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de lucro direto ou indireto, nos termos do art. 184 do código penal
e lei 9.610/1998.
Durante anos, sonhei com o que a vida universitária poderia
proporcionar, e embora algumas coisas mudassem, havia
sempre uma constante.

Não importava com o quão selvagem eu permitia que minha


imaginação voasse, no final sempre me levava ao mesmo
lugar.

Levava-me até ele.

Meu futuro era claro, e ele estava lá.

Até que de repente... não estava.

Agora sou uma concha de quem eu era, em uma trilha


embaçada demais para seguir, e não vejo saída.

Não vejo nenhuma saída.

Dizem que os primeiros amores duram para sempre.

É exatamente disso que eu tenho medo .


Para aquele que temia a queda mais se atreveu a saltar de
qualquer maneira.

Este é para você.


Arianna
A viagem para Oceanside costuma ser tranquila, mas meu
irmão, Mason, e seus dois melhores amigos, Chase e Brady,
chegaram a um acordo tácito na noite passada de que “mais um”
significava mais um pacote de doze1. Então ficaram, se despedindo
bêbados de nossos colegas de classe na última festa de verão que
aconteceria em nossa cidade natal.

Minha amiga Cameron e eu sabíamos que era melhor não


festejar muito na noite anterior a uma viagem, por isso voltamos
para casa mais cedo para terminar de fazer as malas para nossa
última viagem à praia antes de começar a vida universitária.

Uma viagem que não deveria ter levado mais de três horas e
meia, mas já estamos neste maldito SUV há cinco. Aprendemos
anos atrás que longas viagens de carro com garotos/homens de

1
- Pode-se fazer referência a alguém, ou algum evento/festa que é incrível. Um abdômen
musculoso, o famoso tanquinho e/ou alguém que possui atributos físicos redentores suficientes para
que se considere dormir com ele.
ressaca não são divertidas, mas aqui estamos novamente,
dispostas a participar, mas um pouco irritadas, no experimento
“quantas vezes um homem tem que parar para mijar”. A resposta é
sete. Já paramos sete vezes graças à bexiga de bebê de Brady.

Pelo menos eles parecem ter ficado sóbrios nos últimos


quinze minutos, finalmente nos permitindo aumentar o volume da
música o suficiente para que possamos realmente ouvi-la.

Honestamente, eu não deveria reclamar.

Passeios de carro em grupo são praticamente o único


momento em que posso fingir inocência quando me inclino um
pouco mais para a estrela das minhas fantasias, mais comumente
conhecido como o melhor amigo do meu irmão.

“Jogue, mas não force” é o jogo com o qual sou obrigada a me


contentar e sou boa nisso. Provavelmente porque tive quase seis
anos para aperfeiçoá-lo.

Veja, no dia em que Chase e sua família se mudaram para o


outro lado da rua, eu o vi primeiro. Era como se um selo invisível
descesse e pressionasse sua testa, uma etiqueta vermelha grande
e gorda que gritava meu.

Claro, eu estava apenas no colegial, mas tinha visto “The Boy


Next Door2”. Entendi o poder da obsessão e a minha começou no

2
- O filme no Brasil intitula-se “O garoto da casa ao lado”. Conta a história de uma professora de
ensino médio recém-divorciada Claire Peterson, que se envolve com o vizinho adolescente, chamado
Noah, e o relacionamento entre os dois gera consequências inimagináveis quando o rapaz mostra-se
alguém obcecado e inconsequente.
minuto em que coloquei os olhos nele. Certamente, a minha não
era do tipo assassino, e assistir a esse filme me deu objetivos
corporais inatingíveis, mas tudo isso não vem ao caso.

Chase Harper havia chegado ao bairro, e eu estava


determinada a ser a única a mostra-lo ao redor, por isso apertei os
freios da minha bicicleta na beira do gramado, chamando sua
atenção.

No minuto em que seu rosto de aparelho sorriu para mim do


outro lado do quintal, meu gêmeo apareceu do nada, algo em que
ele é inconvenientemente bom.

Mason correu para ele, jogou-o no chão, e quando ele se


levantou, deu a Chase uma bronca que às vezes eu gostaria que
se engasgasse.

Ele rosnou — Fique longe da minha “irmãzinha”!

Horrorizada, vi Chase pular de pé, literalmente, como uma


espécie de merda de macaco-aranha. Pendi a respiração, me
preparando para a luta que suspeitava seguir - sim, meu irmão era
conhecido por nocautear uma criança quando se tratava de mim -
mas então Chase riu e todos nós ficamos em silêncio.

O garoto de cabelos castanhos e olhos verdes virou-se para


meu irmão com grama na boca, um sorriso curvando-o, e
perguntou a Mase em que time de futebol ele jogava. Estava
procurando um para se juntar.

Bufei e fui embora, porque sabia que com essa única


pergunta feita, Mason e Brady tinham um novo melhor amigo, e
eu estava, mais uma vez, colorida de vermelho, um círculo invisível
com barras invertidas pintadas em mim.

No espaço de cinco minutos, a dupla do meu irmão se


transformou em um trio, e nossa casa se tornou o ponto de
encontro preferido deles. Eu nunca entendi toda a coisa do fruto
proibido até então, como não ter algo só fazia você querer mais.

É um monte de merda se me perguntar.

Infelizmente para mim, ninguém o fez, então sentei, forçada


a observar enquanto os atletas do ensino fundamental se
tornavam os gatos do ensino médio.

Toda garota queria uma mordida, mas quem poderia culpá-


las?

Eles eram alunos-modelo, atletas famosos e bad boys


disfarçados. Não importa o tipo de uma garota, um dos três com
certeza se encaixariam na conta.

Gosto de brincar que eles são todos os tons de Dwyane


Johnson 3 , já que ele parece ser diferente, mas extremamente
adequado, independentemente do papel. Brady definitivamente
seria a versão da WWE4. Não, mas na verdade, todos os três foram
dotados de bons genes. Mason, meu gêmeo superprotetor, é alto e

3
- Ator americano extremamente carismático conhecido como The Rock, fez participação em
vários filmes e séries, como “Jumanji”, “Escorpião Rei”, “Velozes e Furiosos”.

4
- World Wrestling Entertainment, Inc., comumente abreviado para WWE, é uma empresa
americana de mídia e entretenimento integrada que é conhecida principalmente por luta livre
profissional.
elegante, e poderia ser literalmente dublê para um Theo James5
um pouco mais jovem. Brady é um boneco Ken volumoso, e Chase
é, bem, o epítome da perfeição.

Infelizmente para mim, todas as garotas concordam.

Ele tem a mesma altura e constituição de Mase, mas seu


cabelo castanho é alguns tons mais claros. Seus olhos, vívidos e
otimistas, são uma mistura de grama e algas marinhas. É gentil,
forte e confiante. Quase tão mandão quanto Mason e Brady, mas
dos três, é o único que nos dá uma folga de vez em quando.

Eu me convenci de que é sua maneira de se diferenciar de um


irmão mais velho protetor para um homem com olhos e desejos
ocultos, mas sou conhecida por ser uma pensadora desejosa.

Nove em cada dez vezes, estou pensando no homem ao meu


lado. É o clichê mais antigo dos livros querer quem não pode ter.
Amor não correspondido pelo melhor amigo do seu irmão, um
irmão que é insanamente protetor, e sim, reconhecidamente um
pouco psicótico quando se trata daqueles com quem se importa.
Não pode ajudá-lo, embora. Assim que tivemos idade suficiente
para saber como meu pai perdeu sua irmãzinha, Mason assumiu
a missão de seguir todos os meus passos. Combine isso com a
morte do namorado de nossa amiga Payton algumas semanas
atrás, e ele é uma pilha de paranoia.

O fato de Chase estar desmaiado durante a maior parte da


viagem hoje provavelmente me salvou de uma dúzia de olhares

5
- Ator britânico que fez o papel de Tobias/Quatro no filme/série “Divergente”.
pelo espelho retrovisor. Tenho certeza que é por isso que Mase
insiste que me sente no meio toda vez que andamos juntos, para
que possa ficar de olho em mim o tempo todo. É doce como meu
gêmeo leva seu papel de “irmão mais velho” tão a sério. Também é
realmente irritante.

Se tivéssemos nos mantido na pista esta manhã, teríamos


chegado à cidade por volta das onze, mas aqui estamos, entrando
na longa entrada da casa de praia às quinze para uma.

Mason mal tem tempo de colocar seu Tahoe 6 no


estacionamento antes de Cameron abrir a porta e pular para fora.
Ela corre pela metade dos degraus e gira sobre os pés descalços,
abrindo os braços com um sorriso. — Vamos pessoal! O tempo já
está passando!

— Temos o resto do mês! — Mason grita pela janela aberta.

— E já estamos com metade do dia para baixo! — Cam


dispara de volta.

Eu sorrio, dando um tapinha no ombro do meu irmão. —


Vamos, Mase, estamos a meio dia de atraso — provoco, e meu
irmão resmunga enquanto saio pela porta, seguindo Cameron ao
longo do deque.

6
- Modelo de carro SUV da Chevrolet.
Ela sorri, pulando para se sentar na beirada do corrimão,
então me junto a ela, e Brady está se aproximando no próximo
segundo.

— Isso é insano! — Cam balança a cabeça, olhando para a


área.

— Foda-se, sim, é. — Brady encara o oceano com um sorriso.

Passos pesados atrás de nós nos informam que os outros dois


se aproximaram, e juntos, giramos.

Nós cinco ficamos ali por um momento, respirando


silenciosamente o ar fresco da beira-mar enquanto olhamos para
a janela do chão ao teto da casa de praia.

Da nossa casa de praia, há um mês.

A minha mãe, a de Cameron e a de Brady são melhores


amigas desde a faculdade, e antes mesmo de se casarem com
nossos pais, compraram uma casa de praia juntas. Com o passar
dos anos, o casamento e nós, os filhos, seguidos, mantiveram este
lugar como um lugar para sempre vir. Então, quando éramos
jovens, acho que houve uma queda no mercado imobiliário, e todos
os nossos pais tiveram a sorte de conseguir casas de férias ao longo
da praia, e desde então, é onde nossas famílias passam todas as
férias escolares. Nunca entendemos o porquê, mas nunca
venderam a casa original que compraram, e essa é a casa em que
estamos prestes a entrar, mas não se parece em nada com o lugar
que vimos quando crianças. Eles a destruíram, partes foram
demolidas e não apenas reconstruídas, mas também adicionadas.
Está completamente renovada.
Litoral azul é a cor, o lugar é enorme. Tem um enorme pátio
envolvente, levando a um enorme deque traseiro, aquele em que
estamos atualmente, e um caminho privado, levando a uma bela
doca cercada por papoulas da Califórnia7 . Há até um completo
sistema de som com alto-falantes embutidos nos cantos das
paredes, pátio e painéis de madeira a cada poucas dezenas de
metros - não há um único ponto dentro ou ao redor do lugar que
a música não possa alcançar. Estando do lado oposto da faixa do
condomínio, é mais isolado, então o som não incomoda os outros
que estão tentando ter umas férias mais relaxantes. É a fuga
perfeita, um palácio na água.

E acabou de nos ser dado.

Para todos nós cinco.

Nossos pais nos surpreenderam em nossa festa de formatura,


entregando-nos uma escritura do lugar, todos os nossos nomes
listados como proprietários iguais. Disseram que decidiram fazer
isso por nós há anos como uma maneira de tentar manter nossa
equipe próxima, não importa onde a vida possa nos levar depois
da faculdade, como o lugar fez para eles depois.

Dividir igualmente entre nós significava que ninguém poderia


decidir vender sem os outros, e se a vida nos levasse em algum
momento, sempre teríamos este lugar para voltar a qualquer
momento.

7
- Eschxchlzia californica é uma flor nativa dos EUA e México. Uma flor simples, com textura
sedosa, quatro pétalas de cor amarela e laranja.
Dizer que estávamos empolgados é pouco, mas para mim
também trouxe uma pitada de pavor. Foi uma conversa meio
deprimente, para ser honesta. Não sou tão ingênua em supor que
nossas vidas continuariam as mesmas, que seríamos nós cinco
para sempre, mas é meio aterrorizante considerar a alternativa.

Novas pessoas entrarão em nossas vidas, sei disso. Alguns


podem ser para melhor, outros para pior.

O que acontece porém se um de nossos mundos for virado de


cabeça para baixo?

E se nos afogarmos no capotamento? Quem estará lá para


nos tirar da água, se nos perdermos no caminho?

Talvez isso seja um pouco dramático, mas é uma


possibilidade real. Uma merda.

A menos de um mês de hoje, o futuro começa.

Meu irmão e os meninos irão para a Avix University para o


início oficial de suas carreiras no futebol universitário, e Cam e eu
iremos para casa fazer as malas, nos preparando para encontrá-
los no campus alguns dias antes da orientação.

Sair de casa é tão real quanto possível.

Será a primeira vez que meu irmão não estará a uma porta
de distância. Embora seja um pouco aterrorizante, também é uma
coisa linda como a casa de futebol está completamente do lado
oposto do meu e do dormitório de Cam, ou seja, Mason não será
capaz de nos “verificar” com tanta frequência. Só isso já valerá a
pena comemorar no dia da mudança.
Eu amo meu irmão, mas caramba. Às vezes precisa recuar.
Ele tem sorte de eu não ter escolhido uma faculdade do outro lado
do país.

Ele também sabe que não há nenhuma maneira que eu teria.


Eu não me dou bem sem a família estar por perto. Alguns podem
chamar isso de ser codependente. Eu simplesmente chamo isso de
uma coisa gêmea.

— Então, ainda estamos bem com a forma como escolhemos


os quartos algumas semanas atrás, certo? — Mason quebra o
silêncio. — Meninas no andar de cima com o banheiro conjugado,
deixando o quarto hóspedes, e um sobressalente, e nós no andar
de baixo?

— Mamãe decorou nossos quartos quando veio checar Payton


e abasteceu a geladeira na semana passada, então...

— Sem devoluções! — Cam me corta com um sorriso.

Os meninos riem e depois Mason respira fundo, tirando a


chave do bolso.

— Sem devoluções. — Ele sorri. — Estamos prontos para uma


renovação? Sem pais, sem regras.

— Desta vez, ninguém tem menos de dezoito anos. — Brady


brinca com Mason, desde que Brady, Mason e eu nos tornamos
legais há três dias.

Olho para Chase, que por acaso olha na minha direção ao


mesmo tempo. Ele sorri e eu combino o dele com um dos meus.
— Oh merda — minha melhor amiga brinca. — As coisas
estão prestes a ficarem reais aqui em cima!

Gostaria de saber o quão verdadeira a declaração de Cameron


se tornaria então, mas não tinha a menor ideia.
Arianna
— A geladeira está aberta, o álcool está na mão, então tragam
suas bundas aqui e vamos começar essa festa! — Cameron
repetidamente bate uma garrafa contra a bancada e não para até
que estejamos virando no corredor da cozinha para nos juntarmos
a ela.

— Cuidado com o granito, Cami baby. Em vez disso, desconte


em mim — Brady brinca, apoiando-se em seus antebraços.

— Da próxima vez, Brady, da próxima vez. — Ela sorri.

Quando ela começa a despejar as doses nos copos que Chase


a ajudou a baixar, deixo meus olhos vagarem.

A cozinha é tudo o que esperaria de uma casa de praia, de


cor clara e ampla. A mesa de jantar é um grande banco em forma
de U com almofadas azuis e brancas nos cantos. Fica em frente à
grande janela de sacada, permitindo que se espreite a praia e
observe o pôr do sol ou o nascer do sol sem pisar fora. Há uma
grande ilha de mármore no centro, o fogão e os fornos duplos
circulando atrás dela, que é onde Cam está agora empoleirada,
cinco copos cheios até a borda ao seu lado.
Ela espera que peguemos um copo, pegando o último como
seu. — Brindemos a todas as merdas estúpidas que faremos
enquanto estivermos aqui, e à explosão que teremos enquanto
fazemos isso.

Nós rimos, e seus olhos azuis se estreitam com brincadeira.


— Estou falando sério, idiotas. Esta pequena folga agora será
oficialmente nossa última lembrança antes de nossas novas vidas
começarem. Isso é enorme!

— Ela está certa. — Chase caminha ao lado de Cam com um


sorriso. — Vamos aproveitar ao máximo.

— Quando não saímos e nos divertimos muito? — Brady


estende a mão, apertando seu joelho. — Estamos prestes a correr
nesta praia, menina.

Cameron aperta suas bochechas, beliscando seus lábios


como um peixe. — Esse é o espírito, garotão. — Ela bica seus
lábios, tomando a dose seguinte.

O resto de nós segue o exemplo, rebatendo nossos tiros.

Meus olhos se apertam com a queimadura do licor, e rio


quando Cameron balança a cabeça, sua língua saindo.

— Muito bem, essa merda é desagradável. — Ela ri,


alegremente passando a garrafa para Brady quando ele a pega.

— Encontrarei vocês, bastardos, na praia. Mase, ligue para o


seu primo, diga a ele para descer aqui, e um de vocês, maricas,
traga a bola de futebol! — Com isso, Brady desaparece pela porta
de correr dos fundos.
Cam se vira para mim, travessura escrita nela. — Vamos,
garota, vamos nos trocar. Há uma gangue de meninos da praia lá
fora chamando nossos nomes.

Eu mexo minhas sobrancelhas para cima e para baixo. —


Talvez esses brasileiros valham a pena, afinal.

— Oh, foda-me, estou fora — resmunga Mason, correndo em


direção à porta do pátio. Ele para enquanto passa, virando-se para
prender Chase com um olhar de expectativa. — Você vem?

A princípio, Chase não se move, mas então balança a cabeça,


e Cameron cobre a sua risada com uma tosse, sabendo que
pintamos uma imagem mental em sua cabeça.

— Sim. — Ele limpa a garganta e pega a bola de futebol do


balde perto da porta. — Logo atrás de você.

Assim que a porta é fechada, Cam e eu nos curvamos, rindo.

— Isso foi ouro. — Ela me cumprimenta e rapidamente


subimos as escadas, arrastando nossas malas para longe da
parede onde os meninos as colocaram antes de desaparecermos
em nossos quartos.

— Vou de rosa sexy hoje! — Cam grita.

— Achei que sim! Acho que vou com o meu preto! — Abro
minha mala, planejando desfazer as malas mais tarde, e tiro meus
trajes de banho.

Estou apenas colocando os laços na parte de baixo quando


ela invade nosso banheiro.
— Amarre isso para mim. — Ela me dá as costas. — Além
disso, estou vetando o maiô preto em favor do vermelho.

Reviro os olhos e ajeito seu top enquanto ela olha para seu
corpo no espelho de corpo inteiro montado na parede à nossa
frente.

— Obrigada, Victoria8, por sua super liquidação de verão —


murmura.

— Ela deve estar fazendo algo errado, porque não vejo


nenhum segredo nessa coisa — provoco, e ela me manda um beijo.

Minha melhor amiga tem um corpo incrível, tonificado e firme


em todos os lugares certos, e quase o oposto ao meu em todos os
sentidos. Cam tem um metro e setenta oito fácil onde eu estou
empurrando um metro e sessenta e cinco. É alta, em forma e
parecida com uma modelo, com olhos azuis cristalinos. Embora
não haja como negar, odeia ser chamada de magra.

Ao crescer, as pessoas a provocavam por ser muito alta e


muito magra. Quero dizer, seriam espancados por Mason ou Brady,
mas ainda assim. Foi ruim por um tempo. Os meninos sempre
tentavam fazer com que sua altura parecesse insignificante,
mesmo quando, por um minuto ali, era mais alta do que eles, mas
não conseguiam tirar a dor que as palavras dos outros lhe
causavam. Ela tentou de tudo, desde dietas ricas em carboidratos

8-
Loja Victoria Secrets.
a medicamentos farmacêuticos, até mesmo adicionando Ensure9
em suas refeições todos os dias por meses, e nada. Seu
metabolismo simplesmente não funciona dessa maneira. Agora
que ficamos mais velhas, aprendeu a ser dona, preencheu mais em
outras áreas e está constantemente indo com os meninos para a
academia para manter o pouco de músculo que adicionou para lhe
dar mais peso. Independentemente disso, ela sempre teve uma
atitude confiante, do tipo “nunca deixe-os verem você suar”.

Cameron joga seu longo cabelo loiro em um rabo de cavalo


alto e se vira para mim.

— Agora. — Ela me joga meu novo maiô vermelho. — Estou


morrendo de vontade de ver como esses bebês ficam nisso. —
Gesticula para o meu peito.

— Sério?

— Ah, sim, vá com força ou vá para casa.

— Mason pode simplesmente arrastar minha bunda para


casa se eu começar com isso. — Zombo, pegando-o, e olho por
cima do corte profundo da frente. — Essa coisa é como “quinto
encontro, tentando ter sorte”, digno.

— Está falando como se ainda não tivesse desfeito seu top


para trocá-lo.

9- Ensure é um Suplemento Nutricional em pó para complementar a alimentação dos adultos, pois


ajuda a fornecer proteínas e outros nutrientes essenciais que podem estar em quantidades
insuficientes na alimentação do dia a dia.
— Touché. — Eu tiro o maiô preto, deslizando para o
minúsculo vermelho.

Cam se esparrama na minha cama, verificando rapidamente


suas notificações, mas então me encara quando viro, dando a ela
minha melhor pose de Marilyn Monroe.

— O que acha?

— Acho melhor agradecer ao grandalhão no andar de cima


diariamente por estas Dolly Ds10 com as quais te abençoou. — Ela
me olha de cima a baixo. — Essas gatas Baywatch 11 da nova
geração não têm nada contra você.

— Ora, obrigada, amiga. Agora vamos.

Dirijo-me à porta.

— Espere — ela corre, rastejando até a beirada da cama. —


Vamos conversar por um segundo.

É claro que ela está nervosa com alguma coisa, então caio no
colchão ao seu lado, esperando que fale.

10- Meninas belas, no caso os seios.

Baywatch é uma série televisiva norte-americana de sucesso sobre salva-vidas que patrulhavam as
11-

mais lotadas praias de Los Angeles. No Brasil como S.O.S Malibu.


— Nossa última viagem terminou em uma triste tempestade
com seu primo e o acidente de carro de Deaton. Isso foi pesado,
mas esta é a nossa chance de terminar o verão com uma boa nota.

— É por isso que fomos para casa com nossos pais por
algumas semanas, para pressionar o botão de reset.

— Não, eu sei, só que agora estamos mais perto do início das


aulas, e assim que chegarmos a Avix, nossos horários estarão em
todo lugar. Pela primeira vez, não teremos muito tempo livre juntas
— começa, um pouco séria demais para ela.

— Cam, somos colegas de quarto. — Eu rio. — Vamos nos ver


bastante e sempre teremos os fins de semana.

— Sim, mas — bufa. — Acho que só quero viver isso, sabe?


Esta é a última vez que não teremos praticamente nenhuma
responsabilidade além de não ficar com cara de merda e ser
assassinada.

Eu rio, mas ela nem faz uma pausa.

— Então, voto para que façamos como fizemos em nossa


pequena viagem secreta, nos divertindo, lançando os dedos do
meio invisíveis para os meninos ao longo do caminho.

— Vamos tomar sol de topless, os meninos que se danem?

Um gemido divertido a deixa e se senta, balançando meus


ombros. — Eu não disse para tentar fazê-los nos matar — ela
brinca com um sorriso. — Mas sim, a mesma vibração.

Nós duas rimos.


— Tão divertido aos dezoito anos de idade, natação, roupas,
churrasco, bebida, dança, paquera... — levanto uma sobrancelha.

— Ficamos com um casal de garotos da praia que nunca mais


veremos — acrescenta com um movimento e termina com um
encolher de ombros. — Os meninos vão, então se queremos fazer
o mesmo, devemos. E a melhor parte é que ninguém aqui terá
medo do “irmão mais velho e seus meninos”. — Ela sorri.

Rindo, me levanto, andando para trás em direção à porta. —


Sem análise excessiva, sem adivinhação, apenas vá com o fluxo de
diversão que podemos ou não ter que esgueirar-se pelos meninos.

— Mas se não pudermos…

— Dedos médios invisíveis e fazemos isso de qualquer


maneira.

— É exatamente disso que estou falando. Foda-se esses


meninos e sua necessidade obsessiva de saber! Vamos nos divertir
o máximo possível e o que quer que aconteça, acontecerá.

— Aconteça o que acontecer, acontecerá — concordo.

Cam grita, pula e joga seu relógio na minha cama. — Agora,


faremos alguns pobres tolos babarem. Não passamos os últimos
quatro meses no Booty Boot Camp12 por nada.

12- Academias que fazem séries pesadas de exercícios em 30 minutos.


Ela empurra sua testa na minha e sorrimos uma para a
outra.

— É o jogo, cadelas.

Vasculhamos a praia ao sairmos do deque de trás, avistando


os meninos a cerca de dez metros abaixo da linha de areia, então
seguimos em direção a eles.

— Parece que Brady já encontrou a garota mais gostosa da


praia para mantê-lo ocupado — Cam brinca, acenando com o
queixo em sua direção.

Aperto os olhos, passando pelo pequeno grupo, parando na


linda garota de pele bronzeada e cabelos escuros empoleirada em
uma pedra, e um sorriso toma conta do meu rosto.

Kalani Embers é o seu nome, e é definitivamente a garota


mais bonita do mundo, mas não está livre para tomar. É a futura
esposa do meu primo Nate, com quem tivemos a chance de
conhecer e sair quando descemos para montar a casa no início do
verão. Ela também é a única garota a vencer Brady em
curiosidades esportivas. Ele literalmente comprou todos os jogos
do livro para “estudar” as respostas, por isso da próxima vez que
a visse, poderia recuperar seu título de sabe-tudo, mas Kalani, ou
Lolli como a chamamos, nasceu no jogo, tendo toda a sua família
feito parte do mundo da NFL13, e as estatísticas são sua arte. O
pobrezinho não tem chance. Ela não é apenas a mais jovem, mas
a primeira mulher dona de uma franquia feminina na história da
NFL.

— Ah merda, aí vem o problema! — Brady assobia, chamando


a atenção dos outros.

Mason geme, balançando a cabeça, gritando na areia. —


Vocês estão tentando me ver nocautear um filho da puta?

— Qual é o problema, Mase, com medo de que alguém morda


a isca? — Brady joga de volta com um sorriso.

Não é nenhum segredo que Cameron tem uma queda por


Mason, mas nenhum de nós realmente sabe o que ele sente por
ela. Ele faz coisas como correr atrás de caras que tentam falar com
ela e a segura quando chora, mas é difícil porque é isso que Mason
é. Protetor por natureza. Cuida dela como cuida de mim, está lá
para ela quando pode precisar dele, assim como os outros
meninos. Tal como eu. É o que fazemos. Somos uma família, nós
cinco, e de onde viemos esse pequeno fato supera tudo. É também
o que o torna tão difícil de entender. É como disse, Mase a trata
como trata a mim, então há uma chance de não haver nada
romântico nisso. Ele sabe se importar; é sempre com tudo o que
ele é. Às vezes é uma benção e uma maldição, porque ele estressa
e analisa mais do que o necessário, mas não consegue evitar.

13
- National Football League é a liga esportiva profissional de futebol americano dos Estados Unidos.
Meu irmão é a pessoa mais difícil que conheço. É tudo o que
um pai esperaria de um filho e mais do que eu poderia pedir a um
irmão. É a pessoa mais importante da minha vida, e se há uma
pessoa neste mundo que quero deixar orgulhoso, é ele. Meu gêmeo
é a outra metade de quem sou, mas isso não significa que eu
entenda cada movimento dele, mesmo que deseje.

De qualquer forma, Cameron se recusa a pensar nisso para


evitar ter esperanças. Ela não está doente de amor, de forma
alguma, e não se senta esperando como eu poderia ser
pateticamente conhecida por fazer, mas do jeito que está, ela
pegaria a sua mão se ele a oferecesse em um piscar de olhos.

O que torna um pouco mais difícil é o fato de que Mason é o


maior flerte conhecido pelo homem, possivelmente pescoço a
pescoço com Brady, mas não quer fazer mal e nunca a levaria
intencionalmente, então acho que só o tempo dirá.

Eu olho para Mason enquanto ele se afasta de Brady, mas


Brady apenas ri.

Lolli sorri, empurrando a pedra em que estava tomando sol.


— Bem, bem, parecendo doce como sempre.

Eu sorrio, me lembrando de não ir para um abraço. Lolli não


é do tipo melindrosa. — Tive que tentar acompanhá-la.

— Garota, por favor. Deveria ter visto o maiô que ela tentou
usar hoje. Eu mesma tive que fazer sexo com ela.

— Então Chase tem que agradecer, hein? — Lolli sorri.

Esmago meus lábios para o lado, e ela ri.


Lolli adivinhou meus sentimentos por Chase no dia em que
nos conhecemos, e adora fazer piadas de mau gosto para deixar os
meninos desconfortáveis, enquanto ainda tenta ser furtiva, mas
apenas para o meu bem. Diria abertamente a ele para me despir
na areia se dependesse dela. Ela está comigo assim.

— Já ouviu falar de Kenra? — Pergunto sobre minha prima,


a irmã mais velha de Nate, enquanto os eventos de algumas
semanas atrás passam pela minha mente.

Kenra acabou de sair de um relacionamento abusivo, que


piorou quando seu agora ex-noivo bateu com ela e seu irmão mais
novo no carro. Ele e Kenra se saíram bem, mas seu irmão mais
novo, o pai do bebê ainda não nascido de Payton, não teve tanta
sorte. Ele tinha apenas dezessete anos.

Fale sobre uma bagunça cruel.

— Como está Payton?

Lolli levanta um ombro, olhando para trás dela, onde vejo


Payton andando pela praia. — Eu tento não perguntar. Sou melhor
em entretenimento, então a mantenho ocupada quando posso.

— Aposto que isso ajuda mais do que imagina. — Cam sorri


para ela.

Lolli olha para o lado, desconfortável com as coisas


profundas, então mudo de assunto.

— Então, qual é o plano para hoje ou temos um? — Pergunto,


olhando para todos.
Brady dá de ombros, jogando a bola de futebol no ar. — Acho
que começaríamos bem, saindo para comer, dançar, nos fodermos
e depois vagabundear e fazer fogueira amanhã?

Cam e eu acenamos. — Parece bom para nós. Lolli, vocês


estarão conosco?

— Meu homem se apresenta para o treino em dois dias, então


isso seria um não. — Ela sorri. — Ficaremos trancados em nosso
quarto a noite toda, mas veremos vocês amanhã, tenho certeza.

— Nessa nota… — Nate se aproxima, nos dá um abraço, e


acena adeus no próximo segundo, rapidamente carregando sua
noiva em direção à casa deles.

— Bem, tudo bem então. — Cameron ri. — É uma noite de


dança suja, mas primeiro! — Decola, correndo direto para as águas
abertas, Brady em seus calcanhares.

— Espere, estou pegando Pretty Little 14 . — Ele balança a


cabeça na direção de Payton. — Ela precisa de um pouco de
distração. — Com isso, Mason corre alguns metros pela praia em
direção à jovem loira sentada sozinha em uma pedra, procurando
por respostas que não encontrará nas ondas da Califórnia.

Lentamente, Chase e eu nos aproximamos da beira da água.

14
- Lindinha.
Ele bate seu ombro no meu. — Está feliz por estar de volta à
praia?

— Sempre, você sabe disso. — Eu sorrio para ele, mas uma


respiração pesada me deixa quando olho para frente. — Vamos
torcer para que desta vez seja menos traumático.

— Sim. — Ele concorda. — Não consigo imaginar o que ela


está passando.

Nós olhamos na direção de Payton a tempo de testemunhar


seus olhos se arregalarem, tendo visto Mason vindo para ela no
último segundo. Ele se inclina, levantando-a sem esforço, e ela
grita no ar, nos fazendo rir.

Sorrio atrás do meu irmão, uma calmaria que só o oceano


parece me trazer se acomodando sobre meus ombros. — Acho que
esta viagem será diferente.

Ele dá uma olhada. — Sim?

— Sim. — Concordo. — Quando chegamos no final de junho,


ainda parecia que tínhamos acabado de sair da escola, sabe? Como
se tivéssemos o verão inteiro pela frente, mas não temos mais. O
verão está quase acabando e sairemos por conta própria assim que
sairmos daqui. É apenas... diferente. Como se tivéssemos
crescidos e esta é a vida agora. — Eu torço meu nariz e me viro
para olhar para ele. — Você não acha?

Aquele seu sorriso unilateral que amo aparece. — Sim. Acho


que será diferente. — Ele fica quieto por um segundo antes de
acrescentar — Talvez muitas coisas sejam diferentes agora.
É como se ele estivesse falando mais consigo mesmo do que
comigo, então não respondo.

Um momento depois, para de andar e me encara. Ele franze


a testa para o meu maiô, e não posso deixar de rir.

— Há algum problema?

— Sim. — Ele acena com a cabeça, seus olhos levantando


para os meus. Sua carranca dobra, mas nem um segundo depois,
um sorriso puxa seus lábios, um que reconheço.

— Chase — aviso, mas antes que possa fazer uma pausa, ele
já me jogou por cima do ombro e está correndo para o oceano.

Os outros riem quando sou jogada de bunda e nadam para


se juntar a nós.

Eu gostaria de poder congelar este momento, toda a nossa


equipe aproveitando o último pedaço do sol do verão, porque quem
sabe o que a lua do verão trará.

Olho para Chase, que sorri para mim do outro lado da água.

Eu, por exemplo, mal posso esperar para descobrir.


Arianna
— Apressem-se, pirralhos! O táxi deve chegar a qualquer
minuto! — Mason grita do pé da escada.

— Ugh, esse homem, juro, ele está tão rígido. — Cam sorri
para o espelho. — Acha que ele me deixará ajudá-lo com isso?

— Cameron. — Eu rio. — Ai credo!

— Oh, relaxe Virgem Maria. — Ela me examina e se inclina


sobre a pia para terminar seu rímel. — E o que pensa que está
fazendo? — Olha para o meu vestido. — Tire essa coisa horrível,
parece que está prestes a caçar ovos de Páscoa, não se divertir na
pista de dança.

— Não é tão ruim e não posso usar aquele pedaço de sucata


que chama de vestido.

— Sim, pode.

— Você quer se divertir? Eu tenho que pegar e escolher o meu


sexy e a primeira noite não é a noite.
Ela empurra o dedo apontado no ar, levantando uma
sobrancelha loira perfeitamente em forma. — Au contraire15 minha
florida amiga… — Gira. — Esta noite é a noite perfeita para sexy.
É hora de ficar bêbada e se isso significa que Mason será forçado
a encarar o fato de que você, de fato, tem uma vagina, então que
assim seja.

Aperto meus olhos fechados, não chegando nem perto desse


comentário.

— Vamos! — Cameron ri. — Concordamos em nos divertir!

— Vamos, mas não posso não me importar no primeiro dia.

— Querida, falo pelo seu cha-cha16 quando digo que o vestido


tem que ir. Tipo, para o lixo.

Eu tento não rir, mas não adianta. Cam e eu ainda estamos


rindo quando Brady começa a bater a minha porta.

— Ei! Vocês parecem estar se divertindo demais. Se houver


travesseiros e calcinhas envolvidas, quero entrar! — Ele grita.

— Foda-se, Brady! — O grito de Mason vem de... quem diabos


sabe onde. Ele nunca está muito longe.

15
- Pelo contrário - em francês.

- Vagina.
16
A risada de Brady chega até nós. — De verdade, estão
prontas? Uber está parando!

— Merda. Sim, estamos chegando! — Cam grita, me olhando


de lado.

— ECA! Eu te odeio — resmungo, puxando meu vestido sobre


minha cabeça e estendendo minha mão para ela. — Dê-me a
maldita coisa.

Com um sorriso triunfante no lugar, Cameron bate o vestido


preto furtivo na palma da minha mão. Eu o coloco, rapidamente
entrando no sapato preto com um salto dourado que coloca a
minha frente em seguida.

— Feliz? — Ergo meu quadril.

— Em êxtase. — Ela sorri. — Agora, vamos antes que seu


irmão entre.

Meu vestido é simples, mas sexy. É um top que desce a frente,


justo e furtivo na minha cintura, e afrouxa nos quadris para
permitir uma dança sensual. Meu cabelo castanho escuro está
puxado para trás em um rabo de cavalo alto e apertado e o olho
esfumado está em pleno vigor. Não faço “maquiagem completa”
diariamente, mas é uma das minhas partes favoritas sobre sair.
Pegando um par de brincos pretos da minha bolsa, corro para o
corredor atrás de Cam, sorrindo com a vista enquanto a observo.

Ela está usando um vestido tubinho roxo profundo que é


apertado do peito até a bunda. Combinou com sapatos nude e
deixou as pálpebras sem sombra, apenas com uma camada grossa
de rímel. Seu longo cabelo loiro está solto, como grandes ondas de
praia. Minha melhor amiga está bem.

— Muito bem, vadia! — Enlaça seu braço no meu quando


chegamos ao último degrau da escada. — Hora do show!

Agarro meu brinco e mantenho minha cabeça erguida.

Brady, como sempre, é o primeiro a nos ver, e seu apito


infame segue.

— Cacete! — Brady se aproxima de nós, dando um beijo em


nossas bochechas enquanto nos agarra pelas mãos. — Faça um
pequeno giro para mim. Mostre-me o que tem.

Nós rimos, mas giramos como ele pediu.

— O que acha, Brady? Passamos?

— Com a merda das cores. — Ele sorri. — Vamos, doses na


cozinha antes de sairmos.

— Eu pensei que nosso Uber estava aqui?

— Tive que trazer suas belas bundas aqui de alguma forma


— admite enquanto bate em nossas bundas.

Mason vira à medida que entramos, instantaneamente


franzindo a testa.

— Que diabos? — Estala. — Eu juro que você quer que eu vá


para a cadeia.
— Legal. — Eu rio, balançando a cabeça. — Não haverá
algemas esta noite.

— Quero dizer — Cam começa, batendo seus cílios


dramaticamente. — A menos que queira que haja...

— Está bem. — Ele joga as mãos para cima. — Que seja. Use
um vestido que caiba em nossa vizinha da primeira classe o quanto
quiser, mas precisarei de um duplo para essa merda.

— Eu tenho você, meu homem. — O sorriso de Brady cresce.


Ele olha furtivamente em minha direção, travessura escrita em
cima dele.

Ele estende a mão, passando a mão para cima e para baixo


no meu braço lentamente, parando para descansá-lo no meu
quadril. Usa a outra mão para servir minha dose, então a leva até
meus lábios.

— Abra, Ari baby — diz em um tom baixo e rouco.

Eu travo os olhos com ele, jogando seu joguinho, e faço o que


me manda. Seus olhos nunca deixam os meus, uma risada na
ponta da língua enquanto ele despeja o líquido quente na minha
garganta. Uma vez que engoli, estende a mão para passar o polegar
no meu lábio inferior para obter a única gota que não entrou na
minha boca.

— Você é um idiota. — Mason geme de brincadeira, e não


podemos segurar, ambos rimos.

— Está bem, filho da puta, chega de show. — Chase franze a


testa, apontando para a garrafa. — Agora nos sirva uma dose para
que possamos sair daqui.
Cam astutamente desliza a mão atrás das costas dela, e eu a
encontro com a minha para um high five 17 secreto, ambas de
frente, sorrisos puxando nossos lábios.

Brady bate palmas. — Tudo bem, pessoal, para a nossa


primeira noite como adultos bebedores legais! — Pega sua dose e
a levanta no ar. — Bem, de acordo com as identidades falsas que
consegui de qualquer maneira!

— Uau! — Cam grita.

Batemos nossos copos juntos em aplausos e bebemos nossa


bebida.

— Vamos rolar, cadelas! — Cam joga por cima do ombro a


caminho da porta.

Nós quatro a seguimos.

Brady passa a viagem inteira de dez minutos analisando os


prós e contras do que dizer e como agir quando pegamos nossas
identidades falsas, mas acontece que sua preocupação é um
desperdício.

O segurança na porta nos deixa passar depois que Cameron


sorriu para ele. Ela também pode ter pedido a ele para verificar o
zíper na parte de trás de seu vestido, mas ei, ele está feliz em
ajudar.

É um gesto ou cumprimento, que ocorre quando duas pessoas tocam as mãos no alto, simbolizando
17-

parceria, amizade e/ou vitória. O famoso “toca aqui”.


Os rapazes, no entanto, tiveram que mostrar suas
identidades, mas o sósia de Tom Hardy 18 não pestanejou duas
vezes para eles, parecendo legítimos. Isso, ou ele realmente não se
importa.

No momento em que passamos do limiar, Cam grita,


agarrando meu braço. — Este lugar é incrível! — Grita, já movendo
seu corpo ao som da música.

O clube é um círculo gigante com um piso plano aberto.


Cabines circulares com mesas e cadeiras brancas se alinham do
lado direito e esquerdo, com o bar se estendendo pela parede dos
fundos. A iluminação é escura com um tom azul, mas não em um
tipo de luz negra. É mais uma sensação encantada e gelada. O piso
brilha em prata metálica, aumentando a ilusão.

Cameron nos leva a uma mesa perto do bar e nos sentamos


para tomar algumas bebidas. Uma hora e três Midori Sours 19
depois, meu corpo está cantarolando e estou pronta para entrar
na pista de dança. Para ser justa, nós, garotas, estávamos prontas
assim que entramos, mas os rapazes queriam “examinar a cena’
primeiro – brutos superprotetores. Contemplando meu próximo
passo, olho ao meu redor. Estou bloqueada na cabine, Chase à
minha esquerda, os outros à minha direita, então só há uma
direção lógica a seguir. Lógica, mas potencialmente problemática.

Tom Hardy é um ator, produtor e roteirista inglês conhecido por seus papéis como Bane em
18 -

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, Max em Mad Max e Eddie Brock em Venom.

19
- É um coquetel de cor verde que mistura licor de melão com vodca e suco de limão.
O licor em mim não parece se importar, já que minha bunda está
levantando do assento.

Eu me movo rapidamente antes que possa ser parada e antes


de me acovardar, deslizando meu corpo sobre o de Chase, cada
músculo dele travando em contato. Não há muito espaço entre as
mesas e os topos dos assentos, então a única maneira de passar
pela abertura é pressionar minha bunda um pouco no seu colo,
por isso pressiono.

Instantaneamente, suas mãos voam para meus quadris, e ele


me empurra rapidamente, cuidadosamente me colocando de pé ao
lado da mesa, seus olhos voando para Mason, pouco antes de falar.

— Poderia ter pedido para ele se mover, Ari. — O olhar do


meu irmão queima minha bochecha.

Ignoro. — Como pode ver, querido irmão, não havia


necessidade. Estou de pé e agora... vou dançar.

Cam grita, rapidamente se colocando ao meu lado. — Não


sem mim, vadia!

— Maldição — Brady fala, fazendo com que todas as nossas


cabeças se voltem na direção em que ele está babando.

Com um sorriso gigante no rosto, cutuca o ombro de Mason.


— Mova-se, mano. — Colocando o polegar sobre o ombro, Brady
aponta para a morena inclinada sobre o bar. — Eu tenho que ir
até lá.

— Não pode nem ver o rosto dela daqui. — Cam torce o nariz.

— Mas que bunda — diz, olhando para mim com expectativa.


Eu sorrio largo, pegando o que ele está colocando. — Toda
essa bunda…

— Nesses jeans — Brady termina com uma risada,


levantando a mão para um merecido high five. — Sabia que você
não decepcionaria.

— Está bem, Waka Flockas20, vamos. — Cameron revira os


olhos, me puxando para a pista de dança.

Nós nos esprememos entre alguns grupos de pessoas,


encontrando um lugar agradável e cheio de gente perto do centro,
e nos soltamos.

— Garota, estou me sentindo bem agora! — Cam grita sobre


a música.

— Mesmo! — Eu rio. — Aquela última bebida escapou de


mim.

“She Knows” de Ne-Yo começa a tocar pelos alto-falantes e


trocamos olhares.

— Ah merda — gritamos em uma risada bêbada, e então


vamos trabalhar.

20
- Waka Flocka Flame, é um rapper norte-americano que escreveu a música “Down Ass Girl”
(Abaixe Mulher Gostosa ou Abaixe Garota da Bunda Boa).
Balançando nossos quadris, girando nossos corpos ao ritmo,
absorvemos nossa primeira noite em um clube. Fecho os olhos e
deixo a música tomar conta do meu corpo, como sempre fiz.
Quando estou feliz, triste ou brava, qualquer coisa, música é o que
procuro. Relaciono a vida com as letras, o tom com o humor.

A batida pode me acordar ou me derrubar, as palavras podem


me levantar ou me deixar uma bagunça sentimental. Muitas
pessoas evitam músicas que as fazem lembrar da dor quando estão
se afogando nela, mas digo que deixe essa otária te levar para
baixo. Quando as pessoas se sentem bem, tendem a tocar uma
música borbulhante que as fazem dançar, então se dançará
quando sentir vontade de dançar, por que não chorar quando
precisar?

Eu preciso de música como meu gêmeo precisa de futebol;


está em nossas almas, e agora, minha alma está se sentindo
sensual.

Não demora muito para um cara loiro abrir caminho pela


multidão e começar a se esgueirar para mais perto. Sorrio, dando-
lhe o ok, então ele entra e começamos a dançar. No meu periférico,
noto Chase e Mason dançando com algumas garotas a apenas
alguns metros de distância. Não tenho dúvidas de que é proposital,
a maneira deles de ficar de olho em nós, garotas, mas para dar
crédito a eles, elas não interrompem. Provavelmente porque
mantemos nossos parceiros à distância. Algumas músicas depois,
toca “Loyal”, de Chris Brown, e Cam grita ao meu lado.

Eu jogo minhas mãos no ar de novo, trocando meu parceiro


pela minha melhor amiga, e cantamos junto como duas garotas
bêbadas em um bar de karaokê, alto e desafinado. Cam aponta o
queixo na direção dos nossos rapazes, e sei exatamente o que ela
está pensando.

Nós nos dirigimos para os rapazes, bem a tempo de cantar


junto com o refrão, enviando uma a outra para outro ataque de
riso.

— Lindas, meninas. — Mason ri, afastando-se da ruiva


carrancuda. — Real, fofo.

Cameron sorri, abanando-se. — Eu preciso de uma água e


outra bebida!

Mason olha ao redor, presumivelmente em busca de Brady, e


então joga o braço sobre o ombro de Cameron. — Vou levá-la! —
Grita, puxando-a em direção ao bar, mas não antes de apontar
para mim, seus olhos em Chase. — Fique com ela.

Eles se afastam e encaro Chase, dramaticamente balançando


meus ombros e ele ri, balançando a cabeça, mas não aceita o
convite, então danço sem ele.

Meus olhos se fecham e caio na música, e cerca de meia


música depois, o calor da proximidade de Chase toma conta de
mim. É preciso muito esforço, mas não abro os olhos, ainda não.
Espero, continuando a balançar com a música, e finalmente, ele
se aproxima um pouco. Meus sentidos estão inundados com seu
cheiro limpo de sândalo, e meus olhos se abrem, travando em seu
olhar injetado de sangue. Seus movimentos estão um pouco soltos
por causa da bebida, mas ele continua, e quando coloco minhas
mãos em seus ombros, trazendo-me um pouco mais, ele permite.
— Bem, olhe para isso — provoco. — Estamos quase
dançando.

Um sorriso puxa o canto de sua boca, e respiro fundo quando


sua mão livre cai no meu quadril. — Você é corajosa por usar essa
coisa. — Ele puxa o tecido elástico.

— Gosta disso?

Ele franze a testa e uma risada baixa me deixa, mas não digo
mais nada, o calor de sua mão fritando meu cérebro. É tudo em
que consigo pensar.

Suas mãos em mim.

A cada segundo que passa, minhas fantasias me puxam mais


fundo, meu batimento cardíaco ficando errático.

Movendo-se com o seu corpo roçando o meu, serve como um


acelerador, bombeando meu sangue em um ritmo acelerado,
enviando o álcool correndo através de mim direto para o meu
cérebro, e com ele, lavando meu senso de razão, ou pelo menos
essa é a única coisa que posso descobrir por que de repente me
atrevo a arrastar minhas mãos um pouco mais para baixo.

Quadris ainda rolando, lentamente corro minhas palmas


sobre a curva de seus ombros, deslizando-as sobre os cortes de
seu peitoral.

Os olhos de Chase voam para os meus e minhas mãos


decidem subir, mais e mais alto, até que meus dedos estão
passando ao longo de seu pescoço. Chase engole, uma pequena
carranca crescendo ao longo de sua testa.
O baixo da música bate descontroladamente sob nossos pés,
as luzes mudam de cor, escurecendo o espaço ao nosso redor, e a
multidão parece se arrastar. Estamos barricados agora, Chase e
eu. Já dançamos antes. Em aniversários e festas de aniversário de
nossos pais, bailes escolares de casal, mas não assim. Não perto e
nunca depois de algumas bebidas.

Isso é novo. Diferente.

Meus dedos encontram seu caminho em seu cabelo, e coço a


base de seu crânio em um movimento suave, como uma
massagem. Eu me mexo um pouco, por acidente, e ele sibila
quando minha coxa roça a prova de sua excitação.

Ele está duro. Puta merda, está duro por minha causa.

Eu começo um novo ritmo, meu corpo aplicando um pouco


de pressão em seu pacote com cada movimento, e suas mãos
sobem, agarrando meu pulso, seus lábios encontram meu ouvido.

— Ari, o que está fazendo?

Tequila está pesada em seu hálito e envia um zumbido de


antecipação pela minha espinha quando me lembro da minha
conversa com Cameron, uma nova confiança flutuando através de
mim.

— O que estou fazendo? — Repito sua pergunta e me afasto


para encontrar seu olhar puxado. — Estou fazendo o que eu
quiser. — Meninos que se danem.

Suas feições puxam, apertando a cada centímetro. Esmago


meus lábios nos dele.
Chase fica tenso, suas mãos se contorcendo contra mim em
um segundo, voando para agarrar meus bíceps no próximo, e
então está nos separando, seus longos braços esticados ao
máximo. Olhos arregalados e injetados encontram os meus, e seu
rosto empalidece.

Chase balança a cabeça e suas feições começam a


desmoronar. — Arianna... não.

Minha boca se abre, mas nada sai, e suas mãos sobem para
esfregar seu rosto. Lágrimas incomodam a parte de trás dos meus
olhos quando observo a expressão mortificada em seu rosto. Minha
pele cora e desvio o olhar.

Mason e Cam atravessam a multidão e as mãos de Chase


voam do meu corpo, varrendo seu cabelo, enquanto coloca o maior,
mais falso e mais apertado sorriso que já vi.

Minhas entranhas racham quando a realidade se instala.

Eu queria beijá-lo e ele não queria me beijar de volta, mas


nada dói mais do que o olhar de horror em seus olhos quando
percebe o que eu fiz. Sem sua permissão, o forcei a cruzar a linha
que mantinha três metros à sua frente. Essa pequena linha agora
está coberta por uma camada de areia molhada, e todos que já
pisaram no oceano sabem que não é tão fácil de limpar. Fica mais
espessa com vento e ondas, e estamos no sul da Califórnia, então
temos isso em abundância.

Não que isso importe, porque se sua expressão de pânico diz


alguma coisa, é que ele jogará essa merda até o fim do oceano se
for preciso.
Felizmente, o álcool não só passa por nós dois, mas também
pelos dois que agora se juntaram a nós, para que não percebam
nada, e quando meu irmão me passa uma garrafa de água, beija
minha testa antes de se virar para seu melhor amigo com um
sorriso desleixado, aceito com um sorriso apertado. Eu termino
metade da garrafa e viro para Cameron. Ela me entrega uma das
doses em suas mãos, e antes de jogá-las de volta, Brady aparece
do nada, pronto com uma bebida própria.

Todos os cinco formamos um pequeno círculo, bebendo


nossas bebidas de uma só vez, e não para por aí, a necessidade de
ficar mais bêbada do que nunca, então, sempre que alguém sugere
outro, estou lá para nos estimular ansiosamente.

Eu me sinto uma tola, mas as luzes baixas e a quantidade de


álcool embaçando minha visão escondem as lágrimas que
escorrem sem permissão. Agradeça ao inferno por isso e agradeça
aos céus pelos generosos bartenders, que nos atendem após a
última chamada.

Não é até bem depois das duas que estamos tropeçando para
fora do Uber e caminhando até a entrada da nossa porta da frente.

Cameron puxa os sapatos dos pés e começa a pular na ponta


dos pés. — Apresse-se, Mase! Eu tenho que fazer xixi muito ruim.
Você nem sabe!

Ele ri, lutando com a maçaneta. — Estou tentando, mas esta


chave está quebrada ou algo assim — insulta.

— Oh meu Deus! — Suspiro, olhando ao redor. —


Esquecemos Brady! — Chuto Mase.
— Merda, Ari! — Ele começa a pular, mas perde o equilíbrio
e cai na parede ao nosso lado.

Uma risada jorra de mim, e tropeço nos meus calcanhares,


rapidamente me segurando no poste da varanda à minha direita.

— Brady saiu com aquela garota — Cameron reclama, ainda


dançando, esperando para entrar.

— A garota da bunda grande?

— Não, a garota de peitos grandes.

Oh sim. Eu me recordo dela.

Mason se atrapalha com a fechadura novamente, e assim que


consegue alinhar a chave com o buraco, escorrega de seus dedos,
caindo no chão do deque. — Porra. — Ele ri, envolvendo a mão ao
redor da maçaneta e sacudindo-a.

Chase ri atrás de mim, e me viro para encontrá-lo curvado


sobre a grade, segurando sua preciosa vida. Um estrondo alto soa
e me contorço a tempo de testemunhar Mason caindo enquanto
tenta agarrar o corrimão.

— Merda! — Cam grita, caindo de joelhos a sua frente.

Meio segundo depois, o “oh porra” de Chase soa.

Eu me viro enquanto ele tropeça para trás, caindo de bunda


no fundo da varanda, com as pernas esticadas nos degraus a sua
frente.
Estou presa olhando, minha cabeça balançando de um lado
para o outro, me deixando enjoada.

Cam começa a rir incontrolavelmente, cai de bunda e encosta


a parte superior do corpo em Mason, que parou de tentar se
levantar, os olhos já se fechando.

— Poderíamos tirar vantagem deles agora mesmo. — Ela


sorri.

Não posso deixar de rir, e então tiro meus sapatos, caio em


uma das espreguiçadeiras da varanda e solto uma respiração
profunda.

Álcool para a vitória.


Arianna
O sol está quente e convidativo hoje, o completo oposto de
ontem, quando nós quatro acordamos com a risada alta de Brady
por volta das cinco da manhã.

Nunca conseguimos entrar em casa, desmaiados e ao redor


do pátio, que é exatamente como Brady nos encontrou. Depois de
dormir um pouco, tentamos descer para a água para ficar com
nossos primos e amigos, mas não conseguimos passar do deque,
nossas ressacas dando uma volta da vitória. Então, viramos e nos
jogamos nos sofás. Era um tipo de dia de maratona de filmes.

Hoje, porém, acordamos satisfeitos e prontos para um pouco


de diversão. Fomos tomar o café da manhã no Oceans Café, um
lugar pelo qual Lolli ajudou, e depois fomos à loja para testar a
identidade falsa de Brady lá. Funcionou e estamos duplamente
abastecidos, apenas no caso.

Já que temos tudo o que precisamos para a fogueira hoje à


noite, desempacotamos as lembrancinhas e fomos para a areia.

Cam, Mason e Brady saem correndo, indo direto para a água


fria, mas coloco minha esteira de praia e não perco tempo caindo
nela. Fecho os olhos e sorrio enquanto o sol penetra na minha pele,
mas o leve movimento ao meu lado me faz olhar para cima.

Chase fica lá, olhando para nossos amigos com uma


expressão distorcida, então paro e puxo seu calção para chamar
sua atenção.

Ele olha para baixo, e me apoio nos cotovelos, usando a


palma da mão para proteger o brilho dos meus olhos. Eu aceno
com a cabeça para ele se juntar a mim. Hesita um segundo, então,
sem olhar para mim, desce, imitando minha posição.

Uma pitada de ansiedade toma conta de mim, pois sei que


não podemos mais escapar do que aconteceu no clube. Este é o
primeiro momento que tivemos sozinhos desde aquela noite e sei
que não sou a única que percebe isso.

Confesso que acordei um pouco envergonhada no dia


seguinte, mas não o suficiente para me arrepender. Se ele tivesse
mostrado qualquer sinal de raiva ou me ignorado depois,
provavelmente faria, mas não fez. Ele não encontrou exatamente
meus olhos, mas também não evitou. Porém, está agora, a tensão
em seus ombros dobrando a cada segundo que passa enquanto
tenta se concentrar nos outros brincando no oceano diante de nós,
mas eu sei que ele nem está vendo o que está a sua frente. Sua
mente está confusa por mim, ou mais, por minha causa.

Seu queixo encontra seu peito, e então vem.

— Estamos bem? — Pergunta, seu foco apontado para a areia


abaixo dele.

— Por que não estaríamos?


— Vamos, Ari. Não faça isso. — Balança a cabeça, olhando
para longe.

Uma onda de apreensão passa por mim e respiro fundo. —


Chase, olhe para mim, por favor.

Ele o faz, revelando tristeza e confusão.

— Fale comigo. O que está acontecendo aí dentro? —


Pergunto, batendo na minha têmpora com a mão livre.

Suspirando, ele se deita ao meu lado, virando a cabeça para


olhar diretamente nos meus olhos.

Como diabos eu deveria me concentrar com ele tão perto, não


sei, mas dou a ele um pequeno sorriso, encorajando-o a falar. Ele
está olhando para mim tão intensamente que eu quero desviar o
olhar, mas não vou.

— O que foi aquilo no clube? — Entra no assunto.

Um nó se forma na minha garganta, mas engulo em seco.

— Estava me soltando.

— Beber com os amigos é se soltar.

Seus olhos se estreitam e suspiro, empurrando para cima em


uma posição sentada. — Se está procurando um pedido de
desculpas, não posso te dar um.

— Só estou tentando entender.


Uma risada ferida e sem humor me deixa e olho para o céu.
— Não finja que não sabe — sussurro. — E não finja que não
estava tão curioso quanto eu, mesmo que não quisesse, eu sei que
pensou nisso.

— O que isso significa?

Minha cabeça sacode em sua direção e franzo a testa. —


Poderia ter se afastado, mas não antes de me abraçar mais forte.

— Fiquei chocado! — Sussurra grita. — Essa era a última


coisa que eu esperava que fizesse.

— Sim? — Estalo uma sobrancelha. — Foi o choque que te


deixou duro?

— Uau! — Suas mãos voam para cima, e novamente, corta


seu olhar ao nosso redor. — Esse foi o licor, o humor e...

— E eu. — Balanço minha cabeça. — Talvez você não quisesse


que nada acontecesse, mas não pode negar isso. Sei que
estávamos bêbados, acredite em mim, não precisava do lembrete.
Provavelmente teria sido covarde demais para fazer isso sóbria,
mas não me arrependo de ter feito isso. Eu faria de novo.

— Não — corre de seus lábios com sua próxima respiração


tão rapidamente que ele mesmo não percebeu que estava saindo
até que saiu.

Nós dois ficamos tensos.

Chase baixa os olhos para a areia mais uma vez, lentamente


trazendo-os para mim. — Não — sussurra, tão baixo que quase
não passa. — Isso não pode acontecer de novo. Eu te amo, Ari,
sabe disso, mas isso não é... não podemos.

— Não podemos como não deveria? — Engulo, forçando meu


olhar a não cair do dele quando quero me esconder. — Ou não
pode como se não quisesse?

Chase exala duramente, um sorriso trágico puxando a borda


de seus lábios. — Ambos, Ari.

Eu me afasto, colocando mais espaço entre nós, e ele estende


a mão para mim, mas puxo de volta.

— Eu sinto muito. — Seus ombros caem em derrota.

Eu inalo, voltando meus olhos para os dele. Quero ficar com


raiva. Gritar, berrar, mas não permitirei que minha decepção
nuble a verdade, porque sei melhor. Chase não está dizendo isso
para ser cruel. Ele não é malicioso ou manipulador.

Ele é apenas... o melhor amigo do meu irmão.

Nós nos encaramos por um momento, e então seus lábios se


contraem.

— O quê?

— Estou um pouco surpreso que tenha isso em você. — Ele


sorri.

Uma risada envergonhada escapa dos meus lábios, e enterro


meu rosto nas palmas das mãos, mas ele estende a mão, puxando-
as para longe. Eu rio de novo, mas Chase, não, e lentamente, o
humor em seu rosto começa a desaparecer.
Engulo. — Chase...

— Cuidado!

Antes que possa reagir, sou atingida na cabeça por algo, o


impacto do objeto estranho me derrubando levemente.

— Merda! — Os braços de Chase levantam, congelando no ar.


— Ari! Você está bem?

Esfrego a cabeça, vendo uma bola de futebol perto dos meus


pés.

— Sim, estou bem. Não doeu, isso... — Minhas palavras se


alojam na minha garganta enquanto minha pele se arrepia, o peso
de uma mão quente caindo nas minhas costas nuas logo abaixo
da alça do meu biquíni.

Espio por cima do meu ombro, e minha respiração falha


quando travo os olhos com um estranho.

Um estranho de olhos azuis. Um azul tão profundo, como a


noite de um oceano tropical tempestuoso.

Não, isso não está certo.

São mais como meia-noite. Quando a lua está mais brilhante


no céu, lançando uma sombra sobre o mar escuro, ou é azul
metálico, como um peixe arco-íris?

Eu não posso dizer com certeza.

Olho para seu cabelo, um tom profundo e escuro de marrom;


é como se tivesse acabado de sair da água, e talvez tenha saído.
Não sei. Ele tem aquela coisa meio bagunçada e com estilo.
Gostaria de saber se é macio.

Parece macio.

E aqueles lábios. Eu...

Espere.

Que diabos estou fazendo? Eu nem conheço o cara.

Falando sério contudo, quem tem lábios tão perfeitos assim?


E a maneira como se movem quando ele fala é como a sincronia
perfeita de uma sinfonia...

Levante-se. Seus lábios estão se movendo.

Ele está falando comigo. E agora está... sorrindo?

É um sorriso muito bom também, meio torto e fofo.

Oh, meu Deus, ele está totalmente rindo de mim. Meus olhos
voam para cima, encontrando humor e inquisição nadando em seu
olhar.

— Eu... — engulo. — O quê?

O calor se espalha pelo meu peito, e sei que não há nada que
possa fazer para esconder o rubor tomando conta.

O homem misterioso solta uma risada baixa que faz algo


queimar na boca do meu estômago.

E é oficial. Estou oficialmente enlouquecendo.


Uma garganta limpa atrás de nós.

É Chase.

Meu Deus, Chase!

Eu rapidamente fico de pé, me dando alguma distância,


deixando Chase sentado no chão com o homem misterioso dobrado
nos joelhos ao seu lado.

— Você está bem? — Pergunta o homem misterioso,


escondendo seu sorriso.

Eu disse esconder? Quis dizer tentando esconder seu sorriso


e falhando. Miseravelmente.

— Ei, dezenove! — Uma voz familiar chama de algum lugar


distante.

O homem vira a cabeça, recusando-se a tirar os olhos dos


meus até o último segundo, quando olha por cima do ombro.

Eu sigo sua linha de visão para encontrar Brady andando.

Brady acena com o queixo, o universal “que estou prestes a


acertar esta bola e é melhor estar lá para pegá-la” em movimento,
todos os rapazes parecem entender, e então ele faz exatamente
isso.

O rapaz pega sem esforço. Sério. Nenhum esforço.


Praticamente ficou de pé, levantou a mão e bum. Bola encontra
palma aberta.

Aí está aquela risada de novo.


Brady corre, Mason e Cameron em seu encalço.

O homem misterioso olha para mim e sorri, passando


brevemente seu olhar pelo meu corpo, mas não de uma forma
pervertida, talvez nem mesmo de propósito. Mais como, “você é
uma mulher em um biquíni minúsculo e eu sou um homem com
olhos”.

Chase deve notar também, porque sai de qualquer neblina


em que estava, fica de pé e se posiciona diretamente atrás de mim.
Estou falando de carne para carne. Tão perto que minha cabeça
sacode em choque, vendo a carranca crescendo em seu rosto

Brady nos alcança, instantaneamente tomando nota da


minha proximidade e de Chase. Ele franze a testa, arqueando uma
sobrancelha loira em questão. Assim, Chase se afasta de mim.

Meu peito aquece por um motivo totalmente diferente agora.

— E aí, cara? — Brady sorri, indo para o infame aperto de


mão, tapa. — Não sabia que estaria de volta à cidade.

— Espere. — Olho entre o estranho e Brady. — Vocês dois se


conhecem?

O cara misterioso olha para mim com um sorriso malicioso.


— Ah... ela fala.

O olhar de Brady se estreita com expectativa.

Então explico — Fui vítima de uma bola de futebol invasora.


Outra risada merecida, mas quando meus olhos saltam em
direção a ele, não consigo ver sua expressão porque Brady entra
no meu espaço, beijando meu cabelo.

— Está bem, Ari baby? — Pergunta com sinceridade,


acariciando meu cabelo como um cachorro.

— Bem. — Eu tento empurrá-lo, mas ele se move, agora


jogando o braço ao meu redor.

Ele balança a cabeça, encarando seu aparente amigo. — Acho


que ainda não conheceu minha garota?

O homem misterioso fica curioso, lançando um rápido olhar


para Chase.

Oh incrível, ele acha que eu sou uma groupie21 agora.

Antes que eu possa me defender, Mason chega e faz isso por


mim.

— Ela não é sua garota, idiota. — A irritação do meu irmão é


evidente em seu tom.

Brady ri e eu escorrego de suas mãos, olhando para o meu


irmão.

21
- Uma pessoa que busca intimidade emocional e/ou sexual com um músico.
Mason desliza para cima com um sorriso completo, do tipo
que se usa quando criança ao entrar no estádio em seu primeiro
jogo de futebol profissional. — Irmão, e aí? Como está?

O homem misterioso está me olhando, mas se dirige a Mason.


— Bom, apenas relaxando enquanto posso. — Ele lança um olhar
para Mase, mas rapidamente faz de mim seu foco mais uma vez.
— Tem certeza que está bem?

— Estou bem, nada demais.

Tão rápido quanto respondo, Mason está diante de mim,


franzindo a testa com força total.

Esses meninos, juro. — Eu disse que estou bem, Mason.


Ótima. Fui derrubada pela bola. Estou viva e respirando. Como eu
disse, nada demais.

— Foi erro meu — fala o estranho, uma pitada de humor


oculto em seu tom melódico. — Interpretei mal o passe.

Mase acena com a cabeça, recuando quando um sorriso


divide seus lábios. — Um passe perdido, isso não soa como o cara
que conheço.

— Tenho certeza que posso te ensinar uma coisa ou duas


sobre seguir adiante — Chase cospe com arrogância inconfundível.

Minha coluna fica reta, mas me forço a não olhar na sua


direção.

— Harper. — O cara sacode o queixo. — Como está o ombro?

— Perfeito.
— Uh — Cam fala. — Estamos prestes a baixar as calças,
talvez tirar uma régua?

Não consigo evitar que meu olhar voe para Cameron, que
sorri para o recém-chegado.

— Não, estamos bem. Acho que ele está preocupado com sua
garota — o homem misterioso diz, seus olhos nunca deixando os
meus.

Eu mordo de volta um sorriso, e de alguma forma, ele sabe


disso, sua língua escorregando para esconder a sua.

Agora é uma maneira incrível de pescar, jogue sua linha bem


no meio do caos. É uma mordida garantida, e ele sabe disso, assim
como eu sei que Cam pulará nessa. Ela não decepciona.

— Ah, ela não é muuuito a sua garota, não é mesmo, Chase?


— Cam prende Chase com uma sobrancelha afiada em desafio.

Pegue-a, garoto.

Em vez de permitir que Chase responda, não que ele o faça,


Mason assume a liderança, como sempre.

— Não tenho certeza de onde tirou essa ideia, mas está muito
longe, mano. — Mase faz um gesto em minha direção. — Ari, este
é Noah Riley, é o capitão do nosso time. Noah, esta é minha irmã
gêmea Ari e nossa amiga Cameron. — Aponta para ela. — Elas vão
para Avix conosco.

Noah, como Mason o apresentou, sorri um olá.


— Uau. — Cameron fala assim que Mason para, olhando
Noah de cima a baixo. — Se você é alguma indicação do que está
por vir, vamos ter sérios problemas este ano. — Olhando para
Noah, inclina a cabeça para o lado. — Não é mesmo, Ari?

— Não responda isso. — Mason me encara com um olhar


duro, rapidamente servindo a Cameron da mesma forma.

— Está bem — interrompo antes que qualquer um deles


decida abrir a boca novamente e se virar para Noah. — É um prazer
conhecê-lo, Noah, e já que tenho a sensação, perguntará de novo,
sim, juro que estou bem. Esses três me acertaram na cabeça com
uma bola de futebol mais vezes do que posso contar, não é nada
além do normal neste momento.

Ele me encara, um lampejo de algum propósito desconhecido


pintado em seus olhos. — Certo, quarterback22 para um irmão.

Noah sorri e eu não vou seguir.

Meu Deus, esse cara é lindo demais. É enervante.

— Então, e aí, cara? — Mason pergunta a ele. — Você ficará


por alguns dias?

Relutantemente, Noah muda sua atenção.

— Eu gostaria, tenho algumas reuniões, por isso tenho que


voltar para o campus. Há sempre alguns calouros ansiosos que

22
- Posição do futebol americano. Os jogadores desta posição são membros ofensivos do time.
aparecem cedo. Se eu não estiver lá para mostrar a eles as cordas,
o treinador acabará com a minha bunda. — Ele sorri, olhando na
minha direção. — Na verdade, estou fora daqui amanhã cedo.

Chase enlouquece então. — Que pena, acho que veremos você


na escola.

Noah acena com a cabeça, olhando Chase por um momento.

— Bem, amanhã é amanhã, então tem que vir à nossa casa


para uma fogueira hoje à noite. — Cameron tira o cabelo molhado
do rosto.

— Sim, cara, venha — acrescenta Brady.

Noah olha para trás, um pouco inseguro. — Eu vim com


alguns outros rapazes da equipe, então odiaria invadir sua festa.

Cam abre. — Há mais de você?!

— Jesus, foda-se — resmunga Mason.

— Há. — Noah acena com a cabeça, lutando contra o sorriso


que ameaça tomar conta de seus lábios carnudos. — Quatro de
nós para ser exato e a irmã do meu amigo está aqui com alguns
amigos. — Noah encontra meu olhar.

— Bem, a irmã que poderíamos prescindir.

— Cameron! — Assobio.

— Acabei de dizer o que ambas estávamos pensando.


Minha melhor amiga idiota interpreta claramente minha
expressão sem palavras “Que diabos” e me alimenta com sua
própria que grita “sabe que concorda” enquanto acena com a mão
com desdém.

Esta cadela pisca para mim. Eu vou matá-la.

— Não ligue para ela — Brady diz, então aponta para Mase.
— Acho que ela tem um pouco de rosa estufada23 acontecendo.

As sobrancelhas de Noah se erguem. Oh Deus, não. Por favor,


não

— Sim. — Brady dá de ombros como se seu absurdo devesse


fazer todo o sentido. — Sabe, somos sugados, apertados pra
caralho, bolas azuis doloridas e elas ficam inchadas, sensíveis
como o inferno, estufadas rosadas.

Enterro meu rosto em minhas mãos. Amo meu pequeno


grupo até a morte, mas santo, que diabos?!

Mason ri e não preciso olhar para Cameron para saber que


ela está concordando com a cabeça.

— Quem está aqui? — Chase se pergunta, seu tom cordial


pela primeira vez desde que Noah apareceu.

23
- Não há uma tradução para isso, o que ele quer dizer aqui é que a vagina está sofrendo o mesmo
que os homens com bolas azuis.
— Nick, Jarrod e meu amigo que não estava no
acampamento, Trey Donovan.

Minha cabeça se levanta, olhos travados com Cam.

— Ele está no time, homem da linha de defesa.

— Não achei que o acampamento fosse opcional — brinca


Brady, fazendo Noah sorrir.

— Confie em mim, não é, mas este ano ele é um veterano,


perdeu o draft24 no ano passado, então tem um pouco de espaço
de manobra. Foi convidado para um dia profissional em...

— Tampa — Cam e eu deixamos escapar ao mesmo tempo,


fazendo com que a cabeça de todos se virasse em nossa direção.

— Sim, na verdade... — diz.

— Puta merda... — Cam sussurra, lentamente me olhando.


Seu sorriso finalmente cresce e então está apertando meus braços.
— Puta merda! — Ela sorri. — Tanta coisa para nunca mais vê-lo!

— Como vocês duas...— Noah interrompe o pensamento e um


sorriso lento inclina aqueles seus lábios. Ele me encara por um
instante antes de seus olhos caírem em seus pés. — Butterflies25?
— Olha para cima.

24
- Processo de alocação de jogadores em uma liga esportiva profissional.

25
- Borboletas.
— Ah — Cam jorra. — Ele lhe contou sobre nós?

— O que diabos está acontecendo? — Chase pergunta.

— Isso é exatamente o que quero saber — Mason retruca.

— Eu sabia! — Brady grita.

Cam e eu congelamos, nossos olhos arregalados travados


uma na outra em um momento de pânico. Ops.

— Sabia o que, droga? — Mason rosna, seus olhos voando ao


redor do grupo.

— Vocês duas — acusa Brady, apontando para mim e Cam.


— Decolaram no minuto em que saímos para o acampamento. —
Ele cruza os braços sobre o peito, franzindo a testa.

— O quê?! — gritam Mason e Chase, cada um dando meio


passo à frente.

Eu fico boquiaberta com Brady. — Como sempre faz isso?

Noah levanta as mãos. — Ei, eu não queria...

— Não, Noah, isso não é culpa sua. — Cameron o encara. —


Esses idiotas tentam nos manter em rédea curta sem os benefícios,
se entende o que quero dizer. Então, sim, cabeças de merda,
saímos. Saímos de férias sem vocês. Eu e minha melhor amiga
voamos livres por três semanas inteiras em São Petersburgo. —
Coloca as mãos nos quadris, recusando-se a se sentir mal por isso.
— Conhecemos algumas pessoas incríveis, incluindo Trey
Donavan, que aparentemente é seu novo companheiro de equipe,
e nos divertimos muito.
— Filho da puta! — Mason grita, levantando os braços apenas
para batê-los de volta contra seus lados. — E mamãe foi a favor
disso? Papai?

Eu levanto um ombro. — Paul estava lá para trabalhar — digo


a ele sobre o pai de Cameron. — Fizemos check-in com ele, ficamos
em um quarto ao lado dele.

O olhar de Mason não se mexe, mas seu corpo perde uma


pitada de tensão.

Dá-lhe conforto saber que não estávamos lá sozinhas, ou,


bem, sem ele, mas não o suficiente para impedi-lo de ficar
chateado. Ele ligará para nossos pais mais tarde e lhes dará todas
as razões do livro porque nunca deveriam permitir isso novamente,
mas isso cairá em ouvidos surdos. Finalmente. Temos dezoito
agora. Vão aconselhar, mas meus pais não são do tipo
controladores. De onde Mason conseguiu isso, não sei. Meu pai diz
que ele era o mesmo quando era jovem e que Mase superará isso,
mas não tenho tanta certeza sobre isso.

— Tudo bem, faremos uma pausa nisso, hein? — Brady dá


um tapinha no ombro de Noah, segurando o de Mason e levando-
o com ele enquanto se afasta, Chase logo atrás deles. — Noah,
somos a propriedade da doca no final. Vejo você às sete. Todos
vocês.

Cameron suspira, oferecendo a Noah um pequeno aceno


antes que também vá para a casa. Encaro-os até chegarem ao
nosso deque traseiro, e então me viro para encarar Noah.
— Desculpe-me por isso. Não é nada pessoal contra Trey. É
só, bem... — Soltei um suspiro derrotado, olhando para a casa
novamente. — Deus, é um monte de coisas, acho.

Noah encontra meu olhar, balançando a cabeça como se


entendesse.

Coisa estranha, tenho a sensação que ele faz.

— Cam pode ser complicada nos dias mais calmos. — Rio


levemente, esfregando meus braços com as mãos para me livrar do
frio que percorre minha pele. — Ela gosta do meu irmão, mas ele,
nem sei.

Olho para Noah, esperando uma expressão entediada ou que


esteja procurando uma maneira de voltar para seus amigos, mas
em vez disso, encontro os olhos oceânicos de Noah olhando
fixamente, sua cabeça inclinada como se estivesse interessado no
que tenho a dizer, embora não tenha nada a ver com ele.

— Desculpe, estava divagando.

O canto de sua boca se levanta. — Não desculpe-se, meio que


gosto do som da sua voz — brinca.

— Com certeza. — Eu rio levemente, apontando para a casa


de praia. — É melhor eu ir ajudá-los a se prepararem para a
fogueira.

Ele concorda. — Sim, provavelmente é uma boa ideia.

— Bem, talvez nos vejamos esta noite. — Sorrio e me afasto,


fazendo um esforço consciente para não olhar para trás.
Meus passos são lentos enquanto repito a última meia hora.

Chase finalmente reconheceu nosso beijo, mas não da


maneira que eu esperava que ele fizesse.

Quer queira admitir ou não, ele estava me sentindo por pelo


menos um momento. Estava duro, pressionado contra o meu
corpo.

Ele me queria, ou talvez estivesse apenas excitado com o


clima e a vibração, como disse.

Talvez não fosse sobre mim.

Então, o que havia com a expressão longa, lenta e miserável


hoje?

O que ele estava pensando? O que estava prestes a dizer?

Ele estava prestes a dizer alguma coisa, certo?

Uma respiração áspera passa pelos meus lábios, e paro ao pé


da escada do deque.

Se ao menos não tivéssemos sido interrompidos por Noah.

Eu mordo o interior da minha bochecha.

Noah. Um cara aleatório na praia, ou não aleatório, mas o


novo capitão da equipe dos rapazes.

Minha mão encontra a grade, e antes que saiba o que estou


fazendo, meus olhos estão deslizando sobre meu ombro, atraídos
para o local exato em que deixei Noah Riley.
O local onde o estranho de olhos azuis ainda está de pé, sua
atenção apontada para este lado.

Não sei por que, mas levanto a mão e aceno, e no momento


em que o faço, minhas bochechas ficam rosadas porque, de
alguma forma, sei que a ação o fez rir, mesmo que não possa ouvi-
lo daqui.

Eu tinha a sensação de que esta viagem seria cheia de


surpresas, e parece que há mais por vir.
Arianna
— EI. — Aceno para Mason enquanto ele coloca a última caixa
de gelo no chão, oficialmente completando nossa configuração
para a fogueira de hoje à noite. — Mais alguma coisa que eu
deveria fazer antes de ir me limpar?

— Acho que isso é tudo. Brady correu até a casa de Nate para
pegar os copos, e então estamos bem. — Ele olha por cima do
ombro. — Chase está começando o fogo agora.

— Fantástico. Pegarei Cam e voltaremos daqui a pouco. — Eu


me viro para a casa.

— Ari, espera.

Eu me mexo, e ele se coloca a minha frente.

Ele já está balançando a cabeça. — Você realmente decolou


sem nós? Para a Florida? Para um lugar que sempre conversamos
sobre ir.

— Você teve que ficar no campus para o acampamento de


treinamento. Só queríamos um pouco de diversão também.
— Então, por que não vir aqui, ficar com Lolli e Nate? Eles
estavam acomodados naquela altura.

— Quer dizer por que não viemos aqui, onde Nate poderia
ficar de olho em nós?

— Não. — Ele cruza os braços. — Quero dizer, onde alguém


que se importa poderia protegê-la e manter os idiotas longe de
você.

— Então, isso é sobre Trey.

Seus olhos se estreitam. — Isso não é justo.

— Mas é?

Mason balança a cabeça, soltando um longo suspiro. — Fale-


me sobre o cara.

Encarando meu irmão por um momento, decido empurrar. —


Por que, Mase?

— Ari — resmunga.

— Não me venha com Ari. Diga-me por que quer saber e eu


direi.

— Esse cara será meu companheiro de equipe. Os caras


conversam no vestiário, Ari. Bastante. Se há algo a ser ouvido,
preciso de um alerta, para não arrancar a cabeça de alguém e
estragar tudo antes mesmo de começar. — Bufa, deixando cair as
mãos nos quadris.

Ele está falando sério?


— Está falando sério? — Olho, boquiaberta. Antes que ele
tenha a chance de responder, estendo minhas mãos para detê-lo.
— É com isso que está preocupado, realmente? Ou talvez não saiba
o que o está incomodando porque é teimoso demais para
considerar que pode ser outra coisa.

— O que quer que eu diga, Ari, hein? — Grita. — Que me


importo com Cameron? Claro que sim, você sabe disso, mas não é
disso que se trata! Preciso saber se algum idiota tem algo a dizer
sobre minha irmã que não quero que outras pessoas ouçam, e quer
saber, sim, preciso saber se algo aconteceu com Cameron também.

— Para fins de boato, certo?

— Se fosse outra coisa, acha realmente que eu estaria aqui


agora e não trancado dentro daquele quarto com a garota para ter
certeza de que quando ela saísse, seria para vir a mim e só para
mim? — Seu tom é forte, seus olhos claros e fixos nos meus. —
Você me conhece melhor do que isso. — Seu olhar parece suavizar,
quase como se estivesse se desculpando antecipadamente pelo que
dirá a seguir. — Se eu a quisesse, Arianna... ela já saberia.

Um pequeno arrepio atravessa meu peito ao pensar em minha


amiga. Meu irmão pode ser agressivo, possessivo e tudo mais que
vem junto com essas duas coisas, mas não é um mentiroso.
Concordo com a cabeça, fazendo o meu melhor para evitar que a
tristeza que sinto apareça.

— Trey gosta dela, muito pelo que poderia dizer. Eles tiveram
uma pequena aventura, mas ela lhe disse que estava
emocionalmente indisponível para mais, e quando saímos, foi isso.
Não trocaram números ou compartilharam onde a queda os
levaria. Ele queria, mas ela disse que não. Saímos e ela nunca
pensou que o veria novamente, mas agora que ele está aqui... —
dou de ombros. — Quem sabe.

Ele dá um aceno curto. — E você?

Eu puxo meus lábios, balançando minha cabeça. — Não há


histórias para serem compartilhadas.

— Se esse cara falar mal dela, vou foder com ele — meu irmão
jura.

— Eu sei.

Ele não hesitará em defender as pessoas com quem se


importa, equipe que se dane, mas não acho que ele tenha que se
preocupar quando se trata de Trey. Vou deixá-lo descobrir isso por
conta própria, no entanto.

Então, com isso, coloco meu braço no dele e o arrasto de volta


para casa comigo.

Fogueira, aqui vamos nós.

A festa está em pleno vigor. As bebidas estão fluindo, o fogo


está queimando e todos parecem estar se divertindo.

Ligando meu braço com o de Cam, ela e eu caímos em um


tronco aberto que os meninos rolaram para sentar. No segundo em
que nossas bundas estão plantadas, Brady voa atrás de nós,
segurando duas cervejas novas sobre nossos ombros.

— Ah, obrigada, Brady. — Cam pega a dela, mas balanço


minha cabeça.

— Não está pronta para uma ainda, Ari baby? — Insulta.

— Não exatamente, grandão. — Eu rio, olhando para Mason


e Chase quando se aproximam.

— Vocês meninas estão bem? — Mase termina seu copo,


pegando a que Brady me ofereceu.

— Além de sua irmã me fazer beber sozinha, sim. — Cameron


sorri. — Felizmente, Brady está me mantendo bem hidratada —
brinca, se afastando para beijar a bochecha de Bray.

— Onde está a minha, Butterfly? — Uma rica voz chama por


trás.

Cam vira a cabeça por cima do ombro e um grande e lindo


sorriso ilumina seu rosto. Com um grito alto, ela corre e pula em
Trey, seus braços e pernas instantaneamente tecendo seu
caminho ao redor dele. Ele ri, segurando-a com força enquanto a
gira em círculos.

Espio os meninos, cada um olhando diretamente para ele,


sem saber como lidar com isso.

Colocando-a no chão, Trey solta uma respiração profunda.

— Droga, garota. — Ele dá um passo atrás, mas não tão longe


que não consiga manter a mão na dela e a leva da cabeça aos pés.
— Você é uma Barbie Malibu da vida real. — Ele sorri. — Nunca
pensei que veria estes olhos novamente.

Cam cora, olhando na minha direção, e Trey o segue.

— Aí está você! — Ele me puxa para um abraço apertado. —


Como está, garota?

— Estou bem, você?

— Melhor agora. — Ele olha para Cam e depois para os


meninos à minha direita, todos os três se aproximaram um pouco.
Ele balança a cabeça, estendendo a mão livre, a outra ainda
segurando Cameron. —Trey.

O queixo do meu irmão levanta, e bate a mão na de Trey. Ele


leva um momento, mas seu sorriso vem. — Mason Johnson.

— Ah está bem. — Acena com a cabeça, cortando um rápido


olhar para Cameron, antes de se fixar em mim. — Irmão, certo?

— Gêmeo. — Eu sorrio.

— E o homem que procura preencher a vaga de QB no


próximo ano, certo? — Trey assente. — Vi alguns de seus filmes,
mano. Animado para entrar em campo com você.

Os ombros de Mason relaxam e ele sorri. — Sim, senhor.


Estes são meus amigos, Brady Lancaster e Chase Harper.

— Assisti ao filme de ambos também. — Trey ri, apertando


suas mãos. — Faremos isca de tubarão com estas equipes este
ano.
— Isso aí. — Mason leva sua bebida aos lábios, secretamente
me lançando um olhar que só pode ser tomado como “até agora
tudo bem”. — Eu poderia aproveitar um refil. Trey, quer uma
bebida?

— Claro que sim. — Trey solta a mão de Cameron, que o


empurra gentilmente para seguir os meninos.

E lá vão eles.

Cam e eu sentamos nervosamente, escutando enquanto Trey


conta aos meninos um pouco sobre sua viagem a Tampa e como
conheceu nós duas. A última coisa que qualquer uma de nós
esperava era que esses meninos estivessem no mesmo lugar.

Cam, a pobrezinha não terá mais unhas até o final desta


noite, do jeito que está mordendo agora.

Ela foi imediatamente atraída por Trey quando o conhecemos


em Tampa, compreensivelmente. Ele é alto, quase tão alto quanto
Brady, com cabelo castanho escuro curto e olhos castanhos. Sem
falar que o conhecemos na praia onde seu corpo musculoso estava
em plena exibição, o dia todo, para ela continuar babando. Sua
pele brilha como caramelo torrado, e tem uma grande tatuagem
que cobre metade de suas costas e braços. É definitivamente
bonito de se ver, mas esse não é seu único apelo. Pelo que vimos,
também é um cara legal que ama sua família e é leal aos amigos,
coisas que valorizamos da mesma forma. Mais importante, porém,
trata Cameron do jeito que ela merece. Não posso acreditar que ele
está aqui.

Eu me viro para Cam, e ela sorri, batendo seu ombro no meu.


Juntas, olhamos para a casa de praia, sorrindo para as luzes
penduradas que meu pai acrescentou da última vez que estivemos
aqui.

— Eu amo este lugar.

— Não posso acreditar que é nosso. — Cam ri. — Podemos vir


aqui legitimamente quando quisermos agora.

Eu rio. — Certo? Boa sorte em nos levar para a casa nas férias
escolares.

— Sim, eles não pensaram nisso.

— Butterfly! — Trey grita enquanto a música muda, seu


sorriso largo. — Importa-se de vir aqui?

Cam ri, olhando para mim.

— Vá. — Empurro-a para longe e me inclino para trás em


minhas mãos.

Solto um suspiro longo e melancólico, sorrindo para meus


amigos. Logo à frente, Chase e Brady estão jogando um jogo de flip
cup26 com um grupo de garotas, enquanto Parker e Nate começam
a jogar futebol. Mason está perto do calor do fogo, conversando
com Lolli e Payton. Ele sorri, estendendo a mão para puxar o rabo

26
- Flip cup é um jogo de bebida baseado em equipe onde os jogadores devem, por sua vez, esvaziar
um copo plástico de cerveja, e em seguida, "virar" o copo para que caia com a face para baixo na mesa.
Se a taça cair da mesa, qualquer jogador pode devolver a taça ao campo de jogo.
de cavalo de Payton, e balanço minha cabeça, rindo do jeito que
ela se diverte com sua brincadeira.

Uma rajada de vento passa, então envolvo meus braços ao


meu redor para me aquecer, e nem um momento depois, uma voz
familiar encontra meus ouvidos.

— Com frio?

Olho por cima do meu ombro, sorrindo para o caminhante


solitário caminhando.

— Você conseguiu.

Ele inclina a cabeça provocativamente. — Estava esperando


por mim, hein?

Eu me viro para o fogo quando ele estala como uma desculpa


para evitar seu olhar, pulando um pouco quando a dobra de seus
dedos roça minha mão, efetivamente recuperando minha atenção.

— Eu só estava brincando. — Sua voz é suave, mas então sua


boca se curva para um lado. — De jeito nenhum tenho essa sorte.

— Sente-se, Romeu. — Puxo meus lábios para um lado,


incapaz de segurar um sorriso porque ele sabe totalmente o que
está fazendo.

Uma risada pecaminosa escapa dele e senta-se ao meu lado.

— Romeu, hein? Eu gosto disso.

Não preciso olhar para ele para saber que sua boca está
curvada; é claro em seu tom sedutor.
— Realmente, desculpe o atraso. Levei mais tempo para fazer
as malas do que gostaria.

— Bem, como pode ver... — gesticulo para a pequena


multidão ao nosso redor — a festa sobreviveu sem você.

Ele sorri. Inclinando-se para a frente, descansa os antebraços


nas coxas. — Então, o que estamos olhando?

Espelho sua posição, inclinando minha cabeça para Cam e


Trey.

Noah sorri instantaneamente. — Deveria ter visto o seu rosto


quando lhe disse que vocês estavam aqui hoje.

— Posso imaginar. — O calor enche meu peito por minha


amiga, mas o desconforto ainda está presente.

— Ela parece feliz em vê-lo.

Meus olhos se movem em sua direção, estudando seu perfil,


observando as bordas afiadas de sua mandíbula, a firmeza de seus
ombros. Depois de um momento, ele encontra meu olhar.

— Quanto ele te contou?

Ele tenta o seu melhor para dar de ombros como se não


soubesse de nada, mas tenho um pressentimento...

— Oh meu Deus, ele te contou tudo? — Chocada, levantando


um joelho no tronco enquanto me viro para ele.

Noah levanta as mãos a sua frente, fingindo ser inocente, mas


as pego no ar.
— Oooh, não, você não. Desembuche, Sr. Riley. — Eu rio.

Sua risada é baixa, seus olhos caindo para onde minhas


mãos ainda estão travadas nas dele. Eu rapidamente puxo para
trás, mas ele é mais rápido, agarrando e virando meu pulso para
que meus dedos fiquem apontados para a areia.

— Tudo bem, eu lhe direi. — Noah começa a desenhar formas


na palma da minha mão, seu toque de penas trazendo arrepios à
superfície.

Ele os sente, porque reprime um sorriso e não se preocupa


em olhar para cima enquanto fala. — Trey me disse que conheceu
duas garotas divertidas e de espírito livre que estavam
experimentando a vida sozinhas pela primeira vez. Disse-me que
não importa o quanto tentasse, ele se apaixonou por uma delas da
noite para o dia, mesmo sabendo que ela estava apaixonada por
outra pessoa. — Ele levanta seu olhar para o meu. — Ele me
contou sobre a sua melhor amiga. Como era incrível, gentil e
bonita.

— Ele não disse bonita.

— Está certa, ele disse sexy, mas estava tentando ser um


cavalheiro — admite, e ambos rimos. Noah lança seu olhar para
nossas mãos, trazendo-o rapidamente de volta. — Ele me disse que
sabia que eu adoraria essa melhor amiga, e não tem o hábito de
estar errado. — Pisca para mim, seus olhos percorrendo meu rosto
enquanto este pega fogo, mas então Noah olha para frente. — Ele
perdeu uma peça importante, no entanto.

— E o que é isso? — Eu não pretendia sussurrar.


Abaixando o queixo um pouco, ele gesticula para que eu siga
sua linha de visão. Hesitante, desvio meus olhos, espiando por
cima das chamas em busca de seu alvo pretendido.

Encontro-o instantaneamente, ou devo dizer, eu o encontro.

Chase está do outro lado do fogo, olhando para este lado, mas
desvia o olhar no segundo em que percebe que o peguei. Uma
pitada de vergonha toma conta de mim, e me viro para Noah, que
é muito perceptivo para um estranho.

— É tão óbvio? — Eu murmuro mansamente.

— É suposto ser um segredo?

Uma expiração pesada me escapa, e balanço minha cabeça.


— Não, não realmente, mas às vezes parece que ele realmente não
tem ideia. — Não é uma paixão feminina. Tem raízes, crescidas nas
profundezas da superfície. É real.

— Confie em mim — Noah garante calmamente. — Ele sabe.

— Como pode ter tanta certeza?

— Porque ele está olhando assim desde o segundo em que me


sentei.

Enquanto meus músculos travam, balanço minha cabeça,


negando o que está tentando dizer. — Não é o que pode parecer.
Estão sempre observando, especialmente quando a espécie
masculina está a menos de vinte metros.

— É só ele, Ari, e você é a única pessoa para quem ele está


olhando. — Noah levanta minha mão, beijando a parte interna do
meu pulso, e quando se afasta um pouco, seus olhos seguram os
meus. Sua boca se abre, soprando um hálito quente sobre o local
úmido, e uma cócega percorre meu braço.

— Confie em mim, não é sobre mim, é sobre você.

— Exatamente. — Seus olhos se movem para os meus e com


movimentos cautelosos, como se eu pudesse recuar, estende a
mão, empurrando meu cabelo atrás da orelha. — Nada, e não
quero dizer nada, força um homem a enfrentar seus sentimentos
por uma mulher… do que o interesse de outro homem.

— Interesse, você diz?

A risada de Noah é instantânea, e mordo o interior do meu


lábio para não sorrir. — Você é difícil, não é?

Estalo um ombro. — Eu tento.

O braço de Noah cai em seu colo, e puxo minhas mangas


sobre minhas mãos. — Eu aposto que sim.

Ele olha por um momento, seu peito se expandindo com uma


respiração completa, e quando sua cabeça se inclina para o lado
mais uma vez, minhas sobrancelhas puxam em confusão, mas
espio o jeito que ele apontou.

Com certeza, Chase está observando. Só que desta vez,


quando digo que o vi, ele não desvia o olhar, mas eu sim.

Encaro Noah, procurando algo para dizer, mas as palavras


parecem me escapar.
Um momento se passa, uma expiração baixa deslizando por
seus lábios enquanto lentamente se levanta, e me vejo subindo
com ele.

— Eu devo ir. — Ele concorda.

— Você não tem que ir — voa de mim antes que possa parar,
e me esforço para entender o que estou realmente dizendo. —
Quero dizer, nem disse oi para seus amigos ainda.

— Sim. Eu realmente tenho. Além disso, vi a pessoa que vim


ver. — Ele pisca.

— Uh-huh, claro — zombo de mim mesma, meus lábios


curvando para um lado.

Noah permanece perfeitamente imóvel, olhando para mim por


um longo momento, e sua mão se ergue, como se quisesse estender
a mão e me tocar, mas não toca.

Minha pele arrepia de qualquer maneira.

— Foi muito bom conhecê-la, Arianna Johnson — sussurra,


e então se vira e vai embora.

Eu fico ali, meu olhar colado em suas costas, e pouco antes


de sua silhueta desaparecer na noite, me empurro para frente,
chamando seu nome. Noah vira, me olhando com curiosidade.

— Estou... feliz que seja péssimo em pegar.

Uma risada alta deixa-o, o som enviando uma vibração


estranha pelo meu corpo. — Eu também. — Ele sorri, parando no
lugar quando um pequeno sorriso disfarçado puxa seus lábios. —
Tchau, Julieta.

— Julieta? — Questiono.

Seu sorriso fica incrivelmente brilhante. — Se eu sou Romeu,


então você tem que ser Julieta!

— Sabe que foi uma história de amor trágica, certo? — Grito,


sorrindo do mesmo jeito.

— Épica. — Ele se vira, andando para trás. — Foi uma


história de amor épica! — Acena, e após um segundo de hesitação,
se vira. Noah Riley desaparece na escuridão, e eu fico lá
observando-o ir.

Chase
Empurrando as mangas do meu moletom para cima, me
movo em direção ao barril, meu corpo e cabeça voltados para
frente, mas meus olhos nela, ou talvez estejam sobre ele.

Por que ele continua tentando tocá-la? Eu juro, toda vez que
olho, ele está com as mãos a um centímetro de distância dela.
Onde diabos está Mason?

Por que ele não está pulando nesse filho da puta como sempre
faz? Como faria comigo.

O idiota corre os dedos ao longo do comprimento de seu


cabelo e minha pele aquece.

O líquido respinga sobre mim e estremeço, olhando para


baixo para encontrar meu copo esmagado na palma da minha
mão, o conteúdo transbordando em meus malditos sapatos.

— Porra. — Pulo para trás, jogando minha mão para livrá-la


da cerveja barata.

Brady zomba em algum lugar próximo e viro minha cabeça


para encontrá-lo sentado em uma pedra a menos de um metro de
distância, com os olhos em mim. Ele leva o copo aos lábios,
olhando para Arianna e para trás. Lentamente, se levanta, enche
um copo e o estende com uma carranca firme. — As suas mãos
estão vazias.

A inquisição em seu tom faz meu pulso pular, e meus olhos


se afastam com culpa, mas por quê?

Porque tenho que me sentir culpado?

Estou apenas de olho nela, e isso é porque me importo. Eu


sempre me importei. Merda, me importo tanto quanto ele, tanto
quanto Mason.

Mason.
Meus músculos apertam e olho de volta para a garota de
cabelos castanhos na beira da festa.

Com minha mente girando assim, não deveria ir até ela,


realmente não deveria, mas vou, e antes que ela me veja, estou
falando.

— Vocês dois pareciam confortáveis.

Seus olhos piscam para os meus, confusão trazendo vincos


para seus cantos.

Confusão, sinto o mesmo porque não é por isso que eu vim


aqui. Não foi isso que eu quis dizer.

— Acabamos de nos conhecer — ele hesitantemente defende.

— Não parecia.

Ela empalidece e tudo que posso pensar é o que diabos está


errado comigo?

Lentamente, Arianna inclina a cabeça. — Está bem... — Ela


se arrasta. — Eu realmente não tenho certeza do que dizer sobre
isso, então... se há algo que você queira dizer... diga.

Seu tom é gentil e curioso, e me pego engolindo em seco.

— Não, não, uh... — Limpo minha garganta, retrocedendo,


dilacerado pela irritação queimando através de mim e me
recusando a pensar no motivo disso. — Desculpe, é só que ouvi
que você estava fora da cidade, andando com esse cara, Trey, e
então Noah aparece, dá uma olhada em você e... — interrompo-
me, minha boca se fechando enquanto olho para ela.
Ela desliza para mais perto. — E... o quê?

Meu peito sobe e desce com uma respiração completa e franzo


a testa. — Não me diga que não percebeu.

Seus olhos caem, e inclino minha cabeça, pegando a pequena


curva de seus lábios que ela tenta esconder.

Por que isso a faz sorrir?

É ele?

Sou eu?

Por que diabos isso importa?

— Ele poderia muito bem ter convidado você para sair na


frente de todos nós.

— Ele não convidou.

— Essa não é a questão.

— Então qual é a questão?

— O fato de que ele queria. — Franzo a testa. — Sabe disso,


certo? Que ele queria?

Arianna dá um passo à frente, pega a bebida que eu trouxe


da minha mão. Quando passa, seu olhar se levanta para o meu, e
com um sorriso escondido, sussurra — Eu sei... que ele se foi.

— Gostaria que ele não fosse?


Seus lábios se abrem e fico tenso, correndo para falar antes
que ela possa. — Não responda isso.

— E se eu quiser? — Rosna, espiando por baixo de seus cílios


cheios.

— Arianna.

— Chase.

Eu a encaro e ela sorri.

Uma risada baixa segue, e ela passa por mim. — Vou verificar
como está Cam.

Ela sorri para a areia, e estou prestes a me enterrar embaixo


dela.

Eu não sei o que diabos está errado comigo agora, mas é


melhor estar certo amanhã.

Se não, quem diabos sabe o que acontecerá.

Tenho a certeza que não sei.


Arianna
Nós cinco acordamos cedo na manhã seguinte, mas apenas
com tempo suficiente para terminar a limpeza da noite anterior.
Depois disso, Cam e eu nos enfiamos debaixo das cobertas,
comendo batatas fritas e molho no café da manhã. Estamos no
terceiro episódio de Emily in Paris27 quando ela faz uma pausa com
um suspiro.

Já sei o que ela dirá, e para ser sincera, demorou um pouco


mais do que eu esperava.

— Mason apertou a mão dele — murmura, e nossos olhos se


encontram. — Ele apertou a mão dele...

Meu sorriso é triste porque ambas sabemos o que isso


significa.

27
- Emily in Paris, série original da Netflix, acompanha Emily Cooper (Lily Collins), uma jovem executiva
de marketing que se muda de Chicago para Paris.
Mason não se sentiu ameaçado por Trey, sem ciúmes ou
raiva. Não deu uma de Mason e fez uma cena, bateu Trey em sua
bunda e o desafiou a se levantar.

Meu irmão apertou a mão de Trey.

Foi a primeira vez que os sentimentos do meu irmão ficaram


realmente claros. Ele ama Cameron, mas não do jeito que ela quer.

— Sabe o que é estranho — sussurra, lágrimas


transbordando de seus olhos ao encontrarem os meus. — Não dói
do jeito que pensei que doeria. Dói, mas meio que pensei que
sentiria como se estivesse morrendo. — Ri através de suas
fungadas. — Faz sentido?

— Claro que sim. — Eu me enrolo de lado, colocando minhas


mãos sob minha cabeça.

— Estou triste, mas não sei, também estou meio feliz por Trey
estar aqui.

— Como deveria estar. Dissemos que estávamos nos


divertindo, garotos que se danem, lembra? Então, malditos sejam.
Você agora tem um belo homem disposto a transformar suas
noites de cinco em dez. Isso é mais do que posso dizer.

— Verdade. — Sua risada está misturada com um soluço,


mas ela balança a cabeça. — Eu não posso acreditar que Trey está
realmente aqui.

— Talvez seja um sinal.

— Um sinal de que preciso transar.


Eu sorrio, e o famoso sorriso malicioso de Cameron volta.

— Boa garota.

Com isso, ela aperta o play, e terminamos o resto da


temporada, comendo a mesma coisa que comemos no café da
manhã, no jantar. Não saímos da sala uma vez.

Às sete, Cam se retirou para o seu quarto, e ambas


desmaiamos. Foi um dia fantástico, mas muito cedo para ir para a
cama, especialmente quando basicamente tiramos minissonecas o
dia todo.

Agora estou bem acordada e meu quarto está escuro, apesar


das cortinas estarem fechadas, e quando olho para o relógio,
descubro que é apenas uma da manhã, ainda uma tonelada de
horas restantes da noite.

Tento encontrar outro programa, mas depois de trinta


minutos assistindo aos trailers, desisto e desço as escadas na
ponta dos pés para beber alguma coisa, tomando cuidado para não
acordar os outros.

Pegando uma garrafa de água da geladeira, vou até as janelas


do chão ao teto, admirando o oceano além dela. O brilho da lua
contra as águas escuras é irreal e uma das minhas vistas favoritas.
É pacífico, assustador como a merda depois de uma maratona de
filmes de terror, mas tranquilo em qualquer outro momento.

— Ei.

Eu grito, mas uma grande mão rapidamente envolve minha


boca, e giro, ficando cara a cara com Chase.
— Merda. — Meus ombros se acomodam, uma risada bufante
me deixando. — Quase levou uma garrafa de água no rosto.

Ele sorri, lentamente me soltando enquanto olha ao redor da


sala. — Andando no escuro?

Esfrego meus lábios, inclinando minha cabeça para ele. — É


aí que toda a diversão acontece.

Uma carranca se forma ao longo de seu rosto, e mordo uma


risada.

Ele não diz nada por alguns segundos, então aceno. — Vou
voltar para a cama. — Mas antes que possa escapar, Chase
gentilmente segura meu pulso, então olho por cima do meu ombro,
em seus olhos verdes.

— Eu tomei um smoothie28 mais cedo. Foi uma merda — me


diz aleatoriamente.

Eu reprimo um sorriso. — Isso é ruim.

— Foi culpa de Brady.

Eu rio e seu sorriso desliza livre.

— Estou desejando um sundae. — Seus olhos procuram os


meus. — Sabe que quer um também.

28
- É um shake de frutas não alcoólico, que se tornou “sinônimo” de lanche saudável.
— Está no meio da noite.

— Sim. — Ele dá de ombros.

— Então... — Olho ao redor da sala, sem ter ideia de por que


estou tentando escapar. — Vou pegar as colheres?

— Essa é a minha garota. — Ele se vira para o freezer, e finjo


que ele quis dizer isso de uma maneira muito mais literal. Ele se
move até o armário para pegar coberturas, colocando-as
rapidamente no balcão à sua esquerda.

Com os olhos no chão sob seus pés, vem em minha direção.


Assumindo que está vindo para as colheres, escorrego para o lado,
mas Chase me choca quando seu braço esquerdo sai, me
prendendo.

Meus olhos cortam para encontrar os dele, e suas palmas


encontram meus quadris. Ele me levanta, me abaixando
lentamente na ilha da cozinha.

O frio inesperado do granito me faz gritar, meu corpo


balançando para frente, bem contra o peito de Chase.

Ele ri quando minhas mãos agarram seu ombro, e alivio


minha bunda.

Quando olho para cima, minha respiração falha. Sua boca


não está a mais de um centímetro da minha, e não sou a única
que notou.

Tudo que eu teria que fazer, tudo que qualquer um de nós


teria que fazer, é inclinar nossas cabeças um pouco, e nossos
lábios se tocariam, mas tentei isso uma vez, e ambos sabemos
como isso acabou. Não tentarei de novo, mesmo que, desde aquela
noite, alguma coisa tenha mudado. Posso ver isso em seus olhos,
em suas palavras. Eu posso sentir isso em seu toque.

É quase como se, pela primeira vez, ele estivesse testando a


sensação da minha pele. Suas mãos me agarraram milhares de
vezes, mas não com um aperto firme, e nunca demoraram. Não
como agora.

Chase está congelado, completamente parado enquanto olha


para minha boca, e não posso deixar de me perguntar se ele
repetiu nosso beijo, por mais fugaz que tenha sido, em sua cabeça
tantas vezes quanto eu.

O calor se espalha pelo meu abdômen, então, em um esforço


para não me envergonhar mais do que já fiz esta semana, evito seu
olhar. No segundo em que olho para baixo, estremeço com a
realização.

Eu saí direto da cama, e só desci para uma bebida rápida,


talvez um lanche... em nada além de uma camiseta cortada em
volta do colarinho e uma tanga – a bancada congelando minhas
nádegas deveria ter me lembrado disso.

Chase segue a minha linha de visão para onde minha


camiseta emaranhada termina acima dos meus quadris, para o V
amarelo brilhante da minha calcinha, atualmente ficando
confortável com seu abdômen.

Ele pula, gira e volta à sua tarefa original.

— Quer calda de caramelo? — Rosna, prontamente limpando


a garganta.
— Chocolate. — Eu me amaldiçoo por soar toda ofegante, mas
filho da puta!

Quem é esse homem e posso ficar com ele?

Eu zombo internamente, porque sim, certo. Ele está apenas


chapado no verão, ou algo assim.

Seja como for, não quero uma oportunidade desperdiçada,


então me sento e observo a maneira como seus músculos se
movem enquanto trabalha.

Eu mencionei que ele está sem camisa? Porque é glorioso.

Seu cabelo castanho está perfeitamente bagunçado, sua pele


bronzeada por passar o máximo de tempo possível sob o sol, e tão
suave. Ele vem falando sobre fazer uma tatuagem há anos, mas
agora, ainda está totalmente natural.

Eu lambo meus lábios.

Muito bem.

— Posso sentir você me examinando. — Ele não se incomoda


em virar para confirmar.

— Sim, bem. — Agarro a bancada e me inclino um pouco para


frente. — Quando o homem acima nos abençoou com vinho,
cedemos. É justo que suas outras obras-primas recebam o mesmo
tratamento.

Chase abaixa a colher de sorvete e gira com um sorriso


malicioso. Encosta a bunda no granito, uma perna cruzada na
frente da outra, e abre os braços. — Então, por todos os meios. —
Ele me surpreende pela terceira vez em três dias, me encorajando
a ficar de boca aberta.

Ele está sendo brincalhão, e estou tão aqui para isso.

Então, aceito seu convite inesperado antes que ele caia em si.

Pela primeira vez, não tenho limite de tempo, não preciso


espiar por baixo dos cílios ou me esconder atrás de óculos escuros.
Olho para ele completamente, descaradamente observando-o
desde as pontas de seu cabelo castanho até a sola de seus pés
descalços.

No começo, é uma corrida rápida de seu corpo, e então


começo de novo. Traço a firmeza de sua mandíbula até o pescoço,
notando a forma como engrossa, alargando em seus ombros
largos, cortesia de anos de futebol. Eu me movo para seus braços,
e os cortes profundos que desaparecem atrás dele, perambulando
por cada cume de seu abdômen, me desafiando a viajar mais para
o sul.

Meus joelhos se encontram enquanto traço as linhas afiadas


de seus quadris, as calças do pijama soltas e perfeitamente baixas.
Sugo minha bochecha entre meus dentes, temendo que possa fazer
um som incrivelmente embaraçoso enquanto faço o meu melhor
para evocar a forma da protuberância pressionando contra o
algodão grosso e listrado.

Meus olhos se arregalam e o olhar no seu...

É novo. Obscuro. Desesperado?

A garganta de Chase balança com um engolir pesado e meu


núcleo pulsa. Deixo cair meu ombro esquerdo, ciente de que minha
camiseta deslizará com ele, e isso acontece. O pescoço aberto
permite que continue descendo pela minha pele, e só para quando
o material encontra a cavidade do meu peito, delineando a curva
do meu peito.

Apenas uma provocação... apenas o suficiente.

Seu olhar corta para o meu, estreitando. — O que está


fazendo?

— Essa parece ser sua pergunta de escolha esta semana…

Sua carranca é pequena. — Talvez eu devesse me perguntar


um pouco menos.

Meu estômago afunda. — Talvez devesse.

Sentindo-me corajosa, permito que minhas mãos deslizem


mais para trás, desejando que ele se aproxime, tentando deixar o
mais claro possível, caso não esteja entendendo.

Quero você.

Instantaneamente, seu olhar cai para minha boca, então com


os nervos correndo por mim, deslizo minha língua pelos meus
lábios.

E já está.

Chase empurra para fora do balcão, e como um animal após


sua próxima refeição, vem até mim.

Mais três passos.


Seus punhos flexionam em seus lados.

Mais um…

Ele me alcança. Eu empurro para cima.

Meu irmão aparece.

Merda!

Eu me empurro para cima, e os olhos afiados de Mason voam


entre nós.

— Que porra é essa? — Mason grita, a porta do pátio batendo


na sua bunda enquanto está congelado no meio dela.

Quase pulo e corro, mas meu corpo passou de voo a


congelado em dois vírgula cinco segundos.

Eu sou mais uma vez, o eu adolescente que foi puxada para


o palco em um show do One Direction e vomitou nos sapatos de
Zayn Malik, enquanto ainda os usava.

Graças a Deus Chase não tem os olhos arregalados e a língua


presa como eu.

— Nada, cara, só pegando um sorvete. Quer? — Chase


pergunta a ele, enquanto ele casualmente chega atrás de mim,
encontrando algo para pegar no armário, e volta para as caixas de
sorvete esquecidas.

— Ari, vá para a cama.

Isso me tira do sério.


— Estou tomando sorvete. — Não me incomodo em tentar
esconder meu aborrecimento.

— Tenha no seu quarto — exige, suas narinas dilatadas.

— Talvez eu não queira... espere. — Olho para ele,


descobrindo que ainda está de jeans e moletom, e acabou de entrar
pela porta dos fundos. — Onde você estava?

— Vá. Agora.

Revirando os olhos dramaticamente, puramente para irritá-


lo, pego minha garrafa de água e pulo para fora do balcão, o olhar
do meu irmão queimando nas minhas costas enquanto me curvo
ao redor do balcão.

Eu bato no ombro de Mason enquanto passo por ele e é rápido


para agarrar meu braço. Seu aperto é gentil, mas seus olhos são
duros e apontados para seu melhor amigo. — Você tem pijama por
uma razão, Arianna. Use-os — range.

— Eu te digo uma coisa, quando começar a usar uma camisa


na academia, eu considerarei.

Ele franze a testa e eu passo por ele.

Mase pode ter sua pequena birra o quanto quiser. Enquanto


isso, estou aqui tentando reunir todo o controle que posso
encontrar para não pular meu caminho até o meu quarto, mas no
minuto em que estou dentro dele, faço uma dancinha feliz.

Santa. Merda.

Ele não conseguiu desviar o olhar.


Ele não podia ficar longe.

Eu nem sei se ele percebeu isso.

Talvez fosse melhor Mason entrar em cena como entrou. Se


fosse quinze segundos depois, poderia ter encontrado algo
completamente diferente.

Porque Chase não pode fingir que esta noite era tudo eu. Não
era.

Ele me pediu para ficar. Caminhou em minha direção.

Ele...

Minha porta está aberta e pulo, girando.

— Chase — respiro.

— Esqueceu seu sorvete. — Suas sobrancelhas estão


franzidas, e cegamente coloca a guloseima na mesa perto da minha
porta.

Olho para a tigela, coberta de caramelo. — Isso é seu.

— Claro.

Ele gira, saindo para o corredor.

Franzindo o cenho, a empurro para fechá-la, mas antes de


fechar, ele está lá novamente, e então sua mão está afundando no
meu cabelo, sou girada e pressionada no quadro.

Ele olha, sua mão tremendo, e então diz — Foda-se.


Sua boca cai na minha e suspiro ao seu redor. Pressiona mais
perto, segura mais apertado, e quando minha boca se abre,
permitindo que entre, ele geme.

E então se afasta, sua retirada é tão rápida quanto seu beijo,


e fico congelada, minha mão no ar.

— Cadela! — É assobiado, e minha cabeça balança para a


direita.

Cameron espreita das sombras, saindo do banheiro, seu


queixo caindo em admiração.

Encaro-a e nós duas gritamos baixinho, pulando em cima da


minha cama.

Meu sorriso não poderia ser mais amplo porque finalmente


consegui um sinal que esperava encontrar.

Um que não pode ser negado.

Chase Harper não é tão imune a mim quanto gostaria que eu


acreditasse... ou gostaria que acreditasse.

Isso era tudo dele.

De onde esse homem veio, não sei, e não me importo.

Seus olhos estão abertos e isso é mais do que poderia esperar.

Eu sorrio, me enterrando debaixo das cobertas.

Cam suspira. — Talvez nós duas tenhamos um gostoso para


transar neste verão.
Olhamos uma para a outra e rimos.

Tal-maldita-vez.

Hoje é um daqueles dias de verão no sul da Califórnia, onde


o sol quente decide aparecer depois do almoço e desaparece antes
mesmo de se ter a chance de comer. Então Cam e eu guardamos
nossas toalhas e encontramos Lolli e Payton no centro para comer
tacos, enquanto os rapazes ficaram para trás assistindo aos
destaques do futebol no YouTube.

Assim que chegamos em casa, Cameron subiu para pintar as


unhas e eu me joguei no sofá.

Estou terminando minha ligação quando Mason entra na


sala.

— Mãe? — Mason pergunta.

— Sim. Ela conversou com tia Sarah sobre Kenra e tentou


checar Payton, mas ela não respondeu. Eu lhe disse que ela
provavelmente está tirando uma soneca.

Ele zomba de uma risada. — Comida mexicana fará isso com


você.
— E gerar um humano pode contribuir para a isso. — Seus
lábios se contraem. — Papai disse que estão prontos para a
viagem.

— Bom, eles precisam tirar férias agora que estamos fora de


casa. Chega pra lá. — Ele bate no meu joelho, para que possa caber
no lugar ao meu lado, e joga o braço sobre o encosto do sofá.

— Você acabou de sair do banho? — Deduzo por seu cabelo


molhado.

Ele balança a cabeça, pegando o controle remoto da minha


mão com um sorriso. — Sim. Temos aquele novo conjunto de pesos
que o pai de Brady enviou para ele todo montado. É legítimo. Assim
que tivermos a chance de trazer o supino dele para cá, teremos
tudo o que precisamos e não precisaremos mais pagar para usar a
academia no centro da cidade.

— Terei que conferir.

Nós nos olhamos e rimos.

