Você está na página 1de 164

"


'
José
Saraiva Câ
BIBLIOTECA DE CULTURA
Série B - Estudos e Pesquisas
Volume 2

JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CAMARA

1 1

FORTALEZA

IMPRENSA UNIVERSITARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL


DO CEARA - 1970
Do Autor:

ASPECTOS DO DOMÍNIO HOLANDÊS NO CEARA - Separata da


Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza, 1956, 32 pgs.

UM ASPECTO DA TRADIÇAO MILITAR CEARENSE - Separata da


Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza, 1959, 64 pgs.

CORRESPONDÊNCIA DO SENADOR POMPEU - Organizada, prefa-


ciada e anotada por José Aurélio Saraiva Câmara, Fortaleza,
1960, 260 pgs.

O TEMPO E OS HOMENS - Fortaleza, 1967, 300 pgs.

FONTES CEARENSES DE EUCLIDES DA CUNHA - Separata da re-


vista Aspectos da Secretaria de Cultura do Ceará, Fortaleza, 1967,
24 pgs.

CAPISTRANO DE ABREU - Coleção Documentos Brasileiros - Li-


vraria José Olympio Editôra (Prêmio Otávio Tarquínio de Sousa),
Rio de Janeiro, 1969, 234 pgs.

Em preparo:

UM GENERAL CEARENSE - Antônio Tibúrcio Ferreira de Sousa.

DOS

M
L w. -~--- ''"'""""'""'- ~~ ~ * n; !t ç w~;J
6
Eleições Senatoriais no Ceará Provincial

"Confesso-lhe que cada vez mais me entristeço e


me envergonho do que têm sido, e serão ainda por
muito tempo, adotem-se as medidas que se adota-
rem, se não se corrigirem os costumes políticos, as
eleições entre nós."

Carta de Pedro II ao Visconde do Rio Branco, de 24-4-1875 -


Arquivo do Itamarati.
Pela Constituição de 25 de março de 1824, que não foi
gerada no ventre de uma Assembléia Constituinte, (1) mas
elaborada pelo Conselho de Estado e promulgada pelo Im-
perador por pretendida solicitação dos "povos dêste Império
juntos em câmaras'', como se lê no seu preâmbulo, por aquela
Constituição o Senado era composto de membros vitalícios e
organizado por eleição provincial (Capítulo III, Art. 40).
Determinava ainda a Carta Magna que cada província
daria um número de senadores igual à metade do número de
deputados, e que só poderia integrar o Senado quem satisfi-
zesse as quatro seguintes condições:

a) ser cidadão brasileiro no gôzo de seus direitos políticos;


b) ter, no mínimo, 40 anos de idade;
c) ser elemento de reconhecido saber, capacidade e vir-
tudes e, de preferência, com serviços prestados à
Pátria;
d) ter renda anual superior a 800$000.

Como ao Ceará era atribuído um total de 8 represen-


tantes na câmara baixa do Império - número só ultrapassado
pelas bancadas de Minas, Bahia, Pernambuco e São Paulo-,
nunca teria êle mais de 4 senadores, enquanto Minas Gerais,
por exemplo, tinha 10, visto como sempre contou com 20
deputados gerais.
(1) Como é sabido, a Constituinte de 1823 foi dissolvida por Pedro
I em 12 de novembro daquele ano.
156 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

O Senado do Império começou com 50 senadores e chegou


ao máximo de 60, quando a Monarquia era extinta em 1889.
Na opinião de quem muito estudou o mecanismo das
instituições políticas do Brasil imperial, era "o Senado uma
instituição profundamente original, e que singularizava a
Constituição Brasileira aos olhos do mundo". (2) De fato,
nenhuma outra Constituição na época admitia um Senado
vitalício. Outras particularidades ainda o caracterizariam.
"O Senado possuía funções específicas. Era o tribunal
que conhecia os delitos individuais dos membros da Família
Imperial, de ministros, conselheiros, senadores, deputados
durante a legislatura etc. Além disto, competia-lhe expedir
cartas de convocação da Assembléia se o Imperador não o
providenciasse, assim como as ordens para eleição do Regente
se o regente provisório não o fizesse. Finalmente, era vedado
ao Senado reunir-se quando a Câmara dos Deputados esti-
vesse de portas fechadas." (3)
Os senadores, nas respectivas províncias, eram eleitos
em lista tríplice, nas quais o Imperador escolhia um.
No Império as eleições precederam a Constituição, e os
deputados à Constituinte de 1823 foram eleitos segundo ins-
truções especiais datadas de 19 de junho de 1822.
Teàricamente o processamento das eleições se vinculava
às atividades partidárias, mas nos anos que se seguiram ime-
diatamente à Independência era fraca e indecisa a caracte-
rização dos partidos, quer quanto às suas normas de ação
política, quer em relação à própria organização interna.
A gênese dos partidos políticos do Império vai situar-se
na revolução de 7 de abril de 1831, na qual Joaquim Nabuco
via "um desquite amigável entre o Imperador e a Nação". (4!
(2) TORRES, João Camilo de Oliveira - A Democracia co-
roada. Rio de Janeiro, J. Olympio, 1957. p. 121 (Coleção Documentos
Brasileiros) .
(3) Idem, p. 127.
(4) NABUCO, Joaquim - Um Estadista do império. São Paulo,
Instituto Progresso, 1949. Vol. I. p. 25.
"Os partidos políticos no Brasil datavam da Regência, porque
antes, durante o reinado de Pedro I, houve espíritos amantes da
liberdade e espíritos amantes da ordem, virtualmente avançados e
moderados, constitucionais, reacionários e republicanos, mas o Sobe-
rano fazia as vêzes de eixo do Esta.do." - OLIVEIRA LIMA, Manuel
- O Império brasileiro. São Paulo, Melhoramentos. p. 41.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 157

Até então a atividade política nacional, num país que


contava com pouco mais de oito anos de vida independente,
desenvolvia-se à base de opiniões divergentes, de grupos e
indivíduos, que se fundamentavam num conservadorismo
partidarista do Trono ou num liberalismo nacionalista e
exaltado.
A Abdicação de Pedro I veio propiciar a fixação de novos
rumos a estas correntes dispersas de opinião.
O contingente dos exaltados, que se compunha dos incon-
formados de tôdas as épocas, dos republicanos e revolucio-
nários, muitos egressos do cárcere, sobreviventes do patíbulo
e dos pelotões de fuzilamento de 1817 e 1825, deu origem a
uma agremiação que seria o Partido Liberal; os moderados,
fiéis seguidores da causa monárquica e adeptos da Consti-
tuição, iriam gerar o Partido Conservador, seguro ancora-
douro onde, por mais de meio século, se abrigou a nau do
Império.
De 1831a1834, quando faleceu Pedro I, também floresceu
o famoso Partido Caramuru, grupamento dos reacionários do
7 de abril, partidários convictos da volta do primeiro Im~
perador.
Se era êste o quadro que se desenhava em escala nacional,
nas províncias os conflitos de interêsses imediatos e o acir-
ramento dos ânimos haveriam de imprimir uma maior ca-
racterização, se não política mas pelo menos temperamental,
às agremiações partidárias.
Na opinião de João Brígida, o primeiro ajuntamente
político-partidário de que há notícia no Ceará terá sido "o
que surgiu em 1817 com a revolta de Pernambuco e procla-
mou a república no Crato". (5)
Segundo o mesmo autor, pertencer a um partido político
era, então, má recomendação, sintoma de cumplicidade
subversiva contra a administração reinol.
"A expressão partido figurava nas devassas como signi-
ficativo de resistência, motim, turbulência etc. e não estava

(5) BRíGIDO, J. - Miscelânea histórica ou Coleção de diversos


escritos. Fortaleza, Tip. Universal, 1889. p. 89.
158 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

em muita segurança quem era acusado de andar em


partidos." (6)
Há, sem dúvida, excesso de imaginação no considerar-se
um partido político o ínfimo e glorioso contingente que, em
abril de 1817, arvorou no Crato a bandeira republicana.
Somavam uma vintena ou pouco mais os que, sob a orien-
tação exaltada do diácono de Olinda, José Martiniano de
Alencar, participaram efetivamente, por palavras e atos, do
movimento de rebeldia ao Trono. E mesmo a êstes, mais deve
ter impressionado a pregação apaixonada de Alencar que o
vago e distante rumor das doutrinas liberais. Não se pode
enquadrá-los sob o rótulo comum de partido político.
As próprias discutíveis adesões que teriam os revolucio-
nários cratenses obtido no resto da capitania, partiram, se-
gundo João Brígido, de anti-realistas que "em verdade não
passavam de inimigos pessoais de algumas autoridades". í7)
Eram, portanto, mais unidos e ativados pelo ódio comum
que por uma remota e, talvez, incompreendida ideologia
política.
O que não padece dúvida, entretanto, é que a partir
daquela época as correntes de opinião política bipartiram-se
na capitania: há os realistas, que se nucleiam em tôrno dos
delegados do rei, que os seguem e os aplaudem; há a oposição,
velada ou ostensiva, que vai manifestar seu inconformismo
pelas armas ou pelas urnas, segundo o permitem as cir-
cunstâncias.
Em 1820 a agitação liberal que tem lugar no Pôrto e em
Lisboa, - reflexo da Revolução Francesa com 30 anos de
atraso-, vai provocar a convocação das Côrtes, pela última
vez reunidas em 1698.
A 7 de março de 1821 ordena D. João VI que se procedam,
tanto na metrópole como no Brasil, às eleições de deputados
às Côrtes Portuguêsas. À falta de melhor sistemática, adotou-
-se o processo eleitoral da Constituição espanhola, com a
eleição em diferentes graus.

(6) Idem, p. 83.


(7) Idem, p. 86.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 159

Seriam eleitos 70 representantes do Brasil, entre os quais


5 do Ceará. (8)
Já então era grande a efervescência que na capitania
cearense provocara o movimento constitucionalista de Por-
tugal. Uma onda de liberalismo pairava no ar e irradiava do
litoral para os sertões, insinuando agitações e promessas de
vindita.
É admirável a constatação que, numa perspectiva de
século e meio, podemos hoje fazer de quanto estava, então, o
Ceará preparado para as manifestações políticas e militares
do seu inconformismo ante o absolutismo reinol. E, sobretudo,
de quanto era forte e arraigado êste inconformismo, predo-
minante no interior, onde o elemento nacionalista superava
largamente, em número e ousadia, a minoria lusa que osten-
tava seu poder em duas ou três vilas da capitania, a começar
por Fortaleza.
Ao findar a segunda década do século XIX já se vai afir-
mando, de modo inequívoco, aquilo que Joakim Catuncla
agudamente vislumbrava como o traço dominante da atitude
da nossa gente naquela centúria, isto é, "a luta do espírito
pela liberdade", quando, então, "o cearense agita, pôsto que
ainda muito à superfície, os grandes problemas da política,
cogita da felicidade e futura grandeza da Pátria e se santifica
pelo martírio". (9)
No elemento português, ligado quase sempre ao comércio,
habitando apenas os principais aglomerados urbanos da capi-
tania, notadamente Fortaleza e Icó, é que se concentravam,
principalmente, o conservadorismo e fidelidade à prepotência
da metrópole.
Os elementos nativos, vinculados à agricultura e à pe-
cuária do latifúndio sesmeiro, disseminados pelos sertões, é

(8) Foram êstes: Pedro José da Costa Barros, padre Antônio José
Moreira, padre Manuel Felipe Gonçalves, Manuel do Nascimento
Castro e Silva e José Inácio Gomes Parente. José Martiniano de
Alencar ficou na l.ª suplência, mas a desistência de Gomes Parente
deu-lhe assento na representação.
A eleição de eleitores paroquiais teve luga.r a 9 de julho de 1821.
:ttstes elegeram os eleitores votantes: 9 pela comarca do Ceará e 6
pela comarca do Crato.
t9) CATUNDA, J. - Estudos de história do Ceará. Fortaleza,
1919. p. 95.
160 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

que vão representar a fôrça revolucionária que se vai opor,


inclusive pela pressão armada, à permanência dos interêsses
políticos da Coroa na vida administrativa da capitania.
Já compreendera Martius, citado por Capistrano de
Abreu, que "o espírito da liberdade fôra o propulsor do povoa-
mento dos sertões do Norte, ao contrário dos do Sul, em que
a ambição do lucro foi a grande alavanca". OOl E foi o próprio
Capistrano quem afirmou que no movimento da Confederação
do Equador "o sertão investiu contra o litoral chegando a
dominá-lo", embora reconhecendo que "o litoral resistiu ao
sertão e por fim domou-o". (lll
Naqueles dias turbulentos, os fatos caracterizariam bem
a antinomia entre o elemento agrário sertanejo, nacionalista
e cearense, e o elemento citadino, em boa parte alienígena
pelo sangue e pelas idéias.
Em 29 de setembro de 1821, um decreto das Côrtes Cons-
tituintes de Lisboa criava "em cada província do Brasil uma
Junta provisória de Govêrno e um comando militar inde-
pendente". 02l
Em Fortaleza procedeu-se à eleição daquela Junta em
15 de janeiro de 1822. Dos cinco eleitos, um era magistrado,
um padre, dois comerciantes e um fazendeiro, mas todos in-
tegralmente vinculados aos interêsses portuguêses.
Empossada em 17 de fevereiro, a agitação que lavrava
no interior não lhe deu vida longa. Aquela Junta surgia como
um corpo estranho na atmosfera nacionalista e revolta do
Ceará. E em 16 de outubro o colégio eleitoral do Icó elegeu
nôvo govêrno, totalmente brasileiro e liberal, constituído de
elementos representativos da aristocracia agrária do interior.
Foram eleitos para a nova Junta, que recebeu o nome
de Govêrno Temporário, José Pereira Filgueiras, do Crato
(presidente), vigário Antônio Manoel de Sousa, do Jardim,
José Joaquim Xavier Sobreira, de Lavras, tenente-coronel

(10) CAPISTRANO DE ABREU, J. - Caminhos antigos e povoa-


mento do Brasil. Rio de Ja.neiro, Sociedade Capistrano de Abreu,
1930. p. 228.
(11) Idem, p. 231.
02) RIO BRANCO, José Maria da Silva Paranhos, barão do -
Efemérides brasileiras. Rio de Janeiro, Ministério das Relações Ex-
ter1ores, 1940. p. 460.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 161

Antônio Bezerra de Sousa Menezes, do Icó, Francisco Fernan-·


des Vieira, de São Mateus, e Joaquim Felício Pinto de Almeida
e Castro, de Quixeramobim. Todos homens do campo, agri-
cultores e criadores.
Quando se soube que Filgueiras, à frente do seu govêrno
e da sua tropa, marchava do Icó sôbre Fortaleza, a Junta go-
vernativa, que se instalara nesta cidade, demitiu-se ante a
impossibilidade da reação.
Era o predomínio da corrente nacionalista e liberal e era,
também, o elemento agrário elevado a centro de decisão dos
fatos políticos.
Já anteriormente, porém, quando das eleições para as
Côrtes Portuguêsas, verifica-se uma atenuação de antago-
nismos ante as medidas liberais consubstanciadas na reali-
zação daquele pleito.
Para fins eleitorais deu-se a fusão dos remanescentes dos
republicanos de 1817 e seus simpatizantes com os constitu-
cionais, assim chamados os realistas moderados, dispostos a
aceitar uma Constituição que se iria elaborar com a anuência,
embora forçada, do Trono.
Narra João Brígido, sempre pródigo na atribuição do
nome de partido a tais ajuntamentos, que o chefe do "partido
constitucionalista" era o ouvidor interino da recém-criada
comarca do Crato, 03l José Raimundo do Paço de Porbém
Barbosa.
Segundo o mesmo autor, eram os principais integrantes
daquela facção "os militares acantonados na capital; as auto-
ridades e empregados públicos, que viam luzir na nova ordem
de coisas uma esperança de honras, posições e fortuna; o major
Francisco Xavier Torres, chefe da fôrça pública; os ouvidores
Lago e Leal, o vigário Moreira da capital, Mariano Gomes,
Brício e os negociantes portuguêses Machado, Dourado e
Agrela, parte dos quais se colocou ao lado desta boa causa
somente porque D. João VI lhe tinha dado o caráter de legí-
tima, convindo na futura Constituição e mandando fazer, no
Brasil, eleição para o congresso de Lisboa". 04)

(13) A Comarca de Crato foi criada por Alvará Régio de 27 de


junho de 1816.
(14) BRíGIDO, J. - Op. cit., p. 88.
162 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Os que discreta ou publicamente se haviam acumpliciado


com o movimento de 1817, até então o mais decisivo divisor
de águas, Alencar à frente, vendo na crescente maré liberal
- eleições, funcionamento das Côrtes, advento de uma Cons-
tituição, alargamento de direitos -, a marcha para a con-
cretização, mesmo parcial, daquilo por que haviam suspirado,
lutado ou sofrido, engrossaram a corrente dos constitucionais.
No cenário político do Ceará, pela vez primeira e talvez
única, caracterizou-se a existência de uma só facção política,
pois em tôrno das eleições para as Côrtes conciliaram-se na
capitania as duas correntes antagônicas.
Embora fôsse visível o surto de liberalismo que inflamava
o Ceará, a máquina administrativa, em mãos dos delegados
da Coroa, foi influente no processamento do pleito. A par-
cialidade realista logrou ser majoritária no número de repre-
sentantes eleitos, e só por desistência de José Inácio Gomes
Parente pôde Martiniano de Alencar, o mais expressivo can-
didato liberal, participar da representação.
Com o 7 de Setembro renasceu a dualidade das facções
políticas.
Surgiram, então, os patriotas e os corcundas. :mstes, os
antigos realistas, agora na oposição graças à Independência,
mas sempre fazendo praça de sua devoção a Pedro I e res-
tringindo seu caráter oposicionista ao govêrno provincial;
aquêles, os antigos republicanos e opositores do passado.
A colônia lusa, numerosa, econômica e intelectualmente
mais representativa, formou, em prática unanimidade, nos
corcundas. Mais consolidou esta união e ativou a conduta que
assumiu, a agressiva hostilidade por parte dos liberais da
terra, muitos dos quais não controlavam sua exaltação e
violência. Em 14 de janeiro de 1824, por exemplo, os patriotas
do Icó trucidam naquela vila o português Nicolau José de
Melo, de que resultou serem presos e remetidos para o Crato,
a pretexto de garantia de vida, todos os seus compatriotas
ali residentes. 05)
Mas figuras de prol da província, brasileiros e cearenses,
também se aliaram aos corcundas, e entre êstes podemos citar
05) BRíGIDO, J. - Efemérides do Ceará. Revista do Instituto
do Ceará, Fortaleza, 14: 169-170, 1900.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 163

os membros da família Castro, com destaque na vida pública


cearense desde a administração de Manuel Inácio de Sampaio,
e de que era a figura mais expressiva Manoel do Nascimento
Castro e Silva, futuro constituinte, deputado geral, presidente
do Rio Grande do Norte, senador do Império e cinco vêzes
Ministro da Fazenda.
Integraram, por igual, aquelas hostes o capitão-mor d.e
Quixeramobim, José dos Santos Lessa, o padre Manoel Ribeiro
Bessa de Holanda Cavalcante, futuro deputado geral, Agos-
tinho José Tomás de Aquino, além de outras figuras de des-
taque da época. Não eram, no entanto, numerosos.
Os patriotas arregimentavam grandes nomes, como
Alencar, Mororó, o português Francisco Cardoso de Matos,
partícipe do levante de 1817 no Crato, Pereira Filgueiras,
Tristão Gonçalves, Pinto Madeira, Francisco Fernandes Viei-
ra, futuro Visconde do Icó e muitas outras expressões famosas
dos clãs latifundiários e aguerridos do Ceará oitocentista.
Como era de esperar, os elementos citadinos predomi-
navam na facção corcunda, enquanto a nobreza agrária, os
cabecilhas do interior e sua parentela, formavam no agrupa-
mento dos patriotas.
A diferenciação partidária entre as duas correntes mais
se caracterizaria com o movimento de 1824, cujos líderes cea-
renses iriam surgir, evidentemente, das hostes patriotas.
A partir de então, como inteligentemente escreveu João
Brígido, "os partidos do Ceará iam entrar numa fase nova.
Os patriotas tornar-se-iam decisivamente republicanos, os
corcundas exageradamente imperialistas. Tínhamos a revo-
lução em frente à legalidade". (16)
Não cabe aqui recordar as ardentes esperanças e os trá-
gicos insucessos do movimento da Confederação do Equador
no Ceará.
No que tange às repercussões no plano político, único
aspecto que nos interessa aqui considerar, pode-se afirmar que
com os fuzilamentos da Comissão Militar, a morte de Tristão
em Santa Rosa e a debandada dos apressados adesistas do

(16) BRíGIDO, J. - Miscelânea histórica, p. 92.


164 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

interior, a facção patriota eclipsou-se no firmamento político


da província.
Passou, então, o Ceará a viver os meses mais terríveis
da sua história.
1824 fôra ano de dramática efervescência revolucionária,
e o que o seguiu iria assinalar uma das maiores sêcas do nor-
deste brasileiro, quando, nos sertões cearenses, foi impressio-
nante a mortalidade de homens e animais.
A êste flagelo vieram juntar-se a peste, a guerra civil e
um intenso recrutamento militar.
Segundo provecto autor cearense, "o ano de 1824 legou
ao seu sucessor não só a escassez de inverno, já a penúria
e a desolação pela guerra civil e morticínio. O de 1825 começou
e continuou sob a influência da tríplice calamidade: sêca e
fome, guerra civil mais logo a peste da bexiga. Êste cortejo de
calamidades foi ainda agravado pelo recrutamento extenso e
horrível dos braços válidos restantes da província". (17)
E é ainda o mesmo autor quem conclui: "Estima-se em
um têrço da população a que morreu, quer de guerra, assassi-
natos, peste, fome e que emigrou ou foi recrutada." (18)
Em Fortaleza, vila recém-elevada a cidade, 09) capital
da província cearense, sediavam, na realidade, um govêrno
de direito e outro de fato.
Ao findar o ano de 1824, precisamente a 17 de dezembro,
reassumia a presidência do Ceará o tenente-coronel Pedro
José da Costa Barros que abandonara a província ante a
pressão dos acontecimentos do princípio do ano. A 13 de
Janeiro de 1825, tendo sido nomeado para o Maranhão, Costa
Barros passa o govêrno a quem, no seu próprio conceito, era
"um miserável, estúpido e nimiamente tímido" (20) - José
Felix de Azevedo e Sá, vil trânsfuga da Confederação do
Equador.
(17) BRASIL, Tomás Pompeu de Souza - O Ceará no comêço
do século XX. Fortaleza, 1909. p. 258.
(18) Idem.
(19) Fortaleza foi elevada a cidade com a denominação de For-
taleza de Nova Bragança, por Carta Imperial de 17 de março de 1823.
(20) Ofício de Costa Barros ao Ministro e Secretário de Estado
dos Negócios da Fazenda, Mariano José Pereira da Fonseca. Trans-
crito em: STUDART, Guilherme, barão de - Datas e fatos para a
história do Ceará. Fortaleza, 1896. 2. 0 vol. p. 33.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 165

Estava José Felix na presidência da província quando


aqui desembarcou, em princípios de 1825, o coronel Conrado
Jacob de Niemeyer, figura sinistra, tôrva sombra que por três
anos se projetaria, como uma nuvem de desgraças, sôbre o
povo cearense.
Por decreto de 16 de dezembro de 1824, fôra Conrado
nomeado Comandante das Armas da província e, quase ao
mesmo tempo, presidente da Comissão Militar criada por
Carta Imperial de 27 de julho e tornada extensiva ao Ceará
por decreto de 5 de outubro, Comissão que objetivava julgar
sumàriamente os implicados no movimento rebelde da Con-
federação do Equador. (21)
A 22 de abril de 1825 tiveram início os trabalhos daquela
Comissão, e a 30 do mesmo mês já tombavam no Campo da
Pólvora (22) os primeiros mártires da sua sangrenta pre-
potência.
Estando o govêrno civil na mão de um pulha que só na
traição aos companheiros de ideal encontrara o meio de salvar
a vida, submisso a tudo o que ousasse ou pensasse a autoridade
militar, fácil e natural foi a Conrado exercer o poder de fato
na martirizada província.
Esta situação prolongar-se-ia com o advento do nôvo pre-
sidente, Antônio de Salles Nunes Berford, nomeado por Carta
Imperial de 1.0 de agôsto de 1825, e que governaria o Ceará
de 4 de fevereiro de 1826 a 2 de janeiro de 1829, embora demi-
tido desde 17 de setembro do ano anterior.
Não havia condições para o exercício do poder civil numa
província talada pela fome e as lutas internas, com os fuzila-
mentos, as torturas, as prisões e o recrutamento levando o
pânico à população inteira.
(21) A tristemente famosa Comissão Militar tinha como presi-
dente Conrado Jacob de Niemeyer, relator o bacharel Manoel Pedro
de Moraes Ma.yer, e vogais o major José Gervásio de Queiroz Carreira,
capitão Luiz Maria Cabral de Teive, João Sabino Monteiro e João
Bloem. Houve substituições posteriores.
(22) Não se pode precisar o local exato onde tiveram lugar os
fuzilamentos de 1825, pois o chamado Campo da Pólvora se estendia
até o local onde hoje se ergue a estação central da Rêde de Viação
Cearense. A Santa Casa de Misericórdia, que hoje limita ao poente o
Passeio Público (parte do antigo Campo da Pólvora), teve sua cons-
trução iniciada em 1847, sob o govêrno de Inácio Correia de Vascon-
celos, e parcialmente concluída dez anos depois.
166 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

"Tantos flagelos caíram sucessivamente, e alguns ao


mesmo tempo, sôbre a população do Ceará, desde 1824 até
1828, que admira não se ter ela inteiramente rarefeito sucum-
bindo ao flagício dos homens e da natureza, e emigrando
para outras províncias.
As dissenções civis até fins de 1824, a reação sanguino-
lenta em seguida, a sêca e fome acompanhando, e &ôbre tudc
isso o recrutamento devastador, a bexiga em 1826, que parece
só ter por fim exaurir o resto dos braços válidos da província",
escreveu autorizadamente o senador Tomás Pompeu. (23)
Niemeyer era o procônsul indiscutido, senhor de baraço e
cutelo do povo cearense, cruel e ladravaz, intimidando pelas
armas governantes e governados.
É o próprio Nunes Berford quem, poucos dias após haver
assumido a presidência, em ofício ao Ministro do Império, dá
ciência das arbitrariedades do Comandante das Armas e pede
demissão do govêrno da província porque, narra êle, "o sim-
ples desejo de querer governá-la em plena liberdade, isento
de coação e inteiramente independente da influência do
comandante militar", (24) já constituía para êste um desafio.
Segundo o missivista, o comando das armas e a presidên-
cia da Comissão Militar, infundindo o terror no ânimo do povo,
fizeram com que Conrado "fogoso, precipitado e ambicioso
de governar, assumisse de fato o govêrno inteiro da província,
e regesse tôda a máquina da administração pública, com uma
prepotência desmerecida: nem uma autoridade ou tribunal
deixou de dobrar-se à sua influência; o mesmo presidente cm
e a Junta de Fazenda, inteiramente assoberbados por êle
jamais obraram senão ao molde de sua vontade, inda quando
esta era menos conforme e contrária à lei". (26)
Manifestação revoltante do arbítrio e prepotênda do
comandante das armas foi o recrutamento militar por êle
levado a efeito, então, no Ceará, e cuja trágica repercussão
(23) POMPEU, Tomás - Juízo histórico do Senador Pompeu
sôbre fatos do Ceará. Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza,
9: 9, 1895.
(24) BERFORD, Antônio de Sales Nunes - Ofício de Nunes
Berford ao Ministro do Império sôbre Conrado J. de Niemeyer. Revista
do Instituto do Ceará, Fortaleza, 24: 156-157, 1910.
(25) Referia-se ao presidente anterior, Azevedo e Sá.
(26) BERFORD, Antônio de Sales Nunes - Ofício ... p. 156.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 167

se fixaria indelevelmente na tradição popular, quer oralmente,


quer na bibliografia dos poetas e cantadores. {27)
A pretexto de suprir os contingentes que da Côrte se-
guiam para as lutas da Cisplatina, e também argumentando
com a necessidade da emigração face à tremenda estiagem,
Niemeyer despovoou o Ceará de mais de 2 600 homens válidos
arrancados dos lares em violentas e dramáticas condições.
Segundo o senador Tomás Pompeu, no ano de 1825 e três
primeiros meses de 1826 foram retirados da província 2 630
recrutas. {28) Dêstes, faleceram 412 de bexiga e maus tratos
durante a viagem, e 314 foram recolhidos aos hospitais. {29>
Só na leva que partiu de Fortaleza a 23 de março de 1826,
no navio George Frederic, faleceram em viagem 274. {30)
O fato revoltava, e teria grave repercussão na Assembléia
Legislativa do Império, como se pode ler nos respectivos Anais.
Em várias sessões a Câmara dos Deputados, notadamente nas
sessões de agôsto de 1826, foi o assunto objeto de agitados
debates e protestos veementes de alguns deputados.
Respondendo a uma interpelação da Câmara, dava en-
trada na sessão de 21 de agôsto um ofício do Barão de Lajes,
Ministro do Império, informando, entre outras coisas, "que o
govêrno de Sua Majestade Imperial não pediu recrutas à
província do Ceará; as autoridades dela foram quem propu-
seram, como medida salutar, que fôssem dali tirados até três
mil indivíduos, o que muito útil seria aos mesmos em par-
(27) GALENO, Juvenal - Lendas e canções populares e FIGUEI-
REDO FILHO, J. - Repulsa ao recrutamento; versos populares que
o condenam. Aspectos, Fortaleza, Secretaria de Cultura do Ceará,
n.0 2, 1968.
(28) As levas de recrutas cearenses que deixaram o pôrto de For-
taleza tinham os seguintes efetivos -:
Na nau Pedro I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 750
No bergantim D. Pedro . . . . . . . . . . . . . . . . . . 250
Na sumaca Gerves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
Na corveta Carioca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 400
Na galera George Frederic . . . . . . . . . . . . . . . 600
No bergantim Imperador do Brasil . . . . . . . 250
Dados extraídos do trabalho citado do senador Tomás Pompeu,
p. 16. O Barão de Studart dá um total de 2 .150, mas os detalhes e,
sobretudo, os documentos que ilustram o trabalho de Pompeu levam-
-nos a dar preferência a seu informe.
{29) STUDART, Guilherme, barão de - Op. cit., p. 44.
{30) Idem, p. 43.
168 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

ticular, por se livrarem assim do flagelo da fome e ao sossêgc


geral da província, por se evitarem em parte as desordens,
que em crises tais aparecem sempre na classe pobre e nos
indivíduos menos sofredores ou menos moralizados". (31)
Ficava, assim, caracterizada a iniciativa do Comandante
das Armas do problema do recrutamento, e a constatação do
abuso de autoridade levá-lo-ia a responder conselho de guerra
e a ser afastado, enfim, do Ceará. Cabia-lhe a responsabilidade
não pelo recrutamento em si, enganosamente aprovado pelos
órgãos superiores, mas pelas condições desumanas e bárbaras
de que se revestiu. (32)
A substituição em 1828, no Ministério da Guerra, do
Conde de Lajes, protetor de Conrado, por Joaquim de Oliveira
Alvares, importou na demissão do sinistro procônsul do Ceará.
Por aviso ministerial de 30 de maio daquele ano foi, então,
mandado abrir devassa sôbre a mortandade dos recrutas. E
l:l, 17 de agôsto de 1828 Conrado Jacob de Niemeyer deixava
para sempre a província que tanto infelicitara, não sem antes
armar contra o presidente e o ouvidor um motim destinado
a irromper após seu embarque.
Foi naqueles dias sombrios de 1825, "na época quiçá mais
calamitosa para o Ceará'', no dizer de João Brígida, quando
"tinha desaparecido inteiramente o poder civil ante o pres-
tígfo e a inexorabilidade da espada'', (33) que se processaram
nesta província as primeiras eleições para o Senado do
Império.
Ao arbítrio sanguinário do Comandante das Armas e à
(31) ANAIS DO PARLAMENTO BRASILEIRO. Câmara dos Srs.
Deputados, sessão de 21 de agôsto de 1826. p. 219 e 220.
(32) Em nota. ao ofício de 22 de março de 1826, dirigido ao Mi-
nistro da Guerra, o próprio presidente Salles Berford confirma que
embarcaram alguns recrutas atacados de bexiga, o que provocaria a
epide.W. a bordo e conseqüente mortandade: POMPEU, Tomás -
Op. cit., p. 11.
(33) BRíGIDO, J. - Eleições senatoriais do Ceará. Fortaleza, Tip.
Econômica, 1884. p. 6. Dessa publicação extraímos várias informações
sôbre as eleições cearenses para o Senado do Império.
Naquela época, segundo Paulino Nogueira, "a província chegou
a militarizar-se a ponto de ver-se, fato inaudito, a câmara municipal
de Jardim comandando um batalhão de milícias e o padre Joaquim
de Paula Galvão, em S. Bernardo das Russas, comandando um regi-
mento de cavalaria: "NOGUEIRA, Paulino - Presidentes do Ceará -
Coronel Antônio de Salles Nunes Berford. Revista do Instituto do
Ceará, Fortaleza, 6 : 236-237 , 1892 .
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 169

conivência ou covarde omissão do executivo podia-se juntar


a desmoralização do poder judiciário.
"Se a administração civil e militar era o mais completo
absolutismo e tirânico despotismo, como escreveu o senador
Pompeu, a judiciária não era melhor; de modo que a sorte
da província era igual ou pior do que qualquer colônia afri-
cana ou asiática." (34)
Bem podemos imaginar que tipo de eleição se terá pro-
cessado, então, no Ceará.
A província dividia-se na época em cinco colégios eleito-
rais: Fortaleza, Crato, Icó, Sobral e Aracati.
As eleições eram indiretas e se processavam, portanto,
em dois graus. A "massa dos cidadãos ativos" elegia "em as··
sembléias paroquiais os eleitores da província, e êstes os
representantes da nação e províncias". (35)
Como se deviam preencher quatro lugares no Senado,
pois tal era o número de representantes do Ceará na Câmara
vitalícia, fêz-se necessária a eleição de uma lista duodécupla
na qual o Imperador deveria escolher os quatro senadores.
Foi a seguinte a linguagem das urnas:

1 -João Antônio Rodrigues de Carvalho .. 197 votos


2 -Padre Dr. Domingos da Mota Teixeira . 169 "
3 -Pedro José da Costa Barros ......... . 139 "
4 -Padre Manoel Felipe Gonçalves ..... . 108 "
5 -Antônio Joaquim de Moura ......... . 105 "
6 -Antônio de Castro Viana ........... . 96 "
7 -José Rdo. do Paço de Porbém Barbosa 92 "
8 João Carlos Augusto de Oynhausen e
Grevenburg ....................... . 83 "
9 Marcos Antônio Brício ............. . 76 "
10 - Gervásio Pires Ferreira ............. . 73 "
11 -- Mariano Gomes da Silva ............ . 68 "
12 - Padre Antônio José Moreira ......... . 65 " (36)

(34) POMPEU, Tomás - Op. cit. p. 17.


