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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL

Introdução

O direito civil constitui o cerne cultural e científico de qualquer ordenamento jurídico de base românica. O tratamento germânico
do direito civil foi, e é, ele próprio, o fruto de muitas confluências históricas, científicas e universitárias.

O direito civil é hoje um direito codificado, ou seja, inclui-se em grandes diplomas legislativos elaborados de acordo com
coordenadas jurídico-científicas apontadas nas universidades, OS CÓDIGOS CIVIS.

Com a teoria geral do direito civil pretende-se caracterizar figuras, equacionar problemas, estudar e formular soluções respeitantes
a todo o domínio do direito civil. Pretende ainda ocupar-se de aspetos pretensamente gerais, comuns as diversas disciplinas civis
respectivas. Nestes termos, a teoria geral do direito civil é a disciplina nuclear de todo o direito privado.

Direito objetivo e Direito Subjetivo

A doutrina assume sempre que o termo direito comporta um duplo sentido, distinguindo-se o direito objetivo do direito subjetivo.

Em sentido objetivo direito traduz-se num conjunto de princípios regulamentadores, de regras de conduta, de normas de disciplina
social. É neste sentido que se fala em direito administrativo, direito comercial, etc.

Em sentido subjetivo, o direito é sinônimo de poder, prerrogativa ou faculdade. Assim acontece quando se diz que o credor tem
direito de exigir indemnização ao devedor que não cumpre uma obrigação.

Segundo Mota Pinto a divisão da teoria geral do direito civil verifica-se em duas partes:

 Teoria Geral do Direito Civil das normas jurídicas (teoria geral do ordenamento jurídico) — corresponde ao direito
objectivo;

 Teoria Geral da relação jurídica — por seu turno, corresponde ao direito subjectivo.

A primeira é a teoria geral do direito objetivo, ao passo que a segunda, ou seja, a teoria geral da relação jurídica é do direito
subjetivo.

DIREITO CIVIL COMO PARTE DO DIREITO PRIVADO

Todo o ordenamento jurídico exige o estabelecimento, no seu interior, de certas divisões e arrumações. A mais crucial é a que se
reporta ao ramos do direito, pois trata-se de uma divisão da própria estrutura ou modo de ser do ordenamento jurídico, isto é, ao seu
sistema interno.

Ora, é com esse alcance que de fala aqui em direito civil. E este último é precisamente um dos ramos de direito que integram os
modernos ordenamentos jurídicos e cuja autonomia é de forma unânime reconhecida por todos os ordenamentos jurídicos.

Segundo a divisão clássica, o direito divide-se em dois grandes grupos:

1. Direito Público

2. Direito Privado

O direito civil integra-se no âmbito do direito privado. Nestes termos, para alcançarmos o direito civil, é necessário, primeiramente,
saber o que constitui o direito privado. Ou seja, devemos procurar saber qual é a base da distinção entre direito público e direito
privado.

Direito público e Direito Privado.

A clássica distinção do direito em direito público e direito privado é oriunda do direito romano; e até hoje não há unanimidade na
doutrina no que toca a um critério de distinção específico, pois foram propostos vários critérios para tente firmar a distinção de
essas duas esferas, critérios com base no interesse, no sujeito, na finalidade da norma, na sanção, etc.

Mas toda a ciência para ser bem estudada, precisa justamente disso, de ser dividida, ter as duas partes claramente discriminadas. E
é nesta perspectiva que a distinção entre do direito público e do direito privado reconduzem-nos hoje a essencialmente três
teorias/critérios diferentes:

 Teoria do interesse: segundo qual o direito público corresponderia a interesses públicos, e o direito privado a interesses
privados e, assim, seriam, consequentemente, normas do direito público aquelas que dizem respeito ao interesse geral da
comunidade e, por outro lado, pertencendo ao direito privado as normas que dizem respeito aos interesses particulares.
Logo, estaríamos perante a uma norma de direito público quando a finalidade da norma fosse a tutela de um interesse da
coletividade (interesse público) e estaríamos perante a normas de direito privado quando a norma visasse tutelar ou satisfazer
interesses individuais.

Este critério recebeu, no entanto, da doutrina diversas críticas. E em função disso não deve ser perfilhado.

— Uma das críticas está no facto de tanto o direito público quanto o direito privado visar proteger simultaneamente interesses
públicos e interesses privados.

As normas do direito privado não se dirigem apenas a interesses dos particulares, mas também, frequentemente, a interesses
públicos. Por exemplo: a norma que sujeita o contrato de compra e venda de bens imóveis a escritura pública como requisito de
validade do acto (artigo 875.º C. Civil). Neste caso, além de se procurar defender os interesses das partes, contra a ligeireza ou
precipitação, visa-se ainda realizar os interesses públicos da segurança e certeza do comércio jurídico, da prova fácil da realização
do acto, etc.

Por outra, as normas do Direito Público pretendem também dar adequada tutela a interesses particulares para além do interesse
público por elas visado. Por exemplo, as normas que definem as condições de acesso à função pública. Atentem que além do
interesse público do eficaz funcionamento dos serviços, têm também em vista uma proteção justa dos direitos subjectivos e
interesses legalmente protegidos das pessoas singulares a que se dirigem.

Desse modo, em conclusão, é de frisar que todas as normas (do direito público ou privado) almejam um interesse público
fundamental: o da realização do Direito ou, se preferirmos, da segurança e da rectidão.

Diante a esta crítica os defensores deste critério optaram por reformular o critério, defendendo agora que o direito público tutelaria
predominantemente (não mais exclusivamente) interesses da coletividade e o direito privado protegeria, predominantemente (não
exclusivamente) interesses dos particulares. Desta forma, admite-se que a norma de uma prossiga interesses de outra e vice-versa.

Mas nem mesmo com esta nova formulação o critério do interesse ficou isento de críticas. Não sendo ainda assim aceite por duas
razões:

a. Não se pode saber, em muito dos casos, qual o Interesse predominante. Muitas vezes há dúvidas e incertezas se será o
interesse da coletividade ou se será um interesse particular.

b. Há normas classificadas como do direito privado e, no entanto, prosseguem, predominantemente, interesses públicos. É o
que acontece com a maioria das normas imperativas.

 Teoria da posição dos sujeitos na situação jurídica: defende o direito público como o ramo do direito que disciplina as
relações entre entidades que estão numa posição de supremacia e subordinação, ou seja, de supra-ordenação e infra-
ordenação, enquanto que o direito privado regularia relações entre entidades numa posição relativa de igualdade ou
equivalência.

Este critério outrossim não é dado como adequado pelas seguintes razões:

a. O direito público regula, por vezes, relações entre entidades numa relação de equivalência ou igualdade, por exemplo,
relações entre autarquias.

b. O Direito privado disciplina também algumas situações onde existem posições de supra e infra-ordenação (por exemplo,
a autoridade/poder paternal – tutela; o contrato de trabalho, etc.).

O critério mais adequado e que reúne hoje a maioria dos sufrágios é a teoria da qualidade dos sujeitos das situações jurídicas
disciplinadas pelas normas a qualificar como de direito público ou de direito privado.

Segundo este critério o direito privado regula as relações jurídicas estabelecidas entre particulares ou entre particulares e o Estado
ou outros entes públicos, mas intervindo o Estado ou esses entes públicos nas vestes de particulares, isto é, despidos de “ius
imperii” ou poder de autoridade.

O ramo de direito público é integrado, assim, pelas normas que estruturam o Estado e outras pessoas coletivas dotadas de
qualidades ou prerrogativas próprias do poder estadual (Municípios, Serviços públicos, Universidade publica, etc.) ou regulam
relações desses órgãos providos de “jus imperii” (o Estado) entre si ou com os particulares.

É necessário que pelo menos um dos sujeitos da relação disciplinada seja um ente titular de autoridade, de “imperium”, que
intervenha nessas vestes.

Este critério é o que permite destacar os dois ramos com mais precisão e segurança e aferir sobre o domínio do Direito Civil.

Alcance Prático Da Distinção Do Direito Público e Do Direito Privado


A distinção ora apontada entre o Direito público e o Direito Privado possui uma importante relevância prática, pois nos dá a
susceptibilidade de saber quando estamos perante a uma norma tipicamente do direito público ou tipicamente do direito privado.

A distinção entre os dois Ramos do Direito:

— Vai muitas vezes determinar a via judicial a que o particular que se considerar lesado pelo Estado ou por um órgão do poder
local deverá recorrer ou vice-versa.

Nestes casos e, para tal, há que averiguar se a relação jurídica de onde provém essa pretensão ou (necessidade de se fazer recurso a
via judicial) é uma relação de direito privado ou de direito público. Essa averiguação vai determinar o tribunal competente para
ajuizar a situação segundo o princípio da especialização, isto é, de acordo a matéria sujeita a apreciação.

— Vai ainda determinar qual o regime de responsabilidade civil aplicável aos agentes, órgãos ou representantes dos Estado no
exercício da sua actividade.

Caso se trate de dados causados no exercício de uma actividade de gestão pública o regime é o do Direito público cujos pedidos de
indemnização feitos à Administração são apreciados pelos tribunais administrativos.

Se se tratar de danos frutos do exercício de uma actividade de gestão privada o regime é o constante no Código Civil (500.o e 501.º
cujos pedidos de indemnização feitos a administração central e/ou local do Estado são apreciados pelos tribunais judiciais.

O direito civil como direito privado comum

O direito privado rege as relações entre os particulares.

O direito Civil, por sua vez, constitui o núcleo fundamental do direito privado.

Constituir o núcleo fundamental do direito privado não significa ser todo o direito privado, mas apenas o direito privado comum ou
geral.

Historicamente o direito privado confunde-se com o direito civil, porém:

 O desenvolvimento da sociedade fez surgir ou acentuou necessidades específicas de determinados sectores da vida dos
homens;

 Daí que foram surgindo regras especiais para dar resposta a esses sectores particulares, estatuindo regimes diversos dos
que se aplicam à generalidade das relações jurídico-privadas do mesmo tipo.

 Essas normas especiais passaram a compendiar-se legislativamente em diplomas legais próprios.

 Passaram a ser estudadas por uma doutrina científica própria e a ser ensinada a parte.

Foi quando dentro do próprio direito privado surgiram Ramos autónomos de direito. Dentre eles podemos hoje apontar os
seguintes:

— O Direito Comercial;

— O Direito do Trabalho;

— O Direito da Família;

RAMOS DO DIREITO PRIVADO E RAMOS DO DIREITO PÚBLICO

(…)

O OBJECTO DO DIREITO CIVIL.

O direito privado é o que, tradicionalmente, regula o ordenamento dos interesses de particulares, sendo o Direito Civil um ramo do
direito privado por excelência.

O direito civil regula a generalidade das relações jurídica dos particulares, sendo tão vasto e complexo quanto estas mesmas
relações jurídicas.

Quando estudamos as relações entre os indivíduos e as associações estamos perante relações de Direito Civil.
No direito civil preponderam as normas jurídicas reguladoras das actividades dos particulares. Trata dos interesses individuais.
Estuda-se a personalidade; a posição do individuo dentro da sociedade; os atos que pratica; como a pessoa trata com as outras
pessoas, como adquire e perde a propriedade; como deve cumprir as obrigações que contraiu com outrem e qual a posição do
individuo dentro da sociedade; qual o destino dos seus bens após a morte; entre outras matérias.

Os interesses protegidos no Direito Civil são privados. O Direito Civil contém a disciplina positiva da atividade de convivência da
pessoa humana com as outras pessoas. Tutela os interesses dos homens em relação com outros homens.

Esta disciplina da vida do homem em relação com os outros homens é realizada pelo direito civil numa perspetiva de autonomia da
pessoa no desenvolvimento da sua personalidade.

A autonomia é uma ideia fundamental, constitui o centro do direito civil. Esta autonomia, este poder de autodeterminação nas
relações com as outras pessoas pressupõe, necessariamente, a igualdade ou a paridade de situação jurídicas dos sujeitos. A
autonomia é a condição básica da personalidade.

O objeto da sua regulamentação identifica-se com todas as manifestações de direta convivência ou vida comum das pessoas entre
si.

O direito civil visa precisamente assegurar a autonomia e a realização da personalidade no plano das relações com as outras
pessoas.

O direito civil (de cives = Cidadãos) situa-se no núcleo mais intimo e fundamental da sociedade; disciplina as relações sociais de
pessoa para pessoa (cerne e conteúdo da vida na sociedade).

O direito civil disciplina as relações de pessoa a pessoa e, porque é um ordenamento jurídico, tutela coercitivamente os interesses
das pessoas. Além de ser um ordenamento de modelação da vida social é também um ordenamento de defesa ou proteção de
direitos e posições jurídicas adquiridas.

Podemos dizer que o direito civil regula a vida quotidiana do homem comum. Com mais propriedade do que qualquer outro ramo
do direito, é ainda no direito civil onde se encontra envolvida a nossa vida diária de relações com as outras pessoas. Basta atender
nas situações e factos que o direito civil disciplina: o nascimento, o domicílio, a ausência, a morte, os contratos, a responsabilidade
civil, a posse, a propriedade, o casamento, o parentesco, a adoção, etc.. São factos da vida privada significativos para todas as
pessoas e onde se manifesta a personalidade do particular na convivência com os outros.

DAS FONTES DO DIREITO


O PLURALISMO JURÍDICO EM ANGOLA

A expressão fontes do Direito remete-nos de imediato a origem, aparecimento, a constituição das normas jurídicas. Diz respeito ao
modo como surge e se manifesta o direito, isto é, o processo de criação das normas jurídicas.

A expressão fontes do Direito na linguagem jurídica encerra diferentes acepções, designadamente:

— Sentido histórico: diz respeito às origens históricas de um dado ordenamento jurídico, as influências, de carácter histórico, que
marcam e determinam o modo de ser, estrutura de um sistema jurídico. É nesta perspectiva que podemos afirmar que o Direito
Português é a fonte histórica do Direito angolano, do mesmo modo que o Direito romano é a fonte do direito português.

— Sentido Instrumental: traduz-se nas formas ou materiais em que se contêm as regras jurídicas, ou melhor, através das quais o
direito é dado a conhecer aos seus destinatários. Basicamente são os documentos que contêm os preceitos.

— Sentido Orgânico: são os órgãos ou entidades com legitimidade para criarem direito, isto é, para ditarem normas de obediência
geral obrigatória. São todos aqueles órgãos que estão incumbidos da responsabilidade da produção de regras jurídicas. Neste
sentido, são fontes: a Assembleia Nacional; o Presidente da República; os Ministros de Estado e os Ministros — (CRA).

— Sentido Material ou Sociológico: são os factores de ordem social, os circunstancialismos e condicionamentos que determinam
a produção e conteúdo das prescrições jurídicas. Vai ser, portanto, uma determinada circunstância que vai ditar e determinar a
produção de uma determinada norma jurídica e, por sinal, o seu conteúdo.

— Sentido técnico-jurídico ou dogmático: entendem-se, por fontes, os modos ou formas de criação do direito. São os modos de
formação e revelação das regras jurídicas. É nesta acepção que a expressão é mais correctamente utilizada.

Assim, grosso modo, consideraremos apenas as fontes da última acepção, técnico-jurídica, que segundo a mesma, são as seguintes:
1 — a Lei; 2 — o Costume; 3 — a Jurisprudência; 4 — os Usos, e; 5 — a Doutrina.

A LEI COMO FONTE DE DIREITO.

Entende-se por lei uma regra geral de direito, abstrata e com carácter de permanência, dotada de sanção, expressa pela vontade de
uma autoridade competente, de cunho obrigatório e de forma escrita.
Da definição é possível extrair as seguintes características, nomeadamente:

1. A lei é uma regra geral;

2. É uma regra abstrata;

3. Tem caracter de permanência;

4. Deve emanar de um poder competente;

5. É dotado de sanção;

6. Apresenta-se na forma escrita.

Valor da lei.

Enquanto fonte do Direito a lei ocupa o primeiro lugar em todo o leque moderno de fontes do direito. O n.º 1 do artigo 1.º CC
estabelece que a lei é a única fonte imediata de direito. Embora inserida na lei civil, trata-se de uma disposição que tem alcance
geral, ou seja, deve, todavia, se ter como de aplicação geral, válida, pois, para os demais domínios do direito angolano.

Importa ainda realçar que o sentido que aqui vai tomado o termo lei é o seu sentido genérico, como sinónimo de acto normativo.
Significa dizer que são assim, leis, toda e qualquer disposição normativa genérica, que seja emanada de um órgão
constitucionalmente competente. Daí, portanto, que são leis: as leis e, porventura, as resoluções da Assembleia Nacional; os
decretos legislativos presidenciais, os decretos legislativos presidenciais provisório, os decretos presidenciais, etc.

O COSTUME COMO FONTE DE DIREITO.

O costume em sentido técnico, como fonte de Direito, é comummente definido pela doutrina como uma prática social, reiterada,
uniforme e constante carregada com a convicção de sua obrigatoriedade. Geralmente integram-no dois momentos ou elementos:

Um elemento factual ou externo: que se traduz na repetição constante e uniforme de certas práticas e actos (o uso);

Um segundo elemento, psicológico ou interno: que se traduz no convencimento de que a prática seguida ou levada a cabo
corresponde a um imperativo jurídico (convicção de obrigatoriedade).

Obs. Se a a prática não for constantes, teremos quando muito, simples atitudes, comportamentos sociais; se a prática for reiterada e
constante, mas não acompanhada da convicção de obrigatoriedade, estaremos, então, diante dos usos sociais. Torna-se
imprescindível e necessário que as práticas constantes e uniformes sejam obrigatoriamente carregadas daquela convicção
“obrigatoriedade”

Relação entre o costume e a lei.

Atendendo a relação do costume com a lei, podemos, aqui classificar o costume da seguinte forma: costume secundem legem,
costume contra legem e costume praeter legem.

 Costume secundum legem: é aquele em que existe a coincidência entre o conteúdo do costume e o da lei. Isso sucede,
quando uma lei regula uma matéria no domínio da qual já anteriormente vigorava um costume, e o faça de acordo com
esse costume.

Desse modo, diz-se que estamos perante o costume secundum legem quando o conteúdo do costume é absorvido pelo da lei.

