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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE MÚSICA

SAMBA DE RODA

Profa. Marília Stein


2023
O Samba de Roda
do Recôncavo
Baiano
 Patrimonialização do
Samba de Roda pelo IPHAN:
 Registro
 Dossiê

 Álbum Samba de Roda (IPHAN, 2007):


 Encarte
 Músicas
Abertura da Casa do Samba de Santo Amaro da
Purificação (2007):

“O território brasileiro é imenso. A diversidade sociocultural


brasileira é imensa. O território cultural, os territórios, as bacias
culturais são muitas. Os sistemas fluviais culturais são imensos”
(Gilberto Passos GIL MOREIRA, 2007).

Os sambas brasileiros: diversidade, apropriação e salvaguarda: 1º ENCONTRO DA


CASA DE SAMBA DE SANTO AMARO DA PURIFICAÇÃO – BA, 2007. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/Anais1_Sambasbrasileiros_m.pdf.
Acesso em: 18 ago. 2022.
Sambas - Gilberto Gil, 2007
 “A apropriação é outro aspecto que vai ser tratado aqui pelos palestrantes,
envolvendo, o primeiro crawl, digamos assim o estágio inicial da apropriação que
se dá no campo da música popular. A música popular brasileira hoje, o samba
inclusive, é sinônimo de generalidade. Hoje, o samba é um gênero da música
popular brasileira. Aí já envolvendo todas as questões: os níveis tecnológicos, os
níveis sociológicos de apropriação pelas elites, pelas subelites, pelas segundas,
terceiras, quartas elites do país e, portanto já é outro corte, outro recorte, que é
propiciado exatamente pela música popular. Há outros graus de apropriação que
vão ser tocados aqui. Há poucos instantes, uma menina que está fazendo um
trabalho sobre o samba do Recôncavo para a universidade me perguntava sobre
essa questão das apropriações que foram sendo feitas em relação ao samba de
roda e a consequente descaracterização do samba de roda na sua manifestação
originária, causada por essas apropriações. Eu falava um pouco dos aspectos
positivos, quanto negativos dessas apropriações. E dava a ela o exemplo da
recente apropriação da música popular baiana, da música de carnaval baiana, do
samba de roda do Recôncavo, a partir do Harmonia do Samba e de tantos outros
grupos que proporcionaram a migração do samba de roda, na sua manifestação
originária, campestre, interiorana, reconcaviana para o carnaval da Bahia, para a
música pop, para a música popular brasileira. Os grupos andando por aí,
eletrificados e montados nos caminhões dos trios. Ela falava da dificuldade desse
samba rural, desse samba propriamente de raiz, samba de roda de raiz chegar à
mídia. E eu dizia a ela que a mídia trabalha esse segundo nível, o nível das
tecnologias, das apropriações tecnológicas, comerciais, industriais, dos processos
que vão levando a esses outros campos, e o samba vai migrando para aí. Portanto,
vai deixando órfão, vai deixando à mercê da intempérie do tempo. Como o tempo
derrubou o Solar, que agora a gente reergueu, vai derrubando também as
manifestações. Vão morrendo os sambadores que sabem fazer o cortado, o miúdo
do samba... Quantas sobraram das violas? Duas violas era só o que restava. Então,
é preciso, enfim, todas essas coisas. Esses recortes todos, eu espero que os
palestrantes venham trazer aqui, para nós.” (GIL, 2007).
Sambas - Gilberto Gil, 2007
 “Samba é uma palavra que ocorre na língua tapuia dos índios brasileiros, mais
diretamente na etnia Cariri. Um grupo que habitou extensas porções do
território nordestino, do território que vai da Bahia até o Piauí, até o Maranhão.
A palavra significa “roda de dança”, ou seja, os índios brasileiros, boa parte
deles pelo menos, já se reuniam para celebrações festivas, lúdicas, com
danças, provavelmente com bebidas, com interações afetivas de muitos tipos,
isso antes dos portugueses chegarem aqui, e já davam a denominação a tudo
isso de samba. Quando voltei do exílio em 1972, fiz uma viagem com Zé Carlos
