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Joseph Fabry
Tílulo 0riginal: Guideposts to Meaning
Copyright: Joseph Fabry - 1988
1. Logoterapia I. Tílulo
lSBN 85.85009-15-2
CDD-616.89l4
90-l37l ' NLM-WM 420
editorc
AGRADECIMENTO
Joxrph Fulny
ÍNDICE
preocupar-se com os sadios, impedindo-os de se tomarem doentes, . Qual 0 signüicado que estamos buscando?
frustrados, desesperados. Frankl desenvolveu suas idéias por volta Como encontrá-lo?
de 1930 e testou-as durante dois anos e meio nos campos de c0n- Onde encontrá-lo?
centração na Alemanha. Quando foi libertado, em 1945, escreveu
o livroz “Diga sim à vida, apesar de tud0". Sob o título: “Man”s Que é o Significado?
Search tor Meaning”, esse livro vendeu três mühões de exemplares
nos Estados Unidos. Foi traduzido para mais de vinte idiomas, e O signiíicado ocorre em dois níveisz o supremo significado e o sig-
trouxe esperança e coníorto a muitas pessoas. nificado do momento.
Frankl acredita que para encarar a vida de maneüa positiva é preciso Quando procurarmos o significado supremo devemos ter consciência
ter consciência de que a vida tem semido em quaisquer cu'cunstân- de que - mesmo semindo-nos desnoneados - existe uma ordem no
cias, e que temos a capacidade de encomrar esse semido em nossas universo e que nós somos parte dcla. Se tormos religiosos, veremos
vidas. Podemos nos erguer acima das entermidades e dos golpes do essa ordem como ato divino. Se formos human1'stas, veremos essa
deslin0, se pudennos ver sentido em nossa existência. ordem aLravés do prisma da ética ou das lcis da natureza. Se formos
cientistas, encontraremos essa ordem nas leis da Iísica, química, as-
Frankl denomina seu sistema de “logolcrapia” - a saúde alravés do Lronomia, evolução dos seres. Se formos an'islas, poderemos vê-la na
signilicad0. A logoterapia aJuda as pessoas a dizerem sim à vida, hannonia. Se formos ecolog1'stas. veremos essa ordem no equilíbrio
quer seu sotrimento provenha de desajustamentos em suas relaçócs do ecossistema.
humanas, problemas com o Lrabalho, doença, culpa, quer pela mone
de um ente querido, quer por diliculdades auto-impostas como a hi- O supremo signiticado - O signiticado da vida - é-nos inatingíveL E
pocondria, excessiva an^sia por poder, bens mateñais ou prazer. como o horizonte _ por mais que nos esforcemos jamais consegui-
remos alcançá-lo. Contud0, pwa poder dizer sm~1 à vida, teremos que
Este livro descreve as aplicações práticas da logolerapia. Foi escrito buscm o supremo signilicado mesmo que nunca consigamos atin-
não para os que eslão mentalmente enlennos, mas para os quc eslão gi-lo. E ainda que conseguíssemos, e pudéssemos verdadeuamáente
mentalmente em busca de algo. As idéias aqui apresentadas podem dizer: “Eu sei qual é 0 signiticado da vida”, estarímos espm"tual-
ser usadas por psicólogos, conselheLr'0s, assistentes sociais, sacer- mente mortos, pois nada mais nos restaria para tentar obter. O su-
dotes, enlxermeüag professqres - e também pelos lcitores leigos que premo sígniticado é uma questão de té, de suposiçã0, de experiência
desejam ajudar sua famflia, seus amigos ou a si mesmos. Encontrar pessoal. Podemos viver como se a vida tivesse um signüicado e nós
signiticado é o meio mais seguro de superar a alienação, a du'vida, o fizéssemos parte da trama da vida; ou viver como se a vida tosse um
desespcro, o vuio e 0 sentimento de não ter conseguido ating1r' ob- caos e nós as vítimas indetesas.
jetivos. O sígnificado nos auxiliará a tomar-nos a pessoa que diz sim
á vida. Se nos decidxrm'os a buscar o significado de nossa vida tere- Podemos achar desencorajador ler que a vida tem 51'gn1f'icado mas
mos que entrentar três perguntasz que não podemos jamais atingi-lo. Felizmente há um segundo nível
14 UMA BUSCA PELO SlGNlHCADO UMA Bl'SCA PLLO SlUNlHCADU 15
de signifícado que nós podemos e, na verdade, devemos alcançar pa- sentido, tomando decisões, diz FrankL a vida seria um borrão ínex-
ra levar uma existência plena. E o que Frankl denomma o “signifi- pressivo, como o teste de Rorschach, no qum projewíamos qualquer
cado do momento”. signiticado que quiséssemos. Frankl vê a vida como um quebra-
cabeça com uma figura escondida - semelhanle ao desenho de linhas
Frankl ahrm'a que somos indivíduos u'm'cos, que atravessamos a vida confusas formando arv'ores, nuvens, tlores, casas. com uma legenda
numa série de situaçóes únicas e que cada momento oíerece um sen- que diz: “Encontre a bicicleta nesle desenho”. 'l'emos que v1r'ar 0
tido para preencher - a oponunidade para agu' signiticaúvameme. desenho em diversas dLrÀeçóes alé descobm a bicicleta oculta na mis-
lsto pode ser conseguido aLravés do que tazemos, do que sentimos, celânea de Lraços. Da mesma maneu›a, devemos v1r'ar nossa vida em
mas também das atitudes que assunúmos diante de situações de na- todas as direçóes até encomrm 0 signiticado. Estc nâo nos pode ser
gédias ineviLáveis. A única conLribuição que a logotcrapia oterece dado pela sociedade ou por nossos pais. Nem o psiquiatra pode
para a saúde mental é ajudar-nos a ser aquele que diz sim à vida, em prescrevê-lo como se tosse uma pñula. Ele pode descrever respostas
tace de uma tragédia e a encontrar signiticado nas situações mais significativas a nossa situação, mas compete-nos descobrü o que nos
caólicas. é 51'gn1f'icativo.
Existe um vínculo enlre o supremo signüicado e o signíticado do Entre as muitas possibilidades que o momenlo nos oferece, como sa-
momento. Se estivermos cónscios do supremo significado, quer no ber quais são as mais signiticativas?
contexto religioso 0u secular, sercmos capazes de responder signiti-
cativamente às acepções do moment0. porque lemos uma bússola Não podemos ter ceneza. Porém se tivermos ajuda poderemos saber.
interior sempre apomada para 0 significado. Embora nunca ames tenhmos passado pela situação específica em
que nos encontramos agora, milhões de pessoas, no decorrer de mi-
Se não eslivermos cônscios do supremo signüicados 1r'emos resp0n- lhares de anos, passaram por situações similares e encontrmam res-
der às acepçóes do momenlo da melhor maneüa que pudennos, e no poslas significativas Dessas pessoas nós extraímos os valorcs - os
transcorrer de nossa vida u"emos gradativameme aproximando-nos significados universais.
da compreensão desse significado.
A maior pane dos valores moditica-se lentamente, porém os tunda-
Como encontrar o significado mentais permaneccm Em situaçõcs comuns é aconselhável seguü os
valores da nossa cullura. Eles estão ancorados nos mandmentos
Alguns filósolxos. como os existencialistas franceses Sartre e religiosos, nas leis seculc1r'es. nos coslumes, nas regras de consenso e
Camus. declaram que a vida não tem semido, mas que os seres hu- na sabedoria de alguns pensadores, como, por excmplo, no autoritá-
manos precisam conduzir suas vidas de modo significativa Ponanto, rio posilivismo de Kant, na passiva resistência de Gandhi, ou na
nós damos à nossa vida o senlido que escolhermos. Os exislencia- reverência pcla vida, de Schweilzer.
listas alemães, incluindo Viktor FrankL af1rma'm que o sentido exis-
te, e nós temos de descobri-lo. Se déssemos a nós mesmos 0 Hoje os valores eslão em transiçãa Um número cada vez maior de
lÓ UMA BUSCA PELO SlGNlHCADO UMA BUSCA PELO SIGNIFICADO l7
pessoas são incapazes de encontrar o signiticado, seguindo cega- apóio-me em meus valores culturais. mas em certas cxr'cunstâncias
mente os valores tradicionais. Rejcitam os sentidos universais. As posso assumu' a responsabilidade e ouvu' minha consciêncía”.
cdanças rcbelam~se comm os valores de seus pais; as mulheres não
se submetem à sociedade machista dominanle; os treqüentadores de A voz da consciência é um atributo especificameme humano e, por-
igrejas questionam suas doumnas e os Cidadãos desaprovam as leis tanto, como tudo o que é humano, pode falhm. Mas é nosso único
govemamentais. Os homcns estão usando ansiosamente sua liberda- guia pessoal. Jamais teremos ceneza se estamos sendo bem aconse-
de para rejeitar valores trad1'cionais. Estão bem menos ansiosos em lhados. Mas como expressou-se Gordon Allport. “podemos esm
encontrar respostas para 0 sentido que se apresenta no momento. apenas meio-certos, e mesmo assim, sinceros". A maior tmeta da 10-
Não estão nem desejando nem conseguindo encontrar essas respos- goterapia é aguçar 0 ouvido interno, Iorna'-lo mais alerta à voz da
tas. Se rejeitamos os valores tradicionais temos que substituí-los por consciência. Alguns exercícios neste livro têm esta tinalidade.
valores pessoais. ou mergulhamos no caos. Valores e significados
pessoais não são regras moralistas, mas receitas para a saúde. As Onde encontrar o Significado?
conseqüências da ur'esponsabilidade com que lidamos com os signi-
ficados podem gerar neuroses. depressão e suicídi0. O signiticado encontra-se em todos os lugar'es, mas só teremos esta
percepção se estivermos sintonizados com ele. É como a música que
Eis o grande dilemaz aceilar os valores Lradicionais poderá violar ouvimos no rádio; 0 ar eslá replcto de ondas sonoras, mas só pode-
nosso crilério pessoal de significado; encontrar nosso próprio cami- remos escutá-las se tívermos um recept0r.
nho poderá conduzu'-nos à ur'esp0nsabilidade; como reconhecer e
responder ao sentido que o momento nos apresema'? A pesquisa logoterápica estabeleceu que temos um receplor pma en-
trar em sintonia com 0 signitiwda Frankl denominou de espírito
Dlz' Frankl: '“Síga sua consciência na busca do sign1'ficado". Não humano nosso instrumento para encontm o signitiwdu Prccisamos
existe nada de novo na religião e na filosofia. A novidade está na tomar-nos Ciemes de que 0 possuímos, do que cle comém e de como
Medicina, onde a consciéncia é menosprezada, e na psicoterapia na- usá-lo.
dicionaL onde o “superego” é considerado como resultante das in-
tluências tamüiares e sociais que chegam ao m'd1'vídu0 através do 0 espírito humano é uma dimensão especiíicamente humana e c0n-
meio exterior. lém possibilidadcs que outras criuluras não possuem Qualqucr ser
humano é esthuaL pois o espírito é a essência do homem. 1"emos
A logotempia vê a consciência como altamente pessoal, uma espécie um corpo que pode adoecer; temos uma mente que pode comurbm-
de varinha de condão qUP nos ajuda a encontrar 0 sentido em cada se. Mas o espmlto é 0 que somos. É o am^ago de nossa saúde.
situação especíaL A consciência recebe grande intluência da socie-
dade; contudo, temos a liberdade de seguu' nossa voz interior e de Assim como a mente, 0 espírito é invisível; contudo, há uma dile-
até mesmo rejeitar os valores sociais. Um método prático é dizer a rença entre ambos. Na mente somos conduzidos pelas emoções, pelo
nós mesmos: “Para descobrü o significado do momento, em geral instinto e pelas necessidades. No cspírito somos comandantes.
18 LEMA BUSCA PELO Sl(i\¡'ll*l('¡\l)() UI\1/\BLI.S'CAPlzLUSl(iNll<lCAl)0 19
Tommos decisóes sobre o que Iazer com nossas mou'vaçóes. com 1'ARL"'FA ()R1L”Nl› AD'0RA
nosso corpo - scja clc saudável ou não ~ com as circunstâncias nas
quais nos cnconlramos. O cspírllo é a ar"ea da liberdade humana. mas Pma sentirmo-n05 rcalizados, neccssitmos wrclas quc cstqm a
tamoém da sua rcsponsabilidade. Pdr'a levmos uma vida plcna. de- nossu espera, lanto a curto como a longo praLo. Dcvcm scr larelas
vemos assegurmmos de que possuímos um colre com essc tcsouro quc nós cscolhcmos c não que lomos lorçados a exccutar (cmb0ra
espmtum dcmro de nós, e devemos aprendcr como utilizm seu possamos livrememe Concordar cm Iazcr algo quc nos Ioi pcdido).
comcu'do. Compromcrtcr-nos com uma tmela ajuda-nos a livrur-nos das ncuro-
ses e depresso'es, conlona-nos em pcríodos dilíceis e cvila rccaídasu
As riquezas do espírito humano O valor curativo da uma lmcta é ainda maior quundo scnumos quc
unicamenle nós podcmos conscgui-la ou quc somos qucm mclhor
0 espírito humano podcria também scr chamado dc colrc mcdicinal pode íazê-la.
da logolcrap1'a. Assim como acontece com todos os medicamentos.
precisamos descobnr' que eles existem e que devemos aprender como CUNSCIÉNCIA
usá-los. Eles estão livres, c apenas esperando. dentro dc nós. pma
ser ulilizados. Aqui estão algumas riquezas do espírilo humano: Esta é a agulha da bússola que apoma para a direção do signilicado
do r.10mento. A voz da consciêncía é lraca c gcralmcmc abuíada,
mas nossa habilidade para ouvir e obedecê-la podc aliviar angústias
O ANSEIO PELO SIGNIFICADO
c conllitos menlais.
Esta é a u mais lorle motivação pma vivcr e atuar'. ()s homens são AUTOTRANSCENDENUA
seres que buscam 0 signilicada Perceber 0 signiticado de nossas vi-
das Capacita-os a dcsenvolvcr nossas possibilidades c tolcrm as dcs~ É a laculdadc dc 1r' além de nós mesmos, cm ducção a outrus pcs-
venturas. 0 Criador da psicoterapia. Sigmund Frcud, considcrava 0 soas para amar ou a causas pelas quais lular. A uulotrunscendônciu é
desejo do prazer como a mais poderosa torça mou'vadoru. Altred um dos mais tortcs elemenlos Contidos no colre dos mcdicamcnlos
Adlcr. discípulo de Freud (que toi prolessor dc Frunkl). consídcruvu cspírituais. Tem um cxlraordinárío valor lerapêuu'<:o, pois conscguc
o desejo de poder, o mais inlluente incemivo. Ambos são imponan- proporcionar a cura nas horus cm que muis nos semimos dcrrotad()s.
lesz ugmws pmu obtcr prazcr c adquim podcr. Porém, dc ucordo , A _.4
com FrunkL o prazer não é a meta principuL Ele é o sub-produto dc Há muilo tempo, os Alcoólicos Anônimos dcscobrimn quc a mclhor
algo que loi signilkaiivu () podcr nào é o lün cm si mcsmo, mas pessou pma ajudm um alcoólatru, é um alcoólulru rccupcrudo. A
apenas o meio pma alingú um lim que é obtido pelo uso do podcr dc logotcrapm dcscobriu que a mclhor pessoa pm ujudur outra quc cslá
Iorma signiticativa. Us signiliwdos não são nem os subprodulos aLravessando uma crise é a que cslá passundo pcla mesmu crisc
ncm os mcios pmu mcunçm um 1u'n. O sigmlicado é a meta linuL Sc c, upcsar disto, descobríu o signilicudu Viúvas podcm ajudar
nosso unseio pclo signüicudo lor ignorado ou rcprinu'do, nos viu'vas. dcticientes lísicos em cadeírus de rodas podcm ajudm ouuos
senumos vazios. inválidos, pessoas com doenças incuráveis podcm ujudm oulros
.A:àm-. _
20 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA UMA BUSCA PELO SIGNIFICADO 21
pacientes tenmn'ais. Ajudando outras, a pessoa que ajuda pode al- do que alegrias. Mas se eslamos conscientes de que a vida tem signi-
cançar a autotranscendência que é o cammh'o para o sign1f'icado. ticado, e que nos oterece potenciais signilicalivos em qualquer sí-
(Ver Capítulo Nove). tuação, podemos v1r' a ser aquele que diz sim, não importa 0 que nos
aconteça.
AUTODISTACIAMENTO
Temos que aprender a distingu1r' duas cu'cunstan^cias comrastantesz
as que o destino nos reservou - e que nâo podem ser mudadas - e as
É a capacidade de d1'stanciar-se de si pro'pn'o e observar-se “do lado
de fora”. No autodistanciamento, o “eu" espm"tual afasta-se do que escolhemos livremente - e que podemos mudaL E claro que o
“eu” tísico e este é geralmente o pr1m'elr'o passo necessar1"o para a sentido da situação que podemos mudar reside na nossa liberdade de
cura. Enquamo dissermos “sou um tracasso”, será muito ditícil que tazer essa mudança.
nos modüiquemos, pois estamos considerando tracassado o nosso
É menos óbvio para a maioria das pessoas. que o sentido de uma si-
ser de torma mtegraL Se aprendermos a dizer “sou um ser humano
tuação 1rr'eversível também dcpenda da nossa liberdade - não da Ii-
com inúmeras possibüidades, mas no passado cometi erros”, então o berdade de mudar o que não pode ser mudado, mas da liberdade de
tracasso não se toma pane de nós, mas algo que vivenciamos e não mudar nossa atitude perante o inevitáveL Podemos assumü uma ati-
somos obrigados a repet1r'. As doenças tísicas e as emoçoe's, assim tude significativa diante de acontecimentos desoladores. O fator me-
como o medo e a raiva, são panes do nosso corpo e meme, mas na gativo não é ignorad0. porém dm"gido para os canais positivos. (Ver
dimensão es*p1n"tual podemos lutar contra eles. “Nós possu1'mos”, Capítulo Quatro).
como Frankl se expressa, “o desafiame poder do espírito humano",
o recurso vital de nosso cotre medicm'al interior. Nem sempre é tácil discemü a situaçâo que pode ser mudada da que
não pode. A morte, a perda de um membro do corpo, as restriçoe's
HUMOR que acompaham a velhice, as doenças m'curáveis. o divórcio - são
vicissitudes que devem ser aceitas, pois a luta para mudar o imutável
Tnn'ta anos aLra's, Viktor Frankl enfatizou a importan^cia do humor somente nos entraquecerá. Já com relação a problemas pessoais, fa-
na medicina. Recentemente, Norman Cousins redescobriu-0. O hu- miliares ou de trabalh0, não é tão evidente sabemlos se devemos lu-
mor é um meio prático de autodistanciamento, quando conseguimos Iar para resolvê-los ou aceítá-los como se aprcsentam O diálogo so-
achar graça de cenos comportamentos que assumlm'0s. Nosso orien- crático (Cap1'tulo Dois) poderá nos ajudar a fazer a escolha. A busca
tador não n' de nós, mas nos ajuda a acharmos graça de nós mesmos. do signüicado é tundamental para todosz
A busca do significado é um Lrabalho séri0, porém pode ser larga-
meme facilitado através do humor. . para os Jovens que am'da não enconuaram o
. pma os que encontraram 0 signiticado e 0 perderam (a
Como tornar-se aquele que diz sim crise da meia-idade)
. para os que estão enfremando a aposemadoria, a
A vma é dm”'al; causa-nos mais momentos de aborrecimento e angúsüa velhice, a doença e a morte
22 z\|'l.l(*AÇ(-)¡:'S PRÁHCAS DA LOGOFLÃRAPIA UMA BUSCA PlLLO Sl(¡Nll'lCAl)O 23
pma aqueles cujas possibilidades de significado se capítulo quinto até 0 nono, serào discutidus as cinco árcas onde há
alteraram em função de drásticas mudanças de si- maior probabilidade do signitícado ser encontrado e. portanto, as
tuação na vida, tais como: a perda de uma pema, do técnicas a serem ulilizadas scrão mais d1r'etas: autodescoberta, esco-
conjuge, da cwreüa lhaS, unicidade, responsabilidade e aulotranscendência. O Capítulo
pma os angustiados por perda causada por morte, di- Dcz salienta as ulílidadcs c linúlaçócs dos valorcs. Os dois úllimos
vórci0, desemprcgo, aposcntadoria, a<.'idente, doença capítulos Conlêm um guia p4r'a duas siluaçõcs cspccílicasz problemas
. para os que estão se recuperando de um vício Iamiliares e matr1'moni.1'1's, e pdr'a grupos. O apêndicc comém diver-
pma os que estão sofrendo dc depressão ou neurose sos métodos especíticos desenvolvidos por logotc~rapeutas.
pma os que estão entediados com a riqueza (um grupo
relativamente recente).
Não estamos lidando com "pacientes” que estão doentes, nem lida-
do com “clientes" - esla palavra indica dependência de um protis~
sionaL Estamos lidando com dois seres humanosz o que busca e 0
que orienta. O que oriema pode ser um prolissional que se vale de
sua compelência a tim de reslaurm a sau'de, tanto a nível tísico como
psíquico. Na dimensão do espírito, o que busca, assun' como o que
0n'enta, são principulmcntc seres humanos que, juntos, 1r'ão percorrer
0 caminho da descoberta UU signiticado que os lransfommrá naquc-
lcs' que dizcm s1m' à vida.
0 DIÁLOGO SOCRÁTICO
RELAXAMENTO
O diálogo socrático nos ajuda a cncontrar o acesso que nos conduzi-
rá aos recursos esp1.r'itu41"s. E recomendável que estejamos bem dis-
postos antes de começar esse dial'ogo. Se estivennos excitados.
26 APLICAÇÓES PRAnlxlCAS DA LUUOTERÀPIA DlÁLQG o s OCK ÁTICO 27
nervosos, amedrontados ou desanimados, o diálogo deve ser prece- l- Autodescobertz quanto mais descobrimos sobre nosw ver-
dido de um breve exercício de relaxament0. Como preparação para 0 dadeiro ser que se oculta atrás das máscaras protetoras que nos res-
diálogo socrático, um curto exercício de cinco a dez mm'utos costu~ guardam. maior será o número de significados que encontraremos.
ma ser suficientez 2- Escolhz quanto mais escolhas pudermos divisar em deter~
minada situação que nos enconLramos, maiores serão as probabilida-
O paciente senta-se numa cadeüa em posição contortáveL
des de alcançannos o signüicada
pés apoíados no chão, mãos abertas nos joelhos com as
3- Unicídadez Há maior chance de encontrarmos o sígnificado
palmas para baixo. O orientador fala em voz baixa e cal-
em cücunstan^cias em que somos insubstituíveis.
ma; uma suavc música de fundo pode ser colocada. As
4- Rcsponsabmdadcz Nossa vida será mais signiticativa se
três abordagens - visuaL auditiva e cinestésica (sensação
aprendermos a assum1r' responsabílidades quando tivermos a liberda-
corporal) - estão acessíveis para clarear o cammho para o
de de escolha, e aprendermos a não nos sentü responsáveis diante de
inconsciente. Algumas pessoas reagem melhor a um das-
tatos que não podemos alteran
tes estímulos, mas a combinação dos três é geralmente
5- AutoUancende“nc1a." O signüicado nos surge quando ultra-
mais eticaL
passamos nosso egocenLrismo e nos voltamos em d1r'eçã0 aos derrm".
O orientador m'voca 1m'agens de lugares agradáveisz uma
Estes guias, que serão mais detalhadamente discutidos do capítulo
tlorcsta tranqüila, um pôr-do-sol numa praia, um jard1m'
quinto ao nono, podem ser explorados através do diálogo socrático.
todo tlorido (pdr'a os que se identificam mais com a pane
Começamos com perguntas reterentes à situação em que o pacientc
visual); o som de pássaros cantando, o borbulhar de um
se' encontra e, gradativamente, o conduzimos até onde ele deseja
n'acho, uma bela música (para os que preferem a pane
auditiva); e a sensaçâo de estar estendido na terra, mu's-
CthBL Se o problema estiver relacionado ao trabalho, a primeka
pergunta poderia ser: “Como você ganha a vida?” As questóes se-
culos relaxados, sensação agradável de calor ou 0
gum'tes podem m'clu1r':
corpo pcsado (para os que têm inclinação a sensações
Cinestésicas).
. Onde você vê o sígniticado em seu trabalho? No trabalho em si
A tinalidade desse exercício é aquictar a tagarelice de nossa mente mesmo'! Nas pessoas com quem se relaciona? Nos produtos ou
até que encontremos 0 ponto sereno de nosso ínterion Ler um poema serviços que sua empresa fomece? No prestígio que lhe confere?
que desperte os aspectos positivos da vida, também pode fazer pane . Que você faz com o dinheüo que recebe?
desse excrcício relaxante. Se fosse f1'nance1r'amente m'dependente, gostaria de fazer o que
está fazendo agora?
PRIMEIRAS PERGUNTAS . Que outras atividades exerce? Passatempos? Trabalho vo-
luntan"o? '
O diálogo socrático usa cinco guias sugestivos para sondar as ar'eas . Quantas das suas atividades partilha com sua família?
onde existem maiores possibilidades de encontrarmos o significadoz . Gostaria de passm mais tempo junto à fam1'lia?
28 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA DIÁLOGO SOCRÁTICO 29
. Quanto lempo você dedica a ela? E aos seus amigos? . Escolha uma u'nica coisa que gosuma muito de conseguir.
. Faça um graí'1'co assinalando como divide seu temp0. _ Qual seúa seu pn'meu'o passo para atingir essa meta?
. Está satisfeito com essa distribuição? Que preço você cstmia disposto a pagar para alcançar esse
. De que maneüa gostaria de mudá-la? Que você faria em primeíro objetivo?
lugar para mudar a distribuição de seu tempo a fim de poder . Descreva situaçóes cm que você sentiu que o mundo é b0m,
realizar aquilo que prefere? repleto de hannonia e que você é parte dele.
Existe alguma coisa agradável que seja comum a todas essas
Aí estão as perguntas que podem ser usadas no diálogo socrático, situaçóes?
e também as que se seguemz Como você resgataria essa mesma sensação agora, mas talvez de
modo tolalmente diverso'?
. Em que c1r'cunstâncias você se sente bem'? Se tiver dificuldade em _ Quem são seus modelos preteridos?
descrever estas c1r'cunstâncias, relacione uma lista de coisas que Que adnnr'a neles? Você tem algumas das qualidades que eles
gosta de tazer e assinale aquelas que realmente fez nestas últimas tém?
duas semanas. . Poderia adquirir uma das qualidades que adm1r'a em seus
. Quefaria você se sentü bem? modelos?
. Que poderia tazer para crim uma situação em que se semisse Que poderia tazer para adqu1nr" essas qualidades. ainda que tosse
bem'? algo bem simples?
. Que “senur'-se bem” signüica para você? 0 tato de pensar nessas qualidades lhc sugere o tipo de pessoa
. Que 0 1m'pede de tazer o que gosta'? Como poderia superm esses que você é'? Ou que poderia ser?
obsláculos? Quais os seus pontos fortes. Seus talentos?
. No momento você esui com problemas. Fale-me sobre outras De que necessita para realiza'-los?
vezes em que teve que entrentar diticuldades. Quais os obstáculos que tem de enÍr'entar? Como poderia
. Voltando agora para tra's, lembre-se se t1r'ou algum proveito transpô-los?
daquelas situações atlitivas. Aprendeu alguma coisa com elas'?
Amadurcceu? Alguns desses resultados você leria obtido de 0 objetivo da logoterapia é ajudar 0 paciente a sentu'-se bem por
outra manelr'a'? haver encontrado algo que seja signlficatívo para ele, e não mera-
. Você assumiu algum risco para livrar~se do problema? menle algo que lhe proporcione prazer, d1'nhe1r'0 ou poder. De acor-
. Como conseguiu resolver a situação? do com a afirmação de FrankL 0 prazer é o subproduto de algo que
Existem tatos que aprendcu com experiências passadas que foi signíficativo, e 0 d1'nhe1r'o c o poder são meramente meios para
podeñml ser aplicados na sua condição atual'? atingü um fim, porém não a meta finaL Que tipo de coisas signitica-
. Mencione alguns planos que gostaria de executar no próximo ano. tivas poderia o paciente fazer com dinheüo e poder?
E nos próximos três an'os'?
. Que o impede de realizá-los? 0 diálogo socrático não é uma discussão intelectuaL nem uma
30 APLICAÇÓES PRÁTICAS l)A LOGOTERAPIA DIÁLOGU S()CRÁ 1 ILU 31
argumenlação ou manipulação. É ames uma troca de experiências de A palavra~chave pode scr uma Irase. um vocábulo. uma indicação
ensmmlcntos e aprendizagens entre o que busca e o que orienta. não verbaL assim como um súbilo lom de cxcilagão. que insinuc o
Duranle 0 diálogo, o oriemador Lraz à tona idéias e sentimentos do que é rcalmenle .s*1§,›niíicalivo para 0 pac¡'cnlc. ou mcsmo um valor ti-
pac1'e¡1le. através de perguntas baseadas naquilo que 0 paciente diZ - do cm alla considerução e quc sc munitcsta numa crcnça rcligiosa,
“palavras-chave” que 0 orientador encontra nessa conversa. um voto matrimoniaL uma vocação ou um mcro passatempo. Essas
preíerências no signilicado de valores, geralmcnle são ammzenadas
cm nível 1'nconscicnte, e 0 oríentador dcvc ter 0 ouvido muilo agu-
CAPTANDO AS PALAVRAS-CHAVE çudo para ouvir essas alusões que cmergenL As palavras-chave pcr-
mitcm ao oricmador asscgurdr'-se da dírcção a ser scguida, rumo ao
No diálogo socrático 0 oriemador taz mais do que ouvü Com simpa- signif1'cado.
tia, mais do quc expressar compreensão pelos problcmas do pacien-
te. Uma símples manilestação de entendimento. (espelho) sobre HISTÓRICO DE UM CASO
aquilo de que o pacicme está se queixand0. poderá levm 0 paciente
a envolver-se am°da mais protundameme com seus problemas. O diálogo socrátíco. que rclatamos a seguír, passa-se entrc Ana e
seu orientador. Podcmos observm de que tonna 0 oriemador capm
Se o paciente diz: “Ja' não sinto prazer em viver". o orientador que as palavras-chave do que Ana diz, e de que maneira as utíliza para
está aplicando os princípios da logoterap1'a, nunca dirá: "Enlendo ajudar Ana a ajudar~se a si mesma.
bem o que você está sentindo. AiinaL depois de tudo pclo quc pas-
sou..." (expressando compreensão) 0u: querendo dizer que Ana é uma senhora de 55 anos que sotre de depressão e cnxaqucca.
não quer mais viver?" (espelho). Em lugar dc dar' cssus respostas É divorciada. mas seus trés tilhos são bem succdidos nu vida. cla
deverá sugen'r: “'E que me diz sobre todas aquelas tareías cm sua vi- mora numa bela casa. não tem preocupaç(›'cs tinanceiras e sua suúde
da que ainda eslão esperando por você'!" era boa até o surgimento da dcpressã0, há mais ou mcnos um ano.
0rientador: Já houve tcmpo em que você se sentia bcm consigo
Na logoterap1'a, 0 papel que o orientador represenla é bcm mais utivo mesma'?
que em outras tcrapias. Ele ouve com atenção c captu trascs que ex- Ana: Eu diria que no meu tcmpo de cscola.
pressem aspeclos positivos do pacicnte. Deve. Contudo, scr cautelo- Orienludorz Como era sua vida naquelu época que lazia com que
so ao assumü esse pupcl para não tomdr'-se pcrsua51'vo. se sentisse bcm?
Ana: Eu queria scr bailar1'na. liu me via no palc0.
A pemuasão podcrá scr clicaz somentc quando bascada em algo que Orienladorz Quc ucomcceuf
o pacienle lenha dno e que possa sugerír uma dircção correta. A Anaz Apaixonci-mc por Henry. Casamosu live um Iilho upús o
resposlu do orientador devc tundamcmar-sc em alguma paluvra- outro. Não me ar'rcprcndo; vivia ocupadu cuidando das
Chave - uma nmnitestação otimista quc o paciente tcnha dcixado v1r' Criangas. 'l'."nha uma vida boa. chry tinha um bom
à tona. para sugenr uma alitude ou ação positiva. emprego. nós nos d1'vertí.u'nos, viafáva1nos. mas agoru...
32 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA DlÁLOUO S()CRÁ'1 ICO 33
0n”enlador: Que mudou? Anaz Na'o, não posso. Tentei que minhas filhas se interessassem
Anaz Nós nos divorciamos. Uma tilha está morando em pela dança quando eram pequenas, e minhas netas, mas
Massachusetts, outra na Flórida e 0 terce1r'o na Austrália. não consegui.
Tenho qualro netos mas raramente os vejo. Estou agora com
55 anos. sozínha e ninguém precisa de mim.
Mais duas palavras-Chave emergiram desse díálogo - O interesse de
Ana pela dança, e seu interesse em ajudar crianças a serem dançan'-
Durante esse tragmento de diálogo o orientador encontrou uma
nas. Isto toma possivel ao 0n'entador, conduzu' Ana a novas altema-
palavra-chave: Ana demonstrou que a idéia de se tomar bailarina,
tivas sigmt"1'cat1'vas.
havia sido significativa para ela.
Orienladorz Você ainda gosta da dança? Quando estivermos procurando as novas altemativas sugeridas pelas
Anaz Gost0, s¡m'. Assisto a balés com frequ"ência, porém isto me palavras-chave, devemos considerar os Cinco guias para encontrar o
deixa m'ste. Fico 1m'agínando como seria se eu pudesse significado pessoaL discutidos no m'1'ci0 deste capítulo. Geralmente
é mais prático começar Com a ar'ea da escolha.
estar lá em cima, no palco.
0rientador: D1'ga-me o que sente.
Ana: lnveja. Todas as moças são jovens e talentosas, com uma O paciente é orientado a transformar as palavras~chave numa série
cmeka pela trente. Creio que eu era tão talentosa quamo de altemativas e examinar as conseqüências positivas e negativas de
muitas delas, ou talvez amda mais. Nunca saberei. cada opção. O método a ser usado eslá escrito detalhadamente no
Orientador: Não há uma mancu'a em que vocé possa utilizar seu Capítulo Seis. O paciente é encorajado a incluk 0 maior número
amor pela dança, mesmo agora? possível de 0pções, até mesmo aquelas que podem parecer 1m'prati-
Ana: lsso é uma piada. Na minha idade? Na'o, não, minha vida já cáveis. O objetivo é mostrar ao paciente que ele não está encurrala-
se Ioi. d0, que as escolhas são acessíveis.
0n'emador: Algumas coisas se toram. Você não pode voltar à cscola
e ter de novo 18 an'os. Nâo pode ter seu marido de volta, Em seguida, o paciente decide qual das altemativas é a melhor. “A
nem prelender quc seus tilhos tomem a ser pequenos pa~ melhor” não equivalc ser. necessan'amente, a mais agradáveL a mais
ra precisax de você. Comudo, pode usar seu amor pela remuneradora, a que confere maior prestígio (embora prazer, dinhei-
dançzL de torma lsigniíicativm mcsmo aos 55 anos de ro ou prestígio, possam ser um subproduto), mas a que é mais signi-
idade. ticativa dentro da situação que no momento esLá enfrentando. Todas
as Cinco ar'eas de significados são levadas em consideração. É evi-
Aqui o orientador está mostrando à Ana, claramente, a diferença dente que a escolha é o ponto de destaque, porém as outras ar'eas são
enLre as ar'eas designadas ao “destino". e que ela tem de aceitar, e as também 1m'p0rtantes. Relacionamos, a seguu', algumas das pergumas
deslinadas à "liberdade". nas quais ela ainda tem opções de escolha. que se referem à escolhaz
34 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOIERAPIA mÁLooo SOCRÁTICO 35
EnLre as altemativas que você apresentou, sua escolha tinal senão “descrever” o número de altemativas e deixar que o pacieme
expressa sua personalidade (aut0dcscoberta), ou um “dever” que decida quais as que podem ser incluídas na lista.
brota do seu interior?
Sua escolha retlete sua unicidade? Cria uma situação onde você Depois de muitas consideraçóes, Ana fez uma lista que incluía 0
é. até ceno ponto. insubstituível? seguintez
Sua escolha está levando em conta os interesses de oqua pessoa
(rcsponsabilidade)? É prejudicial aos 0utros, ou ao seu relaciona- Um trabalho voluntar'i0 numa escola de dança para crianças
mento com eles? (“Que faria eu la"? Atenderia ao teletone? Cuidaria do arquivo'!
Sua cscolha é u't11' aos que são 1m'portantes pma você, ou a uma Qualquer esludame poderia fazer isso").
causa que quer detender (autotranscendência)? lsto não signitica Ajudar os 1'nstrutores com idéias sobre como cnsinar a dançan
que você não deva ter motivos eg01'stas. Signitica que você está (“Minhas idéias estão superadas. Eles r1n"m de mirn").
cslendcndo seus interesses para inclu1r' outras pessoas e outras Freqüentar cursos para aprender as técnicas modemas de balé.
causas, acima de suas próprias conveniências. Sentlr'á, com isso. (“Estou muito velha para 1r' à escola”).
que a satistação é o subproduto do ato de ajudar o próximo. Abm uma escola de dança. (“Não sou mulher de negócios; m"a à
faléncia”).
Após escolher a melhor opção. 0 paciente prepara-se concretamente Comprar uma escola de dança. (“Nã0 tenho dinheüo suficiente
para exccutá-la. A decisão deve-se transformar em ação. para isso").
í
VÍ Ajudar alunos formados em dança a obter emprego. (“Não tenho
1
! capacidade para isso”).
APLlCAÇÃO DA ALTERNATIVA Encontrar uma garota talentosa que não pudesse pagar uma
i
escola de dança e ajudá-la a fazer carreu'a. (“C0mo encomrm
Durantc o diálogo socrátic0. Ana fez uma lista enquanto procurava essa garota'?”).
os guias para o signif1'cado. Foi encorajada a relacionar as altemati-
vas que incluíam seu amor pela dança e pelas crianças. Ao chegar Ao passarros olhos pela lista, Ana mostrou algum interesse pela u'l-
ncsse ponto ela levantou - como muitas pessoas o fazem - uma série t1m'a altemativa. Então o orientador semiu-se apto a apoiar a escolha
dc objcçõcs do tipo “sim, mas..." Sim, mas já não sou jovem; não e prosseguiu o diálogo socráticoz
cslou a par das atuais tendências da dança; na'o tenho talento para
organização nem par-a ncngociom não conheço cn'anças com aptidão Orientador: Fazer isso nâo requer muito dinheüo e você poderia
para dançan 0 oricntudor pediu à Ana que fizesse uma lista de todas manter contato pessoal com uma jovem que estivesse
ns opçócs que cla conscguisse lembrar. porém que considerasse co- começando a aprender a dançc1r'. como você mesma
mo argumcnlos dc conseqüência negaliva as idéias relacionadas com já esteve um dia.
o "sim, masx.." Ncsta altura do diálogo. o orientador deve ser cau- Ana: (como tentativa) Eu poderia dar a essa jovem a chmce que
leloso. procurando não “prescrever” soluções para as dl'temativas, eu perdi.
36 APLICAÇÕES PRÃTICAS DA LOGOTERAPIA DIÁLOGO SOCRÁTICO 37
On'emador: Faria uma diterença crucial na vida dessa moça. Sua escolha m'clu1'a outra pessoa sem atetar seu limite
Ana: (animando-se com a idéia) Eu poderia poupá-la dos desa- linance1r'o.
ponLamentos que eu tive. Poderia 1r' com ela a algumas aulas. O mais un'portante - a escolha foi clmamente autotranscendcn-
Poderia dar-lhe uns conselhos. Tenho certeza que amda sei te - ao ajudar outro ser humano ela preencheu seu próprio ser.
coisas sobre dança que poderiam ser proveitosas. Slm', é isso
que quero tentarm
Orientadorz Qual seria o pnm'e1r'o passo que você daria? TÉCNICAS DO DIÁLOGO
íõfx
*¡F-ñ'.
Neste ponto do diálogo, o orientador e a paciente estão atravessando Como outras técnicas logoterapêuticas. o diálogo socrático requer
o ázxr rs
a un'portante transição da meta escolhida pela paciente, para a ação. boa dose de 1m'provisação e imuiçãa Existem muitas maneüas de
.'›.-Y
Com dl'gumas sugcstões do orientador, Ana prepaxou uma lista de sondar o inconscieme de uma pessoa. e seu conhecimcnlo oculto so-
maneüas de como encontrar a jovem que ela queria ajudarz Pôr um bre significados pessoais. O dial'0g0 socrático usa cenos métodos.
.n'.r'; ~
4n'úncio no jomal. lr a uma agência de promoção social e fazer in- Entre eles destacmosz
dagações. Ir a escolas de dança. Enta'o, subitamente, Ana amassou a
lista. . relembrar as significativas experiências do passado;
interpretações de sonhos focalizando mais esperanças e anseios
Ana: Não, eu mesma quero encontrá-la. 1'nconscientes, do que traumas reprimidos;
Orientador: E de que manelra' laria isto? . fantasias orientadas e não orienladas para revelar 0 que o
Ana: Tenho bom olho para crianças talentosas. Lria à periferia paciente consídera significativo;
observar as crianças pobres brm'cando. . expeñências sigmñcativas de pessoas que 0 paciente consídera
como exemplos a serem seguidos;
›-.+.:4v
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Ana procurou e encontrou uma menina coreana adotada. E ajudou-a relembraI experiências de máxun'a realização que mostraram ao
4 -.
a m'iciar' sua caneüa de dançan'na. paciente. geralmente como um súbito clarão, que a vida tem
mesmo sentido.
A decisâo de Ana englobou os cinco guias para o signiticadoz
. Ela descobriu 0 que realmente desejava nessa tase de sua vida, RELEMBRANDO EXPERIÊNCIAS
mdependentemente do que seus amígos aprovassem ou do que
seu conselheüo sugerisse. Tanto as experiências do orientador como as do paciente são uliliza-
. Ela percebeu que tmha saídas; que não estava engaiolada dentro das na busca do significado. Se perguntarmos a uma pessoa pessi-
mista: “Quando sua vida teve signiticad0?” Provavelmente a res-
de uma época de sua vida que já não lhe oferecia pcrspectivas.
. Semiu que poderia tazer um trabalho no qual se sentia insubs~ posta será pessimista. De preteArência a abordagem é pergumar':
tituíveL “Qual íoi o tempo em que você se sentiu Ieliz e bcm consigo
38 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA DIÁLOGO SOCRÁTICO 39
mesmo?" A pergunta desperta no paciente renúniscéncias que ele executdr'), e que auxiliasse algum rapu da vizinhança a iniciar uma
vai buscm no passad0. que lhe taçam lembrar expeúências positivas coleção de selos (autotranscendéncia). Estes procedüncntos Ioram os
*-:'- _.=“n-*
e não signüicados positivos abstratos. pequenos passos que levaram Hany de volta à comunidade humana.
Env
ÍTÍY
A segu1r' relatamos parte de um diálogo entre orientador e paciente. A utilização de expen'ências passadas, como base para atividades
Harry. que escolheu viver 1'soladamente, fala sobre sua vida. Even- tuturas. é especialmente proveitosa para pessoas que se senlem ne~
v.
tualmeme ele diz: gativas, vazias, depnm'idas. alienadas, e pma pessoas que eslão eu-
4 4
tediadas por excesso de riqueza.
Harr'y: Nunca me casei depois de ver o que minha mãe tez ao
meu pai. Ele se tomou alcoólatra, me batia muito. Eu era
W~ÍÉÍÚ§H
mau aluno e os garotos caçoavam de mm'1 por não ser bom SONHOS
nos esportes. Se não fosse pelo Tom, não sei como eu teria
.I'¡êm'tã
sobrevivid0. Sigmund Freud dizia que os sonhos são o régio caminho pma o in~
Oricntadorz Fale-me sobre o Tom. consciente. Vlktor Frankl concorda, e vê o inconsciente não só den-
Harryz Tom era um vizm'ho, dois anos mais velho do que eu. tro da dimensão psicológica. como também na dLm'ensa'o espirituaL
Colecionávamos selos, dávamos longas cammhadas pelos como um régio camm'ho que leva a uma tclrra de amplidão ainda
H1$'tórico de mn caso Frankl publicou diversos casos em que 0 sonho toi o régio caminho
para o inconscienta Tony. um compositor que compunha músicas
Betty, uma mulher de 34 anos que não se dava bem com 0 pai, so- populares. para o cinema. sonhou que queria tazer uma ligação tele-
nhou que estava deitada na cama com ele, abraçando-o carm'hosa- tônica, porém o aparelho era tão complicado que ele não conseguia
mente. no que era correspondida. Assustada, ela acordou. Seria pos- discar 0 número correto. Era o telefone de uma mulher para quem,
sível que ela tivesse repnm'ido desejos incestuosos depois de todas no verão passad0, ele havia composto uma música religiosa, que lhe
as rejeiçoe's por que passara desde a infância? Seu pai sempre tivera dera grande satisfação artística. Não havia nenhuma intenção ro-
preferência por seu 1rm“ão mais velho, nunca lhe dedicara muito tem- mântica - o relacionamento deles fora puramente proñssionaL O so-
po, não ficava satisfeito com suas notas embora ela fosse boa aluna, nho não revelava desejos sexuais repnm'idos; representava a voz de
era muito n'gido com ela. e assím por diante. sua consciência que parecia estar lhe dizendoz “Escolha entre ga-
nhar muito dinheu'0 compondo músíca popular, e ganhar menos mas
Uma interpretação logoterapêutica desse sonho, revelou uma expli- compor aquilo que realmente o satisfaz”. Não é de surpreender que
cação d1f'erente. Talvez o sonho estivesse dizendoz “Seja boazinha a escolha do número tenha sido difíciL Em alemão, a mesma palavra
com seu pai, que ele será bom para você”. A jovem telefonou ao pai - wa"hlen - tanto significa discm como escolher.
(ele morava a 300 km de distan^cia) c perguntou-lhe se poderia visi-
Lá-lo - coisa que jamais havia feito. A interpretação logoterapêutica de um sonho pode revelar a mais
profunda razão de uma depressão ou neurose, as causas espirituais
- Que você quer? resmungou ele. de doenças físicas ou psicossomáücas, o caminho que de talo que-
remos seguu' numa situação cont11'tante. Os sonhos Lambém podem
Sob c1r'cunslâncias normais, essa resposta teria sido suficiente para nos trazer mensagens do inconsciente para o conscienle. Frdnkl" re-
1r'ritá-la. Desta vez ela disse que slmplesmentc gostaria de jamar com lata o caso de uma mulher que sonhou ler colocado seu gato predi-
ele. Foi visi'tá-lo, am'da sob o etcilo do 1m'pacto que 0 sonho lhe cau~ lelo, dentro da máqum'a de lavar roupa. Quando ela abriu a porta pa-
sara. e não obstmte a atitude descontiada do pai, ela o Lratou com ra remar 0 gat0, ele estava morto. Ao submeter-se ao dial'og0 socrá-
temura. A paritr de entã0, começou a visitá-lo duas vezes por mês e tico, essa senhora interpretou o seguintez Seu gato favorito repre-
talavam muito sobre seu tempo de 1'n14n'"01'a. Seu 1rm'ão nascera com sentava sua tilha favorita, Joan. A mãe reprovava o estüo de vida de
um deteito no pé, 0 que exigia mais atenção dos pais. Ela era saudá- Joan e constantemente a criticava mesmo diante de outras pessoas. O
vel e bem dotada,' o pai orgulhava-se dela e a estlmulava a t1r'ar no- sonho toi um alertaz “Não lave sua °roupa ínum'a' em pu'blico, ou
tas mais altas, a nm' de tomá-la apta a treqüentar uma universidade, corre 0 risco de perder sua tilha!”
tonnando-se em medicm'a. ou advocacia. Betty começou a enxergar
sua vida de menina. através de outro prisma. Algumas semanas antes Os sonhos têm muitas funções na logoterapia. Podem ser u'teis para
de morrer. seu pai lhe dissez "Estou felíz por termos podido nos re- iniciar um diálogo socrático ou para livrar-nos da apatia. Uma viúva
lacionar como adultos”. A interpretação logoterapêutica do sonho de afastou-se do seu círculo de amizades. Num sonho ela viu um pro-
Bctty, pennitiu que isso acomecessa te'ssor do colégio. por quem sentia grande adm1r'açã0. Contudo,
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42 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA DIÁLOGO SOCRÁTICO 43
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ticou desapontada quando ele citou um pequeno trecho da sabedoría
gregaz "Uma vida não avaliada não vale a pena ser vivida”. So-
Quando o paciente responde, suficientemente motivado pelas per-
gunLas, começam a surg1r' as palavras-chave. Um jovem v¡u-se casa-
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mente no dia seguinte ela percebeu que o professor, no sonh0, havia do, com uma criança, trabalhando como entenneüo no berçdn"'o de
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m'vertido a ídéia; o que na verdade ele estava dizcndo era: “Uma vi- um hospitaL O diálogo socrático pôde, então, ser orientado para dc~
da não vivida não vale a pena ser ava11'ada". Podemos dizer que 0 termmada d1r'eção: de que mane1r'a poderia este rapaz aliar seu de-
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próprio Sócrates ajudou eSsa viúva, que através do diálogo socráti- sejo de const1'tu1r' famfliau com o tremamento que ele necessitma pa-
co, conseguiu realizar-se e encontrar sua d1r'eção a segulr'. ra tomar-se enfermeüdl Nessa época ele estava trabalhando como
vcndedor, serviço que detestava, e embora lhe desse bom lucro, ele
queña abandonar. Estava gastando boa parte de sua renda em bares
FANTASIAS NÁO CONYROLADAS e corridas. Pensou, então, em mamer sua indesejada profissão de
vended0r, a fun' de economizar dmh'e1r'o pma poder voltar a estudar
Os sonhos têm duas desvantagcnsz pr1m'elr'o, não podemos criar um e evemualmeme assumü a responsabilídade de constituir famflizL
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sonho contorme nossa vontade; segundo, os sonhos apresentam~se Chegou à conclusão de que esta meta, a longo prazo, valia esse sa-
_. ._.T._1
. 4-. .';n.
numa lm'guagem sun'bólic'a, düícil de ser interpretada, As famasias, critício lemporar1"o.
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tanto conlroladas como incontroladas, podem ser mais u'teis.
_›.
Um dramático exemplo de diálogo socrático baseado numa fantasia
Para penn1't1r' que as fantasias venham à tona, o paciente deve estar não controlada, f01'-nos fomecido por uma jovem universitán'a. Ela
tranqu"11'o, física e mentalmente relaxado, a f1m' de que as 1m'agens desejava tomdr'-se bib11'otecan"a. quando perdeu a visão em conse-
possam brotm livremente do inconscíente. Qualquer tipo de medita- qüéncia de um acidente com uma arma. Um terapeuta ajudou-a a en-
ção - ou alguns minutos ouvindo uma fita de relaxamento, um p0e- frentar sua preocupação com a cegue1r'a, mas ela ainda semia um
ma lido em voz muito calma - podem ser ulilizados para se conse- profundo desespero em relação ao seu Iquro. Numa fantasia não
guir um estado de quietude. orientada ela se viu como b1'blioteca.r'ia. Um cego aproximou-se dela
e pediu~lhe que lesse para ele. Ela respondeu-lhe que Lambém era
Uma não comrolada fantasia pode ser 0 ponto de partida para o cega.
dial'0go socrático - para aqueles que não vêem sentido na vida, ne-
nhuma meta ou propósito, nenhuma tarefa, nada pelo que valha a Essa jovem disculiu com seu orientador diversas possibilidades que
pena lutaL lsto pode ocorrer com jovens que ainda não descobnr'am ele havia percebido através das palavras-chave. encontradas na tan-
que rumo tomar em suas vidas, com pessoas enfrentando a cn'se da tasia não orientadaz ela queria auxiliar pessoas cegas e am'da deseja-
meia-idade. com pessoas cujas possibilidades de realização pessoal va tomar-se bibliotecan"a. 0 orientador sugen'u algumas idéias, nas
mudardm porque as circunstâncms de sua vida mudaram O 0n'ema- quais essas duas metas poderiam ser combinadas. A jovem decidíu
dor pode estmlulm a fantasia pedindo ao paciente que 1m'agu'1e que ser bibliotecar'ia numa escola para cegos. Com 0 desatio de uma ta~
um ano se passou (0u d01's, ou cinco, etc.). Sem dar nenhuma outra reta autotranscendente. essa moça superou sua depressão. temúnou a
m'strução, dizer algo assu'n: segunda-te1r'a de manhã e você acaba taculdade. aprendeu Braille e foi Lrabalhar como bibliotecan"a numa
de acordar. Descreva onde está e o que vai tazer". escola para cegos.
g
44 APLICAÇÕES PRÁTICAS L|.\ l ('L .U llRAPlA DlÁLOGO SOCRÁTICO 45
Ana, a mulher de meia-idudc que dccidiu aiudar uma jovem que as- construídas pelo homem. Pode Huir serenameme, correr com suavi-
pkava a ser baú'ar1n'a, b.1'scou-sc nu lumasia não orientada para des- dade, ser refrescante, atraente, assustadOL Pode serpentear através
cobrü os meios de atm'g1r' sua metaz 1m'aginou-se percorrendo play- de um prado tlorido ou de uma floresta sombria, deslízar sobre sei-
grounds, conversando com as memn'as, travando amizade com suas xos, chegar a uma planície. a um deseno ou a um pântano.
mae's, convidando-as a sua casa, avaliando seus talentos, selecio-
nando uma garota espec1'a1, contatando a escola certa e acompahan- Uma construção pode representar nossa pessoa. Uma singcla casa de
do essa menma - com apoio humano e f1'nance1r'o - através de sua fazenda ou um palácio. um grande prédio de apanamemos. uma frá-
carre1r'a, até o dia em que ela subiu ao palco pela pn'me1r'a vez. gü choupana, uma encantadora casa de campo, construída por nós
ou por um arquiteto. À sua volLa pode haver um bem tratado jardm
de ñores e plantas, ou um capinzal abandonad0. Uma piscina, um
FANTASIAS ORIENTADAS pequeno quintal ao fundo, uma ar'ea de laser. A conerução pode si-
tuar-se numa tavela, no centro da cidade, no subur'bio ou no campo.
Depois do diálogo socrático ter percorrido caminhos sm'uosos e che- Com um porão (o inconsciente). com poucas ou muitas dependêncías
gado a um ponto de parada, a fantasía orientada pode ser usada. O (a vída consciente), e um sótão (a mente). com vista para um belo
emprego de símbolos e 1m'agens pode facilitar esta técnica. Os pen- jardim ou para um muro branco.
samentos m'dividuais sobre detenninado tipo de colocaça'o, começam
a ser defínidos em termos mais específicos. Muitas 1m'agens podem transnu't1r' signüicados simbólicosz um navio
em alto mar, um celeüo cheio ou vazio. amm'ais mansos ou t'erozes.
Uma Iloresta pode representar uma fonna de enxergarmos nossa vi- veículos (carros, aviões, navios, gôndolas). Podemos m'cluu' muitas
da. Escura, ameaçadora, contusa, ou luxuriante, perfumada, com pessoas numa fantasia oriemada - pai, mãe, companhelr'o. cn'ança,
outeüos e tlores. Sem nenhum camm'ho, ou com um camm'ho clar0, amigo, inimig0, chefe, estranhos.
muitas biturcações, diversos arbustos. Raízes nas quais tropeçamos,
ou morangue1r'os com trutos para serem colhidos. Enquanto a Íantasia não orientada é usada mais etetivamente para
pessoas que não vêem signüicado na vida. a tantasia orientada é
Uma montanha pode representar grandes esforços ou esperanças. mais u'til para aquelas que têm um problema específic0.
Precipícios, nenhum ca1mn'ho, aspereza, medo. Ser convidativa, com
amplos rochedos, rochedos que nos encorajam a galgá-los. Exemplo l: Falta de autoconñança. 0 paciente é orientado rumo a
uma situação que 1r'á fortalecer sua auto-imagem. Para encoraja'-lo a
Um riacho pode representar o curso de nossa vida. Podemos segui-lo começar sua fantasia, o orientador faz sugestões:
partmdo de sua origem - nosso passado - ou acompahando-o até a
sua desembocadura - nosso futuro. Nele podemos nadar, remar, pe- “Você está de pé, num prado coberto de Hores; é dia de sol. o céu
rambulm ao longo de sua extensa'o, sentar à sua margem e observar, está azuL há pássaros cantando. Você comcça a cammhar lemamente
pescan Pode estar cheio de correntezas, ter represas naturais ou pelo prado, em d1r'eção a uma casa. Ao chegar lá. percebe que a
46 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOPERAPIA DIÁLOUO socxÁnco 47
porta está trancada. Toca a campainha mas ninguém atende. Você Você se aproxíma lemamente da figura, imaginando quem poderia
deseja entrar nesta casa. Anda à sua volta, buscando outras portas, ser, mas certo de que é alguém 1m'portante em sua vida, alguém que
até tinalmeme encontrm uma que está abena. Entra c acha-se numa será capaz de fornccer a resposta que você está buscando. Você c0-
sala cheia de gente conversando em pequenos grupos. Você conhece meça a pensar na pergunta que terá de ser respondida, à medida que
todos, alguns são amigos, outros apenas conhecidos casuais. Você se aproxima da tigura. Sabe que só podcrá Iazer uma única pergun-
sabe que eles não podem vê-lo. Surpreende-se ao perceber que lodos ta. Finalmente, você se encontra tão perto da figura que consegue
estão talando de você, e talando coisas boas a seu respeito. Va1'pas- reconhece^-la. Olhe-a de frente, formule a pcrgunta e aguarde ansi0-
sando de grupo em grupo e ouvindo. Que estão eles dizendo?” FÍ samente a resposta. A figura. enlã0, responde. Quem é essa figura?
cieme. Neste exemplo, a pessoa desprovida de autoconfiança é colo- Nessa e noutras fantasias, a orientação não deve ser d1r'etiva. 0
cada num ambienle tavorável (1101es, pássar'os, dia de sol), num ca- orientador ao dizer “casa”, não especitica se é uma mansão, uma
minho detinido em d1r'eção a um lugar na vida (a casa). Um esforço favela, um prédio ou uma cabana. Usa “l'igura” mas não diz se de
"'
restame das 1m'agens é baseado na premissa de que, nas protundezas pelo paciente. fomece palavras~chave que podem ser utilizadas no
“
*
de nosso ser, conhecemos nossos pontos fortes que foram reprimidos prosseguimento do diálog0. Alguns pacíentes vêem a si próprios
e que devem ser Lrazidos à tona. como sendo a figura. lsto mdica que no ínt1m'o eles já sabem a res-
""'.'F'7_
posta à sua pergunta. Outros vêem uma figura religiosa ou uma pes~
A mesma meta pode ser atingida através de outra fantasia orientada, soa muito 1m'portante em sua vida - 0 paL o avô, um amigo ou um
na qual se focaliza o tuneral do paciente, em que unicameme os as- professor. Um senhor viu a figura do avô, que ele costumava ajudar
pectos positivos do falecido são mencionadosz na fazenda, quando era criança. O pacieme estava em dúvida se de-
via ou não abandonar a esposa. O avô lhe dissez “Se você plantar
“lmagine que você está assistindo ao seu próprio emerro. Estão to- um pessegueu'o, nâo espere colher cerejas". Esta resposta tez 0 ho-
g
.›_
cando sua música preterida. Seu guía espm"tual predileto (padre. ra- mem analism o quanto ele poderia esperar que sua esposa mudasse,
bino. conselhelr'o) está louvando sua vm'udes,' pede depois aos pre- e baseado neste argumento, 0 casm procurou resolver seus
-4.<e-w-›
sentes que se manüestem que digam o que lembram de você e por problemas.
que eslão Lristes com sua mortc."
Um outro homem estava desesperado por ter perdido uma pema.
Exemplo 2: Uma düícü decnsa"o que prec15a' ser tomada A resposta Que poderia ele fazer nessa nova situaçãdl Ele viu a figura de um
_W-
está enterrada cm seu inconsciente. Você é conduzido através de professor que ele admüava e que Iinha exercido grande íntluência
nva
ambiemes agradáveis, e solicitado a enum numa ampla sala escura. em sua vida. O protessor estava usando um longo casaco queele le-
_ 4 ._._.'
onde uma lígura é vagamente vísível a distdn"'cia. vantou para revelar que ele também só tinha uma pema. O protessor
48 APLICAÇÃO PRÁTICA DA LOGOTERAPIA DIÁLOUO souun |(f() 49
não disse nada, apenas sorriu. Esta fantasia abn'u o diálogo socráti- gastar d1'nhe1r'o com enfeites que só eram usados uma vez por an0.
co, contirmando que mesmo os m'válidos podem ser grandes profes- ou até mesmo jogados fora.
sores. O paciente e seu orientador conversaram sobre o que um ho-
mem, mesmo sem uma pema, ainda poderia realizar, que to'sse› signi- No diálogo socrático que se seguiu o homem teve uma experiência
ticativo para ele. reveladora! Percebeu que a mensagem contida nos três pacotes era:
'“Brm'que. relaxe, divma'-se! Não scja um trabalhador tanático! Mu'-
sica (Wagner), jogos (monopólio). celebrações (árvores de Natal)”.
Excmplo 3.' Conflilo dc valores. O fundador e proprietan"0 de uma Ele seguiu o aviso de seu inconsciente e sua depressão desapareceu.
próspera empresa, estava sotrendo de fortes dores de cabeça e de-
pressa'o. Estava também com problemas matrimoniais. O orientador
suspeitou de algum conñito entre a devoção do empresan"o pelos
seus nego'cios, e a atenção que vinha dedicando a sua esposa e fi-
EXPERIENACIAS DOS OUTROS
lhos. Numa fantasia orientada. o homem foi conduzido a um porão
escuro (seu m'consciente). Quando seus olhos se habituaram à escu~ Em diferentes épocas de nossas vidas, sempre conhecemos pessoas
ridão, o homem viu que a sala estava cheia de pacotes, uns grandes, que nos serv1r'am de exemplo. Experiências desses modelos podem
outros pequenos, alguns lm'damente embrulhados para presente e ser u'teis no desenvolvun'ento do diálogo socrático, especialmente
outros em jomal e papelão. Foi-lhe pennitido cutucar e sacudü os para pessoas que sotreram alguma perda ou se acham dentro de uma
pacotes, adivinhar o que eles contm'ham, mas não lhe toi pennitido armadüha da qual não vêem escapatón'a. Muitas pessoas insp1r'aram-
abri~los. Depois de lê-los examinado por alguns momentos, ped1r'am- se nas vidas de Helen Keller e Franklin Roosevelt, que tiveram vi-
lhe que escolhesse um deles. Agora poderia levar 0 pacote para uma das signüicativas a despeito de suas deticiências físicas.
sala üumm'ada, no andar de c1m'a e abri-lo. Ficou desapontado ao ve~
rüicar que o embrulho cominha o busto de Richard Wagner. Não fa- Leland SLanford, um construtor de estradas de terro da Calito"mia,
zia sentido para ele, porque não ligava muito para música e menos perdeu seu filho justamente na época em que o rapaz estava pde
amda para Wagner. Pedlra'm-lhe que novamente descesse ao porã0, entrar na faculdade. Stanford resolveu construk uma universidade,
escolhesse outro pacote e Lrouxesse para c1m'a. Nova decepção - o para que outros jovens pudessem treqüemá-la, uma vez que seu tilho
segundo pacote cominha o jogo de monopólio, uma coisa com a qual já não poderia fazê-lo. Recemememe, esta história de Slanlord t*0i
não brmcava desde que seus tühos eram pequenos, e que sempre contada a uma senhora que também acabara de perder o f11'h0, quan-
consíderara uma perda de tempu. Pela terceüa vez pcd1r'am-lhe que do ele ia m'gressar na faculdade. Ela não tinha, é cldr'o, condiçoe's de
descesse ao porão e escolhesse outro embrulh0, mas toi advertido de fundar uma univers1'dade; porém, durante o diálogo socrático, deci-
que esta seria sua úlnm'a oportunidade. Quando ele subiu com o pa- díu que patrocinaria uma bolsa de estudos para que pelo menos um
cote e o desembrulhou. outra decepção. O terceu'0 pacote contm'ha estudante, por ano, pudesse cursar uma carreu'a un1'versitan"'a. Sentiu,
uma arv'ore de Natal de plástico, com enfeites baratos mas coloridos. com isso, que administrar fundos e selecionar candidatos. trouxe
O Natal nunca tivera muito sentido para ele; sempre se arrependia de mais conforto e significado a sua vida.
1
As experiências de V1k'tor Frankl nos campos de concentração m'spi- fardo, e sobre 0 qual não falara durante três anos. Sua esposa havia
raram muita gente a encontrar significados em suas próprias expe- falecido de câncer, após longo período de ente'm1idade. No dia se-
riências análogas - situaçoe's que para eles eram armadilhas das guinte ao enterr0, ele precisou fazer uma viagem aérea. Duranle o
quais não podiam escapaL No dia1'ogo socrático é preciso muito cui- vôo, o avião rompeu a camada de nuvens e atingiu o céu claro. Ao
dado para não menosprezar os problemas do paciente. Muitas pes- ver através da janela 0 brüho da luz do sol, o viúvo sentiu uma su'-
soas, ao d1'scut1r'em sua situação, chegaram a conclusão de quez “se bita explosão de alegria, mas imediatamente sentiu-se culpado por
Frankl pôde sobreviver aos campos de concentração e constm1r' uma esse sentun'ento. Três anos mais tarde, quando ele estava auavessan-
vida signüicativa, também posso encontrw sentido em mm'ha vida”. LÍ do uma fase de depressão, falou a um amigo sobre essa experiência,
L
Uma senhora, CUJO marido a havia abandonado bem na época em Ilá citando-a como uma prova de que havia “algo errado” com ele. Seu
que ela havia perdido o emprego, leu o livro de Frankl, “Man's fÍ amigo disse-lhe que, pelo contran"o, a vida poderia cstar querend0,
Search tor Meaning”. Mais tarde ela comentou2 “Frankl conscienti- f naquele momento memoráveL proporcionaHhe uma prova de que
f
zou-me de que minha lam^pada-pílot0 espm"tual ainda estava acesa”. havia “alg0 certo" com ele, mostrando-lhe que o sol brilha. mesmo
0 dial'ogo socrático pode acender esta lam^pada e fazer com que a por Lrás das nuvens.
vida volte a bnl'har novamente.
Um outro homem falou sobre um incidente que ocorreu enquanto elc
FV~4_V,7.
dm"gia por uma estrada vazia, sentm'do-se alienado. De repente uma
EXPERIÊNCIAS MARCANIEWS
_,. «
raposa começou a atravessar a estrada e então parou na metade. Ele
pisou no freio, 0 carro estancou a alguns metros do animal e ambos.
_.74.~
Uma experiência marcame pode produzu' uma centelha de luz du-
V.
o homem e a raposa se encararam Relembrando esse incidente, ele
rante o dial'ogo socrático. O orientador pode não fazer atlorar estas
contou que naquele momento sentiu-se em harmonia com toda a na~
experiências culmmantes duraule o diálogo. Mas cenameme pode
V_
tureza, com o universo intelr'0.
u
mencionar as mensagens carregadas de sentido que acompanharam
as experiências, quando elas toram recordadas pelo paciente durante
Uma mulher, que estava cega havia dois anos, submeteu~se a uma
o dial'ogo socrático.
cuu'rg1'a para recuperar a visão. Quando seus olhos cicatrizaram as L
:§.I”
0 on°entador deve manter o ouvido aguçado para tais episódios, os
_V,. 4_.,«_.r,
ataduras foram retu'adas. Recordando aquele momento, ela descre-
veu 0 júbüo que sentiu ao olhar para baixo, quando o último curati~
quais são aludidos pelo paciente só de passagem, sem que ele reco-
'
nheça o valor dessas lembranlçasy em sua busca pelo significado. vo foi removido, e ver, pela pnm'eira vez em dois anos, os veios da
made1r'a do assoalho.
Muitas experiências marcmtes passaram despercebidas quando ocor-
reram, mas sa'0, não obstante. eficazes para manter acesa a lâmpada-
É extremameme difícil convencer uma pessoa, com argumentos ra~
piloto espm"tual.
mxmarv
cionais, de que a vida tem sentido sob quaisquer cu'cunstâncias, de Mj
ã
As experiências marcames em geral acomecem em situações doloro- que fazemos pane de um todo e que não eslamos sós, ou de que
existem aspectos positivos em 51'tuaçoe's dc sotr1m'emo. O pacienle.
i l
sas. Um homem relatou um tato que carregara como um pesado
ÂH N'““IÉ.
_ ›.›v"$'y
52 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA DIÁLOGO SOCRÁTICO 53
ao nslanar suas experiências marcantes, pode descobm' mcsperados e Yoder: Vamos olhar para o seu passado. Se ele é uma leia te-
útcis discemlm'entos. cida por uma aranha (Fred usara esta expressão), que
espécie de teia você teceu'? Sua vida parece ser rica
O diálogo socrático pode aLraü a atenção sobre esses mcidentes que em realizações, experiências e relacionamentos.
são desprezados no momento em que ocorrem, ou são logo esqueci- Fred (chorand0): É, creío que sun'.
dos. As mensagens Lrazidas por essas experiências, embora escondi- Yoder: Nm'guém pode t1r'ar de você aquilo que adqum"u. Que
das na d1m'ensão espm"tual, precisam ser ouvidas. Essas mensagens aprendeu afm'al, olhando para o passado. de suas ri-
podem ser evocadas durante o diálogo socrático, e podem ajudar o cas realizações?
paciente a voltar-se para as atitudes positivas. Fred: Eu aprendi, mas mesmo assun' simo-me desanimado e
solitan"o. Uma pane de m1m° está descansando, apron-
RECUPERANDO ASPECTOS POSITIVOS tando-se para dar outro salto na vida, mais tarde.
0 dial'ogo socrático sonda a natureza inconsc1'ente. É nesta d1m'ensão Fred contou a Yoder que leu os relatos de Frankl sobre suas ex-
que encerramos nossos reprimidos ou ignorados anseios por um sen- periências nos campos de concentraçãa
u'do. nossos sonhos e esperanças, nossos objetivos enterrados, nossa
negligenciada auto-esnm'a, e muitos aspectos positivos do nosso eu Fred: Desde que li sobre as expeñências de FrankL fiqueí
. . _.rm
que, em função de experiências m'felizes ou mal compreendidas no pensando nisso a semana toda.
passado._ foram represados. Durante o dial'0go socra'tico, pedaços Yoder: E que pensamentos lhe passaram pela mente?
desses sonhos, objetivos e experiências emergem Cabe ao on°enta- Fredz Pensamentos pessnn'istas, eu dm"a. Vejo-me como seu-
dor apanhar esses pedaços e devolvê-los ao paciente. do, provavelmente, um daqueles que não teriam sobre-
vívido emocional e espm"tualmente, não obstante isto
Hlstó'nco'dcumcaso não seja totalmente verdadeu'o. Tenho algumas espe-
ranças para m1m'. Vejo~me como um dos 99% que não
James Yoder é um logoterapeuta em Kansas City. Yoder fala-nos permaneceram espm"tualmente intatos... como um dos
sobre Fred, um talentoso profissionaL que vinha lutando contra suas que venderiam seus um'a'os para se manterem vivos...
atitudcs de autocensura, sensação de culpa e problemas de pessi- mas 0 fato de Frankl ter demonstrado que alguns não se
mismo. Eis um trecho do diálogo que mantiveram e no qual Yoder comprometeram e ainda assun' permaneceram vivos.
apanhou frases at"1n'nau'vas que emerg1r'am do inconsciente de Fred, prova que podemos sobreviver.
devolvendo-as a tim de que ele se cunscientizasse delas: Yoder: Fale-me sobre esperança. Ouvi você dizer que am'da
tem esperanças.
Fred (dcpois de talar sobre sua vida. que ele descreveu como cheia Fredz Slm', eu me recuso a dar-me por vencido. Porém...
de tracassos e desaponmemos): algumas vezes simo medo de dar (Fred volta a falar sobre casos de rcjeiçãoe amxadllhas').
oquo passo - não tenho certeza se dará certo. Yoder: Como d1z' FrankL todo o mundo tem seu próprio
54 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA DlÁLOGO SOCRÁTICO 55
campo de concentração. Fale-me sobre o seu, e sobre seus Fredz Olhei para a minha própria “ma'quina de torça" (ele colo-
anseios e esperanças. O fato de você estar hoje aqui, dis- cou a mão sobre o pcito). Estava toda enferrujada e cor-
cutindo suas dores, sua liberdade de escolha... suas espe- roída por dentro. Fiquei com medo de tocá~la pois receava
ranças, demonstra que você sobreviveu. ser eletrocutado.
Fred (susp1ra' e sorri): Bem... acho que é verdade. Como eu con- Yoder: Você me falou sobre pessoas que cuidaram de você, so-
segui escapar? Certas pessoas cuidaram de m1m'.
bre reallz°açoe's das quais se orgulhou. Apesar desse so-
nho, e embora você diga que sua máquina está velha,
Fred comentou então sobre um professor do colegial que teve um
que seu “aparelho de força” está enferrujad0, de algum
interesse especial por ele, sobre um padre que o tratou com cann'ho
e compreensão quando o 1rma"o de Fred o levou à igreja e o apre- modo você tem uma energia tlumdo através de você em
SCHÍOU 30 padre COIHO um ment1r'oso. d1r'eçã0 aos outros, e você se ergue acima do seu próprio
sofnm'ent0 e de sua negligência no passad0.
'
Yoderz Ao invés de críticas e julgamentos você recebeu apoio. Fred (chorando): Um fio de prata emerge do meu centro e atinge
Fred (chorando): É. Muito estranhamente, alguns colegas parece
o bosque verdejante. Mas estou com medo de
gostarem de rmm'. lsso me aquece o coração.
ser um destruid0r... Tenho medo de ser o tuba-
Yoderz Que você acha que eles gostam em você?
ra'o.
Fredz Eu sou amáveL tenho um riso contagiame, sou sensível,
tenho senso de humon Há algo de sun'ples e m'gênuo em Yoder: Talvez pelo próprio fato de dizer que teme, que se toma-
m1m', algumas vezes. Não sou do tipo aproveitador (devo- rá 0 tubarão devorador (medo de ser aproveitador),
;..¡
m
rador). mostra o quanto você valoriza tratar os outros com ama-
Yoder: Você está me dlz'endo 0 que não é - “Não sou do tipo bilidade e respeito. O seu medo até explica o valor do
aproveitador”. Fale-me sobre alguma coisa positiva a fio de prata, que está lhe mostrando como deseja viver
_ njzr
seu respeito. sua vida. Êt
Fred: Sou uma pessoa sensível às necessidades alheías. Fredz É mesm'o. Eu não conseguia ver isso tão claramente antes.
Yoderz Pessoas ass1m'têm amigos.
Fredz Eu não sinto que tenho amigos... Tenho medo de receber
apoio e ajuda dos outrosj Tenho medo que me digam “vo-
Este foi o ponto decisivo da sessão. Fred tomou-se receptivo para
cê está querendo muito' ”.
enxergar-se através de um prisma mais positiva Yoder comentou a
Yoderz Apesar dos semlmentos negativos que está me expondo,
respeito desse diálog0: “Os clientes sempre demonstraram a existên-
houve gente que o ouviu, que foi gentil com você, que
cia de pontos positivos e corajosos no meio de seu sofr1m'emo. So-
compartilhou de seu sofnm'ento.
mente por essa sessão eu sabia que Fred se sam"a bem. ao longo do
Numa outra sessã0. Fred contou um sonho no qual queria usar uma seu caminho para a recuperação, transcendendo sua sensação de va-
.
"~\ ' |'
rnle
56 APLICAÇÔES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA DIÁLOGO SOCRÁTICO 57
JSNÍ
Zendo mudanças. Que devo tazer?
-r«~.
ranha seus mo'vcis. Toco mmh'a vitrola alto demais
O orientador tinha condições de sugenr' soluções, pois ele ouvu'a
para ela, e não gosta que eu use a cozmha quando o
›IA.1_
Margmet dizer, sem que ela percebesse o que estava dizendo, que
namorado dela está la'.
0rientador: Todas essas coisas signitícam que ela não gosta de ela queria ticar na casa - que estava disposta a pagar um preço por
v0cê? iss0, e pronta para modüicar sua conduta. A pedido do 0rientador,
Margarelz Eu sei que ela não gosta. Eu lun'po a cozmha e até a Margaret fez uma lista de coisas que ela poderia fazer para persuad1r'
bagunça que ela taz, saio para tumar, mas não 1m'- a proprietan"a a deixá-la ficar. No fun' da sessão ela consegum en-
pona o que eu taça ela sempre encontra algo errado. contrar oito opções.
Ela sabe que eu gosto dessa casa mais do que qual~
- Eis sua lista de preços - disse o orientadon - Qual desses você
quer outra coisa, mas ela quer que eu vá embora. Não
escolhe?
tenho escolha.
58 APLICAÇÕES PRÁTlCAS DA LOGOTERAPIA
Uma das opções era uma rigorosa tabela determinando que, em dias
anemados, todo o serviço da casa deveria ser teito por Margaret ou
pela propn'etar'ia. Cada uma, na sua vez, teria que tazer a hm'peza
mas podia, também, receber 0 namorado nesse dia. 0 “comrato”
dessa tabela contmha acordos sobre tumar, níveis de ruído, e outras
ar'eas de contlito. Capítulo Três
Na sessão seguinte Margaret relatou que a proprietan"a havia feito A desreñexão ajuda-nos a descobnr' o significado em situações onde
algumas modificações, mas que aceitara a proposta. Para celebrar o nos senum'os encurralados em vmude de nossa preocupação com um
contrato, deram uma festinha domm'go, convidaram os respectivos problema. O problema pode ser de origem física, psicológica ou
namorados, e depois ambas hm'param a cozm'ha, juntas. existencial - isto é, um problema de viver no mundo Lal como ele é.
A desreñexão não 1r'a' solucionar um problema puramente t'1'sico, as-
O dial'og0 socrático é geralmente usado em combmação com dois SIm' como a surdez ou a artn'te, mas põde libertar-nos das preocupa~
métodos logoterapêuticos, que scxão discutidos nos próx1m'os dois ções adicionais que aparecem quando pensmos muito a respeito
capítulosz desreflexão e mod1f'icação de atitudes. dele.
se ele conseguisse não pensar num camalcão? Apesar de nunca ter desreflexã0. Contudo, é scmpre recomendável um diagnóstico
pensado nessa estranha criatura, de repente ele não conseguia deixar médico antes de se dar início ao planejamemo logoterapêutico.
de pensar nela. Mas Lão logo Lhe disseram para pensar num eletante,
ele se esqueceu do camaleão.
Sintomas simples
Este é o prmcípio ao qual a desretlexão está subordinada. Se nosso
DISTÚRBIOS DO SONO
problema é causado por excesso de reklexão (o que os logoterapeu-
tas chamam de hiper-retlexão), o remédio é a desretlexão.
Quanto mais atenção dermos aos distúrbios do sono, mais ditícil será
cura'-los. Se estivermos deitados na cama, dcspenos e preocupados
As pessoas hiper-retlexivas levam a si mesmas exageradamente a sé-
em adormecer, bloqueamos 0 mecanismo natural que conduz ao so-
rio. Não apenas elas hiper-reñetem sobre seus problemas, com elas
no. Esta hiper-ret1exão é rapídamente acompanhada pela hiperpre-
também “hiperpretendem” - fixam-se demais na idéia de resolver tensão: queremos domnr', ficamos nervosos porque ainda estamos
seus problemas pcla força de vontade. E é então que uma hiperpre- acordados, e começamos a nos preocupar com os efeitos nocivos que
tensão toma impossível a solução de um problema. A desretlexão uma noite de insônia 1r'ão provocar em nossas atividades no dia se-
fortalece nossa capacidade de autotranscendência - nossa habüidade guinte. Quanto mais pensamos sobre isso, mais nos mantemos des-
de 1r' além de nosso autocenm'smo, em d1r'eção a outras criaturas ou penos e menores são nossas possibilidades de ca1r' no sono.
metas que sejam para nós, mais sign1f'1'cativas.
Conduta2 Como sm'al de parada, d12'emos ao paciente que nosso cor-
Uma hiper-reñexão doentia pode focalizar um um"co sm't01na, como, po consegue, sob quaisquer cu'cunstânc1'as, supnr' um mínimo de h0-
por exemplo, uma perturbação do sono ou uma disfunção sexuaL Ou ras de sono que ele necessita. Em lugar de aborrecer-se por não po-
pode ser uma atitude geml com mlaçao' à vida. Tanto num caso co- der dorm1r', o pacieme é aconselhado a pensar (usando uma espécie
mo no outro, a hiper-ref1exão pode const1'tu1r' um esforço para que de intenção paradoanz “É bom ticar acordado. AfinaL isto é uma
alguma mudança ocorra. Em ambas as situações a desreñexão pode dádíva pelo fato de eu estar vivo. Eu me esqueço de um terço da mi-
dar bons resultados. A desretlexão compõe-se de duas panesz um Si- nha vida enquanto durmo”. Como um guia, encorajamos 0 paciente
a pensar em outras coisas, como, por exemplo, fazer uma retrospec-
nal de parada que coloca um freio na hiper-ret1exão patológica, e
tiva sobre o dia que passou, planejar o próx1m'o t1m'-de-semana, ou
um guia que volte a mente para outros pensamentos. Esta nova d1r'e-
ler uma pequena história imerrompendo nas últ1m'as três págmas pa-
ção cria uma visão do mundo p'ositiva, orientada para o 51'gmf'icado ra 1ma'gina: como a hístória vai termm'ar.
(e não pa.r'a o egocentrismo).
_v7 .
torçado. Se tentamos caça'-lo. nós o afugentamos. As conseqüências
ritmo.
podem 1'nclu1r' a impotência psicogênica, a tnk'gidez e a insegurança
no desempenho sexual; isto tudo leva à tensão durante o encontro Conduta: Aqui o sinal de parada retere-se não à atividade em si, mas
sexual e é quando se instala a disfunção. antes à hiperpretcnsão de agu' corretamentc. Não sc pode dizer às
pessoas que parem de falar, de comer e de andar, mas podemos di-
Condulaz Para esse problema não há sinal de parada mais efetivo do zer-lhes que parem de observm suas funções Íísicas, que são auto-
que uma ordem médica que “proiba a relaça'o” por ceno espaço de máticas, e deíxem que 0 corpo se encarregue delas. Atenção focali-
tempo. lsto anula a exigência por um desempenho sexual. A relação Zada nos guiasz os gagos devem ser aconselhados a prestar atenção
sexual não gerando expectativas, toma sem sentido o esforço de naquilo que estão falando e não como estão falando - observm 0
auto-observação. O paciente é persuadido a explicar ao seu parceüo sentido de suas palavras, o que estão querendo comunicar aos seus
que o médico ordenou uma abstmência temporar1"a. por questões de 0uvm'tes. Pessoas com dificuldades psicológicas em alimentar-se,
sau'de. são instruídas a deixar que a garganta se incumba da deglutição, en-
quanto se concentram na conversa à mesa, ou assistem ao seu pro-
O guia, nessa situação. orienta o paciente a ser amoroso, gentil e grama de televisão preferida Da mesma maneu'a é dito aos dançan'-
atencioso com sua pdr'celr'a, ajudando-a em suas experiências de nos ansiosos, que dêem menos atenção aos seus pés, e mais ao seu
amor, ao m'vés de preocupar-se com ele mesmo. Este procedimento parceüo ou à música.
automaticamente restaura a potência. Quando a disfunção desapare~
ceu, a prescrição de uma abstmência temporan"a já não é mais neces- Elisabeth Lukas, d1r'etora do South German lnstitute 01
san"a nem observada. Esta mudança de atitude e componamento é Logotherapy, relata 0 caso de uma menina que não conseguia apren-
tão eticaz para a trigidez temmina como para a 1m'potência masculi- der a nadar, pois prestava demasiada atenção nos movun'entos de
na. Quando o orgasmo deixa de ser o objetivo da relaçá0, Iem mai0- seus braços e pés. Sua mãe levou um gravador e, enquamo a criança
estava na água, fícava ouvindo suas histórias de fadas prediletas.
res probabüidades de ocoxren
Dentro de poucos minutos a menina toi capaz de nadaL ao som das
Íitas. A pamr' desse momento o gravador torn0u-se desnecessar'io,
porque ela conseguiu romper 0 ciclo de tracasso e hiper-retlexão. Já
OUI'RAS' DISFUNÇÓES FÍSICAS não mais se via como vítima indefesa de seu problema, mas como
senhora da situaçã0.
Mecanismos similares de hiper-retlexào agem em distúrbios psico-
gênicos de atividades físicas autônomas como: falar, mover-se, co- A desretlexão não age tão rapidamente em todas as situaço'es. Pes-
mer. Se prestarmos atenção na mane1r'a que formamos as palavras, se soas que gaguejmam ou tiveram distunções de alimentação por lon-
tomarmos consciência de nossa língua e lábios, corremos o risco de go tempo, devem praticar a desretlexão durante certo per1'odo, ames
ficaI gagos. lgualmente pemiciosa é a excessiva observação dos de serem capazes de superar sua dificuldade. Geralmenle a ajuda de
movun'entos de mastigar e engolü enquanto estamos comendo. ou do um profissional é necessan"a.
4 4. ._ '._ \_ .4_
Z
4
64 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA DESREFLEXÁO 65
Atitudes gerais com relação à vida de trabalho, o que sstá fora de seu controle, ponanto, no domínio do
destino. Nesse caso, a técnica de modüícação de atitudes (que será
Algumas vezes a hiper-retlexa'o não é focalizada num u'nico sintoma, discutida no Capítulo Quatro) será de grande ajuda.
mas numa atitude geral negativa. Uma preocupação excessiva pode
ser provocada por algum acontecun'cnto, geralmente um tracasso, Contudo, o homem desempregado também tem sua are'a de liberda-
porém pode não ter um motivo especiaL Não 0bstante, com ou sem de. O orientador d1r'eciona a atenção desse homem para esta ar'ea -
motivo a hiper-retlexã0 produz um demorado desconfono. para qualquer que seja o potencial onde ele tenha livre escolha. Ele
é encorajado a parar de procurar oportunidades de Lrabalho num
campo que está fechado para ele e buscar guias nas ar'eas que estão
0 GATILHO DA HIPERREFLEXÁO abertas - buscar atividades signükativas e soluções em lugares no-
vos. Isto não resolve seu problema principal (a necessidade de en-
0 divórcio, a perda de uma criança, o rompnn'ento de um relaciona- contrar emprego), mas impede que ele mergulhe em extrema hiper~
mento amoroso, a un'possibilidade de gerar um filho, o fracasso em retlexão ou em outros fracassos, e acabe por desenvolver uma atitu-
de negativa em relação à vida.
encontrm um trabalho satistatório - qualquer uma dessas causas p0-
de se transtormar no gatilh0. Um homem, por exemplo, que acaba de
se especialízar em determinada profissa'o, mas não consegue arrumar A HIPER-REFLEXÁO SEM GATILHO
emprego conveniente. Nada mais lhe m'teressa. Só sabe falar em co-
mo seria se conseguisse trabalhar no campo que escolheu. Culpa
Algumas pessoas hiper-reñetem sobre seu bem-estar. constantemen-
Deus e o mundo pela sua situaça'o, mas nada taz para mudá-la.
te. Isto faz com que essa hiper-ret]exão interfüa em seu bem-estar.
De manhã se preocupam se dormüam bem, se tiveram pesadelos, se
0 pensamento desse homem está focalizado no seu desapontamento, seu desjejum foi nutritívo, se devem ou não 1r' Lrabalhdr'. Quanto
e assun' ele bloqueia sua própria flexibilidade, sua habilidade em mais pensam, menos vontade sentem de enfrentar o trabalho.
responder mais adequadamente à sua situação. Esse homem f1x'ou-se
no seu status quo, da mesma maneüa que o insone se fixa na sua di- Essas pessoas provavelmente responderão a qualquer eventual ob-
ficuldade em pegm no sono. O gatilho para tal hiper-reñexão não servação, levando em conta se o interlocutor pretende insultá-las ou
precisa ser necessariamente uma graÀnde adversidada Até pequenas d1m'1'nuí-las. Elas estão freqüentemente perguntcmdo a si mesmas se
diñculdades podem provocar conseqüências patológicas. estão felizes - e a resposta é que nunca eslã0. Esta atitude estraga a
verdadeka alegña de vivcr e toma o ambiente dessas pessoas o re-
Condutz Quando o gaulh'o da hiper-reñexão é disparado, precisa- tlexo do seu humor.
mos determinar se ele pertence ao domínio do destino ou ao domínio
da liberdade. A desretlexão é aplicada no domínio da liberdade. O Condutzn Se 0 nosso problema for uma hiper~reílexão sem gati-
homem do exemplo que citamos amen'ormente, talvez não tenha lho, somos orientados a não falar negativmente sobre nós mesmos
condiçoe's de encontrar emprego por causa da situação do mercado (sinal de parada). Uma mudança deste lipo ajuda a dissolver a
66 APLICAÇÕES PRÁTlCAS DA LOGOTERAPIA l)!;SRL›l'L[:,\'Á() 67
relacionados ao envelhecun'ento. Fez uma viagem à lnglaterra para abandonado assim como ao seu füho Tom. de 15 anos. Duramc o
recolher intormações sobre seus antepassados e, eventualmente, pu-
dia ele trabalhava, mas ao chegar cm casa, à noite, lamemavzbsc so-
blicar um pequeno livro sobre sua tamília.
bre o que acomecera e pensava no que poderia ter teito para evitar
que isso tivesse ocorrido.
Uma senhora, cujos tilhos haviam saído de casa, só pensava na sua
solidão. Começou a apresentar todo 0 tipo de “simomas" f1'sicos. A Dra. Lukas concluiu que o Sr. S. sotña não tanto pela pcrda da
Foi então que descobxiu que peno de sua casa haviam construído um
› esposa (o casamento não tinha sido 1e*11'z), mas por uma atitudc ne-
campo para refugiados viemamitas. Empenhou-se numa campanha,
í gativa genera11'zada, com relação à vida, provocada pela separação.
junto a v12'1n'hos e amJ›'gos, para angariar roupas e brinquedos vclhos
A Drar. Lukas, após explicar ao seu pacientc como a desrcllcxão
que ela consertava para que os refugiados pudessem aproveitar.
funciona, pediu-lhe que tentasse encontrar algumas atividades que
fossem signiticativas para ele, pois isso u'ia conuíbuü para aliviar
O mundo à nossa volta está cheio dc criaturas com as mais variadas Í
sua preocupação. Embora o Sr. S., extremamente céu'co, não acre~
necessidades. O trabalho voluntan"o pode ser o melhor remédio para í
ditasse que o método tuncionaria. concordou em Iazer uma tcnlativa
a hipocondria. í a cuno prazo - elaborou uma lista de coisas que há muito tempo ele
ÍF desejava fazer, mas nunca conseguu'a. Agora, tcndo mais tcmpo à
noite e nos fins~dc-semana, poderia fazê-las. (Aqui, a ênlase no ne-
Preparar uma lista como substituto gativo - perda da esposa - é substituída pelo positivo - ganho de
n4~
tempo). A Dra. Lukas disse ao Sr. S,, que a sua lista m"a ajudá-ln a
..'“_
Atualmeme a desrellexão tem um campo de aplicaçâo muito mais desenvolver um programa terapêutíco, baseado em atividades que
amplo do que aquele em que toi on'gm'an'amente reconhecido. Uma in'am aliviá-lo de suas preocupações. Depois dc muito cogitur, cle
das razoe's pode ser porque pessoas com mais tempo ocioso, tem aprontou uma lista de quinze atividades que incluíamz consenm o
mais tempo para a auto-0bservação. Anseím por prazer e sentem-se fogão, preparar saladas sotisticadas com maíonese teita em casa,
magoadas se a vida lhes Lraz desapontamentos. Buscam seu “verda- montar um trem elétrico, ajudm seu füho nos deveres de escola. gra-
deu'0 eu” para auto-realizar-se e não percebem que se a auto-reali- var em tita seus progrmas prefeúdos de música.
Zação não tiver como meta taretas significativas, 0 rcsultado scrá
uma excessiva auto-retlexão. Nestes casos, a desrcflexão não é usa- A Dra. Lukas disse ao Sr. S., que todas as tmdes ao Chegm cm casa.
da inicialmcnte com o m'tuit0 dc encontrar uma atívidade especifi- e nos fíns-de-semana, cle deveria sclecionm uma das atividades e
camente 51'gn1t'icativa, mas antea para tentar afastar o indivíduo da executa'-la, mesmo achando que seria bobagem E à noite. mtes de
sua paralisante sensação de vazi0. deitar-se, ten'a que anotar, ao lado da atividadc daqucle dia, Lun com-
ceito de como se sentu'a a respeitoz (+2) para muito bem.' (+l) pma
Para esses m'divíduos, Elisabeth Lukas desenvolveu a “preparaçã0 médio; (0) para ind1'terente; (-l) pma mal e (-2) para muito mal. lsto
de uma lista como substituto”. Em seu livro “Meaningful Living”, deveria ser feito durante duas semanas. A Dra. Lukas explicou-lhe
ela 11'ustra seu método com o caso do Sr. S., cuja esposa o havia que as atividades que lhe haviam sido satisfatóúas sexiam usadas na
70 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA DESREFLEXÃO 71
terapia. O Sr. S. mostrou~se extremamente pcssmn"sta, achando que e nm'guém será capaz dc nos curar completamemc. A verdadeí-
só anotaria (-2), mas concordou em “praticar esse jogo” por duas ra felicidade humana reside na capacidade de esquecermos de
semanas. nós mesmos. Esta verdade é difícü de ser transmitida, atual-
mente, aos homens e mulheres que estão voltados ao egoísmo.
Quando as duas semanas tenmn'aram, ele ñcou surpreso ao perceber lsto faz com que a desreílexão se tome um dos mais düíceis,
que após os três pr1m'elr'os dias suas anotações começaram a oscüar, embora 0 mais 1m'portante dos métodos terapêuticos.
com graduais mov1m'entos para os pontos positivos. Durante os u'lti-
mos cinco dias, ele anotou uma vez (+1) e quatro (+2).
›-r.«.
WI
um estorço (com0 na psicanálise) ou para processos automáticos
atitude desolada da mãe acorrenta scu 1ilho a uma siluação sem es-
-n¡
(como na tcrapia componamemal). O toco da atenção mantém-se peranças. O c1r'culo vicioso é posto em mov1m'ento: a atiludc doentia
atastado das portas trancadas; ele se posiciona diame de ponas
da mãe 1r'á reüetlr'-se no menin0, que passará a dcsenvolvcr proble-
abertas ou que podem ser abenas. mas reais de comportamento ~ problemas que irão coníum'ar' a cren-
ça matema de que seu füho é um desordeüa
Exerc1c1"o: Desenhe uma figura que represente você mesmo, dentro
de uma sala que contém muitas portas. Quais as que estão fechadas Outro exemplo de uma atitude doentia é o caso dc um jovem que
para sempre? Rotule-as com palavras ou sun'bolos. Agora, rotule as após ser despedido de dois empregos, comcnta com dcscspcroz °°Não
que a1n'da não se trancaram Que 6 necessário para abn'-Ias? Qual o s1rv'0 para nada. Meus um'ãos e 1rm'ãs são bem-succdidos, mas eu
pnm'eLr'o passo que você daria para abnr' cada uma dessas portas sou um fracasso”. Seu sentimemo de derrota bloqucia scu csforço
destrancadas? por vcncer - mas apenas um 1n'tenso cxcrcício de força dc vontade
poderá libená-lo de seu dilema.
contortadas. Muitas dessas desgraças não são causadas por enfermi- tristes; porém, corajosamente se confonam dizcndo: “Não es-
dades, mas pela perda de um valor. lsto ocorre quando uma amizade tou perdendo uma f1l'ha, mas gmhando um tilh0". Susan
é rompida, um casamemo tracassa, uma pessoa querida morre, uma Schaub, aluna do lnstituto de Logoterapia. chama essa mudan-
carre1r'a profíssional lermina. E então sent1m'os um grande desapon- ça de atitude de “redecomr' os móvcis de sua mcnte".
tamento, uma arraigada sensação de culpa ou uma substancial perda
materiaL Alguém que tenha sofrido uma perda pode insplr"dr-s-c no
exemplo de outros - as vidas de Franklin Roosevell e Helen
Quando nos encontramos numa situação caótica que tem de ser Keller, por exemplo, para pessoas com deficiéncias tísicas se-
aceita, a sinceridade é necessan"a para que possamos descobr1r' atitu- melhantes. E o significado podc ser encomrado, se nos propu-
des significativas. Frankl cita o caso de um velho médico que, Lrês sermos a servü dc exemplo. Um doente, intcmado numa ala
anos após a morte da esposa. aínda não havia superado sua depres- hospitalar dc pacientes com câncer, depois de saber que não
são. Durame o diálogo socra'tico, Frankl perguntou ao médico, que lhe restava muito tempo de vida, disse ao seu médicoz “Se o
teria aconlecido se ele tivesse morrido antes da mulher. Ele respon- senhor pensa que vou desperdiçar meus u'ltimos meses de vida,
deu que teria sido insuportável para ela. Frankl deu a entender ao está muito enganado". Esse pacieme passou a percomer leilo
médico, que seu sofmn'ento teria sido o preço que ele tivera que pa- por leito. conversando com oquos doentes que já não linhm
gar para que sua esposa fosse poupada. Pela pnm'elr'a vez seu cliente perspectivas de cura. Ajudando-os e ajudando a si mesmo, en-
vislumbrou a possibilidade de um significado em sua tristeza. Essa gajou~se numa atividade que para ele tomou-se signiücat1'va.
mudança de atitude capacitou~o a começar uma busca pelo sígnifica-
Um adolescente comentou: “Acabamos de sepultm nosso avô.
do de sua vida, como viu'vo.
Há meses ele vinha sotrendo de dores; mas quando o visitáva-
mos, ele nos amm'ava. Deu a nós, jovens, um grande presente -
Uma senhora estava desesperada porque seu marido lhe pedira o di-
mostrou-nos como moxrer com dignidade".
vórcio. Ela havia convergido toda a sua vida em tomo dele. Durante
uma noite de m'sôm'a, ela se levantou, vestiu-se e foi dar um passeio Esse jovem conhma o mgumemo de FrankL que uma atitude
por um parque das redondezas. De repente semiu como se um en0r- valorosa provê um importante cmmh'o pma o signilicada Que
me peso tivesse sido t1r'ado de seus ombros. Respüou protundamente podemos encontrar significado em expcriências fáceis de ver.
o ar tresco da noite, ouviu o silêncio e percebeu que esta era uma O que é menos óbvio, e não obstanle amplamentc obscrvado
experiência que jamais tivera nos quinze anos que estivera casada. em psicologia, é a terceüa ar'ea apontada por Franklz podemos
Foi quando se deu conta de que muitas experiências novas se des- encomrax significado, pela mane1r'a como suponamos um so-
cortmavam a sua tr~ente. Sua atenção naquilo que havia perdido foi frimento inevitáveL porque ainda Iemos uma escolha muito
subslituída pelo que ela poderia ter ganh0. importantez
Uma mudança muito comum de atitude é expressa numa frase que se Podemos nos perguntar por que tal tragédia aconteceu conosco
tomou um clichê. Muitas mães, ao casarem uma filha, sentem-se - uma pergunta que não tem resposta e, portanto, Ieva zndesespc'm.
SO APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA
MODIHCAÇÃO DAS ATITUDES 81
nç ~c.:.
que nos encontramos - uma pergunta para a qum podemos encontrar
dade para lutar contra a aproximagão imediata dc um ataquc (exccto
nespostas e, além do mais, conduz à esperança.
tomando medicamcntos que diminuem a intensidadc da dcpressão).
l zsxàñymr
No entanto, essa pessoa é livre pdra' levar uma vida normaJ entre os
Aqui estão alguns modelos de perguntas que podem contxibuk para
períodos de depressão.
a transtormação do desespero em esperançaz
w
. Quem, numa situação dessas, necessita da mm'ha ajuda? As pessoas idosas não podem ímped1r' o aparecimento inevitável das
- Híwu
conseqüências da velhice - a diminuição da audição, da visão, a
. Existe alguém, cujo sotrimcnto eu posso minun'izar?
perda dos amigos que morreram, a aposentadoria forçada e o entra-
. Qual a coisa mais importante que eu posso fazer no tempo de que
quecimento, por exemplo. Mas são livres pma usar seus recursos,
disponho?
Que tipo de coisa eu ainda posso fazer em benefício dos outros? incluindo sua experiência e sabedon'a. 0 d1'dl"ogo socrático pode aju-
dá-las a imcressar-se por expen'ênc1'as e atividadcs significaüvas que
. A quem eu amo e desejo proteger nesta situaçãdl
elas não tiveram tempo de realizar quando eram mais jovens. A mu-
. A quem eu dou amparo?
dança de atitudes pode, em certos casos, ser aplicada juntamente
Exíste algum negócio com alguém, am'da não concluído, que eu
com a desreflexão, embora esses dois métodos apresentem diteren-
possa pôr em ordem?
ças evidentes, contorme assinala a Dra. Lukas, e que relacionamos a
Que conhecmlento ou percepções eu possuo, que podem auxüiar
seguüz
os demais?
Mod1f1'caçao' de Atiulde Dcsreílcxao'
Existe alguma parte da minha dor ou da minha expedência que
posso compartühar para que outros se beneficiem?
A meta é corrigü uma atitudc A meta é rcduw a hiper-refle-
Que tenho eu ainda, que me pemlite nutnr' uma profunda
doentia em relação a um pro- xão doentia com respeito a um
esperança?
blema sobre 0 qual não temos problcma que é auto-induzido
Quais os pr1'me1r'os passos que preciso dar para implementar
controle (d0ença incurável, pela hiper-ret1exão ou pela hi-
minha nova atitude?
morte de cnte querido). pcrintenção (com0 a m'sôm'a ou
disfunções sexuais).
A atenção substitui 0 que está perdido pelo que ainda pode ser recu-
0 resultado esperado é o crcs~
perado; substitui o que está enfermo pelo que ainda é saudável;
cun'ento imerior, aLravés da 0 resultado esperado é 0 cnes-
substitui a ar'ea do “'destin0" pela ar'ea da "liberdade”.
autotransformaçã0. C1m'emo inteúor que é adqum"-
do através do auto~esque-
Uma pessoa quimicamente dependente do al'cool, não tem liberdade
0 caminho é ajudar as pessoas cun'ento.
sobre essa dependência, mas é livre, após um tratamemo de desinto-
a ter uma perspectiva que lhes
xicação, de tomar ou não o pr1m'e1r'o íatídico gole.
possibilite enxergar algo velho 0 caminlw é ajudar as pessoas
82 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA
sabermos quem nós somos. Não quem parecemos ser por detrás das estaremos tendo um vislumbre do signiticada 0 eu que podcmos
máscaras que aprendemos a usar a fim de sermos amados, aceitos e perceber não é meramente o eu que foi descnvolvido no passado,
pvrmw
bem-sucedidos, porém quem verdadeiramente somos em nosso m'ti- mas também aquele que nos empurra cm dircção às nossas mclas.
m0. Desde a m'tan^cia escutamos as vozes dos outros - de nossos Muitos desses vislumbres surgcm incspcradmentc - clcs podem
-'
pais, protessores, amigos e de pessoas que amamos e adm1r'amos. aparecer no meio de uma conversa, enquanto cslamos assilindo a
'.-v_4
Tivemos que agü assun' para viver ou talvez até para sobreviver. uma palestra ou lendo um livro. ou durantc um contato com a natw
Contudo, também precisamos saber quem somos por detrás das ma's- reza ou com algo relacionado à artc c num momemo de mcdilação.
caras que usamos. Algumas máscaras aceitamos, outras rejeitamos,
. -mm
em geral inconscientememe. Precisamos saber, quando estamos res- O diálogo socrático poder ser uma tcmativa pluncjada de captar es-
pondendo ao signüicado que o momemo nos apresenta, se a resposta sas percepções do nosso verdadeüo eu. O diálogo podc scr um ca-
é nossa ou, sem que tenhamos conscíência, a resposta foi aprendida minho d1r'eto ou 1'nd1r'eto para o autoconhccimento.
de nosso pai, mãe, anúgo ou de outra pessoa 1'mportame.
._ . _"v._ -
-. .«
CAMINHOS DIRETOS
, _.._4
Caminhos para o autoconhecimento
_ ..
Algumas vezes o meio d1r'et0 traz rcsultados. A pergunta “Quem é
w
Não é fácü saber quem nós realmente somos. Temos um corpo com você?” é formulada repetidas vezes até que as respostas - depois
suas fraquezas e suas forças. Temos uma psique com seus 1m'pulsos, dos níveis superficiais (“Sou Joe Bloke", “advogado". “marid0 dc
anseios e 1n'stim0s. Nascemos com determmado caráter que tcnde ao Mary”) começam a v1r' de níveis mais protundos (“Sou uma pessoa
ouml"sm0 ou ao pessun'ismo, que pode ser eerovenido ou introvem'- muito vulnerável", “um fracassado, a despeito de pmeccr ulm ho-
do, guiado pelos pensamentos ou pelas emoçoe's. Temos também mem bem-sucedido”. “um etcmo dc~›.'c0nti.1'do"). Dc vez em qumdo
uma personalidade que foi moldada através das experiências por que voltamos às respostas “supert*iciuis" anteriores, e explormnos 0 que
passamos. E temos o espm"to que contém nossa essência e nos capa- se esconde atrás delas: “Adv0gad0 - que isto significa pam você'?
cita a assumk uma postura em relação às lmn"lações de nosso corpo, DinheLr'0? Prestígio? Justiça? Ajudar os desl'.1'vorecidos'?”
psique, caráter e personalidade. Podemos decidü quem somos,
e quem gostanamo's de vir a ser, levando em conta nossos poten- Eis aqui outro caminho direto para 0 autoconhecimentoz Fuçu uma
ciais. lista de adjetivos que descrcvam como você se cnxerga. Ou. melhor
ainda, faça duas listas - uma com as coisas que você gosta cm vocé,
Somos a totalúação de todos esscs aspectos, sendo que o mais 1m'- e outra com as que não gosla. Olhe as listas. Está vcndo algo quc o
poname é o espüita Devemos ticar atentos à voz que emana de surpreende? Qual' dos dois lados toi mais tácil dc escrever - o posi-
nosso espm"t0 e nos conduz ao signüicado. tivo ou o negativo'! Ficou espantado com o númcro de coisas que
aprecia em você? Muitas pessoas ticam adm1r'adas. já que a nossa
Todas as vezes que tivermos um vislumbre do nosso eu verdadelr'o, sociedade nos toma muito mais cientes daquilo que está errado
86 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA GUIAS PARA 0 AUTOCONHECthNTO 87
conosco, do que daquüo que está ccrto. Quais das características Excmploz
negativas você gostaria de mudar? As qualidades indesejáveis tanto Quando perguntada sobre expcúêncius mstes da intdn^'c1'a. Ér'ica
aparecem no lado positivo como no negatív0. Algumas vezcs. o tra- contou esw histón'a: Qumdo tinha quatro anos. cla sabia que sua
ço negativo é o pneço que temos que pagar por alguma coisa posiliva mãe estava esperando ansiosamente uma cnrta dc scu avô. Uma ma-
da qual não queremos abnr' mão: Você não gosta de ser supersensí- nha', Érica viu 0 caneüo na calçada cm frcnte; atmvcssou correndo a
vel e vulnera'vel, mas gosta do seu talento artística Você se dá conta rua e o carteüo entregou-lhc a carta. Ao lcvar a carta para casa, sua
de que para ser am'sta, precisa ter sensibilidade. Ou.' você se inco- mãe castigou~a por ter atravessado a rua. Qumnla anos depois, En'”-
moda que as pessoas abusem de você, mas gosta de ser prestun'oso. ca am'da sentia a decepção. a dor que vívcnciou ao ser punida quan-
No emamo, alguns m'divíduos preferem abusar dos que são presti- do esperava ser elogiada. Tomou~sc uma mulhcr rcservuda e moso-
mosos. Uma coisa leva à outra. sa. 0 diálogo socrático revelou que ela culpava o incidenle com a
cana, pelo tato dc ter-se tomado pcssimista. '“Todus as pessoas são
imbecis” e “lsso pma você é grau'dão" ercm scus ditos prmuetos -
CAMINHOS INDIREIÚS que ela ouv1r'a de seu pai. A “lição" do incidemc 1'nstaldr'd-se em
solo tértiL
Geralmente o caminho m'due'to para o autoconhecmento é 0 mais
et1'caz. Érica e seu oriemador olharam o incideme do ponto de visla do
adulto em que Érica se transtormara. Ela descobriu uma cxplicação
Memónas' da 1nf'anc“la.' Quais são suas memórias mais remotas? Elas
diferente, embora óbvia, sobre o que aconlccera naquelc tão longín~
poderão ser dolorosas, felizes ou embaraçosas. Quais eram suas
Ê,. quo diaz A mãe dc Éñca a castigara como expressão dc umor. Alm-
histórias preferidas, quais os COntOS de tadas, filmes, programas de
vessar a rua correndo era perigoso. c a vida de Érica era muito mais
rádio ou shows de televisão que mais apreciava? Quais as palavras
preciosa do que o receblmemo antecipado da cana.
de sua mãe, de seu pai ou de pessoas 1m'p0rlantes que mais gostava Ê
de ouvu'?
Um incídente desses pode ser responsável por uma inlcliz mudança
Por que você se recorda de episódios banais? Que 1m'portância eles de rumo. As emoções da iníância podem dcsviar nossa vida pan um
Í
l novo atalho, e a racionalidade adulw geralmentc não conseguc Lrazer
tm'ham para você? Am'da são 1m'portames? Qum a sua 1m'ponância
l
nos dias dc hoje? Será que essas lembranças de¡x'aram vestígios im- '-, nossa vida de volla aos caminhos lelizes quc lkorum na época. O cpi-
sódio com 0 carteiro provavclmente não Ioi a única mzão quc lcvou
portantes pma você ser agora 0 que é? Quais são seus valores? Seus ã
anseios e esperanças toram prccnchidos? 1 Éríca a tomar-sc uma mulher dcscon11'ada. mas ccnamcnlc toi par-
i cialmeme responsável pelas máscaras que usou pam proleger-sc. Por
Quais são atualmente suas esperanças? O que antes toi penoso e as- trás dessas máscaras vivia uma mulhcr que há muito tempo ansiava
sustador 41"nda o é? Alguma coisa de positivo emergiu de experiên- por relacionamentos humanos mais próximos. E não era tmdc dcmais
cias negalivas? Você consegue enxergar sentido nessas antigas e - nunca é tarde dcmais para dm u nós mcsmos a oportunidudc de er-
As históñas e os contos de fadas favomos podem ser as chaves para correnteza impetuosa'! um cm'1plo regato? Você podc deixar voar sua
a descoberta do nosso verdadeüo eu, e eles podem nos revelar nos- imagmação e divem'r-se, 1'dentrt'icando-a com: uma c0r. um chelr'0, o
sas mais remotas aspiraçoe's. Qual é nosso conto preferido não é 1m'- sabor de um sorvete, um tecido. uma conerução, uma obra de arlc.
portante. O 1m'portame é como 0 interpretamos. Peguemos “C1n'de-
rela”, por exemplo. Que rcpresema cla para nós? Que algumas pes- A identilicação não é mais do que um passo para sc chegm ao auto-
soas são exploradas? Que até as pessoas mais hum1l'des têm uma conheciment0. O diálogo socrático irá também explorm os motivos
chance'? Que o trabalho ar'duo e a vmude são rccompensados? Que mais profundos que nos levml a essas idcmiticações. Suponhamos
Lransformaçoe's surpreendentes são possíveis? Que milagres ocor- que você seja um camundongo. Que signilica isto para você'? Pe-
rem? Que não devemos acreditm em m11'agres? Que seremos punidos quenez? Esperteza'? Timidez? Repugnân01'a? Uma coruja pode repre-
se ultrapassarmos o prazo estabelecido? Que o desaponlamento sur- sentar sabedoria ou uma façanha noluma. Um esquilo pode repre-
ge quando percebemos que o “baile da vida" não dura para sempre? sentar moderação, economia, vivacidade ou v1'g11'ância.
Que as madrastas são cruéis, mas que no fim acabam perdendo? Que
o príncipe encantado nos reconhecelá mesmo através das máscaras e Podemos bn'ncar de jogo dc 1'dent11'›ic.1'ções, em grupo. Dizcmos co-
dos distarces? As m'terpretaçoe's que escolhermos nos darão algumas mo vemos os outros (um amm'al ou uma llor) e, dcpois. como vemos
vagas noçoe's sobre nosso eu oculto. a nós mesmos. Este jogo propicia a oponunidade para o autoconhe-
cimento, e a chance de aprender como parcccmos aos oquos.
Um retugiado da Europa de Hitler foi aos Estados Unidos sem um
centav0. Este homem adqum"u autocontiança através da recordação Artur era um rapaz quieto e reservado. Os participmtes de um grupo
de seus livros predüetos, que lera quando jovem - Robinson Crusoe, v1r'am-no como uma toupeu'a, um camundongo, um porco~espinho.
de Daniel Detoe, e A Ilha Misteriosa, de Júlio Veme. Quando ele Mas quando chegou a vez de Artur idcnlíh'car'-sc. elc disse que se
era criança, aprendeu com esses dois livros que, mesmo se perder- via como um tigre, movendo-se furtivamentc dcntro da selva, pronto
mos tudo, poderemos reconstruü nossas vidas. Aqui, também, a para atacar.
mensagem nào está nas histórias, mas na interpretação que damos a
elas. Quando o paciente e seu on'emador exploraram essas memórias Que representa um nome'? Outra mancira de aprender mais a nosso
no dial'og0 socrático, procuraram f1x'ar-se no lado positivo, mesmo respeito é explorar como nos sentimos em relagão aos nossos nomcs
no lado positivo de uma experiência negativa. - pnm°elr'o e segundo nomes, sobrenome, pseudôn1'mo. sobrcnome de
solteLr'a, mudança de nomc.
