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IkaRo MaxX
Dedico este poema-performance ao poeta Claudio Willer,
por sua obra-vida totalmente dedicada aos rebeldes
& transgressores
"O espetáculo fornece a imagem & nun-
ca a realidade. É forma sem substância
& como o bom ‘animador de platéia’
que é te deixa querendo mais. Não te
satisfaz. Não pode te satisfazer. Não tem
como objetivo nenhuma satisfação. Ofe-
rece apenas o SONHO de satisfação. Os
sonhos são sonhados e encontrados em
falta. A manipulação psicológica do so-
nhador é levada ao grau de transfor-
má-lo em escravo do seu próprio sonho
irrealizado objetivado em objeto de
consumo."
"A insatisfação & a frustração pode trazem a
demanda da abolição
da Sociedade do Espetáculo."

LIBERTIMAGEM
Levante-se!
Vá trabalhar!
Vá pra casa!
Vá pra cama!
Vá trabalhar!
Vá pra casa!
Vá pra cama!
Levante-se!
Vá trabalhar!
Vá pra casa!
Vá pra cama!
(...)
Ás vezes você é o produto
Ás vezes você é o consumidor
Ás vezes você é o produto
Ás vezes você é o consumidor
Ás vezes você é o produto
Ás vezes você é o consumidor

Quem é você quando o algoritmo pega o


chicote?
Quem é você quando o engajamento não
te vè?

Ás vezes você é o produto


Ás vezes você é o consumidor
Ás vezes você é o produto
Ás vezes você é o consumidor
Ás vezes você é o produto
Ás vezes você é o consumidor

Sempre você é o consumido!


LIBERTIMAGEM

A verdadeira vida está em outra parte.


A verdadeira vida
só de ida
é uma viagem

liberta
da doutrina
da miragem

LIBERTIMAGEM

o espelho é minha ruína


soma de carnificina
pesadelo
totalitário
[ainda assim: a responsabilidade social é uma
doutrina fun-da-men-tal-mente
revolucionária...]

Mas, & agora?

O espetáculo infiltrou-se tão bem-su-ce-di-da-


mente na vida cotidiana que qualquer ataque
ao espetáculo parece ser um ataque à socieda-
de.

LIBERTIMAGEM
A provocação estética

abre uma janela


para o infinito,

na medida em que
pode fazer uma pessoa questionar-se

a ponto de redirecionar seu


imaginário
& sua relação com o mundo

para territórios ainda não


experimentados.

A provocação estética é
desse modo
uma ação

política.
L
I
B
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R
T I
M
A
G
E
M
há aí uma história:
o frenesi anterior a tudo

com suas lagunas violáceas no céu sedento


em uma paisagem sem tempo

em dissonantes opacidades
como pétalas elétricas nervosas

dissolvidas nas bocas dos manequins


nos mamilos cruéis da vida

com suas sombras verdes rastejantes


lantejoulas de cimento & palha

acordeões cheios de dinamite silício


pássaros levando na boca canções
de desassossego

aos pedintes
nas ruas de tijolos dourados
com seus palácios milenares
relógios desacordados
há uma história
decorada com os decotes da nobreza morta
olhos picotados de ciganas oblíquas

narração em off
tudo de-vida-mente natural
como uma política em devaneio

onde você com seu amor-molecular


rompe o grilhão hipnótico civilizatório
a música de seu ruído intestinal

a grinalda desta ilusão de Maya


o circo ostentatório dos orgasmos reprimidos
com suas lonas onde animais
antigos batizam
com patas a terra

a pedra lascada
fodida deste era
saturada
com sua economia lendária
& seus entediantes pactos
de quântica mesquinharia
LIBERTIMAGEM
eu te conto:

há aí uma contra-história
com sua granada de afetos
arrepiando os cabelos
das instituições maquiadas
asfixiadas em moralidades

um anjo corre pela luz sutil dos teus olhos


em meio a uma sala vazia
no mar vermelho da ansiedade
(pós-)moderna

teus olhos com asas de anjo


tocam a Flauta Mágica de Mozart
numa casa abandonada

LIBERTIMAGEM
os tambores foram acessos
há música as vozes ricocheteiam a sala
nossos sentidos são invocados
ao pertencimento
as paredes gritam & bebem suor

a magia da presença absoluta


com seus dedos & suas vísceras
abertas a esse tropicalismo gigante
que nos arrasta do abismo à carne

inventando palavras
para a sinfonia anárquica de ritmos
& os floreios desta intensidade
- LIBERTIMAGEM -
com os sentidos catatônicos
absorvidos na língua(gem) das marés

comendo as flores insones


pingando do seu hálito matinal
como sonhos
poesia em estado carnal
/larval
LIBERTIMAGEM

você
o belo monstro digno de admiração
a ruptura com as emoções mesquinhas
o céu formado por cabeça pensamentos desejos
& membros
o céu com um coração em cada parte do corpo
uma tempestade irrompendo dos espelhos
a chama utópica dos perfumes incendiários
o cinema telepático para meus dedos bandidos
as correntes da Lei quebradas
a última fronteira evadida da normalidade
o norte na geografia da nova vida
LIBERTIMAGEM

é mais que chegada a hora

aqui
onde se ressuscitam enlevos
nas marés de beijos & sussurros

a alvorada dos dândies perdidos


o sapateado de Nijinsky numa tela de Pollock
o chamado pro Desconhecido
os apetites mais vorazes
desmascarados

esta noite saíremos sem máscaras


ao abrigo do colosso insone em nós
ébrio de vontades
LIBERTI-
MAGEM

você
damasco na chuva
no marulho das nuvens rasgadas
em tons de manga
lançados pelo sol nascente
da indisciplina

você
uma cidade cheia de esconderijos
labirinto convidativo
overdose alucinante
enigma do balé do falcão
cantando nos satélites
& se esvaindo na areia
subsaariana

numa cidade
fora dos mapas
você caminharia comigo

comeria cogumelos
&
dançaria tango
às duas da manhã
na Epitácio?

"O mais belo caminho é aquele que não


existe...
ainda"

LIBERTIMAGEM
bebo à mais lúcida luxuriante perdição

sabe como é:
gosto dos venenos mais lentos
& das bebidas mais fortes & amargas
das companhias mais insanas

de você
inapelavelmente livre
suja selvagem louca

em conjunto opiacéo
com as ideias mais fora de lugar
& o sabor proibido da aventura

aqui deixo entreabertas


as linhas
d'uma história secreta
a convulsão te espera

venha comigo!

LIBERTIMAGEM!
IkaRo MaxX é um experimentador anartista nômade que
adora as estradas, as aventuras, as vivências liberti-
nas, as pesquisas das contraculturas e contracorren-
tes, a mística transgressiva e os deleites dos dias e
noites.

Já percorreu boa parte do Brasil e teve desventuras em


alguns países na Europa.

Possui formação superior em Filosofia onde defendeu TCC


a respeito do pensador alemão Friedrich Nietzsche, mas
adora ser um vagabundo entre os saberes, levando sua
inquietação e vontade alquímica de mudar a vida e a
sociedade por onde passa.

É editor, tradutor e autor na ProvokeATIVA.

Ultimamente vive em São Paulo e está aberto ao devir.

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