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Texto Complementar 2 - Análise do artigo 146, CF/1988.

Prof. Leonardo Godoi Sia

O que esses três incisos do art. 146, CF/1988 expressam.

Entendendo o que esses três incisos expressam.


Inciso I - dispõe sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
Existem zonas cinzentas em que há dúvida sobre a competência tributária, como a
propriedade imobiliária. Tributar a propriedade imobiliária é competência de que ente
da Federação?

Propriedade imobiliária rural – a competência é da União.

Propriedade imobiliária urbana – a competência é do Município.

Que instrumento legal define uma propriedade como urbana ou como rural?

Somente uma lei nacional soluciona os conflitos de competência entre União, Estados e
Municípios. Neste caso, a Lei nº 5172/1966 — Código Tributário Nacional (CTN).

O art. 32 do CTN adota o critério da localização dos imóveis:


▪ Situados dentro da zona urbana do Município, incide o Imposto sobre a Propriedade
Predial e Territorial Urbana, o IPTU.
▪ Situados fora da zona urbana do Município, incide o Imposto sobre a Propriedade
Territorial Rural, o ITR.

Essa questão é solucionada com o artigo 146, I, CF/1988.

Inciso II – regular as limitações constitucionais ao poder de tributar


As limitações se relacionam, por exemplo, com os Princípios Constitucionais Tributários. O
poder de tributar é definido na CF/1988, uma vez que a lei complementar não pode criar
outras limitações ao poder de tributar. Se assim o fizesse, a União estaria restringindo o
exercício das competências tributárias dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

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Módulo 1 - Sistemas, princípios e competência tributária
Inciso III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente
sobre os Munícipios.
A lei complementar define o conceito de tributos e suas espécies. Assim sendo, é
necessário haver uma uniformização nacional para fatos geradores, bases de cálculo e
contribuintes. Se cada Município brasileiro definisse um fato gerador diferente para o
Imposto Sobre Serviços (ISS), ou um contribuinte diferente para o ISS, teríamos pessoas
que pagariam duas ou mais vezes o mesmo tributo municipal.
Com base na divisão realizada em um dos incisos do artigo 146 da CF/1988, formou-se a
corrente tricotômica (tradicional), pelas quais estas seriam as três funções da legislação
complementar em matéria tributária: dispor sobre conflitos de competência, regular as
limitações do poder de tributar e estabelecer normas gerais em matéria de legislação
tributária, devendo haver uma interpretação literal do enunciado constitucional.
Paralelamente, formou-se a corrente dicotômica, segundo a qual as normas gerais em
matéria tributária teriam o condão de disciplinar apenas as matérias constantes dos incisos
I e II, devendo haver uma interpretação sistemática da norma constitucional com o restante
das normas do ordenamento jurídico, acreditando que a lei complementar em matéria
tributária exerce apenas uma função, qual seja a de editar normas gerais de direito
tributário no sentido de dispor sobre conflitos de competência entre os entes federativos e
regular as limitações ao poder de tributar.

Segundo Paulo de Barros Carvalho (2009, p. 394),


“O primeiro passo é saber que são as tão faladas normas gerais de direito tributário. E a
resposta vem depressa: são aquelas que dispõem sobre conflitos de competência entre
as entidades tributantes e também as que regulam as limitações constitucionais ao poder
de tributar.”

A nossa sustentação é no sentido da aplicação da corrente dicotômica, pois, ao adotar este


posicionamento, prestigiamos a autonomia dos Municípios e o princípio da isonomia das
pessoas políticas de direito constitucional interno. A lei complementar prescrita no artigo
146, III, CF/1988, deve ser interpretada em harmonia com o princípio federativo e da
autonomia das pessoas políticas, como os entes federativos, União, Estados, Municípios
e DF, que constituem a estrutura política do Brasil, são dotados de autonomia
administrativa, orçamentária e financeira.

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Para Roque Antonio Carrazza (2009, p. 918), a competência para editar normas gerais em
matéria de legislação tributária “desautoriza a União a descer ao detalhe, isto é, ocupar-se
com peculiaridades da tributação de cada pessoa política. Entender o assunto de outra
forma poderia desconjuntar os princípios federativos, da autonomia municipal e da
autonomia distrital”.
Por fim, verifica-se que a União não pode, sob o pretexto de estabelecer normas gerais em
matéria tributária, invadir prerrogativas constitucionais alheias, ferindo o princípio da
autonomia das pessoas políticas.

Referências:

CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 17. ed. São Paulo: Saraiva,
2005.
CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de direito constitucional tributário. 25. ed. rev.,
ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 2009.

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