senhorita, acalme-se.

— Estou calma! — Esbravejei, pensando que talvez, só talvez, ele


tivesse razão. — Desculpa.

— Tudo bem, as mamães costumam se exceder facilmente.

— Ok, mas eu não sou mãe. — Ele me encarou como quem pergunta
“Quem você quer enganar?”. — É sério, refaz o exame...
— Alguém pode me dizer o que está acontecendo aqui? — Bruna
perguntou.

— Se quiser, podemos marcar o ultrassom para daqui duas semanas.

— Duas semanas?! Até lá eu faço o que com a minha ansiedade?

— Alguém. Por favor. Pode. Me...

— Ele acha que estou grávida, mas...

— Você está grávida! — Bruna levou a mão à boca.

— Não, ele acha, mas...

— Pelo amor de Deus, né!? É claro que você está grávida.

Balancei a cabeça negando.

— Eu vou embora — falei para o médico. — Pode tirar isso de mim?


— Apontei para o soro.

— Mas...

— Se eu estiver grávida, e eu tenho certeza de que não estou, o que eu


teria que ficar fazendo aqui no hospital?

— Nada, só...

— Então, quero ir embora.

O médico suspirou e tirou o soro.

Eu iria passar em uma farmácia, tinha certeza de que um simples


exame de farmácia comprovaria que eu estava certa.

— Você não vai abrir a boca sobre essa história maluca de gravidez
— avise para Bruna.

— Mas...
— A gente vai passar na farmácia e comprar testes.

Bruna me encarou por um tempo.

— Ok, você está em estado de negação. Acho que o próximo passo é


a raiva ou a depressão.

— Eu não estou surtando e para de falar que estou.

— Não disse que está surtando, você que está dizendo.

Peguei as minhas coisas e saímos do quarto. Assim que chegamos à


recepção, Lorenzo e Dante andaram em nossa direção. Lorenzo parecia
preocupado. Ele segurava a sacola com o livro. Não consegui deixar de
pensar nele achando que nunca teria um bisneto, o que, segundo o médico,
não era verdade. No entanto, a minha intuição dizia o contrário.

— Quem deixou você sair assim? Me diga o nome desse médico, eu


vou...

— Está tudo bem, Lorenzo. Estou bem.

— E o que você tem?

— Nada, ele fez vários exames, mas não deu em nada.

— Mas a senhorita ficou um bom tempo desmaiada e estava muito


pálida. Tem certeza de que está realmente tudo bem? — Disse Dante.
Encarei-o querendo bater naquele grandão enxerido.

— Sim, Dante, eu tenho certeza. Né, Bruna?

— Uhum — confirmou com um gemido.

— Bom, como podem ver, estou bem. Muito obrigada por me


trazerem ao hospital, mas agora eu e a Bruna vamos voltar para a empresa...

— O quê? Até parece, tire o restante do dia para descansar. Vem, eu e


Dante vamos levar vocês para o hotel — disse Lorenzo. Sem ter o que fazer,
concordei.
Lorenzo passou todo o caminho perguntando se eu estava realmente
bem. Era fofo, às vezes dava vontade de apertá-lo por ser tão fofo.
 
Capítulo 17

Abri a porta e verifiquei se o corredor estava vazio.

— A barra está limpa...

— Pelo amor de Deus, Alice. Vamos à farmácia comprar teste de


gravidez, não assassinar uma pessoa — disse Bruna, passando por mim.

— Isso, espalha para o hotel inteiro ouvir! E me desculpa se eu não


quero que ninguém escute.

Bruna suspirou e segurou os meus ombros.

— Amiga, eu sei que sua cabeça deve estar uma bagunça, mas você
está surtando e tentando negar o óbvio.

— Eu não estou grávida! — Gritei, bem no momento que uma


hóspede saía do quarto. Ela me encarou com estranheza. — Desculpa, eu não
queria gritar com você.
Desculpei-me de coração. A última coisa que queria era ser rude com
a Bruna, ela era uma ótima amiga e eu estava sendo uma vaca surtada com
ela.

— Tudo bem, são os hormônios... — Ela pigarreou. — Se quiser, eu


vou na farmácia e você me espera aqui.

Meus olhos lacrimejaram.

— Você faria isso por mim?

— Amiga, eu pagaria alguém para arranhar o carro do seu ex. É claro


que vou na farmácia.

Pela primeira vez, me senti grata pela traição do Raphael e da Larissa.


Eu nunca teria me tornado amiga da mulher incrível parada bem na minha
frente.

Abracei a Bruna.

— Obrigada, e me desculpa mesmo por gritar com você.

— Tudo bem, o dia que eu tiver os meus filhos, vou gritar com você
de volta — falou rindo.

— Eu juro que vou ouvir os gritos calada.

— O quê? Está louca? — Bruna desfez o abraço e me encarou. —


Mande eu me ferrar por estar parecendo uma maluca.

— Estou parecendo uma maluca?

Ela andou em direção ao elevador.

— Você está dizendo que um médico errou o resultado do seu exame,


você não está em seu estado normal.

Sorri, a doida da Bruna era uma boa, não, ela é uma amiga
maravilhosa.
Voltei para o quarto e me sentei na cama. Não sei quanto tempo fiquei
encarando a parede e pensando no que aconteceria se eu realmente estivesse
grávida, mas, nesse meio tempo, pensei nas reações dos meus pais, no que
Matteo pensaria e até no Lorenzo.

Meu estômago começou a revirar e quanto mais eu pensava, pior


ficava, até que não aguentei mais e corri para o banheiro. Coloquei tudo para
fora.

Dei descarga e me sentei no chão ao lado da banheira.

Sempre quis ser mãe, sonhei com isso diversas vezes, mas estava
apavorada com a possibilidade. Não foi daquele jeito que sonhei, era para
estar casada com o pai da criança, mas eu e Matteo nem tínhamos nada sério.
Eu havia cometido a burrada de engravidar de um homem com que estava
fazendo sexo casual.

— Eu não estou grávida! — Falei, ao perceber o que estava pensando.

— Seu vômito diz o contrário — disse Bruna, me assustando.

— Droga, você me assustou!

— Aqui estão os seus testes.

Ela virou a sacola no chão do banheiro e várias caixas caíram.

— Minha nossa, quantos você comprou?

— Todos os que tinham na farmácia. Não queria arriscar de você


dizer que o teste está errado se todos eles disseram que você...

— Disserem que não estou grávida é porque realmente não estou.

— Ainda em estado de negação.

Ela se sentou ao meu lado e pegou uma das caixas.

— Acabei de fazer o Eros ficar alguns euros mais rico.


— Como assim? — Perguntei, achando aquilo mais interessante do
que mijar no palitinho. Adiaria aquele momento o máximo que eu pudesse.

— Ai, amiga, você realmente não presta atenção em nada a sua volta.
Eros é dono da farmacêutica KLantiz. — Apontou para a logo da
farmacêutica do teste de gravidez, a mesma farmacêutica que fazia meu
anticoncepcional.

— Eu devia processar ele, os anticoncepcionais dele são uma


porcaria!

Bruna riu.

— Então admite que está grávida?

— Não, mas se estiver a culpa é do anticoncepcional péssimo que eles


produzem.

— Ou do super esperma do Matteo, ou quem sabe da pessoa que não


tomou o anticoncepcional?

Sempre tomei meu anticoncepcional certinho, meus sintomas muito


provavelmente eram só coisas aleatórias. É normal as pessoas ficarem tontas
se levantarem rápido, talvez eu tenha labirintite. Eu devia ter ido procurar um
otorrino e não ido atrás de teste de gravidez. Os enjoos com certeza eram por
que... sei lá, deve haver uma explicação.

Suspirei e abracei meus joelhos.

— Vou ler isso aqui pra ver o que você tem que fazer — avisou
Bruna, com um teste na mão.

Balancei a cabeça, concordando, enquanto ela lia.

Observei a pilha de testes no chão, eram tantos. Comecei a contá-los


para me distrair e parar de surtar. Um, dois... Vinte e dois testes. Nossa,
quanto que deu tudo isso? Ela pagou em euro, barato não foi.
— Mija nesse potinho, enfia essa pontinha e espera três minutos, vai
aparecer na telinha, grávida, ou não grávida. — Ela me entregou o teste
aberto e o tal potinho para eu fazer xixi.

Toda a calma que eu adquiri convencendo a mim mesma de que eu


não estava grávida enquanto contava os testes foi para o espaço e eu comecei
a suar de nervoso. Tantas coisas que podiam acontecer comigo, estar grávida
não podia ser uma delas, eu só tinha 22 anos, solteira, sozinha em um país
diferente. Minha vida só estava começando e eu podia estar grávida do meu
chefe.

— Não estou com vontade de fazer xixi.

Bruna se levantou e voltou com três garrafas de água.

— Bebe tudo.

Peguei uma das garrafas e bebi de uma vez. Bruna começou a abrir
todos os testes, ajudei-a e, no meio da segunda garrafa, me deu vontade de
fazer xixi.

Levantei e, ao abaixar a calça para fazer xixi, Bruna me encarou com


a testa franzida.

— O que está fazendo? — Perguntou.

— Me deu vontade de fazer xixi.

— Mas comigo aqui? — Não respondi, não havia pensado como seria
estranho fazer xixi com ela no banheiro. — Nossa, se eu não for madrinha
dessa criança, eu juro que te mato.

— Não vai sair? — Ela negou. Estava apertada, então só fiz o que
tinha que fazer, tomando cuidado para fazer tudo dentro do copinho
minúsculo.

— Cuidado com isso — avisou, ao me ver colocando-o em cima da


pia.
Fiz igual Bruna disse: mergulhei a ponta dos testes no xixi e coloquei
todos sobre a pia. Programei meu alarme para três minutos e voltei a me
sentar ao lado da Bruna no chão.

— O xixi foi suficiente?

Não consegui conter a risada, ela me acompanhou.

— Nunca imaginei que alguém me perguntaria isso.

— E eu não imaginei que perguntaria para alguém — disse ela. —


Está nervosa?

Balancei a cabeça confirmando e segurei sua mão.

— Mas eu tenho você.

— Sim, você tem. — Sorrimos e encaramos a parede oposta do


banheiro. — Você lavou essa mão?

— Sim.

— Que ótimo, achei que teria que interromper o nosso momento fofo
no banheiro que está cheirando xixi.

Dei risada, me sentindo mais calma.

O nosso silêncio foi interrompido pelo alarme do meu celular.

— Você pode ver?

Bruna concordou e foi até a pia onde os testes estavam.

— Então? — Questionei, roendo a unha do meu polegar.

Ela me encarou com um sorriso vacilante e, antes que ela falasse


qualquer coisa, eu soube, eu simplesmente soube que estava grávida do
Matteo.

— Estou grávida.
— Sim, em todos os testes.

Vinte duas vezes confirmado, é irrefutável.

Eu não sabia o que eu estava sentindo, eu só fiquei ali pensando como


a minha vida estava completamente diferente do que eu esperava para ela.
Sempre achei que o dia que descobrisse que estava grávida ficaria saltitante,
porque estaria casada e eu e meu marido iríamos querer aquele bebê mais do
que tudo no mundo. No entanto, a realidade era bem diferente, eu estava
solteira e a um passo de surtar completamente... Um passo? Eu já havia
surtado.

Comecei a chorar, e a Bruna me abraçou.

— Ei! Está tudo bem.

Ao escutar sua fala, me afastei e enxuguei as lágrimas.

— Você tem razão.

— Tenho? — Perguntou, desconfiada da minha mudança brusca de


humor.

— É, eu estou grávida do cara mais arrogante que conheço, mas está


tudo bem. Eu sempre quis ser mãe e ter uma família... — Um soluço me
interrompeu, estava tudo acontecendo ao contrário do que sempre quis.

— É, não está tudo bem.

Ela me abraçou novamente, e chorei tudo o que tinha para chorar.

— Não faz nem meia hora que eu sei que sou mãe e já sou a pior mãe
do mundo.

Limpei o nariz com a minha blusa, e Bruna fez uma careta engraçada.
Dei uma risada misturada com choro.

— Você não é a pior mãe do mundo.


— Sou sim. Em Mônaco, eu bebi um monte e isso podia fazer mal
pro bebê. Minha Nossa Senhora! — Levantei-me. — E se fez mal para o
bebê? Eu preciso de um médico, tenho que fazer exame...

— Você. Está. Surtando — Bruna falou pausadamente enquanto me


segurava pelos ombros. — De novo.

Tentei respirar fundo, mas eu só conseguia pensar em tudo que eu já


tinha feito que podia, de alguma forma, prejudicar o bebê.

Toquei minha barriga e foi impossível não me emocionar. Eu só


estava tentado negar o óbvio, havia uma bebê ali. Ele devia ser tão pequeno e
frágil e a única coisa capaz de garantir seu bem-estar era eu.

Nada mais importava, o que as pessoas diriam, a decepção dos meus


pais, o futuro brilhante que eu havia traçado milimetricamente, o meu super
plano de me casar só para depois ter filhos. Eu estava grávida. Eu queria
aquele bebê e mais nada importava. Estava tudo acontecendo do jeito errado,
mas eu faria dar certo pelo meu bebê.

— Eu vou ser mãe, Bruna — afirmei, limpando as lágrimas.

— Isso no seu rosto é um sorriso? — Perguntou, desconfiada, e


confirmei. — Ok, você saiu da negação e foi direto para a aceitação. É
melhor eu passar o resto do dia aqui com você vendo coisas de bebê na
internet pro meu futuro afilhado, só para garantir que você está realmente
bem.

Dei uma risada em meio às lágrimas ao ver sua animação.

— Eu vou ser mãe — repeti, testando as palavras.

— Sim, amiga. Vinte e dois testes de farmácia e um exame de sangue


comprovam isso.

— Eu acho que estou um pouco apavorada.

— Tudo bem, estou aqui.


 
Capítulo 18

A viagem que era para ser de um ou dois dias acabou se estendendo.


Aproveitei que estava em Nova York e pedi para Antonella marcar algumas
reuniões que há um bom tempo eu estava precisando fazer pessoalmente, mas
a minha agenda não permitia.

Comandar um império não era fácil como as pessoas pensavam,


trabalho mais horas do que o meu corpo aguenta e durmo menos do que
deveria. No entanto, eu não reclamo. Adoro o caos, a agitação, menos quando
esse caos e agitação vinham em forma de problema, mas eu finalmente havia
resolvido tudo e estava voltando para Roma.

Nos últimos dias, quando eu não estava trabalhando, ficava pensando


em Alice. Não via a hora de tê-la em meus braços, ouvir seus gemidos e até o
som da sua risada. A primeira coisa que faria ao chegar a Roma seria ir ao
hotel, tinha certeza de que ela estaria lá, No dia seguinte eu veria meu avô,
que, segundo Dante, estava muito bem.

— O senhor quer que eu mande o seu smoking para o hotel ou para...


— Smoking? Que smoking? — Perguntei para Antonella.

— O que o senhor vai usar no jantar beneficente de hoje.

Cazzo! Havia me esquecido completamente desse jantar.

— Por que você não me avisou? — Inquiri, puto. Meu plano era
passar a noite enterrado em Alice, não em um jantar entediante.

— É... Eu avisei, duas vezes. Inclusive hoje pela manhã.

A minha semana foi corrida, devo ter dormido no máximo quatro


horas por noite. Não sei em que momento ela falou do jantar, mas eu não
prestei atenção.

— Mande para o hotel.

Pelo menos veria Alice antes de ir ao jantar.


 

Cheguei ao Sartori Roma Hotel e fui informado de que o meu pai


estava me aguardando. Estranhei e perguntei se eles tinham certeza, mas,
aparamente sim, Giorgio di Sartori estava me aguardando no bar do hotel.

Meu pai era um homem complicado, já chegou a passar anos sem dar
um único telefonema. Só sabíamos que ele estava vivo porque meu avô
sempre manteve alguém o monitorando. No entanto, após meu avô adoecer,
eu esqueci da existência do Giorgio, eu não tinha tempo para me preocupar
com um homem adulto que se comportava igual a um adolescente mimado.

Ao entrar no bar, demorei um tempo para achá-lo e quase não o


reconheci.

— Matteo! — Abriu os braços para mim. — Meu filho, quanto


tempo.
Ele me abraçou e esperei que aquele momento estranho passasse para
saber que merda havia acontecido com ele.

— Não estava com saudade de mim, filho?

— O que houve com você?

Após ter sido traído e abandonado, ele parecia ter desistido da vida,
mas nunca o tinha visto tão... Nem sabia o que dizer. O homem que um dia já
foi um grande empresário agora parecia um pedinte, com o cabelo comprido
e queimado de sol, assim como a pele. Parecia que ele trabalhava debaixo do
sol diariamente. Ele vestia uma calça de sarja e o que era aquilo nos pés dele?
Sapatilhas de couro?

Ele parecia um morador de rua e não um dos homens mais ricos do


mundo. Ele recebia uma porcentagem das ações do Grupo Sartori e, durante
os anos, ele sempre usou esse dinheiro para viver uma vida de luxo.

— Gostou? — Ele abriu os braços e girou.

— Você se viciou em jogos e perdeu seu dinheiro?

Era a única explicação para um homem com milhões na conta estar


daquele jeito.

— Claro que não, eu me livrei da prisão que era o dinheiro. — Quem


ele estava tentando enganar? O dinheiro não era a prisão dele, o problema
dele era outro, com nome e sobrenome, Isabella Denaro, minha mãe. — Me
sinto um novo homem, filho. Você não sabe, eu estava no Caribe, vivendo a
minha vida normalmente, quando a vi, ela estava linda e foi como me
apaixonar pela primeira vez...

— Isabella fez isso com você? Cazzo! Eu vou ter que bloquear os
seus bens?

Ela havia se superado dessa vez, ele parecia péssimo.

— Não! Isso não tem nada a ver com Isabella, e você pode fazer o
que quiser com os meus bens, eu não me importo mais com isso.
— Se Isabella não te deu outro golpe, o que aconteceu com você?

Diferente do que sempre acontecia, ele não defendeu Isabella.


Durante toda a minha vida, eu o vi defendê-la de todos, era a primeira vez
que ele não dizia nada.

Ele bufou.

— Eu me apaixonei. — Aparentemente por uma golpista, ele tinha


um péssimo gosto para mulheres.  — Ariana é maravilhosa, você precisa
conhecê-la. Ela me fez ver que eu não preciso de todo esse luxo e que o que
realmente importa é amar e ser amado.

Ele parecia realmente acreditar no que falava, era assustador.

— Qual é o nome completo dessa Ariana?

Sua expressão fechou e começou a balançar a cabeça.

— Você não vai investigar a vida da Ariana, não é a minha mulher


que você deveria investigar.

Não entendi o que ele quis dizer com “não é a minha mulher que você
deveria investigar”, mas eu não me importava, a minha estava me esperando.

— Saiba que vou investigá-la de qualquer forma, você não tem um


histórico confiável de relacionamentos, Giorgio. Agora se me der licença,
preciso ir.

— Giorgio. — Bufou. — Eu sou seu pai.

Fui obrigado a rir.

— Essa deve ser o quê? A vigésima vez que te vejo nos últimos 30
anos? É exigir um pouco demais que eu te chame de pai.

Eu não tinha nada contra ele, mas Giorgio era um homem fraco, que
se deixou levar pelo amor e esse amor o destruiu. Era só olhar para ele e ver
onde aquele amor o havia levado.
Ele teve a decência de parecer sem graça.

— Eu não saberia cuidar de você igual seus avós cuidaram. Não


depois...

— Eu realmente preciso ir.

Eu não queria ter aquela conversa sem sentido. Alice estava a alguns
andares acima de nós e era lá que eu queria estar.

— Espere, Ariana acha que nós deveríamos nos aproximar e que isso
vai ajudar no meu crescimento espiritual.

Crescimento espiritual? Seja lá o que isso for, eu não me importava.

Quase ri daquilo, Ariana não era diferente das outras mulheres com
quem ele já se envolveu, ela só era mais estranha que as outras.

— Então a sua namorada que não se importa com dinheiro te


aconselhou a se aproximar de mim? O seu filho bilionário?

— Não insinue que Ariana está interessada em dinheiro.

Respirei fundo, aquela conversa realmente não me importava.

— Seu pai está a cada dia mais doente. Em vez de virar... O que você
é? Hippie? Tanto faz, em vez de falar com plantas, deveria visitá-lo.

— Eu fiz isso, ele não me reconheceu.

Por que não fui informado sobre isso? Dante agora só tinha uma
função e estava desempenhando-a muito mal.

— Estou na cidade há alguns dias e descobri que está dormindo com a


garota que anda com ele pra cima e para baixo.

— Não é da sua conta com quem eu divido a cama.

Virei as costas para ele.


— Você é meu filho, e não quero que passe pelo que passei com
Isabella.

Girei nos calcanhares e o encarei seriamente.

— Não ouse comparar Alice com Isabella!

Se o homem na minha frente não fosse meu pai, eu quebraria sua


cara.

— Não, ela é mais esperta.

Por muito pouco eu não o soquei.

— Abra a boca para falar da Alice mais uma vez e eu não me


responsabilizo pelos meus atos.

— Você realmente não acredita em mim. Essa mulher te enfeitiçou,


está te manipulando igual...

— Essa conversa acabou.

— Se não acredita em mim, olhe essas fotos.

Ele me entregou um envelope e, ao abri-lo, uma raiva fora do normal


tomou conta de mim. Alice estava beijando um homem dentro da minha
empresa, bem debaixo do meu nariz.

— Eu lamento, filho. Ele vai todos os dias vê-la.

Ela só esperou que eu saísse do país para levar seu amante para dentro
da minha empresa.

O sentimento de traição era pior que a raiva, me senti o homem mais


imbecil do planeta. Como me deixei ser enganado? Ela era igual a Isabella e
eu havia caído em seu golpe sem nem perceber.

Eu devia ter confiado nos meus instintos quando a conheci, mas


cometi o erro de me envolver com uma mulher que conheci em uma
delegacia e que depois apareceu dentro da minha empresa.
Devolvi as fotos para ele.

— Eu não me importo com o que ela faz ou deixa de fazer. Não temos
nada.

Era mentira, e qualquer um podia ver isso. Estava puto, furioso e não
conseguia tirar as malditas fotos da minha cabeça.
 

Passei os últimos dias discando o número dos meus pais para falar
sobre a gravidez, mas o Matteo é quem devia saber primeiro, daí eu acabava
perdendo a coragem. Se ele ao menos tivesse me ligado durante a semana,
mas ele não havia dado nem sinal de vida e a minha coragem ruía. Eu podia
ligar, ou mandar uma mensagem primeiro, mas se ele não queria nem me
ligar, eu não queria imaginar como seria ao descobrir sobre o bebê. Isso
estava me matando.

— Eu preciso contar logo. Tipo tirar um band-aid.

— O quê?

Era o dia do tal jantar beneficente e a Bruna estava me ajudando a me


arrumar.

— Eu preciso contar logo para o Matteo. Amanhã eu vou ligar para


ele, de amanhã não passa.

— Graça a Deus, achei que iria esperar a criança nascer.

Revirei os olhos para ela, eu ainda nem havia me acostumado direito


com a notícia.

— Você está bem mesmo com essa coisa de bebê?

— Acho que sim.


Eu ainda não sabia exatamente como me sentia, mas eu gostava do
bebê e o queria. Isso era o suficiente para mim.

Acariciei minha barriga.

— Acha que já dá para ver?

Ela riu com a minha pergunta.

— Óbvio que não! Ele deve ser do tamanho de um morango, ou algo


assim.

Olhei-me no espelho e vi que ela tinha razão, mas também que eu não
devia tê-la deixado escolher meu vestido.

— Bruna, eu acho que esse vestido é um pouco demais.

— Sabe o tipo de gente que vai nesse jantar? Tem até jornalistas
cobrindo o evento.

A menção aos jornalistas fez a minha barriga gelar.

— Eu te odeio, Bruna!

Ela riu.

— Não tenho culpa se você não sabe dizer não. Agora, coloque isso.
— Ela me deu os brincos e colar que o Matteo havia me dado.

— Não vou colocar...

— Você precisa de joias, não pode colocar bijuteria num evento


desses. Se ele te deu é para usar.

Ela tinha razão. Acabei colocando, mas parecia estranho usar algo tão
valioso.

Bateram à porta e Bruna foi abrir.


— Você? Você não ia para Florença? — Ouvi a voz de Ricardo e
sorri, pensando em como ela sairia dessa.

— Ah, eu... — A filha da mãe começou a tossir. Eu devia ter pensado


nisso, podia muito bem fingir estar doente. — Desculpa, peguei um resfriado
e achei melhor não ir.

Revirei os olhos e fui até a porta.

— Uau, você está... Estonteante! — Disse Ricardo, com um sorriso,


ao me ver.

— Obrigada — agradeci sem graça.

— Não precisa agradecer, você está realmente muito linda.

Dei um sorriso amarelo pensando que talvez a minha beleza


estonteante fosse por causa do serzinho que crescia dentro de mim e que
aparentemente era meu elixir da beleza. Como não o amar? Se sendo do
tamanho de um morango, segundo a Bruna, ele já se fazia tão presente.

Pela manhã, ele se fazia presente quando eu me debruçava sobre a


privada, mas, assim que eu escovava os dentes e jogava uma água no rosto, a
primeira pessoa que me via dizia que a gravidez estava fazendo bem a minha
pele, no caso, a Bruna, mas Ricardo disse que estava estonteante. Ninguém
nunca me chamou de estonteante.

— Vamos? — Franzi a testa, confusa. — Meu pai não te avisou? Ele


passou mal e pediu que eu viesse.

— Seu pai? O quê?

— Nossa, você não sabe? Oscar é meu pai.

— Como eu nunca soube disso?

— Porque você é a pessoa mais lenta do mundo — disse Bruna, a


encaramos e a descarada começou a tossir.
— Você não é lenta, não gosto que saibam que ele é meu pai. As
pessoas costumam achar que só consegui as coisas por ele ser o meu pai, mas
trabalhei muito para chegar onde estou.

Bruna bocejou e a encarei, sem acreditar na cara de tédio dela.

— Desculpe, são os remédios para gripe.

Inacreditável, ela era inacreditável.

— Minha Nossa Senhora, como eu sou mal-educada, nem perguntei o


que houve com o Oscar. Ele está bem?

Ricardo riu.

— Sim, foi só a pressão dele que subiu, mas ele já foi medicado.
Vamos? — Ele estendeu o braço para mim.

— Vou só pegar a minha bolsa.

Corri para pegar a minha bolsa e fomos para o tal jantar beneficente.
Bruna tinha razão, ao chegarmos, havia vários fotógrafos que, graças a minha
Nossa Senhora, estavam interessados em fotografar outras pessoas.

Uma mulher nos levou até nossa mesa que estávamos dividindo com
outras pessoas e Ricardo puxou a cadeira para mim.

— Acho que estou acompanhado da mulher mais bonita desse lugar


— disse, me deixando um pouco desconfortável.

Apenas sorri em resposta e me sentei. Queria que aquela noite, que


mal havia começado, acabasse o mais rápido possível.

— Alice?

