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I

CAPíTULO UiY

Jnnoriv-oe-lNrÂNcrn e a EoucnçÃo
ons CnrnNçns poanes

FrNAL Do sÉcur-o xrx, rr.rÍclo oo sÉcuLo xxr

MoysÉs KuHLMANN )R.* *

R -.í-
l-J Soiz; "" Brasil. o Inspetor ceral da Instruçào pública,
Bandeira Ftlho. puúcou relãtório
f,
*,i.g.rn q,l"
havia realizado para obter infoímações sobre o "oü.. "
jardim-d"_i.rfar.i. ,
e outras instituiçóes de educaçào infantil na Rrança1_SuÍça, I
Áus_
tria e Alemanha. No texto, fazia uma distinção entre as instituÍçoes:

Em mêrço de I999, participei do1Encontro de História da InÍánciâ-


realizaclo
pelo 'Projecto Museológico/Ccntro de InvestigaÇào e de
n"""rso. .* ff ,rü..
dâ Escola e da Infância". da Escola Superior d-e óducâçáo de S."t"iã_,_p".,",
gâ1. coordenado peto proÍessor Luis Vidrgal.lJa semana posrer,".,
";;,o;;.,. p,
Enconrro. viajei â LoúrÀ para vrsira'r o yi".i"iÁ,,Áif,Z
1""::gilyi:,:.0"
L nrrdnood S/udies. ou Thc EatlA Childhoõd Collection, que perr
ence ao Froeiral
lnstílute Couegc, (jo Rocltompton InsÍüule. da U"tr.*ig it
abriga o mateíial histórico da No.LÍonc] FÍoebet tounãc:ían
ii;rir.;;;;;".
Socieíg,
f^"i g" i...ia
ndada em. teZa)i que fechou seu escritório em t97t. m;teriais
.fu
jaÍdim-de-iníáncia, bem como um aceÍvo bibtiográfico do
com obra" à. F;;;;"i:.*
inglês e atemâo, de ourÍos educadores do moviáenro do.;ardim_;;-,;ã;;,
peciâlmente nâ Inglaterra e Estadôs Unidos. periddrcos', frr.o....tinà. ."
desenvolvimento infantil, assistência socjat. fristOrta e fiiosona ã" "àfrr.
a
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Readl pesqursàdora da educação infanril. g...;i";;-J";p "ài."a-
q::lll"_"_"i,.,.'nece os -mapâs dos tesouros" das esrantes.
:,i. o,sponlvet Jla_ inlernpt. com in_formaçóes
na. lla sr!a.-pjigÀ,
www-. r_oerla mpron.a.. uk /acàdern icled u ca -I ion
sobre o acer vo.
/elcoL !] glII Est; r ia-Ua trro i âüne
a comunicaçao áfiêsêntããà ni-êii"ônt,ô à aaâoJãüuãõia,isita
e em outras
fontes, sobre o tema da ditusâo inteÍnâcional da educaçào inf"rrt,t.ro
sêculo XIX e inicio do século xx
fi""i_a. 4-
'+ Pesquisador na Fundaçào Carlos Chagas e professor na Universidade
São Fran,
cisco/Sp.
4 EDUCÂÇÀO DA INT'ÀNCI,A BRASILAIRA T O JARDIM-DE-INFANCIA E A Et)U Irts !t!t!4!ç§_t99REs I

Nas grandes cidades européias, e sobretudo nos grandes cen- r;rrs ;lobres, como as creches e as sâlars (lc irsll(,, I lvcrilrn unra idcn-
ttos industriais, tem-se efetivamente cÍiado estabelecimentos es- ll(lil(le e uma trajetória distintas clo.Jilr(lltu-(l(:-lrl:incla, com um
peciais, destinados a receber os filhos dos operários e guârdá-los r':r r:iter exclusivamente assistcnciill. (llsl ir l.c (lc preocupaçóes
durante o diâ. enquanto os pais estão retÍdos na faina das ofici- (.( lrrcacionais, desconsidera inúmcrís cvl(l(:n( lirs (las inter-relaÇões

nas. Alguns destes estabelecimentos acêitam as crianças desde os íluc se produziram entre elas.
2 ou 3 anos de idade até os 6 ou 7: é o caso dos asgles d enjants
em Paris. dos Kilderbeuahranstolten em Viena e Berlim. Outros
aceitam as crianqas menoÍes de 2 anos, mesmo as recém-nasci, INTENÇÕES PEDACOCICAS DAS PRIMEIRAS
dâs: é o caso das crêches fiancesas. das krlppen alemàs. Nenhum ^S
tNsrrurÇÕES DE EDUCAÇÂO INFANTIL
destes estabelecimentos, porém. corresponde âo jardim-Froebel.
Eles dêstinam-se â fins humanitários e caridosos, mas nào envol- As instituiçoes de educaçào para as crianças-_entre O e 6 anos
.\
vem rigorosamente uma idéia pedâgógtcar. de ideg-g. começam a se esboçar no continente europeu ainda no
Íinal do século XVIII, \propagando-se por meio de uma circulação i\
O autor afirmava que eram raros, nesses paises, os de pessoas e idéias que precisa ainda ser mais bem pesquisada.
\)
kíndergarten abertos gratuitamente à freqüência pública, Em ge Criadas para atender as crianças pobres e as máes trabalhadoras. \. -
ral, eram mantidos por associações que exigiam uma contribuiçào desde .o inicio se apresentaram como primordialmente educacio: - ]-
mensal mais ou menos elevada, preferindo. na admissào, os filhos nais. A'escola de principiantes- ou'escola d€ tricotar-, criada por 1i -.
Oberlin em 1769'..na paróquia rural francesa de Ban-de-la-Roche, --..'
!l '^
dos associados, pertencentes a famílias abastadas. Considerada
uma instituiçào fora do alcance das classes populares, estas po- tem sido réconhecida õmo a primeira delag De acordo com os seus '
diam levar os seus filhos aos asilos, que mais se preocupavam com objetivos, ali a criança deveria: perder os maus hábitos; adquirir _

a propaganda religiosa; hábitos de obediência. sinceridade, bondade, ordem etc.; conhe- _.,
cer as letras minúsculas: soletrar: pronunciar bem as pal414ras e ,'-r -,
O sistema Froebel é uma reforma exclusivâmente pedagógica. sílabas difíceis; conhecer a denominaçào francesa correta das coi-
SeguÍamênte convem introduziÍ nos estabelecimentos de carida- sas que lhe mostram (o uso do patois, dialeto regional, era proibi-
de destinados às crianças aquela educaçào racional. a única com- do): e adquirir as primeiras noçóes de moral e religiào (Bursson,
pativel com o progresso cientííico: mas não se confundam causas 1887; MrRA LopEz & ALLER, 1970: LÉoN, 1977).
tào essencialmente distintas. E- !ql?, a escola de Oberlin e o estabelecimento de Pestalozzi,
em Yverdón, SuÍça, para crianças com mais de sete anos. teriam
Ve§" g:"§!gl11 Froebel" náo é "exctusivamente pedagógico-. sido visitados por Robert Owen. Este, que se tornou industrial e
pols se implanta e-m instituiÇóes sociais que se constituem histo- ficou c-onhecido como socialista utópico, criou em l8L6 trma esco-
ricamente. também devido a fatores econômicos, sociais e cultu- la que recebia alunos desde a idade em que pudessem andar até
rais, e _as demais instituições também não deixam de ser pensa- os 25 anos, localizada em New Lanark. na Escócia, onde funcio-
das a partir de idéias pedagógicas. \ê. interpretação que acompanha nària a fàbrica de que era diietor. James E .." op"-
a história da educaçào infantil. de que as instituições para as crian- -clar,ail {lr.
rário. juntamente com a jovem assistente MoUy Young, foram en
carregados da classe das crianças pequenas, dividida em três
Bandelra Filho. 1883, p.30. A palavra krippen. em alemâo, também signiÍlca o
grupos: o primeiro. de I8 meses a 2 anos: o segundo, de 3 até com-
mesÍuo que crêche. em francês: manjedoura. pletar 5 anos: e o terceiro grupo, com as maiores. De acordo com
6 EDUC"AÇÀO DA IN FÀNCIA BRÂSILEIIIÀ O JÂRDIM'DE.INFÁNCIA E A EDUCAçÃO DAS CRL\NCAS TOBRES 7

