Você está na página 1de 45

INSTITUTO SUPERIOR DOM BOSCO - ISDB

DEPARTAMENTO DE AGROPECUÁRIA

Curso:
Licenciatura em Agropecuária

Disciplina
Avaliação da Aptidão Agrícola de Solos

Unidade Temática 03: Levantamento de solos

Autor:
Jaime David Francisco Pechiço (MSc)

Maputo, Maio de 2023


Direitos autorais

Estas notas ou apontamentos são fruto do meu trabalho, e foram elaboradas para o uso exclusivo
pelos estudantes do modulo de avaliação da aptidão agrícola dos solos do curso de licenciatura
em Agropecuária, no Instituto Superior Dom Bosco (ISDB) . Nenhuma parte destes
apontamentos deve ser reproduzida numa outra instituição sem o meu consentimento.

Jaime David Francisco Pechiço (MSc).


jpechico@hotmail.com

i
ÍNDICE DE CONTEÚDOS
LISTA DE TABELAS...................................................................................................................iv
LISTA DE FIGURAS...................................................................................................................iv
1.Introdução ao Levantamento de solos......................................................................................5
1.1. Principais conceitos usados em Levantamentos de solos.............................................5
1.1.1. Definição de solo......................................................................................................5
1.1.2. Definição de pedon e polipedon..............................................................................6
1.1.3. Definição de Levantamento de solos......................................................................7
1.1.4. Definição de características do solo e perfil do solo..............................................8
1.1.5. Definição de unidade taxonómica e classe de solo................................................9
1.1.6. Definição de unidade de mapeamento.................................................................10
1.1.7. Definição de área mínima mapeável (AMM)......................................................12
1.2. Objectivos dos levantamentos dos solos......................................................................12
1.3. Aplicações e importância dos levantamentos dos solos.............................................13
1.4. Principais usuários das informações dos levantamentos dos solos...........................16
1.5. Princípios básicos do levantamento de solos...............................................................17
2. Tipos de Levantamento de solos e escalas de mapeamento..............................................20
2.1. Tipos de levantamento baseados nos objectivos.........................................................21
2.1.1. Levantamentos baseados nos objectivos genéricos.............................................21
2.1.2. Levantamento de solos baseados nos objectivos especiais.................................22
2.2. Tipos de levantamento baseados na regularidade das observações.........................23
2.2.1. Levantamentos observações livres.......................................................................23
2.2.2. Levantamentos de grade rígida............................................................................24
2.2.3. Levantamentos de grade flexível..........................................................................24
2.3. Tipos de levantamento baseados na escala de mapeamento.....................................25
2.3.1. Levantamento exploratório...................................................................................25
2.3.2. Levantamento de Reconhecimento......................................................................26
2.3.2.1. Levantamento de reconhecimento de baixa intensidade............................27
2.3.2.2. Levantamento de reconhecimento de média intensidade...........................28
2.3.2.3. Levantamento de reconhecimento de alta intensidade...............................29
2.3.3. Levantamento de Semi-detalhado........................................................................30
2.3.4. Levantamento de Detalhado.................................................................................32

ii
2.3.5. Levantamento de Ultra-detalhado.......................................................................34
3. Métodos ou Procedimentos nos Levantamento de Solos...................................................38
3.1. Estudo de base...............................................................................................................38
3.2. Alocação e descrição do perfil de solo.........................................................................40
3.3. Extrapolação e verificação dos limites das unidades de solo....................................40
3.4. Análises laboratoriais...................................................................................................41
3.5. Processamento de dados e mapeamento de solos.......................................................41
4. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................42

iii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Síntese de diferenciação de mapas e tipos de levantamentos de solos.....................................35

LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Ilustração da relação entre a paisagem (em cima), polipedon ou solo individual (no meio) e
pedon, perfil e solo (por baixo)....................................................................................................................7
Figura 2. Esboço ou ilustração de um perfil do solo....................................................................................9
Figura 4. Esquema representativo dos tipos de levantamento de solos, sua escala e objectivos..............21
Figura 5. Exemplo de sondagens de 120 cm realizadas para avaliar a variabilidade dos solos em Xai-Xai
(esquerda) e Gorongosa (direita)...............................................................................................................39

iv
1.Introdução ao Levantamento de solos

1.1.Principais conceitos usados em Levantamentos de solos


1.1.1. Definição de solo

O IGEBE (2007) define o solo como um corpo natural constituído por camadas ou horizontes de
constituição mineral e/ou orgânica de espessura variável, que diferem do material de origem
pelas suas propriedades morfológicas, físico-químicas, mineralógicas e biológicas. Isso implica
que: tem uma unidade de mapeamento composta de pedons que são comparativamente
semelhantes em termos de sequências de horizonte, propriedades do solo e material de
origem, por exemplo, séries de solos, unidade taxonómica, mapeamento de aspectos físicos,
químicos, biológicos; e propriedades morfológicas dos solos.

Por seu turno, Soil Survey Staff (1951) define os solos como corpos naturais, que ocupam
porções na superfície terrestre, suportam plantas e as edificações do homem e apresentam
propriedades resultantes da atuação integrada do clima e dos organismos, atuando sobre o
material de origem, condicionado pelo relevo, durante um período de tempo.

Enquanto Wild et al. (1983) definem o solo: como sendo conjunto de corpos naturais que
ocupam porções da superfície da terra que sustentam plantas e que possuem propriedades
devido ao efeito integrado do clima e organismos vivos actuando sobre o material de origem,
condicionados pelo relevo ao longo de período de tempo. Esta definição é mais elaborada e
inclui os 5 factores de formação do solo.

As definições apresentadas acima, indicam implicitamente que existem de facto, duas maneiras
de considerar o solo: a) com base na natureza das suas propriedades ou abordagem pedológica
e b) com base em funções especificas ou uso do solo ou abordagem edafológica.

Na abordagem pedológica: a origem do solo, sua classificação e sua descrição estão envolvidas
na pedologia (da palavra grega "pedon" que significa solo ou terra). A pedologia considera o
solo como um corpo natural e não se concentra principalmente nos seus usos imediatos. Um
pedólogo estuda e classifica os solos conforme eles ocorrem em seu ambiente natural. Essa

5
definição é útil para os engenheiros de construção de edifícios, ferrovias bem como para o
agricultor.

Abordagem edafológica: "Edafologia (da palavra grega "edaphos", que significa solo ou solo) é
o estudo do solo do ponto de vista das plantas superiores. Considera as várias propriedades dos
solos relacionadas à produção vegetal. O edafólogo é prático, tendo como objetivo final a
produção de alimentos e fibras. Simultaneamente, o edafólogo deve ser um cientista para
determinar as razões da variação da produtividade dos solos e encontrar meios de conservar e
melhorar essa produtividade.

As definições acima descritas foram compiladas na seguinte: Solo é o corpo natural da


superfície terrestre, constituído de materiais minerais e orgânicos resultantes das interações
dos fatores de formação (clima, organismos vivos, material de origem e relevo) através do
tempo, contendo matéria viva e em parte modificado pela ação humana, capaz de sustentar
plantas, de reter água, de armazenar e transformar resíduos e suportar edificações.

1.1.2. Definição de pedon e polipedon

Outros conceitos que estão estritamente ligados aos solos e ao levantamento de solos, são o de
pedon e Polipedon. O pedon é definido como uma unidade básica de referência,
tridimensional, com limites e dimensões arbitrárias, cuja área é determinada pela variabilidade
lateral das características utilizadas em taxonomia de solos. Não possuem limites concretos e
muitas características se superpõem às de outros pedons e existem em número infinitamente
grande.

O Polipedon é uma área de solos constituída por agrupamento de pedons semelhantes, cujos
limites laterais coincidem com os limites de outros conjuntos de pedons e cuja profundidade é
determinada pelos pedons que o constituem. Para fins de mapeamento, o polipedon é o
elemento de ligação entre a classe de solo e a paisagem. Tem limites laterais estabelecidos
pelos critérios de classificação e coincide com a classe de solo no nível categórico mais baixo da
taxonomia de solos. Desta forma, o Polipedon tem limites objetivos, coincidindo com unidades

6
geográficas básicas de solos que servem ao propósito de identificação e delineamento de
classes no campo.

Figura 1. Ilustração da relação entre a paisagem (em cima), polipedon ou solo individual (no
meio) e pedon, perfil e solo (por baixo).

1.1.3. Definição de Levantamento de solos

O Levantamento de solos é um estudo sistemático do solo de uma determinada área, inclui a

classificação e mapeamento das propriedades e a distribuição de várias unidades de solo nessa

área. O levantamento de solos descreve as características dos solos, classifica-os de acordo com

um sistema taxonómico padronizado, delimita as unidades no mapa, armazena as informações

das propriedades do solo numa base de dados e faz previsão sobre sua aptidão e limitação dos

solos para os múltiplos usos bem como sua resposta a determinadas praticas de maneio.

Os levantamentos dos solos começaram no final da década de 1890 nos Estados unidos da

América, com avaliações sistemáticas das terras agrícolas. A Europa seguiu no início dos anos

7
1900. Um pico nas atividades de levantamentos dos solos foi alcançado durante as décadas de

1950, 1960 e 1970, particularmente com pesquisas para projetos de desenvolvimento na África,

Ásia e América Latina América.

Levantamento de solos significa:

 Investigar a distribuição geográfica dos solos que ocorrem numa determinada região,

 Determinar as características mais importantes dos solos,

 Delimitar as unidades no mapa e descreve-las na legenda logica em termos de unidades

de solo dominantes, associadas, incluindo a classificação de solos.

Os levantamentos de solo levam, em última análise, à avaliação da qualidade das diferentes

unidades de solo para tipos específicos de uso da terra. O ponto mais crucial reside no facto de

os levantamentos de solos serem sempre conduzidos com um determinado objetivo que será

refletido na legenda do mapa e nas notas explicativas. Os dados do solo são apenas parte das

informações necessárias para a avaliação da terra. Dados adicionais devem ser

complementados sobre clima, recursos hídricos, formas de relevo, uso da terra e os aspectos

socioeconômicos da população da área.

1.1.4. Definição de características do solo e perfil do solo

As características do solo são parâmetros do solo que podem ser observados ou medidos no
campo ou no laboratório, ou usando técnicas microscópicas ou macroscópicas, exemplo: cor do
solo, textura, estrutura, actividade biológica, manchas, nódulos, pH, Capacidade de troca
catiónica, bases, concentração de sais, etc.

Um perfil de solo é definido como um corte vertical na superfície da terra, que inclui todos os
horizontes pedo-geneticamente inter-relacionados e/ou camadas que tenham sido pouco
influenciadas pelos processos pedo-genéticos. O perfil é uma face exposta do solo, que é

8
reconhecido, classificado e descrito no campo. Somente em situações muito raras é que um
perfil coincide comas dimensões de um pedon. Por isso, o conceito de pedon (unidade básica
de referência para classifi cação) é normalmente estabelecido mediante observação, descrição,
coleta e interpretação de dados morfológicos e analíticos de vários perfis representativos de
um determinado segmento da paisagem.

Figura 2. Esboço ou ilustração de um perfil do solo

1.1.5. Definição de unidade taxonómica e classe de solo


A unidade taxonómica é conceituada, segundo um conjunto de características e propriedades
do solo, conhecidas por meio do estudo de pedons e polipedons e corresponde à unidade de
classifi cação mais homogênea em qualquer nível categórico de sistemas taxonómicos. É uma
concepção teórica para facilitar o conhecimento sobre objetos (no caso, solos), em tão grande
número, que seria impossível a compreensão dos mesmos individualmente. É integrada por um
conceito central, representado por um perfil de solo modal, que exibe as propriedades e
características mais usuais e de outros perfis, estreitamente relacionados, que variam em

9
relação ao conceito central, mantendo, no entanto, a variabilidade dentro de limites
determinados pela natureza de variável contínua, como é o caso do solo.

A Classe de solo é definida como um agrupamento de indivíduos, ou outras unidades básicas


(pedon, por exemplo), semelhantes em características selecionadas. Classe de solo, conforme
definida, é sinônimo de táxon e tem o mesmo significado de unidade taxonómica. A classe de
solo, definida por características morfológicas, físicas, químicas e mineralógicas, com apoio num
sistema taxonómico organizado, constitui a unidade fundamental na composição de unidades
de mapeamento e no estabelecimento das relações solo/paisagem. Portanto, haverá sempre
uma classe de solo correspondente a cada nível hierárquico dos Sistemas Taxonómicos.

1.1.6. Definição de unidade de mapeamento

A unidade de mapeamento constitui um conjunto de áreas de solos, composições e relações


definidas na paisagem. É caracterizada em termos da(s) unidade(s) taxonómica(s) que a
compõem. As unidades de mapeamento podem ser constituídas, tanto por classes de solos,
quanto por tipos de terreno. Ora juntamente (associação) e ora individualmente.

São na realidade as unidades mais homogêneas, que se consegue individualizar por


interpretação de materiais básicos, em associação com trabalhos de campo, considerando-se o
nível/escala do mapeamento. Os mapas/cartas são, portanto, constituídos por diversas
unidades de mapeamento. As características e propriedades dos solos componentes de uma
unidade de mapeamento são definidas pelas descrições e conceituações das unidades
taxonómicas que a compõem.
Enquanto uma unidade taxonómica é uma classe de solo definida e conceituada, segundo
parâmetros de classifi cação, uma unidade de mapeamento é um conjunto de áreas de solos
com relações e posições definidas na paisagem. Uma unidade de mapeamento pode ser
designada pelo nome de uma única unidade taxonómica (unidade simples) ou por várias
unidades taxonómicas (unidade combinada). Numa unidade simples, há predominância de uma
classe de solos, com variações mínimas de características e propriedades. No mínimo 70% dos

10
pedons em cada delineação de uma unidade simples devem pertencer à classe taxonómica que
lhe dá o nome.
Uma unidade simples é uma unidade de mapeamento com uma só componente, podendo
apresentar limites difusos, muito nítidos ou pouco nítidos em relação a outras unidades de
solos. Entre as unidades combinadas, são de maior relevância, para os levantamentos
pedológicos, as associações, os complexos e os grupos indiferenciados de solos. Em sua
composição, entram dois ou mais componentes.

Associações e complexos consistem de combinações de duas ou mais classes de solos distintos,


ocorrendo em padrões regularmente repetidos na paisagem. Em ambos os casos, os
componentes principais podem ser nitidamente diferentes ou pouco diferenciados, tanto na
morfologia como no conjunto de propriedades físicas, químicas e mineralógicas.
Associação de solos - é um grupamento de unidades taxonómicas definidas, associadas
geográfica e regularmente num padrão de arranjamento definido. É constituída por classes de
solos distintos, com limites nítidos ou pouco nítidos entre si, que normalmente podem ser
separados em levantamentos de solos mais pormenorizados. A associação é estabelecida,
principalmente, pela necessidade de generalizações cartográficas, em função da escala e do
padrão de ocorrência dos solos de uma área. Sua designação é feita pela junção dos nomes de
duas ou mais classes de solos e/ou tipos de terreno
ligados pelo sinal (+).
Na descrição de unidades de mapeamento representadas por associações deve ser especificado
o percentual de ocorrência de cada componente. Componentes individuais de uma associação
devem ocupar no mínimo 20% da área da associação.

Complexo de solos - é uma associação de solos, cujos componentes taxonómicos não podem
ser individualmente separados nem mesmo em escalas em torno de 1:20 000. As unidades
taxonómicas que compõem um complexo deverão ser, necessariamente, identificadas,
descritas, coletadas e caracterizadas analiticamente. O complexo é definido de acordo com as
classes de solos que o compõem e identificado de acordo com os nomes das unidades
taxonómica ligadas por hífens, precedidos da palavra complexo. É, por definição, constituído

11
por solos distintos, com limites pouco nítidos entre si, de difícil individualização para fins
cartográficos.
Grupos indiferenciados de solos - são constituídos pela combinação de duas ou mais unidades
taxonómicas com semelhanças morfogenéticas e, portanto, pouco diferenciadas. São
constituídos por unidades taxonómica afi ns, com morfologia e propriedades muito
semelhantes e com respostas idênticas às práticas de uso e manejo. Declividade,
pedregosidade, rochas e drenagem, podem reunir solos distintos no mesmo agrupamento, uma
vez que são determinantes do uso e manejo. Os grupos indiferenciados são designados pelos
nomes das unidades taxonómicas e ligados pela conjunção e precedidos da expressão grupo
indiferenciado

1.1.7. Definição de área mínima mapeável (AMM)

É, por definição, determinada pelas menores dimensões que podem ser legivelmente
delineadas num mapa ou carta, sem prejuízo da informação gerada nos trabalhos de campo, o
que corresponde na prática, a uma área de 0,4cm2 (0,6cm x 0,6cm). A equivalência desta área
no mapa, com a área correspondente no terreno, é função da escala final de apresentação. A
determinação da área mínima mapeável é determinada em função da escala do levantamento,
por exemplo: usando a escala de 1: 50 000 a área mínima mapeável deve ser de 10 ha, segundo
o cálculo abaixo.
E2∗0.4 500002∗0.4
AMM (ha)= 8 => AMM = 8 = 10 há
10 10
AMM∗108
Formula para achar a escala: E2=
0.4