Ao me virar, vi Eros e sorri verdadeiramente, era bom ver um rosto


conhecido naquele lugar. Mas não deixei de percorrer o lugar com o olhar,
em busca do Matteo. Infelizmente, não o vi em nenhum lugar. Por que ele
não mandou pelo menos uma mensagem? É assim que relacionamentos
casuais são? Eu definitivamente não gosto.

Levantei-me para cumprimentá-lo.

— Estou surpreso em te encontrar aqui.

— Eu ia acompanhar meu chefe, mas ele passou mal, então vim com
o filho dele.

Apresentei os dois.

— Sentem na minha mesa.

Disse que achava que não podia, mas Eros podia tudo. Logo uma
mulher surgiu e nos mudou de lugar. A mesa de Eros só tinha Rafiq, um
amigo dele que eu tinha visto em Mônaco, que me cumprimentou, mas havia
vários lugares marcados.

Após alguns minutos de conversa, senti como se alguém me


encarasse. Olhei em volta do salão e, como se ímãs me atraíssem para ele, vi
Matteo. Meu coração disparou, sorri. Nem havia percebido como estava com
saudade dele. Por alguns instantes, pareceu que só havia nós dois naquele
salão enquanto trocávamos olhares, mas percebi que havia algo diferente em
seu olhar. Antes que eu pudesse decifrar o que havia de diferente, uma loira
exuberante parou ao lado dele e enlaçou o seu braço no dele.

Uma estranha dor no peito me fez desviar o olhar deles. O que ela é
dele? Pelo jeito que ela envolveu o braço dele, eles se conhecem. Ele não me
ligou, por que está saindo com ela? O pensamento foi doloroso, eu não
conseguia pensar nele com outra mulher.

Perguntas continuaram rodando a minha cabeça, me sufocando.

— Vou ao toilet.

Levantei-me e, ao me virar, esbarrei em um peito firme que eu sabia


muito bem de quem era.
— Cuidado. — Segurou minha cintura, me impedindo de cair.

Ergui o olhar e engoli em seco quando nossos olhares se cruzaram.


Por que ele tem que ser tão bonito? E por que não me ligou? Em Mônaco,
não parecia só sexo. Minha garganta travou, me senti traída, mesmo sabendo
que ele não me devia fidelidade, ou devia?

— Oh, querida, você se machucou? — Uma voz feminina perguntou,


e me afastei de Matteo.

Uma senhora extremamente elegante me encarava com certa


preocupação, ela estava acompanhada de um homem que não me era
estranho. A loira que estava com Matteo me analisava da cabeça aos pés,
deixando-me desconfortável.

Limpei a garganta.

— Estou bem.

— Tem certeza? Não torceu o pé, ou algo do tipo? — Ricardo


perguntou.

— Não, eu realmente estou bem. Só esbarrei no Ma... No senhor


Sartori.

Podia ser coisa da minha cabeça, mas podia jurar que vi o maxilar do
Matteo tensionar.

— Vocês se conhecem? — A loira perguntou, enlaçando o braço de


Matteo e tocando o peito dele.

— Alice é a arquiteta que está cuidando do projeto dos hotéis.

Arquiteta, eu sabia que era exatamente isso que era, mas meu coração
não compreendeu e se contorceu. Olhei para a mão da mulher tocando-o tão
intimamente. Doeu mais do que podia imaginar.

Enquanto estava surtando porque esse italiano me engravidou, ele


estava festejando com a loirona.
A mulher sorriu.

— Então, ela é sua funcionária. Que maravilha. Prazer, sou Madeline.

Ela me cumprimentou com beijo na bochecha, mas eu não conseguia


parar de encarar Matteo.

Não temos nada, era só sexual casual. — Repeti, tentando convencer


o órgão que só deveria bombear sangue, mas que insistia em doer toda vez
que meus olhos focavam na mão da mulher em volta do braço dele.

— Com licença.

Praticamente corri em direção ao banheiro.


 
Capítulo 19

Ao me olhar no espelho, estava levemente pálida. Levei a mão à


pequena cicatriz que tinha no lugar que bati a cabeça no volante, uma
lembrança eterna da traição do Raphael e meu lembrete diário para não ser
feita de idiota novamente.

Toquei a minha barriga. Passei dias pensando em um jeito de contar


para o Matteo sobre a gravidez, e ele aparecia ali com outra mulher. Nunca
falamos de exclusividade, mas... Será que ele estava saindo com várias
mulheres? O
pensamento fez um arrepio estranho atravessar minha coluna.

Em algum momento nos últimos dias, eu cheguei a pensar que não


seria mãe solteira, que ele iria querer mais do que a criança, contudo, eu
estava enganada, nunca foi nada além de sexo. Ele nem queria nada comigo,
eu que me joguei nele. Meu peito doeu ao perceber que talvez ele não
quisesse nada comigo por já ter essa mulher. Lembrei-me do nosso jantar em
Mônaco, ele fechou o restaurante porque não queria ser visto comigo, não
queria que ela nos visse juntos. Minha nossa, estava tão óbvio.
Eu superei a traição do Raphael, superar o meu casinho com o Matteo
seria moleza. Não importava que meu coração doesse só de pensar em
superá-lo, eu tinha coisas mais importantes para me preocupar, como o bebê
que estava carregando.

Recusando-me a chorar, ergui a cabeça e voltei para a mesa.

Assim que me sentei, senti o cheiro de perfume que me incomodou,


mas não tanto quanto ver Matteo e Madeline sentados um ao lado do outro.
Eu não podia simplesmente desviar o olhar, já que estavam sentados de frente
para mim.

— Nem tivemos o prazer de nos apresentar, sou Olivia e esse é meu


marido David. — A mulher ao meu lado se apresentou e me esforcei para
prestar atenção ao que ela falava.

Reconheci ela e o marido, era a primeira-dama e o presidente norte-


americano.

— Prazer, Alice.

Inclinei-me para cumprimentá-la com os típicos dois beijinhos na


bochecha e fui invadida por uma onda de enjoo ao sentir o seu perfume forte.

Afastei-me apressadamente e tomei um gole de água, tentando


acalmar o meu estômago.

— Ei, tudo bem? — Ricardo perguntou baixinho.

— Oi? — Encarei-o.

— Você não parece bem.

— Estou bem — falei, mesmo não estando. Eu queria sair dali. Não
ter que sentir aquele perfume, nem ver o Matteo com outra.

Sem aviso, Ricardo tocou a minha bochecha. Não gostei, mas a sua
preocupação me fez me sentir culpada.
— Está tudo bem mesmo? Se quiser, podemos ir embora, eu odeio
esses eventos.

Antes que eu pudesse aceitar e fugir daquele lugar, Olivia voltou a


falar.

— Vai participar do leilão, Alice?

Tirei a mão de Ricardo do meu rosto e a encarei.

— Que leilão?

— O leilão de jantares. — A pergunta deve ter ficado estampada na


minha cara, pois ela explicou — Alguns homens e mulheres leiloam jantares
com eles. Ano passado uma atriz de Hollywood recebeu o lance de 700 mil
euros. — Meu queixo caiu. Tudo isso por um jantar? — Madeline será
leiloada essa noite.

— Por que você não entra no leilão? — Madeline perguntou para


mim.

— Eu? Quem iria pagar para jantar comigo? E também já estamos


indo embora.

Ela riu.

— É para a caridade. Com certeza você consegue uns 10 mil euros


para as crianças com câncer.

O seu tom venenoso não me passou despercebido e tive certeza de


que ela e o Matteo tinham algo. Encarei-o, mas ele não esboçou nenhuma
reação, apenas ficou me encarando friamente. Idiota, eu era uma grande
idiota.

— Não acho que...

— Alice não vai entrar no leilão — Matteo falou e o encarei, sem


entendê-lo.
A loira bonitona com ele podia, mas eu não? Ele achava que ninguém
daria um lance por mim?

— Mas a ideia é maravilhosa, e, pela quantidade de olhares que sua


funcionária recebeu essa noite, tenho certeza de que ela consegue bem mais
que 10 mil euros — disse Olivia, e o maxilar de Matteo tensionou.

— Melhor... — tentei negar, mas Eros me interrompeu.

— Se ninguém der um lance, eu dou.

Antes que eu pudesse abrir a boca para negar e pedir para ir embora
dali, Olivia estava chamando uma funcionária e pedindo para colocarem meu
nome no leilão.

— Bom, agora acho que não posso mais te levar embora — disse
Ricardo.

Eu só queria sair dali. O cheiro do perfume de Olivia ia e vinha, me


deixando enjoada.

O leilão começou e foquei toda a minha atenção nele. Várias coisas


aleatórias foram leiloadas como: Carros de luxo, viagens para Grécia e até
uma coroa. A coroa era linda e a garotinha dentro de mim que sonhava com
príncipe encantado se imaginou usando-a.

— Pra que uma pessoa compra uma coroa? — Ricardo perguntou.

— É legal, eu queria uma.

Ricardo balançou a cabeça e ouvi Rafiq rir.

— Você e todas as mulheres do salão.

— Que culpa temos de gostar de coisas brilhantes? — Brinquei,


tentando relaxar, e todos na mesa riram, menos Matteo.

Pediram para Madeline se levantar e começaram a fazer lances por


ela, fiz de tudo para não olhar na direção dela, mas era impossível.
— 200 mil! — Alguém gritou, e, mesmo achando um valor absurdo,
o que chamou minha atenção era o jeito que ela olhava para Matteo. Seu
olhar não saía dele em nenhum momento e foi impossível não pensar o
quanto os dois eram perfeitos um para o outro. Ela era rica e de família
influente, assim como ele, e era óbvio que tiveram algo.

Senti um frio na barriga, mas me recusei a acreditar que era ciúme.

Obriguei-me a lembrar de que eu não queria nada sério. O que eu e


Matteo tínhamos era apenas sexo, eu não precisava de um relacionamento,
havia acabado de sair de um. Mesmo sabendo disso, foi impossível fazer
aquele frio na barriga sumir. Eu e meu filho daríamos um jeito, não era como
se não conseguisse me sustentar e havia os meus pais. Por mais que eles
ficassem decepcionados comigo, tinha certeza de que não me abandonariam.

Matteo também não parecia o tipo de homem que abandona um filho,


mas isso não fazia doer menos. Droga, eu queria sair dali e ligar para a minha
mãe, queria o colo dela.

— Dou-lhe uma. Dou-lhe duas. Vendida para o senhor da mesa 12! —


Disse o leiloeiro. — E agora, um jantar no Diamond Hall Roma com a
arquiteta brasileira Alice Albuquerque.

Ele pediu para que eu me levantasse. A contragosto e morrendo de


vergonha, me levantei. As pessoas bateram palmas, senti como se minhas
bochechas estivessem em brasa, mas foi uma boa distração. Parei de pensar
em Madeline e Matteo e me concentrei na minha vergonha.

— Você prometeu, assim que ele perguntar, você dá um lance —


implorei para Eros.

— Você não vai precisar do meu lance — disse, com um sorriso


enigmático.

— Os lances começam com...

— Dou 20 mil! — Disse Ricardo, e jurei ter ouvido alguém rosnar.

Olhei Ricardo, chocada e surpresa.


— Não vou deixar você passar vergonha. 

Por dentro, eu dei pulinhos de felicidade por alguém ter dado um


lance e eu não ter pagado o mico de não ter nenhum lance, mas não sabia se
ficava ofendida pela certeza de que ele tinha de que ninguém daria um lance
por mim.

— Ok, 20 mil! Quem dá mais?

— 30! — Rafiq disse, para a minha surpresa e de todos na mesa.


Encarei-o, mas ele não esboçou reação.

— 32! — Outro homem gritou.

O leilão continuou e, quando eu vi, já estava em quase 70 mil. Eu não


sabia se ficava impressionada ou corria para o banheiro. O meu enjoo só
aumentava e eu não sabia se pelo leilão ou pelo perfume de Olivia, que
parecia impregnado no meu nariz.

— 80! — Rafiq falou, encarando Matteo, que tinha o maxilar travado


e um olhar duro para o amigo.

— 100 mil! — Um homem moreno de terno preto disse, do outro lado


do salão. Ele parecia muito rico, mas destoava das pessoas ali. Ele parecia
sombrio, e, se existissem mafiosos, diria que ele é um.

— Quem dá mais? Dou-lhe uma...

— 120 mil! — Eros deu o lance com a tranquilidade de quem dava


um lance de 120 reais. — Sou competitivo, é mais forte que eu.

O moreno com cara de mafioso deu outro lance. Eros sorriu e acenou
com a cabeça, como se o conhecesse.

Era surreal como eles davam lances como se aquela fortuna não fosse
nada.

— 200! — Meus olhos quase dobraram de tamanho ao ouvir Rafiq.


— Não gosto de perder.
Eles eram todos loucos ou tinham dinheiro a ponto de poder jogar
fora, só havia essas duas explicações.

— Dou-lhe uma. Dou-lhe duas. Vendida para o Sheik...

— 500 mil euros!

Encarei Matteo, pensando ter ouvido errado. Todos na mesa o


encaravam, ele apenas ignorou os olhares e continuou encarando Rafiq, que
sorria. Passei alguns segundos pensando ter imaginado que ele tinha feito um
lance de 500 mil por mim.

— 600 mil! — Rafiq rebateu, me deixando completamente chocada.

— 1 milhão de euros! — Senti minhas pernas amolecerem ao ouvir o


lance do Matteo. Isso dava uns 6 milhões de reais.

Minha Nossa Senhora, seis milhões de reais! Isso é uma fortuna! —


Pensei, sem acreditar naquela loucura.

— Vendida para o nosso anfitrião, o senhor Matteo Bianchi di Sartori!

O salão explodiu em palmas, mas apenas continuei encarando Matteo,


sem acreditar que ele havia acabado de dar 1 milhão, um milhão de euros,
para jantar comigo, sendo que ele estava acompanhado.

Ele passou a semana sem dar sinal de vida, não fazia sentido.

O que também não fazia sentido era o meu coração ainda disparar por
ele e sua traição estar doendo tanto. A traição de Raphael foi como se tivesse
rompido instantaneamente aquela magia do amor. Por que meu coração era o
órgão mais trouxa do universo?

— Uau, eu acho que perdi — disse Ricardo, me tirando dos


pensamentos.

Olhei novamente para Matteo e não aguentei, meu estômago revirou e


me levantei.
 
Mandei Dario me esperar, pois não pretendia demorar, mas tudo
começou a dar errado assim que pisei os pés no evento e Madeline me
abordou.

Diferente de como pensei que ela agiria depois da última vez que nos
vimos, ela se aproximou de mim com um sorriso e me deu um beijo no rosto.

— Estou com saudade de você. Da gente.

— Pensei que atravessar o mundo para esquentar a minha cama não


era suficiente para você.

Eu não queria ter sido rude, mas eu não poderia me importar menos
com a saudade que ela sentia. Ter Madeline como amante sempre me
agradou, nos dávamos muito bem na cama, mas, quando pensava em uma
mulher gemendo no meu pau, infelizmente eram os gemidos de Alice que
meu cérebro fantasiava.

— Eu estava errada. O que tínhamos era bom — Sorriu. — Para nós


dois.

Apesar de já não termos mais nada, eu não tinha nada contra ela e não
queria magoá-la.

— Madeline, o que tínhamos foi bom, mas...

— Foi? — Ela deu uma risada sem emoção. — Tem outra mulher? —
Ela sorriu. — Não precisa responder, homens como você não passam muito
tempo com a cama vazia. Espero que ela tenha mais sorte que eu e não
resolva envolver sentimentos. Na sua cama não existe, e nunca vai existir
espaço para nada além de sexo.
Fui salvo de uma conversa desgastante pela chegada dos seus pais.
Aparentemente ela estava ali para acompanhá-los.

Após cumprimentá-los, entramos e estava decidido a não passar mais


do que o tempo necessário ali, mas assim que meus olhos pousaram em Alice
ali, acompanhada do engenheirozinho, raiva borbulhou em mim. Suas fotos
vieram à minha mente.

Os meus dias em Nova York foram uma verdadeira tortura mental


entre ligar para ela ou esperar a minha viagem acabar para vê-la. Após o
nosso final de semana em Mônaco, a última coisa que eu queria era me
afastar dela, estava completamente viciado. Eu não sabia o que fazer com ela.
Com Madeline era fácil, eu ligava, ela aparecia, transávamos e pronto, mas
com Alice o desejo só aumentava após tê-la, era quase uma necessidade. Era
incontrolável e isso me enfurecia, principalmente agora.

Em nenhum momento, consegui desviar o olhar de Alice. Mesmo


sentindo raiva, era impossível não notar o quanto ela estava linda com os
longos cabelos presos em um coque e apenas alguns fios soltos, deixando o
delicado pescoço à mostra. Parecendo sentir o meu olhar, ela olhou em volta
e pareceu surpresa ao me ver, um sorriso dissimulado surgiu em seus lábios
carnudos.

A raiva ainda borbulhava em mim toda vez que lembrava daquelas


fotos.

Só quando Madeline enlaçou o meu braço é que percebi que estava há


tempo demais encarando Alice.

— Podemos ir.

Concordei e a hostess nos guiou até a mesa que, para a minha


surpresa, era a mesma em que Alice estava.

Alice se levantou com tudo no momento em que me aproximei e ela


esbarrou no meu peito. Circulei a cintura fina, impedindo-a de cair. Seu
perfume imediatamente invadiu os meus sentidos, praguejei. O desejo falou
mais alto que a raiva que eu sentia. Seu longo vestido rosa, de um tecido
brilhante, moldava perfeitamente sua cintura e seios fartos. O tecido fazia um
contraste com sua pele morena. Não deixei de notar que usava o conjunto de
safiras que eu havia dado para ela, pelo menos ela havia conseguido algo de
mim.

Quando ela se afastou dos meus braços, pude jurar ver um olhar
magoado. Queria saber porque, já que eu que estava sendo enganado ali.

Olivia teve a maldita ideia de Alice entrar no leilão, justamente na


hora em que eu estava prestes a ir embora. Foi mais forte que eu ficar ali e,
quando dei por mim, estava dando um lance por ela.

Alice me encarou e vi seu rosto ficar pálido.

— O que foi isso, Matteo? — Madeline perguntou.

— Não é da sua conta.

Madeline riu.

— Pelo visto, há espaço na sua cama para sentimentos, mas será que
na dela há? — Ignorei-a.

Levantei-me, na intenção de sair dali antes que cometesse outra


besteira, mas, antes que eu pudesse me afastar, vi Olivia se levantar e abraçar
Alice, parabenizando-a pelo leilão. Em um momento, vi os ombros de Alice
tremerem enquanto tentava se livrar do abraço e, em outro, ela estava se
curvando e vomitando nos pés de Olivia.

O salão pareceu ficar em silêncio. Todos os olhares estavam sobre


Alice.

— Menina, o que é isso?! — Olivia esbravejou, dando um passo para


trás. A cara de nojo dela só não era pior do que a expressão envergonhada e
doente de Alice.

Ninguém se moveu, nem o paspalho que estava com ela.

Puto comigo mesmo por me importar, dei a volta na mesa, tirei meu
terno e coloquei sobre seus ombros. Ela tremia e não parecia ter melhorado.
— Sinto muito — pediu para Olivia, envergonhada.

— Venha. — Falei.

— Não precisa.

Ignorei sua fala, segurei firme sua cintura e a levei para fora. Assim
que saímos ao ar fresco, ela se debruçou sobre o arbusto mais próximo e
vomitou novamente.

— Puta merda! — Ouvi Eros xingar atrás de mim. — Acho melhor eu


chamar uma enfermeira.

— Mande-a vir imediatamente — disse Rafiq, aparentemente, não


tinha sido suficiente ter tentado levá-la para um jantar, agora estava
seguindo-a também.

— Você acabou de mandar em mim, Rafiq? — Eros perguntou,


enfurecido.

— Qualquer um dos dois, vá chamar a droga da enfermeira! —


Esbravejei.

— Não precisa! — disse Alice, imediatamente. — Estou be...

Ela nem conseguiu terminar a frase e se curvou novamente sobre o


arbusto. Fui até ela.
 
Capítulo 20

Eu não sabia o que eu queria mais, se era desaparecer dali e me


enterrar na minha própria vergonha ou vomitar até as minhas tripas. Parecia
que eu iria desmaiar a qualquer momento e, para piorar tudo, Matteo se
aproximou de mim e afastou o meu cabelo. Por que ele estava agindo daquele
jeito? Por que estava sendo carinhoso? Cuidadoso? Ele devia estar com
Madeline.

Parecia que, após descobrir a gravidez, os enjoos haviam piorado, ou


podia ser coisa da minha cabeça.

Limpei a boca com as costas da mão, morrendo de nojo e, sem


nenhuma delicadeza ou elegância, me sentei na beira de um enorme vaso de
planta. O perfume de Olivia ainda parecia impregnado em mim, eu precisava
tomar um banho até não restar vestígios daquele perfume.

— O que você comeu para te fazer tão mal assim? — Matteo


perguntou, e minha vontade foi dizer: Seu filho que está me fazendo tão mal
assim.
No entanto, não foi isso que eu disse.

— Pode voltar para festa, vou chamar um táxi.

Eu só queria me afastar dele e de como a sua presença me afetava.

— Você não...

— Ali está ela! — Ouvi Eros dizer e, ao olhar na sua direção, vi uma
mulher de jaleco, provavelmente a enfermeira.

— Olá, preciso saber se ingeriu bebida alcoólica e o que está sentindo


— disse, se ajoelhando a minha frente e abrindo uma maleta.

— Estou bem, não precis...

— Preciso que responda as minhas perguntas para sabermos o que a


senhorita tem.

Eu sabia exatamente o que eu tinha.

— É sério, eu estou bem...

— Responda à enfermeira, Alice.

Ao ouvir Mateo, o encarei furiosa.

— Não me dê ordens, eu já disse que estou bem. — Levantei-me do


vaso e agradeci o mundo por não girar, como andava acontecendo
ultimamente. — Eu só preciso ir embora.

— Eu preciso examiná-la — a enfermeira falou, em seguida acendeu


uma luz, me cegando. — Os seus reflexos parecem bons.

Reflexos? Eu havia vomitado, não batido a cabeça. — Pensei.

Aquela luz estava me deixando tonta, e estava me sentindo sufocada


com a proximidade dela. Eu ainda podia lembrar do cheiro do perfume de
Olivia e ter Matteo ali só piorava tudo.
— Não parece ter ingerido bebida alcoólica ou feito uso de drogas.

— É óbvio que eu não bebi, nem me droguei, faz mal pro bebê.

— A senhorita está gestante? — Ouvi a enfermeira perguntar e só


então me dei conta de que falei em voz alta.

Minha barriga gelou e me recusei a olhar para Matteo. Não era assim
que eu planejava contar sobre a gravidez. Na verdade, eu ainda não havia
decidido como contar, mas, obviamente, após descobrir que ele estava saindo
com a filha do presidente, não era o melhor momento.

A única coisa que eu queria naquele momento era dar um murro


naquela cara exageradamente bonita dele por ter me iludido com aquele final
de semana em Mônaco. Talvez os hormônios da gravidez tenham me feito
pular nele igual uma tarada e eu podia me perdoar por ter sido tão idiota, me
humilhar tanto. A culpa não era minha, era da gravidez, que estava fazendo
uma bagunça hormonal.

— Você está grávida? — Ouvi Matteo perguntar.

Não esperava que houvesse tantas pessoas quando eu contasse para


ele, mas não tinha como voltar atrás.

Ignorando a minha mágoa e sentimento de traição avassalador,


encarei-o. Ele era o pai e tinha o direito de saber.

— Eu descobri essa semana.

O silêncio pareceu durar horas, o rosto do Matteo adquiria a cada


segundo uma expressão mais indecifrável e, quando ele finalmente disse
algo, desejei que tivesse continuado calado.

— De quem é?

— O quê? — Perguntei, pensando ter ouvido errado.

— Quem é o pai do bebê?


Esquece a idiotice de se sentir traída por um homem com quem eu só
tive sexo casual, aquilo não era nada perto do que sua pergunta me causou.
Ele achava que, só porque ele não tinha caráter e dormia com metade da
população, eu fazia a mesma coisa?

— Como assim quem é o pai?

— Não finja que não existe a possibilidade desse bebê ser de outro.

— Meu Deus, quem é você? — Dei um passo para trás. — Eu não


posso ter me enganado tanto com você.

Será que novamente eu havia cometido o erro de confiar na pessoa


errada? Eu havia me enganado sobre o Matteo.

— Eu sei que você tem se encontrado com outro homem, Alice. Esse
filho pode ser de nós dois, ou tem saído com mais homens?

Acertei um tapa em seu rosto.

— Eu não sou você! Não é porque você está saindo com outras
mulheres que estou saindo com outros homens.

Virei as costas para ele. Meu peito doía e meus olhos ardiam. Matteo
perguntando quem era o pai se repetia na minha cabeça em um looping
infernal.

Queria pegar a minha a minha bolsa e ir embora dali o mais rápido


possível, mas, felizmente, não precisei entrar no salão, pois acabei
esbarrando em Ricardo.

— Alice, como está se sentindo? Desculpa não te ajudar, eu...

Vi que ele carregava a minha bolsa.

— Estou bem. Pode me levar embora?

— Não tem perigo de vomitar no carro?


Quase não acreditei na sua pergunta. Eu havia passado de estonteante
para a mulher que ele temia que fosse vomitar em seu carro, mas errado não
estava.

— Se não fosse você e seu pai, eu estaria no meu quarto e não teria
passado por toda essa humilhação! Então, você vai me levar e é agora! —
Explodi.

— Ok.

Assim que entrei em seu carro, comecei a chorar, mas de raiva. Como
Matteo ousava insinuar que eu estivesse com outros homens e que o bebê não
era dele?

— Italiano filho da puta! — Xinguei e comecei a rir. Acho que era a


primeira vez que eu xingava em voz alta, era libertador.

Bruna provavelmente ficaria orgulhosa de mim por saber que agora


eu xingava as pessoas de filho da puta.

— É... Está tudo bem mesmo? — Ricardo perguntou.

Não, não estava, mas iria ficar. Tinha que ficar.


 

Alice estava grávida. A notícia me pegou desprevenido, lembrei-me


dela enjoada em Mônaco e minha cabeça pareceu que ia explodir,
principalmente porque aquele bebê podia nem ser meu. Eu não queria ser pai,
mas a possibilidade dela estar grávida de outro me enfurecia, causando um
ciúme possessivo. Ela era minha!

— Mas que merda foi essa, Matteo? — Eros perguntou assim que
Alice virou as costas.
— Isso não é dá sua conta!

Tentei sair dali, mas Rafiq bloqueou a minha passagem.

— Quer explicar porque você a tratou assim? Suponho que tenha um


bom motivo, pois só isso pode explicar porque minutos atrás você queria me
matar e gastou um milhão de euros pela garota e agora está duvidando da
paternidade.

Puto, contei sobre as fotos.

— Puta merda! Mas e se o filho for seu? — Eros indagou.

— Primeiro, preciso saber se é meu.

Tentei ir atrás da Alice, mas Eros me parou.

— Cazzo! Quer me deixar passar?!

O que havia de errado com aqueles dois que estavam sempre


empatando a minha passagem?