(35) Ver arts. 90 e 91 da Constituição Política do Império do
Brasil.
(36) BRíGIDO, J. - Eleições Senatoriais, p. 9.
170 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Um. elenco de sete brasileiros e cinco portuguêses com-


preendendo três bacharéis em direito, três militares, três sacer-
dotes, dois comerciantes e um funcionário público, eis o con-
tingente de onde Sua Majestade iria extrair os quatro
primeiros senadores do Ceará.
Era por demais evidente a predominância de elementos
corcundas, filo-portuguêses a antiliberais na lista eleita, e
isto explica a ausência de nomes representativos da aristo-
cracia agrária onde se encastelava a fôrça nacionalista da
província. Dentre aquêles se destacavam, principalmente,
Costa Barros, intolerante perseguidor dos insurrectos de
1824. Brício, a figura mais conhecida da colônia lusa, o prin-
cipal artífice da condenação de Pessoa Anta e Ibiapina;
Oyenhausen, ex-presidente do Ceará, tão fiel a Pedro I que
perderia a senatoria para acompanhá-lo à Europa quando da
Abdicação em 1831; (37l o padre Manoel Felipe, que integrou
como secretário a Comissão Matuta do Icó, responsável pelo
fuzilamento de quatro patriotas, embora tenha verberado
publicamente contra tais desmandos.
Mariano Gomes, Antônio de Castro Viana e Porbém
Barbosa eram homens francamente ligados à corrente anti-
liberal e, portanto, suspeitos à causa nacional. Embora o
primeiro houvesse sido prêso por suspeita de cumplicidade
com o movimento de 1817, os três haviam participado da
Junta Governativa instalada em Fortaleza em janeiro de 1822
e contra a qual se levantou em armas, a 16 de outubro se-
guinte, o grupo nacionalista reunido no Icó sob a chefia de
Tristão e Pereira Filgueiras.
Ostensivamente ligados à rebelião de 1817 eram Rodri-
gues de Carvalho, o principal articulador do movimento no
Ceará, os padres Domingos da Mota Teixeira e Antônio José
Moreira, e o pernambucano Gervásio Pires Ferreira, em cuja

(37) Escrevendo em setembro de 1817 ao Conde da Barra, sôbre


a rebelião de Pernambuco, Oyenhausen, então governador de Mato-
-Grosso, dizia textualmente -: "Como português verdadeiro e como
vassalo ma.is penetrado dos favores com que Sua Majestade me
honrou até me elevar ao emprêgo em que me acho, eu tenho por
forçosíssima obrigação beijar a Bemfazeja e Protetora Mão com que
Sua Majestade vai castigar, ou já tem castigado tamanho ultraje feito
à dignidade e à lealdade portuguêsa etc. etc." - Ver DOCUMENTOS
Históricos, Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 1953. Vol. CII. p. 107.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 171

província natal exercera, naquela época, destacada atividade


conspiratória e revolucionária.
Teriam permanecido fiéis às idéias por que foram res-
ponsabilizados e punidos nove anos antes? E se assim era,
como teriam conseguido eleger-se em tão desfavoráveis cir-
cunstâncias?
É difícil chegar-se a uma conclusão definitiva em tão
melindrosa questão.
No quadro das agitações político-militares que se pro-
cessaram no Ceará de 1817 a 1826 não é fácil analisar-se os
homens à base das idéias que sucessivamente abraçaram. A
capacidade de afirmação pessoal de alguns caudilhos, as ine-
quívocas manifestações de liderança de vários chefes revoiu-
cionários, avultam como única diretriz permanente na poeira
dos entreveros e no debate das confabulações.
A única magnífica exceção é Tristão Gonçalves, sempre
a serviço de uma granítica coerência política e ideológica.
Alguns sofreram e até morreram, com dignidade e gran-
deza, por idéias que há pouco não eram suas. Outros arran-
jaram-se bem, esquecendo hoje os princípios pelos quais ontem
haviam combatido e sofrido. Para honra nossa eram êstes
em número bem menor que aquêles.
Em 1817 Mororó, mártir de 1825, era um áulico e comensal
do governador Sampaio. Na mesma época Pereira Filgueiras
era o algoz de Tristão e seus seguidores, com os quais se imor-
talizaria na República do Equador. E o coronel Antônio
Bezerra de Souza Menezes, um dos comandantes militares de
1824, condenado à morte pela Comissão Militar de Conrado
Jacob, era um homem que em meados de 1817 escrevia a
Manuel Inácio de Sampaio suplicando "a Vossa Excelência
conceder-me praça no regimento que comandei, até mesmo
de simples soldado", para combater os "desgraçados traidores
de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande". (38)
Também se apontam exemplos contrários. José Marti-
niano de Alencar, líder de 17, teve equívoca e discutível
participação nos sucessos de 1824; Mariano Gomes, punido
por adesão à rebelião pernambucana, vai aparecer em 1822
(38) DOCUMENTOS Históricos. Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional,
1953. Vol. CI. p. 176.
172 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

vinculado aos interêsses antinacionais e integrando o grupo


filo-português da província.
Teria acontecido o mesmo a Rodrigues de Carvalho?
Ê:ste baiano, formado em Coimbra, fôra despachado
Ouvidor da comarca do Ceará em 1814 e tomou posse do cargo
em 8 de maio de 1815.
Foi o principal articulador do movimento de 1817 na
capitania cearense, e logo sua atividade conspiratória e incan-
sável capacidade aliciadora iriam esbarrar no zêlo intransi-
gente do governador Manuel Inácio de Sampaio.
Carvalho percorreu as principais vilas da capitania,
mascarando com a capa do magistrado uma propaganda
eficaz e persistente em prol das idéias liberais. Estêve no Crato,
Icó, Aracati, Sobral, Campo Maior de Quixeramobim, e não
hesitava em perseguir, tanto quanto podia, aquêles que se
recusavam incorporar-se à sua pregação revolucionária.
Em Quixeramobim fêz renovadas mas inúteis investidas
para obter a valiosa adesão do padre Gonçalo Mororó, ali resi-
dente, e então nas boas graças do governador. Mororó, em
carta a Sampaio, deixou expressivo depoimento acêrca da
maneira como o ouvidor Carvalho propagava os seus princí-
pios, atacando o governador e pondo em dúvida a legitimi··
dade do Rei. (39)
Coincidindo a chegada a Fortaleza da notícia da irrupção
do levante do Recife com a vinda de Carvalho do interior,
Sampaio em pessoa o prendeu, logo o encaminhando a Lisboa
como réu de alta traição.
É provável que se tal não houvera acontecido, o movi-
mento de 17 no Ceará não tivesse ficado restrito à rebelião
dos Alencares no Crato.
Safando-se da prisão e do processo, mais feliz que os
muitos que pagaram com a vida a ousadia, vamos encontrá-lo
após a Independência nomeado, por Carta Imperial de 25 de
novembro de 1823, primeiro presidente da província de Santa
Catarina. Por ali também se elegeu em lista para o Senado.
Se juntarmos a isso o fato de haver sido um dos escolhidos

l39) UM PRECIOSO inédito do Pe. Gonçalo Mororó - Revista


do Instituto do Ceará, Fortaleza, Tomo especial, p. 568.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 173

senadores do Ceará na lista duodécupla, concluiremos que


já era homem das boas graças do Imperador.
Teria se tornado monarquista, repudiando as idéias repu-
blicanas? Seria apenas um homem à cata de posições polí-
tico-administra tivas?
Não estamos em condições de dar à indagação uma res-
posta definitiva.
Sua vitória, com outros liberais tradicionais, nas eleições
de dezembro de 1825 no Ceará não deve, contudo, condicio-
nar-se à hipótese de que haja mudado de roupagem política.
Cumpre considerar que numa província que pagou com
sangue a sua adesão aos princípios liberais, onde foram ex-
pressivas e autênticas as manifestações de repúdio à prepo-
tência monárquica, não seria o arbítrio sanguinário de Con-
rado que haveria de destruir de todo o fogo sagrado da
liberdade.
É justo admitir que algumas cabeças haveriam de per-
manecer erguidas, e que a fauna dos adesistas e acovardados
não abrangesse a totalidade dos eleitores cearenses de 1825.
É plausível, portanto, que, malgrado a maré montante
das perseguições político-militares, alguns votos fôssern
atribuídos a candidatos em que se divisava identificação com
aquêles ideais que, há apenas dois anos, fizeram estremecer
a província inteira.
Um fator de julgamento devemos ainda ressaltar aqui.
É que, como acertadamente admite o senador Tomás Pompeu
no seu minucioso estudo sôbre os homens e os fatos daquela
época, Conrado Jacob de Niemeyer não acreditava na reali-
zação nem no êxito das eleições e pessoalmente não interferiu
pró ou contra qualquer candidato. Mais tarde, como veremos,
é que êle poria sua espada na balança para decidir do pleitc
conforme seus personalistas in terêsses.
De modo que a descrença, o temor e a opressão que sua
prepotência criaram na província é que teriam conseqüência
no ânimo da população face à chamada às urnas. Assim
sendo, é lícito admitir que os menos atemorizados e mais
audazes não tenham hesitado em sufragar os candidatos
patriotas.
174 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Uma eleição compreensível é a do vigário do Icó, padre


Domingos da Mota Teixeira. Era também formado em leis,
e algumas referências da época o indicam como jurisconsulto
e autor de uma obra de Direito.
Homem de acentuado prestígio na capitania, prendeu-o
Sampaio em 1817 como suspeito de conivência com a revolta
pernambucana, embora fôsse irmão do célebre Bernardo
Teixeira Coutinho, presidente da Alçada que em Pernambuco
e Bahia julgou os implicados naquele movimento.
Em Fortaleza estêve quase um ano, com a cidade por
menagem, por ordem do vigilante governador.
Em 1800 fôra em Goiás secretário do govêrno e professor
de filosofia, e em 1816, já no Ceará, acumulava a vigararia-
-geral da capitania com as funções de vigário do Icó.
O padre Domingos não tomou a iniciativa de disputar
uma cadeira no Senado, honraria que não desejava trocar
pela tranqüilidade provinciana. Seu prestígio pessoal, sobre-
tudo no Icó, um dos principais colégios eleitorais da província,
é que lhe assegurou uma eleição que outros tão ardentemente
disputavam.
Por Carta Imperial de 19 de abril de 1823 Pedro I esco-
lhia na lista eleita os quatro primeiros senadores do Ceará.
Foram êles -: Pedro José da Costa Barros, João Carlos
Augusto de Oyenhausen e Grevenburg, João Antônio Rodri-
gues de Carvalho e o padre Domingos da Mota Teixeira.
Costa Barros, dos quatro o único cearense, nasceu no
Aracati em 7 de outubro de 1779 e era oficial de Artilharia.
Praça de 7 de outubro de 1803, a Independência veio encon-
trá-lo sargento-mor da Brigada Real de Artilharia de Marinha.
Reformou-se como tenente-coronel, em 1832, e faleceu em 20
de outubro de 1839, no Rio de Janeiro. Está enterrado na
igreja da Cruz dos Militares.
Na opinião de João Brígido, morreu quase desconhecido
das novas gerações, "vegetou no esquecimento, não lhe
devendo a província o mínimo serviço". (40)
Foi o primeiro presidente nomeado para o Ceará após a
Independência e o primeiro cearense que ocupou um minis-

(40) BRíGIDO, J. - Eleições Senatoriais. p. 15.


FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 175

tério no Brasil independente-: o da Marinha, e apenas por


dois dias. Foi também um dos quatro únicos cearenses que
até hoje exerceram as funções de Ministro de Estado, Presi-
dente de Província ou Estado, e Senador. (41)
Costa Barros elegeu-se deputado pelo Ceará às Côrtes
de Lisboa, aonde nunca foi, e deputado à Constituinte de
1823. Governou sua província na fase tumultuosa da Repú-
blica do Equador, tendo abandonado o govêrno ante a pressão
armada de Tristão e Filgueiras. Governou também o Mara-
nhão, de onde saiu para exercer a representação cearense
no Sepado.
Vingativo, algoz dos patriotas de 1824, (42) covarde no
ostracismo, arrogante nas posições de mando, excedia-se na
subserviência do Trono. Mau poeta, sua lira comprazia-se na
produção de odes e ditirambos ao Imperador e príncipes da
Casa Real, o que dava à sua versalhada o caráter de ridícula
bajulação.
"Sua turbulência e sua submissão ao Soberano, escreve
João Brígida, sua falta de firmeza e sua altivez quando
armado de autoridade, lhe tinham valido uma posição a que
não lhe dava direito nem o seu saber nem a sua inteli-
gência." (43)
Sem inteligência e sem caráter, sem serviços prestados
ao Ceará, o que teria valido a Costa Barros a denominação
de uma das principais ruas da capital cearense?
Oyenhausen de Grevenburg, outro nome escolhido para
o Senado, fôra governador da capitania do Ceará, nomeado
por decreto de 14 de novembro de 1802.
Exerceu o govêrno de 13 de novembro de 1803 a 14 de
fevereiro de 1807, e deixou fama de enérgico e empreendedor.
Governou também Goiás e São Paulo, falecendo em 28
de maio de 1838 na Africa, como governador de Moçambique.
Começou a carreira militar na Armada Real, mas depois
transferiu-se para o Exército, a que serviu até a morte.

\41) Os outros três foram Manuel do Nascimento Castro e Silva,


Francisco de Menezes Pimentel e José Parsifal Barroso.
(42) " ... propôs ao Govêrno Imperial as cabeças que deviam cair
do pa.tíbulo, as quais tiveram por isto a preferência nas hecatombes
do Campo da Pólvora": BRíGIDO, J. Op. cit., p. 15.
\43) Idem, p. 14.
176 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Oyenhausen era nobre português, filho do conde Carlos


Augusto de Oyenhausen e Grevenburg e de Da. Leonor
d'Almeida Portugal, marquesa de Alorna e Condessa de
Assumar.
Rodrigues de Carvalho e Oyenhausen assumiram seu
lugar no Senado em 4 de maio de 1826, só o fazendo Costa
Barros no dia 7 de maio do ano seguinte.
O padre Domingos da Mota Teixeira nunca ocupou sua
cadeira senatorial. Preferiu a placidez do seu recanto do Ir.ó
às honrarias de membro da Câmara vitalícia no Rio de Janeiro.
Na sessão de 22 de setembro de 1827 o Senado legiti-
mava a sua renúncia através do seguinte ofício do 1.º secre-
tário do Senado, Visconde de Congonhas do Campo ao minis-
tro do Império Visconde de São Leopoldo - :
"Ilmo. e Exmo. Sr.
Reconhecendo o Senado a legitimidade dos impedimentos alegados
por Domingos da Mota Teixeira, nomeado Senador pela província
do Ceará, e havendo-o dispensado do referido cargo, me ordena que
assim o participe a V. Exa. para o leva.r ao conhecimento de S. M. o
Imperador, afim de se mandar proceder a nova eleição de pessoa qus
preencha aquela vaga. Deus guarde a V. Exa.. Paço do Senado, em
22 de setembro de 1877." (44)
Para eleição da lista tríplice, onde Pedro I iria buscar o
nôvo senador, eleição que teria lugar no ano seguinte, logo
entraram em efervescências as fôrças políticas provinciais,
à frente Conrado Jacob de Niemeyer, agora um crente no
sistema eleitoral.
Surgiram como candidatos, cada qual mais cioso de seus
direitos, os deputados Manuel do Nascimento Castro e Silva
e Antônio Joaquim de Moura, o própri.o presidente Nunes
Berford e, como o mais poderoso de todos, o Cônego Doutor
Inácio Carvalho Mendonça, lente de Olinda e tio da mulher
de Conrado Jacob, seu maior eleitor.
Já êste havia sido votado nas eleições anteriores, por su-
gestão dos familiares do comandante das armas.
Conrado estava então com seu prestígio já debilitado.
Extinguira-se a famigerada Comissão Militar, e sua conduta
passada e recente era objeto de investigações. Apesar disso

(44) ANAIS do Senado do Império, 1827. Tomo III, p. 23.


FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 177

fêz valer a sua arrogância sem escrúpulos, e suas ameaças


asseguraram-lhe pleno êxito na cata dos votos.
Os corcundas dividiam-se entre Nascimento e Mendonça,
mas a verdade é que, não havendo espírito partidário, os votos
eram disputados pessoalmente pelos interessados.
A essa altura surge um nome nôvo, o verdadeiro usufru-
tário da situação, e que só indiretamente se ligava ao Ceará
como antigo protetor do comandante das armas e fiador das
suas arbitrariedades. Era João Vieira de Carvalho, Barão e
Conde de Lajes, que na disputa surgia como candidato do
Govêrno Imperial por suas ligações pessoais com o Monarca.
Fôra Ministro da Guerra em seis Gabinetes, de 16 de
janeiro de 1822 a 20 de novembro de 1827, e nêle a prepo-
tência militar, instalada na província contra os rebeldes do
movimento do Equador, encontrara sempre o mais devotado
e incondicional defensor.
Aparecia agora em cena para cobrar em votos o sangue
que ajudara a derramar na província cearense.
"Sem o favor conhecido do Imperador, escreve João
Brígida, o nome do Conde de Lajes não entraria na lista
tríplice." (45)
O colégio eleitoral de Fortaleza reuniu-se para a eleição
no dia 30 de janeiro de 1828, e apresentou o seguinte re-
sultado-:

Manuel do Nascimento ............. . 22 votos


Conde de Lajes ................... . 19 "
Mariano Gomes .................. . 11 "
Antônio Joaquim de Moura . . . . . . . . . 10 "
Antônio de Castro Viana ........... . 5 "
Gervásio Pires .................... . 5 "
Conrado Jacob de Niemeyer ....... . 2 "

Outros elementos foram ainda votados.


Êste resultado não interessaria, evidentemente, a Conrado,
cujo candidato nenhum voto recebera naquelas eleições. O
cônego Carvalho Mendonça se superpunha na sua afeição ao

(45) BRíGIDO, J - Eleições Senatoriais - p. 11.


178 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Conde de Lajes, a essa hora já destituído das funções mi-


nisteriais.
Sem que se saiba por que, sem que tenha havido uma
aceitável explicação, conseguiu Conrado anular essa eleição
e obter a realização de outra no dia 25 de março, com o
seguinte resultado-:

Carvalho Mendonça . . . . . . . . . . . . . . . . 30 votos


Manuel do Nascimento . . . . . . . . . . . . . 20 "
Conde de Lajes .................... 19 "
Mariano Gomes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 "
Nunes Berford . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 "
Gervásio Pires . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 "

Como na eleição anterior, houve outros elementos com


menor votação.
Nos demais colégios as eleições realizaram-se em datas
diferentes. As do Crato em 20 de fevereiro, as de Aracati a 29
do mesmo mês, as de Sobral em 4 de março, e as do Icó no
dia 26 de abril.
Computando-se os votos de tôda a província, expressos
através dos cinco colégios, a lista tríplice eleita foi a seguinte:

Carvalho Mendonça .............. . 110 votos


Manuel do Nascimento ............ . 91 "
Conde de Lajes ................... . 74 "
O resultado era perfeitamente explicável. Na província
as opiniões, face às eleições, se manifestavam em têrmos de
civilistas e militares, aquêles representados por Manuel do
Nascimento Castro e Silva, êstes pondo em jôgo seu prestígio
em favor do cônego Carvalho Mendonça. Além das duas cor-
rentes só havia lugar para o candidato do príncipe. (46) De
qualquer forma ficava mais que patente o facciosismo e a

(46) Segundo Paulino Nogueira, o grande eleitor do Conde de


Lajes era o presidente Nunes Berford. "O presidente, afirma Paulino,
dirigiu circulares aos seus agentes para serem mostradas e lidas às
influências locais, nas quais dizia com todo o desembaraço -: Sua
Majestade quer que o processo eleitoral corra livremente e sejam
eleitos os cidadãos notáveis do país sob pena de ser nula a eleição
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 179

pressão que Conrado e sua gente puseram em ação para


a conquista do resultado obtido.
Em 28 de junho de 1828 o Imperador escolhia o Conde
como quarto representante do Ceará na Câmara vitalícia.
Mas logo surgiu protesto contra a escolha, marcada pela
ilegalidade e o açodamento, como se dizia na tribuna e na
imprensa. Foi porta-voz oficial dêsses protestos o deputado
geral Joaquim José Barbosa, que impugnou a imperial deci-
são por vícios do pleito e desconhecimento da ata geral das
eleições e até da própria lista tríplice.
A comissão de Constituição aceitou a nulidade argüida,
e a 30 de agôsto o Senado opinou pela devolução da Carta
Imperial que escolhera João Vieira de Carvalho.
Novamente foi êle, já no ano seguinte, escolhido em con-
dições agora consideradas legais, de modo que em 21 de feve-
reiro de 1829 era nomeado Senador através de nôvo diploma
legal. Em 1.º de abril de 1829 tomava assento no Senado. 07)

e punidos os rebeldes. Dentro dessas circulares acompanhava a chapa


em que figurava o nome do Conde de Lajes em primeiro lugar."
Esta informação, a.liás contestada em parte por João Brígido.
consta do seu livro Miscelânea Histórica, p. 124.
Trinta anos depois, a eleição do Conde de Lajes ainda era recor-
dada, através da imprensa da Côrte, por Teófilo Ottoni, como ex-
pressiva da. influência e facciosismo do govêrno nos pleitos eleitoraiR.
(47) Da leitura das Atas das Sessões do Senado (1835), vol. V,
conclui-se que o senador Conde de Lajes foi um dos pioneiros, na
arena do legislativo brasileiro, da tentativa de dar combate à escra-
vidão e incentivo a.o trabalho livre. Assim é que, na sessão do Senado
de 22 de setembro de 1835 apresentou dois projetos de lei e um reque-
rimento sôbre o problema servil, e que são os seguintes -:
a) "A Assembléia Legislativa resolve:
Art. 1.º - Findo o prazo de um ano não serão admitidos nem
conservados escravos no serviço dos Estabelecimentos Nacionais, salvo
os de agricultura ou criação.
Art. 2. 0 - O govêrno fará substituir todos os anos a quinta parte,
pelo menos, dos escravos ora empregados nos Estabelecimentos Na-
cionais de agricultura e criação por tantas pessoas livres quantas
se julgar necessárias a igual produto de trabalho, ficando no fim
de cinco anos, ou antes se fôr possível, inteiramente excluídos os
escravos.
Art. 3.0 - O govêrno fica autorizado a ajustar artistas e jor-
naleiros livres, nacionais ou europeus, e mandá-los vir, como mais
convier. para os Arsenais, Fábricas e mais Estabelecimentos.
Art. 4.0 - À medida que as pessoas livres forem entrando no
serviço dos diversos Estabelecimentos serão vendidos os escravos da
Nação e o produto da venda recolhido ao Tesouro Nacional, como
receita para a execução do Art. 3.0
Art. 5.º - Fica sem vigor a legislação em contrário.
180 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Completava-se, assim, a representação senatorial do


Ceará. Dos quatro, apenas Costa Barros era cearense.

* * *
A 7 de abril de 1831 Pedro I abdicava do trono do Brasil,
e a 13 do mesmo mês deixava o país a bordo da fragata
inglêsa Volage.
Dentre os poucos fiéis vassalos que o acompanhavam,
encontrava-se João Carlos Augusto de Oyenhausen e Gre-
venburg, Marquês de Aracati e senador pelo Ceará.
Renunciando, com o seu gesto, à cidadania brasileira para
reobter, mais tarde, a cidadania portuguêsa, Oyenhausen fica-
va, ipso facto, privado do seu lugar no parlamento brasileiro.
Em 12 de maio de 1831 o Senado decidiu pela vacância
de sua cadeira, que não chegara a ser ocupada por um ano.
O fato iria implicar na eleição de uma lista tríplice no
Ceará e, realmente, o pleito realizou-se em fins daquele ano,
com a província, desde 15 de outubro de 1828, dividida em
8 distritos eleitorais pelo então presidente Nunes Berford.
Esta eleição é que levaria ao Senado a figura marcante e
controvertida de um cearense que ficaria conhecido na his-
tória nacional como o senador Alencar.
Para o preenchimento da vaga do Marquês de Aracati,
dois nomes destacavam-se no cenário político cearense como
particularmente credenciados - os deputados Manuel do
Nascimento Castro e Silva e José Martiniano de Alencar.
Ninguém na província poderia suplantá-los em prestígio
Paço do Senado, 22 de setembro de 1835 - Conde de Lajes."
b) "A Assembléia Legislativa resolve:
Art. 1.0 - O govêrno fica autorizado a conferir a. insígnia de
Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro a Lourenço Justiniano
Jardim, comandante da barca Maria Adelaide, expedindo-se gratis o
competente diploma, e declarando-se ser um testemunho do agrade-
cimento nacional, por ser o graciado o primeiro engajador que, em
maior escala, importou braços livres no Brasil.
Art. 2. 0 - Fica sem vigor a legislação em contrário.
Paço do Senado, 22 de setembro de 1835. - Conde de Lajes."
a) Requerimento - Requeiro que o Senado convide a que preste
a sua eficaz cooperação de acôrdo com o Tutor de S. M. o Imperador,
a darem as necessárias providências afim de excluir com a brevidade
possível os escravos do serviço do Paço Imperial e suas dependências;
assim como dos estabelecimentos rurais de propriedade da Fazenda
Imperial, para serem substituídos por pessoas livres.
Paço do Senado, 22 de setembro de 1835 - Conde de Lajes."
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 181

pessoal nem competir com êles na posse daquilo que o Vis-


conde de Taunay chamaria de "o supremo anelo dos homens
do antigo regime" - um lugar na Câmara vitalícia.
Ambos já haviam deixado de ser meras figuras provin-
ciais para adquirirem dimensões avantajadas no panorama
nacional.
Manuel do Nascimento era do Aracati, onde nascera no
natal de 1788. Muito cedo ainda ingressou na burocracia
administrativa da então capitania do Ceará, para o que foi
decisiva a influência política de sua família - os Castros.
Êsse clã citadino, disperso no Aracati e Fortaleza, era o
mais expressivo dentre os que se aliaram aqui aos interêsses
do conservadorismo luso, figuras destacadas que foram nas
hostes dos corcundas.
Chegou Nascimento a secretário do governador Manoel
Inácio de Sampaio, de onde alçou vôo para tôdas posteriores
posições políticas.
Quando os revolucionários de 1817 purgavam no cárcere
e no patíbulo seus ardores liberais, e argamassavam no sangue
e no idealismo·os alicerces do seu prestígio, Manuel do Nasci-
mento Castro e Silva, servindo aos algôzes, também construía,
de forma cômoda e segura, seu trampolim para as posições
de mando na vida cearense e nacional.
Exerceu vários cargos na administração provincial e ele-
geu-se com facilidade representante do Ceará às Côrtes
Portuguêsas, em 1821.
A mesma vocação áulica, senão liberticida, que o levara
a servir a Manoel Inácio de Sampaio em 1817, trouxe-o de
volta, em 1824, como Secretário do Govêrno de Pedro José da
Costa Barros, outra nebulosa figura de nosso passado pro-
vincial.
Com êste fugiu do Ceará, em 15 de maio, ante a ameaça
das tropas de Tristão e Filgueiras. E o fato haveria de propor-
cionar-lhe a comenda da Imperial Ordem do Cruzeiro e a
presidência do Rio Grande do Norte. (48)
(48) Era Castro e Silva presidente do Rio Grande do Norte
quando, em 11 de outubro de 1825 Alencar a êle se dirigiu humil-
demente, implorando sua intervenção junto ao govêrno para salvar-se
das acusações de cumplicidade com os fatos da Confederação do
Equador. Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza, 29: 346-347, 1915.
182 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Deve-se-lhe, entretanto, ~creditar que, a partir de certa


época, tenazmente combateu Conrado e seus sequazes.
Foi deputado provincial, e deputado geral em sete legis-
laturas.
Embora só em 1834, no 3. 0 Gabinete da Regência Per-
manente, viesse a ocupar uma pasta ministerial - a da Fa-
zenda -, onde permaneceu nos quatro gabinetes seguintes,
já era um nome nacional quando, em 1831, se apresentou
pela segunda vez candidato ao Senado pelo Ceará.
Não se pode negar que fôsse homem de indiscutível valor
pessoal, e isto êle cedo revelou pela firmeza e habilidade com
que se manteve por muitos anos como um dos autênticos
líderes políticos de sua terra, e pelo bom desempenho que
deu às funções que lhe foram atribuídas em sua vida pública.
Seu competidor no prestígio e nas eleições, José Marti-
niano de Alencar, foi sem dúvida uma das mais significativas
figuras de homem público que o Ceará produziu em qualquer
época.
Revolucionário de 1817, como revolucionário foi aliciante,
radical, convicto e autêntico. Foi êle quem, à frente dos seus
familiares, sublevou o Crato em abril daquele ano. Era, então,
diácono de Olinda e, malgrado a pouca idade, aqui fôra
mandado como homem de confiança do comando rebelde
do Recife.
O fracasso do movimento custou-lhe, bem como ao irmão
e à genitora, uma sucessão de cruéis padecimentos nos cár-
ceres do Ceará e da Bahia. Salvou-se por um fio da fôrca ou
dos pelotões de fuzilamento, mas superada a fase da vindita
irracional e das perseguições impiedosas, volveu ao Ceará livre
e pronto para a ascensão política.
Sua conduta no movimento da Confederação do Equador,
sete anos depois da rebelião do Crato, não o situa bem perante
a História.
O mínimo que dêle se poderá dizer é que nas novas
circunstâncias omitiu-se de um compromisso moral que deu
ao irmão a glória e a morte, e a que nunca poderia ter fal-
tado quem fôra, no Ceará, o primeiro e mais ousado na arran-
cada heróica de 1817. ,
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 183

Mas, ao que tudo indica, o compromisso não era apenas


moral. (49) Historiadores há que o apontam como o principal
incentivador das atitudes desassombradas e patrióticas de
Tristão em 1824, e mesmo o redator de muitas de suas pro-
clamações.
Teria sido a eminência parda do movimento no Ceará,
e a êle se teria furtado quando o fracasso se antevia certo.
É um ponto ensombrado de nossa história provincial que as
análises e as pesquisas ainda esclarecerão um dia.
De qualquer modo a famosa Súplica que, prêso, enviou a
Pedro I, é um documento vergonhoso e humilhante. Nêle
Alencar pode revelar tudo, menos independência e bravura.
A tolerância, quase simpatia, com que aceitava a conduta
hedionda de Conrado Jacob em relação aos seus desgraçados
patrícios, é fato difícil de explicar.
Até prova em contrário, o que avulta das páginas da
História é que a sotaina do revolucionário de 1817 desapa-
receu na roupagem do oportunista de 1824.
Foi deputado às Côrtes de Lisboa e deputado geral, e
em tais mandatos sempre se houve bem. Seria mais tarde
Senador do Império e, nessas condições, um dos principais
articuladores do golpe de Estado da Maioridade, em 1840, que
levou Pedro II ao Trono com apenas 15 anos.
Era uma das figuras de primeira grandeza do Partido
Liberal, que ajudou a fundar e a crescer.
Também governou, o Ceará por duas vêzes, e nenhum
outro presidente do período provincial foi mais empreendedor
nem deu provas de maior capacidade administrativa.
São bem poucos, em tôda a História do Ceará, os gover-
nantes que se apresentem, sequer em condições de igualá-lo
na soma enorme de realizações.
Era duro, enérgico, voluntarioso. Sabia o quanto lhe
custara carregar algemas nos pulsos, mas mostrou que sabia
(49) Foi Alencar um dos signatários da Ata do Grande Conselho,
reunido em Fortaleza em 26 de agôsto de 1824, e que assinalou a
adesão do Ceará à Confederação do Equador. Foi o mais votado - 455
votos - na eleição dos deputados que deviam compor "o supremo
govêrno salvador", e êle próprio foi aclamado presidente do colégio
eleitoral em que se transformou aquêle Conselho. O fato por si só
revela sua profunda vinculação com o movimento. Revista do Insti-
tutodo Ceará. Fortaleza, Tomo especial, 1924 [parte documental].
184 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

usar êsses pulsos quando êles se tornaram livres e domi-


nadores.
No intervalo entre os movimentos de 17 e 24 ordenou-se
sacerdote no Maranhão, mas o fato não o impediu de jun-
tar-se a uma prima e constituir família ilustre onde aflorou
essa figura monumental de cearense que foi José de Alencar,
a maior e mais duradoura de suas obras.
Se como revolucionário e político revelou-se dúbio, ma-
quiavélico e sem escrúpulos, como administrador não era um
"homem de ordinária medida", para usar uma expressão de
Evaristo da Veiga em relação a Pedro I.
Governava, então, o Ceará um irmão de Nascimento, José
de Castro, e outros irmãos e familiares seus ocupavam posi-
ções de destaque à frente dos negócios provinciais. Entre cs
irmãos avulta o major João Facundo de Castro Menezes,
figura respeitável da época, que mais uma vez ocupou a pre-
sidência da província e que seria depois vítima de um assas-
sinato político.
Alencar exercia no momento função de alto prestígio na
Côrte, como seja a presidência da Câmara de Deputados.
Nem êle nem Manuel do Nascimento vieram à província
natal para a disputa dos votos. Disto se incumbiram a família,
os amigos e correligionários.
Desde 4 de dezembro de 1830 que a família Castro tinha
no Ceará um periódico para defender-lhe os interêsses e
pugnar por sua política, - era o Semanário Constitucional.
Opunha-se-lhe o Cearense Jacaúna, cujo primeiro número
data de 25 de maio do ano seguinte.
Decidida a realização das eleições senatoriais, o Cearense
Jacaúna fêz-se o pregoeiro da eleição de Alencar, enquanto o
Semanário tornou-se o órgão aguerrido dos que se batiam por
Nascimento. Terá sido a primeira vez no Ceará que órgãos da
imprensa tomaram partido e se engajaram a fundo numa
disputa político-partidária.
Diz João Brígida que "num momento, formou-se uma
liga das vítimas de 1824 com uma parte dos seus algozes. De
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 185

um lado os ódios se transformaram em cordialidade, de outro


a confiança se converteu em dúvidas e receios". (50)
O fato é que a luta política se processava, como mais de
cem anos depois, em tôrno de homens e não de idéias, em
função de interêsses pessoais e não do interêsse público ou
mesmo partidário.
A exacerbação dos ânimos levou José de Castro a passar
a presidência ao irmão João Facundo e êste a um secretário
de govêrno, Miguel Antônio da Rocha Lima, a quem coube
presidir às eleições.
A apuração final foi realizada em 18 de dezembro de 1831
já com a província sob nôvo govêrno. De fato, por Carta
Imperial de 29 de agôsto fôra nomeado presidente do Ceará
José Mariano de Albuquerque Cavalcanti, liberal de primeira
linha, revolucionário de 1817 e amigo pessoal de Alencar.
Assumira o poder no dia 8 de dezembro.

