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Ata - 17 - 1C - 02 - 06 - 202 REDE
Ata - 17 - 1C - 02 - 06 - 202 REDE
PRIMEIRA CÂMARA
Sessão Virtual
HOMOLOGAÇÃO DE ATA
A Primeira Câmara homologou a ata nº 16, referente à sessão realizada em 26 de maio de 2020.
Os anexos das atas, de acordo com a Resolução nº 184/2005, estão publicados na página do
Tribunal de Contas da União na Internet.
Foram excluídos de pauta, nos termos do artigo 142 do Regimento Interno, os seguintes processos:
SUSTENTAÇÃO ORAL
Por meio de apreciação unitária de processos, a Primeira Câmara proferiu os Acórdãos de nºs 6308
a 6340, incluídos no Anexo I desta Ata, juntamente com os relatórios e os votos em que se
fundamentaram.
ACÓRDÃOS APROVADOS
1.1. Interessados: Adriane Cristina Baumann Toschi (389.119.652-00); Alayr dos Santos Paes
(935.202.477-04); Alexandre Gomes Dantas (021.615.867-26); Amauri Luís Friedrich (848.394.819-20);
Cleber da Silva Troglio (500.319.700-44); Edinaldo Melo de Oliveira (218.093.482-34); Flávia Alves de
Oliveira Mundim (394.901.491-87); Flávio de Oliveira Carvalho (000.546.557-57); Gelson Pedro Satler
(633.128.910-00); Isaldo Santos da Rosa Junior (698.812.000-91)
1.2. Órgão/Entidade: Departamento de Polícia Rodoviária Federal
1.3. Relator: Ministro Walton Alencar Rodrigues
1.4. Representante do Ministério Público: Procuradora-Geral Cristina Machado da Costa e Silva
1.5. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP)
1.6. Representação legal: não há.
1.7. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
o art. 143, inciso II do Regimento Interno, em considerar legal para fins de registro o ato de concessão a
seguir relacionado, de acordo com os pareceres emitidos nos autos:
1.1. Interessados: Alberto Cesar Soares Sao Martinho (116.200.097-06); Carla Barboza Vieira
(056.298.547-63); Elvis dos Santos Kopinits (125.145.637-55); Grace Santana Pontes da Motta
(115.395.327-71)
1.2. Órgão/Entidade: Ministério da Defesa-comando da Marinha (vinculador)
1.3. Relator: Ministro Walton Alencar Rodrigues
1.4. Representante do Ministério Público: Procurador Rodrigo Medeiros de Lima
1.5. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
1.6. Representação legal: não há.
1.7. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
(011.572.565-20); Maria do Perpetuo Socorro Alves de Souza (120.109.521-20); Mauro Barbosa da Silva
(370.290.291-00); Nélio Lacerda Wanderlei (360.852.196-87); Renato Neves da Rocha Filho
(116.075.725-91); Roberto Zaidan (058.226.374-34); Tarcisio José Massote de Godoy (316.688.601-04)
1.2. Entidade: Companhia das Docas do Estado da Bahia
1.3. Relator: Ministro Walton Alencar Rodrigues
1.4. Representante do Ministério Público: Procurador Marinus Eduardo De Vries Marsico
1.5. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Portuária e Ferroviária
(SeinfraPor).
1.6. Representação legal: não há.
1.7. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
1.8. Ressalvas:
1.8.1. inclusão de taxa de administração de 22% para ressarcimento de materiais de reposição, as
quais não estavam previstas nos Contratos 22/2006, 43/2005 e 11/2008, firmados com a empresa Serv
Electrin;
1.8.2. contratação por inexigibilidade de licitação do escritório Celso Castro Consultoria e
Advocacia S/C para prestação de serviços de advocacia, relativos ao acompanhamento do processo TC
008.538/2006-0 do TCU e mandado de segurança contra a decisão deste Tribunal no mesmo processo, no
valor de R$ 150.000,00 (R$ 50 mil pró-labore, R$ 25 mil honorários em caso de êxito e R$ 75 mil na
hipótese de concessão de liminar), com vigência de 21/3/2007 até o término do processo, em desacordo
com as recomendações da Auditoria Interna, da CGU e os apontamentos feitos pelo Conselho Fiscal;
1.8.3. deficiências nos controles e pagamentos por horas extras, em limite acima do permitido pelo
art. 59 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e por adicional de risco; e
1.8.4. existência de empresas ocupando áreas concedidas com base em contratos com prazo de
vigência expirado ou sem a formalização de contrato, infringindo o parágrafo único do art. 60 da Lei
8.666/1993.
c/c o art. 143, inciso II, do Regimento Interno do TCU, em considerar legal para fins de registro o ato de
admissão de pessoal a seguir relacionado, de acordo com os pareceres emitidos nos autos.
Raul Costa de Menezes (018.271.115-34); Sérgio Pedreira de Oliveira Souza (026.969.595-87); Wilson
Galvão Andrade (001.975.485-04)
1.2. Entidade: Departamento Regional do Senai no Estado da Bahia
1.3. Relator: Ministro Benjamin Zymler
1.4. Representante do Ministério Público: Procurador Marinus Eduardo De Vries Marsico
1.5. Unidade técnica: Secretaria de Controle Externo do Trabalho e Entidades Paraestatais
(SecexTrab)
1.6. Representação legal: não há
1.7. Determinações/Recomendações/Orientações:
1.7.1. dar ciência do presente acórdão, acompanhado da instrução técnica inserta à peça 12, aos
responsáveis e ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Departamento Regional da Bahia
(Senai/BA); e
1.7.2. arquivar o presente processo, com fundamento no art. 169, inciso III, do RITCU.
Considerando que este Tribunal tem decidido que, em casos similares, deve-se encaminhar a
matéria ao órgão repassador para a adoção das medidas cabíveis, entendendo que a atuação direta do TCU
representa duplicidade de esforços, visto que a responsabilidade primária pelo exame da regularidade da
aplicação dos recursos compete ao órgão/entidade concedente;
Considerando que não sobressaem os requisitos de risco, materialidade e relevância que justifiquem
o prosseguimento do processo neste Tribunal;
Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos arts. 43, I, da Lei 8.443/1992 e 143, III, 235 e 237,
VII e parágrafo único, do Regimento Interno do TCU, de acordo com os pareceres emitidos nos autos,
em:
a) conhecer desta representação, por estarem presentes os requisitos de admissibilidade aplicáveis à
espécie, para, no mérito, considerá-la prejudicada;
b) dar ciência deste acórdão ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE),
alertando que ainda não foi emitida manifestação conclusiva acerca da prestação de contas do Programa
Educação Infantil – Novos Estabelecimentos (2013) e do Programa Educação Infantil – Apoio
Suplementar (2014), referentes ao município de São José do Egito (PE), o que constitui empecilho ao
cumprimento do disposto no art. 8º da Lei 8.443/1992, no tocante ao ressarcimento de eventuais danos ao
Erário;
c) dar ciência deste acórdão ao representante, informando-lhe que compete ao concedente de
recursos federais esgotar as medidas administrativas de sua alçada com o intuito de caracterizar ou afastar
eventuais danos e, caso seja necessário, instaurar processo de tomada de contas especial a ser apreciado
posteriormente pelo TCU; e
d) arquivar os presentes autos.
1.2. Representante: Evandro Perazzo Valadares (CPF 040.979.804-59), atual prefeito de São José
do Egito (PE).
1.3. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
1.4. Representante do Ministério Público: não atuou.
1.5. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo da Educação (SecexEduc).
1.6. Representação legal: Pedro Melchior de Melo Barros (OAB/PE 21.802) e outros, representando
a Prefeitura Municipal de São José do Egito (PE).
1.7. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
Os Ministros do Tribunal de Contas da União ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos
arts. 1º, inciso V, e 39, incisos I e II, ambos da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, c/c os arts. 1º, inciso
VIII; 143, inciso II; 259, incisos I e II, e 260 do Regimento Interno/TCU, em considerar legal(ais) para
fins de registro o(s) ato(s) a seguir relacionado(s), de acordo com os pareceres emitidos nos autos:
Os Ministros do Tribunal de Contas da União ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos
arts. 1º, inciso V, e 39, incisos I e II, ambos da Lei 8.443, de 16 de julho de 1992, c/c os arts. 1º, inciso
VIII; 143, inciso II; 259, incisos I e II, e 260 do Regimento Interno/TCU, em ordenar à Secretaria de
Fiscalização de Pessoal que, nos termos da Questão de Ordem aprovada pelo Plenário do TCU, em
Sessão de 8/6/2011, encaminhe ao Departamento de Assuntos Extrajudiciais da AGU as informações
necessárias ao acompanhamento da Ação Ordinária 0803404-43.2013.4.05.8100, em trâmite na Justiça
Federal do Ceará, de interesse de Zuleika Soares Braga (061.482.633-00), bem como informe à
Conjur/TCU, de acordo com os pareceres emitidos nos autos.
Os Ministros do Tribunal de Contas da União ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos
arts. 1º, inciso V, e 39, incisos I e II, ambos da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, c/c os arts. 1º, inciso
VIII; 143, inciso II; 259, incisos I e II, e 260 do Regimento Interno/TCU, em considerar legal(ais) para
fins de registro o(s) ato(s) a seguir relacionado(s), de acordo com os pareceres emitidos nos autos:
Os Ministros do Tribunal de Contas da União ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos
arts. 1º, inciso V, e 39, incisos I e II, ambos da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, c/c os arts. 1º, inciso
VIII; 143, inciso II; 259, incisos I e II, e 260 do Regimento Interno/TCU, em considerar legal(ais) para
fins de registro o(s) ato(s) a seguir relacionado(s), de acordo com os pareceres emitidos nos autos:
Os Ministros do Tribunal de Contas da União ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos
arts. 1º, inciso V, e 39, incisos I e II, ambos da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, c/c os arts. 1º, inciso
VIII; 143, inciso II; 259, incisos I e II, e 260 do Regimento Interno/TCU, em considerar legal(ais) para
fins de registro o(s) ato(s) a seguir relacionado(s), de acordo com os pareceres emitidos nos autos:
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Os Ministros do Tribunal de Contas da União ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos
arts. 1º, inciso V, e 39, incisos I e II, ambos da Lei 8.443, de 16 de julho de 1992, c/c os arts. 1º, inciso
VIII; 143, inciso II; 259, incisos I e II, e 260 do Regimento Interno/TCU, em considerar legal(ais) para
fins de registro o(s) ato(s) a seguir relacionado(s), de acordo com os pareceres emitidos nos autos.
Os Ministros do Tribunal de Contas da União ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos
arts. 1º, inciso V, e 39, incisos I e II, ambos da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, c/c os arts. 1º, inciso
VIII; 143, inciso II; 259, incisos I e II, e 260 do Regimento Interno/TCU, em considerar legal(ais) para
fins de registro o(s) ato(s) a seguir relacionado(s), de acordo com os pareceres emitidos nos autos:
Os Ministros do Tribunal de Contas da União ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos
arts. 1º, inciso V, e 39, incisos I e II, ambos da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, c/c os arts. 1º, inciso
VIII; 143, inciso II; 259, incisos I e II, e 260 do Regimento Interno/TCU, em considerar legal(ais) para
fins de registro o(s) ato(s) a seguir relacionado(s), de acordo com os pareceres emitidos nos autos:
Os Ministros do Tribunal de Contas da União ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos
arts. 1º, inciso V, e 39, incisos I e II, ambos da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, c/c os arts. 1º, inciso
VIII; 143, inciso II; 259, incisos I e II, e 260 do Regimento Interno/TCU, em arquivar os presentes autos,
tendo em vista que eles atingiram os objetivos para os quais foram constituídos, de acordo com os
pareceres emitidos nos autos.
Os Ministros do Tribunal de Contas da União ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos
arts. 1º, inciso V, e 39, incisos I e II, ambos da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, c/c os arts. 1º, inciso
VIII; 143, inciso II; 259, incisos I e II, e 260 do Regimento Interno/TCU, em considerar legal(ais) para
fins de registro o(s) ato(s) a seguir relacionado(s), de acordo com os pareceres emitidos nos autos:
Os Ministros do Tribunal de Contas da União ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos
arts. 1º, inciso V, e 39, incisos I e II, ambos da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, c/c os arts. 1º, inciso
VIII; 143, inciso II; 259, incisos I e II, e 260 do Regimento Interno/TCU, em considerar legal(ais) para
fins de registro o(s) ato(s) a seguir relacionado(s), de acordo com os pareceres emitidos nos autos:
Os Ministros do Tribunal de Contas da União ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos
arts. 1º, inciso V, e 39, incisos I e II, ambos da Lei 8.443, de 16 de julho de 1992, c/c os arts. 1º, inciso
VIII; 143, inciso II; 259, incisos I e II, e 260 do Regimento Interno/TCU, em considerar legal(ais) para
fins de registro o(s) ato(s) a seguir relacionado(s), de acordo com os pareceres emitidos nos autos.
Os Ministros do Tribunal de Contas da União ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos
arts. 1º, inciso V, e 39, incisos I e II, ambos da Lei 8.443, de 16 de julho de 1992, c/c os arts. 1º, inciso
VIII; 143, inciso II; 259, incisos I e II, e 260 do Regimento Interno/TCU, em considerar prejudicado o
exame do(s) ato(s) a seguir relacionado(s), de acordo com os pareceres emitidos nos autos.
Os Ministros do Tribunal de Contas da União ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos
arts. 143, inciso III; 235 c/c os arts. 183, parágrafo único, e 237, todos do Regimento Interno/TCU, em
deferir o pedido de prorrogação de prazo solicitado (peça 118), por mais 180 dias, a contar do término do
prazo por último fixado (Acórdão 1.873/2020-TCU-1ª Câmara) e independentemente de notificação, para
cumprimento da determinação constante do item 9.3 do Acórdão 12873/2018-TCU-1ª Câmara, de acordo
com os pareceres emitidos nos autos.
1.6. dar ciência à Caixa Econômica Federal e ao Controle Interno, nos termos do disposto no art. 9º,
da Resolução TCU 315/2020, para a adoção das providências de suas alçadas, de que houve a
compensação de um cheque fraudado (número 900810), da conta corrente 1046.001.00012921-8, no valor
de R$ 992,05, da Agência 1046, da Caixa Econômica Federal, no Estado do Espirito Santo;
1.7. encaminhar cópia da peça 1 e da instrução (peça 4), à Caixa Econômica Federal, alertando-a da
obrigação de guardar o mesmo nível de sigilo imposto nos autos do Processo TRF2 (Seção Judiciária de
Vitória/ES) 5013009-51.2018.4.02.5001.
Considerando que os fatos narrados, conforme informado pelo representante, estão sendo apurados
nos autos da Medida Cautelar 5013009-51.2018.4.02.5001 e do Inquérito Policial 5013004-
29.2018.4.02.5001, em trâmite na 1ª Vara Federal de Vitória/ES;
Considerando que a atuação direta do TCU representa duplicidade de esforços;
Considerando que também não sobressaem os requisitos de risco, de materialidade e de relevância a
justificar o prosseguimento da presente representação, conforme análise empreendida pela unidade
instrutora, nos termos da Resolução TCU 259/2014 c/c a Portaria Segecex 12/2016;
Os Ministros do Tribunal de Contas da União ACORDAM, por unanimidade, com fundamento no
art. 43, inciso I, da Lei 8.443/1992, arts. 143, inciso III; 235 c/c o art. 237, I e parágrafo único, todos do
Regimento Interno/TCU, em conhecer da presente representação, por preencher os requisitos de
admissibilidade, sem resolução do mérito; adotar as medidas a seguir e em informar o conteúdo deste
acórdão ao representante, de acordo com os pareceres emitidos nos autos.
Trata-se de pedido de reexame interposto por Bertino Pereira Lima, contra o Acórdão 4.622/2012-
TCU-1ª Câmara, por meio do qual esta Corte de Contas considerou ilegal o ato de aposentadoria do
recorrente, determinando a suspensão do pagamento (peça 5).
Considerando que, regularmente notificado, em 30/8/2012 (peça 9, p. 3), da deliberação recorrida
(Acórdão 4.622/2012-TCU-1ª Câmara), o recorrente somente compareceu aos autos em 24/9/2019,
oportunidade em que protocolizou seu pedido de reexame (peça 34);
Considerando que o prazo para a interposição desse recurso é de 15 (quinze) dias, nos termos dos
artigos 285 e 286, parágrafo único, do Regimento Interno do TCU;
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Considerando que, segundo o disposto nos arts. 285, § 2º, e 286, parágrafo único, do RI/TCU, não
se conhecerá de pedido de reexame quando intempestivo, salvo em razão de superveniência de fatos
novos e dentro do período de cento e oitenta dias contado do término do prazo indicado no caput, caso em
que não terá efeito suspensivo;
Considerando que no caso em exame já transcorreu o prazo de 180 dias;
Os Ministros do Tribunal de Contas da União, quanto ao processo a seguir relacionado,
ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos arts. 32, parágrafo único, e 48, da Lei 8.443/1992,
c/c os arts. 143, inciso IV, alínea "b" e § 3º, 277, inciso II, e 285, § 2º, e 286, parágrafo único, do
Regimento Interno do TCU, de acordo com o parecer emitido nos autos, em:
a) não conhecer do pedido de reexame interposto por Bertino Pereira Lima, por restar intempestivo
em mais de 180 dias; e
b) encaminhar cópia desta decisão, acompanhada da instrução da unidade técnica, ao recorrente e
aos órgãos/entidades interessados.
Interno do TCU, em considerar legais, para fins de registro, os atos de concessão de aposentadoria aos
interessados a seguir relacionados, de acordo com os pareceres emitidos nos autos.
c/c os arts. 1º, inciso VIII, 17, inciso II, 143, inciso II, 259, inciso I, e 260, § 1º, do Regimento
Interno/TCU, em considerar legais, para fins de registro, os atos de admissão dos interessados a seguir
relacionados, de acordo com os pareceres emitidos nos autos.
1.1. Interessados: Adelir da Costa Soares (114.373.527-74); Lucia Capistrano Nobre (077.099.777-
58); Luiz Jose Camara Scala (001.877.801-10); Maria de Lourdes Pereira Nunes (666.229.567-15);
Marilene Ferreira Brasil Fernandes (256.284.101-87); Marli Sousa do Amaral (015.720.557-66); Nise D
Adonis de Oliveira Braz Esteves (397.486.777-53); Regina Pereira Baur (093.006.436-49).
1.2. Órgão: Ministério da Defesa-comando da Marinha (vinculador).
1.3. Relator: Ministro Vital do Rêgo.
1.4. Representante do Ministério Público: Procurador Sergio Ricardo Costa Caribé.
1.5. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip).
1.6. Representação legal: não há.
1.7. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
13/2018 – 1ª Câmara (peça 86), mantendo-se inalterados os demais termos do Acórdão ora retificado, de
acordo com os pareceres emitidos nos autos:
Onde se lê:
“9.2. (...) “9.3. (...) aos cofres do Tesouro Nacional (...).”
Leia-se:
“9.2. (...) “9.3. (...) aos cofres do Fundo Nacional da Cultura (...).”
Os Ministros do Tribunal de Contas da União ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos
arts. 1º, inciso I, 143, inciso V, alínea “a”, 201, § 3º, e 212 do Regimento Interno/TCU, de acordo com os
pareceres emitidos nos autos, em:
arquivar a presente tomada de contas especial, sem julgamento de mérito, por ausência de
pressupostos para o desenvolvimento válido e regular do processo; e
encaminhar cópia desta deliberação, acompanhada da instrução da unidade técnica, à Secretaria
Especial de Cultura.
(059.858.895-72); Jair Lima Lopes (110.515.665-68); Maria de Fatima Brisola Romani (007.980.628-78);
Noe Ferreira Lopes (073.800.113-91); Welma Nascimento Rosa (456.496.007-59)
1.2. Órgão/Entidade: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (vinculador)
1.3. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti
1.4. Representante do Ministério Público: Procurador Rodrigo Medeiros de Lima
1.5. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
1.6. Representação legal: não há.
1.7. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
o(s) ato(s) de concessão a seguir relacionado(s), autorizando-se o(s) registro(s), de acordo com os
pareceres convergentes emitidos nos autos.
1.1. Interessados: Jose Eloi Romanovski (574.082.039-15); Luci Maria Dias Collin (552.598.129-
72); Orliney Maciel Guimaraes (049.891.178-08); Pedrina de Oliveira Fernandes (317.481.639-49)
1.2. Órgão/Entidade: Universidade Federal do Paraná
1.3. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti
1.4. Representante do Ministério Público: Procurador Sergio Ricardo Costa Caribé
1.5. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
1.6. Representação legal: não há.
1.7. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
o(s) ato(s) de concessão a seguir relacionado(s), autorizando-se o(s) registro(s), de acordo com os
pareceres convergentes emitidos nos autos.
1.1. Interessados: Adalberto da Silva Cruz Filho (072.111.127-00); Joao Batista Xavier Sobrinho
(114.832.379-15); Koso Kuriyama (109.753.909-10); Pietro Belsito (027.719.187-49); Wilson Coelho
(009.691.921-34)
1.2. Órgão/Entidade: Ministério da Defesa-comando do Exército (vinculador)
1.3. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti
1.4. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira
1.5. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
1.6. Representação legal: não há.
1.7. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
VISTOS e relacionados estes autos de Tomada de Contas Especial instaurada pelo Tribunal
Regional Eleitoral do Maranhão em razão da não aprovação da prestação de contas dos recursos oriundos
do Fundo Partidário transferidos para o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB/MA), no
exercício de 2011.
Considerando que foram promovidas as citações dos responsáveis, efetivadas por meio dos ofícios
constantes das peças 17 a 20;
Considerando o pedido de parcelamento do débito apresentado pelo Sr. Carlos Orleans Brandão
Júnior à peça 29, antes do julgamento das presentes contas;
Considerando a que o Acórdão 15.623/2018 - 1ª Câmara (peça 38) autorizou o responsável a efetuar
o pagamento parcelado de débitos que perfaziam a monta de R$135.837,70, em valores originais, aos
cofres do Fundo Partidário, em 36 parcelas mensais e consecutivas;
Considerando que o responsável fora notificado da autorização em 17/1/2019 (peça 43) e que o
vencimento da primeira parcela seria quinze dias contados a partir daquela data;
Considerando que, posteriormente, em atendimento a pedido do responsável (peças 47, 48 e 49), o
Acórdão 1.830/2019 - TCU - 1ª Câmara (peça 54) prorrogou, em caráter excepcional, o prazo para
pagamento da 1ª parcela do débito em questão, incidindo-se o prazo de quinze dias, mencionado no
Acórdão 15.623/2018 - 1ª Câmara, a partir de 1º/2/2019;
Considerando que, após haver recolhido onze parcelas (peças 51, 56, 58, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67,
e 68), o Sr. Carlos Orleans Brandao Junior se manifestou nos autos com vistas a requerer reparcelamento
do saldo remanescente em 72 parcelas ou, não sendo este entendimento, em menor número de parcelas
não inferior a 36, argumentando que “a manutenção do seu sustento e de sua família encontra-se
66
extremamente comprometido nos atuais moldes, uma vez que o valor do parcelamento supera 50% das
vantagens líquidas recebidas pelo Requerente.” (peça 69);
Considerando o recolhimento já realizado de onze parcelas, tempestivamente, o manifesto do
responsável em efetuar o recolhimento e a menção ao comprometimento de sua renda familiar,
evidenciada à peça 69, p. 6;
Considerando, por um lado, a análise instrutória (peças 72-73) e o Parecer do Parquet especializado
(peça 74) e, de outro, os preceitos estabelecidos no caput do art. 217 do RI/TCU;
Considerando, quanto ao pedido de não incidência de juros, multa e correção monetária, que deve
ser observado o mesmo procedimento adotado quando da autorização do primeiro parcelamento, por meio
do Acórdão 15.623/2018-1ª Câmara (peça 38), em que se afastou a incidência de juros, mantendo-se a
atualização monetária de cada parcela;
Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão de 1ª Câmara, quanto ao
processo a seguir relacionado, com fundamento nos arts. 15, inciso I, alínea “p”, 143, inciso V, alínea “b”,
234 e 235, todos do Regimento Interno, ACORDAM, por unanimidade em:
a) deferir o pedido de reparcelamento da dívida apresentado pelo Sr. Carlos Orleans Brandao Junior
(CPF 104.116.403-30) em 36 (trinta e seis) prestações mensais, com incidência sobre cada parcela da
correspondente atualização monetária, alertando o responsável acerca da necessidade de encaminhamento
dos comprovantes de pagamentos das parcelas a este Tribunal e que a falta de recolhimento de qualquer
parcela importará no vencimento antecipado do saldo devedor, com a consequente constituição de
processo de cobrança executiva correspondente.
VISTOS e relacionados estes autos de Tomada de Contas Especial instaurada pelo Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos em desfavor de Devair Machado, presidente, no período de
1º/5/2008 a 1º/5/2012, da Associação Cultural Aspiral do Reggae, em razão da impugnação total das
despesas das contas do Convênio 750189/2010 (peça 9), firmado com a Secretaria de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR/MJC), que tinha por objeto o apoio à realização da "XXXI
Marcha Zumbi dos Palmares".
Considerando que o Convênio 750189/2010 foi firmado sob a cifra de R$ 82.500,00, sendo
R$ 80.000,00 à conta do concedente – integralmente liberados (peça 11) – e R$ 2.500,00 referentes à
contrapartida do convenente, possuindo vigência de 18/11/2010 a 20/12/2010 (peça 9, p. 3 e 9);
Considerando que, após reanálise das contas pelo ente repassador federal, impugnaram-se despesas
referentes a duas notas fiscais apresentadas (números 201011 e 74), no valor total de R$ 80.000,00,
relativamente à confecção de camisetas e locação de trios elétricos, em função da caracterização de
pagamento antecipado (peça 44, p. 7);
Considerando os indicativos de realização do evento em 20/11/2010 (peças 28, 43 e 49);
Considerando que os termos dos contratos de fornecimento de camisetas (R$ 28.000,00) e de
locação de trios elétricos (R$ 50.000,00) constam a data de assinatura de 18/11/2010 (peças 59 e 60);
67
Considerando que, a despeito de o pagamento aos fornecedores, em 10/12/2010 (peça 44, p. 7), ter
antecedido a emissão das respectivas notas fiscais, datadas de 20 e 21/12/2010 (peça 44, p. 7), este se deu
em momento posterior ao evento (20/11/2011) e ao repasse dos recursos federais (30/11/2010 - peça 11);
Considerando que a antecipação de pagamento, por si só, não é causa de prejuízo ao erário;
Considerando, ainda, o entendimento constante do Acórdão 2.234/2018-1ª Câmara, no sentido de
que, havendo atraso no repasse por culpa da concedente, é justificável, excepcionalmente, em observância
à prevalência do interesse público, a utilização dos recursos transferidos para reposição do pagamento das
despesas previamente incorridas pelo convenente para cumprir obrigações contratuais decorrentes da
execução do objeto;
Considerando, afinal, a proposta instrutória (peças 62-64) acolhida pelo Parquet especializado (peça
65),
Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão de 1ª Câmara, quanto ao
processo a seguir relacionado, com fundamento nos arts. 15, inciso I, alínea “p”, 143, inciso V, alínea “a”,
234 e 235, todos do Regimento Interno, ACORDAM, por unanimidade, em:
a) arquivar as presentes contas sem julgamento do mérito, por ausência de pressupostos para
desenvolvimento válido e regular do processo, quanto à responsabilidade do Sr. Devair Machado
(CPF 486.753.506-00) e da Associação Cultural Aspiral do Reggae (CNPJ 07.950.743/0001-71), com
fulcro nos arts. 169, inciso VI, e 212 do Regimento Interno do TCU c/c os arts. 7º, inciso II, da Instrução
Normativa TCU 71/2012, modificada pela IN/TCU 76/2016;
b) dar ciência desta deliberação à Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
(SEPPIR/MJC) e aos responsáveis, para ciência.
VISTOS e relacionados estes autos de representação formulada pelo MP/TCU com base em notícias
veiculadas na imprensa, abordando suposta imprestabilidade do estudo produzido no âmbito do Termo de
Execução Descentralizada (TED) 8/2014, celebrado entre o Ministério da Justiça e Segurança Pública
(MJSP), por intermédio da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), e a Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz), que objetivou a realização do III Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela
População Brasileira por meio da transferência de valores da ordem de R$ 7 milhões.
Considerando que a representação preenche os requisitos de admissibilidade aplicáveis à espécie,
podendo ser conhecida;
Considerando que, à vista dos elementos colacionados na representação, os trabalhos se voltaram
para efetuar o controle de segunda ordem por meio do acompanhamento das medidas adotadas pela Senad
com vistas a avaliar a consecução dos objetivos pactuados e a prestação de contas do termo de execução,
conforme determinado no despacho constante da peça 08;
Considerando que a SecexDefesa realizou diligências à Senad;
Considerando que a SecexDefesa verificou que, a respeito da matéria, foi instaurado o Termo de
Conciliação 3/2019/CCAF/CGU/AGU-PBB na Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração
Federal, com homologação pelo Advogado-Geral da União, em 8/8/2019;
68
9.2. determinar à Secex/BA que monitore o cumprimento da medida constante deste Acórdão, e
acompanhe a próxima licitação lançada pelo Município de Dom Macedo Costa/BA para contratação do
objeto em tela, a fim de verificar sua legalidade, e, em especial, a ocorrência de efetiva competição;”
Considerando que, em sede de verificação do cumprimento destas determinações, foi constatado
que a documentação apresentada pelo Município de Dom Macedo Costa/BA é suficiente para comprovar
o atendimento à determinação contida no subitem 9.1 da decisão, haja vista que o certame licitatório
viciado foi anulado pela municipalidade;
Considerando que, com relação à avaliação da licitação que substituiu a Tomada de Preços
002/2016, foi possível constatar a baixa competitividade, haja vista que apenas duas empresas
concorreram à licitação, tendo, o contrato dele decorrente já sido rescindido, caracterizando, assim, a
perda de objeto da determinação;
Considerando a análise e a proposta de encaminhamento formulada pela SeinfraUrbana na instrução
à peça 93;
Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da Primeira Câmara,
ACORDAM, por unanimidade, em:
a) considerar cumprida a determinação contida no subitem 9.1 do Acórdão 7588/2016-TCU-1ª
Câmara;
b) considerar prejudicado, por perda de objeto, o exame do cumprimento da deliberação contida no
subitem 9.2 do Acórdão 7588/2016-TCU-1ª Câmara;
c) encaminhar cópia deste Acórdão, acompanhado de cópia da instrução à peça 93 destes autos, ao
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e à Prefeitura Municipal de Dom Macedo Costa/BA;
c) arquivar estes autos, com fundamento no art. 169, inciso III, do Regimento Interno do TCU.
1.1. Interessados: Katia Fernandes Assis Sigiliao (033.825.967-84); Katia Regina Moreira Marinho
(778.728.197-91); Katia Silene Santos da Silva (023.059.437-92); Katia Valeria de Oliveira Andrade
(723.824.067-04); Laura Moraes de Freitas Rangel (854.566.247-53); Leandro Ururahy de Carvalho
(074.893.787-02); Leda do Nascimento Francisco (018.588.357-55); Leonice Florisbela de Souza Silva
(900.823.977-91); Luciana Maria Souza Gaspar (026.711.877-50); Luiz Henrique Canellas Bastos
(070.762.287-50); Marcelo Favoreto Pires (021.828.247-82); Marcelo Souza da Fontoura (888.618.309-
78); Marcelo Vieira Valente (013.038.457-76); Maria Oliveira de Souza Laranjeira (370.339.567-20);
Patricia Lucia Virgilio Fontoura (176.591.768-97); Patricia Silveira de Moura (080.551.867-31); Patricia
dos Santos Teperino (973.424.167-20); Paulo Luiz da Costa Cruz (010.257.227-52); Regina da Silva
Pinto Oliveira (009.300.767-10); Rosana Maria Angeli (820.664.427-04).
1.2. Órgão/Entidade: Ministério da Saúde (vinculador).
1.3. Relator: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.
1.4. Representante do Ministério Público: Procurador Sérgio Ricardo Costa Caribé.
1.5. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip).
1.6. Representação legal: não há.
1.7. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
Considerando o teor dos arts. 6º, I, e 19 da IN TCU 71/2012, com alterações posteriores, que
autoriza o arquivamento dos processos de tomada de contas especial cujo valor do débito, atualizado
monetariamente, seja inferior a R$ 100.000,00 (cem mil reais) e pendentes de citação válida no âmbito do
TCU;
74
Considerando que os débitos que não forem objeto de instauração de tomada de contas especial em
razão do disposto nos incisos I e II do art. 6º da IN TCU 71/2012 deverão ser registrados no sistema e-
TCE (§ 4º, art. 11, DN TCU 155/2016, c/c art. 24 Portaria TCU 122/2018;
Considerando que, em atendimento à determinação contida no item 9.4 do acórdão 1772/2017-
TCU-Plenário, foi efetuada pesquisa ao sistema processual do TCU (e-TCU), não foram encontrados
outros processos de tomada de contas especial em tramitação com débitos imputáveis ao responsável em
questão e que sejam inferiores ao valor fixado no art. 6º, § 1º, da IN TCU 71/2012;
Considerando que a proposta da unidade técnica, ratificada pelo parecer do Ministério Público junto
ao TCU, é no sentido do arquivamento do presente processo, em atendimento aos princípios da
racionalidade administrativa e da economia processual,
Os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, com fundamento
nos arts. 169, VI, 199, § 2º e 213 do RI/TCU, no art. 93 da Lei 8.443/1992, c/c o art. 6º, I, 15, I, e 19,
ambos da IN TCU 71/2012, e na forma do art. 143, I,‘c’, ou V, 'a', do RI/TCU, ACORDAM, por
unanimidade, em arquivar o presente processo, sem julgamento do mérito, sem baixa da responsabilidade
e sem cancelamento do débito a seguir especificado, a cujo pagamento continuará obrigado o devedor, o
Sr. Antônio Conceição Almeida (CPF 330.229.685-15), no valor histórico de R$ 64.995,16 (com datas
dos fatos geradores unificados para 31/12/2012), para que lhe possa ser dada quitação, encaminhando-se
cópia desta deliberação juntamente com a instrução à peça 6 ao FNDE, ao responsável, à Sra. Vanda
Maria Lemos Barcelos (representante no TC 028.508/2012-2), além de expedir as ciências conforme a
seguir.
1. Processo nº TC 001.139/2014-2
2. Grupo I – Classe de Assunto: I – Recurso de Reconsideração (em Tomada de Contas Especial)
3. Recorrente: Salviano Antônio Guimarães Borges (004.869.811-34)
4. Órgão: Ministério da Pesca e Aquicultura (extinto)
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro Vital do Rêgo
6. Representante do Ministério Público: Procurador Sergio Ricardo Costa Caribé e Subprocurador-
Geral Paulo Soares Bugarin (manifestação oral).
7. Unidade técnica: Secretaria de Recursos (SERUR)
8. Representação legal: Antônio Daniel Cunha Rodrigues de Souza (OAB/DF 13.101) e Francisco
Antônio de Camargo Rodrigues de Souza (OAB/DF 15.776)
9. Acórdão:
Vistos, relatados e discutidos estes autos de recurso de reconsideração interposto pelo sr. Salviano
Antônio Guimarães Borges contra o Acórdão 11.459/2019-1ª Câmara,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
ante as razões expostas pelo relator, em:
9.1. não conhecer do recurso interposto por restar intempestivo e não apresentar fatos novos, nos
termos do art. 33 da Lei 8.443/92 c/c o art. 285, caput e § 2º, do RITCU;
9.2. manter inalterados os termos do acórdão recorrido; e
9.3. dar ciência desta deliberação ao recorrente e aos demais órgãos/entidades interessados.
1. Processo nº TC 036.341/2018-5.
2. Grupo II – Classe II – Assunto: Tomada de Contas Especial.
3. Responsáveis/ Interessado:
3.1. Responsáveis: Conserge Construção e Serviços Gerais Ltda. (84.513.290/0001-67); Neilson da
Cruz Cavalcante (137.921.482-34).
76
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério
da Defesa (MD), em razão da não aprovação da prestação de contas por impugnação parcial das despesas
realizadas à conta do convênio 574/DEPCN/2013, Siconv 791087, que tinha por objeto a pavimentação
com drenagem e a construção de calçadas, meios-fios e sarjetas no município de Figueiredo/AM.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, ante
as razões expostas pelo relator, em:
9.1. rejeitar as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. Neilson da Cruz Cavalcante e pela empresa
Conserge Construção e Serviços Gerais Ltda.;
9.2. julgar irregulares as contas do Sr. Neilson da Cruz Cavalcante, com fundamento no art. 16, III,
“c”, da Lei 8.443/1992, condenando-o, solidariamente com a empresa Conserge Construção e Serviços
Gerais Ltda., ao pagamento das quantias abaixo especificadas, atualizadas monetariamente e acrescidas
dos juros de mora, calculadas a partir das datas indicadas até a data do efetivo recolhimento, fixando-lhes
o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprovem, perante o Tribunal (art. 214,
III, “a”, do RI/TCU), o recolhimento das referidas quantias aos cofres do Tesouro Nacional, na forma da
legislação em vigor:
9.3. aplicar ao Sr. Neilson da Cruz Cavalcante e à empresa Conserge Construção e Serviços Gerais
Ltda., individualmente, a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992, no valor de R$ 57.000,00
(cinquenta e sete mil reais), fixando o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que
comprove, perante o Tribunal (art. 214, III, “a”, do RI/TCU), o recolhimento da dívida aos cofres do
Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do presente acórdão até a do efetivo
recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
9.4. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial da
dívida, caso não atendidas as notificações;
9.5. encaminhar cópia desta deliberação à Procuradoria da República no Estado do Amazonas, em
cumprimento ao disposto no § 3º do art. 16 da Lei 8.443/1992.
1. Processo nº TC 006.354/2019-0.
2. Grupo I – Classe de Assunto: II – Tomada de Contas Especial
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Ministério do Turismo (vinculador) (05.457.283/0001-19)
3.2. Responsável: Adair Henriques da Silva (003.975.801-00).
4. Órgão/Entidade: Prefeitura Municipal de Bom Jesus de Goiás - GO.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: Subprocurador-Geral Lucas Rocha Furtado.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (SecexTCE).
8. Representação legal:
8.1. Mozarto Dias Machado (12.985/OAB-GO) e outros, representando Adair Henriques da Silva.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério
do Turismo, em razão da não comprovação da regular aplicação dos recursos repassados pela União, por
meio do Convênio 771/2009, celebrado com o Município de Bom Jesus de Goiás – GO, para realização
da “XIX Exposição Agropecuária”,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
diante das razões expostas pelo relator, em:
9.1. nos termos dos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas “b” e “c”, § 2º, da Lei 8.443/1992 c/c os
arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com arts. 1º, inciso I, 209, incisos II e III, 210 e 214, inciso III,
do Regimento Interno/TCU, julgar irregulares as contas do Sr. Adair Henriques da Silva (CPF
003.975.801-00), condenando-o ao pagamento das importâncias a seguir especificadas, atualizadas
monetariamente e acrescidas dos juros de mora, calculados a partir das datas discriminadas até a data da
efetiva quitação do débito, fixando-lhe o prazo de quinze dias, para que comprove, perante o Tribunal, o
recolhimento das referidas quantias aos cofres do Tesouro Nacional, nos termos do art. 23, inciso III,
alínea “a”, da citada lei;
Data de ocorrência Valor histórico (R$) D/C
6/10/2009 206.909,32 D
6/10/2009 7.159,49 D
15/4/2010 5.298,00 C
9.2. aplicar ao Sr. Adair Henriques da Silva (CPF 003.975.801-00), com fulcro no art. 57 da Lei
8.443/1992 c/c o art. 267 do Regimento Interno/TCU, multa no valor de R$ 56.000,00 (cinquenta e seis
mil reais), fixando-lhe o prazo de quinze dias, a contar da notificação, para que comprove, perante o
Tribunal (art. 214, III, “a”, do Regimento Interno do TCU), o recolhimento da dívida aos cofres do
Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a presente data até a data do efetivo recolhimento, se
paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
9.3. autorizar, desde logo, a cobrança judicial da dívida, caso não atendidas as notificações, na
forma do disposto no art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992;
78
9.4. autorizar, também, desde logo, se requerido, com fundamento no art. 28, inciso I, da Lei
8.443/1992 c/c o art. 217, §§ 1º e 2º do Regimento Interno/TCU, o parcelamento da dívida em até 36
parcelas, incidindo sobre cada parcela, corrigida monetariamente, os correspondentes acréscimos legais,
fixando-lhe o prazo de quinze dias, a contar do recebimento da notificação, para comprovar perante o
Tribunal o recolhimento da primeira parcela, e de trinta dias, a contar da parcela anterior, para comprovar
os recolhimentos das demais parcelas, devendo incidir sobre cada valor mensal, atualizado
monetariamente, os juros de mora devidos, no caso do débito, na forma prevista na legislação em vigor,
alertando o responsável de que a falta de comprovação do recolhimento de qualquer parcela importará o
vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos do § 2º do art. 217 do Regimento Interno deste
Tribunal;
9.5. dar ciência desta deliberação à Procuradoria da República no Estado de Goiás, nos termos do §
3º do art. 16 da Lei 8.443/1992 c/c o § 7º do art. 209 do Regimento Interno do TCU, para adoção das
medidas cabíveis;
9.6. dar ciência desta deliberação ao Ministério do Turismo e ao responsável.
1. Processo nº TC 006.523/2013-7.
2. Grupo I – Classe de Assunto: III - Monitoramento
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Responsável: Afonso de Souza (160.602.290-34).
4. Órgão/Entidade: Fundação Universidade de Brasília.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Marinus Eduardo De Vries Marsico.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos em que se aprecia o monitoramento das determinações
contidas no Acórdão 6.620/2009-1ª Câmara, reiteradas pelo Acórdão 3.781/2014-1ª Câmara,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
com fundamento no art. 43, inciso I, da Lei 8.443/1992, c/c os arts. 243 e 250, inciso II, do Regimento
Interno, em efetuar as determinações adiante especificadas, ante as razões expostas pelo Relator:
9.1. determinar à Fundação Universidade de Brasília que:
9.1.1. promova o ressarcimento dos valores recebidos indevidamente pela sra. Maria Augusta
Almeida Bursztyn (CPF 115.892.721-53), conforme determinação constante do subitem 9.4.1 do Acórdão
3.781/2014-1ª Câmara;
9.1.2. efetue o desconto da pena de multa aplicada ao Sr. Afonso de Souza (160.602.290-34), nos
termos do item 9.2 do Acórdão 3.781/2014-1ª Câmara, nos seus proventos de aposentadoria, tendo em
vista o disposto no art. 28, inciso I, da Lei 8.443/1992 c/c art. 219, inciso I, do RITCU, tomando como
parâmetro para os descontos o percentual mínimo estabelecido no art. 46 da Lei 8.112/1990, com a
modificação feita pela MP 2.225-45, de 4/9/2001;
79
1. Processo nº TC 008.936/2014-5.
2. Grupo II – Classe de Assunto: V – Aposentadoria
3. Interessados: Francisco Mascarenha (186.491.651-68); Joana Abadia dos Santos (339.580.331-
72); Maria dos Remédios Nascimento Frazão (182.527.611-00).
4. Entidade: Fundação Nacional de Saúde.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Rodrigo Medeiros de Lima.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de aposentadorias concedidas pela Fundação Nacional
de Saúde,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
diante das razões expostas pelo Relator, com fundamento nos arts. 71, inciso III, da Constituição Federal,
1º, inciso V, 39, inciso II, e 45 da Lei 8.443/1992, em:
9.1. considerar legais os atos de aposentadoria de interesse das sras. Joana Abadia dos Santos e
Maria dos Remédios Nascimento Frazão, ordenando seu registro;
9.2. considerar ilegal o ato de aposentadoria de interesse do sr. Francisco Mascarenha, recusando
seu registro;
9.3. dispensar o ressarcimento das quantias indevidamente recebidas, em boa-fé, pelo inativo,
consoante o Enunciado 106 da Súmula de Jurisprudência deste Tribunal;
9.4. determinar à Fundação Nacional de Saúde que:
9.4.1. faça cessar, no prazo de 15 (quinze) dias, contado a partir da ciência desta deliberação, os
pagamentos decorrentes do ato impugnado, sob pena de responsabilidade solidária da autoridade
administrativa omissa, consoante disposto nos arts. 71, inciso IX, da Constituição Federal e 262 do
Regimento Interno desta Corte;
9.4.2. dê ciência do inteiro teor desta deliberação ao sr. Francisco Mascarenha, alertando-o de que o
efeito suspensivo proveniente da interposição de eventuais recursos, caso não providos, não o exime da
devolução dos valores indevidamente percebidos após a notificação;
9.4.3. envie a esta Corte de Contas, no prazo de 30 (trinta) dias, por cópia, comprovante de que o
interessado teve ciência desta deliberação.
80
1. Processo nº TC 009.618/2020-1.
2. Grupo I – Classe de Assunto: V - Aposentadoria
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessados: Márcia Maria Mendonça (240.839.336-15); Marcio Cunha Fatureto
(000.861.218-80); Márcio Cunha Fatureto (000.861.218-80); Marcos Antônio Lopes (323.204.506-53).
4. Órgão/Entidade: Universidade Federal do Triângulo Mineiro.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de aposentadorias concedidas pela Universidade Federal
do Triângulo Mineiro,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
diante das razões expostas pelo Relator, com fundamento no art. 71, inciso III, da Constituição Federal e
nos arts. 1º, inciso V, 39, inciso II, e 45 da Lei 8.443/1992, em:
9.1. considerar ilegais as aposentadorias concedidas aos senhores Márcio Cunha Fatureto (nos
cargos de Médico e de Professor Adjunto), Marcos Antônio Lopes e Márcia Maria Mendonça, com recusa
de registro aos respectivos atos;
9.2. dispensar o ressarcimento das quantias indevidamente recebidas, em boa-fé, pelos interessada,
consoante o Enunciado 106 da Súmula de Jurisprudência deste Tribunal;
9.3. determinar à Universidade Federal do Triângulo Mineiro que:
9.3.1. dê ciência do inteiro teor desta deliberação aos interessados no prazo de quinze dias e faça
juntar aos autos os comprovantes de notificação nos quinze dias subsequentes;
9.3.2. faça cessar, no prazo de quinze dias, contado a partir da ciência desta deliberação, os
pagamentos decorrentes dos atos impugnados, sob pena de responsabilidade solidária da autoridade
administrativa omissa, consoante disposto nos arts. 71, inciso IX, da Constituição Federal e 262 do
Regimento Interno desta Corte.
1. Processo TC 021.628/2017-3.
2. Grupo I – Classe de Assunto: I - Recurso de Reconsideração em Tomada de Contas Especial.
3. Interessados/Responsáveis/Recorrentes:
3.1. Interessado: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE (CNPJ
00.378.257/0001-81).
3.2. Responsável: Sérgio Hideki Hiura (CPF 304.134.352-53).
3.3. Recorrente: Sérgio Hideki Hiura (CPF 304.134.352-53).
4. Órgão/Entidade: Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Tauá (PA).
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira.
7. Unidades Técnicas: Secretaria de Recursos (SERUR) e Secretaria de Controle Externo de
Tomada de Contas Especial (SecexTCE).
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos em que se aprecia recurso de reconsideração interposto
pelo Sr. Sérgio Hideki Hiura, ex-prefeito do município de Santo Antônio do Tauá (PA), no período de
2013 a 2016, contra o Acórdão 3.885/2018 – 1ª Câmara,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da Primeira
Câmara, diante das razões expostas pelo Relator, em:
9.1. com fulcro nos arts. 32, I, e 33 da Lei 8.443/1992, conhecer do presente recurso de
reconsideração, para, no mérito, dar-lhe provimento parcial;
9.2. em conformidade com o disposto nos arts. 1º, I, e 16, III, “a”, da Lei Orgânica do TCU, julgar
irregulares as contas do Sr. Sérgio Hideki Hiura;
9.3. afastar o débito imputado e a multa aplicada ao Sr. Sérgio Hideki Hiura por meio do acórdão
recorrido;
9.4. aplicar ao Sr. Sérgio Hideki Hiura a multa do art. 58, I, da Lei 8.443/92, no valor de R$
20.000,00 (vinte mil reais), fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da
notificação, para comprovar, perante o Tribunal, na forma do art. 214, III, alínea “a”, do Regimento
Interno do TCU, o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente
desde a data do presente acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma
da legislação em vigor;
9.5. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial da dívida
caso não seja atendida a notificação;
9.6. dar ciência deste acórdão ao recorrente e ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE);
9.7. dar ciência à Procuradoria da República no Estado do Pará, em consonância com o disposto nos
arts. 16, § 3º, da Lei 8.443/1992 e 209, § 7º, do Regimento Interno do TCU, para a adoção das
providências que considerar cabíveis.
1. Processo nº TC 026.707/2009-8.
2. Grupo I – Classe de Assunto: V - Aposentadoria
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessados: Célio Moreira Cardoso (041.953.884-49); Dácio do Couto Rebelo (097.214.954-
68); Everane Monte Xavier de Souza (271.054.827-53); Heliana Maria de Lima e Silva (126.860.854-87);
Ineh de Alarcão Andrade (023.270.821-53); José Lima de Moraes Filho (026.291.514-68); Maria Teresa
de Oliveira (088.146.784-72); Maria Violeta Dantas (111.271.714-53); Maria do Carmo Correia da Silva
Moraes (111.172.654-04); Paulo Galindo Martins (076.818.874-15); Paulo Rogério Albuquerque Matos
(111.200.454-87); Paulo de Paiva Torres (020.804.944-49); Waldir Pedrosa de Amorim (004.707.164-87)
4. Órgão/Entidade: Universidade Federal de Alagoas.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
8. Representação legal :
8.1. João Victor Mota Brandao Silva (15.844/OAB-AL), representando Paulo Galindo Martins.
8.2. Marcelo de Santana Daneu (5.539/OAB-AL) e outros, representando Jose Lima de Moraes
Filho e Waldir Pedrosa de Amorim;
8.3. Alberto Moreira Rodrigues (12652/OAB-DF) e outros, representando Ineh de Alarcão
Andrade.
8.4. Cecília Monte Xavier de Souza (8777/OAB-AL) e outros, representando Everane Monte
Xavier de Souza.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de aposentadorias concedidas pela Universidade Federal
de Alagoas,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
diante das razões expostas pelo Relator, com fundamento no art. 71, inciso III, da Constituição Federal e
nos arts. 1º, inciso V, 39, inciso II, e 45 da Lei 8.443/1992, e no art. 260 do Regimento Interno deste
Tribunal, em:
9.1. considerar prejudicada, por perda de objeto, a apreciação dos atos iniciais de concessão de
aposentadoria de Maria Violeta Dantas e Paulo de Paiva Torres, em virtude de seus falecimentos;
9.2. considerar legal e ordenar o registro do ato inicial de concessão de aposentadoria de Paulo
Rogério Albuquerque Matos;
9.3. considerar ilegais e recusar o registro aos atos iniciais de concessão de aposentadoria de Célio
Moreira Cardoso, Dácio do Couto Rebelo, Everane Monte Xavier de Souza, Heliana Maria de Lima e
Silva, Ineh de Alarcão Andrade, José Lima de Moraes Filho, Maria do Carmo Correia da Silva Moraes,
Maria Teresa de Oliveira, Paulo Galindo Martins, e Waldir Pedrosa de Amorim;
9.4. dispensar a devolução dos valores indevidamente recebidos pelos interessados mencionados no
subitem anterior, nos termos do Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência do TCU;
9.5. determinar à Universidade Federal de Alagoas, com base no art. 45 da Lei 8.443/1992, que:
9.5.1. dê ciência do inteiro teor desta deliberação aos interessados mencionados no subitem 9.3 no
prazo de quinze dias e faça juntar os comprovantes de notificação a estes autos nos quinze dias
subsequentes;
9.5.2. faça cessar os pagamentos decorrentes dos atos impugnados (subitem 9.3) no prazo de quinze
dias e comunique a este Tribunal as providências adotadas, nos termos dos arts. 262, caput, do Regimento
Interno do TCU e 8º, caput, da Resolução-TCU 206/2007;
83
9.5.3. torne disponível para este Tribunal, no prazo de quinze dias, os formulários Sisac relativos
aos servidores Dácio do Couto Rebelo (10789600-04-2016-000087-3) e Maria do Carmo Correia da Silva
Moraes (10789600-04-2010-000108-3).
1. Processo nº TC 031.051/2019-7.
2. Grupo II – Classe de Assunto: V – Pensão Militar
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessados: Berenice da Silva Araujo Arrais Rosal (014.048.797-22); Claudia Christiane
Martins Quintella (013.436.897-59); Lurdes Soster Lorenzoni (802.103.680-04); Marlene Araujo Ferreira
da Silva (601.241.137-53); Rosangela Nobre Araujo (234.460.133-34); Terezinha de Jesus Guerreiro
Nascimento (634.336.992-91).
4. Órgão/Entidade: Ministério da Defesa - COMANDO DA AERONÁUTICA (VINCULADOR).
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que tratam de atos de pensão emitidos no âmbito do
Comando da Aeronáutica,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão de Primeira Câmara,
diante das razões expostas pelo Relator, com fundamento nos arts. 71, inciso III, da Constituição Federal
e 1º, inciso V, 39, inciso II, e 45 da Lei 8.443, de 16 de julho de 1992, em:
9.1. considerar legais os atos de pensão de interesse das sras. Berenice da Silva Araujo Arrais Rosal
(014.048.797-22), Claudia Christiane Martins Quintella (013.436.897-59), Marlene Araujo Ferreira da
Silva (601.241.137-53) e Rosangela Nobre Araujo (234.460.133-34), determinando-se os respectivos
registros;
9.2. considerar ilegal o ato de pensão emitido em favor da sra. Terezinha de Jesus Guerreiro
Nascimento (634.336.992-91), negando-lhe o correspondente registro;
9.3. dispensar o ressarcimento das quantias indevidamente recebidas de boa-fé, consoante o
enunciado 106 da Súmula de Jurisprudência deste Tribunal;
9.4. determinar ao Comando da Aeronáutica que:
9.4.1. faça cessar, no prazo de 15 (quinze) dias, contado a partir da ciência desta deliberação, os
pagamentos decorrentes do ato impugnado, sob pena de responsabilidade solidária da autoridade
administrativa omissa, consoante disposto nos arts. 71, inciso IX, da Constituição Federal e 262 do
Regimento Interno desta Corte;
9.4.2. dê ciência do inteiro teor desta deliberação à interessada, alertando-a de que o efeito
suspensivo proveniente da interposição de eventuais recursos, caso não providos, não a exime da
devolução dos valores indevidamente percebidos após a notificação;
84
9.4.3. envie a esta Corte de Contas, no prazo de 30 (trinta) dias, por cópia, comprovante de que a
interessada teve ciência desta deliberação;
9.5. determinar à Sefip que:
9.5.1. esclareça à unidade de origem, com fundamento no art. 262, § 2º, do Regimento Interno, que
a concessão considerada ilegal poderá prosperar mediante a emissão e o encaminhamento a este Tribunal
de novo ato concessório, desde que escoimado da irregularidade apontada nestes autos;
9.5.2. proceda ao destaque do ato de pensão emitido em favor da sra. Lurdes Soster Lorenzoni
(802.103.680-04), a fim de que sejam realizadas diligências quanto à legitimidade do ato de reforma do
instituidor Sr. Alexandre Lorenzoni (014.806.770-00);
9.5.3. monitore o cumprimento das medidas indicadas no subitem 9.4 acima.
1. Processo nº TC 031.656/2017-0.
2. Grupo I – Classe de Assunto: V – Pensão Civil
3. Interessada: Maria Delza Moreira da Silva (270.411.746-20).
4. Órgão: Superintendência Regional do Trabalho no Estado de Minas Gerais.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Marinus Eduardo De Vries Marsico.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de pensão civil deferida pela Superintendência Regional
do Trabalho no Estado de Minas Gerais,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
diante das razões expostas pelo Relator, com fundamento no art. 71, inciso III, da Constituição Federal e
nos arts. 1º, inciso V, 39, inciso II, e 45 da Lei 8.443/1992, em:
9.1. considerar ilegal o ato de concessão de interesse da sra. Maria Delza Moreira da Silva,
recusando seu registro;
9.2. dispensar o ressarcimento das quantias indevidamente recebidas, em boa-fé, pela interessada,
consoante o Enunciado 106 da Súmula de Jurisprudência deste Tribunal;
9.3. determinar à Superintendência Regional do Trabalho no Estado de Minas Gerais que:
9.3.1. faça cessar, no prazo de 15 (quinze) dias, contado a partir da ciência desta deliberação, os
pagamentos decorrentes do ato impugnado, sob pena de responsabilidade solidária da autoridade
administrativa omissa, consoante disposto nos arts. 71, inciso IX, da Constituição Federal e 262 do
Regimento Interno desta Corte;
9.3.2. dê ciência do inteiro teor desta deliberação à sra. Maria Delza Moreira da Silva, alertando-a
de que o efeito suspensivo proveniente da interposição de eventuais recursos, caso não providos, não a
exime da devolução dos valores indevidamente percebidos após a notificação;
9.3.3. envie a esta Corte de Contas, no prazo de 30 (trinta) dias, por cópia, comprovante de que a
interessada teve ciência desta deliberação;
85
9.4. esclarecer à unidade de origem, com supedâneo no art. 262, § 2º, do Regimento Interno do
TCU, que a concessão considerada ilegal poderá prosperar mediante a emissão e o encaminhamento a
este Tribunal de novo ato concessório, escoimado da irregularidade apontada nestes autos.
1. Processo nº TC 033.026/2016-5.
2. Grupo I – Classe de Assunto: II – Tomada de Contas Especial
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Ministério da Integração Nacional
3.2. Responsáveis: Agência de Desenvolvimento dos Municípios da Mesorregião Vale do
Ribeira/Guaraquecaba (04.632.000/0001-65); José Carlos Pinheiro Becker (493.265.389-15).
4. Entidade: Agência de Desenvolvimento dos Municípios da Mesorregião Vale do
Ribeira/Guaraquecaba.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: Subprocurador-Geral Lucas Rocha Furtado.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (SecexTCE).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada em razão da
omissão no dever de prestar contas dos recursos recebidos pela Agência de Desenvolvimento dos
Municípios da Mesorregião Vale do Ribeira/Guaraquecaba para execução do Projeto “Produzir”,
custeado por meio da Carta de Acordo s/n, de 3/7/2006,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. considerar revel para todos os efeitos a Agência de Desenvolvimento dos Municípios da
Mesorregião Vale do Ribeira/Guaraquecaba e o sr. José Carlos Pinheiro Becker, dando-se
prosseguimento ao processo, com fulcro no art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992;
9.2. julgar irregulares as contas da Agência de Desenvolvimento dos Municípios da Mesorregião
Vale do Ribeira/Guaraquecaba e do Sr. José Carlos Pinheiro Becker, nos termos dos arts. 1º, inciso I, 16,
inciso III, alínea “c”, da Lei 8.443/1992, c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma lei, condenando-os
solidariamente ao pagamento das importâncias a seguir especificadas, atualizadas monetariamente e
acrescidas dos juros de mora, calculadas a partir das datas discriminadas até a data da efetiva quitação do
débito, fixando-lhe o prazo de quinze dias, para que comprovem, perante o Tribunal, o recolhimento das
referidas quantias aos cofres do Tesouro Nacional, nos termos do art. 23, inciso III, alínea “a”, da citada
lei, c/c o art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno do TCU;
1. Processo nº TC 033.811/2019-9.
2. Grupo I – Classe de Assunto: II – Tomada de contas especial
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Responsáveis: Editora Atos Comercio de Livros Ltda. (18.036.008/0001-73); Rebecca Brogglio
Pivetta (364.786.638-50).
4. Órgão/Entidade: Secretaria Especial de Cultura.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (SecexTCE).
8. Representação legal:
8.1. Alírio Carvalho de Araújo Júnior (OAB/SP 305.232); Fernando de Albuquerque Rocco
(OAB/SP 325.850); Mônica Raquel Gomes Lima (OAB/SP 423.386) e Regis Coppini Meireles de Lima
(191.774/OAB-SP), representando Rebecca Brogglio Pivetta
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada devido à
omissão no dever de prestar contas de recursos captados com fulcro na Lei 8.313/1991 (Lei Federal de
Incentivo à Cultura),
87
1. Processo TC 036.372/2018-8
2. Grupo I – Classe de Assunto: II – Tomada de Contas Especial
3. Interessados/Responsáveis:
88
9. Acórdão:
Vistos, relatados e discutidos estes autos de processo de tomada de contas especial instaurada pela
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em face da reprovação parcial da prestação de contas dos
recursos repassados por força do Convênio 01.10.0526.00,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
ante as razões expostas pelo relator, em:
9.1. com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas “b” e “c”, da Lei 8.443/1992 c/c os
arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com os arts. 1º, inciso I, 209, incisos II e III, 210 e 214, inciso
III, do RITCU, julgar irregulares as contas de Eugênio Paccelli Trigueiro Pereira (203.996.854-72),
Roberto Maia Cavalcanti (007.812.684-35) e da Fundação José Américo (08.667.750/0001-23),
condenando-os ao pagamento da quantia abaixo discriminada, com a fixação do prazo de 15 (quinze)
dias, a contar das notificação, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do
RITCU), o recolhimento da dívida aos cofres da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), atualizada
monetariamente e acrescida dos juros de mora, calculados a partir da data indicada até a do efetivo
recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor:
11/5/2011 5.100,00
8/6/2011 99.120,85
3/8/2011 399.662,76
28/11/2011 80.000,00
27/12/2011 29.998,00
2/7/2012 108.500,00
2/7/2012 12.300,00
Total 1.094.662,15
9.2. aplicar aos srs. Eugênio Paccelli Trigueiro Pereira (203.996.854-72) e Roberto Maia Cavalcanti
(007.812.684-35) e à Fundação José Américo (08.667.750/0001-23) multa no valor de R$ 165.000,00
(cento e sessenta e cinco mil reais), nos termos do art. 57 da Lei 8.443/1992 c/c art. 267 do RITCU,
fixando-lhes o prazo de quinze dias, a contar das notificações, para comprovar, perante o Tribunal (art.
214, inciso III, alínea “a”, do RITCU), o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional,
atualizada monetariamente desde a data do presente acórdão até a data do efetivo recolhimento, se for
paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
9.3. autorizar, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial das dívidas,
caso não sejam atendidas as notificações;
9.4. autorizar, caso solicitado, o pagamento das dívidas em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais e
consecutivas, nos termos do art. 26 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 217 do RITCU, fixando o prazo de 15
(quinze) dias, a contar do recebimento da notificação, para comprovação perante o Tribunal do
recolhimento da primeira parcela, e de 30 (trinta) dias, a contar da parcela anterior, para comprovação do
recolhimento das demais parcelas, devendo incidir sobre cada valor mensal, atualizado monetariamente,
os juros de mora devidos, na forma prevista na legislação em vigor;
9.5. alertar aos responsáveis que a inadimplência de qualquer parcela acarretará o vencimento
antecipado do saldo devedor;
9.6. dar ciência da presente deliberação ao Procurador-Chefe da Procuradoria da República no
Estado da Paraíba, nos termos do § 3º do art. 16 da Lei 8.443/1992 c/c o § 7º do art. 209 do RITCU; e
9.7. dar ciência do presente acórdão aos responsáveis, à Finep e ao Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações.
1. Processo nº TC 012.576/2018-2.
2. Grupo II – Classe de Assunto I – Pedido de Reexame (Aposentadoria).
3. Recorrente: Mauro Henrique Gonzaga Teixeira (552.637.399-15).
4. Órgão/Entidade: Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Estado
do Paraná.
5. Relator: Ministro Bruno Dantas.
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira.
90
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que cuidam de pedido de reexame interposto por
interposto Mauro Henrique Gonzaga Teixeira contra o Acórdão 1.139/2019-TCU-Primeira Câmara, que
considerou ilegal seu ato de aposentadoria,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
com fundamento no artigo 48 da Lei 8.443/1992, c/c os artigos 285 e 286 do Regimento Interno do TCU,
diante das razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer e dar provimento parcial ao pedido de reexame;
9.2. reformar o Acórdão 1.139/2019-TCU-Primeira Câmara para conferir a seguinte redação o item
9.4.1:
“9.4.1. acompanhe o deslinde da Ação Ordinária 8008-29.2013.4.01.3400 – 17ª Vara da Seção
Judiciária do Distrito Federal e, em caso de decisão desfavorável ao interessado, faça cessar os
pagamentos decorrentes do ato ora considerado ilegal, sob pena de responsabilidade solidária da
autoridade administrativa omissa”
9.3. encaminhar cópia da presente deliberação ao juízo responsável pelo Agravo de Instrumento
0011859-91.2013.4.01.0000/DF no âmbito do Tribunal Regional Federal da Primeira Região;
9.4. dar ciência deste acórdão à Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
no Estado do Paraná e ao recorrente, em nome dos representantes legais devidamente constituídos nos
autos.
1. Processo nº TC 022.410/2019-8.
2. Grupo II – Classe de Assunto V – Pensão Militar.
3. Interessadas: Ana Claudia da Silva Carneiro (033.598.337-59); Ana Nubia dos Santos Duarte
(102.800.627-61); Deborah Lucia Ramos Finzi (027.569.526-30); Hisako Takasugi (014.023.558-23);
Izaurina Clementina da Rocha (065.768.606-92).
4. Órgão/Entidade: Ministério da Defesa – Comando da Aeronáutica.
5. Relator: Ministro Bruno Dantas.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Rodrigo Medeiros de Lima.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip).
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos em que se apreciam atos de pensão militar emitidos pelo
Comando da Aeronáutica,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
diante das razões expostas pelo Relator, e com fundamento no art. 71, incisos III e IX, da Constituição
91
Federal de 1988, c/c os arts. 1º, inciso V, 39, inciso II, e 45 da Lei 8.443/1992, e ainda com os arts. 260, §
1º, 261, caput e § 1º, e 262, caput e § 2º, do Regimento Interno do TCU, em:
9.1. considerar legais as pensões militares instituídas por Joao Carlos da Silva Madeira
(036.036.197-81), Icuo Takasugi (006.210.306-78), Laurel Rezende Novas (008.949.787-21) e Paulo
Alves Rocha (010.247.281-53), concedendo o registro aos atos correspondentes;
9.2. considerar ilegal a pensão militar instituída por Jose Vinicius Ramos (007.393.326-00),
negando o registro ao ato correspondente;
9.3. dispensar o ressarcimento das quantias indevidamente recebidas de boa-fé (enunciado 106 da
súmula da jurisprudência predominante do TCU);
9.4. determinar ao Ministério da Defesa – Comando da Aeronáutica que:
9.4.1. no prazo de 15 (quinze) dias, faça cessar os pagamentos decorrentes do ato ora considerado
ilegal, sob pena de responsabilidade solidária da autoridade administrativa omissa, até a emissão de novo
ato, livre da irregularidade apontada, a ser submetido à apreciação do TCU no prazo de 30 (trinta) dias;
9.4.2. no prazo de 15 (quinze) dias, dê ciência do inteiro teor desta deliberação à interessada cujo
ato ora é considerado ilegal, esclarecendo-lhe que o efeito suspensivo proveniente da interposição de
recurso não a exime da devolução dos valores percebidos indevidamente após a notificação sobre o
presente acórdão, em caso de não provimento do recurso porventura impetrado;
9.4.3. no prazo de 30 (trinta) dias, informe ao TCU as medidas adotadas, sem prejuízo de
encaminhar comprovante sobre a data em que a interessada tomou conhecimento do contido no item
anterior;
9.5. dar ciência deste acórdão ao Ministério da Defesa – Comando da Aeronáutica.
1. Processo nº TC 031.938/2019-1.
2. Grupo II – Classe de Assunto V – Pensão Militar.
3. Interessadas: Ana Lucia Figueiredo Pereira (025.960.046-66); Brenda Emanuely Oliveira da
Silva (161.142.016-47); Catia Lima de Souza (531.521.906-20); Esther Ribeiro de Almeida Limeira da
Silva (029.757.446-92); Gloria Maria dos Santos Martins (167.389.186-15); Ines Alves de Oliveira
(895.020.606-44); Lylian Pansard de Moraes (110.311.926-54); Magda Nara Ribeiro de Andrade
(283.060.666-34); Marcia Regina Andrade Lazzarotti (383.112.676-34); Maria Yone Resende de Lima
(901.932.886-72); Noris Sampaio Pereira (388.604.737-72); Patricia Lima de Souza (796.553.006-68);
Sonia Maria de Andrade Carvalho (259.856.716-15).
4. Órgão/Entidade: Ministério da Defesa – Comando do Exército.
5. Relator: Ministro Bruno Dantas.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Rodrigo Medeiros de Lima.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip).
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos em que se apreciam atos de pensão militar emitidos pelo
Comando do Exército,
92
rocesso nº TC 043.398/2018-9.
2. Grupo I – Classe de Assunto: II – Tomada de Contas Especial.
3. Responsáveis: Instituto de Pesquisa e Ação Modular – IPAM (01.883.949/0001-40); Liane Maria
Muhlenberg (607.016.177-72).
4. Entidade: Instituto de Pesquisa e Ação Modular – IPAM (01.883.949/0001-40).
5. Relator: Ministro Bruno Dantas.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Sergio Ricardo Costa Caribé.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (SecexTCE).
8. Representação legal: Cleuceny Soares Gomes (OAB/DF 58.274), representando Instituto de
Pesquisa e Ação Modular – IPAM (01.883.949/0001-40).
9. Acórdão:
93
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério
do Turismo (Mtur) em desfavor do Instituto de Pesquisa e Ação Modular (IPAM) e de Liane Maria
Muhlenberg, ex-dirigente da entidade, decorrente da não comprovação da regular aplicação dos recursos
repassados pela União no âmbito do Convênio 14323/2009 (Siafi 703944/2009), que tinha por objeto
incentivar o turismo, por meio da implementação do projeto intitulado “Brasília Multisport – Desafio no
Cerrado”,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da Primeira
Câmara, ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. considerar Liane Maria Muhlenberg revel, para todos os efeitos, dando-se prosseguimento ao
processo, nos termos do art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992;
9.2. com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea “b” e “c”, e § 2º da Lei 8.443/1992
c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com arts. 1º, inciso I, 209, incisos II e III, e § 5º, 210 e
214, inciso III, do Regimento Interno, julgar irregulares as contas do Instituto de Pesquisa e Ação
Modular (IPAM) e de Liane Maria Muhlenberg, condenando-os solidariamente ao pagamento do débito
discriminado a seguir, atualizado monetariamente e acrescido dos juros de mora devidos, calculados
desde a data de ocorrência indicada até sua efetiva quitação, na forma da legislação vigente, fixando o
prazo de 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da notificação, para que seja comprovado, perante este
Tribunal, o recolhimento da quantia ao Tesouro Nacional, nos termos do art. 23, inciso III, alínea “a”, da
referida Lei, c/c o art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno do TCU:
9.3. com fundamento no art. 57 da Lei 8.443/1992, aplicar ao Instituto de Pesquisa e Ação Modular
(IPAM) e a Liane Maria Muhlenberg multa individual no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais),
atualizada monetariamente desde a data do presente acórdão até a do efetivo recolhimento, se for pago
após o vencimento, na forma da legislação vigente, fixando o prazo de 15 (quinze) dias, a contar do
recebimento da notificação, para que seja comprovado, perante este Tribunal, o recolhimento da quantia
ao Tesouro Nacional, nos termos do art. 23, inciso III, alínea “a”, da referida Lei, c/c o art. 214, inciso III,
alínea “a”, do Regimento Interno do TCU;
9.4. autorizar, caso requerido, o parcelamento da dívida constante deste acórdão em até 36 (trinta e
seis) parcelas, nos termos do art. 26 da Lei 8.443/1992, c/c o art. 217, §§ 1º e 2º, do Regimento Interno do
TCU, informando aos responsáveis que incidirão sobre cada parcela os correspondentes acréscimos legais
e que a falta de pagamento de qualquer parcela importará no vencimento antecipado do saldo devedor;
9.5. autorizar a cobrança judicial da dívida, caso não atendidas as notificações, nos termos do
art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992;
9.6. com fundamento no art. 16, Par. 3º, da Lei 8.443/1992, c/c art. 209, Par. 7º, do Regimento
Interno do TCU, remeter cópia deste acórdão à Procuradoria da República no Distrito Federal, para
adoção das medidas que entender cabíveis;
9.7. dar ciência deste acórdão aos responsáveis e ao Ministério do Turismo.
13.1. Ministros presentes: Walton Alencar Rodrigues (Presidente), Benjamin Zymler, Bruno Dantas
(Relator) e Vital do Rêgo.
13.2. Ministros-Substitutos presentes: Augusto Sherman Cavalcanti e Weder de Oliveira.
1. Processo TC 000.081/2016-7.
2. Grupo II – Classe II - Assunto: Tomada de Contas Especial
3. Responsáveis: Rudinei Carlos do Amaral Fernandes, ex-Prefeito (CPF 288.479.899-49); Djalma
Produções Artísticas Ltda. (CNPJ 08.420.632/0001-16).
4. Órgão/Entidade/Unidade: Prefeitura Municipal de Gravatal/SC.
5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: Procuradora-Geral Cristina Machado da Costa e Silva.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (SecexTCE).
8. Representação legal: Lourival Salvato (OAB 28775/SC), representando Djalma Produções
Artísticas Ltda.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério
do Turismo (MTur) em desfavor do Sr. Rudinei Carlos do Amaral Fernandes, ex-Prefeito do Município
de Gravatal/SC (gestão 2009-2012), em razão de irregularidades na comprovação da execução física do
Convênio 0851/2009 (Siafi 704499), firmado em 19/8/2009, tendo como objeto a transferência de
recursos, no valor de R$ 200.000,00, para a realização do evento denominado “3º Encontro de Jipeiros de
Gravatal/SC” no período de 28 a 30/8/2009,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
em:
9.1. julgar irregulares as contas do Sr. Rudinei Carlos do Amaral Fernandes e da empresa Djalma
Produções Artísticas Ltda., com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea “c” e § 2º, da Lei
8.443/1992 c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com os arts. 1º, inciso I, 209, inciso III e § 5º,
210 e 214, inciso III, do Regimento Interno deste Tribunal, e condená-los solidariamente ao pagamento
da quantia a seguir especificada, com a fixação do prazo de quinze dias, a contar da notificação, para
comprovar, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno), o recolhimento da
dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente e acrescida dos juros de mora,
calculados a partir da data discriminada, até a data do recolhimento, na forma prevista na legislação em
vigor;
9.2. aplicar individualmente ao Sr. Rudinei Carlos do Amaral Fernandes e à empresa Djalma
Produções Artísticas Ltda. a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 267 do Regimento
Interno, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), com a fixação do prazo de quinze dias, a contar da
notificação, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno),
o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data deste
acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
9.3. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial da
dívida caso não atendidas as notificações;
9.4. enviar cópia deste Acórdão ao Ministério do Turismo e aos responsáveis, para ciência; e
9.5. encaminhar cópia deste Acórdão à Procuradoria da República no Estado de Santa Catarina.
95
1. Processo TC 001.649/2016-7.
2. Grupo I – Classe II – Assunto: Tomada de Contas Especial.
3. Responsáveis: Eduardo Henrique Freire, CPF 146.245.241-87; Ider de Almeida, CPF
075.098.046-04; Joaquim Francisco Ferreira, CPF 150.994.401-00; Luiz Fernando de Mattos Pimenta,
CPF 510.602.998-87; Sílvio dos Santos Silva, CPF 161.511.781-49.
4. Órgão/Entidade/Unidade: Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária em Mato Grosso SR-13 (Incra/MT).
5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: Subprocurador-Geral Lucas Rocha Furtado.
7. Unidades técnicas: Secex/MT (extinta) e SecexTCE.
8. Representações legais: Fernanda da Rocha Teixeira, OAB/DF 33.892; Marcelo Benedito Lara da
Silva, OAB/MT 18.528; e outros.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada, pela
Superintendência Regional do Incra em Mato Grosso/SR-13, por força do Acórdão 208/2008 – Plenário,
para apuração de possíveis prejuízos causados em decorrência de superfaturamento na desapropriação de
fazendas, entre as quais a denominada Fazenda Paraíso, tratada nos presentes autos, cuja responsabilidade
foi originalmente atribuída ao engenheiro agrônomo Joaquim Francisco Ferreira, presidente da comissão
que emitiu, em 30/8/1996, o laudo de vistoria e avaliação da referida propriedade (peça 1, p. 22/68),
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da 1ª Câmara,
diante das razões expostas pelo Relator, em:
9.1. arquivar os presentes autos, com fundamento no art. 212 do Regimento Interno desta Casa, ante
a ausência de pressupostos de constituição e desenvolvimento válido e regular do processo;
9.2. dar ciência deste acórdão aos responsáveis e à Superintendência Regional do Incra em Mato
Grosso – SR/13.
1. Processo TC 007.757/2019-0.
96
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação de interesse do Município de
Cururupu/MA, formulada pela atual prefeita, Sra. Rosária de Fátima Chaves, contra o ex-gestor
municipal, José Carlos de Almeida Júnior, e a empresa Vera Cruz Construções, dando ciência de que o
Convênio 11395.7300001/13-003, com recursos do Fundo Municipal de Saúde, Programa Atenção
Básica, objetivando a “Reforma do Centro de Saúde Barreiros”, no valor de R$ 136.540,80, encontra-se
inconcluso,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Primeira Câmara,
ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos
arts. 235 e 237, inciso III, do Regimento Interno deste Tribunal;
9.2. dar ciência desta deliberação ao representante e ao Ministério da Saúde, informando-lhes que:
9.2.1. a inscrição e a baixa de responsável no cadastro de devedores da União e a suspensão da
inadimplência nestes mesmos cadastros cabem, primariamente, à autoridade competente do órgão
repassador dos recursos ou, nos casos não relacionados ao repasse de recursos e sim ao cumprimento de
obrigações de outra natureza, aos órgãos/entidades responsáveis por alimentar e alterar os cadastros e
sistemas que controlam tais obrigações, na forma dos arts. 3º, 4º e 15 da Instrução Normativa - TCU 71,
de 28 de novembro de 2012, alterada pela Instrução Normativa – TCU 76, de 23 de novembro de 2016, a
instauração de processo de tomada de contas especial;
9.2.2. cabe ao município tentar reverter, junto aos órgãos/entidades competentes mencionados no
item anterior, as situações de inadimplência/omissão que informa ao TCU no bojo de sua representação,
mediante a adoção de providências no sentido de regularizar os registros dos dados municipais, podendo,
na impossibilidade de fazê-lo, adotar, se o desejarem, as medidas judiciais ou administrativas julgadas
cabíveis, com vistas a modificar sua situação junto aos sistemas/cadastros, de maneira a viabilizar
eventual suspensão da restrição de repasse de recursos federais; e
9.3. arquivar o presente processo, com fundamento no art. 169, inciso II, do Regimento Interno do
Tribunal.
1. Processo TC 015.323/2016-1.
2. Grupo II - Classe II - Assunto: Tomada de contas especial.
97
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa em desfavor do Sr. Emerson José Osório Pimentel Leal,
ex-diretor-presidente da extinta Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A. - EBDA, em razão de
indícios de irregularidades na aplicação dos recursos transferidos por meio do Convênio 702461/2008,
que teve por objeto a aquisição de mobiliário, equipamentos de laboratório e informática, veículos,
máquinas agrícolas e implementos, ao abrigo do Programa de Apoio à Ampliação, à Revitalização e à
Modernização da Infraestrutura Física das Organizações Estaduais de Pesquisas Agropecuárias, e que
teve vigência de 23/12/2008 a 30/06/2011,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, com
fundamento nos arts. 1º, inciso I, da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 169, inciso VI, e 212 do Regimento
Interno, em:
9.1. arquivar a presente tomada de contas especial ante a ausência de pressupostos de
desenvolvimento válido e regular do processo; e
9.2. dar ciência deste acórdão ao responsável e à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –
Embrapa.
1. Processo TC 019.576/2017-0.
2. Grupo I – Classe II - Assunto: Tomada de Contas Especial.
3. Responsável: William Guimarães da Silva (CPF 055.008.933-00).
4. Órgão/Entidade/Unidade: Município de Guimarães/MA.
5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Sérgio Ricardo Costa Caribé.
7. Unidade técnica: Secex-TCE.
8. Representação legal: Antonio Augusto Sousa (OAB/MA 4.847 e OAB/DF 31.024) e outros.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério
da Cultura (MinC) em desfavor de William Guimarães da Silva, ex-prefeito de Guimarães/MA, em razão
de não comprovação da execução do objeto do Convênio 419/2007 (Siafi 611045), tendo por objeto
“Promover o Festival de Cultura do Município de Guimarães”,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
ante as razões expostas pelo Relator, em:
98
9.1. julgar, com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas “b” e “c”, 19 e 23, inciso III,
da Lei 8.443, de 16 de julho de 1992, irregulares as contas de William Guimarães da Silva, condenando-o
ao pagamento da quantia de R$ 130.790,00 (cento e trinta mil, setecentos e noventa reais), fixando-lhe o
prazo de quinze dias, a contar da notificação, para que seja comprovado, perante o tribunal (art. 214,
inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno), o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional,
atualizada monetariamente e acrescida dos juros de mora calculados a partir de 23/1/2018 até a data do
efetivo recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor, descontado o valor de R$ 14,95 (quatorze
reais e noventa e cinco centavos), devolvido em 14/5/2008;
9.2. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial da
dívida caso não atendida a notificação;
9.3. remeter cópia deste acórdão à Procuradoria da República no Estado do Maranhão; e
9.4. dar ciência desta deliberação ao responsável.
1. Processo TC 026.741/2016-4.
2. Grupo II – Classe II - Assunto: Tomada de Contas Especial
3. Responsáveis: Ademar Pinto Rosa, ex-Prefeito (CPF 066.343.625-72); Kenoel Viana Cerqueira,
ex-Prefeito (CPF 028.952.096-77).
4. Órgão/Entidade/Unidade: Prefeitura Municipal de Guaratinga/BA.
5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: Procuradora-Geral Cristina Machado da Costa e Silva.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado de Tocantins (Secex/TO).
8. Representação legal: Mirian Tomie Inoue Rosa (OAB/BA 30.345), representando Ademar Pinto
Rosa .
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos tomada de contas especial instaurada pela Fundação
Nacional de Saúde (Funasa), originalmente em desfavor do Sr. Kenoel Viana Cerqueira, ex-Prefeito do
Município de Guaratinga/BA (gestão 2013-2016), em razão da omissão no dever de prestar contas dos
recursos recebidos por força do Termo de Compromisso 069/2012, que tinha por objeto a construção de
119 módulos sanitários domiciliares,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
em:
9.1. julgar irregulares as contas do Sr. Ademar Pinto Rosa, com fundamento nos arts. 1º, inciso I,
16, inciso III, alíneas “a” e “c”, da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com os
arts. 1º, inciso I, 209, incisos I e III, 210 e 214, inciso III, do Regimento Interno deste Tribunal, e
condená-lo ao pagamento da quantia a seguir especificada, com a fixação do prazo de quinze dias, a
contar da notificação, para comprovar, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento
Interno), o recolhimento da dívida aos cofres da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), atualizada
monetariamente e acrescida dos juros de mora, calculados a partir da data discriminada, até a data do
recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor;
99
9.2. aplicar ao Sr. Ademar Pinto Rosa a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 267 do
Regimento Interno, no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), com a fixação do prazo de quinze dias, a
contar da notificação, para comprovar, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento
Interno), o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a
data deste acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação
em vigor;
9.3. julgar regulares com ressalva as contas do Sr. Kenoel Viana Cerqueira, com fundamento nos
arts. 1º, inciso I, 16, inciso II, da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 18 e 23, inciso II, da mesma Lei, e com os
arts. 1º, inciso I, 208 e 214, inciso II, do Regimento Interno deste Tribunal, dando-lhe quitação;
9.4. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial da
dívida caso não atendidas as notificações;
9.5. dar ciência à Fundação Nacional de Saúde (Funasa) que, até 13/09/2017, permanecia investido
na conta bancária específica do Termo de Compromisso 069/2012, de titularidade do Município de
Guaratinga/BA (conta 12.302-1, agência 2099-0, no Banco do Brasil), saldo do ajuste no valor original de
R$ 8.221,25, ainda não descontada a contrapartida municipal;
9.6. enviar cópia deste acórdão à Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e ao responsável, para
ciência; e
9.7. encaminhar cópia deste Acórdão à Procuradoria da República no Estado da Bahia.
1. Processo TC 036.175/2019-6
2. Grupo I – Classe V - Assunto: Reforma Militar (alteração).
3. Interessados: José Cunha dos Santos, CPF 001.072.712-49 e Airton José Schneider, CPF
005.615.412-72.
4. Órgão/Entidade/Unidade: Ministério da Defesa – Comando do Exército.
5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Marinus Eduardo De Vries Marsico.
7. Unidade técnica: Sefip.
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de reforma militar, os Ministros do Tribunal de Contas
da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara, diante das razões expostas pelo Relator, e com
fundamento nos arts. 1º, inciso V, e 39, inciso II, ambos da Lei 8.443/92, c/c o art. 259, inciso II, do
Regimento Interno, ACORDAM em:
100
9.1. considerar ilegais os atos constantes das peças 3 e 4, relativos às alterações das reformas
militares de José Cunha dos Santos e de Airton José Schneider, negando-lhes os respectivos registros, nos
termos do § 1º do art. 260 do Regimento Interno desta Corte de Contas;
9.2. dispensar a devolução das importâncias indevidamente recebidas de boa-fé, nos termos da
Súmula 106 deste Tribunal;
9.3. determinar ao órgão de origem que:
9.3.1. faça cessar, com fundamento nos arts. 71, inciso IX, da Constituição Federal e 262 do
Regimento Interno desta Corte de Contas, no prazo de 15 (quinze) dias, contados a partir da ciência da
presente deliberação, os pagamentos decorrentes dos atos oras impugnados, sob pena de responsabilidade
solidária da autoridade administrativa omissa;
9.3.2. dê ciência aos Srs. José Cunha dos Santos e Airton José Schneider, ou a quem legalmente os
represente, se for o caso, do inteiro teor deste Acórdão, alertando-os no sentido de que o efeito suspensivo
proveniente da interposição de eventuais recursos, caso não providos, não os eximem da devolução dos
valores indevidamente percebidos após a notificação;
9.3.3. envie a esta Corte de Contas, no prazo de 30 (trinta) dias, por cópia, comprovantes de que os
interessados tiveram ciência desta deliberação;
9.3.4. dar ciência desta deliberação ao Ministério da Defesa e ao Comando do Exército;
9.4. determinar à Sefip que:
9.4.1. monitore o cumprimento das determinações elencadas nos itens 9.3.1 a 9.3.4 deste aresto;
9.4.2. arquive os autos, cumpridos os termos deste acórdão.
1. Processo nº TC 002.621/2017-7.
2. Grupo I – Classe II – Assunto: Tomada de Contas Especial.
3. Responsáveis/Interessado:
3.1. Responsáveis: Casa das Artes Ilê Aió (04.958.051/0001-81); Fábio Viana da Cruz
(682.922.285-00).
3.2. Interessado: Ministério da Cultura (MinC).
4. Entidade: Casa das Artes Ilê Aió (04.958.051/0001-81).
5. Relator: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Rodrigo Medeiros de Lima.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (Secex-TCE).
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério
da Cultura em razão da omissão no dever de prestar de contas relativamente ao projeto Cultura e
Cidadania da Paz (Pronac 7-9726).
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, diante
das razões expostas pelo relator, em:
101
9.1. considerar revel, para todos os efeitos, a Casa das Artes Ilê Aió e o Sr. Fábio Viana da Cruz,
nos termos do art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992, dando-se prosseguimento ao processo;
9.2. julgar irregulares as contas do Sr. Fábio Viana da Cruz, com fundamento no art. 16, III, “a” e
“c”, da Lei 8.443/1992, e condená-lo, solidariamente à Casa das Artes Ilê Aió, ao pagamento das quantias
a seguir especificadas, atualizadas monetariamente e acrescidas de juros de mora, calculados a partir das
datas especificadas até a data do efetivo recolhimento, fixando o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da
notificação, para que comprove, perante o Tribunal (art. 214, III, “a”, do RI/TCU), o recolhimento da
dívida aos cofres do Fundo Nacional de Cultura, na forma da legislação em vigor:
1. Processo nº TC 013.356/2020-8.
2. Grupo II – Classe V – Assunto: Pensão Militar.
3. Interessados: Aline Bastos Carneiro (806.677.677-20); Blanche Daniella de Araújo Jorge
Cavalcante (595.162.167-49); Carla do Nascimento (097.766.557-77); Célia Maria de Souza Lima
(605.691.827-00); Ginaldo Moura Caldas Junior (026.666.604-35); Mayara Pinto do Nascimento
(016.702.852-94); Nilza Machado (660.936.788-49); Renata do Nascimento (017.861.537-42); Rosângela
Pereira do Nascimento (520.527.292-91); Solange Caldas Guimarães (810.798.777-20); Suely da Costa
Caldas (573.113.907-53); Vanda Becker Cavalcante (120.116.810-49); Vera Lúcia Vilela de Moura
Queiroz (771.771.187-72).
4. Órgão: Serviço de Inativos e Pensionistas da Marinha.
5. Relator: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip).
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
102
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de atos de pensão militar emitidos pelo Serviço de
Inativos e Pensionistas da Marinha.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, diante
das razões expostas pelo relator, em:
9.1. considerar legais e conceder o registro aos atos de pensão militar instituídos por Geraldo
Pereira Lima (peça 3), Ginaldo Moura Caldas (peça 4), Henrique Rouede Cavalcante (peça 5) e Hércules
Rodrigues do Nascimento (peça 6).
9.2.considerar ilegal e recusar registro ao ato de concessão de pensão militar instituído por Genilton
Ferreira de Moura (10637508-08-2015-000480-8, peça 2), nos termos do § 1º do art. 260 do RI/TCU;
9.3. dispensar o ressarcimento das quantias indevidamente recebidas de boa-fé por Vera Lúcia
Vilela de Moura Queiroz, beneficiária do ato referente ao item 9.2. acima, nos termos do enunciado 106
da Súmula da Jurisprudência deste Tribunal;
9.4. determinar ao Serviço de Inativos e Pensionistas da Marinha, em relação ao ato do item 9.2.,
que:
9.4.1. no prazo de 15 (quinze) dias, a contar da ciência desta deliberação, abstenha-se de realizar
pagamentos decorrentes do ato impugnado no item 9.2. desta decisão, sujeitando-se a autoridade
administrativa omissa à responsabilidade solidária, nos termos do art. 262, caput, do RI/TCU;
9.4.2. regularize o posto/graduação que serve de base para o cálculo dos proventos da pensão militar
instituída por Genilton Ferreira de Moura;
9.4.3. dê ciência, no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da notificação deste
acórdão, do inteiro teor desta deliberação à interessada, encaminhando a este Tribunal, no prazo de 30
(trinta) dias, comprovante da referida ciência:
9.4.4. informe à interessada que o efeito suspensivo proveniente da interposição de possíveis
recursos perante o Tribunal não a exime da devolução dos valores percebidos indevidamente após a
respectiva notificação, caso os recursos não sejam providos;
9.5. encerrar e arquivar os presentes autos.
1. Processo nº TC 029.032/2018-0.
2. Grupo I – Classe II – Assunto: Tomada de Contas Especial.
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério do Desenvolvimento
Regional (Sedec/MDR).
3.2. Responsável: Joaquim Neto Cavalcante Monteiro (407.913.942-04).
4. Entidade: Município de Eirunepé - AM.
5. Relator: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.
6. Representante do Ministério Público: Subprocurador-Geral Paulo Soares Bugarin.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (Secex-TCE).
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
103
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pela
Sedec/MDR, em razão da omissão no dever de prestar contas dos recursos federais repassados por meio
da transferência obrigatória Siafi 683355, autorizada pela Portaria Sedec 53/2015, cujo objeto constituiu
ações de socorro, assistência às vítimas e restabelecimento de serviços essenciais no referido município.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, ante
as razões expostas pelo relator, em:
9.1. considerar revel, para todos os efeitos, com fundamento no art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992, o
Sr. Joaquim Neto Cavalcante Monteiro;
9.2. julgar irregulares, com fundamento nos arts. 1º, I, e 16, III, “a” e “c”, da Lei 8.443/1992 c/c os
arts. 19 e 23, III, da mesma lei, e com arts. 1º, I, e 209, I e III, e 214, III, do RI/TCU, as contas do Sr.
Joaquim Neto Cavalcante Monteiro e condená-lo ao pagamento da quantia abaixo especificada, com a
fixação do prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante este Tribunal
(art. 214, III, “a”, do RI/TCU), o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada
monetariamente e acrescida dos juros de mora, calculados a partir da data discriminada, até a data do
recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor;
1. Processo nº TC 029.845/2017-3.
2. Grupo I – Classe II – Assunto: Tomada de Contas Especial.
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Fundo Nacional de Saúde - MS (00.530.493/0001-71).
3.2. Responsáveis: Amaro da Silva Dantas (004.605.674-20); José Thomé Filho (031.612.692-68).
4. Entidade: Município de Autazes/AM.
5. Relator: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Rodrigo Medeiros de Lima.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (Secex-TCE).
104
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo Fundo
Nacional de Saúde (FNS/MS), em desfavor dos Srs. Amaro da Silva Dantas e José Thomé Filho, em
razão de irregularidades na aplicação dos recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) no exercício de
2008.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, ante
as razões expostas pelo relator, em:
9.1. rejeitar as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. José Thomé Filho;
9.2. julgar irregulares, com fundamento nos arts. 1º, I, e 16, III, “b” e “c”, da Lei 8.443/1992 c/c os
arts. 19 e 23, III, da mesma lei, e com arts. 1º, I, e 209, II e III, e 214, III, do RI/TCU, as contas do Sr.
José Thomé Filho e condená-lo ao pagamento das quantias abaixo especificadas, com a fixação do prazo
de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante este Tribunal (art. 214, III, “a”,
do RI/TCU), o recolhimento da dívida aos cofres do Fundo Nacional de Saúde, atualizada
monetariamente e acrescida dos juros de mora, calculados a partir das datas discriminadas, até a data do
recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor:
1. Processo nº TC 033.213/2015-1.
105
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério
do Turismo em razão da não aprovação da prestação de contas, por impugnação total das despesas, do
convênio 1460/2008, cujo objeto era apoiar a realização do projeto festivo intitulado “Brito Folia 2008”,
realizado em 21/12/2008.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, diante
das razões expostas pelo relator, em:
9.1. rejeitar as alegações de defesa apresentadas pela Associação Sergipana de Blocos de Trio
(ASBT), pelo seu presidente, o Sr. Lourival Mendes de Oliveira Neto, e pela empresa Valéria Patrícia
Pinheiro de Oliveira Azevedo – ME (V & M Eventos);
9.2. julgar irregulares as contas do Sr. Lourival Mendes de Oliveira Neto, com fundamento nos
artigos 1º, I, 16, III, “c”, 19, caput, e 23, III, “c”, da Lei 8.443/1992, e condená-lo, solidariamente com a
Associação Sergipana de Blocos de Trio (ASBT) e com a empresa Valéria Patrícia Pinheiro de Oliveira
Azevedo – ME (V & M Eventos) ao pagamento da importância de R$ 68.161,44 (sessenta e oito mil,
cento e sessenta e um reais e quarenta e quatro centavos), atualizada monetariamente e acrescida de juros
de mora, calculados desde 6/1/2009, até a data do efetivo recolhimento, fixando-lhes o prazo de 15
(quinze dias), a contar da notificação, para que comprovem, perante o Tribunal, o recolhimento do débito
ao Tesouro Nacional;
9.3. aplicar, individualmente, ao Sr. Lourival Mendes de Oliveira Neto, à Associação Sergipana de
Blocos de Trio (ASBT) e à empresa Valéria Patrícia Pinheiro de Oliveira Azevedo – ME (V & M
Eventos) a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 267 do RI/TCU, no valor de R$
125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais), fixando-lhes o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da
notificação, para que comprovem, perante este Tribunal (art. 214, III, “a”, do RI/TCU), o recolhimento da
dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do presente acórdão até a
do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
9.4. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial das
dívidas, caso não atendidas as notificações;
9.5. encaminhar cópia da deliberação ao procurador-chefe da Procuradoria da República em
Sergipe, nos termos do § 3º do art. 16 da Lei 8.443/1992 c/c o § 7º do art. 209 do Regimento Interno do
TCU, para adoção das medidas que entender cabíveis.
1. Processo nº TC 046.675/2012-4.
2. Grupo II – Classe I – Assunto: Embargos de declaração (Tomada de Contas Especial).
3. Interessados/Responsáveis/Recorrentes:
3.1. Responsáveis: Christopher Rezende Guerra Aguiar (164.519.908-84); Etivaldo Vadão Gomes
(784.430.918-00);
3.2. Recorrente: Etivaldo Vadão Gomes (784.430.918-00).
4. Entidade: Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo.
5. Relator: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.
6. Representante do Ministério Público: Subprocurador-Geral Paulo Soares Bugarin.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (Secex-TCE).
8. Representação legal:
8.1. Renata Antony de Souza Lima Nina (OAB/DF 23600) e outros, representando Etivaldo Vadão
Gomes.
8.2. Luiz Antônio de Oliveira (OAB/SP 85692), representando Christopher Rezende Guerra Aguiar.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes embargos de declaração opostos pelo Sr. Etivaldo Vadão
Gomes contra o acórdão 13704/2019-TCU-1ª Câmara, por meio do qual o Tribunal rejeitou suas
alegações de defesa, julgou suas contas irregulares, condenou-a em débito e aplicou-lhe multa, no valor
de R$ 150.000,00, com fundamento no art. 57 da Lei 8.443/1992.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, ante
as razões expostas pelo relator, com base nos arts. 32 e 34 da Lei 8.443/1992, em conhecer dos embargos
para, no mérito, rejeitá-los.
1. Processo nº TC 010.423/2016-8.
2. Grupo I – Classe de Assunto: I - Recurso de Reconsideração (Tomada de Contas Especial)
3. Interessados/Responsáveis/Recorrentes:
3.1. Responsáveis: Jeronimo Luiz Muzeti (021.639.068-09); Os Independentes (44.791.994/0001-
87)
3.2. Recorrente: Os Independentes (44.791.994/0001-87).
4. Órgão/Entidade: Ministério do Turismo.
5. Relator: Ministro Walton Alencar Rodrigues
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro Bruno Dantas.
6. Representante do Ministério Público: Subprocurador-Geral Lucas Rocha Furtado.
7. Unidades Técnicas: Secretaria de Recursos (SERUR); Secretaria de Controle Externo de Tomada
de Contas Especial (SecexTCE).
8. Representação legal:
107
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de recurso de reconsideração interposto pela Associação
Os Independentes contra o Acórdão 11.553/2018 - 1ª Câmara.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
ante as razões expostas pelo relator e com fundamento nos artigos 32, inciso I, e 33 da Lei 8.443/1992,
em:
9.1. conhecer do recurso de reconsideração para, no mérito, negar-lhe provimento;
9.2. dar ciência dessa deliberação a recorrente.
1. Processo nº TC 019.873/2012-3.
2. Grupo II – Classe de Assunto: I Pedido de reexame (Pensão Civil)
3. Interessados/Responsáveis/Recorrentes:
3.1. Interessado: Elaine Crhystina do Amaral Fassheber (015.651.876-79)
3.2. Recorrente: Elaine Chrystina do Amaral Fassheber (015.651.876-79).
4. Órgão/Entidade: Senado Federal.
5. Relator: Ministro Walton Alencar Rodrigues
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro José Mucio Monteiro.
6. Representante do Ministério Público: Procuradora-Geral Cristina Machado da Costa e Silva.
7. Unidades Técnicas: Secretaria de Recursos (SERUR); Secretaria de Fiscalização de Pessoal
(SEFIP).
8. Representação legal:
8.1. Conrado Rezende Freitas (128.674/OAB-MG) e outros, representando Elaine Chrystina do
Amaral Fassheber.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que cuidam de pedido de reexame interposto por Elaine
Chrystina do Amaral Fassheber contra os Acórdãos 3.125/2013-1ª Câmara e 6.524/2013-1ª Câmara, por
meio do qual este Tribunal considerou ilegal seu ato de pensão civil,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
com fundamento no artigo 48 da Lei 8.443/1992 e no Acórdão 2.852/2019-Plenário, diante das razões
expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer do recurso para, no mérito, dar-lhe provimento parcial;
9.2. tornar insubsistentes os Acórdãos 3.125/2013-1ª Câmara e 6.524/2013-1ª Câmara;
9.3. restituir os autos ao relator a quo, para que, a seu critério, sejam adotadas as providências
necessárias à nova apreciação de mérito da pensão civil ora reexaminada, à luz do entendimento firmado
no Acórdão 2.377/2015-Plenário;
9.4. dar ciência deste acórdão à unidade jurisdicionada e à recorrente.
108
1. Processo nº TC 024.258/2017-2.
2. Grupo I – Classe de Assunto: V - Aposentadoria
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Luiz Fernando Ev (281.153.250-15).
4. Órgão/Entidade: Fundação Universidade Federal de Ouro Preto.
5. Relator: Ministro Walton Alencar Rodrigues.
6. Representante do Ministério Público: Procuradora-Geral Cristina Machado da Costa e Silva.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de concessão de aposentadoria de Luiz Fernando Ev, ex-
servidor da Fundação Universidade Federal de Ouro Preto;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
diante das razões expostas pelo relator, em:
9.1. julgar ilegal e negar registro ao ato de concessão inicial de aposentadoria de Luiz Fernando Ev;
9.2. dispensar, com fulcro no Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência do TCU, a devolução dos
valores indevidamente recebidos até a data da ciência desta deliberação;
9.3. determinar à Fundação Universidade Federal de Ouro Preto, com fulcro no art. 45 da Lei
8.443/1992, que:
9.3.1. faça cessar os pagamentos decorrentes do ato impugnado e comunique as providências
adotadas ao TCU no prazo de quinze dias, nos termos dos arts. 262, caput, do Regimento Interno do TCU
e 8º, caput, da Resolução TCU 206/2007;
9.3.2. cadastre novo ato, livre da irregularidade apontada, e submeta-o ao TCU no prazo de trinta
dias, nos termos dos arts. 262, § 2º, do Regimento Interno do TCU e 19, § 3º, da Instrução Normativa
TCU 78/2018;
9.3.3. dê ciência do teor desta deliberação ao interessado e encaminhe comprovante da data de
ciência pelo interessado ao TCU no prazo de trinta dias, nos termos do art. 4º, § 3º, da Resolução TCU
170/2004, alertando-o de que o efeito suspensivo proveniente de eventual interposição de recurso junto ao
TCU não o exime da devolução dos valores indevidamente percebidos após a notificação, caso o recurso
não seja provido.
9.4. ordenar à Secretaria de Fiscalização de Pessoal que monitore o cumprimento das determinações
feitas.
13.1. Ministros presentes: Benjamin Zymler (na Presidência), Walton Alencar Rodrigues (Relator),
Bruno Dantas e Vital do Rêgo.
13.2. Ministros-Substitutos presentes: Augusto Sherman Cavalcanti e Weder de Oliveira.
ENCERRAMENTO
Às 16 horas e 16 minutos, a Presidência encerrou a sessão, da qual foi lavrada esta ata, a ser
aprovada pelo Presidente e homologada pela Primeira Câmara.
(Assinado eletronicamente)
PAULO MORUM XAVIER
Subsecretário da Primeira Câmara
(Assinado eletronicamente)
WALTON ALENCAR RODRIGUES
Presidente
110
Relatórios, Votos e os Acórdãos de nºs 6308 a 6340 aprovados pela Primeira Câmara.
RELATÓRIO
Adoto, como relatório, com alguns ajustes de forma, trechos da instrução elaborada no âmbito da
Secretaria de Recursos (Serur) inserta à peça 184, in verbis:
“(…) Inicialmente, é possível afirmar que o recorrente foi devidamente notificado em seu endereço,
conforme contido no instrumento de pesquisa de endereço (peça 129) e assinatura própria no AR (peça
175), e de acordo com o disposto no art. 179, II do RI/TCU.
Assim, considerando que ‘a data de início do prazo é contada a partir do primeiro dia em que
houver expediente no Tribunal’, nos termos do art. 19, § 3º, da Resolução TCU 170/2004, o termo a quo
para análise da tempestividade foi o dia 6/11/2019, concluindo-se, portanto, pela intempestividade deste
recurso, pois o termo final para sua interposição foi o dia 20/11/2019. (…)
Trata-se de Tomada de Contas Especial (TCE) instaurada pelo Ministério da Pesca e Aquicultura
(MPA) em desfavor da Sra. Beatriz Guimarães Borges, Superintendente do Instituto de Pesquisa e
Desenvolvimento Integral da Natureza (Pró-Natureza), em razão de impugnação total das despesas
realizadas com os recursos repassados pelo MPA, por força do Convênio 58/2010, celebrado com o Pró-
Natureza, para ‘Apoio ao Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Aquicultura Familiar no Território
da Cidadania das Águas Emendadas’. Foram previstos um montante de R$ 956.961,50 para a execução
do objeto, sendo R$ 869.961,50 de responsabilidade do concedente e R$ 87.000,00 a título de
contrapartida municipal.
Por determinação do Ministro Relator (Despacho à peça 116), o Sr. Salviano Antônio Guimarães
Borges, na qualidade de presidente, foi citado em solidariedade ao Instituto de Pesquisa e
Desenvolvimento Integral da Natureza (Pró-Natureza)
Em essência, restaram configuradas nos autos irregularidades na execução do Convênio 58/2010
em decorrência da não comprovação da boa e regular aplicação dos recursos repassados, em desacordo
com as disposições constantes na IN 1/1997 e na Portaria Interministerial 127/2008, conforme apontado
no voto condutor do acórdão condenatório (peça 152, item 5) e no Ofício de citação 118/2018-TCU-
SecexAmbiental (peça 120).
Diante disso, os autos foram apreciados por meio do Acórdão 11.459/2019-1ª Câmara (peça 151),
que julgou irregulares as contas dos responsáveis, aplicando-lhes débito solidário e multa.
Devidamente notificado, o recorrente interpõe a presente peça recursal intempestiva.
111
Preliminarmente, faz-se mister ressaltar que o art. 32, parágrafo único, da Lei 8.443/1992, estatui
que ‘não se conhecerá de recurso interposto fora do prazo, salvo em razão de superveniência de fatos
novos, na forma do Regimento Interno’.
Regulamentando esse dispositivo, o art. 285, § 2º, do RITCU dispõe que ‘Não se conhecerá de
recurso de reconsideração quando intempestivo, salvo em razão de superveniência de fatos novos e
dentro do período de cento e oitenta dias contado do término do prazo indicado no caput, caso em que
não terá efeito suspensivo’.
Para que o presente recurso possa ser conhecido, uma vez interposto dentro do período de cento e
oitenta dias, torna-se necessária a superveniência de fatos novos.
Na peça ora em exame (peça 179), o recorrente argumenta, em síntese, que:
a) foi responsabilizado sem que o Relator considerasse a renúncia ao cargo de presidente (p.
6-7);
b) não é admissível condenação por meras presunções. Deve restar comprovada uma
conduta dolosa ativa ou omissa, o nexo de causalidade e o dano (p. 7-8);
c) mostra-se ‘diabólica’ a situação na qual teria que provar que aplicou de forma regular os
recursos, mesmo não participando mais da gestão da associação. Documentos comprovam sua alegação
(p. 8-13);
d) cabe à Administração ou ao MP a prova dos fatos constitutivos da pretensão penal e/ou
punitiva (p. 9);
e) a ação judicial mencionada nas alegações de defesa foi extinta por ilegitimidade passiva
(p. 11); e
f) não agiu com dolo ou culpa e não houve dano ao erário (p. 13-14).
Os argumentos apresentados estão desacompanhados de qualquer documento.
Isto posto, observa-se que o recorrente busca afastar sua responsabilidade por meio de argumentos
e teses jurídicas que, ainda que inéditos, não são considerados fatos novos por este Tribunal, conforme
consolidada jurisprudência desta Corte (Acórdão 2.308/2019-Plenário, Acórdão 1.760/2017-1ª
Câmara e Acórdão 2.860/2018-2ª Câmara).
Com efeito, novas linhas argumentativas representariam elementos ordinários que somente
justificariam o seu exame na hipótese de interposição tempestiva do recurso. Entendimento diverso
estenderia para cento e oitenta dias, em todos os casos, o prazo para interposição dos recursos de
reconsideração e pedido de reexame, tornando letra morta o disposto no art. 33 da Lei 8.443/1992, que
estabelece período de quinze dias para apresentação destes apelos.
A tentativa de se provocar a pura e simples rediscussão de deliberações do TCU com base em
discordância com as conclusões deste Tribunal não se constitui em fato ensejador do conhecimento do
recurso fora do prazo legal.
Por todo o exposto, não há que se falar na existência de fatos novos no presente expediente
recursal, motivo pelo qual a impugnação não merece ser conhecida, nos termos do art. 32, parágrafo
único, da Lei 8.443/1992.
Em virtude do exposto, propõe-se:
3.1 não conhecer do recurso de reconsideração interposto por Salviano Antônio Guimarães
Borges, por restar intempestivo e não apresentar fatos novos, nos termos do art. 33 da Lei 8.443/1992,
c/c o art. 285, caput e § 2º, do RITCU;
3.2 encaminhar os autos para o Ministério Público junto ao TCU (MP/TCU) e, posteriormente, ao
gabinete do relator competente para apreciação do recurso; e
3.3 à unidade técnica de origem, dar ciência ao recorrente e aos órgãos/entidades interessados do
teor da decisão que vier a ser adotada, encaminhando-lhes cópia.”
2.O sr. Secretário da Serur ratificou a instrução acima (peça 186).
3.O d. representante do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (MP/TCU), em
sua intervenção regimental, manifestou-se de acordo com o encaminhamento sugerido pela unidade
técnica (peça 188).
112
É o relatório.
VOTO
Em exame recurso de reconsideração interposto pelo sr. Salviano Antônio Guimarães Borges, então
presidente do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Integral da natureza (Pró-Natureza), contra o
Acórdão 11.459/2019-1ª Câmara, proferido em tomada de contas especial instaurada pelo extinto
Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) em decorrência da impugnação total das despesas realizadas
com os recursos repassados por força do Convênio 58/2010.
2.O referido ajuste, celebrado com o Pró-Natureza, teve como objeto o "apoio ao desenvolvimento
da cadeia produtiva da aquicultura familiar no território da cidadania das Águas Emendadas". Para tanto,
foi previsto o montante de R$ 956.961,50, sendo R$ 869.961,50 de responsabilidade do concedente e R$
87.000,00 a título de contrapartida.
3.Os recursos federais foram repassados em duas parcelas, conforme ordens bancárias nos valores
de R$ 100.000,00 (em 19/1/2011 - peça 1, p. 112) e de R$ 769.961,50 (em 6/5/2011 - peça 1, p. 114).
4.O ajuste vigeu até 4/4/2012 e estabeleceu o prazo de 30 dias, a partir do término de sua vigência,
para apresentação da prestação de contas.
5.Do que ressai dos autos, o plano de trabalho contemplou as seguintes metas: 1 - realização de
diagnóstico para nortear a implantação dos tanques escavados para a produção; 2 - escavação e
recuperação dos tanques escavados; 3 - aquisição de materiais e insumos; 4 - capacitação dos
beneficiários; 5 - gestão técnica do projeto; 6 - administração do projeto (peça 1, p. 86-88).
6.O MPA exarou a Informação 88/2012-CPC/SPOA/SE/MPA, por meio da qual apontou as
seguintes irregularidades (peça 1, p. 118-130):
a) meta 1 - o produto intitulado "Diagnóstico para Implantação de Tanques de Aquicultura Familiar
no Território da Cidadania das Águas Emendadas" nada mais é que uma compilação de informações
literalmente copiadas de vários estudos realizados por outros órgãos, inclusive da esfera federal, de modo
que não pode ser aceito para fins de cumprimento do objeto pactuado;
b) meta 2 - etapa 1 - Avaliação das propriedades e seleção das famílias (80) - não foi mencionado se
foi selecionado o quantitativo previsto de famílias, nem o resultado da avaliação das propriedades;
c) meta 2 - etapa 2 - Obtenção das outorgas de água - não há informação se todas as famílias
obtiveram tal outorga;
d) meta 2 - etapa 3 - Obtenção do licenciamento ambiental - não há informação da quantidade de
licenças efetivadas;
e) meta 4 - etapa 1 - Impressão do material didático - Capacitação dos beneficiários - a convenente
não registrou ou anexou no Siconv nenhuma licitação destinada a esse fim, tampouco realizou qualquer
tipo de pagamento para tal despesa, o que leva ao questionamento de como foi feita a contratação dos
serviços; e
f) meta 4 - etapa 3 - Cursos (tecnologia, gestão e formas associativas) - a convenente não registrou
no Siconv nenhum procedimento seletivo, tampouco anexou os currículos dos instrutores.
7.O Relatório de Tomada de Contas Especial 6/2013 apresentou, como motivo para a instauração da
TCE, a impugnação total das despesas, indicando a ocorrência de prejuízo ao erário no montante original
de R$ 869.961,50 (peça 1, p. 204-207). A responsabilidade, incialmente, foi imputada à sra. Beatriz
Guimarães Borges, superintendente do Pró-Natureza durante o período de 2010-2012 e gestora do
convênio (peça 1, p. 207).
II
8.No âmbito deste Tribunal, a Secretaria de Controle Externo da Agricultura e do Meio Ambiente
(SecexAgroAmbiental) promoveu a citação dos seguintes responsáveis:
(i) Pró-Natureza, em nome de seu representante legal;
(ii) sr. Salviano Antônio Guimarães Borges, ex-presidente do Pró-Natureza;
(iii) sra. Beatriz Guimarães Borges, superintendente do Pró-Natureza e convenente;
113
que renunciou ao cargo de presidente do Pró-Natureza em 29/1/2011, o responsável praticou ato de gestão
em nome da entidade convenente dois dias após a mencionada renúncia.
21.Tendo, portanto, assinado o primeiro pagamento no bojo do convênio, observa-se que a
desvinculação do responsável da entidade foi meramente formal, uma vez que a sua interferência na
gestão do Pró-Natureza continuou existindo.
22.Aliás, sobre a meta 1, da qual fazia parte a produção de diagnóstico que nortearia a implantação
dos tanques, o Ministério da Pesca e Aquicultura destacou que:
"(...) A leitura do material apresentado, composto por 59 (cinquenta e nove) páginas, mostra
tratar-se de uma produção de qualidade questionável, tanto em termos de apresentação gráfica como em
termos de conteúdo, haja vista que não abrangeu informações exigidas no projeto como: demanda,
potencial em termos de recursos hídricos, infraestrutura de processamento e beneficiamento de
pescados; políticas do governo estadual para o desenvolvimento do setor.
Em pesquisa sobre os temas abordados no referido documento constatou-se que:
a)Da página 01 a página 39 - trata-se de um compêndio enfocando aspectos geomorfológicos e
políticos da região abrangida pelos Territórios da Cidadania nas Águas Emendadas, reproduzido de
forma literal do trabalho produzido no âmbito do MDA, em novembro de 2006, intitulado 'Plano
Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável Território Águas Emendadas-DF', disponível em
www.sit.mda. gov.br/biblioteca_virtual/ptdrs/territoriosrurais/dasaguasemendadas. (Anexo XVIII)
b)As páginas 40 e 41 - trata-se de reprodução literal do texto informativo da SEAGRI/DF,
disponível em www.sa.df.gov.br . (Anexo XV)
c)Na sequência de páginas constatou-se que o texto é uma reprodução literal do trabalho do
Médico Veterinário Adalmyr Morais Borges, intitulado 'O Mercado de Pescado em Brasília' - Série: O
Mercado do pescado nas grandes cidades latino-americanas, (2010), disponível em:
www.infopesca.org/downloads/publicacioneslibre acesso, bem como da Apostila de Piscicultura,
elaborada a partir das orientações do livro 'Manual de Piscicultura Tropical', de autoria de Carlos
Eduardo Martins Proença e Paulo Roberto Leal Bittencourt, disponível em
www.pescar.com.br/piscicultor/apostila.htm, sendo que as tabelas e figuras inseridas no Diagnóstico
apresentado pela empresa Rover Miranda Pontes Rogério Consultoria Empresarial foram retiradas da
primeira publicação mencionada, mantendo, inclusive, a numeração original (Anexos XVI e XVII).
Infere-se, então, que o produto da meta 1 intitulado Diagnóstico para Implantação de Tanques de
Aqüicultura Familiar no Território da Cidadania das Águas Emendadas nada mais é que uma
compilação de informações literalmente copiadas de vários estudos realizados por outros órgãos,
inclusive da esfera federal, ou seja, foi pago com recursos da União, o valor de R$ 75.900,00, por uma
produção que, na realidade apenas reproduz material ou pesquisa realizada por outrem, como se própria
fosse (...)" (peça 1, p. 128).
23.Considerando, pois, ter sido o sr. Salviano Antônio Guimarães Borges quem autorizou o
primeiro pagamento, o responsável sabia ou deveria saber que a meta 1 não havia sido cumprida nos
termos pactuados.
24.Por essa razão, o nome do responsável permaneceu no polo passivo desta TCE até o limite de
seu ato de gestão em prol do convenente.
25.O feito prosseguiu regularmente e, mediante a decisão ora vergastada, o sr. Salviano Antônio
Guimarães Borges, a sra. Beatriz Guimarães Borges e o Pró-Natureza tiveram suas contas julgadas
irregulares.
26.Sobre o débito, o dever de ressarcimento da primeira parcela, no valor original de R$ 37.950,00,
foi imputado solidariamente a todos os responsáveis. As demais parcelas do débito, nos valores de R$
62.050,00 e R$ 769.961,50, foram imputadas tão somente à sra. Beatriz Guimarães Borges e ao Pró-
Natureza, também de forma solidária. A deliberação recorrida aplicou, ainda, multa aos responsáveis: R$
5.000,00 para o sr. Salviano Antônio Guimarães Borges e R$ 50.000,00 para a sra. Beatriz Guimarães
Borges e o Pró-Natureza.
III
115
1. Processo nº TC 001.139/2014-2
2. Grupo I – Classe de Assunto: I – Recurso de Reconsideração (em Tomada de Contas Especial)
3. Recorrente: Salviano Antônio Guimarães Borges (004.869.811-34)
4. Órgão: Ministério da Pesca e Aquicultura (extinto)
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro Vital do Rêgo
6. Representante do Ministério Público: Procurador Sergio Ricardo Costa Caribé e Subprocurador-
Geral Paulo Soares Bugarin (manifestação oral).
7. Unidade técnica: Secretaria de Recursos (SERUR)
8. Representação legal: Antônio Daniel Cunha Rodrigues de Souza (OAB/DF 13.101) e Francisco
Antônio de Camargo Rodrigues de Souza (OAB/DF 15.776)
9. Acórdão:
Vistos, relatados e discutidos estes autos de recurso de reconsideração interposto pelo sr. Salviano
Antônio Guimarães Borges contra o Acórdão 11.459/2019-1ª Câmara,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
ante as razões expostas pelo relator, em:
9.1. não conhecer do recurso interposto por restar intempestivo e não apresentar fatos novos, nos
termos do art. 33 da Lei 8.443/92 c/c o art. 285, caput e § 2º, do RITCU;
9.2. manter inalterados os termos do acórdão recorrido; e
9.3. dar ciência desta deliberação ao recorrente e aos demais órgãos/entidades interessados.
datado de 23/10/2017 (peça 4, p. 46-53), o Departamento do Programa Calha Norte (DPCN) concluiu que
a execução do convênio 574/2013 atingiu o percentual de 48,15%, equivalente a R$ 501.931,59, ao passo
que à empresa foi pago o montante de R$ 795.114,53;
12.2. O Sr. Neilson da Cruz Cavalcante (CPF: 137.921.482-34) foi compelido a apresentar
alegações de defesa em relação à seguinte irregularidade e conduta:
a) Irregularidade: pagamento indevido à sociedade empresária Conserge Construção e Serviços
Gerais Ltda. (CNPJ 84.513.290/0001-67) da quantia de R$ 293.181,94, sendo R$ 254.512,11 oriundos de
recursos federais, considerando que no relatório de vistoria realizada em 2/10/2017, conforme laudo
datado de 23/10/2017 (peça 4, p. 46-53), o Departamento do Programa Calha Norte (DPCN) concluiu que
a execução do convênio 574/2013 atingiu o percentual de 48,15% correspondente a R$ 501.931,59, ao
passo que à empresa foi pago o montante de R$ 795.114,53;
b) Conduta: autorizar, indevidamente, o pagamento da quantia de R$ 293.181,94, sendo R$
254.512,11 oriundos de recursos federais, à sociedade empresária Conserge Construção e Serviços Gerais
Ltda. (CNPJ 84.513.290/0001-67), considerando que no relatório de vistoria realizada em 2/10/2017,
conforme laudo datado de 23/10/2017 (peça 4, p. 46-53), o Departamento do Programa Calha Norte
(DPCN) concluiu que a execução do convênio 574/2013 atingiu o percentual de 48,15%, equivalente a R$
501.931,59, ao passo que à empresa foi pago o montante de R$ 795.114,53.
13. A proposta contou com a anuência do Secretário (peça 10), sendo efetivada por meio das
seguintes comunicações processuais:
I – Responsável: Conserge Construção e Serviços Gerais Ltda. (CNPJ: 84.513.290/0001-67)
Ofício Secex- Endereço Recebimento Defesa
TCE
3545/2018, Rua José Maria Lopo, 134 - Qd. 1, Pq. Mudou-se
de Shangrila - Parque Dez - CEP 69.054-000 - (peça 13)
12/12/2018 Manaus - AM
(peça 11)
4492/2019, Paulo Roberto da Silva Coimbra, Retornou:
de 24/6/2019 representante legal da Conserge não existe o
(peça 25) Construção e Serviços Gerais Ltda. (CNPJ: número
84.513.290/0001-67) Conjunto (peça 30)
Anavilhanas, 5 – Flores – CEP 69.058-000
- Manaus - AM
4493/2019, Paulo Roberto da Silva Coimbra, 23/7/2019
de 24/6/2019 representante legal da Conserge (peça 29)
(peça 26) Construção e Serviços Gerais Ltda. (CNPJ:
84.513.290/0001-67) Rua 10, Cj Parque
das Palmeiras Casa 05, QD 01 - Parque
Dez de Novembro, CEP 69.055-000 -
Manaus - AM
4494/2019, Paulo Roberto da Silva Coimbra, 19/7/2019 Peça 34
de 24/6/2019 representante legal da Conserge (peça 28)
(peça 27) Construção e Serviços Gerais Ltda. (CNPJ:
84.513.290/0001-67), Av. do
Expedicionário, 2113 - Ponta Negra, CEP
69.037-000 - Manaus - AM
I – Responsável: Neilson da Cruz Cavalcante (CPF: 137.921.482-34)
Ofício Secex- Endereço Recebimento Defesa
TCE
3544/2018, Rua Rio Javari, 200 – Apt. 500 - N S das 7/1/2019 Peças
120
II – Drenagem superficial
17. Por serem serviços anteriores a pavimentação, seria importante que a fiscalização ocorresse no
decorrer da obra, considerando que, após a sua finalização, torna-se mais árduo detectar se tais serviços
foram feitos em sua integralidade (peça 19, p. 23).
II.a – Da demolição de concreto simples
17.1. Não procede a conclusão de que não foram realizados, pois os serviços foram executados na
segunda medição e terceira medições e concluídos na quarta medição (peça 19, p. 24).
II.b – Meio fio de concreto pré-moldado.
17.2. O órgão técnico alega que foram realizados apenas 3.102,05 m, sugerindo a devolução do
valor de R$ 6.830,47. No entanto, o assentamento do meio-fio foi realizado durante a 2ª e 3ª medição,
tendo sido concluída na 4ª medição (peça 19, p. 25).
II.c – Sarjeta em concreto
17.3. O órgão técnico alega que foram realizados apenas 3.061,60 m do serviço, sugerindo a
devolução da quantia de R$ 7.857,97 (peça 19, p. 25). O serviço não foi finalizado durante a gestão do
defendente, parcialmente executado até a 9ª medição, quando deixou a prefeitura de Presidente
Figueiredo (peça 19, p. 28).
II.d - Calçamento em concreto
17.4. O órgão técnico alega que foram realizados apenas 3.338,71 m² do serviço, sugerindo a
devolução da quantia de R$ 10.396,43 (peça 19, p. 28). Contudo na oportunidade da 6ª medição, a
construção da calçada já havia sido plenamente concluída (peça 19, p. 29).
II.e – Escavação mecânica de valas
17.5. O órgão técnico alegou que foi executado apenas 362,64 m³ do serviço, sugerindo a
devolução de R$ 236,089. Entretanto, foram executados 397,64m³ de valas na 6ª medição (peça 19, p.
31).
II.f – Regularização e compactação de solo
17.6. O órgão técnico alega que foram executados apenas 3.338,71 m² do serviço, sugerindo a
devolução da quantia de R$ 694,16 (peça 19, p. 32). Contudo, na 6ª medição a regularização e
compactação do solo já havia sido plenamente concluída (peça 19, p. 33).
II.g – Remoção manual de entulho
17.7. O órgão técnico alega que apenas 435,45 m³ do serviço fora executado, sugerindo a
devolução do valor de R$ 988,35. Entretanto, o referido serviço, na quantidade de 477,17 m³, foi
concluído antes de 6ª medição (peça 19, p. 33).
III – Pavimentação
18. Algumas fases da etapa de pavimentação foram finalizadas pela gestão que o sucedeu. No
entanto, todos os itens questionados pelo órgão técnico foram concluídos, ainda, durante seu mandato à
frente da prefeitura de Presidente Figueiredo, antes da 9ª medição ocorrida no final do ano de 2016 (peça
19, p. 35).
Alegações de defesa da Conserge Construção e Serviços Gerais Ltda. (CNPJ: 84.513.290/0001-67)
Argumentos
19. Resumidamente, apoiada na doutrina especializada a respeito do elemento culpa que distingue
o ente privado do ente público, a defesa alega que a suposta culpa merece ser afastada de pronto,
remanescendo a responsabilidade exclusivamente para o Município de Presidente Figueiredo/AM, pois
derivada de um ato administrativo do poder público municipal que ordenou sua execução (peça 34, p. 7).
20. Sobre a execução das obras, não concorda com o relatório do DPCN, ressalta que alguns
serviços sofreram a ação do tempo, expostos a fenômenos naturais, e afirma que foram executados 75%
do objeto licitado, conforme planilha e relatório fotográfico anexos e não 48,15%, apontados na tomada
de contas especial (peça 34, p. 8).