— Ei, você teria ficado orgulhoso de mim no bootcamp29 que


eu e Cam fizemos. Só fiz... cinco pausas não aprovadas. — Eu
sorrio.

Ele ri. — Apenas fique na esteira, irmã, e ficará bem.

29
- Campo de treinamento físico, é um tipo de programa de treinamento físico em grupo que pode ser
realizado por academias, personal trainers ou outras organizações, são projetados para criar força e
condicionamento físico através de uma variedade de exercícios.
Eu sorrio, me aconchegando novamente e puxando o cobertor
de lã até meu queixo.

Depois de alguns minutos tranquilos de relaxamento na


frente da TV, o sorriso no meu rosto começa a cair.

São coisas pequenas como essa que mais sentirei falta, e é


um pouco doloroso demais pensar que esses tempos podem
desaparecer.

— Ei, Mase? — Pergunto baixinho, meus olhos na TV. — Acha


que ainda vamos vir aqui todo verão depois disso?

Ele balança a cabeça distraidamente, rolando para


SportsCenter30. — Sim, com certeza.

— Acha? Tipo, sério, sério?

Ele ri, seus olhos piscando na minha direção. — Tipo, sério,


sério. Por quê?

— Muita coisa pode mudar na faculdade. — Eu dou de


ombros contra a almofada. — Podemos estar no mesmo campus,
mas isso não é nada como todos nós morando na mesma quadra
em casa.

Pequenas rugas agora emolduram seus olhos. — Tenho


certeza que ficaremos ocupados com a vida em algum momento,
sim, mas sempre teremos tempo um para o outro e para este lugar.

30
-Canal de esportes.
Quero dizer, é por isso que eles nos deram, certo? Manter-nos
ligados?

Eu concordo. — Sim, mas será realmente tão simples assim?

— Eu não sei, Ari. Merda. — Passa a mão na parte de trás da


cabeça, seus olhos se movendo para a TV. Ele faz uma careta. —
Deveria ser.

Encaro Mason por um momento.

A possibilidade - ou probabilidade - de mudança é um


assunto que meu irmão odeia. Puro e simples, isso o assusta, e
quando Mason está com medo, triste ou qualquer coisa parecida,
raiva e frustração é o que se obtém. Ponto. Ele tem sido assim a
vida toda.

Não sei se todos os gêmeos sentem o mesmo, mas eu e Mase?


Somos um pouco codependentes. O pensamento de ficar sozinho
não combina com nenhum de nós. Pode ser porque nunca
estivemos realmente sozinhos. Pode ser porque temos uma família
grande e amorosa, da qual Cam e Brady fazem parte desde o
nascimento, e Chase se juntou quando tinha doze anos.

Mason olha para mim, acusação em seus olhos. — Acha que


eu não vejo, ou sei, mas está errada. — Ele não tem que dizer as
palavras, ambos sabemos o que, ou mais a quem, ele está se
referindo. — Sou do jeito que sou por razões que você ainda não
entende. Só estou tentando salvá-la de...

— De quê?
Ele suspira. — De uma decepção. Toda a nossa vida, você
esteve ao nosso lado, fazendo o que fazemos, e nunca reclamou,
mas e fora de nós, Ari?

— Eu tentei isso na Flórida e me dei mal.

— Não é isso que quero dizer. — Ele balança a cabeça. —


Talvez eu tenha exagerado um pouco, e isso é porque fui pego de
surpresa, mas estou falando de amizades… experiências que ainda
não teve. — Minhas bochechas ficam um pouco rosadas, mas não
desvio o olhar. — Há mais lá fora de nós.

— Talvez eu não precise de mais.

Seu sorriso é pequeno. — Como sabe?

Eu puxo meus joelhos para cima, envolvendo meus braços ao


redor deles com um encolher de ombros. Acho que não, mas
sempre foram suficientes. Não vejo isso mudando. Entendo o que
está dizendo e ele não está errado. Nós cinco, literalmente fazemos
tudo junto.

Férias, feriados e todas as pequenas coisas no meio.

Fazemos compras juntos, aniversários juntos e vamos para a


escola juntos todos os dias desde sempre. Primeiro, todos nós
sentamos nas mesmas fileiras no ônibus escolar, e então nos
empilhamos na van da mãe de Brady quando conseguiu sua
permissão. Mase foi o primeiro a passar no teste de direção, então,
daquele dia em diante, andamos com ele. Todo. Santo. Dia.

Nós cinco, éramos inseparáveis. Uma unidade.


E nós adoramos. Ainda fazemos. É por isso que vamos todos
para a mesma escola por mais quatro anos.

Ele quer que isso mude?

— Saindo de Avix, será bom para você. — Ele fala


suavemente. — E eu ainda estarei lá quando precisar de mim. E
quando não.

A inquietação toma conta de mim. — Está falando como se


fosse o fim disto. De nós cinco.

— Somos uma família, e a família não acaba. — Ele balança


a cabeça, facilitando suas próximas palavras. — Mas é exatamente
por isso que é importante para todos nós continuarmos amigos,
para que as coisas não fiquem estranhas. — Mason olha para a
frente, chutando a perna. — Para que as coisas não sejam
arruinadas.

— Certo.

Ele aponta sua carranca para a TV e a minha cai no fiapo das


minhas meias.

Veja, um dia antes do colegial, Mason pediu a Chase e Brady


para ajudar a cuidar de nós, meninas, o que significava que
estávamos na zona de amigos para evitar o drama extra que nossa
adolescência certamente traria. E eles cuidaram, aqui e ali, mas
essa linha era clara, e todos nós sabíamos disso.

Eu mais do que ninguém, mas não estamos mais no colegial.

E essa linha?
Eu diria que é como se já não existisse.

Há apenas um problema.

E ele está sentado bem ao meu lado.


Arianna
À medida que saímos do estacionamento do restaurante,
Payton no banco de trás ao meu lado, suas mãos caíram em seu
estômago e me mexi no meu assento para encará-la um pouco
melhor.

— Você já sentiu o bebê chutar?

— Eu acho, mas é difícil dizer — compartilha. — Parece que


sou uma tigela de água e toda vez que me mexo, espirra.

Mason e eu rimos e olhamos para sua pequena barriga,


começando a aparecer através de suas roupas.

— Quer sentir, não é? — Ela levanta uma sobrancelha loira


perfeitamente cuidada.

Meu sorriso é instantâneo, e eu rio. — Não quero que seja


estranho, mas sim.

Ela balança a cabeça. — Vocês são demais — reflete com um


sorriso, e meus olhos se estreitam, mas então pega minha mão,
colocando-a no ponto mais alto de seu estômago.
O calor se espalha através de mim instantaneamente, minha
pele arrepia enquanto eu gentilmente coloco sua barriga sobre sua
camisa. Deslizo minha palma para frente e para trás, e então desço
um pouco a encosta borbulhante.

— É tão difícil — sussurro. — Perfeitamente redondo e


minúsculo. — Eu levanto meu olhar para o dela.

Ela acena com a cabeça, a umidade crescendo em seus olhos


enquanto tenta sorrir, mas imagino que está em todo lugar. Feliz
por ter um pedaço do homem que não estará aqui para ver seu
filho vir ao mundo, e triste pelo mesmo motivo.

Eu não posso imaginar.

— Minha mãe e tia Sarah — menciono a mãe de Nate. — Terão


um apogeu31. Sério, ele...

— Ou ela — Mason fala.

— Será tão mimado. Você basicamente terá uma babá sempre


que quiser.

Isso faz Payton rir, e sua cabeça cai no encosto de cabeça. —


Sim, sua mãe literalmente liga ou envia mensagens todos os dias
para ver como estou me sentindo e tudo mais.

— Ela está falando sobre netos há quatro anos. Assim que


Nate ficou noivo, juro que voou para ver a tia Sarah, só para que

31
-Ponto alto ou clímax de alguma coisa.
pudessem comemorar o fato de que um bebê estava em um futuro
próximo.

— Conheceram Lolli? — Provoca. — Porque aquela garota


nem compartilhará os moletons de Nate. Seu bebê? Esqueça isso.

Rimos e então Mason para na frente da garagem da casa de


Payton. Seu irmão nos encontra na garagem, abrindo a porta de
Payton antes que ela tenha uma chance.

Ela sai e Parker enfia a cabeça para dentro.

— Lolli disse que vai a festa na praia? — Olha para Mason,


então olha para trás para ter certeza de que Payton não está ao
alcance da voz. — O que aconteceu, ela mudou de ideia?

— Ela só concordou em fazer um brunch de antemão, e


continuou bocejando, merda, então não forçamos — meu irmão
diz a ele.

Parker assente. — Ela diz que está dormindo bem, mas


acordou tão cedo quanto Lolli a semana toda. Continua entrando
em contato com a mãe de Deaton e as pessoas em casa sobre onde
ele foi enterrado, já que nunca houve um anúncio de funeral, mas
ninguém sabe de nada e aquela mulher de merda não responde.

— Kenra pode perguntar agora que ela voltou?

— Ela perguntou a algumas pessoas, mas obteve as mesmas


respostas. — Balança a cabeça, batendo no capô. — Tudo bem,
divirtam-se. Ficarei em casa com ela, mas Nate e Lolli foram para
lá cerca de dez minutos atrás.
— Deixe-nos saber se formos necessários — diz Mason a ele,
franzindo suas sobrancelhas.

— Sim.

Meu irmão acena com a cabeça e coloca o carro em marcha.


— Nós temos que pegar nossas coisas em casa. Até mais.

Com isso vamos para casa.

Cam, Brady e Chase param ao mesmo tempo, tendo parado


para abastecer no caminho do restaurante para casa.

Colocamos as pranchas de remo e a caixa de gelo nos vagões


dobráveis em minutos, e então estamos a caminho.

Cam envolve o braço em volta do meu ombro. — Cerveja,


churrasco e meninos da praia, aqui vamos nós.

Uma hora depois, estamos dançando na areia ao som de uma


banda hipster ao vivo, nossas pranchas de remo dispostas e
prontas para cair nas águas. Os rapazes decidem tomar uma
bebida antes de se juntar a nós, então eu e Cam saímos em nossas
pranchas para brincar.

Um pouco depois, Lolli se junta a nós, então seguimos para


a pequena enseada onde um grande grupo se formou.
— Muito bem, Ari — Lolli começa, caindo de volta em sua
prancha para tomar sol. Colocando a mão sobre os olhos para
protegê-los do sol e me olha com um sorriso. — Compartilhe os
detalhes sujos. Há uma razão pela qual o seu modelo
Abercrombie32 continua olhando para este lado e não é a mesma
razão pela qual Mason e Nate estão.

Eu sorrio, olhando por cima do ombro, e com certeza, ele está


olhando, mas todos estão, cada um empurrando suas pranchas
na água, então quem sabe. — Ele tem sido um pouco mais...

— Brincalhão? Melindroso? Visivelmente excitado? — ela


dispara, fazendo nós três rirmos.

— Algo parecido. — Rio. — Eu realmente não sei o que pensar


disso. Por um lado, é apenas Chase sendo Chase, e por outro ele
é... — Levanto meus ombros, sem saber como explicar.

Eu tento não ler muito nas coisas, mas está ficando cada vez
mais difícil não me perguntar “e se”.

Lolli acena com a cabeça, encarando o sol com os olhos


fechados. — Digo que pegue o seu lixo debaixo d'água e veja o que
acontece. Aposto que ele cutucará com isso.

Cam e eu rimos, imitando a posição de Lolli na prancha, mas


não demora muito para que os outros se juntem, e estamos todos
brincando no oceano.

32
-Loja de roupas.
Brady e eu corremos da planície para a enseada, Mason, é
claro, remou até o ponto médio à nossa frente e paira lá apenas no
caso de eu ter uma cãibra. Tenho que amá-lo.

Os rapazes jogam uma partida de queimada com um grupo


de rapazes e nós nos sentamos para torcer por eles.

Brady é o último homem de pé, então quando Chase bate na


perna de Mason com a mão, e os dois lentamente começam a se
levantar, Cam rapidamente puxa o telefone do seu pescoço –
mangas impermeáveis são uma obrigação quando se vive a vida
oceânica. Brady encara a multidão, regozijando-se do jeito que só
Brady pode, e os rapazes jogam seus corpos nele, jogando-o na
água.

— Seus filhos da puta! — Ele ri, enquanto desce, e então se


reveza pegando cada um com uma chave de braço, mergulhando-
os rapidamente.

Preparadas para o que sempre vem a seguir, estamos prontas


para eles, cobrindo rapidamente nossos rostos enquanto somos
lançadas na água e jogadas de um para o outro como batatas
quentes.

Lolli grita quando Nate faz o mesmo com ela, e então nos
empurra. — Obrigada pelo aviso, idiotas! — Ela ri. — Bonitão, não
receberá nada esta noite!

— Desculpe-me amor! — Nate sorri, agarra seu rosto e coloca


uma sobre ela, efetivamente mudando de ideia.
— Tudo bem, estamos prontos para ir para a areia, comer e
jogar novamente? — Brady agarra sua prancha, puxando-se para
uma posição sentada.

— Sim, estou faminta. — Eu me movo em direção à minha


prancha, mas me deito sobre ela longamente para usar meus pés
em vez de remar para me levar de volta.

Todos concordam e voltamos para a margem que viemos.

Brady pega algumas cervejas, despejando-as em copos, assim


a patrulha da praia não terá motivo para vir e nos questionar. Eles
sabem o que está acontecendo, mas é um tipo de coisa “sem danos,
sem falta”.

Uma vez que nossas mãos estão secas o suficiente para


limpar a areia, vamos até a estação de churrasco e pegamos alguns
sanduíches Tri-Tip33.

O sol cai atrás de uma parede de neblina, não muito depois,


e as fogueiras são colocadas em uso, por isso enquanto os outros
dançam ao som da música, enchendo seus copos pela terceira vez,
eu me aproximo da chama. Não está exatamente frio, mas há um
leve frio no ar e meu cabelo ainda está molhado, então o envolvo
em minhas mãos e o seguro longe da minha pele, girando para que
o calor aqueça minhas costas.

33
-Artesanais, feitos em casa.
— Smore34?

Olho para o lado para encontrar um cara loiro, seu cabelo


preso em um coque apertado e um sorriso nos lábios.

— Sim, na verdade. — Eu me viro, levantando meu cabelo e


me aproximo dele.

Ele me entrega um pedaço de pau e o enfio no saco de


marshmallows. — Obrigada.

Seu sorriso se aprofunda. — Sem problemas. Eu te ofereceria


um cachorro-quente para assar, mas já comi o último.

Eu rio. — Você assou um cachorro-quente aqui?

Ele leva o dedo aos lábios. — Não diga, tecnicamente está


fogueira pertence ao caminhão de comida, e eu não acho que eles
ficariam bem comigo grelhando o meu próprio e não comprando o
deles.

Olhando ao redor, aceno e seguro meu marshmallow sobre a


chama. — Acho que estão indo muito bem sem a sua venda.

— É uma participação muito boa, hein?

34
-Petisco tradicional para fogueiras noturnas popular nos Estados Unidos e no Canadá, consistindo de
um marshmallow assado no fogo e uma camada de chocolate entre duas fatias de graham cracker.
Eu apago o fogo sobre meu espetinho e ele o espreme entre
dois biscoitos, bem em cima de uma barra de chocolate e me
entrega.

— Está aqui de férias? — Pergunta-me, se empoleirando na


beira da rocha.

— Mais como uma viagem rápida. Viemos aqui o tempo todo,


então se tornou uma segunda casa muito melhor do que um local
de férias.

Ele ri, olhando para a festa. — Eu te entendo. Estou aqui


principalmente durante o verão, mas tento vir algumas vezes por
ano além disso. — Curva-se, cavando na pequena caixa de gelo
perto de seus pés e tira uma cerveja. — Quer uma?

— Ela tem uma — vem por trás de mim e a cabeça do cara se


move em direção à voz.

Chase desliza entre nós com um olhar, me bloqueando


completamente do surfista à minha direita e estende um copo
recém-cheio. Eu me inclino para encontrar os olhos do homem e
sorrio, levantando meu copo. — Obrigada, mas tenho uma, e
obrigada pelo s'more.

O cara acena com a cabeça, um sorriso descontraído nos


lábios. — De nada, tenham uma boa noite, hein? — Ele acena,
pega sua bolsa e vai até um grupo de pessoas a alguns metros de
distância.

Encaro Chase, levando minha bebida aos lábios.

— O quê? — Ele franze a testa.


— Isso foi rude.

— Você nem conhece o cara, por que tiraria alguma coisa


dele?

— Ele estava apenas sendo legal.

Chase zomba, de costas.

Agora sou eu quem está perguntando: — O quê?

— Nada. — Ele dá de ombros. — Não achei que Cam estava


falando sério sobre a coisa dos meninos da praia, só isso.

Minha boca se abre, mas nada sai, então me ocupo com


minha cerveja.

Isso é ciúme? Não pode ser, pode?

É simplesmente ele sendo um idiota, imitando Mason como é


conhecido por fazer.

Antes que eu possa pensar mais sobre isso, Cam se aproxima.

— Está pronta para voltar? Está escurecendo e tenho areia


em lugares que os olhos nunca viram. — Cam ri.

— Sim. — Chase começa, e Cameron levanta uma


sobrancelha, mas a desfaz antes que alguém possa ver.

A caminhada da festa para casa parece levar o dobro de


tempo do que a caminhada até lá. Somos vencidos pelo sol, pelo
surfe e o pouco de bebida do dia adicionado a isso.
Nate e Lolli acenam para nós enquanto avançam em direção
a sua casa e nós nos arrastamos pela entrada de carros. Cam e
Brady nos venceram com pedra, papel e tesoura, então receberam
direitos sobre os primeiros banhos, nos designando como os
faxineiros.

Juntos, levamos o baú de gelo até o deque e voltamos para


baixo para proteger nosso equipamento.

Mason e Chase colocam as pranchas de remo em suas baias,


e eu chego atrás deles, passando o cadeado pelas caixas de
barbatanas. Eu coloco todas juntas, mas a própria fechadura tem
areia e não prende.

— Pedaço de merda. — Eu suspiro, tentando colocar a coisa


estúpida no lugar.

Chase enxuga as mãos em seu short e vem por trás de mim,


seus braços ao redor, me prendendo. Suas mãos cobrem as
minhas e gentilmente tira o cadeado das minhas mãos. — Aqui,
deixe-me.

Eu não tenho certeza se ele sussurra, mas parece que é, seu


hálito quente rolando sobre minha pele molhada com precisão
lenta. Olho por cima do meu ombro e seus olhos encontram os
meus, um sorriso disfarçado tentando se libertar.

Ele traz o item de metal à boca, soprando nele, e meus olhos


caem em seus lábios. Quero senti-los novamente. Quero que
deslizem ao longo do meu pescoço como a sua respiração.

A fechadura estala, e Chase ri quando pulo com o som.


E então pulo novamente quando os remos são jogados aos
nossos pés, o corpo de Mason se empurrando a nossa frente, para
que possa começar a deslizá-los em seus postes.

Chase se afasta e faz o mesmo, então escapo, seguindo para


o cais.

Quando chego à plataforma, meus olhos deslizam mais uma


vez, e o que se espera, os de Chase estão em mim.

Aperto meus lábios para o lado e continuo entrando em casa,


onde meu sorriso se liberta.

Enquanto corto uma maçã e coloco um pouco de manteiga de


amendoim em uma tigela pequena, não posso deixar de lembrar
as palavras ditas no escuro apenas algumas noites atrás.

Nada força um homem a enfrentar seus sentimentos por uma


mulher do que o interesse de outro homem.

Não tenho certeza se é isso que está acontecendo aqui, mas


abençoado Noah Riley por seu conhecimento masculino.

Você pode ser a razão de eu ter tudo o que sempre quis.


Arianna
Fomos a casa de Lolli hoje pra o café da manhã, e depois de
comer, fomos para o pátio para alguns jogos de Cornhole35, mas
nós, garotas, não duramos muito, então todos decidiram dar um
passeio pela praia até a cafeteria.

Mason, Chase e Brady pairam sobre Payton enquanto ela


sobe a pequena escada para se sentar ao nosso lado em um posto
de salva-vidas abandonado, o único lugar na praia que oferece
alguma sombra se não colocar um guarda-sol.

Tão protetora, nossa tripulação. Podemos ter conhecido


Payton apenas no início deste verão, mas ela é irmã de Parker, e
Parker é como uma família para Lolli, tornando-a importante para
todos nós. Pelo menos foi assim que começou, mas foi só o começo.
Não demorou muito para cada um de nós recebê-la ansiosamente
no rebanho. Ela vem de uma situação de merda. Sua mãe, embora
mais rica que a terra, era cruel e controladora. Antes de Deaton,

35
-Cornhole, também conhecido como o lançamento do saco de feijão ou milho, é um jogo muito
divertido que consiste em lançar pequenos sacos em uma plataforma de madeira ou papelão.
Payton não tinha amigos de verdade, então às vezes eu a pego
sentada, observando o resto de nós, mais ou menos como estou
fazendo agora com os rapazes.

É um lembrete desnecessário da enorme incapacidade de


Mason de encontrar seu descanso. Imagino Chase sendo o líder do
conselho de “ficar longe da minha irmã”, mas não tem sido tão bom
em defender seu título.

Claro, ele se afasta e me corta pelos tornozelos com seu


discurso de “não, inferno não”, mas está lentamente se
recuperando. Não tínhamos bebido uma gota quando ele me beijou
no meu quarto, isso era tudo ele. Neste ponto, só quero sentir seus
lábios em mim novamente. Qualquer lugar.

Em todos os lugares.

— Garota, pare — o sussurro risonho de Cameron puxa meus


olhos para os dela, e seu sorriso se aprofunda. — Seu rosto está
corado agora.

— Cale-se! — Eu sussurro de volta. — Sério?

— Oh, sim. — Acena com a cabeça, e reconheço o brilho


travesso em seus olhos e meus próprios estreitamentos.

— Cam, não...

— Ei Chase, jogue essa bebida para Ari, sim? — Ela reprime


uma risada, acenando para a garrafa bebida de Mason. — Nossa
garota está com sede.

Chase olha dela para mim, um sorriso malicioso puxando


seus lábios enquanto a agarra, o olhar de Mason se movendo entre
nós três antes de apontar de volta para a outra loira a menos de
seis metros de distância, mas Chase não joga fora.

Ele me dá uma melhor e se aproxima, mas em vez de colocá-


la na minha mão estendida, se inclina mais perto e a coloca ao
meu lado, seu peito nu roçando meu ombro. Seus olhos encontram
os meus enquanto se afasta, mas não diz uma palavra, voltando
para onde estava com meu irmão. Apenas quando está fora do
alcance da voz, nós três deixamos nossas risadas livres.

Lolli faz um som de engasgo, e olhamos para encontrá-la


fingindo chupar um pau, suas sobrancelhas erguidas, por isso jogo
a almofada da cadeira em sua cabeça, movendo meus olhos para
Chase mais uma vez.

Deixo escapar um suspiro torturado, mas sentindo a atenção


do meu irmão em mim, olho para ele. Sou recebida com uma
carranca, mas o que há de novo? Ele nunca foi de segurar seu
descontentamento quando se trata de atenção individual de
alguém com um pau, especialmente um de seus melhores amigos.

Idiota.

Caminhando pelo deque de trás, Cameron geme. — Por que


concordei em caminhar até a cafeteria. Meu corpo dói.
— O mesmo. — Bocejo, usando o corrimão para me ajudar a
subir os últimos passos. — Como posso estar tão cansada quando
nos deitamos na cama às seis da noite passada?

— É exatamente por isso que está cansada. — Chase sorri.

— Isso... ou as duas horas que passou remando contra a


maré. — Mason balança a cabeça. — Se você aprendesse a receber
instruções na academia, não sentiria a necessidade de trabalhar
tanto os músculos.

— Quer dizer que ela não se sentiria como se estivesse


morrendo por dias depois? — Cameron brinca.

— Não sinto que morrerei dias depois, um com certeza, mas


não mais. — Eu rio. — Além disso, gosto de como o exercício na
água não parece exercício, é por isso que faço. E não seguir
instruções significaria que não faço o que diz, mas faço. O
problema é que sou fisicamente incapaz da merda que você me dá.

— Só peço que tente.

— Para tentar levantar uma quantidade obscena de peso.

— Se você se concentrasse, poderia fazê-lo, mas ri no segundo


em que seus músculos se contraem. — Mason olha.

Eu rio então e ele segue rapidamente.

Mase passa o braço em volta do meu ombro e me puxa para


ele, beijando minha cabeça. — É uma pirralha, só isso.

— Sim, mas meu “grande” irmão me transformou em uma.


— Eu a possuo. — Ele acena com a cabeça, destrancando a
porta e nos deixando entrar.

— Estou tirando uma soneca. Acorde-me antes de colocar as


pizzas no forno. — Mason desce pelo corredor, o resto de nós
andando pela sala.

— Eu não sei vocês, mas estou sentindo o mesmo que ele


nessa merda de hora da soneca. — Brady chuta para fora da
poltrona e liga a TV. — Algum pedido de filme?

Eu pego o cobertor das costas da cadeira de barril e me enrolo


ao lado de Cam. — Sua escolha, grandão.

Claro, ele escolhe algo que já viu uma centena de vezes, e


nocauteia nos primeiros cinco minutos. Nem dez minutos depois
disso, Cam começa a se mexer.

— Vá embora se vai continuar torcendo e girando. — Eu dou


a ela uma cutucada provocante.

— Meu corpo está doendo — lamenta, e então engasga. —


Chase! — praticamente grita, olhando para ele. — Você fez aquela
aula de massagem em um desafio no ano passado.

Chase inclina a cabeça para trás, sorrindo. — Eu fiz.

— Não me faça implorar, Chase, porque eu implorarei.

Ele ri, sentando-se e de joelhos em seu calcanhar no chão. —


Venha, então.

— Sim! — ela grita, caindo no chão a sua frente.


Depois de um minuto ou dois, Cam solta um gemido suave e
lento, seguido por outro, e Brady, é claro, ouve em seu sono. Ele
joga um travesseiro na nuca de Chase.

— Idiota. — Ele ri.

Cam se vira para que possa me ver e pisca, e reviro os olhos


de brincadeira, deixando meus olhos se fecharem. À beira de
adormecer, a mão de Cam cai no meu braço e me dá uma pequena
sacudida.

— Sua vez, melhor amiga — sussurra com um sorriso. — Vou


para a cama.

Olho para Chase, que está sentado esperando por mim com
um pequeno sorriso, e então espio Brady, seu rosto agora
enterrado no vinco das almofadas.

Eu tomo o lugar de Cam.

— Espere aí — Chase sussurra, tomando cuidado para não


acordar os outros, tenho certeza, e se espreguiça para a direita,
pegando um cobertor da cesta de vime perto da lareira.

Ele gesticula para que eu me deite, então sigo o exemplo de


Cameron, e puxo minha camiseta por cima da minha cabeça,
então a deixo cair no tapete. Estou ciente de cada movimento de
Chase, prendendo a respiração enquanto sobe sobre mim,
posicionando seus quadris bem contra a curva da minha bunda.
Eu tento, sem sucesso, reprimir uma risada.

— Algo engraçado? — Ele move meu cabelo para um lado,


suas palmas abertas caindo em meus ombros.
Bom, já que ele perguntou...

— É só que quando imaginei que estávamos nessa posição,


foi um pouco diferente. — Eu sorrio na dobra do meu braço.

Ele congela, mas depois de um momento, sua garganta limpa


e começa a aplicar pressão nos meus músculos.

Chase começa alto e abaixa as mãos, esfregando e


amassando com os nós dos dedos. Eu nem tenho certeza de quanto
tempo se passa enquanto fico ali completamente relaxada, mas
quando sinto que começo a cair no sono, a mudança no toque de
Chase faz minhas pálpebras se abrirem.

É mais lento, quase forçado, como se tivesse que se lembrar


do que fazer... ou ouso dizer, o que não fazer.

O próximo movimento de Chase me faz entender ser o último.

Lentamente, e com um toque ligeiramente trêmulo, as pontas


de seus dedos encontram minha pele enquanto pega as cordas do
meu top de biquíni em sua mão. Ele espera uma batida, como se
eu fosse protestar, e então puxa.

Sua respiração sibilante percorre minha pele nua e aperto


meus punhos com força para evitar me contorcer sob seu toque.

Eu já recebi uma massagem antes, de Brady e alguns outros,


tudo de uma forma divertida e relaxante, mas nunca quis que
nenhum deles me tirasse a roupa. Então sim, totalmente diferente.

Merda, não quero nem respirar com medo que ele puxe um
Chase e recue.
Não há como negar que ele ficou mais descarado, desamarrar
meu top é prova disso, assim como a maneira como empurra-os
para o lado na próxima respiração.

Ele corre as palmas das mãos abertas ao longo das minhas


costas sem nenhuma barreira para quebrar o contato de sua pele
com a minha.

Eu praticamente me finjo de morta, morrendo de vontade de


saber seu próximo movimento, enquanto digo a mim mesma que
seu único objetivo é facilitar: uma superfície lisa para trabalhar.

Sua mão me deixa, e ele se estica, um cobertor nos cobrindo


no segundo seguinte. Todo o caminho sobre nós. Meus olhos se
abrem tão rápido que leva um momento antes que eu possa ver.

Minhas mãos estão dobradas sob minha cabeça, e os dedos


de Chase se curvam para encontrar minha clavícula, deslizando
suavemente de volta para baixo até que seus dedos encontrem o
ponto mais alto das minhas costelas. Suas palmas se achatam ali,
seu toque é leve, e as desliza em um movimento nada parecido com
massagem.

É um toque de curiosidade.

É ele explorando a sensação da minha pele contra a dele.

É tão emocionante quanto chocante.

Seu corpo abaixa, o seu calor pairando sobre mim, e engulo.

Eu tento me mexer, uma necessidade desesperada de


enfrentá-lo tomando conta de mim, mas ele não permite. Sua testa
encontra minhas costas no espaço entre minhas omoplatas, e
balança suavemente a cabeça para frente e para trás.

Seu cabelo faz cócegas na base do meu pescoço, e tremo


embaixo dele. Meus pulmões se expandem, famintos, e arrasto
uma respiração agitada pelas minhas narinas, uma que é forçada
de volta quando lábios quentes e úmidos encontram minha coluna.
Meus olhos se fecham, e então outro beijo cai.

— Chase — praticamente gemo, ofegando quando seus lábios


encontram meu ouvido.

— Shh... — sussurra, seu nariz deslizando ao longo da minha


mandíbula. — Diga-me para parar. Eu não sei o que estou
fazendo…

— Você está indo bem.

Seu corpo treme com uma risada baixa, e então suas mãos
estão ao meu lado, deslizando lentamente até que as pontas de
seus dedos encontrem as bordas dos meus seios. Ele se contorce,
e depois suas mãos voam para trás, longe de mim completamente.

Eu uso isso para minha vantagem, rapidamente passando


por baixo dele, meu peito nu agora escondido sob sua camisa solta.

Ele não estava esperando por isso, e seus olhos se arregalam.

Chase começa a balançar a cabeça, um lampejo de pânico


caindo sobre ele, por isso ofereço um pequeno sorriso.

Por favor, não corra…


Suas sobrancelhas se curvam enquanto ele contempla como
chegamos aqui, por isso dou-lhe um empurrão suave disfarçado
de cedência.

Eu deixo cair minha cabeça para trás, desta vez direto para o
tapete, deixando o travesseiro ao meu lado, e estico meu queixo
um pouco para expor meu pescoço, deixando-o decidir o que fazer,
se fará alguma coisa.

Seu pomo de Adão balança com um engolir forte, e após um


momento de hesitação, deixa o rosto cair na curva do meu pescoço.

Por um momento, ele não se move, o calor de sua respiração


trabalhando por conta própria e criando uma dor entre minhas
pernas, mas então puxa uma respiração longa.

Eu me contorço quando sua língua encontra minha pele,


saboreando à medida que seus lábios pressionam minha clavícula.

Rapidamente, antes que ele tenha tempo para objetar,


empurro minhas palmas sob sua camisa e minhas entranhas
torcem quando minhas mãos encontram seu abdômen. Olhei para
seus músculos centenas de vezes, imaginei explorá-los milhares,
mas não tenho certeza se acreditava que algum dia teria a chance
de aprender livremente seus cortes com meu próprio toque.

Chase se afasta, apenas o suficiente para encontrar meus


olhos, e usa a mesma expressão tensa de antes.

Ainda assim, sorrio como se dissesse que te desafio a seguir


minha liderança, pois está claro que ele está lutando contra si
mesmo por dentro, tentando decidir o que está bem e o que não
está. O que é certo ou errado. Em que ele baseia suas decisões,
não tenho ideia, mas o ajudo pegando uma de suas mãos na minha
e colocando-a na curva da minha costela esquerda, logo abaixo do
meu peito. Deixo para ele decidir o que quer a partir daí, enquanto
imploro com meus olhos para que me toque.

Ele abaixa a boca no meu ouvido, sussurrando — Não pode


me olhar assim. Estou tentando...

— Pare de tentar. Seja o que for, apenas... pare.

Ele ri, mas sua carranca volta rapidamente, e na velocidade


de um caracol, desliza a mão um pouquinho para cima. Minha
respiração acelera, e corro minhas mãos de seu abdômen para
suas costas, puxando-o para mim.

Seu polegar encontra a curva do meu peito e meus lábios se


abrem com um gemido baixo.

Infelizmente, no segundo em que o som me deixa, os olhos de


Chase se arregalam, suas mãos voam do meu corpo e rapidamente
cai no espaço ao meu lado.

Incapaz de encontrar meu olhar, ele me entrega minha


camisa, lentamente se retirando de debaixo da coberta, mas fico
com raiva, e me sento, deixando a coisa cair em volta da minha
cintura. Brady ainda está de frente para as almofadas, então finjo
que não dou a mínima se alguém entrar e lentamente puxo minha
camisa sobre minha cabeça.

Salto para os meus pés, meus pés descalços batendo contra


a madeira no meu caminho para a cozinha.

Eu tiro água da geladeira e quando a fecho, Chase está bem


ali, franzindo a testa no lugar.
— Está louco.

Alguém desde a existência da humanidade gosta de


chicotadas?

Empurro-o, mas ele agarra meu braço, me girando de volta.

— Não fique chateada.

— E se Brady acordasse? — Fala baixo. — E se Mason


entrasse?

— E se descobrir o que quer sem se preocupar com outras


pessoas?

Sua boca se abre, mas nada sai, e seus olhos caem no chão.

— Certo. — Eu me viro e subo as escadas, me trancando no


meu quarto.

Minha cabeça cai contra a porta, e fecho meus olhos,


desejando que as lágrimas não caiam.

Minhas esperanças estão oficialmente em alta, e a culpa é


minha.

Chase está sendo brincalhão, ultrapassando um pouco os


limites, e eu poderia muito bem ser um maldito trator. Preciso
deixá-lo chamar as jogadas, e mesmo que eu esteja frustrada neste
momento, algo me diz que ele vai.

Tudo o que sei é que estarei pronta quando ele estiver pronto.

Não importa quando. Não importa o quê.


Arianna
— Buraco um, baby! — Cam levanta as mãos sobre a cabeça
em vitória.

— São três seguidos! — Brady grita, cruzando os braços em


um beicinho. — Está trapaceando.

O resto de nós ri e Mason dá um tapa nos ombros do


grandalhão.

— É a mesma merda toda vez, meu caro. Por que acha que o
minigolfe é sempre ideia dela? — Ele sorri curvando-se quando
Cameron levanta o seu queixo com um sorriso.

— Está tudo bem, Brady baby — brinca. — Todos sabemos


que você é o melhor atleta de todos nós.

Eu rio, e uma respiração quente encontra meu ouvido.

— Essa risada significa que concorda?

Eu me mexo para olhar para Chase, mas ele já está se


afastando, seus lábios curvados em torno de sua garrafa de água,
e meus nervos disparam. Ele sabe que ainda estou olhando para
ele e...

— Payton — Parker fala devagar, tão devagar quanto seu


corpo levanta do banco ao meu lado, como se estivesse se
aproximando de um animal ferido e temesse que ele fugisse. — O
que há de errado?

Todas as nossas cabeças se inclinam em sua direção, os tacos


caindo das mãos de nossos rapazes enquanto rapidamente seguem
atrás de Parker.

Ela não faz um som, mas quando sua cabeça se levanta da


tela de seu telefone, as lágrimas caem como uma cachoeira,
rápidas e sem parar. Não pisca, e enquanto está olhando para seu
irmão, não tenho certeza se o vê.

— Payton. — Lolli tenta desta vez, ficando ao seu lado, e


gentilmente curva o pulso de Payton, para que ela possa ver a tela.
Seus olhos examinam por um momento, e ela o encara, sua cabeça
virando para Parker, a raiva trazendo calor à sua pele.

— Ele se foi — Payton diz, a voz assustadoramente vazia de


emoção.

— Quem se foi? — Mason diz gentilmente enquanto se


aproxima lentamente.

Payton traz seus olhos para os dele, tensão emoldurando


suas feições. Ela balança a cabeça, entrega-lhe o telefone e sai em
direção à saída.

— Foda-me. — Lolli joga sua bebida para Nate e a persegue,


enquanto Mason se abaixa para pegar o telefone.
Ele inclina o corpo na direção de Parker, os dois lendo na tela
ao mesmo tempo.

Mason o enfia na mão de Parker, virando-se para olhar na


direção em que Payton desapareceu. — Lolli falou certo. — Ele
balança a cabeça. — Foda-me.

— Fala, cara. — Nate olha para Parker.

Os ombros de Parker caem em derrota, e olha para o telefone


mais uma vez. — O funeral. Eles o enterraram. Não foram decentes
por um minuto e permitir que a menina que carrega seu bebê
estivesse lá.

Oh meu Deus.

— Como você sabe com certeza? — Cameron rói as unhas.

— Mase…

— A vadia da mãe dele mandou para ela uma foto de um


funeral. — Mason se vira para nós. — O caixão está ao fundo e
tudo mais.

Eu suspiro, minha mão voando para cobrir minha boca.

— Puta merda — Cameron sussurra, virando-se para mim e


envolvendo seus braços nos meus.

— O que faremos? — Eu pergunto a Parker.

Ele balança a cabeça. — Não sei. Não sei o que podemos fazer.
Lolli contratou alguém para investigar, mas ele era menor de idade
e sua família deve ter pago muito caro para manter tudo em
segredo.

— Sim, aposto que sim. — Nate franze a testa. — Eu gostaria


de manter o máximo dessa merda em segredo se meu filho mais
velho fosse o motivo da morte do meu filho mais novo. Como ela
continua a culpar Payton e não ele, não consigo entender. — Ele
joga o refrigerante de Lolli no lixo e tira as chaves de seu Hummer36
do bolso. — Vamos. Vamos levá-la para casa.

Assentindo, nós os seguimos, silenciosamente entrando no


Tahoe de Mason, e menos de dez minutos depois, estamos parando
na frente da casa de Lolli.

O rosto de Payton está estoico à medida que se afasta.

Ela não olha para ninguém, com as mãos rígidas ao lado do


corpo enquanto segue o irmão para dentro de casa, indo direto
para o quarto.

A porta do quarto é fechada com movimentos cautelosos, mas


no segundo em que a porta clica, cada um de nós congela
enquanto os gritos penetrantes de Payton ecoam do corredor,
ricocheteando nas paredes ao nosso redor.

Ficamos ali, impotentes, olhando um para o outro, e não


mudamos muito durante a próxima hora. Lolli faz um bule de café

36
-Modelo de carro.
fresco e andamos pela casa, sacudindo cada vez que suas
explosões repentinas chegam aos nossos ouvidos.

— Isso não é bom para ela. — Chase balança a cabeça,


preocupação gravada em seu rosto.

Eu me aproximo, apertando sua mão, e Mason esfrega as


mãos no queixo.

Lolli se desculpa, saindo para o deque - ela não se dá bem


com emoções, mas está aprendendo, e o homem que a ensinou a
amar a segue.

Mastigando meu lábio interno, minha perna salta no lugar.

Se fosse eu, estaria implorando por minha mãe, mas Payton


não tem ninguém que se importe, mas imagino que poderia usar o
toque suave de uma agora, e minha mãe é a melhor mulher que
conheço. Então, não hesito em ligar para ela, mas não passo da
primeira frase antes de saber que meu irmão me venceu.

Olho para ele e como se soubesse o que eu diria, diz — Eles


já estão a caminho.

Eu aceno, e ele suspira, se aproximando e envolvendo seus


braços em volta de mim.

— Ela ficará bem?

— Sim. — Ele acena com a cabeça, parecendo tão inseguro


de sua resposta quanto eu.

— Que mãe esconderia algo assim?


— Ela não é mãe. — Meu irmão me encara. — É uma cadela
sem coração. Payton está carregando um pedaço do filho daquela
mulher. Ela deveria estar adorando a garota, implorando por
perdão por tratá-la como merda durante todo o relacionamento.
Ela não é mãe — repete.

Essas são as últimas palavras ditas por várias horas, e


finalmente, minha mãe e meu pai estão batendo na porta.

Nate os recebe e eles dão sua rodada de abraços.

Parker responde às perguntas que pode e mostra a minha


mãe o quarto de Payton, onde ela fica pelo resto da noite, meu pai
na cozinha preparando algo quente.

As horas passam, e adormecemos, tudo para acordar de


tantos em tantos minutos, com uma inquietação em todos nós.

Por volta das quatro da manhã, meu pai sacode meus ombros
e meus olhos se abrem. — Vamos, querida. Estou levando vocês
de volta.

Eu começo a balançar minha cabeça, mas ele dá um aceno


severo, então fico de pé, encontrando os outros ao redor fazendo a
mesma coisa.

Meu pai nos leva de volta para casa, estacionando no meio-


fio. Ele se vira, apertando minha mão. — Durma um pouco,
querida, vamos preparar um brunch no Nate por volta do meio-dia.
Ligamos para você, está bem?

— Se ela quiser que a gente volte...


— Eu aviso-a. Acho que ela só quer ficar sozinha por um
minuto.

— Mason está acampado do lado de fora da sua porta.

— Bem, Mase é Mase. Nós apenas temos que deixá-lo fazer o


que ele acha que precisa fazer.

— Você o traumatizou quando nos contou sobre a morte de


tia Ella.

Ele concorda. — Pode estar certa, mas vocês começaram a


andar de bicicleta e vagar pelos bairros, então precisavam saber o
quão perigoso isso era.

— Foi difícil, depois que ela morreu?

Seu sorriso é triste. — Sim, querida, foi. Não andei de bicicleta


por anos depois disso, e quando chegou a hora de tirar minha
carteira, estava com muito medo de dirigir, pensando que poderia
bater em alguém como alguém bateu nela.

— Seus pais não deveriam ter culpado você — Brady


murmura do banco de trás. — Isso não foi culpa sua, tio E.

Meu pai sinaliza, assentindo levemente. — Eu sei, filho, mas


a morte é difícil para as pessoas, e você realmente não sabe como
lidará com isso até que aconteça. — Seus ombros parecem cair,
mas sacode o queixo. — Andem, nos vemos amanhã.

Com isso, nós quatro entramos.

Todo mundo cai nos sofás, mas eu silenciosamente saio pela


porta dos fundos, descendo o cais. O sol ainda está escondido
atrás do horizonte, mas nascerá em breve. Ando até onde a água
encontra os postes de madeira, tiro os sapatos e mergulho os pés
na água fria.

Sempre foi um lugar pacífico para mim, o oceano, tão cheio


de possibilidades e esperança.

Eu sempre amei como nada muda aqui, também nunca é o


mesmo. As ondas variam minuto a minuto, as linhas no vinco de
areia então se curvam. É uma verdadeira maravilha, o oceano.
Forte e dominante, mas suave e frágil, como as conchas quebradas
empurradas para a superfície, apenas para serem varridas pela
maré. As imperfeições estão lá, mas escondidas, enterradas, só
quem estiver disposto a cavar fundo descobrirá as falhas do mar.

Com um suspiro suave, fecho meus olhos, ouvindo o rugido


das ondas diante de mim, e inalo tanto quanto meus pulmões
permitem. Os fios salgados no ar atingem minha garganta, e a
sensação sufocante que me atormentava começa a desaparecer.

Hoje foi horrível, trágico e serve como mais um lembrete de


que não importa as escolhas que façamos, qualquer coisa pode vir
e agitar nossas vidas a qualquer momento. As chances são de que
nunca veríamos isso acontecer, e isso é aterrorizante.

Penso na minha família e amigos, nos meus sonhos pessoais


e na vida que quero para mim no futuro. E então, penso sobre ele
sendo roubado de mim, assim como foi de Payton. Como se as
ondas estivessem roubando a areia debaixo dos meus pés neste
exato momento com sua luta pelo domínio, deixando o chão abaixo
de mim instável, tão instável quanto o mundo ao meu redor de
repente parece.
Talvez seja dramático ou bobo, mas a umidade enche meus
olhos quando se abrem para olhar o brilho da lua saltando ao longo
da superfície da água, desaparecendo cada vez mais à medida que
se aproxima da costa.

As ondas batem mais alto, o frio queima minha pele, mas não
me afasto, e no momento seguinte, alguém pisa ao meu lado. Não
preciso olhar para saber quem é. Os dedos gelados de Chase roçam
os meus e as lágrimas caem em meus olhos.

— Como aquela mulher pôde fazer isso com ela? — Eu


balanço minha cabeça. — Ela o amava, e pelo que ouvimos, ele
odiava a mãe. Como ela poderia negar a única pessoa que
significava o mundo para ele, sua chance de dizer adeus? — Minha
voz falha. — Ela está tendo seu bebê. Seu neto.

— Não sei. Eu não posso imaginar — ele mal sussurra.

— Espero que ela tenha a chance de dizer todas as coisas que


queria dizer. Quão devastador seria se não. — Engulo. — Meu pai
não. Sua irmã tinha apenas dez anos. Deus, a vida é
simplesmente…

— Imprevisível… — é um tom pensativo que atrai meus olhos


em sua direção.

Um franzido suave vinca sua testa. Muito lentamente, seus


olhos verdes levantam para os meus, e sua mão segue, gentilmente
encontrando seu caminho para minha bochecha. O ar em meus
pulmões se contrai enquanto sua palma desliza mais alto, as
pontas de seus dedos agora perdidas no meu cabelo. Acabamos
nos movendo, porque a próxima coisa que sei, é que estamos de
frente um para o outro, o brilho da lua criando um brilho suave
sobre o lado direito de seu rosto bonito.

— Ari... — sussurra, sua garganta balançando com um


engolir forte, seus dedos se contorcendo contra minha pele gelada.
Uma maldição baixa o deixa em seguida, mas não recua.

Chase não me deixa ir.

Na verdade, sua outra mão vem para encontrar minha


bochecha esquerda e seus lábios se abrem.

É óbvio que ele está lutando para aceitar o que quer que
esteja passando por sua mente, e isso é compreensível. É como eu
disse, foi um dia longo e difícil.

Eu deveria ficar aqui e esperá-lo, dar-lhe todo o tempo que


precisa, estar aqui quando estiver pronto para falar as palavras na
ponta de sua língua, sua língua que desliza ao longo do interior de
seu lábio, como se estivesse lutando para escorregar fora, mas
forçando a permanecer escondida.

Eu contudo não posso... não com ele tão perto e não quando
seus olhos estão escurecendo a cada segundo, me atraindo e me
afogando sem uma única palavra dita.

Por isso, tomo uma decisão que me beneficia. Eu fico na


ponta dos pés e pressiono meus lábios nos dele. Chase suspira em
minha boca, e começo a me afastar, mas à medida que meu corpo
desliza para trás, as mãos de Chase se aprofundam no meu cabelo.
Ele fecha o espaço entre nós.
Ele me beija, e desta vez, não para. Sua língua mergulha em
minha boca, explorando mais fundo, e sou massa de vidraceiro em
suas palmas.

De alguma forma, em algum momento, nos movemos em


direção ao nosso cais, porque a próxima coisa que sei é que meus
braços estão descendo, nossas camisetas se foram há muito tempo
e nossas mãos estão vagando uma pela outra de maneiras
estranhas. Minhas costas encontram a areia fria, nada além do
meu sutiã e calcinha. Um calafrio me percorre, então ele se
acomoda entre minhas pernas, seu corpo quente aquecendo o meu
por cima.

Sua pele é macia, seu corpo duro, assim como a


protuberância sob seu jeans, jeans que meus dedos
cuidadosamente deslizam para baixo para encontrar.

Eu abro o fundo e Chase não protesta.

Ele não levanta seus lábios dos meus uma vez enquanto mexo
seu corpo livre, puxando meus pés para cima para ajudá-los a sair
dele.

Minha calcinha é a próxima a ir.

Sem perder tempo, empurro meus quadris contra os dele, me


esfregando contra ele e ele geme, arrancando meus lábios e
pressionando-os contra minha bochecha e mandíbula, parando na
curva do meu ombro.

Eu rolo meu núcleo, e ele sibila, uma maldição baixa


deixando-o. Um desejo repentino de senti-lo toma conta de mim,
então alcanço entre nossos corpos. Agarro-o, desejando que minha
mão pare de tremer.

Cada músculo em seu corpo congela, incluindo seus lábios.


Seu olhar comprimido levanta lentamente para o meu. Seus olhos
verdes estão me implorando para parar, enquanto implora para eu
deixar isso acontecer, para continuar.

Será que ele não sabe que eu penso nisso há anos, até sonhei
com isso?

— Eu quero isso — sussurro. Acalmando as linhas de


preocupação em sua testa com uma mão, segurando-o com mais
força com a outra. Não tiro meus olhos dos dele. — Quero você.

Não tenho certeza se é a confiança ou o desespero em minha


voz que o impulsiona, mas ele se senta de joelhos, localizando seu
jeans descartado. Pega uma camisinha, travando os olhos em mim
quando a abre, me observando observá-lo enquanto ele se
embainha.

Os nervos me percorrem, meus músculos ficam tensos, mas


respiro fundo, e a ansiedade diminui à medida que se acomoda
sobre mim novamente, suas mãos afundando na base do meu
cabelo.

Seus olhos temerosos e hesitantes pedem permissão uma


segunda vez, e respondo levantando meus quadris, forçando a sua
ponta dentro de mim. Ele geme, e deslizo minhas mãos pelo seu
corpo até que estou segurando suas bochechas em minhas
palmas. Eu corro meu polegar ao longo de seu lábio inferior.

— Por favor — rosno.


Chase se segura.

Ele geme e eu prendo a respiração enquanto lentamente


trabalha seu pau dentro de mim. Cerro os dentes, engolindo o silvo
doloroso que ameaça subir, e felizmente, ele deixa cair a cabeça na
curva do meu ombro. Meus olhos se fecham, meu aperto sobre ele
apertando enquanto empurra todo o caminho.

Eu suspiro, meus quadris travando, e ele beija minha pele.


Arde mais do que dói, a pressão desconhecida é algo para se
acostumar.

Chase começa a balançar, agradável e devagar, puxando e


empurrando um pouco mais a cada vez. Ele se move como se
estivesse seguindo o som das ondas quebrando abaixo de nós.
Espelho seus movimentos, e um gemido baixo escapa.

Bloqueio a leve picada e me concentro no seu volume dentro


de mim. Fecho os olhos e me perco no homem de cabelos
castanhos e olhos verdes acima de mim.

Chase beija ao longo do meu queixo, sua palma subindo e


deslizando sob o sutiã que nunca conseguimos tirar. Ele aperta,
seu polegar roçando meu mamilo, e começo a tremer embaixo dele.

Sua respiração acelera, sibilos curtos deslizando por seus


lábios, criando arrepios onde sopra ao longo da minha pele. Ele
geme.

Meu núcleo aperta, e sei que vou gozar.

As estocadas de Chase ficam mais rápidas então, seus


gemidos mais profundos, e quando geme meu nome, bem contra a
cavidade da minha orelha, explodo. Meu corpo dispara, minha
boceta travando ao seu redor enquanto ele pulsa dentro de mim.

— Ari... — sussurra na noite mais uma vez, e meus lábios se


curvam em um sorriso.

Eu corro minhas mãos pelo seu cabelo, e quando meu corpo


fica mole na areia, o peso do homem que estou apaixonada cai
sobre mim.

Fecho os olhos, gravando cada segundo disso em minha


memória ao som das ondas do oceano tarde da noite.

Suspirando de satisfação exausta, sei que nunca esquecerei


esta noite.

Eu não tinha ideia do quanto gostaria de poder...

Chase
Ari puxa o cobertor sobre os ombros, sua cabeça se
deslocando no assento de vime, para que possa olhar para mim.
Eu sorrio, chutando minhas pernas para cima da borda da
fogueira de pedra. — O fogo está diminuindo, devo adicionar mais
algumas toras?

Ela balança a cabeça, sem tirar os olhos de mim.

— Eu poderia nos dar alguns...

— Que porra é essa?

Eu voo tão rápido que meus pés ficam emaranhados no


cobertor, e tropeço, minha mão rapidamente se lançando para me
pegar nas costas da cadeira.

Meus olhos se voltam para Mason.

Sua mandíbula está firme e ele empurra para frente,


agarrando o cobertor e rolando-o em suas mãos. — Ari — força os
dentes cerrados. — Levante-se.

— Mase, vamos lá — argumenta.

— Não — ele sibila.

— Estamos apenas sentados aqui, mano. Não é nada. —


Balanço minha cabeça, e só depois que as palavras me deixam,
percebo que eram as erradas.

Com o canto do olho, vejo a cabeça de Ari virar na minha


direção.

O desconforto se instala em mim enquanto ela lentamente se


levanta, pega o cobertor das mãos de Mason e entra pela porta dos
fundos.
Eu levanto meus olhos para Mason enquanto ele se aproxima
de mim.

Ele abre a boca, mas depois fecha, balança a cabeça e passa


furiosamente.

Eu caio de volta no banco, enterrando meu rosto em minhas


mãos.

Porra!
Arianna
Quando minha avó morreu, foi inesperado. Mesmo sabendo
que ela estava doente, sabendo que os tratamentos não estavam
funcionando e que o veneno estava tomando conta de seu corpo,
eu não esperava isso. Não quando no dia anterior, ela estava
acordada, viva, sorrindo, e aparentemente se sentindo melhor ou
bem... diferente de todos os outros dias nos seis meses anteriores.

Acho que essa foi a oferta – a bandeira branca da rendição.


Aquele dia perfeito de risadas, sorrisos e lembranças que ela nos
deu, que ela mesma recebeu. Esse foi seu último dia forte, feliz e
cheio antes de se juntar ao meu avô.

...Talvez essa deveria ter sido minha primeira pista, a


felicidade desinibida e o alívio que senti há menos de duas horas,
quando Chase foi meu por aqueles poucos minutos na areia.

Foi perfeito, significou algo, e Chase não era este cara. Ele
nunca dormiria comigo e depois me desconsideraria. Claro, ele
fode tanto quanto Mason, e não tanto quanto Brady, mas nunca
faria isso comigo, com nossa amizade. Não quando ele sabe como
me sinto. Posso nunca ter escrito em letras grandes e em negrito,
mas ele sabia. Ele tinha que saber.
Ontem à noite, ou esta manhã, dependendo de como vê, nós
nos vestimos, indo para a casa. Chase trouxe um cobertor,
acendeu a fogueira e sentamos lá sob as estrelas, aproveitando a
companhia um do outro, observando a lua desaparecer com o
nascer do sol.

Cerca de vinte minutos depois do amanhecer foi quando


Mason chegou em casa.

Eu não me mexi, mas Chase, saltou três metros.

Estávamos apenas sentados perto, nossos corpos se tocando,


mas não envoltos um no outro. Acho que o fogo e o nascer do sol
fizeram parecer tão íntimo quanto parecia, e talvez isso tenha sido
um pouco demais para a primeira vez que ele viu Chase e eu
juntos. Então, me deito com Brady o tempo todo, e embora Mason
faça um comentário, ele não perde a cabeça do jeito que faz quando
se trata de Chase.

Ele não confia nele? Não confia nele comigo?

Tudo estava tão perfeito quanto poderia ter sido antes disso.
Eu finalmente tive o que queria por tanto tempo – aquele momento
perfeito com a pessoa perfeita. Tudo foi perfeito. No entanto, aqui
estamos nós, na manhã seguinte, olhando um para o outro do
outro lado de um fogo totalmente diferente.

Estamos sentados no deque, e Chase está me avaliando, uma


expressão rasgada escrita ao longo de suas feições enquanto me
implora para entendê-lo quando ainda não disse uma palavra.

Não que ele pudesse agora, e por isso sou grata, porque não
precisa saber exatamente o que sairá de sua boca se ele tentar.
Como prometido, fomos até a casa de Nate, onde nossos pais
prepararam um banquete gigante para nós. Para levantar nosso
ânimo, mas o tom é solene, então posso esconder um pouco atrás
da mágoa que todos sentimos pela jovem que ainda não saiu do
quarto esta manhã.

Meu irmão se junta ao resto de nós no deque de trás,


esfregando as mãos pelo rosto enquanto se senta ao meu lado.

— Como ela está? — Consigo sussurrar, me forçando a ficar


focada no meu irmão.

Mason suspira. — Ela disse que está bem, mas quem sabe.
Parker disse que ela é do tipo que “sofre em silêncio”, por isso acho
que ela está cheia de merda. Está segura e onde pertence, então
acho que está cuidada. Deixou Lolli ficar lá, então isso deve ser um
bom sinal.

Concordo com a cabeça, e ele deixa cair a cabeça no meu


ombro, fechando os olhos por um momento. O meu movimento
estala na chama.

As sobrancelhas de Chase se fecham tanto que estão


praticamente se tocando, e seu olhar cai em seu colo. Eu tremo
com a dor literal que atravessa meu peito e a cabeça de Mason vira
na minha direção. Ele franze a testa instantaneamente, sei que
meus olhos estão encobertos, mas ofereço um sorriso apertado,
um que ele se convence que é pela dor que nossa família está
passando.

Minha mãe sai então, com as mãos cheias, mas recusando


ajuda enquanto coloca um bufê na mesa de piquenique que meu
tio Ian fez como presente para Lolli e Nate. Minha mãe empilha
todos os nossos pratos, algo que sei que ela sentirá falta, e meu
pai os entrega onde nos sentamos.

A refeição é mais ou menos comida em silêncio, ou se há


conversa, não sinto falta, perdida demais nos sussurros em minha
própria mente para ouvir qualquer coisa ao meu redor.

Um pouco depois, todo mundo está se mexendo de novo, e


minha mãe escorrega. Ela me abraça, silenciosamente
compartilhando algo comigo, mas também sinto falta.

A próxima vez que olho para cima, somos apenas nós de novo,
Chase e eu, seu prato intocado diante dele.

Ele não se moveu. Eu gostaria que ele se mexesse.

Gostaria que ele fosse embora, mas eu sei melhor do que isso.

Especialmente porque seus olhos, estão travados em mim, de


novo ou ainda... não sei, mas quero que ele desvie o olhar, porque
não posso, e isso está me matando lentamente por dentro.

A expressão perturbada e atormentada olhando para mim


agora, me implorando para entender que não deveria estar lá. Eu
deveria estar olhando nos olhos de um homem determinado e
resoluto, pronto para escalar montanhas, tombar e cair, e voltar a
ficar de pé até encontrarmos a base firme no topo. Juntos. É assim
que o amor se parece, certo?

Uma confusão de emoções? Um passeio acidentado?

Uma experiência emocionante?

Quem diabos sou eu contudo para dizer o que é o amor?


Tudo o que sei disso é o que vi de meus pais, e este não é
nada disso. Este é agonizante.

Olhando para ele agora, para o lampejo da chama que


ricocheteia naqueles seus olhos verdes, ao mesmo tempo turvos e
desanimados, me pergunto se não estou sendo injusta.

Chase e eu não tínhamos realmente chegado a um ponto de


partida, então esta manhã aconteceu.

Nossas emoções estavam fora de ordem, estávamos


machucados e confusos, focados na perda e perdidos em
hipóteses. O momento tirou o melhor de nós.

Passamos da atração corajosa ao sexo na praia sob a lua


brilhante.

De nada a cem — bem rápido.

Eu quero sorrir com a minha incapacidade de bloquear as


palavras da minha cabeça, mas não consigo encontrar em mim
para reconhecer esse meu pedaço agora.

A certeza da situação é clara. Só um tolo negaria o que é mais


do que óbvio, e é isso que significou mais do que admito para mim
mesma, deve ter significado muito menos para ele.

Eu sei que Chase sentiu algo, assim como sei que isso é
doloroso para ele também. Um tipo diferente de dor, mas doloroso,
no entanto.

Sempre me perguntei se seríamos um tiro no escuro, melhor


não ser pegos, mas agora sei que é verdade.
A realidade é triste.

Estou triste, mas terei que superar isso, porque como meu
irmão vem tentando me dizer, manter nossas amizades é mais
importante do que qualquer coisa.

Não fizemos promessas; não pedi mais a ele antes de lhe dar
tudo, e isso é por minha conta. Arcarei com o fardo se isso
significar que posso mantê-lo de alguma forma.

Com esse pensamento em mente, inalo, oferecendo um


sorriso suave para o homem à minha frente.

É como se ele estivesse prendendo a respiração, enquanto


uma lufada de ar sai de seus lábios, e se levanta, encontrando o
caminho até o espaço vazio ao meu lado.

Seu olhar voa entre o meu. — Arianna…

— Eu sei. — Aceno, engolindo o nó na minha garganta,


incapaz de manter meus olhos secos. — Não precisa dizer isso.

Suas feições puxam. — Eu me sinto um idiota. Sabia o que


estava fazendo e... queria. — Olha nos meus olhos, e vejo sua
verdade. — Queria você, Ari. Só, não sei. Não pensei. Eu
simplesmente pulei. — Sua cabeça se afasta em frustração. —
Sinto que estou te ferrando, como se estivesse te tratando como se
não fosse importante para mim quando é.

— Chase. — Luto muito para evitar que minha voz falhe. —


Olhe para mim.

Ele olha, mas apenas com os olhos, como se o pensamento


de me encarar de frente fosse demais.
— Eu sei melhor do que isso. — O lado esquerdo da minha
boca se levanta tristemente, uma lágrima descendo pelo meu
rosto. — Você foi bom para mim. — Coloco minha mão trêmula em
seu joelho, com medo de tocá-lo, mas precisando que ele me ouça.
— Não me arrependo.

Ele me estuda, procurando sinceridade, mas seu aceno é


incerto.

— Você não é uma garota qualquer, Ari. É mais. Quer dizer...


muito mais. — Meu coração dá um soco atrás das costelas, e
gostaria que se levantasse e fosse embora, parasse de falar ou algo
assim, mas ele continua.

— Eu nem sei o que aconteceu — sussurra com sinceridade.


Lamentavelmente. — Estávamos lá no escuro, seu cabelo estava
esvoaçando e você... estava tão linda, Ari. E triste. — Cerro os
dentes para evitar que um soluço se liberte. — Tudo com Payton,
não sei. Eu tive que te beijar. Uma vez que beijei, não conseguia
parar. — Engole, e uso toda a força que posso reunir para não
desviar o olhar.

Chase baixa sua atenção para o chão, e me preparo,


adicionando um par de pregos no órgão batendo atrás do meu
peito para mantê-lo afastado, porque eu sei o que está por vir. Sei
o que ele está prestes a dizer e doerá como nenhum outro.

Olhos verdes suaves levantam para os meus, e cravo minhas


unhas em minhas coxas, focando na dor física ao invés da tortura
emocional que ele está prestes a infligir.

E ele faz.
A voz de Chase é baixa e arrependida enquanto sussurra
palavras que nunca esquecerei. — Isso foi um erro.

Eu suspiro por dentro.

— Eu não sei, Ari. Talvez se as coisas fossem diferentes eu...


nós...

Isso é tudo que posso lidar porque as coisas poderiam ser


diferentes. As coisas seriam diferentes... se ele quisesse que
fossem, mas no final do dia, os fatos são claros.

Eu significo muito para Chase, mas sua amizade com meu


irmão significa mais.

E tudo bem.

Há anos que o conheço. Eu saberei por muitos anos.

Espero que a dor não dure tanto quanto a esperança.

Colocando-me de pé, mal consigo forçar um sorriso.

— Vou para casa com meus pais esta noite.

Ele está de pé no próximo segundo. — Não...

— Eu preciso sair, Chase — interrompo-o. — Estou bem. Só...


— não posso estar perto de você. — Preciso sair. — Preciso descobrir
como serei capaz de enfrentá-lo depois disso.

— Sim, tudo bem — diz baixinho, deixando cair o queixo no


peito. — O que dirá a Mason quando ele perguntar por que está
saindo?
Um lampejo de raiva queima em meu peito, mas o afasto. —
Eu não sei, mas depois de ontem à noite, tenho certeza que ele
ficará feliz em me ver partir.

Eu começo a descer os degraus, ambos sabendo que minhas


palavras não são verdadeiras. Meu irmão ficará chateado, com
raiva até, mas não posso ficar naquela casa com Chase no final do
corredor por mais um dia.

Na beira do cais, as palavras sinceras de Chase me alcançam,


mas não acalmam como pretendia.

— Eu não quero perdê-la. Pode não parecer agora, mas você


significa muito para mim, Ari…

— Sim — respiro, enquanto no fundo da minha mente,


sussurra, mas não o suficiente.

Mais tarde naquela noite, enquanto atravesso a estrada para


entrar na caminhonete do meu pai, faróis chamam minha atenção
de um quarteirão abaixo, me cegando. Eu levanto minha mão para
proteger meus olhos, para tentar ver melhor, mas então a luz se
apaga, e não há nada além de escuridão mais uma vez.

Subo no banco de trás, fecho os olhos e espero como o inferno


que, quando chegarmos a Avix, seja como se nada tivesse
acontecido.
Arianna
— Onde você está, garota!

Segurando um suspiro, deixo a caneta cair dos meus dedos e


uso a interrupção do momento para me esticar. Eu não me
incomodo em responder a bunda detestável de Cam, sabendo que
ela colocará a cabeça no meu quarto a qualquer segundo, o que
acaba fazendo.

— Ei! — Fica de frente para a minha cama, rolando


rapidamente de bruços para me encarar, seu sorriso muito
revelador.

Desconforto envolve meus ombros, mas consigo esconder isso


decentemente, tanto que ela parece não notar mais.

Cam mexe as sobrancelhas. — Vamos sair.

Eu forço uma risada, pegando minha caneta mais uma vez.


— Não posso esta noite. Tenho que estudar.

Ela agarra meu travesseiro, rosnando dramaticamente.


— Ari, vamos. Estamos na terceira semana do semestre, e
você ainda não saiu comigo. Entendo que queira ficar no topo de
suas aulas, mas, merda, nós deveríamos viver isso juntas, e você
continua me abandonando, me fazendo parecer o vagão da vadia.

Ergo uma sobrancelha.

— Sabe? — Ela fala com exasperação. — A bunda no final do


trem. Sou eu e três rapazes em todos os lugares que vamos, essa
merda é uma merda! Preciso de outra vagina comigo para
equilibrar um pouco.

Um pequeno sorriso puxa meus lábios, e balanço minha


cabeça. — Você é uma idiota.

— Você me ama.

— Eu não vou.

— Por favor.

— Cameron, não posso. Tenho muito dever de casa. — Não é


exatamente uma mentira, mas ela sabe que é mais do que isso.

Ela fica quieta por um minuto, suspirando enquanto se


levanta. Caminha até minha cômoda, passando os dedos pelas
fotos que revestem o topo da madeira barata de fibra de carbono,
e pega a dos rapazes segurando nós duas. Ainda em seus
uniformes e recém-saídos de sua grande vitória no jogo do
campeonato, estamos deitadas em suas mãos, nossos rostos
sorrindo para a câmera. Quase enfiei essa na gaveta tantas vezes,
mas não consegui fazer isso.
— O primeiro jogo da temporada regular é neste fim de
semana, sabe.

— Sim. — Engulo a queimadura na minha garganta, evitando


seu olhar. Claro que eu sei.

Escrevi no meu calendário de parede meses atrás, sabendo


que vinha comigo, até circulei com canetinhas azuis e douradas.

Cam cegamente baixa a foto, gentilmente me lembrando do


que já sei. — Vai quebrar o coração de Mason se não for.

No dia em que saí da casa de praia, Cam foi comigo, e embora


soubesse que ela suspeitava que algo aconteceu, esperei até a
viagem para o campus uma semana depois para explicar tudo para
ela. Eu lhe contei, e como sabia que faria, ela ficou brava, e pouco
depois, chorou.

Não queria esconder isso dela, mas também não queria que
meus próprios problemas internos gerassem uma segunda divisão
em nosso pequeno grupo. Levou meio galão de sorvete de menta e
um fardo de seis cervejas para fazê-la largar o forcado apontado
para Chase e entender a situação pelo que era: uma noite de
emoção transbordante que nos levou além do ponto sem retorno.

Ninguém teve culpa, e ninguém fez nada de errado.


Simplesmente era o que era, e então acabou.

Chegamos a Avix duas semanas antes do início das aulas, e


durante esse tempo, ela estava presa ao meu quadril em toda a
sua glória de melhor amiga. Aos poucos desempacotamos e
decoramos o que seria nossa casa pelo próximo ano, fizemos
caminhadas e conhecemos a região.
Fomos ao cinema e saímos com algumas garotas do primeiro
andar do nosso dormitório. Tivemos encontros para almoçar e
pausas para café. Manteve-me ocupada com tudo e qualquer coisa
que pudesse pensar, e na maioria das vezes, funcionou, mas assim
que eu ficava sozinha no meu quarto novamente, a dor voltava. Ela
sabia que era por isso que eu não passava um único dia dentro de
casa desde o dia da mudança até a noite antes do início oficial das
aulas.

Essa também foi a primeira noite em que os rapazes tiveram


um minuto de tempo livre.

Eles nos pediram para vir, ver seu lugar e conhecer seus
amigos.

Cam estava tão animada, mas eu era exatamente o oposto. O


pavor caiu sobre mim e me senti presa. Minha melhor amiga
tentou voltar atrás, mas não permiti. Eu a encorajei a ir. Afinal,
fazia dezessete dias desde que saímos com eles... desde aquele
último dia na praia.

Mase ligava à noite e Brady entrava em cena, mas Chase


nunca fazia mais do que ficar em segundo plano, e por isso eu era
grata.

Cam foi vê-los naquela noite, e embora não tenha pedido, sei
que ela mentiu para meu irmão quando apareceu sem mim. Ela
tinha que ter ou ele estaria a minha porta dentro de uma hora,
mas isso foi no meio do mês, e agora agosto está quase no fim.

Sua paciência está acabando e é compreensível. Vim aqui


para viver com minha melhor amiga, e ela foi deixada para fazer
tudo sem mim, enquanto tentava me tirar do meu estado cíclico de
afogamento em minhas tristezas.

Não é que eu não queira ir, porque quero, e já me convenci


disso mais vezes do que posso contar, mas nunca consigo puxar o
gatilho. É frustrante, mas fisicamente não consigo suportar a ideia
de vê-lo, e seria ingênuo supor que ele não estaria por perto. Ele
definitivamente estaria, provavelmente com um bando de garotas
reunidas ao seu redor, como sempre foi.

Meu coração não aguenta. Eu não aguento. Ainda não.

Cam disse que eu precisava sair, tirar minha mente das


coisas, mas como posso fazer isso quando ele está sempre por
perto?

Era torturante o suficiente me forçar a manter nossa tradição


de estudar nas arquibancadas enquanto eles praticavam, mas eu
tinha que mostrar algum tipo de normalidade ou meu irmão
surtaria e exigiria respostas. Ele não tem ideia de como abordar as
coisas em um nível normal; vai com tudo em um instante e isso é
a última coisa que preciso, então alguns dias por semana, Cam e
eu sentamos nossas bundas nos assentos do estádio para fazer o
dever de casa enquanto os rapazes trabalham no calor abaixo de
nós. É algo que começou como uma maneira de nos mantermos
“seguras” sob seus olhos vigilantes, e se transformou em algo que
eles ansiavam. A cada boa corrida ou nova jogada, olhavam para
cima com sorrisos, sabendo que receberiam um em troca de uma
de nós.

Nunca fizemos muito dever de casa lá.


Um pequeno sorriso enfeita meus lábios, mas uma reviravolta
no meu estômago o rouba, e fico com raiva de mim mesma por
causa disso.

Estou tão cansada de estar triste.

O bom de manter a tradição aqui, se houver, é que os rapazes


têm que ir para os vestiários depois. No ensino médio, traziam suas
malas para casa no final do dia, então era do campo para o carro.
Aqui, porém, posso escapar antes de ser forçada a enfrentá-los,
eliminando a possibilidade dos olhares desconfortáveis de Chase
que me levariam a fazer algo embaraçoso.

Além daqueles dias a cinquenta metros de distância, vi Chase


uma vez desde que chegamos. Foi durante nossos jantares de
domingo obrigatórios juntos – uma pré-condição de nossos pais
quando concordaram em nos abrigar nos dormitórios mais
sofisticados, estilo estúdio.

Eles começaram na primeira semana de aula, e enquanto eu


absorvia a dor que seus olhos distantes causavam, não consegui
passar dos primeiros dez minutos, então menti. Disse que estava
com dor de estômago e me tranquei no meu quarto o resto da noite.
Achei que Brady arrombaria minha porta porque, nem um minuto
depois de todos eles entrarem, começou a me dar o que gostamos
de chamar de “Olhar de Brady”, aquele que diz que sei de alguma
coisa, mas apenas não falarei ainda para você. Abençoe o seu
coração37.

37
-Frase usada para abençoar. No Brasil dizemos “Deus te abençoe”.
Na semana que se seguiu, disse que meu grupo de estudo não
cederia no tempo e eu não podia perder. Nem estava em um grupo
de estudo, mas desde então venho procurando por um.

A única razão pela qual não recebi nada por isso é


provavelmente porque tenho sido esperta sobre minha ausência,
encontrando momentos em que sei que os outros estão na aula
para se encontrar com meu irmão para o almoço ou sessões de
lição de casa. O mesmo com Brady. Alguns dias encontro um no
café, ou nos encontramos fora de nossas salas de aula e
conversamos durante os pequenos intervalos antes do próximo
tempo, mas nunca mais do que um de cada vez, porque isso os
levaria a perceber que está faltando um canto de seu triângulo. Eu
não posso ter isso. Ainda não.

É difícil quando se percebe que simplesmente não é suficiente


para alguém e é ainda mais difícil quando todos com quem está
conectado estão conectados a essa pessoa também.

Embora não seja mais todos os dias, às vezes ainda choro


baixinho até dormir à noite. Sei que é irracional, alguns podem
dizer dramático, chorar por alguém que nunca foi realmente seu,
mas por mais clichê que pareça, meu coração dói por ele, ou talvez
seja o fato de que a realidade forçou minha mão naquela noite
quando aquelas ondas rolaram sobre meus pés, roubando mais do
que apenas a areia debaixo de mim. Tudo o que pensei que um dia
poderia ter levado para o mar.

Minha segunda casa levou meu talvez, minha esperança e


minha virgindade.

Quando pensava no futuro, a possibilidade de eu e o melhor


amigo do meu irmão estava sempre presente. Passei tantos anos
com as mesmas imagens na cabeça que nem sei imaginar outra
coisa. É tão doloroso quanto irritante.

Perder porém o primeiro jogo dos nossos rapazes como atletas


universitários? Eu nunca poderia.

Encontro o olhar de Cameron. — Eu estarei lá.

Ela balança a cabeça, inspecionando suas cutículas, sua voz


quase um sussurro. — Ouço você algumas noites, sabe. — Seus
olhos levantam para os meus. — Não é tão quieta quanto pensa
que é.

Eu puxo uma respiração longa e constante. — Estou bem,


Cam. Juro.

— Não posso ajudá-la a deixar ir, se não me deixar tentar.

— Eu sei. — Desvio o olhar. — Mas o dele é por minha conta,


e tenho que trabalhar por conta própria. É a única maneira.

— Promete que se esforçará mais? — Sussurra.

Meus lábios se curvam e levanto minha mão, minha melhor


amiga vem para um abraço rápido.

— Prometo.

— Está bem. — Ela me aperta antes de se afastar e ir para a


minha porta. — Vou me preparar. Saio em vinte se você mudar de
ideia.
Eu aceno, apreciando Cameron ainda mais. Ela sabe que
minha permanência não tem nada a ver com dever de casa, e está
permitindo isso porque sabe que é o que preciso.

Quis dizer o que eu disse sobre tentar mais. Estou tão


cansada e pronta para me livrar desse vazio que me consome, mas,
apesar de nossa conversa, ainda deixo todos os convites nos dias
que se seguem, e quando a noite do jogo finalmente chega no
próximo fim de semana, meus nervos estão à flor da pele.

Estou toda rígida, a dor em meus ombros é profunda por


puxá-los tão apertados sem perceber. Estou pronta para chegar lá,
e infelizmente, para que acabe.

— Depressa, prostituta! — Grito, andando pela entrada do


nosso dormitório.

Eu respiro fundo, torcendo minhas mãos no ar, rapidamente


soltando-as ao meu lado quando a porta de Cam é aberta.

— Acalme-se, ho-bag38, estou pronta.

Ela caminha pelo corredor, e não posso deixar de sorrir.

— Ah, você está tão fofa!

Ela tem os números de Chase e Brady escritos em suas


bochechas com delineador, e os de Mason pintados em sua
camiseta branca, em uma grande tinta azul brilhante. Está com

38
-Gíria para “saco de putas”.
seu famoso Cam Daisy Dukes39 e sandálias gladiadoras de tiras
douradas. Seu cabelo loiro está com grandes cachos. Está
adorável.

— Espera, espera! — Ela gira e o número quatro está escrito


na parte de trás. Ela me espia por cima do ombro. — Tive que
representar Trey também.

Nós rimos e ela se vira para o longo espelho pendurado na


parte de trás da porta, revirando os olhos quando abro.

— Bem pensado. Agora vamos. — Eu a empurro para o


corredor, e andamos para o elevador.

Lá dentro, Cam me examina. — Poderia ter usado a camisa


de treino de Mason ou algo assim.

Eu faço uma careta para seu reflexo nas portas prateadas


padrão. — Estou vestindo uma camisa de futebol da Avix.

— Sim, com joggers40 e suas velhas Uggs41 para passear com


cães.

— Não comece.

39
-Short Jeans bem curtinho.

40
-Calça com modelagem solta e confortável.

41
-Ugg é uma marca australiana que faz calçados para mulheres, homens e crianças. Tudo é feito com
pele de ovelha (sheepskin), tanto a parte peludinha de dentro quanto o couro do lado de fora dos
sapatos.
Ela aperta o rabo de cavalo. — Acho que não vai festejar com
a gente depois?

— Não.

Ela rosna. Literalmente. E se vira para me encarar. — Juro


por Jesus, Arianna Johnson...

A porta se abre e eu a calo, mas ela me ignora.

— Não me cale, controle-se e saia! — Sibila, mas seu beicinho


escorrega, assim como o desleixo de seus ombros. — Chase estará
lá, e daí?! Grande negócio do caralho!

Em pânico, olho em volta, observando os olhares curiosos que


estamos recebendo enquanto caminhamos pela área comum. —
Cameron, pare.

Seus olhos piscam. — Foda-se essas vadias fofoqueiras.


Como se eu me importasse.

Salto para frente, plantando meus pés a sua frente. — Eu me


importo, tudo bem? Não preciso que as pessoas conheçam meu
negócio!

— Que negócio seria esse, porque do jeito que vejo, você não
tem nenhum!

— Poderia parar e processar isso por um minuto. Você


realmente acha que quero ver garotas se jogando em Chase – um
jogador de futebol, em uma casa de futebol, depois do primeiro
jogo de futebol em casa do ano? — Minhas sobrancelhas sobem.

Seus olhos caem.


— Quero ir ver meu irmão e meus amigos jogarem, é isso.
Encontre outra pessoa para se sentar ou supere isso.

— Que seja. — Ela franze os lábios, me estuda por um


momento, então passa por mim. — Mas, para constar, não pararei
de chamá-la para sair, então você pode superar isso.

Um sorriso desliza sobre meu rosto, e passo pela porta que


ela mantém aberta para mim, um grande sorriso falso em seus
lábios rosados. Só quando passamos pelo portão e tomamos
nossos assentos no estádio, me viro para Cameron.

— Para constar, não quero que pare de chamar.

Ela olha, mas um brilho cai sobre seus olhos e balança a


cabeça, estendendo a mão para apertar minha mão. — Você está
apenas... eu estou preocupada, sabe?

Engulo o nó na minha garganta. — Eu sei.

Ela funga e endireita a coluna. — Muito bem, então acha que


podemos convencer aqueles rapazes ali a nos comprar cerveja?

Nós rimos e olhamos para frente.

Vinte minutos depois, a multidão está rugindo, o estádio


cheio de azul e dourado. Parece que metade do corpo discente
conseguiu sair hoje à noite para assistir ao jogo de abertura da
temporada.

É um pouco agridoce olhar em volta, sabendo que nenhuma


de nossas famílias está aqui, algo que os rapazes nunca
experimentaram antes. Não havia um único jogo quando crianças
onde pelo menos um dos pais não estava presente, e em noventa e
cinco por cento do tempo, ambos estavam. Tivemos sorte assim.

Eles estavam sempre lá para nós, então, no momento em que


chegamos ao campus, partiram para viajar pela Europa, algo que
planejavam e guardavam nos últimos quatro anos. Assim que o pai
de Brady foi autorizado a se despedir, colocaram tudo em
movimento. Assim que meus pais souberam que Kenra estava
bem, foram embora, mas não tenho dúvidas de que estão
amontoados em torno de uma TV ou computador agora, onde quer
que estejam, assistindo.

O primeiro lance do jogo é um passe perverso de cinquenta


jardas, do tipo que te dá calafrios enquanto se segue a espiral
perfeita, e todo o seu corpo se ilumina quando cai sem esforço nas
mãos de um receptor Avix U, a partir daí só fica mais emocionante.

O ar é elétrico, a torcida apaixonada, e a equipe se alimenta


do hype42.

É exatamente o que eu precisava, um pouco normal. Noites


de jogos sempre foram as minhas favoritas. O tempo voa enquanto
estamos de pé, gritando e aplaudindo sob um conjunto
inteiramente novo de luzes de sábado à noite.

Sendo a fera que é, Brady tem a sorte de estar na maior parte


do jogo, enquanto Chase e Mason tiveram a maior parte do tempo
de jogo no terceiro e quarto trimestres do jogo. Chase não chegou
a tocar a bola, mas colocou alguns bons bloqueios, e enquanto

42
-Entusiasmo.
Mason não conseguiu mostrar seu braço, sua mão no backfield43
estava no ponto, seu footwork44 ainda melhor. Meu irmão sempre
foi escorregadio e pelos poucos minutos que esteve no gramado
hoje, é óbvio que só melhorou.

O cronômetro porém está quase no fim e os titulares agora


estão de volta ao campo, quase todo o estádio em pé enquanto
assistimos, esperando para ver qual será a decisão do jogo.

É um quarterback keeper 45 , e o homem usando o número


dezenove passa e salta por um escanteio, que ameaça derrubá-lo,
gira as ombreiras do segundo defensor, e a multidão explode,
calafrios percorrendo meus braços enquanto empurro na ponta
dos pés a tempo de ver como ele salta sobre um enxame de Sharks
determinados, que empurram a equipe defensora para o campo de
defesa.

A campainha soa bem quando o quarterback pula sobre seus


pés em comemoração, e é o touchdown número quatro. A Avix
University leva a vitória com uma vantagem de um ponto nos
últimos cinco segundos do jogo.

43
-Backfield: área atrás da linha de scrimmage (linha onde a bola é posicionada no início da jogada). Lá
se posicionam o quarterback e o running back.

44
-Trabalho de pernas, a corrida.

45
-Goleiro ou goleiro zagueiro no futebol americano é uma jogada projetada em que o zagueiro não
passa ou entrega a bola para outro jogador, e em vez disso, avança com ela em um esforço para ganhar
jardas.
Cam e eu pulamos para cima e para baixo com o resto da
multidão, abraçando e aplaudindo.

Lágrimas enchem meus olhos, e puxo meus lábios. Este é um


dia que Mason, Brady e Chase nunca esquecerão. Inferno, eu
nunca esquecerei isso. Eles trabalharam tanto para chegar aqui, e
estou muito orgulhosa de todos os três. Mal posso esperar para
que ganhem mais tempo em campo.

Cam grita, me puxando ao seu lado pelo túnel lotado. — Isso


foi tão legal, Ari! — Cumprimenta um grupo aleatório de rapazes
que correm cantando em uma embriaguez brincalhona. Rindo, ela
se vira para mim, suas bochechas bronzeadas coradas de
excitação. — Você tem que esperar comigo e parabenizá-los!

— Vou. — Sorrio, mas até eu percebo que meu aceno é um


pouco ansioso.

Ela aperta meu braço. — Conseguiu isso, irmã.

— Sim. — Eu inspiro profundamente.

Talvez.

Passam-se uns bons quarenta minutos antes que o time


comece a sair dos túneis do estádio e os tailgaters46 irrompem em
aplausos mais uma vez. Os sorrisos de nossos rapazes não podem
ficar mais largos enquanto olham em volta para a loucura que não

46
-Festa no bagageiro do carro é um evento social realizado dentro e ao redor da bagageira aberta de
um veículo. A utilização não autorizada, que ocorre principalmente nos Estados Unidos e Canadá,
geralmente envolve o consumo de bebidas alcoólicas e grelhados.
conseguiram ver ao entrar. Ainda assim, através do rugido da
multidão e além das meninas seminuas, eles nos veem
empoleiradas contra o poste de luz e andam em linha reta até nós.

Meu sorriso é incontido. Empurro o poste de cimento e jogo


meus braços em volta do pescoço de Brady quando vem em minha
direção a toda velocidade. Ele me pega e me gira, rindo no meu
pescoço.

— O que achou, Ari baby?! — Grita, colocando um na minha


bochecha e depois me troca por Cameron.

Meu irmão se aproxima, me envolvendo em seus braços com


uma risada. Ele me sacode. — Eu não posso nem te dizer como foi
isso.

Eu me afasto e olho para o rosto sorridente de Mason.


Falamos sobre esse dia desde que tínhamos sete anos e ele
começou no futebol juvenil. Este é o começo de algo grande para
meu gêmeo, e não posso deixar de chorar por isso.

— Pare com isso. — Ele ri, me empurrando levemente. —


Deus, você é igual a mamãe, bebê chorona — brinca.

Eu rio através do meu soluço. — Sim, bem. Estou orgulhosa


de vocês.

O rosto de Mason suaviza e sei o que ele não tem a dizer. Ter-
me aqui com ele na Avix significa o mundo para ele. Pode ser
mandão e mal-humorado, mas como eu, meu irmão precisa de
família e pessoas que ele se importa por perto. Ele se sai tão bem
quanto eu sozinho, e é provavelmente por isso que estou
demorando mais do que deveria para acordar do meu estágio de
autopiedade, porque tenho afastado minha família e amigos em
vez de me confortar com o fato de que eles estão aqui por mim. Se
ao menos eu permitisse que fizessem.

E eles estariam, mas como eu disse, não criarei uma barreira


entre minha família. Eu lidarei com isso sozinha para que não
tenham que sentir o vazio que vem com isso.

Uma mão hesitante roça a parte inferior das minhas costas


para chamar minha atenção, e olho por cima do meu ombro,
minha respiração presa na minha garganta quando meus olhos
encontram os verdes-musgo.

Chase.

Seu sorriso é pequeno, cauteloso, e é de partir o coração.


Meus ombros caem e saio do abraço do meu irmão, virando-me
para ele. Ele dá um suspiro de alívio quando me forço a abraçá-lo
como fiz com os outros.

Sua inspiração pesada faz minhas costelas se contraírem, e


engulo as emoções que ameaçam me entregar. — Você foi incrível
esta noite, Chase. — Sussurro. — Estou tão feliz por você.

Fecho os olhos com força, esperando que ele me solte logo,


sem saber se serei capaz. Seus braços caem do meu corpo com
facilidade.

Por que não?

Chase limpa a garganta enquanto dá um passo para trás,


sorrindo com incerteza. Um pedido de desculpas se esconde atrás
de seus cílios, e odeio isso. Eu não quero suas desculpas, culpa ou
qualquer outra coisa relativamente relacionada ao
arrependimento, então faço o meu melhor para fingir que não
percebo que ele silenciosamente está implorando por perdão e
compreensão.

— Como se sentiu? — Pergunto, minhas entranhas se


agitando, tentando bloquear as conversas patéticas de garotas que
inventei na minha cabeça para este exato momento.

Deus, como foram diferentes.

Estávamos deitados no sofá enquanto ele passava as mãos


pelo meu cabelo, sussurrando, repassando as imagens de seu
primeiro jogo da faculdade, uma noite que ficará para sempre
gravada em sua memória. Uma memória da qual não farei parte,
porque não será nos meus travesseiros que ele estará deitado esta
noite.

Por que eu sou uma garota?

— É meio surreal. — Os olhos de Chase se iluminam, criando


uma tensão atrás dos meus. — Foi uma loucura lá fora. Esses
caras eram enormes.

— Está me dizendo, que eles pareciam um time cheio de


Bradys! — Cam ri, pulando nas costas de Brady.

Mason sorri, olhando ao redor. — Acho que todo mundo está


se preparando para sair. — Ele se vira para mim, seu sorriso
virando uma carranca quando olha para minhas calças. — Você
não vem de novo. — Seu tom é acusatório.

Eu dou de ombros, olhando para qualquer lugar, menos para


ele. — Não essa noite.
Meu irmão espera que eu dê uma espiada, e em seguida,
aponta os olhos para Chase, que está conversando com Cam
agora, tudo para trazê-los de volta para mim. Eu seguro seu olhar,
mas não lhe dou nada.

Depois de um momento, ele solta um suspiro frustrado. —


Eu te acompanho de volta.

— Nosso dormitório tem uma caminhada em grupo, eles estão


no portão esquerdo, mas tenho que chegar lá porque saem em dez
minutos.

Seus olhos se estreitam. — Tudo bem, mas me envie uma


mensagem quando chegar em casa. Esqueça e baterei a sua porta.

— Não vou esquecer. — Meus lábios se contorcem, e olho para


os outros mais uma vez. — Bom trabalho esta noite, pessoal. Vejo
vocês...

— Amanhã. — Brady me prende com um olhar aguçado. —


Jantar.

— Certo. — Eu concordo. — Tchau.

Eu corro para longe, juntando-me à caminhada de volta como


prometido. Ao longo do caminho, luto contra meu cérebro.

Eu me amaldiçoo, desejando acordar amanhã de manhã e


tudo voltar ao normal, ao mesmo tempo em que imploro por um
golpe de gênio que leve a uma desculpa que meu irmão comprará
quando disser a ele que não jantarei com eles amanhã. Novamente.

Quando porém caio na minha cama, sozinha no meu


dormitório enquanto meus amigos estão comemorando este marco
que nunca se repetirá, eu me lembro da promessa que fiz para
Cam.

Lembro-me da razão pela qual nossas famílias nos deram


uma casa de praia e o propósito de todos nós trabalharmos duro
para garantir que pudéssemos terminar na mesma faculdade.

Meus sentimentos não podem tirar tudo isso.

Por isso, vou engoli-lo, me levantar e sair.

Começando depois do jantar de amanhã.


Arianna
A semana seguinte passa em um borrão, e antes que eu
perceba, o fim de semana chegou mais uma vez, mas desta vez,
estou pré-preparada para Cam e seu churrasco.

O bater da porta da frente me faz sair correndo do banheiro


tão rápido que escorrego, mas estico a mão bem a tempo de me
impedir de cair no chão. Assim que volto a ficar de pé, é preciso
tudo o que tenho para não rir. Apertando rapidamente meu roupão
em volta da minha cintura, entro na sala de estar e me abaixo no
sofá, enquanto Cam apressadamente enfia merdas na geladeira.

— Ei! — Cam grita, me ouvindo entrar. — Eu corri para a


lojinha no campus, paguei um milhão de dólares, mas comprei
coisas para o café da manhã, imaginei que acamparíamos no sofá
o dia todo amanhã, brunch it up47.

47
-A expressão tanto pode significar “brinque com isso” quanto “faça um lanche”.
Não espera por uma resposta enquanto passa por mim sem
olhar, correndo para seu quarto. A porta do armário bate no
batente, e o clique de cabides faz meu joelho balançar. Nem um
minuto depois, ela está se movendo em direção ao banheiro de
sutiã e calcinha, um vestido coral pela metade da cabeça, abafando
suas palavras por trás do material elástico enquanto tenta puxá-
lo.

Sabia que ela estava voltando para casa antes de sair para a
noite; ela tinha me dito isso depois do jogo desta noite. Eu tinha
decidido não ficar parabenizando os rapazes desta vez, optando
por um texto em nosso tópico de grupo, e voltei para casa com a
equipe do dormitório novamente enquanto ela encontrava alguns
amigos de suas aulas para esperar.

Cam sai de seu quarto alguns segundos depois e cai no sofá


ao meu lado, enfiando os pés em um par de sandálias de ouro. —
Então, vou encontrar Trey hoje à noite para beber no Screwed Over
Rocks, deve ser divertido... — Ela me dá uma dica, mas não olha
para cima.

— Tenho certeza que será. Você sempre parece se divertir com


ele.

— Sim. — Ela puxa a sandália esquerda. — Acho que o time


está fazendo uma festinha na casa, mas ele não está se sentindo
assim...

Eu mordo de volta um sorriso. — Sim, Mason me enviou uma


mensagem alguns minutos atrás me informando.

— Oh. — Cam fica de pé, seu aborrecimento claro enquanto


caminha em direção à porta.
Eu quase fico nervosa, mas minha amiga não falha comigo,
nunca falhou. Nunca falhará.

Ela faz uma pausa no momento em que sua mão envolve a


maçaneta, seus ombros caindo. — Poderia vir, Ari. Chase não
estará lá.

Finalmente, Cameron olha para mim, seus olhos baixos


encontrando os meus. Leva apenas meio segundo, e depois está se
virando a sobrancelha franzida. — Que porra é essa?

Eu começo a rir e literalmente pulo nas almofadas enquanto


abro meu roupão. Suas mãos disparam.

— Espere, você está... o que está fazendo? — Ela observa meu


rosto maquiado, cachos dignos de um comercial e um vestido de
ameixa justo no meio da coxa, aquele que ela escolheu para mim
a última vez que fomos às compras.

— O que estou fazendo? — Eu salto para o lado do sofá,


deslizando meus pés nos saltos que coloquei a sua borda, e sorrio.
— Ficarei bêbada com a minha melhor amiga.

— Sim? — Ela sussurra, seus olhos ficando brilhantes.

Eu poderia me socar por isso, mas em vez disso, mordo


minhas próprias emoções e aceno. — Sim.

Cameron grita, me ataca, e então ambas caímos de volta no


sofá. Uma vez que estamos de pé novamente, ela suspira, e depois
me dá um tapa com sua pulseira.
— Nunca mais, Arianna Johnson. Eu vou te foder se tentar.
— Ela me encara, mas seus olhos estão cheios de lágrimas não
derramadas, e sua voz cai dez oitavas. — Estava me assustando.

— Eu sei. Eu sei. Sinto muito. Ainda preciso colocar minha


cabeça no lugar, mas agora, preciso me divertir mais.

— Isso é o que eu tenho dito. Saia da sua cabeça.

Enlaço meu braço no dela. — Acha que pode me ajudar com


isso, melhor amiga?

— Oh, diabos, sim! — Ela sorri, me puxando para frente.

Com isso, estamos fora... mas não antes de parar no balcão


para uma rápida foto pré-festa.

Screwed Over Rocks é um bar estudantil a alguns quarteirões


do campus, e pelo que nos disseram na orientação, eles são
defensores da idade para beber, mas olhando em volta, tenho
certeza que é um “não pergunte, não fale” quando se trata de
identidades falsa, ou seja, mostre um documento de identidade
que diga que está legalmente autorizada a beber e vá embora.

Esta é a minha primeira vez aqui, mas já sei que vou querer
voltar.
O lugar é aberto e relaxante com uma pista de dança que se
espalha por toda a sala quadrada. Há mesas alinhadas nas
paredes esquerda e direita, permitindo que alguns se sentem e
relaxem, ou de acordo.

Há bancos típicos de bares que revestem o topo do bar curvo,


estendendo-se ao longo do canto de trás, e as luzes penduradas
acima liberam um brilho vermelho suave, um contraste sedutor
com o piso de ladrilhos pretos infundidos com glitter dourado.

O DJ fica isolado no canto mais distante do bar, e o sistema


de som permite que a melodia seja ouvida em vários volumes ao
longo dele: trovejante no centro da pista de dança, suave e arejada
perto das mesas e clara e crua nas laterais do bar.

Cam estica o pescoço e avança, minha mão na dela. —


Vamos! Ele está ali!

Quando o alcançamos, Trey sorri brilhantemente, nos


dizendo como estamos bem e imediatamente coloca um copo em
nossas mãos.

— O que é isso? — Pergunto a ele, olhando para o licor escuro.

— É o seu suco divertido, garota. Ouvi dizer que precisava. —


Ele estende dois limões.

Eu olho para Cameron, que dá de ombros, não esperando por


mim antes de tomar sua própria dose. Ela morde o limão e depois
limpa a boca com as costas da mão, sorrindo para mim.

— Vai negar isso, bochechas doces? — Ela sorri, sua cabeça


inclinada.
Estalando uma sobrancelha, jogo o meu de volta, batendo
ruidosamente meu copo no topo do bar com um sorriso. — Não. —
Eu atiro meu limão para ela, que sorri, seus olhos se iluminando
com entusiasmo por apenas me ter com ela.

Eu amo minha melhor amiga.

— Vou dançar!

— Vai garota! Eu te encontro lá fora! — Cam grita enquanto


Trey pede outra rodada.

No minuto em que meus pés atingem o centro da pista de


dança, onde a música está mais alta, a pressa toma conta, e
instantaneamente, me sinto melhor do que em semanas. Meus
pulmões se abrem, e embora esteja no meio de uma multidão
crescente, posso respirar.

Duas músicas vêm e vão e então Cam e Trey se juntam a


mim, punhos cheios de bebida. Rebatemos mais duas doses.

Uma hora ou mais, estou me sentindo bem. Meu sorriso fica


um pouco preguiçoso, meu corpo a quantidade perfeita de folga,
minha mente em nada além da batida estridente ao meu redor.

Olho para encontrar Cam me observando, suas costas


pressionadas contra a frente de Trey.

Estendo a mão, apertando seu pulso, e ela pula em mim, me


fazendo rir enquanto envolve as mãos em volta do meu pescoço.

Ela recebe minha mensagem.

Obrigada, amiga.
— Eu te amo, vadia! — Grita, mais alto do que o necessário
no meu ouvido, e rimos, nos separando.

Trey coloca o braço em volta da sua cintura, e meus olhos


voam do braço dele para o dela. Ela encolhe os ombros, reprimindo
um sorriso.

Trey pega, mas deixa seu sorriso voar livre. — Outro? —


Pergunta.

— Poderia muito bem fazer isso direito. — Dou de ombros. —


E uma água?

— Pode deixar.

— Eu vou, de volta em um minuto. — Ela me manda um beijo


e eles fogem.

— Estarei bem aqui.

Continuo dançando, balançando os quadris ao som da


música, aproveitando cada minuto de liberdade que a música me
oferece. Quando a música termina e o DJ muda de faixa, me dou
uma foda mental sim, e deixo meu corpo me levar a movimentos
mais sedutores enquanto “Dangerous Women” de Ariana Grande
toca ao fundo.

Dois versos e alguém se junta a mim por trás, sua sombra


ampla, me envolvendo completamente. Enquanto o calor do corpo
do meu novo parceiro de dança está ridiculamente presente, ele
não se aproxima, pairando um pouco longe, e é como se um
interruptor fosse acionado.
Meu batimento cardíaco dispara, meu corpo se aquece. Eu
sorrio para a sala escura e continuo me movendo com a música,
minhas mãos deslizando ao longo das minhas costelas enquanto
canto suavemente a música para mim mesma.

Mãos fortes vêm então cobrir as minhas; ele não está


realmente tocando meu corpo, mas usa a posição da minha
própria mão para pressionar logo abaixo do meu umbigo, me
trazendo para mais perto dele.

Eu permito, sentindo o ritmo provocativo da música enquanto


corre através de mim, e quando seus dedos se estendem em cima
dos meus, os entrelaço.

Testo meu parceiro de dança, balançando meus quadris para


um lado, enquanto rolo meus ombros para outro, fazendo um “S”
como forma com minhas costas. Minha cabeça balança
ligeiramente com os meus movimentos, e meu Deus, ele continua,
combinando cada torção e volta do meu corpo com o dele. Nem
uma vez faz uma pausa, recua ou reajusta. Estamos em perfeita
sincronia.

É inebriante. Catártico.

É exatamente o que eu precisava, uma maneira fresca e


saudável de liberar todas as minhas emoções reprimidas sem
quebrar e chorar.

Simultaneamente, meu queixo se levanta enquanto ele


mergulha, mas apenas um pouco, seu hálito quente agora
passando pela pele suada na minha nuca. É como se o fogo
encontrasse o gelo e me deixasse ofegante. Eu juraria que seu peito
inchou com o som.
Ele puxa nossas mãos unidas para longe do meu corpo,
levantando-as acima da minha cabeça, seus dedos nunca
deixando minha pele. Arrasta-os, tão lentamente pela minha
forma, até chegar aos meus quadris. Abandonadas no ar, de
alguma forma minhas mãos sabem o que fazer, sabem o que ele
quer que elas façam. Dançam no ritmo da batida, meus dedos
encontram as pontas de seu cabelo curto e macio. Enquanto
minha mão direita desliza em seu pescoço, travando lá, minha
esquerda abaixa, agora apertada sobre seus dedos fortes desta vez.

Seu aperto em meus quadris se contrai em resposta, e meu


corpo decide empurrar em troca, minha cabeça caindo para trás,
o peso repentino insuportável. Como se sentisse meu próximo
movimento, sua mão direita voa para cima, gentilmente me
impedindo de olhar em sua direção.

Ele não pode ver meu rosto, mas de alguma forma sente meu
beicinho, sua risada o denunciando, e meus olhos se fecham,
absorvendo o som profundo e rouco.

Seu sorriso é evidente na forma como ele respira, sua


diversão na forma como está dançando. É como se sua alegria
corresse em minhas próprias veias, e quando desvincula sua mão
da minha, estendendo seus dedos sobre minhas costelas, sua
curiosidade está escrita na forma como seu coração bate,
atingindo o meu.

Eu quero vê-lo.

Ele sabe que sim, por isso, quando a música passa para
outra, não é surpresa que ambos paramos de nos mover.
Meus dedos dos pés se curvam em meus calcanhares quando
começo a me soltar de seu aperto, mas estou enraizada no lugar
no próximo segundo quando seus lábios pressionam suavemente
a borda da minha orelha.

— Pode se virar agora, linda. — Ele fala em um sussurro


profundo, e uma sensação de ar gira através de mim.

Ofego, mordendo meu lábio inferior quando me viro, mas não


encurto a diversão correndo direto para o seu rosto; em vez disso,
deixo cair meu olhar um pouco, chegando ao nível dos olhos com
um pescoço forte e tenso, pele bronzeada e a gola de uma camiseta
cinza simples. Não inclino meu queixo, mas permito que meu olhar
viaje para baixo tanto quanto a posição permite, encontrando uma
pitada de tinta sob sua manga direita.

Sua mão se levanta então do seu lado, e admiro a forma como


seus músculos crescem mais pronunciados. Ele ri novamente, e
fecho meus olhos, me preparando para o toque que sinto que está
chegando, e acontece. Dedos fortes e ásperos ao toque pressionam
a parte de baixo do meu queixo. Ele dá um pequeno empurrão,
sem palavras pedindo minha atenção, e minhas pálpebras se
abrem.

Sua mandíbula é firme e perfeitamente curvada, seus lábios


desenhados em um sorriso de lado, mas não do tipo que diz que
está cheio de si. É suave, encantador.

Familiar?

Seu peito sobe com uma respiração completa então, sua mão
livre se contorcendo ao meu lado, e finalmente, meus olhos se
levantam.
Quando encontro um olhar azul metálico aberto, paro de
respirar.

Ele não diz uma palavra, apenas olha sem piscar, e quando
sua boca se curva mais alto, saio dela, meu largo sorriso se
libertando.

Ele ri, permitindo que sua mão caia ao seu lado. — Oi,
Julieta.

— Noah.
Arianna
— Espere um minuto! — Cam engasga com sua risada. — Ela
convence-o a levá-la para casa, e depois? — Suas sobrancelhas
disparam. — Espera um segundo, deixe-me puxar o plugue do
meu rio vermelho, mas se apresse para não fazer bagunça?

Noah ri em seu punho enquanto minha palma tapa minha


boca para segurar uma risadinha, para que não cuspa água por
toda parte, enquanto lágrimas de riso escapam dos meus olhos.

Trey sorri. — Não. Ela esperou até que eu estivesse


embainhado, alcançou entre suas pernas, puxou a merda e jogou
no chão como se fosse normal.

Minha boca cai aberta, e Cam ri tanto que cospe água... em


todo o colo de Trey, mas ele apenas sorri, cutucando seu ombro
com o dela.

— Está bem. — Noah franze a testa em diversão. — Chega de


suas histórias de fraternidade esta noite. — Ele sorri, sem uma
pitada de julgamento presente.

— Vamos ouvir algumas suas?


O olhar de Noah dispara para o meu, olhos brilhantes. —
Minhas?

Eu aceno, tomando outro pequeno gole de água. Sua risada


é baixa, e ele lambe os lábios, mas é Trey quem fala.

— A menos que queira uma descrição detalhada do campo de


treino, academia, mercearia e talvez um posto de gasolina local ou
dois, provavelmente queira ficar comigo para se divertir. — Ele ri,
virando a cabeça para o lado para evitar o amendoim que Noah
joga nele.

Noah sorri bem-humorado, jogando o braço ao longo da parte


de trás da cabine enquanto se acomoda mais nela.

— Uma pessoa caseira, então? — Eu me pergunto.

Noah traz aqueles olhos de volta para os meus, um sorriso


escondido ameaçando escapar. — Depende.

— Do quê?

Seu olhar se estreita um pouco, mas um sorriso está escrito


nos vincos emoldurando seu rosto. — Do dia, a situação e o motivo
que eu teria para ir.

— Não quis dizer que ele é um vovô. — Trey ri. — Ele é um


filho da puta focado, só isso. Surpreso que eu o tirei esta noite. —
Olha para seu amigo, e então o sorriso de Trey se alarga. — Na
verdade, não estou.

Eles compartilham uma risada secreta, e eu sorrio, olhando


ao redor da mesa enquanto as conversas fluem, realmente
apreciando a tranquilidade da noite.
Depois da surpresa do meu parceiro de dança, Noah e eu
localizamos Cam e Trey no bar, rapidamente pegamos uma mesa
vazia para ficar por mais algum tempo. Estamos sentados aqui há
cerca de uma hora, ouvindo as histórias hilariantes e horríveis de
Trey de seu primeiro ano na faculdade, quando se comprometeu
com uma fraternidade na UCB 48 , onde completou seu primeiro
ano. Transferiu-se para Avix em seu segundo ano, e aprendeu que
futebol rápido e fraternidades nem sempre se misturam quando se
quer estar no topo do seu jogo, portanto, a casa de futebol em que
Mase e os rapazes moram.

Chase.

Meu estômago se revira ao pensar nele, e encho meu copo


com o restante da jarra. Quando coloco o copo de volta para baixo,
meus olhos se levantam, encontrando Noah me estudando, sua
cabeça ligeiramente inclinada.

Sua língua espreita, molhando seus lábios, e suas


sobrancelhas escuras levemente apertam, estranhamente
tornando seu rosto ainda mais bonito. Felizmente, Cameron
começa a falar, então tenho uma desculpa para desviar o olhar.

— Estou derrubada. — Ela se vira para mim com um sorriso


bêbado. — Você deve estar morrendo se eu estou cansada.

48
-University of California, Berkeley.
Eu sorrio, mas deixo cair meu olhar para o meu copo. Odeio
como um pensamento simples e não intencional que estava ligado
a Chase me deixa mal-humorada, mesmo através do zumbido.

Honestamente, ainda não estou cansada e a última coisa que


quero fazer é ir para casa e ficar horas deitada na cama, pensando
em coisas sobre as quais não tenho controle e em um homem que
preciso superar. Ainda assim, estou pronta para concordar,
voltando-me para ela, mas Noah fala antes que eu possa.

— Que tal Trey levá-la, e eu me certificarei de que Ari chegue


em casa em segurança depois que ela terminar o copo que acabou
de servir? — Ele sacode meu copo, sorrindo para minha amiga.

Cam franze a cenho, chicoteando a cabeça na minha direção.


— Ari?

Eu mordo um sorriso, mas ela sabe.

— Vá em frente, vadia. — Sorri, sentando-se. — Vamos ouvi-


la.

Trey sorri e as sobrancelhas de Noah se fecham ainda mais.

— O que eu perdi? — Ele olha entre nós três.

Trey estende a mão, batendo no braço de Noah. — Cara, não


te disse que essa garota vem equipada com um jukebox49?

49
-Aparelho de toca-música antigo que te dá opções, encontrado em lanchonetes americanas.
O olhar de Noah voa para o meu com intensidade crescente.
— Não.

O calor sobe pelas minhas bochechas, então abaixo um pouco


o queixo.

— Tudo, em todos os lugares a lembra de música. Ela é


fisicamente incapaz de não pensar em uma música, não importa a
situação. É estranho, mas você se acostuma. — Cameron ri.

Minha boca cai aberta. — Não é estranho, idiota.

Noah olha entre Cam e eu com confusão.

Cam revira os olhos e fico mais autoconsciente. — Eu disse


que estava saindo, você se ofereceu para levá-la para casa, e na
cabeça dela, a senhorita thang50 cantou…? — Olha para mim com
uma sobrancelha expectante levantada.

Eu rio levemente, tentando acalmar meus nervos antes de


cantar desafinado. — If you get there before I do, don’t wait up on
me...51

— Viu. — Cam sorri para Noah. — Aí. A música não tem nada
a ver com o que estamos fazendo. Na verdade, é triste pra caralho,
e muda as palavras quando necessário, mas a coisa de eu ir para

50
-Coisinha.

51
-Se você chegar lá antes de mim, não espere por mim...
casa foi o gatilho. — Ela encolhe os ombros. — Estranho, mas é
Ari.

Noah ri e cruza os braços sobre a mesa, flexionando seus


bíceps enquanto se inclina para frente, capturando meus olhos
castanhos com seus azuis loucos. — Há pouco, sorriu para si
mesma e desviou o olhar quando Trey colocou a jarra na mesa…

Meu sorriso é largo, estou surpresa que ele percebeu isso. —


Já viu Grease52?

Ele acena com a cabeça, os olhos cheios de admiração.

— No baile, Doody, Sonny e Putzie baixam as calças para a


câmera.

Ele balança a cabeça levemente, não entendendo exatamente


o que estou colocando, mas minha parceira de filmes ao meu lado
começa a rir. Olho para ela e juntas cantamos em um barítono
baixo — Blue moooon53.

52
-Filme de romance de 1978 com Jonh Travolta e Olivia Newton Jonh, “Grease: Nos Tempos da
Brilhantina”. Na Califórnia de 1959, a boa moça Sandy e o metido Danny se apaixonam e aproveitam
um verão inesquecível na praia. Quando voltam às aulas, eles descobrem que frequentam a mesma
escola. Danny lidera a gangue dos T-Birds, um grupo que gosta de jaquetas de couro e muito gel no
cabelo, e Sandy passa tempo com as Pink Ladies, lideradas pela firme e sarcástica Rizzo. Quando os
dois se reúnem, Sandy percebe que Danny não é o mesmo por quem se apaixonou, e ambos precisam
mudar caso queiram ficar juntos.

53
-Blue Moon" é uma música popular composta por Richard Rodgers e Lorenz Hart em 1934. Pode ser
a primeira instância da familiar "progressão dos anos 50" como uma canção popular e que se tornou
o padrão para baladas. Usada em diversos filmes inclusive Grease.
Noah joga a cabeça para trás, rindo, seus olhos azuis
brilhando a cada segundo. Eu sorrio, pegando meu copo cheio de
Blue Moon fresco e tomo um grande gole.

Noah acena com a cabeça, descansando as costas no banco,


seus olhos nunca deixando os meus, nunca perdendo sua
intensidade. — Vão em frente, pessoal. Eu a tenho.

Parecendo insegura, Cameron se vira para mim.

Esta noite é a primeira que me aventuro, então sei que ela


está desconfortável por eu não voltar com ela, mas um olhar, e
sabe que eu preciso ficar.

Ela acena com a cabeça, movendo-se para seus pés. — Para


que conste, se Mason explodir meu telefone procurando por você,
estou te dedurando totalmente.

Eu rio, assentindo. — É justo, mas aposto que ele está bem


bêbado agora.

— Como se houvesse um nível de Mason Johnson bêbado que


pudesse alcançar que apagasse sua necessidade de saber onde sua
preciosa gêmea está e o que está fazendo.

— Considerando que ele não tem ideia de que estou com você
agora, eu diria que estamos bem.

— Se você diz isso, ainda te jogando debaixo do ônibus se


chegar a isso! — Ela me sopra um beijo, depois vão embora.

Rindo, os observo desaparecer, antes de olhar para frente


novamente para encontrar os de Noah, que ainda se inclina para
a frente, fugindo para o centro de seu lado da cabine e está me
observando atentamente.

Eu o deixo, sem me mexer, ou me esquivando de seu olhar


pensativo. Finalmente, ele suspira e se recosta, com um sorriso
triste nos lábios.

— Você dormiu com ele. — Seu tom é baixo, gentil e seguro.

Minha boca se abre, negação na ponta da minha língua, mas


as palavras nunca vêm, a verdade de alguma forma marcada em
seu olhar. Se eu tentasse mentir, ele saberia. Então, não minto.
Eu concordo.

Algo indecifrável passa por ele, e seu aceno lento segue o meu,
assim como seu reconhecimento. — Ele machucou-a.

Eu mergulho meu queixo, puxo e solto uma respiração


profunda, então olho para cima. Algo na expressão cândida de
Noah me faz derramar todas as coisas que segurei nos últimos
meses, coisas que não queria dizer a Cameron porque não queria
que tomasse partido inadvertidamente. Foi difícil o suficiente para
ela testemunhar a mudança que o verão teve em mim. Então,
quando Noah me pede para começar do começo, e sinto seu desejo
sincero de entender, é exatamente isso que faço.

Conto a ele sobre nós quando crianças e nossas interações.


Repito como, na festa de quinze anos minha e de Mason, Chase
bateu no cara que me deu meu primeiro beijo, dizendo que ele era
um idiota que não merecia e depois não falou comigo por duas
semanas. Eu compartilho como na noite do nosso baile de
formatura, Chase ficou bêbado e me puxou em seus braços na
pista de dança, cantando junto com a versão de David Cook de
“Always Be My Baby”....

Eu lhe digo como ao longo dos anos, meus sentimentos


ficaram mais fortes do que pretendia, e me sentei como a garota
ingênua que claramente era, esperando Chase perceber enquanto
explicava a opinião de Mason sobre tudo. Não deixo de fora
nenhum detalhe do nosso tempo na casa de praia, além de nossa
experiência sexual, nem a reação de Mason nem a resposta de
Chase.

Exponho tudo, e nem uma vez sou atingida por um


sentimento de julgamento ou pena pelo homem a minha frente. É
uma estranha sensação de conforto.

— Quero dizer, a noite anterior foi pesada, estávamos


mentalmente confusos e exaustos, então acho que deveria ter
pensado melhor, mas não estava pensando no que aconteceria
depois. Mesmo se tivesse, não teria mudado nada naquele
momento. — De jeito nenhum teria desistido. Não com o jeito que
Chase me olhou naquela noite; ele realmente me viu, e mesmo que
não tenha passado disso, sempre terei aquele olhar desesperado
dele, sua necessidade visível por mim. Nunca esquecerei o desejo
em seus olhos naquela noite.

— Olhando para trás, realmente não lidei bem com a


situação. — Meu nariz torce em pensamento. — Ou em tudo,
realmente. Fui injusta, tenho sido injusta. Só... saí e agora... —
Solto uma respiração pesada. — Agora acho que poderia dizer que
eu me escondo. — Eu olho para Noah.
Enquanto meus olhos abatidos travam com os dele, o seu
salta ao longo do meu rosto, a preocupação puxando o seu
enquanto o meu encobre.

— Eu nunca pensei que conseguir algo que sempre quis


pudesse ser mais doloroso do que querer, mas nunca ter.
Realmente não há meio-termo.

Não tenho certeza se está na minha expressão ou no meu


tom, mas Noah detecta minha autocensura e se recusa a permitir.

— Julieta... — fala com uma firmeza terna, esperando que eu


olhe para cima mais uma vez, e quando olho, uma única palavra
escapa de seus lábios, sua expressão não deixando espaço para
discussão. — Não.

Em seu sussurro doloroso e cheio de tristeza, a represa se


rompe.