“Se você fosse um anun'al..." Uma outra maneüa de descobrü nosso
autoconceito inconsciente é tentarmos nos identificar com
i
í
um animal ou com um objelo m'amm'ado. Se você fosse um animal, Seu nome sugere aos outros de que on'gem você é'? Como você
í l
qual deles seria? Um camundongo? Um esqu1l'o? Um tigre? Uma se sente com respeito a essa “revelação"? Ele signüica alguma coisa
águia? Se você tosse uma Hor - seria uma rosa? uma violeta? um em sua língua ou em outra língua? Seu nome foi dado em homena-
cáctus? Se você fosse uma massa de água - seria um oceano? uma gem a alguém? Vocé se identüica com essa pessoa? Vocé se
90 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA Gl Yl/\S PARA () AU T()(f()NHlLCH\1L'NTO 91
idcnlüica com 0 seu nomc? De que maneu'a? Você gostaria de ter AmcHeuatQ Pegue alguns lápis creions de divcrsas cores e uma
oquo nome? Você mudou seu nome? Por quê? Qual é seu apelido folha grande de papeL Agora descnhe scu retrato. Não um aqu-rc-
preterido? Qual deles corresponde melhor à sua personalidade? Co- Lrato. mas uma figura abstrata dc linhas, corcs c símbolos que você
mo seus pais escolheram seu nome? Que achou você desse cn'tén'0? vai rabiscando no papeL à medida que elas surgcm do seu incons-
Você satistez a expectativa de scus pais? Você tem seu monograma ciente. Não pensc, apenas dcsenhc 0 que scmc. l)epois comeme os
impresso em papéis? Na cane1r'a? Nos lenços? Por quê? Como você resultados.
se sente quando assina cartas, cheques, documentos? Se pudesse
mudar seu nome com facilidade, que nome escolheria? Como você Após desenhar um auto-rctrato dcsse típo. uma senhora diSSCZ "Es-
se sente quando alguém se esquece do seu nome? E quando escre- tou coníusa. Olhe esta mixórdia dc linhas. São tracas e dcsbotadas c
vem-no emido ou pronuncimmo mal? Estas e outras perguntas si- não levam a nada. E tanto mmom c prcto! Eu gostmn dc tcr Icíto
m11'ares podem ajudar›nos a aprender algo sobre nossa personahdade'. linhas lortcs. que quisesscm dizcr alguma c0isa, c cores vivas -
vermelho e verde”.
CAMINHOS NÁO VERBAIS
O oricmador sugeriu que ela lizessc um segundo desenho. com as
Todos os cammhos para se chegar ao autoconhecun'ento sugcridos lm'has e cores que ela desejasse. “Agora pcndurc estcs dois dese›
amcriormenle, lançaram mão de palavras. Outros caminhos igual- nhos sobre sua cama“, disse-lhc 0 oricmad0r. “c olhc pma eles to-
mente úteis são os não verbais e a utilização das artes. A m'formaça'o das as manhãs, antes de começm seu dia. O primciro rcprescnla sua
revelada pode ser por si só proveitosa, ou m'tensificada através do auto-xm'agem que lhe Ioi imposta cm funçâo de suas cxpcriências
diálogo socra'tico. passadas. O segundo reprcsenta seu pussado submerso que cstá lu-
Fazendo mascams'. Faça uma máscma com papel e cola e pm'te-a a tando para v1r' à tona".
seu gosto. Ou compre uma máscara de papel e adapte-a a sua vonta-
¡ O jogo da lmha.' Esta bn'ncadc1r'a é realizada entre duas pessous.
de. Como se sente usando essa máscara? Gostaria de mudá-la? De Y
arrancá-Ia? Por alguns momenlos ou para sempre? Um homem tez
Você pode jogar com seu orientador ou com quulqucr outra pessoa -
íA
para si uma máscara de palhaço e depois rasgou-a em pedacinhos, ¡ Um parente, cônjuge, amigo. Você olha dc tremc seu parwcko atra-
l
d1'zendo: “T0da a rninha vida eu banqueí o palhaço para chamar a ›, vés da mesa. onde foi colocada uma folha dc papcl enlrc zunbos.
r
atenção ou ser bem recebido, e todos estes anos eu quis scr levado a Vocês se revesam desenhando Iinhas; uma dc cada vez. dc qualqucr
¡
Í
idemüica-se com ele e conversa como se você tosse esse objeto. 1'ndeseJado, baseado numa auto~imagem empobrecida ou docntia. Se
“Eu sou um livro na estame”. “Eu sou a parede”. “Eu sou um co- pudermos quebrar esse modelo, nem que seja por um único momen-
p0". Em seguida, desenvolva seu tema. Por exemploz Como livro, ¡o, poderemos nos convencer de que não somos vít1ma's indelcsas.
você pode ser bonito, encademado em couro, alinhado corretamente Nesse único momento seremos 0 que queremos ser, o que sabemos
- assun' como você se coloca entre seus companheüos de grupo - que podemos ser. Esse salutar mstante de auto-real'ização pode ser o
apreciado, útiL 1'nsp1r'ador, intoxmativo; ou, você pode se sentu' me- ponto decisivo.
nosprezado, entadonho, cobeno de pó, pronto para ser jogado fora.
Como parede. você pode sent1r'-se 1m'portante - pode proporcionar Digamos que você se comporta como um tímido. Todos sabem que
proteção, privacidade, ser um l_ugar onde as pessoas podem expres- você é tímido e esperam que seja tímido. Os “jogos” que você prali~
sar sua criatívidade decorando você; ou, sent1r' que é um obstáculo, cou com seu orientador mostrmam que, no íntimo, você é um ser
um lnm"te, algo que mantém os outros do lado de fora; 0u, sentü que gregan"o. Então você assume um compromisso com seu orienmdor de
é um espaço, munido de ponas e janelas que pemlitem aos demais que, no mínímo em uma situução, você se mostrará audacioso, como
ver e alcançar o mundo exterior. Como um cop0, você pode sent1r'-se sabe que pode ser e nunca teve coragem dc sê-lo.
u't11', receptivo, aberto a todas as possibilidades; ou. ver-se como al~
go fra'g11', vazi0, comum e - dependendo da mane1r'a como se enxer- É claro que não conseguu'a' isso num único grande salto - esta ex-
ga - em pane vazio e em pane cheio. pectativa 1I'á pred1'spó-lo a um desencorajador fracasso. Nem esse
salto deve ser tão pequeno que não chegue a const1'tu1r' um desafio.
Você deve 1r'-se expandindo em d1r'eça'o aos seus objetivos. Talvez
Auto~rea|ização no contrato que fizer com seu orientador, você possa estipular que.
como pr1m'e1r'o passo, a próx1m'a vez que for a uma reunião socidl',
Nos dias de hoje fala-se muíto em "conhecer-se a si mesmo". você Lr'á se apresentar a uma pessoa que não conhece. O segundo
Os exercícios ac1m'a e os dial'ogos socráticos, mostraram~nos passo poderia ser a escolha de um assunto sobre 0 qual' você m sen-
muitos dos nossos aspectos. Quais dos aspectos queremos pôr em tm"a à vontade, ao talar com essa pessoa. O método “como se"
prática? É óbvio que desejamos aqueles que são saudáveis, positivos ajudá~lo-ía a convencer-se de que você tem capacidade de redl'lz'ar-
e signü'1'cativos. se naquüo que considera signiñcativo.
Não é suticiente descobr1rm'os quem realmente somos e sonhar com Se você tem medo de pôr à prova o método “como se". talvez tosse
essa 1m'agem. Temos quefazer algo a respeito disso. Somos capazes, necessan"o tazer antes um ensaio geral com seu 0rientador. Na segu-
sozm'nos, de Lranstonnarmos 0 que somos no que podemos ser. rança da presença de alguém em quem confía, será mais tácü com~
Algumas vezes, no emanto, uma pequena ajuda é necessan"a. portar-se, como gostaria de se comportar na pnesença de estranhos.
Uma torma deste tipo de ajuda é 0 método “com0 se”, desenvolvido E uma pítada de humor ajuda. O humor lhe pennite perceber como é
pelo logoterapeuta James Crumbaugh. Este método é descrito no ridículo componar-se como um camundongo. Por consegum'te, du-
Apêndíce B. Ele nos ajuda a romper um modelo de comportamento rante o ensaio, exagere seu medo e seu heróico discurso bombáslico.
94 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA GUIAS PARA () AIÍIOCUNlll:Cl\.H2N1() 95
Dcpois que aprendeu a nr' de si mesmo, você achará mais tácü en- pergunta pode provocar a respostaz “Eu scmpre mc incomodci por
trcntax o mundo. causa disso". Então o 0n'entador se toma mais cspccíticoz “Dê-mc
um exemplo”.
A auto-reahz'ação, tendo como objetivo um comportamento deseja-
do, também pode ser alcançada através do método “registro”. Supo- '°Eu me candidatcí a um emprego de cnlermcira. Um Lrabalho quc cu
nhamos que você tenha a reputação de ser arrogante. Talvez você desejava muito. Éramos três tinalistas c eu dei uma péssmm impres-
rcalmente use a arrogan^cia como uma máscara para ocultar sua fraca sã0. Conheço a mulher que conseguiu o cmprcgo. Ela não é táo bem
auto-1m'agem, ou para esconder um 1m'pulso de dominan Você resol- quahf'icada quanto eu, mas apresentou-sc melhor."
ve que quer mudar esse aspecto da sua personalidade - que não é
você, verdadeu'amente. Faça um trato com seu orientadon que todas O orientador captou os aspcctos positivosz “Você Ioi uma tm'alista
_ v r-›v_. W
as noites, antes de se deitar, você escreverá duas listas com inci-
pwa um emprego muito cobiçado. Eliminou uma porção dc concor~
-4<
denles que ocorrcram durante o dia. A pr1m'e1r'a lista terá como mu-
rentes. Disse ser melhor qualificada do quc a mulhcr que vcnceu. ls-
so significa que você tem mais confiança cm si mesma do que ad-
loz “Hoje fui arrogante quando eu...” A segunda, “H0je não fui ar-
rogante quando eu...” Depois de executar essa tarefa durante alguns
mite? Ou será que você pretendia ser melhor qualificada do que
realmeme é? - e que. com efeil(), você mentiu? Foí a insegurança ou
dias, descobrüá uma forma de comportamento que você poderá
a honestidade que a impcdiu de conscguir aquilo que al'¡ncjava?
mudaL
Houve incidcmes em sua vida em quc a honeslidade l'oi responsúvel
por uma vitória e não por um fracasso'!
0 papel do diálogo socrático Confonne esse diálogo vai progredindo, a pacicntc pode chcgar a
encontrar a resposta à pergunta inicialz “Já houve um tempo em que
O diálogo socrático é a pane que mais m'11ui no processo de auto- você sentiu insegurança e conseguiu superá~la?" Então a pacieme
reallz'aça'0. O oriemador pode usar alguns desses exercícios e jogos pode voltar-se para uma direção positiva e estabeleccr uma auto-
para esclarecer aos paciemes suas percepções sobre seu eu ocult0. 1m'agem positiva.
Essas percepçoe's podem auxüiar o orientador a encomrar brechas
que, por meio de pcrguntas, possam conduzü 0 paciente a níveis lntroduções aos dial'0gos socráticos podem ser tão van"udas quunto o
mais protundos. são 0 númcro de pacientes e seus problemmz Algumas dcu immdu~
ções que podem levar à auto-realização sãoz
Quando 0 paciente sotre de u'lsegurança, ansiedade e desan^imo, o
dial'ogo pode ser abcno da seguinte maneüaz “Fale-me sobre um Fale-me de algo que goste de faz'cr, e que taz bcm teito.
tempo em que você semiu insegurança e conseguiu superá-la”. Fale-me sobre alguma coisa boa e nova em sua vída.
Fale-me sobre algo que está aprendendo e que scja düíciL
Se não obtiver resposta, o orientador pode tentarz “E quando foi que Fale-me sobre algo que você dcscobn'u recentemcnte a ›e'u
você sentiu insegurança e isso o 1n'comodou?” Provavelmente esta respeito.
96 APLICAÇÓES PRÁTICAS l)A LOGOYERAPIA
Fale-me sobre algo que lhe disscram que você não poderiaTfazen
mas que você fez.
. Fale-me sobre algo que eslá íazendo e obtendo progressos.
. Fale-me sobre uma época em que demonstrou não estar desam-
parado.
. FaJe-me de uma época em que alguém espcrava o máximo de Capítulo Seis
você.
Fale-me sobre algum sentun'ento que lhe foi muito duro aceitaL
Fal'e-me sobre uma experiência que o fez ver as coisas de ma-
neira diferente. GUIAS PARA AS ESCOLHAS
Fale-me sobre uma época em que você se sentiu mais vivo que
nunca.
FaIe-me sobre um tempo em que você conñava em si mesmo.
Fale-me sobre um tempo em que toi düícü pedLr' ajuda, mas A segunda ar'ea onde podemos esperar encontrar sentido é a escolha.
mesmo assun° você 0 tez. Nós sempre Iemos escolhas, mas geralmeme não nos damos conta
Fale-me sobre um tempo em que você necessitava de ajuda e não disto. Na situação em que não vemos cscolhas, onde nos sentimos de
teve. mãos e pés atados, não enxergamos nenhum sentido. Sempre que
Fale-me de alguma atitude que você mudou para poder tomar-se estivermos cônscios de que existem saídas, não mais nos senmcmos
um amigo melh0r. como vítimas indefesas à mercê das circunstâncias, e seremos capa-
. Qual a sua máscara preterída'! Que você está escondend0? zes de perceber o signüicado à nossa volta.
Qualquer uma dessas pergunLas, qualquer um desses exercícios pro-
poslos neste capítulo, ou a combmação de ambos, poderá nos con- Como mencionamos anter1'ormente, precismos d1'stingu1r' as silua-
du7.1r' a uma experiência almejada, a uma maior auto-realização que ções que podemos muddr', das que devemos aceimr'. Como regra, se
abr1ra"o caminho ao novo signüicada não gostamos de uma situação que pode ser mudada. "0 scntido do
momento" é mudá-la. Mesmo numa situação imutávcl tcmos cacolhaz
podemos mudar nossa atitude dianlc do fat0. Aldous Huxlcy dccla-
rou que “A escolha é sempre nossa". Certameme islo se aplica à es-
colha da alitude.
_._
ou devem ser aceitos? As vezes o diálogo socrático pode-nos ajudar
k
é elaborar uma lista de possibilidades. Dessa lista podemos selecio-
a resolver esta questão. naI o que é, pma nós, mais significativa
O logoterapeuta japonês, Dr. H1r'oshi Takash1ma', distmgue as doen- Primeüo descreva seu problema em uma ou duas trascs. Faça dcpois
ças (e situações) que podemos dominar, daquelas com as quais pre- uma listagem das possíveis soluço'es. lnclua as possibilidadcs quc. à
cisamos aprender a conviver. A situação que podemos dominar é pnm°e1r'a vista, parecem inviáveis, e mesmo aquelas que parecem ri-
como uma cobm venenosa que está presa conosco dentro de uma dículas. Em seguida taça uma lista das conseqüências positivas e
MlNHAS POSSlBlLlDADES
Alualmente, em nossa sociedade opulenta e permissiva, muitas deci- Minhas escolhas são:
soe's que estão ao nosso alcance, já o estiveram para muitas gerações Escolha 1
atrás. Podemos escolher nosso colégio, nossa cane1r'a, nosso compa- Escolha 2
nheu'0, nosso estilo de vida. Slm'ultaneamente, o sentido vai mudan- Escolha 3
do no Lranscorrer de nossas vidas. O que parecia importante aos 18 Escolha 4
anos, pode não sê-lo aos 40 ou 60. Continuar numa situação na qual Escolha 5
não vemos mais sigmf'icado, pode acarretar frustrações, neuroses, Escolha ó
depressão, doenças psicossomáticas, somatizações e até suicídi0. E Escolha 7 V
em muitas dessas situações am'da temos oportunidades de mudar.
Conseqüênciasz
O pnm'eu'o passo para a saúde mental é tomar consciência de que Vantagens Desvantagens
temos escolhas. O segundo passo é detenninar o que é mais signüil Escolha 1
cativo para nós naquele momcnto de nossa vida. Escolha 2
Escolha 3
Escolha 4
Passe os olhos pela lista e selecione a altemativa que lhe parecer MlNHAS POSSlBlLlDADB
mais signiticativa. Você pode usar o dial'ogo socrático para auxi-
Mcu problema é: Mcu cmprcgo utual
liá-lo nessa escolha. No dia'logo, considere as quatro ar'eas onde vo-
Mínhas escolhas são2
cê terá mais probabüidade de encontrar semido.
Amooonhecmnm Será que sua escolha representa o seu verdadei- Escolha I __________P__&__________Permanecer
no cmrcvo
ro eu, ou está baseada na resposta “eu devo” - talvez m'consciente - Escolha 2 ____________B__L_____5____Encontrar
outro cmreo como cncnhciro
de uma exigência exterior (de sua ma'e, amigos, sociedade)? Não Escolha 3 T_______p___________§_______omur-me
rofessor dc cn'anas
.'
ficümente você possa ser substituíd0. Escolha 7 T______L_cL______-rabalhdr'
meio eríodo enuanto cstudo
. _2~'
Escolha 8 _________p__Como
0 n-“ 7. mas minha csosu também terá
Responsabmdada Pense no 1m'pacto que sua escolha poderá provo- _q____p______ue
trabalhar meio eríodo
car nos outros.
Conseqüênciasz
m
Amnnansccndcnc^1a.' bembre-se de que sua escolha terá mais proba- Vantagens Desvantagens
Escolha 1
bilidades de ser signüicativa, se ela transcender seus m'teresses pes- Bom salário Connito de valores
Escolha 2
soais. Trabalho mais satis- D__g______iminui'ão
do sulá-
fatório rio
Escolha 3
Exemplo Trabalho satisfatório Ncnhum salário en-
Max era um engenheu'o de 35 anos, casado, pai de duas crianças 5;__uanlo
cstudar
Escolha 4
com 8 e 10 anos de idade. Ganhava um bom salan"o, tm'ha chances _LR___Desesas
ma vívcr Tcnsão na famíliu
de progred1r' e obter benefícios que m'cluíam planos de saúde e pen- estarão cobenas
são. Mas ele detestava seu emprego - a companhia fazia parte de Escolha 5
_W'nhu
esosa toma- Assumir dívidas
uma m'du'stria de armamentos e poluía o meio ambiente. A esposa _g_u_.s_rá
conwd45'cn'am"''
compamlh'ava a preocupação do marido sobre esses dois aspectos do Escolha ó
___Lg_É
um emrco de Não exutamcnlc o
trabalho dele. Ulumamente ele começou a duvidar da escolha que fi-
_&____maistério g___q__ue
eu UCIO
zera em relação a sua carre1r'a. Lamcntava não ter sido professor, Escolha 7
_________g__Leva-me
ao ue _____<¡____RedU'ão
da renda
pois agora ele poderia exercer uma míluência 1m'ediata no desenvol-
Letendo ser muiar ncssc meio
v1m'ento das crianças. Acabou tomando-se 1m"tado e depr1m'ido, pas-
_p___temo
sou a sofrer de m'sônia e começou a bebeL Tudo isso termmou por Escolha 8
afetar seu casamento. Depois de falar com o orientador, Max preen- ________q__Leva-mc
ao uc Certa Lensão na
Max exammou a lista e optou pelo n°- 5. Contudo, após trocar idéias . Gostaria de achar um novo emprego.
com a tamília, decídüam pelo n-° 8. Max, sua esposa e f11'hos, fize- . Posso achar um novo emprego.
ram outra lista, na qual div1'd1r'am os afazeres domésticos. Os resul- . Encontrarei um novo emprego.
tados dessas atividades não toram benéticos só para Max - que ago-
ra tu1h'a uma meta significativa - mas também para sua esposa, que Neste ponto, é hora de dar o pn'me1r'o passo que nos leve da imen-
já estava entediada de ser dona-de-casa, e para as crianças, que ago- ção à realidadc. Eis a lista dos primeüos passosz
ra teriam ocupações sigrúñcativas dentro da família.
. Proourar emprego através de anúncios em jomais.
A busca pelo significado não termina com a elaboração de uma lista. . Colocar meu próprio anúncio.
Uma vez feita a escolha, é preciso dar os pn'me1r'os passos para que . Ir a uma agência de empregos.
ela se tome realidade. Outras listas foram adicionadas. Tanto Max . Perguntax a amigos e conhecidos se eles conhecem algum
como sua esposa, fizeram listas que continham possíveis empregos emprego que me servm"a.
de meio período. As crianças ñzeram listas nas quais elas mesmas Candidatar-me a um emprego numa f1rma' promissora.
escolkúam suas tarefas. Max procurou colegas para informar-se do Enviar dados de minhas pretensoe's a empregadores em potenciaL
que necessitaria para tomar~se professor. Voltou a dorrmr' melhor e
parou de beber. “Eu não tive mais tempo para ficar depnnn"do”, Agora chegou o momento de responder aos anu'ncios, escrever car-
disse ele. tas, comparecer a entrevistas. Se nos sentimos apreensivos ou m'se-
guros, o método “c0mo se” (Apêndice B) pode ser usado. Em resu-
RECONSIDERANDO mo, é assim que o método “com0 se" funcionaz Durante o cuno pe-
ríodo da entrevista, agun'os como se estivéssemos tão seguros como
Max percebeu que estava querendo e podendo fazer uma mudança.
gostaríamos de estar - e, bem no ínt1m'o, estamos. A pnm'eu"a un'-
Ele só não sabia por onde começ.1r'. Algumas pessoas pensam que
pressão que damos, transforma-se numa profética auto-satislação.
não têm forças suticientes para superar uma dificuldade. Estão con-
Quando se trata de autoconfiança, o entrevistador responde à nossa
vencidas de que “na'o podem”. Se pensamos que “não podemos”, o
autoconfiança, e esta resposta reforça esta nossa característica.
dial'0g0 socrático poderá nos condum a lembranças de experiências
passadas, quando “nós pudemos” mudar uma situação indesejada.
Uma tantasia não 0n'entada pode nos levar ao tuturo, onde nos ve-
ENSAIANDO NOSSAS ESCOLHAS
remos numa situação desejada que nos motivará a tentar mudar nos-
sa atual situação. Depois podemols reconsiderar nossa postura nega-
Mesmo depois de termos feito nossa escolha, de estarmos dispostos
tiva diante de uma cücunstância. enfatizando agora seu lado positi-
a dar os pr1m'eu"0s passos e haver aprendido o método “como se”,
vo, como se segue: talvez am'da nâo nos sintamos promos para entrentar 0 mundo, e
tentar. Se isto acontecer, um ensaio geral na forma de logodrama
. Não posso achar um novo emprego.
(ver Capítulo Doze) é proveitoso. No logodrama 0 orientador
. Não quero encontrar um novo emprego.
104 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA GUIAS PARA 0 ALÍ l'()('()\.'l lliCthNTO 105
H
_
adqumr“ sentimentos de culpa. Uma escolha signüicativa é livre e
4.-
responsáveL (Este aspecto de como tazer escolhas será amplamente Siwaçao' d1f1"c11': Se eu pedü o divórcio e casar com meu novo
discutido no Capítulo Oito). amigo, quais serão as conseqüências?
ver.4*â* "'fa
Elisabeth Lukas desenvolveu uma forma sun°ples para ser ut11'lz'ada Conseque'^ncms'
quando lidamos com situaçóes nas quais é 1m'portante levar em con-
Pessoas envolvzdw Positivas Negativas
sideração os sentlmentos clos outros.
Eu
_ T ._ ._ . _. -._ w,-
Meu marido
Silmçab d1f1"cü: Tommy (filho de
10 anos)
Sue (f11'ha de 8
anos)
Rod (meu na-
morado)
Meus pais
106 APLICAÇÓES PRÁTICAS [)A LOGOTERAPIA UUIAS l'¡\kA 0 AUTOCOh'HL'CI'\4llzN l'() 107
Depois de ter escrito as conseqüências positivas e negativas que in- Algumas situaçoe's têm que scr aceitas. Ncsms casos, a cxolha que
cidiriam sobre ela e sobre as outras pessoas - em cada um dos pos~
está aberta para nós é não mudm uma situação scm sent|'du, e gcral-
síveis atos - toi mais fácíl pam ela tomar uma decisão.
mente dolorosa. Contudo, cenamente podemos dcscobrü uma uma-
O diálogo socrálico é de vital un'portan^cia para ajudar pessoas que de signüicativa com respeito a uma situação que, por si só, é doloro-
estão Iazendo uma escolha, numa situação que compona diversas sa e absurda, como qualquer desígnio do dcstino.
soluçoe's. O dial'ogo auxüia o pacieme a explorm seus anseios mais
protundos. Aquí estão algumas sugestoe's para abr1r' e tacilitar esla O sentido que se esconde por detrás do sotruhcnto m°cvitávcl, nem
m'dagação: sempre é 1m'ediatamentc manifesto . Temos que pn'me1r'o passar por
um período de tristeza e aceitaçãa Só emão podercmos nos
. Quais são Mgumas das suas asp1ra'çoe's? perguntarz
. Que taz com que você se sm'ta bem sobre si mesma?
Fale-me sobre alguma decísão düícil que você tomou. - Que eu aprendi com isso?
De que maneu'a você o tez?
Fale-me de uma decísão que tomou e da qual se arrependeu. - lsso me trouxe novas tarefas e desafios?
Que tez a esse respeit0?
Você já precisou voltar atrás em uma decisão? - Tomou-me uma pessoa mais tone, mais perceptiva?
Fale-me sobre alguma decisão que tomou e que foi um desafio -
...'
mas que nem por isso você recuou. - Posso utilizar essa experiência pma ajudar outras pessoas que es-
.r
Falc-me de uma ocasião em que você não percebeu que havia tão passando por situações similares?
te'íto uma escolha, porém dcscobriu que havia.
Em que você gostan'a de scr bem-sucedida? - Será que a maneüa como supono minha situação poderá servk dc
Que você gostaria de haver tentado? exemplo aos demais?
Que você gostdn"a dc fazer um dia, mas até agora não fez?
Fale-me de uma época em que você adiou alguma coisa que - Será que essa experiência me fez dar valor a coisas que eu consi-
deven'a ter sido feita un'ediatamente. derava muito naturais?
Já houve alguma ocasião em que você quis dízer algo mas não
dísse? - Que escolhas eu ainda tenho?
Fale-me de alguma vez que foi-lhe difícil dizer “na'o” mas você
disse.
Fale-me sobre uma máscara que você escolheu mas não gostou. AR'EAS DO DESHNO E DA LIBERDADE
Que você espera que sua profissão ta'ça por você?
FaJe-me se algum dia pane de você quis taz'er alguma coisa, e Em qualquer situação imutável existe uma ar'ea do destino que tcmos
parle quis tazer 0qua. que aceitar. Mas há uma ar'ea da liberdade onde ainda lemos
108 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA GUIAS PARA O AUTO(JONH['LCIN.lENTO 109
Na ar'ca do destmo temos que encontrar sentido através de uma mo- meversível revés do destm'o. A situação resultame desse acomcci-
düicação de atitudes, como foi mencionado no Capítulo Quatro. mento acarretou problemas que apresemaram necessidades de tazzr
Aqui a escolha não é se devemos aceitar ou rejeitax uma situação escolhas. O trabalho do viúvo não lhe de1x'ava muito tempo para
dolorosa, mas sÀe seremos aniquüados pela cruel realidade ou se po- cuidm da casa. As tühas precisavam 1r' à escola, fazer compras. co-
demos nos confonar com anuns aspectos positivos. zinhar e arrumar a cozm'ha. Eles se sentiam como ›c' tivessem que fl-
caI presos numa cadeia, durante os pro'xun'os anos. Pai e filhas scn-
Exemplos tamm-se para discutlr' o assunto, e ñzeram uma listaz
Uma mulher que sotria de um angustiante e m'curável enfisema falou Altemativas Consequc"ncias
como sua doença lmu"tava sua panicipação nos seus afazeres domés-
Licos e nas brm'cade1ra's com as cn'anças. O on'entador perguntou- Positivo Negalivo
lhe: “Se o destmo lhe desse a chance de escolher enLre ficar doente 1. Contratar uma Menos tIabalho Muno' caro
e ter tilhos saudáveis, ou ter saúde e t11h'os que sotressem de enñse- cozinheüa pm nós
ma, por qual das duas altemativas você optaria?” Comer em Menos uabalho Muüo cam
restaurante paranos'
A um senh0r, que perdera a esposa depois de erta anos de casados, . Pai e filhas se Trabalho sena' Cada um tra-
toi perguntadoz “Se você pudesse escolher entre ter perdido sua es- revesaliam dlstn"buído balham sozr'
posa após Lrinta anos de casamento, ou nunca tê-la encontrado nem nas tarefas nho
ter casado com ela, que ten'a preterido? Os três fariam 6 dlas' “liv¡es” Muito anbalho
compras aos sá- pammnso'd1a'
Estas perguntas são hipoléticas, mas podem 11'um1n'a_r o significado bados, cozi-
que se encontra obscurecido por uma situação de dor. Nos casos de nhariam sete
sotrlmentos m'evitáveis, o orientador não pode curar, no entant0, reteições e as
pode confortar o pac1'entc. congelariam
. Parar de comer Nenhum trabalm Moneporma-'
Mesmo nas sítuaçoe's 1m'uta'veis, existem ar'eas de rea.1 liberdade, nas mç'ao'
quais as escolhas podem ser fe_itas e realizadas. Novamente os 6. Lo'nscgun" oonvite Pouoo tIadehO' Petdadosarm'
exemplos são valiosos. de armgo's 305
Depois Ana trocava de cade1ra' e tazia o papel da mãe. Ela ouviu-se FAZENDO UM M05A1'C0 DE SUA VIDA
a si mesma dúendoz “Seu pai toi morto durante a guerra, três meses
antes de você nascer. Eu criei vocês cm'co, sozm'ha. Durante 0 dia Para ver com clareza quais as panes de sua vida que são m'1utáveis e
eu Lrabalhava numa lábrica e de noitc Lrazia roupa para lavar a f1m' quais aquelas em que você ainda lem escolhas, desenhe um mosaico
de ganhar um dinheüo eera. Eu gostaria de passar mais tempo com de sua vida. Não um mapa da sua vida passada. mas um mosaico da
vocé, só que já não tinha mais t0'rças.” sua vida como você a vé agora. Resuma sua vida com símbolos e
cole figuras que representem situaçoe's e pessoas. Com crciom ou
Ana começou a chorar. “De fato, mamãe estava sempre cansada”, canetas hidrográticas de diversas cores, descnhe nos pcdaços dc ma-
disse ela. "Mas era porque nos amava que trabalhava tanto. Morreu saicoz suas primeüas lembranças, scus anos escoldr'es, fatos que lhe
jovem Eu era pequena demais para entender”. causaram impacto. Quantos desses pedaços você desenhou cm cor
escura? Quantos em cores vivas'? As cores escuras estão aglomera~
Uma mudança básica aconteceu no componamento de Ana e no seu das como nuvens tempestuosas? Seus contomos são claros? Dê a
relacionamento com os outros. Os fatos que ocorreram no passado cada pedaço de mosaico um nome, uma recordação. Você vê algum
não mudaram, mas sua atitude em relação ao passado mudou. tipo de padrão realçando sua vida'! Você coloriu anuns episod'ios de
escuro porque sempre os considerou negativow Eles amda estão
Quando eu visitei Viena, mmha terra natal, depois de 27 anos, fiquei realmente escuros? Gostaria de usm outra cor'! Você não pode mu-
surpreso com a Huência com que meu antigo colega, Hennann, fala- dar a posição que eles ocupam em sua vida, mas pode mudm suas
va m'glês, e amda mais surpreso como ele falava francês, italiano, cores. Veja que ainda há espaços vazios cm seu mosaico que podem
espanhol e russo, e estava aprendendo ar'abe. Ele era advogado e ser preenchidos. Estes são sua ar'ea de liberdadc. Você não pode re-
não t1nh'a nenhuma necessidade especial de saber outros idiomas. fazer o quadro 1'nte1r'o,' mas é bom observar 0 que ainda pode tazeL
Ele lembrou~me de que nosso professor de francês freqüentemente
lhe dizia que ele não tinha talemo para aprender línguas. Este tipo
de experiência é, para muitas pessoas, um obstáculo ao seu desen- A SACOZA DO SEU PASSADO
volviment0, um engano que nào pôde ser desteito, cometido por al-
guém, no passado. Hermann - embora não conhecesse este termo - Pegue uma sacola e encha~a com tiras de papel nas quais vocé mas-
usara seu “desatiante poder do espln"to". Durante 27 anos meu ami- creveu tr'ases curtas, signilicando Iatos que ocorrcrml no seu pussa-
go havia trabalhado para provm que nosso protessor de trancês es- do, assim como:
tava errado, para provar que eldrealmente tm'ha talento para línguas.
Do mesmo mod0, muitos m'divíduos vivem suas vidas desejando episódios Lristes da inlância
provaI aos seus pais - monos ou vivos - que o julgamento negativo momentos telizes
que t1z'eram estava enada Muitas dessas pessoas alcançam sucesso pr1m'elr'as recordações
precisameme na ar'ea em que seus pais haviam predito que elas m"am experiências atuais que o fazem lembrar seu passado
tracassan algo de que você se orgulha
114 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA
Você pode acrescentar qualquer coisa que lhe pareça 1m'portante. Capítulo Sete
Pode, também, dramatizar este exercício, grudando t1r'as de papcl em
pedras aproptiadas - há pedras que são grandes, pequenas, lisas, ás-
peras, preciosas, comuns.
Pegue dcpois um papel (com sua respectiva pedra) de cada vez, e GUIAS PARA A UNlCIDADE
Iale (ou pense) a respeito do episódio, e dos seus atuais sentlmentos
em relaçâo a ele. Sua avaliação sobre o episódio mudou? Algo de
bom toi extraído de uma experiência negativa? A un'ponância do 0 Significado Através da Unicidade
tato dunm"uiu? As sensações boas intensificaram-se? Uma experiên-
cia ru1m' perdeu o ar de tragédia? O que você veio mantendo em se- A unicidade é a terceüa ar'ea onde podcmos encontrm signüicada A
gredo am'da vale a pena ocultar? Você vai notar que, no passado, busca do signüícado através da unicidade é diterenle daquela que
» ata
você mudou suas at1'tudes, que pode se surpreender com atitudes que conduz a reveladoras experiências de auloconhecm'1ento. Nossa um-
ad0t0u, e que aLn'da tem ar'eas de liberdade para suas atitudes em re- cidade toma-se evidente não tmto pclo que somos, como pelo
lação aos eventos do passado. que representamos de imponantc para outras pessoas ou em cenas
situações.
Se você está disposto a buscar sigmf'icad0 numa mudança de atitude,
talvez necessite acompanhar essa mudança com uma ação. Quem sa- Uma situação como um emprego, por exemplo, ondc nos sentimos
facilmente substituíveis por outra pessoa - ou até por uma máquina
be você não consiga esquecer, mas pode perdoaL Fazer as pazes
- não nos parecerá signiücativa. Nós encomrmemos sentido em si-
com um antigo imm1"go. Quebrar um velho padra'o. Começar algo
tuações em que nos sentimos únicos. É clmo quc ninguém é com-
novo que jamais você pensou que consegum"a fazer. Escolhas - em
pletamente insubstituíveL mas existem c1r'cunstâncias em que o tato
ação ou atitudes - geralmente são um risco a ser assumido.
de exisumos ou não, taz ditérença
uma colagem, do nossa jeito. Nossas criações podem não ser obras- W11'l, um senhor de 80 anos. que havia acumulado uma lortuna em
pnm'as nem venccdoras de prêmios, emretanto são nossas, unica- suas transações comerciais, expressou dúvidas se' sua vida linha va-
mcnte nossas. Um protessor de zoologia expressou a certeza de sua lido a pena. Ele sempre menosprezara os mislas e agora, seu único
um'cidade, quando colegas lhe perguntaram por que ele “perdia" seu
tilho que se lomara poeta embora sem grande êxilo, era obviamentc
tempo colecionando pedaços de madeka e couro, com os quais ele
feliz. Então um amigo mostrou-lhc que elc lora cn'au'vo em seu pró-
confeccionava pequenos amma'is, ao m'vés de dedicar seu tempo a
pn'o campo - ele construüa seu negócio usando a una'gínação, pro-
pesquisas séúas em zoologia, publicando depois suas descobertas.
porcionara trabalho para centenas de pessoas e produ21ra' bens de
Ele respondeuz “Qualquer projeto de pesquisa que eu fizer, poderá pnm'e1r'a necessidade. Enquamo Will cscutava seu anu"go. sua vida
ser feito por outros zoologistas. Mas eu sei que se não juntar estas toi retroativamente inundando-se de signiticados que alé então elc
pequenas criaturas de madenr'a, ninguém mais o fa:á, exatamente da nãc se havia dado conla.
maneüa que eu faço.”
lançamos mão para aling1r' objetivos sigmf'icativos, podem redundar anos para ver com clareza meu relacionamento espccial com outro
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em sensação de fracasso. ser humano. Desde que minha neta nasceu. ela me tez se'nt1r' que eu
l 18 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA GUlAS PARA A UNICIDADE 119
sou especial, que posso daI-lhe o tempo e a atenção completa que Nos idos de 1930. Frankl adveniu que a crise dos signüicados pode
nem mesmo seus pais puderam dar-lhe.” levar o jovem a adotar crenças perigosas e açoe's pen'gosas. Entre as
crenças sobre as quais Frankl se refen'u estãoz
Uma verdadelra' relação de amor é sempre baseada na unicidade do
outro. Frankl define o amor como sendo a habilidade de enxergar a lesmo"": A vida não tem sentido.
unicidade de outra pessoa, m'clum'do os potenciais que ela não per-
cebe que tem, e ajudando-a a desenvolver esses potenciais. Hedomsmo': A vida é curta. Por que perder tempo procurando signi-
ficados? Vá em busca de prazeres.