21. O exame técnico realizado pelo Departamento do Projeto Calha Norte não apresenta os
requisitos técnicos suficientes para determinar a existência da execução parcial de somente 48,15% da
totalidade dos serviços, vez que o local periciado não apresenta condições mínimas para análise visual
122
dos serviços de calçadas e meio fio, na medida em que grande parte desses serviços foram obstruídos e
danificados (peça 34, p. 9).
22. A defendente salienta que requereu a rescisão amigável do contrato 184/2015, nos moldes do
art. 79 da Lei Federal 8.666/93 c/c com a cláusula oitava do instrumento contratual, em razão de não ter
recebido o pagamento integral das faturas pelos serviços executados de maio a dezembro de 2015,
ocasionando atrasos superiores a 90 dias (peça 34, p. 14).
23. Para a execução do convênio o Município de Presidente Figueiredo/AM realizou a licitação TP
04/2015, sagrando-se vencedora a sociedade empresária Conserge Construção e Serviços Gerais Ltda.
(CNPJ 84.513.290/0001-67), com a qual foi assinado o Contrato 184/2015, no valor de R$ 1.042.502,08
(peça 2, p. 16-21).
Análise das alegações de defesa do Sr. Neilson da Cruz Cavalcante (CPF: 137.921.482-34) da
Conserge Construção e Serviços Gerais Ltda. (CNPJ: 84.513.290/0001-67)
24. Será realizada a análise conjunta das defesas apresentadas pelo Sr. Neilson da Cruz Cavalcante
e pela Conserge Construção e Serviços Gerais Ltda., tendo em vista que respondem pelos mesmos fatos e
seus argumentos convergem para o mesmo propósito: demonstrar os equívocos cometidos no Relatório de
Vistoria realizada em 2/10/2017 do DPCN (peça 4, p. 46-53). Além disso, os responsáveis foram citados
solidariamente por um único débito, o Sr. Neilson por ter efetuado, ou autorizado, os pagamentos, e a
empresa na condição de tê-los recebido indevidamente.
25. As defesas alegam que o relatório do DPCN foi elaborado sem os cuidados técnicos exigidos,
baseado em meras impressões visuais e/ou em época inoportuna que não mais permitia a correta
verificação dos serviços executados (itens 16 e 19, retro).
26. Com efeito, no Relatório de Vistoria realizada em 2/10/2017, conforme laudo datado de
23/10/2017 (peça 4, p. 46-53), o DPCN concluiu que a execução do Convênio 574/2013 atingiu o
percentual de 48,15%, possuindo serventia a parte executada, conforme quadro abaixo:
Item Serviços Contratado (R$) Executado (R$) Percentual
(%)
1.0 Serviços preliminares 74.399,46 74.399,46 100
2.0 Drenagem profunda 217.836,41 32.290,55 14,82
3.0 Drenagem superficial 349.315,09 322.311,38 92,27
4.0 Pavimentação 249.476,49 0,0 0,0
Total 891.027,45 429.001,36 48,15
BDI de 17% 151.474,66 72.930,23 17
Total geral 1.042.502,08 501.931,59 48,15
27. Mais especificamente, o DPCN glosou os valores pagos relativos aos seguintes serviços não
prestados ou executados em quantitativos inferiores ao contratado:
2.0 – Drenagem profunda
Item Serviços Contratado Executado Não Preço Glosa (R$)
(A) (B) executado unitário (D) X (C)
(C) = (A) (R$)
– (B) (D)
2.1 Assentamento de 300,00 m 36,18m 263,82m 648,03 170.963,27
tubos de concreto
diâmetro =
800mm, simples
ou armado, junta
em argamassa 1:3
cimento: areia
2.2 Escavação 608,26 m³ 146,71 m³ 461,55 6,79 3.133,92
mecânica de valas
123
em qualquer tipo
de solo exceto
rocha, prof.
0<H<4m
2.3 Regularização e 360,00 m² 86,83 m² 273,17 2,17 592,78
compactação
manual de terreno
com soquete (em
fundo de vala)
2.4 Lastro de areia 18,00 m³ 4,34 m³ 13,66 68,29 932,84
média (em fundo
de vala)
2.5 Caixa coletora 14,00 8,00 6,00 690,89 4.145,34
1,20x1, 20x1,50m, unidades unidades
com fundo e
tampa de concreto
e paredes em
alvenaria
2.6 Reaterro de 377,72 m³ 91,11 m³ 286,61 5,70 1.633,68
vala/cava sem
controle de
compactação,
utilizando retro-
escavadeira e
compactador
vibratório com
material
reaproveitado
2.7 Remoção manual 230,54 m³ 55,61 m³ 174,93 23,69 4.144,09
de entulho
(material
excedente da
escavação)
TOTAL 185.545,92
3.0 – Drenagem superficial
Item Serviços Contratado Executado Não Preço Glosa
(A) (B) executado unitário (R$)
(C) = (A) (R$) (D) X (C)
– (B) (D)
12x15x30x100cm
(face superior x
face x inferior x
altura x
comprimento),
rejuntado com
argamassa 1:4
cimento: areia,
incluindo
escavação e
reaterro.
3.3 Sarjeta em 3.326,00 3.061,60 264,40 29,72 7.857,97
concreto, preparo m m
manual, com
seixo rolado,
espessura = 8cm,
largura = 40 cm.
3.4 Execução de 3.658,60 3.338,71 319,89 32,50 10.396,43
calçada em m² m²
concreto 1:3:5
(fck=12MPA)
preparo mecânico
E=7cm.
3.5 Carga 79,82 m³ 79,82 m³ 0,00 5,32 0,00
mecanizada e
remoção e
entulho com
transporte até 1
km
3.6 Escavação 397,64 m³ 362,87 m³ 34,77 6,79 236,09
mecânica de valas
em qualquer tipo
de solo exceto
rocha, prof.
0<H<4m
(Escavação para
acerto de talude
para implantação
de calçada)
3.7 Regularização e 3.658,60 3.338,71 319,89 2,17 694,16
compactação m² m²
manual de terreno
com soquete
(fundo nivelado
para calcadas)
3.8 Remoção manual 477,17 m³ 435,45 m³ 41,72 23,69 988,35
de entulho
(material de corte
de taludes para
confecção de
125
calçadas)
TOTAL 34.753,99
4.0 - Pavimentação
Item Serviços Contratado Executado Não Preço Glosa
(A) (B) executado unitário (R$)
(A) – (B) (R$) (D) X (C)
(D)
empresa foi responsabilizada por serviços medidos e não executados, ou executado em quantitativos
menores que os medidos, portanto, advindo de constatações que não sofrem a influência do tempo. De
fato, o tempo, entre a provável data final de execução (dez/2016; último pagamento em 16/12/2016) e a
da vistoria (2/10/2017, item 26, retro), além de não ser longo, não poderia afetar as convicções dos
engenheiros do DPCN de que a empresa mediu, por exemplo, 14 unidades de caixas coletoras, enquanto a
fiscalização do DPCN localizou apenas 8 delas. Deve-se enfatizar que os quadros do item 27 desta
instrução retratam serviços medidos pela empresa que não foram executados, ou executado a menor,
segundo o relatório do DPCN.
35. Com relação à pavimentação, a execução 0,00% encontrado pelo DPCN é a que se
compatibiliza com a realidade fática à época. A Conserge Construção e Serviços Gerais Ltda. afirma que
executou as obras até o percentual de 75% (item 18, retro), enquanto o ex-prefeito Neilson da Cruz
Cavalcante argumenta que apenas algumas fases da pavimentação foram finalizadas na gestão que o
sucedeu (item 18, retro).
36. Contudo, as fotos do relatório fotográfico do Município de Presidente Figueiredo/AM (peça 4,
p. 19-23, 27-35) mostram as ruas com a sub-base asfáltica deteriorada, convergindo com o relatório do
DPCN (peça 4, p. 54-58) de que apenas houve a retirada da capa de asfalto antiga do pavimento na
maioria dos trechos vistoriados (peça 4, p. 47).
37. Portanto, a parcela de R$ 20.420,60 inerente aos serviços da etapa pavimentação, medidos e
pagos à empresa Conserge Construção e Serviços Gerais Ltda., deve compor o débito atribuído aos
responsáveis, pois ficou claro que a paralisação das obras nesse estágio comprometeu a estrutura asfáltica
já existente prejudicando a trafegabilidade nessas ruas e, assim, configurando o desperdício do dinheiro
público aplicado nessa etapa.
38. Cabe observar que a gestão do Sr. Neilson da Cruz Cavalcante compreendeu o período de
1/1/2013 a 31/12/2016 ao passo que a vigência do Convênio 574/PCN/2013 2911/2013 a 30/6/2017 (item
3, retro). Em 16/12/2016 foi paga a Nota Fiscal 690, última emitida pela empreiteira na gestão do ex-
prefeito, restando a continuidade das obras para a administração seguinte.
39. No entanto, as obras não tiveram continuidade na gestão 2017-2020, havendo a restituição do
saldo de R$ 345.847,09 em 10/8/2017 (peça 4, p. 3 e 40). O prefeito sucessor, Sr. Romeiro José Costeira
de Mendonça, encaminhou ao DPCN o Ofício 001/2017 GBPMPF–PCN, de 3/3/2017 (peça 4, p. 15)
informando-o da impossibilidade de aceitar as obras em razão de terem sido mal executadas e que
empresa contratada somente aceitaria retomá-la com a celebração de termo aditivo contratual visando
reequilibrar os preços do asfalto.
40. Entretanto, a discussão contratual entre a empreiteira e o Município de Presidente
Figueiredo/AM não influencia na análise desta TCE, porquanto as irregularidades aqui tratadas dizem
respeito a débito decorrente de serviços pagos e não prestados pela empresa Conserge Construção e
Serviços Gerais Ltda.
41. Nesse cenário, as alegações de defesa dos responsáveis podem ser parcialmente acatadas para
que o valor do débito seja reduzido do valor original de R$ 254.512,11 para R$ 49.650,81, sendo R$
4.145,34 para a drenagem profunda (item 32, retro), R$ 34.753,99 para a drenagem superficial (item 34,
retro) e R$ 20.420,60 para a pavimentação, cuja data para cobrança de juros e correção monetária pode
ocorrer a partir de 16/12/2016, por se tratar da data do último pagamento efetuado à empresa, conforme
relação de pagamentos constante do item 7 desta instrução.
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA
42. Vale ressaltar que a pretensão punitiva do TCU, conforme Acórdão 1.441/2016-Plenário, que
uniformizou a jurisprudência acerca dessa questão, subordina-se ao prazo geral de prescrição indicado no
art. 205 do Código Civil, que é de 10 anos, contado da data de ocorrência da irregularidade sancionada,
nos termos do art. 189 do Código Civil, sendo este prazo interrompido pelo ato que ordenar a citação, a
audiência ou a oitiva do responsável. No caso em exame, ainda não ocorreu a prescrição, uma vez que as
datas dos pagamentos indevidos ocorreram entre 5/10/2015 e 16/12/2016 (item 7, retro) e o ato de
ordenação da citação ocorreu em 29/3/2019.
128
valor atualizado monetariamente desde a data do acórdão até a do efetivo recolhimento, se for pago após
o vencimento, na forma da legislação em vigor;
46.4. Autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, II, da Lei 8.443, de 1992, a cobrança judicial das
dívidas, caso não atendidas às notificações.
46.5. Autorizar, desde logo, o pagamento das dívidas mencionadas nos subitens anteriores, caso
solicitado, em até 36 parcelas mensais e consecutivas, nos termos do art. 26 da Lei 8.443, de 1992 c/c o
art. 217 do RI/TCU, de 2011, fixando aos devedores o prazo de quinze dias, a contar do recebimento da
notificação, para comprovarem perante o Tribunal o recolhimento da primeira parcela e de trinta dias, a
contar da parcela anterior, para comprovarem o recolhimento das demais parcelas, devendo incidir sobre
cada valor mensal, os encargos legais devidos (débito: juros de mora e atualização monetária; multa:
atualização monetária), na forma prevista na legislação em vigor.
46.6. Remeter cópia do acórdão que vier a ser prolatado pelo Tribunal ao Procurador-Chefe da
Procuradoria da República no Estado do Amazonas/AM, nos termos do art. 209, § 7º, do RI/TCU, para
ajuizamento das ações cabíveis, informando-lhes que o inteiro teor da deliberação pode ser consultado no
endereço http://www.tcu.gov.br/acordaos.
46.7. Enviar cópia do Acórdão que vier a ser proferido ao Departamento do Programa Calha Norte
e aos responsáveis, para ciência, informando que a presente deliberação, acompanhada do Relatório e do
Voto que a fundamenta, está disponível para a consulta no endereço www.tcu.gov.br/acordaos, além de
esclarecer que, caso requerido, o TCU poderá fornecer sem custos as correspondentes cópias, de forma
impressa.”
3. O MP/TCU, representado pelo procurador-geral Paulo Soares Bugarin, manifestou-se
conforme a seguir3:
“(...)
4. Muito embora o valor estimado do objeto executado tenha sido R$ 501.931,59, a prefeitura
realizou desembolsos que perfazem R$ 795.114,53 em favor da empresa Conserge Construções e
Serviços Gerais Ltda. ao longo da obra. O saldo de R$ 351.767,40 que remanesceu na conta específica do
ajuste foi restituído aos cofres federais em 10/8/2017.
5. Para calcular o débito existe neste processo, levou-se em conta a participação efetiva da União
no ajuste (86,81%) e a diferença entre o montante pago à construtora e o valor aferido para os serviços
efetivamente prestados, chegando-se ao total de R$ 254.512,11 (valor histórico).
6. Ingressos os autos nesta Corte, foi ordenada a citação solidária do Sr. Neilson da Cruz
Cavalcante e da empresa Conserge Construção e Serviços Gerais Ltda. para recolher a dívida ou
apresentar alegações de defesa.
7. Em seu arrazoado, o ex-prefeito questionou a precisão dos quantitativos levantados pelo controle
interno em seu laudo de vistoria. A esse respeito, afirmou que os serviços de drenagem profunda
(assentamento de 300m tubos de concreto, escavação de valas, regularização e compactação manual do
terreno, lastro de areia média, caixas coletoras, reaterro de vala e remoção de entulho) teriam sido
integralmente realizados, conforme consignado nas medições elaboradas pela empresa construtora. Da
mesma forma, o agente argumentou que os demais serviços impugnados também teriam sido executados.
8. Já a Conserge Construções e Serviços Gerais Ltda. suscitou preliminar de ilegitimidade passiva
e, no mérito, defendeu ter efetuado volume de serviços compatível com os pagamentos por ela recebidos.
9. Após examinar tais ponderações, a unidade instrutora sugeriu acatar parcialmente as alegações
de defesa aduzidas pelos responsáveis, por considerar que ‘seria difícil a constatação das obras executadas
em relação aos serviços de drenagem profunda que normalmente depois de executados ficam encobertos
por terra compactada dificultando a inspeção apenas visual’.
10. Em vista disso, propôs elidir o débito decorrente da não realização de parcela dos serviços de
drenagem profunda, à exceção de R$ 4.145,34, referentes ao valor de seis caixas coletoras não
construídas. Adicionalmente, sugeriu a manutenção da dívida advinda da inexecução de serviços de
3 Peça 39.
130
drenagem superficial (R$ 34.753,99) e pavimentação (R$ 20.420,60). Ao final, alvitrou encaminhamento
para julgar irregulares as contas do Sr. Neilson da Cruz Cavalcante e da empresa Conserge Construções e
Serviços Gerais Ltda., condená-los solidariamente ao ressarcimento do débito e aplicar-lhes a multa
prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992.
11. Escusando-me por divergir da análise empreendida pela Secex-TCE, reputo que o feito deve ter
deslinde diverso.
12. Inicialmente, considero relevante lembrar que o laudo de vistoria emitido pelo DPCN em
23/10/2017 é ato administrativo que goza de presunção de veracidade e legitimidade, a qual somente
poderá ser desconstituída mediante a apresentação de provas que tenham o condão de refutar os achados
descritos pelo controle interno. Após analisar detidamente os elementos de defesa trazidos ao feito pelos
agentes arrolados nesta TCE, verifiquei a inexistência de documentos capazes de desconstituir as falhas
descritas no aludido documento.
13. Consoante constou do relatório de vistoria (peça 4, p. 46), as glosas nos itens de drenagem
profunda decorreram das seguintes constatações: i) emprego de tubulação de concreto com diâmetro
inferior ao previsto no projeto; e ii) instalação de tubos de concreto em apenas 72,36m dos 300m
contratados.
14. Ao contrapor tais apontamentos, os responsáveis alegaram que todos os itens de drenagem
profunda haviam sido realizados e aferidos no curso da primeira medição de serviços, fato que poderia ser
constatado a partir da análise dos seguintes documentos: i) planilhas de medição produzidas pela própria
empresa contratada; ii) algumas fotografias dos serviços prestados; iii) parecer que aprovou a liberação da
transferência da segunda parcela de recursos.
15. A meu ver, tais elementos probatórios são insuficientes para demonstrar a efetiva prestação dos
serviços ora questionados.
16. Como é de amplo conhecimento nesta Corte, as planilhas de medição de obras não se
consubstanciam em documentos de elevada carga probatória, pois são frequentes os casos em que as
informações nelas contidas não retratam a realidade, mas apenas buscam camuflar uma situação irregular
em que pagamentos são realizados sem a devida contraprestação.
17. Da mesma forma, é cediço o entendimento no âmbito deste TCU de que fotografias
desacompanhadas de outras provas são insuficientes para comprovar a realização do objeto conveniado
(acórdãos 6180/2019-2ª Câmara, 4780/2011-2ª Câmara e 7200/2018-2ª Câmara). Ainda que as fotos
fossem admissíveis como prova de forma isolada, observo que em somente três dos retratos trazidos pelos
agentes citados é possível ver a instalação da tubulação de concreto em um curto trecho situado nas ruas
das Cutias e das Araras (peça 20, p. 15 e 20). Por essa razão, julgo que esses documentos vão ao encontro
da situação descrita no laudo do DPCN e não ilustram a plausibilidade da tese defendida pelos
responsáveis.
18. Igualmente, o parecer 84/SG/DPCN/Dieng/MD emitido pelo DPCN (peça 3, p. 17) não é
evidência de que os serviços de drenagem profunda tenham sido prestados, uma vez que a análise da
liberação da segunda parcela de recursos não contemplou vistoria in loco e se resumiu ao exame de
fotografias e aspectos financeiros do convênio 574/PCN/2013.
19. Em vista desses motivos, opino no sentido de que o débito originalmente computado deve ser
mantido, haja vista os agentes não terem demonstrado a execução do objeto em nível compatível com o
valor dos pagamentos feitos à empresa Conserge Construções e Serviços Gerais Ltda.
20. Por fim, e renovando vênias à unidade instrutora, não perfilho o entendimento de que seria
impossível ao controle interno quantificar a metragem de tubulação de concreto instalada em momento
em que a obra já se encontrava encoberta, já que a existência dos tubos pode ser constatada a partir do
exame das caixas coletoras (vide foto de peça 20, p. 20). Foi por meio da inspeção das caixas coletoras
que o controle interno também verificou que o diâmetro da tubulação instalada divergia daquele previsto
em projeto, fato que sequer foi objeto de contestação nas alegações de defesa dos responsáveis.
21. Ante o exposto, e por considerar que o Sr. Neilson da Cruz Cavalcante e a empresa Conserge
Construções e Serviços Gerais Ltda. não lograram elidir as irregularidades que lhes foram atribuídas, este
131
representante do Ministério Público de Contas manifesta-se a favor do julgamento irregular das contas
dos responsáveis, da condenação solidária ao ressarcimento de R$ 254.512,11 (valor histórico),
atualizado monetariamente e acrescido de juros de mora, e a aplicação individual da multa prevista no art.
57 da Lei nº 8.443/92.”
É o relatório.
Proposta de Deliberação
Tratam os autos de processo de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério da Defesa
(MD) em desfavor do Sr. Neilson da Cruz Cavalcante, ex-prefeito do município de Presidente
Figueiredo/AM (gestão 2013 a 2016), em razão da não aprovação da prestação de contas, por impugnação
parcial das despesas, relativa ao convênio 574/DEPCN/2013, Siconv 791087/2013, que teve por objeto a
“pavimentação com drenagem e a construção de calçadas, meios-fios e sarjetas em ruas do município”4.
2. Os recursos financeiros para a execução do ajuste foram fixados em R$ 1.104.874,00, sendo
R$ 1.000.000,00 aportados pela União e R$ 104.874,00 relativos à contrapartida do município 5. A parte
federal foi liberada em duas parcelas de R$ 500.000,00, creditadas na conta específica em 17/12/2015 e
28/7/20166.
3. O ajuste teve vigência entre 29/11/2013 a 30/6/2017 7. O prazo de prestação de contas previsto
era de 60 dias, contados do término da vigência ou da conclusão do objeto pactuado, o que ocorresse
primeiro8.
4. Para a realização da obra, foi firmado contrato com a empresa Conserge Construção e
Serviços Gerais Ltda., no valor de R$ 1.042.502,089, no âmbito do qual foram pagos R$ 795.114,5310.
5. De acordo com o laudo de 23/10/2017 11, resultante da vistoria in loco realizada em 2/10/2017,
foram executados 48,15% dos serviços previstos no projeto básico e no contrato; a parcela executada
tinha serventia12.
6. O detalhamento do valor dos serviços contratados e realizados, conforme o referido laudo,
pode ser assim sintetizado:
Serviço Serviços Serviços
contratados medidos na
(R$) vistoria in loco
(R$)
Serviços preliminares 74.399,46 74.399,46
Drenagem profunda 217.836,37 32.290,55
Drenagem superficial (sarjeta e 349.315,09 322.311,38
meio-fio)
Pavimentação 249.476,50 0,00
BDI 151.474,66 72.930,23
Total 1.042.502,08 501.931,62
7. O parecer da Divisão de Execução Orçamentária e Análise Financeira do MD apontou que a
parcela não executada da obra representava R$ 293.182,9413. Tendo em vista que a parcela da União
pactuada no termo do convênio equivalia a 90,5% do valor total da avença, o concedente concluiu que
deveriam ser impugnados gastos realizados com recursos federais no montante de R$ 265.330,56.
8. Segundo o concedente, o prefeito sucessor, Sr. Romeiro José Costeira de Mendonça,
comprovou a adoção de medidas com vistas a resguardar o erário14.
9. Desse modo, o tomador de contas concluiu pela ocorrência de dano ao erário na quantia acima
informada, atribuindo a responsabilidade ao ex-prefeito Neilson da Cruz Cavalcante, em cujo mandato
ocorreu a execução da totalidade das despesas impugnadas15.
10. O órgão de controle interno corroborou o entendimento do tomador de contas especial 16.
II
11. No âmbito do Tribunal, a Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial
(Secex-TCE) apontou que, conforme extratos bancários da conta específica, a contrapartida municipal foi
depositada, em data anterior à do ingresso da primeira parcela de recursos federais, tendo sido totalmente
aplicada na execução dos serviços contratados17. Desse modo, concluiu que a participação federal, de R$
690.240,53, representou 86,81% do valor gasto (R$ 795.114,53), de modo que o valor a ser restituído aos
cofres federais correspondia a R$ 254.512,1118.
12. Levou em conta, ainda, o fato de a contratada ter recebido pagamentos por serviços não
executados, o que demandaria sua responsabilização pelo dano ao erário solidariamente com o ex-
prefeito.
13. Assim, a Secex-TCE realizou a citação do Sr. Neilson da Cruz Cavalcante e da Conserge
Construção e Serviços Gerais Ltda.
14. Após analisar as alegações de defesa, a unidade instrutiva entendeu que procediam
parcialmente os argumentos aduzidos19.
15. Considerou pertinente o argumento da dificuldade da medição das obras de drenagem
profunda e reputou que restava pendente, apenas, a comprovação da instalação de 8 das 14 caixas
coletoras previstas.
16. De outra parte, a unidade instrutiva demonstrou que não foram apresentados argumentos
suficientes para evidenciar a compatibilidade entre os pagamentos realizados e a execução dos serviços de
drenagem superficial e de pavimentação.
17. Sobre a drenagem superficial, esclarece que, ao contrário do que argumentaram os
responsáveis, o método de aferição visual utilizado pela equipe de vistoria era coerente com as
características dos serviços executados: colocação de sarjetas, meios-fios e construção de calçadas em
concreto. Acrescentou que os responsáveis se limitaram a contradizer o laudo do DPCN, apresentando
provas documentais que já constavam dos autos e que não refutavam as irregularidades apontadas.
18. Quanto à alegação de que a ação do tempo poderia ter impactado nas constatações da
fiscalização do DPCN, assinalou que as irregularidades tratadas nos autos envolvem serviços medidos e
não executados, ou executados em quantitativos menores que os medidos, e não serviços que pudessem
ter sido deteriorados posteriormente à execução.
19. Com relação à execução do serviço de pavimentação, a qual os responsáveis afirmaram ter
sido compatível com os pagamentos realizados, observou a unidade instrutiva que as fotos do relatório
fotográfico mostravam as ruas com a sub-base asfáltica deteriorada20, corroborando-se o que constou do
laudo de vistoria do DPCN21: na maioria dos trechos vistoriados, foi realizada apenas a retirada da capa
de asfalto antiga do pavimento.
20. Desse modo, propôs rejeitar parcialmente as alegações de defesa apresentadas pelos
responsáveis, julgando irregulares suas contas, com imputação de débito, ajustado pela exclusão de parte
dos valores referentes à drenagem profunda, e de multa do art. 57 da Lei 8.443/1992 22.
III
21. O MP/TCU, representado pelo subprocurador-geral Paulo Soares Bugarin, divergiu da
proposta da unidade instrutiva23, por considerar que o débito por ela originalmente apurado na instrução
preliminar e informado nas citações deveria ser mantido.
22. Ressaltou que, consoante o relatório de vistoria, as glosas na drenagem profunda decorreram
do emprego de tubulação de concreto com diâmetro inferior ao previsto no projeto e da instalação de
tubos de concreto em apenas 72,36m dos 300m contratados24.
23. Nesse sentido, considerou insuficientes os argumentos dos responsáveis, que afirmam que
todos os itens de drenagem profunda haviam sido realizados e aferidos antes da primeira medição de
serviços.
24. O MP/TCU assinalou que as planilhas de medição, produzidas pela própria empresa
contratada, não possuem carga probatória suficiente para comprovar a execução dos serviços
impugnados. Ademais, ressaltou que, além da quantidade reduzida de fotos apresentadas, esta Corte
considera que tais documentos, desacompanhados de outros elementos de prova, são insuficientes para
comprovar a execução do objeto. Por fim, quanto ao parecer emitido pelo DPCN em 6/7/1016, o qual, de
acordo com os responsáveis, teria permitido a liberação da segunda parcela dos recursos federais25,
destacou que não se trata de evidência de que os serviços de drenagem profunda tenham sido prestados,
uma vez que constou, expressamente, do referido documento que não havia sido, até aquele momento,
realizada vistoria in loco, e que o exame havia se resumido à análise de fotografias e de aspectos
financeiros do convênio.
25. Ademais, no que tange ao argumento de que não seria possível quantificar a metragem de
tubulação de concreto encoberta, assinalou o MP/TCU que foi por intermédio da inspeção das caixas
coletoras que o concedente verificou que o diâmetro da tubulação instalada divergia daquele previsto em
projeto. Acrescentou que é possível a verificação da existência dos tubos a partir do exame das caixas
coletoras nas fotos constantes dos autos26.
26. Desse modo, concluiu que os responsáveis não lograram elidir as irregularidades que lhes
foram atribuídas, manifestando-se pelo julgamento pela irregularidade de suas contas, com a condenação
solidária ao ressarcimento do dano no valor de R$ 254.512,11, conforme cálculo que fundamentou a
citação realizada, e a aplicação individual da multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992.
IV
27. Observo que, essencialmente, a divergência entre a unidade instrutiva e o MP/TCU refere-se
ao acatamento parcial dos argumentos dos responsáveis acerca da inexecução parcial dos serviços de
drenagem profunda.
28. Nesse caso, cabe razão ao Parquet especializado, ao se manifestar no sentido de que devem
ser rejeitadas as alegações de defesa também quanto a esse ponto.
29. Os responsáveis não lograram demonstrar que o MD falhou na realização da vistoria in loco e
na elaboração do laudo. Os apontamentos constantes do referido documento basearam-se em elementos
objetivos e suficientes para chegar-se à conclusão de inexecução parcial dos serviços de drenagem
21 Peça 4, p. 47 e 54-58.
22 Peça 36.
23 Peça 39.
24 Peça 4, p. 46.
25 Peça 3, p. 20.
26 Menciona, como exemplo, as fotos à peça 20, p. 20.
134
1. Processo nº TC 036.341/2018-5.
2. Grupo II – Classe II – Assunto: Tomada de Contas Especial.
3. Responsáveis/ Interessado:
3.1. Responsáveis: Conserge Construção e Serviços Gerais Ltda. (84.513.290/0001-67); Neilson da
Cruz Cavalcante (137.921.482-34).
3.2. Interessado: Ministério da Defesa (MD).
4. Entidade: Município de Presidente Figueiredo/AM.
5. Relator: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.
6. Representante do Ministério Público: Subprocurador-Geral Paulo Soares Bugarin (manifestação
oral).
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (Secex-TCE).
8. Representação legal:
8.1. Jeferson Anjos da Silva (9.794/OAB-AM) e outros, representando Conserge Construção e
Serviços Gerais Ltda.
8.2. Bruno Vieira da Rocha Barbirato (6975/OAB-AM) e outros, representando Neilson da Cruz
Cavalcante.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério
da Defesa (MD), em razão da não aprovação da prestação de contas por impugnação parcial das despesas
realizadas à conta do convênio 574/DEPCN/2013, Siconv 791087, que tinha por objeto a pavimentação
com drenagem e a construção de calçadas, meios-fios e sarjetas no município de Figueiredo/AM.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, ante
as razões expostas pelo relator, em:
9.1. rejeitar as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. Neilson da Cruz Cavalcante e pela empresa
Conserge Construção e Serviços Gerais Ltda.;
9.2. julgar irregulares as contas do Sr. Neilson da Cruz Cavalcante, com fundamento no art. 16, III,
“c”, da Lei 8.443/1992, condenando-o, solidariamente com a empresa Conserge Construção e Serviços
Gerais Ltda., ao pagamento das quantias abaixo especificadas, atualizadas monetariamente e acrescidas
dos juros de mora, calculadas a partir das datas indicadas até a data do efetivo recolhimento, fixando-lhes
o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprovem, perante o Tribunal (art. 214,
III, “a”, do RI/TCU), o recolhimento das referidas quantias aos cofres do Tesouro Nacional, na forma da
legislação em vigor:
Valor (R$) Data
107.117,63 9/6/2016
26.435,34 22/6/2016
135
32.450,71 10/8/2016
54.066,55 28/10/2016
34.441,88 7/12/2016
9.3. aplicar ao Sr. Neilson da Cruz Cavalcante e à empresa Conserge Construção e Serviços Gerais
Ltda., individualmente, a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992, no valor de R$ 57.000,00
(cinquenta e sete mil reais), fixando o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que
comprove, perante o Tribunal (art. 214, III, “a”, do RI/TCU), o recolhimento da dívida aos cofres do
Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do presente acórdão até a do efetivo
recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
9.4. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial da
dívida, caso não atendidas as notificações;
9.5. encaminhar cópia desta deliberação à Procuradoria da República no Estado do Amazonas, em
cumprimento ao disposto no § 3º do art. 16 da Lei 8.443/1992.
RELATÓRIO
Adoto como relatório a instrução elaborada no âmbito da Secretaria de Controle Externo de Tomada
de Contas Especial (peça 156), cuja proposta de encaminhamento contou com a anuência do titular da
unidade técnica (peça 158) e do representante do Ministério Público (peça 159):
“INTRODUÇÃO
1. Cuidam os autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério do Turismo, em
desfavor de Adair Henriques da Silva (CPF 003.975.801-00), em razão de não comprovação da regular
aplicação dos recursos repassados pela União, por meio do Convênio 771/2009, registro Siafi 704274
(peça 6), firmado entre o Ministério do Turismo e o Município de Bom Jesus de Goiás - GO, e que tinha
por objeto o evento descrito como “XIX Exposição Agropecuária”.
136
HISTÓRICO
2. Em 21/2/2018, com fundamento na IN/TCU 71/2012, alterada pela IN/TCU 76/2016 e
DN/TCU 155/2016, a Secretaria Nacional de Qualificação e Promoção do Turismo do Ministério do
Turismo autorizou a instauração da tomada de contas especial (peça 1). O processo foi registrado no
sistema e-TCE com o número 190/2018.
3. O Convênio 771/2009, registro Siafi 704274, foi firmado no valor de R$ 229.510,00, sendo
R$ 219.090,00, à conta do concedente e R$ 10.420,00, referentes à contrapartida do convenente. Teve
vigência de 30/7/2009 a 5/12/2009, com prazo para apresentação da prestação de contas em 6/1/2010.
Os repasses efetivos da União totalizaram R$ 219.090,00 (peça 9).
4. A prestação de contas e complementações enviadas foram analisadas por meio dos pareceres
técnicos constantes nas peças 49, 72, 77 e 113.
5. O fundamento para a instauração da Tomada de Contas Especial, conforme consignado na
matriz de responsabilização elaborada pelo tomador de contas, foi a constatação das seguintes
irregularidades:
Não comprovação da boa e regular aplicação dos recursos recebidos da União, por meio do
convênio nº. 704274/2009, celebrado entre o Ministério do Turismo e a Prefeitura Municipal de Bom
Jesus - GO.
6. O responsável arrolado na fase interna foi devidamente comunicado e, diante da ausência de
justificativas suficientes para elidir as irregularidades e da não devolução total dos recursos, instaurou-
se a tomada de contas especial.
7. No Relatório de TCE 168/2018 (peça 137), o tomador de contas concluiu que o prejuízo
importaria no valor original de R$ 208.770,81, imputando-se a responsabilidade ao Sr. Adair Henriques
da Silva, prefeito municipal, no período de 1/1/2009 a 31/12/2012, na condição de gestor dos recursos.
8. Em 18/1/2019, a Controladoria-Geral da União emitiu o Relatório de Auditoria 54/2019
(peça 138), em concordância com o relatório do tomador de contas. O certificado de auditoria e o
parecer do dirigente do órgão de controle interno concluíram pela irregularidade das presentes contas
(peças 139 e 140).
9. Em 12/3/2019, o ministro responsável pela área atestou haver tomado conhecimento das
conclusões contidas no relatório e certificado de auditoria, bem como do parecer conclusivo do dirigente
do órgão de controle interno, manifestando-se pela irregularidade das contas e determinando o
encaminhamento do processo ao Tribunal de Contas da União (peça 141).
10. Na instrução antecedente (peça 144), analisando-se os documentos nos autos, concluiu-se
pela necessidade de realização de citação e de audiência do Sr. Adair Henriques da Silva (CPF
003.975.801-00), ex-prefeito do Município de Bom Jesus de Goiás – GO:
Irregularidade 1: ausência de comprovação de que as empresas que não detinham direitos de
exclusividade de artistas, contratadas irregularmente por inexigibilidade, pagaram o cachê de
bandas ou cantores que realizaram o evento.
Débito:
Data de ocorrência Valor histórico (R$) Identificador da parcela
6/10/2009 206.909,32 D1
15/4/2010 5.298,00 C1
Valor atualizado do débito (sem juros) em 24/6/2019: R$ 352.439,00
Conduta: na parcela D1 – não apresentar notas fiscais e recibos (ou outros documentos
equivalentes) emitidos em nome das bandas e cantores e assinados por seus representantes legais ou
pelos seus empresários exclusivos, sendo essa representação ou exclusividade registrada em
cartório.
Irregularidade 2: não comprovação da execução física do objeto.
137
Débito:
Data de ocorrência Valor histórico (R$) Identificador da parcela
6/10/2009 7.159,49 D2
Valor atualizado do débito (sem juros) em 24/6/2019: R$ 12.505,48.
Conduta: não apresentar imagens (fotografias ou filmagens) ou outros documentos que
provassem a execução dos itens previstos no plano de trabalho e pagos com recursos do convênio.
Irregularidade 3: contratação, por inexigibilidade de licitação, de empresas que não detinham
direitos de exclusividade de artistas.
Conduta: contratar, por inexigibilidade de licitação, empresas que não apresentaram
Contratos de Exclusividade com os devidos registros em cartório dos artistas que se apresentaram
no evento objeto do convênio descrito como "XIX Exposição Agropecuária".
11. Em cumprimento ao despacho do Exmo. Ministro Relator (peça 147), foram efetuadas a
citação e a audiência do responsável. O Sr. Adair Henriques da Silva foi citado por meio do Ofício
6524/2019-TCU/Secex-TCE (peça 149), o qual fora devidamente recebido, conforme AR (peça 150). Em
consequência, o responsável apresentou suas razões de justificativas e alegações de defesa à peça 152.
EXAME TÉCNICO
12. Passa-se a seguir a descrever cada argumento apresentado nas razões de justificativas e
alegações de defesa do responsável seguido de suas respectivas análises:
Argumentos
13. O responsável propôs ação anulatória de ato administrativo em face da decisão terminativa
do Ministério do Turismo referente ao Convênio 704274, portanto, o presente processo pode ser objeto
de anulação por ação judicial que tramita na Justiça Federal.
Análise
14. A existência de processos no Poder Judiciário e no TCU com idêntico objeto não caracteriza
repetição de sanção sobre mesmo fato – bis in idem – tampouco litispendência. No ordenamento jurídico
brasileiro vigora o princípio da independência das instâncias, cuja essência diz respeito à possibilidade
de ocorrer condenações simultâneas nas diferentes esferas jurídicas (cível, criminal e administrativa).
Eventual recolhimento do débito, em um ou outro processo, servirá para comprovação de quitação e
saneamento da dívida, nos termos do Acórdão 115/2018-TCU-Segunda Câmara, da relatoria da Ministra
Ana Arraes.
15. Esse raciocínio se impõe porque o Tribunal de Contas da União possui jurisdição e
competência próprias, estabelecidas pela Constituição Federal e pela sua Lei Orgânica (Lei
8.443/1992). Dessa forma, a existência de ação judicial sobre mesma matéria não obsta o exercício do
controle externo nem vincula o juízo de valor formado por essa Corte de Contas, dado o princípio
da independência das instâncias.
16. Apenas a absolvição criminal fundada no reconhecimento da inexistência material do fato ou
na negativa de autoria tem eficácia preclusiva subordinante, isto é, afasta a imposição de obrigações e
sanções nas demais instâncias.
17. O entendimento posto encontra respaldo na jurisprudência desse Tribunal, consubstanciado
no Acórdão 344/2015/Plenário, de relatoria do Ministro Walton Alencar Rodrigues, cujo excerto do Voto
transcreve-se a seguir:
A condenação no âmbito do Poder Judiciário obedece a requisitos diversos dos necessários para a
condenação do TCU, cujo fundamento é consectário do inarredável dogma republicano da prestação de
contas. Neste sentido, todos os gestores têm de comprovar a lisura de sua administração.
A propósito do tema, excerto do voto proferido pelo e. ministro Eros Grau, no julgamento do
Mandado de Segurança 25.880, em que a impetrante pretendia invalidar acórdão desta Corte que a
condenara em débito, sob o argumento de que a tomada de contas especial versava sobre os mesmos
fatos tratados em ação civil pública, in verbis:
6. A existência de ação civil pública para apuração dos mesmos fatos tratados pela decisão do
TCU ora atacada não elide a competência da Corte de Contas para julgar a impetrante. O ajuizamento
138
de ação civil pública não retira a competência do TCU para instaurar a tomada de contas especial e
condenar o responsável a ressarcir ao erário valores indevidamente percebidos; há independência entre
as instâncias civil, administrativa e penal.
18. Em razão desse e de outros fundamentos, a Excelsa Corte negou a segurança pretendida.
19. A independência entre as instâncias permite que uma mesma conduta seja valorada de forma
diversa, em ações de natureza penal, civil e administrativa. Apenas a sentença absolutória no juízo penal
fundada no reconhecimento da inexistência material do fato tem habilidade para repercutir no TCU e
afastar a imposição de obrigações e sanções de natureza civil e administrativa (CPP, arts. 66, caput, e
386, I).
20. Nesses termos, a ação por improbidade administrativa, de natureza civil (STF, ADI 2797),
não possui viabilidade jurídica para vincular os juízos de valor formados nas searas criminal
e administrativa.
21. Portanto, as alegações de defesa apresentadas não devem ser acolhidas.
Argumentos
22. A execução física do convênio foi comprovada pela documentação juntada aos autos, exceto
pela não comprovação da divulgação escrita no Jornal Folha de Bom Jesus, conforme Parecer
983/2013.
23. Não seria razoável obrigar o requerido a devolver a totalidade dos recursos do convênio,
haja vista que o objeto do ajuste foi realizado e o Município foi beneficiado com os recursos federais.
24. Todas as providências foram adotadas pelo responsável para o funcionamento do objeto.
Análise
25. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que a mera execução física do objeto ou de
parte dele, por si só, não comprova que os recursos foram aplicados corretamente, cabendo ao
responsável demonstrar o nexo causal entre os recursos que lhe foram repassados e os documentos de
despesas referentes à execução, de forma que seja possível confirmar que o objeto do ajuste foi
executado com os recursos transferidos, o que restou pendente no caso em epígrafe, conforme será
demonstrado ao longo desta instrução.
26. Esse entendimento fundamenta-se no dever de prestar contas, previsto no parágrafo único do
art. 70 da Constituição Federal, bem como em outros normativos infraconstitucionais, como o Decreto-
Lei 200/1967. Nesse sentido é o teor dos Acórdãos 2.024/2016-TCU-2a Câmara, 1.449/2016-TCU-2ª
Câmara, 11.236/2015-TCU-2ª Câmara, 11.222/2015-TCU-2ª Câmara e 7.612/2015-TCU-1ª Câmara.
27. Com relação, especificamente, às despesas referentes à não comprovação da divulgação
escrita no Jornal Folha de Bom Jesus, verificou-se que, além da glosa promovida no âmbito da Nota
Técnica de Reanálise 983/2013 (peça 72), a própria defesa reconheceu a falta de documentos de
comprovação.
28. Portanto, as alegações de defesa não devem ser acolhidas.
Argumentos
29. A carta de exclusividade foi outorgada a cada um dos contratados pelas empresas legalmente
responsáveis pela representação de cada artista.
30. De acordo com a jurisprudência colacionada na peça de defesa, a inviabilidade de
competição não depende da pré-existência de um contrato de exclusividade.
31. No caso concreto, encontram-se presentes os requisitos para a inexigibilidade da licitação.
32. Não há que se falar em dano ao erário se os valores pagos pelos shows artísticos estão
compatíveis com o mercado.
33. Deve ser reconhecida a comprovação da boa e regular aplicação dos recursos públicos
federais por meio das notas fiscais, cheques e extratos bancários juntados.
34. As únicas impropriedades verificadas são de cunho formal.
Análise
35. Em relação à contratação de bandas para a realização de shows por meio de inexigibilidade
de licitação, o Acórdão 96/2008-TCU-Plenário, Sessão de 30/1/2008, prolatado em feito relatado pelo
139
evento e a contratação por inexigibilidade de licitação em desacordo com o art. 25, inciso III, da
Lei 8.666/1993, tendo em vista que as informações constantes do processo indicam que a empresa
contratada não era representante exclusiva das bandas ou artistas indicados .
(...)
15. Tais elementos demonstram a ocorrência de pagamento à empresa contratada com
recursos da conta específica do Convênio 482/2008, entretanto, não há como se afirmar que os
valores pagos à empresa individual Marcos Correia Valdevino foram utilizados na realização do
objeto pactuado, tampouco demonstram o nexo de causalidade entre as verbas repassadas e o fim a
que elas se destinavam.
44. No que se refere à responsabilidade, essa deve ser imputada ao Sr. Adair Henriques da Silva
(CPF 003.975.801-00), prefeito municipal, na gestão de 2009-2012, uma vez que foi o gestor do
convênio, tendo a obrigação de observar as disposições da Lei 8.666/1993, no tocante à inexigibilidade
de licitação, e da Lei 4320/1964 e demais normas pertinentes, em relação à correta liquidação das
despesas.
45. Também poderia se cogitar a responsabilização da empresa contratada, uma vez que recebeu
recursos federais pagos pela entidade convenente, provenientes do convênio em epigrafe, e não se
comprovou o pagamento às bandas contratadas. Observa-se, entretanto, que os contratos firmados com o
órgão convenente (peças 86-87) não estabelece a obrigação da empresa contratada de apresentar e
guardar notas fiscais e recibos dos pagamentos efetuados aos artistas.
46. Além disso, o art. 174, do Código Tributário Nacional dispõe que "a ação para a cobrança
do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva", enquanto
que o art. 195, parágrafo único, estabelece que "os livros obrigatórios de escrituração comercial e fiscal
e os comprovantes dos lançamentos neles efetuados serão conservados até que ocorra a prescrição dos
créditos tributários decorrentes das operações a que se refiram".
47. Assim, a empresa contratada não tem qualquer obrigação contratual ou legal de apresentar e
guardar as notas fiscais emitidas por um prazo superior a cinco anos, o que já ocorreu, tendo em vista
que o último pagamento foi realizado em 15/10/2009 (peça 35, p. 9). Não tendo como se lhe exigir provas
que pudessem comprovar a correta execução financeira do objeto do convênio, não deve ser
responsabilizada no presente processo.
48. Nesse sentido é o Voto do Exmo. Ministro Relator Marcos Bemquerer, que fundamentou o
Acórdão 10.047/2015-TCU-2ª Câmara:
28. Quanto à empresa MR Promoções e Eventos, penso que não se deve imputar à sociedade
empresária responsabilidade pelo débito apurado nestes autos, porque a obrigação de comprovar a
aplicação de recursos públicos no objeto pactuado é do administrador público, haja vista o ônus
decorrente das normas mencionadas no item 25 supra de comprovar o correto emprego das verbas
federais percebidas, mediante a apresentação de documentos que atestem, de modo claro, os gastos
e o correspondente liame de causalidade entre as despesas efetuadas e os recursos recebidos .
29. Como bem assentou a unidade técnica, 'não havendo previsão contratual de que a empresa
deveria entregar à Prefeitura de Palmeirina as notas fiscais e recibos dos pagamentos efetuados às
bandas e não havendo mais a obrigação legal de a empresa guardar os documentos fiscais após
cinco anos do fato, concluiu-se que seu direito de defesa resta prejudicado'.
49. Além disso, verificou-se que o item – Divulgação escrita no jornal Folha de Notícia não foi
devidamente comprovado. Por seu turno, o item – Mídia radiofônica foi comprovado apenas de forma
parcial, conforme registrado na Nota Técnica de Reanálise 983/2013 (peça 72) e na Nota Técnica
Financeira PGTUR 799/2017 (peça 103). Portanto, entende-se como procedimento mais adequado
segregar os valores dos débitos de cada irregularidade evidenciada na fase interna desta TCE. Nesse
sentido, oportuno reproduzir excerto do Relatório de TCE 168/2018 (peça 137):
(...)
Conforme se observa das notas técnicas (execução do objeto do convénio e execução financeira)
que analisaram a prestação de contas podemos constatar o seguinte: - Ao analisar a execução física do
142
convénio (Nota Técnica Reanálise n° 983/2013), conclui-se pela rejeição parcial apenas do item relativo
à mídia radiofônica, no valor de R$ 2.500.00. Portanto, como o valor previsto para este item no plano de
trabalho era de R$ 2.760.00, o valor aprovado corresponde ao importe de R$ 260.00.
50. Na análise financeira da prestação de contas (Nota Técnica de Reanálise Financeira n°
271/2016), todos os itens foram rejeitados, com exceção dos itens relativos à divulgação escrita no jornal
Folha de Bom Jesus (R$ 5.000.00) e mídia radiofônica (R$ 260,00). Dessa forma, como o item relativo à
mídia radiofônica foi aprovado em parte (R$ 260,00) e apenas o item de divulgação escrita no jornal
Folha de Bom Jesus foi aprovado em sua totalidade (R$ 5.000,00), o valor reprovado, na verdade,
corresponde a R$ 7.500.00, conforme demonstrado no quadro abaixo:
Etapa Especificação Valor Glosa técnica Glosa Glosa total
(R$) Financeira
1 Divulgação 5.000,00 0,00 0,00 0,00
escrita no jornal
Folha de Bom
Jesus
2 Divulgação 5.000,00 0,00 5.000,00 5.000,00
escrita no jornal
Folha de Notícia
3 Mídia radiofônica 2.760,00 2.500,00 0,00 2.500,00
TOTAL 7.500,00
51. Contudo, verificou-se que na fase interna da TCE o órgão instaurador promoveu a glosa do
valor total do ajuste sem levar em conta o valor da contrapartida, o que ensejou a efetuação de ajustes
no cálculo do débito, no âmbito desta instrução, com vistas a preservar a proporcionalidade dos
recursos aportados pelo concedente e pelo convenente, conforme será demonstrado adiante na
quantificação do dano (parágrafos 73-78).
52. Por fim, Em relação à contratação de bandas para a realização de shows por meio de
inexigibilidade de licitação, o Acórdão 96/2008-TCU-Plenário, Sessão de 30/1/2008, prolatado em feito
relatado pelo Exmo. Ministro Benjamim Zymler, determinou ao Ministério do Turismo, dentre outras, a
obrigatoriedade de adoção de algumas providências a serem tomadas pela Convenente na execução de
Convênio com recursos federais, as quais deveriam ser comprovadas quando da prestação de contas, sob
pena de glosa dos valores envolvidos.
53. Dessa forma, considerando que a empresa LBS Eventos e Consultoria Ltda. (CNPJ
09.431.348/0001-08) foi contratada como intermediária de bandas e artistas em procedimento de
inexigibilidade de licitação, e considerando que tal sociedade comercial não possuía contratos de
exclusividade das bandas e artistas que se propôs a agenciar, houve descumprimento ao art. 25, inciso
III, da Lei 8.666/1993. Note-se que no próprio Termo de Convênio 771/2009, cláusula 3ª, item II, alíneas
“cc” e “ll”, havia disposições obrigando a prefeitura a respeitar os ditames do art. 25 da Lei 8.666/1993
e de tomar adequados procedimentos para os casos de contratação de intermediários de artistas via
inexigibilidade (como apresentação de contrato de exclusividade e publicação desse contrato no Diário
Oficial). Ademais, a norma contida no art. 49 da Portaria Interministerial 127/2008 obrigava a entidade
convenente a seguir a Lei 8.666/1993.
54. Assim, essa falha enseja a aplicação da multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei
8.443/1992.
55. Do acima exposto, evidencia-se que não houve a comprovação da boa e regular gestão dos
recursos. Portanto, devido ao relatado (não comprovação da regular execução financeira do ajuste),
resta caracterizada a ocorrência de dano aos cofres da União, ensejando o julgamento pela
irregularidade das contas, com imputação do débito correspondentes e a aplicação da multa prevista no
art. 57 da Lei 8443/1992.
56. Portanto, as alegações de defesa apresentadas não devem ser acolhidas.
Argumentos
143
57. No caso específico, não se constatou a existência de dolo do convenente em agir com o fim de
desrespeitar os princípios da Administração ou causar prejuízos à coletividade.
58. Os documentos apresentados pelo responsável evidenciam a sua boa-fé.
59. Não agiu com má-fé, não houve conduta abusiva, nem se locupletou dos recursos para fins
pessoais ou de terceiros.
Análise
60. Com relação ao argumento de que não teria agido de má-fé, cabe destacar que no âmbito do
TCU, é considerado de boa-fé o responsável que, embora tenha concorrido para o dano ao erário ou
outra irregularidade, seguiu as normas pertinentes, os preceitos e os princípios do direito. A análise,
portanto, é feita sob o ponto de vista objetivo, sem que seja necessária a comprovação de má-fé (dolo),
mas apenas da ausência de boa-fé objetiva (Acórdão 8987/2018 – 1ª Câmara).
61. Reproduzindo o entendimento de Luiz Felipe Bezerra Almeida Simões, em estudo publicado
na Revista do TCU 88, 2001, pp. 71/4, temos que:
Devemos, assim, examinar, num primeiro momento, diante de um caso concreto e nas condições em
que o agente atuou, qual o cuidado exigível de uma pessoa prudente e de discernimento. Assim o fazendo,
encontraremos o cuidado objetivo necessário, fundado na previsibilidade objetiva. Devemos, a seguir,
comparar esse cuidado genérico com a conduta do agente, intentando saber se a conduta imposta pelo
dever genérico de cuidado harmoniza-se com o comportamento desse agente. A resposta negativa leva à
reprovabilidade da sua conduta, à culpa e, enfim, à não caracterização da boa-fé objetiva.
62. No caso concreto, não há elementos que afastem a conclusão de que o responsável não se
pautou com o cuidado exigível de uma pessoa prudente e de discernimento, que teria atuado de forma
compatível com os preceitos e os princípios do direito público. Desse modo, não se vislumbra, nos autos,
elementos que permitam outra convicção.
63. Portanto, os argumentos apresentados não devem ser acolhidos.
Argumentos
64. O pagamento da dupla sertaneja Racyne e Rafael não foi realizado com recursos do convênio
em tela.
Análise
65. Conforme quadro constante do parágrafo 39 desta instrução, o pagamento à dupla sertaneja
Racyne e Rafael não está foi objeto de glosa pelo tomador de contas, não fazendo, por conseguinte, parte
do cálculo do débito imputado ao responsável.
66. Portanto, os argumentos apresentados não devem ser acolhidos.
Argumentos
67. O prazo para apresentação complementar deve ser prorrogado em vinte dias.
Análise
68. Em que pese o pedido de dilação de prazo pela defesa, fato é que os patronos do responsável
não lograram carrear nenhum documento novo aos autos desde o protocolo das alegações de defesa, em
12/9/2019. Ou seja, a defesa solicitou a prorrogação de prazo por vinte dias, mas, já se passaram mais
de setenta dias e nenhum novo documento foi acostado aos autos. Além disso, cabe destacar que, de
acordo com o art. 183, parágrafo único, do Regimento Interno do TCU, a prorrogação de prazo quando
concedida independe de notificação da parte.
69. Portanto, entende-se que o pedido deve ser desconsiderado.
70. Diante do exposto, não havendo nos autos elementos que possam atestar a boa-fé do
responsável, devem ser rejeitadas as alegações de defesa e as razões de justificativa apresentadas,
devendo as contas serem julgadas irregulares, condenando-o ao pagamento do débito apurado e da
multa correspondente.
Prescrição da Pretensão Punitiva
71. Vale ressaltar que a pretensão punitiva do TCU, conforme Acórdão 1.441/2016-Plenário,
Relator: Benjamin Zymler, que uniformizou a jurisprudência acerca dessa questão, subordina-se ao
prazo geral de prescrição indicado no art. 205 do Código Civil, que é de dez anos, contado da data de
144
ocorrência da irregularidade sancionada, nos termos do art. 189 do Código Civil, sendo este prazo
interrompido pelo ato que ordenar a citação, a audiência ou a oitiva do responsável.
72. No caso em exame, não ocorreu a prescrição, uma vez que a liberação dos recursos ocorreu
em 6/10/2009 (peça 9) e o ato de ordenação da citação e da audiência do responsável foi promovido em
3/7/2019 (peça 146).
QUANTIFICAÇÃO DO DANO
73. Deve-se enfatizar que os seguintes débitos estão associados a mais de uma irregularidade,
conforme tabela abaixo. No cálculo, considerou-se a proporcionalidade dos recursos repassados pelo
concedente frente ao valor da contrapartida, bem como o valor restituído pelo convenente, conforme
Nota Técnica Financeira PGTUR 799/2017 (peça 103, p. 3), haja vista que a imputação do débito na
fase interna não excluiu de forma proporcional o valor da contrapartida:
Data de ocorrência Valor histórico (R$) Identificador da parcela
6/10/2009 206.909,32 D1
6/10/2009 7.159,49 D2
15/4/2010 5.298,00 C1
74. Por oportuno, será demonstrada abaixo a memória de cálculo do débito ajustado:
75. Valor total do Convênio 771/2009 (peça 6, p. 7):
Órgão Valores aportados Proporção
Concedente 219.090,00 0,9545989
Convenente 10.420,00 0,0454011
Total do Convênio 229.510,00
76. Valores glosados, conforme Nota Técnica Financeira PGTUR 799/2017 (peça 103, p. 3):
Órgão Valores aportados Proporção
Concedente 214.068,81 0,9545989
Convenente 10.181,19 0,0454011
Total glosado 224.250,00
77. Valores dos débitos ajustados:
Itens Valores glosados Proporcional ao aporte do
concedente
Contratação dos artistas 216.750,00 206.909,32
Divulgação em jornal e 7.500,00 7.159,49
mídia radiofônica
Total 224.250,00 214.068,81
78. Valor devolvido: R$ 5.298,00 (peças 36 e 106).
79. Em observância ao comando contido no item 9.4 do Acórdão 1772/2017-TCU-Plenário,
TC 033.356/2013-0, da relatoria do Exmo. Ministro Augusto Sherman Cavalcanti, constatou-se,
mediante pesquisa aos sistemas eletrônicos do TCU, a inexistência de processos em trâmite no Tribunal
com débitos imputáveis ao responsável.
CONCLUSÃO
80. Conforme evidenciado nos itens 12 a 79 desta instrução, as razões de justificativas e as
alegações de defesa apresentadas pelo Sr. Adair Henriques da Silva (CPF 003.975.801-00) não foram
acolhidas, cabendo, nesse caso, a formulação de proposta de julgamento pela irregularidade das contas,
condenando-o, ao pagamento dos respectivos débitos, consoante evidenciado nesta instrução, além do
pagamento da multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992.
81. Por fim, constatou-se que não há elementos que se possam efetivamente aferir e reconhecer a
ocorrência de boa-fé na conduta do responsável, podendo este Tribunal, desde logo, proferir o
julgamento de mérito pela irregularidade das contas, conforme nos termos dos §§ 2º e 6º do art. 202 do
Regimento Interno do TCU. (Acórdãos 2.064/2011-TCU-1ª Câmara (relator: Ubiratan Aguiar),
6.182/2011-TCU-1ª Câmara (relator: Weber de Oliveira), 4.072/2010-TCU-1ª Câmara (Relator: Valmir
145
g) enviar cópia do Acórdão a ser prolatado, bem como do Relatório e do Voto que o
fundamentarem à Procuradoria da República no Estado de Goiás, nos termos do § 3º do art. 16 da Lei
8.443/1992 c/c o § 7º do art. 209 do Regimento Interno do TCU, para adoção das medidas cabíveis;
h) enviar cópia do Acórdão que vier a ser proferido ao Ministério do Turismo e ao responsável,
para ciência, informando que a presente deliberação, acompanhada do Relatório e do Voto que a
fundamenta, está disponível para a consulta no endereço www.tcu.gov.br/acordaos, além de esclarecer
que, caso requerido, o TCU poderá fornecer sem custos as correspondentes cópias, de forma impressa.”
É o relatório.
VOTO
Trata-se de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério do Turismo, em razão da não
comprovação da regular aplicação dos recursos repassados pela União, por meio do Convênio 771/2009,
celebrado com o Município de Bom Jesus de Goiás – GO, com vigência de 30/7/2009 a 5/12/2009, que
tinha por objeto o evento descrito como “XIX Exposição Agropecuária”.
2.Para consecução do objeto do ajuste, foi previsto o montante de R$ 229.510,00, sendo
R$ 219.090,00 à conta do concedente e R$ 10.420,00 referentes à contrapartida do convenente.
II
3.No âmbito deste Tribunal, foi realizada a citação do Sr. Adair Henriques da Silva, então prefeito
do Município de Bom Jesus de Goiás, em razão da (i) “ausência de comprovação de que as empresas que
não detinham direitos de exclusividade de artistas, contratadas irregularmente por inexigibilidade,
pagaram o cachê de bandas ou cantores que realizaram o evento” e da (ii) “não comprovação da
execução física do objeto”. O responsável também foi ouvido em audiência pela “contratação, por
inexigibilidade de licitação, de empresas que não detinham direitos de exclusividade de artistas”.
4.O Sr. Adair Henriques da Silva apresentou suas alegações de defesa e razões de justificativas,
insertas à peça 152.
5.Preliminarmente, o responsável noticia que propôs ação anulatória de ato administrativo em face
da decisão terminativa do Ministério do Turismo referente ao Convênio 704274, razão pela qual entende
que o presente processo pode ser objeto de anulação pelo Poder Judiciário.
6.Quanto ao mérito, alega que a execução física do convênio foi demonstrada pela documentação
juntada aos autos, exceto pela não comprovação da divulgação do evento no Jornal Folha de Bom Jesus,
conforme Parecer 983/2013.
7.Aduz que carta de exclusividade teria sido outorgada a cada um dos artistas contratados pelas
empresas legalmente responsáveis por sua representação e que a inviabilidade de competição não
dependeria da pré-existência de um contrato de exclusividade, requisito que justificaria a inexigibilidade
da licitação.
8.Afirma que não teria ocorrido dano ao erário, dado que os valores pagos pelos shows artísticos
estão compatíveis com os de mercado e que a boa e regular aplicação dos recursos públicos federais
poderia ser verificada por meio das notas fiscais, cheques e extratos bancários juntados.
9.O responsável alega ainda que não teria agido com dolo ou má-fé, não teria se locupletado dos
recursos para fins pessoais ou de terceiros e que os documentos apresentados evidenciariam sua boa-fé.
10.Ao final, requer um prazo de vinte dias para apresentação de documentação complementar.
II
11.Após o exame da manifestação, a Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial
propõe rejeitar as razões de justificativas e as alegações de defesa apresentadas pelo responsável, julgar
irregulares suas contas, condenando-o ao pagamento do débito apurado, bem como lhe aplicar as multas
dos art. 57 e 58, inciso II, da Lei 8.443/1992.
12.A proposta da unidade técnica contou com a anuência do representante do Ministério Público.
147
III
13.Acolho os pareceres precedentes e adoto seus fundamentos como razões de decidir, sem prejuízo
das considerações que faço a seguir.
14.A mera propositura de ação no âmbito do Poder Judiciário com o propósito de anular ato
administrativo do concedente referente ao convênio em exame nos presentes autos não possui o condão
de obstaculizar o seguimento do presente feito.
15.Como é cediço, a mera execução física do objeto não comprova, por si só, que os recursos foram
aplicados corretamente. Cabe ao responsável demonstrar o nexo causal entre os recursos públicos e as
despesas referentes à execução do objeto do ajuste.
16.Nesse sentido, no caso dos shows artísticos, o que se verifica é que a contratação se deu por
meio de empresa intermediária que não possuía contratos de exclusividade com as bandas e artistas
contratados, o que impede a demonstração do liame entre os recursos públicos e as despesas realizadas.
17.Dessa forma, observa-se que o responsável não logrou comprovar que os valores que teriam sido
pagos à empresa intermediária correspondem aos que foram efetivamente pagos aos artistas que se
apresentaram no evento. A ausência de notas fiscais e recibos emitidos em nome das bandas e artistas
assinados por seus representantes legais ou pelos seus empresários exclusivos impossibilita a verificação
do nexo de causalidade entre as verbas repassadas e o fim a que elas se destinavam.
18.No que concerne à alegação do responsável de que não teria agido com dolo ou má-fé e não teria
se locupletado dos recursos para fins pessoais ou de terceiros, como ressaltou a unidade técnica, para a
responsabilização no âmbito do TCU, não se faz necessária a comprovação de má-fé daquele que geriu os
recursos públicos, mas tão somente a ausência de boa-fé. Esta, por outro lado, deve ser aferida
objetivamente, com a demonstração de que o responsável tenha atuado de forma zelosa e diligente na
gestão dos recursos públicos, o que não se observa nos autos.
19.Por fim, em relação ao pedido de dilação de prazo para apresentação de novos documentos,
registro que as alegações de defesa do responsável foram juntadas em 12/9/2019, portanto, a prorrogação
de vinte dias por ele solicitada se encerrou, sem que tenha sido carreado aos autos nenhum documento
novo. Cabe ainda ressaltar que a prorrogação de prazo, quando concedida, independe de notificação da
parte, nos termos do art. 183, parágrafo único, do Regimento Interno. Sendo assim, entendo que o pedido
perdeu seu objeto e deve ser desconsiderado.
20.Desse modo, ante a inexistência, nos autos, de elementos capazes de comprovar a boa e regular
aplicação do recursos públicos e diante da falta de informações aptas a demonstrar a boa-fé do
responsável, reputo pertinente julgar, desde logo, irregulares as contas do Sr. Adair Henriques da Silva,
condená-lo ao pagamento do débito apurado e aplicar-lhe a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992,
cujo valor fixo em R$ 56.000,00 (cinquenta e seis mil reais), correspondentes a aproximadamente 15% do
valor atualizado do débito apurado nestes autos.
21.Deixo, contudo, de acolher a proposta de aplicação da multa do art. 58, inciso II, da Lei
8.443/1992, em razão da “contratação, por inexigibilidade de licitação, de empresas que não detinham
direitos de exclusividade de artistas”. Conforme a jurisprudência desta Corte, por se tratar de
irregularidade conexa com a que ensejou o débito e a consequente aplicação da multa do art. 57 da mesma
lei, julgo que a aplicação desta última deve afastar a da primeira, em atenção ao princípio da absorção.
Ante o exposto, voto no sentido de que o Tribunal adote o acórdão que ora submeto à deliberação
deste Colegiado.
1. Processo nº TC 006.354/2019-0.
2. Grupo I – Classe de Assunto: II – Tomada de Contas Especial
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Ministério do Turismo (vinculador) (05.457.283/0001-19)
3.2. Responsável: Adair Henriques da Silva (003.975.801-00).
148
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério
do Turismo, em razão da não comprovação da regular aplicação dos recursos repassados pela União, por
meio do Convênio 771/2009, celebrado com o Município de Bom Jesus de Goiás – GO, para realização
da “XIX Exposição Agropecuária”,
9.1. nos termos dos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas “b” e “c”, § 2º, da Lei 8.443/1992 c/c os
arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com arts. 1º, inciso I, 209, incisos II e III, 210 e 214, inciso III,
do Regimento Interno/TCU, julgar irregulares as contas do Sr. Adair Henriques da Silva (CPF
003.975.801-00), condenando-o ao pagamento das importâncias a seguir especificadas, atualizadas
monetariamente e acrescidas dos juros de mora, calculados a partir das datas discriminadas até a data da
efetiva quitação do débito, fixando-lhe o prazo de quinze dias, para que comprove, perante o Tribunal, o
recolhimento das referidas quantias aos cofres do Tesouro Nacional, nos termos do art. 23, inciso III,
alínea “a”, da citada lei;
Data de ocorrência Valor histórico (R$) D/C
6/10/2009 206.909,32 D
6/10/2009 7.159,49 D
15/4/2010 5.298,00 C
9.2. aplicar ao Sr. Adair Henriques da Silva (CPF 003.975.801-00), com fulcro no art. 57 da Lei
8.443/1992 c/c o art. 267 do Regimento Interno/TCU, multa no valor de R$ 56.000,00 (cinquenta e seis
mil reais), fixando-lhe o prazo de quinze dias, a contar da notificação, para que comprove, perante o
Tribunal (art. 214, III, “a”, do Regimento Interno do TCU), o recolhimento da dívida aos cofres do
Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a presente data até a data do efetivo recolhimento, se
paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
9.3. autorizar, desde logo, a cobrança judicial da dívida, caso não atendidas as notificações, na
forma do disposto no art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992;
9.4. autorizar, também, desde logo, se requerido, com fundamento no art. 28, inciso I, da Lei
8.443/1992 c/c o art. 217, §§ 1º e 2º do Regimento Interno/TCU, o parcelamento da dívida em até 36
parcelas, incidindo sobre cada parcela, corrigida monetariamente, os correspondentes acréscimos legais,
fixando-lhe o prazo de quinze dias, a contar do recebimento da notificação, para comprovar perante o
Tribunal o recolhimento da primeira parcela, e de trinta dias, a contar da parcela anterior, para comprovar
os recolhimentos das demais parcelas, devendo incidir sobre cada valor mensal, atualizado
monetariamente, os juros de mora devidos, no caso do débito, na forma prevista na legislação em vigor,
alertando o responsável de que a falta de comprovação do recolhimento de qualquer parcela importará o
vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos do § 2º do art. 217 do Regimento Interno deste
Tribunal;
149
9.5. dar ciência desta deliberação à Procuradoria da República no Estado de Goiás, nos termos do §
3º do art. 16 da Lei 8.443/1992 c/c o § 7º do art. 209 do Regimento Interno do TCU, para adoção das
medidas cabíveis;
RELATÓRIO
Adoto como relatório o parecer da unidade técnica, cujos termos são os seguintes:
“INTRODUÇÃO
1. Trata-se de processo de Monitoramento do Acórdão 6.620/2009-TCU-1ª Câmara, proferido
na Sessão de 17/11/2009, de relatoria do e. Ministro Augusto Nardes (peça 1, p. 48-49), que considerou
ilegais os atos de concessão de aposentadoria dos interessados acima elencados, em decorrência da
inclusão, em seus proventos, da parcela da URP de fevereiro/89. Além disso, nos proventos das
aposentadas Maria Augusta Almeida e Tânia Bastos Bayma, verificou-se que foram calculados a 90% e
75%, quando o correto deveria ser 85% e 70%. Em relação ao ato de Vera Lucia Dantas Menezes
Assunção, verificou-se cálculo a menor dos proventos, os quais deviam corresponder a 75% e foram
calculados a base de 70%. No ato de Valdivino José de Jesus, os proventos estavam sendo pagos na
proporção de 33/35, sendo que o cálculo deveria observar o percentual de 85%.
HISTÓRICO
2. A deliberação foi proferida com as seguintes determinações:
9.1. considerar ilegais os atos de concessão de aposentadoria de interesse de Antônio Raimundo
Santos Ribeiro Coimbra, Carlos Chagas, Eldon Londe Mello, Joao Bosco Sena e Gurgel, Luiza de Paiva
Silva, Maria Augusta Almeida Bursztyn, Maria Auxiliadora Cesar, Maria Elenita Menezes Nascimento,
Maria Jose de Souza, Maria Salete Kern Machado, Marlene Cabrera da Silva, Mauro Caixeta de Deus,
Ney Gabriel Salgado dos Santos, Noemea Dias Lima, Roberto Costa, Tania Bastos Bayma, Valdemar
150
Joaquim de Sousa, Valdivino Jose de Jesus, Vera Lucia Dantas Menezes Assunção, Vera Olga Hoffmann
Kohler e Welington Jose Monteiro Fonseca (fls. 2/116), negando-lhes os respectivos registros;
9.2. dispensar o ressarcimento das quantias indevidamente recebidas de boa-fe, consoante o
disposto no Enunciado n° 106 da Súmula de Jurisprudência do TCU;
9.3. determinar a Fundação Universidade de Brasília - FUB que:
9.3.1. acompanhe o andamento das decisões judiciais que atualmente asseguram o pagamento da
URP e impedem a redução dos proventos aos seus servidores (Mandado de Segurança n° 25.678/STF;
Ação Ordinária n° 2005.34.00.033292-1/TRF la Região; e Mandado de Segurança Coletivo Preventivo
n° 26.1561DF-STF) e, no caso de decisões desfavoráveis aos interessados, adote as providencias
pertinentes, no sentido de:
9.3.1.1. em consonância com o disposto no art. 46 da Lei n° 8.112/1990, promover a restituição dos
valores indevidamente percebidos pelos beneficiários;
9.3.1.2. quanto aos proventos dos ex-servidores Maria Augusta Almeida Bursztyn,Tania Bastos
Bayma, Vera Lucia Dantas Menezes Assunção e Valdivino Jose Jesus, corrigir o pagamento tendo por
base os percentuais de 85%, 70%, 75% e 85%, respectivamente, nos termos da Emenda Constitucional
n° 20/1998;
9.4. informar a FUB que, em caso de descumprimento de suas deliberações, este Tribunal poderá
sustar diretamente a execução do ato de concessão sob exame (art. 71, inciso X, da Constituição
Federal), sem prejuízo de outras sanções cabíveis, previstas na Lei n° 8.443/1992;
9.5. esclarecer a Fundação Universidade de Brasília que os atos considerados ilegais poderão
prosperar, mediante a emissão e encaminhamento a este Tribunal de novos atos concessórios,
escoimados das irregularidades detectadas, na forma do art. 262, § 2°, também do Regimento;
9.6. determinar a Secretaria de Fiscalização de Pessoal que proceda a verificação do cumprimento
das medidas indicadas nos subitens anteriores, representando a este Tribunal, caso necessário.
3. Monitoramento iniciado por esta Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip) verificou o
descumprimento do referido Acórdão em relação aos aposentados Maria Augusta Almeida Bursztyn,
Vera Lucia Dantas Menezes Assunção e Valdivino José Jesus (peças 6-8), concluindo-se, em instrução
desta unidade técnica, por encaminhamentos para regularização de pagamentos, apuração de montantes
recebidos indevidamente e emissão de novos atos Sisac (peça 9).
4. Foi então proferido o Acórdão 3.781/2014-TCU-1ª Câmara, de relatoria do e. Ministro
Benjamin Zymler, com as seguintes determinações (peça 19):
9.1. rejeitar as razões de justificativas apresentadas pelo Sr. Afonso de Souza (CPF 160.602.290-
34), ex-Secretário de Recursos Humanos da Fundação Universidade de Brasília;
9.2. aplicar ao referido responsável multa de R$ 3.000,00 (três mil reais), com fundamento no art.
58, inciso IV, da Lei 8.443/1992 e no art. 268, inciso VII, do RITCU, em virtude do descumprimento, sem
justa causa, do subitem 9.3.1.2 do Acórdão 6.620/2009-TCU-1ª Câmara, fixando-lhe o prazo de 15
(quinze) dias, a contar da notificação, para comprovar perante o Tribunal o recolhimento da dívida aos
cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente a partir do dia seguinte ao do término do prazo
estabelecido, até a data do efetivo recolhimento, na forma da legislação em vigor;
9.3. autorizar a cobrança judicial da dívida, caso não atendida a notificação, nos termos do art.
28, inciso II, da Lei nº 8.443/1992;
9.4. determinar à Fundação Universidade de Brasília que:
9.4.1. apure o montante recebido em desacordo com a determinação contida no subitem 9.3.1.2 do
Acórdão nº 6.620/2009-1ª Câmara pelos servidores aposentados nela referidos, desde a sua ciência da
deliberação até a efetiva regularização dos seus proventos, e promova, nos termos do art. 46 da Lei
8.112/90, a restituição ao erário, mediante a prévia instauração de processo administrativo,
assegurando-se-lhes o direito ao contraditório e à ampla defesa;
9.4.2. emita e disponibilize no SISAC, se já não o fez, novos atos iniciais de concessão de
aposentadoria em favor de Maria Augusta Almeida Bursztyn (115.892.721-53), Tânia Bastos Bayma
(308.442.231-15), Vera Lucia Dantas Menezes Assunção (114.629.221-04) e Valdivino José Jesus
151
15. Finalmente, cabe propor que sejam encaminhadas as informações da ação judicial 0064977-
64.2013.4.01.3400, que tramita junto ao TRF-1, de interesse de Valdivino Jose de Jesus, à AGU e à
Conjur/TCU, para que promovam seu acompanhamento.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
16. Ante todo o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:
a) Determinar à Fundação Universidade de Brasília, nos termos do artigo 250, inciso II, do
Regimento Interno do TCU, que:
a.1) realize o ressarcimento dos valores recebidos indevidamente por Maria Augusta Almeida
Bursztyn (CPF 115.892.721-53), conforme determinação constante do subitem 9.4.1 do Acórdão
3.781/2014-TCU-1ª Câmara, de relatoria do e. Ministro Benjamin Zymler; e
a.2) encaminhe a comprovação do recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional,
atualizada monetariamente a partir do dia seguinte ao do término do prazo estabelecido, até a data do
efetivo recolhimento, da multa aplicada ao Sr. Afonso de Souza (CPF 160.602.290- 34), ex-Secretário de
Recursos Humanos da UNB, conforme subitem 9.2 do 3.781/2014-TCU-1ª Câmara, de relatoria do e.
Ministro Benjamin Zymler.
b) Determinar à Secretaria de Fiscalização de Pessoal para que, nos termos da Questão de Ordem
aprovada pelo Plenário do TCU em 8/6/2011, encaminhe ao Departamento de Assuntos Extrajudiciais da
AGU, as informações necessárias ao acompanhamento da Ação Ordinária 0064977-64.2013.4.01.3400,
em trâmite no Tribunal Regional Federal 1ª Região, de interesse de Valdivino José Jesus (CPF
059.601.261-68), bem como dê ciência à Conjur/TCU.”
2.O Ministério Público junto a esta Corte de Contas manifestou-se de acordo com a proposta
formulada pela unidade técnica.
É o Relatório.
VOTO
9.4.2. emita e disponibilize no SISAC, se já não o fez, novos atos iniciais de concessão de
aposentadoria em favor de Maria Augusta Almeida Bursztyn (115.892.721-53), Tânia Bastos Bayma
(308.442.231-15), Vera Lucia Dantas Menezes Assunção (114.629.221-04) e Valdivino José Jesus
(059.601.261-68), escoimados das irregularidades verificadas nos presentes autos;
9.5. determinar à Sefip que realize o monitoramento do item 9.4 da presente deliberação,
representando ao Tribunal em caso de não atendimento;
9.6. dê-se ciência da presente deliberação ao ex-gestor Afonso de Souza (CPF 160.602.290-34),
aos servidores aposentados mencionados no subitem 9.3.1.2 do acórdão monitorado e ao órgão
jurisdicionado.”
2.A unidade técnica, após a realização de diligências, cotejou as informações prestadas pelo órgão
jurisdicionado com dados extraídos de sistemas informatizados disponibilizados a esta Corte, concluindo
o seguinte:
“CONCLUSÃO
13.Com base nas informações prestadas pelo gestor e naquelas extraídas do sistema Siape e dos
sítios da Justiça Federal, considera-se que as determinações constantes dos Acórdãos 6.620/2009-TCU-
1ª Câmara e 3.781/2014-TCU-1ª Câmara foram parcialmente cumpridas pela Fundação Universidade de
Brasília, propondo-se que seja determinado, a essa jurisdicionada, que realize o ressarcimento dos
valores recebidos indevidamente por Maria Augusta Almeida Bursztyn, conforme determinação constante
do subitem 9.4.1 do Acórdão 3.781/2014-TCU-1ª Câmara, e cálculos apresentados a esta Corte de
Contas.
14.Além disso, propõe-se que seja determinado à Universidade que encaminhe a comprovação do
recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente a partir do dia
seguinte ao do término do prazo estabelecido, até a data do efetivo recolhimento, da multa aplicada ao
Sr. Afonso de Souza, ex-Secretário de Recursos Humanos da UNB, conforme subitem 9.2 do 3.781/2014-
TCU-1ª Câmara.
15.Finalmente, cabe propor que sejam encaminhadas as informações da ação judicial 0064977-
64.2013.4.01.3400, que tramita junto ao TRF-1, de interesse de Valdivino Jose de Jesus, à AGU e à
Conjur/TCU, para que promovam seu acompanhamento.”
3.Pelo que se extrai da parte dispositiva e dos fundamentos do voto condutor do acórdão ora em
monitoramento, a Primeira Câmara deste Tribunal aplicou pena de multa de R$ 3.000,00 ao gestor de
recursos humanos da Universidade de Brasília, Sr. Afonso de Souza, “tendo em vista o não atendimento,
sem justa causa, da decisão do Tribunal, fato este que restou incontroverso nos presentes autos e que
decorreu de omissão injustificada por parte do responsável” (item 9.2 do Acórdão 3.781/2014-1ª
Câmara).
4.Além da aplicação da referida sanção, determinou-se ao órgão jurisdicionado que adotasse
medidas para obter o ressarcimento ao erário em relação aos servidores Maria Augusta Almeida Bursztyn,
Tânia Bastos Bayma, Vera Lucia Dantas Menezes Assunção e Valdivino José Jesus, tendo em vista a
regularização da proporcionalidade dos seus proventos de aposentadoria no sistema Siape em
atendimento à deliberação originária (item 9.4.1 do Acórdão 3.781/2014-1ª Câmara).
5. Consultando-se a documentação acostada aos autos após as diligências realizadas pela unidade
técnica junto ao órgão jurisdicionado, verificou-se não ter sido necessária a instauração de processos
administrativos visando o ressarcimento ao erário em relação às ex-servidoras Tânia Bastos Bayma (não
havia erro na proporcionalidade dos proventos) e Vera Lucia Dantas Menezes Assunção (houve a
averbação de novo tempo de serviço suprindo a falha anteriormente verificada).
6.Quanto aos ex-servidores Maria Augusta Almeida Bursztyn e Valdivino José Jesus, depreende-se
dos autos que os respectivos processos de ressarcimento foram instaurados. Não houve, contudo, nenhum
desconto efetivamente efetuado nos proventos dos referidos servidores. No caso do Sr. Valdivino José
Jesus, encontra-se ele atualmente acobertado por decisão judicial proferida nos autos da ação ordinária
0064977-64.2013.4.01.3400, em trâmite perante o Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Já no tocante
155
à sra. Maria Augusta Almeida Bursztyn, não foi apresentada qualquer justificativa para que não fosse
efetivado o desconto em folha a título de ressarcimento ao erário.
7.Impõe-se, assim, nesse particular, que seja reiterada a determinação constante do item 9.4.1 do
Acórdão 3.781/2014-1ª Câmara em relação à ex-servidora Maria Augusta Almeida Bursztyn, bem como
que se encaminhem ao Departamento de Assuntos Extrajudiciais da AGU e à Conjur/TCU as informações
necessárias ao acompanhamento da ação ordinária 0064977-64.2013.4.01.3400, em trâmite perante o
Tribunal Regional Federal da 1ª Região, nos termos da questão de ordem aprovada pelo Plenário do TCU
em 8/6/2011.
8.Por fim, quanto à pena de multa de R$ 3.000,00 imposta ao gestor de recursos humanos da
Universidade de Brasília – UnB, entendo que cabe a este Tribunal zelar pelo cumprimento de suas
próprias decisões, inclusive executando-as, razão pela qual não há como se delegar a adoção de qualquer
providência ao órgão jurisdicionado nesse particular.
9.Dito isso, expirado o prazo previsto para o pagamento da multa após o responsável ter sido
devidamente notificado, tem incidência o disposto no art. 28 da Lei 8.443/1992, que estabelece o
seguinte:
“Art. 28. Expirado o prazo a que se refere o caput do art. 25 desta Lei, sem manifestação do
responsável, o Tribunal poderá:
I - determinar o desconto integral ou parcelado da dívida nos vencimentos, salários ou proventos
do responsável, observados os limites previstos na legislação pertinente; ou
II - autorizar a cobrança judicial da dívida por intermédio do Ministério Público junto ao Tribunal,
na forma prevista no inciso III do art. 81 desta Lei.”
10.No caso concreto, em sendo o responsável servidor público federal aposentado, entendo ser o
caso de este Tribunal determinar o desconto da multa diretamente nos seus proventos de aposentadoria,
nos termos do art. 28, inciso I, da Lei 8.443/1992, observando-se os limites previstos na legislação
pertinente.
Ante o exposto, VOTO por que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto a este Colegiado.
1. Processo nº TC 006.523/2013-7.
2. Grupo I – Classe de Assunto: III - Monitoramento
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Responsável: Afonso de Souza (160.602.290-34).
4. Órgão/Entidade: Fundação Universidade de Brasília.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Marinus Eduardo De Vries Marsico.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos em que se aprecia o monitoramento das determinações
contidas no Acórdão 6.620/2009-1ª Câmara, reiteradas pelo Acórdão 3.781/2014-1ª Câmara,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
com fundamento no art. 43, inciso I, da Lei 8.443/1992, c/c os arts. 243 e 250, inciso II, do Regimento
Interno, em efetuar as determinações adiante especificadas, ante as razões expostas pelo Relator:
9.1. determinar à Fundação Universidade de Brasília que:
9.1.1. promova o ressarcimento dos valores recebidos indevidamente pela sra. Maria Augusta
Almeida Bursztyn (CPF 115.892.721-53), conforme determinação constante do subitem 9.4.1 do Acórdão
3.781/2014-1ª Câmara;
9.1.2. efetue o desconto da pena de multa aplicada ao Sr. Afonso de Souza (160.602.290-34), nos
156
termos do item 9.2 do Acórdão 3.781/2014-1ª Câmara, nos seus proventos de aposentadoria, tendo em
vista o disposto no art. 28, inciso I, da Lei 8.443/1992 c/c art. 219, inciso I, do RITCU, tomando como
parâmetro para os descontos o percentual mínimo estabelecido no art. 46 da Lei 8.112/1990, com a
modificação feita pela MP 2.225-45, de 4/9/2001;
9.2. ordenar à Secretaria de Fiscalização de Pessoal que:
9.2.1. nos termos da questão de ordem aprovada pelo Plenário do TCU em 8/6/2011, encaminhe ao
Departamento de Assuntos Extrajudiciais da AGU e à Conjur/TCU as informações necessárias ao
acompanhamento da Ação Ordinária 0064977-64.2013.4.01.3400 de interesse de Valdivino José Jesus
(CPF 059.601.261-68), atualmente em trâmite perante o Tribunal Regional Federal da 1ª Região;
9.2.2. monitore o cumprimento do item 9.1 acima, representando ao Tribunal em caso de não
atendimento.
RELATÓRIO
Adoto como relatório, com os ajustes de forma pertinentes, a instrução elaborada no âmbito da
Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip), a qual contou com a anuência dos dirigentes da unidade
técnica e do representante do Ministério Público nos autos:
“INTRODUÇÃO
1.Trata-se de atos de concessão de aposentadoria de Francisco Mascarenha, Joana Abadia dos
Santos e Maria dos Remédios Nascimento Frazão, ex-servidores da Fundação Nacional de Saúde.
2.Os atos foram submetidos, para fim de registro, à apreciação do Tribunal de Contas da União
(TCU), de acordo com o art. 71, inciso III, da Constituição Federal. O cadastramento e a
disponibilização ao TCU ocorreram por intermédio do Sistema de Apreciação e Registro de Atos de
Admissão e Concessões, na forma dos arts. 2º, caput e incisos I a VI, e 4º, caput, da Instrução Normativa
- TCU 78/2018.
EXAME TÉCNICO
Encaminhamentos anteriores
157
................................................................................................................................................................
....
5.O Ministro-relator determinou a realização de diligência para saneamento dos autos e oitiva dos
interessados (peça 20).
6.Às peças 21 e 28 a 30, consta o cumprimento das determinações exaradas pelo Ministro-relator.
A diligência expedida foi respondida à peça 26. Às peças 31 a 33, estão registrados os respectivos Avisos
de Recebimento das oitivas encaminhadas.
7.As Sras. Maria dos Remédios Nascimento Frazão e Sra. Joana Abadia dos Santos apresentaram
esclarecimentos às peças 34 e 42, respectivamente. Não consta acostada aos autos a defesa do Sr.
Francisco Mascarenha.
................................................................................................................................................................
....
Exame das constatações
10.A seguir, analisar-se-á, para cada interessado, o respectivo ato de aposentadoria; e os
esclarecimentos apresentados em resposta a oitiva encaminhada.
Em relação ao Sr. FRANCISCO MASCARENHA
11.O interessado foi inativado em 11/2/2010, com proventos integrais, computados mais de 38 anos
de tempo de atividade (considerando o tempo insalubre averbado). Incorporou 20% a título de adicional
por tempo de serviço. O fundamento legal da aposentadoria foi aquele descrito no artigo 3º da EC
47/2005.
12.Em consulta ao tempo de serviço e averbações, consta o cômputo de atividade insalubre
celetista (peça 9, pg. 5 – 4 anos e 29 dias), o qual, excluído, não permitiria a inativação do interessado
pelo fundamento legal utilizado.
13.Em análise da questão, por meio do Acórdão 2008/2006-Plenário (Relator Ministro Walton
Alencar Rodrigues), esta Corte reconheceu a validade da averbação a título de tempo insalubre aos
profissionais celetistas que laboravam sob essa condição antes da publicação da Lei 8.112/90.
14.Posteriormente, por meio do Acórdão 911/2014-Plenário (Relator Ministro Benjamin Zymler), o
entendimento acima descrito foi aperfeiçoado. Neste julgado, esta Corte de Contas, ciosa em evitar
interpretações extensivas – interpretações essas que acabariam por desvirtuar a vontade do legislador
ao prever o cálculo diferenciado para o tempo de serviço prestado em atividades insalubres, penosas ou
perigosas –, deixou assente que o sobredito Acórdão 2008/2006-Plenário, apesar de reconhecer em tese
a possibilidade de cômputo ponderado do tempo especial para fins de aposentadoria estatutária, não
disciplinou a forma como a Administração deveria proceder para averbar o tempo de atividade insalubre
no caso concreto.
15.Desse modo, ponderou o Ministro-Relator Benjamim Zymler que os cargos de natureza
eminentemente administrativa não podem ser beneficiados pela contagem especial, salvo se restar
efetivamente demonstrada a existência de risco ou de agentes nocivos à saúde no local de trabalho.
Transcreve-se a seguir excerto do Voto condutor do Acórdão:
‘O simples vínculo do servidor com o Ministério da Saúde não autoriza a concessão de tempo de
atividade especial, pois, ainda que ligado à área de saúde, existem diversas atividades que são exercidas
em condições normais, sem exposição a agentes patológicos além dos limites tolerados, assim definidos
em norma regulamentar. Veja-se, por exemplo, a situação do agente administrativo. É de supor que os
ocupantes desse cargo exercem as atividades nas mesmas condições, seja no Ministério da Saúde ou no
Ministério do Planejamento, por exemplo.’
16.Nessa mesma assentada, observou-se que este Tribunal, a título de racionalidade
administrativa, vem aceitando a averbação do tempo de atividade insalubre realizada de ofício pelo
órgão de origem em relação a cargos cujo exercício, presume-se, envolve atividades de risco para a
higidez física, como no caso dos médicos, odontólogos, auxiliares de enfermagem e agentes de saúde
pública.
158
17.Com o fito de apurar a situação do ato objeto destes autos, foram expedidas a diligência e oitiva
citadas, respectivamente, nos itens 3 e 6 desta instrução, visto que a natureza do cargo do interessado
(auxiliar operacional de serviços diversos) não pressupunha, a priori, que este estivesse exposto a
condições insalubres, necessitando verificar se existe o laudo pericial a comprovar a situação.
18.Cabe destacar que, atualmente, o assunto em tela, no âmbito do Poder Executivo Federal, está
normatizado por meio da Orientação Normativa n 15/2013 (peça 11), que assim estabelece no seu artigo
2º, § 2º:
‘§ 2º Não será admitida prova exclusivamente testemunhal ou apenas a comprovação da percepção
de adicional de insalubridade ou periculosidade ou gratificação por trabalhos com Raios-X ou
substâncias radioativas para fins de comprovação do tempo de serviço público prestado sob condições
especiais.’
19.Portanto, o simples percebimento do adicional de insalubridade, mesmo que comprovado, não
seria suficiente para fundamentar a conversão de tempo e a respectiva averbação de tempo insalubre.
20.Compulsando a referida ON, o seu artigo 3ª, na forma abaixo descrita, estabelece os
profissionais que poderiam ser contemplados com a referida averbação, sendo que, para este caso
concreto, o interessado estaria amparado no inciso II, haja vista que, supostamente, foi exposto a
agentes nocivos.
‘Art. 3º As atribuições consideradas como exercidas em condições especiais, capazes de
possibilitar a conversão de tempo de serviço especial em comum poderão ser enquadradas com base nos
seguintes critérios:
I – pela ocupação de emprego público cujas atribuições sejam análogas às atividades profissionais
das categorias presumidamente sujeitas a condições especiais, de acordo com as ocupações/grupos
profissionais constantes no Anexo I desta Orientação Normativa; ou
II – por exposição a agentes nocivos no exercício de atribuições do emprego público, em condições
análogas às que permitem enquadrar as atividades profissionais como perigosas, insalubres ou penosas,
de acordo com Anexo II desta Orientação Normativa.’
21.Em seguida, o artigo 4º da referida ON estabelece a documentação comprobatória, para
aqueles enquadrados no inciso II do artigo 3º, situação na qual se enquadra o interessado, nos termos
abaixo:
‘Art. 4º Somente serão analisados pelos órgãos e entidades do SIPEC, requerimentos de conversão
de tempo especial em comum instruídos com os seguintes documentos, cumulativamente:
(...)
II - Para o servidor que se enquadre na hipótese do inciso II do art. 3º:
a) Formulário de informações sobre atividades exercidas em condições especiais;
b) Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho (LTCAT), conforme Anexo VI desta
Orientação Normativa, observado o disposto no art. 8º ou os documentos aceitos em substituição àquele,
consoante o que dispõe o art. 9º desta Orientação Normativa;
c) Parecer da perícia médica, em relação ao enquadramento por exposição a agentes nocivos, na
forma do art. 11 desta Orientação Normativa; e
d) Portaria de designação do servidor para operar com raios X e substâncias radioativas, na forma
do Decreto nº 81.384, de 22 de fevereiro de 1978, quando for o caso.’
22.Por fim, o artigo 5º da referida ON é enfático quanto ao modelo de documentação válido:
‘Art. 5º Somente será aceito como formulário de informações sobre atividades exercidas em
condições especiais, de que tratam os incisos I e II do art. 4º desta Orientação Normativa, o modelo de
tal documento instituído para o Regime Geral de Previdência Social, segundo seu período de vigência,
sob as siglas SB-40, DISESBE 5235, DSS-8030 ou DIRBEN 8030, quando emitidos até 31 de dezembro
de 2003.’
23.Compulsando a documentação encaminhada pelo Gestor, este afirma não ter encontrado Laudo
Técnico de Condições Ambientais do Trabalho embasando a averbação em apreço (peça 9, pg. 1).
159
Também foi encaminhada oitiva ao interessado a fim de que apresentasse esclarecimentos sobre a
questão. Todavia, não consta acostado aos autos a respectiva defesa.
24.Portanto, resta maculada a averbação de tempo em apreço e, em consequência, a legalidade do
ato.
Em relação a Sra. JOANA ABADIA DOS SANTOS
25.A interessada foi inativada em 22/8/2012, com proventos integrais, computados mais de 30 anos
de tempo de atividade (considerando o tempo insalubre averbado). Incorporou 14% a título de adicional
por tempo de serviço e quintos. O fundamento legal da aposentadoria foi aquele descrito no artigo 3º da
EC 47/2005.
26.Em consulta ao tempo de serviço e averbações, consta o cômputo de atividade insalubre
celetista (peça 9, pg. 60 - 1 ano, 1 mês e 1 dia), o qual, excluído, não permitiria a inativação da
interessada pelo fundamento legal utilizado. Neste ponto, valem as conclusões expostas nos itens 12 a 21
desta instrução.
27.Compulsando a documentação encaminhada pelo Gestor, este afirma não ter encontrado Laudo
Técnico de Condições Ambientais do Trabalho (LTCAT) embasando a averbação em apreço (peça 9, pg.
1).
28.A interessada apresentou esclarecimentos sobre a questão à peça 42, em resposta à oitiva
encaminhada. Em análise, consta Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), datado de 05/9/2019 e
relativo ao período de 07/11/1984 a 11/12/1990, relatando o exercício de atividades insalubres neste
período, decorrente de manipulação de ‘material infectocontagiante’.
29.Todavia, o ‘PPP’ não é documento hábil para comprovar o exercício de atividade insalubre,
visto que ele não está acompanhado do LTCAT que o fundamente. Dessa forma, os esclarecimentos
apresentados não lograram sanear a questão.
30.Portanto, resta maculada a averbação de tempo em apreço.
31.À peça 26, pg. 8, consta que a interessada incorporou ‘quintos’ (2/5 - DAS 102.1) – período de
23/2/1995 a 22/7/1997. Não se verifica irregularidade neste ponto.
32.Diante do exposto, ante a averbação indevida de tempo insalubre, resta propor a irregularidade
do ato.
Em relação a Sra. MARIA DOS REMÉDIOS NASCIMENTO FRAZÃO
33.A interessada foi inativada em 20/5/2011, com proventos integrais, computados mais de 30 anos
de tempo de atividade (considerando o tempo insalubre averbado). Incorporou 16% a título de adicional
por tempo de serviço e quintos. O fundamento legal da aposentadoria foi aquele descrito no artigo 3º da
EC 47/2005.
34.Em consulta ao tempo de serviço e averbações, consta o cômputo de atividade insalubre
celetista (peça 9, pg. 87-88 - 1 ano, 7 meses e 5 dias), o qual, excluído, não permitiria a inativação da
interessada pelo fundamento legal utilizado.
35.À peça 34, pg. 1, a interessada esclarece que suas atividades eram afeitas à área de fisioterapia.
À peça 34, pg. 14, constam as atribuições do cargo (agente de serviços complementares), com descrição
de atividades diretamente vinculadas à área de saúde. À peça 34, pgs. 17, 18, 21 e 34, constam diversos
registros funcionais que corroboram o exercício de atividades na área de fisioterapia.
36.Por meio do Acórdão 2008/2006-Plenário (Relator Ministro Walton Alencar Rodrigues), esta
Corte reconheceu a validade da averbação a título de tempo insalubre aos profissionais de saúde que
laboravam sob o regime celetista antes da publicação da Lei 8.112/90, situação no qual se enquadra a
interessada. Destarte, não se vislumbra irregularidade, neste ponto, capaz de macular a legalidade do
ato.
37.À peça 26, pg. 9, consta que a interessada incorporou ‘quintos’ (1/5 - DAS 102.1) – período de
5/4/1997 a 4/4/1998. Não se verifica irregularidade neste ponto.
38.Diante do exposto, não se verifica óbice para que o ato seja apreciado pela legalidade.
CONCLUSÃO
160
39.Caberá propor que sejam apreciados pela ilegalidade, em virtude de averbação indevida de
tempo insalubre, os atos de FRANCISCO MASCARENHA e JOANA ABADIA DOS SANTOS.
40.No que tange ao ato da Sra. MARIA DOS REMÉDIOS NASCIMENTO FRAZÃO,, caberá
proposta de apreciação pela legalidade.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
41.Ante o exposto, propõe-se:
a) considerar ilegais e recusar registro aos atos de FRANCISCO MASCARENHA e JOANA
ABADIA DOS SANTOS, com base nos arts. 71, inciso III, da Constituição Federal, 1º, inciso V, e 39,
inciso II, da Lei 8.443/1992 e 260, § 1º, do Regimento Interno;
b) dispensar a devolução dos valores indevidamente recebidos até a data da ciência da Fundação
Nacional de Saúde do Acórdão que vier a ser proferido, com base no Enunciado 106 da Súmula da
Jurisprudência do TCU;
c) esclarecer aos interessados que, no caso de não provimento de recurso eventualmente interposto
junto ao TCU, deverão ser repostos os valores recebidos após a ciência do acórdão;
d) determinar à Fundação Nacional de Saúde, com base no art. 45 da Lei 8.443/1992, que:
d.1) faça cessar os pagamentos decorrentes dos atos impugnados, comunicando ao TCU, no prazo
de quinze dias, as providências adotadas, nos termos dos art. 262, caput, do Regimento Interno do TCU e
8º, caput, da Resolução - TCU 206/2007;
d.2) cadastre novos atos, livres das irregularidades apontadas, submetendo-os ao TCU no prazo de
trinta dias, nos termos dos arts. 262, § 2º, do Regimento Interno do TCU e 19, § 3º, da Instrução
Normativa - TCU 78/2018;
d.3) informe aos interessados:
d.3.1) o teor do Acórdão que vier a ser prolatado, encaminhando ao TCU, no prazo de trinta dias,
comprovante da data de ciência pelo respectivo interessado, nos termos do art. 4º, § 3º, da Resolução -
TCU 170/2004;
d.3.2) caso manifestem interesse, podem se manter aposentados com base em outro fundamento
legal e desde que cumpram os requisitos legais exigidos; ou poderão retornar à atividade para completar
o requisito temporal para nova aposentadoria − a qual, obrigatoriamente, deverá fundamentar-se nas
regras vigentes no momento da nova concessão;
d.3.3) caso não seja possível enquadrar em outro fundamento legal de inativação, o respectivo
interessado deverá retornar à atividade para completar o requisito temporal para a aposentadoria − a
qual, obrigatoriamente, deverá fundamentar-se nas regras vigentes no momento da nova concessão;
e) considerar legal e determinar o registro do ato de concessão de aposentadoria de MARIA DOS
REMÉDIOS NASCIMENTO FRAZÃO, com fundamento nos arts. 71, inciso III, da Constituição Federal,
1º, inciso V, e 39, inciso II, da Lei 8.443/1992 e 260, § 1º, do Regimento Interno.”
É o relatório.
VOTO
Em exame, três atos de aposentadoria editados pela Fundação Nacional de Saúde, todos
contemplando a contagem ponderada de tempo serviço público alegadamente prestado em condições
insalubres, sob o regime trabalhista, anteriormente à edição da Lei 8.112/1990, como segue:
• sr. Francisco Mascarenha (peça 13), ex-auxiliar operacional de serviços diversos – acréscimo de 4
anos e 29 dias;
• sra. Joana Abadia dos Santos (peça 14), ex-auxiliar operacional de serviços diversos – acréscimo
de 1 ano, 1 mês e 1 dia; e
• sra. Maria dos Remédios Nascimento Frazão (peça 15), ex-agente de serviços complementares
(fisioterapia) – acréscimo de 1 ano, 7 meses e 5 dias.
161
8.112, de 1990, são análogas às atividades profissionais das categorias presumidamente sujeitas a
condições especiais.
II - Para o servidor que se enquadre na hipótese do inciso II do art. 3º:
a) Formulário de informações sobre atividades exercidas em condições especiais;
b) Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho (LTCAT), conforme Anexo VI desta
Orientação Normativa, observado o disposto no art. 8º ou os documentos aceitos em substituição àquele,
consoante o que dispõe o art. 9º desta Orientação Normativa;
c) Parecer da perícia médica, em relação ao enquadramento por exposição a agentes nocivos, na
forma do art. 11 desta Orientação Normativa; e
d) Portaria de designação do servidor para operar com raios X e substâncias radioativas, na forma
do Decreto nº 81.384, de 22 de fevereiro de 1978, quando for o caso.
...........................................................................................................................................
Art. 8º O LTCAT será expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho
que integre, de preferência, os quadros funcionais da Administração Pública Federal responsável pelo
levantamento ambiental, podendo esse encargo ser atribuído a profissionais integrantes de órgãos ou
entidades de outras esferas de governo ou Poder da União.”
12.Destarte, tanto o pagamento dos adicionais de insalubridade e de periculosidade como a
contagem ficta de tempo de serviço somente podem ser considerados legítimos caso haja a efetiva
comprovação do exercício da atividade laborativa em condições especiais.
13.Ademais, tal comprovação há que se dar por meio de laudos expedidos por órgãos e
profissionais expressamente credenciados para tanto.
14.Pois bem, situada assim a questão, revela-se irregular a contagem ponderada efetuada em favor
do sr. Francisco Mascarenha, haja vista a não comprovação, por documentação idônea, de que seus
afazeres funcionais foram desempenhados em condições insalubres.
15.No caso da Maria dos Remédios Nascimento Frazão, de outra parte, na linha da jurisprudência
do Tribunal (cf. Acórdãos 2.008/2006 e 911/2014, ambos do Plenário) e dos pareceres da Sefip e do
Ministério Público exarados nos autos, a natureza de seu cargo efetivo (agente de serviços
complementares, especialidade fisioterapia), combinada com os indicativos de que seu exercício
profissional se dava em unidade hospitalar, envolvendo o trato permanente com enfermos, supre a
necessidade de elementos adicionais de prova no âmbito administrativo.
16.A mesma solução, a meu juízo, também é aplicável à sra. Joana Abadia dos Santos. É que, a
despeito da designação um tanto larga de seu cargo efetivo (auxiliar operacional de serviços diversos), as
peculiaridades das atribuições a ela cometidas permitem inferir, com razoável segurança, que seu
exercício profissional se dava em condições insalubres. De fato, o Perfil Profissiográfico Previdenciário
(PPP) da ex-servidora, emitido pela Funasa, alude a “documentos emanados pela ex-Fundação das
Pioneiras Sociais”, unidade na qual laborou a interessada de 1984 a 1992, dando conta de que esta
realizava, mais propriamente, “atividades de auxiliar de higiene em ambientes tipicamente hospitalares,
tais como enfermarias, ambulatórios e afins”, nos quais tinha permanente contato com “material
infectocontagiante” (peça 42, p. 3). Aliás, a designação de seu cargo efetivo na Fundação das Pioneiras
Sociais era precisamente “Auxiliar de Higienização Hospitalar” (peça 9, p. 61). Regular, pois, a contagem
ponderada de seu tempo celetista.
17.Diante do exposto, voto no sentido de que este Colegiado adote a deliberação que ora submeto à
sua apreciação.
1. Processo nº TC 008.936/2014-5.
2. Grupo II – Classe de Assunto: V – Aposentadoria
3. Interessados: Francisco Mascarenha (186.491.651-68); Joana Abadia dos Santos (339.580.331-
72); Maria dos Remédios Nascimento Frazão (182.527.611-00).
164
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de aposentadorias concedidas pela Fundação Nacional
de Saúde,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
diante das razões expostas pelo Relator, com fundamento nos arts. 71, inciso III, da Constituição Federal,
1º, inciso V, 39, inciso II, e 45 da Lei 8.443/1992, em:
9.1. considerar legais os atos de aposentadoria de interesse das sras. Joana Abadia dos Santos e
Maria dos Remédios Nascimento Frazão, ordenando seu registro;
9.2. considerar ilegal o ato de aposentadoria de interesse do sr. Francisco Mascarenha, recusando
seu registro;
9.3. dispensar o ressarcimento das quantias indevidamente recebidas, em boa-fé, pelo inativo,
consoante o Enunciado 106 da Súmula de Jurisprudência deste Tribunal;
9.4. determinar à Fundação Nacional de Saúde que:
9.4.1. faça cessar, no prazo de 15 (quinze) dias, contado a partir da ciência desta deliberação, os
pagamentos decorrentes do ato impugnado, sob pena de responsabilidade solidária da autoridade
administrativa omissa, consoante disposto nos arts. 71, inciso IX, da Constituição Federal e 262 do
Regimento Interno desta Corte;
9.4.2. dê ciência do inteiro teor desta deliberação ao sr. Francisco Mascarenha, alertando-o de que o
efeito suspensivo proveniente da interposição de eventuais recursos, caso não providos, não o exime da
devolução dos valores indevidamente percebidos após a notificação;
9.4.3. envie a esta Corte de Contas, no prazo de 30 (trinta) dias, por cópia, comprovante de que o
interessado teve ciência desta deliberação.
RELATÓRIO
EXAME TÉCNICO
Procedimentos preliminares aplicados
3.Os procedimentos para exame, apreciação e registro de atos de pessoal encontram-se
estabelecidos na Instrução Normativa TCU 78/2018 e na Resolução TCU 206/2007. Essas normas
dispõem, respectivamente, em seus arts. 4º, § 2º, e 3º, § 3º que os atos de pessoal disponibilizados por
meio do Sistema de Apreciação e Registro de Atos de Admissão e Concessões devem ser submetidos a
crítica preliminar automatizada do próprio sistema, com base em parâmetros predefinidos.
4.Relativamente aos atos de concessão de aposentadoria, as rotinas de crítica das informações
cadastradas no Sistema de Apreciação e Registro de Atos de Admissão e Concessões foram elaboradas e
validadas levando-se em conta as peculiaridades desses atos. Os itens de verificação do sistema
compreendem prazos e fundamentos legais, assim como eventuais ocorrências de acumulação. Trata-se
de verificações mais abrangentes, minuciosas e precisas do que aquelas que podem ser realizadas por
mãos humanas, proporcionando um nível de segurança ainda maior.
5.Além da crítica automatizada, há verificação humana adicional no caso de haver alertas do
sistema ou informações não formatadas, como esclarecimentos do gestor ou do controle interno.
6.As críticas também consideram os registros do Sistema Integrado de Administração de Recursos
Humanos (Siape). O Siape disponibiliza informações atualizadas sobre as parcelas que integram os
proventos, diferentemente, portanto, do Sistema de Apreciação e Registro de Atos de Admissão e
Concessões, que informa as parcelas no momento do registro do ato.
7.Essa confrontação com o Siape provê uma visão atual e verdadeira da situação, o que permite
descaracterizar irregularidades e inconsistências que, embora constantes do Sistema de Apreciação e
Registro de Atos de Admissão e Concessões, já foram corrigidas.
como a contagem ponderada para servidores que laboraram, como celetistas e antes da publicação da
Lei 8.112/1990, em condições insalubres.
9.No que concerne à contagem ponderada de tempo de serviço prestado em condições insalubres,
antes do advento do Regime Jurídico Único, o entendimento deste Tribunal firmado no Acórdão
2008/2006–TCU-Plenário (Ministro Relator Walton Alencar Rodrigues) é no sentido de ser possível a
contagem de tempo de serviço para concessão de aposentadoria estatutária com o aproveitamento de
tempo especial prestado sob condições insalubres, perigosas ou penosas.
10.Assim, o servidor público que exerceu, como celetista, no serviço público, atividades insalubres,
penosas ou perigosas, em período anterior à vigência da Lei 8.112/1990, tem direito à contagem especial
de tempo de serviço para efeito de aposentadoria.
11.Além disso, por intermédio do Acórdão 911/2014 – TCU - Plenário, de relatoria do Ministro
Benjamin Zymler, este Tribunal deixou assente que, mesmo observando os parâmetros do Acórdão
2008/2006 –TCU-Plenário, a contagem especial de tempo prestado em condições insalubres para
servidores ocupantes de cargos de natureza estritamente administrativa somente poderá ocorrer se
estiver efetivamente demonstrada a existência de risco ou de agentes nocivos à saúde no local de
trabalho, devidamente atestado por laudo pericial.
12.Apenas a título de racionalidade administrativa, esta Corte de Contas tem aceitado, sem
necessidade de comprovação, a averbação do tempo de atividade insalubre realizada de ofício pelo
órgão de origem em relação a cargos cujo exercício, presume-se, envolve atividades de risco para a
higidez física, como no caso dos servidores que trabalham na área de saúde a exemplo dos médicos,
odontólogos, auxiliares de enfermagem e agentes de saúde pública, conforme dito pelo Ministro-Relator
no voto condutor do Acórdão 911/2014 –TCU- Plenário.
13.No que tange à contagem ponderada de períodos de contribuição após a publicação da Lei
8.112/1990, o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu ordens injuncionais para reconhecer a mora
do Poder Público quanto à edição da lei que disciplina o artigo 40, § 4º, inciso III, da Constituição
Federal, garantindo aos filiados da entidade sindical o direito de ter seus pedidos de aposentadoria
especial analisados pela autoridade administrativa competente à luz do artigo 57 da Lei 8.213/1991.
14.Resolvendo a questão da mora legislativa quanto ao disposto do artigo 40, § 4º, inciso III, da
Constituição Federal, o STF editou a Súmula Vinculante 33, onde foi suprida a lacuna deixada pelo
Poder Público relativa à edição da lei complementar que regulamenta o supramencionado dispositivo
constitucional.
15.A Súmula Vinculante 33 possui o seguinte conteúdo:
‘Aplica-se ao servidor público, no que couber, as regras do regime geral da previdência social
sobre aposentadoria especial de que trata o artigo 40, § 4º, inciso III, da Constituição Federal, até a
edição de lei complementar específica. ‘ (grifo nosso)
16.Assim, o argumento de que não há edição de lei complementar que regulamente o artigo 40, §
4º, inciso III, da Constituição Federal, para se aceitar o deferimento de aposentadoria especial não mais
se sustenta, considerando o conteúdo da Súmula Vinculante 33 do STF.
17.É preciso esclarecer que os MI 880-9 e a Súmula Vinculante 33 reconhecem a omissão
legislativa do artigo 40, § 4º, inciso III, da Constituição Federal. Assim, para as aposentadorias
estatutárias especiais deferidas com base nesse fundamento, deverão ser observados os mesmos critérios
para as aposentadorias especiais deferidas àqueles vinculados ao regime geral de previdência social,
nos termos do artigo 57 da Lei n. 8.213/1991.
18.Desse modo, não é possível a averbação de tempo insalubre após o advento da Lei 8.112/1990 e
o aproveitamento para a aposentadoria de servidores com fundamento distinta da aposentadoria especial
referida no artigo 40, § 4º, inciso III, da Constituição Federal, que está regulamentada pelos MIs 880-9
(além dos Mandados de Injunção 1071-4, 1442-6 e 3389) e Súmula Vinculante 33.
19.O próprio STF já decidiu que a concessão de aposentadoria especial prevista no art. 40, § 4º da
Constituição Federal, não garante a contagem ponderada de tempo de serviço diferenciada ao servidor
público, mas tão somente o efetivo gozo da aposentadoria especial:
167
pela UFTM (art. 3º da Emenda Constitucional 47/2005) e, desta forma, o ato pode ser considerado
ilegal, com a consequente negativa de registro.
CONCLUSÃO
47.A abrangência e a profundidade das verificações levadas a efeito fundamentam convicção de
que os atos de Marcia Maria Mendonça, Marcio Cunha Fatureto (dois) e Marcos Antonio Lopes devem
ser considerados ilegais, tendo seu registro negado;
48.Deve-se dispensar a devolução dos valores indevidamente recebidos de boa-fé pelos
interessados, nos termos do Enunciado 106 da Súmula de Jurisprudência deste Tribunal.
49.Por fim, vale destacar que os atos em análise foram disponibilizados ao TCU há menos de cinco
anos. Portanto, segundo o entendimento estabelecido no Acórdão 587/2011-TCU-Plenário, não é
necessária a instauração do contraditório.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
50.Ante o exposto, com fundamento nos arts. 71, inciso III, da Constituição Federal, 1 o, inciso V, e
39, incisos I e II, da Lei 8.443/1992 e 260, § 1º e 5º, do Regimento Interno do Tribunal de Contas da
União, bem como art. 7º, § 4º da IN 78/2018, propõe-se:
a) considerar ILEGAL e negar o registro do ato de Marcia Maria Mendonça (CPF: 240.839.336-
15), Marcio Cunha Fatureto (CPF: 000.861.218-80), Marcio Cunha Fatureto (CPF: 000.861.218-80) e
Marcos Antonio Lopes (CPF: 323.204.506-53).
b) determinar à Universidade Federal Triângulo Mineiro que:
171
b.1) abstenha de realizar pagamentos para os atos ora apreciados pela ilegalidade, no prazo 15
(quinze) dias, contados a partir da ciência desta deliberação, sujeitando-se a autoridade administrativa
omissa à responsabilidade solidária, nos termos do art. 262, caput, do Regimento Interno do TCU;
b.2) informe aos interessados:
b.2.1) o teor do Acórdão que vier a ser prolatado, encaminhando ao TCU, no prazo de trinta dias,
comprovante da data de ciência pelos respectivos interessados, nos termos do art. 4º, § 3º, da Resolução
- TCU 170/2004;
b.2.2) caso manifestem interesse, podem se manter aposentados com base em outro fundamento
legal e desde que cumpram os requisitos legais exigidos; ou poderão retornar à atividade para completar
o requisito temporal para nova aposentadoria − a qual, obrigatoriamente, deverá fundamentar-se nas
regras vigentes no momento da nova concessão;”.
É o relatório.
VOTO
‘Art. 40 ...............................................................................................................................
§ 10 A lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem de tempo de contribuição fictício’.”
7. Feitas essas considerações, passo a examinar a situação de cada servidor.
13. A contagem especial do tempo de magistério para aposentadoria comum é admitida em apenas
três situações: i) relativamente ao tempo exercido até o advento da EC 18/1981 (9/7/1981); ii) para o
professor de ensino superior que se aposentou com base no revogado art. 8º da EC 20/1998, desde que
tenha utilizado exclusivamente tempo no magistério, hipótese na qual o tempo laborado até 15/12/1998
era majorado em 17% (§ 4º do art. 8º da EC 20/1998) e iii) para o professor de ensino superior que se
aposenta com fundamento no art. 2º da EC 41/2003, desde que tenha utilizado exclusivamente tempo no
magistério, hipótese na qual o tempo laborado até o 15/12/1998 é majorado em 17%.
14. No caso do senhor Márcio Cunha Fatureto, aparentemente a contagem ponderada refere-se a
tempo insalubre e não ao acréscimo de 17% sobre o tempo de magistério anterior a 16/12/1998 — que
poderia assegurar-lhe um tempo adicional de apenas 1 ano e 11 meses, aproximadamente, e não os 9 anos
e 11 meses concedidos.
174
15. Sendo tempo insalubre, há necessidade de comprovação mediante laudo pericial, não havendo
nenhuma presunção sobre a existência de insalubridade, como ocorre com o cargo de Médico até 1995
(no regime geral).
16. Assim sendo, nos casos concretos, há necessidade de a IFES demonstrar a efetiva existência de
trabalho em condições insalubres nos dois cargos, de Médico e de Professor Adjunto.
17. E não só. Haveria necessidade de demonstrar que o interessado cumpria integralmente as duas
jornadas de 40 horas semanais, sendo certo que, até o momento, o trabalho do médico é presencial.
18. Ocorre, porém, que consulta aos sistemas informatizados revela que, além desses cargos, o
interessado também trabalhou como médico na prefeitura municipal de Uberaba/MG de 2005 a 2011.
19. Considerando, ainda, as atividades privadas do sr. Márcio Cunha Fatureto em seu consultório
médico (vide documento de peça 10), conclui-se que, além da acumulação ilegal de cargos públicos, é
altamente improvável que o servidor lograsse cumprir sua jornada de trabalho nos cargos que ocupava na
UFTM.
20. Portanto, os atos em exame apresentam como irregularidades: i) a contagem ponderada de
tempo de atividade insalubre após 12/12/1990, tanto em razão da falta de previsão legal como pela
necessidade de comprovação das condições especiais de trabalho; ii) a acumulação ilegal de três cargos
públicos; iii) possível descumprimento das jornadas de trabalho — o que pode, eventualmente, ser
comprovado por elementos de convicção a serem trazidos pela UFTM ou pelo interessado.
22. Feitas essas considerações, manifesto-me pela ilegalidade das presentes concessões e proponho
que a elas seja negado o registro.
Diante do exposto, VOTO por que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto a este colegiado.
1. Processo nº TC 009.618/2020-1.
2. Grupo I – Classe de Assunto: V - Aposentadoria
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessados: Márcia Maria Mendonça (240.839.336-15); Marcio Cunha Fatureto
(000.861.218-80); Márcio Cunha Fatureto (000.861.218-80); Marcos Antônio Lopes (323.204.506-53).
4. Órgão/Entidade: Universidade Federal do Triângulo Mineiro.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de aposentadorias concedidas pela Universidade Federal
do Triângulo Mineiro,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
diante das razões expostas pelo Relator, com fundamento no art. 71, inciso III, da Constituição Federal e
nos arts. 1º, inciso V, 39, inciso II, e 45 da Lei 8.443/1992, em:
9.1. considerar ilegais as aposentadorias concedidas aos senhores Márcio Cunha Fatureto (nos
175
cargos de Médico e de Professor Adjunto), Marcos Antônio Lopes e Márcia Maria Mendonça, com recusa
de registro aos respectivos atos;
9.2. dispensar o ressarcimento das quantias indevidamente recebidas, em boa-fé, pelos interessada,
consoante o Enunciado 106 da Súmula de Jurisprudência deste Tribunal;
9.3. determinar à Universidade Federal do Triângulo Mineiro que:
9.3.1. dê ciência do inteiro teor desta deliberação aos interessados no prazo de quinze dias e faça
juntar aos autos os comprovantes de notificação nos quinze dias subsequentes;
9.3.2. faça cessar, no prazo de quinze dias, contado a partir da ciência desta deliberação, os
pagamentos decorrentes dos atos impugnados, sob pena de responsabilidade solidária da autoridade
administrativa omissa, consoante disposto nos arts. 71, inciso IX, da Constituição Federal e 262 do
Regimento Interno desta Corte.
RELATÓRIO
I – Histórico
Trata-se de recurso de reconsideração interposto pelo Sr. Sérgio Hideki Hiura, ex-prefeito do
município de Santo Antônio do Tauá (PA), no período de 2013 a 2016, contra o Acórdão 3.885/2018 – 1ª
Câmara (peça 18), relatado pelo Ministro Substituto Augusto Sherman Cavalcanti, que apresenta o
seguinte teor:
“ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão de 1ª Câmara, ante
as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. considerar revel o Sr. Sérgio Hideki Hiura (CPF 304.134.352-53), nos termos do disposto no
art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992;
176
9.2. com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas “a” e “c”, da Lei 8.443/1992 c/c
os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, julgar irregulares as contas do Sr. Sérgio Hideki Hiura (CPF
304.134.352-53), condenando-o ao pagamento das quantias a seguir especificadas, com a fixação do
prazo de quinze dias, a contar da notificação, para comprovar, perante o Tribunal (art. 214, inciso III,
alínea “a”, do Regimento Interno), o recolhimento da dívida aos cofres do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE), atualizada monetariamente e acrescida dos juros de mora,
calculados a partir das datas discriminadas, até a data do recolhimento, na forma prevista na legislação
em vigor:
9.3. aplicar ao Sr. Sérgio Hideki Hiura (CPF 304.134.352-53) a multa do art. 57 da Lei 8.443/92,
no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da
notificação, para comprovar, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno),
o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do
presente acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação
em vigor;
9.4. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial
das dívidas caso não atendida a notificação;
9.5. dar ciência deste acórdão ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), bem
como à Procuradoria da República no Estado do Pará, nos termos do § 3º do art. 16 da Lei 8.443/1992
c/c o § 7º do art. 209 do Regimento Interno do TCU, para as providências que considere cabíveis.”
2. Cuidam os autos de tomada de contas especial instaurada pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação - FNDE em desfavor do Sr. Sérgio Hideki Hiura, ex-prefeito do município
de Santo Antônio do Tauá (PA), em razão da omissão no dever de prestar contas dos recursos repassados
ao referido município na modalidade fundo a fundo, à conta do Programa Dinheiro Direto na Escola –
PDDE/Educação Integral, no exercício de 2013.
3.O referido programa tinha por objeto a “cobertura de despesas de custeio, manutenção e de
pequenos investimentos, que concorram para a garantia do funcionamento e melhoria da infraestrutura
física e pedagógica dos estabelecimentos de ensino” (peça 2, p. 17).
4.Para a execução do PDDE/Educação Integral, o FNDE repassou ao mencionado município, no
exercício de 2013, a importância de R$ 900.440,00 (novecentos mil quatrocentos e quarenta reais).
5.No Relatório de Tomada de Contas Especial 169/2017, tendo em vista a omissão no dever de
prestar contas, foi atribuída ao Sr. Sérgio Hideki Hiura a responsabilidade pelo dano causado ao erário,
cujo valor equivaleu ao montante repassado pelo FNDE (p. 2, p. 17 a 21).
6.A CGU se manifestou favoravelmente ao entendimento esposado pelo tomador de contas, por
meio do Relatório e do Certificado de Auditoria 500/2017 (peça 2, p. 27 a 30) e do Parecer do Dirigente
do Órgão de Controle Interno (peça 2, p. 32). O Ministro da Educação atestou ter tomado conhecimento
das conclusões contidas nesses documentos (peça 2, p. 34).
7.No âmbito do TCU, foi promovida a citação do responsável por intermédio do Ofício Secex/MG
2.677/2017, de 16/11/2017 (peça 7). O Sr. Sérgio Hideki Hiura teve ciência do expediente que lhe foi
encaminhado, conforme atesta o aviso de recebimento (AR) que compõe a peça 11. Em seguida, solicitou
prorrogação do prazo para apresentar alegações defesa (peça 9). Esse pleito foi deferido, tendo sido
concedida a referida ampliação até o dia 19/1/2018 (peça 10).
8.Contudo, decorrido o novo prazo fixado, o ex-prefeito se manteve silente, o que caracterizou sua
revelia, nos termos do art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992.
177
9.Nesse contexto, a então Secex/MG propôs o julgamento pela irregularidade das contas do Sr.
Sérgio Hideki Hiura, sua condenação ao pagamento de débito e a aplicação da multa prevista no art. 57 da
Lei 8.443/1992 (peças 12 a 14).
10.O Ministério Público junto ao TCU manifestou-se de acordo com a proposta de mérito oferecida
pela unidade técnica, tendo sugerido a realização de ajustes no encaminhamento (peça 17).
11.Em seguida, o Tribunal de Contas da União proferiu o Acórdão 3.885/2018 – 1ª Câmara (peça
18), anteriormente transcrito neste relatório.
12.Inconformado, o Sr. Sérgio Hideki Hiura interpôs o presente recurso de reconsideração contra o
acórdão condenatório acima citado (peça 26).
d) em conformidade com o disposto no art. 26, II, alínea “n”, da mencionada resolução, caberia às
EEx enviar tempestivamente ao FNDE a prestação de contas dos recursos destinados às escolas
integrantes de sua respectiva rede de ensino, na forma prevista no item acima;
e) no exercício de 2013, a prestação de contas dos recursos do PDDE deveria ser apresentada ao
FNDE pela entidade executora até o dia 28/2/2013. Já as escolas recebedoras dos recursos deveriam
encaminhar as prestações de contas para a prefeitura até o dia 31/12/2012. Logo, cabia ao ex-prefeito
adotar as medidas previstas na Resolução CD/FNDE 10/2013. Ao não implementar essas medidas, ele se
tornou responsável pelas consequências de sua omissão;
f) consoante a jurisprudência predominante no Tribunal, a responsabilidade pela comprovação da
regular aplicação dos recursos deve recair apenas sobre o gestor municipal, a quem cabe consolidar e
encaminhar a prestação de contas da totalidade dos recursos transferidos ao município, mesmo em relação
àqueles repassados diretamente para as unidades executoras;
g) o Sr. Sérgio Hideki Hiura afirmou que, quando esteve afastado do cargo, não lhe cabia prestar
contas. Aduziu que teria sido impedido de inserir as informações no sistema junto ao FNDE. No entanto,
segundo o termo de posse apresentado (peça 26, p. 41), o recorrente estava em exercício no cargo de
prefeito, sendo-lhe possível prestar contas em 30/4/2014, prazo limite estipulado pelas normas aplicáveis.