a proposta de Owen, as crianças estariam mais bem instruidas se. Talvez esta tenha sido a primcir.r das colltrovarsiils (lllc con-
no lugar de forçadas a acreditar, recebessem uma descriçáo clara trapõem o que seria o caráter educctcíottQl (lc uma trodalidade ao
e exata dos objetos e caracteres que a rodeiam e fossem ensina- assÍstencú@l de outra. Embora a escol.t (lc Ncw l,anark tives§e sim
das a julgar e raciocinar corretamente, de modo a distinguir as ver- materiais e propósitos educativos para irs cri.lÍrcas pequenas' de
dades gerais e as afirmações falsas. As liçôes versavam sobre os fato é ptausÍvel a contestaçáo: as Iryfant Scltools lro Reino Unido náo
objetos e a natureza, realizavam-se exercicios de evoluçào militar. advogavam as idéias socialistas e a concepçào pc(lagógica de Owen'
de danças de grupo e de canto coral. Em lB18, Buchanan foi para mas estruturaram-se e propagaram-se principalmclrle a partir da
Londres, diligir uT3 instituiÇào para crianças pobres, de 2 a I1 Socledade dirigida por wilderspin, dos livros escritos por ele e das
anos, em Westminster (Douuattce'r, 1974. pp. l9l-217i Da.rez, 1994). paróquias da Igreja anglicana\
Embora se atribua a Owen a criaçào da lnÍc:nt Schoot, no Rei- Na.{yqnçà em.-l826, a ma-rquesa de Pastoret. junto com as
no Unido, Samuel Wilderspin, fundador d,a In-fant School SocietU, madames Mallet e Millet, integrou uma Junta de Senholas que, jun-
em 1824. contestava isso.\ Afirmava ter conhecido James tamente com J-ean-Marie Denys Cochín. pr€feito do 12o Distrito de
.Paris, foi responsâvel pela c_riaÉo das Salles d'Asile2, O
Bi.rchanan, o qual até teria intercedido para que ele pudesse fun- Lrârào
dar a primeira Escola Infantil. mas que esta seria diíerente por Gustavo de Gérando. conselheiro de Estado. membro da Academia
atender crianças dos 2 aos 7 anos e nào até os I l Wilderspin re- de Belas-Artes, da Academia de Ciências MoÍais e Politicas e pre-
lata que Robert Owen compareceu a uma palestra sua em Liverpool, sidente honorário da Instruçáo Elementar, foi quem indicou a cons-
onde teria aberto uma polêmica quanto à autoria da instituiçào, tituiçào daquela junta, após uma viagem à Inglaterra. Para lá tami
discu§sáo que prosseguiu na casa de amigos comuns aos dois: bém foram Cochin e Millet, a fim de conhecer as lnif@nt Schools que
tanto haviam impressionado Gérando. Na viagem, conheceram os.
Parece ter este senhor posto em sua cabeça que ele teria inven- )
métodos de Buchanan e traduziram os manuaÍs de Samuel
I
tâdo Ia escola infantil]. porque ele teria trâzido crianças dos seus wilderspin. Em 1828, Cochin criou_o asilo modelo, nos moldes do-s
operários paÍâ sua fábrica em New Lanark. de modo que eles pu- ingleses, e um curso Normal, sob a direção de Millet, para a pre-_
dessem ficar sem seus pais enquanto esses trabalhassem, mas paraÇáo do pessoal das salas de asilolEm 1837, uma Ordenança
nesta autodenominada injfant school, nào havia um único lÍvro, li- Real organizou definitivamente a nova instituiçào e em 1881, com
ção ou mâteriais de qualquer espécie para a pÍomoção de qualquer o retorno do regime republicano, um novo decreto mudou seu nome
âspecto educacional, seja mentâI. moral ou fisico. 1...1 ali Íoi mu- para Escola Maternal (MrRÂ LopEz & ALLER, l970).
tuamente assentado que o que quer que seja que Mr. Owen tenha A sala de asilo Írancesa, desde os primeiros textos oficiais, foi
feito em New Lanark, ou qualquer outro lugâr, a despeito do tào concebida sob uma perspectiva de prover cuidados e educaçáo
importante trabalho de edLrcaçào do povo. para o que o grupo pre_ moral e intelectual às crianÇas. De acordo com Jean-Noel Luc. a
sente deu total crédito, somente eu tenho o mérito de inventar o criaçào da instituiçào escapa a toda tentativa de explicaçào, pelo
que é agora conhecido neste pais pelo nome de InJ[ant Sgstem. Eu simples crescimento do trabatho feminino fora do domicilio sob o
imaginava que nós teÍÍamos partido como bons amigos e com uma efeito da revoluçáo industrial: o seu papel nào é somente o de guar-
mútua compreensão sobre o resultado; mas em seguida veio a de_ dar a pequena infância popular mas, em nome de um projeto edu-
ccpçào quando descobÍi que Mr. Owen âproveitou-se de minha
írusência na lÍlanda I...1 que ele ou seus agentes ainda estào per
corlcndo proclamando a invençáo do sistema [Wtr-oensnrr. 1840, 2. Em Parls. em l80 I, a mesmâ mârquesa havia fundado uma 'câsa de hospitali-
dâde". um misto de creche e sala de asilo. mas nào teve sucesso em sua inicia_
t,r). 2-3. 331-3321. tiva.
rt)(( DA INFÂNCIA BRASILEIR,q
O JARDIM.DE.INFÂNCIA É A EDUCAqÂO DAS CI r{nn{É I

