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TARZAN - Representaçoes e Esterotipias
TARZAN - Representaçoes e Esterotipias
Introdução
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Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Africanos, Povos
Indígenas e Culturas Negras _ PPGEAFIN, da Universidade do Estado da Bahia - UNEB
EMAI-L edpkel@gmail.com
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As estereotipias ou estereótipos, são pressupostos ou rótulos sociais, criados sobre
características de grupos para moldar padrões sociais. Um estereótipo se refere a certo conjunto
de características que são vinculadas a todos os membros de um determinado grupo social. É,
portanto, uma generalização e uma simplificação que relaciona atributos gerais a características
coletivas como idade, raça, sexo, sexualidade, profissão, nacionalidade, região de origem,
preferências musicais, comportamentos, etc. Os estereótipos funcionam como uma espécie de
rótulo ou carimbo que marca um indivíduo pertencente à determinada coletividade
estigmatizada a partir do pré-julgamento sobre suas características, em detrimento de suas
verdadeiras qualidades individuais. Grande parte das vezes, os estereótipos carregam aspectos
negativos, errôneos e simplistas, e por isso formam a base de crenças preconceituosas.
entanto, neste artigo, trato de estereótipos que segundo Guerra (2006) pressupõem e
impõem padrões sociais ou mesmo estigmas, esperados para um indivíduo vinculado à
determinada coletividade. Esses padrões não são produzidos espontaneamente, porque
estas representações não são neutras, mas, atos intencionais, influenciando os processos
históricos.
Essas imagens criadas, às vezes inconscientemente, tem nos meios de
comunicação e informação, um importante papel para reforçar (ou desconstruir) os
estereótipos. É, portanto, com esta configuração, que se encontram as produções de
Tarzan. Como uma criação aparentemente, espontânea e inconsciente que se torna o
mais potente e eficaz propagador de representações estereotipadas sobre o continente
africano.
Sendo assim, faço uma breve descrição do contexto histórico em que se enceta a
história de Tarzan, demonstrando os papéis da imprensa e do cinema neste
empreendimento, como também, do transculturalismo para transcrição da ideologia
hegemônica ocidental e americana.
Observo a origem das estereotipias que inspiraram a criação de Tarzan, tomando
Mudimbe (1989) como principal referencia, que faz uma abordagem sobre estereotipias
na produção de conhecimentos em diversas áreas sobre o continente africanos e os
papéis dos três “M” de Ki-Zerbo - Mercadores, Militares e Missionários como
disseminadores de imagens estereotipadas.
Finalizo, observando que estereotipias sobre o continente africano permeiam
toda a produção que envolve este personagem, fazendo uma análise no primeiro livro de
Burroughs, criador do personagem.
É neste contexto histórico que surge Tarzan. Um personagem que, priori e para a
grande maioria de seu público é um mito, um herói sem censura em suas produções, um
personagem criado somente para entreter. No entanto, devido a dinâmica que provocou
na indústria cultural sua capacidade de reverberação multimidiática no tempo e espaço,
consegue ser o maior arquétipo do colonialismo impresso para disseminar a ideologia
colonialista, neocolonialista e imperialista, e produzir representações e estereotipias do
continente africano, durante um século de existência.
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Informações encontradas no site https://pt.wikipedia.org/wiki/Tarzan
personagem estigmatizado e mitificado por Tarzan, protagonizou 18 livros, escritos
entre os anos de 1912 e 1965, e 50 filmes, a partir do ano de 1918 até 2016; foram
produzidos, histórias em quadrinhos, programas de rádio, séries para a televisão e
artigos diversos em revistas e jornais.
De acordo com Santos (2017), a arte sequencial, a qualidade artística das HQs,
aventura na narrativa, heroísmo, ótima aceitação, despertar do interesse dos países de
primeiro mundo, e a descrição exótica do continente africano capaz de ativar e inflamar
a imaginação de escritores e leitores, são as características responsáveis pelo
esplendoroso sucesso da produção de Tarzan e leva Burroughs a ser considerado o
maior escritor norte americano vivo, conforme Santos:
Em maio de 1939, a revista Saturday Evening Post convidou o jornalista e
vencedor do Pulitzer, Alva Johnston, a eleger o maior escritor norte-americano
vivo. A decisão deveria basear-se em três aspectos: o número de leitores do
autor, seu sucesso em estabelecer um personagem na consciência mundial e a
possibilidade de ser lido pela posteridade. Segundo Johnston, Edgar Rice
Burroughs (1875-1950) poderia reivindicar o título, já que “nenhuma criação
literária desse século possui um séquito tão grande quanto Tarzan”. (SANTOS
2017)
Desta forma, Tarzan se torna um fenômeno mundial, porque foi com este
personagem que, muitas pessoas tiveram o primeiro contato com as HQs, o cinema e a
tv, que as acompanhou vida afora, retroalimentando o fascínio pela novidade da mídia
como também do personagem. Então Tarzan não se constitui simplesmente um ídolo,
mas o ídolo de gerações no decorrer de um século, que carrega em seu nome, múltiplas
representações.
