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Fatos e Documentos Do Ceará Provincial
Fatos e Documentos Do Ceará Provincial
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José
Saraiva Câ
BIBLIOTECA DE CULTURA
Série B - Estudos e Pesquisas
Volume 2
1 1
FORTALEZA
Em preparo:
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6
Eleições Senatoriais no Ceará Provincial
(8) Foram êstes: Pedro José da Costa Barros, padre Antônio José
Moreira, padre Manuel Felipe Gonçalves, Manuel do Nascimento
Castro e Silva e José Inácio Gomes Parente. José Martiniano de
Alencar ficou na l.ª suplência, mas a desistência de Gomes Parente
deu-lhe assento na representação.
A eleição de eleitores paroquiais teve luga.r a 9 de julho de 1821.
:ttstes elegeram os eleitores votantes: 9 pela comarca do Ceará e 6
pela comarca do Crato.
t9) CATUNDA, J. - Estudos de história do Ceará. Fortaleza,
1919. p. 95.
160 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA
* * *
A 7 de abril de 1831 Pedro I abdicava do trono do Brasil,
e a 13 do mesmo mês deixava o país a bordo da fragata
inglêsa Volage.
Dentre os poucos fiéis vassalos que o acompanhavam,
encontrava-se João Carlos Augusto de Oyenhausen e Gre-
venburg, Marquês de Aracati e senador pelo Ceará.
Renunciando, com o seu gesto, à cidadania brasileira para
reobter, mais tarde, a cidadania portuguêsa, Oyenhausen fica-
va, ipso facto, privado do seu lugar no parlamento brasileiro.
Em 12 de maio de 1831 o Senado decidiu pela vacância
de sua cadeira, que não chegara a ser ocupada por um ano.
O fato iria implicar na eleição de uma lista tríplice no
Ceará e, realmente, o pleito realizou-se em fins daquele ano,
com a província, desde 15 de outubro de 1828, dividida em
8 distritos eleitorais pelo então presidente Nunes Berford.
Esta eleição é que levaria ao Senado a figura marcante e
controvertida de um cearense que ficaria conhecido na his-
tória nacional como o senador Alencar.
Para o preenchimento da vaga do Marquês de Aracati,
dois nomes destacavam-se no cenário político cearense como
particularmente credenciados - os deputados Manuel do
Nascimento Castro e Silva e José Martiniano de Alencar.
Ninguém na província poderia suplantá-los em prestígio
Paço do Senado, 22 de setembro de 1835 - Conde de Lajes."
b) "A Assembléia Legislativa resolve:
Art. 1.0 - O govêrno fica autorizado a conferir a. insígnia de
Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro a Lourenço Justiniano
Jardim, comandante da barca Maria Adelaide, expedindo-se gratis o
competente diploma, e declarando-se ser um testemunho do agrade-
cimento nacional, por ser o graciado o primeiro engajador que, em
maior escala, importou braços livres no Brasil.
Art. 2. 0 - Fica sem vigor a legislação em contrário.
Paço do Senado, 22 de setembro de 1835. - Conde de Lajes."
a) Requerimento - Requeiro que o Senado convide a que preste
a sua eficaz cooperação de acôrdo com o Tutor de S. M. o Imperador,
a darem as necessárias providências afim de excluir com a brevidade
possível os escravos do serviço do Paço Imperial e suas dependências;
assim como dos estabelecimentos rurais de propriedade da Fazenda
Imperial, para serem substituídos por pessoas livres.
Paço do Senado, 22 de setembro de 1835 - Conde de Lajes."
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 181
* * *
Em 20 de outubro de 1839 abria-se uma vaga na repre-
sentação cearense no Senado com o falecimento, no Rio de
Janeiro, de Pedro José da Costa Barros.
Já então eram diversos e marcantes os novos aspectos de
panorama político do Império.
Nas províncias, por fôrça do Ato Adicional de 1834, fun-
cionavam as Assembléias Provinciais, cabendo à do Ceará 28
deputados.