— Ugh. — Olho para o teto, desejando que as lágrimas se


afastem.

Noah amaldiçoa, movendo-se de seu assento, mas só olho


para ele quando pega minha mão e me puxa para os meus pés,
gentilmente enxugando as lágrimas do meu rosto com a ponta do
polegar, e me levando em direção a porta.

Meus pés estão um pouco instáveis por causa do álcool, mas


Noah me mantém aterrada com seu corpo.

Caminhamos de volta para o campus em silêncio, e apesar de


eu ter saído do lugar em lágrimas, não há nenhum
constrangimento para falar entre nós.
A seis metros do prédio de arenito em que meu dormitório
está localizado, Noah estende a mão para pegar minha mão,
interrompendo meus passos, e quando meus olhos encontram os
dele, acena com a cabeça em direção à fonte. Com uma risada leve,
sigo sua liderança, descendo na borda de cimento ao seu lado.

Ele se inclina, por isso está de frente para mim, e depois de


um momento segurando meus olhos injetados de sangue com os
seus, acena com a cabeça. — Você não contou a ele, não é? — Fala
baixinho.

— Contou a ele o quê?

— Que foi sua primeira vez — ele adivinha.

Uma dor aguda bate contra minhas costelas, minha atenção


caindo no chão sob meus pés.

Eu balancei minha cabeça, de alguma forma não surpresa


com sua perspicácia.

— Merda — murmura, então se aproxima de mim. Ele levanta


meu olhar para o dele, deixando sua mão descansar na minha
bochecha. Sua testa está franzida, dividida entre algumas emoções
que não consigo nomear.

— Ele foi gentil? — Esforça-se para não franzir a testa; posso


ver isso na tensão entre suas sobrancelhas.

— Noah...

— Diga-me — calmamente me corta. — Diga-me, Julieta.


Sua voz é quase um sussurro agora, e algo no meu peito
aquece. Esse homem, que encontrei três vezes no total, parece a
coisa mais distante de um estranho. Meus lábios se curvam
ligeiramente, e estendo a mão, colocando uma mão em seu peito.

— Ele foi gentil. Talvez até muito gentil. — Zombo uma risada.
— Não fazia ideia, mas me tratou melhor do que poderia ter pedido.
Temos um relacionamento complicado, ainda mais agora, mas ele
nunca me machucaria. — Sorrio tristemente. — Nunca
intencionalmente qualquer maneira.

Noah acena com a cabeça e traz a mão direita para cobrir a


minha em seu peito.

— Sabe que isso não tem nada a ver com você, certo? —
Salienta. — Isso é tudo ele e suas incertezas.

Quando tudo o que ofereço é uma contração de meus lábios,


seus olhos se estreitam ligeiramente.

Ele endireita os ombros. — Confie em mim, aposto que ele


está apenas com medo e não sabe o que fazer.

— Ele não me vê, Noah. Não como eu queria que ele visse.

— Ele vê você. — O olhar firme de Noah flutua pelo meu rosto.


— Como não poderia?

Suas palavras doces me fazem sentir uma sensação de ar no


estômago, mas ele está errado. Pensar assim foi o que me colocou
nessa confusão.

— Ele me ama e me respeita do jeito que amo Brady, do jeito


que Cameron ama, mas isso é tudo. — Dou de ombros. — Eu
entendo, mas ainda é uma droga, e está demorando mais do que
gostaria para aceitar esse fato. — Abaixo-me, passando minha mão
pela água da fonte ao nosso lado. — Vou superar e espero que
nossa amizade se sobreviva assim que eu superar. Tem que
sobrevier, para o meu irmão e os outros. Para nós também, acho.

Noah fica quieto por alguns momentos antes de falar. — É


por isso que eu não vejo você na casa.

Não é uma pergunta.

Eu sorrio para a água, admirando a forma como o luar brilha.


— Esteve procurando por mim, hein? — Provoco, jogando suas
palavras da fogueira de volta para ele.

— Sim.

Sua resposta instantânea faz meu olhar voar para o dele.


Ficamos ali sentados, olhando um para o outro por um momento,
e então, de repente, Noah se levanta de um salto.

— Vamos, Julieta. — Estende a mão firme. — Vamos levá-la


para casa. Você misturou uísque e cerveja esta noite. Sua cabeça
estará te matando pela manhã.

Eu gemo e permito que me puxe para os meus pés. Noah


insiste em me acompanhar até a minha porta, por isso ignoro as
meninas intrometidas nos corredores enquanto passamos.

Adoro como é totalmente normal estar acordada às três da


manhã na faculdade.

— Você ficará bem esta noite? — Ele se inclina contra o


batente enquanto destranco a porta.
Sorrio, entrando e usando a porta como alavanca. — Eu
ficarei bem.

Uma pequena carranca desliza sobre seu rosto, mas ele acena
com a cabeça.

— Eu realmente precisava desta noite. Obrigada por... sabe,


tudo isso. — Desvio o olhar, o calor subindo pelas minhas
bochechas. Não posso acreditar que descarreguei todos os meus
problemas, mas Noah apaga o desconforto nadando em meu
estômago.

— Não tem nada para se envergonhar. — Ele me encara por


um momento, sua expiração baixa logo depois, e ele dá um passo
para trás. — Faça-me um favor e beba um pouco de água antes de
dormir esta noite.

Minha cabeça cai no quadro. — Como isso estará lhe fazendo


um favor?

Ele inclina a cabeça um pouco, me fazendo sorrir. — Eu vou,


juro.

Satisfeito, ele se afasta. — Boa noite, Julieta.

Eu levanto minha mão, e uma vez que fecho a porta atrás de


mim, só tenho um único pensamento.

Eu ainda não estava pronta para ele ir.


Arianna
São dez para as dez quando alguém bate à porta. Vários
segundos de gemidos em meus cobertores passam, mas os pés de
Cameron nunca pisam no chão de linóleo, e então me lembro que
ela enfiou a cabeça mais cedo para me dizer que estava indo
embora.

Uma segunda batida soa e caio de costas, bufando para o


teto, lentamente me levantando.

— Estou... — tento falar, mas minha voz é uma bagunça


rouca, então limpo minha garganta e tento novamente. — Indo —
bocejo no meio da palavra, usando todos os músculos que estão
trabalhando agora para destrancar e abrir a porta.

Meus olhos se arregalam, meu corpo congela, e o piloto


automático me faz fechar a coisa assim que abro. Uma risada
profunda ecoa do outro lado, e bato levemente minha testa contra
a madeira barata.

— Você tem que estar brincando comigo — sussurro.


— Vamos, Julieta. Abra. — O humor é claro em seu tom. —
Agora já te vi.

Eu gemo, mudando um pouco para olhar no espelho ao lado


da porta. Lambo meus dedos e esfrego sob meus olhos, tentando
me livrar de um pouco do delineador preto que desceu pelo meu
rosto e aliso o cabelo estilo alfafa que está espetado por todo o
lugar. Respirando fundo, balanço as mangas do moletom que
roubei de Mason, até que engula minhas mãos, e o trago até a
boca.

Abro a porta e me deparo com um grande e brilhante sorriso


matinal, do tipo que exige um em troca, apesar do horror e do
constrangimento da minha aparência.

— Bom dia, luz do sol.

Meus olhos se estreitam da brincadeira e dou um passo para


trás, dando-lhe as boas-vindas. — Bom dia, Noah. — Fecho a porta
e me inclino contra ela, cruzando os braços sobre o peito sem
sutiã.

Observo sem palavras enquanto ele dá alguns passos em


direção à cozinha, colocando um suporte de bebidas, do que
suponho serem cafés, e uma sacola de café na bancada de bar.
Noah tira uma garrafa de água do bolso do moletom, tira a tampa
e a coloca ao lado dos outros itens. Sua mão desliza para o bolso
da frente de seu jeans em seguida, deslizando de volta com uma
pequena garrafa de Excedrin54, e finalmente, minha mente cansada

54
-Aspirina.
e de ressaca percebe. Noah não veio aqui apenas para me checar;
veio cuidar de mim.

É claro que ele está acordado há um tempo. Está de olhos


brilhantes e fresco em um par de jeans, um moletom cinza leve
semelhante ao que estou usando, e seu cabelo escuro está puxado
para a direita, como se tivesse passado a mão rapidamente e
encerrado o dia. Ele se vira para mim, seu rosto todo profissional.

— Aqui. — Levanta o punho fechado, segurando meu olhar


com o dele.

Reprimo um sorriso enquanto empurro a porta e o encontro


onde está, abrindo minha mão conforme solicitado.

Ele empurra meu moletom para trás com a parte interna de


seu dedo médio e meus olhos caem para o contato, confusa quando
a pele exposta do meu pulso se arrepia. Noah coloca as pílulas na
palma da minha mão, rapidamente me passando a garrafa de
água. Água em uma mão, pílulas na outra, meus olhos se erguem
para os dele.

Um sorriso suave se forma em seus lábios como se


respondesse à pergunta que não preciso fazer.

— Eu queria ter certeza de que estava bem. Cam apareceu na


casa cerca de uma hora atrás e disse que você ainda estava na
cama — me diz.

Meu rosto se transforma em uma carranca antes que possa


parar, muito menos processar o motivo, e Noah ri.

— Não decidi vir depois que ouvi. — Ele sorri. — Eu já estava


planejando vir aqui antes de vê-la.
Eu aperto meus lábios para a direita, lutando contra o rubor
que ameaça se espalhar. Noah vê, o calor subindo ao longo do meu
pescoço, mas ele é um cavalheiro sobre isso e se vira, deixando-me
com a minha estranheza.

Por que importaria se ele só viesse porque Cam


provavelmente fez parecer que morri e voltei como um zumbi? Eu
não estava tão bêbada, e não é como se eu esperasse que ele
aparecesse. Por que apareceria?

Eu aperto meus olhos fechados e me dou uma sacudida


mental antes de deixar cair as pílulas na minha boca e terminar
metade da garrafa de água.

— Então. — Noah fala de costas para mim. — Eu tenho cafés


simples para jogar pelo seguro, imaginando que se fosse uma
garota do café, já teria creme e alguns sanduíches de café da
manhã.

Eu ando ao seu redor e pego o creme de caramelo de Cam e


o meu fino de menta, colocando-os no balcão a sua frente.

Ele olha para as garrafas, seus olhos se estreitando em


pensamento. — Acho que caramelo é básico demais para você.

— Eu não sei... sou meio básica — provoco.

— Discordo. — Ele sorri, removendo as tampas e adicionando


um creme a cada um até que os copos de papel estejam cheios, e
em seguida, coloca os dois a minha frente. — Prove que estou
errado.

Eu levanto uma sobrancelha, pegando o caramelo enquanto


me olha, e então coloco na sua frente, nossa risada seguindo.
Um sorriso satisfeito aparece em seus lábios enquanto ele tira
os sanduíches da sacola. — Presunto ou salsicha?

Eu torço meu nariz e seu rosto cai.

— Você também não gosta? — Quase faz beicinho, e meu


sorriso é instantâneo.

— Gosto dos dois, e estou morrendo de vontade de beber este


café, mas... se importa se eu tomar banho? — Talvez, não sei...
colocar uma calça?

Ele franze a testa, sua atenção imediatamente caindo para


minhas pernas nuas, e então suas sobrancelhas escuras saltam.
— Merda. Eu sinto muito. — Ele vira, passando a mão pelo cabelo
na base do crânio.

Eu rio. — Serei rápida se quiser encontrar algo para assistir.


A menos que não possa ficar, é claro, então obrigada por...

Ele olha por cima do ombro. — Eu posso ficar.

— Está bem então. — Sorrio, pego meu café e o levanto. —


Obrigada, Noah. Sério.

Ele acena com a cabeça enquanto caminho para o meu quarto


para pegar minhas coisas. É em momentos como este que aprecio
o banheiro privado que Cam e eu fomos abençoadas o suficiente
para ter.

No chuveiro, penso na presença de Noah aqui, bem como em


como Mason mataria o homem se soubesse. Na verdade, talvez
fosse eu quem ele mataria por permitir que Noah entrasse como
nada, mas não sei. Ele mora na mesma casa que meu irmão, joga
no mesmo time, e até agora ninguém falou mal dele. Mase nunca
teria me deixado na praia com Noah naquele dia se ele não
confiasse nele de alguma forma, muito menos convidá-lo para a
fogueira naquele dia, então não parece uma má jogada.

Além disso, eu me diverti muito ontem à noite. Ter alguém


com quem conversar fora do meu grupo normal foi revigorante de
uma forma que nunca experimentei. Adoro conversar com Cam e
confiaria nela com todas as coisas do meu mundo, mas eu tinha
uma mente fresca com uma nova perspectiva e acho que era
exatamente o que precisava. Embora parecesse incomodá-lo que
eu estivesse chateada, ele não estava ferido pela situação como eu,
Chase e Cameron estávamos, ou como Brady ou Mason ficariam
se soubessem. É diferente, e adoro isso.

Não ficamos sentados o tempo todo trabalhando para limpar


ou evitar constrangimentos. Foi divertido e sem estresse. Foi fácil.

Noah estar aqui agora, porém, mil por cento não esperava.
Foi fácil ver que ele estava sendo sincero ontem à noite, que
honestamente queria ouvir o que eu tinha a dizer, mas não pensei
exatamente além dessa conversa. Agora não posso deixar de me
perguntar se Noah poderia usar uma nova amiga tanto quanto eu
preciso de um.

Saindo correndo do chuveiro, coloco minha camiseta favorita


de “morte antes de descafeinado” e um par de leggings. Passo um
pente no meu cabelo comprido e escuro, escovo os dentes, depois
pego meu café e saio do banheiro, com o cabelo molhado e o rosto
limpo.

Noah está no sofá, como eu esperava, por isso caio no espaço


ao seu lado. Ele sorri na minha direção, me passando o sanduíche
de presunto e o controle remoto enquanto dá uma mordida em seu
próprio café da manhã.

Olho para a TV quando o comercial termina para descobrir


que ele está cerca de vinte minutos no filme Grown Ups55, por isso
jogo o controle para o lado e me acomodo para assistir com ele.
Assim que termino de comer, seguro meu café nas palmas das
mãos, dobrando as pernas no sofá.

— Obrigada, Noah — digo novamente, olhando para ele por


cima da borda do meu copo quando ele olha na minha direção. —
Por ontem à noite e hoje. Por agora. Eu me tranquei muito
ultimamente, então é muito bom tê-lo aqui.

— Não precisa me agradecer.

— Preciso.

— Não precisa. — Noah se vira para mim. — Vim porque quis.

Deixo minha cabeça cair na almofada, sorrindo para ele. —


Bem, obrigada de qualquer maneira.

Uma pequena sombra cai sobre seus olhos, mas ele concorda.

— Estava muito ocupada sendo um bebê ontem à noite, não


consegui te dizer, mas joga como um chefe.

55
-Filme comédia com Adam Sandler, Salma Hayek, Chris Rock, Rob Schneider entre outros, no Brasil
conhecido “Gente Grande”.
Isso traz um sorriso largo de volta ao seu rosto, mas ele se
vira, protegendo-o de mim.

— Estou falando sério. Seu primeiro arremesso no primeiro


jogo e aquele quarterback keeper? Tão suave. — Eu rio quando ele
balança a cabeça, ainda sem olhar para mim. — E ontem à noite,
aquele Flea Flicker 56 foi um gênio. Sinto-me uma idiota porque
estava totalmente distanciada sobre você ser o homem principal
até que te vi ontem à noite e me lembrei. Você é foda, número
dezenove.

A boca de Noah ainda está virada para cima, mas continua


virado para frente, apenas movendo os olhos na minha direção
enquanto tenta minimizar seu conjunto de habilidades. — O jogo
de ontem à noite foi difícil, mas conseguimos. Como uma equipe.

Puxo meus lábios para morder meu sorriso.

Ele é tão diferente do meu irmão e dos rapazes. Mason teria


dito algo como “sim, eu sou foda” ou acrescentado às jogadas que
listei, mas acho que esse não é o estilo de Noah. Ele é humilde, e
isso é raro, considerando sua posição. Para qualquer atleta que
jogue neste nível, realmente.

Ele quase tem essa vibração de alma torturada, mas não do


tipo que te deixa amargo ou cruel. O tipo que decorre de perdas e
decepções, onde está quase com medo de querer porque o universo
pode decidir as piadas sobre você, e cair em outro tombo.

56
-Jogada falsa.
— Mason está arrasando no treino — compartilha então,
desviando a atenção de si mesmo. — Ele se sairá muito bem se
continuar assim.

Estudo suas feições, não encontro nenhum indício de


insinceridade. Ele realmente acredita no que está dizendo e fala
sem malícia ou ciúme, sem ameaça ou medo de perder seu lugar
para o superstar novato. E meu irmão é um superstar.

— Quer que ele se saia bem. — Eu quero dizer isso como uma
declaração, mas o espanto da situação se infiltra em meu tom, e
soa como uma pergunta.

A cabeça de Noah puxa um pouco para trás, pego de


surpresa, e quase me preocupo por tê-lo ofendido, mas sua risada
logo segue, meus músculos relaxando como resultado.

— Inferno sim, quero. — Ele concorda. — Mason tem isso. Ele


é bom. Ótimo mesmo. Precisávamos dele esta noite e ele entregou
melhor do que o esperado, para ser honesto. Quando dei o último
golpe, tive que sair. A sua defesa teve meu timing e trabalho de pés
cronometrados no quarto período. Quando isso acontece e temos
um segundo sólido, é uma certeza fazer a troca. Mason foi lá e os
balançou com facilidade. — Ele ri, e por alguma razão, o som de
menino me faz sorrir. — Ninguém esperava que o QB 57 novato
chegasse lá e fizesse o inferno, mas fez. Mostrou-os também. — Ele
sorri, finalmente se virando para mim.

57
-Quarterback.
Gosto do seu sorriso. É um beliscão mais alto à esquerda,
revelando uma lasca de seus dentes brancos. A sugestão de barba
por fazer ao longo de sua mandíbula não estava lá na noite
passada, e permite uma pequena sombra agradável, ajudando seu
sorriso a brilhar mais, também fazendo seus olhos parecerem mais
aquático do que as ondas do oceano da meia-noite.

— Ele ficaria feliz em ouvir isso, mas se contar a ele, ele terá
uma cabeça ainda maior — brinco, e enquanto os lábios de Noah
se contorcem, suas feições são suaves.

Depois de um momento, ele acena com a cabeça, abrindo a


boca para falar, mas então olha para frente e limpa a garganta.

— Eu tenho que ir. — Ele se levanta, olhando para mim. —


Os domingos são um pouco ocupados para mim.

Eu concordo.

O que há aos domingos?

Noah fica ali parado por mais um segundo e então recolhe


nosso lixo, indo em direção à cozinha, mas fico onde estou,
observando.

É tão estranho que ele esteja aqui no meu espaço.

Não tão estranho quanto parece tão natural quanto com os


rapazes.

Noah chega à porta, a abre e me prende com um sorriso por


cima do ombro. — Coloquei meu número em um guardanapo e
coloquei na geladeira. Se você me enviar seu número, talvez da
próxima vez, eu ligue antes. — Com isso, ele pisca e sai.
Sorrindo, me levanto e pego o guardanapo. Caminho de volta
para o sofá, telefone na mão, e digito uma mensagem enquanto
espero que ele não ache que minha síndrome musical é demais.
Ele disse que talvez ligasse da próxima vez, por isso...

EU: here’s my number in case you want to, you know, call me ...
maybe58.

Sorrio para minha letra de escolha e espero por sua resposta.

ROMEU: hahaha. Quer saber um segredo?

Claro, quero saber!

Eu respondo um pouco mais sutil.

EU: não é segredo se me contar.

ROMEO: Eu sabia que me enviaria algo sobre uma música.

58
-“Aqui está meu número caso queira, sabe, me ligar... talvez”. Música “Call Me Maybe” de Carly Rae.
Minhas sobrancelhas se erguem.

ROMEU: Não faça cara feia.

O QUE…

Mordo meu lábio e digito minha próxima mensagem.

EU: Como?

ROMEU: Bem, Julieta, não será segredo se eu te contar.

Droga. Eu sorrio.

Ele é bom.

Noah me deixa de tão bom humor esta tarde que esqueço


completamente o que são os domingos para minha equipe, e
algumas horas depois, enquanto ainda estou sentada no lugar que
Noah me deixou, a porta do meu dormitório se abre.

Meus pulmões param quando Cameron entra, Mason e Brady


logo atrás dela. A porta começa a se fechar, e agarro o cobertor,
cobrindo meu colo com mais força à medida que ele se aproxima
cada vez mais do batente, mas no segundo em que toca, é
empurrada para abrir novamente.

Chase entra, seus olhos instantaneamente encontram os


meus.

Merda.

Considerando que me encontraram descansando com uma


pilha de cobertores e uma caixa meio comida de donuts, jogar uma
desculpa aleatória foi uma falha, e é por isso que agora estou
imprensada entre Mason e Brady, que acabaram de no sofá da
sala, fingindo que planejavam estar aqui o tempo todo.

Mason envolve o braço em volta do meu ombro e me puxa


para ele com um rosnado brincalhão. — Sinto sua falta irmã. Sinto
que vejo cada vez menos você. — Ele morde.

Uma dor aguda bate contra minha caixa torácica e olho para
meu irmão, culpa pesada em minha mente, mas um sorriso em
meus lábios. — Eu também, irmão. — Abraço-o, empurrando-o
para longe quando morde meu couro cabeludo.

— Que diabos? — Eu rio, e ele sorri, pegando o controle


remoto do meu colo e mudando para a ESPN. Claro.
— Como está indo aquele grupo de estudos? — Brady fala, e
olho para ele. Seu olhar se estreita, ciente de que sou uma grande
mentirosa, então faço a única coisa que ele está pedindo.

Aceno em admissão.

Brady acena de volta, me puxa para ele e beija meu cabelo,


roubando a outra metade do meu cobertor enquanto se endireita.

Chase vem a seguir, e levanto minha mão para acenar, mas


ele faz o que eu não esperava, inclinando-se para um abraço.
Então o abraço de volta como fiz uma centena de vezes antes, só
que parece a coisa mais distante do normal.

Isso dói.

Eu não sei se é o seu jeito de manter as aparências, mas o


jeito que me aperta, e como as palmas das suas mãos se alargam
nas minhas costas, faz parecer um apelo, mas não saberia dizer
mesmo se tentasse.

Quando ele se afasta, rapidamente me viro para olhar por


cima do ombro para Cameron como uma desculpa para esconder
o desconforto em meus olhos antes que ele tenha a chance de olhar
para eles.

— Precisa de ajuda? — Ofereço, pronta para pular do meu


assento.

Todo mundo ri, e eu franzo a testa.

— Ha, droga, não sou inútil. — Empurro Mason, e ele só ri


mais.
— Não, bolos de mel, não é — Cameron me aplaca
provocativamente. — Mas cozinhei nas últimas duas semanas,
então é oficialmente a vez deles.

E deixa mais culpa.

A partir daí, graças a Deus, os rapazes vão direto ao trabalho,


cortando os produtos que trouxeram e fritando hambúrgueres, e
Brady entrega as famosas batatas fritas caseiras de sua mãe. Cam
e eu pegamos alguns pratos e bebidas enquanto eles terminam.

Nós nos acomodamos em torno da pequena cozinha, e


finalmente consigo ouvir algumas das histórias que os rapazes têm
de seus primeiros dois meses aqui, rindo da sorte horrível de Brady
em pegar mulheres loucas de merda. Em seguida, jogamos alguns
jogos de nosso jogo de dados favorito, Tizy, e depois nos
acomodamos na sala de estar com as cervejas.

Um suspiro suave me deixa enquanto espio ao redor da sala,


percebendo o quanto sinto falta disso, o quanto sinto falta deles.
Eu suspiro quando algo frio atinge minha coxa e os olhos de Brady
se arregalam.

— Merda! — Olha para sua bebida tombada, ainda


derramando no meu colo.

Eu aceno minhas mãos para cima e para baixo e os outros


riem. — Está tão frio!

Eles correm em busca de guardanapos, mas é Chase que


levanta um, e quando o passa, ele olha duas vezes.

Meus músculos travam enquanto sua carranca cresce


lentamente.
Cameron se aproxima, jogando uma toalha em mim, e pulo,
limpando-a rapidamente com uma mão e puxando o guardanapo
ainda estendido da mão de Chase... tudo para que Cameron o
arrancasse.

Ela pega o nome e o número de Noah, sua cabeça estalando


na minha direção.

Por favor, não.

— Sim. — Ela arrasta a palavra com um silvo, sendo


dramática demais enquanto coloca no chão ao seu lado. — Não
vamos perder isso.

É preciso tudo o que tenho para não olhar para Chase, mas
quando finalmente olho, fico aliviada ao encontrar seus olhos
apontados para a TV, e depois fico irritada comigo mesma por
supor que ele possa se importar.

Menos de cinco minutos depois disso, sou meticulosamente


lembrada por que pulei os jantares de domingo e todo o resto,
enquanto Mason começa a falar com Chase sobre as garotas de
sua festa ontem à noite... e sua caminhada da vergonha esta
manhã.

Meu estômago se revira, e pela primeira vez hoje, o álcool da


noite passada ameaça aparecer. Calor cresce no meu peito,
espalhando-se pelo meu pescoço, e estou prestes a começar a suar.

Quero cobrir meus ouvidos. Quero me levantar e sair


correndo antes que qualquer outra coisa seja dita, mas não posso.
Os outros me olharão como se eu fosse louca, e depois ficarão com
raiva e exigirão uma razão para o meu surto, mas não posso me
sentar aqui. Não quero me sentar aqui.

Eu...

Meu telefone emite um sinal sonoro, e rapidamente atendo,


encontrando uma mensagem de texto de Noah.

ROMEO: Estive pensando e há algo que eu deveria te dizer.

Ah não.

Eu puxo meus joelhos para cima, uma pequena carranca se


formando ao longo da minha testa.

EU: vá em frente.

Sua resposta é instantânea.

ROMEU: Odeio café com sabor de caramelo.


Uma risada jorra de mim, e na minha periferia, todos os olhos
se movem na minha direção, mas não olho para cima, nem mesmo
quando um certo par de verdes queima na lateral do meu rosto.

Eu me acomodo no meu lugar com um sorriso e envio uma


mensagem de volta para o meu novo amigo.

Abençoado seja e seu timing perfeito, Noah Riley.


Arianna
Meu telefone apita, o cronômetro do meu quilômetro dispara,
então desacelero meus passos.

Assim que tiro meus fones de ouvido, meu telefone vibra,


então me liberto da minha braçadeira.

Sorrio para minha tela e abro a mensagem de Noah.

ROMEU: Comi ovos no café da manhã.

Meus pés param completamente, e sorrio enquanto envio


uma mensagem de volta.

EU: Achy Breaky Heart de Billy Ray Cyrus.


ROMEU: Sério?! Como sabe quem ele é?

Ele está totalmente sorrindo agora.

Antes que eu possa responder, outra mensagem chega.

ROMEU: É de Hannah Montana, não é? Você era uma daquelas


garotas malucas que choraram quando a pequena Miley cresceu e se
tornou... meu tipo de Miley.

Ele envia uma carinha piscando, e começo a rir, em parte


porque ele está certo, principalmente porque essa conversa é
ridícula, mas é exatamente por isso que é tão divertido.

EU: Mentiroso. Miley é muito selvagem para você e sabe disso. Sinto
que você é mais do tipo Emma Watson.

ROMEU: Tem certeza?

Meu estômago se revira, uma pequena gargalhada


escorregando de mim.
EU: Não, acho que não... mas mesmo assim ganho. Novamente.

ROMEU: Vou te dar uma surra, Julieta. Apenas espere.

Sorrio, bloqueando meu telefone de volta no lugar, e termino


o resto do meu exercício, já que não consegui cortar meu
quilômetro como Mason me desafiou.

Segunda de manhã, quando acordei, Noah me enviou uma


mensagem dizendo que o treinador deu um grito ao Mase depois
da sessão de cinema do time naquela manhã. Enviei uma
mensagem de volta com “Good Thing” de Sage the Gemini.

Sua resposta foi um sorriso brilhante, eu sei disso.

Naquela noite, recebi outra mensagem, alegando que ele viu


algo estranho na mercearia - Oreos com sabor de manteiga de
amendoim. Enviei de volta o link do KC e JoJo's com “Tell me it’s
real”.

Desde então, tem sido um jogo entre nós dois. Ele me atinge
com algo aleatório, e provo que as palavras de Trey estão certas.
Sou, de fato, equipada com um jukebox. Como eu disse, é
divertido, alegre e tenho certeza que o único propósito é
simplesmente fazer o outro rir caso um de nós precise. Não é a
única vez que falamos. Como esta manhã, lhe enviei uma foto dos
meus sapatos depois que caminhei sem pensar em uma poça de
lama, e um aspersor quebrado deixado para trás, e ele enviou de
volta uma foto das anotações que estava tomando na aula.
Não é grande coisa, apenas nós conversando um pouco como
novos amigos fariam.

Enxugando minha testa, saio da pista e vou para o vestiário


feminino para um banho rápido antes de encontrar Brady para
minha prometida sessão de estudos.

Estou vestida de volta com meu short jeans e manga


comprida bordô e vou para a biblioteca, menos de quinze minutos
depois, trançando meu cabelo ao longo do caminho.

Eu localizo o corpo gigante de Brady no segundo que entro


pela porta, e rapidamente amarro meu cabelo enquanto corro para
salvar a pobre estudante ajudante que não tem ideia do que está
fazendo se não a resgatar. Sua postura rígida e o jeito que está
segurando os livros contra o peito me diz que ela não está pronta
para todo o charme Lancaster, mas o grande brilho em seus olhos
grita que gostaria de estar.

Ele vê, e é por isso que está se aproximando, elevando-se


sobre seu pequeno corpo. Enorme simulado.

Eu me aproximo e coloco minha mão em seu ombro. Ele não


vacila nem um pouco, nem mesmo olha para mim. — Bem-vinda
à festa, Ari Baby.

Os olhos da pobre garota se arregalam ainda mais, e ela baixa


o olhar para o tapete manchado sob seus pés.

— Vamos, grandão. — Eu rio. — Hora de estudar.

— Estou tentando estudar. — Seu corpo balança


ligeiramente, tentando atingir cada nervo com sua pequena
insinuação. Eu só posso imaginar que seu sorriso se tornou
selvagem, porque quando a garota olha para ele, suas bochechas
claras ficam vermelho cereja brilhante.

— Eu deveria ir — a garota sussurra e sai da jaula de Brady


antes de sair correndo, desaparecendo atrás da estante mais
próxima.

Brady fica de pé, exalando ruidosamente. — Quase a peguei.

Eu rio e o empurro em direção às mesas abertas. — Não, não


pegou.

Ele sorri, mas não discute.

Nós nos sentamos e Brady pega duas garrafas de água e


quatro lanches de presunto e queijo, colocando-os na mesa entre
nós.

Eu rio, rápido para abrir um pacote e empilhar minha


primeira mordida. — Sempre chegando na embreagem.

— Sabe que eu tenho você. — Ele pisca, cavando.

Nós nos perdemos no mundo da psicologia, e antes que


percebamos, já é tarde da noite. A biblioteca está se enchendo
rapidamente com toda uma nova geração de humanos, os
procrastinadores detestáveis, e aqueles forçados aqui para aulas
depois do expediente.

Eu caio contra a minha cadeira, e Brady imita minha posição.

— Meu cérebro está pronto, Brady. — Eu deixo cair minha


cabeça em seu ombro, e ele descansa a sua em cima da minha.
— Vamos voltar. — Ele joga o lápis sobre a mesa. — Quer
comer?

Eu rio porque com Brady, é futebol, comida ou, bem, sexo.


Concordo. — Poderia comer.

— Legal. — Ele gentilmente me empurra e se levanta,


empurrando seus livros de volta em sua mochila. — Vamos
encontrar os rapazes na hamburgueria fora do campus.

Devo hesitar por muito tempo porque ele para no meio da


arrumação e fica em sua altura máxima. Seus olhos verdes terra
se estreitam em mim. — Não me dê nenhum beicinho. Você vem.

Eu bufo e mudo para ficar de pé. — Não pode simplesmente


vir à minha casa?

— Não quero.

— Poderíamos ir aquela pizzaria no final da rua?

— Bem. Vou ver se eles querem ir para lá.

— Brady... — deixo cair meus olhos para minha bolsa.

Ele suspira e anda ao redor da minha cadeira, me envolvendo


em seu único e grande abraço de urso. — Não mentirei, está me
irritando um pouco aqui, Ari Baby, mas tenho olhos, e sei que
alguma merda aconteceu entre você e Chase e agora está tentando
ficar longe, mas isso não é justo para o resto de nós. Nós somos
seus rapazes, você é nossa garota. Chupe a merda ou acabarei
expondo o meu melhor amigo.
Uma risada triste escapa de mim. — Não quero tornar isso
estranho para ninguém, é meio... difícil para mim.

Brady fica um pouco tenso. — Eu sei. — Ele cai mais perto


do meu ouvido para sussurrar — Ainda bem que tem aquele jogo
de cara virado para baixo, hein... preciso que se recomponha por
mim rapidamente.

Eu me afasto, assim como ele faz, e franzo a testa para ele.


Ele dá um aceno sutil antes que sua atenção se levante sobre
minha cabeça.

— Ei, safados! Vieram examinar a cena? — Ele sorri. —


Porque se veio, eu tenho direitos sobre a ruivinha tímida ali. —
Engancha um polegar sobre o ombro.

Excelente.

Minha frequência cardíaca dispara e respiro superficialmente


enquanto os rapazes andam ao redor da mesa, fazendo-se
aparecer.

— Irmã. — O sorriso de Mason vacila quanto mais olha para


mim, mas forço um para seu benefício.

— Irmão.

Seus olhos se estreitam um pouco. — Vamos pegar um pouco


de comida, pensei que talvez estivessem prestes a terminar. —
Mason olha para a minha mala meio cheia. — Parece que está.

Chase olha para mim, mas mantenho meu foco em Mason.

Merda. Pense, Ari!


— Oh, bem, uh, eu...

— Ei.

Meu coração já disparado se acelera, mas suspiro de alívio


quando meu olhar passa por cima do ombro do meu irmão.

Nesse segundo, todos os três se viram para encarar o homem


andando atrás deles.

Meu irmão abre um sorriso largo, oferecendo ao capitão de


sua equipe um soco. — Noah, e aí?

Noah encontra os nós dos dedos de Mason com os seus,


lançando uma piscadela sutil na minha direção quando meu irmão
diz outra coisa que não entendo.

Noah ri. — Não, cara. Só vim buscar a Ari.

Oooh. Merda.

Meu pulso está saltando da minha pele; tem que estar. Estou
com muito medo de olhar para o meu irmão, então não olho,
travando os olhos com Noah. Seu queixo abaixa, provavelmente
imperceptivelmente onde os outros estão preocupados. —
Preparada?

— Espera, o quê? — A sombra de Brady me cerca por trás, e


à minha direita, meu irmão se aproxima.

Noah não se move um centímetro, mantendo seus olhos azuis


em mim. — Desculpe o atraso, fui pego no centro estudantil.
— Não se preocupe com isso — acompanho. — Nós mal
terminamos.

Um lado da boca de Noah se ergue em um sorriso e luto


contra o meu próprio.

— Uh... — Mason arrasta, limpando a garganta, e finalmente


o encaro. Ele estende a mão coçando a cabeça, sua carranca
balançando entre a minha e a do meu salvador. Eles se acomodam
em mim. — Você tem planos... com ele?

Eu começo a arrumar minhas coisas de novo como uma razão


para desviar o olhar, insegura de sua reação e o que fará a seguir.
Honestamente, não há como dizer.

— Sim. — Não exatamente uma mentira a partir de agora. —


Eu não sabia que vocês vinham ou não teria feito planos. — Isso
foi definitivamente uma mentira.

A postura de Brady se alarga ao meu lado, e quase arranco o


zíper da minha mochila devido aos nervos.

— Espere um maldito minuto. — Brady, embora bastante


calmo, fala devagar, então também não sei como avaliá-lo. Ele olha
para mim, depois para Noah.

Noah não vacila, mas mantém seus olhos fortes como aço nos
de Brady, respeitosamente. Brady balança sua testa franzida para
mim. — Quer que eu leve sua bolsa para casa?

Meus ombros relaxam. — Estou bem, Brady, mas obrigada.

— Mm-hm. — Ele beija minha cabeça e se vira para pegar


suas próprias coisas.
Acho que estamos saindo tranquilamente, mas então uma
pergunta repentina, mas esperada, vem da fonte mais inesperada.
— Onde vai? — Chase pergunta.

Noah está em apoio silencioso, aproximando-se para pegar


minha bolsa quando começo a puxá-la por cima do ombro, e com
um sorriso tenso, olho para Chase como se a sua visão não
mexesse com a minha cabeça.

— Não decidimos ainda.

Seus olhos verdes se estreitam. — Então por que não vem


com a gente?

Instantaneamente, procuro Noah, talvez por ajuda, e embora


não desvie o olhar, ele não dá nada além de uma expressão vazia.
É a sua maneira de me permitir fazer a escolha e me deixar saber
que ele estará lá para o que eu escolher, em vez de escolher por
mim.

— Um...

Os olhos de Noah perfuram os meus.

Eu não sei o que fazer. Se eu disser sim, posso morrer um


pouco mais por dentro, e Noah deslizou no modo resgate, como se
soubesse que eu precisava, mas se eu disser não, como isso ficará?

Por que eu me importo?

— Ari? — Chase solicita, com um pouco menos de mordida


desta vez.
Noah deve notar a indecisão em mim porque sua tristeza se
torna mais vibrante a cada respiração que dá, e seu queixo sobe
uma fração de centímetro, me encorajando a fazer uma escolha.
Uma escolha por mim. Algo em mim se estabelece.

— Não, acho que não. — Enfrento Chase.

— Por que não? — O cara que me empurrou se atreve a


perguntar.

— Não sinto vontade.

O franzido da sua testa se aprofunda. — É isso, hein?

A culpa imerecida envolve meus músculos, mas antes que


possa responder, Mason - meu irmão louco controlador e
exagerado, que normalmente faz esse tipo de pergunta - para seu
melhor amigo.

— Cara, Chase. Deixe-a, mano. — Faz uma careta para ele,


lançando seu olhar através de sua forma. — Ela disse que não quer
ir.

Minha boca quer se abrir com tanta força agora, mas a forço
a ficar fechada, observando... bem, não consigo descobrir se é
horror ou fascinação, enquanto Mason se vira para Noah e lhe dá
mais um soco.

Hum... o quê?

— Leve-a para casa em segurança para que eu não tenha que


ir e ser expulso do time? — O rosto de Mason está muito sério.

Noah simplesmente diz — Farei.


Brady ri ao meu lado, me puxando para um abraço. —
Engraçado como esses planos surgiram do nada, não é, e o cara
também? — Sussurra.

— Desculpe — murmuro em seu suéter.

Brady odeia mentiras. Ele é a nossa voz da razão em seu


próprio jeito louco, e praticamente cobriu minha bunda. — Não se
preocupe com isso. Se eles tivessem perguntado diretamente, teria
lhes dito. Para sua sorte, não o fizeram, então está tudo bem.

Eu me afasto e sorrio. — Vejo você na aula amanhã.

— Eu serei o sexy na frente. — Ele sorri e bato em seu ombro.

Com uma inspiração refrescante e uma nova sensação de


facilidade, me viro para Noah. Ele sorri, me forçando um em troca.

— Preparado?

Lentamente, ele assente.

— Tchau rapazes — digo, mas não olho para eles.

Entro na fila com Noah, e juntos, vamos para a saída mais


próxima.
— Oh meu Deus, Noah, cheira estupidamente bem — digo
saindo do banheiro.

Eu sigo o som de sua risada suave até o pequeno recanto da


cozinha, bem quando ele puxa um peito de frango da pequena
grelha da bancada e começa a cortá-lo em longas tiras.

— Onde aprendeu a cozinhar? — Pergunto, espiando por


cima de seu ombro enquanto mexe a carne na tigela de frango
Alfredo caseiro, que preparou do nada e em pouco tempo.

— Minha mãe. — Ele sorri. — Ela me pedia para ajudá-la com


o jantar todas as noites, dizia que eu precisaria aprender para
momentos como este. — Ele me lança uma piscadela.

— Mulher inteligente. — Eu sorrio, descansando meu queixo


no meu cotovelo contra o balcão.

— Sim. — Ele ri, mas é um som pesado que me faz olhar da


comida para ele.

Um pequeno franzido enruga sua testa, mas ele não diz nada,
então não pergunto o que o levou até lá. Eu quero, mas não
pergunto.

— Onde estão seus pratos e outras coisas? — Levanto. — O


mínimo que posso fazer é prepará-los.

— Há uma pilha de pratos de papel acima do micro-ondas.


Espero que funcione para você.

— Minha mãe disse que tinha filhos para não ter que lavar a
louça nunca mais. Por isso, sim, pratos de papel são perfeitos. —
Eu rio e ele se junta.
— Mulher inteligente.

— Certo? Foi uma piada, mas posso ver o apelo.

Noah ri enquanto desliga o fogão e lava as mãos na pequena


pia ao lado do pequeno fogão. — Quer pegar algumas bebidas
enquanto eu limpo a mesa de café para que possamos comer mais
confortavelmente?

— Sim. — Coloquei os pratos de papel ao lado do fogão, meus


olhos passando rapidamente para a pequena mesa contra a
parede. É uma mesa de dois lugares, não grande o suficiente para
caber as longas pernas de Noah, muito menos as de uma segunda
pessoa.

— Este lugar é muito legal — grito. — Do lado de fora, você


não sabe o que pode encontrar aqui.

Ele se afasta da parede que separa a cozinha da sala de estar.


— Sim, meu treinador chama isso de vantagens de ser capitão do
time, mas às vezes o espaço não vale toda a merda que tenho que
lidar em casa. No entanto, torna mais fácil tentar manter os
primeiros anos sob controle.

— Então, é basicamente o estraga-prazeres designado?

— Não. — Ele despeja o macarrão em uma tigela grande e


acena com a cabeça, gesticulando para que eu ande a sua frente.

Pegando os pratos, nos guio para a sala de estar, ouvindo


enquanto ele explica mais.

— Deixo-os se divertirem, faz parte de toda a experiência que


ganharam ao chegar aqui. Contanto que sejam respeitosos e a
mantenham no mínimo durante a semana, eles sabem que os
sábados geralmente são suas noites livres para viver isso.

Concordo com a cabeça e sento ao seu lado no sofá de veludo


cotelê, colocando nossas bebidas na mesa.

— Agora na baixa temporada... — balança a cabeça com um


sorriso. — Fica um pouco selvagem.

— Aposto que sim. — Eu chuto meus pés, dobrando minhas


pernas para cima. — A primavera em casa era uma loucura, mas
definitivamente mais divertida de volta em casa. Os rapazes não
eram tão rigorosos consigo mesmos desde que o futebol acabou, o
que significava que não eram tão duros conosco. — Balanço minha
cabeça com um sorriso. — Não que o futebol tenha realmente
“acabado”. Sempre havia acampamentos ou algo assim, mas
nenhum jogo real significava que podíamos festejar um pouco.

— Sim, treinamento leve e nenhum treinador na sua bunda.


— Ele ri. — Estou feliz que haja uma porta na parte inferior da
escada em vez do topo. Mantém os selvagens longe, e não preciso
me preocupar com pessoas bêbadas caindo e abrindo a cabeça
quando estão perdidas procurando o banheiro.

— Vamos. — Ele cutuca meu ombro. — Sirva seu prato


primeiro, então me sinto um cavalheiro.

Inclinando-me para frente, faço o que ele pede, admitindo —


E eu estava aqui tentando ser educada esperando seu sinal verde,
mas aviso justo, sou conhecida por comer como um homem, então
não julgue.
Ele ri. — Não ousaria. — Ligando a TV, abaixa o volume,
deixando reprises de The Office 59 passando baixinho ao nosso
redor.

Comida empilhada no meu prato, mastigo o interior do meu


lábio. — Obrigada por isso, Noah.

— Julieta, olhe para mim.

Meus olhos deslizam e ele sorri.

— Pare de me agradecer como se eu estivesse fazendo um


favor. Não estou. Eu te vi sentada lá com Brady no segundo em
que entrei pela porta. Entrei especificamente para encontrá-la, se
realmente quer saber, e eu estava prestes a me aproximar para
perguntar se queria ficar um pouco quando vi Mason e Chase
escorregarem atrás de você. Tudo o que fizeram foi me vencer na
linha de partida. — Olha de volta para sua comida, e então, como
se decidisse seguir seu último pensamento, me bate com um
sorriso malicioso. — Parece que ganhei.

Minha mão vem para cobrir minha boca enquanto eu rio, e


desvio meus olhos para os dele. — Então o que está dizendo é...
estou olhando para um vencedor?

Ele se vira para mim com a boca cheia de comida e pisca,


satisfeito com minha palavra de escolha.

59
-Um seriado de comédia.
Tonta, me concentro na minha refeição.

Parece que Noah me entende. Acho que gosto disso.

Assim que comemos, Noah joga nossos pratos no lixo e volta


para se juntar a mim no sofá.

Ele fica quieto por um minuto, e quando me viro para encará-


lo, ele faz o mesmo.

— Nunca esteve aqui, não é? — Pergunta.

Suspiro e me recosto nas velhas almofadas. — Não. Agora que


mencionou, me sinto uma idiota. — Balanço minha cabeça. — Eles
definitivamente ficarão magoados quando descobrirem que vim
aqui hoje.

— Estavam esperando você vir?

— Mason e Brady me convidaram tantas vezes, mas


simplesmente... não.

Ele me olha. — Chase não pediu? Implorando para vir?

Puxando uma respiração completa, digo — Não, ele não. Não


consigo decidir se ele está me dando o espaço que deixei claro que
preciso ou se está dando a si mesmo, mas de qualquer forma,
estou meio cansada disso agora. — Olho para baixo, arranhando
o esmalte com glitter nas minhas unhas. — Quero poder sair,
assistir filmes e não fazer absolutamente nada além de estar com
meus amigos novamente. Burra, certo? Já que sou eu que estou
estragando tudo para começar.
— Você não está estragando nada se estiver fazendo o que
parece certo.

— Essa é a coisa — digo baixinho. — Não parece certo.


Necessário, mas não certo. Quando brincávamos crescendo, tudo
acabava no dia seguinte. Nós simplesmente não ficávamos bravos
um com o outro, sabe? Nenhum de nós. Aborrecido, irritado, o
tempo todo, mas não com raiva, como se estivesse com raiva de
verdade. É uma merda, e não viemos para a faculdade juntos para
que isso acontecesse durante o nosso primeiro semestre.

Noah não diz nada a princípio, mas quando olho para ele, fica
mais confortável. — Como isso aconteceu?

Meu olhar cai para onde seu joelho coberto de jeans agora
toca o meu, e um pequeno sorriso puxa meus lábios. Ele não
percebe, está simplesmente relaxado, e percebo que também
estou. Meus sapatos estão fora, minhas pernas dobradas debaixo
de mim, e meu corpo se acomodou nas almofadas como se tivesse
sentado neste lugar mil vezes.

Parece que sim.

Olho para cima e encontro seus insanos olhos azuis me


examinando, e por algum motivo, sinto a necessidade de desviar o
olhar.

— Ari?

— Hum?

Noah sorri. — Como todo o seu grupo acabou na Avix?


— Oh. — Eu rio. — Certo. Então, nossos orientadores no
ensino médio pensaram que estávamos loucos porque,
literalmente, no primeiro dia do primeiro ano, fomos ao escritório
em grupo, com anotações de nossos pais na mão, e lhes contamos
nosso plano, pedindo horários que ajudariam a fazer isso
acontecer. Fazíamos aulas de verão todos os anos para progredir,
e para o caso de termos dificuldades mais tarde. Uma vez que
concordamos em fazer isso acontecer, começamos a restringir as
escolas com base no que todos queriam. Nenhum de nós queria
deixar a Califórnia, então isso apertou a lista, mas mesmo assim
nos inscrevemos fora do estado, apenas por precaução. Sabíamos
que os rapazes entrariam em qualquer lugar, então procuramos a
melhor equipe versus o melhor programa de desenvolvimento
infantil para Cameron. No final, escolhemos a Avix.

— Eu não ouvi seu nome aí.

— Você está certo, não ouviu. — Eu sorrio. — Não me


importava para onde íamos.

— Mesmo? — Ele está mais curioso do que surpreso. — Nem


uma única estipulação?

— Não.

O canto da boca de Noah sobe. — Por que tenho a sensação


de que há uma razão por trás disso que está escolhendo não me
contar.

— Porque há. — Eu rio. — É muito embaraçoso para


compartilhar, mas admito que fiz pressão por uma casa boa fora
do campus, mas meu pai derrubou isso tão rápido. Depois que os
rapazes tiveram sua reunião com o diretor de atletismo, que era
meio idiota, a propósito, descobrimos que estava fora de questão
de qualquer maneira. Honestamente, o dormitório de nível três que
marcamos é perfeito de qualquer maneira.

Noah sorri, assentindo.

— E você?

— Quanto a mim?

— Como Noah Riley, quarterback superstar, acabou em


Oceanside?

— Haha — brinca, enquanto desvia o olhar, apenas para virar


de volta.

No começo, me pergunto se ele não vai compartilhar, mas


então acena com a cabeça.

— Sou daqui de perto, fiquei por aqui para ficar perto da


minha mãe.

— Aww — murmuro.

Noah dá um olhar brincalhão, e não posso deixar de rir.

— Amo isso. É basicamente por isso que queríamos ficar


também. — Eu me inclino para trás, envolvendo meus braços em
volta dos meus joelhos dobrados. — Ela é a verdadeira Master
Chef, não é? Eu sei que me disse que ela te ensinou a cozinhar,
mas aposto um dólar que as receitas que usa são dela.

— Um dólar inteiro, hein?


— O que posso dizer, sou uma universitária falida. — Eu dou
de ombros.

Noah ri, mas é solene, e não posso deixar de procurar mais


em seus olhos.

— Você e sua mãe, são próximos. — Meu tom é suave.

— Sim — admite. — Ela é tudo que eu já tive.

— Aqui em Oceanside?

Seus olhos encontram os meus. — Qualquer lugar.

— Mesmo?

Ele concorda.

— Sem irmãos... um pai de longa data, talvez?

— Não, também não. Sem primos, tias, tios, nem mesmo


avós. Somos apenas nós.

Uma pequena dor se forma em minhas costelas. — Isso é


triste.

Ele dá de ombros, desviando o olhar. — Normal para mim.


Eu nunca tive mais do que ela, então nunca havia nada a perder.

— Deve sentir falta de vê-la todos os dias. Deve se sentir


sozinho aqui.

O piscar de Noah é lento, mas ele não diz nada. Agora que
penso nisso, nunca o vejo com ninguém. É sempre ele sozinho.
Eu me pergunto se ele gosta assim?

Não consigo imaginar a vida sem meus amigos e familiares.


Seria tão difícil se eu não tivesse os braços abertos para cair
quando a vida ficasse difícil.

Quem ele tem em sua vida para pegá-lo se cair?

— Então, você e Cameron — ele muda de assunto. — Vocês


duas sempre foram melhores amigas?

— Desde o nascimento, sim. — Eu rio.

— Ela vem aqui com frequência.

— Sim. — Concordo. — Confie em mim, eu sei. Ela se certifica


de que eu esteja ciente.

— Por que não vem junto com ela da próxima vez, e venha até
aqui comigo — ele sugere.

Minhas bochechas ficam quentes, e ele ri.

Nós nos encaramos por um momento, e seu sorriso


desaparece lentamente. Sua língua escorregando para molhar
seus lábios, chamando minha atenção para sua boca, mas apenas
por um segundo.

Empurro para meus pés. — Eu devo ir.

— Sim... vou levá-la.

Eu sorrio. — Eu posso andar, Noah. Estou apenas do outro


lado do campus.
Ele franze a testa, ficando ereto, forçando meu queixo a
levantar para encontrar seu olhar. — Você realmente acha que eu
te mandaria descer aquelas escadas, em uma casa de vinte ou
mais caras, e te deixaria sair sozinha?

— Você percebe que meu irmão e meus melhores amigos


estão entre eles, certo? — Sorrio e seus olhos se estreitam mais,
me fazendo sorrir. — Vamos. Acompanhe-me, e se Mase não estiver
por perto, te levo nesse passeio.

— Que tal planejarmos que eu leve você, mas ainda pode ver
se Mason está por perto para se divertir?

Minhas bochechas ficam quentes, e eu rio, levando-nos


escada abaixo. — Vamos, Romeu.

No fundo, Noah estende a mão por cima do meu ombro e


destrava a fechadura, empurrando a porta aberta diante de mim.

Alguns rapazes grandes acenam para Noah enquanto saímos,


sorrindo na minha direção como se soubessem exatamente o que
estávamos fazendo. Seus sorrisos são muito parecidos com os de
Brady - uma mistura de papai orgulhoso com um pequeno toque
travesso. Enquanto Noah faz uma pausa para responder a uma
pergunta de um deles, passo pela entrada e entro na sala comum,
permitindo que meus olhos viajem pelo grande espaço.

Há uma TV em ambas as paredes, uma mesa de sinuca no


centro e dois sofás encostados em lados opostos. As paredes são
de um azul profundo, um logotipo branco gigante do Avix Sharks
pintado no centro. A lareira tem troféus - espero que estejam
colados - espalhados ao longo dela, com algumas latas de cerveja
abandonadas, aumentando a realidade de uma casa cheia de
universitários.

Eu sorrio, vendo o lugar pela primeira vez. Isso é exatamente


o que imaginei, talvez até um pouco mais limpo do que pensava.
Deslizando minha mão pela moldura da entrada, tampinhas de
garrafa de cerveja aleatórias presas ao longo das bordas, procuro
Mason na área, mas não vou muito longe antes que uma voz
entrecortada venha atrás de mim.

— Pensei que fosse sair para jantar?

Eu me viro, ficando cara a cara com Chase.

Minha respiração congela na minha garganta, e corto um


rápido olhar para Noah, que ainda está falando com seu
companheiro de equipe. Eu me forço a olhar de volta para Chase,
rezando para que minha voz fique firme enquanto digo — Noah
cozinhou para mim.

Chase zomba. — Sim, aposto que ele decidiu te levar para o


quarto dele no último minuto.

Minha cabeça puxa para trás. — Está realmente agindo assim


agora?

Chase se aproxima, sua voz um sussurro tenso para apenas


eu ouvir. — O que esperava, Arianna?

Meu peito aperta com raiva, mas por baixo disso está a dor,
a picada. Eu pisco, balançando a cabeça. — Nada. — Corto um
rápido olhar para Noah, que ainda não viu Chase, mas agora está
se movendo em minha direção. — Não espero nada de você, Chase.
Aprendi minha lição.

As sobrancelhas de Chase erguem, mas não diz nada.

Felizmente, Mason vira o corredor no próximo segundo, seus


olhos se estreitando enquanto observa nosso desajeitado
confronto.

— Ari? — Meu irmão vira seu olhar apertado para Noah


enquanto ele se aproxima de mim. — O que está fazendo aqui?
Veio conferir o lugar? — Pergunta-me.

Eu não desmembro tudo, em vez disso, fico com as respostas


mais simples. — Estava procurando por você.

Ele se aproxima, apoiando o cotovelo na parede para bloquear


meu rosto dos outros, linhas de preocupação se formando em seu
rosto, mas balanço a cabeça.

Estou bem. Prometo.

Mase assente.

— Pode me levar para casa?

— Sim, vou pegar minhas chaves — diz, bem quando uma


garota loira se enfia sob o braço que apoiou. Assim que olha para
baixo, ele sorri.

— Quer saber, está tudo bem — saio correndo, uma


necessidade repentina e desesperada de fugir se aproximando.
— O que, não. — Ele gira o ombro, essencialmente dando a
garota o fora. — Está tudo bem. Claro que vou levá-la.

— Eu a levo. — Chase começa a caminhar em direção à porta,


como se suas palavras fossem definitivas, mas meu irmão dá um
pulo para frente.

— Não, eu estou bem. — Mason balança a cabeça, dando à


garota um rápido olhar.

Eu lhe ofereço um sorriso de desculpas, olhando para Noah


enquanto ele se aproxima, e aquela respiração que estou
segurando rapidamente se transforma em um caroço que engulo.
Os nervos formigam ao longo da minha pele conforme espero,
sabendo o que está por vir e não tendo ideia de como isso vai se
desenrolar.

— Eu a levo, cara. — Noah sorri fácil. — Queria levá-la de


qualquer maneira. Disse-lhe antes de entrarmos aqui.

Meu estômago aperta com sua admissão direta, e espero meu


irmão responder.

Mason vira o olhar na minha direção, seu cenho franzido e


em mim, mas então sorri, virando sua atenção para Noah. —
Aposto que ela ficou vermelha brilhante, hein?

Minha boca fica aberta, e Noah ri, mas não confirma. Ele
guarda esse conhecimento para si mesmo.

— Tem certeza, mano? — Mason estende a mão e eles batem


palmas como os rapazes fazem.
— Positivo. — Noah se vira para mim, apontando para a
porta.

Enquanto me preparo para passar, meus olhos deslizam para


Chase. Ele fica parado com a mandíbula firme e apontada para a
frente, mas não diz nada.

Por que diria?

Noah me leva para casa, me dá boa noite e vai embora.

Deito-me, mais um dia arruinado quando as lágrimas que


não consigo conter começam a cair.
Arianna
— Como está tão quente, porra? — Cam choraminga
enquanto desprende das arquibancadas e começa a empacotar
seus livros.

— Sentar nesses assentos de plástico não ajuda exatamente.


Eu sou uma pilha de suor.

— Devemos pedir aos rapazes colocarem um dossel para nós.

— Porque eles têm tempo para fazer isso antes do treino.

Ela ri, derrubando meus pés do encosto da cadeira a minha


frente, para que possa passar. — É verdade, mas podemos falar
sobre por que ainda está tão quente e estamos oficialmente em
outubro? Quero dizer, que diabos é essa merda? Estamos no sul
da Califórnia, pelo amor de Deus.

— É o metal, a relva e o sol. Sabe disso. Entre na sombra e


cairá uns sólidos quinze graus.
— É por isso que sugeri o dossel. — Ela sorri. — Tudo bem,
tchau. Meu professor quer que eu conheça hoje alguns pais na
saída no centro de desenvolvimento infantil.

— Estará em casa esta noite?

— Sim. Até mais.

Eu aceno e coloco meu livro no meu peito, fechando meus


olhos para assar no brilho suave do sol.

Não tenho certeza de quanto tempo se passou quando o estalo


de chuteiras contra o cimento chega aos meus ouvidos. Eu protejo
meus olhos com minha mão e aperto os olhos para a figura que se
aproxima.

— Está tentando pegar uma queimadura de sol?! — Noah


grita de algumas fileiras abaixo.

Eu ainda não consigo ver seu rosto, mas sento na minha


cadeira com um sorriso. — De jeito nenhum, o sol e eu, nos
conhecemos a muito tempo. Ele é bom para mim.

Noah ri, e enquanto sobe os próximos dois degraus, ele


finalmente aparece. Está com o rosto vermelho, pingando de suor
e... ridiculamente atraente.

Ele sorri, passando a mão pelo cabelo escuro e liso, e os


destaques suaves feitos pelo sol se mostram.

— O que está fazendo aqui em cima, veio me ver? — Provoca.

— Ah! Desculpe, mas faço isso há anos. Acho que você é


simplesmente um bônus.
Suas ombreiras levantam e ele pisca. — Imaginei isso,
considerando que vi você aqui semanas atrás.

— Você viu?

Ele apenas sorri, então bato no livro que cobre meu peito. —
Eu e Cam começamos a frequentar os treinos no ensino médio, por
isso o trouxemos para cá assim que chegamos aqui.

— Legal. — Ele concorda.

— Terminaram por hoje? É um pouco cedo. — Espio meu


telefone.

— Sim, dobramos no filme esta manhã, sala de musculação


logo depois, então foi mais um dia de corrida hoje. — Ele pega a
toalha enfiada na parte de trás de suas almofadas e a enxuga ao
longo de suas sobrancelhas. — Contudo, abriu o apetite.

Eu sorrio. — Isso é certo?

— Isto é. — Ele inclina a cabeça. — Quer me ajudar a


cozinhar de novo esta noite?

Eu deixo cair meus pés, baixando meu livro para o meu colo.
— E que ajuda eu fui para você da última vez?

— Você me ajudou a comê-lo. — Seus lábios se curvam para


um lado.

Uma risada escapa de mim, aparentemente um pouco alta


demais, porque chamo a atenção de vários de seus companheiros
de equipe enquanto se dirigem para o túnel, e claro, Brady e Chase
estão entre eles. Ambos param, seus olhos disparando para cima
e para onde estamos. Subconscientemente, afundo na minha
cadeira.

Noah percebe meu movimento e olha por cima do ombro,


balançando a cabeça enquanto se vira para mim. Eu quero me
encolher, envergonhada por minha reação infantil, mas quando
olho para Noah, nem um pingo de julgamento passa por ele, muito
pelo contrário.

O sorriso suave de Noah me faz soltar a respiração, o brilho


de compreensão em seu olhar me levando a admitir — Odeio isso.

Os lábios de Noah se contraem. — Eu sei que odeia.

— O treino acabou, Arianna! — Chase grita ainda parado no


mesmo lugar, mas meus olhos estão em Noah, que vira a cabeça
para escondê-lo, mas não antes de eu ver a carranca que deslizou
sobre seu rosto.

Forçando-me a olhar para o túnel, vejo Mason alguns metros


atrás. Está seguindo atrás de sua equipe, puxando as ombreiras
de seu corpo enquanto caminha, e quando olha para cima, vê
Chase parado ali. Os olhos de Mason seguem sua linha de visão
para Noah e eu. Ele franze a testa, hesita por uma fração de
segundo, mas então cutuca o ombro de Chase por trás para fazê-
lo se mover.

Eles desaparecem da vista com seus próximos passos dados.

Um som me escapa, e fico de pé, incapaz de olhar para Noah.

— Eu não acho que serei uma boa companhia esta noite.


Vamos remarcar?
— Vamos remarcar. — Noah fala sem um pingo de desagrado.
Então, por que um sentimento pesado de decepção me pesa?

Só mais tarde naquela noite, quando estou vasculhando o


freezer, percebo que a decepção que senti mais cedo... era minha.

— Deus, droga — Cam fala lentamente. — Aquele homem é


impecável.

Suspiramos, olhamos uma para a outra e começamos a rir.

— Sério, Ari. Precisa pular tudo isso.

Eu sorrio, observando Noah fazer o mesmo, mas o dele é


direcionado a uma linda garota loira que está andando em sua
direção com o que parece ser um prato de biscoitos.

Algo no meu estômago se agita, trazendo uma pequena


carranca ao meu rosto.

— Quem é aquela? — Cam pergunta.

Eu dou de ombros, notando a maneira graciosa com que ela


se move, como a primeira bailarina flutuante. — A Bela
Adormecida para seu belo príncipe.

— Mm-mm, não. Entendeu tudo errado.


Erguendo uma sobrancelha brincalhona, me viro para ela. —
Diga?

— Claro, o homem pode parecer um príncipe, e a propósito, é


o homem da Cinderela que tem cabelos escuros, não a garota doce
BA. — Eu rio, e ela continua — De qualquer forma, sim, ele é todo
bonito e merda, mas por baixo de tudo, o lindo é um animal. Tem
que ser. Ele é muito bom para ser manso.

Cameron se senta sobre os cotovelos, sorrindo para mim. —


Aposto que ele ganha vida no quarto.

— Cale-se. — Eu rio.

— Não estou brincando. Aposto que ele se transforma em


outro homem, dando aquela vibe de melhor dos dois mundos. —
Ela pensa um minuto. — Sim. Ele não faz sexo; adora foder.

Eu fico boquiaberta, e simultaneamente, rimos novamente.

— Muito bem, chega antes que ele ouça você.

— Estou lhe dizendo, ele é uma fera, e você é a coisa mais


próxima da Belle60 que eu já vi.

— Você é uma idiota.

60
-Bela em francês.
— Vamos perguntar. — Ela rapidamente fica de pé e meus
olhos se arregalam, minha mão estala para envolver seu pulso,
mas ela abre a boca antes que eu possa empurrá-la de volta.

— Ei, Noah! — Grita, e meu rosto se transforma em um


tomate enquanto ele e a bailarina voltam seus sorrisos para nós.
— Pergunta rápida, mas sem perguntas, apenas uma resposta,
sim?!

Noah muda os olhos para mim rapidamente, em seguida,


volta para Cam. — Vamos ouvir!

Cameron dá uma piscadela para mim por cima do ombro,


voltando-se para Noah com a mesma rapidez. — Bela Adormecida
ou a Bela e a Fera?

Ele olha na minha direção, minha pele se inflama enquanto


seu olhar queima meu rosto, tentando decifrar o absurdo de Cam.
Rapidamente, quase imperceptivelmente rápido, os olhos de Noah
cortaram para a garota ao seu lado, e então se voltam para mim.
Agora posso estar sem entender nada, mas também posso jurar
que ele segue o comprimento do meu longo cabelo castanho até
que desapareça sobre meu ombro esquerdo.

Eu puxo uma respiração involuntária enquanto ele vira seu


sorriso para Cam.

— Vamos. Não me obrigue a dizê-lo.

Sua resposta é muito, muito Noah. Meus lábios se contraem.

Satisfeita, Cam cai de volta, sussurrando entre os seus


dentes — Percebe que ele pegou totalmente à direita, tipo, pegou o
que eu estava lhe dizendo?
— Pare de enrolar, você não tem certeza — sussurro.

— Nossa, Ari. É fofo que está fingindo o contrário. Agora, seja


discreta, mas olhe para ele.

— Não.

— Por favor — implora. — Aposto um batom que ele está a


sua espera.

— Está bem, mas posso escolhê-lo.

— Combinado.

Eu me sento, correndo meus dedos pelo meu cabelo para


tentar parecer indiferente enquanto olho em sua direção.
Infelizmente para mim, congelo, visivelmente, e o homem... que
está totalmente olhando para mim, pega. Sempre um cavalheiro,
lambe os lábios para esconder seu sorriso, e minha pele ameaça
me entregar, mas então percebo que não é tudo.

— Oh meu Deus, sua vadia, ele está vindo! Com a garota!

A cabeça de Cameron cai para trás enquanto ri. — Isso está


cada vez melhor. Ele está prestes a limpar a merda, observe.

— Cale-se.

— Vai me agradecer.

— Você é uma idiota.

— Você me ama.
— Ei.

Nossas cabeças disparam em direção aos recém-chegados,


um grande e gordo sorriso falso e envergonhado estampado no meu
rosto, um legítimo entretido no de Cam. — Ei! — dizemos em
uníssono, e luto contra a vontade de bater em suas costelas com o
cotovelo.

— Cameron. — Ele mal olha para ela.

— Noah. — Ela se recosta, apoiando-se nas palmas das mãos.

O cabelo escuro de Noah está quase todo escondido sob o


capuz, seus olhos azuis brilhantes contra a cor cinza urze.
Lentamente, empurra-o para fora de sua cabeça.

— Esta é minha amiga Paige. — Ele acena para a linda


criaturinha ao seu lado.

Eu não tenho que olhar para minha melhor amiga para saber
que ela sorri com satisfação. Levanto minha mão em uma tentativa
de acenar, mas ela dá um passo à frente, me envolvendo em um
abraço leve e inesperado, antes de tomar seu lugar novamente,
bem ao lado de Noah.

— É tão bom conhecê-la, Ari. — Ela cruza as mãos atrás das


costas. — Ouvi muito sobre você.

Minhas sobrancelhas se erguem e procuro as palavras certas,


mas meu cérebro está travado, então rio para disfarçar meus
nervos.

Olho para Noah e ele me dá uma piscadela brincalhona.


— É um prazer conhecê-la, Paige.

Paige sorri, mostrando mais perfeição. — Devemos nos


encontrar algum dia.

Ah...

Eu sorrio.

Ela se vira para Cam. — É um prazer conhecê-la também,


Cameron. Odeio sair imediatamente, mas os domingos são meio
loucos para mim.

Meus olhos disparam em direção a ela.

Então, tanto ela quanto Noah tem domingos “ocupados”?

Noah limpa a garganta. — Vou levá-la até o estacionamento.

Paige sorri, acenando enquanto começam a se afastar. —


Espero vê-la novamente, Ari.

Mantemos nossos sorrisos no lugar até que eles


desapareçam, e então nos viramos uma para a outra. Eu a encaro.

Cam torce o nariz. — Talvez ela seja gay?

Eu gemo e fico de pé.

— Ele gosta de você, Ari — ela me diz.

— Cala a boca, Cam. — Eu me afasto.

— Não aja como se não se importasse! — Ela grita.


Eu a chamo, indo até a fileira de refrigeradores comunitários,
e pego uma água.

Sendo domingo, esta noite deveria ser o jantar em família,


mas como o time teve uma semana de despedida esta semana, a
casa de futebol realizou o que nos disseram ser o churrasco anual.
Convidam familiares e amigos e qualquer outra pessoa que não
conseguem ver regularmente, e é uma festa gigante no estilo
potluck 61 na beira do campus. Felizmente, os rapazes estavam
contando isso como nossa data de refeição.

Depois de alguns pequenos goles, vou até meu irmão, que


está cuidando de uma das muitas churrasqueiras. — Ei irmão.

— Ei irmã. — Ele me olha, em seguida, de volta para o frango


que está virando. — Divertindo-se?

— Estou. — Eu olho ao redor.

— Bom. — Ele pega sua cerveja e toma um gole, me olhando


por cima do gargalo da garrafa. — Você está bem?

Minha boca se abre, mas a fecho, oferecendo um pequeno


aceno de cabeça.

— Tem certeza disso? — Pergunta.

61
-Potluck party = festinha em que cada convidado traz um prato de doce ou salgado.
— Eu... — suspiro, cedendo um pouco. — Tive alguns meses
difíceis, mas estou me sentindo melhor agora.

— Melhor, ou um pouco melhor?

— Depende do dia.

Suas feições apertam com a minha honestidade, e seus


ombros caem. Seus olhos castanhos procuram os meus. — Se algo
estivesse errado, se precisasse de mim, você me diria, certo?
Mesmo que eu possa ser um idiota às vezes, nunca deixaria de vir
a mim se precisasse?

— Se eu precisar de você, quando precisar de você, não


hesitarei, sabe disso. — Respondo-lhe calmamente e com
sinceridade, e o canto da sua boca levanta. — Mas talvez seja
preciso dizer que, às vezes, haverá coisas que não vai querer ouvir,
e essas serão as coisas que decido não compartilhar.

Sua mandíbula aperta, e ele desvia o olhar, mas quando seus


olhos voltam para os meus, são suaves. — Isso é justo. —
Concorda. — Eu te amo, sabia. Mais do que ninguém.

Eu sorrio e me inclino para abraçá-lo. — Sim, Mase. Eu sei.

A tristeza em meu tom é acidental, mas ele a ouve. Meu irmão


simplesmente não entende, e é por isso que está frustrado comigo.
Ele não tem ideia de que cavou um buraco do tamanho de
Hoover Dam62 entre Chase e eu porque não lhe disse que pulamos
sem olhar. Ele sabe alguma coisa, mas não tem a menor ideia de
quão profundo é esse algo. Em sua mente, tudo o que faz
relacionado a mim vem de proteção, mas o que está começando a
entender muito, muito lentamente, é que não somos mais crianças.
Algumas coisas ele não pode e não deve me proteger.

Independentemente disso, apenas um tolo jogaria a culpa em


Mason. Ele pode ter sido o único a apagar o fósforo, mas foi Chase
quem o jogou no oceano.

Essa foi uma decisão que ele teve que tomar, para me afastar
ou me puxar para mais perto, e ele decidiu empurrar.

E tudo bem.

Se houvesse uma coisa que gostaria que ele e eu tivéssemos,


seria a oportunidade de descobrirmos juntos que não deveríamos
ser. Talvez então eu pudesse ter trabalhado até o ponto de
entender, sem toda a bagunça.

É uma droga se machucar por um homem que nunca teve.

A dor dentro de mim se dá a conhecer ao acaso, e essa dor


vem de um amor que nunca viveu. Uma que nunca teve a chance
de florescer. É esse sentimento de ser roubada que dói mais do que

62
-A Barragem Hoover ou Represa Hoover é uma represa localizada entre os estados de Nevada e
Arizona, nos Estados Unidos, no rio Colorado.
qualquer coisa neste momento, mas se há algo positivo para tirar
dessa experiência, é que o crescimento só pode vir da mágoa.

De que outra forma se deveria descobrir o que realmente


quer?

O que se recusa a deixar ir? O que merece em um parceiro?

Eu não acho que se possa saber sem a dor de forçar sua mão.

Eu quero tudo de alguém.

Quero tudo de alguém e absolutamente nada menos.

Chase não poderia me dar isso e talvez eu devesse ser grata


por ele ter percebido antes que as coisas ficassem mais profundas.

Talvez essa seja a minha maneira de encontrar uma desculpa


para um movimento de merda.

Eu suspiro, dando um passo para trás.

— Ari — Mason chama, sentindo minha retirada. — Sinto


falta de estar com você. Fique?

Com um sorriso esmagado, envolvo meus braços em volta do


meu irmão, e quando olho por cima do seu ombro, o universo
decide me testar.

Meus olhos travam com os castanhos dourados.

— Eu não vou a lugar nenhum. — Afasto-me, sacudindo a


bandeja de carne cozida. — Devo levar isso para as mesas?
— Se puder. — Mason acena com a cabeça, voltando-se para
a grelha.

No meu caminho em direção às fileiras de comida, vejo os


olhos de Chase do outro lado do quintal mais uma vez, mas desta
vez, sou eu quem desvia o olhar.

Uma mão desliza a minha frente, empurrando uma tigela de


macarrão para fora do caminho, e coloco a montanha de frango
sobre a toalha de mesa.

— Então seu irmão pegou o gene da culinária — Noah brinca.

Eu o cutuco com o braço, apertando as bordas do papel


alumínio. — Quão difícil pode ser virar o frango?

— Quem saberia que isso é tudo o que haveria para se fazer


churrasco? — Brinca. — Vire-o e está bem.

Cruzo os braços e o encaro com um olhar brincalhão.

Noah ri, seu olhar passando rapidamente na direção que


pretendo ignorar. — Eu tenho que ir, mas queria me despedir
primeiro.

— Não tinha que voltar só para me dizer isso. Poderia ter me


enviado uma mensagem.

Ele balança a cabeça, seus olhos azuis procurando meu


rosto. — Não tenho muito tempo livre nos fins de semana, mas
talvez queira fazer alguma coisa durante a semana? As aulas de
culinária ainda estão na mesa.

— Isso é porque ainda não viu o quão ruim eu sou.


— Estou levando isso como um sim. — Ele sorri. — Então,
esta semana, certo?

Eu mordo um sorriso, assentindo.

— Bom, porque eu continuaria perguntando até que você


dissesse sim — acrescenta, me fazendo rir.

Noah olha para mim mais uma vez enquanto se arrasta de


volta. — É melhor eu ir.

— Eu quero que você fique63.

Ele congela por um segundo, antes de um sorriso brilhante


tomar conta de seu rosto e ri, forçando o meu a escapar. — Sua
jukebox toca todos os gêneros.

— Sim.

Noah dá um passo em minha direção, e quando se aproxima,


seus olhos, um pouco mais escuros do que o azul normal, seguram
os meus, e de repente, não tenho tanta certeza se estou respirando.

Está confirmado que não estava quando um suspiro baixo


enche minha garganta à medida que ele pressiona os lábios no
ponto mais alto da minha bochecha. Deslizando ao longo da minha
pele, talvez por engano, conforme se afasta, mas de qualquer
forma, o calor de seus lábios queima todo o meu pescoço.

63
-I want you to stay – parte da música “Stay” de Rihanna.
Noah aperta suavemente meu bíceps, e então ele se afasta.

Meus olhos se recusam a deixar a parte de trás de sua cabeça,


e só o fazem quando minha melhor amiga aparece e o quadril me
toca.

Ela abre um saco de batatas fritas e joga uma em mim. —


Bela Adormecida minha bunda.
Arianna
— Muito bem, vamos ouvir.

Noah sorri, olhando enquanto se mexe. — O que quer saber?

— Seus segredos. — Faço uma pausa para um efeito


dramático. — Porque não tem como preparar esse molho na meia
hora que levei para deixar minhas coisas e chegar aqui.

— Tem razão. — Ele acena com a cabeça, colocando a colher


de madeira longa no balcão. — Não o fiz — admite quando passo
por ele, levanta a colher e a coloco de volta em um prato de papel.
— Consegui em dez.

Minha cabeça estala em seu caminho. — Desculpa, o quê?

Ele sorri e começa a andar de costas para a sala, então, assim


como quer que eu faça, o sigo.
— Está bem, Gordon Ramsay64. — Coloco nossas bebidas na
mesa e descemos para os lugares que nos acostumamos a comer
nas últimas segundas-feiras. — Diga-me como.

— Desculpe, não posso fazer isso. — Ele balança a cabeça,


não esperando mais que me sirva, mas sim servindo para mim.

Estendo a mão e coloco um pedaço extra de frango no meu


prato. — E porque não?

Os olhos de Noah deslizam em minha direção, e ele sorri. —


A única maneira de aprender é fazendo-o comigo.

— Isso soa muito como coerção.

Ele levanta uma sobrancelha escura. — Foi preciso coerção


para trazê-la aqui esta noite?

Eu coloco minha língua coberta de comida para fora e Noah


balança a cabeça e ri.

Depois de algumas mordidas e sintonizar a cena em


Superbad 65 , onde McLovin obtém sua identidade falsa pela
primeira vez, me viro para Noah. — Então, posso escolher o menu?

— Só se você revezar cozinhando.

64
-Gordon James Ramsay OBE, é um chef de cozinha, youtuber, autor e personalidade televisiva
britânico nascido na Escócia.

65
-Filme comédia/adolescente, no Brasil “Superbad – É hoje”.
— Sim, claro, se quiser uma noite de Top Ramen66 com um
lado de Takis67.

— Acontece que eu gosto de ramen.

— Grande mentiroso.

— Não.

— Como um cara que cozinha assim pode gostar de Top


Ramen?

— Já temperou seu macarrão? Um pouco de limão, um pouco


de Tapatio68 e coentro?

Fico boquiaberta, e ele ri, acrescentando — Que tal com um


ovo cozido, molho de soja e siracha69?

Eu pisco dramaticamente, e ele joga o guardanapo para mim.

— Muito bem, venceu. — Aceito a derrota. — Você está no


menu, mas precisamos de uma noite de macarrão em algum lugar.
Eu quero aprender tudo sobre isso, desde coisas de ramen pobres
a polidas.

66
-Top Ramen é uma marca americana de macarrão instantâneo.

67
-Salgadinho tipo doritos, fandango, e outros.

68
-Molho apimentado.

69
-Sriracha é um tipo de molho de pimenta.
Noah assente. — Eu quero te ensinar.

— Boa. — Empurro meu queixo, e ele sorri. — Vamos começar


no domingo?

Quando ele franze a testa, acrescento rapidamente — Ou,


quero dizer, sempre que tiver tempo. Sabe, depois da temporada
talvez.

Pare de falar, Ari.

— Eu não quero esperar até depois da temporada, Julieta. —


Noah tenta esconder sua diversão enquanto olha na minha
direção. — Não posso aos domingos, só isso.

Porque você e a bailarina estão ocupados neste dia...

Esse pensamento tem uma carranca ameaçando rastejar


sobre meu rosto, mas consigo segurar.

— Que tal tornarmos estas segundas-feiras oficiais e


adicionarmos as quartas-feiras? — Pergunta. — Estes são os mais
fáceis para mim, já que tenho treino de manhã e minhas aulas são
feitas antes do almoço. E você?

— Sim.

Ele olha para mim e balanço minha cabeça, fechando meus


olhos por um momento. — Quero dizer, o mesmo. — Não, espere.
Eu me viro um pouco para ele. — Não, não é o mesmo. Eu não
tenho prática, obviamente, mas sim, esses dias são bons para mim
também.
Noah deixa cair seu sorriso, e me pergunto o que diabos está
errado comigo.

Felizmente, consigo não divagar pelo resto da noite, e quando


Noah me leva para casa, a curta viagem é cheia de piadas e risos.

Na manhã seguinte, acordo encontrando um texto do nosso


menu “proposto”. Então, para oficializar, adiciono nossos planos
ao meu calendário e procuro por ele no Venmo70. Ele disse que iria
até a loja, então mando para ele uma pequena parte do meu
orçamento mensal de alimentação. Noah enviou de volta.

É quarta-feira, estamos quase terminando a primeira


refeição, por isso me esgueiro para o banheiro e coloco quarenta
dólares no zíper da frente de sua mochila. Estou de volta na
cozinha antes que ele tenha um momento para suspeitar.

Noah leva a colher à boca, onde minha atenção está presa


enquanto sopra a mistura quente. Uma vez satisfeito, de que não
queimará minha boca, ele traz a colher para mim. — Prove isso.

Seus olhos, estão tão diferentes, de um tom de azul que já vi


antes. Tão mítico e brilhante, mas tempestuoso, como o que se
esperaria encontrar no deus do mar. Talvez um pouco perdido e
solitário. Uma pitada de selvagem. É intrigante, a cor, ou talvez
seja a emoção que posso ler dentro deles.

Como posso ler a emoção dentro deles?

70
-É uma plataforma para transferir dinheiro para amigos e familiares.
— Julieta?

Eu pisco, deixando meu olhar apertado para a colher.

— Desculpe — murmuro, fechando meus lábios em torno


dele.

O molho saboroso preparado de chili caseiro com cranberry


atinge meu paladar, a explosão dos sabores me arrancando um
gemido satisfatório.

— Tão bom. — Deixo o molho descansar na minha língua por


um momento. — Sabe, se a coisa toda de ser profissional não der
certo para você, pode ser totalmente um chef.

Eu não tinha percebido que fechei os olhos, e quando olho


para Noah, ele arranca os dele da minha boca.

Ele rapidamente se vira para a pia, deixando cair a colher


dentro. — Acha que está bom assim ou precisa de mais pimentas
vermelhas?

Quando não respondo, ele olha, encontrando minha


carranca.

— Os pequenos flocos de pimenta…

— ...como pimentas de pizza?

Ele sorri e se vira para encostar o cóccix na pequena bancada.


— Estava prestando atenção quando colocamos as especiarias?

À comida? Não. Ao foco e tranquilidade que toma conta de você


quando cozinha? Sim. Sim, eu estava.
— Não?

Ele ri, me batendo de brincadeira com o pano de prato.

Estalo um ombro. — Achei que meu trabalho era entregar


coisas para você e dar opiniões honestas sobre gosto.

— Uh-huh, e como fará isso sozinha se fizer isso? — Provoca.

— Está bem, uau. Se eu lhe dei a impressão de que isso seria


uma possibilidade, sinto muito. — Sorrio, uma risada escapando.
— Basicamente, precisarei de você e suas habilidades dignas de
jaqueta preta71 para sobreviver longe de casa.

Esperava que ele risse ou brincasse de volta, mas não o faz.

O olhar de Noah flutua pelo meu rosto, e ele dá um aceno


quase imperceptível. — Acho que pode dar certo.

Eu não sei, por que, mas o calor se espalha lentamente pelo


meu pescoço.

Ele vê e ao invés de se virar e fingir que não viu, segue o calor


pela minha clavícula. Eu deveria desviar o olhar, mas não quero.
Quero vê-lo me observar. Quando seus olhos de meia-noite
pousam nos meus, algo no meu estômago se contorce. Emaranha
e puxa e me viro para enfrentar o balcão. Movo o saco com os

71
-Prêmio dado por Gordon Ramsay durante o programa “Hell’s Kitchen” na TV americana.
ingredientes do chili para o lado, colocando o cheio de coisas para
fazer a torta em seu lugar.

Meus membros estão pesados, confusos, mas respiro através


dele, engolindo além do nó na minha garganta.

— Juro por Deus, Noah, se esta torta estiver gostosa, não


haverá congelamento de nada. Comerei tudo hoje à noite, sem
brincadeira.

A risada de Noah é baixa e sensual, ou estou enlouquecendo


e preciso me controlar, não posso ter certeza.

Ele leva a panela quente de chili para a pequena mesa coberta


de descansos de panela, colocando-a ao lado da bandeja de
almôndegas. — Nós não estamos fazendo uma grande. Não
podemos congelar assim. Temos que fazer algumas pequenas.

— Muito bem, vamos fazer isso... mas também faremos uma


grande que possamos comer hoje à noite? — Eu sorrio como uma
psicopata, mostrando todos os meus dentes. — Podemos “vegetar”
até minhas leggings estarem muito apertadas.

Ele me olha por cima do ombro. — Quer ficar esta noite?

Meus olhos se arregalam. — Oh meu Deus! Eu... totalmente


me convidei para ficar. — Evito seu olhar. — Ignore-me, continue.
O que faço em seguida? Ajusto a temperatura do forno, certo? Esse
é o primeiro passo?

— Julieta.
Meus músculos ficam um pouco tensos. — Sim? — Alinho os
ingredientes, sem ideia de em que ordem devem estar, ou se isso
importa.

— Você é meu único plano — compartilha.

Não sei por que, mas de repente estou nervosa.

Noah sente isso, rindo enquanto vem para ficar ao meu lado,
chamando meu olhar para o dele. Ele levanta a mão, como se
estivesse prestes a estender a mão e me tocar, mas decide melhor,
abaixando-a rapidamente para a sacola ao nosso lado. Seus olhos,
porém, permanecem nos meus. — Quer ficar, comer até que suas
leggings estarem muito apertadas e eu tenha que te emprestar um
moletom? — Sua boca se curva mais alto. — Assistir a um filme
comigo?

— Sim. — Minhas sobrancelhas puxam. — Quero.

Ele balança a cabeça várias vezes antes de soltar um suspiro


e se virar para a pia para lavar o frango. Quem diria que isso era
uma coisa?

As empadas demoram mais que todas as refeições que


fizemos hoje, se contar o tempo de cozimento. Uma vez que a
grande está pronta para ser cortada, Noah pega os pratos, mas os
coloco de volta, enfio dois garfos no bolso do meu moletom e
carrego a torta inteira para a sala de estar.
Comemos direto da bandeja de papel alumínio descartável,
assistindo Bad Boys For Life72 em um silêncio confortável.

Em algum momento durante o filme, me aproximo de Noah.


Meu ombro agora está pressionado contra o dele, meus joelhos
dobrados descansando contra suas coxas grossas de jogador de
futebol.

Quando coloco minhas mãos no meu colo, ele chega atrás de


nós, pegando um cobertor. Coloca-o sobre minhas pernas sem
dizer uma palavra, deixando seu braço descansar ao longo do
encosto do sofá.

Afundo um pouco mais enquanto ele se acomoda nas


almofadas. Quando um suspiro baixo escapa dele, minha mente
começa a vagar.

Eu o observei de perto esta noite. O olhar pacífico em seu


rosto, a facilidade de seus movimentos, é tão óbvio que está em
casa enquanto cozinha, como se fosse uma segunda natureza para
ele. Isso me lembrou de estar em casa, observando meus pais na
cozinha.

Ele meio que me lembra de casa.

E isso... é meio assustador.

72
-Filme de ação com Will Smith, Martin Lawrence, Alexander Ludwig e Vanessa Hudgens. No Brasil
“Bad Boys para sempre”.
Arianna
Colocando o carro no estacionamento, Noah desliga o motor
e olha para mim. — Está me dizendo que nunca comeu sushi?

— Eu nunca comi sushi — admito, pegando minha bolsa do


chão.

Ele cai para trás contra o assento. — Como isso é possível?

— Sempre me deu nojo. — Dou de ombros. — Eu gosto de


peixe-gato.

— Peixe-gato cozido, suponho?

— Supõe correto. Há um lugarzinho que meus avós


costumavam nos levar chamado The Catfish House; íamos comer
peixe-gato frito, quiabo e hushpuppies 73 . Estava no campo, em

73
-Hushpuppies são salgadinhos típicos da culinária do sul dos Estados Unidos, pequenas bolas de
polme de farinha de milho fritas e tradicionalmente servidas para acompanhar peixe frito.
uma pequena cidade a caminho da baía. Mas sushi? — Meu nariz
franze, e estremeço. — Claro que não.

— Farei alguns para você, mudar de ideia.

— De jeito nenhum! — Finjo engasgar. — Caseiro soa muito


pior.

— Confie em mim, Julieta.

Eu suspiro, alegremente, um único pensamento passando


pela minha mente enquanto olho para ele, e isso é, cara, suave aos
seus olhos.

Um pequeno sorriso surge em seus lábios carnudos, e ele sai,


então o sigo, e como de costume, me acompanha até o meu
dormitório.

A porta, me viro para encará-lo. — Só para deixar claro, eu


deveria colocar minha cara de jogo, pronta para experimentar um
pouco de sushi em breve?

Ele sorri largo, olhando para o corredor.

Uma pequena mecha de cabelo cai sobre sua testa enquanto


faz isso, e antes que perceba o que estou fazendo, minha mão está
escovando de volta no lugar.

Noah não me diz não, não estende a mão parando minha, me


avisando que eu não deveria tocá-lo. Nem mesmo quando passo de
seu cabelo grosso e escuro, mas ao invés disso, permite que as
pontas dos dedos testem a sensação de sua pele da têmpora ao
maxilar.
Meus olhos levantam para encontrar os dele, e então a porta
atrás de mim é aberta. O riso flui da sala, mas silencia no mesmo
segundo.

Minha mão voa para baixo, e me viro, ficando cara a cara com
uma Cameron de olhos arregalados, colada em movimento. Brady
está atrás dela com o cenho franzido.

— Uh, oi — ofereço sem jeito, meu rosto esquentando, ainda


mais quando espio o lugar, vendo Mason e Chase lá dentro. Ambos
se levantam lentamente de seus lugares no sofá, combinando
olhares em seus rostos, e rapidamente olho de volta para Cam.

O sorriso de Cam desliza lentamente no lugar, e ela cruza os


braços. — Bem, inferno para o “oh”.

Eu puxo minha atenção para Brady, nervosa demais para


permitir isso em qualquer outro lugar.

Vamos, Brady. Ajude-me.

Suas feições se contorcem um pouco, mas se acalma,


oferecendo a Noah um pequeno sorriso. — Momento ideal. A
FunWorks está fechando os barcos para a temporada neste fim de
semana, então vamos dar uma volta. Parece que vocês estão livres
para se juntar a nós.

Olho para Noah por cima do ombro, e seus olhos saltam de


onde estão apontados do outro lado da sala para os meus e não
preciso adivinhar para saber o que – ou mais quem – ele estava
olhando. Sua expressão contém tantas perguntas naquele
momento, mas não diz uma palavra, esperando para ver o que sai
dos meus lábios.
Eu quero ir com meus amigos para passear nos Bumber
Boats74? Claro. Costumávamos fazer esse tipo de coisa o tempo
todo, mas quero ficar no limite e ansiosa a noite toda? Nem um
pouco.

Eu tive um dia tão bom. Merecia um bom dia e não permitirei


que ninguém o estrague desta vez. Então, talvez nós passemos o
passeio? Procuro o rosto de Noah.

O que eu faço?

Noah dá um leve puxão de queixo, me lembrando que não


somos os únicos aqui, e preciso mover minha bunda.

Certo, certo.

Eu dou um passo para dentro, passando por um atordoado e


silencioso Brady e Cam enquanto recuam, abrindo espaço para
nós entrarmos. Chegando para trás, agarro a camiseta de Noah e
o arrasto comigo.

— Ei, pessoal — aceno distraidamente para os outros, sem


sequer olhar na direção deles.

— Ei, cara — Noah diz atrás de mim, e só posso supor que


ele está falando com meu irmão quando diz — Harper — na
próxima saudação.

74
-Bumber Boats são botes motorizados que circulam pelo nosso lago. Como em um carro, você pode
mover o “volante” para realizar manobras e escolher a direção, optando por três velocidades
diferentes.
— Há muito tempo que não nos vemos — brinca Mason, e
uma risada fácil escapa de Noah.

Eles ficam quietos depois disso, e não tenho dúvidas de que


as sacolas penduradas nas mãos de Noah estão sendo
inspecionadas enquanto entramos na cozinha.

Eu giro rapidamente, de frente para ele.

— Quer ir passear de bumper boats? — Eu sussurro, no


segundo em que estamos tão longe quanto o espaço permite.

Ele se aproxima, usando seu corpo para me proteger dos


outros. — Quer que eu vá com você? — Quando franzo a testa, ele
continua — Só porque eu estou aqui quando eles pediram para ir,
não significa que tem que me convidar. — Seus olhos azuis
seguram os meus.

Encaro. — Você já sabe a resposta, só quer ouvir.

Eu juro que ele quer sorrir agora, sua mão roçando a minha
enquanto ele começa a puxar os recipientes das sacolas. — Talvez,
mas tinha que ter certeza.

— Então você vai?

— Eu irei.

Satisfeita, meus ombros relaxam, e me movo para abrir o


freezer, empurrando a merda ao redor para encaixar os primeiros
itens dentro. Quando Noah dá mais passos ao meu redor, me
afasto, e no momento em que meus olhos se levantam, eles se
fixam nos de Chase.
Ele franze a testa, olha para todos os recipientes no balcão e
volta. Levanta-se, como se quisesse se aproximar, e meus
músculos se contraem. Percebendo, e os vincos ao longo de sua
testa dobram. Ele fica onde está.

Meu irmão se inclina contra o encosto do sofá, os braços


cruzados sobre o peito, as pernas cruzadas. Seu rosto está em
branco enquanto absorve tudo. A comida, Noah, eu... Chase.

Os olhos castanhos de Mason levantam para os meus, sua


cabeça inclinando um pouco. Não desvio o olhar.

— Nenhum grupo de estudo hoje? — Pergunta.

— Não.

— Cozinhando um pouco?

— Sim.

— Está cozinhando para mim, Ari Baby? — Brady se


aproxima, alcançando as sacolas, mas corro para frente,
bloqueando-o com uma sobrancelha levantada.

— Não vai acontecer, grandão.

Brady me faz rir quando mostra o lábio inferior.

— Não se sinta mal, metade disso eu nem compartilharei com


Cam desta vez.

— Ei! — ela choraminga, inclinando-se sobre a bancada para


olhar todas as minhas guloseimas. — Mas aquelas coisas da tigela
de sopa eram tão boas!
— Eu sei, e se gostasse disso, devoraria o que ele fez para
mim hoje. Muito bom para compartilhar. — Viro-me para ela com
um sorriso.

— Espere. — Ela se vira para Noah. — Vocês fizeram isso? —


Empurra os recipientes ao redor, tentando descobrir o que está
dentro, seu sorriso largo. — Estava querendo perguntar de onde
vinham, mas estamos sentindo falta uma da outra em casa nas
últimas semanas, e quando estamos aqui juntas, estamos muito
ocupadas comendo-os para me importar. Pensei que tinha se
inscrito para uma daquelas coisas de refeição que todos os
modelos do Instagram tentam vender.

Noah e eu olhamos um para o outro com uma risada.

— Você não sabe cozinhar — Chase interrompe, seu tom


monótono.

Minha garganta fica grossa, mas antes que eu tenha a chance


de responder, Noah responde, e com um tom muito mais amigável.

— Ela sabe cozinhar bem. — As palavras de Noah se


espalham pelo meu cabelo.

Ele deslizou para mais perto. Nós dois sabemos que isso não
é exatamente verdade, que sou melhor como manequim de teste,
mas esse não é o ponto agora, e eu poderia beijar Noah por me
proteger sem pausa.

— Sim? — Chase continua empurrando. — Desde quando?

A culpa imerecida toma conta de mim, mas rapidamente se


transforma em aborrecimento. Quem diabos ele pensa que é? Ele
não está sendo conversador ou amigável. Está sendo um idiota e
sabe disso.

Eu o olho nos olhos. — Desde agora. Ele está me ensinando.

Os lábios de Chase pressionam em uma linha firme, e depois


de um momento, não dá nada além de um aceno curto, saindo pela
porta, Brady e Cam logo atrás dele.

— Desça em cinco, pessoal! — Ela grita, e então eles se vão.

Mason está com um rosto vazio enquanto olha de Noah para


mim, e depois para a porta que Chase acabou de sair e voltar. —
Qual é o problema dele?

Suspiro, pegando o dinheiro da minha bolsa e enfiando no


bolso de trás. — Eu não sei, Mase. Talvez você devesse perguntar
a ele.

— Estou lhe perguntando.

— E eu disse que não sei, tudo bem? — Levanto meus


ombros.

Ele me encara por mais um segundo, então levanta a mão e


aperta o ombro de Noah. — Pronto para encharcar sua bunda em
alguns bumper boats, Riley?

Noah olha para mim, e quando aceno, ele se vira para Mason.
— Mostre o caminho, Johnson.

Vamos, porra.
Rindo, Cam e eu viramos nossos barcos, estrategicamente
passando pela cachoeira de pedra sem sermos sugadas por ela.

Do outro lado, nos separamos.

— Muito bem, enfie-se naquele canto e eu ficarei deste lado.


— Ela recua para ficar escondida da abertura. — E agora
esperamos.

Esperamos uns bons três minutos e estamos prestes a


desistir e voltar para o poço de água principal, quando fica
assustadoramente quieto. A suspeita floresce entre nós, e
murmuro, “o que faremos”?

Seus olhos se estreitam instantaneamente, e ela balança a


cabeça conscientemente, porque entende exatamente o que eu
provavelmente farei.

Esse tipo de coisa me deixa nervosa, tonta e eu não aguento.


É aquela sensação que se tem quando está andando por uma casa
mal-assombrada, sabendo muito bem que está prestes a ficar com
medo, então começa a rir ou gritar, seu estômago revirando.

Não posso lidar com isso; eu ligo meu barco de volta, e ela
revira os olhos com um sorriso.

Chegamos juntas, prontas para rastejar pelo lado, mas no


segundo em que o fazemos, somos recebidas por uma frente forte
de quatro homens sorridentes, seus canhões de água apontados
diretamente para nós.
Nós gritamos e guinchamos e eles riem enquanto fazem o seu
pior.

A emoção e a água gelada fazem com que a adrenalina tome


conta, e vou até a beira da água, pulo do barco e subo rapidamente
pela lateral da cachoeira.

— Que diabos, Ari! — Mason grita entre risos, mas continuo,


mergulhando em torno das palmeiras falsas que formam um belo
cenário de lagoa. A água espirra atrás de mim, a risada dos meus
amigos é alta e cada vez mais próxima, então sei que todos
pularam também.

— Ei! — A atendente de passeio grita. — Vocês não podem


estar lá em cima! E não pode tirar as armas dos barcos!

Eu grito, cortando para a esquerda onde ela não pode me ver.

Os outros estão gritando atrás de mim, mas continuo me


movendo. Eu salto sobre o pequeno riacho que atravessa as rochas
e me enfio em um canto sombreado atrás de uma pedra
sombreada. Eu sorrio largo, apertando meus olhos fechados,
tentando acalmar minha respiração.

— Você me abandonou, vadia! — Cameron grita de algum


lugar, e no segundo seguinte, ela está gritando. — Porra, Mason!

Ele ri, os dois gritando — Oh merda! — na próxima


respiração.

O lugar ecoa com um chamado para a segurança.

— Veja o que começou.


Meus olhos se abrem, pousando em um Noah com uma arma.
Eu pulo para a direita, mas encontro mais rochas, uma alta
demais para eu escalar. Eu me viro, encarando-o mais uma vez.

Os olhos azuis de Noah brilham quando olha ao redor. —


Parece que está presa.

— Ou poderia ser legal e me dar uma vantagem de cinco


segundos? — Eu dou um sorriso gigante e brega.

Seus olhos enrugam nas laterais quando dá um passo mais


perto, sua boca assumindo um sorriso diabólico. — Quer dizer
deixá-la ir?

Outro passo.

Concordo com a cabeça, mas meu sorriso escorrega quando


olho para ele. Quero dizer, realmente olho para ele. Seu cabelo está
encharcado e pingando, o escuro ainda mais escuro, mais
brilhante. Sua camiseta está encharcada junto com seu short
esportivo.

Quando olho para o seu rosto, vejo que seu sorriso também
desapareceu, e seus olhos estão na parte inferior das minhas
pernas, pingando do mesmo jeito que ele.

Suba.

Minha respiração se torna difícil enquanto tento descobrir o


que está acontecendo aqui. Noah é meu amigo. Nós somos amigos.

Amigos não olham para amigos assim...


Ele está bem a minha frente agora, todo alto, lindo e
confiante, e tão perto que estamos respirando o mesmo ar.

— Eu sou um homem inteligente, Julieta — sussurra, seu


olhar caindo para os meus lábios. — Apenas um tolo deixaria você
ir uma vez que a tivessem onde te quisessem.

— Ah — respiro.

Noah aparentemente aprecia minha resposta ofegante porque


um sorriso lento toma conta de seu rosto e pisa em mim. Eu coloco
minha mão em seu peito, um pouco insegura e muito curiosa,
enquanto ele passa a língua pelos lábios, seus dentes afundando
em seu inferior um segundo depois. E então nossos corpos entram
em choque quando um balde de água gelada é derramado sobre
nossas cabeças. Eu suspiro, e Noah dispara de volta na risada.

— Puta merda, está frio!

Noah sorri, jogando sua pistola de água na água abaixo de


nós. — Peguei vocês.

Minha boca cai aberta, e olho para o trapaceiro sujo. Brady


começa a rir.

— Pensei que o banho frio era para ela, idiota — brinca com
Noah e sorri para mim. — Corra, Ari Baby, a segurança está
chegando. — Ele fica de pé, gritando — A segurança está
chegando!

De olhos arregalados, Noah e eu olhamos um para o outro.

— Eles estão ali! — Um grita.


— Encontrei dois! — Outro grita.

— Merda! — Olho em volta. — O que fazemos?

Noah me puxa pela mão e pulamos pelas rochas, nos


afastando do parque.

— Por aqui! — Cameron e Mason gritam.

Seguimos o som de suas vozes, avistando-os do outro lado da


cerca, Chase apenas parado de pé ao lado deles. Noah e eu
paramos a sua frente e, no mesmo segundo, suas mãos grandes
estão segurando minhas panturrilhas. Eu agarro a cerca verde-
azulada e ajudo a me levantar, jogando minhas pernas para o lado.

Chase corre atrás de mim, me guiando pelos meus quadris.

Noah está mais de uma fração de segundo depois que meus


sapatos atingem o chão, e jogo minha cabeça para trás rindo, meus
braços atirando para cima e em volta de seu pescoço.

Ele me gira, soltando meu lado direito no meu caminho de


volta, então estou debaixo de seu ombro.

— Corram filhos da puta!

Todas as nossas cabeças se voltam para a voz de Brady,


percebendo que ele já está a meio caminho do Tahoe de Mason.

— Volte aqui! — Grita a segurança, e nós nos escondemos.

Mason espia atrás de nós para ver o quão perto o segurança


está enquanto procura apressadamente as chaves em seus bolsos.
— Depressa, cabeça de merda! — Cam grita, pulando para
cima e para baixo, seus olhos se arregalando conforme o carrinho
de minigolfe se aproxima. — Eles estão vindo porra!

— Estou tentando, mulher! — Finalmente, Mason liberta as


chaves, a fechadura clica e estamos em segurança.

Noah me joga no banco, antes de subir ao meu lado. Ninguém


se dá ao trabalho de pular para os assentos da terceira fila, então
me coloco no colo de Cam e Mason sai do estacionamento. Uma
vez que estamos a uns bons cinco quarteirões de distância, o carro
inteiro explode em gargalhadas.

Brady grita, batendo no painel de excitação. — Essa merda


foi divertida!

Eu sorrio, estendendo a mão quando Cameron empurra nas


minhas costas.

— Cadela, saia de cima de mim, você está encharcada! — Ela


ri.

— Você também, idiota. Que diferença faz? — Eu sorrio e


tento me encaixar ao seu lado.

— Eu tenho espaço — Chase começa, mas Noah já está me


agarrando.

— Eu te peguei. — Ele me coloca em seu colo, puxando o


cinto de segurança sobre mim desajeitadamente e afivelando-o.

Eu rio. — Acho que ficarei bem, Noah. Ninguém mais está


com o cinto de segurança.
— Deixe-o por mim, sim? — Ele fala baixo, mas estamos
fechados em um carro sem música, então tenho certeza de que
alguém percebe sua preocupação.

Concordo com a cabeça, desejando não corar.

Um minuto ou dois depois, olho para cima, pegando os olhos


de Mason no espelho retrovisor. Ele me encara, olha para o meu
cinto de segurança, e então sua atenção volta para a estrada à
frente, sua boca se curvando em um pequeno sorriso ao fazê-lo.

Alguma coisa dentro de mim se instala naquele momento, só


que não tenho tanta certeza do que é.
Arianna
— Eu não estou com vontade de festejar esta noite. Estou
exausto pra caralho. — Brady cai na porta traseira da caminhonete
de Chase, o jogo terminou há pouco mais de meia hora.

— O mesmo cara — Mason concorda, jogando sua bolsa na


cama. Ele se volta para nós. — E vocês meninas? Que tal uma
noite, venha para casa com a gente? Podemos pedir pizza ou
alguma merda. Acampar no meu quarto e no de Chase?

Uma festa da qual eu poderia falar, mas uma noite fria na


casa deles, quando a festa comemorativa hoje à noite é em outro
lugar? Nem tanto, por isso, dou de ombros, balançando a cabeça
junto com Cameron.

Meu telefone vibra, então o puxo do bolso de trás.

ROMEO: Você me viu cair de bunda hoje à noite?


Eu sorrio.

EU: Vi. Você foi derrubado…

Espero uns bons dez segundos, deixando sua mente correr,


então envio o resto.

EU: Mas se levantou de novo.

Ele envia de volta um emoji de cara rindo, e eu rio.

ROMEO: Caso esteja se perguntando, isso nunca envelhecerá.

Olho para o seu texto, um estranho calor tomando conta de


mim, e mordo meu lábio inferior.

— Terra para Ari!

Minha cabeça se levanta, e me deparo com quatro pares de


olhos estreitados.

— Desculpe. — Meu rosto aquece, mas está escuro, então


acho que eles não veem. — Estamos prontos ou...?
— Sim, irmã. — Mason revira os olhos. — Estamos prontos.

Os rapazes pulam na parte de trás para fazer a curta viagem


ao redor do campus e Cam e eu deslizamos para dentro da cabine
principal. Se minha atenção não estivesse em outro lugar, teria
percebido que fui a primeira a entrar, me forçando a sentar no
banco do meio.

Não posso deixar de pensar na última vez que viajei em sua


caminhonete. Foi durante as férias de primavera, no último ano.

— Você não tinha que vir me buscar. Eu disse a Mason que


tinha uma carona.

Chase zomba, virando em U e vai para casa. — Se você acha


que eu deixaria aquele idiota te levar para casa, está enganada.

— Ele não era um idiota quando o convidou para sua festa de


Ano Novo — lembro-o enquanto ele rola para parar no semáforo.

— Ele se tornou um idiota quando tentou te beijar na festa. —


Lança-me um rápido olhar. — Eu lhe disse para ficar longe de você.
Parece que terei que lembrá-lo disso na segunda-feira.

— Está bem, Mason. — Reviro os olhos, surpresa quando sua


cabeça vira na minha direção.

— Eu não sou seu irmão. — Seu olhar se estreita. — E eu não


lhe disse isso em benefício de Mason.
Eu faço o meu melhor para acenar, tentando respirar enquanto
o ar escapa dos meus pulmões, o álcool aumentando o rubor da
minha pele.

O semáforo fica verde, e Chase olha para frente, então faço o


mesmo, mas meus olhos se recusam a se fixar na estrada à frente.

Olho para seu perfil, para a maneira como aperta os lábios


quando está irritado ou com raiva. Na rápida subida e descida de
seu peito enquanto trabalha com o que quer que esteja passando
por sua mente.

Sou eu? Eu estou em sua mente?

Meu estômago se revira com a possibilidade.

— Eu posso sentir seus olhos em mim, Arianna.

Minha risada é baixa e ligeiramente arrastada. — Jurava que


estava sendo tão furtiva como sempre.

Sua risada é tão silenciosa quanto suas próximas palavras —


Talvez, mas eu sempre sei quando está observando.

— Como? — Não quero sussurrar.

A mão de Chase aperta o volante, uma pequena carranca se


formando ao longo de seu rosto. — Não sei.

Ele estaciona em frente da minha casa momentos depois, e


quando se vira para me olhar, prendo a respiração.

Ele tem algo a dizer, eu sei disso.


Seus lábios se abrem, e então Mason está lá, abrindo minha
porta com um sorriso bêbado.

— Olá, irmã.

Eu seguro meu suspiro. — Olá, irmão.

Fiquei acordada naquela noite, por horas, imaginando o que


aquele momento significava, se é que significava alguma coisa. A
esperança floresceu dentro de mim então, mas foi obliterada no
dia seguinte quando soube que sua então namorada se tornou sua
ex no início daquela noite, e aquele “idiota” a quem ele se referiu
do meu encontro, foi o idiota por trás de seu rompimento.

Ele estava frustrado e com raiva e eu li quando não deveria.


Foi um movimento tão novato pensar que ele queria o que eu
queria há algum tempo.

Espere. Queria?

Meu peito se agita, e tenho que me concentrar em manter


minha respiração estável.

Parece que Chase também precisa. Seu corpo está rígido ao


meu lado, seu ombro esfregando contra o meu com cada
inspiração calculada. Ele está ansioso, nervoso ou algo assim, ou
talvez esteja chateado por eu ter acabado no meio.

Felizmente, estamos virando na rua dos rapazes um


momento depois.
— Que diabos? — Cam senta-se para a frente. — Eu pensei
que a festa fosse na rua hoje à noite?

— Era suposto ser. — Chase desliga o motor. — Vamos ver o


que está acontecendo.

Abaixamos as janelas enquanto Brady e Mason saltam para


o lado.

— Deixe-me perguntar ao porteiro o que está acontecendo. —


Mason bate na moldura e segue em direção à casa.

Cam decide sair e se juntar a eles no meio-fio, deixando


Chase e eu na caminhonete.

Meu pulso salta com o silêncio, sabendo que nenhum de nós


pode ficar aqui muito tempo sem falar. O pior é que não haverá
nada além de palavras desperdiçadas, aleatórias e sem sentido
para apagar o desconforto. Antes, seria normal, até natural, falar
sobre o jogo ou fazer um comentário sobre o estilo na caminhada
de Mason. Agora é só... triste. E isso é lamentável.

— BJ, e aí, cara? Por que todo mundo está aqui? — Mason
grita da grama em vez de caminhar até a porta.

— A casa dos Blevens está sob investigação por pregar uma


peça na irmandade atrás deles. Não pode festejar por trinta dias.

— Droga.

Chase abre a porta e sai, me oferecendo uma mão.

Quando não me movo, um sorriso sombrio curva seus lábios.


— É apenas uma mão, Ari.
Uma risada baixa e nervosa escapa, e aceno, deslizando
minha palma na dele. Quando meus pés tocam o chão, seus dedos
não soltam os meus, e olhamos um para o outro.

Parece que ele tem algo a dizer, mas eu sei melhor.

Ele não dirá uma palavra.

Com um sorriso retraído, cuidadosamente puxo minha mão


da dele, já me afastando. — Vamos ver o que os outros querem
fazer.

Quando olho para cima, meus pés congelam no lugar.

Noah está no topo da varanda, olhando diretamente para


mim.

Eu levanto minha mão em um pequeno aceno, desviando


meus olhos como algo que parece muito com “nós de culpa” dentro
do meu estômago, e não tenho certeza do porquê.

Isso pode ser mentira.

Mason se aproxima com um gemido. — Querem voltar para


sua casa?

Olho ao redor, vendo garotas e garotos entrando de todos os


ângulos da rua, parando em Cameron.

Ela cruza os braços, bocejando no ar. — Sim, eu não quero


festa.

Uma mão quente encontra a parte inferior das minhas costas,


e olho enquanto Noah desliza ao meu lado.
— Ei. — Envolvo meu braço em volta da sua cintura,
abraçando-o, e só depois do fato, percebo que esta pode ser a
primeira vez que faço isso.

Ele é quente, sólido e cheira a... Noah. Como algodão fresco e


lençóis limpos. Como a brisa do inverno e o pinheiro, uma pitada
de menta misturada.

Noah me libera, acenando com o queixo para os outros. — Só


descobrir sobre o interruptor de casa?

— Sim, acho que voltaremos para o dormitório. — Cam dá de


ombros.

Os olhos de Noah deslizam em minha direção, e após um


momento, se movem para o meu irmão. — Querem subir em vez
disso? — Ele faz uma pausa antes de acrescentar — Todos vocês.

— Sério? — Brady sorri. — Quer nos levar, filhos da puta


humildes para os aposentos do capitão? — Provoca.

Meu irmão ri.

Todos parecem concordar, mas me vejo franzindo a testa, e


não percebo até que Cameron está me dando uma cotovelada na
lateral. Ela arregalou os olhos para mim brevemente, e deixo cair
os meus na calçada.

Acho que não quero estar no espaço de Noah com eles.

É sempre só nós dois, além de uma ocasional aparição de um


de seus companheiros de equipe, e gosto assim. Quero manter
dessa forma.
Os outros estão envolvidos em todos os aspectos da minha
vida, e embora eu ame isso em nosso grupo, não quero
compartilhar a única coisa que tenho fora deles.

Não quero dividir meu tempo com Noah.

Com eles, vamos conversar, beber cerveja e assistir ESPN ou


Ninja Warrior. Sempre adorei aquelas noites, mas não sei.

Com Noah, é apenas... diferente.

Eu sou Arianna Johnson, não a irmã mais nova de Mason


Johnson.

Eu gosto disso. Preciso disso.

Preciso...

Os dedos de Noah roçam a parte de trás do meu braço, e


encontro seu olhar.

— Faremos o pedido. — Ele fala com propósito.

Está vendo-o, não está?

Seu polegar desliza ao longo do meu cotovelo como se fosse


uma resposta.

Noah sabe o que se passa em minha cabeça. Ele está me


dizendo que ficará tudo bem, que não compartilharemos nossa
diversão. Não cozinharemos juntos ou conversaremos sobre nada
e tudo. Sobre coisas que não importam e coisas que importam.
Ele quer ter certeza de que eu sei que posso dizer não e que
a ideia será descartada, simples assim.

Eu não tenho que compartilhá-lo; a escolha é minha.

O calor se espalha por todo o meu peito, mas não vem de um


rubor. Está no interior desta vez. Os lábios de Noah começam a se
curvar antes mesmo de eu acenar, mas aceno; concordando.

—Muito bem, é o Noah. Agora, vamos antes que mais pessoas


cheguem aqui e tentem nos seguir ou algo assim. — Cam gorjeia
enquanto me puxa, como se ela soubesse para onde vai.

Eu nos guio para a direita e nos afastamos, para que Noah


possa destrancar a porta. Ele nos deixa ir primeiro, então subo as
escadas.

Do lado de dentro, me curvo para a sala de estar, puxando a


corda pendurada no ventilador para acender a luz, e Noah aperta
o interruptor ao lado do fogão. Noah tira sua jaqueta, colocando-a
sobre a pequena cadeira, e eu coloco meu suéter em cima dela.

Ele abre a geladeira para pegar algumas cervejas para os


outros e uma água para ele, enquanto pego os menus na gaveta
abaixo do micro-ondas. Subo na bancada e ele se inclina, lendo as
opções em voz alta para mim, mesmo sabendo que estou lendo na
minha cabeça.

— Poderíamos fazer o pacote família e pegar um pouco de


tudo como da última vez? — Noah sugere, dando um longo gole em
sua garrafa de água.

— Sim, mas não o camarão. Juro que estava cru.


Ele sorri e abre uma garrafa, entregando-a para mim. — Já
passamos por isso. Não pode considerar sushi de camarão.

— Claro que posso. — Eu rio, apontando o gargalo da minha


garrafa em sua direção antes de levá-la aos meus lábios.

Uma confusão chama nossa atenção, e ambas as nossas


cabeças se erguem, encontrando nossos convidados esquecidos
parados ali, congelados na entrada, olhando para nós como se
fôssemos mutantes. Minhas bochechas estúpidas se apressam
com o calor e abaixo minha cabeça, tentando cobrir meu cabelo.

Noah limpa a garganta para esconder o sorriso e fica de pé,


me bloqueando dos meus amigos. — Cerveja?

— Inferno sim, cara. — Brady corre para frente então,


puxando Cam junto, seu braço em volta do ombro dela. Ele dá a
volta em Noah de propósito, levantando uma sobrancelha loira
forte na minha direção.

Ofereço um sorriso de lábios apertados, mas então Brady


pisca, e meus ombros relaxam um pouco.

— Cam, também tem Mountain Dew75. — Pulo do balcão, e


Noah desliza alguns metros para a esquerda, para que eu possa
alcançar dentro da geladeira para pegar um.

