Você está na página 1de 8

INTRODUÇÃO

A estrutura jurídica de um dado país pode ser identificado através do seu sistema
jurídico
O conceito de sistema é bastante abrangente que envolve, naturalmente, diversas
ideias a respeito, grosso modo, este compreende o conjunto de elementos, princípios
solidamente interligados ou relacionados entre si que formam um todo, no campo da
biologia, por exemplo, existem vários tipos diferenciados de sistemas, há o sistema
sanguíneo, urinário, respiratório, ou mesmo no campo da informática, o sistema
operativo e o Direito não fica isento, pois o sistema pode ser visto, outrossim, no campo
jurídico, até porque o Direito na sua mais vaga acepção, implica, necessariamente, um
conjunto de princípios, preceitos ou leis cuja organização carece de uma inter-relação
das mesmas, culminado, num todo que chamamos de sistema jurídico. Eis, pois, o teor
dessa abordagem, ou seja, o presente trabalho visa discorrer sobre os diferentes tipos de
sistemas jurídicos a qual um determinado ordenamento jurídico pode adoptar.
Assim, num plano geral, procuramos compreender os conceitos e os diferentes
tipos de sistemas jurídicos.
Já num plano mais específico, buscamos entender com plenitude os sistemas
jurídicos: romano-germânico e anglo-saxónico, bem como estabelecer as suas fronteiras
dicotômicas face as principais características apresentadas por ambas.
Importa referir que o estudo em causa é de eminente importância, pois além de
elucidar o leitor da origem e desenvolvimento histórico dos sistemas jurídicos para a
ciência jurídica, dará concomitantemente luzes sobre as principais características que
estes sistemas apresentam, possibilitando, categoricamente, identificar em qual delas se
enquadra o sistema jurídico de uma dada região.

1|Página
SISTEMA JURÍDICO
A forma e o desenvolvimento do Direito decorre dos costumes e relações
existentes em uma determinada sociedade. Assim, cada país adota um sistema jurídico
específico que rege o ordenamento jurídico e orienta a sua aplicação. Por sistema
jurídico vai se entender o conjunto de normas jurídicas interdependentes, reunidas
segundo um princípio unificador, que face a sua natureza estabelece uma forma
específica de aplicação. Existe, atualmente, vários tipos de sistemas jurídicos
dependendo da região em causa e hoje os principais sistema vigentes são, amplamente,
o sistema anglo-saxónico, conhecido outrossim como common law e o sistema romano-
germânico ou também conhecido como civil law, que contam com características
bastante diferentes.
Estes sistemas jurídicos forjaram-se tendo em conta uma conjuntura histórica
concreta e específica, nestes termos, dependendo da região, cada território em função
das situações históricas que passou, desenvolveu, naturalmente, um tipo bem definido
de sistema jurídico, especialmente os sistemas romano-germânico e anglo-saxónico,
possuem, evidentemente, diferentes formas históricas da origem e desenvolvimento.

SISTEMA JURÍDICO ROMANO-GERMÂNICO – (CIVIL LAW)


A história do sistema jurídico romano-germânico se desenvolve em três períodos:
um, que se inicia com o renascimento dos estudos de direito romano nas universidades,
por volta dos séculos XII e XIII d. C.; outro, no qual, durante cerca de cinco séculos, a
doutrina tem destaque e chega a exercer grande influência no conteúdo de diferentes
direitos nacionais; e um último, iniciado no século XVIII com a Escola do Direito
Natural, e que persiste até os dias atuais, em que há o predomínio da legislação como
fonte do direito.
Sucintamente, a construção do sistema jurídico romano-germânica tem suas origens
no século XII e XIII no período do Renascimento da Europa Ocidental, assim como já
foi noutrora destacado. É, neste momento, em que as cidades e o comércio ganharam
nova organização, também se intensificou o ideal de que somente o direito pode
assegurar a ordem e a segurança necessárias ao progresso. É a separação entre o direito
e a religião, demonstrando a raiz da autonomia do direito que compõem até hoje uma
das características da civilização ocidental. A partir deste pensamento renascentista, as
universidades ganharam destaque no estudo do direito, inicialmente na Itália com a
Universidade de Bolonha, cuja influência chegou até o direito aplicado pelos tribunais
europeus. Cumpre salientar que a base do direito nas universidades é formada pelo
direito romano em conjunto com o direito canônico, deixando em segundo plano os
direitos próprios de cada nação, uma vez que até o século XX, finalmente marcado pelas
codificações nacionais, o direito romano era o ensino básico.
 Fundamentos
A doutrina costuma elencar características próprias dos direitos da família romano-
germânica não verificáveis nos países de common law. Trata-se de institutos ou
princípios estruturais do sistema jurídico justificados por uma formação histórica

