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Prefácio
"Que bom se esta música não terminasse jamais"
Agradecimentos
“Uma palavra amiga”
Análise
"Eu sou um analista urbano”
Discografia
"Eu quero apenas cantar meu canto"
Filmografia
"O beijo que eu dei nela dentro do cinema"
Composições
"As canções que você fez para mim"
Discos-tributo
“Como as ondas voltam para o mar”
Regravações
"Uma força me leva a cantar"
Cronologia
"Velhos tempos, velhos dias"
Bibliografia
“Resumo do riso e da dor”
Sobre o autor
"Eu sou terrível"
Prefácio
"Que bom se esta música não terminasse jamais"
Quando terminei a primeira edição deste livro, lançada pela Nova Sampa em
1995, estava acabando de ser lançada a versão do grupo mineiro de reggae
Skank para "É Proibido Fumar". E a primeira impressão foi muito boa, quase
chegou a ser a versão definitiva pela qual a música esperou todos esses anos.
Pois é, a Jovem Guarda está para completar 35 anos agora no ano 2000, a
carreira de Roberto passou dos quarenta e o melhor de sua obra permanece
sempre atual. Não importa que, para citar dois exemplos, o RPM e (perdão,
leitores) Xuxa tenham vendido mais discos que ele; o RPM, infelizmente, não
teve estrutura para segurar o megasucesso e sumiu, ao passo que, como bem
diz Mauricio Kubrusly, quem vende discos é a Globo e não a Xuxa. E
Roberto, que começou bem antes do RPM ou da Xuxa, vai bem, obrigado.
Como se vê, estava mais que na hora de alguém pesquisar e escrever um livro
sobre a obra de Roberto, e, já que ninguém escreveu, escrevi eu mesmo.
Minha tarefa foi uma das mais árduas, mas também das mais divertidas,
embora, obviamente, eu não tenha pretensões de dizer tudo sobre a obra de
Roberto em tão pouco espaço (apesar de agora estar livre dos limites da folha
de papel). A primeira edição deste livro foi bem recebida, e espero que esta
nova edição, totalmente revista, atualizada e bastante aumentada, esteja ainda
melhor.
E permitam-me ainda dedicar este livro à garota (por onde andará?) que lá por
1966-7 "me deixou a chorar" ao dizer que minha calça Cabriolet não era
legítima.
A. M. Jr.
dezembro de 1994/março de 1999
Agradecimentos
“Uma palavra amiga”
Lojas Eric, Bruno, Ventania, Golden Hits (hoje Museu do CD), Júpiter, Cilo,
Babilônia, Nuvem Nove, Stardust, Waterloo, Sweet Jane, Nuvem 50, Sebo
São João.
Análise
"Eu sou um analista urbano”
Roberto Carlos talvez seja o mais ilustre de tantos filhos ilustres de Cachoeiro
do Itapemirim, e interessante é que ele mesmo homenageou alguns e foi
homenageado por outros. Senão, vejamos: Nara Leão (1942/1989) gravou
várias de suas músicas, chegando nos anos 70 a todo um LP-tributo, ...E Que
Tudo Mais Vá Pro Inferno; Raul Sampaio (nasc. 1928) é o autor da música
"Meu Pequeno Cachoeiro", sucesso na voz de Roberto; seu sobrinho Sérgio
Sampaio (1947/1994), ao que consta, compôs "Meu Pobre Blues" em
homenagem a Roberto; Carlos Imperial (1935/1992) foi um de seus
descobridores e primeiro empresário; e até que "Vou Ficar Nu para Chamar
Sua Atenção", "Eu Sou Fã Do Monoquini" e outras de Roberto e Erasmo têm
um pouquinho do espírito atrevido, moleque e espontâneo de outra
conterrânea, a nudista e bailarina Luz Del Fuego (1917/1967).
E mesmo os fãs de Roberto que preferem seu repertório dos anos 62/71, talvez
sua Década de Ouro, costumam ressalvar que o Roberto Carlos cantor está
cada vez melhor. Pessoalmente, eu prefiro suas gravações de 1966 a 71, com
arranjos cheios de naipes de flautas (impossível não lembrar de Mr. Jobim),
contrabaixo e bateria balançadíssimos ou teclados barrocos, tudo isso a
serviço de composições bastante elaboradas, que chegavam a ter até quatro
partes. Se a maior crítica a Roberto pós-1971 tem sido a de seu repertório
primar pela repetição, isso me recorda outra definição lapidar sobre Roberto,
do jornalista Paulo Santos, na contracapa do disco onde Roberto narra a peça
erudita infantil Pedro e O Lobo, já em 1970: “Roberto Carlos é uma pessoa
que procura sempre a perfeição no que faz, mesmo que, por vezes, à custa de
repetições que poderiam ser cansativas para outros, mas não para ele.” Aqui se
emprega o termo “repetição” em outro sentido, de refazer uma tarefa até ela
sair perfeita, mas ele pode ser empregado também a boa parte da obra de
Roberto, que aos não fãs soa “sempre igual”. Na pior das hipóteses, Roberto
está na boa companhia de Chuck Berry, Martinho da Vila, B. B. King, James
Brown (além da introdução imutável de quase todas as gravações do grupo
vocal The Ink Spots) e outros artistas notórios tanto por serem importantes
quanto repetitivos — e que transformaram repetição em estilo, quem não é fã
acha tudo igual mesmo.