1.2.Objectivos dos levantamentos dos solos

Os levantamentos de solos auxiliam a determinar as culturas ou pasto que melhor se adaptam


um determinado tipo de solo assim como que tipo de maneio que é necessário para esse tipo
de solo. O objectivo fundamental é fazer a previsões, isto é, determinar as características

12
importantes do solo, classificar os solos em tipos definidos e outras unidades de classificação
(classificação do solo). Para tal, é necessário: determinar o padrão da cobertura do solo, dividir
esse padrão em unidades homogéneas, mapear a distribuição dessas unidades, permitindo a
previsão das propriedades do solo em toda área, e caracterizar as unidades mapeadas de forma
que possam ser feitas descrições úteis sobre seu potencial de uso da terra e resposta a
mudanças na gestão.
Também tem como objectivo, estabelecer e traçar nos mapas os limites entre os diferentes
tipos de solos, correlacionar e prever a adaptabilidade dos solos a várias culturas (classificação
da capacidade da terra). Auxilia o planeamento agrícola na realocação dos limites do campo
para tornar os campos mais uniformes. Os seguintes são os elementos principais do plano de
produção que dependem total ou parcialmente de uma interpretação adequada dos mapas de
solo: (a) principal uso da terra, (b) padrões de cultivo, (c) métodos de cultivo, (d) proteção, (e)
uso e acúmulo de matéria orgânica, (f) controle de reação sob irrigação (classificação da aptidão
do solo), e (g) aplicação de fertilizantes.
Para os usos não agrícolas, os objectivos do levantamento são para auxiliar na construção de
estradas, fundações nas obras de engenharia, depósitos de resíduos sólidos, aspectos gerais na
planificação e expansão da urbanização entre outros usos da terra.

1.3.Aplicações e importância dos levantamentos dos solos

Para Van Gent (1989), os levantamentos dos solos fornecem informações sobre os recursos do
solo, identificam as condições favoráveis do solo para um determinado uso. Os levantamentos
de solos permitem a optimização dos usos de terra, mesmo em situações em que se pretende
realizar mudanças no uso da terra ou quando se pretende introduzir novos usos. Uma das
aplicações importantes dos levantamentos de solos é a identificação de campos e parcelas para
pesquisas agrícolas e a subsequente transferência de resultados experimentais para outras
áreas com os solos e condições semelhantes.
As aplicações dos resultados de levantamentos de solos são agrupadas em três categorias:
a. Planeamento e gestão/maneio do campo agrícola, pastagem e florestas,

13
b. Obras de engenharia e áreas relacionadas;
c. Avaliação da aptidão da terra para usos alternativos durante o planeamento regional e
urbano.

Cada aplicação requere a avaliação de aptidão da terra para os vários usos alternativos. Em
todo caso, o mapa de solos é o meio de extrapolação dos conhecimentos das propriedades do
solo e a resposta ao maneio para outras áreas com condições semelhantes de terra. Resultados
de levantamentos de solos semi-detalhados, por exemplo, fornecem bases técnicas para o
planeamento físico rural e regional. Possíveis aplicações incluem a identificação de áreas
irrigáveis, avaliação de áreas aptas para a produção de culturas especificas sob condições de
gestão bem definidas a mapear o estado de erosão dos solos.

Em países em desenvolvimento, o levantamento de solos pode ser aplicado à:

 Inventario de recursos e localização de projectos: na compreensão da natureza e


extensão dos recursos, na identificação de áreas promissoras para projectos específicos.
Exemplo: reassentamento,

 Viabilidade dos projectos: a avaliação da viabilidade de projectos é uma etapa crucial e


deve ser levada em consideração sempre que se pretende decidir em investir
(principalmente em levantamentos semi-detalhados). Esta avaliação é feita em duas
formas: a) prevenção de perigos: prevenção de desastres humanos, inundações, quebra
da colheita devido à seca, doenças, salinização devido a irrigação. A prevenção é feita
através da tomada de medidas apropriadas para evitar o perigo ou pelo não uso da terra
seriamente afectada. b) orientação sobre a aptidão: refere-se a alocação ou bloqueio
da terra para a agricultura irrigada ou sequeiro, pastagem, florestas, captação de agua e
outros usos apropriados.

 Planeamento ou planificação de projectos: nesta fase do desenvolvimento do projecto,


as decisões de avançar com o projecto já foram tomadas, os limites são praticamente
fixos, as necessidades de planeamento são relacionadas com o layout das
infraestruturas físicas, exemplo de estradas, canais de irrigação, campo de produção

14
entre outros. Posteriormente, o levantamento de solos na escala detalhada pode ser
necessário em todas áreas.

 Gestão: neste estágio o projecto está em decurso e os problemas de gestão estão


definidos ou encontrados, tais com a salinização, baixos rendimentos na maior parte da
área, ou problemas de drenagem. Levantamentos detalhados ou de objectivos
específicos serão necessários.

As informações colectadas em levantamentos de solos auxiliam na elaboração dos planos de


uso de terra e podem ser usados na avaliação e predição dos efeitos do uso de terra no meio
ambiente. Os levantamentos de solos são bases ideais para a previsão de uso dos solos,
podendo evitar que áreas inaptas para a exploração agropecuária e outras atividades sejam
desmatadas ou alteradas em suas condições naturais de equilíbrio. Também servem para
geração dos chamados grupos de maneio de solos, ou seja, solos com classificações diferentes,
porém, com maneios similares.

Os levantamentos também são um dos parâmetros que devem ser levados em consideração na
alocação de determinadas variedades de culturas, no auxílio do planeamento para fins de
fertilidade, na identificação de áreas com deficiências nutricionais e áreas com elementos
tóxicos para as plantas e animais. assim como outras áreas da agricultura de precisão. São
usados como guia para cultivos mecanizados, identificam áreas com deficiências nutricionais e
com toxicidade para os animais e humanos. As informações colectadas em levantamentos de
solos auxiliam na avaliação de terras, planeamento do uso de terra e predição dos impactos do
seu uso no meio ambiente.

Os relatórios de levantamento de solos (texto e mapas) são uma base cientifica muito valiosa no
planeamento de uso de terra. Esses planos devem ser elaborados com base na sustentabilidade
para a terra seja actualmente e futuramente produtiva. O conceito de terra nobre e terra única
foram elaborados na perspectiva de preservar a produtividade dos solos para culturas
alimentares e de fibras. Essas áreas são apenas delimitadas com base nas informações obtidas
em levantamento de solos.

15
1.4.Principais usuários das informações dos levantamentos dos solos

Os dados provenientes dos Levantamento de solos são uteis e são a base para a tomada de
decisões em relação ao uso e gestão de terra nas várias organizações de desenvolvimento
(agentes), tais como farmeiros, técnicos florestais, engenheiros de construção civil entre outros.
Os usuários dos levantamentos dos solos podem ser organizações ou pessoas singulares que
pretendem ter informações acerca das propriedades do solo, e são categorizados em:
 Gestores da terra: como os produtores, gestores de plantações florestais, entre outros.
Este grupo decide o tipo de uso para cada unidade da terra. Uma vez que os cultivos
aráveis são o tipo de uso que os levantamentos de solo são direcionados, os farmeiros
deveriam ser os principais usuários. Contudo, os florestais também são, pela
necessidade de identificar solos aptos para as plantações florestais, custos com os
inputs (construção e manutenção das estradas) e a produção (madeira).

 Assessores dos gestores de terra: extensionistas agrários. A assessoria tem a função de

levar a experiencia de um determinado campo de produção e replicar e introduzir novas

técnicas derivadas de experimentos. A série de solos é a unidade mais conveniente para

esse fim, e a assessoria vai construindo progressivamente um corpo de experiências de

manejo vinculado a séries.

 Serviços de industrias relacionados ao uso de terra investidores privados: agencias de

credito agrícola, grupo de investidores (se seu investimento for produtivo), bancos.

 Planificadores do uso de terra: rurais, suburbanos e urbanos (proíbem, aconselham ou

facilitam certos tipos de usos de terra em diferentes áreas). Isto implica a alocação de

uma determinada área para os maiores tipos de uso de terra (agricultura, pastagem

permanente, florestas etc) e incorpora as medidas de conservação do solo. Também é

usado na classificação da capacidade de uso da terra e avaliação da aptidão. Os

16
planificadores pretendem mudar o actual uso de terra por outro mais benéfico:

pastagem para florestas, agricultura para construção, florestas para uso agrícola. Para

tal é necessário avaliar a aptidão do solo para o uso pretendido.

 Autoridades tributária: para casos de atribuição das taxas da terra em função do seu

potencial produtivo.

 Gestores ambientais: que usam o solo como um elemento da paisagem ecológica.

 Pesquisadores (hidrologias, agrônomos, entre outros): vários usos da terra e

estratégias de gestão, exemplo: experimentos agrícolas, respostas à fertilizantes,

resistência a doenças, espera-se que as unidades de solo respondam de forma diferente

a gestão.