Este foi inspirado na literatura romanesca colonialista. As fontes de inspiração
reconhecíveis para compor as características do personagem e espaço, que acontece o
enredo, são o mito romano de Rômulo e Remo, o Livro da Selva e As Minas do Rei
Salomão, passando por relatos da África colonial do fim do século XIX.
As fontes de inspiração reconhecíveis na história mais famosa de
Burroughs são muitas: de Rômulo e Remo ao Mogli de O livro da selva, de
Rusyard Kpling, passando por relatos da África colonial do final do século XIX,
como As minas de Salomão, de H. Rider Haggard. Considerada a primeira
aventura africana publicada em inglês, o livro de Haggard teria sido um dos
grandes motivos que levaram Burroughs a escrever Tarzan, o filho das selvas.
Existem ainda os que veem um possível encontro entre o conto de fadas “a bela
e a fera” e a peça Romeu e Julieta no conturbado amor de Tarzan e Jane.
(BURROUGHS 2014, p. 13).
...um modelo que domina o nosso pensamento e devido à sua projeção a nível
mundial através da expansão do capitalismo e do fenômeno colonial, ele marca
a cultura contemporânea, impondo-se como um modelo fortemente
condicionado para alguns que obrigou a aculturação de outros ( SACHES,
1971, p.22; citado por BIGO, 1974, p. 23, nº 3 in MUNDIBE 1989 p. 18).
Neste contexto, o meu argumento é que até à data as formas como estes
sistemas de pensamento tem sido analisados e os conceitos que tem sido
utilizados para explicar estão relacionados com teorias e métodos cujas
restrições regras e sistemas de operação pressupõe uma legitimidade
epistemológica não-africana (MUDIMBE 1989, pp. 10-11).
Esses desvirtuamentos levaram à criação de ciências como a antropologia, e a
egiptologia, a distorções na filosofia, biologia e outras ciências, sem precedentes e com
erros irreparáveis. Todo esse empreendimento com o intuito de explorar, diferenciar,
controlar e discriminar os povos ditos exóticos, instala o que Lévi-Strauss in Mudimbe
(1989) intitula de etnocentrismo cultural.
“Civilização” hereditária. Com apenas o contato com alguns livros que seus pais
trouxeram, Tarzan consegue se auto alfabetizar e cobrir sua nudez com roupas, também
aprendido pelos livros.
E dessa forma ele progrediu bem devagar, pois era uma tarefa
difícil e laboriosa a que se propusera, mesmo não sabendo disso- uma
tarefa que poderia parecer impossível para mim ou para você -, aprender
a ler sem ter o menor conhecimento sobre as letras ou a linguagem
escrita, e o pior: sem ter a menor ideia que tais coisas existiam.
(BURROUGHS 2014 p. 86).
O continente africano enquanto imensa floresta. Na narrativa que é
contemporânea à escrita do romance, no auge da colonização do continente. Muitas
cidades construídas desde a antiguidade e muitas outras em andamento devido à
colonização, em pleno estágio de urbanização. Tarzan em suas andanças encontra tribos,
mas não encontra uma cidade sequer. O continente é visto em toda a sua produção como
uma contínua floresta. Com todas as características que uma floresta tem, no entanto,
com representações de desmerecimento. “Mas foi uma misericordiosa Providência
quem o impediu de vislumbrar a horrenda realidade que os aguardava nas sinistras
profundezas daquela floresta sóbria. (BURROUGHS 1912-2014 p. 39). A floresta que é
para os povos africanos considerada como local sagrado, que abriga “o Baobá”, agora é
uma ininterrupta selva, ringue de lutas do personagem Tarzan, e submissa a ele porque
nunca o vencerá.
Considerações finais
O cinema que já em sua origem tem caráter colonialista, torna-se mais sutil e
ganha força com o personagem Tarzan. Ao tempo em que passa a disseminar outras
ideologias como neoliberalismo, globalização e a manipular as massas, os proletariados,
reforça a manutenção da hegemonia americana.
Referencias
BURROUGHS, Edgar Rice. Tarzan o filho das selvas. Nova York: A Signet Classic,
1990.
http://tvbrasil.ebc.com.br/entreoceueaterra/episodio/espacos-sagrados Roteiro:
RICIERI, LAZARINI e DOTTORI, Thiago. Espaços Sagrados - Os significados dos
locais de cultos - Entre o Céu e a Terra. No AR em 17/07/2016 - 17:00.