 Costume contra legem: acontece quando o costume e a lei estão em contradição. Devemos ainda salientar que esse tipo
de costume é claramente afastado como fonte do direito, ou seja, a possibilidade desse tipo costume funcionar como
fonte de direito é abertamente afastada no nosso ordenamento jurídico.

Admitir essa forma de costume como fonte de direito, seria admitir que o conteúdo de uma lei estaria susceptível a ser revogada
por um costume que lhe fosse contrário. Ora, tal cenário é inadmissível e inaceitável, visto que o n.º1 do art. 7.º CC afasta essa
possibilidade quando dispõe que uma lei que não se destina a ter vigência tenporária só deixa de vigorar se for revogada por outra
lei, o que consequentemente afastaria a possibilidade de uma lei ser revogada por um costume a ele contrária.

 Costume preater legem: aqui o costume vai para além da lei, o que significa que ele vai vigorar num domínio e âmbito
não regulado por lei.

Valor do costume.
Na trajetória do Direito angolano o costume enquanto fonte de Direito passou por determinadas fases que incluem desde logo a sua
rejeição, passando pela absoluta ignorância pelo legislador até ao seu reconhecimento formal, facto que desencadeou abertamente o
pluralismo jurídico em Angola.

Tudo começa quando pela primeira vez no ordenamento jurídico angolano a CRA procede ao reconhecimento jurídico-
constitucional do costume ao estabelecer ao abrigo do art. 7.º que “se reconhece a validade e a força jurídica do Costume que não
seja contrário à Constituição nem atente contra a dignidade da pessoa humana”.

Com isto, dentro do ordenamento jurídico angolano reconhece-se, pela primeira vez, a existência de facto e de Direito do princípio
do pluralismo jurídico do costume, em paridade com a lei, passa a ser também considerado como uma fonte imediata de Direito.

Assim, enquanto fonte de Direito, o costume deve ser considerado uma verdadeira fonte de Direito e deve ser visto como uma
fonte privilegiada, não por ser mais frequente, mas porque exprime directamente a ordem da sociedade, sem necessitar de
mediação de nenhum oráculo.

Com este reconhecimento, veio ainda o reconhecimento, o estatuto, o papel e as instituições do poder tradicional constituídas de
acordo com o Direito consuetudinário e que não contrariam o constituição.

Neste ínterim, adiete-se que se possam aplicar as regras do direito costumeiro em litígios que se verifiquem dentro das
comunidades tradicionais.

Artigo 7.º CRA — “prescreve que é reconhecida a validade e a força jurídica do costume que não seja contrário à Constituição nem
atente contra a dignidade da pessoa humana”.

Deste preceito resultam três ideias:

— A validade e a força jurídica do costume são reconhecidas pela Constituição ao declarar a tutela constitucional do costume.
Desse modo, o costume passa a merecer tutela jurídica do Estado e dos seus órgãos, nomeadamente a tutela jurisdicional.

— A segunda ideia que resulta do preceito é a de que a validade do costume depende apenas da sua conformidade com a
Constituição e com a dignidade da pessoa humana.

— A condicionalidade do reconhecimento da validade do costume ao facto de não contrariar a Constituição e não atentar contra a
dignidade da pessoa humana.

O costume, portanto, passa outrossim a ser, assim como a lei, uma fonte imediata do Direito em Angola. Com tal preceito
constitucional, o costume e a lei ficam em paridade, pois nenhum deles é, de per si, superior ao outro; devendo ambas “as fontes”
subordinar-se a constituição e à dignidade da pessoa humana.

A JURISPRUDÊNCIA COMO FONTE DE DIREITO.

A função primordial dos órgãos judiciais é ajuizar e decidir os casos litigiosos que perante eles se apresentam. O juíz, perante um
caso concreto, decide. A decisão é um facto, assim como os demais factos jurídicos. Contudo, esse facto, a decisão é sempre
baseada num critério normativo. O juiz ao decidir, decide num perspectiva generalizadora, salvo a casos concretos a resolver
segundo a equidade.

Ao contrário do que acontece no sistema anglo-saxônico em que se hipervaloriza o precedente ao transbordar de máxima de
decisão para além do caso concreto, o critério normativo, no sistema romanístico, que conduziu um juíz à solução do caso não pode
ser considerado vinculativo perante outro caso da mesma índole (natureza), pois cada juíz aqui, encontra-se num posição de
independência.

Assim, os tribunais superiores não têm de julgar como fizeram os tribunais inferiores e vice-versa; os juízes não têm de julgar
como fizeram os juízes do mesmo nível hierárquico; não podem ainda julgar com base nas decisões por eles anteriormente
tomadas, etc. Por esse motivo, diz-se que o juíz deve julgar somente segundo a lei e a sua consciência (179.º n.º1 CRA). Logo, o
juíz está sempre vinculado a julgar segundo o Direito objectivo.

O que nos leva a concluir que a jurisprudência, nos moldes que acabamos de acordar e considerar, não constitui fonte de Direito.

“À toda regra há uma exceção!!”

O valor do assentos.

O cenário, supra-considerado, não obsta que a jurisprudência possa a a ter valor jurídico de fonte de Direito, pois existem os
chamados assentos que por definição são decisões do tribunal Pleno proferidas em recurso para esse tribunal, quando sobre a
mesma questão de Direito e no domínio da mesma legislação existam dois acórdãos contraditórios do Supremo Tribunal.
Aquelas decisões, que são tomadas nas condições a pouco acabadas de referir tomam o nome, como já mencionado, de assentos e
têm como particularidade o facto de valerem, não apenas para o caso submetido a julgamento que os motivou, mas também para
todos os casos da mesma natureza que venham a ser levados a juízo em qualquer tribunal. Nestes termos, os assentos constituem
autêntica fonte de Direito, pois, por meio delas são criadas prescrições normativas, no domínio jurídico, com força obrigatória geral
(oponível erga omnes).

Importa, entretanto, esclarecer que a sua validade é uma validade derivada, pois decorre da própria lei.

Este “os assentos” são o único caso em que a jurisprudência pode funcionar como fonte de direito, embora seja uma fonte mediata,
não autônoma. Fora este caso a jurisprudência não constitui fonte de Direito, uma vez que as decisões, vida de regra, tomadas pelos
tribunais, não são vinculativas, nem para o futuro; nem para os casos idênticos, nem para o próprio tribunal, e muito menos para os
tribunais colocados numa posição mais ou menos elevados.

O VALOR DOS USOS NO ÂMBITO DAS FONTE.

Os usos que não forem contrários aos princípios da boa fé, são juridicamente atendiveis quando a lei o determinar. Os usos
outrossim designados de costumes de facto são práticas sociais reiteradas e constantes, mas não acompanhadas da convicção de sua
obrigatoriedade (vinculatividade), o que o distingue do costume no sentido estrito do termo. É o que dispõe o artigo 3.º C. Civil.

A lei, assim como já se deixou claro, admite alguma relevância aos usos, mas a sua intenção restritiva manifesta-se em dois limites
fundamentais:

— Deve haver compatibilidade com a cláusula geral dos bons costumes. É necessário que os usos não sejam contrários os
princípios da boa fé.

— O carácter de fonte mediata. O uso não se impõe por si só. A sua relevância jurídica só é reconhecida quando a lei
especialmente o determine.

A DOUTRINA COMO FONTE DE DIREITO.

A Doutrina enquanto fonte do Direito pode ser definida como conjunto de noções, teorias e opiniões, formuladas por escrito pelos
teóricos da Ciência do Direito que dão a conhecer aos juristas práticos, aos estudantes e aos cidadãos comuns o conteúdo e
significado de um certo ordenamento jurídico, e influenciam os poderes legislativo e judicial no exercício das respectivas funções.

O capítulo das fontes de direito nada diz o C. Civil sobre a doutrina. Todavia, a opinião dos jurisconsultos tinham uma função
criadora naquela época, isto é, no Direito Romano. No entanto, hoje nenhum ordenamento jurídico “moderno” admite-a, naqueles
termos. Essa actividade “dos jurisconsulto” não pode hoje ser considerada como fonte de Direito, pelo facto de não se tratar de
criação de um novo direito, mas se tratar sim da elaboração e desenvolvimento do material jurídico.

O VALOR DA EQUIDADE NO ÂMBITO DAS FONTES.

Quanto à equidade, referida no artigo 4.o do Código Civil, ela constitui um critério não normativo de solução de questões
jurídicas.

A equidade é um critério tipicamente formal de decisão de casos particulares, constituindo uma manifestação de justiça que tem o
condão de atuar e rudez de uma regra jurídica. A equidade não é um critério normativo, pois ela não se eleva nem necessita de
elevar-se à formação de regras. Simplesmente a equidade dita soluções para casos, atendendo às peculiares características destes.

Não implica elaboração de regras, e por isso mesmo não tem intuito generalizador. Não é, portanto, de colher a qualificação da
equidade como fonte de direito.

A CODIFICAÇÃO DO DIREITO CIVIL.

Os códigos são leis, leis no sentido material do termo, que ocupam, na hierarquia das leis, o lugar correspondente às leis que os
aprovam ou em que se contêm. Contudo, não se tratam de leis quaisquer! Tratam-se de leis que contém a disciplina que visam
fundamentalmente regular um determinado domínio jurídico, normalmente um ramo de direito, e que obedecem a um plano
unitário e sistemático, previamente elaborado pela doutrina.

Num sentido mais amplo ou genérico do termo, os códigos podem ser definidos como simples compilações, privadas ou oficiais,
de fontes jurídicas, que podem ser de diferentes datas e abranger distintas matérias.

O código civil.

As codificações civis modernas as únicas que, verdadeiramente, merecem o título de "codificações" - surgiram quando a Ciência
do Direito atingiu um nível que possibilitou a sua confecção e quando as condições sócio-políticas a tanto deram lugar. Uma
codificação é, por excelência, o produto do trabalho jurídico-científico. Ela postula um desenvolvimento intensivo e extensivo do
sistema externo, com reduções dogmáticas operosas e um esforço de síntese que remodele, por inteiro, toda a representação
tradicional dos institutos jurídicos.

A generalidade dos países hoje tem o seu Direito Civil codificado.

— O código Napoleão.

A primeira codificação moderna é, normalmente, reportada ao Código Civil Francês de 1804 ou Código Napoleão. 126 Surgiu na
sequência de um imenso trabalho levado a cabo durante os séculos XVII e XVIII e que visou o conhecimento e o redimensionar do
material jurídico-civil.

Nos séculos XVII e XVIII, a doutrina continental procurou enfrentar e resolver três questões fundamentais:

— A unificação das fontes;

— A busca de uma sistemática racional;

— A adaptação dos institutos a novas realidades;

Eis os factores que marcaram o surgimento desse código.

— O Código Civil Alemão (BGB).

A influência dominadora, científica e cultural, do Código Civil Francês apenas esmoreceria perante o aparecimento, nos finais do
séc. XIX, de uma nova Codificação, assente em dados científicos mais perfeitos e avançados: O Código Civil Alemão, conhecido
pela sigla BGB (Bürgerliches Gesetzbuch), que entrou em vigor em 01-01-1900, após ter sido promulgado em 1896.

O Código Civil Alemão corresponde ao ponto terminal de uma intensa actividade jurídico-científica, que se prolongou por todo o
século XIX. Na base de um estudo aturado do Direito comum — o Direito romano com algumas adaptações e em certa leitura - os
pandectistas foram levados a confeccionar um novo sistema civil: as proposições jurídicas singulares, os institutos, os princípios e a
ordenação sistemática sofreram remodelações profundas, aperfeiçoando-se, evitando contradições e desarmonias e multiplicando o
seu tecido regulativo de modo a colmatar lacunas.

O Código Civil alemão, de um modo geral, foi bem recebido na época da sua promulgação. Devido às suas qualidades formais, foi
adoptado prontamente no Japão (o Código Civil Japonês é de 1898) e mais tarde na China (o seu Código Civil é de 1930).

Na linha da Pandectística oitocentista, o BGB apresenta uma sistematização em cinco livros:

LIVRO I - Parte Geral

LIVRO II - Direito das Relações Obrigacionais

LIVRO III - Direito das Coisas

LIVRO IV- Direito da Família

LIVRO V- Direito das Sucessões

Trata-se da chamada Classificação Germânica do Direito Civil, à qual, pela sua importância no ordenamento jurídico vigente, será
consagrado um maior desenvolvimento.

OS DIPLOMAS FUNDAMENTAIS DO DIREITO CIVIL ANGOLANO.

Os princípios do direito civil na constituição.

Caberá à disciplina de Direito Constitucional aprofundar o estudo da Lei Constitucional e pôr em realce a sua transcendente
importância para a organização política e social da República de Angola.

Todavia, e na medida em que se trata da lei fundamental do País, da lei de mais elevada categoria hierárquica do ordenamento
jurídico angolano, que contém os princípios básicos do sistema, lógico será que nela se contenham normas e princípios relevantes
para o direito civil, que é imperioso que aqui levemos em consideração. Daí que a Lei Constitucional deva ser referida entre os
diplomas fundamentais em que se contém o direito civil angolano.

Por outro lado, contêm-se, na Lei Constitucional, diversas disposições versando directamente matéria que se integra no âmbito ou
objecto do direito civil. É o caso do artigo 14.° que fixa o estatuto fundamental da propriedade privada e livre iniciativa económica
e empresarial; do artigo 15.º que estabelece a terra como propriedade originária do Estado; o artigo 16.° que prescreve a
propriedade do Estado sobre os Recursos naturais; do artigo 23.º, que consagra a igualdade de todos os cidadãos perante a
Constituição e a lei, sem distinção da sua ascendência, sexo, raça, etnia, cor, deficiência, língua, local de nascimento, religião,
convicções políticas, ideológicas ou filosóficas, grau de instrução, condição económica ou social ou profissão; dos artigos 30.° a
34.º que consagram o direito à vida, à integridade pessoal, à identidade, à privacidade e à identidade, à inviolabilidade do
domicílio, da correspondência e das comunicações; dos artigos 40.° e 41.° que consagram o direito de liberdade de expressão, de
informação, de consciência, de religião e de culto; do artigo 44.° que estabelece a liberdade de imprensa; dos artigos 46.° a 50.º
onde se consagram liberdades individuais, nomeadamente a liberdade de residência, circulação e emigração, de reunião e de
manifestação, de associação e a liberdade sindical; etc.

É de considerar, também, que a Constituição fixa certos princípios que são válidos em geral para todo o ordenamento jurídico
angolano, relevantes por isso também no domínio do direito civil. É o caso, desde logo, dos seus três primeiros artigos, nos quais se
consagra a República de Angola como uma Nação soberana e independente, um Estado democrático de direito em que o poder
político se exerce através do sufrágio universal, livre, igual, directo, secreto e periódico. Ora estes e outros princípios são de
extrema importância para a correcta resolução de inúmeras questões que se colocam na área do direito civil, como a seu tempo se
verá.

De resto, e sendo dada a fundamental unidade de todo o ordenamento jurídico, unidade de sentido político-ideológico, se bem que
não propriamente de sentido lógico-axiomático, é obvio que a Lei Constitucional há-de influenciar todo o direito vigente, mesmo
aquele que já vigorava antes da sua entrada em vigor. Uma concretização disto, temo-la no artigo 239.º da Lei Constitucional, por
força do qual o direito ordinário anterior à entrada em vigor da Constituição mantém-se, desde que não seja contrário a
Constituição.

A simples luz da existência deste preceito, muitas normas e diplomas legais se devem ter já como revogados pois para o direito que
é mantido em vigor, devem pesar, na sua interpretação, os novos princípios e valores da Constituição de 2010, em termos de
receberem um conteúdo novo, distinto do que possuíam anteriormente ou mesmo no período colonial.

Tudo isto ilustra sobejamente a contemplação da Lei Constitucional como diploma de primeira importância em que se contém o
direito civil na República de Angola.

O Código Civil de 1966.

— Características mais salientes.

— Técnicas de formulação das normas.

simples directivas. Atente-se em que um mesmo ordenamento jurídico derá orientar-se ora por um ora por outro tipo, conforme o
ramo de direito de que se trate, e que estes tipos não existem na sua forma pura em nenhum ordenamento jurídico.

O tipo de formulação casuística tem o seu modelo paradigmático no Allgemeines Landrecht prussiano de 1794. Consiste numa
forma de regulamentação em que se procura prever o maior número possível de situações, aplicando-se-lhe uma
regulamentação o mais minuciosa possível. Assenta na convicção, de inspiração iluminista, de que é possível tudo prever e tudo
regulamentar. Um código elaborado segundo esta técnica, para além da sua assinalável extensão, há-de também apresentar um
recurso pouco frequente à técnica da remissão e, bem assim, utilizar uma linguagem pouco tecnicizada, acessível portanto ao
comum dos cidadãos. Terá como consequência uma diminuta margem para a interpretação e aplicação de juízos valorativos por
parte do juiz. Utopicamente chegou-se ao ponto de se pretender retirar qualquer margem de apreciação ao juiz proibindo-se a
interpretação das leis.

Ao invés, o tipo de formulação através de conceitos gerais-abstractos arranca da constatação da impossibilidade de tudo de
prever na formulação das leis. Assim em vez de uma descrição casuística das situações a regulamentar, esta técnica privilegia
antes a redução da imensidade das situações da vida a certas situações-tipo, formuladas em termos abstractos, através do
recurso a conceitos gerais-abstractos. Um número maior ou menor de situações ou de casos é reduzido a um só conceito geral-
abstracto, definido a partir dos elementos comuns a esses diversos casos ou situações, o que torna possível que, sempre que
surja um caso ou situação enquadrável nesse tipo abstracto, lhe seja aplicável a respectiva disciplina jurídica, mesmo que esse
caso ou situação não estivesse na mente do legislador no momento da feitura da lei. Os conceitos gerais abstratos são conceitos
fixos ou determinados claramente recortados.