cativo, de disputar esta clientela às guardiás de quarteirào. A edu- sociedade, satisfeitos com o seu destino, para a preservaÇ,ro (l:l
cação ativa intervém em seguida: depois de retirar a criança dos l
ordem social e a reproduçáo dessa ordem para sempre (RoLLu1.
perigos exteriores, o asilo empreende o cultivo de sua inteligência 1990).
e de seu coraçáo (Luc, 1982). No livro escrito por Joaquim Ferreira Moutinho, em 1884, para
A pedagogia de Wilderspin codificava e aplicava às crianças solicitar contribuiÇões à creche de Sào Vicente de Paulo' recém-
pequenas a proposta do "ensino mútuo'de Lancaster, usada na fundada na cidade do Porto, manifesta-se claramente a sua pers-
escola primária, que funcionava com salas para grande número de pectiva educacional (MourrNHo, 1884; Kunr-uaru JR., 1998):
alunos, onde o professor passava os exercicios a alunos monito-
res, que os reproduziam em pequenos grupos com alunos menos Porque esta é que é a verdadeira natureza, â genial e culminan-
adiantados. O método da InJant School inspirou a elaboraçào do tissima missão da Creche: sustentar o coÍpo e acepilhar o esPiÍito
I
Manual das Salas de Asilo, por Cochin, em 1833. que sugeria pro- dâ criança. dâÍ páo e daÍ educaçáo. distribuir alimento e luz. seÍ
cedimentos semelhantes. As figuras apresentadas como modelos beÍço e ser escola I...1.
no manual mostram uma ampla sala em que uma arquibancada E que feição surpreendente, que caracterÍstica formidável e Pe-
forma um anfiteatro, para lições dirigidas a todos, e áreas com regrinamente donosa a dâ Escola-CÍeche: ajeitar a criânça a ser
bancos para as reuniôes dos grupos de diferentes idades coman- homem, inclinar o menino a cidadào I...l ir orientando, norteando.
dados por uma criança monitora; as paredes eram decoradas com afeiçoando a débil criatura à familia que há de formar. à pátria que
o crucifixo, as letras do alfabeto, figuras geométricas e cartazes. há de seÍvir e à humanidade que há de enaltecer; ir em suma e
promovendo como que um programa de ensino escolar em minia- enfim, âpontando à simpática criança o universo a que está sujei-
tura, com forte caráter religioso [DaJEz. 1994). to o seu coÍpo, a religiâo a que está sujeita a suâ âlma, â ciência
A créche, criada por Marbeau em 1844 para atender os bebês que é o seu timbre, a aÍte que é o seu lustre, o trabalho que é a sua
até os 3 anos, também foi pensâda como instituiçáo educacional, lei, a sociedade que é a sua vida, Deus que é o seu todo oh! formo-
com preocupações muito próximas às desenvolvidas pelos espccia- sissima opulentÍssima, mâs dificultosissima missào é esta!
listas da escola maternal. A idéia defendida era de que a creche -
como a escola maternal - poderia fornecer à criança as reais con- Em Portugal. as Casqs de ÁsÍlo do.InÍAncíq Desvalidq adotaram
diçóes de um bom desenvolvimento, que para numerosas crianças orientaçôes pedagógicas desde o seu inicio. em 1834. Procuravam
ela se constituiria em um lugar melhor do que a casa. assegurar proteçào, educaçáo e instruçáo às criançâs pequenas'
Como nas escolas maternais.e no jardün-de-infância, valori- sendo consideradas à época mais completas do que os estabeleci-
zaram-se os brinquedos e as brincadeiras. De um lado, elimina- mentos ingleses e franceses. que nào teriam o objetivo de promo-
vam-se aqueles que apresentavam p€rigos para a segurança e a ver os cuidados alimentares e corporais3. Durante a primeira me-
saúde dos bebês, de outro tomava se mais consciência do papel do tade do século XIX, em outros países euroPeus, como a Holanda e
jogo e do brinquedo na formaçáo da personalidade da criança. no a Itália. também surgiram instituições congêneres para diferentes
seu desenvolvimento. -Na creche". escreve Eugêne Marbeau em faixas etárias, que náo serào objeto deste estudo. Nesse processo,
meados dos anos 187O, as crianças se portam melhor, elas sáo sào a creche, o jardim-de-infância de Froebel e a sala de asilo, de-
mais felizes e mais dóceis. Resultado devido nào apenas aos cui- pois escola maternal. que passarào a ser a§ mais difundidas.
dados e conselhos, mas também à vida em comum que dá ptazer
às crianças e as torna sociáveis". Os ,esponsâveis pelas creches
queriam, por meios dóceis, indiretos. formar seres adaptados à 3. Fernandes. 2oo0. A creche. para as criançâs menores. também tinha esses
objetivos.
IO EDUCAÇÂO DA INFÀNCLA BRASILEIRÁ O JÂRDIM -DE'ÍNFÂNCIA E A EDUCACÁO DAS CI'I ANÇAS ITOBRES II

O jardim-de-infância, a mais bem-sucedida das instituiçóes, suprimiu a revoluçâo liberal de 1848, ploiblrr os À'ürdcrírarten§ em
desponta como um contraponto às demais, tratado às vezes como l85I, considerados centros de subvcr§ão polili(:.r c de ateismo -
se fosse o detentor exclusivo de uma concepçào pedagógica. l)or sua visão náo-ortodoxa da rcligl,to - l)cttt cottto por facilitar e
Loqbçl, qne abriu o_primeiro kindergarten no alvorecer da décâda cstimular o trabalho da mulher fora do lar c pcl:r idéia de levar as
de 184O, em Blankenburgo, pretendia nào apenas reformar a edu- características femininas para a esfera pública (Ar,r,r:r, 1988' p. 27).
c3lgggle:-e_scolar. mas por meio dela q_es-trutura familiar e os O banimento dos jardins-de-infância [avorcccu a sua dissemi-
cuidados dedicados à infáncia. envolvendo a relaçào entrc as es- naçáo. Após a morte de Froebel, eIrl 1852. a baronesa Bertha von
E.a" úbttca p;i"aaá. 4iaucalao ministrada no lar ou na esco- Marenholtz-Búlow ficou à cabeça do movimento froebeliano. atuan-
la fomentaria "nas crianqas a preguiça e a indolência. As encrgias do ativamente até a década de 187O. com a criaçáo de associações
humanas não estariam sendo desenvolvidas, muitas se atrofiando, e jardins-de-infância em vários Paises. Visitou a França. a Ingla-
perdendo-se por completo. Froebel considerava que seria suma- terra. a Bétgica. a Holanda, a Suiça e a Áustria. Com o fim da proi-
mente proveitosa a introduçào de verdadeiras horas de trabalho biçáo voltou a viver na Alemanha, onde fundou sociedades de edu-
manual na educação das crianças e. de acordo com prüfcr, dese- caçào e jornais-
java criar um amplo Jardim em que florescesse. como unidadc. o I
As associaçôes criadas em torno do jardim-de-infância foram
espÍrito feminino e o euidado sensitivo da infância (pnor-r.:rr. 1930, um elemento propulsor da instituiçào nos paÍses-sede e naquele§
p. 67: KUHLMÁNN JR. & BARÍJoSA, 1998). sob sua inÍluência, criando escolas para a íormaçáo de profissio-
Os jogos e ocupações concebidos por Froebel para a educaçào nais e editando publicaçóesa. É o caso da Froebel SocíetA oJ Great
das crianças, que eram produzidos em sua fábrica de brinqucdos, Britaín o:nd lreland. fundada em 1874, que atuou no Reino Unido
o Kíndergqrten BescháÍrgungs-Ánstalt. constituíram um componen- e nas suas colônías. A revista chíLd LiJe, publicada em Londres a
te material, mercantil. de propaganda da tnstituiçào, além dos scus I
partir de 1891. pretendia ser um meio de comunicaÇáo oficioso da
escritos. das associaçóes educacionais e dos cursos de formaçào Froebel SocíetA. Destinava-se aos professores, aos pais e a'todos
de professoras "iardineiras". Os dons froebelianos. a esfera o ci- os que entendem que a Educaçáo. para atender seus mais altos
lindro e o cubo, inteiros ou seccionados, foram vendidos em lojas, objetivos, precisa deitar raízes na infância." Os editores esperavam
como jogos de construqào para as crianças usarem no seio das que também os professores daqgs-cotas elementares pudessem ler
familias. De acordo com Cuberes. o arquiteto americano Frank e colaborar. pois se a vida infantil é um estágio da vida humana'
Lloyd Wright lembrava que, na sua infância,'o desenho era um re- os principios educacionais permaneceriam os mesmoss.
creio", após haver brincado, nos idos de I876, com os cubos, es, Em 1891, publicou-se na Inglaterra o livro Froebel's Letters on
feras e pirâmides de madeira que a sua mãe - professora interes- the kíndergqrten, tradução anotada da ediçáo alemà de ,I887,.-a.
sada na pedagogia de Froebel - havia lhe dado presente. Já adulto, pârtir dâs cartas reunidas pela viúva de Froebel, L!:§ç. ql§ 4§.co,,
afirmava que "sentia em seus dedos" esses primeiros 'brinquedos" letara entre seus amigos. O editor alemáo. Hermann Poesche' sele-
ÍFroebel's Letters.... 1891, p. 180: CurrEREs. 1997). cionou apenas as cartas posteriores ao ano de 1834, que tratas'
Os kindergortens haviam recebido o apoio entusiástico dos li-
beraÍs alemáes, em 1848, bem como de socialistas. como o sobri-
nho de Froebel, Karl e sua esposa Johanna, fundadores da 4. Tais como: KÍ'rdeÍqaÍten Prim6,rA Magazirei The KindeÍgarlenJor te@cheÍs and
pd,re.rts e The elemento,ry schoo[ teachet, de Chicago; The child. ChíId Lde e ChíId'
Hamburger Hochschule Jür dos weíbliche Geschlecht (Academia para Studu, de LondÍesr nte AusLro'lÍan Kíndergarten Magozine, oü, no Brasil, seme
Mulheres de Hamburgo), embora estes nào contassem com a apro lhante a algumâs das anteriores, a Reuista do Jardim da l4fatcia publicado pelo
governo paulistâ. em l896 e I897.
vaçào do tio às suas idéias. O regime reacionário prussiano, que 5. Child Li[e, vol. t. n. l.jan. ].891, n.2. fev., l8gl.
]2 EDUCAÇÀO DA INFÀNCLA BRÂSILEIRA O JARDIM-DL-lNIi^N(:l^ ta lit)tJ(:^(;^() l,^ri (1il^N(,À'i IÍ)ltllq.S I3
^