75
-Refrigerante não alcoólico, de característica cor verde-limão.
— Sim, por favor. — Ela tira o moletom, me dá um sorriso
malicioso enquanto o coloca em cima do meu e do Noah.

— Sente-se onde quiser. Eu tenho YouTube TV e Netflix, ou


há um monte de DVDs nas gavetas. — Noah puxa o telefone do
bolso, preparando-se para ligar para o nosso pedido.

Franzindo a testa com força total, Chase desaparece ao redor


da mureta na sala de estar, e quando olho para meu irmão, seus
olhos se estreitam.

Ele está com raiva, mas algo me diz que não tem nada a ver
com a situação, e tudo a ver com o fato de eu conhecer bem o
estúdio de seu companheiro de equipe. Ele sabia que viemos aqui
algumas vezes - não há razão para compartilhar exatamente com
que frequência esse “às vezes” é - mas conhecer e ver são muito
diferentes. Não há como dizer o que está passando por sua mente
agora. Deu um passo ou dois para trás ultimamente, e
honestamente, sou grata. Sei que é em parte porque ele está muito
ocupado agora, mas olhando para ele, tenho certeza que está se
arrependendo. Acho que pode estar um pouco magoado, quase
sentindo que há uma parte de mim que ele não conhece, e não sei,
talvez haja.

Mason dá passos preguiçosos em nossa direção, cavando


cegamente em sua carteira.

— Aqui. — Entrega a Noah duas notas de vinte. — Para à


comida e não diga que tem.

Noah acena com a cabeça, pegando o dinheiro, passando a


Mason uma cerveja em troca.
Mason aceita, olhando ao redor da sala. — Este lugar é legal.
— Olha de volta para Noah, derrubando sua bebida. — Obrigado
por nos convidar. — Puxando Cam, ele contorna a parede da sala
de estar.

— Tem ESPN? — grita Brady.

Noah ri, olhando para mim.

— Vá. Eu encomendo.

Ele pisca, juntando-se a eles enquanto faço nosso pedido.


Fico na cozinha um ou dois minutos depois de desligar, e com uma
respiração profunda, entro no pequeno espaço com meus amigos
mais antigos, escolhendo o assento aberto ao lado do meu mais
novo.

Enquanto os rapazes têm que esperar até que o treinador


lance o filme do jogo às segundas-feiras, Noah tem acesso
antecipado ao website, então o abre e loga na conta do seu capitão.
Só assim, a tensão estranha que eu poderia estar, o único
sentimento se foi, e não poderia estar mais feliz.

Isso deixa os rapazes na beira de seus assentos, assistindo


seu próprio jogo como se não tivessem os melhores lugares da
casa, e não demora muito para que nossa comida seja entregue.

Pela próxima hora ou mais, estão completamente entretidos.

Eles pulam entre mordidas, apontam coisas diferentes que


viram, rebobinando e revendo várias jogadas enquanto Cam e eu
nos sentamos rindo da personalidade que mostram em campo.
Muito estilo para uma equipe.
Cheios de comida e cerveja, nos acomodamos para um filme,
permitindo que Brady nos convença a um filme da Marvel de duas
horas.

Em algum lugar ao longo do caminho, devo ter desmaiado,


porque a próxima coisa que sei, Noah sussurra, “hey”, fazendo
meus olhos se abrirem.

Eu me sento, ajustando minha cabeça no travesseiro do sofá.


— Oi.

Seus lábios se curvam para um lado. — Brady foi para o


quarto dele há um tempo atrás, mas os outros nocautearam com
você.

Eu me mexo, procurando encontrar Chase dormindo na


poltrona reclinável, Mason e Cam desmaiados em uma pilha de
cobertores no chão.

— Percebo que ela está saindo com Trey cada vez mais — diz
calmamente.

Eu aceno, olhando para eles. — Sim. Estou feliz. Entendi


errado sobre meu irmão. Ele a ama, mas não do jeito que ela
esperava.

— E ela, como se sente?

— Ela está... mais feliz agora. — Aceno, meu sorriso gentil e


apontado para minha melhor amiga. — Acabou a espera.

Quando um minuto se passa e Noah não fala, olho para


encontrar seus olhos em mim.
Meus lábios sobem e estendo a mão, afastando seu cabelo. É
tão suave, tão inesperadamente calmante que não paro.

Ele olha, sem piscar, e quando fala novamente, seu tom é


mais baixo que um sussurro. — Você está?

— Estou o quê?

— Esperando. — Linhas profundas cobrem sua testa e seu


peito infla com uma inspiração completa. — Você ainda está
esperando?

Meu batimento cardíaco salta. Batidas. Dá uma maldita


cambalhota, mas um pequeno incômodo ainda segue quando
movo meus olhos para o menino de cabelos castanhos em questão,
que não está dormindo afinal, mas está lá no escuro, bem
acordado, olhando diretamente para mim.

Engulo em seco, voltando lentamente para Noah. Para minha


mão, ainda acariciando seu cabelo. Para seus olhos, ainda presos
em mim.

— Não — me pego murmurando, e algo se agita em seu rosto.


— Não estou.

— Sempre que estiver pronta para contar a sua melhor amiga,


sabe, a mim, o que diabos foi aquilo ontem à noite, sou todo
ouvidos.
Eu caio no sofá ao lado de Cam, apoiando meus pés na mesa
de café ao seu lado. Sorrio para mim mesma, jogando um pedaço
de cereal velho na minha boca. — O que está falando?

— Vou te cortar. — Ela segura a navalha da sobrancelha,


olhando rapidamente antes de se concentrar no pequeno espelho
de mão na palma da mão. — Dê-me a fofoca. Está fodendo nosso
quarterback extremamente gostoso e não me contando?

— Caia na real! — Eu rio, pegando o controle remoto de seu


colo. — Como se eu não contasse se tivesse.

— Mas quer.

— Cameron.

— Você o beijou? Tocou? Nada?

— Oh meu Deus, não.

— Por que não? — Pergunta. — Você gosta dele.

— Ele é meu amigo. — Minhas têmporas batem depois que


digo isso, e esfrego meus lábios. — Eu gosto de sair com ele.

Ela faz uma careta, me avaliando. — Sabe que ele quer você,
certo?

Quando não respondo, ela se vira para mim. — Ari. — Seus


olhos se arregalam. — É tão óbvio.

Pulso batendo, eu balanço minha cabeça.


Depois de um momento, Cameron suspira e fica de pé. —
Sabe, para uma garota que passou tanto tempo esperando que um
cara abrisse os olhos... pode querer abrir os seus desta vez.

Com isso, ela vai para o chuveiro, e eu não saio do meu lugar
no sofá. Eu sei o que ela está dizendo, e acho que está certa, mas...

E se ela não estiver?

E se Noah se importar comigo como Chase se importa?

Muito, mas não o mesmo? Insuficiente?

Não tenho tanta certeza se conseguiria lidar com outra


decepção.

Algo me diz que eu não poderia.

Especialmente de Noah.
Arianna
Finalmente em casa, tiro minhas roupas e vou para o
chuveiro.

No segundo em que a água morna encharca meu couro


cabeludo, a voz de Cameron me alcança do corredor.

— Ei! — Ela bate duas vezes e abre a porta para entrar. —


Como foi o treino com Brady?

— Tão bem-sucedido quanto se esperaria.

— Quantas vezes eles disseram para continuar correndo?

— Demais para contar. — Eu sorrio, massageando no meu


couro cabeludo com xampu. — Como foi seu teste?

— Bom até chegar à pergunta estúpida da redação, mas não


acho que me machucará muito. Eu basicamente inventei um
monte de merda e escrevi como um gênio, então espero que fique
confuso e me dê os pontos de qualquer maneira.

— Parece um plano sólido.


— Acho que sim — brinca. — Ei, então, vou jantar com
algumas das garotas do primeiro andar. Posso esperá-la se
aprontar se quiser vir?

— Não, eu ficarei aqui com os olhos fechados por sólidos dez


minutos, e depois colocarei um spanx76 forte.

— Parece uma explosão. — Cameron ri. — Vou me trocar e


sair. Chegarei tarde; acho que Trey me buscará no restaurante
depois de um filme ou algo assim.

— Tudo bem. Amo você.

— Amo você.

Cam sai e fico de molho no chuveiro até que a água esfrie.


Deslizando em um par de shorts de spandex e uma velha camiseta
do time do colégio que Mason tentou jogar fora, caminho para a
cozinha.

Meu estoque de refeições não está exatamente baixo, mas


estou com disposição para algo fresco, então me jogo no sofá,
decidindo enviar uma mensagem para Noah.

EU: meu freezer tá uma merda agora.

76
-Cinta compressora.
Coloco meu telefone no peito e começo a percorrer os novos
filmes no Prime. Alguns trailers, meu telefone apita.

ROMEU: Está acabando, não é, Julieta?

EU: Estou rodando no vazio77...

ROMEU: Taking it back78?

EU: Essa é a grande coisa sobre a música, Romeu. É atemporal.

ROMEU: MAIS OU menos como Shakespeare?

Eu não posso deixar de rir.

77
-“I’m running on empty”, música de Jackson Browne.

78
-Música de Bom Jovi. E que significa “Tomando de volta”. Eles estão falando aparentemente sobre
comida, mas as músicas falam sobre pegar o amor de volta, o amor (sentimento, e não sobre alguém
em específico) que um dia foi perdido pelas circunstâncias da vida.
EU: Sim, Noah. Assim como Shakespeare.

Será que ele sabe quão distorcida é a história real de Romeu


e Julieta?

EU: Acontece que tenho necessidades de fazer espaguete de garota


da faculdade. Significa que tenho uma lata de molho barato, carne e
macarrão. Quer vir e ter certeza que eu não queime o lugar?

Mordo meu lábio. Ele poderia ter planos e tudo bem. Talvez
eu devesse ter perguntado o que estava fazendo antes de convidá-
lo?

Talvez ele esteja com uma garota.

Talvez... esteja com Paige.

Franzo a testa, mas balanço quando meu telefone apita


novamente. Aperto-o, mas agora estou nervosa demais para olhar
para a tela.

— Dane-se. — Eu pulo e ando de volta para a cozinha,


decidindo que mesmo que ele não possa ou não queira vir, estou
cozinhando. Não é como se eu não ajudasse muito Cam a fazer
coisas para os rapazes, geralmente sou a pegadora de utensílios
ou abridora de caixas, a agitadora e outras coisas, mas ainda
assim... ajudo. Além disso, Noah me ensinou algumas noções
básicas, então sim. Posso fazer isto sozinha.

Só que eu não quero fazê-lo sozinha.

Uma vez que tenho tudo alinhado no balcão, espalmo as


palmas das mãos e olho para elas por um tempo. Com um bufo
pesado, pego meu telefone para verificar sua mensagem.
Instantaneamente, meu sorriso se liberta.

Ele está a caminho.

Menos de trinta minutos depois, estamos instalados na


minha cozinha como uma pequena mudança.

— Porque está fazendo isso? — Fico na ponta dos pés,


tentando espiar por cima do ombro de Noah, fazendo-o rir.
Virando-se um pouco, ele gentilmente me move para o lado, então
tem espaço para dobrar o braço.

— Coloca sal na água para ajudar a temperar o macarrão.

— Isso não faz sentido. Está na água. — Subo no balcão ao


lado do fogão. — Não se lavará ou dissolverá ou dissolver ou algo
assim?

— Ou mergulhar no próprio macarrão — brinca enquanto


coloca a colher ao meu lado.

Reviro os olhos de brincadeira, pego a colher e a coloco no


pequeno pires destinado a segurá-la.

Noah se vira para a sacola que trouxe consigo, tirando uma


lata de azeitonas, cogumelos frescos e algo verde. Ele olha para
mim e sorri. — Pode transformar uma lata de molho em algo que
vale a pena comer com apenas alguns ingredientes extras.

Eu o vejo preparar tudo e misturar no molho fervente. —


Outra dica da sua mãe?

Ele acena com a cabeça, e embora leve um minuto para


compartilhar mais, finalmente o faz. — Não tínhamos muito
dinheiro extra, mas ela sempre encontrava uma maneira de tornar
o sabor barato caro.

— Como sabe o que é gostoso junto?

— Google.

Uma risada jorra de mim, e ele ri, continuando com sua


culinária instrutiva. Eu amo como ele fala comigo através de cada
passo.

— Deve-se sempre começar o molho antes do macarrão,


quanto mais tempo ferver, mais os sabores saem, mas estamos
fazendo isso da maneira mais rápida.

Coloco meu cabelo atrás da orelha, observando-o. — Sabe


que eu quis dizer o que disse antes sobre a coisa do chef. Acho
realmente que é algo em que seria ótimo.

Noah olha para mim por um momento antes de olhar de volta


para o pote. — Obrigado.

— Você realmente cozinhava o jantar com sua mãe o tempo


todo?

— Toda noite.
— Sim? — Sorrio, apoiando o cotovelo no joelho, o queixo na
palma da mão.

— Sim. Eu ia para casa depois do treino ou depois dos jogos,


e ela voltava do trabalho quase na mesma hora, então fazíamos
algo juntos. Às vezes não era nada mais do que queijo grelhado, e
outras noites arruinávamos alguns lotes de risoto até acertar.

— Então, em noites de jogos, em vez de sair com seus amigos


depois, ia para casa e fazia o jantar com sua mãe? — Eu pergunto,
minha voz entregando meus pensamentos com meu estômago
cheio de palpitações.

Essa é a coisa mais doce.

— Não me entenda mal, eu saía. — Ele ri.

— Mas depois do jantar com sua mãe.

— Sim, depois disso.

Mesmo que ele não esteja olhando para mim, aceno. — Mas
você foi bom, não foi? Era um bom garoto?

Os olhos de Noah estão em mim agora.

— Sim, você foi bom. — Eu sorrio suavemente. — E está


fazendo tudo isso por ela, escola e futebol. Esforça-se para ser o
melhor que pode, para que ela possa ver isso de você. Por isso ela
sabe que a aprecia e tudo o que fez por você. — Suas sobrancelhas
puxam para o centro, e ele se move em minha direção. — Porque
ela lhe deu tudo o que tinha para dar e mais, e você quer fazer o
mesmo por ela.
— Eu não poderia viver comigo mesmo se a decepcionasse,
não quando ela estava sempre lá. Não quando me deu tudo o que
podia, e me fez quem eu sou. Devo a ela o meu melhor com o que
me foi dado.

— Não recebeu nada, Noah — digo baixinho, um pequeno


sorriso no meu rosto. — Você ganhou o que tem, e isso é algo de
que deve se orgulhar.

O peito de Noah infla, e volta para o molho. Ele limpa a


garganta, pega a colher de pau e mexe, depois a leva aos lábios,
soprando suavemente.

Ele se aproxima, segurando-o na minha frente. Já fez isso


antes, muitas vezes. Toda vez, realmente. Então, por que uma
súbita onda de nervos me percorre?

Eu abro minha boca, e ele a desliza entre meus lábios. Meus


dedos cautelosamente envolvem a haste do utensílio, e ele o solta.
Esticando meu torso, o coloco sobre, e meu corpo escorrega
levemente.

Noah é rápido para se aproximar, me impedindo de deslizar


para fora da bancada, sua mão grande e firme instantaneamente
travando em volta da minha coxa, me firmando.

Meus olhos voam para os dele, minha respiração fica presa


na garganta. A distância entre nós foi completamente apagada, e
ele não parece querer recuperá-la.

Sua proximidade, seu toque, é inesperado, e não posso negar


a forma como meu pulso acelera. Os pelos da minha nuca se
arrepiam, e tenho que me lembrar de respirar. Lentamente, sua
palma áspera me deixa.

— Bom? — Sua voz é profunda e rouca, sua atenção travada


na minha boca.

— Sim. Noah?

Ele olha para cima.

Eu quero que me beije.

Congelo com o pensamento, meus olhos arregalados como se


gritasse meu desejo em voz alta, e minhas bochechas queimam
fora de controle. Ele vê, mas se vira para a comida antes que seu
sorriso se liberte.

Observo enquanto ele dá os toques finais em nosso molho,


escorre o macarrão e rala uma pequena montanha de queijo
parmesão. Depois tira o pão de alho do forno e o corta em pedaços
pequenos.

A precisão de seus movimentos, a flexão de seus braços, o


foco em seu rosto, ele.

Não consigo desviar o olhar, e quando ele se vira, me pegando


olhando, para de se mover.

Tigela de espaguete em uma mão, tigela de pão na outra, ele


sorri, suave e fácil. Cuidadoso.

Eu deveria desviar o olhar, mas em vez disso, me aproximo,


meus olhos travados com os dele.
Há uma dor crescendo dentro deles, a cada segundo que
passa.

Cameron estava certa?

Minhas sobrancelhas se erguem enquanto tento descobrir o


que está acontecendo aqui. Dentro de mim. Ao meu redor.

Noah…

Ele olha em minha direção. — Quer comer na sala de estar?

— Sim. Noah?

Ele inclina a cabeça.

— Quer me beijar? — Eu solto, e então congelo.

Ele também. Não se move, pisca ou respira.

Noah olha para mim, no fundo dos meus olhos, e engole em


seco. — Desde que te conheci.

Minha pele se arrepia, meu estômago revira como se tivesse


feito uma dúzia de cambalhotas. — Mesmo?

— Sim, Julieta. — Cegamente colocando a tigela para baixo,


desliza para mais perto. — Mesmo.

Um arrepio na espinha, meus membros balançam à medida


que sua palma encontra minha bochecha, deslizando lentamente
para cima, até que as pontas de seus dedos estão no meu cabelo,
seus polegares acariciando a borda do meu lábio inferior. Um
arrepio me percorre, e os lábios de Noah se contraem.
— Beije-me — expiro. Por favor.

— Porra. — Seus olhos se fecham, sua testa caindo na minha.


— Você está me matando.

— Mas que maneira de ir.

Sua risada é profunda, e quando se espalha pelos meus


lábios, minha mão sobe para agarrar seu pulso.

O peito de Noah ronca, fazendo com que os músculos do meu


núcleo se contraiam.

Quero que ele me beije, devore minha boca com a dele. Quero
que sua língua deslize para dentro, descubra o gosto da minha e
guarde-a na memória enquanto a minha faz o mesmo. Quero que
me mova do jeito que ele quer, do jeito que gosta, e quero que me
puxe para mais perto do que eu acho possível, mas os lábios de
Noah não se movem.

E quando tento me abrir para ele, implorar sem dizer uma


palavra, ele balança a cabeça contra mim.

Abro os olhos, encontrando os dele ainda apertados, como se


estivesse lutando contra si mesmo.

Seu pulso bate descontrolado em suas têmporas, e por


sólidos trinta segundos, Noah fica paralisado até que, finalmente,
uma expiração pesada o deixa. Ele dá um passo para trás, seu
olhar encontra o meu enquanto seus dedos se movem ao longo da
minha mandíbula. Olha com uma ternura que nunca soube que
olhos poderiam conter. É cru e doloroso, lindamente confuso.
Meu coração para, pula e não consigo respirar. Mal posso
sentir meus próprios membros.

O que está acontecendo comigo?

Um sorriso conhecedor enfeita seus lábios, mas não tenho


certeza do que ele descobriu, porque estou perdida.

Finalmente, ele fala novamente. — Não posso te beijar ainda


— rosna, sua voz grossa de desejo, fazendo meus dedos dos pés se
enrolarem em minhas meias e confusão girar em minha mente.

O constrangimento cresce dentro de mim, mas antes que


possa balançar a cabeça e tentar recuar, Noah balança a dele,
tendo antecipado minha reação.

— Eu disse ainda — sussurra suavemente, se aproximando.


Vejo redemoinhos em seus olhos, mas estão apertados com
tormento. — Confie em mim, eu quero.

— Tem certeza? Porque estou recebendo as vibrações opostas


agora.

A risada de Noah é instantânea e adorável, e mordo o interior


do meu lábio com o som.

— Tenho certeza. — Ele sorri, mas lentamente suaviza


enquanto me prende com uma expressão suave, mas severa. —
Caso ainda não tenha percebido, não há nada em você que eu não
goste. Nada.

— ...mas.
— Mas uma perda tão grande quanto você pode ser demais
para mim. — Sua voz cai para um sussurro. — Então não posso
fazer o que está me pedindo... ainda não.

— Eu não... — paro, engolindo o incômodo queimando


minhas vias aéreas.

Não entendo, mas quanto mais olho nos olhos azuis de Noah,
mais claro fica. A compreensão calma de seu olhar me leva para
onde pretendia, e uma dor aguda bate no meu peito.

Chase.

Não tenho certeza do porquê, mas a vergonha recai sobre


mim, e quando isso acontece, percebo que é esse o ponto.

Não a vergonha, mas o fato de que não percebi


completamente de onde vem.

Pode ser o fato de eu ter percebido qual era a sua preocupação


sem que dissesse em voz alta. Pode ser porque sempre vou amar
Chase. Pode ser porque pensar nele ainda dói, mesmo que não seja
nada como era antes.

Pode até ser porque não consigo me lembrar da última vez


que pensei nele...

Tudo o que sei é que não tem nada a ver com o meu desejo
de beijar o homem a minha frente, mas isso não o torna menos
complicado.

Entendo o que Noah está pedindo, e isso só fortalece ainda


mais seu caráter.
Noah Riley é um homem bom.

E se ele fosse meu homem?

Minhas bochechas aquecem, e mordo o interior da minha


bochecha. — Sabe o que acho que esse molho pode usar? — Eu
tento mudar de assunto.

É obvio.

Seu sorriso se alarga, estendendo-se sobre seu lindo rosto, e


estou corando novamente. — O que é isso?

— Um chute.

— Um chute?

Eu dou um aceno curto, virando.

— Uma coisinha chamada... — Abro a gaveta à minha direita,


tirando dois pacotes velhos da Mountain Mikes. — Pimentas
vermelhas esmagadas. — Levanto uma sobrancelha. — Também
conhecido como pimenta vermelha esmagada, caso não saiba disso
— brinco.

— Eu não fazia ideia. — Ele joga junto, pegando a tigela de


espaguete agora morno, levando-nos para o meu sofá. — Pode
estar no caminho certo.

Estamos meia tigela para baixo quando ele olha para cima.

— O quê? — Pergunto com a boca cheia de pão francês.


— Para que conste, isso quase me matou, e foi uma coisa
única que nunca se repetirá. — Seus lábios puxam em um sorriso
unilateral. — Então, da próxima vez que perguntar, tenha certeza,
porque eu não negarei de novo.

— Diga que jura.

Uma risada voa dele e cutuca minha perna com a sua,


balançando a cabeça enquanto volta para sua comida. — Juro.

Eu sorrio para minha tigela e assim, está tudo bem.


Enquanto penso nisso, percebo que já estava.

Não houve constrangimento que se seguiu, apenas um


momento de mortificação da minha parte que Noah rapidamente
apagou.

É sempre assim com ele. Simplesmente, sem esforço.

Uma vez que nossas tigelas estão vazias, Noah vira seu corpo
para mim, por isso faço o mesmo.

Depois de um momento, ele diz — Diga-me uma coisa.

Eu puxo uma lufada de ar. — O que quer saber?

— Tudo.

Congelo por uma fração de segundo, meus músculos do


estômago se contraindo, e uma risada baixa me deixa.

— Hum — penso. — Gosto de comédias.

— Eu sei.
— Gosto de massas.

Ele balança a cabeça. — Já sei disso também.

— Tudo bem... não gosto de flores. — Suas sobrancelhas se


erguem. — Ou gosto, mas acho que são um desperdício como
presentes. Muito caro apenas para ser jogada no lixo alguns dias
depois.

— Anotado. — Ele ri, um olhar de expectativa em seu rosto.

— Mais?

Seu aceno é lento. Eu rio novamente, e com uma pitada de


timidez compartilho outra coisa, algo que ele definitivamente não
sabe.

— Minha uh, minha cor favorita é azul.

Os olhos azuis de Noah se aguçam, e segura os meus por um


longo momento, e quando o sorriso que se segue é muito charmoso
e arrogante, jogo uma almofada nele para apagá-lo.

Ele ri e nos acomodamos nas almofadas.

Passamos as próximas horas comendo pipoca, conversando


sobre nossa infância e as coisas que sentimos falta.

Quando ele vai para casa, já passa das três da manhã, e antes
que eu feche a porta atrás dele, já estou ansiosa pela próxima vez.
Arianna
Quarta-feira, os exames estão em pleno vigor e a cafeína é o
alimento eleito. A maioria das pessoas no campus está ocupada
com grupos de estudo, redações e um milhão de outras coisas que
nos mantêm ocupados e em movimento. Vi Cameron duas vezes
durante toda a semana, conversei com meu irmão uma vez fora de
algumas mensagens, e embora também não tenha visto Noah,
ambos encontramos tempo para responder às mensagens um do
outro.

Exceto por hoje.

Hoje, não tive resposta dele, mas eles viajaram o dia todo
ontem, e esta manhã jogaram seu primeiro jogo cedo. Não tenho
certeza de qual é a sua rotina no dia do jogo, então acho que ele
gosta de ficar ocupado e focado, e talvez me enviasse uma
mensagem mais tarde, mas o jogo acabou. Seriamente.

Seu receptor se atrapalhou com três minutos no relógio, e o


time adversário pegou, correndo de volta para marcar um
touchdown. Se isso não bastasse, ele foi retirado duas vezes na
corrida seguinte, e o treinador o tirou do jogo quando pulou
mancando.
Mason entrou como reserva, mas já era o terceiro “down”. Não
havia tempo suficiente e os Sharks assumiram a perda.

Noah estava bem, porém, porque o vi sair do campo depois


das entrevistas.

Tentei enviar uma mensagem para ele depois do jogo, mas


também não respondeu, então acho que ele pode ser o tipo de
sentar e refletir depois de uma derrota, e é por isso que estou
sentada aqui olhando para Cameron, sem saber o que fazer.

Ela ergue o quadril. — Vamos? Você vem ou não?

— Você disse que eles chegaram em casa duas horas atrás.


Tem certeza que estão festejando? Eles não deveriam, tipo, dormir?

Ela zomba, enquanto se move para minha mesa e pega um


par de brincos pendurados. — Por favor, tiveram exames
intermediários como o resto de nós. Eles estão chateados,
cansados e precisam de um estímulo.

— Quem chamou?

— Brady. Ele disse que deixou uma mensagem para você


também.

Franzindo a testa, pego meu telefone, e com certeza, tenho


uma mensagem de voz de Brady e outra de Mason. — Devem ter
ligado quando eu estava tirando o lixo.

Eu olho para ela, que cruza as mãos a sua frente em um


movimento de oração.

— E se não sentir vontade de sair? Ou se estiver ocupado?


— Querida, ele ficará desocupado quando aparecer. Confie
nisso. — Ela pisa como uma criança excitada. — Venha por favor!
Você já está bem, rosto fresco, cabelo, então vamos!

Mordendo meu lábio, empurro meus pés. — Está bem, se


apresse antes que eu mude de ideia.

Cameron grita, joga o braço em volta dos meus ombros e


saímos pela porta.

Menos de uma hora depois, estamos subindo a varanda para


a casa de futebol. Mason nos vê no segundo em que entramos –
juraria que ele tinha rastreadores GPS em nós, se não soubesse
melhor.

Ele se aproxima, me envolvendo em um abraço e me


levantando do chão por um momento. — A porra da minha
irmãzinha veio para a festa! Finalmente! — Sorri, bêbado,
conduzindo-nos para o barril no canto.

Eu sorrio para ele, dando-lhe um tapinha nas costas


enquanto enche alguns copos, passando-os.

— Como se sente?

— Irritado. — Ele ri com um encolher de ombros. — Mas


pronto para voltar lá.

— Sim, é uma merda ser um perdedor — Cameron brinca, e


ele brinca com ela.

Cameron dá a risadinha familiar que sempre faz quando


Mason mostra sua atenção, mas rapidamente engole.
Ele puxa o telefone do bolso com uma carranca. — Já volto,
um amigo está aqui, e precisa de ajuda para carregar merda. Fique
longe de todos esses filhos da puta até eu dizer a eles que é minha
irmã.

Eu o saúdo com meu dedo médio e ele sorri, mas Cam e eu


nos encontramos com dois copos cheios, e ainda assim, Mase não
voltou.

— Estou começando a pensar que o seu amigo era uma


garota.

— O seu amigo era totalmente uma garota. Ah, Merda. Está


bem, apresse-se, me diga como quer jogar isso. — Cam aperta meu
braço.

— Jogar o quê?

— Cadela... — sibila.

— Vejo Trey.

Ela se vira, seu sorriso instantâneo. — Muito bem, está bem.


Eu vou, mas fuja ou chore e estará tão morta.

— Espere o quê?

Ela aponta dois dedos para mim como se dissesse que está
me observando e sai correndo. Com uma risada, me viro, e quando
olho para frente, minha coluna se endireita. Não peguei o que ela
estava falando.

Merda, está certa.


Chase está a menos de três metros de distância, e se dirige
para mim.

Um nó se forma instantaneamente na minha garganta, mas


me forço a engolir.

Esta é a sua casa, é claro que ele estaria aqui.

Por que não pensei nisso?

— Ei — ele se aproxima, mas antes que possa responder, está


envolvendo seus braços ao meu redor em um abraço.

Meu corpo fica rígido, mas apenas por um momento, e me


pego abraçando-o de volta.

Eu não posso deixar de inalar enquanto meu rosto se enterra


em seu peito, e sou imediatamente atingida pelo cheiro quente e
familiar gravado em minha memória. De repente, as imagens da
nossa noite na praia estão na frente e no centro.

A gentileza de seu toque enquanto suas mãos deslizavam


sobre mim. A suavidade de seus lábios quando se inclinou para
me beijar. A maneira como me segurou, as coisas que sussurrou.
Seus olhos suaves me olhando como se eu fosse... mais.

Como se eu valesse alguma coisa.

Lágrimas brotam atrás das minhas pálpebras e meus dedos


o agarram antes que eu possa detê-las.

A parte triste?
Ele me agarra de volta, pressionando minha pele como se
sentisse falta da nossa amizade tanto quanto eu, como se
precisasse disso. Para me abraçar, para me sentir perto, quando
foi ele quem me afastou para começar.

— Arianna... — sussurra.

Sua voz, é tão baixa e gentil que me afasto, colocando alguns


passos entre nós. É preciso esforço, mas me obrigo a olhar para
ele, e é como se estivesse confuso sobre o motivo de eu me afastar.

Ele dá um passo em minha direção novamente.

— Chase, eu... — Meus olhos são puxados sobre seu ombro,


minhas palavras morrendo na minha garganta.

É quando o vejo.

Noah.

Ele está ao lado da linda garota do churrasco, Paige. O seu


ombro está encostado na parede, uma garrafa de água na mão
enquanto ela se inclina contra ele, olhando-o com admiração.

Ele diz algo e ela ri, a sua mão se levantando para empurrá-
lo levemente e ele sorri para ela.

Uma repentina sensação de quedas pesadas sobre mim, como


se um peso tivesse caído sobre meu peito, me forçando a trabalhar
mais para respirar.

Chase diz mais alguma coisa, estende a mão, mas não sinto
sua mão, se me tocou. Não ouço suas palavras, embora sua boca
se mova na minha periferia.
Vejo Noah e tudo que posso ouvir é a risada de Paige ecoando
em minha mente. Algo se agita no meu estômago, baixo e
repetitivo. Não para.

Chase segue minha linha de visão, pousando no casal digno


de foto a menos de seis metros de distância. Sua cabeça puxa meu
caminho mais uma vez. — Está falando sério? — Dispara.

Meus olhos piscam em sua direção, e seu olhar voa pelo meu
rosto em estalos agitados.

Chase empurra para a direita, para bloquear minha visão,


mas meu braço dispara, parando-o. Seus lábios pressionam em
uma linha firme, suas narinas dilatadas.

Olho de volta para Noah.

No momento em que o olho, ele olha por cima do ombro. Ele


me vê e não se afasta. Não olha para Chase ou para a mão que
ainda está tocando meu braço. Não volta sua atenção para Paige
quando a palma da mão dela cai em seu peito, criando calor na
minha.

Por que ela está tocando-o?

Noah, no entanto, estende a mão, aqueles olhos nunca


deixando os meus enquanto se desculpa, e se dirige para mim.

Não consigo evitar que meus lábios se contraiam ou meu


olhar s suavize.

A tensão em meus músculos diminui, mas então Chase está


segurando meus braços, me forçando a encará-lo. Ele olha,
encara, e depois balança a cabeça, arrancando as mãos.
A mandíbula de Chase aperta, e se concentra em tudo, ou
qualquer coisa, menos em mim. — Encontre um de nós quando...
terminar aqui. Não ande sozinha.

— Eu sei — digo, mas ele já se foi, e Noah está pisando ao


meu lado.

— Oi.

— Oi. — Ele olha de onde Chase desapareceu para mim, uma


ternura em seu olhar que me faz sorrir. — Não veio me encontrar.

— Eu não sabia se estava em casa.

O canto de seus olhos vinca. — Mason disse que enviou uma


mensagem para você, dizendo que perdi meu telefone.

— Eu provavelmente deveria ter lido isso. — Eu rio. — Parei


de olhar depois que a quinta ou sexta chegou.

Um pequeno sorriso se forma em seus lábios. — Esperava um


pouco, no caso de Cameron aparecer. Achei que era melhor lhe
pedir para ligar do que pedir para Mason.

— E se ela não aparecesse?

— Então estaria abrindo sua porta para mim quando eu


batesse nela.

Uma risada baixa me escapa, e balanço levemente em meus


pés, me dando um momento para observá-lo, como se estivesse
procurando uma mudança nele desde a última vez que o vi. Seu
cabelo é uma bagunça perfeita e sedosa de mechas escuras com
lados recém-aparados, e está sempre impecável em uma camiseta
e jeans.

Nenhum esforço parece bom nele, especialmente com a forma


como sua tatuagem espreita sob o tecido ao redor de seu bíceps. É
uma provocação - não o suficiente para mostrar há para ser
encontrado, mas apenas o suficiente para levá-lo à caça.

Nunca vi a imagem completa, até onde as marcas escuras


viajam, e eu meio que quero ver. Sinto-me tentada agora a
arregaçar sua manga.

A mão na parte inferior das minhas costas se estende, me


pressionando com mais firmeza enquanto ele balança a cabeça,
uma expressão confusa, mas satisfeita, cobrindo seu rosto.

— Pensei, com certeza, que teria que seguir na sua direção.


— Ele fala em um sussurro curioso e rouco, seus olhos
implorando. Se a faísca que pisca em seu olhar me diz alguma
coisa, é que ele está satisfeito.

Meu olhar desliza por ele então, em direção à porta de onde


escorregou, onde Paige ainda está sozinha e olhando em nossa
direção.

Eu tento voltar rapidamente assim que percebo onde meu


olhar subconscientemente apontou, mas Noah me pega de
qualquer maneira.

Ele desliza a minha frente, e inclino minha cabeça para trás


para olhar para ele.
— Estava conversando com Paige sobre seus alunos. Eles
estão lhe dando alguns problemas, e como eu estava em grupos de
jovens quando criança, ela achou que eu teria alguns conselhos.

— Ah, eu não estava...

Não estava o quê, Ari? Jesus.

Meu rosto aquece, e tento desviar o olhar, mas Noah não


permite.

Seus dedos sobem para deslizar sob meu queixo, e meus


lábios se abrem para uma respiração rasa enquanto ele guia
minha atenção de volta para ele.

Ele não diz nada, mas é como se não precisasse. Está tudo
bem ali, escrito ao longo de seu rosto bonito, e na forma como seu
polegar desliza sobre meu queixo. É breve, imperceptível, mas é
sentido. Em todos os lugares.

Meu Deus estou em apuros.

Uma vez que está satisfeito, sua mão cai. — Não posso deixar
Paige sair sozinha, não é seguro.

Eu aceno e vou dar um passo atrás, mas ele não permite isso
também. Não sei por que estou agindo assim.

Chase deve ter me estragado.

— A sua amiga desistiu dela, então preciso levá-la para casa


— Oh meu Deus, eu sinto muito. — Balanço-me da névoa
estranha em que caí. — Vá. Não queria mantê-lo, faça o que
precisa.

Seus olhos se estreitam.

— Sério, aproveite sua noite, não tem que tomar conta de


mim. Cameron e os outros estão por aqui em algum lugar; eu
ficarei bem. Não andarei andar sozinha se é com isso que está
preocupado.

A postura de Noah se alarga um pouco, e sua língua sai,


rolando ao longo de seus lábios. — Explicarei isto para você, então
preste atenção, porque preciso que me ouça. — Sua resposta é
instantânea e forte, e ele se aproxima, mantendo meus olhos
reféns. — Não quero que pense que Paige está aqui comigo esta
noite. Ela não está, mas é minha amiga, e preciso ter certeza que
ela chegue em casa em segurança. Não quero você que fique aqui
porque estou pensando que veio aqui por mim esta noite, e se eu
for completamente honesto agora, não quero compartilhá-la com a
pessoa que tenho certeza que acabou de perceber isso. Portanto,
se veio por mim, venha comigo. — Ele faz uma pausa, mas apenas
por um segundo. — Porque eu estava a seu caminho de qualquer
maneira. — Noah respira fundo, assentindo para si mesmo. —
Estou saindo de uma derrota hoje, faça minha noite parecer uma
vitória. Venha, Julieta.

— Está bem.

Ele faz uma careta, sua cabeça ligeiramente inclinada como


se estivesse surpreso. — Está bem?

— Sim, está bem.


Noah ri, subconscientemente esfregando a parte de trás de
sua cabeça. — Isso foi mais fácil do que pensava.

Dou de ombros, sorrindo para ele. Antes, poderia ter parado


e pensado sobre isso, mas não quero. Não preciso.

Noah é um cara de valor, e ele me aceita do mesmo jeito.


Como eu sou.

— Deixe-me dizer a Mason que estou saindo para que não


surte. — Paro. — Bem, ele ainda pode surtar, mas pelo menos
saberá onde estou.

Noah sorri, dando passos para trás. — Vou pegar minhas


chaves.

Nós nos separamos, e só tenho que girar, e dar um único


passo para a direita, e meu irmão está à vista, como sempre, com
Brady e Chase ao seu lado. Dirijo-me a eles.

Brady me vê primeiro, e um assobio baixo escapa dele quando


se vira para me encarar completamente.

— Ari baby! — Brady estende os braços e deslizo em seu


abraço.

Ele tenta me levantar no ar, mas Mason empurra seu ombro


para baixo, fazendo-o rir.

— E aí, irmã? — Mason levanta uma sobrancelha, lançando


um rápido olhar na direção de onde vim. — Parece que tem algo a
dizer, e aposto que não é um oi.
— Oi de novo. Senti sua falta na última hora. Desculpe, uma
segunda vez sobre o jogo. — Eu rio quando ele me dá um revirar
de olhos brincalhão, empurrando-se para frente para beijar minha
têmpora.

Eu sorrio. — Só avisando que estou indo com Noah levar sua


amiga para casa. Voltarei mais tarde. Acho.

Ele leva a garrafa de cerveja aos lábios, olhando por cima da


borda enquanto toma um gole. — Só você?

— Apenas eu.

— Não pode levar Cam com você?

— Ela está com Trey.

— Certo. — Ele acena com a cabeça, me olhando.

Meu irmão sabe que tenho saído sozinha com Noah e estou
aqui viva e bem hoje. Ele não teve um ataque quando fui com Noah
antes, mas isso é diferente. É noite; as pessoas estão bebendo; ele
está bebendo, o que o torna mais protetor e paranoico, mas sabe
onde Noah mora, provavelmente tem um plano de chutar sua
bunda já traçado em sua cabeça, caso sinta necessidade de fazê-
lo. Garanto que é a única razão pela qual ele não me pressiona
mais. — Atenda seu telefone se eu ligar para você.

— Atenderei...

— Por que não pode esperar aqui? — Chase empurra a


parede. — Por que precisa ir com ele para levar uma garota para
casa?
A cabeça de Mason puxa em direção ao seu amigo, e Brady
tosse, se virando para o lado para esconder uma risada.

Eu me forço a encontrar o olhar de Chase. — Eu quero ir.

— Por quê?

Meu pulso salta na minha garganta, e balanço minha cabeça.


— Por que se importa?

Seus olhos se estreitam, e ele se aproxima... e meu irmão o


segue.

Chase balança a cabeça, passando por mim. — Que seja. Vou


recarregar.

Mason aponta sua carranca para mim. — Qual é o problema


dele?

— Ele é seu amigo. Pergunte a ele.

— Ele é nosso amigo.

— Certo. — Quase tinha esquecido. — Eu tenho que ir. Noah


está esperando.

— Sim, tudo bem. — Mason acena com a cabeça e giro,


irritada enquanto me dirijo para a porta, onde Noah espera, mas o
aborrecimento desaparece quando o encontro lá esperando por
mim, um moletom na mão.

— Preparada? — Pergunta.
Eu aceno, me virando para Paige com um sorriso. — Oi de
novo.

— Ei, estou feliz que veio. — Ela sorri, deslizando porta afora.
— Noah estava prestes a ter uma festa de piedade.

Olho para Noah, e ele pisca para mim. Não sei por que, mas
meu corpo inteiro aquece, então rapidamente saio, acolhendo o ar
frio.

Quando chegamos à caminhonete de Noah, Paige abre a


porta, mas ela dá um passo atrás, acenando com a cabeça para eu
entrar primeiro, por isso entro. Dirigimo-nos para o lado oposto do
campus, e surpreendentemente, não é estranho.

Paige retoma a conversa que Noah disse que estavam tendo,


pedindo minha opinião, e faço o meu melhor para oferecer uma
solução que possa ajudar. É meio legal ser incluída em uma
discussão que poderiam ter interrompido ou retomado em outro
momento.

Uma vez em seu prédio, ela sai, virando-se para nós com um
aceno, e observamos à medida que desaparece dentro dele. Noah
espera a porta se fechar completamente atrás dela, e depois saímos
do estacionamento.

Ele para em um posto de gasolina, e ambos escolhemos


Icees79, apesar do ar frio. Subimos de volta para a caminhonete,
mas quando me sento ao lado da porta, Noah olha para cima,

79
-Raspadinhas de gelo com licor.
balançando o queixo um pouco, os lábios curvados nos cantos.
Então, com meu estômago ameaçando se contorcer em mil nós,
deslizo até que estamos coxa com coxa.

— Posso te levar a algum lugar? — Pergunta.

Eu aceno, puxando meu canudo entre meus lábios, e seus


olhos seguem o movimento. É com uma respiração profunda que
olha para a frente e lá vamos nós.

Conduzimos com o rádio desligado por pouco mais de trinta


minutos, antes de Noah sair da estrada principal, estacionando no
acostamento. Eu desafivelo meu cinto de segurança e me inclino
para frente para tentar ver além da escuridão.

— Este parece um bom lugar para enterrar um corpo.

— Não sei sobre enterrar, mas definitivamente perder um no


mar.

Minha cabeça se move em direção à dele e ele ri, abrindo a


porta.

Ele pega o moletom que levou para fora de casa e espera que
eu deslize em seu caminho.

Pegando a metade do Icee da minha mão, coloca-o sobre o


capô, puxando o moletom sobre minha cabeça.

Eu rio, deslizando meus braços, as mangas penduradas bem


sobre minhas mãos. É algodão macio e fresco por dentro e cheira
a Noah.

— Obrigada.
Ele sorri, me entregando a minha bebida. — De nada.

— Você planejou isso, não é?

— Achei que gostaria de fazer uma pequena viagem.

Eu puxo meus lábios para um lado.

— Vamos. — Ele acena.

Caminhamos lado a lado por uma pequena encosta que leva


a uma trilha larga, e além dela, nada além do oceano. Meu sorriso
é instantâneo.

— Puta merda — sussurro, dando um passo à sua frente em


direção ao pico extenso do penhasco no centro.

A lua reflete no mar do jeito que amo, mas é ainda melhor


porque estamos mais alto do que já estive antes, então brilha como
gelo abaixo de nós. Eu rio, olhando para Noah enquanto ele
lentamente se aproxima ao meu lado.

— Gosta?

Assentindo, olho para frente novamente. — É incrível.

— Venha aqui. — Noah pega minha mão, me levando alguns


metros para a esquerda, onde há um leve declive na rocha,
permitindo-nos sentar e balançar nossos pés, outra pedra plana
alguns metros abaixo para pegar nossa queda, se nos afastarmos
muito da borda.

Eu não posso deixar de rir de novo, cutucando-o no ombro.


— Isto é uma loucura.
— Chama-se Sunset Cliffs.

— Cara, temos que voltar para ver o sol se pôr. Amo a lua
sobre a água, mas o pôr do sol é definitivamente uma visão que
tenho que ver daqui. — Olho para ele.

— Quer voltar, eu lhe trarei novamente — ele me diz.

— Diga que jura.

Rindo, ele olha para a frente. — Juro.

— Quando eu era pequena, meus pais nos levavam para o


litoral todos os domingos para um jantar de piquenique. Meu pai
montava uma barraca, sabe do tipo que é só rede? — Sorrio. —
Minha mãe montava uma mesa e arrumava a comida, enquanto
eu e Mase montávamos as cadeiras e as empilhávamos com
cobertores. Comíamos, jogávamos jogos de tabuleiro, e quando o
sol começava a se pôr, nossos pais nos contavam histórias sobre
quando eram jovens ou quando éramos bebês. Era sempre algo
novo, algo que ainda não tínhamos ouvido. — Eu adorava aquelas
noites.

— Sua família significa muito para você.

— Minha família significa tudo para mim. Quero ser tudo que
minha mãe é. Forte e independente à minha maneira, um exemplo
sólido, mas humano em meus erros. Quero ser orgulhosa e
encorajadora, receptiva mas firme, mesmo quando dói. Mesmo
quando é difícil. Quero fazer frango e bolinhos quando minha filha
sentir que seu mundo está desmoronando como os adolescentes
pensam e quero assar cupcakes com estúpido glacê doce quando
meu filho for muito duro consigo mesmo por uma nota ruim ou
reprovação. — Rio, abaixando a cabeça. — Claramente tenho
algum trabalho a fazer para chegar lá, mas… — olho para Noah.

Ele passa a mão pelo antebraço, um olhar de reverência


adornado em seu rosto. — Você quer ser mãe.

Meus lábios se espalham. — Claro que quero.

Ele balança a cabeça, e uma leve carranca se forma ao longo


da minha testa.

— Não — começa. — É isso. É por isso que não se importou


onde ia a escola. É por isso que não tinha opinião quando se
tratava de escolher e foi isso que não me disse quando imaginei
que havia mais.

Minha garganta fica grossa, mas aceno.

— Você disse que era embaraçoso — me lembra. — Não é.

— Dizer a você é.

Ele quase parece ofendido, e uma risada ansiosa me escapa.

— Noah, você trabalhou toda a sua vida em direção a um


objetivo e está a caminho de alcançá-lo. Está prestes a ter o mundo
ao seu alcance, e é uma homenagem ao que dedicou sua vida. Aqui
estou eu, sonhando em ser dona de casa, e ainda nem descobri
como não queimar um pão francês.

Eu rio disso, mas Noah franze a testa, balançando a cabeça.

— Não minimize seus desejos. O que quer é se entregar à


felicidade dos outros. Isso é altruísta.
— Alguns diriam que é egoísmo querer ficar em casa e criar
uma família enquanto meu parceiro dá duro.

— Um bom homem discordaria.

Eu pisco para ele e seu peito infla.

— Sim, talvez esteja certo. — Um suspiro passa pelas minhas


narinas, e balanço minha cabeça. — Meu pai gostaria de você —
digo a ele. — Alguém que ama sua mãe, joga futebol como um chefe
e cozinha como um fodão.

Noah desvia o olhar, humilde demais para me encarar


enquanto me gabo dele, mas seu sorriso é evidente nas rugas
emoldurando suas feições.

Depois de um momento de silêncio, diz — Eu fui a um


piquenique uma vez.

Meu queixo cai. — Uma vez?!

Ele ri, olhando para baixo. — Sim. Uma vez. Minha mãe
trabalhava muito, mas no meu aniversário, um ano, ela me pegou
cedo na escola, embrulhou o almoço em uma cesta de roupas e lá
fomos nós.

— Para onde ela te levou?

Encontra meus olhos. — Ela me trouxe aqui.

E meu coração derrete. — Aqui?

Ele concorda. — Ela me deu meu presente, uma bola de


futebol. — Ri, lembrando, e traço cada linha de seu rosto. — Era o
mesmo todos os anos. Ela perguntava o que queria, e eu dizia uma
bola de futebol. Dizia-me para escolher outra coisa, mas me
mantinha firme.

— Não se pode ter muito.

— Isso é exatamente o que eu diria. — Espreita-me. —


Mason?

— Sim. Minha avó não tinha muito dinheiro, por isso ele
sempre pedia uma bola. Sabia que ela lhe daria algo de qualquer
maneira, por isso queria ter certeza de que não custaria muito a
ela.

— Exatamente. — Ele olha, e isso me atinge.

É por isso que ele fez isso. Sabia que sua mãe não poderia
fazer muito mais, mas morreria tentando, então facilitou para ela.
Não há dúvida em minha mente que ela sabia. Deve ter sido tão
difícil ter apenas um dos pais. O tempo de uma pessoa.

Se ela trabalhava muito, ele ficava sozinho com frequência?

Ele se sente sozinho agora?

Eu limpo minha garganta. — O que ela preparou para o


almoço?

— Sorvete.

Uma risada borbulha em mim e a de Noah me segue.


Juntos, nos voltamos para o oceano ouvindo o som das ondas
quebrando até o frio ficar muito forte, e então voltamos para o
campus.

Uma vez que estamos parando na frente do meu dormitório,


não estou pronta para sair, então me viro para ele e puxo meus
joelhos até meu peito. — Conte-me algo.

— O que quer saber? — Murmura, um sorriso escondido em


seus lábios.

Eu deixo cair minha cabeça contra o assento e sussurro —


Tudo.
Arianna
É um pouco depois das onze quando Mason, Brady e Chase
entram pela porta.

Brady me balança em um abraço e Mason dá um beijo mal-


humorado no meu cabelo enquanto desliza, caindo de bunda no
sofá, seus olhos fechando instantaneamente.

— Alguém teve uma longa noite. — Eu rio, me virando para


Chase, que hesita perto da porta, o encontro da noite passada
provavelmente passando em sua cabeça, então alivio sua
consciência, oferecendo um sorriso. — Ei.

Funciona, seus ombros se levantam um pouco, e ele sorri,


seus olhos caindo para a minha roupa. — Ei, parece bem.

— Obrigada. — Aliso minha blusa por instinto, olhando para


minhas botas cor de vinho combinando. — Cameron disse que
vocês pediram pizza?

— Sim, nenhum de nós pensou que poderíamos ficar de pé


tempo suficiente para grelhar hambúrgueres como planejamos.
Eu rio, e ele me segue até a cozinha, postando-se no lado
oposto da bancada. — A perda foi tão ruim assim, hein?

— Foda-se. Vencemos a nós mesmos.

Eu solto um longo suspiro. — É verdade, mas ei, talvez tenha


sua chance de começar esta semana agora. Houve três erros dos
recebedores titulares apenas neste jogo.

— Odeio admitir, mas…

— Mas essa foi a primeira coisa que pensou?

Ele concorda.

— Ei, esse é o nome do jogo. — Eu dou de ombros. — Nossos


pais disseram a vocês uma e outra vez, o erro de um homem...

— É o ganho de outro homem. — Ele franze a testa de repente,


seus olhos levantando para os meus.

Eles se seguram ali, só caindo quando a porta é aberta, e


Cameron entra, um cara que vi nos corredores atrás dela, caixas
de pizza na mão. — A comida chegou. — Colocam os itens sobre,
e ela dá um tapinha no ombro do menino, empurrando-o de volta
para o corredor. — Obrigada, G-dawg. Eu devo-te uma.

— Vou lucrar com isso!

— Está bem, tchau! — Grita, se virando para nós com um


sorriso. — Vamos comer para que possamos dizer que nossos pais
foram bons filhos e seguir caminhos separados. Eu tenho merda
para fazer hoje.
Eu começo a passar os pratos, grata pela opção rápida e fácil,
já que Noah me pediu para ir com ele a algum lugar hoje.

Levamos as caixas para a sala, e desta vez, a TV fica


desligada.

Nós nos sentamos, ouvimos as jogadas dos rapazes, como se


não assistíssemos o jogo na TV, mas não nos importamos.
Crescendo, esse era um dos nossos momentos favoritos da
semana, quando nossas famílias se reuniam no final da semana e
conversavam.

Conversamos sobre a escola e as provas, e os rapazes nos


deram a ideia de acamparmos nas próximas férias escolares, em
vez de ir para nossa casa de praia como pensamos que faríamos.
Eles marcaram um jogo quinta-feira, então, quando voltassem à
cidade, estariam livres até segunda-feira. No segundo em que
concordamos em ir, o plano tornou-se oficial.

Encostada na mesa de centro ao lado de Cameron meu


telefone toca no chão, ao meu lado. O nome de Noah, ou mais
Romeu, pisca na tela.

— Alguém comprou um telefone novo. — Cameron, sendo o


idiota que é, pega, respondendo no viva-voz. — Ah, Romeu, Romeu,
para onde...

— Cale-se! — Eu rio, pegando-o dela, apenas para ter Brady


pegando-o de mim.

— Alô? — Ele faz o possível para imitar a voz de uma mulher,


falhando miseravelmente, nos fazendo rir.
— Eu darei um palpite e direi que este é... Lancaster? — O
sorriso de Noah é evidente.

Eu sorrio, e Brady assente.

— Estou impressionado, idiota. Agora, por que está


chamando nossa garota?

— Está bem! — Eu pulo, puxando-o das mãos grandes de


Brady, e pulo sobre as pernas estendidas do meu irmão, trazendo-
o ao meu ouvido. — Alô.

— A garota deles, hein? — Brinca, e meu rosto aquece quando


percebo que esqueci a parte do alto-falante.

Eu rapidamente me viro, por isso não estou de frente para


eles, desligando o alto-falante. — Sim, Mason tentou reeducar o
rapaz por anos. É inútil — brinco.

— Anotado. — Noah ri no meu ouvido, e então fica quieto por


um momento. — Você ainda é minha hoje?

O calor toma conta de mim, e aceno, mesmo que ele não


possa me ver. — Sou.

— Bom, porque já estou a caminho.

— Perfeito. — Vou em direção ao meu quarto para pegar


minha bolsa. — Cameron está prestes a sair, então sairei com ela.
Encontro você nas portas?

— Espere lá dentro até ver minha caminhonete.


Eu mordo de volta um sorriso. — Sim, Noah. Mason me
treinou bem.

Sua risada sonora enche meu ouvido. — Cinco minutos,


Julieta.

— Está bem.

Viro-me para dizer a Cameron, para irmos, mas as palavras


morrem em meus lábios quando encontro todos os olhos em mim.
— O quê?

Depois de um segundo de silêncio, é Mason quem se levanta


de um salto, e com mais energia do que vi dele o dia todo.

— Nada, irmãzinha. — Ele faz uma pausa, me olhando um


minuto antes de beijar minha têmpora novamente e se dirigir para
a porta. — Amo você.

— Amo você. Não precisa sair.

— Não vou, estou trancando-a atrás de vocês para que


nenhum de seus colegas sedutores tentem entrar quando não
estiverem.

Eu rio, enfiando meu telefone dentro da minha bolsa. — Boa


ideia.

Cameron se aproxima, puxando um suéter pela cabeça. —


Pronta?

— Sim.

Olhamos para os outros.


— Tchau rapazes.

— Mais tarde — Brady grita.

Chase não diz nada, olhando para a TV mais uma vez, e nós
saímos pela porta.

Noah está parando no segundo em que chego à saída, por isso


saio com Cameron.

Ele se inclina, abrindo o lado do passageiro para mim, e


deslizo para dentro, acenando para Cameron por cima do ombro
quando Trey para bem atrás dele.

Eu me viro para ele. — Ei.

— Ei. — Ele sorri, liga o rádio, e depois estamos na estrada.

Ele conduz na rodovia, em direção oposta de onde fomos


ontem à noite, mas não pergunto para onde vamos, e não é até
estarmos no estacionamento do Tri-City Medical que a súbita
necessidade de saber aparece.

Noah olha para a frente enquanto tira as chaves da ignição,


a mão caindo no colo como se o peso do cordão na palma da mão
fosse demais. Com uma respiração profunda, começa a sair da
cabine, então faço o mesmo, encontrando-o perto do capô.

Demora vários segundos, mas então ele aponta para um


pequeno prédio perto dos fundos, não exatamente uma parte do
hospital, mas no mesmo terreno. — Isso é um centro de
reabilitação.
Olho para o prédio com confusão, mas suas próximas
palavras esclarecem tudo.

— Minha mãe mora lá. — Acena para si mesmo. — Há cerca


de dois anos.

Meu peito afunda, o desejo de alcançá-lo e segurá-lo forte.

— Ela teve um AVC no meu último ano do ensino médio,


perdeu o movimento no braço esquerdo. — Sua risada é triste. —
Disse que não precisava dele, já que tinha um garanhão como filho.
— Ele sorri, mas cai por terra.

— Seu braço de arremesso — digo. — Ela jogou bola com


você.

— Todos os dias desde que eu conseguia segurar uma bola.


— Ele desvia o olhar. — Não deixou que isso a impedisse de fazer
uma maldita coisa, ainda fez o jantar, continuou como nada, onde
poderia de qualquer maneira. Ela era contadora de uma pequena
empresa, então isso a atrasou, perdeu algum trabalho, mas ela
estava bem, então não importava.

Agarro o colarinho do meu suéter, a tristeza em seu tom é


dolorosa.

— É por isso que escolheu Avix — digo. Ele não queria deixá-
la para começar, mas depois disso, não podia. Queria estar lá para
ela.

Noah assente. — Ela foi boa por muito tempo depois disso, e
então veio o jogo final da minha temporada de calouro na Avix.
Ganhamos. Não errei um único alvo naquela noite. Cara, nunca
estive em chamas como naquele jogo. — Seus lábios se contraem
enquanto se lembra, e faço uma nota mental para encontrar os
destaques mais tarde. — Tudo o que conseguia pensar era que mal
podia esperar para ligar para minha mãe depois, e liguei. Eu ainda
estava em campo, ainda com os repórteres me acompanhando de
todos os ângulos, mas eu tinha que falar com ela primeiro. Tocou
várias vezes, e quando a ligação finalmente foi atendida, não era a
sua voz. Eu sabia sem que me dissessem que tinha acontecido de
novo. Só não esperava que fosse pior do que antes.

A dor em sua voz é demais, então me aproximo, e seus olhos


vêm até os meus.

— Vamos entrar. — Eu aceno, precisando que ele entenda


que não precisa me explicar ou me preparar. Entrarei de qualquer
jeito. Eu quero. Preciso.

Acho que ele precisa de mim...

— Eu gostaria de conhecê-la.

Ele me encara por um longo momento, e então acena de volta.


— Sim, vamos, porque ela está morrendo de vontade de conhecê-
la.

— Ela sabe que eu vou?

— Sim, Julieta, ela sabe — sussurra, virando seu corpo para


que fique totalmente de frente para mim e apenas um pé de
distância.

Minha garganta seca, e quando pega minha mão, eu a dou a


ele.
Juntos, entramos no centro de reabilitação para encontrar a
mulher responsável pelo homem ao meu lado.

Uma risada me escapa, e coloco meus pés no banco. — Para


ser justa, minha mãe e meu pai tentaram me mostrar, mas nunca
terminou bem.

A Sra. Riley, que insistiu várias vezes que eu a chamasse de


Lori, sorri. — Mas está aprendendo bem agora, pelo que ouvi.

Você ouve coisas?

— Talvez não estivesse pronta para algo novo antes — diz


gentilmente, e aceno. — E talvez agora esteja... — fala com a
sabedoria de uma mãe, calorosa e gentil.

Meu pulso chuta contra o meu peito, e suas feições se


suavizam diante de mim.

— Sim talvez. Eu tenho um professor muito bom. — Olho


para o seu filho, que pisca, como se estivesse esperando que eu
olhasse em sua direção. Com um sorriso, olho de volta para Lori.
— Minha mãe literalmente tirava todas as receitas do livro e me
trancava em uma cadeira até que eu fizesse mágica se ela me
ouvisse lamentar como suas instruções eram medíocres, e depois
meu pai se sentiria mal e forçaria Mason a ajudar também. E isso
inspiraria minha mãe a convidar todos os nossos amigos. — Eu
suspiro. — À parti daí, foi por água abaixo.
Lori e Noah riem, e o calor se espalha por mim enquanto,
simultaneamente, alcançam as mãos um do outro. Noah está
encostado na lateral da cama do hospital, meio sentado, meio em
pé. Ele só quer estar o mais próximo possível de sua mãe. Quer
que ela saiba que ele a ama e sente a sua falta. Aprecia cada
palavra dita por ela e a força interior que é necessária para rir e
sorrir quando seu mundo é um pouco menor do que costumava
ser.

Noah chama minha atenção, uma calma em seu rosto que


ainda tenho que testemunhar de forma ofuscante.

— Você tem uma família grande, então? — Lori pergunta


baixinho, tirando minha atenção de Noah.

— Tenho sim. Tias e tios, primos. Amigos que são mais como
uma família.

— E eles são bons para você?

Não posso deixar de sorrir. — Incríveis. Meus pais... — uma


risada baixa me escapa e reviro os olhos — ...meu irmão os chama
de asquerosos, mas sempre com um sorriso. Eles são apenas...
todas as coisas que uma pessoa poderia desejar, sabe? — Eu
levanto meus ombros. — Fomos abençoados.

— Brilhante. — Sua voz é baixa, como se fosse um sussurro


esperançoso.

Olho para Noah, que olha para a mão esquerda flácida de sua
mãe gentilmente colocada sobre seu colo.

— Querido — murmura, encarando-o. — Pode me trazer um


suco de laranja antes de ir?
— Sim, mãe. — Ele beija sua bochecha, levantando seus
olhos brilhantes para os meus. — Volto logo.

Eu mastigo o interior do meu lábio, balançando a cabeça


enquanto o vejo deslizar para fora da porta.

— Obrigada — Lori sussurra no momento em que ele se foi,


chamando minha atenção para ela. Ela sorri, e embora apenas o
lado direito de seus lábios se levante, ainda saberia, se não
tivessem se movido. Está em seu tom, no azul de seus olhos, quase
da mesma cor do seu único filho.

— Obrigada por me deixar vir.

— Não, doce menina. — Ela pisca as lágrimas. — Obrigada


por dar vida ao meu menino. Faz muito tempo desde que
testemunhei todos os seus tons de azul, mas a cada visita
ultimamente, sou presenteada com um pouco mais.

— Ultimamente? — Expiro.

— Sim, querida. — Acena com a cabeça, alcançando seu


corpo com a mão que trabalha, então fico de pé, deslizando a
minha na dela. — Ultimamente. Há semanas, talvez mais.

Minha pele cora, mas como seu filho, ela não chama a
atenção para isso, me permitindo um momento para desviar o
olhar. Limpando minha garganta, a encaro mais uma vez.

— Meh, pode ser porque ele é basicamente um deus do


futebol nesta temporada — provoco com um encolher de ombros
brincalhão.
Uma gargalhada estridente de Lori e ela sorri. — Sim. Pode
ser, não pode?

Compartilhamos um sorriso quando Noah volta para o


quarto, nos olhando com suspeita enquanto lentamente coloca um
pequeno suco ao seu lado.

— O que eu perdi? — Ele olha entre nós.

— Eu experimentando aquele doce senso de humor de que


falou — sua mãe diz, e minha cabeça balança em sua direção.

Suas sobrancelhas levantam. — Obrigado, mãe. — Ele ri. —


Devíamos ir.

Como se fosse uma deixa, suas palavras começam a se


arrastar um pouco mais, mas ela sorri mesmo assim. — Sim,
querido, deveria. — A malícia floresce em seus olhos. — Leve a
garota para casa, aconchegue-a.

— Mãe.

Lori ri, rolando a cabeça na minha direção. Uma suavidade


cai sobre ela, suas piscadas ficam mais lentas a cada segundo. —
Mal posso esperar para vê-la novamente, querida.

Uma melancolia toma conta do quarto, engrossando o ar na


minha garganta. Eu aceno enquanto saio na frente de Noah, dando
aos dois um momento a sós.

No momento em que chego à saída, ele está ao meu lado,


saindo para o ar frio comigo.
Não temos muito inverno aqui no sul da Califórnia, e quando
se vive aqui há tanto tempo, se acostuma com o tipo de frio que
temos, por isso, à medida que há uma mordida no ar, não há nada
que nossos suéteres não nos aliviem.

— Sua mãe é um doce.

— Ela é impossível — ele brinca.

Rindo, deslizo a sua frente, andando para trás. — Não mais


do que a minha.

Ele sorri, mas não alcança seus olhos.

Percebo então como estava errada antes quando ele disse que
seus domingos estavam reservados, assim como sua linda amiga
loira. Não tinha nada a ver com ela e tudo a ver com sua mãe, mas
ele diz que seus domingos estão totalmente reservados, e sua mãe
estava exausta depois de uma visita de duas horas. Isso significa
que ele sai daqui toda semana e faz a única coisa que acha que
pode. Vai para casa, sozinho, porque depois de algumas horas com
a mulher que lhe deu o mundo, mas não consegue mais funcionar
sozinha, um sentimento de impotência do qual não consegue
escapar o pesa.

Não hoje, não quando acho que posso ajudar a tirá-lo.

Dentro da cabine, o encaro. — Então, sei que é domingo e


tudo, e você tem treino amanhã, mas é cedo o suficiente, e nós
somos jovens...

Noah ri, sua cabeça caindo para trás em seu assento, mas
aponta seus olhos para os meus. — O que tem em mente?
— Fazenda Pasco Bella.

Ele aperta os olhos, mas há uma pitada de diversão ali.

— Sabe, o canteiro de abóboras? Onde come pernas de peru


maiores que meus bíceps, bebe cerveja quente, se perde no
labirinto de milho... — fico boquiaberta. — Nunca foi?

Ele sorri, balançando a cabeça.

— Bem, isso é simplesmente errado. É uma obrigação, então


o que me diz, Romeu? — Sorrio. — Está dentro?

Noah me encara por um longo momento, o sorriso em seus


lábios suavizando, mas nunca escorregando. No mais calmo e
silencioso dos sussurros, diz — Se você está dentro, eu estou
dentro.

Minha boca se abre, mas nada sai, e Noah se aproxima,


guiando meu cabelo atrás da minha orelha. Sua mão permanece
lá por um momento, seus olhos ainda nos meus. — Vai nos
liderar?

A boca do meu estômago se revela, suas palavras pesando


como acredito que ele pretendia, a insinuação dupla alta e clara.

Ele precisa de mim para liderar o caminho.

Para a fazenda… e muito mais.


— Mentira. — Noah corre para frente, fazendo cócegas no meu
estômago enquanto giro, evitando suas mãos.

— Vi o terror em seus olhos! — Nós nos abaixamos sob o


corredor de correntes, correndo para o portão antes que o
atendente o fechasse. — Você, Noah Riley, se assustou com uma
criança de dez anos.

— Uma menina de dez anos em um vestido de cem anos atrás,


sangue no rosto e um corte no olho… que pulou do nada.

— Sim, não nos esqueçamos tudo isso — provoco, pulando


na última carroça para o labirinto de milho.

Noah desliza ao meu lado, jogando o braço sobre a parte de


trás do metal frio. — Que tal conversarmos sobre como viu meus
olhos, Julieta.

Nós balançamos enquanto o trator que conduz as carroças


decola, rapidamente encarando mais uma vez.

— Prossiga.

Ele levanta uma sobrancelha escura. — Alguém estava com


muito medo de olhar em todos os cantos da casa mal-assombrada
com a qual estava tão animada.

— E outra pessoa estava mais do que disposta a fazer isso


por mim.

— Maldição, pode apostar.


Meus dedos dos pés se dobram em meus sapatos e levanto o
queixo em triunfo. — Veja, queria ser o cara durão que foi o
primeiro.

A língua de Noah rola sobre o lábio inferior, e assente. — Sim,


queria.

— Há apenas... um problema com isso.

Ele me observa atentamente. — E o que é isso?

Meu pulso martela contra meu pescoço, e então me viro,


pulando para o lado e desaparecendo nos talos de milho.

— O que...Ari! — Noah grita, e então seus pés batem atrás de


mim.

Eu corro para a esquerda, e depois para a direita, e então


suas mãos grandes estão envolvendo meus bíceps e me viro.

Eu suspiro, olhando em seus olhos azuis com um sorriso.


Estreitam-se, se suavizam, e em seguida, seu aperto aperta.

Engulo, meu peito arfando enquanto me inclino, deslizando


minhas mãos ao longo de seu peitoral.

— Você me pediu para liderar.

O franzir da sua testa é instantâneo, e ele se aproxima,


balançando a cabeça sutilmente. Minha pele cora
instantaneamente, mas me recuso a desviar o olhar.
Seus olhos azuis perfuram os meus, alcançando além da
superfície e em minha mente. É como se ele estivesse vendo cada
parte de mim. É enervante, mas emocionante.

É Noah.

Percorro todos os seus traços, desde os seus olhos líquidos


até a barba por fazer em torno de sua mandíbula e queixo, uma
sombra perfeita. Tão viril, mas tão suave. Estendo a mão, a nitidez
dos cabelos curtos criando nós dentro do meu estômago. Olho para
ele, mas não precisava, para saber que o dele estaria em mim.
Estão.

Sempre estão.

Eu traço sua mandíbula, deslizando meu polegar ao longo de


seu queixo, e então com dedos trêmulos, traço seus lábios. Começo
com a parte de baixo, seguindo a curva com precisão, e quando
encontro o canto, sua respiração quente se quebra na minha pele,
meu corpo estremece diante dele. Para ele. Por causa dele.

Eu deslizo mais perto. Noah não se move.

Minha mão se move para baixo, e engulo como faz quando


meu toque desliza ao longo de sua garganta, para seu pescoço e
para baixo, até que estou agarrando o tecido macio de sua camisa
de algodão. Eu o puxo para mais perto.

Ele se move de boa vontade, mas não empurra. Espera.

À medida que me levanto nos dedos dos pés, trazendo meus


lábios a um centímetro dos dele, uma tempestade fervilha em seus
olhos, e se tornam o azul da meia-noite que aprendi a amar.
Ele não esmaga sua boca na minha como pensei que faria,
não pressiona sua boca na minha. Noah olha fixamente.

Ele nota o rubor das minhas bochechas, o rápido subir e


descer do meu peito, e a parte dos meus lábios ansiosos, bem aqui
esperando pelos dele.

Lentamente, com a paciência de um santo, ele se inclina,


permitindo que o dele flutue sobre o meu. A sensação me faz pular,
e o canto da boca de Noah se ergue em um lindo, quase arrogante,
sorriso impecável.

Meu núcleo aperta.

No segundo seguinte, ele me beija sem me beijar, seus lábios


empurrando nos meus com uma suavidade pressurizada que não
consigo explicar. É pesado, enquanto ainda consegue uma
contenção cuidadosa, como se estivesse me permitindo ter certeza.

Para me fazer mudar de ideia. Afastar-me. Não o farei.

— Lembra-se do que eu disse a você? — Murmura, o calor de


sua respiração fazendo muito mais do que deveria. — Uma coisa
única, Julieta.

Ele não me negará de novo...

Eu não quero que ele negue. Então, lidero.

Pressiono contra ele, e isso era tudo que ele precisava.

Suas mãos voam para o meu rosto, me agarrando, me


puxando para mais perto, assumindo com um beijo completo e
entorpecente.
Meus braços voam ao redor de seu pescoço, mergulhando em
seu cabelo enquanto ele desaparece no meu. Um cai na parte
inferior das minhas costas, deslizando sob a bainha da minha
camisa. Seus dedos mordem minha pele, e gemo em sua boca. Sua
língua mergulha, mergulhando e aprendendo o meu gosto,
persuadindo a minha a dançar com a dele. Eu lhe dou o que quer
e quando morde meu lábio, eu gemo.

— Maldição — geme, e depois seus lábios estão no meu


pescoço, provocando. Testando-me.

Pressiono a parte de trás de sua cabeça, e ele aplica mais


pressão.

Meus olhos se abrem em um suspiro, apontando para o céu.

O sol se pôs, a lua está bem acima de nós, e o homem


chupando os pontos sensíveis da minha pele é... perfeição.

E então uma luz me cega e grito.

Noah se liberta, simultaneamente me empurrando para trás


dele enquanto sua mão voa para bloquear o brilho.

— Muito bem, vocês dois, vamos. — O segurança acende a


lanterna.

Minha pele fica vermelha, não que já não estivesse, e abaixo


minha cabeça, permitindo que Noah me arraste atrás dele para
fora do milharal.

Enquanto cruzamos o caminho de terra, aplausos


estrondosos soam, e minha cabeça se levanta para ver as pessoas
na fila nos aplaudindo.
Olho para Noah, horrorizada, mas quando não recebo nada
além de um sorriso brilhante de volta, logo estamos rindo com eles.
Enquanto nos afastamos, percebo que hoje foi um dos melhores
dias que tive em muito tempo, e tenho que agradecer a Noah por
isso.

Eu saí com meus amigos e familiares, aproveitando cada


segundo. Não doeu ver Chase e não havia constrangimento para
falar. Parecia normal. Bom, e tenho a sensação de que o homem
ao meu lado é a razão disso.

Depois disso, estar com a mãe de Noah e o jeito suave e


amoroso com que ela falava, aliviou a saudade que não tinha
percebido que estava sentindo. Ela é uma mulher honesta e gentil,
e meio que me lembra minha própria mãe.

E há o agora.

O grande.

O beijo.

Noah.

Não sei o que significa, mas sei que quero mais.

Noah deve sentir o mesmo, porque no momento em que o


segurança nos deixa, tendo esperado até chegarmos à
caminhonete de Noah, ele me agarra pelo pulso e me puxa para
ele.

Noah desce, pegando meus lábios com os seus mais uma vez.
— Essa é a segunda vez que a segurança nos expulsa de algum
lugar — brinca, falando no tom mais gentil. — O que farei com
você?

Pressiono minha boca na dele, sussurrando com um sorriso


— O que você quiser.
Arianna
A sala comunal inteira está fora de seus assentos quando
Noah cai para trás, disparando uma espiral perfeita da linha de
quinze jardas do time adversário, para um passe épico de setenta
jardas direto para os braços de Chase.

Cameron e eu gritamos, pulando para cima e para baixo,


entrelaçando nossas mãos.

— Vamos! Vamos!

Nossos olhos voam pela tela, saltando da direita para a


esquerda enquanto ele ataca defensor após defensor, e depois está
pulando, jogando os braços para fora apenas o suficiente para
passar a linha do gol. É touchdown Avix U.

Enlouquecemos, abraçando, gritando e aplaudindo.

— Puta merda, Ari! Seu primeiro touchdown universitário!

Pegamos nossos telefones para tirar fotos enquanto vão para


uma conversão de dois pontos, assumindo oficialmente a liderança
do jogo com vinte segundos restantes no relógio. Gravamos uma
pequena mensagem de vídeo, gritando e rindo enquanto giramos,
capturando as respostas da sala ao nosso redor, e em seguida,
rapidamente a colocamos no bate-papo em grupo que temos, para
que não percam nossas reações.

Cameron nos serve uma dose e atiramos de volta, aplaudindo


conforme eles se preparam para começar.

Cameron dança ao redor, deslizando perto para sussurrar —


Vamos sair daqui antes que fiquemos presas ajudando-os a
limpar.

— Boa ideia — sussurro de volta. — Mas primeiro... — deslizo


até a mesa, pegando uma garrafa meio vazia, e juntas, corremos
pelo corredor.

— Sim, vadia! — Cameron chama, e ao entrarmos em nosso


quarto, com a TV ligada, os meninos estão entrando em campo
para a comemoração da vitória.

— Uau! Graças a Deus. Noah precisava disso.

— Ah, Noah precisava, hein? — Ela mexe as sobrancelhas.

Atiro-a ao chão, pulando para o meu quarto e puxando minha


mala debaixo da cama. Eu a arrasto para a sala, deixando-a cair
ao lado dela no sofá.

— Sim, idiota. Ele precisava de um aumento no espírito.

— Querida, você elevou o seu espírito, acredite nisso —


brinca, plenamente consciente de que nosso domingo foi mais do
que as atividades físicas que ela vive para atribuir tudo.
Eu bato meu ombro com o dela. — Muito bem, o que está
preparando para a viagem?

— Ugh! — Ela cai na poltrona. — Precisamos? Não podemos


ficar bêbadas juntas e falar merda como nos bons velhos tempos?

Revirando os olhos, giro, pego a garrafa e tomo um gole,


passando para ela em seguida.

— Foda-se, sim! — Empurra nossas malas para fora do sofá


e pula na almofada. Cameron muda para o Spotify na TV e
dançamos, bebendo e compensando todo o tempo que perdemos
ultimamente.

Meia hora depois, estamos sentadas no chão, tirando selfies


e navegando pelas mídias sociais quando meu telefone toca, o
nome do meu irmão piscando na tela.

— Ali está ele! — Nós nos atrapalhamos com a tela,


respondendo a chamada do FaceTime para encontrar os rostos
suados dos rapazes, olhos pretos manchados por todas as
bochechas.

— Foda-se, sim! — Gritamos, sorrindo largo o suficiente para


combinar com o deles, e Mason e Brady envolvem seus braços em
volta do pescoço de Chase.

— Viu a porra do nosso garoto?! — Brady uiva. — Ele pegou


aquele filho da puta com uma mão!

— Inferno, sim, pegou. Essa é a mão forte, não é, Chase? —


Cameron brinca.
Chase abaixa a cabeça com uma risada, e Mason de
brincadeira o soca no peito.

— Você sabe disso — Chase diz a ela, seus olhos em mim. —


Recebi sua mensagem.

— Oh meu Deus, você atropelou aquele cara! — Eu sorrio. —


Espere até ver o replay! Você praticamente pulou sobre a cabeça
daquele cara!

— Que tal eu esperar e assistir com você?

Minha resposta congela na minha língua, meu estômago se


revirando. Chase ri então, apontando os olhos para além da
câmera.

— Estamos comemorando! — Cameron sorri, puxando a


garrafa em sua mão na visão da câmera.

— Droga! — Mason ri da nossa garrafa quase vazia,


aproximando-se do telefone, para que possamos ouvi-lo melhor
através do barulho crescente ao fundo. — Não fique muito fodida,
viajar pelas montanhas amanhã à noite não será divertido se fizer
isso.

— Para ser justa, já estava meio perdida quando a


confiscamos na festa do jogo.

— Ladras de bebida! — Brady acusa.

— Ei, contribuímos para os favores da festa. Nós


simplesmente não podemos usar nossas identidades falsas
naquele minimercado para comprar a merda real. — Cameron ri,
tomando outro gole. — Por que acha que estamos bebendo vodca
de melancia? Como se alguma vez tivéssemos escolhido isso!

— Esse é o vestiário deles? — Eu pergunto, me inclinando


para o lado como se pudesse espiar ao redor dele.

— Cara, sim, e me sinto como um caipira nos Hamptons —


brinca Brady.

— Aqui...— Chase pega o telefone de Mason. — Confira!

Ele vira o telefone para longe deles, arrastando-o lentamente


ao longo da sala. À medida que sua equipe percebe que estamos
na tela, assobiam e brincam de stripper com seus equipamentos,
fazendo Cam e eu rirmos.

— Conheça esse cara! — Chase rapidamente vira o telefone


de volta até que ele e um cara loiro suado e sem camisa estão na
foto. — Se não fosse pelo bloqueio dele, nunca teria atingido a
endzone.

— Isso e a bomba de um passe de Noah!

— Porra, certo?! — O cara loiro ri, dando um tapa no peito de


Chase.

Chase lambe os lábios e desvia o olhar, Mason aparecendo no


próximo segundo.

— Amo vocês, irmãzinhas! — Ele sorri. — Eu te vejo amanhã!


Estamos ficando fodidos!

— Foda-se sim! — Cam joga os braços para cima.


— Tchau!

Sorrimos, deixando que ele terminasse a ligação.

— Uau! — Cameron salta, correndo para a cozinha e abrindo


o freezer. — Nossos meninos são feras e estou faminta! Essas
tigelas de fettuccini são boas?

— Bom é estúpido. Estou falando da boa Bella Italia.

Cameron suspirou. — Não!

— Sim.

— Todos saúdam o quarterback culinário — brinca. — Vem


me ajudar.

Puxando meu tópico de mensagens, envio uma mensagem


rápida para Noah.

EU: Oi MVP80! PARABÉNS por um jogo matador! Esse passe foi


ouro de destaque!

EU: PS Cam está prestes a provar seu Alfredo! Esteja preparado


para as consequências. Minha garota não está acima de implorar.

80
-Most Valuable Player, “Jogador Mais Valioso”.
Lanço meu telefone, pulando para a cozinha com Cameron.

Mais ou menos meia hora depois, estamos cheias, nossa


neblina bêbada começa sua transição para a exaustão e estamos
caindo em nossas camas, mas mais duas horas se passam e ainda
estou acordada, então pego meu telefone.

Noah me respondeu enquanto comíamos, agradecendo e


dizendo que me ligaria amanhã; estavam apenas sendo carregados
no ônibus para a longa viagem de volta para casa.

Envio uma mensagem para ele agora de qualquer maneira.

EU: Está acordado?

Ele responde quase instantaneamente.

ROMEU: Estou.

EU: Achei que com certeza teria caído de adrenalina.


ROMEO: Não, não durmo bem depois dos jogos. Demoro muito para
nocautear. Tenho certeza que o resto do ônibus está frio. As luzes estão
apagadas desde que chegamos à rodovia.

EU: Você tem fones de ouvido?

Sorrio, sabendo que ele está sorrindo do outro lado.

ROMEU: Tenho. Você tem uma voz alta?

Uma risada jorra de mim, e não hesito. Liguei no FaceTime.

Ele leva alguns toques para atender, e quando atende, leva o


dedo aos lábios. Noah enfia os fones de ouvido, movendo-se para
que seu corpo fique meio contra a janela, meio contra o assento.

Ele puxa o capuz para ficar mais confortável, o grosso algodão


cinza agora pressionado contra as maçãs do rosto, acentuando a
nitidez de suas feições e lançando uma sombra baixa em seus
lábios, mas a cada poucos segundos, a janela fornece uma
pequena cintilação de luz, permitindo que eu veja tudo dele. É
como assistir a um thriller, nada mais do que um rápido lampejo
de visão clara para fazer seu sangue bombear.

Finalmente, ele sorri.


— Gostaria que não estivesse tão longe. — As palavras me
escapam antes mesmo de eu perceber quão verdadeiras são.

Seus olhos se movem para os meus e seguram. — Oh, sim?

O calor se espalha através de mim, e aceno. — Sim.

Noah passa a língua pelo lábio inferior, chamando minha


atenção para sua boca. — E por que isso?

— Porque não você consegue dormir, e eu não consigo dormir.


— Sorrio. — Não podíamos dormir juntos.

A risada de Noah é baixa, e ele levanta a gola de seu moletom,


deslizando lentamente o material entre os dentes. — Estarei em
casa em oito horas.

— Desculpe, o convite expira em sete.

Seus lábios se curvam para o lado, seus olhos baixos e


cansados. — Claro que sim. — Ele faz uma pausa e então pergunta
baixinho — Já fizeram as malas para a viagem?

— Acabamos com uma garrafa de licor barato em vez disso.

Ele ri, balançando a cabeça.

— Não estou preocupada com isso. Não somos campistas


chiques. Suéteres, shorts e moletons são basicamente isso. E
rabos de cavalo. Contanto que tenhamos alguma merda em nossas
malas quando os rapazes estiverem prontos, estamos bem.

— Saíra logo após voltarmos?


— Sairemos. — Eu luto contra um sorriso. — Queremos ter o
máximo de tempo possível, e fica a algumas horas de distância.

Ele balança a cabeça, olhando pela janela lateral. — Eu


deveria deixá-la dormir então. Não quer ficar de ressaca no
caminho — repete o que Mason disse anteriormente.

— Sim, já fiz isso. — Um bocejo sobe pela minha garganta e


me afundo no meu travesseiro, reorganizando meu telefone e
sustentando-o com alguns cobertores amassados.

Os olhos de Noah deixam meu rosto então, e embora não


tenha certeza de que partes minhas pode ver, ele torce todo o seu
torso, se posicionando totalmente contra a parede do ônibus,
puxando seu telefone ainda mais perto. — Está bem, eu realmente
preciso ir.

Para ser brincalhona, me estico ainda mais, então minha


blusa sobe um pouco mais alto no meu quadril.

— Julieta. — Avisa com uma carranca. — Estou preso neste


ônibus com outros trinta e três homens pelas próximas sete horas,
não vou vê-la por mais setenta e duas depois disso. Desligue.

Uma risada leve me deixa e sorrio. — Boa noite, quarterback.

Os olhos de Noah ficam suaves, o canto de sua boca se


erguendo. — Boa noite linda.

Meu corpo inteiro irrompe em um calafrio, uma sensação de


ar passando por mim. Aceno, mas não chego ao fim, de alguma
forma sabendo que ele também não vai, e ele não desliga.
Puxo minhas cobertas até meu queixo, colocando minhas
mãos sob meu travesseiro, e sua cabeça cai contra o vidro.

Fecho os olhos e adormeço.

Como disse que faria, Mason me enviou uma mensagem com


sua localização quando o ônibus estava quase na saída, também
nos lembrando que é melhor começarmos a fazer as malas agora,
se já não a tivéssemos - ele nos conhece tão bem que literalmente
terminamos de fazer as malas menos de cinco minutos antes da
sua mensagem chegar.

O plano é que eles voltem para casa para tomar banho e levar
as malas, e carregar as nossas para o Tahoe de Mason não mais
de uma hora depois, o que funciona, mas espero que seja um
pouco diferente.

Eu me inclino contra a árvore, puxando a localização de


Mason para descobrir que estão descendo a estrada em frente ao
campus, e alguns segundos depois, o grande ônibus azul e
dourado está entrando no estacionamento. Parando apenas por
alguns segundos antes que as portas se abram e a equipe comece
a sair.

Empurrando, me aproximo. Localizo meu irmão primeiro, e


uma pitada de ansiedade aparece, apertando minhas costelas.
Ele vai direto para a porta que o motorista acabou de abrir e
começa a mover as malas em busca da dele.

É Brady quem me vê primeiro.

— Ari baby! — Grita, e várias cabeças olham na minha


direção, mas rapidamente voltam para o que quer que estejam
fazendo. Ele corre, incapaz de esperar que eu o alcance sozinha e
me puxa para um abraço. — Está pronta para algum tempo, porra?

— Estou. — Sorrio, me virando para abraçar meu irmão


quando se aproxima, com um ligeiro franzir de sobrancelhas.

— O que está fazendo aqui? — Olha para trás de mim. —


Onde está Cameron e suas malas?

— Ela está no chuveiro, mas estamos prontas.

Ele balança a cabeça, aprofundando o franzido, e é quando


olha para o meu moletom. Seus olhos vêm até os meus, mas Chase
fica entre ele e Brady antes que possa dizer qualquer coisa.

Seu sorriso é largo, e ele se aproxima para um abraço como


os outros dois fizeram.

— Você veio — diz, dando um passo para trás. — Diga-me


que tem o clipe? Esperei por você.

Eu franzo o cenho, mas rapidamente percebo o que quis


dizer. Seu touchdown.

Espere, ele estava falando sério?

— Eu... não. Apenas o vídeo de reação que enviamos.


Ele lambe os lábios com um sorriso. — É legal, deve estar no
Huddle81 amanhã. Podemos assistir nas montanhas.

— Sim, claro. — Aceno, me inclinando ligeiramente para ver


atrás dele. As pessoas que saem estão chegando mais devagar
agora.

— Então, como vai? — Ele olha de Mason para mim. — Vem


para a casa com a gente?

— Ah, não, eu estava...

Interrompo quando Noah aparece.

Ele está descendo as escadas do ônibus em um moletom Avix


U cinza, quase idêntico ao que estou vestindo. Sua mão se levanta,
e tira o capuz da cabeça, passando a palma da mão sobre a parte
de trás do cabelo.

Seu pé esquerdo atinge o asfalto, e no segundo em que seu


direito desce para encontrá-lo, seus olhos são puxados para a
esquerda. Direto para mim. Ele faz uma pausa no lugar e uma
risada baixa me deixa.

Encaro os rapazes, um toque de rosa lavando meu pescoço.

— Você convidou alguns outros, certo? — Eu pergunto a


Mason.

81
-São as pequenas conferências em que os jogadores assistem e traçam jogadas.
Seus olhos se apertam no início, mas depois assente.

Ele dá um passo à frente, suspirando contra o meu cabelo


enquanto ele dá um beijo lá. — Sim, irmãzinha. Convidei.

Chase faz uma careta para meu suéter, notando o grande


número dezenove na manga. Seus olhos vêm até os meus,
estreitando, mas quando os rapazes começam a se virar, indo para
suas malas, ele segue. Finalmente, me afasto, indo até Noah.

A princípio, Noah não se move, sua cabeça segue meu irmão


e os rapazes, mas depois volta lentamente para mim. Ele leva um
momento, mas sua atenção finalmente cai para o moletom que
estou vestindo, e seus olhos saltam para os meus. Ele entende que
não vim por eles.

Eu vim para ele.

Sua mochila cai no chão onde ele está, e apaga os dois


últimos passos entre nós. Antes que ele me alcance, giro,
mostrando-lhe as costas, onde seu número está impresso em
negrito, mas ele sabe disso. Afinal, foi ele quem me deu o moletom.

Eu jogo meus braços para fora, olhando para ele por cima do
meu ombro. — Isso conta como se eu o estivesse usando em um
jogo?

Seus lábios se curvam e balança a cabeça lentamente. — Sem


chance.

Eu giro novamente, agora de frente para ele totalmente e me


aproximo. — Isso conta para alguma coisa?
Noah estende a mão, agarrando a frente do moletom e me
puxa para ele. Ele me gira até que estamos meio escondidos pela
porta aberta, sua mão deslizando em meu cabelo. — Já sabe a
resposta para isso — diz, e depois está me beijando.

Seus lábios se movem com maestria, buscando a entrada que


sabe que eu não negarei, a força aquecida de sua língua enviando
a boca do meu estômago em um turbilhão selvagem. Tão rápido
quanto assume o controle, ele se afasta, e então seu sopro está no
meu ouvido. Eu só fico mais quente, sabendo que fui eu quem
roubou o ar de seus pulmões.

— Você me mata, sabe disso? — Seu peito arfa contra o meu


e coloco minha palma contra ele. — Porra, me mate. — Seus lábios
deslizam ao longo da minha bochecha até que encontra minha
boca novamente.

Desta vez é um beijo único, suave e lento.

Quando meus olhos finalmente se abrem, ele já está para


trás, com os olhos brilhantes e animado, mas há uma dica de algo
mais lá também. Não tenho certeza do que é, mas desaparece no
momento em que digo — Venha conosco.

Sua carranca é instantânea. — O quê?

— Acampar — digo nervosamente. — Sabia que estaria


exausto do jogo e da viagem, e meio que me convenci de que diria
sim se eu perguntasse, então não queria perguntar antes de você
sair, caso dissesse sim, e depois estaria cansado demais para ir,
mas ainda assim iria apenas para manter sua palavra, o que é uma
coisa muito Noah a fazer, a propósito. — Eu paro para respirar e
seus lábios se contraem. — Portanto, sim, queria esperar até hoje,
estar aqui para recebê-lo de volta e pedir que venha comigo. Eu
meio que percebi que era melhor perguntar depois que tivesse
partido... esperando que não quisesse que eu fosse.

— Eu não quero que vá. — Sua resposta é instantânea, e solto


a respiração pesada que aparentemente estava segurando.

Meu sorriso é largo e deixo minha cabeça descansar contra o


ônibus atrás de mim. — Então, você vem?

— Eu te disse uma vez, Julieta, não negarei de novo. — Ele


se aproxima, sussurrando — Você me quer lá, eu estarei lá.

— Parece que vai acampar então. Pode compartilhar minha


barraca.

Seu olhar rapidamente passa pelo meu rosto e ele agarra


minhas mãos, me puxando de volta ao redor do ônibus. — Então
é melhor irmos me arrumar.

Eu aceno, fechando nossos dedos com mais força à medida


que ele nos leva para trás.

— Só para constar... — Noah faz uma pausa, e então diz algo


que não tinha ideia de que precisava ouvir até que as palavras me
envolvessem. — Eu teria te beijado na frente de todo mundo se
soubesse com certeza que você ficaria bem com isso, e essa é a
única razão pela qual te puxei de lado.

Meu batimento cardíaco martela no meu peito, e abro minha


boca para falar, mas nada sai.

Noah me quer e ele não tem medo de mostrar isso. Ele não se
importa com quem sabe... contanto que eu saiba.
Eu sei, Noah.

Noah me lê como um livro aberto e pisca enquanto me solta,


pegando sua mochila de onde a deixou cair. Ele então corre para
pegar sua bolsa de futebol da pilha colocada ao lado do ônibus.

Mason se aproxima, um pouco inquieto. — Presumo que vá


com Noah, então?

— Sim.

Enquanto sua mandíbula está firme, ele balança a cabeça,


gira e chama seu nome. Quando Noah se vira em nossa direção,
Mason o saúda.

— Acidente na subida da colina com minha irmã e eu terei


que te foder.

Reviro os olhos, mas Noah apenas sorri.

— Eu bato com sua irmã, e deixarei você me foder.

Eu rio, e Mason zomba ao meu lado. Nós nos encaramos.

— Eu poderia levá-la. — Ele o encara, mas seu sorriso se


esvai. — Vejo você na casa?

— Sim.

Ele corre até a caminhonete de Brady, onde Chase está,


braços cruzados sobre o peito, o quadril pressionado contra a
cabine.
Seus olhos passam pelos meus e ele começa, subindo na
cabine.

Lá vão eles, Noah e eu não muito atrás.


Noah
Chegamos ao Monte San Jacinto há algumas horas, e no
segundo em que nossos pés tocam a terra, começamos a nos
preparar para o fim de semana.

Ajudei Brady a descarregar a churrasqueira e as caixas de


gelo da traseira de sua caminhonete enquanto Mason e Chase
trabalhavam nas barracas. Cameron e Ari pegaram os ancinhos
que trouxeram e começaram a limpar o mato, empilhando-o na
beira do acampamento. As garotas abriram algumas mesas, e
assim que Brady e eu conectamos os tanques de propano e fomos
ajudar com o resto das barracas, Ari me interceptou.

— Noah começará com a comida. — Ela olha para mim com


um sorriso orgulhoso, me puxando para as caixas empilhadas
perto da estrada.

— As coisas dentro dessa caixa são tudo o que tem para


trabalhar, Chef Riley. — Ela levanta a de cima, empurrando-a em
meus braços. — Acha que pode fazer alguma mágica?

Minhas mãos travam em torno dela, mas ela não solta. —


Ainda não vi o que tem nela…
— A magia está no homem, não em suas ferramentas.

— Eu discordo duramente. — Cam salta, puxando o


recipiente menor para o lado.

Ari ri, olhando para mim enquanto dá um passo para trás, e


juntos, levamos as caixas para o acampamento. Nós as deixamos
na beirada das mesas, empurrando o que ainda não precisamos
para debaixo dela, e ela me deixa cavar entre elas, enquanto se
arrasta para a esquerda para ligar a grelha.

Cameron se aproxima, amarrando toalhas de mesa de


plástico, e dez faz uma pausa para observar enquanto faço o que
posso com o tempero disponível.

— Está bem, Noah. — Ela sorri para a forma de papel


alumínio, colocando alguns guardanapos ao meu lado antes de ir
embora.

Não é muito tarde quando estou puxando as primeiras pernas


de frango da chama, bem quando vários conjuntos de faróis
alcançam o acampamento vindos da estrada acima. E assim, é
uma festa.

Cervejas são distribuídas, mais barracas são montadas, e


quando todos chegam e comem, ainda há uma lata cheia de carne
para as pessoas voltarem mais tarde.

O sol se pôs há uma hora e o fogo está queimando alto.

Sento-me, observando os outros conversarem e rirem por


vários minutos, percebendo que esta é a primeira vez em muito
tempo que me afasto da vida. Porra, se eu não precisava disso, e
não acredito nem por um segundo que Ari não sabia disso.
Ela sabia e eu não.

Quando ela me disse que acamparia neste fim de semana,


tentei não pensar nisso, quando, na verdade, era tudo em que eu
conseguia pensar.

Sua partida.

Ele estando lá...

Uma carranca puxa minhas sobrancelhas, mas eu afasto


isso.

Eu não esperava que ela me pedisse para vir, nem um pouco,


por isso, quando pediu, não me importei em pensar além do fato
de que ela me queria aqui.

Por que o que importa fora disso?

Nenhuma maldita coisa.

Ari ri de algo que alguém diz, sorrindo enquanto tira o cabelo


do rosto, e não posso deixar de sorrir.

Fugindo por um momento, vou para a minha caminhonete,


usando uma velha garrafa de água para lavar as mãos e pego o
moletom do banco da frente, colocando-o. Apesar da oferta de Ari
para compartilhar sua barraca, que tenho quase certeza de que
Cameron também está dormindo, trouxe a que ganhei em uma rifa
na premiação do ano passado. Nunca tinha sido aberta, mas era
boa e fácil de configurar. É um estilo pop-up, projetado para a
caçamba da minha caminhonete. Demorou dois minutos para
abrir e amarrar, e eu trouxe meu colchão de casa para uma cama.
Trancando a cabine mais uma vez, volto para o
acampamento, e quando volto para o acampamento, meus olhos
imediatamente a encontram.

Ela está na traseira da caminhonete de Brady agora,


cantando e dançando com Cameron e alguns outros que não
conheço. A garota alegre está de short e camiseta, seus sapatos
chutados em algum lugar. Seu cabelo está preso em um rabo de
cavalo, as pontas roçando suas costas onde seu top está um pouco
levantado. Está relaxada, em seu elemento, rindo e balançando ao
ritmo, uma Corona meio bebida na mão.

Sentindo-me perto, ela me encontra por cima do ombro. Ela


gira instantaneamente, seu corpo virado para mim agora, um
grande e lindo sorriso em seus lábios macios, mas não para de
dançar. Seus quadris continuam a balançar enquanto me chama
com a ponta do dedo, um brilho em seus olhos de outubro.

Caminho até ela, devagar e deliberadamente. Quero que ela


me sinta chegando. Quero que todo o seu corpo aqueça em
antecipação.

Eu sei que aquecerá.

Uma vez que estou ao seu alcance, sua mãozinha macia se


estende, pedindo a minha.

Quando a faço esperar um segundo extra, seu queixo


mergulha todo tímido, e se o brilho do fogo não a estivesse
iluminando, poderia testemunhar o jeito que ela cora por mim.

Eu pulo na caçamba da caminhonete de Brady, um sorriso


puxando meus lábios enquanto tomo sua mão em mente, mas não
tenho que puxá-la para mim. Ela entra sozinha e sem um
momento de hesitação.

Um pouco turva da cerveja e meia que bebeu, ela me olha, e


levanto meu polegar, liberando seu lábio inferior de seus dentes.
Uma risadinha de boca fechada sobe por sua garganta, e fica na
ponta dos pés, suas mãos travando frouxamente atrás do meu
pescoço.

— Para que conste — repete minhas palavras anteriores com


um sorriso. — Você pode me beijar onde quiser.

Eu levanto uma sobrancelha para suas palavras


brincalhonas, mas ambos sabemos o que ela quer dizer. Posso
beijá-la quando tiver vontade, não importa onde estejamos, não
importa quem esteja por perto, e essa garota... vai me beijar de
volta.

Incapaz de esperar mais, tiro o capuz da minha cabeça e


mergulho, cobrindo seus lábios com os meus.

Ela sorri contra a minha boca, seu aperto apertando. Sua


inspiração pesada me faz recuar, mas não antes de eu pressionar
meus dentes em seu lábio inferior. Ela ri, abrindo os olhos para
encontrar os meus.

— Mais e isso se transformaria em algo que ninguém mais


pode ver. — Pressiono meu polegar em sua garganta, meu pulso
pulando ao ritmo selvagem dela.

Ari sorri e começa a rolar seus quadris novamente, por isso


sigo seu exemplo, trazendo minhas mãos para baixo até que
estejam enfiadas nos bolsos traseiros de seu short.
Estamos dançando com a música animada, perfeita para a
fogueira, mas nem estou ouvindo.

Ela também não deve, porque seu queixo cai no meu peito,
seus sussurros suaves chegam ao meu ouvido enquanto canta
para si mesma, mas as letras que vêm dela não combinam com as
dos alto-falantes.

Ela está ouvindo aquela sua jukebox interna, cantando junto


com a música que se repete em sua mente, Play It Again, de Luke
Bryan, e eu não poderia concordar mais.

Quero reviver a noite com ela dez vezes, e depois fazer de


novo. E de novo. É simples e pequeno, mas é perfeito.

Ela é perfeita.

Ari se afasta, para que possa me olhar, as manchas douradas


em seus olhos pegando contra o luar e refletindo contra os meus.
Pode ser só ela e eu aqui em cima.

Ela é tudo que eu vejo.

Minha Julieta.
Arianna
A manhã chega rápida e cedo, como sempre acontece aqui.
No final do outono ou não, o sol brilha contra a malha das
barracas, exigindo que abra os olhos para apreciar o espaço ao seu
redor.

Felizmente, ontem à noite não foi tarde demais e isso é porque


praticamente todas as pessoas aqui jogam no time - menos as
meninas – por isso mal estavam aguentando quando chegaram. As
montanhas, no entanto, sempre oferecem um segundo vento, que
devoram, apenas para bater duas vezes mais forte quando seus
zumbidos se esgotam.

— Graças a Deus Brady é inteligente e só colocou metade da


cerveja na noite passada. — Cameron boceja, ligando o gerador.

— Quer dizer, felizmente ele aprendeu com a experiência a


esconder o álcool ou estar pronto para uma segunda noite sóbria?
— Eu rio, arrumando alguns troncos na fogueira morta.

— É exatamente isso o que quero dizer.


Cameron pega o café enquanto levo uma caixa vazia de
Corona para a pilha de arbustos, pegando um pouco e jogando
sobre as toras para ajudar a dar o pontapé inicial.

— Inteligente.

Olho para cima e por cima do ombro, sorrindo para Noah. —


Ei.

— Ei. — Ele sorri, olhando ao redor e voltando com o isqueiro.

Ele se agacha ao meu lado, mas me entrega, e eu o deslizo


sob o mato, entre os troncos.

— Acampa muito, hein? — Observa.

— Quatro ou cinco vezes por ano, sim. Mais se contar todas


as vezes que montamos uma barraca na areia da casa de praia —
compartilho. — Era sempre engraçado quando íamos para as
montanhas porque meu pai me fazia ajudá-lo a coletar madeira ou
subir a escada para pendurar o varal de toalhas enquanto Mason
quebrava ovos para minha mãe ou a ajudava a descascar batatas.
— Faço uma pausa, rindo enquanto olho para Noah. — Agora que
penso nisso, eles provavelmente estavam com medo de que eu
queimasse a floresta de alguma forma se ajudasse a cozinhar.

Empurrando para seus pés, me puxa com ele. — Ainda bem


que está aprendendo a andar em torno de um fogão, hein?

— Coisa fantástica. — Eu vou para o drama, agitando meus


cílios.

Noah balança a cabeça com um sorriso e se dirige para Cam.


— Posso ajudar?
— Pode. — Ela o empurra alguns metros para a esquerda,
deixando cair alguns sacos Ziploc de batatas já cortadas a sua
frente. — Jogue-os em um pouco de óleo e...

— Temperá-los? — Ele a corta.

Cameron sorri, tirando o creme da caixa de gelo. — Esqueci.


Bobby Flay82 está desossando minha melhor amiga.

— Cameron! — Eu rio, e enquanto o de Noah não chega aos


meus ouvidos, seus ombros tremem um pouco, entregando-o.

— Desculpe, eu quis dizer sonhar em desossar minha melhor


amiga. Melhorou?

— Oh meu Deus. — Eu cubro meu rosto.

— Aposto que é exatamente o que vai dizer.

Desta vez, a cabeça de Noah cai para trás com sua risada e
tudo o que posso fazer é ignorá-la quando ela se vira na minha
direção. A única razão pela qual não a xingo é porque ela está me
trazendo um copo de isopor de café fumegante.

— Idiota — sussurro.

— Amo você também. — Ela não sussurra.

82
-Chef, autor de livros de gastronomia, restaurante e personalidade da mídia, Bobby Flay é o primeiro
chef de cozinha a ter o nome eternizado na Calçada da Fama, em Hollywood.
O zíper de uma barraca se abre ao nosso redor e alguns
retardatários caem com cabelos desgrenhados e olhos sonolentos,
o cheiro de café quente provavelmente a única razão pela qual não
rolaram de volta.

— Noah, meu homem — um cara grande e corpulento se


aproxima, pegando uma água de uma das caixas de gelo. — Você
é um faz-tudo, ou o quê?

— Ele é, Georgie — Cameron o chama pelo que deve ser seu


nome. — O C não é só para capitão. É para cozinheiros
competentes e consideráveis...

— Cameron! — Aviso e então grandes braços estão ao meu


redor.

Eu olho para cima para encontrar Brady.

Ele beija meu cabelo e termina a frase de Cameron como o


idiota que é. — Cock83.

— Não a encoraje.

— Só estou falando verdades, Ari Baby. Vi isso nos chuveiros


— brinca, rindo quando a cabeça de Noah estala em nossa direção.

— É isso aí, Lancaster, você é o último a chegar ao vestiário


— brinca Noah.

83
-Pênis, galo, pau.
— Eu sou bom com isso, irmão. Adoro ser a última coisa que
as repórteres veem. Torna mais fácil lembrá-las quem sou quando
aparecerem prontas para a festa mais tarde naquela noite.

Reviro os olhos, dizendo olá para os rapazes que começam a


se amontoar ao redor da fogueira da manhã.

Alguns outros acendem suas próprias churrasqueiras,


alguns passando itens do café da manhã para Cameron e Noah
para contribuir com a refeição que eles têm.

Chase e Mason saem de suas tendas e nenhum deles sai


sozinho. Uma pequena carranca se forma ao longo da minha testa
antes que possa evitar, e desvio o olhar, confusa com a dormência
que a visão oferece.

De frente para o fogo, tomo pequenos goles do meu café, e


Mason espreme sua cadeira entre mim e um cara chamado Hector.
Meu irmão deixa cair a cabeça para trás, fazendo-me um beicinho
no lábio.

Meu suspiro é brincalhão enquanto me levanto.

Os olhos de Noah se movem em minha direção, observando


enquanto pego dois copos, enchendo-os com café, um com um
pouco de creme, o outro com uma colher de açúcar. Atiro-lhe uma
uva, e ele sorri, voltando a misturar a massa de panqueca.

Eu me movo em direção a Mason, passando o dele primeiro


antes de caminhar até onde Chase está sentado no porta-malas de
Brady. Ele passa os dedos pelo cabelo castanho, acenando para
algo que o cara à sua direita diz.
Quando me aproximo, olha para cima e um sorriso surge em
seus lábios. — Uma colher de açúcar…

— Ajuda a merda desagradável sair — termino sua frase, e


ele ri, lentamente tirando-o das minhas mãos. — Obrigada, linda.

Eu congelo por um momento, mas rapidamente forço um


sorriso apertado quando me viro. — Sim.

Com passos lentos, encontro meu copo e volto ao meu lugar,


não olhando para cima do fogo depois disso, por isso assim que
Cameron anuncia que a comida está pronta, apareço, ansiosa para
ajudar a preparar os produtos de papel para todos. De pé na parte
de trás da mesa, ajusto as bandejas enquanto as pessoas se
arrastam ao longo dela, carregando seus pratos. Acho que
esperarei até que todos estejam acomodados antes de pegar o meu,
mas então os braços de Noah veem ao meu redor por trás, e um
prato é colocado a minha frente, a pilha de minipanquecas
fumegantes e recém-saídas da grelha.

Olho-o e ele acena em direção ao prato, me pressionando


ligeiramente para pegar um garfo ao meu lado. Enfia o garfo no de
cima e deixa o garfo lá para eu pegar.

— Prove.

Faço o que ele diz, sem tirar os olhos dos dele enquanto o levo
aos lábios para uma mordida. O sabor do leitelho84 atinge minhas

84
-Leitelho ou leite de manteiga é um líquido que se obtém com o batimento da nata em manteiga.
papilas gustativas, e ganham vida quando uma sugestão de algo
doce segue.

Minha expressão deve entregar meu suspiro na boca, porque


ele sorri.

— Se adicionar um pouco de açúcar mascavo na massa, não


precisa afogá-la com calda.

— Talvez eu goste de afogá-la com calda.

— Diz a garota que gosta de suas pot pies 85bem crocantes,


seu frango à milanesa, e seu pão de milho com batata frita.

Eu rio, minha mão subindo para cobrir a grande mordida que


ainda tenho que engolir. — Está bem, tudo bem. Você está certo,
odeio comida encharcada.

— Eu sei.

— Assim como sabe que atingiu o ponto mais uma vez. Tão
bom.

— Bom. Talvez tenhamos que adicionar um café da manhã


em nosso cardápio em algum lugar.

Eu giro, sussurrando — Isso seria um café da manhã para o


jantar ou...

85
- É um tipo de torta de carne com crosta de torta que é comumente usada em todo o continente e
é mais frequentemente encontrada nos Estados Unidos e Canadá, consistindo de massa folhada.
Seu sorriso é lento. — Ou…

Eu o golpeio no peito. — Não me faça dizer isso.

Ele ri e se vira para ajudar Cam quando ela o chama para o


fogão.

Depois de comer, todo mundo fica e conversa até que algumas


pessoas voltam para suas barracas para tirar uma soneca
enquanto o resto de nós joga algumas partidas de cartas, conforme
outro punhado de rapazes começa a jogar a bola de futebol ao
redor.

Passamos algumas horas em caminhada, mostrando a todos


os caminhos de pedra e a pequena ponte que leva ao lado oposto
da montanha. O resto do dia segue o mesmo, e só quando o sol
começa a se pôr, Mason agora na grelha, e eu me abaixo atrás de
Noah, que está sentado bebendo uma cerveja e conversando com
um grupo de rapazes.

Trazendo meus lábios em seu ouvido, então só ele pode ouvir.


— Há um caminho que evitei de propósito hoje.

Noah inclina a cabeça um pouco, para que possa me ver, e


coloco um braço sobre ele, meus dedos batendo ao longo de seu
peito.

— Oh sim? — Fala baixinho, sua mão subindo para pegar a


minha.

— Mm-hm. — Aceno, pressionando minha testa em sua


têmpora. — O que diz, está pronto para uma pequena caminhada
no escuro?
Noah responde colocando sua garrafa de água no chão e se
levantando. Ele desliza sua mão na minha, e sorrio, liderando
nosso caminho.

Contornamos ao redor do acampamento, caindo mais baixo


nas árvores, e serpenteamos em torno de uma pequena trilha de
pedras. Grandes arbustos bloqueiam a visão, mas à medida que
avançamos um pouco, passando pelos galhos finos, lá está ela. A
cachoeira, levando a uma pequena piscina de água, paredes de
pedra se curvando da esquerda para a direita, fechando-a de tudo
ao seu redor.

— Cara — diz Noah, e aceno, me aproximando.

Sendo esta a única área ao redor não coberta pela copa das
árvores, as estrelas são visíveis, criando um brilho ao nosso redor,
permitindo-nos confiar em nossos olhos em meio à escuridão.

Eu tiro meus sapatos e meias, mergulhando meus dedos na


água. Está frio, mas não tão frio quanto o oceano, já que acabamos
de sair do verão. Um momento depois, Noah está ao meu lado.

Ele avança um pouco mais. — Esperava que fosse congelar.

— Não é tão ruim, hein? — Eu sorrio, e quando olha para


longe, o empurro um pouco, mas ele é um quarterback e rápido em
seus pés.

Não mais do que seu tornozelo mergulha antes que me circule


completamente, agora posicionado nas minhas costas com os
braços travados firmemente ao redor do meu abdômen.

— O que foi isso Sra. Johnson? — Ele sorri contra o meu


ouvido. — Sua maneira de me dizer que quer dar um mergulho?
Eu tensiono, me contorcendo em seu aperto enquanto me
empurra para frente. — Não, não, não! — Eu rio. — De jeito
nenhum.

— Mas eu pensei que amava a água? — Provoca.

Eu grito, minhas panturrilhas agora molhadas. — Oh meu


Deus, Noah, eu não posso!

— Por que não?

Empurro-o, tentando encontrar algum terreno para usar


como alavanca. — Eu não entro na água onde não posso ver o
fundo!

Ele enterra o rosto no meu pescoço, e meus músculos se


acomodam um pouco. — E se seus pés não tocarem o chão?

— O que...

Noah me gira, se abaixa e me levanta. No segundo seguinte,


estamos até a cintura na água gelada, roupas e tudo. Eu grito com
uma risada, escondendo meus olhos em seu peito, meus braços e
pernas apertando ao seu redor. Algo roça minha coxa e grito de
novo, segurando com força.

— Você está tão morto. Espere até eu te colocar no oceano.


Estou enfiando caranguejos em seus shorts!

SUA RISADA SUAVE flutua sobre minha pele, seus braços


deslizando pelas minhas costas e me mantendo perto. — Eu tenho
você.
— É melhor que tenha mesmo.

Seus lábios se curvam contra o meu pescoço, e então


pressionam ali. Ligeiramente no início, mas ficando mais firme no
segundo.

Minhas pernas apertam ao seu redor, meus dedos dos pés se


curvando atrás de suas costas enquanto ele suga a pele sensível
ali, e assim, as águas escuras são esquecidas.

Minha cabeça levanta, e é apenas um momento antes que ele


me siga.

Seus olhos, um profundo azul da meia-noite esta noite, estão


repletos de desejo, e por trás disso, uma ternura esperançosa que
atinge profundamente dentro de mim. Eu também sinto-o, a
atração invisível do meu corpo para o dele.

Minha mente para a dele. Meu coração para o dele?

Eu me inclino para frente, tomando seus lábios com os meus.

Ele me beija de volta com o mesmo vigor. Nossas línguas


amarradas, nossas respirações profundas e completas se
transformando em suspiros curtos e rápidos, e meu corpo começa
a rolar. Noah geme, levantando-nos alguns centímetros para fora
da água enquanto luta para nos aproximar, sua ânsia alinhada
com a minha.

— Cuidado, Julieta — avisa, endurecendo meus quadris com


suas mãos grandes e firmes. — Estou prestes a perder meu cartão
de cavalheiro aqui.

— Você poderia se apressar com isso?


Ele ri na minha boca, e empurro minha língua dentro da dele,
engolindo o estrondo que se segue. Ele nos chicoteia, espirrando
na água até chegarmos à beira de uma rocha. Pressiona minha
bunda contra ela, suas mãos deixando meu corpo para que possa
agarrar minhas bochechas, me deixando tonta com seu beijo. Eu
me inclino para trás, levando-o comigo, e então algo desliza ao
longo da sola do meu pé, e grito, pulando para trás.

Noah lacrimeja e de olhos arregalados vem no meu rosto

— Oh meu Deus, um peixe está tentando me comer! — Grito,


correndo mais para cima da rocha, e quando coloco minha mão
para baixo mais uma vez, algo faz cócegas nas pontas dos meus
dedos. Eu grito de novo, pulando, apenas para afundar até o
pescoço.

Noah começa a rir, vira-se e me puxa nas costas enquanto


nos leva para a borda.

São apenas alguns segundos antes de eu estar rindo


incontrolavelmente, e quando chegamos ao chão frio e seco, caio
de volta em um tronco de árvore, meu rosto caindo em minhas
mãos.

— Ugh! — Não consigo me acalmar e Noah está tão entretido


quanto eu. — Eu juro que um peixe chupou meu dedo do pé!

Ele esfrega a boca para acalmar o riso. — E sua mão?

— Está bem, isso pode ter sido uma folha ou algo assim. —
Sua cabeça cai para trás com o riso. — No momento, eu tinha
certeza de que era o monstro do lago Ness! — Eu sorrio,
balançando a cabeça.
— Ela nada em águas de tubarões com facilidade, mas um
pequeno girino? Esqueça isso.

Eu faço uma carranca para ele de brincadeira, e um pequeno


calafrio passa por mim, a brisa da montanha rolando sobre as
rochas.

— Devemos voltar, e nos trocar. — Noah calça os sapatos,


enfia as meias nos bolsos e pega as minhas.

Ele gira novamente, estendendo a mão por cima do ombro


para pegar minha mão, então me levanto, dando a ele. Mais uma
vez, ele me puxa de costas e me carrega de volta ao acampamento.

Quando entramos na clareira, algumas pessoas olham em


nossa direção.

— Que diabos aconteceu? — Brady grita, sua cerveja


congelada em seus lábios.

— Caímos em uma lagoa — brinco.

— Uh-huh, vagina primeiro ou o quê? — Ergue uma


sobrancelha.