Um exemplo que ajudará a compreender melhor a diferença entre as duas técnicas legislativas, é-nos dado por MOTA PINTO:
"Interessa ao direito caracterizar as chamadas coisas acessórias para permitir a aplicação do princípio acessorium sequitur
principale, princípio que o nosso direito aliás só admite havendo declaração negocial nesse sentido (cfr. art. 210.° n.° 2). Ora, o
actual Código Civil diz no art. 210., n.º 1 que "são coisas acessórias ou pertenças as coisas móveis que não constituindo partes
integrantes, estão afectadas por forma duradoura ao serviço ou ornamentação de uma outra". Nada mais se acrescenta a este
respeito, designadamente não se faz qualquer concretização. Pelo contrário, uma formulação casuística acentuada dedicaria vários
artigos à identificação das coisas acessórias, prevendo o máximo de espécies concretas dessa categoria. O Allgemeines Landrecht,
referido no texto, dedica a essa tarefa 60 parágrafos, segundo os quais, por exemplo, "as reses encontradas numa quinta, são
pertença da quinta"; "os galos, perus patos, pombos, são pertença da quinta"; as fechaduras e as chaves a elas pertencentes, mas não
os cadeados, são pertenças de um edificio". Como se vê facilmente, nunca um legislador abrangeria por este processo, com
aspectos de comicidade, todas as situações possíveis". 171
Um código assente na formulação através de conceitos gerais abstractos verá sensivelmente diminuída a sua extensão e apresentará
vantagens do ponto de vista da arrumação e racionalização da matéria. Mas terá forçosamente de recorrer a uma linguagem mais
técnica, mais formalizada, com expressões e termos doutrinalmente elaborados. Além disso possibilita, e por vezes exige, o uso
frequente de remissões e outras técnicas que tornam a leitura da lei bastante dificil para os não iniciados na linguagem dos juristas.
Atente-se, por fim, em que este tipo de formulação pressupõe uma prévia elaboração doutrinal dos conceitos gerais-abstractos, a
exacta fixação do seu conteúdo e dos seus contornos. Por outro lado, só ele corres-ponde aos anseios daquela doutrina que aspira,
antes de tudo à arquitectura e simetria do direito e do seu sentido - a jurisprudência dos conceitos, em geral, e a escola
pandectística, em particular. Daí que este tipo de formulação tenha encontrado a sua expressão clássica e acabada no já por várias
vezes referido Código Civil Alemão de 1900.

O tipo de formulação através de simples directivas leva esta tendência ainda mais longe, atingindo por vezes o limite máximo da
abstracção possível na técnica legislativa. Em vez de se formularem as normas através do recurso a conceitos gerais-abstractos
claramente recortados (conceitos fixos ou determinados) utilizam-se antes formulações muito genéricas de critérios de apreciação
ou conceitos não rigorosamente recortados. São as chamadas Cláusulas gerais172 (por exemplo, a boa fé - arts. 239.° e 762.°; os
bons costumes - art. 280.º; o abuso de direito - art. 334.°) e os conceitos indeterminados173 (por exemplo, a gravidade - art. 496.°;
a violação grave artigo 1.003.0; a diligência de um bom pai de família - art. 487.°).

Quer o recurso aos conceitos gerais abstractos (determinados) quer o recurso a simples directivas - mas muito mais o segundo que
o primeira fazem apelo a uma muito maior intervenção valorativa do juiz na sua função de aplicação da lei, do que aquela que lhe é
exigida pela técnica casuística. Muitos autores recentes, em consonância com a sua posição de remeterem para o juiz uma enorme
margem de arbítrio relativamente à decisão das causas que lhe são submetidas para julgamento, transformaram-se, em
consequência disso, em defensores acérrimos da última das técnicas mencionadas.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO CIVIL ANGOLANO

Ao contrário do entendimento superficial que se tem, o Direito Civil enquanto sistema não constitui um simples somatório de
normas jurídicas. Antes pelo contrário, por maior que seja a sua ampla dispersão formal, um ramo do direito só existe como tal, só
se configura e afigura como ramo de Direito, de facto, em virtude da possibilidade de fixar uma série de princípios comuns que
constituem linhas dominantes de todas as suas normas, transformando-as, consequentemente, num todo harmonioso e sistemático.
Porém, importa aqui destacar que não está aqui em causa uma ordenação de normas em termos formais, mas trata-se de uma
ordenação material ou substancial, pautado por alguns valores.

A massa de normas do direito civil não é um conjunto desordenado de preceitos avulsos, desprovidos de conexão uns com os
outros. Existe, subjacentemente, uma ordenação entre essas normas.

Tal ordenação e, consequente, unidade apreende-se e expressa-se através da existência de certos princípios que atravessam e
orientam todo o sistema e que consubstanciam as ideias basilares e os nexos em que o sistema assenta e se funda através dos quais
se articula. São estes princípios que na linguagem jurídica são designados por princípios jurídicos fundamentais ou princípios
gerais do direito.

Estes, por sua vez, podem ser entendidos como conjunto de ideias basilares, traços gerais, valores em que se assenta e se funda um
ordenamento jurídico; estes constituem uma unidade complexa, um sistema, ordenado e coerente e dotado de uma lógica própria
que, não podem ser vistos desarticuladamente, mas sim em toda sua dimensão.

Estes formam ainda a ossatura do direito civil, sustentando as normas que se desenvolvem e dando-lhes um sentido e uma
formação. Oferecem-nos também os traços fundamentais do sistema de direito civil, na medida em que modelam o conteúdo do
direito vigente.

Diferentes são os autores que expressam o seu entendimento relativo aos princípios fundamentais, por exemplo, Gomes Canotilho
entende que os princípios fundamentais são os princípios historicamente objetivados e progressivamente introduzidos na
consciência jurídica e que encontram uma receção expressa ou implícita no texto constitucional. Todavia, o direito constitucional
pode ser invocado diretamente em tribunal diferente acontece com os princípios fundamentais que por si só não pode
autonomamente fundamentar um recurso contencioso.

Por outro lado, para Szabá, os princípios gerais de direito são traços gerais que caracterizam o conjunto do sistema de direito; o
direito a criar e o direito já criado.

António Pinto Pereira, numa ótimo mais positiva, apresenta os princípios gerais do direito como fontes mediatas ou indiretas
consistindo no conjunto de princípios que são significado e melhor permitem compreender a realidade jurídica. São os alicerces do
ordenamento jurídico, informando o sistema independente de estares positivados através de uma norma legal.

A análise e compreensão dos princípios fundamentais por tocarem o cerne do Direito Civil é fundamental, pois permite-nos, por
um lado, podermos reconduzir a um esquema lógico comum os vários institutos de direito civil e ter, dessa forma, da matéria, uma
melhor visão de conjunto e, por outra, permite-nos ainda obter uma compreensão mais profunda de cada um desses mesmos
institutos, ao considera-los a luz dos princípios que lhes dão sentido e dominam a sua própria função.

Características
Os princípios fundamentais do direito civil apresentam as seguintes características:

 Têm um fundamento objetivo, ou seja, são algo existente numa dada organização da vida social.

 Não são dados apriorísticos o que significa dizer que os mesmos não valem da mesma forma e nos mesmos termos em
qualquer sistema jurídico, mas sim em realidades historicamente situadas, um produto da própria sociedade que podem
variar de sistema jurídico para sistema jurídico.

Ainda segundo Meneses Cordeiro, os princípios gerais do direito apresentam características tendenciais que facultam a sua clara
contraposição às normas jurídicas:

 Os princípios derivam sempre da elaboração científica do direito, postulando operações de confrontos e de


sistematização;

 Os princípios são vetores gerais, não valem sem exceção;

 Os princípios podem entram em contradição ou oposição entre si, sem com isso se anularem ou perderem em âmbito de
aplicação;

 Os princípios não têm pretensão de exclusividade;

 Os princípios requerem um conjunto móvel de complementações e de limitações;

Os traços a pouco apresento concretizam-se de modo variado, consoante às área a que se reportam

Princípios gerais do direito civil angolano

Tratando-se de princípios básicos do direito civil naturalmente que encontram guarida na constituição alguns com expressa
consagração, já outros claramente pressuposto por algumas normas constitucionais.

Vários autores, principalmente, portugueses como Mota Pinto, Meneses Cordeiro, Oliveira Ascensão e outros enumeraram das suas
formas os princípios fundamentais do direito civil.

Com isso, entendemos que podemos consideram alguns princípio, ideias, instituições ou institutos que fundamentam o atual Direito
Civil angolano o penetram e são por ele desenvolvidos. É nesta perspetiva que destacamos os seguintes princípios:

 O reconhecimento da pessoa humana, da personalidade coletiva e dos seus direitos de personalidade

 A autonomia privada

 A responsabilidade civil

 A boa fé

 O abuso de direito

 O respeito pela propriedade

 A família como instituição fundamental

 O fenômeno sucessório;

O RECONHECIMENTO DA PESSOA HUMANA, DA PERSONALIDADE COLETIVA E DOS DIREITOS DE


PERSONALIDADE

— A DIGNIDADE E O RECONHECIMENTO DA PERSONALIDADE

Cada homem possui uma dignidade, ou seja, todo e qualquer homem não pode, assim, ser utilizado como simples meio para fins de
outros, pois este possui uma dignidade, um atributo moral consubstanciado elementos ontológicos e, sobretudo, axiológicos que
incitam o respeito e o reconhecimento da pessoa humana.

O reconhecimento da ideia de pessoa ou personalidade pelo direito civil ou qualquer outro direito, além de ser um princípio
normativo, é ainda a aceitação de uma estrutura lógica sem o qual a própria ideia de direito não seria possível.
Ou seja, o direito só pode ser concebido tendo como destinatários, os seres humanos em convivência. A aplicação do direito civil a
essa convivência humana desencadearia uma teia que relações jurídicas entre os homens, relações traduzidas em poderes (direitos)
e deveres jurídicos (lato sensu). Num sentido puramente técnico, ser pessoa é, precisamente, ter aptidão para ser sujeito de direito e
deveres jurídicos, ser um centro de uma esfera jurídica.

A disposição legal que refere esse conteúdo é o artigo 66º (todo humano tem personalidade).

O RECONHECIMENTO DOS DIREITOS DE PERSONALIDADE

— OS DIREITOS DE PERSONALIDADE

Toda a pessoa pode ser titular de relações jurídicas, basicamente, nisto consiste a personalidade ou qualidade de sujeitos de direito.
Ser sujeito, ser pessoa, significa, desde logo, ser um centro de direitos e obrigações, ser suporte de poderes e encargos ou deveres
jurídicos.

Toda a pessoa jurídica não só pode ser, como efetivamente é titular de alguns direitos e obrigações. A todos os homens é
reconhecido um circulo fundamental de direitos de personalidade. São os chamados direitos de personalidade (arti. 70º e segs. do
Código Civil).

É com esse entendimento e alcance que chamamos aqui ao acaso a questão dos Direitos de personalidade. Isto é, a dignidade da
pessoa humana constitui o ponto de partida do ordenamento jurídicos, pois é por intermédio dela (dignidade) que o Direito Civil
atribui às pessoas um leque vasto de direitos subjectivos, dentre os quais destacam-se um certa categoria que visa
fundamentalmente assegurar a proteção da dignidade da pessoa humana, referimo-nos a este propósito da categoria dos Direitos de
Personalidade.

Segundo Carvalho Fernandes podemos definir os direitos de personalidade como direitos que constituem atributos da própria
pessoa e que têm por objeto bens da sua personalidade, física e moral.

Ainda segundo Carvalho Fernandes podemos caracterizar os direitos de personalidade como direitos:

 Absoluto: significa que se encontram numa categoria de direitos que são oponíveis erga omnnes, isto quer dizer que o
seu titular pode invocar e fazer valer contra todos.

 Não patrimoniais: não são passíveis de avaliação pecuniária, ou seja, não são avaliáveis em dinheiro. Esta não significa,
contudo, que a sua violação não possa envolver uma reparação dos danos patrimoniais e dar lugar a obrigação de
indeminização. Ex.: 484º Cod. Civil.

 Não disponíveis: significa que o seu titular não pode dispor, ou seja, tornar disponível, ou dito doutro modo, está
subtraído ao jogo da livre vontade do seu titular que sobre ele pode exercer validamente. Assim, a pessoa titular de
direito um direito não pode validamente renunciar a ele ou limitá-lo.

 Intransmissíveis: os direitos de personalidade não são passíveis de serem alienados, ou seja, o seu titular não pode
transferir a outrem os seus direitos de personalidade, quer em vida, quer em morte, extinguindo-se com o seu titular.
Neste sentido, integram-se na categoria dos direitos pessoalíssimos.

 Objetos de proteção penal: significa que são tuteladas penalmente, ou seja, o direito penal pune como crimes as ofensas
mais significativas aos direitos da personalidade humana: homicídio (arts. 349º e segs.), as ofensas corporais (arts. 359º e
segs.); Calúnia, difamação e injúrias (arts. 407º e segs.), etc.

Regime dos direitos de personalidade

Assim como já se viu anteriormente os direitos de personalidade são ilimitáveis, ou seja, não podem ser renunciáveis e
transmissíveis. Assim, esses conhecem apertadas limitações quanto ao seu exercício, à forma como os seus titulares podem em
geral dispor.

Por exemplo, somente dentro de condicionalismos muito restritos e bem definidos é que é possível se verificar determinadas
limitações ou restrições a esses direitos, isto é, há circunstâncias que legitimam e, até exijam determinadas limitações ou restrições
dos direitos de personalidade. Segundo o autor Orlando Carvalho é possível agrupar tais circunstâncias em quatro grandes tipos,
nomeadamente:

 A própria natureza do bem da personalidade: para se averiguar a existência de lesão, torna-se imprescindível
conhecer-se suficientemente qual o bem ou projeção atingido, o que limita desde logo a invocação daquele direito.

 As exigências da vida em comum: pelo fato de o homem ser um ser social, a vida em sociedade dá lugar a exigências e
condicionalismos à vida do homem o que pode desencadear limitações aos direitos de personalidade, limitando, desse
modo, algumas lesões. Importa realçar que aqui só é legítima e aceitável a limitação ao direito de personalidade que não
for consideravelmente relevante e que se mantenha no quando da chamada “adequação social” é aceitável a limitação dos
direitos de personalidade (art. 337º Cód. Civil).

 A ponderação dos interesses em jogo: estas limitações ou restrições ocorrem normal e particularmente no âmbito do
chamado estado de necessidade, na qual se verifica a existência de conflitos de dois ou mais direitos. Sobre o assunto
dispõe em geral o artigo 335º Cód. Civil que dispõe que se os direitos forem iguais ou da mesma espécie devem os
respetivos titulares ceder na medida do necessário para que todos produzam igualmente o seu efeito e, que, se os direitos
forem desiguais ou de espécies diferentes, prevalece o que deva considerar-se superior (art. 399º Cód. Civil). Podemos
destacar aqui, por exemplo, a legítima defesa que sucede, mormente, em circunstâncias sociais na qual um indivíduo se
encontra na eminência de ver a sua integridade ameaçada. Para evitar tal, adota uma conduta que pode ou viola até
mesmo direitos de personalidade de outrem, nesses casos

 O consentimento do lesado: o consentimento do lesado ou ofendido pode também determinar a inexistência da lesão
(exclusão do facto) ou a justificação dela (justificação do facto). Para ser válido esse consentimento, em quaisquer que
forem as condições não podem ser contrários a uma proibição legal, nem tampouco à ordem pública e aos bons costumes
(arts. 82º e nº art. 340º Cód. Civil).

Nesta última circunstância é possível distinguir três espécies diferentes de consentimentos:

O consentimento vinculante que se traduz na assunção de um compromisso jurídico sobre o qual decorrerão determinadas
restrições aos direitos de personalidade. Esta não deverá, contudo, ser contrário aos bons costumes e nem a uma proibição legal.

O consentimento autorizante: (art. 82º nº. 2) aqui o lesado consente mediante autorização concedida por este ao sujeito lesante.
Cumpre ainda avançar que embora sempre revogável, não deixa de dar origem a um compromisso jurídico que fundamenta a
obrigação de indemnização dos prejuízos causados às legítimas expectativas da outra parte, no caso de ser revogado.

E, finalmente, o consentimento tolerante: (art. 340º nº. 1), assim como a própria designação deixa claro, o ato de consentir aqui
traduz-se num deixar passar, ou permitir, tolerar, atenuar a lesão. Este é sempre revogável e, apenas, funciona como forma de
afastar a ilicitude do acto.

Na quase totalidade dos casos, como veremos, o consentimento relevante em matérias dos direitos de personalidade é ou o
consentimento autorizante ou o consentimento tolerante.

Ainda na senda do regime dos direitos de personalidade guiaremos agora a nossa abordagem a distinção entre o Direito Geral de
personalidade e os Direitos especiais de personalidade.

Direito Geral de personalidade e Direitos especiais de personalidade.

A este propósito devemos ter em atenção a distinção que se faz entre aos ius in se impsum (Direito Geral de personalidade) e aos
iura in se ipsum (direitos especiais de personalidade).

Enquanto que alguns têm como objecto aspectos parcelares da pessoa humana (direito à vida; direito a integridade física e moral;
direito à imagem; direito ao nome, etc) — iura in se ipsum, outros dizem respeito a tutela da personalidade humana no seu todo —
ius in se ipsum. Desse modo, o direito geral de personalidade será a matriz fundante dos demais direitos de personalidade que, por
seu turno, constituirá um afloramento particular daquele.

Portanto, os ius in se ipsum abrangerá todas as manifestações previsíveis e imprevisíveis da personalidade humana.

Julgamos ser crucial deixar já claro que o reconhecimento de uma tutela geral de personalidade não prejudica a existência e
reconhecimento dos demais direitos especiais de personalidade, “não os exclui, antes os acolhe como naturais desenvolvimentos
das áreas ou projeções da personalidade de que falámos acima”.

O código civil vigente no seu artigo 70.º incorpora uma cláusula de tutela geral da personalidade humana, por meio da
qual se estabelece que <<a lei protege os indivíduos contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à sua personalidade
física ou moral>>.

Os direitos especiais de personalidade.

— No Código Civil;

O DIREITO AO NOME

Traduz-se no direito de personalidade que constitui um particular aspecto da identidade própria da pessoa humana que visa
fundamentalmente tutelar o interesse do indivíduo em não ser confundido com outrem e, bem assim, em manter a sua identidade.

