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a INTRODUÇÃO À FISCALIDADE 

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  d) Princípio da protecção jurídica
   
c) Princípio da segurança jurídica O princípio da protecção jurídica encontra-se em estreita ligação com a prorrogativa constitucional
 
da tutela dos direitos e interesses legítimos dos cidadãos, não sendo parte exclusiva do ordenamento
O princípio da segurança jurídica assenta a sua construção na génese do Estado de Direito e, de
fiscal. Efectivamente, este princípio consagra o direito dos contribuintes poderem recorrer à justiça
certa forma, encontra-se também com a ideia de representatividade, ínsita no princípio da legalidade
tributária para fazer valer os seus interesses legítimos, sendo uma consequência directa do artigo
fiscal que acima estudámos. Efectivamente, a tutela das legítimas expectativas dos cidadãos assume,
20.º da CRP, especificado no artigo 9.º da Lei Geral Tributária.
em matéria fiscal um verdadeiro desígnio de politica constitucional e construção do Estado.
Há um ponto que, no entanto, deve ser sublinhado: a protecção jurídica tem hoje não apenas uma
O princípio da segurança jurídica, constante do art. 2º da CRP, impõe-se ao legislador, limitando a
dimensão judicial mas também administrativa. De forma expressa, o legislador português assumiu
sua actividade em dois sentidos distintos: na produção de normas retroactivas (desfavoráveis), e 2)
um postulado de defesa dos direitos e interesses legítimos dos contribuintes não apenas a montante
na livre revogabilidade das leis fiscais (favoráveis). Todavia, um tal princípio aplica-se directamente
(isto é, junto dos tribunais) mas também a jusante, isto é, junto da própria administração fiscal.
também a todas as entidades decisoras, sempre que estas disponham, em concreto, de uma margem
Neste sentido, os contribuintes têm o direito a reclamar ou diligenciar – junto dos serviços da admi-
legal de livre decisão cujo parâmetro imediato seja a Constituição.
nistração – pela defesa dos seus direitos e legitimas expectativas nas fases iniciais do procedimento,
A verdade, no entanto, é que o primeiro vector do principio da segurança jurídica, está presente-
numa lógica de celeridade e protecção tempestiva dos direitos fundamentais.
mente desactivado em larga medida, absorvido que foi pelo principio da não retroactividade dos  
impostos previsto no art. 103º, nº3 da Constituição, onde se estatuiu, após a Revisão Constitucional e) Princípio da proteção fiscal da família
de 1997: “ninguém poderá ser obrigado a pagar impostos que não hajam sido criados nos termos  
da Constituição, que tenham natureza retroactiva ou cuja liquidação e cobrança se não faça nos O direito – e o pensamento jurídico português – têm assumido a família como a célula básica da
termos da lei”. Assim, a proibição de normas fiscais retroactivas de incidência oneradoras ou agra- sociedade, isto é, como o núcleo de crescimento humano, formativo e ético do homem enquanto
G vadoras da situação jurídica dos contribuintes, dispõe agora de uma consagração constitucional
expressa, o que até àquele momento apenas ocorreu por via doutrinária e jurisprudencial.
cidadão pleno. Este postulado tinha de ter, necessariamente, consequências de relevo no domínio
fiscal, possibilitando o reconhecimento do estatuto jurídico específico das famílias e a sua importân-
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Da mesma forma, o princípio constitucional da segurança jurídica é uma inerência do postulado que cia no âmbito da política social.
consagra um sistema jurídico estável e previsível, de modo a que o cidadão conheça as regras jurídi- Esta protecção jurídica efectiva-se de duas formas distintas: estabelecendo à partida que, indepen-
cas que, em matéria tributária, determinam a sua vida. Ora, em Direito Fiscal, facilmente se compre- dentemente dos métodos e formas de tributação, a família não será prejudicada fiscalmente pela
ende a importância da determinabilidade e precisão das normas fiscais, para um saudável clima denominada ‘tributação conjunta’ e, por outro lado, impondo, com efeitos gerais, a consideração dos
económico (quer em termos de crescimento, quer de atracção de investimento e estruturas produti- encargos e das despesas familiares. No fundo, o sistema fiscal português não se basta com regras
vas) e para um standard apropriado de defesa dos direitos, liberdades e garantias dos contribuintes. negativas de proibição de discriminação da família, impondo antes medidas activas de protecção,
O cerne do princípio da segurança jurídica encontra-se, ainda assim, como acima foi esclarecido, na nomeadamente em termos de aceitação e dedutibilidade de encargos e despesas familiares. Isto
proibição constitucional da retroactividade das normas fiscais expressa no artigo 103.º, n.º 4 da CRP, implica, por um lado, a não tributação ou intangibilidade fiscal do ‘mínimo de existência’ conjugal
sendo esta disposição apenas explicitada no texto após a revisão constitucional de 1997. Ao nível da ou familiar e, por outro, a dedução à matéria colectável (e não à colecta) em termos realisticamente
Lei Geral Tributária este requisito está expresso no artigo 12.º. Outra dimensão do princípio da justos dos encargos com o sustento e a educação dos dependentes.
segurança jurídica advém da obrigação constitucional prevista no artigo 268.º, n.º 3, e no artigo 77.º Neste campo, no entanto, será importante notar que o legislador goza de ampla liberdade conforma-
da LGT, segundo o qual, qualquer decisão da administração fiscal carece de ser comunicada ao seu dora, em termos de meios e instrumentos de efectivar a protecção fiscal do núcleo familiar. Efecti-
destinatário, devendo esta ser devidamente fundamentada, contendo a indicação taxativa das dispo- vamente, o texto constitucional não estabeleceu – contrariamente ao previsto por alguns projectos-
sições legais aplicáveis. De acordo com o artigo 37.º do Código do Procedimento do Processo Tri- lei apresentados – nenhum método especifico obrigatório para contabilização dos encargos familia-
butário, se a notificação ao contribuinte não contiver a respectiva fundamentação poderá o res, nem estabeleceu limites qualitativos ou quantitativos para a sua consideração anual, deixando
interessado, no prazo de 30 dias, requerer a notificação de certidão dos requisitos que lhe sejam essa matéria à atenção do legislador ordinário que, no entanto, não pode perder de vista o sentido
omitidos. teleológica da margem de liberdade.

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