Os dois grandes partidos nacionais - o Conservador e
o Liberal-, já se firmavam na sua atividade e no consenso
geral da Nação. Afirma Joaquim Nabuco que é a partir da
legislatura de 1838 que se deve considerar a existência de fato
e o amplo funcionamento das duas agremiações políticas. E
não discrepava muito dessa data o Barão do Rio Branco
quando escrevia que, depois de 1836, a história política do
Brasil se resume na luta dos partidos Conservador e Liberal.
Caranguejos e chimangos eram, preferentemente, os
nomes respectivos com que, na época, se apelidavam os filia-
dos àquelas facções políticas. (53)
No Ceará, a vitória de Alencar sôbre Nascimento, na
eleição senatorial, paradoxalmente ensejou a aproximação
dos dois líderes, e esta mais se consolidou quando o primeiro
se empossou na presidência da província, em 6 de outubro
* * *
Pouco mais de cinco meses após a posse do futuro
Marquês de Abrantes, falecia no Rio de Janeiro, em 4 de de-
zembro de 1840, João Antônio Rodrigues de Carvalho, o único
sobrevivente dos quatro primeiros senadores do Ceará.
Com o golpe de Estado da Maioridade, de que fôra um dos
principais arquitetos o senador Alencar, voltara já a pro-
víncia para o domínio dos chimangos, e era o próprio Alencar
quem estava, de nôvo, à frente dos seus destinos.
A oposição que logo se alinhou contra êle, foi tremenda,
não hesitando os caranguejos em recorrer à luta armada,
como aconteceu em Sobral, onde o conflito ia custando a vida
do próprio presidente, que ali se encontrava.
Opondo à ação dos adversários uma reação igual, Alencar
não mediu meios para pôr têrmo à desordem e esmagar
politicamente o partido contrário.
Pela Lei Provincial n.º 220, de 29 de dezembro de 40,
(73) NOGUEIRA, Paulino - Op. cit., p. 11.
(74) OLIVEIRA VIANA, F. J. - Instituições Políticas Brasileiras
- Rio de Janeiro, J. Olympio, 1955. l.º Volume, p. 367.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 197
* * *
A cadeira senatorial de Nascimento, a mais recentemente
preenchida, seria a primeira a abrir nova vaga. De fato, a 23
de outubro de 1846 falecia no Rio de Janeiro o senador cea-
rense, e, menos de seis meses depois, em 1. 0 de abril de 1847,
morria ali também o antigo Conde, agora Marquês de Lajes.
"Os dois espólios, no dizer de João Brígida, iam formar
o mesmo monte partível." (85)
As duas vagas da representação cearense no Senado iam,
pela primeira vez no Ceará, ser preenchidas à base de uma
eleição de lista sêxtupla.
No plano nacional comandavam os liberais e, em con-
seqüência, dominava ponticamente a província a facção
chimanga, incondicionalmente submissa à orientação do se-
nador José Martiniano de Alencar.
Inácio Correia de Vasconcelos havia já deixado o govêrno
provincial, e seu substituto, Casemiro José de Moraes Sar-
mento, ainda não assumira a presidência. Governava o Ceará,
quando das eleições, o vice-presidente, bacharel Frederico
Augusto Pamplona. (86)
Era êste um chimango de quatro costados. Como deputado
provincial combatera os desmandos políticos da administra-
ção Sousa Martins, fôra secretário da presidência no govêrno
de Alencar, e com o padre Tomás Pompeu, futuro senador,
fundara o O Cearense, o órgão liberal da província, cujo
primeiro número circulou no dia 4 de outubro de 1846.
Era homem de confiança do senador Alencar, e em 1840
publicara uma Ode louvaminheira ao seu mentor político,
obra de muito incenso e pouco mérito. (87)
Estava, portanto, Alencar em excelentes condições para
dar ao pleito o rumo que lhe conviesse.
(89) BRíGIDO, J. - Eleições Senatoríais, p. 22.