— E deixar você ir atrás da mulher que saiu daqui querendo arrancar


a sua cabeça? Você está de cabeça quente, e ela está grávida. Pra ela tacar
fogo em você, é só você ir atrás dela e pedir exame DNA.

— É melhor não fazer nenhuma besteira, bom, nenhuma além das que
você já fez — disse Rafiq. — Pelo jeito que ela reagiu, pode haver uma
explicação para as fotos.

Peguei-me desejando que houvesse explicação, mas, se tivesse, ela


teria confirmado que eu era o pai do bebê.

— Vossa Majestade, sei que não costuma ter muito contato com
mulheres, mas elas não costumam ser uma santa igual à sua irmãzinha. Se
existem fotos, não tem como negar.

Só podia ser castigo ter que presenciar Eros tentando tirar Rafiq do
sério.
Fui atrás de Alice, mas não a encontrei. Então fui para o hotel, mas
também não a encontrei.
 
Capítulo 21

Fui direto para o quarto da Bruna. Assim que me viu, ela soube que
algo estava acontecendo.

— Amiga, o que aconteceu?

Abracei-a e me permiti chorar tudo o que eu podia, porque aquelas


seriam as últimas lágrimas que Matteo me faria chorar. Bruna não disse nada,
apenas me abraçou de volta e me permitiu chorar.

— Amiga, quer me contar o que houve? — Bruna perguntou, quando


parei de chorar.

— Eu posso tomar banho?

— Claro.

Levantei-me e resolvi tomar banho de banheira, não estava com


ânimo para ficar em pé.
Mergulhei naquela água deliciosa, me livrando de qualquer resquício
do perfume de Olivia, e adorando como a água morna deixava tudo melhor.
Bom, nem tudo, flashes da noite rodavam na minha cabeça. Matteo com
outra mulher, ele perguntando se o bebê era dele, me acusando de ter saído
com outros homens quando ele estava exibindo Madeline para todos verem, e
eu vomitando na Olivia.

Batidas à porta do banheiro interromperam meus pensamentos.

Bruna entrou com toalhas limpas e um roupão.

— Vou deixar aqui — falou, colocando sobre a pia.

— Ele acha que o bebê não é dele.

Bruna parou na porta do banheiro e se virou.

— Ele o quê? — Sorri triste e ignorei o aperto na garganta. — Quem


aquele italiano filho da puta pensa que é?!

Bruna estava furiosa.

— E ele tem uma namorada.

— O quê?!  Eu vou colocar laxante na água daquele carcamano!

— Eu não sei se é realmente namorada dele, mas ele sumiu, Bruna, e


apareceu com ela no jantar.

— Como ele ousa aparecer com outra e ainda questionar a


paternidade?

Mergulhei mais na banheira, deixando a água bater no meu queixo.

— Você tinha que ver como ela é bonita.

— Com certeza, você é mais.

— Ela é filha do presidente David Andrews.


Bruna se sentou no chão, de frente para mim.

— Dane-se o Matteo e a filha do presidente. Eu to aqui para tudo que


você e esse bebezinho precisarem.

— Obrigada.

— A gente anda passando muito tempo juntas no banheiro — disse


Bruna, e sorri.

Terminei o banho e me deitei com ela, mas não importava o tanto que
eu tentasse, não conseguia dormir. A noite passava como um filme na minha
cabeça, cada detalhe se repetia e tudo sempre voltava ao momento em que
Matteo duvidou que o bebê é dele.

— Não está conseguindo dormir? — Bruna perguntou, me


assustando.

— Achei que estivesse dormindo.

— Estava pensando em formas de fazer o Matteo sofrer — falou, me


fazendo rir, mas a verdade é que eu não queria que ele sofresse. A única coisa
que eu queria era superá-lo da mesma forma que superei Raphael, mas
parecia tão mais difícil.

— Eu vomitei nos pés da primeira-dama — contei, morrendo de


vergonha.

Senti Bruna se mexendo na cama e a luz do abajur foi acesa.

— Você vomitou mesmo — falou, como se a verdade estivesse


estampada no meu rosto.

— O perfume dela me enjoou.

Bruna tentou conter a risada.

— Pode rir.

Ela gargalhou a ponto de até a cama se mexer.


Sem fôlego, ela se deitou.

— Quer me contar o que realmente aconteceu hoje? — Perguntou,


após um tempo.

Contei tudo para ela, desde o momento em que vi Matteo chegar com
a Madeline até o fim desastroso da noite. Em alguns momentos, senti minha
garganta travar, mas fui fiel a minha promessa de não derrubar mais nenhuma
lágrima pelo Matteo.
 

Acordei na manhã seguinte disposta a seguir em frente. Se o Matteo


queria ficar com aquela loira linda, que ficasse. Meu coração iria sofrer, mas,
em algum momento, iria passar. Pelo menos eu esperava que passasse. Eu e
meu bebê ficaríamos bem sem ele, bom, ficaríamos depois de correr para o
banheiro.

Eu não via a hora daqueles enjoos passarem.

— Bruna — chamei-a, mas ela nem se mexeu. — Bruna. — Nada


dela acordar. — Bruna!

Ela acordou assustada com o meu grito.

— O que foi? Aconteceu? Pera, o quê?

Dei risada, apesar de ficar com dó por ela ter ficado toda confusa.

— Eu não queria te assustar, mas você não acordava.

— Tudo bem. — Sentou-se na cama e me olhou meio perdida.

— Estou com fome.

Ela esfregou os olhos e me encarou.


— Espera, você me acordou porque está com fome? — Concordei. —
Que droga, Alice, estamos em um hotel, pede serviço de quarto.

Ela se deitou novamente e cobriu a cabeça com a coberta.

— Eu quero ir à cafeteria que tem do lado da Sartori.

— Não está na fase de gravidez de ter desejo, então me deixe dormir.

— Por favor. Vai deixar eu e seu afilhado irmos sozinhos?

Bruna tirou a coberta da cabeça e me encarou desconfiada.

— Afilhado? — Concordei. — Ok, eu vou com você, mas pelo meu


afilhado.

Bruna levantou-se e se arrumou em tempo recorde.

Quando estávamos próximas da cafeteria, um carro parou do nosso


lado, nos assustando. Estava prestes a xingar o motorista quando vi Raphael
descendo do carro. Meu susto logo virou ódio, nunca quis tanto socar a cara
de alguém.

— Por acaso está me seguindo? — Perguntei, assustada.

Era ele, aquela sensação de estar sendo observada era ele.

— Não, eu...

— Você enlouqueceu? O que deu na sua cabeça para achar que pode
ir todo dia no meu trabalho e agora me seguindo. Eu achei que estava ficando
louca, mas era você me seguindo, seu maluco! Acha mesmo que isso vai me
fazer te perdoar ou voltar para você? Eu bato a cabeça e você que
enlouquece?

— Alice...

— Para! Estou de saco cheio disso. Você só fica com esse papo de
Alice, Alice, Alice. Eu cansei.
— Você está nervosa, eu só quero conversar.

Ele tentou se aproximar de mim, mas dei um tapa na sua mão,


fazendo a chave do carro dele cair.

Raphael se abaixou e pegou a chave. Aproveitei para voltar a andar,


mas ele foi rápido e segurou o meu braço.

— Solta ela! — Disse Bruna.

— Você não está me dando uma chance, eu sei que errei, mas a culpa
não foi só minha.

— Me solta! — Exclamei,  sentindo o seu aperto aumentar.

— A Larissa ficava se insinuando, eu sou homem...

— A sua justificativa é que você é homem?

— Você não entende, eu precisava de sexo sujo e foi isso. — Encarei-


o chocada. Quantas vezes ele precisou de sexo sujo? A Larissa era só sexo
sujo e sem significado, é você que eu amo! — Gritou, apertando meu braço
mais forte.

— Você está me machucando.

— Você tem que me ouvir, Alice.

Ele segurou os meus dois braços e me chacoalhou, me assustando.


Senti a chave me machucar. Aquele não podia ser o homem com quem um
dia eu quis me casar, mas infelizmente era. O mesmo homem que me beijou a
força.

— Solta ela! — Bruna bateu nas costas dele.

Não sei explicar, mas, em um momento, eu estava sendo acuada e


machucada e, em outro, dei uma joelhada nele com toda a força que eu tinha
e peguei a droga da chave que havia me machucado.

— Nunca mais toca em mim!


Com uma raiva sobrenatural, usei a porcaria da chave e fiz um risco
de fora a fora no carro.

— Puta merda! — Ouvi Bruna xingar.

— Você está louca? — Havia dor na voz do Raphael. Ele estava


curvado ainda sentindo a dor da joelhada.

— Se aproxima dela que eu jogo spray de pimenta em você.

Continuei riscando, descontando toda a minha raiva na lataria do


carro. Imagens de Larissa e ele surgiram na minha mente, a minha melhor
amiga que não teve nem a decência de pedir desculpa. Lembrei-me de todas
as vezes que fui humilhada pela mãe dele, de quase ser presa porque ela me
denunciou por ter roubado o carro dele.

Era tarde para desculpas, ele me traiu e não havia perdão para aquilo.
Ele me fez perder a minha fé nas pessoas, me fez perder a minha amiga, a
pessoa que eu queria como madrinha de casamento, me humilhou. Eu não
sabia qual dos dois tinha mais culpa, mas era com Raphael que dividi planos,
que renunciei a coisas em que eu acreditava. Ele não traiu só o nosso
relacionamento, mas a nossa cumplicidade, confiança, tudo.

Depois de tudo, ele ainda tinha coragem de me machucar?

— Para! Esse carro não é meu, sua louca!

A voz irritada e sofrida do Raphael me chamando de louca me fez


segurar mais firme na chave e acertar o carro como se estivesse o
esfaqueando. A lataria cedeu sob o metal da chave, fazendo o carro ficar com
vários sinais fundos. Louco estava ele de encostar em mim.

Ofegante, me afastei do carro e vi o estrago que eu havia feito. Meu


coração parecia que iria sair do peito, de tão rápido que batia.

Agora sim eu me sentia vingada pelo que ele fez comigo, mas o alívio
maior era por ter a certeza de que não importava o que ele fizesse ou falasse,
eu não voltaria para ele. Eu havia quebrado qualquer vínculo que me ligava
àquele homem asqueroso.
— Você está bem? — Bruna perguntou, e percebi que meu surto não
foi só por causa do Raphael, era por tudo, eu estava exausta.

— Você vai me pagar! — Raphael gritou e veio na minha direção,


pronto para me dar um tapa.

Antes que ele pudesse me machucar, Bruna o atingiu com o spray de


pimenta.

— Eu mandei ficar longe!

Fiquei em choque ao vê-lo gritando incontáveis palavrões enquanto


segurava o rosto.

Eu não era uma pessoa ruim, eu tinha certeza disso, mas, ao ver
Raphael praguejando de dor e o estado do carro, que ele provavelmente tinha
alugado e gastaria uma grana para arrumar, eu senti um prazer imenso.

— Ali, policial! — Ouvi uma voz masculina e, ao virar o rosto, vi um


policial vindo em nossa direção.

— Ferrou! — Disse Bruna.


 

Eu não havia conseguido dormir a noite toda, eu só conseguia pensar


em Alice.

— Maledetta donna![12] — Xinguei, irritado por não conseguir tirá-la


da cabeça.

O meu cérebro parecia fazer questão de ignorar as fotos quando eu


lembrava do som da sua risada, o seu gemido delicioso e seu perfume. Em
algum momento entre a falta de sono e a ingestão excessiva de vinho, me
peguei desejando que o bebê fosse meu.
O miado incessante do gato que meu avô adotou me fez abrir a porta
do meu quarto para ele.

— O que você quer, seu gato sarnento?

Ele ignorou o fato de eu não gostar nem um pouco dele e se esfregou


na minha perna.

— Sai!

Ele não saiu, continuou miando e, quando tentei colocá-lo para fora
do quarto, ele correu para debaixo da minha cama. Desisti dele e virei o
restante da garrafa de vinho na minha taça.

Fui para a sacada do meu quarto e me sentei em um poltrona. Foi o


tempo de eu me acomodar e o gato pulou no meu colo. Ele ficou me
encarando, como se me julgasse.

— Pare de me olhar assim ou vou te jogar daqui de cima. — Ele miou


em resposta. — A sua amiguinha está grávida e o filho pode ser meu ou do
filho da puta que eu quero quebrar a cara por tocar no que é meu. —
Novamente ele miou. — Concordo com você, eu devia mesmo socar a cara
dele. Olha, você é um ótimo ouvinte.

Tentei passar a mão na cabeça dele, e ele arranhou a minha mão.

— Gato filho da puta!

Tirei-o do meu colo, mas ele pulou novamente, então, deixei que
ficasse.

Observei o nosso jardim extenso, já havia amanhecido há um bom


tempo e o sono estava longe de vir. Dei o primeiro gole na taça e meu celular
começou a tocar.

Levantei, fazendo o gato soltar um miado esganiçado e correr para


longe.

— Fala — atendi, sem ver quem era.


— Preciso que você venha à delegacia.

— Eros, o que você fez para ser preso?

— Eu, nada. Quem está presa é a Alice e a Bruna.

— Em que delegacia ela está?

Ao ouvir que Alice estava na delegacia, o efeito do álcool pareceu


passar instantaneamente. Mandei o piloto preparar o helicóptero, queria
chegar o mais rápido possível na delegacia e não perderia meu tempo com o
trânsito.

Menos de 20 minutos após receber a ligação de Eros, eu estava na


delegacia.

Fui direto na recepção.

— Quero falar com o delegado.

— Desculpa, mas ele está ocupado.

— Fale para ele que Matteo Bianchi di Sartori está aqui para falar
com ele.

A mulher gaguejou e pediu um segundo.

— Matteo? — Ouvi Eros e, ao olhar para o lado, o vi. — Como


chegou aqui tão rápido?

— Helicóptero.

Ele soltou uma exclamação surpresa.

— Por que você mesmo não as tirou daqui?

— O delegado é um casca grossa que quer esperar até segunda-feira


para o juiz emitir a fiança delas.

— Como ela veio parar na delegacia?


— Elas?

— Isso — concordei, mas a verdade era que eu não me importava


nem um pouco com Bruna, ela era problema de Eros, estava ali por Alice.

— Elas...

— Senhor Sartori, a que devo a honra de receber um membro da


realeza em minha delegacia? — O delegado, um homem barrigudo, me
cumprimentou com um sorriso de orelha a orelha.

— Vim falar sobre a brasileira que o senhor prendeu.

— Brasileiras — Eros me corrigiu.

— Ah, o senhor queira me perdoar por qualquer incômodo. Por favor,


venha até minha sala.

Eros e eu fomos até sua sala.

— Não estou com tempo para conversa, o que é preciso para soltá-
las? — Falei, lembrando que não podia libertar só Alice.

— Então, como eu já havia falado...

— O senhor sabe que tenho contatos, não quero ter que ligar para o
juiz e dizer que estou incomodando-o em pleno sábado porque o senhor não
quis facilitar a saída de duas mulheres que não fizeram nada demais.

— Não precisamos de tanto, mas elas são um tanto quanto agressivas.


Acabaram com o carro e ainda atacaram o homem com spray de pimenta. Os
comerciantes temeram que elas...

Mio Dio, spray de pimenta? O que elas aprontaram? E que história é


essa de carro? Alice roubou outro carro? A mulher é uma criminosa.

— Só para esclarecer, o que exatamente elas fizeram?

— Bom — ele olhou uns papéis —, a senhorita Alice Albuquerque


vandalizou o carro de um cidadão, e a senhorita... Senhorita Bruna Mariani,
usou spray de pimenta contra o mesmo cidadão.

Olhei para Eros, e ele só deu de ombros como se não fosse nada.

— Creio que, com uma visita à oficina e ao hospital, o cidadão ficará


bem. Elas não são realmente uma ameaça, e eu ficaria feliz em sair o mais
breve possível daqui com as duas.

— Eu vou ver o que posso fazer.

— Tenho certeza de que fará tudo ao seu alcance, delegado...

— Emilio, senhor. Com licença, prometo não o fazer esperar.

Ele saiu e vimos uma movimentação estranha. Saí da sala do


delegado e estranhei ao ver a recepcionista correndo.

— O que está acontecendo?

Não foi preciso uma resposta, logo ouvimos Bruna gritando.

— Se você não chamar um médico agora, eu vou processar essa


porcaria de delegacia!

Ao ouvi-la, eu e Eros nos entreolhamos e fomos em direção à voz


dela. Assim que chegamos à sala em que Alice e Bruna estavam, o que vi me
fez perder o ar. Alice chorava desesperadamente e sua roupa estava suja de
sangue.

— O meu bebê. — Sua fala trêmula estava repleta de medo. — A


culpa é minha.

Ela tremia da cabeça aos pés enquanto era amparada por Bruna.

O delegado observava a cena atônito.

— Sai da minha frente! — Arranquei a chave da mão dele e abri a


cela.
Alice parecia tão imersa no próprio desespero que só notou a minha
presença quando a peguei no colo e a tirei dali.

Ela me encarou com os olhos vermelhos pelo choro.

— Vai ficar tudo bem com vocês dois. — Eu faria de tudo para
cumprir aquela promessa.

Assim que me viu com Alice no colo, Dario arregalou os olhos.

— Para o hospital mais próximo o mais rápido que você puder!

Entrei no carro com Alice e a segurei forte contra o meu peito. Ela
parecia tão frágil, com o medo estampado em seu rosto, o corpo trêmulo e
choro sofrido.

Chegamos ao hospital e não esperei que fôssemos atendidos, entrei e


fui diretamente para o corredor de emergência.

— O senhor não pode entrar aqui... Senhor Sartori? — Um médico de


meia-idade perguntou, como se me conhecesse, mas eu não fazia ideia de
quem ele era, só queria que a atendesse o mais rápido possível.

— Ela está grávida e está tendo um sangramento. Atenda ela


imediatamente.

— Claro. Dr. Marcheti? — Chamou e pediu que eu a colocasse sobre


uma maca. — Ela está de quantas semanas?

— Não sei — respondi.

— Por favor, salva o meu bebê — Alice implorou.

Um médico mais novo apareceu e começou a avaliá-la, ao ser


colocado a par da situação. Eles falaram que precisariam levá-la e pediram
que eu esperasse.

— Vamos fazer de tudo por ela e pela criança.


Sem ter o que fazer, fui para sala de espera. Eros e a Bruna, assim que
me viram, correram na minha direção.

— Cadê ela? — Bruna indagou, chorando.

— O médico a levou.

Eu não sabia o que dizer, nem eu sabia o que estava acontecendo. Não
tinha garantias de como ela sairia daquela sala, mas, pelo olhar dela, só havia
uma maneira da mulher alegre a maluca que eu conheci sair de lá a mesma
que entrou. Ela seria destruída se perdesse o bebê.

— Mas o que ele disse? — Bruna perguntou.

— O que aconteceu? — Perguntei de volta — O que aconteceu para


ela ter um sangramento?

Se alguém naquela delegacia tivesse culpa, eles pagariam caro por


aquilo.

A expressão da Bruna fechou.

— Olha, nem sei como agradecer por ter trazido ela aqui tão rápido.
Isso pode ter salvado o bebê, mas o que aconteceu não é problema seu. —
Eros a encarou sem entendê-la. — Ele nem acredita que o filho é dele.

A última coisa que me importava era se aquele filho era meu ou não.
Eu só queria que os dois ficassem bem.

— Bruna, você está sendo injusta — disse Eros.

— Injusta? Ele sumiu por uma semana e apareceu com uma loira a
tiracolo e, quando descobriu que a Alice está grávida, a primeira coisa que
ele perguntou foi se o filho era dele. A Alice pode parecer uma mulher que
adora sexo casual, mas ela não é assim e você sabe disso. Ela não sai por aí
transando com vários caras, qualquer um que olhar para ela vê isso, mas você
prefere fingir que não vê. Se alguém aqui foi injusto, essa pessoa não sou eu.
Bruna atravessou a sala de espera e se sentou em um dos sofás
disponíveis.

— Desculpa, ela está nervosa pela amiga — Ele foi atrás dela.

Era difícil admitir aquilo, mas eu preferia ter sido injusto com aquilo
do que ter razão, mas a verdade não tinha como ser negada e aquelas fotos
diziam tudo.
 
Capítulo 22

Enquanto o médico me examinava, eu só conseguia pensar que tudo


era culpa minha, o meu bebê estava correndo perigo por minha causa. Se eu o
perdesse por causa do meu surto com o Raphael, nunca me perdoaria. Eu
devia ter pensado nele antes de me deixar levar pela raiva, mas, quando ele
me machucou, não aguentei. Nem ele nem nenhum homem tinha o direito de
fazer aquilo. Ele tentou me intimidar usando sua força para me fazer ouvi-lo
e eu reagi do pior jeito para o meu filho.

Não sei quanto tempo fiquei me martirizando até o médico voltar.

— Oi, mamãe...

— Como ele está? — Perguntei, com os olhos rasos d’água.

— Ei, mãezinha, não se preocupe, seu filho está bem.

Não conseguia descrever o alívio ao ouvi-lo, mas foi como se um


peso fosse tirado do meu peito.
— Eu só tenho algumas recomendações para que fique de repouso
pela próxima semana.

— Mas você disse que está tudo bem — falei, preocupada.

— Sim, está, mas você ainda está no primeiro trimestre e temos que
ter cuidado dobrado com sangramentos nessa fase da gestação. Você passou
por um grande estresse, sugiro que evite se estressar para a sua recuperação
ser de 100%.

Tive que contar o que aconteceu com Raphael e como vim da


delegacia para o hospital. Meu coração ainda se apertava toda vez que eu
lembrava do momento em que senti minha roupa ficar ensanguentada.

— Você precisa iniciar o seu pré-natal. Se quiser, pode iniciar


comigo, ou posso indicar amigos.

Eu não pretendia passar toda a minha gestação na Itália, longe dos


meus pais, mas aceitei a indicação do médico.

Ele terminou de passar as recomendações e me liberou para que eu


ficasse de repouso absoluto pelo restante do dia.

— Vocês estão bem. — Bruna entrou no quarto em que estava com o


rosto vermelho.

— Você estava chorando? — Perguntei.

— Você me assustou.

Eu não podia ter arrumado uma amiga mais perfeita.

Ela me abraçou e, ao olhar para a porta, vi Matteo. Eu ainda estava


magoada, mas ele havia me ajudado e era grata por isso. No entanto, ainda
não estava pronta para tê-lo por perto.

— Obrigada — agradeci, mas ele não disse nada.


— O médico disse que você tem que ficar de repouso. Eu já falei com
o Oscar e ele te deu folga. Infelizmente, eu preciso trabalhar. Se eu pudesse,
ficaria com você.

— Pode ficar na minha casa.

Tive que encarar Matteo para saber se ele realmente tinha dito aquilo,
porque não parecia minimamente real. Eu não o entendia. Ele achava que eu
tinha uma fila de amantes e que o bebê nem era dele, mas me ajudou e agora
isso? Ficar na casa dele?

— Não, obrigada.

— Tudo bem, eu só falei porque a casa é grande e sempre tem algum


empregado que pode te ajudar.

Ok, ele só estava sendo um perfeito cavalheiro.

— Agradeço, mas não precisa.

— Bom, vamos, Eros vai levar a gente para o hotel.

Bruna me ajudou a levantar e, por mais que eu dissesse que conseguia


andar, ela não me soltou até que entrássemos no carro.

Olhei pelo vidro do carro e vi Matteo me encarando, ele parecia


querer dizer algo, mas apenas ficou ali, me observando, até o carro sair.
 

Eu não sabia o que passou pela minha cabeça para convidar Alice
para ficar de repouso na minha casa, era óbvio que ela não ficaria, mas queria
garantir que ela ficaria bem ou enlouqueceria, principalmente após ouvir o
médico.
Eu estava na sala de espera com Eros e Bruna quando o médico veio
nos dar notícias.

— Senhor Sartori, eu sou o Dr. Marcheti e estou cuidando do caso da


senhorita Albuquerque. Queria agradecer as suas generosas doações ao
hospital...

Então era por isso que tive a sensação de que o outro médico me
conhecia.

— Como ela está? — Eu não me importava com os muito obrigado,


eu queria saber de Alice.

— Claro, me desculpe. Ela e a criança estão bem, mas ela vai precisar
ficar de repouso pelo resto da semana.

— Então ela pode ir embora? — Bruna perguntou em português para


Eros, que estava traduzindo tudo para ela em inglês.

— Ela pode ir embora? — Fiz a pergunta ao médico.

— Sim, mas ela precisa de acompanhamento médico. Até o momento,


a gravidez dela não é considerada de risco. É normal ter esses sangramentos
no primeiro trimestre de gestação, principalmente após o estresse que ela
passou. — Lembrei-me do porquê ela foi presa e me perguntei porque ela e
Bruna fizeram aquilo. — A minha preocupação é o histórico da mãe dela.

— Como assim?

— A mãe dela teve eclampsia e acabou falecendo no parto da


senhorita Albuquerque.

A informação parece ter surpreendido Bruna também.

— Mas isso é genético? — Inquiri, preocupado.

De repente, me vi temendo perdê-la.


— Não, mas é um motivo para tomar cuidados redobrado. A pressão
dela estava bem elevada devido à situação, portanto, já é algo para ficarmos
atentos.

Ouvir aquilo me deixou preocupado.


 
Capítulo 23

Assim que chegamos ao hotel, a recepcionista nos abordou.

— Senhorita Albuquerque, houve uma pequena mudança no seu


quarto, mas não se preocupe, já cuidamos de tudo e a senhorita pode
descansar tranquilamente.

— Mudança?

— Sim, vou acompanhá-la.

Enquanto subíamos, fiquei me perguntando o que havia acontecido


com o meu quarto para terem me mudado.

— A senhorita ficará aqui.

Assim que ela abriu a porta do quarto, meu queixo caiu. O quarto que
eu e o resto dos funcionários da Trentini estavámos era maravilhoso, mas
aquele quarto era mil vezes melhor.

— Nossa, esse quarto. — Eu não sabia o que dizer.


— Algo não lhe agradou? Posso mandar trocarem e providenciarem o
que a senhorita deseja imediatamente.

— Não, ele é perfeito, mas não estou entendendo porque me


colocaram aqui.

— Foi uma exigência do senhor Sartori. A senhorita também terá um


mordomo que ficará disponível 24 horas, para tudo o que precisar.

Por que o Matteo fez isso?

— Desculpa, mas quero voltar para o meu quarto.

— Infelizmente ele já está indisponível.

— Mas...

— Amiga, você tem que repousar, lembra? — Bruna me lembrou.

Agradeci à recepcionista e entrei na suíte, que era um exagero de tão


grande. Ficava no penúltimo andar e ocupava todo o local, era praticamente
um apartamento de tão grande. Um lounge privativo, com sofás de veludo
macio, convidava a relaxar e apreciar a vista deslumbrante da cidade.
Próximo a ele, uma pequena mesa, adornada com um arranjo de flores
frescas, adicionava um toque de delicadeza ao espaço.

Os móveis eram de madeira nobre, cuidadosamente entalhados e


ornamentados com toques dourados. Havia dois quartos, um deles com uma
cama majestosa, com dossel imponente, que ocupava o centro do quarto,
convidando-me a afundar em seu conforto aconchegante.