Capinan pelo Nordeste do Brasil. E uma coisa me intrigou naquela viagem,
intriga que só foi desfeita ao logo do tempo, e mais propriamente agora,
quando há dois anos, tive conhecimento dessa existência do samba na vida
indígena brasileira. É que quando andava pelo Nordeste, naqueles lugares, fui a
São José do Egito, fui a Sertânia, fui a Caruaru, fui a vários lugares de
Pernambuco, de Alagoas, do Ceará e, com Capinan, andando num
Volkswagenzinho que ele tinha, a gente encontrava samba por toda parte.
Ouvíamos as pessoas se referirem ao “samba que vai ter hoje”, “o samba que
teve semana passada”, “estão promovendo um samba na fazenda de não sei
quem”. E eu dizia: “mas por que tanto samba assim no Nordeste?”. A música do
Nordeste não é samba. A música básica do Nordeste conhecida hoje é baião com
sua outra família, essa outra grande família do baião, do xaxado, do xote e do
forró. Em suma, não é samba. Por que tanto samba, samba, samba, samba? E
quando eu cheguei em Exu, na terra de Luiz Gonzaga, alguém me disse: “Não,
Januário, pai de Gonzaga sempre tocou em sambas, ele ia para os sambas. Mas,
por que samba? É porque samba aqui no Nordeste é festa, é festa popular, é
lugar de celebração, é lugar de música, é lugar de dança, não importa o
gênero”. Dois anos atrás, quando fiquei sabendo dessa ocorrência da palavra
samba entre os índios Cariri, do Nordeste brasileiro, é que essa intriga, esse
enigma, se desfez no meu coração e na minha mente. E compreendi porque no
Nordeste, em todos os lugares do Nordeste, toda festa popular é samba. Já era
assim. E era exatamente no território majoritariamente habitado pelos índios
Cariri.” (GIL, 2007).
Sambas - Gilberto Gil, 2007
 “Queria contar outra história que também ilustra essa dimensão
extraordinária, essa dimensão ameríndia do samba, antes da dimensão
afro, que veio se somar depois e é extraordinariamente importante, e da
dimensão lusa. A viola de machete, que está aí hoje no samba de roda é
uma contribuição lusa, uma contribuição lusitana. A outra história é a
seguinte e ocorreu quando fui gravar o ‘Caia na Gandaia’, na Jamaica:
estive lá, fui gravar no estúdio Taf Gong, o estúdio do Bob Marley, que
ficou de herança para a família Marley, e está lá até hoje. E me encontrei
com Rita Marley, a viúva do Bob que estava lá, e eu tinha resolvido gravar
no disco ‘Caia na Gandaia’ a música ‘Lick samba’, que é uma música do
Bob Marley, que ele gravou há muitos anos num daqueles LPs
maravilhosos que fez. E eu perguntei a Rita: ‘como foi essa história do
Marley fazer essa música?’ Eu já achando, obviamente que sendo samba,
claro, a referência seria brasileira, não podia ser outra, claro. ‘Como é
que foi? Como ele tomou contato com essa coisa do samba do Brasil, ele
gostava, ele ouvia samba, por que ele fez samba, o samba Lick samba?’
Ela me disse: ‘Não. É porque samba é roda de dança, é uma palavra dos
índios daqui, da Jamaica, é uma palavra Jamaik e samba sempre
significou roda de dança.’ Eu disse: ‘Ah, é! Então a referência não é o
samba do Brasil?’ Ela confirmou que samba é uma palavra que ocorre na
Jamaica. Quis contar essas duas histórias para ilustrar essa imensidão que
é o samba. Quem sabe o futuro vai nos reservar a possibilidade de
descobrir outros sítios arqueológicos do samba universal? Obrigado!”
(GIL, 2007).
Seleção de nºs da Série Encontros e Estudos, do Centro Nacional de
Folclore e Cultura Popular – CNFCP

SANDRONI, Carlos. Questões em torno do dossiê do samba de roda. In: FALCÃO, Andréa. Registro e
políticas de salvaguarda para as culturas populares. Rio de Janeiro: IPHAN, NFCP, 2005. [Encontros e
Estudos; 6] p. 45-54. Disponível em:
http://www.cnfcp.gov.br/arquivos/file/N%C2%BA_06%20%20Registro%20e%20pol%C3%ADticas%20de%20
salvaguarda%20para%20as%20culturas%20populares.pdf. Acesso em: 07 set. 2021.

