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Protocolo Cetoacidose Diabética
Protocolo Cetoacidose Diabética
Organizadores
Dr. Donizetti Giamberardino Filho,
Diretor Clínico do Hospital Pequeno Príncipe
Dr. Nilton Kiesel Filho,
Coordenador Médico da Emergência do Hospital Pequeno Príncipe
Projeto Gráfico
Karina Kondo,
Coordenadora do Marketing-Criação do Hospital Pequeno Príncipe
Vinícius Binder Segan,
Designer Gráfico do Marketing-Criação do Hospital Pequeno Príncipe
Revisão de texto
Géssica Elen,
Coordenadora da Comunicação do Hospital Pequeno Príncipe
Camila Hampf Mendes,
Jornalista do Hospital Pequeno Príncipe
1. INTRODUÇÃO 05
2. FATORES DESENCADEANTES 06
3. CONDUTA 08
ABORDAGEM INICIAL 08
MEDIDAS DE SUPORTE INICIAL 10
4. TRATAMENTO 12
OBJETIVOS DA TERAPIA 12
PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TRATAMENTO 12
FÓRMULAS 13
REPOSIÇÃO VOLÊMICA 14
ELETRÓLITOS 15
ACIDOSE METABÓLICA 18
INSULINOTERAPIA 20
INFUSÃO DE GLICOSE 22
DIETA VIA ORAL 23
5. COMPLICAÇÕES 23
TRATAMENTO 29
6. referências bibliográficas 30
PROTOCOLO DE CETOACIDOSE DIABÉTICA
1. INTRODUÇÃO
A maioria dos casos fatais está relacionada ao desenvolvimento de NOS DIAGNOSTICADOS DIABÉTICOS ANTERIORMENTE
edema cerebral (EC) - complicação mais grave, que está presente • Má aderência ao tratamento; muitas vezes com omissão das doses usuais
em 0,5 a 2% dos pacientes com CAD, com mortalidade de 40 a de insulina; controle glicêmico ruim ou episódios prévios de CAD
90% e capaz de produzir sequelas em 10 a 25% dos sobreviventes. • Infecções
• Distúrbios psiquiátricos
Com o descobrimento e emprego da insulina no tratamento
da CAD associado à melhora nos cuidados clínicos, foi possível • Distúrbios alimentares (desencadeante em até 20% dos casos nos
pacientes recorrentes)
reduzir sua mortalidade de 100% (no início do século XX) para
• Dinâmica familiar desfavorável
os atuais 2-5%.
• Adolescentes do sexo feminino
O conhecimento dos fatores determinantes da ocorrência de • Interrupção, mesmo que transitória, da terapia insulínica por bomba
CAD, associado à detecção precoce dos primeiros sintomas de (causas técnicas, como problemas na bomba ou cateter) – em
hiperglicemia, contribuirá para a redução da morbimortalidade função das baixas reservas de insulina
do DM1, reduzindo a frequência de quadros clínicos graves no Obs.: Como regra geral, em todo paciente com CAD devem ser
momento da admissão, bem como o risco de complicações. investigados os possíveis fatores desencadeantes e, somente quando estes
forem afastados, considera-se o tratamento irregular como fator causal.
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4. TRATAMENTO FÓRMULAS
1) Ânion gap (AG) - normal de 12±2 mMol/L, na CAD frequentemente
OBJETIVOS DA TERAPIA é de 20 a 30 mMol/L e se > 35 mMol/L sugere acidose lática associada.
• Corrigir desidratação Na = sódio sérico
• Corrigir acidose e reverter cetose Cl = cloro sérico
AG = Na – (Cl + HCO3)
• Restaurar lentamente a glicemia para níveis aceitáveis de tratamento HCO3 = bicarbonato sérico
(entre 200-300 mg/dL) K = potássio sérico
• Evitar complicações da terapia U = uréiat
• Identificar e tratar qualquer fator precipitante, como infecções
2) Sódio (Na) corrigido - em mEq/L
PRINCÍPIOS BÁSICOS DO TRATAMENTO Redução 1,6 mEq/L de Na → a cada 100 mg/dL de glicose acima
Monitorização meticulosa com anotação de dados de hora em hora de 100 mg/dL
nas primeiras 24 horas (após 12 horas, se o paciente está hidratado e
lúcido, pode ser de 2 em 2 horas) e para o restante, após 24 horas, 3) Potássio (K) corrigido - em mEq/L
de 2 em 2 horas: Redução 0,6 mEq/L de K → a cada 0,1 abaixo do pH 7,4
• Frequência cardíaca (FC)
4) Osmolaridade calculada - em mMol
• Frequência respiratória
Osmolaridade = 2 x Na + U/2,8 + Glicemia/18tt
• Pressão arterial (PA)
• Observação do nível de consciência e sintomas neurológicos 5) Eliminação de CO2 - a acidose metabólica desencadeia uma
(alertas para edema cerebral) tentativa de compensação respiratória com eliminação de CO2
• Quantidade de volume administrado e perdas pCO2 esperado = (HCO3 x 1,5) + 8
• Glicemia capilar ou Hemoglicoteste 6) Cálculo do peso calórico (PKcal) - em Kcal
• Exames Laboratoriais: Eletrólitos, Glicemia, Uréia, Volume Globular Peso ≤ 10 kg → PKcal = Peso em Kg
e Gasometria a cada 4 a 6 horas, nas primeiras 12 horas. Cálculos Peso entre 10 e 20 Kg → PKcal = Peso em Kg
Peso > 20 Kg → PKcal = Peso em Kg
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Calcular o Na corrigido para avaliar o verdadeiro grau de hiponatremia. Então, se a dosagem do potássio sérico está normal ou diminuída
Deve-se manter uma oferta basal de sódio de 150 mEq/L no soro de no início, é necessária a reposição precoce e agressiva, pois, com
manutenção, na forma de Cloreto de Sódio 20% (NaCl20%) e/ou o tratamento, a tendência é uma queda maior ainda. Calcular o K
SF0,9% e aumentar a oferta, se necessário, de acordo com a dosagem corrigido para avaliar o verdadeiro grau de hipopotassemia.
sérica. Havendo diurese, deve-se acrescentar potássio na solução de
A hipernatremia parece ser um fator protetor no desenvolvimento do reidratação na forma de Cloreto de Potássio (KCl19,1%), de acordo
edema cerebral (tolerar Na entre 150 a 160 mg/dL naquelas crianças com esses valores:
com glicemia > 600 mg/dL). • K sérico < 4 mg/dL → 60 mEq/L de K (12 ml de KCl19,1% em um
soro de 500 ml), deve ser iniciado antes da insulinoterapia
Cálcio (Ca) • K sérico entre 4-6 mg/dL → 40 mEq/L de K (8 ml de KCl19,1% em
Com a correção da acidose e a melhora da taxa de filtração glomerular, um soro de 500 ml)
ocorre uma tendência à hipocalcemia. Deve-se manter uma oferta • K sérico > 6 mg/dL → não usar K
basal de Ca para os pacientes pediátricos, na forma de Gluconato de
Se a hipopotassemia persistir mesmo com o máximo de reposição (80
Cálcio 10% (Glucca10%) – de 0,5 a 1 mEq/kcal/dia e aumentar a oferta,
mEq/L a 100 mEq/L em acesso central – 16 ml a 20 ml de KCl19,1% em
se necessário, de acordo com a dosagem sérica.
um soro de 500 ml), então diminuir a infusão de insulina.
Potássio (K)
Fósforo (P)
Na CAD inicialmente há hiperpotassemia por saída do K para o meio
Inicialmente há uma hiperfosfatemia consequente à acidose metabólica
extracelular, devido à glicogenólise, lipólise, desidratação e desvio
e desidratação celular, pois há saída de P para o meio extracelular. A
iônico. Depois, ocorre um déficit estimado de K de 4 a 6 mEq/Kg,
hipofosfatemia ocorre depois, devido a perdas urinárias com a diurese
devido a:
osmótica e entrada de P para o meio intracelular devido à reidratação
• Correção da acidose, hidratação celular e pela ação da insulina, celular e à ação da insulina.
que promove a entrada de glicose e potássio para dentro da célula.
Os efeitos adversos graves da hipofosfatemia são raros e a terapia com
• Excreção urinária junto com os cetoácidos fósforo pode levar a hipocalcemia importante.
• Aumento da aldosterona causado pela desidratação A reposição de fosfato deve ser realizada naqueles pacientes com nível
• Vômitos sérico < 1 mg/dL e depressão respiratória ou fraqueza inexplicável,
além de jejum prolongado ou demora em responder ao tratamento
adequado.