Resumir a Jovem Guarda a rock and roll, samba e pop europeu é apenas parte
da verdade. O que é novo vem do sempre novo, ou seja, das raízes; sem medo
de parecer agricultor, digo que Roberto Carlos encontrou seu verdadeiro estilo
ao deixar de ser o mero seguidor de gêneros em voga como a bossa nova, o
bolero e o rock and roll de Louco Por Você, assumindo influência de seus
verdadeiros heróis, por mais fora de moda que parecessem — afinal, o melhor
pop, rock ou não, é atemporal. E nisto Roberto se compara a Elvis Presley
(1935/1977). Elvis formou seu estilo ouvindo blues, country, gospel e cantores
românticos como Dean Martin, e seu repertório tinha de tudo: canções
napolitanas ("O Sole Mio", tornada "It's Now Or Never"), folclore alemão
("Muss I Denn", ou seja, "Wooden Heart"), bossa nova ("Almost In Love"),
música cubana ("No More", ou melhor, "La Paloma"), trechos de música
erudita ("Can't Help Falling In Love"), jazz dixieland ("Hard Headed
Woman")... Isto, aliado ao panamericanismo dos anos 40-50 (a já famosa
"política de boa vizinhança" com que os todo-poderosos EUA recolhiam e
reciclavam cultura de todo o mundo no pós-guerra, tendo descoberto ser mais
bonito e eficaz conquistar pelas idéias que pelas armas), mostra que o
repertório de Roberto Carlos só poderia ser uma salada das mais diversas e
interessantes. Ontem como hoje, ele canta música portuguesa ("Coimbra",
"Nem Às Paredes Confesso"), italiana ("Canzone Per Te", "Você Como
Vai?"), "latinidad" ("Amapola", "Solamente Una Vez"), influências sertanejas
("O Caminhoneiro"). Não faltam toques de música erudita, desde o hilariante
enxerto do "Pas de Deux" da Suíte-Quebra Nozes de Tchaikovski na
introdução de "Baby Meu Bem" ao belo arranjo barroco de "E Por Isso Estou
Aqui".
Roberto Carlos nunca escondeu sua admiração por Tony Bennett (nasc. 1926,
"o maior cantor do mundo"), o caubói-cantor brasileiro Bob Nelson (nasc.
1918, com hits como "O Boi Barnabé" e "Eu Tiro Leite" e homenageado por
Roberto e Erasmo em "A Lenda De Bob Nelson"), Cauby Peixoto (nasc. 1935,
"o maior cantor do Brasil"), Tito Madi (nasc. 1929, um dos reis do samba-
canção) e tantos outros, além dos Beatles, Elvis e João Gilberto. Daí não
surpreender que muitas das gravações mais cruciais de Roberto e da chamada
Jovem Guarda ("Quero Que Vá Tudo Pro Inferno", "Como É Bom Saber",
"Escreva Uma Carta, Meu Amor") tenham harmonias e instrumentação de
rock mas marcação e pulsação de samba — com resultados semelhantes aos
que, por exemplo, o grupo americano The Byrds chegaria, um pouquinho mais
tarde, ao mesclar o rock à batida da bossa nova em gravações como "Turn!
Turn! Turn!" (não é à toa que um dos raros acertos do pesquisador e
sensacionalista Albert Goldman foi dizer que Tom Jobim foi o único artista de
influência mundial comparável a John Lennon nos anos 60). É a minha velha e
boa "teoria do pingue-pongue", com todos os países trocando influências
musicais entre si. Por exemplo, o Swinging Blue Jeans, grupo inglês
contemporâneo dos Beatles, fez um arranjo para "Ol' Man Mose" de Louis
Armstrong, e esse arranjo virou sucesso de Roberto Carlos na versão "História
De Um Homem Mau".
Roberto não tinha o ar de garotão petulante de Erasmo Carlos, não era bonitão
como Wanderley Cardoso, e faltava-lhe o vozeirão de Jerry Adriani. Mas
Roberto atravessou os anos melhor que eles, soube se cuidar melhor artística,
pessoal e financeiramente. Muitos, aparentemente, não o perdoam por ter
saído da pobreza e se tornar dono de várias empresas; afinal, já dizia Tom
Jobim, fazer sucesso no Brasil é ofensa pessoal. O que não falta são invejosos
do garoto de Cachoeiro que lutou na vida e acumulou discos de ouro, platina e
diamante que, ao que consta, se colocados lado a lado dariam uma volta no
Estádio do Maracanã.
"Alienação"? Bem, Roberto foi muito criticado por ter sido um dos cantores
mais apolíticos (até os anos 80, quando passou a declarar seu apoio a
candidatos como Antonio Ermírio e Fernando Henrique Cardoso), e nos anos
60 chegou a dizer que nunca ouvira falar de seu xará economista Roberto
Campos (nasc. 1917, nada menos que participante da conferência de Bretton
Woods de 1944, de onde sairia o FMI, além de Ministro do Planejamento em
1964-67), sem falar em sua famosa entrevista ao jornal Última Hora em 1970:
RC: Eu nunca quis saber de política. Não gosto de falar do que não conheço.
Meu negócio é música.
UH: Mas é impossível que você nunca tenha pensado em política?
RC: Quando estou com meus amigos, às vezes, discutimos política e até
brigamos por causa dela. Mas é só em casa, na rua não.
UH: E nestas discussões com amigos, qual é a sua posição política: direita,
centro ou esquerda?
RC: Direita, é claro.
É claro que muita gente boa nunca perdoou Roberto por ser confessadamente
de direita. Bem, eu penso que ser de direita, esquerda, centro, baixo ou cima
não implica necessariamente em bom ou mau caráter; eu mesmo tenho
excelentes amigos e parentes que se orgulham em serem direitões, inclusive
eleitores de (perdão, leitores) Collor e Maluf. E sempre preferi trabalhar e
conviver com bons direitistas que com muitos esquerdinhas famosos,
geralmente "filhos do milagre" cuja idéia de rebeldia social é fumar em locais
proibidos, deixar a mulher em casa e namorar por aí, roubar livros de colegas,
esperar que o governo resolva tudo sozinho e depois falar mal dele, passar da
militância ao yuppismo, assumir a direção das grandes transformações sociais,
mas deixando a outros o trabalho braçal.
E não deixa de ser interessante que a "alienada" Jovem Guarda tenha tirado
seu nome de uma frase de Lenin (1870/1924), justamente o maior
revolucionário russo: "O futuro pertence à Jovem Guarda, pois a velha está
ultrapassada." Sem falar nos fãs de Roberto que, ao cantarem com ele "Como
Dois E Dois" de Caetano, ecoavam, talvez sem saber, um trecho do romance
antitotalitarista 1984 de George Orwell — "Dois e dois são cinco" é uma frase
que Winston Smith, personagem principal do romance, repete a mando dos
líderes de seu país, que o condicionam a pensar conforme seus interesses. E
quantos artistas brasileiros, além de Roberto (e Jobim), vêm cantando sobre
ecologia desde tão cedo, os anos 70?