Mason dá um tapa na nuca. — Que porra é essa, mano? —


Olha dele para nós, mas Brady simplesmente ri e volta para sua
conversa.

O olhar de Mason se aprofunda, mas eu também desvio o


olhar, e Noah continua se movendo em direção à fileira de tendas.

— Cameron me matará se eu molhar nossas camas. — Eu


sorrio, apertando meu aperto em volta de seu pescoço.
— Quer se trocar na minha caminhonete? Está bloqueada
pela do Brady. — Ele para de andar, olhando por cima do ombro.
— Podemos voltar, pedir a ela para pegar algumas roupas para
você muito rápido?

Meus dentes batem. — Está bem.

Apesar da minha resposta, Noah continua se movendo em


linha reta, seu ritmo aumentou um pouco mais. Trinta segundos
depois, estou sentada em sua porta traseira e ele está entrando na
cabine de sua caminhonete, voltando com uma pilha de roupas
nas mãos.

— Estas são calças de compressão. Uso-as sob meu


equipamento quando está frio. Podem estar um pouco soltas, mas
se encaixam melhor em você do que meus moletons. — Ele coloca
uma camiseta e um moletom ao meu lado, uma pilha de roupas
secas para si mesmo debaixo do braço.

Ele empurra os sapatos para o lado, dando uma olhada dupla


quando levanto os braços e espero.

Suas sobrancelhas se juntam ligeiramente, os itens em seus


braços rapidamente esquecidos. Ele os deixa cair no chão e dá um
passo em minha direção.

Ele começa no punho das minhas mangas, gentilmente


puxando-as sobre meus pulsos, e se move para a bainha em
seguida. O material molhado se moldou à minha camiseta por
baixo, então, enquanto ele a levanta lentamente e passa por cima
da minha cabeça, a leva consigo.
Meu cabelo molhado cai na minha nuca, enviando um arrepio
na minha espinha, ou talvez seja a aprovação radiante no olhar de
Noah que faz isso. Ele não desvia o olhar enquanto pendura meus
itens molhados na lateral de sua caminhonete, nem quando me
inclino para trás, minhas palmas pressionando a porta traseira,
meu torso esticando.

Ele entende, sua mandíbula flexionando com sua inspiração


pesada enquanto suas mãos encontram o botão do meu jeans.

Meu pulso bate quando se abre, o zumbido suave do meu


zíper criando arrepios ao longo das minhas pernas. Ele espera, os
olhos em mim, então levanto meus quadris em pedido, e ele
responde, cautelosamente me libertando deles completamente.

Seus braços caem para os lados, seu corpo fica imóvel


enquanto me olha, sua expressão uma mistura pensativa de
incerteza e convicção.

Eu me empurro para uma posição sentada, chegando mais


perto da borda mais uma vez, e pego um punhado de seu moletom
sujo. Minhas pernas se abrem, e ele entra até que suas coxas
encontram o metal frio. Não diz uma palavra, não se move, a não
ser do jeito que é necessário para libertá-lo de suas roupas.

Meus pulmões incham à medida que seu corpo aparece, seu


peito em plena exibição para mim pela primeira vez. Mesmo na
praia, ele usava uma camisa que escondia.

— Você deveria tirar sua camisa com mais frequência. —


Minha respiração é uma bagunça rouca e cheia de desejo, e fico
feliz quando sua risada soa do mesmo jeito.
Meus olhos voam direto para a tatuagem que admito
fantasiar. Eu me perguntei como ela se curvaria, o que atingiria e
quão longe alcançaria, mas vê-la ao longo de sua pele não é como
nada que poderia ter inventado.

É fascinante, sombrio e definido.

Ela estende de seu braço e se dirige ao longo de seu seio


esquerdo. Há uma linha de gol e uma bola de futebol que parece
estar rasgando por dentro de sua pele, mas é o roteiro curvado ao
longo do fio da bola que me chama. É estrangeiro, talvez latino, e
lindamente rolado.

— O que isto significa? — Eu me pergunto, hesitantemente


abaixando as pontas dos meus dedos em sua pele, traçando as
palavras em câmera lenta.

— Não posso te dizer. — Ele estremece, e meus lábios se


contraem, minhas palmas se achatando sobre ele enquanto me
inclino para mais perto.

— Não pode ou não quer? — Olho para ele enquanto


pressiono meus lábios em seu peito, indo mais para a borda para
que possa patinar mais alto.

Deslizo ao longo de sua clavícula, até seu pescoço, parando


ao chegar em seu ouvido. Respiro fundo e a testa de Noah cai no
meu ombro, suas mãos encontram o espaço ao meu lado.

Eu não digo nada, apenas respiro contra ele enquanto meu


toque se atreve a ir mais baixo. Traço os cumes de seu abdômen,
me familiarizando com cada corte de seus músculos
magistralmente construídos. Ele é duro em todos os lugares certos,
e aposto que se eu fosse mais baixo, o acharia duro lá também.

Eu posso sentir isso na forma como seu abdômen se contrai,


nas baforadas curtas quebrando ao longo do meu peito nu. Meus
mamilos endurecem no meu sutiã e agora sou eu quem está
tremendo.

Isso chama a atenção de Noah, e sua cabeça levanta, o calor


em seus olhos quase insuportável. — Está ficando mais frio.

— Não sinto frio.

Suas narinas se dilatam, e ele mergulha para baixo,


agarrando meu cabelo em suas mãos e torcendo-o sobre o punho,
a água escorrendo por seu antebraço e respingando em minha
coluna. Eu dou um pulo para frente, e Noah torce para pegar meus
lábios com os dele. Ele me beija com força desta vez. É quase uma
punição, e completamente viciante.

— Será minha culpa se ficar doente. — Ele fala entre golpes


de sua língua. — Eu não posso ter isso. — Pega o moletom ao nosso
lado, o que trouxe para mim, mas coloco minha mão sobre a dele
para pausar seus movimentos e agarrar o que ele pretende usar
primeiro.

Ele dá um pequeno olhar de advertência, mas quando minha


risada rouca segue, sua necessidade de saber o que vem a seguir
o faz ceder. Com uma carranca apertada, me permite puxá-lo sobre
ele.

Ele rapidamente enfia os braços para dentro, pegando os


meus e se preparando para fazer o mesmo, mas coloco as palmas
das mãos na porta traseira mais uma vez e começo a recuar. Não
paro até meus dedos arranharem o nylon de sua barraca.

Suas sobrancelhas baixam quando encontro cegamente o


zíper, minha mão deslizando até que está sobre minha cabeça, a
abertura caindo nas minhas costas.

A mandíbula de Noah tiquetaqueia à medida que chuta para


fora de suas calças molhadas, rapidamente entrando em seu par
seco. Ele agarra as roupas que tem para mim e então está
rastejando sobre mim, comigo, enquanto nos guio para dentro de
sua barraca completamente.

Ainda um pouco incerto, ele é lento para nos fechar por


dentro, e quero apagar sua hesitação que sei que só decorre de sua
preocupação comigo, porque de alguma forma não sinto nenhuma.

Não estou envergonhada, insegura ou ansiosa. Não tenho


aquela reviravolta no meu estômago que me avisa como se tivesse
medo de que ele me afaste.

Ele nunca afastaria.

Olhando para ele, em seus olhos azuis, minha mente não está
confusa. Está chamando o seu nome.

Há algo sobre Noah que me liberta. Com um único olhar ou


uma noção tácita, resolve partes de mim que não sei que precisam
ser resolvidas, e embora ainda não entenda completamente, sei
que quero.

E agora, quero conhecê-lo um pouco melhor. Um pouco...


diferente.
Eu caio de volta em seu travesseiro, e ele me segue. Enquanto
seu corpo paira sobre o meu, nenhuma parte de nossa pele está se
tocando, mas o calor dele está presente, e uma onda de
antecipação percorre meu caminho.

— O que está fazendo, Julieta? — Murmura, seus olhos


caindo para os meus seios, meio derramando, livre do meu sutiã
molhado.

A tensão dá um nó dentro de mim, criando uma dor no meu


peito, e em vez de responder com palavras, deslizo a mão atrás das
costas, e o desabotoo, mas não o tiro. Eu puxo minha mão,
deixando-o decidir o que fazer a seguir.

Noah muda seu peso para um lado, seus dedos subindo para
deslizar ao longo do meu ombro, enquanto seu dedo engancha sob
minha alça.

— Quer que eu te toque? — Ele desliza mais baixo.

Um pequeno gemido sobe pela minha garganta, e Noah puxa


a roupa do meu corpo, minhas mãos voltando para agarrar o saco
de dormir embaixo de mim.

Meus seios estão nus para ele, e ele toma seu tempo varrendo
seu olhar sobre cada centímetro de mim, sua atenção servindo
como uma carícia aquecida, assim como as expirações lentas e
deliberadas ao longo da minha pele. Sua boca encontra meu
esterno então e puxo uma respiração áspera.

— Diga-me onde. — Seu comando é gentil, e meus mamilos


se transformam em pontas afiadas.
Meu corpo aquece, a pele fica vermelha, e Noah me espreita
através de seus cílios cheios e escuros. Meus lábios se separam e
o seu puxa para um lado.

— Aí está — rosna. — Isso é o que eu estava esperando. O


rubor. — Seu toque cria um caminho de fogo no meu estômago e
não para por aí. Ele se arrasta mais alto, até que sua mão está
suavemente esticada ao longo da minha garganta. Engulo contra
ele e seus dedos se contorcem em resposta.

Seus olhos saltam para os meus, e ele se repete. — Diga-me


onde.

Eu jogo nosso jogo. — Já sabe a resposta para isso.

— Mas... — Ele morde meu estômago, e me contorço.

Ele porém quer que eu diga.

Fortalecida por seu jeito travesso, o faço melhor. Guio sua


mão pelo meu torso, sem pressa, e não paro as pontas de seus
dedos mergulhando sob a bainha da minha calcinha.

É aí que o deixo, porque embora não conheça Noah dessa


maneira... conheço Noah.

Seus olhos saltam para os meus, estreitando-se, e não


consigo suprimir a risadinha subindo pela minha garganta.

— Lá.

Suas feições piscam com louvor e com aquele olhar, a faísca


em meu núcleo cresce para uma chama completa. Ele sabe disso
e alimenta o fogo, sua boca descendo no meu mamilo direito, me
apertando em retaliação. Seus lábios começam a vibrar, e me
contorço. Minhas pernas sobem, esfregando uma na outra na
tentativa de aliviar a dor, e o movimento faz sua mão deslizar mais
para o sul.

Noah dirige seu toque mais baixo, seus dedos se juntando


para que não perca um único pedaço de pele em seu caminho para
baixo. Ele me segura primeiro, aplicando uma quantidade
provocante de pressão com a palma da mão.

Meus olhos se fecham, sua língua agora girando em torno dos


meus picos duros enquanto se levanta de joelhos. Arrasta os lábios
molhados pela minha pele, dando igual atenção ao meu mamilo
esquerdo. Sua mão patina mais para baixo, seu peito roncando
quando a ponta de seu dedo indicador encontra minha fenda.

— Foda-se — resmunga. — Abra.

Minhas pernas abrem instantaneamente. Seu toque é quente


e forte. Eu preciso...

Sua boca colide com a minha, cortando meus pensamentos,


mas respondendo enquanto diz — Estou prestes a senti-la. Eu
descobrirei o quão quente é, quão macia…

Assim que diz isso, ele está lá, empurrando em mim com
precisão lenta. Meu gemido é instantâneo.

— Tão porra macia. — Ele morde meu lábio. — Tão molhada.


— Minha mandíbula.

Quando sua mão se retrai, meus olhos se abrem, meu núcleo


se esticando com a perda, mas então seu dedo desaparece entre
os lábios.
Seus olhos brilham, e quase engasgo com o ar. — Tão porra
doce.

Eu preciso gozar.

Sua boca se move de volta para a minha, e sussurra — Está


prestes a gozar.

Seus dedos voltam para dentro, mergulhando para dentro e


para fora enquanto seu polegar pressiona meu clitóris, seus lábios
tocando como um ancinho contra meu corpo. Ele está no meu
peito, minhas costelas. Está em todo lugar.

Eu preciso de mais. Choramingo, levantando meus quadris,


desejando-o mais profundo, e meu Deus, Noah me dá o que quero.

Ele empurra até que a pressão de sua mão seja forte contra
a minha entrada.

— Beije-me — murmuro, meus olhos se fechando. Eu gemo


de novo, procurando cegamente o calor de sua pele. Minhas mãos
deslizam para cima de seu peitoral, e começo a tremer. — Agora,
Noah.

Ele geme, me dando o que quero, trabalhando meu clitóris


várias vezes, apertando, pressionando e segurando enquanto meu
corpo se contorce sob ele, engolindo os sons vindos da minha
garganta. Sons que nunca me ouvi fazer. Sons que o deixam louco,
criando fogos de artifício entre minhas pernas.

A mão de Noah me deixa, mas seu beijo não.

Ele se aprofunda, endurece até que choro em sua boca, e


depois diminui, como se estivesse em sintonia com o meu orgasmo,
como se soubesse a altura que meu corpo alcança, e a lenta e
saciada descida que me leva.

A que ele me levaria.

Noah se deita ao meu lado, mas não abro os olhos, ainda não,
e só momentos depois ele começa a brincar com as mechas
molhadas do meu cabelo.

A necessidade de vê-lo se torna muito forte, e como se


sentisse o segundo que olho para ele, seus olhos lentamente se
erguem para os meus. Coro como uma louca e o homem sorri, uma
risada baixa escapando de seus lábios inchados.

Ele se senta então, pegando as roupas há muito esquecidas


que me trouxe, e me puxa para uma posição sentada, puxando o
moletom sobre minha cabeça. Seus dedos deslizam ao longo do
meu pescoço até que pega todo o meu cabelo, e o liberta do algodão
grosso.

— Devo ajudar com isso também? — Brinca, e pego as calças


que ele estende para mim.

— Quero dizer, não sei. Eu ainda não consigo sentir minhas


pernas, então... — jogo junto, sem perder o sorriso que ele aponta
para seus pés enquanto calça meias secas.

Noah sai da barraca para calçar os sapatos, e quando saio,


fechando a porta da barraca, ele está voltando da cabine de sua
caminhonete.

— Aqui. — Ele me entrega um par de meias compridas, e as


coloco sobre as “calças de compressão”, que nada mais é do que
uma palavra chique para leggings masculinas.
Eu deslizo meus sapatos em seguida e me viro para encará-
lo.

Seus olhos percorrem meu corpo, envolto em suas roupas, e


seus dentes afundam em seu lábio inferior. Ele me puxa,
pressionando seus lábios nos meus, mas então os arranca antes
que minhas mãos tenham a chance de envolvê-lo.

— Vamos lá, se eu não colocar as pessoas ao seu redor...

— Isso acabará conosco de volta a barraca … é uma porcaria


para me motivar a me mover.

Noah joga a cabeça para trás, xingando no ar, e rio, gritando


quando ele pega minha mão, me puxando para o acampamento.
Quando chegamos à clareira, ele sorri para mim, apertando minha
mão antes de soltá-la.

Ele corta para a esquerda para os baús de gelo e sigo para a


direita para o fogo, pegando uma cadeira ao longo do caminho.
Cam se senta na ponta do grupo, circulando a fogueira, então
ocupo o espaço vazio ao seu lado.

Ela está ouvindo o que os rapazes ao redor estão dizendo,


mas quando olha na minha direção, olha duas vezes e gira seu
corpo inteiro para me encarar. Sua cabeça inclina para um lado,
uma única sobrancelha loira levantando enquanto se prepara para
falar, mas suas palavras congelam em seus lábios quando uma
cerveja é colocada a minha frente.

Eu deixo cair minha cabeça para trás, olhando para Noah. —


Obrigada.

De nada.
Esqueço de desviar o olhar, e sua garrafa de água aparece
para esconder o sorriso furtivo em seus lábios. Ele começa a se
afastar, e meu olhar viaja com ele.

Cameron arranha minhas coxas, por isso me viro para ela. Só


então ela percebe que estou engolida por roupas que não são
minhas e meu cabelo está uma bagunça molhada e encharcada.
— Cadela. — Ela agarra o encosto de sua cadeira, inclinando-se
para mais perto. — Você transou com o humilde gostoso? — Sibila.

Eu sorrio, dobrando minhas pernas debaixo de mim, e


balanço minha cabeça.

Seus olhos se estreitam. — Ele brincou de marionete com sua


boceta, não foi?

Minha cabeça cai para trás e eu rio no ar. Seu suspiro faz
minha cabeça virar em sua direção novamente, e quase caio
quando ela puxa a gola do meu moletom.

— Você tem um chupão de Kenickie 86 — brinca, citando


Grease.

Minha mão voa para o meu pescoço, meus dedos


pressionando sobre o local que deve ser, a memória de seus lábios
se repetindo em minha mente.

86
-Personagem do filme Grease – nos tempos da brilhantina.
Espreitando para Cam, trago minha cerveja aos meus lábios,
e minha amiga levanta as mãos em um movimento de elogio,
segurando as dela.

— Muito bem, irmã.

Uma sensação calmante de felicidade toma conta de mim e


me viro para minha amiga.

— Conte-me tudo sobre as crianças da sua aula de


desenvolvimento infantil.

Cam sorri, muda como tinha feito e começa a falar. Ficamos


em nossas cadeiras por mais de uma hora, rindo e brincando sobre
tudo e nada. Um pouco depois disso, Mason coloca uma cadeira
ao nosso lado, juntando-se à nossa conversa, e é claro, Brady e
Chase nos seguem assim que nos veem juntos.

Compartilhamos algumas das histórias que nossos pais nos


contaram sobre sua viagem em grupo ao exterior, já que todos nós
fizemos planos diferentes, e fazemos planos para passar o Dia de
Ação de Graças na casa de praia com nosso primo e amigos.

Mason arrebenta os marshmallows, então Brady e eu afiamos


alguns palitos em pontas limpas para assar. Depois de comer meu
primeiro, coloquei outro, encontrando meu tom favorito de azul do
outro lado da fogueira.

Noah olha fixamente, seus amigos ao redor dele, os meus ao


meu redor. Sem tirar os olhos dos dele, deixo o petisco atingir a
chama antes de levá-lo à boca, mas não sopro.

Eu deixei a chama ficar mais ousada, mais brilhante.


Deixo o calor tomar conta até que não seja nada além de uma
bola de fogo. E em um sopro rápido, explode.

Ele está muito longe para eu ouvir sua risada, mas sei que
está lá.

Ele pisca, e desta vez, sinto isso na minha alma.


Arianna
Estava esperando um convite para dormir na barraca de Noah
ontem à noite, mas menos de uma hora depois da nossa diversão
com marshmallow, Cameron estava desanimada, o que me colocou
no dever de melhor amiga.

Eu, no entanto, coloquei meu alarme para quando ele


mencionou que estava se levantando, para que pudesse ajudá-lo a
fazer as malas e dizer adeus antes que partisse. Conhecendo os
rapazes, ficaremos aqui o maior tempo possível, até o último
minuto antes de voltarmos para o campus. Eles são homens de
aventura ao ar livre, práticos e aventureiros.

Às seis da manhã, em ponto, Noah está saindo do


acampamento, indo para casa para sua visita com sua mãe.

O mais silenciosamente que consigo, pego o último dos


troncos perto da caminhonete de Brady e cuidadosamente os
arrumo em um ponto alto ao redor da bagunça de cinzas. Há
gravetos suficientes ainda queimando abaixo para que não precise
usar o pincel para fazê-lo funcionar hoje - claramente alguns
campistas tiveram uma noite bem mais tarde do que eu para estas
cinzas ainda terem alguma vida - então fico agachada, observando
para ter certeza de que queima uniformemente ou o fogo
enfraquecerá mais cedo do que queremos.

— Precisa de outra tora?

Olho por cima do ombro para encontrar Chase se


aproximando, as mãos enterradas nos bolsos do moletom, o gorro
pendurado na metade da cabeça, como se tivesse esquecido de
puxá-lo para baixo quando se arrastou para fora da cama.

— Estes são os últimos.

Ele acena com a cabeça, aproximando-se. — Você acordou


cedo. Cam está bem?

Eu rio, empurrando para os meus pés. — Babando em todo o


meu travesseiro quando verifiquei pela última vez. Sua carona
para casa não será divertida.

Ele sorri, seguindo meus passos.

— Quer ajudar? — Eu gesticulo para a bagunça de cerveja da


noite passada, puxando dois sacos de lixo da lixeira de plástico sob
a mesa de comida.

Sem dizer uma palavra, ele pega o saco, e começamos em


lados opostos, pegando as latas vazias no chão primeiro e depois
indo para a mesa.

— Sinto falta de festejar assim. — Chase olha através das


árvores. — Bem, acho que esta é apenas a nossa terceira viagem
de acampamento sem pais, mas ainda assim. Eu poderia ir para
mais destas.
— Ainda bem que temos toda essa prática de entrar
furtivamente nos fundos da propriedade dos avós de Brady, ou
estaríamos aqui com nada além de barracas e uma caixa de gelo.

Ele sorri. — Sim, descobrimos da maneira mais difícil que se


tem que trazer madeira para camping, não é? Isso foi um fracasso
de uma viagem.

— Tivemos que sair no meio da noite, e dormimos na


caminhonete do lado de fora da minha casa porque Mason não
queria ver o sorriso no rosto do meu pai quando ele dissesse “eu
avisei” quando disseram que nós não estávamos prontos para ir
por conta própria.

Chase ri, balançando a cabeça.

Eu suspiro, olhando para ele. — Você se lembra do verão do


segundo ano, quando seus pais nos deixaram fazer aquela festa na
piscina na sua casa?

— Nossa primeira sessão de natação sem adultos.

— Isso levou duas semanas para fazê-los concordar, e no


final, só nos atingiu com uma condição... — Eu levanto uma
sobrancelha para ele.

Chase desvia sua atenção para a mesa. — Sem brigas.

— Sim, sem brigas, e o que sabe, eles voltam para casa para
encontrar seu próprio filho, com um olho roxo porque tinha que ir
e dar em cima da namorada de Jake Henry.

Eu rio, pensando sobre isso, mas quando olho, encontro


Chase franzindo a testa para o fluxo de cerveja que ele está
derramando na terra, então eu fecho minha boca e continuo
limpando.

Depois de um momento, ele suspira. — Você comprou um


maiô novo para aquela festa. Rosa com listras brancas.

Minha cabeça estala em sua direção.

Eu comprei?

— Eu coloquei você em meus ombros para uma luta de


galinha contra Cam e Brady, e vencemos — ele continua,
lambendo os lábios enquanto seus olhos sobem para os meus. —
Eu nos deixei cair de volta na água para te decepcionar, e fiz… mas
então me virei e estendi a mão para você. — Segura meu olhar. —
Eu te puxei até mim, e sem uma palavra, envolveu suas pernas em
volta da minha cintura. Você sorriu e depois soltou. Não percebi
até que alguém espirrou, o que não sabia, que ainda estava
segurando você.

Eu balanço minha cabeça, confusa, e seus olhos se movem


entre os meus.

— Foi um total de dez segundos, se tanto — ele me diz então.


— Mas isso foi tudo o que bastou para Mason ver.

— Estávamos jogando um jogo, comemorando uma vitória. —


Engulo. — Não foi nada.

— Era alguma coisa, Ari, e ele sabia disso. — Os lábios de


Chase se contorcem. — Ele tem um gancho de direita sólido.

A pressão aumenta ao longo do meu peito. — Foi Mason?


Mason lhe deu o olho roxo.
Minha mente gira, ansiosamente procurando o propósito.
Para o significado. Do que Mason fez e por quê. Das palavras de
Chase e da razão pela qual as está compartilhando.

— Por que mentiu? — Minha voz sai mais baixa do que o


pretendido.

Uma sombra recai sobre ele, e enquanto seu queixo abaixa


um pouco, ele não desvia o olhar. — Vamos lá.

Porque eu teria ficado com raiva. Porque teria socado Mason


de volta. Porque teria assumido que significava mais para Chase
quando tinha tanta certeza que não...

Eu signifiquei mais para você então? Quando me deixou ir?

Eu me curvo apressadamente nos joelhos, meus movimentos


bruscos enquanto pego algumas latas descartadas do chão.

— Arianna...

— Por que me disse isso?

— Você disse que dei em cima da namorada de Jake. Eu


queria que soubesse que isso não era verdade.

Por que, contudo, quero perguntar. Isso foi há dois anos, então
o que importa agora? Eu não pergunto para que serviria isso?

Ele disse que queria que eu soubesse, tudo bem. Agora sei.
Então é isso.

Eu dou de ombro com saco cheio e faço o meu melhor para


lavar toda a conversa com algumas provocações alegres.
— Bem, isso é um alívio. Ela era uma vadia e combinava
muito bem com seu namorado idiota, então considere seu
personagem redimido.

— Um objetivo cumprido — brinca de volta. — Ainda falta


uma dúzia.

Olhando para cima, encontro seus olhos verdes, e


compartilhamos um pequeno sorriso antes de voltar para a tarefa
em mãos. Chase e eu amarramos as sacolas, e quando ele me
encara, seu gorro desliza ainda mais alto, agora mal pendurado.
Com uma risada baixa, dou um passo à frente, puxando-o de volta
ao lugar. Meus olhos se movem para os dele, e o canto de sua boca
se ergue em um sorriso quebrado.

— Obrigado — murmura enquanto eu me afasto.

Nós nos viramos para as lixeiras de metal, localizadas a vários


metros de distância, mas o leve guincho dos freios soa atrás de
nós. Ambos olhamos por cima dos ombros, encontrando Noah
rolando até parar no topo da colina.

— Eu me pergunto por que ele voltou — penso em voz alta,


dando um passo em sua direção, mas rapidamente paro voltando
para Chase.

— Deve ser algo que ele não queria deixar para trás. — Ele
olha por um momento, lentamente me encarando, e no próximo,
sua mão está estendida enquanto uma carranca se forma em seu
rosto.

Hesitante, passo por cima do meu saco.


Ele já está se afastando antes que, “Obrigada”, me deixe,
então me viro, correndo pela encosta curta.

Os olhos de Noah estão apontados além de mim, mas mais


baixos para os meus quando o alcanço, um pequeno sorriso
encontrando seus lábios. Estou prestes a perguntar a ele o que
aconteceu quando noto dois cafés quentes nos porta-copos e dois
sanduíches de café da manhã no painel.

— Não poderia ter você queimando a floresta tentando fazer


a sua própria — ele fala preguiçosamente, sua cabeça afundando
no assento atrás dele.

Uma risada borbulha de mim e agarro o batente da porta, me


aproximando dele. — Obrigada.

Noah olha nos meus olhos, deslizando lentamente a mão no


meu cabelo e puxa meus lábios nos dele. Ele me beija lentamente,
quase dolorosamente, e quero cair nele.

Depois de um momento, ele suspira e diz — Eu não quero


deixá-la aqui.

Eu amo a forma como diz o que ele quer dizer. Nunca me


deixa pensar, e se fizer isso, ele vê e responde às minhas
preocupações sem fazer perguntas.

Eu abaixo meu queixo no meu antebraço e sussurro — Então,


não deixe.

Os olhos de Noah ficam curiosos, e eu sorrio.


— Não tenho que atrapalhar sua visita. Pode me levar para
casa primeiro, ou posso tirar uma soneca na caminhonete. Voltaria
a me familiarizar com a comida do refeitório — brinco.

Noah lambe os lábios. — Iria embora comigo agora?

Suspiro alto, encolhendo os ombros. — Eu teria partido com


você trinta minutos atrás se tivesse pedido.

Noah segura meu queixo e meus lábios pressionam em um


sorriso. — Vá fazer sua mala, Julieta.

Eu dou um passo para trás e abro sua porta.

Ele olha para mim como se eu fosse louca, caindo contra seu
assento quando seguro o volante e me arrasto para dentro da
cabine, meu lado espremido contra ele.

— Eu sou uma boa campista, Sr. Riley. Tudo fica embalado e


bem fechado, para que nenhum inseto entre. Cam vai pegá-lo para
mim.

Ele me olha, me parando com a palma da mão em minhas


costelas quando tento passar por ele. — Bem desse jeito?

Inclino minha cabeça. — A menos que tenha um problema


comigo parecendo uma sem-teto, o que decidir fazer comigo, sim.
Bem desse jeito.

Seu aceno é lento, seus dedos estendendo-se sobre o meu


estômago. Ele me segura lá por um momento, e então me solta. Eu
rastejo para o espaço ao seu lado.
Noah espera que eu aperte o cinto e, assim que o faço, ele me
passa meu café. — Extra quente.

— Bem do jeito que eu gosto.

Noah sorri para si mesmo, sua mão caindo na minha coxa, e


só sai do lugar quando é absolutamente necessário.

A viagem é tranquila, cheia de risos e histórias, e quando


finalmente voltamos para a cidade, ele não me deixa em casa. Ele
entra na rodovia oposta, em direção a casa de sua mãe.

Quando chegamos, ele salta e me alcança.

— Não tem vergonha de entrar com uma bagunça gostosa


como eu?

— Psh. — Ele me puxa para fora, dando um passo para trás


para dar uma olhada melhor, seu sorriso arrogante demais. —
Você fica melhor com minhas roupas do que com as suas.

Uma risada passa pelos meus lábios, e o empurro, saindo na


sua frente, mas ele alcança rapidamente, seus lábios no meu
ouvido.

— E a marca em seu pescoço que pensou que não vi,


deveríamos falar sobre torná-la um pouco mais permanente,
hmm?

Meus passos vacilam, e ele me deixa com sua risada


arrogante, apenas se virando quando está na entrada e segurando
a porta aberta para eu entrar.
Ele e eu entramos no prédio lado a lado, de mãos dadas, e
quando viramos no corredor, entrando no quarto de sua mãe, ela
sorri largamente.

— Eu rezei para que estivesse com ele hoje, e aqui está você
— admite. — Venha se sentar. Há tanta coisa que preciso que
saiba.

Ela me alcança com sua mão direita, sua mão que trabalha,
por isso solto a de Noah e sento na cadeira oposta desta vez. Eu
deslizo minha palma sob a esquerda dela, minha outra descendo
em cima dela. Lágrimas transbordam em seus olhos, mas ela pisca
para afastá-las, sua mão livre cobrindo a minha.

Eu não olho para Noah, não poderia, mas não há dúvida em


minha mente que seus olhos estão em mim. Posso sentir o peso de
seu olhar. Ele me atravessa, queimando minha alma, onde
suspeito que um pedaço dele agora vive.

— Eu gosto do seu moletom. Acho que reconheço esse —


brinca Lori, travessura em seus olhos quando minhas bochechas
queimam em um vermelho brilhante.

— Eu também, mas está meio quente aqui. Tem certeza de


que não quer tirá-lo? — Noah toma o lugar à sua direita, sorrindo
largamente quando o prendo com uma expressão vou te matar
enquanto subconscientemente puxo meu colarinho um pouco
mais perto do meu pescoço.

Eu dou toda a minha atenção para Lori.

— Diga-me a coisa mais embaraçosa que já aconteceu com


ele.
Noah ri alto, e a risada de sua mãe segue.

— Sabe, detesto desapontar, mas ele nunca foi do tipo que se


envergonha. Um pouco quieto às vezes, mas nervoso ou
envergonhado... — Ela balança a cabeça.

Estreito meus olhos em Noah, seu sorriso ainda em pleno


vigor enquanto se recosta em seu assento, inclinando-se todo
preguiçoso e lindo. — Não, suponho que não. Ele nunca a deixa
adivinhando.

— Crescendo, seus amigos eram seus companheiros de


equipe, então a cada ano, à medida que as crianças ficavam mais
velhas ou mudavam de programa, as novas crianças se tornavam
seus amigos. Nunca fez muito com eles fora disso. Ele gostava de
ficar em casa.

Ele gostava de garantir que você nunca estivesse sozinha.

Ele entendeu seus sacrifícios quando jovem e cresceu com


um coração aberto e uma mente forte, ambos provenientes do
amor e apoio inflexíveis de sua mãe. Não tinha um exército ao seu
redor como eu, mas ele a tinha, e fez com que ela sentisse que era
o suficiente.

Um peso terno e pesado recai sobre meu peito, mas tento não
demonstrar, apoiando o queixo na palma da mão aberta. — Conte-
me sobre seu primeiro treino de futebol.

— Ele chorou como um bebê — diz instantaneamente, me


fazendo rir. — Implorou-me para não fazê-lo ir, mas eu disse, filho,
me escute — Lori continua contando sua história, e lentamente,
olho para Noah.
Ele pisca na minha direção, mas é suave e diferente, e quando
olha para sua mãe, percebo algo.

Noah não é tudo o que os rapazes são para mim.

Ele é de alguma forma... mais.


Arianna
— Brady disse que o jogo desta semana é importante para
eles.

Eu aceno, virando meu flashcard 87 . Meus ombros caem.


Resposta errada de novo. Droga isso.

— Sim. — Caio de volta no assento de plástico. — Noah disse


que perderam para este time na prorrogação na temporada
passada, e agora, estão empatados em primeiro lugar. —
Verificando a hora no meu telefone, começo a enfiar meus
materiais na mochila. — Vamos lá, se eu não tomar uma bebida
energética ou um café ou algo assim, posso morrer, e eles ainda
têm quarenta e cinco minutos restantes de prática.

87
-Flashcards são pequenos retângulos recortados em papel ou digitalizados, utilizados para associar
uma informação colocada no anverso (parte da frente) com uma resposta no verso (parte de trás).
Assim, ao ler a pista de um lado, o estudante deve adivinhar qual está do outro.
Cameron salta, pronto para virar. — Gostaria que
pudéssemos sair com eles. Este é o terceiro jogo consecutivo fora
de casa.

— Eu sei e eles ficarão fora por três dias desta vez. É uma
viagem de catorze horas até o Novo México. Quão miserável é isso?

— Ah, quase esqueci. Alguém pode passar por retirar-se do


quarteback cock88.

— Cala a boca antes que eu te empurre pela passarela.

Rindo, ela nos leva pelas escadas do estádio.

Quando nos aproximamos da plataforma final, Chase sai


para uma rota. É um passe rápido, e Noah joga em sua direção,
mas escorrega por entre seus dedos, quicando em sua joelheira e
direto nas mãos de um defensor.

O apito acaba com o jogo, e Chase arranca as luvas. Em vez


de correr de volta para a fila como os outros, ele caminha.

Noah estende a mão para cada cara quando entram, e cada


um bate a palma da mão contra a dele ao passar. Cada cara, exceto
Chase.

Em vez disso, Chase o acerta no ombro e volta à posição.

88
-Como na brincadeira anterior C de Capitão e de Galo (Pau). Ela está falando da troca de capitães ou
no caso a posição de quarterback.
Cameron cruza os braços. — O que é que foi isso?

Eu balanço minha cabeça, observando enquanto, desta vez,


os receptores correm pelo campo, cada um guardado por um
defensor. Chase vai para a esquerda, mas ele tem dupla equipe,
dois defensores em sua bunda, e Noah encontra seu companheiro
de equipe aberto à direita, então dispara, a bola caindo direto nas
mãos de seu alvo pretendido.

O apito soa e eles começam sua caminhada de volta, então


Noah se vira para falar com o atacante, enquanto espera os outros
correrem de volta para a próxima jogada, e ofego quando Chase o
esbarra novamente, mas desta vez, Noah nem olhando.

Noah tem que pular para evitar tropeçar em um dos caras


curvados amarrando sua chuteira.

Noah se vira, e Chase empurra seu peito contra o de seu


capitão. No peito de seu quarterback. As pessoas gritam, e Noah
coloca a mão no peito de Chase para mantê-lo afastado, mas Chase
dá um tapa.

Noah arranca seu capacete então, empurrando para frente e


apontando a mão para o campo, mas Chase grita de volta. Nem
mesmo um minuto depois, Chase empurra-o, e então toda a equipe
está de pé, gritando com Chase enquanto Noah tenta acalmá-los,
mas Chase não se cala.

A regra número um em campo é nunca tocar o quarterback.

O que diabos ele está pensando?

— Vamos lá. — Eu franzo a testa, virando no túnel que leva


ao estacionamento.
— Ari, sério! — Cameron chama atrás de mim, entrando na
fila ao meu lado um momento depois. — Você não quer esperar e
ver o que acontece?

— Não.

Sem outra palavra, Cameron e eu saímos do estádio, e só


quando entramos no café do campus ela se vira para mim.

— Caso esteja se recusando a reconhecer o que acabou de


acontecer, farei isso por você. — Ela desliza os polegares pelas
alças de sua mochila. — Depois do fim de semana passado, seria
muito difícil fingir que não era óbvio que você e Noah estão ficando.

— Então.

— Então... talvez você e Chase precisem ter uma conversa.

Chocada, fico boquiaberta, retrucando — O quê?

— Não o quê. Vocês nunca falaram sobre o que aconteceu.

— Falamos. Ele disse que foi um erro e absorvi suas palavras


como o carvão faz gás. Não há mais nada a ser dito. As coisas
quase parecem que estão de volta ao normal novamente entre nós,
então não fique aqui e tente me dizer que o pequeno ataque que
ele acabou de jogar em um passe que não foi enviado teve algo a
ver comigo. Confie em mim, não teve.

Ela tenta, mas é incapaz de conter seus pensamentos. — Eu


só acho que é isso, ou que pode ser, um pouco difícil para ele, é
tudo.
— O que exatamente é difícil para ele, Cameron? — Vou até
o balcão, pedindo rapidamente uma bebida, e ela faz o mesmo.
Pagamos e entramos no cantinho para fugir dos outros esperando.

— O fato de eu ter chorado por ele durante meses ou o fato


de não estar mais?

Seus ombros caem. — Ari, isso não é justo.

— Não é justo ser aquela que pulou as primeiras experiências


na faculdade com seu irmão gêmeo porque sabia que seu melhor
amigo estaria lá compartilhando esses momentos com ele, e ela
não conseguia suportar a ideia de estar tão perto dele, ou que tal
deixar sua própria melhor amiga para fazer as mesmas coisas,
coisas que falaram sobre fazer juntos durante anos pelo mesmo
maldito motivo?

Lágrimas transbordam em seus olhos, e balanço minha


cabeça, segurando sua mão. — Eu não estou chateada, Cameron.
Fiz a escolha. Era tudo por minha conta, e não queria arrastá-la
comigo. Fiquei fodida por um bom minuto e não sabia quando me
sentiria melhor, mas...

— Mas agora você sabe.

Meus lábios se curvam para um lado, e aceno. — Sim. Sei.


Meu irmão não está mais bravo comigo, ou pelo menos não está
agindo assim, e Chase e eu podemos estar na mesma sala sem
uma bola gigante de tensão nos circulando. Tudo parece bom. Eu
só quero focar nisso.

Cameron pisca rapidamente para conter as lágrimas, mas


desta vez não são tristes.
Ela ri levemente, olhando para o céu enquanto mostra a
língua. — Uh, odeio quando você é inteligente, lógica e merda. —
Sorri, jogando os braços em volta de mim.

O barista chama nosso pedido. Nós o pegamos e saímos pela


porta.

— Vamos deixar a viagem para o pub com os rapazes, comer


sorvete no jantar e assistir uma TV ruim, o que acha?

Eu jogo meu braço ao seu redor, e o dela cai sobre meu


ombro. — Eu digo que parece um plano sólido.

— Foda-se, sim, é.

Então, é exatamente isso que fazemos.

— Então sobre estas pequenas ligações do FaceTime... – Noah


sorri para a tela, sussurrando – ...talvez não queira me provocar
como antes.

— Ah, sim, e por quê?

Noah segura uma risada e seus olhos se erguem sobre a tela.


No segundo seguinte, uma voz muito familiar grita de algum lugar
— É melhor ser minha irmã para quem está sorrindo, idiota.
Eu caio de volta na minha cama com uma risada e um revirar
de olhos dramático. — Claro, ele é seu colega de quarto.

— Ele está jogando a maior parte do primeiro quarto amanhã,


então queria tentar repassar mais algumas coisas com ele sem
todo mundo por perto.

Eu voo para cima, minha boca aberta. — Ele está


começando?

Noah sorri. — Sim. Temos um plano de jogo que achamos que


vai enganá-los, então estamos correndo com ele.

— Meu irmão está começando em um jogo da faculdade


amanhã?! — Eu salto para os meus pés, correndo para o quarto
de Cameron e dando uma topada no caminho.

— Ow, merda! — Eu rio, batendo em sua porta, invadindo um


segundo depois.

Ela arranca os fones de ouvido da cabeça, os olhos


arregalados de pânico. — Mason começa amanhã!

— O quê! — Ela pula, se atrapalhando e caindo no chão, mas


aparece instantaneamente.

— Eu sabia!

Gritamos, abraçadas.

— Ah merda, você disse a ela, não é? — A voz de Mason


preenche a linha, e rapidamente olho de volta para minha tela a
tempo de ver sua cabeça aparecer ao lado de Noah.
— Puta merda! — Eu sorrio, batendo os pés.

— Eu sei. — Uma risada orgulhosa escapa dele.

Lágrimas encontram meus olhos e um brilho brincalhão


cobre seu rosto. — Pare com isso.

Nós rimos, e eu inalo profundamente. — Oh meu Deus, Mase.


Você arrasará.

— Amo vocês, meninas. — Diz.

— Amo você.

Mase desaparece e grito para Noah, cujos olhos suaves estão


colados nos meus.

— Vou deixar você dormir agora — ele diz baixinho.

— Depois dessa notícia? Sim, claro! Vou tentar falar com


meus pais. Acho que é dia na Alemanha, mas falhei na história
duas vezes, por isso posso estar errada.

Noah ri, deixando-me saber — Posso não ser acessível


amanhã.

— Cara de jogo, já sei o que fazer. — Eu mordo meus lábios.


— Mate-o lá fora, Romeu.
— For You I Will89.

Meu sorriso é lento. — Anos noventa R&B90, eu gosto.

O sorriso de Noah é absolutamente letal, e quero pular pela


tela. — Adeus, linda.

Com um aceno rápido para a tela, desligo.

Amanhã, meu irmão alcançará mais um objetivo que se


propôs a realizar, e não poderia estar mais orgulhosa.

Eu sei que ele mereceu; sei que é mais do que suficientemente


bom, mas não posso deixar de pensar que Noah o ajudou a lhe
apresentar a oportunidade de começar, e Mason fez disso sua
vadia.

— Muito bem, as asas estão fora do forno. Batatas fritas estão


despejadas na tigela e a porta... — Cameron salta da cozinha,
girando a trava — ...está trancada.

89
-Canção de Monica “Por você eu irei” do álbum Space Jam.

90
-R&B (Rhythm and Blues) contemporâneo é utilizado principalmente para se referir a um subgênero
com influencias de soul, funk e hip-hop na música pop.
— As cervejas estão abertas e o volume... — pego o controle
remoto — ...está alto.

Eu me movo para ajudar a levar tudo para a mesa de café e


então é hora do pontapé inicial.

Na linha lateral, vemos Mason colocar seu capacete, puxando


sua gola enquanto pula para cima e para baixo em ambos os pés
para manter seu sangue fluindo forte. Nosso cara cai aos vinte, e
o ataque corre para o campo, liderado por meu irmão.

Aplaudimos e gritamos, ficando muito perto da tela enquanto


ele informa seus homens sobre o passe. Eles param, tomam suas
posições, e menos de cinco segundos depois, Mason chama a
caminhada.

A bola é agarrada com força em suas palmas, e ele gira,


fingindo lançá-la para o running back91, antes de recuar e atirar
para uma primeira descida rápida.

— Uau! — Aplaudimos.

91
-Posição do futebol americano, cujo principal papel é correr com a bola que pode ser passada para
ele pelo quarterback, sendo que também pode receber e ajudar no bloqueio.
Eles se preparam novamente, e desta vez, Mason rompe uma
lacuna, correndo por mais onze jardas antes de deslizar para o
quadril para evitar o tackle92.

— Sim! Dois snaps93, dois first downs94!

— Oh meu Deus, essa merda está parecendo tão boa para


esses treinadores agora! — Cameron sorri, bebendo metade de sua
cerveja.

Eu pego a minha, observando enquanto Mason olha para a


linha lateral. Ele dá um aceno curto e se vira, apontando para a
direita antes de levantar e colocar o pé esquerdo no chão. A bola é
rebatida e ele cai para trás, olhando para o campo, mas o outro
time ataca, rompendo sua linha.

Mason é empurrado por trás e a direita pela esquerda. Seu


torso torce o oposto de seus quadris, suas costas dobradas. Seu
capacete voa com o impacto, e Mason atinge o gramado.

Cam e eu congelamos por vários segundos antes de sairmos


dela.

— Puta merda.

92
-Tackle é tirar a bola do controle adversário, impedir o adversário de ganhar terreno até a linha de
gol ou simplesmente de parar a jogada em andamento.

93
-Snap é o lance inicial de cada jogada, quando o Central passa a bola ao Quarterback, por entre as
pernas, ou a atira para trás quando a formação ofensiva é o Shotgun.

94
-É quando o time consegue as 10 jardas, e ganha mais quatro tentativas para ganhar novas 10 jardas.
— Filho da puta.

O pânico se instala e nos aproximamos da TV.

— Não, não, não.

— Ari, ele não está se levantando.

Eu cruzo minhas mãos a minha frente, torcendo de um lado


para o outro. — Levante-se, Mase.

— Ari... ele não está se levantando!

— Porra.

Fora os poucos que estavam perto de Mason, o resto da


equipe só agora está percebendo que seu quarterback ainda não
levantou.

Brady está abrindo caminho entre seus companheiros de


equipe no campo enquanto Chase está correndo da linha lateral
no mesmo segundo.

Eu cerro meus dentes, lágrimas transbordando em meus


olhos enquanto o medo disparando através dos rapazes sopra
através de mim. Ficam a poucos metros de Mason, mas ambos são
rapidamente empurrados para trás por várias pessoas da equipe
técnica do Avix. Eles gritam, tentando ver além do grupo de
pessoas correndo para o lado do meu irmão, mas são forçados a
ficar parados.

Brady arranca seu capacete, levantando-o enquanto grita em


resposta, mas tudo o que faz é atrair mais dois atacantes em sua
direção. Eles agem como um escudo, bloqueando e empurrando-o
para trás. Ele joga o capacete, segurando sua cabeça enquanto se
vira e minhas mãos sobem para cobrir minha boca.

Eu tremo quando meu telefone vibra na mesa de café, meu


peito aperta quando eu atendo.

— Pai! — Entro em pânico.

— Arianna, está tudo bem — ele me assegura em um tom


baixo e calmante. — Respire fundo por mim, está bem?

Eu tento, mas é instável e causa uma tensão ao longo das


minhas costelas. — Pai, ele não está se movendo.

— Eu sei, Baby. Estamos assistindo. Estou no viva-voz?

Pressiono o botão do alto-falante. — Está agora.

— Cameron, querida, você está bem? — Pergunta


gentilmente, sabendo sem perguntar que ela está bem ao meu
lado.

Ela acena com a cabeça, embora ele não possa vê-la, roendo
as unhas. — Mm-hm. — Funga

— Bom, isso é bom. Suas mães estão aqui, seu pai também,
Cam e os Lancasters — ele nos diz, e Cameron estende a mão para
apertar minha mão.

Eu deixo cair minha bunda na mesa, e ela fica de pé ao meu


lado.
Olhamos para a tela enquanto os médicos estabilizam o
pescoço de Mason, três outros agachados ao seu redor, seus
companheiros de equipe não muito longe.

— Mamãe está bem? — Minhas pernas saltam.

— Ela está assustada — ele me diz honestamente. — Mas


todos nós estamos. Estamos todos juntos, porém, e isso é o que
importa. Mason sabe que estamos com ele, mesmo que estejamos
em lugares diferentes.

Eu fungo. Pulo de pé quando Noah entra no campo. Um


árbitro tenta fazê-lo recuar, mas ele argumenta, e prendo a
respiração quando seu treinador, parado a poucos metros de
Mason, o vê.

O treinador corre, dizendo alguma coisa, e Noah dá um


tapinha em seu ombro, correndo em direção à endzone.

— O que ele está fazendo? — Cameron sussurra, e balanço


minha cabeça.

— O que quem está fazendo? — Meu pai se pergunta.

Noah estende a mão, agarrando a câmera gigante à direita do


poste do gol, e arfo quando a rede divide a tela, o rosto de Noah
exibido na segunda.

Os comentaristas param de falar sobre a trajetória do golpe


de Mason e começam a adivinhar o que o quarterback está
fazendo, mas não têm a menor ideia.
Eu tenho. Porque assim que ele tem certeza que está vivo,
Noah olha direto para a câmera, direto nos meus olhos... e balança
a cabeça.

Tudo dentro de mim racha, quebra e depois se funde


novamente. Eu desabo no sofá, lágrimas escorrendo pelo meu
rosto.

— Ele está bem — rosno.

— O que você quer dizer, querida? — Meu pai insiste.

A cabeça de Cameron salta da tela para mim. — Como você


sabe?

— Noah — digo a ambos. — Isso é o que ele está dizendo. Está


me deixando saber que Mason está bem.

As lágrimas de Cameron caem e ela cai no sofá. — Eu amo


esse cara pra caralho.

Uma risada rouca me deixa, e sorrio. — Pai, ele está bem.

— Querida... ele ainda não está se movendo.

Eu aceno, mas apenas momentos depois, Mason dobra o


joelho e o suspiro da minha mãe me engasga.

A equipe médica se levanta, reposicionando-se perto dos


ombros de Mason, e enquanto fazem isso, Mason levanta o braço
esquerdo no ar, deixando todos que estão assistindo saberem que
ele está bem. O carrinho sai para o campo, mas Mason não é
colocado em uma maca. A multidão enlouquece enquanto ele
ajuda a se levantar, e depois lentamente se senta de costas. Ele foi
levado e meus pais comemoram do outro lado da linha.

Conversamos um pouco mais, e meu pai me garante que


ligará se souberem de alguma notícia. Mason tendo dezoito anos,
há uma chance de nenhum de nós ouvir uma palavra até que ele
seja capaz de nos ligar.

Horas se passam antes que meu telefone toque, e quando isso


acontece, é de Brady. Cam e eu nos encolhemos na tela.

— Brady.

— Ei, meninas — diz suavemente, um sorriso triste nos


lábios, Chase bem ao seu lado. — Ouviram alguma coisa?

— Ainda não. O que você sabe? — Cameron pergunta.

— Eles o levaram para um hospital a alguns quilômetros de


distância para seguir o protocolo de concussão, fazer testes e tal.
— Suspira. — Isso é tudo que recebemos do treinador.

— Podem ir vê-lo?

Entristecidos, balançam a cabeça. — Pegaremos o ônibus


daqui, mas um treinador foi com ele. O treinador diz que nos
atualizará quando puder, mas sem a permissão de Mason, não
podem dizer nada a ele. O treinador acha que podem tê-lo dopado,
então ele provavelmente está lúcido ou não.

— Eles queriam levá-lo na maca, mas ele queria sair de pé.


— Chase passa as mãos pelo rosto coberto de suor. — Acho que
foi para seu benefício e da família.
Concordo. — Sim, tenho certeza. Eles ligaram. Estavam
assistindo.

— Droga. — Brady olha para o lado e para trás. — Um dos


rapazes disse que o ouviu chiando, dizendo algo sobre suas
costelas, então não sei.

Eu aceno novamente, mordendo meu lábio interno. — Ligarei


para o meu pai. Se ouvir algo mais, ligo.

O mesmo.

— Ari, ele ficará bem. — Chase pega meus olhos. — Ele ficará
bem. Ligue para mim ou Brady se você, sabe, só quiser conversar.

— Ligaremos. — Eu olho para Cam, agarrando sua mão.

— Vocês, descansem no ônibus. — Cam deixa cair a cabeça


no meu ombro. — Não há nada que possam fazer. Não se preocupe
muito.

Sorrisos sombrios cobrem os lábios dos rapazes e Brady


suspira. — Temos que tomar banho, não temos muito tempo antes
de entrar no ônibus.

— Vão. Eu envio uma mensagem.

Com isso, eles desligam e nós caímos contra as almofadas.

Ligo para meu pai para informá-lo sobre o pouco que


descobri, e ele diz que acabou de falar com o hospital, mas sem
sucesso. Cameron e eu passamos as próximas horas andando de
um lado para o outro, aquecendo e reaquecendo a comida depois
de deixá-la esfriar novamente.
Ainda estávamos acordadas quando o sol começou a nascer,
mas devemos ter adormecido em algum momento porque, de
repente, estou acordando com batidas na minha porta. Cam salta,
correndo para abri-la, e Brady e Chase se apressam a entrar.
Brady abraça Cameron primeiro, me puxando em seguida.

— Nada? — Ele espera.

Eu balanço minha cabeça, me virando para Chase, que me


envolve em seguida. — Por que ele não ligou para ninguém? Por
que o hospital não ligou para seus pais?

Meus olhos se fecham. — Não sei. Ficamos acordadas a noite


toda esperando e nada. Estou assustada.

— Eu sei — sussurra, seu aperto apertando, e enterro meu


rosto em seu peito. — Eu sei que você está.

Um toque suave faz minha cabeça se erguer, e todos nós


olhamos para a porta que Cameron deixou aberta.

Noah está na entrada.

— Noah — expiro, e meus músculos ficam relaxados.

Eu corro em sua direção e um pequeno sorriso puxa seus


lábios à medida que ele entra, seus braços lentamente se
moldando ao meu redor enquanto me jogo nele. Começo a chorar,
mas seus lábios encontram meu ouvido.

— Shh, Julieta — murmura. — Você quer que ele a ouça


chorar.
Minha cabeça se levanta, e franzo a testa enquanto os olhos
de Noah suavizam. Ele balança a cabeça, me soltando enquanto
traz seu telefone ao nosso lado.

— Estou com ela agora — diz ao homem parado


desajeitadamente do outro lado da videochamada.

O homem assente e se vira. Há um clique, e então a câmera


vira, e Mason deitado em uma cama de hospital preenche a tela.

Um soluço sai de mim e arranco o telefone das mãos de Noah.


— Mase…

— Ei, irmãzinha. — Sua voz é rouca, e um sorriso fraco puxa


em sua boca.

— Você está bem — choro. — Está bem?

Ele ri, mas tão rápido quanto deixa-o, ele geme, suas mãos
apertando o cobertor colocado sobre ele. — Sim, estou bem.

Cameron se espreme ao meu lado, e então os rapazes estão


aqui também, se aglomerando. Os olhos de Mason se movem ao
longo de nós três, e eles ficam brilhantes, então afasta os dele.

— Sentiram minha falta seus maricas? — Mase brinca,


gratidão em seu olhar castanho.

— Claro que viemos direto para cá, irmão. — Brady acena


com a cabeça, sabendo que é exatamente o que ele precisa de seus
melhores amigos. — Direito do ônibus.

Mason acena com a cabeça, olhando para seu colo. Ele lambe
os lábios antes de voltar sua atenção para a tela. — Duas costelas
fraturadas e uh... — limpa a garganta... — um ombro deslocado.
Estou fora não menos que quatro semanas, talvez mais. — Sua
mandíbula aperta.

Ninguém diz nada porque conhecemos Mason. Não quer ouvir


uma palavra sobre isso. Ele aceitou e pronto.

— Boa maneira de sair da prática, idiota — Brady brinca,


mesmo que não sinta isso.

Mason contudo sorri, e esse é o ponto.

— Ari, não diga nada para mamãe e papai. Ligarei para eles
agora, mas estou dizendo a ela que estou machucado e preciso
descansar. É isso.

— Tem certeza?

Concorda. — Não preciso que eles se preocupem ou


abandonem a viagem para a qual passaram os últimos quatro anos
economizando.

— As chances são de que ela já reservou voos.

Ele sorri. — Sim, é melhor eu desligar e ligar para ela


rapidamente.

— Quando estará em casa?

— Estou sendo liberado agora, só esperando a papelada. Esse


cara... — acena para o homem segurando a câmera — ...me pegou
alguns moletons e outras coisas para vestir, e o treinador me
arranjou um voo para casa. É um jato curto, um ex-aluno estava
assistindo, viu o golpe e o acertou, então não tenho que esperar
assim no aeroporto.

— Bom. A que horas devemos buscá-lo?

Ele balança a cabeça, e depois uma expressão tensa se forma


em sua testa. — Ligarei para Nate. Pedirei a ele que me busque e
me leve de volta para a casa de praia.

— O quê? Por quê?

— Eu tenho que descansar por duas semanas, Ari,


praticamente deitado na cama, e não posso fazer isso na casa de
futebol.

— Fique aqui, eu posso ajudar.

— Você tem aula e nós temos uma casa inteira desocupada.


Vou dormir e deitar de bunda. Lolli e Nate estão por perto, Parker
e Kenra também. Payton. Se eu precisar de algo, estarão lá.

Eu o encaro, mas aceno com a cabeça. Digo tudo bem


quando, na verdade, quero discutir, e ele sabe disso, e é por isso
que um pequeno sorriso cobre seus lábios.

— Ari.

— Está bem. — Eu dou de ombros, fungando. — Mas se não


atender minhas ligações, uma ligação, Mase, estou dirigindo até lá,
juro.

— Fechado. — Sua expressão fica tenra, e ele suspira,


abaixando a cabeça para trás quando seus olhos começam a
nublar.
Meu coração se parte por ele.

— Mase...

— Amo vocês — ele me corta.

— Amo você.

— Eu te ligo mais tarde. — Ele olha para o homem


novamente. — Desligue.

Meu corpo inteiro cede quando a ligação termina e jogo o


telefone no balcão, enterrando meu rosto em minhas mãos. —
Jesus fodido Cristo.

A mão de alguém cai nas minhas costas, fazendo círculos


suaves.

— Temos certeza de que ele está bem? — Cameron se


preocupa.

— Ele é Mason — Brady diz. — Isso é exatamente o que eu


esperaria dele nesta situação.

Olho, e Chase está bem ao meu lado. Ele assente,


concordando.

— Quer que a gente fique? — Pergunta, seu tom desejoso.

Eu balanço minha cabeça porém com um suspiro. — Vocês


vão para casa, parecem que dormiram tanto quanto nós.

— Tem certeza? — Sua voz baixa, mas apenas aceno com a


cabeça, e a mão nas minhas costas, a sua mão, cai ao seu lado.
Os rapazes se curvam, pegam suas malas do chão e nos
encaram novamente.

Cameron olha para mim. — Trey acabou de enviar uma


mensagem... quer que eu fique ou... — Ela olha para Noah.

— Vá. Estou bem agora. — Aceno, enxugando meu olho


esquerdo em exaustão. Olho atrás de mim para Noah, que se
afastou vários metros, agora encostado na parede. Eu me viro para
ele, e lentamente se aproxima. Encontro-o no meio do caminho e
ele estende a mão, escovando meu cabelo atrás da minha orelha.

Ele me encara, seus olhos azuis cheios de preocupação, então


aceno com a cabeça, minha mão subindo para apertar seu pulso
brevemente.

Estou bem agora, juro.

Ele dá um empurrão curto de seu queixo.

— Obrigada. — Minha voz falha.

Noah balança a cabeça, não querendo aceitar porque, em sua


mente, ele não fez isso para ser agradecido, fez isso porque sabia
que eu precisava e foi capaz de me dar isso.

— Nós vamos para casa, meninas.

Eu olho para eles, assentindo. Chase olha para frente


enquanto sai pela porta, e Brady saúda Noah em agradecimento.

— Ligue-me mais tarde, Ari Baby. — Ele me prende com uma


expressão severa.
— Ligarei. — Abraço Cameron rapidamente e ela fecha a porta
com sua saída.

No momento em que se vão, encaro Noah, e minhas emoções


vencem novamente. Lágrimas caem, então giro, pressionando
meus dedos contra meus olhos.

— Sinto muito — sussurro, tentando engolir o grito que está


subindo pela minha garganta.

— Não se desculpe e não se esconda de mim. — Ele dá um


passo ao redor, me puxando em seu peito. — Para que eu sou bom
se não para te abraçar quando precisa ser abraçada?

— Posso pensar em algumas coisas — choro, rindo entre as


lágrimas quando faz. Suspirando, olho para ele. — Só estou
preocupada. Mason não é Mason sem futebol e sua tentativa de
não nos deixar preocupados significa que apenas há algo para se
preocupar.

As pontas de seus polegares sobem, e ele as passa


suavemente sob meus olhos. — Talvez ele precise de alguns dias
para ficar com raiva e aceitar isso?

Eu aceno, inclinando meu queixo para beijar sua mão. O


canto da boca de Noah se levanta e solto uma respiração profunda.

Ele pressiona sua testa na minha. — Você me enviou uma


mensagem durante toda a noite. Dormiu mesmo?

Eu dou de ombros. — Lembro-me do sol nascendo e então os


rapazes estavam batendo na minha porta.
Suas palmas fortes e quentes cobrem minhas bochechas. —
Deveria tentar dormir um pouco. — Ele me libera, recuando para
pegar seu telefone e empurra-o no bolso.

Eu o sigo até a porta, e ele me encara enquanto segura a


maçaneta. — Ligue-me quando acordar? Posso vir fazer algo para
você, trazer café…

Ele gira a maçaneta, puxando-a para abri-la, mas a pego pela


fechadura antes que esteja totalmente livre da moldura, e os olhos
de Noah se fixam nos meus.

Meu peito se contrai enquanto deslizo minha mão para baixo,


até que estou cobrindo a dele, e a liberto do metal frio.

Um leve franzido se forma ao longo das sobrancelhas de


Noah, mas ele não discute quando fecho a porta, o clique da
fechadura é o único som a ser ouvido.

Seu peito sobe com uma respiração completa, e fico na ponta


dos pés, roubando-o de seus lábios.

Suas mãos sobem, entrelaçando-se no meu cabelo, e ele me


beija de volta. Sua boca pesada e faminta. Cura.

Eu preciso disso. Preciso dele.

Nossos olhos se abrem ao mesmo tempo e ele deve ver algo


dentro do meu porque seu corpo treme com a realização.

Meu coração bate fora de controle enquanto deslizo minhas


palmas por seus braços até alcançar suas mãos. Engancho meus
dedos nos dele e sussurro — Fique.
Arianna
Noah não diz uma palavra, mas também não recua, não que
eu achasse que faria.

Seus olhos permanecem fixos nos meus, então nos guio


cegamente em direção ao meu quarto, e a cada passo, o franzido
da sua testa se aprofunda.

À minha porta, ele faz uma pausa em seus passos, seu azul
ofuscante procurando, por isso o libero, afasto um pé e agarro a
barra da minha camiseta. Lentamente, a puxo sobre minha
cabeça, deixando-a cair entre nós. Noah olha de mim para ela, e
quando alcanço atrás de mim para desabotoar meu sutiã, seu
olhar salta.

— Se eu entrar neste quarto...

— Entre, Noah. — Minha voz é um sussurro rouco.

Sua mandíbula aperta, e ele se move para frente, e quando o


faz, está com força total.
Sua palma esquerda envolve minha nuca, a direita segura
minha bochecha, seu corpo quente contra o meu. Sua boca desce
na minha, mas no último segundo, se esquiva, agarrando minha
mandíbula.

Ele suga suavemente, provocando minha pele com seus


lábios macios até chegar ao ponto sensível do meu pescoço.
Belisca-me então e ofego, minha mão esquerda subindo em seu
cabelo.

Não percebo que ele me conduziu para trás até meus joelhos
baterem na beirada da minha cama, mas quando vou abaixar nós
dois, Noah morde mais forte, e meu corpo estremece.

Suas mãos vêm ao meu redor, empurrando meu sutiã pelos


meus braços. Ele sai de seus sapatos então, e quando pego sua
camiseta, abaixa, permitindo que eu a tire de seu corpo, mas seus
lábios caem no meu estômago, fazendo com que sua camisa fique
emaranhada em sua cabeça. Ele ri contra mim e meus dedos dos
pés se enrolam no tapete.

— Alguém tem cócegas. — Ele aperta meus quadris.

Eu tento de novo, e desta vez, tiro-a, sorrindo quando olha


para mim.

Ele se levanta, e ao fazê-lo, me leva com ele, suas mãos sob


minhas coxas. Tranco minhas pernas ao redor de seu corpo, e
Noah sorri, trazendo sua boca para a minha.

Ele me beija com força, gemendo em minha boca quando


puxo seu cabelo. Um joelho atinge o colchão, e depois o outro, e
seus olhos piscam para os meus.
— Eu não tenho certeza se entende o que isso está prestes a
fazer comigo — diz, suas palavras pesadas e fortes. Seu olhar
escuro e deliberado. Promissor.

Hipnotizante. Aperto meu abraço nele, e seus joelhos se


ajustam no colchão.

— Eu quero te dizer uma coisa — digo de repente.

— Conte-me.

Meu queixo cai. — Estou com vergonha.

Uma de suas mãos sobe, seus dedos provocando ao longo da


cavidade da minha garganta, esticando meu pescoço até que meus
olhos sejam forçados a encontrar os dele. — Diga-me de qualquer
maneira.

O desespero em seu tom é quase doloroso. Meus polegares


traçam ao longo de seu lábio inferior, e levo minha boca ao seu
ouvido.

— Eu pensei em você — sussurro. — Quando estava fora...


pensei em você. De manhã, à tarde e à noite. — Beijo a borda de
sua mandíbula. — Especialmente a noite…

O peito de Noah ronca, seus dedos grandes emaranhando no


meu cabelo e puxando suavemente até que meu queixo esteja no
ar. Ele puxa até que estamos olhando um para o outro, as rugas
ao longo de suas têmporas se aprofundando. Engulo e seu olhar
passa para o meu pescoço, mas volta imediatamente.
— Eu me perguntava como seria ter você na minha cama —
admito, o fogo fermentando em seus olhos inebriante.
Encorajador. — Eu sonhei com isso... fantasiei sobre isso.

Ele treme de necessidade.

— Tanto que meu corpo doeu — ronrono. — Então tive que...

— Tocar-se. — Sua testa cai na minha, sua língua passando


pelos meus lábios. — Você teve que se tocar?

Concordo.

Lentamente, Noah me abaixa na cama, destravando minhas


pernas e mãos ao redor de seu corpo.

Ele desliza as mãos pelas minhas coxas, agarra meu short e


o tira, levando minha tanga com eles. De quatro novamente,
pressiona as palmas das mãos no edredom ao lado das minhas
costelas e diz — Mostre-me.
Noah
Seus olhos dourados se arregalam, seu corpo perfeito fica um
pouco tenso, então alivio seus pensamentos.

Eu lhe digo o que está acontecendo na minha cabeça, minha


boca se alinhando com a dela.

— Eu fiz o mesmo, Julieta — admito. — No banho. Na cama.


— Conduzo minha língua além de seus lábios, e ela ansiosamente,
sem palavras, implora por mais. — Na minha cama.

Seus olhos se abrem, procurando por enganos que não


encontrará.

Lentamente, mas sem hesitação, seus dedos dançam ao longo


de seu peito, um rubor percorre seu corpo enquanto sua mão
abaixa, desaparecendo entre suas pernas. Meu corpo vibra, meu
pau duro e esticando contra meu jeans.

— Diga-me o que eu estava fazendo com você — sussurro.

Seu rosto cora, mas ela fecha os olhos e diz — Primeiro beijou
meu pescoço.

Abaixo meus lábios em seu lugar favorito, bem no centro do


lado esquerdo.

— E então usou seus dentes e os arrastou para o meu ombro.


Eu sigo o caminho, sugando onde paro e ela puxa uma
respiração profunda. Seus dedos roçam contra minha calça, seus
dedos trabalhando em seu clitóris, e aperto meus músculos,
desesperado para senti-la contra mim.

— Você desceu de lá, mas não até o fim.

Eu puxo seu mamilo em minha boca, lentamente girando


minha língua ao redor do pico endurecido. Chupo, um pouco mais
forte do que antes.

Ela choraminga, se contorcendo embaixo de mim. — Você


está... zíper... você.

Sua mão se move mais rápido agora, seus olhos se abrem


quando o suave ronronar do meu jeans se desfazendo a encontra.
Seu olhar cai, seus lábios se separam quando pousa na haste da
minha cueca. Eu me liberto do resto das minhas roupas e sua
cabeça pressiona o travesseiro atrás dela.

Suas coxas apertam e começa a puxar as pernas fechadas,


perseguindo a pressão que as travam com força, mas quando
abaixo um pouco, minha ereção descansa ao longo de sua coxa, e
seus músculos relaxam.

Seus olhos encontram os meus. — Você não usou sua mão


desta vez. — Suas bochechas queimam e ela aperta seu clitóris
entre os dedos, suas coxas tremendo enquanto se aproxima de seu
orgasmo.

Eu me mexo novamente, desta vez trazendo um joelho entre


suas pernas. Abaixo meus lábios nos dela, sussurrando — O que
eu fiz, baby?
Ela geme, e alcanço entre nós, removendo sua mão e
prendendo-a acima de sua cabeça enquanto levo meu outro joelho
entre suas pernas.

— Diga-me o que eu fiz.

— Pressionou contra mim.

Eu abaixo todo o caminho, ambos gemendo quando nossos


corpos aquecidos se encontram pela primeira vez.

Minha mandíbula aperta, e enterro meu rosto em seu


pescoço. Ela está encharcada e eu estou instantaneamente
excitado. Não consigo evitar; balanço contra ela.

— Sim — ela resmunga. — Bem desse jeito.

Eu cavo meus dedos no edredom do lado oposto. — Deslizo


meu pau junto com você? — Puxo um pouco para trás, avançando
com mais pressão, e minhas coxas apertam.

— Você fez — ela murmura, sua cabeça se movendo até que


seus lábios estejam travados no meu pescoço. Ela chupa, morde e
sussurra — E então deslizou para dentro de mim.

Eu a mordo de volta e seus joelhos sobem, pressionando


meus quadris.

— Deslize dentro de mim, Noah.

Meu peito ronca, meus músculos tensos com a necessidade.


— Eu não quero te machucar.
Uma suavidade cai sobre ela e segura minhas bochechas, sua
cabeça balançando um pouco. — Você nunca — respira, puxando
minha boca para a dela. Seu beijo é suave e doce, mas sua voz
quando se repete é uma megera95 da porra. — Deslize dentro de
mim.

Puxando para trás, deslizo. Pressiono-a em um golpe longo,


lento e constante.

Ela engasga, seu pescoço esticando até que seus olhos estão
na parede atrás dela e levanto, olhando para a deusa diante de
mim.

Espreitando pela ponte de seu nariz, olhando nos meus olhos


enquanto eu a preencho completamente. Totalmente. A ternura
que a envolve faz meu pulso acelerar, e quando o mais sedoso dos
sorrisos curva seus lábios com sua próxima respiração, é isso.

Está feito. Estou fora.

Eu fui.

Entro e saio dela, devagar e constante. Meus golpes são


longos e profundos, uma tortura tentadora. Um tipo de agonia
muito necessária e doce. Ari traz suas pernas ao meu redor, seus

95
-A palavra usada é “vixen” que pode significar raposa ou megera. Neste caso, ambas as palavras
descrevem uma mulher linda, gostosa e sexy que consegue ficar quieta durante o dia mas pode se
transformar em uma rainha no quarto. Uma mulher com muitos desejos e quando está com uma
pessoa desencandeia suas fantasias nela.
calcanhares pressionando na parte inferior das minhas costas, e
me empurrando para frente.

Nosso ritmo acelera e ela fica mais alta. Seus gemidos, seus
suspiros. Seu batimento cardíaco.

Eu coloco meus lábios sobre o órgão que bate loucamente, e


ela pressiona a parte de trás da minha cabeça, então dou a ela o
que quer. Meus dentes.

Eu mordo e ela grita. Lambo e ela treme. Chupo... e ela se


despedaça.

Seus músculos tensionam, seus braços travando ao meu


redor quando ela começa a gozar, mas luta contra isso, puxando
meus lábios para os dela. Seu beijo é duro e faminto, perseguindo,
e eu a devolvo da mesma forma.

Meus quadris entram e saem, rolando, circulando e


pressionando, certificando-se de que seu clitóris seja trabalhado
com meu corpo, tanto quanto sua boceta. Eu trabalho nela,
arrastando seu orgasmo o máximo possível enquanto ela ofega
descontroladamente.

Ela se afasta, encontrando meu ouvido novamente, sua voz


um coaxar sem fôlego, seu corpo uma bola de tensão, soltando-se
com tremores espasmódicos. Quer que isso continue, lutando
contra o final pelo qual está desesperada, mas ela quebra. Suas
costas voam para fora da cama, seus gemidos ásperos e
enlouquecedores enquanto levanta seus quadris em mim,
desejando-me mais profundo. Seus lábios se abrem, e gagueja, —
E então ggoozo.
— No meu pau? — Apresso-me, trazendo meus joelhos para
cima, por isso estou sentado sobre eles e seus quadris estão no ar.

— S-sim. No seu pau.

Sua pele cora, e meu corpo se contrai, aquecendo e


aumentando.

Ar empurra para frente, levando meu lábio inferior em sua


boca, seus olhos atordoados travados nos meus enquanto
sussurra — E então você gozou também.

E estou porra acabado, ela me empurra para o limite.

Trancado em transe pela garota que meus sonhos mais


loucos não ousariam imaginar, gozo. Longo e difícil. Suas paredes
se apertam ao meu redor, vibrando por dentro, e gemo, meus
membros tremendo.

Eu a seguro lá, nossos corpos escorregadios de suor, até que


possamos respirar mais facilmente. Só então deslizo para fora dela,
baixando ambos para o colchão.

Seus olhos nunca deixam os meus, e depois de alguns


minutos de silêncio, ela começa a morder o interior de seu lábio,
suas mãos dobrando sob sua cabeça enquanto vira seu corpo, por
isso está de frente para o meu.

Estendo a mão, libertando seu lábio de sua crueldade. — O


quê?

— Você realmente pensou em mim?

Minha risada é baixa, mas aceno contra o travesseiro.


— Você realmente... se tocou... me imaginando?

Aceno com a cabeça novamente, deslizando minha mão por


seu pescoço e ao longo de seu ombro.

Meu sorriso puxa lentamente, quando seu sorriso escondido


brinca em seus lábios, e ela sussurra exatamente o que eu sabia
que faria.

— Mostre-me…

Eu lhe dou o que ela quer.

Tenho quase certeza que sempre lhe darei.


Arianna
Minha mão desliza sob as cobertas, mas Noah a pega com
uma sobrancelha erguida.

— Você deveria dormir um pouco. — Seu olhar é brincalhão.

— Vou dormir quando for velha.

Rindo, ele sai da cama, seu corpo gloriosamente nu em plena


exibição. Desliza sua boxer e calça jeans, virando-se para mim com
sua camisa.

Ele dá um tapa na beirada da cama, então rastejo, e ele a


puxa por cima da minha cabeça, toca meus lábios antes de me
jogar por cima do ombro.

Eu grito, tentando cobrir minha bunda nua, mas ele estende


a mão, apalpando minha bochecha esquerda enquanto me carrega
para a sala, e paro de tentar, aproveitando o calor de seu toque.

— Se você não vai dormir, precisa me deixar alimentá-la. Seu


estômago começou a roncar uma hora atrás.
Ele me abaixa no sofá, sorrindo enquanto faz um pequeno
show quando sua camisa é amarrada a minha cintura. Ele joga
um cobertor sobre minha cabeça, seus passos o levam para a
cozinha.

Incapaz de conter meu sorriso, me aconchego nas almofadas,


puxando o cobertor até o queixo enquanto coloco o jogo da noite
passada. Eu recomeço de onde paramos... logo depois que Mason
foi retirado do campo, a preocupação era demais na hora para
esperar mais um segundo. Assim que aperto o play e os
comentaristas começam a falar, Noah também, a gentileza de seu
tom me aquecendo em lugares que não posso negar.

— Você não tem que assistir isso — diz.

Eu lambo meus lábios, mantendo meus olhos na tela.

— Meu homem é o quarterback. — Eu sorrio contra o


cobertor. — Então, sim, tenho.

Noah não diz uma palavra, mas sei que ele está sorrindo, e o
meu cresce por causa disso. O que quer que Noah faça, não tenho
a menor ideia, porque a próxima coisa que sei é que estou
acordando em uma casa escura e ele se foi.

Bebo um copo de água e me arrasto para o chuveiro, ficando


sob o jato quente até que a água esfrie, repetindo a manhã várias
vezes.

Quando saio, vou para a cozinha, pegando meu telefone na


bancada.

Encontro uma mensagem de Noah.


ROMEU: Tentei acordá-la para dizer que tinha que ir, mas você não
se mexeu. Sim. Eu verifiquei seu pulso. A comida está no micro-ondas.

Uma risada me deixa.

ROMEU: Estou indo para a casa da minha mãe. A equipe vai a uma
pizzaria a poucos quarteirões do campus às sete. Deixe-me saber se quer
ir.

Meu peito aperta, sabendo que meu irmão não estará lá, mas
ele ficará chateado se eu não for só porque não pode, o tempo todo
odiando a ideia de eu estar lá com um monte de rapazes.

Estarei porém com Noah. Isso, e Brady e Chase estarão lá


também. Então, digo que sim.

No micro-ondas estão dois burritos de ovo e queijo,


praticamente a única opção que havia na geladeira. Já são cinco
da tarde, então só reaqueço um, economizando espaço para a pizza
mais tarde.

Eu ligo o FaceTime com Mason, aliviada quando vejo que ele


está em casa e acomodado em sua cama com um prato gigante de
rabanada ao seu lado que Lolli trouxe.
Ele está sorrindo e tem mais cor do que esta manhã, mesmo
que ainda pareça exausto, mas é apenas um dia, então desligo me
sentindo bem, o que me faz querer parecer bem.

Por isso, levo meu tempo me preparando.

Meu cabelo está solto em grandes cachos soltos, meus olhos


delineados com sombra cintilante e acentuados com delineador
escuro. Meu batom é tão vermelho quanto minha camisa e meus
jeans são altos e apertados. Só terminei de amarrar minhas botas
pretas quando Noah aparece para me pegar, seus lindos olhos
azuis o denunciando. A última coisa que ele quer fazer... é sair
desta sala.

Ele inclina a cabeça, separando os lábios, mas tudo o que sai


é uma risada grave. Eu mordo um sorriso e guio nosso caminho
para fora da porta.

A pizzaria é um adorável estabelecimento familiar. A mulher


de cabelos grisalhos atrás do balcão é gentil e convidativa com uma
boca ousada que me lembra minha avó.

A comida é abundante e deliciosa, que é a chave para o


sucesso com duas dezenas de atletas correndo. Vários deles vêm
até mim, perguntando sobre meu irmão e digo a cada um deles a
mesma coisa. Que ele está bem, descansando e não vê a hora de
voltar a campo. Eu apostaria que Brady e Chase foram para casa
e deram uma atualização parecida com a minha, mas garotos
agitados gostam de falar com garotas. Tenho certeza de que suas
perguntas foram usadas como desculpa para chegar até mim e
Cameron, e as poucas outras garotas que migraram para nós. Não
demora muito para que a jukebox esteja tocando algo lento e
sedutor, e os garotos cheios de cerveja empurram algumas mesas
para o lado. Em pouco tempo, sou apenas eu sentada, as meninas
tendo todas saltado para se juntar a eles.

Noah tenta voltar para mim, mas Trey é rápido em atacá-lo


quando uma mesa de sinuca fica livre. Ele olha para mim, mas o
afasto.

— Vá. — Eu sorrio. — Ele está perseguindo você para ser seu


parceiro desde que chegamos aqui.

Noah solta um gemido brincalhão, seguindo seu amigo.

Brady vem então, colocando um copo de cerveja a minha


frente. — Beba isso. Eu sei que ontem à noite deve ter chutado seu
traseiro porque sei que o meu está sangrando e machucado.

— Você não está errado. — Eu o levanto em aplausos,


tomando um pequeno gole. — Falou com ele de novo?

— Não, ele não quer falar com a gente ainda. Eu darei a ele
dois dias, e nem um minuto a mais.

— Ele não aceitaria nada menos. — Eu sorrio, engolindo


outro gole. Meus olhos deslizam sobre o ombro de Brady, e me
inclino para frente. — Não olhe agora, mas há um rosto muito
familiar que acabou de entrar pela porta e parece que ela viu você.

Brady gira todo o seu corpo, e eu rio. A garota afasta a cabeça,


colocando o cabelo atrás da orelha. Sorrindo, ele traz seus olhos
de volta para mim. — Essa é a menina tímida da biblioteca, não é?

— É.
— Woo — ele sussurra, terminando sua bebida e baixando-a
para a mesa com uma batida forte. Ele se levanta, inclinando-se
para mais perto. — E você disse que eu quase não a tive.

Rindo, o saúdo em seu caminho, e nem um segundo depois,


Chase cai no assento ao meu lado.

Ele se inclina para trás e quase escorrega do banco, mas


rapidamente se endireita, com um sorriso bêbado nos lábios.

Entretido, aperto meus lábios juntos. — Sentindo-se bem?

Ele acena com a cabeça, toma outro gole e me encara. — Oi.

— Oi. — Eu rio.

— Está com ele?

Minha diversão entope minha garganta, minha boca se abre,


mas nenhuma palavra sai. Sua pergunta, tão repentina e
inesperada, me congelou. Seus olhos perfuram os meus e meus
músculos parecem se contrair.

— Está falando sério agora?

— Será que...— Suas sobrancelhas cedem. — Apenas diga por


mim. Por favor.

Um vazio surpreendente rasteja sobre mim, mas aceno. —


Sim, estou. — Minha voz é forte, com certeza, e sei que ele a ouve.

O queixo de Chase abaixa, e bate os nós dos dedos sobre a


mesa em batidas suaves e silenciosas.
— Está bem. — Ele olha para o lado e depois se afasta.

Eu o observo ir, uma pitada de tristeza tomando conta de


mim, mas é superada pelo alívio que se segue agora que o ar está
limpo.

Cameron cai no espaço ao meu lado, me olhando com


expectativa.

— Ele queria saber sobre mim e Noah.

— E?

— E eu disse a ele a verdade, que estamos juntos.

Cameron suspira em indulto. — Bom. Isso é bom. Talvez ele


só precisasse ter certeza de que você está bem agora.

Eu aceno, mas uma carranca ainda se forma. — Sim.

Pode ser.

Algumas horas e vários jarros depois, o lugar está tão


barulhento quanto se esperaria, mas a energia que ganhei depois
de voltar a dormir esta manhã está desaparecendo lentamente.

Eu deixo cair minha cabeça no ombro de Noah, e ele esfrega


minhas costas.
— Está pronta para ir?

Olho para ele. — Sim, mas você pode ficar. — Olho na direção
de Cameron, ela e Trey estão se despedindo de alguns outros em
sua mesa. — Acho que Cameron está indo agora, posso andar com
ela.

Os nós dos dedos de Noah correm ao longo do meu queixo, e


sorrio. — Eu quero te levar, te dar um beijo de boa noite.

O calor se espalha através de mim e eu aceno. — Está bem.

— Ei, prostituta, estamos saindo. — Cameron desliza a minha


frente.

Eu fico de pé e Noah me segue. — Nós também.

— Legal. — Cameron desliza o braço pelo meu, me


arrastando.

— Vou me despedir de alguns rapazes, encontro você na porta


— Noah me diz, e nos movemos em direções opostas.

— Então — Cameron sussurra, Trey em seu telefone alguns


metros à frente. — Eu meio que passarei a noite com Trey.

— Oh, sim?

— Sim. — Ela mexe as sobrancelhas, e ambas rimos. — Você


ficará bem? — Pergunta.

— Perfeitamente. — Eu a abraço, e então Trey, e assim que


eles se vão, Noah está lá.
Estamos chegando ao meu dormitório em minutos.

— Isso foi divertido — digo a ele, deslizando meu cartão-chave


na porta da frente e apertando o botão do elevador.

— Depois que eu perguntei a você, me senti um idiota.

Minha cabeça estala em seu caminho. — O quê? Por quê?

— Mason. — Ele dá de ombros. — Merda de timing da minha


parte.

Eu balanço minha cabeça, envolvendo meus braços ao redor


de sua cintura. — Como é tão... você? É um veterano de vinte e
um anos na faculdade que joga futebol como um fodão. Você
deveria ser um idiota tão arrogante e egoísta.

A cabeça de Noah cai para trás e ele ri, trazendo um sorriso


ao meu rosto.

— Mas você é doce, humilde e altruísta demais.

Um sorriso presunçoso cobre seus lábios, e ele aperta meus


quadris. — Eu recebi da minha mãe — diz, e então sou eu quem
está rindo.

Depois de um momento, suspiro, dizendo — Não duvido nem


por um segundo... e só para saber. Mason me xingaria se eu não
fosse por causa dele.

— Bom.

Minha boca se abre e Noah ri, pegando minhas mãos e me


levando pelo corredor.
— Besta. — Eu bato em seu estômago com minha mão livre
e ele agarra meu pulso, beijando meus dedos.

Cavando minhas chaves, destranco a porta e olho para Noah.


— Então, sobre me dar um beijo de boa noite...

Ele sorri, se aproximando e traz meus lábios aos dele, mas


rapidamente coloco meus dedos entre nossos lábios e seus olhos
se estreitam de brincadeira. — Julieta.

— Noah.

Ele me puxa para mais perto pelas presilhas do cinto, me


fazendo rir.

— Deixe-me ter esses lábios — exige suavemente.

— Cameron está hospedada no Trey esta noite.

Seus olhos se movem para os meus. Eu quase me acovardo,


e ele sabe disso, porque seus polegares começam a desenhar
círculos ao longo dos ossos do meu quadril.

Ele entra comigo, nos escondendo contra a minha porta, seu


cheiro quente e fresco da floresta invadindo meus sentidos, e meu
corpo derrete contra o dele.

— Você ainda será tímida comigo? — Brinca, seu sorriso


francamente pecaminoso. — Mesmo depois de hoje? — Suas mãos
deslizam em meus bolsos traseiros, e aperta, me esmagando nele.
— Mesmo depois que estive dentro de você?

O calor puxa entre minhas pernas, e os lábios de Noah se


curvam ainda mais.
Porque ele sabe o que está fazendo comigo... assim como
agora sabe o que está prestes a fazer comigo.

Eu agarro as cordas de seu moletom e o puxo para frente.

Sua risada é profunda e promissora e cria uma agitação no


meu estômago.

Então, Noah nos tranca lá dentro.


Arianna
Lori aperta o botão da enfermeira no controle remoto ao seu
lado, e Noah se levanta, preocupado.

— Relaxe, querido. — Ela vira a cabeça para ele. — Eu só


preciso de um pequeno favor, é tudo.

— Posso te ajudar. — Ele franze a testa, desligando-o, mas


ela o pressiona novamente.

— Noah. Pare. — Ela sorri, olhando para a mulher que entra


na sala. — Cathy, finalmente conhece a... Ari do meu filho.

Eu rio, e ele me olha, o aborrecimento desaparecendo de seu


rosto. Aceno para a mulher. — Prazer em conhecê-la.

— E eu a você. — Ela sorri, caminhando em direção ao final


da cama de Lori. — O que posso te oferecer, querida?

— Sabe aquela impressora nova que me falou, no saguão? —


Lori pergunta. — Poderia tirar uma foto desses dois por mim?
Talvez próximo as abóboras que disse estarem no pátio dos fundos,
se ainda estiverem lá?
O sorriso da mulher é gentil conforme balança a cabeça. —
Claro que posso. — Ela olha para nós. — Sigam-me?

Noah hesita, mas lentamente se levanta. — Encontro vocês


no corredor em apenas um minuto?

Minhas sobrancelhas se juntam, mas aceno. — Sim, claro.

Assim que se vão, Lori se vira para mim. — Você não se


importa com uma foto, não é?

— De jeito nenhum.

— Só... quero lembrar disso, meu filho feliz. — Seus olhos


nublam, mas pisca. — A maioria dos sorrisos que recebo são
cobertos de tristeza. Eu me preocupo toda vez que ele sai pela
porta. Não por mim, por ele. Sabe que ele quase nasceu na véspera
de Ano Novo?

— Mesmo?

— Mm-hm. Estava no hospital e tudo, mas ele estava sendo


teimoso. Achei que viria alguns dias depois disso, mas não, ele me
fez esperar.

— Até vinte e nove de janeiro.

— Sim — ela murmura, como se estivesse orgulhosa por eu


saber.

Olho para a porta, me inclinando rapidamente. — Gostaria


de fazer algo por ele, mas precisarei da sua ajuda.
Explico para ela brevemente, e seus olhos brilham, sua mão
tremendo quando estende a mão para colocá-la na minha
bochecha.

— Minha, minha, doce menina. — A sua voz é rouca. — Eu


nem sei o que posso lhe dizer para que entenda o que fez por mim.
O que continua fazendo por mim.

Um leve rubor toma conta de mim. — Eu posso te ligar mais


tarde?

— Claro que pode. — Ela acena com a cabeça, gentilmente


me cutucando, então corro para encontrar Noah no corredor.

Sua expressão está dividida, mas ele desliza sua mão na


minha, e seguimos Cathy até o pátio.

É um lindo pátio de pedra, forrado com grandes lâmpadas


leves que brilham em um amarelo suave. Há fardos de feno
empilhados no canto mais distante, abóboras de todas as formas
e tamanhos estrategicamente empilhadas ao seu redor. Cathy nos
conduz e pega seu telefone.

— Fiquem onde quiserem. — Ela sorri.

Noah olha para a decoração do feriado e algo pisca em seu


rosto, talvez a realidade do tempo. Então, em vez de vincular o
momento ou pensamento a uma época do ano que pode pesar
muito mais tarde na vida, o agarro pela mão e nos guio em direção
à fonte no centro, grandes vasos de pedra cheios de peônias
dispostos como escadas, tanto à esquerda quanto a direita.

O olhar de Noah encontra o meu, e com aquele olhar, a


tristeza não dita que o varreu desaparece. Ele se abaixa na borda
e me puxa para seu colo, torcendo um pouco, então meu ombro
direito está descansando contra seu peitoral direito. Beija minha
bochecha, antes de olhar para frente, e deixo minha cabeça
descansar na dele. Seus braços vêm ao meu redor e a mulher
levanta o telefone.

— Preparados?

— Preparados.

Sorrimos e ela tira a foto, balançando o telefone no ar


enquanto se afasta.

Antes que eu possa ficar de pé, Noah desliza a mão no meu


cabelo, puxando meus lábios para os dele. Seu beijo é tão suave,
tão lento, que minha garganta ameaça fechar.

— Obrigado — ele sussurra.

— Pelo quê?

— Tudo.

O calor se espalha por mim, e ficamos ali sentados por mais


um momento, simplesmente olhando um para o outro.

Juntos, voltamos para o quarto de sua mãe e conversamos


um pouco mais, mas a visita é interrompida quando ela começa a
confundir as palavras.

Despedimo-nos, e desta vez, a caminhada até o carro é um


pouco sombria.
Ele está quieto, quieto demais, então, uma vez que estamos
na estrada, e alguns minutos se passaram, abaixo a janela, dando
um choque nele com ar frio e seus olhos me olham brevemente.

Como eu sabia que aconteceria, um pequeno sorriso encontra


seus lábios.

— Leve-me a algum lugar.

Ele estende a mão, me puxando para o assento do meio, sua


mão enterrando-se entre minhas coxas cobertas de jeans. — Onde
quer ir?

— Para algum lugar que ama. Algum lugar onde possa ir a


qualquer hora e apenas estar lá faz você sorrir.

Os olhos provocantes de Noah se movem na minha direção, e


eu rio.

— Vamos, tem que ter um lugar. Todo mundo tem, certo?

— Vai me mostrar o seu? — Contra-ataca.

— Vou.

— Aposto que já sei onde fica.

— Aposto que você também.

Ele ri, e então está fazendo uma inversão de marcha.

Juro que poderia ter adivinhado onde iríamos se tivéssemos


jogado um jogo de adivinhação, então não estou nem um pouco
surpresa quando Noah estaciona, e nós saímos, indo em direção
ao trecho de cem metros de grama verde e linhas brancas.

— Sua escola? — Olho para o grande edifício à esquerda, uma


águia gigante pintada na lateral.

— Minha escola do ensino médio. — Ele acena com a cabeça,


e não poderia tirar o sorriso de seu rosto se tentasse. Suspira, se
permitindo olhar cada centímetro. Do campo à pista ao seu redor,
das escadas ao camarote dos locutores no topo das arquibancadas.

Ele sai no campo de futebol, batendo o dedo do pé ao longo


da linha de quatro jardas. — Foi aqui que Thomas Frolly pegou o
último passe que fiz neste campo e fez o touchdown da vitória.

Eu aplaudo, e ele faz uma reverência provocante.

Ele corre como se estivesse percorrendo uma rota, dando um


passo à esquerda, mas saltando para a direita e pulando como se
estivesse saltando sobre um defensor. Onde seus pés pousam,
olha de volta para mim, não exatamente os cinquenta. — Este é o
lugar onde eu estava quando anunciaram o rei do baile. Eu perdi.

Eu rio e Noah pisca.

Ele corre em direção ao portão, e eu giro, seguindo


lentamente. Bate uma placa de metal preto e branco, alertando
contra fumar no campus.

— Aqui — ele me chama — foi onde beijei a rainha do baile.

— Sortuda. — Fico na ponta dos pés, encontrando sua boca


com a minha. Ele sorri, mas se afasta, uma pitada de cautela
cobrindo suas feições.
Ele lambe os lábios. — Paige foi a rainha do baile.

— Eu sabia. — Minhas palavras escapam antes que possa


detê-las, e meus olhos se arregalam. — Desculpe. Não, quero dizer,
ou apenas quis dizer, presumi que ambos tinham história.

— Não foi assim. — Ele balança a cabeça, mas pensa melhor.


— Ou era, mas não era... não era sobre ela e eu. O pai dela ficou
doente na mesma época que minha mãe, e nós meio que
precisávamos encontrar conforto em algum lugar, mas isso foi
tudo. E nunca mais depois do ensino médio.

O alívio que não sabia que precisava me atinge quando ele


compartilha a última parte, e penso em Noah quando recebeu a
primeira ligação sobre sua mãe. Como, depois disso, foi para uma
casa vazia enquanto sua mãe dormia em uma cama de hospital.
Eu sei que ele tinha amigos, mas pelo que Lori disse, não amigos
como eu tinha quando era criança. Não do tipo que pode correr a
qualquer hora, por qualquer motivo.

Paige estava lá para ele de uma maneira que o fez se sentir


menos sozinho porque ela entendia sua dor. Um sentimento de
gratidão cai sobre mim, apenas sabendo que ele tinha uma pessoa
para quem poderia ligar.

— Você estava sozinho, e tinha um ao outro — eu sussurro.


— Se não tivesse minha família e amigos? Eu nem consigo
imaginar, para ser honesta. Estou feliz que ela estava lá para você.

Seus ombros parecem relaxar então. — Ela é uma boa amiga.

— Sim — concordo. — Ela é.


Um momento depois, Noah sorri, seus braços travando em
volta da minha cintura.

— O quê? — Olho para ele, como uma sedutora, e sua


arrogância toma conta.

— Eu tinha a sensação de que estava mais interessada em


mim do que você percebeu naquela época.

— Oh, sim? — Estreito meu olhar, lutando contra a força dos


meus lábios.

— Mm-hm. Você e Cam pensaram que eram espertas com


aquela parte do Príncipe Encantado. — Ele ri, mordiscando meu
nariz, mas então seu rosto suaviza, uma ternura caindo sobre ele.

— Ela achava que era um gênio.

Seu dedo mindinho sobe, e ele afasta o cabelo do meu rosto.


— Ela poderia não ter dito nada, e eu ainda pensaria assim.

— Diga, Sr. Riley.

Ele fica quieto por um momento, antes de falar. — Podia


sentir isso, sentir você e seus pensamentos. Desde o dia que te
conheci que tenho essa consciência profunda de você, mas toda
vez que te via, ou estava com você, tentei não ler muito sobre isso.

Minha garganta fica grossa, minha pergunta um som baixo.


— Por quê?

— Porque eu não tinha certeza se você se permitiria o tempo


para descobrir isso.
Suas palavras tocam profundamente dentro de mim, muitas
emoções para nomear tentando romper meu peito de uma só vez,
e procuro seus lábios, beijando-o com mais do que minha boca.
Com mais do que minha mente. Com uma parte de mim, acho que
pode ser dele...

O beijo dura minutos, talvez até mais, e quando ele se afasta,


me bate com um sorriso. — Isso funcionou.

— O quê?

— Você superou a rainha do baile.

Minha cabeça cai para trás em uma risada e Noah se inclina,


me pegando em seus braços, por isso coloco meus braços em volta
de seu pescoço.

— É melhor eu ter uma centena a mais que a rainha do baile.

A risada de Noah é baixa e reconfortante, assim como a


promessa que seus olhos oferecem naquele momento. — Baby,
você derrotou todas as mulheres em todos os lugares, mesmo
enquanto dormia.

Meu peito aperta, e enterro meu rosto em seu pescoço.

Seus braços apertam mais, e ele me carrega de volta para a


caminhonete.
Noah
Observando-a dançar no banco ao meu lado, sorrindo
largamente enquanto pega pedaços do pão de seu hambúrguer,
comendo como um pássaro, como sempre, é como se tudo
encaixasse. Aqui e agora.

Eu amo-a. Amo tudo sobre ela.

Amo a forma como suas expressões faciais se transformam


com as palavras que canta, sentindo todas as emoções em cada
música. O jeito que abaixa a cabeça e aperta os lábios quando fica
tímida comigo. Amo que ela seja tímida, mesmo agora, e amo como
isso, em uma reviravolta, não é. Ela é descarada e ousada, quando
somos apenas nós dois atrás de portas fechadas. É aberta e
autêntica, adora compartilhar pedaços de sua vida e pergunta
sobre a minha, não para manter a conversa, mas porque ela
realmente quer saber.

Amo o sorriso que curva seus lábios quando ela me vê. É o


mesmo sempre, grande e brilhante, como se eu aparecesse para
surpreendê-la quando sabia que eu viria o tempo todo. Amo como
ela é com minha mãe, paciente e gentil, mas não com pena, mas
com orgulho. Como se soubesse como é uma boa mulher, como se
entendesse tudo o que minha mãe significa para mim, e por sua
vez, significa algo para ela também.

Ari tira de mim pensamentos que nunca tive antes, sobre


coisas que realmente não sabia que queria, mas agora me sinto
desesperado. Raízes mais profundas e uma família.
O amor de uma vida.

Eu sei que ela está apenas começando sua jornada aqui, e me


formarei este ano. Espera-se que eu vá para o draft, na primeira
rodada, diz meu treinador, sendo classificado tanto como
recebedor, minha posição original, quanto como quarterback, onde
brilhei durante toda a faculdade. Minha vida estará na estrada,
minha agenda quase cheia durante a maior parte do ano, todos os
anos.

E se não estivesse?

E se eu dedicasse minha vida a amar a garota ao meu lado?

E se eu encontrasse uma maneira de fazer ambas coisas?

Nesse momento, olhos castanhos amanteigados mudam para


os meus, pegando os meus nela, e sua cabeça cai contra o encosto
de cabeça.

— Ei, Noah? — Ela sorri, lambendo a pitada de sal em seus


lábios.

Meus olhos seguem o caminho de sua língua. — Sim?

Humor alinha sua voz quando ela diz: — Talvez queira dirigir.

Meus olhos se levantam, minha cabeça se inclina para frente,


e com certeza, perco a luz, o verde voltando ao vermelho antes que
possa tirar o pé do freio.

Olho para ela novamente, e aquele sorriso aparece, o suave e


caloroso que sabe me premiar, sua risada leve e sonora, um brilho
de algo mais escrito em seus olhos.
Eu aperto seu joelho, precisando tocá-la, observando e
amando o rosa claro que se espalha por sua pele sedosa. Meu
coração bate mais rápido, sabendo que algo tão simples quanto
minha mão em sua pele ganha essa reação dela.

— Venha comigo para a gala do futebol.

Ela sorri. — Uma gala? Parece chique.

— E é. Gravata preta e vestido de baile. A parte inteira.

— Quando é?

— Janeiro.

— Janeiro... — Ela para. — Isso é daqui a dois meses.

Lentamente, aceno. — Sim. É. Diga-me que virá, escreva na


sua agenda?

Ari morde o lábio, sua voz baixa. — Você já sabe a resposta.

Espero em Deus que sim.

Quando a luz fica verde, novamente, pressiono o pedal,


sorrindo para mim mesmo quando um suspiro suave escapa dela.

Estou apaixonado por ela, e se eu estiver certo, o que espero


que esteja, ela está a caminho de me amar de volta.

Se ela pudesse, eu não precisaria de mais nada.

Somente ela.
Arianna
— Tenho treino em dez. O treinador tem algumas reuniões,
então meus dias estão todos bagunçados. Eu tenho filme depois
disso e treino às quatro.

— Parece divertido para você. — Eu sorrio para a tela. —


Estou a caminho de uma palestra obrigatória sobre possibilidades
infinitas aqui na Avix U. — Imito o discurso de campanha que meu
professor nos mostrou hoje.

— Ei, pode simplesmente sair com um A — Noah brinca.

— Isso seria devastador, já te contei meu plano de vida. — Eu


rio. — Mas o lado bom, este será o A mais fácil que conseguirei.

— Ai está. — Ele acena para alguém enquanto entram no


vestiário, de frente para a tela mais uma vez. — Eu deveria ir antes
que as pessoas comecem a se despir.

— Ou pode me deixar na linha.

Ele lança um pequeno olhar de advertência na minha direção


e sorrio.
Ligue-me mais tarde?

— Sabe que ligarei.

Desligamos, e eu fico de pé.

Indo para a sala de aula, coloco meu telefone no silencioso,


pulando quando uma mão se estende, agarrando meus ombros por
trás.

Eu olho para cima para encontrar Chase.

— Ei. — Eu sorrio, mas uma carranca rapidamente o


substitui. — Você não tem treino agora?

Ele balança a cabeça, entrando na fila ao meu lado. — Não.


Tenho um check-in depois disto, para revisar as notas e essas
coisas, mas nada mais até o filme. — Bate seu ombro com o meu.
— Confie em mim, tentei sair dessa coisa.

— Aposto. — Eu rio, então ficamos quietos enquanto caímos


na longa fila de alunos.

Sentamos um ao lado do outro no meio da sala, e pelos


próximos quarenta e cinco minutos, ouvimos as pessoas falarem
sobre como as escolhas que fazemos agora ajudarão a moldar
nosso futuro. É meio chato, no limite do senso comum, mas
introduzem uma tonelada de opções de carreira que não são
necessariamente explicadas nas listas de cursos.

Ao sair, me viro para Chase. — Vou me encontrar com


Cameron por alguns minutos no café, quer vir?
Ele acena com a cabeça, mas depois balança a cabeça e para.
— Podemos conversar?

— E aí, como vai? — Eu me viro para encará-lo.

— Não, quero dizer, podemos conversar, conversar. — Ele


olha incisivamente. — Sobre tudo. Sobre…

Ele não pode nem mesmo dizer a palavra “nós”, e tenho


certeza de que não será o único a dizê-lo.

— Eu quero explicar. Pedir desculpas — ele insiste.

— Está tudo bem, você não precisa. — Balanço minha cabeça.


— Eu não preciso mais ouvir isso. Entendo, eu entendo.

É a verdade. O fato é que perdoei Chase, por tudo isso. Eu


realmente não sei quando aconteceu, mas aconteceu, e não é que
ele sentiu que precisava de perdão, não sei se precisava ou não.
Também não é porque fez algo que deva exigir meu perdão, porque
isso também não é necessariamente a verdade.

Éramos adultos consentidos, ambos conscientes do que


estávamos fazendo, ambos livres de expectativas e repercussões.

Eu sabia no fundo da minha mente, ele nunca poderia


realmente ser meu. Sabia disso o tempo todo, apenas me permiti
não me importar naquela noite. Ele me ofereceu algo que eu queria
por tanto tempo, e então com mãos gananciosas, aceitei, que se
danem as consequências.

Isso não significa que não doeu quando a alta passou e a


realidade varreu com a maré da manhã, lavando a memória que
fizemos na areia apenas algumas horas antes.
Eu estava ferida, mas isso não estava nele, estava em mim.

Por isso o perdoei, por mim porque eu precisava. Porque ele é


meu amigo e tê-lo em minha vida é importante, para mim e para
meu irmão.

Reavivar tudo agora seria como abrir uma ferida cicatrizada,


e para quê? Eu segui em frente; ele está indo muito bem, e nosso
grupo não está mais sofrendo com nossas decisões.

— Deixe-me tentar fazê-la entender onde minha cabeça


estava e por que eu era um idiota. — Ele pega minha mão, mas
apenas aperto a dele, depois a solto.

— Eu já sei o porquê, Chase. Conheço-o há anos. Estou sendo


honesta quando digo que está tudo bem. Estamos bem. Vamos
apenas... deixar pra lá. Esqueça isso.

Eu aceno, segurando seus olhos com os meus, e lentamente,


ele acena de volta.

— Eu tenho que ir, Cameron está esperando por mim.

— Sim, uh... — Ele limpa a garganta. — Peça-a ela me ligar.


Eu tenho as notas que ela queria para Psych96.

Concordando, saio correndo, encontrando Cameron já


aninhada na cabine do balcão, bebidas e bagels esperando.

96
-Psicologia.
É tarde da noite quando meu telefone toca com uma
mensagem, mas não é de Noah como eu suspeitava.

É do Chase.

CHASE: e se eu não quiser esquecer?

O ar sai dos meus pulmões e meus olhos cortam o teto.

Memórias me atingem, criando uma tensão profunda no meu


peito. Pressiono contra ela para aliviar a dor e as gotas de suor ao
longo do meu pescoço.

Isto é ridículo.

Não sei por que ele está me dizendo isso. Eu disse a minha
paz. Eu o perdoei por mim. Ele sabe disso. Não há mais raiva e
tristeza entre nós. Estamos bem.

Estou bem, melhor do que bem, na verdade. Estou feliz pra


caralho.

Não é da minha conta o que passa pela sua cabeça quando


está sozinho. Se ele não quer esquecer, não precisa. Não é como se
nenhum de nós realmente pudesse.

As memórias não morrem quando as possibilidades morrem.


Elas se transformam em dor.

Dor que você tem que decidir se alimentar ou lutar.


Eu escolhi lutar.

E ganhei.

Não tenho ideia do que lhe dizer, por isso não digo nada.
Arianna
Ação de Graças na minha casa sempre foi um grande evento.
Minha tia e meu tio viriam de Alrick com nossos primos, e as
famílias de Brady, Chase e Cameron estariam lá também, e mais
ou menos algumas adições que trariam, dependendo do ano.

Meu pai montava a garagem, que servia como nada mais do


que sua caverna masculina para ele e os rapazes em um dia
normal. As esposas cuidavam da comida dentro de casa enquanto
os homens faziam concursos para saber quem cozinhava o melhor
peru. Não tínhamos permissão para saber quem fez qual uma vez
que era colocado, mas votávamos em nossos favoritos no final - tio
Ian, e o pai de Nate, ganhava todos os anos.

Tenho certeza que ele piscava a sua esposa para conseguir o


seu voto quando ela servia o prato.

Pode ser meu feriado favorito, em termos de tradição, por isso


há um pouco de tristeza este ano sabendo que nossos pais não
estarão aqui... mas nunca contaríamos isso a eles.
Sua aventura única na vida termina logo após o primeiro dia
do ano, quando o pai de Brady tem que se reportar à base, então
sempre há uma próxima vez.

Este ano, porém, estamos tentando ignorar a diferença


hospedando-nos na casa de praia, e quando sairmos, levaremos
meu irmão de volta conosco.

— Não chegou a entrar no lugar da última vez, hein?

— Não. — Noah estende a mão pela lateral da caminhonete


para pegar nossas malas. — Você me deixou na areia.

Girando para encará-lo, levanto uma sobrancelha. — Você


não deveria ter me acertado na cabeça com aquela bola de futebol.

Noah deixa nossas coisas, corre e me envolve. Gira-me,


plantando um beijo duro e rápido em meus lábios. — A melhor
coisa que fiz foi perder aquele passe.

— Mmm. — Beijo seus lábios. — E aqui estava eu pensando


que a melhor coisa que já fez foi me jogar na cama e...

— Não termine essa frase.

Viro-me, meu sorriso se estendendo ao ver meu irmão. Eu


chuto minhas pernas e Noah me coloca de pé. Corro para Mason,
jogando meus braços ao seu redor, e ele geme, sua mandíbula
retesada.

Minhas mãos voam para longe, meus olhos arregalados. —


Merda. Desculpe.
— Está tudo bem. Venha aqui. — Seus braços me puxam,
uma longa expiração escapando dele. — Estou bem, irmãzinha.
Prometo.

— Sim? — Pisco de volta minhas emoções.

— Fiquei fodido por algumas semanas — admite. — Mas


estou bem agora.

— Graças a Deus por isso.

Eu me viro para encontrar Payton encostada no batente da


porta, sua barriga inchada e parecendo pronta para estourar.

— Oh meu Deus — murmuro, correndo. — Olhe para você.


— Eu a abraço, e quando olho para sua barriga, ela ri.

— Vá em frente, me apalpe.

Sorrindo, coloco minhas palmas em sua barriga, sentindo a


firmeza do lado esquerdo e deslizando minha palma para a direita,
onde suaviza novamente. Então movo de volta para a direita. — É
ele?

Payton assente. — Ele gosta de esmagar meus pulmões.

— Muito legal, hein? — Mason avança.

Eu lhe dei um olhar curioso. — Sim, é.

— Quando nasce? Sinto como se você estivesse grávida desde


sempre.
— Semana que vem. Seu primo e eu acabamos de arrumar o
quarto do bebê. Terá que vir vê-lo.

— Kenra?

— Não — ela suspira brincando. — Nate.

Uma risada voa de mim, e ela sorri.

— Confie em mim, estava tão surpresa enquanto isto


acontecia.

— Eu aposto. — Aceno, virando para Noah enquanto ele se


aproxima, pegando a mão estendida de Mason.

— Riley. — Ele levanta uma sobrancelha. — Parece que


minha irmã ainda está inteira. Essa merda é séria agora, ou o quê?
— Franze a testa.

— É o que ela quer que seja.

Os lábios de Mason se curvam. — Boa resposta, caralho. —


Ele ri, virando-se para Payton. — Payton, Noah, Noah, Payton.

— Oi Payton.

Suas bochechas ficam um pouco rosadas, e escondo minha


risada.

— Ei. — Ela o olha.

— Muito bem, as apresentações acabaram. Lá dentro. Está


ficando frio pra caralho aqui fora. — Ele se vira, deslizando na
minha frente e nós seguimos atrás.
— Ari, sabia que seu irmão é a pessoa mais mandona do
planeta? — Diz.

— Sim, você se acostuma. — Eu sorrio.

Mason geme, me lançando sobre sua cabeça e não posso


deixar de sorrir. Ele está se sentindo melhor.

Cameron corre ao virar do corredor, pula me agarrando no


sofá, e Mason leva Noah para a cozinha, reapresentando-o à
turma, caso sua pequena parada durante o verão esteja fora de
suas mentes.

— Sara e Ian não conseguiram — Cam me conta sobre minha


tia e meu tio. — Nate disse que sua mãe machucou suas costas
quando moveram os quadris alguns dias atrás, então mentiu e
disse que eles estariam fora da cidade no Dia de Ação de Graças
para que ela não se sentisse mal e ainda viajasse com dor.

— Parece Nate. Por que ele não me contou?

— Caso tenha falado sobre vir aqui, aposto.

Minha cabeça balança na direção dela, e nós rimos, porque


sim. Eu poderia ter feito isso por acidente.

Payton fica de pé, apenas momentos depois de se sentar, e


coloca uma mão na parte inferior das costas, a outra abaixando
sobre a mesa. Mason segue seu caminho, passando uma água e
puxando a cadeira com almofadas empilhadas dentro dela.

— Eu estou bem — diz a ele, mas Mason sendo Mason, não


se move. Payton se abaixa no assento.
— Ele parece bem. — Cam acena.

— Sim. Eu também acho.

— Acha que tem alguma coisa a ver com a mamãe grávida


que está pairando?

— Cameron. Pare.

— Só estou dizendo — sussurra. — Ele não saiu do seu lado.

— Ela está prestes a dar à luz. Seu irmão e Kenra


provavelmente pediram ajuda.

— Verdade. Não pensei sobre isso.

Entrando na cozinha, dou um abraço em todos enquanto


Cameron repassa as tarefas para amanhã. Todos recebem um
trabalho, e ignoro os outros quando estou presa com batatas
descascadas.

— Um dia, darei fim à você com uma receita da família Riley.

Vários olhos se arregalam, brilhos provocantes passando


pelos outros, e gaguejo.

— Eu quis dizer... só estava dizendo que posso cozinhar algo


que ele... — Sorrisos puxam ao longo de seus rostos, então rio. —
Ah, fodam-se vocês.

Noah aperta minha coxa por baixo da mesa, mas não olho
para ele. Vou corar como uma louca se o fizer, e ele sabe disso.
— Bem, vamos ver quão boas são as receitas da família do
homem, porque ele está comendo peru.

— O quê?! — Brady se vira, meio pãozinho pendurado na


boca. — Eu queria o peru.

— Você tem o presunto — Cam argumenta.

Brady assente e se vira para a geladeira aberta. Conversamos


um pouco mais, aproveitando o fato de que não temos onde estar
e não precisamos nos apressar.

Um pouco mais tarde, Mase leva os outros para casa, já que


está escuro agora e não queriam andar os oitocentos metros no
frio com Payton.

Assim que Mase volta, Brady olha em volta, percebendo que


a terceira peça do quebra-cabeça está faltando. — Onde está
Chase?

— Ele foi para a cama uma hora atrás — Mason diz a eles, se
levantando. — Falando em cama. Estou derrotado.

Todos concordam com a cabeça e vamos para nossos quartos,


mas não antes de Mason encarar Noah. — Você está no quarto de
hóspedes, filho da puta.

— É isso que ele está tentando fazer. — Brady balança em


sua cadeira, olhando para nós.

Noah simplesmente ri. — Minhas malas já estão no quarto


extra. Obrigado por me deixar ficar.

— Hum, é a minha casa também, então não depende deles.


Com um sorriso, Noah diz — Sim, é.

Dou-lhe um olhar ruim e Mason empurra minha cabeça,


apertando a mão no ombro de Noah, enquanto repete seu
comentário anterior. — Boa resposta do caralho.

— Vá para a cama já — provoco, relaxando no espaço ao lado


de Noah.

Vários de nós se acomodam na sala de estar para um filme e


nem uma hora depois de nos separarmos para dormir, os gritos de
Mason acordam a casa inteira.

— Payton está em trabalho de parto e está com medo!

Simples assim, para o hospital vamos.

— Sempre demora tanto para ter um bebê? — Cameron se


levanta, esticando o pescoço.

— Não sei. — Dou de ombros, levantando minha cabeça do


ombro de Brady. — Quando foi a última vez que Parker saiu com
uma atualização?

— Cerca de uma hora atrás?


— Ai vem ele agora. — Nate acena com o queixo em direção
às portas duplas quando começam a se abrir, o irmão de Payton
do outro lado.

Ele balança a cabeça. — Nada ainda. Eles lhe deram algo para
acelerar as coisas, e ela está chorando um pouco agora. — Uma
expressão de dor cobre seu rosto. — Queriam examiná-la, então
ela me expulsou, mas não soltou a mão de Kenra.

Aceno, esfregando os olhos.

— Esse bebê já é teimoso e ainda nem nasceu. — Lolli sorri.

Parker zomba de uma risada. — Certo?

Cam se senta novamente, batendo seu joelho no meu. —


Ouviu falar de Noah?

— Não desde que o mandei para a casa. Trey já está lá?

Ela acena com a cabeça, me mostrando uma foto que enviou


para ela deles sentados em nossa fogueira no pátio dos fundos.

Eu rio, balançando a cabeça.

Depois das primeiras oito horas, mandei Noah para casa. Ele
tentou recusar, mas insisti. Especialmente porque Trey estava
dirigindo sozinho. Ele precisava de alguém lá para recebê-lo e
quem melhor que seu amigo?

— Onde está Mason? — Olho em volta.

— Estava aqui…
— Ele se esgueirou pela porta quando aquele médico saiu. —
Chase olha por cima de seu telefone, sua atenção voltando. Isso é
o máximo que ele disse hoje.

Parker suspira, franzindo a testa. — Claro que ele fez. Vou


usar o banheiro e voltar.

Cinco minutos depois, quando Parker volta pelas portas


duplas, Mason sai pulando do outro lado.

— O bebê está vindo! — Grita, batendo palmas.

— O quê?! — Os olhos de Parker se arregalam e ele começa a


correr pelo corredor enquanto todos pulamos de nossos assentos.

Nós lotamos as portas, esperando que voltem com algumas


novidades, e não demora muito para que minha prima Kenra saia
com um sorriso. — É um menino!

— Ah! — Grito. — Ela estava certa.

— Podemos entrar? — Cam dispara para a frente.

— Sim, mas apenas dois de cada vez.

Eu e Cam não nos preocupamos em olhar para os outros,


mas corremos pela porta e viramos o corredor, parando em frente
ao quarto dela. Payton olha para cima.

