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Índice

1. Introdução.............................................................................................................................. 2
1.1. Objectivos.............................................................................................................................. 3
1.1.1. Objectivo Geral..................................................................................................................... 3
1.1.2. Objectivos Específicos ......................................................................................................... 3
1.2. Metodologia do Trabalho ..................................................................................................... 3
2. Importância da antropologia na preparação orientação avaliação da aula de educação física. 4
2.1. Educação Física, a busca do rigor cultural ............................................................................... 7
2.2. O surgimento da Antropologia ............................................................................................... 10
2.3. Antropologia cultural e educação infantil .............................................................................. 10
2.4. O preconceito na escola.......................................................................................................... 11
3. Conclusão ............................................................................................................................... 13
4. Referências bibliografias........................................................................................................ 14
1. Introdução

Discursar sobre corpo, repensar o projecto Educação Física, tratar do assunto sobre o sentido da
realidade corporal e da motricidade humana parecer ser uma tendência contemporânea. Um
assunto que requer cuidado intelectual, pois, o homem enquanto espécie se situa entre o corpo-
organismo e o corpo-conceito, seja pelo caminho do conceito ou pela natureza; por um caminho
ou por outro, o tema – corporeidade e motricidade – ressurge como categoria de conhecimento e
parece ser um retorno à busca da unidade e da totalidade humana em sua plenitude.

Tal condição realiza-se hoje sob o domínio de uma antropologia concreta, aquela na qual o
homem é sua própria corporeidade na totalidade dos sentidos. Se por um lado a capacidade de
formar um saber e um conhecimento sobre o corpo, nos deixa confuso e perplexo.

Nessa intrincada cadeia de terminologias e nomenclaturas, interpretações e significações sobre o


sentido do corpo para a cultura, temos como resposta um discurso que parece corromper o legado
antropológico e mesmo mítico no qual esse mesmo corpo humano se firmou como uma questão
filosófica e da sua natureza física se fez um conceito como verdade e como problema.

Parece mesmo que a realidade do corpo aceitou uma filosofia da corporeidade como uma
extensão conceitual do corpo como estrutura, como expressão e significação, na visão
antropológica aceita o debate a das diferentes percepções sobre o sentido dom corpo para cultura.
Porém, para a Educação Física ficou o legado biológico, questão submissa a um organismo
cientificamente instituído, o que, de certa maneira, limita a reflexão sobre o tema de mais
amplitude e que não oferece um dado seguro além da sua anatomia.

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1.1.Objectivos
1.1.1. Objectivo Geral

O objectivo geral do presente trabalho é conhecer a importância da antropologia na preparação


orientação avaliação da aula de educação física.

1.1.2. Objectivos Específicos


 Descrever a educação Física, a busca do rigor cultural;
 Demostrar o surgimento da Antropologia;
 Descrever a antropologia cultural e educação infantil

1.2.Metodologia do Trabalho

Segundo Marconi & Lakatos (2009, p.115), afirmam que: “A metodologia é o conjunto de
actividades sistemáticas e racionais que com maior segurança e economia, permite alcançar o
objectivo ou conhecimentos validos e verdadeiros traçando o caminho a ser seguido, detectando
erros e auxiliando as decisões do cientista”. Para este trabalho, a sua realização irá obedecer as
seguintes linhas de orientação metodológica”.

Metodologia trata-se de procedimentos a serem seguidos na realização de uma pesquisa. Trata-se


também de uma explicação minuciosa, detalhada, rigorosa e exacta de toda acção desenvolvida
no método de trabalho de pesquisa e pode ser entendida como caminhos pelos quais o
pesquisador irá usar para o alcance dos objectivos traçados.

Para a realização do presente trabalho de investigação, foi possível com ajuda das consultas de
alguns manuais ou bibliográficas digitais e não digitais, assim como alguns sites da internet e
módulo de Antropologia de Desporto da UCM, ensino a distância. As mesmas obras estão
devidamente citadas no desenvolvimento deste trabalho e destacadas na bibliografia final.