Uma coisa eu não podia negar, seria maravilhoso repousar ali.

— Eu vou indo, se precisarem de qualquer coisa... — Eros parou de


falar quando alguém bateu à porta e ele foi abrir.

O homem se identificou como o mordomo que me atenderia.


— Bom, se precisarem, seu mordomo está disponível — disse Eros,
antes de sair.
 

Eu não queria passar a noite sozinha, então pedi que Bruna ficasse
comigo. Ela aceitou imediatamente e parecia estar adorando ficar ali.

— Posso ficar aqui com você para sempre?

— Eu iria adorar que ficasse.

Bruna se deitou ao meu lado e me encarou preocupada.

— Você está realmente bem?

— Sim, eu só fiquei com tanto medo... E seria minha culpa se eu o


perdesse.

Toquei minha barriga, pedindo desculpas para o meu filho


silenciosamente.

— Ei! Você está louca? Você não tem culpa de nada. Nunca, nunca se
culpe por um homem ser agressivo com você. Foi só um susto e você foi
incrível por não ter se intimidado.

Seus olhos ficaram tristes por alguns segundos, mas logo ela sorriu.

— Você vai ser uma mãe incrível.

— E você a melhor madrinha do mundo. Sei que ele estará sempre


seguro, tendo uma madrinha com spray de pimenta e sem nenhum medo de
usá-lo.

Ela riu.

— É tão ruim saber que a gente pode se enganar tanto com as pessoas
— falei, após um tempo. — Eu nunca pensei que Raphael fosse capaz de me
machucar, mas eu me enganei e, se não fosse você, ele teria me batido. E se
eu tivesse me casado com ele?

— Você revidaria. Mesmo sem ter força para brigar com ele, você
lutaria, porque você é assim. Você não iria permitir que ele te machucasse.

Sua voz foi ficando estranha, a encarei e ela tinha os olhos rasos
d’água.

— Ei, o que foi?

Ela não disse nada, abracei-a, e ela chorou quietinha.

— Quer conversar? — Perguntei, quando ela parou de chorar.

Ela limpou o rosto.

— Não.

Mesmo preocupada, aceitei. Havia acontecido algo com ela, mas,


quando ela se sentisse confortável, dividiria comigo.
 

Cheguei em casa e vozes animadas chamaram a minha atenção. Fui


em direção a elas e vi meu avô, Giorgio e uma mulher que parecia ter saído
de Woodstock. Concluí ser Ariana, a nova namorada dele.

— Filho! — Meu pai sorriu ao me ver.

A cena era no mínimo estranha. Presenciei cenas familiares


envolvendo meu pai no máximo duas vezes contando com aquela.

— Matteo, olha quem veio nos visitar! — Disse meu avô, assim que
me viu. — Seu pai e sua mãe.
— Ela não é...

— Não vai falar com ele, Isabella?

Então era isso, meu avô achava que a Ariana era a minha mãe.

Ela pigarreou e veio me cumprimentar.

— É um imenso prazer conhecer o filho do homem que amo. Gio fala


maravilhas de você.

Gio? Eu estava em um filme de terror.

— Ele fala? Não imagino como ele tenha algo para falar de mim
sendo que mal nos conhecemos.

— Filho, o que é isso? — Giorgio perguntou, vindo até nós.

— Quero saber que palhaçada é essa!?

— Quero me aproximar do meu pai e de você também. — Ele olhou


para a mulher e, por um momento, pensei que ele estava tendo um derrame.
Ele encarava a mulher de um jeito estranho e quase maníaco, como se ela
fosse a porra do maior diamante do mundo. — Ariana me fez ver que a única
coisa que importa são as pessoas que amamos.

Queria saber em que momento nos últimos 30 anos, em que ele quase
não deu as caras, ele incluiu meu avô e eu na sua breve lista de pessoas que
amava.

— Isso é muito emocionante, mas, se me dão licença, preciso


trabalhar.

— Sabe me dizer se Alice está bem? — Meu avô perguntou, me


pegando de surpresa. Quem contou para ele? —  Peça para alguém do hotel
verificar como ela está. Graças ao meu bom Dio, foi só um desmaio, mas,
sabe como é, ela pode desmaiar de novo. Fico preocupado de não ter
ninguém com ela.
— Desmaio? — Indaguei, desconfiado.

— Sim, ninguém te contou? Fomos almoçar e a coitadinha passou


mal, levamos ela para o hospital às pressas.

Não, ninguém me contou.

— Não se preocupe, deixei um mordomo disponível para ela.

Ele pareceu aliviado com a informação, mas Giorgio me olhou com a


testa franzida. Eu não podia me importar menos com o que ele pensava ou
deixava de pensar.

Fui para o meu escritório, mas mal me sentei e Giorgio entrou.

— O seu novo estilo de vida te impede de bater na porta?

— Filho, quero falar sobre aquela moça. Sei o que está sentindo, eu
também me senti assim com a sua mãe, mas vejo que você está tomando o
mesmo caminho que eu...

— Pensei que seu objetivo ao voltar era se aproximar das pessoas que
você ama.

— É exatamente isso que quero, meu filho. Por isso, eu quero te


ajudar...

— Vocês dois podem ficar o quanto quiserem aqui, Lorenzo adora


visita, mas, se você falar mais uma vez sobre Alice, vou providenciar uma
passagem só de ida para você e sua namorada — falei, irritado.

— Eu lamento ter sido a pessoa que te mostrou aquelas fotos... Eu só


quis te ajudar...

— Saia, preciso trabalhar.

Ele saiu da sala e a raiva me consumiu, fazendo com que eu perdesse


o controle e jogasse o computador com força contra a parede. O som do
impacto ecoou pelo ambiente.
Por mais que a raiva me dominasse, havia uma parte de mim que não
conseguia ignorar a verdade: eu ainda a queria. Eu me encontrava em um
dilema interno, dividido entre acreditar nela ou não. Uma parte de mim
queria acreditar no seu olhar magoado quando perguntei se o filho era meu.
No entanto, outra parte só conseguia compará-la com Isabella e até essa parte
queria ignorar tudo só para tê-la.

A parte que não acreditava nela venceu, mas, ainda assim, chamei
Dante até a minha sala.

— Descubra tudo o que puder sobre esse homem.

Dante pareceu desconfortável ao ver Alice beijando o homem da foto.

— Sim, senhor.

— E que história é essa de desmaio da Alice?

O homem gaguejou.

— Desculpe, senhor, não achei que devia informá-lo sobre o mal-


estar da senhorita Albuquerque no almoço que ela teve com o seu avô. O
senhor estava em uma viagem de negócios.

Provavelmente nesse dia que ela descobriu a gravidez.

— Da próxima vez, não ache nada, apenas me informe de tudo.


 

Acordei no dia seguinte e vi que Eros tinha me ligado, mas deixei


para retornar suas ligações depois de falar com Dante.

— O senhor não vai gostar.

Não havia nada que ele pudesse me dizer que fosse pior do que o que
eu já sabia.
— O nome dele é Raphael Trajano, a família dele é importante e ele
entrou para a carreira política. Ele e a senhorita Albuquerque foram
namorados por 3 anos e, naquela noite em que a encontramos na delegacia
com o seu avô, era o dia do casamento deles.

— Ela é casada? — Perguntei, sentindo um estranho aperto no peito.

— Não — um alívio inexplicável me invadiu —, não sei o motivo,


mas parece que ela fugiu antes da cerimônia, deixando todo mundo sem
entender o porquê.

Isso explicava porque ela usava um vestido de noiva.

— Ok, mas por que não vou gostar disso?

— O senhor Raphael foi flagrado pelas câmeras da Sartori durante


toda a semana passada, rondando a empresa, esperando pela senhorita
Albuquerque. Tenho a gravação do momento exato do beijo e acho melhor o
senhor ver com os próprios olhos.

Ele me entregou um tablet e vi Alice chegando na Sartori e


conversando com Bruna, em seguida Raphael chegou e a beijou, mas ela o
empurrou. Ele tentou se aproximar novamente, mas ela se afastou.

Aquilo era o suficiente para mim, devolvi o tablet para Dante.

— Ele parece estar perseguindo-a.

Passei as mãos no cabelo, sentindo o meu peito apertado. Que merda


eu fiz? Deixei a porra da loucura dos meus pais foder com a minha cabeça.
Cazzo! Tentei lembrar das coisas que disse para ela quando descobri sobre a
gravidez e não me lembrei. A raiva e o ciúme me fizeram dizer aquelas
coisas e agora eu não podia fazer nada para me desculpar com ela porque
Alice tinha de repousar. Principalmente, depois de ouvir o que o médico me
disse.

Eu não podia colocar o bebê em risco.


Mas o bebê pode ser do ex-noivo dela! — Uma voz disse na minha
cabeça.

Naquele momento, de quem era o bebê não me importava. Eu a


queria, independente de quem fosse o bebê, mas Alice ainda me queria? Ela
nem quis olhar na minha cara no hospital.

— Fui informado sobre a ida de emergência da senhoria Albuquerque


ao hospital ontem — Dante falou, me tirando dos pensamentos. — Acredito
que o senhor Raphael seja o culpado.

— Como assim? — Inquiri, me assustando com meu tom.

Eu vi como Alice ficou abalada e se aquele filho da puta tivesse culpa


pelo que aconteceu...

— Ela e a amiga foram parar na delegacia por causa dele. Consegui


as imagens da câmera de segurança do local...

— Cadê essas imagens?

Dante me entregou o tablet novamente e uma raiva quase assassina


tomou conta de mim ao ver o desgraçado a chacoalhando. Eu não precisei ver
mais nada, teria uma conversinha com aquele filho da puta.

— Imagino que saiba onde ele está.

— Sim, senhor.

— Prepare o helicóptero.
 

Retornei as ligações de Eros.

— Seja breve.

— Porra, Matteo, difícil falar com você, hein!?


— Você não trabalha, não?

— Trabalho, inclusive parei só para te atender.

— Oh, que honra, mas dispenso, estou ocupado.

Enfiei as mãos debaixo d’água e as lavei.

—  Juro que não sei porque sou seu amigo, mas não é da sua falta de
educação que quero falar. Quero falar da Alice.

— O que tem ela? — Perguntei, secando as mãos.

— Ah, pra ela, você não está ocupado...

— Fala logo, Eros.

— Eu sei o motivo da Alice ter ido parar no hospital...

— Você sabia do filho da puta do ex dela e só veio me contar agora?


— Inquiri, puto.

— Você já sabe? Como você...

— Bom, não foi porque um dos meus melhores amigos me contou! E


eu já resolvi esse problema.

— Como assim, resolveu?

Fechei a minha mão, sentindo-a dolorida.

— Não se preocupe.
 
Capítulo 24

No último dia de repouso, eu não aguentava mais ficar no quarto de


hotel. Era pelo bem do meu bebê, mas estava extremamente entediada. Acho
que nunca fiquei tão animada para trabalhar, iria me cuidar o máximo que
pudesse, mas, só de sair, ver gente, ter com o que ocupar a cabeça já era
ótimo.

No entanto, nem tudo ocorria como a gente queria.

— Oscar, o quê? — Perguntei para Bruna.

— Ele falou para você tirar mais uma semana de folga, ele quer você
100% quando voltar.

— Mas...

— Desculpa, mas eu concordo. Quanto mais você repousar, melhor.

Gemi, frustrada, e me sentei no sofá de milhares de dólares. Sim,


dólares, porque era um modelo de uma designer americana. Mesmo amando
decoração, era um absurdo me sentar em algo tão caro.
— Por que você não aproveita para contar para os seus pais sobre a
gravidez?

Eu havia passado a semana toda discando o número deles, mas


acabava desistindo e, toda vez que eles ligavam, parecia uma hora ruim para
falar: “Estou grávida e o pai não acredita que o bebê é dele, então vou criar
sozinha.”

— Ótimo, vou passar a semana toda trabalhando no meu novo


projeto, intitulado: Contar para os meus pais que eles serão avôs.

— Não. Você morre de saudade deles, aproveita a semana de folga e


vai para o Brasil.

— O quê?

— Pergunta pro médico, obviamente, mas você mataria a saudade


deles e depois mataria eles do coração ao descobrirem que a filhinha deles
vai ser mãe solteira.

— Idiota! — Dei um cutucão nela.

— Eu sei que você ama.

— Sim, eu te amo, mas isso não te faz menos idiota.

— É, eu sou um pouco idiota, mas você me ama, então tá tudo bem.

Bruna se jogou no sofá absurdamente caro da minha nova suíte, vulgo


nossa suíte, já que Bruna havia oficialmente se mudado para ali. Era bom tê-
la ao meu lado, ela sempre me fazia rir e esquecer, ou quase, a existência do
Matteo. Só fiquei na fossa umas 5 vezes durante a semana. Para mim era
razoável já que a semana tem 7 dias.

— O médico disse que você está bem mesmo, né?

— Sim, fala pro Oscar que ele disse que estou superbem.
— Não, você será uma pessoa mais feliz se for visitar os seus pais,
mas não foi por isso que perguntei. — Franzi a testa, e ela arrumou a postura.
— O Raphael foi lá na Sartori.

Respirei fundo, ele estava louco, não havia outra explicação.

— O que ele pensa que está fazendo?

— Fica calminha, lembra do baby, meu afilhado precisa de paz.

Dei risada dela.

— Estou bem, sério.

— Ele foi pedir desculpa e avisar que retirou a queixa contra nós
duas.

— Isso é inesperado, mas eu não me importo com o pedido de


desculpa dele, só quero não ter que olhar mais para a cara dele.

— Exatamente!

— Exatamente o que, sua doida?

— Ele falou que não vai te incomodar, a menos que você o procure e
você sabe onde encontrá-lo. Confesso que nessa parte eu o achei bem
maluquinho das ideias. O cara acha mesmo que existe a possibilidade de
vocês voltarem. Agora, sabe qual é a parte mais interessante dessa história?

— Ele vai se mudar para o Afeganistão?

Bruna riu.

— Não, o olho roxo dele. Você tinha que ver o lindo hematoma que
ele tinha no rosto, e acho que não era só no rosto, porque o idiota estava
andando todo estranho.

— Estranho, Raphael não é de se envolver em briga, justamente


porque ele perde se entrar em uma.
Bruna respirou fundo.

— Acorda, Alice! O Matteo deu uma coça nele.

— O Matteo? Como ele conheceu o Raphael e por que ele faria isso?

— Como ele conheceu o Raphael e por que ele faria isso? — Ela me
imitou. — Sério, ter que traduzir tudo para você não é fácil. O Matteo tirou a
gente da delegacia, é só somar dois mais dois. Ele bateu nele porque gosta de
você.

— E a lenta sou eu. — Dei risada. — Ele não gosta de mim, ele nem
acredita que o bebê é dele.

Bruna me encarou como se não acreditasse no que via.

— Para de ser tonta! Isso não tem nada a ver. Homem é assim
mesmo, um bando de idiotas, mas ele gosta de você. Olha pra esse quarto e o
mordomo maravilhoso que ele arrumou pra você repousar. Ele pode colocar a
mão no fogo como garantia de que esse filho não é dele, mas não pode negar
que gosta de você.

— Isso não faz sentido.

— Pois é, bem-vinda à mente masculina.

— Ele tem um jeito estranho de gostar que não entra na minha


cabeça. Será que ele gosta mais de mim do que da Madeline? Ou gosta das
duas igualmente? — Zombei, mas a verdade era que doía.

Bruna envolveu o meu ombro com o seu braço e me puxou para si.

— Ele é um idiota.

— Concordo.

— E aí, vai ou não vai contar para os avôs do meu afilhado que o
netinho deles está no forno?
 
Cheguei na segunda-feira pronto para trabalhar... Quem que estava
tentando enganar? Cheguei na segunda-feira esperando ver Alice. Sabia que
seu médico já havia dado alta para que ela voltasse, mas não a vi em nenhum
lugar.

— Estão todos o esperando para a reunião — Antonella me avisou.

— Ok, já estou indo. Sabe me dizer onde está a senhorita


Albuquerque? A sala dela passou o dia vazia.

Sentia-me um idiota ao final da fala.

— Parece que ela voltou para o Brasil.

A informação fez um estrago no meu peito. Ela foi embora. Pensei,


sentindo um aperto doloroso em meu peito como se uma mão invisível
estivesse espremendo meu coração. Havia a possibilidade do filho que ela
carregava ser meu e mesmo assim ela foi embora. Eu nunca havia
considerado a possibilidade de ser pai, mas, se eu fosse o pai daquela criança,
Alice não a tiraria de mim, eu não seria como Giorgio.

Pelo menos foi isso que usei como justificativa para os meus atos
depois disso.

— Voltou, ou vai voltar, não entendi muito bem. — Antonella me fez


encará-la.

— Voltou ou não voltou, Antonella? — Minha pergunta saiu ríspida,


e ela engoliu em seco.

— Não sei, senhor...

— Pode se retirar.
— Mas a reunião?

— Mandem esperar.

Ela ia dizer algo, mas, ao ver a minha expressão, saiu da sala.

Liguei para Dante, que atendeu no primeiro toque.

— Onde Alice está?

Diferente da maioria dos meus funcionários, ele não fez um monte de


perguntas idiotas, apenas pediu um minuto.

— Ela parece estar no aeroporto, vou ter a confirmação em alguns


minutos, mas ela tem uma passagem para o Brasil comprada pela Sartori
Company.

— Estou indo para lá, mande cancelarem o voo dela e, se ela já


embarcou, mande retornarem. E se ela tentar embarcar em outro, cancele
também.

— Isso vai custar caro.

Eu não me importava, Alice não sairia de Roma.

Desliguei a ligação e mandei providenciarem meu helicóptero.

Assim que saí da minha sala, Antonella me seguiu.

— A reunião é na sala de...

— Cancele, estou saindo.

— Mas... — Ela desistiu de falar.


 
Capítulo 25

Eu estava empolgada para visitar os meus pais e poder passar a


semana com eles. Não havia contado para eles, pois queria fazer uma
surpresa. A minha ansiedade só não era maior do que o frio na barriga que eu
sentia toda vez que pensava em contar sobre a gravidez. Não existia a
possibilidade de não contar imediatamente para eles, minha mãe parecia me
ler, ela sabia até quando a minha menstruação atrasava, então, teria que
contar para eles assim que os visse e eu esperava muito não ver a decepção
estampada em seus rostos.

A ansiedade só aumentou ao anunciarem o meu voo.

Enquanto entrava no avião, repassei como eu contaria e tentei prever


a reação deles, mas não fazia ideia do como seria. Não era como se eu fosse
adolescente e ainda dependesse deles, mas a última coisa que queria era
decepcioná-los.

— Está tudo bem, moça? — Uma italiana perguntou, ela não parecia
ter mais de 15 anos.
Limpei a lágrima que escorreu e sorri para ela.

— Sim, estou bem. Só estou nervosa, porque estou voltando para o


Brasil para contar para os meus pais que estou grávida, mas eu estou solteira
e não quero decepcionar eles. Aliás, fica a dica para você, espero que você
ainda não esteja fazendo sexo, porque parece muito nova, mas, quando
começar, nunca, está ouvindo, nunca faça sem camisinha, mesmo tomando
anticoncepcional. Eles falham. Ah, e não use o da KLantiz, eu o uso há anos
e olha o que aconteceu na única vez que eu esqueci de tomar um
comprimido. Sem falar das doenças. Eu, graças a Deus, não peguei nada, mas
poderia, porque aquele italiano filho da mãe apareceu com uma loira toda
gostosa enquanto a gente ainda estava saindo.

Talvez, só talvez, eu estivesse surtando. Se o rosto assustado da


menina fosse um indicativo, eu podia afirmar com 110% de certeza de que eu
estava surtando muito.

— Ouviu ela, nada de sexo! — A mulher da poltrona da frente disse,


debruçada sobre a sua poltrona. — Muito obrigada pelo seu relato
assombroso sobre gravidez indesejada, acho que isso vai ser suficiente para
ela pensar duas vezes antes de tentar transar com o namoradinho de escola.

— Mãe! — A menina exclamou, envergonhada.

Droga, eu havia falado de sexo desprotegido com a menina e a mãe


dela ouviu tudo.

— Mas a minha gravidez não é indesejada, eu quero o bebê, eu só...


— Calei ao ver como a mulher me encarava. — Só não faça sexo até estar
casada — falei para a garota.

— Ouça ela, eu e seu pai ficaremos muito gratos se esperar até o


casamento.

A mulher se sentou e sussurrei um pedido desculpa para a menina, e


ela sussurrou outro.

Voltei a me acalmar, pelo menos tentei, mas a comissária de bordo


acabou com todo o meu relaxamento.
— Senhores passageiros, lamentamos o transtorno, mas o voo foi
cancelado.

Começou uma cacofonia, todos falavam ao mesmo tempo, revoltados.


As pessoas queriam saber o motivo do cancelamento, já que o tempo estava
bom, então, obviamente não era devido ao tempo.

Fiquei em dúvida, aquilo significava mais tempo para pensar no que


dizer para os meus pais, mas também significava menos tempo com eles.

Enquanto descia as escadas do avião, uma das comissárias me


abordou.

— A senhorita pode me acompanhar, por favor?

— Claro — concordei, sem entender.

— Não se preocupe com sua bagagem, eu mesma carrego para a


senhorita.

— Ah, não precisa.

— Faço questão.

Concordei e a segui.

Dava para entender porque a Sartori Company era uma das melhores
companhia, aéreas do mercado, o atendimento era excelente.

— Moça, eu acho que é pra lá — avisei, ao ver que o restante dos


passageiros ia para o lado contrário, e me perguntei por que eu era a única
que estava sendo acompanhada.

— Não, é por aqui mesmo.

Estava prestes a perguntar por que ela estava me guiando, mas meu
olhar foi atraído para um carro de luxo andando na pista. Podem fazer isso?
Minha pergunta foi interrompida quando o carro parou e vi Dario descer do
carro.
— Dario?

— Olá, senhorita Albuquerque.

— O que você está fazendo aqui?

Ele abriu a porta traseira do carro e vi Matteo.

Eu não o via desde o dia em que fui levada para o hospital e não
esperava vê-lo ali, na verdade, eu não esperava vê-lo em lugar nenhum,
porque eu sabia que meu coração não se importava com o que eu e meu
cérebro decidíamos. Provando que ele não se importava com as minhas
decisões, ele acelerou ao ouvi-lo.

— Entre, Principessa.

Droga, por que o sotaque italiano dele tem que ser tão sexy?

— O quê? Não! O meu voo...

— Foi cancelado.

— Como você sabe?

— Entre.

— Eu não vou entrar.

Girei nos calcanhares, e Dario impediu a minha passagem.

— Não me faça ter que descer do carro e te pegar, Principessa.

Encarei-o, furiosa.

— O que é isso? Um sequestro?

— Se acalma, você não...

— Não manda eu me acalmar!


Por que as pessoas acham que mandar uma pessoa nervosa se
acalmar vai fazê-la se acalmar?

— Então entra no carro e vamos conversar.

— Obrigada, mas eu não quero conversar.

Virei as costas para ele e peguei a minha mala, que a comissária tinha
pegado, porém, mal dei dois passos e fui retirada do chão. Queria poder dizer
que a primeira coisa que senti foi raiva, mas o que senti foi uma corrente
elétrica, seguida de arrepios, e um calor que se espalhou pelo meu corpo,
como acontecia toda vez que ele me tocava. Engoli em seco.

— Me solta, Matteo! — Dei um tapa em seu peito, mas não surtiu


efeito.

Ele entrou no carro comigo no colo, e Dario fechou a porta.

— O que você pensa que está fazendo?

— Você não achou que eu ia deixar você ir embora carregando o meu


filho, né?

— Seu o quê? Desde quando ele é seu filho? Porque eu me lembro


bem de você me chamando de piranha e querendo saber quem era o pai do
meu bebê.

Vi algo parecido com dor atravessar o seu olhar.

— Eu não te chamei de piranha e não quis dizer aquelas coisas.

— Sério? Porque pareceu que queria sim. — O carro entrou em


movimento. — Dario, para o carro, eu vou descer, preciso pegar o próximo
voo para o Brasil.

Ele pareceu não me ouvir.

— Manda ele parar esse carro — falei séria para o Matteo, mas ele
apenas me encarava, segurando cada vez mais forte a minha cintura. Foi
então que percebi que ainda estava no seu colo.

Tentei descer, mas ele me puxou e entendi porque ele estava me


encarando daquele jeito indecifrável. Senti seu pau duro contra a minha
bunda, meu ventre se contraiu. Era impossível não sentir nada quando eu
ainda podia lembrar exatamente como era ter as suas mãos sobre o meu
corpo, e como ele podia me fazer gozar tão facilmente e repetidas vezes. A
culpa nem era minha, eu estava entupida de hormônios e ele queriam arrancar
a roupa dele ali mesmo e deixá-lo me fazer gozar.
 

Por que ela tinha que ficar tão gostosa brava?

Eu não conseguia raciocinar direito quando o assunto era a Alice,


tudo nela parecia mexer comigo. Assim que a peguei no colo e senti o seu
perfume, seu calor, percebi o quanto estava com saudade de tê-la em meus
braços. Cazzo! Nem parecia que duas semanas atrás eu transei com ela até a
exaustão.

Nunca senti por ninguém nada parecido com aquele desejo irrefreável
que sentia por ela.

Encarei os seus lábios e sua respiração mudou, acompanhei a ponta


da sua língua deslizar pelos seus lábios carnudos, umedecendo-os.

Firmei a mão em sua cintura e puxei o seu corpo delicadamente


contra o meu, nossas bocas ficaram a centímetros de distância. Subi minha
mão por suas costas até a sua nuca e acariciei a sua pele macia. Ela fechou os
olhos, se entregando à carícia. Deslizei o polegar por sua bochecha e ela
abriu os olhos, vi o desejo refletido, mas, antes que eu pudesse beijá-la, ela se
afastou. Alice saiu do meu colo como se eu tivesse algo contagioso e se
sentou na extremidade oposta do carro.
— O que você pensa que está fazendo? — Perguntou, me fazendo
experimentar uma coisa inédita... Ela estava me rejeitando? Foi
inesperadamente doloroso ser rejeitado por ela.

— Senhor, desculpe interromper, mas para onde devo ir?

— Para a minha casa.

— Sua casa? — Alice questionou.

— Sim, é lá que você vai ficar agora.

— Ah, mas eu não vou mesmo!

— Esse filho é meu?

Vi a raiva nublar os seus olhos, ela provavelmente queria me


esmurrar. Mesmo achando que ela ficava uma delícia bravinha, não era a
minha intenção, não queria que ela se estressasse por causa do bebê.

— Eu gostaria que não, mas nem para escolher pai para o meu filho
eu sirvo!

Não pude deixar de sorrir, o que fez sua expressão piorar.

Ela estava brava e claramente não queria estar ali, podia negar que o
filho era meu, mas não o fez. Parecia que eu realmente seria pai e eu havia
conseguido o feito de fazer a mãe dele passar de “me coma logo” para “não
encoste em mim”. E tudo isso em duas semanas. Eu merecia um prêmio.

— O lugar do meu filho é ao meu lado.

— Ah, que maravilha, do nada você decidiu ser o pai do meu filho.

— Nosso.