Mas logo as m'tluências entram em jogo, pondo em risco nossa uni- Fanansmo': Só o sentido do meu cwninho é certo, e eu faço tudo que
cidade. Mesmo as tamílias mais morosas, passam a esperar que cor- posso para torçar os outros a seguu' 0 meu cmúnha
respondamos às suas expectativas. É então que colocamos as másca-
ras. A escola dá um notável valor à submissã0. Durante a adolescên- Os jovens não são os únicos que adotam essas crengas, mas são os
cia lutamos por nossa uniu'dade. Somos apoiados então pelo nosso que mais treqüentemente expressam essas idéias. E essus idéias. que
grupo de dm'igos. Mas também eles querem nos submeter aos valores geralmente são ditíceis de combalex. bloqueiam' 0 descnvolvimento e
deles. A sociedade nos pressiona - sobre 0 que “devemos” tazer, o a percepção da unicidade pessoal.
que “devemos” estudar, a carrelra que “devemos” segu1r', com
quem “devemos" marcar encontros e ter como amigos e com quem Perceber a unicidade do outro é um presente inestimávcl quc contere
casar. As contradições entre os van"os “devemos” confundem nossa sentido às vidas de duas pessoas envolvidas num relucionmenta
busca pelo signüicado, e a adolescência se caracteriza pela crise do Muitos indivíduos, em nossa sociedade alienada - principalmeme as
singicada crianças - crescem semmdo que ninguém se importa com eles, e islo
_ .-
120 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA (¡U|A\.' PARA .-\ lWllClDADl 121
é o que represema o oposto da sensação de unicidade. Muitas orga- conteúdo sobre os valores. prioridades c hábitos quc você pos~
nizações tais como: "Os Avôs Adotivos”, “Os Grandes lrmãos” e sui? Que coisas você carrega com vocé, que a maioría das pcs-
“As Grandes Ixmãs”, tentam restabelecer as relaçoe's humanas que soas não carr'egam?
se deterioram, ou criar novos relacionamentos que antes não
existiam
UM GUARDA-ROUPA DE ADJETIVOS
WV
algumas sugestoe's que podem ser usadas em qualquer idade, para figura que rcpresenle sua vida futura c depois modüiquc-a de
.-,.
aprendermos sobre nossa unicidadez forma que cla reprcsente 0 que você qucr).
. Diga-me qual foi o clogio mais agradávcl que rccebeu.
rvrw1
. Relembre um momento em que você sc sentiu bem consigo mes- . Fale-me de alguém que confia em você.
v r- .~«
mo e com 0 mundo, que as coisas tinham sentid0, embora
w-
houvcssem motivos para que você estivesse confuso ou sentisse
dor. A ME1A-IDADE
. Faça uma lista dos tatos pnn'cipais de sua Vida (0u um desenho
de sua vida com seus altos e baixos). Você vê algum padra'0, ou Na meia-idade provavelmente nos sentkemos mais seguros sobrc
A-P-: _ - A-y.
tudo o que vivenciou foi obra do acaso? nossos relacionament05, mctas c valores. Tommos dccisões impor~
. bembre-se de fatos que lhe trouxeram satistação, embora você tantes sobre nossa carrcu'a. status matrimoniaL cslüo dc vida e lugm
estivesse passmdo por uma experiência dolorosa como, por que ocupamos na soc1'cdadc. No entanto. é na idadc madura que gc~
exemplo. permanecer acordado ao lado de um amigo durante uma ralmente ocorrem a maioriu das mudanças nos rclacionamenlos u'ni-
crise. cos (protissional e pessoaD que um dia loram signiticativos. Nosso
. Recorde episódios em sua vida, em que você se surpreendeu cmprego ou carreira, cscolhidos anos atrá.s', podcm Icr-se tomado in-
agindo de modo difereme do usuaL diferente do que os outros sossos. O mesmo lalvez aconleça com o casmncnto. Nossos filhos
espcravam que agisse. cresceram e se toram. Eles nos subslituíram até certo ponto. por
Em que modelos você se m'spira? Quc qualidades eles possuem seus próprios amigos e cônjugcs. Passmos a duvidar das remgócs
que você adm1r'a? Que você prccismia fazer paxa adqumr" essas em que um dia fomos u'nicos, e começamos a ímaginar se iremos
qualidades? passar 0 resto de nossu vida, talvcz uns 30 ou 40 anos. cm siluaçócs
Você tem algum sonho para 0 futurdl Qual 0 obstáculo que o em que nos senumos subslituívcis. Qucm sabe sc não dcvcríamos
está impedindo de reah°za'-lo? Que pode você fuer para torná-lo procurar novos vínculos que expreswsmn nossa unic1'dade, assím
realidade? como: um novo companheüa uma nova car'relr'a. um hubby'! A crise
Fale-me de alguma habilidade que tenha e que no passado pen- da meia-idade instalou-se. É uma Cúse de valores.
sava não ter.
Fale-me de uma situação em que você se sentiu parte do tod0. Um meio de selecionar nossos valores é a lista dc au'vidades.
Fale-me de algum momento em que você despiu sua máscar'a.
Fale-me de uma época em que Íoi rejeitado por ser diterente. Faça uma lista das coisas que você gosla de tazen Não coisas que
Fale-me das coisas que você e seus pais ou amigos enxergam de apenas quer tazer. mas atividades que rcalmentc aprcciax Usc essa
maneüa d1'Ierente. lista para avaliar sua unicidadc.
. Fale-me sobre algo que Iez pela pr1'me1r'a vez.
. Faça uma tantasia sobre 0 tuturo como acha que ele será, e uma . Se você se sente de alguma torma único. execumdo uma ati-
segunda lantasia de como gostaria que tosse. (()u desenhe uma vidade. escreva a letra “U" ao lado dessa atividade.
124 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA (¡UlAS PARA A UNlClDADL 125
. Se você gosta de exercer determinada atividade sozm'ho, coloque itens seu companheu'o 1r'ia cnumerm de l a 5? Se acha que sim, co-
a letra "S". E a letra “O” ao lado da atividade que gosta de mo se sente a respeito? Se você estivcr crrado, como isso o fmia
Íazer com os outros. Alguns itens podem componar o “S” e o sent1r'-se? Como se sentiu seu parcciro quando vocô acertou? E
O” ao mesmo tempo. quando errou? Algumas pessoas sc scmem bcm quando scus compa-
nhcüos adivinham suas preferências. Outras prefercm resguardar
. Coloque um cifrâo ao lado de cada item que tem um custo.
certa m'timidade ocultando-a de todo o mundo.
. Escreva um “E" ao lado do item relacionado a emprego.
. Use o para designar atividade ligada ao companheüa
Outro exercício que explora a unícidade (é útil para m'divíduos dc
. Coloque um ao lado do item que se refere à famüizL
qualquer idade, mas principalmcnte para aqucles quc cstão no augc
. Utüúe as leLras “M.A.” para indicar meio-ambiente ou
da idade adulta) é o que se utiliza do antigo conto dc fadas, sobre os
sociedade em que vive - amigos, turma, colegas.
1rês desejos. Se você tivcsse Lrês descjos, quais seriam eles'?
. Escreva “AT"' ao lado da atividade cn'ativa.
. Escreva um “P” junto a atividades que você não teria men-
cionado três anos atrás.
. Um '°SP” para atividades que você realmente executou na
semma passada.
. Coloque “N" Junto ao item que não pretende realúar daqui a Que anseios cada um desses desejos exprimc'! Que rcrvelam esses
Lrês anos. dCSCjOS sobre onde você se situa cm sua vida? Sobre scus valorcs,
. Então selecione cmco atividades que mais o atraem e numcre-as metas e relaciondrn'cntos'! Sobrc 0 quanw você se scntc rcalizudu
de l a 5. ho_¡e'! Sobre suas espcranças no tuturo'!
Quc aprendeu você neste exercício sobre sua unicidade? Que foi que
Que meios práticos você adotaria para translormar seus desejos em
o surprecndeu? Quantas de suas atividades preferidas estão relacio-
realidade? Qual seria o primeüo passo a ser dudo em cada um dos
nadas com seu cônjuge, famñia, companhelr'os? Com seu emprego'?
casos? Você se sente prepmado pdr'a dm esses prhneiros passos'?
Quantas são criativas? Você prefere executa'-las sozinho ou com ou-
tras pessoas'? Elas são caras? Seus gostos mudaram nestes últ1m'os
três anos'? Gostaria que eles mudassem nos próximos três? Você
A IDADE AUVANÇAD'A
realmente faz aquilo que quer fazer?
Como sc sente a respeito da lista que elaborou? Que gostaria de mu- Na velhice, os aspcctos da vida, relativos ao scnlido de unicidade,
dar? Você caiu na rotina? Que você poderia fazer para sa1r' fora de- oterecem novos desalios e oponunidaades. Já vivemos uma longa
Ia? Enumere as vantagens c desvamagens de possíveis mudanças. vida, tivemos muitos rclacionmmmos que nos Iizeram pcrder 0 sen-
(Casais casados ou nã0) podem usar esta lista para ver o quanto eles t1m'ent0 de unicidade, ainda que apenas de manemt inconsciente.
conhecem sobrc a unicidade um do oulro. Você adivinharia que Muitas pessoas idosas sentem que suas vidas não lêm mais sentido.
126 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA ULIAS PARA A UNlClDADlz 127
Consideram-se m'úteis, tratadas como objetos e não como seres proporciona muitas escolhas. Em lugar de se lamentar pelo que per~
humanos únicos. deu, 0 aposemado deve pôr em evidência 0 que ganhou. Podemos
nos perguntaxz
Muitos idosos. que vivem em casas de repouso ou m'stituições simi-
lares. sentem-se como que postos de lado, à espera da morte. lsto é Que eu sempre quis fazer e nunca tive tempo?
verdade, embora pareça menos óbvio para os que vivem sozm'hos. Que habilidades eu adquirí que agora posso usar onde tor
Esses indivíduos podem ser viu'vos, ou seus contemporâneos estão necessan"o?
morrendo ou monos. Seus ocupados fühos tazem rápidas visitas, . Que amizades eu negligenciei e posso agora retomar?
lembram de seus aniversar'ios e comemoram as testas com gestos ro- . Que atividades criativas eu deixei para Lrás c às quais posso
un'elr'0s que demonstram pouco reconhecimento pela unicidade de agora dar atenção?
seus velhos pais. Que conhecmentos especiais eu adquiri e posso transmitü
aos outros? (Esta pergunta rele're-se à hislória da famí1ia, iden-
A decadência dos idosos é um tenômeno novo. Há duas geraçoe's, a tificação de pessoas através de antigas lotografias, coleções
unicidade dos velhos era reverenciada. Eles eram procurados pelo pessoais, áudios e videoteipes, rcceitas cu11'nán'as, habilidades
tesouro que acompanha a velhice - experiência, sabedoria e tempo pessoais, etc.).
signifícativos porque sa"o necessar1"'os. Algumas dessas atividades se- Eles tomam aulas pma aprcnder ou aperlciçoar suas habilidadcs.
rão discutidas no capítulo sobre autotranscendência. Mas o Lrabalho Escrevem d1'.1r1"'os, histórias da tamñizn poesia, ensaios, pcqucnas
voluntar1"o é satisfatório porque nossa experiência é propriedade um'-
pcças teatrais. cadcmos de rcccilas culinárias. lcmbranças dc
camente nossa. Agora temos tempo para dedicar aos outros e pôr em
seus sonhos e inscrevcn1-se cm muitos lipos dc cursos.
prática a sabedoria que v1m'os acumulando. Podemos nos tomarz
Pmicipam como volunmrios em grupos dc leatro mador ou
. a pessoa habüidosa da vizmh'ança. profissiondl'.
. o guarda-livros, tesoureu'o ou publicitarl"o de nossa organização Tomam-se gourmets c prepmam pralos cspeciais.
tavon'ta. Desenham e conteccionml suas próprias roupas.
o protessor do conhecmento que adqu1r'1m'os em nosso Lrabalho. Fazem Lricô. crochê. bordam e costurum pma scus taJn'íliarcs.
um voluntário numa sociedade beneticeme (mesm0 que tenhamos amigos e bazares de car1'dade.
que aprender novas tareías). Fabricam marionetes e divertem scus umigos.
um colaborador jumo a causas nas quais acreditamos ou junto Organizam e rotulwn as lotos da tamília em álbuns.
a m°divíduos com quem nos 1m'portamos.
incapacidades, como pelo tratamento que recebia dos atendentes. se de fato a existência que levarm teve algum sentido. Essas du'vi-
Durmte toda a sua vida ela tinha sido uma dona de casa ativa e ne- das conduzem facilmente à depressão.
cessán'a. Via-se agora reduzida a uma coisa - “o quadril quebrado
do quarto 27”. Ruth sentia grande neccssidade, aliás como todos Numa situação dessa natune2a, uma mudança de perspectivas é ne~
nós, de ser alguém, de sentlr'-se u'til. Pediu que lhe arranjassem lã e cessar'ia. A colheita da vida está posta em nosso 1'nten'or. Frankl ad-
agulhas de crochê - ela conseguia fazer crochê sem olhar. Começou verte contra o perigo de olhar para o passudo como um “campo dc
tazendo gorros com os quais presenteava as enfermeu'as. restolh0”, onde as coisas que crescim já não cstão mais la'. Au
comrário, sugere que ao olharmos pma trás, busquemos ver “os ce-
Dentro de alguns dias, Ruth passou a ser “a pacieme do quano 27 le1r'os tartos” da colheita de nossa vidzL A morte do compunheiro
que faz gorros para nós”. Uma das enfermeüas pediu a Ruth que lhe não pode apagar os momentos tdizes que passmos juntos. A ap0-
tizesse botinhas pma o seu bebê. Outra sugeriu que Ruth deveria ter sentadoria não destrói nossas realizações. Nossa fraqueza atum não
uma mesa no hall do asilo para expor e vender a mercadoria que anula os resultados de nossa antiga I*orça.
produzia. Ela se recusou a vender o que tazia, mas aceitava enco-
mendas de gorros, echarpes e sapatmh'os, do pessoal que trabalhava Franld taz outra comparaçãoz Uma pessoa podc olhar o “Calendan"o
1á. Na mais triste das cu'cunstânc1'as, Ruth encontrou sua unicidade. de parede” de sua vida, Lrêmula e amedrontada. Percebc que cada
dia ele se torna mais 1ino, à medida que suas tolhas são mrancudasu
Preparandmse para a aposenladona.'0 logoterapeuta Robert Leslie Uma outra pessoa, ao arrancar as tolhas dc seu calendar"1'o, anota em
disse que a melhor época para nos prepararmos para a aposentadoria seu verso as atividades executadas em cadu dia e as amontoa numa
é no colegiaL O que ele estava reahnente querendo dizer, com esta pilha; esta pessoa, em lugar dc observm que o calcndar'i0 remanes-
espantosa declaração, é que nunca é cedo demais para planejar uma cente está cada veZ mais Íino, nota 0 quanto eslá crescendo seu
aposemadoria signüibativa Cenmente não podemos esperar que, monte de experiéncias.
depois de termos devotado tmtos anos de nossa vida a um trabalh0,
de repente, aos 65 anos, tenhamos capacidade de mudar para outras O diálogo socrático, estabelecido com pessoas de idade. concentra~
atividades signiticativas. Muito antes da hora de nosso afastamento se no pólo significativo e positivo, procurando cntatizar a unicidade
devemos expandu' nossos relacionamentos e ocupaçóes - nunca é do m'div1'duo através de uma retrospectiva. O dial'0go podc scr esti~
cedo demais para adqumr" passatempos, divertir-se com a família e mulado por fotografias de família, amigas cartas c anolaçóes. Per-
os amigos, jogar, viajan praücar esportes e desenvolver atividades guntas penmenles podem inclum
anísticas. Então, quando nosso 659 aniversar'i0 chegar, já estaremos
absonos numa 1m'cnsa variedade de tarefas significativas. . 'Quem foram as pessoas significativas em sua vida?
. Que você admüava nelas? De que mancu'a elas o ajudwam a
Olhnndo para tms'. Quando os velhos começam a ter dúvidas sobre tornar-se o que você é hoje'!
sua servemia, é que chegaram a uma fase da vida que pode acarre- . Para quem tazia diferença você exism ou não? Como se mani-
tar-lhes um n'sco extra - 0 de olharem para trás e começar a duvidar festava essa diíerença?
132 APLICAÇÓES PRÁTICAS I)A LOGOILRAPIA
compromisso casam e se divorciam, geram crianças e se submetem a Viena. Enquanto os outros passageüos permaneciam scnlados em
abonos ou as negligenciam, arranjm empregos que em seguida lar- terrívcl silêncio. Farkas aproximou-se do oíiciaL esbolcteou-lhc 0
gam, mudam de protissão, contratam c despedem, abandonam os rosto e chamou-o de idiota. Farkas toi prcso c rcur'ado do Irem, quc
idosos. Liberdadc sem responsabilidade gera vazio, frustração, de~ retomou a Viena. No dia scguinlc o govcmo chcco anunciou oti-
sespero, vícios, violência, neuroses. suicídio. cialmente quc a Ír'ont61r'a cstava techada, mas decrclou quc os es-
trangeiros que já se encontravam cm solo ChCCO podcriam pcrmanc-
Existem Lrês vias para encontrar significado através da responsabüi- cer. Farkas, que cstava na prisão. pôdc Um. Mais tmdc clc imigrou
dade: respondendo ao significado do moment0; fazendo escolhas para os Estados Unidos e dcpois da guerru vollou a Vicna e nova-
responsáveis onde existem escolhas; e nâo se sentindo responsável mente se Consagrou um cómico populan Seu Compaheko Gru"nbaum.
quando não há escolhas. seguindo os valores da sociedadc (taça como lhe toi ensinado), não
bateu no oficiaL mas acabou seus dias num campo dc concentraçãa
Como saber se o toque que ouv1m'os provém de nossa consciência ou . Você tem um emprego scguro c é bem rcmuncrado. mas descja
de nosso CgOísde Podemos encontrar a resposta, explorando as começar nova cmeira ganhando menos, porém oblcndo maior
conseqüências de cada escolha: satisfação.
. Sua mãe idosa mora com você c comcçou a ticm muito entra-
Quais as conseqüências de seguu' os val'0res sociais? quecida. Você a colocmá numa clínica pwa vclhos?
Quais as conseqüências de Jutar comra esses valores'! Podemos
explom as conseqüências com o diálogo socrático, elaborando
listas ou através da tantasia não orientada.
UM NOVO 71'P() DE NEUROSE
Quais as conseqüências de cada escolha para você e para os que
são atelados por sua crscolha?
Anos atrás Frankl descobriu que um contlito dc responsabilidadcs
Você está preparado pwa assunnr' as conseqüências de sua
pode resultar em novo tipo dc neurosc. 'l*radicion.11'menlc, pcnsou-sc
escolha?
que a neurose era 0 resultado dc traumus rcprimidos ou contlitos no
Como se seme em relação e cssas conseqüênciaü Como os passado. As neuroses produzidas por conllitos de rcsponsabilidadc
outros se sentu'a'o? têm origem d1'1'erentc, c nâo respondcm aos Lratamcntos psicoterápi-
Como você vê sua vida daqui a um ano, se obedecer aos valores cos convencionais. Uma ampla pesquism documcntadu pela literatu-
uadicionais? E se for contra eles? ra logoterápica, mostrou que ccrca de um quinto dos utuuis pucicntes
É possível assum1r' compronússos'? Relacione-0s numa lista. Eles
neuróticos sotre de um conflilo dc responsabilidadc rcprimidu ~ dc
oterecem soluçóes com as quais você pode conviver? Qual deles
um conflito entre dois conjuntos dc valores, ou um contlilo cnlrc
escolheria?
valores sociais e consciência individuuL Esse lipo de contlito pode
Estamos vivendo na era de Lradigões em decadência e de maior gerar doenças psicossomáticas.
quantidade de transtonnaço'es. Cada um de nós deve, de tempos em
tempos, optw entre os valores tradicionais e a consciência indivi- Exemplo. May sofria de cnxaquccas nos lins-de semanu c não huvia
duaL '1'm's contlilos poderm mas nâo devem conduzü a neuroses. nenhuma razão de ordem tísicu ou psíquica que justilicussc csse
Como você responderia a cada uma das situações abaixo dispostas? problema. Ela tinha sido criada por puis curinhoso.s'. cra tcliz no ca-
g
sament0, tinha dois Iindos filhos c uma bou casa. Suus dorcs dc cu-
'
Seu paí quer que você Iome coma dos negócios da tamília. Você beça comcçaram quando seu filho mais vclho tinha cerca dc lrôs
;Í
valores de seus pais e os de seu marido. Sua dor de cabeça aos do- Contudo, todas as coisas que disse gostar de íazcr, você pode lazcr
mmgos era resultado de um conñito de valores. Ao se dar conta des-
mesmo pesando 120 k.” Mais tmdc Naomi comentou que cssm pou-
se problema, tomou consciência de que deveria responder ao “senti- cas lrases a ajudmam mais do que muitos anos de tcrap1'a.
do do momento”, da manem como ela o via. May encomrou a solu-
ção para o seu dilema. m'do conversar tanlo com scus pais como com Este princípio - é louvável assumir responsabilidadc em situações
seu marido, a respeito do que sentia. Sua enxaqueca desapareceu.
que podemos controlar. e insensato assumu responsubilidade em si-
tuações que não podemos modificm - pode scr aplicado cm muitas
Geralmente, o passo mais importame é perceber que nós temos 0
c¡.r'cunstâncias. As pessoas gcralmenlc sc scntcm rcsponsávcis até
“desatiame poder” de assumü uma posição, de não mais nos sent1r'-
por situações sobre as quais não lêm nenhum domínio. lsso conduz à
mos como vít1m'as, mas snn', como donos da situação.
frustração. depressão c~ sent1m'ento de culpa desncccsstm"o. Outros.
que não assumem responsabilidadcs cm .s'ituaçõcs que pudem com-
trolar, sentem-se insatisfeitos. e com justiticável (talvcz em nível in-
Escolhas Responsáveis conscieme) sensação de culpa.
0 mgmhcado emana quanuo assumimos a responsabmdade de uma Não podemos mudar nosso Código gcnético. nossos impulsos psic0-
snuação que podemos controlar, e quando não assumlmos essa res- lógicos, nosso cmáter inato, nossa sociedadc ou nosso passada Po-
ponsabmaaue em s1tuago"es 1mutávels. Esta é uma disúngúo importante, rém podemos mudar - e tomar-nos rcsponsáveis por - como vivc-
que, com Ireqüência, FranKl atava aos seus alunos. lüe também lhes mos com nossas limitações genéticas, nossos impulsos. nosso passa~
contou o caso de Naomi, uma senhora que soma de obesidade. Ela vi- d0. Podemos assumir uma poslura responsávcl diantc dcstcs Ialos, c
vw oom depressão e estava com idéias su1'cidas. Recusava-se a smr' de até contra o nosso destín0. Nossa saúde memm dcpendc de nossa
casa porque se envergonhava dc seu excesso de peso. habilidade em distinguir entrc as ar'eas do dcstíno (0nde cstorços pa-
ra assumü responsabilidades podem causar doenças) c us ar"cas dc
Framcl1'nteu'ou-se, através dos relalónos médicos. de que a obesidade liberdade (onde não assumü responwbilidadcs pode cuusar descon-
de Naomi era causada por uma disfunçâo glandular que não ünha cura forto esp1r'itual e, na presença dc contlilo dc valorcs. aló possíveis
E Framd passou a oonversar com sua diente, não sobre to'rça de voma- enfermidades.)
de, dietas, exercícios íísicos, mas sobre suas atividades ta'von'tas- ouv1r'
mu'sica. ler biograíias, oozinhar e manter conversas intelectuaís com
seus am1'gos. Depois ele lhe dissez DESCULPAS
“Vooê nâo é responsável por seu estso de peso. Este é um problema Vivemos numa sociedade toleramc. Tornou-se moda culpur 0 passa-
do seu corpo. Mas vooê é responsável pela mane1r'a como vive uma d0, o meio ambienle, as traquezas genéticas c psicolo'gicas, pclo fra-
mulher CUJO iísico a 0bn'g0u a ser ObCSZL Galgar montanhas e dançar casso e condutas impróprias. Um estudame violento é perdoado por~
balé são atwidades que nào pode exercer - tem que aceitar isto. que as condigóes de vida em seu lar são desastrosas; o alcoólatra,
140 APLICAÇÓES PRÃTICAS DA LOGOTERAPIA
(¡l ílz\S PARA ;\R|LSP()\A'S/\“1|,“)1\l)h 141
LOGODRAMA não pretendia cometer o mesmo erro que sua mãe, “que sc matou dc
trabalhar” cuidando da famüia.
Uma das mane1r'as de despenar soluções que estão adormecidas em
nosso inconsciente é o logodrama. Este processo é útü nas situações Jill foi buscar ajuda na logoterapia pwa resolver o contlito cntrc 0
em que sent1m'os que a responsabüidade nos foi 1m'posta por agentes que deveria ou não fazer. Durante o logodrama sua mãe, (através de
exleriores (como, por exemplo, a mâe ou pai - que talvez já nem insights do inconsciente de Jíll) fcz Jill perceber que a siluação dela
estejam vivos. mas cujas vozes ainda ecoam um “você deve”, dentro era diferente da de Jill, e que os “eu devo" e a rcbeldia conlm
de nós). aqueles “eu dev0”, deviam ser reexaminados nos termos da situação
de J1l°l. Jill fez uma reavaliação e se deu conta de que seu pai vivia
Para explorar seus “você deve”, selecione algumas atitudes de doente e desempregad0. Coube à mãe 0 encargo de criar a fam1'lia.
“pessoas 1m'por1antes" que ainda exercem impacto sobre você; tal- Jill tinha_uma ar'ea de liberdade que sua mãe não teve - cla tinha
vez essas atitudes não foram bem compreendidas ou foram mal in- condições financeüas de contratar uma empregada para ajudá-la. No
terpretadas. entanto, durante o “d1'a'logo" com sua mãe, no logodrama, ticou du-
ro para Jül que, enqumto o tühinho menor fosse bebê, o lugar dela
era dentro de casa - embora durante csse tempo cla pudesse planejar
Suponhamos que a pessoa 1m'portante seja seu pai. Pegue duas ca-
a carreüa de figurinista que prossegu1r'ia depois que a crimça ca-
deu'as - uma para você e outra para seu pai invisível - e coloque-as
trasse para a escola. Após haver definido suas ar'eas de liberdade c
trente a frente. Sente-se em sua cadeu'a e conte ao seu pai qual é o
responsabilidade, Jill conseguiu fazer planos para cuno e longo pm-
seu problema. Troque então de cadeüa e (como se você fosse seu
zo que puderam satisfazer tanto o compromisso assumído com a m-
pai) diga a si mesmo o que você "deve” fazer. Depois torne a voltar
m1'lia, como consigo mesma.
à sua cadeüa e diga ao seu pai quais os meios com que concorda e
quais os meios de que discorda. Com essa mudança pma frente e pa-
ra trás, você logo perceberá quais suas verdadeüas intenções a res-
SONHOS E FANYASwlAS DIRIGIDAS
peito daquilo por que deseja ser responsáveL e pelo que não se sente
responsáveL Algumas vezes surgem soluções “óbvias” que o pa- As interpretações do Vsonho, como vimos no Capímlo Dois, podem
ciente não conseguia enxergar, antes de submeter-se ao logodrama. conter sugestões do nosso inconsciente. As fantasias podem ser di-
Jill sempre desejou ser tigurinista. Mas ela se casou quando estava recionadas para as áreas onde, bem no nosso ímimo, achamos quc
no segundo ano colegial, e logo teve três t'11'hos, sendo que o menor nossa responsabilidade reside.
esLava com apenas dois meses. Ela amava seu marido e as crianças,
porém se aborrecia por ter de passar 0 tempo todo cuidando deles e
da casa. Recentemente, começou ass¡st1r' a desfiles de moda com 0 DIALO'GO SOCRÁTICO
uma amiga, negligenciando o trabalho doméstico, o que ocasionou
conIlitos com seu marid0. Ele dizia que ela não deveria ficar saindo _ O diálogo, por si só ou combinado com outros métodos, tem um
com as amigas, pois o lugar dela era em casa. Jül argumentou que Valor crucial para a exploração de nossos insights sobre
144 APLILHÇÕES FKÂTICAS D.-\ LOGOTERAPIA
. Todo o mundo espera que eu aja de detennmado modo, mas eu Cap|t'ulo Nove
escolho outro.
. Eu nz> aquuo que esperavam que eu nz'esse. e me senti bem
. Eu m o que esncrmvam dc m1m'. e me .~e'nti maL
. Eu me Iürüi a mer algo. e depois me senti bem GUIAS PARA A AUTOTRANSCENDE NCIA
. Eu me torcei a Iazer ano. e dspois me semi maL
. Eu assumi uma rcsponsabüidade e tiquei contente.
. Eu assumi uma responsabüidade e mc arrependL
A autouanscendência é a capacidade genumameme hurmna de 1r'
. Eu _anrendi uma ligào de um emo que comeIL
alérn de nós mcsmos, agmdo pelo bem de alguém de qucm gostamos
. \.'m'*u__~ém tem de dlze'r-me o que devo Íazcr. Tenho que dec1'd1r'
ou pelo bem de uma causa que nos sensibll'1za'. A autotranscendência
~o:zmh'o.
é a qumta are'a onde o signüicado pode ser encomrado. Para 0bjeti-
. Eu exolhi algo pelo que valeu a pena econonnzar'.
. Eu exwlhi uma COL~a'“ pela qual \'aleu nru sacrüícia vos terapêuticos, é talvcz a condição mais un'ponante. mas lambém a
mais d1t'íc11' de aUn'g1r'.
. Eu apmnm algo por rmm mesma
. Eu rui bem-sucedido. ape›ar' das dmmculdades.
A autotranscendência é 1m'portame porque engloba todas as áreas~
. Eu nz' aigo de que me orgulho.
onde exista sentido (autoconhec1m'ento, escolha, unicidade e respon-
. Eu tcrmmei algo que foi d1f'ícü começaL
sab1h"dade), e porque proporciona sigmñcado justamente nas area's
. Eu usei mmh'a raiva de manem positiva.
em que nos sentun“os fmcassadosz transforma a derrota em vitórizL
. Eu ñquei com raíva de uma pessoa. mas descaneguei cm outm
Contudo, há uma d1ñ'culdade subjacente - como nos motivarmos pa-
. Eu comive mínha raiva.
ra tmnscender nosso egocênlríco instm'to? Por que devo fazer coisas
- Esta é mmha' desculpa predüeta.
pelos outros, se a vida foi tão cruel comigo?
. Eu assumí uma nova responsab1h"dade.
. Eu nz' uma promesw e cumpri.«
Pense num homem que tcnha sofn'do um grave acidenle automobi-
lístico. Seu carro ñcou arrebentado por culpa de um moton'sta bêba-
do. Sua esposa morreu no acidente e ele sofreu lesoe's que o obn'-
ts"tes tópicos .xa*'o. naturalmnte. apenas pontos de pam'da. mas cada
garam a aposentar-se ames da hora. Todos os relacionamentos.
um ucles podc dm 1m"cio a um valioso dial'ogo para descobnnn'os
atividades e condiçoe's, que davam sentido e conteúdo à sua vida.
areas' de responsabüdade que contenham guias para o signüicada
146 ¡\l'l.l(_'.›\ÇÓliS PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA (il'l.\5 l'¡\|<¡\ A Al IUI RAB'S('l:'\k'I)l;..\'('|.-\ 147
desmoronaram - seu casamento, seu Lrabalho, sua saúde. Ele se As pessoas quc você admira provavelmcnte possuem qualidadcs dc
sente amargurado, triste, 1r'ado e deprimjda E com razão. Como po- autotranscendência. O exemplo delas pode scr a primeüa inspiração
de esse homem sent1r'-se motivado a encontrar signüicado ajudando para suas atitudes de autotranscendônc1'a.
os outros, num mundo que lhe toi tão impiedoso?
O orientador deve usar de muita franqueza no diálogo socrático, Relembrar exemplos que ocorreram no pussado. quando um dia aju-
mostrando ao pacicnte que não espera quc ele esqueça seus próprios damos outra pessoa e nos sentimos muito bcm. Esscs incidcnlcs po-
interesses, mas que o_s transcwzda. para que possa m'clu1r' os outros, dem abranger uma escala quc vai dcsdc o mais simplcs dos alos (de-
no seu c1r'culo de m'teresses pessoais - tdl'vez, pam começdr', uma sistlrÚ de um fim-de-semana para ajudar um amigo na mudança) alé
única pess0a. Deve-se mostrar ao paciente que ajudar os outros é, de os mais profundos (um profcssor tratou-nos mal quando éramos
cena forma, uma espécie de “egoísmo”, pois isso tará bem àquele crianças; fomos capazes de transccnder cssc rcsscmimemo e Lruns-
que ajuda. Estas são algumas maneu'as de procurm motivaço'es. formar o incidentc num incentivo para nos tomw protcssorcs com
conhecimento da psicologia infantil - o que nosso mtigo prolessor
não teve). Ao explorar expcñências passadas podcmos nos
ARGUMENTOS LÓGICOS perguntmz
Os argumentos lógicos servem às pessoas que estão abertas a este ti- Foi uma revolta contra a injustiça que nos molivou a lazcr
po de argumento. Uma discussão do ponto de vista da logoterapia alguma coisa positiva para corn'g1r' uma situação?
pode ser um torça mot1'vad0ra,. assim como outros pontos de vista Será que aprendemos algo de um episódio doloroso. que agoru
posilivos, religiosos ou não. A Golden Rule*, de uma maneüa ou de nos permite ajudm alguém numa situação semelhuntc'!
outra, tem sido um verdadeiro (mas nlt"ellz'mente rar'o) método para Fizemos algum trabalho, remuncrado ou não, que scrviu de ajuda
se alcançar a saúde mentaL a alguém?
ÉL Será que já ajudamos alguém, apcsm de não tcr vontade de
E
fazê-lo?
O EXEMPLO DOS OUTROS
Ff
Já nos esforçamos para fazer algo especial em tavor de alguma
I
causa em que acreditamos?
O exemplo dos outros pode scr outra fonte de motivação. Quais E Teríamos ajudado alguém que precisava de nós. embora essa pes-
as figuras da História ou da Litcratura, ou de seu conhecmento pes- Ê
soa não nos livesse pedido nada?
soal que você admxr'a'? Que qualidades você adm1ra' nessas pessoas?
Já assunumos algum risco para ajudar alguém. e nos sennm'os
bem com o resultado?
* Goldcn Rulc - conccito moral - fazer uos oulros 0 quc gosluríamos quc fizessem
a nós. (n.t.) Numa época em que estávamos desesperados. alguém compamlho'u
"'-.v=_«-rf*-' ›~
m›,-':_
148 APLZCALjÓES Pkáncm m urxnikuma ›
r,,“_'› Lfijj ^.. L .'Z',',"r“.".?' ¡.':-,m,4_'.~r;.› m
de nosso sofnmcnto por uer viv1dc'› c supcrzáo er ax
mdam_crzm,a"Jncmffnxpmmhmh-3m.n=w
wmelhamú
m mm ergcmmya vam qzz m
. Scrá quc zprendemos a aceM" cmviver com uzz pmima vemiv
pama oz uzz -.zu-'*u.* waún uzn .sc;nl-ma:-' _:.uc rz
outras pes.<›oas wnvivendo com pmbécmaa mm_"2 me rmvní
mua t Cfu .' ymw xw_,' .v"n::r, z 4.2:z-7'
. Alguém já .se mmtrou comprcemivo cmmca W* dc actar*-
Eskcm z mU - t j.."m-* zmz m yne ur "-',-..z-
mos que mo' merecxanw's em comprm'?
bdeÕymz Ew';as›v.:m_'w_2m1hm
m RAJC szrj .r:" hez .n.."›'”m'z -.r':.* zzimvak
FAWASIAS 0RIEN7ADAS do-y; ,~&r/1', '.'2r.'^ kí ma P¡,-'m".c : LL"*›"›'-.'- :r_.n:nt m':
azt -r“z_r; r›dc:tcw',p y,'. m m mil Ww' gne ar
Quando no du"'10gr› y.›cr4x"1a*› surgk urrz palzumchzva càtz podc mZ 272 L:2^-,›. yúmmw m z zam m" : csmm m
levar'-n(.›s a zàmsias oncmams para aí prmávzws ."'2Cfn'h4'1. A pab ÉKWK
vra-cn4"ve podc csm wntiáa nu.:|'2 9.¡',W'¡":. Lm horruczm er em
plo., que pcrdeu sua csposa e suz Ajdei" mm dcmue dz mrjnd
causadw por um motoñstz quc mn'g;a crrh-_nazgdo›'-, podc mwc a 3i ACHLMVJ 0 DEFAFIO
pmp'rí0:
ÁÃÉ."I'›.2'E _.,E"ê›h~/*.,"' w k.""'-a aícn a 3=-"",...c"' ac-' ~.'rm:r
. orcnnv'u4n"'do uma lch'slaLao_\'-' contra rmtrmsm beà4d0"s, mr';_ :e' '›';' Í ' ucw
›...,"~':v vb az m acU ácm. A
. m'¡L'w" um grupo dc viúvos c VIÚVd$' mfredorcs, peza a La .;'2.7'./" ;/".....".."1' 'n=z:2." e 0 xmz :« mr" ik
enfreman wmpmzlhm c curar suaa mgütràa EZSEÍCFJZ a M.*'.,r.a =".._ L."'*¡z':' ›~"_.›.-~""c n mz áz
. micm um grupo ou uma rxgarnlwñ quc ajude 442 pcamaa quc Wg"_._..f“.“7 -..=-.w íhmzi ?:n' xz zzmr .'«
roram Jbrn'gadav'< a aposenw'-<r.' muito ML paza .".n:"' .~›.›" _':.e -c- w.'r'-._.:L_«' '\..a."" na szf .._v›-" s..:.-"' üm :.