— Oi. — Entramos silenciosamente, chegando ao lado de sua


cama, Mason e Parker logo atrás dela.
O pequeno casulo em seus braços é tão pequeno, e quando
chego ao lado de Payton, seu rostinho aparece, um pequeno gorro
já na cabeça.

Um bebezinho, tão precioso.

Payton está pálida e cansada, uma mistura de emoções


escritas em seu rosto, sendo o amor o mais óbvio.

— Ele tem um nome? — Sussurro.

Ela acena com a cabeça, lágrimas se acumulando em seus


olhos. — Seu nome é Deaton.

O nome de seu pai, que nunca terá a chance de conhecer.

— Esse é um nome bonito para um menino bonito. — Eu


sorrio, correndo as pontas dos meus dedos sobre sua mão macia
e pequena. Ele se mexe, os pequenos sons mais doces escapando
dele que derretem meu coração. — Feliz Dia de Ação de Graças,
Deaton.

Exaustos, saímos do Tahoe de Mason e subimos o deque até


a porta da frente.
— Será Door Dash97 para o jantar? — Cam bufa.

— Estão abertos no dia de Ação de Graças? — Brady boceja.

— Não sei. Estou bem com cereais neste momento. Estou


morrendo de fome

Entrando pela porta, somos atingidos pelo cheiro mais


reconfortante, um fogo fresco queimando e o recheio da minha avó.
Corro para a cozinha, meu estômago revirando quando chego no
corredor e paro bruscamente.

A ilha está coberta pela tradição do Dia de Ação de Graças, e


meu sorriso se alarga.

Cameron se aproxima tão rápido quanto eu, seu peito


batendo nas minhas costas, e engasga. — Puta merda!

Os outros se aglomeram ao meu redor, deslizando para frente


e examinando os pratos ao meu lado. Há purê de batatas e molho,
inhame e caçarola de feijão verde. Um presunto brilhante, coberto
de anéis de abacaxi e uma tigela de recheio.

Noah empurra a porta do pátio, e em suas mãos, há um peru.

Ele congela quando nos vê, mas um sorriso curva seus lábios
um momento depois, e continua até o balcão, pousando o prato
grande. — Ei.

97
-DoorDash, Inc. é uma empresa americana que opera uma plataforma on-line de pedidos e entrega
de alimentos.
— Cara, Noah. Está falando sério? — Brady sorri, enfiando o
dedo na lateral do purê de batatas e sendo golpeado por Cameron.

— Mano. — Mason dá um passo em sua direção, apertando


suas mãos. — Obrigado, cara. Isso parece bom pra caralho.

Eu me curvo ao redor da ilha, os outros ainda verificando a


comida, e entro em Noah. — Você nos fez o jantar de Ação de
Graças?

— Realmente achou que eu deixaria você no hospital só para


voltar aqui e descansar?

Eu paro. — Bem, agora que mencionou, isso foi uma coisa


muito diferente de você.

— Você estava animada para hoje, e eu não queria que


perdesse. — Ele me vira, me abraçando por trás, e em direção à
comida, os outros já puxando pratos e bebidas. — Algumas dessas
nunca fiz antes. Espero que estejam decentes.

— Google?

Noah ri, me empurrando para frente. — Coma.

Não discutimos. Nós comemos.

Noah não tinha nada para se preocupar, tudo estava incrível,


e embora não pudesse contar para minha mãe, a receita de inhame
da mãe de Noah era de morrer, os marshmallows com crosta em
cima de uma sobremesa só deles.
Quase todo mundo voltou por alguns segundos de alguma
coisa, e não muito depois disso, estamos cheios e desfrutando de
algumas bebidas misturadas ao lado da lareira.

Eu me afasto por um momento sozinha, desço o pátio e saio


para a areia.

Deixando meus sapatos para trás, sorrio para o mar, me


aproximando cada vez mais até que meus pés estejam à beira da
água. Cavo meus dedos dos pés na areia molhada, puxando
minhas mangas sobre minhas mãos enquanto o vento aumenta,
chicoteando meu rosto como se quisesse me dar as boas-vindas de
volta.

Ando um pouco mais para baixo, até que o cais fica à vista, e
estou bem ao seu lado, no local em que uma vez estávamos…

— Chase.

Eu não queria dizer o seu nome em voz alta, mas ele me


escapa de qualquer maneira, e sua atenção se volta em minha
direção.

Ele não se move, então me aproximo um pouco.

— Ei.

Ele franze a testa para o oceano.

— Você está bem? — Eu me pergunto.

No começo, ele fica quieto, mas depois sua cabeça cai um


pouco para trás em seus ombros.
— Não, na verdade — diz no ar, uma forte sensação de
frustração em seu tom. — Eu não estou.

Espero, cruzando meus braços em meu peito.

— Achei que tivesse entendido. — Ele dá um passo em minha


direção.

Minha cabeça puxa para trás. — Entendido o quê?

— Sobre mim. — Ele espeta o dedo em seu peito, e percebo


que está tonto. Talvez até bêbado. — Achei que me entendia. Achei
que tinha entendido.

— Eu não sei o que quer dizer.

— Esse é o problema. — Ele se curva, enfatizando cada


palavra, quase bem a minha frente agora. — Como isso aconteceu?
Como pode não ver?

— Ver o quê, Chase. Você não está fazendo nenhum sentido.


O que eu devo ver...

— Que eu quero você! — Ele me interrompe com um grito.

Cada parte de mim endurece, mas lentamente, balanço


minha cabeça.

— Sim, Arianna. — Suas sobrancelhas saltam. — Quero você.

Oh meu Deus.

Meu peito afunda, e me afasto, mas ele agarra meus braços,


me girando para trás. — Chase...
— Eu quero você — sibila, todo o seu ser suavizando na
próxima respiração. Ele sussurra — Eu quero você...

Meus dentes cerram, minha mente girando. — Por favor, não


diga isso.

— Diga-me que me quer também. Diga-me que não desistiu


de mim.

— Chase. — Minha voz é um murmúrio quebrado, tentando


se soltar. — Solte-me.

Ele porém apenas balança a cabeça, se aproximando. — Ari,


olhe para mim. Escute-me.

— Eu preciso que tire suas mãos dela. — A voz de Noah rompe


a noite.

Chase instantaneamente fica vermelho, raiva deslizando


sobre ele enquanto seus olhos apontam para além do meu ombro.

Calmo como sempre, e com as mãos pressionadas nos bolsos


do jeans, Noah se aproxima lentamente, com os olhos em Chase.
— Você deveria ir.

— Deveria ir, porra — Chase cospe de volta.

Meu pulso bate fora de controle enquanto olho entre os dois.

— Você está bêbado — Noah diz a ele.

— Então?! — Chase joga as mãos para fora. — Ela está segura


comigo independentemente, e sabe disso.
— Deveria ficar sóbrio, tentar novamente amanhã. — A voz
de Noah é vazia de emoção.

Minhas sobrancelhas caem e me viro para encarar Noah, mas


Chase ainda está segurando meu braço.

Chase zomba. — Eu nunca a machucaria.

Noah o encara nos olhos. — Você já a machucou.

Minha coluna enrijece, e Chase empalidece, me liberando


enquanto tropeça um passo para trás, choque desenhando suas
feições.

— Disse a ele. — Ele fica boquiaberto. — Disse a esse maldito


estranho?

Meu queixo abaixa com a culpa, mas forço meus olhos a não
caírem.

— Isso era nosso! Era nosso! — Ele balança a cabeça em


desgosto, então se vira e cambaleia.

— Chase! — Meu corpo dói. — Espere, eu... — Eu me empurro


para frente, mas congelo no meio do passo, virando para Noah. —
Noah, eu só...

— Está tudo bem. — Seu rosto está em branco enquanto


balança a cabeça. — Vá atrás dele. — Seu tom abaixa. — Eu sei
que quer.

— Não é assim — juro, minha garganta entupindo.


Ele se aproxima de mim, segurando meu rosto enquanto
pressiona seus lábios na minha bochecha. Afastando-se, me olha
nos olhos. — Não é?

Eu balanço minha cabeça. — Noah...

— A última vez que direi isso... vá.

— Eu não quero que entenda mal. Eu...

— Julieta — ele avisa.

Apertando meus dentes até doerem, mordo as lágrimas, então


me viro e corro atrás de Chase.

Leva alguns minutos, mas o localizo a cerca de cinquenta


metros na direção oposta, a cabeça caída em suas mãos, sentado
em uma pedra.

— Que raio foi aquilo?!

Seus olhos se levantam, me olhando, e uma vez que ele


percebe que estou sozinha, seus olhos voltam para os meus. Algo
pisca em seu rosto, mas apenas me encara.

— Chase — estalo, correndo para a frente. — Queria


conversar, tudo bem, aqui estou eu. Fale.

— Estou farto desta merda. — Ele acerta.

— Farto de quê?

— Dele. Vocês. Tudo isso!


— O que... — jogo minhas mãos confusa. — O que quer que
eu faça, Chase? Esconder-me?

— Não...

— Deixei você aproveitar a vida a que pertenço tanto quanto


você, para que se sentisse melhor...

— Ari, isso não é...

— Porque já fiz isso e quer saber? Foi uma merda! Perdi tanta
coisa e não farei mais isso para que você pare de tentar me fazer
sentir culpada por escolher ser feliz.

— Quero que você me escolha! — Grita.

Minhas palavras evaporam, meu corpo se transforma em


pedra no local.

Seus olhos suavizam, e ele se aproxima. — Eu quero que seja


feliz, mas quero que seja feliz comigo.

Minhas entranhas giram, apertam e puxam. — Não faça isso.

— Quero que me queira de novo.

— Chase. — Tudo dói.

— Eu quero que você me olhe como costumava fazer.

— Pare.

— Quero que me escolha — sussurra, alcançando meu rosto,


mas inclino minha cabeça, evitando seu toque. — Arianna…
Eu balanço minha cabeça, uma sensação nauseante lutando
contra mim, mas ele está bem ali.

E então, seus lábios estão nos meus, pressionando,


roubando. Implorando.

Escolhendo-me…

Atordoada, fico paralisada, mas minha mente me liberta,


gritando não.

Inferno, de jeito nenhum. Que isso está errado.

Minhas mãos sobem e o empurro para longe.

— Você... é um idiota. — Minha voz treme, lágrimas


instantaneamente escorrendo pelo meu rosto. — Por que faria
isso?

Suas feições puxam, uma carranca profunda vincando sua


testa.

— Disse que estou com alguém, que estou com Noah, e agora
você faz isso? — Minhas palavras quebram.

A coluna de Chase se endireita. — O que devo fazer quando


sinto você se afastando de mim?

— Oh meu Deus. — Engulo além do nó na minha garganta,


mas tudo o que faz é subir novamente. — Eu não posso acreditar
em você agora. Como pode ser tão egoísta?

Ansioso, ele me alcança. — Ari.


— Não. — Empurro para trás. — Durante meses sentei
desejando que você aparecesse a minha porta, sabendo no fundo
da minha mente que nunca apareceria, por isso não fique aqui e
diga que me sentiu escapando quando estava bem a sua frente
durante meses, anos, se realmente pensar sobre isso. Você
simplesmente não viu.

— Eu te vi. — Balança a cabeça, sobrancelhas franzidas. —


Ari, eu vejo você.

Aperto minha mandíbula, a raiva deslizando sobre a tristeza


e enterrando-a.

— Sim, bem, é tarde demais.

— Eu não acredito nisso.

— Sim, acredita. — Engulo, dando passos para trás. — Não


teria me beijado se não acreditasse.

O tormento de estar diante dele é demais, então me afasto.

— Vejo você, Arianna. — Suas palavras repetidas são


derrotadas, quebradas.

Enquanto meus pés param na areia, não olho para ele, mas
olho direto para o nada.

— Não quero mais ser vista, Chase. — A emoção luta em


minha garganta, mas a empurro para baixo. — Eu quero ser
amada.
Lentamente, começo a andar de novo, a tensão envolvendo
meus músculos a cada passo, mas felizmente, Chase não diz uma
palavra, e não tenta me seguir.

Quero cair na areia e chorar, gritar na noite ao meu redor e


implorar por uma compreensão que nunca encontrarei e que não
tenho certeza se quero. Eu não faço nenhuma dessas coisas, no
entanto.

Volto para casa, meus pulmões encolhendo quando encontro


Noah sentado no último degrau.

Ele então olha para cima, e tão devagar como sempre, fica de
pé, o cordão com suas chaves pendurado no bolso direito.

Pânico gira através de mim, mas meus pés não se movem.

Eu balanço minha cabeça, lágrimas surgindo na parte de trás


dos meus olhos, e ele inclina a cabeça em encorajamento.

— Ele me beijou. — A culpa queima em minhas veias, e minha


mão pressiona meu estômago.

Sua mandíbula flexiona, mas seu tom é suave. — E?

— Não o beijei de volta. Eu o empurrei.

Ele acena com a cabeça novamente, baixando os olhos para


a areia onde está, e quando voltam, a incerteza dentro deles é
quase debilitante.

Ele vem até mim, as pontas de seus polegares roçando sob


meus olhos, enxugando as lágrimas que não percebi que estavam
caindo.
— Eu o empurrei — repito desesperadamente.

— Eu sei. — Ele pressiona a boca na minha testa, falando


contra ela. — Sei que você empurrou.

— Diga-me o que está pensando.

— Não é óbvio?

Eu me afasto, forçando-o a olhar para mim. — Não. Não é.


Conte-me.

— Vamos, Julieta — murmura, a dor em seu tom esmagando


minha alma. — Eu não posso competir aqui, não quando tudo o
que sempre quis está ao seu alcance agora, apenas esperando que
aceite.

— Eu não quero isso.

— Tem certeza?

Meus lábios se fecham, mas aceno, e tudo o que sai é o seu


nome.

— Está tudo bem — promete.

— Não, não está. — Pegando as mãos de Noah, puxo-as para


o meu peito. — Não está. Ele não pode fazer isso conosco. —
Balanço minha cabeça, respirando-o. — Não deveria ter feito isso.
Não deveria ter ido atrás dele. Eu deveria ter voltado para dentro
com você. Deveria tê-lo deixado em paz.

Uma sombra cai sobre nós, e ele acaricia minha bochecha. —


Algumas conversas precisam ser feitas. Mesmo que sejam difíceis.
— Eu sei. — Abaixo minha testa para a dele. — Mas não quero
nenhuma parte de nada que possa prejudicar isso. — Meu nariz
começa a formigar. — Noah, eu quero isso. Quero você.

— Baby. — Suas mãos emolduram meu rosto, suas palmas


tremendo.

— Quero você. Só você.

Seus lábios pulsam contra os meus, seus olhos se fecham,


apenas para abrir, um azul acetinado perfurando os meus
enquanto sussurra — Diga que jura.

Minha risada é mais um choro, e esmago meus lábios nos


dele, minhas emoções girando.

Ele me beija de volta, o movimento de sua língua contra a


minha servindo como uma promessa.

Um sussurro não dito de seu coração para o meu.

Um sussurro que estou pronta para responder com um dos


meus.

— Juro.
Arianna
Após o fiasco no Dia de Ação de Graças, Noah e eu
encontramos maneiras de passar ainda mais tempo juntos, seja
uma caminhada rápida para a aula ou um café da manhã, até
algumas festas do pijama por semana na minha casa.

Uma das noites em que ele esteve aqui foi bastante


embaraçosa, porque meus pais ligaram muito tarde, então tive que
deixar cair na caixa postal, depois me tornar apresentável e
arrastar Noah para a sala comigo, para que pudesse ligar de volta.
No minuto em que lhes disse que ele estava aqui, minha mãe
insistiu em uma ligação do FaceTime, como eu sabia que ela faria.

Ela se apaixonou em um instante, e meu pai foi conquistado


quando Noah desviou todos os elogios que recebeu em relação ao
seu jogo, encontrando uma maneira de transformá-lo em algo que
não o colocava no centro das atenções, mas destacava a equipe
como um todo.

Não poderia ter corrido melhor, e no final, eles o convidaram


para as férias, que tive que lembrá-los prontamente de que nem
estariam em casa. Claro, isso só levou mamãe casualmente
escorregando em como queria dizer próximo Natal – sua maneira
de reivindicá-lo como guardião. Eu tive que concordar.

Mason está de volta com força total e melhor do que nunca,


de acordo com o play-by-play98 de Noah dos treinos recentes que
decidi pular. O plano de jogo que seguiram quando Mason se
machucou está sendo implementado novamente esta semana, mas
com vários ajustes na linha.

Brady é um titular oficial agora. Ele só sai de campo quando


a bola é virada e é a vez da defesa.

Chase está indo bem também, acho, mas não consigo nem
olhar para ele, muito menos falar com ele.

Estou com raiva e com razão, mas gostaria de não estar,


porque a raiva sempre leva à ruína.

E parece que a minha não foi exceção…

Noah teve que pular o treino esta manhã porque tinha um


exame que já havia remarcado do último jogo deles, então quando
me enviou uma mensagem dizendo que ia ao estádio usar a

98
-Play-by-play são comentários de jogos esportivos ou outros eventos em que são descritos com
muitos detalhes.
academia para o qual tem uma chave, perguntou se eu queria
acompanhá-lo.

Ele está fazendo esteira por cerca de quarenta minutos agora,


mas estou baleada. Completamente sem fôlego, saio da esteira,
pegando minha toalha do corrimão para limpar meu rosto, e
quando me viro, suspiro, minha mão congelando no ar.

Um Noah sem camisa está a menos de três metros de


distância. Seu corpo está inclinado para a direita, me permitindo
a visão perfeita de seu abdômen, abrindo e fechando enquanto
trabalha seus braços deliciosos.

Eu mordo meu lábio, arrastando as gotas de suor que


escorrem pelo centro de seu peito, sobre e entre as saliências
lambíveis de suas costelas e estômago, antes de desaparecer em
sua cintura.

Minha respiração fica pesada, meu núcleo se contraindo


enquanto seus músculos contraem com cada movimento que faz,
enviando um desejo ardente direto através de mim. “Skin” de
Rhianna toca no alto-falante do meu iPod e tudo que posso pensar
é na sensação de seu corpo contra o meu.

Minha mão se levanta, meus dedos deslizam pelo meu queixo,


e lentamente arrastando para baixo, passando pela minha
garganta, até que estão esparramados na minha clavícula.

Noah levanta os pesos das mãos sobre a cabeça com


movimentos fluidos, os braços dobrados para trás, o cotovelo
dobrado no ar, me dando uma visão completa de seu núcleo
funcionando. Sua tatuagem de escritura sexy me provocando, me
implorando para tocá-la, para beijá-la. Para correr minhas mãos
ao longo dela como fiz tantas vezes, esperando a cor dentro de seus
olhos mudar.

Para escurecer.

Esperando meu homem perder a paciência e descontar em


mim.

Quando ele traz os braços de volta para a frente, olha e dá


uma olhada dupla. Seus olhos tempestuosos travam nos meus,
enviando um raio de eletricidade da minha cabeça aos dedos dos
pés. Arrepios sobem em cada centímetro de mim.

Aí está o meu sorriso favorito.

Cada nervo do meu corpo está em alerta máximo, e aperto


minhas pernas juntas, uma tentativa patética de aliviar um pouco
da pressão.

Ele sabe disso e mantém meu olhar como refém e gesticula


para que eu vá até ele.

Inferno, neste momento estou pronta para gozar, mas não do


jeito que ele está pedindo.

Eu não me movo.

Sinto-me como um animal faminto, enlouquecida e


atordoada. Eu deveria estar envergonhada, mas não estou.

Este é Noah.

Eu não tenho que esconder nada dele.


Sem interromper o contato visual, ele vira seu corpo glorioso
para mim, sua frente agora em plena e magnífica exibição
enquanto continua seu treino, uma pequena curva segurando
seus lábios suculentos. Ele sabe que está me excitando e adora
isso. Com os olhos encapuzados, me observa, ciente de que estou
totalmente paralisada.

Minha frequência cardíaca aumenta, e lambo meus lábios,


sem saber que estou me movendo até que minhas costas batem na
parede espelhada atrás de mim.

Ele começa um novo movimento, trazendo os dois pesos logo


acima do umbigo, e abre os braços na próxima respiração. Isso
exige que ele fique de pé bem aberto, endureça seus quadris e
estufe seu peito esculpido levemente com cada extensão de seus
braços, e não aguento mais. Estou queimando, em todos os
lugares, por toda parte.

É uma necessidade crua e desesperada que não posso e não


tenho que lutar. Então, não vou.

Enquanto minhas palmas deslizam ao longo da minha


silhueta, imagino que são dele, deslizando lentamente dos lados
dos meus seios para baixo do meu estômago. Minha cabeça cai
para trás contra o espelho, e meus olhos decidem fechar.

Assim que alcanço a faixa do meu short de ginástica, uma


mão quente envolve suavemente meu pescoço e congelo, um
sorriso curvando meus lábios. Peguei-o.

Estou muito longe para abrir meus olhos, especialmente


quando sua respiração quente sopra sobre meu rosto da maneira
mais erótica, suave, quente e irregular. Viro a cabeça, incapaz de
lidar com a sensação crescendo dentro de mim.

Ansiando por liberação, meus dedos deslizam no cós do meu


spandex, mas ele me impede de ir mais longe, pressionando seu
corpo apertado contra o meu. Eu choramingo, seu corpo
superaquecido pressionado no meu com muita provocação quando
conheço a sensação de sua pele na minha. Noah geme em resposta
ao som.

Sua mão desliza pelo meu pescoço e pela minha clavícula, e


minha respiração fica presa na minha garganta. Ele mergulha a
cabeça na curva do meu pescoço exposto, seu lugar favorito, meu
lugar favorito, e sua língua sai, provando minha carne coberta de
suor.

— Mm. — Ele geme. — Eu amo o gosto do seu suor. — Sua


língua corre do fundo da minha garganta até o meu ouvido. — Eu
quero provar todos eles.

— Você pode.

— Aqui não. — Ele me cobre sobre minhas nádegas. — Não


com a minha língua.

Minhas coxas apertam, e ele pega o lóbulo da minha orelha


entre os dentes, mordendo levemente. Ele ataca meu pescoço em
seguida, ganhando outro suspiro meu. Sua mão pressiona mais
firmemente contra mim, deslizando para cima até que as pontas
de seus dedos estejam mergulhando além do cós.

— Eu gosto destes. — Ele dá beijos molhados e quentes no


meu peito.
— Sim? — Resmungo, inclinando mais a cabeça.

— Mm-hmm — murmura. A vibração de seus lábios contra a


minha pele envia um arrepio na minha espinha.

— Então são todos seus — ofego. — Vá em frente, pegue-os


agora.

Seu corpo salta com uma risada silenciosa.

— Estou tão feliz por te divertir... — corto em um gemido


quando seus dedos grossos acariciaram meu clitóris, antes de
pousar sobre o ponto doce.

Empurro em seu toque, meu apelo desesperado e carente. —


Por favor.

Ele geme, sua mão livre segurando minha bunda.


Espremendo.

— Diga-me, baby — diz com a voz mais sexy do caralho que


já ouvi. — Diga-me o que quer.

Eu aperto meus olhos com mais força. — Faça-me gozar.

Meu homem não me faz esperar mais um segundo.


Rapidamente empurra uma perna entre a minha, empurrando a
minha mais aberta, e desliza um dedo para dentro. E depois outro.
Ele geme, batendo seus lábios com os meus, minha excitação
cobrindo seus dedos enquanto entra e sai. Seu polegar fazendo
mágica no meu clitóris.

— Você está encharcando minha mão, Julieta.


— F-foda-se. — Gemo.

Sentindo seus olhos em mim, os meus abertos, e ele sorri,


beliscando meus lábios.

— Está se contorcendo, assim como faz no meu pau —


murmura, seus olhos escurecendo.

— Por isso, dê-me. — Gemo. — Deixe-me apertar você.

— Em um minuto. — Sua atenção cai para o meu corpo, e


lambe os lábios, seus olhos vêm até os meus enquanto se ajoelha
nos tapetes abaixo. Seus dedos deslizam para fora de mim,
puxando a bainha da minha bunda para baixo, parando quando
seus dedos estão no mesmo nível do meu clitóris, sem me revelar
completamente. Levanto-me, agarrando a parte de trás de sua
cabeça e o puxo para mim.

— Será o primeiro — admito, sabendo o que isso fará com ele.

Seus olhos piscam. — Diga sim.

— Sim.

Eu tremo em antecipação, e então seus lábios se fecham


sobre mim e meus quadris balançam, minhas mãos voando para
seu cabelo, pressionando-o em mim.

Sua língua varre, rola e suga, e meu olhar passa por ele,
observando os músculos de suas costas se moverem no espelho do
outro lado da sala enquanto me leva ao máximo.

Olho para mim mesma, observando minhas bochechas


coradas e olhos selvagens. É insanamente estimulante, me ver,
observar minhas reações no espelho enquanto ele me observa.
Como desce sobre mim pela primeira vez. É muito. Estou prestes
a explodir.

— Abra os olhos, Julieta. Abra esses lindos olhos de mel e


olhe para mim.

Eu faço o que ele diz, seus azuis escuros são ainda mais
escuros, suas pálpebras estão baixas, totalmente cobertas, e
minha boceta está em sua boca. Minha respiração acelera, minhas
mãos puxando seu cabelo.

— É isso — murmura. — Goze para mim, baby.

— Beije-me enquanto gozo.

Ele geme, suga com força, e quando meus quadris balançam


novamente, se lança para cima, batendo sua boca na minha. O
homem me come viva, sua língua exigindo entrada, enrolando em
volta da minha e me persuadindo através do meu orgasmo.

Eu me afasto, ofegando por ar que Noah também não


consegue encontrar. Ele está respirando tão forte quanto eu estou
agora.

Seus olhos assumem um brilho travesso enquanto sua mão


mergulha entre minhas pernas, e lentamente empurra para
dentro, sorrindo conforme me contorço ao seu redor. Eu
choramingo, ainda mais quando ele se afasta, lambendo cada
pedacinho de mim.

Estou pegando fogo novamente, meu corpo zumbindo em


lugares que não sabia que eram capazes de excitação. Quero uma
repetição do que acabou de acontecer. Imediatamente.
Minhas mãos disparam, indo para um punhado de seu cabelo
enquanto ele envolve seus braços ao meu redor com força.
Possessivamente.

Algo cai no chão ao nosso redor, e nós pulamos.

Noah não me puxa para trás ou me solta para não expor meu
corpo, mas olha para cima, para o espelho contra o qual minhas
costas estão pressionadas, e seus músculos travam.

— Merda — murmura, seus olhos cortando para os meus.

A rigidez dentro deles faz meu estômago revirar, mas me


mudo espiando por cima de seu ombro.

Chase está na porta, olhando diretamente para nós. O


barulho era sua bolsa de ginástica caindo da ponta dos dedos,
caindo no chão.

Uma frieza toma conta de mim, e não desvio o olhar, mas ele
desvia. Seu rosto endurece, seu olhar fixo na parte de trás da
cabeça de Noah. E como ele se atreve.

Eu corro minha mão pelo braço de Noah, ganhando a atenção


de Chase mais uma vez, e os olhos de Noah apertam.

— Vamos para algum lugar privado e terminar isso.

Algo pisca sobre Noah, mas pisca tão rápido quanto veio. Ele
não diz uma palavra, mas espia para baixo, ajustando meu short
para que tudo o que precisa ser escondido seja, antes de passar
para os pesos para pegar sua camisa.
Chase ainda não falou uma palavra, mas está me olhando
diretamente, seguindo cada passo meu em sua direção enquanto
levo Noah e eu para a única porta que conduz para dentro e para
fora deste lugar, aquela atrás de Chase.

Bem quando estou prestes a passar, paro, e o corpo de Noah


quase bate no meu.

— Pode ter o lugar só para você agora — digo, e então estou


fora da porta, Noah logo atrás de mim. Diminuo o passo para andar
na fila com ele, mas ele passa por mim e continua andando.

De repente, ele para, levantando o queixo no ar antes de se


virar para me encarar. Sua expressão é difícil de ler. É uma
mistura de raiva e decepção. De tristeza.

Só assim, me sinto com dois centímetros de altura.

A humilhação queima sobre mim e mal posso olhar em seus


olhos. Eu corro para frente, minha mão subindo para cobrir minha
boca. — Oh meu Deus, Noah. Eu...

Ele vai falar, mas fecha a boca, balançando a cabeça em vez


disso.

— Não sei por que fiz isso. — Corro minhas mãos pelo meu
cabelo. — Eu sinto muito. Não... eu não...

O que diabos está errado comigo?

Não sou vingativa e não quero machucar ninguém,


especialmente ele, mas isso, foi francamente desagradável.

Maldoso. Estou enojada.


O vômito ameaça subir na minha garganta, meus ombros
caindo em derrota, e desvio o olhar, envergonhada demais para
encará-lo.

Depois de um momento, Noah suspira. — Venha aqui — diz


gentilmente, tentando esconder a mágoa em seu tom, mas a ouço.

Sinto-a. Sinto-a em meus malditos ossos.

Como um cachorro com o rabo enfiado entre as pernas, me


dirijo a ele, e ele coloca meus cabelos soltos atrás da minha orelha,
sua mão segurando lá por um momento.

— Vamos sair daqui, está bem? — Ele tira as chaves da bolsa.


— Está ficando frio.

Assentindo, o sigo até sua caminhonete.

Sinto-me como se, não, que sou uma super puta que nem sei
o que dizer a ele. Não há palavras para desculpar o que acabei de
fazer. As incertezas que expressou há menos de duas semanas
provavelmente estão na vanguarda de sua mente, e fui eu quem as
colocou lá.

Eu o usei para deixar Chase com raiva, e ambos sabemos


disso.

O tempo passa devagar, a tensão no ar apertando a cada


segundo e fazendo o carro voltar para casa desconfortável.

Quando chegamos ao meu dormitório, ele para em frente à


entrada em vez de estacionar como sempre faz.
Alguns segundos se passam sem uma palavra, então com as
palmas das mãos trêmulas, saio, me forçando a fechar a porta. Eu
me viro para encará-lo, percebendo que suas mãos nem deixaram
o volante.

— Noah, eu realmente sinto muito.

— Eu sei. — Sua voz está ferida, mas o corte fresco sangra


apenas compreensão. — Eu sei.

É mais devastador do que a raiva porque significa que ele


pensa que há algo para entender em primeiro lugar. Não há.

— Mas preciso que faça algo por mim — sussurra, sua voz
rouca.

— Qualquer coisa — juro, preparando meu estômago para o


que ele tem a dizer, e notando como sua mandíbula tensiona como
se isso lhe doesse.

— Eu preciso que realmente pare e pense. Sobre tudo. Tudo


isso. — Ele abaixa o cenho para o assento, lentamente trazendo
seus olhos para os meus. — Preciso que você pense sobre ele.

O choque faz o gelo se espalhar pelo meu estômago,


apertando meus músculos ao ponto de doer.

— Se você ainda o ama — murmura. — Se houver a menor


das chances para você e ele, preciso que me deixe ir.

O ar sai dos meus pulmões em um silvo rápido, meu coração


batendo fora de controle. — Noah.
— Preciso que tenha misericórdia de mim, Julieta... e me
deixe ir.

Picos de angústia, meus músculos convulsionando enquanto


um soluço ameaça rasgar através de mim. Frenética, mexo com a
maçaneta da porta, mas Noah balança a cabeça e congelo,
segurando o batente mais uma vez.

— Vá para dentro, Julieta. — Ele olha para frente, engolindo.


— Por favor.

Leva um momento, mas consigo me soltar. Eu tropeço para


trás, sem fôlego, me despedaçando. Minha visão começa a
embaçar e pressiono minhas têmporas, fazendo o que ele pede
enquanto se afasta.

Não tenho certeza de como consegui chegar ao meu


dormitório, porque não me lembro de abrir a porta ou entrar no
elevador. Não me lembro de entrar ou Cameron sair do seu quarto.

Não me lembro de ter caído no chão, mas aqui estou eu,


minha melhor amiga bem ao meu lado, acariciando meu cabelo.
Seus lábios estão se movendo, mas não ouço nada, e não vejo
nada, mas caramba, eu sinto tudo.

Cada.

Coisa.
Arianna
O sol traz consigo a escuridão da noite anterior, por isso puxo
os cobertores sobre minha cabeça e me aqueço nele. E é onde fico
o dia todo, assim como o que se segue, mas quando o terceiro dia
chega, Cameron está subindo em cima da minha mesa, puxando
minhas cortinas para baixo. Literalmente.

Ela as joga no chão, chutando-as para debaixo da cama, suas


mãos caindo em seus quadris. — Levante-se. Chuveiro. Estou lhe
fazendo comida.

— Eu não estou com fome. — Viro para o lado oposto, olhando


para a parede.

Ela arranca meus cobertores, e fecho meus olhos, rolando de


costas.

— Amiga, sei que tudo está uma merda agora, mas não pode
fazer isso.

Meus olhos se movem para os dela e ela oferece um pequeno


sorriso. Dando um passo à frente, dá um tapinha no colchão. —
Levante-se, se refresque, Conecte seu telefone.
Estremeço e seus ombros caem.

— Sabe que ele não ligou — sussurra. — Ele disse que


precisava de alguns dias.

A umidade brilha em meus olhos, e aceno. — Eu sei.

Ela pega meu telefone da minha mesa e caminha para colocá-


lo na estação de carregamento ao lado da minha cama. — Então
você não tem nada a temer, irmã. Agora, levante-se, sacarei as
grandes armas... e chamarei Mason.

Apertando meu braço, ela sorri e sai, então antes que possa
me convencer disso, me arrasto para o banheiro, me trancando lá
dentro.

Mesmo tendo passado os últimos dois dias na cama, não


tinha falsas esperanças de dormir, e não dormi. Fiquei acordada a
maior parte do tempo, procurando palavras para dizer a Noah, mas
não importa quantas versões de sinto muito, por favor, me perdoe,
repasso, nenhuma é suficiente. Não por um tempo longo.

Noah entrou na minha vida em um momento em que


precisava de um amigo, e foi exatamente isso que ele se tornou.
Foi o único que inadvertidamente me ajudou com a besteira que
me permiti cair depois de tudo com Chase, então ele viu o quão
profundo meus sentimentos eram. Quão difícil foi deixar ir e todos
os outros momentos embaraçosos que compartilhei ansiosamente.
Inferno, Noah é quem me ajudou a me curar e nem sabia que isso
aconteceu até que um dia algo mudou. De repente, o homem que
perdi o sono pensando não era o que costumava ser.

Eu me apaixonei por Noah, e me apaixonei forte.


Se você me perguntasse há alguns dias se havia um ponto de
dor em nosso relacionamento, juraria que isso não existia. Agora
percebo o quão cega fui. Ele e eu, temos um ponto dolorido.

Chase.

O problema é que apenas um de nós sentiu. A inquietação


sem fim.

O medo de que a qualquer momento a pessoa que você quer


possa decidir que quer outra pessoa.

Eu sabia que Chase estaria na minha vida para sempre de


uma forma ou de outra. Sabia disso antes e depois de cruzarmos
a linha, e Noah escolheu aceitar isso. Ele me conheceu, passou a
gostar de mim e mostrou o quanto me queria, sabendo que o único
homem do meu passado seria uma constante no meu futuro.

Então, para eu fazer o que fiz e usar descuidadamente um


momento com Noah para mostrar minha raiva pelo homem para
quem ele temia me perder era apenas... fodido.

Fodi tudo e não posso voltar atrás. Machuquei um homem


por quem eu faria qualquer coisa. Eu nunca fui tão tola.

Tudo o que quero fazer é ligar para ele, correr para sua casa
e derramar meus arrependimentos a seus pés. Quero lhe implorar
por perdão, mas não o farei. Ainda não.

Ele pediu tempo, então estou tentando dar a ele. É o mínimo


que posso fazer.

Infelizmente para mim, quando volto para o meu quarto,


pegando meu telefone pela primeira vez em dias, a outra pessoa
envolvida quer o oposto do espaço. Uma série de mensagens espera
por mim, cada uma delas de Chase. Com uma respiração
profunda, abro-as, sendo a primeira da noite em que ele nos
entrou.

12H05 AM99, Chase: Que diabos foi isso?

12H15 AM, Chase: Por que você não atende?

12H25 AM, Chase: Tanto faz, Ari. Espero que esteja se divertindo.

1H47 AM, Chase: Podemos conversar?

Lágrimas de raiva incomodam meus olhos e rosno.

Odeio isso.

99
- AM e PM é a divisão do tempo/hora em dois períodos. AM é o período com início à meia–noite
(00:00hrs) e término às 11:59hrs. PM é o período com início o meio-dia (12:00hrs) e término às
23;59hrs. AM = ante meridiem // PM = post meridiem.
Está tudo errado e não sei como consertar, então faço a única
coisa que posso e me entrego aos estudos, determinada a, no
mínimo, terminar o semestre com as melhores notas de que sou
capaz, o tempo todo desejando que cada hora que passa seja a
hora que Noah chama.

Ele porém não faz e isto está me matando.

Noah
Isto está me matando.

Nos três dias desde que vi Ari desaparecer dentro de seu


dormitório, é como se eu tivesse esquecido como funcionar em um
mundo onde ela não está comigo, porque mesmo quando não
estava fisicamente, sempre estava lá, no fundo da minha mente, à
frente da minha mente. Ela estava toda fodida vez.

A cada dia contudo que passa, parece que ela está se


afastando um pouco mais. Um pouco mais.

Antes, se eu não estivesse com ela, estava contando os


minutos até que pudesse estar.
Agora, fico sentado vendo o relógio tiquetaquear sem fim. A
mão gira e gira, apertando meu peito como uma chave inglesa,
tirando meus fios e me deixando uma bagunça eviscerada que não
pode ser reparada.

Todo mundo sabe que a única maneira de consertar um


parafuso fodido é arrancá-lo do pino, e estou sentindo isso. É como
se meu coração estivesse sendo arrancado, direto pelas minhas
costelas machucadas.

Eu não sei o que diabos estava pensando, lhe pedindo para


pensar nele.

E se ela pensar? E se for o fim para nós?

E se ela se tornar minha maior perda enquanto me


transformo em seu mais profundo arrependimento?

E se meus piores medos forem a coisa mais distante da porra


da verdade?

E se minha baby estiver sofrendo, morrendo por dentro como


eu? Lentamente, e um pouco mais a cada dia?

Duas vezes mais difícil a cada noite?

E se ela sente minha falta, e tudo o que quer é que meus


braços a envolvam, que a puxe e diga que está tudo bem? Que
estamos bem, e que eu a amo com tudo que sou e a quero por tudo
o que ela é?

Isto é o suficiente para me matar.


O simples pensamento de ser a razão por trás de sua dor é
demais para mim.

Estou doente do estômago, meus músculos doem.

Minha cabeça e meu coração estão em guerra, e não tenho


certeza de que algum deles possa vencer.

Porque eu fiz isso.

Pedi para minha garota considerar que talvez eu não seja a


pessoa certa para ela, sabendo o tempo todo, ela é a única para
mim.

Eu preciso da minha baby, e só posso esperar, ela precisa de


mim tanto quanto.
Arianna
Como cinco dias individuais pesam como cinco anos, não sei,
mas pesa. Cada minuto está passando lentamente, cada passo no
corredor do meu dormitório, provocando, minha mente me
enganando que talvez, apenas talvez, seja ele do outro lado. Que
seus dedos vão descer com a batida e quando abrir a porta, ele
estará lá com um sorriso, mas isso nunca acontece.

A ansiedade por si só tornou muito difícil ficar em casa, então


tenho me escondido na biblioteca, quando não estou na aula, e me
forcei a pular o seu jogo duas noites atrás, mas por mais doloroso
que fosse, assisti na TV.

Mason está chateado, não lhe direi o que está acontecendo.


Brady me verifica todas as noites.

E Chase, está me ligando e mandando mensagens duas vezes


por dia, todas sem resposta.

Não sei por que, mas esta manhã, tudo se tornou demais.
Acordei com uma forte sensação de desespero, de necessidade, e
não pude evitar.
Liguei para Noah quando soube que deveria estar livre, mas
ele não atendeu, então enviei uma mensagem para ele, esperando
que funcionasse.

Ele nunca respondeu.

Cameron disse que o viu uma ou duas vezes ao visitar Trey,


ele não para contudo para conversar com ninguém, simplesmente
vai direto para seu quarto. Ela conversou com Chase.

Segundo ela, ele recorreu a ver agora que não há como negar,
estou ignorando-o. Supostamente, já passou duas vezes esta
semana, as duas vezes quando eu estava fora, graças a Deus.

Com o quão determinado parece estar tentando me alcançar,


não tenho certeza por quanto tempo mais posso evitá-lo, um fato
que soa verdadeiro quando viro o corredor da biblioteca, onde
tenho me escondido a maior parte dos dias, e ali Chase está
sentado a menos de quinze metros de distância.

Eu congelo no lugar, um milhão de pensamentos passando


pela minha mente, o mais alto dos quais me dizendo para correr,
mas meus pés não se movem. Talvez seja hora de deixá-lo dizer o
que está em sua mente. Para ter uma conversa real, como
deveríamos ter feito há tanto tempo. O problema é que não estava
pronta para isso na época, e para ser honesta, acho que ele
também não estava.

Nos últimos dias, pensei muito em Chase, mais do que


gostaria de admitir, mas foi o que Noah me pediu, e percebi
rapidamente o quão necessário era.
Eu tinha bloqueado tudo, a dor que veio com a menção do
seu nome sozinho foi demais na hora e fez com que tudo ficasse
confuso. Coloquei-o em uma caixa e o empurrei para longe.

Eu precisava lembrar, revisitar cada momento com Chase


para perceber onde erramos... e onde nos sentíamos certos.
Minhas memórias me lembraram por que me apaixonei por ele em
primeiro lugar. Sozinha com meus pensamentos, chorei e ri, e
então percebi...

Eu senti a sua falta.

Sinto falta do cara que pegava leve comigo quando os outros


pegavam no meu caso sobre uma saia que achavam um pouco
curta demais. O cara que deu a mim e a Cameron duas cervejas
em segredo, quando Mason disse que não podíamos ficar bêbadas.
O cara que ficou na água comigo muito tempo depois dos outros
reclamarem do frio porque sabia que eu odiava quando era hora
de sair do mar.

Não era porém só sobre ele.

Senti falta das nossas noites de grupo, onde ninguém mais


era convidado, apenas nós cinco.

Eu, Cameron, Mason, Brady e Chase.

Desde o colegial, a única vez que nos separara era algumas


semanas a cada verão, quando os rapazes iam para o
acampamento de futebol, mas mesmo assim, conversávamos por
vídeo pelo menos uma vez por dia.

Claro que Cam e eu teríamos uma explosão sem nossos


guarda-costas, mas rapidamente perdíamos as outras peças do
nosso quebra-cabeça. Mesmo quando estávamos nos divertindo
muito em São Petersburgo no verão passado, onde Cam conheceu
Trey, sentimos falta dos nossos rapazes.

Após a briga com Chase no início do ano letivo, as coisas


mudaram, e não foi justo com os outros, especialmente porque eles
não souberam por que o ar na sala estava diferente.

É hora de fazer o certo para todos nós, desta vez de verdade.


Eu sei disso, mas mesmo assim, não consigo expressar o quanto
me sinto culpada por sentir falta de Chase.

Como eu poderia sentir falta do homem com quem estava tão


brava que machuquei o meu tão insensivelmente?

Eu sofro por Noah, profundamente, desesperadamente.

A perda me consumindo dia a dia é como nada que já senti.


Tantas vezes, queria dizer, para o inferno com isso e correr todo o
caminho até a sua casa, mas me contive. Por muito pouco.

Eu fui para lá uma vez, quando estava me sentindo muito


sozinha, mas assim que sua caminhonete apareceu, as lágrimas
caíram e me virei.

O que mais me mata é como eu sei como ele está vivendo


agora. Sozinho e em silêncio.

Ele não festeja muito, se é que o faz, e não corre no meio de


uma grande multidão. Todo o tempo livre que tinha ele passava
comigo, e eu sei que ele não preencheu esses espaços com mais
nada.

Sei que ele é tão solitário quanto eu, mais ainda.


O pior é o que deve estar passando pela sua cabeça, dúvida
que plantei. É meu trabalho tirá-la.

É com esse pensamento em mente que não me viro e ando na


direção oposta.

Caminho até Chase.

Vestido com um moletom e com sua bolsa de futebol caída a


sua frente, sua cabeça pende. Sua perna está saltando como se
estivesse nervoso, e ele olha para as palmas das mãos enquanto
as esfrega.

— Ei — chamo uma vez que estou a alguns passos de


distância.

Sua cabeça levanta, desconforto escrito em todo ele. — Ei.

Chase pula, sua boca se abre, mas nada sai, então ofereço
um pequeno sorriso e isso parece aliviá-lo um pouco.

— Você tem um segundo? — Pergunta.

Os nervos giram em meu estômago, mas aponto para a mesa


de qualquer maneira.
Ele estende a mão para mim, e o deixo me puxar para o
assento da mesa de piquenique. Meus olhos caem para nossas
mãos unidas, e lentamente, me afasto, olhando para ele.

Ele assente, engolindo.

— Sinto sua falta, Ari. Sinto falta de tudo. — Apreensão puxa


suas feições. — Sinto muito, por tudo que fiz, e por tudo que
deveria ter feito, mas não fiz.

— Eu sei, e sinto muito por ter agido do jeito que agi depois.
Não deveria ter ficado chateada com você quando não fomos a
lugar nenhum depois daquela noite. Sabia o que estava fazendo e
não me importava com o que acontecia depois. Isso foi por minha
conta.

— Não — diz severamente, mudando para me encarar melhor.


— Não faça isso. Eu era, não, sou um homem estúpido. Deveria...
não deveria... foda-se. — Um suspiro frustrado deixa-o e ele
encontra meus olhos.

Olhamos em silêncio uma para o outro por vários segundos.

Dor e arrependimento me olham de volta, confusão


lentamente seguindo.

Com um pequeno sorriso, Chase estende a mão, colocando


meu cabelo atrás da orelha. Seu toque demora um momento, e
quando seu polegar acaricia meu rosto um pouco, não posso
deixar de me inclinar.

Ele tinha tanto do meu passado, e não é que seja difícil deixá-
lo ir, já tinha feito isso uma vez, é ver a dor que sente que dói. Ele
nunca mostrou isso antes, não assim, mas a sensação de sua pele
na minha está errada, por isso cubro sua mão com a minha, e seus
olhos brilham quando removo a dele do meu rosto.

— Eu gostaria que pudéssemos começar de novo — diz então.

Uma risada leve me deixa, e balanço minha cabeça. — Eu


não. Sim, as coisas ficaram uma merda, mas só porque as coisas
deram errado não significa que aquela noite não foi especial.

— Foi — sussurra. — Foi especial.

Meus lábios se contorcem, e abaixo meus olhos para o meu


colo. — Tenho pensado muito.

— Eu também — apressa-se, segurando minhas mãos, e olho


para ele. — Há muito mais que quero dizer, mas estou meio sem
tempo agora. Já estou aqui há algumas horas, esperando te pegar
um pouco mais cedo — admite timidamente. — Acha que podemos
conversar depois do treino amanhã?

Meu estômago se revira, mas consigo sorrir, assentindo. —


Playoffs100. Isso é muito épico.

Chase ri, mas seus olhos caem para a grama. — Sim. Bem
épico.

Depois de um momento, ele suspira, se levantando, e fico com


ele.

100
-Sistema eliminatório, ou mata-mata em competições esportivas.
Hesitante, ele entra, seus braços vêm ao meu redor, e
enquanto fico tensa por um segundo, o abraço de volta no próximo.

Há tensão entre nós, é óbvio, por isso, em uma tentativa de


aliviar o clima, brinco — Estou feliz que me perseguiu antes do
treino, ou estaria engasgando agora.

Chase ri, e me afasto, sorrindo para ele, mas no momento em


que meus olhos encontram os dele, minha garganta fica seca.

Um formigamento familiar percorre minha espinha, e


estremeço, ficando instantaneamente rígida.

Suas sobrancelhas franzem em confusão, e lentamente, olho


por cima do ombro.

Meu estômago bate no chão, uma onda instantânea de


náusea rolando por mim.

Não…

Congelado no lugar com as chaves penduradas em seus


dedos, olhos azuis me queimam.

Minhas mãos voam para os meus lados, e ele corta um rápido


olhar para Chase.

Ele acena com a cabeça, e eu balanço minha cabeça.

— Noah — ofego seu nome, desespero escorrendo do meu


tom. Eu dou um passo em sua direção.

Ele se vira.
—Noah, espere! — Eu corro para frente, mas ele já está
entrando em sua caminhonete, e então se foi.

Lágrimas inundam meus olhos, e agarro meu estômago com


uma mão, tentando me controlar.

— Ari... — Chase começa atrás de mim.

— Eu preciso de um minuto — digo, sem me virar, seguindo


a caminhonete de Noah do estacionamento.

— Arianna...

— Eu disse que preciso de um minuto. Por favor. — Engulo.

No meu periférico, ele acena com a cabeça, pega sua bolsa e


vai embora.

Por vários minutos, ofego por ar, luto contra as lágrimas e


grito internamente.

E então levanto minha coluna, respiro fundo e empurro para


a frente.

Eu ando direto para o campo de treino, indo na direção


oposta que Chase desapareceu, e fico perto do estacionamento.

A caminhonete de Noah não está à vista.

Entro no estádio, vasculhando o campo enquanto o time o


leva.

Noah não está lá.


Espero, e antes que perceba, o sol se pôs e o treinador está
terminando.

Noah nunca aparece.


Arianna
Empurrando através da entrada, me curvo à direita e bato na
pequena porta por uns sólidos cinco minutos antes de Brady
aparecer ao meu lado. Lentamente, ele estende a mão, agarrando
e abaixando minhas mãos para os lados.

— Ari Baby, acho que ele não está lá — diz suavemente, e


desmorono.

Ele me abraça, tentando me manter de pé, e Cameron desliza


a minha frente, preocupação esculpida em suas feições.

— Faz dois dias. — Lágrimas caem dos meus olhos, e desvio


o olhar enquanto alguns jogadores de futebol passam, olhando. —
Ele não estava no treino ontem, e não está aqui hoje, então onde
está?

— Talvez ele tenha saído para comer ou algo assim? — O tom


de Brady é desanimado, sua tentativa inútil, e sabe disso.

— Vamos. — Cameron envolve seu braço no meu. — Devemos


ir para casa. Você precisa...
— Não diga dormir, Cameron. — Esfrego meus olhos.

— Querida, ele não está aqui e não sabemos se esteve nos


últimos dois dias. O que vai fazer, acampar na entrada?

— Se eu tiver que fazer isso.

— Ari, não faça isso consigo mesma.

— Você não viu o rosto dele. — Olho para eles. — Ele estava...
Deus, estava... — Devastado. — Eu não posso nem imaginar o que
está pensando.

A porta da frente se abre, outro grupo de rapazes chega em


casa, e prendo a respiração, mas é Chase o último a passar.

Olha de mim para a porta de Noah e volta.

Ele caminha. — Ari.

— Por favor, apenas — disparo, minhas mãos voando para


cima enquanto passo. — Agora não.

— Arianna! — Cameron grita, me perseguindo até a varanda,


mas já estou descendo a garagem e entrando na estrada.

Girando no lugar, examino a área, minhas mãos dobrando


sobre minha cabeça.

Meus olhos se fecham e aperto minha mandíbula, dobrando


os joelhos até que estou agachada no lugar.

— Porra! — Finalmente grito, meu corpo tremendo.


Várias cabeças se voltam para mim, mas as ignoro. Empurro-
me e começo a andar.

Ando cada centímetro do campus, circulando cada prédio e


cobrindo todos os cantos do centro até a borda externa. Acho que
não esperava encontrá-lo, mas uma vez que não há mais para onde
ir, percebo que devo ter esperado encontrá-lo.

A derrota toma conta de mim e quero cair na grama e me


enrolar em uma bola, mas meus pés não param de se mover. Ando
até o sol nascer e depois vou para casa. Trancando-me no meu
quarto, choro até dormir.

Mais tarde naquele dia, quando Cameron bate a minha porta,


lhe digo para ir embora, e quando acordo de novo, já passa das
nove e meia, o jogo de hoje provavelmente está quase no fim.

Derramando o suor da noite passada do meu corpo,


rapidamente visto algumas roupas e corro porta afora, cabelo
molhado e tudo, mas quando o estádio está à vista, ainda a uns
bons cem metros de distância, o campus já está inundado de fãs
sua maneira de terminar sua noite de sábado em algum lugar.
Caindo no banco mais próximo, vou ao site da escola, onde a
pontuação já está publicada.

Os Sharks perderam a primeira rodada dos playoffs, sua


temporada chegando ao fim a partir desta noite. Isso significa que
esta noite foi o último jogo de Noah como quarterback da faculdade,
e eu não estava lá para ver.

Uma desesperança dói dentro de mim, e fecho meus olhos.


Noah não aceitou nenhuma das minhas tentativas de
contatá-lo, então é com a alma trêmula e puro desespero que puxo
nosso tópico de mensagens, enviando-lhe um texto que espero que
ele não possa ignorar.

Eu desligo meu telefone, sentando no mesmo lugar até que o


estacionamento esteja quase vazio, e depois vou para a casa de
futebol, rezando quando chegar lá, que Noah esteja esperando.

Infelizmente para mim, ele não está, mas um barril cheio de


cerveja barata está.

Por isso, encho um copo.

E depois, encho outro.

Bebida fresca na mão, giro, ficando cara a cara com Chase.

Eu paro bruscamente, sorrindo, e ele franze a testa.

— Ei. — Ele olha além de mim, em direção ao cara que cuida


das bebidas, e em seguida, espia o meu copo.

Meus olhos seguem, e rio. — Sim, ele não é o melhor servindo.


É principalmente espuma, mas está fazendo seu trabalho. — Passo
por ele, passando pelo quintal e entro na casa.
Ele me acompanha, e posso sentir sua inquisição. — E que
trabalho é esse?

— Pense em todas as razões pelas quais as pessoas recorrem


ao álcool e marque cada uma delas.

Olho em sua direção, e sua carranca se aprofunda.

— Este pode não ser o melhor momento, mas deveríamos


conversar e nunca tivemos a chance.

— Sim, nunca tivemos a chance de muitas coisas, não é? —


Eu paro de andar, trazendo meu copo aos meus lábios. — Nós nos
sentimos como uma vida atrás.

— Não, não sentimos.

Eu zombo, balançando a cabeça. — Sim, sentimos.

Suspirando, ele estende a mão, mas me curvo, evitando-o.

— Não me toque. — Eu rio, terminando meu copo, e inclino


minha cabeça para ele. — A última vez que me tocou, você
arruinou tudo de novo, mas quero dizer, ei, eu arruinei primeiro,
então o que realmente importa.

— As coisas não precisam ser assim, sabe?

— De que outra forma poderia ser, Chase?

— Melhor. — Ele se aproxima. — Poderia ser melhor para nós.

— Por favor. — Reviro os olhos. — Até Mason viu, certo?


Estive lá, pensei isso. Foi fodido.
Ele salta para frente de repente, e leva um momento para
minha visão se ajustar à sua proximidade.

De repente, ele está na minha cara. — Diga-me que posso te


beijar e eu beijarei. Bem aqui, agora, onde todos verão. — Ele
segura meu queixo. — Diga-me que posso te beijar.

— Que porra é essa?! — A voz de Mason ressoa de algum


lugar.

E assim, a conversa ao redor da sala diminui, e meu irmão


está gentilmente me empurrando para o lado, ficando entre mim e
Chase.

Os olhos de Chase se arregalam por uma fração de segundo,


mas então ele se endireita, encarando seu melhor amigo.

— O que acabou de dizer para minha irmã? — Mason


empurra o peito de Chase, empurrando-o alguns passos para trás.

Brady corre, Cam ao seu lado.

Chase balança a cabeça, levantando as mãos. — Desculpe,


mas... você terá que se acostumar com isso.

— O quê?! — Mason e eu estalamos ao mesmo tempo, ambas


as nossas cabeças empurrando uma para a outra.

Ele franze a testa, confuso, seu olhar rapidamente voltando


para seu amigo.

Cam tenta intensificar. — Pessoal, talvez devêssemos ir para


fora?
— Foda-se isso! — Mason joga as mãos ao redor. — O que
diabos significa que eu terei que me acostumar com isso?
Acostumar com o quê? Está fodendo minha irmã? — Mason exige,
antes de se virar para mim. — Você está transando com ele?

— Mason — Brady diz. — Pare.

— Não, quer saber, está tudo bem, Brady. Vamos fazer porra
de uma sessão de terapia bem aqui no meio de uma festa. Se
minhas palavras estão arrastadas, é sem o meu conhecimento. —
Coloco meus olhos em meu irmão. — Não Mase. Eu não estou
“fodendo-o”.

— É melhor não estar, porra! — Grita.

Que se foda essa merda.

— É? — Eu me afasto, cruzando os braços desafiadoramente.


— Por que isso? Não suporta pensar no seu melhor amigo em cima
da sua “irmãzinha”?

— Oh merda — Brady murmura ao meu lado.

Cameron tenta interromper, mas a empurro, e sua boca se


fecha.

— Cuidado com a boca, Arianna — Mason diz severamente.

— Bem, adivinhe, idiota? — Ouço o “não” de Chase ao meu


lado, mas foda-se ele também. — Já aconteceu! — Vejo meu irmão
virar seu olhar assassino para Chase e começar a correr para
frente antes de Brady pisar entre eles, segurando Mason.
— Ah, mas não se preocupe, Mase, eu estava dizendo a
verdade. Não estou transando com ele. Sua amizade era mais
importante do que eu, assim como esperava, então parabéns,
Mason. — Jogo meus braços para fora. — Ele é todo seu.

Saio pela porta da frente, ignorando a comoção que se segue


com a minha saída.

— Ari, espere! — Chase grita, quente nos meus calcanhares,


mas não paro até que está segurando meu braço, me girando. —
Ari, droga, espere!

Ele pula a minha frente.

— O quê?! O que quer, Chase? — Emocionalmente esgotada,


deixo cair meus ombros. — O que você quer de mim?

— Tudo! — Brada. — Eu quero tudo, Arianna. — Eu vou


gritar, mas ele levanta as mãos. — Espere. Apenas, deixe-me falar,
está bem?

Encaro-o por alguns momentos antes de assentir.

— Olha, sei que você disse que era tarde demais, mas não
precisa ser. Ari, neste verão... — engole. — Eu fui um burro. Tudo
o que aconteceu entre nós, não deveria ter acontecido assim. Vejo
isso agora. Preciso que acredite em mim quando digo que não
acontecerá de novo. Não vou afastá-la novamente e não permitirei
que nada fique entre nós, se você apenas nos der a chance que
merecemos.

Estou balançando a cabeça antes mesmo de ele terminar. —


Chase, não. Não estou no mesmo lugar que estive neste verão.
— Entendo isso — diz insistentemente, estendendo a mão e
agarrando minhas mãos. — Honestamente, entendo. Só quero que
saiba que estou pronto. Estou aqui. Sei que está com medo. Sei
que fui eu quem lhe deu uma razão para estar, mas...

— Chase...

Minha cabeça continua a tremer. Não está entendendo. Ele


não entende.

Meus dedos esfregam em minhas têmporas. — Por favor pare


de falar.

Eu continuo andando, mas ele desliza para o meu espaço


novamente.

— Não. Você precisa me ouvir. Precisa entender o que estou


dizendo. — Gesticula em direção à porta. — Eu praticamente disse
ao meu melhor amigo para se foder agora porque preciso que você
saiba o quão sério estou falando. Apenas me dê uma chance de
mostrar que posso te amar como merece, porque Arianna, eu
amo...

— Eu não te amo mais! — Grito, meus músculos congelando.

Chase fica rígido, e por cima do ombro, vejo minha família,


todos correndo para cá, todos parando no mesmo segundo.
Lentamente, se aproximam, cada um usando sua versão de
choque e confusão. Eles ouviram o que eu disse, talvez mais.

Lágrimas surgem na parte de trás dos meus olhos e meu nariz


formiga.
As mãos de Chase sobem para correr pelo seu rosto, e sua
boca forma uma linha dura.

Engulo o nó na minha garganta. Eu nunca disse a Chase que


estava apaixonada por ele, esta é a primeira vez que ele ouve. A
primeira que meu irmão ouviu.

A ironia deste momento se perde em mim, como minha


omissão é também minha rejeição.

Como o segredo revelado, mas a necessidade dele acabou.

Não deveriam ter ouvido isso antes de Noah. Ninguém


deveria.

Não até que eu tenha olhado nos seus olhos e falado em voz
alta.

Não até que ele soubesse, sem dúvida, que eu era dele.

Eu me afasto, mas Chase me agarra.

— Não faça isso — implora.

— Deixe-me ir.

— Ariana, por favor.

— Ela disse... — meu irmão desliza entre nós — ...para deixá-


la ir — rosna, empurrando Chase com força no peito.

Meu corpo empurra para frente enquanto Chase cambaleia


para trás, mas ele rapidamente me solta, e me jogo na grama.
Cameron corre, mas consigo me levantar, bem quando Mason
avança sobre Chase, lançando um gancho de direita antes que
Chase possa dizer uma palavra, sangue escorrendo de seus lábios.

— Vamos, filho da puta, não chore agora. — Mase cospe para


o lado, mergulhando para ele.

Ele o derruba no chão, e Chase o dá uma chave de braço, mas


Mason rola para fora, levando o cotovelo ao nariz.

— Foda-se — Brady murmura, movendo-se. — Pronto, já


chega.

Brady agarra Mason pelos braços, puxando-o para trás, e


Chase fica de pé.

— Não posso acreditar em você, porra! — Mason ferve. — Você


fodeu minha irmã?! — Mason chuta, mas Brady o detém.

— Não foi assim!

— Sim, foi porra. É por isso que ela estava deprimida quando
chegamos aqui. Porque você transou com ela e a deixou.

— Você é o único...

— Não termine a porra desta frase, idiota. Você escolheu ficar


com ela e então virou as costas para ela.

— Eu não queria te machucar! — Chase confessa, mas isso


só deixa Mason mais irritado.
— Isso é fodido e você sabe disso! Se me machucar a protege,
então é isso que faz. Isso é o que eu gostaria. Você me conhece,
cara! — Ele balança a cabeça. — Você sabe disso.

Chase desvia o olhar, envergonhado. — Eu não queria


estragar nada.

— Você arruinou tudo quando tirou a sua virgindade e a


deixou com o coração partido.

O rosto de Chase é uma folha instantânea de branco, seus


olhos estalando para os meus. Todos os outros seguem.

Minha boca está aberta, meus olhos cheios de lágrimas.

— Não... — sussurra, inconscientemente avançando. —


Ariana, não.

Mason puxa um braço livre, atirando-o a tempo de agarrar a


camisa de Chase antes que possa passar, e ele o puxa em seu
rosto; mas quando Mason olha nos olhos de seu melhor amigo, e
os ombros de Chase caem, a carranca de Mason me encontra atrás
dele. — Você não contou a ele?

Meu pescoço está rígido, mas balanço minha cabeça


freneticamente, pedindo desculpas. Em arrependimento.

Olho para Cameron, que rói as unhas, para Brady, que


abaixa a cabeça.

— Eu tenho que ir. — Dou um passo para trás, minha mão


se estende quando esbarro no carro no meio-fio e dou a volta,
atravessando a rua.
— Ari, vamos lá — Mason estala, e juntos, todos se movem
pelo pátio em direção à calçada. — Volte aqui.

— Ariana, espere! — Chase chama em seguida, e aperto


minhas têmporas.

— Para trás, porra! — Mason grita.

— Eu vou agarrá-la!

— Você não chegará perto dela! — Diz. — Ari! Aonde você vai
mesmo?!

Balançando a cabeça, minha visão turva. Não sei. Eu não


posso pensar.

— Não me obrigue a colocá-lo na rua, Chase, porque eu vou,


porra.

— Foda-se, Mason.

— Parem! — Cameron grita. — Mason, solte-o!

Aperto meus olhos fechados, bloqueando-os. Mal consigo


respirar.

Eu tenho que encontrar Noah.

Eu quero falar com ele. Preciso lhe dizer que sei o que quero.

Que é ele.

Preciso lhe dizer que eu o amo.


Noah
Meus pés param e me curvo, colocando as mãos nos joelhos.
Meu peito bate furiosamente, e tento respirar fundo, mas é mais
fácil falar do que fazer.

No segundo em que vi a mensagem de Ari chegar, tinha


tomado um fardo de seis cervejas, mas sabia que tinha que chegar
até ela, então tranquei minha caminhonete e comecei a correr.

Corri por nada menos que oito quilômetros sem parar.

Minha respiração se acalma um pouco, então me levanto e


quando me aproximo alguns metros, gritos chegam aos meus
ouvidos. Olho para cima, apertando os olhos pelas duas últimas
casas antes da minha, e é quando a vejo.

Ari, segurando a barriga, enquanto dá passos para trás.

Eu corro em sua direção, meus olhos se arregalando quando


vejo Mason e Chase se empurrando, e Mason dá um soco, gritando
na cara de Chase, mas paro na beira da calçada.

— Mason, solte-o! — Cameron grita.


Eu saio da calçada, ignorando-os.

— Julieta — chamo para ela.

Seu corpo se levanta, como se ela tivesse batido em uma


parede invisível, e lentamente, me encontra.

Seus lábios se separam, um grito quebrado escapando de


seus lábios. — Noah…

O desejo em seu tom sobre mim me destrói, e aperto meu


peito.

Baby…

Seus ombros se curvam em apreensão, seus braços se


envolvendo como se estivesse se preparando para um golpe, caso
eu a sirva com um, como fiz no outro dia.

Como fiz na semana passada.

Minha Julieta, eu também te machuquei.

Arrependimento queima em todas as minhas veias, e olho


para Mason e os outros.

Para Chase, que está a menos de três metros de mim, tanto


o lábio quanto a sobrancelha direita se abriram. Estão à beira da
grama, a tensão girando no ar ao redor deles, ambos olhando de
mim para ela, um para o outro. Não sei no que eu andei, mas não
me importo.

Eu me viro para minha garota, levantando meu telefone no


ar, e seu corpo cede.
Ela me encara totalmente agora, suas palavras um sussurro
esperançoso — Você recebeu minha mensagem?

Concordo. — Recebi.

— E você veio.

Meus lábios se contorcem, e aceno novamente. — Deveria ter


vindo antes.

Lágrimas caem de seus olhos, e uma risada quebrada escapa


dela. — Está tudo bem. Só não faça isso de novo — brinca, mas
não é o suficiente para esconder a dor em sua voz.

Dor que alimentei, temendo ser o único que sentia nossa


perda.

Eu não estava. Ela sentiu-a. Sentiu-a.

Ela é minha.

— Nunca, baby. — Meu peito aperta. — Nunca mais.

As costas de sua mão cobrem sua boca, e ela funga enquanto


dou a volta na velha caminhonete no meio-fio.

Seus braços caem para os lados, e ela sorri, e então começa


a correr.

Eu rio, mas então um flash chama minha atenção. Minha


cabeça se move para a esquerda, pânico entrando em erupção
dentro de mim.

Eu corro para a frente. — Não!


— Ari! — Mason grita, o grito de Cameron ecoando ao seu
redor.

Braços envolvem meus ombros e sou puxado para trás.

No mesmo segundo, o guincho dos freios perfura o ar, seguido


por um estrondo tão alto que sacode meu núcleo. Gritos enchem o
ar, e me liberto do corpo atrás de mim.

Vidro quebrado enche a rua, cortando meus joelhos e mãos


enquanto rastejo por ele, meu corpo cambaleando para frente
quando chego ao para-choque amassado da velha picape.

Um grito rasga através de mim, e de repente, outros estão


caindo ao meu lado.

Alguém agarra minha camisa. Alguém chora. Alguém


implora.

Eu não me movo. Não consigo respirar.

Tudo o que posso fazer é olhar para a garota que amo deitada
sem vida no meio da rua.
Noah
Sete horas sem notícias é excruciante, mas as quatro que se
seguem, quando a enfermeira finalmente vem nos dizer que houve
uma complicação, são as piores.

Estão cheios de nada além de medo e arrependimento.

De dor e “e se”.

E se eu chegasse a ela a tempo esta noite?

E se eu não me afastasse dela no outro dia?

E se eu nunca conseguir lhe dizer que a amo?

Que ela é mais do que eu sabia que existia, tudo o que poderia
precisar, e tudo que sempre vou querer.

Arianna Johnson compõe todo o meu ser. Sem ela, não sou
nada.

Não é dito muito nas próximas dezesseis horas e isso vale


para todos nós. Andamos pela sala, e de vez em quando, um de
nós dá um soco na parede ou chuta uma cadeira, correndo para o
corredor, apenas para voltar e enterrar o rosto nas mãos.

Finalmente, o médico sai, a exaustão aparecendo nas olheiras


sob seus olhos. Ele puxa a máscara para baixo com um aceno de
cabeça.

— Parentes da senhorita Johnson? — Pergunta, embora já


saiba a resposta.

— Ela está bem? — Mason se apressa.

Cameron agarra minha manga, tremendo.

— Ela está estável.

Uma respiração entrecortada explode do meu peito, e caio


contra a parede. Pressionando as palmas das minhas mãos em
meus olhos, deixo cair minha cabeça para trás.

Uma mão aperta meu ombro, e olho para encontrar Chase.


Ele balança a cabeça, sua mandíbula contraída, e olhamos de volta
para o médico.

— Quando podemos vê-la? — pergunta Brady.

— Em breve, mas tenho que lhes dizer, ainda não estamos


claros.

— Continue falando, doutor. — Mason engole.

Ele olha para nós por um momento, e é óbvio que está


escolhendo suas palavras com cuidado. — Arianna sofreu
ferimentos na maior parte da parte superior do corpo e
encontramos uma pequena fratura no crânio. Como resultado
disso, seu corpo entrou em choque e fomos forçados a colocá-la
em coma induzido.

— Oh meu Deus — Cameron chora, e Mason rapidamente


gira, tomando-a em seus braços. Ele a puxa para perto, esperando
por mais.

— Ela está com dor? — Murmuro.

— Não mais. — Ele dobra sua prancheta a sua frente. —


Estava com muita dor, e com seus ferimentos que podem levar ao
coma. Seu cérebro simplesmente desligava em reação ao trauma,
e é por isso que achamos mais seguro seguir o caminho que
fizemos.

— Por quê?

— Para evitar que o cérebro reaja ou responda. Temos que


dar tempo para curar, pois o próximo passo é monitorá-la quanto
ao inchaço.

— Se isso acontecer? — Chase avança. — Se o cérebro dela


inchar?

O homem assente. — Então temos que entrar e aliviá-lo.

— Por quanto tempo vai mantê-la dormindo?

— Enquanto ela precisar. Um dia, talvez dois. Talvez um


pouco mais. Tudo depende de como esta noite se desenrola. Se
conseguirmos passar esta noite sem complicações, poderemos
respirar um pouco mais aliviados amanhã.
Acenamos com a cabeça, olhando um para o outro para ter
certeza de que ninguém mais tem perguntas sobre as quais o resto
de nós não pensou.

O médico acena com a cabeça, e a enfermeira que recebeu


ordens para cuidar de nós quando chegamos aqui, se aproxima. —
Dr. Brian, este é o Sr. Johnson. — Ela o conduz em direção a
Mason.

O rosto do homem permanece inexpressivo enquanto estende


a mão. — Um momento no corredor? — O médico pergunta, e então
dá dois passos para fora.

Eu fecho meus olhos, girando e pressionando minha testa


contra a parede. Minha respiração é irregular e meus pulmões
queimam.

A conversa suave dos outros abafa ao meu redor e aperto


meus olhos com mais força.

Um flash de seu sorriso aparece, um eco de sua risada


seguindo.

Ela me estende a mão, mas apenas quando estou perto o


suficiente para tocá-la, desvanecendo-se até o preto, e então não
há nada.

Estou vazio. Sozinho.

Meus dedos doem, e em seguida, uma mão está na minha.

Estou caído contra a parede, Brady, Cameron e Chase


ajoelhados a minha frente, e Mason vem ao virar do corredor.
Seus olhos se arregalam e ele olha para seus amigos, mas
quando percebe que o sangue escorrendo pelo meu braço é meu,
sigo sua linha de visão, até um buraco na parede. Devo ter
colocado lá.

Sua mandíbula flexiona, e atravessa a sala, arrancando a foto


emoldurada da parede, tirando o prego com ela.

Ele pega um bloco da mesa e o usa para bater na coisa,


cobrindo completamente o dano.

Com os olhos cabisbaixos, estende a mão. — Vamos lá, cara.

Meu queixo cai no meu peito, mas bato minha palma na dele.

Ele me puxa para cima e depois me abraça. Abraça-me de


verdade, se desculpando como se devesse isso a mim quando não
deve. Quando se afasta, seus olhos estão vermelhos e balança a
cabeça.

Ele se vira para Chase em seguida, que fica inseguro, mas


Mason o puxa do mesmo jeito.

Eu tropeço para fora da sala, ignorando suas chamadas


enquanto navego por este estúpido hospital como o profissional
que sou. Corto à esquerda no final e saio onde as enfermeiras
fazem seus intervalos. Dou a volta ao chafariz e deslizo entre o
prédio, até chegar ao que fica à esquerda.

Empurro para dentro, pulando a folha de identificação, e


ando cegamente pelo corredor.

Ela está acordada quando chego lá, e a preocupação que a


domina faz meu coração se despedaçar. Tudo se despedaça.
— Oh querido. — Sua mão levanta. — Venha aqui.

Eu caio na cama do hospital da minha mãe e me perco.

As duas únicas pessoas que amo neste mundo estão ambas


aqui, suas vidas nas mãos de outra pessoa, e não há nada que eu
possa fazer sobre isso.

Nunca me senti tão impotente na minha vida.

A Tri-City Medical, mais uma vez, se torna minha casa.

Todas as nossas casas, na verdade, pois nenhum de nós sai


por mais de algumas horas aqui e ali, seja para tomar um banho
ou talvez alguns minutos de sono em uma cama de verdade.

Mason ainda não entrou em contato com seus pais, o fim de


sua viagem sendo o tempo fora da escala, mochilando pela Europa
e sem comunicação por trinta dias, por isso não fazem de que sua
filha foi atropelada por um carro, muito menos que está em coma.

Foi um dia antes da véspera de Natal que o médico veio com


a notícia que estávamos esperando. Depois de seis longos e
torturantes dias, o risco de inchaço finalmente se foi, a dor que
esperavam ter diminuído, e estavam prontos para permitir que ela
acordasse.
Algo em mim se agitou, um segundo fôlego e uma ansiedade
que nunca conheci me acordaram. Em breve, eu conseguiria olhar
em seus olhos.

Poderia lhe dizer que sinto muito por ter ido embora, por
questionar seus sentimentos por mim.

Eu prometeria nunca mais fazer isso e confiaria que era o


suficiente para ela, quando sei, no fundo, que ela é mais do que
qualquer homem poderia merecer, especialmente um homem
simples como eu.

Não tenho uma família grande para amá-la e adorá-la. Não


tenho uma casa cheia de memórias para levá-la ou um caminho a
seguir para torná-lo nosso. Eu não tive o que ela teve enquanto
crescia, então já estou em desvantagem, mas tenho o amor de uma
mãe que me mostrou o que é ser homem, trabalho árduo e apreciar
as coisas que tenho.

Amar com tudo que é, e eu amo.

Eu a amo com tudo o que sou, tudo o que não sou e tudo o
que serei.

Deveria ter sido capaz de olhar em seus lindos olhos para lhe
contar tudo isso no dia de Natal, mas não consegui, porque Ari não
acordou. Eles disseram que poderíamos esperar que ela fizesse
isso depois das primeiras quarenta e oito horas.

Já se passaram quatro dias e a única mudança é o leve


desbotamento de seus hematomas.

O roxo profundo desvaneceu-se em um amarelo suave, e o


inchaço de seus lábios desapareceu, o beicinho perfeito agora um
familiar, uma nova e minúscula cicatriz logo abaixo de seu lábio
inferior.

Estendo a mão, guiando meu polegar ao longo do final de seu


cabelo, desejando poder correr meus dedos por ele como fiz tantas
vezes antes.

Com a ajuda de uma enfermeira, permitiram que Cameron


fizesse o que pudesse para lavar o cabelo de Ari à mão, e depois o
trançou para um lado, exatamente como Ari tinha feito no primeiro
dia em que saímos. E a cada seis horas, como um relógio, Cam
cobria os lábios com Chapstick 101 , uma coisa a menos que ela
precisava se recuperar, Cam dissera.

Ari não poderia pedir uma amiga melhor.

Mason não fala muito, apenas franze a testa para a TV no


canto, embora não esteja convencido de que ele esteja assistindo o
que está passando. Ele está perdendo a cabeça, e está prestes a
explodir em breve.

Todos nós estamos.

— Nada?

101
-Brilho labial.
Cameron ergue os olhos de sua pilha de contas, me
oferecendo um pequeno sorriso. — Não, Noah, nada aconteceu nos
dois segundos que levou para mijar.

Uma risada baixa me deixa, mas cai no chão enquanto


caminho para a cabeceira de Ari.

O telefone de Cameron apita e então ela se levanta. — Os


rapazes disseram que finalmente colocaram café fresco lá embaixo.
Farei Mason me comprar um. Você quer?

— Estou bem. Obrigado. — Gentilmente empurrando o cabelo


de Ari atrás da orelha, me inclino, dando um beijo suave em sua
testa antes de me sentar no meu lugar.

Não preciso olhar para cima para saber que Cameron hesita
na porta.

— Noah... — sussurra, preocupação em seu tom.

Eu apenas balanço minha cabeça, e na próxima respiração,


ela sai. E então somos só nós, uma raridade que egoisticamente
quero mais.

Deslizo minha mão sob sua mão sem vida, o movimento é um


gatilho para mim, mas necessário. Eu preciso tocá-la. Para segurá-
la.

— Julieta, querida, abra os olhos. É hora de acordar —


sussurro. — Abra esses olhos grandes e lindos e olhe para mim...
por favor, olhe para mim. — A última palavra mal sai da minha
boca, e de repente, sou tomado por todas as emoções que tentei
reprimir. Cerro os dentes ao ponto da dor, minha mandíbula
flexionando enquanto seguro a umidade crescendo em meus olhos
para não cair. Aqui não. Não onde ela possa sentir minha agonia,
do jeito que sempre sente.

Sentado ali sozinho com ela, imploro, imploro e rezo para que
algo aconteça, por qualquer coisa.

Virando sua mão, deixo cair minha cabeça na cama,


embalando meu rosto contra sua palma macia, e fico assim, minha
mente uma bagunça de memórias.

Eu não tenho certeza de quanto tempo se passou quando


uma mão cai no meu ombro, e olho para cima para encontrar
Cameron ao meu lado.

— Por que não vai para casa um pouco? — Seu sorriso é


suave.

Sento-me, limpando a garganta enquanto olho ao redor da


sala, os rapazes em seus lugares habituais.

Balançando a cabeça e passando as mãos pelo rosto, digo a


ela — Estou bem.

— Noah, você não saiu do hospital. — Mason se senta,


inclinando-se para frente para descansar os cotovelos nos joelhos.
Ele levanta uma única sobrancelha. — Você toma banho aqui,
dorme aqui, come aqui... quando come.

— Eu como quando estou com fome.

Ele acena com a cabeça, olhando para Chase enquanto se


levanta, seus olhos seguindo seu amigo quando vem a mim com
uma xícara de café.
— Não está mais fumegando e tem gosto de merda, mas está
quente o suficiente. — Chase o segura. — Parece que poderia usá-
lo.

Esta é a sua oferta de paz, assim como a pizza não comida na


noite passada e o sanduíche do café da manhã no dia anterior. Eu
não queria nada disso e não quero isto, mas não tem nada a ver
com quem está me dando. Meu estômago não aceita nada. Não
importa o que tente forçar para baixo, volta.

Estou em nós da minha mente aos meus pés, porra.

Ele provavelmente pensa que quero bater na sua cara e tudo


bem. Às vezes é exatamente isso que quero fazer, socá-lo bem no
queixo.

Ele e todas as outras coisas ao meu alcance.

Ele continua parado ali, então aceito a bebida em sua mão.

— Obrigado. — Tomo um pequeno gole, seguindo-o enquanto


ele volta para o assento perto da janela.

— Onde está Lancaster? — Pergunto a Mason, apenas


percebendo os tripés sem uma perna.

— Já deve estar a caminho. Ele teve uma sessão de treino


cedo.

Eu concordo. — Bom, isso é bom. Ele precisa manter sua


rotina. O treinador disse que há uma oferta para um pivô que eles
esperam conseguir para o próximo ano.
— Ouvi sobre isso. — Chase se senta. — Algum finalista do
ensino médio de Detroit. Deve ser uma fera.

— Ele é. Assisti ao seu filme.

— Não importa. — Mason dá de ombros. — As estatísticas de


Brady este ano foram loucas e ele só está melhorando. Ninguém
pode ler a linha como ele.

— Sim, ele é rápido com os ajustes. Com você liderando,


devem ir longe na próxima temporada. — No momento em que as
palavras saem da minha boca, gostaria de poder levá-las de volta,
sabendo que deixei-a bem aberta, e tudo o que temos é tempo para
passar, então eles manterão a conversa.

No segundo em que olho para baixo, Mason fala.

— Então você está pronto para o recrutamento, meu amigo?


— Mason pergunta com uma pitada de excitação, a primeira vez
que ouço falar dele em semanas. — Essa merda deve parecer
surreal, estar tão perto depois de anos de trabalho duro?

Aí está, o tópico exato que não quero discutir, especialmente


com promissores aspirantes que passei os últimos seis meses
liderando.

— Ainda faltam meses.

Eu não olho para cima; a resposta atrasada de Mason me diz


que ele está ficando curioso.
— Sim, mas você tem muito trabalho para isso. Merda, o
Senior Bowl 102 está a apenas algumas semanas de distância.
Provavelmente voará para fora...

— Eu não vou.

Cameron gira, do seu lugar no chão, me encarando, mas não


olho para cima.

Eu corro meus dedos sobre os de Ari, escovando o esmalte


lilás liso que Cam pintou para ela.

— Você quer dizer que não vai muito cedo para se


familiarizar... apenas esperando até o dia do jogo?

— Disse ao treinador Rogan para dar meu lugar a outra


pessoa. Eu não vou. — Viro a mão de Ari, deslizando meus dedos
ao longo de sua palma interna do jeito que a enfermeira sugeriu.
— Retirado do Pro Day103 também.

— Oh meu Deus — Cameron murmura, a voz de Mason quase


a interrompendo.

— Espere a porra de um minuto — estala.

102
-É um jogo de estrelas do futebol universitário pós-temporada jogado anualmente no início de
janeiro ou fevereiro, que mostra as melhores perspectivas do Draft da NFL daqueles jogadores que
concluíram a sua elegibilidade para a faculdade.

103
-Internacional Player Pathway Program Pro Day, onde jogadores do mundo todo de futebol
americano (os selecionados) fazem muitos testes físicos para serem classificados para o Draft, que
posteriormente serão distribuídos para as ligas da NFL.
Eu olho para cima. Mason olha, Cameron olha com os olhos
arregalados e Chase franze a testa para o chão.

— Você fez o quê? — Mason inclina a cabeça.

— Não. — Falo tão severamente quanto posso controlar. —


Já recebi merda de todos os treinadores na folha de pagamento, e
do resto da equipe, inclusive dos treinadores. Está feito. Fim da
história.

— Noah, cara. — Mason balança a cabeça furiosamente. —


Não faça isso. Você trabalhou duro para Avix e ganhou essa merda.
Sem mencionar todos os seus anos de ensino médio e bola juvenil.
Não deixe isso passar. Vai se arrepender.

— Arrependimento? — Não quero rir, mas é o que acontece.


— Arrependimento? — Digo inexpressivo.

— Noah, droga...

— Acha que dou a mínima para minha carreira no futebol


agora? — Minha voz sobe uma oitava com cada palavra, e libero a
mão de Ari para protegê-la da raiva que vibra através de mim. —
Você acha que pensei sobre isso desde que cheguei aqui? Desde
que ela está aqui? Porque não pensei, nem uma vez.

— Entendo que isso está fodido e que merda não é normal


agora, está bem. Não esqueça, porra, que é minha irmã deitada aí!
— Mason grita, apontando o dedo para Ari. — Mas não pense nem
por um maldito segundo que isso é o que ela gostaria que você
fizesse, porque não é. — Ele está bem a minha frente agora. Seu
olhar é afiado, mas seu rosto inteiro cai, assim como o tom de sua
voz. — Não é, cara. — Seus olhos suavizam um pouco, e sua voz
baixa. — Não é homem. Ela não iria querer isso para você.

Eu apenas o encaro por um minuto, balançando a cabeça


lentamente.

— Eu te escuto. Honestamente, escuto, e sei que está certo,


mas se há um momento para eu ser egoísta, é este. Porque apesar
do que ela ou qualquer outra pessoa possa pensar que é certo para
mim agora, não há nenhuma maneira neste mundo fodido em que
estamos vivendo atualmente que eu poderia sair naquele campo e
fazer uma maldita coisa enquanto minha razão para respirar está
deitada aqui. — Balanço minha cabeça ligeiramente. — Meu
arrependimento viria de deixá-la, não de ficar. Nunca poderia me
arrepender de estar onde estou agora. Isto é onde eu pertenço. É
aqui que estou hospedado. Nada muda isso e nada é mais
importante.

A mandíbula de Mason se flexiona, suas sobrancelhas se


curvam. Estende a mão, apertando meu ombro, e me dá uma
pequena sacudida. — É por isso, meu amigo, que ainda não chutei
sua bunda — diz com uma risada, fazendo o resto de nós se juntar
a nós.

O clima se acalma por um momento, e todos voltam ao que


estavam fazendo um momento antes, então respiro fundo,
engolindo alguns goles de café quente.

— Percebe que não importa se desistiu do Pro Day, certo? —


Chase diz, sem se preocupar em tirar os olhos da TV. — Você já
completou sua elegibilidade para a faculdade e já foi confirmado
como prospect. — Ele olha na minha direção. — O departamento
de conformidade já assinou com um grande movimento verde.
Você está nele.

Eu seguro seu olhar até que ele desvia o olhar, só então deixo
cair o meu no meu colo, forçado a considerar suas palavras. Ele
não está errado. Sei para o que me inscrevi, assim como sei quem
está interessado. Também sei que passarei todas as ofertas que
chegarem.

Levantando a mão de Ari, me inclino para frente e a levo à


minha boca, dando um pequeno beijo ao longo de seus dedos.
Meus olhos se fecham e os pressiono um pouco mais firme,
segurando sua mão com as minhas, falando contra sua pele sem
uma palavra sussurrada.

Imagino o seu polegar roçando o meu, e exatamente isso


acontece.

Meu corpo fica rígido, meus olhos se abrem. Não ouso me


mexer. Não ouso falar.

Seu polegar se contrai mais uma vez, e minha cabeça se


levanta. Eu me aproximo.

Os outros voam de seus assentos.

— O quê?! O que há de errado?!

— O que é?!

— Noah! — Mason estala.

— Ela... — balanço minha cabeça, sem tirar os olhos de seu


rosto. — Ela se mexeu. A sua mão, se mexeu.
Meus olhos voam de seu rosto para sua mão, para frente e
para trás, e seu pulso sacode em seguida.

As mãos de Cameron me apertam. — Oh meu Deus! Ela se


mexeu! Mason, ela se mexeu!

Minha cabeça se vira para olhar para os outros, mas meus


olhos esperam até o último segundo para se moverem na sua
direção.

Os olhos de Mason brilham, e olha de mim para ela. — Ela


está finalmente... acha que está... — engole, incapaz de dizer as
palavras em voz alta.

Eu abro minha boca, mas nada sai, então me viro, a liberto,


e chego até seu rosto em minhas mãos. Lentamente, acaricio suas
bochechas.

— Abra os olhos para mim, baby — suspiro enquanto Mason


agarra meu ombro com força para se apoiar. — Julieta, abra os
olhos.

Suas pálpebras começam a tremer, e a sala se enche de


pequenos suspiros. Meu batimento cardíaco dispara, meus
pulmões apertam, implorando para que ela os encha de esperança
mais uma vez. Com propósito.

— É isso — Cameron resmunga, lágrimas caindo de seus


olhos. — Ela está acordando. Ari, vamos garota, acorde, porra.

— Baby... vamos lá — sussurro, tentando ao máximo manter


minhas emoções sob controle, mas falhando.
Observo, esperando meu mundo começar a girar novamente,
enquanto minha garota abre os olhos muito lentamente.

Um meio riso, meio choro sai do meu peito e minha testa cai
em seu estômago. Meu corpo treme de alívio, e aperto meus olhos
para tentar me acalmar, mesmo que apenas por um segundo.

Ela pisca algumas vezes, seus olhos se arregalando enquanto


os move lentamente ao redor da sala.

Eles se fixam em Mason, e ela levanta o braço esquerdo. A


visão por si só tem meu sorriso se espalhando. Movimento de
ambos os lados.

Graças a Deus.

Mase se aproxima, segurando a sua mão e apertando.

— Ei pirralha. — Sua voz falha. — Você nos assustou pra


caralho, porra.

Isso arranca um pequeno sorriso dela, e todas as nossas


risadas abafadas seguem. Ela tenta se sentar um pouco, mas
estremece, suas mãos atirando em suas costelas.

— Tente não se mover muito — digo a ela suavemente.

Seus olhos piscam para os meus e seguram.

Só assim, meu corpo cheio de tensão relaxa. Cada parte de


mim se acomoda, o canto esquerdo da minha boca levantando
mais e mais até que não poderia sorrir mais. — Oi, Julieta.
Minha voz está tensa, e seu peito sobe, sua boca se abre, mas
então sua mão sobe para tocar seu pescoço.

Ela tenta limpar a garganta, estremecendo mais uma vez.

Há uma confusão na sala, mas ela não desvia o olhar até que
alguém está colocando um copo de água na sua frente. Ela olha, e
seus lábios se curvam nas bordas.

— Ei estranha. — Chase sorri de volta, passando o copo em


sua mão aberta.

No segundo em que ela toma um pequeno gole, Cameron está


lá para arrebatá-lo. A água se espalha pelo chão enquanto Cam
joga os braços em volta de Ari, tomando cuidado para não apertá-
la com muita força. — Não posso acreditar que finalmente acordou!
Você me assustou, sua vadia. — Ela ri através de suas lágrimas.

A risada baixa e rouca de Ari corre através de mim, me


acordando ainda mais. Cada nervo do meu corpo está disparando
para a vida, mal consigo ficar parado.

Ari respira fundo, deixando-a cair de costas no travesseiro


atrás dela.

Estendendo a mão, uso os nós dos dedos do meu dedo


indicador para empurrar o cabelo de seu rosto, e ela espia através
de seus cílios.

— Como está se sentindo, baby? — Pergunto, percebendo o


quão estúpida a pergunta pode ser, mas preciso saber. Preciso
ouvi-la falar. Eu preciso saber que ela está bem.
Ela hesita a princípio, um curioso puxão entre as
sobrancelhas, mas depois concorda. — Estou bem. Meu corpo dói
em todos os lugares e minha cabeça está começando a latejar, mas
acho que estou bem.

Engulo, cerrando os dentes para não assustá-la, mas sua


voz...

Porra, eu falhei. Eu senti a sua falta. Deus, eu a amo.

Eu não conseguia admitir isso antes, mas por um momento,


não tinha tanta certeza se algum dia teria a chance de contar a
ela.

— Espere. — Ela fica tensa, olhando ao redor novamente. —


Por que estou aqui? O que aconteceu?

Meus olhos encontram os de Mason por um momento, e então


me inclino para frente, chamando sua atenção. — Você foi para a
rua.

— Você me atropelou? — Ela agarra o cobertor, e o monitor


atrás dela começa a apitar loucamente.

— O quê? Não. — Balanço a cabeça freneticamente,


inclinando meu queixo para que ela olhe nos meus olhos. — Não,
baby. Um carro vinha na direção e não consegui chegar a tempo.
Eles não viram você antes que fosse tarde demais.

Ela relaxa visivelmente, mas sua respiração é curta e difícil,


e estremece novamente.

— Está tudo bem, irmãzinha — Mason rosna, estendendo a


mão e colocando a mão em seu tornozelo. — Você está bem agora.
— Que porra é essa? Minha garota acordou e ninguém me
ligou?! — Brady rasga a pequena bolha que formamos em torno de
Ari. — Isso é uma besteira, isso aí! — Ele sorri, inclinando-se para
colocar um beijo gigante em sua bochecha, e quero limpá-lo,
substituí-lo pelo meu. — Que bom que voltou, Ari Baby. Nosso
menino aqui se transformou em uma vagina a cada dia que
passava. — Ele olha para ela, humor sendo sua maneira de
trabalhar com suas preocupações. — Eu lhe disse que você só
precisava do seu sono de beleza, não é mesmo? — Brinca, batendo
com o punho no meu ombro.

— Engraçado, Lancaster. — Eu sorrio, sentando na minha


cadeira.

As sobrancelhas de Ari se juntam e ela ri. — Senti sua falta


também, Brady.

— O que é todo este barulho, cavalheiros? Disse a vocês,


bandidos, que não assistissem mais futebol nesta sala, se não
puderem... oh! Bem, oi querida! — A enfermeira Becky sorri, vendo
Ari acordada na cama. — Graças a Deus você acordou. Esses
homens são piores que crianças. Tão carentes. — Ela brinca com
uma piscadela.

— Não a deixe enganá-la, garota, ela nos ama. — Brady


assente.

A enfermeira Becky solta um suspiro brincalhão. — Sim, eu


sei.

Ela sorri e caminha até Ari, dando um tapinha gentil em sua


perna. — Sou Becky. Tive o prazer de ser sua enfermeira diurna
desde que chegou aqui, e devo dizer, é muito bom ver seus olhos,
querida. Eu vejo estas manchas douradas sobre as quais aquele
seu garoto estava sussurrando.

Eu abro minha boca, mas a fecho, rindo por ter sido pego.
Mason me cutuca com o joelho, sorrindo para si mesmo.

— Eu sei que você acabou de acordar, mas posso apostar que


está exausta e tem muitas perguntas. Deixe-me correr e chamar o
Dr. Brian.

— Obrigada — responde, o zumbido suave de seu tom


voltando mais e mais com cada palavra dita.

Eu aperto sua mão, e ela olha para o contato, seus olhos


voando para os meus como se só percebesse agora que estou
segurando-a.

Permito o momento em que ela pede sem palavras, sem dizer


nada enquanto me observa desde a leve barba crescendo ao longo
do meu queixo, desde a recusa em passar dez minutos extras me
barbeando quando sabia que ela estaria sentada nesta cama sem
mim, até a ruga das minhas roupas, retiradas de uma mochila
bagunçada que meu amigo deixou. Lentamente, seus olhos fazem
o seu caminho de volta para os meus e seguram.

— Oi, linda. — Inclino minha cabeça. — Eu senti falta destes


olhos de chocolate.

Eu sorrio mais quando um toque de rosa colore suas


bochechas, mas depois ela desvia o olhar. Lentamente, solta sua
mão da minha e começa a ajustar seu cobertor.

Algo se agita em minhas entranhas, e lambo meus lábios,


escorregando para a beirada da minha cadeira.
— Bem, olá. — Dr. Brian corre com um sorriso, lavando
rapidamente as mãos na pia do outro lado da sala.

À medida que ele avança, o grupo recua para lhe dar algum
espaço. Eu não me movo.

— Eu sou o Dr. Brian. — Ele inclina o queixo. — E você é?

Ela franze a testa. — Hum, Arianna Johnson.

— Sim, é. — Ele concorda. — Passou no teste.

Uma risada preocupada a deixa.

— Como a enfermeira Becky, aqui, estou cuidando de você


desde sua chegada. Vou lhe fazer algumas perguntas e depois
falaremos sobre seus ferimentos. Isso soa bem?

— Sim, senhor — murmura nervosamente, torcendo as mãos


no colo.

— Muito bem, bom. Presumo que não há problema em falar


agora? — Ele levanta as mãos, como se estivesse se referindo a
nós, e ela assente. — Bom. Vamos começar com uma fácil. Em
uma escala de um a dez, sendo dez o mais alto, como classificaria
sua dor?

— Cerca de oito.

— Bebezão. — Mason fala apenas para acalmá-la, limpando


a garganta enquanto as emoções tomam conta.

Funciona. Sua boca puxa, mas ela mantém sua atenção no


médico.
— Muito bem. — Ele concorda. — Onde está doendo mais?

— Minha cabeça está latejando mais do que qualquer outra


coisa. — A palma da mão achata logo abaixo do peito. — E meu
peito. É difícil respirar.

A sala fica rígida de preocupação enquanto ouvimos, e puxo


meus lábios.

— Isso é normal, considerando. — Ele junta as mãos,


deixando-as penduradas a sua frente. — Antes de ver seus
ferimentos, deixe-me perguntar. Arianna, está ciente do que
aconteceu? Como veio parar aqui?

Seu rosto se contorce um pouco e olha para Mason com olhos


suplicantes. Ele lhe dá um pequeno aceno de encorajamento, e ela
olha para o Dr. Brian.

Ela balança a cabeça. — Fui atingida por um carro?

— Sim, está certa. — O homem assente. — Você levou um


grande golpe. Suas pernas e braços ficaram praticamente ilesos,
mas seu ombro direito precisou ser recolocado de volta no lugar.
Sua costela inferior direita está fraturada, mas é muito pequena e
nada para se preocupar, mas a esquerda é onde está complicado.
Veja, duas de suas costelas superiores direitas estão quebradas.
— Ele se refere ao próprio corpo, para que ela possa visualizar,
assim explica — Quando isso aconteceu, você sofreu uma lesão
traumática na aorta. Sua aorta, a principal artéria do seu corpo,
foi rompida, causando um sangramento extenso. Felizmente, seu
corpo fez seu trabalho, e os tecidos circundantes permaneceram
enquanto precisávamos. Se seu pulmão tivesse sido perfurado,
talvez não estivéssemos aqui para ter essa conversa, mas não
iremos por esse caminho.

Ari acena com a cabeça, deixando-o saber que está seguindo,


e minha perna começa a pular incontrolavelmente quando ouço a
explicação do médico sobre o que aconteceu com minha garota
pela primeira vez.

— Você também sofreu uma fratura na base do crânio no lado


esquerdo do crânio, logo ao redor do olho esquerdo. Inicialmente
estávamos preocupados com o vazamento de líquido
cefalorraquidiano, mas depois de realizar alguns testes,
conseguimos descartar isso. Por causa disto, porém, foi colocada
em coma induzido nos primeiros dias para monitoramento, depois
disso, paramos a medicação e esperamos que acordasse por conta
própria, e agora, aqui estamos.

— Espere... — empurra para cima, seus olhos percorrendo


seu corpo. — Há quanto tempo estou aqui?

— Onze dias.

Seus olhos se arregalam, e ele levanta as mãos.

— Eu sei que é um pouco assustador e confuso, mas está


aqui, sua família esteve aqui o tempo todo e você ficará bem.

Seus ombros se erguem, mas ela balança a cabeça.

— Felizmente, todas as coisas difíceis estão feitas. O


tratamento conservador é tudo o que precisa. Vamos mantê-la o
mais confortável possível com o controle da dor, e também
podemos lhe dar algo para a náusea que provavelmente ainda
sentirá. Obviamente, vamos mantê-la por mais algum tempo para
monitorá-la, mas não deve demorar mais do que um ou dois dias.

— Tudo bem. — A voz de Ari é baixa e assustada, e só quero


alcançá-la. — Isso não soa muito ruim.

— Sim, você teve muita sorte. — Dr. Brian limpa a garganta,


sua expressão fica sombria e a enfermeira Becky olha para baixo,
ocupada com o arquivo de Ari.

Algo está errado. Eu posso sentir isso.

— Srta. Johnson, após o acidente, seu corpo entrou em


choque hipovolêmico devido à quantidade de sangue que perdeu.

— Está bem... — Ela espera.

Ele concorda. — Seus órgãos começaram a desligar como


resultado de seus ferimentos, foi necessária uma transfusão de
sangue…

Eu salto para os meus pés incapaz de ficar parado por mais


tempo. — Dr. Brian, com todo o respeito, já pode desabafar, porque
estou começando a enlouquecer aqui e sei que está chegando a
alguma coisa.

— Noah, vamos lá, cara — murmura Mason.

— Não. Teve um colapso total e isso... — aponto um dedo na


direção do Dr. Brian — ...não é o que nos disse. Você fez soar como
se ela tivesse batido a porra da cabeça! Eu não tinha ideia de que
todas aquelas outras merdas estavam acontecendo.
— Por favor, Noah — a enfermeira Becky tenta acalmar. —
Isso é muito para todos. Talvez agora não seja a hora?

Olho de volta para Ari, que está franzindo a testa em seu colo,
e instantaneamente me sinto um idiota. Eu aceno, abaixando na
cadeira mais uma vez.

— Sabe o que mais, na verdade... — Mason salta para cima


naquele momento. — Acho que devemos sair enquanto fala com
ela. — Sua voz diz nervosamente. — Sabe, dar a ela um pouco de
privacidade.

— Está fo...— Estou prestes a perder a cabeça quando minha


garota fala, me cortando.

— Não, não vá — implora, segurando seu olhar por alguns


segundos.

Finalmente, suas feições caem, a derrota se formando através


dele. Seus olhos se movem para mim antes de deixá-los cair no
chão, seus braços se dobrando ao redor da parte de trás de sua
cabeça.

— Dr. Brian — pede.

Ele acena com a cabeça. — Sra. Jonhson?

— Senhorita — corrijo automaticamente.

— Srta? — O doutor olha de mim para o seu arquivo. —


Becky? — Ele se vira para sua enfermeira em confusão.
Ela lança seu olhar para Mason. — Sr. Johnson? Você é ou
não é o marido de Arianna? — Pergunta a ele em um tom muito
maternal.

Os outros riem do seu erro, mas meu olhar o cortaria, se


possível, especialmente quando ele se recusa a levantar os olhos
do chão. — Não, senhora, eu sou o seu irmão gêmeo.

— Que porra está acontecendo? — Dou a volta na cama,


olhando para ele.

— Oh meu Deus — Becky sussurra, seus olhos deslizando


em minha direção. — Acho que assumi que a situação era um
pouco não convencional.

— Mason — digo.

— Noah, por favor. — Cameron agarra meu braço e se vira


para o médico. — É apenas um mal-entendido.

Eu franzo a testa, me virando para que meu corpo fique de


frente para o de Ari, o médico de pé à sua direita.

— Está bem. Por favor, diga o que precisa dizer — Ari pede.

— Sinto muito ter que lhe dizer isso, mas quando


percebemos, já era tarde demais...

— Tarde demais para quê? — Interrompe-o, a tensão


envolvendo-a enquanto ela agarra o cobertor em suas mãos.

— Sinto muito, Srta. Johnson, temo que tenha perdido o


bebê.
Noah
Estremeço, meus músculos se contraem quando uma
camada de gelo cai sobre mim, me imobilizando de dentro para
fora. Suspiros enchem a sala, e meu corpo fica pesado demais para
segurar, alguém ao meu lado agora, segurando o meu. Os lábios
do médico continuam a se mover, mas suas palavras não chegam
aos meus ouvidos.

Uma onda de náusea me atinge, e balanço.

Uma mão cai no meu ombro.

Confusão, mágoa, raiva, raiva, tristeza, perda.

Eu sinto tudo. Agonia, verdadeira e completa.

Não consigo respirar.

Bebê. Meu bebê.

Nosso bebezinho…

Perdido?
— Eu... o quê? — A voz do meu lindo anjo corta a névoa e
meus olhos levantam. — Estava grávida? — Seu sussurro me
quebrado corta, e minhas mãos se fecham em punhos.

Preciso de todas as minhas forças para me levantar, e mesmo


assim, alguém me ajuda a ficar de pé.

O médico diz outra coisa, e então ele se vai.

Engulo a bile que ameaça derramar da minha garganta. —


Sinto muito, Julieta. Ninguém me disse. Eu não sabia.

— Oh meu Deus — ela chora, lágrimas escorrendo pelo rosto


antes de enterrá-las em suas mãos.

— Baby — estalo, raiva e tristeza ardendo em meus olhos em


forma de lágrimas, e saio disso, caminho para a sua cabeceira.

Sua cabeça finalmente levanta, e meu coração se parte com


a visão.

Ela abre os olhos, mas não mudam meu caminho. Estende a


mão, mas não na minha direção.

E então sussurra, mas não é meu nome que ela sussurra.

Ela chama-o e todos os orifícios do meu corpo se apertam,


torcem e rasgam.

Ela o chama, e meu mundo pega fogo. Lava, lava pura, quente
e destruidora ferve dentro de mim, trazendo gotas de suor para
minha pele. Forço meus olhos para os dele.
Chase permanece enraizado no lugar, não se atrevendo a se
mover um centímetro, a sala inteira agora uma cela de silêncio.

— Chase — chama por ele. — Nós íamos ter um bebê?

Engasgo com o ar, minha pulsação acelerando.

— Oh merda — alguém sai correndo, e então um corpo está


a minha frente, braços me prendendo e então há outro.

Eu não percebo que estou lutando meu caminho para o idiota


de olhos arregalados do outro lado da sala até que haja um braço
em volta do meu pescoço por trás e outro as minhas costas pela
frente.

— Noah, não — Mason sussurra no meu ouvido. — Por favor,


agora não. Vamos... foda-se, apenas espere.

Cameron corre para o lado de Ari, envolvendo os braços em


volta dela.

— Noah, cara... — Chase balança a cabeça. — Não. Algo está


errado. — Olha para Mason. — Mason, juro. Eu... ela... — Ele
balança a cabeça novamente, espiando Ari pelo canto do olho.

— Foda-me — Brady resmunga baixinho.

E então bate, como um caminhão de dez toneladas descendo


uma ladeira reta.

— Hmmm. — Minha cabeça balança freneticamente


enquanto me liberto do aperto de Mason. — Não.

Eu corro para a sua cabeceira, caindo de joelhos ao seu lado.


— Não — repito em um sussurro, sem querer acreditar no
que está acontecendo.

— Olhe para mim. — Minhas palavras são uma demanda


suave.

A sala fica em silêncio, e quando seus ombros se curvam em


hesitação, minha pressão arterial aumenta, meu coração batendo
contra minha caixa torácica como um animal tentando escapar.

— Ari? — Cameron sussurra, mas ela não faz nenhum


movimento.

Gentilmente colocando meu dedo sob seu queixo, o tiro do


ombro de Cameron; trazendo seu olhar para o meu, procurando,
rezando para encontrar o que estou procurando.

— Julieta... — sussurro, então só ela pode ouvir.

Ela olha profundamente em meus olhos, lágrimas nos seus,


e seu corpo estremece quando uma palavra minha viaja por todo
o seu ser, do jeito que sempre faz. Do jeito que tem sido desde o
momento em que nos conhecemos, mesmo quando ela não
percebeu, mas vejo além da resposta que ela não pode controlar.

Vejo o brilho inseguro e curioso atrás de seus grandes olhos


castanhos, o que ela tinha todos aqueles meses atrás, antes de
deixar seu primeiro amor ir.

Antes que ela se abrisse para nós.

Antes que ela se tornasse minha.


Minha mão fica mole, caindo na minha coxa com um estalo
alto. Cameron chora ao seu lado, tendo acabado de perceber o que
já descobri.

Eu cambaleio para trás, caindo de bunda, rapidamente


rastejando de volta aos meus pés. Tropeçando em nada antes de
chegar à porta e tropeçar novamente no meu caminho.

Apresso-me para fora do quarto antes de me perder


completamente. Ouço-os enquanto gritam meu nome, mas não
paro. Eu continuo me movendo.

Longe do hospital.

Longe do lugar onde meu filho não nascido morreu.

Longe do homem que escondeu isso de mim.

Longe do bastardo apaixonado pela minha garota.

E longe da garota que eu amo... que não tem ideia de que me


ama de volta.
Arianna
O bipe repetitivo fica mais longo e mais alto, de forma
penetrante.

Fica cada vez mais rápido, criando um eco nítido no fundo da


minha mente, e então alguém está gritando.

Meu corpo está queimando, o calor me deixando enjoada, e


quando tento encher meus pulmões, sou negada.

Há um grito, e minhas bochechas estão cobertas de palmas


úmidas, mas não sei de quem.

Está tão embaçado.

O rosto, minha mente... minha vida.

Está tudo embaçado... mas então fecho meus olhos, e de


repente tudo fica claro.

A névoa se foi.

Eu consigo ver.
Meu estômago está inchado. Meu sorriso é largo.

Uma mão desliza em meu cabelo, grande e forte, mas gentil.


E então seus olhos se abrem, e uma calma se instala sobre mim.

Seus olhos, são o tom mais lindo de...

Vozes se insinuam e roubam o sonho.

— O que você deu a ela?

— É um sedativo. Precisamos diminuir a sua frequência


cardíaca.

O bipe está de volta, e então tudo fica preto.

Noah
Já faz algumas horas desde que saí do hospital, e nem cinco
minutos depois que minha bunda bateu no banco da minha
caminhonete, Mason ligou. E então ligou de novo e de novo, mas
não atendi.
Enquanto ele ligava, Brady criou um novo tópico de
mensagens no GroupMe, o aplicativo que o time de futebol usa para
bate-papos em grupo e compartilhamento de informações. Ele o
criou com um punhado de caras com quem deve assumir que eu
falo mais, Trey sendo um deles, perguntando se alguém me viu e
se não, onde acham que podem me encontrar. Alguns caras
mencionam lugares óbvios como a academia, o campo e minha
casa, mas as pessoas com quem moro no hospital sabem melhor
do que isso, e minutos depois disso, meu telefone começa a tocar
novamente. Tanto Mason quanto Brady tentam ligação após
ligação, mensagem após mensagem.

Eu deveria apreciar a preocupação deles e o fato de que dão


a mínima para onde estou e o que estou fazendo, mas minha mente
não pode conter nenhum outro pensamento agora, então desligo
minhas notificações, vou até a loja da esquina e dirijo alguns
quilômetros fora da cidade sem um destino em mente. A primeira
curva depois da placa de limites da cidade é onde paro, e enterro
minha caminhonete no meio de um pomar. Escondendo minhas
chaves no porta-luvas, deixo cair a tampa traseira e subo.

Não sou um bebedor, nunca fui, mas esta noite, beberei como
um profissional.

Um pouco de vodca da prateleira inferior é o licor de escolha.


É nojento, queima como uma cadela, mas não consegui me forçar
a caminhar em direção ao uísque, não quando não teria feito nada
além de imaginar me afogar em um certo par de olhos, então me
afogo em licor claro.

Eu bebo até a última gota, a necessidade de ficar bêbado.


Quero apagar, desligar total e completamente, porque se
minha garota não se lembra de nós, não quero me lembrar de
nada.

Nem mesmo a porra do meu próprio nome.

Pela primeira vez na minha vida, eu gostaria de ser outra


pessoa.

Eu gostaria de ser ele.


Arianna
Um flash de azul me acorda, e quando abro os olhos,
Cameron está lá.

— Ei, melhor amiga. — Boceja, a parte superior do corpo


dobrada na cadeira, a cabeça deitada nas minhas pernas. Ela
cruza os braços sob a bochecha e sorri. — Como está a cabeça?

— Pesada, mas não mais excruciante. Minhas costelas são


uma história totalmente diferente.

— Eu aposto.

Olhando ao redor da sala, vejo Mason caído sobre a cadeira


de canto, o resto do espaço livre.

— Brady e Chase foram para casa algumas horas atrás para


tomar banho e dormir um pouco. Mase não cedeu, é claro.

O canto da minha boca levanta, mas desvio o olhar quando a


umidade se acumula em meus olhos e nem sei por quê. — Que dia
é hoje?
Ela fica quieta um momento antes de sussurrar — Ainda é
vinte e nove de dezembro. Você só dormiu por algumas horas. —
Seu tom é grosso com preocupação.

Concordo com a cabeça, mas meus lábios começam a tremer,


e ela se senta, Mason rapidamente vindo para o meu lado. — Eu
sinto muito. Não sei por que isso continua acontecendo.

— Não se desculpe. Faz menos de vinte e quatro horas desde


que você acordou. Claro que vai se emocionar, nós entendemos, e
estamos felizes que esteja bem.

— Estou?

Mase estende a mão, mas balanço a cabeça, enxugando as


lágrimas antes que caiam. Meu peito dói com a minha inspiração
completa, mas sofro com isso, tentando afastar as milhões de
emoções que atordoam minha mente.

— Ari...

— Gostaria que mamãe e papai estivessem aqui. — Choro,


meus ombros tremendo, e Mason se mexe, sentando agora na
beirada ao meu lado na cama.

— Eu sei que queria. Eu também. — Abraça-me com ele, sua


voz embargada. — Já tentei de tudo, mas vão nos chamar assim
que voltarem para terra. Deve ser apenas mais dois dias, no
máximo.

Mais dois dias até que eu consiga ouvir a voz da minha mãe,
até que meu pai esteja aqui prometendo que tudo ficará bem e
implorar por instruções sobre o que pode fazer para melhorar.
Eu não sei o que pode ser feito melhor, se alguma coisa.

Tenho muito medo de pensar além do que sei, e


aparentemente, não sei nada. Nada recente, de qualquer maneira.

O médico disse que isso acontece mais do que as pessoas


imaginam, que a perda de memória, embora menos comum do que
não, não é anormal em lesões relacionadas à concussão. Disse que
assim que meu cérebro tiver tempo para se curar, as coisas
voltarão lentamente para mim, que estão esperançosos, e eu
deveria estar também. Quero estar, mas há esse desamparo que
não consigo me livrar, e acho que meu gêmeo sente isso.

Fungando, olho para cima, e ele enxuga minhas lágrimas com


as pontas dos polegares, tentando sorrir, mas nunca consegue se
libertar.

— Se você conseguir falar com eles, acho que não devemos


contar a eles até que estejam em casa. — Eu tento ocupar sua
mente com algo um pouco menos sobre mim. — Eles se
estressarão durante todo o caminho de volta.

— Estava pensando a mesma coisa. — Ele balança a cabeça,


esfregando os olhos como costumava fazer quando éramos
pequenos.

Estendo a mão, agarrando sua mão. — Vá para casa, Mase.

Sua cabeça balança na minha direção, e ele se senta ereto. —


O que, não, estou bem.

— Não, eu estou bem, prometo. — Quando é óbvio que ele não


concorda, acrescento — Além disso, quero tentar tomar um banho.
A enfermeira Becky disse que posso, com ajuda. Só tenho que
trabalhar em torno do meu IV104.

— Posso ajudar — argumenta.

— Mase, sua irmã ficará nua no chuveiro — Cameron brinca,


sabendo que ele não pensou nisso. — Apenas vá, fui para casa por
algumas horas ontem à noite, e ambos sabemos que Ari ficará
entediada de nos ouvir e pronta para desmaiar novamente em
outra hora de qualquer maneira. — Ela zomba.

Mason dá uma risada, ciente do que ela está fazendo, mas


está exausto e sabe que estou em boas mãos. Os riscos se foram,
então se há um momento perfeito para ele ir, é agora.

— Sim, tudo bem. Eu tenho algo para fazer de qualquer


maneira.

— Sim, como dormir.

Seu sorriso é pequeno enquanto pressiona os lábios no meu


cabelo. — Volto logo, está bem? Peça para Cam me ligar se precisar
de mim. Eu já volto.

— Eu sei e vou.

Ele pega algumas coisas da cadeira, e com um último olhar


para trás, sai.

104
Intravenosa.
Meus ombros caem instantaneamente, e quando me viro para
Cameron, seus olhos começam a lacrimejar.

— Vamos, melhor amiga — sussurra enquanto se levanta. —


Vamos te deixar toda fresca.

Levo vários minutos para me levantar, mas é mais rápido do


que no dia anterior, quando a enfermeira me pediu para atravessar
a sala e voltar. Tudo ainda dói, mas tenho alguns dos meus
movimentos para saber quais caminhos doem um pouco menos.

Cameron puxa minha bolsa intravenosa tão perto quanto ela,


permitindo o máximo de alongamento possível, e escorrego sob o
jato, Cameron a menos de um pé de mim o tempo todo.

Depois de lavar meu corpo o melhor que posso, aplico


suavemente xampu no meu cabelo, com cuidado para não tocar os
arranhões agora no lado esquerdo da minha cabeça, com medo de
arder.

Cameron enfia a cabeça para ajudar a espremer um pouco de


condicionador em minhas mãos, e no minuto que enfio as pontas
do dedo no meu cabelo, meus olhos decidem fechar, um estranho
lampejo de algo trazendo uma carranca ao meu rosto.

Eu me inclino contra a parede, levanto as pontas do meu


cabelo até o nariz e inalo novamente.

O sabonete, tem um cheiro quase pinho, eucalipto, mas


fresco, limpo e... familiar.

Um calor inesperado toma conta de mim, mas traz lágrimas


de confusão com ele, e de repente, estou ofegante por ar que não
sabia que estava me negando.
— Você está bem? — Cameron pergunta do outro lado da
cortina.