sem dos temas da criança e da fundaçào e construçáo do jardim- vl(lal social, que envolvem a c[csccntc ill(ltlstrlilllz:l(.:l(, (i tll l):llll21'
de-infância. Além do prefácio, escreveu uma parte do tivro dedicada rj:r(). O avanço científico e tecnológico, as descobcrlas llo câ rpo da
à propagaçào e extensào da instituiçào. complementada com no- r icrobiologia, a eletricidade e a iluminaçáo pública. assim como
tas dos editores ingleses. É marcante a preocupaçáo das publica- rs instituiçóes de educaçáo poputar - em cuja base encontram-se
ções dessas sociedades com o levantamento e a apresentaçào de ;rs escolas dos Pequenos, sem o caráter de obrigatoriedade da es-
inforÀaçÕes sobre o fenômeno da expansào internacional dos jar- (:ola primária - tornam-se Parâmetros para caracterizar os paÍses
dins- de-infância e de outras instituiÇÕes de educaÇáo infantil (litos modernos e civilizados. Além das relaÇões comerciais e dos
lFroebet's letters.... 189 l). irrvestimentos que levaram indústrias, ferrovias e eletricidade por
As publicações que divulgavam o jardim-de-infância não se todo o globo, a implantaçáo de um modelo geral referencial das
restringiam à ârea educacional, como a 'fhe Chíld, editada a partir instituiçôes e estrutura adequadas a um pais qvarLçado em diver-
de i910, em Londres, considerada uma revista médico-sociológi- sos paises é uma caracterÍstica marcante desse periodo (Hoaseewn,
ca -d_evotada ao estudo e proteçào da infância". que nào só se de- 1988, pp. 30-56).
dicava a temas médicos, mas tinha os objetivos mais amplos de I quadro das instituições educacionâis se reconfigul4,dgfên-
veicular com representatividade e autoridade todos os assuntos e te a segunda metade do século XIX, compondo-se da creche e do-
objetos relacionados à vida infantil, para a sua agregação e inter- jardid-de-infância, ao lado da escolâ primária, do ensino profis-
pretaçáo. qndereçada aos pais, educadores, trabalhadores filan- sional, da educaçào especial e de outras modalidades. A absorçáo
tropos. assim como aos médicos e outros estudiosos àa vida da desses modelos de civilizaçào e progresso combinava as referén-
criança,. prometia que a psicologia da lnfância, a higiene escolar. cias vindas dos centros de propagaçào europeu e norte-america-
as crianças atrasadas, anormais e excepcionai§, e estudos peda- no, com as peculiaridades de cada pais, segundo as sua§ condi-
gógicos teriam um importante lugar e seriam interpretados da for- Ções culturais, econômicas, soclai§, políticas. As h,stóriq.s rLq.cionais -
ma mais ampla possível: da industrialização, da urbanlzaçào, das instituições, das classes
sociais - se produzem nesse processo, marcadas pelo jogo de for-
A raça marcha adiante pelos pés das crianças pequenas. A crian- ça das relaçôes internacionais. Os congressos cientificos interna-
ça de hoje será o cidadão de amanhâ. 1...1 A criança é uma unidâ- cionais das mais diversas modalidades começam a ser organiza
de e deve ser estudada em sua inteireza. cuidâda em todâ â com- dos, na órbita das Exposiçôes Universais, que mostravam e
plexidâde de sua conformaçào. e guiada na vâÍiedade sem fim de cultuavam o progresso e as _novidades da era dos impérios. Nos
suas inter-relaçÕes lThe Chíld. vol. l, n. l. out. l9I0l. congressos de higiene, de direito, de assistência, de educação, da
igreja católica, e nas exposições internacionais pedagôgicas' reu-
niôes em que se definiam políticas e se homogeneizavam concei
tos. as propostas para a infância eram tema obrigatório. A creche
O JARDIM-DE-INFÂNCIA E A SUA PROPACAÇÃO --rn
e o jardim-de-infància eram alguns dos exemplos a se multiPlicar
INTERNACIONAL (KusruaNr JR.. f 998. 20OO).
Em 1855, exilados liberais alemáes fundarap os primeiros
O finat do século XIX, a partir da década de 1860, vÍve uma kíndergartens nos EUA. No começo dirigidos aos lmigrantes âle-
crescente expansão das relaÇoes internacionais, que leva as insti- màes, posteriormente tornaram-se comuns nas redes públicas.
tuiçoes de educaçào infantil a vários paÍses. Este íenômeno acom após algumas adaptaçÔes, como as promovidas por Elisabeth
panha a difusão de uma série de outras iniciativas reguladoras da Peabody, que. após conhecer a alemã Margarethe Meyer Schurz.
I4 DDUCÂÇÀO DA INFÁNCLÀ BRASILEIRA O JAIIDIM OE INFANCIA E A EOUCAÇAO DAS BIBRES t5