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2. Importância da antropologia na preparação orientação avaliação da aula de
educação física

Reflectir sobre Educação Física no mundo contemporâneo não parece ser tarefa fácil. Parece
haver uma luta intrincada entre a categoria fisiológica e a condição filosófica. Nessa difícil tarefa,
a referência é desvendar uma originalidade da Educação Física encoberta, sobretudo, nessa
confusa e intrincada diversidade cultural, onde todo o conhecimento que projecta o conceito de
prática exige-nos uma investigação que pressupõe aspectos filosóficos, científicos, e artísticos
(MORRIS, 1967).

Há alguma coisa e algum lugar que precisa ser recuperado, como diz na linguagem
fenomenológica: voltar às origens, as coisas mesmas. Recuar para saltar, assim é o sentido
metafórico de um simples salto, para ultrapassar qualquer barreira no atletismo da vida. Em cada
um dos lugares escondidos, pouco percebidos ou até deslocados da ordem cultural da Educação
Física, há um ambiente repleto de simbolismos, um campo semântico cuja representação se
manifesta nas práticas corporais (MORRIS, 1967).

Como um acúmulo de elementos potencialmente dotados de vida em movimento que, antes


mesmo de alcançar a evidência teórica já, de antemão, se manifesta na prática, revelando assim,
um lastro antropológico projectando na vida quotidiana uma motricidade imanente à vida.

O tema corpo e movimento se fazem como relação íntima e de domínio da vida, é uma parte
integrada no discurso na Educação. Vemos assim, que um tema tão complexo não poderia ser
resumido como categoria conceitual desvinculado de outras estruturas, não pode conduzir um
estudo sobre esse tema dentro de um único eixo epistemológico.

Tal conduta demonstra a necessidade de estudos interdisciplinares. Esse fenómeno talvez seja o
sentido mais visível, mais rigoroso do reconhecimento de que educação física, mais que
disciplina se transforma em um símbolo, quase uma metáfora que se sustenta pelo seu conceito
de prática. Assim, o sentido da educação do corpo, mais que físico, é ontológico, como o foi na
Paidéia: traduz-se no espectro de um conceito de ginástica, do uso do corpo, da arte médica e da
dieta, um todo articulado que inspirou a consciência do homem grego na era clássica. Revela-se

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também na necessidade de redescobrir o sentido do uso do corpo, na esfera da evolução e
perpetuação da espécie humana, como instrumento de intervenção no mundo (MORRIS, 1967).

Na cadeia das necessidades humanas, o uso do corpo e do movimento reporta o ser humano para
uma esfera das existências, que julgamos no mínimo necessárias: a busca do alimento, a
reprodução, e a defesa e do território. Nessa epígrafe antropológica podemos ascender uma luz e
enxergar o resido do instinto da sobrevivência que tanto elege quanto fascina a prática da
Educação Física (MORRIS, 1967).

Há conhecimento e material suficiente no contexto interdisciplinar que parece indicar um passado


sobrecarregado de vestígios da actividade física como parte viva da natureza humana. Assim
como indicações da etologia comparada, com observações pormenorizadas obtidas com
investigação sistemática, que sustentam um passado de luta diante das necessidades (LORENZ,
1974).

Entendendo assim, que esses fenómenos somam um conjunto e uma estrutura, que se observa,
não tão explicativa, ou tão lógica, mas que confere à Educação Física uma responsabilidade
cultural inexplorada.

Não se trata de idealização ou uma profecia isolada ou tentativa de criar uma novidade conceitual
sobre a Educação Física, mas sim de estabelecer relações consistentes, e trazer a luz da reflexão
antropológica, a universalidade prática, na qual a Educação Física como um fenómeno da cultura
tem sob seus domínios um escopo de conhecimento legítimo (MORRIS, 1967).

Considerando esse aspecto talvez seja possível que ultrapassemos a fronteira conceitual de uma
região académica ou profissional. Tal condição não necessita de esforço, não requer projectos,
não deve ser simplificado a uma condição teórica, ou de explicação de uma única unidade de
valores ou comportamentos (MORRIS, 1967).

Tal condição é prerrogativa da própria natureza humana, pois é parte da identidade e legitimidade
da prática de exercícios o repertório motor na nossa capacidade de movimentar. Deveria se, essa
reflexão a condição natural daqueles que fazem educação física como necessidade e prazer,
jamais um tipo de esforço no qual o cansaço ou a fadiga fossem expressões sem fundamento e

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que, na prática, o organismo humano um objecto móvel, esboço pré-fabricado da indústria
cultural da ginástica.