Vi um pouco da sua armadura se desfazer ao me ouvir, contudo, ela


não estava disposta a ceder.

— Isso não te dá o direito de cancelar o meu voo.


— Estar com raiva de mim também não te dá o direito de ir embora
grávida de um filho meu.

— Ir embora? Você deve ter batido a cabeça, só isso explica essa


maluquice.

— Eu posso ter enlouquecido, Principessa, mas não existe a menor


possibilidade de eu deixar você ir embora — disse, olhando em seus olhos e a
vi engolir em seco.

Minha vontade era diminuir o espaço entre nós e puxá-la para mim,
enfiar o rosto na curva do seu pescoço para sentir o cheiro da sua pele macia
e a ver se arrepiando, mas não o fiz.

Alice desviou o olhar e passou o restante do caminho em silêncio.

Assim que chegamos em casa, ela mal esperou o carro parar e já


desceu.

— Alice?

Ela não parou ao me ouvir, continuou andando o mais rápido que


podia.

— Onde ela está? — Perguntei para um funcionário.

— Biblioteca, senhor.
 
Capítulo 26

Eu queria tanto bater no Matteo, mas respirei fundo e passei todo o


percurso até a casa dele respirando fundo. Não iria me estressar nem perder o
controle novamente. Pelo bem do meu filho, eu não iria voar no pescoço do
pai dele.

Assim que o carro estacionou, fui direto atrás de Lorenzo, ele iria me
salvar daquela loucura do neto dele e me ajudar a pegar um voo para o Brasil.

— Lorenzo, o senhor precisa me ajudar, o seu neto enlou... queceu.

Dei de cara com um casal que estava que com Lorenzo.

O homem era estranhamente parecido com Matteo, apesar de ter um


estilo totalmente diferente. Enquanto Matteo parecia ter nascido de terno e
gravata, o homem usava uma camisa de linho e uma bermuda de sarja creme.
A mulher que o acompanhava tinha o mesmo estilo, formavam um casal
bonito.

— Desculpa, não sabia que o senhor tinha visita.


Todos ficaram em silêncio. Lorenzo me encarou com a testa franzida
e meus ombros caíram ao ver que ele não estava se lembrando de mim.

A mulher limpou a garganta.

— Olá, sou Ariana. Namorada do pai do Matteo.

— Ele tem pai? — Perguntei, sem pensar. — Desculpa, é claro que


ele tem pai. Prazer, sou Alice.

Ela sorriu e veio até mim, segurou a minha mão entre as suas e fechou
os olhos.

— Você tem uma energia tão boa.

— Obrigada — agradeci, adorando-a imediatamente.

— Estava ansiosa para conhecer a mulher que Lorenzo tanto fala.

— O senhor imagino ser o pai do Matteo? — Perguntei para o homem


que, assim como o filho, tinha cara de poucos amigos.

— Sim.

— Prazer, senhor?

— Giorgio.

Podia ser impressão minha, mas o homem parecia não gostar de mim,
o que não fazia sentido. Nem nos conhecíamos.

Olhei para Lorenzo, triste por ele não estar se lembrando de mim.

— O que você dizia sobre meu neto? — Lorenzo perguntou.

— Não é nada. — Sorri para ele, que sorriu em resposta.

Eu tinha um bom plano, mas Lorenzo não podia me ajudar sem


lembrar-se de mim.
— Aí está você, Principessa.

A voz rouca do Matteo me arrepiou.

Virei para encará-lo, um erro. Ele estava escorado no batente da porta,


com os braços cruzados e um sorriso que devia ser proibido quando eu queria
bater nele.

— Você quer parar com essa palhaçada e me levar de volta para o


aeroporto?

— O que está acontecendo? — Ouvi o pai dele perguntar, com


desconfiança, e sorri, o universo finalmente havia voltado a sorrir para mim.

Encarei o pai dele com um sorriso, apesar do homem me olhar como


se me odiasse.

— O seu filho praticamente me sequestrou enquanto eu tentava voltar


para o Brasil.

— Ela está grávida — Matteo soltou a informação.

Arregalei os olhos, sem acreditar. Eu estava há dias sem saber como


contar para os pais, e ele havia aceitado que era o pai há uma hora e já estava
contando para as pessoas na maior naturalidade.

— Você está grávida? — Giorgio ficou lívido, o homem parecia


realmente não gostar de mim. — De quem é o bebê?

Antes que eu pudesse mandar o homem ir à merda, Matteo


praticamente rosnou.

— Meu!

Qual era o problema deles? Ele podia não gostar de mim, mas agora
eu também não gostava dele.

— Ela estava tentando fugir com o meu filho na barriga.

O quê? Eu não estava tentando fugir...


— Eu vou ser bisavô? — Lorenzo perguntou emocionado, e lembrei-
me da nossa conversa e do livro que ele me deu para ler para os meus filhos.
Eu o guardava com carinho e o estava levando para o Brasil para mostrar
para a minha mãe.

Lorenzo andou em minha direção, esperando a minha resposta com


expectativa.

Balancei a cabeça suavemente, confirmando, e ele começou a chorar


e, droga, eu estava cheia de hormônios. Ver um senhorzinho chorar
emocionado fez a minha visão nublar.

Lorenzo me abraçou e foi impossível não chorar.

— Muito obrigado, eu achei que ia morrer sem ter essa alegria.

Ele me derreteu completamente. Como eu iria me arrepender de ter


engravidado se o meu filho teria um bisavô tão fofo?

Era oficial, só os meus pais não sabiam da minha gravidez. Nunca


pensei que eles seriam os últimos a saber que eu estava grávida.

Lorenzo desfez o abraço, e limpei o meu rosto.

— Mas se você está grávida do meu neto, por que ia embora? Você
não ia nem se despedir?

Ele pareceu magoado.

— Eu não estava indo embora, só estava indo passar a semana com os


meus pais para contar da gravidez para eles.

— Ah, que susto. Achei que você tentaria afastar a criança da gente
igual Isabella fez.

— Quem é Isabella? — Perguntei, e percebi que um clima estranho


tomou conta da biblioteca.

— É a... — Lorenzo tentou dizer, mas Matteo o interrompeu.


— Não é ninguém!

Encarei-o, sem entendê-lo. Obviamente, era alguém sim.

— Você não vai tentar nos afastar do bebê, né? — Lorenzo indagou, e
voltei minha atenção para ele.

— Não, claro que não. Eu só quero ver os meus pais, mas o seu neto
pirou.

— Vou mandar um avião para trazê-los — Matteo avisou, como se


fosse a coisa mais normal do mundo, como se o Brasil fosse apenas um
bairro de Roma.

— Não, ninguém vai trazer os meus pais... — tentei dizer, mas


Lorenzo me interrompeu.

— Pensa no que é melhor para o bebê. A viagem é cansativa, mas, se


quer ir, providenciaremos um avião particular.

Não haiva uma pessoa sã da cabeça naquela família.

— Posso preparar o avião e a equipe de segurança para sairmos daqui


em uma hora — disse Matteo.

— Sairmos? — Ele tinha dito equipe de segurança?

— Sim, ou posso trazer os seus pais.

Até parece que ele vai para o Brasil. Quase ri com a ideia. Ele acha
mesmo que eu ia cair naquele papinho?
 

Eu estava enganada, ele estava falando sério e, uma hora depois,


estávamos embarcando para o Brasil.
— Não acredito que isso está acontecendo — resmunguei ao
chegarmos à casa dos meus pais. — Isso é ridículo. Você acha mesmo que
vou, sei lá, sumir no mundo com o bebê?

Já passava das 22h quando chegamos ao Brasil e só fui direto para a


casa deles porque dormiam tarde.

— Só estou aqui para garantir o seu bem-estar, Principessa.

Era uma merda adorar quando ele me chamava assim, sempre me


amolecia um pouco.

Dario abriu a porta do carro e desci. A casa dos meus pais era simples
e, por um segundo, fiquei meio sem graça. O Matteo literalmente morava em
um castelo em Roma e meus pais numa casa simples em São Paulo. Parei de
pensar nisso e bati palmas.

Meu coração disparou enquanto esperava alguém responder.

Bati palmas novamente e meu coração quase saiu do peito ao ouvir


minha mãe.

— Já vai! — Gritou lá de dentro e, segundos depois, a porta da frente


foi aberta. Ao me ver, seus olhos dobraram de tamanho. — Bambola?

Ela levou a mão ao coração e chamou o meu pai aos berros. O pobre
coitado chegou ofegante à varanda e, ao me ver, os dois correram para abrir o
portão.

Pulei no colo dos dois, adorando abraçá-los. Estava com tanta, mas
tanta saudade deles que parecia que não os via há uma eternidade.

— Dio mio, como você não avisa que está voltando? Quer matar a
gente do coração, minha Bambola? — Minha mãe perguntou, segurando o
meu rosto entre as mãos e começou a me dar vários beijos no rosto.

— Vai matar a menina sufocada, Francesca! — Meu pai falou, com


um sorriso no rosto. — Até parece que ela ficou um ano fora.
— Olha quem fala, ontem você estava chorando de saudade — ela
zombou dele.

— Pai. — Emocionada, o abracei apertado.

Após os abraços, meu pai encarou Matteo.

— Não vai nos apresentar seu amigo? — Meu pai perguntou.

— Ah, ele é...

— Prazer, Matteo Sartori. — Estendeu a mão para o meu pai, que


pareceu ter usado mais força que o necessário para cumprimentá-lo.

— O dono dos hotéis? — Minha mãe perguntou, com os olhos


semicerrados, e soube o que viria a seguir.

— Sim, é um prazer conhecê-la.

— Gostaria de dizer que é um prazer conhecê-lo, mas, por sua causa,


tivemos que ir buscar nossa filha na delegacia.

Eu sabia, minha mãe e sua memória de fofoqueira não esqueciam


nada. Quando descobri que ele era meu chefe, disse para ela que o homem
que contratou a Trentini era o mesmo italiano arrogante que me acusou de
sequestro.

Não esperava que um dia estaríamos naquela situação.

— O que você faz aqui? — Meu pai indagou, e me vi tentando saber


como explicaria para eles que estava grávida logo do Matteo.

— Pai, é melhor a gente entrar e conversar.

Meus pais me olharam, desconfiados.

Enquanto entrávamos, reuni toda a coragem que eu tinha. Eu teria que


contar para eles, então que fosse de uma vez.
— Preciso contar algo para vocês. — Senti-me uma criança diante
dos pais após aprontar alguma coisa. — Eu não quero que vocês fiquem
desapontados comigo.

— Isso jamais acontecerá, você é uma filha maravilhosa — ele falou,


e minha mãe concordou.

— É que eu podia falar por telefone, mas eu estava com saudade de


vocês, então, achei melhor contar pessoalmente...

— Filha, fala de uma vez — minha mãe pediu.

— Estou grávida.

Eles ficaram em silêncio, meu coração se apertou. Lágrimas nublaram


minha visão, eu sabia que eles ficariam decepcionados.

Em meio a minha agonia, minha mãe sorriu.

— Um neto! — Minha mãe exclamou, emocionada.

— Grávida? — Meu pai perguntou.

Concordei com um balançar de cabeça.

— Isso... Como isso foi acontecer? — A decepção em sua voz era


evidente.

— Pai...

— Meu Deus, Alice! Como você fez uma burrada dessas?

Meu queixo começou a tremer.

— André... — minha mãe tentou dizer, mas meu pai não deu ouvidos
para ela.

— Eu não acredito que você fez isso.


Ele se afastou. Abracei meu próprio corpo, tentando conter o choro
preso na garganta.

— André, por favor....

— Essa menina não vê o tamanho da besteira que fez?! — Gritou, e o


choro irrompeu de mim.

Matteo me puxou para o seu peito, me fazendo lembrar da sua


presença. Ele acariciou meu cabelo, e deixei o choro vir.

Eu havia pensado tanto em como eles reagiriam, mas não imaginei


que seria tão mal.

— É melhor você se acalmar — Matteo disse para o meu pai,


duramente.

— E quem você pensa que é para me dizer o que eu devo fazer?

— Eu sou o pai desse bebê e não vou permitir que você fale com a
minha mulher dessa forma.

— Então é você o filho da puta que a engravidou! — Meu pai tentou


avançar em Matteo, mas minha mãe se colocou na frente dele.

— Enlouqueceu, André?! O que está acontecendo com você? Não


estou te reconhecendo.

— Pai... — tentei dizer, entre um soluço e outro.

— Se eu soubesse que essa sua ida para Roma resultaria em uma


gravidez, eu jamais teria permitido que você fosse! Jamais!

— Pai, por favor...

— Vamos sair daqui — Matteo falou, mas neguei. Eu não queria sair
dali, queria que o meu pai parasse de me olhar daquele jeito.

Ele nunca havia falado comigo daquela forma, nem me olhado com
tanta decepção.
— Saia daqui! Eu não quero ter que ver o tamanho da besteira que
você fez!

— André, ela é nossa filha!

Meu choro se tornou mais forte e, se não fosse por Matteo, que me
segurava, eu não sei se continuaria em pé.

— Chega! — Matteo falou, me tirando dali.

— Filha? — Minha mãe me chamou assim que chegamos ao lado do


carro.

Tive medo de fitá-la e ver a mesma decepção que havia nos olhos do
meu pai.

Seus braços me envolveram e chorei como nunca havia chorado.

Eu não me lembrava de uma única vez que o meu pai tenha levantado
a voz para mim. Quando eu chorava, era ele quem me consolava, ele não era
a pessoa que me fazia chorar e estava doendo tanto.

— Minha Bambola, eu não sei o que houve com o seu pai, mas tenho
certeza de que ele não quis dizer nada daquilo.
 

Depois do ex da Alice, o pai dela era o homem que eu mais quis socar
a cara em toda a minha vida. Ela não era criança para o filho da puta tratá-la
daquele jeito por causa de uma gravidez. Tive vontade de pegá-la no colo e
tirá-la dali assim que ele abriu a boca.

O seu corpo pequeno tremia e ela chorava de soluçar por causa do


pai. Pelo menos a mãe dela a consolou, ficou com a filha até ela se acalmar e
foi com a gente para o hotel. Ela não saiu do lado de Alice em nenhum
momento. Minha maior preocupação era o que aquilo podia causar ao bebê,
então, assim que chegamos a minha cobertura do Sartori São Paulo Hotel,
providenciei um médico e pedi para deixarem o helicóptero disponível para
qualquer emergência.

— Quero o piloto de plantão a noite toda — avisei à recepcionista,


antes de subir para o quarto.

Cheguei ao quarto e encontrei Alice deitada no sofá enquanto a sua


mãe acariciava seu cabelo. O rosto dela estava inchado de tanto chorar.

— Não pense nisso, minha boneca. O cabeça-dura do seu pai vai se


arrepender do que disse, mas não fique pensando nisso, pense no seu
bebezinho. Sabia que quando ficamos triste, eles também ficam?

Ela continuou a conversa unilateral em italiano, sem deixar de fazer


carinho na filha até ela dormir.

Assim que percebeu que a filha havia dormido, a mulher começou a


chorar, tampando a boca para evitar acordá-la.

Peguei Alice no colo e a levei para a nossa cama. Seu rosto, sempre
sereno e sorridente, estava triste. Mesmo dormindo, dava para ver sua
tristeza. Acariciei a sua bochecha e ela se aconchegou. Ela parecia tão frágil
dormindo, era quase como se um sopro pudesse quebrá-la, tão diferente de
como realmente era. Deslizei o meu polegar pelo contorno do seu lábio
inferior, ela continuava linda.

Após cobri-la, voltei para a sala, onde a mãe dela já havia se


recuperado.

— Eu preciso ir pra casa. Por favor, cuida dela.

— Não se preocupe. Meu motorista vai te levar.

— Não precisa...

— Faço questão.
Ela agradeceu, mas, assim que chegou à porta, parou.

— O meu marido não é assim. — Ela balançou a cabeça, negando e


limpou uma lágrima que escorreu por sua bochecha. — Ele ama a nossa
menina mais que a si mesmo...

— Não foi o que pareceu.

— Eu não sei o que houve com ele, mas ele não é assim.

Eu não me importava se ele era assim ou não, ele não trataria Alice
como havia tratado.
 
Capítulo 27

Passei o restante do dia no Brasil e matei toda a saudade que eu


estava da minha mãe. Lamentei ir embora sem ter visto o meu pai, mas não
conseguiria ver a rejeição em seu rosto novamente. Preferi partir apenas
lembrando do pai maravilhoso que ele sempre foi.

Acho que doeu mais porque eu nunca imaginei que um dia meu pai
falaria daquele jeito comigo. Ele sempre foi tão amoroso, carinhoso.

Decepcionar-se com quem você nunca esperou doía demais.


 

— Dante vai me levar para o hotel? — Perguntei para o Matteo,


assim que pousamos na pista particular da sua casa.

— Não.

— Como assim não?


Virei-me para encará-lo e esbarrei em seu peito. Ele circulou minha
cintura.

— O lugar de vocês é ao meu lado, e é aqui que vão ficar — falou em


italiano, como se soubesse que tudo o que ele falava na sua língua fizesse as
minhas pernas ficarem fracas.

Eu queria só ceder, mas Raphael tinha me feito aprender uma lição.

Espalmei seu peito e me afastei.

— O filho que estou carregando pode ser seu, mas isso não te dá
poder sobre mim. Inclusive, eu quero o meu quarto de hotel de volta.

— Nem pensar.

— Matteo...

Ele bufou.

— Eu não pretendo permitir que o meu filho não tenha tudo do bom e
do melhor desde já, Principessa. Se não quer ficar aqui, vai ficar na suíte
presidencial. Você só tem essas duas opções.

— Eu posso me mudar para outro hotel.

— Você pode, e eu posso comprar e mandar demolir.

— Você não faria.

— Ah, eu faria e ainda adoraria ver essa sua carinha brava.

O italiano abusado tocou o meu queixo e desviei o rosto.

— E o que sua namorada vai pensar disso?

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Namorada?
— Sim, Madeline.

— Madeline não é, nem nunca foi minha namorada.

A informação me deixou mais feliz do que deveria, mas não mudava


nada, eu não confiava mais nele.

Limpei a garganta.

— Hum. — Resmunguei como se não me importasse. — Se o Dante


não pode me levar, eu pego um táxi.

— Eu te levo.

Antes que eu pudesse negar, ele já estava mandando prepararem o


carro.

Cheguei ao hotel e só tive tempo para tomar banho e dormir até o


outro dia.
 

Dias depois...

Todo mundo na Sartori já sabia da minha gravidez. Felizmente, não


era todo mundo que sabia que Matteo era o pai, e os que sabiam não
pareciam se importar minimamente.

O que estava sendo difícil era trabalhar ao lado da sala do Matteo, a


cada cinco minutos meu olhar procurava por ele e, para piorar, sempre o
flagrava me observando. Eu não podia nem fechar as cortinas para tentar
controlar os olhares, minhas cortinas haviam desaparecido misteriosamente
de um dia para o outro e Matteo não escurecia mais o vidro de sua sala.

— A tensão sexual de vocês dá para ser sentida no escritório inteiro.

— O quê? — Perguntei, desviando a minha atenção de Matteo.


— Não finja para mim, eu sou sua amiga — disse Bruna.

Respirei fundo.

— Não estou fingindo, só acabou.

— Não acabou. Ele foi um babaca com você, mas não acabou. É
óbvio que você quer o italiano gostoso que te faz gozar horrores, e ele
claramente te quer. — Ela olhou por sobre o ombro e flagrou Matteo olhando
para mim. — Viu, eu disse. Só o faça sofrer antes de perdoar.

— Não é tão simples.

Bruna suspirou e se sentou.

— Sei que a traição do Raphael mexeu com você, mas não deixa ele
atrapalhar a sua vida.

Eu passava metade do meu dia com tesão, mas, mesmo assim, eu não
conseguia ceder.

— Eu não consigo. Por que ele sumiu? O que ele fez aquela semana
em Nova York?

— Já tentou, sei lá, perguntar para ele?

— Você quer que eu chegue nele e pergunte: Ei, sei que era só sexo,
mas o que você fez durante a sua semana em Nova York que não me ligou? E
por que estava com a Madeline se disse que não tem nada com ela?

— Exatamente! Viu, você já sabe como. — Bruna se levantou, e


balancei a cabeça, me negando a fazer isso. — Agora, para de lamber as
próprias feridas e vem, temos reunião.

Suspirei e fui para a reunião.


 
— Espero que todos tenham entendido, segunda que vem quero que
todos me apresentem o andamento do projeto. Reunião encerrada.

Oscar se levantou e todos o acompanharam, mas, ao me levantar,


senti uma leve tontura. Ricardo circulou minha cintura.

— Ei, tudo bem? — Perguntou, tocando meu rosto.

Balancei a cabeça, confirmando. Não estava esperando ficar tonta, as


tonturas já haviam passado.

— Por que você está tocando a minha mulher? — A voz grave e


rouca de Matteo ecoou pela sala. Encarei-o e ele tinha uma expressão dura e
taciturna que o deixava ainda mais gostoso.

Ele era um pecado em forma de homem, isso me fez me perguntar


como estava conseguindo me manter longe.

Ricardo tirou a mão do meu rosto, mas não me soltou. O olhar de


Matteo foi para a sua mão na minha cintura e, quando voltou para o rosto de
Ricardo, era quase assassino.

— A Alice... — Ricardo tentou dizer, mas Matteo o interrompeu.

— Se tocar nela mais uma vez, vou garantir que não consiga tocar
nela e em nenhuma outra mulher.

— Matteo, ele só...

— Saia!

Ricardo saiu, e Matteo bateu a porta da sala. Encarei-o, sem acreditar.

— Ele só estava sendo gentil.

— Acredite em mim, Principessa, ele não estava sendo gentil. —


Andou até mim. Engoli em seco, ele estava muito perto. — Ninguém toca em
você.

— Não temos nada.


Ele deu outro passo e dei um para trás, minha bunda bateu na mesa.

— Isso é o que você pensa.

Ele deu mais um passo em minha direção, ficando a centímetros dos


nossos corpos se tocarem.

Ele segurou meu cabelo pela nuca, me obrigando a encará-lo, e calor


se espalhou pelo meu corpo.

— Vocês dois me pertencem.

Por que eu gostava tanto quando ele era possessivo?

— É melhor você se afastar — falei, desejando que me debruçasse


sobre aquela mesa e me comesse ali mesmo.

Sua mão começou a subir por minha coxa, subindo minha saia.

— Matteo...

— Se você soubesse a vontade que estou de te beijar, me enterrar em


você a noite toda, chupar a sua bocetinha enquanto você geme implorando
por mais igual uma puta — Suas palavras me causaram arrepios deliciosos,
me deixando fraca —, a minha puta.

— Mat... — gemi e seus dedos cravaram na minha coxa.

— Nega — sussurrou no meu ouvido, causando-me mais arrepios. —


Nega que você não quer isso tanto quanto eu, Principessa.

— Eu...

— Você? — perguntou, percorrendo com a ponta dos dedos o elástico


da minha calcinha.

Eu não respondi nada, então seus dedos desceram por cima da renda
da minha calcinha e tocaram meu clitóris. Matteo começou a me masturbar e,
antes que eu pudesse perceber, estava abrindo as pernas para ele.
— Porra, Principessa! Olha como sua calcinha está molhada. — A
sua voz era sofrida e ofegante.

Encarei-o, não tive nem a decência de corar, eu não tinha nenhuma


vergonha na cara quando o assunto era aquele homem.

— Me faça gozar.

Ele sorriu ao me ouvir, o sorriso arrebatador que me fez pulsar.


Segurou as minhas coxas, me sentou sobre a mesa e rasgou a minha calcinha.

Minhas mãos agiram por vontade própria, envolveram seu pescoço e


o puxaram para um beijo, e droga, foi tão bom. Nossas línguas entraram em
uma dança sensual que parecia perfeitamente coreografada para acender em
mim um desejo que eu nem sabia existir, de repente, desejei que ele fizesse o
que quisesse comigo.

O toque de Matteo parecia desligar o meu lado racional.

Ofegante, interrompi o nosso beijo. Suas mãos subiram pelas minhas


coxas e me puxaram para a borda mesa, soltei um gritinho e o vi se ajoelhar.

— A sua boceta está pingando, Principessa — falou, espalhando


minha umidade, gemi.

— Matteo — murmurei, ao sentir sua língua. Tentei fechar as pernas


e ele as abriu.

— Mantenha as pernas bem abertas para mim.

Eu não consegui desobedecer àquela ordem, ninguém conseguiria,


nem queria. Faria qualquer coisa para sentir sua língua novamente, então
arreganhei as pernas para ele, e, nossa, como eu estava com saudade da sua
língua. O calor dela me tomou, incendiando-me. Tocava o lugar exato.
Sugava, fazendo a pressão certa. Infiltrei as minhas mãos em seus cabelos e
comecei a rebolar, seus dedos cravaram na carne da minha coxa. Meu corpo
parecia prestes a entrar em combustão espontânea. Eu não conseguia mais
controlar os meus gemidos, tudo foi ficando mais intenso até que meu corpo
explodiu em um orgasmo avassalador.
Antes que eu me recuperasse, Matteo se levantou e me beijou, o meu
gosto se misturando ao beijo.
 

Cazzo! Eu queria matar aquele engenheirozinho por tocá-la, mas,


porra, eu não sairia por nada daquela sala de reuniões. Eu nem sabia que
estava com tanta saudade de tê-la daquele jeito novamente até tê-la sobre a
mesa, quase arrancando os meus cabelos e gemendo gostoso na minha língua.

Alice ainda me enlouqueceria.  Era loucura o quanto eu a desejava.

Apertei sua cintura e aprofundei o beijo, sentindo o meu pau quase


rasgar a calça de tão duro. Porra, poderia gozar só a chupando, podia sentir a
minha cueca úmida de pré-gozo. Eu parecia a merda de um adolescente.

Desci os beijos pelo seu pescoço, adorando seus gemidos, mas, do


nada, ela parou e empurrou o meu peito.

— Matteo, para.

Encarei-a, preocupado.

— O que houve?

— Nada, eu só...

Ela tentou descer da mesa, mas não me afastei.

— Me diz o que houve, um segundo atrás...

— Um segundo atrás eu me deixei levar pelo tesão.

Isso devia ser algo, parecia algo bom. Eu a deixava com tesão a ponto
de ela não pensar direito, mas não era bom, nada bom.
— Isso não devia ter acontecido. Obrigada pelo orgasmo incrível,
mas isso não devia ter acontecido.

Naquele momento, eu descobri que tinha como um homem ficar puto


por uma mulher agradecer por tê-la feito gozar. Se Alice estava pensando que
eu ia desistir, estava muito enganada.

Afastei-me e, de pau duro, a observei se arrumar. Ela já era gostosa


antes da gravidez, mas, nossa, os peitos dela estavam maiores, deliciosos.
 

— Você está fodido! — Eros riu.

— Eu avisei que podia haver uma explicação.

— Obrigado, Rafiq, era isso que eu precisava ouvir. — Levantei-me,


tinha sido uma ideia ruim falar da Alice com eles.

— Ei, onde você vai? — Eros perguntou. Não respondi, mas, antes
que eu chegasse à porta, ele me parou. — Seu humor está ruim assim por
causa da falta de sexo ou você sempre foi chato assim?