(86) Há equívoco do Barão de Studart no seu Dicionário Bio-Bi-
bliográfico, vol. II, verbete relativo a Pamplona, quando diz que êste
substituiu o presidente Casemiro Sarmento. Pamplona assumiu o
govêrno em 31 de agôsto de 1847, e a posse de Sarmento foi em 4 de
outubro do mesmo ano. Ver sôbre o assunto o documentado trabalho
do Barão Homem de Mello publicado na Revista do Instituto do Ceará,
Tomo IX, 1895.
(87) Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza. Tomo XVI, 1902.
202 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA
* * *
Em 15 de março de 1860, vítima de uma febre persistente,
talvez uma infecção tifóide, falecia no Rio de Janeiro, aos
65 anos, o senador José Martiniano de Alencar.
No silêncio do túmulo aguarda ainda a palavra de um
biógrafo quem em sua existência condensou quase meio
século de história do Ceará.
O julgamento da posteridade talvez não lhe seja favo-
rável, mas só uma intensa pesquisa documental e uma desa-
paixonada análise poderão concluir se do somatório de seus
méritos e deméritos vai surgir uma resultante positiva.
(102) Apud Lyra, Heitor - História de Dom Pedro II. São Paulo,
Brasiliana, 1939. Vol. 2. 0 , p. 512.
(103) CAMARA, José Aurélio Saraiva - Pluralismo partidário.
Unitário, Fortaleza, 24 jul. 1955.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 213
* * *
Ainda não serenara a agitação que a eleição anterior
provocara na província e já o meio político era tumultuado
com um nôvo pleito.
Miguel Fernandes Vieira, que mal ensarilhara as armas
de uma campanha que, se lhe não dera a vitória, oferecera, no
entanto, uma comprovação da sua fôrça político-eleitoral, de
nôvo se apresenta como o candidato mais forte.
Novamente Otaviano, preocupado com a importância da
eleição para a política liberal, faz sugestões acêrca da conduta
dos correligionários cearenses.
Em 24 de julho de 1861, assim se dirige ao padre Pompeu,
chefe indiscutido dos liberais da província:
"Com o falecimento do Machado, têm os liberais daí de pensa-
rem sôbre a organização de sua lista tríplice. Me parece q. as
mesmas razões pelas quais adotaram vocês o Machado militam para
adotarem o Figueira. Aqui tem-se feito grande intriga contra êle
alegando-se que deu provimento aos recursos eleitorais dos liberais;
é pois mto. natural que os liberais o auxiliem. Eu tenho interêsse
pelo Figueira, que foi sempre meu companheiro benévolo e bom
camarada. Além disto a entrada dêle na lista liberal não prejudica
* * *
A vaga senatorial que se abria com a morte de Miguel
Fernandes Vieira ia abrir caminho à Câmara vitalícia da
maior figura que o Ceará mandou ao Senado do Império:
o padre Tomás Pompeu de Souza Brasil.
Era grande pelo intrínseco valor pessoal, e êsse valor ele
o dedicou todo à província e à Nação, de modo expressivo, nos
treze anos que durou seu mandato de senador, e, no plano in-
telectual, já antes dêle.
Nascera em Santa Quitéria, então simples povoação da
freguesia de Sobral, em 6 de junho de 1818.
Ligava-se, pelo sangue paterno, a dois mártires das idéias
liberais no nordeste brasileiro - os padres Miguelinho e
Moro ró.
Em 1841 ordenou-se em Olinda, e dois anos depois ali
também se formava em Direito.
No Ceará, para onde logo retornou, cedo pôs sua inteli-
gência e devotamento a serviço da instrução pública. Foi o
primeiro diretor do Liceu do Ceará, criado pela Lei Provincial
n. 0 304 de 15 de junho de 1844.
Nesse estabelecimento lecionou História e Geografia, e
nesta matéria não tardou a tornar-se uma sumidade nacional.
Em certa época chegou a ser considerado o maior geógrafo
brasileiro. Assim o afirmava, entre outros, o douto Cândido
Mendes de Almeida.