Este direito engloba por um lado, a faculdade de o usar e a oposição ao seu uso por outrem, implicando este último tanto no seu uso
pessoal como na fixação dele em objetos e personagens (n.º 1 art. 72.º).
O direito ao nome recebe ainda tutela após a morte do respectivo titular (n.º 2 art. 71.º). Assim tem legitimidade para reagir contra
qualquer ofensa após a morte do titular do nome os sujeitos referidos no n.º 2 do artigo 71.º.

O nome é o que consta do assento de nascimento. O artigo 74.º estabelece o pseudônimo que, quando muito notório (quando ganha
vasta notoriedade) goza da mesma proteção conferida ao próprio nome.

DIREITO À IMAGEM

Diz-se ao direito de não divulgação por outrem da sua imagem ou, num sentido ligeiramente distinto, podemos entendê-lo como o
direito ao não conhecimento por outrem da própria imagem física. Este direito opõe-se não apenas à sua divulgação como também
e, desde logo, a sua captação. O seu regime é o que consta do artigo 79.º C. Civil. Importa realçar que este direito não é penalmente
tutelado.

Assim, quanto aos limites do direito à imagem são, assim como já debruçamos la mais para trás, os que resultam das exigências da
vida em comum, da ponderação dos interesses em jogo e do consentimento do ofendido.

As exigências da vida em comum, por exemplo, afastam a existência de violação do direito à imagem na medida que a divulgação
da imagem de opere no seio/círculo da família e amigos íntimos e ainda na captação e divulgação da imagem de alguém que se
encontre em lugares públicos ou ainda envolvido em factos de interesses públicos, ou que tenham ocorrido publicamente, e essa
última situação também justifica a limitação em relação a ponderação dos interesses em jogo, nomeadamente do interesse público a
informação, bem como a interesses de política ou de justiça e de finalidades científicas, didáticas e culturais.

Quando, portanto, não ocorram qualquer das limitações anteriormente apontadas, a captação e divulgação da imagem de alguém só
será lícita tendo como fundamento o consentimento do interessado.

DIREITO SOBRE A RESERVA A INTIMIDADE DA VIDA PRIVADA

Este direito postula, basicamente, que a cada indivíduo é reconhecido do direito de, sem prejudicar terceiros, orientar a sua vida
privada como bem entender. Aqui a vida privada compreende as mais diversas realidades abrangendo tudo o que não seja público e
profissional ou social.

O seu regime é o que consta do artigo 80.º do Código Civil, coadjuvado ao artigo 32.o da Constituição, sendo certo que esse direito
além de uma tutela civil e constitucional recebe ainda uma tutela penal no estabelecimento a punição de crime de introdução em
casa alheia (artigo 380.º Código Penal).

— Na Constituição da República de Angola;

DIREITO À VIDA

Constitui um dos mais importantes direitos especiais de personalidade que vida escrupulosamente proteger os indivíduos contra
qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à sua personalidade física.. trata-se entre outros de um direito que com toda a
propriedade se perderia o interesse, pelo que a própria personalidade jurídica está indissociavelmente conexa a vida humana.

Trata-se de um direito totalmente indisponível, com total irrelevância do consentimento, seja qual seja a modalidade. Contudo, vale
aqui ressaltar a possibilidade de, em certas circunstâncias, ele poder ser sacrificado, é o que se verifica, por exemplo, na actuação
da legítima defesa (337.o do Código Civil e ainda artigo 44.º n.º 5 do Código Penal) quando estejam em conflitos direitos a vida de
diversas pessoas, etc.

DIREITO À INTEGRIDADE PESSOAL

Este direito encerra, assim, um triplo conteúdo que permite distinguir entre a integridade física; integridade moral e a integridade
intelectual.

1. Direito à Integridade moral.

Este direito visa fundamentalmente dar tutela a “honra” propriamente dita, e nas palavras de Orlando Carvalho, engloba o conteúdo
da honra propriamente dita: o decoro, a reputação ou bom-nome, e finalmente o crédito.

A honra constitui a consideração de cada ser humano e uma base para juízos éticos dos seus semelhantes, juízos esses que se
repercutem na auto-estima de casa um.

1. Direito à Integridade física

Este direito postula a proteção que os indivíduos recebem de ninguém poder ser submetido a tortura, a trabalhos forçados, nem a
tratamentos ou a penas cruéis, desumanas ou degradantes, é o que dispõe o artigo 60.º da CRA
À semelhança do que acontece com o direito à vida, também o direito à integridade física é ainda largamente protegido na lei penal
(359.o Código Penal).

Diferente do acontece com o direito à vida, o direito à integridade física constitui um direito de que todos podem, dentro de certos
limites, dispor. Por isso que além das limitações ou restrições decorrentes das exigências da vida em comum e da ponderação dos
interesses em jogo, pode intervir o consentimento do lesado como forma de legitimação de algumas lesões a sua integridade física.

1. Direito à Integridade Intelectual

Traduz-no no corolário do direito a integridade pessoal que visa tutelar o interesse dos indivíduos em ver a sua liberdade de
pensamento e direito autoral protegidos. Ou seja, consiste na faculdade que as pessoas têm de vincular seus nomes às produções de
seu espírito, tendo a garantia de publicar, reproduzir e explorar tal produção punindo aqueles que dele se apropriem indevidamente

DIREITO A LIBERDADE

No âmbito dos Direitos, Liberdades e Garantias fundamentais o direito à liberdade encontrou um acolhimento e uma exaustiva
consagração na constituição que inclui desde logo: liberdade de expressão; liberdade de informação; liberdade de religião e de
culto; liberdade de criação cultural e científica, etc.

Enquanto direito subjectivo civil entendemos por direito à liberdade física a faculdade de não ser constrangido por outrem a fazer
ou a não fazer qualquer coisa nem que seja para satisfação positiva de um direito alheio.

Este direito é relativamente disponível tal como acontece com o direito a integridade física, o que todavia não afasta o carácter
indisponível do direito que o tutela.

Assim como o direito à integridade pessoal tem o seu entendimento repartido em compartimentos diferentes, o mesmo sucede com
o direito à liberdade física cujos aspectos em que se desdobra são, nomeadamente:

1. Liberdade física: traduz-se na liberdade de movimentação ou locomoção (ius ambulandi) e a liberdade de disposição do
corpo, onde se inclui a liberdade sexual.

2. Liberdades morais: abrangem as estado, a de educação, a de expressão, a de consciência e ainda o que podemos
designar de liberdade de vontade (em que se condenam todos os meios destinados a debilitar a vontade)… enfim,
liberdade da sensibilidade e da alma.

3. Liberdade profissionais: consubstancia-se na livre escolha e exercício do trabalho, fazem parte do círculo dos direitos
de personalidade, sendo por isso indisponíveis, no sentido de irrenunciáveis.

4. Liberdades jurídicas: aqui tem-se a faculdade de praticar actos especificamente jurídicos (contratar, possuir, casar,
testar, entre outros) sendo, assim, um direito que se encontra na base da actuação da pessoa.

DIREITO A PROPRIEDADE INTELECTUAL, CRIAÇÃO CULTURAL E CIENTÍFICA

Este direito pode ver visto em dois aspectos fundamentais: direito moral de autor e o direito patrimonial de autor.

Somente o primeiro constitui um direito de personalidade por meio do qual se dá a efectivação ao direto a criação pessoal. Esse
direito visa tutelar o interesse do autor de uma obra artística, literária ou de qualquer outra natureza em manter ou não inédita e que
quando divulgada não seja truncada ou alterada. Desse modo, dentro desse, integram-no: direito ao inédito e a intangibilidade.

DIREITO DE PERSONALIDADE E FIGURAS AFINS

— Direito de personalidade e Direitos fundamentais

O primeiro aspecto a ter em conta é o facto de pese embora grande parte dos direitos de personalidade serem também direitos
constitucionalmente reconhecidos como direitos fundamentais, nem todos os direitos de personalidade constituem direitos
fundamentais e, ao invés, nem todos os direitos fundamentais são assim direitos de personalidade.

A fronteira entre essas duas espécies de direitos subjetivos “civil” — de personalidade e “constitucional” — fundamental firma-se
pelos seguintes motivos:

Por um lado, temos os direitos fundamentais que tutelam fundamentalmente a posição e a situação do indivíduo “cidadão” face ao
Estado, pois aquele que é o destinatário das previsões constitucionais, por seu turno, os direitos de personalidade entendem as
emanações da personalidade humana entres os homens em si.

Enquanto que as previsões constitucionais relativas aos direitos fundamentais pressupõe, em princípio, relações juspublicistiícas,
de poder são oponíveis ao próprio Estado, no exercício do seu ius imperii, as precisões do código civil inerentes aos direitos de
personalidade valem apenas nas relações paritárias entre particulares ou entre particulares e o Estado despido do seu ius imperii e
são tutelados através de mecanismos coercitivos jus civilisticos preventivas ou reparadoras.

— Direitos de personalidade e Direitos humanos

Entende-se por Direitos do homem o conjunto de direitos essenciais inerentes a todo o ser humano, pelo simples facto de existir e
reconhecidos pela ordem jurídica internacional na unidade e na variedade dos seus espaços territoriais, quer no plano civil, quer no
plano político, quer ainda no plano económico, social e cultural.

Embora seja claro e notório o parentesco entre os direitos de personalidade e os direitos do homem, há, contudo, também uma
múltipla diferenciação. Desde logo no que toca à natureza e aos âmbitos dos objectos de tutela de cada um dos tipos jurídicos, pois
há direitos do homem (particularmente de caracter político) cujo objecto não é tutelado pelos direitos de personalidade e, por outra,
há zonas, graus ou expressões de bens da personalidade humana tutelados por direitos de personalidade, que por não revestirem
carácter primário ou essencial não estão protegidos por direitos do homem a nível internacional.

______________________________________

AUTONOMIA PRIVADA

Para entendermos este princípio, vamos partir do conceito de autonomia. Em meras palavras autonomia significa independência,
capacidade de auto-reger-se... etimologicamente autonomia vem do grego Auto (próprio) Nomos (normas, regras), reconduzem-nos
a normas próprias, capacidade de auto estabelecer regras próprias, de se autogovernar. E quando falamos em autonomia privada
enquanto princípio fundamental do direito civil a substância do conceito prevalece, pois este princípio postula a legitimidade dos
particulares para auto-regulamentação dos seus interesses, para auto-ordenação das suas relações jurídicas.

No âmbito do Direito Civil, este princípio fica ressalvado, com especial razão, o facto deste revestir um fundamental papel à
vontade individual na produção de efeitos jurídicos como instrumento da realização de certos interesses. Assim, os particulares, em
função desse princípio, têm a suscetibilidade de auto-regulamentação dos seus interesses. Ou seja, a autonomia privada é um
princípio característico do Direito Civil.

A autonomia privada ou autonomia de vontade consiste no poder reconhecido aos particulares de auto-regulamentação dos seus
interesses, de autogoverno da sua esfera jurídica.

Autonomia privada, assim, é a liberdade que as pessoas tem se regem e vincularem a si próprias, umas perante as outras, de
prometerem e de se comprometerem.

Este princípio, encerra uma dupla utilização, no direito civil. Por um lado, em termos amplos, que compreende ao espaço de
liberdade reconhecido a cada um dentro da ordem jurídica: engloba tudo quanto as pessoas podem fazer num prisma material ou
jurídico.

Por outro lado, em termos restritos que corresponde ao espaço de liberdade jurígena, isto é, área reservada na qual as pessoas
podem desenvolver as actividades jurídicas que entenderem.

Autonomia privada e liberdade contratual.

Importa salientar, desde já, que a autonomia privada tem a sua mais cabal expressão no domínio dos contratos donde derivam
obrigações, assumindo-se aí como princípio da liberdade contratual. Esta, a liberdade contratual, pressupõe a existência da
autonomia privada com a qual às vezes chega a ser identificada e confundida.

O âmbito de aplicação deste princípio, assim como já foi avançado é, em geral, fixado em função da liberdade contratual.

A liberdade contratual tem, inclusive, um fundamento constitucional ao abrigo do art. 38.º da CRA. Esta liberdade, contratual,
traduz uma ideia de justiça, justiça essa obtida a partir da auto-regulamentação dos particulares.

Encontramos o princípio da liberdade contratual a luz do art. 405.º do Cod. Civil. Deste preceito emerge explícita ou
implicitamente a consagração de duas nuances, a liberdade de modelação, de fixação ou de estipulação do conteúdo contratual e
o reconhecimento da liberdade de celebração ou conclusão dos contratos.

Aspetos contidos no princípio da liberdade contratual.

No princípio da liberdade contratual integram-se dois elementos ou aspectos essenciais, nomeadamente:

• A liberdade de celebração: também conhecida como liberdade de contratar, consiste na faculdade que se reconhece às pessoas
de poderem, livremente, celebrar ou até recusar a celebração de contratos. Ninguém pode, assim, ser coagido ou obrigado a
celebrar um contrato contra a sua vontade ou ainda lhe ser aplicada sanções por recursar-se a contratar, nem a ninguém pode ser
imposta a abstenção de contratar. Nestes termos, com esse princípio é possível perceber que a pessoa é livre de contratar ou não
contratar, não lhe podendo ser imposta a obrigação de celebrar ou até de ser contratado. Esta é uma nuance subjacente no princípio
da liberdade contratual (art. 405o Cód. Civil).

Toda a regra conhece uma exceção ou exceções. Esta não é diferente. O ordenamento jurídico angolano estabelece algumas
restrições ou limitações à liberdade de celebração (de contratar):

1. Perante a consagração de um dever jurídico de contratar

2. A proibição de celebrar contratos com determinadas pessoas. É o que sucede com a proibição da cessão de direitos
litigiosos (579.º); proibição da venda a filhos ou netos (877o) e outros...

3. Nos casos de sujeição do contrato a autorização de outrem ou, eventualmente, de uma autoridade pública (consentimento
ou assentimento). É o que sucede, por exemplo, nos casos das disposições sobre certos bens dos cônjuges (art. 56o e 57o
do Código da Família). Também a aquisição de explosivos está sujeita à autorização da polícia Nacional.

4. Naquela casos em que a lei impõe a uma das partes a renovação do contrato ou a transmissão da posição contratual do outro
contraente. Sucede nos casos de contratos de arrendamento, aquando da renovação forçada (art. 1. 095o Cód. Civil) e a sua
transmissão (1.110.º; 1.111.º do Cód. Civil).

• Liberdade de modelação do conteúdo contratual: diz-se a faculdade conferida aos contraentes de poderem, livremente, faixar
o conteúdo dos contratos como bem entenderem, celebrando, portanto, contratos do tipo previsto no código civil ou estipulando
contratos cujo conteúdo é diverso dos que a lei disciplina

A luz do art. 405.º do Cód. Civil está expressamente consagrado que as partes podem:

• Realizar contratos cujas características são as previstas e reguladas na lei (contratos típicos ou nominados)

• Celebrar contratos típicos ou nominados aos quais acrescentam as cláusulas que lhes aprouver (por ex. uma cláusula
condicional) ou ainda, por ex. fazendo a conjugação de dois ou mais contratos diferentes (contratos mistos – arrendamento e
prestação de serviços).

• Modelar contratos distintos dos que estão expressamente definidos na lei (contratos atípicos ou inominados).

Esta segunda nuance da liberdade contratual, liberdade de modelação do conteúdo contratual, conhece também algumas restrições,
assim como diz o art. 405.º Cód. Civil (dentro dos limites da lei).

Eis, pois, algumas destas restrições:

1. Os objetos dos contratos (conteúdos) devem estar conforme aos requisitos previstos no art. 280o ( são nulos os contratos
contrários à lei, à ordem pública e aos bons costumes);

2. Ao abrigo do art. 282.º são anuláveis os chamados negócios usuráveis;

3. A conduta das partes envolvidas no contratos deve sempre pautar-se pelo princípio da boa fé (art. 762.º n.º 2)

4. Há alguns contratos, em especial, que estão, necessariamente, sujeitos a determinadas normas imperativas.

São exemplos, o disposto no art. 1.146.º sobre as taxas máximas de juros; nos art. 1.025.º; 1.080.º e outros sobre prazos máximos
ou mínimos na locação e no art. 1. 093.º que contém os únicos fundamentos possíveis de resolução do arrendamento urbano.

Contratos de adesão.

Existe uma limitação de ordem prática quanto à liberdade de modelação do conteúdo contratual, é o que acontece com os
chamados contratos de adesão – esses ocorrem normalmente quando uma firma, uma empresa de apreciável dimensão fórmula
unilateralmente as cláusulas negociais (na maioria dos casos aparece como uma espécie de formulário, um modela já pré-
estabelecido) e a outra parte, simplesmente, aceita essas condições mediante a adesão ao modelo ou formulário lhe apresentado, ou
rejeita-as, não sendo, aquele, passível de modificação quanto ao seu objeto negocial, isto é, o ordenamento negocial apresentado
não é suscetível de alteração. Acontece com empresas de seguro, de transportes marítimos, aéreos ou terrestres, de fornecimento de
bens importantes a nossa sobrevivência (energia, água, gás, etc.)

O consumidor nesse tipo de contrato pode normalmente rejeitar o contrato. Todavia, a rejeição significa a impossibilidade de
satisfazer com o outro parceiro contratual a respetiva necessidade. Daí que o particular impelido pela necessidade, aceita as
condições elaboradas pela outra parte, mesmo que lhe sejam desaforáveis ou pouco equitativa.

As cláusulas gerais dos contratos.


As situações específicas em que se verificam os contratos de adesão devem acarretar a nulidade de certas cláusulas nele inseridas,
pois as características próprias desse tipo de contrato ao darem a liberdade de inclusão, inelutável, de cláusulas pouco favoráveis ou
injustas são razões determinantes de publicação de legislação própria.

Por essa razão, em Angola, face a importância dessa matéria foi aprovada e promulgada a lei no. 4/ 03, de 18 de Fevereiro, lei
sobre as Cláusulas Gerais dos Contratos. Evitando que as partes mais fortes obtenham vantagens a custa da falta de restrições e
despesas ou prejuízos menos favoráveis para os aderentes.