 Organizações de desenvolvimento: Em países em desenvolvimento a principal

solicitação para levantamentos de solos vem dos órgãos responsáveis pelo

desenvolvimento rural. Estes incluem organizações internacionais (FAO), governos

nacionais e regionais dos países envolvidos.

 Engenheiros: eles precisam de informações sobre o solo para fundação de estradas e

edifícios, descarte de esgoto e outros resíduos, incluindo materiais tóxicos. Os testes de

engenharia podem incluir: resistência ao cisalhamento e à compressão, plasticidade,

características de expansão e contração, corrosividade ao aço e ao concreto.

1.5.Princípios básicos do levantamento de solos

Segundo Asrat (2019) os princípios de levantamentos de solos são:

a. O levantamento de solos deve ter um objectivo ou propósito

17
Por exemplo fornecer informação de uso (gerais ou especificas) ou actualizar informação
existente. O objectivo do levantamento de solos deve ser definido antes de iniciar o
levantamento, este pode ser genérico ou específico. Deve se considerar os seguintes pontos: i)
determinar o padrão de cobertura do solo, ii) dividir este padrão em áreas relativamente
homogenias, iii) mapear a distribuição dessas unidades permitindo a previsão das propriedades
do solo da área, iv) caracterizar as unidades mapeadas de tal forma que se possa fazer previsões
da sua produtividade potencial assim como a mudanças na gestão.

Este não é um simples processo de mapeamento na medida em que: i) cada propriedade de


solo varia gradualmente tanto na direcção vertical assim como na vertical, ii) mudança em uma
propriedade não implica necessariamente mudança nas outras propriedades, sendo por isso
difícil delimitar as unidades de solos, iii) os limites das unidades de solo são transitórias e
integram a delimitação das unidades no mapa, iv) os diferentes tipos de solos devem ser
separados no mapa, v) a localização geográfica de cada tipo de solo que interessa ao tipo de uso
de terra, deve ser conhecido.

b. O levantamento de solos é desenhado para predizer e mapear as propriedades do solo,

mas este não é actividade desejável ou a finalidade.

Os resultados expressos no mapa e os relatórios são complementares. Os produtos de um


levantamento de solos incluem o relatório e um mapa. A informação contida num mapa é
limitada e deve ser complementada pela informação que consta dos relatórios. Os mapas de
solo mostram os solos: contudo, os mapas produzidos pelo levantamento de solos são: mapa
de solo, da paisagem, geologia entre outros. Mapa de paisagem – solo é um mapa que contem
descrição das propriedades do solo. Os recursos da terra não são constituídos apenas pelo solo,
incluem também o clima, geomorfologia, geologia entre outras.
O relatório é muito mais do que uma simples legenda, este contém informações adicionais de
factores ambientais, informações do potencial do uso de terra e prováveis respostas às várias
alternativas formas de gestão, e algumas vezes o uso da terra e recomendações de gestão ou
maneio. Um relatório pode ser usado para vários mapas.

18
c. O levantamento de solos não é a única base para tomada de decisões de uso de terra e
sua gestão, apenas é uma parte
Este princípio aplica-se também dentro de um contexto amplo de estudo de avaliação de
terras. Decisões de gestão da terra são invariavelmente influenciadas por factores econômicos,
sociais e institucionais, muitas vezes pelos direitos da terra existentes e constrangimentos
políticos. Mesmo dentro de uma esfera muito limitada do ambiente físico, o solo é o único
factor, por isso o declive frequentemente tem influência dominante na escolha entre usos de
terra aráveis e não aráveis, e o clima é o factor determinante na escolha das culturas. Olhar o
solo ou o ambiente físico como um todo, como a influência que controla o uso de terra é uma
atitude parcial. Em vez de, as conclusões dos levantamentos de solo ou da terra são de
natureza condicional, se tais acções forem tomadas, certos resultados irão garantir, ou certas
medidas poderão ser necessárias de modo a prevenir consequências adversas.

d. O mapa de solos deve mostrar os solos

O mapa produzido pelo levantamento de solos é um mapa de solos se as unidades mapeadas são

baseadas em partes de pedons. Muitos levantamentos incluem características das formas da terra

na descrição das unidades de mapeamento. O mapa que é baseado em classes como a associação

de solos-formas da terra, é um mapa de solos se mostrar a distribuição dos tipos de solos, e as

formas da terra usadas são o meio para a elaboração dos mapas de solos. Caso contrário, seria

primariamente um mapa de unidades de formas de terra, com os solos usados como auxilio do

mapa, sendo para tal um mapa de geomorfologia.

Uma vez que o solo não pode ser descrito sem a abertura de perfis de solo, os pesquisadores de

solo dependem muito das características externas que indicam as mudanças de tipos de solos.

Desde que a correlação entre os solos e o indicador externo tem sido substanciado a legenda,

19
ainda pode ser definida em termos de parâmetros do solo, o mapa resultante é um mapa de

solos

e. O levantamento de solos não pode:

 Mapear solos com alta precisão e pouco esforço: levantamento de solos é um processo
moroso, e as informações obtidas dependem do esforço empreendido, ou seja, pouco
esforço resulta em informações pouco precisas, apesar de existir um mínimo de
precisão que apenas pode ser alcançado em casos de levantamentos intensos e
morosos.
 Produzir uma legenda de mapas que atenda às necessidades de todos os usuários: os
critérios usados na elaboração dos mapas de solo devem estar relacionados as
finalidades, ou seja, aos objectivos, que são específicos para um determinado uso. É
mais prudente escolher critérios em que permita a obtenção de propriedades
relacionadas.
 Classificar a terra da melhor para a pior, em termos de qualidade: não apenas são os
solos ou outros requisitos específicos de uso de terra, mas o que é melhor para um uso
pode ser pior para o outro.
 Dizer ao usuário da terra o que fazer: estudos de levantamentos de solos e de avaliação
de terra podem apenas fornecer informações da natureza e que sugerem as
consequências relacionadas a cada tipo de uso.

2. Tipos de Levantamento de solos e escalas de mapeamento

Os tipos de Levantamento de solos podem ser categorizados em função de:

a. Objectivos do Levantamento,
b. Regularidade de observações, e
c. Escala de mapeamento.

20
Figura 3. Esquema representativo dos tipos de levantamento de solos, sua escala e objectivos

2.1.Tipos de levantamento baseados nos objectivos

Esta classificação divide os levantamentos em: levantamento de objectivos genéricos/gerais e


de objectivos especiais ou específicos.

2.1.1. Levantamentos baseados nos objectivos genéricos

Estes levantamentos providenciam dados básicos para a interpretação dos vários tipos de uso
de terra (no presente e no futuro). São geralmente usados em inventários nacionais, as
informações podem não ser necessárias no momento do levantamento, e este tipo de
levantamento é feito com objectivo de gerar e armazenar as informações que serão usadas
posteriormente. Pode ser feito para actualizar as informações existentes na base de dados.

As principais vantagens são:

 As informações podem ser reusadas e reinterpretadas para vários propósitos;

21
 Este tipo de levantamentos colectam várias propriedades e características do solo,

 Classificação da paisagem

 Mostram o mapa pedológico,

 Podem servir para futuras interpretações (avaliação de terras) como contém aspectos
da topografia, geologia, clima, socioeconômicos da área, e

 Fornecem caraterísticas suficientes para cada unidade de mapeamento.

As principais desvantagens são:

 Não é ideal para nenhum propósito (não serve para os mesmos propósitos de forma
igual),
 Não antecipa os futuros usos da terra,
 Obsoleto ou desatualizado depois de alguns anos de uso, sendo por isso necessário
atualizar,
 Muito caro.

2.1.2. Levantamento de solos baseados nos objectivos especiais

O levantamento é feito para fins específicos (particulares) e o levantamento de únicas

características únicas do solo, dependendo do tempo de maneio, (limitado no tempo aplicável.

por algum tempo) e os limites entre as classes predefinidas dessas características são

mapeados. Os limites da unidade de mapeamento são aplicáveis para um uso, por exemplo

levantamento para irrigação ou levantamento para plantação de citros, mapa de salinidade do

solo para taxas de infiltração

As principais vantagens são:


 Concentração nas propriedades especificas e de interesse no mapeamento,
 O mapeamento é mais rápido e pode ser feito por pesquisadores sem muitas
qualificações, e
 Muito mais barato.

22
As principais desvantagens são:

 As informações colectadas não são uteis para outras finalidades (completamente inútil
para outros usos),
 Problemas na definição dos limites e sem a caracterização da paisagem,
 Sem o conceito do solo como o corpo natural, e
 Requere especialistas muito bem treinados.

2.2.Tipos de levantamento baseados na regularidade das observações

Neste tipo de levantamentos, três tipos podem ser distinguidos: levantamentos livres (free
surveys), de grades rígidas (rigid grid) e grades flexíveis (grid flexible).

