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COMUNICADO À COMUNIDADE ESCOLAR

Ação Civil Pública nº 5072345-69.2021.4.02.5101

Em atendimento à determinação da MM. Juíza Federal, da 15ª Vara Federal,


Dra. Carmen Silvia Lima de Arruda, proferida durante a audiência realizada no dia 31 de
agosto de 2021, referente à Ação Civil Pública nº 5072345-69.2021.4.02.5101, proposta
pelo Ministério Público Federal, visando o retorno presencial das aulas nas Instituições
Federais de Ensino do estado do Rio de Janeiro, a Reitoria do Colégio Pedro II - IFE
sediada nesta unidade da federação - vem a público prestar os seguintes esclarecimentos.
Considerando a gravidade do contexto pandêmico e a ausência de médicos
sanitaristas ou epidemiologistas na escola, optou-se por seguir orientações de fontes com
capacidade técnica e científica na área. Os documentos emitidos pela Fundação Osvaldo
Cruz (Fiocruz) e os Painéis COVID-19 da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro e
do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) têm norteado as decisões do
Colégio Pedro II.
Neste momento, a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) tem papel de destaque,
não só pela produção de uma das vacinas contra a COVID-19 mais utilizadas no Brasil,
como também pela produção de conhecimento, divulgação científica e popularização de
informações científicas acerca do vírus, da doença e de seu enfrentamento.
No dia 15 de agosto, a Fiocruz lançou mais uma atualização das
“Recomendações para o planejamento de retorno às atividades escolares presenciais no
contexto da pandemia de Covid-19”. O documento, produzido por um Grupo de Trabalho
da Fiocruz, que se dedica ao tema há mais de um ano, tem como objetivo central reafirmar
“que se valorize a proteção da comunidade escolar no intuito de evitar a disseminação do
SARS-CoV-2 em um contexto de avanço da retomada das atividades presenciais.”
(FIOCRUZ, 2021, p.3).

A partir das orientações cientificamente abalizadas do Grupo de


Trabalho da Fiocruz, e considerando a faixa etária do corpo discente desta instituição
de ensino, o atual cenário pandêmico no estado do Rio de Janeiro e os procedimentos
sanitários, cuja observação é de extrema importância para garantir a segurança dos
estudantes e dos servidores quando do retorno presencial, o Colégio Pedro II propõe o
retorno presencial a partir de 1º de março de 2022, pelos motivos detalhadamente
expostos a seguir:

Indicadores de Retorno às Atividades Escolares

Inicialmente, comunica-se que, de forma a garantir a plena segurança dos


estudantes e servidores, antes de determinar a reabertura desta instituição de ensino para as
aulas de forma presencial, cabe ao Reitor e às demais instâncias decisórias do Colégio
Pedro II avaliarem diversos fatores relevantes, além de considerar as consequências práticas
da decisão, em observância ao disposto na Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro (Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942):
“Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se
decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam
consideradas as consequências práticas da decisão. (Incluído pela Lei nº
13.655, de 2018) (Regulamento)
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação
da medida imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou
norma administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas.
(Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
[....]
Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão
considerados os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as
exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos
dos administrados. (Regulamento)”.

Nesse sentido, verifica-se que a situação do estado do Rio de Janeiro pode


ser analisada de forma mais detalhada por meio do Mapa de Risco por Municípios,
divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde:

Fonte: https://painel.saude.rj.gov.br/monitoramento/covid19.html. Acesso em: 03/09/2021.

No referido mapa, observa-se que, dos municípios em que os campi do


Colégio Pedro II estão localizados, apenas o de Niterói apresenta a bandeira amarela. Por
outro lado, os municípios do Rio de Janeiro e de Duque de Caxias estão na bandeira
vermelha, com 29 pontos, ou seja, apenas 2 pontos abaixo do necessário para passarem à
bandeira roxa, em condição acentuada de risco pandêmico.
O Decreto Estadual nº 47.454/21, ato administrativo que classificou a
Educação como atividade essencial, em seu Anexo V, por intermédio da Nota Técnica nº
02/2021, esclarece que:
“o ajuste das medidas de distanciamento social se faz necessário sob a luz
do conhecimento atual, onde a escola passa ser considerada como serviço
essencial no Estado do Rio de Janeiro. Assim, é permitida a abertura das
escolas em situação de risco MODERADO (Bandeira Laranja,
Distanciamento Social Ampliado 1 - adaptada) e vedada em risco ALTO
(Bandeira vermelha) e risco MUITO ALTO (Bandeira Roxa). Por fim,
recomenda-se o monitoramento periódico do cenário epidemiológico para
consolidar ou reaver a condição que estabelece a classificação com nível
de risco no estado”.