LONDRES, Cecília et al. Celebrações e saberes da cultura popular: pesquisa, inventário, crítica,
perspectivas. Rio de Janeiro: Funarte, Iphan, CNCFP, 2004. [Encontros e Estudos; 5] Disponível em:
http://www.cnfcp.gov.br/arquivos/file/N05_Celebracoes_e_saberes_da_cultura_popular_pesquisa_inv
entario_critica.pdf. Acesso em: 07 set. 2021.

Seminário Folclore e Cultura Popular: as várias faces de um debate. Rio de Janeiro: Funarte, CNFCP,
2000. [Encontros e Estudos; 1]. Disponível em: N01_Semirario_folclore_e_cultura_popular.pdf
(cnfcp.gov.br)

Série Encontros e Estudos completa


PATRIMONIALIZAÇÃO:
BENS IMATERIAIS

Bens imateriais registrados pelo IPHAN até 2022


Os sambas, as rodas, os bumbas, os meus e os bois: princípios, ações e resultados da política de
salvaguarda do patrimônio cultural imaterial no Brasil (2003 – 2010). Iphan; Ministério da Cultura, 2010.
Disponível em: http://www.cnfcp.gov.br/pdf/Patrimonio_Imaterial/Salvaguarda/CNFCP_Salvaguarda2.pdf.
Acesso em: 7 set. 2021.
Os sambas, as rodas, os bumbas, os meus e os bois: a trajetória da salvaguarda do patrimônio cultural imaterial no Brasil
(1936-2006).IPHAN, Ministério da Cultura, 2006. Disponível em:
http://www.cnfcp.gov.br/pdf/Patrimonio_Imaterial/Salvaguarda/SalvaguardaPatrimonioImaterial.pdf. Acesso em: 7 set. 2021.
Do acervo CNFCP
 Vídeo CNFCP - Em busca da tradição nacional
CENTRO NACIONAL DE FOLCLORE E CULTURA POPULAR (BRASIL).
Em busca da tradição nacional: 1947-1964. Rio de Janeiro: Centro
Nacional de Folclore e Cultura Popular, 2008. 1 dvd vídeo (ca. 19
min.). Acompanhado de um encarte (Caminhos da cultura popular
no Brasil, 1)
A partir de fotografias, gravações sonoras e filmes reunidos desde
1940 no acervo da Biblioteca Amadeu Amaral, narra a história do
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, bem como um
pouco da memória dos estudos de folclore e cultura popular no
Brasil, a fim de preservar o trabalho já desenvolvido e fazer dele
suporte para o desenvolvimento e a continuidade de pesquisas e
estudos na área.

VIANNA, Letícia. Patrimônio imaterial: novas leis para preservar...


O quê? In: Cultura popular e educação. Você sabe de quem esta
falando? Disponível em:
http://www.cnfcp.gov.br/pdf/Patrimonio_Imaterial/Patrimonio_I
material_Novas_Leis/CNFCP_PatrimonioImaterialLeis_LeticiaViann
a.pdf. Acesso em: 7 set. 2021.
A Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO, publicada em
2003, definiu, em seu Artigo 2º, patrimônio cultural imaterial como:
 “as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os
grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é
constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade
e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana” (UNESCO 2003).

