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Um dos mais importantes violonistas brasileiros, atuou como instrumentista, professor de violão,

compositor, arranjador, tendo deixado uma obra vultuosa, versátil, composta de guarânias, boleros,
toadas, maxixes, sambas-canção e principalmente de valsas e choros. Iniciou sua vida profissional aos 18
anos de idade. Segundo seu relato ao Jornal do Brasil "Naquela época as lojas de instrumentos musicais
mantinham professores de música que ajudavam a aumentar a clientela. Dei aulas numa loja na rua
Buenos Aires, depois fui apresentado por um aluno ao dono da loja "Ao Bandolim de Ouro". Em 1935,
passou a lecionar na loja "A Guitarra de Prata". Por essa época, começou a acompanhar calouros na
Rádio Guanabara, trabalho esporádico e sem contrato. No intervalo de uma dessas apresentações, como
costumava fazer, solava uma valsa "Gota de lágrima", de Mozart Bicalho, quando o radialista Renato
Murce ouviu e gostou. Levou o violonista para a Rádio Transmissora e deu-lhe um programa de solos de
violão, para experimentar o resultado. O programa foi um sucesso. Iniciava-se neste momento uma
carreira de violonista destinado à fama. Como já naquela época não era possível sobreviver apenas de
solos de violão, continuou como acompanhador em regionais, como faziam todos os grandes violonistas
da época como Garoto, Laurindo de Almeida e outros. Em 1940, transferiu-se pra a Rádio Clube do
Brasil. Nesse mesmo ano, formou uma orquestra de violões composta de 10 violonistas, à qual acredita-
se que tenha sido uma das primeiras do gênero. Atuou com êxito na Rádio Clube e também no Cassino
da Urca. Em 1941, gravou seu primeiro disco pela Columbia interpretando ao violão a valsa "Noite de lua"
e o choro "Magoado", provavelmente o mais conhecido e mais executado de seus choros, ambas de sua
autoria. Três anos depois, gravou seu segundo disco interpretando a "Dança chinesa" e a dança típica
"Adeus pai João", ambas de sua autoria. Em 1945, gravou mais dois discos com composições suas, o
choro "Recordando"; as valsas "Saudade de um dia" e "Minha saudade" e a "Rapsódia infantil". Gravou
em 1946 a valsa "Noite de estrelas" e os choros "Dedilhando" e "Grajaú", de sua autoria e a mazurca
"Adelita", de Francisco Tárrega. Dois nos depois gravou o choro "Vê se te agrada"; a valsa "Dois destinos"
e a polca "Araguaia", de sua autoria. Gravou as valsas "Súplica" e "Flor de aguapé" e os choros "Tempo
de criança" e "Doutor sabe tudo", de sua autoria, em 1949. A década de 1950, representou a
consolidação e grande avanço na carreira do artista. Em 1950, gravou as serenatas "Alma sevilhana" e
"Quando baila la muchacha". No ano seguinte, gravou solo ao violão a valsa "Promessa"; os choros
"Xodó da baiana" e "Bingo" e o baião "Sentimental" e, com seu conjunto, os choros "Cuidado com o
velho" e "Vaidoso", todas de sua autoria. Em 1952, gravou de João Pernembuco o choro "Sons de
carrilhões" e de Américo Jacomino, o Canhoto, a valsa "Abismo de rosas". Em 1953, gravou de sua
autoria o calango "Calanguinho", o bolero "Penumbra" e a valsa "Alma nortista" e de João Pernambuco o
jongo "Interrogando". No ano seguinte, gravou a fantasia "Recordando a Malaguenha"; "Uma noite em
Haifa" e o choro "Fingimento", de sua autoria e o fox-trot "Eu amo Paris", de Cole Porter. Em 1955, gravou
o "Poema de Fibich", de Zedenko Fibich; a canção "Barqueiro do Volga", de domínio público; a polca
"Rosita", de Francisco Tárrega, a valsa "Dois destinos", o choro "Vê se te agrada"; o baião "Chuvisco"; a
polca "Limpa-banco" e o bolero "Sonhando com você", de sua autoria. Em 1956, por interferência do
recém-empossado presidente JK, assinou contrato com a Rádio Nacional, para estrelar o programa "Sua