Por fim, saliento que o vice-prefeito só tomou posse como prefeito em junho de 2014, conforme
demonstra o respectivo termo de posse (peça 26, p. 42); e
h) restou confirmado que o Sr. Sérgio Hideki Hiura descumpriu o dever de prestar contas dos
recursos federais repassados ao município. Desse modo, não há como acolher as razões apresentadas;
- Alegações do recorrente
a) encaminhou a prestação de contas dos recursos transferidos sob a égide do PDDE com o fito de
demonstrar a regular aplicação desses recursos;
- Análise das alegações do recorrente
a) a imputação de débito no valor histórico de R$ 900.440,00 (novecentos mil quatrocentos e
quarenta reais) e a aplicação de multa no montante de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) decorreram
da omissão no dever de prestar contas e da consequente não comprovação da boa e regular aplicação dos
recursos federais repassados ao município de Santo Antônio do Tauá (PA), por conta do PDDE/Educação
Integral, no exercício de 2013;
b) para afastar os fundamentos dessa condenação, o responsável deve demonstrar, por meio da
apresentação de documentos idôneos, a execução do objeto pactuado e o nexo de causalidade entre os
recursos federais repassados e as despesas incorridas para a consecução do objeto do PDDE;
c) o art. 18 da Resolução/CD/FNDE 10/2013 determina que as despesas realizadas com recursos
transferidos pelo PDDE “serão comprovadas mediante documentos fiscais originais ou equivalentes, na
forma da legislação à qual a entidade responsável pela despesa estiver sujeita, devendo os recibos,
faturas, notas fiscais e quaisquer outros documentos comprobatórios ser emitidos em nome da EEx, UEx
ou da EM, identificados com os nomes FNDE e do programa”;
d) no presente recurso, o Sr. Sérgio Hideki Hiura não apresentou recibos, faturas, notas fiscais nem
quaisquer outros documentos comprobatórios exigidos pela resolução acima citada. Em seu lugar,
encaminhou bilhetes aéreos, relação de prestações de contas enviadas e registradas na base de dados do
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, lista de pendências de cada escola e comprovantes do
encaminhamento das prestações de contas de outros exercícios e programas;
e) também não foram encaminhados ao TCU os extratos das contas bancárias específicas nas quais
os recursos federais transferidos foram creditados, mantidos e geridos. Sem esses extratos, não é possível
estabelecer a correlação entre os pagamentos e a origem dos valores a eles destinados. Não havendo nexo
entre receitas e despesas, não há comprovação da regular aplicação dos recursos em tela;
f) é inerente ao regime de prestação de contas, previsto no art. 70, parágrafo único, da Constituição
Federal, o dever de o responsável pelo ajuste demonstrar o nexo causal entre os recursos por ele geridos e
os documentos de despesas referentes à execução do objeto avençado, tais como notas de empenho,
ordens bancárias, cheques, recibos ou notas fiscais e extratos bancários. Dessa forma, consegue-se provar
179
que os recursos transferidos pela União foram utilizados para produzir os bens ou prestar os serviços.
Esse entendimento encontra apoio na jurisprudência desta Corte de Contas, como se observa, por
exemplo, no Acórdão 7.200/2018 – 2ª Câmara, relatado pelo Ministro Substituto Marcos Bemquerer
Costa; e
g) assim sendo, remanesce o débito imputado no acórdão recorrido.
14.Com fulcro nessas considerações, o auditor propôs (peça 41):
a) conhecer do presente recurso de reconsideração, para, no mérito, negar-lhe provimento;
b) dar ciência da deliberação que vier a ser adotada ao recorrente, ao Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE) e à Procuradoria da República no Estado do Pará.
15.O Diretor da 3ª Diretoria da Serur manifestou sua concordância com essa proposta (peça 42).
16.Já o titular da Secretaria de Recursos discordou dessa proposta, pelos motivos expostos no
parecer a seguir transcrito (peça 43):
“No exame antecedente, o auditor-instrutor, com a anuência do diretor, propôs negar provimento
ao recurso interposto por Sérgio Hideki Hiura, ex-prefeito de Santo Antônio do Tauá-PA, contra o
Acórdão 3885/2018-TCU-1ª Câmara (peça 18, rel. Min.-Subst. Augusto Sherman Cavalcanti).
2. Pelos fundamentos que se seguem, entendo que, preliminarmente, devem ser obtidos novos
esclarecimentos junto ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), tendo em vista a
apresentação das contas àquela autarquia, posteriormente ao julgamento deste processo.
3. Observo, de início, que as contas de 2013 do Programa Dinheiro Direto na Escola
(PDDE/2013) deveriam ser prestadas até 30/4/2014 (cf., p. ex., peça 2, p. 17; peça 40, p. 2). Nessa data,
o recorrente ocupava o cargo de prefeito municipal, como evidenciado no exame do recurso.
4. O débito imputado (R$ 900.440,00, em valores históricos) corresponde à totalidade dos recursos
repassados à conta do programa. Esses recursos não foram transferidos à prefeitura, e sim
disponibilizados diretamente às escolas (às unidades executoras representativas das escolas – UEx),
como evidencia a relação de ordens bancárias extraídas do Sistema de Gestão de Prestação de Contas
(SIGPC), mantido pelo FNDE, que indica as unidades escolares beneficiárias do repasse, com o
respectivo montante (peça 40, p. 4), totalizando o valor da condenação.
5. A responsabilidade da prefeitura (enquanto entidade executora – EEx) era a de receber, analisar
e consolidar as prestações de contas encaminhadas pelas escolas, bem como a de comunicar ao FNDE
eventuais omissões das escolas, apresentando essas informações por meio eletrônico, mediante registros
no SIGPC.
6. Dos documentos apresentados pelo recorrente nesta oportunidade (peça 26, p. 10 a 101), muitos
sequer dizem respeito ao objeto desta TCE. Nesse sentido, observam-se, nessa vasta documentação,
informações relativas a outros programas (como o de alimentação escolar) ou a exercícios diversos do
de 2013, por exemplo.
7. Todavia, na peça 26, p. 99 a 101, há o registro do cadastramento da prestação de contas no
SIGPC em 18/6/2018. Em consulta ao referido sistema, pôde-se extrair as informações juntadas à peça
40, referidas adiante, as quais evidenciam que de fato houve a apresentação das contas, ainda que
intempestivamente, na forma regulamentar (ou seja, em meio eletrônico, no sistema disponibilizado pelo
FNDE).
8. No exame antecedente, opinou-se pelo desprovimento do recurso, porquanto não teriam sido
encaminhados ao TCU os documentos típicos de uma prestação de contas, como os extratos bancários,
recibos, faturas, notas fiscais etc.
9. Há de se levar em conta, contudo, as peculiaridades do PDDE, submetido que está a uma
disciplina específica de como se dá a realização das despesas e sua comprovação, objeto da Resolução
CD-FNDE 10/2013 (peça 40, p. 7-29), notadamente de seus arts. 18 e 19.
10. Pela sistemática prevista normativamente, cada escola (ou sua unidade executora) recebe os
recursos, executa as despesas, custodia os respectivos comprovantes e presta contas detalhadamente à
prefeitura (entidade executora), com as informações analíticas referidas pelo auditor (demonstrativos,
extratos bancários, notas fiscais, faturas, recibos etc.). A prefeitura, por sua vez, analisa e consolida
180
essas informações, prestando suas contas ao FNDE de forma menos detalhada, na forma dos
demonstrativos requeridos pelo SIGPC (art. 19, § 1º, II, da citada resolução).
11. Na hipótese deste processo, a prestação de contas objeto da TCE foi justamente essa
consolidada, de responsabilidade da prefeitura e que é registrada diretamente no SIGPC. Tais
prestações de contas são eventualmente submetidas a fiscalizações do FNDE por amostragem (art. 23, §
1º, da resolução), mas não contam com o mesmo detalhamento daquelas que as unidades executoras
(escolas) prestam à prefeitura.
12. Em consulta ao SIGPC (peça 40), observa-se que de fato houve o registro extemporâneo da
prestação de contas do PDDE/2013. O próprio sistema indica que o município está “adimplente” na
obrigação de prestar contas (peça 40, p. 2) e que a prestação de contas está na situação de “aguardando
análise” (peça 40, p. 3).
13. A evidência é também corroborada pelo FNDE na Informação 4.298/2018-
Dimoc/Cotce/Cgapc/Difin/FNDE (peça 40, p. 5), que indica que, “em consulta ao SiGPC, pode-se
constatar que, em 18/06/2018, o responsável enviou e registrou na base de dados do FNDE a prestação
de contas do PDDE-Educação Integral/2013”, cuja omissão motivara a instauração desta TCE.
14. Todavia, do teor da citada informação depreende-se ser do entendimento do FNDE que, pelo
fato de ter sido instaurado o processo perante o TCU, não cabe ao órgão repassador manifestar-se sobre
as contas prestadas extemporaneamente pelo gestor (cf. §§ 5-6 da citada Informação).
15. Divergindo desse entendimento, entendo que compete à referida autarquia, na qualidade de
órgão repassador dos recursos, a responsabilidade primária pelo exame da prestação de contas (que,
aliás, foi inserida em seus sistemas de informação, como determina a regulamentação do programa).
16. Não se pode esquecer que, “de acordo com a jurisprudência deste Tribunal, a responsabilidade
primária pela fiscalização e análise da correta aplicação dos recursos federais transferidos a estados e
municípios compete ao órgão ou entidade concedente” (Acórdão 14.172/2018-TCU-1ª Câmara, rel.
Min.-Subst. Weder de Oliveira).
17. Ademais, o exame direto da prestação de contas pelo TCU, no caso do PDDE, apresenta
inconvenientes relevantes. Com efeito, o exame dos simples demonstrativos consolidados exigidos pela
Resolução CD-FNDE 10/2013 viabilizaria uma análise talvez insuficiente, por não dispor o TCU de
acesso a eventuais outras informações disponíveis no SIGPC ou mesmo resultantes de fiscalizações feitas
pelo órgão repassador, na forma do art. 23, § 1º, da mencionada resolução.
18. Além disso, não seria razoável requerer que o gestor já juntasse a este processo, quando citado
ou mesmo em grau de recurso, as informações analíticas da prestação de contas de cada uma das várias
escolas de sua rede de ensino, destinatárias diretas do repasse. Até porque em caso de impugnação de
despesas realizadas pelas escolas (unidades executoras), haveria de se atribuir responsabilidade (ainda
que solidária, se fosse o caso) ao próprio dirigente da unidade escolar executora da despesa, como há
muito já realçava o Acórdão 2.309/2009 – TCU - 1ª Câmara:
“Os dirigentes das Unidades Executoras – UEx e dos estabelecimentos de ensino são
solidariamente responsáveis, com o gestor municipal, pela comprovação da regular aplicação dos
recursos diretamente transferidos à conta dessas unidades por força do PDDE, ficando a
responsabilização restrita ao prefeito em caso de inexistirem alegações e provas nos autos que
demonstrem terem aqueles apresentado prestação de contas.”
19. Em suma, diante das peculiaridades do PDDE, entendo não ser adequado atribuir ao TCU a
responsabilidade direta pela análise da prestação de contas a cargo da prefeitura (que consolida os
recursos transferidos diretamente às várias escolas que compõem a rede municipal de ensino), caso
essas contas venham a ser prestadas extemporaneamente, como neste caso. Notadamente quando a
prestação de contas é apresentada diretamente ao próprio órgão repassador dos recursos, por meio de
sistema de informação por ele gerido, contemplando os dados e observando as formalidades
normatizadas por aquela autarquia.
181
20. Nesse contexto, a análise deve também ser realizada, como regra, pelo próprio concedente dos
recursos, com vistas a racionalizar a atuação do controle externo e, ao mesmo tempo, preservar as
competências e atribuições do órgão gestor do programa.”
14. O Procurador Júlio Marcelo de Oliveira acompanhou o posicionamento da Secretaria de
Recursos, por meio de parecer com o seguinte teor (peça 44):
“Em virtude da omissão no dever de prestar contas dos recursos repassados à municipalidade por
meio do Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE/Educação Integral, no exercício de 2013, o sr.
Sérgio Hideki Hiura, ex-prefeito de Santo Antônio do Tauá/PA (gestão 2013/2016, peça 15), teve suas
contas julgadas irregulares e foi condenado em débito e sancionado com multa, nos termos do Acórdão
3.885/2018 – 1ª Câmara, proferido em 24/4/2018 e ora transcrito em parte (peça 18):
“9.1. considerar revel o Sr. Sérgio Hideki Hiura (CPF 304.134.352-53), nos termos do disposto no
art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992;
9.2. com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas ‘a’ e ‘c’, da Lei 8.443/1992 c/c os
arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, julgar irregulares as contas do Sr. Sérgio Hideki Hiura (CPF
304.134.352-53), condenando-o ao pagamento das quantias a seguir especificadas (...):
9.3. aplicar ao Sr. Sérgio Hideki Hiura (CPF 304.134.352-53) a multa do art. 57 da Lei
8.443/1992, no valor de R$ 500.000,00 (...);”
Ante o recurso de reconsideração interposto pelo ex-prefeito (peça 26), a Secretaria de Recursos –
Serur oferece conclusões divergentes no tocante ao encaminhamento do processo: os srs. Auditor e
Diretor opinam pela negativa de provimento (peças 41 e 42), ao passo que o titular da unidade técnica
especializada propõe determinação para que o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação –
FNDE examine as contas prestadas e registradas no Sistema de Gestão de Prestação de Contas – SIGPC
em 18/6/2018 (peça 43).
No essencial, o sr. Auditor teceu as considerações que seguem (peça 41):
a) o argumento de que cabia às escolas a obrigação de prestar contas ao FNDE dos recursos do
PDDE repassados não favorece o recorrente;
b) de acordo com a Resolução/CD/FNDE/2013 [10/2013, de 18/4/2013, peça 40, pp. 7/29], os
recursos do PDDE são destinados às escolas e aos polos, por intermédio de suas Entidades Executoras
(EEx), Unidades Executoras Próprias (UEx) e Entidades Mantenedoras (EM) (art. 5º), e caberia às
Entidades Executoras enviar tempestivamente, ao FNDE, a prestação de contas dos recursos destinados
às escolas integrantes de sua respectiva rede de ensino (arts. 19, § 1º, inciso II, e 26, inciso II, alínea
“n”) [peça 40, pp. 17 e 24];
c) assim, a prestação de contas dos recursos do PDDE a cargo da Entidade Executora (EEx),
exercício de 2013, deveria ser apresentada ao FNDE até 28/2/2013 [28/2/2014] (art. 19, § 1º, II, da
Resolução/CD/FNDE/2013) [peça 40, p. 17], e a prestação de contas das escolas recebedoras dos
recursos, denominadas pelo FNDE como Unidades Executoras/UEx, para a prefeitura (Entidade
Executora/EEx), deveria ocorrer até 31/12/2012 [31/12/2013] (art. 19, § 1º, inciso I, da citada
resolução) [peça 40, p. 17];
d) logo, cabia ao prefeito adotar as medidas previstas nos dispositivos citados, o que não feito, no
que lhe recai a responsabilidade pela omissão;
e) a jurisprudência predominante do TCU entende que, em caso de omissão, a responsabilidade
pela comprovação da regular aplicação dos recursos deve recair apenas sobre o gestor municipal, pois
lhe cabe consolidar e encaminhar a prestação de contas da totalidade dos recursos transferidos ao
município à conta do programa, mesmo em relação àqueles repassados diretamente às Unidades
Executoras - UEx (Acórdãos 1084/2007-Segunda Câmara e 693/2008-Segunda Câmara);
182
f) o sr. Sérgio Hideki Hiura defende, com base nos documentos apresentados (peça 26, pp. 40/72),
que, nas vezes em que esteve afastado do cargo, não lhe cabia prestar contas e que foi impedido de
inserir as informações no sistema junto ao FNDE. No entanto, segundo o termo de posse apresentado à
peça 26, p. 41, em março/2014, o recorrente estava em exercício no cargo de prefeito, sendo-lhe possível
prestar contas em 30/4/2014, prazo limite indicado à peça 2, pp. 10/1. O vice-prefeito só teria tomado
posse como prefeito em junho/2014 (termo de posse à peça 26, p. 42);
g) essas informações confirmam que o sr. Sérgio Hideki Hiura se omitiu da responsabilidade de
prestar contas dos recursos federais repassados ao município. Ocupou o cargo de prefeito durante o
período de 2013/2016 e era a pessoa responsável pela gestão dos recursos federais recebidos à conta da
transferência em questão. No entanto, não tomou as medidas para a comprovação de sua devida
utilização. Como se viu, o prazo para prestação de contas encerrou-se em 30/04/2014 (peça 2, pp. 10/1),
dentro, portanto, do período de sua gestão como prefeito municipal (peça 2, pp. 17/21 e 27/34);
h) o fundamento utilizado para a condenação integral em débito de R$ 900.440,00 (valor histórico)
e da multa de R$ 500.000,00 é referente à omissão no dever de prestar contas e, consequentemente, à
não comprovação da boa e regular aplicação dos recursos federais repassados ao município de Santo
Antônio do Tauá/PA, na modalidade fundo a fundo, à conta do PDDE/Educação Integral, no exercício de
2013, cujo prazo para apresentação das contas expirou em 30/4/2014;
i) a Resolução/CD/FNDE 10/2013, art. 18 [peça 40, p. 17], determina que as despesas realizadas
com recursos transferidos pelo PDDE “serão comprovadas mediante documentos fiscais originais ou
equivalentes, na forma da legislação à qual a entidade responsável pela despesa estiver sujeita, devendo
os recibos, faturas, notas fiscais e quaisquer outros documentos comprobatórios ser emitidos em nome da
EEx, UEx ou da EM, identificados com os nomes FNDE e do programa”;
j) no presente recurso, o sr. Sérgio Hideki Hiura não apresenta os recibos, faturas, notas fiscais e
quaisquer outros documentos comprobatórios exigidos pela resolução. O recorrente exibe bilhete aéreos
(peça 26, pp. 9/11), relação de prestações de contas enviadas e registradas na base de dados do FNDE
(peça 26, pp. 12/27), relação de pendências de cada escola (peça 26, pp. 28/33), encaminhamento das
prestações de contas de outros exercícios e programas (peça 26, pp. 36/9 e 75/101). No entanto, são
elementos que não correspondem aos documentos necessários à comprovação da execução do
PDDE/Educação Integral, exercício de 2013;
k) também se encontra ausente o extrato das contas bancárias específicas nas quais os recursos
transferidos por conta do PDDE foram creditados, mantidos e geridos (art. 13 da Resolução 10/2013)
[peça 40, p. 14]. Sem o apoio dos extratos bancários, não é possível estabelecer a correlação entre o
pagamento e a origem dos valores a ele destinados, uma vez que a respectiva despesa deve estar
suportada pelo débito na conta específica do programa;
l) não havendo nexo entre receitas e despesas, como um dos pilares para aprovação da prestação
de contas de recursos públicos federais, não há comprovação de sua regular aplicação;
m) é inerente ao regime de prestação de contas, previsto no art. 70, parágrafo único, da
Constituição Federal, o dever de o responsável pelo ajuste demonstrar o nexo causal entre os recursos
por ele geridos e os documentos de despesas referentes à execução, tais como notas de empenho, ordens
bancárias, cheques, recibos ou notas fiscais e extratos bancários, a confirmar o custeio, com recursos da
União, dos bens produzidos e dos serviços realizados (Acórdão 7200/2018 - Segunda Câmara);
n) dessa forma, remanesce a título de débito, em face da não comprovação da boa e regular gestão
dos recursos, o valor de R$ 900.440,00, correspondente ao total dos recursos repassados ao município
na modalidade fundo a fundo, à conta do Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE/Educação
Integral, no exercício de 2013.
As ponderações do sr. Auditor da Serur são pertinentes, mas, em caráter excepcional, o Ministério
Público de Contas adere à proposição do titular da unidade técnica especializada, qual seja (peça 43):
“a) que seja determinado ao FNDE que examine as contas prestadas pela Prefeitura Municipal de
Santo Antônio do Tauá-PA, referentes ao PDDE/Educação Integral, exercício de 2013, registradas no
SIGPC em 18/06/2018, objeto do Relatório de TCE 169/2017-DIREC/COTCE/CGCAP/DIFIN-
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que examine as contas prestadas e informe ao Tribunal, no prazo de 60 dias, sobre sua aprovação ou
rejeição, com a quantificação de eventuais débitos remanescentes e os correspondentes motivos.
15.Nesse contexto, proferi despacho do qual destaco o seguinte trecho:
“10. Em primeiro lugar, saliento que o PDDE está submetido a uma disciplina específica no que
diz respeito à realização e comprovação das despesas, a qual foi estabelecida pela Resolução CD-FNDE
10/2013.
11. Em conformidade com a mencionada norma, cada escola recebe os recursos, executa as
despesas, custodia os respectivos comprovantes e presta contas detalhadamente à prefeitura, inclusive no
que concerne às informações analíticas referidas pelo auditor. A prefeitura, por sua vez, analisa e
consolida essas informações e presta suas contas ao FNDE de forma menos detalhada, na forma dos
demonstrativos requeridos pelo SIGPC.
12. No caso vertente, apontou a omissão na prestação de contas consolidada, que é registrada
diretamente no SIGPC. Em consulta a esse sistema, verifiquei que o município está “adimplente” com a
obrigação de prestar contas e que a prestação está “aguardando análise”.
13. Todavia, o FNDE entende que, pelo fato de ter sido instaurada esta TCE, não cabe ao órgão
repassador manifestar-se sobre as contas prestadas extemporaneamente pelo gestor. Discordo desse
entendimento porque o exame direto da prestação de contas pelo TCU, no caso do PDDE, apresenta
inconvenientes relevantes. Com efeito, o exame dos demonstrativos consolidados exigidos pela Resolução
CD-FNDE 10/2013 viabilizaria uma análise insuficiente, uma vez que este Tribunal não acessa outras
informações necessárias que estão disponíveis no SIGPC.
14. Além disso, não seria razoável requerer que o gestor juntasse a este processo, quando citado ou
mesmo em grau de recurso, as informações analíticas da prestação de contas de cada uma das várias
escolas de sua rede de ensino, que foram as destinatárias diretas do repasse.
15. Cabe frisar que, caso haja a impugnação de despesas realizadas pelas escolas, haveria de se
atribuir responsabilidade ao próprio dirigente da unidade escolar executora da despesa.
16. Em síntese, levando em conta as peculiaridades do PDDE, julgo que não se deve atribuir ao
TCU a responsabilidade direta pela análise da prestação de contas a cargo da prefeitura, caso essas
contas venham a ser prestadas extemporaneamente. Notadamente quando a prestação de contas é
apresentada diretamente ao próprio órgão repassador dos recursos, por meio de sistema de informação
por ele gerido, contemplando os dados e observando formalidades normatizadas pelo FNDE.
17. Nessa hipótese, via de regra, a análise deve realizada pelo próprio concedente dos recursos,
com vistas a racionalizar a atuação do controle externo e, ao mesmo tempo, preservar as competências e
atribuições do órgão gestor do programa.
18. Com espeque nessas considerações, decido:
a) determinar ao FNDE que examine as contas prestadas pela Prefeitura Municipal de Santo
Antônio do Tauá (PA), referentes ao PDDE/Educação Integral, exercício de 2013, registradas no SIGPC
em 18/06/2018, objeto do Relatório de TCE 169/2017-DIREC/COTCE/CGCAP/DIFIN-FNDE/MEC, as
quais constam no SIGPC na situação de “aguardando análise”, informando ao Tribunal, no prazo de 60
(sessenta) dias, sobre a aprovação ou a rejeição dessas contas, com a quantificação de eventuais débitos
remanescentes e os correspondentes motivos;
b) sobrestar o presente processo até que sejam prestadas as informações solicitadas ao FNDE.”
16.Atendendo ao Ofício 42/2019 - TCU/Serur, de 4/7/2019 (peça 46), o Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação encaminhou ao Tribunal os documentos que constituem as peças 48 a 50
destes autos.
17.Após analisar os documentos acima citados, o auditor da Serur ratificou sua manifestação
anterior no sentido de conhecer do presente recurso de reconsideração (peças 33-34), a qual foi por minha
acolhida (peça 38). Aduziu que, naquela oportunidade, foram suspensos os efeitos dos itens 9.2, 9.3 e 9.4
do Acórdão 3.885/2018 - 1ª Câmara em relação ao recorrente.
18.Em seguida, o auditor analisou os elementos apresentados pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação, em atendimento à determinação do Tribunal, tendo destacado que:
186
e) por outro lado, a apresentação da prestação de contas ocorreu de forma intempestiva, após a
citação do responsável. Por via de consequência, a referida apresentação, embora seja capaz de afastar o
débito, não sana a omissão, conforme se observa nos seguintes julgados:
“A apresentação da prestação de contas a destempo, mas até o momento anterior ao da citação
pelo TCU, configura intempestividade no dever de prestar contas. A omissão no dever de prestar contas
fica caracterizada apenas a partir da citação por essa irregularidade.” (Acórdão 5.773/2015 - 1ª Câmara
- Relator: Ministro José Mucio Monteiro)
“A omissão no dever de prestar contas fica caracterizada apenas a partir da citação por essa
irregularidade. Prestadas as contas antes de expedida a comunicação processual, não há incidência do
art. 209, § 4º, do Regimento Interno do TCU, por falta do suporte fático delimitado pela norma.”
(Acórdão 964/2018 - Plenário - Relator: Ministro Augusto Nardes)
f) segundo a jurisprudência deste Tribunal, a apresentação intempestiva dos elementos que
comprovam a regular aplicação dos recursos constitui prova capaz de afastar o débito que seria imputado
ao responsável, mas a omissão no dever de prestar contas representa falta grave, que afronta a norma
inserida no art. 70, parágrafo único, da Carta Magna, ensejando a irregularidade das contas do gestor, com
incidência de multa. Nesse sentido, podem ser citados, por exemplo, os Acórdãos 4.838/2017 – 2ª Câmara
(Relator Ministro Substituto Marcos Bemquerer), 2.195/2011 - 1ª Câmara (Relator Ministro Walton
Alencar Rodrigues) e 7.192/2010 - 2ª Câmara (Relator Ministro Benjamin Zymler);
g) no que concerne à omissão no dever de prestar contas de recursos relacionados
ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), cumpre citar o seguinte excerto da proposta de
deliberação formulada pelo Ministro Substituto Marcos Bemquerer Costa que fundamentou o Acórdão
8.198/2019 – 2ª Câmara:
“14. Sobre as alegações de defesa trazidas ao descortino do Tribunal, rememora-se que o ex-
prefeito asseverou não ser obrigação do município a tarefa de prestar contas dos recursos do PDDE.
15. Essa questão foi bem esclarecida pela unidade técnica, com base na Resolução/CD/FNDE
3/2010 e com suporte nos normativos para os recursos do PDDE, pois a sistemática definida nas normas
de regência assenta que, ainda que as verbas fossem transferidas diretamente às escolas ou associações,
caberia ao prefeito à época receber a prestação de contas das unidades executoras (escolas e
associações que efetivamente gerenciaram os recursos), analisá-las, consolidá-las e apresentá-las ao
FNDE, o que não foi feito tempestivamente, tanto é que houve a deflagração desta Tomada de Contas
Especial por omissão no dever de prestar contas.
16. Nessa exegese, destaco excerto colhido da ferramenta de pesquisa desta Corte Jurisprudência
Selecionada:
“A responsabilidade pela omissão no dever de prestar contas de recursos do Programa Dinheiro
Direto na Escola (PDDE) está restrita ao prefeito em cujo mandato deveria ter ocorrido a análise, a
consolidação e o encaminhamento das prestações de contas das unidades executoras ao FNDE, ainda
que a aplicação dos recursos tenha ocorrido em gestão anterior.” (Acórdão 6.744/2018 - 1ª Câmara, rel.
min. Augusto Sherman)
17. A 2ª Câmara igualmente está em afino com a tese precitada, uma vez que também se posiciona
nessa linha, a exemplo do Acórdão 11.776/2018 (rel. min José Mucio), cujo trecho do Voto reproduzo:
“[À] luz da jurisprudência deste Tribunal e dos normativos do FNDE que regulamentavam a
matéria, é da prefeitura municipal a obrigação de apresentar as prestações de contas, inclusive as
relativas aos recursos transferidos diretamente às escolas, sendo incumbência do ente municipal a
análise, consolidação e encaminhamento desses documentos ao fundo. Assim, como no presente caso não
houve a prestação de contas por parte do prefeito responsável, não há como atribuir aos gestores das
unidades executoras culpa por um inadimplemento que não se sabe se efetivamente ocorreu.”
18. Como se percebe, a afirmação do ex-prefeito não apresenta qualquer aderência às normas do
FNDE que regulam o tema e ao magistério jurisprudencial desta Casa de Contas.
188
19. Fiz esses registros especialmente para deixar bem vincado em quem recai a imposição legal de
prestar contas final das verbas provenientes do FNDE, pois, como anotado alhures, o Fundo concordou
com a documentação apresentada serodiamente pelo responsável (peça 51).
20. De fato, compulsando os autos, verifico que o FNDE, por meio do Ofício 78/2018-PDDE/2010,
recebido em 9/7/2018, informou à atual prefeita de Gameleira (Sra. prefeita) a ausência do
Demonstrativo Consolidado da Execução Físico-Financeira das Unidade Executoras Próprias (UEx),
registrando que se tratava de documento imprescindível para formalizar o recebimento e viabilizar a
análise da prestação de contas na sua totalidade, segundo a Resolução/CD/FNDE 3/2010 (peça 41, p. 3-
4) .
21. Posteriormente, o responsável acostou aos autos o Ofício 139/2018-GP, por meio do qual a
prefeita de Gameleira/PE havia encaminhado o demonstrativo precitado ao Fundo (peça 47), o que
resultou no entendimento da autarquia de que os elementos oferecidos ao tomador de contas foram
suficientes para a finalidade de prestação de contas.
22. Desse contexto sobressai a conclusão de que não houve prejuízo ao erário, porquanto o Fundo
acolheu a documentação apresentada referente às verbas do PDDE, excluindo-se a hipótese de débito
inicialmente atribuída ao responsável. Noutras palavras, foi demonstrada a regular aplicação dos
recursos transferidos à municipalidade por força do Programa Dinheiro Direto na Escola.”
h) portanto, a alegação de não ter agido com desídia por acreditar que caberia às escolas o dever de
prestar contas (peça 26, p. 2) e a comprovação da boa utilização das verbas repassadas não afastam a
omissão inicial irregular do responsável; e
i) do acima exposto, conclui-se que as contas do Sr. Sérgio Hideki Hiura, ex-prefeito do município
de Santo Antônio do Tauá (PA), no período de 2013 a 2016, devem ser julgadas irregulares, cabendo
ainda em decorrência da gravidade da sua conduta, consistente na omissão do dever de prestar contas dos
recursos do Programa Dinheiro Direto na Escola - PDDE, recebidos no exercício de 2010, aplicar-lhe a
multa capitulada no art. 58, I, da referida lei.
19.Com fulcro nessas considerações, o auditor propôs (peça 52):
a) conhecer do presente recurso de reconsideração e, no mérito, dar-lhe provimento parcial, para
excluir o débito, mas manter o julgamento das contas como irregulares e a aplicação da multa, nos termos
dos arts. 16, III, “a”, 19, parágrafo único, e 58, I, da Lei 8.443/1992;
b) reduzir o valor da multa anteriormente aplicada ao Sr. Sérgio Hideki Hiura, tendo em vista o
provimento parcial do recurso sob exame;
c) dar ciência da deliberação que vier a ser adotada ao recorrente, ao Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE) e à Procuradoria da República no Estado do Pará.
20.O Diretor da 3ª Diretoria da Serur e o Secretário Substituto daquela unidade técnica
manifestaram sua concordância com essa proposta (peças 53 e 54).
21.O Procurador Júlio Marcelo de Oliveira também se pronunciou favoravelmente ao acolhimento
dessa proposta (peça 55).
É o Relatório.
VOTO
I – Histórico
Trata-se de recurso de reconsideração interposto pelo Sr. Sérgio Hideki Hiura, ex-prefeito do
município de Santo Antônio do Tauá (PA), no período de 2013 a 2016, contra o Acórdão 3.885/2018 – 1ª
Câmara, relatado pelo Ministro Substituto Augusto Sherman Cavalcanti, que apresenta o seguinte teor:
“ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão de 1ª Câmara, ante
as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. considerar revel o Sr. Sérgio Hideki Hiura (CPF 304.134.352-53), nos termos do disposto no
art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992;
189
9.2. com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas “a” e “c”, da Lei 8.443/1992 c/c
os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, julgar irregulares as contas do Sr. Sérgio Hideki Hiura (CPF
304.134.352-53), condenando-o ao pagamento das quantias a seguir especificadas, com a fixação do
prazo de quinze dias, a contar da notificação, para comprovar, perante o Tribunal (art. 214, inciso III,
alínea “a”, do Regimento Interno), o recolhimento da dívida aos cofres do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE), atualizada monetariamente e acrescida dos juros de mora,
calculados a partir das datas discriminadas, até a data do recolhimento, na forma prevista na legislação
em vigor:
9.3. aplicar ao Sr. Sérgio Hideki Hiura (CPF 304.134.352-53) a multa do art. 57 da Lei 8.443/92,
no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da
notificação, para comprovar, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno),
o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do
presente acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação
em vigor;
9.4. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial
das dívidas caso não atendida a notificação;
9.5. dar ciência deste acórdão ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), bem
como à Procuradoria da República no Estado do Pará, nos termos do § 3º do art. 16 da Lei 8.443/1992
c/c o § 7º do art. 209 do Regimento Interno do TCU, para as providências que considere cabíveis.”
2. Originalmente, cuidavam estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE em desfavor do Sr. Sérgio Hideki Hiura, ex-prefeito
do município de Santo Antônio do Tauá (PA), em razão da omissão no dever de prestar contas dos
recursos repassados ao referido município na modalidade fundo a fundo, à conta do Programa Dinheiro
Direto na Escola – PDDE/Educação Integral, no exercício de 2013.
3.O referido programa tinha por objeto a “cobertura de despesas de custeio, manutenção e de
pequenos investimentos, que concorram para a garantia do funcionamento e melhoria da infraestrutura
física e pedagógica dos estabelecimentos de ensino”.
4.Para a execução do PDDE/Educação Integral, o FNDE repassou ao mencionado município, no
exercício de 2013, a importância de R$ 900.440,00 (novecentos mil quatrocentos e quarenta reais).
5.No Relatório de Tomada de Contas Especial 169/2017, tendo em vista a omissão no dever de
prestar contas, foi atribuída ao Sr. Sérgio Hideki Hiura a responsabilidade pelo dano causado ao erário,
cujo valor equivaleu ao montante repassado pelo FNDE.
6.A CGU se manifestou favoravelmente ao entendimento esposado pelo tomador de contas e o
Ministro da Educação atestou ter tomado conhecimento dessa conclusão.
7.No âmbito do TCU, foi regularmente promovida a citação do responsável, que solicitou
prorrogação do prazo para apresentar alegações defesa. Esse pleito foi deferido, contudo, decorrido o
novo prazo fixado, o ex-prefeito se manteve silente, o que caracterizou sua revelia, nos termos do art. 12,
§ 3º, da Lei 8.443/1992.
8.Nesse contexto, a Secex/MG propôs julgar irregulares as contas do Sr. Sérgio Hideki Hiura,
condenando-o ao pagamento de débito e aplicando-lhe a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992.
9.O Ministério Público junto ao TCU manifestou-se de acordo com a proposta de mérito oferecida
pela unidade técnica, tendo sugerido a realização de ajustes no encaminhamento.
10.O Ministro Substituto Augusto Sherman elaborou voto acolhendo o posicionamento das
instâncias que o antecederam, o qual fundamentou o Acórdão 3.885/2018 – 1ª Câmara, anteriormente
transcrito neste relatório.
190
11.Irresignado, o Sr. Sérgio Hideki Hiura interpôs o presente recurso de reconsideração contra o
referido acórdão condenatório, tendo alegado, em síntese, que:
a) não atuou de forma desidiosa, uma vez que acreditava que cabia às escolas prestar contas dos
recursos do PDDE por elas recebidos;
b) a documentação a ser utilizada na prestação de contas encontrava-se sob a guarda das unidades
escolares;
c) esteve afastado do cargo de prefeito municipal diversas vezes em razão de decisões judiciais. Tal
circunstância teria dado causa às irregularidades apontadas;
d) quando procurou a nova gestão municipal com intuito de encaminhar as prestações de contas, foi
impedido de inserir as informações no Sistema de Gestão de Prestação de Contas – SiGPC;
e) não houve dolo nem intenção de causar dano ao erário; e
f) encaminhou a prestação de contas dos recursos transferidos sob a égide do PDDE com o fito de
demonstrar a regular aplicação desses recursos.
12.Após analisar e refutar essas alegações, o auditor propôs conhecer do presente recurso de
reconsideração, para, no mérito, negar-lhe provimento. O Diretor da 3ª Diretoria da Serur manifestou sua
concordância com essa proposta. Por seu turno, o titular da Secretaria de Recursos discordou desse
entendimento, por considerar que havia necessidade de obter novos esclarecimentos junto ao Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), tendo em vista a apresentação das contas em tela
àquela autarquia após o julgamento deste processo.
13. O Procurador Júlio Marcelo de Oliveira acompanhou o posicionamento da Secretaria de
Recursos.
14.Nesse contexto, proferi despacho no qual decidi:
a) determinar ao FNDE que examinasse as contas prestadas pela Prefeitura Municipal de Santo
Antônio do Tauá (PA), referentes ao PDDE/Educação Integral, exercício de 2013, registradas no SIGPC
em 18/06/2018, objeto do Relatório de TCE 169/2017-DIREC/COTCE/CGCAP/DIFIN-FNDE/MEC, as
quais constam no SIGPC na situação de “aguardando análise”, informando ao Tribunal, no prazo de 60
(sessenta) dias, sobre a aprovação ou a rejeição dessas contas, com a quantificação de eventuais débitos
remanescentes e os correspondentes motivos;
b) sobrestar o presente processo até que sejam prestadas as informações solicitadas ao FNDE.
15.Em atendimento a essa determinação, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
encaminhou ao TCU a Nota Técnica 75/2019/DAESP/COPRA/CGAPC/DIFIN, referente à análise da
documentação relativa aos recursos repassados pelo FNDE para a Prefeitura Municipal de Santo Antônio
do Tauá (PA), à conta do Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE/Educação Integral/2013.
16.Após analisar esses documentos, a unidade técnica propôs que o presente recurso seja conhecido,
para, no mérito, ser-lhe dado provimento parcial, no sentido de julgar irregulares as contas do Sr. Sérgio
Hideki Hiura e afastar o débito que lhe havia sido imposto e a multa aplicada com fulcro no art. 57 da Lei
Orgânica do TCU. Por outro lado, tendo em vista a gravidade da sua conduta, consistente na omissão do
dever de prestar contas dos recursos do Programa Dinheiro Direto na Escola - PDDE, recebidos no
exercício de 2010, aplicar-lhe a multa capitulada no art. 58, I, da referida lei.
17.O Procurador Júlio Marcelo de Oliveira se pronunciou favoravelmente ao acolhimento dessa
proposta.
18.Preliminarmente, reitero minha manifestação anterior no sentido de que este recurso deve ser
conhecido, uma vez que foram atendidos os requisitos estabelecidos nos arts. 32, I, e 33 da Lei
8.443/1992 e 285 do Regimento Interno do TCU.
19.Com fulcro na análise empreendida pela unidade técnica e pelo representante do Parquet
especializado, que incorporo desde já às minhas razões de decidir, expresso minha concordância com a
191
proposta endossada pelas instâncias precedentes. Contudo, julgo pertinente tecer considerações
adicionais, o que passo a fazer.
20.O concedente, após analisar a prestação de contas apresentada de forma extemporânea, declarou
expressamente que:
“5.2. Não foram encontradas impropriedades ou inconsistências na prestação de contas
apresentadas pelo prefeito de Santo Antônio do Tauá, que aprovou a prestação de contas das 22 UEx que
receberam recursos para a execução do programa. Assim, a sua manifestação foi suficiente para afastar
a omissão no dever de prestar contas.
5.3. A área técnica, por meio do Parecer nº 3.141/2019/COATE/CGAME/DIRAE, apensado ao SEI
sob o nº 146.7301, aprovou com ressalvas a prestação de contas, conforme trecho abaixo:
CONCLUSÃO
Quanto à prestação de conta das Unidades Executoras:
Há constatações de impropriedades na execução do PDDE/INTEGRAL/2013, sendo que os
elementos probatórios disponíveis analisados não indicam evidências de prejuízos ao cumprimento do
objeto e objetivo do programa, conforme descritos no item 3.1.1, mas serão ressalvados neste parecer.
Tendo em vista o disposto neste parecer, na documentação de prestação de contas apresentada e nos
dispositivos técnicos estabelecidos pela Resolução CD/FNDE nº 10/2013, indica-se que há constatações
que vão ao encontro do atingimento com ressalvas do objeto e objetivo do programa, por parte das
Unidades Executoras (UEx).”
21.Considerando que o FNDE manifestou-se no sentido de que houve a consecução do objeto do
programa com ressalvas e de que inexistem indícios de prejuízos ao erário, entendo que deve ser afastado
o débito no valor histórico de R$ 900.440,00 (novecentos mil quatrocentos e quarenta reais), que havia
sido imputado ao ora recorrente.
22.Por outro lado, cumpre ressaltar que a apresentação da prestação de contas ocorreu de forma
intempestiva, após a citação do responsável. Por via de consequência, a referida apresentação, embora
seja capaz de afastar o débito, não sana a omissão, conforme se observa nos seguintes julgados:
“A apresentação da prestação de contas a destempo, mas até o momento anterior ao da citação
pelo TCU, configura intempestividade no dever de prestar contas. A omissão no dever de prestar contas
fica caracterizada apenas a partir da citação por essa irregularidade.” (Acórdão 5.773/2015 – 1ª
Câmara - Relator: Ministro José Mucio Monteiro)
“A omissão no dever de prestar contas fica caracterizada apenas a partir da citação por essa
irregularidade. Prestadas as contas antes de expedida a comunicação processual, não há incidência do
art. 209, § 4º, do Regimento Interno do TCU, por falta do suporte fático delimitado pela norma.”
(Acórdão 964/2018 - Plenário - Relator: Ministro Augusto Nardes)
23.Afinal, consoante exposto no voto condutor do Acórdão 4.838/2017 – 2ª Câmara (Relator
Ministro Substituto Marcos Bemquerer), a apresentação intempestiva dos elementos que comprovam a
regular aplicação dos recursos constitui prova capaz de afastar o débito que seria imputado ao
responsável, mas a omissão no dever de prestar contas representa falta grave, que afronta a norma
inserida no art. 70, parágrafo único, da Carta Magna, ensejando a irregularidade das contas do gestor, com
incidência de multa.
24.Especificamente sobre a omissão no dever de prestar contas de recursos relacionados ao
Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), cumpre esclarecer que o art. 5º da
Resolução/CD/FNDE/2013 dispõe que os recursos do PDDE serão destinados às escolas e aos polos, por
intermédio de suas Entidades Executoras (EEx), Unidades Executoras Próprias (UEx) e Entidades
Mantenedoras (EM), assim definidas:
“I - Entidade Executora (EEx) - prefeituras municipais e secretarias distrital e estaduais de
educação, responsáveis pela formalização dos procedimentos de adesão ao programa e pelo
recebimento, execução e prestação de contas dos recursos destinados às escolas de suas redes de ensino
que não possuem UEx;
192
II - Unidade Executora Própria (UEx) – entidade privada sem fins lucrativos, representativa das
escolas públicas e dos polos presenciais da UAB, integrada por membros da comunidade escolar,
comumente denominada de caixa escolar, conselho escolar, colegiado escolar, associação de pais e
mestres, círculo de pais e mestres, dentre outras entidades, responsáveis pela formalização dos
procedimentos necessários ao recebimento dos repasses do programa, destinados às referidas escolas e
polos, bem como pela execução e prestação de contas desses recursos;
III - Entidade Mantenedora (EM) – entidade privada sem fins lucrativos, qualificada como
beneficente de assistência social, ou de atendimento direto e gratuito ao público, representativa das
escolas privadas de educação especial, responsáveis pela formalização dos procedimentos necessários
ao recebimento dos repasses do programa, destinados às referidas escolas, bem como pela execução e
prestação de contas desses recursos”.
25.Já o art. 19, § 1º, da referida resolução, prevê que a prestação de contas será encaminhada:
- pelas UEx às EEx a que as escolas públicas e os polos presenciais da UAB estejam vinculados, até
31 de dezembro do ano da efetivação do crédito nas correspondentes contas correntes específicas; e
- pelas EEx ao FNDE, por intermédio do Sistema de Gestão de Prestação de Contas (SIGPC), até 28
de fevereiro do ano subsequente ao da efetivação do crédito nas correspondentes contas correntes
específicas.
26.Aduzo que, em conformidade com o disposto no art. 26, II, alínea “n”, da mencionada resolução,
cabe às EEx enviar tempestivamente ao FNDE a prestação de contas dos recursos destinados às escolas
integrantes de sua respectiva rede de ensino, na forma prevista no item acima.
27.No caso vertente, a entidade executora (EEx) é a Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Tauá
(PA). Logo, caberia ao ex-prefeito apresentar ao FNDE a prestação de contas dos recursos do PDDE,
relativa ao exercício de 2013, até o dia 28/2/2013. Já as escolas recebedoras dos recursos deveriam
encaminhar as prestações de contas para a prefeitura até o dia 31/12/2012.
28.Considerando que o recorrente não adotou as medidas previstas na Resolução CD/FNDE
10/2013, entendo que ele deve ser responsabilizado pela sua omissão.
29.Cabe frisar que, consoante a jurisprudência predominante no Tribunal, a responsabilidade pela
comprovação da regular aplicação dos recursos deve recair apenas sobre o gestor municipal, a quem cabe
consolidar e encaminhar a prestação de contas da totalidade dos recursos transferidos ao município,
mesmo em relação àqueles repassados diretamente para as unidades executoras.
30.Nesse sentido, por exemplo, pode ser citado o Acórdão 6.744/2018 - 1ª Câmara (Relator
Ministro Substituto Augusto Sherman Cavalcanti), in verbis:
“A responsabilidade pela omissão no dever de prestar contas de recursos do Programa Dinheiro
Direto na Escola (PDDE) está restrita ao prefeito em cujo mandato deveria ter ocorrido a análise, a
consolidação e o encaminhamento das prestações de contas das unidades executoras ao FNDE, ainda
que a aplicação dos recursos tenha ocorrido em gestão anterior.”
31.Com fulcro nessas considerações, entendo que não deve ser acolhida a alegação do Sr. Sérgio
Hideki Hiura no sentido de que não agiu com desídia, uma vez que acreditou que caberia às escolas
prestar contas e comprovar a boa utilização das verbas repassadas.
32.Dessa forma, julgo que não foi devidamente justificada a prestação extemporânea das contas ora
sob exame, o que acarreta o julgamento pela irregularidade das contas do Sr. Sérgio Hideki Hiura.
Saliento que essa decisão terá como fundamento o art. 16, III, alínea “b”, da Lei 8.443/1992.
33.O afastamento do débito anteriormente imputado ao recorrente acarreta a exclusão da multa que
lhe havia sido aplicada com espeque no art. 57 da Lei Orgânica do TCU. Por outro lado, a irregularidade
apontada no parágrafo anterior enseja a aplicação da multa prevista no art. 58, I, da Lei 8.443/1992, cujo
valor fixo em R$ 20.000,00 (vinte mil reais), tendo em vista a gravidade da conduta praticada pelo ex-
gestor municipal.
34.Poder-se-ia questionar se a alteração, em grau de recurso, do fundamento legal da multa do art.
57 para o art. 58, I, configuraria um reformatio in pejus. Entendo que não, pelos motivos que passo a
expor.
193
35. A uma, porque o valor da sanção está tendo uma sensível redução, passando de R$ 500.000,00
(quinhentos mil reais) para R$ 20.000,00 (vinte mil reais).
36.A duas, porque esta Corte tem entendido ser cabível, em grau de recurso, modificar o
fundamento legal da multa, quando o recorrente consegue afastar o débito, mas subsiste a prática de atos
irregulares. Nesse sentido, por exemplo, a Ministra Ana Arraes, no voto condutor do Acórdão 5.313/2019
- 2ª Câmara, destacou que:
“20. No tocante à multa aplicada ao ex-secretário, o acórdão anterior teve como fundamento o art.
57 da Lei 8.443/1992, que prevê imposição de multa em até cem por cento do valor do débito, em razão
do julgamento baseado no art. 16, III, "c", da mesma lei. Ou seja, a sanção representou proporção do
débito então imputado. Ante os elementos discutidos neste voto, concluí que a fundamentação mais
adequada para a irregularidade das contas não seria por dano ao erário, mas por prática de ato ilegal,
conforme prevê o art. 16, III, "b". Por conseguinte, a alteração do fundamento da condenação e a
inexistência de proveito pessoal ao gestor motivam a redução do valor da multa.”
37.Nesse mesmo sentido, também podem ser citados, por exemplo, os Acórdãos 324/2019 -
Plenário (Relator Ministro Vital do Rêgo) e 5.906/2019 - 1ª Câmara (Relator Ministro Walton Alencar
Rodrigues).
38.Concluo que o recurso de reconsideração interposto pelo Sr. Sérgio Hideki Hiura, ex-prefeito
municipal de Santo Antônio do Tauá (PA), contra o Acórdão 3.885/2018 – 1ª Câmara, deve ser
conhecido, para, no mérito, ser-lhe concedido provimento parcial, no sentido de manter o julgamento pela
irregularidade de suas contas, afastar o débito e a multa aplicada com base no art. 57 da Lei Orgânica do
TCU e aplicar-lhe a multa prevista no art. 58, I, dessa lei.
Diante do acima exposto, voto no sentido de que seja aprovado o acórdão que ora submeto à
deliberação deste Colegiado.
1. Processo TC 021.628/2017-3.
2. Grupo I – Classe de Assunto: I - Recurso de Reconsideração em Tomada de Contas Especial.
3. Interessados/Responsáveis/Recorrentes:
3.1. Interessado: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE (CNPJ
00.378.257/0001-81).
3.2. Responsável: Sérgio Hideki Hiura (CPF 304.134.352-53).
3.3. Recorrente: Sérgio Hideki Hiura (CPF 304.134.352-53).
4. Órgão/Entidade: Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Tauá (PA).
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira.
7. Unidades Técnicas: Secretaria de Recursos (SERUR) e Secretaria de Controle Externo de
Tomada de Contas Especial (SecexTCE).
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos em que se aprecia recurso de reconsideração interposto
pelo Sr. Sérgio Hideki Hiura, ex-prefeito do município de Santo Antônio do Tauá (PA), no período de
2013 a 2016, contra o Acórdão 3.885/2018 – 1ª Câmara,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da Primeira
Câmara, diante das razões expostas pelo Relator, em:
9.1. com fulcro nos arts. 32, I, e 33 da Lei 8.443/1992, conhecer do presente recurso de
reconsideração, para, no mérito, dar-lhe provimento parcial;
194
9.2. em conformidade com o disposto nos arts. 1º, I, e 16, III, “a”, da Lei Orgânica do TCU, julgar
irregulares as contas do Sr. Sérgio Hideki Hiura;
9.3. afastar o débito imputado e a multa aplicada ao Sr. Sérgio Hideki Hiura por meio do acórdão
recorrido;
9.4. aplicar ao Sr. Sérgio Hideki Hiura a multa do art. 58, I, da Lei 8.443/92, no valor de R$
20.000,00 (vinte mil reais), fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da
notificação, para comprovar, perante o Tribunal, na forma do art. 214, III, alínea “a”, do Regimento
Interno do TCU, o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente
desde a data do presente acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma
da legislação em vigor;
9.5. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial da dívida
caso não seja atendida a notificação;
9.6. dar ciência deste acórdão ao recorrente e ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE);
9.7. dar ciência à Procuradoria da República no Estado do Pará, em consonância com o disposto
nos arts. 16, § 3º, da Lei 8.443/1992 e 209, § 7º, do Regimento Interno do TCU, para a adoção das
providências que considerar cabíveis.
RELATÓRIO
195
HISTÓRICO
3.No intuito de sanear o processo, esta Unidade Técnica encaminhou diligência à Ufal (peça 10) e
oitivas a Célio Moreira Cardoso, Everane Monte Xavier de Souza, Heliana Maria de Lima e Silva, Maria
Teresa de Oliveira e Maria Violeta Dantas (peça 11) solicitando documentos/esclarecimentos sobre
irregularidades nas respectivas aposentadorias.
4.A Ufal encaminhou resposta à diligência (peça 16) e os comprovantes de recebimento das oitivas
(peça 16, p. 2-7). Somente Everane Monte Xavier de Souza respondeu à oitiva (peça 15).
5.Ainda visando sanear o processo, e com vistas a assegurar a oportunidade do uso das garantias
constitucionais do contraditório e da ampla defesa aos interessados, a Sefip encaminhou oitivas a Jose
Lima de Moraes Filho, Ineh de Alarcão Andrade, Everane Monte Xavier de Souza, Dácio do Couto
Rebelo, Waldir Pedrosa de Amorim, Paulo Galindo Martins, Paulo de Paiva Torres e Maria do Carmo
Correia da Silva Moraes (peças 20-27, respectivamente), para que se manifestassem sobre
inconsistências apontadas em suas aposentadorias.
6.Os inativos tomaram ciência das oitivas, conforme a seguir: Ineh de Alarcão Andrade (peça 28),
Waldir Pedrosa de Amorim (peça 29), Jose Lima de Moraes Filho (peça 30), Paulo de Paiva Torres
(peça 31), Dácio do Couto Rebelo (peça 32) e Everane Monte Xavier de Souza (peça 50). Esses dois
últimos inativos não se manifestaram.
7.A resposta dos ex-servidores às oitivas consta assim: Ineh de Alarcão Andrade (peça 36), Waldir
Pedrosa de Amorim (peça 41) e Jose Lima de Moraes Filho (peças 42, 45 e 46).
8.Tendo em vista que os inativos Maria do Carmo Correia da Silva Moraes e Paulo Galindo
Martins não haviam tomado conhecimento das oitivas, a Sefip encaminhou-lhes novas comunicações
(peças 56 e 57). Maria do Carmo tomou ciência da oitiva por meio de edital publicado no DOU (peça
65), mas não se manifestou, enquanto Paulo Galindo tomou ciência da oitiva (peça 58) e encaminhou
resposta às peças 61-62.
EXAME TÉCNICO
Das constatações
9.Do exame da ficha financeira extraída do Siape (peça 66), constatou-se que não há mais efeitos
financeiros decorrentes das aposentadorias de Maria Violeta Dantas e Paulo de Paiva Torres, em razão
da ocorrência de seus falecimentos em 16/3/2017 e 8/10/2018, respectivamente.
10.Em consequência, tendo em vista o disposto no art. 260, § 5º, do Regimento Interno do TCU,
que estabelece que no exame dos atos cujos efeitos financeiros tenham se exaurido antes de seu
processamento pela Corte, tem-se os atos prejudicados por perda de objeto.
196
11.Ainda do exame da ficha Siape, verificou-se o pagamento de rubricas judiciais referentes à URP
(26,05%) nos proventos de Célio Moreira Cardoso, Dácio do Couto Rebelo, Everane Monte Xavier de
Souza, Heliana Maria de Lima e Silva, José Lima de Moraes Filho, Maria do Carmo Correia da Silva
Moraes, Maria Teresa de Oliveira, Paulo Galindo Martins e Waldir Pedrosa de Amorim.
12.Por derradeiro, observou-se o pagamento a maior de rubricas judiciais de quintos nos
proventos de Ineh de Alarcão Andrade, José Lima de Moraes Filho, Paulo Galindo Martins e Waldir
Pedrosa de Amorim, bem como o pagamento da parcela ‘VENC. BAS. COMP. ART. 15 L11091/05’ nos
proventos de Maria do Carmo Correia da Silva Moraes.
19.A adoção de tal solução por parte do TCU constitui efetiva defesa da coisa julgada, pois
estender o pagamento de parcelas antecipadas para além da data-base, sem expressa determinação
judicial nesse sentido, seria extrapolar os limites do próprio julgado, consistindo em erro do gestor de
pessoal na execução da ordem judicial.
20.No caso do interessado, apesar de a parcela questionada estar sendo paga em valor nominal,
não se atendeu plenamente aos requisitos do Acórdão 2.161/2005-TCU-Plenário, visto que não foram
realizadas as devidas absorções por ocasião das reestruturações ocorridas em sua carreira.
21.Confrontando-se o valor da remuneração bruta em dois momentos distintos, outubro/2009 e
julho/2019 (peça 66), constata-se que houve nesse período um aumento suficiente para absorver as
parcelas judiciais decorrentes de planos econômicos.
22.Como mencionado, essas parcelas têm natureza de antecipação de remuneração e as
reestruturações posteriores da carreira do interessado implicaram reajustes superiores aos percentuais
obtidos judicialmente.
23.Assim, cabe proposta de ilegalidade do ato ora em análise e exclusão das parcelas irregulares.
31.Assim, o ato deve ser considerado ilegal e negado seu registro, com determinação à Ufal para
excluir as rubricas judiciais de plano econômico (URP – 26,05%) dos proventos do inativo e para
cadastrar novo ato, via sistema e-Pessoal para futura análise pelo TCU.
Da Decadência Administrativa
36.Esta Corte de Contas, no tocante à decadência, prevista no art. 54 da Lei 9.784/1999, entende
que o referido dispositivo legal, ao ser aplicado aos atos de aposentadoria e pensão, conta seu prazo
decadencial somente a partir do respectivo registro pelo Tribunal de Contas da União, visto que, em se
tratando de ato complexo, só é aperfeiçoado quando de seu registro pelo TCU. Portanto, o prazo
decadencial não pode ser contado a partir da concessão administrativa, mas sim a partir do exame pelo
TCU. Esse é o teor da Súmula TCU 278/2012, a seguir transcrita:
SÚMULA 278/2012: Os atos de aposentadoria, reforma e pensão têm natureza jurídica de atos
complexos, razão pela qual os prazos decadenciais a que se referem o § 2º do art. 260 do Regimento
Interno e o art. 54 da Lei nº 9.784/99 começam a fluir a partir do momento em que se aperfeiçoam com a
decisão do TCU que os considera legais ou ilegais, respectivamente.
40.No caso em apreço, não houve o respectivo registro em razão da constatação de ilegalidade no
ato, o que afasta, por si só, a presunção de legitimidade do ato administrativo que lhe concedeu o
benefício, não havendo, assim, que se falar em violação da segurança jurídica ou de proteção da
confiança.
41.No que se refere às rubricas judiciais, ambas são alusivas a plano econômico (URP – 26,05%).
Sobre esse assunto, para não se tornar repetitivo, vale aqui o mesmo entendimento do TCU já exposto
nos itens 16 a 23 desta instrução.
42.Em relação ao erro na proporcionalização dos proventos, verifica-se que a interessada contou
27 anos, 5 meses e 4 dias para sua aposentação, de acordo com o ato Sisac. Esse tempo só lhe permite
proventos proporcionais a 80%, conforme cálculos exibidos em planilha à peça 67.
43.Pelo exposto, o ato deve ser considerado ilegal e negado seu registro, com determinação à Ufal
para que exclua as rubricas judiciais referentes à URP e ajuste os proventos da inativa para a proporção
de 80%.
Da incorporação de quintos/décimos de FC
200
52.Do exame do ato Sisac, verifica-se que o ex-servidor teve direito à incorporação de 5/5 de FC-6,
atualmente paga por meio da rubrica ‘16171 DECISAO JUDICIAL TRANS JUG APO’, no valor de R$
4.877,36, conforme ficha Siape (peça 66).
53.Com relação à rubrica judicial dos quintos/décimos calculados de acordo com a Portaria MEC
474/1987, dada a complexidade do tema, vale aqui expor o entendimento do Tribunal.
54. De acordo com a firme jurisprudência do TCU, é legítima a incorporação de quintos de função
comissionada (quintos de FC) com base nos critérios definidos pela Portaria - MEC 474/1987. Contudo,
é ilegítima a inclusão na base de cálculo da vantagem os reajustes concedidos pelas leis subsequentes
que reestruturaram as carreiras das instituições federais de ensino ao longo do tempo, a teor do Acórdão
1.283/2006-TCU-Segunda Câmara, de relatoria do Ministro Walton Alencar Rodrigues.
55.As sentenças judiciais que garantem a percepção das funções comissionadas com base na
Portaria - MEC 474/1987 não determinam que a vantagem do artigo 193 da Lei 8.112/1990 ou os
quintos da função correspondente (art. 62 da Lei 8.112/1990) devam ser calculados para sempre com
base nos parâmetros da Portaria - MEC 474/1987, mesmo sobre novos planos de carreira, e incluindo
vantagens criadas posteriormente.
56.Se as sentenças judiciais determinassem esse modo de cálculo, equivaleria a reconhecer direito
adquirido a regime de vencimentos, o que é repelido pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a
exemplo do RE 241.884-ES.
57.As sentenças judiciais limitam-se a coibir decessos remuneratórios decorrentes da
transformação das funções comissionadas (FC) em cargos de direção (CD), conforme determinado pela
Lei 8.168/1991.
58.As razões pelas quais o TCU adotou esse entendimento estão muito bem explicadas no voto
condutor do Acórdão 835/2012-TCU-Plenário, de relatoria do Ministro Augusto Nardes. Nesse acórdão,
estão definidos os critérios para o cálculo das incorporações de quintos e opção dos servidores
aposentados das instituições federais de ensino. São eles os seguintes:
a) para os servidores que não ajuizaram ações judiciais (ou para os que o fizeram, mas não
lograram êxito, em decisão transitada em julgado), as parcelas de quintos com amparo na Portaria -
MEC 474/1987, desde que tenham iniciado o seu exercício até 31/10/1991, devem ser pagas sob a forma
de vantagem pessoal nominalmente identificada (VPNI), ajustando-se o valor da parcela ao que era
devido em 1/11/1991, data de eficácia da Lei 8.168/1991, atualizada, desde então, exclusivamente pelos
reajustes gerais concedidos ao funcionalismo, conforme preceitua o art. 15, § 1º, da Lei 9.527/1997;
b) para os servidores que obtiveram decisões judiciais favoráveis já transitadas em julgado,
confirmadas em grau de recurso, os quintos de FC devem ser calculados adequando-se o valor nominal
às condições deferidas na sentença, de modo que a quantia inicial seja apurada na data da publicação
do provimento jurisdicional de 1º grau e, a partir daí, transformada em VPNI, atualizada, desde então,
exclusivamente pelos reajustes gerais concedidos ao funcionalismo, conforme preceitua o art. 15, § 1º,
da Lei 9.527/1997.
59.Vale lembrar que o cálculo das FC estava previsto no art. 2º da Portaria - MEC 474/1987, o
qual estabelecia que:
Art. 2º. As Funções Comissionadas são previstas no Anexo I, devendo ser exercidas em regime de
tempo integral.
Parágrafo Único. A remuneração das Funções Comissionadas previstas no Anexo I terá valor
igual ao da remuneração do Professor Titular da carreira do Magistério Superior em regime de
Dedicação Exclusiva, com Doutorado, acrescida dos percentuais a seguir especificados:
FC-1 - 80%
FC-2 - 65%
FC-3 - 55%
FC-4 - 40%
FC-5 - 30%
FC-6 - 20%.
201
60.Tendo em vista as alterações de moedas ocorridas em julho de 1993 e junho de 1994, foi
adotada a tabela de remuneração vigente em janeiro de 1995 como referência para o cálculo da referida
VPNI.
61.A tabela a seguir apresenta os valores da VPNI integral para cada FC, conforme a
jurisprudência do TCU (Acórdão 1.915/2012-TCU-Plenário, de relatoria do Ministro Augusto Nardes).
Tabela 1
Funções Comissionadas – Portaria MEC 474/1987
FUNÇÃO 5/5 (10/10) 4/5 (8/10) 3/5 (6/10) 2/5 (4/10) 1/5 (2/10)
FC-1 5.963,58 4.770,86 3.578,15 2.385,43 1.192,72
FC-2 5.466,61 4.373,29 3.279,97 2.186,64 1.093,32
FC-3 5.135,30 4.108,24 3.081,18 2.054,12 1.027,06
FC-4 4.638,34 3.710,67 2.783,00 1.855,34 927,67
FC-5 4.307,03 3.445,62 2.584,22 1.722,81 861,41
FC-6 3.975,72 3.180,58 2.385,43 1.590,29 795,14
FC-7 3.313,10 2.650,48 1.987,86 1.325,24 662,62
(*) Remuneração do cargo de Professor Titular com dedicação exclusiva e doutorado em
janeiro/1995 - vencimento mais GAE, no percentual de 160%, instituída pela Lei Delegada 13/1992,
majorada pela Lei 8.676/1993.
(**) Aumentos lineares de 1995 a 2013 (1% + 3,5% = 1,01 x 1,035).
62.Considerando-se a tabela acima, o valor a ser pago referente à incorporação de 5/5 de FC-6 ao
Sr. Ineh de Alarcão Andrade é R$ 3.975,72. Assim, comparando-se esse valor com o que o aposentado
está recebendo atualmente – R$ 4.877,36, conforme ficha Siape (peça 66), constata-se que esse valor é
superior ao que o interessado fez jus.
63.Portanto, o ato ora em exame deve ser considerado ilegal com determinação à Ufal para
realizar o devido ajuste na rubrica judicial de quintos incorporados nos proventos do inativo.
alusivas à URP (26,05%) nos valores de R$ 516,06 e R$ 758,24, que deverão ser excluídas de seus
proventos, conforme entendimento do TCU já exposto nos itens 16 a 23 desta instrução.
69. A rubrica judicial referente à incorporação de função comissionada está sendo paga a maior,
conforme jurisprudência deste Tribunal, já exibida nos itens 52 a 61 desta instrução.
70.De acordo com documento encaminhado pela Ufal (peça 16, p. 107), o ex-servidor teve direito à
incorporação de 4/5 de FC-3, atualmente paga por meio da rubrica ‘10289 DECISAO JUDICIAL N
TRAN JUG AP’, no valor de R$ 6.299,92, conforme ficha Siape (peça 66).
71.Considerando-se a tabela constante do item 61, o valor a ser pago referente à incorporação de
4/5 de FC-3 ao Sr. Jose Lima de Moraes Filho é R$ 4.108,24. Assim, comparando-se esse valor com o
que o aposentado está recebendo atualmente – R$ 6.299,92, conforme ficha Siape (peça 66), constata-se
que esse valor é superior ao que o interessado fez jus.
72.Portanto, o ato ora em tela deve ser considerado ilegal e negado seu registro, com
determinação à Ufal para que exclua as rubricas judiciais referentes à URP e faça o devido ajuste na
rubrica judicial de quintos incorporados nos proventos do inativo.
85.Dados extraídos do Siape indicam que em dezembro de 2004, seu provento básico, acrescido da
GT e da GEAT, era de R$ 1.028,19.
86. Em maio de 2005 (mês da implantação dos novos valores fixados pela Lei 11.091/2005), o
vencimento básico do cargo da servidora foi alterado para R$ 861,65, mais a parcela relativa ao
vencimento básico complementar da Lei 11.091/2005 (VBC) no valor de R$ 166,54, totalizando R$
1.028,19, o que demonstra a regularidade do valor inicial da rubrica.
87. Em janeiro de 2006, o vencimento básico passou a R$ 962,18 e a rubrica relativa ao
vencimento básico complementar foi reduzida para R$ 66,01, totalizando R$ 1.028,19, estando, portanto,
de acordo com o disposto no art. 15 da Lei 11.091/2005.
88.Em dezembro de 2007, o vencimento básico da inativa foi majorado para R$ 1.099,64,
entretanto a inativa continuou recebendo a rubrica Siape ‘82375 VENC.BAS.COMP.ART.15 L11091/05’,
no valor inalterado de R$ 66,01. Houve um incremento de R$ 137,46 no vencimento básico, valor
suficiente para absorver totalmente o VBC – vencimento básico complementar. Assim, não há resíduo do
vencimento complementar a ser pago à Sra. Maria do Carmo Correia da Silva Moraes.
89.Em relação ao tempo de 25 anos, 7 meses e 16 dias informado no ato em análise, de fato só
permite a aposentadoria com proventos na proporção de 70%. Entretanto, em pesquisa realizada no
sistema Sisac, localizou-se o ato de alteração n. 10789600-04-2010-000108-3, na situação ‘Aguardando
parecer do CI’, no qual se verifica a averbação de 1 ano, 4 meses e 27 dias de tempo insalubre,
perfazendo 27 anos e 13 dias de tempo total para a aposentação.
90.Esse tempo total é suficiente para a ex-servidora receber proventos na proporção de 80%,
conforme ficha de dados funcionais extraída do Siape (peça 68), cabendo determinação ao Controle
Interno para disponibilizar o referido ao TCU para análise.
91.Assim, o ato em exame deve ser considerado ilegal, com determinação à Ufal para excluir as
parcelas judiciais de URP e a parcela ‘VENC. BAS.COMP. ART. 15 L11.091/05’ dos proventos da
interessada.
209,07. A soma da rubrica judicial com a vantagem VPNI – R$ 107,17, resulta em R$ 209,05. Portanto,
a vantagem é legal.
110.Assim, o ato ora em análise deve ser considerado ilegal e negado seu registro, com
determinação à Ufal para que exclua as rubricas judiciais referentes à URP dos proventos do inativo.
CONCLUSÃO
111.No tocante às aposentadorias de Maria Violeta Dantas e Paulo de Paiva Torres, tendo em
vista a ocorrência de seus falecimentos, o exame de seus atos restou prejudicado, por perda de objeto,
nos termos do art. 260, § 5º, do Regimento Interno do TCU.
112.Em relação ao ato de Paulo Rogerio Albuquerque Matos, por não se constatar qualquer
irregularidade, deve ser considerado legal e ordenado seu registro pelo TCU.
113.Em razão do exposto, e tendo em vista as análises realizadas nos atos de concessão de
aposentadoria de Célio Moreira Cardoso, Dácio do Couto Rebelo, Everane Monte Xavier de Souza,
Heliana Maria de Lima e Silva, Ineh de Alarcão Andrade, Jose Lima de Moraes Filho, Maria do Carmo
Correia da Silva Moraes, Maria Teresa de Oliveira, Paulo Galindo Martins e Waldir Pedrosa de
Amorim, esta Unidade Técnica considera que os atos em tela devem ser considerados ilegais com
negativa de registro por esta Egrégia Corte.
114.Quanto aos valores indevidos já pagos, propõe-se dispensar a devolução, com fundamento no
Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência do TCU.
115.Por fim, vale destacar que os atos em análise foram disponibilizados ao TCU em 2002, 2003,
2007 e 2008, há mais de cinco anos, portanto. Assim, fez-se necessária a instauração do contraditório,
segundo o entendimento estabelecido no Acórdão 587/2011-TCU-Plenário, de relatoria do Ministro
Valmir Campelo.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
116.Ante o exposto, e com base nos arts. 71, inciso III, da Constituição Federal; 1º, inciso V, e 39,
inciso II, da Lei 8.443/1992; 260, §§ 1º e 5º, do Regimento Interno do Tribunal de Contas da União,
propõe-se:
a) considerar PREJUDICADOS, POR PERDA DE OBJETO, os atos iniciais de concessão de
aposentadoria de Maria Violeta Dantas (CPF: 111.271.714-53) e Paulo de Paiva Torres (CPF:
020.804.944-49), em virtude de seus falecimentos;
b) considerar LEGAL e ordenar o registro do ato inicial de concessão de aposentadoria de Paulo
Rogerio Albuquerque Matos (CPF: 111.200.454-87);
c) considerar ILEGAIS e recusar o registro dos atos iniciais de concessão de aposentadoria de
Célio Moreira Cardoso (CPF: 041.953.884-49), Dácio do Couto Rebelo (CPF: 097.214.954-68),
Everane Monte Xavier de Souza (CPF: 271.054.827-53), Heliana Maria de Lima e Silva (CPF:
126.860.854-87), Ineh de Alarcão Andrade (CPF: 023.270.821-53), Jose Lima de Moraes Filho (CPF:
026.291.514-68), Maria do Carmo Correia da Silva Moraes (CPF: 111.172.654-04), Maria Teresa de
Oliveira (CPF: 088.146.784-72), Paulo Galindo Martins (CPF: 076.818.874-15) e Waldir Pedrosa de
Amorim (CPF: 004.707.164-87);
d) dispensar a devolução dos valores indevidamente recebidos até a data da ciência do acórdão
que vier a ser prolatado, com base no Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência do TCU;
e) determinar à Universidade Federal de Alagoas, com base no art. 45 da Lei 8.443/1992, que:
e.1) faça cessar os pagamentos decorrentes dos atos impugnados dos interessados listados no
subitem ‘c’, comunicando ao TCU, no prazo de quinze dias, as providências adotadas, nos termos dos
arts. 262, caput, do Regimento Interno do TCU e 8º, caput, da Resolução-TCU 206/2007;
e.2) exclua as rubricas judiciais referentes à URP dos proventos de Célio Moreira Cardoso, Dácio
do Couto Rebelo, Everane Monte Xavier de Souza, Heliana Maria de Lima e Silva, Jose Lima de Moraes
Filho, Maria do Carmo Correia da Silva Moraes, Maria Teresa de Oliveira, Paulo Galindo Martins e
Waldir Pedrosa de Amorim;
207
e.3) faça o devido ajuste na rubrica judicial de quintos nos proventos de Ineh de Alarcão Andrade,
Jose Lima de Moraes Filho e Paulo Galindo Martins;
e.4) ajuste os proventos de Everane Monte Xavier de Souza para a proporção de 80%;
e.5) exclua a parcela ‘VENC. BAS.COMP. ART. 15 L11.091/05’ dos proventos de Maria do Carmo
Correia da Silva Moraes;
e.6) cadastre novo ato de Dácio do Couto Rebelo, via sistema e-Pessoal, para futura análise pelo
TCU;
e.7) cadastre novos atos, livres das irregularidades apontadas, submetendo-os ao TCU no prazo de
trinta dias, nos termos dos arts. 262, § 2º, do Regimento Interno do TCU e 19, § 3º, da Instrução
Normativa-TCU 78/2018;
e.8) informe aos interessadas o teor do acórdão que vier a ser prolatado, encaminhando ao TCU,
no prazo de trinta dias, comprovante da data de ciência pelos interessados, nos termos do art. 4º, § 3º, da
Resolução-TCU 170/2004, alertando-os de que o efeito suspensivo proveniente de eventual interposição
de recurso junto ao TCU não os exime da devolução dos valores indevidamente percebidos após a
notificação, em caso de não provimento desse recurso;
f) determinar ao Controle Interno que disponibilize ao TCU o ato Sisac de alteração n. 10789600-
04-2010-000108-3, de Maria do Carmo Correia da Silva Moraes (CPF 111.172.654-04).”
É o relatório.
VOTO
3. A Sefip e o MPTCU propuseram que fosse considerado legal o ato de interesse do Sr. Paulo
Rogerio Albuquerque Matos e prejudicados, por perda de objeto, o julgamento dos atos de aposentadoria
dos servidores Maria Violeta Dantas e Paulo de Paiva Torres.
4. Acolho os pareceres constantes dos autos por seus próprios fundamentos, sem prejuízos das
considerações que faço a seguir.
5. Sendo o ato de aposentadoria complexo, somente se aperfeiçoa mediante o registro por parte
deste Tribunal. Os proventos pagos são provisórios, até que o ato seja registrado.
6. Assim sendo, não há falar em decadência ou segurança jurídica, muito embora esta Corte observe
este princípio ao não determinar a devolução dos valores pagos indevidamente.
7. Além disso, por se tratar de relação jurídica continuativa, situações de fato e de direito afetam as
decisões judiciais que deram ensejo ao pagamento de vantagens tais como os planos econômicos, de
modo que é totalmente desarrazoado um servidor receber um percentual deferido relativo ao ano de 1989,
por exemplo, nos dias atuais, após a mudança de regime jurídico e a edição de inúmeras leis com
alteração de estrutura remuneratória. Assim, para se manter o percentual de 26,05%, necessário seria que
a estrutura remuneratória do servidor fosse aquela mesma na qual houve o suposto decesso remuneratório,
o que, evidentemente, não ocorre.
8. A manutenção em destacado nos proventos de vantagens alusivas a planos econômicos, imunes
de compensação por novas estruturas remuneratórias, além de ensejar pagamentos em duplicidade,
desnaturando as respectivas sentenças judiciais, ofende o princípio da reserva legal para fixação dos
vencimentos do funcionalismo.
9. Tal posicionamento já está consolidado no âmbito do Poder Judiciário, como ilustra o voto do
Ministro Luiz Fux, do STF, proferido nos autos do Mandado de Segurança 31.002/DF (DJE 192, de
30/9/2013):
“A análise da questão versada no presente writ quanto à existência de direito à manutenção de
parcelas asseguradas por decisão judicial trânsita revela que os órgãos da Administração Pública não
podem elastecer os efeitos da coisa julgada, de maneira que sejam perpetuadas vantagens pecuniárias
asseguradas por servidores mediante decisão judicial lavrada em contexto fático específico.
O Acórdão nº 5.352/2009-TCU-2ª Câmara considerou ilegais os atos de concessão
de aposentadoria de diversos servidores do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em
razão do pagamento de parcelas judiciais decorrentes de planos econômicos, e determinou ao Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que fizesse cessar o pagamento de percentuais oriundos de
sentenças judiciais cujo suporte fático de aplicação já tenha exaurido.
A referida decisão teve como escopo evitar o pagamento da parcela dos 84,32% por tempo
superior ao que previsto e permitido pelo Poder Judiciário, o que está em conformidade com o nosso
ordenamento jurídico.
A determinação judicial de incorporação dos 84,32% não a concedeu com um caráter ad
aeternum, devendo ser suprimida a partir do momento em que absorvida por uma reestruturação de
carreira. Rejeito, assim, o argumento aduzido pela impetrante segundo o qual existe direito adquirido à
manutenção de parcelas de remuneração. O servidor público está sujeito à alteração do seu regime de
remuneração, não podendo, apenas, sofrer redução na sua remuneração bruta.
(...)
Diante da possibilidade de modificação da estrutura remuneratória de uma carreira, até mesmo
parcelas concedidas judicialmente sob a égide do regime jurídico antigo poderão ser eliminadas,
devendo ser absorvidas na hipótese de uma reestruturação.
Nesse contexto, caso os servidores pudessem manter todas as vantagens pecuniárias do regime
anterior no novo regime, incluídas as calcadas em pronunciamentos judiciais, restariam eles situados em
posição privilegiada. É que as vantagens do regime antigo seriam mescladas com as do novo,
possibilitando, até mesmo, a criação de remunerações acima do que poderia ser aceitável do ponto de
vista da moralidade. Além disso, as parcelas remuneratórias do regime anterior nunca seriam
209
“Serventuário da Justiça do Estado do Rio Grande do Norte: aplicação de lei local (LC est.
212/01) , que determinara nova fórmula de cálculo dos vencimentos dos membros do Ministério Público,
aos quais são atrelados os do recorrido, Escrivão aposentado: pretensão à preservação de gratificação
de 20% percebida anteriormente à nova lei: inexistência de violação do direito adquirido e da
irredutibilidade de vencimentos: inconstitucionalidade do § 1º do artigo 29 da Constituição estadual, do
qual derivara o acréscimo questionado, declarada pelo Supremo Tribunal no julgamento da ADIn 1730
(Moreira, DJ 7.3.2003).
1. Não tem o servidor público direito adquirido à manutenção de determinado regime de
composição de vencimentos ou proventos; o que a Constituição lhe assegura é a irredutibilidade deles;
garantia respeitada sempre que, da aplicação do novo sistema legal, não advenha decréscimo da soma
total da remuneração paga.
2. Incontroverso, que, em função da lei nova, os proventos totais do servidor não sofreram
diminuição, mas, ao contrário, experimentaram elevação, deferir a preservação do acréscimo de 20%
sobre os novos proventos, já superiores ao total anteriormente percebido, seria possibilitar, contra os
princípios, o somatório de vantagens de regimes diversos.”
12. Como bem demonstrou a Sefip, os aumentos remuneratórios dos servidores teriam permitido a
absorção dos valores pagos a título de decisão judicial, o que não ocorreu plenamente.
13. A responsabilidade pelo cálculo dos “quintos” de FC é da Ufal, a qual não observou a forma de
cálculo aceita pelo TCU ou pelo antigo Ministério do Planejamento, fazendo incidir os percentuais da
Portaria 474/1987 sobre rubricas criadas muito após a revogação dessa portaria, ocorrida em 1991 (Lei
8.168). Portanto, estando os valores pagos acima daqueles aceitos pelo TCU, deve a rubrica ser tida por
irregular.
14. O Sr. Ineh de Alarcão Andrade alegou, em sua defesa de peça 36, que obteve decisão judicial
favorável à manutenção do valor pago a título de “quintos”. De fato, parece assistir razão ao interessado,
em parte. Ocorre que tal decisão foi proferida apenas contra a Ufal, em razão da decadência do direito de
reduzir os valores pagos.
15. Consulta ao sítio eletrônico da Justiça Federal em Alagoas permitiu verificar que a decisão
liminar favorável (que impedia a correção da vantagem), foi confirmada pelo juízo de primeiro grau, nos
seguintes termos:
“Por tais fundamentos, confirmo a liminar e concedo a segurança, em definitivo, para determinar
que a autoridade apontada como coatora se abstenha de proceder os descontos nos proventos dos
impetrantes relativo as recomendações constantes do Oficio Circular no 01/SRH-MP, que reputo
inconstitucional, nessa parte.”
16. Essa decisão foi mantida pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 5ª Região. Ademais, o
Superior Tribunal de Justiça negou seguimento ao recurso especial interposto pela instituição de ensino
(REsp 547.445 – AL), por estarem as razões recursais dissociadas do fundamento do acórdão recorrido.
17. Todavia, a existência dessa decisão não afeta a competência desta Corte para apreciar o ato de
aposentadoria, ainda não aperfeiçoado, mormente porque a União não foi parte na ação
(2000.80.00.000359-6). Eventualmente, a Ufal não poderia reduzir os estipêndios dos servidores em razão
da decadência do direito de suprimir a vantagem. Contudo, tal limitação não se estende à apreciação dos
atos de aposentadoria.
18. Argumentou o interessado que o pagamento da vantagem em tela decorreria do Acórdão
4447/2011-2ª Câmara, da relatoria do Ministro Ubiratan Aguiar. Ocorre que o citado acórdão tratava da
concessão de “quintos” com fundamento da Medida Provisória 2225/2001 e não guarda nenhuma relação
com a situação do interessado, aparentemente, já que do formulário Sisac consta apenas o tempo de
função exercida até 19/8/1992.
19. A integralização dos proventos do servidor Dácio do Couto Rabelo decorre da aplicação das
disposições do art. 190 da Lei 8.112/1990, em razão de posterior invalidez causada por doença
especificada em lei. Todavia, essa matéria deverá ser examinada quando do julgamento do ato de
211
alteração, cadastrado no Sisac, mas não disponibilizado. Deve-se, então, determinar à Ufal que encaminhe
o formulário Sisac 10789600-04-2016-000087-3 para apreciação deste Tribunal.
20. Tenho por não justificado o cálculo da proporcionalidade dos proventos dos servidores Everane
Monte Xavier de Souza e Maria do Carmo Correia da Silva Moraes, conforme exame minucioso
empreendido pela unidade técnica.
21. De igual forma, a instrução demonstrou que a implementação das tabelas previstas na Lei
11.091/2005 teria sido suficiente para assegurar a absorção da vantagem temporária criada por seu art. 15,
decorrente do enquadramento dos servidores técnico-administrativos das instituições federais de ensino
no novo plano de carreira. Não fossem os aumentos dessa lei suficientes para promover a absorção, os
servidores poderiam, de fato, manter a vantagem como sendo de caráter pessoal, já que as leis que se
seguiram (11.784/2008 e art. 43 da Lei 12.772/2012) vedaram a continuidade da absorção.
22. Essa irregularidade, registro, afeta apenas o ato de aposentadoria da Sra. Maria do Carmo
Correia da Silva Moraes, uma vez que o exame efetuado pela unidade técnica, em instrução final,
considera correto o valor pago ao Sr. Dácio do Couto Rebelo.
Diante do exposto, acolho os pareceres e VOTO por que o Tribunal adote a deliberação que ora
submeto à apreciação deste colegiado.
1. Processo nº TC 026.707/2009-8.
2. Grupo I – Classe de Assunto: V - Aposentadoria
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessados: Célio Moreira Cardoso (041.953.884-49); Dácio do Couto Rebelo (097.214.954-
68); Everane Monte Xavier de Souza (271.054.827-53); Heliana Maria de Lima e Silva (126.860.854-87);
Ineh de Alarcão Andrade (023.270.821-53); José Lima de Moraes Filho (026.291.514-68); Maria Teresa
de Oliveira (088.146.784-72); Maria Violeta Dantas (111.271.714-53); Maria do Carmo Correia da Silva
Moraes (111.172.654-04); Paulo Galindo Martins (076.818.874-15); Paulo Rogério Albuquerque Matos
(111.200.454-87); Paulo de Paiva Torres (020.804.944-49); Waldir Pedrosa de Amorim (004.707.164-87)
4. Órgão/Entidade: Universidade Federal de Alagoas.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
8. Representação legal :
8.1. João Victor Mota Brandao Silva (15.844/OAB-AL), representando Paulo Galindo Martins.
8.2. Marcelo de Santana Daneu (5.539/OAB-AL) e outros, representando Jose Lima de Moraes
Filho e Waldir Pedrosa de Amorim;
8.3. Alberto Moreira Rodrigues (12652/OAB-DF) e outros, representando Ineh de Alarcão
Andrade.
8.4. Cecília Monte Xavier de Souza (8777/OAB-AL) e outros, representando Everane Monte
Xavier de Souza.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de aposentadorias concedidas pela Universidade Federal
de Alagoas,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
diante das razões expostas pelo Relator, com fundamento no art. 71, inciso III, da Constituição Federal e
nos arts. 1º, inciso V, 39, inciso II, e 45 da Lei 8.443/1992, e no art. 260 do Regimento Interno deste
Tribunal, em:
9.1. considerar prejudicada, por perda de objeto, a apreciação dos atos iniciais de concessão de
aposentadoria de Maria Violeta Dantas e Paulo de Paiva Torres, em virtude de seus falecimentos;
212
9.2. considerar legal e ordenar o registro do ato inicial de concessão de aposentadoria de Paulo
Rogério Albuquerque Matos;
9.3. considerar ilegais e recusar o registro aos atos iniciais de concessão de aposentadoria de Célio
Moreira Cardoso, Dácio do Couto Rebelo, Everane Monte Xavier de Souza, Heliana Maria de Lima e
Silva, Ineh de Alarcão Andrade, José Lima de Moraes Filho, Maria do Carmo Correia da Silva Moraes,
Maria Teresa de Oliveira, Paulo Galindo Martins, e Waldir Pedrosa de Amorim;
9.4. dispensar a devolução dos valores indevidamente recebidos pelos interessados mencionados no
subitem anterior, nos termos do Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência do TCU;
9.5. determinar à Universidade Federal de Alagoas, com base no art. 45 da Lei 8.443/1992, que:
9.5.1. dê ciência do inteiro teor desta deliberação aos interessados mencionados no subitem 9.3 no
prazo de quinze dias e faça juntar os comprovantes de notificação a estes autos nos quinze dias
subsequentes;
9.5.2. faça cessar os pagamentos decorrentes dos atos impugnados (subitem 9.3) no prazo de quinze
dias e comunique a este Tribunal as providências adotadas, nos termos dos arts. 262, caput, do Regimento
Interno do TCU e 8º, caput, da Resolução-TCU 206/2007;
9.5.3. torne disponível para este Tribunal, no prazo de quinze dias, os formulários Sisac relativos
aos servidores Dácio do Couto Rebelo (10789600-04-2016-000087-3) e Maria do Carmo Correia da Silva
Moraes (10789600-04-2010-000108-3).
RELATÓRIO
Adoto como relatório o parecer da unidade técnica, cujos termos são os seguintes:
“INTRODUÇÃO
213
“Trata-se de processo consolidado com cinco atos de pensões militares deferidas pelo Ministério
da Defesa/Comando da Aeronáutica, com pareceres pela legalidade emitidos pelo controle interno e pela
Secretaria de Fiscalização de Pessoal – Sefip.
O Militar João de Deus Barbosa do Nascimento (peça 4) recebeu a vantagem estabelecida no art.
110 da Lei 6.880/1980, após estar reformado, conforme o fundamento legal lançado no ato do e-Pessoal.
De acordo com o Acórdão 2.225/2019-TCU-Plenário, o Tribunal de Contas da União decidiu pela
ausência de previsão legal para a extensão da referida vantagem a militares reformados, conforme o
seguinte sumário:
Sumário: atos de reforma. Alteração de uma das concessões para elevação, em um grau
hierárquico, do posto sobre o qual calculados os proventos do inativo, em face da superveniência de
invalidez permanente decorrente de doença especificada em lei. Militar anteriormente reformado com
proventos já calculados sobre o posto hierárquico superior, por tempo de serviço. Ausência de previsão
legal para extensão da vantagem estabelecida no art. 110 da Lei 6.880/1980 a militares já reformados,
bem como para o acréscimo de dois postos no cálculo dos proventos. Negativa de registro.
Determinações. Legalidade e registro das demais concessões.
O aumento irregular concedido na reforma reflete-se no cálculo do valor da pensão militar desse
instituidor, como se verifica no quadro a seguir.
Destaque-se que a pensão militar, nos termos art. 6º da Lei 3.765/1960, pode ser calculada
considerando-se 1 ou 2 postos acima, para os que preenchiam os requisitos temporais antes da
revogação desse artigo pela MP 2.215-10/2001. O militar não fez tal opção:
Instituidor Posto na Posto de Pensão Militar
Reforma Contribuição Devida Paga
João de Deus Barbosa do 2º Tenente 2º Tenente 2º Tenente 1º Tenente
Nascimento
Tendo em vista que o valor do benefício está acima do devido, o respectivo ato deve ser
considerado ilegal, com negativa de registro perante esta Corte de Contas, conforme o entendimento
firmado pelo Acórdão 2.225/2019-TCU-Plenário.
O ato foi encaminhado em 2019, de modo que pode ser apreciado, para fins de registro, por este
Tribunal, pois não houve o decurso do prazo decadencial previsto pelo Supremo Tribunal Federal, no
âmbito do RE 636.553.
Ante o exposto, o Ministério Público de Contas manifesta-se pela ilegalidade da pensão militar
instituída por João de Deus Barbosa do Nascimento (peça 4) e aquiesce à proposta oferecida nos autos
pela Sefip, quanto aos demais atos em exame.”
É o Relatório.
VOTO
4.Da análise dos elementos constantes dos presentes autos, acolho a conclusão a que chegou o
órgão ministerial em relação ao ato inicial de pensão militar instituído pelo sr. João de Deus Barbosa do
Nascimento em favor da sra. Terezinha de Jesus Guerreiro Nascimento, senão vejamos.
5.Segundo informam os autos, o instituidor da pensão, graduado na ativa como Suboficial, foi
transferido para a reserva remunerada em 1989, quando contava com 54 anos de idade. Desde então, por
ter mais de trinta anos de serviço ativo, passou a receber seus proventos calculados com base no soldo de
Segundo Tenente, com fulcro na regra prevista na redação primitiva do art. 50, inciso II, da Lei
6.880/1980 (“São direitos dos militares [...] a percepção de remuneração correspondente ao grau
hierárquico superior ou melhoria da mesma quando, ao ser transferido para a inatividade, contar mais
de 30 (trinta) anos de serviço”). Nessas mesmas condições, o militar foi reformado ex officio em 1991,
ao atingir a idade limite de permanência na reserva remunerada.
6.Posteriormente, o título definitivo de inatividade do Sr. João de Deus Barbosa do Nascimento foi
alterado para vincular seus proventos ao soldo de Primeiro Tenente, ou seja, dois graus hierárquicos
acima daquele que o militar ostentava na atividade, vantagem esta também levada à pensão por ele
instituída. O fundamento para tanto seria o disposto no art. 110, § 1º, da Lei 6.880/1980 (Estatuto dos
Militares), na redação dada pela Lei 7.580/1986:
“Art. 110. O militar da ativa ou da reserva remunerada, julgado incapaz definitivamente por um
dos motivos constantes dos incisos I e II do art. 108, será reformado com a remuneração calculada com
base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao que possuir ou que possuía na ativa,
respectivamente.
§ 1º Aplica-se o disposto neste artigo aos casos previstos nos itens III, IV e V do artigo 108,
quando, verificada a incapacidade definitiva, for o militar considerado inválido, isto é, impossibilitado
total e permanentemente para qualquer trabalho.
§ 2º Considera-se, para efeito deste artigo, grau hierárquico imediato:
a) o de Primeiro-Tenente, para Guarda-Marinha, Aspirante-a-Oficial e Suboficial ou Subtenente;
b) o de Segundo-Tenente, para Primeiro-Sargento, Segundo-Sargento e Terceiro-Sargento; e
c) o de Terceiro-Sargento, para Cabo e demais praças constantes do Quadro a que se refere o
artigo 16” (grifos acrescidos).
7.Para maior clareza, transcrevo também o art. 108 do Estatuto, no que aqui interessa:
“Art. 108. A incapacidade definitiva pode sobrevir em conseqüência de:
I - ferimento recebido em campanha ou na manutenção da ordem pública;
II - enfermidade contraída em campanha ou na manutenção da ordem pública, ou enfermidade cuja
causa eficiente decorra de uma dessas situações;
III - acidente em serviço;
IV - doença, moléstia ou enfermidade adquirida em tempo de paz, com relação de causa e efeito a
condições inerentes ao serviço;
V - tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, lepra,
paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, mal de Parkinson, pênfigo, espondiloartrose
anquilosante, nefropatia grave e outras moléstias que a lei indicar com base nas conclusões da medicina
especializada;
(...).”
8.Ora, como se vê da leitura do caput do art. 110 do Estatuto dos Militares, o benefício nele previsto
– reforma com a remuneração calculada com base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato
ao que possuir ou que possuía na ativa – é expressamente dirigido ao militar da ativa ou da reserva
remunerada, não alcançando, portanto, o militar reformado.
9.Sobre essa questão – os destinatários do adicional –, a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça (STJ), intérprete último da lei federal, há muito se encontra pacificada, como ilustram os
precedentes adiante reproduzidos:
“PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. MILITAR REFORMADO POR ATINGIR A IDADE
LIMITE NA RESERVA. INVALIDEZ SUPERVENIENTE À INATIVAÇÃO. REFORMA COM
216
12.Quanto aos demais atos acostados ao processo, acompanho os pareceres técnicos no sentido de
sua legalidade para fins de registro, à exceção do ato em que figura como instituidor o Sr. Alexandre
Lorenzoni (014.806.770-00), em relação ao qual proponho o destaque para que sejam realizadas
diligências em relação à legitimidade do ato de reforma do referido militar.
Ante o exposto, VOTO por que seja adotada a deliberação que ora submeto à apreciação deste
Colegiado.
1. Processo nº TC 031.051/2019-7.
2. Grupo II – Classe de Assunto: V – Pensão Militar
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessados: Berenice da Silva Araujo Arrais Rosal (014.048.797-22); Claudia Christiane
Martins Quintella (013.436.897-59); Lurdes Soster Lorenzoni (802.103.680-04); Marlene Araujo Ferreira
da Silva (601.241.137-53); Rosangela Nobre Araujo (234.460.133-34); Terezinha de Jesus Guerreiro
Nascimento (634.336.992-91).
4. Órgão/Entidade: Ministério da Defesa - COMANDO DA AERONÁUTICA (VINCULADOR).
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que tratam de atos de pensão emitidos no âmbito do
Comando da Aeronáutica,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão de Primeira Câmara,
diante das razões expostas pelo Relator, com fundamento nos arts. 71, inciso III, da Constituição Federal
e 1º, inciso V, 39, inciso II, e 45 da Lei 8.443, de 16 de julho de 1992, em:
9.1. considerar legais os atos de pensão de interesse das sras. Berenice da Silva Araujo Arrais Rosal
(014.048.797-22), Claudia Christiane Martins Quintella (013.436.897-59), Marlene Araujo Ferreira da
Silva (601.241.137-53) e Rosangela Nobre Araujo (234.460.133-34), determinando-se os respectivos
registros;
9.2. considerar ilegal o ato de pensão emitido em favor da sra. Terezinha de Jesus Guerreiro
Nascimento (634.336.992-91), negando-lhe o correspondente registro;
9.3. dispensar o ressarcimento das quantias indevidamente recebidas de boa-fé, consoante o
enunciado 106 da Súmula de Jurisprudência deste Tribunal;
9.4. determinar ao Comando da Aeronáutica que:
9.4.1. faça cessar, no prazo de 15 (quinze) dias, contado a partir da ciência desta deliberação, os
pagamentos decorrentes do ato impugnado, sob pena de responsabilidade solidária da autoridade
administrativa omissa, consoante disposto nos arts. 71, inciso IX, da Constituição Federal e 262 do
Regimento Interno desta Corte;
9.4.2. dê ciência do inteiro teor desta deliberação à interessada, alertando-a de que o efeito
suspensivo proveniente da interposição de eventuais recursos, caso não providos, não a exime da
devolução dos valores indevidamente percebidos após a notificação;
9.4.3. envie a esta Corte de Contas, no prazo de 30 (trinta) dias, por cópia, comprovante de que a
interessada teve ciência desta deliberação;
9.5. determinar à Sefip que:
9.5.1. esclareça à unidade de origem, com fundamento no art. 262, § 2º, do Regimento Interno, que
a concessão considerada ilegal poderá prosperar mediante a emissão e o encaminhamento a este Tribunal
de novo ato concessório, desde que escoimado da irregularidade apontada nestes autos;
218
9.5.2. proceda ao destaque do ato de pensão emitido em favor da sra. Lurdes Soster Lorenzoni
(802.103.680-04), a fim de que sejam realizadas diligências quanto à legitimidade do ato de reforma do
instituidor Sr. Alexandre Lorenzoni (014.806.770-00);
9.5.3. monitore o cumprimento das medidas indicadas no subitem 9.4 acima.
RELATÓRIO
Adoto como relatório, com os ajustes de forma pertinentes, a instrução elaborada no âmbito da
Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip), a qual contou com a anuência dos dirigentes da unidade
técnica e do representante do Ministério Público nos autos:
“INTRODUÇÃO
1.Trata-se de ato inicial de concessão de pensão civil de José Moreira da Silva, ex-servidor da
Superintendência Regional do Trabalho no Estado de Minas Gerais – SRTE/MG.
2.O ato foi submetido, para fim de registro, à apreciação do Tribunal de Contas da União (TCU),
de acordo com o art. 71, inciso III, da Constituição Federal. O cadastramento e a disponibilização ao
TCU ocorreram por intermédio do Sistema de Apreciação e Registro de Atos de Admissão e Concessões,
na forma dos arts. 2º, caput e incisos I a VI, e 4º, caput, da Instrução Normativa-TCU 78/2018.
3.Ao benefício pensional instituído pelo Sr. José Moreira da Silva habilitou-se Maria Delza
Moreira da Silva (na condição de viúva).
HISTÓRICO
4.Em instrução automática (peça 3), esta Unidade Técnica propôs a legalidade do ato em exame,
que contou com a aquiescência do MPTCU (peça 5).
5.Todavia, em despacho à peça 6, o Ministro-Relator verificou que o valor do benefício de partida
conferido à pensionista não guarda plena correspondência com aquele percebido em vida pelo
instituidor, pois no mês imediatamente anterior ao seu falecimento (dezembro de 2016), o ex-servidor
José Moreira da Silva recebia a Gratificação de Desempenho de Atividade da Seguridade Social e do
Trabalho (GDASST) no valor correspondente a trinta pontos (cf. art. 8º, parágrafo único, da Lei
10.483/2002, c/c o art. 7º da Lei 10.971/2004). Entretanto, na primeira pensão paga à Sra. Maria Delza
Moreira da Silva, em janeiro de 2017, a GDASST foi calculada com o valor correspondente a cinquenta
pontos.
219
6. Assim, o Relator restituiu os autos à Sefip para que, em preliminar, esclarecesse essa
divergência.
7.A Sefip encaminhou diligência à SRTE/MG (peça 10) solicitando esclarecimentos sobre a
divergência abordada pelo Ministro-Relator.
8.Em resposta à diligência, a SRTE/MG encaminhou a documentação acostada à peça 12.
EXAME TÉCNICO
Da diligência
9.A SRTE/MG esclareceu que o sistema Siape calculou automaticamente o valor da pensão da Sra.
Maria Delza Moreira da Silva, tendo como base a ficha financeira do instituidor no mês do seu óbito, ou
seja, janeiro/2017, quando houve o aumento linear para os servidores em conformidade com a Lei
13.324/2016 (peça 12, p. 2).
10.De conformidade com a ficha financeira anterior ao óbito do instituidor (peça 12, p. 10), a
GDASST estava sendo paga no valor de R$ 458,70, valor correspondente a 30 pontos (R$ 15,29 x 30 =
R$ 458,70), de acordo com a tabela de remuneração dos servidores públicos federais (peça 7).
11.A Lei 13.324/2016 alterou a remuneração dos servidores e o valor do ponto da GDASST para o
cargo do ex-servidor, a partir de janeiro/2017, foi modificado para R$ 16,09, conforme anexo XXXV da
citada Lei.
12.Dessa forma, o valor correto da GDASST (30 pontos) para o ex-servidor em janeiro/2017 era
R$ 482,70, conforme tabela de remuneração dos servidores públicos federais (peça 8), e não R$ 804,50,
consoante ficha financeira do instituidor (peça 12, p. 11).
13.Sendo assim, tendo em vista que o benefício de partida foi calculado a maior em relação ao que
a pensionista tinha direito, o presente ato deve ser considerado ilegal, com determinação à SRTE/MG
para que recalcule o benefício pensional.
CONCLUSÃO
14.Em razão do exposto, e tendo em vista as análises realizadas no ato inicial de concessão de
pensão civil instituída por José Moreira da Silva em favor de Maria Delza Moreira da Silva, esta
Unidade Técnica considera que o ato em tela deve ser considerado ilegal e ter o registro negado por esta
Egrégia Corte, com determinação à SRTE/MG para que recalcule o benefício pensional, considerando o
valor correto da GDASST no mês de óbito do instituidor.
15.Quanto aos valores indevidos já pagos, propõe-se dispensar a devolução, com fundamento no
Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência do TCU.
16.Por fim, vale destacar que o ato em análise ingressou no TCU há menos de cinco anos. Assim,
não se fez necessária a instauração do contraditório, segundo o entendimento estabelecido no Acórdão
587/2011-TCU-Plenário, de relatoria do Ministro Valmir Campelo.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
17.Ante o exposto, e com base nos arts. 71, inciso III, da Constituição Federal, 1º, inciso V, e 39,
inciso II, da Lei 8.443/1992 e 260, § 1º, do Regimento Interno, propõe-se:
a) considerar ILEGAL e recusar o registro do ato inicial de concessão de pensão civil instituída
por José Moreira da Silva em favor de Maria Delza Moreira da Silva;
b) dispensar a devolução dos valores indevidamente recebidos até a data da ciência do acórdão
que vier a ser prolatado, com base no Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência do TCU;
c) determinar à Superintendência Regional do Trabalho no Estado de Minas Gerais, com base no
art. 45 da Lei 8.443/1992, que:
c.1) faça cessar os pagamentos decorrentes do ato impugnado, comunicando ao TCU, no prazo de
quinze dias, as providências adotadas, nos termos dos arts. 262, caput, do Regimento Interno do TCU e
8º, caput, da Resolução-TCU 206/2007;
c.2) cadastre novo ato, livre da irregularidade apontada, submetendo-o ao TCU no prazo de trinta
dias, nos termos dos arts. 262, § 2º, do Regimento Interno do TCU e 19, § 3º, da Instrução Normativa-
TCU 78/2018;
220
c.3) informe à interessada o teor do acórdão que vier a ser prolatado, encaminhando ao TCU, no
prazo de trinta dias, comprovante da data de ciência pela interessada, nos termos do art. 4º, § 3º, da
Resolução-TCU 170/2004, alertando-a de que o efeito suspensivo proveniente de eventual interposição
de recurso junto ao TCU não a exime da devolução dos valores indevidamente percebidos após a
notificação, em caso de não provimento desse recurso.”
É o relatório.
VOTO
Em exame, pensão civil concedida pela Superintendência Regional do Trabalho no Estado de Minas
Gerais (SRT-MG) em favor da sra. Maria Delza Moreira da Silva, qualificada como viúva do ex-servidor
José Moreira da Silva.
2.A Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip), com o aval do Ministério Público, posiciona-se
pela negativa de registro do ato em face da inclusão, nos proventos, de parcela de gratificação de
desempenho calculada incorretamente.
3.Acompanho as conclusões dos pareceres técnicos.
4.Nos termos do art. 8º, parágrafo único, da Lei 10.483/2002, c/c o art. 7º da Lei 10.971/2004, a
Gratificação de Desempenho de Atividade da Seguridade Social e do Trabalho (GDASST) é devida aos
servidores inativados anteriormente a 2002 (caso do sr. José Moreira da Silva, aposentado em 1998) no
valor correspondente a trinta pontos:
Lei 10.483/2002
“Art. 8o A GDASST integrará os proventos da aposentadoria e as pensões, de acordo com:
I – a média dos valores recebidos nos últimos 60 (sessenta) meses; ou
II – o valor correspondente a 10 (dez) pontos, quando percebida por período inferior a 60
(sessenta) meses.
Parágrafo único. Às aposentadorias e às pensões existentes quando da vigência desta Lei aplica-se
o disposto no inciso II deste artigo.”
Lei 10.971/2004
“Art. 7º Aos aposentados e pensionistas que se enquadrarem no inciso II ou no parágrafo único do
art. 8º da Lei nº 10.483, de 2002, é devida a GDASST no valor correspondente a trinta pontos.”
5.Esse, a propósito, foi o valor corretamente incluído no último contracheque percebido em vida
pelo instituidor (peça 3, p. 2).
6.Nada obstante, quando da concessão da pensão, em janeiro de 2017, a SRT-MG fez incluir no
cálculo de partida dos proventos a GDASST no valor correspondente a cinquenta pontos.
7.Ilegal, pois, o benefício, nos termos em que deferido pela origem.
8.Diante do exposto, voto no sentido de que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto a este
Colegiado.
1. Processo nº TC 031.656/2017-0.
2. Grupo I – Classe de Assunto: V – Pensão Civil
3. Interessada: Maria Delza Moreira da Silva (270.411.746-20).
4. Órgão: Superintendência Regional do Trabalho no Estado de Minas Gerais.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Marinus Eduardo De Vries Marsico.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
221
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de pensão civil deferida pela Superintendência Regional
do Trabalho no Estado de Minas Gerais,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
diante das razões expostas pelo Relator, com fundamento no art. 71, inciso III, da Constituição Federal e
nos arts. 1º, inciso V, 39, inciso II, e 45 da Lei 8.443/1992, em:
9.1. considerar ilegal o ato de concessão de interesse da sra. Maria Delza Moreira da Silva,
recusando seu registro;
9.2. dispensar o ressarcimento das quantias indevidamente recebidas, em boa-fé, pela interessada,
consoante o Enunciado 106 da Súmula de Jurisprudência deste Tribunal;
9.3. determinar à Superintendência Regional do Trabalho no Estado de Minas Gerais que:
9.3.1. faça cessar, no prazo de 15 (quinze) dias, contado a partir da ciência desta deliberação, os
pagamentos decorrentes do ato impugnado, sob pena de responsabilidade solidária da autoridade
administrativa omissa, consoante disposto nos arts. 71, inciso IX, da Constituição Federal e 262 do
Regimento Interno desta Corte;
9.3.2. dê ciência do inteiro teor desta deliberação à sra. Maria Delza Moreira da Silva, alertando-a
de que o efeito suspensivo proveniente da interposição de eventuais recursos, caso não providos, não a
exime da devolução dos valores indevidamente percebidos após a notificação;
9.3.3. envie a esta Corte de Contas, no prazo de 30 (trinta) dias, por cópia, comprovante de que a
interessada teve ciência desta deliberação;
9.4. esclarecer à unidade de origem, com supedâneo no art. 262, § 2º, do Regimento Interno do
TCU, que a concessão considerada ilegal poderá prosperar mediante a emissão e o encaminhamento a
este Tribunal de novo ato concessório, escoimado da irregularidade apontada nestes autos.
RELATÓRIO
Adoto como relatório a instrução elaborada por auditor da SecexTCE (peça 27), que contou com a
anuência dos dirigentes da mencionada unidade técnica (peças 28 e 29):
1. “Cuidam os autos de Tomada de Contas Especial instaurada pelo Ministério da Integração
Nacional, contra a Agência de Desenvolvimento dos Municípios da Mesorregião Vale do Ribeira /
Guaraquecaba – Agência MVRG, entidade executora, e o senhor José Carlos Pinheiro Becker, Diretor
Superintendente, em decorrência da omissão no dever de prestar contas da utilização dos recursos
repassados por intermédio da Carta de Acordo (“Carta de Acuerdo”) s/n, de 3/7/2006, vigente no
período de 3/7/2006 a 31/8/2007 (peça 1, p. 75-80 e 81-85 c/c peça 1, p. 149).
2. A Carta de Acordo s/n, de 3/7/2006, foi celebrada entre a Agência de Desenvolvimento dos
Municípios da Mesorregião Vale do Ribeira / Guaraqueçaba – Agência MVRG e a Organização das
Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO, por meio de seu Representante no Brasil, no
âmbito do Projeto FAO/BRA/040/BRA, visando a execução do Projeto “PRODUZIR”, cujo Acordo de
Cooperação fora inicialmente oficializado mediante a publicação no DOU 187, Seção 3, de 28/9/2005
(peça 2, p. 77), com o fito de desenvolver e/ou fortalecer empreendimentos que possam contribuir para a
geração de ocupação e renda na população-objetivo, recuperando/fortalecendo a cidadania e ampliando
o potencial, nos Municípios de Campina Grande do Sul/PR e Cananéia/SP (peça 1, p. 75-80 e 81-85).
HISTÓRICO
3.O processo se encontra devidamente historiado na instrução à peça 10. Sucintamente, relembra-
se que os recursos previstos para a execução do objeto acordado totalizavam R$ 198.900,00 (peça 1, p.
75-80), sendo repassados à Agência MVRG, por meio do Acordo/Empréstimo FAO, a quantia de R$
188.955,00, no período entre 17/7/2006 e 16/5/2007, sendo então considerados, como débito, o montante
dos repasses realizados, de R$ 188.955,00, e as consequentes despesas com tarifas bancárias, de R$
37,30, incidentes na conta de origem (FAO/Brasil) na ocasião desses mencionados repasses, totalizando
assim no prejuízo apurado de R$ 188.992,30 (R$ 59.670,00 em 17/7/2006, R$ 99.450,00 em 29/11/2006,
e R$ 29.835,00 em 16/5/2007, de acordo com os comprovantes bancários – peça 1, p. 86, 139 e 213).
4.Na instrução inicial (peça 10), após análise dos autos, entendeu-se que restou caracterizada a
responsabilidade solidária da Agência de Desenvolvimento dos Municípios da Mesorregião Vale do
Ribeira/Guaraquecaba – Agência MVRG, entidade executora, com o senhor José Carlos Pinheiro
Becker, Diretor Superintendente, em decorrência da não comprovação da boa e regular execução de
recursos repassados pelo Ministério da Integração Nacional, por meio da Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO, à Agência de Desenvolvimento dos Municípios da
Mesorregião do Vale Ribeira/Guaraqueçaba – Agência MVRG para realização do evento de organização
produtiva do “Projeto Produzir” nos municípios de Campina Grande do Sul/PR e Cananéia/SP, em face
da omissão no dever de prestar contas, conforme consubstanciado no Parecer Financeiro 277/2015
DTCE/CDTCE/CGCONV/DGI/MI, de 9/10/2015.
5.Propôs-se, então, naquela ocasião, a citação de ambos, proposta essa que contou com a anuência
d Ministro Relator, conforme Despacho à peça 13. A proposta se deu nos seguintes termos:
Ocorrência: não comprovação da boa e regular execução de recursos repassados pelo Ministério
da Integração Nacional, por meio da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação –
FAO, à Agência de Desenvolvimento dos Municípios da Mesorregião do Vale Ribeira/Guaraqueçaba –
Agência MVRG para realização do evento de organização produtiva do “Projeto Produzir” nos
municípios de Campina Grande do Sul/PR e Cananéia/SP, em face da omissão no dever de prestar
contas, conforme consubstanciado no Parecer Financeiro 277/2015 DTCE/CDTCE/CGCONV/DGI/MI,
de 9/10/2015.
Valor (R$)Data
352.508,5715/8/2017 (peça 9)
223
2004, in verbis:
Art. 179. A citação, a audiência ou a notificação, bem como a comunicação de diligência, far-se-
ão:
I - mediante ciência da parte, efetivada por servidor designado, por meio eletrônico, fac-símile,
telegrama ou qualquer outra forma, desde que fique confirmada inequivocamente a entrega da
comunicação ao destinatário;
II - mediante carta registrada, com aviso de recebimento que comprove a entrega no endereço do
destinatário;
III - por edital publicado no Diário Oficial da União, quando o seu destinatário não for localizado
(...)
Art. 3º As comunicações serão dirigidas ao responsável, ou ao interessado, ou ao dirigente de
órgão ou entidade, ou ao representante legal ou ao procurador constituído nos autos, com poderes
expressos no mandato para esse fim, por meio de:
I - correio eletrônico, fac-símile ou telegrama;
II - servidor designado;
III - carta registrada, com aviso de recebimento;
IV - edital publicado no Diário Oficial da União, quando o seu destinatário não for localizado, nas
hipóteses em que seja necessário o exercício de defesa”.
Art. 4º. Consideram-se entregues as comunicações:
I - efetivadas conforme disposto nos incisos I e II do artigo anterior, mediante confirmação da
ciência do destinatário;
II - realizadas na forma prevista no inciso III do artigo anterior, com o retorno do aviso de
recebimento, entregue comprovadamente no endereço do destinatário;
III - na data de publicação do edital no Diário Oficial da União, quando realizadas na forma
prevista no inciso IV do artigo anterior.
§ 1º O endereço do destinatário deverá ser previamente confirmado mediante consulta aos sistemas
disponíveis ao Tribunal ou a outros meios de informação, a qual deverá ser juntada ao respectivo
processo.
(...)
10.Bem se vê, portanto, que a validade da citação via postal não depende de que o aviso de
recebimento seja assinado pelo próprio destinatário da comunicação, o que dispensa, no caso em tela, a
entrega do AR em “mãos próprias”. A exigência da norma é no sentido de o Tribunal verificar se a
correspondência foi entregue no endereço correto, residindo aqui a necessidade de certeza inequívoca.
11.Não é outra a orientação da jurisprudência do TCU, conforme se verifica dos julgados a seguir
transcritos:
São válidas as comunicações processuais entregues, mediante carta registrada, no endereço
correto do responsável, não havendo necessidade de que o recebimento seja feito por ele próprio
(Acórdão 3648/2013 - TCU - Segunda Câmara, Relator Ministro JOSÉ JORGE);
É prescindível a entrega pessoal das comunicações pelo TCU, razão pela qual não há necessidade
de que o aviso de recebimento seja assinado pelo próprio destinatário. Entregando-se a correspondência
no endereço correto do destinatário, presume-se o recebimento da citação. (Acórdão 1019/2008 - TCU -
Plenário, Relator Ministro BENJAMIN ZYMLER);
As comunicações do TCU, inclusive as citações, deverão ser realizadas mediante Aviso de
Recebimento - AR, via Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, bastando para sua validade que se
demonstre que a correspondência foi entregue no endereço correto.
(Acórdão 1526/2007 - TCU - Plenário, Relator Ministro AROLDO CEDRAZ).
12.A validade do critério de comunicação processual do TCU foi referendada pelo Supremo
Tribunal Federal, nos termos do julgamento do MS-AgR 25.816/DF, por meio do qual se afirmou a
desnecessidade da ciência pessoal do interessado, entendendo-se suficiente a comprovação da entrega do
“AR” no endereço do destinatário:
225
Plenário, Relator: Benjamin Zymler, que uniformizou a jurisprudência acerca dessa questão, subordina-
se ao prazo geral de prescrição indicado no art. 205 do Código Civil, que é de dez anos, contado da data
de ocorrência da irregularidade sancionada, nos termos do art. 189 do Código Civil, sendo este prazo
interrompido pelo ato que ordenar a citação, a audiência ou a oitiva do responsável.
21. No caso em exame, ocorreu a prescrição, uma vez que a liberação dos recursos se deu entre
17/7/2006 e 16/5/2007, e o ato de ordenação da citação ocorreu em 1/9/2017.
CONCLUSÃO
22.Em face da análise promovida na seção “Exame Técnico”, verifica-se que os responsáveis não
lograram comprovar a boa e regular aplicação dos recursos. E, instados a se manifestarem, optaram
pelo silêncio, configurando a revelia, nos termos do § 3º, do art. 12, da Lei 8.443/1992.
23. Vale ressaltar que a jurisprudência pacífica nesta Corte é no sentido da imprescritibilidade
das ações de ressarcimento ao erário (Súmula TCU 282). Dessa forma, identificado dano ao erário,
deve-se instaurar e julgar o processo de tomada de contas especial para responsabilizar seus agentes
causadores, respeitando o direito ao contraditório e à ampla defesa, independentemente de quando
ocorreram os atos impugnados.
24. Verifica-se também que houve a prescrição da pretensão punitiva, conforme análise já
realizada. Desse modo, não cabe a aplicação de multa aos responsáveis.
25.Tendo em vista que não constam dos autos elementos que permitam reconhecer a boa-fé dos
responsáveis, sugere-se que as suas contas sejam julgadas irregulares, nos termos do art. 202, § 6º, do
Regimento Interno do TCU, com a imputação do débito atualizado monetariamente e acrescido de juros
de mora, nos termos do art. 202, §1º do Regimento Interno do TCU, descontado o valor eventualmente
recolhido.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
26. Diante do exposto, submetemos os autos à consideração superior, propondo ao Tribunal:
a) considerar revel a Agência de Desenvolvimento dos Municípios da Mesorregião Vale do
Ribeira / Guaraquecaba – Agência MVRG (CNPJ 04.632.000/0001-65) e Jose Carlos Pinheiro Becker
(CPF 493.265.389-15), para todos os efeitos, dando-se prosseguimento ao processo, com fulcro no art.
12, § 3º, da Lei 8.443/1992;
b) julgar irregulares, nos termos dos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea “c”, da Lei
8.443/1992, c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com arts. 1º, inciso I, 209, inciso III, 210 e
214, inciso III, do Regimento Interno/TCU, as contas da Agência de Desenvolvimento dos Municípios da
Mesorregião Vale do Ribeira / Guaraquecaba – Agência MVRG (CNPJ 04.632.000/0001-65) e do Sr.
Jose Carlos Pinheiro Becker (CPF 493.265.389-15), condenando-os solidariamente ao pagamento das
importâncias a seguir especificadas, atualizadas monetariamente e acrescidas dos juros de mora,
calculadas a partir das datas discriminadas até a data da efetiva quitação do débito, fixando-lhe o prazo
de quinze dias, para que comprovem, perante o Tribunal, o recolhimento das referidas quantias aos
cofres do Fundo Nacional de Assistência Social, nos termos do art. 23, inciso III, alínea “a”, da citada
lei, c/c o art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno do TCU;
VALOR ORIGINAL (R$) DATA DA OCORRÊNCIA
5.076,90 13/2/2008
4.500,00 19/2/2008
5.076,90 14/3/2008
4.500,00 14/3/2008
4.500,00 8/4/2008
c) autorizar, desde logo, a cobrança judicial da dívida, caso não atendidas as notificações, na
forma do disposto no art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992;
d) autorizar também, desde logo, se requerido, com fundamento no art. 28, inciso I, da Lei
8.443, de 1992, c/c o art. 217, §§ 1º e 2º do Regimento Interno do TCU, o parcelamento da(s) dívida(s)
em até 36 parcelas, incidindo, sobre cada parcela, corrigida monetariamente, os correspondentes
acréscimos legais, fixando-lhe o prazo de quinze dias, a contar do recebimento da notificação, para
227
comprovar, perante o Tribunal, o recolhimento da primeira parcela, e de trinta dias, a contar da parcela
anterior, para comprovar os recolhimentos das demais parcelas, devendo incidir, sobre cada valor
mensal, atualizado monetariamente, os juros de mora devidos, no caso do débito, na forma prevista na
legislação em vigor, alertando o responsável de que a falta de comprovação do recolhimento de qualquer
parcela importará o vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos do § 2º do art. 217 do
Regimento Interno deste Tribunal;
e) enviar cópia do Acórdão a ser prolatado, bem como do Relatório e do Voto que o
fundamentarem à Procuradoria da República no Estado do Paraná nos termos do à § 3º do art. 16 da Lei
8.443/1992, c/c o § 7º do art. 209 do Regimento Interno do TCU, para adoção das medidas cabíveis; e
f) enviar cópia do Acórdão que vier a ser proferido ao Ministério do Desenvolvimento
Regional e aos responsáveis, para ciência, informando que a presente deliberação, acompanhada do
Relatório e do Voto que a fundamenta, está disponível para a consulta no endereço
www.tcu.gov.br/acordaos, além de esclarecer que, caso requerido, o TCU poderá fornecer sem custos as
correspondentes cópias, de forma impressa.”
2.O Ministério Público junto ao TCU manifestou-se de acordo com a essência da proposta da
unidade técnica. Sugeriu apenas a correção das datas indicadas para o débito e o cofre credor.
É o relatório.
VOTO
Trata-se de tomada de contas especial instaurada em razão da omissão no dever de prestar contas
dos recursos recebidos pela Agência de Desenvolvimento dos Municípios da Mesorregião Vale do
Ribeira/Guaraquecaba (Agência MVRG) para execução do Projeto “Produzir”, destinado ao
desenvolvimento e ao fortalecimento de empreendimentos que possam contribuir para a formação
profissional e a geração de renda na população dos municípios de Campina Grande do Sul/PR e
Cananéia/SP, recuperando e fortalecendo a cidadania dos munícipes.
2.Referido projeto foi custeado por meio da Carta de Acordo s/n, de 3/7/2006, firmada entre aquela
instituição e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. É importante destacar que
os recursos repassados para a Agência MVRG, no total de R$ 188.955,00, são oriundos do Orçamento
Geral da União (OGU) e transferidos por Acordo de Cooperação Técnica Internacional, na modalidade de
execução nacional, firmado entre a República Federativa do Brasil e a Organização das Nações Unidas
para Agricultura e Alimentação – FAO.
3.A Carta de Acordo tem natureza jurídica de convênio, dada a convergência de interesses entre as
partes (realização de ações de capacitação no campo), e possuiu cláusulas semelhantes àquelas
comumente inseridas em instrumentos de transferência voluntária de recursos existentes no país. Antes
mesmo da assinatura desse instrumento, a Secretária de Programas Regionais do então Ministério da
Integração Nacional fez o seguinte alerta à entidade (peça 1, p. 89):
“Lembramos que os recursos do Projeto, apesar de encontrarem-se em poder da FAO, são
recursos oriundos do Orçamento Geral da União do Governo Brasileiro, e por este motivo, são
fiscalizados pelos órgãos competentes, os quais, ao detectarem quaisquer impropriedades, aplicam todos
os mecanismos jurídicos disponíveis para reaver ao erário público. Assim. qualquer recurso aplicado
inadequadamente, o próprio Governo Federal, do qual fazemos parte, utilizará desses instrumentos para
apuração e aplicação de sansões legais quanto àqueles que não cumprirem suas responsabilidades com
os recursos.”
4.Justificada a competência desta Corte de Contas, destaco que, mesmo provocada pelo Governo
Federal, a entidade não prestou contas dos recursos recebidos após o encerramento da vigência do ajuste,
ocorrida em 31/8/2007. Isso motivou o TCU a promover a citação da Agência MVRG e do sr. José Carlos
Pinheiro Becker, diretor superintendente da mencionada pessoa jurídica, pelo montante total transferido.
Coube a esse diretor superintendente a gestão dos recursos e, pelos documentos juntados aos autos, é
possível afirmar que esteve efetivamente à frente do projeto, pois assinou os seguintes documentos:
228
solicitação de apoio financeiro (peça 1, p. 6), plano de trabalho contendo as iniciativas a serem
desenvolvidas (peça 1, p. 26), Carta de Acordo (peça 1, p. 80) e relatórios de execução física e solicitação
de liberação de parcelas (por exemplo, peça 1, p. 150).
5.A citação do sr. José Carlos Pinheiro Becker foi encaminhada para o endereço constante na base
de dados da Receita Federal e o aviso de recebimento foi assinado pela sra. Edenize P. dos Santos. Em
que pese a assinatura ser de terceiro, a jurisprudência do TCU, a exemplo do Acórdão 1019/2008-
Plenário, é pacífica no sentido de ser prescindível a entrega pessoal das comunicações, razão pela qual
não há necessidade de que o aviso de recebimento seja assinado pelo próprio destinatário. Entregando-se
a correspondência no endereço correto do destinatário, presume-se o recebimento da citação.
6.A citação da pessoa jurídica foi encaminhada para o endereço daquele que se supunha ser o
representante legal. Em resposta, o sr. Décio José Ventura informou que em julho de 2005 solicitou seu
desligamento da agência, afirmação lastreada em documento juntado aos autos (peça 24, p. 3). Não sendo
possível localizar o paradeiro da entidade nas pesquisas realizadas na base de dados da Receita Federal,
nas listas telefônicas e nas concessionárias de serviços públicos, promoveu-se a citação pela via editalícia.
7.Regularmente notificados, portanto, os jurisdicionados deixaram transcorrer in albis o prazo a eles
concedido, isto é, não apresentaram alegações de defesa, tampouco recolheram o débito. Dessa forma,
entendo que devam ser declaradas as revelias deles, dando-se prosseguimento ao processo, de acordo com
o art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992.
8.Por essa razão, não havendo evidências nos autos da boa e regular aplicação dos recursos
repassados, entendo que, em consonância com os pareceres precedentes, este Tribunal deva julgar
irregulares as contas deles e condená-los solidariamente em débito. Não será proposta a aplicação da
multa, tendo em vista a prescrição da pretensão punitiva, eis que, entre a caracterização da omissão
(31/8/2007) e o despacho que autorizou a citação dos jurisdicionados (1º/9/2017), houve o decurso de
mais de dez anos (Acórdão 1.441/2016-Plenário).
9.Ante o exposto, voto por que seja adotada a deliberação que ora submeto ao Colegiado.
1. Processo nº TC 033.026/2016-5.
2. Grupo I – Classe de Assunto: II – Tomada de Contas Especial
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Ministério da Integração Nacional
3.2. Responsáveis: Agência de Desenvolvimento dos Municípios da Mesorregião Vale do
Ribeira/Guaraquecaba (04.632.000/0001-65); José Carlos Pinheiro Becker (493.265.389-15).
4. Entidade: Agência de Desenvolvimento dos Municípios da Mesorregião Vale do
Ribeira/Guaraquecaba.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: Subprocurador-Geral Lucas Rocha Furtado.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (SecexTCE).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada em razão da
omissão no dever de prestar contas dos recursos recebidos pela Agência de Desenvolvimento dos
Municípios da Mesorregião Vale do Ribeira/Guaraquecaba para execução do Projeto “Produzir”,
custeado por meio da Carta de Acordo s/n, de 3/7/2006,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. considerar revel para todos os efeitos a Agência de Desenvolvimento dos Municípios da
Mesorregião Vale do Ribeira/Guaraquecaba e o sr. José Carlos Pinheiro Becker, dando-se
229
RELATÓRIO
Trata-se de tomada de contas especial instaurada em vista da omissão no dever de prestar contas dos
recursos captados pela proponente Editora Atos Comércio de Livros Ltda., com base na Lei 8.313/1991
(Lei de Incentivo à Cultura).