Foi esta a lista tríplice eleita:

José Martiniano de Alencar ........... 196 votos


Manuel do Nascimento Castro e Silva . 133 "
Francisco Alves Pontes .............. 109 "

Em 10 de abril de 1832 era Alencar escolhido senador,


e a 2 de maio seguinte tomava posse.
Fato pouco conhecido da eleição do nôvo senador é que
êste, quando se dispôs a disputá-la, não atingira ainda os
40 anos que a Constituição exigia como limite mínimo de
idade para ingresso no Senado.
O caso é único na história parlamentar brasileira, em-
bora já houvesse êle atendido a êste preceito constitucional
quando da imperial escolha.
O fato atribuiu à eleição uma certa aura de inconstitu-
cionalidade, e teria levado mesmo o Marquês de Aracati a
pensar na recuperação da cadeira perdida. É o que nos conta,
fundamentado em seguro testemunho, o historiador Paulino
Nogueira.

(50) BRíGIDO, J. - Eleições Senatoriais, p. 31.


186 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

"Talvez por isso, narra Paulino, o Marquês de Aracati,


sabendo que sua cadeira fôra preenchida inconstitucional-
mente, propôs-se ainda a vir ao Brasil rehavê-la; mas quis
antes ouvir a respeito a opinião de seu íntimo amigo Marquês
de Paranaguá, então presidente do Senado. Paranaguá
tirou-o dêsse intento, fazendo-lhe sentir que o prestígio de
Alencar era tal que à sua preponderância política devia-se.
em grande parte, não ser o Brasil república. Com efeito, em
uma conferência íntima dos principais vultos do tempo, logo
após a Abdicação, vencera-se pelo voto de Alencar que G
Brasil continuasse a ser monarquia como dantes." (51)
O prestígio nacional de Alencar só tenderia a crescer com
sua eleição para o Senado.
Pelo Ato Adicional de 12 de agôsto de 1834 ficou estatuído
que a Regência seria constituída de um só membro, eleito de
quatro em quatro anos. E o Art. 29 daquela Lei determinava
que o Govêrno marcaria um dia para que se procedesse à
eleição do Regente em todo o Império.
Esta eleição teve lugar a 7 de abril de 1835, com a vitória
do padre Diogo Antônio Feijó.
Cumpre, entretanto, observar que Alencar foi votado para
Regente em dez províncias - Maranhão, Ceará, Rio Grande
do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Rio de Janei-
ro, Minas Gerais, São Paulo -, obtendo em algumas signi-
ficativa votação.
No cômputo final, embora longe de atingir a posição de
Feijó, superou de muito a votação dada a grandes figuras
nacionais da época, como os três Andradas - José Bonifácio,
Antônio Carlos e Martim Francisco -, o ex-regente Nicolau
de Campos Vergueiro, Limpo de Abreu, Miguel Calmon,
Aureliano Coutinho, Paranaguá, Honório Hermeto e muitos
outros. (52)
(51) NOGUEIRA, Paulino - Presidentes do Ceará - 7.0 Presi-
dente: Senador José Martiniano de Alencar. Revista do Instituto do
Ceará, Fortaleza, 12: 161-162, 2. 0 e 3. 0 trim. 1898. Narra Paulino
Nogueira que a informação lhe foi da.da no dia 26 de maio de 1877
pelo deputado Conselheiro Antônio Pereira Rebouças, que a teria
ouvido do próprio Marquês de Paranaguá. Ver nota n.0 1 do tra-
balho citado.
(52) ATAS das sessões da Câmara dos Sena.dores do Império do
Brasil de 1835. Rio de Janeiro, Tip. Nacional, 1835. Vol. VI.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 187

O destaque com que participou dos acontecimentos do


golpe de Estado da Maioridade, cinco anos depois, é outra
segura demonstração de seu valor e capacidade política no
plano nacional. E os três anos de operoso govêrno do Ceará
- de outubro de 1834 a novembro de 1837 -, firmaram em
definitivo seu prestígio e poder na província natal.

* * *
Em 20 de outubro de 1839 abria-se uma vaga na repre-
sentação cearense no Senado com o falecimento, no Rio de
Janeiro, de Pedro José da Costa Barros.
Já então eram diversos e marcantes os novos aspectos de
panorama político do Império.
Nas províncias, por fôrça do Ato Adicional de 1834, fun-
cionavam as Assembléias Provinciais, cabendo à do Ceará 28
deputados.
Os dois grandes partidos nacionais - o Conservador e
o Liberal-, já se firmavam na sua atividade e no consenso
geral da Nação. Afirma Joaquim Nabuco que é a partir da
legislatura de 1838 que se deve considerar a existência de fato
e o amplo funcionamento das duas agremiações políticas. E
não discrepava muito dessa data o Barão do Rio Branco
quando escrevia que, depois de 1836, a história política do
Brasil se resume na luta dos partidos Conservador e Liberal.
Caranguejos e chimangos eram, preferentemente, os
nomes respectivos com que, na época, se apelidavam os filia-
dos àquelas facções políticas. (53)
No Ceará, a vitória de Alencar sôbre Nascimento, na
eleição senatorial, paradoxalmente ensejou a aproximação
dos dois líderes, e esta mais se consolidou quando o primeiro
se empossou na presidência da província, em 6 de outubro

(53) O documentário epistolar da época refere-se com freqüência


a uma outra facção política, os holandeses, constituída dos elementos
que cerravam fileira em tôrno da candidatura do pernambucano
Holanda Cavalcanti à Regência, tornada una pelo Ato Adicional de
1834. Êste seria o mais sério competidor de Feijó naquela eleição.
Foi um grupamento político de duração efêmera; durou tanto quanto
a candidatura de seu patrono. No Ceará era constituído exclusiva ..
mente dos opositores ao govêrno de Alencar (1834-1837) e principal
núcleo dos caranguejos locais.
188 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

de 34, e o segundo, no dia seguinte, assumiu o Ministério da


Fazenda.
Um em Fortaleza e outro na Côrte, comandavam, não
sem oposição, os destinos do Ceará. (54)
Assim, o grupo chimango local passou a chamar-se,
também, de castro-alencarino, e esta coalizão levou muitos
antigos correligionários de Alencar, exaltados liberais do
passado, a dêle se afastarem por incompatibilidade tradicional
com a família Castro.
Com a posse de Manoel Felizardo de Sousa e Melo, em
16 de outubro de 1837, em substituição a Martiniano de
Alencar no govêrno provincial, os caranguejos passaram a
dominar ponticamente o Ceará num período que se estendeu
às seguintes administrações dos presidentes João Antônio de
Miranda e Francisco de Souza Martins. Só com o advento do
Ministério liberal da Maioridade, em 1840, é que os chimangos
cearenses voltaram a ter um curto alento que se traduziu,
aqui, pela volta de Alencar à chefia do govêrno.
Na administração de Martins é que se processaram as
eleições para a vaga de Costa Barros.
Francisco de Souza Martins foi nomeado presidente da
província por Carta Imperial de 18 de dezembro de 1839, mas
só tomou posse do cargo em 3 de fevereiro do ano seguinte.
Na segura opinião de Paulino Nogueira, "ao Ceará ainda
não veio administrador de mais talento e ilustração, nem
mais partidário". (54aJ
Era piauiense, formado em Olinda com passagem pelos
cursos jurídicos de Coimbra. Homem de vasta ilustração,
grande orador, já governara a Bahia aos 29 anos de idade, e
ali realizara excelente administração. Político desapaixonado,
muito se esperava do seu govêrno no Ceará, mas os fatos logo
revelaram que vez alguma passaria aqui um presidente mais
t54) O melhor depoimento sôbre a atuação dos dois na política
cearense da época é a correspondência que, de 1835 a 1837, trocaram
êles próprios abordando problemas políticos e administrativos da
província e do País. São documentos imprescindíveis ao estudo da
primeira administração Alencar. Estão publicados na Revista do Ins-
tituto do Ceará, Tomo XXII, de 1908.
(54a) NOGUEIRA, Paulino - Presidentes do Ceará (período
Regencial) - 1.º Presidente: Bacharel Francisco de Souza Martins -
Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza, 15: 5, 1901.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 189

faccioso nem que desenvolvesse uma politicagem mais torpe


e mesquinha.
O primeiro ato de natureza político-administrativa que
lhe coube tomar foi a fixação da data para as eleições que
deviam dar substituto a Costa Barros, recém-falecido.
Empossando-se a 3 de fevereiro, no dia 20 baixa uma
Portaria, com fundamento no Aviso do Ministério do Impérío
de 15 de novembro de 1839, marcando as eleições para o dia
31 de março e determinando que a apuração "tenha imprete-
rivelmente lugar no último dia de abril".
A oposição, isto é, o grupo castro-alencaríno, dominava,
com tremenda vantagem, o corpo eleitoral da província.
Contava eleger fàcilmente a lista tríplice.
Manoel do Nascimento Castro e Silva, preterido em duas
eleições anteriores, ia tentar agora pela terceira vez, e, na-
quela conjuntura, poderosamente ajudado por seu competidor
de outrora.
Mas um nome estranho à política local, forte e ostensi-
vamente bafejado pela situação dominante, surge na arena,
seguro e desafiador -: Miguel Calmon du Pin e Almeida,
futuro Visconde e Marquês de Abrantes.
Êsse ilustre político baiano já por duas vêzes fôra eleito
em lista tríplice e por duas vêzes fôra preterido -: a pri-
meira em 1837, quando se elegeu pela Bahia; a segunda em
1839, quando fôra eleito pela província fluminense.
Daquela vez frustrou-lhe as aspirações o regente Feijó,
seu adversário político; desta, o nôvb Regente, Araújo Lima,
seu amigo e correligionário. Argumentou êste que sendo,
então, Calmon Ministro de Estado, seria um grave precedente
a sua escolha, procedimento que Pedro II tentaria adotar
quando na posse de suas funções majestáticas.
Mas, segundo narra Pereira da Silva em sua História do
Brasil de 1831 a 1840, Araújo Lima teria prometido a Miguel
Calmon escolhê-lo quando da primeira oportunidade. (55)
Do desejo e interêsse do Regente na eleição de Calmon
parece ter sido intérprete junto a Souza Martins um dos

(55) Referência de Paulino Nogueira, na obra. citada. Ali afirma


êste historiador ter ouvido do próprio Pereira da Silva outras par-
ticularidades acêrca do fato.
190 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

nomes que iriam integrar a lista tríplice - : Antônio Ribeiro


Campos, cearense residente na Côrte, onde era advogado
provisionado, vindo a Fortaleza na fase preparatória das
eleições.
O certo é que o presidente não mediu esforços, injustos,
ilegais ou imorais, para eleger o candidato de Pedro de
Araújo Lima.
A eleição que se ia processar foi, na opinião de João
Brígida, "sem dúvida a mais violenta e inquinada de fraudes
que já se fêz no Ceará". (56)
"Contam-se dessa eleição coisas incríveis, e pena é que
quase tudo seja pura verdade", escreveu Paulino Nogueira. (57)
As prisões, o recrutamento, a violência ostensiva tiraram
ao eleitorado a mínima possibilidade de livremente exercer
o direito de voto, e tornaram a eleição uma farsa rnendaz e
tragicômica.
Dentre as ocorrências mais notórias por seu absurdo,
podemos citar as que tiveram lugar em Baturité e no Aracati.
A primeira é assim descrita por Paulino Nogueira:
"O trêfego e célebre padre Alexandre Francisco Cerbelon
Verdeixa tinha-se passado para os conservadores e queria,
corno sempre acontece aos trânsfugas, dar arras de sua leal-
dade ao govêrno, e ao mesmo tempo tomar uma vindita dos
liberais, cujo chefe, o senador Alencar, mandara prendê-lo já
uma vez em Arronches. Era Juiz de Paz em Baturité, e tinha
asseverado que nesse colégio, apesar de liberal, Calmon não
perderia um voto.
A hora da eleição, êle coloca-se com soldados à porta da
igreja, (58) disposto a prender a quem não votasse no candi-
dato do govêrno.
Vai um eleitor apeando-se do cavalo, cuja sela não traz
rabicho ...
- Esteja prêso! intima-lhe o padre.
- Por que? pergunta-lhe o eleitor atemorizado.

(56) BRíGIDO, J. - Eleições Senatorais, p. 16.


(57) NOGUEIRA, Paulino, op. cit., p. 11.
(58) Naquela época. as eleições realizavam-se nas igrejas, nota-
damente no interior das províncias.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 191

- Porque a sela do seu cavalo não traz rabicho; o que


é uma imoralidade!
Nisto vai-se apeando também outro eleitor, mas de um
cavalo cuja sela traz rabicho.
Esteja prêso! brada-lhe ainda o padre.
Por que? também pergunta-lhe o outro eleitor.
Porque a sela do seu cavalo traz rabicho ...
Então devo ser sôlto, retruca-lhe o primeiro eleitor,
porque a sela do meu cavalo não traz rabicho ...
- Não, Sr., observa-lhe o padre, a lei agora é esta: Prêsu
por ter cão e prêso por não ter cão!
Assim, com êstes escândalos, muitos eleitores foram à
cadeia, sendo soltos logo após a eleição." (59)
As eleições em Aracati foram também marcadas por
graves acontecimentos.
"Foi revoltante o que se deu no Aracati. Havia na Mesa
de Rendas ou coletoria daquela cidade setenta e tantos mil
réis, que deviam ser remetidos para a tesouraria da Fazenda
da província. A fim de arredar os eleitores que ali, como em
quase tôda a província, eram infensos à candidatura de
Calmon, foi esta insignificante quantia remetida por uma
escolta de 17 guardas nacionais, todos eleitores, nas vésperas
da eleição, tendo se recusado saque e outros meios de fazer
efetiva a remessa." (60)
Em tais condições não seria de estranhar o destino que
(59) NOGUEIRA, Paulino - Op. cit., p. 12. Narra Paulino ter
ouvido do próprio Verdeixa a descrição do episódio.
<60) BRíGIDO, J. - Eleições Senatorais, p. 16.
Em Cascavel, freguesia de 33 eleitores, a eleição não se pôde rea-
lizar. Os vereadores protestaram, enviando ao govêrno uma repre-
sentação em que participavam "que não se fizeram as eleições para
senador neste colégio! E por que, Exmo. Sr.? Porque o comandante
da fôrça policial dessa capital, emissário enviado, que se achava há
uns poucos de dias nesta vila a mendigar votos, e não os podendo
obter para o Sr. Calmon da maioria dos eleitores a. quem com impru-
dência importunava, unido com seu cunhado Joaquim José Ferreira,
tenente-coronel da Guarda Nacional, fizeram aparecer nesta vila
uma fôrça de cento e tantas praças, armadas de bacamartes, cla-
vinas, facas de ponta e pistolas; ocupando os becos e ruas desta vila
e por detrás das casas da Câmara incutiam o terror no povo etc. etc.".
Assinam o documento os vereadores Domingos Carlos de Sabóia, José
Pereira. da Costa, José Simões Branquinho, João Aires da Silva Olival.
Antônio Sebastião Sara.iva e Pedro de Queiroz Lima: PINTO, José
Marcelo - A Eleição de Miguel Calmon du Pin e Almeida. Revista do
Instituto do Ceará, Fortaleza, 75: 140-141, 1961.
192 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

aguardava o candidato da oposição, Manuel do Nascimento


Castro e Silva. (61)
Apesar disso, segundo informa Paulino Nogueira, "se
fôssem apuradas tôdas as atas favoráveis ao govêrno, e tam-
bém as do Crato e Granja, não duplicadas, em que a oposição
tinha tido totalidade de votos, e ainda mesmo anulado o
colégio de Cascavel, como foi, o resultado seria:

Padre Costa Barros . . . . . . . . . . . . . . 424 votos


Manoel do Nascimento . . . . . . . . . . . 356 "
Miguel Calmon ................. 262 " (62)

A presença de Nascimento na lista tríplice importava


numa derrota moral para o govêrno, e a solução seria uma
violência contra a Câmara de Fortaleza, a quem estava afeta
a apuração das eleições.
O presidente daquela Casa era elemento ligado ao clã
dos Castras, e o presidente Sousa Martins não hesitou em
substituí-lo, em Portaria de 27 de março de 1840, por José
Teófilo Rabelo, elemento de sua confiança.
A êste determinou, simplesmente, que assumisse a presi-
dência da Câmara e convocasse outra ...
A apuração, com novos escrutinadores, teve lugar em 30
de abril, e os votos que haviam entrado nas urnas com deter-
minados nomes iam, por um passe de mágica, dali sair com
nomes diversos e gerando totais bem diversos.
(61) Com violência e arbitrariedades iguais, embora não tão
ostensivas, procederia Alenca.r nas eleições de 1841, quando nova-
mente presidia o Ceará. E as maiores increpações contra sua conduta
partiram precisamente de Souza Martins, na Câmara dos Deputados,
sessões de 28 e 29 de abril de 1842: ANAIS do Parlamento Brasileiro.
Câmara dos Srs. Deputados - Sessão Dissolvida de 1842. Rio, 1882.
(62) NOGUEIRA, Paulino - Op. cit., p. 16.
Apesar da tremenda coação do presidente da província, as áreas
de influência do partido castro-alencarino apresentaram resultad0s
vitoriosos para Nascimento. É o que se verificou nos colégios seguintes:
Aquirás - Nascimento:
,, 16 votos; Calmon: 7 votos ..... .
Imperatriz 12 ,, ,, 8 ,,
Sobral 41 9
Granja 19 1
Crato 108 " 21. "

Ver PINTO, José Marcelo - Op. cit., p. 141.


FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 193

Foi esta a lista oficial eleita:

Miguel Calmon ............ . 441 votos


Padre Costa Barros ......... . 408 "
Ribeiro Campos ............ . 322 "

Como se vê, houve uma inversão total do resultado an-


terior. Nascimento, que obtivera um segundo lugar na lista
com 356 votos, nem sequer logrou aparecer na nova lista.
A operação lembra outra idêntica que teria lugar já em
nossos dias, nas eleições do Irã, ocorridas em 1954.
Segundo um articulista do New York Times, edição de
11 de março daquele ano, um eleitor, ao acabar de votar, fêz
três vêzes a saudação oriental em direção à urna. Quando o
interrogaram sôbre as razões daquele cumprimento, respon-
deu - : "Estou apenas fazendo a minha reverência à urna
mágica. Se alguém lá deita um voto para Mossadegh, quando
a urna é aberta transforma-se em um voto para o candidato
do Xá." (63)
A conduta do presidente Souza Martins, com relação à
eleição de Calmon, foi duramente profligada na Câmara e
no Senado.
Na sessão conjunta das duas casas, em 28 de abril de 1840,
o deputado Antônio José Machado, suplente dos caranguejos,
em exercício, defende o presidente da província e se esmera
em elogios a Miguel Calmon, que, a seu ver, não era, em
absoluto um desconhecido no Ceará.
Dando resposta a seu discurso, diz o deputado chimango
Vicente Ferreira de Castro e Silva, irmão de Nascimento:
"Em tempo competente aparecerão as escandalosas vio-
lências e tudo quanto tem sido praticado pelo presidente do
Ceará; então o Senado saberá quantos elementos foram de-
signados para destacamentos da Guarda Nacional na véspera
da eleição, quantos pronunciados e quantos presos.
"Sr. Presidente: o Ceará é hoje governado como uma
província conquistada; em tempo oportuno aparecerão as
(63) CARTER, Gwendolen M. & HERZ, John H. - Govern-ments
and politics in the twentieth century. New York, U. S. A., 1961.
194 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

violências, ameaças e meios indignos empregados nas elei-


ções do Ceará!
O partido que hoje ali domina é tão desinteressado que,
de tantas capacidades de que é composto, não achou em si
três candidatos!
Foi preciso que buscassem fora da província!
Infelizmente o Ceará tem sido algumas vêzes a roda dos
enjeitados." (64)
Nas sessões de 1 e 2 de junho do mesmo ano travam-se
vivos debates entre Honório Hermeto Carneiro Leão, futuro
Marquês do Paraná, e Teófilo Ottoni acêrca da conduta de
Souza Martins e da validade da eleição de Calmon.
Ottoni, grande tribuno e grande figura das hostes liberais,
termina um dos seus discursos com estas palavras, ainda
válidas no Brasil mais de um século depois-: "É abusando
assim de todos os recursos governamentais, fazendo j6go com
os empregos e até recorrendo às violências que os presidentes
conseguem às vêzes que uma verdadeira minoria se apresente
diante do público com caráter de maioria." (65)
A 20 de julho de 1840 o regente Araújo Lima escolhe
Miguel Calmon. (66)
Na sessão do dia 24 a Mesa do Senado remete à Comissão
de Constituição a Carta Imperial de nomeação do nôvo S€-
nador, bem como as atas das eleições dos colégios eleitorais
da província. Mas a tudo isso acompanham cinco represen-
tações contra as mesmas eleições: uma dos deputados José
Mariano Albuquerque Cavalcante, Manoel do Nascimento
Castro e Silva e José Ferreira Lima Sucupira, outra de 21
eleitores cearenses, outra da Câmara Municipal da vila de
Cascavel, outra do eleitor Tomás Lourenço da Silva Castro,

(64) ANAIS do Parlamento Brasileiro - Câmara dos Srs.


Deputados - Sessão de 1840 - Rio de Janeiro, 1884. Tomo I p. 163.
(65) Idem, p. 582.
(66) Teófilo Ottoni, escrevendo no jornal A Reforma, do Rio, em
maio de 1869. insinua que a Carta de nomeação de Miguel Calmon
foi assinada pelo Regente após a Maioridade (23 de julho), embora
levasse a data de 20.
A precipitação dos acontecimentos políticos teria levado Araújo
Lima a essa decisão, pois nem sequer esperou a vinda das Atas que
faltavam, por êle pedidas ao presidente do Ceará em ofício de 9
de julho de 1840: NOGUEIRA, Paulino - Op. cit., p. 19-21.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 195

e outra de Ricardo Rodrigues Setubal, eleitor da vila de


Jardim. (67)
Não obstante, na mesma sessão é lido o seguinte Parecer:
"A Comissão de Constituição e Diplomacia examinou o diploma
do Sr. Miguel Calmon du Pin e Almeida, Senador nomeado pelo povo
do Ceará, e as Atas gerais e parciais que o acompanham; bem que
Gbservem a falta de três colégios, como êles não pudessem nunca
excluir o Senador nomeado, que em tôdas as combinações possíveis
entra sempre na lista tríplice; é a Comissão de parecer que a nomea-
c:ão é legal e que portanto deve ser aprovado o diploma e convidado
o Senador nomeado a vir tomar assento." (68)

Ainda naquele dia dá entrada um requerimento do se-


nador José Martiniano de Alencar para que "se adie a
discussão dêste Parecer até que se averigue se os 5 colégios
que faltam, e não vão contemplados na apuração geral, alte-
ram a lista tríplice". (69)
Pôsto em votação no dia seguinte, êste requerimento não
foi aprovado. (70)
Na sessão de 28 de julho de 1840, Miguel Calmon tomava
posse no Senado como representante do Ceará.
Não conhecia a terra que ia representar na Câmara vita-
lícia; aqui nunca veio nem jamais revelou interêsse pelos
problemas provinciais. (71)
Narra João Brígida que sendo Calmon procurado para
incluir no orçamento subvenção para a iluminação de For-
taleza, então feita com azeite, a isso se opôs, "dizendo que era
um mal que se lhe fazia, porquanto sendo ela de palha, podia
arder!" (72) E segundo o conspícuo Paulino Nogueira, "não
se conta em tempo algum que Calmon fizesse um benefício
a esta província ou a qualquer de seus filhos, estando muito

(67) Atas das Sessões da Câmara dos Senadores do Império do


Brasil - Ano de 1840. Vol. IV. Rio de Janeiro, Tip. Nacional, 1840. Vol.
IV p. 56 e 57
(68) Idem
(69) Idem.
(70) Idem, p. 60.
(71) Fato análogo repetir-se-ia no período republicano com o
gaúcho Flores da Cunha. Eleito deputado federal pelo Ceará, por
decisão exclusiva das cúpulas partidárias, aqui nunca pôs os pés.
(72) BRíGIDO, J. - Eleições Senatoriais - p. 16.
196 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

no caso de fazê-lo, pois de então em diante sua estrêla cada


vez mais resplandeceu". (73)
É que êle devia saber, mais que ninguém, que não era
aos eleitores cearenses que devia a cadeira senatorial. Era
beneficiário de uma comédia eleitoral, na qual, como muito
bem acentua Oliveira Viana, "os deputados gerais, os sena-
dores e os deputados provinciais eram designados e eleitos
pelo mesmo grupo central que nomeava os ministros e os
presidentes de província, os chefes de polícia, os inspetores
de alfândegas, os comandantes das armas, os comandantes da
Guarda Nacional e sua oficialidade, os delegados de polícia
e os juízes ordinários. Utilizando esta aparelhagem centra-
lizadora e a passividade dos chefes de clãs eleitorais, o Centro
realizava uma espetaculosa simulação do regime democrático,
dando-nos a aparência enganadora de terem partido as elei-
ções de deputados e senadores da livre escolha do povo
local". (74)

* * *
Pouco mais de cinco meses após a posse do futuro
Marquês de Abrantes, falecia no Rio de Janeiro, em 4 de de-
zembro de 1840, João Antônio Rodrigues de Carvalho, o único
sobrevivente dos quatro primeiros senadores do Ceará.
Com o golpe de Estado da Maioridade, de que fôra um dos
principais arquitetos o senador Alencar, voltara já a pro-
víncia para o domínio dos chimangos, e era o próprio Alencar
quem estava, de nôvo, à frente dos seus destinos.
A oposição que logo se alinhou contra êle, foi tremenda,
não hesitando os caranguejos em recorrer à luta armada,
como aconteceu em Sobral, onde o conflito ia custando a vida
do próprio presidente, que ali se encontrava.
Opondo à ação dos adversários uma reação igual, Alencar
não mediu meios para pôr têrmo à desordem e esmagar
politicamente o partido contrário.
Pela Lei Provincial n.º 220, de 29 de dezembro de 40,
(73) NOGUEIRA, Paulino - Op. cit., p. 11.
(74) OLIVEIRA VIANA, F. J. - Instituições Políticas Brasileiras
- Rio de Janeiro, J. Olympio, 1955. l.º Volume, p. 367.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 197

suspendeu as garantias constitucionais expressas nos §§ 6,


7, 8, 9 e 10 do Art. 179 da Carta Magna do Império, os quais
asseguravam os direitos de livre trânsito, a inviolabilidade do
lar, a fiança, e proibiam a prisão sem culpa formada. (75)
Foi em tal situação de exceção que se processaram as
eleições de 6 de março de 1841, destinadas tanto a eleger a
lista tríplice do Senado como a representação à Câmara dos
Deputados.
A época era, paradoxalmente, de arrôcho em todo o país.
Haviam subido ao poder os liberais, mas aquêle liberalismo
era sui generis. Em tôda parte "as eleições do cacête, como
ficaram conhecidas, com o seu cortejo de fraudes, de com-
pressão, de violências", assim as definiu com acêrto o histo-
riador Otávio Tarquínio de Sousa. (76)
É que aos conspiradores vitoriosos da Maioridade também
animava "aquêle apetite de mando, aquela voracidade para
os empregos públicos que se tem misturado a quase todos os
nossos movimentos políticos e que estava no fundo da arran-
cada maiorista". (77)
No caso do Ceará havia ainda a considerar o aspecto de
vindita de que se revestia a conduta do presidente Alencar.
Não só os liberais haviam sofrido nas três últimas adminis-
trações conservadoras, como o presidente fôra flsicamente
vítima de atentado e de tentativa de deposição.
Na organização da chapa senatorial dos chimangos, era
evidente que se impunha, - e agora pela quarta vez -, o
nome do deputado Manoel do Nascimento Castro e Silva.
(75) É interessante observar que o primeiro ato do ministério
conservador de 23 de março de 1841. que se seguiu ao gabinete liberal
da Ma.ioridade, foi o decreto n. 0 68 de 29 daquele mês que suprimiu
por um ano na província de S. Pedro do Rio Grande do Sul aquêles
mesmos §§ do Art. 179 da Constituição do Império: ALMEIDA, Tito
Franco - O Conselheiro Francisco José Furtado. Brasiliana, 1944. p. 30.
(76) TARQUíNIO DE SOUSA, Otávio - Três golpes de Estado.
In: História dos fundadores do Império do Brasil. Rio de Janeiro,
J. Olympio, 1957. Vol. VIII.
Também Calógera.s, referindo-se às eleições que se seguiram à
Maioridade, quando o Gabinete envidava esforços para que "fossem
bem representados os liberais na Câmara vindoura", escreveu: "As
manobras eleitorais excederam tôda.s as expectativas, e as eleições
revelaram violências e desrespeitos à lei e à moral, que ultrapassaram
todos os exemplos passados". - PANDIÁ CALôGERAS, João - For-
mação histórica do Brasil. Rio de Janeiro, Brasiliana, 1938. p. 208.
{77) TARQUíNIO DE SOUSA, Otávio - Op. cit., p. 201.
198 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Além de elemento de primeira ordem do grupo castro-