— Mm-hm. — Minha resposta de boca fechada me entrega.

Cam enfia a cabeça, uma sombra caindo sobre seus olhos


quando encontram os meus. — Ari…

— Pode, hum, ajudar a enxaguar com condicionador bem


rápido? — Pergunto, deixando-a saber que não quero falar sobre
isso, sem dizer. — Não aguento mais ficar aqui.

Ela empurra a cortina para trás com um aceno de cabeça,


imperturbável pela água espirrando por todo o seu moletom, e me
gira suavemente, agarrando meu cabelo em suas mãos. — Vamos
apenas lavar isso. Trouxe leave-in para você dias atrás, por
precaução, para que possamos trabalhar um pouco assim que
estiver sentada.

Eu aceno novamente, e ela começa a trabalhar. Enquanto


está desligando a água e me passando uma toalha, sussurro seu
nome.

— Cam?

— Honey bunny105.

105
-Doce coelhinha.
— Obrigada. — Eu não quero chorar. — Por isto. Por estar
aqui. Por todas as coisas que não consigo lembrar, mas tenho
certeza de que esteve lá nos últimos meses.

— Eu sempre estarei aqui, Ari, sabe disso. — Cameron funga


enquanto amarra meu vestido de volta no lugar, gentilmente
movendo meu cabelo para o lado. Desliza a minha frente, lágrimas
balançando em seus olhos. — Não importa o quê.

Aceno com a cabeça novamente, pisando em minha melhor


amiga, que me abraça com ela.

Não importa o quê, ela disse.

Essa é a parte assustadora de tudo isso, não é? A realidade


por trás de tudo.

Que isso poderia ser o começo. Como as coisas podem piorar.

Se for esse o caso, onde diabos isso me deixa?

Presa no passado... ou perdida no futuro?


Noah
O ar fresco da Califórnia me acorda, e com o frio vem uma
ressaca na qual não pensei. Não consigo nem rolar sem
estremecer, mas consigo me levantar e cambalear até a cabine da
minha caminhonete. Preciso de todas as minhas forças para
entrar, mas o chapinhar faz meu estômago revirar enquanto gotas
de suor se formam ao longo do meu couro cabeludo. Girando,
rapidamente inclino minha parte superior do corpo para fora da
porta, bem a tempo de não vomitar no meu colo.

Parece uma eternidade antes que meu estômago esteja vazio


do veneno que alimentei, e mesmo assim, uma dúzia de vômitos
secos se seguem. Bufando, tiro minha camisa do meu corpo,
usando-a para enxugar o suor do meu rosto e cabeça. Lavo minha
boca com metade da garrafa de água que deixei no banco, usando
a outra metade para forçar um pouco de Ibuprofeno – algo que
aprendi a manter à mão depois da minha primeira semana de
prática no meu primeiro ano na Avix.

Abaixando minha cabeça contra o encosto de cabeça, meus


olhos se fecham novamente, uma dor que nunca senti queimando
meus ossos, e não tem nada a ver com o tamborilar das minhas
têmporas.

Há um mês, minha vida parecia plena pela primeira vez,


implodindo com uma paz que nem sabia que existia. Doze dias
atrás, essa paz foi quebrada, completamente esmagada quando
minha menina foi levada de ambulância para lutar por sua vida, e
sem saber na época, a de nosso filho. E ontem à noite, ontem à
noite, meu coração foi destruído, pulverizado enquanto eu olhava
nos olhos da pessoa mais incrível que já conheci, olhos que me
olhavam como se eu fosse o prêmio, como se eu fosse a coisa mais
incrível do mundo, seu mundo, apenas para encontrá-los livres de
nós.

Assim, meu mundo desmoronou, e não sei se pode ser


reconstruído. E isso é foda demais.

Apertando meus olhos fechados, repito cada momento, desde


o primeiro sorriso até a última risada, e então faço de novo.

Devo desmaiar novamente depois disso, porque da próxima


vez que se abrem, é mais tarde. Não sei quanto, nunca olhei para
a hora, mas deve ter sido pelo menos algumas horas, pois meu
vômito está seco na sujeira e as batidas na minha cabeça
passaram de heavy metal para punks de dois tons.

Está batendo nas minhas têmporas, mas é suportável agora.

Levantando meu telefone do assento, verifico as chamadas e


mensagens perdidas, mas quando nem as das instalações da
minha mãe, nem o nome da minha garota estão entre as dezenas
em vermelho, o jogo.

Em vez de ir para casa, mergulho no que sobrou da minha


ajuda financeira do semestre passado e me instalo em um quarto
de hotel, onde fico os próximos dois dias, repetindo o anterior.

Não ajuda, a distância ou a distração. Toda vez que meus


olhos se abrem, a realidade me balança até o âmago.

Essa é a coisa sobre o álcool. É uma solução temporária, que


te deixa mais fodido do que antes. E acredite, estou fodido.
Minha mente, meu corpo. Meu futuro.

Aperto minha mandíbula, caindo para trás contra a parede


do chuveiro, segurando minha respiração enquanto a água rola no
meu rosto.

Que futuro?

Eu bato na parede e depois bato minha testa contra ela.

E então caio no chão.

Ouço os passos vindo antes que seu rosto apareça virando o


corredor, e estou quase humilhado o suficiente para me afastar.

Quase, mas não exatamente.

A última coisa que quero é que o cara com quem trabalhei


lado a lado durante toda a temporada, treinando-o para ser o
próximo líder da minha posição, me veja com a cabeça pendurada
em um quarto que cheira a bebida, quando o homem que ele sabe
que eu sou nunca esteve na sua frente bêbado, mas eu nem estou
de pé.

Estou sentado no chão de uma varanda de merda em um


hotel caro, minhas costas contra a parede.

— Como me achou?
— Apenas quatro hotéis a cinco minutos de carro do hospital,
sabia que encontraria sua caminhonete em um deles. — Ele está
com raiva, com razão. — Você precisa voltar para o hospital.

Suspirando, me arrasto para ficar de pé e me movo em


direção à beirada do corrimão. Cruzando meu braço sobre o metal
frio, me inclino para frente, olhando para o playground vazio. —
Acha que não quero estar lá? Que isso não está me matando? Que
não me sinto uma merda por sair e deixá-la lá? — Olho para ele
por cima do ombro. — Porque está.

— Não parece.

— Ela perguntou por mim?

— Ela precisa saber que precisa de você?

Porra.

Suas palavras são um insulto cortante embrulhado em vidro,


cortando tão profundamente quanto pretendia, porque não. Ela
não. Isso fazia parte da nossa beleza. A sua dor era minha como a
minha era dela. Nunca precisamos de palavras para saber que o
outro estava sofrendo... mas ela não se lembra disso.

Olho para frente. — Ela não se lembra de mim, Mason.

Ele não diz nada por tanto tempo, meio que espero que ele
tenha ido embora, mas quando me viro, ainda está parado no
mesmo lugar.

Seus lábios pressionam em uma linha firme. — Eu vi a


mensagem que ela lhe enviou; a daquela noite.
Meus olhos se estreitam, pequenas picadas puxando meus
ombros para cima. — Você leu nossas conversas particulares?

— Não. — Ele fica alto, sem remorso. — Não, mas teria se eu


sentisse que precisava. O que fiz foi levar o seu telefone quebrado
até a loja, comprar um novo para ela e mandar transferir tudo do
antigo. Tive que abri-lo para ter certeza de que funcionava antes
que o destruíssem. A sua mensagem para você foi a última coisa
que ela escreveu naquele telefone.

Meu peito aperta enquanto olho para ele.

— É por isso que voltou para casa naquela noite. — Ele se


aproxima. — Para vir buscá-la. Para lhe dizer que também a ama.
Certo? Você também a ama?

Rangendo os dentes, passo por ele. — Não terei essa conversa


com você.

Mason desliza a minha frente, sobrancelhas arqueadas. Está


com raiva, mas é mais do que isso. A incapacidade de proteger a
única pessoa que passou a vida protegendo o está consumindo.

Eu conheço o sentimento.

As duas únicas pessoas que já tive na minha vida não pude


proteger.

Mason balança a cabeça, admitindo — Não sei por que, mas


no fundo da minha mente, disse a mim mesmo que minha irmã se
importava com você, mas estar com você era sua maneira de fazer
o que podia para ser feliz enquanto secretamente segurava para
outra coisa.
— Quer dizer outra pessoa. Não há razão para não dizer o
nome dele. — Eu tiro sua mão de mim.

— Então sabe tudo o que aconteceu com ela e com ele?

— Por que acha que eu dei espaço a ela em primeiro lugar?


Por que acha que eu recuei? — Não lhe dou tempo para responder.
— Foi porque ele de repente percebeu o que estava perdendo e
sabia que tinha que pelo menos tentar. Ele levou meses, anos, na
verdade, para ver o que vi no minuto em que a conheci, e não posso
nem culpá-lo, porque a chance de cinquenta por cento vale o risco
de terminar com ela em seus braços.

A expressão de Mason se torce. — Mas ela escolheu você, sabe


disso, então por que diabos não está naquele hospital ao qual
pertence?

— Porque o destino interveio e mostrou suas cartas, e nem


estou no baralho, muito menos no fundo.

Sua mandíbula bate com raiva, e desvio o olhar.

— Faça um favor a nós dois e exclua nosso tópico de


mensagens antes de dar a ela o novo telefone.

— O quê, não. — Seu corpo puxa para trás. — Foda-se não.


Por que está agindo como se a merda tivesse acabado? Como se
tivesse acabado e a sua memória se foi e não voltasse mais?

Engulo, a possibilidade muito real para o estômago. — Talvez


seja.
— Não me faça nocauteá-lo, cara. — Olha, seus punhos
cerrados em seus lados. — Qual é o seu problema? Minha irmã
está perdida agora, e você desiste dela? Que tipo de merda...

Eu o pego pelo colarinho, suas costas batem contra a parede


atrás de nós em uma fração de segundo.

— Eu nunca desistirei dela. — Meu corpo treme. — Nunca.

— Então, o que diabos está fazendo se destruindo enquanto


ela mal consegue respirar? — Grita.

— Não sei! — Admito, os músculos do meu pescoço se


esticando. Eu me afasto dele, correndo minhas mãos em cima da
minha cabeça até que estou segurando meu cabelo. — Eu não sei
o que estou fazendo, cara. Não sei merda nenhuma. Estou com
medo de que, se eu entrar naquele quarto, possa fazer ou dizer
algo que só tornará isso mais difícil para ela, machucá-la mais, e
não poderia lidar com isso.

— Acha que eu não estou? — Rosna, e eu ergo meus olhos de


volta para os dele. — Confie em mim, estou, todos nós estamos,
mas ela precisa... não sei o que ela precisa, mas não sou eu. Não
é Cam ou os outros. Tem que ser você, cara. Tem que ser.

Balançando a cabeça, passo ao seu redor para dentro do


quarto, sua sombra seguindo. — Ela não se lembra de nós, Mason.

— Eu sei que...

— Sim? — Eu caio na beirada da cama, olhando para ele. —


Sabe dizer a uma mulher que pensa que só esteve com um homem,
que você é o pai da criança que ela perdeu?
Como se ele não tivesse parado para considerar esse lado das
coisas, o meu lado, o lado de merda e indefeso, seus músculos
ficam flácidos e ele cai na cadeira a minha frente. Mason deixa cair
a cabeça para trás, olhando para o teto em derrota, porque ele
entende agora. Sabe o que eu sei.

Que não pode.

Você. Simplesmente. Porra. Não pode.


Noah
Pouco mais de vinte minutos da minha sessão ao lado de sua
cama passa antes que seus olhos comecem a se abrir, e forço o
máximo de sorriso que posso reunir.

— Oi mãe.

— Querido, deveria ter me acordado. — Ela coloca a palma


da mão sobre a minha, e quando consegue me olhar melhor, seu
rosto cai. — Noah, não. Ari... ela não...

— Não, não, ela está bem. — Balanço minha cabeça, minha


voz rouca e grossa de exaustão.

— Noah?

Mordo o interior da minha bochecha, desviando o olhar


enquanto meus olhos começam a nublar.

Além de ser um menino, minha mãe só me viu chorar uma


vez, e esse foi o dia em que vim aqui para contar a ela sobre o
acidente de Ari.
Nos onze dias em que Ari estava fora, não saí do hospital, mas
quando o médico fazia sua ronda, pedindo para limparmos o
quarto enquanto ele e a enfermeira examinavam seus sinais vitais,
corria até aqui para ver minha mãe, algo que nunca poderia fazer
durante a temporada de futebol, e graças a Deus por aqueles
poucos minutos que fui forçado a me afastar da cabeceira da
minha baby. Se eu não tivesse esse pouco de tempo com minha
mãe, não tenho certeza do que teria feito.

Pode ter sido apenas por vinte ou mais minutos de cada vez,
menos nos dias em que ela mesma ficava muito ansiosa e me dizia
para voltar correndo para minha garota, mas era a única coisa que
me mantinha são, mas não me sinto mais são.

Minha mãe aperta minha mão, e deixo cair meu queixo no


meu peito, puxando uma respiração completa.

— Ela não se lembra de mim, mãe. — Olho para ela, seu rosto
embaçado pela bagunça que meus olhos ameaçam fazer. — Ela
acordou, mas acordou para um mundo do qual eu não fazia parte.

A inspiração trêmula da minha mãe me faz engolir, tentando


ser um soldado por sua causa, como sempre faz por mim, mas não
consigo encontrar uma gota de força interior dentro de mim, e o
olhar nos olhos da minha mãe diz que não precisa.

— Venha aqui, baby. — Puxa minha mão, e permito que meu


corpo caia contra o dela.

Sua mão esfrega ao longo das minhas costas, e odeio ter vindo
aqui assim, que a puxei para o meu pesadelo, mas ela não faria
isso de outra maneira.
Fecho os olhos, lembrando a mim mesmo que tenho sorte de
não estar sozinho na vida, que preciso ser grato pelas coisas que
tenho, mas minha mente revida, gritando para eu calar a boca.

Que estou sozinho. Que não tenho nada.

Porque o que será da minha vida sem Arianna Johnson?

Vazio, é isso.

Ari
— Acho que quero saber — admito, e o olhar ansioso de
Mason me encontra.

Ele contorna o médico, aproximando-se de Cameron do meu


lado oposto. Eles compartilham um olhar, ambos de frente para
mim.

— Ari — Mason agarra minha mão enquanto se senta na


cama ao meu lado, uma expressão rasgada esculpida em seu rosto.
— Tem certeza que é uma boa ideia? O médico acabou de dizer...
— Que poderia ser desencadeante ou traumático, sei, estava
ouvindo, mas como acha que é acordar e perceber que sua mente
está presa em julho? — A prova das minhas emoções malfeitas
aquece minhas bochechas, e o aperto de Mason fica mais forte. —
Preciso saber por que todo mundo está me olhando como se eu
nem fosse eu. Minha vida realmente mudou tanto em um
semestre?

Mason olha para baixo, seus olhos brilhando quando


finalmente chegam aos meus.

— Por que não fazemos uma pausa nisso um momento? —


Dr. Brian intervém. — E voltaremos a entender onde estamos. Isso
soa bem para você?

Mason espera até que eu acene.

— Muito bem, como disse, a última coisa que você lembra é


sair da praia, correto?

Uma ansiedade me puxa, mas limpo minha garganta. — Sim.


Passamos o final do verão em nossa casa de praia, mas saí um
pouco mais cedo do que o planejado. Lembro-me de sair, mas não
me lembro do caminho ou de voltar para minha casa.

— Você mencionou luzes brilhantes?

Fecho os olhos, pensando.

Era noite quando saí pela porta, a caminhonete do meu pai


esperando que eu entrasse para a viagem de volta para casa.
Atravessei a estrada e vi uma caminhonete estacionada alguns
metros adiante. Não tinha certeza, mas pensei que poderia ter sido
Chase. Antes que pudesse dar uma olhada melhor, os faróis
acenderam. Eu levantei meu braço, tentando ver além do brilho,
mas não ajudou.

O brilho me cegou. E então... escuridão.

— Isso, hum, eram faróis. Estava atravessando a rua e eles


se acenderam, brilharam bem nos meus olhos.

O médico acena com a cabeça, olhando para Mason quando


fala.

— Assim como naquela noite. — Ele franze a testa, olhando


para o médico. — É quase o mesmo. Ela estava atravessando a
rua, e então a caminhonete veio. Olhou, mas... — engole — ...era
tarde demais.

Meu batimento cardíaco dispara um pouco, e estremeço


enquanto tento respirar fundo.

Dr. Brian, dobra sua prancheta na sua frente, inclinando a


cabeça ligeiramente. — Arianna, aconteceu alguma coisa naquela
noite? A noite em que se lembra?

O pânico toma conta de mim, e enquanto não tenho certeza


se isso aparece, os monitores que estou ligada me entregam.

A postura de Mason endurece, e a palma de Cameron


encontra meu braço, com medo de que eu tenha outro ataque de
pânico.

— Ei, ei, acalme-se — Mase se apressa, e quando olho nos


olhos do meu irmão, encontrando seus olhos suaves nos meus,
respiro. — Eu já sei — ele diz baixinho.
Assentindo, seguro seu olhar. — Sabe?

— Sim, irmã, eu sei sobre você e Chase. Talvez nem todas as


coisinhas, provavelmente nem todas as coisinhas, mas conheço as
grandes coisas. Sei... — olha para o médico brevemente, engolindo
em seco enquanto traz sua atenção de volta para mim. — Sei que
ele te machucou, talvez até... partiu seu coração. — Suas
sobrancelhas puxam em uma carranca.

A vontade de gritar toma conta de mim, então esmago meus


lábios para o lado, porque seu tom é revelador, assim como a
tristeza em seus olhos.

— Mase…

Ele entende, balançando a cabeça enquanto a pendura.

Chase me machucou, partiu meu coração, e esta é a maneira


de Mason me dizer que seu melhor amigo não juntou as peças.
Apertando meus olhos fechados, aceno novamente, lágrimas
salgadas caindo nos cantos da minha boca.

— Arianna — o médico facilita. — É assim que se lembra


daquela noite?

Assentindo, me forço a olhar para ele. — Sim. Foi um dia


difícil. — Se colocá-lo levemente.

Balança a cabeça, virando algumas páginas e lendo algo no


meu arquivo. Ele a fecha e me encara mais uma vez.

— Muitas vezes, em casos de amnésia como esse, o cérebro


liga trauma a trauma, e acredito que é com isso que estamos
lidando aqui.
— Não entendo.

— É mais ou menos como expliquei a você sobre por que


tivemos que colocá-la em coma. Seus ferimentos lhe causaram
muita dor, e seu cérebro corria o risco de desligar por causa disso.
O que estamos enfrentando agora é a mesma ideia, mas
relacionada à memória. Você experimentou um trauma e seu
cérebro o conectou ao trauma passado, apagando o tempo
intermediário.

Minha garganta fica seca, minhas pernas formigando. — Não


acho que estou entendendo. Que trauma? Novo trauma?

O que poderia ter acontecido comigo que doeu como naquela


noite?

Era sobre o bebê? Eu já tinha perdido?

Minhas fungadas ficam mais agitadas, e não demora muito


para que meu peito comece a engasgar, o movimento criando uma
dor em toda a parte superior do meu corpo, me lembrando das
minhas feridas do lado de fora, mas não é nada comparado à dor
por dentro.

Eu ia ser mãe, algo que sempre sonhei, mas imaginei que


aconteceria mais tarde na vida. Era a única coisa que tinha
certeza, a única coisa que queria mais do que qualquer outra coisa,
e nem consigo me lembrar se eu sabia sobre a pequena bênção
antes de perdê-lo.

Uma boa mãe se lembraria disso não importa o quê. Não


lembraria?
Dr. Brian diz alguma coisa, mas não tenho ideia do que e
então ele sai.

Meus olhos se fecham.

Disseram-me que eu estava grávida de apenas sete semanas,


não o suficiente para saber o sexo... e não o suficiente para ter
engravidado durante o verão.

Isso significa que Chase não era o pai, isso é o que meu irmão
compartilhou. A menos que nos encontrássemos novamente e
ninguém soubesse?

Ele teria vindo até mim quando chorei, me abraçado e


chorado comigo se isso fosse verdade, não teria?

Meu corpo se contorce com soluços silenciosos, e quando


forço meus olhos para abrir, meu irmão encontra os meus.

Ele hesita um momento, e enrolo os dedos dos pés nas meias,


ansiosa. — Ari...

Ele é interrompido quando há uma batida suave contra a


parede.

Todas as nossas cabeças se dirigem para a porta, e meu


estômago cai com a visão.

Olhos azuis despedaçados piscam em minha mente, e minha


mão se contorce, lembrando da sensação daquela que segurou a
minha no dia em que meus olhos se abriram nesta sala.

Julieta, abra os olhos...


Minhas sobrancelhas caem enquanto olho para ele.

Cabelo escuro despenteado, olhos de um azul profundo e sem


profundidade.

É o cara que conheci neste verão. O cara da praia. Um amigo


do meu irmão.

Um amigo meu?

— Noah — não quero dizer em voz alta, mas escapa dos meus
lábios.

Meu irmão empurra ao meu lado, e uma exalação


entrecortada sai dos lábios de Noah. Meu estômago aperta, e sua
testa segue o exemplo.

— Fui atingida pela sua bola de futebol.

Ele engole. — Foi.

— Você veio para a fogueira.

— Não fiquei muito tempo.

— Eu sei, me lembro.

Ele lambe os lábios, dando um aceno rígido. — Eu tenho esse


efeito.

Uma pequena risada me escapa, mas a corto no segundo que


percebo, e algo suaviza em seu olhar. Como se fosse preciso
esforço, arregalou os olhos para longe. Ele olha para meu irmão,
mas apenas por um momento, antes que seu olhar volte para mim.
Há algo um pouco diferente sobre ele, mas não posso dizer o
quê.

— Eu, hum — começa, a rouquidão em seu tom


chacoalhando minha garganta. — Não posso ficar.

Mason fica de pé tão rápido que seus sapatos rangem no


chão, e uma estranha sensação de desconforto cresce atrás das
minhas costelas.

— Está bem.

Noah olha para o teto por um momento, e quando seu olhar


volta, está derrotado. — Encontrei algumas pessoas que ficará
muito feliz por ver — ele me diz.

Eu não tiro os olhos dele enquanto olha para trás, e depois


se move para o lado, outra pessoa entrando. Alívio me atravessa,
e meu rosto cai em minhas mãos, lágrimas cheias e pesadas
instantaneamente rasgando de mim, completamente dominadas
com a visão mais bem-vinda.

Soluço, meu corpo tremendo, e então braços fortes me


envolvem, me segurando perto. — Pai.

— Está tudo bem, menina. — Sua voz falha. — Está tudo


bem. Estou aqui. Sua mãe está aqui.

Mason funga ao meu lado, e então minha mãe está lá,


passando as mãos pelo meu cabelo. Caio em seu peito, e meu pai
nos abraça, mas não antes que minha atenção seja chamada do
outro lado da sala.

Para Noah.
Que ainda está olhando, e enquanto ele parece se aliviar
diante dos meus olhos, conta uma história diferente. Só que, antes
que tenha a chance de olhar mais longe, ele se foi.

Noah
Do lado de fora da porta, caio contra a parede, meus olhos
fechando enquanto respiro fundo pelas minhas narinas,
lentamente soprando o ar da minha boca.

Saí de novo, saí.

Olhei nos olhos da minha baby, vi aquele lampejo familiar


queimar dentro deles, e o observei desaparecer.

Novamente.

Levei tudo que eu tinha para não ir até ela, cair de joelhos ao
seu lado e beijá-la. Beijar o lugar que logo cresceria com nosso
filho se o mundo tivesse sido mais gentil.

Não é. Eu sei disso por experiência própria, mas daria


qualquer coisa para impedi-la de descobrir. Apalpando meu peito,
empurro a parede, mas não fico a meio metro dela antes que
passos surjam atrás de mim.

— Onde vai? — A voz de Mason me segue mais longe no


corredor. — Por que vir se você simplesmente sumirá de novo?

— Sua mãe me viu no estacionamento, me pediu para


acompanhá-la. Eu não poderia dizer não, mas talvez devesse.

— Por que estava no estacionamento?

Engulo. — Volte com sua família, Mason.

— Você volte com sua família!

Com isso, me viro, pronto para rasgá-lo, mas o sorriso em


seus lábios me afasta.

Claro, é apenas o tempo suficiente para isso, caindo no chão


no próximo segundo, e esse mesmo desamparo me corroendo, o
corrói. — Você é da família, Noah. No minuto em que ela decidiu
que você era, foi isso que se tornou. — Ele se aproxima. — Não vá
embora. Ela precisa de você.

— Ela nem me conhece.

— Você a ouviu; ela se lembra de tudo o que aconteceu


durante o verão. E tudo depois de seu último dia lá que é confuso
para ela, mas se lembra de você.

Eu balanço minha cabeça, um latejar pesado rastejando.

Porra, por que isso quase parece pior?


— Ela se lembra de um cara da praia com quem sentou e
conversou por um minuto, assim como se lembra de estar
apaixonada por outra pessoa naquele dia. A mesma pessoa que
sentou naquela cama de hospital e procurou quando todo o quarto
descobriu que ela estava gerando uma criança dentro dela e a
perdeu. Nosso filho, meu filho que ela pensa que era dele. Que ela
se sentou e lamentou com outro homem em mente, não eu. — Uma
sensação ardente de tormento se espalha por mim, e engulo. —
Não consegui confortar a mulher que amo após uma perda que
ninguém deveria ter que enfrentar, e nunca me perdoarei por isso.
Nunca.

Aflito, seu rosto se contrai. — Isso não era com você, Noah.

— Mas ficará comigo. Sempre. Apenas... volte para lá. Eu sei


que seu pai quer falar com você.

— Venha comigo, cara. O médico disse que ela ligou dois


eventos traumatizantes, e é por isso que sua mente pulou para
trás ou algo assim, então precisamos encontrar uma maneira de
ajudá-la a separá-los. Eu preciso de você lá para isso. Volte para
dentro.

As portas do elevador se abrem ao nosso lado, revelando


Brady e Chase.

Olhamos enquanto Brady sai, Chase logo atrás dele, um


buquê de flores em suas mãos. Uma corrente fria percorre minhas
veias, e meus músculos se contraem.

— Noah, que porra é essa, mano? — Brady se aproxima, mas


Mason levanta a mão e eles param.
— Meus pais estão lá, vão dizer oi — diz a eles, sem olhar
para eles, e com passos hesitantes, fazem o que diz, movendo-se
lentamente em direção ao quarto do hospital.

Com cada pé à frente, uma dor aguda atinge minha espinha.


Eles deslizam para dentro, e me afasto, incapaz de ficar ali e
assistir enquanto fazem a única coisa que eu gostaria de poder.

Ficar, porra com ela, perto dela. Qualquer coisa.

As portas do elevador se fecharam novamente e mal posso


esperar para que volte. Dirijo-me à escada.

— Eu disse a ela! — Mason grita antes que eu possa


desaparecer.

Meu corpo congela, e a porta de vaivém volta, quase me dando


um tapa na cara. A raiva ondula através de mim, e olho para ele
por cima do ombro. — O que quer dizer com, eu disse a ela?

Mason desvia o olhar e me aproximo dele.

— Mason. — Escorrego em seu espaço, prendendo-o no local.

— Ela sabe que o bebê não era dele.

Juro por Deus que algo racha dentro de mim. — Não mexa
comigo nisso.

— Por que eu deveria? — Pressiona de volta, mas suaviza


depois de alguns segundos. — Eu deixei esse ponto claro, mas não
expliquei mais nada.
Minhas mãos encontram meus quadris, minhas bochechas
se enchem de ar enquanto olho para longe. Mordendo minha
língua, enquanto luto para não desmoronar.

— Não sei o que fazer. Preciso que ela saiba que não está
sozinha — enfatiza.

Bolas se formam no meu estômago. — Ela não está. Nunca.

— Eu sei. — Seu tom é baixo, compreensivo. — Noah, ela é


obrigada a fazer perguntas, e por mais que eu odeie admitir, não
tenho certeza se tenho todas as respostas certas. Por favor, ajude-
a a lembrar.

Meu pulso gira, apertando meus tendões. — Se ela não fizer


isso?

— Então foda-se a lembrança.

Uma risada zombeteira me deixa, e um pequeno sorriso


desliza sobre seus lábios.

— Ela se apaixonou por você uma vez, certo? — Encolhe um


ombro. — Dê a ela a chance de fazer isso de novo.

Engolindo meus medos, faço a pergunta que tem me


assombrado. — E se ela não quiser?

Mason inclina a cabeça. — Venha agora. É de Ari que estamos


falando. Ela ainda é ela e você ainda é você. — Quando hesito
demais para ele, suas feições se contraem. — Noah, por favor.
Preciso saber que ela ficará bem, e do jeito que vejo, ela não pode
ficar se não estiver com você.
— Você não sabe disso.

— Eu apostaria nisso.

Se eu estivesse pensando direito, também apostaria.


Apostaria nela, em nós, mas o mundo continua encontrando
maneiras de me lembrar que a vida é dura e para cada bem, vem
um punhado de mal. Toda vez que penso que as coisas estão
mudando, que finalmente estou superando o pesadelo, um
deslizamento de rochas desaba e tenho que lutar para passar por
isso, mas desta vez, não posso fazer isso.

Estou à mercê de uma mente na qual não tenho mais lugar.

Meu suspiro vem em seguida, e olho para a porta em que


Chase e Brady desapareceram. — Ela nem gosta de flores.

Uma risada jorra dele, mas a tristeza dentro dela não é


perdida. — Sim, cara, eu sei. Isso seria culpa do meu pai.

Meus olhos se movem para os dele, o menor indício de calor


piscando no meu peito. — Sim?

Ele sorri, o homem sabendo que me tem, suas palavras


oferecendo um pouco mais da minha garota para mim, mas a
resposta “sim” vem do corredor.

Viramo-nos para encontrar o Sr. Johnson se aproximando.

Eu fico em linha reta e ele aperta o ombro de seu filho, de


frente para mim.

— As flores são bonitas, mas são mais bonitas na terra e não


morrem depois de uma semana. — Sua boca se curva em um
sorriso lateral. — Minhas meninas são mimadas com comida,
guloseimas e merda.

Meus lábios se contorcem, e Mason levanta uma sobrancelha


em vitória. — Por que acha que ela era toda sobre cozinhar
refeições com você? Você a estava conquistando quando nem sabia
disso.

Memórias da primeira vez que cozinhei para ela aparecem, e


desvio o olhar.

— É mais ou menos por isso que estou aqui. — Nós dois


olhamos para o Sr. Johnson. — Ela está faminta e não quer o que
eles trouxeram.

— Posso ir buscar um frango apimentado do Popeye's106? —


Mason já está tirando as chaves do bolso.

— Não, ela, uh, foi bem específica com o que está desejando.
— Seus olhos castanhos se movem para os meus, um pensamento
escondido dentro deles. — Sabe onde podemos encontrar uma pot
pie por aqui?

Meus músculos travam, uma faísca de algo me sacudindo por


dentro, o menor indício de escuridão se transformando em luz do
dia.

Incapaz de falar, aceno.

106
-Popeyes é uma cadeia multinacional americana de restaurantes de fast food de frango frito
fundada em 1972 em Nova Orleans, Louisiana.
— Então mostre o caminho, filho. — Ele inclina o queixo. —
Nossa garota está esperando.

Rezo a Deus, em algum lugar lá no fundo, que ela está.

E então me lembro que o homem que ela pensa que ama está
com ela agora, e qualquer lampejo de esperança que possa ter
sentido, se foi.
Arianna
Satisfeita, deixo cair minha cabeça para trás, feliz por ter
meus pais em casa. — Isto estava tão bom.

Meu pai pega o pote Tupperware e o joga em uma sacola na


bancada. — Sim, esse Noah com certeza sabe cozinhar.

— Noah Riley? — Olho para o meu pai. — Ele fez isso?

— Ah, sim, e direto do zero. Bem impressionante, se quer


saber. Por que acha que levamos três horas para voltar aqui?

— Não acho que fosse porque o quarterback do Avix U foi


destacado como chef, com certeza. — Suspiro, olhando para
Mason. — Oh meu Deus! Sua temporada? Como foi? Você jogou?

Mason ri, abre a boca, mas o interrompo antes que ele possa
falar.

— Espere, não me diga! Mudei de ideia — digo à minha


família, e todos os olhos deslizam em minha direção.
Assim que meu pai e Mason voltaram, pudemos chamar o Dr.
Brian de volta, e desta vez, ele foi acompanhado por um
especialista. Explicaram tudo que foi feito mais uma vez, para que
meus pais pudessem entender completamente e a forma como o
especialista explicou o que estou enfrentando me fez pensar nas
coisas de forma um pouco diferente, levando-me à minha decisão
final.

— Não quero que ninguém me conte sobre os últimos meses.

— Ari. — Mason balança a cabeça. — Há coisas que precisa


saber.

Subconscientemente, minha mão planta no meu estômago, e


aceno.

— Eu sei, e perguntarei algumas coisas, mas quero ter a


chance de fazer exatamente isso quando precisar. O médico disse
que os pensamentos de outra pessoa podem me confundir mais do
que já estou, e não quero arriscar isso. Quero lembrar sozinha.
Eles disseram que posso.

— Claro que pode, querida. — Minha mãe empurra meu


cabelo para trás. — Não há pressão. O que quer que decida,
estamos aqui.

— Sobre isso, estou liberada amanhã, e não... não quero ir


para casa.

Minha mãe olha de mim para meu pai, e Mason adivinha —


Casa de praia?
Aceno, olhando entre os três. — É o último lugar de que me
lembro e quero ficar mais perto. Eu também quero voltar para a
escola quando o semestre começar.

— Isso é a menos de um mês de distância.

— E o médico disse que eu poderia me lembrar de qualquer


dia. O acidente foi há quinze dias. Tudo deve voltar em breve.
Amanhã mesmo.

A sala fica em silêncio por um momento, e minha mãe oferece


um pequeno sorriso. — E se demorar um pouco mais?

Uma onda de náusea me atinge, mas me acalmo. — Eu ainda


quero voltar, especialmente naquela época. Estar no campus,
frequentar as mesmas áreas e as mesmas pessoas poderia ajudar.
Acabei no campus, certo?

— Claro que estava. — Mason limpa a garganta. — Eu acho


que tudo soa bem. Pedirei a Cameron que embale algumas coisas
para você hoje à noite, deixá-las prontas para amanhã.

A preocupação puxa as sobrancelhas do meu pai, mas ele


balança a cabeça, colocando a mão nas costas da minha mãe
enquanto ela se levanta.

— Eu e papai podemos ir às lojas, estocar a geladeira e outras


coisas. — Minha mãe assente, ansiosa. — Mas se acha que eu vou
para casa, está louca. Ficar em nosso condomínio na praia.

Estendo a mão, apertando sua mão. — Achei que diria isso.

Ela pisca, e então estão todos de pé, o horário de visitas quase


acabando, e agora que não sou mais crítica, as regras padrão se
aplicam. Honestamente, é um alívio e admitir isso me faz sentir
culpada, mas eles veem meus olhos pesados e me dizem para
descansar. Vem de um lugar de amor, mas se soubessem como
meu estômago se revira ao pensar no anoitecer, se preocupariam
até a morte.

Então, quando se despedem, coloco uma máscara de


conforto, mas no minuto em que se vão, ela desaparece, e a
ansiedade me paralisa. Em breve, todas as luzes estarão apagadas
e nenhuma conversa virá dos corredores. As enfermeiras não
gritaram de seus postos, mas falarão baixinho entre si.

O chão ficará em silêncio e a exaustão sangrará.

Odeio isso.

O mero pensamento de dormir é aterrorizante.

E se eu fechar os olhos e perder mais? E se eu fechar meus


olhos e eles nunca abrirem? E se eles abrirem e eu nem souber
quem sou?

Neste momento, ainda sou eu, só faltando algumas peças.

E se amanhã eu for uma estranha presa no corpo de Arianna


Johnson?

Jogando minha cabeça para trás, afasto as lágrimas com um


rosnado.

Uma leve batida me faz ficar de pé, surpresa quando é Noah


que encontro na porta, um saco plástico na mão.
— Casper107 está dando nos nervos de novo? — Seu tom é
tenso, mas caloroso.

Eu pisco para afastar a umidade. — Sim, está sendo um


idiota. Continua jogando água nos meus olhos. Estou meio
cansada disso.

Uma risada baixa o deixa, e ele acena com a cabeça, como se


entendesse o que quero dizer. Estou farta de chorar.

— Eu trouxe uma coisa para você. — Ele hesita na porta por


um momento, mas quando não digo nada, entra.

Ele me entrega a bolsa, e lentamente, estendo a mão para


pegá-la.

— O que é isso?

— Uma coisinha para passar a noite. — Ele se vira para a


porta, mas algo me faz gritar.

— Você não tem que sair... a menos que queira.

Ele não olha para trás a princípio, e quando o faz, há um peso


que se instala sobre o quarto. Ele não quer sair; posso sentir isso.

Como posso senti-lo?

107
-Gasparzinho, o fantasminha camarada.
Limpo minha garganta. — Pode esperar até que alguém venha
te expulsar? Não deve demorar muito.

Lentamente, ele acena com a cabeça, suas mãos deslizando


no bolso do moletom enquanto se aproxima, sentando ao meu
lado.

Ele me observa de perto enquanto enfio a mão na bolsa,


tirando um par de fones de ouvido e um iPod antigo.

O calor toma conta de mim e olho para ele. — Você me trouxe


música?

Seus olhos seguram os meus. — Pensei que talvez precisasse


se perder por um tempo.

Como sabe que eu não consigo dormir? Essa música vai


ajudar?

Como você sabe o que eu preciso?

— Obrigada — sussurro, e quando ligo a coisa e os fones de


ouvido, passo um para ele.

Noah mantém seu olhar no meu enquanto desliza em seu


ouvido, e caio de volta contra a cama. Aperto o play, e três acordes,
meus olhos se fecham, a história se desenrolando atrás deles.

Algo se instala dentro de mim, e minha respiração fica mais


profunda, mais completa.

— É tão bom ver aquele homem finalmente dormindo um


pouco.
Olho para cima para encontrar a enfermeira Becky entrando,
sem saber quanto tempo se passou, mas deve ter sido um tempo,
porque quando olho para Noah, vejo que ele está dormindo, com a
mão em cima do meu colchão, ao meu lado...

— Desculpe — sussurro. — Eu sei que o horário de visita


acabou.

— Tem o quarto inteiro para você; eles não vão incomodá-la.


— Ela acena com a mão, sua jaqueta pendurada em seu braço. —
Além disso, estou fora do horário, só queria aparecer e dizer adeus
caso não te veja amanhã antes de você ir.

— Obrigada por tudo que fez por mim.

— O prazer foi meu. Foi bom ver uma família tão amorosa, é
triste como isso é raro aqui. — Suspira, sorrindo enquanto olha
para Noah. — E aquele homem, ele não saiu do seu lado.

Meu estômago suga. — Não saiu?

Ela balança a cabeça, olhando para ele com uma noção


maternal. — O coitado só fechava os olhos por uma ou duas horas
por dia durante todo o tempo em que estava inconsciente, e menos
ainda nos últimos dois dias enquanto se escondia na sala de
espera no corredor. Se ele não estava naquele chuveiro, estava ali
naquela cadeira, tão inquieto quanto uma criança na véspera de
Natal.

Uma carranca se forma ao longo da minha testa.

— Parece que ele está dormindo bem. — Seus olhos vêm até
os meus, um brilho baixo dentro deles. — Eu vou antes de acordá-
lo.
Assentindo, aceno, mas assim que ela se vai, meus olhos se
deslocam para Noah, para sua mão, a um centímetro de encontrar
minha coxa coberta pelo cobertor.

Eu olho para ele por um momento, para seus dedos longos, e


a ligeira curva de seus dedos. Com a suavidade de sua pele e as
veias de seu antebraço enquanto sua manga sobe um pouco.

Olho para seu rosto, para os longos cílios encostados em suas


bochechas. Seu cabelo escuro aparece por baixo do capuz, e há
uma leve barba por fazer em sua mandíbula.

Seu peito sobe e desce com respirações profundas e cheias.

Coloco o fone de volta no ouvido, e antes que perceba, a


manhã vem com o assento ao meu lado vazio e uma batida na
porta.

Meus olhos se abrem, meu sorriso é instantâneo.

— Chase.

Noah
Um pouco mais de uma hora da minha sessão no banco da
calçada passa antes que a voz de Ari me alcance, tirando-me dos
meus pensamentos, e no momento em que viro a cabeça, ela
aparece, seus olhos instantaneamente encontrando os meus como
se eu dissesse seu nome.

— Noah. — A alegria em seu tom faz meu pulso pular, e não


posso evitar o pequeno sorriso que aparece.

Eu quero agarrá-la, abraçá-la. Quero segurá-la.

Em vez disso, fico sentada, juntando as mãos porque não


confio em mim mesmo para não estender a mão. — Julieta.

Seus olhos se estreitam um pouco, mas então ela ri, e


caramba, é tão bom ouvir isso. Ela se lembra do apelido que dei a
ela naquele primeiro dia.

— Sabe. — Ela inclina a cabeça. — Eles conversaram conosco


sobre o perigo de stalkers na orientação.

Meus nervos acendem; minhas palavras arrastadas. —


Falaram?

— Mm-hm — ela brinca. — E você sentado aqui é uma


tendência de perseguidor limítrofe.

Engulo. — E se eu disser que não estou aqui por você?

— Eu te chamaria de grande mentiroso.

Eu rio, a facilidade desta conversa se estabelecendo de uma


maneira que não posso explicar, mas um peso vem com isso,
porque enquanto eu estava sentado aqui esperando para vê-la sair,
ela deveria saber por que mais eu estaria aqui em um domingo
tarde. Ela veio comigo tantas vezes. Empurro o pensamento de
lado, e fico de pé, levantando o queixo, para que possa manter os
olhos nos meus. — Você estaria certa.

Seus lábios começam a se curvar, mas ela os puxa para


dentro, e então olha para trás, e o calor que se forma no meu peito
morre na hora.

Chase sai com um sorriso, mas no momento em que me vê,


cai por terra. Ele desvia o olhar por um momento, mas volta no
próximo. — E aí cara.

Culpa, está escrito em cima dele, como deveria estar. Meu


cérebro se recusa a me permitir responder, mas então Cameron e
Brady saem, e o rugido de um motor acelera atrás de mim. Mason
para na calçada.

Ele rapidamente salta para fora, e os outros colocam as malas


na parte de trás quando se aproxima, Ari ainda de pé na calçada
a um pé a minha frente.

— Liguei para você duas vezes ontem à noite. — Ele me


encara.

Meus olhos deslizam para os de Ari, e ela abaixa o queixo,


mordiscando o lábio, e os olhos de Mason se estreitam, curiosos.

Todo mundo sobe no Tahoe de Mason, mas os dois, e Ari olha


para mim, os círculos sob seus olhos um pouco mais claros hoje.

— Vamos passar o resto do intervalo na casa de praia — ela


me diz, e meu peito aperta.

— Oh sim?
Ela acena.

Vamos…

— Você... tem planos com sua família?

Você é minha família.

Eu balanço minha cabeça, meu pulso acelerando, uma


mistura de emoções fluindo através de mim.

— Oh. — Ela faz uma pausa.

Quase.

— São apenas nós cinco e temos um quarto extra se quiser


vir — diz, como se eu não estivesse lá. Isso me mata, mas não tanto
quanto a sugestão de incerteza em seu tom.

Em seus olhos, na forma como está.

Quero lavar tudo, lhe dizer que ela nunca precisa perguntar
onde eu quero estar, porque a resposta é, e sempre será, onde quer
que ela esteja.

Bem ao seu lado, mas não posso dizer isso.

Então mantenho isso simples. Eu guardo-o para nós.

— Sabe a resposta para isso.

— Eu? — Ela ri, mas não tem ideia do porquê, e pela primeira
vez, isso traz um sorriso ao meu rosto, porque enquanto ela não
se lembra, sua mente faz a conexão subconsciente. — Talvez eu
queira ouvir?

Com isso, um pequeno sorriso se constrói.

Claro que sim, baby.

— Sim, Julieta — digo a ela. — Eu adoraria ir.

Seus lábios se apertam em um sorriso, e ela dá um aceno


curto. — Então parece que será uma casa cheia.

Demora um segundo, mas ela dá um passo ao meu redor,


deslizando lentamente para o banco da frente, onde Mason tem
alguns travesseiros esperando por ela.

Ele caminha ao meu lado. — Que tipo de garota convidaria


“um cara da praia com quem se sentou e conversou por um
minuto” para dormir no seu corredor por duas semanas?

Meus pulmões se enchem, e me viro para ele.

— O tipo que lembra um tópico de sua orientação de caloura.

Suas sobrancelhas se juntam. — Isso... isso foi depois que ela


saiu para o verão. Semanas depois.

Um pequeno sorriso puxa meus lábios, e aceno. — Eu sei.

Com isso, vou em direção à minha caminhonete, deixando


Mason explicar por que não tive que correr para casa para pegar
algumas coisas antes de fazermos a curta viagem.

Já fiz as malas.
Noah
Dois dias se transformam em quatro, e quatro se
transformam em uma semana e ainda assim, a memória de Ari
não voltou. São vinte e dois dias no total, e a cada hora que passa,
meus dias ficam um pouco mais sombrios.

A memória subconsciente sobre orientação é o último e único


comentário que peguei que contém qualquer tipo de prova de que
suas memórias ainda estão lá em algum lugar. Até onde sei, é a
única vez que é referida antes, não que ela tenha percebido.
Novamente, até onde sei.

Uma garrafa de cerveja gelada aparece em minha visão, e olho


para cima para encontrar o Sr. Johnson.

Não querendo ser rude, pretendo aceitar, mas hesito um


momento demais e uma risada baixa o deixa.

— Sim, eu conheço esse rosto. — Ele se abaixa no assento ao


meu lado, toma um gole lento e coloca a segunda garrafa entre as
pernas. — Este é o rosto de um homem que se encontrou no
primeiro nome com o cara na loja de bebidas.
Minha boca se curva ligeiramente e olho para o deque de
madeira sob meus pés. — Seu nome era Darrel, e tem uma queda
por refrigerante de cereja.

Sr. Johnson dá um pequeno sorriso, mas não encontra seus


olhos. Suas feições suavizam e ele acena. — Acha que pode ser
honesto comigo? — Pergunta.

— Não tenho motivos para não ser, senhor.

Ele acena para mim. — Gosto dessa resposta, mas não


senhor. Não Sr. Johnson. Apenas Evan. — Abaixa o queixo e eu
aceno.

— Não mentirei para você, Evan. — Eu o olho nos olhos. —


Posso escolher não responder com base na pergunta, mas apenas
por boa intenção. Nada mais.

— Que tipo de pergunta você escolheria não responder?

Eu abro minha boca, mas ele ri.

— Só quero saber como você está, filho, como realmente está.

— Eu não tenho certeza — respondo honestamente. — Todas


as coisas consideradas, estou bem, mas todas as coisas
consideradas e uh…

— E é uma bagunça do caralho?

Meus olhos se movem em sua direção e ele sorri, arrancando


uma risada de mim.
— Sim, senhor. — Ele levanta uma sobrancelha e levanto as
palmas das mãos. — Desculpe, maldição de um atleta. Se não
fosse um professor meu, seria senhor ou treinador. Não é fácil de
quebrar.

— É um bom problema para se ter. — Ele concorda. — Sobre


toda aquela coisa de atleta.

Eu desvio o olhar. — Isso pode levar a uma daquelas


perguntas de “escolha não responder”.

— Porque não quer que eu diga para não se afastar dos seus
sonhos.

— Se é isso que quer me dizer agora, senhor, agradeço por


entender por que estou aqui e não em nenhum outro lugar.

Sua mandíbula aperta, e desvia o olhar com um aceno lento,


tentando proteger a umidade crescendo em seus olhos. — Evan,
filho. Não senhor. — Ele toma um longo gole de sua cerveja, e
quando olha para mim, acena com a cabeça novamente. — Como
você está? De verdade, Noah. Sei que sua mãe ainda está se
recuperando, tem seu último semestre chegando e o futebol está
no ar. E com tudo acontecendo com Ari, isso me preocupa por
você. É muita coisa para qualquer um lidar, mas no que diz
respeito à minha filha, imagino que sua posição seja a pior para se
estar preso.

— Não me sinto preso, senhor, ou Evan. Um pouco


desamparado, um pouco sobrecarregado, sim, mas não preso.

— Eu sei que é difícil, e não sei se necessariamente concordo


com a sua escolha de manter todas as nossas bocas fechadas
assim, mas agradeço que você tenha concordado com o que ela
pediu. — Zomba, balançando a cabeça. — Tenho certeza de que
teria trancado minha esposa em um quarto comigo e quebrado
todos os detalhes naquela primeira noite.

Minha risada é baixa. — Sim.

Adoraria nada mais do que fazer exatamente isso. Está em


minha mente o tempo todo, como começaria e o que exatamente
diria. Eu tive a conversa imaginária com ela uma centena de vezes
agora, mas no final de cada uma, lágrimas transbordam em seus
olhos, confusão nadando dentro deles enquanto olha para o
homem dizendo que o ama enquanto internamente jura que ama
outro.

Eu não vou machucá-la apenas para me ajudar.

Olho para o Sr. Johnson. — Morder minha língua nunca foi


muito difícil para mim, é apenas mais uma coisa que vem de ser
um atleta.

— Um atleta treinável de qualquer maneira.

Eu concordo. Como um atleta, treinável, como apontou, você


nem sempre gosta do que vê, ouve ou é solicitado a fazer, mas faz
isso de qualquer maneira por várias razões.

— Isso é muito diferente, Noah. — Fala o meu pensamento


exato em voz alta.

— Sim, é, mas não é a parte de “segurar as palavras” que é


difícil para mim.
A compreensão desenha suas feições e ele suspira. — Não,
filho, não imagino que seja.

Ambos os nossos olhares se erguem então, apontando para o


oceano, para a linha d'água, onde Ari está, seu cabelo esvoaçando
na frente de seu rosto, um largo sorriso espalhado em seus lábios
enquanto ri... de algo que Chase disse.

A tensão aumenta em meu esterno, e forço meus olhos para


os meus pés.

Sentar-me desta vez significa assistir em primeira mão


enquanto meu futuro fica mais confuso a cada dia, mas o que ela
quer é o que eu quero para ela, portanto, realmente, não há
nenhuma decisão a ser tomada da minha parte.

Estou aqui até que ela esteja pronta para mim, ou até que eu
seja forçado a deixar ir.

— Você ama minha garotinha. — Sr. Johnson fala baixo,


virando-se para mim.

— Eu não sou o único. — Meus lábios pressionam em uma


linha apertada, meus olhos levantando para a areia mais uma vez.
— Estou começando a me perguntar se algum dia terei a chance
de contar a ela.

Sua mão agarra meu ombro então, dando um pequeno


aperto. — Se começar a parecer que não vai, pode ter que
continuar e fazê-lo de qualquer maneira. — Seu queixo abaixa, e
consigo um aceno de cabeça.

Lentamente, ele se levanta. — É uma honra tê-lo aqui, filho.


— Obrigado, senhor.

Ele olha, e uma risada baixa escapa de mim.

Mason sai da casa, olhando entre nós dois, mas seu olhar é
rapidamente puxado para frente, para Chase e Ari. Uma carranca
profunda puxa sua testa.

O Sr. Johnson ri, dá um tapa em seu ombro e se vira para o


lado. — Estou descendo para pegar minha esposa para o almoço.
Vejo vocês meninos.

Ele sai, e os dois na praia caminham de volta por aqui,


parando não muito longe de nós agora.

Chase diz algo e a mão coberta de suéter de Ari vem para


cobrir sua risada, mas ainda ecoa em meus ouvidos.

Meus lábios se contorcem, meu corpo confuso pela felicidade


que sua risada traz, e a devastação sangrando através de mim por
não ser eu quem merecia.

— Porra. — Mason suspira e olhamos um para o outro. — O


que você está fazendo cara?

— Quero saber como mostrar a uma garota que desejou um


homem a vida toda que ela não o quer mais.

Mason estremece, seu olhar se aguçando cada vez mais


enquanto encara os dois. — Foda-se isso.

Ele dá um solavanco para frente, e me ponho de pé, pegando-


o pelo pulso, parando-o no lugar.
Seus olhos se estreitam em mim. — Noah.

— Eu preciso que me prometa uma coisa.

Suas sobrancelhas franzem. — Não.

— Mason, vamos. Por favor.

Irritado, ele planta seus pés. — O quê?

— Quando ele lhe disser que mudou de ideia, não interfira.

— Que porra é essa? — Joga de volta. — Está falando sério


agora?

— Sim, e eu sei que não quer machucá-la. Ficar maluco fará


exatamente isso.

— Não se trata de manter minha irmã longe do meu amigo.


Pode ter sido antes, mas agora é diferente. Trata-se de ela
recuperar a vida que perdeu. Você tem que conseguir isso.

— Confie em mim, eu sei, mas estou tentando fazer o que é


certo aqui. É isso que ela quer.

— O que ela quer é você.

— Mason.

— Ela te ama, mano! É isso mesmo, fim da porra da história!

— Mantenha sua voz baixa — eu o advirto, mas é tarde


demais.
Ari ouve os gritos de seu gêmeo, e com certeza, seus olhos são
puxados para cá.

Ela gagueja, colocando o cabelo atrás da orelha enquanto


puxa o canto do lábio inferior entre os dentes. Seu peito sobe com
uma respiração completa, e não desvia o olhar. Ela não se mexe
de jeito nenhum, mas seus olhos, não estão em Mason. Estão em
mim.

— Olhe para ela, Noah. — O sussurro de Mason é


desesperado. — Apenas... olhe para ela. Está escrito em cima dela
e ela nem sabe. Ela é sua, cara. Não a deixe perder o que sempre
quis e finalmente encontrou.

Um nó se forma na minha garganta, e engulo em seco. Não


faz nada para esconder a turbulência no meu tom. — Em sua
mente agora, ela ama-o, e deseja-o. Preciso que a deixe descobrir
por conta própria.

Frustrado, ele passa a mão pelo rosto. — Diga-me o porquê.

— Porque ela está perdida, você mesmo disse. Ela só tem o


que sabe, e o que sabe é... — engulo. — O que ela sabe é como ele
a faz sentir.

Nós dois ficamos quietos um momento antes de eu


acrescentar: — Ele é a única coisa que faz sentido para ela agora.

— Você sabe que isso é foda, certo? Que poderia sair pela
culatra? Se ele realmente a ama e ela dá a eles a chance que não
tiveram porque eu sou um bastardo, isso pode significar que vai
perdê-la. — Ele me encara totalmente. — Está preparado para
isso? Porque pode acontecer, porra.
As artérias ao redor do meu coração se apertam e fica um
pouco mais difícil respirar.

Ari sorri então, acena, e tudo dói pra caralho. Queima.


Limpando minha garganta, me afasto. Olho Mason nos olhos.

— Eu não estou pedindo para empurrá-la para ele. Só estou


pedindo que permita a ela a chance que você tirou, se ela decidir
que quer.

Mason balança a cabeça. — Este não é um cara da rua. Há


história, laços familiares. Amizade que dura anos. — Ele me olha.
— Chase é um bom homem, Noah.

— Se ele fosse, eu não estaria aqui.

Ele suspira, longo e alto. — Bem, mas, para que conste, esta
é uma má ideia, e pode aprender isso da maneira mais difícil. —
Com isso, ele desce as escadas, cortando à direita e desaparecendo
na praia.

Ari e Chase observam enquanto ele desaparece, e quando a


sua atenção se volta para mim, eu caio de volta no meu lugar.

Pressiono meus dedos nas órbitas dos meus olhos, esperando


que eu esteja fazendo a coisa certa, e desejando que houvesse uma
maneira de descobrir, mas como posso encontrar a resposta
quando nem sei a maldita pergunta?

A vida nunca foi simples para mim, mas isso está em outro
nível e não estou lidando bem com isso.

Eu quero minha garota de volta.


Quero o futuro com o qual ousei sonhar.

Eu a quero.
Noah
— Obrigado por vir conversar com Kalani — Nate, primo de
Ari, diz enquanto me leva para fora. — Imagino que a última coisa
em sua mente agora seja futebol, então significa muito que a
entreteve.

— Não quero que pense que não estou interessado em jogar


pelos Tomahawks 108 . — Eu me viro para encará-lo. — Estou,
ficaria honrado em fazer parte de qualquer equipe, especialmente
uma que queira que eu volte para minha posição original, mas
apenas…

— Não consegue pensar além da hora?

Eu concordo.

108
-Time de futebol americano da NFL.
— Ei, conheço a sensação, cara. Confie em mim. Meu mundo
quebrou por um minuto também antes de chegarmos onde
estamos agora. Não como o seu, mas...

— Não, não diga isso. Mágoa é mágoa, certo?

— Merda queima de qualquer maneira — concorda, me


oferecendo uma mão, então coloco minha palma na dele. — Você
virá ao churrasco no domingo?

— Estarei aqui. — Saúdo o homem e volto para a casa de


praia de Ari.

No caminho, Trey tenta ligar, fazendo desta sua quarta


tentativa de falar comigo desde que Ari acordou do coma, mas não
consigo responder, assim como não consegui responder às
mensagens de Paige ou de meus treinadores.

Não sei o que dizer a eles, ou a qualquer outra pessoa.


Imagino que tenham ouvido alguma coisa, mas não tenho certeza,
e não estou pronto para ter essa conversa com ninguém. Falar
sobre o que aconteceu só vai torná-lo mais real do que já é, e não
estou bem com isso.

Não demorou muito para eu chegar ao deque da casa de


praia, Brady e Cameron sentados no sofá jogando em seus
telefones. Quando chego ao topo, Cameron ergue os seus olhos,
com um sorriso nos lábios.

— O quê? — Meus passos lentos.


— Martha Stewart 109 chegou oficialmente. — Ela puxa as
pernas para cima, pegando uma batata frita da tigela no colo de
Brady. — Entra aí, Snoop Dogg110.

— Eu não estou seguindo…

Ela volta a olhar para sua tela. — Você irá.

Com um pequeno sorriso, balanço minha cabeça e entro.

Eu coloco um pé na porta, e instantaneamente, meus


sentidos são atacados, o aroma que poderia reconhecer em
qualquer lugar, e meus pés congelam, meus olhos percorrem a
sala.

O Sr. Johnson está sentado à mesa lendo uma revista de


esportes e Mason se inclina contra a ilha da cozinha.

E atrás dele, de frente para o fogão, está... Ari.

Ela está mexendo algo em uma panela, e se minha memória


não está me pregando peças, sei exatamente o que está provando
com cuidado extra.

A receita que eu compartilhei com ela. Feita com ela. A receita


da minha mãe.

109
-Apresentadora de televisão norte-americana.

110
-Rapper e ator americano.
Minha garganta entope, e lentamente, me aproximo, me
juntando a Mason contra o balcão.

— Mãe, você os encontrou?! — Ari grita, mergulhando o dedo


na colher para provar o molho fumegante.

— Não, querida, não há nenhum aqui atrás. — A Sra.


Johnson aparece no corredor, seu rosto se iluminando quando me
vê. — Noah, você está de volta. Como foi com Lolli?

— Tão selvagem quanto o esperado, tenho certeza. — Mason


me bate no cotovelo, e uma risada baixa me deixa.

— Ela é doce. Foi uma boa conversa.

Ari olha por cima do ombro e meu peito infla.

— O que uh, o que estava procurando? — Eu me pergunto,


tirando minha jaqueta e colocando-a sobre a cadeira. Empurro
minhas mangas para cima, cautelosamente caminhando ao redor
da ilha.

Faço uma pausa ao seu lado, e um sorriso nervoso surge em


seus lábios.

— Mãe estava procurando algumas pimentas — oferece


Mason.

Concordo com a cabeça, tentando manter minha respiração


estável porque acho que sei onde isso dará. — Tem algumas
jalapenos na geladeira.

— Você acha que isso ficaria bem? — Ari se pergunta,


olhando brevemente em minha direção.
— Talvez, mas de que tipo estava procurando?

— Pimentas esmagadas.

Eu propositadamente não digo uma palavra, e ela me olha. —


Sabe, como pimentas de pizza?

Eu luto contra um sorriso, meu pulso saltando. — Certo,


certo. Pimenta da pizza.

A mão de Ari congela no meio do movimento, sua cabeça


estalando na minha direção. Uma pequena carranca se forma em
sua testa, mas um pequeno sorriso desliza no próximo segundo.
— Espere! — Caminha até a gaveta lateral e vasculha, tirando
alguns pacotes de pimentas da pizza de Benito. Ela os segura em
triunfo. — Eu sabia que isso seria útil.

Ela volta, abre-os e despeja-os dentro.

Inclino meu cotovelo no balcão, de frente para ela. — Isso


deve dar um bom chute, hein?

Seu sorriso é largo. — Exatamente.

Seus olhos congelam nos meus e um nó se forma na minha


garganta.

Deus, ela é tão linda.

— Ah Merda! — Brady entra com um grito e dane-se se não


quebra o feitiço. — Temos extintores de incêndio, certo?

— E seguro residencial? — acrescenta Cameron.


— Há, há. — Ari balança a cabeça. — Eles juram que sou
inútil, Noah.

Deslizo um pouco mais perto, seu cotovelo roçando meu peito


enquanto se mexe, e seu peito sobe com uma inspiração completa.

Seus olhos se levantam para os meus, seus longos cílios


escuros se espalhando ao longo de suas maçãs do rosto.

— Parece que está indo muito bem. — Meu tom é um pouco


mais rouco do que eu gostaria, mas não me importo.

Ela pisca, um lampejo de algo piscando em seu rosto e então


inclina o queixo, aquela doce timidez que amo transparece.

Eu sinto sua falta.

Ela franze a testa, mas rapidamente a lava, sacudindo a


cabeça por cima do ombro. — Sim, estou indo muito bem. Talvez
não seja tão ruim, afinal. — Ela faz uma pausa. — Mãe.

— Ei. — A Sra. Johnson se inclina contra o marido, levando


uma caneca de café aos lábios para esconder um sorriso. — Eu
não disse isso.

A sala ri, e antes que eu desvie o olhar, o Sr. Johnson chama


minha atenção.

Ele pisca e volta para sua leitura.

Meus olhos não se afastam dela depois disso.

Ela está trabalhando com memória, uma que eu dei a ela, e


nem sabe disso.
Mason e eu estamos jogando futebol na rua quando Ari
tropeça para fora da casa, tropeçando nos sapatos de Mason.

— Merda, Mason! — Ela ri, pegando-se na cadeira perto da


porta.

— Foi mal! — Ele grita, olhando para trás quando o rugido do


Hummer de Nate se aproxima.

— Merda, diga a eles para esperarem. Esqueci meu telefone!


— Corre de volta para dentro, e nos viramos para encarar as
meninas.

As janelas estão abaixadas, a música está alta, e Lolli não


pisa no freio até estar bem na frente da casa, finalmente parando
bruscamente.

A prima de Payton e Lolli, Mia, sorri por trás, inclinando-se


para fora da janela.

— E aí, meninos?

— Não muito, jogando alguma coisa. — Aponto para Mason,


que se aproxima com uma carranca.

— Onde está o pequeno D? — Enfia a bola debaixo do braço.


Payton olha para ele, seus olhos brevemente passando pelos
meus. — Ari parece estar mantendo distância dele, então... — Seus
olhos se movem para os meus, e seus lábios pressionam em um
sorriso apertado. — Desculpe, Noah.

Uma dor aguda apunhala meu peito, e duplica, sabendo que


Ari está evitando ficar perto do filho de Payton, mas balanço minha
cabeça, não querendo fazê-la se sentir culpada quando não
deveria. — Está tudo bem.

— Eu não queria deixá-la desconfortável, então o deixei com


meu irmão.

— Eu poderia ter ajudado — argumenta Mason.

As bochechas de Payton ficam vermelhas. — Eu não


precisava da sua ajuda.

Mason se vira para mim, joga a bola e corre de volta para


casa.

Lolli se vira no banco da frente, levantando uma sobrancelha


para Payton.

Payton se ocupa em seu telefone.

— Desculpe, pronto. — Ari corre, o cabelo pingando molhado


e amarrado em um nó na cabeça.

— Dia das meninas? — Eu me pergunto.

— Sim. Deve ser divertido.


Eu sorrio, feliz em vê-la sair para um cenário fresco. Ela não
saiu muito de casa desde que chegamos aqui, a não ser para
descer e ficar perto da água.

— Estou aqui à força, caso esteja se perguntando. — Lolli


franze a testa.

— Cala a boca, Lolli. Vamos alimentá-la Patrono. Não se


preocupe — Mia brinca.

— Nós vamos para a cidade para ver algumas butiques —


Payton diz, sem olhar para cima. — Kenra ouviu falar da “gala” e
enlouqueceu.

Meus músculos travam, e é preciso esforço para abrir meus


lábios.

Olho para Ari. — Gala?

Ela sorri. — Sim, seu evento de equipe está chegando


extremamente rápido, então tenho que encontrar algo agora ou
estarei ferrada.

Meu estômago se agita, meus membros formigam. — Você...


— engulo.

Ela lembra? Eu devo parecer louco porque ela ri.

— No começo, não tinha certeza se estava pronta para isso,


apenas no caso, sabe? — Diz, e aceno ansiosamente, desesperado
para estender a mão e tirar o cabelo solto de seu rosto. — Mas
então decidi, dane-se, preciso de um pouco de diversão.

— Sim. Precisa. — Nós precisamos, baby.


— Então eu disse que iria. — Ela dá de ombros, abrindo a
porta do banco de trás.

— Disse que iria.

Disse que ela iria?

Um nó se forma na minha garganta. No meu intestino. Na


porra do meu peito.

Ari acena com a cabeça, uma ansiedade repentina puxando


seus ombros. — Hum... — Confusão nada em seus olhos e então
limpo minha garganta, tentando oferecer um sorriso em seu
benefício, mas não tenho certeza se consigo.

E então me viro, voltando para a casa, mas não entro.

Corro pelos fundos, meus ouvidos zunindo quando vozes me


alcançam do pátio.

Minha visão pulsa, borra dentro e fora de foco, mas só preciso


de uma visão clara.

Um tiro claro, porra. E tomo-a.

Eu me afasto, meu punho conectando com a mandíbula de


Chase.

Ele cai da cadeira, caindo no chão, e quando se levanta de


um salto, sua cabeça virando em minha direção, eu o agarro pela
camisa, empurrando-o para trás até que sua coluna bate na grade.

Prendo seus braços atrás das costas e levanto suas pernas


um pouco, ele meio que está pendurado na beirada do deque.
Pressiono meu antebraço contra seu peito, forçando-o a segurar
todo o meu peso na parte superior do corpo.

Ele geme, tentando se libertar, mas pressiono com mais força.

Ele grita de dor desta vez, e Brady aparece ao meu lado, uma
porta batendo atrás de nós e então Mason aparece.

— Noah, deixe-o ir.

Pressiono o intestino de Chase com meu cotovelo e enfio a


palma da minha mão em seu ombro. Eu poderia estourá-lo com
um pouco mais de força.

— Você vai quebrar o braço dele. — A mão de Brady se fecha


sobre meu pulso.

Meu estômago se revira. — Talvez ele mereça.

Meu corpo treme, meus dentes apertam, e me afasto dele,


mas não dou um passo atrás.

Chase é forçado a ficar a minha frente, bem a minha frente.

Sangue escorre de seu lábio e ele o enxuga com o polegar.

Meus ombros caem e balanço minha cabeça.

Um tipo retorcido de tormento queima dentro de mim; é uma


mistura de raiva e culpa, dificultando a respiração, porque aqui
estou com raiva do cara a minha frente quando fui eu quem o
colocou ali.
Eu fiz isso. Tentei fazer a coisa certa, deitei na maldita espada
porque era isso que ela pedia, era disso que ela precisava, e ser
tudo o que ela precisa é tudo que sempre quis. É tudo que sempre
vou querer.

Então, segui o seu exemplo, dei um passo para trás, e esse


filho da puta…

Ele deslizou para dentro, mas eu não entendo.

Balanço minha cabeça. — Por que você está fazendo isso?

Chase tem a audácia de estremecer e desvia o olhar.

— Mesmo? Você é homem o suficiente para fazer a jogada,


mas não é homem o suficiente para dizer isso em voz alta?

Sua cabeça se inclina para frente com isso e ele joga as mãos
para fora. — O que quer que eu diga, Noah?

— Eu quero que me diga por que não deveria te nocautear.


Por que não deveria ir até ela agora e lembrá-la exatamente do que
sua vida se tornou depois de você, porque era melhor. Ela estava
mais feliz. Era...

Amada. Apaixonada. Ela era minha.

— Eu só quero estar aqui para ela, Noah, e quero que ela


saiba que eu... que estou aqui se ela decidir que... — Ele se
interrompe.

— Como você será metade do homem que ela precisa, se não


consegue nem admitir o que quer em voz alta?
— Desculpe, mas não tenho que dizer nada para você.

— Não, apenas continue fingindo ser o cara que ela implorou


para você ser meses atrás e veja como isso funciona para você.

— Acha que não sei que eu estraguei tudo? — Grita. — Porque


sei, está bem. Sei, mas não posso ir embora agora. Durante meses,
procurei algum tipo de sinal de que o que fizemos estava certo, de
que o que somos está certo, e não posso ignorar o fato de que é
isso. Este é o sinal mais direto, se já vi um.

Uma risada sem humor me deixa, e tento engolir além do nó


no meu peito. — Um sinal. — Concordo. — Está sentado há meses,
anos até, esperando que alguém ou algo apareça e o convença de
que ela vale a pena?

Mais uma vez, desvia o olhar, mas me aproximo, chegando


em seu rosto, e finalmente, ele traz seus olhos de volta para os
meus.

— Eu sabia que aquela garota valia o mundo desde o


momento em que a conheci. — Pisco com força, querendo não
perder o controle enquanto olho nos olhos do idiota tentando
roubar meu mundo debaixo de mim.

A mão de Mason cai no meu ombro, mas me liberto, giro e


começo a me afastar, mas dou apenas um único passo.

— Ela me amou uma vez, Noah... poderia de novo. Talvez você


devesse começar a considerar isso.

Gelo se espalha pelo meu estômago.


Eu me viro tão rápido que me sinto enjoado, tonto, mas meus
dedos estalam em seu nariz, e a dor que isso cria é bem-vinda.

— Porra! — Chase toca seu rosto, sangue escorrendo por ele.

Mason abaixa a cabeça e Brady desvia o olhar, nenhum dos


dois diz uma palavra, porque realmente, o que podem dizer?

Isso demorou muito para acontecer, e eles sabem disso.

Precisando fugir, e rapidamente, subo os degraus de dois em


dois, me arrastando pela propriedade para que não possam mais
me ver.

Meu corpo está tremendo em punição cruel. Uma dor viscosa


subindo pela minha garganta, e vence.

Eu tropeço em direção à lata de lixo no canto, meu estômago


drenando para o saco de lixo preto, levando um pouco de
esperança que a noite passada trouxe com ele.

Talvez eu esteja cometendo um erro.

Talvez esta seja a maneira errada de fazer isso.

Talvez eu precise ir contra o que ela pediu.

Talvez eu devesse pendurar meu chapéu e ir embora.


Arianna
Descendo as escadas correndo, corro para a frente,
rapidamente entrando no carro da minha mãe.

— Desculpe. — Eu limpo a chuva da minha testa e aperto o


cinto. — Mia me prendeu em um pedestal por mais tempo do que
o esperado, tentando fazer meu vestido se encaixar direito.

— Quando é essa dança? — Ela puxa para a rua.

— Mãe. — Eu rio. — Não é o ensino médio. — Não é como o


baile. É basicamente uma cerimônia de premiação de final de
temporada.

— Está definido para uso formal e em um salão alugado pelo


que ouvi.

— Verdade. — Eu sorrio, olhando para ela. — De qualquer


forma, sim. É na próxima quarta-feira.

— Hm — minha mãe reflete, seus olhos se deslocando para


mim.
— O quê?

— Nada.

— Mãe... — Eu me viro no meu lugar, olhando para ela.

— Nada, querida. — Ela dá um tapinha na minha perna. —


Será em breve, é tudo, e as aulas começam na semana seguinte,
certo?

— Sim. O vigésimo sétimo é o primeiro dia de volta. Chase me


levará para ver meu dormitório alguns dias antes. É tão estranho
que não tenho ideia de como é, mas morei lá por um semestre
inteiro.

Entramos no estacionamento do hospital para meu


acompanhamento com o neurologista comportamental.
Estacionando em frente ao prédio, ela se vira para mim. — Você
tem passado muito tempo com Chase.

O calor sobe pelo meu pescoço, e dou de ombros.

Ela inclina a cabeça, uma ternura em seu olhar. — Como isso


vai?

— Está indo. — Uma risada baixa me deixa. — Estamos nos


divertindo. Compensando o que suponho ser tempo perdido. Está
constantemente me pedindo para ir com ele a lugares, mesmo que
seja na praia. No começo, isso me deixou ansiosa, mas agora é,
não sei... — paro, um pequeno redemoinho agitando meu
estômago.

— Excitante? — Sussurra.
Um sorriso curva meus lábios, e olho para ela, as rugas ao
redor de seus olhos se aprofundando, mas ela sorri através do que
a incomoda, sua mão saindo para tocar minha bochecha.

— É estranho, é como se ele fosse o mesmo Chase, mas não.


Só que não consigo descobrir o que mudou nele, mas sinto isso,
sabe? Algo está diferente. — É frustrante, às vezes, como se o
nevoeiro invisível não se dissipasse, mas o estresse constante
dificulta o funcionamento, quanto mais respirar, então tento me
manter ocupada para não ter que pensar além do momento.

Eu não digo isso a ela.

— Já se perguntou que talvez não seja ele quem mudou? —


Minha mãe sorri suavemente. — Que talvez seja você que está
diferente?

— Eu... — balanço minha cabeça. — Não estou diferente.


Perdi minhas memórias, mas ainda sou eu, e além disso, elas
voltam a qualquer momento. Esta noite talvez. Talvez depois desta
nomeação.

Meu pulso dispara, e enfio a ponta dos dedos no couro barato


do apoio de braço.

— Eu não quis dizer que seu acidente mudou você. — Ela


pega minha mão, desconforto em seu tom. — Ari, querida, você se
deu bem na Avix, e com certeza pode ter sido apenas um semestre,
mas aquele primeiro gosto de mudança foi bom para você.

— E em breve, me lembrarei de tudo isso. — Aceno, apertando


sua mão. — Eu deveria entrar antes que me atrase. Sei que
disseram que ninguém pode entrar na sala, mas você tem certeza
de que não quer vir até a sala de espera?

— Tudo bem — rosna. — Pegarei um café na estrada e


voltarei, ler enquanto espero por você. Estarei aqui quando sair.

Assentindo, saio do carro.

Quando saio, meus olhos são puxados para a esquerda, em


direção a um pequeno prédio ao lado do principal com o nome Tri-
City Rehabilitation Center, em letras grandes e em negrito
penduradas sobre as portas duplas.

A pressão cai sobre meu peito enquanto olho para as janelas


escuras.

— Você está bem? — A voz da minha mãe me liberta da


cabeça e forço um sorriso.

— Sim. Eu te vejo daqui a pouco.

Entro no prédio, e embora pareça horas de espera; na


realidade, são apenas alguns minutos e depois estou sentada em
um sofá de veludo, o homem que se juntou ao Dr. Brian para
explicar o que pode ter acontecido comigo sentado atrás da mesa
diante de mim.

Ele sorri e sento em minhas mãos, um pouco ansiosa de


repente.

— É bom vê-la de novo, Arianna. Está parecendo muito mais


saudável.
— Sim, posso me mover sem sentir que estou sendo
esfaqueada agora.

Ele ri, cruzando uma perna, e faço o mesmo. — Então, li tudo


de novo e...

— Desculpe, não quero ser rude, Dr. Stacia, mas não


podemos fazer nenhuma das coisas básicas de preparação?

O homem oferece um pequeno sorriso e se senta para a


frente. — Por que não vai em frente e me diz o que está em sua
mente, e podemos ir a partir daí? Isso soa bem?

Eu aceno, me esticando além da tensão no meu peito.

— Eu não me lembro de nada — deixo escapar. — Já faz um


mês e nada. É como se eu acordasse e houvesse uma camada de
neblina sobre meus olhos, mas posso ver muito bem. Minha mente
está constantemente funcionando, mas apenas com metade dos
pensamentos. Olho para alguma coisa e perco o fôlego, mas não
sei por quê. Ouço uma música triste e choro, mas para quê? Sinto
cheiros familiares que nem são familiares, se isso faz sentido, e é
como se minha garganta inchasse e não pudesse respirar. Quase
como se tudo estivesse na ponta da minha língua, na ponta dos
meus dedos, mas quando me aproximo para pegá-lo, não há nada
para segurar.

— Há esse... este sentimento que continuo tendo. — Lágrimas


surgem em meus olhos agora. — É como uma sensação
avassaladora de urgência, exigindo minha atenção, quase como
uma necessidade ou consciência. Continua gritando que estou
perdendo alguma coisa, algo grande. Algo que faz parte de mim,
mas não sei o que é. É fisicamente doloroso, como sob os ossos,
onde não posso tocá-lo, não posso encontrá-lo, mas é pesado, e o
desespero que recai sobre mim quando isso acontece é debilitante.

— É tão frequente que agora estou evitando as coisas que sei,


e tenho medo de não poder fazer isso em breve e enlouquecer. Eu
sinto que fui jogada no meio do oceano e se me deitar e tentar
flutuar, tentar lembrar, me afogarei, então continuo nadando. Eu
me mantenho ocupada, mas ultimamente, estou correndo no
vazio. Minha família tem sido incrível, mas é porque sorrio o tempo
todo e não sei por quanto tempo mais posso fazer isso.

Eu respiro, olhando para o Dr. Stacia.

O homem acena com a cabeça, considera tudo o que eu disse,


e quando começa a falar, dividindo o que eu expressei e
relacionando com a minha situação de uma forma que
medicamente faça sentido para ele, um peso recai sobre mim.

Eu quero gritar, chorar. Quero fugir, mas em vez disso, faço


o que tenho feito nas últimas semanas.

Afasto-o, enterro-o com um sorriso, e quando se levanta de


seu assento, me oferecendo a mão, eu a aperto, andando de um
lado para o outro enquanto saio pela porta, desejando nunca ter
passado por ela.

Como prometido, minha mãe está esperando do lado de fora


do prédio, e quando entro no banco da frente, sem dizer uma
palavra, minha mãe lê no meu rosto. Suas lágrimas são tão
instantâneas quanto as minhas, e quando me viro, ela olha para
frente.
Eu me desligo, e a próxima coisa que sei, estamos parando
na casa de praia, a caminhonete do meu pai estacionada atrás de
Chase na garagem.

Quando não saio, minha mãe pergunta — Quer voltar para o


nosso condomínio?

Balançando a cabeça, mordo o interior da minha bochecha e


pulo para fora. Entro, meus movimentos espasmódicos, olhos
lacrimejantes e bochechas vermelhas.

Todo mundo está sentado na sala assistindo TV, mas no


momento em que põem os olhos em mim, é pausado.

Os olhos do meu pai voam para a minha mãe, e Mason franze


a testa, inclinando-se para frente.

Chase se levanta, vem em minha direção, mas levanto


minhas mãos, jogo minha bolsa no chão e continuo andando.

Eu preciso... preciso...

Que porra você precisa, Ari? Porra!

Saio pela porta dos fundos e corro para a praia em segundos.

O vento chicoteia meu rosto, queimando minha pele, mas não


me importo. Eu continuo correndo.

Cerca de um quilômetro abaixo da praia, minha garganta


incha, minhas lágrimas me sufocando, e rosno, limpando-as com
movimentos raivosos.
Paro e algo me faz girar, olhando para frente, e é quando o
vejo.

Noah.

Meus ombros caem, e como se eu dissesse seu nome em voz


alta, ele se vira, me avistando em um instante.

Ele franze a testa, agarra a borda do cais sobre as quais suas


pernas estão penduradas, mas não se move quando algo me diz
que quer. Antes que eu perceba, estou a um metro e meio dele, e
ele está olhando para mim.

— Não estou com vontade de falar agora. — Não sei por que
digo isso quando sou eu quem se aproxima, mas é isso que sai.

Noah acena com a cabeça, suas sobrancelhas quase se


tocando no meio. — Falar é superestimado.

Uma risada me escapa, e fungo, pegando a pequena


contração de seus lábios.

Dobrando os dedos dos pés nos sapatos, estendo a mão. —


Nós poderíamos... não conversar juntos?

Sua língua sai, correndo pelos lábios, e um peso se instala


sobre mim enquanto espero por sua resposta, mas não tenho
certeza do porquê, porque quando ele acena com a cabeça
novamente, é como se eu soubesse qual seria sua resposta antes
que ele fizesse isto.

Algo me diz que sim.


Noah
Ari olha para mim, um pequeno sorriso nos lábios, a mão
estendida e os olhos avermelhados. Sabia no segundo em que a vi,
que ela estava chateada, que estava chorando, mas também sabia
que ela não estaria com vontade de compartilhar. Ela precisa de
tempo para si mesma para processar seus pensamentos, assim
como eu.

Então, pego sua mão estendida.

No momento em que minha palma toca a dela, é como se uma


agulha picasse nossa pele, e ela se estremece com o pequeno
choque.

Uma risada escapa dela, e não posso deixar de sorrir


enquanto me levanto de um salto.

Uma vez de pé, me viro, então meu corpo está voltado para a
mesma direção que o dela, e desta vez, ofereço minha mão a ela. É
com um sorriso tímido que ela agarra.

Sua cabeça inclina um pouco para trás, para que possa me


ver completamente, e lentamente, muito lentamente, uma
suavidade recai sobre ela. Seus olhos percorrem meu rosto, seus
dedos se contorcendo nos meus, e antes que perceba, antes que
fique ansiosa e se afaste em confusão, como fez todas as outras
vezes que se permitiu estar perto de mim, aceno.

— Vamos para aquele “não falar” então, hein?

Ari sorri e nos conduz pelo longo cais, mas em vez de


caminhar até o final, onde a madeira encontra a areia, ela nos vira
no meio do caminho.

Saltamos para o lado, o chão a menos de um metro de nós.


No segundo em que tocamos a areia, ela olha para mim e o brilho
em seus olhos castanhos faz meus músculos flexionarem.

Eu rapidamente a solto, enterrando minha mão no bolso do


meu moletom, e ela faz o mesmo.

Com nada além do som do oceano ao nosso redor, ela nos


leva mais adiante na costa, até uma rampa para barcos a cerca de
um quilômetro e meio de distância.

Ela se curva e começa a desamarrar um pedalinho para duas


pessoas.

— Devo ficar atento?

Por cima do ombro, ela me lança um sorriso, e quero cair de


joelhos ao seu lado.

— É de Lolli, ela não se importará.

Eu aceno, me aproximando quando ela começa a subir, mas


não precisa da minha ajuda. Ela já fez isso um milhão de vezes.
Eu pulo ao seu lado, e lá vamos nós, remando para o mar
aberto, mas ficando perto da terra.

Não é por uma hora, e depois da nossa segunda vez passando


por sua casa de praia que ela para de pedalar e deixa sua bunda
cair no chão, as pernas jogadas por cima, a cabeça inclinada para
trás no assento.

Ela olha para o céu nublado, e me junto a ela.

— Você já desejou poder ir a um novo lugar e assumir uma


vida totalmente diferente? Tipo, dizer a todos que seu nome é John
e é um carpinteiro sem família e se mudou por capricho?

— Não.

Sua cabeça vira na minha direção com a minha resposta


rápida e plana à sua ideia de desejo.

— Eu diria a todos que meu nome é McLovin.

Ela ri, seu corpo tremendo, e quando olha de volta para o céu,
é com um suspiro. — Eu adoro este filme111.

Eu sei.

Uma tristeza recai sobre ela e espero.

111
-Filme Superbad – É hoje.
Leva um minuto, mas então ela fecha os olhos, e quando se
abrem de novo, se concentram no esmalte amarelo que está
tirando do polegar.

— Eu tive uma consulta médica hoje, sabe, para me checar


depois do acidente.

Eu sabia disso. É por isso que vim aqui em primeiro lugar,


para o único lugar onde podia sentir que estava perto dela, mesmo
quando não estava.

Deveria estar lá com ela, sentado na sala de espera, para


poder pegar sua mão e segurá-la quando saísse, celebrando o bem
ou confortando o mal. Um nó se forma na boca do meu estômago.

— Eles, hum, acham que estou bloqueando as memórias,


disseram que às vezes as pessoas que estão… severamente
deprimidas fazem isso. — Lágrimas se acumulam em seus olhos,
e ela balança a cabeça. — Como saberei se esse é o problema
quando não consigo me lembrar se estava deprimida em primeiro
lugar?

Eu luto para não deixar escapar a respiração estremecida


alojada em meu peito, a dor em seu tom de voz muito fodida. Seus
gritos silenciosos sacodem seu corpo, e ela desvia o olhar
envergonhada.

Ela está se despedaçando ao meu lado e não aguento. Não


posso fazer isso.

Ela quer aprender as coisas por conta própria, mas precisa


de algo para se agarrar. Precisa saber que estava bem. Que ficará
bem.
Meus dedos encontram seu lugar sob seu queixo, e quando
meu polegar cai no espaço entre ele e seu lábio inferior, seus lábios
se abrem com um suspiro baixo e seus olhos voam para os meus
antes mesmo de eu virar o rosto para mim.

Há um apelo dentro deles, mas caramba, minha baby não


tem ideia do que está pedindo.

É subconsciente, seu coração e mente sabendo que estou


bem aqui, morrendo de vontade de tirar sua dor, confortá-la e
apoiá-la em qualquer coisa. Sempre.

Para todo sempre.

Seu peito infla, e meus lábios se curvam em um pequeno e


gentil sorriso.

— Você se machucou, e parecia a pior coisa que poderia


imaginar. — Seu lábio treme, mas ela não ousa desviar o olhar. —
Chorou muito, se escondeu e fingiu que as coisas não estavam tão
ruins quanto estavam, mas lentamente... — engulo. — Muito
lentamente, a luz deslizou de volta para seus olhos.

Suas piscadas ficam lentas, suas lágrimas escorregando e


rolando para encontrar minha pele. — Por que tenho a sensação
de que você ajudou com isso? — Sussurra.

Eu forço minha mão a cair e meus olhos seguem.

— Ajudou com isso? — Ela tenta novamente.

Sei que ela quer se lembrar por conta própria, mas já


estraguei tudo compartilhando o que fiz. Agora ela está pedindo
mais.
Por um pedacinho.

Eu prometi que nunca a negaria, então não vou.

Limpo a garganta e respondo da melhor maneira que sei.

— Espero que sim.

Seu sorriso é sem pressa, e ela encara as águas abertas,


murmurando — Acho que sim.

Acho que estou te perdendo...


Arianna
Luzes brancas cintilantes pendem da parede, cortina azul
pura tecida à sua volta para criar uma atmosfera sonhadora do
tipo inverno no país das maravilhas. Grandes pilares atravessam
os cantos das paredes e na frente, erguida sobre um pequeno
palco, está uma mesa repleta de troféus e placas.

Os rapazes estão vestidos com ternos elegantes e as meninas


com vestidos brilhantes, todos menos a equipe técnica, que optou
por seus trajes secundários.

A música é suave e a comida uma mistura cultural em estilo


sampler112.

Depois que a equipe limpa as mesas do jantar, taças de


champanhe são passadas para aqueles com pulseiras, cidra
espumante para o resto de nós. O treinador principal sobe ao

112
-Quando se pega vários instrumentos individualizados e os unem formando uma banda através de
um aparelho.
palco, toca no microfone e começa a dar as boas-vindas a todos
para a nonagésima gala anual de inverno.

— Não é incomum ter uma boa equipe e uma temporada


decente. Estou aqui há vinte e dois anos e não houve um único
ano em que não pudesse reivindicar o mesmo, mas há uma
diferença no bom e no ouro, e este ano, rapazes, o time de futebol
Avix U Sharks foi o maldito ouro.

A sala explode com vaias e gritos, o ladrar alto de Brady


ouvido acima de cada um.

O homem fala sobre sua equipe, elogiando-os como uma


unidade, compartilhando algumas de suas provações com aqueles
de nós que não sabiam, e então faz uma pausa. O homem agarra
a borda do pequeno pódio em frente e acena com a cabeça, um
sorriso se formando em seus lábios.

— Sabe, como treinador, há muito que posso fazer e faço o


melhor que posso, mas sei que muitos dos meus garotos me
xingam em suas cabeças diariamente. Um treinador é apenas um
treinador. — Acena. — O verdadeiro herói do sucesso desta
temporada está no coração do capitão.

As pessoas assobiam e meu estômago revira.


Inconscientemente me inclino para frente.

— Agora, infelizmente, Noah Riley não está aqui esta noite,


mas se estivesse, eu tiraria meu chapéu para o homem. Ele pegou
um time, construído em um terço de novatos, e nos levou aos
playoffs em um ano em que era esperado que estivéssemos na
parte inferior da nossa divisão. Colocou muitos de vocês sob sua
asa, e todos podem não saber disso, porque ele certamente nunca
disse uma palavra, mas aquele jovem mudou toda a sua agenda
para estar lá, para treinar e orientar cada um de vocês que pediu.
Ele nos fez uma família.

Os meus olhos ardem.

— Por essa razão, ele é, sem dúvida, unânime nos votos de


todos os trinta e nove, nesta lista, o MVP deste ano. Gostaria de
convidar Trey Donavon ao palco para aceitar este prêmio em nome
de Noah.

A sala explode em aplausos, e Cameron, sua acompanhante


da noite, grita de seu assento ao meu lado.

Trey empurra as mangas um pouco mais alto, e alguns


rapazes, assoviam, fazendo-o sorrir em resposta.

— Ei agora, eu tenho uma garota, e ela é do tipo ciumenta —


brinca, e eu de brincadeira bato em Cameron.

Ele limpa a garganta, levanta o pequeno troféu e o examina.


— Noah é meu melhor amigo há três anos, e sei que poderei dizer
a mesma coisa daqui a trinta anos.

— Ei — Chase sussurra, e relutantemente olho em sua


direção. — Quer ir tomar uma bebida? Meu amigo está cuidando
do bar.

Eu balanço minha cabeça, encarando o palco mais uma vez


enquanto Trey continua.

— Não há um homem lá fora mais trabalhador e merecedor


de todo o bem que o mundo tem a oferecer mais do que ele. Eu,
uh, sei que o treinador me pediu para aceitar este prêmio, mas há
outra pessoa aqui que eu gostaria de convidar para fazê-lo. — Trey
olha para Cameron atrás de mim, e uma carranca se forma no meu
rosto enquanto ele arranca o microfone de seu suporte e salta do
palco, indo direto para ela; mas então diz — Arianna Johnson —
ao microfone, e minha coluna se endireita. Trey sorri. — A melhor
amiga da minha butterfly é feroz, pode estar pensando que sou
louco agora, e meio que sou, então tudo bem. — Está a minha
frente agora, e olho para Cameron quando ele se ajoelha com uma
piscadela. — Aceite este prêmio para o nosso menino, Noah?

— Uh... — Minha boca se abre, mas tudo o que sai é uma


risada nervosa, sabendo que todos os olhos estão em mim.

— Venha por favor? — Ele me dá grandes olhos de


cachorrinho.

Levanto minhas mãos, encolhendo os ombros. — Claro. — Eu


rio, tirando isso dele.

A sala aplaude, e ele ri enquanto volta para o palco, jogando


o microfone em seu treinador. O treinador distribui alguns outros
prêmios, sendo Brady o único calouro a receber um, e então as
luzes se apagam, a música ficando um pouco mais alta.

Chase se vira para mim, estende a mão e acena em direção à


pista de dança.

— Ninguém está dançando ainda.

— Então. — Seu sorriso é brilhante. — Quero dançar com


você, e não quero esperar.
O calor se espalha através de mim, e fico de pé. O sorriso de
Chase se alarga à medida que pega minha mão, me levando para
o centro da pista.

Ele me gira, me fazendo rir, e um rubor corre para minhas


bochechas enquanto olho ao redor para encontrar vários pares de
olhos em nós, alguns não tão amigáveis quanto eu esperava. Meus
músculos ficam um pouco tensos, e Chase balança a cabeça.

Ele se inclina, pressionando a bochecha no meu rosto


enquanto sussurra — Ignore-os. — Ele se afasta, sua palma
deslizando ao redor do meu corpo, sua mão direita apertada com
a minha, mas puxada em nossos lados. Seus olhos verdes suaves
seguram os meus enquanto seus lábios se abrem, e ele os
pressiona contra meus dedos. — Você é linda, Arianna. Tão bonita.
— Seu tom cai ainda mais baixo e meu peito aperta com o som.

Alguns outros se juntam a nós na pista de dança, mas não


ligo para eles. Fico focada no homem diante de mim.

— Eu costumava sonhar com coisas assim — admito. —


Dançando com você, segurando você…

Sua testa cai na minha, e meus olhos se fecham.

— É tudo o que tenho pensado — confessa. — Não tinha


certeza se algum dia teria a chance. Eu era um tolo antes, mas não
mais. Escolheria você em vez de qualquer um, Ari. Não importa o
quê. Eu escolheria você.

Meu estômago afunda, e enterro meu rosto em seu pescoço,


inalando seu cheiro.

É doce e apimentado, sutil.


Onde está a madeira de cedro e sálvia, a brisa mentolada?

Minhas pálpebras se abrem, uma carranca crescendo ao


longo da minha testa, mas então a mão de Chase deixa a minha, e
sua palma macia cai contra minha bochecha.

Onde está a textura áspera, a pele aquecida?

Eu me afasto um pouco, e seus olhos travam com os meus.

— Ari — sussurra, se aproximando, e meu peito aperta.

Não sei dizer porém se é por antecipação ou apreensão.

É confuso e dói, mas talvez doa por ele?

Por nós. Para mais.

Então, quando seus olhos caem em meus lábios, levanto meu


queixo em convite.

A boca de Chase cai na minha, e meus olhos se fecham.

Meu batimento cardíaco bate forte contra minha caixa


torácica, e ele se aproxima mais, sua mão mergulhando em meu
cabelo.

É quando um soluço me atravessa e puxo de volta, mas antes


que seja forçada a olhar para ele, antes que possa dizer uma
palavra, meu irmão está lá.

Mason desliza entre nós, me puxa em seus braços e enterra


minha cabeça em seu peito. Ele protege meu rosto do resto da pista
de dança. Agarro seu paletó e ele nos balança lentamente.
— Está tudo bem, querida — murmura, beijando minha
cabeça. — Está tudo bem.

— Não sei o que há de errado comigo. Não sei por que estou
chorando. — Estremeço, e seus braços apertam. — Eu acho que é
simplesmente esmagador, sabe? Esperei tanto.

O suspiro de Mason rola sobre mim. — Sim, eu sei.

A frustração dolorosa em seu tom me fez levantar a cabeça.


Eu limpo meus olhos e encontro os dele.

— O quê?

— Nada.

— Mason, o quê? — Imploro. — O que é isso?

Seu queixo cai e ele balança a cabeça. — É muito difícil se


afastar e deixá-la liderar. Isso me assusta, só isso.

— Isso não é tudo e sabe disso. — Paramos de nos mover. —


Você se incomoda em me ver com ele?

— Não do jeito que está acostumada.

— Não sei o que isso significa.

— Eu sei, mas você não me deixará dizer o que isso significa.


— Estende a mão, passando a ponta do meu olho e me mostrando
a pequena faixa preta na ponta do polegar. — Está tudo bem.
Apenas me prometa que vai... se mover devagar. Pensar bem antes
de... qualquer coisa.
Rosa escurece minhas bochechas, e aceno, uma risada baixa
me deixando. — Eu provavelmente deveria procurar meu par, para
que não pense que sou louca.

— Ele sabe melhor do que isso. — Os lábios de Mason puxam


para um lado, e ele me solta. — Vá.

Com uma respiração profunda, aceno, virando.

Para minha surpresa, Chase não está longe e não está


perturbado. Ele espera por mim, a menos de cinco metros de
distância, taças de champanhe na mão.

Mordendo meu lábio, me aproximo dele, aceitando o copo


quando o oferece. Ele calmamente pega minha mão, me levando
para a nossa mesa.

— Obrigado por vir comigo esta noite. — Ele roça a palma da


mão ao longo do meu braço. — Esta não deveria ter sido nossa
primeira dança. Deveria ter levado você para o primeiro baile do
ano de boas-vindas, e para todos os outros depois disso. Deveria
ter mostrado a você o quão importante era para mim há muito
tempo, e quero compensar isso — murmura, pressionando um
beijo suave no meu ombro. — Deixe-me levá-la para sair neste fim
de semana. Só nós.

— Está me convidando para um encontro, Chase Harper?

Uma pitada de timidez passa por ele, e assente. — Sim, estou.


Então o que diz? Saia comigo?

Meu estômago revira, e aceno, ganhando um sorriso vitorioso


de Chase. Viramos para frente depois disso, sentamos
confortavelmente enquanto ouvimos a música tocar.
Enquanto olho para todos os rostos sorridentes, nossos
amigos a poucos metros de distância, um se espalha pelo meu.

E pela primeira vez em muito tempo, uma pequena sensação


de esperança acende dentro de mim.

Isso parece certo.

Então, por que é preciso esforço para manter minha cabeça


erguida?

Mais tarde naquela noite, quando chegamos em casa e nos


acomodamos, procuro Noah para lhe mostrar o prêmio que
ganhou, mas ele não está em lugar algum, então coloco seu troféu
na minha cômoda e tiro o vestido para um banho rápido.

Meu sorriso é largo quando entro no chuveiro quente, a noite


se repetindo diante dos meus olhos, a promessa do amanhã forte,
mas assim que a emoção cresce em meu estômago, se contorce.
Torce até doer, e de repente, não consigo respirar.

A calma de momentos atrás desaparece com a água,


rodopiando pelo ralo, me levando com ela. Antes que perceba que
me movi, estou enfiada em um canto, minhas pernas apertadas,
minha cabeça enterrada contra os joelhos.

Eu começo a chorar.
No início, são lágrimas sem emoção, confusas, mas
lentamente, a dor se revela. A vergonha se infiltra. E a culpa é
quase demais.

Há semanas, como disse ao médico, tenho gritado


silenciosamente para lembrar o que esqueci bloqueando o que
sabia, porque o que sabia era muito doloroso e o que não sabia,
estava desesperado.

Então, afastei tudo, o bom, o ruim e o triste.

O precioso.

Um soluço me atravessa, e me rendo a ele. Deixo-o me


consumir.

Sozinha no canto do chuveiro, choro por todas as coisas que


tentei forçar a sair da minha mente, mas me dói por dentro todos
os dias, no entanto.

Choro pelo filho que perdi, que mal consigo reconhecer


porque a agonia e a perda que isso traz são insuportáveis.
Absolutamente devastador. Ser mãe é o que mais quero no mundo
e aqui estou eu, fraca demais para sequer pensar na vidinha que
não existe mais.

A porta é aberta e os olhos arregalados de Cameron


aparecem. — Ah, irmã…

Tirando a toalha do balcão, ela rapidamente desliga a água,


cai de joelhos ao meu lado e me envolve nela, abraçando-se a mim.

— Eu não sei o que há de errado comigo. Hoje foi muito


divertido, mas... — Paro em outro soluço sufocado.
— Mas o quê?

— Não sei! — Grito. — Não sei para que serve o “mas”, mas
sinto. Constantemente. Ele me segue. Cada passo que dou o “mas”
está bem ali.

Algo dói pra caralho e ela não entende.

Ninguém entende. Nem mesmo eu.

Uma sensação avassaladora de auto-ódio surge e meus


ombros se contorcem.

— Não me permito pensar no que perdi em semanas,


Cameron. Afastei a única coisa que sabia com certeza. Quem faz
isso?! — Lágrimas escorrem pelo meu rosto. — Quem afasta uma
memória que deveria ser valorizada?

Não falei nem permiti o menor indício de lembrança da


criança que crescia dentro de mim. Meu filho.

Não consigo nem chegar perto do de Payton, de tão difícil que


é.

— Dói, Cam. Meus ossos literalmente parecem que estão


rachando quando penso nele. — Admito. — Eu acho que teria sido
um ele. Um menino. Não sei por quê. — Balanço minha cabeça. —
Mas toda vez que toco meu estômago, ou acidentalmente me
pergunto sobre ele, sinto que estou tendo um ataque cardíaco.

— Está tudo bem, Ari — murmura.

Uma risada amarga me deixa, e limpo meu nariz. — Não, não


está. Você simplesmente não tem ideia do que mais dizer.
— Está bem...

— Não tudo está — grito quando não quero. — Eu sou apenas


patética. Completamente patética.

Pânico queima atrás do meu peito, e incha, bloqueando


minhas vias aéreas, e começo a suar. É como se meu cérebro
começasse a piscar, todas essas imagens e palavras em
movimento, cada uma mais borrada que a anterior.

Eu poderia vomitar.

— Não quero mais me esconder de mim mesma, mas não


posso fazer isso. Às vezes quero engolir um punhado de pílulas
para dormir e esperar que, quando acordar, tudo esteja diferente.

— Não diga isso.

— Sinto isso, Cam. Não farei, mas quero. Estou


desamparada. Eu me sinto a porra de uma fraude e não sei como
consertar isso.

Meus músculos vencem e meu corpo pende como um peso


morto. Minha cabeça cai no azulejo, e enquanto meus olhos estão
abertos, não vejo nada. Acho que grito, mas não posso ter certeza.

Eu não ouço nada, mas um estrondo alto me faz piscar, e


encontro meu irmão parado ali.

Seus olhos estão arregalados e suas narinas dilatadas. Ele se


curva, me levantando do chão. Quando fala, sua voz falha —
Venha aqui, irmãzinha.
Ele me abaixa no colchão, e Cameron rapidamente joga um
cobertor sobre mim, puxando a toalha de debaixo dele.

Lágrimas rolam pelo meu rosto, encharcando o travesseiro


embaixo de mim. — Eu não consigo fazer isso, Mason.

O aperto do meu irmão na minha mão aumenta. Ele segura


meu olhar por um longo momento, seu peito inflando com sua
respiração completa. Ele lambe os lábios, mas não fala até meus
lábios puxarem em um pequeno e encorajador sorriso. Os nervos
o deixam inquieto, mas então endireita os ombros, seus olhos
treinados nos meus.

— Sei que está confusa e com o coração partido de maneiras


que eu nem consigo imaginar, mas preciso que saiba uma coisa,
algo que estou morrendo de medo de dizer, mas isso precisa ser
dito independentemente. — Ele se mexe de joelhos, sua mão livre
agarrando nossas mãos unidas. — Preciso que saiba que tanto
quanto está sofrendo agora, tanto quanto esteve, que existe um
homem lá fora que está sofrendo tanto pra caralho, com cada
respiração que dá. — Inspiro entrecortada, e os olhos do meu
irmão brilham. — E não por ele, mas por você. — Sua atenção recai
para o meu estômago. — Por vocês dois.

Meus lábios tremem. — Há?

— Sim, irmãzinha. — Ele pisca, a umidade brilhando ao longo


de sua linha dos cílios. — Há.

Meus olhos se fecham e aceno. Lentamente, ele se inclina


para frente, beijando minha têmpora antes de me soltar e cair
contra a parede em suas costas. Cameron rasteja na cama ao meu
lado, de frente para mim em cima das cobertas.
Lentamente, minha respiração se acalma, e um sorriso suave
surge em seus lábios.

Lágrimas caem dos olhos de Cameron, e quando estendo a


mão para enxugá-las, ela ri.

Meus olhos se fecham, e um pouco depois, o som da minha


porta abrindo e fechando me deixa agitada. Meu irmão se foi, mas
Cameron está dormindo profundamente a minha frente. Sussurros
do corredor chegam aos meus ouvidos.

— Diga-me que ela está bem.

— Não está. Está empurrando tudo para longe. Ela vai


quebrar.

— Vou entrar.

— Não acho que seja o melhor momento para isso.

— Ela é minha, Mason. Eu deveria ser o único a segurá-la. Para


lembrá-la de que ela é mais forte do que sabe.

Eu adormeço novamente, meu sonho cheio de uma cor


cintilante.

De azul. De um azul-noite sem fundo, brilhante, do oceano.

Sua.

Eu sou sua.

De quem?
Noah
Ontem foi difícil. A noite passada foi pior.

Essa parece ser a tendência descendente.

Acordo desejoso, e vou dormir fraco e pesado. Continuo


esperando o momento em que as coisas vão melhorar, mas não
melhoram. Cada dia traz uma nova montanha para escalar, e só
fica mais alta, mais íngreme. É como se eu estivesse no fundo com
um arreio quebrado e sem corda. Exceto que parece haver um
invisível em volta do meu peito, e aperta toda vez que olho para
cima para ver seu rosto sorridente, apontado para um homem que
não sou eu.

Minha mãe perceberá que as coisas estão piorando no


momento em que eu estiver na sua frente, então faço uma parada
rápida no banheiro, jogo um pouco de água no meu rosto e paro
um momento para mascarar o homem quebrado no espelho. É
preciso um pouco menos de esforço quando a alcanço,
encontrando sua cama levantada para a posição mais alta e um
sorriso no rosto.
— Ei mãe. — Eu me aproximo, meu sorriso parece um pouco
estranho. Percebo a cadeira de rodas ao lado da cama, e em
seguida, Cathy dá um passo ao meu redor.

— Ei, Noah. — Ela oferece um pequeno sorriso, encontrando


meus olhos por um momento antes de se concentrar em minha
mãe. — Esta jovem aqui esteve olhando o relógio por você hoje.

Minha mãe dá um tapa nela de brincadeira, e então faz algo


que ainda não a vi realizar, manobra seus quadris em um ângulo
de noventa graus. Sozinha.

Seus olhos vêm até os meus e uma risada baixa me deixa. —


Uau, agora. O que é isso? — Eu corro ao redor, incapaz de
controlar o sorriso no meu rosto conforme ela me alcança.

Pegando sua mão direita na minha, a guio, pronta para apoiar


seu lado esquerdo, caso precise, mas ela se vira, plantando-se bem
no assento. Dobrado no joelho, olho para ela e sou quase
superado, mas não quero estragar isso, então engulo de volta. —
Alguém está arrasando na terapia, hein?

Minha mãe ri suavemente. — Estou me sentindo ótima, filho.

— Isto é o que eu gosto de ouvir. — Empurro para os meus


pés, me inclinando para abraçá-la. — Então, para onde vamos?

— Cathy disse que há bolinhos na cafeteria ao lado. Pensei


que poderíamos experimentá-lo, ver se é algo parecido com o meu.

Eu rio, meu joelho saltando. — Duvidoso.

— Bem, teremos que ver. Além disso, o café aqui tem gosto
de moagem usada, então poderia usar um novo acima.
— Sabe que eu teria trazido algo para você se tivesse pedido.

Ela acena para mim, batendo na roda, então deslizo atrás


dela, segurando as maçanetas. — Eu queria ir com você. Ouvi dizer
que as decorações ainda estão lá.

Sorrindo, aceno para Cathy e lá vamos nós.

Duas fatias de bolo de chocolate e uma xícara de café


abandonada depois, minha mãe suspira, seus olhos no quebra-
nozes gigante do lado de fora das longas janelas. Ela segue pela
guirlanda iluminada até o boneco de neve segurando um livro de
Natal.

— Lembra-se do ano em que passamos o Natal nas


montanhas? — Olha para mim. — Você disse que não queria
nenhum presente, mas uma noite na neve, por isso reservamos
aquela pequena cabana por uma noite?

— E então nevou e ficamos mais uma noite de graça.

Minha mãe ri, uma suavidade caindo sobre ela. — Sim,


tivemos sorte, não foi?

Ela se volta para a mesa, pegando o glacê que sobrou em seu


prato, seus olhos percorrendo a sala com tanta alegria que minha
garganta engrossa. Esperei por isso por tanto tempo, para vê-la de
pé e feliz por estar no mundo novamente, mas seu corpo estava
muito fraco. Ela tentaria, mas mover-se para a cadeira sozinha
exigiria tanta energia que estaria cansada demais para qualquer
coisa além de uma curta caminhada pela clínica de reabilitação.

A parte mais difícil para mim era não saber como ela se sentia
quando estava sozinha, mas imagino que a culpa imerecida que
tinha no começo às vezes se infiltrava, e uma onda de desamparo
seguia, mas ela ainda tem muita vida nela; vejo isso quando a
visito. Toda vez que entro na sala, ela é a mãe que sempre conheci,
gentil, amorosa e altruísta.

Hoje ajuda a provar isso.

Ela está ficando mais forte, há luz em seus olhos, e seus


movimentos ainda estão pesados, apesar de estarmos sentados
aqui há mais de uma hora.

Eu precisava disso.

Meu mundo está tão fodido, mas agora, vendo minha mãe
virar para a mulher em uma mesa, conversando sobre as
poinsétias113 e como o vermelho é a cor clássica com a qual todos
deveriam ficar, tudo parece bem. Pela primeira vez em uma
eternidade, sinto que posso respirar.

Um pouco mais tarde, é hora de levar minha mãe de volta.


Dentro de seu quarto, ela me faz sentar, por isso caio na cadeira
em frente a ela.

— Eu tive um sonho ontem à noite — sussurra suavemente.


— Era véspera de Natal e você estava sentado perto de uma árvore
com uma caixa na mão. Abriu-a e isso... — vasculha dentro do
pequeno bolso sobre o peito. — Estava dentro.

113
-Também conhecida como manhã de páscoa, bico de papagaio, rabo de arara e papagaio, cardeal,
flor do natal, ou estrela do natal é uma planta originária do México. Seu nome científico é Euphoria
Pulcherrima, que significa “a mais bela das eufóbias”.
Uma pequena carranca se forma ao longo da minha testa
enquanto minha mãe abaixa uma aliança de casamento na palma
da minha mão.

— Você se lembra deste anel? — Pergunta.

Balançando a cabeça, o levanto, olhando para os pequenos


diamantes ao lado. — Você o encontrou quando tinha seis ou sete
anos. Viu o vizinho usando seu detector de metais, e ele te
emprestou, então nós o levamos para o píer. Passamos horas
andando e não encontramos nada. Nem mesmo uma tampa de
garrafa. Você estava prestes a desistir, quase em lágrimas, quando
de repente, apitou.

Uma vaga lembrança toma conta de mim quando coloco o


anel na palma da mão e olho para ela.

— Este é o anel que você desenterrou. Embrulhou e deu para


mim no Natal daquele ano.

— Eu me lembro — digo, um sorriso puxando meus lábios. —


Você chorou.

Ela ri. — Chorei. E depois limpei bem e guardei para você.


Quase esqueci até ontem à noite.

— Seu sonho?

Ela acena. — Sim, estava ali na caixa, e suas mãos


começaram a tremer quando o puxou, mas pararam no momento
em que o deslizou no dedo dela.

Engulo e os olhos da minha mãe ficam suaves. Ela pega


minha mão, apertando.
— Mãe…

Ela estende a mão, segurando meu rosto enquanto as


lágrimas se acumulam em seus olhos.

— Estou tão orgulhosa de você, Noah Riley. Tornou-se o


homem que eu sempre esperei que fosse.

A umidade se acumula em meu olhar, e minha mandíbula


flexiona. — Eu tive uma mulher infernal que me mostrou o
caminho.

— Você teve, não é.

Minha risada é atada com emoção, e ela sorri. — Eu te amo


querido. Com todo meu coração. Sempre.

— Eu também te amo.

Com uma respiração profunda, ela dá um tapinha na minha


bochecha, e a ajudo se deitar na cama. — Hoje foi um bom dia —
sussurra, um peso crescendo em suas palavras, e sei que é hora
de ir.

Saio para o ar frio de janeiro e ignoro o momento de alívio que


sinto. Puxando meu telefone do bolso, rolo até a longa lista de
chamadas perdidas e clico em ligar.

Trey atende no primeiro toque. — Bem, foda-se, ele está vivo.

Aponto meu sorriso para o céu. — Que tal aquela cerveja?

— Já estou saindo pela porta, meu caro. Vejo você em vinte?


— Eu estarei lá.

Subindo ao volante da minha caminhonete, desço as janelas


e aumento a música.

Sentindo-me mais leve do que há muito tempo, sigo em


direção ao campus.
Arianna
À entrada, Chase pula de seu assento e corre ao redor do
capô, alcançando minha porta assim que a abro.

Ele me prende com um sorriso vitorioso e pega minha mão.

— Sabe. — Eu me aproximo da borda, deslizando minha


palma na dele. — Eu pulei para os meus pés deste mesmo assento
várias vezes.

— Oh, eu sei. — Sua mão livre vem para cima, pegando a


minha outra, e pulo no chão, seus dedos se prendendo aos meus
enquanto ele me puxa para mais perto. — Mas esta noite é um
pouco diferente.

— Sim, e como é isso? — Eu jogo junto.

— Você estava aqui como minha amiga todas essas vezes.

Algo faísca em meu estômago. — E hoje à noite?

— Hoje à noite, você está aqui como meu encontro —


sussurra, e minhas panturrilhas enrijecem. — E gostaria de dar
um beijo de boa noite na minha garota antes de entrarmos e não
tenho a chance.

Eu rio levemente, prestes a responder, mas algo sobre seu


ombro chama minha atenção, e gentilmente o empurro para o lado.

Mason, Brady e Cameron saem da casa, e o desconforto toma


conta de mim.

Meus olhos vagam por eles mais uma vez, e tomo nota de
quem está faltando. A mesma pessoa que procurei, mas não vi nos
quatro dias desde antes da gala, embora me tenham dito que ele
voltou naquela noite, mas saiu antes do amanhecer.

Noah.

A tensão envolve meus ombros.

Cameron torce as mãos diante dela, abre a boca, mas sua


palma se levanta para cobri-la e balança a cabeça. Olha para o
chão, mudando para o lado, e meus olhos se movem em direção à
porta da frente.

Olhos suaves encontram os meus. — Oi, Ari.

— Paige. — Franzo a testa, meu estômago encolhendo. —


Onde está o Noah?

Seus olhos se arregalam, e ela gagueja — Hum, ele-ele está...


— Ela para, apagando a distância entre nós e agarra minhas mãos.
Seus olhos começam a lacrimejar e meus dentes cerram.

— Paige... — Meu sangue gela. — Ele está bem?


Seus lábios tremem, e ela balança a cabeça, lágrimas caindo
de seus olhos.

Algo em mim estala, e minhas bochechas se aquecem quando


um soluço sai de mim. De repente, é difícil respirar e minha visão
fica embaçada. Não percebo que estou tremendo até que as palmas
das mãos do meu irmão travam em volta dos meus antebraços por
trás, me firmando. Eu me viro para ele, que sussurra em meu
ouvido, mas suas palavras são abafadas.

Mãos macias encontram as minhas e olho para cima.

Um sorriso quebrado curva os lábios de Paige enquanto


assente. — Posso te contar o que aconteceu?

Saio silenciosamente do Tahoe, me virando para olhar para a


longa fila de caminhonetes parando no estacionamento, cada uma
carregada com três ou quatro jogadores de futebol Avix Sharks.
Um por um, eles saem, sombriamente se juntando a nós na
calçada.

Lágrimas transbordam em meus olhos, e aceno quando seu


treinador se aproxima, segurando meus braços brevemente, como
se entendessem a dor que sinto quando eu mesma ainda estou
tentando descobrir.
Uma vez que todos os carros estacionaram, Mason, Cameron,
Brady, Chase e eu conduzimos o grupo pelos fundos, onde o
serviço está prestes a começar.

Não posso dizer com certeza que era isso que Noah queria,
mas acho que é. Parece certo.

À medida que damos a volta, Trey e a Paige aparecem, ambos


sentados na única fila de assentos trazidos para o pátio, o oficiante
de pé diante deles com uma Bíblia na mão. Ele olha para cima,
avistando nosso grande grupo e um pequeno sorriso brota em seus
lábios.

Não é até que estamos na clareira, o lago e o jardim de flores


agora à vista, que seu corpo aparece.

Com passos trêmulos, desço o pequeno caminho, e com


lágrimas nos olhos, desço para o último assento livre.

Com os membros trêmulos, olho para seus olhos fechados,


colocando minha palma sobre as dele dobradas, minhas palavras
uma bagunça rouca. — Sinto muito, Noah.

O corpo de Noah tensiona, seus olhos se movem para a


esquerda para me encontrar ao seu lado.

Choque estremece suas feições, mas apenas por um


momento, e então uma respiração trêmula passa por seus lábios.

Seu olhar vazio fica nublado em um instante, e puxa a mão


esquerda, fechando-se sobre as nossas ainda apertadas. Seu toque
aperta, e com isso, todos os músculos de seu corpo parecem
relaxar. O meu faz o oposto, o peso em meus ombros dobrando
enquanto olho para ele.
Ele está tão triste, magoado e talvez um pouco zangado. Não
o vejo há dias, e nesse tempo, sei que ele não tem dormido muito.
Está exausto, destruído.