2.A empresa captou R$ 400.000,00, para execução do projeto “Compartilhando Sorrisos”, o qual
tinha por objeto a realização de uma exposição de artes plásticas em três capitais (Recife/PE, São
Paulo/SP e Rio de Janeiro/RJ) (Portaria-MinC 701, de 18/12/2013 – peça 6, p. 2).
3.O período previsto para a execução do projeto foi de 12/12/2014 a 31/12/2015 e o prazo para a
prestação de contas expirou em 30/01/2016, conforme Instrução Normativa Minc 1/2013, vigente à época
(peça 36, p. 2).
4.Embora tenham sido notificadas a prestar contas dos recursos captados, a Editora Atos Comércio
de Livros Ltda. e sua sócia-administradora Rebecca Brogglio Pivetta não apresentaram a prestação de
contas dos recursos captados (peça 36, p. 4)
5.Em decorrência da omissão no dever de prestar contas, foram citadas solidariamente a Editora
Atos Comércio de Livros Ltda. e sua sócia-administradora Rebecca Brogglio Pivetta, para que
apresentassem alegações de defesa ou recolhessem aos cofres do Tesouro Nacional as quantias captadas.
6.Dando seguimento ao feito, a unidade técnica assim se manifestou:
“Na instrução inicial (peça 43), analisando-se os documentos nos autos, concluiu-se pela
necessidade de realização de citação e audiência para as irregularidades abaixo:
CITAÇÃO
Irregularidade 1: não comprovação da boa e regular aplicação dos recursos federais
repassados com amparo no Pronac 13-10474, em face da omissão no dever de prestar contas dos
valores transferidos.
Valor histórico e data de origem:
Data de ocorrência Valor histórico (R$) Identificador da parcela
12/12/2014 400.000,00 D2
29/8/2018 138,00 C1
Responsáveis solidários:
- Editora Atos Comércio de Livros Ltda. (CNPJ: 18.036.008/0001-73)
Conduta: não demonstrar a boa e regular aplicação dos recursos federais recebidos e geridos
por meio do instrumento em questão, no período de 12/12/2014 a 31/12/2015, em face da omissão
na prestação de contas, cujo prazo encerrou-se em 30/01/2016.
- Sra. Rebecca Brogglio Pivetta (CPF: 364.786.638-50), na condição de dirigente
Conduta: não demonstrar a boa e regular aplicação dos recursos federais recebidos e geridos
por meio do instrumento em questão, no período de 12/12/2014 a 31/12/2015, em face da omissão
na prestação de contas, cujo prazo encerrou-se em 30/01/2016
AUDIÊNCIA
Irregularidade 2: não cumprimento do prazo originalmente estipulado para prestação de
contas do projeto incentivado, cujo prazo encerrou-se em 30/1/2016.
Responsável: Sra. Rebecca Brogglio Pivetta (CPF: 364.786.638-50), na condição de dirigente
Conduta: descumprir o prazo originalmente estipulado para prestação de contas dos recursos
federais recebidos à conta do instrumento em questão, o qual se encerrou em 30/1/2016.
Em cumprimento ao pronunciamento da unidade (peça 45), de 27/9/2019, foram efetuadas a
citação e a audiência das responsáveis ...
231
no art. 205 do Código Civil (CC), que é de 10 anos, contado da data de ocorrência da irregularidade
sancionada, nos termos do art. 189 do CC, sendo este prazo interrompido pelo ato que ordenar a
citação, a audiência ou a oitiva do responsável.
No caso em exame, não ocorreu a prescrição, uma vez que a irregularidade sancionada ocorreu
em 30/1/2016 (prazo para apresentação da prestação de contas), e o ato de ordenação da citação
ocorreu em 27/9/2019 (peça 45).
Cumulatividade de multas
Quanto à possibilidade de aplicação cumulativa das multas dos arts. 57 e 58, inciso I, da
Lei 8.443/1992, ainda que seja adequada a realização de citação e audiência das responsáveis, por força
do disposto no art. 209, §4º, do Regimento Interno do TCU, o Tribunal reconhece que existe relação de
subordinação entre as condutas de “não comprovação da aplicação dos recursos” e de “omissão na
prestação de contas”, sendo a primeira consequência da segunda, o que enseja, na verificação das duas
irregularidades, a aplicação da multa do art. 57, com o afastamento da multa do art. 58, inciso I, em
atenção ao princípio da absorção (Acórdão 9579/2015 - TCU - 2ª Câmara, Relator Ministro Vital do
Rêgo; Acórdão 2469/2019 - TCU - 1ª Câmara, Relator Ministro Augusto Sherman).
Conforme leciona Cezar Bitencourt (Tratado de Direito Penal: parte geral - 8ª Edição - São Paulo:
Saraiva, 2003. Pg. 565), na absorção, “(...) a pena do delito mais grave absorve a pena do delito menos
grave, que deve ser desprezada”. No caso concreto, a “omissão no dever de prestar contas”, embora
seja uma irregularidade autônoma, funciona como fase ou meio para a consecução da “não
comprovação da aplicação dos recursos”, havendo clara relação de interdependência entre essas
condutas. Dessa forma, recaindo as duas ocorrências num mesmo gestor, deve prevalecer a pena do
delito mais grave, qual seja, a multa do art. 57, da Lei 8.443/1992.
Cumpre observar, ainda, que a conduta das responsáveis, consistente nas irregularidades “não
comprovação da boa e regular aplicação dos recursos federais repassados em face da omissão no dever
de prestar contas” e “não cumprimento do prazo para apresentação de prestação de contas pelo gestor
dos recursos”, configura violação não só às regras legais, mas também aos princípios basilares da
administração pública, eis que, em última análise, ocorre o comprometimento da necessária satisfação à
sociedade sobre o efetivo emprego dos recursos públicos postos à disposição da municipalidade, por
força do instrumento de repasse em questão.
Nesses casos, em que fica evidente a falta de transparência e lisura, não há como afastar as
suspeitas sempre presentes de que a totalidade dos recursos públicos federais, transferida ao município,
tenha sido integralmente desviada, em prol de gestor ímprobo, ou de pessoas por ele determinadas, a
revelar grave inobservância de dever de cuidado no trato com a coisa pública, isto é, ato praticado com
culpa grave, pois, na espécie, a conduta do responsável se distancia daquela que seria esperada de um
administrador público minimante diligente, num claro exemplo de erro grosseiro a que alude o art. 28 do
Decreto-lei 4.657/1942 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), incluído pela Lei
13.655/2018 (Acórdão 1689/2019-Plenário, Relator: Ministro AUGUSTO NARDES; Acórdão
2924/2018-Plenário, Relator: Ministro José Mucio Monteiro; Acórdão 2391/2018-Plenário, Relator:
Ministro Benjamin Zymler).
Do desfecho
Em se tratando de processo em que as partes interessadas não se manifestaram acerca das
irregularidades imputadas, não há elementos para que se possa efetivamente aferir e reconhecer a
ocorrência de boa-fé na conduta das responsáveis, podendo este Tribunal, desde logo, proferir o
julgamento de mérito pela irregularidade das contas, conforme os termos dos §§ 2º e 6º do art. 202 do
Regimento Interno do TCU (Acórdãos 2.064/2011-TCU-1ª Câmara – relator Min. Ubiratan Aguiar,
6.182/2011-TCU-1ª Câmara – relator Min. Weber de Oliveira, 4.072/2010-TCU-1ª Câmara – Relator
Min. Valmir Campelo, 1.189/2009-TCU-1ª Câmara – Relator Min. Marcos Bemquerer, e 731/2008-TCU-
Plenário – Relator Min. Aroldo Cedraz).
Dessa forma, as responsáveis devem ser consideradas revéis, nos termos do art. 12, §3º, da
Lei 8.443/1992, devendo as contas da Editora Atos Comércio de Livros Ltda. (CNPJ: 18.036.008/0001-
233
73) e da Sra. Rebecca Brogglio Pivetta (CPF: 364.786.638-50) serem julgadas irregulares, condenando-
os ao débito apurado e aplicando-lhes a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992.
CONCLUSÃO
Em face da análise promovida na seção “Exame Técnico”, verifica-se que as responsáveis não
lograram comprovar a boa e regular aplicação dos recursos, e, instadas a se manifestar, optaram pelo
silêncio, configurando a revelia, nos termos do §3º, do art. 12, da Lei 8.443/1992. Ademais, inexistem
nos autos elementos que demonstrem a boa-fé das responsáveis ou a ocorrência de outras excludentes de
culpabilidade. Verifica-se também que não houve a prescrição da pretensão punitiva, conforme análise
já realizada.
Tendo em vista que não constam dos autos elementos que permitam reconhecer a boa-fé das
responsáveis, sugere-se que as suas contas sejam julgadas irregulares, nos termos do art. 202, § 6º, do
Regimento Interno do TCU, com a imputação do débito atualizado monetariamente e acrescido de juros
de mora, nos termos do art. 202, §1º do Regimento Interno do TCU, descontado o valor eventualmente
recolhido, com a aplicação da multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
Diante do exposto, submetemos os autos à consideração superior, propondo ao Tribunal de Contas
da União:
a) considerar revéis a Editora Atos Comércio de Livros Ltda. (CNPJ: 18.036.008/0001-73) e
a Sra. Rebecca Brogglio Pivetta (CPF: 364.786.638-50), para todos os efeitos, dando-se prosseguimento
ao processo, com fulcro no art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992;
b) julgar irregulares, nos termos dos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas “a” e “c”, § 2º,
da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com arts. 1º, inciso I, 209, incisos I e
III, 210 e 214, inciso III, do Regimento Interno/TCU, as contas da Editora Atos Comércio de Livros Ltda.
(CNPJ: 18.036.008/0001-73) e da Sra. Rebecca Brogglio Pivetta (CPF: 364.786.638-50), condenando-as
ao pagamento da importância a seguir especificada, atualizada monetariamente e acrescida dos juros de
mora, calculada a partir das datas discriminadas até a data da efetiva quitação do débito, fixando-lhes o
prazo de quinze dias, para que comprovem, perante o Tribunal, o recolhimento da referida quantia aos
cofres do Fundo Nacional de Cultura, nos termos do art. 23, inciso III, alínea “a”, da citada lei;
b.1) Valor histórico do débito e data de origem:
Data de ocorrência Valor histórico (R$) Identificador da parcela
12/12/2014 400.000,00 D2
29/8/2018 138,00 C1
Valor do débito atualizado, com juros, até 3/4/2020: R$ 597.019,58 (peça 56)
c) aplicar, individualmente, à Editora Atos Comércio de Livros Ltda. (CNPJ:
18.036.008/0001-73) e à Sra. Rebecca Brogglio Pivetta (CPF: 364.786.638-50) a multa prevista no
art. 57 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 267 do Regimento Interno, fixando-lhes o prazo de quinze dias, a
contar da notificação, para que comprovem, perante o Tribunal (art. 214, III, a, do Regimento Interno do
TCU), o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a
data do acórdão que vier a ser proferido por este Tribunal até a do efetivo recolhimento, se paga após o
vencimento, na forma da legislação em vigor;
d) informar à Sra. Rebecca Brogglio Pivetta (CPF: 364.786.638-50) que, caso se demonstre,
por via recursal, a correta aplicação dos recursos, e não se justifique a omissão da prestação de contas,
o débito poderá ser afastado, mas permanecerá a irregularidade das contas, dando-se ensejo à aplicação
da multa prevista no art. 58, inciso I, da Lei 8.443/1992.
e) autorizar, desde logo, a cobrança judicial da dívida, caso não atendida a notificação, na
forma do disposto no art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992;
f) autorizar também, desde logo, se requerido, com fundamento no art. 28, inciso I, da Lei
8.443, de 1992 c/c o art. 217, §§ 1º e 2º do Regimento Interno, o parcelamento da dívida em até 36
parcelas, incidindo sobre cada parcela, corrigida monetariamente, os correspondentes acréscimos legais
234
fixando- lhe o prazo de quinze dias, a contar do recebimento da notificação, para comprovar perante o
Tribunal o recolhimento da primeira parcela, e de trinta dias, a contar da parcela anterior, para
comprovar os recolhimentos das demais parcelas, devendo incidir sobre cada valor mensal, atualizado
monetariamente, os juros de mora devidos, no caso do débito, na forma prevista na legislação em vigor;
g) alertar as responsáveis de que a falta de comprovação do recolhimento de qualquer
parcela importará o vencimento antecipado do saldo devedor nos termos do § 2º do art. 217 do
Regimento Interno deste Tribunal;
h) enviar cópia do Acórdão a ser prolatado, bem como do Relatório e do Voto que o
fundamentarem, à Procuradoria da República no Estado de São Paulo, nos termos do § 3º do art. 16 da
Lei 8.443/1992 c/c o § 7º do art. 209 do Regimento Interno do TCU, para adoção das medidas cabíveis
i) enviar cópia do Acórdão que vier a ser proferido à Secretaria Especial da Cultura do
Ministério da Cidadania, sucessora do Ministério da Cultura (MinC), e as responsáveis, para ciência,
informando que a presente deliberação, acompanhada do Relatório e do Voto que a fundamenta, está
disponível para a consulta no endereço www.tcu.gov.br/acordaos, além de esclarecer que, caso
requerido, o TCU poderá fornecer sem custos as correspondentes cópias, de forma impressa.”
O Ministério Público junto ao TCU manifestou-se de acordo com a unidade técnica.
É o relatório.
VOTO
Trata-se de tomada de contas especial instaurada em vista da omissão no dever de prestar contas dos
recursos captados pela proponente Editora Atos Comércio de Livros Ltda., com base na Lei 8.313/1991
(Lei de Incentivo à Cultura).
2.A empresa captou R$ 400.000,00, para execução do projeto “Compartilhando Sorrisos”, o qual
tinha por objeto a realização de uma exposição de artes plásticas em três capitais (Recife/PE, São
Paulo/SP e Rio de Janeiro/RJ) (Portaria-MinC 701, de 18/12/2013 – peça 6, p. 2).
3.O período previsto para a execução do projeto foi de 12/12/2014 a 31/12/2015 e o prazo para a
prestação de contas expirou em 30/1/2016, conforme Instrução Normativa Minc 1/2013, vigente à época
(peça 36, p. 2).
4.Embora tenham sido notificadas a prestar contas dos recursos captados, a Editora Atos Comércio
de Livros Ltda. e sua sócia-administradora Rebecca Brogglio Pivetta não apresentaram a prestação de
contas dos recursos captados (peça 36, p. 4)
5.Devidamente citadas, os responsáveis optaram por permanecer silentes. Dessa forma, de acordo
com o art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992, estão caracterizadas as suas revelias, cabendo dar prosseguimento
ao processo.
II
6.Como é sabido, todo aquele que utiliza ou gerencia recursos públicos, por obrigação
constitucional e legal, submete-se ao dever de demonstrar o correto emprego dos valores federais, nos
termos dos arts. 70, parágrafo único, e 37, caput, da Constituição de 1988 e do art. 93 do Decreto-Lei
200/1967. Nesse passo, todo aquele que utiliza ou gerencia recursos públicos, por obrigação
constitucional e legal, submete-se ao dever de demonstrar o correto emprego dos valores federais, nos
termos dos arts. 70, parágrafo único, e 37, caput, da Constituição de 1988 e do art. 93 do Decreto-Lei 200,
de 25 de fevereiro de 1967.
7.Em outras palavras, compete ao responsável demonstrar a correta utilização dos recursos públicos
que lhe foram confiados e, na medida em que violado o dever jurídico de prestar contas, nasce para o
responsável a obrigação de ressarcir os valores correspondentes. Isso porque, nessa hipótese, há a
presunção relativa de que os recursos repassados não foram aplicados corretamente.
8.Dessa forma, em face da ausência de elementos capazes de demonstrar nos autos a boa e regular
aplicação dos recursos em questão e de permitir a conclusão pela boa-fé, alinho-me ao encaminhamento
sugerido pela unidade técnica e endossado pelo Parquet especializado, no sentido de julgar irregulares as
235
presentes contas com a condenação solidária das responsáveis pelo total dos recursos captados (R$
400.000,00), abatido do recolhimento o valor de R$ 138,00.
9.Por fim, tendo em vista a reprovabilidade da conduta das responsáveis, que deixaram de
comprovar a regular aplicação dos recursos públicos federais recebidos, infringindo dever legal e
constitucional, bem como a magnitude do dano causado, deve ser aplicada, individualmente, a multa
prevista no artigo 57 da Lei 8.443/1992, no valor de R$ 52.000,00 (cerca de 10% do valor atualizado do
débito).
Ante o exposto, acolhendo os pareceres precedentes, cujos fundamentos incorporo como razões de
decidir, manifesto-me por que o Tribunal aprove o acórdão que ora submeto à apreciação deste
Colegiado.
1. Processo nº TC 033.811/2019-9.
2. Grupo I – Classe de Assunto: II – Tomada de contas especial
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Responsáveis: Editora Atos Comercio de Livros Ltda. (18.036.008/0001-73); Rebecca Brogglio
Pivetta (364.786.638-50).
4. Órgão/Entidade: Secretaria Especial de Cultura.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (SecexTCE).
8. Representação legal:
8.1. Alírio Carvalho de Araújo Júnior (OAB/SP 305.232); Fernando de Albuquerque Rocco
(OAB/SP 325.850); Mônica Raquel Gomes Lima (OAB/SP 423.386) e Regis Coppini Meireles de Lima
(191.774/OAB-SP), representando Rebecca Brogglio Pivetta
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada devido à
omissão no dever de prestar contas de recursos captados com fulcro na Lei 8.313/1991 (Lei Federal de
Incentivo à Cultura),
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
ante as razões expostas pelo Relator em:
9.1.julgar irregulares as contas da sra. Rebecca Brogglio Pivetta e da Editora Atos Comércio de
Livros Ltda., condenando-as, solidariamente, ao pagamento das quantias abaixo relacionadas, com a
incidência dos devidos encargos legais, calculados a partir das datas correspondentes até o efetivo
recolhimento, na forma da legislação em vigor, nos termos dos arts. 1°, inciso I, 16, inciso III, alíneas “a”
e “c”, 19 e 23, inciso III, da Lei 8.443/1992:
RELATÓRIO
Adoto, como relatório, com alguns ajustes de forma, a instrução elaborada no âmbito da Secretaria
de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (SecexTCE) inserta à peça 31:
“INTRODUÇÃO
3. Cuidam os autos de tomada de contas especial instaurada pela Finep – Financiadora de
Estudos e Projetos, empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento,
em desfavor da Fundação José Américo (FJA) e de seus ex-dirigentes Eugênio Pacelli Trigueiro Pereira
e Roberto Maia Cavalcanti, em virtude de rejeição de prestação de contas do Convênio 01.10.0526.00
(peça 2, p. 34-50), celebrado entre aquela empresa pública e a fundação de apoio indicada, com a
interveniência e co-financiamento da empresa privada Nanox Tecnologia S.A., com recursos do Fundo
237
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, e que tinha como objeto a execução do projeto
intitulado ‘Rede Interdisciplinar de Nanocompósitos’, nos termos do plano de trabalho aprovado (peça
2, p. 54-88).
HISTÓRICO
2.Os recursos teriam sido repassados em parcela única, na data de 23/11/2010, no valor de R$
1.637.950,00, conforme informação consignada no relatório do tomador de contas (peça 2, p. 578-593),
por meio da ordem bancária 2010OB804386. Não constam dos autos os extratos bancários da conta
corrente específica para trânsito dos valores, que não teriam sido enviados pelo convenente.
3.O convênio apresentava vigência original de 24 meses desde a data de sua assinatura, a qual não
foi aposta no termo (peça 2, p. 49-50). Consta apenas a informação de que o instrumento teve extrato
publicado na imprensa oficial em 16/11/2010 (peça 2, p. 34). O prazo para a apresentação da prestação
de contas final seria de 60 dias a contar do final da vigência, na forma da cláusula sétima do instrumento
(peça 2, p. 45).
4.O convenente encaminhou documentação, a qual intitulou de prestação de contas final,
compreendendo relatórios técnico e financeiro (peça 2, p. 95-106), em 16/1/2013.
5.O relatório técnico final foi analisado e aprovado (peça 2, p. 89-93).
6.Quanto ao relatório financeiro, foram levantadas pendências, reunidas no Relatório de visita de
acompanhamento financeiro de projetos (peça 2, p. 107-108; 110-112), decorrente de fiscalização
efetuada pela Finep, entre 21/10/2013 e 25/10/2013, as quais podem ser sintetizadas nos seguintes
substratos:
6.1. ausência de comprovação suficiente da existência dos pressupostos para realização de
contratações diretas, sem processo licitatório;
6.2. ausência de documentação comprobatória de despesas, no valor total de R$ 1.094.622,15; e
6.3. ausência de atesto de recebimento em documentos fiscais ou recibos empregados na prestação
de contas.
7.A partir destas constatações, a Finep deflagrou uma série de notificações aos ex-dirigentes da
fundação, para que suprissem as pendências apontadas. Apresentamos, abaixo, em demonstrativo
sintético, aquelas que lograram sucesso e também as frustradas, estas unicamente no que tange à
entidade convenente. Foram desprezadas as comunicações em duplicidade, porquanto a Finep utiliza
base de dados da empresa Serasa Experian, a qual reproduz informações coletadas de bancos de dados
privados, dentro de uma escala de probabilidades, disponibilizando várias alternativas de endereço dos
destinatários, como exemplificado nos autos (peça 2, p. 501-503):
Destinatário Localização nos autos Recebimento
Fundação José (peça 2, p. 109-112; 117- Não houve; foram publicados editais (peça 2, p.
Américo 120; 510-514; 516-520) 125-126; 565-566), em 25/3/2016 e 23/2/2018
Boanerges Felix da (peça 2, p. 127-143) 6/8/2016 - (peça 2, p. 145),
Silva
Sérgio Martins de (peça 2, p. 146-161) 7/4/2016 - (peça 2, p. 162)
Carvalho Santiago
Luis Enok Gomes da Peça 2, p. 200-215 11/4/2016 - (peça 2, p. 217)
Silva
Gesse Gomes Meira Peça 2, p. 236-251 8/4/2016 - (peça 2, p. 252)
Eugênio Pacelli Peça 2, p. 520-525 18/1/2018 - (peça 2, p. 527)
Trigueiro Moreira
Roberto Maia Peça 2, p. 435-450 17/1/2017 - (peça 2, p. 452)
Cavalcanti
8.Nessas notificações, a Finep apontou, ainda, a ausência de envio da prestação de contas final, o
que é contraditório com a própria providência requerida nesses expedientes, qual seja, o reenvio da
prestação de contas final, inicialmente encaminhada em 16/1/2013, onde o formulário específico da
238
na parte entendida como inadimplida, é que todos os recursos disponibilizados foram efetivamente
empregados na consecução desse objeto, e não alhures, em destinações nobres ou não. Ou,
contemplando o tema de outro ângulo, se não houve duplicidade de financiamento, com enriquecimento
sem causa do convenente ou de terceiros.
20.Não ocorreu, ao contrário do sustentado pela Finep, uma ‘omissão do dever de prestar contas
financeira’, situação identificada como ensejadora do débito apurado, conforme registrado no relatório
do tomador de contas (peça 2, p. 582). As contas foram prestadas, inclusive no tocante à execução
financeira, como asseverado em todas as notificações empreendidas, relacionadas as exitosas no item 7
desta instrução. Entretanto, como documentado no relatório de visita de acompanhamento financeiro de
projetos (peça 2, p. 107-108; 110-112), decorrente de fiscalização (documental e à distância) efetuada
pela Finep, entre 21/10/2013 e 25/10/2013, parte do acervo estaria comprometido diante das falhas e
lacunas ali apontadas, como ausência de documentação comprobatória de parte das despesas realizadas
e de atestados de recebimento dos bens e serviços cuja aquisição e incorporação ao objeto se pretendia
provar.
21.A ausência de documentação comprobatória de parte das despesas realizadas é anomalia
incontornável sem recurso a outras fontes de prova, que não estavam disponíveis ou não existiam. É
irregularidade capital, a qual, se não contornada, enseja o dever de restituir os recursos
correspondentes. Esse conjunto de dispêndios rejeitados por esse vício foi quantificado no valor de R$
1.094,622,15. As datas e valores individualizados desses dispêndios foram extraídos dos demonstrativos
que integram a prestação de contas (peça 2, p. 98-105).
22.A falta de registros de atesto do recebimento de bens e serviços, por seu turno, a despeito da
exigência legal, mesmo porque passível de suprimento pelo próprio convenente, seria incapaz de,
isoladamente, inquinar a realização de despesas.
23.As contratações diretas em que alegadamente não haveriam sido satisfeitos os pressupostos
legais, a despeito da gravidade dos supostos ilícitos, não representam necessariamente dano ao erário e
não podem ensejar devolução de recursos. Em tese, a contratação irregular sem licitação poderia
ensejar a realização de audiência, uma vez que tal ocorrência subsiste independentemente da conduta
que gerou o dano. Veja-se que o débito apurado nos autos poderia decorrer de contratação direta ou de
prévia licitação. Dito de outro modo, a existência de licitação não se afiguraria como óbice à
consumação das irregularidades sob investigação, considerando que as anomalias se deram na execução
do contrato. Contudo, considerando a ausência de evidências que suportem a ocorrência do ilícito, as
quais somente poderiam ser coligidas por meio de diligência, penso recomendável que seja dispensada
esta imputação.’
14. A modulação do débito manteve-se restrita à parcela que fora efetivamente quantificada e que
representava efetivamente um dano ao erário passível de cobrança, qual seja, o valor de
R$ 1.094.622,15, de responsabilidade solidária entre a Fundação José Américo e seus ex-dirigentes
Eugênio Pacelli Trigueiro Moreira e Roberto Maia Cavalcanti. Como critério para o estabelecimento
das datas de ocorrência, foram empregados os registros consignados pelos próprios gestores na
prestação de contas final, nos demonstrativos que a integravam (relação de pagamentos efetuados - peça
2, p. 98-105).
15. Com tais considerações, foi propugnada pela unidade técnica a citação dos responsáveis, no
seguinte formato:
‘27.1 A realização de citação dos responsáveis abaixo nominados, com fundamento nos arts. 10, §
1º, e 12, incisos I e II, da Lei 8.443/1992 c/c o art. 202, incisos I e II, do RI/TCU, para que, no prazo de
quinze dias, apresentem alegações de defesa e/ou recolham aos cofres aos cofres do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia as quantias abaixo indicadas, atualizadas monetariamente a
partir das respectivas datas até o efetivo recolhimento, abatendo-se na oportunidade as quantias
eventualmente ressarcidas, na forma da legislação em vigor:
Data Valor (R$)
11/7/2012 501,50
240
11/7/2012 501,50
11/7/2012 1.103,00
15/12/2010 6.278,70
27/12/2011 59.031,00
30/3/2012 1.655,70
30/3/2012 614,00
10/4/2012 10.000,00
10/4/2012 2.400,00
30/4/2012 39.532,00
1/12/2010 71.000,00
23/11/2011 66.550,26
30/01/2012 121,48
1/2/2012 3.777,34
27/3/2012 91,11
30/3/2012 46.320,00
10/4/2012 26.690,00
10/4/2012 17.935,00
25/7/2012 910,00
6/2/2010 3.981,90
6/2/2010 946,05
11/5/2011 5.100,00
8/6/2011 99.120,85
3/8/2011 399.662,76
28/11/2011 80.000,00
27/12/2011 29.998,00
2/7/2012 108.500,00
2/7/2012 12.300,00
Total 1.094.662,15
Valor atualizado em 11/10/2018 (sem juros): R$ 1.657.922,15
27.1.1 Responsável 1: Fundação José Américo (CNPJ 08.667.750/0001-23);
27.1.2 Responsável 2: Eugênio Pacelli Trigueiro Pereira (CPF 203.996.854-72), ex-Diretor
Executivo da Fundação José Américo (peça 2, p. 24-26);
27.1.3 Responsável 3: Roberto Maia Cavalcanti (CPF 007.812.684-35), ex-Diretor Adjunto da
Fundação José Américo (peça 2, p. 27-28);
27.2 Irregularidade: Impugnação parcial da prestação de contas do Convênio 01.10.0526.00,
celebrado entre a Finep e a Fundação José Américo, decorrente de ausência de documentação
comprobatória da realização de despesas relacionadas naquele âmbito;
27.3 Conduta: permitir, na qualidade de ordenadores de despesas da Fundação José Américo, a
realização de pagamentos desguarnecidos de suporte documental na execução financeira do Convênio
01.10.0526.00;
27.4 Evidências: Descrição constante do Anexo 1, Impropriedade 2, do Relatório de visita de
acompanhamento financeiro de projetos (peça 2, p. 110-111); Relação de Pagamentos Efetuados (peça
2, p. 98-105);
27.5 Dispositivos violados: art. 37, caput, c/c art. 70, parágrafo único da Constituição
Federal/1988, art. 93 do Decreto-Lei 200/67; art. 66, do Decreto 93.872/1986, art. 30 da Instrução
Normativa STN 1/1997, Cláusula Sétima, item 7.5 do termo do convênio 01.10.0526.00.’
16. O eminente relator, em singelo despacho (peça 9), determinou a realização da citação nesses
exatos moldes, o que foi operado pela unidade técnica responsável pelas comunicações processuais
(peça 30), usando bases de dados de sistemas corporativos à disposição do TCU:
241
Data da
Comunicação expedição Destinatário Resultado
Devolvido –
Ofício 6486/2019-SecexTCE Mudança (peça
(peça 13) 15/08/2019 Fundação José Américo 17)
Devolvido –
Ofício 6487/2019-SecexTCE Eugênio Paccelli Trigueiro Mudança (peça
(peça 14) 15/08/2019 Pereira 18)
Ofício 6488/2019-SecexTCE 20/08/2019
(peça 15) 15/08/2019 Roberto Maia Cavalcanti (peça 16)
Devolvido –
Ofício 10908/2019-Secomp-4 Mudança (peça
(peça 22) 28/11/2019 Fundação José Américo 24)
Devolvido -
Número
Ofício 10910/2019-Secomp-4 Eugênio Paccelli Trigueiro inexistente
(peça 23) 28/11/2019 Pereira (peça 25)
Edital 0040/2020-Secomp-4 Publicação em
(peça 26) 24/01/2020 Fundação José Américo 28/01/2020
Edital 0041/2020-Secomp-4 Eugênio Paccelli Trigueiro Publicação em
(peça 27) 24/01/2020 Pereira 28/01/2020
17. Apesar de regularmente citado, o Sr. Roberto Maia Cavalcanti deixou transcorrer in albis o
prazo regimental de 15 dias que lhe foi concedido para apresentar alegações de defesa e razões de
justificativa e/ou efetuar o recolhimento do débito, motivo pelo qual se impõe o reconhecimento da
revelia de que trata o art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992. Deve ser ressaltado que a forma de contagem de
prazos instituída pelo vigente Código de Processo Civil (lei 13.105/2015), em dias úteis, é inaplicável à
processualística de controle externo (Acórdão 2.224/2018-Plenário-Rel. Min. Marcos Bemquerer), que
segue sendo regida pela Resolução TCU 170/2004 nesse particular.
18. Foram esgotadas as possibilidades de localização dos demais destinatários, a saber, a
Fundação José Américo e o Sr. Eugênio Pacelli Trigueiro Pereira, mediante o uso de bases de dados
corporativos à disposição do Tribunal (peças 19-21). As tentativas efetuadas com o emprego dos
endereços disponíveis restaram frustradas (peças 17-18 e 24-25).
19. Não restando alternativa à unidade técnica, foi efetuada citação editalícia dos referidos
responsáveis (peças 26-27).
20. Sendo aplicável, em caráter subsidiário, a legislação processual civil vigente aos processos de
controle externo do TCU, na forma do art. 298 de seu Regimento Interno, e inexistente detalhamento, na
Resolução TCU 170/2004, sobre os requisitos de validade das notificações que compõem a fase externa
da tomada de contas especial, deve-se analisar a situação já sob a égide do Código de Processo Civil
vigente (Lei 13.105/2015), eis que os fatos são posteriores a sua alongada vacatio legis, que teve termo
final em 18/3/2016. O código, no capítulo referente à comunicação dos atos processuais, assim dispõe
(grifamos):
‘Art. 256. A citação por edital será feita:
I - quando desconhecido ou incerto o citando;
II - quando ignorado, incerto ou inacessível o lugar em que se encontrar o citando;
III - nos casos expressos em lei.
§ 1o Considera-se inacessível, para efeito de citação por edital, o país que recusar o cumprimento
de carta rogatória.
§ 2o No caso de ser inacessível o lugar em que se encontrar o réu, a notícia de sua citação será
divulgada também pelo rádio, se na comarca houver emissora de radiodifusão.
242
27. Finalizada essa breve retrospectiva, bem como o introito analítico, emergindo na apreciação
meritória, reconhece-se que os apontamentos cabíveis e necessários ao deslinde da matéria não são
extensos.
28. Não exsurgiram constatações posteriores que infirmem o entendimento externado pela unidade
técnica na abordagem preliminar, não somente porque os responsáveis não apresentaram alegações de
defesa como inexistem nos autos elementos que o favoreçam, não abarcados inicialmente.
29. Em se tratando de processo em que a parte interessada não se manifestou acerca das
irregularidades imputadas, não há elementos para que se possa efetivamente aferir e reconhecer a
ocorrência de boa-fé na conduta dos responsáveis, podendo este Tribunal, desde logo, proferir o
julgamento de mérito pela irregularidade das contas, conforme os termos dos §§ 2º e 6º do art. 202 do
Regimento Interno do TCU (Acórdãos 2.064/2011-1ª Câmara – Rel. Min. Ubiratan Aguiar; 6.182/2011-
1ª Câmara – Rel. Min. Weder de Oliveira, 4.072/2010-1ª Câmara – Rel. Min. Valmir Campelo;
1.189/2009-1ª Câmara – Rel. Min. Marcos Bemquerer; 731/2008-Plenário; Rel. Min. Aroldo Cedraz).
30. No tocante à prescrição punitiva, temos que, conforme o Acórdão 1.441/2016-Plenário, o qual
uniformizou a jurisprudência acerca dessa questão, a prescrição subordina-se ao prazo decenal geral
indicado no art. 205 do Código Civil, contado da data de ocorrência da irregularidade sancionada, nos
termos do art. 189 daquele diploma, sendo este prazo interrompido pelo ato que ordenar a citação, a
audiência ou a oitiva do responsável.
31. No caso específico, é preciso estabelecer o termo inicial desse interregno, uma vez que as
irregularidades sancionadas se verificaram no decorrer de um intervalo temporal, tendo sido o débito
decomposto em dezenas de parcelas, cada uma correspondendo a uma data de ocorrência. O critério que
se adota comumente, em casos da espécie, é considerar como termo inicial do prazo prescricional a data
limite para a apresentação da prestação de contas pelo aplicador dos recursos. Essa opção apresenta
como fundamento o princípio da actio nata, pois, segundo seus defensores, representaria o termo inicial
aquele momento em que o Estado teria condições de agir na defesa de seus interesses, quando se
mostrasse necessário.
32. Tal critério é passível de críticas, na medida em que a prestação de contas possui um caráter
declaratório, e não constitutivo, das referências fáticas que se relacionam com as possíveis
irregularidades que se habilitam a ser objeto de sanção. Desconsidera, sobretudo, o poder-dever estatal
de acompanhar pari passu a execução da ação governamental, com potencial ablativo das
desconformidades. Opera logicamente em desfavor do agente punível. Sua adoção será, contudo,
sugerida, em coerência com a linha interpretativa mantida por esta Corte.
33. No caso vertente, não ficou documentada a data exata do prazo final para esse mister, na
medida em que era função da data de assinatura do instrumento, a qual não foi aposta nos autos. É,
contudo, posterior à da data da publicação do extrato do convênio na imprensa oficial, qual seja,
16/11/2010 (peça 2, p. 34), não sendo anterior à data de 14/10/2010, quando foi apresentado à Finep um
formulário de dados cadastrais pelo proponente (peça 2, p. 33). Como o prazo prescricional foi
interrompido pelo despacho autorizativo da citação, na data de 8/7/2019 (peça 9), encontra-se em plena
fluência.
34. Por último, deve ser ressaltado que a prescrição não afeta o julgamento das contas e o débito,
já que a pretensão de ressarcimento ao erário é considerada imprescritível, ressalvadas hipóteses
derivadas de ilícito civil, onde se infringem normas de direito privado (Súmula 282 do TCU; Recurso
Extraordinário 669.069/MG), em condição resolutiva de inflexão da intelecção do Supremo Tribunal
Federal sobre a matéria.
CONCLUSÃO
35. Diante da ausência de documentação comprobatória de parte das despesas relacionadas na
prestação de contas dos recursos geridos na órbita do Convênio 01.10.0526.00, gerando rejeição parcial
das contas por parte do repassador, bem como a inércia verificada a partir das citações que foram
endereçadas aos agentes responsabilizados, que abdicaram da apresentação de alegações de defesa e,
por último, da inexistência de elementos probatórios que infirmem o chamamento efetuado e suas bases,
244
a irregularidade das contas e a condenação em débito, bem como a aplicação da multa do art. 57 da lei
8.443/92 são o corolário natural do quadro.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
36. Diante do exposto, submeto os autos à consideração superior, fazendo-os acompanhar das
seguintes proposições:
36.1. decretar a revelia da Fundação José Américo (08.667.750/0001-23), bem como dos Srs.
Eugênio Pacelli Trigueiro Pereira (203.996.854-72) e Roberto Maia Cavalcanti (007.812.684-35);
36.2. julgar irregulares as contas da Fundação José Américo (08.667.750/0001-23), bem como dos
Srs. Eugênio Pacelli Trigueiro Pereira (203.996.854-72) e Roberto Maia Cavalcanti (007.812.684-35),
com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas ‘b’ e ‘c’, 19, caput, e 23, inciso III, da Lei
8.443/1992 c/c com os arts. 1º, inciso I, 209, incisos II e III, 210 e 214, inciso III, do Regimento Interno
do TCU, condenando-a ao pagamento das importâncias a seguir especificadas e fixando-lhes o prazo de
15 (quinze) dias para que comprovem perante este Tribunal, em respeito ao art. 214, inciso III, alínea
‘a’, do Regimento Interno do TCU, o recolhimento da dívida aos cofres da Finep – Financiadora de
Estudos e Projetos, atualizada monetariamente e acrescida de juros de mora calculados a partir das
datas indicadas até a data do efetivo recolhimento e com o abatimento de valores acaso já satisfeitos, nos
termos da legislação vigente:
Data Valor (R$)
11/7/2012 501,50
11/7/2012 501,50
11/7/2012 1.103,00
15/12/2010 6.278,70
27/12/2011 59.031,00
30/3/2012 1.655,70
30/3/2012 614,00
10/4/2012 10.000,00
10/4/2012 2.400,00
30/4/2012 39.532,00
1/12/2010 71.000,00
23/11/2011 66.550,26
30/01/2012 121,48
1/2/2012 3.777,34
27/3/2012 91,11
30/3/2012 46.320,00
10/4/2012 26.690,00
10/4/2012 17.935,00
25/7/2012 910,00
6/2/2010 3.981,90
6/2/2010 946,05
11/5/2011 5.100,00
8/6/2011 99.120,85
3/8/2011 399.662,76
28/11/2011 80.000,00
27/12/2011 29.998,00
2/7/2012 108.500,00
2/7/2012 12.300,00
Total 1.094.662,15
Valor atualizado em 11/10/2018 (sem juros): R$ 1.739.619,50
245
36.3. aplicar aos responsáveis a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 267 do
Regimento Interno, com a fixação do prazo de quinze dias, a contar da notificação, para comprovar,
perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea ‘a’, do Regimento Interno), o recolhimento da dívida ao
cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do acórdão até a do efetivo
recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
36.4. autorizar, desde logo, a cobrança judicial das dívidas, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei
8.443/1992 c/c o art. 219, inciso II, do Regimento Interno do TCU, caso não atendida a notificação;
36.5. autorizar, desde logo, com fundamento no art. 26 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 217 do RI/TCU,
caso seja do interesse dos responsáveis, o parcelamento da dívida em até 36 (trinta e seis) parcelas,
incidindo sobre cada uma, corrigida monetariamente, os juros de mora devidos, sem prejuízo de alertá-
la de que, caso opte por essa forma de pagamento, a falta de comprovação do recolhimento de qualquer
parcela implicará o vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos do art. 26, parágrafo único, da
Lei 8.443/1992 c/c o art. 217, § 2º, do Regimento Interno do TCU;
36.6. encaminhar cópia da deliberação que vier a ser proferida ao Procurador-Chefe da
Procuradoria da República no Estado da Paraíba, nos termos do § 3º do art. 16 da Lei 8.443/1992 c/c o
§ 7º do art. 209 do Regimento Interno do TCU, para adoção das medidas que entender cabíveis; e
36.7. dar ciência da deliberação que vier a ser proferida nestes autos à Finep – Financiadora de
Estudos e Projetos, aos responsáveis e ao Assessor Especial de Controle Interno do Ministério da
Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.”
2.O sr. Diretor e o sr. Secretário da SecexTCE ratificaram a instrução acima (peças 32 e 33).
3.O representante do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (MP/TCU), em sua
intervenção regimental, acolheu o encaminhamento alvitrado pela unidade técnica (peça 34).
É o relatório.
VOTO
inequívoca, os gastos efetuados e o nexo de causalidade entre as despesas realizadas e os recursos federais
recebidos. Dessa forma, o responsável deve trazer aos autos informações consistentes que afastem as
irregularidades de forma cabal. Esse entendimento está assentado em diversos julgados, a exemplo dos
Acórdãos 8/2007-1ª Câmara, 41/2007-2ª Câmara, 143/2006-1ª Câmara, 706/2003-2ª Câmara, 533/2002-2ª
Câmara e 11/1997-Plenário, e encontra fundamento no art. 93 do Decreto-Lei 200/1967, o qual dispõe:
“Quem quer que utilize dinheiros públicos terá de justificar seu bom e regular emprego na conformidade
das leis, regulamentos e normas emanadas das autoridades competentes”.
21.Impõe-se apropriada, ainda, a aplicação da multa prevista nos arts. 19, caput, e 57 da Lei
8.443/1992. Para tanto, fixo o seu valor em R$ 165.000,00, correspondente a, aproximadamente, 10% do
valor atualizado do débito.
22.Ante o exposto, voto no sentido de que o Tribunal adote o acórdão que ora submeto à
deliberação desta 1ª Câmara.
1. Processo TC 036.372/2018-8
2. Grupo I – Classe de Assunto: II – Tomada de Contas Especial
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessados: Financiadora de Estudos e Projetos – Finep (33.749.086/0002-90) e Ministério da
Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
3.2. Responsáveis: Eugênio Paccelli Trigueiro Pereira (203.996.854-72), Roberto Maia Cavalcanti
(007.812.684-35) e Fundação José Américo (08.667.750/0001-23)
4. Entidade: Financiadora de Estudos e Projetos – Finep
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler
6. Representante do Ministério Público: Subprocurador-Geral Paulo Soares Bugarin
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (SecexTCE)
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
Vistos, relatados e discutidos estes autos de processo de tomada de contas especial instaurada pela
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em face da reprovação parcial da prestação de contas dos
recursos repassados por força do Convênio 01.10.0526.00,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
ante as razões expostas pelo relator, em:
9.1. com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas “b” e “c”, da Lei 8.443/1992 c/c os
arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com os arts. 1º, inciso I, 209, incisos II e III, 210 e 214, inciso
III, do RITCU, julgar irregulares as contas de Eugênio Paccelli Trigueiro Pereira (203.996.854-72),
Roberto Maia Cavalcanti (007.812.684-35) e da Fundação José Américo (08.667.750/0001-23),
condenando-os ao pagamento da quantia abaixo discriminada, com a fixação do prazo de 15 (quinze)
dias, a contar das notificação, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do
RITCU), o recolhimento da dívida aos cofres da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), atualizada
monetariamente e acrescida dos juros de mora, calculados a partir da data indicada até a do efetivo
recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor:
Data Valor (R$)
11/7/2012 501,50
11/7/2012 501,50
11/7/2012 1.103,00
15/12/2010 6.278,70
27/12/2011 59.031,00
248
30/3/2012 1.655,70
30/3/2012 614,00
10/4/2012 10.000,00
10/4/2012 2.400,00
30/4/2012 39.532,00
1º/12/2010 71.000,00
23/11/2011 66.550,26
30/01/2012 121,48
1º/2/2012 3.777,34
27/3/2012 91,11
30/3/2012 46.320,00
10/4/2012 26.690,00
10/4/2012 17.935,00
25/7/2012 910,00
6/2/2010 3.981,90
6/2/2010 946,05
11/5/2011 5.100,00
8/6/2011 99.120,85
3/8/2011 399.662,76
28/11/2011 80.000,00
27/12/2011 29.998,00
2/7/2012 108.500,00
2/7/2012 12.300,00
Total 1.094.662,15
9.2. aplicar aos srs. Eugênio Paccelli Trigueiro Pereira (203.996.854-72) e Roberto Maia Cavalcanti
(007.812.684-35) e à Fundação José Américo (08.667.750/0001-23) multa no valor de R$ 165.000,00
(cento e sessenta e cinco mil reais), nos termos do art. 57 da Lei 8.443/1992 c/c art. 267 do RITCU,
fixando-lhes o prazo de quinze dias, a contar das notificações, para comprovar, perante o Tribunal (art.
214, inciso III, alínea “a”, do RITCU), o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional,
atualizada monetariamente desde a data do presente acórdão até a data do efetivo recolhimento, se for
paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
9.3. autorizar, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial das dívidas,
caso não sejam atendidas as notificações;
9.4. autorizar, caso solicitado, o pagamento das dívidas em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais e
consecutivas, nos termos do art. 26 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 217 do RITCU, fixando o prazo de 15
(quinze) dias, a contar do recebimento da notificação, para comprovação perante o Tribunal do
recolhimento da primeira parcela, e de 30 (trinta) dias, a contar da parcela anterior, para comprovação do
recolhimento das demais parcelas, devendo incidir sobre cada valor mensal, atualizado monetariamente,
os juros de mora devidos, na forma prevista na legislação em vigor;
9.5. alertar aos responsáveis que a inadimplência de qualquer parcela acarretará o vencimento
antecipado do saldo devedor;
9.6. dar ciência da presente deliberação ao Procurador-Chefe da Procuradoria da República no
Estado da Paraíba, nos termos do § 3º do art. 16 da Lei 8.443/1992 c/c o § 7º do art. 209 do RITCU; e
9.7. dar ciência do presente acórdão aos responsáveis, à Finep e ao Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações.
RELATÓRIO
Cuidam os autos de pedido de reexame interposto por Mauro Henrique Gonzaga Teixeira contra o
Acórdão 1.139/2019-TCU-Primeira Câmara.
2.A deliberação recorrida apresentou o seguinte teor:
“VISTOS, relatados e discutidos estes autos de atos de concessão de aposentadoria de Juarez
Antônio Fistarol e Mauro Henrique Gonzaga Teixeira, ex-servidores da Superintendência Federal de
Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Estado do Paraná (SFA/PR), nos cargos, respectivamente, de
fiscal federal agropecuário e auditor fiscal federal agropecuário.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, diante
das razões expostas pelo relator, em:
9.1. considerar legal o ato de aposentadoria do Sr. Juarez Antônio Fistarol (peça 7), concedendo-lhe
o registro;
9.2. considerar ilegal a aposentadoria do Sr. Mauro Henrique Gonzaga Teixeira (peça 8), negando-
lhe o registro, nos termos do § 1º do art. 260 do Regimento Interno;
9.3. dispensar o ressarcimento das quantias indevidamente recebidas de boa-fé (enunciado 106 da
súmula da jurisprudência predominante do Tribunal);
9.4. determinar à Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Estado do
Paraná (SFA/PR) que:
9.4.1. no prazo de 15 (quinze) dias, faça cessar os pagamentos decorrentes do ato ora considerado
ilegal, sob pena de responsabilidade solidária da autoridade administrativa omissa;
9.4.2. no prazo de 15 (quinze) dias, dê ciência do inteiro teor desta deliberação ao Sr. Mauro
Henrique Gonzaga Teixeira, informando-lhe que o efeito suspensivo proveniente da interposição de
recurso não o exime da devolução dos valores percebidos indevidamente após a notificação sobre o
presente acórdão, em caso de não provimento do recurso porventura impetrado;
9.4.3. encaminhe, no prazo de 30 (trinta) dias, a este Tribunal, comprovantes da data em que os
interessados tomaram conhecimento da decisão desta Corte.”
250
‘Julgo parcialmente procedente o pedido deste mandado de injunção, para, reconhecendo a falta
de norma regulamentadora do direito à aposentadoria especial dos servidores públicos, remover o
obstáculo criado por essa omissão e, supletivamente, tornar viável o exercício, pelos substituídos neste
mandado de injunção, do direito consagrado no art. 40, § 4º, da Constituição do Brasil, nos termos do
artigo 57 da Lei nº 8.213/1991.’ (Grifei.)
28.Portanto, ao decidir o MI 880, entre vários outros semelhantes, o Supremo Tribunal Federal
supriu a lacuna existente na regulamentação do § 4º do art. 40 da CF/1988 com a fórmula estabelecida no
art. 57 da Lei 8.213/1991. Este último artigo, vale dizer, encontra-se assim redigido:
‘Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao
segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade
física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei.
§ 1º A aposentadoria especial, observado o disposto no art. 33 desta Lei, consistirá numa renda
mensal equivalente a 100% (cem por cento) do salário-de-benefício.
§ 2º A data de início do benefício será fixada da mesma forma que a da aposentadoria por idade,
conforme o disposto no art. 49.
§ 3º A concessão da aposentadoria especial dependerá de comprovação pelo segurado, perante o
Instituto Nacional do Seguro Social–INSS, do tempo de trabalho permanente, não ocasional nem
intermitente, em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante o período
mínimo fixado.
§ 4º O segurado deverá comprovar, além do tempo de trabalho, exposição aos agentes nocivos
químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, pelo
período equivalente ao exigido para a concessão do benefício.
§ 5º O tempo de trabalho exercido sob condições especiais que sejam ou venham a ser
consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectiva conversão ao
tempo de trabalho exercido em atividade comum, segundo critérios estabelecidos pelo Ministério da
Previdência e Assistência Social, para efeito de concessão de qualquer benefício.
§ 6º O benefício previsto neste artigo será financiado com os recursos provenientes da contribuição
de que trata o inciso II do art. 22 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, cujas alíquotas serão
acrescidas de doze, nove ou seis pontos percentuais, conforme a atividade exercida pelo segurado a
serviço da empresa permita a concessão de aposentadoria especial após quinze, vinte ou vinte e cinco
anos de contribuição, respectivamente.
§ 7º O acréscimo de que trata o parágrafo anterior incide exclusivamente sobre a remuneração do
segurado sujeito às condições especiais referidas no caput.
§ 8º Aplica-se o disposto no art. 46 ao segurado aposentado nos termos deste artigo que continuar
no exercício de atividade ou operação que o sujeite aos agentes nocivos constantes da relação referida
no art. 58 desta Lei.’
29.Em suma, por meio do § 4º do art. 40 da CF/1988, o legislador constituinte admitiu a concessão,
‘nos termos definidos em leis complementares’, de aposentadoria especial aos servidores públicos
portadores de deficiência ou que exerçam suas atividades em condições perigosas, penosas ou insalubres;
mais tarde, o que era, até então, apenas uma possibilidade foi materializado pela Corte Constitucional na
forma do caput do art. 57 da Lei 8.213/1991.
30.Todavia, é importante salientar, o STF jamais reconheceu aos servidores o direito de combinar o
regramento da aposentadoria especial com o regramento da aposentadoria comum, algo que, no âmbito do
regime geral de previdência (RGPS), é feito por meio da chamada contagem ponderada.
31.Efetivamente, a contagem ponderada, nos termos previstos no § 5º do art. 57 da Lei 8.213/1991,
consiste no aproveitamento, para efeito de aposentadoria comum, do tempo trabalhado em condições
insalubres, perigosas ou penosas de forma majorada, mediante a aplicação de um fator de conversão.
Tem-se, assim, uma aposentadoria comum ‘facilitada’, na qual o tempo de contribuição exigido é, na
prática, abreviado pela introdução de um tempo fictício, resultado da aplicação do fator de conversão.
253
32.Não se deve confundir, pois, a aposentadoria especial de que trata o § 4º do art. 40 da CF/1988
(admitida para os servidores públicos, como visto, nos termos dos diversos mandados de injunção
julgados pelo STF, mediante a aplicação analógica do caput do art. 57 da Lei 8.213/1991) com a
contagem ponderada de tempo de serviço prestado sob condições especiais para fins de aposentadoria
comum (prevista no § 5º do art. 57 da Lei 8.213/1991, não contemplado nos precedentes judiciais).’
5.11. É dizer: a CF/88, em nenhuma de suas disposições, assegurou o cômputo, de forma
ponderada, de tempo de serviço prestado em condições especiais para conversão em tempo de
contribuição. Muito pelo contrário, assim dispõe o § 10 do art. 40:
‘§ 10. A lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem de tempo de contribuição fictício.’
5.12. De mais a mais, é de se trazer à liça o seguinte excerto de voto do Excelentíssimo Senhor
Ministro Benjamin Zymler, por ocasião da apreciação do TC 023.238/2014-3 (Acórdão 1.639/2016–
TCU–1ª Câmara):
‘10.Posto isso, tem-se que uma outra questão, com contornos distintos, embora igualmente
envolvendo a aposentação de servidores submetidos a condições especiais de trabalho, foi também levada
ao descortino do STF. Refiro-me ao disposto no § 4º do art. 40 da Constituição Federal (CF):
Art. 40 .............................................................................................................................
§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos
abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis
complementares, os casos de servidores:
I - portadores de deficiência;
II - que exerçam atividades de risco;
III - cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física.’ (Redação dada pela Emenda Constitucional 47/2005.)
11.A respeito, decidiu o STF que o dispositivo é norma de eficácia limitada, dependente de
regulamentação por lei complementar (cf. RE-AgR 428511/DF, Relator: Min. SEPÚLVEDA
PERTENCE, Julgamento: 14/2/2006, Órgão Julgador: Primeira Turma; e MI 462/MG, Relator: Min.
MOREIRA ALVES, Julgamento: 6/9/1995, Órgão Julgador: Tribunal Pleno).
12.Nesse cenário, a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (CONDSEF) e
diversos outros sindicatos impetraram mandado de injunção coletivo perante aquela Corte, autuado sob o
MI 880, objetivando, em síntese, a concessão de aposentadoria especial, tal como prevista no art. 40, § 4º,
da CF, para os seus substituídos, em razão do exercício de atividades funcionais em condições insalubres.
(...)
19.De fato, o próprio Supremo Tribunal Federal cuidou de afastar qualquer conexão entre as
questões (aposentadoria especial, de um lado, e contagem ponderada, de outro), in verbis:
‘EMENTA: Agravo regimental em mandado de injunção. Pedido de conversão do tempo de serviço.
Ausência de previsão constitucional. Recurso provido.
1. O mandado de injunção volta-se à colmatagem de lacuna legislativa capaz de inviabilizar o gozo
de direitos e liberdades constitucionalmente assegurados, bem assim de prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania (art. 5º, LXXI, CF/1988).
2. É imprescindível, para o exame do writ, a presença de dois pressupostos sucessivos: i) a
verificação da omissão legislativa e ii) a efetiva inviabilidade do gozo de direito, faculdade ou
prerrogativa consagrados constitucionalmente em razão do citado vácuo normativo.
3. O preceito constitucional em foco na presente demanda não assegura a contagem diferenciada
do tempo de serviço e sua averbação na ficha funcional; o direito subjetivo corresponde à aposentadoria
em regime especial, devendo esta Suprema Corte atuar na supressão da mora legislativa, cabendo à
autoridade administrativa a análise de mérito do direito, após exame fático da situação do servidor.
4. A pretensão de garantir a conversão de tempo especial em tempo comum mostra-se incompatível
com a presente via processual, uma vez que, no mandado de injunção, cabe ao Poder Judiciário, quando
verificada a mora legislativa, viabilizar o exercício do direito subjetivo constitucionalmente previsto (art.
40, § 4º, da CF/88), no qual não está incluído o direito vindicado.
254
5. Agravo regimental provido para julgar improcedente o mandado de injunção.’ (MI 2.123
AgR/DF, Relator p/ acórdão Ministro Dias Toffoli, Plenário, in DJe 1/8/2013 – grifou-se.)
20.A Súmula Vinculante 33, citada pelo recorrente, foi aprovada precisamente com fulcro nesses
precedentes do próprio STF (art. 103-A da C.F.), não sendo possível elastecer seu alcance em
contrariedade à jurisprudência que lhe deu ensejo.’
5.13. Observa-se que o recorrente almeja que o tempo de serviço prestado entre 12/12/1990 e
30/11/2016 seja computado com um acréscimo de 40%.
5.14. Assim, é de se considerar o entendimento deste Tribunal plasmado no Acórdão 2008/2006–
TCU–Plenário, o qual tem caráter normativo:
‘O servidor público que exerceu, como celetista, no serviço público, atividades insalubres, penosas
e perigosas, no período anterior à vigência da Lei 8.112/1990, tem direito à contagem especial de tempo
de serviço para efeito de aposentadoria; todavia, para o período posterior ao advento da Lei 8.112/1990, é
necessária a regulamentação do art. 40, § 4º, da Constituição Federal, que definirá os critérios e requisitos
para a respectiva aposentadoria.’
5.15. Ocorre que o Sr. Mauro Henrique Gonzaga Teixeira, que averbou tempo insalubre após o
advento da Lei 8.112/1990, aposentou-se com fundamento no art. 3º da Emenda Constitucional 47/2005,
e, portanto, deveria contar com ‘35 anos de contribuição, visto que não houve contribuição previdenciária
relativa aos 11 anos averbados a título de insalubridade’, pois esse é um dos requisitos estabelecidos para
a concessão do benefício:
‘Art. 3º Ressalvado o direito de opção à aposentadoria pelas normas estabelecidas pelo art. 40 da
Constituição Federal ou pelas regras estabelecidas pelos arts. 2º e 6º da Emenda Constitucional nº 41, de
2003, o servidor da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e
fundações, que tenha ingressado no serviço público até 16 de dezembro de 1998 poderá aposentar-se com
proventos integrais, desde que preencha, cumulativamente, as seguintes condições:
I - trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de contribuição, se mulher.’
5.16. Nesse sentir, em que pese a existência de decisão judicial garantindo a contagem de tempo de
serviço de forma ponderada, o tempo de contribuição não está abarcado em tal decisão e, portanto, foi
indevida a averbação de contagem ponderada de tempo de contribuição prestado em condições insalubres.
5.17. O SFA/PR computou tempo especial exercido em condições insalubres em face de decisão
proferida pelo TRF-1, em processo que tratava de normalização na análise dos pleitos de aposentadoria
especial, com base na Orientação Normativa SRH/MP 10.
5.18. No caso, o agravo provido entendeu ‘prevalecer as disposições da Orientação Normativa
SRH/MP nº 10’, a qual dispõe em seu art. 9º:
‘DA CONVERSÃO DE TEMPO ESPECIAL EM TEMPO COMUM
Art. 9º O tempo de serviço exercido em condições especiais será convertido em tempo comum,
utilizando-se os fatores de conversão de 1,2 para a mulher e de 1,4 para o homem.
Parágrafo único. O tempo convertido na forma do caput poderá ser utilizado para a aposentadoria
prevista no art. 40 da Constituição Federal, na Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003,
e na Emenda Constitucional nº 47, de 5 de junho de 2005, exceto nos casos da aposentadoria especial de
professor de que trata o § 5º do art. 40 da Constituição Federal.’
5.19. Note-se que a norma, que serviu de supedâneo à decisão do TRF-1, autoriza a conversão
majorada, em comum, apenas do tempo de serviço exercido em condições especiais, não abarcando o de
contribuição.
5.20. É nessa mesma ordem de ideias o entendimento que se extrai do excerto da decisão proferida
pela desembargadora federal Ângela Catão no agravo provido:
‘A decisão proferida no MI 1.601/DF, ao determinar que ‘a autoridade administrativa competente
proceda à análise da situação fática dos substituídos pelo impetrante (ANFFA SINDICAL – Sindicato
Nacional dos Fiscais Agropecuários), para fins de aposentadoria especial, à luz do art. 57 da lei
8.213/1991’, autoriza a conversão do tempo de serviço especial em comum, uma vez que o próprio § 5º
do artigo 57 da Lei 8.213/91, cuja aplicação foi determinada, prevê tal instituto.’
255
III. - Concessão da pensão julgada ilegal pelo TCU, por isso que, à data do óbito do instituidor, a
impetrante não era sua dependente econômica.
IV. – MS indeferido.’
6.5.Ainda, com essa mesma orientação, vem à balha manifestação do Ministro Marco Aurélio, ao
apreciar o MS 27.966:
‘Quanto ao prazo previsto no artigo 54 da Lei nº 9.784/99, relativamente à revisão de atos
administrativos, os pronunciamentos desta Corte são reiterados no sentido de não ser aplicável a ato
complexo como é o da aposentadoria, vale dizer, fica afastado quando se faz em jogo a atuação do
Tribunal de Contas da União, iniludivelmente também administrativa, apreciando o cálculo dos proventos
da aposentadoria para homologá-la ou não - precedentes: Mandados de Segurança nº 24.997-8/DF,
25.090-9/DF e 25.192-1/DF, relatados pelo Ministro Eros Grau, com acórdãos publicados no Diário da
Justiça de 1º de abril de 2005 - os concernentes aos dois primeiros - e 6 de maio de 2005,
respectivamente.’
6.6.Nesse sentir, este Tribunal editou a Súmula 278, que traz:
‘Os atos de aposentadoria, reforma e pensão têm natureza jurídica de atos complexos, razão pela
qual os prazos decadenciais a que se referem o § 2º do art. 260 do Regimento Interno e o art. 54 da Lei nº
9.784/99 começam a fluir a partir do momento em que se aperfeiçoam com a decisão do TCU que os
considera legais ou ilegais, respectivamente.’
6.7.Nessa ordem de ideias, os argumentos apresentados não merecem ser acolhidos.
7. Da licença prêmio contada em dobro
7.1.O recorrente aduz que não foi computado em seu ato concessório o tempo de licença prêmio.
Análise:
7.2.Observa-se que consta no ato concessório do recorrente (peça 8) a inclusão de 1 ano de licença
prêmio não gozada e computada em dobro. Mas, mesmo assim, o interessado não conta com 35 anos de
serviço, o que o impede a sua aposentadoria com fulcro no art. 3º da EC 47/2005.
7.3.Assim, não assiste razão ao recorrente.
8.Do tempo de aluno-aprendiz
8.1.O recorrente requer a averbação do tempo em que teria atuado como aluno-aprendiz, nos anos
de 1980 a 1982.
Análise:
8.2.Para o deslinde da presente questão, vem à balha a redação atual da Súmula–TCU–96, aprovada
na Sessão Administrativa de 8/12/1994, in DOU de 3/1/1995:
‘Conta-se para todos os efeitos, como tempo de serviço público, o período de trabalho prestado, na
qualidade de aluno-aprendiz, em Escola Pública Profissional, desde que comprovada a retribuição
pecuniária à conta do Orçamento, admitindo-se, como tal, o recebimento de alimentação, fardamento,
material escolar e parcela de renda auferida com a execução de encomendas para terceiros’ (grifos
acrescidos).
8.3.Por meio do Acórdão 2.024/2005–TCU–Plenário, foram detalhados os seguintes parâmetros
para a verificação do atendimento da súmula supra:
‘9.3. determinar à Secretaria Federal de Controle Interno que oriente as diversas escolas federais de
ensino profissionalizante no sentido de que:
9.3.1. a emissão de certidão de tempo de serviço de aluno-aprendiz deve estar baseada em
documentos que comprovem o labor do então estudante na execução de encomendas recebidas pela
escola e deve expressamente mencionar o período trabalhado, bem assim a remuneração percebida;
9.3.2. a simples percepção de auxílio financeiro ou em bens não é condição suficiente para
caracterizar a condição de aluno-aprendiz, uma vez que pode resultar da concessão de bolsas de estudo ou
de subsídios diversos concedidos aos alunos;
9.3.3. as certidões emitidas devem considerar apenas os períodos nos quais os alunos efetivamente
laboraram, ou seja, indevido o cômputo do período de férias escolares;
257
9.3.4. não se admite a existência de aluno-aprendiz para as séries iniciais anteriormente à edição da
Lei n.º 3.552, de 16 de janeiro de 1959, a teor do art. 4º do Decreto-lei n.º 8.590, de 8 de janeiro de 1946’
(grifos acrescidos).
8.4.Ocorre que a ‘DECLARAÇÃO DE TEMPO DE SERVIÇO – ALUNO APRENDIZ’ de peça
22, p. 13, não atende a nenhum dos requisitos elencados no acórdão supracitado. Daí porque se opina pela
rejeição dos argumentos apresentados.
CONCLUSÃO
9.Ex positis, conclui-se que:
a)não é possível a contagem ponderada de tempo especial, prestado após a Lei 8.112/1990, como
tempo de contribuição;
b) não houve a incidência da decadência prevista no art. 54 da Lei 9.784/1999;
c)houve o cômputo da licença prêmio contada em dobro;
d)o tempo prestado como aluno-aprendiz não pode ser computado para fins de aposentadoria.
9.1.Destarte, é de se propor a negativa de provimento deste recurso.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
10.Ante o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo-se, com fundamento
no art. 48 da Lei 8.443/1992:
a)conhecer do recurso interposto, para, no mérito, negar-lhe provimento;
b)cientificar o recorrente e os demais interessados do acórdão que vier a ser prolatado, ressaltando-
se que o relatório e o voto que o acompanharem podem ser consultados no endereço
www.tcu.gov.br/acordaos, no dia seguinte ao de sua oficialização.”
É o relatório.
VOTO
Cuidam os autos de pedido de reexame interposto Mauro Henrique Gonzaga Teixeira contra o
Acórdão 1.139/2019-TCU-Primeira Câmara, que, dentre outras medidas, considerou ilegal seu ato de
aposentadoria em razão da contagem ponderada de tempo prestado em condições insalubres em
desacordo com a jurisprudência sobre o tema.
2. Preliminarmente, ratifico o despacho exarado no sentido de que o recurso merece ser conhecido,
porquanto atende aos requisitos de admissibilidade previstos nos artigos 32, parágrafo único, 33 e 48,
todos da Lei 8.443/1992.
3.No mérito, a secretaria especializada, com o apoio do Parquet de Contas, propõe o conhecimento
e a negativa de provimento do pedido, por compreender que não foram trazidos elementos suficientes
para alteração do julgado.
4.Não obstante o habitual zelo da unidade, divirjo do encaminhamento sugerido nos pareceres
precedentes, conforme as seguintes considerações.
5.Sobre a contagem ponderada de tempo prestado em condições insalubres, esta Corte de Contas
tem entendimento consolidado no sentido de que, ao julgar Mandados de Injunção desse gênero, o STF
nada mais fez do que colmatar a lacuna existente na regulamentação do art. 40, § 4º, da Constituição
Federal de 1988, com a norma existente no art. 57 da Lei 8.213/1991 (e.g. Acórdãos 471/2014, 624/2014,
625/2014, 882/2014, 3.922/2014 e 6.522/2014, todos da Primeira Câmara).
6.Assim, o direito tornado exequível pela via do writ injuncional foi aquele insculpido no referido
dispositivo da Carta Magna, que assegura aposentadoria especial a servidores públicos portadores de
deficiência ou que laborem em condições perigosas, penosas ou insalubres, mediante aplicação analógica
do caput do art. 57 da Lei 8.213/1991 (“A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a
carência exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que
prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos,
conforme dispuser a lei.”).
258
7.Por outro lado, o preenchimento da sobredita lacuna não permitiu que, na aposentadoria comum
de servidor público, houvesse o aproveitamento majorado, mediante aplicação de um fator multiplicador,
de tempo prestado sob condições especiais (previsto no § 5º do art. 57 da Lei 8.213/1991 – “O tempo de
trabalho exercido sob condições especiais que sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde
ou à integridade física será somado, após a respectiva conversão ao tempo de trabalho exercido em
atividade comum, segundo critérios estabelecidos pelo Ministério da Previdência e Assistência Social,
para efeito de concessão de qualquer benefício.”). Aliás, o próprio Supremo Tribunal Federal cuidou de
distinguir as duas situações (aposentadoria especial e conversão de tempo especial em tempo comum),
conforme se extrai da ementa do MI 2.123 AgR/DF:
“EMENTA: Agravo regimental em mandado de injunção. Pedido de conversão do tempo de
serviço. Ausência de previsão constitucional. Recurso provido. 1. O mandado de injunção volta-se à
colmatagem de lacuna legislativa capaz de inviabilizar o gozo de direitos e liberdades
constitucionalmente assegurados, bem assim de prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania (art. 5º, LXXI, CF/1988). 2. É imprescindível, para o exame do writ, a presença de dois
pressupostos sucessivos: i) a verificação da omissão legislativa e ii) a efetiva inviabilidade do gozo de
direito, faculdade ou prerrogativa consagrados constitucionalmente em razão do citado vácuo normativo.
3. O preceito constitucional em foco na presente demanda não assegura a contagem diferenciada do
tempo de serviço e sua averbação na ficha funcional; o direito subjetivo corresponde à aposentadoria em
regime especial, devendo esta Suprema Corte atuar na supressão da mora legislativa, cabendo à
autoridade administrativa a análise de mérito do direito, após exame fático da situação do servidor. 4. A
pretensão de garantir a conversão de tempo especial em tempo comum mostra-se incompatível com a
presente via processual, uma vez que, no mandado de injunção, cabe ao Poder Judiciário, quando
verificada a mora legislativa, viabilizar o exercício do direito subjetivo constitucionalmente previsto (art.
40, § 4º, da CF/88), no qual não está incluído o direito vindicado. 5. Agravo regimental provido para
julgar improcedente o mandado de injunção.” (sublinhei)
8.No caso de Mauro Henrique Gonzaga Teixeira, seu ato foi considerado ilegal por ter contemplado
a conversão de tempo especial em tempo para aposentadoria comum com fundamento no art. 3º da
Emenda Constitucional 47/2005, em desacordo com o entendimento do STF sobre a matéria e sem
amparo no provimento dado pelo Tribunal Regional Federal da Primeira Região ao Agravo de
Instrumento 0011859-91.2013.4.01.0000/DF, nos autos da Ação Ordinária 8008-29.2013.4.01.3400 – 17ª
Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal, nos seguintes termos do voto condutor do Acórdão
1.139/2019-TCU-Primeira Câmara:
“12. Na aposentadoria concedida ao Sr. Mauro Henrique Gonzaga Teixeira, o SFA/PR computou
tempo especial exercido em condições insalubres em face de decisão proferida pelo TRF-1 em processo
que tratava de normalização na análise dos pleitos de aposentadoria especial, com base na Orientação
Normativa SRH/MP 10.
13. No caso, o agravo provido entendeu ‘prevalecer as disposições da Orientação Normativa
SRH/MP nº 10’, a qual dispõe em seu art. 9º:
‘DA CONVERSÃO DE TEMPO ESPECIAL EM TEMPO COMUM
Art. 9º O tempo de serviço exercido em condições especiais será convertido em tempo comum,
utilizando-se os fatores de conversão de 1,2 para a mulher e de 1,4 para o homem.
Parágrafo único. O tempo convertido na forma do caput poderá ser utilizado para a aposentadoria
prevista no art. 40 da Constituição Federal, na Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003,
e na Emenda Constitucional nº 47, de 5 de junho de 2005, exceto nos casos da aposentadoria especial de
professor de que trata o § 5º do art. 40 da Constituição Federal.’
14. Note-se que a norma, que serviu de supedâneo à decisão do TRF-1, autoriza a conversão
majorada, em comum, apenas do tempo de serviço exercido em condições especiais, não abarcando o de
contribuição.
15. Também é o entendimento que se extrai do excerto da decisão proferida pela desembargadora
federal Ângela Catão no agravo provido:
259
Parágrafo único. O tempo convertido na forma do caput poderá ser utilizado para a aposentadoria
prevista no art. 40 da Constituição Federal, na Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003,
e na Emenda Constitucional nº 47, de 5 de junho de 2005, exceto nos casos da aposentadoria especial de
professor de que trata o § 5º do art. 40 da Constituição Federal.
Art. 10. O tempo de serviço especial convertido em tempo comum poderá ser utilizado para revisão
de abono de permanência e de aposentadoria, quando for o caso.’ (destaquei)
Portanto, o órgão competente para a normatização em matéria de pessoal civil no âmbito da
Administração Pública Federal Direta editou orientação normativa, na qual previu a conversão de tempo
especial em comum para fins de concessão de aposentadoria e o abono de permanência.” (sublinhei)
11.Significa que, ao interpretar o alcance do MI 1.601/DF, o TRF-1 permitiu a conversão de tempo
especial em comum exatamente para fins da aposentadoria comum estatutária prevista no art. 40 da
Constituição Federal, na Emenda Constitucional 41/2003 e na Emenda Constitucional 47/2005, mediante
aplicação do art. 9º, parágrafo único, da Orientação Normativa SRH/MP 10/2010.
12.Aliás, o objeto da Ação Ordinária 8008-29.2013.4.01.3400 – 17ª Vara da Seção Judiciária do
Distrito Federal é exatamente a aplicação da Orientação Normativa SRH/MP 10/2010, afastando-se a
incidência do Memorando Circular 011/2012/CGAP/SPOA/SE-Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, que vedou a conversão de tempo especial em comum. Muito embora o referido
memorando estivesse em absoluta consonância com o entendimento do STF, o agravo foi expresso ao
considerá-lo inadequado e afastá-lo, fazendo prevalecer a Orientação Normativa SRH/MP 10/2010, nos
seguintes termos:
“Por sua vez, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no Memorando Circular n.
011/2015/CGAP/SPOA/SE-MAPA, de 20.11.2012, com base na Nota AGU/SGCT/MAS/Nº 136/2012 e
no Parecer AGU/SGCT/ARL/Nº 051/2010, propõe forma diversa da normatização acima transcrita sob o
entendimento de que a decisão proferida no Mandado de Injunção 1.601/DF apenas se referiu à
aposentadoria especial e não à conversão de tempo especial em comum, por esta última não ter sido
veiculada pelo autor, enquanto em outros mandados de injunção teria sido expressamente postulada a
conversão de tempo de serviço, sugerindo a revisão dos procedimentos adotados com fundamento no
citado mandado que não sejam para aposentadoria especial.
Tal interpretação não me parece a mais adequada à hipótese em exame.
Com efeito, a decisão proferida no MI 1.601/DF, ao determinar que ‘a autoridade administrativa
competente proceda à análise da situação fática dos substituídos pelo impetrante (ANFFA SINDICAL –
Sindicato Nacional dos Fiscais Agropecuários), para fins de aposentadoria especial, à luz do art. 57 da Lei
8.213/1991’, autoriza a conversão do tempo de serviço especial em comum, uma vez que o próprio § 5º
do artigo 57 da Lei 8.213/91, cuja aplicação foi determinada, prevê tal instituto.
Ademais, não se mostra razoável nem consentâneo ao princípio da isonomia assegurar a contagem
de tempo de serviço especial, para fins de aposentadoria especial, tão somente aos Fiscais Federais
Agropecuários que contarem com mais de 25 (vinte e cinco) anos submetidos a atividades insalubres,
excluindo da referida contagem aqueles que, embora tenham se sujeitado aos mesmos agentes nocivos,
não tenham atingido o tempo de serviço exigido.
Resta ainda evidente o perigo de dano irreparável ou de difícil reparação, diante da iminência da
revisão das aposentadorias e abonos de permanência já concedidos.
Face o exposto, DOU PROVIMENTO ao agravo, nos termos do artigo 557, §1º-A, do CPC, para
determinar afastar aplicação do Memorando Circular n. 011/2012/CGAP/SPOA/SEMAPA, fazendo
prevalecer as disposições da Orientação Normativa SRH/MP n. 10, com a consequente normalização na
análise dos pleitos de aposentadoria especial e a abstenção na revisão dos procedimentos já efetuados.”
13.Nessas circunstâncias, não me parece adequada a interpretação da secretaria especializada e do
Acórdão recorrido no sentido de que a norma que serviu de supedâneo à decisão do TRF-1 (Orientação
Normativa SRH/MP 10/2010) autorizava a conversão do tempo especial em tempo comum, não em
tempo de contribuição para aposentadoria comum.
261
14.Conforme já destacado, o art. 9º, parágrafo único, daquela Orientação Normativa, é expresso ao
fixar que o tempo especial convertido em comum poderia ser contado para aposentadoria comum
estatutária, sendo que a aposentadoria comum estatutária, por quaisquer dos fundamentos constitucionais
elencados no sobredito dispositivo (art. 40 da Constituição Federal, Emenda Constitucional 41/2003 e
Emenda Constitucional 47/2005) tem como elemento fundamental o tempo de contribuição. Reforça essa
ideia o fato de que, nos termos da decisão e da Orientação Normativa, o tempo especial convertido se
prestaria também para fins de abono de permanência, sendo que tal instituto somente se aplica a
servidores que tenham cumprido os requisitos para aposentadoria estatutária comum, que naturalmente
exige tempo de contribuição.
15.Nesse cenário, não reconhecer o tempo convertido como tempo de contribuição para
aposentadoria comum colide de tal forma com o que foi decidido no provimento judicial a ponto de tornar
inexequível o direito ali reconhecido, qual seja, o de ter o pedido de aposentadoria avaliado à luz do art.
57, § 5º, da Lei 8.213/1991, combinado com a Orientação Normativa SRH/MP 10/2010, cujo art. 9º
expressamente prevê a utilização do tempo convertido para aposentadoria comum estatutária.
16.Devo registrar, por oportuno, que a Orientação Normativa SRH/MP 10/2010 já foi revogada,
exatamente por estar em descompasso com a intelecção conferida pelo STF à matéria. No entanto, impõe-
se reconhecer que, apesar de sua absoluta inadequação, a decisão proferida pelo TRF-1 protege a
conversão do tempo especial em comum e a contagem desse tempo para aposentadoria do interessado
com amparo na Emenda Constitucional 47/2005, tal qual o ato ora reexaminado.
17.Assim, apesar da irregularidade, a situação está protegida judicialmente, circunstância que atrai o
disciplinamento contido no Acórdão 1.857/2003-TCU-Plenário, confirmado pelo Acórdão 961/2006-
TCU-Plenário, competindo ao Tribunal considerar ilegal o ato concessório e negar o seu registro,
abstendo-se de determinar a suspensão imediata dos pagamentos decorrentes do ato impugnado.
18.Essa intelecção preserva a independência e a autonomia do Tribunal de Contas da União, para,
nos termos do art. 71, inciso III, da Constituição Federal de 1988, apreciar a legalidade dos atos sujeitos a
registro, garantindo, ao mesmo tempo, o respeito à tutela judicial, pois não se determina a suspensão dos
pagamentos por ela garantidos.
19.Nesses casos, cumpre considerar, ainda, os termos da Questão de Ordem aprovada pelo Plenário
deste Tribunal em 8/6/2011, que estabeleceu o tratamento a ser dado às decisões judiciais, liminares ou de
mérito ainda não transitadas em julgado, quando impedirem que órgãos e entidades da Administração
Pública cumpram determinações expedidas pelo TCU.
20.Consoante orienta a aludida Questão de Ordem, as informações a respeito do sobredito
provimento judicial devem ser encaminhadas ao Departamento de Assuntos Extrajudiciais da Advocacia-
Geral da União, para a adoção das providências tendentes ao desfazimento da decisão judicial, com
ciência à Consultoria Jurídica do TCU. Ademais, penso ser oportuno encaminhar cópia da presente
deliberação ao juízo responsável pelo Agravo de Instrumento 0011859-91.2013.4.01.0000/DF no âmbito
do TRF-1.
21.Nesses termos, manifesto-me no sentido de que o presente recurso merece ser conhecido e
provido parcialmente, de modo a reformar o Acórdão 1.139/2019-TCU-Primeira Câmara para dar a
seguinte redação à determinação contida no item 9.4.1:
“9.4.1. acompanhe o deslinde da Ação Ordinária 8008-29.2013.4.01.3400 – 17ª Vara da Seção
Judiciária do Distrito Federal e, em caso de decisão desfavorável ao interessado, faça cessar os
pagamentos decorrentes do ato ora considerado ilegal, sob pena de responsabilidade solidária da
autoridade administrativa omissa”.
Ante o exposto, voto por que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto à apreciação deste
Colegiado.
1. Processo nº TC 012.576/2018-2.
262
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que cuidam de pedido de reexame interposto por
interposto Mauro Henrique Gonzaga Teixeira contra o Acórdão 1.139/2019-TCU-Primeira Câmara, que
considerou ilegal seu ato de aposentadoria,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
com fundamento no artigo 48 da Lei 8.443/1992, c/c os artigos 285 e 286 do Regimento Interno do TCU,
diante das razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer e dar provimento parcial ao pedido de reexame;
9.2. reformar o Acórdão 1.139/2019-TCU-Primeira Câmara para conferir a seguinte redação o item
9.4.1:
“9.4.1. acompanhe o deslinde da Ação Ordinária 8008-29.2013.4.01.3400 – 17ª Vara da Seção
Judiciária do Distrito Federal e, em caso de decisão desfavorável ao interessado, faça cessar os
pagamentos decorrentes do ato ora considerado ilegal, sob pena de responsabilidade solidária da
autoridade administrativa omissa”
9.3. encaminhar cópia da presente deliberação ao juízo responsável pelo Agravo de Instrumento
0011859-91.2013.4.01.0000/DF no âmbito do Tribunal Regional Federal da Primeira Região;
9.4. dar ciência deste acórdão à Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
no Estado do Paraná e ao recorrente, em nome dos representantes legais devidamente constituídos nos
autos.
RELATÓRIO
3.O ato de peça 3 trata de reversão da pensão militar instituída por José Vinícius Ramos em favor
da filha Deborah Lúcia Ramos Finzi. Ocorre que o militar ocupava na ativa, o posto de Capitão, e foi
transferido para a reserva remunerada em 26/11/1979, quando contava com 30 anos, 4 meses e 4 dias de
serviço. Em razão disso, os proventos da reserva passaram a ser calculados tendo por referência o posto
de Major.
4.Em 17/11/1988, o militar foi reformado e os proventos passaram a ser calculados com base no
posto de Tenente Coronel, por ter sido considerado definitivamente incapaz para o serviço ativo das
Forças Armadas em face de invalidez permanente decorrente de doença especificada em lei. Como se vê,
os proventos tiveram por referência dois postos acima daquele que o militar ostentava na atividade.
5.A Corte de Contas firmou entendimento, por intermédio do Acórdão 2.225/2019-Plenário da
relatoria do Ministro Benjamin Zymler e proferido na sessão de 18/9/2019, no sentido de que não há
embasamento legal para o cálculo dos proventos de reforma ter por referência dois postos acima daquele
ostentado pelo militar na atividade. A Lei 6.880/1980 trata do tema em seus artigos 50, 108 e 110 (grifos
acrescidos):
‘Art. 50. São direitos dos militares:
(...)
II - a percepção de remuneração correspondente ao grau hierárquico superior ou melhoria da mesma
quando, ao ser transferido para a inatividade, contar mais de 30 (trinta) anos de serviço; (redação original)
II - o provento calculado com base no soldo integral do posto ou graduação que possuía quando da
transferência para a inatividade remunerada, se contar com mais de trinta anos de serviço; (Redação dada
pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001)
III - a remuneração calculada com base no soldo integral do posto ou graduação quando, não
contando 30 (trinta) anos de serviço, for transferido para a reserva remunerada, ex officio, por ter atingido
a idade-limite de permanência em atividade no posto ou na graduação, ou ter sido abrangido pela quota
compulsória; e (Redação original)
III - o provento calculado com base no soldo integral do posto ou graduação quando, não contando
trinta anos de serviço, for transferido para a reserva remunerada, ex officio, por ter atingido a idade-limite
de permanência em atividade no posto ou na graduação, ou ter sido abrangido pela quota compulsória; e
(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001)
(...)
Art. 108. A incapacidade definitiva pode sobrevir em conseqüência de:
I - ferimento recebido em campanha ou na manutenção da ordem pública;
II - enfermidade contraída em campanha ou na manutenção da ordem pública, ou enfermidade cuja
causa eficiente decorra de uma dessas situações;
III - acidente em serviço;
IV - doença, moléstia ou enfermidade adquirida em tempo de paz, com relação de causa e efeito a
condições inerentes ao serviço;
V - tuberculose ativa, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, lepra, paralisia irreversível e
incapacitante, cardiopatia grave, mal de Parkinson, pênfigo, espondiloartrose anquilosante, nefropatia
grave e outras moléstias que a lei indicar com base nas conclusões da medicina especializada; e (Redação
original)
V - tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, lepra,
paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, mal de Parkinson, pênfigo, espondiloartrose
anquilosante, nefropatia grave e outras moléstias que a lei indicar com base nas conclusões da medicina
especializada; e (Redação dada pela Lei nº 12.670, de 2012)
VI - acidente ou doença, moléstia ou enfermidade, sem relação de causa e efeito com o serviço.
§ 1º Os casos de que tratam os itens I, II, III e IV serão provados por atestado de origem, inquérito
sanitário de origem ou ficha de evacuação, sendo os termos do acidente, baixa ao hospital, papeleta de
tratamento nas enfermarias e hospitais, e os registros de baixa utilizados como meios subsidiários para
esclarecer a situação.
265
§ 2º Os militares julgados incapazes por um dos motivos constantes do item V deste artigo somente
poderão ser reformados após a homologação, por Junta Superior de Saúde, da inspeção de saúde que
concluiu pela incapacidade definitiva, obedecida à regulamentação específica de cada Força Singular.
(...)
Art. 110. O militar da ativa julgado incapaz definitivamente por um dos motivos constantes dos
itens I e II do artigo 108 será reformado com remuneração calculada com base no soldo correspondente
ao grau hierárquico imediato ao que possuir na ativa. (Redação original)
Art. 110. O militar da ativa ou da reserva remunerada, julgado incapaz definitivamente por um dos
motivos constantes dos incisos I e II do art. 108, será reformado com a remuneração calculada com base
no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao que possuir ou que possuía na ativa,
respectivamente. (Redação dada pela Lei nº 7.580, de 1986)
§ 1º Aplica-se o disposto neste artigo aos casos previstos nos itens III, IV e V do artigo 108,
quando, verificada a incapacidade definitiva, for o militar considerado inválido, isto é, impossibilitado
total e permanentemente para qualquer trabalho.
§ 2º Considera-se, para efeito deste artigo, grau hierárquico imediato:
a) o de Primeiro-Tenente, para Guarda-Marinha, Aspirante-a-Oficial e Suboficial ou Subtenente;
b) o de Segundo-Tenente, para Primeiro-Sargento, Segundo-Sargento e Terceiro-Sargento; e
c) o de Terceiro-Sargento, para Cabo e demais praças constantes do Quadro a que se refere o artigo
16.
§ 3º Aos benefícios previstos neste artigo e seus parágrafos poderão ser acrescidos outros relativos à
remuneração, estabelecidos em leis especiais, desde que o militar, ao ser reformado, já satisfaça às
condições por elas exigidas.
§ 4º O direito do militar previsto no artigo 50, item II, independerá de qualquer dos benefícios
referidos no caput e no § 1° deste artigo, ressalvado o disposto no parágrafo único do artigo 152.
(Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001)
§ 5º Quando a praça fizer jus ao direito previsto no artigo 50, item II, e, conjuntamente, a um dos
benefícios a que se refere o parágrafo anterior, aplicar-se-á somente o disposto no § 2º deste artigo.
(Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001)’
6.Da leitura dos dispositivos, observa-se que o benefício de ‘proventos calculados sobre o posto
hierárquico imediato’, seja em consequência de transferência para a inatividade contando com mais de 30
anos de serviço, conforme dispõe o art. 50 da Lei 6.880/1980, ou seja pelo motivo de o militar ter sido
considerado incapaz definitivamente, conforme art. 110 da mesma lei, somente pode ser calculado com
base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao que possuir ou que possuía na ativa.
7.Nesse sentido, pede-se vênia para transcrever trecho do elucidativo voto do Ministro Benjamin
Zymler, condutor do Acórdão 13.439/2019-1ª Câmara (grifos no original):
‘8.Como se vê, o benefício previsto no art. 110 da Lei 6.880/1980, expressamente dirigido ao
militar da ativa ou da reserva remunerada, não alcança o militar reformado. Ademais, quer da ativa, quer
da reserva, o benefício se traduz no cálculo dos proventos com base no soldo do posto hierárquico
imediato àquele que o favorecido apresentava na ativa – ou seja, não há espaço na norma para o cálculo
dos proventos ter por referência dois postos acima daquele ostentado pelo militar na atividade.
9.Sobre o primeiro ponto – os destinatários do adicional –, a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça (STJ), intérprete último da lei federal, há muito se encontra pacificada, como ilustram os
precedentes adiante reproduzidos:
‘PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. MILITAR REFORMADO POR ATINGIR A IDADE
LIMITE NA RESERVA. INVALIDEZ SUPERVENIENTE À INATIVAÇÃO. REFORMA COM
REMUNERAÇÃO CORRESPONDENTE AO GRAU HIERÁRQUICO IMEDIATO. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULAS 7 E 83 DO STJ.
1. O art. 110 da Lei 6.880/1980 prevê o direito de o militar da ativa ou da reserva remunerada ser
reformado com a remuneração calculada com base no soldo correspondente ao grau hierárquico
imediato ao que possuir.
266
(...)
b) na inatividade:
I - os da reserva remunerada, quando pertençam à reserva das Forças Armadas e percebam
remuneração da União, porém sujeitos, ainda, à prestação de serviço na ativa, mediante convocação ou
mobilização; e
II - os reformados, quando, tendo passado por uma das situações anteriores estejam dispensados,
definitivamente, da prestação de serviço na ativa, mas continuem a perceber remuneração da União.’
15.Nessa mesma linha, saliento que, em sua redação original, o § 1º do art. 110 do Estatuto dirigia-
se unicamente aos militares da ativa. Foi a ocorrência de casos reais de incapacidade – envolvendo
reservistas convocados – ocasionada por ferimento ou enfermidade contraída em função do efetivo
exercício da atividade militar (incisos I e II do art. 108) que motivou o legislador a lhes estender o
benefício. Reproduzo a exposição de motivos que fundamentou a alteração:
(...)
18.Relativamente ao segundo ponto mencionado no item 8 deste voto – concessão em cascata do
benefício previsto no art. 110 da Lei 6.880/1980 –, a jurisprudência do STJ rejeita a hipótese mesmo que
a moléstia incapacitante tenha sido adquirida com o militar ainda na reserva remunerada. Em outras
palavras, se já beneficiário da vantagem do art. 50, inciso II, da Lei 6.880/1980 (inatividade com
proventos calculados sobre o posto hierárquico imediato), nem sequer o militar da reserva remunerada
acometido de moléstia incapacitante faz jus a nova melhoria de proventos com esteio no art. 110, § 1º, da
Lei 6880/1980. Nesse sentido, exemplificativamente, cito como precedente:
‘AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL.
ADMINISTRATIVO. MILITAR DA RESERVA REMUNERADA. SUPERVENIÊNCIA DE
INCAPACIDADE TOTAL E DEFINITIVA. REFORMA. CÁLCULO DOS PROVENTOS. SOLDO DO
POSTO IMEDIATAMENTE SUPERIOR AO QUE EXERCIA NA ATIVA.
1. A orientação jurisprudencial desta Corte Superior é no sentido de que o militar da reserva
remunerada julgado definitivamente incapaz para qualquer trabalho, como na hipótese de estar
acometido de cardiopatia grave, deve ser reformado com proventos correspondentes ao soldo da
graduação hierárquica imediata a que possuía na ativa, nos termos do art. 110, § 1º, da Lei nº 6.880/80.
2. Agravo regimental a que se nega provimento’ (AgRg nos EDcl no Recurso Especial 966.142/RJ,
Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Quinta Turma, julgado em 26/2/2013, DJe de 5/3/2013).
(...)
20. Ressalto, a propósito, que o entendimento aqui externado foi acolhido à unanimidade pelo
Plenário desta Corte de Contas por meio do Acórdão 2.225/2019, de 18/9/2019.’
8.Ante o exposto, este representante do Ministério Público de Contas da União opina por considerar
ilegal o ato de reversão da pensão militar instituída por José Vinícius Ramos (peça 3), uma vez que os
proventos da reforma tiveram por referência dois postos acima daquele que o militar ostentava na
atividade, irregularidade que impacta os proventos da pensão calculada com base no posto de Tenente
Coronel com fundamento nos artigos 6º e 15 da Lei 3.765/1960 (atualizada pela Medida Provisória 2.215-
10/2001).
9.Ressalte-se que o ato foi enviado ao TCU em 2019, de modo que pode ser apreciado sem a
necessidade de prévia oitiva da interessada, nos termos do Acórdão 587/2011-Plenário.
10.Por fim, quanto aos demais atos, acolhemos a proposta apresentada pela Unidade Técnica de
legalidade e registro.”
É o relatório.
VOTO
Cuida o processo de atos de pensão militar emitidos pelo Ministério da Defesa – Comando da
Aeronáutica.
268
Voto
“9. Como se vê, o benefício previsto no art. 110 da Lei 6.880/1980, expressamente dirigido ao
militar da ativa ou da reserva remunerada, não alcança o militar reformado. Ademais, quer da ativa, quer
da reserva, o benefício se traduz no cálculo dos proventos com base no soldo do posto ou grau hierárquico
imediato àquele que o favorecido apresentava na ativa – ou seja, não há espaço na norma para o cálculo
dos proventos ter por referência dois postos acima daquele que o militar possuía quando ainda em
atividade.
(...)
12. Relativamente ao segundo ponto mencionado no item 9 deste voto – concessão em cascata do
benefício previsto no art. 110 da Lei 6.880/1980 –, a jurisprudência do STJ rejeita a hipótese mesmo que
a moléstia incapacitante tenha sido adquirida com o militar ainda na reserva remunerada. Em outras
palavras, se já beneficiário da vantagem do art. 50, inciso II, da Lei 6.880/1980 (inatividade com
proventos calculados sobre o posto hierárquico imediato), nem sequer o militar da reserva remunerada
acometido de moléstia incapacitante faz jus a nova melhoria de proventos com esteio no art. 110, § 1º, da
Lei 6880/1980.” (destaquei)
9.Essa compreensão está igualmente em sintonia com a jurisprudência do STJ, conforme ilustra a
decisão proferida no Recurso Especial 966.142-RJ:
Ementa
“AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL.
ADMINISTRATIVO. MILITAR DA RESERVA REMUNERADA. SUPERVENIÊNCIA DE
INCAPACIDADE TOTAL E DEFINITIVA. REFORMA. CÁLCULO DOS PROVENTOS. SOLDO DO
POSTO IMEDIATAMENTE SUPERIOR AO QUE EXERCIA NA ATIVA.
1. A orientação jurisprudencial desta Corte Superior é no sentido de que o militar da reserva
remunerada julgado definitivamente incapaz para qualquer trabalho, como na hipótese de estar acometido
de cardiopatia grave, deve ser reformado com proventos correspondentes ao soldo da graduação
hierárquica imediata a que possuía na ativa, nos termos do art. 110, § 1º, da Lei nº 6.880/80.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.”4
Voto
“Logo, na espécie, como o posto que o agravante exercia na ativa era o de Primeiro-Tenente, deve
perceber, na reforma por incapacidade definitiva para qualquer trabalho, os proventos correspondentes ao
soldo do grau superior, que é o de Capitão. Como já recebia essa remuneração, não há como acolher a
pretensão de revisão para perceber valores de graduação ainda mais elevada.
Consoante asseverado no acórdão regional, não há ‘qualquer ressalva [na legislação] quanto à
remuneração que vinha recebendo o militar da reserva, a partir de sua passagem para a inatividade, que
garantisse, porventura, remuneração correspondente a de dois postos acima daquele ocupado na
atividade, nos casos em que o militar já recebesse proventos correspondentes ao do grau imediato ao que
ocupava na ativa’ (fls. 258/259).”
10.No caso, Jose Vinicius Ramos já se encontrava reformado quando foi considerado incapaz por
invalidez permanente, o que, por si só, já impediria a elevação do benefício para o grau hierárquico
imediatamente superior ao da ativa com fundamento no art. 110 da Lei 6.880/1980.
11.Ademais, ainda que a incapacidade tivesse sido atestada quando o instituidor estava na reserva,
ele já havia sido contemplado com proventos em posto superior ao da ativa quando da passagem para a
reserva, com fundamento no art. 50, inciso II, da Lei 6.880/1980, por contar mais de 30 anos de tempo de
serviço, o que impede nova elevação de grau hierárquico por invalidez.
270
12.Tal impropriedade macula os proventos da pensão instituída por Jose Vinicius Ramos, pois
possui como referência o posto de sua reforma após a dupla promoção indevida. Nessas circunstâncias
impõe-se a chancela de ilegalidade à pensão, com negativa de registro, devendo o órgão de origem
encaminhar novo ato cujo posto da reforma corresponda a apenas um grau hierárquico superior ao posto
ocupado na ativa pelo instituidor, da seguinte forma:
a) Posto na ativa: Capitão;
b) Posto de referência para cálculo dos proventos de reforma: Major (um posto acima do ocupado
na ativa – art. 50, inciso II, da Lei 6.880/1980);
c) Posto de referência para cálculo dos proventos de pensão: Major;
13.Por fim, deve ser dispensada a devolução dos valores indevidamente recebidos de boa-fé,
consoante o enunciado 106 da súmula da jurisprudência do TCU.
Ante o exposto, voto por que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto à apreciação deste
Colegiado.
1. Processo nº TC 022.410/2019-8.
2. Grupo II – Classe de Assunto V – Pensão Militar.
3. Interessadas: Ana Claudia da Silva Carneiro (033.598.337-59); Ana Nubia dos Santos Duarte
(102.800.627-61); Deborah Lucia Ramos Finzi (027.569.526-30); Hisako Takasugi (014.023.558-23);
Izaurina Clementina da Rocha (065.768.606-92).
4. Órgão/Entidade: Ministério da Defesa – Comando da Aeronáutica.
5. Relator: Ministro Bruno Dantas.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Rodrigo Medeiros de Lima.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip).
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos em que se apreciam atos de pensão militar emitidos pelo
Comando da Aeronáutica,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
diante das razões expostas pelo Relator, e com fundamento no art. 71, incisos III e IX, da Constituição
Federal de 1988, c/c os arts. 1º, inciso V, 39, inciso II, e 45 da Lei 8.443/1992, e ainda com os arts. 260, §
1º, 261, caput e § 1º, e 262, caput e § 2º, do Regimento Interno do TCU, em:
9.1. considerar legais as pensões militares instituídas por Joao Carlos da Silva Madeira
(036.036.197-81), Icuo Takasugi (006.210.306-78), Laurel Rezende Novas (008.949.787-21) e Paulo
Alves Rocha (010.247.281-53), concedendo o registro aos atos correspondentes;
9.2. considerar ilegal a pensão militar instituída por Jose Vinicius Ramos (007.393.326-00),
negando o registro ao ato correspondente;
9.3. dispensar o ressarcimento das quantias indevidamente recebidas de boa-fé (enunciado 106 da
súmula da jurisprudência predominante do TCU);
9.4. determinar ao Ministério da Defesa – Comando da Aeronáutica que:
9.4.1. no prazo de 15 (quinze) dias, faça cessar os pagamentos decorrentes do ato ora considerado
ilegal, sob pena de responsabilidade solidária da autoridade administrativa omissa, até a emissão de novo
ato, livre da irregularidade apontada, a ser submetido à apreciação do TCU no prazo de 30 (trinta) dias;
9.4.2. no prazo de 15 (quinze) dias, dê ciência do inteiro teor desta deliberação à interessada cujo
ato ora é considerado ilegal, esclarecendo-lhe que o efeito suspensivo proveniente da interposição de
recurso não a exime da devolução dos valores percebidos indevidamente após a notificação sobre o
presente acórdão, em caso de não provimento do recurso porventura impetrado;
271
9.4.3. no prazo de 30 (trinta) dias, informe ao TCU as medidas adotadas, sem prejuízo de
encaminhar comprovante sobre a data em que a interessada tomou conhecimento do contido no item
anterior;
9.5. dar ciência deste acórdão ao Ministério da Defesa – Comando da Aeronáutica.
RELATÓRIO
de serviço. Em razão disso, os proventos da reserva passaram a ser calculados tendo por referência o
posto de Capitão, com fundamento no art. 50, inciso II, da Lei 6.880/1980. Em 3/3/2000, o militar foi
reformado e os proventos passaram a ser calculados com base no posto de Major, por ter sido considerado
definitivamente incapaz para o serviço ativo das Forças Armadas em face de invalidez permanente
decorrente de doença especificada em lei.
5.No que se refere ao Sr. Gabriel Jerônymo de Souza (peça 8) observa-se que ele ocupava na ativa o
posto de 1º Tenente, e foi transferido para a reserva remunerada em 30/6/1991, quando contava com 36
anos, 5 meses e 18 dias de serviço. Em razão disso, os proventos da reserva passaram a ser calculados
tendo por referência o posto de Capitão, com fundamento no art. 50, inciso II, da Lei 6.880/1980. Em
9/6/1998, o militar foi reformado e os proventos passaram a ser calculados com base no posto de Major,
por ter sido considerado definitivamente incapaz para o serviço ativo das Forças Armadas em face de
invalidez permanente decorrente de doença especificada em lei.
6.Quanto ao Sr. Augusto Costa dos Santos (peça 10) verifica-se que ele ocupava na ativa o posto de
Capitão, e foi transferido para a reserva remunerada em 18/7/1977, quando contava com 35 anos e 28 dias
de serviço. Em razão disso, os proventos da reserva passaram a ser calculados tendo por referência o
posto de Major. Em 19/8/1986, o militar foi reformado e os proventos passaram a ser calculados com base
no posto de Tenente Coronel, por ter sido considerado definitivamente incapaz para o serviço ativo das
Forças Armadas em face de invalidez permanente decorrente de doença especificada em lei.
7.Como se vê, em todos os casos, os proventos tiveram por referência dois postos acima daquele
que os militares ostentavam na atividade.
8.A Corte de Contas firmou entendimento, por intermédio do Acórdão 2.225/2019-Plenário da
relatoria do Ministro Benjamin Zymler e proferido na sessão de 18/9/2019, no sentido de que não há
embasamento legal para o cálculo dos proventos de reforma ter por referência dois postos acima daquele
ostentado pelo militar na atividade. A Lei 6.880/1980 trata do tema em seus artigos 50, 108 e 110 (grifos
acrescidos):
‘Art. 50. São direitos dos militares:
(...)
II - a percepção de remuneração correspondente ao grau hierárquico superior ou melhoria da mesma
quando, ao ser transferido para a inatividade, contar mais de 30 (trinta) anos de serviço; (redação original)
II - o provento calculado com base no soldo integral do posto ou graduação que possuía quando da
transferência para a inatividade remunerada, se contar com mais de trinta anos de serviço; (Redação dada
pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001)
III - a remuneração calculada com base no soldo integral do posto ou graduação quando, não
contando 30 (trinta) anos de serviço, for transferido para a reserva remunerada, ex officio, por ter atingido
a idade-limite de permanência em atividade no posto ou na graduação, ou ter sido abrangido pela quota
compulsória; e (Redação original)
III - o provento calculado com base no soldo integral do posto ou graduação quando, não contando
trinta anos de serviço, for transferido para a reserva remunerada, ex officio, por ter atingido a idade-limite
de permanência em atividade no posto ou na graduação, ou ter sido abrangido pela quota compulsória; e
(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001)
(...)
Art. 108. A incapacidade definitiva pode sobrevir em conseqüência de:
I - ferimento recebido em campanha ou na manutenção da ordem pública;
II - enfermidade contraída em campanha ou na manutenção da ordem pública, ou enfermidade cuja
causa eficiente decorra de uma dessas situações;
III - acidente em serviço;
IV - doença, moléstia ou enfermidade adquirida em tempo de paz, com relação de causa e efeito a
condições inerentes ao serviço;
V - tuberculose ativa, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, lepra, paralisia irreversível e
incapacitante, cardiopatia grave, mal de Parkinson, pênfigo, espondiloartrose anquilosante, nefropatia
273
grave e outras moléstias que a lei indicar com base nas conclusões da medicina especializada; e (Redação
original)
V - tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, lepra,
paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, mal de Parkinson, pênfigo, espondiloartrose
anquilosante, nefropatia grave e outras moléstias que a lei indicar com base nas conclusões da medicina
especializada; e (Redação dada pela Lei nº 12.670, de 2012)
VI - acidente ou doença, moléstia ou enfermidade, sem relação de causa e efeito com o serviço.
§ 1º Os casos de que tratam os itens I, II, III e IV serão provados por atestado de origem, inquérito
sanitário de origem ou ficha de evacuação, sendo os termos do acidente, baixa ao hospital, papeleta de
tratamento nas enfermarias e hospitais, e os registros de baixa utilizados como meios subsidiários para
esclarecer a situação.
§ 2º Os militares julgados incapazes por um dos motivos constantes do item V deste artigo somente
poderão ser reformados após a homologação, por Junta Superior de Saúde, da inspeção de saúde que
concluiu pela incapacidade definitiva, obedecida à regulamentação específica de cada Força Singular.
(...)
Art. 110. O militar da ativa julgado incapaz definitivamente por um dos motivos constantes dos
itens I e II do artigo 108 será reformado com remuneração calculada com base no soldo correspondente
ao grau hierárquico imediato ao que possuir na ativa. (Redação original)
Art. 110. O militar da ativa ou da reserva remunerada, julgado incapaz definitivamente por um dos
motivos constantes dos incisos I e II do art. 108, será reformado com a remuneração calculada com base
no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao que possuir ou que possuía na ativa,
respectivamente. (Redação dada pela Lei nº 7.580, de 1986)
§ 1º Aplica-se o disposto neste artigo aos casos previstos nos itens III, IV e V do artigo 108,
quando, verificada a incapacidade definitiva, for o militar considerado inválido, isto é, impossibilitado
total e permanentemente para qualquer trabalho.
§ 2º Considera-se, para efeito deste artigo, grau hierárquico imediato:
a) o de Primeiro-Tenente, para Guarda-Marinha, Aspirante-a-Oficial e Suboficial ou Subtenente;
b) o de Segundo-Tenente, para Primeiro-Sargento, Segundo-Sargento e Terceiro-Sargento; e
c) o de Terceiro-Sargento, para Cabo e demais praças constantes do Quadro a que se refere o artigo
16.
§ 3º Aos benefícios previstos neste artigo e seus parágrafos poderão ser acrescidos outros relativos à
remuneração, estabelecidos em leis especiais, desde que o militar, ao ser reformado, já satisfaça às
condições por elas exigidas.
§ 4º O direito do militar previsto no artigo 50, item II, independerá de qualquer dos benefícios
referidos no caput e no § 1° deste artigo, ressalvado o disposto no parágrafo único do artigo 152.
(Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001)
§ 5º Quando a praça fizer jus ao direito previsto no artigo 50, item II, e, conjuntamente, a um dos
benefícios a que se refere o parágrafo anterior, aplicar-se-á somente o disposto no § 2º deste artigo.
(Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001)’
9.Da leitura dos dispositivos, observa-se que o benefício de ‘proventos calculados sobre o posto
hierárquico imediato’, seja em consequência de transferência para a inatividade contando com mais de 30
anos de serviço, conforme dispõe o art. 50 da Lei 6.880/1980, ou seja pelo motivo de o militar ter sido
considerado incapaz definitivamente, conforme art. 110 da mesma lei, somente pode ser calculado com
base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao que possuir ou que possuía na ativa.
10.Nesse sentido, pede-se vênia para transcrever trecho do elucidativo voto do Ministro Benjamin
Zymler, condutor do Acórdão 13.439/2019-1ª Câmara (grifos no original):
‘8.Como se vê, o benefício previsto no art. 110 da Lei 6.880/1980, expressamente dirigido ao
militar da ativa ou da reserva remunerada, não alcança o militar reformado. Ademais, quer da ativa, quer
da reserva, o benefício se traduz no cálculo dos proventos com base no soldo do posto hierárquico
274
imediato àquele que o favorecido apresentava na ativa – ou seja, não há espaço na norma para o cálculo
dos proventos ter por referência dois postos acima daquele ostentado pelo militar na atividade.
9.Sobre o primeiro ponto – os destinatários do adicional –, a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça (STJ), intérprete último da lei federal, há muito se encontra pacificada, como ilustram os
precedentes adiante reproduzidos:
‘PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. MILITAR REFORMADO POR ATINGIR A IDADE
LIMITE NA RESERVA. INVALIDEZ SUPERVENIENTE À INATIVAÇÃO. REFORMA COM
REMUNERAÇÃO CORRESPONDENTE AO GRAU HIERÁRQUICO IMEDIATO. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULAS 7 E 83 DO STJ.
1. O art. 110 da Lei 6.880/1980 prevê o direito de o militar da ativa ou da reserva remunerada ser
reformado com a remuneração calculada com base no soldo correspondente ao grau hierárquico
imediato ao que possuir.
2. O Tribunal de origem asseverou: ‘o autor foi reformado ex officio em 21/05/2006 (Evento 20 -
PROCADM4 - fl. 15), por ter atingido idade limite de permanência na reserva, nos termos do art. 106, I,
d, da Lei n° 6.880/80. Pretende, agora, a melhoria da reforma para que seus proventos passem a ser
calculados com base na remuneração do posto superior na inatividade, em razão da superveniência de
moléstia que determina a sua invalidez (neoplasia maligna constatada em 04/01/2008)’.
3. É inviável reanalisar a constatação das datas da reforma e da eclosão da moléstia, pois
inarredável a revisão do conjunto probatório dos autos para afastar as premissas fáticas estabelecidas
pelo acórdão recorrido. Aplica-se, portanto, o óbice da Súmula 7/STJ.
4. Ao reconhecer que o direito ora pugnado alcança apenas os militares da ativa ou da reserva
remunerada, não prevendo a possibilidade da alteração de proventos de militar reformado por atingir a
idade limite na reserva, o Tribunal a quo decidiu em consonância com a jurisprudência do STJ, razão
pela qual incide a Súmula 83 do STJ. Precedentes: REsp 1.381.724/RS, Relatora Ministra REGINA
HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, DJe 10/5/2017; e AgRg no REsp 1.539.940/RS, Relatora
Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, DJe 29/3/2016.
5. Recurso Especial não conhecido’ (REsp 1784347/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda
Turma, julgado em 2/4/2019, DJe de 23/4/2019; ênfase acrescentada).
‘ADMINISTRATIVO. MILITAR. REFORMA. ALTERAÇÃO DE BENEFÍCIO. INCAPACIDADE
SUPERVENIENTE. ART. 110, § 1º C/C ART. 108, V, DA LEI 6.880/80. MILITARES DA ATIVA OU
RESERVA REMUNERADA. RESTRIÇÃO. MILITAR JÁ REFORMADO. IMPOSSIBILIDADE.
1. A reforma do militar com a remuneração calculada com base no soldo correspondente ao grau
hierárquico imediato ao que possuir ou que possuía na ativa, nos termos do art. 110, § 1º, c/c o art. 108,
V, da Lei 6.880/80, restringe-se aos militares da ativa ou reserva remunerada, na exata disposição do
caput do art. 110, não sendo possível a concessão de tal benesse àqueles militares já reformados.
2. Recurso especial não provido’ (REsp 1.340.075/CE, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma,
julgado em 9/4/2013, DJe de 15/4/2013; ênfase acrescentada).
(...)
11.De fato, há distinção tão substancial entre os regimes jurídicos aplicáveis, de per si, aos militares
da ativa, da reserva e reformados que não se apresenta razoável pretender igualá-los – pela via da
hermenêutica – para efeito de concessão de benefícios. Note-se que, no plano remuneratório, o Supremo
Tribunal Federal (STF) tem restringido, inclusive, a eficácia de títulos executivos judiciais quando o
titular do direito migra da condição de servidor ativo para a de servidor aposentado. No MS 30.725, por
exemplo, o Ministro Gilmar Mendes anotou:
‘Nesse sentido, a coisa julgada deveria ser invocada, a princípio, para efeitos de pagamento de
vencimentos, o que não significa, necessariamente, que essa proteção jurídica se estenda, desde logo,
para o cálculo dos proventos, o qual deve ser analisado caso a caso, sob pena de reconhecer-se a
perpetuação de um direito declarado a ponto de alcançar um instituto jurídico diverso: o instituto dos
proventos.’
275
12.Ora, o art. 110 do Estatuto dos Militares tem por evidente propósito compensar os militares da
ativa que tenham sua carreira precocemente interrompida por infortúnios associados ao cumprimento do
dever. A exceção são as enfermidades referidas no inciso V do art. 108, mas mesmo ali se faz inequívoca
a intenção do legislador de favorecer o militar vitimado pela interrupção abrupta da carreira.
13.Naturalmente, não há que se falar em interrupção da carreira no caso de militares já reformados.
14.Poder-se-ia até objetar, é verdade, que os militares da reserva, expressamente referidos pela
norma, também se encontram, tecnicamente, na situação de inativos. No entanto, insisto, o discrímen
entre reserva e reforma é tal que a simples leitura da conceituação dada aos institutos espanca qualquer
dúvida a respeito. Eis o que dispõe o art. 3º da Lei 6.880/1980:
‘Art. 3° Os membros das Forças Armadas, em razão de sua destinação constitucional, formam uma
categoria especial de servidores da Pátria e são denominados militares.
§ 1° Os militares encontram-se em uma das seguintes situações:
a) na ativa:
(...)
b) na inatividade:
I - os da reserva remunerada, quando pertençam à reserva das Forças Armadas e percebam
remuneração da União, porém sujeitos, ainda, à prestação de serviço na ativa, mediante convocação ou
mobilização; e
II - os reformados, quando, tendo passado por uma das situações anteriores estejam dispensados,
definitivamente, da prestação de serviço na ativa, mas continuem a perceber remuneração da União.’
15.Nessa mesma linha, saliento que, em sua redação original, o § 1º do art. 110 do Estatuto dirigia-
se unicamente aos militares da ativa. Foi a ocorrência de casos reais de incapacidade – envolvendo
reservistas convocados – ocasionada por ferimento ou enfermidade contraída em função do efetivo
exercício da atividade militar (incisos I e II do art. 108) que motivou o legislador a lhes estender o
benefício. Reproduzo a exposição de motivos que fundamentou a alteração:
(...)
18.Relativamente ao segundo ponto mencionado no item 8 deste voto – concessão em cascata do
benefício previsto no art. 110 da Lei 6.880/1980 –, a jurisprudência do STJ rejeita a hipótese mesmo que
a moléstia incapacitante tenha sido adquirida com o militar ainda na reserva remunerada. Em outras
palavras, se já beneficiário da vantagem do art. 50, inciso II, da Lei 6.880/1980 (inatividade com
proventos calculados sobre o posto hierárquico imediato), nem sequer o militar da reserva remunerada
acometido de moléstia incapacitante faz jus a nova melhoria de proventos com esteio no art. 110, § 1º, da
Lei 6880/1980. Nesse sentido, exemplificativamente, cito como precedente:
‘AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL.
ADMINISTRATIVO. MILITAR DA RESERVA REMUNERADA. SUPERVENIÊNCIA DE
INCAPACIDADE TOTAL E DEFINITIVA. REFORMA. CÁLCULO DOS PROVENTOS. SOLDO DO
POSTO IMEDIATAMENTE SUPERIOR AO QUE EXERCIA NA ATIVA.
1. A orientação jurisprudencial desta Corte Superior é no sentido de que o militar da reserva
remunerada julgado definitivamente incapaz para qualquer trabalho, como na hipótese de estar
acometido de cardiopatia grave, deve ser reformado com proventos correspondentes ao soldo da
graduação hierárquica imediata a que possuía na ativa, nos termos do art. 110, § 1º, da Lei nº 6.880/80.
2. Agravo regimental a que se nega provimento’ (AgRg nos EDcl no Recurso Especial 966.142/RJ,
Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Quinta Turma, julgado em 26/2/2013, DJe de 5/3/2013).
(...)
20.Ressalto, a propósito, que o entendimento aqui externado foi acolhido à unanimidade pelo
Plenário desta Corte de Contas por meio do Acórdão 2.225/2019, de 18/9/2019.’
11.Ante o exposto, este representante do Ministério Público de Contas da União opina por
considerar ilegais os atos de pensão militar instituídas por Sebastião Conegundes de Lima, Gabriel
Jerônymo de Souza e Augusto Costa dos Santos (peças 4, 8 e 10), uma vez que os proventos das reformas
tiveram por referência dois postos acima daqueles que os militares ostentavam na atividade,
276
irregularidade que macula os proventos das respectivas pensões calculadas com base em um ou dois
postos acima, com fundamento no art. 15 da Lei 3.765/1960 (atualizada pela Medida Provisória 2.215-
10/2001).
12.Ressalte-se que os atos foram enviados ao TCU em 2019, de modo que podem ser apreciados
sem a necessidade de prévia oitiva das interessadas, nos termos do Acórdão 587/2011-Plenário.
13.Por fim, quanto aos demais atos, acolhemos a proposta apresentada pela Unidade Técnica de
legalidade e registro.”
É o relatório.
VOTO
Cuida o processo de atos de pensão militar emitidos pelo Ministério da Defesa – Comando do
Exército.
2.No mérito, a secretaria especializada sugere a legalidade e o registro de todas as concessões
examinadas. O Ministério Público de Contas acompanha o encaminhamento oferecido pela Sefip, exceto
em relação aos benefícios instituídos por Sebastião Conegundes de Lima, Gabriel Jerônymo de Souza e
Augusto Costa dos Santos, por identificar que os proventos de reforma (que servem de base para cálculo
da pensão) possuem como referência dois postos hierárquicos acima daquele ocupado pelos instituidores
na ativa, o que está em desacordo com as disposições da Lei 6.880/1980 e com o decidido no Acórdão
2.225/2019-TCU-Plenário.
3.Assiste razão ao Parquet em sua divergência, conforme as seguintes considerações.
4.Com efeito, as hipóteses de concessão de proventos de reforma com base no grau hierárquico
imediatamente superior por invalidez permanente encontram-se disciplinadas no art. 110 da Lei
6.880/1980, nos seguintes termos:
“Art. 110. O militar da ativa ou da reserva remunerada, julgado incapaz definitivamente por um dos
motivos constantes dos incisos I e II do art. 108, será reformado com a remuneração calculada com base
no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao que possuir ou que possuía na ativa,
respectivamente. (Redação dada pela Lei nº 7.580, de 1986)
§ 1º Aplica-se o disposto neste artigo aos casos previstos nos itens III, IV e V do artigo 108,
quando, verificada a incapacidade definitiva, for o militar considerado inválido, isto é, impossibilitado
total e permanentemente para qualquer trabalho.
§ 2º Considera-se, para efeito deste artigo, grau hierárquico imediato:
a) o de Primeiro-Tenente, para Guarda-Marinha, Aspirante-a-Oficial e Suboficial ou Subtenente;
b) o de Segundo-Tenente, para Primeiro-Sargento, Segundo-Sargento e Terceiro-Sargento; e
c) o de Terceiro-Sargento, para Cabo e demais praças constantes do Quadro a que se refere o artigo
16.” (destaquei)
5.Por aí se vê que a concessão de proventos correspondentes ao grau hierárquico superior por
incapacidade definitiva restringe-se a militares da ativa ou da reserva remunerada, não alcançando
militares que sejam considerados incapazes quando já reformados.
6.Convém registrar, ainda, que essa questão foi objeto de análise por ocasião do Acórdão
2.225/2019-TCU-Plenário, cujo sumário foi assim lavrado:
“ATOS DE REFORMA. ALTERAÇÃO DE UMA DAS CONCESSÕES PARA ELEVAÇÃO, EM
UM GRAU HIERÁRQUICO, DO POSTO SOBRE O QUAL CALCULADOS OS PROVENTOS DO
INATIVO, EM FACE DA SUPERVENIÊNCIA DE INVALIDEZ PERMANENTE DECORRENTE DE
DOENÇA ESPECIFICADA EM LEI. MILITAR ANTERIORMENTE REFORMADO COM
PROVENTOS JÁ CALCULADOS SOBRE O POSTO HIERÁRQUICO SUPERIOR, POR TEMPO DE
SERVIÇO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL PARA EXTENSÃO DA VANTAGEM
ESTABELECIDA NO ART. 110 DA LEI 6.880/1980 A MILITARES JÁ REFORMADOS, BEM
COMO PARA O ACRÉSCIMO DE DOIS POSTOS NO CÁLCULO DOS PROVENTOS. NEGATIVA
277
Voto
“9. Como se vê, o benefício previsto no art. 110 da Lei 6.880/1980, expressamente dirigido ao
militar da ativa ou da reserva remunerada, não alcança o militar reformado. Ademais, quer da ativa, quer
da reserva, o benefício se traduz no cálculo dos proventos com base no soldo do posto ou grau hierárquico
imediato àquele que o favorecido apresentava na ativa – ou seja, não há espaço na norma para o cálculo
dos proventos ter por referência dois postos acima daquele que o militar possuía quando ainda em
atividade.
(...)
12. Relativamente ao segundo ponto mencionado no item 9 deste voto – concessão em cascata do
benefício previsto no art. 110 da Lei 6.880/1980 –, a jurisprudência do STJ rejeita a hipótese mesmo que
a moléstia incapacitante tenha sido adquirida com o militar ainda na reserva remunerada. Em outras
palavras, se já beneficiário da vantagem do art. 50, inciso II, da Lei 6.880/1980 (inatividade com
proventos calculados sobre o posto hierárquico imediato), nem sequer o militar da reserva remunerada
acometido de moléstia incapacitante faz jus a nova melhoria de proventos com esteio no art. 110, § 1º, da
Lei 6880/1980.” (destaquei)
9.Essa compreensão está igualmente em sintonia com a jurisprudência do STJ, conforme ilustra a
decisão proferida no Recurso Especial 966.142-RJ:
Ementa
“AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL.
ADMINISTRATIVO. MILITAR DA RESERVA REMUNERADA. SUPERVENIÊNCIA DE
INCAPACIDADE TOTAL E DEFINITIVA. REFORMA. CÁLCULO DOS PROVENTOS. SOLDO DO
POSTO IMEDIATAMENTE SUPERIOR AO QUE EXERCIA NA ATIVA.
1. A orientação jurisprudencial desta Corte Superior é no sentido de que o militar da reserva
remunerada julgado definitivamente incapaz para qualquer trabalho, como na hipótese de estar acometido
de cardiopatia grave, deve ser reformado com proventos correspondentes ao soldo da graduação
hierárquica imediata a que possuía na ativa, nos termos do art. 110, § 1º, da Lei nº 6.880/80.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.”
Voto
278
“Logo, na espécie, como o posto que o agravante exercia na ativa era o de Primeiro-Tenente, deve
perceber, na reforma por incapacidade definitiva para qualquer trabalho, os proventos correspondentes ao
soldo do grau superior, que é o de Capitão. Como já recebia essa remuneração, não há como acolher a
pretensão de revisão para perceber valores de graduação ainda mais elevada.
Consoante asseverado no acórdão regional, não há ‘qualquer ressalva [na legislação] quanto à
remuneração que vinha recebendo o militar da reserva, a partir de sua passagem para a inatividade, que
garantisse, porventura, remuneração correspondente a de dois postos acima daquele ocupado na
atividade, nos casos em que o militar já recebesse proventos correspondentes ao do grau imediato ao que
ocupava na ativa’ (fls. 258/259).”
10.No caso, Sebastião Conegundes de Lima, Gabriel Jerônymo de Souza e Augusto Costa dos
Santos já se encontravam reformados quando foram considerados incapazes por invalidez permanente, o
que, por si só, já impediria a elevação do benefício para o grau hierárquico imediatamente superior ao da
ativa com fundamento no art. 110 da Lei 6.880/1980.
11.Ademais, ainda que a incapacidade tivesse sido atestada quando os instituidores estavam na
reserva, eles já haviam sido contemplados com proventos em posto superior ao da ativa quando da
passagem para a reserva, com fundamento no art. 50, inciso II, da Lei 6.880/1980, por contarem mais de
30 anos de tempo de serviço, o que impede nova elevação de grau hierárquico por invalidez.
12.Tal impropriedade macula os proventos das pensões instituídas por Sebastião Conegundes de
Lima, Gabriel Jerônymo de Souza e Augusto Costa dos Santos, pois possuem como referência o posto de
suas reformas após a dupla promoção indevida.
13.Nessas circunstâncias impõe-se a chancela de ilegalidade às pensões, com negativa de registro,
devendo o órgão de origem encaminhar novos atos cujo posto da reforma corresponda a apenas um grau
hierárquico superior ao posto ocupado na ativa pelos instituidores, da seguinte forma:
13.1.Pensão instituída por Sebastião Conegundes de Lima:
a) Posto na ativa: Primeiro Tenente;
b) Posto de referência para cálculo dos proventos de reforma: Capitão (um posto acima do ocupado
na ativa – art. 50, inciso II, da Lei 6.880/1980);
c) Posto de referência para cálculo dos proventos de pensão: Major (instituidor contribuiu sobre um
posto acima do que possuía – art. 6º da Lei 3.765/1960);
13.2.Pensão instituída por Gabriel Jerônymo de Souza:
a) Posto na ativa: Primeiro Tenente;
b) Posto de referência para cálculo dos proventos de reforma: Capitão (um posto acima do ocupado
na ativa – art. 50, inciso II, da Lei 6.880/1980);
c) Posto de referência para cálculo dos proventos de pensão: Tenente-Coronel (instituidor
contribuiu sobre dois postos acima do que possuía – art. 6º da Lei 3.765/1960);
13.3.Pensão instituída por Augusto Costa dos Santos:
a) Posto na ativa: Capitão;
b) Posto de referência para cálculo dos proventos de reforma: Major (um posto acima do ocupado
na ativa – art. 50, inciso II, da Lei 6.880/1980);
c) Posto de referência para cálculo dos proventos de pensão: Coronel (instituidor contribuiu sobre
dois postos acima do que possuía – art. 6º da Lei 3.765/1960);
14.Por fim, deve ser dispensada a devolução dos valores indevidamente recebidos de boa-fé,
consoante o enunciado 106 da súmula da jurisprudência do TCU.
Ante o exposto, voto por que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto à apreciação deste
Colegiado.