-alencarino, agora com o domínio exclusivo do Ceará, êle e
seu irmão Vicente de Castro e Silva eram partidários do
movimento da maioridade e, portanto, bem situados nos altos
círculos políticos do govêrno.
Mas outra vez uma figura estranha à política provincial,
um nome dos mais prestigiosos e ilustres dentre os estadistas
nacionais - Antônio Carlos de Andrada Machado - foi pelo
próprio Alencar incluído na lista ao lado de Nascimento e do
padre José Ferreira Lima Sucupira.
Ora, Antônio Carlos era então o Ministro do Império, :J
manipulador da política nacional, e já fôra, há pouco, elei.to
em lista tríplice pelo Pará. Seu irmão Martim Francisco era
o Ministro da Fazenda, e os dois desfrutavam de imenso pres-
tígio no chamado ministério da Maioridade.
Pertencendo ao mais destacado clã político da Indepen-
dência e um dos mais expressivos e arrogantes do Brasil em
qualquer época, aquêle paulista não era homem para, se
eleito, admitir, naquela circunstância, uma preterição. (73)
Se sua inclusão na chapa significava a vitória eleitoral,
e se esta vitória significava a escolha imperial, como explicar
que Alencar o fizesse, sacrificando, destarte, seu amigo t
correligionário?
É mais um ponto ensombrado na complexa e discutida
personalidade de José Martiniano de Alencar.
Há quem considere o fato uma manobra dêste para evitar
no Senado a presença de um rival político, alguém da terra
capaz de ombrear com êle em projeção e prestígio. E assim
procedendo, ao mesmo tempo melhor se situava Alencar
junto ao poderoso Andrada, seu antigo companheiro de prisão
nas masmorras da Bahia, quando da fracassada Revolução
de 1817.
É possível que assim fôsse; Alencar nunca foi amigo
senão de si mesmo.

l 78) Dêle conta Tarquínio: "Orgulhoso como os irmãos, vaidoso


mais do que êles, asseverava entre risadas que era o maior homem
do mundo: "Pois não, Do mundo - a América; da América - o
Brasil; do Brasil - São Paulo; de iSão Paulo - Santos; de Santos -
os Andradas; dos Andradas - Eu." TARQUíNIO DE SOUSA, Otávio
- Op. cit., vol. IX, p. 198.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 199

Paulino Nogueira, sem conseguir explicar a conduta do


senador-presidente, acredita, com base em informação que
pessoalmente lhe deu o conselheiro Pereira Rebouças, grande
conhecedor dos fatos da época, que a inclusão de Antônio
Carlos foi quase imposta por Limpo de Abreu, futuro Visconde
de Abaeté, e então Ministro da Justiça.
"Antônio Carlos, escreve Paulino, ligado pelo mesmo
infortúnio, foi companheiro de cárcere de Alencar na Bahia;
assim como, ligado pelo ímã do patriotismo, foi ainda seu
aliado destemido em Lisboa e Rio, antes e logo depois da In-
dependência; mas romperam após desabridamente." (79) E
adiante: "Antônio Carlos não se apresentou candidato, é
verdade; mas é verdade também que sua candidatura teve
todo o início no ministério. Foi o Ministro da Justiça, Limpo
de Abreu, amigo íntimo de Alencar, quem escreveu a êste,
lembrando-a, justificando-a e interessando-se por ela." (80)
Segundo ainda Paulino Nogueira, Alencar, por dever de
lealdade, teria organizado a chapa senatorial com o major
João Facundo, seu vice-presidente e irmão de Nascimento. E
que teria mesmo sugerido a êste a inclusão de seu nome, em
vez do nome do irmão, porque considerava certa a escolha de
Antônio Carlos. Ao mesmo tempo que poupava a Nascimento
a derrota, dava a Facundo uma oportunidade de receber uma
consagração do povo cearense.
Facundo teria declinado, insistindo pelo nome do
irmão. (81)
Ao observador imparcial é, no entanto, difícil aceitar a
preterição de quem, por tantas e tão insistentes razões, devia
encontrar em Alencar seu maior aliado.
Procedida a eleição a 6 de março e apurada a 1.º de abril,
verificou-se que fôra fàcilmente eleita a lista tríplice apre-
sentada pelos chimangos, com a seguinte expressiva votação:

(79) NOGUEIRA, Paulino - Op. cit. Revista do Instituto do


Ceará, Fortaleza, 19: 185, 1905.
(80) Idem, p. 186.
(81) O fato é confirmado por um sobrinho de Nascimento, o
médico José Lourenço de Castro e Silva, que no folheto A Eleição de
um Senador, citado por Paulino Nogueira, declara ainda ter ouvido
de Antônio Carlos, em S. Paulo, nada ter pedido a Alencar sôbre
sua eleição.
200 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Antônio Carlos 658 votos


M. Nascimento Castro e Silva .... . 635 "
Padre José F. L. Sucupira ........ . 610 "

Para se ter uma idéia da enorme superioridade da vota-


ção dos situacionistas, basta compará-la com os votos obtidos
pela chapa dos caranguejos, e que foram os seguintes:

Padre José da Costa Barros ....... . 72 votos


Antônio Ribeiro Campos ......... . 66 "
Padre Vicente José Pereira ....... . 43 "

Mas o destino, que tanto tripudiara sôbre as pretensões


de Manoel do Nascimento Castro e Silva, iria agora, inespe-
radamente, abrir-lhe as portas do Senado do Império.
A 23 de março de 1841 ruía por terra o gabinete da Maio-
ridade, (82) e com êle o prestígio oficial de Antônio Carlos,
detentor de maior soma de ódios que de simpatias. Era e
elemento mais visado na nova situação, de largo predomínio
conservador.
Não havia mais condições para sua escolha. (83)
Por Carta Imperial de 17 de novembro de 1841, Castro e
Silva era escolhido senador pelo Ceará, e no dia 20 do mesmo
mês tomava posse na Câmara vitalícia.
A conduta de Alencar não lhe foi, contudo, indiferente.
Escrevendo em 18 de dezembro daquele ano a seu sobrinho,
o médico José Lourenço, dizia-lhe: "Parece que ainda deve
estar na vossa lembrança a ingratidão que se fêz a vós e a
mim nas últimas eleições, etc. etc." (84)
(82) A notícia da queda do gabinete só chegou ao Ceará em maio,
porque o navio que trazia a grande novidade naufragou em Alagoas.
Já dominavam os conservadores no govêrno do Império e por quase
um mês e meio permaneceram no ostracismo seus correligionários
cearenses. Assim, então, as comunica.ções agravavam os azares da
política ...
(83) Sôbre a discutida influência dos gabinetes na nomeação dos
senadores, ver o recente livro de João Camilo de Oliveira Torres -
Os Construtores do Império. São Paulo, Brasiliana, 1968.
(84) CASTRO E SILVA, José Lourenço de - Refutação às calú-
nias de Antônio Teodorico. Fortaleza, Tip. Brasileira de João Evan-
gelista, 1886. p. 66.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 201

* * *
A cadeira senatorial de Nascimento, a mais recentemente
preenchida, seria a primeira a abrir nova vaga. De fato, a 23
de outubro de 1846 falecia no Rio de Janeiro o senador cea-
rense, e, menos de seis meses depois, em 1. 0 de abril de 1847,
morria ali também o antigo Conde, agora Marquês de Lajes.
"Os dois espólios, no dizer de João Brígida, iam formar
o mesmo monte partível." (85)
As duas vagas da representação cearense no Senado iam,
pela primeira vez no Ceará, ser preenchidas à base de uma
eleição de lista sêxtupla.
No plano nacional comandavam os liberais e, em con-
seqüência, dominava ponticamente a província a facção
chimanga, incondicionalmente submissa à orientação do se-
nador José Martiniano de Alencar.
Inácio Correia de Vasconcelos havia já deixado o govêrno
provincial, e seu substituto, Casemiro José de Moraes Sar-
mento, ainda não assumira a presidência. Governava o Ceará,
quando das eleições, o vice-presidente, bacharel Frederico
Augusto Pamplona. (86)
Era êste um chimango de quatro costados. Como deputado
provincial combatera os desmandos políticos da administra-
ção Sousa Martins, fôra secretário da presidência no govêrno
de Alencar, e com o padre Tomás Pompeu, futuro senador,
fundara o O Cearense, o órgão liberal da província, cujo
primeiro número circulou no dia 4 de outubro de 1846.
Era homem de confiança do senador Alencar, e em 1840
publicara uma Ode louvaminheira ao seu mentor político,
obra de muito incenso e pouco mérito. (87)
Estava, portanto, Alencar em excelentes condições para
dar ao pleito o rumo que lhe conviesse.
(89) BRíGIDO, J. - Eleições Senatoríais, p. 22.
(86) Há equívoco do Barão de Studart no seu Dicionário Bio-Bi-
bliográfico, vol. II, verbete relativo a Pamplona, quando diz que êste
substituiu o presidente Casemiro Sarmento. Pamplona assumiu o
govêrno em 31 de agôsto de 1847, e a posse de Sarmento foi em 4 de
outubro do mesmo ano. Ver sôbre o assunto o documentado trabalho
do Barão Homem de Mello publicado na Revista do Instituto do Ceará,
Tomo IX, 1895.
(87) Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza. Tomo XVI, 1902.
202 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Na província, urna novidade surgira no plano partidário,


reflexo, sem dúvida, do que ocorria no govêrno central, na
capital do país. Era a presença dos chamados equilibristas
defecção dos caranguejos, primeiramente unidos aos liberais,
por algum tempo independentes.
Quando em 2 de fevereiro de 1844 o conselheiro Almeida
Torres, futuro Visconde de Macaé, organizou o gabinete de
que ocupou a pasta do Império, integrou-o com membros
do Partido Liberal por se haver desentendido com os chefes
conservadores, a que se ligava politicamente.
Seguiu-se urna onda de mau tempo para os caranguejos,
e em algumas províncias não foram raros os que abandona-
ram as hostes conservadoras para se unir aos liberais do-
minantes.
No Ceará, alguns conservadores de notória projeção, à
frente o Dr. Miguel Fernandes Vieira, filho do futuro Visconde
do Icó, figura de destaque do clã dos carcarás de São Mateus,
aderiram aos chimangos "no ilusório e absurdo intuito de
criarem um partido equilibrista ou do meio, mantenedor
do equilíbrio entre os existentes". (88)
A união não perduraria; os liberais não iriam nutrir com
seu prestígio o feto de urna nova facção política. Tão esdrúxu-
la e insustentável situação não oferecia condições de per-
manência, e os próprios liberais não tardaram a enxotar de
seu meio os interesseiros adventícios, os quais logo se viram
obrigados a retornar ao seu aprisco. Corno o diria, com acêrto,
João Brígida, o nôvo partido fôra "urna espécie de estado-maior
ou partido sem povo, composto somente de notabilidades." (89J
O senador Alencar organizou a lista que mais conviesse
a êle que ao partido ou aos correligionários. Decidiu eleger
seu primo e representante na província, padre Carlos Augusto
Peixoto de Alencar, o qual, desde 1838, com urna única inter-
rupção se vinha elegendo deputado geral pelo Ceará. E para
dar maior garantia à eleição do padre Carlos, escolheu como
outro candidato o Ministro da Marinha, Cândido Batista de
Oliveira, elemento estranho ao meio cearense, e cuja presença
(88) NOGUEIRA, Paulino - Vida de Antônio Rodrigues Ferreira.
Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza, 1: 31, 1887.
(89) BRíGIDO, João - Eleições Senatoriais, p. 22.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 203

na chapa atestava apenas que nenhuma diferença havia na


conduta de chimangos e caranguejos quando em jôgo estives-
sem interêsses pessoais ou de grupo.
Para o completamento da lista sêxtupla, Alencar esco-
lheu quatro amigos de menor altitude política, sem aparente
possibilidade de preterir qualquer dos dois candidatos. Foram
êles o último capitão-mor de Sobral, Francisco de Paula
Pessoa, comerciante e fazendeiro, anfitrião de Alencar nos
sangrentos sucessos de 1840 naquela vila; João Crisóstomo
de Oliveira, vice-presidente, comerciante e chefe político em
Aracati; Gregório Francisco de Torres Vasconcelos, advogado
em Sobral, um dos signatários da Ata de 26 de agôsto de 1824
que selou a adesão ao Ceará à Confederação do Equador;
Francisco Xavier de Souza, criador no Crato. Morrendo êste
antes da eleição, foi substituído por Manuel de Barros
Cavalcante, também do Crato.
Mas Alencar, organizando essa lista, ao mesmo tempo que
feria fundo um correligionário preeminente, dava a medida
da versatilidade de seu caráter.
Vicente Ferreira de Castro e Silva, irmão de Nascimento,
chimango genuíno, era o nome naturalmente indicado para
substituir o irmão na cadeira senatorial. Com a morte do
mano senador e o assassinato de Facundo, também seu
irmão, repartia com Alencar a chefia do grupo castro-alen-
carino.
Era, no momento, deputado geral por sua província, e
nessa situação se vinha mantendo em várias legislaturas. Na
Câmara dos Deputados sempre fôra uma voz atenta e vibrante
a verberar os desmandos dos adversários conservadores, er-
guendo-se por várias vêzes em defesa do próprio Alencar.
Sua exclusão da chapa por quem devia ser o primeiro a
lembrar seu nome pareceu-lhe absurda e injusta preterição.
Mas Alencar era político sem estranhas: repetia com Vicente
de Castro e Silva a mesma indefensável atitude que assumira
em relação a Nascimento seis anos antes. Contra êste jogara
Antônio Carlos; contra aquêle lançava agora o nome do mi-
nistro Cândido Batista.
O Barão de Studart, ligado pelo sangue materno ao clã
dos Castras, assim se refere à iníqua conduta do padre-se-
204 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

nador em relação a seu antepassado -: "Em 1847 tendo de


proceder-se à nova eleição conjuntamente com a de senadores
para preenchimento das vagas deixadas por Manuel do Nas-
cimento e Marquês de Lajes, Vicente de Castro achou na
ingratidão de um correligionário, por quem se devotava e que
lhe fazia os maiores protestos de amizade, a paga de constan-
tes e dedicados serviços. É conhecido do País o ato de Alencar
para com o homem que lhe suavizara a sorte em dias angus-
tiados e que se constituíra seu advogado perante o governador
Sampaio e mais tarde perante os amigos de Conrado Jacob
de Nierneyer, o presidente da Comissão Militar.
Quando tudo fazia crer que Alencar seria o primeiro a
apoiar a candidatura de Vicente de Castro, viram-no todos
com espanto, no intuito de fazer a imperial escolha recair
sôbre um seu parente, o padre Carlos de Alencar, resolver-se
a arredar da votação o competidor respeitável, o qual, não
obstante, deixou de ser contemplado na lista por diferença
de 31 votos, sendo para isso roubadas as urnas da eleição em
Telha e Crato, esta última pelo próprio sobrinho de Alencar,
o alferes Xilderico." (90)
Para o organizador da chapa havia a certeza de que se
eleito fôsse na lista tríplice o irmão de Nascimento, com o
volume e o nível de amizades que granjeara nos meios polí-
ticos da Côrte, seria decerto escolhido. E corno a outra escolha
seria seguramente o Ministro da Marinha, a solução era
alijá-lo do pleito.
O fato motivou urna cisão nas hostes chimangas; os cor-
religionários e parentes de Vicente, numerosos e indignados,
romperam com Alencar.
O médico José Lourenço de Castro e Silva, a pena mais
fluente e fértil da família Castro, em mais de urna ocasião
deixou extravasar a mágoa e o inconformismo que dela se
apoderou ante a felonia de Alencar que, "tendo prometido a
meu tio Vicente Ferreira de Castro e Silva incluí-lo na lista
tríplice à senatória, o excluiu, guerreando-o traiçoeiramente

(90) STUDART, Guilherme, barão de - Dicionário Bibliográfico


Cearense. Fortaleza, Typ. Minerva, 1910-15. 3 V.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 205

apesar de ter-se dado uma outra vaga de senador, pelo que


formou-se uma lista sêxtupla". (91)
É êle próprio quem escreve ainda -: "O Sr. Vicente de
Castro e Silva e seu irmão Nascimento, sendo amigos do
governador Sampaio, puderam suavizar a triste sorte do Sr.
Alencar, quando encerrado com seu pai (92l e sua mãe no
imundo cárcere da fortaleza, mandando-lhes todos os dias
uma bandeja com a comida; e o primeiro (Vicente) em 1824,
além de uma subscrição que lhe agenciou, empenhou-se a
não descansar, até conseguir recomendações do Sr. João
Severino (Marquês de Queluz) para o Sr. Conrado, coman-
dante das armas desta província e presidente da Comissão
Militar, afim de que o protegesse. E exclui-o da lista sêxtupla
quando tinha sido o seu maior amigo nos tempos de aflição;
era ainda seu amigo e lhe tinha ouvido afirmar que entraria
na chapa! ... " (93)
O rompimento dos Castras e seus amigos com Alencar,
levou-os a uma união sem êçito com os equilibristas. Chefe
incontestável da política cearense, que mais eficazmente ma-
nobrava junto aos centros de decisão da Côrte que no ronceiro
meio provinciano, o padre-senador não teve dificuldades para
ganhar mais aquêle pleito. Já então as eleições, escreve João
Brígida, "se faziam por um método sumaríssimo. Os desta-
camentos tomavam as matrizes, escreviam-se algumas atas,
e nada mais. Havia algum povo ciscado pelas vilas e pelo
campo; mas êste só entrava na eleição como veículo''. C94l
Para melhor atender a seu chefe e mentor político, o
vice-presidente Pamplona, além da pressão policial que pôs
em ação, foi pródigo no uso, para fins eleitorais, dos saldos
de doações filantrópicas de outras províncias para os flage-
lados da sêca de 1845, ainda à disposição do govêrno cearense.
Tais saldos haviam sido destinados a uma instituição assis-
tencial, e essa atitude imprudente e pressurora do vice-pre-

(91) CASTRO E SILVA, José Lourenço - Op. cit., p. 61 e 62.


(92) Há aqui uma clara referência ao padre Miguel Saldanha,
prêso com Alencar em 1817. Há uma suposição, não historicamente
comprovada, de que Martiniano de Alencar era filho daquele sa-
cerdote.
(93) CASTRO E SILVA, José Lourenço - Op. cit., p. 62.
(94) BRíGIDO, João - Eleições Senatoriais, p. 23.
206 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

sidente em exercício custou-lhe tremendas preocupações,


visto como os eleitos recusaram-se a pagá-la porque a isso
não se haviam comprometido.
A apuração foi concluída no natal de 1847 e a lista orga-
nizada por Alencar teve, como se esperava, a vitória asse-
gurada.
Mas do prato à bôca se perde a sopa, como costumava
dizer o velho e sábio Capistrano de Abreu nas suas cartas.
As oscilações dos ministérios e a gangorra dos partidos
nas posições de mando, iam frustrar os planos do senador
Alencar.
Tal como acontecera em relação a Antônio Carlos, eleito
mas não escolhido, a mudança inesperada de gabinete iria
roubar ao primo de Alencar a suspirada cadeira na Câmara
vitalícia.
Quando chegou o momento decisivo da escolha, já do-
minavam a situação os saquaremas, nome nôvo da grei
conservadora.
Ao gabinete de 29 de setembro de 1848, presidido a prin-
cípio pelo Visconde e futuro Marquês de Olinda e depois pelo
Visconde de Monte Alegre, gabinete nitidamente conservador
e que se afirmaria como um dos mais expressivos e empreen-
dedores do 2.º Reinado, caberia influir na imperial escolha.
As preferências do Decreto Imperial de 23 de dezembro
daquele ano recaíram no conselheiro Cândido Batista e
Francisco de Paula Pessoa.
O primeiro tomou posse a 29 do mesmo mês e ano, isto
é, seis dias depois de nomeado; o segundo exatamente um
ano depois.
Cândido Batista de Oliveira era natural do Rio Grande
do Sul, onde nasceu a 15 de fevereiro de 1801. Aos 23 anos
doutorou-se em matemática em Coimbra e já em 1827, de
retôrno ao Brasil, era nomeado lente daquela matéria na
Academia Militar.
Foi deputado geral em 1830 por sua província natal. Em
1839, no 2. 0 gabinete da Regência de Araújo Lima, foi mi-
nistro de Estrangeiros e, interinamente, da Fazenda. Em 1847
foi Ministro da Marinha, e na sua passagem por êsse Minis-
tério é que se deu a criação do Corpo de Fuzileiros Navais.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 207

Também prestou serviços ao Império no exterior. Foi


plenipotenciário na Sardenha, em São Petersburgo e Viena,
onde privou da amizade de Metternich.
Conselheiro do Império e membro do Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro (1. 0 vice-presidente), possuía várias
condecorações nacionais e estrangeiras. Em 1851, já senador
pelo Ceará, foi diretor do Jardim Botânico.
Cândido Batista faleceu em 26 de maio de 1865, a bordo
do vapor francês Peluse, à altura da Bahia, quando em viagem
para a Europa. Foi sepultado na capital baiana.
Tal como os não cearenses Conde de Lajes e Marquês
de Abrantes, também Cândido Batista nunca pôs os pés na
província que, por 17 anos, representou no Senado do Império.
O outro escolhido, Francisco de Paula Pessoa, era um
cearense de Granja. Ali nasceu no século XVIII, em 24 de
março de 1795.
Depois de Cândido Batista e padre Carlos Peixoto de
Alencar, era o nome mais expressivo da lista sêxtupla.
Em 1819 mudou-se para Sobral, vila e depois cidade a que
política e comercialmente se ligou até a morte. Foi também
criador nas zonas norte, centro e centro-oeste da província,
e como criador um dos maiores do Ceará.
Em Sobral foi presidente da Câmara Municipal, e ocupou
as mais destacadas posições na vida pública local. Por Carta
Patente de 16 de agôsto de 1827 foi nomeado capitão-mor das
ordenanças, em 6 de julho de 1827 coronel chefe de legião
da Guarda Nacional, e em 4 de julho de 1844 comandante
superior da Guarda Nacional de Sobral.
Era membro honorário do Instituto de Advogados da
Côrte. Em 1845 foi agraciado com a comenda de oficial da
Ordem da Rosa, e cinco anos depois foi nomeado Fidalgo
Cavalheiro da Casa Imperial.
Paula Pessoa era irmão do coronel João de Andrade
Pessoa Anta, um dos mártires da Confederação do Equador,
fuzilado em Fortaleza no dia 30 de abril de 1825. Essa
vinculação por laços de sangue com quem fôra considerado
réu de alta traição, implicou para êle no confisco de parte
dos seus bens, o que o obrigou a viajar ao Rio de Janeiro em
1826, no persistente esfôrço de reaver o que fôra tomado.
208 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Na Côrte fêz boas relações, que o tornaram conhecido e


que terão concorrido para a sua escolha na lista eleita.
É tradição corrente que, devoto extremoso da Virgem
Santíssima, à santa implorara três graças: ser senador do
Império, viver 80 anos e ferrar dois mil bezerros. Tudo isso
alcançou, e quando já ultrapassava aquela idade implorou à
Virgem uma suplementação de .idade, alegando que era 80
anos muito pouco. . . (95)
Faleceu em Sobral aos 16 de julho de 1879, com 84 anos
de idade. Deixou descendência ilustre, e entre os filhos des-
taca-se o conselheiro Vicente Alves, magistrado e jurista e,
como o pai, ocupante de uma cadeira no Senado imperial. Seu
genro, conselheiro Rodrigues Júnior, foi Ministro da Guerra
no gabinete liberal de 24 de maio de 1883, presidido por
Lafayete Rodrigues Pereira.
A Francisco de Paula Pessoa, a cadeira senatorial valeu
apenas como uma manifestação nacional de prestígio. O
exercício da atividade legislativa não o seduzia. A prova é que,
escolhido em dezembro de 1848, só um ano depois deslocou-se
à Côrte para tomar posse. :í!:le, que foi o cearense que mais
tempo permaneceu numa cadeira de senador - 31 anos·-,
ao Senado só compareceu nos primeiros quinze anos do seu
mandato.

* * *
Em 15 de março de 1860, vítima de uma febre persistente,
talvez uma infecção tifóide, falecia no Rio de Janeiro, aos
65 anos, o senador José Martiniano de Alencar.
No silêncio do túmulo aguarda ainda a palavra de um
biógrafo quem em sua existência condensou quase meio
século de história do Ceará.
O julgamento da posteridade talvez não lhe seja favo-
rável, mas só uma intensa pesquisa documental e uma desa-
paixonada análise poderão concluir se do somatório de seus
méritos e deméritos vai surgir uma resultante positiva.

(95) CASTELO, Plácido Aderaldo - O deputado Paula Rodrigues.


Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza, 72, 1963.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 209

Muitos dos seus erros afiguram-se seqüelas do seu meio


e do seu tempo, mas erros êle também os possuía inatos e
indiscutíveis. Como inatos e indiscutíveis eram, por igual,
seus másculos atributos.
Talvez uma crítica generosa possa um dia, em relação a
Alencar, aplicar o afortsmo de Goethe, para quem "os defeitos
de um homem são produto de sua época; sua grandeza e suas
virtudes, deve-as êle a si próprio".
Para suceder ao falecido senador na Câmara vitalícia, um
nome se destacava particularmente credenciado: Miguel
Fernandes Vieira, chefe conservador da província, homem de
fartura econômica e líder inconteste de um dos mais nume-
rosos clãs rurais do Ceará.
Era, então, deputado geral, e se constituía num dêsses
raros exemplos de político que nas lutas partidárias mais
encontrara canseiras e encargos que proveito e recompensa.
Vimos, páginas atrás, o insucesso que logrou, à frente dos
equilibristas, quando do preenchimento das vagas decorrentes
da morte de Manoel do Nascimento Castro e Silva e Marquês
de Lajes.
Filho do Visconde de Icó, Francisco Fernandes Vieira,
nasceu em Saboeiro a 13 de janeiro de 1816, e com apenas 21
anos bacharelou-se em Direito em Olinda. Foi deputado pro-
vincial e geral, secretário do govêrno e Juiz de Direito em
Sobral. Era um dos fundadores e dirigentes do Pedro lí,
jornal conservador da província.
Em tôrno de seu nome se reuniram os saquaremas cea-
renses, nome nôvo com que se crismavam os caranguejos. (96)
Mas dentro de seu próprio partido ia encontrar Fernandes
Vieira um competidor capaz de anular-lhe a vitória certa.
O desembargador Antônio José Machado, também
deputado geral conservador, ergueu-se em postulante da vaga
senatorial e cindiu, com o seu gesto inesperado, os saquaremas
cearenses.
Nasceu Machado em Fortaleza a 14 de outubro de 1809.

l96) A denominação saquarema proveio do fato de Rodrigues


Tôrres, visconde de Itaboraí e um dos principais líderes conservadores,
possuir uma fazenda em Saquarema, província do Rio de Janeiro.
210 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Iniciou em Coimbra seus estudos de Direito, mas viria for-


mar-se em Olinda em 1834.
Foi Juiz de Direito em Aracati, Sobral e Baturité. Chegou
a desembargador, tendo antes exercido, por duas vêzes, as
funções de Chefe de Polícia da província. Foi deputado pro-
vincial e geral.
O êxito que logrou ao eleger-se na lista tríplice, deve-se
ao apoio maciço dos liberais capitaneados pelo padre Tomás
Pompeu. É êste um episódio da história política cearense
hoje definitivamente esclarecido depois da publicação da
Correspondência do Senador Pompeu, por nós levada a
efeito em 1960. (97)
De fato, naquela época, eram os liberais da província
eficazmente orientados por Francisco Otaviano de Almeida
Rosa, prócer nacional do Partido Liberal, que da Côrte ins-
truía com segurança e habilidade seus correligionários do
Ceará sôbre os problemas políticos daqueles dias.
As cartas que enviou, então, ao futuro senador Pompeu,
sôbre esta eleição, revelam-nos como se processou o apoio
da corrente liberal à candidatura do desembargador Machado.
Escrevendo a Pompeu em 6 de junho de 1860, dizia Ota-
viano:
"Vocês não podem desta vez meter na lista tríplice um candidato
seu; por que razão não escolhem dos conservadores um menos hostil
para sôbre êle fazerem recair seus votos e impedir que o Miguel seja
o l.º da lista tríplice?
Conversando eu com o Nabuco (98) êle me observou que o
Machado, se vier na lista, é o escolhido e que se os liberais tivessem
tino, neutralizavam-no no Senado, fazendo recair seus votos sôbre
êle. Pense nisto, meu amigo. O Machado separou-se do Miguel na
questão bancária e não está no íntimo da oligarquia, por ser do par-
tido do Olinda. Se tiver de fazer alguma coisa neste sentido, tenha
reserva para que o Miguel não contramine." (99)

(97) CORRESPONDP:NCIA do Senador Pompeu. Organizada e


anotada por José Aurélio Saraiva Câmara. Fortaleza, Tip. Minerva,
1960.
(98) José Tomás Nabuco de Araújo, uma das mais notáveis figu-
ras políticas e jurídicas do 2. 0 Império. Deputa.do geral em várias le-
gislaturas, Senador, Presidente de São Paulo, Conselheiro de Estado,
três vêzes Ministro da Justiça.
(99) CORRESPONDftNCIA do Senador Pompeu. p. 27 e 28.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 211

Dois meses depois, a 6 de agôsto, Otaviano volta ao assun-


to em carta a Pompeu.
"Agradeço-lhe também, a consideração em que tomou o que lhe
disse sôbre o Machado. Não falei a êste sôbre as condições, mas elas
decorrem naturalmente. Qualquer coisa que lhe pareça necessário, me
mandem dizer, porque imediatamente exigirei o concurso do Machado
e seu protetor, e caso êles esfriem, também nós esfriaremos." (100)

Ainda sôbre o assunto, no dia 6 de setembro seguinte,


escrevia Francisco Otaviano ao correligionário cearense:
"Reitero as observações que fiz a respeito do Machado. A entrada
do Miguel no Senado será um nôvo elemento de fôrça contra os libe-
rais daí. A entrada do Machado, tendo êle recebido os votos dos
liberais, não só fará dano já à prepotência do Miguel, como a solapará
de modo a matá-la. O Machado me disse em casa do Nabuco sue a
sua posição antes da votação senatorial não podia ser francamente
hostil ao Miguel; seria isso dar-lhe tema. para as intrigas locais:
mas comprometeu-se a proteger a vocês logo depois de terminado o
pleito e de lhes fazer todo o benefício." (101)
Como se vê, as demarches de bastidores, os conchavos
secretos se processavam entre os liberais e Antônio José Ma-
chado para ferir de morte o seu correligionário e chefe de
partido.
E fato que acontecia no passado e se repetiria com fre-
qüência no presente no panorama político nacional e dos
Estados.
A indefinição partidária, a ausência de objetividade
cívico-política dos partidos, a eterna prioridade dos interêsses
pessoais sôbre os partidários, no Império corno na República,
insinuavam tais situações.
Schreiner, plenipotenciário da Áustria no Rio de Janeiro,
assim escrevia em 6 de janeiro de 1876 para sua chancelaria
em Viena: "O Partido Liberal não é um partido liberal, nem
o Partido Conservador um partido conservador, na acepção
européia da palavra. O Brasil é um país demasiado jovem
para que tais contrastes possam aqui se formar. Todos os dois
partidos são partidos monárquicos constitucionais, e as

(100) Idem, p. 28.