majestade, o violão", nos primeiros anos apresentado por Oswaldo Sargentelli e posteriormente por César
Ladeira. O programa tinha por prefixo a mazurca "Adelita", de Francisco Tárrega e se manteve no ar até
1969. No mesmo ano, gravou a "Tristesse - opus nº 3", de Chopin e a mazurca "Adelita", de Francisco
Tárrega. Em 1958, gravou a valsa "Se ela perguntar", parceria com Jair Amorim; a guarânia "Índia", de
Flores e Guerrero e as canções "Romance de amor", de Vicente Gomes e "Pavana", de Francisco
Tárrega. No mesmo ano, lançou o LP "Sua majestade o violão". Em 1960, gravou "La despedida (Chilena
nº1), de Juan Rodrigues e "Ausência", de sua autoria. Nesse ano, lançou o disco "Melodias da Alvorada",
em homenagem à nova capital, e a seu fundador, Juscelino Kubitchek, em companhia de quem foi o
primeiro músico de prestígio nacional a tocar na "solidão de Brasília", que se iniciava a partir de 1957. O
disco teve arranjos e regência de Radamés Gnattali. Também no mesmo ano, lançou o LP "Abismo de
rosas" que reuniu sucesso anteriormente gravados por ele como a música título, além de novas
gravações como "Ruas de Espanha" e "Uma valsa e dois amores", de sua autoria e a "Sonata ao luar", de
Beethoven. Em 1961, gravou a "Marcha dos marinheiros", de Américo Jacomino, o Canhoto; a valsa
"Soluços", de José Augusto de Freitas e o choro "Odeon", de Ernesto Nazareth. Em 1962, gravou a toada
"Oiá de Rosinha", de sua autoria e o samba-canção "Abandono", de Nazareno de Brito e P. Barros, além
de acompanhar ao violão o ator Paulo Gracindo na gravação dos poemas "Pequena cantiga de Natal", de
Ghiaroni e "Idealista", "Felicidade" e "Ato de caridade", de Djalma de Andrade. Nesse ano, gravou com
Francisco Petrônio o LP "Uma voz e um violão" no qual interpretaram clássicos como "Chão de estrelas",
de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa; "Malandrinha", de Freire Júnior; "Ave Maria", de Erotides de Campos;
"Rapaziada do Braz", de Alberto Marino e "Tardes de Lindóia", de Zequinha de Abreu. Em 1963, gravou o
maxixe "Sons de carrilhão", de João Pernambuco; a toada-brasileira "Despertar da montanha", de
Eduardo Souto; a valsa "Gotas de lágrimas", de Mozart Bicalho e o dobrado "Cisne branco", de A . M.
Espírito Santo e B. X. Macedo. No mesmo ano, gravou o segundo disco com o cantor Francisco Petrônio,
com destaque para "Sob o céu de Brasília", de Dilermando Reis e José Fortuna; "Última inspiração", de
PeterPan; "Dois destinos", de Dilermando Reis e José Fortuna; "Revendo o passado", de Freire Júnior e
"Lágrimas", de Cândido das Neves. Os LPs mostraram uma nova faceta do violonista: o
acompanhamento de cantores com apenas um violão, que neste caso se caracterizava pela
apresentação da canção, seguida de um solo, voltando ao acompanhamento para terminar. Nesse estilo
de acompanhar, esteve ao lado de José Mojica quando este veio ao Brasil e fez um total de sete LPs com
o cantor Francisco Petrônio. Em 1970, Radamés Gnattali dedicou ao violonista o "Concerto nº1", gravado
nesse mesmo ano. Ainda nessa ano, lançou LP com seu nome no qual interpretou, entre outras, "É só
cascata"; "Sandrinha"; "Nossa seresta"; "Oriental" e "Luar de maio", de sua autoria e "Maria Betânia", de
Capiba. Como professor, ensinou a grandes violonistas dentre os quais Darci Vilaverde e Bola Sete. Foi
também professor de Maristela Kubitscheck, filha do presidente Juscelino, de quem foi grande amigo e
parceiro de serenatas. Essa amizade, aliás, valeu-lhe a nomeação para um cargo público, o que muito
lhe aliviou as dificuldades financeiras. Em 1971, lançou o sexto volume da série "Uma voz e um violão
em serenata", gravada com Francisco Petrônio na Continental, com destaque para as músicas "Cantiga
