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HQ´s

Comics & etc…


SUMÁRIO

Sites para baixar scans de quadrinhos e mangás................................7


Programas para HQ:...........................................................................8
A Coleção Oficial de Graphic Novels da Marvel.............................11
Marvel..............................................................................................14
Dinastia M (Evento Completo)........................................................16
Vertigo..............................................................................................19
Star Wars..........................................................................................20
DC Comics.......................................................................................21
Do Inferno........................................................................................22
Origens Secretas – Os Novos 52! (Completo).................................23
Os Invisíveis (Edição Panini)...........................................................25
Hellblazer John Constantine............................................................27
O Inescrito – Apocalipse (Completo Panini)...................................28
Era de Ultron....................................................................................29
Homem-Aranha – A Aventura Final.................................................31
Aranha Escarlate Especial – A Ultima Aventura..............................32
Marvel Millennium Homem-Aranha (Editora Panini).....................33
Homem-Aranha: Marvel Século 21.................................................35
Invasão Secreta (Completo).............................................................36
Multiverso DC – Publicação Panini (Completo).............................41
Wolverine (Totalmente Nova Marvel).............................................42
Homem-Aranha Superior (Nova Marvel Panini).............................44

2
Guerra Civil (2006)..........................................................................46
Capitão América: Soldado Invernal.................................................66
Capitão América: A Escolha.............................................................67
Superman: Red Son - Entre a Foice e o Martelo..............................68
A Era do Apocalipse.........................................................................71
Guerra Civil II..................................................................................73
Batman vs. Superman: a origem da justiça (2016) (mills)...............74
Batman: Ano Um..............................................................................75
Batman: A Piada Mortal...................................................................77
Batman: Mestre do Futuro...............................................................81
Batman: Morcego-Humano..............................................................82
A Torre Negra - Nasce O Pistoleiro..................................................83
A Torre Negra - A Longa Volta Para Casa........................................84
#2: Batman – O Cavaleiro das Trevas 1 e 2.....................................85
Universo X.......................................................................................89
Terra X..............................................................................................90
Liga Extraordinária - Vol. 01............................................................92
Liga Extraordinária - Vol. 02............................................................95
Liga Extraordinária - Vol. 03............................................................97
Nemesis - 04 Edições.......................................................................99
Superior - 07 Edições.....................................................................100
Dias de Meia-Noite........................................................................101
Sandman Completo........................................................................104
Sandman: Noites Sem Fim.............................................................107

3
Morte o Preço da Vida....................................................................109
Coraline de Neail Gaiman..............................................................111
Marvel 1602...................................................................................113
Camelot 3000.................................................................................114
Planetary - Volume 01 de 04..........................................................117
Planetary: Crossovers.....................................................................122
God of War - 06 Edições................................................................126
O Universo Wildstorm por Alan Moore.........................................127
Wildcats: Círculo Vicioso...............................................................128
Wildcats: De Volta Para Casa.........................................................129
Frequência Global - Volume 01......................................................131
Frequência Global #02...................................................................133
Gotham City Contra o Crime - Vol. 01..........................................135
Gotham City Contra o Crime - Vol. 02..........................................137
Gotham City Contra o Crime - Vol. 03..........................................138
Gotham City Contra o Crime - Vol 04...........................................139
Gotham City Contra o Crime - Vol. 05..........................................141
Gotham City Contra o Crime - Vol. 06..........................................143
Superdeus - 05 Ed..........................................................................145
Sláine: O Senhor das Feras............................................................147
Scans Que Eu Li: Sheltered #01 a #09...........................................149
Renascimento #01 a #26................................................................151
Lobo Solitário - Vol. 08..................................................................153
Fábulas - Vol. 07.............................................................................155

4
Scans Que Eu Li: República Invisível...........................................158
Darkseid vs. Galactus.....................................................................160
Preacher Completo 2.0...................................................................162
Preacher - Volume 01.....................................................................165
Preacher: Volume 02......................................................................167
Preacher - Vol. 05...........................................................................169
Preacher - Volume 06.....................................................................171
Preacher - Volume 07.....................................................................173
Preacher - Vol. 08...........................................................................175
Preacher: Vivo ou Morto - Artbook................................................177
Scans Que Eu Li: Caliban..............................................................178
Crônicas de Wormwood.................................................................182
Crônicas de Wormwood: A Última Batalha...................................183
Scans Que Eu Li; Monstress 01 a 06.............................................184
(BD) TRONO DE GELO 01: ORFÃO DA ANTÁRCIA..............186
(BD) O BOSQUE DAS VIRGENS 01 de 03.................................187
(BD) O BOSQUE DAS VIRGENS 02 de 03.................................188
Y - O Último Homem - Completo..................................................189
100 BALAS....................................................................................191
Zaya................................................................................................192
Canalhas do Sul..............................................................................193
Wayward.........................................................................................195
A Vermelha.....................................................................................196
Eclipse............................................................................................197

5
Transformação................................................................................198
A Espada.........................................................................................199
Age of Bronze................................................................................201
Artefatos.........................................................................................204
(BD) AS RAINHAS DE SANGUE - ISABEL, A LOBA DA
FRANÇA 01(de 02).......................................................................207
HQ Euro: Sangue Real - Livro I - Bodas Sacrílegas......................208
HQ Euro: Sangue Real - Livro II - Crime e Castigo......................209
HQ Euro: Sangue Real - Livro III..................................................210
HQ Euro: Noé - Livro I - Por Causa da Maldade dos Homens......211
HQ Euro: Noé - Livro II.................................................................212
HQ Euro: Noé - Livro III...............................................................213
HQ Euro: Noé - Livro 4.................................................................214
HQ Euro: A Lenda das Lâminas Escarlates - (Completa) 4 Livros215
HQ Euro: A Ordem dos Cavaleiros Dragões - Livro I...................217
Matéria: HQ Euro - A Ordem dos Cavaleiros Dragões - Cronologia
........................................................................................................218
HQ Euro: Bórgia - Livro I - Sangue para o Papa...........................221

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Sites para baixar scans de quadrinhos e mangás

http://tudohqemanga.com
http://www.hqbr.com.br
http://aspasnoir.blogspot.com.br
http://lasquei.blogspot.com.br
http://renegadoscomics.blogspot.com.br
http://scanmaniacs.blogspot.com.br/
http://bignadaforever.blogspot.com.br
http://batmanguide.wordpress.com
http://www.artehqs.com.br
http://www.coringa-files.com.br
http://quadrideko.blogspot.com.br

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Programas para HQ:

 CDisplay: Esse é o software mais básico para leitura de


gibis no computador. É leve, dinâmico e gratuito. Lê
arquivos com extensão cbr, cbz, zip e rar. Se você é
novato no ramo de ler gibis no computador, então este é
o software que você deve baixar inicialmente.
CliqueAQUI para baixar o CDisplay!

 BDZ Explorer: Esse é o meu favorito, embora a última


versão seja de 2004 este software lê arquivos .cbr,
.cbz, .rar, .zip e .pdf É um pouco mais pesado que o
CDisplay, mas apresenta muito mais opções como
prosseguir a leitura onde você parou e organização de
pastas mostrando a capa do gibi e etc. na página oficial
é possível baixar a tradução para português. Clique
AQUI para baixar o BDZexplorer.

 ComickRack: O ComicRack surgiu há pouco tempo


mas já possui uma boa parcela de fãs. Sua interface é
bastante complicada para àqueles que não estão
habituados a ler gibis online e até mesmo para iniciados
pode assustar um pouco. Além de diversas opções
como ajuste de cores, sombra, organização de pastas,
etc. O ComickRack também permite que você possa ler
seus gibis etravés de uma rede sem fio doméstica!
Suporta arquivos pdf, cbr, cbz, zip e rar. Clique AQUI
para visitar a página oficial do ComicRack.

 Conversor PDF para CBR: Esse é um programa


bastante útil se você não gosta de ler os seus gibis em
formato pdf e prefere lê-los em cbr. Bastante fácil de
usar e bem leve. Clique AQUI para baixar o conversor
PDF para CBR.

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Ghost in the Shell
CLIQUE NOS LINKS para ler online

Ghost in the Shell (em japonês 攻殻機動隊 , Kōkaku Kidōtai) é


um mangá de influências cyberpunk, criado por Masamune
Shirow. Rendeu uma continuação, intitulada Ghost in the Shell 2:
Man/Machine Interface, que foi lançada em 2002.
Com o passar dos anos, o mangá foi adaptado em: três filmes
anime - Ghost in the Shell, Ghost in the Shell 2: Innocence, e
Ghost in the Shell: Stand Alone Complex Solid State Society;
duas séries de televisão animadas - Ghost in the Shell: Stand
Alone Complex e Ghost in the Shell: Stand Alone Complex 2nd
Gig.
Ghost in the Shell se passa depois de 2029, marcado pelo
surgimento de uma nova tecnologia que permite a fusão do
cérebro à computação, à rede mundial.
O ambiente de Ghost in the Shell é cyberpunk ou pós-
cyberpunk, porém o autor foca mais nas ramificações éticas,
filosóficas e sociais da fusão em massa da humanidade com a
tecnologia, o desenvolvimento da inteligência artificial e a
onipresença da rede de computadores como uma oportunidade
para reavaliar assuntos como a identidade pessoal, a
singularidade da consciência e o aparecimento do trans-
humanismo.

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TERÇA-FEIRA, 17 DE JANEIRO DE 2017

Maus - A História de Um
Sobrevivente

Escrever sobre eventos históricos sob uma perspectiva


acadêmica, ou então meramente informativa foi o que aconteceu
ao longo do tempo em relação à diversos acontecimentos
históricos. Isto se deu também em relação ao Holocausto
Judeu pelas mãos dos Alemães na 2ª Guerra Mundial, a tal
ponto de muitos terem banalizado o ocorrido e alocado este
genocídio ao lado de tantas outras notícias contemporâneas. No
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entanto, escrever sobre um evento sob a ótica de quem o viveu,
de quem o presenciou, de quem foi consumido por ele, moral e
emocionalmente, transforma a obra em atemporal, eterna. É fácil
ler que milhões foram mortos em câmaras de gás, difícil é saber
que alguém que conhecemos e gostamos foi morto em um lugar
assim. Ao lermos Maus de Art Spiegelman é isso que acontece.
Nos afeiçoamos às pessoas dentro do livro a tal ponto que elas se
tornam indivíduos com os quais nos importamos. Mas além do
descrito acima, o que transforma esta obra em algo tão especial?
Tão eterna? Tão fascinante em sua dimensão aterradoramente
visceral?

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Maus foi iniciado no início da década de 1980 e só concluído em
1992. Logo fica muito claro para o leitor o qual custoso,
angustiante e necessário foi para o autor sua escrita, tal qual um
ritual de exorcismo é imprescindível para o possuído. Art
Spiegelman desce aos porões de sua alma e de lá puxa esta obra
e, tal qual uma jornada espiritual, consegue trazer à luz algo que
o machuca muito, mas ao mesmo tempo parece o absolver de
muitas coisas. A obra conta a história de Vladek Spiegelman,
judeu Polonês e pai de Art. A narrativa acontece a partir de
entrevistas que Art fez com seu pai já velho no final dos anos 70.
Mas a obra possui muitas camadas, pois alterna entre o presente
(as entrevistas junto ao pai) e o período da 2ª Guerra Mundial,
em que tudo vai se desenrolando sob o olhar do inventivo e
jovem Vladek. O autor não tem medo de expor sua relação
conturbada com o pai que emoldura de um jeito incrível a
narrativa de Vladek, dando densidade, humanidade e acima de
tudo sentimento ao relato.

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Embora criticado por alguns, Art Spiegelman escolhe de forma
brilhante um jeito de retratar os diversos personagens desta
amarga história. Ao dar características zoomórficas às diversas
nações envolvidas, o autor consegue um efeito extremamente
genial, pois absolve e culpabiliza os diversos povos que se
envolveram no conflito (Judeus são retratados como ratos,

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Poloneses como porcos, Norte-americanos como cães, Alemães
como gatos, Suecos como renas, Franceses como Sapos, Ciganos
são libélulas, Russos Ursos, Britânicos Peixes...). Este recurso faz
com que a leitura se expanda e amplie as relações entre todos,
uma vez que o conflito levou à acentuação das diferenças entre
nacionalidades, ao ponto que na época você não era mais uma
pessoa, mas uma "nação", estereotipada, julgada e condenada
por cada um.

Embora o relato de Vladek seja pungente, forte e visceral, ouso


dizer que o que transforma realmente a obra em algo tão
precioso tenha sido duas coisas, 1) a capacidade de Art
Spiegelman transcender o mero relato de mortes e crueldades
para algo além, trazendo luz à maneira como o indivíduo e o
coletivo lidaram e ainda lidam com tamanho crime, e 2) a
personalidade incrível de Vladek e sua relação com o filho Art.
Por mais estranho que meu comentário a seguir possa parecer,

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garanto que você se pegará rindo da simplicidade, da
humanidade, dos problemas e personalidade do velho Vladek,
além de sua relação com Art e Françoise (esposa do autor). As
"aparentemente" simples e pequenas tiras de desenho da obra
escondem tesouros gráficos e aconselho (fortemente) à todos a
prestarem muita atenção nas ações de fundo que sempre estão
acontecendo em cada quadrinho. Perder isto em uma leitura
rápida, é simplesmente perder grande parte da sensibilidade que
o autor quis expressar.

Confesso que para mim, Maus figura entre as maiores obras


literárias que eu já li, pela sua franqueza, genialidade narrativa,
relevância histórica, honestidade e coragem. Maus foi
ganhador do Prêmio Pulitzer em 1992, um dos prêmios
mais almejados por jornalistas do mundo, outorgado para
pessoas que realizam trabalhos de excelência nas áreas de
jornalismo, literatura e composição musical. O fato da obra ter
ganho este prêmio transcende seu valor e é acima de tudo
simbólico, uma vez que foi a 1ª vez que o prêmio foi dado para
uma obra em quadrinhos, catapultando os Quadrinhos para um

15
novo nível, consolidando esta mídia como forma de expressão
verdadeira de qualquer desenvolvimento artístico.

16
17
Bem amigos, finalizo com uma imagem em que Art Spiegelman
se auto-retrata. A imagem fala muito por si, mas você só concebe
sua verdadeira dimensão ao ler a obra. Em um mundo tão
estranho como o nosso atualmente, Maus é um farol a nos
lembrar sobre quem somos... Para o bem e para o mau.

Um grande abraço à todos!!

Tudo é Vaidade
vaidade (vai-da-de) - s. f.
• Desejo imoderado de chamar atenção, ou de receber elogios.
• Idéia exageradamente positiva que alguém faz de si próprio;
presunção, fatuidade, gabo.
• Coisa vã, fútil; futilidade.
• Alarde, ostentação, vanglória.

Este texto está entalado em mim há anos.

É difícil escrever sobre a vida... principalmente num mundo onde


as pessoas a exaltam...

Mas o que é estar vivo? Afinal, que catzo é a vida?

Minha mãe se foi em março deste ano.

Mediante o que sofreu e a dor que sentiu, digo que foi um alívio
ela ter partido.

Minha pergunta é:

Por que vivemos como se nunca fôssemos morrer?

Nos debatemos diariamente com problemas criados por nós


mesmos e por nossos semelhantes, mas problemas que NADA
tem a ver com a vida...

Estamos PRESOS, confinados em corpos densos...

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Todos colocados numa grande sala de espera... E todos com uma
única missão...

Testemunhar a glória da CRIAÇÃO...

Porém, ocupados demais para fazer isso...

Entenda, o que você vive hoje e acredita ser a vida, é uma


grande MENTIRA.

Vida é necessidade. Faça uma lista das suas necessidades.

Risque as necessidades que não são essenciais para o suporte da


vida.

Entendeu a mentira? Explico.

Para estar vivo, você só PRECISA de 3 coisas:

Ar para respirar, água para beber e alimento para manter o corpo


denso. Nessa ordem de importância.

Isso é o que você PRECISA.

Agora, pergunto novamente:

Para que serve todo esse sistema criado em torno do dinheiro?

O PLANETA nos dá água, o PLANETA nos dá ar e o PLANETA nos


dá alimento.

Sem contar o SOL, que todo dia está lá, DANDO a energia
necessária para TUDO acontecer.

De novo, onde entra o DINHEIRO nisso?

Tudo o que o ser humano INVENTA são só passatempos para


minimizar o tédio da espera.

Nossa SOCIEDADE é baseada na PREGUIÇA.

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preguiça (pre-gui-ça) - s. f.

• Aversão ao trabalho; pouca disposição para trabalhar.


• Lentidão em fazer qualquer coisa; moleza; morosidade.

Isso fez com que indivíduos de índole preguiçosa inventassem


um sistema.

Um sistema para que todos fiquem imersos em problemas


imaginários e os preguiçosos possam usufruir o planeta, sem o
mínimo de respeito a VIDA.

Pensa comigo.

Diz a sociedade que temos que "VENCER NA VIDA".

Digo: Já venci. São de 200 a 400 MILHÕES de concorrentes para


alcançar o óvulo e VIVER.

REPITO: VENCI. Fui eu que cheguei primeiro. Agora, quero curtir


o PASSEIO.

Só que quando cheguei aqui e tomei CONSCIÊNCIA do mundo


que estou habitando, me dei conta que indivíduos vis tomaram
conta do sistema. Um sistema que talvez tenha sido criado com
boas intenções. Será?

Não considero o controle nada bom.

E nossa sociedade é TOTALMENTE baseada em controle.

Programas como BIG BROTHER fazem sucesso justamente por


este motivo.

A única coisa que realmente me entristece é saber que somos


todos irmãos realmente, porém... Nossas ações são tão
equivocadas.

Vejo a vida como um presente, um passeio, uma oportunidade


de VER, OUVIR, CHEIRAR, DEGUSTAR e SENTIR a manifestação
física da criação.

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Será que nossa sociedade decadente é fruto de um planeta
moribundo, doente?

Ou será que somos só lagartas comendo folhas esperando para


tornar-mos borboletas?

Detesto as pessoas que precisam se sentir seguras diante da


vida. Só idiotas se sentem seguros.

A vida é insegurança. E insegurança é LIBERDADE!

Todo mundo imerso num monstruoso faz de conta... Enquanto a


vida e seu esplendor se esvaem em existências fúteis e rasas...

Hoje entendo o "Tende misericórdia"...

O dinheiro foi criado para TOLHER a ação do indivíduo humano.

A EDUCAÇÃO foi criada para doutrinar no sistema.

A SOCIEDADE mantém o sistema.

E a maioria faz de tudo para PARTICIPAR do sistema.

Como mudar isso?

Como mostrar a verdade a um indivíduo que age como uma


avestruz?

Deixo aqui ainda a recomendação de leitura de "Coragem, o


prazer de viver perigosamente" do Osho.

"A revolução dos bichos" do George Orwell também é


OBRIGATÓRIO para quem quiser entender mais um pouco o
sistema de "relações políticas" humanas.

Assistir ao filme Zeitgeist já seria pedir um pouco demais... Mas


também é muito interessante.

21
Habibi. Craig Thompson (Pantheon/Casterman)

O segundo “grande livro” de


Thompson - em termos de tamanho e de impacto crítico e de
divulgação, sem desprimor para com os seus outros projectos - levou a
discussões apaixonadas e apaixonantes, pela matéria controversa que
ele suscita. Indicamos desde já que as considerações que se seguem se
articulam com algumas daquelas que foram tidas em determinados
locais, como em The Hooded Utilitarian e no blog do The Comics
Journal(perguntamo-nos, com alguma soberba, até que ponto seria
possível mimar esse gesto entre nós). Habibi é, desde logo, um livro
que se imiscui em toda uma série de vertentes que é impossível de
responder cabalmente, e portanto apenas escolheremos algumas dessas
linhas de discussão. De antemão, também revelaremos a dificuldade
que é ter um posicionamento decisivo, claro e simples, do tipo “gosto”
ou “não gosto”, ou de mera aceitação ou recusa da sua importância.
Quer dizer, desde logo pelas discussões ele é, sem dúvida, um livro
interpelante, que obriga a uma leitura crítica, atenta e inteligente. O
seu mero encómio é um desserviço ao que ele propõe, mas tampouco
nos parece que um ataque cerrado será o caminho certo, muito menos a

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recusa de o ler antes de o considerar nos seus contornos e nas suas
especificidades. (Mais)

Habibi, superficialmente, trata da história de duas personagens, uma


mulher árabe chamada Dodola, que nasce num contexto de pobreza
extrema, é vendida como esposa a um calígrafo que publica versões do
Corão, e depois atravessa uma também difícil vida enquanto prostituta,
concubina e mulher que se tenta libertar dessa vida, e Zam, um menino
negro, filho de escravos e escravo ele mesmo, que é resgatado por
Dodola. A relação de ambos é de uma complexidade extrema,
atravessando uma relação primeira de mãe e filho, mesclando-se com a
de irmãos, e, mais tarde, ou finalmente, como de homem e mulher, a
ver, amantes. Só esse aspecto de imediato lhe garantiria uma dimensão
controversa, mas não por isso menos exigente, incómoda e forte.

No entanto, aquele aspecto que maiores problemas tem suscitado na


sua recepção mais articulada é da representação do Outro, a saber, a do
árabe ou muçulmano (que não são sinónimos, mas em Habibi se
confudem). A decisão de Thompson em recriar uma matéria
imaginativa e fantasmática das 1001 Noites num contexto
contemporâneo, com todas as suas implicações políticas, sociais e
económicas, no seio daquilo que Samuel Huntington, redutora e
erroneamente, chamou de “Choque das Civilizações”, não pode deixar
de ter os seus frutos amargos.

A acção passa-se
num país que nunca é identificado no tecido histórico e real, tal como

23
não há qualquer esforço para indicar o contexto temporal exacto desta
história. No entanto, toda uma série de clichés - a existência de um
sultão mimado pelos excessos e que procura novas formas de prazer, o
seu harém quase infinito, salas do seu palácio encerrando maravilhas e
jardins e faunas, à imagem do mítico, e não o histórico, Harun Al-
Rashid, a própria existência da escravatura - são elementos que lançam
a uma espécie de “fantasia antiga”, contrastada com pistas visuais da
contemporaneidade - o barco no meio do deserto, peças de carro, latas
de refrigerantes e outros detritos da indústria moderna no lixo - que
complica essa decisão. Aliado à “Wanatólia”, o país inventado
(condensação, deslocamento, metonímia distorcida) pelo autor para
estas acções, só se pode concluir que o que Craig Thompson criou é
uma fantasia, no seu pleno sentido, e com que ele se defende mesmo
em algumas entrevistas. O problema é que estas fantasias tocam nas
franjas de realidades tangíveis, históricas e contemporâneas nas quais
existem pessoas, pessoas reais, e o que ele faz é perpetuar essa
mesma fantasia, é dar continuidade, e solidez e, graças ao seu poder
autoral e de artista, inegável, algum peso de autoridade. Não há
nenhum momento em que sintamos estar Craig Thompson a colocar
em questão as representações de que se apropria. E toda esta questão
explode quando passamos o véu dessa fantasia selvagem e “intemporal”
para entrar na Wanatólia moderna, para a última parte deste romance,
onde pessoas “modernas” vão às compras, lavam os seus SUVs, falam
ao telemóvel e usam computadores… Não se percebe se é pior: é afinal
essa modernidade manchada pelos segredos cruéis que se encerram
nas “costas” da cidade? É essa modernidade podre? Também o seria a
nossa nesse caso, mas a atenção de Habibifecha-se nesse universo de
referências. Quer dizer, o surgimento dessa outra realidade para além
da primeira fantasia que havia criado, mescla de elementos literários,
pictóricos e cinematográficos de fantasia somente, torna-se, de alguma
forma, mais “pura” em contraste com essa cidade moderna. Outro
binómio perpetuado, portanto.

24
A palavra chave nas críticas
mais agudas é a de “Orientalismo”. O próprio autor faz uso dela, mas
enquanto defesa, ou pelo menos enquanto matéria plástica e
imaginativa desprovida de consequências políticas, o que é
extremamente surpreendente senão mesmo perigosamente ingénuo.
De uma forma simples, o Orientalismo é um tratamento do Outro -
nomeadamente do “mundo árabe” - a partir de uma perspectiva
eurocêntrica redutora. É claro que toda e qualquer perspectiva parte
sempre de uma posição determinada e nós, enquanto europeus, não
podemos perspectivar de outro modo, mas o problema deste tipo de
perspectiva é a ausência de aprendizagem, diálogo e uma vontade
indómita na projecção de princípios organizadores de conceitos,
valores e compreensões do mundo sobre outras culturas, cujos
pressupostos não serão, de todo, os mesmos. Associado que está ao
movimento romântico do século XIX, sobretudo francês, tem a ver com
uma tradução (composta de irreparáveis perdas) de estilos, temas,
episódios, textos, que “essencializariam” essas outras culturas, ou que
as tornariam adaptadas ao palato europeu. Como se sabe, essa noção
sofreu uma viragem conceptual e valorativa crucial com o trabalho de
Edward Said.

Será algo temerário querer apresentar aqui uma súmula das lições de
Said nesse sentido, mas tentemo-la. Talvez a ideia central de Said seja,

25
na esteira de outros intelectuais como C. L. R. James, a de as
hierarquias de poder - entre classes, sexos, raças/etnias e, sobretudo
países, colonizadores e colonizados - serem exercidas não somente
através do poderio militar, administrativo e económico mas também
cultural. A representação dos “outros” é, como dissemos, sempre feita
através da perspectiva de quem a exerce, como é de esperar, mas o
problema está em se criar uma ideia tal que não se cria qualquer tipo de
espaço para alternativas dessa mesma representação, muitas vezes nem
sequer espaço para a auto--representação. Por vezes, esse poder vai
mais longe, ao ponto de “vender” essa representação até mesmo aos
povos representados. Dá-se, portanto, uma espécie de “rapto cultural”.
É aí que se verifica, então, o uso da arte para a criação de mitos sobre o
“misterioso Oriente” (e a banda desenhada, enquanto território de
entretenimento que vai empregar em segunda ou terceira mão essas
representações e mitos, será um meio particularmente eficiente na
propagação dessas mesmas ideias; veja-se o livro de McKinney para,
pelo menos, uma dimensão desse processo). Uma outra dimensão
importante do trabalho de Said, aliado ao de tantos outros teóricos
modernos, e mais imediatamente associada ao seu trabalho de
interpretação literária, mesmo podendo hoje parecer mais óbvia, é que
mesmo no caso de uma determinada obra não ter uma explícita
dimensão política, ela existe na mesma. Ora Thompson repetidamente
diz que ela não existe, o que não deixa de ser caricato. Apenas sublinha
a ingenuidade já indicada.

Aliás, esta sistemática imposição de uma visão de alguém pelos olhos


de outro - neste caso, a contínua construção de representações do
“mundo árabe” pela perspectiva ocidental - acaba por provocar uma
dissociação sobre esse mesmo alguém, o qual, para que possa dialogar
no interior do mundo ocidental, já que não lhe será sequer permitido
dialogar a partir do seu lugar sem ser visto como “entrincheirado”,
“radical”, etc., terá de se ver a si mesmo (de se representar, de mimar o
discurso) sob os olhos do outro, aquele que detém as chaves e os canais
da discursividade.

26
O problema está em que
Thompson não leu Edward Said. O autor emprega mesmo, em algumas
entrevistas, o termo “orientalismo”, e é notório como integra ao longo
do seu livro imagens retiradas da pintura ocidental orientalista - Ingres
é recorrente - para criar o seu ambiente “árabe”. O problema é que
Thompson parece compreender essas contribuições como positivas,
completas e desprovidas elas mesmas de problemas de representação.
Não somos de forma alguma os únicos a notar nisso, como já se
indicou.
As “intenções” de um autor não podem ser vistas como sacrossantas e
como triunfando sobre os efectivos elementos significativos do texto
criado. Por exemplo, a escrita em caracteres árabes - espalhada por
todo o livro como uma espécie de “brecha” para que o Outro se
expresse na sua língua, no seu idioma - é deveras belíssima mas, hélas!,
não é feita por Thompson, que optou antes por copiar fontes existentes.
Apesar de ser um género totalmente diferente, se pensarmos
nos carnets em que Joann Sfar vai-nos mostrando os seus passos de
aprendizagem de um instrumento, ou nos recordarmos como
Trondheim se “ensinou” a desenhar através dos seus primeiros
monumentais livros, estamos aí mais perto de um gesto honesto
consigo mesmo do que, mais uma vez, um aproveitamento superficial e
embelezador que coloca em dúvida todo o suposto programa. Não é
uma aprendizagem em curso, mas um decalque, no caso do autor

27
norte-americano. O interesse de Craig Thompson pela adaptação
gráfica de textos religiosos não nasce nem em Habibi nem sequer nos
momentos-chave de Blankets. Já em Bible Doodles (parte da colecção
Small Batch da Top Shelf, em 2000) se encontram adaptações
transformadoras de relatos bíblicos, bebendo quer da Bíblia na versão
do Rei Jorge, quer das versões dos apostólicos quer ainda dos
apócrifos, e construindo páginas onde a decoração barroca (como no
caso ainda do poster que fez para a Guardian Angel Tour, de Neil
Gaiman) ou as versões “chibi” estavam patentes.

Não queremos dizer, de forma


alguma, que as pessoas, e os autores sobretudo, não terão direito de se
projectarem para fora das suas próprias culturas e tentem auscultar
outras. No entanto, têm de se consciencializar dos riscos que esse gesto
estendido poderá provocar, no caso de desequilíbrios. Repare-se nas
cenas em que o autor tenta conciliar as versões das narrativas bíblicas
(judaico-cristã) com as corânicas. A narrativa da origem e distinção
entre os filhos de Abraão, isto é, os descendentes judeo-cristãos de
Isaac e os muçulmanos de Ishmael, através dos mitos bíblicos,
simplificam em excesso as relações históricas das duas populações, se
assim as podemos chamar. Mais, uma vez que essa narrativa é
feita fora da História, não poderá vir a entrosar-se com ela (e muito
menos justificá-la). Mas é o que Thompson parece indiciar: uma vez

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que fazer a história real dos povos precisos que poderiam ser seu
objecto de pesquisa, e para se manter na linha da fantasia, elege os
mitos bíblicos como fonte. Esse segundo concílio, porém, entre fantasia
literária e história, é bem mais difícil… São dois modos diferentes de
ver o mundo, como quereria Wittgenstein.

Um livro destes tem necessariamente um impacto gigantesco, que


ultrapassará de longe o público estritamente bedéfilo, e é por essa
razão que merece maior atenção crítica - e provavelmente reacções
mais vincadas - do que a representação de árabes ou mulheres em
determinados títulos mainstream, seja de super-heróis norte-
americanos ou 48ccs franco-belgas, onde os clichés são parte do
substrato habitual. Por essa razão é que os instrumentos teóricos e
analíticos provindos de disciplinas como o pós-colonialismo e o
feminismo são mais precisos e contundentes a ler Habibi do que a se
aproximarem do que o notoriamente estúpido Holy Terror! de Frank
Miller, o qual nem quase merece consideração, ou quaisquer trabalhos
horrendos de propaganda acéfala. Ou seja o tipo de responsabilidades
que parece estar a ser exigida de Thompson prende-se mais com as tais
“boas intenções” que parecem perpassar o seu projecto, com o valor
artístico e intelectual que lhe é atribuído em diferença dos produtos
mais comerciais de outros círculos da banda desenhada norte-
americana, do que propriamente uma hierarquia de “erros” verificada
num panorama mais alargado de produção.

O que ocorre é uma confusão, da parte de Thompson, e dos seus


leitores acríticos, entre o que constitui um verdadeiro “diálogo
intercultural” e uma “apropriação radical de um Outro racializado”
(citamos a académica e artista Kali Tal, do seuWorlds of Hurt), isto é,
reduzido a uma suposta essência, a uma quantidade de traços
“reconhecíveis” e “típicos” - da parte de quem vê e fala, não da auto-
expressão dessas mesmas pessoas. Por isso, o que é notório é que
Thompson, em vez de procurar ancorar-se em aspectos particulares e
reais culturais e contextuais, prefira criar uma versão amalgamada e
romantizada do que passa por “cultura árabe”. É certo que o seu
tratamento tenta ser sensível a aspectos artísticos, e não somente para
um fim propagandístico (Holy Terror!), político mas unilateral
(Soraïa) ou até de paródia (como o caso do recente filme de Baron
Cohen, The Dictator). Ainda assim, a redução essencialista
que Habibi opera não é de modo algum anódina.

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Em nenhum momento são
construídas personagens mais dimensionadas do que as figuras de
cartão dos esclavagistas, os esquálidos pedintes nas ruas sujas, o gordo
sultão, as outras cortesãs displicentes, os bárbaros beduínos, os cruéis
guardas dos palácios, inclusive os eunucos negros, o profeta tolo, etc.
Se apenas Dodola e Zam são personagens mais moldadas, contra quem
podem elas contracenar e ganhar força, se não existem mais
nenhumas?

Mas mesmo essas personagens têm contornos muito contestáveis. O


quase-fetichismo em explorar a sexualidade de Dodola, seja sobre o
olhar crescentemente lascivo e culpado (uma culpa quase cristã, diga-
se de passagem) de Zam seja nas cenas (repetidas, demasiadas) das
suas violações e abusos, torna-se objectificada de uma forma nada
digna da protagonista que se prometera. Quando nos materiais anexos
finais Thompson compara as formas das letras árabes com o corpo e
vestes de Dodola, não é

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preciso desmontar
com vigor o que aí se opera. O próprio Zam aparece e desaparece de
cena num mecanismo quase ex machina não impõe um encadeamento
justo dos episódios. De novo, o problema não está em criar fantasias,
mas antes em fantasias que se interseccionam com realidades
demasiado presentes, e por isso nada inócuas. Como diz Chimamanda
Adichie, “o problema dos estereótipos não está no facto de serem
falsos, mas sim de serem incompletos”.

Alguns comentaristas comparam Thompson, pela sua figuração,


abandono a efeitos barrocos de composição, e tessitura imagem-texto,
com Will Eisner. Não é de todo uma observação errónea, mas
completar-se-ia se se notasse também a forma algo fácil com que
ambos deslizam da mera mestria da expressividade das suas
personagens, e na justiça da representação das emoções e relações
humanas para o melodrama. Uma vez que já discorremos sobre esse
termo em relação aoPortugal de Pedrosa, abster-nos-emos de repetir
essas linhas, apontando somente que ele atinge, em Thompson, e aqui
em Habibi, um nível histriónico, hiperbólico e por vezes intolerável.

Como escreve Edward Said em Orientalismo, “Não acredito que além


que escreva, pense ou aja sobre o Oriente o possa fazer sem tomar em
conta as limitações impostas sobre o pensamento e a acção pelo
Orientalismo”. Aparentemente, através das entrevistas e outras frentes
extratextuais, Thompson parece querer dar conta de que ele estava
consciente do Orientalismo (dele), e até do seu uso directo dessas
mesmas fontes (literárias, artísticas e imaginativas) enquanto uma
manipulação desarmante. No entanto, ele acaba por demonstrar a sua
própria inconsciência como gere essa manipulação, e até um alto grau

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de ingenuidade - a qual se serve para garantir algum tipo de
“autenticidade” à voz própria deBlankets, se torna politicamente
duvidosa em Habibi. Thompson, malgré lui, perpetua o Orientalismo.
O que ele diz nessas entrevistas acaba por ser, em bom português, “da
boca para fora”.

A importância de compreender o que significa, de facto, a diferença


cultural, a própria possibilidade de perspectivas outras que não a
nossa, é profunda, complexa e difícil. É muito fácil olhar para
determinadas conquistas sociais e políticas eurocêntricas como
“universais”, seja o voto das mulheres, a escolaridade obrigatória, a
água canalizada, as vacinas ou a comunicação digital de 4ª geração.
Como é que é possível que haja segmentos da população mundial (ou
até mesmo no interior do “nosso” país) que se recusem a entender o
benefício que advém destas coisas? É inconcebível. Todavia, é
precisamente o esforço de conceber essa diferença que nos parece
inultrapassável que nos fará entrar num verdadeiro diálogo, que
implica ouvir o outro na sua própria voz e, eventualmente,
compreendê-lo. E pôr em causa muitas das ideias preconcebidas sobre
nós mesmos. Não para a pôr em causa e recusá-la (isso caberá a cada
um), mas antes a, pelo menos, e esta seria já uma grande vitória,
compreender que nada é “universal”.

Habibi não pode ser lido inocentemente como “apenas uma bela
história de amor”. o acto literário, e gráfico, e de banda desenhada, tem
consequências sociais e sérias, e quanto mais as deseje ter maior a sua
responsabilidade.

O livro abandona-se a toda uma série de virtuosismos, quase visíveis


como esforço em conquistar a sua prestação perfeita. Contudo, esse
esforço apenas contribui para o seu enfraquecimento enquanto
expressividade necessária. Eddie Campbell tem razão quando aponta
que a ordem temporal não-linear de Habibinão pode ser vista como
algo de virtuoso em si mesmo, estando nós a viver numa era pós-
Tarantino, em que essas mesmas buscas por novas estruturas
temporais já foram co-optadas, como se costuma dizer, pela cultura
popular, como muitas vezes (e é esse o caso de Habibi), o tipo de
significado que emerge daí não é particularmente iluminador ou
interessante. Além disso, e no cômputo final, o que há é um
aproveitamento sumptuoso, sem dúvida, mas cruamente utilitário de
toda uma cultura em nome de um qualquer ideal de “bom árabe” que é,
no fundo, pernicioso. Há uma cena em Carnet de Voyage em que

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Thompson repudia um local que o tenta ajudar, por desconfiar das suas
intenções. Isto é muito sintomático de uma certa atitude em relação a
uma cultura díspar: é maravilhoso entrar em contacto com uma cultura
outra qualquer - a arquitectura, a música, ler a poesia, eventualmente
arriscar comer os seus pratos - mas se não tivesse tanta gente real à
volta, seria melhor…

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Uma última palavra sobre a
diferença entre a encadernação da versão original norte-americana e a
francesa. A edição original em inglês de Habibiapresenta uma capa
trabalhada e decorada em consonância com o interior do livro,
imitando um volume luxuoso do século XIX de literatura
(profusamente) ilustrada, ou, na ideia de Daisy Rockwell, um “livro
sagrado”. Sabemos que as mais das vezes a edição francesa de livros,
inclusive as de banda desenhada, opta por soluções mais sóbrias e
simples, e bastará pensar em dois casos contrários: as capas
relativamente simples de L’Ascencion du Haut Mal ePersepolis pela
L’Association, que nas suas versões norte-americanas passaram a
presenças mais engalanadas. Neste caso, a versão da Casterman,
integrando-a na sua colecção Écritures, ela mesma um sucedâneo no
seio do circuito comercial francófono da experiência original da
L’Association, é despojada dessa dimensão, com a excepção de que a
sua imagem central está numa moldura filigranada e ela, tal como a
matéria verbal da capa, são impressas numa cor cobre brilhante. De
que serve isso para alterar a leitura deHabibi? Talvez pouco, ou talvez o
suficiente para continuar a inclinar esta obra como um acto de beleza
superficial imitativa, que pode iludir no seu alcance.
Nota: agradecimentos à Pantheon e à Casterman, pelo envio das versões original norte-americana e
a tradução francesa

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