(101) Idem, p. 29.
212 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

nuances que os separam são imperceptíveis para um es-


trangeiro." (102)
Não era só aos olhos estrangeiros; os nacionais também
não enxergavam distinções. Na Monarquia, como no período
rnpublicano. Nós mesmos já tivemos oportunidade de escrever
sôbre o assunto: "Falta aos nossos partidos aquela armadura
de disciplina, aquela definição de princípios e coerência de
atitudes que deveriam caracterizá-los e torná-los úteis à
Nação quer como orientadores sensatos da opinião pública,
quer como escolas de estadistas ou instrumentos eficazes da
democracia. Não possuem aquêles programas fundamentados
e sinceros que aos olhos e ouvidos do povo se apresentam nas
antepelejas eleitorais dos grandes países civilizados. Não têm
programas nem idéias, e o objetivo é um só-: a conquista
do poder a qualquer preço. Aparentemente distintos, apresen-
tam a mais absoluta analogia quando reduzidos ao imperioso
denominador comum que resulta da mesma falta de atributos
políticos, da ausência comum de inspiração patriótica, da
mesma gritante incapacidade dos líderes.
Igualam-se na fórmula irrecorrível do zero igual a zero.
No simples jôgo de letras das legendas - como arguta-
mente disse alguém, concentram-se suas diferenças es-
senciais." 003)
Não conseguimos a data da realização daquelas eleições,
mas sua apuração final teve lugar a 10 de abril de 1861 com
o seguinte resultado:
l ,~~.'-;.&-,~. ·-···

Miguel Fernandes Vieira . . . . . . . . . 732 votos


Antônio José Machado .......... 554 "
Raimundo Araújo Lima ......... 517 "

O apoio dos liberais e dos saquaremas dissidentes não foi


suficiente para arrancar a Fernandes Vieira o l.º lugar na
lista tríplice, como queria Francisco Otaviano.

(102) Apud Lyra, Heitor - História de Dom Pedro II. São Paulo,
Brasiliana, 1939. Vol. 2. 0 , p. 512.
(103) CAMARA, José Aurélio Saraiva - Pluralismo partidário.
Unitário, Fortaleza, 24 jul. 1955.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 213

Em 21 de maio era Machado escolhido senador pelo


Ceará. Na opinião de João Brígido "o nôvo senador, que tinha
feito sua política nos salões do Rio de Janeiro, fugindo às
rudes contrariedades do tête à tête de província, deixou pro-
vado que os homens políticos principalmente estão sujeitos
à lei do sic vos non vobis. Bastou-lhe conquistar a estima dos
homens de govêrno, tornando-se o dispensador de suas graças
e favores, para que sua individualidade pesasse mais do que
todo seu partido." (104)
No dia 29 de maio do mesmo ano, Antônio José Machado
era empossado no Senado. Mas os fados lhe foram adversos:
no dia 12 de julho seguinte falecia no Rio de Janeiro. Exercera
o mandato durante apenas 43 dias, o menor período até hoje
registrado no exercício de função senatorial na história
política cearense.

* * *
Ainda não serenara a agitação que a eleição anterior
provocara na província e já o meio político era tumultuado
com um nôvo pleito.
Miguel Fernandes Vieira, que mal ensarilhara as armas
de uma campanha que, se lhe não dera a vitória, oferecera, no
entanto, uma comprovação da sua fôrça político-eleitoral, de
nôvo se apresenta como o candidato mais forte.
Novamente Otaviano, preocupado com a importância da
eleição para a política liberal, faz sugestões acêrca da conduta
dos correligionários cearenses.
Em 24 de julho de 1861, assim se dirige ao padre Pompeu,
chefe indiscutido dos liberais da província:
"Com o falecimento do Machado, têm os liberais daí de pensa-
rem sôbre a organização de sua lista tríplice. Me parece q. as
mesmas razões pelas quais adotaram vocês o Machado militam para
adotarem o Figueira. Aqui tem-se feito grande intriga contra êle
alegando-se que deu provimento aos recursos eleitorais dos liberais;
é pois mto. natural que os liberais o auxiliem. Eu tenho interêsse
pelo Figueira, que foi sempre meu companheiro benévolo e bom
camarada. Além disto a entrada dêle na lista liberal não prejudica

(104) BRíGIDO, J. - Eleições senatoriais, p. 34.


214 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

a você e ao padre Pinto, (105) que devem ser candidatos. Só preju-


dica aos vermelhos da província." (106)
Considerando a impossibilidade de os liberais do Ceará
elegerem um elemento das suas hostes na lista tríplice,
Otaviano insinuava que se votasse em quem, dentre os con-
servadores, melhor conviesse aos interêsses do partido.
Jerônimo Martiniano Figueira de Melo era um cearense
de comprovado valor, já àquela época. Mais tarde sua proje-
ção nacional ainda mais cresceria.
Nascera em Sobral a 19 de abril de 1809. Foi membro do
Tribunal d.a Relação de Pernambuco e da Côrte, e do Supre-
mo Tribunal de Justiça, hoje Supremo Tribunal Federal. .F'oi
também Chefe de Polícia da capital do Império (1855), presi-
dente do Maranhão (1843), e do Rio Grande do Sul (1871).
Político militante, exerceu a deputação geral pelas provín-
cias do Ceará e Pernambuco, e chegaria ao Senado em 1870
como representante de sua província natal.
Os liderados de Pompeu, compreendendo certamente a
justeza da opinião de Francisco Otaviano, que devia ser a
dêles próprios, votaram em Figueira de Melo e apresentaram
também, como candidatos, o padre Pinto de Mendonça e o
próprio Pompeu.
O resultado das eleições, publicado na imprensa da época,
foi o seguinte:

Miguel Fernandes Vieira ............ . 742 votos


Domingos Nogueira Jaguaribe ....... . 686 "
Raimundo Araújo Lima ............. . 641 "

Fernandes Vieira, l.º da lista tríplice, viu desta vez


coroados de êxito os seus esforços. Por Carta Imperial de 9 de
abril de 1862 foi escolhido Senador. Empossou-se no Senado
em 31 de maio do mesmo, mas um destino trágico não lhe
<105) O cônego Antônio Pinto de Mendonça. foi elemento de des-
taque entre os liberais cearenses, dos quais se afastaria depois para
se unir aos conservadores graúdos, dissidência do Partido Conservador,
chefiada por Domingos Jaguaribe e Joaquim da Cunha Freire. Barão
de Ibiapaba. Nasceu em Aracati e faleceu em Quixeramobim em abril
de 1872, em cuja igreja matriz está sepultado. Foi deputado e vice-
-presidente da província.
(106) CORRESPONDENCIA do Senador Pompeu, p. 30.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 215

permitiu uma posse duradoura da cadeira ambicionada. Tal


como seu antecessor Antônio José Machado, ocupou-a por
tempo curtíssimo - apenas 66 dias pois em 6 de agôsto
daquele ano morria no Rio de Janeiro.

* * *
A vaga senatorial que se abria com a morte de Miguel
Fernandes Vieira ia abrir caminho à Câmara vitalícia da
maior figura que o Ceará mandou ao Senado do Império:
o padre Tomás Pompeu de Souza Brasil.
Era grande pelo intrínseco valor pessoal, e êsse valor ele
o dedicou todo à província e à Nação, de modo expressivo, nos
treze anos que durou seu mandato de senador, e, no plano in-
telectual, já antes dêle.
Nascera em Santa Quitéria, então simples povoação da
freguesia de Sobral, em 6 de junho de 1818.
Ligava-se, pelo sangue paterno, a dois mártires das idéias
liberais no nordeste brasileiro - os padres Miguelinho e
Moro ró.
Em 1841 ordenou-se em Olinda, e dois anos depois ali
também se formava em Direito.
No Ceará, para onde logo retornou, cedo pôs sua inteli-
gência e devotamento a serviço da instrução pública. Foi o
primeiro diretor do Liceu do Ceará, criado pela Lei Provincial
n. 0 304 de 15 de junho de 1844.
Nesse estabelecimento lecionou História e Geografia, e
nesta matéria não tardou a tornar-se uma sumidade nacional.
Em certa época chegou a ser considerado o maior geógrafo
brasileiro. Assim o afirmava, entre outros, o douto Cândido
Mendes de Almeida.
Um seu Compêndio de Geografia, de 536 páginas, publi-
cado em Fortaleza em 1856, foi oficialmente adotado no Im-
perial Colégio de Pedro II e em todos os liceus e seminários
do Império. Era obra de um professor de trinta e poucos anos.
Publicou, além dêsse, sete outros livros de grande valor, todos
versando preferentemente sôbre aquelas duas ciências.
"Aos estudiosos dos problemas do Ceará e do Nordeste,
alguns ainda hoje insolúveis e desafiantes, admira a orienta-
216 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

ção científica, o método, a seriedade com que há cem anos,


numa província pobre e desassistida de todo estímulo inte-
lectual, Tomás Pompeu os enfrentava e os interpretava. À
análise dos problemas regionais, nenhuma contribuição in-
dividual é, na época, comparável à sua.
Não é de admirar que um homem assim, a quem o exer-
cício da política não desviava das preocupações científicas.
desfrutasse de um conceito excepcional na camada mais cate-
gorizada da sociedade do seu tempo.
Quando, aos 45 anos, viu-se escolhido senador do Império,
"supremo anelo dos homens do antigo regime", como o diria,
por experiência própria, o Visconde de Taunay, seu nome já se
afirmara nos círculos intelectuais do país. Numa época tão
diversa da nossa, em que o fator mental era condição de
afirmação política, Pompeu teria fatalmente de ser o que
foi-: "a mais perfeita e íntima união do prestígio político e
intelectual que registra a história do Ceará". 007)
No campo da política partidária militou sempre nas
hostes do Partido Liberal, de que logo se tornou em sua pro-
víncia um chefe de invulgar prestígio e autoridade.
Foi também jornalista atuante, e um dos fundadores do
órgão liberal O Cearense.
Antes de atingir as culminâncias do Senado, já fôra
deputado geral de marcante operosidade.
Deixou progênie ilustre, e pelo menos um filho e um
neto, seus homônimos, figuram entre as maiores cerebrações
que enobreceram a paisagem mental do Ceará.
Era êste, em rápidos traços, o homem em tôrno de quem
os liberais cearenses cerraram fileiras para levar à Câmara
vitalícia em princípio de 1864.
Mais uma vez Francisco Otaviano se dirige a Pompeu
acêrca das eleições senatoriais. Mais preocupado com o pro-
blema em têrmos nacionais que provinciais, amigo pessoal
de Paes Barreto, 008) descrente, talvez, das possibilidades

(107) CAMARA, José Aurélio Saraiva - Introdução à Correspon-


dência do Senador Pompeu, in citada.
(108) Francisco Xavier Paes Barreto, político pernambucano que
presidiu o Ceará de outubro de 1855 a meados de 1857, fôra Ministro
da Marinha do Gabinete Conservador de 10 de agôsto de 1859, pre-
sidido por Angelo Muniz da Silva Ferraz. Oriundo do Partido Con-
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 217

eleitorais de Pompeu, insinua um esfôrço em tôrno do prócer


pernambucano em quem via o candidato mais conveniente.
É o que se depreende de sua carta de 21 de agôsto de 1862,
dirigida ao chefe liberal cearense:
"Meu caro Pompeu.
A morte do Miguel te obriga a entrar de nôvo na luta eleitoral.
Tudo conspira para que o teu trabalho agora seja. mais suave e
coroado de bom resultado. O ministério do Império está, como sabes,
nas mãos do Olinda, e o da Justiça nas do Cansanção. Isto quer
dizer que as pastas políticas não pertencem à oligarquia e que temos
tôda a esperança de que a presidência da prov. será favorável à livre
expressão do voto, neutralizando mesmo o predomínio que por cir-
cunstâncias deploráveis chegaram a conquistar os nossos adversários.
Mas, meu Pompeu, a eleição do Ceará pode ter um grande alcance
político. Os homens talhados pelo seu caráter e pela sua fôrça de
vontade para abalarem a oligarquia do norte são o Paes Barrete e
o Saraiva. Ambos estão ligadíssimos conosco porque não querem
servir de instrumentos servis a uma súcia de garimpeiros sem mérito
que monopoliza o govêrno da sociedade. Todos os nossos amigos que
acabam de, por seus esforços, dar no sul uma prova de homenagem
ao Zacarias, querem que no norte se dê também ao Paes Barreto.
ottoni, eu, Saldanha, Lobo, Souza Franco, D. Manuel, todos nós,
enfim, pedimos a V. que faça com que nossos amigos adotem o nome
do Paes Barreto como um de seus candidatos à senatória. O terceiro
será quem tu ordenares.
O nome do Paes Barreto deve vir daí e não ir de cá. Tudo o que
entenderes conveniente para o bom êxito da combinação me escre-
verás, e nessa ocasião deves também escrever uma carta delicada
ao Olinda noticiando-lhe que vocês querem apresentar o Paes Barreto.
Meu Pompeu: Reflete no que te escrevo com tôda a expansão
da amizade e responde-me. Eu, conhecendo-te bem, quase que garanti
aos nossos amigos que a sua resposta será afirma.tiva." (109)
No dia 23 do mesmo mês, Otaviano torna a escrever a
Pompeu com uma informação auspiciosa. Eis o texto da carta:
"Meu Pompeu.
Ontem lhe escrevi sôbre a eleição de senador e hoje acrescento
estas linhas confidenciais. Se V. vier na lista, - é o escolhido. Não lhe
posso entrar em pormenores, com os tais correios de nossa terra. Se

servador, Paes Barreto tornara-se na época figura destacada da po-


lítica progressista, o que aproximou muito dos liberais, conforme o
próprio Otaviano o declara. Faleceu a 28 de março de 1864, aos qua-
renta e dois anos de idade. "Se vivesse, teria chegado a ser um dos
chefes políticos do Império", escreveu Joaquim Nabuco.
(109) CORRESPONDP:NCIA do Senador Pompeu, p. 32 e 33.
218 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

V. tiver um nome aí, a qm. eu possa dirigir as suas cartas sem


suspeita, então muito boas coisas lhe poderei dizer." (110)
No arquivo do Senador Pompeu, ou o que dêle resta, exis-
tente na "Casa de Tomás Pompeu" em Fortaleza, encontra-
mos a cópia da resposta que o prócer liberal cearense deu a
Otaviano sôbre a sugestão de apoio à candidatura Paes
Barreto. Trata-se de documento interessante acêrca da polí-
tica cearense da época, e mostra a impossibilidade de ser dado
atendimento à solicitação de Francisco Otaviano. É datada
de 17 de setembro de 1862, e seu teor é o seguinte:
"Meu caro Otaviano.
Recebi o teu prezado favor de 21 do passado, em que me expressa
a conveniência do partido liberal do Ceará adotar a candidatura do
Paes Barreto, e o empenho que os nossos amigos chefes da liga fazem
por isso; contas com muitas adesões a êsse empenho, e me pedes
uma resposta. Vou satisfazer-te. Concordo perfeitamente no que
dizes a respeito do Paes Barreto, como homem de vontade forte e
capaz de abalar a oligarquia do norte; e além dessas conveniências
políticas, tenho-lhe amizade desde a infância, e por conseguinte era
para mim mais um motivo para aceitar essa candidatura, não
obstante o procedimento injusto que teve comigo em 1857. Mas talvez
vocês não saibam bem de nossas circunstâncias, e por isso pensam
que basta a adoção dos liberais para o bom resultado de uma chapa.
Eu explico-me e tu julgarás.
Nós temos apenas um têrço do corpo eleitoral, que, como sabes,
se acha constituído; e dêsse têrço só disponho livremente de uns
200 votos, (111) pois que os outros, com qua.nto os eleitores ouçam-me,
não os possuo à minha disposição, tendo amigos, parentes a quem
também prestigiam.
Eis um detalhe das nossas fôrças:

Granja ............. 20 eleitores - disponho livremente.


S. Ana . . . . . . . . . . . . . . 10 - votam em mim, no Pto. e talvez no
Figueira (são parentes). (112)
Imperatriz .......... 48 - disponho livremente.
S. Quitéria . . . . . . . . . 15
Quixeramobim . . . . . . 49

010) Idem, p, 34 e 35.


(111) A referência é, evidentemente, a votos de eleitores do 2. 0
grau, isto é, àquêles que, nas eleições em questão, elegeriam a lista
tríplice.
(112) A abreviatura Pto. refere-se ao Cônego Antônio Pinto de
Mendonça.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 219

Canindé ............ 10 - só eu e Pto.


Inhamuns . . . . . . . . . . 45 - talvez disponha.
Aracati . . . . . . . . . . . . . 86 - só eu, não disponho para outro.
Icó . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 - só para mim, não disponho.
Telha ............... 15 - Idem, idem.
Lavras ............. 10 - Idem, idem.
Crato, Barbalha e ..
Missão Velha ....... 40 -· Idem, idem.
Jardim . . . . . . . . . . . . . 45 - Idem, idem.
Maranguape . . . . . . . . 20 - Idem, idem.

Em rigor poderei dispor de 200 votos para um 3.º candidato, que


eu apresentar, pois que os eleitores do Aracati, Crato, Jardim têm
entre os candidatos pessoas de suas famílias, ou outras relações de
que não posso desviá-los.
De que serve, pois, êsse pequeno contingente ao Paes Barreto
de 200 votos que lhe poderei dar? Os outros têm 700 votos para muitos
candidatos, é verdade; mas desde que se organizasse uma chapa de
nossa parte, com o nome do Paes Barreto, êles cerrariam fileiras.
Isso desejam Jaguaribe e Raimundo. O presidente atua.! nada pode
conseguir, ainda querendo; depois, o seu candidato é o Figueira, o
que não obstante afianço-lhe que fica abaixo do 5.0 lugar. Tenho-te
pois exposto com franqueza o inventário de nossas fôrças, e conhe-
cerás que com tais elementos não podemos com probabilidade de
sucesso organizar a contento uma chapa. Se, todavia, apesar disso,
tu e os nossos entenderem que devem expor a uma derrota o Paes
Barreto, eu de minha parte estou pronto a aceitar; e como nesses
momentos costumo ouvir os amigos, já expedi portadores aos meus
amigos Senador Paula no Sobral, Pinto em Quixeramobim, Cel. Bento
Alves na Imperatriz, João Brígido no Crato, a Jardim etc. Aguarão
as suas respostas, que estou convencido serão no mesmo sentido de
minhas reflexões.
Desde a decepção por que o Partido Liberal passou em 1856,
quando tão unânimemente nos apresentamos nas urnas, e por tôda
parte foi repelido a balas e a punhal, que não cuidamos mais seria-
mente de eleição. Em dezembro passado fizemos êsses 400 eleitores,
para que nossos contrários não se a.travessem a disputar.
Hoje um presidente, sendo pessoa de prestígio, pode ainda con-
seguir muito no campo dos conservadores; mas era mister que êle
quizesse francamente entrar na luta, pois que sabes bem que a in-
fluência do govêrno nos colégios eleitorais não é tão eficaz como nas
eleições provinciais, quando é decisiva.
Seriam necessárias além disso algumas medidas que tendessem
à reparação dos sofrimentos do Partido Liberal. Como a remoção de
algum juiz de direito nosso para a província. Por exemplo o Dr.
Hipólito Cassiano Pamplona, moço muito honesto, honra.do, que
muito podia ouvir-nos no colégio do Ipu; se isso, que é aliás de maior
220 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

conveniência do serviço público, se fizesse, era um grande passo para


êsse negócio.
A remoção do venal juiz de Granja, ainda que fôsse para o in-
ferno, e para ali a do Dr. Francisco Urbano (juiz do Ipu), mas que
não quer ir para ali, também seria uma medida justa e conveniente.
Consta mesmo que o presidente pede oficialmente essa remoção a bem
da justiça pública.
Em suma, meu amigo, eu estou pronto a aceitar o que pedes e o
que desejam os amigos; mas não se iludam, as circunstâncias expos-
tas são verdadeiras, e à vista delas a derrota é infalível. Se assim
lhe convém, digam; também então convêm as medidas de que falei,
um presidente prestigioso, a remoção dêsses dois juízes.
Pedes-me que escreva uma carta ao Olinda.; eu me acanho de
fazê-lo. Cumprimentei ao Marquês quando do ministério; não me
respondeu, não tenho ânimo para dirigir-lhe segunda. Tenho pouco
jeito para cortesão.
Além disso, meu Otaviano, o nosso partido não pode ter entusias-
mo aqui, pois que da parte do govêrno não vem uma medida que dê
a menor consideração a pessoa do nosso lado. O que é o ínfimo lugar
de partidor; se é um liberal que requer, não se dá! O que é um jui-
zado municipal; foi liberal é impossível! Ainda dos presidentes con-
seguimos algumas coisinhas; porém do govêrno geral, justiça seja
feita, nem vermelhos, nem azúis nem brancos nos concedem a mais
insignificante cousa. Ainda agora veio nomeado para juiz municipal
de Viçosa um bacharelzinho vermelho, safado, instrumento vil de
quanta infâmia há, que o próprio Saião Lobato a pedido do Azevedo
retirou do Ipu, cassando-lhe a nomeação. Eis o que nos dão os mi-
nistros que não são vermelhos. Aquela nomeação é já um entrave
para o Paes Barreto, pois que ela foi feita para dar votos ao Fi-
gueira." (113)

Mas de seu prestígio político, das suas posibilidades elei-


torais, da certeza de sua própria eleição para a lista tríplice,
Pompeu não devia alimentar dúvidas. Já na eleição da lista
anterior, que levara Fernandes Vieira ao Senado, colocara-se
êle fàcilmente em quarto lugar. (114)
Em setembro de 1862 a imprensa do Ceará publicava
uma circular dos maiorais do Partido Conservador na Côrte,
indicando os candidatos do partido às eleições cearenses. Eis
o seu texto - :
"Tendo falecido o senador Miguel Fernandes Vieira, cuja me-
mória honrosa sempre conservaremos, a nova eleição a que se vai

(113) CORRESPONDltNCIA do Senador Pompeu, p. 33, 34, 35 e


36, nota n. 0 36.
(114) O Cearense de 28 de janeiro de 1862.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 221

proceder nessa província proporciona uma ocasião em que cumpre


que os nossos amigos políticos, demonstrando pela união a maioria
em que acham nessa província, ofereçam à escolha do Poder Mode-
rador três cidadãos que pelos seus serviços ao país representem a
consistência dos nossos princípios, e por sua ilustração possam de-
fendê-los no combate da discussão parlamentar.
Entendemos pois conveniente para êste fim recomendar a can-
didatura dos Srs. desembargador Jerônimo Martiniano Figueira de
Mello e Drs. Raimundo Ferreira de Araújo Lima e Domingos José
Nogueira Jaguaribe. Êstes três cidadãos tão vantajosamente conhe-
cidos no país apresentam valiosos títulos à confiança de todos oa
nossos amigos, e a inclusão de seus nomes na lista tríplice correspon-
derá por certo à expectativa da opinião conservadora.
Esforçando-se V. S. por si e seus amigos pa.ra que a votação recãia
e se concentre em tão dignos cidadãos fará um serviço cujo apreço
reconhecemos, e muito nos penhorará.
Somos com tôda a consideração, de V. S. atentos veneradores e
criados

aa) Barão de Muritiba


Visconde de Itaboraí
Visconde do Uruguai
Euzébio de Queiroz Coitinho M. Câmara
M. F. de Souza e Mello.

Rio de Janeiro, 23 de agôsto de 1862. (115)

Dos indicados, um - Raimundo Araújo Lima - já figu-


rara em duas listas anteriores; outro, ~Domingos Nogueira
Jaguaribe - fôra eleito na lista de onde foi escolhido senador
seu correligionário Miguel Fernandes Vieira. O terceiro, -
Jerônimo Martiniano Figueira de Mello - apenas havia lo-
grado um inexpressivo 7. 0 lugar na eleição da última lista
tríplice. 016)
Ao pleito eleitoral destinado a eleger a nova lista, e que
teve lugar no dia 8 de fevereiro de 1863, compareceram 1 158
dos 1 264 eleitores de 2. 0 grau de que dispunha o Ceará nos
seus 28 colégios eleitorais. (117)

(115) Publicado no O Cearense de 9 de setembro de 1862.


(116) O Cearense de 28 de janeiro de 1862.
(117) O Cearense de 27 de fevereiro de 1863.
222 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

A lista tríplice eleita, constituída de dois conservadores


e um liberal, foi a seguinte-:

Jerônimo Martiniano Figueira de Mello 674 votos


Padre Tomás Pompeu de Souza Brasil .. . 602 "
Domingos Nogueira Jaguaribe ......... . 545 "

A distribuição de votos nos colégios eleitorais da provín-


cia apresenta os seguintes índices:

Colégio Eleitoral F. de Mello Pompeu Jaguaribe

Capital 46 24 58
Maranguape 28 28 28
Aquirás 17 1 23
Cascavel 21 5 21
Aracati 66 66 5
Russas 31 17 33
Baturité 28 25 28
S. Francisco 7 9 26
Sobral 10 40 13
Ipu 22 12 13
Pereira 12 2 12
Viçosa 22 o 17
Granja 28 19 20
Acaracu 6 5 11
Imperatriz 10 47 o
Canindé 9 18 18
Quixeramobim 48 48 6 (118)
Cachoeira 19 7 14
Maria Pereira 12 o 13
Tauá 21 43 4
Saboeiro 11 5 16
Lavras 27 24 25
Icó 20 14 7
--
(118) O mapa da apuração final, publicado no O Cearense de 27
de fevereiro de 1863, dá como resultados de Quixeramobim 47 votos
para Figueira e Pompeu, e apenas 2 para Jaguaribe. Na edição de 6
de março seguinte, o mesmo jornal retifica a apuração daquele colégi9
apresentando os dados que aqui figuram.
FATOS E DocuMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 223

Telha 40 40 15
Barbalha 30 29 40
Crato 20 28 16
Milagres 23 6 23
Jardim 40 40 40
Total 674 602 545 (119)

Eleito em expressiva votação, no dia 27 de fevereiro da·


quele ano Pompeu lança, no seu jornal, uma proclamação aos
seus eleitores, a que deu o título de A eleição de um senador,
com o seguinte texto - :
"O corpo eleitoral da província chamado às urnas para a eleição
de três cidadãos que devem ser apresentados à escolha do monarca,
para preencher a vaga de um senador por esta província, acaba de
satisfazer êste preceito no dia 8 do corrente.
O processo eleitoral correu regularmente, sem o menor incidente,
que nos conste.
Seis eram os candidatos, cinco do lado conservador e um do li-
beral, mas todos cearenses.
Conquanto o corpo eleitoral constasse de dois terços de eleitores
conservadores, contudo a apresentação de 5 candidatos, cada um
dispondo de bons elementos e afeições de seus amigos, tornava muito
incertas as suas candidaturas; de maneira que ninguém podia dizer
ainda no dia da eleição quais seriam os eleitos.
O candidato liberal dispunha de menos elementos, pois só con-
tava um têrço do corpo eleitoral; mas era. único, e seus amigos no
interêsse de apoiar sua candidatura aceitavam transação com qual-
quer outro, contanto que lhe aumentassem os votos; além disso teve
o concurso desinteressado e generoso de muitos conservadores dis-
tintos nesta capital, Baturité, Russas, Maranguape, Sobral etc. que
apoiaram francamente sua candidatura.
O resultado da eleição foi um brilhante triunfo para êsse can-
didato, o Dr. Pompeu, que há 14 anos tem sido julgado impossível às
urnas eleitorais de sua província.
l!:ste fato, que tanto o honra, prova duas cousas: a modificação
no espírito político de nossos homens, que não se prendem mais ao
círculo de ferro de um partido; e a confiança que inspira o eleito
não só aos seus correligionários, como a seus amigos conservadores
que o apoiaram.
Todos os candidatos que disputaram a honra da eleição eram
na verdade dignos dela e da província.; e a derrota daqueles que a
não conseguiram não importa por certo um desar para êsses cava-
lheiros; porém incontestàvelmente a eleição do candidato liberal com
(119) O Cearense de 27 de fevereiro de 1863.
224 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

tão numerosa votação pelo mesmo corpo eleitoral de 1861 é mais


que uma felicidade, é uma glória para o eleito.
Êle assim o considera, e cheio do mais sincero reconhecimento
agradece a todos os eleitores que o honraram com sua confiança, e
notadamente aquêles de seus amigos que tanto interêsse e verdadeira
dedicação apresentaram por sua causa. Aceitem pois todos os senhores
eleitores os protestos de sua profunda gratidão.

a) Tomás P. de S. Brasil. (120)


Nessa declaração o chefe liberal revela-se um político
realista, despido de xenofobia partidária, pronto a transa-
cionar com o adversário desde que isso lhe carreie votos e lhe
abra os caminhos do triunfo político. Aceita e acha natural
o que haviam feito seus correligionários, certamente inspi-
rados por êle, que "no interêsse de apoiar sua candidatura
aceitavam transação com qualquer outro, contanto que lhe
aumentassem os votos". Também admite como explicação de
sua vitória o fato de os eleitores não se prenderem mais "ao
círculo de ferro de um partido" e a confiança que inspirava
aos adversários conservadores.
Em síntese, Pompeu reconhecia que acima de seu partido
estava a significação pessoal de sua candidatura, e que não
fôra eleito por ser liberal mas por ser o homem que soube
inspirar confiança e admiração a gregos e troianos.
Sua preocupação na conquista de vitórias eleitorais, de
munir suas hostes de instrumentos de triunfo, mesmo a custa
de entendimentos e concessões que comprometessem a disci-
plina partidária, era patente naqueles dias.
Na reunião do Partido Liberal que realizou em sua casa
no dia 8 de julho de 1863, presentes as mais expressivas figu-
ras liberais da província, quando se tratou da conduta do
partido face às próximas eleições de deputados gerais, foi êle
aclamado presidente de uma comissão que devia deliberar
sôbre o assunto.
Imediatamente propôs três questões consideradas fun-
damentais -: l.ª) a faculdade de aquela comissão "entrar
em negociações com o diretório do Partido Conservador";
2.ª) o poder escolher "dentre os candidatos liberais aquêles

(120) O Cearense de 27 de fevereiro de 1863.


FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 225

que disponham de mais elementos para serem eleitos"; 3.ª)


amplos podêres para promover tudo o que fôsse conveniente
aos interêsses do partido.
Contra a outorga de tais podêres, considerados discricio-
nários nas mãos de Pompeu, ergueu-se, na mesma reunião,
um dos próceres liberais presentes, e que outro não era senão
o famoso padre Cerbelon Verdeixa. Mas seu protesto foi
pôsto abaixo pelos demais. (121)
É que Pompeu era um líder indiscutido e seus correligio-
nários o seguiam com entusiasmo e cega confiança.
Mas a conduta do chefe liberal cearense, que sempre se
revelara liberal intransigente, tem sua explicação em fato
político nacional mais amplo. É que se começava a respirar,
já então, o clima de fusão entre os conservadores moderados
e os liberais, e que conduziria à chamada liga progressista,
combatida por muitos e por muitos julgada útil e necessária.
A indecisão dos princípios político-partidários propiciava
tais aventuras, que mais serviam aos homens individualmente
que aos partidos na sua totalidade.
De que Pompeu nevegava nessas águas temos um testt-
munho insofismável: a carta que, em 22 de abril de 1863,
dirigiu-lhe João Lustosa, futuro Marquês de Paranaguá, por
motivo de sua eleição. Entre outras coisas escrevia o missi-
vista - :
"Foi-me sumamente agradável a notícia de ser V. S. um dos eleitos
na lista tríplice p. senador. Êsse fato revela na província uma ten-
dência favorável dos espíritos para o Partido Progressista, e além
de tudo é uma justiça q. o Ceará não podia recusar pr. ms. tempo
a um dos mais distintos filhos." (122)
Veremos como na seguinte eleição para a lista de sena~
dores conduziram-se os progressistas cearenses, notadamente
os oriundos da facção liberal.
Eleita a lista tríplice - Figueira, Pompeu e Jaguaribe
- em 8 de fevereiro de 1863, decorreu o ano todo sem que
o Monarca efetuasse o preenchimento daquela vaga na repre-
sentação senatorial do Ceará.
Sabendo, por informação confidencial de Otaviano, de
(121) O Cearense, de 10 de julho de 1863.
(122) CORRESPOND:F:NCIA do Senador Pompeu, p. 64.
226 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

que se seu nome figurasse na lista seria êle o escolhido, afir-


mação discutível ante o supremo enigma que era o "lápis
fatídico" de Pedro II, nenhuma outra notícia auspiciosa rece-
bia Pompeu da Côrte, a julgar por sua alentada correspon-
dência passiva.
Escrevendo-lhe do Rio em 6 de julho de 1863, dizia
Saldanha Marinho:
"A atual situação é a mais incompreensível. Ainda nada de
escolha.. Quem será o escolhido é também problema indecifrável." (123)
Em outra carta o mesmo missivista batia na mesma tecla
e dava ciência de que Figueira de Mello não hesitava em
tentar destruir as possibilidades de Pompeu através de intri-
gas e calúnias. (124)
Assim se passou o ano de 1863. Mas ao iniciar-se o ano de
1864, a 9 de janeiro, o Imperador escolhia Tomás Pompeu
senador pelo Ceará. No dia 11 de fevereiro seguinte tomava
posse, e do que foi sua brilhante atividade nos treze anos em
que exerceu o mandato basta consultar os jornais da época
e os Anais do Senado.
* * *
Em 26 de maio de 1865, quando viajava para a Europa
a bordo do navio francês Peluse, à altura da Bahia, falecia o
senador Cândido Batista de Oliveira.
Menos de quatro meses depois - a 13 de outubro -,
morria no Rio de Janeiro outro senador do Ceará: o Marquês
de Abrantes, Miguel Calmon du Pin e Almeida.
Pela segunda vez ia ter lugar aqui uma eleição de lista
sêxtupla, e a peleja eleitoral que se travou então iria ficar
assinalada na história política cearense como uma das mais
famosas e controvertidas.
Em 1867, quando se processou aquela eleição, a pro-
víncia tinha 1 263 eleitores de senadores distribuídos em
45 freguesias que se grupavam em 28 colégios eleitorais.
Era a seguinte a distribuição:
1) Colégio da Capital compreendendo as freguesias de For-
taleza e Paràzinho
023) Idem, p. 159.
( 124) Idem, p. 160.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 227

2) Colégio de Maranguape compreendendo a freguesia de


Maranguape
3) Colégio de Aquirás compreendendo a freguesia de Aquirás
4) Colégio de Cascavel compreendendo a freguesia de
Cascavel
5) Colégio de Aracati compreendendo as freguesias de Ara-
cati e União
6) Colégio de S. Bernardo compreendendo as freguesias de
S. Bernardo e Limoeiro
7) Colégio de Quixeramobim compreendendo as freguesias
de Quixeramobim e Boa-Viagem
8) Colégio de Cachoeira compreendendo as freguesias de
Cachoeira e Riacho do Sá
9) Colégio de Maria Pereira compreendendo a freguesia
de Maria Pereira
10) Colégio de S. João do Príncide compreendendo as fregue-
sias de S. João do Príncipe, Flôres e Arneirós.
11) Colégio de Saboeiro compreendendo as freguesias de Sa-
boeiro, Assaré e São Mateus
12) Colégio de Baturité compreendendo a freguesia de Ba-
turité
13) Colégio de Canindé compreendendo a freguesia de Ca-
nindé
14) Colégio de Imperatriz compreendendo as freguesias de
Imperatriz e S. Antônio do Aracatiaçu
15) Colégio de S. Francisco compreendendo a freguesia de
S. Francisco
16) Colégio de Sobral compreendendo as freguesias de Sobral
e Sta. Quitéria
17) Colégio de Acaraú compreendendo as freguesias de
Acaraú e Santana
18) Colégio de Ipu compreendendo as freguesias de Ipu e
Tamboril
19) Colégio de Granja compreendendo as freguesias de Gran-
ja e Iboaçu
20) Colégio de Viçosa compreendendo a freguesia de Viçosa
21) Colégio de Icó compreendendo as freguesias de Icó e
Boa Vista
22) Colégio de Pereira compreendendo a freguesia de Pereiro
228 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

23) Colégio de Lavras compreendendo as freguesias de Lavras


e Várzea Alegre
24) Colégio de Crato compreendendo a freguesia de Crato
25) Colégio de Jardim compreendendo a freguesia de Jardim
26) Colégio de Barbalha compreendendo as freguesias de
Barbalha e Missão Velha
27) Colégio de Milagres compreendendo a freguesia de Mi-
lagres
28) Colégio de Telha compreendendo a freguesia de Telha.

O colégio eleitoral de maior número de votantes era


Sobral,. com 75 eleitores, seguindo-se Fortaleza com 71 e Bar-
balha com 70. O menor era Canindé, com apenas 21.
No plano nacional, a existência do Partido ou Liga Pro-
gressista era, de há muito, uma realidade. Pode-se afirmar
que desde 1862 se firmara no Parlamento essa fusão dos libe-
rais com os conservadores moderados. Naquele ano, segundo
escreveu êsse mestre da história política do 2.º Reinado, que
foi Joaquim Nabuco, "a Liga estava triunfante. Havia termi-
nado o chamado domínio dos quatorze anos em que, sob di-
versos ministérios, governara o país oficial o poderoso triun-
virato de que Eusébio de Queirós era a alma." 025)
Como diria Euclides da Cunha, "desenhava-se no cenário
político a tríplice organização partidária de 1831." (126)
A fusão política de antagonistas tradicionais não gerava,
na época, grande estranheza, pois, como escreveu Joaquim
Nabuco, "ela era um movimento que se tinha lentamente
acentuado desde que em 1853 o Marquês do Paraná levantou
a bandeira da Conciliação." 027)
Nas províncias a aproximação se operaria com as peculia-
ridades oriundas das situações locais, variando sua coloração
conforme a predominância de grupos liberais ou conser·
vadores.
(125) NABUCO, Joaquim. Op. cit., vol. II, p. 93.
O triunvirato a que se refere Nabuco era constituído de Eusébio
e os Viscondes de Itaboraí e Uruguai, muito conhecido como a oligar-
quia vermelha, e que governou o país, com ligeiras interrupções, desde
1837.
(126) CUNHA, Euclides da - Da independência à República. In:
-.--. - A margem da história. 5. ed. Pôrto, Lello. 1941, p. 283.
(27} NABUCO, Joaquim - idem, p. 100 e 101.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 229

Em Minas e São Paulo, "onde os elementos liberais eram


os mais fortes e a defecção conservadora quase nula", como
afirmou Nabuco, 028) foi o Partido Liberal que atraiu os con-
servadores. Na Bahia, "onde o contingente liberal histórico era
insignificante e a fôrça do partido era dos moderados, a expli-
cação era que, tendo passado a época das revoluções, tinha
passado também a da repressão, e que a minoria esclarecida
do antigo Partido Conservador não hesitara em aceitar o con-
curso dos seus adversários de outras épocas para iniciar, a
despeito da oligarquia do partido encastelada no Senado, uma
época de reformas liberais". 029) Em Pernambuco, princi-
palmente, verificava-se o equilíbrio. Ali, "a antiga tradição
liberal conservava ainda fôrça entre o povo", mas "também a
resistência conservadora era grande", a aliança iria efetuar-
-se "em pé de igualdade dos dois combatentes, conservando
cada um sua individualidade, suas aspirações próprias". 030)
Embora desde 1862 a existência política da Liga Pro-
gressista fôsse na Côrte uma realidade, e as eleições gerais
de 1863 já assinalassem uma estrepitosa vitória do nôvo par-
tido que, bem se pode dizer, subiu ao poder com o segundo
gabinete Zacarias de Góes e Vasconcelos em 15 de janeiro de
1864, o fato é que no Ceará, até fins de 1865, sàmente dois
partidos tinham existência: o Liberal e o Conservador.
~stes partidos mantinham na província relativo equi-
líbrio, predominando o primeiro em algumas paróquias,
noutras o segundo.
Nas eleições de 1852, 1856 e 1860 foi das mais expressivas
a vitória dos conservadores cearenses, embora não se deva
esquecer a influência que nelas exerceu a situação dominante.
Nas eleições de 1863 e 1864 foi estrondosa a vitória do Partido
Liberal.
No ano que medeia entre fins de 1865 e fins de 1866 é
que se organizou e passou a ter existência no Ceará a Liga
Progressista.
É oportuno recordar que, após um prático predomín~o de
14 anos pelo Partido Conservador, os liberais, em 1864, haviam

(128) Idem, p. 100.


(129) Idem.
(130) Idem.
230 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

passado ao comando político e administrativo da província


com a presidência de Lafayette Rodrigues Pereira.
A êste substituiu Francisco Inácio Marcondes Homem
de Melo, depois Barão Homem de Melo, que assumiu a gover-
nança do Ceará em 10 de junho de 1865.
Pelo que se conclui da conduta que aqui manteve, com-
provada por fatos e documentos, Homem de Melo parece ter
vindo ao Ceará não apenas para dirigir os destinos da pro-
víncia mas, sobretudo, como delegado político da situação
progressista então dominante desde o advento do Gabinete
de 12 de maio daquele ano. (131)
Logo se constituiu aquela autoridade em elemento hostil
aos liberais, bafejando prestígio e distribuindo posições aos
que desertavam das hostes do Partido Liberal para engrossar
a nascente falange progressista.
Em carta ao senador Pompeu, Lafayette Rodrigues
Pereira, então presidente do Maranhão, para onde fôra man-
dado quando deixou o govêrno cearense, informa que Homem
de Melo declarou-lhe não haver recebido no Rio quaisquer
instruções neste sentido.
"O nosso Homem, escrevia Lafayette, parece arrastado, pelo
pendor dos acontecimentos, a hostilizar os liberais e a apoiar-se con-
seguintemente nos conservadores - posição atualmente insustentável.
Da Côrte não trouxe instruções nesse sentido, se são verda.deiras
as revelações que me fêz. Ao que me disse êle, o Olinda, ao saber das
cousas do Ceará pelo Sá e Albuquerque, (132) mostrou-se satisfeito
com a minha administração, e estranhou a minha remoção. Ao narrar
isto, acrescentou êle que vinha disposto a sustentar os meus atos e
a caminhar pelo mesmo teor. Entretanto os fatos vão dizendo outra
coisa." (133)

031) Era presidente do Gabinete o Marquês de Olinda. A seu


respeito, assim escrevia La.fayette naqueles dias: " ... o plano sinistro
do Marquês de Olinda de acabar os liberais pela mão dos liberais.
Por todo o Império os liberais verda.deiros são hoje mais perseguidos
do que os próprios vermelhos."
(132) Antônio Coelho Sá e Albuquerque, político-liberal, ocupou
a pasta da Agricultura no Gabinete Liberal de 24 de maio de 1862,
presidido por Zacarias de Góis e Vasconcelos.
(133) Carta de 18 de setembro de 1865, in: CORRESPOND:G:NCIA
do Senador Pompeu, p. 51 e 52.
PEREIRA, Lafayette Rodrigues - Carta a Washington Rodrigues
Pereira. in: - - - - Cartas ao irmão. Rio de Janeiro, Brasiliana,
1968. Vol. 342, p. 55.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 231

Naquela época, os 28 colégios eleitorais do Ceará eram


grupados em 3 distritos, e a distribuição das fôrças políticas
era a seguinte: no 1.º distrito, predominavam os conserva-
dores em Fortaleza, Russas e Saboeiro, e os liberais no Aracati,
Cascavel, Quixeramobim e S. João do Príncipe; no 2. 0 distrito,
havia maioria conservadora no Acaraú, S. Francisco e Batu-
rité, e dos liberais em S. Quitéria, Imperatriz, Santana e
Granja; no 3.º distrito, os conservadores tinham maioria em
Icó e Pereiro, os liberais em Lavras, Missão Velha, Jardim
e Crato.
Nos demais colégios havia equilíbrio de fôrças entre libe-
rais e conservadores.
A presença, embora meteórica, da facção progressista
na vida política cearense iria caracterizar-se através de um
fato decorrente da morte, em 11 de outubro de 1865, do ba-
charel Frederico Augusto Pamplona, deputado geral pelo
Ceará.
Apresentou-se candidato à sua vaga o Dr. Domingos José
Nogueira Jaguaribe, conservador, futuro Visconde de Jagua-
ribe, o qual, contando com as boas graças do presidente
Homem de Melo, delegado do gabinete progressista na pro-
víncia, conseguiu eleger-se graças a uma cisão do eleitorado
liberal, insinuada e ajudada por aquela autoridade.
Jaguaribe, tão logo assumiu seu pôsto na Câmara dos
Deputados, declarou-se integrante da situação progressista
dominante e, de volta ao Ceará, ligou-se aos liberais diver-
gentes para combater o Partido Liberal nas eleições de 1867.
Com êle fundou-se a Liga na província cearense.
Aderiram aos progressistas parte dos liberais de Forta-
leza, Maranguape, Aracati, Jaguaribe-Mirim, Ipu, Icó, Telha
(hoje Iguatu), Lavras e Missão Velha, e parte dos conserva-
dores de Santana, Canindé, Viçosa, Jardim, Milagres, Ipu,
Telha e Quixeramobim.
Em outras paróquias houve adesões menos significativas.
Estava assim o Ceará, em fins de 1866, com três partidos:
A frente dos remanescentes do Partido Liberal, os cha-
mados liberais históricos, estava o senador Tomás Pompeu
que, àquela altura, já não mais pensava, como o demonstra-
ram os fatos, em eliminar fronteiras e tapar fossos entre as
232 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

facções políticas, como tão enfàticamente expressara quando


de sua eleição em 1863.
É que o geral entusiasmo pela coligação progressista fôra
passageiro, e os que dela se haviam beneficiado por ela não
mais morriam de amôres. Isso já era visível em 1864, como
lembra Nabuco no seu grande livro. "Liberais e Moderados,
que em 1862 se atraíam reciprocamente, em 1864 começavam
a repelir-se; o nôvo partido nascia dividido, os dois grupos
não conseguiram unir-se nas urnas; eram de fato dois parti-
dos que surgiam, o Progressista e o Histórico, partidos que
se hão de mostrar mais rancorosos um contra o outro do que
contra o adversário comum." (134)
A eleição senatorial de 1867 deve ter trazido ao chefe
liberal cearense um sério desencanto, se bem que apenas nas
eleições primárias, como veremos, por fôrça da deserção da
parte de seus comandados que acorria aos braços dos con-
servadores.
Já o arguto e previdente Cotegipe, em carta de 12 de
outubro de 1868 ao próprio Pompeu, considerava um fator
de retrocesso político a fusão "progressista", quando, dizia
êle, "o Partido Liberal transfundiu seu sangue nôvo e vigoroso
nas veias do progresso cadavérico que todos nós comba-
tíamos". (135)
O fato é que, como adiante se verá, a fusão dos grupos
liberais e conservadores que, em dado momento, aqui se uni-
ram para acompanhar a onda progressista, não apresentou
consistência na sua efêmera união.
É oportuno considerar que os liberais, amplamente vito-
riosos nas eleições de 1864, fizeram os juízes de paz e as
câmaras municipais, o que valia pela posse de instrumentos
poderosos para a qualificação eleitoral. Os conservadores pri-
meiro, e os progressistas depois, ficaram senhores do aparelho
policial, fato que dependia da exclusiva atuação do poder
executivo e que constituía fator decisivo na realização do
pleito.
Realizadas as eleições primárias (para eleitores de sena-
dores), o resultado mostrou que o destino das eleições secun-
!134) NABUCO, Joaquim - Op. cit. Vol. II, p. 106 e 107.
035) CORRESPONDÊNCIA do Senador Pompeu, p. 24.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 233

dárias (para a eleição da lista sêxtupla), ia ficar com a facção


que contasse com o apoio dos progressistas.
No seu Relatório de 6 de. abril de 1868, dirigido ao Mi-
nistro do Império, o presidente do Ceará, Pedro Leão Veloso,
após narrar circunstanciadamente o pleito em cada colégio
eleitoral, escrevia textualmente -:
"Desta exposição que é conforme a.s Atas, vê-se que o Partido
Liberal ficou em maioria no eleitorado; mas deve-se notar que nas
freguesias de Aracati, Maranguape, Lavras e Paràzinho, os liberais
que venceram tinham aderido à Liga Progressista, assim como os
que entraram nas partilhas da capital, Jaguaribe-Mirim, Barbaiha
e Missão-Velha. Assim os liberais progressistas ficaram em condi-
ções de inclinar a balança em favor de um dos dois partidos que com
êles combinassem na eleição secundária."
Essa combinação veio, pondo fim à curta existência do
Partido Progressista no Ceará.
Em 21 de fevereiro daquele ano deu-se o rompimento dos
liberais progressistas com os conservadores, retornando
aquêles ao seu aprisco e assegurando espetacular vitória ao
Partido Liberal.
O Dr. José Bento da Cunha e Figueiredo Junior, que
governou o Ceará de 5 de maio de 1862 a princípio de 1864,
refutando em março de 1867 insinuações de Nogueira Jagua-
ribe de que fôra no govêrno um protetor dos liberais, escreveu
no Diário de Pernambuco essas linhas que permitem aqui-
latar bem os dias finais da coligação progressista em nossa
terra:
"Os leitores estarão lembrados de que o Sr. Dr. Domingos José
Nogueira Jaguaribe na última sessáo da Câmara declarou-se pouco
mais ou menos progressista e sustentador do atual gabinete. Então
uma parte do Partido Liberal no Ceará tinha-se destacado do .sr.
senador Pompeu para fazer causa comum com o Sr. Jaguaribe, que
carecia dar arras aos seus novos correligionários, mesclando por isso
a sua côr vermelha. Falei em tudo isso num extenso comunicado,
sem ouvir a. menor contestação. Eu não podia deixar de protestar
contra o procedimento do Sr. Dr. Jaguaribe, que em sua nova pro-
fissão de fé jogou com o meu nome, como querendo arguir-me por
haver eu protegido os liberais no Ceará, quando era o ilustre deputado
quem acabava de fazer liga com êles e devia-lhes em parte a eleição.
Pois bem: quebrou-se o laço cordial; já não existe mais naquela
província a Liga Progressista: o grupo liberal divorciado do Sr.
Pompeu, brigou com o Sr. Jaguaribe, que pretendia partilhar com
234 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

êles os deputados, dando porém maior número de eleitores, com a


intenção de passar-lhes o codaço, conforme supõem os liberais dis-
sidentes.
Acrescenta-se que o Sr. Jaguaribe, carecendo de auxílios, por
causa do rompimento com seus novos aliados, recorreu ao Sr.
Pompeu, que recusou est'outra liga., abraçando porém os liberais
dissidentes, seus antigos adeptos.
Eis o resultado das falsas posições e da impaciência desastrosa
de quem não pode esperar pelo fim regular do ostracismo." (136)
Qual a causa dêsse inesperado rompimento, de que resul-
tou o total desmantelamento da coligação progressista no
Ceará?
Várias explicações foram tentadas pelas partes inte-
ressadas.
Jerônimo Martiniano Figueira de Melo e Raimundo de
Araújo Lima, candidatos à lista sêxtupla, prejudicados com
a retumbante vitória dos adversários, dão como motivo do
rompimento a repulsa dos conservadores à inesperada im-
posição da candidatura do conselheiro Joaquim Saldanha
Marinho àquela lista.
Nogueira Jaguaribe, Manoel Fernandes Vieira, João
Antônio Machado e Joaquim da Cunha Freire, maiorais con-
servadores da coligação progressista, em circular publicada
naqueles dias nos jornais Constituição, Pedro II e Progres-
sista, dão como motivo do rompimento: 1.º) a exclusão dos
conservadores dentre eleitores de senadores nos colégios de
Aracati, Maranguape, Aquirás e Cascavel, contràriamente ao
que ficara ajustado; 2.º) a exigência dos liberais progressistas
de um número maior de eleitores na capital; 3. 0 ) os boatos,
correntes há vários dias, de que seus aliados procuravam em
surdina um acôrdo com o chefe liberal senador Pompeu,
acêrca de candidaturas de deputados e senadores. 037)
O jornal Progressista, edição de 24 de fevereiro de 1867,
assinala como principal motivo do rompimento uma decla-
ração do Dr. Manoel Fernandes Vieira de que estava desfeito
o convênio para a eleição de deputados no 2. 0 distrito, porque

(136) Diário de Pernambuco, Recife, 8 de março de 1867.


(137) Processavam-se, na ocasião, eleições para deputados e se-
nadores.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 235

seu amigo, coronel João Antônio Machado, era candidato e


se desligava de compromissos anteriores.
Na província, nenhuma das facções argumentava com a
imposição da candidatura Saldanha Marinho.
Na realidade, a causa real e determinante do rompi-
mento era a recíproca desconfiança existente entre as facções
coligadas. Cada uma pretendia explorar ao máximo a situa-
ção em proveito próprio. Tratava-se de uma união sem bases
profundas, incapaz de resistir, como não resistiu, a um choque
de interêsses.
Um folheto-manifesto, publicado anônimamente em For-
taleza em 1867, e atribuído ao advogado José Avelino Gurgel
do Amaral, elemento liberal ex-progressista então eleito
deputado geral, narra com detalhes a derrocada da coligação
progressista. Ali se transcreve a circular que, a 22 de fevereiro
daquele ano, após entendimentos reconciliatórios com o se-
nador Pompeu, na noite do dia anterior, foi dirigida à pro-
víncia pelos liberais unidos. Ei-la:
"As conveniências políticas aconselharam um acôrdo entre as
duas parcialidades liberais para a combinação de uma chapa comum
de deputados para o l.º e 2. 0 distritos, e de senadores, que nas cir-
cunstâncias atuais parece conciliar os interêsses legítimos do Partido
Liberal, aceitando-se de parte a parte igual número de candidatos.
Excusamos demonstrar a V. Sia. a conveniência e vantagem de
um tal acôrdo para o Partido Liberal que, como sabe, tanto tem nesses
últimos tempos sofrido de seus adversários conservadores.
Nós como representantes de ambas parcialidades do mesmo par-
tido, temos a honra de transmitir a V. Sia. essa comunicação, e igual-
mente a combinação da chapa em que assentamos e esperamos que
essa convenção mereça a aprovação e apoio de V. Sia.
E fazendo esta comunicação pedimos a V. Sia. todo o concurso
de sua influência nessa localidade e no colégio a que pertence, para
que faça lealmente observar e votar por todos os nossos eleitores os
nomes que se seguem-:
Pa.ra senadores: Cônego Antônio Pinto de Mendonça, vigário de
Quixeramobim; Conselheiro Joaquim Saldanha Marinho, vogal do
Conselho Naval; Dr. Leandro Chaves de Melo Ratisbona, advogado na
Paraíba do Sul; Padre Antonino Pereira d'Alencar, professor do
Liceu; Dr. José Lourenço de Castro e Silva, médico; Dr. Liberato de
Castro Carreira, médico no Rio de Janeiro.
Para deputados pelo l.º distrito: Dr. João Ernesto Viriato de
Medeiros, engenheiro; Dr. Joaquim Bento de Souza Andrade, oficial
236 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

da Secretaria da Guerra; Dr. José Avelino Gurgel do Amaral, advo-


gado.
Para deputados pelo 2.0 distrito: Dr. José Júlio d'Albuquerque
Barros, advogado; Dr. Hipólito Cassiano Pamplona, juiz de Direito;
Dr. Francisco de Paula Pessoa Junior, médico.
Aceitando V. Sia. e fazendo de sua pa.rte fielmente observar a
combinação supra, como esperamos de sua dedicação e interêsse do
Partido Liberal, nos fará particularmente um obséquio, pelo que lhe
retribuímos desde já nossos agradecimentos.
Somos de V. Sia. amigos criados e obrigados.
Tomás Pompeu de Sousa Brasil, Antônio Teodorico da Costa,
Antônio Pereira de Brito Paiva, Padre Antonino Pereira de
Alencar." 038)
Os candidatos dos liberais ex-progressistas eram o padre
Antonino de Alencar, Castro Carreira, Gurgel do Amaral e
Saldanha Marinho.
Desde que se abriu a primeira vaga na representação
senatorial do Ceará em 1865, que Saldanha Marinho a ela
se candidatou.
Pernambucano de Olinda, onde nasceu em 4 de maio de
1816, foi no Ceará que iniciou sua vida pública. Aqui foi pro-
motor, secretário de govêrno e deputado provincial, e por aqui
se elegeu deputado geral em mais de uma legislatura.
Em 2 de junho de 1865, já aberta a vaga no Senado com
a morte de Cândido Batista, escrevia nesses têrmos ao senador
Tomás Pompeu:
"Quero que sem o menor constrangimento, com a maior franqueza
me digas: É possível que eu entre na lista tríplice pelo Ceará? En-
tendes q. encontrarei dificuldades entre os nossos amigos? Há con-
veniência em que deixe 'de apresentar-me?
Responde-me como é de teu caráter, e com tôda a franqueza,
absolutamente falando.
Não dou um passo, não digo uma palavra, senão segundo as tuas
inspirações. Aguardo-as para resolver-me.
Teu do c. Saldanha." (139)
Pompeu foi peremptório na resposta, enviada, logo no
dia imediato, nos seguintes têrmos -
"Saldanha: Respondo à tua carta recebida hoje à noite. Com

(138) O PARTIDO Progressista do Ceará ao Público. Fortaleza,


Tip. de O. Colás, 1867.
(139) CORRESPONDP:NCIA do Senador Pompeu, p. 166.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL ,,,
2 ~1'7

muito prazer a.ceitarei tua candidatura à senatória; mas isso ma


ferir pretensões de amigos da província aos quais não devo faltar
atenções.
Se dependesse só de mim, digo-te com ardor, serias o nosso can-
didato, porém não posso contar com o concurso de outros que neste
caso se julgarão prejudicados.
Portanto, correspondendo à franqueza com que me pedes, digo-te
que não é possível.
Teu am.O T. Pompeu." (140)
Uma semana depois Saldanha volta, humildemente, a
insistir no assunto. Em carta de 9 do mesmo mês e ano dizia
a Pompeu, entre outras cousas, que algumas pessoas lhe
diziam: se o Pompeu quiser você está na lista etc. e comple-
tava com essa peroração, estranha em quem sempre se houve
com arrogância e altivez na vida pública-:
"Tu, chefe acreditado e conhecido podes fazer tudo; e eu se não
fôra contar com o teu concurso certamente não me apresentaria. Faze
pois o que puderes e quiseres. Estou tranquilo." (141)
Havia oposição a Saldanha por parte de alguns próceres
liberais da terra, e entre êles o principal era o cônego Pinto
de Mendonça. O argumento principal era o fato de não ser
Saldanha Marinho cearense. Na mesma carta a Pompeu, dizia
êste acêrca daquele sacerdote:
"Nem por ser a lista sêxtupla, nem por haver dois lugares, êle
quer ombrear com o pobre estrangeiro! Um reparo sómente tenho a
fazer e é que se medirmos os serviços que ambos havemos prestado a
essa província, não estará o estrangeiro mto. longe do cearense de-
nodado q. do seu Riacho do Sangue quer impor a lei ao ml;lndo." (142)
Seu ingresso no rol dos candidatos ao Senado, correu por
conta da ala progressista liberal. Pompeu não o vetou depois,
e com êle sempre manteve as melhores relações, como se de-
preende das cartas que trocaram enquanto viveu o senador
cearense.
Quando das eleições sena to riais de 67, Saldanha Marinho
exercia o govêrno de Minas Gerais, funções de que tomou
posse em 18 de dezembro de 1865.

(140) Idem.
(141) Idem, p. 165.
042) Idem, p. 164.
238 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

O pleito para a composição da lista sêxtupla teve lugar


em 19 de março daquele ano. Governava a província cearense,
desde 6 de novembro de 66, João de Sousa Melo e Alvim, o qual,
segundo narra João Brígida, prosseguiu na mesma política de
combate aos liberais iniciada por Homem de Melo.
"Sôbre as cousas da província, abandonou-se aos conse-
lhos e à influência dos dois chefes coligados, os Srs. Jagua-
ribe e Barão do Crato, que na Câmara haviam concorrido
com seus votos para a sustentação do gabinete Zacarias." 043J
Estávamos em plena guerra com o Paraguai, e o fato
fornecia pretexto para o recrutamento e o arbítrio policial,
sempre usados com fins políticos.
Imperavam os desmandos e arbitrariedades.
Discursando no Senado, em julho de 68, dizia o senador
Tomás Pompeu - :
"Já em dezembro de 1866 tinha ido da capital uma expedição
militar para o 3.0 distrito fazer a eleição que teve lugar em fevereiro
de 1867; expedição de 50 homens comandados por um tenente-coronel
que teve por isso três prêmios - : foi elevado a coronel, teve uma
comenda e um emprêgo de oficial maior da secretaria do govêrno
do Ceará, além do que despendeu o Tesouro com êsse movimento
de fôrças a pretexto de serviço de guerra.
Oh! senhores, quando vejo que os dinheiros públicos são desta
maneira esperdiçados, é verdade que em quantia pequena compa-
rativamente às outras, posso acreditar que êsses milhares de contos
despendidos na guerra, e de que dão conta os relatórios, tenham
tido melhor e mais legítimo emprêgo? Debaixo da capa da guerra,
quanto contrabando eleitoral de todo gênero não terá passado?" 044)
O fato é que, apesar de tudo, foi estrondoso o triunfo dos
liberais na eleição da lista sêxtupla. Ficou ela assim cons-
tituída:

Conselheiro Saldanha Marinho . . . . . . . . . 846 votos


Dr. José Lourenço de Castro e Silva ..... 794 "

043) BRíGIDO, J. - Eleição para deputados à Assembléia geral


legislativa pelo 3. 0 Distrito eleitoral do Ceará. Fortaleza, Tip. Brasi-
leira. de João Evangelista, 1867, p. 7. Trata-se de trabalho pouco conhe-
cido que, embora apaixonado, elucida muitos aspectos das eleições
de 1867 no Ceará.
(144) POMPEU, Tomás - Discurso na sessão de 11 de julho de
1868. Anais do Senado do Império do Brasil - Segunda Sessão em
1868. Rio de Janeiro, 1868. Vol. III, p. 105.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 239
,,
Padre Antonino Pereira de Alencar ..... 756
,,
Dr. Libera to de Castro Carreira ......... 752
,,
Dr. Leandro de Melo Ratisbona ........ 735
Cônego Antônio Pinto de Mendonça ..... 715 "

Eram todos liberais, e o mais votado dos candidatos con-


servadores, Nogueira Jaguaribe, o artífice da coligação pro-
gressista no Ceará, teve apenas 471 votos, distanciando-se em
mais de 200 do último colocado.
Subindo a lista sêxtupla à imperial escolha, por Carta
Imperial de 16 de maio de 1868 Pedro II escolhia senadores o
conselheiro Saldanha Marinho e o cônego Antônio Pinto de
Mendonça.
Não chegava, entretanto, ao seu final aquela complicada
e laboriosa eleição.
Para atender a preceito constitucional a Carta Imperial
desce ao Senado, onde é encaminhada à Comissão de Cons-
tituição.
Alonga-se a análise das ocorrências pré e post-eleitorais.
São pedidos à província certidões, cópias de atas e relatórios
de presidentes. Assim decorre o restante do ano de 1868 sem
que aquela Comissão dê parecer sôbre o assunto.
Há cêrca de 3 anos o Ceará estava pràticamente reduzido
a um representante na Câmara vitalícia - o senador Tomás
Pompeu-, pois aos dois falecidos não eram dados substitu-
tos e o senador Paula Pessoa de há muito não comparecia
ao Senado.
Em 16 de julho daquele ano um acontecimento nôvo vem
alterar completamente o epílogo da questão. A vida político-
-administrativa do país passa a ser inesperadamente condu-
zida por um gabinete conservador que chega ao poder na
crista de uma das mais sérias crises parlamentares do Império.
Preside o nôvo gabinete o Visconde de Itaboraí, e à frente
do Ministério da Justiça está o cearense José de Alencar a
quem logo se atribui especial interêsse no problema das sena-
tórias cearenses.
O Barão de Cotegipe, membro da Comissão de Constitui-
ção, agora Ministro da Marinha, foi nela substituído por
Francisco Otaviano de Almeida Rosa.
240 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Inicia-se o ano de 1869 e, finalmente, o parecer da Comis-


são, datado de 6 de maio daquele ano, é lido na sessão do
Senado do dia 8 seguinte, assinado por Francisco Otaviano,
Silveira da Mota e o Visconde de Sapucaí. Embora reconhe-
cendo certas irregularidades nas eleições e sugerindo a repe-
tição do pleito em alguns colégios, considera que, quaisquer
que fôssem os novos resultados, não ficaria alterada a relação
dos eleitos e, portanto, opinava pelo reconhecimento de Sal-
danha Marinho e cônego Pinto de Mendonça.
Quase um ano decorrera já da imperial escolha, e mais de
dois da realização das eleições. Mas ainda faltava a aprova-
ção do parecer pelo plenário do Senado.
Na sessão do dia 15 do mesmo mês, o Barão de Cotegipe,
Ministro da Marinha, porta-voz da situação dominante, vem
ao Senado argüir a nulidade da eleição senatorial do Ceará.
Há debates entre liberais e conservadores, debates longos e
acalorados.
Na sessão do dia 17, pôsto em votação o parecer, foi êle
rejeitado por 20 votos contra 17 dos liberais. Era visível a ~n­
fluência exercida pela situação no resultado obtido.
Teófilo Ottoni, irado e inconformado, brada da tribu-
na - : "Honra e glória! Triunfou o ministério! Questão déle!
Começam as depurações!" 045)