funda a Ámerican FroebeL Union. Na Exposiçào lntcrtr.rcional da A crescente atençào dedicada ao ensino infantil, o acuÍado in-
Fitadélfia, em 1876, o jardim de-infância, exposto no Pavilhào das teresse com que eminentes professores estâo estudando o método
Mulheres. obteve sucesso tanto internamente aos EUA quanto en- Froebel e o reconhecÍmento que pela primeira vez a repartiçáo de
tre visitantes estrangeiros. Os educadores japoneses, quejá haviam educaçâo [...] acentuou a necessidade e conveniência das Iições de
se impressionado com a creche, na Exposiçào de Paris. cm 1867, objetos por meio de recreio e outras, tanto quanto por formal ins-
e com o kínderga.rten, na Exposição de Viena. em 1873, compra- trução, no ensino elementer. fez reser_var no edificio um conside-
ram livros e mobiliário para as escolas que começavam a implan- rável espaço à _kindeÍgarten-.
tar em seu pais (WoLLoNS, 1993). Fez-se ai uma considerável exposição de pinturas, Jogos e apa-
Na Espanha, Mariano Carderera escreveu o livro L.l Pcclagogio relhos especialmente destinâdos ao ensino, poÍ semelhante méto-
en La Exposícíón UniDersaL d.e landres de 1862, sobrc a visita que do, das crianças de tenra idade e as escolas das "nursery' ll-oNDRES.
ali realizara, onde inteirou-se dos 'progressos dosjardins dc crian- 1485. p. 2l l.
ças. a cujo ensaio havÍamos assistido anos atrás na Alcmanha-, e,
no capitulo dedicado aos 'Jardines de ninos', destacou .l impor- Já em 1875. no Rio de Janeiro. havia sido fundado o primeiro
tância dos jogos e da aprendizagem da vida social dcssas institui- jardim-de-infância privado do país, no Colégio Menezes Vieira,
ções. No final da década de 188O, a Escola Normal de Madri man- seguido da Escola Americana em lB77, em Sào Paulo, ligada a
tinha um curso de formaçáo específico e um jardim-de-infância missionários norte-americanos. Em 1883, a Exposição Pedagógi-
arrexo (VrcÉN Fennaroo, 1992. p. 234:. Froebel's letters..., 189I, ca do Rio de Janeiro apresentou inúmeros materiais, incluindo-se
p.2oo). aqueles relativos ao jardim-de-infância, tanto de instituiçóes na-
Na Rússia, desde 1863 registram-se manifestações de um ati- cionais como provindos de diversos paÍses: Alemanha, Argentina,
vo interesse que levam à criaçào da Sociedade Froebel em S. Áustria, Bélgica, Chile, Espanha, Estado Oriental (Uruguai), Esta-
Petersburgo. Na Áustria, os jardins-de-infància sáo incorporados dos Unidos, França, Holanda, lnglaterra, Itália. Portugal, Suécia e
ao sistema nacional dc educaÇáo austríaco em 1872. o que irâ tam- Suíça. A sala do Colégio Menezes Vieira trazia trabalhos de tran-
bém ocorrer na Suíça e na Bétgica, nos anos seguintes. Em portu- çado, dobrado. picado. desenho froebeliano, papeI quadriculado,
gal, desde 1879, o jardim-de-infância encontraria a simpatia de aquarela, feitos pelos alunos do Jardim de Crianças, orientados pela
familias e de órgàos educacionais. Documentos daquele paÍs, de professora Carlota de Menezes Vieira, trabalhos da diretoria do jar-
1880, destacam as vantagens do sistema. Em 1882, no centenà- dim, livros e ediçôes do Dr. Menezes Vieira. mobília. material de
rio de Froebel, ocorreram festividades no Porto, onde havia uma ensino, quadros, mapas, estampas, cartas, aparelhos etc. Além dis
Sociedade para a Promoçáo da EducaÇão, e em Lisboa. onde se so, durante os preparativos da Exposição, previa-se a reâlizaçáo de
inaugurou um jardim- de- infância [Froebel's letters..., I895, um Congresso da Instruçáo, que não se realizou por falta de verbas,
pp. t92-2O3: Caeoora, 1997. p. 28). mas para o qual foram elaborados e publicados, em livro, parece-
A ExposiÇáo Internacional dedicada à saúde e à educaçào, res sobre vârias questões, entre elâs o jardim-de-infância (CoNcRes-
realizada em Londres, em 1884. foi um marco na história do so DÂ INSTRUÇÃo, 1883: zuo de Janeiro, 1883: KunuuaNr'r JR., 2OOO).
kindergdrten na Inglaterra, quando houve o esforço da Froebel
Society em promover a educaÇão fro€beliana ÍFroebel's letlers..., PEDACOCIAS NOS JARDINS,DE.INFÂNCIA
1895, pp. 2O5-2OA). O esforço repercutiu até na apresentaÇào do
relatório dos trabalhos da comissão brasileira enviada ao congres- No Brasil escravocrata de I883, que lentamente caminhava
so. escrito pelo barào de Penedo: para a aboliçáo dessa relação de trabalho, Menezes Vieira consi-
t6a DÂ INFÁNCIA ARASILEIRA O.'ARINM-DI'-INI.ANCIA DA I{) ) t,^s( t(^Nl,:As tÍ)llRr§ I7

derava que o jardim -de- infáncia deveria cumprir um papel de Na decâda de l9lO. a penetraÇão do jardim-de-infáncia no
moralizaçào da cultura infantil. na perspectiva de educar para o tcrritório da escola maternal contou com o apoio de figuras repu-
contÍole da vida social, preocupado que estava com os conflitos l)licanas. como a madame Jules Ferry e Ferdinand Buisson, que
espelhados em suas brincadeiras: lbram membros do comitê consultivo da revista Educo.tion Jogeuse.
Publicada pela Uniâo Froebeliana francesa, a revista pretendia
As criânças no Brasil I...1 entregam-se geralmente â brinquedos
informar sobre a criaçào de Escolas Normais, de jardineiras e de
aviltantes: umâ representa o burro, outra o cocheito; esta o urba-
jardins-de-infância, no ensino público e privado, bem como da fun-
no. aquela o capoeira. uma o negro fugldo, outra o capiteo do mato.
daçáo de seçÕes froebelianas nas provÍncias. Da mesma forma que
etc. lvrErRA, 1884, s.p.l.
na Inglaterra, o curso de formação de professoras da sociedade
A soluçáo seria adotar como que um antidoto àquelas amea- írancesa tealízava exames que certificavam os aprovados como
çadoras práticas, que ensejavam solidariedade com os setores ex- habilitados na educaçáo froebeliana. O programa das disciplinas
plorados de nossa sociedade. Tratava-se de europeizar o modo de e conteúdos, apresentado na revista, refere-se a exames de 1" e 2'
vida. por meio de um programa que imitasse os cantos e jogos das anos. com matérias Comuns:
salas de asilo francesas, elaborados pela educadora Pape-
Carpentier, e dos jogos da Madame Portugal, inspetora dos jardins-
.Pedagogia: Froebel: origens, aÇào, influência, a questào
de-infància de Genebra. froebeliana na atualidade. Psicologia Infantil;
. Zoologíai Descriçáo, classificaçào e costumes dos animais
Embora houvesse polêmicas quanto à maior ou menor fideli-
dade ao sistema de Froebel, e autores como Souza Bandeira. cita- mais conhecidos;
. Higiene: Higiene da criança fundada sobre as noções neces-
do no inÍcio deste texto, diferenciassem o método de Froebel das
Ecoles Maternelles. destacando a preocupação destas últimas com sârias de anatomia e de psicologia humanas;
a formaçào intelectual da criança (leitura e escrita), as propostas .Botânica: Frutas de outono, folhas diversas, feto§ (tipo de
do jardim-de-infância também influenciaram as instituiçoes fran- planta ornamental), musgos. cogumelos, algas, liquens: as
cesas. que tiveram os materiais froebelÍanos incorporados nas ati- plantas em seus diversos meios; noqões sumárias de anato-
vidades das salas de asilo. A visita da baronesa Marenholtz, em mia e fisiologia vegetais e de classificaçào:
. Centros de Interesse: Outono, as colheitas; inverno, â casa,
1855, angariou o apoio de figuras como Mallet. Marbeau. Michetet
e Augusto Comte (FroebeL's letters..., 1895. pp. 183- I88: Luc, 1997, a rua, a loja; primavera, a água. o vento. o rio: verão, o ve-
pp.373-392). ráo nos campos:
. Geografia: Noções de geografia humana: a floresta, a estepe
A rivalidade e os conflitos bélicos entre França e Alemanha
mantiveram essas relaçóes entre as propostas educacionais a uma etc... (uma lista de questôes será entregue aos candidatos
certa distância. Mas Pauline Kergomard, que na década de l88O um mês antes)
coordenou as escolas maternais francesas, compartilhava as idéÍas
.Trabalhos Manuais. Música, Desenho. Aquarela, Modelagem:
do jogo como instrumento privilegiado de expressào e educaçào. exercícios diversos (Éducatíon joaeuse. 1913. t. l, p. 29).
Kergomard imprimiu um caráter laico à escola maternal e propôs
novos métodos para a educaçáo das crianças, pois considerava que Com notas de O a 20, havia provas escritas - com duraÇáo de
l
uma pedagogia que mantivesse essa escola como preparatória ao 6 horas. 3 delas para a de Pedagogia, no I" ano, e de 10 horas, 4
ensino primárÍo, com liçÕes prematuras e sobrecarga intelectual. para Pedagogia, no 2o -, provas orais e práticas, incluindo atua-
seria um crime de lesa-infância (Puarsarce, 1996, pp.82-84). çào em sala de jardim-de-infância. O componente Centros de In-
]B EDUCAÇÀO DA INFÁNCI,A BRASILEIRA O JARDIM-DE-INFANCIA D A IiI)t I ),\S () IDBRES ,I9