Como evidência de uma necessidade de ver o corpo e a motricidade como fenómenos integrados
do ser humano em movimento, talvez seja possível reconstituir o conceito legítimo criado pela
natureza humana prática, delimitando uma região de interferência física, mental e até espiritual
que não se resume a um conteúdo geométrico ou geográfico, mas sim como um conjunto
heterogéneo de lugares vivos sem a tendência para uma ou outra região.

Esse seria os aspectos antropológicos que nos reporta para o campo de uma cultura corporal
rigorosa, na qual reina a presença do ser humano na sua totalidade. Uma experiência que não
pode ser um esboço intelectual e nem necessita de explicação formal, pois, se comprova pela
presença corporal como uma dimensão do ser humano total que somos (LORENZ, 1974).

Assim como toda motricidade, decorrente do conteúdo corporal espelha a duração e perduração
de algo que é vivo, dessa evidência, referimo-nos à actividade física como actividade humana
sem precedente. Está no conteúdo da Educação Física uma resposta prática tanto quanto
filosófica para justificar essa relação e garantir sua existência como fenómeno da cultura geral.

Considerando a temática dessa preocupação, uma análise do espelho antropológico do ser


humano prático, recordemos ainda que o espaço primitivo que ocupa nossa consciência reforça
um simbolismo original: a noção de técnica corporal, aquela na qual os homens servem de seus
corpos, seus atributos físicos os quais se ajustam às necessidades de cada tarefa e em cada
sociedade (MAUSS, 1977). A actuação e a presença humana no processo evolutivo é que
podemos sentir o mundo natural, a motricidade sempre foi a primeira forma de intervenção e
actuação no meio; a primeira linguagem de puro domínio do uso do corpo como ferramenta.

Não podemos negar essa premissa, pois, foi através da exploração do meio e a presença no
mundo natural que descobrindo nossas próprias habilidades e capacidades, adaptando-se através
da resistência, força, velocidade entre outras categorias conceituais que vemos na prática de
exercícios. O domínio dessas capacidades não é concebido por acaso nem propriamente
praticadas por indução ao esforço aleatoriamente ou pelo acaso, mas antes, sentidas como parte
do ser integrado e que se estende ao mundo.

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No quadro antropológico o qual o homem representa, vimos que este, tornou-se a própria
natureza muito antes de tornar-se parte dela. O rendimento físico, conforme dita a fisiologia, a
partir da necessidade de sobrevivência, formaram-se assim, como estruturas cada vez mais
complexas, nas quais cada uma delas torna-se inseparável da eficácia e da eficiência como função
da exploração e domínio dos lugares que ocupam (LÉVY BRUHL, 1955).

Portanto o homem explora e se explora, move-se por inteiro, uma totalidade dele com o mundo,
sem restrições ou limites. De um lado com seus fundamentos e funções orgânicas, de outro, a
representação simbólica que nos permite nos tornarmos humanos na prática; processo no qual
corporeidade e motricidade compõem-se inerentemente no seu processo de sobrevivência e
superação.

2.1.Educação Física, a busca do rigor cultural

Talvez sejamos contemplados com uma categoria cultural da prática conforme ditado da ciência
rigorosa, tanto no nível dos conceitos quanto da natureza dos seus propósitos e da sua raiz. Não
como cópia ou como repetição, mas como exemplo a ser seguido por toda cadeia cultural.

Assim entendida a Educação Física virá a ser tão rigorosa quanto precisa ser o projecto de uma
ciência rigorosa não pode estar deslocado de uma filosofia rigorosa, ou de uma arte rigorosa.
Assim, compreender que existe na Educação Física um conteúdo evidente para ser explicado,
existe também um conteúdo reflexivo e lógico para se pensar, existe, sobretudo um conteúdo
intersubjectivo para ser vivido (LORENZ, 1974).

Não existe ciência, filosofia ou arte no singular se o objectivo for o homem, não há oposição sem
o critério da necessidade e da realidade, se a ciência descreve ontologias consistentes, a filosofia
fundamenta essas ontologias, e a arte as expressa e faz significar.