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Estudos prospectivos não demonstraram benefício clínico da reposição A administração de bicarbonato de sódio pode estar associada ao
rotineira de fósforo, porém, defensores dessa reposição argumentam edema cerebral e morte e apresenta diversos efeitos adversos quando
que os benefícios da terapia com fosfato são: usado inadvertidamente, entre eles:
• A utilização de Fosfato de Potássio, em substituição a parte do • Hipopotassemia
cloreto (KCl19,1%), diminui a incidência de acidose hiperclorêmica • Agravamento da hiperosmolaridade
• Melhora do 2,3-difosfoglicerato (2,3-DPG) eritrocitário, que libera • Aumento da acidose intracelular devido à produção de CO2
o oxigênio da hemoglobina para os tecidos, porém, nos pacientes
• Acidose paradoxal no sistema nervoso central (SNC)
pediátricos, a melhora do 2,3-DPG ocorre rapidamente, mesmo
sem reposição de fósforo, quando fósforo em níveis normais • Desvio da curva de dissociação da hemoglobina para esquerda,
com diminuição da oferta de oxigênio para os tecidos
• Diminui o risco de rabdomiólise e hemólise
• Redução mais lenta da cetonemia
Muitos pacientes com potássio sérico baixo persistente, mesmo com
reposição, apresentam hipofosfatemia associada. Nesses casos, há
A utilização de bicarbonato está indicada naqueles pacientes:
indicação de reposição de fósforo, pois somente assim o potássio
atingirá o limite normal. • Mantém pH < 6,9 após 2 horas de hidratação (expansão) com
contratilidade cardíaca diminuída, pressão venosa central (PVC)
• Reposição com glicerofosfato (Glycophos®) – 1 mMol = 1 ml:
elevada, vasodilatação periférica persistente, que prejudique
• Se P sérico ≈ 1 mg/dL e criança estável → 0,08 mMol/Kg de 6/6 a perfusão tecidual e altere a ação de adrenalina durante a
horas, ou seja, 0,32 mMol/Kg nas 24 horas ressuscitação
• Se P sérico entre 0,5 - 1 mg/dL → 0,16 a 0,24 mMol/Kg de 6/6 • Acidose persistente com hipercloremia
horas, ou seja, 0,64 a 1 mMol/Kg nas 24 horas
• Hiperpotassemia grave com risco de morte
• Não apresenta interação com outros metabólitos ou medicamentos
A dose é de 1 a 2 mEq/Kg de bicarbonato de sódio
(8,4% - 1 ml = 1 mEq ou 10% - 1 ml = 1,2 mEq) em 1 a 2 horas.
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INFUSÃO DE GLICOSE
Deve ser iniciada quando a glicemia atinge de 250-300 mg/dL e/ou se Solução A Solução B
a queda da glicemia apresenta-se ≥ 50 mg/dL. Recomenda-se uma
queda da glicemia menor que 50 mg/dL a cada hora. 500 ml de SG 10% 500 ml de SF0,9%
22 ml de NaCl20% (150 mEq/L de Na)
A acidose e a cetonemia são marcadores de gravidade e da insuficiência
de insulina e glicose no metabolismo celular. Aqueles pacientes (150 mEq/L de Na) 8 ou 12 ml de KCl19,1%
que mantém esse estado, não devem ter suas infusões de insulina 8 ou 12 ml de KCl19,1% (40 ou 60 mEq/L de K)
diminuídas, mas um aumento da infusão de glicose, podendo chegar (40 ou 60 mEq/L de K) 5 ml de Glucca10%
até 12,5% a concentração de glicose, para evitar a interrupção da 5 ml de Glucca10% (0,5 a 1 mEq/Kcal/dia de Ca)
infusão de insulina devido à hipoglicemia.
(0,5 a 1 mEq/Kcal/dia de Ca)
Para facilitar a infusão dos metabólicos, do volume diário de reidratação
e da concentração de glicose (CG), criou-se um sistema com duas
bolsas de soro, cada uma delas em uma bomba de infusão e uma DIETA VIA ORAL
torneira de comunicação (ou “Y”) entre as duas. Dependendo da Deve ser introduzida quando:
CG que se quer oferecer (0 a 10%), infundirá o volume de uma das • Paciente está alerta
soluções (A ou B), de acordo com a quantidade de volume nas 24 • Ausência de vômitos
horas (máximo de 3000 ml/m2/dia). Na medida em que a glicemia
• Melhora da acidose
variar, proporcionalmente infundiremos uma parte de cada solução
para completar o volume total diário.
5. COMPLICAÇÕES
Por exemplo: Criança de 10 anos, 30 Kg (SC de 1,058 e peso calórico 1) Distúrbios hidroeletrolíticos - hiper ou hipopotassemia, hiper ou
de 17 Kcal), oferta de volume de 1800 ml/m2/dia, necessidade de CG hiponatremia, hipofosfatemia, etc.
de 7,5% → Receberá ≈ 1905 ml de soro em 24 horas correndo em
BI a ≈ 79 ml/hora (equivalente a 112 ml/Kcal/dia), sendo que desse 2) Hipoglicemia
volume - 59,3 ml/hora será da Solução A (SG10%) e 19,7 ml/hora será 3) Reidratação inadequada
da Solução B (SF0,9%).