 O “patrimônio cultural imaterial”, assim definido, se manifesta em particular, segundo essa mesma Convenção nos seguintes campos:

1. tradições e expressões orais, incluindo o idioma como veículo do patrimônio cultural imaterial;

2. expressões artísticas;

3. práticas sociais, rituais e atos festivos;

4. conhecimentos e práticas relacionados à natureza e ao universo;

5. técnicas artesanais tradicionais.


 No Brasil, já nos anos de 1930, o anteprojeto para criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional (SPHAN) elaborado por Mário de Andrade assinalava “que o patrimônio cultural da
nação compreendia muitos outros bens além dos monumentos e obras de arte” (LONDRES, 2000). Na década de 1970, as pesquisas promovidas pelo Centro Nacional de Referências
Culturais (CNRC), criado por Aloísio de Magalhães, introduziram no cenário das políticas culturais e nos debates sobre o patrimônio a noção de referências culturais. Nesse contexto,
entendia-se que “o patrimônio cultural brasileiro não devia se restringir aos grandes monumentos, aos testemunhos da historia oficial, em que sobretudo as elites se reconhecem, mas devia
incluir também manifestações culturais representativas para os outros grupos que compõem a sociedade brasileira – os índios, os negros, os imigrantes, as classes populares em geral”
(LONDRES). Tratava-se de apreender a especificidade e a dinâmica social, o campo simbólico de sentidos e significados no qual os bens e as práticas culturais estão inseridos.

 A Constituição de 1988 abriu novas perspectivas, pois definiu patrimônio cultural de modo mais amplo, ao incluir nele as noções de patrimônio material e imaterial:
“Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

1. as formas de expressão;

2. os modos de criar, fazer e viver;

3. as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

4. as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;

5. os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

 Esses princípios foram reforçados na Carta de Fortaleza, aprovada no seminário promovido pelo IPHAN, em comemoração aos seus 60 anos de criação, em novembro de 1997. Seus
objetivos eram “recolher subsídios que permitissem a elaboração de diretrizes e a criação de instrumentos legais e administrativos visando a identificar, proteger, promover e fomentar os
processos e bens ´portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira´, considerados em toda a sua complexidade,
diversidade e dinâmica.” Tais princípios foram confirmados pelo Decreto 3551 que, aprovado em 2000, instituiu o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e criou o Programa
Nacional do Patrimônio Imaterial (posteriormente, complementado pela Resolução no 01, de agosto de 2006) que estabeleceram uma política de identificação e reconhecimento de novos
bens culturais.

 Para responder aos desafios desse campo de ação, foi criado o Departamento do Patrimônio Imaterial no IPHAN. O investimento do Estado, os planos de salvaguardas e as políticas de
fomento passaram a ser implementados a partir do entendimento que grupos e comunidades elaboram sobre o seu patrimônio. Busca-se garantir, desse modo, nas categorias
organizadoras dos processos de reconhecimento e de registro seu valor vernacular e o sentido atribuído pelos grupos sociais a seus patrimônios.

 O Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular e o Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN elaboraram em conjunto o edital de apoio à produção de documentários sobre o
patrimônio cultural imaterial – Etnodoc - ampliando para o campo do audiovisual essas novas possibilidades de registro, difusão e salvaguarda do patrimônio cultural imaterial brasileiro.

 Bibliografia de referência:
 CASTRO, Maria Laura Viveiros de; FONSECA, Maria Cecília Londres. Patrimônio imaterial no Brasil. Brasília: UNESCO, Educarte, 2008.
 SANDRONI, Carlos. Samba de roda, patrimônio
imaterial da humanidade, Estudos Avançados, v. 24, n.
69, 2010. Disponível em:
https://doi.org/10.1590/S0103-40142010000200023.
Acesso em: 18 ago. 2022.
• Vídeo Viola de cocho

Acervo do Centro Nacional de Folclore e Cultura


Popular (CNFCP). Para mais informações sobre
cultura popular brasileira, acesse o portal da
instituição: www.cnfcp.gov.br

• Dossiê Viola de cocho.

Alguns dos bens registrados como Patrimônio


Cultural do Brasil geraram dossiês aqui
disponíveis para download: aqui

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