045) ANAIS do Senado do Império do Brasil - Primeira Sessão


de 1869. Rio de Janeiro, 1869. Vol. f, p. 144.
Ao que parece, fôra o próprio senador Pompeu quem, antes da
reconciliação com os dissidentes liberais, forneceu aos conservadores
as comprovações da. fraude nas eleições primárias.
É pelo menos o que narra o Visconde de Taunay nas linhas
abaixo-:
"Haviam sido, como dissemos, anuladas as eleições de Saldanha
Marinho e padre Pinto, por julgá-las o Senado inquinadas de vícios
insanáveis, conforme opinaram o parecer da comissão de verificação
de podêres.
E para chegar a essa conclusão, o relator que, se não nos enga-
namos fôra. o Barão de Cotegipe, recebera minuciosíssimas informa-·
ções do padre e senador Tomás Pompeu de Souza Brasil, quando
ainda de cima os liberais, isto é, em 1867, concludente prova do en-
carniçamento das facções em que se subdividiam e com que se degla-
diavam no Ceará os políticos apenas no poder ministérios do seu
próprio credo, quer de feição conservadora, quer liberal.
Uma vez por terra no Rio a situação até então dominante, e con-
graçados no torrão cearense os contendores, dias antes ferozes ini-
migos saídos da mesma grei, tentou o padre Pompeu ou retirar ou
-~
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 241

De fato, para demonstrar o interêsse do govêrno na rejei-


ção do parecer, até senadores ministros vieram votar: o
Visconde de Itaboraí, presidente do gabinete e Ministro da
Fazenda, o Barão de Cotegipe, Ministro da Marinha, o Vis-
conde de Muritiba, Ministro da Guerra, contam-se entre os
votos que o derrubaram. (146)
Tratando do assunto, largamente comentado nos meios
políticos, o Diário Fluminense de Niterói divulgava que o
Duque de Caxias, inimigo pessoal de Saldanha Marinho, de-
clarava-se moralmente impossibilitado de votar, mas as con-
tingências do momento o levaram a isso.
Sem êsses votos e a propalada deserção do Visconde de
Jequitinhonha, o parecer teria sido aprovado e os liberais
contariam com mais duas cadeiras no Senado.
Estranhamente, os homens da situação dominante, cha-
mados ao govêrno pelo Imperador, se opunham a uma escolha
do próprio Imperador!
A imprensa oposicionista do Sul, notadamente A Reforma
e o Diário Fluminense, bem como o jornal Cearense de For-
taleza, órgão liberal da província, vislumbravam por trás da
atitude do gabinete conservador a ostensiva pretensão do
ministro José de Alencar de, em novas eleições, conquistar
uma das vagas do Senado em proveito próprio.
Escrevia, então, o Cearense:
"Empenhou-se uma luta encarniçada entre o gabinete e a opo-

dar por nulos insubsistentes e sem valor as denúncias e esclareci-


mentos por êle tão empenhadamente fornecidos.
- Impossível, meu colega, objetara Cotegipe com a finura e
espírito que tanto o distinguiram. Obsequiou-nos o Sr. com certeira
escopeta e quer agora nô-la arrebatar, quando temos que defender
com ela a verdade e a justiça? - TAUNAY, Affonso de Escragnolle,
Visconde de - Reminiscências. São Paulo, Melhoramentos, 1923. p.
170 e 171.
1.146) Votaram a favor do Parecer: Marquês de Olinda, Zacarias,
Nabuco, Furtado, Souza Franco, Fernandes Torres, Sinimbu, Dias de
Carvalho, Chichorro da Gama, Visconde de Paranaguá, Marcelino
Gonçalves, Otaviano, Silveira da. Mota, Pompeu, Souza Queiroz e
Mafra (17). Votaram contra: Visconde de Itaboraí, Barão de Cote-
g1pe, Visconde de Muritiba, Duque de Caxias, Visconde de S. Vicente,
Barão do Bom Retiro, Barão de Itaúna, Barão de S. Lourenço, Barão
das Três Barras, Visconde de Suassuna, Visconde de Jequitinhonha,
Barão de Maroim, Barão de Pirapama, Mendes dos Santos, Fonseca,
Dlniz, Almeida e Albuquerque, Rodrigo Silva, Jobim, Dias Vieira,
Teixeira de Souza (20).
242 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

sição do Senado. O govêrno fêz questão de vida e morte. Convinha


a anulação dessa eleição para que o Ministro da Justiça pudesse
ocupar no areópa.go a cadeira em que outrora sentou-se seu nobre
pai, o senador Alencar, de saudosa memória. Jogou-se até a última
carta. Não podendo conseguir um triunfo lega.I, empregou-se a cor-
rupção em larga escala, e a corrupção triunfou!" 047)
O fato estava consumado. Nôvo pleito devia ser realizado
para preenchimento das duas vagas na representação sena-
torial cearense. Com a abstenção dos liberais, descrentes do
govêrno que há pouco os esbulhara, as eleições tiveram lugar
no dia 12 de outubro de 1869.
A apuração, realizada a 12 de dezembro do mesmo ano,
apresentou os seguintes resultados:
Conselheiro José Martiniano de Alencar 1185 votos
Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe .. . 1112 "
Manoel Fernandes Vieira .............. . 1109 "
Francisco Domingues da Silva ......... . 1053 "
Dr. Jerônimo Martiniano Figueira de Melo 1050 "
Raimundo Ferreira de Araújo Lima ..... . 1023 "
Se é discutível a participação de José de Alencar, do seu
prestígio político e ministerial, na rejeição do parecer favo-
rável à aceitação da eleição de Saldanha Marinho e cônego
Pinto de Mendonça no plenário do Senado, é fora de dúvida
que muito se empenharam êle e o Partido Conservador na
conquista da expressiva votação que obteve na nova lista
sêxtupla.
Mas aquêle triunfo iria constituir-se para o grande ro-
mancista numa vitória de Pirro, como os fatos- o demonstra-
riam, e se tornaria a página mais amarga da sua atribulada
carreira política.
Parece lícito admitir que José de Alencar não possuía
vocação para a atividade política, pelo menos na acepção em
que o adjetivo é empregado e conhecido no Brasil.
Duas personalidades significativas do seu tempo, que o
conheceram e com êle privaram, um enfocando-o com as
lentes do político, outro com as do escritor, depõem em favor
desta assertiva.
047) O Cearense de 6 de junho de 1869.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 243

Saldanha Marinho, militante liberal de primeira linha e,


portanto, adversário político de Alencar, a quem responsa-
bilizava pela nulidade das eleições senatoriais de 1868, escre-
veria ao fazer-lhe o necrológio, na imprensa da Côrte, em
1877-:
"Os Lamartines não foram talhados para a política. Têm o seu
mundo à parte. Na larga e brilhante esfera a que foram destinados,
a.ssentam a sua glória. A política, que não os aprecia e que jamais
foi compreendida por êles, não lhes daria posição mais real, mais
elevada e nobre do que aquela por êles conquistada nos labores lite-
rários, por um grandioso talento e profundo estudo." (148)
E Machado de Assis, companheiro de glórias literárias,
diria mais tarde - :
"A política era incompatível com êle, alma solitária. A disciplina
dos partidos e a natural sujeição dos homens às necessidades e in-
terêsses comuns não podiam ser aceitos a um espírito que, em outra
esfera, dispunha da soberania e da liberdade. Primeiro em Atenas.
era-lhe difícil ser segundo ou terceiro em Roma." (149)
No entanto José de Alencar era um homem que trazia
do berço a predestinação para a política, atividade que tã.o
profundamente marcou a trajetória de seu pai, e que se cons-
tituíra um apanágio da sua família desde os dramáticos
dias de 1817.
Do genitor Martiniano de Alencar, duas vêzes presidente
da província natal, deputado geral, senador do Império,
elemento de prol do Partido Liberal, em cuja casa se reuniam,
discutiam e conspiravam algumas das figuras mais represen-
tativas da política nacional da época, seria justo esperar que
herdasse o gôsto e a habilidade para o exercício da política
partidária.
Respirando as sugestões e as insinuações de tal convi-
vência nos primeiros trinta anos de sua existência, quando
se terá plasmado, em definitivo, sua personalidade, bem cedo
ainda, mal completara os onze anos, vira o lar transformado
(148) SALDANHA MARINHO, Joaquim - Artigo no Diário do
Rio de Janeiro. ln: Brito Broca, José - O Drama político de Alencar.
Rio de Janeiro, Ag·uilar, 1960. Vol. IV, p. 1039. (Obra Completa de
José de Alencar).
049) MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria - Discurso na inau-
guração da estátua de Alencar. Rio de Janeiro, Aguilar, 1959. Vol. II.
p. 603. (Obra Completa).
244 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

na sede dos conciliábulos que culminariam num dos movi-


mentos de maior repercussão política da história nacional -
o golpe maiorista de julho de 1840 que guindaria ao Trono
um Imperador de quatorze anos.
Êle mesmo o declara, em páginas que ficariam famosas,
que não entendendo o que ali se passava, mas observando a
disposição e a presteza com que os austeros conspiradores
devoravam as bandejas de bôlo e chocolate que sua genitora
lhes servia, deu às reuniões a única interpretação plausível
ao seu raciocínio infantil - :
"-O que êsses homens vêm fazer aqui é regalarem-se de
chocolate." 050)
A conclusão, êle próprio o reconheceria, valia por uma
antevisão do que mais tarde encontraria como os verdadeiros
objetivos das atividades político-partidárias. "Essa, a primeira
observação do menino em coisas de política, ainda não a
desmentiu a experiência do homem. No fundo de tôdas as re-
voluções lá está o chocolate embora sob vários aspectos." 051)
A natural e esperada influência das tradições políticas da
família na sua formação, êle o discutiu, comentou e analisou
nos livros, na imprensa, na tribuna do Parlamento, mas o fêz
de modo a restringir-lhe severamente as dimensões.
"O único homem nôvo e quase estranho que nasceu em
mim com a virilidade, foi o político. Ou não tinha vocação
para essa carreira, ou considerava o govêrno do estado cousa
tão importante e grave que não me animei nunca a inge-
rir-me nesses negócios. Entretanto, eu saía de uma família
para quem a política era uma religião, e onde se haviam
elaborado grandes acontecimentos de nossa história." (152)
Não possuía Alencar, infelizmente, atributos naturais
que lhe carreassem simpatia ou o impusessem à convivência
dos líderes políticos e à aceitação popular, condição das mais
necessárias ao sucesso eleitoral e ao interêsse dos partidos.
Ingressando na política pràticamente em 1860, data de
sua primeira eleição para deputado geral, já era, então, um

(150) ALENCAR, José de - Como e porque sou romancista. Sal-


vador, Progresso, 1955. p. 22.
051) Idem.
052) Idem, p. 42.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 245

nome consagrado na literatura, no jornalismo e na advo-


cacia, e disto cedo adveio-lhe um justificado orgulho, que êle
não escondia porque apenas avolumava o que lhe era inato
e por demais evidente. 053)
Não dispunha por igual de dotes tribunícios. Numa época
em que a projeção e a nomeada dos políticos provinham, so-
bretudo, dos grandes embates da tribuna do Parlamento, não
ser orador ou sê-lo em diminuta escala implicava em prejuízo
de difícil superação. No entanto, à fôrça da persistência e da
férrea vontade, e com a ajuda da aprimorada cultura e lumi-
nosa inteligência, compensou largamente essa deficiência.
Quem o reconhece é o próprio Saldanha Marinho :
"E tendo de ser político, êle teve de ser orador, apesar de não
haver sido auspiciosa a sua estréia na tribuna parlamentar. Desti-
tuído das qualidades físicas que têm notabilizado os gigantes da
eloqüência, de compleição franzina, ba.rbado demais para as feições
miúdas e delicadas, dispondo de órgão pouco extenso e sujeito a
velar-se de repente pela fraqueza da laringe e debilidade dos pulmões,
sem gesticulação larga, antes constrangida e inexpressiva, Alencar
conseguiu, entretanto, no fim de algum tempo, a golpes da vontade
e da inteligência, ser um dos oradores ouvidos com mais respeito e
ansiedade. Por ocasião dos mais renhidos prélios parlamentares nas
galerias e no recinto a multidão se premia ansiosa por ouvir a sua
palavra elegante, erudita, que tanto sabia empregar o humor corno o
sarcasmo, a ironia como a sátira mais pungente. Para ouvi-lo fazia-se
silêncio geral, e os Anais assinalam quase sempre - movimento geral
de atenção. Os apartistas, os mais consumados nesta arte, mal ousa-
vam interrompê-lo, mesmo porque êle tinha por hábito não responder
a apartes ou só responder àqueles que mereciam especial atenção
pela autoridade moral de quem os proferiu." (154)
Não se conclua, porém, que apesar do seu tardio assen-
timento às solicitações da militança política ela lhe tenha
sido sempre indiferente, ou não tenha desde cedo fornecido
assunto ao folhetinista elegante que, aos vinte e cinco anos

053) "Não era agradável a convivência com José de Alencar.


Conversava com dificuldade, além de ter pouca amabilidade natural.
Dos seus modos ressumbrava o orgulho" - TAUNAY, Affonso de
Escragnolle, Visconde de - Memórias - Rio de Janeiro, Biblioteca
do Exército, 1960, p. 167.
054) SALDANHA MARINHO, J. - Op. cit. Essas referências de
Saldanha a Alencar contrastam com as qualificações pejorativas com
que, dez anos antes, em carta a Pompeu a êle se referia. Ver cartas
de Saldanha em: CORRESPONDP:NCIA do Senador Pompeu.
246 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

brilhava já nas crônicas do Correio Mercantil e do Diário


do Rio.
As referências ao panorama político do seu tempo são
freqüentes nas crônicas de José de Alencar. Ora levemente,
ora com maior intensidade, a sua "boa pena de folhetinista"
debuxa no papel impressões críticas, sugestões, ironias e con-
ceitos sôbre homens e fatos da conjuntura política do 2. 0
Reinado.
Nessas crônicas, embora habitualmente procure super-
por-se às tricas partidárias do quotidiano, chega algumas
vêzes a tomar posição política, e, quando o faz, sempre terça
armas pelo Partido Liberal, a facção política de que era seu
pai baluarte seguro e tradicional.
Na que publica em 8 de julho de 1855, precisamente a
última que escreveu para o Correio Mercantil, contestando
Sayão Lobato que, na Câmara, afirmara que "as idéias libe-
rais tinham sido sempre estéreis para o país", escreve
Alencar-:
"Perdoe-nos o ilustre ora.dor, que com tanto afã defende o passado
ão seu partido e que, apesar de magistrado imparcial se mostra par-
cialíssimo nos seus retrospectos históricos. Se o Partido Liberal não
escreveu leis de 3 de dezembro, e não fêz grande cópia de regulamen-
tos, nem por isso deixou de fecundar as instituições do país com o
germe civilizador de sua idéia., de suas crenças, da sua constância
em pugnar pelas reformas úteis e necessárias.
A sua história é a história de muito pensamento generoso e nobre
do nosso país, desde a sua independência até a calma e tranquili-
dade de que atualmente gozamos. Foi êle que nos deu, e que tem
defendido ardentemente, o júri e a imprensa; foi êle que primeiro
proclamou o princípio das incompatibilidades, das eleições diretas,
da independência do poder judiciário, que iniciou tôdas estas refor-
mas que hoje se trata de realizar.
Não podemos estender-nos mais; porém em qualquer tempo
a.ceita.remos com o maior prazer esta discussão; pela nossa vez tam-
bém, revolveremos as cinzas dos túmulos, mas para honrá-los, esque-
cendo os erros dos mortos, e não para profaná-los excitando o
desprêzo dos vivos." (155)
Não seria aquela a vez única em que ergue sua clava
elegante mas potente para, direta ou indiretamente, defender

(155) ALENCAR, José de - Ao Correr da pena; crônicas no Cor-


reio Mercantil e Diário do Rio, São Paulo, Melhoramentos, p. 273.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 247

os liberais, nos quais iria encontrar mais tarde adversários


pertinazes e impiedosos.
José de Alencar, àquela época, se não era ostensivamente
filiado ao Partido Liberal que tinha em sua casa um de seus
quartéis e de que seu pai era uma figura patriarcal, "certa-
mente com êle estabelecera afinidades, se não ideológicas,
pelo menos sentimentais. Se adversários políticos possuía
então, êsses deveriam ser procurados entre os homens do
Partido Conservador." (156)
Em 1860 ocupa, pela primeira vez, uma cadeira na
Câmara dos Srs. Deputados representando a província natal.
Mas há quatro anos o assunto já o preocupara, e algumas
providências chegou a tomar visando àquele objetivo.
Em 27 de setembro de 1856 escreveu ao padre Tomás
Pompeu, futuro Senador e chefe do Partido Liberal no Ceará
uma carta onde se lê êsse trecho:
"Recebi a sua carta e sinto o que me disse sôbre a minha can-
didatura; confesso-lhe que nunca me passou pela idéia que ela se
opusesse a compromissos seus; entretanto agradeço-lhe o interêsse
que tomou por mim." 057)
A pretensão, entretanto, foi mantida de pé, e a partir
de 1859 voltou o candidato a movimentar-se, sempre na área
liberal, no sentido de levar a bom têrmo a sua eleição, cujo
destino estava na mão dos liberais cearenses.
Em tôrno de Tomás Pompeu é que se terá nucleado tôda
a atividade tendente a eleger o filho do senador Alencar. O
prestígio político e intelectual de Pompeu asseguravam-lhe
o domínio da facção liberal da província, e, para cometimen-
tos daquela natureza nenhum patrocínio mais indicado nem
mais poderoso do que o seu.
Em julho de 1859 Pompeu dizia em carta a João Brígida,
então residindo no Crato -:
"Meu maior desejo é fazer o Alencar (José d'Alencar, o roman-
cista) deutado e retirar-me da política para descansar." 058)

056) CAMARA, José Aurélio Sa.raiva - Alencar, cronista político.


ln: - - - O Tempo e os homens. Fortaleza, Imprensa Universitária
1967. p. 165.
(157) CORRESPOND~NCIA do Senador Pompeu, p. 21.
058) Do Arquivo de João Brígido - Publicada na Gazeta de
Notícias, Fortaleza, edição de 25-IX-1929.,
248 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

E logo em seguida outro prócer liberal de nomeada, Lean-


dro de Melo Ratisbona, escrevia de Fortaleza também a João
Brígida:
"Eu e o Pompeu nos temos entendido com o José de Alencar que,
se cumprir a promessa, vem até o fim do ano e demorar-se-á por
aqui para concertar conosco a campanha liberal." (159)
O próprio candidato não descura de se dirigir a parentes e
correligionários apelando para uma conjugação de esforços que
assegure a vitória da sua facção política. A seu primo padre
Sucupira lembra que "o que cumpre é envidar esforços para
que o Partido Liberal ganhe a eleição", 060) e talvez por
sugestão de Pompeu escreve esta carta, em 11 de setembro
daquele ano, ao mais destacado chefe liberal do Cariri, que
outro não era senão o próprio João Brígida -:
"Sr. Major Brígido: Conhecendo os seus princípios liberais e a
bem merecida influência que V. S. tem adquirido nesse lugar, pela
sua posição e qualidades, vou pedir a sua coadjuvação em favor de
uma idéia, que nos interessa a todos, filhos do Ceará e membros
do grande partido. Tencionamos fazer convergir tôdas as fôrças para
os três círculos do Crato, Imperatriz (161) e Inhamuns, afim de
darmos o triunfo às três candidaturas liberais que possam, pelos
seus esforços na Câmara, pôr têrmo ao exclusivismo e intolerância
que até hoje têm exercido uma fatal pressão sôbre nossa província.
A situação nos é favorável, o govêrno não nos hostilizará, mas
convém que V. S. e outras influências legítimas dêsse círculo procurem
acabar com êsse indiferentismo funesto de que deram prova os habi-
tantes dêsse lugar na eleição passada.
Lembre-se V. 18. de que o benefício da vitória reverterá em bem
de tôda a província. Espero sua resposta. Sou com estima e admi-
ração, José de Alencar." (162)

O interêsse e atividade de Alencar em prol de sua eleição


não ficariam restritos à área epistolar; êle próprio deslocou-se
à província natal e veio pessoalmente batalhar, ao lado dos
correligionários liberais, numa campanha de que sairia, afinal,
vitorioso.
Aquelas eleições iriam afirmar-se na história política
nacional com características de significativa importância,
(159) Idem, Gazeta de Notícias de 18-X-1929.
(160) Idem, Gazeta de Notícias de 25-XII-1929.
ll61) Hoje Itapipoca.
(162) Gazeta de Notícias de 25-XII-1929.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 249

não apenas no que tange ao início da "maré montante demo-


crática", de que nos fala Joaquim Nabuco, (163) mas também
pela adoção de novas técnicas no mecanismo eleitoral do Im-
pério. É que a famosa lei dos círculos, de 19 de setembro de
1855, a glória maior do ministério de conciliação do Marquês
do Paraná, ia ser aplicada agora com as alterações impostas
pela Lei de 18 de agôsto de 1860.
Por esta última, dois dispositivos da lei dos círculos
foram particularmente alterados: o círculo de um único
deputado foi transformado em círculo de três, e foi abolida
a eleição simultânea de suplentes e deputados.
O fato é que José de Alencar se elegeu nas eleições áe
1860, com 350 votos, deputado geral pelo 1.º distrito, jun-
tamente com os conservadores Jerônimo Martiniano Figueira
de Melo e Manoel Fernandes Vieira.
Vimos linhas atrás como eram grandes e ostensivas suas
vinculações com o Partido Liberal; vimos quanto os liberais
cearenses se empenharam na sua eleição. Seria, pois, lógico
e natural que no Parlamento se portasse como um elemento
daquele partido, como um firme representante das idéias e
da coloração partidária que tão intensamente marcaram a
atividade política de seu pai.
Mas as semanas que medearam entre o término das
eleições de 1860 e o reinício dos trabalhos legislativos de 1861
assinalam uma evidente transformação nas atitudes político-
-partidárias de Alencar, transformação que significa o aban-
dono de sua filiação liberal e o ingresso, com armas e baga-
gens, nas hostes do Partido Conservador.
Nessa mudança está a gênese de seu calvário político.
Eloqüência alguma, argumento algum, nenhum discurso
conseguiu jamais, em tempo algum, justificar os trânsfugas,
seja na arena política, seja nos campos de batalha. E, sob o
aspecto político, dificilmente se poderá retirar a Alencar o
rótulo deprimente.
Seguro e indestrutível no seu pedestal literário ante as
investidas da incompreensão e da inveja, não lhe foi possível

(163) NABUCO, Joaquim, op. cit.


250 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

enfrentar, com igual imunidade, as flechas venenosas da


política.
O pecado original daquela deserção do partido de seu
pai, do grande partido, como êle o chamava, vincou-lhe a
atividade política com uma escara maligna, que em vão
tentou curar porque sempre renascia para sua mágoa e
irritação.
Os liberais nunca o perdoaram, e até as hostilidades lite-
rárias se nutriam daquela variança política. Teófilo Ottoni
acusava-o de "haver rompido com as tradições gloriosas dêsse
mártir da liberdade que foi seu venerando pai"; Zacarias
apodava-o de "vira-casaca", e Saldanha Marinho chamava-o
de "energúmeno audaz." 064)
Um ano após sua posse na Câmara já é acusado de per-
seguidor dos liberais que o elegeram. Tomás Pompeu, escre-·
vendo a João Brígida em junho de 1862, dizia textualmente-:

"Um amigo que passou para o Maranhão e veio do Rio, me disse


que o maior empenho do Alencar (José d'Alencar) é fazer-me aqui
tôda guerra possível: que projetava mandar um presidente seu, com
visos de liberal, para realizar aquêle antigo projeto do Padre Carlos
no tempo do João de Souza, (165) isto é, chamar os chimangos a si
com os carcarás, e o seu homem era o nosso ex-Frederico Pam-
plona." (166)

O que teria levado Alencar a essa metamorfose política?


Seus biógrafos, raros e omissos, têm evitado, por zêlo ou
ignorância, a análise e mesmo o comentário sôbre essa página
importante da vida do grande cearense, embora dela se origine
todo o amargo drama que viveu nos entreveras da política.
É certo o interêsse dos liberais cearenses, Pompeu à
frente, em assegurar o triunfo eleitoral da candidatura de
Alencar. Mas é certo também que, desejoso de assegurar-se da
vitória, não trepidou o candidato em buscar ajuda nos

(164) CORRESPONDÊNCIA do Senador Pompeu - cartas de


Saldanha Marinho.
(165) Dr. João Silveira de Souza. 22.º presidente do Ceará
(1857/59).
(166) Do Arquivo de João Brígido. Publicada na Gazeta de No-
tícias de 26-IX-1929.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 251

arraiais conservadores, entre os quais atuava Domingos


Jaguaribe, seu parente e amigo. 067)
Aquêle entendimento com os adversários não teria gerado
a dúvida e a desconfiança entre seus correligionários libe-
rais? E aquela desconfiança não teria provocado, no gênio
altivo e intratável de Alencar, um desprêzo crescente pelos
aliados políticos?
Tendo já buscado, em 1856, o apoio dos liberais do Ceará
para sua eleição a deputado, quando não viu sua candidatura
coroada de êxito, com redobrado interêsse voltou ao assunto
em 59 e 60, desta vez decidido a eleger-se de qualquer modo.
Da troca de cartas com Pompeu parece claro ter havido
restrições à sua candidatura, nas eleições de 60, por parte de
elementos de prol do Partido Liberal do Ceará. Um dêsses
era o senador Paula Pessoa, influência expressiva do partido
na zona norte da província. Pelo menos é o que se depreende
de uma carta dirigida ao futuro senador Pompeu, sem data
conhecida, mas escrita certamente em fins de 59 ou princípios
de 60, onde se lê êsse trecho - :
"Agora permita-me que lhe fale da minha candidatura. Respeito
os seus compromissos, mas sempre lhe direi que os interêsses das
nossas idéias, os benefícios da nossa província, devem preferir as
promessas pessoais.
O Partido Liberal do Ceará, como de todo o Brasil, precisa reabi-
litar-se; os dois deputados liberais da nossa província precisam tra-
balhar com bastante fôrça para conseguir fazer alguma coisa.
O Dr., que tem a sua candidatura segura, julgará qual o compa-
nheiro que o pode melhor auxiliar nesse empenho; e dirá em sua
consciência qual o dos dois nomes, o do senador Paula Pessoa e do
senador Alencar, merece mais consideração para o Ceará e para as
influências desta Côrte.
Bem sei que não tenho títulos para obter a honra a que aspiro;
mas quando o govêrno julga natural a minha candidatura, quando
todos os chefes do Partido Liberal nesta Côrte, e os senadores do
Ceará (exceto um) a recomendam, parece-me que não pode ser
tachada de desarrazoada uma tal pretensão." (168)
Compreendem-se até certo ponto as restrições que se fa-

\167) Domingos Jaguaribe era casado com Da. Clodes Alencar


Jaguaribe, tia de José de Alencar pelo lado materno.
(168) MENEZES, Raimundo de - .José de Alencar - Literato e
político. São Paulo, Martins, 1965. p. 167.
252 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

ziam à candidatura de um intelectual, romancista e jornalista


da Côrte, ligado ao Ceará apenas pelo nasimento, 069) estra-
nho à política local, e que se voltava para a terra natal, as
vésperas de uma eleição, para colhêr sem esfôrço um diploma
de deputado.
Os chefes políticos provinciais, remanescentes daqueles
"bons, burros e bravos" de que fala João Brígido, curtidos ao
calor das pelejas políticas, marcados pela violência das per-
seguições policiais, não mostrariam grande entusiasmo por
um candidato que só no plano intelectual situava suas cre-
denciais, desconhecidas e inacessíveis à maioria dêles.
Em tôda a história política cearense, de um modo geral
o adventício, mesmo cearense, nunca foi bem recebido pelas
lideranças políticas e, ainda menos pelo eleitorado.
Em 6 de junho de 1960, com papel tarjado de prêto pelo
luto recente do senador Alencar, o candidato volta a escrever
a Tomás Pompeu, dizendo, entre outras coisas-:
"Você deve estar convencido da necessidade de termos um
deputado aqui, sobretudo agora que falta à província o único Senador
tJosé Martiniano) que a defendia ainda contra a influência dos
carcarás. (170) :Êsse deputado, seja eu ou seja outro em quem se
acordar, deve ser eleito a todo custo e com sacrifício: sacrifício que
será compensado com as vantagens que se há de colhêr.
O que sucedeu da vez passada? Todos erramos. Eu tive uma
veleidade de sair deputado pela Granja e tratei de mim. Ratisbona
também ocupou-se com o Crato exclusivamente; você com a Impe-
ratriz. No fim de contas nenhum de nós saiu deputado. Entretanto
não faço estas considerações para fazê-lo mudar de opinião sôbre o
Crato, não. Quero marchar sempre de acôrdo com você." (171)
Em fins de 1860 está em Fortaleza para sua campanha
política.
Sai da capital e percorre freguesias vizinhas, como
Aquirás, Monguba e Maranguape. E naquelas andanças, fare-
jando apoios e negaças, entra em entendimentos com a ala
carcará dos conservadores, precisamente o grupo adversário
cuja influência êle, seis meses antes, em carta a Pompeu,
(169) As obras de Alencar diretamente vinculadas ao Ceará, prin-
cipalmente Iracema, ainda não haviam sido publicadas.
( 170) Ala do Partido Conservador dirigida pelos Fernandes Vieira,
famoso clã rural da região de São Mateus.
(171) MENEZES, Raimundo de - Op. cit., p. 176.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 253

considerava nefasta à província. E é com o próprio chefe


do grupo, o senador Fernandes Vieira, que acerta o apoio
à sua candidatura.
Uma carta de 29 de dezembro de 1860, a Luís Inácio de
Oliveira Maciel, não deixa dúvidas sôbre o episódio. Ei-la:
"Fui há dias a Aquirás e não tive o prazer de encontrá-lo, pcis
achava-se, segundo me disseram, nesta cidade. Já com antecedência
tinha escrito a V. S. prevenindo-o de minha ida e o portador da. carta
não o encontrando voltou com ela.
Além do prazer de vê-lo era. o meu fim procurando-o, comuni-
car-lhe o acôrdo que tinha feito com o Dr. Miguel Fernandes Vieira
<Senador, chefe do Partido Conservador), o qual aceitou minha can-
didatura por êste 1.0 círculo. A vista dêsse fato, julgo do meu dever
pedir aos meus amigos, àqueles que se interessavam na minha eleição,
que não façam o menor sacrifício em favor dela, por isso que conto
com a lealdade do Dr. Miguel Fernandes.
Não tendo V. S. por êste círculo outro candidato senão eu, con-
forme teve a bondade de declarar-me, e achando-se a minha eleição
segura, entendo que é inútil qualquer luta nesse colégio, sendo o
completo abandono da eleição o maior serviço que V. S. e seus amigos
me podem prestar, nas atuais circunstâncias. Peço a V. S. que, con-
sultando a respeito o Revmo. Sr. Vigário e outros seus amigos, me
responda com brevidade." (172)

O quadro está bem claro. Alencar, disposto a não sofrer


nôvo revés nas eleições para a Câmara dos Deputados, sentin-
do, talvez, que os votos do partido não seriam suficientes para
a desejada vitória, pleiteou e obteve o apoio dos conservadores
carcarás.
A liberação de compromissos anteriores com o destina-
tário da carta e seus amigos, deve ser vista como a preocupa-
ção de quem não queria aparecer depois como credor de
votos liberais.
~le próprio o diria mais tarde: "Fui eleito deputado tendo
apenas 30 votos de cêrca de 220 eleitores liberais do dis-
trito." (173)
Se assim foi, é possível que tenha devido sua eleição mais
ao apoio recente dos conservadores que aos votos do próprio
partido.
O que lhe terá sido difícil explicar é a troca da sua forte
(172) Idem, p. 178.
(173) Idem, p. 182.
254 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

e tradicional filiação liberal pela segurança que lhe davam


os votos conservadores.
Preferiu subir com os adversários a sofrer nova derrota
com os aliados.
A situação em que se colocou, a partir da divulgação
dêsse conchavo, não deve ter sido das mais cômodas.
Terá sido, então, que viveu aquêles dias de amuos e retrai-
mentos de que nos fala seu parente Araripe Júnior.
"Ainda em 1867, estando eu de férias na cidade de For-
taleza, mostraram-me, na casa onde hospedou-se o ilustre
candidato, o lugar onde passava dias inteiros amuado, sem
dizer palavra, entregue todo à ruminação das contrariedades
que curtia." (174)
Entre José de Alencar e seus ex-aliados liberais criou-se
uma situação de constrangimento sem remédio. O abismo só
tendeu a alargar-se, e nenhuma ponte de entendimento pôde
jamais ser lançada por sôbre êle.
Em março de 1860 havia morrido aquêle leão do Partido
Liberal que era o senador Martiniano de Alencar. ~le repre-
sentara a maior vinculação, embora predominantemente sen-
timental, entre José de Alencar e a grei liberal. Desfeito êsse
laço, anularam-se possíveis fatôres de aproximação.
E Alencar, passada a eleição, nunca mais voltou ao redil
dos liberais.
Ou porque timbrasse, por capricho, em demonstrá-lo, ou
porque no íntimo fôsse aquela sua verdadeira afinidade polí-
tica, parece-nos que a personalidade política de Alencar mais
propendia para uma aproximação com os ideais conservado-
res que com a nem sempre contida agitação dos liberais bra-
sileiros. O que não deixa de constituir um paradoxo na vida
de quem, como agudamente observa Gilberto Freyre, não foi
apenas um revolucionário literário, mas também social. (175)
O senador cearense Tomás Rodrigues, discursando na
tribuna do Senado em 1929, quando do centenário de nasci-