4) Acidose Hiperclorêmica - decorrente da reposição de cloro
A equipe de Enfermagem da Unidade irá preparar novamente cada excessiva na forma de NaCl0,9%, em geral pode se manter por
solução à medida que elas terminarem, pois não há frascos de soro alguns dias, mas não necessita de tratamento específico, melhorando
que comportem o volume total diário, como no caso anterior. quando há função renal normal
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5) Arritmias cardíacas - raramente ocorrem e estão associadas aos O EC subclínico é definido por estudos de imagem e provavelmente
distúrbios eletrolíticos, principalmente de K é comum. Já o sintomático, é mais raro, contudo há vários graus de
apresentação clínica e nos casos de herniação, a mortalidade é alta,
6) Aspiração de conteúdo gástrico - está associada a alteração
mesmo com tratamento.
importante do nível de consciência e vômitos frequentes, por isso
a indicação da sonda nasogástrica e monitorização contínua do Sinais e sintomas:
paciente
• Cefaléia
7) Edema pulmonar - pouco comum e está associada a:
• Diminuição inapropriada da frequência cardíaca
• Baixa pressão oncótica
• Aumento da permeabilidade capilar pulmonar • Vômitos recorrentes
• Edema pulmonar neurogênico • Letargia ou difícil despertar, resposta motora ou verbal à dor anormal
O tratamento é feito através de oxigenoterapia, diuréticos e suporte • Alteração do estado neurológico: irritabilidade, tontura, incontinência
ventilatório nos casos graves. inapropriada para idade, criança inconsolável ou agitação
8) Alterações do SNC • Sinais neurológicos: paralisia de nervos faciais e resposta pupilar
• Trombose do seio venoso alterada
• Trombose da artéria basilar
• Aumento persistente da pressão arterial
9) Complicações variadas, associadas ao tratamento e à própria
CAD - trombose venosa periférica, coagulação intravascular • Queda da saturação
disseminada, sepse, Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo • Alteração de comportamento
(SDRA), pneumotórax, pneumomediastino, enfisema subcutâneo,
rabdomiólise, insuficiência renal aguda e pancreatite aguda • Pupilas dilatadas, bradicardia e parada respiratória nos casos graves
com herniação
10) Edema cerebral (EC)
• Flutuação no nível de consciência, postura de decorticação ou
Praticamente restrita à faixa etária pediátrica, pode variar de 0 a 18 descerebração, deve-se usar a escala de Coma de Glasgow para
anos, mas mais prevalente em menores de 5 anos, no primeiro avaliação
diagnóstico de CAD e naqueles com duração longa dos sintomas.
Geralmente, ocorre 4 a 12 horas após o início do tratamento e no
momento em que a acidose, a desidratação, a hiperglicemia e o
estado geral do paciente estão melhorando.
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VARIÁVEIS - Crianças que não verbalizam ESCORE VARIÁVEIS - Crianças que verbalizam ESCORE
Espontânea 4 Espontânea 4
Abertura À voz 3 Abertura À voz 3
ocular À dor 2 ocular À dor 2
Nenhuma 1
Nenhuma 1
Sorri, segue som e objetos e interage 5 Orientada 5
Consolável quando chora, interage Confusa 4
4 Resposta
Palavras inapropriadas 3
Resposta inapropriadamente verbal
3 Palavras incompreensivas 2
verbal Sons vocais, pouco consolável
Nenhuma 1
Inconsolável, irritada, choro 2
Nenhuma 1 Obedece a comandos 6
Localiza dor 5
Obedece a comandos 6
Resposta Movimento de retirada 4
Localiza dor 5 motora Flexão anormal 3
Resposta Movimento de retirada 4 Extensão anormal 2
motora Flexão anormal 3 Nenhuma 1
Extensão anormal 2
Nenhuma 1 Diagnósticos diferenciais: outras alterações cerebrais podem estar
presentes em 10 a 20% dos pacientes com CAD e com sintomas
neurológicos:
• Hipoglicemia
• Ingestão de drogas
• Infecção, como meningite ou encefalite
• Trombose, acidente vascular cerebral, embolia, infarto cerebral e
hemorragia cerebral
• Síndrome da desmielinização osmótica
• Hidrocefalia obstrutiva
• Trauma crânio-encefálico
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Anotações
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