— Vai se foder, seu grego filho da puta!

Ele gargalhou.

— Sério que vai embora e deixar seus amigos aqui? Eu e Vossa


Majestade poderíamos estar em Vegas agora, recebendo um lap dance[13]
de
uma loira gostosa, mas resolvemos vir para o seu país chato e sem stripper
porque você é nosso irmão.

— Cresce, Eros! — Rafiq resmungou.

— Não dê moral pro velhinho, senta e vamos beber.

Entre ficar em casa e beber com os dois, resolvi ficar.


Após algumas doses de bebida, eu não conseguia parar de pensar em
Alice. Ela voltaria a ser minha, eu só não sabia como, ainda.

— Como é? — Eros perguntou.

— Como é o quê?

— Saber que vai ser pai?

— É estranho. — Ele e Rafiq me encararam, sem me entender. — Eu


não o conheço, não sei se é menino ou menina, mas sei que faria qualquer
coisa para mantê-lo seguro. É irracional.

Eles ficaram em silêncio.

— Preciso ir — falei, sem dar chance a eles de perguntarem nada.


Sabia como faria Alice voltar para mim, pelo menos eu pensava que sabia.
 
Capítulo 28

Estava deitada quando alguém bateu à porta.

Levantei-me e, ao abrir a porta, dei de cara com Matteo. Ele estava


com o nó da gravata desfeito e os primeiros botões da camisa abertos.

— O que faz aqui?

— Não vai me deixar entrar?

— Entra.

Ele entrou e se sentou no sofá, confortavelmente, como se estivesse


na casa dele. Tecnicamente, ele meio que estava.

— Você devia se mudar lá pra casa.

— Você veio aqui a essa hora pra isso?

— Não, mas você devia. Meu avô fala o dia inteiro de você e do bebê,
a doença dele está evoluindo. Ele pode esquecer de todo mundo daqui anos,
ou até o final da gravidez.

— Você está me chantageando com a doença do seu avô?

— Está funcionando?

Estava!

— Não!

Pensar no que ele falou me trouxe tristeza. Eu visitava Lorenzo o


máximo que podia, e ele sempre ficava tão feliz. Bom, nem sempre, algumas
vezes ele não se lembrava muito bem de mim.

— Então se mude por mim.

— Matteo...

— Venha aqui. — Fitei-o. — Venha aqui.

Ele segurou minha mão e me puxou. Apoiei as mãos em seus ombros


para não cair em cima dele.

— Você andou bebendo?

— Um pouco — respondeu, infiltrando as mãos por baixo da minha


blusa.

Foi impossível não me arrepiar, adorava ter suas mãos sobre meu
corpo.

— Matteo...

— Relaxa, não estou tentando transar com você.

Não? — Pensei decepcionada.

Ele segurou a minha cintura e encarou a minha barriga. Meu coração


disparou.
— Ei, sua mãe prefere morar em um hotel a morar em um castelo
com seu pai e seu bisavô.

Droga, meus olhos lacrimejaram.

Ele não devia beber e ficar todo fofo.

Pegando-me completamente desprevenida, ele beijou a minha barriga.


Desde que descobriu a gravidez, era a primeira vez que falávamos sobre o
bebê sem ser com ele dando ordens. Meu coração era mole e idiota, e ver
aquele homem enorme, beijando a minha barriga, me derreteu.

Sorri e toquei seu rosto, ele me encarou.

— Esteja pronta amanhã às 18h.

— O quê?

— Paguei um milhão para jantar com você, lembra?

É claro que ele tinha que estragar o momento.

Tirei suas mãos da minha cintura e me afastei.

— É melhor você ir embora.

Achei que ele iria protestar, mas se levantou e, pegando-me


desprevenida mais uma vez, segurou minha nuca e me beijou. Não um beijo
rápido e sem graça, um longo e de tirar o fôlego. O seu gosto mentolado e de
whisky invadiram a minha boca. 

Do mesmo jeito que ele me beijou, desfez o beijo em seguida. Tentei


beijá-lo, mas recuou, deixando-me confusa.

— A próxima vez que eu te beijar, você vai implorar para se fodida,


Principessa.

Ele saiu e fiquei parada no mesmo lugar, tentando fazer o meu


cérebro voltar a funcionar.
— Você é tão forte.

Dei um pulo ao ouvir Bruna, achei que ela já estivesse dormindo.

— Que susto!

— Sério, eu não seria tão forte.

— Eu não sou — admiti.

Se ele tivesse me arrastado para o quarto, eu não teria resistido.


 

Eu não queria ir ao jantar com Matteo, mas havia comprado um


vestido só para isso e pedi para Bruna me ajudar a me arrumar.

— Uau! Você está linda.

Olhei-me no espelho, gostando do caimento do vestido. Ele era


vermelho e tinha um decote em V bastante revelador, mas nada vulgar. Era
colado e ia até um pouco abaixo do joelho.

O telefone do quarto tocou, e Bruna atendeu.

— Matteo chegou — avisou, fazendo um friozinho se instalar na


minha barriga. — Arrasa com o coração dele!

— O quê?!

— Manda ver, garota!

Eu entendia somente metade das coisas que Bruna falava.

Peguei minha bolsa e saí, mas dei de cara com Matteo. Seu olhar
percorreu o meu corpo e fiz o mesmo com ele. Eu pularia o jantar facilmente
e o arrastaria para o quarto.
— Você está...

— Bonita?

— Gostosa.

Por incrível que pareça, meu rosto corou.

— Obrigada, você também — falei, sem pensar, pois estava nervosa.

Matteo sorriu e estendeu o braço para mim.

Pensei que um dos seus motoristas iria dirigir, mas ele estava com um
carro esportivo e foi dirigindo. Seu séquito de segurança nos acompanhou de
longe.

Ao chegarmos ao restaurante, pensei que estaria fechado para apenas


nós dois, mas o local estava cheio. Sorri. Ele não estava tentando me
esconder.

Acho que nunca entrei em um restaurante tão chique em toda a minha


vida. O lugar exalava elegância e o ponto central dele era um lustre de cristal
gigante bem no meio do restaurante, sob um teto de vidro.

— Podem me acompanhar.

A nossa mesa era justamente a que ficava embaixo do lustre.


Algumas pessoas nos observaram, me senti um pouco envergonhada de ser o
centro das atenções.

— Você está tensa — Matteo falou no meu ouvido ao puxar a cadeira


para mim.

— Todos estão olhando para nós.

— Acostume-se, Principessa.

Pedimos nossos pratos e Matteo dispensou o vinho.


— Você não precisa beber água só porque eu não posso beber —
comentei, assim que o garçom se retirou.

— Eu não quero estar sob efeito de álcool essa noite.

Encarei-o, esquecendo as pessoas que não tiravam os olhos de nós.

— Qual é o seu objetivo com esse jantar?

— Eu paguei por ele.

— Então você não quer perder o dinheiro que gastou...

— Eu não quero perder você.

Fiquei sem fala ao ouvi-lo. Eu não podia negar o quanto gostava dele,
mas algo não me permitia me entregar.

— Eu nunca devia ter desconfiado de você, mas... — Ele se calou.

— Mas?

— Eu fiquei cego de ciúme.

— Ciúme do quê? Dos homens que você me acusou de ter? Eu nunca


te dei motivos para acreditar que estava saindo com outros.

— Giorgio me mostrou fotos suas beijando seu ex dentro da Sartori


enquanto eu estava em Nova York. — Então o pai dele realmente não gostava
de mim, ele achava que eu estava enganando o filho dele. — E...

— Ele tirou fotos de mim? Ele me seguiu? — Perguntei, um pouco


assustada.

— Sim...

Então era ela que estava me seguindo, não o Raphael.

— Você podia ter me perguntado. Eu não estava saindo com o


Raphael, ele...
— Eu sei — Lembrei de Bruna me contando que Matteo havia batido
no Raphael. — Eu não sei fazer isso. Eu não sei como funciona.

— Isso o quê?

— Essa coisa que a gente tem. Eu nunca senti ciúme, Alice. Quando
eu descobria que uma das minhas transas estava tendo outros casos, dava
graças a Deus porque assim não teria que me livrar delas, mas com você...

Ele se calou, e fiquei absorvendo suas palavras. Ele sentia ciúme de


mim, eu era diferente para ele, mas não disse que me amava e percebi que
queria ouvir isso.

O garçom chegou com os nossos pratos e comemos em um silêncio


confortável, apesar de eu não parar de repensar tudo o que ele falou. Eu não
esperava que o jantar fosse tomar aquele rumo, na verdade, não sabia o que
esperava daquele jantar.

Eu queria tanto só me entregar, então me lembrei do que Bruna me


disse.

— Por que você não me ligou de Nova York? — Perguntei, de


supetão.

— Porque eu trabalhei dia e noite, mas, principalmente, porque eu


não sabia o que dizer.  

Abaixei o olhar.

— Você estava com alguém? — Indaguei, sem encará-lo.

— Alice? — Ele esperou que eu o fitasse. — Pergunte olhando nos


meus olhos.

Engoli em seco.

— Você estava com alguém?

— Eu só conseguia pensar em você.


Meu coração disparou, queria levantar e me jogar em seus braços,
mas apenas sorri.

— Por que ao jantar com a Madeline?

— O que é isso? Ciúme? — perguntou com um sorriso — Eu a


encontrei lá.

Ele a encontrou lá. Bruna tinha razão, era tão simples, só perguntar.

— Eu não fiquei com ninguém. — Falei, ganhei sua atenção, mas ele
parecia já saber disso. — Antes de você só teve o Raphael.

Ele piscou.

— O que isso quer dizer?

— Que você é o segundo homem com quem eu já...

— Transou?

— Beijei.

Suas írises acinzentadas se incendiaram, fogo puro atravessou o seu


olhar. Como eu amava aquele olhar possessivo, que só faltava rosnar “Você é
minha”.

O restante do jantar foi leve, como se fizéssemos aquilo o tempo todo.


 

Matteo abriu a porta do carro para mim e, antes de entrar, o encarei.


Não dava para negar que o meu coração batia por ele, seria idiotice tentar.

Ele tocou minha bochecha e fechei os olhos, aproveitando o carinho.


Senti sua respiração tocar meu rosto e pensei que fosse ser beijada, mas não
foi o que aconteceu. Aparentemente ele manteria a sua promessa de me fazer
implorar.
Abri os olhos, havia tomado uma decisão.

— Me leva pra casa. Pra sua casa.


 

Dias depois...

Matteo estava cumprindo a droga da promessa dele. O meu quarto era


ao do dele. Fazia dias que eu havia me mudado, e ele apenas me olhava, me
provocava com sussurros, mas não passava disso. Estava começando a achar
que tinha sido uma ideia ruim me mudar para a casa dele, estava quase
subindo pelas paredes.

Contudo, parei de pensar em sexo e me concentrei em Lorenzo, que


me mostrava um álbum de fotos naquele momento.

— Uau! — Exclamei, ao ver uma foto do pai do Matteo mais jovem.


— Matteo é idêntico ao Giorgio mais jovem.

Às vezes, eu pegava Giorgio me olhando estranho, mas nunca quando


Matteo estava por perto. Ele não parecia me odiar como antes, mas eu ainda
não era sua pessoa preferida. Já Ariana era um amor, adorava conversar com
ela e havia aprendido a fazer arranjos de flores com ela. Não sabia para o que
usaria essa habilidade, mas havia adorado colher as flores e montar os
arranjos.

— Sim, eles se parecem.

— E quem é essa mulher bonita com ele? — Perguntei, apontando


para a mulher sorridente ao lado de Giorgio.

— Isabella.

O nome me fez lembrar de algo que Lorenzo havia dito: “Achei que
você tentaria afastar a criança da gente igual Isabella fez.”

— Mas quem é ela?


— A mãe do Matteo.

— O que aconteceu com ela? — Indaguei curiosa.

— Nada. Ela foi embora.

— Como assim?

Lorenzo fechou o álbum e me encarou.

— Ela era secretária do Giorgio, mas ele estava de casamento


marcado quando se apaixonou por ela. Ele estava decidido a continuar o
noivado, mas Isabella engravidou, então ele largou a noiva e se casou com
ela. Eu cortei o dinheiro dele, porque não confiava em Isabella e estava certo.
Quando o dinheiro acabou, ela fugiu, ainda grávida do Matteo e pediu
dinheiro em troca do bebê, mas, quando demos o dinheiro, ela quis mais.
Demoramos meses para achá-la. Assim que o Matteo nasceu, ela o
abandonou na maternidade e fugiu com o amante, levando o dinheiro que
havia conseguido tirar de Giorgio. Mesmo assim, meu filho tentou voltar com
ela durante anos. A vida dele era tentar ter Isabella novamente, por isso eu e
Catarina criamos Matteo.

Nossa! Isso explicava muita coisa, para começar a desconfiança do


Matteo e aquela história maluca dele cancelar o meu voo, como se eu
estivesse fugindo. Por isso ele não queria ficar comigo sendo funcionária
dele. Todos os pontos começaram a se encaixar na minha cabeça.

— Ela nunca nem tentou falar com o Matteo, só para pedir dinheiro,
mas você o conhece, não é fácil falar com ele. Ela nunca conseguiu um
centavo dele.

Que mãe é essa? Meu Deus, fugir com o filho e chantagear o pai?
Não sei quem é pior, Giorgio abandonou o filho para correr atrás de uma
mulher que nunca o quis.

— Vamos jantar? — Lorenzo perguntou, do nada. Sorri e concordei,


estava morrendo de fome.

Fomos para a cozinha e a decepção veio.


—  Deixa eu ver se entendi, fui convidada para jantar, mas vou ter
que preparar o jantar? — Perguntei, fazendo carinho no Pulguinha que estava
no meu colo.

Ele não desgrudava de mim. Às vezes eu estava sentada e ele pulava


no meu colo e, se alguém se aproximava, ele começava a rosnar. Era fofo,
mas ele parecia odiar o Matteo, sempre que o Matteo aparecia, ele
enlouquecia.

— Sim, vou te ensinar a receita de tortellini que ensinei para a minha


Catarina — respondeu Lorenzo, enquanto separava vários ingredientes.

Eu não sabia cozinhar e a quantidade de ingredientes me assustou.

— Mas eu estou com fome.

— Então coloque o Pulguinha no chão e lave logo as mãos!

O seu tom mandão me fez soltar o gato e ir lavar as mãos. Torci para
que ficasse comível, pois realmente estava com fome. Ariana e Giorgio
tinham dado sorte e não iriam comer aquela gororoba, eles haviam ido para o
centro de Roma.

No começo, pensei que tudo fosse dar errado, afinal, Lorenzo não era
conhecido por ter a melhor memória do mundo, mas ela não falhou e a
receita foi tomando forma e eu estava até gostando, talvez começasse a
cozinhar.

— Você pode ir fazendo o recheio? — Lorenzo perguntou, e


confirmei, mas, assim que vi a carne moída, meu estômago embrulhou e levei
a mão à boca. — Tudo bem?

Mesmo não suportando o cheiro da carne, balancei a cabeça


afirmativamente, mas a ânsia voltou. Parecia que meus enjoos não passariam
nunca.

— Eu... — Respirei fundo e afastei a vasilha de carne, que


provavelmente estava estragada. — Podemos fazer o recheio de outra coisa?
— Podemos fazer ricota. — Imaginei o cheirinho azedo da ricota, que
normalmente eu não gostava, mas meu estômago se acalmou. — Giulia,
temos espinafre? — Perguntou para a cozinheira, que prontamente foi buscar
o espinafre.

Piquei o espinafre e o misturei com a ricota, do jeito que Lorenzo


explicou. Enquanto tentava a todo custo fechar a trouxinha de massa
recheada, me senti sendo observada e, ao levantar o olhar, vi Matteo escorado
na porta da cozinha, nos encarando com um quase sorriso.

A primeira coisa que pensei ao vê-lo foi na história que Lorenzo me


contou. Bom, a segunda, porque a primeira foi como Matteo estava gostoso
nos observando da porta.

Desconcentrei-me e acabei furando a massa.

— Droga!

Não esperava vê-lo em casa.

— Devo me preocupar com o jantar? — Seu tom leve me fez encará-


lo mais intensamente. Acho que nunca o tinha visto assim a não ser no dia
em que ele bebeu e apareceu no hotel.

— Sim, os tortellini de Alice estão mais parecidos com... — Lorenzo


franziu o cenho, olhando para o que devia ser um tortellini. — Eu nem sei
com o que isso parece.

Olhei para os que ele fez e o que eu estava tentando e ri. Enquanto os
dele estavam perfeitos, o meu parecia... na verdade, não parecia com nada,
era só massa com recheio vazando.

— Eu devia ter avisado que não sei cozinhar.

Matteo atravessou a cozinha, arregaçando as mangas da sua camisa,


deixando-o com uma aparência despretensiosamente sexy.

Pegando-me completamente de surpresa, se colocou atrás de mim.


Uma descarga elétrica percorreu o meu corpo quando ele aproximou a sua
boca do meu ouvido e seus braços me prenderam entre a bancada e ele. O
que ele está fazendo?

— Você está colocando muito recheio. — Ele pegou um pedaço de


massa e a recheou. — Agora, é só fazer assim.

O meu cérebro simplesmente não registou nada do que ele falou sobre
o tortellini, todo o meu corpo estava concentrado na proximidade inesperada.
Era incrível, mas, até fazendo uma trouxinha de massa, ele conseguia ficar
ainda mais gostoso.

— Você não está prestando atenção, Principessa — sussurrou no meu


ouvido, me arrepiando. — Vou ensinar só mais uma vez e é bom que
aprenda, ou sua bunda vai sofrer mais tarde.

— Tomara — pensei em voz alta, corando violentamente.

Ouvi sua risada, um som baixo e delicioso. O filho da mãe estava


gostando daquilo.

A abstinência de sexo estava me afetando. Era, e se não era, devia ser,


pecado morar sob o mesmo teto que um italiano gostoso daquele e não estar
desfrutando de tudo o que eu sabia que ele podia fazer com o meu corpo.

— Preste atenção — falou, e voltei minha atenção para o que ele


falava. — Agora tente.

— Como você sabe fazer isso? — Era a última coisa que eu pensaria
que ele sabia fazer.

— Minha avó me ensinou, agora faça.

Fiz exatamente como ele falou e, apesar de não ter ficado igual, o
resultado foi satisfatório.

— Isso! — Exclamei empolgada, Lorenzo riu.

— Ainda merece uns tapas — sussurrou, e, para a minha tristeza, se


afastou.
Concentrei-me em fazer as trouxinhas direito, enquanto Matteo abria
um vinho para ele.

Lorenzo pediu vinho, e Matteo lhe entregou uma taça.

— Ele... ele pode? — Perguntei baixinho.

— Não, mas o máximo que ele pode fazer é tentar destruir o castelo,
mas você está aqui para controlá-lo. — Piscou.

Encarei Matteo de boca aberta.

— Você disse castelo? — Perguntei animada, animada demais.


Matteo e Lorenzo me encararam. — Eu preciso falar isso para aquele chato
do Dante, ele adora me corrigir falando que é um palácio.

Lorenzo caiu na risada, e Matteo só me encarava de um jeito


estranho.

— Ele está certo, é um palácio — Matteo falou, e revirei os olhos.

— Estraga prazer! — Resmunguei, ganhando mais uma risada de


Lorenzo, e um olhar no mínimo curioso de Matteo.

Terminamos o jantar e, para a minha surpresa, ficou muito bom.


 

Era estranho e reconfortante vê-la ali, no meu espaço pessoal. Ela


destoava da casa antiga e sem vida, mas parecia combinar perfeitamente ali.
Quase parecia um lar com aquele cheiro de comida fresca e o seu perfume.
Meu avô me lembrava o homem que há muito tempo eu já não via nele, até o
gato era mais aceitável quando ela estava por perto.

— Por que não toca um pouco para nós antes de eu ir me deitar, meu
neto? — meu avô perguntou, quando terminamos o jantar.
Alice fez uma careta.

Fomos para a sala e a única música que me veio à cabeça foi Can’t
Help Falling in Love, do Elvis Presley. As primeiras notas me fizeram
lembrar da minha avó, que me ensinou a tocar e que, apesar de ter sido uma
ótima e amorosa avó, sabia ser bem rigorosa quando o assunto era ensinar
algo. Perdi as contas de quantas vezes levei tapa nas mãos por errar notas.
Logo após a aula, ela deixava de ser uma megera e preparava algo delicioso
para comermos.

Quando comecei a tocar a segunda estrofe, Alice se sentou ao meu


lado e, antes que eu pudesse perguntar o que ela estava fazendo, começou a
tocar comigo. Encarei-a, e ela apenas sorriu e desviou o olhar para as teclas.

— Some things are meant to be

Take my hand

Take my whole life too

For I can't help

Falling in love with you[14] — começou a cantar baixinho, com os


olhos brilhando e um leve sorriso tímido. Ela tinha que parar de me olhar
daquele jeito, estava começando a ficar impossível conviver sob o mesmo
teto que ela sem tê-la em minha cama.

Eu não conseguia desviar o olhar dela, sem perceber comecei a cantar


junto. Ao final da última nota, nossos olhares estavam fixos um no outro.
Parecia haver coisas não ditas.

— Toquem Fly me to The Moon — Meu avô pediu a música de


Sinatra preferida da minha avó e dele.

Alice desviou o olhar parecendo nervosa, mas deu um sorriso.

— Eu não sei essa.


O gato apareceu e pulou no colo dela, que o acariciou. Ele parecia a
sombra dela ultimamente.

Comecei a tocar e senti os seus olhos sobre mim, ao encará-la um


sorriso brincava em seus lábios.

Quando terminei, Alice tinha um sorriso brilhante enquanto me


encarava. Eu me senti como há muitos anos não me sentia, feliz.

— Bom, eu vou me deitar — disse me avô, e desviei o olhar de Alice


para ele.

Nós lhe demos boa noite e ele se foi, nos deixando a sós.

Vi Alice lentamente ficar tensa ao me encarar e engolir em seco.

— Matteo...

Toquei seu rosto e, com o polegar, acariciei sua bochecha, ela fechou
os olhos, aproveitando o carinho. Sua pele era quente e macia, delicada.
Contornei seu lábio, e ela abriu os olhos.

— Não me faça implorar — falou, me fazendo sorrir.

Aproximei-me o suficiente para os nossos lábios se tocarem. Ela


fechou os olhos, esperando o beijo.

— É só pedir, Principessa.

Ela abriu os olhos ao me ouvir, pude ver o desejo em seu olhar.

— Por favor, me beija.

Beijei-a, um beijo lento que não demorou para se tornar voraz. Era o
que Alice provocava em mim, eu não conseguia ser tranquilo e racional com
ela, me tornava sedento e irracional toda vez que a tocava. Aquele seu olhar
inocente, mas, ao mesmo tempo pervertido, acabava comigo.

Circulei sua cintura e a puxei mais para mim. Porém, ouvi um esganar
do gato e me afastei.
Alice riu ao vê-lo correr para longe, mas, quando seus olhos
encontraram os meus, não havia diversão, apenas um brilho que eu conhecia.

— Eu não conheço o seu quarto — disse, com aquele olhar inocente


que só ela tinha e me enlouquecia.

Mordiscou o lábio e meu pau pulsou.

Peguei-a no colo e a levei para o meu quarto.

Coloquei sobre a minha cama, adorando como ela parecia se encaixar


perfeitamente entre os meus lençóis, com os seus cabelos espalhados pelos
travesseiros.

— Vou ter que implorar de novo?

Respondi a sua pergunta com um beijo voraz e intenso de um jeito


inédito. Minhas mãos deslizaram, explorando cada curva, cada contorno.
Alice gemia contra a minha boca a cada toque. Suas mãos deslizaram pelas
minhas costas, cravando as unhas. Seu quadril começou a se mover contra o
meu, ela foi ficando afoita em busca de alívio e começou a tirar a minha
camisa. Em poucos segundos, eu já estava sem roupa. Alice tentou tirar sua
blusa, mas a impedi, não estava com pressa, tirei cada peça de roupa sua
adorando a ansiedade em seu olhar. Admirei cada detalhe do seu corpo que
havia mudado, a curva dos seus quadris, a barriga inchada, os seios maiores.
Cada mínimo detalhe que a tornava linda.

Beijei seu pescoço e desci pelo vale entre seus seios, sua barriga,
apreciando como sua pele se arrepiava e como sua respiração se tornava cada
vez mais desregular.

Quando finalmente deslizei sua calcinha por suas coxas, ela me


encarou com a respiração ofegante. Dei um beijo suave na sua panturrilha,
sentindo a suavidade e o perfume da sua pele sob meus lábios. Ela soltou um
gemido contido, seu corpo se contorceu. Cada toque, cada roçar dos meus
lábios, parecia despertar uma nova onda de prazer dentro dela. Explorei seu
clitóris e seus gemidos se intensificaram, ecoando pelo quarto.
— Por favor, eu preciso — pediu, me puxando pelos ombros, e soube
exatamente o que ela queria, pois era o mesmo que eu.

Suas pupilas estavam dilatadas, exibindo o seu desejo explicitamente.


Na cama, Alice era transparente como cristal para mim, eu conhecia cada
gemido e olhar.

Penetrei-a, olhando em seus olhos, que eram o reflexo do meu próprio


prazer. A cada estocada, o meu tesão parecia aumentar, os gemidos trêmulos
de Alice estavam acabando comigo.

— Matteo...

— Alice — falei, olhando em seus olhos.

Suas pernas travaram na minha cintura. Aumentei as estocadas,


sentindo suas unhas arranharem minhas costas.

Segurei seu pescoço e a beijei, roubando todos os seus gemidos.


Conforme seu corpo se tornava trêmulo, aumentei minhas estocadas e não
demorou para sua boceta se contrair em volta do meu pau, me levando com
ela. Dei uma estocada firme e descansei minha testa na sua, nossas
respirações estavam pesadas e eram a única coisa que se ouvia no quarto.
Meu coração estava acelerado, acelerado demais para o esforço.

Nossos olhares se encontraram e ela abriu um pequeno sorriso que fez


um estrago no peito.

— Isso foi...

Ela não completou a frase, mas eu sabia o que queria dizer, eu


também tinha percebido. Nunca foi assim.

— É a primeira vez desde que cheguei em Roma que não sinto


saudade de casa.

E era a primeira vez em toda a minha vida que eu me sentia em casa.


Capítulo 29

Eu andava sorrindo igual uma idiota. O sexo havia mudado, ele


parecia mais intenso, apesar de, às vezes, Matteo adorar o meu corpo
lentamente. Parece confuso, mas era assim que eu sentia, todas as vezes
pareciam ser ainda melhores.

— Oi, chefinha! — Bruna bateu a minha porta, revirei os olhos para


ela.

— Quer parar com isso?

— E correr o risco do Todo Poderoso achar que eu estou


desrespeitando a mulher dele? Jamais! — Zombou, após ver o Matteo
mandar Ricardo me chamar de senhorita Alice e não Alice, porque eu não era
amiguinha dele. Se fosse outra pessoa, eu teria chamado a atenção de Matteo,
mas Ricardo era um pouco inconveniente às vezes, me deixando
desconfortável, então, quanto mais profissional nos tratássemos, melhor
seria.

Revirei os olhos para ela.


— Uau, sua pele está maravilhosa, mesmo com você estando com
esse sorriso que não sai mais da sua cara.

Sua fala só me fez sorrir mais.

— Mas não é sobre a sua pele que eu quero falar.

— Sobre o que você quer falar então?

— Surpresa. Levanta e fecha os olhos.

— O quê?

— Levanta. E. Fecha. Os. Olhos.

— Eu entendi, mas...

— Se entendeu, por que perguntou?

Suspirei, era inútil discutir com Bruna. Levantei-me e ela me fez ficar
no meio da minha sala de olhos fechados.

— Só abre quando eu mandar!

— Ok!

Ouvi seus passos se afastando e quis abrir os olhos, mas não deixei a
minha curiosidade me vencer.

Ouvi passos se aproximando.

— Pronto, pode abrir.

Sem entender o seu mistério, abri os olhos para ver o que ela havia
aprontado e quase não acreditei no que meus olhos viam.

— Mãe?

Minha mãe me abraçou apertado, me fazendo ver que era real, ela
estava ali. Havia falado com ela horas antes e não me disse nada.
— Ai, que saudade que eu estava de você, minha Bambola. —
Segurou os meus ombros, me olhando da cabeça aos pés. — Olha como você
está linda.

Seu olhar se fixou na minha barriga, que já era perceptível e levou a


mão à boca.

Tocou-a com carinho e seus olhos se encheram d’água. Sorri,


emocionada. Eu havia me tornado uma manteiga derretida após a gravidez e
andava me esforçando para não chorar por tudo e as pessoas acharem que eu
era uma chorona, mas, em momentos como aquele, era impossível segurar as
lágrimas.

Puxei-a para outro abraço apertado.

— Por que a senhora não me falou que estava vindo?

— Matteo queria que fosse surpresa.

— Matteo?

— Sim, ele mandou um avião para me buscar.

As lágrimas aumentaram, eu havia comentado com ele que sentia


saudade da minha mãe, mas não imaginei que ele fosse trazê-la.

— E o... o papai?

Achei que sua reação tivesse sido apenas o susto ao descobrir sobre a
gravidez, mas ele ainda não estava falando comigo. Tudo que eu sabia sobre
ele era através da minha mãe e aquilo doía tanto.

— Sinto muito. — Aquilo doía tanto em mim quanto nela. Sempre


fomos tão unidos, nunca pensei que ele viraria as costas para mim em um
momento como aquele.

Matteo estava viajando, então mandei uma mensagem agradecendo, e


ele respondeu com um “ok”. Dei risada, ele não sabia mesmo como se
comunicar.
 

Era o dia do meu ultrassom e minha mãe estava me acompanhando.


Matteo ainda estava viajando, então ele não participaria, o que me deixou um
pouco triste, confesso. Queria compartilhar aquele momento com ele, mas só
o fato de ter a minha mãe ali já era maravilhoso.

— Senhorita Albuquerque, me acompanhe, por favor — uma


enfermeira me chamou.

Levantei-me e minha mãe me acompanhou.

— Eu vou esperar aqui — disse Lorenzo, que também havia ido.

Giorgio e Ariana não foram porque tinham ido ver os filhos de


Ariana. Queria que ela e minha mãe se conhecessem, pois sabia que as duas
se dariam muito bem.

— Tem certeza? O senhor pode entrar também — questionei.

— É claro que tenho! — Retrucou.

Ele estava um pouco nervoso aquele dia, mas nem isso o fez ficar
longe de mim, ou não perguntar uma dezena de vezes sobre o bebê.

Curvei-me e dei um beijo na sua bochecha. Ele pareceu relaxar.

Ao me levantar, meu olhar foi puxado para o homem que vinha em


nossa direção.

— Matteo? — Indaguei, surpresa ao vê-lo ali.

Ele se aproximou e me deu um beijo na testa.

— O que faz aqui? Pensei...


— Que eu não viria? Eu não perderia isso por nada, os negócios
podem esperar.

Sorri largamente, fiquei na ponta dos pés e dei um beijo rápido nele.

— Podemos ir? — A enfermeira perguntou.

— Sim — respondi e olhei para a minha mãe.

— Vão vocês dois, esse momento é de vocês.

Eu estava tão nervosa que fiz tudo o que me orientaram no


automático. Minhas mãos suavam enquanto esperava o médico, deitada.

— Você está tremendo.

— O quê?

— Por que você está tremendo? — Matteo perguntou, segurando


minha mão.

— Estou nervosa. — Apertei sua mão. — Obrigada por ter vindo.

— Você está mesmo me agradecendo por ter vindo no ultrassom do


nosso filho? — Indagou, como se fosse absurdo.

— Eu achei que não viria, você não disse nada.

Ele beijou minha testa.

— Precisamos resolver isso.

— Isso o quê?

— Essa coisa de você achar que eu não vou estar com você quando
precisar. Eu sempre estarei, Principessa. Sempre.

Quis agradecer novamente, mas apenas sorri.


O médico chegou e após colocar aquele gel gelado sobre a minha
barriga, nos mostrou a tela onde deveríamos ver o nosso filho.

— Mas cadê? — Perguntei, não conseguindo ver o que o médico


disse ser “Aqui vemos perfeitamente o bebê”. Não dava para ver
perfeitamente nada.

O médico riu.

— Pode ser um pouco difícil para você identificarem, mas uma coisa
eu sei que vocês conseguem.

Ao final da sua fala, um som parecido com um coração batendo no


fundo do oceano preencheu a sala, era o coraçãozinho do nosso filho. Olhei
para Matteo e ele encarava a tela, fascinado e tinha o mesmo sorriso bobo
que eu. Meu Deus, a imagem daquele homem gigante sorrindo e feliz por
ouvir o coraçãozinho do nosso filho me fez apaixonar um pouco mais por ele.
Quem eu estava tentando enganar? Aquilo me fez amá-lo mais, isso sim.

— É menino, ou menina? — Perguntou para o médico e me olhou


com os olhos brilhando. Sorri.

Aquele homem definitivamente havia me estragado para qualquer


outro.

— Ainda não dá para saber. — Ouvi o médico dizer enquanto eu não


conseguia desviar o olhar do Matteo.

— Você já pode fazer o quarto do bebê — falou, do nada, me fazendo


rir.

— Nem sabemos o sexo.

— Faz um rosa, um azul, um bege. Temos um monte de quartos. Sua


mãe pode morar lá.

Ele apertou minha mão e só então percebi o que estava acontecendo.


Toquei seu rosto, adorando sentir a sua barba por fazer.
— Eu não vou embora — afirmei, percebendo que não tínhamos
falado disso, aquele tempo todo ele não teve certeza se eu e o bebê
ficaríamos. — Eu e o bebê não vamos a lugar nenhum. Vamos ficar aqui com
você.

Ele descansou a sua testa na minha.

— Quem te contou?

— Não importa, eu não sou como ela... Jamais faria algo assim.

Ele me deu um beijo longo e suave.

— Eu sei.

Chamamos minha mãe e Lorenzo para ouvirem o coraçãozinho do


bebê e senti uma falta danada de ter o meu pai ali.
 

Meses depois...

Não importava quantos ultrassons Alice fizesse, ninguém sabia o sexo


do bebê, ele estava sempre em uma posição estranha ou a imagem não era tão
boa. Na dúvida, Alice estava decorando um quarto de bebê que desse para
um menino ou menina usar, e ela estava saltitante porque meu avô a levou na
velharia que chamávamos de depósito e mostrou que ainda tínhamos o berço
que eu usei.

— Aquele lugar é uma mina de ouro. Sabe quantas coisas legais eu


encontrei quando fomos lá?

— Não dê ouvidos ao meu avô e não volte lá, o depósito é sujo e


perigoso.

Ela revirou os olhos.


— Relaxa, levei Dante e fiz ele tirar pelo menos uma tonelada do
lugar e colocar de novo.

Dei risada. O novo hobbie de Alice era torturar Dante até ele começar
a chamar o palácio de castelo, mas ele já tinha servido ao exército, não daria
o braço a torcer tão fácil, mesmo que eu o tenha visto andando todo torto
após levantar tanto peso.

— Você não precisa das coisas que estão lá, pode comprar o que
quiser.

— Mas aquele berço é uma obra de arte! Ele foi entalhado à mão e
pertenceu a você. Depois de reformá-lo, parecerá novo.

— Espero que não esteja achando que vou deixar você reformá-lo.

Sua barriga já estava grande, por mim ela nem continuaria


trabalhando, mas Alice era teimosa e, mesmo já tendo terminado o projeto
dos hotéis, ela ia todos os dias para a Sartori.

— Não, ontem eu fiquei cansada só de atravessar o jardim, não


aguentaria reformar o berço e nem sei como fazer isso.

Beijei-a.

— Você sabe que qualquer um fica cansado depois de atravessar


aquele jardim, né?

O jardim da casa tinha 1km de extensão e parecia um labirinto.

Ela riu.

Apesar de ela estar sempre sorrindo e da sua mãe estar ali, eu podia
ver que às vezes ela ficava triste ao falar do pai. Eu havia deixado de lado,
não queria me meter, mas eu não aguentava mais, o filho da puta não iria
fazê-la sofrer.

— Preciso fazer uma viagem, mas volto em dois dias.


— Pra onde você vai?

— O quê?

— É que, dependendo de para onde você for, vou pensar em algo para
você trazer para mim.

— Vou para o México.

— Ah, traz um chapéu mexicano. Aqueles bem coloridos.

— Pra que você quer isso?

— Sei lá, eles são bonitos.

— Vou trazer quantos chapéus você quiser.

Ela subiu no meu colo e me beijou, mas se afastou abruptamente.

— Está chutando. Nosso filho não deixa eu me aproximar de você. —


Deu um tapinha na barriga.

Levantei sua blusa e toquei a sua barriga, sentindo o bebê se mexer.


Ainda era maravilhoso como da primeira vez que o senti se mexer.

— Você se comporta ou vou te colocar em um colégio interno!

— Matteo! — Brigou, dando uma gargalhada gostosa.

Fiquei observando-a, como seus olhos brilhavam quando ela ria e seu
rosto ficava lindo. Ela me flagrou admirando-a e engoliu em seco. O sorriso
foi deixando o seu rosto lentamente e seu olhar foi ficando mais intenso.

Afastei uma mecha de cabelo que caiu em seu rosto.

— Matteo, eu...

— Você?

Ela engoliu em seco novamente.


— Eu te...

O gato pulou no sofá. Ele não me odiava mais, porém, eu ainda não
gostava dele e gostava menos ainda por ele interrompê-la.

Ela desviou o olhar e segurei o seu rosto.

— O que você estava dizendo? — Perguntei, me sentindo ansioso, de


repente.

— Nada, eu só... Acho que preciso tomar um ar.

Ela se levantou e andou até a sacada. Fiquei parado, tendo quase


certeza de que ela diria que me amava, mas não disse. Talvez nem fosse isso
que ela ia dizer.
 

Assim que abriu a porta, André me olhou com raiva.

— O que você está fazendo na minha casa?! Não foi o suficiente levar
a minha filha e a minha esposa? Veio tripudiar?

— Eu não vou conversar com você do portão.

— Pois vá embora!

Ele virou as costas para mim.

— Elas sentem a sua falta, principalmente a sua filha.

Ele se virou furioso e andou até o portão.

— Você vai matá-la! Eu não vou ver a minha filha morrer! — Encarei
o homem, pensando que ele tinha enlouquecido. — A minha menininha pode
morrer e a culpa é sua e daquele bebê!

Ele começou a chorar.


— Todo dia, eu quero pegar o telefone e ligar para ela, ouvir a voz da
minha menininha. A minha pequena e maravilhosa Alice, mas eu não
consigo. Eu não consigo saber que ela pode estar se matando por causa desse
bebê. Eu não posso ver ela se matando igual a mãe dela fez. Eu disse tanto
para a Jéssica que não queria ser pai que Deus me castigou e a levou de mim.
A Alice é tudo o que me restou dela, a minha última lembrança e eu não vou
vê-la morrer — esbravejou, aos prantos.

— Você é um homem fraco e tolo — falei, fazendo-o parar quando


ele virou as costas para mim. — Eu não devia ter vindo aqui. Enquanto você
está aí, lambendo as próprias feridas e mergulhado em autopiedade, sua filha
e mulher estão sofrendo, mas seguindo a vida delas.  Não é porque sua
esposa morreu, que Alice vai morrer no parto. Eu não vou deixar! Ela tem a
melhor equipe médica do mundo acompanhando a gestação e a pior coisa que
aconteceu até hoje foi um sangramento. O médico me alertou sobre a
eclampsia da sua esposa, mas a Alice não tem e, se tivesse, você prefere
perder os últimos meses de vida dela porque acha que Deus quer te castigar?
Então, além de fraco e tolo, você também é muito arrogante. E olha que eu
entendo arrogância.

Saí dali, pois, antes de voltar para casa, eu tinha uma reunião no
México e tinha que comprar um chapéu.

Ela e a mãe ficariam bem sem aquele homem fraco.


 
Capítulo 30

Estava com minha mãe, Bruna, Lorenzo e Ariana na cozinha fazendo


massa para a lasanha do jantar.

— Podem mentir para o Matteo e falarem que fui eu que fiz tudo
sozinha? — Brinquei.

— Até podemos, mas ele não vai acreditar e, se acreditar, não vai
comer, com medo de morrer envenenado — Bruna zombou e todos riram,
joguei farinha nela, tentando não rir. — Ei! Não aguenta a verdade?

Jogou um pedaço pequeno de massa em mim, e ele acertou o meu


rosto.

— Desculpa, não queria acertar o seu... Alice, tudo bem?

Levei a mão ao peito, tendo uma sensação ruim.

— Filha, o que foi?


Alguém puxou uma cadeira para mim e me sentei, mas aquela
sensação ruim não passava.

— Chamem um médico! — Minha mãe pediu.

— Não, mãe.

— Amiga, desculpa...

Falei para eles que não era nada com o bebê, era só uma sensação
ruim, mas não adiantou, eles chamaram o médico mesmo assim.

O médico me examinou e não havia nada de errado comigo ou com o


bebê, só a minha pressão que estava levemente elevada, mas nada fora do
normal.

— Eu vou passar a noite aqui para acompanhá-la.

— Não precisa, doutor.

— O senhor Sartori fez exigências claras quando me contratou para


esse tipo de emergência.

Deixei aquilo de lado e tentei voltar para a cozinha, pois o Matteo


chegaria a qualquer momento, mas não deixaram, então fiquei na biblioteca
lendo. O aperto no peito não passava e estava prestes a bater no médico, que
vinha de hora em hora aferir minha pressão.

Verifiquei as horas e já havia passado da hora do Matteo chegar, então


mandei uma mensagem para ele, que não chegou. Liguei, mas caiu direto na
caixa postal. Liguei novamente e a mesma coisa.

— Sabe quem foi na viagem com Matteo? — Perguntei para o


segurança que estava na porta da biblioteca, servindo de babá para mim.

— O Dario, senhora.

Eu não estava desconfiando do Matteo, mas, sei lá, eu tinha que ligar
para Dario e perguntar se eles chegariam logo. Assim que a ligação caiu na
caixa postal, eu soube que tinha algo errado e Dante saberia o que era. Ele
sabia de tudo.

— Cadê o Dante? — Indaguei, levantando-me.

— A senhora precisa de algo?

— Sim, o Dante.

— Vou ver se o encontro, senhora.

— Obrigada.

Voltei a me sentar e, instantes depois, o médico entrou.

— A minha pressão está ótima, doutor.

— É o meu trabalho e a senhora está um pouco agitada, talvez seja


melhor eu aplicar um calmante.

— Calmante? Eu não preciso de calmante.

— É algo leve — disse Ariana, da porta. — Você parece nervosa


desde que teve aquela sensação, talvez seja melhor tomar algo.

O quê?

— Não vou tomar calman... Está acontecendo algo?

Ariana riu.

— Como assim?

Levantei-me.

— Está acontecendo algo. Cadê o Dante? — Perguntei para o


segurança, já tinha dado tempo de ele entrar em contato com Dante.

— Ele está ocupado...


— Mentira. — Dante estava sempre disponível, era até estranho,
parecia que ele não tinha vida. — Eu quero falar com o Dante. Tem alguma
coisa errada acontecendo, né?

— O que estaria acontecendo de errado, Alice? Talvez seja bom


mesmo você tomar o calmante — Ariana perguntou.

— Eu não vou tomar calmante nenhum! Vocês estão me escondendo


alguma coisa!

— Alice...

— Você nunca me pediria para tomar calmante.

Ariana era contra esse monte de medicamentos que tomávamos, era


óbvio que eles estavam tentando me dopar.

— Senhora... — O médico tentou me tocar e o empurrei.

— Não me toca! — Gritei, e minha mãe entrou na biblioteca. Assim


que a vi, comecei a chorar. — O que aconteceu? É o papai?

Negou e veio até mim.

— Se não é o papai, o que está acontecendo, mãe?

— O avião do Matteo desapareceu. — Foi a última coisa que ouvi


antes de tudo ficar escuro.
 

Ouvi vozes e senti a minha cabeça pesada. Abri os olhos lentamente,


me acostumando à claridade e percebi que não estava na biblioteca.

— Ela acordou! — Ouvi minha mãe dizer, alto demais.

— Minha cabeça — sussurrei, sentindo-a doer.


— Com licença, senhora, preciso avaliá-la.

— Claro, doutor — disse minha mãe, dando espaço para o médico.

Ao ver o médico, tudo voltou. O avião do Matteo sumiu!

— Cadê o Matteo? — Todos ficaram em silêncio. — O que


aconteceu? Por que ninguém fala nada?

— Filha, se acalm...

— Não! Vocês me drogaram quando eu disse que não queria! — A


minha cabeça não estava doendo por causa do desmaio, eu já havia
desmaiado antes, eles me deram algo. — Eu quero saber o que houve com o
Matteo?

— Não escondam nada dela, vai ser pior — disse Giorgio, entrando
no quarto.

Era a primeira vez, desde que nos conhecíamos, que eu ficava feliz
em vê-lo.

— Me diz o que aconteceu — pedi.

— Não sabemos, a torre perdeu o sinal do avião quando ele estava


sobrevoando a fronteira entre a Espanha e a França. Havia uma tempestade e
é tudo o que sabemos.

O ar faltou em meus pulmões e comecei a pensar porque eu não falei


que o amava antes dele viajar. Por que deixei o meu medo falar mais alto do
que o meu amor? Eu não podia perdê-lo, eles tinham que achá-lo, ele
precisava ouvir que eu o amava.

— A pressão está muito alta, vamos ter que sedá-la. — A voz do


médico parecia um zumbido na minha cabeça.

Puxei o braço ao ver que o médico preparava uma seringa.

— Não! — Consegui dizer.


— Filha, por favor.

Minha mãe secou o meu rosto, minha agonia por não saber como
Matteo estava era tão grande que eu nem havia percebido quando o choro
começou, mas, ao olhar para a minha mãe, me desmanchei em lágrimas.

— O Matteo... ele tem que... estar bem.

— Shh... — Minha mãe me abraçou. — Vai ficar tudo bem, minha


Bambola.

Implorei para não ser sedada, e o médico me deu apenas algo para eu
me acalmar. Eu não me lembro de nada do que aconteceu nas horas que se
seguiram, as pessoas iam e vinham, falavam comigo, mas eu só conseguia
pensar em Matteo e pedir para Deus e minha Nossa Senhora que o
trouxessem para casa o mais rápido possível.

Em algum momento, alguém me obrigou a comer.

— Eu não estou com... Pa-pa-pai? — perguntei achando que estava


tendo alucinações.

Meu pai me encarava com o rosto úmido.

— Oi, filha.

— O que... O que você... — Eu não sabia o que dizer.

— Me desculpa, mil vezes desculpa, minha menina. — Ele se


ajoelhou e abraçou a minha cintura, comecei a chorar.

Eu estava com tanta saudade dele, fazia tanto tempo que não escutava
o som da sua voz, houve momentos que pensei que nunca mais voltaríamos a
nos falar.

— Me perdoa, filha. Me perdoa por te abandonar, eu não tinha esse


direito.
Eu não conseguia guardar raiva ou rancor dele. Durante todo o tempo
em que ficamos sem nos falar, eu só queria tê-lo de volta.

— Eu deixei o meu medo de te perder falar mais alto do que o meu


amor. — Segurou o meu rosto. — Eu te amo! O Matteo jogou na minha cara
como eu fui burro e mesquinho por te abandonar.

— Matteo? Do que está falando, pai? — Perguntei, sem entender


nada.

A menção ao nome do Matteo fez a alegria de ver o meu pai diminuir.


Olhei em volta e todos haviam saído, nos dando privacidade.

— Ele foi lá em casa. — disse, chamando a minha atenção. O Matteo


foi no Brasil? — Eu estava com medo de acontecer com você a mesma coisa
que aconteceu com a sua mãe, mas o Matteo me disse algo que me fez ver
que eu só estava perdendo tudo, você, Francesca, a sua gravidez. Eu perdi
tudo por causa do meu medo. — Ao ouvi-lo, chorei mais. — Eu estava no
avião quando sua mãe me ligou... Eu sinto muito, minha pequena.

Ela se levantou e me abraçou apertado, me permiti chorar em seu


peito a dor de tê-lo perdido e de não saber como Matteo estava. Ele tinha que
estar bem.

Chorei mais por ter o meu ali no momento que mais precisei, graças
ao Matteo.

— Eu... Eu achei que você estava desapontado comigo.

— Nunca, minha menina. Você nunca me desapontaria.

— Eu não entendo. Você sempre soube que eu queria filhos.

Mais lágrimas inundaram seus olhos.

— Eu... — Ela respirou fundo e desviou o olhar envergonhado. —


Você é tão parecida com a sua mãe. — Havia uma certa dor em sua voz ao
dizer isso. — Foi como ouvi-la dizendo que estava grávida... Às vezes tenho
pesadelos com o rosto pálido e sem vida da sua mãe. — Ele me encarou
novamente e pude ver a dor em seus olhos. — Eu morri de medo quando te
ouvi. Foi o meu medo que...

— Pai, o seu medo é irracional. O que aconteceu com a mamãe foi


uma fatalidade, eu sou saudável e, por mais que o médico tenha levantado
essa hipótese, está tudo bem comigo e o bebê. Sabe o que é pior nisso? Você
perdeu meses da minha vida. E se eu adoecesse igual à mamãe? Você ia me
deixar sozinha no que poderiam ser os meus últimos meses de vida? O senhor
odiaria meu filho por eu decidir tê-lo e acabar morrendo?

— Jamais! Do mesmo jeito que eu te amo, mais que tudo, eu amaria,


eu amo esse bebê.

Ele me abraçou apertado e pediu mais um milhão de desculpas.

Eu não conseguia odiá-lo e esperava que nossa relação voltasse a ser


a mesma, que eu pudesse correr sempre para os braços dele sem medo.

Ter o meu pai ali só me fez amar ainda mais o Matteo, ele tinha feito
aquilo por mim e sem querer nada em troca.
 

Meu pai acabou me convencendo a comer, mas a comida não tinha


gosto de nada, tudo parecia sem cor e sentido, no entanto, eu me alimentei
pelo meu bebê.

A cada minuto a minha agonia aumentava, eu andava de um lado para


o outro e o Pulguinha me seguia. Ele não saiu do meu lado por um segundo
sequer, ele parecia saber o quanto eu precisava dele, de qualquer coisa para
me agarrar. Eu não conseguia nem ficar feliz por ter o meu pai ali.

— Por que não acham ele? Como não conseguem achar um avião? —
perguntei, aflita.

— Amiga, eu sei que você está cansada de ouvir todo mundo te dizer
o que fazer, mas não é melhor você se deitar um pouco? Ou pelo menos se
sentar? Faz horas que você está andando de um lado para o outro, seus pés
estão até inchados.

Olhei para os meus pés e eles realmente estavam inchados.

Escutei Bruna e me sentei. O Pulguinha pulou no sofá do meu lado e


se deitou.

— Eros e Rafiq estão ajudando, eles vão encontrá-lo.

Tinha ouvido por alto que Eros e Rafiq estavam ajudando.

Balancei a cabeça e acariciei o gatinho, que parecia entender o


tamanho da minha dor.

Giorgio parecia tão aflito quanto eu. Ariana tentava acalmá-lo, mas
ele não parecia bem. Minha mãe não saía do meu lado e, toda vez que eu
chorava, ela acabava chorando junto. Lorenzo não foi informado sobre nada e
já tinha ido deitar.

Além da gente, os seguranças e os médicos também estavam ali. Eu já


nem me importava mais quando vinham me examinar, era pelo bem do meu
filho.

— Acharam o avião! — Dante entrou correndo na sala, e meu


coração quase explodiu ao ouvi-lo.

— Como o meu filho está? — Ouvi Giorgio perguntar.

Eu não consegui me mover, fiquei ali estática, ouvindo Dante falar


enquanto era abraçada pela minha mãe e meu pai.

Encontraram ele! — Meu coração gritava feliz. — Encontraram ele!

— A equipe de resgate está chegando ao local, já mandei uma equipe


médica para fazerem a transferência dele se for preciso.

— Encontraram ele! — Falei, tocando a minha barriga.

Encontraram seu pai, meu amor.


 

As lágrimas tomaram conta de mim ao ver o Matteo na cama de


hospital e aquele monte de fios conectados ao corpo dele. Ali, ele não parecia
bem como o médico havia falado.

O médico disse que era um milagre os exames do Matteo estarem


todos bons, eles só estavam monitorando-o. Matteo estava apenas dormindo,
mas era tão difícil vê-lo ali.

O piloto estava entubado e Dario infelizmente tinha morrido na


queda. Eu não tinha informações sobre o restante da equipe que estava com
eles, mas, até onde eu sabia, Dario tinha sido o único que morreu.

Entrei na sala toquei o seu rosto, adorando poder sentir o seu calor,
ele ficaria bem.
 

Assim que o avião entrou na tempestade, eu soube que cairíamos, os


ventos estavam extremamente fortes e não tivemos tempo de desviar, então
assumi o comando do avião e, junto com o meu piloto, fizemos o máximo
que pudemos.

Ao atingirmos o chão, a única coisa que pensei foi no rosto de Alice,


antes de apagar.
 
Antes de abrir os olhos, eu soube que Alice estava ali, o seu cheiro
único acalmou o meu peito, eu havia sobrevivido. Eu iria ver o meu filho ou
filha nascer e crescer.

Abri os olhos e meu peito se contorceu ao ver o seu rosto inchado


enquanto segurava a minha mão apertado. Ela não parecia a minha Alice,
minha Alice era sorridente, ela era um dia sob o sol da Toscana.

— Não gosto de te ver assim — falei baixo, sentindo um desconforto


na garganta.

Alice levantou o rosto e me encarou com aqueles lindos olhos


arregalados. Seu queixo começou a tremer, enquanto ela não se decidia se ria
ou chorava.

— Você acordou. — Abriu um lindo sorriso em meio às lágrimas e se


levantou.

Ela tocou o meu rosto com carinho.

— Eu tive tanto medo. Eu... — Ela se abaixou e me deu um beijo


úmido, seus lábios estavam salgados. — Desculpa, eu só precisava...