Eu também estaria se perdesse minha mãe.

A equipe começa a se arrastar atrás de nós e Noah franze a


testa, relutantemente olhando para longe de mim e para a
multidão crescente às nossas costas.

Sua mandíbula aperta enquanto balança a cabeça,


agradecendo silenciosamente aqueles que ele pode ver. Voltando-
se para mim, quase perde o controle, a gratidão escorrendo por
todos os seus poros.

— Eu pensei que poderia usar algum apoio.

Ele engole, não confiando em sua própria voz, e então sua


mão sobe, deslizando ao longo da minha bochecha enquanto
empurra meu cabelo atrás da minha orelha. É a sensação mais
calmante e estabilizadora.

Não percebo que fechei meus olhos até que estejam reabrindo
e sua mão está, mais uma vez, envolvendo a minha.

Passando pelos ombros de Noah, Paige acena com a cabeça,


um pequeno sorriso em seus lábios enquanto olha para frente.

Momentos depois, o pátio fica em silêncio enquanto o homem


diante de nós lê o elogio da mulher que deu ao mundo Noah Riley.

Que mulher incrível ela deve ter sido.


Algumas horas depois, estamos de frente para o
estacionamento, vendo a última caminhonete cheia de jogadores
de futebol sendo carregada, buzinando ao sair do estacionamento.

Mason se vira para Noah, se aproximando para dar-lhe um


abraço de irmão, e quando recua, ele olha para mim. — Está
voltando com a gente?

Olho para Noah. — Meus pais estão em nossa casa fazendo


um monte de comida, e acenderam a fogueira. Trey e Paige foram
convidados.

Ele franze a testa.

— Volte para casa? — Não quero sussurrar. — Quero dizer,


volte. Por favor? Você não deveria estar sozinho.

Noah acena com a cabeça, olha para fora e para trás


novamente.

Por alguma razão, me aproximo e levanto meu queixo para


olhar para ele. — Eu não quero que fique sozinho, Noah. Por favor,
venha conosco.

Embora a perda queime em seu olhar e o desejo grite no azul


profundo olhando de volta, o lábio de Noah se contrai. Sua atenção
cai para a minha mão, por isso pego a dele. Algo se agita no meu
estômago e ele inclina a cabeça um pouco.

— Venha comigo. — Ele aperta.

Eu aperto de volta.
Todo mundo conversa ao meu redor, bebidas na mão e
estômagos cheios da melhor comida reconfortante da minha mãe.
Mason convidou um punhado de outros rapazes que, segundo ele,
Noah orientou de perto, assim como alguns dos quais esteve
próximo ao longo de seus quatro anos na Avix.

Não posso acreditar que ele é um veterano. É seu último ano


de faculdade, e sua mãe não verá o que ele se tornará depois, seja
lá o que for.

Ele está sozinho agora. Deve se sentir tão vazio.

Minhas articulações endurecem e deixo meus olhos cair no


meu colo.

Ele está completamente sozinho...

Noah não tem outra família.

Minha cabeça se levanta, pousando nele a menos de seis


metros de distância, e a dor nas minhas costas se aprofunda.

Noah se senta, olhando para o nada, Paige ao seu lado em


apoio.
Noah
Minha mente não para, mas é estranho, porque é como se
minha mente estivesse em branco, como se nada estivesse
passando por ela, mas aqui estou eu, estou morto em meus pés,
sem fôlego de uma corrida que não consigo me lembrar.

Hoje é um pouco demais, e esse parece ser o tema.

Segunda-feira me testa, e terça-feira é pior, mas depois a


quarta-feira chega e dá aos outros dois o pássaro. Quinta-feira faz
seu estrago e então sexta-feira me fode de lado, me levando para o
fim de semana como “segure minha cerveja”. É uma corda alta sem
fim, sem sino para tocar, rasgando meus membros a cada tentativa
de escalar.

Não tenho energia, não tenho vontade.

Você não tem nada, Noah.

Meu queixo cai no meu peito.

— Posso adivinhar a resposta, mas por uma questão de


perguntar, quer falar sobre isso? — Paige relaxa, sua voz hesitante,
mas terna.

Balançando a cabeça, me forço a olhar para ela.

Ela se senta em uma cadeira, seu corpo torcido, por isso está
de frente para mim, uma xícara de chá quente na mão. Paige sorri,
deixando cair a cabeça contra o encosto da cadeira enquanto me
observa.

Seu nariz fica um pouco vermelho e puxa a boca para um


lado, tentando lutar contra as lágrimas que a consomem.

Eu quero desviar o olhar, não quero simpatia e odeio que,


como estou me sentindo esteja afetando as pessoas ao meu redor.
Não quero ninguém triste por minha causa.

Não quero que ninguém sinta o que estou sentindo.

Completamente e totalmente indefeso.

— Paige. — Estendo a mão, coloco a palma da mão em seu


joelho, e ela funga com um aceno de cabeça.

Seus olhos passam por mim e seu peito infla quando voltam
para o meu. — Ela se lembrou de alguma coisa?

Minhas sobrancelhas caem, e olho para frente novamente. —


Não exatamente. — Penso em como ela mencionou a orientação e
seu conforto na cozinha. — Nada que percebesse ou que
desencadeasse qualquer outra coisa, desde que ela tenha
compartilhado de qualquer maneira.

— Ela me chamou pelo nome.

Minha cabeça se move em direção a ela e Paige acena com a


cabeça.

— Não tive a chance de lhe dizer quem eu era. Ela me viu e


me chamou pelo nome.
Meu estômago se revira. — O que ela disse?

— Ela perguntou por você.

A esperança espeta meu peito, mas sufoca na mesma


respiração. Não é tão simples agora.

Agora, se Ari se lembrar, não há garantia.

A mão de Chase está no pote, e tudo o que ela precisa fazer é


segurá-la.

Algo me diz que ela está perto.

Está em seus olhos, um brilho que estava reservado a mim


quando o universo decidiu roubá-lo. É delicado, mas está lá,
desenvolvendo-se mais a cada dia que passa.

Eu sabia que quando a conheci, ela não estava livre para ser
minha, como sabia que quando caísse mais forte, a subida de volta
seria difícil, se possível, mas o conhecimento de como as coisas
poderiam terminar não foi suficiente para eu me virar de volta.

O caminho para a junção de três vias é um que percorreria


dez vezes, não importa onde levasse, porque amar Arianna
Johnson vale o risco. Ser amado por ela não tem preço.

O tempo valeu o tormento.

Especialmente quando fui forçado a enfrentar o que tentei


negar, uma possibilidade que não tinha pensado antes.

Apaixonar-se por mim não significava que ela se


desapaixonou por ele. Significava que ela amava a ambos.
Eu quero que ela me ame mais.

Girando o anel que minha mãe me deu no bolso, fecho meus


olhos, imaginando o sorriso no rosto da minha mãe no outro dia.
Nem mesmo clicou, como deveria.

Aquele foi seu último dia ensolarado.

A última vez que sua alma brilharia sobre este mundo cruel
antes de levá-la dele; de mim.

As pessoas dizem que esse dia chega quando se aceita o fim


de sua vida; é aquela última explosão de energia e o riso final com
aqueles que ama, protegidos como falsa esperança.

Minha mãe amava apenas duas pessoas quando morreu,


uma era eu, e a outra é a menina que não se lembra dela.

Como ela poderia aceitar o fim quando não sabia onde isso
levava?

A vergonha recai sobre mim com o pensamento, e faço uma


oração silenciosa, agradecendo a quem quer que escute o sonho
que ela teve antes que fosse hora de deixá-la ir.

Ela me viu feliz e isso era tudo o que sempre quis deste
mundo.

A felicidade de seu filho.

Farei o que puder para dar isso a você, mãe. Eu vou encontrá-
la. Em algum lugar.
A mão de Paige cai no meu ombro, e cegamente, estendo a
mão, aceitando o calor que ela oferece, como por dentro, um frio
está tomando conta, e não sei como pará-lo.

Uma segunda mão cai no meu joelho, e olho para cima para
encontrar os olhos gentis da Sra. Johnson. — Todo mundo está lá
fora agora — sussurra, estendendo a mão para tocar minha
bochecha, assim como minha mãe fazia, e algo me acalma.

Eu aceno e ela se endireita. Observo enquanto caminha até


Ari e se empoleira na cadeira atrás dela. Ari, que está olhando
diretamente para mim, e não desvia o olhar quando me levanto.

Limpando minha garganta, chamo a atenção de todos, e a


conversa ao nosso redor para.

— Eu hum... — Limpo a garganta novamente, incapaz de me


orientar, sem saber o que quero dizer e desejando não ter pedido
à Sra. Johnson para me dizer quando seria uma boa hora para
falar, mas quando olho para cima, diretamente para o par de olhos
castanhos mais suaves e perfeitos, as palavras se tornam claras.

— Acordei de madrugada hoje. O sol ainda não tinha nascido,


e não podia ver além da mão, a neblina era tão espessa. Eu sabia
que estava prestes a passar por um pesadelo, e não tinha certeza
de como chegaria ao anoitecer, mas então apareceu. — Falo,
olhando nos olhos de Ari, vendo os dela ficarem brilhantes, antes
de encarar todo mundo. — Veja, minha mãe, era uma mulher
altruísta, a pessoa mais altruísta que já conheci, na verdade.
Durante toda a minha vida a testemunhei se esforçando para
ajudar e agradar os outros, tendo pouco ou nenhum cuidado
consigo mesma. Levei muito tempo para perceber que era assim
que ela gostava.
— Se ela não estava fazendo algo para melhorar a minha vida
ou a de outra pessoa, então não estava fazendo nada. Era gentil e
generosa dessa maneira. — Endireito meus ombros, olhando ao
redor dos grupos de pessoas. — Achei que estaria diante do pastor
hoje, só eu e minha mãe, e pensei que era tudo o que precisava,
mas estava errado. Ela merecia mais do que isso.

— Ela... — hesito, olhando para Ari mais uma vez. — Ela me


disse uma vez que tudo o que ela queria, era ser uma mãe da qual
uma criança se orgulharia, e conseguiu isso. — Uma carranca
curiosa e pensativa se forma na testa de Ari, e desvio o olhar. —
Ela merecia ser homenageada pelas pessoas que respeitaram a
missão de sua vida, e essa missão era me criar, por isso significa
o mundo ter todos vocês aqui porque sei que valorizam nossa
amizade. Ao fazer isso, tornaram o único sonho da minha mãe em
realidade. Hoje foi suportável porque todos vocês estavam comigo.

Ari aperta o peito.

Porque você estava comigo.

— Se minha mãe estivesse aqui, agradeceria a vocês por


terem vindo, mas não por ela, nem mesmo em um dia que ase
destine a lembrar dela. Ela agradeceria por mim, por isso quero
fazer o que ela nunca faria, e quero pedir que pense nela por um
momento. Não em mim.

Um momento de silêncio recai sobre o grupo e depois o Sr.


Johnson se aproxima, me envolvendo em um abraço.

Alguns outros caminham até mim para prestar seu respeito


ao sair, e no momento em que posso me libertar, me liberto.
Eu não quero, mas não posso deixar de me perguntar se ela
me perseguirá na areia à medida que o persegue.

Quando vinte minutos se passam, aceito a resposta pelo que


é.

Doloroso pra cacete.


Arianna
O oceano é muito parecido com a vida, em constante
mudança e imprevisível. Eu sempre achei que essa é a beleza por
trás disso, mas ultimamente, me pergunto se isso é verdade.

Onde está a beleza na possibilidade de um furacão com o


poder de destruir tudo em seu caminho, tanto memórias do
passado quanto previsões do futuro? Não é por isso que voltamos
aos lugares que amamos? Pela paz que oferece e pelas lembranças
que traz?

O que acontece quando isso é lavado e não há nada para


olhar para trás?

Como se deve seguir em frente sabendo disso?

A brisa aumenta e cruzo os braços sobre o peito, mas algo


puxa meus olhos para a esquerda. A nove metros de distância está
Noah, e se dirige diretamente a mim. Meus pés estão se movendo
antes mesmo de eu perceber, e então o encontro no meio.

Um pequeno sorriso se forma em seus lábios, e ele lentamente


me passa um dos dois cafés em suas mãos.
Aceitando ansiosamente, uso o calor do copo de papel para
aquecer as palmas das mãos. — Como sabia que eu estaria aqui?
— Provoco, fingindo que a razão pela qual ele está aqui sou eu.

— Sempre está. — Ele não perde o ritmo, e por um momento,


meus músculos se contraem.

Noah sabia onde me encontrar, tanto que primeiro fez um


pequeno desvio até a cafeteria, sabendo que eu estaria no lugar
que esperava quando voltasse.

Há um puxão profundo no meu estômago, mas respiro


através dele, e sem uma palavra, caminhamos em direção à
fogueira, sentando ao longo de sua borda juntos.

Eu levanto meu copo, inalando o aroma rico.

— Não se preocupe. — Noah ajusta sua tampa. — Não é


caramelo.

Minha cabeça balança em sua direção, e a suavidade de seu


olhar me faz sussurrar — De que tipo é?

— Hortelã Pimenta.

Meu favorito. Noah conhece o meu favorito. Sabia que eu


estaria aqui, perto da água.

A confusão gira dentro de mim, e acho que Noah a vê. Ele


responde quebrando o contato visual e leva o copo aos lábios, me
deixando curiosa.

— Qual é o seu?
— Picante.

Uma risada borbulha de mim e seus lábios puxam para um


lado.

— Bem... — pego a tampa do meu e a seguro. —


Compartilhamos.

Ele me estuda por um momento e com uma pitada de


diversão em seu olhar, puxa uma pequena garrafa do bolso do
moletom, adicionando um pouco de Bailey's114 no meu copo.

Dou uma mexida suave, tomando um pequeno gole. — Nada


como um pouco de licor antes do almoço.

— Não são nem oito ainda.

— Sim, mas o almoço rimou.

Noah ri. — Surpreende-me que não me bateu com um pouco


de Allan Jackson115 e disse “São cinco horas em algum lugar”.

Meu sorriso é instantâneo, e admito. — Eu pensei nisso.

Um suave hmm o deixa, e algo aquece dentro de mim quando


seus olhos encontram os meus. — Eu aposto que sim.

114
-Licor de whisky.

115
Cantor. Compôs a música “It’ five o’clock somewhere”.
Meu sorriso é quebrado com um bocejo e os olhos azuis de
Noah suavizam.

— Ainda não está dormindo bem? — Sua voz é áspera com


sua própria inquietação.

Estremeço. — Isso é óbvio, hein?

Noah balança a cabeça, devagar e com firmeza, sussurrando


— Não. Não é.

Ele olha nos meus olhos por um longo momento, e um calor


tão estranho quanto familiar me cobre. Não, não é óbvio. Ele
simplesmente sabe.

Porque ele conhece você, Ari.

Eu pisco.

Você o conhece.

Eu pisco novamente.

Nós nos encaramos, e é ele quem encara a água primeiro,


então o sigo.

Sentamos em silêncio, aproveitando o calor que nossas


bebidas oferecem e a calma que a companhia um do outro traz.
Estive no limite por tanto tempo, mas esta é a primeira vez em
muito tempo que sinto que posso apenas ser, como posso deixar
minha dor mostrar onde vai, sem me preocupar com os outros e a
preocupação que tentam esconder ao meu redor. Minha família
tenta fingir que tudo está normal, e sei o quão difícil deve ser.
Noah não faz isso. Ele está simplesmente aqui comigo, e é
isso.

Eu não sinto que tenho que sorrir e isso por si só é


revigorante.

Só quando posso ver o fundo do meu copo, decido que quero


compartilhar algo com ele, mesmo que não tenha certeza do que
isso significa ou por que preciso que ele saiba, mas preciso que
saiba, por isso mudo para encará-lo.

— Eu procurei por você ontem à noite. — Minha voz está mais


baixa do que o planejado, e a cabeça de Noah se vira na minha
direção tão rápido que o ar fica preso na minha garganta. Seus
olhos azuis procuram os meus, uma mistura de choque e
determinação, de dor silenciosa nublando os seus.

— Eu pensei que talvez tivesse saído com Paige.

Sua carranca é profunda e instantânea. Noah balança a


cabeça, lambendo os lábios como se estivesse mordendo as
palavras que deseja falar, por isso aceno, silenciosamente pedindo
por elas.

— Paige é minha amiga — ele me diz, a tensão apertando suas


feições enquanto acrescenta — Do ensino médio e de Avix.

Meu pulso bate um pouco mais forte e espero por mais.

— Eu sei que não percebeu isso, mas foi onde você a


conheceu. Na Avix. — Seus olhos se movem entre os meus. — Não
antes. Não no verão. No campus, semanas após o semestre.
Meus lábios se abrem, meus ombros encolhendo. — Eu a
conheci no campus?

Ele concorda.

— Por que eu me lembraria do seu rosto e do nome em meio


a todo o resto? — Eu me pergunto. — Era importante para mim?

Ele balança a cabeça novamente. — Não, não


necessariamente.

A implicação mais profunda de suas palavras me atinge, e


uma inesperada sensação de pavor se segue. — Ela era importante
para você.

Seu rosto se contorce, um milhão de pensamentos passando


por ele antes que fale — Não do jeito que pode estar pensando.

— Eu nem sei o que estou pensando — admito baixinho. — É


como se tivesse pensamentos e preocupações, ou raiva e tristeza,
mas não sei porquê ou para onde direcioná-los. Fico me
perguntando se cometi um erro. Que talvez devesse ter deixado
todos preencherem as lacunas, mas não queria que o que outra
pessoa pensasse que eu sentia sufocasse como realmente fiz,
porque alguém realmente compartilha todos os seus sentimentos
com outra pessoa? Quero dizer, verdadeiramente, e sem seleção?

Noah me encara diretamente nos olhos e diz: — Nós fizemos.

Duas palavras, tão ternas e ditas com franqueza, criam uma


dor tão profunda em meus ossos, que não tenho ideia de onde
termina ou começa, não tenho ideia se é a minha dor que estou
sentindo... ou a dele.
Noah inclina a cabeça, seu sorriso é apertado, mas suas
palavras são genuínas. — Discordo, aliás. Acho que o que está
passando é corajoso. Qualquer um poderia ter sentado lá e ouvido
alguém contar a história de sua vida, mas você escolheu vivê-la.
Independente da confusão que sei que sente e não importa a dor
que não consegue se livrar. Você é forte, Julieta. — Engole. — Tão
mais forte do que imagina.

Ela é mais forte do que imagina...

Minha garganta está grossa, e enquanto olho para Noah,


minha mente faísca. Como relâmpagos durante o dia, os flashes
estão lá, mas quando seus olhos seguem, não há nada à vista.
Nenhuma prova do que testemunhou, nenhum sinal do que foi.

— O que está pensando? — Ele pergunta.

— Sobre o quão orgulhosa sua mãe estava de você. — A dor


pisca em seu rosto, e seu peito queima. — Ela deve ter sido.

Seus olhos caem rapidamente, e ele balança a cabeça, de


costas para mim por um momento de silêncio. — Eu a vi no dia
em que morreu. Estava... foi um dia muito bom. Ela me deu algo
que encontramos anos atrás, algo que eu tinha esquecido, e bem
ali perto daquele píer foi onde encontramos. — Ele suspira. — Não
me lembro exatamente onde, mas em algum lugar perto de lá.

Isso traz um sorriso ao meu rosto e olho para a água. — O


oceano sempre oferece uma surpresa. Espero que seja muito
tempo a partir de agora, mas gostaria de ser cremada também.

Noah se vira para mim, e pela primeira vez, sinto que acabou
de descobrir algo sobre mim que ainda não sabia. — Sim?
Concordo. — Dessa forma, minhas cinzas podem ser
enterradas ou espalhadas, e será como estar no meu lugar favorito
para sempre. — Olho para ele. — Quer saber onde fica?

— Eu sei onde é.

— Oh sim? — Eu rio, sua resposta rápida e inesperada.

Noah assente. — Aqui. Na praia.

Minha boca se abre. — Como você... deixa pra lá. — Fico um


pouco envergonhada e desvio o olhar.

— Julieta... — chama, meus olhos voltam para ele,


lentamente balançando a cabeça. — Não me contou. Você me
pediu para levá-la ao meu lugar favorito uma vez. — Eu pedi? —
Então perguntei se você faria o mesmo.

— Eu te trouxe aqui? — Sussurro, meu estômago girando sob


minha palma.

— Concordou em me mostrar, mas eu disse que aposto que


já sabia, e você disse... pode apostar que eu também sabia. — Seu
sorriso é pequeno e depois desaparece. — Eu nunca confirmei o
que pensava, mas você acabou de confirmar.

— Esta foi a primeira vez que adivinhou?

— Foi, mas não foi um palpite. — Engole. — Eu sabia.

Um arrepio passa por mim, e mordo minha bochecha. —


Porque me conhece.
— Sim. Conheço. Assim como você sabia o que eu precisava
fazer ontem para me sentir um pouco melhor.

A pressão cai no meu peito e me preparo para a tontura, para


a névoa e asfixia, mas o pânico nunca vem.

A curiosidade sim.

Então, me viro para Noah, perguntando — Onde é seu lugar


favorito?

Com isso, seus olhos ficam suaves, sua voz nada além de um
sussurro quando diz — Eu poderia te mostrar...

Olhando para o comprimento do campo de futebol, puxo


minhas pernas até o queixo. — Eu me pergunto se este também
seria o lugar favorito de Mason, se perguntasse a ele. — Eu me viro
para Noah, meu pescoço se esticando para segui-lo enquanto se
levanta.

Ele estende a mão, então com um olhar crítico, permito que


me puxe para os meus pés.

Noah ri, e depois sem hesitação, me puxa para ele. Uma mão
planta no meu quadril, a outra segurando minha direita.
Lentamente, Noah começa a nos embalar, e só quando o silêncio
recai sobre ele e eu a melodia suave chega aos meus ouvidos.
Espreitando atrás de mim, vejo seu telefone no gramado e
olho para ele.

— Você me devia uma dança — sussurra, o calor de sua


respiração enviando uma corrente elétrica pela minha espinha.

Meu pulso salta e tento dar um sorriso fácil. — Eu?

Noah apenas acena com a cabeça, e continuamos a nos


mover. É um tipo estranho de tortura, a pureza suave que seus
braços oferecem, e a história devastadora que as palavras que a
música toca ao nosso redor contam suavemente. É uma tortura de
quebrar os ossos, mas Rascal Flatts116 faz isso com você.

A música canta sobre amor e boas graças; sobre desejar nada


além do melhor para alguém, mas acima de tudo, canta de
abnegação, de aceitação que só vem com a perda, ou a
possibilidade de adeus, e os lábios de Noah se movem para as
palavras da música como se as cantasse silenciosamente.

É como se Noah soubesse o que a música faz comigo e


estivesse falando comigo através das letras.

Ele quer que eu seja feliz acima de tudo, e eu gostaria de


entender exatamente o porquê.

Você deve saber por quê, Ari. Lembre-se.

116
-Rascal Flatts é uma banda country pop dos Estados Unidos.
Eu pisco, engulo, e então a música muda, e só piora.

Porque desta vez, o aperto de Noah não é simplesmente ele


me segurando, é ele precisando de mim.

Posso senti-lo, no fundo da minha alma. Eu o sinto. A


derrota, a perda que a música conta, sangra dele, e anseio por tirá-
la.

Canta sobre oportunidades perdidas e sonhos futuros. Esta


é uma música sobre a agonia que vem do “e se” a vida nos deixar.
Aquele momento tão próximo, quando tudo parece possível, sua
felicidade pendurada ao alcance, tudo para ser dilacerado e
queimado. Quando não há nada que possa fazer a não ser sentar
e ver as cinzas desaparecerem no vento.

Uma sensação de impotência toma conta de mim, e é como


se um peso caísse sobre meu ombro quando a testa de Noah cai
na minha.

Minhas costelas doem, piorando enquanto tento respirar


fundo, e percebo porque ele estremeceu um leque em mim.

Noah está quebrando diante de mim. É óbvio nos vincos se


aprofundando ao longo de sua testa. Na forma como seus olhos se
apertam, e seus movimentos começam a desacelerar. Ele mal
consegue se controlar.

Minha intuição se prova verdadeira quando sua próxima


respiração é um pedido de desculpas enquanto ele se desculpa.

Fico ali, sozinha no meio da endzone, me perguntando por


que a cada passo que ele dá, meu corpo fica mais pesado.
Arianna
Meu joelho salta inquieto enquanto paramos no
estacionamento em frente ao meu dormitório.

É estranho reconhecer tudo tão plenamente, mas não saber


se é pela visita que fizemos aqui no ano passado ou pelo semestre
que chamei de meu lar.

Já que todos nós cinco precisávamos ir e vir, decidimos vir


juntos no Tahoe de Mason. Os rapazes carregam as minhas malas
e da Cam, conversando sobre a bagunça em que deixaram seus
quartos enquanto entramos no elevador.

Cameron pressiona o número três, e registro isso na minha


memória. Os rapazes falam, e sorrio em resposta, mas não tenho
ideia do que disseram. Meu coração está batendo em meus
ouvidos, não deixando espaço para mais nada.

Talvez eu não devesse estar, mas estou nervosa. E se eu


odiar?

Isso significa que sou diferente? Que mudei e nem sei?


E se eu entrar e todas as minhas memórias voltarem, me
sobrecarregando?

E se eu entrar e eles não entrarem?

Antes que eu perceba, estou em frente a uma porta de


madeira barata, o número 311 pendurado ao seu lado. Puxando
as chaves do meu bolso, deslizo na fechadura e me viro.

A porta se abre e prendo a respiração.

É com passos trêmulos que entro, e no momento em que


cruzo a soleira, o peso em meus ombros diminui.

Um sorriso se abre em meu rosto quando olho para as velas


nas bancadas, uma tigela translúcida meio cheia de rolhas de
vinho e tampinhas de garrafa entre elas.

Olho para Cam.

Ela me pega, sacudindo-me um pouco. — Isso é tudo que


consumimos como melhores amigas desde o dia da mudança.
Limites de grupo são indignos.

— Isso soa sólido. — Corro meus dedos sobre o balcão,


deslizando para a sala de estar.

Os travesseiros são roxos e brancos, fofos, e há dois


cobertores combinando dobrados cuidadosamente –
definitivamente não por mim – e escondidos sob o vidro da mesa
de centro.
Os controles remotos estão em um copo gigante que diz
“tamanho importa” e o tapete sob meus pés é de um preto felpudo.
— Vejo que ganhei no tapete.

— Sim, ganhou, e graças a Deus, porque Brady derramou


totalmente cerveja por toda parte.

— Culpado — grita da entrada.

Eu me viro para eles, todos os três fingindo que não estão


esperando que eu tenha um colapso mental, compreensivelmente.

Não tenho falado muito desde tudo com Noah. É verdade que
foi apenas dois dias atrás, mas ainda assim. É perceptível, talvez
ainda mais quando soube que ele partiu para o campus, sem uma
palavra, apenas algumas horas depois de voltarmos de seu lugar
favorito.

— Vou dar uma olhada no meu quarto — digo a eles. — Pode


ir para o de vocês, e voltem quando terminar.

Ninguém se move, por isso me movimento, e só então


Cameron se vira para eles e começa a sussurrar.

Ela promete que estamos bem, e que ligará se houver


necessidade, mas não fico para ouvir o resto.

Entro no quarto que tem meu nome estampado na porta,


fechando-a silenciosamente atrás de mim e girando rapidamente
para encarar a madeira compensada por um longo momento antes
de me convencer a me virar.

Meu estômago se revira, mas quando me permito olhar ao


longo do pequeno espaço, minha mente se acalma.
Sorrio para a parede de luzes e caminho até encontrar o botão
liga/desliga localizado no cubo da tomada. Ligando-os, as luzes
brancas brilhantes começam a piscar, ganhando uma risada baixa
de mim, e me jogo no edredom branco fofo que meus pais me
compraram antes de me mudar.

Há Post-its espalhados pelo meu espelho e canetas cor-de-


rosa em uma caneca Avix, em cima da minha cômoda, algumas
outras bugigangas espalhadas ao redor. Acima da minha cabeceira
está pendurado um quadro gigante de tinta respingada com um
par de lábios enrugados e rosa sangrando no centro. Os livros
didáticos estão em uma pilha perto do armário, por isso me movo
dessa maneira e me afundo no chão para verificá-los.

Abro na primeira nota adesiva pendurada na lateral e leio


uma passagem sobre as dores na história americana. Ao lado, há
alguns pensamentos rabiscados na minha caligrafia, uma
proposta sobre como nós, como a próxima geração, podemos fazer
melhor.

Não me lembro de escrevê-lo. Não me lembro deste quarto,


mas também não odeio.

Adoro-o.

Isso significa que ainda sou eu?

Puxando-me para os meus pés, espio pela janela, e quando o


faço, suspiro.

Noah está aqui, sentado no estacionamento com sua


caminhonete em marcha lenta.
Não consigo ver seu rosto daqui, mas está olhando para
frente, na mesma direção em que a caminhonete de Mason ainda
está estacionada.

Eu puxo meu telefone do meu bolso, me preparando para


enviar uma mensagem para ele, mas então sua caminhonete
começa a rolar, por isso coloco meu telefone na mesa de cabeceira
ao meu lado.

Há uma batida suave na porta, e quando olho para aquele


lado, Chase enfia a cabeça para dentro.

Seus olhos se movem ao redor, um pequeno sorriso puxando


seus lábios, e percebo então, esta é a primeira vez que vê isso.

Ele nunca esteve no meu quarto.

Minha pele se arrepia com desconforto, e ele se aproxima.

— Vamos para a casa, mas queria ver você primeiro. —


Empurra meu cabelo atrás da minha orelha, e uma pequena
carranca pisca em meu rosto com a ação. — Como se sente?

— Estou bem. — Concordo. — Honestamente, só quero olhar


em volta e me familiarizar com o lugar.

— Tudo bem — suspira, e quando se aproxima, um nó se


forma no meu peito.

Eu tento sufocá-lo, pressioná-lo para baixo, mas não


funciona.
Seus lábios caem na minha testa e esse nó aperta, meu
esterno cede, mas quando meus olhos se abrem, encontrando seus
suaves verdes, torna-se um pouco mais suportável.

Ele sorri e sai, fechando a porta atrás dele.

Soltando uma respiração profunda, me abaixo na minha


cama, me enterrando na montanha de travesseiros e fecho meus
olhos.

Inalo profundamente e meus músculos se contraem. Inalo


novamente. E novamente, e depois estou cega em uma névoa
espessa e nublada.

Meus sentidos ficam confusos, procurando.

Sou atingida pelas manhãs nas montanhas e as noites no


oceano; com especiarias, pinho e hortelã.

Meus olhos se abrem quando um flash do hospital vem à


mente.

O cheiro estava lá, permaneceu, e sob o vapor aquecido do


chuveiro, o aroma foi trazido de volta à vida, invadindo e
ultrapassando meus sentidos.

Ele me chama, me acalma, e então me puxa para baixo.

Não tenho certeza de quanto tempo passa antes que a voz


suave de Cameron me acorde.

— Ei dorminhoca — sussurra, se enrolando a minha frente.


— É bom vê-la nocauteada realmente pela primeira vez.
— Sinto como se tivesse dormido por um dia.

— Faz apenas uma hora.

— Bem, o conforto de casa para a vitória.

Rimos, e Cameron começa a roer as unhas.

— O que há de errado?

Ela franze a testa. — Estou nervosa por você.

— Não esteja. Eu me sinto bem.

— Você ainda está tendo ataques de pânico, Ari. Como vamos


para a aula, sem saber se está bem no caminho para a sua?

— Não pode tomar conta de mim o tempo todo, Cameron.

— Eu sei, mas… o que diremos para as pessoas em nosso


prédio? Devemos fazer um diagrama de fotos como fizeram em The
Parent Trap117, para que possa fingir que os conhece? Quero dizer,
isso é permitido? A escola ficaria bem com você como aluno do
segundo semestre quando não se lembra do primeiro? E se falhar?
Ser expulsa?

— Uau. — Eu rio levemente, sentando, e ela me segue. —


Calma, tudo bem. Sério. Ficará tudo bem. Estou... — Por cima do
seu ombro, vejo um calendário pregado na parede.

117
-Filme infantil comédia, no Brasil ”Operação Cupido”.
— Ari? — Ela se mexe na cama, olhando para onde estou. —
Oh meu Deus — engasga, pulando e o arranca da parede. Ela
puxa-o em seu peito e então estou de pé na cama.

— Cameron.

— Ari... — balança a cabeça.

Eu pulo, minha pressão arterial subindo. — Dê-me isto.

Lágrimas se acumulam em seus olhos e os fecha antes de


entregá-los.

Girando para longe, o seguro a minha frente, e meus


membros começam a tremer.

Meus olhos são atraídos para as letras azuis em negrito, com


corações rosa, roxo e amarelo na data de 19 de janeiro, mas são
as palavras escritas na pequena caixa quadrada que envia uma
dor pulsante por todo o meu corpo.

Gala com o Noah.

Minhas respirações vêm em ofegos curtos e profundos. Cada


grama de ar expelindo com cada sopro e não circulando de volta o
suficiente. Fico tonta, caio no chão e puxo o calendário com
estampa de chita para mais perto.

Meu estômago dá uma guinada, e gemo. Olho para Cameron.

— Que porra é essa?

— Ari — chora.
— Cameron — estalo, sacudindo a coisa. — O que diabos é
isso?

Seus ombros caem, e com passos hesitantes, caminha em


direção ao meu armário.

Ela me espia, e em seguida, empurra as portas, seu queixo


caindo no peito.

Pendurado ali no meio, e virado para frente, como se eu


quisesse ver claro como o dia toda vez que entrasse nesta sala,
está um vestido.

Um elegante vestido estilo sereia com ombros laterais. É


brilhante, sedoso e um brilhantemente lindo... azul.

Minha mão vem para cobrir minha boca, e choro, enterrando


meu rosto.

Cameron cai diante de mim, me envolvendo em um abraço.


— Sinto muito, mas nos pediu para prometer não dizer uma
palavra. Estávamos apenas tentando seguir sua liderança.

— Como ele pôde... por que não... — rosno, rasgo a folha do


resto do calendário, e pulo para os meus pés. Estou fora da porta
tão rápido quanto meus pés me levam.

— Ari, espere! — Cameron rapidamente segue.

Eu saio correndo, optando pelas escadas, e logo seus gritos


ecoam acima de mim.

— Ari!
Eu já estou porém correndo pela saída.

O ar de janeiro está frio, mas o sol está brilhando e aquecendo


a cada minuto.

Eu continuo correndo.

Pelo estacionamento, pelo café e pelo campus. Corro até estar


a um metro da caminhonete de Noah, Mason não está longe dela.

Corro para frente assim que Mason está saindo da porta da


frente, seu telefone travado em seu ouvido.

Ele me vê instantaneamente e abaixa seu celular, a tensão


escrita por todo ele. — Ari…

Eu o empurro no peito, e suas mãos levantam.

— Como pôde me deixar tornar-me essa garota?!

— Isso não é justo.

— Eu lhe disse que ia com Chase para aquele baile estúpido,


e ele olhou para mim com isso... — Minhas costelas apertam. —
Oh, Deus, isso apenas o quebrou e eu não entendi e pensei que ele
estava apenas... triste e agora sei que é por minha causa. Era ele,
não era? Ele é... ele era...

— Ari, tem que se acalmar.

— Não quero me acalmar! Quero lembrar! — Grito. — Eu


quero minha vida de volta!
Os olhos do meu irmão lacrimejam e me puxa para ele, me
segurando contra seu peito como nosso pai faria se estivesse aqui.

— Sei que quer, irmã. Eu sei. — Ele hesita um momento, e


então olha para mim.

— Vou lá, Mason. Eu preciso falar com ele.

— Tem certeza que é uma boa ideia?

— Eu não tenho certeza de nada, então o que poderia doer?

— Ele.

Eu me viro para encontrar Cameron, com as mãos nos


quadris, respirando superficialmente.

Ela caminha até nós, uma tristeza em seu rosto. — Pode


machucá-lo, e ele não está nada além de ferido desde o dia em que
foi atropelada por aquela caminhonete, que estava nesta rua, a
propósito. Bem aqui, em frente a esta casa.

— Cameron — Mason retruca, mas ela continua.

— Foi logo após o último jogo da temporada, uma derrota nos


playoffs. Veio aqui para encontrá-lo, mas Chase encontrou você
primeiro.

Eu franzo a testa, balançando a cabeça.

— Você tinha algo a dizer naquela noite, para Chase e Noah,


mas só teve a chance de falar com um. Cara a cara de qualquer
maneira.
— Cameron! — Meu irmão grita.

— Você enviou uma mensagem para o outro.

Minha pele se arrepia, e me atraio. Ela me joga meu telefone,


e o pego.

— Se você estiver realmente pronta para tudo isso, sincronize


novamente sua nuvem, Ari.

Mason se afasta de mim, ficando em seu rosto. — Que porra


está fazendo?

— O que você deveria ter feito há muito tempo. — Diz. — Foi


você quem comprou um telefone novo para ela, exibiu a conta dela.

Meus olhos voam para Mason, seu olhar ainda apontado para
Cameron.

Ela encolhe os ombros. — Sou a sua melhor amiga. Eu


também sei as suas senhas, e depois que ela decidiu, não queria
saber, fui até o seu telefone planejando fazer o mesmo, mas já
tinha sumido. O fio inteiro. Você apagou, não foi?

— Fiz o que me pediram. — Depois de um momento, seus


olhos encontram os meus, a vergonha pesando sobre eles. — Ele
não queria tornar as coisas mais difíceis para você.

Ele…

Noah.
Meu peito sobe e desce com várias respirações, e então me
viro, correndo para dentro da casa. Tranco a porta assim que
entro, e a pancada forte de Mason bate instantaneamente.

Alguém vem ao corredor, franzindo a testa para mim


enquanto se dirige para destrancá-la, mas já estou abrindo a porta
que leva ao quarto de Noah.

Quando chego ao último degrau, Noah enfia a cabeça no


corredor e ambos congelamos.

— Eu... hum. — Pisco, olhando para frente e para trás. —


Ninguém me disse onde era o seu quarto...

As sobrancelhas de Noah puxam, e em seguida, lentamente,


acena com a cabeça.

— Sim — responde a pergunta que não precisava fazer. —


Você esteve aqui.

— Muito?

— Isso depende da interpretação.

— Noah.

— Sim, muito.

Concordo com a cabeça, olhando para baixo, e é aí que me


lembro por que vim em primeiro lugar.

Dou um passo ao seu redor, para o espaço, e quase caio no


chão.
É o cheiro. A hortelã e o pinho. É Noah.

— Ari…

Eu levanto o calendário e me viro para encará-lo, batendo em


seu peito. Ele tem a opção de vê-lo cair ou agarrá-lo e lê-lo, e
escolhe deixá-lo cair aos nossos pés.

Uma ternura cai sobre ele e sua cabeça inclina um pouco.

Ele já sabe o que está acontecendo lá.

— Sinto muito que você teve que ver isso — murmura.

Uma risada sem humor me deixa, e balanço minha cabeça.

— O quê? — Encaro. — É isso que tem a dizer sobre isto? —


Eu balanço minha cabeça novamente, girando para longe dele e
me movendo mais para seu lugar.

— Eu não quero te machucar — diz baixinho, o calor de sua


presença se aproximando. — Mas cada vez mais, não tenho ideia
de como conseguir isso. — Ele está bem atrás de mim agora, meu
corpo sente o dele. — Mentiras machucam as pessoas, e sinto que
tudo que faço é mentir quando olho para você.

Eu engulo. — Então, não.

— Não o quê?

Os cabelos da minha nuca se arrepiam quando o calor de sua


respiração me atinge.
— Minta. — Lentamente o encaro, e meus pulmões se
expandem. — Não minta para mim, Noah.

Seus olhos azuis perfuram os meus, e ele dá um aceno curto.


— Está bem.

— Diga que jura.

Uma respiração quebrada passa por seus lábios, e ele acena


com a cabeça novamente.

Com ondas ansiosas rolando sobre mim, aponto para o


calendário no chão. — A gala. Eu deveria ir com você.

Ele balança a cabeça, e uma dor se forma no meu peito.

— Eu tinha um vestido.

Seus lábios se inclinam um pouco. — Tinha?

— Você não sabia?

Ele balança a cabeça. — Aposto que queria me surpreender.


Que cor?

— Imagina.

Ele aponta seu sorriso para o chão, como se soubesse, mas


não diz uma palavra.

— A gala. Foi isso que quis dizer quando disse que eu te devia
uma dança. Porque eu deveria ter dançado com você então.

Outro aceno.
Lágrimas incomodam a parte de trás dos meus olhos, mas
seguro-as. — Por que desenhei corações ao redor da data?

— Não desenhou.

A frustração floresce, e me curvo, pegando-o do chão e


colocando-o em sua mão. — Você jurou.

— Você escreveu no calendário. Eu desenhei os corações.

— V-você desenhou os corações? — Gaguejo. — Em três


cores? No calendário...

— No seu quarto. — Olha, hesitante, mas apenas por um


momento. — E na sua agenda escolar. E na do meu.

— No seu... o quê?

— Quarto — sussurra.

Minha garganta incha. — Mostre-me.

Assentindo, Noah estende a mão, então me afasto, me


movendo lentamente pela pequena sala de estar e pela porta aberta
que leva a uma cama recentemente feita.

Um par de sapatos está ao pé dela, e papéis se espalham pela


pequena mesa no canto.

Congelo quando vejo uma camiseta velha jogada no canto,


uma que se parece muito com a velha camisa do colegial de Mason,
a que roubei como roupa de dormir.
Minha cabeça se move sobre meu ombro, minhas bochechas
aquecem quando Noah assente.

Ele desliza a minha frente, puxando o calendário de pé de sua


mesa, e entrega para mim.

Ainda é dezembro, que está completamente em branco, por


isso o viro, e com certeza, está lá, corações e tudo.

Minhas mãos tremem, e escovo meu polegar sobre a escrita.


— Noah…

— Estávamos animados — diz rouco — Isso é tudo.

— Como pôde me permitir ir com Chase? — Olho para cima.

— Não permiti nada. — Seus ombros caem. — Foi uma


escolha sua.

— Mas já tinha feito uma. Se eu soubesse, não teria dito sim.

— Mas você não sabia.

— Isso é culpa sua também! — Não quero gritar, e a culpa


envolve minhas costelas.

— Pode me culpar. Qualquer coisa que queira me culpar,


faça. Por favor. — Seu tom está quebrado, impotente e a dor sangra
em minhas próprias veias. — Carregarei esse peso. Com prazer.
Felizmente, se isso tirar alguma coisa de você. Não quero te
machucar. — Ele se aproxima, quase implorando para tomar a dor
de dentro de mim como sua. — Se eu fosse contra o que perguntou,
se te olhasse nos olhos e te dissesse qualquer coisa de antes, teria
arriscado assustar você. Não poderia arriscar.
— Não teria me assustado.

— Não sabe disso. — Tormento queima em seus olhos, e meus


lábios começam a tremer.

— Pediu para Mason deletar algo do meu telefone?

Ele estremece visivelmente, implorando silenciosamente por


um passe. Eu não dou a ele.

Você jurou...

Noah assente.

— O que foi?

Ele engole. — Uma mensagem... todas as nossas mensagens.

Havia muitas?

— Excluiu do seu?

Noah abaixa a cabeça. — Não.

— Por quê?

Ele fecha os olhos, e quando abrem, estão claros, e sou


cativada pela tristeza dentro deles. — Porque eu precisava segurar
o que você me deu com a última mensagem que enviou.

— O que eu te dei? — Sussurro.

— Propósito, Julieta — sussurra de volta. — Você me deu um


propósito quando não tinha tanta certeza de que tinha um.
Meus olhos se fecham, e percebo que as lágrimas caíram
quando o calor dos polegares de Noah encontra minha pele, me
chocando, me aquecendo.

Acalmando-me?

Minhas pálpebras se abrem, travando com as dele.

Seu toque para, mas não sai.

O calendário cai, e minhas mãos pressionam contra seu


peito.

Estremeço, mas depois as achato ali. Seu coração bate na


palma da minha mão, e meu pulso segue sua liderança. Começa a
gaguejar, devagar, e a cada segundo que passa, o ritmo aumenta
e meus olhos sobem com ele.

Os dedos de Noah se contorcem contra o meu cabelo, e ele


engole. Fico na ponta dos pés e suas feições puxam.

— Julieta... — murmura. — O que está fazendo?

— Eu não sei — admito, seus lábios tão perto agora.

— Não sei como me sinto sobre isso.

— Como se sente sobre mim?

Ele não diz nada, então olho para cima, e quando o faço, de
repente, seu silêncio faz sentido.

Noah não precisa dizer uma palavra, a verdade está escrita


sobre ele.
Ele não poderia escondê-la se tentasse, e acho que pode estar
tentando...

Noah
Porra, ela é linda, perfeita.

Aqui.

Ela veio até mim com raiva, me encontrou na memória e


agora me encara com necessidade.

Minha baby porém não tem ideia do que precisa quando a


resposta, embora difícil de encontrar, é tão simples.

É uma palavra, uma coisa.

Sou eu.

A dor em sua voz, isso me corta. Está me matando.

Como me sinto sobre ela?


Meus dedos correm por sua bochecha, minha palma
achatando contra ela um momento depois, e ela pisca lentamente.

Eu te amo baby. Cada parte de você.

Amo o jeito que liga a vida às letras, como sorri para a lua e
ama como o oceano, por toda parte, e sem desculpas. Amo o quão
altruísta você é, quão honesta e gentil, mesmo que a vida não tenha
sido tão gentil com você ultimamente. Amo como tenta ser corajosa
por sua família, porque não quer que eles se machuquem, mesmo
quando isso te machuca um pouco.

Eu te amo tanto que quero voltar para casa, para você, acordar
ao seu lado e passar a vida inteira te adorando. Quero a casa de
que falou e a família dos teus sonhos. Não quero apenas ser o
homem que precisa, mas o que você quer. Aquele que não pode viver
sem. Quero te amar por toda a vida, e ainda mais depois disso.

Acima de tudo porém, só quero a chance de fazê-la minha


novamente.

Porque eu sou seu. Sempre.

Não importa o que aconteça.

— Noah — ela rosna, e pisco de volta para o agora.

Para a garota vulnerável diante de mim, confusa pela forma


como seu coração bate quando está perto de mim, e entendendo
exatamente o que está sentindo enquanto está.
Ela se sente segura e calma. Está em paz e surpresa pelo fato
de que não sente necessidade de correr, como sabe que não tem
razão para isso.

Porque comigo, ela está em casa.

Estou em casa para você, baby. Por favor lembre-se...

Ari respira fundo. — Faça algo por mim?

— Qualquer coisa.

— Mostre-me como se sente sobre mim — implora.

Meu estômago se revira, mas minha mente brilha com luz.

Ela mordisca o lábio. — Eu sei que estou confusa e...

— Você não está confusa.

— Nada parecia real desde que acordei, mas estar aqui... —


Hesitante, sua mão desliza para cima, e não para. — Não consigo
explicar.

Meu sangue bombeia descontroladamente, cada músculo do


meu corpo se contraindo. — Eu te fiz uma promessa uma vez.

— Que promessa?

— Nunca lhe negar, por isso preciso que pense muito sobre o
seu próximo passo, porque não sou forte o suficiente para ser um
homem melhor aqui. Uma promessa para você é algo que nunca
quebrarei, mesmo que não se lembre de mim fazendo isso, mas
não tenho certeza se isto sou eu sendo nobre ou egoísta. — Minha
mão abaixa, meu polegar deslizando ao longo de seu lábio inferior.
Ela estremece e o calor se espalha por mim. — Você deveria ir
embora, Julieta.

— Eu não quero. — Lágrimas enchem seus olhos, e sua


cabeça abaixa, então encontro sua testa com a minha. Tão
lentamente quanto possível, ela pressiona seus lábios no canto dos
meus, e mantém lá por um longo momento.

Eu mal posso respirar, mal posso evitar que minhas mãos se


enfiem em seu cabelo, mas de alguma forma consigo me manter
imóvel.

Quando ela finalmente se afasta, é com o mais suave dos


sorrisos. — Acha que talvez possamos conversar um pouco?

A possibilidade envia uma faísca pelo meu peito e os


músculos do meu pescoço se esticam. — Sempre. Contanto que
queira.

Achei que talvez ela fosse nos levar para a sala de estar, mas
ela simplesmente se abaixa no chão, encostando as costas na
minha cama, por isso faço o mesmo, a minha contra a parede em
frente a ela, e espero.
Ari
Noah olha enquanto puxo minhas pernas para cima e coloco
meu queixo contra meus joelhos.

— Diga-me uma coisa — peço.

Uma ternura o cobre, e ele olha para baixo, reprimindo um


sorriso como se tivesse um segredo, e de repente, quero saber tudo
dele.

Com humor em seu olhar, ele encontra o meu. — O que quer


saber?

— Tudo.

Seus olhos perfuram os meus, e juro que ficam brilhantes,


mas no momento seguinte, estão claros e encantados por mim.

Noah sorri e algo em meu peito se agita.

Ele começa a falar, e me apego a cada palavra dele.


Arianna
Já passava da meia-noite quando meu irmão finalmente
decidiu que não podia mais se conter e ligou para Noah. Encontrei-
o no final da escada, e nos empilhamos em seu Tahoe, Chase e os
outros já enfiados lá dentro.

Não conversamos muito no caminho de volta para a casa de


praia, e quando chegamos, todos estavam prontos para dormir.

Mais uma vez, não consegui dormir muito, os eventos do dia


girando em minha mente, os pensamentos do que poderia ter
acontecido girando ao redor. É difícil, não saber se o que vejo é
uma memória ou uma fantasia distorcida que decorre da
necessidade desesperada de saber que estou queimando.

Quando o sol nasce, já estou saindo do chuveiro e indo direto


para o primeiro lugar que senti necessidade de estar.

Como suspeitava, ela se levantou e me viu pela janela da


sacada.

Com um pequeno sorriso, Payton abre a porta, seu cabelo


bagunçado na cabeça, seus olhos cansados.
— Ari, oi. — Ela me conduz, retomando seu lugar no balcão,
onde está preparando uma mamadeira para o filho. — O que está
fazendo acordada tão cedo?

— Eu... Payton.

Seus olhos levantam para os meus.

— Eu sinto muito.

— Pelo quê? — Ela franze a testa.

Quando a prendo com um olhar conhecedor, ela suspira, se


aproxima e envolve seus braços em volta de mim.

— Confie em mim, Ari. Eu entendo.

Eu aceno, apertando suas costas e soltando um longo suspiro


quando me solta.

— Alguma chance de precisar de um pouco mais de sono?

Os nervos nadam através de mim enquanto seus passos


param, e ela olha por cima do ombro, mas então caminha até mim.
— Eu poderia tomar um banho ininterrupta…

Mordendo meu lábio, aceno, pego a mamadeira das mãos de


Payton e me viro no corredor.

Eu me aproximo do berço, me virando rapidamente para


Payton antes que ela se vá.

— Payton.
Ela para.

— Obrigada.

Com um pequeno sorriso, ela balança a cabeça, e então


desaparece no corredor.

Eu corro minhas mãos ao longo da borda do cobertor azul de


pelúcia, e quando meu rosto aparece, os olhos de Deaton me
encontram.

— Ei, amigo — sussurro, rindo quando ele chuta seus pés.

Com uma respiração profunda, gentilmente o levanto em


meus braços, seus pequenos sons de arrulho aquecendo partes de
mim que tinha medo de sentir.

Enquanto me abaixo na cadeira de balanço com ele em meus


braços, a umidade se acumula em meus olhos, mas não é de
tristeza. Eu não tenho certeza do que é. Tudo o que sei é que o
bebê em meus braços é precioso. Ele agarra a mamadeira com
facilidade, suas mãos subindo para cobrir as minhas como se
estivesse determinado a segurar a coisa ele mesmo, e uma risada
baixa me deixa.

— Já está tentando ser um homem.

Olho para encontrar meu irmão andando pela cozinha.

— Ei. — Aperto os olhos, olhando para ele. — Eu não sabia


que estava acordado.
Ele acena com a cabeça, vem se sentar ao meu lado, e assim
que Deaton o vê, sorri ao redor do bico da mamadeira. Mason ri.
— E aí, cara?

— Ou talvez não soubesse que eu estava acordada. Mase?

Ele dá de ombros, caindo na cadeira estofada ao meu lado. —


Às vezes, passo pela manhã. Parker sai muito cedo para trabalhar
e Kenra também está ocupada.

Meus olhos se estreitam, mas ele não diz mais nada.

Mason olha do bebê para mim, suas feições suavizando. —


Estava me perguntando quando você chegaria aqui.

— Sim — sussurro, correndo meus dedos sobre o cabelo


macio de Deaton. — Eu também.

Segurar um bebê traz uma sensação de paz como nada mais


pode. É como se o tempo desacelerasse e seus pulmões se
abrissem além de sua capacidade. É como prender a respiração e
respirar fundo ao mesmo tempo, um calor inigualável que te enche
da cabeça aos pés.

— Você está bem? — Meu irmão sussurra.

— Estou — respondo honestamente, minha mão formigando


enquanto corro a ponta do meu polegar sobre as bochechas macias
do bebê. — Eu gostaria de ter passado mais tempo com ele nas
últimas semanas.

Olho para o meu irmão, e ele acena com a cabeça, mas uma
pequena carranca se forma quando olha para o garotinho em meus
braços. — Se você tivesse, uh, talvez fosse um pouco mais difícil
para sair amanhã.

— Será? — Eu me pergunto.

Ele olha para mim.

— Será mais difícil para você ir embora amanhã?

O peito de Mason sobe, mas novamente, não diz uma palavra,


e a preocupação toma conta de mim.

— Mase... — balanço minha cabeça. — Ela não está pronta.

— Eu sei. — Seus olhos caem para Deaton.

Vários minutos se passam, e é só quando estou colocando o


bebê em seu berço, profundamente adormecido, que Mason fala
novamente.

— O que vai fazer, Ari? — Pergunta. — Sobre Noah e Chase?

Balançando a cabeça, me viro para ele. — Não sei.

— O que seu coração está lhe dizendo?

A vergonha recai sobre mim enquanto sussurro — Que quero


o que sempre tive e que talvez seja finalmente meu.

— Que ele é finalmente seu, quer dizer? — Olho para baixo e


ele continua — Eu te conheço, e sei que aprender um pouco sobre
você e Noah tornou as coisas mais difíceis para você.

— Eu só... não quero machucar ninguém.


Mason suspira, uma gentileza caindo sobre ele. — Sei que
não, mas não importa o que aconteça, alguém se machuca, irmã.
É inevitável.

— Sim, eu sei.

Meus pais sempre disseram que deve seguir seu coração, que
ele nunca te enganará, mas o meu está com defeito.

Porque se seu coração é o líder, seu corpo e mente devem se


alinhar.

O meu não o fez, e não tenho ideia do que fazer sobre isso.

Cam e eu passamos o dia desfazendo as malas enquanto


minha mãe faz sua mágica em nossa pequena cozinha,
reabastecendo e organizando toda a porcaria que simplesmente
jogamos nos armários com pressa. Ela cozinha bifes e purê de
batatas, e os rapazes vêm para o nosso primeiro jantar de volta.

Algumas horas depois, quando todos foram para casa, me


tranco no meu quarto.

Abro minha janela para ouvir melhor o tamborilar da chuva


e puxo o calendário de debaixo da minha cama antes de me
acomodar em cima dela.

Você consegue fazer isso.


Eu me dou uma pequena conversa estimulante e depois volto
para setembro. Fora alguns lembretes de teste e do dia do jogo,
como se eu precisasse deles, não há muito, por isso pulo para a
próxima página.

Minha boca se abre, e o puxo para mais perto do meu rosto.

Depois da primeira semana, há pelo menos dois dias


coloridos, pequenas dicas de planos que fiz por escrito. Planos que
não tenho ideia se dei continuidade ou não, mas os pequenos
rabiscos na seção de notas na parte inferior me fazem pensar que
fiz, mas então viro a página novamente e quase perco o fôlego.
Outubro não era nada comparado a novembro.

Cozinhando com Noah.

Noite de cinema com Noah.

Viagem de carro com Noah.

O jogo de Noah.

Mais ou menos na metade do mês, parei de escrever em seu


nome, mas os planos parecem os mesmos. O mês inteiro está
cheio, os rabiscos no fundo de comidas irreconhecíveis e falas de
filmes familiares, uma montanha e salpicos de água.

De corações com rostos sorridentes.

Volto-me para dezembro e sinto um aperto no peito.

Eu balanço minha cabeça, lendo sobre tudo, e o desconforto


envolve meus ombros quando alguns dias depois, começa a
parecer muito diferente.
As palavras “Sinto muito” são rabiscadas algumas vezes,
corações partidos e pequenas chamas espalhadas pelas bordas.

— Algo aconteceu — sussurro para mim mesma.

O quê?

Ele me deixou?

Machucou-me?

Estávamos mesmo namorando ou era... o que éramos?

E então chego à última anotação na página.

Vinte e três de dezembro, portanto após o acidente, as


palavras pegam o CB, com um endereço anexado.

Eu pesquisei no Google, descobrindo que era uma gráfica não


muito longe do campus. Eu tento ligar, mas estão fechados.

O resto da noite fico imaginando o que eu poderia ter pedido,


e quando a manhã chega, estou mais do que pronta para
descobrir, mas as aulas começam hoje, então o que quer que seja
terá que esperar.
Noah
Acordei esta manhã com um pouco menos de peso em meus
ombros.

Nada está bom, nem de longe, mas ela veio até mim sem
direção. Olhou para mim como costumava fazer.

Ela me sentiu como eu a sinto.

Por toda parte, em cada parte dela, ela simplesmente não


entende. Eu deveria ter mantido minha boca fechada e a beijado,
mas beijá-la seria a forma mais cruel de tortura, e não tenho
certeza de quanto mais posso aguentar. Minha mãe não está aqui
para me falar sobre isso, e não incomodarei meus amigos com
problemas que não conseguem resolver.

Foram as seis semanas mais longas da minha vida, mas


espero que melhore.

Estamos de volta ao campus agora. De volta à agitação da


vida universitária e espero que em todos os lugares que ela vá, em
todos os lugares que olhe, me veja como eu a vejo.

Eu a vejo na fonte em que nos sentamos na noite em que a


encontrei no bar. Vejo-a no café e nas mesas de piquenique. Na
biblioteca e na pista.
O ginásio, o campo e cada centímetro deste lugar, porque
segurei a sua mão em cada parte dele. Eu a beijei em todos os
cantos.

Amei-a em segredo, mas não tenho tanta certeza de quanto


segredo era.

Acho que ela sabia.

Espero ter lhe mostrado o que ela significava para mim.

O que significará para sempre para mim.

Se ela não for minha no final, ainda serei dela.

É uma tortura, mas é verdade.

Não há volta de uma garota como ela.

A esperança é que não precise, mas quando saio do café,


lembro-me de por que deixei a esperança para trás há muito
tempo, após o segundo derrame da minha mãe.

Ari fica ao lado do prédio, um latte de menta na mão, sem


dúvida, muito quente como o que queima minha palma esquerda
neste instante, Chase um pé antes dela.

Minha baby sorri para um homem que não sou eu, e quando
ele passa o braço em volta do seu ombro, o meu cai.

Deslizo para a sombra da árvore quando começam a andar


por aqui, meus olhos se fechando enquanto sua risada ameaça
arrancar meu coração do meu peito.
Só quando vão embora eu saio, jogando o café que comprei
para ela na lata intocado.

Tenho aula em uma hora, mas não me importo.

Meus pés me levam para minha caminhonete e me levo para


a estrada. A mesma estrada em que a conduzi mais vezes do que
posso contar.

É como eu disse, ela está em todo lugar.

Minha Julieta.

Uma risada amarga me deixa e balanço minha cabeça.

Talvez a resposta para o nosso final tenha sido dada desde o


início.

Se eu sou Romeu e ela é Julieta, talvez este seja o destino que


coloquei sobre nós naquele primeiro dia. Amor proibido, mas em
nossa história, somos proibidos pelo destino.

Talvez eu fosse o substituto, como Mason se perguntou.

Talvez eu não seja o homem dos seus sonhos, mas o


substituto que fez o nobre trabalho. Que fez amizade com uma
garota quebrada. Quem lhe mostrou o que significava ser
importante para um homem, como era ser amada. Ela sabe agora
que vale o mundo e merece ainda mais.

Ari é forte o suficiente para exigir o que sempre quis agora, e


a pessoa de quem ela ainda acredita que quer está pronta para dar
a ela.
Arianna
No momento em que termino o dia e consigo rastrear Mason
sobre o empréstimo de seu Tahoe, a gráfica está novamente
fechada. Eles não podiam dizer muito pelo telefone, além de
confirmar que eu tinha um pedido que estava ficando empoeirado
na prateleira de coleta.

Chase ligou algumas vezes, mas depois de sua chegada


inesperada esta manhã, quando realmente esperava um pouco de
tempo para explorar o campus sozinha, algo que acho que ele
deveria ter percebido, deixei suas tentativas sem resposta.

Felizmente, Mason concordou em deixar as chaves e o carro


para mim amanhã de manhã antes da aula, então tomo a decisão
executiva de pular o primeiro dia do meu segundo conjunto de
aulas.

Certifico-me de enviar um e-mail aos professores antes de


dormir para não ser dispensada dos cursos, e estou na estrada na
manhã seguinte, minutos antes de o lugar abrir.
Demora cerca de quinze minutos para chegar ao local, e
sorrio para o grande letreiro néon acima da porta que diz, Paper
Dreams and Things.

A mulher atrás do balcão sorri quando entro e se vira para a


parede gigante feita de pequenos cubos.

— Vai adorar a forma como essa coisa se transformou! — Ela


balança a cabeça, colocando um pacote do tamanho de uma caixa
de sapatos na minha frente. — Vamos retirá-lo para que possa ter
certeza de que está tudo correto. — Começa a puxar a gravata
dourada, mantendo-a fechada, e ergo a mão.

— Não, espere — me apresso.

Ela congela.

— Eu uh, fica tão bonito com a fita. Não quero estragar tudo.
Tenho certeza que está perfeito. — Aceno ansiosamente.

— Ah, não tem problema nenhum. — A mulher dobra alguns


pedaços de papel, coloca-os em cima da caixa e empurra para mim.
— Ah, quase esqueci! Isso... — remove uma nota adesiva do lado
da caixa que não consigo ver, pressionando-a em cima também. —
Uma mulher entrou e deixou este endereço. Pediu para lhe
dizermos para voltar depois de pegar isso. Acho que está tentando
chegar até você também.

— Sim, desculpe por isso. Meus e-mails estão cheios agora.

— Bem, hum, tenha um feriado feliz.


E assim, ela passa para outro cliente, e com os músculos
tensos, carrego a caixa, não mais pesada que um par de sapatos,
até o carro.

Em vez de abri-la, coloco o endereço do post-it no GPS de


Mason e, quinze minutos depois, estou entrando em um
estacionamento que ficaria feliz em nunca mais ver.

Desligando o motor, saio e espero ir para a área certa, um


pouco insegura quando me aproximo e vejo o nome do lugar.

Centro de Reabilitação Tri-City.

Lembro-me deste lugar. Eu o vi quando voltei para o meu


acompanhamento.

Com uma respiração profunda, entro e uma onda de náusea


me atinge.

A mulher atrás do balcão sorri, acenando para mim, então


com passos lentos, continuo, e quando desliga o telefone, ela sorri.

— Entre, querida. Quem está aqui para ver?

— Ah, hum...

— Ari?

Minha cabeça se vira para a esquerda para encontrar uma


mulher da idade da minha mãe se aproximando, uma prancheta
na mão. — Oi.
— Estou tão feliz que conseguiu! Estou tentando falar com
você há dias. Eu ia ligar para Noah, mas ela me fez prometer que
não ligaria.

Meu coração bate descontroladamente e aceno.

Quem a fez prometer?

Ela franze a testa, movendo-se lentamente atrás do balcão. —


Dê-me um minuto, está bem, hum?

— Sim, claro. — Engulo, considero me virar e fugir, mas não


sei por quê. Há um peso rastejando sobre mim, ameaçando me
derrubar.

Pouco menos de dez minutos se passam, e a mulher volta,


um envelope lacrado dentro, algo duro dentro dele. — Desculpe-
me por isso. Aqui. — Passa, falando suavemente. — Sinto muito
por sua perda, ela era muito amada aqui.

Meu sorriso é apertado, e aceno.

— Cuide-se, Ari.

— Obrigada, Cathy. — Com isso, saio do prédio, mas congelo


do lado de fora.

Cathy.

Como… Eu me afasto, mais confusa agora do que antes.

Dirijo de volta para o campus, meu joelho balançando o


tempo todo, e corro para o meu quarto. Felizmente, Cameron não
está em casa, então tranco minha porta e coloco a caixa e a carta
a minha frente.

Minutos, talvez até horas se passam, e não me mexo. Ando


de um lado para o outro, penteio o cabelo uma dúzia de vezes, sem
tirar os olhos de cima do edredom.

Meu telefone toca, mas o ignoro. Meu estômago ronca, mas


ignoro isso também.

— Foda-se.

Pulo na cama, rasgo o envelope e despejo o conteúdo.

Minha boca se abre quando outro envelope lacrado cai, um


pedaço de papel dobrado caindo em cima dele endereçado a mim.

Uma letra. É uma carta.

Leva um momento, mas encontro coragem para abri-la,


colocando-o diante de mim.

Agarrando um travesseiro como apoio, enterro minha boca


contra ele enquanto o abraço contra mim mesma, e prendo a
respiração.

E então olho para baixo e leio.

PREZADA ARIANNA,

Não tenho certeza de como começar esta carta, então


mergulharei de cabeça e direi que você, doce menina, é um presente
que nunca pensei que receberia. Você é o presente. O que me
permitiu respirar pela primeira vez em muito tempo. Por sua causa,
minha luta diária diminuiu e finalmente posso colocar minha
bandeira branca em repouso.

O que isso significa? Bem, isso significa que minha mente e


meu coração estão finalmente falando com meu corpo. E se estou
entendendo os segredos que meu corpo compartilhou comigo, eu o
deixei.

Deixei meu filho.

Se ainda não adivinhou, esta carta é minha, Lori Riley, mãe de


Noah.

Suspiro, meu aperto no travesseiro apertando.

Sei que não se lembra de mim, mas somos boas amigas, você
e eu, mas podemos voltar a isso. De volta a Noah.

Como já sabia, eu era tudo o que ele tinha neste mundo. Por
toda a sua vida, era simplesmente ele e eu, e embora não mudasse
nada sobre as vidas que vivíamos, acabei me arrependendo muito
disso. Com esse arrependimento veio o ressentimento, e ele apontou
diretamente para mim.

Veja, falhei em perceber que, amando-o, despejando cada


grama de energia que tinha em nossas vidas e no futuro dele, não
deixei espaço para mais, algo que não percebi até depois de ter meu
primeiro AVC, em seu último ano do ensino médio.
Daquele dia em diante, no fundo da minha mente ficou o medo.

Medo de que algo acontecesse comigo e meu filho ficasse


sozinho neste mundo.

E então tive meu segundo AVC, aquele que me trouxe aqui.

O medo se tornou incapacitante, mas tentei escondê-lo e me


segurei com todo o poder que me restava. Alguns dias mal conseguia
falar, porque meu corpo estava tentando me dizer que era hora. Que
eu precisava fazer as pazes e deixar ir, mas não podia. Ainda não.
Não quando ao fazê-lo, Noah ficaria com nada além de mágoa.
Nunca me senti tão fracassada.

Eu era uma mulher que não muito tempo atrás estava


orgulhosa do trabalho que fiz criando um homem tão incrível
sozinha, e de repente, me odiei. Estava me afogando em um
desamparo que não via saída. Eu ia definhar lentamente diante dos
olhos do meu filho, tentando me segurar.

A derrota me consumiu.

E então conheci você.

Lágrimas se acumulam em meus olhos enquanto agarro o


papel, puxando-o para mais perto.

Senti que te conhecia antes de te conhecer e te amei no


momento em que te conheci.
Como lhe disse no dia em que me pediu para ajudá-la a fazer
um presente para o meu filho, você devolveu a vida ao meu menino.
Fazia tanto tempo desde que seus olhos brilhavam. Já que o seu
sorriso era real e não colocado ali para eu ver. Isso não quer dizer
que ele não estava feliz. Estava. Fez o que se propôs a fazer e
conquistou seu lugar na Avix U, algo que sei que no fundo fez por
mim. Então, sim, ele estava feliz, mas sua felicidade veio em
momentos que não duraram até o anoitecer. Meu filho andava com
o peso de um homem nos ombros, e por causa desse peso, se fechou
para as coisas que uma pessoa precisa para continuar.

Até você aparecer.

Ele se apaixonou por você, Arianna, talvez até no dia em que a


conheceu.

Você estava sofrendo e ele desejava ser a razão pela qual se


curaria. E ele foi.

Doce, Arianna, meu Noah se tornou seu Noah, e querida, ele


era seu tudo, assim como você é dele.

Você se apaixonou por ele de volta e nunca mais se levantou.

Amor, Lori, a mãe eternamente em dívida com a mulher que


ama seu filho.

Lágrimas caem dos meus olhos enquanto leio a última linha,


e então passo para o texto abaixo dela, escrito em um idioma
diferente.
Non temere la caduta, ma la vita che nasce dal non aver mai
saltato affatto.118

Meus dedos são atraídos para o texto, e lentamente deslizo as


pontas dos meus dedos sobre ele.

Um flash passa diante dos meus olhos, e congelo.

Segurando minha respiração, faço isso de novo. Outro flash.

Novamente. E então a página se transforma.

De repente, meus dedos não estão traçando as palavras no


papel da faculdade, mas em um peito bronzeado e liso de um
homem. Um homem que se deita no centro da minha cama.

Minha mão formiga enquanto a dele desce para cobrir a


minha, e uma respiração trêmula escapa à medida que desliza
meu toque ao longo do calor de seu corpo, e sigo o caminho para
seus lábios.

Beija meus dedos, seu corpo levanta dos travesseiros até que
sua respiração roça minha pele. Ele se inclina e meus olhos se
fecham, um flash de azul se revelando do outro lado, mas não
qualquer azul.

É profundo e sem superficialidade.

118
-“Não tema a queda, mas a vida que vem de nunca ter saltado em absoluto”.
Arrojado e brilhante, como o centro do oceano ou o céu
noturno de uma montanha.

Eles são ternos, ilimitados e presos aos meus.

— Julieta…

Eu suspiro, engasgando com nada. O papel cai das minhas


mãos, e tropeço da minha cama, batendo e deslizando pela parede.

Eu não posso ver diante de mim, mas vejo.

Eu vejo-o. Vejo-o na noite da fogueira, e na noite no clube.


Vejo o café da manhã e o cozimento diurno.

Eu vejo os bumper boat e sua boca a um centímetro da minha.

Sinto suas mãos em mim enquanto me sento em cima do


balcão da cozinha e o calor de seus olhos. O calor de seu corpo.

A batida do seu coração... pressionado contra o meu.

Eu o sinto. Por toda parte.

Em todos os lugares.

Uma onda de desejo me atinge, forçando o ar de meus


pulmões e meu corpo se contorce com soluços. — Oh meu Deus...
Noah.
Arianna
Se eu pudesse voltar no tempo, faria tantas coisas diferentes.

É triste como é preciso um duro golpe para aprender uma


dura lição.

Como a perda abala seu âmago de uma maneira que o amor


não consegue.

O amor dói, mas o amor é uma bênção, algo que teria sorte
de experimentar.

A perda dói, mas a perda é necessária, algo que tem que


experimentar.

A perda faz com que as pessoas percebam o que querem.


Acende um fogo em um caminho cego e o guia através da chama,
queimando as incertezas que estão em seu caminho à medida que
avança. Isso nos leva a descobrir o que quer porque a vida é curta.
Curta demais.

E imprevisível.
A perda força você a reconhecer quem não pode viver sem,
quem se recusa a perder. A perda torna-o imprudente, porque a
perda? Ela te liberta.

Pelo menos, é isso que tem feito comigo.

É estranho como uma pessoa presa em sua própria mente


anda sem medo.

O medo é a única coisa que não tenho certeza se senti esse


tempo todo.

Estive nervosa, ansiosa e insegura, no limite, mas nunca com


medo, mas agora, estou.

Estou apavorada pra caralho.

Porque estou prestes a quebrar alguém.

As pessoas dizem que amar alguém com tudo o que se é, é a


coisa mais altruísta que pode fazer, mas acho que o oposto é
verdade.

O amor me tornou egoísta porque não posso viver sem o


homem ao qual meu coração pertence. O homem a quem realmente
pertence.

Pensei muito durante a noite. Refletindo sobre os últimos


quatro anos da minha vida, e quando acordei esta manhã, é como
se meus olhos estivessem claros pela primeira vez.

Isso significa que tenho que partir o coração de um homem


cuja única falha é minha necessidade de outra pessoa.
Será difícil.

Talvez até devastador, mas como eu disse…

O amor me fez egoísta.

A perda me fez ver.

E saudade com a qual não posso viver.

É por isso que já estou fora da porta.

É hora de ele saber onde está.

Que isso é real.

E nós somos para sempre.

Subo os degraus de dois em dois, e quando chego à porta da


frente, o homem que vim ver aparece.

Seus olhos encontram os meus instantaneamente, e um


sorriso suave aparece.

O meu segue.

— Lembrei-me.

— Eu sei.

Chase estende a mão e eu a pego.


Arianna
Nada força um homem a admitir seus sentimentos por uma
mulher mais do que testemunhar o interesse de outro homem.

Foi o que Noah me disse no dia em que nos conhecemos.

Chase estava do outro lado do fogo, observando com


preocupação como um homem que só conhecia a pouco prendeu
minha atenção, e ele segurou.

Foi quando “nós” começamos.

A massagem na sala de estar. O sorvete na cozinha.

Nossa noite na praia.

Uma vez que cruzamos essa linha, aquela de onde se diz não
ter volta, voltamos.

Chase fez uma escolha, e enquanto doía, eu entendi.

Respeitei a sua decisão e depois desmoronei.


Foi quando Noah apareceu.

Aos poucos fui me recompondo. Eu me apaixonei, e por isso


meu mundo virou de cabeça para baixo, e percebi que já estava
apaixonada. Antes.

Muito antes.

Sentada aqui hoje, vejo o que não vi então. A beleza no toque


sutil, a saudade no olhar roubado. Essas coisas voltaram para
mim em ondas selvagens, assim como seu timing.

Depois do bilhete com o número de Noah.

Depois do moletom com o seu número. Depois peguei de volta


o que eu tinha doado e ofereci a outro.

E desta vez, o homem que implorei para aceitar não apenas


me amou de volta.

Ele me amou primeiro.

Uma vez que Chase percebeu isso, o medo o sacudiu, puxou-


o para fora do canto em que se colocou, mas portanto, já era tarde
demais.

Eu já tinha partido.

Quando penso contudo em nosso tempo, não há mais


tristeza. Não me sinto prejudicada ou enganada. Percebo agora que
tinha que acontecer como aconteceu. Chase tinha que ser o único
ou as coisas teriam terminado de forma muito diferente.
Eu acho que ele sabe disso também, e é por isso que seus
olhos verdes caem em suas mãos entrelaçadas quando pergunta
— Então, uh, se eu nunca tivesse te afastado? Se eu tivesse lutado
por você desde o início?

Ele leva um momento, mas olha para mim novamente.

— Então teria sido a única a machucá-lo. — Meu tom é gentil,


mas honesto.

Chase acena com a cabeça. Ele sabe o que estou dizendo.


Calor o envolve, e suspira. — Sinto muito, Ari. Verdadeiramente.
Eu gostaria muito de não ter te machucado e que as coisas fossem
diferentes para nós, mas entendo. Entendi, para ser honesto.
Podia ver o jeito que você o amava, e quando de repente não se
lembrou dele, pensei que talvez isso significasse que deveria ser
minha o tempo todo. Eu não deveria ter interferido. Deveria ter
esperado para ver o que você decidiria e estar lá para quando
precisasse que eu estivesse... se precisasse que eu estivesse.
Estava com medo e não tenho outra desculpa, mas tenho vergonha
e me importo com você. Espero que saiba disso.

— Eu sei. — Concordo com a cabeça, e quando me levanto,


ele fica comigo, me puxando para um abraço.

— Eu tenho que ir — sussurro.

— Eu sei que tem. — Ele me solta, o sorriso em seus lábios


triste, mas encorajador. — Estou feliz por você, Arianna. Você
merece um homem como Noah.

Com um pequeno sorriso, eu me viro e saio.


O que eu disse a Chase foi verdade. Se ele não tivesse me
machucado desde o início, eu o teria machucado de uma maneira
muito diferente, porque ainda teria encontrado Noah. Não há
dúvida em minha mente.

Assim como não há nada em minha mente sobre onde


encontrá-lo agora.

O sol está a minutos de se pôr à medida que saio da estrada,


então faço um apelo silencioso que ele ainda esteja aqui, e não sou
desapontada. No momento em que viro a esquina, a sua
caminhonete aparece, por isso coloco o Tahoe no estacionamento,
pego minhas coisas do banco e corro pela pequena encosta.

Quando chego ao pico, meu corpo inteiro se aquece, ele está


sentado exatamente onde eu esperava, o brilho do sol criando a
silhueta perfeita do tamanho de Noah.

Meus passos são quase silenciosos, mas ele ainda sabe que
estou chegando, e se vira tão rápido que pulo.

Seus olhos se arregalam, depois estreitam, e depois enfia algo


apressadamente no bolso, mas não antes que eu tenha um
vislumbre do que é.

Meu coração para e me ajoelho ao seu lado, meu corpo


voltado para o dele enquanto ele se senta virado para frente.
Coloco minha mochila de lado e ofereço um pequeno sorriso,
lutando contra a sensação de formigamento que ameaça as
lágrimas.

— Posso ver isso?

A umidade nubla os olhos de Noah, e sem tirar o dele de cima


de mim, enfia a mão no bolso e tira o que tentou esconder. Uma
bola de futebol, mas não uma bola qualquer.

Uma pequenina branca e fofa, não maior que a palma de sua


mão.

Tomando-a entre meus dedos, giro-a, e minha garganta


espessa.

Costurado ao longo da frente, onde a costura da bola de


futebol deveria estar, há um fio amarelo suave que diz Little
Riley119.

— Isso... isso é para... — Engulo, encontrando seu olhar.

A mandíbula de Noah está rígida, mas consegue assentir.

— Nós nem chegamos a amá-lo. Ela. — Minha voz falha, as


lágrimas caindo. — Nem por um dia.

Noah fica rígido, seu olhar varrendo meu rosto com urgência.

119
-Pequeno Riley.
Segurando a pequena bola de futebol perto, alcanço a
mochila ao meu lado, cavando cegamente dentro.

É com as mãos trêmulas, que coloco a pequena bolsa entre


nós. Eu tento, mas não consigo manter a minha voz falhando
quando encontro seu olhar mais uma vez. — Feliz aniversário,
Noah.

Suas narinas se dilatam, seu nariz fica vermelho. — Julieta

— Abra — murmuro.

Seu corpo estremece ao puxar o papel de seda, e ao ver o que


está dentro, nada além de uma única bola de futebol de vinte
dólares, o mesmo presente que sua mãe lhe daria todos os anos
em seu aniversário, mas não está aqui para fazê-lo hoje. A umidade
em seus olhos dobra.

O queixo de Noah cai no peito, e ele enterra o rosto nas mãos,


os ombros tremendo com soluços silenciosos, e o meu fica mais
agitado.

Eu salto para frente, e no segundo em que minha mão toca a


dele, ele olha nos meus olhos e vê.

Ele me vê.

Suas palmas se levantam, segurando minhas bochechas


suavemente, e me inclino em seu toque, estendendo a mão para
segurá-lo enquanto ele me encara ansiosamente. — Baby... —
murmura desesperadamente. — Voltou para mim?

— Meu Deus, Noah. — Engasgo com minhas próprias


lágrimas, pressionando minha testa na dele. — Eu sinto muito.
Desculpe-me. Desculpe-me por não estar lá quando ela morreu e
me desculpe por estar sozinho e eu só... me desculpe — choro,
agarrando suas mãos com as minhas. — Eu abandonei você.

— Shh, baby, não. — Ele engole em seco, balançando a


cabeça. — Não se desculpe. Nunca se desculpe. Só tinha que
encontrar o caminho de volta. — Seus olhos se fecham. — Achei
que tinha perdido você. Você é minha? — Pergunta, sua voz mais
baixa que um sussurro trêmulo. — Por favor... diga que é minha.

Concordo com a cabeça rapidamente, minhas mãos


deslizando ao longo de seu rosto. — Sempre. Para todo sempre.

Uma respiração áspera passa por seus lábios, e ele treme. —


Diga.

Meus olhos se abrem, travando com os dele enquanto o


agarro e o seguro, sussurrando — Juro.

Noah não hesita, sua boca esmaga a minha.

Seu beijo é duro e profundo, é devastador e despertador. Está


reivindicando.

Seu beijo é uma promessa de sua alma para a minha, que


não importa o que aconteça, este é o lar.

Ele está em casa.


Arianna
DIA DOS NAMORADOS

Nas semanas que se passaram, Noah e eu crescemos muito,


tanto como casal quanto como indivíduos. Juntos, decidimos tirar
um semestre de folga da faculdade, para que pudéssemos
processar e aceitar tudo o que aconteceu conosco. Meus pais foram
mais do que compreensivos, e embora não quisesse isso para
Noah, que seu último semestre e a formatura fossem adiados, foi
ele quem sugeriu.

Com tudo o que estava acontecendo, ele não teve tempo de se


curar. Ele foi rasgado ao meio em dezembro, apenas para ser
triturado em um milhão de pedaços em janeiro. Pensou que me
perdeu, perdeu nosso filho e depois perdeu a mãe. Não só queria
tempo para se curar, mas também precisava. Nós precisávamos.

Então levamos o tempo que merecemos, arrumamos meu


dormitório, bem como os aposentos de seu capitão, já que nenhum
de nós voltaria ao campus até o outono, quando um novo capitão
seria transferido para o antigo espaço de Noah. E então partimos
para a casa dos meus pais. Meu pai nos surpreendeu quando
chegamos, sua caverna do homem foi transformada em um
pequeno estúdio aconchegante que insistiu que Noah e eu
ficássemos.

Todos se perguntavam por que não ficamos simplesmente na


casa de praia, mas eu queria um novo começo em algum lugar
onde ele e eu não compartilhássemos nenhuma dor, então é isso
que temos.

Hoje porém, é Dia dos Namorados, e Noah queria me levar ao


meu lugar favorito, então quem era eu para negar a ele?

Com um suspiro longo e reconfortante, olho pela janela


enquanto paramos na garagem; minha excitação atinge o pico, e
estou com pressa de pular.

Então, assim que Noah estaciona a caminhonete, alcanço a


maçaneta, mas ele rapidamente aperta o botão de trava, e minha
cabeça se move na sua direção.

Com um sorriso, ele sai, então volta e me puxa para ele. Fica
entre as minhas pernas e me beija, suas mãos afundando no meu
cabelo. Eu o respiro, meu peito inchando, meus braços envolvendo
seu pescoço. Ele me levanta do assento, suas mãos segurando
minha bunda enquanto pressiona minhas costas contra a lateral
da caminhonete.

— Devemos entrar — diz entre beijos.

Meu pulso dispara, e aceno, pressionando seu peito, depois


ele me coloca de pé.
Ao contornar o capô e pular para a porta da frente da casa de
praia, não consigo conter meu sorriso pelo fato de Noah e eu
termos tudo para nós durante todo o fim de semana.

Assim que destranco a porta, giro rapidamente, meus ombros


caindo contra ela enquanto vejo meu homem caminhar até mim.

A antecipação prolongada está me matando, fazendo meu


coração bater no peito, e Noah sente. Uma única sobrancelha
escura se levanta enquanto fica desconfiado.

— Julieta…

— Perdemos tanto tempo, Noah. Quero de volta.

— Baby. — Angústia enche sua voz, vincos profundos se


formando ao longo de seus olhos quando me alcança.

Agarro seu pulso, liberando sua mão da minha bochecha e


dobrando seus dedos fechados. Eu beijo seus dedos, e uma
carranca se forma em seu rosto.

Girando a maçaneta, abro a porta atrás de mim, dando


passos para trás às cegas, porque não quero perder sua reação.

Ele leva vários momentos para forçar seus olhos dos meus,
mas relutantemente, os dele são puxados para a sala de estar.

Seus olhos se arregalam, passando rapidamente pelo espaço,


e então pousam em mim.

— Ari... — mal sussurra.


Pego os chapéus vermelhos e brancos do encosto do sofá e
caminho até ele. Ele se inclina um pouco, seu olhar nunca
deixando o meu enquanto puxo o chapéu de Papai Noel em sua
cabeça, e quando vou colocar o meu, ele o pega, colocando-o em
mim.

Seus braços vêm ao meu redor, seu polegar provocando sob


meu lábio inferior, e o sorriso que curva meus lábios é suave. Seus
olhos me deixam então e ele olha para a árvore branca flocada, de
pé no canto da sala. Está decorada com luzes vermelhas e verdes,
lâmpadas prateadas brilhantes cobrindo-o de cima a baixo, um
único presente embrulhado embaixo dela. Cada parede é forrada
com luzes coloridas e duas meias penduradas na lareira.

— Feliz Natal, Noah — sussurro.

Sua mandíbula flexiona enquanto olha para a árvore de


Natal, e depois para a lareira, onde um pequeno conjunto de
porcelana de asas de anjo fica, uma fita vermelha amarrada na
base.

E então está me beijando novamente. É lento e terno, e a dor


no meu peito se aprofunda, mas desta vez, é com saudade e amor.

Agarrando sua mão, o guio para a cozinha, liberando ambos


os nossos gorros de Papai Noel e jogando-os no chão enquanto
viramos para o corredor.

Ouro, prateado e dourado pende do teto, combinando


confetes brilhando no chão.
Solto sua mão e dou um passo em direção ao canto e clico em
um botão, e a mini bola de discoteca na ilha da cozinha acende,
girando e brilhando pelas paredes.

Subindo no balcão, olho para Noah.

Seu peito arfa enquanto olha ao redor da sala, e estende a


mão, deslizando os dedos ao longo de uma das flâmulas
penduradas acima dele.

Seus olhos saltam para os meus, uma guerra de emoções


furiosas atrás deles.

— Venha aqui.

Ele vem, e abro minhas pernas para ele. Noah desliza direto
para dentro, suas mãos descendo para agarrar minhas coxas,
apertando.

Eu pego a tiara de plástico atrás de mim e coloco na minha


cabeça, e então coloco uma na dele. Entregando-lhe uma buzina,
seguro a minha na minha mão.

— Ei, Google — falo com o sistema Google Home — Pressione


play.

Os olhos de Noah se estreitam, e então começa uma contagem


regressiva de dez segundos. Os lábios de Noah se contorcem e uma
risada leve me deixa.

Conto os últimos quatro segundos e ele segue minha


liderança, levando a buzina aos lábios, e juntos, sopramos
Noah porém rapidamente o arranca, batendo seus lábios nos
meus, e desta vez, não é suave ou lento. É profundo e sujo, e meu
núcleo aperta.

Gemo em sua boca, e quando ele finalmente se afasta, morde


meus lábios, um gemido rouco deixando-o.

— Feliz Ano Novo. — Minhas palavras são agitadas, carentes,


e seus olhos escurecem ainda mais.

Seus olhos se fecham e sua testa cai na minha.

Deslizando da bancada, fico na ponta dos pés, beijando o


canto de sua boca e sussurro — Espere aqui. Já volto.

— Baby — Ele agarra meus quadris, me parando, procurando


meus lábios, mas evito com um sorriso, rindo quando seu olhar de
advertência encontra o meu.

— Um minuto, Noah. — Eu sorrio e rapidamente me afasto,


prendendo-o com um último olhar. — Fique.

Corro para o banheiro do andar de baixo, onde escondi o que


preciso, sabendo que ele provavelmente me caçará se eu demorar
mais do que o minuto que prometi.

Arrancando minhas leggings e camiseta, rapidamente me


troco, cuidadosamente puxando os grampos estrategicamente
colocados do meu cabelo. Para cima, parecendo uma bagunça,
mas para baixo, quando o balanço, é como se eu tivesse puxado
modeladores quentes dele.
Eu saio correndo, pegando o controle remoto do sistema
estéreo no meu caminho, e quando entro na cozinha, não sei por
que, mas os nervos giram em meu estômago.

Ele sente minha aproximação e olha para trás.

Seu corpo inteiro enrijece, e como se estivesse em câmera


lenta, seu corpo lentamente me encara.

Seus olhos caem para os meus pés, avançando lentamente, e


meu Deus, ele toma seu tempo, certificando-se de cobrir cada
centímetro do meu corpo antes que, finalmente, encontre meu
olhar. Seus lábios se abrem, seus ombros caem e engole em seco.

Meu coração bate fora de controle, e deslizo para mais perto,


enganchando meu dedo com o dele e lentamente o arrastando ao
meu lado.

Ele não olha para onde vamos, não resiste. Olha para o meu
rosto, e eu poderia chorar com a expressão chocada dele.

Empurrando a porta deslizante aberta, nos guio para o pátio


dos fundos, apertando o botão antes de sair.

As luzes acendem, piscando acima e ao nosso redor. A


mobília do pátio foi empurrada contra as paredes do deque, e
coloquei um tapete azul sobre a madeira de cerejeira.

Os lábios de Noah se apertam em uma linha fina quando


entramos no centro dela, e ele sabe o que fazer.

Ele pega minha mão em uma das suas, a outra plantando na


parte inferior das minhas costas.
Ele me puxa contra ele, o cetim do meu vestido agora contra
seu peito.

— Olhe para trás — sussurro.

O olhar de Noah se estreita, seus olhos permanecem nos


meus até o último segundo possível, e então os aponta para a
parede, onde uma pequena faixa está pendurada, dizendo, Gala
Anual de Futebol Avix.

Suas mãos se contorcem contra mim, apertando. Ele me


pressiona mais perto, seus olhos voltando para os meus.

Eu sorrio, e então aperto o play, jogando o controle remoto


para o lado.

Sua cabeça se ergue quando a voz de seu treinador vem pelos


alto-falantes, e para de se mover, ouvindo as palavras gentis que o
homem que o orientou nos últimos quatro anos falou dele naquela
noite, as palavras que ele perdeu. Seu peito sobe e desce, uma
respiração quebrada deslizando por seus lábios, e quando Trey
vem, me pedindo para aceitar o prêmio em seu nome, Noah ri, e
meu Deus, é um som de acomodação.

No momento seguinte, Noah está me abraçando contra ele,


me apertando com força.

— Baby. — Uma respiração pesada sai de seus lábios, e se


afasta, as palmas das mãos achatando minhas bochechas. — O
que você fez?

— Eu te disse... — Lágrimas transbordam em meus olhos. —


Nós perdemos muito, e não estou bem com isso. Eu queria de volta.
Então dei a nós. Estava fora para o que deveria ter sido nosso
primeiro Natal, Ano Novo e a gala de futebol. — Balanço minha
cabeça. — Eu me recuso a perder uma única coisa que deveria ser
nossa.

Uma respiração estremecida o deixa e ele traz sua boca mais


perto, deslizando seus lábios nos meus.

— Eu te amo, Noah. Com tudo o que sou e muito mais.

— Eu te amo baby. Sempre. — Seus olhos brilham, suas


mãos tremendo contra mim. — Eu preciso sentir você.

Com um sorriso malicioso, deslizo meus braços ao redor de


seu pescoço e sussurro — Então me leve para o meu quarto.

Eu grito, quando no mesmo segundo, sou jogada por cima do


ombro de Noah, e assim... vamos para o meu quarto.

Noah
Subo os degraus de dois em dois, e quando entro no seu
quarto, meus pés paralisam. Puta merda.

Foda-me.
Lentamente, a coloco de pé, meus olhos rapidamente para os
dela.

— Feliz Dia dos Namorados — sussurra, uma pitada de


timidez lavando suas bochechas.

Eu aperto suas palmas, mas rapidamente a libero, me


movendo para o calendário aberto em sua cama, com pétalas de
rosas vermelhas ao redor dele.

O quarto em si está forrado com luzes vermelhas esmaecidas,


e velas sem chama estão acesas ao redor do cômodo, algo que
deveria estar fazendo por ela. Algo que planejava fazer por ela, os
itens na minha bolsa na caminhonete provam isso, mas isso...

O calendário.

O item que a levou de volta para mim.

Não é o mesmo contudo, está aberto até fevereiro deste, e a


imagem na metade de cima é dela, vestindo minha jaqueta.
Vestindo nada além da minha jaqueta.

Ela está ligeiramente inclinada para o lado, sentada de


joelhos, as pernas dobradas para esconder o que é meu, a jaqueta
puxada para perto, mas apenas o suficiente para que os botões da
jaqueta escondam seus mamilos, a protuberância de seus seios,
seu esterno e estômago em plena exibição.

Seu cabelo castanho está solto e liso, seus olhos cobertos de


glitter dourado, seus cílios grossos e pintados de preto. Seus
braços também estão dobrados, agarrando o colarinho enquanto
olha diretamente para a câmera, as pontas de suas unhas
pintadas de azul, a única coisa que aparece através das mangas,
é tão grande em seu corpo minúsculo.

Eu pego e olho para ela. Ela sorri da porta, seu vestido


brilhando contra o brilho das velas no quarto.

— Espere até ver os da sua camisa.

Calor puxa minha virilha, e caminho em sua direção, mas


suas mãos se erguem, me parando, e a encaro.

Ari ri baixinho, as palmas das mãos deslizando pelo meu


peito. — Vire para julho.

— Está coberta de tinta vermelha e azul? — Imagino-a, seu


corpo pingando de cor e nada mais.

O riso a deixa novamente e ela balança a cabeça, uma


suavidade saindo dela.

Ansioso por mais, rapidamente me viro para agosto, e meus


músculos ficam fracos. Não me lembro de me mover para trás, mas
de repente estou sentado na beira da cama, olhando para uma foto
dela e eu, aquela que a enfermeira da minha mãe tirou da gente
em novembro.

A foto porém, não é a que eu vi. Não é aquela em que estamos


sorrindo para a câmera, aquela que minha mãe tinha em seu
quarto para ela ver, para vermos. São os momentos anteriores.

Quando fiquei impressionado com a compreensão de Ari


enquanto ela nos levava para a fonte, em vez de marcar o tempo
da tristeza para a memória de abóboras de outono e fardos de feno.
Eu me sentei, coloquei-a no meu colo, inclinei-a para que
ficasse de lado, seu ombro pressionado no meu peito, e chamei
seus olhos para os meus. A foto foi tirada naquele momento,
quando ela olhou para mim, e a vejo ali, o que eu esperava então,
mas não ousaria reivindicar, apenas por precaução.

O seu amor por mim. É tão óbvio.

Minha Julieta.

— Onde... onde conseguiu isso? — Minha voz é um sussurro


rouco.

Ela vem até mim, pisa entre minhas pernas e levanta minha
cabeça, suas mãos deslizando em meu cabelo.

— Sua mãe... ela deixou para mim.

Meus pulmões apertam, e a agarro, gentilmente deixando cair


o calendário no chão do outro lado da cama.

— Há mais... — ela começa, mas a puxo para baixo, tomando


seus lábios como meus.

Porque eles são. Cada fodida parte dela, é minha.

Eu a beijo selvagemente, minha língua emaranhada com a


dela, e então estou chupando a dela, mordendo seus lábios,
queixo, pescoço. — Mais terá que esperar. Preciso estar dentro de
você. Agora, agora mesmo.

— Então por que seu moletom ainda está em você?


Gemo, jogando-a na cama, chutando minha calça de corrida
em um movimento, e depois estou sobre ela, entre suas coxas e
aquela pitada de confrontos selvagens em seus olhos castanhos.

Minha mão desliza sob o vestido, minhas palmas apertando


em torno de sua coxa, e arrasto o material comigo. — Esse é o
vestido? O que ia usar para mim naquela noite?

Ela acena com a cabeça, lambendo os lábios enquanto


observa minha mão se aproximar cada vez mais de seu ponto doce.
— Minha cor favorita.

Gemo, e então meus músculos travam, porque quando chego


ao ápice de sua coxa, não há algodão macio, nenhum fio sedoso.
Nenhuma calcinha para ser encontrada.

Ari morde o lábio, pressiona a cabeça no travesseiro e sorri.


— Exatamente o que teria encontrado naquela noite. Eu, nua para
você.

Eu gemo, deslizando meus joelhos para trás no colchão, meus


olhos segurando os dela enquanto me abaixo, pairando um
centímetro sobre seu clitóris.

Minha língua desliza para fora, passando por ela tão rápido
que não tem um único segundo para aproveitar a sensação de
calor. Uma sugestão de brilho se forma nas bordas de seus olhos,
e por isso sopro ar quente sobre a mancha molhada, e seu peito
sobe.

— Não seja uma provocação.

— Que música tem para isso? — Belisco seu clitóris entre


meus dedos, e ela se contorce.
Sua boca se abre, e quando nada sai, se abre ainda mais, mas
desta vez em estado de choque.

— Você acabou de me enganar? — Ofega com uma carranca.

— Eu disse que um dia faria.

— Isso é trapaça, Sr. Riley.

Rindo, abaixo, pisco, e então tenho a boca cheia de boceta.


Eu a chupo devagar, rolando minha língua ao longo de seu clitóris,
e quando ela começa a puxar meu cabelo, deslizo dois dedos dentro
dela, oferecendo a pressão de um pau e a magia aquecida de uma
língua.

Seus joelhos sobem, apertando meus ouvidos, e envolvo meu


braço livre ao redor dela, apertando suas coxas enquanto me sento
de joelhos. A metade inferior de Ari está completamente fora do
colchão, nada além de suas omoplatas e cabeça deitada.

Ela corta ao redor. — Oh meu Deus, Noah, por favor. Mais.

Dança contra meu rosto, procurando seu orgasmo, e estou


prestes a dar a ela, mas então ela se solta, minha mão deslizando
dela, e me empurra para trás, minha cabeça encontrando a
beirada da cama.

Minha baby sobe, bem em cima de mim, e com seu vestido


azul royal preso em sua cintura, a cauda dele puxada em torno de
nós, sua boceta chupa meu pau dentro dela.

— Quer conduzir? — Empurro seu cabelo por cima do ombro


e seus olhos brilham. — Hum? — Ela se aperta ao meu redor, e
meus olhos se fecham.
— Segure-se em mim, Noah.

Meu peito ronca e faço o que ela diz. Aperto sua bunda,
dando-lhe um tapinha doce, e suas palmas caem no meu peito.
Seus quadris começam a circular, e puxo minhas pernas para
cima, permitindo que sua bunda caia um pouco mais para baixo,
meu pau desliza um pouco mais, e ela geme.

— Mais rápido, Julieta.

Ela aumenta o ritmo, levantando os quadris e voltando para


baixo com tapas duros e cheios. Eu alcanço, enganchando meu
dedo ao redor da alça de seu vestido, e a puxo para mim.

Seus lábios colidem com os meus, sua língua mergulha


dentro da minha boca instantaneamente, e levanto meus quadris
pressionando de volta para ela. Ela puxa meu cabelo, e quando
arranca, enterrando o rosto no meu pescoço, seus gemidos enviam
calafrios pela minha espinha.

Ela começa a tremer, seu ritmo diminui, então desço pelo


colchão, até meus pés tocarem o chão, e depois me levanto,
levando-a comigo.

Ela grita, uma risada baixa escapando dela, mas reclama


minha boca mais uma vez, seu corpo rolando sobre mim,
procurando por mais.

— Um segundo, baby. Isso será tão bom, prometo, mas o


vestido, o vestido tem que ir. Preciso ver isso. — Eu a mordo
através do tecido enquanto a giro, colocando-a na beirada da
cômoda. Suas mãos me deixam e mal chega atrás dela, abrindo o
zíper do vestido, mas minhas mãos se voltam para terminar o
trabalho. Puxo-o para cima e sobre sua cabeça, deixando-a cair no
chão.

Os ombros de Ari batem na parede com um baque, e usa isso


como alavanca para balançar seus quadris em mim. Puxo sua
bunda até a borda, trazendo seus joelhos para cima para que os
arcos de seus pés fiquem pressionados ao longo da borda.

Dirigindo meus quadris para frente, afundo nela em um


ângulo que ainda temos que tentar, e é a porra de um goleiro. —
Tão profundo — assobio.

Ela responde com um pequeno ronronado emocionante, sua


língua saindo para molhar os lábios. Inclinando-me para frente,
capturo seu mamilo direito em minha boca e suas costas se
arqueiam em mim. Eu rolo meus lábios em torno do pico duro,
fodendo-a profundamente e com força. E ela chora por mais.

—Noah. — Meu nome é uma demanda suave.

— Quer mais? — Eu a mordo um pouco, pressionando com


força e esfregando contra seu clitóris. — Quer que eu vá mais
rápido?

— Sabe que eu quero.

Eu me retiro, e ela choraminga, seus olhos se abrindo.

Meu pau dói, mas ela adora isso. A antecipação, a


queimadura baixa em seu núcleo.

— Mas?
Ela treme, não terminando o jogo que jogamos, mas vai direto
ao assunto, dizendo o que quer. — Dê-me o que é meu, Romeu.
Mais rápido. Mais forte... agora.

Um rosnado treme no meu peito, e enrolo as palmas das mãos


sob sua bunda para uma melhor compreensão. — Feche-as bem,
baby, e rápido.

Suas pernas cruzam atrás das minhas costas, seus braços


envolvendo meu pescoço, e esticando até que seu queixo esteja
apontado para o teto quando puxo seu cabelo, agora amarrado
firmemente ao redor do meu pulso.

E então dou a ela exatamente o que pediu.

Eu a fodo forte, rápido e cru.

O barulho alto de corpos escorregadios e suados se


encontrando enche a sala, e ela choraminga no ar, seus músculos
travando ao meu redor.

— Engula meu pau, Julieta. Aperte-me.

Ela aperta, as paredes de sua boceta apertando ao meu redor,


flexionando mais e mais, e então começa a tremer.

O sangue corre pelas minhas veias, e meus dedos se curvam,


mordendo sua pele. Solto seu cabelo, e instantaneamente, sua
boca desce sobre a minha, mas só começa a me beijar, porque no
próximo segundo, está gozando.

Seus lábios se abrem, seus olhos se fecham e um gemido


longo e inebriante enche sua garganta.
Ela agarra meu rosto, puxando meus lábios a um centímetro
dos dela, e sussurra — Sua vez. Goze comigo, Noah. Agora.

— Sempre, meu amor.

Eu deixo cair minha boca em seu pescoço, chupando sua pele


enquanto sua boceta suga o esperma do meu corpo. É porra
poderoso.

Tudo consumindo.

Momentos depois, seu corpo desaba no meu, e aceito seu


peso de bom grado, puxando-a e pegando-a em meus braços, mas
quando me movo para a cama, ela balança a cabeça, abaixando-a
no meu ombro.

Sua mão vem deslizar ao longo do meu queixo, seu sorriso


tão suave que meu maldito peito fica apertado.

— Leve-me para a sala de estar. Quero te mostrar algo.

Sem dizer uma palavra, empurro seu cabelo atrás da orelha,


pego o cobertor pendurado na cama e coloco sobre ela. Ela o
arrasta até o queixo, os olhos colados no meu rosto enquanto faço
o que ela pediu.

Carrego minha baby porta afora, desço as escadas e vou para


a sala de estar, onde nosso Natal perdido me espera.
Arianna
No momento em que Noah me abaixa no tapete macio em
frente da árvore, ele se move até a lareira e acende as toras lá
dentro. Desliza atrás de mim, puxando minhas costas para seu
peito enquanto observamos as chamas tomarem conta,
adicionando um pouco mais de luz ao cintilante Natal que nos
cerca.

Olho sob a árvore e meu estômago nada de ansiedade.

Isso está sendo feito há meses, muito antes do meu acidente,


e nunca estive mais orgulhosa de algo na minha vida. Estou
prestes a dar a Noah um presente que, sem dúvida, significará
mais do que posso imaginar.

Esticando os dedos dos pés por baixo do cobertor, bato no


embrulho vermelho, e a cabeça de Noah se move, sua bochecha
pressionada na minha.

— Isso é para mim?

Aceno contra ele. — Isto é.

— Isso não é justo, Julieta. — Ele beija minha têmpora.

— Posso pensar em várias maneiras de igualar o placar...

Ele geme de brincadeira, suas mãos descendo para fazer


cócegas em minhas costelas.
Eu rio, deixando cair minha cabeça para trás em seu ombro,
para que possa encontrar seus olhos, e ele abaixa seus lábios nos
meus. Eu sorrio contra ele, sussurrando — Abra, Noah.

Ele segura meu olhar por um longo momento, e então


gentilmente me coloca de lado e se inclina, pegando-o debaixo da
árvore. Olha para a embalagem, no rótulo lê-se de Papai Noel para
Noah, e um pequeno sorriso se forma em seu rosto.

Ele olha para cima novamente, e aceno, minhas mãos


apertando juntas, meus nervos em alta.

Como se estivesse em câmera lenta, ele puxa as fitas e que


caem de lado. A embalagem é rasgada e ele chega à caixa branca
sob ela.

Meus lábios pressionam em uma linha apertada e então Noah


está levantando a tampa, o conteúdo do que está dentro
aparecendo, congelando suas mãos no ar.

Seu corpo inteiro está congelado, mas muito lentamente,


permite que a tampa caia e é com as mãos trêmulas que alcança o
interior, liberando o livro de couro macio e preto.

Relutantemente, seus olhos vêm para os meus, mas apenas


por um segundo, antes de voltarem.

Noah cai de bunda, e engole em seco. — Julieta... — mal


respira. — O que é isso?

Lágrimas surgem em meus olhos, e luto para evitar que


minha respiração tremule. Eu me aproximo, lentamente traçando
a letra cursiva na capa.
O título não mais do que duas palavras.

Receitas Riley.

A mão de Noah sobe, apertando sua boca e mandíbula e


balança a cabeça. — Baby... não posso — resmunga, seus olhos
nublados quando olha para mim.

— Olhe dentro.

Uma expiração estremecida o deixa, e ele endireita os ombros,


fazendo exatamente isso.

No momento em que seus olhos pousam na página creme e


límpida, o livro de receitas cai no chão e ele enterra o rosto nas
palmas das mãos.

Quando olha para cima, é para me agarrar, me arrastar para


ele e me colocar em seu colo, para trazer meus lábios aos dele,
para que possa me beijar com cada pedacinho de si mesmo.

Leva vários momentos para ele se afastar, e quando o faz, eu


sorrio suavemente.

— Posso ler para você?

Ele balança a cabeça, cruza os braços ao meu redor e fecha


os olhos, escondendo o rosto no meu peito enquanto pego o livro
de receitas.

Este livro é para o meu menino favorito. O menino que deu


sentido e propósito à minha vida. É para o menino que me fez mãe,
a única coisa que aspirava ser desde antes de me lembrar. É para
o garoto que superou todas as minhas expectativas e se tornou um
homem do qual não poderia estar mais orgulhosa.
Verdadeiramente, minha alma não pode ter mais orgulho, pois você
já tomou cada centímetro, e eu sei que só será ainda mais
surpreendente.

Este livro de receitas é para você, meu doce Noah, e dentro de


você, me encontrará na memória. Meu coração está tão cheio, como
espero que o seu, um dia, esposa e filhos estejam ao virar a página
e criar para eles todas as refeições que criei para você. E assim,
descobrirá que estou para sempre com você, vivo em aromas que um
dia encherão sua casa como encheram a nossa.

Minha esperança é que adicione a isso algum dia, crie mais


receitas da família Riley com a mulher que segura seu coração na
palma da mão, assim como você segura o dela.

Com cada pedaço do meu amor,

Mãe.

Lágrimas caem dos meus olhos, e os polegares de Noah


sobem para pegá-las, o dele nublado de emoção.

— Em uma de nossas visitas a ela, lhe perguntei se estaria


disposta a me ajudar a fazer isso para você, e claro, ela disse que
sim. Comecei a ligar para ela quando o tempo funcionava, e
gravava enquanto ela falava. Em alguns dias, a gente só fazia
metade de uma receita, em outros, ela voava em duas. Digitei todas
elas e as pessoas da gráfica me ajudaram a juntá-las.
A garganta de Noah balança quando engole, e balança a
cabeça. — Isto é…

Ele está sem palavras, mas não precisa usar palavras para
eu entender o que está sentindo.

Eu só sinto.

Seus olhos se agarram aos meus, e sou dominada pela pura


adoração dentro deles.

Este homem me ama com tudo o que ele é... e muito mais.

Não tenho certeza do que fiz na minha vida para merecê-lo,


mas ele é tudo o que eu sempre esperei, e muito além disso.

Eu giro em seu colo, minhas pernas atrás dele, minhas mãos


deslizando por seu pescoço até meus polegares deslizarem ao longo
de sua mandíbula, as pontas dos meus outros dedos roçando a
borda de sua nuca. — Eu te amo, Noah Riley.

Uma respiração quebrada escapa dele, seus olhos se fecham.


— Papai Noel fez tão bem.

Uma risada me escapa e um pequeno sorriso curva sua boca.

Noah me beija então, suas mãos afundando em meu cabelo,


como sempre fez, mas agora é sua nova rotina cada vez que
saímos, chegamos, nos encontramos ou nos separamos. Seu toque
nunca está longe. Nunca. É tão reconfortante quanto doloroso,
mas apenas por causa de quão profundas são as razões para isso.
Noah está com medo. Com medo de que, a qualquer
momento, algo pudesse vir e me tirar dele, mas não deixaremos
isso acontecer. De novo não. Nunca mais.

Começando na noite em que minhas memórias voltaram,


deitei nos braços de Noah e escrevi a noite em que ele e eu nos
conhecemos, a conversa que tivemos, bem como a fogueira que se
seguiu. Todas as noites depois disso, fazia a mesma coisa,
contando nossa história em um diário com rabiscos e anotações, e
sim, corações coloridos. Já enchi dois, tendo aberto meu terceiro
ontem.

— Mal posso esperar para adicionar hoje ao meu diário.

— Acabou de começar nossa viagem de acampamento na


noite passada. Você tem um longo caminho a percorrer.

— Eu sei, mas mesmo assim.

Os lábios de Noah roçam os meus, seus olhos se fechando,


seu tom oh, tão suave, enquanto diz — E se... nunca alcançar? —
Uma pequena carranca puxa minhas sobrancelhas, e Noah
cegamente enrola uma mecha do meu cabelo em torno de seu
dedo. — E se eu continuar te dando mais sobre o que escrever?

A mão agora traçando suas tatuagens faz uma pausa, e meus


olhos voam para os dele. Ele leva seu tempo, observando enquanto
libera o cacho escuro, e depois a empurra do meu ombro quando
cai. Só então seus olhos vêm para os meus.

— E se todos os dias que se seguirem a este, eu lhe der mais


alguma coisa para escrever?

— Noah. — Meu coração bate loucamente.


Seus lábios se curvam em um pequeno sorriso, e ele
engancha o dedo sob meu colar, o presente que ele me deu no
momento em que acordei esta manhã, um coração de prata
pendurado nele.

Ele disse que manchará com o tempo, o esterlino incapaz de


manter seu brilho, mas disse que talvez quando chegar a hora,
possa comprar um real para substituí-lo.

— Eu te disse que minha mãe me deu algo no dia em que ela


morreu, algo que ela e eu encontramos no cais, mas nunca te disse
o que era. — Ele gira o coração até que o fecho esteja na frente e o
desfaz, segurando-o na palma da mão aberta. Seus olhos nunca
deixam os meus. — Quero você, Arianna Johnson, como nenhum
homem jamais quis uma mulher antes. Estou certo disso. Quero
te dar a vida que sonhou, a que compartilhou comigo. Quero dar
a você uma casa no oceano, uma que será nossa, onde o deck
traseiro fique de frente para o oceano, para que possamos sentar
do lado de fora à noite enquanto o sol se põe, mas apenas para
podermos observar a forma como a lua reflete na água do jeito que
você ama. Quero voltar para casa e cozinhar para você enquanto
se senta e assiste, nosso pequeno em seus braços.

Minhas lágrimas caem em riscas pesadas pelo meu rosto,


mas não quero nem piscar. Eu não quero perder uma única
expressão em seu rosto.

— Eu quero dar tudo que você poderia querer, e então quero


te dar ainda mais, mas primeiro. — Ele abre a palma da mão, e
depois aquele coração que estava em volta do meu pescoço é
aberto, e uma pequena faixa prateada cai direto em minhas mãos.
Eu suspiro, não tendo ideia de que era um medalhão. —
Noah...

— Primeiro — repete, seus dedos levantando meu queixo,


chamando meus olhos para os dele. — Primeiro, quero me casar
com você.

Um grito desliza pelos meus lábios, minha mão cobrindo


minha boca.

— Case comigo, Julieta. Podemos esperar até que termine a


faculdade, ou podemos dirigir até uma capela agora, não me
importo. Case comigo.

Estou balançando a cabeça antes mesmo que ele termine de


falar, meus lábios esmagando com os dele enquanto o puxo o mais
perto que posso, e não é perto o suficiente.

Nunca estará perto o suficiente, mas para sempre é um bom


começo.

— Aceita? — Murmura.

— Claro que aceito.

Suas palmas tremem enquanto ele agarra minhas bochechas,


seus olhos perfurando os meus. — Diga que jura?

Colocando minha palma sobre sua tatuagem, recito seu


significado.

— Não tema a queda, mas a vida que vem de nunca ter


saltado. — Sorrio através das minhas lágrimas. — Eu sempre
pularei se o salto me levar até você, Noah Riley. Sempre.
— E para sempre.

— Juro.

Ele me beija, e me perco no homem diante de mim.

Meu Romeu.

Meu noivo.

Meu tudo.

Fim
Você chegou ao fim!!! Como está se sentindo?! lol

Caramba, não tenho ideia de como expressar o que a


conclusão deste livro fez comigo. Este bebê está fazendo 5 anos! É
o livro que me fez começar a escrever, mas o medo era real com
este. Não achava que poderia contar a história como os
personagens pretendiam, mas não posso dizer quão orgulhosa
estou de como tudo aconteceu.

Say You Swear é um livro sobre o crescimento e a conquista


de si mesmo, sobre encontrar a si mesmo e sair do que sempre
soube para descobrir tudo para o qual foi destinado. E puta merda,
nosso menino Noah???!!! MEU DEUS ESSE HOMEM! *MORTA*

Acho que o termo namorado de livros foi obliterado, porque


esse homem é material para marido de livros! lol

*Suspiro profundo e feliz*

Do fundo do meu coração, obrigado por ler. Esta história é o


que me inspirou a começar a escrever, e estou realmente fora de
mim que agora está em suas mãos.

Xoxo,

Meagan.
Este é fácil. Tenho algumas pessoas a agradecer por me
ajudarem a passar por isso, e acreditem, não foi fácil! Esse livro
quase me matou. Como sempre tento fazer, despejei tudo o que
tinha nessa história, mas algo sobre esse bebê pesava de maneira
diferente. Era pesado e profundo, e nem uma única linha dele
poderia ser forçada ou apressada, por isso um ENORME obrigada
ao homem da minha casa por pegar minha folga nos últimos meses
enquanto estava absorta nesta história por muitas, muitas noites
sem dormir. E por amar Gordon Ramsay tanto quanto eu! lol

Rebecca, não tem ideia do que fez por mim neste livro! Sua
honestidade e feedback tiveram um impacto tão grande! Tanto que
posso dizer sem dúvida que a história de Noah e Ari não teria se
tornado o que se tornou sem você aqui para o processo. Serei
eternamente grata por seu trabalho duro e apoio. Foi além e não
posso agradecer o suficiente por isso.

Melissa! Como sempre, me convenceu e me empurrou a


continuar! Seu incentivo e amizade significam o mundo para mim
e estou muito feliz por tê-la como minha principal bish. Desculpe
eu ter torturado você com alguns capítulos de cada vez! lol

Serena! Obrigada por fazer parte desta jornada! Sua entrada


significa muito!
Ellie e equipe do My Brothers Editor, muito obrigada por
sempre trabalharem comigo em prazos tão apertados! Sou uma
bagunça, mas é por isso que eu tenho vocês!

Blogueiros e leitores iniciais!! Vocês são uma parte tão


importante do processo! Muito obrigada por tirar um tempo de
suas agendas ocupadas para conhecer meu novo casal e ajudar a
espalhar a notícia!

E por último, aos meus leitores!!!! VOCÊS SÃO A RAZÃO DE


EU ESTAR AQUI HOJE!

Muito obrigada por me acompanhar nessa jornada! Estou tão


honrado que escolheu ler minhas palavras e se apaixonar pelos
mundos que crio. Eu sempre darei tudo de mim e nunca lançarei
um livro que não tenha 100% de certeza, porque vocês merecem
isso de mim! OBRIGADA por me permitir escrever o que sinto e
estarem aqui para isso!

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