Portanto, sem prejuízo ao princípio da liberdade contratual, na lei, as regras gerais previstas sobre as cláusulas dos contratos,
grosso modo, consistem:

• Na imposição do dever de comunicação e de informação das cláusulas contratuais gerais (art. 3o);

• Prevalência das cláusulas sobre as quais tenham havido acordos específicos sobre as cláusulas contratuais gerais (art. 4.º);

• Proibição de cláusulas contratuais gerais contrárias à boa fé (art. 8o);

• Discriminação de cláusulas absolutamente proibidas e das cláusulas relativamente proibidas (arts. 10o e 11o);

• Sanções pecuniária compensatória;

___________________________________

RESPONSABILIDADE CIVIL

O termo responsabilidade não é uma expressão estranha pois a maioria das pessoas já ouviu falar em responsabilidade ou até
mesmo usou a expressão. Responsabilidade, por meras palavras, é a capacidade de responder por algo ou determinada coisa. Ser
responsável é ser capaz de lidar com (...) ou estar apto a responder determinada situação.

Na vida social várias são as condutas (ações ou omissões) adotados por uma pessoa que acabam por causar prejuízos ou danos a
outrem. O dano deve ser visto como uma lesão efetiva, um prejuízo específico na esfera de interesse de alguém.

Diante destes casos suscita-se a seguinte pergunta: quem deverá suportar o dano? Os prejuízos ficarão a cargo do lesado ou da
pessoa cuja conduta provocou a lesão?

Perante a essa situação, é o lesado que terá o direito de exigir a reparação do prejuízo sofrido ao sujeito lesante. A esta figura dá-se
o nome de responsabilidade civil.

A responsabilidade civil enquanto princípio fundamental do direito traduz- se naqueles casos em que a lei impõe ao autor de certos
factos ou ao beneficiário de certa atividade a obrigação de reparação dos danos causados a outrem por estes factos ou por essa
atividade. Quando isso se verifica estamos, pois, diante do instituto ou do princípio da responsabilidade civil.

Dito doutro modo, diz-se Responsabilidade Civil é a obrigação importa por lei a quem por dolo ou mera culpa ultrapassando a sua
esfera jurídica violar ou lesa direitos de outrem.

A responsabilidade civil consiste na necessidade imposta pela lei a quem causa prejuízos a outrem de colocar o ofendido na
situação em que estaria sem a lesão. Este instituto visa tornar indemme, sem dano, o lesado, visa colocar a vítima na situação em
que estria sem a ocorrência do facto danoso (art. 483.º e 562.º do Cód. Civil).

Formas de reparação e tipos de danos.

A responsabilidade civil tem o propósito de reparar danos. De salientar que são distintas as formas e os tipos de danos no âmbito da
responsabilidade civil.

A forma de reparação dos danos causados ao lesado decorre da chamada restituição ou reconstituição. Esta reconstituição pode
fazer-se por duas vias principais:

• Reintegração in natura: reconstituição natural, restituição ou execução específica.

• Reintegração por mero equivalente: restituição ou execução por equivalente, indeminização por dinheiro ou simplesmente
indeminização.

A primeira forma de reparação é a restituição natural (art. 566.º Cód. Civil). Esta deve ter lugar sempre que possível, assim como o
próprio nome deixa claro reconstituir “implica tornar a constituir”. Esta forma de reparação do dano causado tem como propósito
reconstituir a situação que se verificaria se não tivesse havido a violação ou a lesão.
Nestes termos, a pessoa lesada deverá ser colocada na situação em que se encontraria se o facto lesivo dos seus interesses não
tivesse ocorrido. Assim:

• Deve ser entregue a coisa que é devida ao credor;

• Realizada a obra a que ele tem direito;

• Reparada a coisa que foi danificada;

Nisto consiste a restituição in natura. Agora, sempre que essa não for possível, lança-se mão à indeminização.

A indeminização em dinheiro, assim, só deve ocorrer quando a não seja possível a reconstituição natural por impossibilidade, ou
quando está aquela via seja insuficiente ou excessivamente onerosa para o devedor.

Já a segunda forma de reparação dos danos (indeminização) é a forma mais corrente de reparação dos danos (a restauração nem
sempre alcança a realização integral).

A indeminização em dinheiro deve, em princípio, cobrir a totalidade dos danos patrimoniais ou materiais. Deve-se ter em conta
dois tipos de danos:

• Dano emergente: diz-se do prejuízo imediato provocado pela conduta do lesante, ou seja, os danos directos que incidem sobre a
coisa ou alguém.

• Lucro cessante: todo tipo de vantagem de ordem prática que o lesado deixa de auferir e teria auferido se não ocorresse o facto
danoso, ou seja, todas as vantagens que o lesado deixou de ter em função da lesão e ele causado.

Importa destacar ainda uma questão bastante delicada e muito discutida que é, precisamente, a questão da admissão ou não de uma
indeminização aos danos morais

Primeiramente, torna-se necessário deixar claro o conteúdo do dano moral. Ora, os danos morais referem-se à violação de direitos
sem conteúdo patrimonial (direitos pessoais), analisam-se, por exemplo, o sofrimento, as dores físicas ou morais, desgostos,
complexos de ordem psicológica, etc. Os danos dessa natureza resultam da lesão de bens estranhos ao património do lesado.

Com isto, a doutrina advoga a não admissão da avaliação pecuniária aos danos não patrimoniais, defendendo que somente os danos
patrimoniais que devem ter essa avaliação, pois se se admitisse tal facto, defende a doutrina que de estaria diante a chamada
“pretium doloris” em que se verificaria uma mercantilização da própria dor e dos valores morais e espirituais.

Portanto, conclui-se que nestes danos não há prejuízos de natureza patrimonial pelo que é imperioso não se falar em
indeminização, desse modo, os danos morais não têm preço.

O que a doutrina e a lei admitem é a chamada compensação em que a indeminização por danos não patrimoniais não terá valor de
preço, mas sim tentar compensar os danos sofridos, pois o dinheiro pode proporcionar a satisfação de certas necessidades mesmo
de ordem moral ou espiritual.

Responsabilidade contratual e Responsabilidade extracontratual.

Ainda em sede deste instituto, é de realçar que decorrem duas modalidades distintas de responsabilidade, nomeadamente:

• Responsabilidade contratual: aquela proveniente da falta de cumprimento das obrigações emergentes dos contratos, de negócios
unilaterais ou da lei. Por exemplo, quando umas das partes não cumpre com uma das cláusulas estabelecidas no contrato.

• Responsabilidade extracontratual: diferente da primeira, esta resulta da violação de direitos absolutos ou da prática de certos
atos, que embora lícitos causam prejuízos a outrem. É o que ocorre, por exemplo, com a violação de um direito de personalidade.
Esta modalidade de responsabilidade é também designada por responsabilidade aquiliana, ou delitual

Apesar de clara distinção conceitual existente entre as duas variantes de responsabilidade civil, a verdade é que ambas não
constituem, principalmente na vida prática, compartimentos estanques. Pode mesmo dizer-se que, sob vários aspetos tanto uma
quanto a outra funcionam como verdadeiros vasos comunicantes.

Um caso particular da responsabilidade civil é a chamada responsabilidade pré-contratual. Enquanto que a contratual tem como
fundamento a “culpa um contractu” isto é, o não cumprimento culposo do contrato, a responsabilidade pré-contratual tem como
fundamento a “culpa in contrahendo”, ou seja, a culpa na celebração (formação) de um contrato inválido (está expressa no art.
227o do Cód. Civil).

Responsabilidade civil subjetiva e Responsabilidade civil subjectiva.


Há ainda uma distinção de ordem substancial na matéria de responsabilidade civil que é a que se verifica em relação a
responsabilidade subjetiva e objetiva.

O que está na base desta dicotomia é o fato de que admitir-se a responsabilidade independente da culpa faria que com as pessoas se
abstivessem de muitas atividades úteis e necessárias à vida social, face ao risco de danos inerentes, caso estes não tivessem a
garantia de estar isentos de responsabilidade no caso de agirem com todo o cuidado, competência e diligência.

Por isso que a responsabilidade civil fundada na culpa do agente é designada pela doutrina por responsabilidade por atos ilícitos,
responsabilidade subjetiva ou responsabilidade fundado na culpa. Esta responsabilidade exige, em regra, mais elementos em
relação aos elementos em geral.

Para que se qualifique uma dada responsabilidade como subjetiva é necessário os seguintes elementos:

• UM FACTO CAUSADOR: facto causador deve sempre ser um fato humano (ação ou omissão) voluntária.

• O FACTO DEVE SER ILÍCITO: deve estar em contradição com o sentido global do direito (ser contra os bons costumes ou às
proibições legais)

• DEVE SER CULPOSO: a culpa deve traduzir-se naquela conduta que seja qualificada como reprovada ou mereça censura do
direito. Analisam-se as possibilidades na circunstância, de o agente poder ter agido dum outro modo.

• EXISTÊNCIA DE DANO: é necessário que se verifique a ocorrência de um dano, pois não basta que a atuação seja ilícita.

• VÍNCULO DE CAUSALIDADE: por fim, deve existir um nexo de causalidade entre o dano e o fato ilícito. O dano deve ser
causado pelo fato que causa. Só excepcionalmente (art. 483o no. 2) se admite a responsabilidade sem culpa ou ilicitude. O agente
pode ser responsabilizado pelo seu atuar, pois podia ter evitado.

Já a responsabilidade objetiva verifica-se sempre que alguém é responsabilizado por prejuízos causados a outrem, independente de
haver culpa ou não. Ocorre mormente no exercício de atividades lícitas que embora lícitas não deixam de ser perigosas e, portanto,
com eminente aptidão de causarem danos.

O que está subjacente na responsabilidade civil objetiva é a o princípio da justiça e da solidariedade social “ubi commoda, ibi
incommoda”.

Este tipo de responsabilidade começou a firmar-se em matérias de acidentes de trabalho. Então, de modos a evitar que o lesado
provasse a culpa do autor o que seria não dar proteção adequada e até deixá-lo desprotegido, firmou-se a responsabilidade objetiva.

Um tempo depois, a responsabilidade objetiva estendeu-se a outros domínios (acidentes de avião...) e hoje verifica-se uma grande
tendência de ampliar a sua extensão (responsabilidade civil do fabricantes produtores, na linha da defesa do consumidor e muitos
outros domínios). Sua consagração encontra-se dos art. 499.º a 510.º do Cód. Civil.

Responsabilidade civil por ato lícito.

O nosso sistema jurídico admite ainda uma exceção, em alguns casos contados de responsabilidade por ato lícito ou intervenções
lícitas.

Prima facie, parecerá paradoxal que o direito considere um ato como lícito, mas ao mesmo tempo imponha ao seu autor a
obrigação de indenizar outrem. Diferentemente da responsabilidade objetiva em que o fato é lícito, mas o dano não o é (o dano é
ilícito), aqui, na responsabilidade por ato lícito, o dano não é culposo, nem tão pouco ilícito.

Aqui não há uma atividade contrária à lei – ela é “secundum ius”. Estes casos, atenção, são excepcionais!

São exemplos de responsabilidade por ato lícito os casos previstos nos arts. 339.º n.º 2 (estado de necessidade), 1. 367.º
(escavações) e outros do Cód. Civil.

Responsabilidade civil e Responsabilidade criminal.

A responsabilidade civil não esgota todo tipo de responsabilidade. Há ainda a responsabilidade criminal ou penal que decorrem da
violação de normas de caráter penal e de caráter disciplinar.

A responsabilidade criminal ou penal distingue-se da civil pelo fato de a criminal impor ao responsável que suporte uma pena, uma
sanção que não, necessariamente, tende a recompor, mas atribuir uma sanção e prevenir novas infrações. Neste ínterim, enquanto
que a responsabilidade civil tem por base a reparação patrimonial do dano, o responsabilidade criminal tem por base a defesa
contra os autores dos fatos que atingem a ordem social.

A responsabilidade civil e a criminal podem ainda intervir simultaneamente. Por exemplo, nos casos de furto, ofensas corporais ,
difamação e injúrias, há a aplicação de uma pena e a responsabilidade pelos danos patrimoniais ou morais.
A RELAÇÃO JURÍDICA

A sociedade é feita de relações sociais que se estabelecem entre os membros que a integram. Algumas dessas relações são centros
de propanação de efeitos jurídicos, dado que as as mesma são relevantes para o Direito. Daí, pois, o conceito de relação jurídica.

Lato sensu — entendemos por relação jurídica toda a relação da vida social ou toda situação social juridicamente relevante, ou seja,
produtora de efeitos jurídicos e, por isso, disciplinada pelo Direito.

Stritu sensu — ou sentido técnico, entendemos por relação jurídica toda a situação da vida social ou toda relação social
juridicamente relevante, e por isso disciplinada pelo direito mediata a qual a ordem jurídica atribui a uma parte um direito subjetivo
e impõe a outra um dever jurídico ou uma sujeição.

Existem diferentes modalidades de relações jurídicas, mas vamos aqui distinguir simplesmente a relação jurídica abstrata da
relação jurídica concreta.

A primeira traduz-se numa relação virtual, num paradigma, um modelo arquétipo ou mesmo esquema contido na lei que referencia
um tipo legal de relação jurídica. São prescrição contidas na lei sobre um tipo específico de relação jurídica.

Já a segunda, relação jurídica concreta, é a concretização na vida real daquelas prescrições contidas na lei, ou seja, é quando as
relações abstratas ganham vida e são suficientemente individualizadas, cujos sujeitos são determinados, o objecto é determinado,
etc.

Importa realçar que a relação jurídica difere do instituto jurídico com o qual pode chegar a confundir.

Ora, por instituto entende-se o conjunto de normas jurídicas que visam fundamentalmente estabelecer a disciplina de uma série de
relações jurídicas. Dito doutro modo, o instituto será o conjunto dos preceitos legais relativamente às quais se estabelece a
regulamentação das relações jurídicas de um determinado tipo.

E as relações, por seu turno, constituem a matéria sobre o que incide a regulamentação do Instituto, pois este último, como já se
avançou é a disciplina normativa dessa matéria,, o aglomerado de normas que a regulamentam.

Estrutura da relação jurídica

Toda a relação jurídica só pode ser concebida mediante o intercalar de dois sujeitos, ou seja, é necessário que existam de dois
sujeitos, tal relação incidirá normalmente sobre um objeto; de que propanará um facto jurídico; e cuja efectivação poderá ser feita
mediante recurso a providências coercitivas adequadas a proporcionarem a satisfação correspondente ao sujeito activo da relação,
isto é, a relação jurídica está dotada de garantia.

Desse modo, são elementos da relação jurídica: sujeitos, objeto, facto e a garantia. Do vínculo que se estabelece entre os sujeito da
relação decorrem os elementos que configuram a estrutura interna, se preferirmos o conteúdo da relação jurídica. Este último é
mormente formado: por um direito subjectivo e por um dever jurídico ou sujeição.

— O direito subjectivo.

O direito subjectivo é o poder jurídico (reconhecido pela ordem jurídica) de livremente exigir ou pretender de outrem a adoção de
um comportamento positivo (acção) ou negativo (omissão) ou de por um acto livre de vontade, só de por si, ou integrado por um
acto de uma autoridade pública, produzir determinados efeitos jurídicos que se impõe inelutavelmente a outra parte (contraparte).

Por se tratar do exercício de um direito como meio de actuação da autonomia privada, o sujeito activo é livre de o exercer ou não,
pois detém a liberdade de actuação, de soberania de querer.

Att. Não são verdadeiros direitos subjetivos: os poderes-deveres, poderes-funcionais ou direitos-deveres.

O direito subjetivo pode ser entendido em duas perspectivas:

 Os direitos subjetivos propriamente dito <<stricto sensu>>

 Os direitos potestativos;

Os primeiros são, nada mais nada menos, que a faculdade ou prerrogativa de exigir ou pretender de outrem a adoção de um
comportamento positivo (facere) ou negativo (no facere).
Os mais comuns direitos subjetivos são, assim: os direitos de personalidade, os direitos de crédito, os direitos reais, os direitos de
família quando não forem poderes-deveres, etc.

Fala-se assim em poder de exigir quando caso a contraparte não se cumpra o dever jurídico a que se está adstrita, tem, o
sujeito activo, a susceptibilidade de obter dos tribunais e autoridades competentes as providências coercitivas aptas e
adequadas a satisfazer o seu interesse.

Do contrário, fala-se em poder de pretender, isto é, quando o titular do interesse a ser tutela não tem a possibilidade de
reagir contra o adversário se este não adoptar o comportamento que é prescrito. É o que sucede com as chamadas
obrigações naturais (402.º) das quais temos alguns exemplos previstos na lei como é o caso da dívidas prescritas.

Já os direito potestativos são poderes jurídicos (reconhecidos pela ordem jurídica) por um acto livre de vontade, só de per si, ou
integrado por uma decisão judicial/acto de autoridade pública, produzir efeitos jurídicos que inelutavelmente se impõem à
contraparte.

Este direito subjetivo, de acordo com o efeito que tente a produzir, pode ser constitutivo; modificativo ou extintivo.

 Constitutivo: visam fundamentalmente constituir ou operar a constituição de uma relação jurídica, por acto unilateral do
seu titular. Exemplo: servidão de passagem em benefício de prédio encravado.

 Modificativo: visa produzir uma simples modificação numa relação jurídica já existente. Exemplo: mudança da servidão
para outro sítio.

 Extintivo: tentem a produzir a extinção de uma relação jurídica existente. Exemplo: a revogação do mandato; a denúncia
do arrendamento.

— O dever jurídico e a sujeição

Ao lado passivo da relação jurídica corresponde-se-lhe um dever jurídico ou um sujeição.

O dever jurídico é, pois, a necessidade de realizar o comportamento a que tem direito o titular activo da relação jurídica. Aqui o
sujeito passivo tem a possibilidade prática de não cumprir.

Já a sujeição corresponde-se-lhe os direitos potestativos — que consiste assim na necessidade inelutável de o sujeito passivo
suportar na sua esfera jurídica as consequências constitutivas, modificativas e extintivas do exercício do daquele direito.

Diferente do dever jurídico, trata-se neste âmbito de uma necessidade inelutável, e por isso, o sujeito “passivo” a que está adstrito
não pode violar ou infringir a sua situação. Está assim necessariamente obrigado/vinculado a suportar os efeitos do exercício do
direito potestativos.

