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O Novo Nascimento

John Wesley

"Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo" (João 3:7)

1. Se alguma doutrina, dentro de toda a extensão do Cristianismo, pode ser


propriamente denominada fundamental, essas duas, sem dúvida são elas: a doutrina da
justificação, e aquela do novo nascimento. A primeira relativa àquele grande trabalho o
qual Deus operou por nós, perdoando nossos pecados; a última, ao grande trabalho que
Deus operou em nós, renovando nossa natureza caída. Na ordem do tempo, nenhuma delas
é colocada antes da outra: No momento em que nós estamos justificados, pela graça de
Deus, através da redenção que está em Jesus, nós somos também "nascidos do Espírito",
mas, em ordem de pensamento, como está denominada, justificação precede o novo
nascimento. Nós, primeiro, temos em mente, sua ira sendo desviada, e, então, seu Espírito
operando em nossos corações.

2. De quão grande importância, então, deve ser para todos os filhos do homem,
entenderem completamente essas doutrinas fundamentais! Da total convicção disso, muitos
homens excelentes têm escrito bastante largamente a respeito da justificação, explicando
cada ponto relativo a ela, e abrindo as Escrituras que tratam a esse respeito. Muitos,
igualmente, têm escrito sobre o novo nascimento: E alguns deles, largamente suficiente;
mas, ainda assim, não tão claramente como poderia ser desejado; nem tão profundamente
ou corretamente; tendo dado um relato obscuro, e de difícil compreensão, assim como,
insignificante e superficial. Entretanto, um completo, e, ao mesmo tempo, claro relato do
novo nascimento parece ser ainda esperado; de tal maneira, que possa ser capaz de nos dar
uma resposta satisfatória a essas três questões:

I. Por que nós devemos nascer de novo? Qual o fundamento da doutrina do


novo nascimento?
II. Como nós devemos nascer de novo? Qual a natureza do novo nascimento?
III. Para que nós devemos nascer novamente? Para que finalidade ele é
necessário?
IV. Essas questões, pela assistência de Deus, eu devo, responder, brevemente
e plenamente; e, então, acrescentar algumas poucas inferências as quais
naturalmente se seguem:

I
(1) Por que nós devemos nascer de novo? Qual o fundamento dessa doutrina?

O alicerce dela é tão remoto quanto a criação do mundo; num relato bíblico, a
respeito do que nós lemos: (Gen. 1:26,27) "Também disse Deus: Façamos o homem à
nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar;
sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela
terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e

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mulher os criou". — Não somente, em sua imagem natural, um retrato de sua própria
imortalidade; uma existência espiritual, Doda com entendimento, liberdade de vontade,e
afecções várias; — não meramente em sua imagem política, de governador desse mundo
aqui de baixo, tendo "domínio sobre os peixes do mar, e sobre toda a terra"; — mas,
principalmente, em sua imagem moral; que, de acordo com o Apóstolo, em (Efésios 4:24)
"E vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão precedentes da
verdade". Nessa imagem de Deus o homem foi feito. "Deus é amor". Por conseguinte, o
homem de sua criação era cheio de amor; que era o princípio único de todo seu
temperamento, pensamentos, palavras e ações. Deus é cheio de justiça, misericórdia, e
verdade; de modo que assim era o homem, quando ele veio das mãos de seu Criador.

Deus é imaculadamente puro; e assim o homem era, no início; puro de toda mancha
de pecado; do contrário, Deus não o teria pronunciado, tanto quanto toda obra de suas
mãos, "bem feita" (Gen. 1:31) "Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom". Isto
ele não seria, se ele não estivesse puro do pecado, e cheio com a retidão e a santidade
verdadeira. Porque não existe meio termo: se nós supomos uma criatura inteligente que não
ame a Deus, que não seja reta e santa, nós necessariamente supomos que, afinal, não seja
uma boa pessoa; muito menos, que seja "muito boa".

(2) Mas, embora o homem tenha sido feito a imagem de Deus, ainda assim, ele não
foi feito imutável.

Isso teria sido inconsistente com o estado de experimentação, na qual Deus estava
satisfeito de situá-lo. Ele foi, entretanto, criado capaz de permanecer nele, e ainda sujeito a
cair. E isso o próprio Deus o notificou a respeito, e deu a ele um aviso solene contra.
Contudo, o homem não subsistiu na honra: Ele caiu do seu alto posto. Ele "comeu da árvore
que o Senhor tinha ordenado a ele que não comesse". Por esse ato proposital de
desobediência ao seu Criador, essa rebelião clara contra o Todo-Poderoso, ele declarou
abertamente que não poderia ter as regras de Deus sobre ele, por muito tempo. Que ele seria
governado por sua própria vontade, e não a vontade Dele que o criou; e que ele não
buscaria sua felicidade em Deus, mas no mundo, no trabalho de suas mãos. Agora, Deus
disse a ele: "No dia em que comeres" daquele fruto, "tu certamente morrerás". E a palavra
do Senhor não pode ser quebrada. Por conseguinte, naquele dia, ele morreu: ele morreu
para Deus, — a mais terrível das mortes. Ele perdeu a vida de Deus. Ele foi separado Dele,
em cuja união sua vida espiritual consiste.

O corpo morre, quando ele é separado da alma; a alma, quando ela é separada de
Deus. Mas essa separação de Deus, Adão manteve nesse dia, no momento em que ele
comeu do fruto proibido. E disso, ele deu prova imediata; presentemente, mostrando, por
seu comportamento, que o amor de Deus fora extinguido em sua alma, e que agora era
"alienado da vida de Deus". Em vez disso, ele estava debaixo do poder servil do medo, de
modo que ele fugia da presença do Senhor. Sim, tão pouco ele reteve, até mesmo, do
conhecimento Dele que encheu os céus e a terra, que ele se esforçou para "esconder a si
mesmo do Senhor Deus, entre as árvores do Jardim". (Gen. 3:8). Assim sendo, ele perdeu
tanto o conhecimento quanto o amor de Deus, sem o que a imagem de Deus não poderia
subsistir. Disso, entretanto, ele foi despojado, no mesmo instante, e tornou-se impuro e

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infeliz. Nessa oportunidade, ele afundou no orgulho e vontade própria, a mesma imagem do
diabo; e nos apetites sexuais e desejos; a imagem das bestas que perecem.

(3) Se tivesse sido feita apenas uma ameaça, 'no dia em que comeres dele, tu
certamente morrerás', referindo à morte temporal; apenas essa; à morte do corpo, tão
somente", a resposta seria clara: afirmar isso é positivamente e palpavelmente fazer de
Deus um mentiroso; asseverar que o Deus da verdade positivamente afirmou o contrário da
verdade. Porque é evidente que Adão não morreu nesse sentido, "no dia em que ele comeu
do fruto". Ele viveu, ao contrário, novecentos anos mais. De maneira que isso não poderia
ser possivelmente entendido como a morte do corpo, sem contestar a veracidade de Deus.
Isto deve ser entendido, no entanto, como a morte espiritual; a perda da vida e imagem de
Deus.

(4) E, em Adão, todos morreram; toda a espécie humana; todos os filhos dos
homens estavam, então, na força motriz de Adão. A conseqüência natural disso é que cada
um dos descendentes dele veio para o mundo, espiritualmente morto; morto para Deus;
totalmente morto no pecado; inteiramente vazio da vida de Deus; vazio da imagem de
Deus, de toda retidão e santidade, na qual, Adão foi criado. Em vez disso, todo homem
nascido no mundo carrega agora a imagem do diabo, no orgulho e amor-próprio; a imagem
da besta, nos apetites sexuais e desejos. Isso, então, é o fundamento do novo nascimento —,
a corrupção total de nossa natureza. Assim sendo, que, tendo nascido no pecado, nós
devemos "nascer novamente". Conseqüentemente, cada um que é nascido de uma mulher
deve ser nascido do Espírito de Deus.

II
(1) Mas, quanto é necessário que um homem nasça de novo? Qual a natureza do
novo nascimento?

Essa é a segunda pergunta. E é uma questão, no momento mais importante que pode
ser concebida. Nós não devemos, entretanto, num assunto tão grave, nos contentar com
uma inquisição insignificante; mas examiná-la, com todo o cuidado possível, e ponderá-la,
em nossos corações, até que entendamos completamente esse ponto importante, e vejamos
claramente como nós devemos nascer novamente.

(2) Nem devemos esperar, em momento algum, um relato filosófico da maneira


como isso é feito. Nosso Senhor nos guardou suficientemente contra tal expectativa, pelas
palavras que se seguem imediatamente ao texto; onde ele lembra Nicodemos do fato tão
incontestável quanto qualquer um em todo o contexto da natureza, que, não obstante o
homem mais sábio debaixo do sol não é capaz de explicar totalmente. "O vento sopra para
onde quer", — não através do teu poder ou sabedoria; "e tu ouves o som dele", – tu estás
absolutamente seguro, sem sombra de dúvida, que ele sopra; "mas tu não podes dizer de
onde ele vem, nem para onde ele vai"; — a maneira precisa como ele começa e termina, se
levanta e cai, nenhum homem pode dizer. "Assim é todo aquele que é nascido do Espírito".
— Tu podes estar absolutamente seguro do fato, assim como do sopro do vento; mas a

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maneira precisa como ele é feito, como o Espírito Santo trabalha isso na alma, nem tu, nem
o mais sábio dos filhos dos homens é capaz de explicar.

(3) De qualquer modo, é suficiente para todo propósito racional e cristão, que, sem
cair na mera curiosidade, das inquisições críticas, nós podemos dar um relato bíblico claro
da natureza do novo nascimento. Isso irá satisfazer todo homem razoável, que deseja
apenas a salvação de sua alma. A expressão "ser nascido de novo" não foi primeiramente
usada por nosso Senhor em sua conversa com Nicodemos: Ela foi conhecida antes daquele
tempo, e foi de uso comum entre os judeus, quando nosso Senhor apareceu no meio deles.
Quando um pagão adulto estava convencido de que a religião judaica era de Deus, e
desejava fazer parte dela, era costume batizá-lo, e se dizia que ele nasceu de novo; ou seja,
aquele que era antes um filho do diabo, era agora, adotado na família de Deus, e
considerado um de seus filhos. Essa expressão, entretanto, que Nicodemos, sendo um
"professor em Israel", deveria ter entendido bem, nosso Senhor usa na conversa com ele;
apenas que num sentido mais forte do que ele estava acostumado. E isso seria a razão de
sua pergunta: "Como essas coisas podem ser?". Elas não poderiam ser literalmente: — Um
homem não pode "entrar, uma segunda vez, no útero de sua mãe, e nascer novamente": —
Mas essas coisas podem ser compreendidas espiritualmente: Um homem pode nascer do
alto; nascer de Deus; nascer do Espírito; numa forma que conduz a uma analogia bem
próxima do nascimento natural.

(4) Antes de uma criança nascer no mundo, ela tem olhos, mas não vê; tem ouvidos,
mas não ouve. Ela tem o mesmo uso imperfeito de qualquer outro sentido. Ela não tem o
conhecimento de qualquer outra coisa do mundo, ou qualquer outro entendimento natural.
Para esta maneira de existência, em que ela se encontra, então, nós não podemos dar o
nome de vida. É apenas quando um homem nasce, que nós podemos dizer que ele começa a
viver. Já que, tão logo nasce, ele começa a ver a luz, e os vários objetos que estão ao seu
redor. Seus ouvidos, então, estão abertos, e ele ouve os sons que sucessivamente chegam
até eles. Ao mesmo tempo, todos os outros órgãos do sentido começam a ser exercitados
em seus objetos apropriados. Ele igualmente respira, e vive de uma maneira totalmente
diferente do que ele vivia anteriormente.

Quão exato paralelo existe em todos esses exemplos! Enquanto um homem está, em
um estado meramente natural, antes de ser nascido de Deus, ele tem, em um sentido
espiritual, olhos e não vê; um véu grosso e impenetrável se estende sobre eles; ele tem
ouvidos, mas não ouve; ele está totalmente surdo para o que ele deve, mais do que tudo,
estar preocupado em ouvir. Seus outros sentidos espirituais estão encarcerados: Ele está, na
mesma condição, como se ele não os tivesse. Por esse motivo, ele não tem conhecimento de
Deus; nenhuma relação com ele; ele não está, afinal, familiarizado com ele. Ele não tem o
conhecimento verdadeiro das coisas de Deus, assim como, das coisas espirituais ou eternas;
assim sendo, embora ele seja um homem vivente, ele é um cristão morto. Mas, tão logo ele
é nascido de Deus, há uma mudança total em todas essas particularidades. Os "olhos de seu
entendimento são abertos"; (tal é a linguagem do grande Apóstolo); e, Ele, que nos tempos
antigos, "ordenou que a luz brilhasse fora da escuridão, brilhando em seu coração, ele vê a
luz da glória de Deus"; seu amor glorioso, "na face de Jesus Cristo". Com seus ouvidos
abertos, ele é agora capaz de ouvir a voz interior de Deus dizendo: "Tenha ânimo! Teus
pecados foram perdoados de ti! Vá, e não peques mais!".

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Esse é o significado do que Deus fala ao seu coração; embora que, talvez, não
nessas mesmas palavras. Ele está pronto a ouvir o que quer que "Ele, que leva ao homem
conhecimento", se agrada de revelar a ele, de tempos em tempos. Ele "sente em seu
coração" (para usar as palavras de nossa igreja), "o trabalho poderoso do Espírito de Deus";
não, em um sentido grosseiro e carnal, como o homem do mundo, estúpida e
obstinadamente, mal interpreta a expressão; e, embora tenha sido dita a eles, várias vezes,
nós não queremos dizer, nem mais, nem menos do que isso: Ele sente, e está interiormente
sensível a isso, as graças com as quais o Espírito de Deus opera em seu coração. Ele sente,
e está consciente disso, a "paz que excede todo entendimento". Ele, muitas vezes, sente tal
alegria "inexprimível em Deus, e cheia de glória". Ele sente "o amor de Deus, espalhando-
se, por todo seu coração através do Espírito Santo que é dado a ele": e todos os seus
sentidos espirituais são, então, exercitados para discernir o bem e o mal espiritual.

Através do uso desses sentidos, ele está diariamente progredindo, no conhecimento


de Deus, e de Jesus Cristo, a quem Ele enviou, e em todas as coisas pertinentes ao seu reino
interior. E agora ele pode dizer, com toda propriedade, que ele vive: Deus o tendo
vivificado, pelo seu Espírito, ele está vivo para Deus, por meio de Jesus Cristo. Ele vive a
vida que o mundo não conhece, a "vida que se oculta com Cristo em Deus". Deus está
continuamente respirando, assim como antes, em sua alma; e ela está respirando em Deus.
A graça está em seu coração; e oração e louvor sobem aos céus: E, por esse intercurso entre
Deus e o homem; essa camaradagem com o Pai e o Filho, assim como através de uma
espécie de respiração espiritual, a vida de Deus em sua alma se mantém; e o filho de Deus
cresce, até que ele se torna da "mesma medida e estatura de Cristo".

(5) Disso, evidentemente aparece qual é a natureza do novo nascimento: a grande


mudança que Deus opera na alma, quando ele a traz para a vida; quando ele a ergue, de
entre os mortos do pecado, para a vida de retidão. É a mudança forjada, em toda a alma,
através do poderoso Espírito de Deus, quando ela é "criada de novo em Jesus Cristo";
quando ela é "renovada na busca da imagem de Deus, na retidão e santidade verdadeira";
quando o amor do mundo é trocado pelo amor de Deus; orgulho pela humildade; paixão
pela brandura; o ódio, a inveja, e malícia, pelo amor sincero, terno e desinteressado por
toda a humanidade. Em uma palavra, é aquela mudança onde a mente mundana, sensual e
diabólica torna-se "a mente que estava em Jesus Cristo". Essa é a natureza do novo
nascimento: "Assim é todo aquele que é nascido do Espírito".

III
(1) Não é difícil para aquele que tem considerado essas coisas, ver a necessidade do
novo nascimento, e responder à terceira questão: Para que; com que finalidade é necessário
que nós nasçamos novamente?

É muito facilmente discernido que isto é necessário. Primeiro, com o objetivo da


santidade. Mas o que é santidade de acordo com a Palavra de Deus? Não uma mera religião
externa, um círculo de obrigações exteriores, quantas sejam elas exatamente; e quão
exatamente sejam executadas. Não: A santidade evangélica não é menos do que a imagem

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de Deus, estampada no coração; não é outra, do que toda a mente que estava em Jesus
Cristo; ela consiste de todas as afeições celestes e temperamentos entrosados em um. Ela
implica em tal amor ininterrupto e agradecido a Ele que não impediu seu Filho de nós; seu
único filho; quando torna natural, e de certa maneira necessário a nós, que amemos cada
filho do homem; quando nos preenche com misericórdia, bondade, gentileza, e
longanimidade.

Tal é o amor que nos ensina a sermos irrepreensíveis, em todas as formas de


conversação; como a nos capacitar a apresentar nossas almas e corpos; tudo que somos e
temos; todos os nossos pensamentos, palavras e ações, como um sacrifício contínuo para
Deus, aceitável através de Jesus Cristo. Agora, essa santidade pode não ter existência, até
que sejamos renovados na imagem de nossa mente. Ela não se principia na alma, até que a
mudança seja forjada; até que, pelo poder do Altíssimo esteja sobre nós, e sejamos
"trazidos das trevas para a luz; do poder do diabo, para Deus"; ou seja, até que nasçamos
novamente; o que, entretanto, é absolutamente necessário, com o objetivo da santidade.

(2) Mas, "sem santidade, nenhum homem verá o Senhor"; poderá ver a face de Deus
na glória. Como conseqüência, o novo nascimento é absolutamente necessário para a
salvação externa. Os homens podem, de fato, enganarem a si mesmo (tão desesperadamente
mau, e tão enganoso é o coração do homem!), acreditando que eles podem viver, em seus
pecados, até que venham para o último fôlego, e, mesmo assim, mais tarde, viverem com
Deus; milhares realmente acreditam, que eles encontraram um caminho largo, que não
conduz à destruição. "Que perigo", eles perguntam, "pode uma mulher ser, naquele que é
tão inofensivo e virtuoso? Que medo há de que um homem tão honesto; alguém de tão
estrita moralidade possa perder o paraíso; especialmente se, além de tudo isso, ele
constantemente atender à igreja e aos sacramentos?".

Alguém irá perguntar com toda segurança: "O que! Eu não faço o bem ao meu
próximo?". Sim, você faz, assim como seus vizinhos profanos; tanto quanto seus vizinhos
que morrem em seus pecados! Porque vocês todos irão cair na mesma cova juntos; no
inferno mais baixo! Vocês irão juntos para o lago de fogo; "o lago de fogo que queima com
enxofre". Então, por fim, vocês verão a Deus (mas Deus concede que vocês possam ver
antes!) a necessidade da santidade, com o objetivo da glória; e, conseqüentemente, do novo
nascimento, uma vez que ninguém pode ser santo, exceto se nascer de novo.

(3) Por esse mesmo motivo, exceto se tiver nascido de novo, ninguém poderá ser
feliz, mesmo nesse mundo. Já que é impossível, pela natureza das coisas, que um homem
possa ser feliz, sem que seja santo. Mesmo o poeta pobre e profano nos diria, "nenhum
homem mau é feliz". A razão é clara: Todo temperamento, que não é santo, é
temperamento difícil: Não apenas a malícia, ódio, inveja, ciúme e desejo de vingança criam
um inferno presente no peito, mas também as paixões mais brandas, se não mantidas dentro
dos limites, trazem, milhares de vezes, mais dores do que prazer.

Até mesmo a "esperança", quando "adiada" (e quão freqüentemente esse é o caso!)


"torna o coração doente", e todo desejo que não está de acordo com a vontade de Deus está
propenso a nos "despedaçar, através das muitas tristezas": E todas essas fontes gerais de
pecado — orgulho, vontade-própria, e idolatria — são, na mesma proporção que

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predominam, fontes de miséria geral. Entretanto, por quanto tempo, esses sentimentos
reinarem, em nossa alma, a felicidade não terá lugar nela. No entanto, eles devem reinar até
que a propensão de nossa natureza seja mudada; até que nós nasçamos de novo;
conseqüentemente, o novo nascimento é absolutamente necessário, para que exista
felicidade nesse mundo, do mesmo modo que no mundo que a de vir.

IV
Eu propus, em Último lugar, acrescentar algumas poucas inferências, que
naturalmente se seguem das observações precedentes.

(1) O batismo não é novo nascimento: Eles não são um só, e a mesma coisa. Muitos
realmente parecem imaginar que eles são exatamente o mesmo; pelo menos, eles falam,
como se eles pensassem dessa forma; mas eu não sei se esta opinião é publicamente
admitida, através de qualquer denominação cristã que seja. Certamente, não é através de
alguma dentro desses reinos, se da Igreja Estabelecida, ou da parte dissidente dela. O
julgamento da última é claramente declarado em um amplo Catecismo:

"Quais são as partes de um sacramento?".


As partes de um sacramento são duas: uma é o sinal exterior e sensível; a outra, a graça
interior e espiritual; desse modo, representado.

"O que é batismo?".


O batismo é um sacramento, em que Cristo ordenou a lavagem com água, como
sinal e selo da regeneração pelo seu Espírito.

Aqui está manifesto que o batismo, o sinal, é falado, de maneira distinta, da


regeneração, e a coisa representada.

O julgamento de nossa Igreja está declarado com a mais extrema clareza:

"O que queres tu dizer com a palavra sacramento?".


Eu quero dizer o sinal exterior e visível da graça interior e espiritual.

"Qual é a parte exterior ou forma no batismo?".


A água, onde a pessoa é batizada, em nome do Pai, Filho e Espírito Santo.

"Qual é a parte interior, ou conseqüência?".


A morte no pecado, e um novo nascimento na retidão. Nada, entretanto, é mais claro
do que isto: de acordo com a Igreja da Inglaterra, o batismo não é o novo nascimento. O
motivo é tão claro e evidente que não precisa de outra autoridade.

"No que pode ser mais claro, para uma pessoa, do que uma coisa visível, e outra
invisível, e, conseqüentemente, totalmente diferente uma da outra?".

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Uma sendo o ato do homem, purificando o corpo; e a outra, a mudança forjada por
Deus na alma: De modo que a primeira distingue-se justamente da última, assim como a
alma do corpo, ou a água do Espírito Santo.

2) Das reflexões precedentes, nós podemos, em Segundo Lugar, observar que,


como o novo nascimento não é a mesma coisa que o batismo, então, ele nem sempre
acompanha o batismo: Eles não andam constantemente juntos. Um homem pode
possivelmente "nascer da água", e, ainda assim, "não nascer do Espírito". Pode existir,
algumas vezes, sinal exterior, quando não existe a graça interior. Eu não falo com respeito
às crianças: É certo que nossa Igreja supõe que todo aquele que é batizado, na infância,
estão, ao mesmo tempo, nascendo de novo; e é permitido que o Ofício total do Batismo das
Crianças origine-se dessa suposição. Nem é alguma objeção, de qualquer relevância, contra
o fato de que nós não podemos compreender como esse trabalho pode ser forjado nas
crianças. Já que nós nem podemos compreender, como ele é forjado na pessoa na idade
madura. Mas, qualquer que seja o caso com as crianças, é certo que todos aqueles, em idade
madura, que sejam batizados, não estão, ao mesmo tempo, nascendo novamente. "A árvore
é conhecida pelos seus frutos". E, por meio disso, parece muito claro, para ser negado, que
diversos desses que foram crianças do mal, continuem a ser os mesmos depois do batismo:
"já que eles fazem o trabalho do pai deles": Eles continuam servos do pecado, sem
pretensão à santidade interior, ou exterior.

(3) A Terceira inferência, que nós podemos esboçar do que tem sido observado, é
que o novo nascimento não é o mesmo que santificação. Isto é tomado realmente como
confirmado por muitos; particularmente, por um eminente escritor, em seu último tratado
sobre "A Natureza e Alicerces da Regeneração Cristã". Para acenar diversas outras
objeções relevantes, que poderiam ser feitas para aquele tratado, aqui está uma que é
palpável: Há muito tempo, tem-se falado da regeneração, como um trabalho progressivo,
que é levado, na alma, através de graus vagarosos, do momento de nosso primeiro regresso
para Deus. Isso é, incontestavelmente, a verdade da santificação; mas o novo nascimento
não é verdade da regeneração. Essa é uma parte da santificação, não, o todo; é o portal para
ela; a sua entrada. Quando nós nascemos novamente, então, nossa santificação - nossa
santidade interior e exterior - começa; e, daquele momento em diante, gradualmente,
"crescemos Nele que é nossa Cabeça". Essa expressão do Apóstolo ilustra admiravelmente
a diferença entre uma e a outra; e, posteriormente aponta a exata analogia que há entre as
coisas naturais e espirituais. A criança nascida da mulher, de repente, ou depois de um curto
espaço de tempo, gradualmente, e com crescimentos sucessivos, chega à estatura de um
homem; dessa mesma forma, a criança que nasce de Deus, em um curto período de tempo,
se não, imediatamente, através de passos sucessivos, chega à medida de toda estatura de
Jesus Cristo. A mesma relação, entretanto, que há entre nosso nascimento natural e nosso
crescimento para a vida adulta, existe também entre nosso novo nascimento e nossa
santificação.

(4) Um ponto a mais que podemos aprender, das observações precedentes, é um


ponto de tão grande importância, que não podemos nos recusar de considerá-lo, mais
cuidadosamente, dando seguimento a ele, com alguma minúcia.

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O que deve alguém que ama as almas dos homens, e está angustiado que nenhuma
delas possa perecer, dizer àqueles que ele vê, não respeitando o dia do Senhor; vivendo a
embriaguez; ou qualquer outro pecado obstinado? O que ele pode dizer, se as observações
precedentes são verdadeiras, a não ser que "ele deve nascer de novo?".

"Não", diz um homem zeloso, "isto não pode ser! Como você pode falar, de
maneira, não misericordiosa a este homem? Ele já não havia se batizado? Então, ele não
pode nascer novamente!".

Ele não pode nascer de novo? E isto que você está afirmando? Então, ele não pode
ser salvo! Embora ele tenha uma idade tão avançada como Nicodemos tinha, ainda assim,
"exceto se ele nascer novamente, ele não poderá ver o reino de Deus". Por conseguinte, ao
dizer que "ele não pode nascer novamente", você, de fato, o está entregando à condenação;
E onde se está a falta de misericórdia agora? Do meu lado, ou do seu? Eu repito que ele
deve nascer de novo, e, então, se tornar um herdeiro da salvação. Você diz, "Ele não pode
nascer de novo": Se fosse assim, ele inevitavelmente iria perecer! Assim, você impede
totalmente o caminho da salvação dele, e o envia ao inferno, fora da mera caridade!

Mas, talvez, o próprio pecador, a quem, na verdadeira misericórdia, podemos dizer,


"Você deve nascer novamente", tenha sido ensinado a dizer, "Eu desprezo sua nova
doutrina; eu não preciso nascer novamente; eu nasci novamente, quando fui batizado. O
que! Você quer que eu negue o meu batismo?".

Eu respondo, Primeiro, que não há nada, debaixo dos céus, que possa desculpar
uma mentira; caso contrário, eu diria a um pecador declarado: se você foi batizado, você
não possuiu isto. Quão potencialmente isso agrava a sua culpa! Como aumentará a sua
condenação! Você estava devotado a Deus, aos oito anos de idade? E, todos esses anos,
você não tem sido devotado ao diabo? Você não foi, mesmo antes do uso da razão,
consagrado a Deus, ao Pai, ao Filho, e ao Espírito Santo? E você, desde que começou a
fazer uso dela, não tem flutuado, na face de Deus, e consagrado a si mesmo ao diabo?

A abominação da desolação - o amor da palavra, orgulho, ira, luxúria, desejos tolos,


e toda série de afeições vis – está onde não deveria estar? Você não tem colocado todas as
coisas execráveis, naquela alma que, uma vez, foi o templo do Espírito Santo; reservada
para a "habitação de Deus, através do Espírito"; sim, solenemente, entregue a ele? E você
não se gloria nisso, de que você, uma vez, pertenceu a Deus? Oh! Envergonhe-se!
Enrubesça! Esconda-se na terra! Não se glorie mais do que o preenche com confusão, e faz
com que você se envergonhe diante de Deus e do homem!

Eu respondo, em Segundo Lugar, você já negou o seu batismo; e isto, da maneira


mais eficaz. Você o negou, milhares de vezes; e você ainda o nega, dia-a-dia; já que, em
seu batismo, você renunciou ao mal, e às todas as suas obras. Quando quer, entretanto, que
você dá lugar a ele novamente; quando quer que você realize alguma de suas obras, então,
você nega o seu batismo. Por conseguinte, você o nega, por meio dos pecados obstinados;
por meio de todos os atos de sujidade, bebedeira, ou vingança; por meio de toda palavra
obscena e profana; através de praga que sai de sua boca. Todo tempo, você profana o dia do

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Senhor; você, por meio disso, nega seu batismo; sim, todo tempo, você faz alguma coisa
para alguém, que você não gostaria que ele fizesse a você.

Eu respondo, Terceiro Lugar, seja batizado ou não, "você deve nascer de novo"; do
contrário, não é possível que você seja santo internamente; e sem a santidade interior, assim
como a exterior, você não pode ser feliz, mesmo nesse mundo, muito menos, no mundo que
há de vir.

Você diz: "Não, eu não causo dano algum a qualquer homem; eu sou honrado e
justo em meus procedimentos; eu não praguejo, ou tomo o nome do Senhor em vão; eu não
profano o dia do Senhor; eu não sou alcoólatra; eu não difamo meu próximo, nem vivo, em
qualquer pecado obstinado". Se for dessa forma, que todo homem chegue até onde você
chegou; no entanto, ainda assim, você deve ir mais longe, ou você não poderá ser salvo:
ainda assim, você deve "nascer de novo”.

E você acrescenta: "Eu já fui além; já que eu, não apenas, não causo dano, como
faço todo bem que posso". Eu duvido desse fato; eu temo que você teve milhares de
oportunidades de fazer o bem, o qual você sofreu para executar, por não estar aperfeiçoado,
e pelo qual, por conseguinte, você é responsável perante Deus. Mas, se você os tem
melhorado; se você tem realmente feito todo o bem, que você possivelmente poderia fazer a
todo homem, ainda assim, isso, de forma alguma, altera seu caso; "você ainda deve nascer
novamente". Sem isso, nada fará bem à sua pobre, pecadora e contaminada alma.

"Não, mas eu atendo constantemente todas as ordenanças de Deus: eu mantenho


minha igreja e o sacramento". É bom que você o faça: Mas, tudo isso não irá mantê-lo
longe do inferno, exceto se você nascer novamente. Ir à igreja, duas vezes ao dia; sentar-se
à mesa do Senhor, toda semana; orar sempre em privativo; ouvir sempre os bons sermões;
ler sempre todos os bons livros; ainda assim, "você deve nascer de novo". Nenhuma dessas
coisas irá substituir o lugar do novo nascimento; não, nem qualquer outra coisa debaixo dos
céus. Permita-se, entretanto, se você ainda não experimentou essa obra interna de Deus,
estar em oração contínua: "Senhor, acrescenta isso a todas as tuas bênçãos, -- que eu possa
nascer novamente! Negues o que quer que te agrades, mas não negues isto; deixa-me
'nascer do alto!'. Joga fora o que quer que pareça a ti bom – reputação, fortuna, amigos,
saúde – e apenas dá-me isto, nascer do Espírito; ser recebido entre os filhos de Deus!
Deixa-se nascer 'não, da semente corruptível, mas incorruptível, através da palavra de
Deus, que vive e que permanece para sempre'; e, então, deixa-me diariamente 'crescer na
graça e no conhecimento de nosso Senhor, e Salvador Jesus Cristo!".

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Este sermão foi originalmente editado por Michael Anderson, estudante da Northwest Nazarene
College (Nampa, ID), com correções por George Lyons para o Wesley Center for Applied Theology. Ele foi
designado para o "John Wesley Holiness of Heart and Life" web site at http://gbgm-
umc.org/UMW/Wesley/index.html.

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