. hl'iar-sc ou co_mccar uma organ'¡7')4car"~› qut Âaudc aa pwm f¡-" m 3 beuu n zro n sa
s1c'amente dc§1c'1c'ntz.<›, a erumrar um trzhalíw em qx ae glw^ QWÃ :'4...›“-:r*'.._v”u 2 m_~'." a_2 :m'n
independentes. se "_Á._"='- _2:.x” "..'>4""«2 :'sa'-2 m ncsçm' m
. cxercer mcrumaD au'v1'dade' que acja xrrdponame para cicz c que ck" áe axb›_ az -.:"' xf ~:« cmnb mme .'-
havia neglx'gcncwd0" pct Ia'iLa de Y.CT-›çí). nsh ezzcz 4..»'°<:r2 2m'°-':. -' .1»*--:c '.-'A:mw _T..~.f~:&§íx- c szzm át
transcendido é n055a part'e mentc~corpo. 0 eu que transcende é nos- rodas, de que ela lem condiç0c's de cnconLrar sentido em sua vida.
so espín'to. A autotranscendência nos Íaz conscientes de que aquilo Porém, uma pessoa numa cadeira dc rodas ou de mulctas, que íor
que somos (nosso espín'to) pode suplantdr' aquüo que temos (nosso capaz de dizer: “Eu sei como você se senle - cu mcsma já passci por
corpo e mente). Essa consciência nos mostra os signüicados em po- esse Irauma e encontrei 1orças que jamais supus que tcria". scrá
tenciaL muito mais convincenlc que o médico. Um chraplégico disscz "Não
quero ser chamado dc tisiwmcnle incapuL Sou alguém que foi lisi-
camente desajiado”.
A 1'IV'IDADES
Os alcoólatras anônimos há muilo que se convcnccrml do talo de
Muitas pessoas sentem r'i1iculdade em molivar~se através da ajuda que poucas pessoas são capazes dc ajudm tão bem um dl'coólalru.
ao próximo ou temando Autar por uma causa, quando estão em busca como aqueles que resistiram uo primeiro gole. Da mcsma lorma os
do signüicado de suas vidas. Muitas dessas atividades não sâo re- cegos podem zqudar os que perderam a visão. c os ponadores de
muneradas, pelo mcnos no início, porquanto uma mudança de valo- doenças incuráveis. os que estão na mcsma siluução. As organiza-
res se faz necessar'ia para que essas pessoas consigam panicipar de çóes de volunlar"ios e associagócs dc apoio cstão rcpletus de indiví~
atividades dessa natureza. A mulher que dedica seu tempo a criar duos que ajudam pessoas acomctidas dos mcsmos mulcs que os seus.
uma legislação contra motoristas bêbados, ou o homem que, lamen- Eles podem ler sido discrimilwdos por sua cor, raça, rcll'gião. scxo.
tando a pcrda da esposa, dccide fundar um grupo de apoio para viu'- ou por terem perdido enles queridos dc câncer. cntisemu ou AlDS.
vos. não serão pagos por seus esforços. Ocasionalmente esse traba- A escolha da atividadc auloLransccnente deve ser lcita por uqucle
lho voluntan"o pode transformaI-se num emprego remunerado mas, que busca. O orientador podc otbreccr sugcslócs dcpois que o pa-
pagas ou não, essas tarefas preenchem satisfatoriameme o anseio do ciente deixou aHorar uma palavra-chavc. Os scrcs humunos sãu cu-
ser humano. de'CS de apresenlm componamentos surprccndentcs. tanto pluneja-
dos como espontâneos. Todos nós já ouvimos lalur de casos como o
As ocupações autotranscendentes abrangem os signüicados de todas
de um assassino, na prisão, que mriscou sua vida para salvm do fo-
as ar"eas anteriormente mencionadas. Promovem o autoconhecimento
go um companhelr'o, ou da mãe que pcrdeu 0 íilho num acidcnlc e
lazendo emergir nossas melhores quaúidades inatas - qualidades que
doou órgãos dele para salvm a vida de oulra criança. Logotcrupculus
talvez não chegássemos a descobnr' se tivéssemos seguido os cmi-
nnos do prazer e sucesso, de acordo com os ditames de nossa socie- relataram taçanhas que nínguém jamais ousmia sugerir. mus que
dade. A escolha é, naturalmente, tundamental e a que possui maior seus pacientes escolheram O dr. 'l*akashima. dLr'elor do Instituto de
Logolerapia dc Tóquio. descrcve o caso da mcnína quc nusccu scm
signíticado porque ínclui os dóis outros camínhos para o sentidoz
braços, aprendeu a pintar com os dcdos do pé. c inspirou uulms
a unicidade e a responsabilidudc.
crianças com o mesmo dct'eito. Viktor Frankl escreve sobre divcrsas
A tragédia que vívenciamos nos toma os únicos qualificados para pcssoas que Lranscenderm suas tragédias translornmdo suus cxpc-
ajudar pessoas que passaram por problemas semelhantes. Um famoso riências em triuntos. Aqui cstão mês incídcnlcs mencionados por
médico pode tentar convencer sua paciente,que está numa cadeu'a de Frankl em suas palestrasz
152 APLICAÇÕIES PRÁTICAS l)A LOUOTtRAPlA UUIAS PÀRA A Al Í'I'0TRANSCL'NDÉNCIA 153
Um detento numa cadeía da Flóñda enconLrou o livro dc FrankL “O até a igreja. o médic0. 0 supcxmercada Uma viúva rccentc prccnchc
Homem em Busca de Scntid0". na biblioleca da pn'são. Depoís de se*u tcmpo 0cioso, cuidando da criunça de uma mãc soltciru quc pre-
ler 0 livro, 0 pn'sioneLr'o cscreveu a FrankL dizcndo que gostaña de cisa trabalhdr'. Um homcm. dcitado num lcilo hospiwlm Com uma
organizar grupos de auto-uJuda dentro da prisão, de maneu'a que doença incuráveL rcccbc scpurudamcntc a visim dc scu mclhor ami-
oulros detcmos pudcssem comcnw o livro e planejar suas vidas para go e do Iilho deste. Pai c lilho. por cuusa dc uma n'xu, não sc lalam
quando saíssem da cadeia. Frankl cncorajou esse homem que, supe- há anos. 0 amigo doenle dccidiu lomm cm suas mãos a larela dc rc-
rando as dúvidas e as dcscontiadas perguntas de seus companhe1r'os, conciliá-los. Um professor dc nmrccnanu aposentado. Cujus mãos já
lommu um grupo de reincidentes (com0 elc). 0 grupo C0ntinu0u não cstavam bastame 1'm'ncs pmu quc pudcssc cxcrccr sua prolissão.
manlendo esses encomros, mesmo depois de terem sido postos em _fez de suas lbrramenlas c olicina. um locul paru quc as criunças da
liberdade. Como consequ"énc1'a, todos os pr1'sione1r›os, com exceção vizinhança pudessem aprcndcr scu olício.
de um deles, nào rctomaram à pn'são.
quebrados e passava as noites restaurando-os. Depois ele levava os d0. O 0qu0. quc nada sofrcu, lcm obrigução dc ujud4r'. Nestc caso, a
brm'quedos para uma íavela e os distribuía às cn'anças - lomou-se responsabilídadc e a autolranscendência caminhan'1 juntus.
FranKl concluiu uma palcstra com esta 1rase: “Dependendo da im- alividades e relacionamentos .s'igniticau'vos. Criunçus cntcd'i.1'das.
ponância que o Primeko Mundo conler1r' a sua Lmela de combater a adultos que persegucm dinhciru c prucn c idosos "inu'tcis". podcm
lome no Terceüo Mundo, ele ajudará a si mesmo a superar sua cn'se descobnr' sentido intercswndwsc pelos denmi5, dcnlro c tora dc sua
de signiticadoz nós lhes damos pã0, eles nos oíerecem sentido - não família.
é um mau negócio." 0 signiücado através da autotranscendência
não é geralmeme tão dramático como nos exemplos aprescntados. A autotranscendência. como um cauninho pmu o 51";_1111'1icad0, cslá ao
Podem ser pequenas coisas da vida d1'a.r1"a c ao alcance de grupos em alcance de qualquer pessoa, cm qualqucr c1r'cuns1ância c cm lodus us
qualquer faixa ctdr"ia. idades. Seu valor é mais poderosamunc cvidcnciudo cm pcssuua quc
estão sotrendo pela dor e tristezu da auséncia dc scntido cm .suas
Alé pouco tempo atrás, as crianças ajudavam seus pais em casa. na
vidas.
fazenda, na oticina. Esta ajuda lem se tomado desnecessúria e até
1m'possível. Consequ"entemcntc. as crianças sc semem dispensáveis e
A autotranscendência também podc scr oblidu por quulqucr pcssou
entediadas. Assistem passivamcnte à televisã0, entrelêm-sc com
que, por exemplo, passe uma noite acordada cuidando dc um mnigo,
brinquedos mecânicos comprad05. atividades quc satisfazem o de-
levc um vizinho ao hospituL visilc um docmc. convidc um vizínho
sejo de prazer, mas não a necessídade de sentido. As crianças ainda
novo para tomar calé, ou laça qualqucr umu dcssus gcnliluw quc
poclem ajudar seus pais. especialmente aquelcs que trabalham I'ora_
surgem naturalmente.
ajudando a tomar conta de um 1rm'ãozínho pequeno, por exemplo.
Podem fazer companhia aos avós ou a algum vizinho solitar'1'o. Po-
dem. mbém executar pequenas taretás domésticas que consomem
um tempo precioso, comoz arrumar a mesa. varren passar aspkadon
lavar roupa.
VALORES
Existe também a possibilidade de que nossa consciência nos trans- l- Qual dos valores se situa na posição mais elevada dentro dc
mita mensagens conllitmtes numa situação incomum. Suponhamos nossa hierarquia de valorcs'!
que vocé esteja conduzindo sua esposa'. que está em trabalho de 2- De onde vieram esses valorcs'? (Dos pais, da socicdade ou
parto, ao hospital', por uma estrada vazia. Você poderá tanto passar dos amigos?)
com o sinal vennelho, como parar diante do sm'al verde porque um 3- Qual dos valores conñitantes é mais coerente com aquüo
idoso manco está atravessando a eerada. Um anista que se recusa a que nossa consciência nos lala?
tomm conta dos negócios de seu paí, está atendendo aos seus valo-
res e ignorando os valores de seu pai. Um homem que se deita Nossas respostas a essas qucstões não indicam quc nossos valores
diante de um trem canegado de armas nucleares está claramente ex~ são melhores ou piores no sentido moral; nem querem signiticm que
pressando seu repúdio aos valores de sua sociedade. O homem que é melhor ou pior, se vêm de inñuência exterior ou de dentro de nós
sc recusa a pagar m'1postos porque desaprova a maneüa como seu mesmos. Mas nossas respostas revelml que é saudável sabennos de
dinheüo é gasto (Henry Thoreau, por exemplo, não queria que seu onde vêm nossos valores e, se acaso vieram de fora de nós, se esta-
dm'heu"o tosse utüizado para manter a escravidão), está 11'npondo mos de acordo com eles. Aceitar valores externos podc gcrm conse~
seus valores em oposição aos do seu govemo. qüências prejudiciais, se não estivermos conscicntcs de que cslmnos
repr1m'indo nossos próprios valores - que estamos tazendo alguma
Os indivíduos que seguem suas consciências ao invés de aceitar os coisa porque “precisamos” tazê-la, sem nos dmmos conta de que
valores da tamília, sociedade ou govemo, devem assumir as conse- estamos cmegando este “precisamos", de uma adverlência há muito
qüências de suas deciso'es. O artista que não quis tomar conta dos tempo esquecida, mas que aínda está cochilando em nosso m'cons-
negócios de seu pai talvez tenha que viver na pobreza. O homem ciente. Esses conñitos de valor e consciência podem causar traumas
que se deitou diante do trem, talvez seja atropelado, ferido ou morto psicológicos e até mcsmo eniermidades tísicas. Eles dcvem ser es-
por esse trem. Thoreau passou um bom tempo na cadeia por ter-se clmecidos e resolvidos.
recusado a pagar 1m'postos.
Também existem riscos psicológicos quando nos detrontamos com Tornando mais claros nossos valores
valores contlitantes. Os n'scos mais amplamente conhecidos são os
que Frankl denomina dc neuroses “noogênicas” - a neurose que se PARYE 1 .' LISM DE VALORES
origina na d¡m'ensão noética ou esp1r'itual do ser human0, onde as
decisões são tomadas. A neurose hoogênica é o resultado de dois Na página seguinte relacionamos uma lista comendo vinte valores.
valores atraídos para d1r'eções dlterentes. A cura logoterapêutica Leia-a e assinale os cinco itens que lhe pmecem de maior importân-
para a neurose noogênica (que pode causar depressão ou doenças cia e os cinco que lhe parecem de menor 1'mportânciu. (Esta lista
psicossomáticas) é decidü qum dos valores conflitantes é o mais foi t1r'ada do trabalho do logoterapeuta Jmes C. Crumbaughz
signiticativo para nós. Para se descobrLr' isto são necessarl"as Logotherapy - New Help for Problem Drinkers, Chicagoz Nelson-
mês coisas: Hall, pág. 107).
160 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA VALORES 161
3-8 4-() 5-lO 6~ll 7-1'7~ 8-l3 Quadro 3: Origens dos Valores
1-7 3-9 4~lO .5-ll 6-12 7-l3 8-l4
Eu mesmo
Educação
l-ll 3-13 4-l4 .5-15 6-16 7-l7 b'-18
Essa lista também pode ser usada para dar m'ício ao diálogo socráti-
co. Que o surpreende com relação às suas respostas? Como se sente
Quadro 4: Conflito de Valores
quando percebe que em geral, (ou raras vezes) você segue os valores
de seu pai ou mãe? Que geralmeme (ou raramente) segue seus pró-
pn'os valores? Que sua escolha com treqüência (ou quase nunca) Relate três episó- Você concorda Sc “não", quais os
dios durante a u'l- com os valores ex~
comcide com valores que têm origem extema a você? Você gostan"a valores que prefe-
um'a semana, nos pressados nessas re?
de mudar? Em que' d1r'eção? Que você teria de fazer para que Laís
quais você agiu Lrês atitudes?
mudanças 0c0rressem? Que o 1m'pede de fazer essa mudança?
como se Íosse seu
pai.
O que é un'ponante para a sua saúde mental não é tanto uma mudan-
ça em sua hierarquia de valores, mas que tome consciência de onde
esses valores lhe chegaram Muita gente passa a vida m'te1r'a carre-
gando desagradáveis e inconscientes “eu dev0”. Esses “eu devo”
cúam sensações de culpa e conñitos que não podem ser superados, a Relate três episo-' Você concorda Se “não", gostaria
menos que 0 indivíduo possa vê-los claramente e ser capaz de fazer dios durante a úl- com os valores ex- de mudar?
algo por eles. Lembrem-se que os conñitos podem, am'da que náo tlma' semana, nos pressados por es-
necessariamente, conduzk a problemas - que dependem de seu po- quais você agiu sas ações?
der para serem resolvidos. Mas para que isto aconteça você precisa como se tosse sua
saber qual a origem de seu conflilo de valores. mãe.
Exemícios
. Nomeie dois valores que são 1m'p0nantes para você e que sejam m'divíduo com uma estmtura p1r'amidal de valorcs, encontmr novas
contrad1'to'rios. áreas de satistação. Esse vazio repentmo pode conduzu' à doença e
. Lembre-se de uma época em que você assumiu uma posição por- até à morte prematura.
que acreditava nela.
. Lembre-se de algum incidente em que você foi criticado por algo O m'div1'duo que tem uma orientação horizontal de valores possui di-
que disse ou te'z. . Como você se sentiu? Que você fez? versas ar'eas de valores que coexistem paralelamente - carreu'a, ta-
Que qualidades você espera de um amigo? mília, amigos, passatempos, atividades cn'ativas, interesscs espe~
Que qualidades suas só recentemente você descobriu que tm'ha? ciais, té. Se um valor desmorona, oquos permanecem O homem
. Cite algumas pessoas que exerceram mñuência sobre você. Quais cuja carreüa termm'a, a mulher cujos laços lamiliares se rompem du-
as razões que 0 intluenciaram? rante a crise da meia-idade, podem encontrm sentido em outras ati~
. Qual a melhor coisa que aconteceu durante este últ1m'o ano entre vidades que representem oquos valores de 1m'portan^cia sinu'lar. Os
você c um amigo (um mcmbro da família, chefe ou professor)? valores honz'ontais são o seguro contra a vida vazia.
Cada uma dessas pessoas viveu ccntrada num úníco foco de interes-
se. Cada um correndo o risco de perder esse foco. Quando isso
acomece, a estrutura de valores de cada uma dessas vidas entra em
colapso; e suas vidas passam a ser vazias. Então é difícil para o
Capítulo Onze
0 SENTIDO NO CASAMENTO
E A VIDA FAMILIAR
adivinhações eram depois comparadas com o que cada um havia es~ estivcssem falando. A seguu' exempliticamos o caso dc um diálogo.
crito. A maior parte das suposições estavam cenas? Erradas? Até onde um atrito está prestes a ocorrer:
que ponto marido e mulher de tato se conhecem? Como se sente o
cônjuge quando seu parceüo adivmh'a corretamenle? E quando está Ela: Eu já estou cheia do seu trabalho até altas horas da noile.
errado? Os casais reagem de mane1r'a diferente. Alguns se sentem
Ele: Você acha que eu estou me divertindo?
bem quando um paxceiro demonstra conhecer bem o outro. Outros se Ela: Obviameme você deve prelerü trabalhar a passar a noilc ao
sentem descontortáveis. Há casos em que num mesmo casal, um se meu lado. Com certeza tem uma namorada.
sente bem, o outro maL Que signüica isso para o seu relacionamen- Ele: Você está louca. Eu trabalho, Lrabalho e você cu"nda mc acusa
to? O diálogo socrático, primeüo entre 0 parceko e o orientadon de estar tendo um caso.
depois entre os dois parceu'os, ajudá-los-á a ver o que suas reaçoe's Ela: Tenho meus motivos. Já 0 apanhci com a Susan.
representam em seu relacionamento. Elez E que me diz de você com 0 Harry'!
Ela: lsso só acomeceu porquc você me deixava sozinhu lodas as
Esta lista mútua também pode ser temada entre pais e filhos, entre noites.
1rm'ãos ou entre quaisquer membros da famflia como avós ou tios
que vivam sob o mesmo teto, ou tenham relacionamentos muito che- As acusaçoe's mútuas têm a tendência de rolar como uma bola de ne-
gados. Como se sente um filho se ele não é compreendido ou não é ve numa avalanche. O orientador sugcrc que os pm*e1°ros Lroquem
“muito bem” compreendido? De que maneüa a avó interpreta o pa- de cadeüas e que o marido, sentado na cade1r'a da espos.1'. responda
pel dela dentro de um lar? por ela.
Como foi discutido no capítulo anterior. o jogo de adívm'hação tam- Elez (falando pela esposa) Sinto muito que você tenha que Lrabalhar
bém pode ser jogado entre os membros da família, para estabelecer até tão taIde. Gostan'a de poder passar mais tempo com você.
valores hierar'quicos. O casal e os outros membros da família não Elez (mudando de novo de cadeka c falmdo por si mesmo) Eu um-
precisam ter os mesmos, nem mesmo parecidos, valores de preferên- bém gostaria de ficar mais tempo com você. Mas não me m'co-
cia. Mas é muito bom para todos, que cada um saiba o que é 1m'por- modo de fazer horas extras, pois é em tunção delas que tcremos
tante para a pessoa com quem eles vivem. condições de passar umas férias juntos.
Elez (tr0cando outra vcz de cadelr'a e falmdo por ela) Fico contcme
Outro método útü ao aconselhaménto famüiar é o logodrama, que com isso, querid0. As 1e*'n'as signilícam muito para mm'1.
tacüita aos membros da tamília, a oportunidade dc falarem uns Ela: (falando por si mesma) Férias realmcnte significwl muito pma
aos outros. É melhor escolher um problema de cada vez. Quando 0 mim. Concordo que se você não Lrathasse tdn'to não teríamos
dial'ogo começa a enveredar para um rumo perigoso e a colisão oportunidade de gozar esse descanso.
parece m'evitável, pede-se a um dos parceüos que troque de lugar
com o outro e passe a responder da forma que ele gostaria que lhe O atrito foi evitado. O casal agora pode talar de outros problemas.
174 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA U SENHDO NO CASAMbNÍO E A VIDA l"/\\.1ILIAR 175
Elez O caso com Susan foí uma exceçào. Você saiu de férias por sua Ela: Você é um cabeçudo c torce tudo que eu digo da manem que
conta e eu me sentia muito solitar1"o. lhe convém.
Ela: Eu sei o que você quer d12'er. Foi o que me aconteceu com o Elez lsso é menlLr'a. É você mesma que...
Harry. Fiquei tamas noites sozmh'a... Orientadorz Pare! lsto é contm a regra. an'eu"o rcpita o que sua
On'entador: Que vocês poderiam fazer para que as coisas deste tipo esposa falou.
não voltassem a acontecer no futuro? Quais as possibüi~ Elez Você é um diabo de um cabeçudo e sempre tem quc lcr mzão.
dades que vocês enxergamí7 Ela: Não loí isso que eu disse.
Ele: Mas toi o que quis dizer.
O casal preparou uma lista:
Ela: Como você sabe o que eu quis dizer'?
. Abrk mão das férias e passar as noiles juntos. Orientadon Você se lembra do que sua esposa disse?
. A esposa passa a tazer algum curso notumo, que lhe m'teresse, Ela: Claro! Não sou nenhum idiola. “Vocé é um tolo cabeçudo que
enquanto o marido trabalha. torce tudo que eu digo para que lhe convenha."
. A esposa arruma um trabaJho de meio período para juntar dm'hei- Ela: De fato eu disse que você é cabcçudo_ mas não o chame'i dc
ro para as térias e outras despesas extras. tolo. Você não é tolo.
. Deixam as coisas como estão e cominuarão a brigaL Elez Bem, obrígado. Pelo menos alguma coisa de bom eu tcnho. (Ele
. Pedem divórcio. n').
Ela: Ah. você tem mesmo pontos positivos.
. Tentam reduzu' cenas despesas para não precisar procurax
Orientadorz (para o man'do) Qual a sua resposta por ter sido cha-
trabalho eera.
mado de cabeçudo?
As vantagens e desvantagens de cada uma das opções são discuti- Elez Eu tenho mmhas opiniões próprias. sim, mas não lico torcendo
das. Decidem sobre o curso noturno da esposa. Há muito tempo ela as coisas.
vem querendo fazer um curso dc cerâmica. Ela também expressa m'- Ela: Torce, sim. Você se lembra...
teresse em trabalhar meio período em alguma coisa que a satisfaça - Orientadon Eco, por favor.
não quer trabalhar só peIo dmh'e1r'o. Ela: “Eu tenho mm'has 0pinioe's próprias. mas não Iico torcendo as
coisas”.
Em geral os problemas matrimoniais e famüiares parecem difíceis de Elez Certo.
resolver porque os parceüos falam contra o outro ao invés de falar Ela: Você se lembra no ano passado. quando eu estava adxmran'do
para o outro, ou porque suas conversas se desintegram em acusa- um colar de pérolas numa vim'ne, você disse que eu ia levá-lo
çoe's e defesas que bloqueiam a comunicação. Quando a pessoa fala à ruína?
contra o outro a tec'nica “eco-diálogo" pode ser empregada. O “e- Elez "Lcmbra o ano passado, quando eu estava adnur'ando um colm
co-dial'ogo” é uma técnica simples que consiste no segumtez um dos de pérolas numa viLrine e você disse que eu ia levá~lo
parcekos só pode responder, depois de haver repetido a af1rm'ação à ruína?"
de seu con1panhe1r'0, até que ele se sm'ta satisfeito. Ela: Ceno.
176 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA o SENTIDO NO CASAMENTO E A VIDA FAMILIAR l77
Elez Bem, se isso é tudo que voce se lcmbra... Uma vez por ano não Elcz Não fique magoada.
faz mal torcer as coisas, taz'? (Eles nram')
Suavemente a atmosfera toma-se menos cnvenenada c um diálogo
Agora eles começaram a se entender. Já não discutem um comra o verdadcüo se faz possíveL
outro; riem juntos. O caminho para o diálogo está aberto.
ticipa da conversa e é meramente um controlador automático que se- mais efetivo, evitando que se encaminhem pma o terreno das cm0-
gura uma lantema. Todas as vezes que um dos particípantes díz algo çoe's, é baseado nas técnicas de aconselhamento maLrímonial usadas
pela pnm'e¡r'a vez pelo padre Gabriel Calvo, da Espanha. Seu méto-
ofensivo ao outro, ele accnde a lantema. Ao ver a lantema acesa, a
pessoa que está falando deve repetü o que disse, mas desta vez sem do foi adotado por terapeutas de linhas de pensamcnto muito diver-
hostüidade, sarcasmo, xm'gamento, acusações ou negatividade. En- sas, e também pode ser usado pelos que têm inclinação pelo método
tão a discussão conünua. Só uma pessoa pode falar por vez, e a re- logoterapêutico. Esse método é chamado o jogo do QUAMESL As
gra com a lantema é igualmente aplicada a todos. Eis um exemplo letras que formam esse acrônimo signiíicamz Quais Os Meus Senti-
de uma discussão em que a técnica da lantema foi utüizadaz mentos Sobre lsso? Este jogo é de especial utilidade como uma fcr-
ramenta de auto~ajuda para casais que detectam os pnm'eu"os sínais
Ela: Você é um cabeçudo e torce tudo o que eu digo da mane1r'a que de uma tormenta que se aproxima e desejam evitar um naufrágio; e
lhe convém (A lantema acendeu). para casais que vivem bem e querem viver ainda melhor.
Ela: Você tem suas própúas opm'iões e não ouve o que eu estou
d12'endo. Uma sessão do jogo de QUAMESI leva mais ou menos meia hora.
Elez Eu ouço, mas geralmente você fala beste1r'as que não me Pode ser pratícado todos os dias como um exercício para o espm"to,
interessam (A lantema acendeu). ou pode ser reservado para ocasiões em que problemas especiais
Elez Eu ouç0, sun', mas não estou 1n'teressad0 em suas fofocas. (A aparecem Se decidimos jogar todos os dias devemos selecíonar um
lantema acendeu). problema para cada día. Um dia pode ser dedicado a pequenas desa~
Elez Muito bem. Você cm geral fala de coisas que não me m'te- venças do casame.nt0, (QUAMESI quer que eu ande atrás de você
ressam catando as coisas que deixa pelo can'1inh0?) a contlitos mais sérios
Ela: Emão me diga isso. Não posso ler seus pensamentos, Senhor (QUAMES[ você eslá recusando tazer amor comigo quando estou
Professor. (A lantema acendeu). querendo?) ou a tópicos gerais, raramente discutidos (QUAMESI
Ela: Não posso ler seus pensamcntos. nosso amor um pelo 0L'Lro?) O jogo tem quatro partes que podem ser
Elez Está bem. Daqui para frente eu digo. Mas você não precisa resumidas na sigla ETDS, que é o acrômm'o paraz
pular em cuna' de m1m'. do jeíto que você faz todas as vezes que
eu... (A lantema acendeu). * WAMFA (w1m arc my fcelings ahout'!).
178 APLICAÇÓES PRÁHCAS DA LO(¡O'1'ERAPIA O SENTIDO NO CASAMENTO li A VIDA l-/\'\¡1ll.l/\R 179
hhcreva por dez minutos sobre o tópico escolhido. Os sentimentos são espontâneos. Não são bons ncm maus. Contudo,
Troque o que você escreveu, e cada um lê as palavras escritas podem ser positivos ou negativos. Não hcsitc em compwilhar scus
pelo outr0. semimcntos negativos, mas evite descarregar “lixo desnccessário".
Dialogue com seu pwceüo por dez m1n'utos sobre 0 que cada Não teme justificar seus sentimcnlos, apcnas tomc conhccimcnm dc
sua existência. Todas as vezes que você disscr “Eu sinto... porquc,"
um escreveu, e como se sentüam a respeito do que
está demonstrando que não aceila scus senliment05. Eslá tentandu
leram.
prová-los e just1'fic.1"-los. Aceilar seus sentimcntos não signitica quc
Selecione um tópico pma o dia seguime.
você não tem controle sobre os atos que dcles brotam. As açõcs po-
O método QUAMESI/EI'DS focaliza a atenção nos sentimentos dem ser prejudicíais ou provcitosas para você c para os denmis.
Quando se enfrema com lealdade uma emoça'o, novos caminhos po-
atuais ao invés de explorm problcmas com causas enraizadas (“Sua
dem ser abertos para se lidm com ela. Um diálogo tr'anc0 com seu
mãe costumava hm'p4r' tudo que você sujava; não sou sua escrava.
parceüo será sempre bom. O diálogo ETDS cntre cônjugcs é guiado
Arrume sua própria bagunça”. Ou “Se você grita comigo 0 día tod0,
por estas regrasz
não tenho vontade de fazer sexo com você à noite”).
. Fique com seus semun'entos. lsto evita discussões desneccssán'as.
Cada um dos parceüos expóe claramente 0 problema. Que sente o
Se a esposa disser, "Se você largar suas meias no chão eu vou
marido quando sua esposa deixa as meias dele no chão? Que sente a
ficar furiosa”, 0 marido não poderá discordar dizendo, “Não, is-
esposa quando o marido resmunga porque ela nào limpou d1r'eito a
so nâo tará você ficar fun'osa.”
casa? Que sente o mazido quando sua esposa vem com desculpas
Evite contra-atacar. Não diga: “Bem, c qumto a você'?
(“Estou muito cansada, estou com dor de cabeça”)? Que sente a es-
posa quando ela não consegue supcrar o ressentimento pelas recla- Você larga a louça suja dentro da pia”.
mações do maúdo e recusa suas m'vestidas românticas? . Evite deixar que o diálogo se estenda além do que está sendo
Lratado, ou que se reporte a eventos passados: “A semana pas-
Cada parceko escreve sobre seus sent1m'entos não ultrapassando dez sada você fez isso, o mês passado você te'z aquüo... Quando suu
minutos. Especüique somente como você se sente sobre 0 compor- mãe nos visita você fica cheia dc exigências, c é clu qucm deixa
tamento do seu cônjuga Use os adjetivos - “raiva", “desaponta- tudo na maior desordem.”
mento", “trustração”. E não esmaeça o colon'do da descrição da- . Evite ataques pessoais. Não diga: “Baguncelr“os como você mc
quilo que você realmente está sentmdo - “lsso me dá vontade de põem furiosa”, mas: “Quando alguém larga as coisas espmramu-
sub1r' pelas paredes" ou “Eu podia te agarrar pelos ombros e te sa- das por aí, fico furíosa.” Descrcva sua raiva da maneira muis real
cud1r'.” Ataste~se de julgamentosÇ As palavras “Eu ach0” são em que puder, e, se possíveL com humor.
geml mal usadas para expressar um julgamento - “Eu sinto que você Lide com um problema de cada vez. Os pratos sujos e as visitas
não está sendo honesto comigo”. Sempre que puder, substitua “Eu da mãe podem ser discutidos em diálogos postcriores.
acho” por “Eu sinto”. Expressamos nossos verdadeüos senmnentos Discuta ações altemativas. Depois de cxpressar abcrumlente c
dizendo “Eu est0u...” Não se pode dizer “Eu acho raiva”, unica- tomar conhecimento de suas emoções, você pode discutir atitudes
mente “Eu estou com raiva”. que são possíveis, em vez dos sentimentos que cada um tem.
180 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPlA U SENTIDO NO CASAMENTO li A VlDA l'AMll.l/\R 181
Elisabeth Lukas considera uma tam'1'lia saudáveL aquela cujo's mem- Quando os membros da família têm um relacíonamemo saudável.
bros cxercem uma função signüicativa. Famílias assim, não têm cada indivíduo está ciente do papel que desempenha e se csforçu
182 APLICAÇÕES PRÃTICAS DA LOGOTERAPIA 0 SL¡N'l"lD0 NO CASAMENHJ L" A Vll)AFz\\¡1lLlAR 183
para executar seu papeL dentro da situação cambiante da vida fami- ameaçador, na posição de um urso, ou isolado - talvez nem íazcndo
liaL Para realizar essa conscienüzação, cada membro deve mobilizar parte do grupo. A mãe pode estm abraçand0, pregando um sermão
duas capacidadcs humanas: o autodistanciamento e a autotranscen- com o dedo em riste ou lapando os ouvidos com as mãos. O um'ão
dência. pode ser moldado como arrogante, e a 1rm'ã mostrando a língua numa
expressão de insolente rebeldia.
0 autodistanciamemo nos perrnite atastaxmos de nós mesmos (men-
Ialmente) e ver onde estão acontecendo os distanciamentos e os
Cada membro da Íamília tem sua vez de ser “escultor” e a 1am'lia
am'tos. Sem esse atastamento, estamos mais propensos a prestar
atenção unicameme em nossas necessidades e provavelmente não toda deve concordar em segu1r' as instruções do “an'ista” sobre as
nowemos a necessidade dos demais. A autotranscendência nos per- poses e expressões faciais que ele inventar. 0 quadro irá então mos-
mite, alravés de nossa preocupação com os outros membros da fam1'- trm como cada membro enxerga a família e os relacionamemos - as
lia, assumk atúbuições que na verdade não queremos, ou abr1r' mão duplas, os Lrian^gulos, as alianças, os isolamentos, os contlitos, as
de tunçoe's que gostan'amos de manten Conselheu'os matr1m'oniais e provocaço'es, os desafios, os medos e dependências.
tanul'iares desenvolveram numerosas técnicas que se utüizam de
princípios logoterapêuticos. Duas delas, que facüitam o autodistan~
Depois quc cada participante “esculpiu” os membros fanlilimes. ca-
ciamento e a autotranscendência são “as esculturas” e “a folha de
da qual é então solicitado a formar um segundo mranjo dc esculturas
jomal”.
que mostre como cada pessoa gostaria de ver sua famüia. Depois
que toda a família tomou conhecnn'ento de como é vista pelos parti-
ESCULTURAS cipantes e de como goslariam que fosse o rcmcionamento enLre eles.
então a pergunta básica é novamente formulada: Qual seria 0 pn'mei-
Esculpü é 0 autodistanciamento em ação. Toda a família fm'ge que é ro passo a ser dado para que a atual situação pudessc ser revertida?
feita de barro e que pode ser moldada à vontade. Pede-se a um Neste momento a autotranscendênda é trazida para o jogo. As per-
membro da famflia que agrupe seus famüiares da maneka que ele os guntas sãoz que poderiam os membros da família fazer para encurtar
vê. 0 marido, por exemplo, pode formar um grupo no qual a esposa os distanc1°amentos, e de que eles estariam dispostos a abrir mão pam
está isolada, de pé, numa pose de desafio, as pemas bem afastadas, evitar os atritos? Quem estan"a preparado, para o bem dos dcmais. a
os braços cruzados. Ele está deitado no chão, indefeso, enquanto
mudar seu comportament0? A escultura pode romper um Círculo vi-
seus mhos o puxm em todas as d1r'eçoe's. A esposa pode formar um
cíoso que estava sufocando a famflia, e um novo ciclo podc scr co-
grupo diterente. Ela pode ver-se ag'achada, enquanto seu marido fica
meçado. A escultura pode tomar mais íácil para os participmtes
empenigado Com o pé no pescogo dela; todos os f11'hos, exceto um,
conversarem uns com os outros - não só através dc suas próprias
eslão momados nas cosm dela - esse um está num canto, alheio ao
perspectivas, mas através de uma visão mais objetiva e alé com
resto da tamília. As crianças podem tormar var1"'as esculturas, cada
humor.
uma dücreme da oulra. Um mho pode esculpü o pai tacitumo,
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184 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA O ShNTlDO NO CASAMENTO li A VIDA PAMILIAR 185
A FOLHA DE JORNAL Esse exercício pode ser cxecutado pelo par, sozmh'o, ou diantc
do resto da tamília que fica obscrvando. Qumdo a Iamília obsc*rva.
Este “j0go" também usa a capacidade humana de autodistancia~ ela pode partühar das anal'ises comentadas pelo par que cxe-
mento. E empregado para explorar 0 relacionamento emre duas pes- cutou o exercício. Este procedimento retorça o cfeilo do autodis-
soas - marido e mulher, pai com tilho, 1rma"o com uma"o. tanciamento.
Uma tolha de jomal, bastante grande para que duas pessoas caibam Todos os exercícíos que exploram os signiñcados do relacionamemo
ncla, é colocada no cha'o. Pede-se, emão, a duas pessoas que se famüiar intluenciam o lado positivo da relaça'o. Os aspectos negati-
aproxun'em da tolha, vindo de d1r'eçõcs opostas, e se coloquem sobre vos não devem ser menosprezados, mas as observaçoe's a respcito
ela. A maneüa que elas respondem dá algumas idéias de como “se deles devem sempre ser acompanhadas pela pcrguntaz “Quc pode-
semem uma em relação à oqua”. mos fazer para que as coisas melhorem?” Onde as emoçoe's podem
automaticamente dizer “não", o espírito ainda pode dizer “sim". Os
0 marido, todo pomposo e cheio de si, pode colocar-se sobre a folha obstáculos que impedem um bom relacionamento podcm ser removí-
como se estivesse dlz'endo: todmha mmh'a”. A esposa pode achaI dos, e novas possibüidades são possíveis.
Lranqüüamente um lugar no canto. Ou lutar pelo seu lugaL Ou pode
encomrar seu lugar abraçando amorosamente o marido. Ou ticar de
pé, cautelosa, de to'rma a não toca'-lo. Existem inúmeras possibilida-
des. E as possibilidades são igualmente numerosas para as outras
duplas - e igualmente reveladoras.