Sem essa correlação ciência se transforma em técnica isolada, passível de perder a consciência da
sua própria natureza e o controle de seus princípios condutores. Da cadeia intuitiva inerentes ao
conteúdo hipotético e subjectivo, que há em toda intencionalidade do fazer Educação Física, a
ciência, a filosofia, a arte são vistas na Educação Física que juntas transpiram no mundo. A
filosofia isolada da ciência e da arte descendência sua própria concepção do saber reflexivo, pois

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perde a referência lógica e objectiva acerca da existência, do conhecimento vivo de qualquer
experiência (LORENZ, 1974).

Todas as recíprocas desse argumento convergem para um mesmo resultado: o conhecimento da


constituição do mundo (no sentido activo) exige o conhecimento do conteúdo do mundo.

O mundo nunca está isolado do mundo. Lembremos a concepção científica que conhecemos hoje
não é a mesma na qual ela, antropologicamente se estruturou e que a perspectiva do olhar para a
natureza na qual o próprio ser humano se insere é sempre directa e intencional. Para tal
concepção é fundamental que estejamos atentos e abertos para uma ciência.

A Educação Física seria uma prática rigorosa? Eis a frase pendente no discurso da Educação
Física. Converter em realidade o começo radical de uma Educação Física ontológica não parece
ser impossível. Apresenta-se como entidade complexa, a somatória de todo seu instrumental de
conhecimento pode ser observado, experimentado e interpretado com os olhos de uma concepção
prática diversa das outras práticas, sem o ponto de vista de. Essa concepção é vista como uma
investigação rigorosa, dos motivos pelos quais a Educação Física inspira uma cultura corporal e
toda cadeia motora que a ele se relaciona. À Educação Física no mundo contemporâneo é dada
uma responsabilidade convergir contextos políticos, económico, publicitário, ideológico, e toda
rede de processos que exige do homem experiência no sentido mais rigoroso e de conformidade
existencial na sua totalidade (LORENZ, 1974).

O discurso sobre Educação Física ainda repousa numa concepção miúda, ainda que tratada com
área de conhecimento no venha à tona como uma disciplina ou profissão. Por força da tradição
escolástica ou pelo vício cultural de um modelo pedagógico e educativo, e mais recentemente,
com um suporte da visão científica objectivada, a Educação Física enquanto categoria
antropológica parece ter perdido o sentido. A rigor, Educação Física poderia ser compreendida
como entidade de reputação antropológica, não como um simples modo de conhecer a evolução
física e motora, mas devidamente credenciada para tornar-se uma linguagem, maneira de mover
como ser em sim, do sujeito interventor, actor, no sentido metafórico, o de relacionar-se com
outros seres, com o meio e consigo mesmo. Um corpo e uma motricidade sem posse ou
propriedade, mas a Educação Física como metáfora viva que capacita o homem a explorar a vida
como ela é.
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As Educação Física que conhecemos não são a que sabemos. Hoje, a ela é atribuída uma
competência de organizar um corpo de conhecimento que reduz sua dinâmica antropológica
numa dinâmica geométrica. Contudo, é possível afirmar que a Educação Física é a revelação de
uma estrutura conceptual complexa, e que se manifesta como entidade pela cadeia semântica
construída nas suas diferentes interpretações na prática e que se firmou como significado cultural.
É possível afirmar que a prática da Educação Física incorpora uma teoria sobre o mundo vivido e
vice-versa, pela linguagem que expressa na sua multidisciplinaridade e em diferentes abordagens:
na arte, na ciência, na filosofia e na linguagem. É possível potencializar o conceito de Educação
Física para reconduzir o homem na direcção de um aperfeiçoamento de si mesmo para rever o
conceito de rendimento humano (LORENZ, 1974).