1. Processo nº TC 031.938/2019-1.
279
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos em que se apreciam atos de pensão militar emitidos pelo
Comando do Exército,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
diante das razões expostas pelo Relator, e com fundamento no art. 71, incisos III e IX, da Constituição
Federal de 1988, c/c os arts. 1º, inciso V, 39, inciso II, e 45 da Lei 8.443/1992, e ainda com os arts. 260, §
1º, 261, caput e § 1º, e 262, caput e § 2º, do Regimento Interno do TCU, em:
9.1. considerar legais as pensões militares instituídas por Braulino Limeira da Silva (073.497.187-
72), Haroldo Garcia de Moraes (261.971.706-04), João Fortunato de Oliveira (023.702.986-34), Carlos
Alberto Pereira (389.093.247-91), Bruno de Oliveira dos Santos (126.038.406-30), Ely Dias Pereira
(061.384.627-34) e Oton de Andrade (022.015.006-06), concedendo o registro aos atos correspondentes;
9.2. considerar ilegais as pensões militares instituídas por Sebastião Conegundes de Lima
(043.731.706-49), Gabriel Jerônymo de Souza (064.609.766-00) e Augusto Costa dos Santos
(007.024.986-53), negando o registro aos atos correspondentes;
9.3. dispensar o ressarcimento das quantias indevidamente recebidas de boa-fé (enunciado 106 da
súmula da jurisprudência predominante do TCU);
9.4. determinar ao Ministério da Defesa – Comando do Exército que:
9.4.1. no prazo de 15 (quinze) dias, faça cessar os pagamentos decorrentes dos atos ora
considerados ilegais, sob pena de responsabilidade solidária da autoridade administrativa omissa, até a
emissão de novos atos, livres das irregularidades apontadas, a serem submetidos à apreciação do TCU no
prazo de 30 (trinta) dias;
9.4.2. no prazo de 15 (quinze) dias, dê ciência do inteiro teor desta deliberação às interessadas cujos
atos ora são considerados ilegais, esclarecendo-lhes que o efeito suspensivo proveniente da interposição
de recurso não as exime da devolução dos valores percebidos indevidamente após a notificação sobre o
presente acórdão, em caso de não provimento do recurso porventura impetrado;
9.4.3. no prazo de 30 (trinta) dias, informe ao TCU as medidas adotadas, sem prejuízo de
encaminhar comprovante sobre a data em que as interessadas tomaram conhecimento do contido no item
anterior;
9.5. dar ciência deste acórdão ao Ministério da Defesa – Comando do Exército.
10. Ata n° 17/2020 – 1ª Câmara.
11. Data da Sessão: 2/6/2020 – Telepresencial.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-6323-17/20-1.
13. Especificação do quórum:
13.1. Ministros presentes: Walton Alencar Rodrigues (Presidente), Benjamin Zymler, Bruno Dantas
(Relator) e Vital do Rêgo.
13.2. Ministros-Substitutos presentes: Augusto Sherman Cavalcanti e Weder de Oliveira.
280
RELATÓRIO
Por registrar as principais ocorrências havidas no andamento dos autos até o momento, resumindo
os fundamentos das peças acostadas, adoto como relatório, com os ajustes necessários, a instrução da
secretaria responsável pela análise do processo (peça 95), que contou com a anuência do corpo diretivo da
unidade (peças 96 e 97) e do Ministério Público junto ao TCU (peça 98):
“INTRODUÇÃO
1.Trata-se de Tomada de Contas Especial instaurada pelo Ministério do Turismo, em desfavor da
Sra. Liane Maria Muhlenberg, ex-presidente do Instituto de Pesquisa e Ação Modular - IPAM, entidade
convenente que responde, solidariamente, pelo débito, em razão da impugnação total das despesas
realizadas no âmbito do Convênio Siafi 703944/2009 (peça 28), celebrado entre o referido Ministério e o
IPAM, e que tinha por objeto incentivar o turismo, por meio da implementação do Projeto intitulado
‘Brasília Multisport – Desafio no Cerrado’, conforme plano de trabalho (peça 6).
HISTÓRICO
2.O Convênio Siafi 703944/2009 foi firmado no valor total de R$ 333.340,00, sendo R$
299.970,00, à conta do concedente e R$ 33.370,00, referentes à contrapartida do convenente (peça 28, p.
7). Teve vigência de 3/7/2009 a 30/9/2009 (peça 28, p. 6 e 18) e os recursos foram liberados, por meio
das Ordens Bancárias 2009OB800993 e 2009OB800994, datadas de 17/7/2009 (peça 11).
3.O objeto foi fiscalizado pelo concedente por meio do Relatório de Supervisão in loco 112/2009
(peça 12).
4.A prestação de contas e complementações, enviadas por meio dos documentos acostados às peças
15-28, 35-36, foram analisadas, por meio do Parecer de Análise de Prestação de Contas – Parte Técnica
237/2010 (peça 29); Nota Técnica de Análise 1079/2013 (peça 30); Parecer Financeiro 1173/2017 (peça
38) e Parecer Financeiro 1375/2017 (peça 42).
5.Os fundamentos para a instauração da Tomada de Contas Especial, nos termos da Nota Técnica
de Análise 1079/2013 – ressalvas técnicas (peça 30) e Parecer Financeiro 1375/2017 – ressalvas
financeiras (peça 42), consistiram na ausência de saneamento das irregularidades elencadas nas colunas
‘Pendências’, conforme reproduzido nos quadros abaixo:
Nota Técnica de Análise 1079/2013 – ressalvas técnicas (peça 30):
ITEM OBJETO DA RESSALVA PENDÊNCIAS
1 LOGÍSTICA Com fulcro nas fotografias do
OPERACIONAL – 1.4. relatório de fiscalização in loco
locação de 15 motos de sobredito e, demais documentos
segurança de percurso e comprobatórios da execução da
281
(peça 82).
Edital 30/10/2019 1º/11/2019 - Optou-se pelo 18/11/201
213/2019- edital, por 9
TCU/Secex- conta do
TCE (peça insucesso nas
91). tentativas de
citação/audiên
cia por meio
de ofícios
(peças 67 e
77).
b) Instituto de Pesquisa e Ação Modular - IPAM: promovida a citação da entidade responsável,
conforme delineado adiante:
Ofício Data do Data de Nome do Observação Fim do Prazo
ofício Recebime Recebed para defesa
nto do or do
Ofício- Ofício
publicação
DOU
Ofício 8/4/2019 - - De acordo com -
1500/2019- o AR, o ofício
TCU/Secex- foi devolvido ao
TCE (peça 66). remetente
porque o
destinatário era
desconhecido
(peças 69 e 71).
Ofício 12/6/2019 2/7/2019 Josélia AR (peça 81) 17/7/2019
3821/2019- Alves
TCU/Secex- Barroso
TCE (peça 73).
Ofício 12/6/2019 28/6/2019 - AR (peça 80) 15/7/2019
3822/2019-
TCU/Secex-
TCE (peça 74).
11. O Instituto de Pesquisa e Ação Modular - IPAM (CNPJ 01.883.949/0001-40) apresentou,
intempestivamente, suas alegações de defesa à peça 84. Apesar disso, em observância do princípio do
formalismo moderado, entende-se que a defesa deve ser conhecida e analisada.
12.Por seu turno, transcorrido o prazo regimental, a Sra. Liane Maria Muhlenberg (CPF
607.016.177-72) permaneceu silente, devendo ser considerada revel, nos termos do art. 12, §3º, da Lei
8.443/1992.
EXAME TÉCNICO
13.Passa-se a seguir a descrever cada argumento apresentado nas alegações de defesa do Instituto
de Pesquisa e Ação Modular - IPAM (peça 84), seguido de suas respectivas análises:
Argumentos
14.A defesa alegou, em síntese, que deve ser reconhecida a ilegitimidade passiva do Sr. Paulo
Humberto de Almeida, ex-presidente do Instituto de Pesquisa e Ação Modular - IPAM.
Análise
15.Não obstante seu comparecimento aos autos na condição de representante legal da entidade
convenente, passando-se em revista as alegações aduzidas pelo último presidente do Instituto de Pesquisa
289
e Ação Modular – IPAM, o Sr. Paulo Humberto de Almeida, que esteve à frente da entidade convenente
de 19/6/2013 a 13/7/2018, quando a entidade teve seu cadastro baixado junto à Receita Federal do Brasil
(peça 90), limitou-se a arguir sua ilegitimidade passiva, enquanto pessoa física, ao tempo que historiava
supostas razões escusas em que a presidência da entidade convenente lhe fora transmitida pela Sra. Liane
Maria Muhlenberg.
16.Nesse sentido, não foi apresentado pela defesa nenhum argumento ou elemento que pudesse
afastar as irregularidades imputadas à entidade convenente, na condição de responsável solidária pelo
débito apurado no âmbito do ajuste sob exame.
17. Por oportuno, cabe ressaltar que o Instituto de Pesquisa e Ação Modular – IPAM, na condição
de entidade convenente, responde de forma solidária, conforme jurisprudência consolidada do TCU.
Nesse sentido, vale trazer a lume excerto do Voto condutor do Acórdão 2.763/2011 – TCU – Plenário:
‘(...)
9. A tese sustentada pelo representante do MP/TCU é de que a pessoa jurídica de direito privado, ao
celebrar avença como poder público federal, objetivando alcançar uma finalidade pública, assume o papel
de gestora pública naquele ato e, em consequência, está sujeita ao cumprimento da obrigação pessoal de
prestar contas ao poder público, nos termos do art. 70, parágrafo único, combinado com a parte final do
inciso II, do art. 71 da Carta Magna.
10. Da mesma forma, a responsabilidade da pessoa física, na condição de dirigente de entidades
privadas, encontra amparo nos citados artigos 70 e 71 da CF, visto que, de fato, a pessoa natural é quem
determina a destinação a ser dada aos recursos públicos transferidos; por isso, a obrigação de comprovar a
boa e regular aplicação dos recursos recai sobre ela também, por meio de prestação de contas.’
18.No mesmo sentido, oportuno registrar que o entendimento do Tribunal já foi sumulado no
Enunciado TCU 286, segundo o qual:
A pessoa jurídica de direito privado destinatária de transferências voluntárias de recursos federais
feitas com vistas à consecução de uma finalidade pública responde solidariamente com seus
administradores pelos danos causados ao erário na aplicação desses recursos.
19.Dessa forma, entende-se que as alegações de defesa apresentadas não devem ser acolhidas.
Revelia – Sra. Liane Maria Muhlenberg (CPF 607.016.177-72)
Da validade das notificações
20.Preliminarmente, cumpre tecer breves considerações sobre a forma como são realizadas as
comunicações processuais no TCU. A esse respeito, destacam-se o art. 179, do Regimento Interno do
TCU (Resolução 155, de 4/12/2002) e o art. 4º, inciso III, § 1º, da Resolução TCU 170, de 30 de junho de
2004, in verbis:
‘Art. 179. A citação, a audiência ou a notificação, bem como a comunicação de diligência, far-se-
ão:
I - mediante ciência da parte, efetivada por servidor designado, por meio eletrônico, fac-símile,
telegrama ou qualquer outra forma, desde que fique confirmada inequivocamente a entrega da
comunicação ao destinatário;
II - mediante carta registrada, com aviso de recebimento que comprove a entrega no endereço do
destinatário;
III - por edital publicado no Diário Oficial da União, quando o seu destinatário não for localizado
(...)
Art. 3º As comunicações serão dirigidas ao responsável, ou ao interessado, ou ao dirigente de órgão
ou entidade, ou ao representante legal ou ao procurador constituído nos autos, com poderes expressos no
mandato para esse fim, por meio de:
I - correio eletrônico, fac-símile ou telegrama;
II - servidor designado;
III - carta registrada, com aviso de recebimento;
IV - edital publicado no Diário Oficial da União, quando o seu destinatário não for localizado, nas
hipóteses em que seja necessário o exercício de defesa’.
290
responsabilidade do agente não pode prescindir da prova existente no processo ou para ele carreada.
26.Ao não apresentar sua defesa, a responsável deixou de produzir prova da regular aplicação dos
recursos sob sua responsabilidade, em afronta às normas que impõem aos gestores públicos a obrigação
legal de, sempre que demandados pelos órgãos de controle, apresentar os documentos que demonstrem a
correta utilização das verbas públicas, a exemplo do contido no art. 93, do Decreto-Lei 200/1967: ‘Quem
quer que utilize dinheiros públicos terá de justificar seu bom e regular emprego na conformidade das leis,
regulamentos e normas emanadas das autoridades administrativas competentes.’
27.Mesmo as alegações de defesa não sendo apresentadas, considerando o princípio da verdade real
que rege esta Corte, procurou-se buscar, em manifestações das responsáveis na fase interna desta Tomada
de Contas Especial, se havia algum argumento que pudesse ser aproveitado a seu favor.
28.No entanto, embora tenha requerido prorrogação de prazo e cópia do processo de TCE (peças
35-36), a responsável não se manifestou na fase interna, não havendo, assim, nenhum argumento que
possa vir a ser analisado e posteriormente servir para afastar as irregularidades apontadas.
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA
29.Vale ressaltar que a pretensão punitiva, conforme Acórdão 1.441/2016 - TCU - Plenário, Relator
Ministro Benjamin Zymler, que uniformizou a jurisprudência acerca dessa questão, subordina-se ao prazo
geral de prescrição indicado no art. 205, do Código Civil, que é de dez anos, contado da data de
ocorrência da irregularidade sancionada, nos termos do art. 189, do Código Civil, sendo este prazo
interrompido pelo ato que ordenar a citação, a audiência ou a oitiva do responsável.
30.No caso em exame, não ocorreu a prescrição, uma vez que os recursos foram repassados em
17/7/2009 (peça 11). Por seu turno, o ato de ordenação da citação ocorreu em 21/3/2019 (peça 63).
31.Em se tratando de processo em que a parte interessada não se manifestou acerca das
irregularidades imputadas, não há elementos para que se possa efetivamente aferir e reconhecer a
ocorrência de boa-fé na conduta da responsável, podendo este Tribunal, desde logo, proferir o julgamento
de mérito pela irregularidade das contas, conforme os termos dos §§ 2º e 6º do art. 202 do Regimento
Interno do TCU (Acórdãos 2.064/2011 - TCU - 1ª Câmara, relator Ministro Ubiratan Aguiar; Acórdão
6.182/2011 - 1ª Câmara, relator Ministro Weber de Oliveira; Acórdão 4.072/2010 - TCU - 1ª Câmara,
relator Ministro Valmir Campelo; Acórdão 1.189/2009 - TCU - 1ª Câmara, relator Ministro Marcos
Bemquerer; e Acórdão 731/2008 - TCU - Plenário, relator Ministro Aroldo Cedraz).
32.Dessa forma, a responsável deve ser considerada revel, nos termos do art. 12, §3º, da
Lei 8.443/1992, devendo as contas serem julgadas irregulares, condenando-a ao débito apurado e
aplicando-lhe a multa prevista no art. 57, da Lei 8.443/1992.
33.Em consulta aos sistemas corporativos do instaurador (por exemplo: SICONV, SIGPC, etc),
verifica-se que a responsável também não apresentou contas junto ao instaurador e continua inadimplente.
CONCLUSÃO
34.Em face da análise promovida na seção ‘Exame Técnico’, verifica-se que os responsáveis não
lograram comprovar a boa e regular aplicação dos recursos. Nesse sentido, o representante legal do
Instituto de Pesquisa e Ação Modular – IPAM apresentou alegações de defesa em que se limitou a arguir
sua ilegitimidade passiva, na condição de pessoa física, não logrando coligir elementos ou argumentos
que pudessem elidir as irregularidades evidenciadas nos autos, o que ensejou a formulação de proposta de
rejeição da defesa apresentada. Por seu turno, instada a se manifestar, a Sra. Liane Maria Muhlenberg
optou pelo silêncio, configurando a revelia, nos termos do § 3º, do art. 12, da Lei 8.443/1992.
35.Vale ressaltar que a jurisprudência pacífica nesta Corte é no sentido da imprescritibilidade das
ações de ressarcimento ao erário (Súmula TCU 282). Dessa forma, identificado dano ao erário, deve-se
instaurar e julgar o processo de tomada de contas especial para responsabilizar seus agentes causadores,
respeitando o direito ao contraditório e à ampla defesa, independentemente de quando ocorreram os atos
impugnados.
36.Verifica-se também que não houve a prescrição da pretensão punitiva, conforme análise já
realizada.
292
37.Tendo em vista que não constam dos autos elementos que permitam reconhecer a boa-fé das
responsáveis, sugere-se que as suas contas sejam julgadas irregulares, nos termos do art. 202, § 6º, do
RI/TCU, com a imputação do débito atualizado monetariamente e acrescido de juros de mora, nos termos
do art. 202, §1º do RI/TCU, descontado o valor eventualmente recolhido, com a aplicação da multa
prevista no art. 57, da Lei 8.443/1992. Ressalta-se que a análise da culpabilidade relativa à pessoa jurídica
de direito privado é realizada considerando as condutas de seus administradores, uma vez que os atos
destes obrigam a pessoa jurídica, desde que exercidos nos limites dos poderes definidos no ato
constitutivo do ente, nos termos do art. 47 do Código Civil (Acórdão 1723/2016-TCU-Plenário, Ministro-
Relator Raimundo Carrero).
38.Por fim, como não houve elementos que pudessem modificar o entendimento acerca das
irregularidades em apuração, mantém-se a matriz de responsabilização presente na instrução da peça 61.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
39.Diante do exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo-se:
a) considerar revel a Sra. Liane Maria Muhlenberg (CPF 607.016.177-72), para todos os efeitos,
dando-se prosseguimento ao processo, com fulcro no art. 12, § 3º, da Lei n. 8.443/92;
b) rejeitar as alegações de defesa apresentadas pelo Instituto de Pesquisa e Ação Modular - IPAM
(CNPJ 01.883.949/0001-40);
c) julgar irregulares, nos termos dos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea ‘a’, § 2º, da Lei
8.443/1992 c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com arts. 1º, inciso I, 209, inciso I, 210 e 214,
inciso III, do Regimento Interno/TCU, as contas da Sra. Liane Maria Muhlenberg (CPF 607.016.177-72)
e do Instituto de Pesquisa e Ação Modular - IPAM (CNPJ 01.883.949/0001-40), condenando-os,
solidariamente, ao pagamento da importância a seguir especificada, atualizada monetariamente e
acrescida dos juros de mora, calculada a partir da data discriminada até a data da efetiva quitação do
débito, fixando-lhes o prazo de quinze dias, para que comprovem, perante o Tribunal, o recolhimento das
referidas quantias aos cofres do Tesouro Nacional, nos termos do art. 23, inciso III, alínea ‘a’, da citada
lei;
DATA DA VALOR ORIGINAL
OCORRÊNCIA (R$)
17/7/2009 299.970,00
Valor atualizado do débito em 19/3/2020: R$ 734.116,84 (peça 94).
d) aplicar individualmente a Sra. Liane Maria Muhlenberg (CPF 607.016.177-72) e ao Instituto de
Pesquisa e Ação Modular - IPAM (CNPJ 01.883.949/0001-40), a multa prevista no art. 57 da Lei
8.443/1992 c/c o art. 267 do RI/TCU, fixando-lhes o prazo de quinze dias, a contar da notificação, para
que comprovem, perante o Tribunal (art. 214, III, a, do Regimento Interno do TCU), o recolhimento da
dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do acórdão que vier a ser
proferido por este Tribunal até a do efetivo recolhimento, se pagas após o vencimento, na forma da
legislação em vigor;
e) autorizar, desde logo, a cobrança judicial das dívidas, caso não atendidas as notificações, na
forma do disposto no art. 28, inciso II, da Lei nº 8.443/1992;
f) autorizar também, desde logo, se requerido, com fundamento no art. 28, inciso I, da Lei 8.443, de
1992 c/c o art. 217, §§ 1º e 2º do Regimento Interno, o parcelamento da dívida em até 36 parcelas,
incidindo sobre cada parcela, corrigida monetariamente, os correspondentes acréscimos legais fixando-
lhes o prazo de quinze dias, a contar do recebimento da notificação, para comprovarem perante o Tribunal
o recolhimento da primeira parcela, e de trinta dias, a contar da parcela anterior, para comprovarem os
recolhimentos das demais parcelas, devendo incidir sobre cada valor mensal, atualizado monetariamente,
os juros de mora devidos, no caso do débito, na forma prevista na legislação em vigor, alertando os
responsáveis de que a falta de comprovação do recolhimento de qualquer parcela importará o vencimento
antecipado do saldo devedor, nos termos do § 2º do art. 217 do Regimento Interno deste Tribunal;
293
g) enviar cópia do Acórdão a ser prolatado, bem como do Relatório e do Voto que o fundamentarem
à Procuradoria da República no Distrito Federal, nos termos do § 3º do art. 16 da Lei 8.443/1992 c/c o §
7º do art. 209 do Regimento Interno do TCU, para adoção das medidas cabíveis;
h) enviar cópia do Acórdão que vier a ser proferido ao Ministério do Turismo e aos responsáveis,
para ciência, informando que a presente deliberação, acompanhada do Relatório e do Voto que a
fundamenta, está disponível para a consulta no endereço www.tcu.gov.br/acordaos, além de esclarecer
que, caso requerido, o TCU poderá fornecer sem custos as correspondentes cópias, de forma impressa.”
É o relatório.
VOTO
Trata-se de tomada de contas especial (TCE) instaurada pelo Ministério do Turismo (MTur) em
desfavor do Instituto de Pesquisa e Ação Modular (IPAM) e de Liane Maria Muhlenberg, ex-dirigente da
entidade, decorrente da não comprovação da regular aplicação dos recursos repassados pela União no
âmbito do Convênio 14.323/2009 (Siafi 703.944/2009), que tinha por objeto incentivar o turismo, por
meio da implementação do projeto intitulado “Brasília Multisport – Desafio no Cerrado”.
2. O convênio foi firmado no valor de R$ 333.340,00, sendo R$ 299.970,00 à conta
do órgão concedente e R$ 33.370,00 referentes à contrapartida da entidade convenente. Os recursos
federais foram liberados por meio da ordem bancária 2009OB800993 e 2009OB800994, creditada na
conta específica do convênio em 21/7/2009, conforme extrato bancário à peça 25.
3. Na fase interna da TCE, o órgão concedente concluiu pela impugnação total das
despesas, devido à não apresentação de documentos necessários para a análise conclusiva da prestação de
contas. O Controle Interno anuiu a esse posicionamento.
4. No âmbito do TCU, o IPAM foi citado em nome de seu representante legal e no endereço
constantes na base da Receita Federal, enquanto Liane Maria Muhlenberg foi citada por edital, após
esgotadas as tentativas de localização da responsável.
5. Embora regularmente citada, o prazo regimental transcorreu sem que a
gestora apresentasse alegações de defesa ou efetuasse o recolhimento do débito. Dessa forma, deve ser
considerada revel, dando-se prosseguimento ao processo, conforme estabelece o art. 12, § 3º, da Lei
8.443/1992.
6. Por sua vez, o IPAM ofereceu intempestivamente sua defesa que, em observância do princípio
do formalismo moderado, foi devidamente analisada pela unidade instrutora. Foram apresentadas apenas
alegações acerca da ilegitimidade de Paulo Humberto de Almeida, presidente da entidade no período de
19/6/2013 a 13/7/2018, para figurar no polo passivo desta TCE.
7. Portanto, não foram apresentados elementos pudessem afastar as irregularidades imputadas à
pessoa jurídica ou à sua dirigente à época dos fatos, levando à rejeição das alegações de defesa e proposta
de julgar irregulares as contas, com a imputação solidária do débito integral e a aplicação individual da
multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992.
8. Corroboro em essência as análises empreendidas pela unidade instrutora, as quais contaram
com a anuência do Ministério Público junto ao TCU, razão pela qual incorporo os fundamentos
apresentados às minhas razões de decidir, fazendo um ajuste na fundamentação da irregularidade das
contas, que deve ocorrer pelo art. 16, inciso III, alíneas “b” e “c” da Lei 8.443/1992, e na data de
ocorrência do débito, que deve considerar a data em que os recursos foram creditados na conta específica
do convênio.
9. Verifico que o IPAM prestou contas ao órgão concedente dentro do prazo de 30 dias após a
vigência do convênio, conforme ofício à peça 17. Assim, a irregularidade ensejadora do débito integral
decorreu da insuficiência de documentos, e não pela ausência de prestação de contas, impossibilitando o
estabelecimento do nexo de causalidade entre os recursos federais repassados e as despesas executadas.
10. A jurisprudência desta Corte de Contas entende que a mera execução física do objeto ou de
parte dele não comprova o regular emprego dos recursos de convênio firmado com a União. É necessário
294
que o responsável demonstre o nexo causal entre os recursos por ele geridos e os documentos de despesas
referentes à execução, como notas de empenho, ordens bancárias, cheques, recibos ou notas fiscais e
extratos bancários, com vistas a confirmar a utilização dos recursos da União no ajuste.
11. Sendo assim, as informações constantes do processo não permitem concluir pela regular
aplicação dos recursos, cabendo, portanto, julgar irregulares as contas dos responsáveis, condenando-os
ao pagamento do débito apurado nos autos e aplicando-lhes a multa prevista no art. 57 da referida Lei.
12. Por fim, diante da ausência de indícios de que os responsáveis tenham agido de maneira
diligente ou adotado quaisquer medidas para resguardar o erário, reputo não ser possível reconhecer a
boa-fé, o que autoriza o imediato julgamento definitivo de mérito de suas contas, nos termos do art. 202,
§ 6º, do Regimento Interno do TCU.
13. Ante o exposto, voto por que o Tribunal adote o Acórdão que ora submeto à deliberação deste
Colegiado.
1. Processo nº TC 043.398/2018-9.
2. Grupo I – Classe de Assunto: II – Tomada de Contas Especial.
3. Responsáveis: Instituto de Pesquisa e Ação Modular – IPAM (01.883.949/0001-40); Liane Maria
Muhlenberg (607.016.177-72).
4. Entidade: Instituto de Pesquisa e Ação Modular – IPAM (01.883.949/0001-40).
5. Relator: Ministro Bruno Dantas.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Sergio Ricardo Costa Caribé.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (SecexTCE).
8. Representação legal: Cleuceny Soares Gomes (OAB/DF 58.274), representando Instituto de
Pesquisa e Ação Modular – IPAM (01.883.949/0001-40).
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério
do Turismo (Mtur) em desfavor do Instituto de Pesquisa e Ação Modular (IPAM) e de Liane Maria
Muhlenberg, ex-dirigente da entidade, decorrente da não comprovação da regular aplicação dos recursos
repassados pela União no âmbito do Convênio 14323/2009 (Siafi 703944/2009), que tinha por objeto
incentivar o turismo, por meio da implementação do projeto intitulado “Brasília Multisport – Desafio no
Cerrado”,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da Primeira
Câmara, ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. considerar Liane Maria Muhlenberg revel, para todos os efeitos, dando-se prosseguimento ao
processo, nos termos do art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992;
9.2. com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea “b” e “c”, e § 2º da Lei 8.443/1992
c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com arts. 1º, inciso I, 209, incisos II e III, e § 5º, 210 e
214, inciso III, do Regimento Interno, julgar irregulares as contas do Instituto de Pesquisa e Ação
Modular (IPAM) e de Liane Maria Muhlenberg, condenando-os solidariamente ao pagamento do débito
discriminado a seguir, atualizado monetariamente e acrescido dos juros de mora devidos, calculados
desde a data de ocorrência indicada até sua efetiva quitação, na forma da legislação vigente, fixando o
prazo de 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da notificação, para que seja comprovado, perante este
Tribunal, o recolhimento da quantia ao Tesouro Nacional, nos termos do art. 23, inciso III, alínea “a”, da
referida Lei, c/c o art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno do TCU:
DATA DA OCORRÊNCIA VALOR ORIGINAL (R$)
21/7/2009 299.970,00
295
9.3. com fundamento no art. 57 da Lei 8.443/1992, aplicar ao Instituto de Pesquisa e Ação Modular
(IPAM) e a Liane Maria Muhlenberg multa individual no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais),
atualizada monetariamente desde a data do presente acórdão até a do efetivo recolhimento, se for pago
após o vencimento, na forma da legislação vigente, fixando o prazo de 15 (quinze) dias, a contar do
recebimento da notificação, para que seja comprovado, perante este Tribunal, o recolhimento da quantia
ao Tesouro Nacional, nos termos do art. 23, inciso III, alínea “a”, da referida Lei, c/c o art. 214, inciso III,
alínea “a”, do Regimento Interno do TCU;
9.4. autorizar, caso requerido, o parcelamento da dívida constante deste acórdão em até 36 (trinta e
seis) parcelas, nos termos do art. 26 da Lei 8.443/1992, c/c o art. 217, §§ 1º e 2º, do Regimento Interno do
TCU, informando aos responsáveis que incidirão sobre cada parcela os correspondentes acréscimos legais
e que a falta de pagamento de qualquer parcela importará no vencimento antecipado do saldo devedor;
9.5. autorizar a cobrança judicial da dívida, caso não atendidas as notificações, nos termos do
art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992;
9.6. com fundamento no art. 16, § 3º, da Lei 8.443/1992, c/c art. 209, § 7º, do Regimento Interno do
TCU, remeter cópia deste acórdão à Procuradoria da República no Distrito Federal, para adoção das
medidas que entender cabíveis;
9.7. dar ciência deste acórdão aos responsáveis e ao Ministério do Turismo.
RELATÓRIO
Adoto, como relatório, a instrução elaborada pela então Secex/SC, que foi endossada pelos
dirigentes da unidade, bem como o parecer divergente do MP/TCU (peças 52/55).
I – INSTRUÇÃO DA SECEX/SC
2009-2012, em razão da impugnação total de despesas do Convênio 0851/2009 (Siafi 704499), firmado,
em 19/8/2009, entre aquele Ministério e a Prefeitura Municipal, tendo como objeto a transferência de
recursos para a realização do evento denominado ‘Promoção e Divulgação do Turismo no Município de
Gravatal - 3º Encontro de Jipeiros de Gravatal/SC’ (peça 1, p. 38-55).
HISTÓRICO
2. Conforme disposto na cláusula quinta do termo de convênio, foram previstos R$ 208.500,00
para a execução do objeto, dos quais R$ 200.000,00 seriam de responsabilidade do concedente e
R$ 8.500,00 de recursos de contrapartida, a serem aplicados na contratação de artistas de renome nacional
e regional, divulgação, de equipes de apoio, da montagem de estrutura e da sonorização necessária à
realização do 3º Encontro de Jipeiros de Gravatal/SC (cópia de Plano de Trabalho peça 1, p. 11-18).
3. Os recursos federais foram remetidos em uma única parcela, mediante ordem bancária
2009OB801517, no valor de R$ 200.000,00, emitida em 14/10/2009 (peça 1, p. 57).
4. O ajuste vigeu, inicialmente, de 19/8/2009 a 30/10/2009, tendo sido prorrogado até
27/11/2009 (DOU peça 1, p. 56 e 58), com previsão de apresentação das contas em até trinta dias após a
vigência do ajuste, conforme estabelecido na cláusula quarta.
5. Consubstanciaram a instauração da presente TCE e sua certificação pela irregularidade: i) o
Parecer de Análise de Prestação de Contas – Parte Técnica 906/2010 (peça 1, p. 68 e seguintes); ii) as
Notas Técnicas de Análise 0803/2012 (peça 1, p. 75 e seguintes) e de Reanálise 0046/2013 (peça 1, p. 91
e seguintes), todos da Coordenação-Geral de Monitoramento, Fiscalização e Avaliação de Convênios da
Secretaria Nacional de Políticas do Ministério do Turismo; e iii) a Nota Técnica de Análise Financeira
642/2014, da Coordenação de Prestação de Contas da Subsecretaria de Planejamento, Orçamento e
Administração da Secretaria Executiva do Ministério do Turismo (peça 1, p. 111-113).
6. Da peça 1, p. 108, 109 e 110, constam os Ofícios 2413 e 2414, de 12/11/2014, de Notificação
do município de Gravatal e do Sr. Rudinei Carlos do Amaral Fernandes acerca das conclusões das Notas
Técnicas finais (NT) 0046/22013 e 0642/2014, as quais informaram a reprovação das contas em relação à
não realização do objeto (execução física) e à não-análise da regularidade da aplicação financeira das
verbas repassadas em face da inexecução física constatada.
7. Em face da inscrição do município no Cadastro de Inadimplentes do Sistema de
Administração Financeira (Cadin), o Prefeito sucessor, Sr. Jorge Leonardo Nesi, peticionou e logrou êxito
junto ao Ministério do Turismo no sentido de obter a suspensão da medida, adotada em face de ausência
de apresentação de elementos complementares à prestação de contas. Apresentou o gestor, em síntese, as
seguintes justificativas: i) a não localização de documentos que pudessem auxiliar o prosseguimento do
exame das contas; e ii) a notificação do ex-gestor, sem adoção de providências no sentido de prestar as
informações requeridas pelo concedente, demonstrando o descaso daquela autoridade (peça 1, p. 102-
106).
8. Nesse contexto, foi instaurada a tomada de contas especial, cujo relatório do tomador de
contas encontra-se à peça 1, p. 127-133, com a conclusão pela responsabilização do ex-Prefeito pelo dano
no valor original de R$ 200.000,00, tendo como motivo ‘irregularidade na execução física do convênio
704099/2009’.
9. O relatório da CGU manteve a responsabilidade pelo débito com a Fazenda Nacional pelo
valor original de R$ 200.000,00 (peça 1, p. 168-170). O certificado de auditoria e o parecer do dirigente
do órgão de controle interno concluíram pela irregularidade das presentes contas (peça 1, p. 172-173).
10. O Ministro do Turismo atestou haver tomado conhecimento das conclusões constantes do
relatório e do certificado de auditoria, bem como do parecer conclusivo do dirigente do órgão de controle
interno (peça 1, p. 176).
11. Inicialmente, não foi juntada aos autos a prestação de contas ou os documentos obtidos em
diligência durante a fase interna de apuração.
12. Em 11/4/2016 foi lançada instrução inicial nesta UT com proposta de realização de citação
nos seguintes termos (peça 2):
(...)
297
(peça 1, p. 38-55), convênio 0851/2009 (Siafi 704499), em razão da impugnação total do ajuste em face
das constatação de existência das seguintes irregularidades:
10.1 - encaminhamento do relatório de execução físico-financeira com preenchimento incorreto e
sem as informações acerca das quantidades de itens, em descumprimento ao previsto na cláusula décima-
segunda, parágrafo primeiro, alínea ‘a’, do termo do Convênio;
10.2 - ausência de comprovação da regular execução da despesa quanto aos estágios de liquidação e
de pagamento, em afronta aos artigos 62 e 63 da Lei 4.320/64, relativamente aos seguintes itens:
10.2.1 - não encaminhamento do material referente aos anúncios em TV, mas apenas de uma
matéria de um programa de TV mostrando como foi o evento;
10.2.2 - remessa de cópia do anúncio em rádio sem trazer a programação prevista nem os valores
unitários e totais das inserções;
10.2.3 - encaminhamento de exemplares dos anúncios em jornal com o nome e a logomarca do
MTur apenas em meia página, sem anúncio de capa, conforme constava do Plano de Trabalho;
10.2.4 - apresentação de relação de endereços dos outdoors sem as devidas fotos;
10.2.5 - não encaminhamento do exemplar dos panfletos [material promocional];
10.2.6 - não identificação das apresentações artísticas do Grupo Ivonir Machado & Novos Garotos,
da Banda Fissura, da Banda os Sócios e dos cantores Evandro Rodrigues e Vítor &Gabriel, previstas no
Plano de Trabalho; e
10.2.7 - impossibilidade de identificação, pelas fotos remetidas, de que os shows, o palco, a
sonorização e iluminação se referiram ao evento;
11.A responsabilidade por esta TCE recai sobre o Sr. Rudinei Carlos do Amaral Fernandes, por
força do art. 70, Parágrafo único, da Constituição Federal. Na condição de Prefeito Municipal foi ele
quem celebrou o convênio em tela e foi responsável por gerir os recursos do ajuste. A ausência de
apresentação de defesa não permite inferir-se sobre a existência de outros responsáveis pela gestão
impugnada ou ter havido algum tipo de benefício ao município, ainda que com desvio de finalidade em
relação ao objeto pactuado.
12. Como relatado no parágrafo oitavo, houve infringência aos dispositivos da Lei 4.320/64 na
execução do ajuste ante à irregular execução da despesa quanto aos estágios de liquidação e de
pagamento, em afronta aos artigos 62 e 63 do diploma legal, bem assim o descumprimento da cláusula
décima-segunda, parágrafo primeiro, alínea ‘a’, do termo de convênio, consubstanciada na remessa do
relatório de execução físico-financeira com informações incorretas ou incompletas.
(...)
14. O Ministro-Relator Augusto Sherman, em Despacho de peça 11, na linha do Parecer exarado
pela Sra. Subprocuradora-Geral do MP/TCU Cristina Machado da Costa e Silva à peça 10, e dissentindo
dos pronunciamentos uniformes desta UT (peças 8 e 9), determinou a restituição dos autos à Secex/SC
para a realização de diligência ao Ministério do Turismo visando à obtenção integral do processo de
prestação de contas apresentada pelo Prefeito e os demais documentos acostados em atendimento às
notificações realizadas pelo repassador.
15. Realizada a Diligência (peça 12), manifestou-se o MTur por intermédio do Ofício
1014/2016/AECI/MTur, de 8/8/2016 (peça 14), anexando a documentação solicitada (peças 15 a 20),
tendo parte sido juntada ao feito como ‘item não digitalizável’, na forma disciplinada em normas internas
deste Tribunal (v. peça 21).
16. Dessa forma, nova análise foi procedida nos autos, tendo sido emanada proposta, em
20/2/2017 (peça 22), novamente uniforme no âmbito da Secex/SC (peça 23), de julgamento das contas
como regulares com ressalvas em relação, ainda, ao mesmo responsável. Assim constou da seção exame
técnico e da proposta daquela instrução:
(...)
EXAME TÉCNICO
(...)
299
13. Efetivamente, apenas parte da prestação de contas constava dos autos ou do Siconv até então,
conforme relatado na instrução de peça 2, parágrafos 5 e 12. De fato, como assinala o Relator, ‘a teor do
art. 5.º, § 1.º, inciso II, da IN/TCU n.º 71/2012, a TCE deve conter a descrição detalhada da situação que
deu origem ao dano, lastreada em documentos, narrativas e outros elementos probatórios que deem
suporte à comprovação de sua ocorrência, autorizando tal dispositivo a concluir que, quando a prestação
de contas tiver sido apresentada e impugnada, é imprescindível que ela se faça presente no processo, o
que não ocorreu neste feito’.
14. Analisada a documentação solicitada ao concedente, passa-se a contrastar as irregularidades em
apuração com os novos elementos trazidos, na ordem dos subitens 12.1 e 12.2 listados no parágrafo 12,
acima.
encaminhamento do relatório de execução físico-financeira com preenchimento incorreto e sem as
informações acerca das quantidades de itens, em descumprimento ao previsto na cláusula décima
segunda, parágrafo primeiro, alínea ‘a’, do termo do Convênio 99 (item 12.1, acima)
15. A Nota Técnica de Reanálise 0046/2013 (peça 1, p. 91-97, repetida nos volumes ora juntados às
peças 15 a 18), da Coordenação-Geral de Monitoramento, Fiscalização e Avaliação de Convênios da
Secretaria Nacional de Políticas do Ministério do Turismo, homologada em 14/1/2013, após o
recebimento dos últimos documentos remetidos pelo ex-Prefeito, em 30/10/2012 e 26/12/2012(peça 15, p.
94-99 e peça 16, p. 1 a 82), a título de Justificativas à Nota Técnica de Análise 0803/2012 (peça 1, p. 75 e
seguintes), manteve a impugnação anterior, assim discorrendo sobre a matéria: ‘Foi encaminhado
relatório preenchido mais uma vez de maneira incorreta (fls. 104 e 105). Os itens foram listados no local
incorreto e não foram informadas suas quantidades’ (nestes autos, citado relatório encontra-se à peça 16,
p. 72-73, em sua última versão).
16. A versão anterior do Relatório de Execução Físico-Financeira examinada por aquela
Coordenação encontra-se à peça 15, p. 46. E, de fato, em ambas as versões verifica-se a ausência das
quantidades executadas. Entretanto, trata-se de erro formal, podendo as quantidades de itens pagos ou
consumidos no evento serem comprovadas por diversos outros documentos agora presentes nos autos,
abaixo citados:
16.1 – Relatório de Cumprimento de Objeto (peça 16, p. 5);
16.2 – extratos de inserções em rádios e mídia volante (peça 16, p. 12-23);
16.3 – fotografias do evento com menções ao 3º Encontro, ao Ministério do Turismo e às datas
programadas, com demonstração de infraestrutura compatível com as contratações estipuladas e o porte
da festa, e os shows programados (peça 16, p 24-64 e peças 19 a 20);
16.4 – Notas Fiscais emitidas pela empresa contratada (peça 18, p. 15 e 17);
16.5 – contrato firmado com a empresa acima, com os quantitativos condizentes com o evento (peça
18, p. 32-36) e com o Plano de Trabalho (peça 1, p. 11-18).
17. Diante desses novos elementos, entende-se que a irregularidade deve ser afastada. Amparam o
entendimento, ainda, as análises adiante realizadas em relação às demais impugnações que deram origem
à TCE, abaixo transcritas.
ausência de comprovação da regular execução da despesa quanto aos estágios de liquidação e de
pagamento, em afronta aos artigos 62 e 63 da Lei 4.320/64, relativamente aos seguintes itens:
não encaminhamento do material referente aos anúncios em TV, mas apenas de uma matéria de um
programa de TV mostrando como foi o evento;
remessa de cópia do anúncio em rádio sem trazer a programação prevista nem os valores unitários
e totais das inserções;
encaminhamento de exemplares dos anúncios em jornal com o nome e a logomarca do MTur
apenas em meia página, sem anúncio de capa, conforme constava do Plano de Trabalho;
apresentação de relação de endereços dos outdoors sem as devidas fotos;
não encaminhamento do exemplar dos panfletos [material promocional];
300
não identificação das apresentações artísticas do Grupo Ivonir Machado & Novos Garotos, da
Banda Fissura, da Banda os Sócios e dos cantores Evandro Rodrigues e Vítor &Gabriel, previstas no
Plano de Trabalho; e
impossibilidade de identificação, pelas fotos remetidas, de que os shows, o palco, a sonorização e
iluminação se referiram ao evento (item 12.2, acima, e subitens 12.2.1 a 12.2.7)
18. Inicialmente, registre-se que foram recebidos em CD, do MTur, áudios, vídeos e spots para a
divulgação do evento por intermédio de tv, rádio e mídia volante, os quais se encontram armazenados
nesta Unidade Técnica (v. formulário de peça 21).
19. Além disso, a documentação examinada, citada no parágrafo 16 (contrato com a empresa
responsável pela gestão do evento, NF, extratos de veiculação em mídia apresentados pelas emissoras e
prestadores contratados e fotografias), demonstra, à exaustão, a promoção e a realização do Encontro de
forma a afastar as impugnações apresentadas pelo repassador.
20. Há nítida vinculação entre as imagens captadas e o evento. A infraestrutura (banheiros, barracas,
palcos), os folders, a presença de público e de motoristas do segmento jipeiro, as camisetas promocionais,
as apresentações artísticas e outras capturas permitem avançar sobre os exames procedidos anteriormente
para atestar, desta feita, o cumprimento do objeto sob o aspecto impugnado pela Nota Técnica de
Reanálise 0046/2013 (peça 1, p. 91-97) e adotado pelo tomador de contas e pela CGU (a execução física
do termo).
21. De outra parte, o exame da execução do convênio sob o aspecto financeiro não ocorreu, ainda.
Como registrado nos parágrafos 7º, 20 e 21 da instrução inicial, a prestação de contas não foi objeto de
análise pelo concedente sob esse prisma pelos motivos expostos na Nota Técnica de Análise Financeira
642/2014, da Coordenação de Prestação de Contas da Coordenação-Geral de Convênios do MTur (peça 1,
p. 111-113), que suprimiu o exame, de forma sumária, ante a reprovação da execução física.
22. Salientou aquela NT, no campo ‘Análise’, que o artigo 87, §§ 2º e 4º, da Portaria MTur
112/2013, reservariam à subunidade (Coordenação de Prestação de Contas) apenas a tarefa de calcular o
montante a ser restituído e notificar o convenente, sendo a reprovação financeira consequência da
reprovação indicada pela ‘área técnica’ (o que ocorreu por intermédio da NT 0046/2013)
23. Presentes os documentos relativos à proposição, aprovação, execução e prestação de contas do
convênio, deve-se considerar aprovada sua execução sob esse aspecto, também. Houve a execução de
despesas na ordem de R$ 202.200,00 (R$ 112.000,00 aplicados em estrutura e R$ 90.200,00 pagos pelos
shows artísticos realizados) e a restituição do saldo de R$ 6.300,00 aos cofres do Tesouro, consoante se
verifica dos extratos bancários, NF, GRU e extratos de inexigilidade para os shows constantes da peça 15,
p. 50-60.
24. Verificou-se, também, a realização de procedimento licitatório para a contratação de empresa
especializada em infraestrutura, a adequação da inexigibilidade adotada para a contração de artistas de
renome local ou nacional (peça 15, p. 54) e a correção dos demais documentos de liquidação e pagamento
de forma a permitir a mudança de entendimento sobre a matéria.
(...)
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
26. Diante do exposto, submetemos os autos à consideração superior propondo ao Tribunal que:
26.1 – sejam acolhidas as razões de justificativas apresentadas pelo Sr. Rudinei Carlos do Amaral
Fernandes;
26.2 – com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso II, 18 e 23, inciso II, da Lei 8.443/1992, c/c
os arts. 1º, inciso I, 208 e 214, inciso II, do Regimento Interno, sejam julgadas regulares com ressalva as
contas do Sr. Rudinei Carlos do Amaral Fernandes (CPF 288.479.899-49), relativamente à gestão do
convênio 0851/2009 (Siafi 704499), firmado, em 19/08/2009, entre o Ministério do Turismo e a
Prefeitura Municipal de Gravatal, dando-lhe quitação;
(...)
17. O Ministério Público junto ao TCU concordou com a proposta (peça 24).
18. O Ministro-Relator, percebendo a inclusão de Notas Fiscais não correspondentes ao objeto em
301
questão, bem assim a ausência das cartas de exclusividade supostamente firmadas pelos artistas, retornou
os autos à Secex-SC, determinando, em Despacho lançado nos autos em 27/7/2017, que a unidade:
a) [diligenciasse] ao Banco do Brasil com vistas à obtenção de cópia dos cheques utilizados para
sacar os recursos federais da conta específica do convênio a fim de verificar o destinatário das respectivas
quantias;
b) [reexaminasse] o processo à luz dos elementos obtidos, das considerações expostas neste
despacho e das orientações expedidas pelo Acórdão 1435/2017-Plenário.
19. A resposta à Diligência foi juntada à peça 32 (complementação à peça 35) e nova instrução
foi realizada, em 2/10/2017 (peça 33), tendo o dirigente local (peça 34) e o MPTCU (peça 36) anuído
com a nova proposta de julgamento das contas do Sr. Rudinei Carlos do Amaral Fernandes, relativamente
à gestão do Convênio 0851/2009 (Siafi 704499), como regulares com ressalva, dando-lhe quitação.
20. Assim constou da seção exame técnico e da proposta da última instrução lançada por esta UT
(peça 33):
(...)
EXAME TÉCNICO
7. A cópia dos cheques (peça 32, p. 2, 5 e 8) demonstram a veracidade das informações prestadas na
Relação de Pagamentos Efetuados (peça 15, p. 48).
8. Os pagamentos realmente foram efetuados em favor da empresa Djalma Produções Artísticas
Ltda.
9. A ausência, nos autos, da carta de exclusividade, considerando não estarem presentes os
pressupostos dos subitens 9.2.3.1 e 9.2.3.2 do Acórdão 1.435/2017-TCU-Plenário, não tem, assim, o
condão de ensejar a irregularidade das contas nem a condenação em débito do responsável.
10. Além disso, a presente Tomada de Contas Especial foi constituída apenas com base na suspeita
de inexecução física do objeto, o que foi descartado com base nas informações da instrução à peça 22 e
nas da peça 32.
11. Considerando, assim, os fatos acima, que levam a uma presunção de regularidade nas despesas
em tela, bem como a antiguidade do convênio e a inexistência de análise da execução financeira do ajuste,
entende-se que continuam válidos todos os argumentos esposados na instrução que constitui a peça 22,
razão pela qual transcrevo a seguir, adotando-os como fundamentos desta instrução, os parágrafos que
fundamentam a proposta de encaminhamento, com os ajustes necessários:
(...)
segue texto relativo aos §§ 14 a 24 da instrução de peça 22, já transcrito no parágrafo 16, acima.
(...)
12. Os ajustes a serem feitos dizem respeito apenas às notas fiscais mencionadas pelo Auditor e que,
como verificado pelo Ministro-Relator, não correspondem ao objeto do convênio.
13. A apresentação da cópia dos cheques, entretanto, corrige essa falha.
(...)
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
14. Diante do exposto, submetemos os autos à consideração superior propondo ao Tribunal que:
14.1 – sejam acolhidas as razões de justificativas apresentadas pelo Sr. Rudinei Carlos do Amaral
Fernandes;(*)
14.2 – com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso II, 18 e 23, inciso II, da Lei 8.443/1992, c/c
os arts. 1º, inciso I, 208 e 214, inciso II, do Regimento Interno, sejam julgadas regulares com ressalva as
contas do Sr. Rudinei Carlos do Amaral Fernandes (CPF 288.479.899-49), relativamente à gestão do
convênio 0851/2009 (Siafi 704499), firmado, em 19/08/2009, entre o Ministério do Turismo e a
Prefeitura Municipal de Gravatal, dando-lhe quitação; (*)
(...)
(*) na proposta original (peça 22), constaram como subitens 26.1 e 26.2
21. Novamente os autos foram restituídos pelo Relator que entendeu não estar demonstrado o
nexo de causalidade entre os recursos recebidos (R$ 200.000,00, à conta do convênio MTur 851/2009) e o
302
evento realizado.
22. Nada obstante tenham sido obtidas cópias dos cheques que demonstram ter havido
pagamentos à empresa contratada para a organização do evento, a débito da conta corrente do ajuste,
conforme abaixo, o Relator assinalou que a ausência de notas fiscais que comprovem a execução do
objeto, associada à reprovação de diversos itens, considerados não comprovados ou parcialmente
comprovados e às inconsistências presentes nas cartas de exclusividade dos artistas contratados para a
realização de shows não permitiriam a aprovação das contas, na forma proposta pela Secex.
Cheques emitidos da conta corrente 13.367-1 – ag. 2089-3, do Banco do Brasil (peças 32 e 35)
Cheque/ Valor (R$) Data Favorecido
850004 90.200,00 21/10/2009 Djalma Produções Artísticas Ltda.
850005 10.110,00 21/10/2009 Idem
850006 101.890,00 21/10/2009 Idem
Total 202.200,00
Obs.: à peça 35, p. 8, foi juntada GRU no valor de R$ 6.300,00, de restituição de recursos do
convênio, totalizando saídas de c/c no valor total do ajuste (R$ 208.500,00, sendo R$ 200.000,00
repassados pelo MTur e R$ 8.500,00 de contrapartida municipal).
cláusula sétima, parágrafo terceiro, inciso V, e a cláusula décima segunda, parágrafo segundo, alínea ‘f’,
do termo do convênio (fls. 51 – peça 01); o art. 63 da Lei 4.320/1964; e o art. 93 do Decreto Lei
200/1967;
b.3.2) não comprovar o nexo de causalidade das apresentações artísticas com os recursos tendo em
vista a ausência de comprovação da representação dos artistas/bandas ou da exclusividade, registrada em
cartório, em desacordo com a cláusula terceira, inciso II, alínea ll, do termo de convênio (fls. 43-peça 01);
b.3.3.) falhas na comprovação dos seguintes elementos relativos aos demais itens do Plano de
Trabalho (fls. 91/97 – peça 01):
- nenhum anúncio em TV foi encaminhado, apenas uma matéria de um programa de TV mostrando
como foi o evento;
- foi encaminhada cópia do anúncio em rádio, porém a documentação não trouxe a programação
prevista, nem os valores unitários e totais das inserções;
- foram encaminhados exemplares dos anúncios em jornal com o nome e a logomarca do MTur,
mas havia apenas anúncios de meia página e não havia anúncio de capa, como foi disposto no Plano de
Trabalho;
- foi encaminhada apenas relação com os endereços dos outdoors e uma foto;
- não foi encaminhado exemplar dos panfletos [material promocional];
- as fotos que mostravam os shows, o palco, a sonorização e a iluminação não trouxeram elementos
que permitissem identificá-las como referentes ao evento objeto do convênio;
b.4) conduta da empresa Djalma Produções Artísticas Ltda.:
b.4.1.) receber os recursos federais do Convênio 0851/2009, celebrado entre o Ministério do
Turismo e a Prefeitura Municipal de Gravatal/SC, que tinha como objeto o apoio à realização do Projeto
‘3º Encontro de Jipeiros’, mediante os cheques 850004, 850005 e 850006 (nos valores de R$ 90.200,00,
R$ 10.110,00 e R$ 101.890,00, respectivamente, do Banco do Brasil, conta 13.367-1, agência 2089-3, de
titularidade de Prefeitura Municipal de Gravatal, CNPJ 82.926.569/0001-47), sem comprovação da
efetiva prestação dos serviços objeto do contrato firmado com a Prefeitura, evidenciada pela ausência de
comprovação da emissão das respectivas notas fiscais, em desacordo com o item 6.1 do contrato (fls. 34-
peça 18), e da ausência de comprovação da representação dos artistas/bandas ou da exclusividade,
registrada em cartório;
c) junte aos ofícios de citação cópia dos documentos retro mencionados.
24. Foram juntadas as cartas de exclusividade constantes do Siconv (peça 38) e, após breves
pronunciamentos da Secex/SC (peças 39 e 40), foram realizadas as citações do Sr. Rudinei Carlos do
Amaral Fernandes (CPF 288.479.899-49), por intermédio do Ofício 0358/2018-TCU/SECEX-SC, de
22/6/2018 (peça 44 e AR de peça 46), e da empresa Djalma Produções Artísticas Ltda. (CNPJ
08.420.632/0001-16), mediante Ofício 0357/2018-TCU/SECEX-SC, de mesma data (peça 43 e AR de
peça 45).
25. A empresa suso referida constituiu procurador (peças 47/48) e apresentou defesa juntada à
peça 51. O Sr. Rudinei Carlos do Amaral Fernandes, ex-Prefeito de Gravatal/SC, gestão 2009/2012,
permaneceu silente.
EXAME TÉCNICO:
26. Adotadas as providências determinadas, examinam-se as citações procedidas, por
responsável:
a) Sr. Rudinei Carlos do Amaral Fernandes (CPF 288.479.899-49), ex-Prefeito de Gravatal/SC:
27. Transcorridos os prazos regimentais fixados e se mantendo inerte o ex-Prefeito de
Gravatal/SC, impõe-se que seja considerado revel, dando-se prosseguimento ao processo, de acordo com
o art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992.
28. Não tendo havido, como demonstrado adiante, o aproveitamento da defesa apresentada pela
empresa Djalma Produções Artísticas Ltda. em favor desse responsável, bem assim não haver fato novo
desde a citação, tomam-se como verdadeiros os fatos arrolados pelo Relator da matéria à peça 37,
transcritos à peça 23 desta instrução, devendo suas contas ser julgadas irregulares, com imputação de
304
Regimento Interno), o recolhimento das dívidas aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas
monetariamente desde a data do acórdão até a do efetivo recolhimento, se forem pagas após o
vencimento, na forma da legislação em vigor;
52.7 – autorizada, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança
judicial das dívidas, caso não atendidas a notificações;
52.8 – dada ciência da deliberação que vier a ser proferida ao Procurador-Chefe da Procuradoria da
República no Estado de Santa Catarina, nos termos do § 3º do art. 16 da Lei 8.443/1992, c/c o § 7º do art.
209 do Regimento Interno do TCU, informando-o que seu inteiro teor pode ser consultado no endereço
www.tcu.gov.br/acordaos.”
II – PARECER DO MP/TCU
“(...)
8.Com as devidas vênias, entendemos que o caso merece encaminhamento diverso, mais
precisamente naqueles moldes anteriormente delineados pela Unidade Técnica e por nós referendados.
9.De fato, não constam dos autos as notas fiscais emitidas pela empresa contratada. No entanto,
outros elementos constantes do processo permitem caracterizar o necessário nexo de causalidade entre os
recursos aportados e a realização do objeto conveniado.
10.Com efeito, as cópias dos cheques emitidos à conta específica do convênio demonstram que os
desembolsos realmente foram efetuados em favor da empresa contratada, Djalma Produções Artísticas
Ltda. (Peça 32, p. 2, 5 e 8) e guardam equivalência com as informações constantes da Relação de
Pagamentos Efetuados (Peça 15, p. 48). Aliás, essa mesma relação também faz referência às Notas Fiscais
de Prestação de Serviços n.ºs 291 e 292, datadas de 20/10/2009, o que indica que esses documentos
efetivamente foram emitidos pela referida empresa, embora não tenham sido juntados à prestação de
contas apresentada pelo ex-Prefeito ao Ministério do Turismo.
11.Outras falhas apontadas pelo órgão concedente também não devem ensejar a irregularidade das
contas pois podem ser supridas por outros elementos aptos a demonstrar a efetiva execução do objeto
conveniado.
12.É o caso da falha consistente em ‘encaminhamento do relatório de execução físico-financeira
com preenchimento incorreto e sem as informações acerca das quantidades de itens’, a qual constitui erro
formal, uma vez que as quantidades de itens pagos ou consumidos no evento podem ser comprovadas por
outros documentos presentes nos autos: Relatório de Cumprimento de Objeto (Peça 16, p. 5), Relatório de
endereço dos outdoors instalados (Peça 16, p. 9), Relação dos colaboradores na segurança do evento
(Peça 16, p. 10-11), extratos de inserções em rádio e mídia volante (Peça 16, p. 12-23), fotografias do
evento com menções ao 3.º Encontro, ao Ministério do Turismo e às datas programadas, com
demonstração de infraestrutura compatível com as contratações estipuladas, o porte da festa e os shows
programados (Peça 16, p. 24-64, Peças 19 e 20), contrato firmado com a empresa Djalma Produções
Artísticas Ltda., com os quantitativos condizentes com o evento (Peça 18, p. 32-36) e com o Plano de
Trabalho (Peça 1, p. 11-18).
13.Nesse diapasão, endossamos a manifestação anterior da Unidade Técnica no sentido de que a
documentação integral da prestação de contas obtida por meio de diligência demonstrou a promoção e a
realização do evento de forma a elidir as impugnações apresentadas pelo órgão repassador. Na ocasião,
foi registrado pela Secex/SC o recebimento em CD, do MTur, com áudios, vídeos e spots para a
divulgação do evento por intermédio de tv, rádio e mídia volante (Peça 21) e que havia ‘nítida vinculação
entre as imagens captadas e o evento’, em termos de infraestrutura (banheiros, barracas, palcos), folders,
presença de público e de motoristas do segmento jipeiro, camisetas promocionais e apresentações
artísticas, o que permitiria atestar o cumprimento do objeto sob o aspecto impugnado pelo Ministério do
Turismo (Peça 22, p. 4).
14.De outra parte, no que toca às cartas de exclusividade firmadas pelos artistas que se
apresentaram no evento (Peça 38), uma vez que conferiram exclusividade à empresa Djalma Produções
310
Artísticas Ltda. somente para os dias correspondentes às respectivas apresentações, sendo ainda restritas à
localidade do evento, é certo que não atenderam aos pressupostos do art. 25, inciso III, da Lei n.º
8.666/93, representando impropriedade na execução do convênio, nos moldes descritos pelo subitem 9.2.1
do Acórdão n.º 1.435/2017 – Plenário.
15.No entanto, tais situações podem não ensejar, por si sós, o julgamento pela irregularidade das
contas tampouco a condenação em débito dos responsáveis, a partir das circunstâncias inerentes a cada
caso concreto, conforme se depreende do subitem 9.2.3 do referido decisum. Desse modo, no presente
convênio, tendo restado demonstrada a execução do evento e caracterizado o nexo de causalidade entre os
recursos do ajuste e as despesas realizadas, entendemos que a falha na apresentação das cartas de
exclusividade deve apenas ensejar ressalva adicional às contas do Senhor Rudinei Carlos do Amaral
Fernandes.
16.Já com relação à empresa Djalma Produções Artísticas Ltda., o encaminhamento que nos afigura
mais razoável consiste em promover sua exclusão da relação processual, uma vez que as ressalvas aqui
apontadas dizem respeito apenas às falhas constatadas na documentação apresentada pelo ex-Prefeito a
título de prestação de contas, impropriedades que não podem ser atribuídas à empresa contratada para a
realização do evento festivo.
17.Ante todo o exposto, esta representante do Ministério Público de Contas propõe:
a) excluir a empresa Djalma Produções Artísticas Ltda. da relação processual; e
b) julgar regulares com ressalva as contas do Senhor Rudinei Carlos do Amaral Fernandes, dando-
se-lhe quitação.”
É o relatório.
Proposta de Deliberação
Trata-se de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério do Turismo (MTur) em desfavor
do Sr. Rudinei Carlos do Amaral Fernandes, ex-Prefeito do Município de Gravatal/SC (gestão 2009-
2012), em razão de irregularidades na comprovação da execução física do Convênio 0851/2009 (Siafi
704499), tendo como objeto a transferência de recursos, no valor de R$ 200.000,00, para a realização do
evento denominado “3º Encontro de Jipeiros de Gravatal/SC” no período de 28 a 30/8/2009.
2.O ajuste foi firmado em 19/8/2009 e vigorou até 27/11/2009, com prazo de 30 dias para
apresentação da prestação de contas.
3.Além da quantia a ser repassada pelo MTur, foi prevista a aplicação de contrapartida no valor de
R$ 8.500,00.
4.A transferência dos recursos federais ocorreu em 14/10/2009, posteriormente à data de realização
do evento.
5.A prestação de contas foi reprovada em decorrência de falha no preenchimento do relatório de
execução físico-financeira e da não comprovação da execução física de vários itens constantes do plano
de trabalho.
6.Não foi elaborada a análise da documentação financeira acostada na prestação de contas.
7.Após a obtenção de justificativas do gestor, Sr. Rudinei Carlos do Amaral Fernandes, o MTur
manteve a impugnação e instaurou esta TCE com base nas falhas apontadas.
8.Nesta Corte, diversas providências foram adotadas com vistas ao saneamento dos autos, incluindo
a citação do gestor e a realização de diligências a fim de obter a cópia do processo de prestação de contas
e de outros elementos, como cópias de extratos e cheques. Os exames procedidos nos documentos
levaram a nova citação, desta vez do ex-Prefeito Rudinei Fernandes solidariamente com a empresa
Djalma Produções Artísticas Ltda., contratada para realização do evento, pelo valor integral repassado
sob o fundamento da ausência de comprovação do nexo de causalidade entre os recursos e o objeto
executado.
311
11.O plano de trabalho do convênio previa a execução das seguintes ações relacionadas à promoção
e à execução do evento “3º Encontro de Jipeiros” (fls. 13/17-peça 01):
a) veiculação de anúncio em TV;
b) inserções em rádio;
c) publicação de anúncio em jornal;
d) veiculação de anúncio em outdoor;
e) produção e distribuição de material promocional (panfletos, flyers e cartazes);
f) apresentações artísticas dos artistas e bandas:
f.1) Sérgio Reis e Grupo Ivonir Machado& Novos Garotos;
f.2) Banda Fissura;
f.3) Banda Os Sócios;
f.4) Evandro Rodrigues;
f.5) Vítor& Gabriel.
g) fornecimento de infraestrutura (sonorização, tendas piramidais, palco, locação de divisórias para
montagem de camarim e banheiros químicos);
h) contratação de serviços (cronometrista, narradores, seguranças, juízes de prova e propaganda
volante em carro de som).
12.Embora tenha concluído que o evento foi realizado (fls. 77-peça 01), a área técnica do Ministério
do Turismo considerou que não houve a comprovação da realização integral do plano de trabalho em face
das seguintes ocorrências:
a) preenchimento incorreto do relatório de execução físico-financeira ante a não indicação das
quantidades realizadas;
b) não encaminhamento do material referente aos anúncios em TV, mas apenas de uma matéria de
um programa de TV mostrando como foi o evento;
c) remessa de cópia do anúncio em rádio sem trazer a programação prevista, nem os valores
unitários e totais das inserções;
d) encaminhamento de exemplares dos anúncios em jornal com o nome e a logomarca do MTur
apenas em meia página, sem anúncio de capa, conforme constava do plano de trabalho;
e) apresentação de relação de endereços dos outdoors sem as respectivas fotos;
f) não encaminhamento do exemplar dos panfletos [material promocional];
g) não identificação das apresentações artísticas do Grupo Ivonir Machado & Novos Garotos, da
Banda Fissura, da Banda os Sócios e dos cantores Evandro Rodrigues e Vítor&Gabriel; e
h) impossibilidade de identificação, pelas fotos remetidas, de que os shows, o palco, a sonorização e
iluminação se referiram ao evento.
13.Ao examinar a documentação contida no processo de prestação de contas, a Secex/SC assim se
posicionou (peça 22):
“18.Inicialmente, registre-se que foram recebidos em CD, do MTur, áudios, vídeos e spots para a
divulgação do evento por intermédio de tv, rádio e mídia volante, os quais se encontram armazenados
nesta Unidade Técnica (v. formulário de peça 21).
19.Além disso, a documentação examinada, citada no parágrafo 16 (...), demonstra, à exaustão, a
promoção e a realização do Encontro de forma a afastar as impugnações apresentadas pelo repassador.
20.Há nítida vinculação entre as imagens captadas e o evento. A infraestrutura (banheiros, barracas,
312
17.Na instrução localizada na peça 22, a Secex/SC considerou que os documentos juntados nos
autos comprovavam a execução física do objeto e a regularidade financeira da prestação de contas.
Consequentemente, propôs o julgamento pela regularidade com ressalva das contas.
18.Não acolhi esse parecer, uma vez que as notas fiscais anexadas não se referiam ao convênio em
tela. A Nota Fiscal 52 (fls. 15-peça 18) foi emitida em outubro de 2007. De sua vez, a Nota Fiscal 276
(fls. 17-peça 18) foi emitida em julho de 2009 à conta da Feira Agropecuária do Vale-Feagro. Esses
documentos fiscais afiguraram-se integralmente discrepantes dos registros existentes na relação de
pagamentos anexada à prestação de contas do convênio (fls. 48-peça 15). Portanto, foi possível concluir
que não havia comprovação da regular aplicação dos recursos quanto ao aspecto financeiro.
19.Além disso, verifiquei que não constaram dos autos as cartas de exclusividade supostamente
firmadas pelos artistas que teriam se apresentado no evento.
20.Por meio de diligência ao Banco do Brasil, foram obtidos os extratos bancários da conta
específica e cópias dos cheques emitidos.
21.A partir dos elementos reunidos, foi possível traçar o seguinte quadro:
a) os serviços de infraestrutura e de divulgação do evento foram licitados no Pregão Presencial
24/2009, tendo-se sagrado vencedora a empresa Djalma Produções Artísticas Ltda., com contrato
assinado em 24/8/2009, no valor de R$ 112.000,00 (fls. 117 e seguintes da peça 17 e fls. 18 e 32-peça
18);
b) os serviços relacionados às apresentações artísticas foram objeto de processo de inexigibilidade
figurando a mesma empresa, no valor de R$ 90.200,00 (fls. 54-peça 15); não consta dos autos o
respectivo contrato;
c) as cartas de exclusividade extraídas do Siconv não estavam registradas em cartório e não
apresentavam reconhecimento de firma de modo a atestar a sua autenticidade;
d) os recursos do MTur foram creditados na conta específica em 15/10/2009;
e) a Prefeitura emitiu três cheques nominais à empresa Djalma Produções Artísticas, nos valores de
R$ 90.200,00, R$ 10.110,00 e R$ 101.890,00 em 23/10/2009;
f) não havia as notas fiscais correspondentes;
g) em 23/2/2010, a Prefeitura devolveu à União a quantia de R$ 6.300,00 referentes a saldo da
contrapartida não aplicado.
22.Com base nessas informações, determinei que fosse realizada a citação solidária, nos seguintes
moldes:
a) do ex-Prefeito Rudinei Fernandes diante da não comprovação da boa e regular aplicação dos
recursos repassados, caracterizada pela ausência de nexo de causalidade entre os recursos e o evento
realizado, considerando a ausência das notas fiscais e de comprovação da representação dos
artistas/bandas pela empresa contratada;
313
b) da empresa Djalma Produções Artísticas por ter recebido os recursos do convênio sem que tenha
ficado comprovada a prestação dos serviços, tendo em vista a ausência de comprovação da emissão das
respectivas notas fiscais e da representação dos artistas/bandas ou da exclusividade, registrada em
cartório.
23.O Sr. Rudinei Fernandes não se manifestou nos autos.
24.A empresa Djalma Produções Artísticas apresentou defesa sustentando que prestou os serviços
relacionados ao 3º Encontro de Jipeiros e entregou as notas fiscais pertinentes na Prefeitura de Gravatal.
Alegou que não mais dispõe das cópias das notas fiscais, vez que somente estava obrigada a mantê-las em
arquivo por cinco anos. Defendeu que não houve má-fé ou improbidade de sua parte, mas negligência do
agente público que não prestou contas da despesa adequadamente.
25.A Secex/SC acolheu parcialmente essas alegações. Segundo a unidade técnica, assiste razão à
empresa quanto a não obrigatoriedade de manter as notas fiscais emitidas por período superior a cinco
anos. Assim, considerou que não se poderia responsabilizá-la pela não apresentação dos documentos
fiscais depois de passados nove anos da data de emissão. No entanto, a instrução ressaltou que não foram
apresentadas alegações a respeito da ausência de comprovação da representação dos artistas/bandas pela
empresa contratada. Nesse contexto, a unidade técnica chamou a atenção para o fato de que as cartas
anexadas nos autos não atenderam aos requisitos previstos na jurisprudência do TCU, em especial o item
9.2.1. do Acórdão 1435/2017-Plenário. Também foi ressaltado que o contrato relativo às apresentações
artísticas não se encontra no processo.
26.Diante desses fatos, a Secex/SC propôs o julgamento pela irregularidade das contas do ex-
Prefeito Rudinei Fernandes e da empresa Djalma Produções Artísticas, com a condenação do ex-gestor
pela totalidade do débito imputado (R$ 200.000,00) e da empresa com solidariedade apenas no tocante à
parcela referente às apresentações artísticas (R$ 90.200,00). Além disso, foi sugerida a aplicação, aos
responsáveis, da multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992.
26.O MP/TCU divergiu desse encaminhamento por entender que o nexo de causalidade restou
demonstrado. De acordo com o Parquet, as cópias dos cheques atestavam que os desembolsos foram
efetuados em favor da empresa Djalma Produções Artísticas Ltda., estando compatíveis com as
informações constantes da Relação de Pagamentos Efetuados. Ainda, o parecer apontou que a relação fez
referência às Notas Fiscais de Prestação de Serviços 291 e 292, datadas de 20/10/2009, o que indicaria
que esses documentos efetivamente foram emitidos pela referida empresa. Quanto às cartas de
exclusividade, o MP reconheceu que estas não atendiam aos requisitos do mencionado item 9.2.1. do
Acórdão 1435/2017-Plenário, mas entendeu que a execução do evento e a existência de nexo permitiam
considerar tal aspecto apenas como ressalva, nos termos do item 9.2.3. da referida decisão.
27.Consequentemente, o Ministério Público sugeriu excluir-se a responsabilidade da empresa
Djalma Produções Artísticas e julgarem-se as contas do ex-gestor regulares com ressalva.
28.Acolho, em parte, as considerações do Ministério Público.
29.No que se refere aos serviços de infraestrutura e divulgação do evento, manifesto-me de acordo
com o MP/TCU.
30.De fato, há que se reconhecer que não pode ser exigida da empresa a apresentação das notas
fiscais depois de passados nove anos dos fatos ora tratados. Essa obrigação cabia ao gestor adimplir por
ocasião da apresentação da prestação de contas, por força da cláusula sétima, parágrafo terceiro, inciso V,
e a cláusula décima segunda, parágrafo segundo, alínea “f”, do termo do convênio (fls. 51 – peça 01); do
art. 63 da Lei 4.320/1964; e do art. 93 do Decreto Lei 200/1967. Todavia, há elementos nos autos que
permitem estabelecer o encadeamento entre os recursos e os referidos serviços, como:
a) o contrato firmado entre a Prefeitura Municipal de Gravatal e a empresa Djalma Produções
Artísticas com a especificação dos serviços a serem prestados (fls. 33/36-peça 18);
b) os mapas de veiculação dos anúncios do evento expedidos pelas rádios ACB, Cidade, Stylo e
Verde Vale, contendo indicação de que a empresa foi responsável pela contratação da publicidade (fls.
12/20-peça 16);
314
1. Processo TC 000.081/2016-7.
2. Grupo II – Classe II - Assunto: Tomada de Contas Especial
3. Responsáveis: Rudinei Carlos do Amaral Fernandes, ex-Prefeito (CPF 288.479.899-49); Djalma
Produções Artísticas Ltda. (CNPJ 08.420.632/0001-16).
4. Órgão/Entidade/Unidade: Prefeitura Municipal de Gravatal/SC.
5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: Procuradora-Geral Cristina Machado da Costa e Silva.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (SecexTCE).
315
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério
do Turismo (MTur) em desfavor do Sr. Rudinei Carlos do Amaral Fernandes, ex-Prefeito do Município
de Gravatal/SC (gestão 2009-2012), em razão de irregularidades na comprovação da execução física do
Convênio 0851/2009 (Siafi 704499), firmado em 19/8/2009, tendo como objeto a transferência de
recursos, no valor de R$ 200.000,00, para a realização do evento denominado “3º Encontro de Jipeiros de
Gravatal/SC” no período de 28 a 30/8/2009,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
em:
9.1. julgar irregulares as contas do Sr. Rudinei Carlos do Amaral Fernandes e da empresa Djalma
Produções Artísticas Ltda., com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea “c” e § 2º, da Lei
8.443/1992 c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com os arts. 1º, inciso I, 209, inciso III e § 5º,
210 e 214, inciso III, do Regimento Interno deste Tribunal, e condená-los solidariamente ao pagamento
da quantia a seguir especificada, com a fixação do prazo de quinze dias, a contar da notificação, para
comprovar, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno), o recolhimento da
dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente e acrescida dos juros de mora,
calculados a partir da data discriminada, até a data do recolhimento, na forma prevista na legislação em
vigor;
Valor Original (R$) Data da ocorrência
90.200,00 23/10/2009
9.2. aplicar individualmente ao Sr. Rudinei Carlos do Amaral Fernandes e à empresa Djalma
Produções Artísticas Ltda. a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 267 do Regimento
Interno, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), com a fixação do prazo de quinze dias, a contar da
notificação, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno),
o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data deste
acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
9.3. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial da
dívida caso não atendidas as notificações;
9.4. enviar cópia deste Acórdão ao Ministério do Turismo e aos responsáveis, para ciência; e
9.5. encaminhar cópia deste Acórdão à Procuradoria da República no Estado de Santa Catarina.
Responsáveis: Eduardo Henrique Freire, CPF 146.245.241-87; Ider de Almeida, CPF 075.098.046-
04; Joaquim Francisco Ferreira, CPF 150.994.401-00; Luiz Fernando de Mattos Pimenta, CPF
510.602.998-87; Sílvio dos Santos Silva, CPF 161.511.781-49.
Representações legais: Fernanda da Rocha Teixeira, OAB/DF 33.892; Marcelo Benedito Lara da
Silva, OAB/MT 18.528; e outros.
RELATÓRIO
Cuidam os autos de tomada de contas especial instaurada, pela Superintendência Regional do Incra
em Mato Grosso/SR-13, por força do Acórdão 208/2008 – Plenário, para apuração de possíveis prejuízos
causados em decorrência de superfaturamento na desapropriação de fazendas, entre as quais a
denominada Fazenda Paraíso, tratada nos presentes autos, cuja responsabilidade foi originalmente
atribuída ao engenheiro agrônomo Joaquim Francisco Ferreira, presidente da comissão que emitiu, em
30/8/1996, o laudo de vistoria e avaliação da referida propriedade (peça 1, p. 22/68).
2.No que se refere ao conteúdo deste feito, às medidas saneadoras e análises levadas a efeito, assim
como quanto às conclusões e propostas de encaminhamento apresentadas pela área técnica desta Casa,
adoto como relatório a instrução constante da peça 63, a qual contou com concordância do Diretor da
Área (peça 64) e do Secretário de Controle Externo da Secex-TCE (peça 65), passando a transcrevê-la,
com os eventuais ajustes de forma julgados pertinentes:
“INTRODUÇÃO
1. Cuidam os autos de Tomada de Contas Especial (TCE) instaurada pela Superintendência
Regional do Incra em Mato Grosso (SR-13), em desfavor do Sr. Joaquim Francisco Ferreira, CPF
150.994.401-00, engenheiro agrônomo, servidor responsável pelo laudo de avaliação da Fazenda Paraíso,
haja vista a seguinte determinação do Acórdão 208/2008-TCU-Plenário, da relatoria do Ministro Valmir
Campelo:
‘9.5.3. adote providências imediatas visando à recomposição dos prejuízos causados ao erário e/ou à
instauração de tomadas de contas especiais, em decorrência do superfaturamento na expropriação das
Fazendas Paraíso, Carimã, Barrinha (Sandrini), Primavera de Santo Antônio, Santa Helena e Gleba
Manah (...), em valores calculados em R$ 18.327.715,40, consoante avaliação feita pela CGU (...);’ .
HISTÓRICO
2. Realizada a citação do responsável e após a apresentação das alegações de defesa, foi elaborada
instrução à peça 22, onde, no mérito, entendeu-se não haver responsabilidade do avaliador, por ausência
de nexo de causalidade entra a conduta e o débito:
‘(...)
62. O exame técnico constatou que o valor pelo qual a Fazenda Paraíso foi adquirida pelo Incra em
1996 se embasou em laudo elaborado por outros engenheiros agrônomos e não pelo Sr. Joaquim
Francisco Ferreira, único responsável arrolado neste processo. Dessa forma, como alegado pela defesa,
não há nexo de causalidade entre a conduta desse agente e o débito apurado, o que impede sua
responsabilização.
63. Caso o Tribunal conclua pela responsabilização de outros envolvidos, deverá citar agentes que
nunca foram formalmente notificados há mais de 20 anos. Por esse motivo, propõe-se que esta Corte de
Contas não promova a citação dos demais envolvidos nas irregularidades da aquisição da Fazenda Paraíso
317
e determine o arquivamento dos presentes autos com base no caput e no art. 6º, inciso II, da Instrução
Normativa 71/2012.’
4. Realizadas as citações, compareceram aos autos os Srs. Sílvio dos Santos Silva, que apresentou
suas alegações de defesa às peças 49 (cópia na peça 62), Eduardo Henrique Freire e Luiz Fernando de
Mattos Pimenta, que apresentaram defesa conjunta nas peças 56/61, além do Sr. Joaquim Francisco
Ferreira, que novamente apresentou defesa juntada na peça 51. O responsável Ider de Almeida,
regularmente citado via edital de peça 55, permaneceu silente.
5. Para maior clareza do débito tratado nestes autos, é importante apresentar um histórico dos fatos
aqui tratados, uma vez existirem diversas avaliações do mesmo imóvel, realizadas em períodos e por
órgãos diversos.
6. No ano de 2003, o Tribunal apreciou as contas do Incra do exercício de 1997 e, baseado em
relatório do controle interno, determinou ao Incra (as contas eram consolidadas, à época) que:
‘instaurasse tomadas de contas especiais, no prazo de 180 dias, em razão das superavaliações
constatadas nos seguintes processos de desapropriação de terras, quando da realização de Auditoria
Operacional, na área de obtenção de imóveis rurais para o programa de reforma agrária do Governo
Federal, pela então Secretaria de Controle Interno do Ministério da Agricultura – SFC/MA (fls.
296/361)’.
7. É que, em fiscalização realizada pelo controle interno, com auxílio do Instituto Mato Grossense
de Economia Aplicada – Imea/MT (peça 1, p. 180/208), verificou-se, em 29/7/2003, que:
‘(...) as discordâncias verificadas no Laudo elaborado pelo INCRA dizem respeito às culturas, ao
relevo e as seguintes benfeitorias: currais, cercas, rede de água, represas, tanques australianos de 10.000
litros, rede elétrica, cocheiras, estrada, mata burro e cancelas. Verificou-se concordância em relação à
vegetação, localização, tipos de solo e conservação dos recursos naturais.
(...) Conclui-se que houve superdimensionamento nas benfeitorias, além de descrição indevida das
culturas implantadas e do relevo, o que gerou indenização indevida ao ex-proprietário. Contudo, a
descrição errônea do relevo teve impacto mínimo na indenização paga indevidamente (peça 1, p. 208)’.
recursos orçamentários para qualquer dos casos, a unidade em Mato Grosso decidiu suspender os
trabalhos por mais de dois anos (peça 2, p. 154/6, p. 166 e p. 168-170), só sendo retomados em 14 de
novembro de 2007 (peça 2, p. 172/174), quando autorizados. No entanto, uma nova comissão processante
só foi formada em 22 de abril de 2008 (peça 2, p. 194). Os trabalhos só foram reiniciados em 2/6/2008
(peça 2, p. 206).
13. Nessa altura, o Tribunal já havia proferido, em 20/2/2008, o Acórdão 208/2008 - TCU/Plenário,
cujo item 9.5.3, que deu origem a estes autos, está transcrito no parágrafo 1 desta instrução.
14. Como primeira providência do reinício dos trabalhos, o secretário da Comissão Processante
solicitou, da CGU, cópia do relatório que embasaria o débito e as decisões supervenientes do Tribunal. O
relatório foi anexado aos autos à peça 3, p. 14-74. Relativamente à Fazenda Paraíso, o relatório diz que
(peça 3, p. 28):
‘29. Conforme se verifica no Anexo (item IV.3 deste Relatório) – Tabela de preços de terra do
Anuário Agropecuário e Agroindustrial de Mato Grosso /1996/ EMPAER/MT – o preço para venda do
hectare de terra de pastagem, no município de Rondonópolis – principal município da microrregião
homogênea onde se encontra o imóvel – era de R$ 661,50 em 1995. Para a mesma região, no mesmo ano,
era de R$ 224,00 o hectare de campo. Assim, considerando estes preços, apuramos o valor da Terra Nua
em R$ 782.936,36, conforme memória de cálculo anexa a este Relatório (item IV.1.1.1.1). Considerando
que o VTN apontado pelo INCRA foi de R$ 1.212.956,17, constatamos que houve o pagamento indevido
de R$ 329.994,73.
30. Além desta comparação inicial, é possível efetuar outra, levando em consideração tempo
decorrido entre a data de elaboração da tabela de referência (1995) e a data em que foi efetuado o
pagamento indenizatório (1996). Isto é possível mediante inferências sobre as tabelas contidas nos
Anexos, itens IV.5 e IV.6 deste Relatório. Verifica-se no Anexo IV.5 que as terras de campo no Mato
Grosso apresentam uma variação negativa de 21,10% entre o segundo semestre de 1995 e o segundo
semestre de 1996. Para as terras de pastagem (Anexo IV.6), no mesmo período, verifica-se uma variação
negativa de 10,89%. Assim, considerando os índices de variação de preço da terra, obtemos uma nova
avaliação no valor de R$ 692.611,98, e consequentemente, um pagamento indevido de R$ 420.319,11.
(vide memória de cálculo – item IV.1.1.1.2)’.
15. O superfaturamento, seja de R$ 329.994,73, seja de R$ 420.319,11 (peça 3, p. 34), dizia respeito
ao valor da terra nua. Quanto às benfeitorias, a CGU alegou haver superfaturamento de R$ 293.365,87
(peça 3, p. 30).
FAZENDA PARAISO
Benfeitorias Valores pagos pelo Valores apurados Diferença
INCRA/SR-13 pela CGU/MT
Pastagens 357.808,00 130.112,00 227.696,00
Currais 17.528,00 0,00 17.528,00
Rede de Água 9.706,63 3.733,32 5.973,31
Represas 11.454,72 2.386,40 9.068,32
Tanques Australianos 6.880,00 0,00 6.880,00
Rede Elétrica 16.464,00 8.232,00 8.232,00
Cocheiras 16.200,00 8.400,00 7.800,00
Estrada 6.544,98 1.680,00 4.864,98
Mata Burro 1.706,65 853,33 853,32
Cancelas de Madeira 7.449,90 2.979,96 4.469,94
TOTAL R$ 451.742,88 R$ 158.377,01 R$
293.365,87
320
16. Os valores pagos indevidamente a título de terra nua e benfeitorias, portanto, segundo a CGU,
chegam a R$ 713.684,98.
17. Em 14 de dezembro de 2011, a comissão processante informa que os prazos para cumprimento
da ordem de serviço com as conclusões do relatório não poderão ser cumpridos (peça 3, p. 228-230). No
entanto, em seguida, é apresentado um novo laudo de avaliação da propriedade, datado de dezembro de
2011 (peça 3, p. 274-366 e peça 4, p. 1-175), que chega à conclusão de que o imóvel deveria ter sido
avaliado entre R$ 913.521,91 e R$ 1.090.058,48 (peça 3, p. 348).
18. Segundo o laudo (peça 3, p. 346), utilizando-se de imagem de satélite LandSat da época da
avaliação, com ajuda de ex-funcionário da fazenda, indicando onde havia pastagens no local, a área
encontrada foi de 728,15 hectares, ao passo que o avaliador original havia considerado 800 hectares. A
rede de água encontrada (5 km) também era bem menor do que a que foi avaliada inicialmente (13 km) e
a rede elétrica instalada no imóvel também era menor (1,23 km contra 3 km).
19. Pelo laudo original haveria 12 represas, ao passo que na avaliação mais recente apenas 9 foram
encontradas; havia diferença significativa também no quantitativo de estradas, estimadas inicialmente em
3 km com revestimento primário: apenas 1 km possuía revestimento e 700 metros não possuíam
revestimentos.
20. No entanto, a maior divergência ocorreu mesmo na avaliação da terra nua, já que a nota
agronômica e a qualidade da terra foram consideradas bem menores do que efetivamente eram (peça 3, p.
344), causando uma diferença grande entre o valor inicialmente avaliado (R$ 1.212.956,17 contra
R$ 536.768,19).
21. A diferença apurada, somando-se terra nua e benfeitorias, alcança a cifra de R$ 933.183,83, se
considerar o valor mínimo possível do imóvel encontrado no laudo ou, R$ 756.647,26, se levar em
consideração o valor máximo possível para o imóvel, sempre levando em conta o valor pago de R$
1.846.705,71 (peça 3, p. 348, com as observações do item 3 desta instrução).
22. Ao excelente trabalho de campo realizado pelos engenheiros agrônomos, seguiu-se o Relatório
de Tomada de Contas Especial 002/2015, juntado à peça 5, p. 238-296, que foi finalizado em 11 de
setembro de 2015. De forma resumida, o relatório do tomador de contas conclui pela responsabilidade do
autor do laudo original, pelos valores apontados no laudo de vistoria oriundo da Ordem de Serviço
OS/Incra/DT 03/2011, atribuindo-lhe um débito de R$ 756.647,26.
23. O Controle Interno, na mesma esteira, adotou a tese do tomador de contas, para, ao fim, concluir
que o engenheiro agrônomo responsável pelo laudo de avaliação encontra-se em débito com a Fazenda
Nacional, pela importância de R$ 6.645.699,65, valores atualizados até julho de 2015 (peça 5, p. 310-
312).
24. O Certificado de Auditoria, assim, foi no sentido da irregularidade das contas (peça 5, p. 313),
acolhido pelo Parecer do Dirigente do Controle Interno (peça 5, p. 314), sendo, depois, todo o processo
encaminhado ao Ministro do Desenvolvimento Agrário, que assentou a sua ciência dos fatos (peça 5, p.
322), em 14/12/2015.
25. Considerando então a divergência de métodos para cálculo e que os débitos apontados pela
CGU e pelo Incra eram diferentes, em instrução técnica de peça 09, foi efetuado novo cálculo para fins de
quantificação do débito tratado nestes autos, chegando-se então aos valores de R$ 524.409,48, conforme
abaixo:
DATA DA OCORRÊNCIA VALOR ORIGINAL (R$)
23/10/1996 344.537,03
28/11/1996 179.872,45
Total 524.409,48
26. Tal cálculo baseou-se em transações realizadas ou ofertadas em imóveis rurais da região,
321
milhão com o valor pago de R$ 1.846 milhão). Por sorte do avaliador, esse valor não chegou a ser pago,
restando, como débito, apenas o montante de R$ 524.409,48.
52. Cumpre ressaltar do relatório do tomador de contas (peça 5, p. 126) que o processo de aquisição
fora iniciado por proposta do proprietário, contrariando o art. 2° do Decreto 433/92, que determina que o
processo deva ser iniciado apenas pelo INCRA, pelo Estado ou pelo Município.
53. Outra transgressão apontada pela CGU, diz respeito ao não atendimento ao estabelecido pelo
art. 7°, I, do Decreto 433/92, o qual determina que os técnicos do INCRA, quando da vistoria e avaliação
dos imóveis, estejam acompanhados por avaliador do Banco do Brasil. No entanto, a CGU detectou que o
avaliador do Banco do Brasil foi até solicitado, mas não havia resposta ao requerimento, até a data do
relatório do controle interno, o que indicava que esse ponto da norma não foi cumprido pelo avaliador
(peça 5, p. 128).
54. Deste modo, por motivos desconhecidos, o processo de desapropriação teve iniciativa do
proprietário do imóvel a ser arrematado, sendo, no mínimo, estranho, pois para que seja desapropriado é
preciso que ele seja declarado de interesse social e tenha sido comprovada a sua finalidade não produtiva,
nos termos da Constituição Federal.
55. A desapropriação é penalidade ao latifundiário improdutivo, por isso, o processo jamais poderia
ter sido iniciado com ele. Além disso, a CGU destaca que houve também vício procedimental, já que o
avaliador não se fez acompanhar por avaliador do Banco do Brasil, quando da vistoria, de modo que os
erros que eventualmente ocorreram na avaliação são de sua inteira responsabilidade, atraídas, pelo
descumprimento das normas, em especial, da IN Incra 08/1993, em vigor à época dos fatos.’
ANÁLISE
27. Conforme disposto no item 01 desta Instrução, o acórdão 208/2008 – TCU – Plenário
determinou ao Incra a instauração de tomadas de contas especiais referentes a expropriações de seis
fazendas. No âmbito deste Tribunal, verificou-se a existência dos seguintes processos além deste, não
sendo localizados processos referentes às fazendas Carimã e Barrinha (Sandrini):
- TC-001.662/2016-3, referente à Fazenda Santa Helena, apreciado pelo Acórdão de relação
410/2018 – Plenário, arquivando o processo sem julgamento de mérito, ante a ausência de pressupostos
de constituição e desenvolvimento válido e regular do processo;
- TC-007.762/2017-8, referente à Gleba Manah, apreciado pelo Acórdão de relação 4951/2017 –
Segunda Câmara, arquivando o processo sem julgamento de mérito, ante a ausência de pressupostos de
constituição e desenvolvimento válido e regular do processo;
- TC-001.638/2016-5, referente à fazenda Primavera de Santo Antônio, apreciado pelo Acórdão
1995/2018 – Primeira Câmara, arquivando o processo sem julgamento de mérito, ante a ausência de
pressupostos de constituição e desenvolvimento válido e regular do processo.
28. Como se verifica nos processos acima citados, e em especial no Voto do Exmo. Ministro
Relator no Acórdão 1995/2018 – Primeira Câmara, também relator destes autos, entende-se que o
presente processo carece de elementos que justifiquem o seu desenvolvimento válido e regular, a saber, a
quantificação do débito a ser fixado e eventualmente imputado aos responsáveis, posto que a forma que o
mesmo foi calculado para fins de citação não se mostrou razoável ou aceitável do ponto de vista técnico,
conforme trechos abaixo transcritos (todos os grifos são nossos):
‘14. Pondero que os autos mereçam idêntico encaminhamento ao adotado em outras TCE’s
instauradas também por força do subitem 9.5.3 do Acórdão 208/2008 – Plenário. Tanto no TC-
007.762/2017-8, que tratou da Gleba Manah, quando no TC-001.662/2016-3, a respeito da Fazenda Santa
Helena, o Tribunal determinou o arquivamento do processo, sem julgamento de mérito, em face da
ausência de pressupostos de sua constituição e de seu desenvolvimento válido e regular, conforme
Acórdãos de Relação 4951/2017 – Segunda Câmara (relator Ministro José Múcio) e 410/2018 – Plenário
(da minha relatoria), respectivamente.
323
15. No presente caso, embora os elementos indiquem, de fato, falhas no valor do imóvel
(R$ 2.399.984,85) fixado no laudo de vistoria e avaliação emitido pelo responsável, as circunstâncias,
similares às verificadas nos demais processos, conduzem-me a concluir em sentido diverso do proposto
pela Secex/MT e pelo MP/TCU.
16. A complexidade dos autos foi, inclusive, ressaltada pelo auditor da unidade técnica, que, apesar
de elogiar o relatório do tomador de contas, contestou parte dos critérios adotados nas avaliações
realizadas mais de uma década após o laudo original.
17. As dificuldades nas apurações na fase interna do processo decorrentes exatamente do elevado
grau de complexidade e especificidade do assunto foram registradas no referido relatório, relativas, em
síntese, aos contratempos até a efetiva designação de servidores capacitados para constituição de
Comissão Especial de TCE e para a disponibilização de recursos orçamentários para tal fim; bem como à
constatação de que essa comissão não teria condições de concluir os processos instaurados, sem que fosse
efetuado um terceiro laudo de vistoria e avaliação, confrontando os laudos emitidos pelos servidores do
INCRA com os emitidos pela CGU/IMEA.
18. A avaliação do imóvel foi realizada pelos responsáveis em abril/1996, o laudo da CGU/IMEA
que apresentou as discordâncias relativas a descrições errôneas e superdimensionamentos elaborado após
sete anos, em julho/2003, e o laudo do INCRA/SR-13 que fundamentou o relatório de TCE, quase
dezesseis anos depois, em dezembro/2011.
19. As divergências entre referidos laudos indicam possíveis alterações decorrentes do tempo
transcorrido na situação do imóvel, nas condições do solo e nas benfeitorias avaliadas, o que enfraquece o
montante do débito apontado, bem como reforçam as dificuldades na apuração dos fatos, em razão de
diferença de metodologia e do subjetivismo próprio desse tipo de trabalho, conforme apontado pelo
auditor:
‘22. Além disso, o laudo elaborado pela CGU, em 2003, que não foi utilizado para a quantificação
do débito, mas serviu para a instauração desta TCE, apresenta valores também diferentes em relação ao
laudo do Incra da OS DT 03/2011. Para se ter uma ideia, na tabela da peça 4, p. 60, a diferença entre os
valores apurados pelo controle interno e o do tomador de contas é maior do que aquela que há entre o do
tomador de contas e do avaliador; no primeiro caso, a diferença é de 61% (no item benfeitorias, que é o
que se está sob análise); no segundo caso, é de 21%.
23. Ou seja, dois laudos feitos em momentos distintos, um pela CGU, órgão de controle ilibado, sob
o qual não pairam quaisquer dúvidas acerca da isenção e correição, e outro feito pelo tomador de contas,
também com total isenção e extremamente técnico e competente, apresentaram valores muito díspares
entre si. Se um desses fosse o laudo do avaliador, estar-se-ia, da mesma maneira, se propugnando pelo
erro ou prejuízo ao erário?’
20. A unidade técnica ressaltou o elevado grau de subjetividade na avaliação promovida pelo
INCRA/SR-13 em 2011, que utilizou imagem de satélite, coletando-se os pontos GPS em campo, com o
auxílio de funcionário da fazenda afirmando, que na época e em determinado local, existia pastagem,
concluindo: ‘Ao final, toda a avaliação foi baseada na memória que o funcionário da fazenda tinha,
jogando por terra toda a tecnicidade da análise, pelo menos neste ponto. E não se pode condenar alguém,
baseado em provas que se revestem de tecnicidade, mas que, ao fundo, não passam de uma declaração
pessoal, de valor probatório muito pequeno no âmbito deste Tribunal, ainda mais, se não for corroborada
com outras provas’. Destacou-se, ainda, a utilização de técnicas, como as informações de satélites, não
disponíveis à época da avaliação promovida pelo responsável.
21. Também o cálculo promovido pela Secex/MT não se revela, no meu entender, apropriado para
fundamentar a condenação do responsável. Não obstante reconheça o zeloso trabalho promovido na
tentativa de se apurar o débito, diante de tantas inconsistências decorrentes do tempo transcorrido,
pondero que a adoção do valor da venda de imóvel similar como limite máximo não representa o que o
próprio auditor definiu como adequado: ‘Observa-se que o objetivo do laudo elaborado pelo tomador de
contas não deveria ser chegar ao valor exato ou mais próximo da realidade, mas qual era o valor razoável
324
que um homem médio, com razoável grau de diligência e competência esperados, tendo à disposição as
técnicas e a tecnologia da época, conseguiria chegar, obedecendo a norma’. Assim, o débito foi estimado
a partir de um valor que, embora se trate de um negócio realizado à época, não foi apurado conforme os
procedimentos para avaliação de imóveis rurais previstos na IN/Incra 8/1993, considerando o valor
qualitativo e monetário da terra nua e das benfeitorias indenizáveis, a partir das particularidades da
Fazenda Primavera de Santo Antônio.
22. Pondero, portanto, a inviabilidade de quantificar o débito nos autos, em que pese subsistir
aparente irregularidade na avaliação do valor de mercado da propriedade no laudo de 9/4/1996, como
também ocorreu no TC-001.662/2016-3. Além do lapso temporal e das discrepâncias verificadas nas
avaliações posteriores, tanto o laudo de 2011, quanto o montante do débito apurado pela unidade técnica
em 2016, embora possam ser uma referência de valor de mercado para o imóvel, restam prejudicados seus
resultados para a finalidade de aferição do valor de desapropriação para reforma agrária no ano de 1996,
pois os procedimentos empregados deixaram de cumprir parte das regras da IN/Incra 8/1993 para a
avaliação de preço da terra nua e das benfeitorias.
23. Como visto, as divergências foram expressivas, com variações do valor da propriedade de R$
889.987,99 (relatório de auditoria especial da CGU de janeiro/2004) a R$ 2.399.984,85 (laudo de
abril/1996), passando pelas cifras de R$ 1.009.817,64 (laudo de vistoria e avaliação Incra/SR-13 de
dezembro/2011), de R$ R$ 1.223.864,89 (instrução Secex/MT de maio/2016) e de R$ 1.582.094,24
(termo de acordo de agosto/1996), a partir de diferentes metodologias. Observa-se a inviabilidade de se
atribuir algum valor de débito ao Sr. Gilberto Pires Fernandes com arrimo em critério de razoabilidade e
confiabilidade aceitável, ainda que na hipótese de estimativa prevista no art. 210, § 1º, inciso II, do
Regimento Interno/TCU.’
EXAME
35. Considerando as alegações apresentadas, entendemos que deveriam ser acatadas aquelas
relativas aos Srs. Sílvio dos Santos Silva, visto que o mesmo não detinha competência legal para
realização de vistoria e laudo de avaliação do imóvel, tendo participado da Comissão apenas na qualidade
de representante do Incra pelas atividades administrativas do órgão.
36. Da mesma forma, entendemos deveriam ser acatadas aquelas apresentadas pelos Srs. Eduardo
Henrique Freire e Luiz Fernando de Mattos Pimenta, ante a ausência de nexo de causalidade entre os atos
por eles praticados e eventual ‘superavaliação’ do imóvel, a qual inclusive já foi comentada anteriormente
sobre a impossibilidade de se fixar um valor de referência que possa efetivamente comprovar a prática de
tal fato.
37. Deixamos de fazer a análise das alegações apresentadas pelo Sr. Joaquim Francisco Ferreira
uma vez que as mesmas já foram analisadas na instrução de peça 22, com a qual concordamos, não
havendo necessidade de acrescentar outros dados.
CONCLUSÃO
38. Assim, ante a impossibilidade de fixação de algum valor de débito aos autos, que nos termos
exigidos pela Instrução Normativa/TCU 71/2012 (art. 8º, inciso II), seguramente não exceda o real valor
devido, mostram-se ausentes nos autos elementos de constituição e desenvolvimento válido e regular,
conforme já apontado em reiteradas jurisprudências desta Corte de Contas, em processos com fatos
idênticos aos tratados neste feito.
PROPOSTA
39. Ante o exposto, sugere-se encaminhamento dos autos ao Gabinete do Exmo. Sr. Ministro
Relator, propondo, com fundamento no art. 212 do Regimento Interno do TCU, seu arquivamento, sem
julgamento de mérito, ante a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e
regular, dando-se ciência da decisão que vier a ser tomada aos responsáveis e à Superintendência
Regional do Incra em Mato Grosso – SR-13.”
3.Em seu pronunciamento regimental, o Ministério Público junto a esta Casa, neste ato representado
pelo Subprocurador Lucas Rocha Furtado, manifestou-se de acordo com a proposta oferecida pela
unidade técnica (peça 66).
É o relatório.
PROPOSTA DE DELIBERAÇÃO
Em exame tomada de contas especial instaurada pela Superintendência Regional do Incra em Mato
Grosso/SR-13, por força do Acórdão 208/2008 – Plenário, para apuração de possíveis prejuízos causados
em decorrência de superfaturamento na desapropriação de fazendas, entre as quais a denominada Fazenda
Paraíso, tratada nos presentes autos, cuja responsabilidade foi originalmente atribuída ao engenheiro
agrônomo Joaquim Francisco Ferreira, presidente da comissão que emitiu, em 30/8/1996, o laudo de
vistoria e avaliação da referida propriedade (peça 1, p. 22/68).
2.De acordo com esse documento, o valor total atribuído ao imóvel foi de R$ 2.012.698,55,
correspondente à soma do valor da terra nua (R$ 981.801,53), das culturas (R$ 756.837,06) e das
benfeitorias (R$ 274.059,96), com valor médio por hectare de R$ 1.614,27.
3.No entanto, sobre os preços da terra nua e das áreas de pastagem, tais montantes foram alterados
em novo laudo de avaliação, de 19/9/1996 (peça 2, p. 18-26), que sugeriu como limite máximo o valor
total de R$ 1.846.330,79, sendo R$ 1.212.956,17 atinente à terra nua e R$ 633.374,62 à soma das
326
64. Caso o Tribunal conclua pela responsabilização de outros envolvidos, deverá citar agentes que
nunca foram formalmente notificados há mais de 20 anos. Por esse motivo, propõe-se que esta Corte de
Contas não promova a citação dos demais envolvidos nas irregularidades da aquisição da Fazenda Paraíso
e determine o arquivamento dos presentes autos com base no caput e no art. 6º, inc. II, da Instrução
Normativa 71/2012.”
11.Com a conclusão da unidade instrutiva, o Ministério Público junto a esta Casa, neste ato
representado pelo Subprocurador-Geral Lucas Rocha Furtado, manifestou-se nos seguintes termos (peça
25):
“À semelhança da unidade técnica, entendo que os presentes autos devam ser arquivados.
Como visto, a despeito de o Sr. Joaquim Francisco Ferreira ter elaborado um primeiro laudo de
avaliação do imóvel “Fazenda Paraíso” (peça 1, p. 22-68), chegando a um valor total de R$ 2.012.698,55
— dos quais, R$ 981.801,53, referentes à terra nua, e R$ 1.030.897,02, relativos às benfeitorias — o
imóvel foi adquirido com fundamento em um segundo laudo (que não se encontra nos autos), elaborado
pelo engenheiro agrônomo Júlio Cesar Barcelos e Manna, embasado em pesquisa realizada pelo
engenheiro agrônomo Judah Jones Maia Barbosa, que alcançou o montante de R$ 1.846.330,79 (peça 1,
p. 76 e 482) —, sendo pagos, ao então proprietário da fazenda, R$ 1.212.931,09 (em títulos da dívida
agrária|) referentes à terra nua (vide peça 3, p. 338-340), e R$ 633.774,62 (em espécie – ordem bancária à
peça 1, p. 112), relativos às benfeitorias (vide peça 3, p. 340-342).
Esses engenheiros, no entanto, não foram chamados em nenhuma das fases desta TCE.
É de se ressaltar, ademais, que também não houve a responsabilização do Sr. João Henrique de
Castro, que compôs a equipe do Sr. Joaquim Francisco, e foi responsável pelo levantamento das
benfeitorias existentes no imóvel a ser adquirido, fato por ele mesmo reconhecido em defesa apresentada
na fase interna desta TCE (peça 1, p. 444).
Destaco, nesse sentido, que tanto o laudo emitido pela CGU/IMEA-MT (peça 1, p. 180-208),
quanto o laudo que embasou o cálculo do débito apurado pelo Tomador de Contas (peça 3, p. 274-366 e
peça 4, p. 1-175), questionaram os quantitativos das benfeitorias consideradas para fins de delimitação do
preço de aquisição (vide peça 3, p. 340), havendo o entendimento de que as “benfeitorias (...) não foram
dimensionadas corretamente”.
A despeito dessa deficiência, chama atenção o longo interstício temporal entre a avaliação original,
datada de 30/6/1996, e aquela que alicerçou o débito imputado ao responsável, de dezembro/2011. Mais
de quinze anos se passaram entre uma e outra avaliação, não sendo de se esperar que a fazenda, que veio
a ser parcelada, ao que consta, entre 47 assentados (peça 3, p. 44), se mantivesse, ao longo desse tempo,
nas mesmas condições iniciais.
Com efeito, o laudo emitido pela CGU/IMEA-MT, em 29/7/2003 (peça 1, p. 180-208), já apontava
várias divergências em relação ao laudo do Sr. Joaquim Francisco, de 30/6/1996, motivadas pela ação dos
próprios assentados, que ensejaram não apenas a degradação do solo por uso inadequado, mas também a
retirada/alteração/deterioração de várias benfeitorias (vide, nesse sentido, o laudo datado de 21/12/2004 –
peça 1, p. 490-500),
Em face do exposto, à semelhança da Secex-MT, proponho que as presentes contas sejam
arquivadas, sem julgamento de mérito, ante a ausência de pressupostos para o seu desenvolvimento válido
e regular, em consonância com o disposto nos arts. 169, inciso II, e 212 do Regimento Interno do TCU,
c/c os arts. 6º, inciso II, e 19 da IN/TCU 71/2012.”
12.Vindo os autos pela primeira vez ao meu descortino, no entanto, ainda que concordando com a
configuração, no caso, da prescrição da pretensão punitiva por parte deste Tribunal em relação a qualquer
responsável já identificado ou que viesse a sê-lo, consignei que não poderia concordar, à vista do
princípio da indisponibilidade do interesse público e das determinações especificamente expedidas por
esta Casa (item 9.5.3 do Acórdão 208/2008 – TCU – Plenário e item 9.6.1 do Acórdão 2498/2014 – TCU
– Plenário), que se devesse abrir mão de perseguir o ressarcimento dos prejuízos identificados.
328
13.Sob tal entendimento e também considerando que ainda não seria possível excluir a
responsabilidade do sr. Joaquim Francisco Ferreira em relação ao débito tratado nestes autos, presente a
possibilidade de que sua avaliação em desacordo com os normativos e superestimada haja contribuído
para que a avaliação de revisão, igualmente superestimada, fosse tida como aceitável, determinei que
também fossem solidariamente citados, pelas mesmas parcelas de débito por que já fora chamado a
responder o Sr. Joaquim Francisco Ferreira (peça 26):
a) o ex-proprietário do imóvel desapropriado, beneficiário do pagamento superestimado;
b) os gestores do Incra que aprovaram os laudos elaborados pelas equipes coordenadas pelo Sr.
Joaquim Francisco Ferreira, datado de 30/8/1996 (cópia às fls. 22/68, peça 1), e pelo Sr. Júlio César
Barcelos e Manna, datado de 19/9/1996 (cópia às fls. 18/26, peça 2);
c) o Sr. João Henrique de Castro, integrante da equipe do Sr. Joaquim Francisco Ferreira e
responsável pelo levantamento de benfeitorias existentes no imóvel a ser adquirido, tendo em vista todos
os questionamentos levantados quanto a tais itens;
d) os Srs. Júlio César Barcelos e Manna e Judah Jones Maia Barbosa, responsáveis pela elaboração
do laudo de revisão, datado de 19/9/1996 (cópia às fls. 18/26, peça 2).
valor de mercado do imóvel em questão, expressamente declarando, entre os fatores considerados para a
prática daquele ato, “que os valores fixados por esta Autarquia através da SR-13/MT, consoante Laudo de
Vistoria e Avaliação de fls. 32/47, bem como os ajustes entre as partes com relação aos valores das
benfeitorias, encontram-se de acordo com os parâmetros de preços praticados no município da situação do
imóvel”;
b) reiterar a citação do Sr. Joaquim Francisco Ferreira, desta feita cientificando-o das solidariedades
mencionadas no item precedente e indicando a mesma descrição de conduta atribuída ao Sr. Sílvio dos
Santos Silva.
15.No entanto, após promover esse novo conjunto de citações e depois de apresentar detalhado
histórico a respeito das expropriações que motivaram o comando do item 9.5.3 do Acórdão 208/2008 –
TCU – Plenário, nova instrução, já a cargo da Secex-TCE (peça 63), consignou que nestes autos, assim
como naqueles dos TCs 001.662/2016-3, 007.762/2017-8 e 001.638/2016-5, também restaria configurada
a carência de elementos que possibilitem o desenvolvimento válido e regular da TCE, no que tange à
quantificação do débito a ser fixado e eventualmente imputado aos responsáveis, já que a forma pela qual
ele foi calculado para fins de citação não se mostrou razoável ou aceitável do ponto de vista técnico. Seu
posicionamento, então, é no sentido de que estas contas sejam arquivadas, sem julgamento de mérito, nos
termos do art. 212 do Regimento Interno desta Casa (peça 63, p. 8/11), encaminhamento endossado pelo
Diretor da Área (peça 64), pelo Secretário de Controle Externo da Secex-TCE (peça 65) e pelo
representante do Parquet especializado (peça 66).
16.Após todo o esforço depreendido neste feito e tendo em vista tanto as análises explicitadas na
mais recente instrução quanto àquilo que já se decidiu nas outras TCEs que trataram de casos similares,
concluo por dever-me alinhar ao posicionamento uniforme das instâncias que me precederam,
incorporando as análises desenvolvidas pela unidade técnica às minhas razões de decidir.
17.Com efeito, também considero que estes autos mereçam idêntico encaminhamento ao adotado
em outras TCE’s instauradas também por força do subitem 9.5.3 do Acórdão 208/2008 – Plenário. Tanto
no TC-007.762/2017-8, que tratou da Gleba Manah, quanto no TC-001.662/2016-3, a respeito da Fazenda
Santa Helena, e no TC-001.638/2016-5, atinente à Fazenda Primavera de Santo Antônio, o Tribunal
determinou o arquivamento do processo, sem julgamento de mérito, em face da ausência de pressupostos
de sua constituição e de seu desenvolvimento válido e regular, conforme Acórdãos 4951/2017 – 2ª
Câmara (relator Ministro José Múcio), 410/2018 – Plenário e 1995/2018 – 1ª Câmara (os dois últimos de
minha relatoria), respectivamente.
18.Assim como nos demais casos, embora os elementos indiquem falhas no valor do imóvel fixado
nos dois laudos de avaliação, igualmente se mostram presentes circunstâncias similares às verificadas nos
demais processos.
19.A complexidade dos autos foi ressaltada pelo auditor da unidade técnica, que, apesar de elogiar o
relatório do tomador de contas, contestou parte dos critérios adotados nas avaliações realizadas uma
década e meia após o laudo original (peça 9, p. 4/7).
20.As dificuldades nas apurações na fase interna do processo decorrentes exatamente do elevado
grau de complexidade e especificidade do assunto foram registradas no referido relatório, relativas, em
síntese, aos contratempos até a efetiva designação de servidores capacitados para constituição de
Comissão Especial de TCE e para a disponibilização de recursos orçamentários para tal fim; bem como à
constatação de que essa comissão não teria condições de concluir os processos instaurados, sem que fosse
efetuado um terceiro laudo de vistoria e avaliação, confrontando os laudos emitidos pelos servidores do
INCRA com os emitidos pela CGU/IMEA.
21.As avaliações do imóvel foram realizadas pelos responsáveis em agosto e setembro de 1996,
enquanto o laudo da CGU/IMEA que apresentou as discordâncias relativas a descrições errôneas e
superdimensionamentos elaborado após sete anos, em julho/2003, e o laudo do INCRA/SR-13 que
fundamentou o relatório de TCE, quase dezesseis anos depois, em dezembro/2011.
330
22.As divergências entre referidos laudos indicam possíveis alterações decorrentes do tempo
transcorrido na situação do imóvel, nas condições do solo e nas benfeitorias avaliadas, o que enfraquece o
montante do débito apontado, bem como reforçam as dificuldades na apuração dos fatos, em razão de
diferença de metodologia e do subjetivismo próprio desse tipo de trabalho.
23.A unidade técnica ressaltou o elevado grau de subjetividade na avaliação promovida pelo
INCRA/SR-13 em 2011, que utilizou imagem de satélite, coletando-se os pontos GPS em campo, com o
auxílio de funcionário da fazenda afirmando, que na época e em determinado local, existia pastagem,
concluindo: “Ao final, toda a avaliação foi baseada na memória que o funcionário da fazenda tinha,
jogando por terra toda a tecnicidade da análise, pelo menos neste ponto. E não se pode condenar alguém,
baseado em provas que se revestem de tecnicidade, mas que, ao fundo, não passam de uma declaração
pessoal, de valor probatório muito pequeno no âmbito deste Tribunal, ainda mais, se não for corroborada
com outras provas”. Destacou-se, ainda, a utilização de técnicas, como as informações de satélites, não
disponíveis à época da avaliação promovida pelo responsável (peça 9, p. 5/6).
24.Também o cálculo promovido pela Secex/MT não se revela, no meu entender, apropriado para
fundamentar a condenação do responsável. Não obstante reconheça o zeloso trabalho promovido na
tentativa de se apurar o débito, diante de tantas inconsistências decorrentes do tempo transcorrido,
pondero que a adoção do valor da venda de imóvel similar como limite máximo não representa o que o
próprio auditor definiu como adequado: “Observa-se que o objetivo do laudo elaborado pelo tomador de
contas não deveria ser chegar ao valor exato ou mais próximo da realidade, mas qual era o valor razoável
que um homem médio, com razoável grau de diligência e competência esperados, tendo à disposição as
técnicas e a tecnologia da época, conseguiria chegar, obedecendo a norma” (peça 9, p. 6). Assim, o débito
foi estimado a partir de um valor que, embora se trate de um negócio realizado à época, não foi apurado
conforme os procedimentos para avaliação de imóveis rurais previstos na IN/Incra 8/1993, considerando
o valor qualitativo e monetário da terra nua e das benfeitorias indenizáveis, a partir das particularidades
da Fazenda Paraíso.
25.Pondero, a inviabilidade de quantificar o débito nos autos, em que pese subsistir aparente
irregularidade na avaliação do valor de mercado da propriedade nos laudos de 30/8/1996 e 19/9/1996,
como também ocorreu no TC-001.662/2016-3. Além do lapso temporal e das discrepâncias verificadas
nas avaliações posteriores, tanto o laudo de 2011, quanto o montante do débito apurado pela unidade
técnica em 2016, embora possam ser uma referência de valor de mercado para o imóvel, tem seus
resultados prejudicados para a finalidade de aferição do valor de desapropriação para reforma agrária no
ano de 1996, pois os procedimentos empregados deixaram de cumprir parte das regras da IN/Incra 8/1993
para a avaliação de preço da terra nua e das benfeitorias.
26.Como visto, as divergências foram expressivas, com variações do valor da propriedade de R$
850.988,99 (esse o menor dos valores apontados pelo relatório de auditoria especial da CGU de
janeiro/2004, que também chegou a sinalizar a avaliação de R$ 941.313,37 – vide peça 3, p. 28/30) a R$
2.012.984,85 (laudo de abril/1996 – peça 1, p. 65), passando pelas cifras de R$ 1.001.790,19 (laudo de
vistoria e avaliação Incra/SR-13 de dezembro/2011 – peça 3, p. 348), de R$ R$ 1.322.296,23 (instrução
Secex/MT de maio/2016 – peça 9, p. 8) e de R$ 1.846.330,79 (segundo laudo de avaliação, de
setembro/1996 – peça 2, p. 26), a partir de diferentes metodologias. Observa-se a inviabilidade de se
atribuir algum valor de débito aos responsáveis com arrimo em critério de razoabilidade e confiabilidade
aceitável, ainda que na hipótese de estimativa prevista no art. 210, § 1º, inciso II, do Regimento
Interno/TCU.
27.Portanto, não é possível ao Tribunal julgar as contas dos responsáveis, seja pela regularidade ou
irregularidade, uma vez que ausentes os pressupostos de desenvolvimento válido e regular do processo,
notadamente, o decurso de período longo de tempo a dificultar sobremaneira a quantificação de dano a ser
imputado, bem como a própria defesa sobre esse eventual dano. Cabe, na linha dos precedentes
mencionados (Acórdãos 4951/2017 – 2ª Câmara, 410/2018 – Plenário e 1995/2018 – 1ª Câmara), arquivar
os presentes autos, ante a ausência de pressupostos de constituição e desenvolvimento válido e regular,
331
com fundamento no art. 212 do Regimento Interno/TCU. Entendo restar prejudicada a análise das
alegações de defesa apresentadas pelos responsáveis.
Ante o exposto, ao acompanhar os posicionamentos uniformes da unidade instrutiva e do Ministério
Público de Contas, manifesto-me no sentido de que o Tribunal aprove o acórdão que ora submeto à
apreciação deste Colegiado.
1. Processo TC 001.649/2016-7.
2. Grupo I – Classe II – Assunto: Tomada de Contas Especial.
3. Responsáveis: Eduardo Henrique Freire, CPF 146.245.241-87; Ider de Almeida, CPF
075.098.046-04; Joaquim Francisco Ferreira, CPF 150.994.401-00; Luiz Fernando de Mattos Pimenta,
CPF 510.602.998-87; Sílvio dos Santos Silva, CPF 161.511.781-49.
4.Órgão/Entidade/Unidade: Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária em Mato Grosso SR-13 (Incra/MT).
5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: Subprocurador-Geral Lucas Rocha Furtado.
7. Unidades técnicas: Secex/MT (extinta) e SecexTCE.
8. Representações legais: Fernanda da Rocha Teixeira, OAB/DF 33.892; Marcelo Benedito Lara da
Silva, OAB/MT 18.528; e outros.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada, pela
Superintendência Regional do Incra em Mato Grosso/SR-13, por força do Acórdão 208/2008 – Plenário,
para apuração de possíveis prejuízos causados em decorrência de superfaturamento na desapropriação de
fazendas, entre as quais a denominada Fazenda Paraíso, tratada nos presentes autos, cuja responsabilidade
foi originalmente atribuída ao engenheiro agrônomo Joaquim Francisco Ferreira, presidente da comissão
que emitiu, em 30/8/1996, o laudo de vistoria e avaliação da referida propriedade (peça 1, p. 22/68),
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da 1ª Câmara,
diante das razões expostas pelo Relator, em:
9.1. arquivar os presentes autos, com fundamento no art. 212 do Regimento Interno desta Casa, ante
a ausência de pressupostos de constituição e desenvolvimento válido e regular do processo;
9.2. dar ciência deste acórdão aos responsáveis e à Superintendência Regional do Incra em Mato
Grosso – SR/13.
RELATÓRIO
“INTRODUÇÃO
Cuidam os autos de representação de interesse do Município de Cururupu/MA, formulada pela atual
prefeita, Sra. Rosária de Fátima Chaves, contra o ex-gestor municipal, José Carlos de Almeida Júnior, e a
empresa Vera Cruz Construções, dando ciência de que o Convênio 11395.7300001/13-003, com recursos
do Fundo Municipal de Saúde, Programa Atenção Básica, objetivando a ‘Reforma do Centro de Saúde
Barreiros’, no valor de R$ 136.540,80, encontra-se inconcluso (peça 1, p. 1).
EXAME DE ADMISSIBILIDADE
2. Inicialmente, deve-se registrar que a representação preenche os requisitos de admissibilidade
constantes no art. 235 do Regimento Interno do TCU, haja vista a matéria ser de competência do
Tribunal, referir-se a responsável sujeito a sua jurisdição, estar redigida em linguagem clara e objetiva,
conter nome legível, qualificação e endereço do representante, bem como encontrar-se acompanhada do
indício concernente à irregularidade ou ilegalidade.
3. Além disso, a Prefeita de Cururupu/MA possui legitimidade para representar ao Tribunal,
consoante disposto no inciso III do art. 237 do RI/TCU.
4. Dessa forma, a representação poderá ser apurada, para fins de comprovar a sua procedência,
nos termos do art. 234, § 2º, segunda parte, do Regimento Interno do TCU, aplicável às representações de
acordo com o parágrafo único do art. 237 do mesmo RI/TCU.
5. Nos termos do art. 106, caput e § 1º, da Resolução-TCU 259/2014, caso se façam presentes os
requisitos de admissibilidade, a unidade técnica deverá realizar exame sumário acerca do risco para a
unidade jurisdicionada, da materialidade e da relevância dos fatos noticiados na representação,
observando as premissas indicadas na Instrução Normativa TCU 63/2010.
6. O risco inerente às inadimplências é alto, pois restringem a capacidade dos entes federados
inadimplentes de firmar avenças com os órgãos e entidades da Administração Pública Federal. A
relevância também é alta por se tratar de repasse de recursos federais com possíveis irregularidades que
podem implicar em instauração de tomada de cotas especial. Já em relação à materialidade, pode-se dizer
que o volume de recursos do convênio objeto desta representação (R$ 136.540,80) não é significativo.
7. Embora presentes os critérios de relevância e risco, estes não justificam, no presente caso, o
custo do controle exercido por esta Corte, pois não é do TCU a responsabilidade primária para o
tratamento da situação, sendo essa atribuição dos órgãos e entidades federais responsáveis por tratar das
inadimplências noticiadas, conforme demonstrado na análise abaixo.
8. Cabe, por fim, observar que, conforme item 19 do Anexo I da Portaria Segecex 12/2016, os
fatos noticiados atendem a duas das premissas indicadas na Instrução Normativa TCU 63/2010 (risco e
relevância), devendo a unidade técnica submeter os autos ao relator com proposta de conhecimento da
representação e de prosseguimento do processo nos termos do item 24 daquele anexo.
EXAME TÉCNICO
9. Em sua peça de representação a este Tribunal, o procurador nomeado pela municipalidade faz
referência ao convênio relatado na introdução desta instrução, qual seja, o Convênio 11395.7300001/13-
003, que recebeu recursos do Programa Atenção Básica, com objetivo de ‘Reforma do Centro de Saúde
Barreiros’, no valor de R$ 136.540,80.
10. Sobre o tema, o outorgante tão somente relata, adicionalmente à informação do item 0 acima,
333
CONCLUSÃO
39. Conforme a análise promovida, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos arts.
235 e 237 do Regimento Interno deste Tribunal, propõe-se conhecer da presente representação (itens 2-4
desta instrução).
40. Nos termos do art. 106 da Resolução TCU 259/2014, foi realizado exame sumário acerca do
risco para a unidade jurisdicionada, da materialidade dos recursos envolvidos e da relevância dos fatos
noticiados na representação (item 5-7 desta instrução).
41. Embora o exame sumário tenha indicado altos risco e relevância, estes não justificam, no
presente caso, o custo do controle exercido por esta Corte, pois não é do TCU a responsabilidade primária
para o tratamento das situações, sendo essa atribuição dos órgãos e entidades federais responsáveis por
tratar das inadimplências noticiadas às peças 1 e 3 (itens 0-0 desta instrução).
42. No entanto, conforme item 19 do Anexo I da Portaria Segecex 12/2016, os fatos noticiados
atendem a duas das premissas indicadas na Instrução Normativa TCU 63/2010 (risco e relevância),
devendo a unidade técnica submeter os autos ao relator com proposta de conhecimento da representação e
de prosseguimento do processo nos termos do item 24 daquele anexo
43. No mérito, conclui-se pela procedência parcial da presente representação, devendo as
questões ora tratadas ser levadas ao conhecimento das unidades jurisdicionadas para a adoção das
providências de sua alçada, na forma já determinada pelo TCU em representação abordando fatos
similares, envolvendo mais de duzentos processos de municípios do Estado do Maranhão (TC
033.582/2017-3), com posterior arquivamento dos autos, de acordo com o art. 169, inciso II, do
Regimento Interno do TCU.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
44. Cabe observar que, em consulta à base de processos deste Tribunal, na data de finalização
desta instrução, existem oito outros processos tramitando neste Tribunal na mesma situação deste
processo, em que a atual gestão da municipalidade de Cururupu/MA representa contra irregularidades em
convênios para reforma ou construção de centros de saúde, causadas pelo ex-gestor e que resultam em
obras paralisadas. Trata-se dos processos: TC 007.737/2019-0, TC 007.741/2019-7, TC 007.749/2019-8,
TC 007.754.2019-1, TC 007.760/2019-1, TC 007.767/2019-6, TC 012.553/2019-0 e TC 012.557/2019-6,
conforme cópia da tela de consulta à peça 8.
45. Em todos os nove autos, o procurador constituído pela municipalidade faz anexar ao seu
ofício a mesma documentação relacionada ao Convênio 26/2009, a qual é incongruente com a avença
tratada no corpo do ofício de representação, conforme relatado nos itens 0-0 desta instrução.
46. Considerando que todos os nove processos têm o mesmo padrão, pode-se adotar
procedimento similar ao decidido no TC 033.582/2017-3 (relato nos itens 0-0 desta instrução), propondo-
se apensar os demais oito processos a este para que seja expedido um único ofício de ciência ao
município de Cururupu/MA, nos termos da proposta de encaminhamento em sequência nesta instrução.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
47. Ante todo o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:
a) conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade
previstos nos arts. 235 e 237, inciso III, do Regimento Interno deste Tribunal, para, no mérito, considerá-
la parcialmente procedente;
b) dar ciência da deliberação que vier a ser adotada ao Representante, informando-lhe que:
b.1) na forma dos arts. 3º, 4º e 15 da Instrução Normativa - TCU 71, de 28 de novembro de 2012,
alterada pela Instrução Normativa – TCU 76, de 23 de novembro de 2016, a instauração de processo de
tomada de contas especial, a inscrição e a baixa de responsável no cadastro de devedores da União e a
suspensão da inadimplência nestes mesmos cadastros cabem, primariamente, à autoridade competente do
órgão repassador dos recursos ou, nos casos não relacionados ao repasse de recursos e sim ao
cumprimento de obrigações de outra natureza, aos órgãos/entidades responsáveis por alimentar e alterar
os cadastros e sistemas que controlam tais obrigações;
b.2) cabe ao município tentar reverter, junto aos órgãos/entidades competentes mencionados no
337
item anterior, as situações de inadimplência/omissão que informa ao TCU no bojo de sua representação,
mediante a adoção de providências no sentido de regularizar os registros dos dados municipais, podendo,
na impossibilidade de fazê-lo, adotar, se o desejarem, as medidas judiciais ou administrativas julgadas
cabíveis, com vistas a modificar sua situação junto aos sistemas/cadastros, de maneira a viabilizar
eventual suspensão da restrição de repasse de recursos federais;
c) o inteiro teor da deliberação pode ser consultado no endereço www.tcu.gov.br/acordaos;
e
d) arquivar o presente processo, com fundamento no art. 169, inciso II, do Regimento
Interno do Tribunal.”