2.2.1. Levantamentos observações livres


Neste tipo de levantamentos não são definidos padrões de observações. O pesquisador usa
aspectos como a mudança na vegetação, topografia, declive para observar o solo e localizar os
limites do solo. A maioria dos levantamentos de solo modernos envolvendo uma área ampla (>
5000 ha) adaptam esse tipo de metodologia de levantamento. Este método cria mapas de
classe de área onde o pesquisador é livre para escolher pontos de amostragem para confirmar
sistematicamente um modelo das relações solo-paisagem, traçar limites e determinar
composições de unidades de mapa.

Inicia com a fotointerpretação detalhada da fisiografia,


 Todos os limites são verificados e possivelmente modificados no trabalho de campo,

 O pesquisador percorre a maior parte da paisagem geralmente em transectos,

 A experiência do pesquisador é muito importante,

 Requer a maior habilidade e experiência para interpolar e extrapolar a partir de


observações para julgar melhor onde a próxima observação deve estar,

23
 Algumas áreas podem ter poucas observações, se elas se ajustarem exatamente ao
modelo mental (ou seja, o padrão do solo pode ser facilmente previsto), outras (áreas
problemáticas) podem ser amostradas em detalhes,

 Em áreas com baixa correlação entre a geomorfologia e os solos, as próprias


observações de campo são utilizadas para localizar os limites.

 Observações suficientes para obter uma estimativa razoavelmente boa da variabilidade


interna, e

 Tendências ditadas pela experiência e julgamento do agrimenso

2.2.2. Levantamentos de grade rígida

As observações do solo são feitas em intervalos regulares e predeterminados. E normalmente


usado que se pretende obter informações detalhadas, por exemplo o mapeamento de solos
para pesquisa em estacoes de investigação, mapeamento do solo para irrigação. O ponto de
observação é a intercepção de duas linhas regulares, uma vertical e outra horizontal.
 A amostragem sistemática é desenhada tomando em conta a esperável auto correlação
espacial das propriedades do solo,
 Os pontos de amostragem são localizados no campo e depois descritos,
 Métodos estatísticos e geoestatisticos são usados para estimar a variabilidade das
propriedades do solo,
 Usado em escalas > 1: 50 000,
 Apesar de serem exigentes em termos de tempo, fornecem mapas de boa qualidade.

2.2.3. Levantamentos de grade flexível

É uma combinação entre os tipos de levantamento de grade rígida e livre. Neste tipo de
levantamentos, o número de observações é fixo, mas a sua localização não é predeterminada,
pode ser sistemático ou não sistemático.

 Levantamento sistemático: o primeiro ponto de observação é determinado


aleatoriamente no mapa-base e as observações seguintes são feitas de forma
sistemática em distâncias especificas. Na delimitação das unidades de solo, a

24
variabilidade das características do solo, condicionadas por factores externos, tais como
a geomorfologia, geologia, vegetação e o clima, são levados em conta durante o
levantamento, tal como acontece em levantamentos de grade rígida.
 Levantamentos não sistemáticos: os limites das unidades são determinados com base
em outros mapas, como os de geologia e fisiografia. Observações de campo
amplamente distantes são usados para determinar as propriedades típicas dos solos.
Não estima a variabilidade interna do solo e são usadas escalas menores, > 1: 500 000,
não são considerados como mapas reais, mas como croquis.

2.3. Tipos de levantamento baseados na escala de mapeamento

Segundo IGEBE (2007), a classificação dos levantamentos em função das escalas de


mapeamento, permite distinguir cinco tipos principais de levantamento, nomeadamente:
explanatório, reconhecimento, semi-detalhado, detalhado e ultra-detalhado.
2.3.1. Levantamento exploratório

Esse tipo de levantamento é executado, normalmente, onde há necessidade de informações de


natureza qualitativa do recurso solo, com a finalidade de identificar áreas de maior ou menor
potencial, prioritárias para o desenvolvimento em caráter regional. Trata-se de estudo
apropriado a áreas de grande extensão territorial, podendo ser executado em áreas menores,
previamente a levantamentos em escalas maiores, em função da premência de obtenção de
dados que servem de subsídio na elaboração de políticas administrativas.

Os materiais básicos necessários incluem: mapas ou cartas planialtimétricas em escalas


variadas, imagens de satélites em escalas 1:250 000, 1:500 000 ou menores, imagens de radar e
foto índices. As escalas de apresentação dos mapas/cartas variam entre 1:750 000 e 1:2 500
000, e a área mínima mapeável está compreendida entre 22,5km 2 a 250km2.A densidade de
observações e a frequência de amostragem não são rigidamente estabelecidas, mas deve ser
observado um mínimo básico de 0,04 observação por quilômetro quadrado e um perfil
completo por componente principal de associações e amostras extras de horizontes A e B, ou C,
se necessário.

25
As classes de solos são identificadas no campo mediante observação e amostragem em pontos
predeterminados, ao longo de percursos traçados previamente de acordo com feições da
paisagem e aspectos fisiográficos. A extrapolação é largamente utilizada neste tipo de
levantamento. Portanto, as observações e coletas de amostras para identificação e
caracterização das classes de solos são feitas a grandes intervalos.

As unidades de mapeamento são normalmente constituídas por amplas associações, podendo


ter até cinco componentes, sendo, portanto, muito heterogêneas. As classes de solos
reconhecidas neste tipo de levantamento são definidas em função de características
diagnósticas que determinam a classifi cação dos solos em níveis taxonómicos elevados,
correspondentes pelo menos a subdivisões de “ordem” e “subordem” em sistemas hierárquicos
de classifi cação de solos.
As características mais comumente utilizadas são: horizonte diagnóstico sub-superficial,
horizonte diagnóstico superficial, cor e saturação por bases. As classes de solos definidas neste
tipo de levantamento geralmente são subdivididas para fins cartográficos, de acordo com: -
grupamentos texturais em notação simples ou binária e fases de vegetação e relevo. Este tipo
de mapa/carta necessita para sua execução etapas de campo e escritório.

2.3.2. Levantamento de Reconhecimento

Os levantamentos do tipo reconhecimento são executados para fins de avaliação qualitativa e


semi-quantitativa de solos, visando à estimativa do potencial de uso agrícola e não agrícola. A
seleção de mapas/cartas e sensores remotos básicos, métodos de prospeção de campo,
composição de unidades de mapeamento e grau de detalhe cartográfico são estabelecidos
previamente, em função da escala de apresentação do mapa ou carta, dos objetivos e da
precisão desejada.
As classes de solos definidas nos levantamentos de reconhecimento acumulam características
diferenciais utilizadas nos levantamentos exploratórios e mais características que
correspondem em níveis categóricos de “Grandes Grupos e Subgrupos”, em sistemas
taxonómicos organizados. As classes de solos definidas neste tipo de levantamento

26
normalmente são subdivididas, para fins cartográfi cos e de interpretações diversas, de acordo
com o grupamento textural (em notação simples ou binária) e em fases de relevo, vegetação,
rochosidade e pedregosidade.
Dados morfológicos e analíticos (químicos, físicos e mineralógicos) de perfis completos e
amostras extras, são necessárias para caracterização dos solos e definição das unidades de
mapeamento. Considerando que os levantamentos do tipo reconhecimento atendem a uma
ampla faixa de objetivos e necessidades, estão compartimentados em três níveis de execução,
compreendendo alta, média e baixa intensidade.
Os níveis de reconhecimento diferenciam-se quanto aos objetivos, métodos de prospeção,
tipos de unidades de mapeamento, área mínima mapeável, material cartográfico e sensores
remotos básicos e escala de publicação. A densidade de observações por área é variável, entre
0,04 a 2,0 observações por quilômetro quadrado.

2.3.2.1. Levantamento de reconhecimento de baixa intensidade

Os levantamentos de reconhecimento de baixa intensidade têm como objetivo o fornecimento


de dados para a avaliação de recursos potenciais de solos, através da identificação de áreas de
baixo e alto potencial. Este tipo de levantamento pode ser elaborado em grandes áreas, em
razão de seu caráter ainda generalizado, geralmente com o objetivo de subsidiar o
planeamento desenvolvimentista regional ou como componente de Estudos Ambientais
diversos, como para Zoneamentos Ecológico-Econômicos, EIA-RIMAS e outros.

As bases cartográficas e imagens de sensores remotos mais indicadas neste nível de


reconhecimento compreendem: mapas/cartas planialtimétricas com escalas entre 1:100 000 e
1:500 000, imagens de radar na escala 1:250 000, imagens de satélite nas escalas entre 1:100
000 e 1:500 000 e carta-imagens de sensores remotos orbitais nas escalas 1:100 000 e 1:250
000. Os mapas/cartas resultantes de levantamentos neste nível devem ser apresentados em
escalas compreendidas entre 1:250 000 e 1:750 000. A área mínima mapeável varia de 2,5 a
22,5km2.