É possível compreender que na essência da Educação Física há uma lógica que transcende a
concepção estreita de exercícios, que se utiliza de um amálgama orgânico fisiológico, que se
organizam em infinitas categorias motoras e aparências físicas decorrente do homem biológico.
Há também, nessa concepção a visão educativa de prática corporal como apêndice do roteiro
pedagógico escolar, cujo sentido de formação humana subverte a actividade física como
educação útil e compensatória. Essa tradição que se reforça com o elogio a racionalidade de uma
cultura inteira, se compara ainda, o corpo uma máquina, a motricidade como objecto dessa
mesma máquina, não restando outra premissa a não ser a ciência da motricidade humana. O que,
de certa maneira, deforma os conceitos sobre a prática na ordem histórica, no campo da saúde, do
trabalho, da economia, da política, e em todas as esferas nas quais repousa um discurso sobre o
corpo (LORENZ, 1974).

Nessa falsa ideia de organismo tornam-se ainda mais nebulosa as prerrogativas que sustentam o
conceito de Educação Física. Circulam-se noções superficiais e pré-conceituais sobre a
motricidade e corporeidade construídas pela lógica formal e dentro de um racionalismo científico
decadente.

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2.2.O surgimento da Antropologia

A Antropologia é uma ciência que tem como objectivo estudar o homem de forma mais
aprofundada, uma reflexão sobre a diversidade cultural humana. Por meio dela podemos
compreender as questões biológicas que envolvem o ser humano, assim como conhecer desde as
primeiras formas de organização da sociedade, até a maneira como a cultura é transmitida de
geração em geração (Gusmão, 2000, p. 14).

De acordo com Marconi e Presotto (2010, p. 1) “etimologicamente, o termo antropologia


(anthropos, homem; logos, estudo) significa o estudo do homem. Como ciência da humanidade,
ela se preocupa em conhecer cientificamente o ser humano em sua totalidade”. Podemos dizer
ainda que ela, de certa forma, é a chave para a compreensão do homem.

Como ciência de fato, a Antropologia surgiu no contexto do Iluminismo, onde o interesse anterior
pelo mundo, sua origem, o Cristianismo (“Deus” como o criador do mundo e das coisas), deixou
de ser a maior especulação dos pensadores, dando espaço as curiosidades acerca do homem, o
surgimento da espécie humana, sua evolução, e também sua forma de se organizar socialmente e
culturalmente. Ou seja, quando o Teocentrismo (Deus no centro de todas as questões), deu espaço
ao Antropocentrismo (homem no centro das ideias). (Gusmão, 2000, p. 14).

2.3.Antropologia cultural e educação infantil

Quando nasce uma criança, ela está inserida em um meio cultural e aprende com os seus os
costumes vivenciados por eles, portanto a formação da identidade do ser humano acontece no
convívio, na interacção com o outro, nas observações feitas sobre o que o seu próximo pensa,
como age, nas informações que ele transmite (Gusmão, 2000, p. 14).

Piaget (1994) abordou o desenvolvimento moral da criança, ressaltando que essa se desenvolve
moralmente, de acordo com sua convivência grupal. As normas e regras vivenciadas em seu
meio, são absolutas para ela, em especial as impostas por seus pais, ou por aqueles a quem
prestam respeito.

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Nesse contexto, onde a criança observa e se molda de acordo com a sociedade em que está
inserida, podemos transportá-lo para a sala de aula. Lá a criança aprenderá aquilo que o seu
professor manifesta, pois ele é um dos seres respeitados por ela, como se fosse um espelho.

A convivência com outro leva o indivíduo a questionar-se sobre sua própria personalidade, seus
aptos, e a partir desse questionamento modificar aquilo que considera necessário. Com a criança
não é diferente, uma vez que é na socialização que ela constrói sua identidade. A questão da
identidade do eu, portanto, passa pelo mundo onde estou, pertenço e vivo, mas só é objecto de
meu pensar enquanto uma questão, um problema, quando me defronto com o outro diferente de
mim e aí me pergunto: quem sou?” (Gusmão, 2000, p. 14)

Para que a formação da identidade da criança seja beneficiada pelo convívio com o diferente, a
alter idade deve ser o instrumento fundamental na prática quotidiana. Ao falar sobre o alter idade,
entende ser essa a consciência de que o outro está presente em seu mundo, tanto quanto ele está
presente no mundo do outro, e é essa afirmativa que nos desafia, afinal somos todos diferentes
culturalmente, e em nosso contexto actual, as relações interpessoais são marcadas pela questão da
hierarquia de poder (Gusmão, 2012).