— Nunca mais se desculpe por me beijar. Se eu não estivesse com o


corpo tão dolorido, te puxaria para a cama e te castigaria por ousar pedir
desculpa.

Ela riu. Sorri, adorando o som da sua risada.

— Meu Deus, você está bem, meu amor. Eu não acredito que você
está bem.

— Seu o quê?

— Meu amor. — Sua palma suave acariciou a lateral do meu rosto. —


Eu fui tão idiota, deixei o medo falar mais alto. Eu devia ter dito antes que eu
te amo. Eu não consegui evitar. Eu te amo mais do que já amei qualquer outra
pessoa. Eu nem sei se já amei de verdade, porque o que sinto por você é tão
diferente e mais forte.
Quando o avião começou a cair, o meu coração estava menos
acelerado do que quando ouvi Alice dizer que me amava. Ouvi a máquina
apitar, eu iria infartar.

Alice pareceu assustada e chamou ajuda.

Ela me ama. — Pensei, vendo o quanto estava ansioso por saber


disso.

O médico entrou correndo na sala, e Alice começou a chorar, mas


afastei o médico.

— Eu estou bem!

— A sua pressão... — ele tentou dizer.

— Estou bem, a minha mulher me ama — falei, passando a mão no


peito. Um erro, pois meu braço doeu a ponto de eu ver estrelas. — Vem aqui,
Principessa.

— Deixa o médico...

— Eu não estou morrendo, ou infartando, eu só preciso que você


venha aqui.

Ela andou até mim, enquanto o médico chamou sua equipe para me
avaliar.

Segurei sua mão.

— Você tem certeza de que me ama? Porque eu sou completamente


apaixonado por você e, se eu disser em voz alta que te amo, você estará presa
a mim para sempre. Porque eu só amo uma vez, Alice.

— Isso quer dizer... — começou, chorando.

— Que eu te amo, mais do que eu posso explicar, Principessa. Você é


a primeira coisa que eu penso ao acordar e antes de dormir. Cazzo, eu sou
obcecado por você.
Ignorei a dor que estava sentindo e puxei-a para um beijo.

Eu tinha a mulher que amava, um filho a caminho e eles eram tudo o


que eu sempre quis e eu nem sabia.

— Desculpa — pedi.

— Pelo quê? — Perguntou, contra o meu peito.

— O seu chapéu mexicano estragou.

Ela riu contra o meu peito. Só Deus sabia como eu amava aquele som.
 
Capítulo 31

Meses depois...

Era a inauguração do Sartori Roma Hotel que eu projetei. Ele havia


ficado pronto meses atrás, mas, após o acidente do Matteo, resolvemos adiar
e depois veio o parto da nossa pequena Cíntia.

Nossa menininha estava com apenas dois meses, só descobrimos o


sexo dela no parto. Matteo faltou enlouquecer ao saber que era pai de uma
menina morena e com os mesmos olhos dele. Ele era um pai tão babão, às
vezes eu o flagrava se levantando durante a noite e indo observá-la dormir.

— Pai, pode ficar com a Cíntia?

— Claro, passe para cá essa babona do vovô.

Ele e minha mãe haviam se mudado para Roma para ficarem perto de
mim e da bebê. Venderam a casa deles no Brasil e tentaram comprar um
miniapartamento em Roma, mas Matteo frustrou todas as tentativas deles até
eles aceitarem uma casa linda que ele comprou para eles.
— Por que você tem que ficar com ela? — Lorenzo resmungou, me
fazendo rir. — Ela gosta mais de mim. Né, amorzinho do biso? — Falou, com
a típica voz que usamos com bebês.

Lorenzo tinha realizado o seu sonho de ser bisavô, esperava de


coração que ele pudesse ver Cíntia crescer.

Deixei os dois brigando por Cíntia e atravessei a rua.

O novo Sartori tinha o privilégio de ser em frente a Fontana de Trevi.

— Eu vi direito ou você acabou de jogar uma moeda e fazer um


pedido? — Perguntei para o Matteo, que parecia sério. — Amor, o que
houve?

Ele se aproximou e me deu um beijo.

— Eu adoro quando você me chama assim, Principessa.

Sorri e, o abraçando, senti algo no seu terno e apalpei.

— O que é isso?

Era grande. Tentei ver, mas ele me impediu.

— Para de ser curiosa, na hora certa você vai saber.

— Ok, mas não consigo deixar de ser curiosa. Posso saber o que você
desejou?

Ele sorriu e me olhou intensamente.

— Que você seja Alice Albuquerque di Sartori.

Dei risada.

— Para isso acontecer, preciso me casar com você, senhor di Sartori.

— Eu sei, é por isso que pedi para você aceitar o meu pedido.
Meu coração acelerou.

— Pedido?

Ele se ajoelhou e tirou o objeto que estava no seu terno. Era uma
coroa toda cravejada de diamantes e safiras, era belíssima.

— O que significa isso?

— Alice Albuquerque, aceita ser a minha esposa? A senhora Alice


Albuquerque di Sartori, mãe dos meus filhos. A minha Principessa?

Levei a mão à boca, sem acreditar que ele estava me pedindo em


casamento.

— Por que demorou tanto para pedir? É claro que eu aceito!

Ele se levantou e colocou a coroa na minha cabeça.

Circulei o seu pescoço e o beijei. Matteo me girou no ar e gargalhei


de felicidade. Nossa família e as pessoas em volta bateram palmas.

— Por que você não usou uma aliança, como uma pessoa normal?

— Você queria uma coroa e não tem nada que você queira que eu não
te darei, La mia principessa[15].

Sorri, emocionada por ele lembrar disso.

— Il mio principe[16].

Eu finalmente tinha conseguido o meu príncipe encantado, o meu


castelo e a minha coroa. A garotinha dentro de mim, que sempre adorou
contos de fada, estava saltitante.
 
Sentei-me com a minha menininha no sofá da sala. A luz da lua
entrava pela janela, iluminando seu rosto. Os olhinhos negros e brilhantes
como duas ônix me encararam, e ela abriu um sorriso banguela que sempre
me fazia pensar que estava infartando, de tão forte que meu coração batia no
peito. Sorri de volta para ela.

— Princesa Cíntia Bianchi Albuquerque di Sartori, você precisa


dormir, garotinha. — Toquei seu nariz, ela sorriu.

Se eu soubesse que um dia amaria tanto uma pessoa como eu amava


aquela garotinha que babava em todas as minhas gravatas, eu teria dedicado
todos os meus anos de vida procurando a mãe dela.

— Se continuar olhando para ela assim, vou começar a ficar com


ciúme. — A voz brincalhona e apaixonada de Alice chegou aos meus
ouvidos.

Ergui o olhar e a vi entrando na sala apenas com um robe de seda


envolvendo suas curvas.

Já era tarde, todos estavam dormindo, mas ouvi Cíntia chorando e fui
pegá-la.

— Não precisa ter ciúme, eu ainda te amo, mesmo ela sendo muito
mais fofa que você.

Ela riu, uma risada deliciosa que aqueceu o meu peito.

— Eu quero um espacinho. — Pediu, sentando-se ao meu lado.

Envolvi o seu corpo com um braço e ela me beijou.

— Eu te acordei, Principessa?

— Não, mas eu não consigo dormir sem você na cama. Acabei


acordando. — Alice acariciou o rosto sonolento de Cíntia, ela bocejou. — Lê
um pouco? — Pediu, estendendo o exemplar de O Pequeno Príncipe que meu
avô deu para ela.
Entreguei Cíntia para Alice e esperei que se aconchegasse no meu
colo. Eu já conhecia aquela história de cor, mas liguei a luminária para poder
ver as duas mulheres da minha vida aconchegadas no meu peito.

Dei um beijo no topo da cabeça de Alice e abri o livro.

Antes da vigésima página, Cíntia já estava em um sono profundo,


como sempre acontecia quando líamos aquele livro para ela.

— Obrigada. — Alice disse, de repente.

— Eu adoro ler para vocês, Principessa.

Ela ergueu o rosto, e vi que sorria, a beijei.

— Obrigada por ser tudo o sempre sonhei, meu príncipe.

Toquei seu rosto. Eu nunca me cansaria de admirar cada traço seu.

— Obrigada você por me dar o que eu nem sabia que desejava tanto.
 
Epílogo

Um ano depois...

Eu nunca fui tão feliz em toda a minha vida como no último ano.
Alice e Cíntia me completavam, e eu não tinha vergonha de falar que era o
pai mais babão do mundo.

Meu avô não desgrudava das duas, o mundo dele girava em torno
delas e, felizmente, a sua doença não tinha evoluído tanto. Ele oscilava entre
lucidez e crises violentas, mas a maior parte das vezes que as crises vinham,
Alice o ajudava com aquele seu jeito doce e paciente.

Outro que não desgrudava das duas e, principalmente da Cíntia era o


Pulguinha. Às vezes, eu sentia um pouco de dó do gato. Cíntia o agarrava,
babava e ele apenas deixava que ela fizesse o que bem quisesse. Ele era
praticamente o ursinho de pelúcia dela. Cansei de tirá-lo do quarto dela, mas
ele miava até deixá-lo entrar e se deitava na poltrona em frente ao berço dela.
Ele passava a noite lá, velando o sono dela.

— Meu filho, vamos? — Giorgio entrou no quarto.


— Vamos, eu só... Vou arrumar a gravata.

Arrumei pela milésima vez a gravata.

— Sua gravata está ótima, você só está nervoso.

Era o dia do meu casamento com Alice e só me lembro de ter ficado


tão nervoso daquele jeito quando a nossa filha nasceu.

— Você a viu?

Meu pai sorriu.

Ele tinha finalmente se livrado da sua ligação doentia com Isabella.


Um ano atrás, ela tentou entrar em contato comigo, em busca de dinheiro,
como sempre fez ao longo dos anos, mas, como ela não conseguiu nem
chegar perto de mim, foi atrás de Giorgio. Ele nunca negou um centavo, ela
sempre o manipulava e, quando conseguia dinheiro suficiente, ia embora,
mas aquela foi a última vez que ele lhe deu dinheiro. Giorgio deu uma boa
quantia após ela assinar um contrato como garantia de que ele, eu e ninguém
da nossa família jamais a veríamos.

— Sim, ela está parecendo uma princesa. — Sorriu.

Nossa relação melhorou, não éramos como pai e filho, mas ele
sempre aparecia em datas importantes.

Sorri, queria me casar logo com Alice e poder chamá-la de minha


esposa. Nem sabia como havia permitido adiar por tanto tempo aquele
casamento, mas Alice quis esperar Cíntia nascer, depois foi seu escritório de
arquitetura.

Ela não trabalhava mais na Trentini e, por mais que eu tivesse


dinheiro suficiente para sustentar todas as nossas gerações, ela amava o que
fazia e abriu o seu próprio escritório. Após as inaugurações dos hotéis, todos
queriam a arquiteta que projetou a reforma. De um dia para o outro, a sua
lista de clientes passou de zero para milhares, e hoje ela tinha um seleto
grupo de clientes.
Por fim, ela passou meses acertando cada mínimo detalhe do
casamento.

Ao entrar na Capela de San Giuseppe, vi que tudo estava do jeito que


Alice desejou: os nossos amigos e familiares, a decoração. A minha
principessa queria se casar na igreja, era seu sonho, ao descobrir que havia
uma capela no castelo, fez questão de que o casamento fosse realizado ali.

Subi ao altar e minha gravata pareceu ficar mais apertada a cada


segundo, mas, assim que vi Bruna, nossa madrinha de casamento e da nossa
filha, entrar com Cíntia no colo, sorri.

Minha pequena começou a balbuciar "papai" ao me ver.

— Não pode ir com o papai, meu amorzinho. — Bruna falou para ela,
mas ela era pequena e não entendia.

Cíntia começou a fazer cara de choro e não aguentei.

— Vem com o papai, la mia piccolina[17].

Estendi os braços e ela se jogou no meu colo, imediatamente ela ficou


quietinha. Bruna tentou pegá-la novamente, para não atrapalhar a cerimônia,
mas Cíntia jamais atrapalharia.

Os olhos iguais aos de Alice cravaram nos meus e ela abriu um


sorriso. Dei um beijo em sua cabecinha e ela riu, adorando.

Ela se distraiu com a minha gravata, mas, ao ouvir a marcha nupcial,


nós dois olhamos para a porta da igreja.

Alice estava linda, uma verdadeira princesa. Seu vestido realçava


ainda mais a sua beleza. Sorri, tendo certeza de que valeu cada euro dos mais
de 500 mil gastos no vestido bordado à mão. Sua cintura estava marcada, e o
bordado com cristais descia pela saia rodada, como se caíssem em cascatas.
Seu cabelo longo estava emoldurado pela grinalda presa a sua coroa, mas a
parte mais bonita era o sorriso e os olhos brilhantes enquanto ela caminhava
em minha direção, sendo guiada pelo pai e meu avô.
— Cuide... eu sei que vai cuidar. — Disse o pai ao me entregá-la.

Tive que me controlar para não envolver sua cintura e beijá-la.

— Nem pense nisso. — Alice falou, mas eu conhecia cada olhar,


centímetro de pele, sorriso, tudo daquela mulher e ela queria tanto quanto eu.

Sorri.

— Mamã! — Cíntia bateu palmas, roubando toda a nossa atenção.

Alice depositou um beijo terno na cabecinha dela e meu avô a pegou.

O padre começou a falar, mas a única coisa que consegui fazer foi
observar o rosto feliz de Alice e gravar cada detalhe dele. Eu iria lembrar
para sempre dela dizendo que aceitava ser minha esposa e de quando
finalmente pude segurá-la em meus braços e beijá-la.
 
Bônus

— Principessa, se você não sair desse banheiro, eu vou aí te buscar!

Alice falou que tinha uma surpresa para mim, depois disso se trancou
no banheiro.

— Já vai! Fecha os olhos.

— Nem pensar!

— Se você não fechar, não terá sexo essa noite.

— Já fechei!

Ela riu de dentro do banheiro e saiu enrolada em um robe de seda


branca e com a coroa que eu havia feito o pedido de casamento. Ela estava na
família há mais de 100 anos e pertenceu a minha tataravó, a rainha Leticia di
Sartori.

— Mentiroso!
— Amor, não existe a possibilidade de eu não passar a noite enterrado
em você.  — Seus olhos brilharam. — Cadê a minha surpresa?

Ela sorriu.

— Você não merece — falou, desfazendo o laço do robe.

— Não?

Ela negou e abriu o robe, revelando o seu corpo nu. Imediatamente


meu pau ficou duro como pedra. Meu olhar devorou cada curva do se corpo,
ela usava apenas a coroa, os brincos e colar de safira que eu havia dado para
ela em Mônaco.

Lentamente, ela andou até a cama e montou no meu colo. Apenas o


tecido da minha cueca me impedia de entrar nela, pois meu pau estava
doendo de tão duro.

— Você nunca cumpriu a sua promessa de me comer usando apenas


esse colar e os brincos.

Porra!

Agarrei sua cintura e inverti a nossa posição, ela soltou um gritinho.


A coroa caiu e rolou até bater na parede.

— Eu sempre cumpro as minhas promessas, senhora Sartori.

Ela sorriu.

— Repete.

— Senhora Sartori.

— Uau, eu adoro como isso soa.

— Sabe o que eu adoro? — perguntei, deslizando a minha mão por


seu corpo, mas ela empurrou o meu peito e montou em mim.
— Do meu jeito, senhor Sartori! — Lambeu o meu peito, me olhando
com cara de safada.

— Sabe como eu fico duro quando você me chama assim?

— E quando eu faço isso?

Lambeu mais para baixo.

— Fico louco.

Ela desceu lambendo e deu uma longa e babada lambida no meu pau
por cima da cueca, meu pau chegou a se contorceu. Lentamente, ela tirou a
minha cueca e, quando a sua boca quente envolveu o meu pau, tive que me
esforçar para não gozar.

Ela me levava até o fundo da sua garganta, me enlouquecendo.

— Principessa, se você não parar, eu... — Calei-me quando ela me


levou mais fundo.

Seus olhos lacrimejaram, mas ela não parou, segurei seu cabelo e dei
estocadas fortes. Gozei, ela engoliu tudo.

Engatinhando, ela me montou novamente. Segurei sua nuca e a beijei.


Girei nossos corpos, fazendo-a deitar-se, deslizei minha mão pela sua barriga
plana e, quando toquei sua boceta, a encontrei encharcada.

Puxei o ar entre os dentes.

— Gostosa!

Ela segurou a minha nuca e me beijou.

Introduzi dois dedos e ela gemeu contra a minha boca, tirei os dedos,
eles pingavam. Espalhei a sua umidade por sua boceta e senti algo diferente.
Interrompi o beijo, ela sorriu.

— O que é isso?
— O que você acha? — Mordeu o lábio.

Girei seu corpo e a coloquei de quatro, meu pau voltou a ficar duro ao
ver o plug anal enterrado naquele cuzinho gostoso.

Dei um tapa forte na sua bunda.

— Gostou da sua surpresa? — Perguntou, me olhando por cima do


ombro.

Ela não precisava nem perguntar.

Lambi a sua boceta e ganhei um gemido delicioso. Não parei de


chupá-la, a cada segundo seus gemidos se tornavam mais altos. Ela começou
a rebolar na minha boca e não demorou para estar gozando, mas eu não havia
acabado, não era só ela que tinha uma surpresa.

Alice desabou sobre a cama e me levantei.


 

Olhei para ver o que o Matteo estava fazendo e quase não pude
acreditar ao vê-lo com o meu vibrador roxo.

— Onde você conseguiu isso? — Perguntei, tentando me levantar,


mas ele não deixou.

Matteo subiu em cima de mim, me mantendo presa contra o colchão.

— Você não sabe como eu quis usar ele quando te vi aquele dia —
falou no meu ouvido, me arrepiando.

Eu lembrava exatamente daquele dia.

— Como eu fiquei duro ao saber que você estava se masturbando


com ele enquanto usava a minha camisa.
Antes que eu pudesse raciocinar, Matteo me penetrou com ele. Gemi,
quase gozando com a invasão.

— Matteo, o que você...

Ele o ligou, agarrei os lençóis.

— O que estou pensando?

— Aham — resmunguei, movimentando o quadril.

— Estou pensando que vou foder esse cuzinho delicioso enquanto


fodo a sua boceta com esse vibrador.

Meu ventre se contraiu com a promessa.

Fui colocada de quatro novamente. Gemi frustrada quando ele retirou


o vibrador, mas logo o senti no meu clitóris. Fui penetrada, as estocadas
começaram combinadas com o vibrador no meu clitóris. Não demorou e eu
estava gozando novamente. Não tive tempo e nem queria descansar, ele tirou
o plug do meu cuzinho e senti-o me penetrar lentamente.

Matteo sabia me comer de todas as formas possíveis e me fez gostar


de todas elas. Quando 0 senti todo dentro de mim e o vibrador também, quase
gozei.
 

A visão da Alice empinadinha, com o meu pau enterrado até o talo no


seu cuzinho e o vibrador na sua bocetinha era alucinante. A cada estocada,
ela parecia me apertar mais, seus gemidos ficavam mais ensandecidos.

Dei uma estocada forte, a fazendo arfar. Joguei de lado o vibrador e


segurei sua cintura, dando arremetidas firmes. Quase gozei ao vê-la pegando
o vibrador e o colocando novamente.
Não demorou para chegarmos ao ápice do prazer juntos.

Puxei-a para o meu peito.

Eu não me cansava nunca dela, todo dia eu parecia desejar e amar


mais aquela mulher. Eu queria passar o resto dos meus dias ao seu lado.

— Eu devia agradecer ao Raphael por te trair, eu não seria o homem


mais feliz do mundo se ele não fosse o homem mais burro.

Alice gargalhou.

— Acho que devia agradecer ele e a Larissa. — Descansou o queixo


no meu peito, seus olhos satisfeitos me encararam. — Se não fossem eles, eu
não teria uma filha linda, um velhinho gagá, um gato sarnento e um marido
italiano delicioso.

O que ele fez com ela foi errado. Por muito tempo Alice pensou duas
vezes antes de confiar em alguém, mas, se ele não tivesse feito isso, eu tinha
certeza de que nunca seria feliz. Eu jamais amaria alguém como amo Alice,
só ela conseguia despertar esse sentimento em mim.

— Delicioso, é?

Ela concordou, e dei um beijo nela.

— Eu quero outro filho — falei, depois de um tempo em silêncio, e


Alice se levantou.

— Sério?

— Por que a surpresa? Você não quer mais filhos?

Eu nunca pensei em ter filhos, mas agora que eu tinha Cíntia, eu


queria mais e pensar que Alice pudesse não querer ter mais me deixou com
uma sensação estranha.

— Bom, você nunca falou nada.


— Principessa, eu quero encher esse castelo de filhos, mas, se você
não quiser...

Ela sorriu.

— Você está doido? Eu quero! Se for menino, eu deixo você escolher


o nome — comentou animada, e sorri.

Eu era a porra do homem mais feliz do mundo!


 
Agradecimentos

Quero dedicar um agradecimento especial a vocês, que dedicaram seu


tempo e energia para ler as páginas deste livro. Vocês são as verdadeiras
protagonistas desta história, pois são vocês que dão vida às palavras e fazem
com que os personagens e suas emoções ganhem significado. São vocês que
fazem eles se tornarem reais ao final da história, quando indicam, comentam,
avaliam.

Agradeço por embarcarem nessa jornada comigo, por se envolverem


com cada reviravolta, por rirem e chorarem junto com os personagens.
Espero que esta história tenha tocado seus corações de alguma forma e que
tenha proporcionado momentos de escape, inspiração e entretenimento.

Agradeço também à minha assessora, cuja dedicação e expertise


foram fundamentais para tornar este livro uma realidade. Peh, obrigada por
não xingar tanto quando eu surtei, por ter me acolhido quando eu cheguei até
desesperada. Obrigada por tudo Pehzinha.

Por fim, gostaria de expressar minha profunda gratidão a todos que


contribuíram de alguma forma para a criação deste livro. Seu apoio, amor e
confiança significam o mundo para mim, e sem vocês, essa história não teria
sido contada.

Que este livro seja um reflexo do meu agradecimento sincero a todos


vocês. Espero que ele traga um sorriso ao seu rosto, faça seu coração bater
mais rápido e o transporte para um mundo de aventuras e emoções.

Com todo o meu amor e gratidão, Val Barboza.


 
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Obras da autora

Uma Família Para o CEO

- Age Gap;

- Bilionário arrogante;

- Mocinha forte;

- Gravidez inesperada;
- Hots de tirar o fôlego;

- Drama e muita risada.

Ryan cresceu com o sonho de ser o CEO da Mineradora Gallagher,


empresa da sua família há gerações. Demorou, mas ele conseguiu. Arrogante,
poderoso e impulsivo, ele tem tudo que sempre quis, o emprego dos sonhos,
o melhor apartamento de Chicago, festas e mulheres maravilhosas.... mas por
que aquela sensação chata de que está faltando algo, não para de apertar o seu
peito?

Louise é uma jovem humilde, meiga e batalhadora, seu sonho é fazer


gastronomia e ter dinheiro suficiente para sair da casa onde vive com a mãe
viciada, padrasto traficante e o irmão, mas ao descobrir que está gravida, seus
problemas se multiplicam. Agora ela tem um bebê para se preocupar e a
única pessoa que pode ajudá-la é o pai da criança.

Quando a gravidez vem a público Ryan precisa tomar uma decisão


drástica, uma que ele jamais sonhou.

Um CEO solitário! Uma família poderá preencher o vazio e fazê-lo


completo?
 

Ceo de Aluguel

- Chefe e secretária em um namoro falso;

- Um bilionário ranzinza que odeia todos, menos ela;

- CEO possessivo e protetor;

- Clichê de uma cama só;

- AGE GAP.

Christian West é um homem difícil de lidar. Mal-humorado e exigente, é


um CEO odiado por todos, inclusive por sua secretária, a única que não
abaixa a cabeça para ele.

O bilionário nunca prestou atenção no quão bonita sua funcionária era


até precisar que ela o acompanhasse em um evento, mas as coisas dão errado
e ela se demite.

Stella Garfield apesar de linda, inteligente e determinada, é ótima em


se meter em confusão. E a maior delas foi afirmar para uma prima que
sempre teve prazer em humilhá-la que iria em seu aniversário com o seu
namorado, o problema é que nessa festa todos acreditam que Christian, seu
agora ex chefe, é seu namorado.

Mesmo furioso com a mentira, Christian aceita manter a farsa, mas


ele tem condições.

Uma mentira leva a outra e logo, o que começou como um


relacionamento falso, se transforma em algo mais.

O CEO arrogante e a secretária de língua afiada, conseguirão resistir a


esse desejo avassalador?
 
Uma Virgem para Blackwood

- Age gap;

- Casamento de conveniência;

- Um casal cão e gato;

- Crianças fofas;

- Muita risada e hots de tirar o fôlego.

“Você é minha desde a primeira vez que te vi”

Derek Blackwood é muito mais que um moreno de olhos claros e


sorriso debochado, o bilionário é o advogado mais requisitado dos Estados
Unidos. Inteligente e ambicioso, construiu sua fortuna sozinho, mesmo sendo
herdeiro de um Império. Império este que está no meio de uma guerra
familiar e Blackwood sabe que só há uma maneira de vencer: Arrumando
uma esposa. Acontece que Blackwood nunca quis se casar e a única mulher
que chamou sua atenção em anos é uma morena atrevida que parece odiá-lo.

A vida de Laura Siffredi nunca foi fácil. Filha de uma famosa atriz
de filmes adultos, cresceu cercada por sexo, drogas e violência. Ela cria os
irmãos mais novos como se fossem seus próprios filhos, mas está prestes a
perdê-los. A única coisa que realmente importa para ela são seus irmãos,
então aceitar a proposta de casamento do advogado mais arrogante que ela já
viu parece uma ótima solução. No entanto, nem tudo são flores, Laura sente
vontade esmurrá-lo e beijá-lo na mesma intensidade.

Todo encontro deles é marcado por tensão sexual e treta.

Um acordo de casamento que não envolve sentimentos, pelo


menos não deveria.
Uma paixão explosiva e avassaladora.
 

 
[1] Cazzo: Porra.
[2] Nonno: avô.
[3] Dio abbi pietà di mi: Deus tenha piedade de mim.
[4] Heitor Martins: personagem do livro Segredos Sujos da Alicia Bianchi.
[5] Bambola: Boneca.
[6] Principessa: Princesa em italiano.
[7] Pelo amor de Deus.
[8] Deus.
[9] Joalheria do protagonista do livro Uma Família Para o CEO.
[10] Restaurante da protagonista de Uma Família Para o CEO.
[11] Empresa do protagonista do livro Sua Propriedade da autora Alicia Bianchi.
[12] Maldita mulher.
[13] A lap dance é uma dança erótica em que uma pessoa dança sensualmente no colo de
outra pessoa, geralmente em um ambiente íntimo como um clube de strip-tease.
[14] Algumas coisas estão destinadas a acontecer
Pegue minha mão
Tome minha vida inteira também
Porque eu não consigo evitar
Me apaixonar por você
[15] Minha princesa.
[16] Meu príncipe.
[17] Minha pequena.

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