Você está na página 1de 1

a INTRODUÇÃO À FISCALIDADE 

/ I b 0 d £ R
q

  cidade contributiva significativamente menor do que a declarada.


d) Os rendimentos declarados em sede de IRS se afastarem significativamente para menos, sem  
razão justificada, dos padrões de rendimento que razoavelmente possam permitir as manifestações Uma das grandes inovações da lei fiscal portuguesa nesta matéria prende-se precisamente com esta
de fortuna evidenciadas pelo sujeito passivo nos termos do artigo 89.º-A; alínea d) do art. 88º da Lei Geral Tributária. Na verdade, o legislador refere-se aqui já não a uma
  impossibilidade de análise e quantificação da matéria tributável (devido a inexistência, insuficiência
e) Os sujeitos passivos apresentarem, sem razão justificada, resultados tributáveis nulos ou prejuízos ou ocultação de elementos e registos contabilísticos de relevo) mas a uma desconfiança objetiva
fiscais durante três anos consecutivos, salvo nos casos de início de actividade, em que a contagem face aos rendimentos declarados e baseada numa capacidade de consumo ou investimento notoria-
deste prazo se faz do termo do terceiro ano, ou em três anos durante um período de cinco. mente desproporcional em relação àqueles.
 
No fundo, está em causa um raciocínio deste tipo: o rendimento declarado tem de estar em harmonia
f) Acréscimo de património ou despesa efectuada, incluindo liberalidades, de valor superior a (euro)
com o poder económico evidenciado pelo contribuinte ou, se assim não for, terá de existir uma justi-
100 000, verificados simultaneamente com a falta de declaração de rendimentos ou com a existên-
ficação racional para a referida desproporção. Verifica-se uma inversão do ónus da prova e uma
cia, no mesmo período de tributação, de uma divergência não justificada com os rendimentos
inflexão da regra dominante de que a obrigação de provar está do lado de quem alega ou invoca (art.
declarados.
74º LGT). Ou, dito de outra forma, o contribuinte evidencia manifestações de riqueza ou património
 
  sem que o seu rendimento declarado suporte essa evidència: por isso a doutrina e o legislador se
Estando numa área extremamente sensível, nomeadamente atendendo ao sentido da tributação esta- refere a um quadro de ‘manifestações de fortuna’ .
 
belecido na Constituição da República Portuguesa, o legislador entendeu – e bem, em nosso enten-
 
der – reduzir ainda a margem da Administração Fiscal na densificação de conceitos como o de
MANIFESTAÇÕES DE FORTUNA E OUTROS ACRÉSCIMOS PATRIMONIAIS NÃO
‘impossibilidade de comprovação e quantificação exata da matéria tributável’. Trata-se, efetivamen-
JUSTIFICADOS
te, de um corolário inevitável do princípio da segurança jurídica que, no âmbito do direito fiscal por-

G H
 
tuguês, adquire um papel preponderante.  
O objetivo do legislador foi claro: evitar que a AT recorresse a critérios demasiado amplos para pre- As manifestações de fortuna reflectem, de alguma forma, uma mudança de paradigma no ordena-
encher o conceito de ‘impossibilidade de determinação e quantificação da matéria tributável’, esta- mento tributário português, expressando a ideia de que a capacidade de consumo tem de estar, de
belecendo taxativamente os casos em que tal ocorre efetivamente. alguma forma, em proporção com o rendimento declarado, salvo se alguma razão excepcional tiver
Assim, o primeiro critério do legislador é, segundo o artigo 88º da LGT, um critério prático: apenas ocorrido. Ou, por outras palavras, a exibição patrimonial deve ter correspondência no rendimento
poderemos estar neste domínio quando as insuficiências detetadas “inviabilizem o apuramento da declarado e tributado.
matéria tributável” e se manifestem nas seguintes possibilidades: O nº1 do art. 89-A da LGT estabelece isso mesmo ao estatuir que “há lugar a avaliação indireta da
a) Inexistência ou insuficiência de elementos de contabilidade ou declaração, falta ou atraso de matéria coletável quando falte a declaração de rendimentos e o contribuinte evidencie as manifesta-
escrituração dos livros e registos ou irregularidades na sua organização ou execução quando não ções de fortuna constantes da tabela prevista no n.º 4 ou quando o rendimento líquido declarado
supridas no prazo legal, mesmo quando a ausência desses elementos se deva a razões acidentais; mostre uma desproporção superior a 30 %, para menos, em relação ao rendimento padrão resultante
  da referida tabela”.
b) Recusa de exibição da contabilidade e demais documentos legalmente exigidos, bem como a sua A expressão utilizada – desproporção – denota bem o objecto de sentido das manifestações de for-
ocultação, destruição, inutilização, falsificação ou viciação; tuna e a consideração de princípios subjacente. Excepto que outra razão específica (e necessaria-
 
mente excepcional) contribua para as manifestações de fortuna, deve o património evidenciado pelo
c) Existência de diversas contabilidades ou grupos de livros com o propósito de simulação da reali-
contribuinte estar em relação proporcional com o seu rendimento declarado.
dade perante a administração tributária e erros e inexactidões na contabilidade das operações não  
supridos no prazo legal. Em homenagem clara ao princípio da legalidade fiscal, o legislador optou por determinar expressa-
 
mente as referidas manifestações de fortuna e a sua forma de cálculo/determinação. É o que encon-
d) Existência de manifesta discrepância entre o valor declarado e o valor de mercado de bens ou ser-
tramos na tabela constante do nº4 do art. 89 –A da LGT:
viços, bem como de factos concretamente identificados através dos quais seja patenteada uma capa-  

Você também pode gostar