Portanto, como conviver com esse outro, diferente à nós, sem confrontos, sem conflitos, sem
tentar fazer dele um sujeito igual a mim, negando suas convicções? Como conviver com as
diferenças e ainda assim estabelecer relações sadias, solidárias? Por fim, ela conclui afirmando
ser esse um dos grandes desafios da escola e da educação.

2.4.O preconceito na escola

Ao chegar à escola o aluno traz consigo os costumes herdados por sua comunidade, sua família,
alguns tem costumes considerados pelo senso comum “normais”, e outros tem costumes
“diferentes”. Aqueles que fazem parte da cultura tradicional da escola se sentem familiarizados
ao chegarem lá, já os que tem outros costumes, não conseguem se adaptar (PERRENOUD,
2001).

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Essa afirmativa, citada no trecho acima, nos leva a conclusão de que infelizmente, ainda nos dias
de hoje, a prática pedagógica valoriza uma cultura elitista, excluindo aqueles que fazem parte das
classes populares.

Sabemos que todo aluno tem sua formação particular, uma cultura originada de seu grupo, sua
comunidade, seu bairro, sua família, assim como de sua classe social. Na escola, o aluno que
segue as práticas impostas pela cultura elitista, é considerado um “bom aluno”, enquanto aqueles
que praticam outras maneiras, são inúmeras vezes taxados como “não rentáveis”.
(PERRENOUD, 2001).

Quando o aluno procede de uma família que valoriza os estudos, que tem o hábito da leitura
presente entre os seus, ao chegar à escola, prática faz referência a sua vivência cotidiana, fazendo
com que se sinta “em casa”. Por outro lado, aqueles que cresceram entre os terrenos baldios,
estádios de futebol, ou até mesmo como única fonte de informação a televisão, ao adentrar a
escola não verão nenhuma relação com a sua realidade (PERRENOUD, 2001).

Essa cultura elitista, valorizada pela sociedade, não escapa aos muros da escola, à medida que
grande parte dos professores fazem parte dessa cultura, e assim como os seus, pensam e agem da
mesma forma, aceitando somente aquilo que vêm como o coreto.

Encontramos ai uma grande distância entre a realidade do professor com a do aluno, e de certo
modo aquele que deveria promover a igualdade, e ensinar sobre a alter idade, é o primeiro a
propagar o preconceito em sala de aula.

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3. Conclusão

O presente trabalho procurou analisar as diversas possibilidades para uma educação libertadora,
que combata os preconceitos sociais, culturais, que promovam a igualdade em direitos e a
equidade social. Para tanto discutimos a importância dos conceitos da antropologia cultural, na
intenção de uni-los a prática pedagógica da educação infantil, que é primeiro contacto escolar da
criança, para que desde o início de sua aprendizagem e socialização, ela os desenvolva.

A partir do estudo realizado, pode-se dizer que a realidade escolar, mesmo que não
intencionalmente, tem se apropriado dos padrões sociais de cultura, e tentado padronizar todas as
crianças a esses modelos, discriminando aquelas que não se enquadram a eles. A pesquisa de
campo nos levou a essa mesma conclusão, no ambiente escolar espera-se que todos os alunos se
expressem por meio da cultura predominante do local, desvalorizando os gostos e práticas das
crianças com baixo nível socioeconómico.

Infelizmente, foi possível observar que a realidade hoje das escolas está distante, aquém do que
realmente pensamos ser uma escola inclusiva e plural, e a favor de uma educação que possibilite
a todos os alunos as mesmas oportunidades de aprendizagem.

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4. Referências bibliografias

MORRIS., J. G (1967). Diferenças e Preconceitos na escola: alternativas teóricas e práticas.


Educação, cultura e desenvolvimento: o que pensam os professores sobre as diferenças
individuais. São Paulo: Summus.

LÉVY-BRUHL. J (1955). La mentalité primitive. Paris, Editions Alcan.

Gusmão, K (2000.). Analogy as a source of knowledge. Londres, The Nobel Fundation.

PERRENOUD, M (2001). Técnicas corporais. In: Antropologia e sociologia. São Paulo: EDUSP,
v. 2

MARCONI, M. A; LAKATOS, E. V (2009). Metodologia científica. Editora Atlas, São Paulo.

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