Outra revelação da distância histórica é que a Jovem Guarda não era mero
decalque do pop-rock americano e europeu. Sim, muitos artistas se limitavam
a copiar os estrangeiros tão fielmente quanto podiam, mas os mentores do
movimento eram diferentes. Roberto e Erasmo nunca perderam de vista a
brasilidade; já falei de muitos de seus rocks manterem a batida da bossa nova,
e ambos gravam até hoje, embora sem muita freqüência, sambas, valsas e
clássicos da MPB. (E se existem valsa brasileira, fox brasileiro e tango
brasileiro, por que não rock brasileiro?). Mesmo cantando rock bravo ou em
outras línguas, Roberto quase sempre deixou transparecer uma dolência que,
para mim, é herança da toada brasileira. Não é à toa que ele tem sido
regravado por breganejos como Chitãozinho e Xororó ("O Caminhoneiro") ou
caipiras mais próximos das raízes como Rolando Boldrin ("Aquela Casa
Simples"). Foram seus imitadores que, cantando com voz mais estridente e
gutural e usando harmonias e letras bem mais simplificadas, diluíram a Jovem
Guarda e acabaram contribuindo para a criação da música de letras exageradas
e melodias rotineiras que na virada dos anos 60 para 70 se chamou "cafona" e
nos anos 80 crismou-se de "brega".
Se Elis Regina e Gilberto Gil fizeram passeata contra a guitarra elétrica (para
se arrependerem no ano seguinte), outros eram mais cordatos. O insuspeito
Adoniran Barbosa (1910/1983) comentou em sua "Já Fui Uma Brasa"
(parceria com Marcos Cesar), de 1966: "Eu gosto dos meninos desses (sic) tal
de iê-iê-iê/Porque com eles canta a voz do povo/e eu já fui uma brasa/se
assoprarem, posso acender de novo". (De fato, gramaticalmente Adoniran e a
Jovem Guarda pouco ficavam a dever um ao outro). E Chico Buarque esperou
até 1993 para dizer "Viva Erasmo, Ben, Roberto" em "Paratodos" (a que
Roberto retribuiu incluindo "O Que Será" em seus shows).
E o povo, quando gosta, gosta mesmo, seja samba ou ária de ópera, toada
caipira ou Jovem Guarda. Inclusive, o povo nem se importa muito com
repetições melódicas (perdoem-me se, de tanto falar em repetições, eu mesmo
estiver me repetindo demais). Muito se fala de certas músicas de Roberto
parecerem-se demais com outras. O fato é que, mesmo partindo destas outras,
Roberto quase sempre consegue imprimir-lhe sua própria personalidade —
por exemplo, seus fãs podem apreciar "Fim De Semana" sem se importarem
com a semelhança entre ela e "String Of Pearls", de Jerry Gray, sucesso com
Glenn Miller. Nenhum compositor prolífico, seja Roberto, Jobim, J. S. Bach
ou Gershwin, escapa de algumas semelhanças, sendo apenas doze as notas
musicais a serviço de tantos zilhões de compositores no mundo. Por exemplo,
"Forget Him", de Mark Anthony, sucesso do americano Bobby Rydell em
1963, tem um de seus trechos mais marcantes bem parecido com outro de
"Love Letters", clássico de Victor Young de 1944 — e não é difícil conferir:
Roberto gravou versões das duas, "Esqueça" e "Cartas De Amor". E "Smile",
da trilha sonora do filme Tempos Modernos de Chaplin, composta pelo
próprio (e também regravada por Roberto), é bem parecidinha com uma ária
do primeiro ato da ópera Tosca de Puccini ("Quale occhio al mondo...").
Enfim, procurar e descobrir plágios é, geralmente, mais uma questão lúdica e
cultural que criminal; como diz o compositor Mário Albanese, músicas são
como pessoas; fulano tem o nariz de sicrano, a boca de sicrano, mas não é
sicrano.
Não faltam rumores de que Louco Por Você não volta ao catálogo por ordem
do próprio Roberto — talvez em função de uma faixa e da contracapa. Na
faixa "Não É Por Mim" (autoria de Carlos Imperial e Fernando Cesar, autor de
clássicos menores da MPB como "Dó-Ré-Mi" e "Prece Ao Vento (Soprando o
Vento)", "o vento que balança as palmas do coqueiro..."), Roberto canta "e se
provar que eu fiz você ficar tão triste/eu saberei que existe um céu, que Deus
existe". Quanto a "Não É Por Mim", Roberto, que na época aos 19 anos, logo
se tornaria católico praticante, não perderia tempo em se desculpar no LP
seguinte em "Oração De Um Triste", de José Messias: "Que Deus me
perdoe/se às vezes duvido de sua existência/Ó Senhor, eu lhe peço perdão/pois
há horas na vida da gente/que a dor da revolta supera a razão...".
Na mesma entrevista, uma repórter perguntou a Roberto por que "o artista
Roberto Carlos tem tanta preocupação em esconder o homem Roberto
Carlos", em vista de um jornal paulista ter publicado uma série de reportagens
sobre sua vida pessoal e Roberto ter tentado embargar essa série na Justiça.
Ele respondeu que não era a favor da censura, exceto em caso de reportagens
"desrespeitosas" e que digam "coisas não verdadeiras". Em suas letras ele dá o
bom exemplo, por meio de discretas metáforas, para falar tanto de sexo quanto
de sua vida particular, como, por exemplo, o acidente que sofreu na infância,
"meu pequeno corpo que sofria/sem nada entender".
O episódio da letra de "As Rosas Não Falam" foi um dos raros lapsos na
carreira de Roberto, reconhecido como artista dos mais perfeccionistas. Por
exemplo, seus shows no Ibirapuera foram os melhores que já vi nesse ginásio
(Rita Lee, Deep Purple, Kenny Rogers, Jorge Ben Jor, Chitãozinho e Xororó)
praticamente sem microfonias e podendo se ouvir cada nota de cada
instrumento, vencendo uma acústica que, afinal, tratando-se de um ginásio
esportivo, foi projetada para tudo menos música ao vivo. Mesmo já não sendo
o maior vendedor de discos no Brasil, Roberto ainda tem seus shows bastante
concorridos e, inclusive, elogiados pela crítica, que luta para encontrar
defeitos em seu desempenho no palco ou na banda, cenários ou escolha de
repertório. Roberto sempre se declarou contra a violência (inclusive as
recentes invasões militares em favelas cariocas), e suas platéias costumam se
portar de acordo, sem incidentes graves (mesmo cambistas são muito raros).
E, ao que me consta, a chamada delinqüência juvenil diminuiu
significativamente durante a época da Jovem Guarda. Cantar e dançar já era
suficiente para extravasar energia. Apesar de "mandar tudo pro inferno" e "ser
terrível", Roberto nunca perdeu o "ar de moço bom", sua rebeldia era
puramente musical. O que, de certa forma, não deixa de ser preferível à atitude
de Axl Rose e outros que enfatizam o que o rock and roll tem de mais
negativo: violência física, escândalos gratuitos, morte. Pois é, uns gostam do
rock pelas qualidades, outros pelos defeitos.
Mas falar de Roberto Carlos não implica em falar em rock and roll, ele nunca
foi estritamente um roqueiro, firmando-se como artista pop. Mas, nos anos 60,
seus terninhos à Beatle, guitarras elétricas e órgãos elétricos pesados e baixo
& bateria pulsantes caracterizavam-no para o grande público como rei do rock
brasileiro — afinal, ele "cantava para a juventude". E em 1968, quando
encontrou sua própria individualidade como cantor romântico e começou a se
desligar da Jovem Guarda, Roberto comprovou uma teoria das mais
veneradas: a música popular, como a natureza, tem horror ao vácuo. Quando
um artista consagrado abandona palcos ou discos, morre ou muda de estilo,
não demora mais que alguns minutos para aparecerem legiões de imitadores
para preencherem o vácuo resultante. Foi assim com o Led Zeppelin, que, ao
diminuir a freqüência de seus discos e shows, abriu o caminho para similares
(mas que logo encontrariam seus próprios estilos) como o Rush e o Queen. O
próprio Led Zep já estava tapando o buraco deixado pelo Cream e os
Yardbirds. Idem os Beatles, cuja falta só não foi mais sentida graças a
discípulos fiéis como Big Star, Badfinger, Bread, Raspberries. No Brasil,
várias cantoras, como Leila Pinheiro e Marisa Monte, vêm se esforçando para
substituir Elis Regina, além de grupos como o Vexame aproveitarem as férias
do Lingua de Trapo. E já em 1968, embora Roberto preferisse modificar
bastante seu estilo, havia ainda muita gente querendo ouvir mais Roberto no
estilo antigo — entra em cena Paulo Sérgio (1944/1981), também capixaba,
cujos primeiros discos pareciam "outtakes" de Roberto de 1964-66 (faltando
apenas algum bom humor nas letras, realmente bregas, só reclamando da
mulher amada o tempo todo). Paulo Sérgio, por sua vez, teve sua vaga
preenchida por Amado Batista (nasc. 1951), que faz sucesso até hoje com
melodias e arranjos que geralmente se recusam a ir além de O Inimitável
Roberto Carlos.
Já que falei em bom humor, é boa hora para lembrar que não falta quem imite
Roberto Carlos com intenção paródica — geralmente universitários
esclarecidos que escolhiam a linguagem musical da Jovem Guarda diluída
("brega") simplesmente por não conseguirem tocar melhor, e admitindo que,
embora não muito fãs do Roberto Carlos romântico e baladeiro de hoje, ainda
são tietes da Jovem Guarda. Poucos destes parodistas brasileiros conseguiram
a mesma qualidade de Raul Seixas (1945/1989), que realmente conseguia
sobrelevar os ritmos e melodias simples do brega sub-Roberto com letras
inteligentes e engraçadas; quem chega perto de Raul é o cearense Falcão
(nasc. 1957), cujas letras despencam de vez para a escatologia. Mas quase
todas estas paródias são no fundo bastante afetuosas, e não é preciso ter
nascido antes de 1965 para ser tiete ou imitador da Jovem Guarda, da mesma
forma que muitos e muitos jovens ingleses dos anos 60 fizeram carreira em
cima do blues de negros americanos falecidos ou desaparecidos décadas antes.
Não é de hoje, nem é privilégio do Brasil, que o "antigo" exerce tanto fascínio.
Foi dito, com toda razão, que o século 19 foi a "era da invenção", quando
nasceram a fotografia, o cinema, a gravação de som, o automóvel, o trem, o
metrô, o telégrafo, o telefone, a luz elétrica, e o que o século 20 é a "era da
reciclagem", pródigo em permutações de tudo que já foi criado — inclusive a
revista Billboard, a bíblia da música pop, já comemorou um século de
existência, fundada em 1894.
Como já reparamos, o que é bom não tem lugar ou época para agradar. Para se
estar em dia com a moda, é preciso ir a Paris, Milão ou... ao guarda-roupa dos
avós. Muitas idéias e objetos tão "anos 60" vêm de muito antes, como os
"óculos da vovó" de John Lennon, aqueles outros óculos dickensianos do
americano Roger "Byrds" McGuinn, a escala pentatônica vinda do blues, os
acordes em Sexta que os Beatles tomaram emprestados a Glenn Miller, o
órgão Hammond inventado em 1934, o contrabaixo elétrico lançado (pela
Fender) em 1951, as batas, sitars e musicalidade indianas criadas sabe Krishna
quando, os arroubos instrumentais herdados das big bands, seqüências
harmônicas barrocas, citações ininterruptas de escritores como Lewis-Carroll,
Shelley, Wilde ou Shakespeare e, é claro, os calhambeques Ford 1932 — sim,
os famosos "little deuce coupe" aclamados pelos Beach Boys e roqueiros de
praia em geral, e que não poderiam faltar na Jovem Guarda (logo voltarei a
falar de Roberto e seus carrões). E volta e meia os roqueiros dos anos 60
homenageavam as gerações anteriores, ainda que de forma carinhosamente
irônica — experimente imaginar os Beatles e Elvis sem suas regravações
modernas de clássicos do início do século como "Are You Lonesome
Tonight?", "It's Now Or Never", "Falling In Love Again" ou "Ain't She
Sweet". E Roberto Carlos, desde sempre o "moço velho" que "ainda crê no
amor", que em 1973-4 zombou de si mesmo como "o cantor das vovós",
nunca deixou de demonstrar carinho pela velhice, já desde 1964, em "Os
Velhinhos" de José Messias ("amanhã estaremos velhinhos/contaremos
juntinhos/os segredos do amor para os nossos netinhos"), passando por
brincadeiras compostas por ele e Erasmo como "Vista A Roupa, Meu Bem", "I
Love You", "O Amor É A Moda", a valsa "Despedida" e, claro, o fox-trot
"Amante À Moda Antiga".
Como o tempo passa, o dia chegou em que a Jovem Guarda passou a ter
história e nostalgia próprias, como documentou Roberto em "Jovens Tardes
De Domingo", de 1977. E quem reparou em Roberto regravando seus próprios
hits em seus dois últimos discos ("Se Você Pensa", "Custe O Que Custar")
deveria reparar também que ele já fez isso anteriormente, com "Quero Que Vá
Tudo Pro Inferno", dez anos após o original, em 1975. Sem falar na crônica de
sua própria carreira em "Louco Não Estou Mais", de 1963, crônica esta que
soa mais como um código cifrado para quem não tiver acesso a Louco Por
Você ou aos primeiros 78s de Roberto, com suas citações a "Mr. Sandman",
"Brotinho Sem Juízo", "Louco Por Você", "Suzie", "Malena", "Triste E
Abandonado", um total de dez gravações anteriores. O melhor pop, rock ou
não, mantém um senso de história, de herança cultural (ainda que
relativamente recente), olhando não só para a frente, mas também para trás, e
essa visão do passado pode funcionar também como lanterna para iluminar o
presente e fundamentar os compositores mais aptos a serem cronistas de seu
tempo.
O melhor pop também não se preocupa tanto com ser "politicamente correto".
Vários dos melhores momentos de Roberto têm como temática as chamadas
minorias ou segmentos específicos da população: "O Feio", "Mulher
Pequena", "Coisa Bonita" (para as gordinhas), "Minha Senhora" (sobre a
paixão por uma mulher mais idosa), "É Papo Firme" (a garota avançadinha),
"Mexerico Da Candinha" (sobre a fofoqueira), "A Cigana", além de
profissionais como "A Atriz", "O Caminhoneiro", "O Velho Caminhoneiro" e,
atendendo a pedidos da categoria, "O Taxista".
Aliás, a explosão do rock brasileiro do início dos anos 80, sem a necessidade
de exorcizar a ditadura como no fim dos anos 70, com suas letras até certo
ponto descompromissadas, cheias de chope, batata frita e amantes
profissionais, chegou a ser chamada de "nova Jovem Guarda" — do mesmo
modo que o estilo de muitos jovens roqueiros ingleses dos anos 90, retomando
a new wave dos anos 70-80, recebem o rótulo de "new wave of British new
wave". "No nosso tempo a coisa era mais suavizada", comentou Roberto em
1984 sobre esta "nova Jovem Guarda", "agora a linguagem é mais aberta, mais
livre".
Para terminar, mais algumas daquelas frases sobre Roberto que valem por
livros inteiros. Jorge Mautner em 1972: "Se eu fosse escolher um adjetivo para
Roberto Carlos eu diria: doçura. Roberto Carlos é o poeta popular das cidades
do Brasil. Provinciano e puro, com ingenuidade de caiçara e urbano, fatalista e
arisco, doce e nostálgico, rebelde e submisso, puritano e sexy, ídolo e cidadão
humilde, eis o grande Rei, situado exatamente na fronteira do permitido e do
não permitido." Por falar em permitido e não permitido, assim a Folha De S.
Paulo comentou o ano e meio que a Globo levou na liberação de seu
contratado para participar do Jô Onze E Meia, na arqui-rival SBT: “Um rei
que precisa ter uma permissão para fazer o que quer não é um rei, mas [...] não
vem mesmo daí a majestade de Roberto Carlos. Vem de outra parte, de outra
qualidade, como em Senna, em Pelé”.
Enfim, Roberto Carlos é mais uma legítima voz do povo, mais uma opção de
gosto e mais um estilo musical em si mesmo, e o melhor de sua obra
realmente ficou. (E ele ter cantado para o governo em 1972 ou gravar com o
formulaico Lincoln Olivetti são pecadilhos irrelevantes). "Meus temas não
dizem nada para certas pessoas, mas pro povo dizem", disse o próprio Roberto
em 1978. Roberto é mesmo o seresteiro da nova classe média, cantor de
detalhes e emoções, sem apelações baratas ou elitismos. Afinal, se os mestres
Dorival Caymmi e Jorge Amado rimaram "mar" com "mar" em "É Doce
Morrer no Mar", por que Roberto não poderia rimar "amor" com "amor" na
valsinha "Oh! Meu Imenso Amor", gravada inclusive por Dalva de Oliveira?
E se Eduardo Gudin e Paulo Cesar Pinheiro, compositores engajados e classe
A, podiam cantar em plena ditadura de 1974 "o importante é que a nossa
emoção sobreviva", por que Roberto e seu público não poderiam cantar "o
importante é que emoções eu vivi"?