É o relatório.
PROPOSTA DE DELIBERAÇÃO
conhecimento das irregularidades causadas pelo ex-gestor que resultam em obras paralisadas, sendo
responsabilidade primária do município e do órgão repassador tratar do problema referente às
inadimplências verificadas, não cabendo ao TCU superar etapas de controle para assumir diretamente a
apuração e a resolução de cada caso.
18.Conforme citado no referido processo retro, o TCU reiteradamente adota o mesmo tratamento
para as representações dessa natureza, devolvendo a resolução do problema aos municípios, aos órgãos
federais responsáveis ou, em alguns casos de não comprovação de utilização de recursos federais, ao
respectivo Tribunal de Contas local competente para o assunto, deixando de adotar diretamente qualquer
providência sobre os casos dessa natureza. O fundamento que se adota nesses casos, e que vale para o
presente processo, é o de que não cabe ao TCU superar elos de controle e substituir a atuação dos órgãos
federais e municípios no exercício de suas responsabilidades quanto à resolução dessas inadimplências.
19.Dessa forma, proponho o conhecimento da representação e o encaminhamento de ciências ao
representante e ao Ministério da Saúde, para a adoção das providências de sua alçada, de forma
semelhante à adotada pelo TCU em representação abordando fatos similares, envolvendo mais de
duzentos processos de municípios do Estado do Maranhão (TC 033.582/2017-3), com posterior
arquivamento dos autos, de acordo com o art. 169, inciso II, do Regimento Interno do TCU.
Ante o exposto, manifesto-me por que o Tribunal aprove o acórdão que ora submeto à deliberação
deste Colegiado.
1. Processo TC 007.757/2019-0.
1.1. Apensos: 007.767/2019-6; 007.737/2019-0; 007.749/2019-8; 007.754/2019-1; 012.557/2019-6;
012.553/2019-0; 007.760/2019-1; 007.741/2019-7.
2. Grupo I – Classe VI - Assunto: Representação.
3. Representante: Rosária de Fátima Chaves (094.137.153-00).
4. Órgão/Entidade/Unidade: Prefeitura Municipal de Cururupu - MA.
5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo da Saúde (SecexSaúde).
8. Representação legal: Pedro Durans Braid Ribeiro (OAB/MA-10255).
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação de interesse do Município de
Cururupu/MA, formulada pela atual prefeita, Sra. Rosária de Fátima Chaves, contra o ex-gestor
municipal, José Carlos de Almeida Júnior, e a empresa Vera Cruz Construções, dando ciência de que o
Convênio 11395.7300001/13-003, com recursos do Fundo Municipal de Saúde, Programa Atenção
Básica, objetivando a “Reforma do Centro de Saúde Barreiros”, no valor de R$ 136.540,80, encontra-se
inconcluso,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Primeira Câmara,
ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos
arts. 235 e 237, inciso III, do Regimento Interno deste Tribunal;
9.2. dar ciência desta deliberação ao representante e ao Ministério da Saúde, informando-lhes que:
9.2.1. a inscrição e a baixa de responsável no cadastro de devedores da União e a suspensão da
inadimplência nestes mesmos cadastros cabem, primariamente, à autoridade competente do órgão
repassador dos recursos ou, nos casos não relacionados ao repasse de recursos e sim ao cumprimento de
obrigações de outra natureza, aos órgãos/entidades responsáveis por alimentar e alterar os cadastros e
sistemas que controlam tais obrigações, na forma dos arts. 3º, 4º e 15 da Instrução Normativa - TCU 71,
340
de 28 de novembro de 2012, alterada pela Instrução Normativa – TCU 76, de 23 de novembro de 2016, a
instauração de processo de tomada de contas especial;
9.2.2. cabe ao município tentar reverter, junto aos órgãos/entidades competentes mencionados no
item anterior, as situações de inadimplência/omissão que informa ao TCU no bojo de sua representação,
mediante a adoção de providências no sentido de regularizar os registros dos dados municipais, podendo,
na impossibilidade de fazê-lo, adotar, se o desejarem, as medidas judiciais ou administrativas julgadas
cabíveis, com vistas a modificar sua situação junto aos sistemas/cadastros, de maneira a viabilizar
eventual suspensão da restrição de repasse de recursos federais; e
9.3. arquivar o presente processo, com fundamento no art. 169, inciso II, do Regimento Interno do
Tribunal.
RELATÓRIO
Adoto como relatório a instrução lançada aos autos pela Secex-BA (peça 18):
“INTRODUÇÃO
1.Tratam os autos de tomada de contas especial instaurada pela Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) em face de Emerson José Osório Pimentel Leal, ex-diretor-presidente da
Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A. (EBDA), em razão de irregularidades constatadas na
aplicação dos recursos transferidos à mencionada instituição por força do Convênio 702461/2008, que
tinha por objeto ‘a integração de esforços entre as partícipes para a execução pela Convenente, de sua
revitalização estrutural, como forma de ampliar os investimentos em infraestrutura por meio de aquisição
de mobiliário, equipamentos de laboratório e informática, veículos, máquinas agrícolas e implementos,
341
nos moldes preconizados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no âmbito do Programa
de apoio à ampliação, à revitalização e à modernização da infraestrutura física das Organizações
Estaduais de Pesquisas Agropecuárias’.
HISTÓRICO
2.Conforme disposto na cláusula sexta do termo de convênio foram previstos R$ 1.055.890,00 para
a execução do objeto, dos quais R$ 950.290,00 seriam repassados pelo concedente e R$ 105.600,00
corresponderiam à contrapartida não financeira (peça 2, p. 175).
3.Os recursos federais foram repassados em uma única parcela, mediante a ordem bancária
2009OB809304, no valor de R$ 950.290,00, emitida em 1/12/2009 (peça 2, p. 235).
4.O ajuste vigeu no período de 23/12/2008 a 30/6/2011, e previa a apresentação da prestação de
contas até 30/7/2011, conforme cláusula décima primeira do termo de ajuste (peça 2, p. 185), alterada por
quatro termos aditivos (peça 2, p. 209-229).
5.A instauração da Tomada de Contas Especial foi materializada pela constatação de irregularidades
na prestação de contas do convênio em comento, conforme consignado na Nota Técnica 38/2013 da
Coordenadoria de Controle de Convênios e Empréstimos da Embrapa (peça 1, p. 31-159), a saber:
a)utilização de modalidade de licitação imprópria;
b)faltam comprovantes de atos administrativos — modalidade: pregão presencial;
c)faltam comprovantes de atos administrativos — modalidade: pregão eletrônico;
d)faltam comprovantes de atos administrativos — inexigibilidade;
e)falta dos comprovantes dos contratos de fornecimento;
f)procedimento licitatório sem registro nas abas processo de compra e contratos;
g)falta cópia do documento fiscal hábil de comprovação;
h)documento fiscal hábil de comprovação em nome de outro destinatário;
i)falta de carimbo de identificação do convênio no documento hábil de comprovação;
j)falta de atesto de recebimento dos bens no documento hábil de comprovação;
k) inconsistências na data de saída dos produtos e a data de atesto de recebimento no documento
fiscal hábil de comprovação;
l)atesto de recebimento dos bens após o encerramento da vigência do convênio;
m)despesa realizada após o encerramento da vigência do convênio;
n)impropriedades nos registros dos pagamentos realizados;
o)irregularidades nos procedimentos dos pagamentos realizados;
p)aquisições realizadas por valores inferiores ao estipulado no plano de trabalho pactuado;
q)aquisições realizadas por preços excessivos ao plano de trabalho pactuado;
r)inexecução de aquisições com previsão no plano de trabalho;
s) aquisições realizadas por valores superiores em relação à autorização da concedente, inclusive
com rendimentos de aplicação financeira;
t) aquisições realizadas por valores inferiores em relação à autorização da concedente, inclusive
com rendimentos de aplicação financeira;
u)aquisições realizadas sem previsão no plano de trabalho.
6.Após devidamente notificado a apresentar defesa, o Sr. Emerson José Osório Pimentel Leal
encaminhou suas justificativas para as irregularidades suscitadas pela concedente (peça 5, p. 305-345), as
quais foram analisadas pelos técnicos da Embrapa, não tendo sido consideradas suficientes para eximir o
gestor da responsabilidade a ele imputada.
7.Frustradas as tentativas de recomposição do dano de forma espontânea, determinou-se a
instauração da presente tomada de contas especial.
8.A Embrapa, por meio do Relatório de Tomada de Contas Especial 1/2015 (peça 6, p. 86-106),
concluiu pela irregularidade das contas e consequente imputação de débito ao Sr. Emerson José Osório
Pimentel Leal, ex-diretor-presidente da EBDA, pelo valor original de R$ 950.290,00, correspondente à
totalidade dos recursos repassados.
9.A Controladoria Geral da União pronunciou-se pela irregularidade das contas nos documentos
342
Relatório de Auditoria, Certificado de Auditoria e Parecer do Dirigente, todos sob o nº 240/2016 (peça 6,
p. 155-162). Em seguida, a autoridade ministerial atestou haver tomado conhecimento das conclusões
contidas nos mencionados documentos (peça 6, p. 169).
10.Já no âmbito do TCU, em instrução preliminar (peça 10), considerou-se que, embora tenham
sido objeto de ressalvas, de modo geral, os gastos realizados pela EBDA guardavam consonância com o
objeto do Convênio 702461/2008. É dizer, as impropriedades que deram origem à glosa sobre o valor
total transferido no âmbito do convênio foram mais em função de falhas formais cometidas pela
convenente do que propriamente de desvios ou resultantes de dano ao erário.
11.Naquela oportunidade, não pareceu correto, portanto, o entendimento contido no parecer do
tomador de contas, que após a emissão de relatórios indicando apenas falhas de menor gravidade, passou
a exigir a devolução da totalidade dos recursos transferidos.
12.Assim, entendeu-se que não remanesciam nesta tomada de contas especial os pressupostos
de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo, uma vez não configurada a ocorrência
de dano ao erário (art. 5°, inc. I, da IN-TCU 71/2012). Em casos assim, o Regimento Interno do TCU, em
seu artigo 212, determina que seja arquivado o processo sem julgamento de mérito.
13.Os autos foram encaminhados para o Ministério Público junto ao TCU, que, em 27/10/2016, se
manifestou em concordância com a Secex – BA, opinando pelo arquivamento do processo sem
julgamento do mérito (peça 13).
14.Já em 8/11/2016, o Ministro Relator do feito, Augusto Sherman Cavalcanti, proferiu despacho
dissonante das propostas da unidade técnica e do parquet especializado (peça 14).
15.Sua Excelência entendeu que as irregularidades descritas nos subitens ‘e’ (falta de comprovantes
dos contratos de fornecimento), ‘g’ (ausência de cópia de documento fiscal hábil de comprovação), ‘j’
(ausência de atesto de recebimento de bens adquiridos), ‘k’ (inconsistências entre as datas de saída dos
produtos e a data de atesto de recebimento dos mesmos), ‘q’ e ‘s’ (aquisições realizadas por preços
excessivos frente aos especificados no plano de trabalho e frente aos autorizados pela concedente), ‘r’
(ausência de aquisições previstas no plano de trabalho) e ‘u’ (aquisições realizadas sem previsão no plano
de trabalho) do parágrafo 5º da instrução, todas com potencial de provocar dano, não foram
individualmente analisados por esta Secex – BA.
16. Considerou o Relator que ‘um conjunto muito extenso de falhas, ainda que apenas formais, pode
ser suficiente para que se aplique penalidade a um gestor público’.
17. Diante disso, solicitou a esta unidade técnica que: a) analisasse individualmente as
irregularidades listadas no parágrafo 5º da instrução, especialmente aquelas com potencial de provocar
dano, atentando para o fato de que cabe ao gestor comprovar a adequada e integral aplicação dos recursos
e o integral cumprimento do objeto pactuado; b) apresentasse novo parecer conclusivo sobre as matérias
tratadas nos autos e nova proposta de encaminhamento, ratificando ou retificando a anterior; c) restituísse
os autos ao seu Gabinete, por intermédio do MP-TCU, dando-lhe oportunidade para oferecimento de
novo parecer.
EXAME TÉCNICO
18.A motivação para a instauração da presente tomada de contas especial, segundo o tomador de
contas, foi materializada pela ‘não execução total ou parcial do objeto pactuado’.
19.Durante a execução da avença, foram realizadas duas visitas in loco, conforme Relatórios de
Auditoria 36/2010 (peça 6, p. 29-55), de 29/8/2010, e 20/2011 (peça 2, p. 247-275), de 11/5/2011. Os
documentos apontaram falhas formais e orientaram quanto às correções necessárias.
20.Instaurada a TCE, a comissão instituída pela Embrapa emitiu o Relatório de Tomada de Contas
Especial 1/2015 (peça 6, p. 86-106), imputando débito ao Sr. Emerson José Osório Pimentel Leal
correspondente à totalidade dos recursos transferidos.
21.Na instrução vestibular, consignou-se que as falhas quanto à execução financeira do ajuste
apontadas pela Embrapa eram meramente formais, pois se referiam ao preenchimento incorreto do
Siconv, à ausência de identificação do convênio nos documentos relativos aos pagamentos efetuados, à
realização de despesas sem previsão no plano de trabalho, à ausência de atesto quanto aos serviços
343
legislação vigente) aplicação dos recursos geridos e, por isso, tem o ônus de comprovar essa aplicação, ou
seja, provar que não houve lesão ao patrimônio público, segundo determinam a Constituição Federal e
legislação correlata, verbis:
Constituição Federal de 1988:
Art.70..................................................................................................
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize,
arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União
responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.
Decreto-lei 200/1967:
Art. 93. Quem quer que utilize dinheiros públicos terá de justificar seu bom e regular emprego na
conformidade das leis, regulamentos e normas emanadas das autoridades administrativas competentes.
Decreto 93.872/1986:
Art. 66. Quem quer que receba recursos da União ou das entidades a ela vinculadas, direta ou
indiretamente, inclusive mediante acordo, ajuste ou convênio, para realizar pesquisas, desenvolver
projetos, estudos, campanhas e obras sociais ou para qualquer outro fim, deverá comprovar o seu bom e
regular emprego, bem como os resultados alcançados (Decreto-lei nº 200/67, art. 93).
26.Nesse sentido tem sido a jurisprudência do STF:
MS 20335, Relator Ministro Moreira Alves, DJ de 25.02.1983:
MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. CONTAS
JULGADAS IRREGULARES. APLICACÃO DA MULTA PREVISTA NO ARTIGO 53 DO
DECRETO-LEI 199/67. A MULTA PREVISTA NO ARTIGO 53 DO DECRETO-LEI 199/67 NÃO
TEM NATUREZA DE SANÇÃO DISCIPLINAR. IMPROCEDÊNCIA DAS ALEGAÇÕES
RELATIVAS A CERCEAMENTO DE DEFESA. EM DIREITO FINANCEIRO, CABE AO
ORDENADOR DE DESPESAS PROVAR QUE NÃO É RESPONSÁVEL PELAS INFRAÇÕES, QUE
LHE SÃO IMPUTADAS, DAS LEIS E REGULAMENTOS NA APLICAÇÃO DO DINHEIRO
PÚBLICO. COINCIDÊNCIA, AO CONTRÁRIO DO QUE FOI ALEGADO, ENTRE A ACUSAÇÃO E
A CONDENAÇÃO, NO TOCANTE À IRREGULARIDADE DA LICITAÇÃO. MANDADO DE
SEGURANÇA INDEFERIDO (grifamos).
27.De igual modo é assente na jurisprudência do STF que o dever de prestar contas é da pessoa
física responsável por bens e valores públicos, agente público ou não. Também é entendimento da
Suprema Corte de que quem gere dinheiro público ou administra bens ou interesses da comunidade deve
contas ao órgão competente para a fiscalização, que, no caso presente, é o Tribunal de Contas da União, a
teor do art. 71, incisos II e VI, da Constituição Federal. Eis a ementa do MS-21.644/DF, cujo teor
corrobora com o afirmado:
EMENTA: - Mandado de segurança. Tribunal de Contas da União.
2. Prestação de contas referente à aplicação de valores recebidos de entidades da administração
indireta, destinados a Programa Assistencial de Servidores de Ministério, em período em que o impetrante
era Presidente da Associação dos Servidores do Ministério.
3. O dever de prestar contas, no caso, não é da entidade, mas da pessoa física responsável por bens e
valores públicos, seja ele agente público ou não.
4. Embora a entidade seja de direito privado, sujeita-se à fiscalização do Estado, pois recebe
recursos de origem estatal, e seus dirigentes hão de prestar contas dos valores recebidos; quem gere
dinheiro público ou administra bens ou interesses da comunidade deve contas ao órgão competente para a
fiscalização.
5. Hipótese de competência do Tribunal de Contas da União para julgar a matéria em causa, a teor
do art. 71, II, da Constituição, havendo apuração dos fatos em procedimentos de fiscalização, assegurada
ao impetrante ampla defesa.
6. Regimento Interno do Tribunal de Contas da União, arts. 9º, §§ 1º e 8º, 119 e 121. Pauta Especial
de julgamento publicada com inclusão do processo em referência.
7. Não cabe rediscutir fatos e provas, em mandado de segurança.
345
8. Mandado de segurança indeferido. (MS-21.644/DF, Min. Néri da Silveira, DJ. 8.11.96, p. 43204)
(grifado)
28.Em razão desse entendimento, nos processos de contas, a comprovação da boa e regular
aplicação é dever do administrador público, sendo que a não-comprovação da aplicação dos recursos
enseja a responsabilização pessoal do responsável pelos recursos federais. Neste momento deve ser
rechaçada até mesmo eventual alegação de violação do princípio de presunção de inocência. É que,
diferentemente dos processos disciplinares administrativos, em que a Administração tem o ônus da
comprovação da acusação, nos processos de tomada de contas, o ônus da comprovação da boa e regular
gestão dos recursos públicos é do responsável pela aplicação dos recursos.
29.Não se pode descurar, todavia, que algumas das irregularidades constadas, a exemplo de ‘falta
dos comprovantes dos contratos de fornecimento’, ‘falta cópia do documento fiscal hábil de
comprovação’, ‘falta de atesto de recebimento dos bens no documento hábil de comprovação’ e
‘inconsistências na data de saída dos produtos e a data de atesto de recebimento no documento fiscal hábil
de comprovação’, poderiam ter sido elididas caso, no período de prestação de contas – entre 1/7/2011 e
30/7/2011, tais documentos fossem inseridos no Siconv.
30.Como repetidamente informado pela Embrapa no processo de tomada de contas especial, o Sr.
Emerson José Osório Pimentel Leal ocupou o cargo de diretor-presidente da EBDA entre 12/1/2007 e
27/6/2011, tendo o ajuste expirado em 30/6/2011.
31.É dizer, à época da prestação de contas não ocupava mais cargo de gestão na agora extinta
empresa pública, tendo sido substituído pelo Sr. Elionaldo de Faro Teles, que exerceu o cargo até
9/2/2015.
32.Há provas nos autos de que o Sr. Elionaldo de Faro Teles, durante sua gestão, foi instado a
comprovar a regularidade do convênio, tendo tido ciência das irregularidades imputadas. Cita-se como
exemplo os encaminhamentos do Relatório de Análise de Prestação de Contas 06/2013 (peça 3, p. 3-63),
da Nota Técnica 38/2013 (peça 1, p. 29-159), do Relatório de Análise de Prestação de Contas 15/2013
(peça 3, p. 305-333) e do Relatório de Acompanhamento e Fiscalização (peça 1, p. 161-283). Além do
envio de tais documentos, a concedente encaminhou ao gestor correspondências comunicando a
prorrogação do prazo para atendimento das pendências verificadas, alertando-o, inclusive, quanto à
possibilidade de instauração de tomada de contas especial (peça 3, p. 65-73). Não obstante, o Sr.
Elionaldo de Faro Teles preferiu não responder aos chamamentos da Embrapa.
33.Dessa forma, propõe-se a citação solidária dos Srs. Emerson José Osório Pimentel Leal e
Elionaldo de Faro Teles, ex-diretores-presidentes da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A.
(EBDA), para que comprovem a boa e regular aplicação dos recursos, recolham o débito ou demonstrem
que não se beneficiaram com a aplicação irregular dos recursos que lhes foram destinados. Os valores e
datas dos débitos foram extraídos do quadro constante da peça 3, p. 131-155.
34.Por fim, informa-se que não foram encontrados débitos imputáveis aos responsáveis em outros
processos em tramitação no Tribunal.
CONCLUSÃO
35.O exame das ocorrências descritas na seção ‘Exame Técnico’ permitiu, na forma dos arts. 10, §
1º, e 12, incisos I e II, da Lei 8.443/1992 c/c o art. 202, incisos I e II, do RI/TCU, definir a
responsabilidade solidária dos Srs. Emerson José Osório Pimentel Leal e Elionaldo de Faro Teles e apurar
adequadamente o débito a eles atribuído. Propõe-se, por conseguinte, que se promova a citação dos
responsáveis (item 33). Conforme despacho acostado à peça 14, os autos devem ser restituídos ao
Gabinete do Relator, por intermédio do MP junto ao TCU, dando-lhe oportunidade para oferecimento de
novo parecer.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
36.Diante do exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:
a) realizar a citação dos Srs. Emerson José Osório Pimentel Leal (CPF 017.480.925-53) e Elionaldo
de Faro Teles (CPF 156.627.805-87), ex-diretores-presidentes da Empresa Baiana de Desenvolvimento
Agrícola S.A. (EBDA) [extinta], com fundamento nos arts. 10, § 1º, e 12, incisos I e II, da Lei 8.443/1992
346
c/c o art. 202, incisos I e II, do RI/TCU, para que, no prazo de quinze dias, apresentem alegações de
defesa quanto às irregularidades detalhadas a seguir:
a.1) Irregularidade: não comprovação da boa e regular aplicação dos recursos recebidos, devido à
ausência de registros das despesas e movimentações financeiras no Siconv, conforme previsto no termo
de Convênio 702461/2008 (cláusula quinta, inciso I, alíneas ‘d’, ‘i’, e ‘l’);
a.2) Conduta: não inserir no Siconv a documentação hábil a comprovar a correta aplicação dos
recursos repassados por meio do Convênio 702461/2008;
a.3) Dispositivos violados: art. 93 do Decreto-lei 200/1967, art. 66 do Decreto 96.872/1986, art. 6º,
XVI, da Portaria Interministerial 507/2011, cláusula quinta, inciso I, alíneas ‘d’, ‘i’, e ‘l’ do Convênio
702461/2008.
e/ou recolham, solidariamente, aos cofres da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) as quantias abaixo indicadas, referentes à irregularidade e à conduta de que tratam as letras ‘a’
e ‘b’ acima, atualizadas monetariamente a partir das respectivas datas até o efetivo recolhimento,
abatendo-se na oportunidade a quantia eventualmente ressarcida, na forma da legislação em vigor.
VALOR DATA DA IRREGULARIDADE
ORIGINAL (R$) OCORRÊNCIA
falta dos comprovantes dos contratos de
fornecimento;
75.000,00 23/12/2010 aquisições realizadas por valores superiores em
relação à autorização da concedente, inclusive
com rendimentos de aplicação financeira.
falta dos comprovantes dos contratos de
fornecimento;
falta cópia do documento fiscal hábil de
335,00 29/4/2011
comprovação;
falta de atesto de recebimento dos bens no
documento hábil de comprovação;
falta dos comprovantes dos contratos de
fornecimento;
falta cópia do documento fiscal hábil de
3.500,00 29/4/2010
comprovação;
falta de atesto de recebimento dos bens no
documento hábil de comprovação.
falta dos comprovantes dos contratos de
2.149,98 28/7/2011
fornecimento.
falta dos comprovantes dos contratos de
fornecimento;
11.913,00 28/7/2011
falta de atesto de recebimento dos bens no
documento hábil de comprovação.
falta dos comprovantes dos contratos de
2.064,90 16/5/2011
fornecimento.
falta dos comprovantes dos contratos de
fornecimento;
3.942,26 14/5/2010
falta de atesto de recebimento dos bens no
documento hábil de comprovação.
falta dos comprovantes dos contratos de
fornecimento;
1.476,00 17/5/2010
falta de atesto de recebimento dos bens no
documento hábil de comprovação.
347
boa e regular aplicação dos recursos recebidos, devido à ausência de registros das despesas e
movimentações financeiras no Siconv.
Após a análise da Unidade Técnica, retornam os autos ao Gabinete deste representante do MP/TCU,
em atendimento ao disposto na parte final do mencionado Despacho (peça 14).
Passando ao exame do feito, cumpre registrar, de início, que, a nosso sentir, o exame detalhado
determinado pelo Relator, para fins de avaliação da ocorrência de dano e apuração do seu montante, não
foi realizado pela Unidade Técnica. Esse entendimento se funda no fato de que, não obstante haja a
referência a quase uma centena de itens adquiridos com recursos do convênio, muitos deles fisicamente
identificados em inspeções realizadas pela Embrapa, não há, na instrução que integra a peça 18, o exame
individualizado de qualquer uma dessas despesas.
Quanto à responsabilização solidária dos ex-presidentes por eventual dano, divergimos, desde já, da
proposta sugerida pela Unidade Técnica. O Sr. Emerson José Osório Pimentel Leal, signatário do
convênio, ocupou o cargo de diretor-presidente da EBDA entre 12/1/2007 e 27/6/2011, tendo sido
sucedido pelo Sr. Elionaldo de Faro Teles, que exerceu o cargo até 9/2/2015. Conforme se observa na
peça 2, p. 189 e 227, o ajuste esteve vigente no período de 28/12/2008 a 30/06/2011. Dessa forma, a
gestão do sucessor alcançou apenas os três últimos dias de vigência do convênio, acrescidos do prazo de
30 dias para a apresentação da prestação de contas. Independentemente de ter estado à frente do ajuste por
um curtíssimo prazo, há expressa manifestação da Embrapa no sentido de que o sucessor não praticou
atos de gestão durante a vigência do convênio (peça 6, p. 101, itens b2 e b3), o que afastaria sua
responsabilidade. No mesmo sentido, há ainda a Carta TCE Nº 10/2015 (peça 5, p. 399), por meio da qual
foi comunicado ao Sr. Elionaldo que o Grupo de Trabalho de Tomada de Contas Especial havia acolhido
a defesa por ele apresentada.
Desse modo, inexistindo nos autos qualquer indício de que o Sr. Elionaldo de Faro Teles tenha, por
ação ou omissão, dado causa ao débito de que trata a presente TCE, pensamos que cabe exclusivamente
ao Sr. Emerson José Osório Pimentel Leal responder por eventual dano que venha a ser apurado no
processo.
No que tange à ocorrência de débito, é notável a dificuldade, nesse momento, em identificar as
despesas que devem ser glosadas, com base nos documentos que integram os autos. A verdade é que há
falhas na constituição da TCE que dificultam sobremaneira sua análise. Destaque-se, nesse sentido, que
os documentos relativos a várias irregularidades e a inúmeros itens adquiridos não estão autuados em
ordem cronológica. Além disso, há manifestações que fazem referência expressa a documentos que não
estão nos autos. Embora seja visível o grande esforço empreendido pelo Grupo de Trabalho de TCE da
Embrapa na tentativa de identificar irregularidades na gestão dos recursos, o registro de um sem-número
de falhas ou impropriedades formais que não resultaram em prejuízo retirou o foco das questões que
realmente importam para fins de identificação e quantificação do débito. Não por outra razão, em algumas
oportunidades, relatórios técnicos produzidos pela Embrapa não foram capazes de assegurar a ocorrência
de dano, como se observa no Relatório de Prestação de Contas RAP nº 15/2013 (peça 3, p. 307-333), que
complementa o RAP nº 06/2013 (peça 3, p. 5-63). Em outros, como no Relatório de TCE Nº 01/2015
(peça 6, p. 86-106), atribui-se como irregularidade motivadora da TCE a não execução total do objeto
pactuado (peça 6, p.95, item III), sem que se tenha detalhado ou quantificado a parcela efetivamente
executada, fato especialmente relevante em um convênio que tinha como objeto a aquisição de máquinas
e equipamentos.
Nesse contexto, é emblemático o memorando M.DAF.CCE Nº 168/2015, elaborado pelo
Coordenador da Coordenadoria de Controle de Convênios e Empréstimos (peça 4, p. 146-158).
Conquanto se tenha afirmado que as despesas registradas nas abas de execução do Portal Siconv, em sua
totalidade, no valor de R$ 950.102,59, ‘apresentaram problemas em sua execução e/ou comprovação, e
foram alvo de notificação por esta Concedente para complementação de documentos e/ou apresentação
de justificativas’ (peça 4, p. 148, item 2) e, ao final, o débito tenha sido mantido pelo valor total
repassado, as questões lá tratadas sugerem o contrário, isto é, a ausência de dano. Ressalte-se, nesse
sentido, a afirmação expressa de que não foi constatada ‘a ocorrência de desfalque, desvio ou
354
Por representar 44,31% das despesas realizadas, merece destaque a aquisição de 4 tratores agrícolas,
no valor de R$ 421.000,00 (peça 1, p. 41). Conforme se observa na peça 1, p. 177, item 6, consta que
apenas um dos tratores foi localizado na vistoria. Isso, contudo, não deve ser considerado um problema,
haja vista a informação de que os equipamentos foram adquiridos para entrega futura (peça 1, p. 83,
Pregão 012/2010), associado ao fato de que não há relato de qualquer irregularidade relacionada à
ausência desses 3 tratores. Ao contrário, na peça 1, p. 97, há menção à existência de documento fiscal no
qual a data de saída dos produtos é igual à data de atesto do recebimento.
No que se refere à execução financeira, a Nota Técnica Nº 38/2013 (peça 1, p. 31-159) relaciona as
seguintes falhas que teriam sido cometidas na gestão do convênio ou no cadastramento de informações no
Siconv: utilização de dispensa de licitação em vez de pregão; ausência de comprovantes de atos relativos
a pregão presencial, a pregão eletrônico e a inexigibilidade; ausência de contratos de fornecimento;
registro de procedimento licitatório em aba indevida do Siconv; ausência de documento fiscal;
documentação fiscal em nome da Secretaria de Estado da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária da
Bahia, em vez da EBDA; ausência de carimbo de identificação do convênio no documento fiscal;
ausência de atesto de recebimento no documento fiscal; data de saída dos produtos igual à data de atesto
do recebimento; atesto de recebimento após o encerramento da vigência do convênio; despesa realizada
após o encerramento da vigência do convênio; impropriedades nos registros de pagamentos realizados; e
irregularidades nos procedimentos dos pagamentos realizados.
De todos os apontamentos, pensamos que apenas as ocorrências ‘irregularidades nos procedimentos
dos pagamentos realizados’ (peça 1, p. 111, item A.15) e ‘ausência de documento fiscal’ (peça 1, p. 81-
87, item A.7) poderiam eventualmente ensejar débito. Quanto à primeira, faltam elementos para que se
possa avaliar exatamente a falha que teria sido cometida. Em relação à segunda (ausência de documento
fiscal), há a informação expressa, não muito clara, de que a falha teria sido ‘acatada parcialmente, em
virtude das cópias dos documentos fiscais hábeis de comprovação anexados na aba Documento de
Liquidação apresentar problemas, conforme disposto no quadro abaixo’. Essa informação, segundo nos
parece, não apenas afasta a suposição de que se tratava de uma falha grave, mas, principalmente,
demonstra que houve a regular apresentação das demais notas fiscais, as quais – ressalte-se – não
integram os autos. Esse fato é particularmente relevante para a comprovação da regularidade das
despesas, notadamente quando se tem notícia de que inúmeros bens adquiridos foram localizados em
vistoria realizada pela Embrapa.
No que tange à movimentação dos recursos, não há como avaliar a regularidade do procedimento, já
que não constam nos autos os documentos necessários para essa análise, como notas fiscais e extratos
bancários. Nada obstante, importa destacar que as informações contidas no Relatório de Auditoria
20/2011 (peça 2, p. 247-275), especialmente nos itens NC.10 e NC.11 (peça 2, p. 259-261), revelam que
houve fiscalização da movimentação financeira do convênio e sugerem que o concedente teve acesso aos
extratos bancários da conta na qual os recursos foram movimentados. A citada Nota Técnica Nº 38/2013,
ao tratar dos rendimentos obtidos com aplicações financeiras (item C, Apontamentos Financeiros, peça 1,
p. 153-159), confirma essa suposição. Ao noticiar que, na vigência do convênio foi apurado um
rendimento de R$ 38.145,78 em aplicações financeiras; que foram restituídos ao concedente R$
16.658,04; e que, em função do montante repassado e das despesas realizadas, restou um saldo a ser
devolvido ao concedente no valor de R$ 21.675,15, não deixa dúvidas de que houve a apresentação dos
devidos extratos bancários, documentos estes que, todavia, não estão no processo.
Diante disso, e considerando que, embora tenha analisado o processo de forma extremamente
detalhada, a Embrapa nada mencionou sobre falhas que poderiam sugerir a ausência de nexo de
causalidade entre os desembolsos e as despesas realizadas, é possível inferir que não houve problemas
relacionados a esse assunto.
Nesse contexto, pensamos que a responsabilização do Sr. Emerson José Osório Pimentel Leal pela
totalidade dos recursos repassados, conforme sugerido pela Unidade Técnica, seria medida de extremo
rigor. Não obstante tenha havido falhas no cadastramento de documentos no Siconv, não se pode ignorar
356
que há um conjunto considerável de bens que foram adquiridos com recursos do convênio e que passaram
a integrar o patrimônio da EBDA.
O problema é que, em razão de falhas na constituição da TCE, não nos parece possível, com base
nos elementos contidos nos autos, identificar despesas que eventualmente sejam passíveis de glosa. Isso
porque nem a Embrapa foi capaz de indicar com a precisão necessária as despesas que provocaram
débito, nem há nos autos documentos que permitam fazê-lo. Se fosse para quantificar um dano, este seria
o valor dos rendimentos de aplicações financeiras que não foram restituídos ao concedente (R$
21.675,15), débito este que seria de responsabilidade da EBDA ou de quem a sucedeu (há nos autos a
informação de que, em 14/05/2015, a EBDA estava em processo de liquidação, peça 4, p. 143). Contudo,
como se trata de débito de pequeno valor, em relação ao qual não houve a citação do responsável,
entendemos que se deva dar o encaminhamento previsto no artigo 19, c/c o artigo 6º, inciso I, da IN TCU
71/2012, vale dizer, o arquivamento do processo.
Quanto aos itens que não foram localizados na vistoria, isto é, a câmera fotográfica digital (peça 1,
p. 181, itens 20 e 21) e a lâmpada de deutério para espectrofotômetro (peça 1, p. 183, item 41), no valor
R$ 3.906,66 (peça 1, p.85, Dispensa 010/2010) e R$ 3.565,00 (peça 1, p. 89, Pregão 03/2010),
respectivamente, tratam-se de bens de pequeno valor. Ademais, como são bens tombados, supõe-se que
houve a sua aquisição, de modo que a responsabilidade por sua guarda seria do servidor que detinha a
carga do material, e não do gestor do convênio.
Por fim, cumpre destacar que, conquanto caiba ao gestor demonstrar a regular aplicação dos
recursos repassados por força de convênio, pensamos que, nesse caso, o problema não está na
insuficiência da comprovação, mas sim no fato de que os documentos cadastrados no Siconv a título de
prestação de contas não foram carreados aos autos. Isso, associado ao exame deficiente promovido pela
Embrapa, impedem, a nosso sentir, a formação de um juízo de valor pela ocorrência de dano.
Assim, à vista das considerações expendidas, e considerando fundamentalmente que a TCE se
encontra precariamente constituída e que os elementos contidos nos autos apontam para a inexistência de
indícios de que os recursos tenham sido malversados, manifestamo-nos pelo arquivamento do processo,
conforme já havíamos proposto anteriormente (peça 13), com fundamento no artigo 19, c/c o artigo 6º,
inciso I, da IN TCU 71/2012.
Por oportuno, na eventual hipótese de o Relator decidir pela continuidade do feito deliberando pela
citação dos responsáveis, alertamos para o fato de que, em nossa opinião, apenas o Sr. Emerson José
Osório Pimentel Leal deverá responder por dano, conforme comentado no presente Parecer.”
É o relatório.
PROPOSTA DE DELIBERAÇÃO
Tratam os autos de tomada de contas especial instaurada pela Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária - Embrapa em desfavor do Sr. Emerson José Osório Pimentel Leal, ex-diretor-presidente da
extinta Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A. - EBDA, em razão de indícios de
irregularidades na aplicação dos recursos transferidos por meio do Convênio 702461/2008, que teve por
objeto a aquisição de mobiliário, equipamentos de laboratório e informática, veículos, máquinas agrícolas
e implementos, ao abrigo do Programa de Apoio à Ampliação, à Revitalização e à Modernização da
Infraestrutura Física das Organizações Estaduais de Pesquisas Agropecuárias, e que teve vigência de
23/12/2008 a 30/06/2011 (peça 18, §§ 1º e 4º da instrução).
2. A tomada de contas especial foi instaurada em razão de indícios de irregularidades detectados
quando da análise da prestação de contas pelo órgão repassador (peça 18, § 5º da instrução). Pelo teor da
análise então realizada, as justificativas apresentadas pelo responsável não lograram afastar os indícios,
em razão do que foi emitido parecer pela irregularidade das contas e pela imputação de débito equivalente
357
presentes nas notas fiscais, foram consolidadas na relação de pagamentos realizados (peça 2, p. 329-
331) e, de alguma forma, encontram-se dispersas na Nota Técnica Nº 38/2013 (peça 1, p. 31-159) e na
relação de bens adquiridos por meta (peça 4, p. 232-342). O batimento das informações contidas nesses
relatórios com os 79 itens relacionados no Relatório de Acompanhamento e Fiscalização do Convênio
(peça 1, p. 175-189) exigiria o processamento de um grande volume de informações, algo inviável de ser
feito nesse Gabinete.
Escolhendo-se, por amostragem, algumas aquisições materialmente relevantes, observa-se que há
diversos itens indicados como adquiridos que foram fisicamente encontrados pela Embrapa por ocasião
da vistoria realizada. Dentre esses itens, podemos citar a estufa microprocessada com circulação de ar
forçada (R$ 10.300,00, peça 1, p. 39, Pregão 03/2010, e peça 1, p. 183, item 36), o projetor multimídia
(R$ 12.800,00, peça 1, p. 39, Pregão 026/2009, e peça 1, p. 187, itens 61 e 62), o espectrofotômetro UV
visível (R$ 10.560,00, peça 1, p. 43, Pregão 042/2009, e peça 1, p. 183, item 34), o microcomputador
desktop com monitor de LCD de 19 polegadas (R$ 8.580,00, peça 1, p. 43, Pregão 041/2009, e peça 1, p.
183, item 45), o microcomputador portátil notebook com tela de 13,3 polegadas (R$ 14.750,00, peça 1, p.
43, Pregão 041/2009, e peça 1, p. 185, itens 47 e 48), a estufa a vácuo (R$ 13.681,00, peça 1, p. 49,
Pregão 013/2011, e peça 1, p. 183, item 35), a câmera de vídeo profissional HDV (R$ 13.735,00, peça 1,
p. 51, Pregão 08/2010, e peça 1, p. 181, item 19), o gps com automação mínima para 24 horas de
trabalho (R$ 11.598,96, peça 1, p. 53, Pregão 012/2011, e peça 1, p. 183, item 38), o nobreak online de
1,5KVA (R$ 9.200,00, peça 1, p. 53, Pregão 06/2011, e peça 1, p. 185, item 56), o microcomputador
desktop com monitor de 20 polegadas (R$ 57.999,75, peça 1, p. 53, Pregão 012/2010, e peça 1, p. 183,
item 46), e o microcomputador tipo notebook com tela de 14 polegadas (R$ 75.000,00, peça 1, p. 53,
Pregão 012/2010, e peça 1, p. 185 e 187, itens 57 a 59). Essa relação não exaustiva totaliza R$
238.204,71, o que corresponde a 25,07% das despesas efetuadas.
Por representar 44,31% das despesas realizadas, merece destaque a aquisição de 4 tratores
agrícolas, no valor de R$ 421.000,00 (peça 1, p. 41). Conforme se observa na peça 1, p. 177, item 6,
consta que apenas um dos tratores foi localizado na vistoria. Isso, contudo, não deve ser considerado um
problema, haja vista a informação de que os equipamentos foram adquiridos para entrega futura (peça
1, p. 83, Pregão 012/2010), associado ao fato de que não há relato de qualquer irregularidade
relacionada à ausência desses 3 tratores. Ao contrário, na peça 1, p. 97, há menção à existência de
documento fiscal no qual a data de saída dos produtos é igual à data de atesto do recebimento.
No que se refere à execução financeira, a Nota Técnica Nº 38/2013 (peça 1, p. 31-159) relaciona as
seguintes falhas que teriam sido cometidas na gestão do convênio ou no cadastramento de informações
no Siconv: utilização de dispensa de licitação em vez de pregão; ausência de comprovantes de atos
relativos a pregão presencial, a pregão eletrônico e a inexigibilidade; ausência de contratos de
fornecimento; registro de procedimento licitatório em aba indevida do Siconv; ausência de documento
fiscal; documentação fiscal em nome da Secretaria de Estado da Agricultura, Irrigação e Reforma
Agrária da Bahia, em vez da EBDA; ausência de carimbo de identificação do convênio no documento
fiscal; ausência de atesto de recebimento no documento fiscal; data de saída dos produtos igual à data
de atesto do recebimento; atesto de recebimento após o encerramento da vigência do convênio; despesa
realizada após o encerramento da vigência do convênio; impropriedades nos registros de pagamentos
realizados; e irregularidades nos procedimentos dos pagamentos realizados.
De todos os apontamentos, pensamos que apenas as ocorrências ‘irregularidades nos
procedimentos dos pagamentos realizados’ (peça 1, p. 111, item A.15) e ‘ausência de documento fiscal’
(peça 1, p. 81-87, item A.7) poderiam eventualmente ensejar débito. Quanto à primeira, faltam elementos
para que se possa avaliar exatamente a falha que teria sido cometida. Em relação à segunda (ausência
de documento fiscal), há a informação expressa, não muito clara, de que a falha teria sido ‘acatada
parcialmente, em virtude das cópias dos documentos fiscais hábeis de comprovação anexados na aba
Documento de Liquidação apresentar problemas, conforme disposto no quadro abaixo’. Essa
informação, segundo nos parece, não apenas afasta a suposição de que se tratava de uma falha grave,
mas, principalmente, demonstra que houve a regular apresentação das demais notas fiscais, as quais –
360
ressalte-se – não integram os autos. Esse fato é particularmente relevante para a comprovação da
regularidade das despesas, notadamente quando se tem notícia de que inúmeros bens adquiridos foram
localizados em vistoria realizada pela Embrapa.
No que tange à movimentação dos recursos, não há como avaliar a regularidade do procedimento,
já que não constam nos autos os documentos necessários para essa análise, como notas fiscais e extratos
bancários. Nada obstante, importa destacar que as informações contidas no Relatório de Auditoria
20/2011 (peça 2, p. 247-275), especialmente nos itens NC.10 e NC.11 (peça 2, p. 259-261), revelam que
houve fiscalização da movimentação financeira do convênio e sugerem que o concedente teve acesso aos
extratos bancários da conta na qual os recursos foram movimentados. A citada Nota Técnica Nº 38/2013,
ao tratar dos rendimentos obtidos com aplicações financeiras (item C, Apontamentos Financeiros, peça
1, p. 153-159), confirma essa suposição. Ao noticiar que, na vigência do convênio foi apurado um
rendimento de R$ 38.145,78 em aplicações financeiras; que foram restituídos ao concedente R$
16.658,04; e que, em função do montante repassado e das despesas realizadas, restou um saldo a ser
devolvido ao concedente no valor de R$ 21.675,15, não deixa dúvidas de que houve a apresentação dos
devidos extratos bancários, documentos estes que, todavia, não estão no processo.
Diante disso, e considerando que, embora tenha analisado o processo de forma extremamente
detalhada, a Embrapa nada mencionou sobre falhas que poderiam sugerir a ausência de nexo de
causalidade entre os desembolsos e as despesas realizadas, é possível inferir que não houve problemas
relacionados a esse assunto.
Nesse contexto, pensamos que a responsabilização do Sr. Emerson José Osório Pimentel Leal pela
totalidade dos recursos repassados, conforme sugerido pela Unidade Técnica, seria medida de extremo
rigor. Não obstante tenha havido falhas no cadastramento de documentos no Siconv, não se pode ignorar
que há um conjunto considerável de bens que foram adquiridos com recursos do convênio e que
passaram a integrar o patrimônio da EBDA.
O problema é que, em razão de falhas na constituição da TCE, não nos parece possível, com base
nos elementos contidos nos autos, identificar despesas que eventualmente sejam passíveis de glosa. Isso
porque nem a Embrapa foi capaz de indicar com a precisão necessária as despesas que provocaram
débito, nem há nos autos documentos que permitam fazê-lo. Se fosse para quantificar um dano, este seria
o valor dos rendimentos de aplicações financeiras que não foram restituídos ao concedente (R$
21.675,15), débito este que seria de responsabilidade da EBDA ou de quem a sucedeu (há nos autos a
informação de que, em 14/05/2015, a EBDA estava em processo de liquidação, peça 4, p. 143). Contudo,
como se trata de débito de pequeno valor, em relação ao qual não houve a citação do responsável,
entendemos que se deva dar o encaminhamento previsto no artigo 19, c/c o artigo 6º, inciso I, da IN TCU
71/2012, vale dizer, o arquivamento do processo.
Quanto aos itens que não foram localizados na vistoria, isto é, a câmera fotográfica digital (peça 1,
p. 181, itens 20 e 21) e a lâmpada de deutério para espectrofotômetro (peça 1, p. 183, item 41), no valor
R$ 3.906,66 (peça 1, p.85, Dispensa 010/2010) e R$ 3.565,00 (peça 1, p. 89, Pregão 03/2010),
respectivamente, tratam-se de bens de pequeno valor. Ademais, como são bens tombados, supõe-se que
houve a sua aquisição, de modo que a responsabilidade por sua guarda seria do servidor que detinha a
carga do material, e não do gestor do convênio.
Por fim, cumpre destacar que, conquanto caiba ao gestor demonstrar a regular aplicação dos
recursos repassados por força de convênio, pensamos que, nesse caso, o problema não está na
insuficiência da comprovação, mas sim no fato de que os documentos cadastrados no Siconv a título de
prestação de contas não foram carreados aos autos. Isso, associado ao exame deficiente promovido pela
Embrapa, impedem, a nosso sentir, a formação de um juízo de valor pela ocorrência de dano.”.
10.Destaco, entre os aspectos expostos pelo Representante do MP/TCU, a existência nos autos de
diversos documentos relacionados a aquisições pertinentes ao objeto do convênio, aí incluídos os de
maior valor; a constatação in loco da existência da quase totalidade desses bens; e a ausência de
afirmação, tanto na fase interna quanto externa desta TCE, no sentido de que os recursos não foram
361
aplicados nas finalidades previstas; razões essas que impedem seja dimensionado e imputado débito ao
responsável. As dificuldades em se avaliar a adequação da aplicação dos recursos no presente caso não
justificam a imputação de débito integral, a qual se apresenta injusta e contrária aos elementos contidos
nos autos.
11.Ademais, e conforme bem apontado pelo MP/TCU, não há indícios de malversação de recursos
públicos, mas apenas de imperfeição nos registros de procedimentos e na apresentação da prestação de
contas, o que, frente a precariedade de constituição da presente TCE desde seu início, não são suficientes
sequer para que se avalie a adequação de aplicação de penalidade ao gestor pelo conjunto de
irregularidades formais cometidas.
Assim, divergindo da posição esposada na instrução da unidade técnica, e concordando com as
análises e conclusões oferecidas pelo MP/TCU em seu parecer, manifesto-me por que o Tribunal aprove o
acórdão que ora submeto à deliberação deste Colegiado.
1. Processo TC 015.323/2016-1.
2. Grupo II - Classe II - Assunto: Tomada de contas especial.
3. Responsável: Emerson José Osório Pimentel Leal (CPF 017.480.925-53).
4. Órgão/Entidade/Unidade: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Marinus Eduardo de Vries Marsico.
7. Unidade técnica: Secex-BA.
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa em desfavor do Sr. Emerson José Osório Pimentel Leal,
ex-diretor-presidente da extinta Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A. - EBDA, em razão de
indícios de irregularidades na aplicação dos recursos transferidos por meio do Convênio 702461/2008,
que teve por objeto a aquisição de mobiliário, equipamentos de laboratório e informática, veículos,
máquinas agrícolas e implementos, ao abrigo do Programa de Apoio à Ampliação, à Revitalização e à
Modernização da Infraestrutura Física das Organizações Estaduais de Pesquisas Agropecuárias, e que
teve vigência de 23/12/2008 a 30/06/2011,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, com
fundamento nos arts. 1º, inciso I, da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 169, inciso VI, e 212 do Regimento
Interno, em:
9.1. arquivar a presente tomada de contas especial ante a ausência de pressupostos de
desenvolvimento válido e regular do processo; e
9.2. dar ciência deste acórdão ao responsável e à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –
Embrapa.
TC 019.576/2017-0
Natureza: Tomada de Contas Especial
Órgão/Entidade/Unidade: Município de Guimarães/MA
Responsável: William Guimarães da Silva (CPF 055.008.933-00)
Representação legal: Antonio Augusto Sousa (OAB/MA 4.847 e OAB/DF 31.024) e outros
RELATÓRIO
A Secex-TCE elaborou a instrução de mérito à peça 39, transcrita a seguir, a qual recebeu a
aprovação do escalão superior daquela unidade técnica.
“INTRODUÇÃO
1.Cuidam os autos de Tomada de Contas Especial instaurada pelo Ministério da Cultura, em razão
de não comprovação da execução do objeto do Convênio 419/2007 (Siafi 611045), firmado em
31/12/2007 com o Município de Guimarães/MA (peça 3, p. 27-41), tendo por objeto: ‘Promover o
Festival de Cultura do Município de Guimarães, contribuindo dessa forma com a produção cultural local
e possibilitando a inclusão cultural e social através das ações que serão realizadas’.
HISTÓRICO
2. Os recursos previstos para a implementação do objeto pactuado foram orçados no valor de R$
137.680,00, sendo R$ 6.890,00 a título de contrapartida do Convenente e R$ 130.790,00, à conta do
Concedente (peça 3, p. 31). A União liberou o montante mediante a Ordem Bancária 2008OB900088
(peça 3, p. 61), de 21/1/2008. Conforme extratos bancários (peça 3, p. 71-77), os recursos federais foram
efetivamente creditados no Banco do Brasil, agência 1053-7, conta corrente 25.545-6, na data de
23/1/2008 (peça 3, p. 75).
2.1Por meio do Parecer Financeiro 42/2016-CPCON/CGEXE/SPOA (peça 3, p. 99-101), de
31/3/2016, o concedente concluiu pela reprovação parcial da prestação de contas do Convênio, com a
impugnação dos recursos federais transferidos ao Município de Guimarães/MA, no valor de R$
130.790,00, menos a devolução do saldo remanescente do convênio, correspondente à quantia de R$
14,95, resultando no débito de R$ 130.775,05.
2.2O Tomador das Contas emitiu o Relatório de Tomada de Contas Especial 034/2016 (peça 8),
com data de 20/10/2016, onde os fatos estão circunstanciados. O ex-Prefeito Municipal de
Guimarães/MA (gestões 2005-2008 e 2009-2012), Sr. William Guimarães da Silva, gestor dos recursos
federais em questão, foi responsabilizado com a impugnação da totalidade dos recursos.
2.3Por sua vez, a Controladoria Geral da União (CGU) emitiu relatório de auditoria e certificou a
irregularidade das contas, apresentando parecer em abril/2017 (peça 10). O Ministro de Estado da Cultura
manifestou-se pela irregularidade das contas, em 17/5/2017, encaminhando o processo de Tomada de
Contas Especial ao Tribunal de Contas da União (peça 2).
2.4Após aportar neste Tribunal, elaborou-se a instrução anexada na peça 15, oportunidade em que
foi proposta a realização de citação do ex-gestor. Regularmente citado, o Sr. William Guimarães ofereceu
suas alegações de defesa, as quais compõem a peça 21.
2.5Prosseguindo, verifica-se que os elementos juntados foram examinados pela Unidade Técnica
em nova instrução, ora anexada na peça 23. De forma bastante resumida, o auditor responsável pelo
exame entendeu cabíveis alguns questionamentos levantados pelo responsável, inclusive no que se refere
ao fato de os pareceres emitidos pelo MinC não serem conclusivos quanto à regularidade ou não de
alguns elementos apresentados na prestação de contas e que poderiam comprovar a realização física do
evento.
363
8.443/1992, c/c o § 7º do art. 209 do Regimento Interno do TCU, para adoção das medidas cabíveis; e
e) enviar cópia do Acórdão que vier a ser proferido ao responsável, para ciência, informando que a
presente deliberação, acompanhada do Relatório e do Voto que a fundamenta, está disponível para a
consulta no endereço www.tcu.gov.br/acordaos, além de esclarecer que, caso requerido, o TCU poderá
fornecer sem custos as correspondentes cópias, de forma impressa.”
2.O Ministério Público junto ao TCU, representado pelo Procurador Sérgio Ricardo Costa Caribé,
manifesta-se, em parecer à peça 42, de acordo com a proposta da unidade técnica.
É o relatório.
PROPOSTA DE DELIBERAÇÃO
Trata-se de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério da Cultura (MinC) em desfavor de
William Guimarães da Silva, ex-prefeito de Guimarães/MA, em razão de não comprovação da execução
do objeto do Convênio 419/2007 (Siafi 611045), tendo por objeto “Promover o Festival de Cultura do
Município de Guimarães”.
2.O convênio foi firmado no valor total de R$ 137.680,00, sendo R$ 130.790,00 à conta do
Concedente e R$ 6.890,00 a título de contrapartida do Convenente. Sua vigência ocorreu no período de
31/12/2007 a 19/2/2008.
3.Após a apresentação da prestação de contas, o MinC notificou o responsável (peça 3, p. 79)
informando que a mesma estava incompleta, requerendo a apresentação dos elementos faltantes. Ante a
inércia do responsável, foi solicitado à Funarte parecer sobre a execução física do evento (peça 3, p. 87-
89). Em resposta, aquela fundação manifestou-se pela necessidade de solicitação ao convenente dos
nomes dos grupos musicais contratados e o envio de material (fotografias, artigos de jornais e outros) que
comprovasse as efetivas participações daqueles grupos nos eventos (peça 3, p. 91).
4.No parecer à peça 3, p. 95, ante a ausência de resposta do convenente sobre os questionamentos
acima, a Funarte manifesta-se sobre a execução física. Esse parecer conclui que as fotografias
encaminhadas na prestação de contas indicavam que o referido Festival de Cultura teria tido cunho
político e não cultural. Dessa forma, opinou pela não aprovação da prestação de contas, sugerindo a
devolução da totalidade dos recursos. Com base nesse parecer, foi emitido o Parecer Financeiro à peça 3,
p. 99-100, propondo a reprovação parcial da prestação de contas, impugnando o valor de R$ 130.775,05,
com a aprovação do valor de R$ 14,95, referente à devolução do saldo do convênio. Foi então instaurada
a presente tomada de contas especial fundamentada nesses pareceres.
5.No âmbito deste Tribunal, foi promovida a citação do responsável (peça 19), imputando-lhe
débito no valor total repassado, em razão da não comprovação da boa e regular aplicação dos recursos
conveniados, considerando a incompletude da prestação de contas encaminhada ao concedente.
6.As alegações de defesa apresentadas foram analisadas por meio da instrução à peça 23. Naquela
oportunidade, foram apresentadas na defesa informações de que parte da documentação apresentada ao
TCU pelo responsável já teria sido submetida à apreciação do Ministério da Cultura em data posterior aos
pareceres que originaram esta TCE. Considerando que, até então, essa nova documentação não havia sido
objeto de manifestação por parte do concedente, determinei, por meio do despacho à peça 26, a realização
de diligência ao MinC, requerendo a apresentação dessa manifestação.
7.Posteriormente, ante a informação do MinC sobre a impossibilidade de atendimento à diligência,
tendo em vista não ter localizado a documentação supostamente remetida pelo responsável ao órgão,
determinei, por meio do despacho à peça 24, a realização de nova diligência, daquela feita à Secretaria
Especial da Cultura do Ministério da Cidadania, para que apresentasse parecer conclusivo sobre os
esclarecimentos e documentos supervenientes apresentados pelo responsável. Ao mesmo tempo, foi
367
encaminhada àquela secretaria cópia dos documentos apresentados nas alegações de defesa em resposta à
citação promovida pelo Tribunal.
8.Em resposta a essa diligência, o MinC apresentou os elementos à peça 37, dentre eles, o Parecer
Técnico Financeiro (peça 37, p. 3-5), no qual conclui que nenhum novo elemento foi trazido aos autos
para comprovar o nexo de causalidade entre os recursos transferidos e as despesas executadas. Dessa
forma, foi mantido o posicionamento ministerial sobre a reprovação da prestação de contas.
9.Ante essa situação, a Secex-TCE, por meio da instrução transcrita no relatório parte desta
deliberação, propõe julgar irregulares as presentes contas, imputando-se débito no valor total repassado.
Considera, entretanto, ter operado a prescrição da pretensão punitiva, em razão de que a irregularidade a
ser sancionada teria ocorrido em 19/2/2008 (data de término da vigência do convênio), enquanto que o ato
de ordenação da citação ocorreu em 5/7/2018. O Ministério Público junto ao TCU avalizou essa proposta.
10.Considero adequada a proposta de encaminhamento da unidade técnica, a qual adoto como parte
das minhas razões de decidir.
11.Ao ser notificado pelo MinC para que apresentasse elementos necessários à comprovação da
realização física do evento custeado com os recursos do convênio, tais como nomes dos grupos musicais
contratados e material fotográfico, artigos de jornais e outros elementos aptos a essa comprovação, os
elementos apresentados pelo responsável receberam a seguinte avaliação por parte do ministério:
a) banheiros químicos: as fotos não comprovam a execução da etapa, tendo em vista estarem
localizados em rua sem movimentação, não sendo possível estabelecer vinculação com o evento;
b) contratação de orquestra e grupos musicais: as fotos não evidenciam a contratação e apresentação
dos grupos previstos, ante a ausência de qualquer identificação do evento ou de datas de apresentação;
c) apresentação de peças teatrais: não há previsão de tais apresentações no plano de trabalho
aprovado;
d) apresentação de diversas danças e musicais culturais: tais apresentações não foram previstas no
plano de trabalho aprovado e, além disso, não há qualquer referência que as vincule ao evento objeto do
convênio em questão;
e) declarações apresentadas: foram apresentadas dez anos após a suposta realização do evento e,
além disso, desacompanhadas de quaisquer outros elementos que pudessem comprovar a efetiva
ocorrência do festival.
12.Conforme apontado pela Secex-TCE, as fotos apresentadas pelo responsável não permitem
afirmar que retratem a festividade objeto do convênio. Dessa forma, ante a inexistência de elementos
capazes de demonstrar a execução física do objeto do ajuste, resta impossibilitada a aprovação da
prestação de contas submetida ao MinC, mormente quando apresentada de forma incompleta.
13.Em que pese o auditor responsável pela elaboração da instrução à peça 23, em que foi feita a
primeira análise das alegações de defesa apresentadas em resposta à citação, mencionar que inexistia a
obrigatoriedade de fornecimento de fotografias e filmagens na prestação de contas, há que ser ressaltado
que o requerimento desses elementos, conforme apontado pela Secex-TCE, decorreu da apresentação de
prestação de contas incompleta, tendo o gestor deixado de atender a notificação do ministério para que
apresentasse os elementos faltantes, o que teria gerado dúvidas a respeito da execução do objeto.
Ademais, a exigência foi suscitada também pela ausência de comprovação da execução das atividades
culturais objeto do convênio, bem como quais artistas ou grupos musicais teriam se apresentado no
suposto festival, conforme informações contidas nos pareceres emitidos pelo MinC (peça 3, pp. 83-85,
99-100). Portanto, entendo restar justificada a demanda do ministério por elementos que sanassem essas
lacunas comprobatórias.
14.Por tudo isso, entendo que as presentes contas devem ser julgadas irregulares, imputando-se ao
responsável débito no valor total repassado, descontado o valor do saldo devolvido. Considero, ainda,
conforme analisado pela unidade técnica, não caber a apenação do responsável com a multa prevista no
art. 57 da Lei 8.443/1992, em razão da prescrição da pretensão punitiva, nos termos estabelecidos no
Acórdão 1441/2016-TCU-Plenário.
368
1. Processo TC 019.576/2017-0.
2. Grupo I – Classe II - Assunto: Tomada de Contas Especial.
3. Responsável: William Guimarães da Silva (CPF 055.008.933-00).
4. Órgão/Entidade/Unidade: Município de Guimarães/MA.
5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Sérgio Ricardo Costa Caribé.
7. Unidade técnica: Secex-TCE.
8. Representação legal: Antonio Augusto Sousa (OAB/MA 4.847 e OAB/DF 31.024) e outros.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério
da Cultura (MinC) em desfavor de William Guimarães da Silva, ex-prefeito de Guimarães/MA, em razão
de não comprovação da execução do objeto do Convênio 419/2007 (Siafi 611045), tendo por objeto
“Promover o Festival de Cultura do Município de Guimarães”,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. julgar, com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas “b” e “c”, 19 e 23, inciso III,
da Lei 8.443, de 16 de julho de 1992, irregulares as contas de William Guimarães da Silva, condenando-o
ao pagamento da quantia de R$ 130.790,00 (cento e trinta mil, setecentos e noventa reais), fixando-lhe o
prazo de quinze dias, a contar da notificação, para que seja comprovado, perante o tribunal (art. 214,
inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno), o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional,
atualizada monetariamente e acrescida dos juros de mora calculados a partir de 23/1/2018 até a data do
efetivo recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor, descontado o valor de R$ 14,95 (quatorze
reais e noventa e cinco centavos), devolvido em 14/5/2008;
9.2. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial da
dívida caso não atendida a notificação;
9.3. remeter cópia deste acórdão à Procuradoria da República no Estado do Maranhão; e
9.4. dar ciência desta deliberação ao responsável.
RELATÓRIO
Adoto, como relatório, a instrução aprovada no âmbito da então Secex/TO e o parecer parcialmente
divergente formulado pelo MP/TCU (peças 67/69 e 71).
I – INSTRUÇÃO DA SECEX/TO
“Cuidam os autos de Tomada de Contas Especial instaurada pela Fundação Nacional de Saúde —
Funasa/MS, contra o Sr. Kenoel Viana Cerqueira (CPF: 028.952.096-77), ex-prefeito do Município de
Guaratinga/BA (gestão: 2013-2016), em razão da omissão no dever de prestar contas dos recursos
recebidos, por força do Termo de Compromisso n. 069/2012 (peça 1, p. 22-30), celebrado entre aquela
entidade e Município de Guaratinga/BA, tendo por objeto ‘a execução da ação de Sistema de
Esgotamento Sanitário - MSD’, conforme o Plano de Trabalho (peça 1, p. 8-13), com vigência estipulada
para o período de 28/05/2012 a 23/05/2015.
HISTÓRICO
3.Os recursos previstos para implementação do objeto do referido Termo foram orçados no valor
total de R$ 501.572,23, com a seguinte composição: R$ 1.572,23 de contrapartida da Convenente e R$
500.000,00 à conta da Concedente, liberados parcialmente no valor de R$ 250.000,00 mediante a Ordem
Bancária n. 20120B804081, de 5/6/2012 (peça 1, p. 35), e foram creditados em conta-corrente específica
do convênio em lide em 8/6/2012 (peça 25, p. 4), data a partir da qual esses recursos deverão ser
corrigidos monetariamente a débito dos responsáveis em comento.
EXAME TÉCNICO
4. Em cumprimento ao Despacho do Secretário da Secex/TO (peça 41), foram promovidas as
citações dos responsáveis em comento mediante os Ofícios 1100 e 1101/SECEX/TO/TCU (peças 45 e
46), datados de 9/11/2017, e Ofício 1102/SECEX/TO/TCU (peça 47), datado também de 9/11/2017, para
que ambos os citados apresentassem alegações de defesa sobre a não comprovação da boa e regular
aplicação de recursos públicos repassados ao Município de Guaratinga/BA por força do instrumento
convenial mencionado acima, em face da omissão no dever de prestar contas dos referidos recursos,
conforme consta do Parecer Financeiro n. 042/2016, de 1/4/2016 (peça 1, p. 117). Registra-se que o
‘Relatório 3 Relatório de Visita Técnica’, de 18/6/2015 (peça 1, p. 109-110), identificou que as obras
estavam paralisadas com percentual de execução da ordem de 42,17%.
5. Os citados acima tomaram ciência dos referidos ofícios que lhes foram remetidos, conforme
documentos de Avisos de Recebimento de peças 60 e 48 e peça 59, respectivamente, tendo apenas o
senhor Ademar Pinto Rosa (CPF: 066.343.625-72), ex-prefeito de Guaratinga/BA (gestão: 2009-2012),
apresentado suas alegações de defesa, conforme documento de peça 61 (repetido à peça 64), através de
370
sua procuradora constituída nos autos, cujo conteúdo passamos a considerar a seguir.
6.O senhor Kenoel Viana Cerqueira (CPF: 028.952.096-77), ex-prefeito do Município de
Guaratinga/BA (gestão: 2013-2016), não trouxe suas alegações de defesa aos presentes autos, devendo,
por isso mesmo, ser considerado revel, para todos os efeitos, dando-se prosseguimento ao processo, com
fulcro no art. 12, § 3º, da Lei n. 8.443/92.
7.Quanto ao senhor Ademar Pinto Rosa (CPF: 066.343.625-72), ex-prefeito de Guaratinga/BA
(gestão: 2009-2012), como já dito anteriormente acima, compareceu aos presentes autos com suas
alegações de defesa, primeiramente, esforçando-se para transferir a responsabilidade ao seu sucessor com
relação à apresentação da prestação de contas dos recursos ora analisados, ao usar as seguintes assertivas:
‘Inicialmente, insta arguir a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam, vez que o dever de
prestar contas relativo ao Convênio TC/PAC 0069/12 não é do ora defendente, conforme se infere dos
documentos que constituem os autos do processo administrativo do citado Convênio (mídia – DVD – em
anexo). (peça 61, p. 2, primeiro parágrafo)
Pois bem. Em que pese o Termo de Compromisso relativo ao Convênio em questão ter sido
assinado pelo Sr. Ademar Pinto Rosa, bem assim que sua execução tenha iniciado durante sua gestão
(2009-2012), o mesmo não possui legitimidade para figurar no polo passivo deste processo
administrativo, vez que, (a) ao final de seu mandato, prestou contas parciais do Convênio, deixando
compatível o cronograma físico-financeiro; (b) o seu sucessor, Sr. Kenoel Viana Cerqueira,
voluntariamente, assumiu para si a obrigação de prestar contas do aludido Convênio, quando celebrou
sucessivos termos aditivos junto a FUNASA, dando continuidade à execução do Plano de Trabalho, quais
sejam: (peça 61, p. 2, segundo parágrafo)
Dessa forma, as irregularidades apontadas neste Processo, relativas ao Convênio nº. TC/PAC
0069/12, caso de fato comprovadas, em verdade foram geradas em virtude da omissão do Ex-Prefeito
Kenoel Viana Cerqueira em prestar contas à Autarquia Concedente – e não pelo ora Manifestante, como
aponta o Ofício Citatório, sendo incabível a atribuição de qualquer tipo de responsabilidade a este último.
(peça 61, p. 2, penúltimo parágrafo)
Tais afirmações podem ser ratificadas pela simples leitura dos autos do Processo Administrativo do
Convênio (cópia em anexo – mídia), no qual resta cristalino que o dever de prestar contas do Convênio nº.
TC/PAC 0069/12 não era do Sr. Ademar Pinto Rosa, que deixou o cargo de Prefeito em 31/12/2012, mas
sim do Ex-Prefeito KENOEL VIANA CERQUEIRA, que era o gestor à data em que deveria o Município
ter apresentado a prestação de contas relativas ao precitado Convênio. (peça 61, p. 2, último parágrafo)’.
8. Analisando tais alegações de defesa, as mesmas absolutamente não procedem em nada, uma vez
que:
8.1 não consta dos presentes autos nenhum documento comprobatório referente à apresentação
parcial da prestação de contas dos recursos em análise, que teria sido apresentada pelo citado em questão,
como o mesmo afirmara;
8.2por outro lado, o Banco do Brasil S.A. enviou os extratos bancários da movimentação dos
recursos do Termo de Compromisso n. 069/2012 (peça 25, p. 4-41), pelos quais podemos observar que
praticamente toda a realização de despesas com os recursos liberados pelo concedente ocorreu na gestão
do ex-prefeito Ademar Pinto Rosa (CPF: 066.343.625-72), como mostra as transferências on-line de peça
25, p. 6-8 e 10, razão pela qual esse ex-gestor, sem sombra de dúvida, era um dos responsáveis pela
apresentação da referida prestação de contas, pelo menos parcialmente falando; (grifo nosso)
8.3 Ademais, consta do PARECER TÉCNICO DE PRORROGAÇÃO DE VIGÊNCIA DE
TERMO DE COMPROMISSO (peça 1, p. 87), datado de 10/3/2014, os seguintes registros que vão de
encontro com as afirmações acima feitas pelo ex-gestor em tela quanto à execução físico-financeira do
convênio em questão, quais sejam:
- Foi paga parcela de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais), que representa 50% do valor
do termo de compromisso;
- A execução física da obra é de 0,00% (zero por cento), de acordo visita técnica realizada no
período de 13 a 16/01/2014 pelo técnico de saneamento Divino Barbosa da Silva Sobrinho;
371
correta utilização das verbas públicas, a exemplo do contido no art. 93 do Decreto-Lei 200/67: ‘Quem
quer que utilize dinheiros públicos terá de justificar seu bom e regular emprego na conformidade das leis,
regulamentos e normas emanadas das autoridades administrativas competentes.’
19.Configurada sua revelia frente à citação deste Tribunal e inexistindo comprovação da boa e
regular aplicação dos recursos transferidos, não resta alternativa senão dar seguimento ao processo
proferindo julgamento sobre os elementos até aqui presentes, que conduzem à irregularidade de suas
contas.
20.No tocante à aferição quanto à ocorrência de boa-fé nas condutas dos responsáveis, conforme
determina o § 2º do art. 202 do Regimento Interno do TCU, em se tratando de processo em que uma das
partes interessada não se manifestou acerca das irregularidades imputadas, não há elementos para que se
possa efetivamente reconhecê-la, podendo este Tribunal, desde logo, proferir o julgamento de mérito pela
irregularidade das contas, nos termos do § 6º do mesmo artigo do normativo citado (Acórdãos
2.064/2011-TCU-1a Câmara, 6.182/2011-TCU-1a Câmara, 4.072/2010-TCU-1a Câmara, 1.189/2009-
TCU-1a Câmara, 731/2008-TCU-Plenário, 1.917/2008-TCU-2ª Câmara, 579/2007-TCU-Plenário,
3.305/2007-TCU-2a Câmara e 3.867/2007-TCU-1a Câmara).
21.Em face da análise promovida nos itens 6 a 13 acima e tendo em vista que não constam dos
autos elementos que permitam reconhecer a boa-fé do responsável, propõe-se rejeitar as alegações de
defesa apresentadas pelo Sr. Ademar Pinto Rosa (CPF: 066.343.625-72), ex-prefeito de Guaratinga/BA
(gestão: 2009-2012), uma vez que não foram suficientes para sanear as irregularidades a ele atribuídas.
Por conseguinte, propomos que as contas do referido senhor sejam julgadas irregulares, com débito, e
multa, nos termos do art. 202, § 6º, do RI/TCU, atualizado monetariamente e acrescido de juros de mora,
nos termos do art. 202, §1º do RI/TCU, abatendo na oportunidade quantia ressarcida aos cofres públicos.
22.A peça 55 destes autos corresponde à peça 1, páginas 102 a 170 do mesmo processo. Quanto às
peças 50 e 51, as mesmas não trazem elementos supervenientes que possam elucidar as irregularidades
tratadas nestes autos.
Prescrição da pretensão punitiva
23.Com relação à ocorrência da prescrição da pretensão punitiva, ou seja da punibilidade do gestor
faltoso, na dimensão sancionatória, que quer dizer, a aplicação da multa prevista no art. 57 da Lei
8.443/92, e demais sanções prevista na lei, este Tribunal aprovou por meio do Acórdão 1441/2016 –
Plenário (Relator: Benjamin Zymler), incidente de uniformização de jurisprudência em que firma o
entendimento de que a matéria se subordina ao prazo prescricional de dez anos indicado no art. 205 do
Código Civil, contado a partir da data de ocorrência da irregularidade a ser sancionada.
24.Ainda segundo aquele acórdão, o ato que ordenar a citação, a audiência ou oitiva da parte
interrompe a prescrição de que trata o item acima, nos termos do art. 202, inciso I, do Código Civil; e que,
a prescrição interrompida recomeça a correr da data em que for ordenada a citação, a audiência ou oitiva
da parte, nos termos do art. 202, parágrafo único, parte inicial, do Código Civil
25.No presente caso, o ato irregular foi praticado no exercício de 2012, mais precisamente na data
de 8/6/2012 (item 2 acima), data em que os recursos foram creditados em conta-corrente, e o ato que
ordenou a citação do responsável ocorreu em 9/11/2017 (peça 41), Despacho do Secretário desta
Secretaria, antes, portanto, do transcurso de 10 anos entre esse ato e os fatos impugnados.
26.Reconhecida a interrupção do prazo prescricional, nos termos do art. 202, inciso I, do Código
Civil, inexiste no presente processo óbice ao exercício da ação punitiva por parte deste Tribunal.
27.Assim, devem as presentes contas serem julgadas irregulares, com a condenação em débito e
aplicação de multa, com fundamento nos arts 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea ‘a’, § 2º, da Lei 8.443/92
c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com arts. 1º, inciso I, 209, inciso III, 210 e 214, inciso III,
do Regimento Interno/TCU, com remessa de cópia dos elementos pertinentes ao Ministério Público da
União, atendendo, assim, ao disposto no art. 16, § 3º, da Lei 8.443/1992 c/c o art. 209, § 7º, do Regimento
Interno/TCU.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
28.Diante do exposto, submetemos os autos à consideração superior, propondo ao Tribunal:
373
II – PARECER DO MP/TCU
“8. (...) Pedimos escusas para dissentir do encaminhamento alvitrado, pelas razões que passamos a
expor.
9. Inicialmente, assinalamos a insubsistência da responsabilização do Senhor Kenoel Viana
Cerqueira em face da omissão no dever de prestar contas do Termo de Compromisso n.º 069/2012. Em
exame dos autos, constata-se que, tendo sido notificado a apresentar a prestação de contas final da avença,
esse gestor informou à Funasa a impossibilidade material de assim proceder, visto que o prefeito anterior,
em cujo mandato foi gasta a quase totalidade dos recursos repassados, não deixou nos arquivos
municipais nenhuma documentação relativa ao ajuste. Demonstrou, ainda, ter tomado as medidas
judiciais cabíveis, com a proposição de Ação Civil Pública por Ato de Improbidade em desfavor do ex-
prefeito (peça 1, p. 149, peça 32, p. 13-15).
10.A propósito da execução física do objeto, cumpre destacar a evolução observada nas diversas
visitas técnicas às obras. Conforme consta do Parecer Técnico de Prorrogação de Vigência de Termo de
Compromisso, em visita realizada em janeiro/2014, técnico da Funasa constatou a execução parcial de 50
módulos sanitários, todos com pendências em relação ao projeto técnico aprovado, cuja correção era
requisito para a liberação da segunda parcela de recursos (peça 1, p. 87). Já em setembro/2014, a
374
fiscalização do ente concedente aprovou a execução de 35 módulos dos 51 encontrados (peça 1, pp. 95-
98). Por fim, em visita realizada em junho/2015, foram aprovados 50 módulos, de 56 construídos,
consoante registros detalhados em planilha de acompanhamento de serviços executados e não executados
(peça 1, pp. 109-110, 154-155).
11.Conclui-se que o Senhor Kenoel Viana Cerqueira adotou medidas para corrigir as falhas
apontadas pela Funasa nos módulos executados durante a gestão do prefeito antecessor, no intuito de
viabilizar a liberação da segunda parcela de recursos prevista no termo de compromisso. Em que pese ele
não tenha logrado êxito nesse mister, a nosso ver a decisão da Funasa por não mais prorrogar a vigência
do termo de compromisso derivou de um juízo de conveniência e oportunidade da Administração, não de
irregularidades propriamente ditas na atuação do aludido gestor.
12.A bem da verdade, a única falha imputável ao Senhor Kenoel Viana Cerqueira tem relação com
a gestão do saldo remanescente do convênio. Com efeito, a quantia restante permaneceu na conta
corrente, sem aplicação financeira, até julho/2015, e o então prefeito não restituiu o valor devido aos
cofres do concedente quando solicitado (peça 32, pp. 65-67, e peça 35).
13. Os extratos bancários fornecidos pelo Banco do Brasil, todavia, demonstram que não houve
movimentação bancária desde julho/2015, quando o saldo em conta foi investido, até 13/09/2017, data
dos extratos encaminhados pela instituição financeira em resposta à diligência do TCU (peça 25). Vê-se,
portanto, que o saldo remanescente em conta passou à gestão seguinte à do Senhor Kenoel Viana
Cerqueira. Cabe à Funasa, então, requerer do atual chefe do Poder Executivo do Município de
Guaratinga/BA a devolução do valor em questão.
14.Remanesce, portanto, a falha atinente ao não investimento do saldo restante na conta específica
do ajuste, a qual, além de insignificante do ponto de vista financeiro, pode ser explicada pelo fato de o
responsável não ter recebido de seu antecessor a documentação relativa ao termo de compromisso. Diante
de todo o exposto, entendemos que as contas do Senhor Kenoel Viana Cerqueira merecem ser julgadas
regulares com ressalva, dando-lhe quitação.
15.No tocante ao Senhor Ademar Pinto Rosa, subsiste sua responsabilidade em face da não
comprovação da boa e regular aplicação dos recursos públicos por ele geridos. Embora alegue ter
prestado contas parciais do ajuste, o ex-prefeito não trouxe aos autos evidências nesse sentido. Bem
assim, sua omissão em repassar as informações e documentos relativos ao termo de compromisso,
comportamento esperado de um gestor diligente, inviabilizou o adimplemento do dever de prestar contas
formal do ajuste por parte do prefeito sucessor.
16.Dito isso, pondera-se que, no caso vertente, não há de se imputar ao responsável débito
correspondente à integralidade dos recursos federais repassados, consoante propôs a Unidade Técnica.
Isso porque o conjunto probatório constante dos autos supriu em boa parte a ausência da prestação de
contas formal do ajuste, circunstância que desautoriza a presunção juris tantum de dano.
17.Sob a perspectiva financeira, resta demonstrado o nexo entre os recursos federais repassados e as
obras executadas. A resposta do Banco do Brasil à diligência que lhe foi encaminhada identifica a
empresa Kinle Locações e Construções Ltda. – EPP como destinatária dos valores debitados da conta
corrente do ajuste entre agosto e dezembro de 2012, no valor total de R$ 248.592,91 (peça 25). Ademais,
embora não haja nos autos notas fiscais ou documentos relacionados à contratação da referida empresa, o
Senhor Ademar Pinto Rosa, em suas alegações de defesa, trouxe documento contábil da Prefeitura que
relaciona os empenhos orçamentários e pagamentos à Kinle, com valores e datas coincidentes com os
registros bancários, e menciona expressamente o termo de compromisso celebrado com a Funasa e seu
objeto (peça 50).
18.No tocante à execução física, as informações constantes dos autos permitem concluir que, sob a
ótica federal, a meta exigível – de 59 módulos, correspondente ao repasse de 50% da quantia estabelecida
–, foi alcançada em grande parte, com a entrega de 50 unidades adequadamente construídas, cumprindo
os objetivos almejados com a celebração do termo de compromisso. Vale destacar que a Funasa, em seu
Sistema Integrado de informa que a situação da obra objeto desse ajuste é ‘concluída com etapa útil e
com pendência’ (peça 70).
375
19.Nessa linha de entendimento, o débito a ser imputado ao Senhor Ademar Pinto Rosa é de R$
37.829,97 (data-base: 05/12/2012), correspondente à inexecução de 9 módulos sanitários, cujo custo
unitário é de R$ 4.203,33.
20.É de se ressaltar que o aludido débito poderia ser imputado solidariamente à Kinle Locações e
Construções Ltda. – EPP, por ter recebido pagamentos por serviços não executados. Todavia, visto que o
instituto da solidariedade passiva constitui benefício exclusivo do credor, abstemo-nos de propor o
chamamento da empresa para compor o rol de responsáveis, dado o avançado estágio da instrução
processual.
21.Diante de todo o exposto, esta representante do Ministério Público de Contas, em linha distinta
do encaminhamento alvitrado pela Unidade Técnica às peças 67-69, manifesta-se no sentido de:
i) julgar regulares com ressalva as contas do Senhor Kenoel Viana Cerqueira, dando-lhe quitação;
ii) rejeitar as alegações de defesa do Senhor Ademar Pinto Rosa, julgando irregulares suas contas,
condenando-o a restituir aos cofres da Funasa a quantia de R$ 37.829,97, atualizada monetariamente e
acrescida dos juros de mora a partir de 05/12/2012, e aplicando-lhe multa com fundamento no art. 57 da
Lei n.º 8.443/1992;
iii) dar ciência à Funasa de que a restituição do saldo remanescente na conta vinculada ao Termo de
Compromisso TC/PAC n.º 069/2012 é responsabilidade da Senhora Christine Pinto Rosa, prefeita do
Município de Guaratinga/BA no quadriênio 2017-2020”.
É o relatório.
Proposta de Deliberação
Trata-se de tomada de contas especial instaurada pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa),
originalmente em desfavor do Sr. Kenoel Viana Cerqueira, ex-Prefeito do Município de Guaratinga/BA
(gestão 2013-2016), em razão da omissão no dever de prestar contas dos recursos recebidos por força do
Termo de Compromisso 069/2012, que tinha por objeto a construção de 119 módulos sanitários
domiciliares.
2.O ajuste foi celebrado em 28/05/2012 ainda no mandato do Sr. Ademar Pinto Rosa, com vigência
até 23/5/2015.
3.Foi prevista a aplicação da quantia de R$ 501.572,23, sendo R$ 500 mil em recursos da União e o
restante em contrapartida municipal. Embora fosse previsto o repasse em duas parcelas, somente foi
transferida a primeira parcela, no valor de R$ 250 mil em 05/06/2012 ante a constatação pela Funasa de
falhas nos módulos executados.
4.A primeira fiscalização da entidade concedente foi realizada em janeiro de 2014 (fls. 87-peça 01).
Verificou-se que a obra apresentava execução física no percentual de 0% (zero por cento), com execução
parcial de 50 módulos, todos em desconformidade com o projeto técnico aprovado.
5.Nova vistoria in loco foi promovida em setembro de 2014, quando se constatou a realização de 35
módulos, perfazendo os percentuais de 29,6%, computadas as unidades efetivamente concluídas, e de
38,03% de execução física do convênio (fls. 95/96-peça 01).
6.A solicitação de prorrogação do prazo de vigência encaminhada pelo Sr. Kenoel Viana Cerqueira
foi indeferida pela área técnica da Funasa em decorrência do descompasso entre os percentuais de
liberação física dos recursos (50% versus 29,6%), bem como da ausência de medidas para corrigir as
desconformidades encontradas (fls. 103-peça 01).
7.Em 3/6/2015, o Sr. Kenoel Viana foi notificado para apresentar a prestação de contas, porém
aparentemente não se manifestou.
376
8.Em 18/6/2015, foi realizada a última visita técnica, que constatou execução no percentual de
42,17%, equivalente a 50 módulos concluídos e úteis, bem como a paralisação do empreendimento (fls.
109/110-peça 01).
9.A solicitação de encaminhamento das contas foi reiterada em junho de 2016, sem obter sucesso.
10.A partir desses fatos, foi instaurada esta TCE, com responsabilização do Sr. Kenoel Viana
Cerqueira pela omissão no dever de prestar contas.
11.Este Tribunal promoveu a citação do responsável sob o fundamento da não comprovação da boa
e regular aplicação de recursos públicos recebidos em face omissão no dever de prestar contas dos
recursos repassados por força do Termo de Compromisso 069/2012.
12.Em vista da revelia do responsável citado, a então Secex/TO elaborou proposta no sentido do
julgamento pela irregularidade das contas, condenação em débito e aplicação de multa.
13.Divergindo, o MP/TCU apontou que a instrução processual carecia de elementos para
fundamentar corretamente a análise de mérito. O Parquet destacou, em especial, a necessidade de
aprofundar a atribuição de responsabilidade pelo ressarcimento do débito, uma vez que diversos
documentos presentes nos autos demonstravam que, embora o prazo de prestação de contas tenha
expirado durante o mandato do Sr. Kenoel Viana Cerqueira, ele não geriu efetivamente os recursos
federais repassados. Apontou também indícios de que os relatórios de visita técnica juntados aos autos
encontravam-se incompletos.
14.Em consequência, o MP sugeriu a realização de diligências ao Banco do Brasil para obtenção da
documentação bancária pertinente e à Funasa para solicitação de cópia do processo de acompanhamento
do convênio.
15.Adotadas as providências cabíveis, a Secex/TO verificou nos extratos bancários constantes da
peça 25 que, com exceção do saldo de R$ 8.221,25, os demais recursos do ajuste foram movimentados na
gestão do Sr. Ademar Rosa, Prefeito antecessor ao Sr. Kenoel Viana, mediante seis transferências online
efetuadas nas datas de 30/8, 11/9, 01/10, 23/10, 5/12 e 7/12/2012.
16.Assim, a unidade técnica considerou estar firmada a responsabilidade solidária dos dois ex-
Prefeitos. No caso do Sr. Ademar Rosa, ele foi responsabilizado por ser o gestor do convênio e ter
realizado despesas com os recursos federais, competindo-lhe, portanto, comprovar a boa e regular
aplicação das quantias recebidas. Já o Sr. Kenoel Viana não apresentou a prestação de contas de recursos
correspondentes, não obstante o prazo tenha-se encerrado durante seu mandato.
17.Por conseguinte, foi promovida a citação solidária pela não comprovação da boa e regular
aplicação dos recursos em razão da omissão no dever de prestar contas. Ademais, realizou-se a audiência
dos ex-mandatários em vista do descumprimento do prazo originalmente estipulado para prestação de
contas.
18.Apenas o Sr. Ademar Rosa apresentou defesa. O Sr. Kenoel Viana Cerqueira tomou ciência do
ofício citatório, porém não se manifestou.
19.Em suas alegações, o Sr. Ademar Rosa sustentou que:
a) não lhe competia prestar contas, vez que o prazo se expiraria na gestão de seu sucessor;
b) prestou contas parciais e, ao final de sua gestão em dezembro de 2012, deixou compatíveis a
execução física e a financeira;
c) o Sr. Kenoel assumiu o encargo de prestar contas ao manter o contrato com a construtora, bem
como solicitar sucessivas prorrogações de prazo de vigência à Funasa;
d) em sede de ação de improbidade movida pelo sucessor, foi decidido que, ao Sr. Ademar Rosa,
não se poderia imputar a responsabilidade pela omissão.
20.A Secex/TO não acolheu a defesa, tendo em vista que:
a) toda a realização de despesas ocorreu na gestão do Sr. Ademar Rosa, o que o tornou responsável
por prestar contas;
b) não há nos autos notícia ou comprovação de que o responsável tenha prestado contas parciais;
377
c) segundo verificado pela Funasa na fiscalização in loco realizada em janeiro de 2014, a parcela de
R$ 250 mil havia sido quase que integralmente despendida na gestão anterior, mas o percentual de
execução física era de 0% e a obra encontrava-se paralisada;
d) aplicava-se ao caso o princípio da independência das instâncias.
21.A unidade técnica concluiu que permaneciam caracterizadas as condutas irregulares dos dois
gestores, bem como não comprovada sua boa-fé e ausente a prescrição da pretensão punitiva do TCU.
Portanto, formulou proposta de encaminhamento no sentido de julgarem-se as contas irregulares (art. 16,
inciso III, alíneas “a” e “c”, da Lei 8.443/1992), condenarem-se os responsáveis em débito e aplicar-lhes
multa.
22.O MP/TCU divergiu quanto à responsabilidade do Sr. Kenoel Viana e ao valor do débito
atribuído ao Sr. Ademar Rosa.
23.Com relação ao Sr. Kenoel Viana, o Parquet entendeu insubsistente sua responsabilidade.
Apontou o parecer que, ao ser notificado pela Funasa, o gestor informou que não dispunha de meios para
prestar contas, já que o Prefeito anterior não havia deixado nos arquivos municipais a documentação
relativa ao ajuste. Além disso, o MP argumentou que o então Prefeito Kenoel havia adotado as medidas
judiciais cabíveis, com a proposição de Ação Civil Pública por Ato de Improbidade em desfavor do ex-
Prefeito. Também apontou que os relatórios de vistoria demonstravam que o responsável envidou
esforços para regularizar as pendências constatadas nas obras e viabilizar o recebimento da segunda
parcela do convênio, o que acabou não ocorrendo.
24.Ainda no tocante a esse responsável, o MP/TCU opinou que restaria apenas a falha consistente
na não devolução do saldo de R$ 8.221,25, que foi deixado pelo Sr. Ademar Rosa na conta específica.
Conforme demonstrado nos extratos, essa quantia foi objeto de aplicação financeira em julho de 2015
(ainda na gestão do Sr. Kenoel) e permanecia investida até 13/9/2017 (gestão de seu sucessor), data do
último extrato fornecido pelo Banco do Brasil.
25.Por conseguinte, o Ministério Público sugeriu julgarem-se as contas do Sr. Kenoel Viana
Cerqueira regulares com ressalva.
26.Já com referência ao Sr. Ademar Rosa, o MP/TCU entendeu caracterizada sua responsabilidade
pela não comprovação da boa e regular aplicação dos recursos públicos geridos, pois não comprovou ter
prestado contas parciais do ajuste, nem repassou os documentos necessários para que seu sucessor o
fizesse.
27.No entanto, o Parquet considerou que não se deveria imputar débito integral ao responsável
tendo em vista que:
a) o demonstrativo de transferências online fornecido pelo Banco do Brasil evidenciava que a
empresa Kinle Locações e Construções Ltda. – EPP recebeu os valores debitados da conta corrente do
ajuste, no valor total de R$ 248.592,91, entre agosto e dezembeo de 2012;
b) embora não haja nos autos notas fiscais ou documentos relacionados à contratação da referida
empresa, o responsável apresentou, na defesa, documento contábil da Prefeitura que relaciona os
empenhos orçamentários e pagamentos à Kinle, com valores e datas coincidentes com os registros
bancários, e menciona expressamente o termo de compromisso celebrado com a Funasa e seu objeto
(peça 50);
b) houve a entrega de 50 módulos sanitários adequadamente construídos;
c) como a meta relativa aos R$ 250 mil perfazia 59 módulos, poder-se-ia imputar débito equivalente
aos 9 módulos faltantes, o que corresponderia a R$ 37.829,97 em valor histórico.
28.Acolho as proposições do Ministério Público, exceto quanto ao valor do débito.
29.No que tange à situação do Sr. Kenoel Viana, concordo integralmente com o MP/TCU pelas
razões expostas no parecer. Conforme demonstrado na fl. 149 da peça 01, a Funasa emitiu a Notificação
019/Secov/Sopre/Suest-BA em fevereiro de 2016, solicitando a apresentação da prestação de contas final
do ajuste. Na resposta à Funasa (fls. 13/64-peça 32), o Sr. Kenoel Viana explicou que os recursos haviam
sido quase que integralmente gastos em 2012, restando apenas o saldo de R$ 8.221,25, e anexou os
extratos bancários como comprovação. Além disso, ele informou no mesmo expediente que:
378
“O ex-gestor não deixou em arquivo elementos documentais referentes ao ajuste em testilha. Além
do mais, não houve procedimento de transição de governo, por ato imputável ao ex-gestor, noticiado
tempestivamente aos órgãos de controle externo – Ministério Público Estadual e Federal e Tribunal de
Contas dos Municípios do Estado da Bahia.
Dessa forma, revela-se impossível ao Prefeito sucessor apresentar as contas relativas ao Convênio
TC/PAC 0069/2012, figurando, assim, o ex-administrador como responsável pela omissão no dever de
prestar contas pela não comprovação da aplicação de recursos repassados pelo Ministério da Saúde.”
30.O então Prefeito também juntou cópia da inicial e do protocolo relativos à ação de improbidade
ajuizada em desfavor do Sr. Ademar Rosa em novembro de 2015.
31.Portanto, verifica-se que o responsável cientificou a Funasa de que não teria condições materiais
de prestar contas e adotou as medidas judiciais cabíveis em face do seu antecessor.
32.Ademais, o Sr. Kenoel Viana deu andamento à obra e adotou as providências a seu alcance
diante das circunstâncias então existentes a fim de regularizar as desconformidades apontadas pelos
fiscais, conforme se infere a partir dos relatórios elaborados pela Funasa.
33.Nesse contexto, é provável que a ausência de manifestação do responsável às demais
notificações para envio da prestação de contas deveu-se a seu entendimento de que já havia apresentado
as informações pertinentes.
34.Por conseguinte, penso estar afastada a responsabilidade do Sr. Kenoel Viana pela omissão que
lhe foi imputada. Deve ser considerado apenas como ressalva o fato de que ele deixou o saldo do ajuste
investido na conta, sem devolvê-lo à Funasa ao final da vigência. Como evidenciado pelos extratos (peça
25), esse saldo permaneceu na aplicação financeira após o fim do mandato do responsável. Assim, cabe
julgar as contas do Sr. Kenoel Viana Cerqueira regulares com ressalva.
35.Com relação ao Sr. Ademar Rosa, sua responsabilidade encontra-se adequadamente definida nos
autos, mas cabe tecer comentários sobre as alegações apresentadas.
36.O principal ponto da defesa do responsável consiste em sustentar sua ilegitimidade passiva.
Alega o Sr. Ademar que não poderia ser responsabilizado pela omissão no dever de prestar contas, uma
vez que o respectivo prazo venceu na gestão de seu sucessor.
37.Essa argumentação é improcedente, porque defende uma interpretação extremamente limitada e
formalista do que vem a ser “omissão no dever de prestar contas”. Ou seja, sob essa perspectiva, deixar de
prestar contas se resumiria a deixar de apresentar ou entregar o correspondente processo, com seus
formulários e demais documentos.
38.Evidentemente, essa visão não se coaduna com o disposto no parágrafo único art. 70 da
Constituição Federal que estabelece que “prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos
quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.”
39.À luz da constituição, prestar contas é um conceito bem mais amplo do que o defendido pelo
responsável, porque prestar contas significa demonstrar que os recursos recebidos pelo gestor foram
aplicados de modo regular nas finalidades legais. E, omissão consiste na falta de ação no cumprimento
desse dever. Como todo e qualquer agente que gerencie recursos públicos tem o dever de prestar contas,
por via de consequência, se não o fizer, queda-se omisso. Isso porque, a partir do momento que o agente
assume a gestão de recursos públicos, a obrigação a ele se adere. Ainda que o agente deixe o cargo,
permanece a obrigação de prestar contas. Na verdade, o agente pode ser chamado a adimpli-la a qualquer
tempo. E, se assim não agir, afigurar-se-á omisso.
40.Portanto, omissão no dever de prestar contas é uma irregularidade de caráter essencialmente
material e não formal. Se o responsável prestar contas sem observância dos requisitos formais, a exemplo
da falta de preenchimento de demonstrativos, mas trouxer elementos que atestem a regularidade da gestão
dos recursos que lhe foram confiados, estará suprida a omissão.
379
“Ocorre que verifico dos documentos juntados na mídia de fls. 86 que o mandato do requerido
findou-se em 31.12.2012 e que a situação do convênio em 25.09.2012 era de “Adimplente” (fl. 40 da
mídia).
Corrobora essa situação a aprovação e a assinatura do 1º. Termo Aditivo ao Compromisso
0069/2012 (fl. 74 da mídia), celebrado já pelo novo Gestor, que, obviamente, não seria autorizado em
caso de inadimplemento.
As informações de irregularidade na aplicação da verba constantes da mídia acostada em fls. 86 são
de momento posterior ao início da nova gestão.”
47.Como se vê, a decisão foi proferida sem que o julgador tivesse conhecimento prático dos
procedimentos aplicáveis a convênios e sem que ele tivesse acesso à totalidade das informações relativas
à execução do ajuste. É certo que, em 25/9/2012, o convênio se encontrava na situação de adimplente,
mas por ser essa a classificação padrão dos ajustes antes do vencimento do prazo para prestação de
contas, como era o caso. Ressalte-se que o primeiro termo aditivo foi firmado em 20/9/2013 com o
objetivo de readequar o plano de trabalho para incluir a contrapartida municipal (fls. 32/36-peça 28). A
assinatura desse termo pelo Prefeito sucessor também não atesta a regularidade da gestão do Sr. Ademar
Rosa, eis que a celebração ocorreu antes da expiração do prazo para prestar contas e da realização de
fiscalização in loco. Por fim, tem-se que, de fato, as irregularidades somente foram conhecidas em data
posterior ao mandato do defendente, porém os extratos bancários, os relatórios de fiscalização e os
documentos juntados pelo sucessor demonstram que essas irregularidades foram geradas pela conduta do
Sr. Ademar Rosa.
380
48.Resta, agora, examinar a questão referente ao valor do débito, ponto em que divirjo do MP/TCU.
49.O Ministério Público considera que, como foram executados 50 módulos e a meta
correspondente aos R$ 250 mil totalizava 59 unidades, poder-se-ia imputar débito equivalente aos 9
módulos faltantes (R$ 37.829,97). Segundo o MP, haveria nexo de causalidade entre as transferências
online feitas à empresa Kinle Locações e Construções Ltda. e as obras, uma vez que a defesa apresentara
um demonstrativo emitido pela Prefeitura com o lançamento dos empenhos e dos pagamentos em data
compatíveis com as transferências efetuadas.
50.Segundo avalio, não há comprovação do nexo entre os recursos utilizados nas transferências e as
obras, nem entre as obras e a empresa.
51.O documento mencionado pelo MP/TCU se denomina “listagem de despesas pagas” (peça 50) e
supostamente foi emitido pela Prefeitura de Guaratinga. O demonstrativo não está assinado pelo
tesoureiro e contador, supostos responsáveis por sua elaboração. Em apenas um dos seis registros é feita
menção à existência de uma nota fiscal e de um boletim de medição. Trata-se de evidência frágil, pois não
contém elementos que comprovem a autenticidade de seu conteúdo.
52.Ainda que esse documento não se afigurasse questionável, ele não supre a omissão, pois não
comprova o nexo entre os pagamentos efetuados até dezembro de 2012 e todos os serviços realizados, ou
seja, os serviços supostamente executados na gestão do responsável e aqueles realizados mais de um ano
depois, na gestão de seu sucessor. Para isso, o responsável deveria ter apresentado notas fiscais, boletins
de medição e diário de obra, entre outros, de modo a caracterizar o nexo entre a empresa e a obra.
53.Na verdade, há indícios fortes de que a empresa Kinle não foi a executora dos serviços
subsequentes ao mandato do Sr. Ademar Rosa.
54.Constam do relatório da visita técnica realizada pela Funasa em setembro de 2014 as seguintes
informações (fls. 95/96-peça 01):
a) não existia cópia do contrato firmado com a empresa, nem do termo de homologação da
licitação;
b) o fiscal da Funasa registrou que: “A empresa praticamente abandonou a obra e, como não tem
ninguém na gestão atual que acompanhou a execução na gestão anterior, não sabemos ao certo se foram
construídos 51 ou 59 [módulos]”;
c) também foi registrado que o Sr. Lula, pedreiro (fls. 103-peça 01), era o responsável pelas
correções solicitadas na visita técnica ocorrida em janeiro de 2014 (fls. 96-peça 01), informação que, em
conjunto com a anterior, leva a inferir que não havia mais vínculo com a empresa.
55.Ademais, em resposta a pedido de informações acerca da situação do convênio encaminhado
pela Advocacia-Geral da União em fevereiro de 2016, o Superintendente Estadual da Funasa no Estado
da Bahia registrou que, devido à não apresentação da prestação de contas, ficava impossibilitado de
informar qual empresa fora contratada no âmbito do ajuste (fls. 42-peça 30).
56.Diante das lacunas e inconsistências existentes, permanece a omissão em prestar contas atribuída
ao defendente, pois ele não foi capaz de trazer documentação apta a comprovar a boa e regular aplicação
dos recursos federais retirados da conta específica do Termo de Compromisso 069/2012 até dezembro de
2012. Logo, cabe imputar ao Sr. Ademar Rosa débito no valor original de R$ 248.592,91.
57.Como a solidariedade passiva constitui benefício exclusivo do credor, deixa-se de perseguir o
chamamento da empresa para compor o rol de responsáveis diante do avançado estágio da instrução
processual.
58.No tocante ao saldo da avença que continuou na conta, acolho a sugestão do MP/TCU no sentido
de dar ciência do fato à Fundação para que esta adote as providências cabíveis para reaver a quantia.
Ante o exposto, submeto a este Colegiado o acórdão que ora apresento.
1. Processo TC 026.741/2016-4.
2. Grupo II – Classe II - Assunto: Tomada de Contas Especial
381
3. Responsáveis: Ademar Pinto Rosa, ex-Prefeito (CPF 066.343.625-72); Kenoel Viana Cerqueira,
ex-Prefeito (CPF 028.952.096-77).
4. Órgão/Entidade/Unidade: Prefeitura Municipal de Guaratinga/BA.
5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: Procuradora-Geral Cristina Machado da Costa e Silva.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado de Tocantins (Secex/TO).
8. Representação legal: Mirian Tomie Inoue Rosa (OAB/BA 30.345), representando Ademar Pinto
Rosa .
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos tomada de contas especial instaurada pela Fundação
Nacional de Saúde (Funasa), originalmente em desfavor do Sr. Kenoel Viana Cerqueira, ex-Prefeito do
Município de Guaratinga/BA (gestão 2013-2016), em razão da omissão no dever de prestar contas dos
recursos recebidos por força do Termo de Compromisso 069/2012, que tinha por objeto a construção de
119 módulos sanitários domiciliares,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
em:
9.1. julgar irregulares as contas do Sr. Ademar Pinto Rosa, com fundamento nos arts. 1º, inciso I,
16, inciso III, alíneas “a” e “c”, da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com os
arts. 1º, inciso I, 209, incisos I e III, 210 e 214, inciso III, do Regimento Interno deste Tribunal, e
condená-lo ao pagamento da quantia a seguir especificada, com a fixação do prazo de quinze dias, a
contar da notificação, para comprovar, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento
Interno), o recolhimento da dívida aos cofres da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), atualizada
monetariamente e acrescida dos juros de mora, calculados a partir da data discriminada, até a data do
recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor;
Valor Original (R$) Data da ocorrência
248.592,91 8/6/2012
9.2. aplicar ao Sr. Ademar Pinto Rosa a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 267 do
Regimento Interno, no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), com a fixação do prazo de quinze dias, a
contar da notificação, para comprovar, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento
Interno), o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a
data deste acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação
em vigor;
9.3. julgar regulares com ressalva as contas do Sr. Kenoel Viana Cerqueira, com fundamento nos
arts. 1º, inciso I, 16, inciso II, da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 18 e 23, inciso II, da mesma Lei, e com os
arts. 1º, inciso I, 208 e 214, inciso II, do Regimento Interno deste Tribunal, dando-lhe quitação;
9.4. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial da
dívida caso não atendidas as notificações;
9.5. dar ciência à Fundação Nacional de Saúde (Funasa) que, até 13/09/2017, permanecia investido
na conta bancária específica do Termo de Compromisso 069/2012, de titularidade do Município de
Guaratinga/BA (conta 12.302-1, agência 2099-0, no Banco do Brasil), saldo do ajuste no valor original de
R$ 8.221,25, ainda não descontada a contrapartida municipal;
9.6. enviar cópia deste acórdão à Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e ao responsável, para
ciência; e
9.7. encaminhar cópia deste Acórdão à Procuradoria da República no Estado da Bahia.
RELATÓRIO
Versam os presentes autos acerca de alteração das reformas militares de José Cunha Santos e Airton
José Schneider, deferidas pelo Comando do Exército, cujos atos foram encaminhados para deliberação
por intermédio do sistema e-pessoal, na sistemática definida na IN 78/2018, com parecer do órgão de
Controle Interno pela legalidade.
2.A unidade técnica, ao analisar os fundamentos legais das concessões e as informações prestadas
pelo Controle Interno, lavrou a instrução vista à peça 6, adiante parcialmente transcrita, com ocasionais
ajustes de forma:
“(...)
EXAME TÉCNICO
Procedimentos aplicados
2. Os procedimentos para exame, apreciação e registro de atos de pessoal encontram-se
estabelecidos na Instrução Normativa TCU 78/2018 e na Resolução TCU 206/2007. Essas normas
dispõem que os atos de pessoal disponibilizados por meio do e-Pessoal devem ser submetidos
previamente a críticas automatizadas, com base em parâmetros predefinidos.
3. As críticas das informações cadastradas na etapa de coleta do ato foram elaboradas e validadas
levando-se em conta as peculiaridades de cada ato. Os itens verificados nessa etapa são inerentes a dados
cadastrais, fundamentos legais, mapa de tempo, ficha financeira, assim como eventuais ocorrências de
acumulação. Trata-se de verificações abrangentes, minuciosas e precisas e sem a necessidade de ação
humana e, portanto, menos suscetível a falhas. As críticas aplicadas estão discriminadas no sistema, no
Menu e-Pessoal, opção ‘Crítica’, que podem ser acessadas mediante concessão de perfil específico a
servidores do TCU responsáveis pela análise.
4. Além das críticas automatizadas, há verificação humana adicional no caso de haver alertas do
sistema ou informações não formatadas, como esclarecimentos do gestor ou do controle interno.
5. As críticas também consideram os registros do Sistema Integrado de Administração de Recursos
Humanos (Siape). O Siape disponibiliza informações atualizadas sobre as parcelas que integram os
383
SITUAÇÃO DO MILITAR
ATIVA RESERVA* REFORMA IDADE** REFORMA INCAPACIDADE***
2º Tenente 1º Tenente X Capitão (Refo. Inicial)
2º Tenente 1º Tenente 1º Tenente (Refo. Inicial) Capitão (Alteração)
* Militar vai para reserva com mais de 30 anos de serviço antes da vigência da MP 2215/2001;
** pode ou não existir a reforma por limite de idade, é indiferente; e
*** Acórdão 1987/2010-TCU-Plenário possibilitava melhoria nos proventos com base de mais um
posto/graduação acima da recebida na reserva, amparado no artigo 110 da Lei 6.880/1980.
9. O entendimento supracitado vigorou nesta Corte para todos os atos em situações análogas
amparados pelo Acórdão 1.987/2010-TCU-Plenário até o proferimento do Acórdão 2.225/2019 -TCU-
Plenário, em 18 de setembro de 2019, peça 2:
SITUAÇÃO DO MILITAR
ATIVA RESERVA* REFORMA IDADE** REFORMA INCAPACIDADE***
2º Tenente 1º Tenente X 1º Tenente (Refo. Inicial)
2º Tenente 1º Tenente 1º Tenente (Refo. Inicial) 1º Tenente (alteração)
2º Tenente X X 1º Tenente (Refo. Inicial)
* Militar com mais de 30 anos de serviço antes da vigência da MP 2215/2001;
** pode ou não existir a reforma por limite de idade, é indiferente; e
*** Acórdão 2225/2019-TCU-Plenário, entende que já ocorreu a melhoria dos proventos por
ocasião da passagem para a reserva, negando nova melhoria no ato da reforma por incapacidade.
12. Para melhor elucidar o assunto, transcreve-se trecho do voto do Ministro Relator Benjamin
Zymler que norteou o acórdão 2.225/2019 -TCU- Plenário, peça 2, in verbis:
VOTO
(...)
5. Segundo informam os autos, o militar em questão, ocupante do posto de Coronel, foi transferido
para a reserva remunerada em 1990, quando contava 53 anos de idade e 37 anos de serviço. Desde então,
por ter mais de trinta anos de serviço ativo, passou a receber seus proventos calculados com base no soldo
de General de Brigada, com fulcro na regra prevista na redação primitiva do art. 50, inciso II, da Lei
6.880/1980 (‘São direitos dos militares (...) a percepção de remuneração correspondente ao grau
hierárquico superior ou melhoria da mesma quando, ao ser transferido para a inatividade, contar mais de
30 (trinta) anos de serviço’). Nessas condições, o militar foi reformado ex officio em 2001, ao atingir a
idade limite de permanência na reserva remunerada.
6. Neste processo, além do ato inicial de reforma do sr. Fernando Geraldo de Siqueira (peça 5),
aprecia-se também um ato de alteração (peça 6), editado em 2018 para vincular os proventos do
interessado ao soldo de General de Divisão, ou seja, dois postos acima daquele que o militar ostentava na
atividade.
7. O fundamento para tanto seria o disposto no art. 110, § 1º, da Lei 6.880/1980 (Estatuto dos
Militares), na redação dada pela Lei 7.580/1986:
‘Art. 110. O militar da ativa ou da reserva remunerada, julgado incapaz definitivamente por um dos
motivos constantes dos incisos I e II do art. 108, será reformado com a remuneração calculada com base
no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao que possuir ou que possuía na ativa,
respectivamente.
385
§ 1º Aplica-se o disposto neste artigo aos casos previstos nos itens III, IV e V do artigo 108,
quando, verificada a incapacidade definitiva, for o militar considerado inválido, isto é, impossibilitado
total e permanentemente para qualquer trabalho. ’
8. Para maior clareza, transcrevo também o art. 108 do Estatuto, no que aqui interessa:
9. Como se vê, o benefício previsto no art. 110 da Lei 6.880/1980, expressamente dirigido ao
militar da ativa ou da reserva remunerada, não alcança o militar reformado. Ademais, quer da ativa, quer
da reserva, o benefício se traduz no cálculo dos proventos com base no soldo do posto ou grau hierárquico
imediato àquele que o favorecido apresentava na ativa – ou seja, não há espaço na norma para o cálculo
dos proventos ter por referência dois postos acima daquele que o militar possuía quando ainda em
atividade. (Grifo nosso)
1. O art. 110 da Lei 6.880/1980 prevê o direito de o militar da ativa ou da reserva remunerada ser
reformado com a remuneração calculada com base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato
ao que possuir.
2. O Tribunal de origem asseverou: ‘o autor foi reformado ex officio em 21/05/2006
(Evento 20 - PROCADM4 - fl. 15), por ter atingido idade limite de permanência na reserva, nos
termos do art. 106, I, d, da Lei n° 6.880/80. Pretende, agora, a melhoria da reforma para que seus
proventos passem a ser calculados com base na remuneração do posto superior na inatividade, em razão
da superveniência de moléstia que determina a sua invalidez (neoplasia maligna constatada em
04/01/2008) ’.
3. É inviável reanalisar a constatação das datas da reforma e da eclosão da moléstia, pois
inarredável a revisão do conjunto probatório dos autos para afastar as premissas fáticas estabelecidas pelo
acórdão recorrido. Aplica-se, portanto, o óbice da Súmula 7/STJ.
4. Ao reconhecer que o direito ora pugnado alcança apenas os militares da ativa ou da reserva
remunerada, não prevendo a possibilidade da alteração de proventos de militar reformado por atingir a
386
idade limite na reserva, o Tribunal a quo decidiu em consonância com a jurisprudência do STJ, razão pela
qual incide a Súmula 83 do STJ.
Precedentes: REsp 1.381.724/RS, Relatora Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA
TURMA, DJe 10/5/2017; e AgRg no REsp 1.539.940/RS, Relatora Ministra ASSUSETE MAGALHÃES,
SEGUNDA TURMA, DJe 29/3/2016.
5. Recurso Especial não conhecido’ (REsp 1784347/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda
Turma, julgado em 2/4/2019, DJe de 23/4/2019; ênfase acrescentada).
1. A reforma do militar com a remuneração calculada com base no soldo correspondente ao grau
hierárquico imediato ao que possuir ou que possuía na ativa, nos termos do art. 110, § 1º, c/c o art. 108,
V, da Lei 6.880/80, restringe-se aos militares da ativa ou reserva remunerada, na exata disposição do
caput do art. 110, não sendo possível a concessão de tal benesse àqueles militares já reformados.
2. Recurso especial não provido’ (REsp 1.340.075/CE, Rel. Min. Castro Meira,
Segunda Turma, julgado em 9/4/2013, DJe de 15/4/2013; ênfase acrescentada)
(...)
14. No caso do sr. Fernando Geraldo de Siqueira, ora em exame, o militar já se encontrava
reformado quando acometido de moléstia incapacitante e também já tinha, à época, seus proventos
vinculados ao soldo do posto hierárquico imediato, de modo que sob nenhuma perspectiva ser-lhe-ia
devido o novo acréscimo concedido pelo Comando do Exército.
15. Ilegal, pois, a alteração.
16. Quanto aos demais atos acostados ao processo, inclusive o ato inicial de reforma do sr.
Fernando Geraldo de Siqueira (este com os proventos corretamente associados ao posto imediatamente
superior àquele que o militar ocupava na ativa), acompanho os pareceres técnicos no sentido de sua
legalidade e registro.
17. Por fim, considero relevante, neste momento, tecer algumas considerações, ainda que breves,
acerca do conteúdo e dos efeitos do Acórdão 1987/2010-Plenário, haja vista a evolução jurisprudencial
que ora defendo.
18. Aliás, peço licença para registrar que, embora integre o corpo de ministros desta Corte de
Contas há mais de vinte anos, é a primeira vez que me deparo, na condição de relator, com a discussão
aqui travada, o que evidencia, a meu ver, o acerto das alterações recentemente promovidas pelo Tribunal
na distribuição de processos, sobretudo por proporcionarem aos julgadores – como consequência direta da
ampliação do leque de órgãos e assuntos tratados nos feitos que presidem – uma visão mais abrangente e
objetiva da administração pública, sob a ótica do controle externo.
19. Pois bem, o Acórdão 1987/2010-Plenário – com esteio no princípio da isonomia – teve por
legítima a concessão da vantagem prevista no art. 110, § 1º, da Lei 6.880/1980 a militares já reformados
acometidos de doença incapacitante.
20. Malgrado à época tenha anuído a esse entendimento, desta feita, reexaminando a matéria à luz
da jurisprudência que se formou ao longo dos últimos anos em nossas cortes superiores, julgo não haver,
no posicionamento sedimentado no âmbito do STJ, nenhum desdouro ao princípio da isonomia, e, ainda
que houvesse, não seria dado a este tribunal de contas negar vigência a norma legal expressa para
eventualmente prestigiá- lo.
21. De fato, há distinção tão substancial entre os regimes jurídicos aplicáveis, de per si, aos
militares da ativa, da reserva e reformados que não se apresenta razoável pretender igualá-los – pela via
da hermenêutica – para efeito de concessão de benefícios. Note-se que, no plano remuneratório, o
387
Supremo Tribunal Federal (STF) tem restringido, inclusive, a eficácia de títulos executivos judiciais
quando o titular do direito migra da condição de servidor ativo para a de servidor aposentado. No MS
30.725, por exemplo, o Ministro Gilmar Mendes anotou:
‘Nesse sentido, a coisa julgada deveria ser invocada, a princípio, para efeitos de pagamento de
vencimentos, o que não significa, necessariamente, que essa proteção jurídica se estenda, desde logo, para
o cálculo dos proventos, o qual deve ser analisado caso a caso, sob pena de reconhecer-se a perpetuação
de um direito declarado a ponto de alcançar um instituto jurídico diverso: o instituto dos proventos. ‘
22. Ora, o art. 110 do Estatuto dos Militares tem por evidente propósito compensar os militares da
ativa que tenham sua carreira precocemente interrompida por infortúnios associados ao cumprimento do
dever. A exceção são as enfermidades referidas no inciso V do art. 108, mas mesmo ali se faz inequívoca
a intenção do legislador de favorecer o militar vitimado pela interrupção abrupta da carreira.
23. Naturalmente, não há que se falar em interrupção da carreira no caso de militares já reformados.
13.Por fim, vale destacar que os atos de reforma em análise deram entrada no TCU há menos de 5
(cinco) anos, não sendo aplicável, portanto, o procedimento de contraditório e ampla defesa determinado
pelo Acórdão TCU nº 587/2011-Plenário.
Conclusão:
14. Posto tudo que foi apresentado no presente processo, conclui-se que os atos em estudo devem
ter seu julgamento pela ilegalidade, por não encontrarem amparo legal no artigo 110 da Lei 6880/1980,
visto que os militares reformados em tela já receberam a melhoria dos proventos ao ingressarem na
reserva remunerada, não fazendo jus a nova melhoria como consequência da reforma por incapacidade
prevista no art. 110 da Lei 6880/1980.
(...)”
3.O Ministério Público, neste ato representado pelo Procurador Marinus Eduardo De Vries Marsico,
conforme sucinto Parecer visto à peça 8, anuiu à proposição da unidade técnica instrutiva.
É o Relatório.
PROPOSTA DE DELIBERAÇÃO
Versam os autos de alteração das reformas militares de José Cunha Santos e Airton José Schneider,
deferidas pelo Comando do Exército.
2.A unidade técnica encaminhou proposta pela ilegalidade das concessões com negativa de registro
dos respectivos atos concessórios, proposição perfilhada pelo Ministério Público, tendo em vista tratar-se
de alteração das reformas militares com o fito de lhes conceder elevação de proventos com base em grau
hierárquico superior, com espeque no art. 110 da Lei 6.880/1980, em face do advento de invalidez
permanente.
3.Esta Corte de Contas, por força do que restou decidido no âmbito do Acórdão 1987/2010 –
Plenário, reconheceu como legítima a concessão da vantagem insculpida no art. 110, § 1º, da Lei
6.880/1980 aos militares já reformados que viessem a ser acometidos de doença específica que os
tornassem inválidos.
4. Todavia, o Tribunal, por meio do Acórdão 2225/2019 – Plenário, alterou o entendimento até
então vigente, para considerar ilegal a extensão da vantagem em discussão aos militares já reformados,
ocasião em que modulou os efeitos do aresto citado em homenagem aos princípios da segurança jurídica e
388
da boa-fé, para aplicar o novel entendimento somente aos atos concessórios a serem apreciados a partir da
data de sua prolação.
5.No caso ora em apreço, exsurge dos autos que o militar José Cunha dos Santos passou para a
reserva remunerada quando ocupava, na ativa, o posto de 2º Tenente, com proventos calculados com base
no posto de 1º Tenente. Em 10/12/2004 o interessado foi reformado com proventos calculados nesse
mesmo posto.
6.O ato de alteração em exame nesta oportunidade foi concedido com o fim de majorar os proventos
do militar já reformado, agora calculados com base no posto de Capitão, por ter sido considerado
definitivamente incapaz para o serviço militar em face do advento de invalidez permanente decorrente de
doença especificada em lei, quando já reformado, fato que consubstancia contrariedade ao disposto no
paradigmático Acórdão 2225/2019 – Plenário, a que se seguiram tantos outros.
7.No caso do militar Airton José Schneider, consta que passou para a reserva quando ocupava, na
ativa, o posto de 1º Tenente, com proventos calculados com base no posto de Capitão. Em 6/5/2008 o
interessado foi reformado com proventos calculados nesse mesmo posto.
8.O ato de alteração em exame nesta oportunidade, foi concedido com o objetivo de majorar os seus
proventos quando já reformado, desta feita calculados com base no posto de Major, por ter sido, também,
considerado definitivamente incapaz para o serviço militar em face do advento de invalidez permanente
decorrente de doença especificada em lei.
9.Com essas considerações, acolho, na íntegra, os pareceres precedentes, incorporando-os às minhas
razões de decidir, para considerar ilegais as alterações das reformas militares de José Cunha dos Santos e
de Airton José Schneider, com negativa de registro dos atos concessórios respectivos.
10.Observo, ainda, que os atos em análise deram entrada nesta Corte de Contas em prazo inferior a
cinco anos, não sendo aplicável, portanto, o procedimento do contraditório e da ampla defesa determinado
pelo Acórdão 587/2011-Plenário.
11.No presente feito, considerando tratar-se de ilegalidade relacionada a processos de concessão,
perfilho o entendimento de que o julgamento proposto não implica na obrigatoriedade de ressarcimento
das importâncias indevidamente recebidas de boa-fé, até a data do conhecimento desta deliberação, razão
pela qual julgo aplicável o Enunciado 106 da Súmula de Jurisprudência deste Tribunal.
Ex positis, acolhendo a proposição alvitrada pela unidade técnica e o Parecer do Ministério Público,
manifesto-me por que o Tribunal aprove o acórdão que ora submeto à deliberação deste Colegiado.
1. Processo TC 036.175/2019-6
2. Grupo I – Classe V - Assunto: Reforma Militar (alteração).
3. Interessados: José Cunha dos Santos, CPF 001.072.712-49 e Airton José Schneider, CPF
005.615.412-72.
4. Órgão/Entidade/Unidade: Ministério da Defesa – Comando do Exército.
5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Marinus Eduardo De Vries Marsico.
7. Unidade técnica: Sefip.
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de reforma militar, os Ministros do Tribunal de Contas
da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara, diante das razões expostas pelo Relator, e com
fundamento nos arts. 1º, inciso V, e 39, inciso II, ambos da Lei 8.443/92, c/c o art. 259, inciso II, do
Regimento Interno, ACORDAM em:
389
9.1. considerar ilegais os atos constantes das peças 3 e 4, relativos às alterações das reformas
militares de José Cunha dos Santos e de Airton José Schneider, negando-lhes os respectivos registros, nos
termos do § 1º do art. 260 do Regimento Interno desta Corte de Contas;
9.2. dispensar a devolução das importâncias indevidamente recebidas de boa-fé, nos termos da
Súmula 106 deste Tribunal;
9.3. determinar ao órgão de origem que:
9.3.1. faça cessar, com fundamento nos arts. 71, inciso IX, da Constituição Federal e 262 do
Regimento Interno desta Corte de Contas, no prazo de 15 (quinze) dias, contados a partir da ciência da
presente deliberação, os pagamentos decorrentes dos atos oras impugnados, sob pena de responsabilidade
solidária da autoridade administrativa omissa;
9.3.2. dê ciência aos Srs. José Cunha dos Santos e Airton José Schneider, ou a quem legalmente os
represente, se for o caso, do inteiro teor deste Acórdão, alertando-os no sentido de que o efeito suspensivo
proveniente da interposição de eventuais recursos, caso não providos, não os eximem da devolução dos
valores indevidamente percebidos após a notificação;
9.3.3. envie a esta Corte de Contas, no prazo de 30 (trinta) dias, por cópia, comprovantes de que os
interessados tiveram ciência desta deliberação;
9.3.4. dar ciência desta deliberação ao Ministério da Defesa e ao Comando do Exército;
9.4. determinar à Sefip que:
9.4.1. monitore o cumprimento das determinações elencadas nos itens 9.3.1 a 9.3.4 deste aresto;
9.4.2. arquive os autos, cumpridos os termos deste acórdão.
música, literatura, cidadania e educação ambiental, e ampliar as atividades” destinadas aos jovens em
situação de risco da periferia de Salvador/BA.
Promovidas as citações dos responsáveis, a Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas
Especial (Secex-TCE) elaborou instrução de mérito27, a qual adoto como relatório, com os ajustes de
forma pertinentes:
“(...)
HISTÓRICO
A portaria 162, de 13/3/2008, autorizou a captação do valor de apoio, totalizando R$ 304.428,56, no
período de 14/3 a 30/6/2008 (peça 5, p. 88). O prazo para captação dos recursos sofreu prorrogações
autorizadas pelas portarias 349/08, 3/09 e 15/10, estendendo a data limite para 31/12/2010, recaindo o
prazo para prestação de contas em 30/1/2011 (peça 6, p. 11).
Do total autorizado, foi captado pela entidade apenas o montante de R$ 61.000,00, sendo R$
60.800,00 provenientes do Banco do Nordeste do Brasil S/A, em 27/5/2010, e R$ 200,00 da Indústria
Metalúrgica Lugger do Brasil Ltda., em 28/5/2010, conforme extrato bancário à peça 5, p. 83.
A execução do projeto foi analisada pela Diretoria de Incentivo à Cultura do MinC, por meio do
despacho 818/2012 – CGAA/DIC/Sefic/MinC, de 27/4/2012 (peça 6 p. 11), que concluiu que, expirado o
período de vigência, o projeto teria captado apenas 20,04% do total aprovado, não sendo apresentada a
prestação de contas final, ou recolhido o valor total dos incentivos captados, embora os responsáveis
tenham sido validamente notificados para tal, conforme os ofícios 3.974 CGA/DIC/Sefic/MinC, de
24/5/2011, e 9.941/2011 CGA/DIC/Sefic/MinC, de 22/12/2011 (peça 5, p. 85 e peça 5, p. 3,
respectivamente).
O fundamento para a instauração da tomada de contas especial, conforme apontado no despacho
3/2016 – Sefic/Passivo/G3 (peça 6, p. 57), foi a não comprovação da regular aplicação dos incentivos
recebidos, em razão da não apresentação da prestação de contas dos recursos captados por força do
Projeto Pronac 7-9726, bem como o não atendimento às notificações para que fossem devolvidos os
aludidos recursos ao Fundo Nacional de Cultura (FNC).
O relatório de auditoria 1085/2016 da Controladoria Geral da União (peça 10, p. 1-5) ratificou o
posicionamento do tomador de contas. Após serem emitidos o certificado de auditoria, o parecer do
dirigente e o pronunciamento ministerial (peças 10, p. 4 e 5; e 14), o processo foi remetido a esse
Tribunal.
A instrução inicial do feito (peça 18) concluiu pela responsabilização do Sr. Fábio Viana da Cruz,
solidariamente com a Casa das Artes Ilê Aió, propondo a citação de ambos quanto à irregularidade a
seguir discriminada:
Irregularidade: não comprovação da boa e regular aplicação dos recursos captados por força do
projeto Pronac 7-9726, em razão da omissão no dever de prestar contas, cujo prazo para apresentação
encerrou-se no dia 30/1/2011.
Outrossim, foi proposta a audiência do Sr. Fábio Viana da Cruz pela perda do prazo para apresentar
a aludida prestação de contas final.
Com base na delegação de competência do relator do feito, o exmo. ministro-substituto Weder de
Oliveira (portaria WDO, de 6/8/2018), foram promovidas as citações e audiência propostas, conforme a
seguir discriminado:
a) Fábio Viana da Cruz:
Data de Fim do Apresenta
Data do Nome do Observaçã
ofício recebimen Prazo para ção de
ofício recebedor o
to defesa Defesa
0506 18/7/2018 -
-
(peça 3/7/2018 (AR peça José Batista 17/8/2018
25) 26)
27 Peça 40-42.
391
Nos processos do TCU, a revelia não leva à presunção de que seriam verdadeiras todas as
imputações levantadas contra os responsáveis, diferentemente do que ocorre no processo civil, em que a
revelia do réu opera a presunção da verdade dos fatos narrados pelo autor. Dessa forma, a avaliação da
responsabilidade do agente não pode prescindir da prova existente no processo ou para ele carreada.
Ao não apresentarem suas defesas, os responsáveis deixaram de produzir prova da regular aplicação
dos recursos sob sua responsabilidade, em afronta às normas que impõem aos gestores públicos a
obrigação legal de, sempre que demandados pelos órgãos de controle, apresentar os documentos que
demonstrem a correta utilização das verbas públicas, a exemplo do contido no art. 93 do Decreto-Lei
200/67: ‘Quem quer que utilize dinheiros públicos terá de justificar seu bom e regular emprego na
conformidade das leis, regulamentos e normas emanadas das autoridades administrativas competentes.’
Ademais, não foi atendida a audiência realizada junto ao Sr. Fábio Viana da Cruz acerca da perda
de prazo para apresentação da prestação final de contas, expirado em 30/1/2011, também remanescendo
injustificada essa ocorrência.
Não obstante a revelia configurada neste processo, e em prestígio ao princípio da verdade real que
informa os processos no TCU, foram os autos novamente compulsados, não se identificando qualquer
elemento que pudesse alterar as conclusões que fundamentaram as citações realizadas.
Mediante o acórdão 1441/2016-TCU-Plenário, foi uniformizada a jurisprudência do TCU, no
sentido de que a prescrição de sua pretensão punitiva subordina-se ao prazo geral de prescrição indicado
no art. 205 do Código Civil, que é de 10 anos, contado da data de ocorrência da irregularidade
sancionada, nos termos do art. 189 do Código Civil, sendo este prazo interrompido pelo ato que ordenar a
citação, a audiência ou a oitiva do responsável. No caso em exame, não ocorreu a prescrição, uma vez que
a captação dos recursos teve início em 27/5/2010, e o ato que determinou a citação dos responsáveis
ocorreu em 27/6/2018.
Por outro lado, em se tratando de processo em que as partes interessadas não se manifestaram
acerca das irregularidades imputadas, não há elementos para que se possa efetivamente aferir e
reconhecer a ocorrência de boa-fé na conduta dos responsáveis, podendo este Tribunal, desde logo,
proferir o julgamento de mérito pela irregularidade das contas, nos termos dos §§ 2º e 6º do art. 202 do
RI/TCU.
Dessa forma, o Sr. Fábio Viana da Cruz e a Casa das Artes Ilê Aió devem ser considerados revéis,
nos termos do art. 12, §3º, da Lei 8.443/1992, devendo as respectivas contas ser julgadas irregulares, com
a condenação solidária dos responsáveis ao pagamento do débito apurado nos autos, com a aplicação das
multas previstas no art. 57 para ambos, em razão do débito, e a prevista no art. 58, I, da mesma lei, para o
dirigente da entidade, pela ausência de justificativa para a não apresentação das contas no prazo devido.
Quanto à possibilidade de aplicação cumulativa das multas dos arts. 57 e 58, I, da Lei 8.443/92, o
TCU reconhece que existe relação de subordinação entre as condutas de ‘não comprovação da aplicação
dos recursos’ e de ‘omissão na prestação de contas’, sendo a primeira consequência da segunda, o que
enseja, na verificação das duas irregularidades, a aplicação da multa do art. 57, com o afastamento da
multa do art. 58, I, em atenção ao princípio da absorção (acórdão 9579/2015 – 2ª Câmara, relator Vital do
Rêgo; acórdão 2469/2019-1ª Câmara, relator Augusto Sherman).
Conforme leciona Cezar Bitencourt (Tratado de Direito Penal: parte geral – 8 Ed. – São Paulo:
Saraiva, 2003. Pg.565), na absorção, ‘(...) a pena do delito mais grave absorve a pena do delito menos
grave, que deve ser desprezada’. No caso concreto, a ‘omissão no dever de prestar contas’, embora seja
uma irregularidade autônoma, funciona como fase ou meio para a consecução da ’não comprovação da
aplicação dos recursos’, havendo clara relação de interdependência entre essas condutas. Dessa forma,
recaindo a duas ocorrências num mesmo gestor, deve prevalecer a pena do delito mais grave, qual seja, a
multa do art. 57 da Lei 8.443/92.
CONCLUSÃO
Em face da revelia do Sr. Fábio Viana da Cruz e a Casa das Artes Ilê Aió, e inexistindo nos autos
elementos que permitam concluir pela ocorrência de boa-fé ou de outros excludentes de culpabilidade dos
responsáveis solidários, propõe-se que as respectivas contas sejam julgadas irregulares e que os
394
responsáveis sejam condenados ao pagamento do débito apurado nos autos, bem como lhes sejam
aplicadas multas individuais, com fundamento no art. 57 da Lei 8.443/1992.
Adicionalmente, propõe-se informar ao Sr. Fábio Viana da Cruz que, na eventualidade de ser
demonstrada a boa e regular aplicação dos recursos pela via recursal, elidindo o débito e, por conseguinte,
afastando a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992 originalmente aplicada, poderá o Tribunal
reaplicar a multa prevista no art. 58, I, da mesma lei, antes absorvida pela primeira.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
Diante do exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo ao Tribunal:
a) considerar revéis o Sr. Fábio Viana da Cruz (CPF 682.922.285-00) e a Casa das Artes Ilê Aió
(CNPJ 04.958.051/0001-81), com fundamento no § 3º, art. 12, Lei 8.443/1992;
b) com fundamento nos arts. 1º, I; 16, III, ‘a’; 19 e 23, III, todos da Lei 8.443/1992, e nos arts. 1º, I;
209, I; 210 e 214, III, do RI/TCU, julgar irregulares as contas do Sr. Fábio Viana da Cruz (CPF
682.922.285-00) e a Casa das Artes Ilê Aió (CNPJ 04.958.051/0001-81), e condená-los ao pagamento das
quantias a seguir especificadas, com a fixação do prazo de quinze dias, a contar da notificação, para
comprovar, perante o Tribunal (art. 214, III, ‘a’, do RI/TCU), o recolhimento da dívida aos cofres do
Fundo Nacional de Cultura, atualizada monetariamente e acrescida dos juros de mora, calculados a partir
das datas indicadas, até a data do efetivo recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor:
VALOR ORIGINAL (R$) DATA DA OCORRÊNCIA
60.800,00 27/5/2010
200,00 28/5/2010
c) aplicar, individualmente, ao Sr. Fábio Viana da Cruz (CPF 682.922.285-00) e a Casa das Artes
Ilê Aió (CNPJ 04.958.051/0001-81), a multa prevista no art. 57 da Lei 8.433/1992, fixando-lhes o prazo
de quinze dias, a contar da notificação, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, III, ‘a’, do
RI/TCU), o recolhimento das dívidas aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente desde
a data do acórdão que vier a ser proferido até a do efetivo recolhimento, se forem pagas após o
vencimento, na forma da legislação em vigor;
d) autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial das dívidas
caso não atendidas as notificações;
e) autorizar o pagamento das dívidas em até 36 parcelas mensais e consecutivas, nos termos do art.
26 da Lei 8.443/1992 e do art. 217 do RI/TCU, fixando-lhe o prazo de quinze dias, a contar do
recebimento da notificação, para comprovar perante o Tribunal o recolhimento da primeira parcela, e de
trinta dias, a contar da parcela anterior, para comprovar o recolhimento das demais parcelas, devendo
incidir sobre cada valor mensal, atualizado monetariamente, os juros de mora devidos, na forma prevista
na legislação em vigor;
f) informar ao Sr. Fábio Viana da Cruz (CPF 682.922.285-00) que a multa prevista no art. 58, I, da
Lei 8.433/1992, que seria aplicada por conta da não apresentação da prestação de contas no prazo devido,
restou absorvida pela multa do art. 57 da mesma lei (item ‘c’ supra), podendo voltar a ser aplicada em
caso de supressão daquela em sede de recurso;
g) alertar aos responsáveis que a falta de comprovação do recolhimento de qualquer parcela
importará no vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos do § 2º do art. 217 do RI/TCU;
h) enviar cópia do acórdão que vier a ser proferido ao Ministério da Cultura – MinC, à Secretaria
Federal de Controle Interno e aos responsáveis, para ciência, informando que a deliberação, acompanhada
do Relatório e Voto que a fundamentarem, estará disponível para consulta no endereço
www.tcu.gov.br/acordaos, além de esclarecer que, caso requerido, o TCU poderá fornecer as
correspondentes cópias, em mídia impressa, aos interessados e às responsáveis arrolados nestes autos;
i) encaminhar cópia da deliberação, bem como do relatório e do voto que a fundamentarem, ao
Procurador-Chefe da Procuradoria da República no Estado da Bahia, nos termos do § 3º do art. 16 da Lei
8.443/1992 c/c o § 7º do art. 209 do RI/TCU, para adoção das medidas que entender cabíveis.”
395
O MP/TCU, representado pelo procurador Rodrigo Medeiros de Lima, concordou com a proposta
da unidade instrutiva28, conforme transcrito a seguir:
“Em face da omissão no dever de prestar contas dos recursos federais objeto de análise nesta
tomada de contas especial (TCE) e da revelia dos responsáveis, em que pese devidamente citados,
conforme comprovam os documentos às peças 21, 22, 24-33, 35-38, este representante do Ministério
Público de Contas da União manifesta-se em consonância com o encaminhamento sugerido pela unidade
técnica, em pareceres uniformes (peças 40-42), sem prejuízo de propor os seguintes ajustes na alínea ‘b’
do parágrafo 28 da instrução à peça 40:
a) incluir, na fundamentação da proposta de julgamento pela irregularidade das contas dos
responsáveis, a alínea ‘c’ do inciso III do artigo 16 da Lei 8.443/1992;
b) incluir o termo ‘solidariamente’ na proposta de condenação dos responsáveis ao pagamento dos
débitos identificados nos autos.”
É o relatório.
Proposta de Deliberação
Cuidam os autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério da Cultura (MinC) em
desfavor da Casa das Artes Ilê Aió e de seu presidente, o Sr. Fábio Viana da Cruz, em virtude da omissão
no dever de prestar contas da aplicação dos recursos captados pela entidade para a execução do projeto
Cultura e Cidadania da Paz 07-9726, no âmbito do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), com
base no §1º do art. 18 e no art. 26, da Lei 8.313/1991, cujo objeto consistiu em “dar continuidade às
oficinas de artes cênicas, música, literatura, cidadania e educação ambiental, e ampliar as atividades”
destinadas aos jovens em situação de risco da periferia de Salvador/BA.
O MinC autorizou a captação, pela referida entidade, de R$ 304.428,56, que deveria ocorrer de
14/3/2008 a 31/12/201029. A respectiva prestação de contas deveria ser apresentada em até 30 dias
contados do fim do período de captação, ou seja, até 30/1/2011.
Foram efetivamente captados R$ 61.000,00, sendo R$ 60.800,00 provenientes do Banco do
Nordeste do Brasil S/A, em 27/5/2010, e R$ 200,00 da Indústria Metalúrgica Lugger do Brasil Ltda., em
28/5/201030.
Conforme despacho 818/2012 – CGAA/DIC/Sefic/MinC, de 27/4/201231, não foi apresentada a
prestação de contas.
No âmbito do Tribunal, a Secex-TCE realizou a citação solidária da Casa das Artes Ilê Aió e do Sr.
Fábio Viana da Cruz em relação ao dano ao erário.
Devidamente notificados, os responsáveis permaneceram silentes.
Assim, a Secex-TCE considerou os responsáveis revéis e propôs julgar suas contas irregulares, com
imputação de débito e multa do art. 57 da Lei 8.443/199232.
O MP/TCU, representado pelo procurador Rodrigo Medeiros de Lima, manifestou-se favorável a
essa proposta33, sugerindo, apenas, que, na fundamentação da proposta de julgamento pela irregularidade
das contas dos responsáveis, fosse incluída a alínea “c” do inciso III do artigo 16 da Lei 8.443/1992, bem
como a inclusão do termo “solidariamente” na proposta de condenação dos responsáveis ao pagamento
dos débitos identificados nos autos.
28 Peça 83.
29 Portarias 162/2008, prorrogadas pelas portarias 349/2008, 3/2009 e 15/2010 (peça 5, p. 73, e peça 6, p.
11).
30 Vide extrato bancário à peça 5, p. 83.
31 Peça 6 p. 11.
32 Peças 40-42.
33 Peça 43.
396
6. II
Inicialmente, destaco que a captação de recursos por meio da sistemática implantada pela Lei
Rouanet decorre de renúncia de receitas de imposto de renda, o que atrai a jurisdição do Tribunal34.
Ante a omissão na prestação de contas e a revelia dos responsáveis, não foram agregados aos autos
elementos suficientes para comprovar a boa e regular aplicação dos recursos públicos captados.
Desse modo, aquiesço à proposta de responsabilização solidária da Casa das Artes Ilê Aió e do Sr.
Fábio Viana da Cruz em relação ao débito, a qual está de acordo com a jurisprudência desta Corte 35.
Com efeito, o caso em exame, conforme deixou assentado o Tribunal em diversos julgados 36,
assemelha-se aos convênios no que tange aos pressupostos para análise da prestação de contas,
autorizando a aplicação, por analogia, da Súmula TCU 286, que dispõe que “a pessoa jurídica de direito
privado destinatária de transferências voluntárias de recursos federais feitas com vistas à consecução de
uma finalidade pública responde solidariamente com seus administradores pelos danos causados ao erário
na aplicação desses recursos”.
, portanto, na essência, com a proposta da Secex-TCE, a qual contou com a anuência do MP/TCU.
Os responsáveis devem ser considerados revéis, com o julgamento pela irregularidade das contas do Sr.
Fábio Viana da Cruz, condenando-o, solidariamente à entidade Casa das Artes Ilê Aió, ao pagamento de
débito.
De acordo com os critérios firmados no acórdão 1441/2016-TCU-Plenário, não ocorreu a prescrição
da pretensão punitiva no presente caso. Dessa forma, cabe a aplicação da multa prevista no art. 57 da Lei
8.443/1992, em valor proporcional ao dano.
Diante do exposto, manifesto-me pela aprovação do acórdão que ora submeto à apreciação deste
Colegiado.
1. Processo nº TC 002.621/2017-7.
2. Grupo I – Classe II – Assunto: Tomada de Contas Especial.
3. Responsáveis/Interessado:
3.1. Responsáveis: Casa das Artes Ilê Aió (04.958.051/0001-81); Fábio Viana da Cruz
(682.922.285-00).
3.2. Interessado: Ministério da Cultura (MinC).
4. Entidade: Casa das Artes Ilê Aió (04.958.051/0001-81).
5. Relator: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Rodrigo Medeiros de Lima.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (Secex-TCE).
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério
da Cultura em razão da omissão no dever de prestar de contas relativamente ao projeto Cultura e
Cidadania da Paz (Pronac 7-9726).
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, diante
das razões expostas pelo relator, em:
9.1. considerar revel, para todos os efeitos, a Casa das Artes Ilê Aió e o Sr. Fábio Viana da Cruz,
nos termos do art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992, dando-se prosseguimento ao processo;
9.2. julgar irregulares as contas do Sr. Fábio Viana da Cruz, com fundamento no art. 16, III, “a” e
“c”, da Lei 8.443/1992, e condená-lo, solidariamente à Casa das Artes Ilê Aió, ao pagamento das quantias
a seguir especificadas, atualizadas monetariamente e acrescidas de juros de mora, calculados a partir das
datas especificadas até a data do efetivo recolhimento, fixando o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da
notificação, para que comprove, perante o Tribunal (art. 214, III, “a”, do RI/TCU), o recolhimento da
dívida aos cofres do Fundo Nacional de Cultura, na forma da legislação em vigor:
Valor (R$) Data
60.800,00 27/5/2010
200,00 28/5/2010
9.3. aplicar à Casa das Artes Ilê Aió e ao Sr. Fábio Viana da Cruz, individualmente, a multa prevista
no art. 57 da Lei 8.443/1992, no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), fixando o prazo de 15 (quinze)
dias, a contar da notificação, para que comprove, perante o Tribunal (art. 214, III, “a”, do RI/TCU), o
recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do
presente acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em
vigor;
9.4. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial das
dívidas, caso não atendida a notificação;
9.5. em cumprimento ao disposto no § 3º do art. 16 da Lei 8.443/1992, remeter cópia desta
deliberação à Procuradoria da República no Estado da Bahia, para a adoção das medidas que entender
cabíveis.
Proposta de Deliberação
Em exame, cinco atos de pensão militar emitidos pelo Serviço de Inativos e Pensionistas da
Marinha.
A Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip), após críticas automatizadas, não identificou
irregularidade, propondo a legalidade de todos os atos constantes do processo.
Por sua vez, o Ministério Público de Contas encontrou inconsistência no ato de pensão militar
instituída por Genilton Ferreira de Moura (peça 2), porque recebeu a vantagem estabelecida no art. 110 da
Lei 6.880/1980 após estar reformado.
Acompanho a proposta esposada pelo Parquet.
O Sr. Genilton Ferreira de Moura foi reformado como suboficial, conforme ato 10001581-07-2013-
000214-8 (quadro dados do servidor, peça 11, p. 1), e a alteração consigna o cargo de primeiro-tenente
(peça 11, p. 2) para o cálculo de seus proventos, em razão de “invalidez definitiva de acordo com o termo
de inspeção de saúde (TIS) nº 007.000.4435 de 22 de janeiro de 2007, da junta regular de saúde do centro
399
de perícias médicas da marinha (JRS1/CPMM) homologado pela junta superior distrital do 1ºdistrito
naval (JSD/1ºDN), que o considerou inválido a partir de 31 de julho de 2006, e termo de inspeção de
saúde (TIS) Nº 010.000.30600DE 20 de outubro de 2010, da junta regular de saúde do centro de perícias
médicas da marinha (JRS1/CPMM) homologado pela junta superior distrital do 1º distrito naval
(JSD/1ºDN), que concedeu auxílio-invalidez a partir de 25 de agosto de 2010” (quadro “esclarecimentos
gestor de pessoal”, peça 2, p. 2).
O ato acostado à peça 2 deve ser considerado ilegal em razão de ter havido alteração de reforma
inconsistente com o que dispõe o art. 110, §§ 1º e 2º, da Lei 6.880/1980, o qual concedeu ao militar,
apenas da reserva e da ativa, a possibilidade de ser inativado em grau hierárquico superior (no caso de
invalidez permanente):
“Art. 110. O militar da ativa ou da reserva remunerada, julgado incapaz definitivamente por um dos
motivos constantes dos incisos I e II do art. 108, será reformado com a remuneração calculada com base
no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao que possuir ou que possuía na ativa,
respectivamente.
§ 1º Aplica-se o disposto neste artigo aos casos previstos nos itens III, IV e V do artigo 108,
quando, verificada a incapacidade definitiva, for o militar considerado inválido, isto é, impossibilitado
total e permanentemente para qualquer trabalho.
§ 2º Considera-se, para efeito deste artigo, grau hierárquico imediato:
a) o de Primeiro-Tenente, para Guarda-Marinha, Aspirante-a-Oficial e Suboficial ou Subtenente;
b) o de Segundo-Tenente, para Primeiro-Sargento, Segundo-Sargento e Terceiro-Sargento; e
c) o de Terceiro-Sargento, para Cabo e demais praças constantes do Quadro a que se refere o artigo
16” (não grifado no original).
Acerca dessas situações (inatividade em posto superior não condizente com o que dispõe o referido
art. 110 da Lei 6.880/1980), o Tribunal assim decidiu no acórdão 2225/2019-TCU-Plenário:
“ATOS DE REFORMA. ALTERAÇÃO DE UMA DAS CONCESSÕES PARA ELEVAÇÃO, EM
UM GRAU HIERÁRQUICO, DO POSTO SOBRE O QUAL CALCULADOS OS PROVENTOS DO
INATIVO, EM FACE DA SUPERVENIÊNCIA DE INVALIDEZ PERMANENTE DECORRENTE DE
DOENÇA ESPECIFICADA EM LEI. MILITAR ANTERIORMENTE REFORMADO COM
PROVENTOS JÁ CALCULADOS SOBRE O POSTO HIERÁRQUICO SUPERIOR, POR TEMPO DE
SERVIÇO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL PARA EXTENSÃO DA VANTAGEM
ESTABELECIDA NO ART. 110 DA LEI 6.880/1980 A MILITARES JÁ REFORMADOS, BEM
COMO PARA O ACRÉSCIMO DE DOIS POSTOS NO CÁLCULO DOS PROVENTOS. NEGATIVA
DE REGISTRO. DETERMINAÇÕES. LEGALIDADE E REGISTRO DAS DEMAIS CONCESSÕES.”
Por fim, registro que não é necessária a realização da prévia oitiva da beneficiária Sra. Vera Lúcia
Vilela de Moura Queiroz, visto que o ato ingressou há menos de 5 anos neste Tribunal (acórdão
587/2011-TCU-Plenário).
Assim, o ato de instituição de pensão militar instituída por Genilton Ferreira de Moura (10637508-
08-2015-000480-8, peça 2) deve ser considerado ilegal, sendo determinada a regularização do
posto/graduação que serve de base para o cálculo dos proventos de pensão militar.
Os demais atos devem ser considerados legais com determinação de registro.
Diante do exposto, manifesto-me pela aprovação do acórdão que ora submeto à apreciação deste
Colegiado.
1. Processo nº TC 013.356/2020-8.
2. Grupo II – Classe V – Assunto: Pensão Militar.
3. Interessados: Aline Bastos Carneiro (806.677.677-20); Blanche Daniella de Araújo Jorge
Cavalcante (595.162.167-49); Carla do Nascimento (097.766.557-77); Célia Maria de Souza Lima
(605.691.827-00); Ginaldo Moura Caldas Junior (026.666.604-35); Mayara Pinto do Nascimento
400
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de atos de pensão militar emitidos pelo Serviço de
Inativos e Pensionistas da Marinha.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, diante
das razões expostas pelo relator, em:
9.1. considerar legais e conceder o registro aos atos de pensão militar instituídos por Geraldo
Pereira Lima (peça 3), Ginaldo Moura Caldas (peça 4), Henrique Rouede Cavalcante (peça 5) e Hércules
Rodrigues do Nascimento (peça 6).
9.2.considerar ilegal e recusar registro ao ato de concessão de pensão militar instituído por Genilton
Ferreira de Moura (10637508-08-2015-000480-8, peça 2), nos termos do § 1º do art. 260 do RI/TCU;
9.3. dispensar o ressarcimento das quantias indevidamente recebidas de boa-fé por Vera Lúcia
Vilela de Moura Queiroz, beneficiária do ato referente ao item 9.2. acima, nos termos do enunciado 106
da Súmula da Jurisprudência deste Tribunal;
9.4. determinar ao Serviço de Inativos e Pensionistas da Marinha, em relação ao ato do item 9.2.,
que:
9.4.1. no prazo de 15 (quinze) dias, a contar da ciência desta deliberação, abstenha-se de realizar
pagamentos decorrentes do ato impugnado no item 9.2. desta decisão, sujeitando-se a autoridade
administrativa omissa à responsabilidade solidária, nos termos do art. 262, caput, do RI/TCU;
9.4.2. regularize o posto/graduação que serve de base para o cálculo dos proventos da pensão militar
instituída por Genilton Ferreira de Moura;
9.4.3. dê ciência, no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da notificação deste
acórdão, do inteiro teor desta deliberação à interessada, encaminhando a este Tribunal, no prazo de 30
(trinta) dias, comprovante da referida ciência:
9.4.4. informe à interessada que o efeito suspensivo proveniente da interposição de possíveis
recursos perante o Tribunal não a exime da devolução dos valores percebidos indevidamente após a
respectiva notificação, caso os recursos não sejam providos;
9.5. encerrar e arquivar os presentes autos.
7.O Relatório da CGU 426/2017 (peça 5, p. 147-149) também chegou às mesmas conclusões. Após
serem emitidos o Certificado de Auditoria, o Parecer do Dirigente e o Pronunciamento Ministerial (peça
5, p. 150-152 e 163), o processo foi remetido a esse Tribunal.
ANÁLISE DOS PRESSUPOSTOS DE PROCEDIBILIDADE DA IN/TCU 71/2012
8.Verifica-se que não houve o transcurso de mais de dez anos desde o fato gerador sem que tenha
havido a notificação do responsável pela autoridade administrativa federal competente (art. 6º, inciso II,
c/c art. 19 da IN/TCU 71/2012, modificada pela IN/TCU 76/2016), uma vez que os recursos foram
transferidos, em 9/4/2015 (peça 4, p. 6), e o responsável foi notificado acerca das irregularidades pela
autoridade administrativa competente, em 23/12/2015, por meio do Ofício 784/2015-DGI/SECEX (peça
4, p. 25-26 e 32).
9.De igual modo, restou evidenciado que o valor atualizado do débito apurado (sem juros) em
1º/1/2017 é superior a R$ 100.000,00, na forma estabelecida nos arts. 6º, inciso I, e 19 da IN/TCU
71/2012, modificada pela IN/TCU 76/2016.
10.A tomada de contas especial está, assim, devidamente constituída e em condição de ser instruída.
EXAME TÉCNICO
11.Consoante consignado no parágrafo 4 desta instrução, verificou-se que a reprovação das contas
do responsável foi motivada pela não apresentação da prestação de contas dos recursos federais
repassados no âmbito do convênio em epígrafe, o que inviabiliza o estabelecimento de um liame entre os
recursos repassados e as despesas executadas, não logrando o ex-gestor sanear essas falhas, mesmo
depois de ter-lhe sido solicitada a apresentação dos documentos comprobatórios.
12.Corroborando com as conclusões consignadas pelo tomador de contas, constatou-se que não
houve prestação de contas relativa aos recursos federais repassados ao Município de Eirunepé/AM, por
meio do referido ajuste, sem que se tenham sido juntadas aos autos quaisquer justificativas pela omissão
no dever de prestar contas.
13.De fato, recai sobre o responsável a obrigação de demonstrar que os recursos federais recebidos
foram utilizados na finalidade prevista. Ao não cumprir com a obrigação de prestar contas, o gestor
ignorou dever constitucional contido no parágrafo único do art. 70 da Constituição Federal, bem como
deixou de comprovar a correta aplicação dos recursos, o que caracteriza a existência de dano ao erário,
ensejando o chamamento aos autos do responsável, em sede de citação e de audiência, para apresentação
de defesa.
14.Esse entendimento está amparado nos Acórdãos 6.921/2015-TCU-1a Câmara, 7.134/2015-TCU-
1ª Câmara, 10.624/2015-TCU-2a Câmara, 10.668/2015-TCU-2ª Câmara e 10.671/2015-TCU-2a Câmara.
15.Portanto, em razão desses apontamentos, será promovido o chamamento aos autos do
responsável, em sede de citação e de audiência, para que apresente sua defesa em relação à não
comprovação da boa e regular aplicação dos recursos públicos federais repassados no âmbito do
instrumento sob exame.
Quantificação do dano
16.No que concerne à quantificação do dano, verifica-se que foi imputado ao responsável o valor
total dos recursos repassados, por meio da Ordem Bancária 2015OB800049, datada de 9/4/2015 (peça 4,
p. 6), no âmbito da Transferência Obrigatória – Siafi 683355, autorizada pela Portaria 53/2015, da
Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (peça 3, p. 69-71), haja vista que o ex-gestor não logrou
demonstrar a boa e regular aplicação dos recursos repassados.
17.Dessa forma, o débito foi calculado, conforme quadro abaixo (peça 5, p. 135-136):
DATA DA OCORRÊNCIA VALOR ORIGINAL (R$)
9/4/2015 169.141,00
18.Por fim, em observância ao comando contido no item 9.4 do Acórdão 1772/2017-TCU-Plenário,
TC 033.356/2013-0, da relatoria do Exmo. Ministro Augusto Sherman Cavalcanti, constatou-se, mediante
pesquisa aos sistemas eletrônicos do TCU, a existência do processo, abaixo demonstrado, em trâmite no
Tribunal com débitos imputáveis ao responsável:
Processo (TC) Responsável Assunto Débito
403
(R$)
TCE
[omissão no dever de
011.748/2016- Joaquim Neto prestar contas do recursos
144.050,54
8 Cavalcante Monteiro federais transferidos pelo
Termo de Compromisso
Sedec 149/2012]
CONCLUSÃO
19.Conforme evidenciado nos parágrafos 11 a 18 desta instrução, a omissão no dever de prestar
contas dos recursos repassados no âmbito da Transferência Obrigatória – Siafi 683355, autorizada pela
Portaria 53/2015, da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (peça 3, p. 69-71), resultou na
impugnação total das despesas realizadas nesse instrumento, porquanto, o ex-gestor violou dever
constitucional de comprovar a correta aplicação dos recursos que lhe foram confiados, conforme
preconizado no parágrafo único, do art. 70 da Constituição Federal. Em consequência, será promovido o
chamamento aos autos do responsável, em sede de citação e de audiência para que apresente sua defesa
em relação a essa irregularidade.”
3. Continuo o relatório, com a transcrição das partes essenciais da instrução de mérito da Secex-
TCE (peça 14):
“(...)
10.O responsável foi notificado por meio do 2868/2018-TCU/Secex-TCE, de 8/11/2018 (peça 10),
cujo entrega do Ofício no seu endereço se deu em 10/1/2019, conforme AR de peça 11.
11.Transcorrido o prazo regimental, o responsável permaneceu silente, devendo ser considerado
revel, nos termos do art. 12, §3º, da Lei 8.443/1992, dando-se prosseguimento ao processo.
EXAME TÉCNICO
Da validade da notificação
12.Preliminarmente, cumpre tecer breves considerações sobre a forma como são realizadas as
comunicações processuais no TCU. A esse respeito, destacam-se o art. 179, do Regimento Interno do
TCU (Resolução 155, de 4/12/2002) e o art. 4º, inciso III, § 1º, da Resolução TCU 170, de 30 de junho de
2004, in verbis:
Art. 179. A citação, a audiência ou a notificação, bem como a comunicação de diligência, far-se-ão:
I - mediante ciência da parte, efetivada por servidor designado, por meio eletrônico, fac-símile,
telegrama ou qualquer outra forma, desde que fique confirmada inequivocamente a entrega da
comunicação ao destinatário;
II - mediante carta registrada, com aviso de recebimento que comprove a entrega no endereço do
destinatário;
III - por edital publicado no Diário Oficial da União, quando o seu destinatário não for localizado
(...)
Art. 3º As comunicações serão dirigidas ao responsável, ou ao interessado, ou ao dirigente de órgão
ou entidade, ou ao representante legal ou ao procurador constituído nos autos, com poderes expressos no
mandato para esse fim, por meio de:
I - correio eletrônico, fac-símile ou telegrama;
II - servidor designado;
III - carta registrada, com aviso de recebimento;
IV - edital publicado no Diário Oficial da União, quando o seu destinatário não for localizado, nas
hipóteses em que seja necessário o exercício de defesa”.
Art. 4º. Consideram-se entregues as comunicações:
I - efetivadas conforme disposto nos incisos I e II do artigo anterior, mediante confirmação da
ciência do destinatário;
II - realizadas na forma prevista no inciso III do artigo anterior, com o retorno do aviso de
recebimento, entregue comprovadamente no endereço do destinatário;
404
III - na data de publicação do edital no Diário Oficial da União, quando realizadas na forma prevista
no inciso IV do artigo anterior.
§ 1º O endereço do destinatário deverá ser previamente confirmado mediante consulta aos sistemas
disponíveis ao Tribunal ou a outros meios de informação, a qual deverá ser juntada ao respectivo
processo.
(...)
13.Bem se vê, portanto, que a validade da citação via postal não depende de que o aviso de
recebimento seja assinado pelo próprio destinatário da comunicação, o que dispensa, no caso em tela, a
entrega do AR em “mãos próprias”. A exigência da norma é no sentido de o Tribunal verificar se a
correspondência foi entregue no endereço correto, residindo aqui a necessidade de certeza inequívoca.
14.Não é outra a orientação da jurisprudência do TCU, conforme se verifica dos julgados a seguir
transcritos:
São válidas as comunicações processuais entregues, mediante carta registrada, no endereço correto
do responsável, não havendo necessidade de que o recebimento seja feito por ele próprio (Acórdão
3648/2013 - TCU - Segunda Câmara, Relator Ministro JOSÉ JORGE);
É prescindível a entrega pessoal das comunicações pelo TCU, razão pela qual não há necessidade
de que o aviso de recebimento seja assinado pelo próprio destinatário. Entregando-se a correspondência
no endereço correto do destinatário, presume-se o recebimento da citação. (Acórdão 1019/2008 - TCU -
Plenário, Relator Ministro BENJAMIN ZYMLER);
As comunicações do TCU, inclusive as citações, deverão ser realizadas mediante Aviso de
Recebimento - AR, via Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, bastando para sua validade que se
demonstre que a correspondência foi entregue no endereço correto.
(Acórdão 1526/2007 - TCU - Plenário, Relator Ministro AROLDO CEDRAZ).
15.A validade do critério de comunicação processual do TCU foi referendada pelo Supremo
Tribunal Federal, nos termos do julgamento do MS-AgR 25.816/DF, por meio do qual se afirmou a
desnecessidade da ciência pessoal do interessado, entendendo-se suficiente a comprovação da entrega do
“AR” no endereço do destinatário:
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE SEGURANÇA. DESNECESSIDADE
DE INTIMAÇÃO PESSOAL DAS DECISÕES DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. ART. 179
DO REGIMENTO INTERNO DO TCU. INTIMAÇÃO DO ATO IMPUGNADO POR CARTA
REGISTRADA, INICIADO O PRAZO DO ART. 18 DA LEI nº 1.533/51 DA DATA CONSTANTE DO
AVISO DE RECEBIMENTO. DECADÊNCIA RECONHECIDA. AGRAVO IMPROVIDO.
O envio de carta registrada com aviso de recebimento está expressamente enumerado entre os meios
de comunicação de que dispõe o Tribunal de Contas da União para proceder às suas intimações.
O inciso II do art. 179 do Regimento Interno do TCU é claro ao exigir apenas a comprovação da
entrega no endereço do destinatário, bastando o aviso de recebimento simples.
16.No caso vertente, a citação do responsável se deu em endereço proveniente de pesquisas de
endereços realizadas pelo TCU no cadastro da Receita Federal e a entrega do ofício citatório nesse
endereço ficou comprovada.
17.Nos processos do TCU, a revelia não leva à presunção de que seriam verdadeiras todas as
imputações levantadas contra os responsáveis, diferentemente do que ocorre no processo civil, em que a
revelia do réu opera a presunção da verdade dos fatos narrados pelo autor. Dessa forma, a avaliação da
responsabilidade do agente não pode prescindir da prova existente no processo ou para ele carreada.
18.Ao não apresentar sua defesa, o responsável deixou de produzir prova da regular aplicação dos
recursos sob sua responsabilidade, em afronta às normas que impõem aos gestores públicos a obrigação
legal de, sempre que demandados pelos órgãos de controle, apresentar os documentos que demonstrem a
correta utilização das verbas públicas, a exemplo do contido no art. 93 do Decreto-Lei 200/67: ‘Quem
quer que utilize dinheiros públicos terá de justificar seu bom e regular emprego na conformidade das leis,
regulamentos e normas emanadas das autoridades administrativas competentes.’
405
19.Mesmo as alegações de defesa não sendo apresentadas, considerando o princípio da verdade real
que rege esta Corte, procurou-se buscar, em manifestações dos responsáveis na fase interna desta Tomada
de Contas Especial, se havia algum argumento que pudesse ser aproveitado a seu favor. Todavia, não há
qualquer manifestação do responsável na fase interna da TCE.
20.Vale ressaltar que a pretensão punitiva do TCU, conforme Acórdão 1.441/2016-Plenário, que
uniformizou a jurisprudência acerca dessa questão, subordina-se ao prazo geral de prescrição indicado no
art. 205 do Código Civil, que é de 10 anos, contado da data de ocorrência da irregularidade sancionada,
nos termos do art. 189 do Código Civil, sendo este prazo interrompido pelo ato que ordenar a citação, a
audiência ou a oitiva do responsável. No caso em exame, não ocorreu a prescrição, uma vez que omissão
da prestação de contas ocorreu em 9/4/2015 e o ato de ordenação da citação ocorreu em 10/1/2019.
21.Em se tratando de processo em que a parte interessada não se manifestou acerca das
irregularidades imputadas, não há elementos para que se possa efetivamente aferir e reconhecer a
ocorrência de boa-fé na conduta dos responsáveis, podendo este Tribunal, desde logo, proferir o
julgamento de mérito pela irregularidade das contas, conforme nos termos dos §§ 2º e 6º do art. 202 do
Regimento Interno do TCU. (Acórdãos 2.064/2011-TCU-1a Câmara (relator: Ubiratan Aguiar),
6.182/2011-TCU-1a Câmara (relator: Weber de Oliveira), 4.072/2010-TCU-1a Câmara (Relator: Valmir
Campelo), 1.189/2009-TCU-1a Câmara (Relator: Marcos Bemquerer), 731/2008-TCU-Plenário (Relator:
Aroldo Cedraz).
22.Dessa forma, o responsável deve ser considerado revel, nos termos do art. 12, §3º, da Lei
8.443/1992, devendo as contas serem julgadas irregulares, condenando-o ao débito apurado e aplicando-
lhe as multas previstas no art. 57 e 58 da Lei 8.443/1992.
CONCLUSÃO
23.Diante do relatado nos tópicos precedentes, deve ser considerado revel o responsável, Sr.
Joaquim Neto Cavalcante Monteiro (CPF 407.913.942-04), ex-prefeito municipal de Eirunepé/AM, na
gestão 2013-2016, para todos os efeitos, dando-se prosseguimento ao processo, com fulcro no art. 12, §
3º, da Lei n. 8.443/92, devendo as suas contas serem julgadas irregulares, condenando-o ao pagamento do
débito apurado e aplicando-lhe as multas previstas no art. 57 e 58 da Lei 8.443/1992.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
24.Diante do exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:
a) considerar revel o responsável, Sr. Joaquim Neto Cavalcante Monteiro (CPF 407.913.942-04),
ex-prefeito municipal de Eirunepé/AM, na gestão 2013-2016, para todos os efeitos, dando-se
prosseguimento ao processo, com fulcro no art. 12, § 3º, da Lei n. 8.443/92;
b) julgar irregulares, nos termos dos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas ‘a’ e ‘b’, § 2º, da Lei
8.443/92 c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com arts. 1º, inciso I, 209, incisos I e II, 210 e
214, inciso III, do Regimento Interno/TCU, as contas do responsável, Sr. Joaquim Neto Cavalcante
Monteiro (CPF 407.913.942-04), ex-prefeito municipal de Eirunepé/AM, na gestão 2013-2016,
condenando-o ao pagamento da importância a seguir especificada, atualizada monetariamente e acrescida
dos juros de mora, calculada a partir da data discriminada até a data do efetiva quitação do débito,
fixando-lhe o prazo de quinze dias, para que comprove, perante o Tribunal, o recolhimento da referida
quantia aos cofres do Tesouro Nacional, nos termos do art. 23, inciso III, alínea ‘a’, da citada lei;
Débito:
DATA DA OCORRÊNCIA VALOR ORIGINAL (R$)
9/4/2015 169.141,00
c) aplicar ao responsável, Sr. Joaquim Neto Cavalcante Monteiro (CPF 407.913.942-04), ex-
prefeito municipal de Eirunepé/AM, na gestão 2013-2016, a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/92 c/c
o art. 267 do RI/TCU, fixando-lhe o prazo de quinze dias, a contar da notificação, para que comprove,
perante o Tribunal (art. 214, III, a, do Regimento Interno do TCU), o recolhimento da dívida aos cofres
do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do acórdão que vier a ser proferido por este
Tribunal até a do efetivo recolhimento, se paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
406
d) aplicar ao responsável, Sr. Joaquim Neto Cavalcante Monteiro (CPF 407.913.942-04), ex-
prefeito municipal de Eirunepé/AM, na gestão 2013-2016, a multa prevista no art. 58 da Lei 8.443/92 c/c
o art. 267 do RI/TCU, fixando-lhe o prazo de quinze dias, a contar da notificação, para que comprove,
perante o Tribunal (art. 214, III, a, do Regimento Interno do TCU), o recolhimento da dívida aos cofres
do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do acórdão que vier a ser proferido por este
Tribunal até a do efetivo recolhimento, se pagas após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
e) autorizar, desde logo, a cobrança judicial das dívidas, caso não atendidas as notificações, na
forma do disposto no art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992;
f) autorizar também, desde logo, se requerido, com fundamento no art. 28, inciso I, da Lei 8.443, de
1992 c/c o art. 217, §§ 1º e 2º do Regimento Interno, o parcelamento das dívidas em até 36 parcelas,
incidindo sobre cada parcela, corrigida monetariamente, os correspondentes acréscimos legais fixando-
lhe o prazo de quinze dias, a contar do recebimento da notificação, para comprovar perante o Tribunal o
recolhimento da primeira parcela, e de trinta dias, a contar da parcela anterior, para comprovar os
recolhimentos das demais parcelas, devendo incidir sobre cada valor mensal, atualizado monetariamente,
os juros de mora devidos, no caso do débito, na forma prevista na legislação em vigor, alertando os
responsáveis de que a falta de comprovação do recolhimento de qualquer parcela importará o vencimento
antecipado do saldo devedor, nos termos do § 2º do art. 217 do Regimento Interno deste Tribunal;
g) enviar cópia do Acórdão que vier a ser proferido ao Ministério do Desenvolvimento Regional e
ao responsável, para ciência, informando que a presente deliberação, acompanhada do Relatório e do
Voto que a fundamenta, está disponível para a consulta no endereço www.tcu.gov.br/acordaos, além de
esclarecer que, caso requerido, o TCU poderá fornecer sem custos as correspondentes cópias, de forma
impressa.”
4. O Ministério Público junto ao TCU, representado pelo subprocurador-geral Paulo Soares
Bugarin, no parecer à peça 17, manifestou concordância com as propostas da unidade instrutiva no
sentido de julgar irregulares as contas do responsável, condená-lo ao recolhimento do débito e aplicar-lhe
a multa do art. 57 da Lei 8.443/1992, propondo, no entanto, se abster de aplicar a multa fundada no art. 58
dessa mesma lei, visto que a conduta impugnada, omissão no dever de prestar contas, já compõe o suporte
fático da condenação em débito e da respectiva sanção pecuniária proporcional ao dano.
É o relatório.
Proposta de Deliberação
Examino a tomada de contas especial instaurada pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa
Civil do atual Ministério do Desenvolvimento Regional (Sedec/MDR), em que foi responsabilizado o Sr.
Joaquim Neto Cavalcante Monteiro, ex-prefeito de Eirunupé/AM (gestão 2013-2016), em razão da
omissão no dever de prestar contas da aplicação dos recursos federais repassados por meio da
transferência obrigatória Siafi 683355, autorizada pela portaria Sedec 53/2015, cujo objeto constituiu
ações de socorro, assistência às vítimas e restabelecimento de serviços essenciais no referido município.
O instrumento de repasse foi firmado no valor de R$ 169.141,00, a título de transferência
obrigatória, com vigência de execução no período de 2/4/2015 a 28/9/2015. Os recursos federais foram
liberados em 9/4/2015 (peça 4) e o prazo para prestação de contas venceu em 28/10/2015 (peça 3).
Por meio do ofício 1087/2015/Cenad/Sedec/MI, de 28/4/2015, o órgão concedente encaminhou
orientações para a execução e formas para prestação de contas nos termos estabelecidos pelos arts. 13 e
14 do Decreto 7.257/2010, bem como informações sobre a destinação dos recursos, conforme quadro
metas/ações aprovadas em razão de demandas do munícipio (peça 4, p. 12-13):
Período Valor Valor
Item Especificação Qtde. Execução Unit. Total
(dias) (R$) (R$)
1 Combustível 2.745 30 4,95 13.587,75
(gasolina)
2 Combustível (diesel) 4.455 30 3,95 17.597,25
3 Kit limpeza 300 30 35,00 10.500,00
407
II
Ao longo desde processo, o responsável teve oportunidade de apresentar, mesmo que
intempestivamente, a prestação de contas reclamada ou defesa perante os fatos ensejadores da TCE, mas,
todavia, manteve-se, silente desde a origem deste processo. Também não vieram aos autos elementos que
comprovem a execução do plano de trabalho estipulado na transferência, presumindo-se dano ao erário
pelo valor total dos recursos federais transferidos.
A jurisprudência desta Corte é firme no tocante à responsabilidade pessoal daquele que administra
recursos federais pela comprovação da boa e regular aplicação desses valores na consecução de objetivos
ajustados, nos termos dos arts. 70, parágrafo único, e 37, caput, da Constituição Federal e do art. 93 do
Decreto-Lei 200/1967.
Assim, inexistindo elementos que comprovem a boa e regular aplicação dos recursos federais
transferidos (Siafi 683355), impõe-se o julgamento irregular destas contas especiais e a atribuição da
integralidade do débito ao Sr. Joaquim Neto Cavalcante Monteiro, bem como aplicação da multa prevista
no art. 57 da Lei 8.443/1992, consoante proposto pela unidade instrutiva, com a ressalva do MP/TCU.
Ante o exposto, manifesto-me pela aprovação do acórdão que ora submeto à apreciação deste
Colegiado.
1. Processo nº TC 029.032/2018-0.
2. Grupo I – Classe II – Assunto: Tomada de Contas Especial.
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério do Desenvolvimento
Regional (Sedec/MDR).
3.2. Responsável: Joaquim Neto Cavalcante Monteiro (407.913.942-04).
4. Entidade: Município de Eirunepé - AM.
5. Relator: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.
6. Representante do Ministério Público: Subprocurador-Geral Paulo Soares Bugarin.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (Secex-TCE).
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pela
Sedec/MDR, em razão da omissão no dever de prestar contas dos recursos federais repassados por meio
da transferência obrigatória Siafi 683355, autorizada pela Portaria Sedec 53/2015, cujo objeto constituiu
ações de socorro, assistência às vítimas e restabelecimento de serviços essenciais no referido município.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, ante
as razões expostas pelo relator, em:
9.1. considerar revel, para todos os efeitos, com fundamento no art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992, o
Sr. Joaquim Neto Cavalcante Monteiro;
9.2. julgar irregulares, com fundamento nos arts. 1º, I, e 16, III, “a” e “c”, da Lei 8.443/1992 c/c os
arts. 19 e 23, III, da mesma lei, e com arts. 1º, I, e 209, I e III, e 214, III, do RI/TCU, as contas do Sr.
Joaquim Neto Cavalcante Monteiro e condená-lo ao pagamento da quantia abaixo especificada, com a
fixação do prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante este Tribunal
(art. 214, III, “a”, do RI/TCU), o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada
monetariamente e acrescida dos juros de mora, calculados a partir da data discriminada, até a data do
recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor;
DATA DA OCORRÊNCIA VALOR ORIGINAL (R$)
9/4/2015 169.141,00
409
9.3. aplicar ao Sr. Joaquim Neto Cavalcante Monteiro a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992
c/c o art. 267 do RI/TCU, no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), fixando-lhe o prazo de 15 (quinze)
dias, a contar da notificação, para que comprove, perante este Tribunal (art. 214, III, “a”, do RI/TCU), o
recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do
presente acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em
vigor;
9.4. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial das
dívidas, caso não atendidas as notificações;
9.5. em cumprimento ao disposto no § 3º do art. 16 da Lei 8.443/1992, encaminhar cópia desta
deliberação à Procuradoria da República no Estado do Amazonas, para a adoção das medidas que
entender cabíveis.
(peça 19). Documentos relativos à nomeação/exoneração da responsável listada na fase interna desta TCE
encontram-se juntados aos autos (peça 2).
Esgotamento da via administrativa do Ministério da Saúde para ressarcimento do dano
9.Preliminarmente, oportuno consignar que, nos termos do art. 23, § 1º, do Decreto 7.827/2012, que
regulamenta a Lei Complementar 141/2012, e item 9.3.5.2 do Acórdão TCU 1072/2017-Plenário (Relator
Min. Bruno Dantas), foram esgotadas, na via administrativa de controle interno do Ministério da Saúde,
as medidas para ressarcimento do dano, conforme notificações aos responsáveis constantes nos seguintes
documentos:
- Sr. Amaro da Silva Dantas: Edital n. 97, de 26/7/2016, publicado no D.O.U., seção 3, de
27/7/2016 (peça 8, p. 7);
- Sr. José Thomé Filho: Ofício Sistema n. 005179/MS/SE/FNS, de 6/7/2016 (peça 8, p. 3-4),
recebido em 18/7/2016, conforme A.R. (peça 1, p. 5).
Fase externa da TCE
10.A presente tomada de contas especial foi autuada no TCU em 25/10/2017, dando início à fase
externa da TCE.
11.Em 25/9/2018 foi realizada a instrução inicial destes autos no Tribunal (peça 20). Naquela
oportunidade foi apontado o seguinte, em síntese:
- a TCE foi instaurada em razão de não disponibilização, em sua totalidade, da documentação
comprobatória (Processos de pagamentos, liquidação, empenhos, contratos, etc) da execução financeira
do Programa de Assistência Farmacêutica Básica no município de Autazes/AM no exercício de 2008,
com recursos oriundos do FNS. Porém, nos autos encontram-se tão somente os extratos bancários da
conta corrente específica;
- as evidências da constatação n. 337450 do Relatório de Auditoria Denasus n. 14723 decorreram
de: consultas de pagamentos no site do Fundo Nacional de Saúde; extratos bancários da conta 6758-x,
agência 3563 do Banco do Brasil e Comunicados de Auditoria-CA n° 01/2014, 02/2014, 03/2014 e
04/2014 (peça 12, p. 10);
- foram apontados como responsáveis na fase interna desta TCE o ex-secretário municipal de saúde
e o ex-prefeito. Em suas justificativas apresentadas à equipe do Denasus (peça 11, p. 6), o ex-secretário de
saúde declarou que não movimentava os recursos da área da Saúde, e essa movimentação era realizada
pelo então prefeito. Em sua defesa, o então Secretário de Saúde afirmou jamais ter assinado qualquer
cheque, afirmou que nunca teve acesso às senhas das contas do FMS, talões de cheques e prestações de
contas;
- não constavam nos autos as justificativas apresentadas pelo ex-prefeito, tão somente sua
transcrição, muito menos consta o documento em que o ex-prefeito eximira de quaisquer
responsabilidades o então secretário municipal de finanças, Sr. Wanderlan da Silva Ramalho (peça 12, p.
10);
- sob o aspecto legal, o responsável pela gestão dos recursos do SUS é o secretário de saúde, à luz
do disposto no inciso III do art. 9º da Lei 8080/1990 c/c art. 11 do Decreto n. 1651/1995, porém, em
outros processos de controle externo já restara consignado por equipes de auditoria do Denasus que esses
recursos eram geridos exclusivamente pelo chefe do Executivo;
- foi proposta a realização de diligência junto ao SEAUD/AM/DENASUS e à Superintendência do
Banco do Brasil no Estado do Amazonas.
12.Em 24/4/2019 foi realizada a segunda instrução dos autos (peça 32). Naquela oportunidade foi
realizada a análise da resposta às diligências promovida por esta Secretaria.
13.Por meio do Ofício 1914/2018-TCU/Secex-TCE, de 1/10/2018 (peça 24), o Núcleo Estadual do
Ministério da Saúde do Amazonas apresentou, tempestivamente, as seguintes informações e/ou
esclarecimentos, constantes da peça 27:
- cópia das justificativas apresentadas à equipe de fiscalização pelos seguintes gestores: José Thomé
Filho (peça 27, p. 21-28), Amaro da Silva Dantas (peça 27, p. 3) e Wanderlan da Silva Ramalho (peça 27,
p. 30-35);
413
Responsável Processos
Amaro da Silva Não há
Dantas (CPF
004.605.674-20)
Sr. José Thomé Filho 002.662/2018-3, 002.663/2018-0,
(CPF 031.612.692- 019.699/2017-4, 019.700/2017-2,
68) 026.751/2016-0 e 006.591/2013-2
(situação: abertos).
EXAME TÉCNICO
Caracterização das irregularidades geradoras do dano ao erário
21.Extrai-se da situação sintetizada na seção ‘histórico’ desta instrução que o tomador de contas
414
dispõe o art. 70, parágrafo único, da Constituição Federal, bem assim o art. 93 do Decreto-Lei 200/1967
c/c o art. 66 do Decreto 93.872/1986, a comprovação compete exclusivamente ao gestor dos recursos. O
parágrafo único do art. 70 da Constituição Federal determina que ‘prestará contas qualquer pessoa física
ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e
valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza
pecuniária’. No plano infraconstitucional, o Decreto-lei 200/1967 corporifica o aludido princípio no art.
93.
31.Cabe ressaltar que a responsabilização dos agentes públicos integrantes da relação processual
desta TCE é compatível com o entendimento firmado pelo TCU no item 9.3.3 do Acórdão 1.072/2017-
TCU-Plenário, de relatoria do Ministro Bruno Dantas, segundo o qual o dano ao erário deve ser restituído
ao FNS pelos gestores:
‘9.3.3. tratando-se de débito decorrente de dano ao erário propriamente dito, cabe ao gestor
responsável pela irregularidade a obrigação de devolver os recursos, visto que, nessas situações, não há
evidências de que eles tenham sido aplicados em prol de alguma finalidade pública, devendo a
recomposição ser feita ao Fundo Nacional de Saúde, em respeito ao disposto no art. 2º, inciso VII, do
Decreto 3.964/2001 combinado com o art. 33, § 4º, da Lei 8.080/1990.’
32.Considerando os ilícitos acima identificados, a imputação de responsabilidade atende aos
pressupostos estabelecidos na jurisprudência desta Corte de Contas. Com efeito, há elementos para
individualizar a conduta, o nexo de causalidade entre esta e a irregularidade geradora do dano e está
caracterizada a atuação, no mínimo culposa, do responsável, conforme resumido na matriz de
responsabilização anexa a esta instrução e a seguir demonstrado.
33.Na fase interna desta TCE foram apontados como responsáveis o ex-secretário municipal de
saúde e o ex-prefeito. Em suas justificativas apresentadas à equipe do Denasus (peça 11, p. 6), o ex-
secretário de saúde declarou que não movimentava os recursos da área da Saúde, e essa movimentação
era realizada pelo então prefeito. Em sua defesa, o ex-secretário municipal de saúde afirmou jamais ter
assinado qualquer cheque, bem assim de que nunca teve acesso às senhas das contas do FMS, talões de
cheques e prestações de contas.
34.Em primeira análise, portanto, encontram-se elementos probatórios nos autos que autorizam a
responsabilização do Sr. José Thomé Filho pelos débitos relativos aos recursos transferidos pelo FNS ao
Fundo Municipal de Saúde de Autazes/AM no exercício de 2008.
35.O prefeito municipal pode vir a responder por irregularidades na aplicação de recursos do
Sistema Único de Saúde (SUS) caso delas participe ativamente. Encontram-se na jurisprudência desta
Corte diversos julgados nessa direção, podendo ser citados os Acórdãos 6.347/2013 - TCU -1ª Câmara -
Relator Min. José Múcio Monteiro, 704/2013 – TCU - 2ª Segunda Câmara – Rel. Min. André de Carvalho
e 284/2014-1ª Primeira Câmara – Relator Min. José Múcio Monteiro.
36.Na instrução técnica precedente (peça 32) fora apontado que havia fortes indícios de
culpabilidade do referido agente, uma vez que deveria ter dado cumprimento ao dever de prestar contas,
demonstrando execução físico-financeira dos recursos em conformidade com as normas aplicáveis e que
fossem atingidos os objetivos fixados nas normas regentes do programa e no planejamento das ações do
SUS no município.
37.Também naquela instrução técnica, foi apontado que não havia elementos probantes suficientes
nos autos que permitissem a responsabilização do Sr. Amaro da Silva Dantas (peça 27, p. 3), então
secretário municipal de saúde, seja por conduta comissiva ou omissiva.
38.Assim, na instrução técnica precedente foi proposta a citação do Sr. José Thomé Filho (peça 32).
Citação realizada
39.Em cumprimento ao Despacho do Sr. Secretário da Secex-TCE (peça 34), foi promovida a
citação do Sr. José Thomé Filho (CPF: 031.612.692-68), mediante o Ofício 2132/2019-TCU/Secex-TCE,
de 30/4/2019 (peça 36), o qual foi recebido em 16/5/2019, conforme A.R. (peça 37).
40.Em 30/5/2019, o responsável solicitou prorrogação do prazo para apresentar alegações de defesa
(peças 38 e 39), a qual foi concedida em 3/6/2019 pela Secretaria de Gestão de Processos (peça 40).
416
41.O Sr. José Thomé Filho tomou ciência do ofício que lhe foi remetido, conforme documento
constante da peça 37, tendo apresentado, tempestivamente suas alegações de defesa, conforme
documentação integrante da peça 41.
42.O responsável foi ouvido em decorrência da irregularidade:
a.1) Irregularidade: Não comprovação da boa e regular aplicação dos recursos repassados pela
União, em face da não apresentação de documentos comprobatórios de despesas realizadas com recursos
financeiros repassados, na modalidade fundo a fundo, pelo Ministério da Saúde à Prefeitura Municipal de
Saúde de Autazes/AM, no exercício de 2008, à conta do Programa de Assistência Farmacêutica Básica,
evidenciado na constatação 337450 do Relatório de Auditoria do Denasus n. 14723;
a.2) Conduta: Não demonstrar a boa e regular aplicação de recursos do SUS dos valores recebidos
do Fundo Nacional de Saúde pela Prefeitura Municipal de Autazes/AM, à conta do Programa de
Assistência Farmacêutica Básica, no exercício 2008, em face da não comprovação documental e
atendimento das normas que justificassem os pagamentos realizados;
a.3) Dispositivos violados: ao art. 37, caput, c/c o art. 70, parágrafo único, da Constituição da
República Federativa do Brasil, art. 93 do Decreto-lei 200/1967, art. 66 do Decreto 93.872/1986, arts. 60
a 64 da Lei 4.320/1964.
Alegações de defesa apresentadas
43.As alegações de defesa apresentadas pelo responsável foram as seguintes, em síntese (peça 41, p.
1-2):
a) Argumento 01: a citação veiculou afirmação de que não houve apresentação de documentos
comprobatórios de despesas realizadas com recursos financeiros repassados pelo MS à P.M. de
Autazes/AM em 2008, à conta do Programa de Assistência Farmacêutica Básica:
1. A indigitada Citação relata que não houve apresentação de documentos comprobatórios de
despesas realizadas com recursos financeiros repassados pelo Ministério da Saúde à Prefeitura de
Autazes/AM no exercício de 2008, à conta do Programa de Assistência Farmacêutica Básica.
b) Argumento 02: o responsável aponta que não obteve cópia dos documentos solicitados junto à
Prefeitura Municipal:
2. Conforme foi mencionado na página 3 do TC 029.845/2017-3, ao término do meu mandato em
31.12.2008, foi entregue toda a documentação referente a minha gestão ao meu sucessor. Ocorre que já
fiz várias solicitações a Prefeitura requerendo cópia da documentação e não fui atendido e nem tão pouco
houve justificativas para tal negação. O que se sabe é que a documentação deixada no arquivo municipal
foi extraviada por falta de zelo, deterioração, por exposição à chuva, umidade traças e cupins, não
havendo zelo por parte das gestões passadas com o arquivo municipal. Desta forma me sinto
impossibilitado de apresentar os documentos comprobatórios referentes às despesas efetuadas com os
Recursos da Assistência Farmacêutica.
c) Argumento 03: o responsável informa sobre menção à execução dos recursos da Assistência
Farmacêutica em reunião do Conselho Municipal de Saúde, bem assim aponta que no relatório de gestão
do exercício de 2008 da Secretaria Municipal de Saúde restou registrado que houve o alcance da meta
planejada, concernente à distribuição mensal de medicamentos para as unidades básicas de saúde:
3. No oportuno e objetivando esclarecer que não houve má fé no uso na aplicação dos recursos e
nem omissão no dever de prestar contas, apresento os documentos abaixo:
a) Cópia da Ata de 20.03.2008 do Conselho Municipal de Saúde (anexo I), onde faz citação da
destinação a execução dos recursos da Assistência Farmacêutica, totalizando o valor de R$ 112.403,25
(cento e doze mil, quatrocentos e doze reais e vinte e cinco centavos) objetivando a finalidade da compra
de medicamentos;
d) Argumento 04: o responsável aponta que no item 4.8 do relatório de gestão da Secretaria
Municipal de Saúde, referente ao exercício de 2008, consta a realização de aquisição de medicamentos e
insumos para serem distribuídos mensalmente às unidades básicas de saúde:
b) Cópia do Relatório de Gestão do Exercício de 2008 (anexo II), onde apresenta no item 4.8
Prioridades Estabelecidas e Executadas segundo a Matriz de Programação, a realização da aquisição de
417
medicamentos e insumos para serem distribuídos mensalmente para as Unidades Básicas de Saúde, ou
seja, o que foi planejado foi executado, dentre outras ações realizadas no período de 2008.
Análise das alegações de defesa
44.Em relação ao Argumento 01, o defendente aponta que a citação mencionou que não houve
apresentação de documentos comprobatórios quanto aos gastos realizados à conta do Programa de
Assistência Farmacêutica Básica, em face dos recursos repassados em 2008. De fato, o ofício de citação
deu a entender isso, porém o teor da Constatação n. 337450 do Relatório de Auditoria Denasus n. 14723
foi no sentido de não disponibilização, em sua totalidade, da documentação comprobatória da execução
financeira do exercício de 2008 (peça 12, p. 9-12).
45.Em relação ao Argumento 02, o defendente aponta que não lhe foi franqueado acesso à
documentação pela Prefeitura Municipal de Autazes/AM, documentação essa que assevera ter entregue ao
seu sucessor, no final de seu mandato, em 2008. Dessa feita, o responsável reapresenta em 2019
justificativa com o mesmo teor da apresentada à equipe de fiscalização do Denasus em 7/11/2014 (peça
27, p. 21-28), justificativas essas que também foram registradas na instrução técnica precedente (peça 32,
p. 3) e que estão reproduzidas no item 3.3 desta instrução técnica.
46.Assim, apesar das justificativas apresentadas pelo responsável à equipe de fiscalização do
Denasus em 7/11/2014 (peça 27, p. 21-28), apesar de a citação do responsável por este Tribunal ter sido
efetivada em 16/5/2019 (peça 37), as alegações de defesa do responsável, datadas de 17/6/2019 (peça 41),
não consta dos autos eventual negativa da Prefeitura Municipal de Autazes/AM em fornecer documentos
relacionados às irregularidades por conta de alguma solicitação do ex-gestor para atender à demanda da
equipe de fiscalização do Denasus realizada em 13/10/2014 (peça 27, p. 21) ou à citação do TCU,
efetivada em 16/5/2019 (peças 36 e 37). De igual modo, também inexiste neste processo notícia de
eventual ação judicial movida pelo responsável para obter provas de defesa. Por essa razão, não se acolhe
a alegação de defesa apresentada, quanto ao Argumento 02.
47.Em face das alegações de defesa apresentadas, quanto ao Argumento 02, foi realizada consulta
na internet, onde se obteve a informação que o responsável disputou a eleição de 2012 para o cargo de
prefeito municipal de Autazes/AM (gestão: 2013-2016), porém não foi eleito, ficando em 2º lugar, tendo
sido eleito o Sr. Raimundo Wanderlan Penalber Sampaio (Disponível em:
http://g1.globo.com/am/amazonas/apuracao/autazes.html. Acesso em: 28 nov. 2019). No resultado dessa
eleição consta também que foi eleito com maior votação para a Câmara de Vereadores o Sr. Thomé Neto.
Posteriormente, o mandato do Sr. Wanderlan foi cassado por decisão judicial, sendo que um dos recursos
relativos à cassação foi objeto de decisão pela 1ª Turma do STF em 30/9/2014, no Ag. Reg. na medida
cautelar na ação cautelar 3.541 - Amazonas (Disponível em:
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=6937114. Acesso em: 28 nov.
2014). Assim, em 12/11/2014 tomou posse como prefeito municipal de Autazes/AM o candidato
posicionado em 2º lugar nas eleições de 2012, o Sr. José Thomé Filho, consoante notícia de 27/11/2014
(Disponível em: http://www.reporter-am.com.br/prefeito-de-autazes-poe-a-policia-nas-ruas-para-conter-
com-violencia-manifestacoes-populares/. Acesso em: 28 nov. 2019). Tal situação do responsável no cargo
de prefeito perdurou pelo menos até 3/7/2015, quando assinou o Decreto n. 136/2015/PMA-GP, pelo qual
nomeou os coordenadores, geral, adjuntos e comitê executivo da VI Conferência Municipal de Saúde, a
qual seria realizada em 3 e 4 de agosto de 2015 (Disponível em:
http://www.radaroficial.com.br/d/4701597662183424. Acesso em 28 nov. 2019).
48.Em relação ao Argumento 03, o defendente trouxe cópia de Ata do Conselho Municipal de
Saúde, datada de 20/3/2008 (peça 41, p. 3-4). Trata-se de uma mera comunicação de que iriam ser
repassados recursos federais ao município para a execução do Programa de Assistência Farmacêutica
Básica. Posteriormente, em 4/4/2008, foram emitidas 3 ordens bancárias pelo FNS, relativas as 3
primeiras parcelas dos repasses daquele exercício para a Prefeitura Municipal para a execução do
programa governamental, situação essa apontada no Quadro 1 desta instrução técnica (vide item 2). Por si
só, esse argumento não tem o condão de estabelecer nexo causal entre recursos repassados e despesas
realizadas. Dessa feita, não se acolhe o Argumento 03, constante das alegações de defesa do responsável.
418
49.Em relação ao Argumento 04, o responsável aponta que no Relatório de Gestão da Secretaria
Municipal de Saúde, relativo ao exercício de 2008, o qual foi subscrito pelo Sr. Karém Simão Martins, na
condição de Sub-secretário de Saúde, consta que houve a realização da aquisição de medicamentos e
insumos para serem distribuídos mensalmente para as Unidades Básicas de Saúde, consoante o item ‘4.8
Prioridades Estabelecidas e Executadas segundo a Matriz de Programação’ daquele documento (peça 41,
p. 20-21). De fato, no referido relatório nota-se que dentre as ações planejadas para o exercício de 2008,
essa foi uma das executadas, estando assinalado com um ‘x’ que se deu com recursos federais, com
recursos estaduais e com recursos municipais.
50.Por outro lado, as cópias dos cheques sacados contra a conta corrente n. 6758-x, da agência n.
3563 do Banco do Brasil (peça 29) demonstram que o favorecido foi a Prefeitura Municipal de
Autazes/AM. A referida conta corrente foi a conta bancária para a qual o FNS remeteu os repasses
relativos aos recursos para a execução do Programa de Assistência Farmacêutica Básica (bloco da
Assistência Farmacêutica) (vide item 2 desta instrução técnica). A pessoa que movimentava a referida
conta corrente era o responsável, consoante informação prestada pelo Banco do Brasil (peça 28).
51.A prova documental mencionada no Argumento 04 (Relatório de Gestão) é de caráter genérico e
panorâmico, pois não há especificação de quantidades, descrição dos medicamentos adquiridos e/ou
fornecedores, portanto não condizente com o disposto nos arts. 60 a 64 da Lei 4.320/1964.
52.À vista das informações acima expostas, relativas aos documentos trazidos aos autos pelo
responsável (peça 41), com as informações relativas à conta bancária (peça 29), não se firma o nexo
causal entre recursos repassados pelo FNS e despesas efetivadas com aquisição de medicamentos no
exercício de 2008. Por essa razão, não há como acolher o Argumento 04, constante das alegações de
defesa do responsável.
53.Por fim, cabe mencionar que foi realizada pesquisa quanto ao signatário do Relatório de Gestão
(peça 41, p. 5-23). Apurou-se que o nome que consta no carimbo ‘Karém Simão Martins’ aposto no
Relatório de Gestão do exercício de 2008 (peça 41, p. 21) é em realidade do Sr. Karan Simão Martins, o
qual teve o nome alterado em 2012 por decisão judicial no âmbito do Processo Cível n. 0001971-
33.2012.804.0006, publicada no Diário de Justiça do Amazonas, edição de 20/7/2012 (Disponível em:
http://www.radaroficial.com.br/d/5309245029351424. Acesso em: 27 nov. 2019), sendo que
anteriormente o mesmo assinava ‘Karen Simão Martins’. No cadastro de pessoas físicas da RFB, consta o
registro do Sr. Karan Simão Martins, sob o nº 582.871.082-68. Além disso, na folha de rosto do Relatório
de Gestão aparece protocolo de registro junto ao TCE-AM em 15/9/2009 (peça 41, p. 5).
54.Ante todo o exposto, entende-se que as explicações fornecidas pelo responsável, associadas às
provas coligidas aos autos, permitem acatar parcialmente as alegações de defesa, em face do acolhimento
do Argumento 01 e do não acolhimento dos Argumentos 02, 03 e 04.
55.Desse modo, não restou demonstrada a boa e regular aplicação dos valores recebidos do Fundo
Nacional de Saúde pela Prefeitura Municipal de Autazes/AM (CNPJ 04.477.642/0001-37), à conta do
Programa de Assistência Farmacêutica Básica, no exercício 2008, em face da não comprovação
documental e atendimento das normas que justificassem os pagamentos realizados. Isso posto, propõe-se
a condenação em débito do Sr. José Thomé Filho (CPF 031.612.692-68), na condição de Prefeito
Municipal de Autazes/AM (gestão: 1/1/2005 a 31/12/2008), em razão de irregularidades na aplicação de
recursos do SUS, apuradas em fiscalização do Denasus, da qual resultou o Relatório de Auditoria
Denasus n. 14.723.
Verificação do Prazo de Prescrição da Pretensão Punitiva
56.Observa-se ter ocorrido a prescrição da pretensão punitiva por parte do TCU que, nos termos do
entendimento firmado no Acórdão 1441/2016-TCU-Plenário (Rel. Ministro Benjamin Zymler),
subordina-se ao prazo geral de prescrição indicado no art. 205 do Código Civil, qual seja, dez anos
contados a partir da data de ocorrência da irregularidade sancionada, nos termos do art. 189 do Código
Civil. As irregularidades discutidas nesta TCE ocorreram no exercício de 2008, portanto há mais de 10
anos.
57.Além disso, não ocorreu a suspensão do prazo prescricional antes de expirados os 10 anos desde
419
o cometimento das irregularidades. O despacho que ordenou a citação ocorreu em 29/4/2019 (peça 34).
CONCLUSÃO
58.Nesta instrução técnica foram analisadas as alegações de defesa oferecidas pelo Sr. José Thomé
Filho (itens 43 a 52 desta instrução técnica). Foram acatadas parcialmente as alegações de defesa
apresentadas pelo responsável (item 54).
59.A irregularidade atribuída ao Sr. José Thomé Filho (CPF 031.612.692-68), na condição de
Prefeito Municipal de Autazes/AM (gestão: 1/1/2005 a 31/12/2008), foi a seguinte (peça 36):
- Não comprovação da boa e regular aplicação dos recursos repassados pela União, em face da não
apresentação de documentos comprobatórios de despesas realizadas com recursos financeiros repassados,
na modalidade fundo a fundo, pelo Ministério da Saúde à Prefeitura Municipal de Saúde de Autazes/AM,
no exercício de 2008, à conta do Programa de Assistência Farmacêutica Básica, evidenciado na
constatação 337450 do Relatório de Auditoria do Denasus n. 14723;
60.Inexistem nos autos elementos que demonstrem sua boa-fé ou a ocorrência de outros excludentes
de culpabilidade. Propõe-se que suas contas sejam julgadas irregulares e que o responsável seja
condenado em débito (item 55).
61.Por fim, propõe-se a exclusão do Sr. Amaro da Silva Dantas (CPF 004.605.674-20) da relação
processual (item 28).
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
62.Diante do exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:
a) excluir o Sr. Amaro da Silva Dantas (CPF 004.605.674-20) da relação processual (item 28);
b) acatar parcialmente as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. José Thomé Filho (CPF
031.612.692-68), em face do acolhimento do Argumento 01 e do não acolhimento dos Argumentos 02, 03
e 04 (itens 43 a 52 e 54);
c) com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas ‘b’ e ‘c’, e § 2º da Lei 8.443/1992 c/c
os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com arts. 1º, inciso I, 209, incisos III e IV, e § 5º, 210 e 214,
inciso III, do Regimento Interno, que sejam julgadas irregulares as contas do Sr. José Thomé Filho (CPF
031.612.692-68), na condição de Prefeito Municipal de Autazes/AM (gestão: 1/1/2005 a 31/12/2008), e
condená-lo ao pagamento das quantias a seguir especificadas, com a fixação do prazo de quinze dias, a
contar das notificações, para comprovar, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea ‘a’, do Regimento
Interno), o recolhimento das dívidas aos cofres do Fundo Nacional de Saúde, atualizadas monetariamente
e acrescidas dos juros de mora, calculados a partir das datas discriminadas, até a data dos recolhimentos,
na forma prevista na legislação em vigor (item 55):
VALOR ORIGINAL (R$) DATA DA OCORRÊNCIA
30.655,71 04/04/2008
10.218,23 15/05/2008
10.218,23 17/06/2008
10.218,23 18/07/2008
10.218,23 04/08/2008
10.218,23 19/09/2008
10.218,23 15/10/2008
10.218,23 10/11/2008
10.218,23 24/12/2008
Valor atualizado do débito, com juros de mora, até 28/11/2019: R$ 310.547,56 (peça 43)
d) autorizar também, desde logo, se requerido, com fundamento no art. 28, inciso I, da Lei 8.443, de
1992 c/c o art. 217, §§ 1º e 2º do Regimento Interno, o parcelamento da(s) dívida(s) em até 36 parcelas,
incidindo sobre cada parcela, corrigida monetariamente, os correspondentes acréscimos legais fixando-lhe
o prazo de quinze dias, a contar do recebimento da notificação, para comprovar perante o Tribunal o
recolhimento da primeira parcela, e de trinta dias, a contar da parcela anterior, para comprovar os
recolhimentos das demais parcelas, devendo incidir sobre cada valor mensal, atualizado monetariamente,
420
os juros de mora devidos, no caso do débito, na forma prevista na legislação em vigor, alertando os
responsáveis de que a falta de comprovação do recolhimento de qualquer parcela importará o vencimento
antecipado do saldo devedor, nos termos do § 2º do art. 217 do Regimento Interno deste Tribunal;
e) autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial das
dívidas, caso não atendidas as notificações;
f) encaminhar cópia da deliberação que vier a ser proferida nestes autos à Procuradoria da
República no Estado do Amazonas, nos termos do § 3º do art. 16 da Lei 8.443/1992 c/c o § 7º do art. 209
do Regimento Interno do TCU, para adoção das medidas que entender cabíveis;
g) enviar cópia do Acórdão que vier a ser proferido ao Ministério da Saúde e a responsável, para
ciência, informando que a presente deliberação, acompanhada do Relatório e do Voto que a fundamenta,
está disponível para a consulta no endereço www.tcu.gov.br/acordaos, além de esclarecer que, caso
requerido, o TCU poderá fornecer sem custos as correspondentes cópias, de forma impressa.”
O representante do MP/TCU (peça 47), procurador Rodrigo Medeiros de Lima, concordou, em
essência, com a proposta da unidade instrutiva.
É o relatório.
Proposta de Deliberação
Trata-se de tomada de contas especial instaurada pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS/MS),
originalmente em desfavor dos Srs. Amaro da Silva Dantas e José Thomé Filho, respectivamente
secretário municipal de Saúde e prefeito do município de Autazes/AM (gestão: 1/1/2005 a 31/12/2008),
em razão de irregularidades na aplicação dos recursos do Sistema Único de Saúde (SUS).
Ao longo de 2008, foi transferido o valor de R$ 112.403,25 para a execução do Programa de
Assistência Farmacêutica Básica (bloco da Assistência Farmacêutica) 37.
Em 2014, o Denasus realizou auditoria na Secretaria Municipal de Saúde de Autazes/AM em
relação aos repasses do governo federal para o programa Farmácia Básica no exercício de 2008 38, na qual
constatou a necessidade de devolução dos recursos transferidos em razão da não disponibilização, em sua
totalidade, da documentação comprobatória da execução financeira39.
Conforme apontado na auditoria, a ausência de documentação referente a processos de aquisição de
qualquer insumo ou serviço para a saúde contraria os arts. 60 a 65 da Lei 4.320/64; o art. 70, parágrafo
único, da CF/88; o art. 33, §4º, da Lei 8.080/90; o art. 11 do Decreto 1.651/95 e o art. 26 da Lei
10.180/01.
O Denasus, após ouvir os responsáveis, não acolheu as justificativas apresentadas 40, visto que não
vieram acompanhadas da necessária documentação, e propôs a instauração da devida tomada de contas
especial.
O relatório do tomador de contas especial41 apontou como motivo para a instauração da TCE e
impugnação total das despesas a falta de comprovação da aplicação dos recursos transferidos, apontando
um débito original de R$ 112.403,25 aos dois responsáveis.
Concluída a tomada de contas especial no âmbito do Fundo Nacional de Saúde, o Ministério da
Transparência e Controladoria Geral da União certificou42 a irregularidade das contas, tendo o dirigente
do controle interno concordado com o encaminhamento proposto43 e a autoridade ministerial competente
37 Peça 6, p. 14-27.
38 Peça 12, p. 3.
39 Peça 12, p. 9-12.
40 Peça 11.
41 Peça 15.
42 Peça 17.
43 Peça 18.
421
tomado conhecimento dos fatos, na forma regulamentar, determinando o envio da TCE ao Tribunal44.
No âmbito do Tribunal, diante da falta de informações, a Secretaria de Controle Externo de Tomada
de Contas Especial (Secex-TCE) promoveu o saneamento dos autos45 e concluiu pela necessidade de
citação46 do Sr. José Thomé Filho, prefeito de Autazes/AM, visto que era o único responsável pela
movimentação da conta corrente destinada à gestão dos recursos transferidos, pela seguinte ocorrência:
“Não comprovação da boa e regular aplicação dos recursos repassados pela União, em face da não
apresentação de documentos comprobatórios de despesas realizadas com recursos financeiros repassados,
na modalidade fundo a fundo, pelo Ministério da Saúde à Prefeitura Municipal de Saúde de Autazes/AM,
no exercício de 2008, à conta do Programa de Assistência Farmacêutica Básica, evidenciado na
constatação 337450, constante do Relatório de Auditoria do Denasus nº 14723;”
Devidamente cientificado, o Sr. José Thomé Filho 47 apresentou alegações de defesa48.
O responsável alegou em sua defesa que entregou toda a documentação referente à gestão dos
recursos a seu sucessor e que, após várias solicitações à prefeitura requerendo cópia da documentação,
não foi atendido, possivelmente por falta de zelo e deterioração ocorridas no arquivo municipal.
Limitou-se, ainda, a apresentar a ata do conselho municipal de saúde e o relatório de gestão, que em
nada comprovam a regular aplicação dos recursos.
Com base nos documentos apresentados, a Secex-TCE acolheu parcialmente as alegações do
responsável, por considerar que o ofício de citação apresentou texto diferente da constatação apresentada
pelo Denasus.
Em relação ao débito apontado, no entanto, não vislumbrou elementos que pudessem afastá-lo.
Por fim, a Secex-TCE propôs49 que as contas do responsável fossem julgadas irregulares,
atribuindo-lhe o débito apurado, sem a aplicação da sanção prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992 em
razão de ter ocorrido a prescrição da pretensão punitiva.
O representante do MP/TCU, procurador Rodrigo Medeiros de Lima, endossou o encaminhamento
proposto50, destacando que não caberia a exclusão do Sr. Amaro da Silva Dantas da relação processual,
visto que não foi citado pelo Tribunal.
II
Concordo, em essência, com a análise empreendida pela Secex-TCE, corroborada pelo
representante do MP/TCU, a qual adoto como fundamento para minhas razões de decidir.
Em relação à ausência de comprovação das despesas, os elementos apresentados pelo responsável,
em especial os relacionados ao relatório de gestão, são de caráter genérico, sem especificação de
quantidades, descrição dos medicamentos adquiridos e/ou fornecedores.
Além disso, foram obtidas pela Secex-TCE cópias de cheques sacados contra a conta corrente 6758-
x, da agência 3563 do Banco do Brasil51, conta bancária para a qual o FNS remeteu os repasses relativos à
execução do Programa de Assistência Farmacêutica Básica, cujo favorecido foi o municipal de
Autazes/AM, o que quebra o estabelecimento de nexo de causalidade entre o recebimento e a aplicação
dos recursos.
Em relação ao Sr. Amaro da Silva Dantas, concordo com o afastamento de sua responsabilização,
uma vez que, consoante informação52 prestada pelo Banco do Brasil, apenas o Sr. José Thomé Filho
movimentava aquela conta, não havendo elementos que permitam concluir que o secretário municipal de
44 Peça 19.
45 Peças 20 a 30
46 Peças 32, 33 e 34.
47 Peças 36 e 37.
48 Peça 41.
49 Peças 44, 45 e 46.
50 Peça 47.
51 Peça 29.
52 Peça 28.
422
1. Processo nº TC 029.845/2017-3.
2. Grupo I – Classe II – Assunto: Tomada de Contas Especial.
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Fundo Nacional de Saúde - MS (00.530.493/0001-71).
3.2. Responsáveis: Amaro da Silva Dantas (004.605.674-20); José Thomé Filho (031.612.692-68).
4. Entidade: Município de Autazes/AM.
5. Relator: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Rodrigo Medeiros de Lima.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (Secex-TCE).
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo Fundo
Nacional de Saúde (FNS/MS), em desfavor dos Srs. Amaro da Silva Dantas e José Thomé Filho, em
razão de irregularidades na aplicação dos recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) no exercício de
2008.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, ante
as razões expostas pelo relator, em:
9.1. rejeitar as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. José Thomé Filho;
9.2. julgar irregulares, com fundamento nos arts. 1º, I, e 16, III, “b” e “c”, da Lei 8.443/1992 c/c os
arts. 19 e 23, III, da mesma lei, e com arts. 1º, I, e 209, II e III, e 214, III, do RI/TCU, as contas do Sr.
José Thomé Filho e condená-lo ao pagamento das quantias abaixo especificadas, com a fixação do prazo
de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante este Tribunal (art. 214, III, “a”,
do RI/TCU), o recolhimento da dívida aos cofres do Fundo Nacional de Saúde, atualizada
monetariamente e acrescida dos juros de mora, calculados a partir das datas discriminadas, até a data do
recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor:
n.173, de 6/1/2009, Fav Valéria Patrícia Pinheiro De Oliveira creditado na ag. 3546-7 C/C 28767-9". Não
há extrato da conta citada comprovando a entrada do recurso público, não é possível identificar o destino
do recurso e quem é Francisco Porto descrito no extrato. Assim, tal documento comprobatório não é
suficiente (peça 1, p. 171-173 e 225) - item 4.1 da Nota Técnica de Análise Financeira 504/2014).
Notificados, o gestor e a entidade convenente, sobre a reprovação da prestação de contas, em
25/9/2014 e 25/10/2014 (peça 1, p. 171-173 e 225), respectivamente, apresentaram respostas apontando a
ocorrência do bis in idem, argumentando que havia processo no âmbito deste Tribunal tratando do
convênio em tela (TC 009.888/2011-0), para ao final solicitarem o sobrestamento do processo até
deliberação deste Tribunal (peça 1, p. 226-227). O Ministério do Turismo indeferiu o sobrestamento e
emitiu notificação, em 7/4/2015, informando o presidente da entidade convenente (peça 1, p. 228-229).
Ao final dos exames promovidos pelo Ministério do Turismo, em sede de tomada de contas
especial, foi emitido o Relatório de TCE 313/2015, em 25/5/2015 (peça 1, p. 244-248), confirmando as
irregularidades apontadas na Nota Técnica de Reanálise Financeira 197/2014, concluindo pela não
comprovação do valor total repassado de R$ 200.000,00.
No âmbito desta Corte de Contas, a instrução inicial, de 28/3/2016, ante as irregularidades ali
relatadas, propôs a realização de citação solidária do gestor e da entidade convenente (peça 5), entretanto,
o diretor desta unidade técnica definiu, preliminarmente, em despacho de 3/5/2016 (peça 6), pela
expedição de diligência à CGU, cumprida mediante ofício 0325/2016-TCU/SECEX-SE (peça 7), de
11/5/2016, conforme aviso de recebimento de 24/5/2016 (peça 9), para carrear aos autos cópia da
documentação constante em papéis de trabalho que embasaram a constatação referente à divergência
entre os valores contratados pela ASBT com a empresa Valéria Patrícia Pinheiro de Oliveira Azevedo -
ME, e os efetivamente recebidos a título de cachê pelas bandas Valneijós, Pedro Henrique e Gabriel, Se
Ligue e Aviões do Forró, conforme tabela a seguir, constante do Relatório de Demandas Externas (RDE)
00224.001217/2012-54, na parte referente ao Convênio 1.460/2008 (Siafi/Siconv 701741; evento: ‘Brito
Folia 2008’), preferencialmente de forma digitalizada, em arquivos de extensão .pdf:
VALOR INFORMADO DO
DIFEREN
CACHÊ (R$)
ÇA DE
BANDAS PELO
PELA CACHÊ
REPRESENTAN
ASBT (R$)
TE DA BANDA
Banda Valneijós 40.000,00 9.000,00 31.000,00
Pedro Henrique e 14.000,00 6.000,00
Gabriel 20.000,00
Banda Se Ligue 20.000,00 14.000,00 6.000,00
Banda Aviões do 110.000,00 33.000,00
Forró 143.000,00
TOTAL (GERAL) 223.000,00 147.000,00 76.000,00
Em resposta à diligência, a CGU encaminhou, em 3/6/2016, as documentações constantes da peça
8, a seguir identificadas: a) contrato 015/2008 celebrado entre a ASBT e a empresa Valéria Patrícia
Pinheiro de Oliveira Azevedo – ME (peça 8, p. 3-7), extrato bancário da conta especifica (peça 8, p. 8),
nota fiscal 173 no valor de R$ 223.000,00 (peça 8, p. 9), plano de trabalho (peça 8, p. 10-14), orçamento
apresentado pela empresa contratada (peça 8, p. 15), relatório de execução físico-financeira (peça 8, p.
30), relatório de pagamentos efetuados (peça 8, p. 31); b) recibo apresentado pelo representante da banda
‘Se Ligue’ comprovando o recebimento de cachê no valor de R$ 14.000,00 em 21/12/2008 (peça 8, p.
16); c) peça do processo judicial 6311.27.2009, subscrita por representante da banda ‘Pedro Henrique e
Gabriel’, informando e apresentando recibo do cachê recebido pela banda no evento em apreço em
21/12/2008, no valor de R$ 14.000,00 (peça 8, p. 17-18); d) peça do processo judicial 6311.27.2009,
subscrita por representante da banda ‘Aviões do Forró’ em 20/6/2013, informando e apresentando recibo,
de 21/12/2008, do cachê recebido pela banda no evento em apreço, no valor de R$ 110.000,00 (peça 8, p.
19-23); e) peça do processo judicial 6311.27.2009, subscrita por representante da banda ‘Valneijos’,
426
informando ter recebido cachês, oriundos dos contratos 15/2008 e 01/2009, no valor total de R$
18.000,00, recebidos pela banda no evento em apreço e em outro posterior, subentendendo-se que foram
cachês iguais no valor de R$ 9.000,00 (peça 8, p. 24-27).
Ao final dos exames promovidos pelo Ministério do Turismo, em sede de tomada de contas
especial, foi emitido o Relatório de TCE 313/2015, em 25/5/2015 (peça 1, p. 244-248), confirmando as
irregularidades apontadas na Nota Técnica de Reanálise Financeira 197/2014, concluindo pela não
comprovação do valor total repassado de R$ 200.000,00.
Ante às irregularidades relatadas nos autos, propôs a realização de citação solidária do gestor e da
entidade convenente.
O diretor da unidade técnica pronunciou-se, preliminarmente, em despacho de peça 6, pela
expedição de diligência à CGU.
Segundo o Relatório de Demandas Externas (RDE) 00224.001217/2012-54 (peça 1, p. 141-167 e
184-224), o objeto conveniado foi integralmente executado, conforme plano de trabalho, tendo sido
efetuado pagamentos no valor total de R$ 223.000,00 à empresa Valéria Patrícia Pinheiro de Oliveira
Azevedo - ME (CNPJ 02.332.448/0001-38), conforme contrato 15/2008, decorrente da inexigibilidade de
licitação 015/2008, pela realização dos seguintes shows:
Atração Valor (R$) Data da realização Duração do
show
Banda Valneijós 40.000,00 21/12/2008 2:00
Pedro Henrique e 21/12/2008 2:00
Gabriel 20.000,00
Banda Se Ligue 20.000,00 21/12/2008 2:00
Banda Aviões do Forró 143.000,00 21/12/2008 2:00
Total (R$) 223.000,00
Concluiu o exame da instrução de peça 10 que houve nos autos da presente tomada de contas
especial documento/informação que justifica a imputação de débito no valor de R$ 76.000,00, em
decorrência da divergência entre os valores contratados e os efetivamente recebidos pelas bandas
musicais, a título de cachês, relatada pelo RDE 00224.001217/2012-54.
Nesse sentido, foi sugerida a atribuição da responsabilidade solidária do Sr. Lourival Mendes de
Oliveira Neto e da Associação Sergipana de Blocos de Trio, imputando-se a eles o débito histórico de
R$ 68.161,44, referente às despesas não aprovadas, proporcionalmente ao total dos recursos repassados
por meio do Convênio 1.460/2008 (Siconv 701741) utilizado para pagamentos efetuados a Valéria
Patrícia Pinheiro de Oliveira Azevedo - ME, da seguinte forma:
Valor total do convênio: Despesa reprovada:
%
R$ 223.000,00 R$ 76.000,00
R$
Valor Concedente: 89,69% 68.161,44
200.000,00
R$
Valor Contrapartida: 10,31% 7.838,56
23.000,00
Ao final, o exame sugeriu citar o Sr. Lourival Mendes de Oliveira Neto, presidente da ASBT, e a
Associação Sergipana de Blocos de Trio, para que apresentassem alegações de defesa e/ou recolhessem,
solidariamente, aos cofres do Tesouro Nacional, a quantia histórica de R$ 68.161,44 (30/12/2008), em
face da impugnação parcial das despesas do Convênio 1.460/2008 (Siconv 701741), em virtude da
divergência entre os valores contratados e os efetivamente recebidos pelas bandas a título de cachês.
A instrução de peça 24 examinou as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. Lourival Mendes de
Oliveira Neto e pela Associação Sergipana de Blocos de Trio (ASBT), em razão da impugnação parcial
das despesas realizadas com os recursos do Convênio 1.460/2008 (Siconv 701741). Como as alegações de
defesa foram as mesmas para os responsáveis, o exame foi feito de forma única.
Naquela ocasião, concluiu-se pela rejeição das alegações de defesa apresentadas, tendo sido
proposto julgar irregulares as contas do Sr. Lourival Mendes de Oliveira Neto, nos termos dos arts. 1º,
inciso I, 16, inciso III, alínea ‘c’, da Lei 8.443/1992, c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com
arts. 1º, inciso I, 209, inciso III, 210 e 214, inciso III, do Regimento Interno, condená-lo, solidariamente
com a Associação Sergipana de Blocos de Trio, ao pagamento da quantia de R$ 68.161,44 aos cofres do
Tesouro Nacional, bem com aplicar individualmente ao Sr. Lourival Mendes de Oliveira Neto, presidente
da ASBT, e à Associação Sergipana de Blocos de Trio a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992 c/c
os art. 267 do Regimento Interno do TCU.
Em Parecer do Parquet de peça 27, o MPTCU não concordou com a proposta desta Unidade
Técnica e se manifestou pela restituição dos autos a esta Secretaria para a realização de nova citação.
Em Despacho do Ministro Relator Weder de Oliveira (peça 29), há referências às propostas de
primeira e segunda instrução, bem como do Parecer do Parquet (peça 27). O processo foi mandado de
volta para citação pelo valor integral transferido no ajuste.
Pronunciamento da Unidade (peça 31), relativamente aos itens 23 e 24 do Despacho ministerial,
registra:
‘2. No âmbito desta Unidade Técnica, todavia, verificou-se que o ‘Sr. Francisco Porto’ mencionado
no trecho acima, na verdade, trata-se da agência do Banco do Brasil n. 3546 (na qual foram
movimentados os recursos avença) e não de possível beneficiário do pagamento em questão.
3. Diante disso, em consonância com o parágrafo 24 do despacho à peça 29 (transcrito acima),
deverá ser realizada a citação da empresa Valéria Patrícia Pinheiro de Oliveira Azevedo- ME (V&M
Eventos) em solidariedade à ASBT e ao Sr. Lourival Mendes de Oliveira Neto.
4. Assim, encaminhem-se os autos ao Serviço de Administração desta Secex para a expedição dos
ofícios de citação, conforme a seguir, desconsiderando-se o pronunciamento à peça 30:
a) Responsáveis solidários: Lourival Mendes de Oliveira Neto (CPF 310.702.215-20), Associação
Sergipana de Blocos de Trio (CNPJ 32.884.108/0001-80) e Valéria Patrícia Pinheiro de Oliveira Azevedo
(CNPJ 02.332.448/0001-38).
b) Irregularidade: O débito é decorrente da não comprovação de que os artistas/bandas foram
contratados por preços de mercado, exigência contida no item ‘h’ da parte II da cláusula terceira e da
cláusula oitava do convênio MTur/ASBT 701741/2008, e no art. 45 e 46, II, da Portaria Interministerial
127/2008, bem como pela existência de evidências de superfaturamento, correspondente à diferença ente
os valores pagos às empresas que se apresentaram como representantes exclusivos e os valores recebidos
pelos artistas/bandas, valores presumidos como preços de mercado em razão do contexto em que
ocorreram as contratações diretas e da precariedade jurídica dos instrumentos de representação.
c) Valor do débito:
0
Banda Aviões do 143.000,0 110.000, 33.000,0
Forró 0 00 0
Total (R$) 223.000,0 147.000, 76.000,0
0 00 0
A atribuição da responsabilidade solidária dos responsáveis, imputando-se a eles o débito histórico
de R$ 68.161,44, referente às despesas não aprovadas, foi proporcionalmente ao total dos recursos
repassados por meio do Convênio 1.460/2008 (Siconv 701741), utilizado para pagamentos efetuados a
Valéria Patrícia Pinheiro de Oliveira Azevedo - ME, da seguinte forma:
Valor total do convênio: Despesa reprovada:
%
R$ 223.000,00 R$ 76.000,00
R$
Valor Concedente: 89,69% R$ 68.161,44
200.000,00
Valor Contrapartida: R$ 23.000,00 10,31% R$ 7.838,56
Valor original do débito foi R$ 68.161,44.
Assim, rejeitam-se as alegações de defesa dos responsáveis, com proposta de julgamento pela
irregularidade das contas, imputação do respectivo débito e da multa do art. 57 da Lei 8.443/1992 c/c os
art. 267 do Regimento Interno do TCU.
Alegações de defesa da empresa Valéria Patrícia Pinheiro de Oliveira Azevedo - ME
Inicialmente a defendente requer ‘seja reconhecida a prescrição em face da Requerida nos termos
dos artigos 205 e seguintes do Código Civil’.
A defendente alega que detinha a exclusividade dos artistas/Bandas para aquela data, razão pela
qual nenhuma outra empresa poderia vender qualquer show da banda sob pena de descumprimento
contratual entre a banda e a defendente. Que, dessa forma, a defendente foi procurada e apresentou
orçamento e carta de exclusividade da banda, contendo todos os requisitos exigidos pelo MTur, através da
ASBT, tais como: data da apresentação, local, duração da apresentação, papel timbrado, com o preço
praticado no mercado para todo custeio da apresentação da banda (principal e acessórios), integrante da
única rubrica contratual com a banda.
Aduz que a proposta fora encaminhada, através da ASBT para ser avaliada, aprovada e validada
pelo MTur, antes da formalização do contrato com a Associação de Blocos. De pronto foi aceita e, em
consequência disto, foi realizado o evento com todos os requisitos e documentações exigidas á época,
exigências essas, advindas do MTur por intermédio da Associação de Blocos.
Alega ainda que houve a realização do evento em conformidade com o que fora exigido, com todos
os documentos apresentados e regras legais respeitadas, inclusive, com a exclusividade do artista que
elegeu como seu representante a empresa em questão, conforme carta de exclusividade, assinada pelo
representante exclusivo da banda.
Análise das Alegações de defesa da empresa Valéria Patrícia Pinheiro de Oliveira Azevedo – ME
O requerimento de prescrição não merece prosperar. O artigo 205 do Código Civil estabelece que a
prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor. O artigo 206 estabelece
outros prazos nos quais não se enquadra a responsável.
O entendimento do TCU é pela imprescritibilidade das ações de ressarcimento, consoante o que
dispõe o § 5º do artigo 37 da Constituição Federal, em consonância com a Súmula TCU 282: ‘As ações
de ressarcimento movidas pelo estado contra os agentes causadores de danos ao erário são
imprescritíveis’.
Não é primordial aqui o tipo de exclusividade, se para evento certo ou contrato de exclusividade dos
artistas com o empresário contratado, registrado em cartório. O primordial são as evidências de
superfaturamento, correspondentes à diferença ente os valores pagos às empresas que se apresentaram
como representantes exclusivas e os valores recebidos pelos artistas/bandas, valores presumidos como
preços de mercado em razão do contexto em que ocorreram as contratações diretas e da precariedade
jurídica dos instrumentos de representação. Não houvesse o superfaturamento, o fato seria uma
432
impropriedade incapaz de, por si só, causar danos ao erário, como se pode deduzir do Acórdão
1.435/2017-TCU-Plenário (Relatoria do Ministro Vital do Rego).
Embora a proposta encaminhada para ser avaliada, aprovada e validada pelo MTur, antes da
formalização do contrato com a ASBT tenha sido aprovada, discorda-se da inferência feita pela
responsável de que isto significaria que a mesma estivesse de acordo com os preços de mercado. Como já
visto nestes autos, verificou-se que a aprovação da proposta não é indicador de que os preços
apresentados pelo proponente sejam preços de mercado. Neste particular, observe-se o teor do Despacho
do Relator de peça 29.
Resumindo: mesmo o Mtur tendo analisado toda a documentação, aprovada e atestada antes da
formalização do convênio; mesmo não sendo função do Tribunal arbitrar sobre o funcionamento do
mercado de eventos envolvendo a participação de empresários exclusivos e empresários exclusivos ad
hoc, com os ganhos internos no relacionamento desses atores; mesmo entendendo que caberia ao MTur
ter demonstrado que o valor pago era compatível com o preço de mercado ou com valores anteriormente
recebidos pelo artista em outros eventos equivalentes, esses argumentos não aproveita a defesa porque:
é missão indeclinável do Tribunal apontar falhas de seleção, aprovação, gestão, fiscalização e
controle dos convênios celebrados para fomento ao turismo mediante aporte de recursos públicos federais
para contratação de shows, em que se podem revelar decisões antieconômicas (superfaturamento);
.segundo se pode deduzir do Acórdão 1.435/2017-TCU-Plenário (Relatoria do Ministro Vital do
Rego), a resposta à consulta formulada pelo Mtur faz entender que o dano ao erário ocorrerá quando (i) o
evento objeto do convênio não for executado; (ii) for caracterizado superfaturamento; ou (iii) não for
demonstrado que os recursos públicos foram destinados ao pagamento do contratado (no caso, o
profissional do setor artístico). No caso concreto a irregularidade trata de superfaturamento;
no instrumento do convênio, já estão pré-definidos os valores a serem pagos pela apresentação dos
grupos musicais, o que implicaria dizer que há presunção iuris tantum de que o montante fixado no ajuste
estaria compatível com os preços de mercado, dado que a presunção de veracidade dessa afirmação
impunha e validava os raciocínios de não comprovação de ocorrência de dano ao erário. Ocorre que a
Coordenação-Geral de Análise de Projetos do MTur aprova os itens dos planos de trabalho propostos sem
a devida análise dos custos dos eventos constantes do plano de trabalho apresentado. O Mtur, nas vezes
que foi diligenciado acerca das documentações probantes das pesquisas de preços, respondeu que não
haviam evidências ou documentações que demonstrassem a análise de custos, desfazendo a presunção de
que os preços constantes do plano de trabalho correspondiam aos preços de mercado praticados à época;
as evidências de superfaturamento decorrem da diferença ente os valores pagos às empresas que se
apresentaram como representantes exclusivos e os valores recebidos pelos artistas/bandas, valores
presumidos como preços de mercado em razão do contexto em que ocorreram as contratações diretas e da
precariedade jurídica dos instrumentos de representação;
há documentação de recibos/declarações obtidos no Processo Judicial n. 2009.85.00.006311-0
(Ação Popular - 1ª Vara Federal da Seção Judiciária de Sergipe), emitidos pelos representantes das
bandas musicais, com os valores efetivos dos cachês cobrados na apresentação artística ocorrida no
evento intitulado ‘Brito Folia’, custeado com recursos do Convênio MTur/ASBT n. 701741/2008 das
quatro bandas musicais contratadas pela ASBT por intermédio da empresa Valéria Patrícia Pinheiro de
Oliveira Azevedo - ME (CNPJ 02.332.448/0001-38);
depreende-se da tabela abaixo que o valor do cachê informado pela Valéria Patrícia Pinheiro de
Oliveira Azevedo - ME e pago pela ASBT com recursos do Convênio MTur/ASBT n. 701741/2008 foi
majorado, caracterizando superfaturamento, em desrespeito ao disposto no art. 39, inciso I da Portaria
Interministerial MPOG/MF/CGU n. 127/2008 e na Cláusula Terceira – Das Obrigações dos Partícipes,
inciso II, alínea ‘ii’ do Convênio MTur/ASBT n. 701741/2008, que vedavam a realização de despesas a
título de taxa de administração, de gerência ou similar:
Valor informado do cachê (R$)
Banda musical Diferença (R$)
Pela ASBT Pela Banda
Banda Valneijós 40.000,00 9.000,00 31.000,00
433
CONCLUSÃO
Essa instrução cuidou de examinar, de forma complementar, conforme determinado pelo Ministro
Relator no Despacho à peça 29, as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. Lourival Mendes de Oliveira
Neto, pela Associação Sergipana de Blocos de Trio (ASBT) e pela empresa Valéria Patrícia Pinheiro de
Oliveira Azevedo - ME, em razão da impugnação parcial das despesas realizadas com os recursos do
Convênio 1.460/2008 (Siconv 701741).
Os responsáveis apresentaram as suas alegações de defesas, as quais não foram acolhidas.
Registre-se que o fato gerador tido como irregular na execução do presente convênio, referente ao
pagamento efetuado à empresa intermediadora, aconteceu em 6/1/2009 (peça 8, p. 8-9) e o
pronunciamento da unidade ocorreu em 11/11/2016, atingindo o Sr. Lourival Mendes de Oliveira Neto e a
Associação Sergipana de Blocos de Trio (peça 12) e em 1º/10/2018, atingindo a empresa Valéria Patrícia
Pinheiro de Oliveira Azevedo- ME, pelo despacho do Relator (peça 29), assim, não ocorreu a prescrição
da pretensão punitiva por este Tribunal, que se opera no prazo de dez anos a contar do fato gerador tido
como irregular, em conformidade com o prazo previsto no art. 205 do Código Civil e com a orientação
expedida pelo Acórdão 1.441/2016-TCU-Plenário.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
Ante o exposto, submetemos os autos à consideração superior, com proposta de:
a) julgar irregulares as contas do Sr. Lourival Mendes de Oliveira Neto (CPF 310.702.215- 20), da
Associação Sergipana de Blocos de Trio (CNPJ 32.884.108/0001-80) e da empresa Valéria Patrícia
Pinheiro de Oliveira Azevedo- ME (CNPJ 02.332.448/0001-38), nos termos dos arts. 1º, inciso I, 16,
inciso III, alínea ‘c’, da Lei 8.443/1992, c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com arts. 1º,
inciso I, 209, inciso III, 210 e 214, inciso III, do Regimento Interno, condenando-os, solidariamente, ao
pagamento da quantia a seguir especificada, com a fixação do prazo de quinze dias, a contar da
notificação, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno),
o recolhimento das dívidas aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente e acrescidas dos
juros de mora, calculados a partir da data discriminada, até a data do recolhimento, abatendo-se na
oportunidade a quantia já ressarcida, na forma prevista na legislação em vigor:
Valor Original Do Débito (R$) Data De Ocorrência
68.161,44 6/1/2009
434
b) aplicar ao Sr. Lourival Mendes de Oliveira Neto (CPF 310.702.215-20), à Associação Sergipana
de Blocos de Trio (CNPJ 32.884.108/0001-80) e à empresa Valéria Patrícia Pinheiro de Oliveira
Azevedo- ME (CNPJ 02.332.448/0001-38), individualmente, a multa prevista no art. 57 da Lei
8.443/1992 c/c os art. 267 do Regimento Interno do TCU, fixando o prazo de quinze dias, a contar das
notificações, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea ‘a’ do Regimento Interno),
o recolhimento das dívidas aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente desde a data do
acórdão que vier a ser proferido até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma
da legislação em vigor;
c) autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicia l das
dívidas, caso não atendida às notificações;
d) autorizar, desde logo e caso solicitado, o pagamento da dívida dos responsáveis, em até 36
parcelas mensais e consecutivas, nos termos do art. 26 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 217 do RI/TCU,
fixando- lhes o prazo de quinze dias, a contar do recebimento da notificação, para comprovarem perante o
Tribunal o recolhimento da primeira parcela, e de trinta dias, a contar da parcela anterior, para
comprovarem os recolhimentos das demais parcelas, devendo incidir sobre cada valor mensal, atualizado
monetariamente, os juros de mora devidos, na forma prevista na legislação em vigor;
e) encaminhar cópia da deliberação que vier a ser proferida ao Procurador-Chefe da Procuradoria da
República em Sergipe, nos termos do §3º do art. 16 da Lei 8.443/1992, para adoção das medidas que
entender cabíveis;
f) encaminhar cópia da deliberação que vier a ser proferida ao Ministério do Turismo (MTur); e
g) autorizar, com fundamento no art. 169, inciso III, do RI/TCU, a Secex/SE a proceder ao
arquivamento do presente processo após as comunicações processuais cabíveis, o trânsito em julgado do
acórdão a ser proferido e a instauração de cobrança executiva, se necessária.”
O Secretário da unidade instrutiva ressaltou, em seu pronunciamento à peça 43, que não restou
configurada de forma objetiva a ocorrência de boa-fé dos responsáveis, razão pela qual, desde logo, pode-
se julgar em definitivo o mérito pela irregularidade das contas, na linha proposta pelo auditor.
O Ministério Público, representado pela Procuradora-Geral, Cristina Machado da Costa e Silva,
manifestou-se de acordo com a proposta da unidade instrutiva, nos seguintes termos da parte dispositiva
de seu parecer à peça 44:
“(...)
Sobre a questão que restou associada ao débito desta TCE, já nos manifestamos, de forma
preliminar, quando do primeiro parecer que emitimos nos autos, conforme os trechos reproduzidos a
seguir (peça 27, p. 1-2):
‘Também no instrumento do convênio já estão pré-definidos os valores a serem pagos pela
apresentação dos grupos musicais, o que implica dizer que há presunção (iuris tantum, sujeita a prova em
contrário) de que o montante fixado no ajuste está compatível com os preços de mercado. Firmado o
contrato entre a convenente e o empresário representante dos grupos musicais em valores idênticos ao do
convênio e ao do procedimento de inexigibilidade de licitação, a superveniência de documentação
comprobatória nos autos de que, na fase de liquidação das despesas, teria havido divergência quanto ao
valor do pagamento dos grupos musicais constitui, a nosso ver, elemento suficiente para afastar a
presunção de compatibilidade dos valores do contrato com os preços de mercado, até que os responsáveis
tragam, em defesa, provas cabais de outros custos incorridos nos eventos, se for o caso. Noutras palavras,
à parte o pagamento auferido pelos artistas (cachê propriamente dito), não se poderia descartar de
antemão a possibilidade de incidência de despesas adicionais, como passagem aérea, hospedagem,
alimentação, transporte de pessoas e equipamentos, seguro, entre outras, suportadas pela empresa
contratada na prestação dos serviços.
Nessa perspectiva é que se poderia considerar, a depender da regularidade da liquidação das
despesas no caso concreto, legítima a impugnação da diferença entre o valor pago à empresa Valéria
Patrícia Pinheiro de Oliveira Azevedo-ME (V&M Eventos) e as quatro bandas musicais que participaram
do evento ‘Brito Folia 2008’, ressalvada a possibilidade, como dito anteriormente, de ter havido despesas
435
adicionais em cada caso. Por ser a beneficiária direta do valor pago a maior, restaria acrescer em sede de
citação a responsabilidade solidária da empresa pelo débito.’
Considerando que os responsáveis não alegaram a incidência de despesas adicionais incorridas com
a apresentação das bandas (passagem aérea, hospedagem, transporte, alimentação, seguro, etc.), nem
mesmo trouxeram documentação comprobatória nesse sentido, entendemos que a diferença entre os
cachês contratados e os efetivamente pagos assume natureza de intermediação empresarial (taxa de
administração, gerência ou similar) – despesa que não é autorizada por norma específica da concedente
(Portaria n° 153/2009), além de ser vedada pelo art. 39, inciso I, da Portaria Interministerial
MPOG/MF/CGU n° 127/2008 e pela Cláusula Terceira – Das Obrigações dos Partícipes, inciso II, alínea
‘ii’ do Convênio MTur/ASBT n° 701741/2008 (peça 1, p. 37). Tal condição caracteriza superfaturamento,
obrigando os responsáveis ao ressarcimento pelo prejuízo aos cofres públicos.
.Por oportuno, acrescentamos não considerar mais ser o MTur uma fonte fidedigna de avaliação de
preços do mercado de atrações artísticas – diferentemente, portanto, do que consta em nosso parecer
precedente –, dada a conclusão do Ministro Relator sobre a questão, que foi por ele objeto de apuração
mediante diligências em casos semelhantes enfrentados. O órgão, como se verificou, pautou sua atuação
para esta tarefa de modo, no mínimo, negligente, visto que não constam evidências que demonstrem
qualquer análise de custo nos convênios em que esse aspecto foi até agora verificado. A nosso ver, trata-
se de questão que mereceria averiguação mais detida por este Tribunal, uma vez que a prática se deu,
aparentemente, de forma transversal e abrangente em planos de trabalho que envolvem parcela
significativa de recursos federais e que são objeto de inúmeras TCE.”
É o relatório.
Proposta de Deliberação
Trata-se de tomada de contas especial instaurada pela Secretaria Executiva do Ministério do
Turismo (SE/MTur), em que foram responsabilizados, originalmente, a Associação Sergipana de Blocos
de Trio (ASBT) e seu presidente, o Sr. Lourival Mendes de Oliveira Neto, em razão da não aprovação da
prestação de contas, por impugnação total das despesas, do convênio 1.460/2008 (Siconv 701741), que
tinha por objeto a promoção e divulgação do turismo regional por meio do apoio ao evento festivo
intitulado “Brito Folia 2008”, realizado no município de Campo de Brito/SE, no dia 21/12/2008.
O valor do ajuste foi estabelecido em R$ 223.000,00, dos quais R$ 200.000,00 foram recursos
federais repassados pelo concedente, em 30/12/2008, e o restante, R$ 23.000,00, a título de contrapartida
da associação convenente aportada na conta da avença. A vigência do convênio perdurou no período de
19/12/2008 a 4/3/2009.
Diante das constatações do relatório de demandas especiais 00224.001217/2012-54 da
Controladoria-Geral da União (peça 1, p. 141-167), o MTur emitiu a nota técnica de reanálise financeira
197/2014 (peça 1, p. 137-139), aprovando a execução física do convênio com ressalvas, e a nota técnica
de análise financeira 504/2014 (peça 1, p. 174-182), reprovando a prestação de contas, sendo instaurada a
presente tomada de contas especial, com débito quantificado pelo valor total repassado, pelas seguintes
irregularidades:
“a) contratação das bandas por inexigibilidade fundamentada em contratos de exclusividade com
empresa intermediária, não diretamente com os artistas ou com seus empresários exclusivos, fora dos
moldes preconizados no Acórdão 96/2008-TCU-Plenário (1.3 da Nota Técnica de Análise Financeira
504/2014 e subitem 2.1.2.220 do RDE, peça 1, p. 185-194);
b) ausência de justificativa de preços na inexigibilidade de licitação realizada pela ASBT (item 1.1
da Nota Técnica de Análise Financeira 504/2014 e subitem 2.1.2.221 do RDE, peça 1, p. 194-196);
c) divergência entre os valores contratados e os efetivamente recebidos pelas bandas a título de
cachê, ocasionando dano ao erário no montante de R$ 76.000,00 (subitem 2.1.2.222 do RDE, peça 1, p.
196-201);
d) indícios de similaridade na grafia utilizada em documento de titularidade da ASBT e em notas
fiscais de empresas contratadas pela ASBT (item 3.1 da Nota Técnica de Análise Financeira 504/2014 e
subitem 2.1.2.223 do RDE, peça 1, p. 201-210);
436
(..)
‘O débito é decorrente da não comprovação de que os artistas/bandas foram contratados por preços
de mercado, exigência contida no item ‘h’ da parte II da cláusula terceira e da cláusula oitava do convênio
MTur/ASBT 701741/2008, e no art. 45 e 46, II, da Portaria Interministerial 127/2008, bem como pela
existência de evidências de superfaturamento, correspondente à diferença ente os valores pagos às
empresas que se apresentaram como representantes exclusivos e os valores recebidos pelos
artistas/bandas, valores presumidos como preços de mercado em razão do contexto em que ocorreram as
contratações diretas e da precariedade jurídica dos instrumentos de representação’”.
Antes de se proceder as novas citações, identificou-se que o nome que constava do extrato bancário,
Francisco Porto, conforme informara o MP/TCU, não se referia a pessoa física, mas, sim, à “na qual
foram movimentados os recursos da avença”, conforme esclareceu a unidade instrutiva (peça 31).
Devidamente citados, os responsáveis apresentaram alegações de defesa, que foram assim
sintetizadas na nova instrução de mérito da Secex-SE (peça 41):
Sr. Lourival Mendes de Oliveira Neto e ASBT
“24.Incialmente, em suas alegações de defesa, os responsáveis se atêm na ‘não comprovação de que
os artistas/bandas foram contratados por preços de mercado’ e lembram que atrações artísticas têm
oscilações significativas em seus valores de cachês, um dia pode estar valendo ‘X’ no dia seguinte ‘Y’,
entendendo que essa oscilação poderia comprometer a análise através de notas do fornecedor. Anota que
o Parágrafo Quinto da cláusula oitava do convênio informa que a Convenente poderá utilizar-se do
sistema de registro de preços dos entes federados. Que fica também evidente o atendimento ao princípio
da economicidade, verificado no Parecer/Conjur/MTur/1.739/2008, da Consultoria Jurídica da Unidade
Setorial da Advocacia-Geral da União do Ministério do Turismo, respaldado no Acórdão 1.852/2006-
TCU-2ª Câmara, a saber:
‘1.10 - Na avaliação de proposições de convênio, exija, proceda, e consigne em seus pareceres
técnicos as análises detalhadas dos custos indicados nas propostas, documentando referidas análises com
elementos de convicção como cotações, tabelas de preços de associações profissionais, publicações
especializadas e outras fontes disponíveis, de modo a certificar-se e a comprovar que tais custos estão
condizentes com os praticados no mercado da respectiva região;’
Concluiu, com isso, que, pelo parecer técnico, toda a documentação fora analisada, aprovada e
atestada antes da formalização do convênio. Registra que esse mesmo entendimento pode ser extraído do
Acórdão 9.313/2017-TCU-Primeira Câmara, conforme mostrou:
‘Acórdão 9.313/2017 - Primeira Câmara (...) retomo a declaração de voto do acórdão 1435/2017-
TCUPlenário, no qual deixei registrado que o funcionamento do mercado de eventos envolve a
participação de empresários exclusivos e empresários exclusivos ad hoc. Dessa forma, a arbitragem de
ganhos internos no relacionamento desses atores entre si e entre eles e os artistas não é função deste
Tribunal. Cabia ao MTur ter demonstrado que o valor pago era compatível com o preço de mercado ou
com valores anteriormente recebidos pelo artista em outros eventos equivalentes.’
Assim, entendem que não se pode considerar que a inexigibilidade de licitação não teve justificativa
de preço nem que os preços não estavam condizentes com aqueles praticados no mercado. Aduzem,
ainda, que, na justificativa de inexigibilidade, consta nome da empresa contratada, valor do cachê
artístico, data e local da apresentação, artista consagrado pela crítica especializada ou pela opinião
pública.
Reiteram que o valor pago corresponde ao valor contratado conforme nota fiscal e orçamento pela
empresa que detinha a exclusividade para a apresentação e recebimento do valor contratado para
apresentação da banda na forma do item 9.2.3.2 do Acórdão 1435/2017-TCU-Plenário, que diz que a
existência de dano aos cofres públicos, a ser comprovada mediante instauração da devida tomada de
contas especial, tende a se evidenciar em cada caso, entre outras questões, quando não for possível
comprovar o nexo de causalidade, ou seja, que os pagamentos tenham sido recebidos pelo artista ou por
seu representante devidamente habilitado, seja detentor de contrato de exclusividade, portador de
instrumento de procuração ou carta de exclusividade, devidamente registrados em cartório.”
439
peça 1, p. 141-167), e foi também motivo da citação do Sr. Lourival Mendes de Oliveira Neto e da ASBT
(item e, peça 21).
A justificativa de preços também era obrigação da ASBT quando da apresentação da prestação de
contas, como exigido na alínea “c” do parágrafo segundo da cláusula décima terceira do convênio
celebrado (peça 1, p. 45).
Da mesma forma como ocorreu em outros processos, faltam explicações para dois fatos centrais:
por que a convenente, ASBT, entidade especializada em organizar eventos, não promoveu ela mesma a
contratação direta das bandas, o que lhe propiciaria menores custos? Por que foi necessário contratar uma
empresa representante, a qual, não era originalmente a representante exclusiva das bandas?
Registra-se que a própria ASBT havia declarado possuir capacidade técnica para realizar o evento.
IV
A sequência cronológica leva à conclusão que os valores estipulados para apresentação das bandas
foram definidos pelo valor constante no plano de trabalho, e não pelos valores praticados pelos artistas
com outras demandantes ou pelo mercado local, conforme a seguir desvelado.
Em 8/12/2008, a ASBT apresenta proposta 022093/2008 de plano de trabalho do convênio ao
ministério, no valor de R$ 223.000,00, detalhando o cachê de cada banda nos exatos valores do convênio
assinado (peças 1, p. 269 e 45). A aprovação técnica pelo MTur ocorreu em 19/12/2008, o parecer
jurídico e a celebração do convênio ocorreram nessa mesma data.
Em 10/12/2008, a empresa V & M Eventos apresenta à ASBT proposta “para realização de uma
apresentação artística” (peça 8, p. 15). Ou seja, a convenente recebeu proposta de preço para contratação
das apresentações depois da apresentação da proposta de convênio e do respectivo plano de trabalho ao
MTur, em 8/12/2010.
Na medida em que não há elementos no MTur nem no Siconv que possam justificar a adequação
dos valores dos “shows” previstos no plano de trabalho, rompeu-se a presunção de legitimidade dos
atestos e dos pareceres do ministério acerca da compatibilidade dos preços das bandas/artistas
apresentados pela ASBT quando da proposição da celebração do convênio.
A adequação documentada dos preços dos shows não foi justificada quando da propositura do
convênio, tampouco nas alegações de defesa encaminhadas pelos responsáveis.
No caso em exame, a Associação Sergipana de Blocos de Trio (ASBT) (entidade convenente e
especializada no ramo de eventos festivos) poderia ter contratado as bandas/artistas diretamente ou por
meio dos representantes exclusivos, mas, para realizar o objeto do convênio, contratou Valéria Patrícia
Pinheiro de Oliveira Azevedo – ME, beneficiária das cartas de exclusividade temporárias para dia e
evento certo, fornecidas por aqueles que se designavam representantes exclusivos das bandas/artistas
(esses documentos são citados no processo, mas não foram juntados).
Nesse contexto, não estando comprovado que os preços pagos à empresa Valéria Patrícia Pinheiro
de Oliveira Azevedo – ME correspondiam aos preços que as bandas haviam praticado com outros
demandantes, como exigia a legislação de regência; e, de outro lado, havendo comprovação de que os
preços efetivamente cobrados pelas bandas foram expressivamente menores do que aqueles aprovados no
plano de trabalho; e, ainda, estando caracterizada a inexistência de justa causa para ganhos a título de
representação de “exclusividade” da firma intermediária, constituindo-se a documentação jurídica
apresentada nos autos como simulação de legitimidade jurídica para fins de viabilizar pagamento de
valores injustificadamente superiores aos de mercado, está comprovada a ocorrência de dano ao erário.
A diferença entre os valores recebidos pelas bandas/artistas (recibos) e os pagos à empresa V & M
(nota fiscal 173, peça 8, p. 9, de 6/1/2009) constitui base para imputação de superfaturamento, passível de
refutação pelos responsáveis, o que não ocorreu:
COMPARAÇÃO DE VALORES
VALOR
VALOR DIFERENÇA
BANDAS PAGO À
RECEBIDO/COBRA (R$)
EMPRESA
DO PELA BANDA
PELA ASBT
442
1. Processo nº TC 033.213/2015-1.
2. Grupo I – Classe II – Assunto: Tomada de Contas Especial.
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Ministério do Turismo (MTur)
3.2. Responsáveis: Associação Sergipana de Blocos de Trio - ASBT (32.884.108/0001-80);
Lourival Mendes de Oliveira Neto (310.702.215-20); Valéria Patrícia Pinheiro de Oliveira Azevedo - ME
(02.332.448/0001-38).
4. Entidade: Associação Sergipana de Blocos de Trio (ASBT).
5. Relator: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.
6. Representante do Ministério Público: Procuradora-Geral Cristina Machado da Costa e Silva.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Tomada de Contas Especial (Secex-TCE).
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério
do Turismo em razão da não aprovação da prestação de contas, por impugnação total das despesas, do
convênio 1460/2008, cujo objeto era apoiar a realização do projeto festivo intitulado “Brito Folia 2008”,
realizado em 21/12/2008.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, diante
das razões expostas pelo relator, em:
9.1. rejeitar as alegações de defesa apresentadas pela Associação Sergipana de Blocos de Trio
(ASBT), pelo seu presidente, o Sr. Lourival Mendes de Oliveira Neto, e pela empresa Valéria Patrícia
Pinheiro de Oliveira Azevedo – ME (V & M Eventos);
9.2. julgar irregulares as contas do Sr. Lourival Mendes de Oliveira Neto, com fundamento nos
artigos 1º, I, 16, III, “c”, 19, caput, e 23, III, “c”, da Lei 8.443/1992, e condená-lo, solidariamente com a
Associação Sergipana de Blocos de Trio (ASBT) e com a empresa Valéria Patrícia Pinheiro de Oliveira
Azevedo – ME (V & M Eventos) ao pagamento da importância de R$ 68.161,44 (sessenta e oito mil,
443
cento e sessenta e um reais e quarenta e quatro centavos), atualizada monetariamente e acrescida de juros
de mora, calculados desde 6/1/2009, até a data do efetivo recolhimento, fixando-lhes o prazo de 15
(quinze dias), a contar da notificação, para que comprovem, perante o Tribunal, o recolhimento do débito
ao Tesouro Nacional;
9.3. aplicar, individualmente, ao Sr. Lourival Mendes de Oliveira Neto, à Associação Sergipana de
Blocos de Trio (ASBT) e à empresa Valéria Patrícia Pinheiro de Oliveira Azevedo – ME (V & M
Eventos) a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 267 do RI/TCU, no valor de R$
125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais), fixando-lhes o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da
notificação, para que comprovem, perante este Tribunal (art. 214, III, “a”, do RI/TCU), o recolhimento da
dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do presente acórdão até a
do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
9.4. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial das
dívidas, caso não atendidas as notificações;
9.5. encaminhar cópia da deliberação ao procurador-chefe da Procuradoria da República em
Sergipe, nos termos do § 3º do art. 16 da Lei 8.443/1992 c/c o § 7º do art. 209 do Regimento Interno do
TCU, para adoção das medidas que entender cabíveis.
Excelência, vale registrar que, à época da prestação e apreciação dessas contas, o processo possuía a
natureza administrativa, eis que anterior à entrada em vigência da Lei nº 12.034/09, responsável por
acrescentar o §6º ao art. 36 da Lei nº 9.096/95, tornando assim o processo de contas jurisdicional.
Entre supostas irregularidades que não estão sob apreciação nos presentes autos, as contas relativas
ao longínquo ano de 2004 foram rejeitadas pelas seguintes razões:
‘Recebimento irregular de recursos no valor de R$ 90.000,00, oriundos da Fundação Milton
Campos’, muito embora a Lei nº 9.096/95, à época, não proibisse o recebimento de valores de fundações
de direito privado, e a Resolução TSE nº 21.841 não estivesse em vigência;
Extrapolação do limite de gastos com pessoal em R$ 30.308,39 (trinta mil e trezentos e oito reais e
trinta e nove centavos), superando o teto de 20% das cotas recebidas;
Não comprovação dos gastos de R$ 487,45 (quatrocentos e oitenta e sete reais e quarenta e cinco
centavos) com ‘lanches e refeições’ e de R$ 835,19 (oitocentos e trinta e cinco reais e dezenove centavos)
com ‘materiais de consumo’, tal como contabilizados.
O acórdão regional, publicado em 10/02/2009, recebeu a seguinte ementa:
PRESTAÇÃO DE CONTAS DE PARTIDO POLÍTICO – DIRETÓRIO ESTADUAL DO
PARTIDO PROGRESSISTA – EXERCÍCIO DE 2004 – EXISTÊNCIA DE DIVERSAS
IRREGULARIDADES – DESAPROVAÇÃO DAS CONTAS – APLICAÇÃO DA PENALIDADE DE
SUSPENSÃO DO RECEBIMENTO DOS RECURSOS DO FUNDO PARTIDÁRIO – NOS TERMOS
DO ART. 37 DA LEI N. 9.096/95 – PROCEDIMENTO PARA RESSARCIMENTO AO ERÁRIO DOS
VALORES DE FUNDO PARTIDÁRIO APLICADOS IRREGULARMENTE – HIPÓTESE DE
APLICAÇÃO DO ART. 34 DA RESOLUÇÃO TSE N. 21.841/04.
