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A B O RTO N E G R I TU DE S E X UA L I DA DE

A IMPOSIÇÃO DO SEU AMOR LIVRE PRA


MIM NÃO É NOVIDADE
G A B R I E L A BAC EL A R 2 1 C O MME NTS 12 DE F E V E R EI RO DE 2 015

Para as mulheres que estudam na Universidade, ou mesmo em colégios secundaristas, que


somos militantes, ou estamos de alguma forma em contato com esse meio, é muito frequente
nos depararmos ou termos no nosso círculo muitos jovens que fazem sua auto propaganda de
libertários, sobretudo homens, e que entendem que o relacionamento monogâmico constrange
o amor, aprisiona a mulher, que foi submetida historicamente a um relacionamento monogâmico
para controle da hereditariedade da riqueza da família, e todos os blábláblás que já sabemos.

Acontece que, manipulando este discurso não nos faltam exemplos de homens ‘libertários’ que,
através de sucessivas violências psicológicas, que incluem chantagens, subestimação da
condição de militante feminista da companheira ou da sua inteligência, a imposição da sua
vontade dentre outras coisa, forçam que mulheres neguem suas próprias vontades e seus
próprios processos para agradá-los. Qualquer semelhança com o machismo praticado por
homens de ‘direita’ ou de qualquer outro membro da ‘população comum’ não é mera
coincidência.

E o que falar dessa imposição dos relacionamentos livres para mulheres negras? Mulheres
negras não foram submetidas à monogamia para controle da hereditariedade da riqueza da
família porque: Mulheres pretas nunca estiveram em famílias ricas, seus companheiros pretos
nunca tiveram riquezas para serem hereditárias, e nunca estiveram também em
relacionamentos o ciais com homens brancos ricos, porque eles só as queriam como ainda
hoje, para suas fantasias sexuais. Mulheres negras ainda são as “mulatas fogosas” que qualquer
homem quer experimentar pelo menos uma vez em sua vida na cama porque, dizem, “rebolam
muito”, são as mulheres que só servem para transar, mas di cilmente são assumidas quando
homens pretos ganham espaços de prestígio social.

Mulheres negras ainda são as mulheres que os senhores orientam seus lhos a iniciarem sua
vida sexual, são as empregadas domésticas. Mulheres negras são as globelezas, mas nunca a
Miss Brasil. Mulheres negras são as que mais sofrem com o “aborto” do homem, e por isso
che am tantas famílias por aí sozinhas. Ninguém quer pôr aliança no dedo de uma mulher preta,
então me diga você, qual a novidade desse relacionamento aberto?

Talvez por essa nossa fantasia de não perder a fé na humanidade, acreditamos que muitos não
fazem isso por má vontade. Fazem por acreditar de fato que o relacionamento aberto estará
dando uma carta de alforria às mulheres negras, neste caso vale uma recomendação: Deixe ela
dizer o que ela precisa, o que ela quer. Homens dizendo para nós o que é bom e o que não é, é
novidade desde quando? Começou a ser revolucionário em que momento que não vi?

Se a mulher negra tem ciúme, não é por um mero sentimento de posse. Homens que
regurgitam ser tão libertários deveriam aprimorar melhor o discurso – vulgo: estudar mais – antes
de en ar garganta a baixo essas teorizações européias, talvez assim convencessem melhor. Se
a mulher negra tem ciúme é porque ela não se sente su ciente, se sente feia, se sente menos
que seu próprio companheiro, e portanto são inseguras, tímidas, temerosas, e sentem-se
sozinhas. As mulheres negras ainda sofrem de solidão, de baixa auto estima, de uma história de
vida cheia de sucessivos momentos em que foram rejeitadas, ou mesmo que foram trocadas
por mulheres “brancas-queimadas-de-sol-corpinho-de-yoga-camisa-sem-sutiã” por esses
mesmos homens libertários.

O ciúme que a mulher preta sente, é um ciúme que deve ser superado para que faça bem a ela
própria, superado em seu processo de auto conhecimento, de empoderamento, de amor
próprio. Não será superado pela imposição da vontade de um homem.

    

AMOR MILITÂNCIA NÃO MONOGAMIA RELACIONAMENTO

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WR I TTE N BY

GABRIELA BACELAR

Gabriela é feminista negra, Mestranda em Antropologia pela UFBA e professora


de Sociologia na educação básica do estado da Bahia.

21 COMMENTS

PO S T A N TER I O R PRÓX I MO PO S T

É BANZO MINHA FILHA, BANZO… “QUEM” PRECISAMOS FALAR SOBRE ABORTO?

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