Não importa que “brasa, mora” seja uma expressão tão fora de moda quanto
“cáspite”; se você gosta de música pop com influências de todo o mundo,
então deverá gostar de alguma música de Roberto e deverá estar usando sei lá
qual expressão de entusiasmo que estiver em voga no momento para elogiar
parte ou mesmo a totalidade da obra de Roberto. E, afinal, lembrar boas
coisas e músicas do passado — ou, como diz Roberto, “doces recordações” —
também é muito bom. Sim, é uma brasa, mora!
Discografia
"Eu quero apenas cantar meu canto"
Fizemos o possível para apresentar nomes dos autores das músicas na íntegra,
muitas vezes abreviados (e às vezes incorretos) nos selos dos discos; usamos
abreviações apenas para Roberto Carlos (RC), Erasmo Carlos (EC) e versão
(vs).
LONG-PLAYS/CDS
DISCOS 78 RPM
COMPACTOS SIMPLES
COMPACTOS DUPLOS
COLETÂNEAS
Roberto Carlos San Remo 1968 (CBS, 137914, maio de 1976. CD:
850155, maio de 1989).
Lado 1:
"Canzone Per Te"
"Eu Daria A Minha Vida"
"Maria, Carnaval E Cinzas"
“Você Me Pediu"
"Com Muito Amor E Carinho"
"Sonho Lindo"
Lado 2:
"Un Gatto Nel Blu"
"O Show Já Terminou"
"Ai Que Saudades Da Amélia"
"Custe O Que Custar"
"Eu Amo Demais"
"Eu Disse Adeus"
Notas: Bem-intencionada reunião de faixas lançadas somente em compactos,
inclusive com um bom texto de contracapa do jornalista e DJ Big Boy
(1945/1977), completo com comentários de Roberto sobre cada faixa (embora,
ao contrário do que diz o texto, este disco não tenha todos os compactos de
Roberto). Pena que este texto esteja ausente da edição em CD e que, desde
então, a gravadora não tenha se dedicado a outras coletâneas de gravações
raras de Roberto (exceto uma ou outra faixa em compactos duplos).
Filmografia
"O beijo que eu dei nela dentro do cinema"
Composições
"As canções que você fez para mim"
Músicas de Roberto Carlos que foram lançadas por outros intérpretes. Esta
relação não se atreve a ser completa (Roberto já compôs cerca de 500
músicas), mas serve para mostrar que a produção e o sucesso de Roberto como
compositor chegou a proporções dignas de Lennon/McCartney ou Gerry
Goffin/Carole King. E muitas destas músicas tornaram-se clássicos do pop
brasileiro.
Na gravadora RGE:
"A Bronca Da Galinha (Porque Viu O Galo Com Outra) (1970)
"Alô Benzinho" (1965)
"A Pescaria" (1965)
"A Próxima Dança" (1968)
"É Duro Ser Estátua" (1965)
"Festa De Arromba" (1965)
"Johnny Furacão" (1969)
"Minha Fama De Mau" (1964)
"Não Vivo Sem Você" (parc. Rossini Pinto) (1966)
"Nunca Mais Vou Fazer Você Sofrer" (1968)
"O Dono Da Bola" (1966)
"O Maior Amor Da Cidade" (1968)
"Peço A Palavra" (1965)
"Senhor, Aqui Estou" (1968)
"Sentado À Beira Do Caminho" (1969)
"Terror Dos Namorados" (1964)
"Vou Chorar, Vou Chorar, Vou Chorar" (1968)
"Vou Ficar Nu Para Chamar Sua Atenção" (a mesma que Roberto gravou
com título "Preciso Chamar Sua Atenção) (1969).
Discos-tributos
“Como as ondas voltam para o mar”
“Comment Ne Pas Penser À Toi” (A Volta, vs. J. Plait) – Les Safari (CBS,
c. 1966, França)
“Jesus Cristo” (vs. sem crédito) – Nilton César (RCA, 1970, Colômbia)
“Que Todo Vaya P’Al Infierno” (Quero Que Vá Tudo Pro Inferno, vs.
Cacho Pomar) – 4 Para El Tango (Odeon, 1966)
“I Don’t Want You To Be Sad” (Não Quero Ver Você Triste, vs. Sibby) –
Bob Goldfinger (Polydor, 1976)
“Se Non È Per Amore” (Por Amor, vs. Calabrese) – Ornella Vanoni
(Ariston, 1977)
“Più Grande Del Mio Amor” (Maior Que O Meu Amor, de Renato Barros,
vs. D. Pace) – Ornella Vanoni (Ariston, 1973)
Nell’Estate Dei Miei Anni (Se Eu Partir, de Fred Jorge, vs. B. Lauzi) –
Ornella Vanoni (Ariston, 1973)
Regravações
"Uma força me leva a cantar"
Músicas gravadas por Roberto Carlos lançadas originalmente por outros
intérpretes. Esta lista não é completa, mas serve como um bom painel das
influências de Roberto — rock, MPB e pop de todas as épocas e países — ,
além de demonstrar que a melhor música pop não tem pátria ou idade. As
gravações estão listadas por título da música, intérprete, gravadora e ano.
Todas as gravações são brasileiras ou norte-americanas, salvo outra indicação.
E os autores de cada música estão na discografia de Roberto.
1941
1947
1948
1950
Canta em rádio pela primeira vez, na Rádio Cachoeiro de Itapemirim, ZYL-9,
no programa matinal de Marques da Silva, cantando "Amor", bolero de
Gabriel Ruiz de 1941, hit de Gregorio Barrios. "Nem tinha inscrição, a gente
chegava lá antes do programa começar, dava o nome e já o violonista ia
acompanhando a gente", lembrará Roberto anos depois. "Nunca fiquei tão
nervoso na minha vida. As pernas tremiam. Eu pensava que isso fosse só uma
força de expressão, porque até então não tinha sentido essa sensação. Eu
queria que elas parassem, mas não paravam. Os joelhos tremiam, que coisa
impressionante!"
1952
Muda-se para Niterói (Rio de Janeiro), morando com uma tia, Amélia (que
homenageará nos anos 70 com a música "Minha Tia"), cursando o ginasial no
Colégio Brasil.