Contra o acórdão que julgou irregulares as contas, o Diretório Estadual opôs embargos de
declaração que seriam rejeitados em acórdão publicado em 10/03/2009 em face do qual foi interposto
recurso especial eleitoral ao e. Tribunal Superior Eleitoral.
Após negativa de seguimento ao recurso, interpôs-se o competente agravo de instrumento a que se
negou provimento em decisão que transitou em julgado apenas em 18/11/2010 – mais de 05 (cinco) anos
após a prestação de contas!
Pois bem.
Durante a tramitação do recurso especial do Diretório Estadual do PP, ainda antes da
superveniência de decisão com trânsito em julgado, sobreveio a promulgação da Lei nº 12.034/09, que,
entre outras inovações, tornou jurisdicional o processo de prestação de contas.
Além de outras novidades, a exemplo da restrição da sanção por rejeição de contas à suspensão do
repasse de novas cotas do fundo partidário, a nova lei sujeitou o processo de prestação de contas ao prazo
prescricional de 05 (cinco) anos, a serem contados da apresentação das contas, sob pena de
impossibilidade de aplicação de qualquer penalidade pelo Estado!
Por ter sido promulgada em 30/09/2009, antes do trânsito em julgado da decisão do Tribunal
Superior Eleitoral que não conheceu do agravo de instrumento em 18/11/2010 e, portanto, antes do
trânsito em julgado do r. acórdão estadual que rejeitou as contas do Diretório Estadual do PP, a Lei nº
12.034 deveria ter incidido imediatamente sobre o processo de prestação de contas!
Ora, Excelência, as normas de direito processual – a exemplo da legislação que determina a
natureza jurisdicional do processo e que estabelece prazo prescricional – possuem APLICAÇÃO
IMEDIATA!
Deste modo, considerado que: i) as contas relativas ao ano de 2014 foram prestadas em 29/04/2005;
ii) o prazo prescricional de 05 (cinco) anos era de observação imediata; e iii) não houve decisão com
trânsito em julgado até 28/04/2010, o processo de prestação de contas deveria ter sido extinto!
Contudo, agindo como se o processo de prestação de contas ainda possuísse natureza
administrativa, deixando de reconhecer a manifesta prescrição do jus puniendi, o Tribunal Regional
Eleitoral de São Paulo, MUITO TEMPO DEPOIS DA PRESTAÇÃO DAS CONTAS, EM 29/04/2005, E
DO EXAURIMENTO DO PRAZO PRESCRICIONAL EM 29/04/2010, realizou diligências a fim de
445
Trata-se, agora, de procedimento de cunho jurisdicional, não mais administrativo (art. 37, § 6º da
Lei nº 9.096).
Enquanto procedimento jurisdicional, submete-se, em atenção ao princípio da razoável duração do
processo e da segurança jurídica, ao prazo prescricional de 05 contados da apresentação das contas, sob
pena de impossibilidade de aplicação de qualquer penalidade (perda do direito de punir do Estado);
A única penalidade possível em razão da rejeição das contas partidárias é, hoje, a imposição, à
AGREMIAÇÃO, da ‘devolução da importância apontada como irregular, acrescida de multa de até 20%’
(art. 37, caput, da Lei nº 9.096), mediante desconto nos ‘futuros repasses de cotas do Fundo Partidário’ (§
3º do art. 37 da Lei nº 9.096), sanção que apenas será aplicada ‘à esfera partidária responsável pela
irregularidade, não tornando devedores ou inadimplentes os respectivos responsáveis partidários’ (§ 2º do
art. 37 da Lei nº 9.096);
‘Responsabilização pessoal civil e criminal dos dirigentes partidários decorrente da desaprovação
das contas partidárias e de atos ilícitos atribuídos ao partido políticos somente (...) se verificada
irregularidade grave e insanável resultante de conduta dolosa que importe enriquecimento ilícito e lesão
ao patrimônio do partido’;
Possibilidade de revisão das ‘prestações de contas desaprovadas pelos Tribunais Regionais e pelo
Tribunal Superior’, ‘para fins de aplicação proporcional da sanção aplicada, mediante requerimento
ofertado nos autos da prestação de contas’ (§ 5º do art. 37 da Lei nº 9.096).
A corroborar a argumentação do Embargante, o Tribunal Superior Eleitoral, quando do julgamento
da PC nº 37, firmou entendimento no sentido de que O NOVO REGIME JURÍDICO DAS
PRESTAÇÕES DE CONTAS DEVE SER APLICADO TAMBÉM AOS PROCESSOS EM CURSO,
RELATIVOS A PRESTAÇÕES DE CONTAS DE ANOS ANTERIORES À NOVA DISCIPLINA
LEGAL.
O acórdão respectivo foi assim ementado:
PRESTAÇÃO DE CONTAS. PARTIDO VERDE (PV). EXERCÍCIO FINANCEIRO DE 2008.
QUESTÃO DE ORDEM. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. EXEGESE. ART. 37, § 3º, DA LEI Nº
9.096/95. EXTINÇÃO DO FEITO.
Com as alterações introduzidas pela Lei nº 12.034, de 29 de setembro de 2009, o exame da
prestação de contas dos órgãos partidários, que possuía caráter administrativo, passou a ser jurisdicional,
regendo-se pelos princípios constitucionais do devido processo legal e da segurança jurídica.
A prescrição, por consubstanciar matéria de ordem pública, deve ser reconhecida de ofício pelo
magistrado, em homenagem ao postulado da duração razoável do processo.
O cômputo do prazo prescricional estabelecido no art. 37, § 3º, da Lei nº 9.096/95, inicia-se com a
apresentação das contas e não a partir da data da publicação da alteração legislativa representada pela
edição da Lei nº 12.034/2009.
Questão de ordem resolvida no sentido de julgar prejudicada a análise da prestação de contas em
virtude da prescrição.
(PC nº 37, Rel. p/ acórdão Min. Dias Toffoli, DJe 02/12/2014)
DE SE VER, NESTES TERMOS, A IMEDIATA CONVERSÃO DA NATUREZA JURÍDICA DO
PROCESSO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS – E, CONSEQUENTEMENTE, DA INCIDÊNCIA DO
PRAZO PRESCRICIONAL.
Nos termos da jurisprudência, portanto, PRESTAÇÕES DE CONTAS PARTIDÁRIAS
APRESENTADAS HÁ MAIS DE 05 ANOS (CINCO) DEVERIAM SER CONSIDERADAS COMO
PREJUDICADAS, EM RAZÃO DO DECURSO DO PRAZO PRESCRICIONAL FIXADO PELA LEI
Nº 12.034/09.
Com base nisso, postulou-se o decreto de prejudicialidade da tomada de contas especial em virtude
do decurso de tempo desde a apresentação das contas partidárias – lapso temporal muito superior a 05
(cinco) anos – e, subsidiariamente, a remessa dos autos ao Tribunal Regional Eleitoral para que, lá, fosse
aplicado o entendimento firmado pelo Tribunal Superior Eleitoral na PC nº 37.
447
Entretanto, este e. Tribunal de Contas da União entendeu por bem julgar irregulares as contas do ora
Embargante em acórdão que recebeu a seguinte ementa:
TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. DIRIGENTES DE PARTIDO POLÍTICO.
IRREGULARIDADE DE DESPESAS EFETUADAS COM RECURSOS DO FUNDO PARTIDÁRIO.
PRESTAÇÃO DE CONTAS REFERENTES AO EXERCÍCIO DE 2004. CITAÇÃO SOLIDÁRIA.
APRESENTAÇÃO DE ALEGAÇÕES DE DEFESA E DE NOVOS ELEMENTOS. REJEIÇÃO DAS
ALEGAÇÕES DE DEFESA. CONTAS IRREGULARES. DÉBITO E MULTA.
Assim, condenou-se o Embargante ao ressarcimento do débito e ao pagamento da multa do art. 57
da Lei nº 8.443 c/c art. 267 do Regimento Interno deste Tribunal.
Com a máxima vênia, há no acórdão graves omissões a justificarem o acolhimento dos embargos de
declaração com eficácia modificativa, com a consequente extinção da tomada de contas especial ou,
ainda, a exclusão, do débito apurado, dos valores relativos ao convênio celebrado entre a Fundação
Milton Campos e o Diretório Estadual e ao suposto desrespeito ao teto de gastos com pessoal.
É o que será demonstrado adiante.
III - DOS VÍCIOS EM QUE INCORREU O ACÓRDÃO EMBARGADO.
III.1 DA OMISSÃO EM TORNO DO FATO DE SER A TOMADA DE CONTAS ESPECIAL
POSTERIOR À LEI Nº 12.034/09. EMBARGANTE QUE SUSCITOU, EM QUESTÃO DE ORDEM, A
APLICAÇÃO DA NOVA LEI NÃO À TOMADA DE CONTAS, QUE SÓ VIRIA A SER
INSTAURADA EM 2011, MAS SOBRE O PROCESSO DE TOMADA DE CONTAS, QUE
TRAMITAVA REGULARMENTE QUANDO DA PUBLICAÇÃO DA LEI Nº 12.034/09, QUE, POR
SER LEI DE DIREITO PROCESSUAL, JURISDICIONALIZANDO A PRESTAÇÃO DE CONTAS E
FIXANDO PRAZO PRESCRICIONAL, É DE APLICABILIDADE IMEDIATA. PELO
ACOLHIMENTO DOS EMBARGOS, COM EFEITOS MODIFICATIVOS.
Em síntese, o acórdão embargado rejeitou as questões de ordem trazidas pela defesa do Embargante
ao seguinte argumento:
‘Quanto aos processos de tomada de contas especial existentes em estoque anteriormente à
alteração da Lei nº 9.096/1995, não houve mudanças, de modo que os responsáveis arrolados nesses
processos deverão ser julgados por esta Corte de Contas’.
Afasta-se a imediata aplicação da Lei nº 12.034/09 ao entendimento de que seria a tomada de contas
especial em que figura o Embargante anterior à sua entrada em vigência.
Com a devida vênia, Excelência, o acórdão incorre em equívoco decorrente da omissão do c.
Tribunal de Contas da União acerca do fato de que, em realidade, a Lei nº 12.034/09 entrou em vigor
quando a prestação de contas do Diretório Estadual ainda tramitava, daí se falar em aplicabilidade
imediata!
Explique-se.
A Lei nº 12.034/09, responsável por jurisdicionalizar o processo de prestação de contas partidárias,
entrou em vigor no dia 30/09/2009, quando ainda tramitava a prestação de contas da qual originada esta
tomada de contas especial – que só viria a ser instaurada perante o c. Tribunal Regional Eleitoral de São
Paulo mais de 02 (dois) anos depois, em 20/10/2011.
DAÍ TER O EMBARGANTE REQUERIDO, COMO QUESTÃO DE ORDEM, A APLICAÇÃO
DO ART. 37, §3º, DA LEI Nº 9.096/95, JÁ QUE INCIDENTE SOBRE O PROCESSO DE
PRESTAÇÃO DE CONTAS QUE AINDA TRAMITAVA NESTA ÉPOCA!
Como devidamente explanado na petição a suscitar questão de ordem, normas de direito processual
– a exemplo de normas que ficam a natureza jurisdicional do processo – são de aplicação imediata aos
procedimentos em curso, consoante entendimento pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça:
PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
CONSTRUÇÃO DA LINHA 5 DO METRÔ DE SÃO PAULO. 1. OFENSA AOS ARTS. 125 E 126 DO
CPP. RECONHECIMENTO. EXAME QUE NÃO ENCONTRA ÓBICE NA SÚMULA 7/STJ. 2.
AUSÊNCIA DE PERICULUM IN MORA. ANÁLISE QUE DEMANDA REVOLVIMENTO FÁTICO.
ALEGADA RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA. NÃO VERIFICAÇÃO.
448
‘(...) Sustentando-me em fortes bases jurídicas, submeto tal questão à Corte também como política
de gestão desses processos, considerando que a passagem do tempo já não mais justifica a aplicabilidade
da sanção em cenários político-partidários totalmente distintos daqueles que se afiguravam à época da
apresentação das contas.
Entendo, portanto, que os processos que antes tramitavam como processos administrativos e que a
Corte determinou o processamento e julgamento como jurisdicionais devem ficar prejudicados de análise,
diante do transcurso do tempo.
Na espécie, as contas foram protocolizadas em 30.4.2009 e o feito foi levado a julgamento pelo
Plenário em 21.8.2014, ou seja, mais de 5 (cinco) anos após a sua apresentação.
Por conseguinte, declaro a extinção, em virtude da prescrição, não apenas da sanção de suspensão
das cotas do fundo partidário, mas do próprio julgamento da prestação de contas’.
O i. Ministro Luiz Fux, em seu voto convergente, também registrou:
‘Com efeito, a minirreforma eleitoral capitaneada pela Lei nº 12.034/2009, alterando a Lei Orgânica
dos Partidos Políticos, jurisdicionalizou os processos de prestação de contas, até então de caráter
administrativo, estabelecendo, no bojo de tais modificações, prazo prescricional (i.e para o exercício da
pretensão punitiva do Estado), conferiu efeito suspensivo aos recursos e instituiu critérios de
razoabilidade e proporcionalidade na suspensão das contas do fundo partidário.
Eis a ratio essendi dessas modificações: aproximar a sistemática regente do processo de prestação
de contas, até então dissociado da principiologia constitucional, aos postulados de segurança jurídica e do
devido processo legal. Trata-se, à evidência, de importação, ao processo de prestação de contas, de
instituto ontologicamente destinado a salvaguardar os cidadãos do arbítrio estatal, telos por excelência do
ideário constitucional (...).
(...) Aliado a isso, e como bem salientou o Ministro Dias Toffoli, justamente por tratar-se de norma
processual, o art. 36, § 3º da Lei Orgânica dos Partidos Políticos possui aplicação imediata (CPC, art.
1.211). Mais ainda, a referida minirreforma eleitoral não estabeleceu, em qualquer de suas disposições,
norma transitória, de modo que se revela defeso desconsiderar suas determinações, o que, in casu,
consistiria na aplicação do novo regime jurídico das prescrições apenas aos processos de prestação de
contas apresentados após a data da publicação da Lei nº 12.034.
(...). Ora, o relato da norma é suficientemente claro: o termo a quo para a contagem da prescrição é,
inobjetivamente, a data da apresentação das contas. Se tal exegese se revela verdadeira – e, de fato, ela o é
– ela deve ser aplicada aos processos de prestação de contas em curso, sob pena de criar dois regimes
jurídicos sem qualquer lastro normativo, seja constitucional, seja infraconstitucional’.
POR FORÇA DA LEI Nº 112.034, TODAS AS PRESTAÇÕES DE CONTAS PARTIDÁRIAS JÁ
APRESENTADAS HÁ MAIS DE 05 ANOS DEVEM SER TIDAS COMO PREJUDICADAS, EM
RAZÃO DO DECURSO DA PRESCRIÇÃO!
Daí a necessidade desta e. Corte de Contas da União emitir pronunciamento explícito sobre o fato
de a prestação de contas que originou a presente tomada de contas da união ser anterior à entrada em
vigência da Lei nº 12.034/09 e ainda estar em tramitação quando da sua publicação no Diário Oficial da
União, pelo que, por força da aplicabilidade imediata das leis de direito processual, obrigatória a
observância do prazo prescricional.
III.2 DA OMISSÃO EM RELAÇÃO À LISURA, À ÉPOCA, DO CONVÊNIO FIRMADO
ENTRE O DIRETÓRIO ESTADUAL DO PARTIDO E A FUNDAÇÃO MILTON CAMPOS QUE
DESEMBOCOU NA TRANSFERÊNCIA DE RECURSOS DEPOIS CONSIDERADOS
IRREGULARES. LEI QUE REPUTA IRREGULAR RECEBIMENTO DE RECURSOS DE
FUNDAÇÃO DE DIREITO PÚBLICO. CONVÊNIO ANTERIOR À RESOLUÇÃO TSE Nº 21.841.
JURISPRUDÊNCIA DO TSE QUE NÃO RECHAÇAVA O REPASSE À ÉPOCA.
RECONHECIMENTO DA REGULARIDADE DOS REPASSES QUE LEVARÁ AO AFASTAMENTO
DA SUPOSTA VIOLAÇÃO AO LIMITE DO GASTO COM PESSOAL. PELO ACOLHIMENTO DOS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
450
Ao apreciar o mérito da tomada de contas especial, o Ministro Relator entendeu que o Embargante
não logrou comprovar a regularidade dos débitos que lhe foram imputados.
Em particular, seu voto assim dispõe sobre a transferência de R$ 90.000,00 (noventa mil reais) que
o Diretório Estadual de São Paulo do Partido Progressista recebeu da Fundação Milton Campos:
‘21. Por fim, as alegações de defesa e os novos elementos apresentados pelos responsáveis não
elidiram a irregularidade concernente ao recebimento irregular de recursos da Fundação Milton Campos,
no valor histórico de R$ 90.000,00, o que contrariou a vedação prevista no art. 44, IV, da Lei 9.096/1995.
22. Vale destacar nesse aspecto o seguinte excerto da instrução da Secex-SP (peça 53):
‘7.2 Recebimento irregular de recursos da Fundação Milton Campos, no valor histórico de R$
90.000,00. A transferência de recursos da Fundação já era vedada pelos incisos I a IV do art. 31 da Lei
9.096/95, mencionada no caput do art. 5º da Resolução TSE 21.841/2004:
‘Art. 5º O partido político não pode receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou
pretexto, contribuição ou auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade
de qualquer espécie, procedente de (Lei nº
9.096/95, art. 31, incisos I a IV):
(...)
III – autarquias, empresas públicas ou concessionárias de serviços públicos, sociedades de
economia mista e fundações instituídas em virtude de lei e para cujos recursos concorram órgãos ou
entidades governamentais;’ (...)
7.2.1 Esse entendimento é corroborado pela 2ª Promotoria de Justiça de Fundações e Entidades de
Interesse Social, responsável pela fiscalização da Fundação em questão. À peça 6, p. 162-181, o Parecer
30/2004, da Promotoria de Justiça de Fundações e Entidades de Interesse Social – PJFEIS, datado de
18/2/2004, corroborado pela Recomendação 044/04 PJFEIS, de 12/3/2004 (peça 6, p. 182-184), dirigida à
Fundação Milton Campos, conclui no item 5 à peça 6, p. 180, que ‘é vedada a transferência pelas
fundações dos valores do fundo partidário aos partidos políticos, uma vez que estes já dispõem de
percentual de até oitenta por cento dos recursos do fundo para aplicar em suas atividades, que são
diversas das atividades a serem desempenhadas pelas fundações;’’.
Excelência, entendeu-se que os recursos teriam sido irregularmente recebidos pelo Diretório do PP
ao exclusivo argumento de que o convênio contrariava o Parecer nº 30/2004 e a Recomendação nº 044/04
da Promotoria de Justiça de Fundações e Entidades de Interesse Social – PJFEIS, bem como o art. 5º, III,
da Resolução TSE nº 21.841 e art. 31, III, da Lei nº 9.096/95.
Aqui, Excelência, o acórdão omite-se por completo acerca de 02 (duas) questões imprescindíveis ao
adequado deslinde da controvérsia.
Em primeiro lugar, o art. 5º, III, da Resolução TSE nº 21.841/04 proíbe que partidos políticos
recebam auxílio financeiro de ‘fundações instituídas em virtude de lei e para cujos recursos concorrem
órgãos ou entidades governamentais’.
Apenas será enquadrada na vedação legal, sob pena de leitura ampliativa de norma sancionadora e
de consequente afronta ao princípio da legalidade, fundação que reúna concomitantemente estes 02 (dois)
requisitos: instituição por intermédio de lei e custeio pelo erário público.
Sendo as fundações dos partidos políticos pessoas de direito privado, as transferências que venham
a fazer a partidos políticos não devem ser enquadradas como recursos de fonte vedada!
Não por outra razão, o e. Tribunal Superior Eleitoral já decidiu pela lisura da transferência de
recursos feita por fundação para partido político – em particular, no julgamento do RESPE nº 25.599/RN.
Nesta ocasião, em que também apreciada a regularidade de convênio firmado pela Fundação Milton
Campos com Diretório Estadual de partido político antes da Resolução TSE nº 21.841/04, o i. Ministro
Marco Aurélio, Relator, fez constar de seu voto que transferências patrocinadas pela Fundação não
cairiam na vedação legal por serem estas pessoas de direito privado.
De início, assim votou o d. Ministro Relator:
‘No mais, observe-se que a glosa da prestação de contas ocorreu em decorrência de se ter a
Fundação Milton Campos como enquadrada no inciso III do artigo 31 da Lei nº 9.096/95. Descabe
451
vislumbrar violência ao preceito no que se busca ver reformada a decisão do Tribunal Regional a partir do
enquadramento da Fundação como pessoa de direito privado. Tem-se a ausência de restrição, da norma
proibitiva, ao aludir a fundações, valendo notar a referência, também à sociedade de economia mista, que,
como se sabem, é pessoa jurídica de direito privado’.
Adiante, atentando-se à restrição de recursos advindos de fundações instituídas por lei E custeadas
pelo erário público, o d. Relator retifica seu voto para julgar regular a transferência de recursos para o
partido político, in verbis:
‘Senhor Presidente, quanto ao primeiro fundamento, retifico o voto.
Realmente, no preceito, há alusão a criação por lei. E o fato de a fundação ser criada por lei a coloca
no campo das pessoas de direito público. Assim, a vedação não alcança aquelas de natureza privada’.
Ora, como falar em irregularidade no recebimento de R$ 90.000,00 (noventa mil reais) se a
Fundação Milton Campos não está abarcada pela vedação legal, vez que é fundação de direito privado?
Excelência, com o devido acatamento ao parecer e à recomendação do Ministério Público, fato é
que a jurisprudência do e. Tribunal Superior Eleitoral exerce função essencial na orientação da conduta de
seus jurisdicionados – entre eles, os partidos políticos. Daí se extrair o ‘peculiar caráter normativo dos
atos judiciais emanados do Tribunal Superior Eleitoral, que regem todo o processo eleitoral’ (RE nº
637.485 – RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 21/05/2013).
Tendo o Diretório Estadual agido em conformidade ao entendimento do Tribunal Superior Eleitoral,
que excepcionava da vedação legal os recursos transferidos de fundações de direito privado, não se
afigura como lícita sua punição.
Assim, resta devidamente comprovada a necessidade de este e. Tribunal de Contas da União emitir
pronunciamento explícito sobre o ponto, uma vez que, reconhecida a natureza privada da Fundação, deve-
se julgar regulares os recursos recebidos pelo Diretório Estadual por força do convênio.
O segundo fundamento para julgar irregular as contas no tocante aos valores recebidos da Fundação
é o art. 5º, III, da Resolução TSE nº 21.841.
Contudo, aqui, o acórdão omite-se em relação à circunstância de que a Resolução entrou em
vigência tão somente após a data de celebração do convênio!
A Fundação Milton Campos e o Diretório Estadual de São Paulo do Partido Progressista celebraram
o convênio em 26/03/2004, ao passo que a Resolução TSE nº 21.841 entrou em vigor em 11/08/2004!
Tendo o Diretório Estadual de São Paulo do Partido Progressista firmado o convênio com a
Fundação Milton Campos no mês de março de 2004, pelo menos 04 (quatro) meses antes da entrada em
vigor da Resolução em questão, como pode ser a transferência dos recursos considerada ilícita se a época
INEXISTIA qualquer vedação expressa ao recebimento pelo partido de recursos da fundação?
Supridas as omissões indicadas e reconhecida a regularidade da transferência pela Fundação Milton
Campos de R$ 90.000,00 (noventa mil reais) para o Diretório Estadual do Partido Progressista, deverá ser
igualmente afastada a suposta irregularidade consistente na violação ao teto de limites de gastos com
pessoal, pois, computados os R$ 90.000,00 (noventa mil reais) como receita partidária, não há se falar em
desrespeito ao art. 44, I, da Lei nº 9.096/95.
Assim, é imprescindível que este Tribunal de Contas da União supra as omissões em que incidiu a
fim de reconhecer a regularidade dos recursos transferidos pela Fundação Milton Campos ao Diretório e,
em consequência, reconhecer a legalidade dos gastos com pessoal, excluindo do débito apurado os R$
90.000,00 (noventa mil reais) referentes ao convênio e os R$ 30.308,39 (trinta mil e trezentos e oito reais
e trinta e nove centavos) relativos à suposta violação do limite legal de gastos.
IV – DOS PEDIDOS.
Ante todo o exposto, requer sejam admitidos os presentes embargos de declaração, vez que opostos
dentro do prazo legal e regimental de 10 (dez) dias.
Ouvidos a Secretaria de Recursos e o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, requer seja
este recurso submetido à apreciação do órgão colegiado, ocasião em que, espera-se, serão superados os
vícios ora indicados, com a consequente reforma do acórdão embargado, extinguindo-se a presente
tomada de contas especial em atenção à flagrante prescrição da pretensão punitiva do Estado ou, se assim
452
não se entender, excluindo do débito apurado os valores referentes ao repasse realizado pela Fundação
Milton Campos ao Diretório Estadual de São Paulo do Partido Progressista e à pretensa extrapolação do
limite de gastos com pessoal.”
É o relatório.
Proposta de Deliberação
Examina-se embargos de declaração opostos por Etivaldo Vadão Gomes Ferreira, por meio de sua
representante legal, contra o acórdão 13704/2019-TCU-1ª Câmara, em que este Tribunal rejeitou suas
alegações de defesa, julgou suas contas irregulares, condenou-o em débito e aplicou-lhe multa no valor de
R$ 150.000,00, com fundamento no art. 57 da Lei 8.443/1992 (peça 73).
2.O embargante alega a existência de omissões no acórdão embargado, sintetizadas nos seguintes
termos:
“III.1 DA OMISSÃO EM TORNO DO FATO DE SER A TOMADA DE CONTAS ESPECIAL
POSTERIOR À LEI Nº 12.034/09. EMBARGANTE QUE SUSCITOU, EM QUESTÃO DE ORDEM, A
APLICAÇÃO DA NOVA LEI NÃO À TOMADA DE CONTAS, QUE SÓ VIRIA A SER
INSTAURADA EM 2011, MAS SOBRE O PROCESSO DE TOMADA DE CONTAS, QUE
TRAMITAVA REGULARMENTE QUANDO DA PUBLICAÇÃO DA LEI Nº 12.034/09, QUE, POR
SER LEI DE DIREITO PROCESSUAL, JURISDICIONALIZANDO A PRESTAÇÃO DE CONTAS E
FIXANDO PRAZO PRESCRICIONAL, É DE APLICABILIDADE IMEDIATA. PELO
ACOLHIMENTO DOS EMBARGOS, COM EFEITOS MODIFICATIVOS.”
“III.2 DA OMISSÃO EM RELAÇÃO À LISURA, À ÉPOCA, DO CONVÊNIO FIRMADO
ENTRE O DIRETÓRIO ESTADUAL DO PARTIDO E A FUNDAÇÃO MILTON CAMPOS QUE
DESEMBOCOU NA TRANSFERÊNCIA DE RECURSOS DEPOIS CONSIDERADOS
IRREGULARES. LEI QUE REPUTA IRREGULAR RECEBIMENTO DE RECURSOS DE
FUNDAÇÃO DE DIREITO PÚBLICO. CONVÊNIO ANTERIOR À RESOLUÇÃO TSE Nº 21.841.
JURISPRUDÊNCIA DO TSE QUE NÃO RECHAÇAVA O REPASSE À ÉPOCA.
RECONHECIMENTO DA REGULARIDADE DOS REPASSES QUE LEVARÁ AO AFASTAMENTO
DA SUPOSTA VIOLAÇÃO AO LIMITE DO GASTO COM PESSOAL. PELO ACOLHIMENTO DOS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.”
3.Os fundamentos dos embargos estão integralmente reproduzidos no relatório antecedente.
4.O embargante requer que sejam conhecidos e providos os presentes embargos, dando-lhes efeitos
modificativos, com a extinção da tomada de contas especial em curso, ou, alternativamente, com a
exclusão do débito apurado, nos valores referentes ao repasse realizado pela Fundação Milton Campos ao
Diretório Estadual de São Paulo do Partido Progressista e à extrapolação do limite de gastos com pessoal.
II
5.Conheço dos embargos de declaração, tendo em vista o atendimento ao disposto nos arts. 32, II, e
34, §1º, da Lei 8.443/1992, bem como ao art.287 do RI/TCU, a seguir transcritos:
[Lei Orgânica]
“Art. 34. Cabem embargos de declaração para corrigir obscuridade, omissão ou contradição da
decisão recorrida.”
[Regimento Interno]
“Art. 287. Cabem embargos de declaração quando houver obscuridade, omissão ou contradição em
acórdão do Tribunal.”
6.Os embargos de declaração não se prestam, em regra, para rediscussão do mérito, nem para
reavaliação dos fundamentos que levaram à prolação do acórdão recorrido.
7.No caso em exame, foi alegada exclusivamente a existência de omissão no acórdão 13704/2019-
TCU-1ª Câmara, conforme supramencionado.
8.Vicente Greco Filho assim define esse vício da deliberação:
“omissão: caso em que a sentença é complementar, passando a resolver questão não solucionada,
453
ganhando substância, portanto, sendo que as questões que devem ser resolvidas pelo juiz são todas as
relevantes postas pelas partes para a solução do litígio, bem como as questões de ordem pública que o juiz
deve resolver de ofício, como, por exemplo, a coisa julgada.” (Direito Processual Civil Brasileiro,
Saraiva, 11ª ed., 2º volume, 259/260)
9.Pontes de Miranda se manifestou sobre esse vício da seguinte maneira:
“A omissão supõe que algo tenha estado na petição, ou na contestação, ou em embargos, ou em
qualquer ato de declaração de conhecimento ou de vontade, a que o juiz tinha de dar solução, e tenha
deixado de atender. ” (Comentários ao Código de Processo Civil, Tomo VII, 3ª ed. Rio de Janeiro,
Forense, 2002, p. 322)
10.Desse modo, a omissão prevista na legislação refere-se a lacuna na decisão, caracterizada por
uma situação em que o juiz ou o tribunal deveria ter decidido determinada questão e não o fez.
11.No caso sob análise, isso não ocorreu. O que se verifica nos embargos é que a parte diverge dos
fundamentos que subsidiaram a prolação do acórdão impugnado. Há, na verdade, tentativa de rediscutir o
mérito do processo de tomada de contas especial.
12.Cabe ressaltar, inicialmente, que na proposta de deliberação condutora do acórdão embargado,
acolhi integralmente as análises efetuadas pela antiga Secex-SP e pelo MP/TCU e adotei como razões de
decidir os fundamentos explicitados em todos os pareceres constantes deste processo de tomada de contas
especial.
13.Sobre a alegação de que não considerei que este processo de tomada de contas especial é
posterior à entrada em vigor da Lei 12.034/2009 (item III.1 dos embargos), reproduzo a seguir excertos da
instrução final da antiga Secex-SP, do parecer do MP/TCU e da minha proposta de deliberação, onde se
comprova que, ao contrário do alegado, a questão foi abordada:
Excerto da Instrução (peça 53):
“EXAME TÉCNICO
4.Desse modo, passamos a analisar as novas alegações de defesa que em resumo apresentam o
seguinte teor:
4.1Enquanto procedimento jurisdicional, submete-se, em atenção ao princípio da razoável duração
do processo e da segurança jurídica, ao prazo prescricional de 5 anos contados da apresentação das
contas, sob pena de impossibilidade de aplicação de qualquer penalidade (perda do direito de punir do
Estado);
4.2A única penalidade possível em razão da rejeição das contas partidárias é, hoje, a imposição, à
Agremiação, da ‘devolução da importância apontada como irregular, acrescida de multa de até 20%’ (art.
37, caput, da Lei 9.096/95), mediante desconto nos ‘futuros repasses de cotas do Fundo Partidário’ (§ 32
do art. 37 da Lei 9.096/95), sanção que apenas será aplicada ‘à esfera partidária responsável pela
irregularidade, não tornando devedores ou inadimplentes os respectivos responsáveis partidários’ (§ 2º do
art. 37 da Lei 9.096/95);
4.3‘Responsabilização pessoal civil e criminal dos dirigentes partidários decorrente da
desaprovação das contas partidárias e de atos ilícitos atribuídos ao partido políticos somente (...) se
verificada irregularidade grave e insanável resultante de conduta dolosa que importe enriquecimento
ilícito e lesão ao patrimônio do partido’;
4.4O regime jurídico das contas partidárias hoje, portanto, torna a presente tomada de contas
especial absolutamente impertinente, incongruente e descabida. Isso porque, hoje, trata-se de processo de
cunho jurisdicional, não mais administrativo, o que revela o descabimento da tramitação deste feito, ainda
hoje, perante essa E. Corte de Contas.
4.5As prestações de contas mais recentes já não são mais encaminhadas ao TCU, restando em
estoque aquelas mais antigas cuja tramitação ainda se deu respeitando as regras antigas, o que é o caso
dos presentes autos;
4.6Isso porque regras de fixação de competência têm aplicação imediata (competência da Justiça
Eleitoral, não mais das Cortes de Contas). Mais do que isso: normas de direito processual (como aquela
454
que fixa a natureza jurisdicional do processo), bem assim aquela que estabelece prazo prescricional
também têm aplicação imediata aos processos ainda em curso;
4.7Existiria também entendimento firmado pelo Plenário do Tribunal Superior Eleitoral, que, no
julgamento da PC 37 (acórdãos em anexo), deliberou, em julgamento ocorrido em 23/09/2014, que o
novo regime jurídico das prestações de contas (inclusive no que concerne ao prazo prescricional de 5 anos
e quanto à natureza jurisdicional) deve ser aplicado também aos processos em curso, relativos a
prestações de contas de anos anteriores à nova disciplina legal. O acórdão respectivo foi assim
comentado:
‘PRESTAÇÃO DE CONTAS. PARTIDO VERDE (PV). EXERCÍCIO FINANCEIRO DE 2008.
QUESTÃO DE ORDEM. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. EXEGESE. ART. 37, § 32, DA LEI
9.096/95. EXTINÇÃO DO FEITO.’
Com as alterações introduzidas pela Lei 12.034, de 29 de setembro de 2009, o exame da prestação
de contas dos órgãos partidários, que possuía caráter administrativo, passou a ser jurisdicional, regendo-se
pelos princípios constitucionais do devido processo legal e da segurança jurídica.
A prescrição, por consubstanciar matéria de ordem pública, deve ser reconhecida de ofício pelo
magistrado, em homenagem ao postulado da duração razoável do processo.
O cômputo do prazo prescricional estabelecido no art. 37, § 3º, da Lei 9.096/95, inicia-se com a
apresentação das contas e não a partir da data da publicação da alteração legislativa representada pela
edição da Lei 12.034/2009.
4. Questão de ordem resolvida no sentido de julgar prejudicada a análise da prestação de contas em
virtude da prescrição’.
Para que não restassem dúvidas, o resultado do julgamento foi assim proclamado:
‘Proposta a questão de ordem por parte do Ministro Presidente Dias Toffoli, foi ela aprovada por
maioria, no sentido de aplicar o prazo do § 32 do artigo 37 da Lei 9.096/95, inclusive para entender que
os processos que antes tramitavam como processos administrativos, e que a Corte determinou o
processamento e julgamento como jurisdicionais, fiquem prejudicados de análise diante do transcurso do
tempo.
É essa a proclamação quanto a todos os processos de prestação de contas que tiveram origem como
processos administrativos e que, desde a sua apresentação, já se somaram mais de cinco anos, a minha
proposta inclui a autorização para todos os relatores julgarem prejudicadas monocraticamente essas
prestações de contas ou petições (...)’.
Análise:
Acerca do assunto, trazemos a colação trechos do voto do Exmo. Ministro Weder de Oliveira que
conduziu o Acórdão 427/2016 – TCU – 1ª Câmara, os quais entendemos suficientes para refutar os
argumentos apresentados à peça 50, resumidos no item 4 supra:
‘(...) Na visão do Parquet, a partir da publicação da Lei 12.034/2009, o procedimento de julgamento
das contas dos partidos políticos deixa de ter natureza administrativa e passa a se constituir como um
processo judicial, com curso exclusivo no âmbito dos órgãos da justiça eleitoral, conforme destaca em seu
parecer (peça 45, p. 3-4):
Dessa forma, a tomada de contas especial, procedimento de natureza administrativa, deixa de
integrar o caminho prescrito nas novas disposições legais para a recomposição do fundo partidário, diante
das hipóteses de aplicação irregular ou desvio dos recursos oriundos desse fundo, no âmbito do regular
processamento das prestações de contas das agremiações partidárias.
(...)
Não obstante as mencionadas alterações de nível infraconstitucional, entendo que a novel disciplina
legal sobre a prestação de contas dos partidos políticos não suprime do TCU, de forma alguma, sua
competência constitucional para apurar eventuais danos aos cofres do fundo partidário. Apenas desobriga
os órgãos da justiça eleitoral de instaurarem tomadas de contas especial e remetê-las à apreciação da
Corte de Contas. Diante, contudo, do conhecimento de qualquer irregularidade nessa fonte de recursos
públicos federais, o Tribunal, mediante iniciativa fiscalizatória própria ou em razão de denúncias ou
455
representação, não está impedido de instaurar processo de tomada de contas especial tendente a
recuperação dos cofres públicos. (...)
(...) Por meio do despacho à peça 46, solicitei a contribuição do órgão de assessoramento jurídico
deste Tribunal sobre o tema, especialmente sobre o novo entendimento adotado pela Justiça Eleitoral a
partir da edição da Resolução TSE 23.432/2014.
Em seu parecer, parcialmente transcrito no relatório precedente, a Conjur reafirma que o fato de o
julgamento das contas partidárias ter assumido caráter jurisdicional em nada altera o dever-poder
constitucional de o TCU julgar tomadas de contas especiais relativas ao uso de recursos públicos por
parte dos órgãos partidários, e não vincula ou impede eventual julgamento de contas por esta Corte.
No mérito, o entendimento daquela unidade especializada se assemelha ao esposado pelo MP/TCU,
ao concluir que os órgãos da justiça eleitoral não mais estão submetidos ao art. 8º da Lei 8.443/1992
quando julgam as contas dos órgãos partidários (peça 47, p. 13-14), ou seja, não estão obrigados a
instaurar tomada de contas especial:
‘33. Com base nas considerações expendidas ao longo desse parecer temos a informar ao Exmo.
Ministro Weder de Oliveira, em apertada síntese, o seguinte:
- em virtude do caráter jurisdicional do exame de prestação de contas dos órgãos partidários (§ 6º do
art. 37 da Lei 9.096/95), a Justiça Eleitoral, no que se refere a essa atividade, não mais se encontra
submetida ao art. 8º da Lei 8.443/92, bem como às disposições infralegais que o regulamentam;
- a Resolução TSE 23.432/2014, ao deixar de fazer menção ao processo de Tomada de Contas
Especial, agiu em conformidade com a Constituição Federal e com o art. 8º da Lei 8.443/92.
- o TCU, ao exercer a fiscalização, se configurada a ocorrência de desfalque, desvio de bens ou
outra irregularidade de que resulte dano ao Erário, poderá, desde logo, instaurar tomadas de contas
especiais envolvendo recursos do Fundo Partidário.’
A competência do Tribunal para julgar as contas dos administradores de bens e valores públicos e
daqueles que derem causa a irregularidade de que resulte prejuízo ao erário está prevista no art. 71, II, da
Constituição Federal:
‘Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do
Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
(...)
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores
públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas
pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade
de que resulte prejuízo ao erário público;’
O art. 1º, I, da Lei 8.443/1992 também atribui a esta Corte de Contas a apreciação da
responsabilidade dos administradores públicos que gerenciem recursos públicos federais.
Conforme o art. 17, § 3º, da Constituição Federal, ‘os partidos políticos têm direito a recursos do
fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei’. Por sua vez, o fundo partidário,
disciplinado pela Lei 9.096/1995, é composto de recursos privados (doações) e recursos públicos,
originados principalmente de dotações orçamentárias da União.
A atividade fiscalizatória ordinária sobre a escrituração contábil e a prestação de contas do partido
político é atribuição exercida pela Justiça Eleitoral, que pode, nos termos dos arts. 34 e 44, § 2º, da Lei
9.096/1995, a qualquer tempo, investigar a aplicação de recursos do fundo partidário.
Recentemente, o TSE editou nova resolução (Resolução TSE 23.432, de 16/12/2014) disciplinando
a prestação de contas anual de partidos políticos a ser aplicada no âmbito da Justiça Eleitoral. As
disposições processuais previstas na resolução serão aplicadas aos processos de prestação de contas
relativos aos exercícios de 2009 e seguintes que ainda não tenham sido julgados (art. 67, § 1º).
(...)
§ 2º Constatado o recebimento indevido de recursos do Fundo Partidário na vigência de período de
suspensão indicado na decisão judicial, os valores recebidos integrarão o procedimento de ressarcimento
ao Tesouro Nacional, observado o disposto no § 1º deste artigo.
456
(...)
§ 4º É vedada a utilização de recursos do Fundo Partidário para os fins deste artigo.
Art. 63. Transcorrido o prazo previsto no inciso I, alínea b, do art. 62, sem que tenham sido
recolhidos os valores devidos, a Secretaria Judiciária do Tribunal ou o Cartório Eleitoral encaminhará os
autos à Advocacia-Geral da União, para que promova as medidas cabíveis visando à execução do título
judicial, mediante a apresentação de petição de cumprimento de sentença nos próprios autos, nos termos
dos arts. 475-I e seguintes do Código de Processo Civil.’ (Destaquei)
A responsabilização dos dirigentes partidários pela falta de prestação de contas dos respectivos
órgãos diretivos ou pelas irregularidades nelas constatadas está prevista no art. 50 da Resolução TSE
23.432/2014, nos seguintes termos:
‘Art. 50. Os dirigentes partidários responderão civil e criminalmente pela falta de prestação de
contas ou por irregularidades nelas constatadas.
Parágrafo único. Identificados indícios de irregularidades graves na prestação de contas, o Juiz ou
Relator, antes de aplicar as sanções cabíveis, intimará os dirigentes, os tesoureiros e os responsáveis pelo
órgão partidário, concedendo-lhes a oportunidade de defesa prevista no artigo 38 desta Resolução.’
No que se refere às sanções ao órgão partidário, no caso de não prestação de contas ou de sua
desaprovação total ou parcial, as penalidades são distintas, quando tais irregularidades são apuradas pela
Justiça Eleitoral ou por este Tribunal. (...)
(...) É verdade que a alteração veiculada pela nova resolução tende a resultar em maior celeridade e
eficiência na persecução do ressarcimento ao erário dos valores irregularmente utilizados. No entanto,
como bem observou a Secex/SE, há aspectos do julgamento de contas por este Tribunal que não estariam
sendo aplicados aos agentes que gerem recursos públicos do fundo partidário, como a apenação
pecuniária e a possibilidade de serem incluídos no rol de responsáveis com contas julgadas irregulares, a
ser encaminhado anualmente à Justiça Eleitoral, nos termos do art. 91 da Lei 8.443/1992.
Por outro lado, o art. 50 da Resolução TSE 23.432/2014 prevê a responsabilização civil e criminal
dos dirigentes partidários pela falta de prestação de contas ou por irregularidades nela constatadas.
(...)’
6.Dessa forma, considerando que existe entendimento firmado no âmbito deste Tribunal no sentido
de que, tratando-se de processos de natureza distinta, um judicial – prestação de contas do PP/SP – e
outro administrativo – Tomada de Contas Especial –, e, por figurarem como partes pessoas também
distintas, no primeiro, o partido político e, no segundo, os seus dirigentes, o TCU é órgão competente
para análise e julgamento da Tomada de Contas Especial, em conformidade com a Resolução TSE
21.841/2004 e normas do TCU aplicáveis à espécie.” (grifei)
apresentaram elementos complementares às alegações de defesa originais (peças 27 e 50), que foram
objeto de novo exame por parte da unidade instrutiva e do MP/TCU, em atendimento a determinações dos
relatores anteriores.’”
14.Relativamente ao segundo ponto tratado nos embargos, qual seja, que este relator teria ignorado
a natureza jurídica da Fundação Milton Campos, assim como a data da entrada em vigor da Resolução
TSE 21.841, importa reproduzir os excertos da instrução de peça 53, do parecer do MP/TCU (peça 55) e
da proposta de deliberação condutora do acórdão embargado:
Instrução – peça 53:
“7.Dando prosseguimento à apreciação do presente processo, tendo em vista que importa verificar
se as despesas foram realizadas de acordo com a Lei 9.096/1995, procedemos à reavaliação dos
documentos de despesas constantes destes autos, utilizados pelo Diretório Estadual em São Paulo do
Partido Progressista, a título de comprovação da prestação de contas partidária relativa ao exercício de
2004, restando comprovado nos documentos acostados na peça 7, p. 19-66, o seguinte:
7.1Na documentação de despesas apresentadas pelos responsáveis é possível verificar que constam
notas fiscais, no valor total de R$ 781,27, que não apresentam a identificação do partido ou guardam
relação direta com a necessidade diária do Partido. Assim, considerando que essas despesas foram
lançadas, no livro razão, nas rubricas ‘lanches e refeições’ e ‘materiais de consumo’, conclui-se que
realmente não podem ser aceitas a título de prestação de contas, porquanto não se encontram de acordo
com o art. 9°, incisos I e II, da Resolução TSE 21.841/04, que estabeleceu:
‘Art. 9º A comprovação das despesas deve ser realizada pelos documentos abaixo indicados,
originais ou cópias autenticadas, emitidos em nome do partido político, sem emendas ou rasuras,
referentes ao exercício em exame e discriminados por natureza do serviço prestado ou do material
adquirido:
I – documentos fiscais emitidos segundo a legislação vigente, quando se tratar de bens e serviços
adquiridos de pessoa física ou jurídica; e
II – recibos, contendo nome legível, endereço, CPF ou CNPJ do emitente, natureza do serviço
prestado, data de emissão e valor, caso a legislação competente dispense a emissão de documento fiscal.’
7.2Recebimento irregular de recursos da Fundação Milton Campos, no valor histórico de R$
90.000,00. A transferência de recursos da Fundação já era vedada pelos incisos I a IV do art. 31 da Lei
9.096/95, mencionada no caput do art. 5º da Resolução TSE 21.841/2004:
‘Art. 5º O partido político não pode receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou
pretexto, contribuição ou auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade
de qualquer espécie, procedente de (Lei nº 9.096/95, art. 31, incisos I a IV):
(...)
III – autarquias, empresas públicas ou concessionárias de serviços públicos, sociedades de
economia mista e fundações instituídas em virtude de lei e para cujos recursos concorram órgãos ou
entidades governamentais;’ (...)
7.2.1Esse entendimento é corroborado pela 2ª Promotoria de Justiça de Fundações e Entidades de
Interesse Social, responsável pela fiscalização da Fundação em questão. À peça 6, p. 162-181, o Parecer
30/2004, da Promotoria de Justiça de Fundações e Entidades de Interesse Social – PJFEIS, datado de
18/2/2004, corroborado pela Recomendação 044/04 PJFEIS, de 12/3/2004 (peça 6, p. 182-184), dirigida à
Fundação Milton Campos, conclui no item 5 à peça 6, p. 180, que ‘é vedada a transferência pelas
fundações dos valores do fundo partidário aos partidos políticos, uma vez que estes já dispõem de
percentual de até oitenta por cento dos recursos do fundo para aplicar em suas atividades, que são
diversas das atividades a serem desempenhadas pelas fundações;’.
7.3No Demonstrativo de Despesas com Pessoal, constante do Relatório de TCE à peça 1, p. 76,
restou configurado que o partido desatendeu ao disposto no artigo 44, inciso I, da Lei 9.096/95, gastando
como despesa de pessoal R$ 78.308,39 dos recursos recebidos do fundo partidário, representando 32,62%
dos recebimentos com esta origem (R$ 240.000,00), extrapolando em R$ 30.308,39 o limite permitido.
459
Ressalta-se que, apesar de atualmente o artigo 44 da Lei 9.096/1995 permitir o pagamento de pessoal no
limite máximo de 50% do total de recursos oriundos do fundo, essa possibilidade decorre de alterações
trazidas pela Lei 12.034/2009 ao inciso I do art. 44 da Lei 9.096/1995. E como a análise nesta Tomada de
Contas refere-se ao exercício de 2004, estava vigente a redação anterior, que impunha o limite máximo de
20% do total recebido.’
‘Irregularidades identificadas, a saber:
a) não comprovação da destinação de R$ 781,27;
b) gasto com pessoal de R$ 30.308,39, extrapolando o limite percentual do art. 44 da Lei nº
9.096/95;
c) captação irregular de recursos da Fundação Milton Campos, no valor de R$ 90.000,00,
contrariando a vedação prevista no art. 44, IV, da Lei nº 9.096/95.’
1. Processo nº TC 046.675/2012-4.
2. Grupo II – Classe I – Assunto: Embargos de declaração (Tomada de Contas Especial).
3. Interessados/Responsáveis/Recorrentes:
3.1. Responsáveis: Christopher Rezende Guerra Aguiar (164.519.908-84); Etivaldo Vadão Gomes
(784.430.918-00);
3.2. Recorrente: Etivaldo Vadão Gomes (784.430.918-00).
461
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes embargos de declaração opostos pelo Sr. Etivaldo Vadão
Gomes contra o acórdão 13704/2019-TCU-1ª Câmara, por meio do qual o Tribunal rejeitou suas
alegações de defesa, julgou suas contas irregulares, condenou-a em débito e aplicou-lhe multa, no valor
de R$ 150.000,00, com fundamento no art. 57 da Lei 8.443/1992.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª Câmara, ante
as razões expostas pelo relator, com base nos arts. 32 e 34 da Lei 8.443/1992, em conhecer dos embargos
para, no mérito, rejeitá-los.
RELATÓRIO
Adoto, como relatório, instrução elaborada pela Secretaria de Recursos, que contou com anuência
do Ministério Público (peças 78-81):
INTRODUÇÃO
1.Versa a espécie sobre Recurso de Reconsideração interposto pela Associação Os Independentes
(peça 63), em face do Acórdão 11553/2018-TCU–1ª Câmara (peça 35), de relatoria do Ministro Bruno
Dantas, que possui o seguinte teor:
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira
Câmara, ante as razões expostas pelo Relator, em:
462
9.1. considerar revel Jerônimo Luiz Muzeti, para todos os efeitos, dando-se prosseguimento ao
processo, nos termos do art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992;
9.2. com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas ‘b’ e ‘c’, e 19, da Lei 8.443/1992,
julgar irregulares as contas de Jerônimo Luiz Muzeti e da Associação Os Independentes e condená-los
solidariamente ao pagamento do débito discriminado a seguir, atualizado monetariamente e acrescido
dos juros de mora devidos, calculado desde a data de ocorrência indicada até sua efetiva quitação, na
forma da legislação vigente, fixando o prazo de 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da notificação,
para que seja comprovado, perante este Tribunal, o recolhimento da quantia ao Tesouro Nacional, nos
termos do art. 23, inciso III, alínea “a”, da referida Lei, c/c o art. 214, inciso III, alínea “a”, do
Regimento Interno do TCU:
VALOR ORIGINAL (R$) DATA DA OCORRÊNCIA
2.592.563,65 28/10/2009
9.3. com fundamento no art. 57 da Lei 8.443/1992, aplicar a Jerônimo Luiz Muzeti e à Associação
Os Independentes, individualmente, multa no valor de R$ 440.000,00 (quatrocentos e quarenta mil reais),
atualizado monetariamente desde a data do presente acórdão até a do efetivo recolhimento, se for pago
após o vencimento, na forma da legislação vigente, fixando o prazo de 15 (quinze) dias, a contar do
recebimento da notificação, para que seja comprovado, perante este Tribunal, o recolhimento da quantia
ao Tesouro Nacional, nos termos do art. 23, inciso III, alínea “a”, da referida Lei, c/c o art. 214, inciso
III, alínea “a”, do Regimento Interno do TCU;
9.4. com fundamento no art. 26 da Lei 8.443/1992, autorizar, se requerido, o pagamento da
importância devida em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais e consecutivas, fixando o prazo de 15
(quinze) dias, a contar do recebimento da notificação, para que seja comprovado, perante este Tribunal,
o recolhimento da primeira parcela, e de 30 (trinta) dias, a contar da parcela anterior, para que seja
comprovado o recolhimento das demais parcelas, devendo incidir sobre cada valor mensal os devidos
acréscimos legais, na forma prevista na legislação vigente, além de alertar que a falta de comprovação
do recolhimento de qualquer parcela importará no vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos
do art. 217 do Regimento Interno do TCU;
9.5. com fundamento no art. 28 da Lei 8.443/1992, autorizar, desde logo, a cobrança judicial das
dívidas, caso não atendida a notificação;
9.6. com fundamento no art. 16, § 3º, da Lei 8.443/1992, c/c art. 209, § 7º, do Regimento Interno do
TCU, remeter cópia deste acórdão à Procuradoria da República em São Paulo, para adoção das
medidas que entender cabíveis;
9.7. dar ciência deste acórdão ao Ministério do Turismo e aos responsáveis.
HISTÓRICO
2.Originalmente, estes autos tratavam de tomada de contas especial instaurada pelo Ministério do
Turismo (MTur), em desfavor de Jerônimo Luiz Muzeti, então presidente da Associação Os
Independentes, em razão da impugnação do valor total de despesas referentes ao Convênio 857/2009
(Siafi/Siconv 704500), celebrado entre a União, por intermédio do Ministério do Turismo e a
mencionada Associação – peça 1, p. 39-57.
3.Esse Convênio tinha como objeto dar apoio à realização da “54ª Festa do Peão Boiadeiro de
Barretos/SP” a ser realizada no período de 20 a 30/8/2009, no valor R$ 2.880.626,28 (dois milhões,
oitocentos e oitenta mil, seiscentos e vinte e seis reais, vinte e oito centavos) para a execução do objeto,
sendo R$ 2.592.563,65 (dois milhões, quinhentos e noventa e dois mil, quinhentos e sessenta e três reais,
sessenta e cinco centavos) de competência da Concedente e R$ 288.062,63 (duzentos e oitenta e oito mil,
sessenta e dois reais, sessenta e três centavos) sob a responsabilidade da Convenente, a título de
contrapartida.
4.Os valores sob a responsabilidade da Concedente foram transferidos por meio das ordens
bancárias 20090B801694, 20090B801695, 20090B801696, 20090B801697, 20090B801698,
20090B801699 e 20090B801700, nos valores de R$ 200.000,00, R$ 1.200.000,00, R$ 100.000,00, R$
463
.....................................................................................................................................................
35. Considerando que o evento foi realizado, havendo a cobrança de ingressos, que geraram um
lucro de mais de R$ 3 milhões aos organizadores, sem a devida comprovação de reversão dos valores
arrecadados com ingresso para o objeto do convênio, bem como a entidade ainda se socorreu de
patrocínio privado para a execução do evento da ordem de R$ 2.366.469,50, verifica-se a quebra da
natureza de cooperação mútua e recíproca do ajuste (peça 10, p. 28 a 32 e peça 11, p. 5).
36. No caso em tela, portanto, ocorreu a utilização de recursos públicos federais mediante
convênio para aplicação em evento com fins lucrativos, o que caracteriza subvenção social à entidade
privada, conforme veda os art. 26, § 2º, da Lei Complementar 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal)
e pelo caput do art. 16 da Lei 4.320/1964.
36.1. A esse respeito, é importante ressaltar que existe ampla jurisprudência do Tribunal no sentido
de que a venda de ingressos no âmbito de convênios firmados com o MTur constitui infração aos
normativos acima referenciados, se os respectivos recursos não forem aplicados na execução do objeto
do ajuste, dando-se como exemplo os Acórdãos 12.759/2016-TCU-2ª Câmara, 1.178/2016-TCU-
Plenário, 2.047/2016-TCU-2ª Câmara, 762/2011-TCU-Plenário, 96/2008-TCU-Plenário e 9.573/2015-
TCU-2ª Câmara. Dá-se como exemplo o voto condutor o Acórdão 762/2011-TCU-Plenário (grifou-se):
‘De qualquer maneira, havendo outras fontes de receita, pode-se concluir que os recursos federais
estariam a serviço da maximização do lucro do conveniado, especialmente se levarmos em conta a
informação da unidade técnica de que os blocos, por meio dos quais se apresentaram os artistas, são de
propriedade das empresas que compõem a ASBT, empresas essas, aliás, representadas por membros da
família do presidente da associação. Tal conduta é incompatível com o múnus a ser exercido por quem
tem a incumbência de gerir recursos públicos, reconhecidamente escassos. De fato, o interesse em tais
ajustes foi fundamentalmente privado, caracterizando-se a concessão dos recursos como subvenção
social a entidade privada, circunstância vedada pela Lei 4.320/1964’ (…)
Além disso, a celebração de convênio pressupõe, nos termos do inciso I do § 1º do art. 1º do
Decreto 6.170/2007, a consecução de um objetivo comum em regime de mútua cooperação. É cristalino
nos autos que não há objetivo comum entre o Ministério do Turismo e a convenente’ (…)
36.3. A esse respeito, cumpre frisar que a obtenção de lucro econômico não é incompatível com a
finalidade não lucrativa da entidade, sendo vedada apenas a distribuição desses ganhos entre os
associados. Nota-se, pelo estatuto da Associação ‘Os Independentes’ que sua principal fonte de renda
são ‘as oriundas de contratos, em razão da Festa do Peão de Boiadeiro (Patrocínios, parcerias,
aluguéis, etc.)’ (art. 79 do Estatuto da Entidade). Dessa forma, há grande interesse da entidade em
maximizar os lucros advindos do evento, como dito no voto condutor 762/2011-TCU-Plenário, inclusive
por meio de celebração de convênio, o que fere o art. 16 da lei 4.320/1964 e o art. 26 da
Lei Complementar 101/2000.
37. Cumpre destacar que os responsáveis não alimentaram o Siconv, descumprindo as alíneas ‘d’,
‘i’, ‘j’ e ‘bb’, do inciso II, cláusula terceira do ajuste, tampouco trouxeram os extratos bancários em suas
alegações de defesa, só apresentando documentos fiscais, peça 21. No entanto, em análise da
documentação encaminhada pelo Ministério na prestação de contas, verificou-se que ocorreram
pagamentos com cheques e créditos em espécie na conta do convênio, o que dificulta a correlação entre
os recursos transferidos e as despesas efetuadas, peça 1, p. 59 e 115 a 129.
38. O TCU assevera que a movimentação financeira irregular impede a formação de nexo de
causalidade entre os recursos federais transferidos mediante convênio e a execução do objeto,
comprovada por meio de saques em espécie, transferências para conta corrente estranha ao ajuste,
pagamentos de despesas mediante suprimento de fundos sem a devida comprovação fiscal e pagamentos
mediante cheques a empresas que não constam ou divergem das empresas informadas na prestação de
contas, consoante ao Acórdão 3.384/2011-TCU-2ª Câmara.
.....................................................................................................................................................
40. Do mesmo modo, chama atenção, em análise dos extratos bancários, que houve créditos na
conta do convênio, vários deles em espécie, da ordem de R$ 5.549.304,87, ou seja, valor muito maior do
465
que a transferência prevista do convênio, incluindo a contrapartida (R$ 2.880.626,28), e bem menor que
o valor total arrecado com bilheteria, patrocínios e recursos do convênio (R$ 8.436.654,78), peça 1,
p. 115 a 129 e peça 11, p. 6.
41. Por isso, entende-se que, durante a execução do convênio, ocorreu total confusão entre os
recursos públicos transferidos e os recursos obtidos por meio de bilheteria e patrocínios, restando ainda
uma boa parte dos recursos obtidos fora da movimentação da conta do convênio, o que garante que a
entidade não reverteu a totalidade de recursos arrecadados para o objeto do convênio, infirmando a
conciliação de despesas e receitas trazida aos autos em sede de alegações de defesa, peça 21, p. 14 a 16.
42. Do mesmo modo, quanto à contratação direta, sem licitação, dos artistas para os shows,
fundamentada no art. 25 da Lei 8.666/1993, tanto o termo de convênio, quanto a jurisprudência do
Tribunal previam expressamente, ao tempo do convênio, a hipótese de sua aplicação.
7.O Relator a quo, ao corroborar as análises da Unidade Técnica e do Ministério Público junto ao
TCU, adotando-as como razões de decidir, nos termos do Voto (peça 36) condutor do Acórdão (peça 35)
atacado, mencionou que “o ponto focal da discussão é a constatação de utilização de recursos públicos
federais mediante convênio para aplicação em evento com fins lucrativos”.
8.Ao fundamentar suas razões de decidir, o Relator a quo assim se manifestou, nos termos do Voto
de peça 36:
8. O ponto focal da discussão é a constatação de utilização de recursos públicos federais mediante
convênio para aplicação em evento com fins lucrativos.
9. Registro que o Tribunal tem entendimento pacificado (Acórdãos 168/2018-Plenário, 6.111/2017-
1ª Câmara, 2.881/2017-2ª Câmara, 7.457/2016-1ª Câmara, 7.246/2016-1ª Câmara, dentre outros), no
sentido de que tais montantes devem ser incluídos na prestação de contas do órgão convenente, uma vez
que se trata de receitas de natureza pública, conforme consignei no voto condutor do Acórdão 374/2017-
TCU-1ª Câmara, o qual transcreveu o subitem 9.5.2 do Acórdão 96/2008-TCU-Plenário, e que faço
reproduzir nesta oportunidade, por pertinente:
“9.5.2. os valores arrecadados com a cobrança de ingressos em shows e eventos ou com a venda
de bens e serviços produzidos ou fornecidos em função dos projetos beneficiados com recursos dos
convênios devem ser revertidos para a consecução do objeto conveniado ou recolhidos à conta do
Tesouro Nacional. Adicionalmente, referidos valores devem integrar a prestação de contas”.
10. Naquele voto comentei, ainda, que tal dispositivo tem como maior objetivo proteger o dinheiro
arrecadado, mitigando as possibilidades de desvio e enriquecimento sem causa, já que, se houve a
cobrança de ingressos, e os recursos arrecadados não foram efetivamente utilizados para a consecução
do objeto do convênio, não haveria necessidade de o Ministério concedente custear tais eventos.
11. Afirmei, contudo, que esses recursos auferidos assemelham-se a um aumento da contrapartida
do convenente quando aplicados na execução do ajuste, podendo desonerar a União integral ou
parcialmente em sua participação para o fim proposto.
12. Continuo a defender veementemente a obrigatoriedade da comprovação efetiva do destino dos
recursos arrecadados com venda de ingressos, sob pena de recolhimento aos cofres públicos dos valores
repassados pelo convênio.
13. A cobrança de ingressos gerou um lucro de R$ 3.189.559,00 aos organizadores e não houve a
devida comprovação de reversão dos valores arrecadados para o objeto do convênio, o que implicou
quebra da natureza de cooperação mútua e recíproca do ajuste.
14. Além dos valores obtidos com bilheteria, a entidade conseguiu patrocínio para o evento junto
às empresas Petrobras S.A.; Becitrus S.A.; Cadbury Brasil Ltda.; CC&M Ltda.; Cerealista Rosalito;
CJD do Brasil Ltda.; Cia. Bras. De Meios de Pagamento; Drogavida Ltda; JBS S.A.; J.F. Citrus
Agropecuária Ltda.; Minerva S.A.; Nova Araçá Ltda.; TNL PCS S.A.; Savegnago Supermercados Ltda.;
SR Embalagens Plásticas Ltda.; Sunshine Locações de Equip. Ltda.; e Visa do Brasil Empreend. Ltda.,
cujo importe atingiu R$ 2.366.469,50.
15. Por fim, diante da não apresentação de defesa e da ausência de indícios de que Jerônimo Luiz
Muzeti tenha agido de maneira diligente ou adotado quaisquer medidas para resguardar o erário, reputo
466
não ser possível reconhecer sua boa-fé, o que autoriza o imediato julgamento definitivo de mérito de suas
contas, nos termos do art. 202, § 6º, do Regimento Interno do TCU.
16. Nesse cenário, exsurge o dever de julgar irregulares as contas dos responsáveis, imputando-
lhes débito e aplicando-lhes multa, com amparo nos arts. 19 e 57 da Lei Orgânica do TCU.
9.Com esses fundamentos adotados como razão de decidir, nos termos do Voto constante da peça
36, foi proferido o Acórdão 11553/2018-TCU–1ª Câmara (peça 35), que julgou irregulares as contas de
Jerônimo Luiz Muzeti e da Associação Os Independentes, condenando-os solidariamente ao pagamento
da quantia nele especificada, além de aplicar-lhes multa.
10.A Associação Os Independentes, entendendo haver contradição, omissão ou obscuridade, opôs
embargos de Declaração (peça 42), conhecidos e rejeitados por meio do Acórdão 15094/2018-TCU-1ª
Câmara (peça 51).
11.Ainda assim, a Associação Os Independentes, não conformada com o decisum proferido pelo
Tribunal, interpôs Recurso de Reconsideração (peça 63), que passa a ser analisado nos aspectos de
admissibilidade e de mérito.
ADMISSIBILIDADE
12.Ratifica-se o exame de admissibilidade realizado por esta Secretaria de Recursos (peças 64-65),
que se manifestou pelo conhecimento do presente recurso, com fundamento nos artigos 32, I, e 33, da Lei
8.443/1992, combinado com o art. 285, do Regimento Interno do TCU - RI/TCU, suspendendo-se os
efeitos dos itens 9.2, 9.3 e 9.5 do Acórdão 11553/2018-TCU–1ª Câmara.
13.O Relator deste Recurso, Ministro Walton Alencar Rodrigues, anuiu ao exame de
admissibilidade (peça 67).
MÉRITO
14. Delimitação.
14.1.Constitui objeto do presente Recurso verificar se houve correta aplicação dos recursos
recebidos por força do Convênio 857/2009 (Siafi/Siconv 704500), celebrado entre a União, por
intermédio do Ministério do Turismo e a mencionada Associação – peça 1, p. 39-57.
15. Dos fatos narrados pela recorrente.
15.1.Depois de formular uma breve síntese dos fatos, a recorrente menciona a interposição do
recurso em análise com o objetivo de demonstrar os seguintes pontos:
1º) a celebração do convênio está de acordo com as disposições constantes na Portaria
Interministerial n. 127/2008, o que demonstra a boa-fé do recorrente e a necessidade de se privilegiar o
princípio da segurança jurídica;
2º) o evento foi realizado sem a finalidade de lucro, tendo em vista que o recorrente é associação
sem fins lucrativos;
3º) os fundamentos do acórdão n. 96/2008-TCU-Plenário são inadequados ao contexto fático
relacionado ao presente caso; e
4º) os documentos apresentados para comprovação da contratação regular dos artistas são
válidos, nos termos da legislação pertinente.
15.2.Todos os fatos narrados pela recorrente serão analisados em seguida em conjunto e em
confronto com os demais documentos constantes dos autos.
16. Não proibição de cobrança de ingressos e reversão dessa cobrança no objeto do convênio.
16.1.A recorrente menciona que a Portaria Interministerial 127/2008 “não estabelecia qualquer
óbice à arrecadação de recursos por meio de bilheteria”. Continua a Recorrente:
Tanto é assim, que as próprias disposições do convênio autorizavam o recorrente à cobrança de
ingresso, conforme se pode verificar a partir da cláusula 3, II, "cc", que assim prevê: "assegurar que os
valores arrecadados com a cobrança de ingressos em show e eventos ou venda de bens e serviços
produzidos ou fornecidos no âmbito desse Convênio ..."(g.n)
16.2.A recorrente defende o entendimento de que essa Portaria “não determinava a exigência de
que os valores decorrentes da cobrança de ingressos fossem investidos no objeto do convênio. Em
467
verdade, tais determinações passaram a ser previstas, no âmbito do Ministério do Turismo, apenas em
2013, com a edição da Portaria n. 112/2013, do referido Ministério”.
16.3.Segundo a recorrente, toda a conduta na gestão do multicitado Convênio foi pautada pelos
normativos vigentes ao tempo da celebração, “em respeito ao princípio da segurança jurídica, do qual se
extraem as ideias de confiança e previsibilidade”. Ainda quanto ao princípio da segurança jurídica,
continua a recorrente:
Referido princípio advém da segurança e estabilidade do Direito, conforme explica HUMBERTO
ÁVILA: "(...)como esse princípio estabelece um ideal de juridicidade da atuação estatal, para cuja
realização é necessário existir um estado de cognoscibilidade, de confiabilidade e calculabilidade do
Direito, o princípio da segurança jurídica como que densifica materialmente parte do conteúdo do
princípio do Estado de Direito. Nessa função, a referência ao Direito, que é feita pelo princípio do
Estado de Direito, não é de qualquer um, mas sim de um Direito inteligível, estável, previsível (...)".
(Grifos constantes do original)
16.4.Continua a recorrente:
Mas não é só. Mesmo que assim não fosse, deve ser destacado que a documentação acostada aos
autos dá conta de demonstrar a reversão dos valores arrecadados para o objeto do convênio. De fato, a
prestação de contas anexa às alegações de defesa do recorrente demonstra a destinação dos recursos
obtidos por meio do convênio em questão, com resultado de saldo negativo de R$ 1,98 (um real e noventa
e oito centavos).
Mais do que isso: o documento de fl. 266, denominado "Demonstrativo da 54ª Festa do Peão de
Boiadeiro de Barretos", comprova o ingresso das receitas de bilheteria por meio da coluna "crédito" e a
destinação de valores para pagamento de outras despesas, não inclusas naquela mencionada prestação
de contas, na coluna "débito". Consta do referido relatório, ainda, a data dos eventos, o número da nota
fiscal ou documento de referência e a descrição de cada um deles.
16.5.Acerca da natureza jurídica a Entidade recorrente, assim se pronuncia:
Por fim, deve ser relembrado que o objeto social do recorrente é justamente a realização da "Festa
do Peão de Boiadeiro", como também a promoção de outros eventos e manutenção de bens, todos
relacionados à referida festa, ou, ao menos, de caráter social, de acordo com o que se pode inferir a
partir do art. 5º, de seu estatuto social.
Análise
16.6.Os convênios celebrados com a União têm a natureza jurídica de acordo para realizar objeto
de interesse recíproco em regime de mútua cooperação, nos exatos termos do art. 1º. § 1º, inciso VI, da
Portaria Interministerial 127/2008 (já revogada, mas vigente ao tempo da celebração), que, pela
pertinência com o desenvolvimento desta análise, transcreve-se a seguir:
convênio - acordo ou ajuste que discipline a transferência de recursos financeiros de dotações
consignadas nos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União e tenha como partícipe, de um
lado, órgão ou entidade da administração pública federal, direta ou indireta, e, de outro lado, órgão ou
entidade da administração pública estadual, distrital ou municipal, direta ou indireta, ou ainda,
entidades privadas sem fins lucrativos, visando à execução de programa de governo, envolvendo a
realização de projeto, atividade, serviço, aquisição de bens ou evento de interesse recíproco, em regime
de mútua cooperação. (Grifou-se)
16.7.A natureza jurídica do convênio em análise pressupõe a participação em conjunto dos
partícipes para a realização de um objeto de interesse recíproco. E essa deve ser a tônica de toda a
execução do ajuste, sob pena de se descaracterizar o instituto do convênio.
16.8.Além de o conceito de convênio, já transcrito no item 16.6 desta instrução, já estabelecer que
convênio, além das entidades públicas que especifica, pode ser celebrado com “entidades privadas sem
fins lucrativos”, na conceituação de “convenente”, a própria Portaria Interministerial assim define esse
partícipe (art. 1º, § 1º, V, da Portaria Interministerial 127/2008):
468
16.19.Registre-se, inicialmente, que nesse demonstrativo não consta o valor transferido pela
União, por intermédio do Ministério do Turismo, no valor de R$ 2.592.563,65 (dois milhões, quinhentos
e noventa e dois mil, quinhentos e sessenta e três reais, sessenta e cinco centavos). Somente pelos dados
trazidos pela própria recorrente (R$ 74.030,76), se acrescido o valor transferido pela União a título de
convênio, ter-se-ia um saldo positivo de R$ 2.666.594,41, sem contar o valor de R$ 288.062,63 (duzentos
e oitenta e oito mil, sessenta e dois reais, sessenta e três centavos) a título de contrapartida, que também
deveria integrar as receitas desse demonstrativo. Saldo esse que deveria ter sido devolvido aos cofres da
União, nos termos da multicitada cláusula terceira, item II, alínea “cc”, do Termo de Convênio.
16.20.Deve-se mencionar que o valor da condenação em débito da recorrente (R$ 2.592.563,65)
não deve ser reduzido para desse suposto saldo positivo de R$ 74.030,76, em razão da fragilidade das
informações apresentadas, bem como pelo fato de não se fazerem acompanhadas de documentos aptos a
ensejarem a redução do débito determinado pelo Acórdão recorrido.
16.21.Os Demonstrativos da 54ª Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos (peça 1, pp. 138-142) não
podem ser recebidos como prestação de contas, tampouco estão acompanhados de documentos que
comprovem os fatos neles registrados.
16.22.Não pode, portanto, a recorrente, furtar-se de obrigação ajustada por meio do Termo de
Convênio.
17. Ausência da finalidade de lucro na realização do evento, uma vez que o recorrente é instituição
sem fins lucrativos.
17.1.A recorrente retoma a tese de que “a cobrança de ingressos era permitida” e que “não era
exigida a aplicação dos valores arrecadados no objeto do convênio”.
17.2.Continua a recorrente:
Com efeito, não merecem prosperar os seguintes argumentos que levaram a rejeição da conta do
recorrente: "O ponto focal da discussão é a constatação de utilização de recursos públicos federais
mediante convênio para aplicação em evento com fins lucrativos ... A cobrança de ingressos gerou um
lucro de mais de R$ 3.189.559,00 aos organizadores..."
E o superávit não pode ser considerado óbice para a celebração de convênios semelhantes àquele
celebrado em 2009 com o Ministério do Turismo, pois, no caso das entidades sem fins lucrativos, o seu
resultado é convertido, integralmente, nos objetivos institucionais da instituição - ou seja, na promoção
da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos/SP. (...)
Isso porque, o evento em questão custa, aproximadamente, 30 milhões de reais por ano. O Parque
do Peão, onde são realizadas as festividades, tem 2 milhões de m 2 e a associação tem 101 funcionários, o
que resulta em despesa média de aproximadamente 450 mil reais por mês. De outro lado, os patrocínios
obtidos pelo recorrente junto às empresas, conforme constou no v. acórdão recorrido, representam
apenas R$ 2.366.469,50, valor muito inferior ao custo do evento em questão.
Em outras palavras: Se o recorrente não cobrasse ingressos (cuja receita é utilizada para o
pagamento de despesas e na promoção das festas dos anos seguintes - pois tudo demanda um
planejamento cuidadoso), o evento em comento não existiria há muitos anos.
Digno de nota é que o próprio parecer ministerial, alterado durante a sessão de julgamento e após
a sustentação oral do patrono do recorrente, foi no sentido de que a simples cobrança de ingresso não
configura por si só finalidade lucrativa, não podendo, portanto, tal fato ser motivo para reprovação das
contas do recorrente.
Análise
17.3.Empresta-se a mesma interpretação já realizada por meio do item 16 desta instrução, sem
prejuízo da análise que se segue.
17.4.Não parece ser comum um evento arrecadar aproximadamente R$ 5,8 milhões aos cofres da
entidade que o realiza, quando os custos de sua manutenção, conforme mencionado pela própria
recorrente, soma “aproximadamente R$ 30 milhões de reais”. Ele se mostra absolutamente inviável,
segundo os dados colacionados pela própria recorrente. Enfatize-se: segundo os dados colacionados
pela própria recorrente, os quais não são corroborados por qualquer documentação comprobatória.
470
17.5.O fundamento do Relator a quo, acolhido pelo respectivo Colegiado, foi no sentido de que o
valor auferido com ingressos e outras receitas oriundas da realização do evento, deveriam se reverter
para o convênio e integrar a prestação de contas, o que poderia ensejar, inclusive, total desoneração da
União, no que tange aos valores transferidos à convenente, com a devolução dos valores recebidos, a
título de saldo de convênio, conforme previsto na cláusula terceira, item II, alínea “cc”, diversas vezes
mencionada.
17.6.A pensar de outra forma, somente para argumentar, ter-se-ia a União a custear evento com
arrecadação própria, que poderia ensejar enriquecimento sem causa da recorrente, fato que não pode
ser albergado pelo Direito aplicado ao caso concreto.
18. Inaplicabilidade dos fundamentos do Acórdão 96/2008-TCU-Plenário.
18.1.A recorrente inaugura suas razões recursais referentes a esse ponto com transcrição de
excerto do Voto (peça 36) condutor do Acordão (peça 35) recorrido em que o Relator a quo menciona
precedentes desta Corte de Contas no sentido de confirmar sua fundamentação, inclusive o Acórdão
mencionado pela recorrente.
18.2.Continua a recorrente:
Entretanto, a questão dos valores advindos da cobrança de ingressos, apreciado no referido
julgado, está relacionada a contexto fático completamente distinto da situação do recorrente, o que
demonstra a sua inaplicabilidade nestes autos.
De fato, no caso que originou o v. acórdão n. 96/2008, que tinha como parte interessada a
Associação Matogrossense dos Municípios, foi verificado: a) superfaturamento; b) não ocorrência de
alguns dos eventos patrocinados; c) ausência de promoção do turismo e da cultura (e, portanto, não
atendimento às diretrizes estabelecidas pelo Ministério do Turismo); e d) ausência de contrapartida em
favor do Ministério do Turismos.
Por outro lado, no caso do evento analisado no v. acórdão recorrido (53ª Festa do Peão Boiadeiro
de Barretos/SP), a situação é completamente diferente, uma vez que: a) não houve superfaturamento (a
propósito, jamais se cogitou a respeito); b) todos os eventos patrocinados ocorreram, do modo como
planejado, com o investimento da totalidade dos recursos nos objetivos dos respectivos convênios; c)
houve promoção do turismo (principalmente pelo fato de que o evento em questão costuma receber entre
800 mil e 1 milhão de pessoas).
Além disso, houve contrapartida ao Ministério do Turismo, com a "ativação de sua marca" através
de painéis; balões infláveis; distribuição de flyers; vídeos institucionais; painel luminoso em frente ao
Estádio; placa de arena; veiculação da logo no site do recorrente; e stand do Ministério para recepção e
divulgação das suas políticas de trabalho. (Grifos constantes do original)
18.3.A recorrente menciona ainda os seguintes termos:
Ora, o objeto do convênio foi alcançado pelas partes, com o fiel e integral cumprimento, pelo
recorrente, de suas responsabilidades e contrapartidas em favor da União, representada pelo Ministério
do Turismo. A exigência da devolução dos valores, nesse momento, portanto, SE MOSTRA
ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA DA UNIÃO, que conseguiu o fim pretendido com a promoção do
evento em questão e que, caso se mantenha o v. acórdão recorrido tal como lançado, será restituída
integralmente dos valores por ela despendidos.
18.4.A recorrente também avoca o art. 59 da Lei 8.666/1993, a fim de excluir sua responsabilidade
na restituição dos valores devidos, nos seguintes termos:
Tanto é assim que, o art. 59, parágrafo único, da Lei n. 8.666/1993, perfeitamente aplicável ao
presente caso por analogia, prevê a responsabilidade da administração pública, mesmo nos casos de
nulidade do contrato administrativo, conforme se pode verificar abaixo:
Art. 59 A declaração de nulidade do contrato administrativo opera retroativamente impedindo os
efeitos jurídicos que ele, ordinariamente, deveria produzir, além de desconstituir os já produzidos.
Parágrafo único. A nulidade não exonera a Administração do dever de indenizar o contratado pelo que
este houver executado até a data em que ela for declarada e por outros prejuízos regularmente
471
comprovados, contanto que não lhe seja imputável, promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu
causa.
Análise
18.5.Ainda que possam existir outros fundamentos para condenação em débito e aplicação de
multa no acórdão paradigma mencionado pelo Relator a quo (Acórdão 96/2008-TCU-Plenário),
diversamente do mencionado pela recorrente, há expressa fundamentação do Relator desse Acórdão
(Ministro Benjamin Zymler, nos autos do TC 003.233/2007-3) no que tange às receitas auferidas pelo
evento realizado sem seu cômputo na prestação de contas, in verbis:
3. Por concordar com a análise empreendida pela unidade técnica, transcrita no Relatório que
antecede a este Voto e que incorporo às minhas razões de decidir, não repetirei a exposição de todo o rol
de irregularidades. Contudo, entendo que merecem destaque os seguintes pontos:(...)
c) existência de receitas complementares que não foram computadas nas prestações de contas, tais
como, cobrança de ingressos para eventos e venda de bens para as pessoas que participaram desses
eventos. (Grifou-se)
18.6.Para não haver dúvidas acerca da extensão da concordância com a análise da Unidade
Técnica, consta exatamente o item 9.5.2 do Relatório que subsidiou a fundamentação no Voto do Relator
naqueles autos (TC 003.233/2007-3), já transcrito no item 16.14 desta instrução.
18.7.A menção de que houve contrapartida do evento ao mencionar a marca do Ministério do
Turismo no evento merece algumas considerações.
18.7.1.Não há confundir patrocínio com convênio, pois são institutos ontologicamente distintos. No
patrocínio, há preponderância da exposição da marca; no convênio, realização de objeto de interesse
recíproco em regime de mútua cooperação. Nos convênios, a fixação da logomarca do Ministério do
Turismo no material promocional é dever do convenente, nos termos da cláusula décima terceira,
parágrafo segundo, alínea “d”, do Termo de Convênio (peça 1, p. 52), sem prejuízo de outras
obrigações, de acordo com os normativos regentes do assunto.
18.8.A realização do evento e a determinação para restituir os valores devidamente apurados não
ensejam, de per si, enriquecimento sem causa da União, como tentou induzir a recorrente. Mesmo que se
realize o objeto de um convênio celebrado com a União, se não houver a regular aplicação e a
comprovação dos valores envolvidos, emerge a obrigação de a convenente restituir os valores
impugnados, sem que desse fato ocorra enriquecimento sem causa da União.
19. Validade dos documentos apresentados para comprovação da contratação regular dos artistas
- Formalismo moderado.
19.1.A recorrente também mencionou que “as contas do recorrente foram desaprovadas, também,
sob o fundamento de que haveria irregularidade na contratação dos artistas, nos seguintes termos”:
13. Quanto à contratação irregular dos artistas, não houve comprovação do respectivo efetivo
pagamento, em virtude da ausência de comprovantes assinados pelos próprios artistas ou por seus
representantes legais identificados por meio de contrato social, contrato de exclusividade, instrumento de
procuração ou declaração/carta de exclusividade, devidamente registrados em cartório (Acórdão
1.435/2017-TCU-Plenário).
14. Como não é possível verificar a que título, fim e condições os artistas se dispuseram a executar
os shows, resta completamente inviável a verificação do nexo de causalidade entre os recursos
transferidos e a prestação do serviço artístico. Essa é a linha, sobretudo no tocante à necessidade de
demonstração do nexo de causalidade entre os recursos do convênio e o recebimento pelo artista ou seu
representante, bem como ao reconhecimento de que devem ser examinadas as circunstâncias inerentes a
cada caso concreto, que venho adotando nos processos de minha relatoria (Acórdãos 2166/2018,
2165/2018, 2164/2018, 1983/2018, 5832/2018, 5833/2018, 5838/2018, 5839/2018, 5840/2018 e
5842/2018, todos da ia Câmara).
19.2.Continua a recorrente a transcrever excerto do Relatório (peça 37), nos seguintes termos:
472
42. Do mesmo modo, quanto à contratação direta, sem licitação, dos artistas para os shows,
fundamentada no art. 25 da Lei 8.666/1993, tanto o termo de convênio, quanto a jurisprudência do
Tribunal previam expressamente, ao tempo do convênio, a hipótese de sua aplicação.
43. Consta no Termo de Convênio (peça 1, p. 39 a 57), em sua cláusula terceira, inciso II, alínea
“jj”...
45. Dessa sorte, a hipótese de contratação por inexigibilidade, fundada no art. 25 do diploma de
Licitações, estava bem definida à época da assinatura do convênio, de modo que simples autorizações ou
cartas de exclusividade não se prestam a comprovar a inviabilidade da competição, pois não retratam
uma representação privativa para qualquer evento em que o profissional for convocado.
46. Não há nos autos, tampouco nas alegações de defesa apresentadas, comprovação que a TV
Rodeio, empresa contratada para realizar o evento, tratava-se de representante exclusivo dos artistas
contratados.
19.3.A recorrente avoca o princípio do formalismo moderado, a fim de que os documentos
apresentados pelos artistas ou representantes legais sejam aceitos como hábeis a comprovar a aplicação
dos recursos recebidos por força do multicitado convênio.
Análise
19.4.Não se desconhece que todos os documentos juntados ou produzidos nos autos são levados em
consideração pelo Relator ao submeter suas fundamentações no Voto que conduzirá sua proposta de
mérito a ser apreciada pelo respectivo Colegiado. Haja vista o efeito devolutivo pleno que norteia o
Recurso de Reconsideração, todos os documentos constantes dos autos devem ser (re)analisados, como
ocorre no caso concreto.
19.5.Entretanto, são as fundamentações contidas em seu Voto (peça 36) condutor do Acórdão
(peça 35) proferido pelo Colegiado que delineiam os contornos das irregularidades ensejadoras do
julgamento pela irregularidade e eventual aplicação de multa aos responsáveis.
19.6.O ponto fulcral do julgamento pela irregularidade das contas e apenação dos responsáveis,
conforme expressamente consignado pelo Relator a quo, já transcrito no item 8 desta instrução, assim
está descrito:
8. O ponto focal da discussão é a constatação de utilização de recursos públicos federais mediante
convênio para aplicação em evento com fins lucrativos.
19.7.Ora, se houve arrecadação com ingressos e outras rendas referentes ao evento parcialmente
custeado com recursos oriundos de convênio celebrado com a União, os saldos desses valores, além de
fazerem parte da prestação de contas, deveriam ser restituídos aos cofres públicos, inclusive com a
previsão constante da cláusula terceira, item II, alínea “cc”, já transcrita no item 16.5 desta instrução.
19.8.Uma vez não observada cláusula ajustada entre os partícipes, emerge obrigação de a
convenente restituir aos cofres da concedente o valor recebido, acrescido dos consectários legais.
CONCLUSÃO
20.Dessa forma, os argumentos recursais e documentos apresentados pela Associação Os
Independentes não são aptos para alterar o Acórdão 11553/2018-TCU–1ª Câmara (peça 35), confirmado
pelo Acórdão 15094/2018-TCU–1ª Câmara (peça 51), em sede de embargos de declaração, motivo por
que se deve negar provimento ao Recurso de Reconsideração interposto por essa Associação.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
21.Ante o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo-se com fundamento
nos art. 32, inciso I, e 33, da Lei 8.443/1992:
a) conhecer do recurso interposto, para, no mérito, negar-lhe provimento;
b) dar ciência da deliberação a ser proferida, bem como do relatório e voto que a subsidiarem à
recorrente e aos demais interessados.
VOTO
473
que a transferência prevista do convênio, incluindo a contrapartida (R$ 2.880.626,28), e bem menor que
o valor total arrecado com bilheteria, patrocínios e recursos do convênio (R$ 8.436.654,78), peça 1, p.
115 a 129 e peça 11, p. 6.
41. Por isso, entende-se que, durante a execução do convênio, ocorreu total confusão entre os
recursos públicos transferidos e os recursos obtidos por meio de bilheteria e patrocínios, restando ainda
uma boa parte dos recursos obtidos fora da movimentação da conta do convênio, o que garante que a
entidade não reverteu a totalidade de recursos arrecadados para o objeto do convênio, infirmando a
conciliação de despesas e receitas trazida aos autos em sede de alegações de defesa, peça 21, p. 14 a 16.
Como apontado pela Serur, o Demonstrativo da 54ª Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos (peça 1,
pp. 138-142) é documento alheio à prestação de contas e não está acompanhado de comprovação de que
as despesas registradas faziam parte do objeto pactuado e tenham sido, de fato, realizadas.
A ocorrência do evento e a determinação para restituir os valores devidamente apurados não
ensejam enriquecimento ilícito da Administração, como tentou induzir a recorrente. Se não houver a
regular aplicação e a comprovação dos valores envolvidos, emerge a obrigação de a convenente restituir
os valores impugnados.
Em que pese a falha atinente às receitas de ingresso e patrocínio ser suficiente para irregularidade
das contas e condenação em débito correspondente à totalidade dos valores repassados, friso, por fim, que
a irregularidade das contas, com fundamento, também, na indevida inexigibilidade de licitação está em
consonância com a jurisprudência deste Tribunal e não merece reparo, como demonstrado pelo Relator a
quo:
13. Quanto à contratação irregular dos artistas, não houve comprovação do respectivo efetivo
pagamento, em virtude da ausência de comprovantes assinados pelos próprios artistas ou por seus
representantes legais identificados por meio de contrato social, contrato de exclusividade, instrumento de
procuração ou declaração/carta de exclusividade, devidamente registrados em cartório (Acórdão
1.435/2017-TCU-Plenário).
14. Como não é possível verificar a que título, fim e condições os artistas se dispuseram a executar
os shows, resta completamente inviável a verificação do nexo de causalidade entre os recursos
transferidos e a prestação do serviço artístico.
(...)
46. Não há nos autos, tampouco nas alegações de defesa apresentadas, comprovação que a TV
Rodeio, empresa contratada para realizar o evento, tratava-se de representante exclusivo dos artistas
contratados.
Assim, considero corretos os fundamentos contidos no acórdão recorrido e submeto ao Colegiado
minuta de acórdão para conhecer do recurso interposto por Associação Os Independentes e negar-lhe
provimento.
1. Processo nº TC 010.423/2016-8.
2. Grupo I – Classe de Assunto: I - Recurso de Reconsideração (Tomada de Contas Especial)
3. Interessados/Responsáveis/Recorrentes:
3.1. Responsáveis: Jeronimo Luiz Muzeti (021.639.068-09); Os Independentes (44.791.994/0001-
87)
3.2. Recorrente: Os Independentes (44.791.994/0001-87).
4. Órgão/Entidade: Ministério do Turismo.
5. Relator: Ministro Walton Alencar Rodrigues
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro Bruno Dantas.
6. Representante do Ministério Público: Subprocurador-Geral Lucas Rocha Furtado.
7. Unidades Técnicas: Secretaria de Recursos (SERUR); Secretaria de Controle Externo de Tomada
de Contas Especial (SecexTCE).
475
8. Representação legal:
8.1. Teresa Celina de Arruda Alvim (22.129-A/OAB-PR) e outros, representando Os
Independentes.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de recurso de reconsideração interposto pela Associação
Os Independentes contra o Acórdão 11.553/2018 - 1ª Câmara.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
ante as razões expostas pelo relator e com fundamento nos artigos 32, inciso I, e 33 da Lei 8.443/1992,
em:
9.1. conhecer do recurso de reconsideração para, no mérito, negar-lhe provimento;
9.2. dar ciência dessa deliberação a recorrente.
RELATÓRIO
Adoto, como parte do relatório, instrução elaborada pela Secretaria de Recursos (peças 58-60):
1. Trata-se de petição inominada (Peça 57), relativa a pensão civil instituída em favor de
Elaine Crhystina do Amaral Fassheber.
2. A pensão em análise foi considerada ilegal, com recusa de registro (Acórdão 3.125/2013-
TCU-1ª Câmara (Peça 15), uma vez que este Tribunal de Contas passou a entender, a partir do Acórdão
2.515/2011-TCU-Plenário, que o menor sob guarda ou pessoa designada não fariam jus à pensão civil.
3. A interessada ingressou com pedido de reexame (Peça 19), que restou conhecido, para, no
mérito, ser desprovido por meio do Acórdão 6.524/2013-TCU-1ª Câmara (Peça 28).
4. Neste momento, ingressa com novo pedido de reexame, requerendo a reforma do acórdão
que considerou o seu ato de pensão ilegal, em face do novo entendimento adotado por esta Corte no
âmbito do Acórdão 2.377/2015-TCU-Plenário.
EXAME
Da inviabilidade do recebimento como recurso
5. O mérito da concessão não pode ser rediscutido pela via recursal, já exaurida neste processo.
476
6. Com efeito, a petição recursal anterior (Peça 19), foi recebida como pedido de reexame,
conhecido e desprovido conforme mencionado acima. Com isso, inviabiliza-se novo recurso da espécie,
quer contra a decisão originária (RITCU, art. 278, § 3°), quer contra o julgamento do recurso (RITCU,
art. 278, § 4º), em face da preclusão consumativa.
Da possibilidade, em tese, da revisão de ofício do ato:
7. O art. 260, § 2º, do Regimento Interno do TCU, em sua literalidade, apenas prevê a revisão
de ofício do “acórdão que considerar legal o ato e determinar seu registro”, ou seja, não prevê a revisão
em favor do beneficiário (do ato considerado ilegal). Tal interpretação literal, contudo, não condiz com o
próprio fundamento da possibilidade de revisão de um ato já registrado, qual seja: o princípio da
autotutela, decorrente, por sua vez, do princípio da legalidade administrativa.
8. Com efeito, prevalece o entendimento de que os atos de aposentadoria, reforma e pensão têm
natureza jurídica de atos complexos, que só se aperfeiçoam com sua apreciação pelo Tribunal de Contas
(TCU, Súmula 278; STF, MS 24.742). Mais que isso, ostentam natureza de atos administrativos
complexos, como já se manifestou o STF, no julgamento do RE 163.301: “II. Tribunal de Contas:
registro da concessão inicial de aposentadoria (CF, art. 71, III): natureza administrativa da decisão,
suscetível de revisão pelo próprio Tribunal (...)”.
9. Partindo-se dessa premissa, de se tratar de ato administrativo complexo, é de se concluir que
o TCU participa da própria formação do ato na qualidade de Administração. Daí decorre a incidência
do princípio da autotutela, consagrado desde a Súmula 473 do STF e depois positivado no art. 114 da
Lei 8.112/1990 e no art. 53 da Lei 9.784/1999, a justificar a possibilidade de revisão de ofício de ato já
apreciado.
10. Sendo assim, não é determinante saber se o novo exame prejudicará ou favorecerá o
beneficiário do ato (observadas, porém, as restrições legalmente impostas à revisão prejudicial). O que
move a Administração, na autotutela, é o dever de agir em consonância com a lei, o que igualmente
justifica a possibilidade de revisão de atos inicialmente tidos como ilegais, pois o dever geral de “a
ninguém prejudicar” impõe-se igualmente à própria Administração.
11. E se em nome da legalidade a Administração pode exercer o autocontrole de seus próprios
atos, pode fazê-lo, também, por provocação de quem foi diretamente afetado pela decisão administrativa.
Ao administrado assiste o direito de pleitear a revisão dos atos que entende lesivos a um interesse que
reputa juridicamente protegido.
12. Em suma, o procedimento de revisão não é obstaculizado por se reagir a provocação da
parte interessada (e não propriamente “agir de ofício”) nem por se estar diante de ato considerado
ilegal (quando a literalidade do RITCU apenas prevê a revisão do ato legal).
13. Resta a examinar se há viabilidade na revisão pretendida, sem o que o pleito deveria ser
indeferido de plano.
Do cabimento da revisão, no caso concreto:
14. O ato em análise foi considerado ilegal, com recusa de registro, por tratar-se de concessão
de pensão civil a pessoa designada e tendo em vista o entendimento firmado pelo Plenário no Acórdão
2.515/2011, segundo o qual o dispositivo autorizador da pensão (art. 217, II, “b”, da Lei nº 8.112/1990)
teria sido derrogado pelo art. 5º da Lei 9.717/1998.
15. Antes do Acórdão 2.515/2011-TCU-Plenário, o Tribunal entendia ser possível a pensão a
pessoa designada (e também a menor sob guarda), divergindo apenas quanto à necessidade, ou não, de
comprovar-se a dependência econômica em relação ao instituidor.
16. Com o advento do Acórdão 2.515/2011-TCU-Plenário, contudo, firmou-se o entendimento
de que o art. 217, II, alíneas “a”, “b”, “c” e “d”, da Lei 8.112/1990 foram revogados pelo art. 5º da
Lei 9.717/1998, não sendo mais juridicamente possível a concessão de pensão civil sob esses
fundamentos.
17. Tal conclusão, todavia, foi revista a partir do Acórdão 2.377/2015-TCU-Plenário, que
acompanhou o entendimento do STF e STJ, e firmou o entendimento de que a pensão para menor sob
477
guarda e da pessoa designada permaneceu vigente no ordenamento jurídico até a edição da Medida
Provisória 664/2014. Assim, concluiu no sentido de:
9.1. restituir os autos à Sefip, para aplicar os procedimentos de controle da situação fática,
relativamente à situação de efetiva dependência econômica do menor, previamente a seu julgamento de
legalidade e registro, os quais deixaram de ser efetuados após a edição do Acórdão TCU 2.515/2011-
Plenário;
9.2. firmar entendimento de que, consoante jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do
Superior Tribunal de Justiça, o artigo 217 da Lei 8.112/1990, incluídas as alíneas "a", "b", "c" e "d" do
seu inciso II, permaneceu vigente até a edição da Medida Provisória 664, de 30/12/2014, inexistindo, até
então, derrogação do citado dispositivo legal em decorrência do disposto no art. 5º da Lei 9.717/1998
(grifo acrescido).
18. Com estas considerações, entende-se adequado a adoção da revisão de ofício do ato, com
base no artigo 260, §2º, do RITCU.
Do processamento do pedido:
19. Nos termos de Questão de Ordem aprovada pelo Plenário em 16/8/2006, a revisão de ofício
de que trata o art. 260, § 2º, do RITCU deve ser objeto de sorteio de novo relator, “entre os Ministros
integrantes do Plenário, excluindo-se aquele que tiver proferido o voto condutor da deliberação a ser
revista”.
20. Ao relator sorteado caberá autorizar, ou não, novo exame do ato, a ser empreendido pela
Sefip, oportunidade em que poderá ser retomado o exame da legalidade do ato, inclusive quanto ao
aspecto da dependência econômica, cuja análise restou prejudicada pela tese de revogação do
fundamento legal do benefício.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
21. Ante o exposto, submetem-se os autos à consideração superior propondo-se:
a) receber a Peça 57 como mera petição, no âmbito desta Serur, negando-lhe seguimento;
b) encaminhar o processo à Secretaria das Sessões para sorteio de novo relator, nos termos da
questão de ordem aprovada pelo Plenário em 16/8/2006 (Ata 33/2006-P); e
c) que o relator sorteado autorize a SEFIP a proceder a novo exame do ato objeto deste processo,
com vistas a revisão de ofício do Acórdão 6.524/2013-TCU-1ª Câmara, com fundamento no novo
entendimento desta Corte adotada a partir do Acórdão 2.377/2015-TCU-Plenário.
2.O MPTCU se manifestou nos seguintes termos (peça 65):
O ato de pensão civil instituída por Geraldo Fassheber, ex-servidor do Senado Federal, em favor
de Elaine Chrystina do Amaral Fassheber (peça n.º 8), na condição de pessoa designada, foi considerado
ilegal por intermédio do Acórdão n.º 3.125/2013 – 1.ª Câmara (peças n.ºs 13/15).
2.O fundamento da ilegalidade decorreu do entendimento firmado pelo Plenário da Corte de
Contas a partir do Acórdão n.º 2.515/2011, no sentido de que a possibilidade de concessão de pensão
civil a pessoa designada havia sido derrogada pelo artigo 5.º da Lei n.º 9.717/1998.
3.Foi interposto pedido de reexame pela curadora da pensionista (peça n.º 19), o qual foi
conhecido, mas não provido pela Corte de Contas, por meio do Acórdão n.º 6.524/2013 – 1.ª Câmara
(peças n.ºs 28/30).
4.Inconformada, a interessada impetrou o Mandado de Segurança n.º 32.427 no Supremo Tribunal
Federal. A Corte Suprema já apreciou o processo no mérito, havendo decidido pela concessão parcial da
segurança, “para anular a decisão do TCU no tocante à ordem de cessação do pagamento do benefício
de pensão civil instituída pelo servidor público Geraldo Fassheber em favor de Elaine Chrystina do
Amaral Fassheber, devendo a Corte de Contas proceder como entender de direito para fins de registro
do ato de concessão” (peça n.º 44 e fl. 40 da peça n.º 64).
5.Posteriormente, a União interpôs agravo regimental, o qual não foi provido, havendo o processo
transitado em julgado em 22/11/2017 (fls. 2 e 41/55 da peça n.º 64).
478
6.Ocorre que a própria Corte de Contas reviu o entendimento originalmente firmado pelo Acórdão
n.º 2.515/2011 – Plenário. O Acórdão n.º 2.377/2015 – Plenário - estabeleceu nova compreensão sobre a
matéria. Transcrevemos o teor da referida deliberação:
“VISTOS, relatados e discutidos estes autos que tratam de pensão civil em favor de beneficiário na
condição de menor sob guarda.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, diante
das razões expostas pelo relator, com fundamento nos arts. 71, inciso III, da Constituição Federal, 1º,
inciso V, e 39, inciso II, da Lei 8.443, c/c os arts. 1º, inciso VIII, e 259 do Regimento Interno/TCU, em:
9.1. restituir os autos à Sefip, para aplicar os procedimentos de controle da situação fática,
relativamente à situação de efetiva dependência econômica do menor, previamente a seu julgamento de
legalidade e registro, os quais deixaram de ser efetuados após a edição do Acórdão TCU 2.515/2011-
Plenário;
9.2. firmar entendimento de que, consoante jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do
Superior Tribunal de Justiça, o artigo 217 da Lei 8.112/1990, incluídas as alíneas ‘a’, ‘b’, ‘c’ e ‘d’ do
seu inciso II, permaneceu vigente até a edição da Medida Provisória 664, de 30/12/2014, inexistindo, até
então, derrogação do citado dispositivo legal em decorrência do disposto no art. 5º da Lei 9.717/1998;
9.3. lembrar aos interessados a possibilidade de Pedido de Reexame referente aos atos de pensão
emitidos até a data da publicação da Medida Provisória 664, que tinham sido julgados ilegais por este
Tribunal, com fundamento no Acórdão TCU 2.515/2011-Plenário, mediante a reabertura de prazo de
180 dias, com base nos arts. 285 e 286 do Regimento Interno desta Corte;
9.4. dar ciência do inteiro teor desta deliberação aos órgãos centrais de gestão de pessoal da
Administração Pública Federal dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, para que deem
conhecimento do item 9.3 deste Acórdão aos interessados cujos atos de pensão tiveram registro negado
por este Tribunal com base no entendimento firmado no Acórdão 2.515/2011-TCU-Plenário”.
7.Por intermédio do expediente constante de peça n.º 57, o advogado da pensionista comunicar ao
Tribunal sobre a decisão proferida pelo STF no MS n.º 32.427 e requer que sejam mantidos os
pagamentos dos proventos relativos à pensão ora em exame.
8Ao realizar o exame de admissibilidade da peça n.º 57, a Secretaria de Recursos entende que não
caberia o conhecimento do referido documento como pedido de reexame, uma vez que a parte
interessada já manejou esse instrumento recursal nos autos. No entanto, defende que se faz necessária a
revisão de ofício do Acórdão n.º 6.524/2013 – 1.ª Câmara, à luz do novo entendimento trazido pelo
Acórdão n.º 2.377/2015 – Plenário. Por isso, propõe o sorteio de novo Relator para o feito e a
autorização para que a Sefip inicie os procedimentos para a revisão do julgado (peças n.ºs 57/59).
9.Os autos foram encaminhados os autos ao Relator “a quo”, eminente Ministro José Múcio
Monteiro. O Relator original compreendeu que o caso em tela não comportaria revisão de ofício, posto
que essa hipótese colidiria com o disposto no item 9.3 do Acórdão n.º 2.377/2015 – Plenário. Por isso,
encaminhou os autos à consideração do nobre Ministro Walton Alencar Rodrigues, Relator do pedido de
reexame, para decidir se irá apreciar o documento de peça n.º 57 ou se será necessário o sorteio de novo
Relator (peça n.º 61).
10.Por intermédio do despacho de peça n.º 63, o Relator “ad quem” encaminhou o feito para
pronunciamento pelo Ministério Público de Contas.
11.Compreendemos que se torna indispensável a revisão do Acórdão n.º 3.125/2013 – 1.ª Câmara –
o qual considerou ilegal o ato de pensão civil de peça n.º 8 – e, também, por consequência, do Acórdão
n.º 6.524/2013 – 1.ª Câmara – que apreciou pedido de reexame interposto pela beneficiária Elaine
Chrystina do Amaral Fassheber, ambos prolatados sob a égide de entendimento firmado pelo Acórdão
n.º 2.515/2011 – Plenário, que foi posteriormente fulminado pelo Acórdão n.º 2.377/2015 – Plenário.
12.A dúvida que remanesce adstringe-se ao instrumento processual adequado para se promover a
necessária revisão dos julgados, se por meio de novo pedido de reexame, de revisão de ofício ou de outro
instrumento.
479
13.Em nosso entender, deve-se dar cumprimento ao acórdão proferido pelo Supremo Tribunal
Federal, que determinou a anulação da decisão da Corte de Contas quanto à ordem de cessação dos
pagamentos, cabendo ao Tribunal proceder como entender para fins do registro do ato.
14.Em termos concretos, compreendemos que para melhor executar o comando judicial emanado
pelo STF no MS 32.427, a Corte de Contas deverá tornar insubsistentes os Acórdãos n.ºs 3.125/2013 e
6.524/2013, ambos da 1.ª Câmara, e devolver os autos à Sefip, para que promova nova análise da pensão
civil em questão, agora à luz do que dispõe o Acórdão n.º 2.377/2015 – Plenário. Dessa maneira, a
pensionista Elaine Chrystina do Amaral Fassheber não sofreria nenhum prejuízo processual, uma vez
que voltaria a ter direito a interpor eventual pedido de reexame, em caso de negativa de registro do ato
de peça n.º 8.
15.Quanto ao expediente de peça n.º 57, vislumbramos que poderá ser conhecido como mera
petição, cabendo a ciência a todos os interessados.
16.Por todo o exposto, com as vênias de estilo por divergir do encaminhamento proposto pela
Serur às peças n.ºs 58/60, esta representante do Ministério Público de Contas propõe que:
16.1. o documento de peça n.º 57 seja conhecido como mera petição;
16.2. os presentes autos sejam encaminhados ao Relator “ad quem” e, posteriormente, ao Relator
“a quo”, e que sejam declarados insubsistentes os Acórdãos n.ºs 3.125/2013 e 6.524/2013, ambos da 1.ª
Câmara, em cumprimento ao comando emitido pelo Supremo Tribunal Federal no Mandado de
Segurança n.º 32.427;
16.3. o Relator “a quo” determine o retorno do processo à Sefip, a fim de que realize nova
instrução do feito à luz das novas disposições firmadas no Acórdão n.º 2.377/2015 – Plenário, com
especial atenção ao item 9.1 da referida deliberação;
16.4. o Tribunal dê conhecimento das deliberações que vierem a ser proferidas à beneficiária
Elaine Chrystina do Amaral Fassheber, por meio de sua curadora e de seu advogado, bem como ao
Senado Federal.
VOTO
Trata-se de novo pedido de reexame (peça 57) interposto contra o Acórdão 3.125/2013-1ª Câmara,
mantido pelo Acórdão 6.524/2013-1ª Câmara, que considerou ilegal e negou registro à pensão civil
instituída em favor de Elaine Crhystina do Amaral Fassheber.
O julgamento pela ilegalidade se deu com fundamento no Acórdão 2.515/2011-Plenário, segundo o
qual a pensão a pessoa designada foi derrogada do regime próprio de previdência dos servidores públicos
por força do art. 5º da Lei 9.717/1998.
A interessada requer que sejam mantidos os pagamentos do benefício, na forma da decisão liminar
proferida pelo Supremo Tribunal Federal no Mandado de Segurança 32.427.
A Serur opinou por conhecer a peça como mera petição e realizar sorteio de relator para revisão de
ofício do ato, com base em entendimento adotado pelo Tribunal no Acórdão 2.377/2015-Plenário.
O Ministério Público junto ao TCU discordou da unidade técnica quanto à revisão de ofício. Propôs
conhecer da peça como mera petição, tornar insubsistentes os acórdãos atacados, em respeito à decisão do
STF, bem como remeter os autos ao Relator a quo a fim de que determine o retorno do processo à Sefip
para nova análise, considerando as disposições do Acórdão 2.377/2015-Plenário.
De fato, o fundamento do Acórdão 2.515/2011-Plenário foi revisto pelo Acórdão 2.377/2015-
Plenário, quando ficou assente que:
(...) consoante jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, o
artigo 217 da Lei 8.112/1990, incluídas as alíneas ‘a’, ‘b’, ‘c’ e ‘d’ do seu inciso II, permaneceu vigente
até a edição da Medida Provisória 664, de 30/12/2014, inexistindo, até então, derrogação do citado
dispositivo legal em decorrência do disposto no art. 5º da Lei 9.717/1998;
Assim, uma vez afastada a tese da derrogação, torna-se necessária a reanálise do feito pelo relator a
quo, para que, a seu critério, sejam efetuadas as rotinas de análise anteriormente estabelecidas, com o
480
intuito de que seja esclarecido se a concessão em exame preenche os pressupostos aplicáveis à espécie, a
exemplo da condição de dependência econômica entre o beneficiário e o instituidor.
Divirjo dos pareceres precedentes quanto ao recebimento do pedido como mera petição, tendo em
vista os recentes Acórdãos 2.848, 2.849, 2.850, 2.851 e 2852/2019-Plenário, de minha relatoria, quando
expressei concordância com o Parquet em orientar a Secretaria de Recursos a não considerar a ocorrência
de preclusão consumativa no exame de admissibilidade dos recursos de atos concessórios que já tenham
sido reapreciados pelo Tribunal e cuja ilegalidade tenha sido mantida com base em entendimento
jurisprudencial anterior.
Tal medida, de caráter excepcional, harmoniza-se com o princípio da isonomia e está de acordo
com a determinação do Tribunal, contida no subitem 9.3 da decisão recorrida e dos Acórdãos 2376,
2377, 2378 e 2379/2015, todos do Plenário, em franquear aos interessados oportunidade de pleitear, no
prazo fixado, a reapreciação de atos de concessão considerados ilegais, tendo por fundamento a nova
intelecção inaugurada pela Corte de Contas.
Sendo assim, entendo pertinente conhecer do pedido de reexame, para dar-lhe provimento parcial,
tornando insubsistente os Acórdãos 3.125/2013 e 6.524/2013-1ª Câmara, e encaminhar os autos ao
Relator a quo, Ministro José Mucio Monteiro, para que, a seu critério, sejam adotadas as providências
necessárias à nova apreciação de mérito da pensão civil ora reexaminada, à luz do entendimento firmado
no Acórdão 2.377/2015-Plenário.
Em face do exposto, voto por que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto à apreciação
deste Colegiado.
1. Processo nº TC 019.873/2012-3.
2. Grupo II – Classe de Assunto: I Pedido de reexame (Pensão Civil)
3. Interessados/Responsáveis/Recorrentes:
3.1. Interessado: Elaine Crhystina do Amaral Fassheber (015.651.876-79)
3.2. Recorrente: Elaine Chrystina do Amaral Fassheber (015.651.876-79).
4. Órgão/Entidade: Senado Federal.
5. Relator: Ministro Walton Alencar Rodrigues
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro José Mucio Monteiro.
6. Representante do Ministério Público: Procuradora-Geral Cristina Machado da Costa e Silva.
7. Unidades Técnicas: Secretaria de Recursos (SERUR); Secretaria de Fiscalização de Pessoal
(SEFIP).
8. Representação legal:
8.1. Conrado Rezende Freitas (128.674/OAB-MG) e outros, representando Elaine Chrystina do
Amaral Fassheber.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que cuidam de pedido de reexame interposto por Elaine
Chrystina do Amaral Fassheber contra os Acórdãos 3.125/2013-1ª Câmara e 6.524/2013-1ª Câmara, por
meio do qual este Tribunal considerou ilegal seu ato de pensão civil,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
com fundamento no artigo 48 da Lei 8.443/1992 e no Acórdão 2.852/2019-Plenário, diante das razões
expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer do recurso para, no mérito, dar-lhe provimento parcial;
9.2. tornar insubsistentes os Acórdãos 3.125/2013-1ª Câmara e 6.524/2013-1ª Câmara;
9.3. restituir os autos ao relator a quo, para que, a seu critério, sejam adotadas as providências
necessárias à nova apreciação de mérito da pensão civil ora reexaminada, à luz do entendimento firmado
no Acórdão 2.377/2015-Plenário;
481
RELATÓRIO
Adoto, como relatório, a instrução da Secretaria de Fiscalização de Pessoal (peças 16-17), que
contou com a anuência do MPTCU (peça 18):
INTRODUÇÃO
1.Trata-se de ato inicial de concessão de aposentadoria de Luiz Fernando Ev, ex-servidor da
Fundação Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP.
2.O ato foi submetido, para fim de registro, à apreciação do Tribunal de Contas da União (TCU),
de acordo com o art. 71, inciso III, da Constituição Federal. O cadastramento e a disponibilização ao
TCU ocorreram por intermédio do Sistema de Apreciação e Registro de Atos de Admissão e Concessões,
na forma dos arts. 2º, caput e incisos I a VI, e 4º, caput, da Instrução Normativa-TCU 78/2018.
HISTÓRICO
3.Em instrução automática (peça 3), esta Unidade Técnica propôs a ilegalidade do ato ora em
análise em razão do pagamento, nos proventos do ex-servidor, de parcela relativa a decisão judicial que
concedeu reajuste de 28,86%.
4.Contudo, em parecer à peça 7, o MPTCU, após consulta ao Siape (peça 5), verificou que o
inativo estava recebendo a rubrica judicial “VP DEC JUD ENQ L10355 TRAN.JUL”, no valor de R$
318,74, a mesma que foi lançada na discriminação dos proventos do ato Sisac (peça 1).
5.O MPTCU observou, ainda, que a citada vantagem, em princípio, não guarda relação com o
percentual judicial de 28,86%, e, além disso, a Lei 10.355/2001 dispõe sobre a estruturação da carreira
previdenciária no âmbito do INSS, sendo que o inativo em questão pertence aos quadros da UFOP.
6.Diante disso, o MPTCU opinou pela realização de diligência à jurisdicionada para que:
a) esclarecesse a natureza da rubrica judicial “VP DEC JUD ENQ L10355 TRAN.JUL”;
b) encaminhasse a cópia da decisão judicial que determinou o referido pagamento, da petição
inicial e da certidão de trânsito em julgado, se fosse o caso, ou informasse a posição mais atualizada da
ação;
c) demonstrasse o cálculo da rubrica implantada no contracheque do ex-servidor no mês de
novembro/2011 no valor de R$ 318,74, e cujo pagamento perdura até o momento atual.
482
7.Em despacho (peça 8), o Ministro-Relator, Walton Alencar Rodrigues, determinou a diligência
proposta pelo MPTCU, a qual foi realizada pela Sefip (peça 9) e atendida pela UFOP (peça 13).
EXAME TÉCNICO
Da constatação
8.Do exame da ficha financeira extraída do Siape (peça 14), constatou-se que o ex-servidor
continua recebendo, de forma irregular, a rubrica “1833 DEC JUD 28,86% AP TRAN JULG”, no valor
de R$ 318,74, relativa ao percentual de 28,86%.
Da diligência
9.Em atendimento à diligência (peça 13), a UFOP não se manifestou sobre a natureza da rubrica
judicial “VP DEC JUD ENQ L10355 TRAN.JUL”. Esclareceu a respeito da Ação Ordinária n.
93.0020308-0, que tramitou Justiça Federal de Minas Gerais e concedeu o percentual de 28,86% aos
autores da referida ação, entre eles o Sr. Luiz Fernando Ev.
10.Embora tenha constado nos contracheques do inativo (peças 5-6) o pagamento da rubrica “VP
DEC JUD ENQ L10355 TRAN.JUL”, na realidade se trata do percentual de 28,86%, de acordo com a
informação da UFOP e de conformidade com a ficha Siape atual.
Da parcela judicial – 28,86%
11.Trata-se de vantagem relativa a decisão judicial que concedeu reajuste de 28,86%. O percentual
refere-se à diferença entre o reajuste de remuneração concedido aos referidos servidores e aquele
concedido, na mesma ocasião, aos servidores militares por meio da Lei 8.622/1993. Na ocasião, os
servidores civis foram contemplados com reajuste inferior àquele concedido aos militares.
12.Em um primeiro momento, inúmeros servidores obtiveram o pagamento desse percentual de
28,86% por meio de decisões judiciais favoráveis, como no caso tratado neste processo.
13.Contudo, a própria Administração, por meio da Medida Provisória 1.704/1998, reeditada pela
Medida Provisória 2.169-43/2001, estendeu o reajuste de 28,86% aos servidores públicos civis.
14.No caso tratado no presente processo, houve continuidade do pagamento destacado do índice de
28,86% mesmo após a incorporação desse percentual determinada pela Medida Provisória 1.704/1998,
reeditada pela Medida Provisória 2.169-43/2001.
15.Essa continuidade implica duplicidade de pagamento do índice de 28,86%. Assim, uma mesma
circunstância foi valorada em mais de um momento, contrariando, assim, o princípio do non bis in idem.
16.Além disso, há que se considerar que todas as carreiras de servidores públicos já foram
reestruturadas por lei posteriormente à Medida Provisória 1.704/1998, reeditada pela Medida
Provisória 2.169-43/2001, o que inclui novas tabelas remuneratórias, a exemplo das Leis 11.784, de 22
de setembro de 2008 e 12.772, de 28 de dezembro de 2012, as quais reestruturaram a carreira do
magistério superior.
17.Assim, o pagamento destacado da parcela de 28,86% constitui irregularidade que leva à
ilegalidade do ato de concessão de aposentadoria.
18. Cabe observar que não há que se falar em ofensa à coisa julgada, pois “a coisa julgada é
limitada pela situação jurídica sob cuja órbita se configurou” (voto condutor do Acórdão 6.739/2010-
TCU-Primeira Câmara, de relatoria do Ministro Walton Alencar Rodrigues). No caso, a situação que
deu suporte à concessão judicial da parcela não subsiste após o advento da Medida Provisória
1.704/1998, reeditada pela Medida Provisória 2.169-43/2001, e também dos novos planos de carreira
instituídos pelas Leis 11.784, de 22 de setembro de 2008 e 12.772, de 28 de dezembro de 2012, as quais
reestruturaram a carreira do magistério superior.
19. Vale, aqui, transcrever trecho do voto condutor do Acórdão 1.857/2003-TCU-Plenário, de
relatoria do Ministro Adylson Motta:
Não é demais lembrar que os efeitos da decisão judicial referente a relação jurídica continuativa
só perduram enquanto subsistir a situação de fato ou de direito que lhe deu causa, conforme se
depreende do disposto no art. 471, inciso I, do Código de Processo Civil. No tema em estudo, o que se
pleiteia, em regra, é o pagamento de antecipação salarial aos autores. Ocorre que o reajuste posterior
dos vencimentos incorpora o percentual concedido por força da decisão judicial, modificando a situação
483
de fato que deu origem à lide, pois, em tese, elimina o então apontado déficit salarial. Por outro lado, o
art. 468 do CPC dispõe que a força de lei inter partes, que caracteriza a sentença, restringe-se aos
limites da lide e das questões decididas. Logo, manter o pagamento das parcelas antecipadas após o
reajuste da data-base, sem que isso tenha sido expressamente pedido e determinado, é extrapolar os
limites da lide.
Em suma, não representa afronta à coisa julgada a decisão posterior deste Tribunal que afaste
pagamentos oriundos de sentenças judiciais cujo suporte fático de aplicação já se tenha exaurido e que
não tenham determinado explicitamente a incorporação definitiva da parcela concedida.
20.Na mesma linha, o acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal nos autos do Recurso
Extraordinário 241.884-ES, cuja ementa se reproduz a seguir:
Professores do Estado do Espírito Santo: aplicação de lei local que determinara a incorporação ao
vencimento-base da gratificação de regência de classe: inexistência de violação às garantias
constitucionais do direito adquirido e da irredutibilidade de vencimentos (CF, art. 37, XV). É firme a
jurisprudência do STF no sentido de que a garantia do direito adquirido não impede a modificação para
o futuro do regime de vencimentos do servidor público. Assim, e desde que não implique diminuição no
quantum percebido pelo servidor, é perfeitamente possível a modificação no critério de cálculo de sua
remuneração (RE 241.884-ES).
21.Também nesse sentido se pronunciou o Superior Tribunal de Justiça no Mandado de Segurança
11.145-DF:
1. Não há ofensa à coisa julgada material quando ela é formulada com base em uma determinada
situação jurídica que perde vigência ante o advento de nova lei que passa a regulamentar as situações
jurídicas já formadas, modificando o status quo anterior.
2. Segurança denegada. (MS 11.145-DF).
22.A supressão do pagamento destacado da parcela de 28,86% não caracteriza, portanto,
desrespeito à coisa julgada, mas, sim, mera equalização dos vencimentos em face de panorama jurídico
posterior. Pela pertinência, vale transcrever trecho do voto condutor do Acórdão 2.998/2013-TCU-
Segunda Câmara, de relatoria do Ministro Benjamin Zymler:
(...) Não é razoável, pois, que a servidora permaneça recebendo vantagem oriunda de perda
ocorrida em estrutura remuneratória de 1995, não mais vigente.
Havendo alteração na situação jurídica com base na qual foi proferida a sentença, afasta-se a
incidência da coisa julgada, ex vi do art. 471 do Código de Processo Civil.
23. A jurisprudência do TCU nos casos de pagamento destacado do percentual de 28,86% é
pacífica no sentido da ilegalidade e da cessação dos pagamentos (Acórdãos 7.837/2013 – Relator
Ministro Benjamin Zymler, 2.511/2014 – Relator Ministro Weder de Oliveira, 3.200/2014 – Relator
Ministro Weder de Oliveira e 3.551/2014 – Relator Ministro Benjamin Zymler, todos da Primeira
Câmara, e 4.057/2013 – Relator Ministro Raimundo Carreiro e 2.594/2014 – Relatora Ministra Ana
Arraes, ambos da Segunda Câmara, entre outros).
24.Cabe, assim, proposta de ilegalidade e recusa de registro do ato, com determinação à UFOP
para excluir a parcela dos proventos do interessado.
CONCLUSÃO
25.Em razão do exposto, e tendo em vista as análises realizadas no ato inicial de concessão de
aposentadoria de Luiz Fernando Ev, esta Unidade Técnica considera que o ato em tela deve ser
considerado ilegal e ter o registro negado por esta Egrégia Corte.
26.Quanto aos valores indevidos já pagos, propõe-se dispensar a devolução, com fundamento no
Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência do TCU.
27.Por fim, vale destacar que o ato em análise ingressou no TCU há menos de cinco anos. Assim,
não se fez necessária a instauração do contraditório, segundo o entendimento estabelecido no Acórdão
587/2011-TCU-Plenário, de relatoria do Ministro Valmir Campelo.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
484
28.Ante o exposto, e com base nos arts. 71, inciso III, da Constituição Federal; 1º, inciso V, e 39,
inciso II, da Lei 8.443/1992; 260, § 1º, do Regimento Interno do Tribunal de Contas da União, propõe-
se:
a) considerar ILEGAL e recusar o registro do ato inicial de concessão de aposentadoria de Luiz
Fernando Ev (CPF: 281.153.250-15);
b) dispensar a devolução dos valores indevidamente recebidos até a data da ciência do acórdão
que vier a ser prolatado, com base no Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência do TCU.
c) determinar à Fundação Universidade Federal de Ouro Preto, com base no art. 45 da Lei
8.443/1992, que:
c.1) faça cessar os pagamentos decorrentes do ato impugnado, comunicando ao TCU, no prazo de
quinze dias, as providências adotadas, nos termos dos arts. 262, caput, do Regimento Interno do TCU e
8º, caput, da Resolução-TCU 206/2007;
c.2) cadastre novo ato, livre da irregularidade apontada, submetendo-o ao TCU no prazo de trinta
dias, nos termos dos arts. 262, § 2º, do Regimento Interno do TCU e 19, § 3º, da Instrução Normativa-
TCU 78/2018;
c.3) informe ao interessado o teor do acórdão que vier a ser prolatado, encaminhando ao TCU, no
prazo de trinta dias, comprovante da data de ciência pelo interessado, nos termos do art. 4º, § 3º, da
Resolução-TCU 170/2004, alertando-o de que o efeito suspensivo proveniente de eventual interposição
de recurso junto ao TCU não o exime da devolução dos valores indevidamente percebidos após a
notificação, em caso de não provimento desse recurso.
VOTO
1. Processo nº TC 024.258/2017-2.
2. Grupo I – Classe de Assunto: V - Aposentadoria
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Luiz Fernando Ev (281.153.250-15).
4. Órgão/Entidade: Fundação Universidade Federal de Ouro Preto.
5. Relator: Ministro Walton Alencar Rodrigues.
6. Representante do Ministério Público: Procuradora-Geral Cristina Machado da Costa e Silva.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
485
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de concessão de aposentadoria de Luiz Fernando Ev, ex-
servidor da Fundação Universidade Federal de Ouro Preto;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara,
diante das razões expostas pelo relator, em:
9.1. julgar ilegal e negar registro ao ato de concessão inicial de aposentadoria de Luiz Fernando Ev;
9.2. dispensar, com fulcro no Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência do TCU, a devolução dos
valores indevidamente recebidos até a data da ciência desta deliberação;
9.3. determinar à Fundação Universidade Federal de Ouro Preto, com fulcro no art. 45 da Lei
8.443/1992, que:
9.3.1. faça cessar os pagamentos decorrentes do ato impugnado e comunique as providências
adotadas ao TCU no prazo de quinze dias, nos termos dos arts. 262, caput, do Regimento Interno do TCU
e 8º, caput, da Resolução TCU 206/2007;
9.3.2. cadastre novo ato, livre da irregularidade apontada, e submeta-o ao TCU no prazo de trinta
dias, nos termos dos arts. 262, § 2º, do Regimento Interno do TCU e 19, § 3º, da Instrução Normativa
TCU 78/2018;
9.3.3. dê ciência do teor desta deliberação ao interessado e encaminhe comprovante da data de
ciência pelo interessado ao TCU no prazo de trinta dias, nos termos do art. 4º, § 3º, da Resolução TCU
170/2004, alertando-o de que o efeito suspensivo proveniente de eventual interposição de recurso junto ao
TCU não o exime da devolução dos valores indevidamente percebidos após a notificação, caso o recurso
não seja provido.
9.4. ordenar à Secretaria de Fiscalização de Pessoal que monitore o cumprimento das determinações
feitas.