27
A frequência de amostragem é de um perfil completo por componente de associação e mais
amostras extras de horizontes superficiais e sub-superficiais para definir limites e conceituar
unidades de mapeamento. As unidades de mapeamento são identificadas no campo, ao longo
de percursos traçados sobre imagens de radar ou de satélite, ou sobre mapas/cartas
planialtimétricas. Os limites entre unidades de mapeamento são inferidos pelas linhas gerais de
fotointerpretação, combinada com verificações de campo e interpretação das correlações
“padrões de imagens - tipos de solos”. Estas unidades podem ser simples ou de associações de
até quatro componentes de Grandes Grupos de solos. Inclusões são comuns em todas as
unidades de mapeamento.

Admite-se, neste nível de reconhecimento, uma precisão de informações sobre a composição


das unidades de mapeamento entre 50 e 70% de confiabilidade. Um levantamento pedológico
de reconhecimento de baixa intensidade, ainda apresenta um grau de generalização
relativamente alto, em razão das escalas de trabalho e de apresentação dos mapas/cartas,
frequência de amostragem e densidade de observações de campo.

2.3.2.2. Levantamento de reconhecimento de média intensidade

Levantamento executado visando a obter informações de natureza qualitativa e semi-


quantitativa do recurso solo, para fins de elaboração de projetos de uso e planejamento,
incluindo seleção de áreas para colonização, construção de rodovias e ferrovias, zoneamentos
agroecológicos e seleção de áreas para levantamentos mais detalhados. Nesta categoria, os
levantamentos ainda têm enfoque regional. Têm sido usados para trabalhos em áreas menores,
como municípios, bacias hidrográficas e mesmo fazendas, com o objetivo de possibilitar a
tomada de decisões corretivas e/ou preventivas com relação à preservação ambiental
principalmente.

O material básico cartográfico e sensores remotos mais indicados para este nível de
reconhecimento compreendem: imagens de satélite na escala entre 1:100 000 e 1:250 000;
mapas/cartas planialtimétricas em escalas preferenciais entre 1:25 000 e 1:250 000; fotografias
aéreas em escalas preferenciais entre 1:60 000 e 1:120 000, imagens de radar na escala 1:250

28
000 e carta-imagem de sensores remotos orbitais nas escalas 1:100 000 e 1:250 000. De acordo
com a escala de apresentação do mapa/carta, em geral, entre 1:100 000 e 1:250 000, a área
mínima mapeável situa-se entre 40ha e 2,5km2. A frequência de amostragem é de um perfil
completo por classe de solo componente de unidade de mapeamento simples ou de
associação. Amostras extras adicionais podem ser necessárias para estabelecer limites entre
classes.

As unidades de mapeamento são identificadas no campo, por observação e amostragem ao


longo de percursos que cruzem diferentes padrões de drenagem, relevo, geologia e vegetação.
Parte dos limites entre unidades de mapeamento é constatada no campo e parte é inferida por
correlações com padrões de fotografi as aéreas, imagens de radar e de satélite e carta-imagens
ou mapas/cartas topográficas. As unidades de mapeamento nos levantamentos de
reconhecimento de média intensidade podem ser constituídas por unidades simples ou por
associações de até quatro componentes de Grandes Grupos de solos. Neste nível de
reconhecimento é admitida uma precisão de informações sobre a composição das unidades de
mapeamento entre 70 e 80% de confiabilidade.

2.3.2.3. Levantamento de reconhecimento de alta intensidade

Os levantamentos de reconhecimento com este nível têm por objetivo obter informações de
natureza qualitativa e semi-quantitativa do recurso solo, em áreas prioritárias para
desenvolvimento de projetos agrícolas, pastoris e florestais, instalação de núcleos de
colonização e localização de estações experimentais. Geralmente, são elaborados em áreas de
relativamente pequenas dimensões e têm sido muito demandados, ultimamente para efeito de
estudos ambientais para inserção de grandes empreendimentos, visando a subsidiar
estabelecimento de medidas corretivas e compensatórias, tais como EIA-RIMAS.

Este nível de reconhecimento fornece informações básicas razoavelmente precisas para


planejamento geral de programas de conservação e manejo dos solos. Podem substituir
levantamentos semi-detalhados em áreas que requerem estudos preliminares para
planejamento regional de uso e conservação dos solos. material básico mais recomendado para

29
este nível de reconhecimento é constituído por: mapas/cartas planialtimétricas em escalas
preferenciais entre 1:20 000 e 1:100 000, fotografi as aéreas em escalas preferenciais entre
1:20 000 e 1:100 000 e carta-imagem em escala maior que 1:100 000.

A escala de apresentação do mapa, em geral, situa-se entre 1:50 000 e 1:100 000, sendo a área
mínima mapeável variável entre 10 e 40ha. A frequência de amostragem é de um perfil
completo e um ponto de amostra extra por classe de solo componente de unidade de
mapeamento simples ou de associação. Todas as classes de solos identificadas na área devem
ser caracterizadas por um perfil representativo completo. As unidades de mapeamento são
identificadas por observações e amostragem ao longo de percursos que cruzem diferentes
padrões de drenagem, relevo, vegetação, geologia e geomorfologia.
Grande parte dos limites entre unidades de mapeamento é estabelecida no campo e os limites
definidos por fotointerpretação são testados por observações de campo, segundo
planejamento prévio de verificações da área. Nos levantamentos de reconhecimento de alta
intensidade, as unidades de mapeamento são constituídas por unidades simples ou por
associações de até três componentes de Subgrupos de solos. Neste nível de reconhecimento, as
unidades de mapeamento são mais homogêneas do que nos níveis de média e baixa
intensidade. Nele, é esperada uma precisão de informações sobre a composição e pureza das
unidades de mapeamento em torno de 80% de confiabilidade.

2.3.3. Levantamento de Semi-detalhado

Com a elaboração de levantamentos semi-detalhados tem-se por finalidade a obtenção de


informações básicas para implantação, por exemplo de projetos de assentamentos rurais,
estudos integrados de micro-bacias, planejamento local de uso e conservação de solos em
áreas destinadas ao desenvolvimento de projetos agrícolas, pastoris e florestais, além de
projetos e estudos prévios para engenharia civil.

Esta categoria de levantamento, já se presta à execução de alguns projetos, e normalmente são


elaborados em áreas pequenas (fazendas ou parte delas), onde se pretenda implantar
determinados tipos de atividades. Os trabalhos de campo assumem maior importância e a

30
caracterização dos solos deve ser minuciosa, pois será usada diretamente na definição do
manejo a ser implantado. São também elaborados com o propósito de Estudos Ambientais em
empreendimentos localizados (minerações, construção, estações experimentais, etc.), visando
ao estabelecimento de medidas corretivas ou compensatórias de caráter localizado, e seleção
de áreas para projetos específicos.

O material cartográfico e tipos de sensores remotos básicos mais usuais neste tipo de
levantamento compreendem: mapas/cartas planialtimétricas em escalas iguais ou maiores que
1:50 000, restituições aero-fotográficas e levantamentos topográficos convencionais em escalas
variando de 1:10 000 a 1:50 000 com curvas de nível a intervalos de 10 a 20m* e fotografi as
aéreas em escalas iguais ou maiores que 1:60 000. A escala preferencial para apresentação dos
mapas/cartas deve ser igual ou maior que 1:50 000, podendo em situações particulares variar
até 1:100 000.

A densidade de observações e a frequência de amostragem são calculadas em função da


heterogeneidade da área e da facilidade de correlação entre tipos de solos e superfícies
geomórficas. Não obstante, é recomendada uma média de 0,02 a 0,20 observação por hectare,
um perfil completo e um perfil complementar por classe de solo componente de unidade de
mapeamento simples ou de associação. Todas as classes de solos identificadas na área devem
ser caracterizadas por um perfil representativo completo e um perfil complementar.

As unidades de mapeamento são identificadas no campo, por observação e amostragem ao


longo de toposseqüências selecionadas. As toposseqüências devem ser as mais representativas
da área, abrangendo diversas formas de encostas e tipos de relevo, de modo a permitir as
correlações solos-superfícies geomórficas. As relações solos-superfícies geomórficas são
estabelecidas por caminhamento em topossequência com registro das variações quanto às
classes de solos, textura (superficial e sub-superficial), tipo e espessura do horizonte A,
profundidade dos solos e outras características relevantes para o mapeamento. Desta forma, as
variações de solos são relacionadas com as classes de declividade, condições de drenagem,
formas de pendentes e posição na encosta.