GRUPOS DE COMPARTILHAMENTO
Robert Leslie e outros logoterapeutas esboçaram algumas determina~ como dos acertos que o passado lhe proporcionou.
l- Esuu"t1uar. Começar e termmar a sessão dentro do prazo es- tdn'1bém condenavam o comportamcnto dc Frcd. e antcs quc o
tipulado, dar apoio às colaborações de cada participante, proteger os orientador interv1'esse, 0 seguime diálogo se passou:
pacíentes de críticas destrutivas.
2- Anallsar': Fazer observações sobre 0 que está acomecendo, Fredz Eu tcnho um pastor alemão nu mcu carr0. c prcciso sau'
detectar incoerências entre pmavras e atitudes, apontar padrões de muítas vezes para ver se ele cstá bem.
comportamenl0. Membro do grupo: Você íncomoda o grupo só por causa de um
3- Cenüahmr.' Ajudar 0 grupo a Lranstonnar o bate-papo in- cachorro?
íormal numa conversa mais profunda. na qual os debates 1m'pessoais Fredz Ele está sozinho.
e supcrficiais se concentxcm em envolvun'entos pdrt'icularcs, de con- Membro do grupo: Ele é mais importantc para você do que
tcúdo mais significativo. nós?
4~ Compamlhar.' Participar ativamcnte como membro de grupo, Fred: Eu amo meu cão.
dc acordo com as regras estabelecidas.
5- lnccntivan Encorajar os pacientes a transfonnar-se: “Para A maneüa de Fred expressar-se prcndeu a atenção do grupo. Foi a
onde você vai, ao sair daqui'?" “Que pretende fazer?” primeüa vez que Fred deixou transpmecer uma emoçâo. Na d1'scus-
6- Umñ'car. Amarrar pensamentos dispersos e recuperar tarefas são que se seguiu, uma scnhora conlou a Frcd que ela e o marido
não terminadas. também tinham um cão que amavam muito. Disse que dctestou tcr dc
7- Pam'c1par'. Tomar parte nas discussóes dc grupo e permit1r' colocar 0 cachorro num canil enquanto viajavanL porque com certe-
que os indivíduos auxiliem os outros membros do grupo. za ele se sentiria 1'nte'liz. Estavm plancjando sa1r' no tim-de-scmana
8- Viglar.' Ficar atemo para que o grupo não se desagreguq em - será que Fred não se imponmia dc tomar comu do cuchorro dclch
função do comportamento individual de um dos participames. Ela dísse isto porque como Frcd amava os animais. podcria dar'-lhe
um atendimento mais pcssoal do que aquele quc clc rcccbcña no ca-
Notaz Num grupo que está se saindo bem, as funções do orientador nil. Disse que ela e o marido ücmiam contemes cm pagar a Fred a
podem ser adotadas pelos participames. Estes podem ser tão impor- mesma coisa que pagariam ao caniL Fred espantou~se com a pro-
tames como o próprio orientadon posta, mas depoís de algumas cutucadas dc cslímulo dccidiu accitar'.
Durame as conversaçoe's subseqücntes que o grupo n1anteve. h'c0u
claro que, pela primeüa vez em sua vida, Fred 1r'1'a rcccber d1'nheu'0
Exemplos para tazer alguma coisa de que rcalmentc gostava.
O JOVCIH Fred quase não pmicipava do grup0. Diversas vezes, du- A panir desse dia, aumentou a panicipação de Fred no grupo, e os
rante a sessão, ele saía da sMa e retomava após alguns minutos. Um outros membros passaram a considerá~lo como sendo um dclcs. Na
dia, um dos membros 1m"tou-se e perguntou a Fred: “Afinal de com- úllima sessão íoi solicitado aos parlicipantes quc dessem sua
Las, por que você vem aqui'? Nunca diz uma palavra e freqüente- opinião a respeito da cada companheüa Um dos panicipunles
mente nos perturba, entrando e saindo da sala.” Outros panicipantes disse a Fredz “A pnm'exr*a vez que 0 vi. pensei que vocé tossc um
192 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA (›'RUPOS Dlí COMPARTILI lAMENTO 193
vagabundo. Mas agora vejo que é uma boa cn°atura. Você ama os perguntou ao grupoz “Como vocês se sentüam quando Sue (a mu-
amma'is. Espero que um dia encontre alguém, talvez uma garota, a lher que agrediu) falou com a Polly (a esposa grávída)?" Muitos dos
quem aprenderá a amar.” panicipantes expressaram raiva de Sue, pela maneüa conlundente
com que ela agrediu a companheu'a. O orientador permiliu que a
Fred deu ao grupo algumas palavras-chave. Pedlr'aJn-lhe que flz'esse discussão se prolongasse por mais alguns momentos e então per-
uma lista das atividades que fossem 51'gn1t"1'cativas para ele. Não foi guntou: “'Agora, como vocês acham que Sue está se semindo?"
nenhuma surpresa saber que os amma'is eram importantes dentro das
atividades que ele escolheu. Fred optou por um item da lista de al- Sue falou em voz alta, dizendo ao grupo como ela se sentiaz “Há
temativasz decidiu ser voluntan"o numa clínica veterm'an"a. Como anos que desejo engravidar, e por alguma razão não consigo.”
pnm'eu'o passo para atm°g1r' sua meta, Fred pôs um anúncio no jomal
e encontrou um trabalho não remunerado numa loja de an1m'alz'1nh'os De repente, o estado de espüito do grupo mud0u. Ao 1n'vés de lidar
de estimaça'o, que ele se propôs colocar em ordem. Voltou à escola, com um ataque de raiva, eles perceberwn que tinham ouvido a an-
formou~se e foi contratado por uma dessas lojas para cuidar de ani- gústia de uma jovem sofredora - que se expressara de torma inade~
mais. Mais taIde ele encontrou trabalho numa clínica veterinar1"a e quada, infeliz, comudo reaL Os panicipantes aprenderam uma boa
recomeçou a estudar, na esperança de tomar-se eventualmente vete- lição desse simples incidente.
rinário. Nessa mesma época passou a sa1r' com uma namorada. Essa
mudança convertida num fehz° desenlace começou com um desagra-
dável incidente num grupo de terapia. A Sessão de Abertura
Em grupos dessa natureza, um m'cidente embaraçoso que seria aba~ Dentrov de um grupo, a confiança e as atitudes positivas compam'-
fado numa reunião social, pode transformar-se no pnm'e¡r'o passo pa- lhadas, precisam ser cultivadas desde o início. Os participantes scn-
ra um entendun'ento verdade1r'o. Rohen Leslie relata que durante tam em círculo, em cadeüas confortáveis ou sobre almotadas. Sen-
uma sessão, uma Jovem chegou atrasada e, desculpando-se, disse tem-se provavelmente um pouco ansiosos, mas o comporumentc
sentlr'-se enjoada por estax grávida. “O pior é que eu não queria en- descontraído do orientador e certo bom humor ajudam muilo. Oa
gravidar enquanto meu marido am'da está estudand0.” participantes são solicitados a dizer algumas palavras sobre si mes-
mos, 0 que esperam ganhm com a experiência adqunr'ida no grupo e
Uma mulher que participava do grupo exaltou~sez “Que houve com comentm sobre algo positivo que esleja acontecendo atualmentc em
você?” gritou. “Como pôde ser tâo boba? Nunca ouviu falaI em sua vida. O orientador participa desse exercício de apresentação as-
controle de natalidade?” ' sim como de todas as atividades do grupo.
Pa1r'ou no ar um silêncio constrangedor. Numa -reunia'o social alguém Esses momentos de aprescntação podem ser dmalizados e alegres
teria uned'iatamente mudado de assunto. Mas essa não era uma reu- dependendo da situaça'o. O orientador e os participantes podem
nião social; era um grupo de compam'lhamento. O orientador " formar um c1'rculo, enquanto todos ainda estão de pé. O 0n'entador,
194 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA GRUPOS DE COMPARTILHAMENFO 195
segurando um novelo de la', apresenta-se dizendo alguma coisa de deve intertem se alguma coisa não está correta ou se talta mgo a
positivo a seu respeito e então - segurando a ponta do ño - aura' o acrescentar. Em seguida “B” comenta 0 que “A" disse, c “A” tam-
novelo através do c1r'culo, para um dos pam'c1'pantes. bém terá a oportunidade de com'g1r' ou adicionar alguma coisa. Isso
tomece m'tormações ao grupo, o que provavelmente eles não conse-
A pessoa que agarrou 0 novelo repete o que o orientador acabou de gum"am obter, se todos falassem diretamente ao grup0. Outra tm'ali-
d12'er: “Você é Fred Jones, professor do ensmo secundarl"o e está fe- dade desse exercício é aprender a escutar, o que é muito 1m'poname
liz porque acaba de se tomar pai.” Então ela se apresenta, comenta nos trabalhos deste tipo.
algo de bom a seu respeito e, segurando a linha, joga o novelo para
outra pessoa do cu'culo. Esta seqüência se repete até que todos Durante a pnm'61r'a sessão, os participantes permanecem num nível
tenham pam'cipado. O novelo de lã vai tícando menor, à medida superficial; contudo, a comunicação já se estabeleceu.
que os tios entrelaçados vão estabelecendo um vm”culo entre os
m'divíduos.
A Conduta nas Terapias de Grupo
Cada pessoa repete o que seu antecessor disse. Esse “jogo” de-
monstra a m'terdependência que se torma entre eles e os motiva a As idéias que formam a base do processo logoterapêutico não devem
ouv1r'em com atenção o que foi dito. ser apresentadas ao grupo em tbrma de palestras. Ao comran"0, essas
idéias devem ser fomecidas gradat1'vamente. através de pequenas
A seguü a seqüência se revemL A últ1m'a pessoa que recebeu a bola ajudas, sempre que o momento se mostrar apropriad0. A informação
de la', devolve-a para aquela de quem recebeu, tentando lembraI-se básica pode v1r' de livros que foram lidos pelos membros do grup0.
do que ela disse. Novamente o exercício é repetido por todos. A re- Todas as idéias, exercícios, jogos e técnicas que foram discutidos
de de tíos desaparece, o novelo fica maior, cada paxticipante apren- nesta obra podem ser adaptaclas ao processo de terapia cm grupo.
deu alguma coisa sobre seus companhelr'os, todos se d1'vert1r'am e o
grupo relaxou.
ELABORANDO LISTAS
Se os participantes parecem tímidos e nervosos, falam pouco ou na-
da (o que eles têm todo o d1r'eito de fazer) durante a apresentação, a Pessoas que pamcípam de grupos podem conseguü 0 autodistancia-
prnn'elr'a sessão pode começar de mane1r'a diferente2 cada pessoa de- mento. Quando um pmicipante panilha uma experiéncia com os
verá escolher um compahe1r'o (de preferência um desconhecido e não companheüos de grupo, ele se enxerga através dos olhos dos 0utros.
um anu'go) com quem manterá um' dial'ogo por vm'te minutos. O exercício 1n'tr0dutório de elaborar listas pode tacüitar esse'
processo.
Nos pn'rne¡r'os dez minutos “A” ouve “B”, e nos outros dez minutos
“B” ouve “A”. Depois todos se reúnem em c1r'culo e relatam o que Pede-se aos pmicipantes que façam duas listasz uma com as coisas
foi conversado entre as duplas. “A” relata o que “B” disse, e “B" que eles gostam em si mesmos, e outra com as' que não gostam. O
196 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGO'l'ERAPIA 0 SENTIDU NO CASAMENTO E A VIDA FAMILIAR 197
autoconhecimento que resulta da elaboração dessas listas é reforçado Em qualquer caso é desaconselhável dar excesso dc atcnção a de-
pelos comcmar'ios dos demais participantes. Mesmo aquelas pessoas terminado participante. Este pode não senur'-se bem. e os outros. ne-
que pennanccem quietas durame as discussões têm probabilidades gligenciados. Quando um dos participantcs tcm um problcma muito
de tomar consciência de alguns de seus aspectos imeriores. sério, é bom que marquc uma hora em pmicular com o orientador.
Ou o grupo como um todo pode ser díretamente incluido para va-
balhar na solução do problema.
"Ah.' É assun' que eu também me sm'to" d1r'ão elas, expressando sur-
presa ao perceber uma característica própria na resposta de um dos
membros do grup0. Ao ser discutida abertamente a lista de todos, LOGODRAMA
o leque de opções amplia~se. Alguém poderá dizerz “Nunca me ha-
via ocorrido essa possibilidade”, em reação a alguma observação Uma das maneüas de envolver todo 0 grupo num problcma apre-
feila por um partic1'pante. Outra pessoa poderá dizerz “Então eu não sentado por um dos participantes é pmü pma 0 logodrama. O logo~
sou a u'm'ca criatura que vive adiando suas decisões”, aliviada ao drama dá ao indivíduo a oportunidade de rcprcsemm sua situação
perceber com que treqüência os adimentos aparecem nas listas das problemática, tazendo o papel das diversas pessoas com as quais cle
coisas que não gostamos em nós mesmos. Parlilhar os gostos e des- está tendo contlitOS (cônjuge, pais, amigos, chete, etc.).
gostos pode ser muilo confortantm
Quando 0 logodrama é adotado num grupo, não há necessidade de
0 oriemador nào deve permim que as conversas dentro do grupo se uma cadeka valia. A própria pessoa que tcm o problema represcnta
deteriorem num compz|rt11h'ar' de angústias. Isto não signitica que os a si própria e se toma o “d1r'et0r" do logodrdn'la, no qual os mem~
problemas devam ser uegligenciados, mas que se devc dar mais bros do grupo são o elenco, representando os diversos papéis - de
atenção às soluções O bom humor é sempre de grande valia. Uma esposa. amante, fílha adolescente, sogra. O d1r'etor esboça a situação
senhora, após ouv1r' a longa lista de coisas que um dos membros não e o problema, e dá instruções aos outros atores sobre os pcrsonagens
gostava em si mesmo, citou um escritor de comédias. austríacoz que eles 1r'ã0 1'nterpretar.
“Ninguém é totalmente inu'ul'. Sempre pode servü como um péssimo
cxemplo.” Se o comportamcnto de um dos atores não corrcsponde ao persona-
gem que ele está interpretand0, 0 díretor pára 0 espetáculo e dá no-
O orientador lenta mantcr todo 0 grupo atuante. lsto requer sensibi- vas instruções. Os membros do grupo que não estào no “clenco" ti-
cam como observadores e podem participar como dublês. Se um dos
lidade. Se a pessoa não se mahifesta porque é tírnida, deve ser enc0-
membros do grupo pensar em alguma coisa que um dos pcrsonagcns
rajada ou dcixar que fique sossegada7 O orientador deve agir com
poderia dizer, o rcserva se aproxima por trás da pessoa que esxá re~
caulela antes de fonnar um Julgmenta Alguém do grupo fala de-
mais. Será quc esta pessoa deve ser refreada para que não tome tratando o personagem, coloca a mão em seu ombro e diz o que ele
acha que aqucla pessoa devcria dizer. A pcssoa que cslá represem
conta das discussões, ou cla está passando por um sérío problema e
tan'do pode emão repetü a sugestão do dublê.
seme nccessidade de scr ouvida?
198 APLlCAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA O SENTIDO NO CASAMENTO E A VlDA FAMILIAR 199
Por exemploz Jack está tendo um problema com seu irmão que vive Clube 4. A tia de Vema - irmã de sua mãe - queria que cha fosse
causando encrencas e depois, com muito jeit0, manobra a situação e morar com'ela na cidade. Vema e os membros do grupo enccnaram
a culpa acaba recaindo sobre Jack um logodrama sobre essa situação.
Jack (para a pessoa que está representando seu 1rma"0): Você. “Tía”: Venha morar comigo. Você é jovem e tem que lcvar
mmm, não devia ter feíto isso. Mamãe ficou louca da vida a vida normal de uma mocinha de 17 anos. Mesmo que
cornígo e, bem, eu não podia provar nada. Não foi culpa você não me ame, será que não ama a si mesma?
minha, mas a mamãe ficou brava corm'go. Vema: Eu a amo. Mas papai precisa de mim. (Pa_ra a pcssoa
Membro do grupo (colocando-se auás de Jack, pondo a _mão que interpreta o papel de pai de Vema): Eu gostaria de
em seu ombro e gritando ao “1rma"0” de Jack): Seu ñcar na fazenda. Gostaria mesmo.
maldito mentlr'oso. Você vive me 1errdn'do! “Tia”: Você dlz' que está cansada demais para marcar um
Jack (gritando): Seu maldito mentlr'oso. Seu hipócrita. A vida encontro e até mesmo para 1r' ao cinema. O Clube 4 se
m'te¡r'a você vem me “terrando”! refere a quatro coisasz cabeça, coração, mãos e sau'de.
Você só está usando as mãos e arrum'ando sua sau'de.
Durame a discussão que se seguiu, o membro do grupo que repre~ “Pai": É por pouco tempo; someme até que eu lcnnine de pa-
sentou 0 dublê explicou que ele sentiu que o problema de Jack era gar mm'has dívidas.
ele não conseguu' expressar sua raiva. Jack concordou. Se ele não Vema: Papai, estou cuidando da sua contabüidade; am'da esta-
tivesse concordado, poderia ter dito que não aceitava as palavras remos em apuros por muito tempo.
que o dublê usara. O logodrama ajuda as pessoas a enxergar que Membro do grupo como dublê de cha: Papai, você é um
elas não conseguem expressar amor, que usam máscaras para enco- homem 1r'responsável e egoísta.
br1r' suas verdade1r'as personalidades (t›azend0 papel de palhaço, de Vemaz (a0 dublê): Na'o, eu não diria isso.
otan"o, de garota sexy, de macha'o). A dublagem pode abnr' as ponas Dublê: Bem, 0 que você diria então?
para novos insíghts. Vemaz Talvez ele devesse ser mais responsáveL mas ele não
é egoísta. Ele me ama e eu o amo.
Oriemadorz Diga isso ao seu pai.
Excmplo
Vema (dep0is de longa hesitação): Papai, quero ficar com
você. Eu o amo. Não me 1m'porto com o Lrabalho.
Vema tr'equ"entava um grupo de compartilhamento com alunos do
Mas... eu de fato sinto talta da escola, dos meus mi-
curso secundan"o que haviam deixado a escola. Ela vivia com os pais
gos, de me divertü de vez cm quand0. Eu não quero
numa tazenda. participava ativamente do Clube 4 local e era uma viver na cidade, mas tia Hilda tem rdz"ão... b0m, mcia
das primeüas alunas da classe. De repente sua mãe morreu num razão. Estou usando minha cabeça c mm'has mãos. Meu
acidente. Vema assumiu as tarefas da mãe na fazenda, além de coração está apenado e minha saúde não está bozL Às
continuar seus estudos e suas atividades no clube. Pouco tempo da- vezes preciso tomar um comprimido estimulame para
pois ela estava exausta. Largou a escola e deixou de freqüentar o ficar acordada para apromar o jantar.
200 APLICAÇÕES vRÁTICAs DA LOGOTERAMA 0 SliNHDO NO CASAMENTO L4 A VIDA FAMILIAR
Dublêz Papai, você precisa dispensar-me de algumas responsa~ ter sido a pior coisa que já lhe aconteccu - c ao Ler encomrado sua
büidades. Eu quero trabalhar, mas também quero marcar Igreja - que você disse lcr sido a mclhor coisa que lhc aconlcceu.
cncontros e 1r° ao cinema. Que existe de comum entre as duas?" Após alguns momentos de rc-
Vema: Papai, você precisa dispensar-me de algumas responsabüi- tlexão, ele respondeuz “Creio que am'bos me tizeram crcscer.”
dades. Temos que resolver este problema.
O jogo °°com0 se” (ver Apêndice B) também pode comribuk com
O problema não foi resolvido - não é esta a tunção do grupo de uma dimensão suplementar através dojtwdbuck do grupo. Num gru-
compdrt'1'lhamento. Mas as portas toram abertas. po onde o ambiente é seguro e todas as pessoas contiáveis, uma jo-
vem sem atrativos pode comporlar'-se como a mulher sensual que ela
0 EFEITO FEEDBACK seme que é, e ouv1r' as reaçócs e as críticas construtivas dos seus
companheüos.
Nos grupos de compam'lhamento, 0 eteito jeedback pode proporcio-
nm benetícios adicionais, quando usado com qualquer um dos exer- O feedback pode ser usado de muitas man'eiras. Um senhor acredita-
cícios descritos neste livro, incluindo os logodrmas. va que nada que ele dissesse valia a pena ser ouvid0. Pediram-lhc
que se sentasse no meio do c1r'culo e exigísse atcnção a cada palavra
Quando os pacienles desenham os mapas de suas vidas, que apre- que ele pronunciasse. Uma senhora toi educada na crençu dc que
semm mtos e ba1x'os. ponlos críticos, relacionamentos e ar'eas claras auto-elogiar-se era uma atitude arrogante e indelicada. Pcdlr'am-lhe
c escuras, cles podem revezar-se, Íixando seus mapas na parede e que se sentasse no centro do cüculo e proclamassc em voz dl'td' todas
discutindo seus aspectos com os demais participantes. O jeedback as suas boas qualidades, enquanto os pmicipantes adicionavam ou-
dos membros do grupo a respeito dos mapas da vida pode abrü no- Lros aspectos positivos que eles acreditavm ainda exisnr'em dentro
vos horizontes. dela. Uma das pessoas tomou nota de todas us qualidudes quc tormn
mencionadas. Essa senhora lcvou pwa casa a lista e retletiu a res-
Uma mulher, que exercia uma atividade prof1'ssional', desenhou o peito do que toi comentado.
mapa de sua vida e foi pega de surpresa quando lhe perguntaramz
"Onde eslá sua tamília nesse quadro?” Outro membro do grupo fi- 0 SIGNIFICADO AI'R'AVÉS D()S LJVROS
cou animado ao ouvir este comentahoz “Fico contente ao ver que em
cada mancha preta e marrom você colocou um ponto verde - é como Robert Leslie e outros logoterapeutas utilizam livros nos grupos,
se cnxergasse uma nova vidà brotando de cada situação sem espe- como guias para o significado. As leituras são usadas não pma dis-
runça." A um senhor, que sc lamentava sobre o caos em que sua vi- Cussões intelectuais, mas como um Lrampolim pma imiglus indivi-
da se encontrava. toi ditOL “Observe as linhas azuis em toda essa duais. A história de Jó pode conduzü a 1'nd.1'gações pcssouisz ”Dc
mixórdia que você dcsenhou - elas têm o tonnato de uma estrela.” que maneu'a posso lidar com 0 solrimcnto que não mcrcço?" A his-
Um outro senhor surpreendewse com esta análisez “Engraçado você tória de José e seus 1r'mãos evoca a contcmplação sobre os proble_~
ter usado a mesma cor laranja para pintar seu divórcio - que disse mas com um mn'ão. A História de Adâo e Eva pode lcvar'-nos a
202 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA 0 SENTIDO No CASAMENTO E A va FAMlLlAR 203
retleur' sobre o que significa dizer “na'o” a uma autoridade, até positivos da vida de cada pessoa podem ser discutidos. Se um dos
mesmo a Deus, e o que sigmf'ica enfrentar as consequ"ências. participantes m'siste em deter-se em pontos de vista ncgativos, o
grupo o adverte sobre a violação da regra básica da reunião. Se o
Leslie, em seu livro Jesus as Counselor, 1 explora onze histórias das indivíduo pessimista tem um problema não resolvido, ele am'da deve
Escn'turas, que podem serv1r' de base para discussões em grupo. Elas ser trabalhado, e o orientador providenciará para que tenha sessoe's
m'cluem a hístória de Zaqueu, Lucas 19:1-10 (m0bü1z'ando o desa- particulares.
fiante poder); a para"b^la do jovem monarca rico, Marcos 10:17-22
(encontrando uma tareía pessoal na vida); e o conto do jovem para- A maioria das pessoas dá mais atenção às dificuldades sem un'por-
lílico, Marcos 2.'2-12 (solucionando conñitos de valores). tan^cia do que às experiências agradáveis. Estão atentas às diticulda-
des e as notam quando estas aparecem Nos grupos de desretlexão, a
Leslie também faz uso da modema literatura para discum problemas
atenção é d1r1"gida para os m'cídentes positivos, mesmo para os maís
pessoais: O livro “0ur Town”, de Thomton Wll'der, para explorar
m'significantes - alguém que som'u para nós, o canto de um pássaro,
relacionmentos m'dividuais; Cor Purp'ura”, de Alice Walker, pa-
o encantador contomo de uma nuvem. Todos os panicipantes devem
ra connmar que se consegue descobm' signüicados em c1r'cunstân~
manter um dian"o sobre experiências e encontros agradáveís, e lodas
cias absurdas, quando nos elevamos ac1m'a dessas cücunstâncias;
as noites antes de donmr' reler os falos que anotaram No dia da reu-
“Todos os Meus Filhos” e “A Morte do Caixe1r'o Viajante”, de
nia'o, cada paciente 1r'á relatar três acontecun'emos positivos que vi-
Arthur Müler, para retleumlos sobre nosso próprio relacionamento
venciaram ou 0bservaram, desde a últ1m'a sessa'0. O centro das aten-
entre paí e t'11h'0; ou “O Este do Edlen”, de John Stem'beck, para
ções está voltado para as afum'ações otimistas.
penm't1r' que os panicipantes do grupo conversem a respeito de uma
escolha que tizeram, depois que esta escolha tom0u-se 1rr'eversível.
O grupo de desretlexão também utiliza assoc1'açoe's positivas (signi-
ficativas). Após um breve exercício de relaxamento, pede-se aos
Grupos de Desreflexão participantes que se sentem em süêncio e com os olhos techados. O
orientador pronuncia, de tempos em tempos, palavras ou trases tais
A Dra. Lukas “diploma” seus clientes de aconselhamento pessoal, como: “noite” ou “verã0” ou “brincando com crianças”. Pede-se
através dos grupos de desreñexão. Quando os antigos pacientes re- aos pacientes que, em silêncio, associem essas palavras com qual'-
tomam a sua estafante vida rotm'elr'a, as perspectivas positivas que quer coisa que lhes venha à mente. Estas associaçoe's são depois
cada um desenvolveu nos grupos de aconselhamento precisam ser comentadas no grupo.
tortalecidas.
foi pronunciada, ela pensou num gato morto. Como explicação, . As qualidades únicas de um avião só são conhecidas depois quc
comou ao grupo a segumte históríaz o avião decolou - assim como os atributos espccilicamcme
humanos só são evidenciados dcpois que a pcssoa “dccolou”
No verão passado ela havia 1ido uma briga, pelo teletone, com seu
para dentro da dimensão do espírito.
namorado. Mais tarde ela resolveu 1r' à casa dele para censura'-lo se-
. A Bíblia contém m'u'meras histórias quc se prestam a discussoc's
veramentc. Porém, durame o percurso, ela viu um gato morto na rua.
meditativas - desde a luta de Jacó com o anjo. alé a pmábola do
lsso 1ê-la pensar no quanto é cuna a vida, e ela se deu conta de quc
Filho Pródig0.
não queria perder mlomentos preciosos, brigando por m'vialidades.
. A literatura secular é mm cm hislórias apropriadas - quc vão
Ao chegar à casa do namorado, seu estado de espírito era outr0. Em
vez de brigarem novamente e se separar, eles se reconciliaram Esse desde a busca de Fauslo por um sígnificado, alé a busca de
Ioi o episódio que veio a sua mente, assun' que ouviu as palavras Hamlet por justiça, e a busca dc Dom Quixotc por amor.
“o u'lnm'o verão”. . Todos os contos de fadas e lcndas mitológica5, desdc “O Patinho
Feío" até “Safo" podem servu' de tema para os grupos de
meditação.
Grupos de Meditação
Introdução à Logoterapia
. Nossa Hierarquia de Valores 4
O Tratamento das Tensões
As Mudanças Signiücativas na Vida D1'dn"'a
Como Lidar com as Crises
Como _Lidar com a Falta de Signiticado
. Como Lidar com a Depressao~
. Que Você Aprendeu para pôr em Prática na Vida Dian"a?
wxlçnshabmw r
Uma das considerações fundamentais da logoterapia é a de que. nas
profundezas do nosso m'consciente espm"tual, sabemos que tipo
de pessoa nós somos e 0 que poderemos v1r' a ser; em que d1r'eção
queremos ir; e qual o comportamento que é mais signnicativo pma semana quando...” e incluísse alguns exemplos espccíticos. Na nos-
no's. 0 quc sobrepomos a esse conhecímento m'ato é o eu que proje- sa quarta reunião do grup0. a sra. B dissc quc havia ajunlado uma
tamos para assegurar nossa autopreservação e aceitação. Sempre que lista de atitudes quc cla podcria nmlhomr', tendo em visla 0 signiti-
CSSCS dois "eus”' se chocam, perdemos a sensação de harmonia. cado quc ela conscguiu obscrv4r'.
Quando desejamos efetuar mudanças visando ao signiticado, prova- Por exemploz seu marido gcralmentc chegava em cusa à uma hora da
velmente talaremos em termos gerais - sobre querer ser “mais madrugadzL Ele cra arquitcto c lazíu muitos projclos à noite. Assim
prudente” ou "mais positiv0" ou “não estax sempre adiando pro- que Chegava, ia à Cozinha pegar 0 sanduíchc que ela havia prepam-
blemas a resolver". Bssas são metas, e é importantc ter metas. En- do e deixado na geladeu'a. Dcpois ele enlrava no quarto. ligava a
Lretanto, as mudanças só ocorrerão quando dermos passos reais em televisão e Iicava ussistindo a algum progruma por uns quinze mi-
d1r'eção a essas melas. nuvtos antes de ir para a cama. A sra. B disse que isto “u Íazia subk
pelas par'edes.”
Se deseJamos ser mais Carinhosos, devemos nos perguntarz “Durante
a semana quc passou, o que eu Iiz para expressar meu carinho? Será 0 grupo deu lratos à bola pma buscm uma soluçào quc quebrasse
que eu não podia ter teilo mais?” Ou: “Durante a semana que esse ritual nolumo. Todas as mulhcrcs deram sugcstões sobre o quc
passou, quais as atitudcs que cu assumi e que não expressarm meu tariam se estivessem na mesma situaçãa
Sugeri à sru. B que escrevesse em seu diar'io todas as semanas e mi- Esses fatos toram de pequena 1'mportânc1'a, mas tiveram valor para
ciasse cada página com a lrasez "Eu não tui compreensiva esta a sra. B porque permil1'ram-lhe perceber quc ela cra capaz de scr
210 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA ENCONTRANDO 0 SIGNIFICADO TODOS l)\.' UIAN 211
“mais can"nhosa”. A pamr' dessa momemo, ela pôde estruturar sua Essas auto-avaliações permitem que o orientador adapte cada scssão
vida com base em comportamentos díterentes, os quais possibilila- de acordo com as necessídades do grup0. Se a maioria dos membros
ram~lhe alcançar relacionamentos mais significativos. Esse processo estão entre l e 2, provavelmente o orientador 1r'á se concemrar nos
não podia ter-se m'iciado com tatores generalizados. Se a sra. B ti- problemas que os estão atligindo no momcnto. Quando a maior parte
vcsse começado a refletü sobre o que seria uma rclação signüíbativa está no 5 ou perto dele, o orientador pode dar um cunho mais m'tc-
cntre marido e mulher, teria chegado a conclusões vagas como: lectual e talar sobre a logoterapia - quando as pcssoas esláo se sen-
“Nós dois deveríamos passar mais tempo juntos" ou “que devería- tm'do bem, é mais fácil que entendam e aceitem os pn'ncípios da lo-
mos ser. um para 0 outro, a pessoa mais 1m'poname do mundo”. E goterapia, e os apliquem às suas próprias situaço'es.
ela teria comparado esses ideais com sua própria situação m'feliz.
Os primeüos vinte minutos de cada sessão podem ser sobre a discus-
Esse fato a conduzm"a a sentlm'entos ainda mais 1m'próprios e à ina-
são dos conceitos básicos da logoterap1'a, salientando as três dLn'1en-
b11'idade de atuar concretamente nas mudanças da sua vida.
sões - a somática (tísica), a psicológica c a noética (espiritual). É
A atenção dedicada a cücunstâncias específicas é dada durante as também importante que os participantcs compreendam o conceito da
oito sessoe's. d1m'ensão noética e qual é a ar'ea do eu essenciaL Nós lemos um cor-
po e uma mente, porém nós somos nosso noõs (esp1'r1'to). É lambém
1m'p0nante realçar que o espm"t0 humano não está reservado a pes-
Primeira Sessãoz Introdução à Logoterapia soas com tendências religiosas, mas que é uma dm'1ensão humana
merente a todas as pessoas. Não se pode compreender o ser humano
Depois da m'troduça'o, o orientador comunica ao grupo o que eles em sua totalidade a menos que o observcmos em seu conjunlo tridi-
1r'a'0 tazer Jumos. No quadro-negro há uma relação dos tópicos que
mensionaL
serão discutidos durante as oito semanas. O grupo logo se apresenta,
mas ames o orientador quer saber como cada um está se sentmÀdQ O O pnm'elr'o exercício que o oriemador dá ao grupo, já ajuda os pdrt'i-
orienlador pede aos membros do grupo que taçam uma avaliação so- cipantes a distinguü as três d1m'ensões. Eles são solicilados a mla-
bre si mesmos, numa escala de l a 5 (sendo que 5 signüica sentlr'-se cionar, em seus cademos, os momentos em que se sentkamm sat1'ste'i-
muito bem, e l signüica senür'-sc depnrru"do) e m'diquem em que di- tos, e indicar se o significado dessa satisfação originou-se na dimen-
reção estão carmn'hando. são somática, psíquica ou noética. Escrevem ahmações tais quaisz
lsto é teito no começo de cada sessa'o; os participantes declaram co- Mmh'a vida tem significado quando pratico exercícios (somán'co)
mo esLão se sentmdo e em que d1r'eção estão m'do. Por exemplo, al- Mm'ha vida tem significado quando recebo clogios (psicológico)
guém díz: “Est0u no 3 e mantendo-me” ou “Est0u no 2 e subindo” Mm'ha vida tem sigmf'icado quando estou com meus nctos (noélwo')
ou “Est0u no 5 e bem lá em cinm; tenho que me cuidar para que de Mm°ha vida tem signiticado quando Lrabalho com ceram^1ba(noeüc"o)
repente, numa descida, eu não caia num precipício." Um indivíduo Mm'ha vida tem significado quando jogo bridge (psicológico)
com depressão talvez não queka dizer mais do quez “Estou no l e Minha vida tem signüicado quando taço uma reteição goslosa
pendurado nele.” (somático)
212 APleçóLs PRÁTICAS l)A LOGOIERAPIA IÍXCON l'R¡\NUO () SKiNIHCADU 'l'()D()S OS l)lx\\ 213
Minha vida tem signiticado quando estou com meus amigos(noeuço") . Que acomeceu na semana passada quc tomou minha vida signili-
cativa em cada uma das três ar"eas?
Esse exercício força o indivíduo a pensar sobre as diferenças entre . Que aconteceu na semana passada em que mjnha vida não tcvc
as dimensóes, e a aprender a dislingui-las. É imponame que as pes- sentido em nenhuma das três ar'cas'!
soas conheçam a on'gem de seus prazeres. Ter uma relação amorosa.
por exemplo. pode ser significativa nas três dimenso'es. As pessoas Os participantcs Íormam pequcnos grupos dc Lrês ou qualro pessoas.
têm cena díficuldadc em perceber a difercnça entre a dimensão Cada um desses grupos discutc as atinmçócs que os indivíduos de-
psicológica e a noélica. Eis aqui um guia quc ajuda a notar essa sejam compartilhar. Notaz Os logogrupos luncionam com uma rcgru
dislinçào: geral - cada paciente pode. a qualqucr momentO, recusapsc a revc-
lar intoxmagões ou a rcspondcr perguntas: entrctanto. as resposlus
dadas e as inloxmações companilhadas devcm scr us muis honcstas
Psicológica Noética
possíveL
Motivação é prazer, poder, Molivação é signilicado. l. Desenhe um mapa de sua vida. dcsdc o começo ató 0
prestígio. presente, com seus altos e baixos c scus evcmos pr1'ncipuis.
Projete esse mapa para o 1utur0. Não sc prelcndc ncm é
Atuamos pela auto-realização. Atuamos pela autotranscen-
necessário que vocé possua habilidade místicau Não sc
dência; agimos pelo bem de
pleocupe em desenhm bcm.' permita quc as lormas. 1igurus.
alguém ou de alguma coisa.
símbolos e corcs, cmcrjw1 do scu incomcicmc noétiw.
Não planeje antec1'padamente. Dcixe as coisus acontcccran
Após csse exerc1'01'o. é a hora dos membros do grupo fazerem uma Use uma IOIha grandc de papeL lápis dc cor ou crciom.
breve apresentação de si me<m05. Até então. eles estavam pensando 2. Responda a estas Lrês pcrgumasz
em termos gcrais sobre 0 quc é significativo em suas vidas. 0 resto
dcssu sessào é ocupado com fatos mais cspecífícos. Os membros do Ouem eu penso que sou'?
grupo devcm anotm em seus cadcmos as respostas às seguintes
Quem minha tamñia quer quc eu sejaV
qucstóesz
Quem eu quero serY
214 APLICAÇÓILS 1›R.›\"I'ICA5 DA LOGQTERAPIA l:I\'('()Nl'RANI)()05K¡NH'1C.›\[)OTODOS US DIAS 215
Segunda Sessão: Nossa Hierarquia de Valores Quais os valores que aprcndi com a núnha tan'u'lia?
. lndique três aspectos em que sou parecido com mcu paí.
Os membros trazem à sessão os mapas que fizeram como lição de lndique três aspectos em que sou parecido com minha mãc.
Indique Lrês aspectos em que sou ditercnle dc mcu p.u".
casa. Novmente os panicipantes formam pequenos grupos de três
lndique três aspectos em que sou dítemntc dc minha mãe.
ou quatro pessoas, e discutem os mapas. O exercício de desenhar os
mapas, e as discussões em grupo, auxiliam os indivíduos a tomar . lndique Lrês atitudes em que na semana pussadu cu agi como mcu
pa1'.
consciência de onde eles vêm, das intluências que atuam sobre a
. lndique Lrês atitudcs cm que na semana passada eu agi como
hierarquia de seus valores e do signiticado de episódios que ocorre~
minha mãe.
ram no passado e que agora eles podem ver através de uma nova
. lndique três atitudcs em que na scmana passada agi dc modo
perspecl1'va.
ditereme de meu pai.