A Resolução Conjunta SEEDUC/SES nº 1.569, de 12/08/2021, contraria


sobremaneira o Decreto Estadual citado ao definir percentuais de presencialidade em todas
as bandeiras de risco. Percebe-se evidente inconsistência na legislação estadual referente ao
retorno presencial das escolas.
Por outro lado, a citada Resolução Conjunta vai de encontro ao apresentado
na Nota Técnica SIEVS/CIV nº 43/2021, de 18 de agosto de 2021, que define as medidas
de distanciamento, conforme abaixo.
• Risco Baixo – Bandeira Amarela - Distanciamento Social Seletivo 2:
a) Casos suspeitos ou confirmados – Isolamento domiciliar e monitoramento de
casos sintomáticos e contatos;
b) Proteção de grupos vulneráveis – Distanciamento social, garantia de acesso
às necessidades básicas, acesso e acessibilidade aos serviços de saúde;
c) Serviços de saúde – Reforçar medidas contra a transmissão da COVID-19
nas unidades de saúde;
d) Distância física, higiene e limpeza - Redução de contato, reforço em higiene
e etiqueta respiratória;
e) Comunicação de risco - Fortalecer os processos de comunicação interna
(entre os órgãos e profissionais) e comunicação externa (com o público);
f) Evitar atividades que gerem aglomeração de pessoas.

• Risco Moderado – Sinalização Laranja - Distanciamento Social


Ampliado 1:
a) Medidas do Distanciamento Social Seletivo 1 e 2;
b) Proibição de qualquer evento de aglomeração, conforme avaliação local;
c) Adoção de distanciamento social no ambiente de trabalho, conforme
avaliação local;
d) Avaliar a suspensão de atividades econômicas não essenciais, com limite de
acesso e tempo de uso dos clientes, conforme o risco no território;
e) Avaliar a adequação de horários diferenciados nos setores econômicos para
reduzir aglomeração nos sistemas de transporte público.

• Risco Alto – Sinalização Vermelha Distanciamento Social Ampliado 2:


a) Medidas do Distanciamento Social Seletivo 1 e 2;
b) Medidas do Distanciamento Social Ampliado 1;
c) Suspensão de atividades econômicas não essenciais definidas pelo território,
avaliando cada uma delas;
d) Definição de horários diferenciados nos setores econômicos para reduzir
aglomeração nos sistemas de transporte público. Secretaria de Estado de
Saúde Subsecretaria de Vigilância em Saúde.

• Risco Muito Alto – Sinalização Roxo:


a) Adoção das Medidas Básicas e Transversais;
b) Adoção das Medidas de Distanciamento Social Seletivo 1 e 2;
c) Adoção das Medidas de Distanciamento Social Ampliado 1 e 2;
d) Adoção de quarentena, como expõe a Portaria 356/2020 (a), conforme
avaliação do gestor.

Verifica-se que, na Nota Técnica, nenhuma das bandeiras, a partir da


amarela, cita a possibilidade de retorno presencial das aulas.

Isto posto, fica patente que, nas condições atuais, o único campus do Colégio
Pedro II autorizado a retomar as atividades presencias seria o campus Niterói. Todavia, a
iniciativa pela retomada das aulas presenciais não pode ser resolvida apenas com base nas
bandeiras de risco, até porque, suas alterações são frequentes.
Além disso, salienta-se que o Colégio Pedro II não é uma escola de bairro.
Nossos alunos são oriundos dos mais diversos municípios do estado do Rio de Janeiro,
sendo que alguns residem em locais bem afastados da sede onde estudam, tal como ocorre
também com servidores, residentes em bairros e cidades distantes da escola.
Destaca-se, ainda, que as taxas de mortalidade e de incidência por 100 mil
habitantes causadas pela COVID-19 no estado do Rio de Janeiro estão crescendo, conforme
indicadores do quadro abaixo:
Fonte: https://www.conass.org.br/painelconasscovid19/. Acesso em: 03/09/2021.

Das Questões Pedagógicas

O Colégio Pedro II vem monitorando os dados científicos sobre a COVID-


19 e conciliando-os com a legislação educacional e com os interesses da comunidade
escolar.
O Parecer CNE/CEB nº 05/20207, no item 2.4 - Da reorganização do
calendário escolar - apresenta três possibilidades de cumprimento da carga horária mínima
estabelecida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB):
• a reposição da carga horária de forma presencial ao fim do período de
emergência;
• a realização de atividades pedagógicas não presenciais (mediadas ou
não por tecnologias digitais de informação e comunicação) enquanto
persistirem restrições sanitárias para presença de estudantes nos ambientes
escolares, garantindo ainda os demais dias letivos mínimos anuais/semestrais
previstos no decurso; e
• a ampliação da carga horária diária com a realização de atividades
pedagógicas não presenciais (mediadas ou não por tecnologias digitais de
informação e comunicação) concomitante ao período das aulas presenciais,
quando do retorno às atividades.

Cabe ainda destacar que a Lei nº 14.040/2020, em seu artigo 2º, §2º afirma
que: “A reorganização do calendário escolar do ano letivo afetado pelo estado de
calamidade pública referido no art. 1º desta Lei obedecerá aos princípios dispostos no art.
206 da Constituição Federal, notadamente a igualdade de condições para o acesso e a
permanência nas escolas, e contará com a participação das comunidades escolares para
sua definição.”. As deliberações citadas nos parágrafos anteriores são fruto dos debates
travados nas várias instâncias deliberativas do Colégio e em fóruns criados especialmente
para tratar dos assuntos relativos ao período pandêmico.
Embora desprovido do ecossistema escolar, o ensino emergencial remoto
demandou planejamento, envolvendo dinâmica das aulas, materiais, avaliações,
recuperação e demais atividades adaptadas ao modelo educacional atual. A
descontinuidade desse modelo no meio do semestre letivo é inviável
administrativamente e parece-nos inadequado e de pouco ou nenhum proveito
pedagógico para o aluno.
Demais disso, o Colégio não dispõe de infraestrutura para equipar todas
as salas de aula para transmissão de atividades síncronas. Se assim o tivesse, o
professor daria aulas todas as semanas para o grupo de alunos presentes, e o restante
dos estudantes assistiria online, tendo em vista que a Resolução Conjunta
SEEDUC/SES nº 1.569, de 12/08/2021, somente autoriza o retorno presencial da
totalidade dos alunos nas bandeiras verde e amarela. Diante dessa impossibilidade,
passaríamos a ter duas escolas, uma com aulas presenciais e outra com aulas remotas.
Logo, haveria a necessidade de se dobrar a força de trabalho do Colégio, o que
também é inviável.
Por outro lado, sob o ponto de vista sanitário, os percentuais citados na
Resolução Conjunta SEEDUC/SES nº 1.569/2021 são inexequíveis, visto que,
independentemente da bandeira, recomenda-se o distanciamento de 1,5 m entre as
pessoas. Com isso, cada aluno precisaria de 2,25 m para permanecer minimamente seguro
2

em sala de aula. Ao docente, por conta da movimentação no quadro, seria reservado 7,5 m .2

Aplicando-se esses parâmetros ao tamanho médio das turmas do Colégio Pedro II, tem-se a
demanda de espaço apresentada no quadro abaixo:

Metragem Necessária para a Sala de Aula


Nº de Alunos/ Bandeira Verde
Bandeira Laranja Bandeira Vermelha
Turma ou Amarela
(70%) (40%)
(100%)
25 63,75 m 2
46,9 m 2
30m 2

35 86,25m 2
62,6m 2
39m 2

40 97,5m 2
70,5m 2
43,5m 2

Uma breve análise do quadro acima demonstra a incompatibilidade do


espaço requerido para um retorno seguro às dependências do Colégio Pedro II.
Importa destacar que, atualmente, todos os alunos têm encontros
síncronos e atividades síncronas semanais de todas as disciplinas, o que garante
equidade ao corpo discente, pois todos usufruem das mesmas oportunidades
educacionais com continuidade.
Ademais, deve-se salientar que a própria Portaria Interministerial nº 5, de
4 de agosto de 2021, apesar de ressaltar a importância do retorno presencial das aulas,
condiciona esse retorno ao atendimento das “condições necessárias para a biossegurança
de alunos, profissionais da educação e demais atores envolvidos, estabelecidas em
protocolos locais, e sem prejuízo quanto à autonomia das redes de ensino para
organização de seu sistema” (caput do art. 2º da Portaria).
Ora, as condições necessárias citadas são representadas pelas bandeiras, já
tão bem explicadas, e pelas orientações de órgãos, como a Fundação Fiocruz, que goza de
legitimidade e confiabilidade em questões de saúde pública, cujas orientações são seguidas
por esta instituição de ensino.
Há que considerar, ainda, a necessidade de observação dos protocolos
sanitários e o fato de que lidamos com crianças, muitas em vulnerabilidade social, o
que fará com que este Colégio tenha que suprir os alunos com os instrumentos de
proteção, que vão além do uso de máscaras e álcool.
Reforço que, para a total obediência aos protocolos sanitários, nossas
turmas teriam que ser divididas em, no mínimo, três grupos:

Ex: Turma 101

Grupo Quantidade de Alunos Semanas de Aula


A 12 19/10, 8/11 e 29/11
B 12 25/10, 16/11 e 6/12
C 13 1/11, 22/11 e 13/12

Enquanto o Grupo A está tendo aula presencial, o ideal seria que o


restante da turma estivesse assistindo a mesma aula de forma remota. Todavia, não se
tem condições de gravar e/ou transmitir simultaneamente 492 aulas. Desse modo, o
restante da turma estará fazendo atividades assíncronas, que também terão que ter
sido preparadas pelo professor, dobrando a carga do docente, já que não temos
autorização para novas contratações ou aumento do nosso Banco de Professores
Equivalentes.
Ora, os docentes já dominam as técnicas das aulas remotas e de todas as
vertentes que este tipo de aula pode fornecer ao estimular os alunos pela variedade dos
recursos que podem ser acessados. Por outro lado, os alunos já entraram em uma rotina
confortável das aulas e conseguem, com as aulas síncronas para todas as disciplinas, suprir
a saudade dos colegas de classe e de seus professores. Ressalta-se que, em 2021, as aulas
síncronas estão sendo mais frequentes do que foram em 2020.
Isto posto, entende-se que a melhor opçã o é continuar com as atividades
remotas, com a nossa rotina já estabelecida e cristalizada e começarmos todos juntos,
de forma presencial, em 1º de março de 2022, se as condições permitirem. Esperamos
que, no ano que vem, tenhamos a volta de todos de forma mais segura, mais protegida,
para uma escola com protocolos sanitários menos rígidos e uma convivência mais
parecida com a que os alunos estavam acostumados.

Dos contratos suspensos em virtude da suspensão das atividades presenciais

Cabe esclarecer que, em virtude da suspensão das atividades presenciais no


Colégio Pedro II, a execução de diversos contratos celebrados foi suspensa, sendo
necessária a retomada dos serviços antes do retorno das aulas presenciais, tendo em vista
que entre eles existem contratos que interferem diretamente na prestação das aulas
presenciais de forma segura e adequada, como os de serviços de limpeza, portaria e de
cozinheiros.
Isto posto, foram solicitadas à Pró-Reitoria de Administração (PROAD)
desta Instituição informações acerca dos contratos suspensos na Reitoria e nos campi do
CPII e manifestação sobre a possibilidade de retorno da execução deles em 30 (trinta) dias.
De acordo com a PROAD, conforme o procedimento previsto na Portaria nº
227, de 22 de fevereiro de 2021, art. 17 c/c art. 19, entende-se que é possível realizar os
procedimentos de aditivo contratual, necessários ao retorno da execução dos contratos, no
prazo de 30 (trinta) dias, caso sejam atendidos os prazos pela empresa e pelas seções pelas
quais o processo tramita.
Todavia, não é possível prever se haverá alguma intercorrência, como
certidões vencidas ou penalidades impeditivas aplicadas às empresas neste interregno, o
que poderá estender o prazo necessário à celebração dos aditivos contratuais, ou até mesmo
a necessidade da realização de novas licitações.
Desse modo, não há como se garantir que as contratações necessárias
estarão concluídas a tempo caso o retorno presencial ocorra ainda no ano de 2021.

Conclusão
Conforme ficou evidenciado, o CPII realizará todo um planejamento,
em especial, no que concerne às atividades pedagógicas, colocando em prática o ano
letivo de 2021, de forma remota, com aulas síncronas e assíncronas. Ou seja, a IFE
encontra-se durante um efetivo período letivo, que tem previsão de conclusão para o
mês de abril/2022.
A retomada abrupta do modelo presencial, além de desperdiçar todo o
esforço empreendido, acarretará inúmeros prejuízos à comunidade escolar, sem
contar os possíveis atropelos em relação à seara administrativa, com destaque para a
questão dos contratos (limpeza, vigilância, copeiragem, merendeiras, etc.).
Por todo o exposto, diante da impossibilidade de atendimento seguro e
isonômico para todos os estudantes, o Colégio Pedro II entende que o retorno
presencial somente poderá ocorrer, sem prejuízos às atividades pedagógicas e
administrativas, a partir do dia 1º de março de 2022, a depender, é claro, das
condições sanitárias.

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