Ónus jurídico

É a necessidade (de dever) da adoça de um determinado comportamento ou conduta para se ver realizada certo interesse próprio. O
onerado não deve, pode livremente praticar ou não um certo acto, mas se não o praticar não realizará certo interesse.

Assim, o onerado se não acatar o ónus, não infringe nenhum dever, nem a sua conduta é ilícita, mas perde ou deixa de obter uma
vantagem. No ônus o onerado <<precisa de>>; no dever jurídico o obrigado <<deve>>.

Expectativa jurídica

A expectativa jurídica constitui uma situação activa e juridicamente em que se verifica a possibilidade juridicamente tutelada de
aquisição futura de um direito, estando já parcialmente verificada a situação jurídica (o facto jurídico) desse direito.

A título de exemplo temos o caso do comprador sob condição suspensiva: enquanto se não verificar o facto futuro a que está
condicionado o negócio, o comprador não adquire o direito à entrega da coisa. Por outra, temos o caso do herdeiro legitimário em
vida do seu hereditando.

Elementos da relação jurídica

— Sujeitos da relação jurídica

— Objecto da relação jurídica


— Facto jurídico

— Garantia da relação jurídica

AS PESSOAS FÍSICAS

— Personalidade Jurídica

A personalidade jurídica consiste na aptidão para ser titular autónomo de direitos e obrigações ou situações jurídicas. É, pois, a
qualidade de ser pessoa em Direito.

Ao brigo do artigo 66.º n.º do Código Civilc, a personalidade jurídica adquire-se no momento do nascimento completo e com vida.

Nos termos do artigo 68.º n.º do Código Civil a personalidade cessa com a morte. Cessa apenas e só com a morte do indivíduo. De
salientar que a morte pode ser natural como dispõe em geral o artigo 68.º n.º1 ou pode resultar de uma morte presumida como
dispõe o artigo 114.º e 115.º do Código Civil.

— Capacidade Jurídica.

À medidas das situações a que uma pessoa pode ser titular de relações jurídicas ou pode actuar juridicamente damos o nome de
capacidade jurídica. Assim, capacidade jurídica é, portanto, a susceptibilidade de ser titular de um círculo maior ou menor de
relações jurídicas dependendo da circunstância.

A capacidade jurídica pode fragmentar-se em:

 Capacidade de gozo.

 Capacidade de exercício.

A primeira mede a susceptibilidade de ser titular de ser centro de imputação de direitos. Basicamente compreende a aptidão para
fruir e usufruir de determinado direito.

A segunda, por seu turno, compreende a idoneidade ou aptidão para actuar juridicamente, exercendo direito e cumprindo
obrigações, adquirindo direitos e assumindo encargos ou obrigações por acto próprio e exclusivo ou mediante um representante
voluntário ou procurador.

O contrário desses são os chamadas incapacidades. Que, por seu turno, podem igualmente ser:

 Incapacidade de gozo e;

 Incapacidade de exercício.

A incapacidade de gozo traduz-se na falta de aptidão ou idoneidade para fruir e usufruir de determinado direito pelo facto de estar
excluído do ciclo de direitos da sua esfera jurídica, ou seja, insusceptibilidade para ser titular de um largo círculo de direito e, bem
assim, o de fazer jus aos mesmos. Está provoca a nulidade do acto (negócio jurídico) praticado pelo incapaz que, por sua vez, é
insuprível, ou seja, o acto praticado pelo incapaz não pode ser concluído ou concretizado por outra pessoa em seu nome e
tampouco com autorização de outra entidade.
A incapacidade de exercício traduz-se na falta de idoneidade para actuar juridicamente exercendo direitos e cumprindo obrigações,
adquirindo directos s assumindo encargos/obrigação de forma autônoma. A incapacidade de exercer leva a anulabilidade dos actos
praticados pelo incapaz que, por sua vez, são supríveis, podendo o acto ser praticado ou concretizado não mais pelo incapaz, mas
através de meios que são destinados justamente a afastar ou a suprir essa incapacidade.

Os mais comuns meios de suprimento das incapacidades de exercício de direitos são:

a. Representação legal: é a forma de suprimento da incapacidade de exercício que traduz-se na admissão da lei em outra
pessoa poder agir em nome e no interesse do incapaz

b. Assistência: é a forma de suprimento da incapacidade de exercício que se traduz na admissão legal para o incapaz agir,
carecendo, porém de consentimento prévio de uma pessoa ou entidade. Desse modo, enquanto que no primeiro caso o
representante legal age ou actua em vez do incapaz, na assistência é o próprio incapaz a actuar mediante autorização
(desde que legitimada a agir por uma pessoa).

As diferentes incapacidades de exercício que podemos apontar são:

1. Menoridade

2. Interdição

3. Inabilitação

4. Incapacidade conjugal

5. Incapacidade acidental

— Capacidade Jurídica

VICISSITUDES DAS RELAÇÕES JURÍDICAS

Ao conjunto de fenômenos que podem ocorrer na vida (no seio) das relações jurídicas é correntemente designado por vicissitudes.

Toda mudança resulta da ocorrência de factos.

Ora, os factos jurídicos desencadeiam determinados efeitos.

Logo, a esses efeitos jurídicos decorrentes dos factos jurídicos é que tomam o nome de vicissitudes, que, por seu turno, consistem
fundamentalmente numa aquisição, numa modificação ou numa extinção de relações jurídicas.

Qualquer que seja a modalidade das vicissitudes, elas pressupõe sempre a ocorrência de um facto jurídico, cuja eficácia reage sobre
a realidade existente e gera uma nova.

Vamos agora, tratar detalhadamente de cada uma das modalidades de vicissitudes supramencionadas.

Constituição & Aquisição.

A constituição e a aquisição são dois elementos muito próximos, porém distintos que muitas das vezes chagam mesmo a ser
confundidos.

Importa, primeiro deixar claro que chamamos aquisição ao fenômeno pelo qual uma pessoa se toma titular de um direito, ou seja, à
ligação de um direito a uma pessoa. Desse modo, um direito é adquirido por uma pessoa quando esta se torna titular dele —
aquisição.

A constituição, por sua vez, é o surgimento, a criação de um direito que não existia anteriormente. Ao surto ou aparecimento pela
primeira vez, de certo direito, numa certa esfera jurídica, produzindo uma dada alteração no seu equilíbrio geral, dá-se o nome de
constituição de direitos.

Julgamos, agora, ser importante perceber que quando se constitui um direito também se adquire, pois toda constituição carrega
consigo uma aquisição, dado não existirem direitos sem sujeitos. Todavia, nem toda a aquisição de direitos dá lugar a casos de
surgimentos “ex novo” de um direito; em palavras mais simplistas, podemos dizer que nem toda a aquisição co-envolve
constituição pelo facto de nem sempre o direito que uma pessoa adquire é um direito novo. Na maior parte dos casos o direito que
se adquire já existe ou já existia na esfera jurídica de outrem.

Modalidades de aquisição.

A aquisição pode ser de dois tipos diferentes, designadamente: aquisição originária e aquisição derivada.

A aquisição originária (constituição) é aquela em que surge um direito “ex novo” que não depende jurídico-geneticamente de um
direito anterior; não depende senão do facto aquisitivo, ou seja, do facto jurídico que o faz nascer. A título de exemplo temos: a
ocupação de coisa móvel (art.º 1.318.º e seguintes); a usucapião (1.287.º e seguintes); etc.

Diferentemente acontece com a aquisição derivada na qual há um direito já existente, e não um direito “ ex novo” e no momento da
aquisição este direito, o mesmo já existia na esfera jurídica de outrem.

Neste sentido, na aquisição derivada o direito filia-se na existência de um direito anterior. Adquire-se um direito por causa de outro
que já existia.

Portanto, podemos concluir com as palavras Carvalho Fernandes segundo as quais a aquisição derivada traduz-se naquela aquisição
em que o direito que se adquire depende jurídico-geneticamente de um direito anterior, além de depender do facto aquisitivo,
depende daquele direito já existente:

 Quer quanto à existência (caso o direito anterior não existe, ele também não existe; logo, não há aquisição).

 Quer quando ao conteúdo (o seu conteúdo será absorvido ou até, pode chegar a ser o mesmo)

 Quer quanto à amplitude ou área de incidência (o direito que se adquire não pode ter um conteúdo mais vasto do que o
direito anterior).

São casos concretos e bem assim exemplificativos de aquisição derivada, a aquisição de direitos de propriedade ou de outro direito
real mediante um contrato (venda; doação; troca; etc), aquisição de direitos por sucessão <<mortis-causa>>, etc.

NEGÓCIOS JURÍDICOS
Segundo Manuel de Andrade, o negócio jurídico é um facto voluntario lícito cujo núcleo essencial é constituído por uma ou várias
declarações de vontade, tendo em vista a produção de certos efeitos práticos ou empíricos, predominantemente, de natureza
patrimonial (econômicos) com o ânimo de que tais efeitos sejam tutelados pelo Direito, ou seja, obtenham a devida sanção da
ordem jurídica e que a lei atribui efeitos jurídicos correspondentes.
Atentemos, agora, para os elementos característicos, estruturais e funcionais do negócio jurídico:

O negócio jurídico é um facto jurídico, ou seja, trata-se de um acto ou acontecimento juridicamente relevante. Constitui o mais
importante e o mais frequente na vida real.

Este facto jurídico é voluntario, significa dizer que é uma manifestação ou actuação de vontade, isto é, acções humanas
qualificadas pelo direito como verdadeira manifestação de vontade e, por isso, pressupõe um elemento jurídico relevante.

Tratara-se ainda de um facto jurídico voluntário lícito, ou seja deve ir de acordo com o sentido global de Direito instituído, desse
modo, deve ser conforme com ordenamento jurídico e os efeitos que produz não revestem o caracter de sanção para o autor ou
autores do negócio. Assim, os seus efeitos não merecem reprovação por parte do Direito.

O facto jurídico (negócio jurídico) que é voluntário e lícito tem sempre por núcleo uma ou mais declarações de vontade. A
declaração de vontade ou se preferir declaração negocial é, pois, o comportando que exteriormente observado, aparece como
manifestação de certos efeitos práticos. Este último, é o elemento essencialmente constitutivo do negócio, é, pois, o comportamento
declarativo.

Em relação a esse último elemento é importante ainda deixar claro que a declaração (de vontade/ negocial) deve ter por base o
poder de auto-determinação do indivíduo, assim, essa declaração de vontade deve partir da determinação do individuo com
fundamento da sua autonomia de vontade e não fundada no poder de supremacia de um sujeito em relação a outro. Exemplo:
ordem de um superior hierárquico.

E para concluir, é indispensável que as partes no respectivo negócio actuem com o ânimo e certeza de que os efeitos produzidos
pelas suas declarações de vontade serão tutelados e acautelados pelo Direito, ou seja, receberão a devida sanção da ordem jurídica.

IMPORTÂNCIA PRÁTICA

Sucintamente a importância prática dessa figura jurídica explica-se pelos seguintes motivos: o negócio jurídico é o mais frequente
facto dentre os demais factos jurídicos do direito civil e, por essa razão, constitui o principal instrumento de realização do princípio
da autonomia de vontade. É ainda o meio de auto-governo dos particulares na sua própria esfera jurídica, pois constitui a via de
auto-ordenação das relações jurídicas de cada sujeito de direito. É de notar ainda que o conceito de negócio jurídico diz respeito a
todas as partes do direito privado em geral. Há lugar a negócios não só no campo das obrigações, dos direitos reais, ou das
sucessões como até nos direitos de família e do trabalho.

RELAÇÃO ENTRE A VONTADE E OS EFEITOS JURÍDICOS DO NEGÓCIO

Agora, a questão que se segue é a de saber que relação deve existir entre a vontade objectivada na declaração negocial e os efeitos
jurídicos do negócio?

A este propósito foram formuladas três teorias com o intuito de responder a tal problema: teoria dos efeitos jurídicos; teoria dos
efeitos práticos e a teoria dos efeitos prático-jurídicos. Pelo que, nós perfilhamos a terceira teoria designada teoria dos efeitos
prático-jurídicos, pois é o ponto de vista mais correto, aquele que traduz a realidade do negócio jurídico e o sentido da declaração
negocial.

Esta teoria assim como a própria designação deixa claro assume uma posição intermédia pelo facto de por um lado, exigir nos
declarantes a vontade de efeitos jurídicos, mas por outro lado, reconduzir a está vontade todos os efeitos jurídicos que o negócio
produz segundo a lei.

Não se trata apenas de uma representação completa dos efeitos jurídicos correspondentes àquela vontade de efeitos práticos, estes
efeitos devem ser determinados por lei.

ELEMENTOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Os elementos dos negócios jurídicos são tradicionalmente classificados em:

 Elementos essenciais;

 Elementos naturais;

 Elementos acidentais

Elementos essenciais

Os elementos essenciais podem ser vistos sob diferentes momentos: num primeiro momento podemos destacar os elementos
essenciais em geral; elementos essenciais de cada tipo legal de negócio jurídico e as cláusulas essenciais sob o ponto de vista das
partes.
Neste sentido, são elementos jurídicos essenciais em geral todos os elementos, requisitos ou condições gerais de validade de todo e
qualquer negócio. São eles: a capacidade das partes; a declaração negocial e a idoneidade do objecto.

Capacidade das partes: remete-nos à matéria referente a capacidade jurídica.

Declaração negocial: veremos mais adiante.

Idoneidade do objecto:

Elementos essenciais de cada tipo legal de negócios: são as notas, requisitos típicos e específicos de cada negócio por lei regulado e
que os diferencia dos demais. Tratam-se daquelas cláusulas que marcam a diferença de um certo tipo negocial dos restantes tipos.
Constituem, por assim dizer, as características próprias de cada modalidade negocial, separando-a em face a outros tipos. Por
exemplo: constituem elementos essenciais do tipo “compra e venda” a transmissão da titularidade do direito, a obrigação de
entregar a coisa, bem como a obrigação de pagar um preço.

Elementos/cláusulas essenciais sob o ponto de vista da vontade das partes: são aqueles que, para as partes, assumem tamanha
importância na sua determinação e conclusão do negócio, sendo, por isso, indispensáveis, ou seja, aqueles elementos sem o quais,
para as partes, o negócio não seria celebrado.

Elementos naturais

Os elementos naturais constituem aquele conjunto de efeitos que os negócios jurídicos produzem quando não são afastados por
estipulação das partes. Geralmente, são os efeitos das normas legais supletivas. A título de exemplo: o efeito que supre a falta de
manifesta das partes no acto do casamento sobre a convenção antenupcial, o casamento considera-se celebrado sob o regime de
comunhão de adquirido.

Elementos acidentais

São as cláusulas que as partes podem livremente incluir nos seus contratos. Tratam-se de cláusulas acessórias dos negócios
jurídicos decorrentes do princípio da liberdade negocial que mesmo não existindo não causariam implicações nenhumas na
identificação em abstrato ou em concreto de um certo negócio. Por exemplo: temos as cláusulas acessórias típicas da maioria dos
negócios que são: a condição e o termo ao abrigo do artigo 270º C. Civil.

Classificação dos negócios jurídicos

Os negócios podem ser classificados de diferem formas, dependendo do critério. Assim:

A) QUANTO AO NÚMERO DE DECLARAÇÕES NEGOCIAIS:

Os negócios jurídicos podem ser unilaterais e bilaterais ou plurilaterais. O critério distintivo aqui reside no número e no modo de
ser das declarações negociais. O que está em causa nesta classificação é a unidade ou a pluralidade das partes. Logo, antes mesmo
de saber o conteúdo de cada tipo, é primordialmente importante que se compreenda que parte não é o mesmo que pessoa. Pode se
dar o caso de num negócio jurídico haver várias pessoas e haver uma só parte, sendo, pois, o negócio unilateral. Neste sentido, uma
parte pode ser constituída por várias pessoas. Assim, se houver um direito pertencente à três pessoas cumulativamente e estas
renunciarem a ele, há um negócio jurídico unilateral, há uma renúncia praticada por várias pessoas.

Neste ínterim, o negócio jurídico unilateral pode ser definido como aquele em que há uma só (uma única) declaração de vontade ou
várias, mas paralelas ou concorrentes, formando um só grupo. Podes ser vários os sujeitos das declarações de vontade, mas só há
uma única parte, um só lado, um só interesse ou interesses análogos (aqueles partilhados por várias pessoas). São exemplos deste
tipo de negócio jurídico: o testamento (artigo 2179º), a renúncia, a promessa e reconhecimento de dívida (artigo 458º), etc.

Características do regime dos negócios unilaterais

1. É desnecessário a anuência do adversário, ou seja, aprovação, assentimento ou consentimento da outra parte. A eficácia
dos negócios unilaterais não carece da concordância, aceitação de outrem (os sujeitos cuja esfera jurídica se vai repercutir
os efeitos).

2. Vigora, em relação a estes, o princípio da tipicidade ou do numerus clausus determinadas situações só podem ocorrer em
determinadas hipóteses específicas, para esse caso, em particular, temos a promessa unilateral de uma prestação que só
obriga nos casos previstos na lei (artigo 457º).

3. É importante ainda, em sede desta modalidade negocial, que se distinga os negócios jurídicos unilaterais receptícios e os
negócios jurídicos unilaterais não receptícios. É receptício nos casos em que a declaração só é eficaz se for e quando for
dirigida e levada ao conhecimento de certa pessoa. A título de exemplo temos a renúncia de certos direitos (artigo 940º),
a denúncia do arrendamento (1055º), etc. É não receptício quando, para ser eficaz, a declaração não se torna necessário
comunicá-la a quem quer que seja. São, portanto, não receptícios, isto é, não carecem de ser dirigidos ou levados ao
conhecimento de pessoa determinada: o testamento (2179º), a instituição de uma fundação (artigo 186º), etc.
Já os negócios bilaterais são aqueles em que existem duas ou mais declarações de vontade, de conteúdo diverso ou oposto, porém
que se convergem e se completam, formando um resultado jurídico unitário. Há, portanto, uma oferta ou proposta e a aceitação que
se conciliam num consenso. São exemplos: a compra e venda (874º), o arrendamento (1022º) , o casamento (20º Código da
família), etc.