31
Os limites entre unidades de mapeamento são verificados no campo, em combinação com as
correlações solos-superfícies geomórficas. Alguns limites podem ser inferidos a partir de
interpretações de fotografi as aéreas e testados no campo. Nos levantamentos semi-
detalhados, as unidades de mapeamento são constituídas por unidades simples, complexos e
associações, definidas no nível de Família de solos, em sistemas hierárquicos de classifi cação. É
importante
que as unidades de mapeamento tenham razoável homogeneidade, sendo esperado que as
inclusões em unidades simples não ultrapassem 15%.
Em associações é admitido o máximo de 10% de inclusões, se forem de uma única classe de
solo e até 20% se forem duas ou mais classes de solos. Espera-se que a precisão de informações
sobre composição e pureza das unidades de mapeamento, neste tipo de levantamento, esteja
em torno de 85-90% em termos de confiabilidade. A definição de classes de solos neste tipo de
levantamento é baseada em características diretamente relacionadas com o crescimento das
plantas, principalmente no que se refere ao desenvolvimento do sistema radicular, relações
solo-água-planta e propriedades importantes nas interpretações para fins de engenharia civil.

2.3.4. Levantamento de Detalhado

A execução de levantamentos detalhados visa a obter informações sobre os solos de áreas


relativamente pequenas, para decisões locais, onde está previsto o uso realmente intensivo do
solo. Os levantamentos detalhados têm como objetivos principais atender a projetos
conservacionistas, promover a caracterização e delineamento preciso dos solos de estações
experimentais, viabilizar recomendações práticas de uso e maneio de solos para fins de
exploração agrícola, pastoril e florestal intensiva, além de constituir base ideal para execução
de projetos de irrigação, drenagem e interpretações para projetos de engenharia civil.

As áreas objecto destes levantamentos são relativamente pequenas, quase sempre definidas ou
selecionadas através de levantamentos mais generalizados. Os trabalhos de campo são de
extrema importância, bem como a amostragem, que normalmente é bastante densa. São muito
demandados em experimentação Agrícola, Reservas e/ou Estações Ecológicas para definição de

32
manejo, implantação de projetos agropastoris e, principalmente, de irrigação. O material básico
mais adequado compreende mapas/cartas planialtimétricas, levantamentos topográficos
convencionais, restituições aero-fotogramétricas com curvas de nível a pequenos intervalos (5 -
10m) e fotografi as aéreas em escalas iguais ou maiores que 1:20 000.

Para apresentação dos mapas/cartas detalhados de solos são recomendadas escalas iguais ou
maiores que 1:20 000, estando estas em função dos objetivos do levantamento, extensão da
área e grau de pormenorização cartográfi ca e taxonómica a serem atingidos. A área mínima
mapeável é menor que 1,6ha. A densidade de observações deve ser mantida no mínimo, entre
0,20 e 4,0 observações por hectare. A frequência de amostragem deve ser suficiente para
detectar diferenças de solos em pequenas áreas, sendo necessário, no mínimo 1 (um) perfil
completo e 2 (dois) perfis complementares para caracterização das classes de solos
identificadas no nível taxonómico mais baixo.

As unidades taxonómicas identificadas na área devem ser representadas por perfis completos
modais e suas amplitudes de variação estabelecidas por perfis complementares e amostras
extras, precisamente coletadas para análises de laboratório. As unidades de mapeamento e
seus limites são identificados por no campo, em toposseqüências e com observações a
pequenos intervalos. São, normalmente, unidades simples, homogêneas em termos de
composição e definidas de acordo com limites pré-estabelecidos, admitindo-se até 15% de
inclusões de outros solos. São definidos e conceituados em termos de características
compatíveis com o nível categórico mais baixo de sistemas hierárquicos de classifi cação de
solos.

O controle de descrições e definições das unidades de mapeamento é indispensável, com o


propósito de identificação, estabelecimento de limites e diferenciação em relação a outras
unidades na área de trabalho. As unidades de mapeamento são definidas e descritas em termos
taxonómicos, observando-se todas as características diferenciais importantes para distinção de
classes, assim como características que influenciam na utilização prática dos solos.

33
As classes de solos definidas para levantamentos detalhados, podem ser subdivididas para
diversos fins de interpretação de uso, dentre os mais comuns: irrigação, drenagem, manejo
agrícola, conservação do solo e manejo ambiental. A descrição e coleta de perfis completos
representativos e amostras extras para determinações analíticas devem ser feitas após a
identificação das características importantes observadas na área de trabalho, bem como depois
de adquirida a noção preliminar das unidades taxonómicas.

2.3.5. Levantamento de Ultra-detalhado

Executado para atendimento de problemas específicos de áreas muito pequenas, no nível de


parcelas experimentais e áreas residenciais ou industriais. Os levantamentos ultra-detalhados
têm a mesma estrutura básica dos levantamentos detalhados, deles diferenciando-se quanto
ao método de prospecção (malhas rígidas) e maior pormenorização cartográfi ca. Em geral,
estes estudos são desenvolvidos em escalas grandes (1:5 000, 1:2 000, 1:1 000 e 1:500), em que
poderão ser detectadas particularidades para uma finalidade específica, como oscilação do
lençol freático ou teores de determinados elementos no horizonte A de uma parcela
experimental.
O material básico mais adequado compreende levantamentos topográficos convencionais e
plantas especialmente encomendadas, com curvas de nível a intervalos menores que 1m. A
área mínima mapeável é normalmente menor que 0,1ha. A densidade de observações deve ser
coerente com a pormenorização cartográfica, sendo recomendada uma faixa básica de 4,00
observações por hectare. Perfis completos devem ser coletados em número sufi ciente para
cada uma das unidades taxonômicas identificadas na área. Pequenas diferenças entre classes
de solos devem ser resolvidas com a coleta de perfis complementares e quantas amostras
extras forem necessárias.
A unidade básica de mapeamento corresponde à fase de série de solos, com tantas subdivisões
quanto necessárias, para distinguir pequenas variações entre classes de solos. Devido à
precisão esperada neste tipo de levantamento, adota-se o sistema de malhas para o
planejamento de observações e amostragem. O dimensionamento das malhas é função da
heterogeneidade da área e estimado previamente.

34
Tabela 1. Síntese de diferenciação de mapas e tipos de levantamentos de solos

Tipo de Objectivo Métodos de Material Unidades de Escala/Área


levantament s prospeção cartográfic mapeament mínima
o o o mapeável/amostr
agem
Informaçã Extrapolação, Mapas Associações 1:750 000 a 1:2500
o generalizaçõ planimétric amplas de 000
generaliza es, os, imagens ate cinco 22.5 a 250 km 2,
Explanatório da do correlações e de radar e componente um perfil
recurso observações satélites, s, complementar por
solo em de campo foto-índices corresponde componente
grandes em escalas ndo a principal de
áreas pequenas subdivisões associação
de ordens
Estimativa Verificações Mapas Associações 1:250 000 a 1:750
qualitativa de campo e planimétric ou unidades 000
Reconhecime do recurso extrapolação os, imagens simples de 2.5 a 22.5 km2, um
nto de baixa solo de radar, grandes perfil completo ou
intensidade satélites, grupos de complementar por
carta- solos componente de
imagem em associação.
escalas <
1::100 000
Estimativa Verificações Mapas Unidades 1:100 000 a 1:250

35
qualitativa de campo e planimétric simples e 000
Reconhecime e semi- correlações os, imagens associações 04 ha a 2.5 km 2,
nto de baixa quantitati solo/paisage de radar e de grandes um perfil completo
intensidade va do m satélites, grupos de ou complementar
recurso carta- solos por componente
solo imagem em de associação ou
escalas unidade simples.
≥1:250 000
e fotos
aéreas em
escalas ≥
1:120 000
Associaçã Mapas Unidades 1:50 000 a 1:100
o semi- planimétric simples e 000
Reconhecime quantitati Verificações os, carta- associações 10 ha a 0 ha, um
nto de alta va de de campo e imagem em de perfil completo e
intensidade áreas correlações escalas subgrupos um complementar
prioritária solo/paisage ≥1:100 000 de solos por componente
s m e fotos de unidades
aéreas em simples ou de
escalas associação.
≥1:60 000
Semi- Planeame Verificações Mapas Unidades ≥1:100 000 de
detalhado nto e de campo ao planimétric simples preferência ≥1:50
implantaç longo de os e associações 000
ão de toposseqüên restituições e complexos ≤40 ha um perfil
projectos cias e de escalas em nível de completo e um
agrícolas e correlações ≥1:50 000 família nos complementar por
de solo/superfíc levantamen sistemas componente de

36
engenhari ies tos hierárquicos unidade simples
a civil geomorfológi topográfico de ou associação
cas s e fotos classificação
aéreas em
escalas ≥60
000
Execução Verificações Mapas Unidades ≥1:20 000, < 1.6
de de campo ao planimétric simples ha, um perfil
projectos longo de os, associações completo e dois
de uso toposseqüên restituições e complexos complementares
intensivo cias , de serie de por serie de solos
Detalhado
do solo quadrículas e levantamen solos
correlações tos
solo/superfíc topográfico
ie s com
geomorfológi curvas de
ca nível e
fotos
aéreas em
escalas
≥1:20 000
Ultra- Estudos Malhas Plantas, Fases de ≥1:5 000, < 0.1 ha,
detalhado Especifico mapas series de perfil completos e
s topográfico solos complementares
localizado s com por unidade
s curvas a taxonómica
pequenos
intervalos
em escalas

37
≥1:5 000

38
3. Métodos ou Procedimentos nos Levantamento de Solos

Geralmente os levantamentos de solos compreendem 5 etapas essenciais: (1) Estudo de base,


que inclui a colecta e avaliação de fontes dos dados existentes na área em estudo (mapas,
relatórios, dados analíticos, cartas topográficas, interpretação de imagens satélites e de radar
entre outros dados), visita de reconhecimento, desenho e planificação do levantamento de
campo, (2) sondagem, alocação e descrição do perfil, colecta de amostras, (3) extrapolação e
verificação dos limites das unidades de solo, (4) análises laboratoriais (5) processamento de
dados, produção de mapas, interpretação e relatório final.