por Luciana", de Paulinho Tapajós e Edmundo Souto; "Laura", de Alcyr Pires Vermelho; "Ave Maria no
morro", de Herivelto Martins; "Boneca", de Benedito Lacerda e Aldo Cabral e "Três lágrimas", de Ary
Barroso. Em 1972, gravou o LP "Dilermando Reis interpreta Pixinguinha" interpretando entre outras,
"Carinhoso", de Pixinguinha e João de Barro; "Lamentos", de Pixinguinha e Vinícius de Moraes e "Segura
ele"; "Chorei"; "Proezas de Solon" e "Urubatan", parcerias de Pixinguinha com Benedito Lacerda. No ano
seguinte, gravou "Homenagem a Ernesto Nazareth" disco no qual interpretou 12 obras do músico entre as
quais "Odeon"; "Favorito"; "Tenebroso"; "Brejeiro" e "Apanhei-te cavaquinho". Ainda em 1973, lançou com
Francisco Petrônio o sétimo volume da série "Uma voz e um violão em serenata" do qual constava
"Pierrot", de Joubert de Carvalho e Paschoal Carlos Magno; "Maria Betânia", de Capiba; "Maringa', de
Joubert de Carvalho; "Modinha", de Sergio Bittencourt e "Último desejo", de Noel Rosa. Em 1975 lançou o
LP "O violão brasileiro de Dilermando Reis" interpretando 12 composições de sua autoria como "Terno
olhar"; "Eterna mágoa"; "Cavaquinho encabulado"; "Chegadinho"; "Miudinho" e "Gente boa". Em 1977, por
ocasião de seu falecimento, o Jornal do Brasil publicou reportagem na qual dizia: "Houve Dino e Meira, há
João Gilberto - em cada mão, um estilo, uma época. Antes de todos, houve Dilermando Reis, morto aos
60 anos, de problemas cardíacos. Durante quatro décadas seu nome foi sinônimo de violão. Dilermando
cumpriu o ciclo possível no Brasil a um músico de seu tempo. Fez o interior, a boemia, e as serestas das
grandes cidades. Tocou nas lojas que vendiam parituras e instrumentos musicais. Foi artista de rádio,
atração nos cassinos, formou sua própria orquestra. Compôs, gravou, ensinou". Em 1978, a Continental
lançou o LP póstumo "Dilermando Reis no choro" com 13 interpretações clássicas do violonista. De 1941
a 1962, lançou 34 discos de duas faces com 68 músicas em 78 rpm. Dentre essas, 43 de sua autoria.
Gravou também um total de 35 LPs. Em alguns de seus LPs foi acompanhado pelos grandes violonistas
Horondino Silva, o Dino Sete Cordas e em outros por Jaime Florence, o Meira. Além de sua vasta obra,
deixou inúmeros arranjos editados. Na década de 1990, o violonista Genésio Nogueira iniciou uma
coleção de LPs e CDs dedicados à obra do violonista e compositor. Em 1995, foi lançado o CD "O melhor
de Dilermando Reis" com uma compilação de sua obra. Em 2000, a Phonodisc, na série "Memórias do
cancioneiro popular", lançou o CD "Chorinhos e chorões" com um apanhado de interpretações suas. Em
2001, o pesquisador Genésio Nogueira lançou uma biografia sobre o artista. Em 2004, o selo Revivendo
lançou o CD "Noite de estrelas" com gravações suas do período de 1941 a 1950 como as valsas "Noite
de lua", "Dois destinos" e "Súplica" e os choros "Magoado", "Grajaú" e "Dedilhando". Em 2013, relizou-se
em Guaratinguetá, sua cidade natal, mais uma edição do Festival Dilermando Reis, realizado em sua
homenagem. Na ocasião foi realizada homenagem musical e descerramento de placa em sua memória
junto a seu túmulo no Cemitério do Pedregulho. Ao longo do festival foram realizadas as seguintes
apresentações musicais: Palestra e apresentação musical pelo biógrafo de Dilermando Reis, o violonista
e escritor Genésio Nogueira, Quarteto Mistura Fina, de Guaratinguetá, o violonista Mário Eugênio e o
bandolinista Milton Mori, ambos de São Paulo; os Seresteiros de Guaratinguetá; Orquestra de Cordas da
UNESP de São Paulo; o Violonista Paulo Porto Alegre, de São Paulo; Duo Dilermando Reis e, encerando
o Festival, o Duo Siqueira Lima de São Paulo.

Memória da MPB

08
NOV

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