Características do regime dos negócios bilaterais:

1. O regime inerente aos negócios jurídicos contido no código civil, na parte geral só se aplica plenamente aos negócios
bilaterais, pois os negócio unilaterais são objecto de regulamentação específica (numerus clausus) — artigo 457º. a 463º.
C. civil.

2. Vigora o princípio da liberdade contratual.

Agora, resta-nos saber em que momento de dá a perfeição do acto (do negócio). Nos negócios bilaterais a perfeição depende da
conjugação das duas declarações de vontade divergentes, não existindo enquanto elas se não ajustarem. Este problema não se
coloca tanto nos negócios cujas partes encontram-se presentes pelo facto de, nestes casos, as declarações (proposta ou oferta e a
anuência) ser mais ou menos simultâneo. O problema surge precisamente nos negócios entre ausentes, pois pode haver períodos de
tempo maiores ou menores entre a proposta e a aceitação e, esse aspecto, interessa para vários efeitos.

De entre as várias doutrinas que abordam esta questão, destacam-se quatro teorias, nomeadamente:

a. Doutrina da aceitação: aqui o negócio era perfeito quando o destinatário da proposta declarou aceitar a oferta que lhe
foi feita.

b. Doutrina da expedição: o negócio diz-se perfeito quando o declaratório expede a sua aceitação mediante qualquer meio
(telegrama, carta, etc.)

c. Doutrina da recepção: para esta teoria o negócio está perfeito quando o proponente passa a estar em condições de
conhecer a resposta contendo a aceitação.

d. Doutrina da percepção: postula que o negócio está perfeito quando o proponente tomou conhecimento efectivo da
aceitação.

Para nós e segundo o nosso código civil, no seu artigo 224º. consagra simultaneamente as duas últimas teorias (da recepção e
percepção), pelo que, de acordo com o nosso ordenamento jurídico vigente, perfilhamos por aqueles teorias através das quais
consideramos que o contrato está perfeito quando a resposta contendo a aceitação chega à esfera de acção do proponente ou é dele
conhecida.

Um outro aspecto importante a ter em conta neta abordagem é a distinção que de pode fazer entre os negócios unilaterais e os
bilaterais em função do caracter sinalagmático que é inerente aos contratos bilaterais, diferente do que acontece com os negócios
unilaterais. O critério que preside a esta distinção atende às obrigações emergentes do contrato.

Enquanto que o carácter sinalagmático é imputável aos negócios bilaterais o que significa, entre as partes, um nexo de
reciprocidade ou correspectividade, isto é, nascem obrigações recíprocas para ambas as partes, como é o caso da compra e venda,
nos negócios unilaterais (não sinalagmáticos) geram obrigações apenas para uma das partes. Desse modo, as obrigações
emergentes do contrato vinculam apenas uma das partes, como por exemplo a doação, o mútuo, etc.

Essa distinção acima firmada encerra uma importante relevância prática, esta última reside no facto de vigorar nos negócios
bilaterais o princípio da excessão do não cumprimento do contrato (428º.) que é basicamente a faculdade que cada uma das partes
têm de recusar a sua prestação, enquanto que a outra parte, por seu turno, não oferecer ou realizar simultaneamente a sua
prestação.

B) QUANTO A CAUSA DOS EFEITOS

Essa classificação depara distingue os negócios inter-vivos dos negócios mortis-causa.

Os negócios inter-vivos ou entre vivos são aqueles cujos efeitos são produzidos entre as partes em vida. Este tipo constitui a grande
maioria dos negócios, pois esta modalidade ou categoria pertence a quase todos os negócios jurídicos. Reveste grande importância
nos negócios.

Já os negócios mortis-causa destina-se a produzir os seus efeitos após a morte da respectiva parte ou de alguma delas. São, na
verdade, negócios fora do comércios jurídico. Neste sentido, na sua regulamentação, os interesses do declarante prevalecem sobre
outros interesse na proteção da confiança do destinatário dos interesses respectivos. É um exemplo prático de negócio mortis causa
o testamento (2179º.)

C) QUANTO AO MODO DE EXTERIORIZAÇÃO


Negócios consensuais (não formais ou não solenes): são aqueles para as quis a lei não exige qualquer forma (roupagem exterior),
podendo ser celebrado por quaisquer meios declarativos, aptos e aceites para exteriorizar a vontade negocial. Este tipo de negócios
é susceptível de conclusão por simples consenso.

Negócios formais ou solenes: são aquela para as quais a lei prescreve a necessidade da observância de determinada forma
(roupagem exterior), o acatamento de determinado formalismo especial ou ainda determinada solenidade.

Importa ainda destacar que quando se trata de um negócio formal é torna-se fundamental esclarecer que as partes não podem
realizar o negócio por meio de qualquer comportamento declarativo. A declaração negocial nos negócios formais deve realizar-se
sempre através de um comportamento declarativo imposto pela lei (podendo ser por escrito; mediante um certo documento; uma
cerimônia, etc.). Neste ínterim, basicamente, para a conclusão desse tipo de negócio a lei exige determinado ritual na exteriorização
da vontade.

A forma (escrita) mais solene e frequente no Direito vigente é a escritura pública que tem também caracter excepcional, pois na
falta de disposição legal a forma escrita pode consistir na redução do acto a escritura particular. Os mais comuns exemplos de
formas (solenes) que a lei exige para os negócios formas são: Documento autêntico e o Documento particular — 363º. C. Civil,
que será objeto de abordagem mais detalhada mais pra frente.

QUANTO AO TIPO OU NATUREZA DE RELAÇÃO JURÍDICA* constituída; modificada ou extinta PELO NEGÓCIO.

Negócios jurídicos obrigacionais: são aqueles que resultam da vinculação das partes , ou de alguma delas, à execução de
prestações, isto é, a comportamentos devidos.

Negócios jurídicos reais: são, por um lado, os que têm efeitos de direitos reais (eficácia real) e, por outro lado, os que se
materializam com a entrega da coisa que constitui o seu objeto.

Negócios jurídicos familiares: constituem aquela que têm por conteúdo a constituição, modificação ou extinção de situações ou
relações jurídicas familiares.

Negócios jurídicos sucessórios: são aquelas que têm por conteúdo a constituição, modificação ou extinção de situação e relações
jurídicas sucessórias e cuja eficácia se desenvolve no âmbito da instituição da sucessão por morte.

D) QUANTO A PATRIMONIALIDADE

Negócios patrimoniais: são aqueles cuja manifestação ou declaração de vontade triunfa sobre a vontade real, também designadas
por negócios do comércio jurídico, como sucede com a compra e venda, arrendamento, etc.

Negócios não patrimoniais: são aqueles que não fazem parte do comércio jurídico, na qual a vontade manifestada não tem de
atender às expectativas dos declaratários e aos interesses gerais da contratação, mas apenas à vontade real, psicológica do
declarante. A título de exemplo de negócios jurídicos não patrimoniais, podemos aqui apontar o casamento, a doação, etc.

Ainda no âmbito dos negócios jurídicos patrimoniais decorre uma outra classificação que distingue os negócios onerosos e
negócios gratuitos.

C) QUANTO AO CONTEÚDO E A FINALIDADE DO NEGÓCIO

Negócios onerosos: envolvem atribuições (prestações) patrimoniais para ambas as partes, existindo um nexo ou relação de
correspectividade entre as respectivas atribuições patrimoniais. Cada uma das partes faz uma atribuição que considera retribuída ou
contrabalançada pela atribui da contraparte.

Importa, porém, realçar que é desnecessário a existência de equilíbrio ou equivalência das prestações ou atribuições patrimoniais
consideradas pelo seu valor normal. Assim, por exemplo, uma parte pode saber que o que dá vale muito mais ou vale muito menos
do que recebe, mas não pretende fazer ou receber uma liberdade. Neste sentido, pode dizer-se que nos negócios onerosos as partes
estão de acordo em que a vantagem que cada uma vida obter é contrabalançada por um sacrifício que está numa relação de estreita
causalidade com aquela vantagem. As partes consideram as duas prestações ligadas reciprocamente pelo vínculo da causalidade
jurídica.

Negócios jurídicos gratuitos: são aqueles em que existe só uma atribuição (prestação) patrimonial. Nestes, uma única parte tem a
intenção de efectuar uma atribuição patrimonial a favor da outra sem contrapartida. Por isso, os negócios gratuitos designam-se
genericamente por liberdades. A outra parte procede com a consciência e a vontade de receber essa vantagem sem um sacrifício
correspondente. V.g. a doação.

O negócio, portanto, constitui um acto a título gratuito quando for realizado com uma particular intenção ou causa que é a de
proporcionar uma vantagem à outra parte.
A distinção que aqui se faz propósito reveste uma importante relevância. Por exemplo, em matéria de impugnação paulina;
proteção de terceiros adquirente de boa-fé por força de anulabilidade ou nulidade de um negócio (291º. , nº 1); de interpretação
(237º.).

Dos negócios onerosos decorrem os negócios comutativos e negócios aleatórios.

D) NEGÓCIO COMUTATIVOS E ALEATÓRIOS

Negócios comutativos são aqueles cujas prestações ou vantagens patrimoniais são certas e determináveis. Trata-se de negócios
onerosos em que, independentemente da correspectividade entre as prestações, S atribuições das partes são, claramente,
determináveis (determinadas) ao ponto de não ficar qualquer uma delas dependente de qualquer facto futuro ou incerto.

Já os negócios aleatórios: tratam-se de negócios onerosos que envolvem um risco tanto para uma das partes como pode ser também
para ambas, ficando as prestações, ou uma delas, na dependência de certo facto futuro ao ponto de uma só ser realizada ou de não
se verificar qualquer correspondência entre elas. Na prática há aqui um risco de ganhar ou perder. São exemplos o contrato de jogo
e aposta (1245º.), a renda vitalícia (1239º.), etc.

Essa natureza aleatória pode apresentar-se sob mais de uma modalidade, sendo de considerar:

A) Casos de incerteza quando à prestação a realizar;

B) Casos de incerteza quanto à realização de uma só das prestações;

C) Casos de incerteza quanto ao valor de uma das prestações;

D) Casos de incerteza quanto à realização e quanto ao valor de uma das prestações;

A DECLARAÇÃO NEGOCIAL

O código civil regula a declaração negocial nos termos do artigo 217º e seguintes. O elemento declaração negocial é o elemento
verdadeiramente integrante dos negócios jurídicos, cuja sua falta conduziria a inexistência material dos negócios.

Antes de avançar um conceito de declaração negocial, é importante deixar claro que o negócio jurídico não se basta com a mera
existência de simples vontade negocial. Esta última deve sempre ser exteriorizada de alguma forma, pelo que, o negócio jurídico
não existe sem uma manifestação de vontade, ou se preferir, lato senso, sem a declaração negocial.

Podemos, agora, na esteira de Manuel de Andrade, definir a declaração negocial como todo comportamento de uma pessoa que, via
de regra, revestem a forma escrita (palavras faladas ou sinais) e segundo os usos da vida, convenção dos interessados ou até, por
vezes, segundo disposição legais aparece como destinado, directa ou indiretamente, a exteriorizar um certo conteúdo de vontade
negocial ou ainda, em todo caso, o revela e traduz.

A declaração negocial objectivamente dizendo, a sua nota essencial não assenta num elemento interior (vontade real, efectiva ou
psicológica), mas num elemento exterior (comportamento declarativo) ou, por outras palavras, a declaração negocial implica
sempre um acto exterior adequado a dar a conhecer uma certa intenção ou conteúdo de pensamento do autor.

Importa agora salientar que nos negócios unilaterais a declaração negocial preenche a totalidade do acto do negócio jurídico e
esgota a sua materialidade. Diferente acontece com os contratos qualificados como contratos jurídicos bi ou plurilaterais, na qual
enxerga-de uma pluralidade de declarações negociais. Nesta ordem de ideias, a declaração negocial numa típica compra e venda é
celebrada através de duas ou mais declarações negociais, uma do comprador e outra do vendedor.

Ao comportamento que visa dar a conhecer a intenção ou conteúdo de pensamento (declaração negocial) é usual chamar
comportamento declarativo. Ao autor desse comportamento dá-se o nome de declarante. À pessoa em que se dirige o conteúdo
de vontade negocial que é exteriorizada chama-se declaratários.

Desse modo, é na natural dizer que pode haver uma pluralidade de declaratários, como, aliás, também, pode haver uma pluralidade
de declarantes.

Elementos constitutivos da declaração negocial

Na declaração negocial pode distinguir-se normalmente dois elementos:

A declaração: propriamente dita (elemento externo) consiste no comportamento declarativo. Trata-se da factualidade externa da
declaração negocial (a sua forma lato senso).

A vontade: (elemento interno) consiste no elemento psicológico, real, efectivo, na realidade volitiva que normalmente existirá e
coincidirá com o sentido objectivo da declaração.
Este último elemento (a vontade) é complexo e pode decompor-se analiticamente em três sub-elementos.

A. A vontade de acção: são aqueles casos que sucede que uma pessoa por mero reflexo ou distraidamente, sem se aperceber
do facto, faz um gesto e este último aparece objectivamente como declaração negocial.

B. Vontade de declaração ou vontade da relevância negocial da acção: acontece naqueles casos em que o declarante atribui
ao comportamento querido o significado de uma declaração negocial. A título de exemplo temos o cenário de um leilão
na qual um indivíduo faz um gesto de saudação a um amigo; segundo as práxis do lugar esse facto significa uma oferta
pelo objecto leiloado, sem mesmo que a pessoa disso tenha apercebido.

C. A vontade do conteúdo da declaração ou intenção do resultado: aqui acontece que a declaração ou a vontade de celebrar
um negócio jurídico tem um conteúdo coincidente com o significado exterior ou objectivo da declaração. É quando a
vontade efectiva corresponde verdadeiramente ao negócio concreto e exteriormente declarado.

Modalidades da declaração negocial

Prima facie, para declarar, o declarante dispõe de todos os meios que lhe servem para se fazer entender. O mais corrente é a
manifestação feita pelas pessoa por meio da linguagem (falada ou escrita). Porém, torna-se necessário deixar claro que os usos e as
convenções sociais dão relevância a muitos outros tipos de comportamentos como meios de declaração. A fundamentação deste
entendimento tem base no princípio da autonomia privada.

Assim, como princípio da liberdade contratual (405.º) que é a mais cabal expressão do princípio da autonomia de vontade e que
realizam em grande escala os negócios jurídicos. Quanto a forma, o nosso ordenamento jurídico, reconhece ao negócio jurídico um
critério de liberdade de forma: princípio da liberdade declarativa (219.º).

Neste ínterim, podemos aqui destacar como modalidades ou formas da declaração negociais:

 Declaração expressa

 Declaração tácita

 Silêncio como meio declarativo

 Declaração presumida

 Declaração ficta

 Protesto

 Reserva

Por vezes a lei exige que a declaração seja expressa, outras vezes a lei tem o cuidado de frisar que certo negócio pode dar lugar a
declaração tácita. Daí necessidade de distinguir uma e outra. Tal distinção está consagrada ao abrigo do artigo 217.º

DECLARAÇÃO EXPRESSA: é quando é feita por palavras, escrito ou quaisquer outros meios directos, frontais e imediatos da
expressão da vontade

DECLARAÇÃO TÁCITA: é quando a declaração deduz-se de e factos que, com toda a probabilidade a revelem.

Repare que no primeiro caso a declaração é feita de modo directo, por forma a dar, à vontade, uma exteriorização imediata. E
noutros casos, como é o caso da declaração tácita ela resulta indiretamente de outros factores. Não se pode, com isso, confundir a
declaração tácita com um (no facere, omissão/inacção) ou ainda com a ausência de declaração.

O valor do silêncio como meio declarativo.

Agora analisaremos o silêncio como modalidade de declaração negocial, ou seja, agora cabemos saber se o silêncio tem valor
declarativo. Daí, pois, a pergunta: o no facere (calar) pode ser uma forma de declaração como falar ou escrever? Quando é que
estamos diante a casos de silêncio eloquente?

Para responder a tal problema urge saber, primordialmente, o que se entende por silêncio em Direito.

Por definição, em silêncio traduz-se na ausência de qualquer declaração expressa ou tácita. Corresponde a ausência de qualquer
acção (facere) e, portanto, a inexistência de um fim e meios desencadeados para o conseguir. Enquanto modalidade de declaração,
o silêncio significa toda a omissão de conduta. O silêncio é portanto um nada.
O código civil resolve este problema no artigo 218.º, estabelecendo que o silêncio não vale como meio declarativo, a não ser que
esse valor lhe seja atribuído por lei, convenção ou usos.

Deste modo, o silêncio não tem qualquer valor como declaração negocial, em princípio, por não ser eloquente. Assim em harmonia
com o previsto no artigo 218.º, o silêncio vale como declaração negocial quando esse valor que lhe seja atribuído: por lei, por
convenção ou por usos.

Declaração negocial presumida e declaração negocial fícta

No primeiro ano do curso, em sede de introdução ao Direito já se falou meticulosamente sobre as presunções legais e aqui estas
noções são chamadas ao acaso.

Ora, a matéria das presunções legais tem a ver com o ônus da prova, ou seja prima facere, quem pretende determina a eficácia
jurídica tem o dever de provar os devidos factos de onde ela deriva, mas se essa presunção beneficiar, o ônus da prova transferi-se
cabendo a outra parte provar o contrário.

As presunções legais são ilações que a lei (ou o julgador) tira de um facto conhecido para um caso desconhecido. Esta figura pode
ser de dois tipos: Iuris tantum (relativa), ilidíveis mediante prova em contrário e, Iuris et de iures absoluta quando a presunção é
irrefutável, não admitindo prova em contrário.

Assim, DECLARAÇÃO NEGOCIAL PRESUMIDA é quando a lei associa a certo comportamento o significado de exprimir um
dado sentido negocial , mas admitindo, claro, prova em contrário (presunção iuris tantum — artigo 350.º).

São exemplos: a venda sujeitas a prova e disposições testamentárias a favor de uma generalidade de pessoas (225.º).