Um seu Compêndio de Geografia, de 536 páginas, publi-
cado em Fortaleza em 1856, foi oficialmente adotado no Im-
perial Colégio de Pedro II e em todos os liceus e seminários
do Império. Era obra de um professor de trinta e poucos anos.
Publicou, além dêsse, sete outros livros de grande valor, todos
versando preferentemente sôbre aquelas duas ciências.
"Aos estudiosos dos problemas do Ceará e do Nordeste,
alguns ainda hoje insolúveis e desafiantes, admira a orienta-
216 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA
Capital 46 24 58
Maranguape 28 28 28
Aquirás 17 1 23
Cascavel 21 5 21
Aracati 66 66 5
Russas 31 17 33
Baturité 28 25 28
S. Francisco 7 9 26
Sobral 10 40 13
Ipu 22 12 13
Pereira 12 2 12
Viçosa 22 o 17
Granja 28 19 20
Acaracu 6 5 11
Imperatriz 10 47 o
Canindé 9 18 18
Quixeramobim 48 48 6 (118)
Cachoeira 19 7 14
Maria Pereira 12 o 13
Tauá 21 43 4
Saboeiro 11 5 16
Lavras 27 24 25
Icó 20 14 7
--
(118) O mapa da apuração final, publicado no O Cearense de 27
de fevereiro de 1863, dá como resultados de Quixeramobim 47 votos
para Figueira e Pompeu, e apenas 2 para Jaguaribe. Na edição de 6
de março seguinte, o mesmo jornal retifica a apuração daquele colégi9
apresentando os dados que aqui figuram.
FATOS E DocuMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 223
Telha 40 40 15
Barbalha 30 29 40
Crato 20 28 16
Milagres 23 6 23
Jardim 40 40 40
Total 674 602 545 (119)
(140) Idem.
(141) Idem, p. 165.
042) Idem, p. 164.
238 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA
* * *
Em 2 de setembro de 1877, quando a província cearense
se contorcia nas convulsões da maior sêca de sua história,
falecia em Fortaleza, aos 59 anos de idade, a mais brilhante
figura que o Ceará mandou ao Senado do Império: o senador
Tomás Pompeu de Souza Brasil.
Consideradas as condições excepcionais que atravessava
o Ceará, deliberaram os podêres competentes adiar o preen-
chimento da vaga para os fins do ano seguinte, na esperança
de que houvesse cessado o flagelo e surgissem condições
normais para a realização do pleito. 084)
Mas a 10 de agôsto de 1878 falecia também o senador
Jerônimo Martiniano Figueira de Melo, o que elevava para
duas as vagas do Ceará no Senado e impunha agora a eleição
de uma lista sêxtupla.
Um nôvo Decreto, com o n.º 2 945, de 25 de junho daquele
ano, revogou o anterior que adiara a eleição. Foi marcado o
dia 23 de outubro para o pleito, e o govêrno provincial, em
circular de 13 de setembro de 1878, determinou às câmaras
municipais que naquelas eleições votassem os colégios em lista
sêxtupla. 085)
(184) O adiamento foi determinado pelo Decreto n.º 6 755 de
24.XI.1877.
ll85) O Cearense de 8 de maio de 1879.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 263
* * *
Em 1878, após dez anos de ostracismo, iniciados em 16
de julho de 1868 com o gabinete conservador do Visconde de
Itaboraí, os liberais haviam voltado ao poder com o Visconde
de Sinimbu à frente do govêrno.
A nova situação ia encontrar os liberais cearenses des-
falcados da sua figura mais expressiva, o homem que por
várias décadas fôra o chefe inconteste do partido no Ceará:
o senador Tomás Pompeu, falecido no dia 2 de setembro do
ano anterior.
Entre Pompeu e Sinimbu estabelecera-se uma amizade
franca e cordial que perdurou enquanto viveu o primeiro.
Basta ler a extensa correspondência que trocaram sôbre os
(189) Idem, p. 4.
266 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA
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3 - Colégio da Cachoeira