teresse mostra a adoçáo dos métodos de Decroly. também citado sidade'; ou o The ChíLd, de Londres. No ?he.AusÍrali«r KhdergerLctl
na§ publicaÇões inglesas. Magozíne, há referência às contribuiçôes de Dewey e Montessori
A intervençào das missóes protestantes norte-americanas. que para a modernizaçáo dos métodos do jardim-de-infância6.
atuaram em paÍses como o Brasil e o Japào, também contribuia A propagaçáo do jardim-de-infância náo ocorreu pela adoçáo de
para a expansáo do jardim-de-infância. No Japào, Annie Lyon um modelo único de instituiçáo com a rigida aplicaçáo dos seus
Howe, da Americo.n Board oJ Commissíoners Jot Foreígn MÍssions, procedimentos originais. Em 1907, o Board. oJ EducatÍon británico
foi a responsável peta implantaÇáo do Gtory Kíndergarten e da es- publicou um livro com os resultados de uma ampla consulta inter-
cola de formaçáo de professoras anexa. em 1889. Graduada e nacional da Sociedade Froebel, intitulado Report o^ the kíndergarten
especializada na Chicago Froebel Association na década de 1870, uork abroqd. O relatório foi organizado por Miss S. Young, do House
ela chegou a Kobe, no Japáo. em 1887. Howe traduziu o livro de and- CoLonío,L ColLege. A Sociedade recebeu 103 respostas ao seu
Froebel, Mother Plag, para o qual um ârtista recriou as cenas da questionário, vindas dos seguintes países: Áustria, Dinamarca,
ediçào alemà, adaptando-as aos costumes orientais. O Glorg Egito, Finlândia, França, lmpério Germânico, Holanda, Itália, Ja-
Kindergqrten foi convidado pelo governo japonês para estar entre páo, Noruega. Rússia, Suécia, SuÍça, Estados Unidos, mais outros
os jardins-de-infância exibidos com orgulho. na Exposiçào lnter- de colônias britânicas, como a Nova zel^ndia, a África do Sul e o
nacional de Chicago, em 1893 (WoLLoNs, 1993). Canadâ. Na introduçào, fica evidente como a filiaçáo ao nome do
Nos EUA, os jardins-de-infância foram usados por seu efetivo fundador do jardim-de-infância náo implicava a cristalizaçáo de
potencial como agente de reforma moral, principalmente das famÍ- seus métodos pedagógicos. O texto recomenda a modelagem em
lias dos imÍgrantes, como forma de combater as más influências argila e "modernos exercicios", como desenho com pincéis e dese-
privadas com as virtudes públlcas da sociedade americana domi- nho livre. Lamenta ainda que algumas formas de trabalho manual.
nante. Contaram com o apoio de reformadores como Dewey e tais como: cortar cartolina para ornamentação, o entrelaÇamento
Stanley Hall, que fizeram sug€stoes para adaptar as propostas de fino e o desenho de padróes estereotipados em papel quadricula-
Froebel, como Hall, que'pedia o relaxamento das rotinas rigidas do. persistissem em larga extensáo, embora'a pesquisa fisiológi-
de Froebel em favor dos jogos onde se ensinasse aS habilidades de ca houvesse demonstrado que eles podem provocar problemas na
viver em comunidade" IALLEN. 1988; Kuxr-u,,ruru JR. & BARBoSA, 1998). vista, ao exigir um ajuste de musculatura fina no braço e na mào
Na apresentação do primeiro número da revista da Child-Studg acima do estágio de desenvolvimento físico das crianças". Mas havia
Society, de Londres, em 1908, o seu vice-presidente, John A. paÍses como a Áustria. que, jâ em 1892, promulgara lei proibindo
Cockburn considerava a Íala de Stanley Hall sobre a psicologia da os trabalhos de tesoura, classificação de sementes, feitura de co-
criança, na Conferência Internacional de Educaçáo ocorrida duran- lares de contas e trabalhos com linhâ fYourvc, 1907, pp.2O9.2l3l.
te a World's Fair de Chicago, em 1893, como uma definiçào das Os jardins-de-infància e os cursos de formaçào de professores
mais importantes no desenvolvimento da educaçáo moderna. Para implantados pelos ingleses, na Índia, recebiam orientações que
o autor, entre os principais ganhos à civilização proporcionados mesclavam o empreendimento colonizador com a adaptaÇào à cul-
pelas Exposiçóes Internacionais estavam as informaçôes cientifi- tura indiana. Uma diferença peculiar é a presença masculina en-
cas dos congressos. A educaçáo seria a área que mais impeto re-
cebeu. modernizando os métodos pedagógicos. Artigos de Hall fo-
ram publicados em várias revistas, como o The Kindergarten 6. Child Study. lgo8i The Ki,r.d.eíga.rteft PriÍna.ry Mdgazl^e. vol- xxlv, sep. l9ll.
n. l: ?he Chüd. vol, l. n. I, oct. l9lo: The AusÍralidn Kin.dergarten Maga2i^e
PÍímory Mogozíne, de Nova York, 'devotado à criança e à unidade (sobÍe Dewey, no artigo 'Modern methods in the KindergaÍten-, vol. II, n. 3. jan.
da teoria e da prática educacional do jardim-de-infància à univer- l9l2: e Montessorl. no n.6.jul. l9l2).
20 EDT]CAÇÀO DA INFÁNCI,{ BRÁSIIXIRA o.,^l{l)lM t)t.j tNti\N( t^ I: t.:t )1l( t^t ) t)^s ( ] IIBRES 2]
^ ^(

tre os profissionais. em grande número na foto dos alunos da oportunidade para brincar livre dos perigos das ru.rs c para
Kindergarten Normal Class, e em várias outras fotos em que ho- descansar e dormir nos intervalos das brincadeiras (pla!r).
mens, professores e auxiliares, junto com as crianças, tocam ins- Funcionam em perÍodo integral e atendem de 40 a 2OO ou
trumentos como violinos e realizam outras atividades. vestidos com 3OO crianças. que sào mantidas limpas e aquecidas e rece-
trajes típicos de seu paÍs. A programaçáo com as crianÇas seguia bem treinamento específico para os mais simples aspectos
um estrito controle do tempo. com atividades diferentes a cadâ l5 de uma vida decente, em conexáo com o cuidado das pes-
minutos. em média. Em uma foto sob o tÍtulo Children atJree plaA. soas e o comportamento social, como ocorre em uma casa
em que há aproximadamente 25 crianças sentadas em um pátio, bem ordenada- Seriam aquelas do tipo das DaA Nurserg,
a maioria está próxima à professora, vestida no estilo inglês da Kínderbeuahrqnstalten (em paises de fala alemà), ou as
época. aparentemente ouvindo histórias e lidando com os materiais Children's Dq.U NurserÍes, da Escandinávia.
froebelianos, enquanto outras assistem a dois colegas que estào em 2. As que recebem as crianças por poucas horas diariamente
pé. O mesmo ocorre na foto Míss Lqtter and children at Íree pLatJ, (3, 4 ou 5 horas), onde náo se dá alimentaçào, as crianças
em que as crianças fazem uma brÍncadeira em que se mostra a estào divididas por grupos etários e fazem atividades dirigidas.
professora passar por debaixo de duplas com os braços estendi- O pessoal dessas instituiçôes geralmente sáo professoras com
dos, de màos dadas. As imagens mostram que não há nada de li- formaçào especifica. Seriam aquelas do tipo da InJant Scr.ool
vre, aparentemente. sugerindo que o conceito de jogo livre aplica- d,a École Matemelle francesa o! d.o Kíndergarten, da Alema-
va se a atividades dirigÍdas realizadas no espaço externoT. nha, Áustria-Hungria e EUA (YouNc, 1907, pp.2O2-2O5).

Observe-se que a divisào estabelecida é diferente da feita por


O JARDIM-DÊ-INFÂNCIA E AS OUTRAS INSTITUIÇÕES DE Souza Bandeira, apresentada no início deste texto, que colocava a
EDUCAÇÃO INFANTIL sala de asilo de um lado e o jardim-de-infância de outro. Além dis-
so, o relatório considerava que, embora um rápido olhar às evidên-
O relatório londrino de 1907 afirma que o questionário enca- cias bastasse para estabelecer âs câtegorias de classiÍicação des-
minhado pela Sociedade Froebel procurava averiguar sobre todos critas acima, uma análise mais acurada mostrava que nào seria
os tipos de instttuições de educação infantil, mas constata que a possivel estabelecer claras linhas de distinção entre os dois tipos
maioria das respostas referiu-se quase que exclusivamente às de instituiçâo para crianças. pois elas tenderiam na prática a mis-
crianças de 3 a 6 anos, o que impedia fornecer maiores informa- turar as suas funçÕes:
ções sobre as institulçóes da natureza das creches. Ao analisar as
diferentes modalidades de atendimento, o texto constata que os Âlgumas escolâs mâternais atendem periodos maiores e dào
dados poderiam sugerir uma classificação em dois tipos de insti- comida. Ne Áustíia-Hungriâ. os kinderbeuahranstalten têm por
tuições: objetivo manter a criança sob cuidados habilitados e liberar o ia-
mào ou iÍmà mais velha da guarda paÍa ir à escola. têm uma pro-
1. As que reúnem crianças de viúvas ou de pais que necessi- Íissional com formaçáo especÍfica e usaú exercicios froebeliânos
tam trabalhar provêm abrigo, afeto, alimentaçáo nutritiva, durante parte do dia [idem. p. 2071.

O que se observa na descriçáo das instituiçôes existentes nos


7. Gillingham. lg08: Department of Public Instruction in Mysore, vol. l. 1909,
vol. 2. l9I l. diversos países é que os dois tipos delimitam muito mais as clas-
i

I
22 EDUCÂÇÃO DA INFÁNCIA BRÂSII-E]84
().1^tit)tM t)ti-lNtr^N( l^ l,:
^
r,l xJC^Ç^() I )^S ()ü^Nç^S I üuüs 23
d
i
i ses sociais do que a pedagogia. Ao citar a Holanda, por exemplo, ir11lcses a abrirem jardins-de-infáncia para os pobres na InglÍrter-
r r c indicando os Jree kínd.ergorten de Boston para serem visita-
usa-se a expressáo 'escolas de segunda classe- para se referir às
instituiÇôes para os pobres, e escolas de prímeírq classe para as rlos. pedindo contribuições para o seu trabalho. Em seguida, ou-
destinadas às famílias de boa condiçào econômica -'comfortable llit nota sugestiva:
classes". Na Itália, registram-se 20 instituiçôes para as crianças
Estamos felizes em saber que proÍessores portâdores do Froebel
das classes'confortáveis", I02 para os pobres e 25 de caráter so-
Certí.flcate, ocuparâm se de ensinar, em Manchester, durante suas
cial misto, Grande número delas combinaria os métodos de Froebel
horas de lazer. as pequenas crianças de rua. que sào, se é que isso
e de Aporti, mas o texto considera que seria dificil dizer no que esses
seja possível. menos fâmiliârizadas com os atrativos da vida cam-
dois métodos difeririam (idem, pp. 224-234)-
pestre do que as crianÇâs de Londres.
As sociedades froebelianas mantinham os dois tipos de siste-
mas de jardins-de-infáncia, para ricos e pobres, procuravam co-
O texto dizia que aquelas crianças ainda nào conheciam o lin-
nhecer e influenciar as diferentes modalidades institucionais e até
I do pássaro cantor, de plumagens laranja e marrom. chamado de
incorporar contribuiçôes das mesmas. Em todas as revistas, sem-
I robin, que era parâ elas todas um nome sem relaçáo com qualquer
pre havia espaço para reportagens e para o pedido de contribui-
idéia definida. Pássaros comuns, 'marrons, opacos, eles conheci-
ções para instituições educacionais ligadas a entidades assisten-
I ciais.
am, mas um robin nunca tinham visto." Depois das liÇões sobre a
,I
Natureza. ouvidas com a maior atenÇào, as crianças cantavam
As crianÇas pobres freqúentariam os J,ree kÍndergartens. deno-
prazerosamente e ouviam históriasro.
minação que explicitava o seu caráter de atendimento gratuito e
Outro artigo muito interessante foi publicado alguns meses
os diferenciava do nÍvel de qualidade pensado para os simplesmen-
depois, tendo como objetivo descrever a creche que era dirigida por
te- kíndergarten Os leitores da revista londrina Chitd LiÊ. de maio
Mrs. Hilton, em um bairro londrino. A visita dos editores da revis-
de 1.89I, ficaram sabendo que em São Francisco, de I mil crian-
ta foi casual, depois de notarem o nome na porta da instituiçào:
Ças que freqúentaram os Jrree kindergqrtens, advindas dos 'mais
I pobres quarteirões-, nenhuma delas chegou a passar por uma Tendo uns poucos Íninutos para dispor, não resistimos à tenta-
delegacia de polícia por qualquer problema de comportamentos.
ção de entrar e ver os pequenos atendidos e ficamos felizes quan-
Dois meses depois, foi a vez de um artigo que reproduzia ma-
I téria publicada no The Oueen. que contava da surpresa de uma
do, após uma pronta resposta à campainha. ganhamos permissâo
pâra ver a Crêche à qual Mrs. Hilton tem devotado vinte anos de
senhora americana, que havia visitado a'St. Martin's National diligente e sério trabalhorr.
School. onde Mrs. Rowland Hill tem tornado felizes sessenta crian-
ças pobres, com jogos do jardim-de-infância e histórias da Histó- No corredor, observaram sacolas com as roupas tiradas das
ria Natural", ao saber que ainda não existÍa um Jree kindergqrten crianças, que eram substituídas por vestimentas especialmente
em Londres, e apelava pela sua aberturas. confeccionadas para usar enquanto permanecessem na creche.
No mês seguinte. a seçào Notes fazia referência ao texto da Desinfetantes eram pulverizados ali, de modo a prevenir, se pos-
norte-americana publicado no número anterior, conclamando os sivel, que qualquer doença fosse trazida para a creche. Ao entrar

L Cl:.íId. Li,Íe, vol. I, n. 5. mây lAgl, p. 77 (cita a revista Tâe Households, de S


lO.ldem, vol. I n. 8. ago. l8gl, p. I15.
Francisco).
9. Idem. vol. t. n 7, jul. l89L p. I87 I l.ldem. vol. I t. 12. dez. 1891, pp. 18O-181
:I,í IiDUCAÇÃO DA INFÂNCLA BRASII-EIRA O JAITDIM-DE{NI. ANCLA E A EDUc^Ç^o D S clir^Nc^s poBREs 25