DECLARAÇÃO FICTA: tem lugar quando a lei atribui a um certo comportamento um dado conteúdo negocial não admitindo
prova em contrário (presunção iures et de iures)

DIVERGÊNCIA ENTRE A VONTADE E A DECLARAÇÃO

Geralmente e é o normal acontecer, sucede que o elemento interno (vontade) e o elemento externo (declaração) coincidirão. Há,
pois, nestes casos uma efectiva determinação de efeitos jurídicos pelo autor da declaração, caso a vontade de tenha formado sobre
uma motivação conforme com a realidade é com a liberdade.

Todavia, pode acontecer que por razões diversas, haja uma divergência entres esses dois elementos da declaração negocial.
Acontecendo isso, a normal correspondência entre a vontade e a declaração é afastada por razões diversas e em certos casos
anômalos. Perante a essas situações, estamos diante dos chamados vícios na formação da vontade que, por outro lado, podem
receber o nome de divergência entre a vontade e a declaração.

A divergência pode, portanto, ser definida como uma falta de correspondência ou uma discrepância entre a vontade efetiva, real ou
psicológica com a declaração propriamente dita (manifestação da vontade). Esta, segundo o critério de intenção do declarante pode
ser: intencional ou não intencional.

Podemos, assim, dizer que estamos diante de uma divergência intencional quando, da discrepância entre a vontade e a declaração
resulta a consciencialização ou intenção da parte do declarante, ou seja, a aqui o declarante tem noção e consciência clara da
divergência entre os dois elementos.

Diferentemente acontece com a divergência não intencional, a divergência não intencional acontece quando da discrepância entre a
vontade e a declaração negocial o declarante não se apercebe da divergência ou porque é forçado irresistivelmente a emitir uma
declaração divergente do seu real intento.

DIVERGÊNCIA INTENCIONAL

 Simulação

 Reserva mental

 Declaração não séria.

— SIMULAÇÃO

Consiste na divergência por meio do qual o declarante emite uma declaração que não coincide com a sua vontade real por força de
um acordo com o declaratário com o intento de enganar terceiros.
São requisitos da simulação os seguintes:

 Divergência entre a vontade real e a declaração (propriamente dita);

 Acordo ou conluio entre o declarante e o declaratário (acordo simulatório);

 Intuito de enganar terceiros;

São modalidades da simulação:

- Inocente e fraudulenta

É inocente quando a simulação tem o mero intento de enganar terceiros, ou seja, nesta modalidade de simulação não há a pretensão
e intenção de prejudicar. Diferente acontece com a simulação fraudulenta cujo intento principalmente é o prejudicar terceiros.

A simulação inocente é a menos frequente, que normalmente se opera para fins de ostentação de riqueza, ou mesmo para ocultar
realidades que, embora não sejam prejudiciais a terceiros, poderiam ocasionar reações desagradáveis para o simulador, se fosse
conhecida.

 Subjectiva e Objectiva

É subjectiva quando a simulação (divergência) recai sobre as próprias partes, isto é, sobre os sujeitos do acto jurídico. Neste
sentido, esta modalidade tem vista fingir negociar com alguém quando na realidade se pretende negociar com outra pessoa, ou em
benefício de outra pessoa.

É nesta modalidade em que se verifica a chamada interposição fictícia de pessoas. Manuel pretendendo dar um prédio a Jaime,
finge doar a Morais para que este posteriormente doe a Jaime, operando-se um conluio entre os três.

Diz-se objectiva quando a divergência voluntária recai sobre o objecto do negócio ou sobre o seu conteúdo, podendo ser:

1. Simulação sobre a natureza do negócio: opera-se uma alteração do tipo negocial correspondente do negócio dissimulado
ou oculto, por exemplo, finge-se uma venda quando se quer na verdade uma doação ou vice-versa.

2. Simulação de valor: sucede fundamentalmente na simulação de preço na compra e venda, na qual finge-se um preço
superior ou inferior ao preço real.

 Relativa e Absoluta

Diz-se relactiva quando as partes fingem celebrar um certo negócio jurídico e na realidade querem um outro negócio jurídico de
tipo ou conteúdo diverso. Aparentam certo tipo de negócio quando na realidade celebram um negócio diferente.

E é absoluta quando as partes fingem celebrar um negócio jurídico, e na realidade não querem nenhum negócio jurídico. O que
existirá, será apenas um negócio simulado, e por detrás dele nada mais!

— RESERVA MENTAL

É a divergência intencional e unilateral entre a vontade e a declaração que se verifica quando o declarante emite uma declaração ou
manifesta uma vontade que não corresponde com a sua real e efectiva vontade com o fim de enganar o declaratário.

Na reserva mental o declarante mente e tenta enganar: declara contratar e afirma vincular-se, promete cumprir, mas tem a intensão
já pré-ordenada de não respeitar o negócio que celebra.

São requisitos da reserva mental:

 Divergência entre a vontade real e a declaração objectivamente manifestada;

 Emissão de um declaração receptícia contrária à vontade efectiva;

 Intuito de enganar o declaratário.

São modalidades da reserva mental, assim como a simulação, as seguintes:

 Inocente e fraudulenta;
 Conhecida e desconhecida;

 Absoluta e relactiva;

 Unilateral e bilateral;

— DECLARAÇÃO NÃO SÉRIA

Traduz-se na divergência intencional na qual o declarante manifesta uma vontade que efectivamente não tem, na convicção de que
o declaratário se aperceba da falta de seriedade da declaração. Embora aqui a divergência seja intencional, não se tem por
finalidade enganar terceiros, pois procede-se na expectativa de que a falta de seriedade não passe desapercebida.

DIVERGÊNCIA NÃO INTENCIONAL

— COAÇÃO FÍSICA, ABSOLUTA OU ABLATIVA

Estamos perante a coação física quando uma força exterior a vontade do agente o leva a assumir um comportamento declarativo
independentemente da sua vontade que fica totalmente excluída por essa força.

No fundo nem é bem o declarante que emite a declaração, mas aquele que exerce a força física, servindo-se do declarante como
instrumento.

— FALTA DE CONSCIÊNCIA NA DECLARAÇÃO

Aqui o declarante emite uma declaração sem sequer ter a consciência (a vontade) de fazer uma declaração negocial, podendo até
faltar completamente a vontade de agir.

— ERRO NA DECLARAÇÃO OU ERRO-OBSTÁCULO.

Diz-se da divergência não intencional que se dá quando alguém, por lapso, manifesta uma vontade que não corresponde a sua
vontade real. Aqui o declarante emite uma declaração divergente da vontade real, sem ter consciência dessa falta de consciência.
Trata-se de um lapso, de um engano, de um equívoco.

VÍCIOS DA VONTADE

— ERRO-VÍCIO

Traduz-se numa numa representação inexata ou na ignorância de uma qualquer circunstância de facto ou de direito que foi
determinante na decisão de efectuar o negócio. Se o declarante tivesse o exato conhecimento da realidade — não teria realizado o
negócio nos termos em que o celebrou.

— DOLO

Consiste em qualquer sugestão ou artifício sob a forma de acção ou de omissão, que intencionalmente e conscientemente tenda a
induzir ou manter outrem em erro ou a dissimular o erro em que este haja caído.
Modalidades

Dolo positivo e negativo

Dolus bonus e malus

Dolo inocente e fraudulento

Dolo proveniente do declaratário e de terceiros

Dolo essencial ou determinante e incidental

— COAÇÃO *MORAL*

É o vício que se traduz na perturbação da vontade, traduzida no medo resultante de ameaça ilícita de um dano colimada com o fim
de extorquir a declaração negocial. O autor da coação designa-se coator, aquele a quem se destina a coação coagido.

Atenção que só há vício de vontade quando a liberdade do coacto não foi totalmente excluída, quando lhe foram deixadas
possibilidades de escolha embora a submissão à ameaça fosse a única escolha normal.

A coação deve ser uma ameaça ilícita e exige-se igualmente que a combinação do mal vise extorquir a declaração negocial.

Modalidades

Coação física e absoluta

Coação principal d incidental

Coação dirigida à pessoa ou à honra ou à fazenda do declarante ou de terceiro

Coação exercida pelo declaratário e Coação exercida por terceiros

— ESTDO DE NECESSIDADE

Trata-se de situações ou circunstâncias de eminente receio é temor gerada por um grave perigo que determina o necessitado
(pessoa que se encontra nesse estado) a celebrar um negócio para superar o perigo em que se encontra. Tem o seu regime ao abrigo
do artigo 282.º

— INCAPACIDADE ACIDENTAL
REPRESENTAÇÃO NOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

A representação traduz-se na prática dum acto jurídico em nome doutrem para os respectivos efeitos se produzirem na esfera desse
outrem. Aquele que age em nome de outrem diz-se representante; e aquele cujo interesse se realiza diz-se representado. Este
instituto é regulado ao abrigo do artigo 258.º

Pressupostos

 Actuação em nome de outrem;

 Actuação por conta de outrem;

 Dispondo o representante de poderes para o fazer (poderes representativos).

Existem, segundo o direito civil vigente as seguintes espécies de representação, nomeadamente:

— Representação legal

É aquela prevista pela própria lei para as situações que a regula. Nesta, o representante é indicado pela lei, ou por decisão
judicial em conformidade com a lei e tem também os poderes definidos pela lei.

— Representação Voluntária

É aquela que mediante o acto designado procuração, o representado transfere poderes a determinada pessoa com fim deste
actuar juridicamente em nome do representante.

— Representação própria e impropria

Esta distinção consiste fundamentalmente no facto de a imprópria não ser, assim como o nome deixa claro, uma verdadeira
representação tal como é exigido no conceito disposto ao abrigo do artigo 258.º.

— Representação activa e passiva

É activa a representação que se opera em nome de outrem na emissão de declarações negociais.

A passiva traduz-se em receber declarações negociais em nome de outrem para se produzirem os mesmo efeitos que se
produziriam se se tratasse do indivíduo cujo interesse será tutelado.

— Representação Orgânica

As pessoas colectivas são representadas, em princípio, pela administração


REQUISITOS DO OBJECTO NEGOCIAL

CLÁUSULAS ACESSÓRIAS TÍPICAS

1. A CONDIÇÃO
Por condição, em direito, podemos entender como uma cláusula acessória de natureza acidental, que visa fundamentalmente
sujeitar a produção ou a cessação de certos efeitos jurídicos inerentes ao contrato à verificação de um certo acontecimento futuro e
incerto. A sua regulação está consagrada ao abrigo do artigo 270º do C.Civil.

Desta noção podemos extrair os seguintes elementos essenciais:

A. O carácter futuro do facto ou acontecimento, e cuja verificação dependem os efeitos do negócio, quer para se começarem
a produzir, quer para de cessarem.

B. O facto futuro tem de ser incerto;

C. A condição é de origem convencional.

Natureza

A condição traduz-se numa vontade hipotética, embora actual e efectiva, exteriorizada numa declaração única e incindível.

Importância

Basicamente, quando nos referirmos a importância e relevância dessa figura, julgamos ser essencialmente crucial salientar o facto
desta configurar um mecanismo apto a satisfação de necessidades práticas importantes pelo facto de, em muitos casos,
desconhecer-se, aquando da contratação a evolução futura dos factos em que se assentam. Por outra, importa realçar que por meio
de uma condição é possível prevenir situações futuras em relação às quais há ou haverá uma incerteza quanto à sua verificação.

A condição faculta ainda uma via que, por resultar de convenção dos interessados, se apresenta, via de regra, mais ajustada à
correcta composição dos interesses em jogo. É ainda um meio técnico de que uma das partes se pode servir para estipular um
comportamento de outrem ou para tentar assegurar-se da verificação de um certo resultado.

As condições impróprias

Existe na doutrina certas figuras que, embora apresentadas em termos formalmente condicionais, não constituem verdadeiras
condições. Estas são as chamadas condições impróprias.

As condições impróprias acontecem naqueles casos em que não concorre algum dos requisitos que caracterizam a condição — que
são designadamente: o evento futuro; carácter incerto do evento; subordinação resultante da vontade das partes.

São diversas as figuras de condição impróprias que a doutrina têm apontado, nomeadamente:

As condições referidas ao passado ou ao presente

Aqui o evento condicionante não é futuro; não existe, portanto, incerteza objectiva e tão pouco o período de dependência que nela
se baseia.

Condições necessárias: o evento não é incerto. Trata-se antes de um termo no

As condições impossível: nesta, a não verificação do evento é certa, pois o acontecimento visado é material ou legalmente
impossível, podendo saber-se desde logo que ele não produzirá.

As condições legais (conditiones iures)

Susceptíveis de serem chamadas de pseudo-condições, pelo facto de terem a sua gênese não partindo da autonomia de vontade
inerente ao particulares, mas sim existem por imposição legal ou da lei, enquanto que a verdadeira condição, como ficou claro,
parte da vontade das partes.

Aqui encontramos a chamada condição resolutivo tácita que se consubstancia na possibilidade de alguém resolver o contrato por
incumprimento da contraparte (caso a outra parte não cumprir — 801º. nº. 2).

Classificação das condições

Condição suspensiva

Condição resolutiva

Condição potestativa

Condições causais
Condições mistas

Condições possíveis

Condições impossíveis

Condições positivas: a verificação desta condição da lugar, ou traduz-se na alteração dum estado de coisa anteriormente existente.

Condições negativas: o evento ou acontecimento condicionante não dá lugar a alteração duma situação preexistente. A título de
exemplo:

Condições perplexas: à semelhança da figura do nemos plus iures, são aquelas que são contraditórias, na qual o evento
condicionante é incompatível com o efeito jurídico querido. Esta a contrário sendo, dá lugar à (…) Condições não perplexas

2. O TERMO

O termo traduz-se na cláusula acessória típica através do qual as parte num negócios jurídicos sujeitam ou subordinam a eficácia de
determinado negócio à verificação de certo acontecimento futuro e certo. Diferente do que acontece com a condição, o termo
funciona com um particularidade que é precisamente a de que a existência ou a exercitabilidade dos efeitos de um negócio serem
postos na dependência de um acontecimento futuro, porém certo. Desse modo, os efeitos inerentes a esse negócio só começam ou
se tornam exercitáveis ou deixam, cessam a partir de certo momento.

Nestes termos, podemos aqui retirar os elementos essencialmente constitutivos do termo, nomeadamente:

A. carácter futuro do facto ou acontecimento, e cuja verificação dependem os efeitos do negócio, quer para se começarem a
produzir, quer para de cessarem.

B. O facto futuro tem de ser CERTO;

C. A condição é de origem convencional.

Importância.

Assim que acontece com a condição ou até mesmo qualquer outra figura jurídica, o termo, outrossim, tem uma suma importância.

Acontece que muitas vezes às partes interessa fixar antecipadamente o regime a que se há-de submeter a regulamentação dos seus
interesses, ora, essa figura da essa susceptibilidade, ou seja, realiza tal desiderato, estabelecendo, naturalmente, que certos efeitos
jurídicos só começam a produzir-se no momento em que os interessados estabelecerem.

Modalidades do termo.

Termo inicial, suspensivo ou dilatório: à semelhança da cláusula condicional suspensiva, o termos suspensivo subordina a
verificação ou produção dos efeitos do negócio a partir de certo momento, isto é, depois de verificado certo acontecimento futuro e
certo.

Termo final, resolutivo ou peremptório: à semelhança do que acontece com a condição, falar em termo resolutivo traduz-se
naquele que faz cessar a produção dos efeitos do negócio, isto é, a sua eficácia termina com a verificação do evento (futuro e
certo).

Termo certo: acontece quando, além da certeza que se tem de que determinado facto há de se verificar, sabe-se, igual e
precisamente, o momento exacto em que se verificará. Exemplo: o João fica obrigado a cumprir a sua prestação no dia 1 de
janeiro.

Termo incerto: acontece quando é desconhecido o memento da sua verificação, apesar desta der, claramente certa. A título de
exemplo temos a morte! É certo que todos estamos sujeitos a morte, ou seja, a morte é certo (termo), porém não se sabe, de facto, a
sua hora (termo incerto).

Termo expresso: é quando resulta da vontade assumida das partes, também designada de termo própria, justamente porque o
mesmo emerge da própria vontade das parte.
Termo tácito: é quando deriva de circunstâncias que, co toda a probalidade, revelem ser essa a vontade das partes.

Termo essencial: é aquele cujo não cumprimento das obrigações, decorrido o prazo estabelecido para o seu cumprimento, é
equiparado à impossibilidade da prestação.

Termo não essencial: diferente do essencial, aqui, decorrido o prazo estabelecido para o cumprimento das obrigações, e sem a
correspondente prestação se mostrar realizada, o não cumprimento não acarreta logo a impossibilidade da prestação, apenas gera
uma situação de mora do devedor, bem como o consequente dever de indemnizar o credor.

3. Cláusula modal

Diferença entre modo e a condição

O modo só é aponível às liberalidade e, por isso, aos negócios de título gratuitos. Enquanto isso, a condição é aponível, salvo as
excessões constantes na lei, a todos os negócios (gratuitos e onerosos )

A cláusula modal implica uma imposição ao beneficiário de uma liberalidade a adopção de certo comportamento/conduta. Já a
condição tem como evento condicionante um facto que não se limita na conduta do beneficiário, podendo ser ainda um facto
natural, ou até um evento de carácter misto.

4. A cláusula penal

A cláusula penal é uma cláusula acessória típica que visa fundamentalmente não só determinar o devedor a cumprir, porém
outrossim eliminar o litígio quando ao valor dos danos a indemnizar.

A cláusula penal pode ser compensatória ou moratória.

Cláusula penal compensatória: visa indemnizar o credor por falta de cumprimento da obrigação.

Cláusula penal moratória: diz respeito ao valor da indemnização convencionado pelo não cumprimento pontual da obrigação, isto
é, pela simples more do devedor.

5. O sinal

O sinal também constitui uma cláusula acessória típica dos negócios onerosos. Vem previsto ao arrepio dos arts. 440.o a 442.º C.
Civil e tem apitomamente por conteúdo o facto de que aquando da celebração dum contrato, uma das partes entregar à outra uma
coisa ou uma quantia de tal maneira que caso o negócio for cumprido, a coisa ou a quantia entregue é imputada no cumprimento
ou, então, não sendo a imputação possível, essa coisa ou quantia é restituída.

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