. lndíque três atitudes em que na scmana passada agi dc modo
0 signüicado de um evenlo que outrora pareceu signüicativo pode difereme de minha mãe.
haver mudado ou desaparecido Ou um evento que não parecia sig-
nüicativo quando ocorreu pode agora, num exame retrospectivo, pa-
Agora o orientador faz um breve relato sobre a dislinção que Frmkl
recer relevante. Os participantes são encorajados a continuar acres-
iaz entre os signilicados e os valores, pma orientar nosso comporla-
centando dados aos seus desenhos, tanto nesta sessão como nas sub- mento diar'io. Apoiar esse relato é o princípio básico da logoterapíaz
seqüentes, à medida em que novos pensamentos vão surgindo. São
que a vida nos oierece senltidos em cadu momcnto e em cada situa-
também aconselhados a prestar atenção às cores, símbolos e a outros ção. Reconhecer o “sentido do momcnlo", e a ele responder, equi-
meios que utilizam, conforme vão-se conscientizando das mensagens
vale a levar uma Vida sign1'ticativa. 0 indivíduo que assume essa
enviadas pelo inconscíente.
responsabilidade “resposta-habilidade" às demandas do momento.
em geral precísa fazcr cscolhas diííceis.
Uma mulher desenhou sua formatura na 1a'culdade (que ela assinalou
como um evento teliz), com a mesma cor que ela usou para o seu di- Neste ato de escolher somos ajudados por nossos valores - pclos
vórcio que veio a seguu' (que a mergulhou em terrível Lristeza). Ho- quais muitas gerações enconumam senlido em situaçcks sm'1ilan.'*s.
je, decorridos oito anos, ao observar esse fato, ela percebeu que seu no passado. Quando confiamos nos valorcs dos demais, poupamos
mconsciente noético reconheccu no significado do seu divórcio, um nossa busca pessoal pelo signiticud0. Mas os comlitos podem surg1r'.
elo comum com o 51'gn1f'icado de sua to'xmatura - uma maturidade quando uma situação evoca valorcs conflilames.
tendo em vista a m'dependência.
Como exercício, pede-se ao grupo que escreva exemplos de comu-
Depois que os membros do grupo d1'scut1r'am os traçados de seus tos de valores que tenham expen'enciado, e que exemplitiquem si-
mapas, eles são solicitados a escrever em seus cademos as segumtes tuações em que tiveram quc contrariar 05 valores recomcndáveis.
questões, e a respondê-las: Durante esta segunda sessão, o orientador estimula os panicipantes
216 APLIÇAÇOLS |'RÁTICAS DA LOGOPERAPIA ¡«r~'('oNrR›.\r~'noUsmmrlmno Ionosos mAs 217
a descobnr', observando os Lraçados de seus mapas, de onde vieram A teoria dc Franld sobre o cstresse. quc taz distingão cntre 0 cslrcs-
seus valores, qual a torça que esses valores contêm. e que mudanças se provocado por tensõcs físicas ou psicológicus. c o cstrcsse noéti~
goswidm de realizan Os panicipantcs são Iambém estímulados a de- c0. é agora cxposta pclo oricntador. A lcnsão advinda dc lalorcs lí-
senvolvcr c relacionm suas próprias hiermquias de valores. O sicos ou psicológicos é prejudicial c dcve scr supcrada uu reajusta~
oriemador podc pedu' aos membros do grupo que expressem valores da. O estrcsse noético ocasiona uma lcnsão salutm que laz panc do
que consideram importantes. Estes serão anotados no quadr0-negr0 e crcscimenlo e da busca do signiíicudo. Não prccisu scr muada ncm
poderão ser usados pelos demais, enquanto estiverem elaborando
amainada. Frankl detine o estrcssc noélico como a lcnsão cmrc 0
suas próprias listas.
que nós somos e o que quercmos VLr' a ser - nossa cxpunsão rumo
àquilo °°para o que tomos destinados a ser".
Lição de Casa
Os membrus do grupo obscrvam u Escalu dc Avaliução no Rcajus-
Esboce uma mistura de suas atividades diar'ias que demonstre quanto Iamento SociaL que medc as lensócs íkicus c psicolo'gicas. E im~
tempo você gasta em média, por dia. nessas atividades. ponante nolar que as lcnsóes caumdas por acomecimcnlos telize.s
produzem tanto estrcssc como as causadas por awomceimcntm inle~
Escreva duas at1rm'ações: lizes. O estresse ocorrido na época do casamcnlo é apcnas 15 ponlos
mais baixo do que o que ocorre no momcnto da scpar'aç.1"o. Mudan-
. O melhor dia da semana é... ças aparentemente neutras - numa posiçào cconómica, por cxcmplo
. 0 pior dia da semana é... - provocam estresse, quer a mudança seja para melhor ou para pior.
Após todos terem lido o material' do pacole que ret1r'aram do cesto, é sugeridas. Os clicntes decidem quais das sugcslões são passívcis dc
solícitudo a cada um que atue como “consult0r" - estabelecendo um serem praticadas e os ajustes que podem ser 1'mr0duzidos. Dcpois Os
plano de como 0 “cliente” desconhecido deveria estrulurar sua vida clientes escrevem suas versões a respeilo de sua nova atitude signi-
pma o próx1m'o mês, ou mesmo para os próximos seis meses, para Iicativa - pma 0 próximo mês e para 0 próximo ano. Lxcvum cntão
conseguu' atmgir suas metas. pdr'a casa sua vcrsão bascada na proposta do consullon e usam-nu
como fundamento para avaliar quào perto elcs chcgar'.1n1 dc tomm
Esse cxcrcício é útil tanto para o consultor como para o cliente. Ao consciência de seus próprios propósitos. Os membros do grupo sào
mantcr distância dos problemas, os consultores têm condições de ver
encorajados a escrcvcr em seus cadcmos ou diar"ios. digmws uma
as mudanças práticas que podem ser sugeridas - mudanças que eles vez por mês, um enunciado que comece assimz “Eslou muis pcrto
não seriam capazes dc propor a si mesmos ou a alguém de seu rela-
das minhas metas porque..." A pr1'mc1ra' dessas rewaliaçócs podc scr
cionament0. E os clientes ouvem sugestóes para escolhas de com-
feita antes do término das oito semanas dc rcuniã0.
portamentos d1'ar1"os que, talvez sozinhos, não lhes teriam 0corrido.
Durame esse exercício, tica claro para todos que as escolhas e mu-
É naturalmente aconselháveL mamcr nossa cslrutura ílcxíveL c rcvi~
danças são meras sugestões, e que depende do cliente decid1r' quais
sá-la em tennos práticos e não apenas Iilosófic05. conslantemenle. É
as propostas que resolvem aceitar e ag1r' de acordo. Armadilhas rom-
imponante que essas estruturas sejam nossas. buseadus em nossa
peram-se, portas abriram-se e novas opçóes despontam
crença de significados, valores e prioridadesx Necessitamos de uma
estmtura maleável pois, cmbora nossos valores pcnnancçam ubsolu-
Em seguida. cada participante - pela característica da mdr'ca coloca-
tamente estáveis. nossas prioridadcs podcm var1'dr'. assim como us
da no pacote que ret1r'ou do cesto - tenta reconhecer a pessoa a
Cücunstâncias podem variw e o sentido do momento - por dcíiniçào
quem o pacote penence, a pessoa cujo matenal ele leu e para quem
- é também submctido a variações constantcs. É prudenlc não es-
elc cscreveu uma sugestão de como estruturm uma nova vida. Com
quecer a êntase que Frankl coloca no "dcsatiantc poder do espírí-
treqüência os consultores se sentem surpresos, até amedrontados, ao
t0”, que nos capacita assumir uma postura de rejeição. mcsmo diunlc
descobm a vida de quem eles reestruturaram
de valores amplamente aceitos e de vulores nos quais há muito tem-
po vínhamos acreditando. Assumü uma posição contmr'ia uos valo-
Durante minha primeüa panicipação nessa sessão. uma jovem tímida
res adotados, só deve ser te'ita em novas c excepcionais c1r'cunstân-
selecionou o meu materiaL Era evideme que se eu lhe houvesse pe-
cias, e jamais lev1'anamente.
dido d1r'etamente que me desse sugestões pma a minha vida, ela se
senmia constrang1'da. No entan't0, eu considerei extremamente úlil o
que ela me propôs. E ao perceber como haviam sido proveitosas Liçao' dc Casa
suas sugestões, sua auto-1magem moditicou-se, causando~lhe
grande benetíci0.
Escreva sobre sua crença - suas convicções básicas a respcito do
signitícado da vida. Dcscreva~a como uma soma de alimmçóes que
O consultor e os Clientes dicutem as mudanças de compoxtamento começm comz “A vida é mais signiticativa quando..."
222 .›\PLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA L~NCONTRANDO 0 SIUNIHCADU TODOb us DIAS 223
Quinta Sessãoz Como Lidar Com As Situações Críticas De novo os panícipantes se reúncm em pequenos grupos. Utihzam o
assunto sobre o qual escreveram nas sessóes antcúorcs cr db" liç0e's dc
Os traumas e as situaçõcs críticas, em geral são conseqüências de casa, como tema para discutüem as mudanças que scr1'dn'1capazcs de
contlítos cntrez realizan nos moldes descritos nas trés proposiçõcs ac¡m'a citadas.
Pegam uma situação connitante que os prcocupa no momento, e
. a maneüa que nós gostañamos de ser, e o modo como nos tentam ver de que modo poderiam amenizm o contlit0, baseando~sc
comportmos d1'dn"amente. numa das três perspectivas. Ouvem o_/e'edba<:k de scus companhei-
. nossas metas pma longo prazo, assun' como nossas neces- ros e o anadisam para ver se podem aperfeiçom um padrão de
sidades cotidianas (físicas e psicológicas), e nossas rea- comportamento que se adapte ao scu caso. Os membros do grupo
ções ao significado do momento (noéticas). não devem dar conselhos. E as sugestõcs serão dadas dc maneu'a
cautelosa:
. nossos próprios m'teresses. e nosso desejo de ajudar as
pessoas por quem nos preocupamos.
Alguém poderá dizerz “Passei por uma situação semelhmte há cinco
anos, e sei como você se sente. 0 quc cu tiz para superm a crisc
Pede~se aos panicipantes que anotem Lrês exemplos de cada um des-
f01'..." Outro pam'cipante, utilizando a lrase “se eu tosse você", po~
ses três conflitos. Aquí estão anuns:
derá dizerz “Eu nunca passei por uma situação iguaL mdw creio que
se tivesse passado eu...”
Gostaria de tazer trabalhos manuais, mas gasto todo o
meu tempo limpando a casa e tomando conta da tamília Outro caminho seria “ag1r' como se” - como sc cle tosse a pcssoa
. Sou mesquinho, mas gost4r1"a de comportapme como um santo. que gostaria de ser. lsso funciona quando o conllito está entrc 0 que
Quero ser um bom marido. mas de vez em quando preciso dar queremos ser (e no íntimo acreditmos que podwnos ser) e o padrão
umas escapadas. de componamento que v1m'os adotwdo há muitos anos. Com peque-
. Goslaria de passar mms tempo com mínha ma'e, mas nos passos e, no início, em siluações seguras, começmxos a agü co-
tenho mmh'as própúas ocupaço'es. mo se fôssemos a pessoa que queremos ser. Essa atitude “como se"
pode ser praticada demro da reunião, ames de ser tenlada no am-
Esses conflitos podem pelo menos ser m1n'mu"zados quando: biente exlerior. (Ver Apêndice B).
um senlimcmo dc descsper.'1nça. de não ler saída dcvemos esuu alcntos a csscs v1'.slumbrcs.' dc .s'ignilicado. No diu-u-
dia, o .s*ignilícado ó ulamçzldo ulruvéa dus rcs¡)m.tu.s' que dumos uo
sentido quc 0 momcnlo nos upl'cscnlu. Podcmos cncunlrur scmido
Esoreva em scu caderno um cpisódio que ocorreu há mais de cinco
em lrôs árcass nus ulividadcs quc cxcrcunuag nus c.\'pcriêncius que
anos e que lhe pmeceu sem scntida Comentc-o com o grup0. Que
vivcncianws c nus alitudcs quc assunmnos cm 's.iluaçoc's quc, em
lições você aprendeu com aqucla experiência7 Rcsullou cm algo de
princípim nos pmcccm scm scnlida
Dom'? De que modo vocé se beneticiou desse tal0'! Olhando para o
passado, você conscguc cnxcrgar Mgum sentido hojc, naquela antiga
Após cssa uprcscmação dus idéias búsicus du logotcmp1a, os p.'¡rt1'ci-
situagãdZ Permita que seus companheiros o ajudcm sugcrmdo possí-
pantes companilham suas crcnças quc loraun cxprmms cm scus dc~
veis signiticados relativos àquela C1r'cunstância: Que terim encon-
veres de Cd'Sd'. Cada pcssou escrcvc umu atinnuçüo no quadro~ncgru.
trado eles dc proveitoso naquela situação? Que eles considcrmam
e então o grupo dcsenvolvc umu crcnçzL acciw por todos. que comc~
51'gn11'icativo cm experiências sirru'ldr'es? Pmilhc com 0 grupo a lista
ça com a lrascz "A vidu tcm signilicado quzu1do..."
de pessoas e as siluações nas quais você se sente insubstiluích e
exprcsse scus sentimentos a respeito.
Liçao' de(,asa'
Em seguida, descreva uma situação em que, no momemo. você não Finju scr ulguém muito chcgado u vocô. Como sc você lossc cssa
vê saída. Fuça uma lista de todas as escolhas que puder imaginw pa- pessoa, escrcva umu c.u1'u a um umigo ou pwcnlc cm comum. com-
ra cssa siluuçã0. incluindo as 1m'praticáveis c até as ridículas. Com lando que você morrcu. Dcscrcvu na curta, quc tipu dc pcssoa vocé
os membros do seu pequeno grup0, discuta suas listas pois, através 10i. o que cra unportanle cm voccÀ u diícrcngu quc mrá ao mundo
das sugestões olerecidas, pode aparecer uma escolha que neste ins- o talo dc você tcr morrido c o que mais valc u pcnu lcmbrur u scu
tante lhc seja plausíveL respeito.
226 APLKÍALÚliS PRÁHCAS l).›\ L.()(¡()'l~líl<¡\Pl/\ |*.I\›('()\¡' I'R:\\¡'I)O () SIUNHJFADO TUDOS ().'i l)l.-\S 227
Sétima Sessão: Como Lidar Com A Depressão Não podemos ignorar a exislênciu da deprcssão, ou tuzcr dc conta
que ela não existe ou simplcmente qucrcr quc cla desapareçax Dizer
A dcpressão podc orig1'ndr'-se em qualquer uma das três dimensões - a uma pessoa deprimida que se contcnth ou quc há casos piores do
na somática, psicológica ou noética ~ ou numa combinação das três.
que o dela, só contribui para exuccrbar a dcprcssão. lucndo com
que se sinla culpada por não lcr condiçóes dc vcnccr scu problcma.
A depressão que tem origem tísica pode ser atenuada. senão curada,
A depressão dcve scr encarlada como uma situação quc auavcsmos
por medicamemos. A depressão que tem origem memal podc ser mi-
e, quando possíveL superamos. Os simomus podcm scr aliviados
norada através da psicoterapia. Os indivíduos portadores de depres-
sões severas devem ser encaminhados a psiquiatras. princípalmente com medicação. e uma mudunçu dc aliludcs podc scr adquir1'da.
àqueles que levam em consideração a dimensão do cspírito humano.
Os logoterapeutas podem trabalhar com psiquiatras e psicoterapeutas Eis um método prático pma rompcr com um pudrão dcpress¡'vo. To-
Lradiconais. para ajudar pacientes deprimidos. Os logoterapeutas po- me nola do que você fez no dia anterior, hora por horzL Essa rcca-
dem utilizar o método dos quatro passos. desenvolvido por Elisabeth pítulação 1r'á revelar que você não pcrmancccu lortcmcntc deprimido
LuKas. durante as 24 horas duquele dia. Nu rcalidadc. a muioria dos pa-
cientes deprimidos agem nomlalmcnte uma pMc do temp0. Prcpa-
O primeüo passo é ajudar 0 paciente deprimido a mamer distância ram 0 desjejum, convcrsam com o canciro, levam o cachorro para
entre ele próprio e sua depressa'0, ou se_1'a. lazer com que se perceba dar uma volta, atendem as chamadas Iclclónicas e até a pcquenas
- não como um m'divíduo depnnu"do - porém, como um ser humano emergências da vida d1'ar"ia - esquccem sua depressão e mum nor-
completo, que tem depressões, mas lem também a capacidade de en- malmente por curtos intervalos dc lcmpo. Essas são conquistas quc
contm signiticad0, apesar de suas dcpressões.
devem ser observadas. De que maneíra você podc amplim os pcrío-
dos em que age normalmente? Como pode encontrar significado nas
O segundo passo é ajudar o paciente a adqu1r'ir uma atitude nova e atividades e experiências que alastam de sua mcmc a dcprcssão? Os
positiva - usar medicamentos e submeter-se à psicoterapia para su- membros do_ grupo procuram respostas u essas questõcs. listundo
perm a depressão sempre que possíveL e aprender a viver dentro de cinco meios nos quais os significados têm maior probabilidade de
suas limílações, desde que estas sejam m'evitáveis. O terceu'0 passo tomar~se conscientes:
é o resultado do êxito dos outros dois ~ a depressão toma-se supor-
táveL diminui e pode até desaparecer por completo.
(l) aprendendo a verdade sobrc nós mcsmos
(2) tendo escolhas
O quarto passo é a busca, pelo terapeuta e pelo paciente, de uma
nova e significativa estrutura comportamentaL Métodos práticos de- (3) semind0-se único
vem ser encontrados para refazer a vida do paciente - mesmo du- (4) agindo com rcsponsabilidadc
rante seus períodos de crise depressiva. (5) pensando c agindo de mmeüa autotransccndemc
228 Amcxxuõus PRÁTICAS m LOGO l”L-RJ\PIA |:\¡'(*()\¡' l l<.\Nl)U() SIUNIHLWHU HJDUS l)\. l)lx\'\. 2 29
para Combater a hipcr-reilexão que é o excessivo acúmulo de alen- mcnlo dc considcrm o quc aconlcccu ncssus oito scmunas quc mu-
dou u posição pma u que sc cncontram ugoru nu cswla. c rcllclü sn~
ção sobrc si mesmo. Os paciçmes deprimidos são encorajados a
brc 0 quc sc podc aprcnder com us mudanças vivcnundusx
aceitar as incumbências díárias. e com isso desviar sua atenção, pelo
menos tempordr'ian1mne, de suu depressão. Este é um excmplo do
primeüo passo. dc Elisabeth Lukas - manter distância de seus sin- . Anotc cm scu cadcrmx c partilhc com o grupo. duas coisus que
tomas. Quando esscs pacienles tiverem provado, em pequenus doses. você aprcndcu c duus coisas quc 0 surprccndcmn
que não são vitimas indelesas da depressa'o. eles conseguem rec0- . Quc você aprcndcu com a suu unicidudc'! Escrcva c rclalc cinco
nhecer o podcr do espírito human0. molivos por quc você lmiu laltu sc morrcssc amanhã.
230 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAHA ¡-.Nco\1"1'RAM)UU Sl(¡Nll<l(';\l)() runos os l)lA.S 231
O chete do grupo recolhe as anmações de apreço que cada membro até as 8h da manhã), é necessar'io lranstenr' o Ioco dc nossa atcnção.
escreveu como lição de casa, e as dístribuí aos participantes a quem de uma alividade à outraL 'l'alvcz seju importamc saír da avcnida
toram endereçadas. Agora, cada indivíduo tem diversos bilhetes principaL estacíonm 0 Carro numa ruazinha c mcditdr'. alé que este-
anônimos, contendo as razões por que sua presença no grupo toi jamos prontos para as oportunidudcs signiticalivas que nos csperm.
valiosa. Só então nos duigimos paru casa. pma junto da íamília.
O orientador pede uo grupo que use as lerrdmentas da logoterapia, . Quais são as atividadc.s' mais signilicativm no seu cotidiano?
que continue a praticar muitos dos exercícos e que cominue a escre- . Que você taz para mudm sua atcnção quundo sai de uma au'vida-
ver em seus diar'ios (entatizando as Cinco dr"eas de sentido em poten- de e entra em outra'?
cial e anolando as experiências ocorridas diariamente, semanalmen- . Como você se despede dc um signiticado antcs que oulro
te. mensalmente e anualmeme). comece?
Devemos aprender a dizer adeus. não apenas no sentido amplo. a Agora dizem adeus e seguem suas próprius vidas.
épocas passadas às quais tivemos que renuncíar porque jamais pode-
ríamos rctomar a elas, mas também no senlido restrit0, aos episódios
do dia-a-dia. Viver sígnitícativamente é responder às exigências do
moment0; é viver o presente. terlndD lições do passado e planejando
metas para o futuro. Para viver o presente, é necessário ser capaz de
dizer adeus a apegos signiticativos que pertencem ao passado. O
sentído das atividades específícas não pode ser capturado e mantido
em algcmas para sempre.
Excmplo
0 MÉTODO “AGlR-COM0-SE"
IU
pdr'a alcançar a crença em nossa capacidade de chegar a ser a Lssoa segundo passo no dia scguintc. Comudo, se por qualqucr motivu vo-
que desejwos ser. Não podemos mudar nossos sentímentos à vonta- cê não se sentü scguro ou à vomadc. rcpila esse primeüo passo nu
de, mas podemos mudm nossas atitudes. Continuamos a agk como próximo dia. e tantas vezes quantas íorcm ncccssárias, alé que sinla
se Iôssemos a pessoa que gostaríamos de ser, mesmo que, a prin- f1rm'eza.
cípi0, não acreditemOS 1'nte1r'amente que seremos bem sucedidos.
Esse método pode ser mais eñcazmente aplicado, seguindo~se os Passo n-° 2: Com um Estranho
cinco passos. Cada um desses passos requer apenas cm'co minutos
dian"os. Somente um passo pode ser dado por vez. Escolha hoje, para praticm duranle cinco minulos. um lugur onde
você terá contato com pessoas desconhecidas. Um passcio num par-
que, onde há estranhos, pode olereccr as condigócs necessa'n'as.
Passo n°- 1: Sozinho
Enquamo estiver caminhand0. ao passm por um dcsconhccido. atuc
Comcce numa circunstância totalmente isenta de perigos, na qual se- como se você Íosse a pessoa segura c autocontianle que gostaria dc
rá praticamente impossível que você fracasse. Escolha uma situação ser, a pessoa que seria bem-succdida cm qualqucr ramo de atividade
em que, nos próximos cinco minutos, você não terá Contato Com que tentasse. Como essa pessoa sc ponana ao cruzar com um estra-
ninguém Se alguém aparecer cie repente. pare e comece maís Lar'de, nho? Não tomaria conhccimento nem erguería os olhos? Olharia pa-
novamente, quando não houver nm'guém por pert0. (Durante os pas- ra 0 desconhecido? Trocaria um cumprimcntdf Scja essa pessoa, por
sos sucessivos, se algo m'esperado ocorrer, pare e recomece mais cinco minutos, ao caminhar pelo parque.
ta.r'de.)
Se dec1'd1r' trocar um cumprimento, talvez scja rcjeitado pelo cstra-
\
Um passeio sozinho é uma boa maneüa de dar o primexr'0 passo. A nho que preferiu não corrcsponder ao cumprimcnta lsso pode ubor~
medida que Ior camínhando, você deve pensar, sent1r' e agir, por recê-lo. Se este fato ocorrer. repita 0 passo As chanccs são de que
cinco minutos, Como se você fosse aquela pessoa segura e autocon- você não terá pr0_blemas nesse segundo passo. Sc tiver. pare e repi-
Iiante que sempre quis ser; uma pessoa que fosse bem~sucedida em la-o no dia seguintc e alé que você sc sinta contorlável com cssc
qualquer coisa que tentasse. embora amda não tenha decidido ou componamento, nesse amb1'enle.
pensado em tentar algo. De que ma_ne1r'a essa pessoa andaria? Como
seria sua postura ao camm'har'? Balançando os braços, ou assobian- Se você tor rejeítado e isto não o incomodan significa que já c0n-
d0? Olhando pma 0 cha'0, ou com a cabeça erguida? Nesses Cinco quistou o passo n'-' 2 c está pronto para u' adiante. sem repelíçãa Po-
mínutos, porte'-se como você imagina que essa pessoa se ponaria. rém, assegure-se de que não está racionaüzando. quundo disscr a si
mesmo que a rejeição não o preocupou - lenha ccneza dc quc é ilS-
As chances são de que você dará esse pn'me1r'o passo sem nenhum 31m' mesmo que você se sente. Não tente e11gan.1r'-sc, indo prcmalu-
problema. na pn'me1r'a vez que tentar, e estará pronto para dar o ramente para o passo seguinte.
236 v\l'l.lC.\Ç(-)L.S PRÁ l IC›\\\. I).\ l.()(i()l |'.R;\l›ll\ (›\.Hll'u1)0'^¡\(;lk-C(J\¡|0›5L“ 237
Passo n°- 3.' Com um Conhecido represenmá seu novo pach com pcr.s*cvcrança. Nestc caso, seria
bom repetir csle cxercício cum amigos d1'tcrcntcs. cm ditcrcnlcs dias.
Pwa pralicm duramc cinco minutos, escolha um Iugar onde você
possu tcr Contato com alguém quc conhece dc vista. Novamcnlc um À medida quc lor progrcdi11do. dcscobrirá quc cada surprcsa quc
passeio é rccomendáveL se você puder dar um Jeito de passar por seus umigos dcmonslrarem scrá provavclmcnlc uma agradável sur~
alguém que SCJa um mero conhecid0. 'l'alvez deva 1r' à livraria do presa para você. Assumindo uma utitudc muis posiliva cm rclaçâo a
ba1r'r0, ou a uma lea em quc costuma tazer compras regulmmenm si mesmo, você suscitmá uma rcspostu cquivalcmc cm seus amigos c
eles o lratmão como sc você 1ossc uma pcssou scgura. lslo lhe dará
Mais uma vcz, assuma as atiludes que íoram descrilas anten'orrnente. eslímulo pma agü com muior autoconliiumçu uinddx 0 que cnlão vo-
Como se comportaría a pessou segura e autocontiame que você cê passará a cxpressar' cm scu ugimlo mmo .s'('. li gradualmemc
gostaria de ser, nessa situaçãdZ Ela pararia para baler um papo, ou deixará de rcpresemar ~ scus scnlimcnlos dc autocontiança scrão
simplesmeme acenaria com a cabcça e continuaria andanddf Se este reais, c seu componumenlo irá nalurulmcnlc rcIletir~sc sobre seus
passo lhe Causm ansicdade ou qualquar oulro lipo de perturbaçã0, semimenlos.
repita-o nos dias subsequ"entcs, até se sent1r' à vontade.
Se 0 amígo que encontrm é aqucle Com quem se sente bem, você Quando liver conseguido conlrolar Com succsso essc pusso. terá al-
poderá tcr segurança neste passo. Porém cstá assumindo um n'sco, Cançado o que se propós lazcrz terá aprendido a acrediwr cm sí pr0'-
pois você cstá agíndo como uma pessoa autoconlíante, o que não prio ao interagir Com os oulros. c podcrá lunçur mão dcssu autocon~
condiz com a imagem que seu amigb tem de você. ' íiança para estabclecer novos relacionanmnlos.
O ob_¡etivo destc passo é controntar aqueles quc o conhecem, com Terá de repetir esse passo diversas vezcs. cm divcrsos dias, antes
a sua nova imagcm, e lazer com que comecem a accilar esta nova de haver alcançado plenamcnte seu 0bjctivo. Mesmo que você tenha
1m'agem. lsto pode levm alguns dias, durante os quais você se semido salisteito com csse passo quasc imediutamcnlc. dcvcrú
238 ¡\l'l.lCAÇÓlíS PRÁ HCAS l)¡\ |,()(;()T'L'RAP|:\
repeti-lo pelo menos uma vez, para certificar-se de que seu senti-
mento scrá correto. Provavelmemç. em situações futuras. você 1r'á se
dclromm com C1r'cunslâncias que enfraquecerão sua aulo~est1m'a;
quando isto acomecen terá que rever e até repetü esta série inteüa
de passos.
APENDICE C
Esse exercício dc agir-com0-se pode constituir um valor Contínuo
pma que você manlenha a autocontiança que necessita e para pros-
seguü obtendo êxito em seus relacionamemos e batalhas.
Quando você era pequeno, a quem recorria nos momentos mais dití-
ceis? ......... . . ...... . ...........................
Por quê? . . . ......... . ............................ . .
Quando você era pequeno. sobre 0 que sua famñia costumava con-
versarquando sesenlavamàmesa?
Que seu pai sempre dizia'? ..... . .......... . . . . . . . . . . . . . .
Sc tudo corrcr bem, como será sua vida daquí a cinco anos? . . . . . .
Que 0 taz sentir-se mais teliL amado, bem-sucedido e contente por Que hádeerradoemsuavida? . . . . . . . . . . . . . . . .. ..........
estmviv0? ................. . ....... De que maneu'a poderia rcsolver esses problemas'? . . . . ....... . .
Quc o m scnur'-se mais 1'nt'eliz. não amado, deprimido, Zangado,
aborrecido. ctc.'! ..................................... Qual' o pnm'e1r'o passo que dan"a pma tentm melhorar sua vida?
Sc pudesse mudm alguma coisa em você apenas desejando, que de-
se_|4r'ia'? ............... . .................... . ....... Como está se sentindo agora, cuquanlo preenche este formuláridl . .
Qum o pcrsonagem Iamoso que você mais gostaria de ser'? . . . . . . .
APENDICE D
LEILÃO DE VALORES
l. Umbomcasamento
2. Liberdade para Iazer o que
você quiser
3. Poder de exercer domínio so-
bre os outros
244 APLICAÇÓ~L'SPR.›\"1*ICAS DA LOGOTERAPIA LEILÃO DE VALORES 245
4. Ser amado e admüado pelos Por que você queria aquilo que comprou?
amigos Até que ponto pode comparar com o que você tem hoje?
5.~ Ilun'itadas chances de viajar Alguma coisa o surpreendeu?
Ter autoconfiança e uma ati- Será que suas expectativas são realislas?
.°*
tude positiva Como você se sente (ou age) quando não consegue o que quer?
Uma famñia txeliz Você tica com raiva daqueles que conseguu'am o que você queria?
Reconhecimcnto do seu valor Você está com raiva do leiloeiro (destino)?
Uma vida longa e feliz Faria um estorço, agora, para adquirir em sua vida o que comprou
.~o.° .\l
AUTO-ESTIMA
Que mmha' famíha' dese_¡a' quc eu se_¡a'? (P0de dar uma resposta sepa-
rada para cada membro da tamflia)
APENDICE F
Quc posso fazer pam mahzar' mcus potencnals"?
l. ls"lou gcmlmcnlc:
l
IJ
4 5 6 7
u
Iolznlmcnlc
cnlcdiado unimudo
nculro
cnlusiasmndo
2. A vida mc pamoc:
7 6 5 4
3 2 I
scmprc
cxcitunlc complcla
nculro
rolinu
+
Í
3
250 .-\I›L1(:Aço'us PRÁTICAS DA L000TL<RAPIA ()HJl; I I\'()S Dli VIDA <T|LSTIL ODVJ 25|
l4. l)c aoonio com a lihcnladc do homcm dc Íalcr uoolhas, cmio quc o homcm éz
l Tcnho nn villaz
7 (| í 4 3 7 l
ru
l ohpquoscmm
5 uhsolulumcnlc lumlmcnlc
ncnhum ohjcm U nlnbcm dcpcndcntc du›
ÍBUEO livrc pam luLcr llCllllU
ou unscm limiluçócs da hcrc-
c>collm cm suu
vidu dnmricdudc c
4_ Mmha' cxnstc"ncn' pcmoal7é: 7
l .. mcio amblcnlc
mujlo singmüva c
ubsolulzmwnlc dth dc murxñlm
TDUHU 15. Ço'm ntlaçao' à mor1c, cu cslou.'
wm scnudo ou
propósilu 7 (› 4 l
prcpurado c dcaprcpurudo c
5. Cada dh é: l scm mcdo ncutru com mcdu
7
IQ
scmrxc
consmnlcmcnlc I6. (.0'm rclaçao' ao sm'cídio, cu:
nmo c difurcntc
mulm ígual l 2 4 6 7
pamJ, _x*n.n"n:nnc, jumuis mc pusou
6. Sc pudlmc mmlhcn alz 7 7 quc ó umu suídu ncu ÍÍO pcln wbcçn
l ..
gmmnh dc lcrnms
prc fcrcria novc vianigmmSa l7. Lo'nsidcm a pimibilidadc dc cnconlnr um scnu'do, um pmpósilo. unn lmsao" cm
ÍBUIID
nuncu CSÍZJ minha vida comm
tcr nascido 7 (› 5 4 3 2 l
muilo gmndc pralicamcnlc
7. Quzndo mc aposcmnn cgz 7
l ... Ó nculru mcxialenlc
ñsmí odosu purd
goslarm de famr o msw da vi'd.¡
rmlm 18. Mmha' vida tsli
umus coisas cm~
7 6 l
IQ
Lú
polgunles quc
cm minhua mãm foru dc minhu
scmprc quis faLcr
c pusso conlro- nculru màos c conlmludu
8. Pm aun'gjr mclas na vidf, cu: lá-lu por fulorca
l A.
7
cxtcrnos
pmgwdj ulé
nãu li1. ncnhum ümr luulmcnlc
pmgrcsw IÉUÍID 19. lànfmmar mmhas' mfas dlánas" é:
sms"fciu)
7 (› S 4 7
1
9. Mmha' vida éz umu fontc dc pra~ umu cxpcrünciu
4 7
zcr c s.1'lisfação dolurosu c
N
I ncutro
rcpkm de
\'aziu, c.\ccu› pclo aborrccidn
TDUUU dlMIÀ'1IS'l'K)
dcscspcm
20. Eu dcsoobñz
10. Sc cu moncsc hOJc”, scnuna" quc ?mha' vidaJ 7 4 l
7 0 4 I
IJ
2. Já tivc a scnsaçao' dc quc uilou dcsúnado a almnw algo imponanlc, mas nao~ consigo
aunar cxalamcnlc oom o quc
l 2 3 J 9 0 7
Nuncu Kurunlcnlc ()ç;mn- ¡\lgunm› üml Cmn Cunslaur
nulmcnlc x ulcx Iruliiôncm nmitu lcmcnlc
|rcqu"i^ncin
3. Tcmci novas alividadcs ou acas" dc inlcrcwug mas clas logo pcrdcram 0 alnlivm
7 (› 5 4 3 2 I
Conlunlw Com Cum Algumns ()c.'¡.sm- Rurmncnlc Nuncu
mcnlc muíla lrcqu"c.^'m;1.'1 \c¡c› nulmcnlc
lrcqüônuu
l4.Anlcsdcaun'gu'ummcla,conncmbuscadcouut
6. Sm'lo quc a maionealuaçao" da mmha' vidatstá no fu|um: l 2 3 4 5 Ó 7
7 6 5 4 3 7 Algumus Com _ Cum Conslnn~
Nuncu Rurumcnlc Ucusw-
Consmm Com Com Algumus 0c.1.'s|0- Raramenlc nulmcmc \c/c\, trcqüêncm muilu lcmcnle
lc- muita frcqüência \'c1.c.s nulmcnlc frcq u"ênc1a
mcnlc frcq üência
18. Tcnho csudo- bcm oonscicmc dc um pmpósilo ñrmc pam 0 qual mmha' vida Íoi
lO. Pcnso oonscguk algo novo c difcrcnlez
dimcionada:
I ° 3 4 ' 5 6 7 ')
7 h í 4 3 l
Nuncu Rmumcnlc 0casl0~ Algumas Cnm Cum Cunslun-
('0n.slun- ('om ('nm x\lgumus ()cu.s|u- Rurumcntc Nuncu
nulmcnlc chcs frcqüénciu muitu lcmcntc
lcmcntc muilu lrcqüünuu \ 'L/c.\ nulmcnlc
frcqüênciu
lrcqüônuu
20'. Tcnho scnúdo a dclcnnmaço" dc alançar algo quc atcp alún do comumz
7 6 5 4 3 2 l
('omlun- Com Com A l gumas Ocusio~ Ruramcnlc Nuncu
lcmcmc muitu lrcqüência vucs nalmente
írcqüênciu
APENDICE H
ESCALA DE AVALIAÇÃO
NO REAJUSTAMENTO SOCIAL
Cada íato quc vivenciamos pode ser avaliado dentro das "unidudcs
de crises exislenciais". 0 quadro abuixo cspecitica esscs Iutos,
classiíica-os numa escala dc l a 43 c estabelece um valor a cadu um
deles.
Éàâà
13 Problemas sexuaís
14 Nascimenlo de um tilho 39
15 Modificação nos negócios 39
16 Mudança no status tinanceüo 38
l7 Morte de um amigo íntimo 37
18 Mudança de rmo no trabalho 36
19 Moditicação na quantidade de discussões com cônjuge 35
20 Hipoteca acima de US$25.000 31
21 Execução de hipoleca ou empréstlmo 30
22 Mudança de responsabilidade no trabalho 29
23 Filho ou filha saíndo de casa ' 29
24 Problcmas com parentes por atinidade 29
25 Realizações pessoais em evidência 28
26 Esposa começa ou pdr"a de trabalhar 26
27 lnício ou término de estudos 26 lmprcsm com u pcrmissão do .Inurnul anAyvllonwlric Rcsmrrh V (l l) Holmes und R.1'hc.
28 Mudança nas condições de vida 25 “Suciul Rcudjustmcnl Rnlingv Sc'.¡lc”. copyrighL 1967_ Pergumon Journuls, le.