1955
A família muda-se de Cachoeiro para o Rio, no subúrbio de Lins de
Vasconcelos. Tendo cursado até o primeiro colegial científico. Roberto faz
curso de madureza. E participa de vários programas de calouros, como os da
Rádio Nacional.
1957
Estoura o rock and roll, e Roberto se torna grande fã de Elvis Presley. Otávio
Terceiro, colega de madureza e, veja só, produtor de um programa da TV Tupi
carioca, Teletur, gosta de ver Roberto cantando rock and roll e o leva para seu
programa. É a primeira aparição de Roberto na TV, cantando "Tutti Frutti",
lançada por Little Richard e também hit de Elvis.
1958
1959
Por esta época, Roberto arruma emprego como crooner da orquestra de danças
da boate carioca Plaza, graças a um primo gerente da casa, cantando
principalmente samba-canção e bossa nova, muitas vezes acompanhando-se
ao violão, imitando seu novo ídolo, João Gilberto.
Enquanto isso, Carlos Imperial não pára de divulgar seu contratado, levando-o
a programas de rádio e TV, batendo às portas das gravadoras e promovendo
festas em seu apartamento de Copacabana onde reúne Roberto e outros jovens
talentos a jornalistas em geral. Roberto, promovido como "novo talento da
bossa nova", tem uma distinção que é também um defeito: imita tão bem João
Gilberto que a maioria dos bossanovistas de maior prestígio o despreza — "se
a gente já tem o João de verdade, pra que outro?", resume Ronaldo Bôscoli.
Ainda este ano, Roberto participa de uma fotonovela da revista Sétimo Céu.
1960
Enquanto isso, Erasmo Esteves passa por uma série de mudanças. Trabalha
para Imperial como contra-regra, cantor, secretário e redator de suas colunas
em revistas e jornais. E vai fazendo shows e compondo. Só há um problema:
seu sobrenome. Logo Erasmo se cansa de piadinha "Erasmo Esteves onde?".
Muda para Erasmo, sem sobrenome. E sente o drama quando Thaumaturgo
apresenta "Agora com vocês, Erasmo". Realmente, Erasmo precisa de um
sobrenome para impor respeito. E, em homenagem aos amigos mais próximos,
Roberto e Imperial, ambos Carlos, nasce Erasmo Carlos — apesar dos
protestos iniciais de Roberto, "vai ficar muito Carlos na jogada".
1961
Roberto Corte Real sugere que Roberto abandone um pouco a bossa nova e
experimente gravar "música de juventude" — bolero, cha-cha-chá, guarânia
— para substituir Sérgio Murilo (1941/1992), que está deixando a gravadora.
1962
Erasmo Carlos também se profissionaliza como cantor e compositor. Graças a
outro conterrâneo de Roberto, o cantor/compositor Raul Sampaio, consegue
um contrato na gravadora onde este trabalha, a RGE.
Conta-se que Roberto tem dificuldade para colocar letra em uma de suas
melodias e um amigo lhe diz que Erasmo tem jeito para essas coisas. Nasce
então a parceria Roberto & Erasmo Carlos. De fato, Erasmo mostra facilidade
para colocar letras sobre melodias, inclusive estrangeiras. E sugere a Roberto
que grave sua versão para um sucesso americano de Bobby Darin, "Splish
Splash" — que se torna o primeiro hit de Roberto. Logo em seguida, o
segundo hit de Roberto, "Parei na Contramão" — composição de Roberto e
Erasmo.
1963
1964
novembro — Roberto faz seus primeiros shows fora do Brasil: uma turnê de
dez dias na Argentina, cantando em português, com sucesso. É também na
Argentina que sai seu primeiro disco para o mercado estrangeiro, em
português e espanhol.
Começam as filmagens do primeiro filme de Roberto, SSS Contra a Jovem
Guarda, que permanece inacabado. Ainda este ano, Roberto fica noivo de
Cleonice Rossi (1940/1990), embora as fãs ainda não saibam.
1966
janeiro — Jovem Guarda ganha mais espaço; agora vai das 16h30 às 18h10.
julho — Sai seu primeiro LP norte-americano, Brazil's Top Teen Star, com
faixas de seus LPs brasileiros normais, em português.
Ainda este ano, Roberto vai pela primeira vez a Portugal (país onde um dia
será o primeiro cantor a vender 100 mil discos). Até agora, a grife
"calhambeque" já vendeu mais de 350 mil peças e movimenta cerca de 60
indústrias.
1967
1968
1969
início do ano — Jovem Guarda sai do ar.
1970
Roberto, que até agora só fazia shows que eram meros "discos ao vivo", uma
tão-somente músicas sem texto entre elas, e com acompanhamento de grupos
pequenos, recebe de Marcos Lázaro a bela incumbência de um show no
Canecão, em plenos 25 m2 de palco. Bôscoli e Mièle convencem Roberto a
contratar uma big band — a exemplo dos shows mais recentes de Elvis
Presley em Las Vegas — e a se acostumar com um texto. Roberto resiste:
"Bicho, texto, não! Eu não sei falar! O máximo que eu já falei foi 'o meu
amigo... Fulano de Tal!'" Mas logo pega o jeito e o show é um sucesso —
embora Roberto tenha feito questão de ensaiar somento no escuro sem a
presença de Mièle e Bôscoli.
abril — Estréia da novela Editora Mayo, Bom Dia, na Record, com tema
musical de Roberto e Erasmo.
1971
A CBS proíbe que outros artistas regravem músicas de LPs novos de Roberto
até março, quando termina o pico de vendagem.
1972
fevereiro — Roberto participa do 31º Festival de San Remo, com "Un Gatto
Nel Blu" de Toto Savio.
Ainda este ano, Roberto funda sua primeira empresa, a transportadora Braga
Transportes Industriais, em sociedade com seu primo Wanderley Braga.
Outras firmas pertencentes a Roberto incluirão a editora musical Amigos, a
RC Produções Artísticas, a emissora belorizontina Terra FM, a Horizonte
Veículos e a gravadora Amigo Records.
1974
24 de dezembro — Primeiro especial de Natal para a Rede Globo.
1977
1978
Roberto começa a trabalhar com o maestro Eduardo Lages. Ainda este ano,
seu show no Canecão bate recordes de público, 250 mil pessoas, e
permanência em cartaz, seis meses.
1979
Roberto visita o México, onde um coro de 60 mil crianças canta "Amigo" para
o Papa João Paulo 2o.
1980
janeiro — Morre Robertino Braga, pai de Roberto, aos 84 anos. 3 mil pessoas
comparecem ao enterro.
1981
1982
1983
5 de abril — Inaugura a casa noturna paulistana Palace, com o show Emoções.
Ainda este ano, Roberto canta pela primeira vez num ginásio esportivo, o
Maracanazinho.
1984
1985
22 de julho – A revista Contigo noticia que Helena dos Santos, autora de nove
músicas gravadas por Roberto, está em má situação financeira. Os sucessos de
Helena gravados por Roberto incluem “Na Lua Não Há” (1963), “Nem
Mesmo Você” (1968) e “Agora Eu Sei” (1972). “Em 1982, quando a situação
começou a pesar demais, fui até o Canecão e falei com Roberto”, diz Helena.
“Ele entendeu o problema e gravou ‘Recordações’.”
1986
junho — Shows em Nova York, no Radio City Music Hall, desta vez com
mais sucesso que no Madison há cinco anos atrás.
1988
1989
maio — Conhece Rafael Carlos Torres Braga (nasc. 1966), seu filho com uma
antiga namorada, Maria Lucilia Torres. "Minha mãe só falou sobre meu pai
quando eu tinha 12 anos", diz Rafael. Exames de DNA comprovam a
paternidade e Roberto reconhecerá o filho em março de 1991, além de pagar-
lhe uma pensão alimentícia e alugar-lhe um apartamento em São Paulo.
Infelizmente, Lucilia, vítima de câncer, falecerá dias após Roberto reconhecer
Rafael como seu filho em juízo.
1990
Ainda neste ano, Roberto assume novo romance, com a pedagoga Maria Rita
Simões (nasc. 1965).
1992
1994
setembro — Todos seus LPs (exceto, é claro, Louco Por Você) voltam às lojas
em CDs remasterizados digitalmente.
1995
1996
1997
novembro – Sai o livro As Canções Que Você Fez Pra Mim, de Beth Cançado,
reunindo 404 de suas músicas (incluindo as de Louco Por Você) com os
acordes cifrados para acompanhamento.
dezembro – Sai novo disco de Roberto, Canciones Que Amo, reunindo
canções latino-americanas que ele cantava na infância em Cachoeiro do
Itapemirim, ao lado de “Insensatez” de Tom Jobim e uma inédita de Roberto e
Erasmo, “Coração De Jesus”.
1998
1999
Bibliografia
“Resumo do riso e da dor”
Livros
Roberto Carlos Por Ele Mesmo de Lázaro Martins (Martin Claret, 1994)
Eles E Eu de Ronaldo Bôscoli (Nova Fronteira, 1994)
A Rebelião Romântica Da Jovem Guarda de Rui Martins (Fulgor, 1966)
ABZ Do Rock Brasileiro de Marcelo Dollabella (Estrela do Sul, 1987)
História Do Rock Brasileiro, 1955-65 de Albert Pavão (Edicom, 1990)
Discografia Brasileira 78 RPM, 1902-1964 de Jairo Severiano e outros
(FUNARTE, 1982)
Enciclopédia Da Música Brasileira Erudita, Folclórica E Popular, vários
autores (Art Editora, 1977 e 1998)
Chega De Saudade de Ruy Castro (Companhia das Letras, 1990)
História Social Da Música Popular Brasileira de José Ramos Tinhorão
(Caminho, 1990)
Roberto Carlos... Suas Canções (Saber, 1992)
Jornais
Folha de S. Paulo, Folha da Tarde, O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde,
Notícias Populares, Cruzeiro do Sul (Sorocaba), O Pasquim (Rio de Janeiro)
Revistas
Intervalo, Realidade, Contigo, São Paulo na TV, 7 Dias na TV, Bizz,
Semanário, Manchete, O Cruzeiro, Melodias, Fã-clube Especial, Somtrês,
Casseta & Planeta (com uma entrevista barra-limpa e muito esclarecedora
com Erasmo Carlos!) e os fascículos sobre Roberto e Erasmo Carlos da
Editora Abril Cultural.
Home-pages
Recanto do Rei, www.zaitek.com.br/rcdetalhes
O Rei, www.montreal.com.br/~rdrf
Clube do Rei, www.geocities.com/Broadway/6508
Sobre o autor
"Eu sou terrível"
Paulistano de 1957, Ayrton Mugnaini Jr. é jornalista, crítico musical,
compositor, pesquisador de música popular em geral, músico e radialista, dos
mais versáteis de sua geração. É colaborador de publicações como Jornal Da
Tarde, Folha Da Tarde, Cruzeiro Do Sul (Sorocaba), O Pasquim (Rio),
Revista Do CD, HV, Som Sertanejo, Bizz, Qualis e, atualmente, Dynamite,
Shopping Music, Música Do Brasil, Showbizz, Brazilian Music Uptodate,
Rock In Magazine e outras. É também autor de textos de contracapas ou
encartes de discos como a série de CDs Luar Do Sertão (BMG, 1997), de
música sertaneja tradicional. E vem ministrando oficinas e palestras sobre
crítica musical desde 1994.
Seus livros incluem a coleção Biblioteca Musical (editora Nova Sampa), sobre
Raul Seixas, Roberto Carlos, Janis Joplin, Caetano Veloso, Rita Lee, Queen,
Cazuza e Elis Regina e outros, além de um estudo sobre as origens do rock
and roll, História Do Rock Os Primeiros 200 Anos, e uma pequena
enciclopédia sertaneja, ora em preparo. Além disso, colaborou na atualização
para 1998 da Enciclopédia Da Música Brasileira Erudita, Folclórica E
Popular (Art Editora), lançada originalmente em 1977.