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Artigo 3 A Doença Que Aparece Como Forma de Autorregulação
Artigo 3 A Doença Que Aparece Como Forma de Autorregulação
O tempo todo
Estou tentando me defender
Digam o que disserem
O mal do século é a solidão
Cada um de nós imerso em sua própria arrogância
Esperando por um pouco de afeição
(Esperando por mim – Legião Urbana)
1
Abordagem psicológica com foco no indivíduo, em suas relações consigo e com o outro no aqui e agora
e na forma como este consegue se ajustar perante às adversidades de seu meio. (PARENTE, 2018).
nos damos conta de sua existência. Isso nos causa gasto de energia,
incômodos, medos inexplicáveis, ansiedade etc. que se manifestam sem
nenhum motivo aparente. Quando não olhamos para tais manifestações, de
forma a buscar a compreensão e o direcionamento dessa energia paralisada, é
muito comum que nosso corpo comece a comunicar, por meio de sintomas ou
doenças psicossomáticas, algo sobre aquela necessidade que não
conseguimos satisfazer.
Darei um exemplo2 mais claro voltado à parte psicológica: uma pessoa
em sua infância, é criada num ambiente de muita escassez de cuidados e
afeto. Assim, não constrói em sua psiquê o suporte necessário para lidar com
as adversidades sentindo-se sempre inferior e incapaz. Em sua vida adulta, lida
com diversas questões físicas como dores de estômago, enxaqueca e alergias
na pele, sem causa aparente ou diagnosticada. Apesar de ser uma pessoa
bem sucedida, profissionalmente, não consegue estabelecer relacionamentos
saudáveis, sujeitando-se sempre a estar em meio de relações tóxicas. Além
disso, não reconhece aquilo que dá certo em sua vida, como por exemplo, sua
profissão.
Podemos visualizar aqui, um exemplo de necessidade não satisfeita ou
Gestalt aberta, que se refere a não ter tido os cuidados e afetos indispensáveis
de uma infância saudável. No entanto, não fica claro para a pessoa em questão
a existência dessa necessidade e, tampouco é possível satisfazê-la na integra,
pois sua infância já passou. Mas o desprovimento desses cuidados e afeto
ainda se fazem presentes e, por não serem reconhecidos, bem como não
haver uma busca possível de saciamento e ajustamento, ficam roubando
energia de outros aspectos da psiquê e também do corpo.
Isso acontece porque o nosso corpo cria automaticamente a ânsia de se
autorregular e comunicar que algo não vai bem. Assim, se no momento
presente, não há possibilidades de entrar em contato com aquilo que causa a
dor, que é a necessidade não satisfeita, criamos defesas psíquicas para nos
proteger dessa dor. O corpo então encontra uma forma de pôr pra fora aquilo
que está descompensado.
Sim, aprendemos a nos defender, sem nem perceber que o fazemos!
2
O caso mencionado não faz referência a nenhuma pessoa, sendo apenas um exemplo criado pela
autora.
Retomando a definição de defesa do início de nossa reflexão, nos
defendemos daquilo que julgamos ser perigoso e, lidar com nossas emoções
ou com nossos buracos existenciais, por vezes se torna muito difícil por
tamanha dor psicológica que isso pode nos causar. Como forma de
autorregulação, o corpo encontra meios de direcionar essa energia e
transforma em sintoma físico àquilo que teve origem emocional.
A psicoterapia é uma forma que temos de compreender nossos próprios
buracos e nos permitir (com o tempo) a olhar para eles sem temê-los. Ela nos
possibilita olhar para aquilo que nos causa a dor (com o tempo). Ressalto que
isso acontece com o tempo pois acredito que até nossas defesas mais bizarras
tem uma função de ser, não sendo portanto função do psicólogo derrubar
essas defesas e sim, criar um contexto que acolha seu cliente num processo
de fazê-lo compreender e atualizar a função do uso delas, para que assim, o
próprio cliente se dê conta da necessidade ou não de se defender e
ressignifique suas questões emocionais para um possível estado de melhora
tanto mental quanto física.
Referências: