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a INTRODUÇÃO À FISCALIDADE 

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mente mas igualmente – sem qualquer dilação temporal – os respectivos juros indemnizatórios que, De resto, a concessão de benefícios fiscais através de contrato fiscal é uma das modalidades de
assim, fazem parte integrante da relação jurídico-tibutária (cfr. art. 100º da LGT). constituição dos mesmos que está prevista no artº.4, nº.2, do Estatuto dos Benefícios Fiscais.
  Quer isto dizer que apenas benefícios fiscais podem ter natureza contratual? A resposta é negativa.
No caso dos juros compensatórios está em causa, essencialmente, o atraso do processo de liquidação Aliás, no nº2 do art. 37º da LGT o próprio legislador abre a porta a outro tipo de instrumentos con-
do imposto, por razões imputáveis ao próprio sujeito passivo. Neste caso, não é o atraso no paga- tratuais de âmbito fiscal, embora estabeleça, desde logo, os limites dogmáticos aplicáveis.
mento da prestação tributária que está em causa, mas o retardamento da liquidação fiscal por moti- De facto, estatui o nº do art. 37º da LGT que “a lei pode prever que outros contratos sejam celebra-
vos imputáveis ao contribuinte que, em função disso, é penalizado. dos entre a Administração e o contribuinte, sempre com respeito pelos princípios da legalidade, da
A lei estabelece que “são também devidos juros compensatórios quando o sujeito passivo, por facto igualdade, da boa fé e da indisponibilidade do crédito tributário”.
a si imputável, tenha recebido reembolso superior ao devido”, estendendo assim o alcance de abran-  
gência material deste tipo de juros.  

No fundo, neste domínio, o sujeito passivo é obrigado a ‘compensar’ a administração tributária pelo O PAGAMENTO DA PRESTAÇÃO TRIBUTÁRIA: MODALIDADES E REGIME
facto de ter atrasado o processo de determinação das quantias a pagar (liquidação) ou ter recebido JURÍDICO
 
montantes superiores aos que lhe seriam devidos, beneficiando assim de montantes pecuniários de
O pagamento é uma figura jurídica fundamental no âmbito da extinção da relação jurídico-tributária.
que, em princípio, não deveria poder dispor. Os juros compensatórios têm especial aplicabilidade no
Não obstante ser possível em algumas áreas o pagamento em espécie (por exemplo, no âmbito do
caso de substituição tributária envolvendo situações de retenções na fonte ou pagamentos por conta
direito do trabalho), o pagamento das prestações tributárias deve ser feito, nos termos do art. 40º da
(nº2 do art. 28º da LGT).
LGT “em moeda corrente ou por cheque, débito em conta, transferência conta a conta e vale postal
Em relação a este tipo de juros, as regras de contabilização e a aplicação de limites são bastante rígi-
ou por outros meios utilizados pelos serviços dos correios ou pelas instituições de crédito que a lei
das. Quanto ao primeiro aspecto, os juros compensatórios “contam-se dia a dia desde o termo do
expressamente autorize”. Significa isto que a entrega de bens ou direitos para realizar o pagamento
prazo de apresentação da declaração, do termo do prazo de entrega do imposto a pagar antecipada-

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de dívidas tributárias apenas pode ocorrer em circunstâncias especificamente previstas na lei (a
mente ou retido ou a reter, até ao suprimento, correcção ou detecção da falta que motivou o retarda-
mento da liquidação” (nº3 do art. 35º). Quanto aos limites, estes juros, por opção expressa do
dação em cumprimento está prevista nestes termos no nº do art. 40º da LGT).
 
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legislador, “só são devidos pelo prazo máximo de 180 dias no caso de erro do sujeito passivo evi- PAGAMENTO POR TERCEIROS
denciado na declaração ou, em caso de falta apurada em acção de fiscalização, até aos 90 dias poste-  
riores à sua conclusão” (nº 7 do art. 35º). Em princípio, o pagamento deverá ser um ato pessoal, praticado a partir da esfera jurídica do sujeito
  passivo. A lei não exige, no entanto, que sempre assim seja, admitindo expressamente o pagamento
A taxa aplicável aos juros compensatórios é a mesma que a aplicável aos juros indemnizatórios e da prestação tributária por terceiros. O artigo 41º da LGT estatuí que “o pagamento das dívidas tri-
corresponde à taxa dos juros legais, definida nos termos do n.º 1 do artigo 559.º do Código Civil. butárias pode ser realizado pelo devedor ou por terceiro”, configurando assim, explicitamente, a
 
 
possibilidade de o pagamento ser levado a cabo por outro que não o devedor efetivo.
CONTRATOS FISCAIS Poder-se-ia questionar se, face ao principio da indisponibilidade do crédito tributário, faz sentido
  permitir o pagamento da dívida tributária por terceiros.
O princípio da indisponibilidade do crédito tributário não incentiva, antes pelo contrário, a realiza- Na verdade, conforme atrás se referiu, a inegociabilidade do crédito tributário não é, no direito fiscal
ção de contratos entre a administração tributária e os contribuintes. O princípio da livre contratuali- português, um principio absoluto. São várias as situações em que o legislador permite quer a cessão,
zação, típico do direito civil e comercial, não pode adquirir, portanto, força plena no âmbito do quer a transmissibilidade do crédito tributário (por exemplo, em caso de sucessão universal por mor-
sistema fiscal português. te). Neste sentido, o que temos aqui é uma espécie de colisão de axiomas tributários: a indisponibili-
Existem, no entanto, situações pontuais, em que a relação jurídico-tributária nasce de um ato de con- dade do crédito tributário e a necessidade/exigência de arrecadação de receitas por parte do Estado,
tratualização. Acontece, por exemplo, em relação a alguns benefícios fiscais legalmente previstos. A em ordem à prossecução das finalidades públicas.
lei refere-se, nestes casos, a “benefícios fiscais de natureza contratual”, como prevê a alínea b) do Assim, prevaleceu a lógica do compromisso: poderá haver pagamento por terceiros (prioridade à
nº2 do art. 46º da LGT (é o caso de alguns benefícios fiscais ao investimento). cobrança do crédito tributário) mas terão de estar reunidas um conjunto de garantias formais.

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