no berÇário, os visitantes ficaram sensibilizados: miseráveis pe- Jree kÍndeÍgartens teria muito a apreltdcr collr o (:x(:nlplo do tÍa-
quenas criaturas da humanidade, muitas delas com faces sem balho desenvolvido naquela creche-
brilho e aparência doentia". Embora tudo que fosse possível ser Na Austrátia, em 1911, a Children's I'rotcctb SocíetA, de perth,
feito para seu conforto fosse proporcionado, cada rosto lavado. cada que mantinha uma creche, convidou Miss l)c Lissa, diretora do
uma com seu próprio berÇo, macio. limpo e aquecido, 'parecia que Ad.elaíd.e Kindergarten College. para que. junto conr uma assisten-
nenhum cuidado e carinhoso atendimento seria o bastante para te, pudesse fazer demonstrações dos princípios e nrétodos do Jar-
tornar aqueles miseráveis seres em alegres crianças". dim-de-infância a serem aplicados nâ instituicào. tnicialmente,
reuniu-se uma classe de 24 crianças, mas depois mais alunos fo-
No andar superior entramos na enfermaía e ali nos deparamos ram chamados e tão grande foi o número deles e de observadores
coÍn uma triste visào, capaz de tocar o mâis duro coraçào. Pobre que o kindergdrten necessitou se deslocar da creche para o audi-
bebêl Já se ouviu dos horrores da fome, e como as criânças defi- tório da cidade'3.
nhâm e sofrem em países distantes; mas aqui em nosso meio há O artigo 'The National Society of Day Nurseries", publicado em
crianças, aindâ nào à beira da morte. mas de quem seria quase l91l na revista The Cr!íld, de Londres, refere-se à boa intençáo dos
impossivel acreditar que pudessem se recuperaÍ da extrema con- que dirigiam as creches, mas de seu pouco conhecimento técnico.
diçào em que estào. e cuja pobreza e carência devem teÍ sido a Fundada em 1906, a Sociedade, que pretendia abrir uma creche
causa originária. Mas a ama tinha a esperança de salvâr o pior modelo, vinha realizando ativa propaganda para atrair organismos
caso. pelos simples remédios dâ boa comidâ. carinho e cuidado. De da Inglaterra, Escócia e lrlanda. Seus inspetores visitavam toda
fato, ela mostrou uma outra crianÇa. íora. com braços roliços e o creche que desejâsse se associar, fornecendo apoio onde fosse ne-
mais alêgre semblante, que teria sido quase ou tão emagrecida como cessário. A ajuda financeira era discutida, quando requisitada, e
a criança cuJa chocante condiçáo tânto nos horrorizour2. supervisoras e amas eram enviadas para iniciar um processo de
formaçào nas creches, para ajudá-las até que se tornassem aptas
Na sala seguinte, consideraram um desfrute e um prazer en- a se conduzir por si própÍias'..
contrar as crianças de três a cinco anos, pois notaram que as crian- Também em 1911, a The ChíLd. publicou o artigo -The Free
ças mais velhas mostravam sinais de desenvolvimento, tanto nas Kindergarten", escrito por Mtss S. Young, a mesma que organizou
condiÇôes fisicas como na inteligência. As faces brilhantes e rosa- o relatório sobre as instituições de educaçào infantil nos vários pai-
das das crianças'fariam qualquer ama na mais rica morada sen- ses. em 19O7. A autora refere-se às classes de InJf@nt School. exis-
tir-se orgulhosa": 'Fomos informados de que elas se desenvolve- tentes nas escolas elementares e considera que, embora as clas-
ram na creche, e desse modo, tem-se por fim a melhor justificativa, ses fossem espaçosas e ventiladas e os professores gostassem das
se é que esta ainda seja necessária. para o método de Mrs. Hilton-. crianças, estas eram recebidas em grande número, a mobília era
Mas a programaçào náo se restringia ao bem cuidar e alimen- inadequada, a instruçáo e a disciplina eram muito formais e pre-
tar, como demarcâ o artigo. ao descrever as crianças saudáveis, valecia uma atmosfera muito pouco infantil: 'é muito mais uma
felizes, com olhares espertos e inteligentes. sentadas com suas escola, muito menos um abrigo para as jovens crianças sem cui-
lousas, concentradas no 'mágico ABC". demonstrando seus conhe- dados da periferia". Os Jree kínd,ergartens seriam uma alternativa
cimentos aos visitantes. Sugeria-se que a pretendida abertura de

13. The Áustralran Kindergarten Magazíne, vol. II. n. I, sept. l9l I


I2. klcnt. ibidcm l4.The Child, vol. I. n. 5. tebr. 1911.
t
; II; I'I)UC^ÇÀO DA INFÁNCIA BRAS]LEÍRA O JARDIM-DE{NFÁNCIA E À E DT\S C II:)BRES 27

! mais adequada para as crianças pequenast mas havia poucos de- ça ao progresso social e precisariam aprender hábitos de limpeza,
les na Inglaterra. 4 ou 5 em Londres. Dois deles, ao menos, conta- ordem e disciplina. Além de ser um antidoto à preguiça, à glutonia
vam com salas arejadas e claras, jardim com tanque de areia, re- e à cobiÇa, os jardins-de-infância também evitâriam a insatisfaÇáo,
feitório, banheiro, cozinha, quartos para dormir e para brincar. Nào os conflitos de classe e o egoismo (ALLEN, I988. pp. 29-33).
havia instruçáo formal, mas a atividade era incessante, com mui- As disparidades ocorrem entre as instituiçôes educacionais em
to trabalho manual. pintura com pincéis, tecelagem, construçào, geral. A escola primária, que é obrigatória e cujo atendimento na
canções e jogos dramáticos, histórias e poesias simples. Havia tam- rede pública é majoritário, abarca diferentes setores sociais, tam-
bém pássaros e outros animais e plantas para cuidar. As crianÇas bém contribui para a reproduçáo das desigualdades, embora cons-
sujas eram banhadas, os hábitos de lÍmpeza inculcados. assim titua o seu dualismo de forma sutil, pela distribuiçào geográfica e
como o comportamento cortês na alimentaçáo. Com isso havia 'nào por mecanismos internos ao sistema educacional. Na educaçào
só a promoçào do desenvolvimento fisico. mental e moral". mas infantil, a separaçáo é mais explicita. erigindo-se um sistema se-
eram -um centro de influência humanizador para a vizinhança". gregado para atender a pobreza.
Nas reuniões, as mães aprendiam o significado do "cuidado inteli-
gente da criança'. Os kíndergartens serviriam de 'liçÕes de coisas"
para a comunidaders. FONTES E BIBLIOGRAFIA
i Os estudos que atribuem aos jardins-de-infância uma dimen-
sào educacÍonal e nào assústencial. como outras instituiçÕes de
educação infantil. deixam de levar em conta as evidências históri-
l. Fontes

cas que mostram uma estreita relaçào entre ambos os aspecto§: a B^NDETRÁ FrLHo, A. H.S. ( 1883). O jardím iúantil: suaL natuíezd, seu.lÍim e seus
assistência é que passou, no final do seculo XIX. a privilegiar po- meios de acçdo. Rio de Janeiro. Typ.Nacional (Relâtorio apresentado ao
lÍticas de atendimento à infância em instituiçóes educacionais e o governo pelo inspector geral da InstrucÇâo Primaria e Secundaria do
I iardim-da-infância foi uma delas, assim como a creche e as esco- municipio dâ Córte).
lâs maternais. A Pestqlozzi-Froebel Haus. fundada em Berlim. em
I F. (1887f. Dictionnaire péddgogie et d'instruction primaire. paris
1873, pretendia preparar mulheres e meninas das 'classes edu- BurssoN, d.e

cadas para estabelecer relações amáveis e naturais com os pobres-. Hachette.


Nos Estados Unidos. o centro comunitário Elis@b eth Peqbod.A House, LoNDRES. Exposiçào lnternacional de Iligiene e EducaÇáo, 1884". (lBB5) Tro-
em Nova York, assim como os de Chicago e Louisville, surgiram a balrús da Commissdo Brasileiro,. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional.
partir de jardins-de-infância. Devido a encorajar o desenvolvimento
MourrNHo, Joaquim Ferreira (1884). A creche. Porto. Silva Teixeira
individual por meio da cooperaçào, chegaram a ser considerados
um tipo de kindergarten paía adultos. As instituiçôes de educaçáo Rro DE JÂNErRo (1883). Cuía para os Disítantes da exposição ped<Lgógical. R)o
popular expandiam a missào original do kíndergorten. Os de Janeiro. Imprensa Nacional.
voLkskindergqrten alemàes ou os Jree kíndergartens norte america-
VrErRÂ, Menezes (1884). 'Orgaoizaçáo dosJardins da infância". In: CoNoRESSo
nos reorientavam as criticas de Froebel à família de classe média.
DA rNsrRUCÀo. Rio de JaneiÍo, 1883. Áctas e pdreceres. Rio de Janeiro,
As familias das classes trabalhadoras eram consideradas uma amea-
Imprensa Nacionâ1.

I5.ldem. n. 6. mar. I9l I

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