2|Página
peculiar, notadamente, a influência do direito comum das universidades construído
sobre a base dos direitos romano e canônico.
Um primeiro elemento típico do regime de civil law é a divisão sistemática entre direito
público e privado ou também conhecida como suma divisio.
A divisão básica entre direito público e privado no sistema de civil law, além de
se justificar pela discrepância dos períodos de surgimento das respectivas regras de
fundo, acompanhou as reais dificuldades da ciência do Direito em formular teorias e
arranjos estruturais que viabilizassem a execução prática de normas limitativas do poder
público. Nos países de common law, inexiste essa diferenciação: construído
eminentemente sobre considerações de processo e, ao menos originalmente,
desvinculado do vasto arcabouço privatista do direito romano, todo o direito anglo-
saxônico é tido como direito público. E, talvez pela ausência de uma formação científica
para os juristas de common law, não houve sistematização das soluções judiciais para as
demandas entre particulares ao ponto de se cristalizar uma divisão categórica entre os
ramos de direito público e privado.

Outro caracter fundamental do sistema romano-germânico é a comunhão, pelos


países dele integrantes, de determinados ramos do direito desconhecidos do regime de
common law, a exemplo o direito das obrigações. Originário do direito romano, o
regramento das obrigações teve sua perfeição técnica altamente desenvolvida ao longo
dos séculos em que foi objeto de reflexão e aprimoramento nas universidades europeias,
encontrando-se presente em todos os direitos da família de civil law. Apesar disso, o
próprio conceito de obrigação, elementar nos países de tradição romanista, inexiste no
direito anglo-saxônico, sendo a própria palavra intraduzível para o inglês jurídico.

O papel da doutrina na elaboração da regra de direito é outra característica


marcante do sistema romano-germânico. Nos países com esse sistema o direito está
longe de ser o resultado exclusivo de uma reflexão teórica, estabelecida a priori, na
busca de uma construção perfeitamente lógica. Há uma complementariedade expressiva
do ordenamento pelo trabalho da jurisprudência, não se podendo desaprender esta
quando o objetivo seja a busca pela norma aplicável a determinada situação concreta.
Ocorre que a doutrina, em todos os países do civil law, não se contenta com a tarefa de
sistematizar o direito legislativo e jurisprudencial, mas se considera investida da função
de “formular, acima dessa massa que progressivamente se forma ao acaso, as regras e
princípios basilares de direito que futuramente inspirarão os juízes e os práticos. Isto é:
o jurista de civil law considera-se na obrigação de elaborar proposições normativas,
situando a regra de direito na posição intermediária que figura abaixo da lei e acima da
decisão judicial, na busca incessante pelo grau ideal de generalidade da norma, trata-se
de tarefa árdua, mas de importância fulcral no sistema romanista.
A interpretação do direito é outro traço distintivo do sistema romano-germânico.
Tendo em vista o nível de generalidade das proposições jurídico-normativas, o
raciocínio do jurista de civil law é todo pautado em uma tarefa de interpretação das
fórmulas legislativas, diversamente do que ocorre no common law, onde a técnica
jurídica se caracteriza pelo método das distinções. Ou seja, enquanto no sistema
saxônico a regra de direito ideal é a mais específica possível, na tradição romanista
espera-se que o preceito normativo deixe certa margem de liberdade para a atuação do

3|Página
magistrado, sendo a função da lei unicamente “estabelecer quadros para o direito e
fornecer ao juiz diretivas” na medida em que é impossível ao legislador prever, na sua
variedade, todos os problemas concretos que se apresentarão na prática.
Há, pois, no sistema romano-germânico, uma disposição judicial inteiramente
diversa da que existe nos países em que vigora a common law. O juiz do civil law,
tradicionalmente, sente-se necessariamente subordinado ao conteúdo da lei, e a solução
dos litígios dá-se pela técnica interpretativa e não pelo retorno às decisões judiciais
pretéritas, submetidas ao método das distinções.

Diferentemente do que ocorre no regime anglo-saxônico, em que,


historicamente, coube aos juízes construir literalmente o conteúdo das regras de direito,
nos países de tradição romanista, há um respeito cerimonial do magistrado às
proposições normativas, porquanto elaboradas cuidadosamente pelo legislador e
sistematizadas de forma racional e lógica pela dogmática jurídica, no decorrer de
séculos de ciência do Direito.