3.1.Estudo de base

Durante esta fase, todas informações relevantes da área em questão são compiladas. As
informações incluem estudos passados, mapas existentes e fotografias aéreas. Na existência de
serie de fotografias aéreas, estas tornam-se valiosas na reconstrução da história do uso de
terras. A interpretação de imagens aéreas usando o estereoscópio permite a interpretação da
geomorfologia da área e sua relação com os solos e com o padrão da vegetação. A escala na
qual os mapas foram publicados, é geralmente duas vezes menor que a escala com a qual foi
feita a interpretação das fotografias aéreas no terreno, por exemplo: quando se estuda uma
área usando fotografias aéreas na escala de 1:20 000, os mapas com os resultados serão
publicados na escala de 1:40 000.

Outras informações que devem ser compiladas nesta fase incluem a hidrologia, geologia e
litologia, geomorfologia, histórico do uso de terra e dados climáticos. A avaliação da
variabilidade dos solos pode ser feita em diferentes formas. Em zonas montanhosas
recomenda-se a caminhada em transectos, neste caso, os solos são mapeados do topo para o
vale ao longo dos transetos definidos na interpretação das fotografias aéreas pelo
estereoscópio. Estas caminhadas devem ser feitas por equipas multidisciplinares e na presença
dos habitantes locais, como os farmeiros e pastores de gado. Em regiões planas, as relações
entre os solos a paisagem não são muito claras, e as sondagens são feitas através de grelhas
sistemáticas.

39
A variabilidade dos solos é avaliada através de sondagens de ≥ 120 cm de profundidade. O
registo das sondagens é feito em fichas de colecta de dados (anexada na biblioteca do modulo)
e são registadas características do solo prontamente observáveis, tais como a cor do solo,
textura, profundidade do solo, pedregulhos e cascalhos, drenagem interna (permeabilidade) e
externa (escoamento superficial), material de origem entre outras. Em cada ponto de sondagem
deve-se prestar atenção a características tais como sinais de erosão, estado da vegetação
(composição de espécies, micro-topografia e actividades biológica

Figura 4. Exemplo de sondagens de 120 cm realizadas para avaliar a variabilidade dos solos em
Xai-Xai (esquerda) e Gorongosa (direita)

40
3.2.Alocação e descrição do perfil de solo

Depois de estabelecer os solos dominantes da região, através das caminhadas em transectos ou


por grelhas sistemáticas, escolhe-se o local representativo para alocar o perfil do solo (150 cm
de profundidade, 100 cm de largura e 250 cm de comprimento). Em cada local, são registadas
para além das informações de sondagens, a variabilidade vertical dos horizontes do solo é
avaliada de forma detalhada, descrevendo a espessura, e em cada horizonte regista-se a
textura, cor, manchas, estrutura, consistência, películas, porosidade, carbonatos entre outras
características. Em cada perfil do solo, a descrição das características morfológicas do solo é feita
com base no Manual de Descrição de solos em uso no IIAM (anexado na biblioteca do módulo) e o
manual de cores de Munsell.

Nesta fase, são colectadas amostras perturbadas e não perturbadas em cada horizonte.
Amostras não perturbadas (três por horizonte) são colectadas usando anéis metálicos, e são
usadas para a determinação de características físicas do solo, tais como a densidade do solo,
características de retenção de água (saturação, capacidade de campo e ponto de murcha
permanente). As amostras perturbadas são colectadas também em cada horizonte para a
determinação das características químicas do solo, tais como o pH, conductividade eléctrica,
teor de nitrogênio, fosforo, potássio, cálcio, magnésio e sódio, matéria orgânica e a textura do
solo. São também determinadas em campo, a conductividade hidráulica ou permeabilidade
assim como as características da infiltração.

3.3. Extrapolação e verificação dos limites das unidades de solo


É feita através da ligação das informações das sondagens as descrições dos perfis de solo.
Depois da descrição e classificação dos perfis de solo, todas informações das sondagens são
correlacionadas com as das sondagens e são plotadas no mapa base (geralmente um mapa
topográfico ou imagem satélites ou fotografias aéreas) juntamente com as características da
paisagem. Nesta fase surge um modelo conceptual, que liga a distribuição dos solos com as
características da paisagem. Modelos de terreno tridimensionais produzidos com recurso a
tecnologia GIS tem provado serem inestimáveis nesta fase estágio para guiar a extrapolação do
transecto para a cobertura total da terra. Dependendo da escala do levantamento e da
41
complexidade do terreno, será então necessário verificar os limites mapeados em o campo
através das sondagens e mini-perfis de solo ao longo de transectos adicionais.

3.4. Análises laboratoriais


As análises laboratoriais fornecem dados mais precisos das características da terra que são
necessárias para a classificação dos solos e cálculos nos modelos de avaliação de terra. Os
parâmetros por analisar dependendo objectivo do levantamento. Geralmente são analisadas
em cada horizonte a textura do solo, pH, condutividade eléctrica, carbono e matéria orgânica,
teores dos nutrientes, bases de troca entre outros, assim como as características físicas
descritas no tópico anterior. A interpretação e a classificação geral dos dados laboratoriais é
feita baseando no descrito no Manual para a Classificação, quantificação e interpretação de
análises laboratoriais de solo e água em uso no IIAM (anexado na biblioteca do modulo).

3.5. Processamento de dados e mapeamento de solos


Depois de se obter os dados das análises laboratoriais, a classificação do campo baseada nos
dados dos perfis do solo e das sondagens são verificados e finaliza-se a elaboração do mapa do
solo. A legenda do mapa é construída de forma a servir ao seu propósito ao máximo. A partir do
mapa de solo original são produzidos mapas temáticos que traduzem as informações
selecionadas dos mapas de solo em qualidades para um determinado tipo de uso da terra, por
exemplo, agricultura irrigada.
De salientar que em relação a classificação dos solos, existem vários sistemas internacionais tais
como o sistema da FAO, Soil taxonomy da USDA, Sistema Brasileiro entre outros, contudo, para
o caso de Moçambique, o INIA & FAEF desenvolveram um sistema denominado Legenda da
carta nacional de solos (anexada na biblioteca do módulo), que depois pode-se correlacionar
com os vários sistemas internacionais.

42
4. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 Coen, G.M. 1987. Soil Survey Handbook volume 1. Technical bulletin 1987-9E. Land
Resource Research Centre. Alberta, Canada.
 Geurts, P. 1987. Manual para Classificação, Quantificação e interpretação de análises
Laboratoriais de solo e Água: Serie Terra e Água. Instituto Nacional de Investigação
Agronômica. Maputo, Moçambique.
 IGEBE. 2007. Manual Técnico de Pedologia. 2ª Edição. Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística. Rio de Janeiro, Brasil.
 Van Gent, Petrie. 1989. Guidelines for soil Survey and land Evaluation in Jamaica (Semi-
detailed surveys), Volume I: Procedures. Technical Guide no 9a. Ministry of Agriculture
Rural Physical Planning Division. Kingston, Jamaica.

43
Em resumo, todos os três conceitos concordam que o solo é um corpo natural que é influenciado
pela interação de fatores ambientais e processos pedogenéticos ao longo do tempo. O conceito de
IGEBE (2007) se destaca pela ênfase na unidade taxonômica dos solos e na consideração de
propriedades morfológicas, físico-químicas, mineralógicas e biológicas. Os conceitos do Soil
Survey Staff (1951) e Wild et al. (1983) enfatizam a importância das propriedades do solo
resultantes dos processos ambientais e biológicos.

44

Você também pode gostar