Não significa isso dizer, contudo, que a jurisprudência não seja uma importante
fonte do direito nos países de civil law: como já referido, há, também nesses países, uma
consciência geral da incapacidade do legislador de antever todos os fatos passíveis de
submissão ao crivo do judiciário, diante do que, não raro, a própria lei autoriza o
recurso, nas decisões judiciais, à analogia, aos costumes e aos princípios gerais do
direito.

SISTEMA JIRÍDICO ANGLO-SAXÓNICO – (COMMON LAW)


A doutrina comparatista costuma reconhecer, na história do ordenamento
jurídico inglês, quatro períodos principais: a) o que antecede a conquista normanda de
1066; b) o que vai de 1066 ao estabelecimento da dinastia dos Tudors, em 1485, no
qual se verifica a formação da common law, com imposição de um direito novo em
substituição aos costumes locais; c) o de 1485 a 1832, marcado pela ampliação da
common law e pela complementaridade de um sistema potencialmente rival baseado
em “regras de equidade”; d) e um quarto e último período, iniciado em 1832 e que
perdura até os dias atuais, em que se vislumbra a convivência da common law com
elevada quantidade de lei em sentido estrito, a qual é produzida e utilizada em volume
nunca antes visto.
A common law é um paradigma de direito que teve origem na Inglaterra, no
momento posterior à conquista normanda, em resultado, sobretudo, da ação normativa
dos Tribunais Reais de Justiça. A compreensão dos fundamentos do sistema jurídico
anglo-saxônico, por conseguinte, pressupõe o conhecimento da formação histórica do
direito inglês, através do qual a Europa e o mundo foram apresentados a um peculiar
regime de Justiça. A common law compreende, além do Direito inglês que está na sua
origem, os direitos de todos os países da língua inglesa.
Por força de uma formação histórica peculiar, o direito inglês, e, de resto, o de
todos os países que adotaram o regime da common law, notadamente os Estados
Unidos da América, estruturaram-se sobre princípios, categorias e conceitos distintos
dos que vigoram na Europa continental e nos Estados formados em seus antigos
territórios. O caráter essencialmente formal do ordenamento jurídico inglês,
4|Página
constituído por regras maioritariamente processuais, por exemplo, fez inexistir, no
Reino Unido, até os dias atuais, a clássica distinção entre direito público e privado,
própria da tradição romanista.

A jurisprudência é neste sistema uma das principais fontes de Direito. Era no


seio dos Tribunais Reais que o direito era sucessivamente construído, ora pela
aplicação de antigas fórmulas consuetudinárias, ora por um julgamento de equidade, o
qual, posteriormente, com a atuação do chanceler, tornou-se gradativamente objetivo
ante forte influência de princípios dos direitos romano e canônico. A inexistência de
um corpo normativo estático, codificado, conduziu ao inevitável recurso aos
precedentes por parte dos juízes e solicitadores (advogados). Na ausência de uma
norma escrita, o precedente era, por vezes, o único documento jurídico que assentava
uma possível solução oficial para o conflito, sendo certo, ainda, que o tratamento
uniforme de casos semelhantes atendia à noção de justiça, pela satisfação do valor da
igualdade.

Por essa razão, a legal rule inglesa difere das leis da civil law por ostentar
menor generalidade, com menos amplitude e aplicabilidade, estando vinculada a todas
as circunstâncias da demanda específica que formou o precedente, isto é, o suporte
fático da norma de civil law mostra-se genérico e abstrato em comparação com os
elementos de fato do precedente de common law, que, com todas as peculiaridades do
caso concreto, integram a norma encerrada na ratio decidendi jurisprudencial. Fato e
norma não se distinguem na regra de direito anglo-saxônica.

A jurisprudência, assim, é a fonte por excelência do direito inglês, estruturado


sob a forma de casos regrados. A lei, denominada pelos ingleses de statute,
desempenhava, originalmente, apenas uma função secundária, limitando-se a
acrescentar corretivos ou complementos à obra dos tribunais.

A lei inglesa, contudo, não assume o caráter de princípio geral que ostenta a
legislação nos sistemas de direito romanistas; reveste-se, pelo contrário, de uma
natureza eminentemente casuísta.

A valorização da jurisprudência nos sistemas de common law e o caráter


casuístico de seu direito, inclusive de origem legislativa, são responsáveis por uma
grande distinção na concepção filosófica dos ordenamentos respectivos. Em oposição
aos direitos da origem romano-germânica, que instituem “sistemas fechados” e, em
tese, completos, o direito inglês é, pelo contrário, um “sistema aberto”, cuja
construção se dá em caráter em permanente pela atividade dialética dos tribunais. A
técnica jurídica adotada nos dois sistemas, outrossim, é diversa: enquanto no primeiro
toda espécie de questões é resolvida pela “interpretação” de um texto jurídico
existente, no segundo, busca-se identificar, dentre as legal rules de base
jurisprudencial, qual é a legal rule, talvez nova, que deverá ser aplicada na espécie,
valendo-se, para tanto, de uma estrita observação dos fatos e de uma análise da
conformidade ou distinção do caso concreto em relação aos casos passados. Na
perspectiva inglesa, a cada nova situação deve corresponder uma nova regra, sendo a

5|Página
função do juiz administrar a justiça e não formular, em termos gerais, regras que
ultrapassem o alcance do litígio .

Ao lado da jurisprudência e da lei, uma terceira fonte do direito anglo-


saxônico, inferior em importância, é o costume (custom). Consoante o magistério de
René David, o direito inglês não é consuetudinário. “O costume para a common law,
nunca foi senão uma simples ficção destinada a afastar dos juízes a desconfiança de
julgarem de modo arbitrário.” Antes da elaboração da common law, o direito na
Inglaterra era essencialmente consuetudinário, ao ponto de a própria common law
retirar algumas das suas regras dos vários costumes locais então em vigor. A própria
razão de ser da constituição da common law, porém, era a busca pela elaboração de
um direito jurisprudencial, fundado sobre a razão, que substituísse o direito da época
anglo-saxônica, baseado no costume.

Por último, elenca a doutrina a “razão” como fonte do direito inglês. Concebe-
se que a common law foi construída sobre a razão, embora tenha absorvido, em
muitos casos, os diferentes costumes locais. É a razão a fonte material do direito
emanado pela jurisprudência, uma vez que é esta quem efetivamente cria a legal rule
inglesa, observando, quando existentes, as orientações gerais do Parlamento contidas
na legislação. Como sistema aberto, o direito inglês é reconhecidamente incompleto,
construindo casuisticamente dialética dos tribunais. E nesse contexto, o Direito inglês
é franco em admitir a razão como o elemento apto a balizar a discricionariedade
judiciária na fixação da norma aplicável a cada situação específica sob julgamento.

6|Página
CONCLUSÃO
Após profundas análises e com base nas investigações feitas, em suma,
conclui-se que existem, efetivamente, diversos tipos de sistemas jurídicos cuja origem
está naturalmente vinculada a factores históricos distintos dependendo de cada região,
alguns destes sistemas são o soviético, o ocidental, o muçulmano etc. Todavia os
sistemas mais adaptados e que constituem os principais nos ordenamentos jurídicos
atuais são o anglo-saxónico e o romano-germânico.
Diante destes dois grandes sistemas jurídicos a diferença estrutural se explica
historicamente pela origem das famílias jurídicas: enquanto os sistemas romanistas
foram construídos de forma racional e lógica, graças ao grande contributo das
universidades e do legislador, o direito inglês foi originado, longe de qualquer
preocupação lógica, conservando-se, de forma geral, as classificações às quais se
estava habituado devido a uma longa tradição. Ou seja, os juristas ingleses, até hoje,
guardam uma tendência de valorização ao direito processual, já que, na origem, seu
Direito não foi fruto dos princípios e teorias pregados nas universidades, ou dito
doutro modo, enquanto o common law ou sistema anglo-saxónico é um sistema baseado
em decisões proferidas pelos Tribunais, o civil law também designado por sistema
romano-germânico é um sistema onde a codificação do Direito e a interpretação da lei
orientam a atuação do operador do Direito.
Nestes termos, os principais traços característicos e distintivos de ambos os sistemas
são os seguites, na common law:

 Este sistema é um sistema aberto


 As decisões de um tribunal são proferidas com base em precedentes ou
simplesmente julgados anteriores
 A jurisprudência é a principal fonte de direito, ou seja, tem mais relevância do
que a lei
 O ordenamento jurídico não conta com leis escritas, ou apenas possui
parcialmente leis escritas

Já na civil law:

 O sistema é fechado
 O Direito decorre de um ordenamento jurídico feito a partir de normas escritas
 A lei escrita possui mais peso nas decisões de julgados, isto é, na jurisprudência
e constitui, simultaneamente, uma relevante fonte de direito
 Deve existir a separação entre os poderes, principalmente de quem faz as leis e
quem as julga.

7|Página
 A doutrina é, neste sistema, bastante relevante
 Há a suma diviso ou a divisão do direito, público e privado

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 DAVID, René (2002). Os Grandes Sistemas do Direito Contemporâneo


 VARELA, Bartolomeu (2012). Introdução ao Estudo do Direito

8|Página

Você também pode gostar