Cl 74) ARARIPE JúNIOR, Tristão Gonçalves de Alencar - José


de Alencar. ln: - - - - Obra crítica. Rio de Janeiro, Ministério da
Educação e Cultura, 1958. Vol. I (1868-1887). p. 182.
075) FREYRE, Gilberto - Reinterpretando José de Alencar.
ln: - - - - Vida, forma e côr. Rio de Janeiro, J. Olympio, 1962.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 255

menta do excelso romancista, tenta dar, com essas palavras


uma explicação para a sua discutida conduta política-:
"Considerado o seu idealismo, uma das feições mais
características do seu gênio, não há como recusar que idéias
muito amadurecidas no estudo e na experiência levaram
àquele grande espírito convicções que o alistaram nas fileiras
do Partido Conservador.
Surgindo na política após a agitação de 1848, quando já
extintos os últimos ecos do tufão revolucionário, o excelso
patriota compreendeu que a época era de construção e refor-
mas, e imaginou que o partido da ordem se deveria tornar o
partido construtor e reformador por excelência.
É de supor também que em seu espírito a escola dos esta-
distas inglêses, em que se educou, tenha predominado orien-
tando-o para as idéias do partido a que pertenceu e por que
se bateu na imprensa e na tribuna." (176)
E o próprio orador traz em apoio à sua afirmação essas
palavras de Alencar, o seu melhor depoimento sôbre o as-
sunto -: "Hoje compreendo melhor a liberdade do que a
compreendia. O sentimento não mudou, mas a razão se escla-
receu. Outrora a liberdade era para mim o entusiasmo
popular, a eletricidade da multidão; hoje, porém, considero
como o verdadeiro cunho da liberdade a felicidade calma,
tranquila do povo, a manüestação vivaz e enérgica da
opinião." (177)
Palavras que lembram a famosa profissão de fé regres-
sista de Bernardo Pereira de Vasconcelos nos idos de 1837.
Engajado na política, mais de uma vez reeleito para a
Câmara dos Deputados, Ministro da Justiça no discutido e
combatido gabinete conservador de 16 de julho de 1868, uma
cadeira no Senado deveria constituir-lhe a mais justa e na-
tural aspiração.
Uma cadeira no Senado era a mais concreta e expressiva
manifestação de afirmação política, a garantia de perma-
nente acesso aos altos conselhos do Brasil imperial.
~le próprio o diria em discurso parlamentar que escreveu
e publicou, mas que não chegou a pronunciar.
076) Publicado na Gazeta de Notícias, de Fortaleza, de 2-VI-1929.
(177) Idem.
256 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

"Pode ter um brasileiro o mais elevado talento e espe-


ciais dotes políticos. Se não pertencer à Câmara vitalícia, não
passa de um pau de laranjeira. É a carta de senador que faz
dêle um medalhão, um candidato a organizador de gabine-
tes, um homem-situação." 0 78)
Com a anulação, em maio de 1869, da eleição da lista
sêxtupla do Ceará, abriu-se a êle, homem da situação e Minis-
tro de Estado, oportunidade das mais propícias à concretiza-
ção daquela aspiração.
Em carta a seu amigo e correligionário Paulino Nogueira
pede que recomende aos amigos a inclusão de seu nome na
lista sêxtupla a ser eleita.
E delibera levar, êle próprio, ao Imperador a informação
de que era candidato a uma vaga na representação senatorial
cearense. O episódio é conhecido, embora seja discutível a sua
veracidade. Narrou-o o Visconde de Taunay nas suas Remi-
niscências.
"Afirmou urna vez certo jornalista muito relacionado no
mundo político que José de Alencar lhe referira o diálogo
entabolado com o soberano, quando a êste fôra anunciar a
apresentação definitiva do seu nome no pleito que se ia travar
no Ceará.
Servindo-me das palavras do articulista vou reproduzi-lo
fielmente, tanto mais quanto as palavras trocadas são bem
naturais, com bom cunho de autenticidade e devem ter ser-
vido de ponto inicial, já para a irritação, desde aí patente, de
quem se julgou logo lesado em seu direito, já para o procedi-
mento do Poder que tinha de dizer a última palavra na
questão.
O Imperador, observa o jornalista, foi franco (Graças a
Deus, urna vez pelo menos, se lhe faz essa justiça!) e Alencar
desabusado.
- No seu caso, não me apresentava agora; o senhor é
muito moço ...
O símile que o ministro achou para a réplica mais que
amplamente justifica o qualificativo desabusado, que é até
(178) ALENCAR, José de - Discurso que devia proferir na sessão
de 20 de maio o deputado José de Alencar. Rio de Janeiro, 1873. ln:
VIANA, Hélio - D. Pedro I e D. Pedro II. Rio de Janeiro, Brasiliana,
1966. p. 195.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 257

bem fraco em relação ao desabrimento da resposta, acusação


formal e descabida. Aquilate-se com alguma imparcialidade:
- Por esta razão Vossa Majestade devia ter devolvido
o ato que o declarou maior antes da idade legal. ..
E com a habilidade que lhe era peculiar, vendo talvez que
o golpe fôra demasiado rude, derramou um pouco de bálsamo
na ferida aberta:
. . . entretanto, ninguém até hoje deu mais lustre ao
govêrno.
- Bem sabe que obedeci a uma razão de Estado.
- É também uma razão de Estado para um político não
desamparar o seu direito ...
- Faça como entender; dou uma opinião ...
- Que vale uma sentença ... " (179l
Comentando êsse pretenso diálogo em livro recente, o his-
toriador Hélio Viana conclui por sua impossibilidade, argu-
mentando que "depois dêle Alencar continuou Ministro da
Justiça, ainda permanecendo no cargo quando se realizaram
as eleições senatoriais cearenses a 12 de dezembro de
1869". 080) E acrescenta, em nota, que "a verdadeira origem
da versão anedótica, acima apresentada, da malcriada alusão
de Alencar à antecipação da Maioridade de Pedro II, terá sido
a seguinte conclusão de seu artigo intitulado Uma recordação
histórica, no jornal Dezesseis de Julho publicado a 6 de maio
de 1870, nove dias depois de não ter sido escolhido Senador·
"Quem assumiu o exercício de suas atribuições quatro anos
antes da época estabelecida na lei, violando a Constituição,
não tem o direito de achar precoce a ambição legítima do
cidadão que aspira a servir o país." 081)
Outro diálogo veio a estabelecer-se entre Alencar e o
Imperador, com aquêle já eleito à testa da lista sêxtupla. É
ainda o Visconde de Taunay quem o narra:
"No dia 9 de janeiro de 1870, à tarde, foi (Alencar) a São
Cristóvão e pediu para falar com o Imperador. '
- Alguma novidade? perguntou surprêso o monarca.

079) TAUNAY, Affonso de Escragnolle, Visconde de - Reminis-


cências. São Paulo, Melhoramentos, 1923. p. 169 e 170.
080) VIANA, Hélio - Op. cit., p. 196.
(181) Idem.
258 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Simplesmente cousa que me é relativa. Venho apre-


sentar a Vossa Majestade a minha exoneração do cargo que
ocupo nos conselhos da Coroa.
- Por que?
- Desacôrdo com alguns colegas, que vai, cada vez mais
se acentuando ...
E acrescentou com decisão:
- Demais, desejo deixar a mais ampla liberdade a Vossa
Majestade na questão do Ceará ...
- Então o senhor quer destravá-la da confiança coletiva
que me inspira o gabinete?
- Exatamente .. '.
- Será o mais acertado?
- Muito refleti e acho que êste passo é da minha
dignidade ...
- Bem. . . está conforme com o que o senhor expendeu
em relação ao Poder Moderador." (182)
No dia seguinte, 10 de janeiro, era José de Alencar demi-
tido do Ministério da Justiça, sem que isso fôsse contribuir,
como os fatos o mostraram, para uma alteração no pensa-
mento do Monarca em relação à escolha senatorial.
Uma carta existe de Alencar ao Visconde de Itaboraí,
presidente do gabinete a que servia como Ministro da Justiça.
Nela, publicada pelo Sr. Raimundo de Menezes na sua bio-
grafia do ilustre cearense, o missivista dá conta a Itaboraí
do modo como se passou sua primeira entrevista com Pedro
II acêrca de sua intenção de candidatar-se a senador por sua
província natal.
É documento interessante, de comprovada importância
para o exato conhecimento dessa página da vida de José de
Alencar. Por ela se vê que o Imperador nutria dúvidas sôbre
a imparcialidade das eleições no Ceará com um Ministro can-
didato, fato que não foi estranho ao missivista. Trans-
crevemo-la:
"14 de junho de 1869.
Desejando apresentar-me candidato a uma das vagas de senador
por minha província., nada resolvi antes de conhecer a opinião de

(182) TAUNAY, Affonso de Escragnolle, Visconde de - Op. cit.,


p. 172.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 259

meus ilustres colegas de gabinete. O ministério a que tinha a honra


de pertencer, considerou a minha candidatura natural e legítima,
por ser eu filho do Ceará e seu representante em duas legislaturas.
Firmada então essa resolução, entendi que não devia manifes-
tá-la à minha província antes de a comunicar a Sua Majestade o
Imperador; nesse desígnio dirigi-me ao Paço de São Cristóvão no
dia 31 de maio, véspera da partida do paquete do norte.
Não pedi vênia. a sua Majestade o Imperador, pois não a julgo
necessária para exercer um direito de cidadão. Tive a honra de de-
clarar ao mesmo Augusto Senhor que, resolvendo apresentar-me can-
didato, alterar minha posição em relação à Côrte.
Sua Majestade o Impera.dor dignou-se de responder-me que êle
apreciaria mais de minha parte a abnegação; que esta porém não era
um dever, e sim um mero alvitre pessoal.
Tomei a liberdade de observar a Sua Majestade o Imperador que
eram frequentes os exemplos de ministros candidatos à senatória:
contudo julgando agora a Coroa existir certa incompatibilidade moral
entre essa candidatura e a posição de ministro, eu deixava o govêrno
afim de pleitear a eleição como particular.
Sua Majestade o Imperador não aceitou esta solução de que
V. Ex. já tinha conhecimento prévio; e limitou-se a repetir que
nenhum dever me inibia de ser candidato; acrescentando que em
meu caso não se apresentaria.
Permaneci portanto no ministério e na minha resolução. Embora
acate muito a opinião de Sua Majestade o Imperador, entendo que
sua alta posição o inibe de bem apreciar certas questões de dignidade
cívica. Ocorreram porém a respeito da presidência do Ceará circuns-
tâncias que V. Ex. não ignora. O Imperador recusou para aquêle
cargo o Dr. Leandro Bezerra, primeiramente lembrado. Recusou
depois a nomeação do Dr. Henrique Pereira Lucena para o lugar
de 1.º vice-presidente. Finalmente recusou ontem a nomeação do
Desembargador Freitas Henrique, apresentado nestes últimos dias
para o cargo de presidente pelo Exmo. Sr. Ministro do Império.
A persistência de Sua Majestade neste ponto revela um senti-
mento de desconfiança gerado por minha presença no Ministério.
Entende a. Coroa que a minha candidatura pode influir sôbre a pureza
da eleição do Ceará; e exige garantia na pessoa de certo e determi-
nado presidente. É, pois de meu dever e de minha dignidade retirar-
-me do gabinete em que sou um obstáculo, deixando assim o ânimo
imperial perfeitamente tranqüilo.
Se na noite de 31 de maio no Paço de São Cristóvão Sua Majes-
tade o Imperador se houvesse dignado aceitar esta solução, que eu
lhe propus de modo formal, a questão estaria desde muito terminada.
Compreendo não só a nobreza como a utilidade da abnegação,
sobretudo nas épocas difíceis, em que os cidadãos elevados à posições
devem dar exemplos de dedicação e desinterêsse. Mas abnegação, em
meu conceito, não é a simples recusa de uma posição só pelo prazer
260 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

frívolo de a recusar. Se assim fôsse eu não faria parte do gabinete


de 16 de julho. Também não é abnegação a renúncia de um direito,
pelo receio de incorrer em um alto desagrado. Abnegação em política
entendo eu que é o sacrifício do interêsse privado ao bem público.
Não descobrindo em que minha candidatura, dependente do voto
popular e da escolha da Coroa, que a pode arredar, seja perniciosa
ao país, não devo por mera ostentação repudiar uma posição a que
aspira todo homem político no Brasil.
Para mim abnegação era retirar-me do ministério e pleitear a
eleição como particular. Essa não foi aceita; ofereço melhor, não só
deixo o govêrno como prejudico uma aspiração legítima. Creio que
bem correspondo aos sentimentos da Coroa.
Rogo pois a V. Ex. se digne solicitar de Sua Majestade o Impe-
rador a designação do meu sucessor, podendo V. Ex. se julgar con-
veniente, levar esta carta ao conhecimento do mesmo Augusto Senhor.
Com a maior estima e consideração
De V. Ex. amigo muito respeitoso e criado
(a) José Martiniano de Alencar." (183)
;·-·,-:""~

A demissão não foi concedida, mas desta carta se de-


preende o interêsse bem patente de José de Alencar em ficar
à vontade na disputa da cadeira senatorial. Seu destino,
entretanto, estava já traçado na mente do Imperador. Uma
deliberada e arraigada decisão de Pedro II eliminara, desde
o início, as possibilidades do candidato.
Seis meses antes das eleições êle apresentava um pedido
de demissão que não foi aceito. Que mais queria o Soberano?
Que influência poderia Alencar exercer sôbre o eleitorado
fora do gabinete? Iria contar com a ajuda dos amigos e corre-
ligionários nas posições de mando? Ora, é verdade que o mi-
nistério continuava conservador, mas quantos ministérios
conservadores e liberais haviam feito senadores conservadores
e liberais!
Seria o argumento da idade? Não é convincente. Antes
das eleições o candidato completara já os 40 anos exigidos
pela lei, e poucos homens de 40 anos no Brasil se terão reve-
lado mais austeros, mais sisudos e de mais comprovada
capacidade intelectual.
O Monarca não o demitiu então. Manteve-o no ministério,
alimentando uma esperança que êle próprio sabia inexistente.

(183) MENEZES, Raimundo de - Op. cit., p. 278-280.


FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 261

Fala-se que corno Ministro da Justiça Alencar demitira


certo Chefe de Polícia do Pará que ali havia cumprido o seu
dever punindo contrabandistas com influência eleitoral nos
meios conservadores do Ceará. E que o fato, levado ao conhe-
cimento do Imperador pelo próprio demitido, encontrara
acolhida nos ouvidos solícitos de Pedro II.
É difícil saber hoje até que ponto tal fato, se verídico,
teria influído no ânimo do imperante contra o escritor can-
didato.
O certo é que por Carta Imperial de 27 de abril de 1870
eram escolhidos senadores pelo Ceará o desembargador Do-
mingos José Nogueira Jaguaribe e o conselheiro Jerônimo
Martiniano Figueira de Melo, os quais, em 31 de maio seguinte,
tomaram assento no Senado.
O lápis fatídico de Pedro II vingara os liberais cearenses,
e a decisão imperial, inesperada para muitos, lançou Alencar
num ostracismo crônico e abreviou-lhe a caminhada para o
túmulo. Nos seus escritos, nos seus discursos, nas suas cartas,
não mais poupou nem Imperador nem políticos, fôssem li-
berais ou conservadores. Cotegipe e Caxias, figuras solares
do seu partido, foram por êle farpeados sem dó nem trégua.
Discursando no Senado, dizia Zacarias de Góes e Vascon-
celos em relação à subseqüente conduta de Alencar para com
o Imperador: "O ex-ministro da Justiça escolheu para entrar
em luta com a Coroa uma base mesquinha, porque é um
interêsse seu, individual."
Foi amargo e antipático o seu ocaso político.
Os dois novos senadores eram naturais da província que
iam representar. Domingos Jaguaribe nascera no Aracati em
14 de setembro de 1820 e em 1845 formava-se em Direito em
Olinda. Foi promotor público em Sobral e Fortaleza, deputado
provincial e geral em várias legislaturas. Juiz de Direito no
Crato, Sobral e Inhamuns. Foi também professor e diretor
do Liceu do Ceará.
No ministério conservador do Visconde do Rio Branco,
em 1871, ocupou a pasta da Guerra. Ingressou na nobreza
do Império com o título de Visconde de Jaguaribe com
grandeza.
262 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Faleceu no Rio de Janeiro em junho de 1890.


Figueira de Melo era cearense de Sobral, onde nasceu em
19 de abril de 1809. Foi um dos 41 primeiros formados em
Direito em Olinda, em 1832, Integrante de uma turma onde
figuravam Nabuco de Araújo e Euzébio de Queiroz.
Promotor público no Rio e juiz de direito de Fortaleza,
presidiu as províncias do Maranhão e Rio Grande do Sul, e
foi chefe de polícia de Pernambuco e da Côrte. Atingiu altos
postos na magistratura nacional, e na política foi deputado
geral pelo Ceará e Pernambuco.
Era Grã-Cruz da Ordem de Cristo, dignitário da Ordem
da Rosa e Fidalgo Cavaleiro da Casa· Imperial. Recusou o
título de Barão de Sobral que lhe quis conceder o Imperador.
Morreu no Rio de Janeiro em 1878.

* * *
Em 2 de setembro de 1877, quando a província cearense
se contorcia nas convulsões da maior sêca de sua história,
falecia em Fortaleza, aos 59 anos de idade, a mais brilhante
figura que o Ceará mandou ao Senado do Império: o senador
Tomás Pompeu de Souza Brasil.
Consideradas as condições excepcionais que atravessava
o Ceará, deliberaram os podêres competentes adiar o preen-
chimento da vaga para os fins do ano seguinte, na esperança
de que houvesse cessado o flagelo e surgissem condições
normais para a realização do pleito. 084)
Mas a 10 de agôsto de 1878 falecia também o senador
Jerônimo Martiniano Figueira de Melo, o que elevava para
duas as vagas do Ceará no Senado e impunha agora a eleição
de uma lista sêxtupla.
Um nôvo Decreto, com o n.º 2 945, de 25 de junho daquele
ano, revogou o anterior que adiara a eleição. Foi marcado o
dia 23 de outubro para o pleito, e o govêrno provincial, em
circular de 13 de setembro de 1878, determinou às câmaras
municipais que naquelas eleições votassem os colégios em lista
sêxtupla. 085)
(184) O adiamento foi determinado pelo Decreto n.º 6 755 de
24.XI.1877.
ll85) O Cearense de 8 de maio de 1879.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 263

Um dos nomes que se impunham na província à sena-


tória, era o chefe liberal conselheiro José Liberato Barroso,
ex-Ministro do Império do gabinete de 31 de agôsto de 1864,
cearense de Aracati, figura prestigiosa dentro e fora do Ceará.
Supunha-se na província que, preenchida uma vaga por
Liberato, a outra deveria caber ao engenheiro sobralense João
Ernesto Viriato de Medeiros, candidato pessoal do presidente
do Conselho de Ministros, o Visconde de Sinimbu. "Esta can-
didatura, escreveu João Brígida, já foi uma decepção. O po-
deroso Ministro exigia imperiosamente o enxêrto da chapa,
e para fazer popular o seu válido mandava construir, sob a
indicação dêle, a estrada de ferro de Camocim a Sobnü,
pesada fatalidade que esfacelou o comércio da província, desa-
proveitando completamente, para o progresso dela, os milhões
do Estado.
Pela direção dada a esta via imprestável de transporte,
desprendendo da praça de Fortaleza os centros produtores do
norte da província, o desastre da emprêsa foi tão completo
que noutro país faria encarcerar o engenheiro construtor e
seqüestrar os bens ao ministro que decretou a obra." (186)
A eleição realizou-se na época aprazada, e na lista sêxtu-
pla eleita figuraram vitoriosamente os nomes de Liberato
Barroso e Viriato de Medeiros. 087)
Por Carta Imperial de 8 de fevereiro de 1879, Pedro II
escolhia os dois para o preenchimento das vagas de Pompeu
e Figueira de Melo.
Caberia agora ao Senado a ratificação da imperial escolha,
e tantos e tais absurdos ficaram, então, patentes na realização
das eleições, que outra atitude não coube à Câmara vitalícia
que considerá-las nulas.
Acontecera o que tantas vêzes viria acontecer depois
quando, no Ceará, se disputaram eleições em épocas de sêcas.
A fraude, o subôrno, a pressão econômica e policial, a chan-
tagem oficial com os socorros públicos, as falsificações, a mi-
séria física e moral do eleitorado, foram manobrados pelo
govêrno em função de seus interêsses político-partidários.

(186) BRíGIDO, J. - Eleições Senatoriais, p. 39 e 40.


(187) Não conseguimos, infelizmente, os nomes que compuseram
a lista sêxtupla eleita, nem a votação atribuída a cada um.
264 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Se ainda hoje, em condições normais, é mínima a taxa de


autenticidade do processo eleitoral, que dizer do que ocorria
há um século, no segundo ano consecutivo de uma sêca que
marcara com o êxodo, a mortandade e a mendicância quatro
quintos da população cearense?
Baixada ao Senado a Carta Imperial que escolhera os
dois senadores, foi designada, para dar-lhe parecer, a comissão
de constituição constituída do Barão de Cotegipe, Cândido
Mendes de Almeida e Luiz Antônio Vieira da Silva.
O resultado das averiguações levadas a efeito pela comis-
são, está publicada nos Anais do Senado de 1879, volume III,
e ilustra o parecer com uma excelente síntese das condições
sócio-econômicas da província nos anos cruéis de 1877 e 1878.
A comissão começa por inquirir "como questão prévia",
se a província do Ceará, vítima há dois anos de terrível flagelo
climático "podia exprimir livremente o seu voto e pela maioria
dos seus habitantes". (188)
Conclui pela negativa, e cita com detalhes fatos que jus-
tificam essa conclusão.
40. 000 contos de réis já somavam os créditos abertos pelo
govêrno imperial para socorrer o Ceará, e cêrca de 25. 000
totalizavam os socorros da própria província, da Côrte, de
Pernambuco e do Rio Grande do Norte distribuídos aos fla-
gelados.
O êxodo atingira já cêrca de 160. 000 pessoas, e calcula-
va-se em 120. 000 o número de mortos e em 300. 000 os que
foram reduzidos à mendicância.
Em Fortaleza, onde era maior o afluxo humano, já
haviam sido enterrados 80. 000 cadáveres.
Vê-se, pois, que numa província com aproximadamente
722. 000 habitantes, 580. 000, ou seja mais de quatro quintos,
haviam morrido, emigrado ou se transformado em mendigos.
Pois bem, a considerar as atas dos colégios eleitorais, dos
1 801 eleitores de senadores, 1 568 haviam comparecido às
urnas ... Um comparecimento de 87%!
A comissão não precisou de grandes raciocínios para
emitir seu parecer, consubstanciado nos seguintes têrmos - :
(188) ANAIS do Senado do Império do Brasil, 1879, Rio de Ja-
neiro, 1879. Vol. III, p. 2.
FATOS E DoCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 265

"Em face do que fica expendido, a Comissão de Constituição e


Diplomacia é de parecer:
l.º - que sejam anuladas as eleições primária e secundária a
que se procedeu na província. do Ceará para preenchimento das vag9.s
deixadas pelo conselheiro Jerônimo Martiniano Figueira de Melo e
padre Tomás Pompeu de Souza Brasil, por conseguinte:
2.0 - que não sejam reconhecidos senadores do Império o con-
selheiro José Liberato Ba.rroso e o Dr. João Ernesto Viriato de
Medeiros;
3.0 - que se recomende ao govêrno que, enquanto não cessar a
calamidade de que é vítima a província do Ceará, fique adiada a
eleição para preenchimento das referidas vagas.
Sala das comissões, em l.º de março de 1879. - B. de Cotegipe,
Cândido Mendes de Almeida, Luiz Antônio Vieira da Silva." (189)
Na sessão do dia 5 do mesmo mês inicia-se a discussão do
parecer, dela participando vários senadores. O Barão de Cote-
gipe, relator do parecer, defende-o com bons fundamentos,
ajudado pelo seu correligionário Nogueira Jaguaribe que de-
clara, em dado momento, que o Ceará necessitava de chuvas,
não de eleições.
Naquela sessão o senador Marquês de Parânaguá, liberal,
pede o adiamento da discussão por oito dias. Prosseguem os
debates nas sessões seguintes, e na de 8 de março é o parecer
aprovado.

* * *
Em 1878, após dez anos de ostracismo, iniciados em 16
de julho de 1868 com o gabinete conservador do Visconde de
Itaboraí, os liberais haviam voltado ao poder com o Visconde
de Sinimbu à frente do govêrno.
A nova situação ia encontrar os liberais cearenses des-
falcados da sua figura mais expressiva, o homem que por
várias décadas fôra o chefe inconteste do partido no Ceará:
o senador Tomás Pompeu, falecido no dia 2 de setembro do
ano anterior.
Entre Pompeu e Sinimbu estabelecera-se uma amizade
franca e cordial que perdurou enquanto viveu o primeiro.
Basta ler a extensa correspondência que trocaram sôbre os

(189) Idem, p. 4.
266 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

temas mais diversos, entre os quais, contudo, primavam os de


natureza política. 090)
Um destino ingrato não permitiu, porém, que a ascensão
à chefia do gabinete do estadista alagoano se processasse em
vida de Pompeu. O fato acarretaria, sem dúvida, uma conso-
lidação do prestígio local, e até nacional, do senador cearense.
Estranhamente, porém, a presença no comando político-
-administrativo do país de João Lins Vieira Cansanção de
Sinimbu foi desfavorável e mesmo prejudicial aos herdeiros
políticos de Pompeu nas hostes liberais cearenses.
É que, àquela altura dos acontecimentos, era visível uma
grave divisão no seio do partido que Tomás Pompeu coman-
dara no Ceará com habilidade e energia.
A política naquela época, muito mais do que hoje, fazia-
-se antes em tôrno de nomes que de idéias ou programas.
Na seção cearense do Partido Liberal, ao lado da fração
que gravitava, coesa, em derredor do senador Tomás Pompeu,
vinha tomando corpo e prestígio crescente a ala capitaneada
pela família Paula Pessoa, de Sobral. O chefe dêsse expressiva
clã da zona norte era o senador Francisco de Paula Pessoa,
cujos filhos, educados em Recife e na Côrte, aprestavam-se
para sucedê-lo no comando político daquela ala, senão da
totalidade do partido.
Vicente Alves de Paula Pessoa e Francisco de Paula
Pessoa Junior, entre os filhos e Antônio Joaquim Rodrigues
Júnior, entre os genros, eram figuras cujo prestígio e renome
ultrapassavam as fronteiras provinciais. ~ste último chegou
mesmo a Ministro da Guerra no gabinete presidido por
Lafayette Rodrigues Pereira, em 1883.
Fracionava-se, destarte, o Partido Liberal cearense, já
por volta de 1875, em duas alas bem nítidas e prestigiosas:
os liberais-paulas e os liberais-pompeus. Dêstes, as figuras
mais destacadas eram, além do senador Pompeu, seu filho
Tomás Pompeu, seu genro Nogueira Acioly, João Brígida,
Joaquim Bento de Souza Andrade (genro do senador Alencar),
João Lopes e Virgílio Brígida, além do conselheiro Liberato
Barroso, no Rio.
(190) Ver as cartas do Visconde de Sinimbu a Tomás Pompeu
em CORRESPONDÊNCIA do Senador Pompeu.
FATOS E DoCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 267

Falecendo em 1877 o senador Pompeu, nenhum nome das


duas alas poderia competir em prestígio e destaque intelectual
com o do conselheiro Vicente Alves, a figura mais significa-
tiva dos liberais-paulas. 1l:ste fato deve ter pesado no ânimo
do nôvo presidente do gabinete, Visconde de Sinimbu, que,
ascendendo ao poder em 1878, apesar de sua estreita amizade
com o senador Pompeu, (191) deu na província todo o pres-
tígio ao grupo Paula Pessoa.
A primeira e imediata demonstração dêsse apoio político
foi a nomeação do nôvo presidente da província, José Júlio
de Albuquerque Barros, futuro Barão de Sobral, elemento por
demais vinculado aos liberais-paulas. (192)
Já na última eleição de lista sêxtupla, em 1878, anulada,
como vimos, pelo Senado, a escolha, por coincidência ou não,
recaíra num liberal-pompeu (Liberato Barroso) e num liberal-
-paula (Viriato de Medeiros).
Em meados de 1879, dada a anulação daquela eleição,
continuavam impreenchidas as duas vagas senatoriais do
Ceará. E mal se haviam passado quatro meses daquela decisão
do Senado quando, em 16 de julho, falece em Sobral o senador
Paula Pessoa.
Eram agora três as vagas, e a eleição deveria fazer-se
em lista nônupla.
O fato ocorreria no Ceará pela primeira vez.
O restante ano de 1879 e primeiros meses de 1880 passa-
vam-se sem que fôssem marcadas as eleições, quando, em 28
de março dêsse ano, é o gabinete Sinimbu substituído pelo do
conselheiro José Antônio Saraiva, também liberal.
Em 4 de maio é exonerado José Júlio, e nomeado presi-

(191) Uma das últimas cartas do senador Pompeu, ditada por


êle 26 dias antes de sua morte, foi dirigida a Sinimbu. Era quase um
testamento político, e credenciava, para entendimentos com Sinimbu
no terreno político, o genro Nogueira Acioly e o filho Tomás Pompeu.
Na carta de pêsames que enviou a êste, Sinimbu dizia textualmente-:
Bm mim achará sempre V. Sia. estima e amizade que me devem
merecer os filhos daquele de quem sempre foi amigo sincero e dedi-
cado." - Ver CORRESPONDÊNCIA do Senador Pompeu, p. 114 e 115.
(192) José Júlio de Albuquerque Barros assumiu o govêrno do
Ceará em 8 de marco de 1878 e foi exonerado em 4 de maio de 1880.
Nasceu em Sobral em 11 de maio de 1841 e faleceu no Rio de Janeiro
em 31 de a.gôsto de 1893. Foi deputado geral pelo Ceará em duas
legislaturas, e presidiu também o Rio Grande do Sul.
268 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

dente o conselheiro André Augusto de Pádua Fleury, em-


possado no cargo em 2 de julho seguinte.
Mudaram o gabinete e o govêrno da província, mas a ala
pompeu ia continuar no mesmo ostracismo, nada conseguindo
da nova situação.
"Perdida tôda a esperança de melhorar no momento a si-
tuação em que se encontravam, narra um cultor da história
cearense, congregaram-se aquêles liberais e, dentro do velho
partido, formaram um grupo autônomo chefiado no Rio de
Janeiro pelo Conselheiro José Liberato e dirigido na província
pelo Dr. Nogueira Acioly. A 8 de junho fundavam a Gazela
do Norte, em cujo corpo redatorial figuravam Tomás Pompeu
(filho), João Brígido, Júlio César, Joaquim Bento, João Lopes,
Virgílio Brígido, Fenelon Bomilcar, João Câmara, Gil Amora
e outros." 093)
Visavam, sobretudo, arregimentar-se para a eleição, que
não poderia tardar, da lista nônupla de onde deveriam sair
os três novos senadores.
Mas os paulas também ansiavam pelas eleições e confia-
vam nelas. Em editorial de meados de outubro, o Cearense,
agora órgão ostensivo daquele grupo, clamava pelas eleições.
Terminara a sêca, argumentavam, e cessavam, portanto, os
motivos protelatórios. 094)
A 17 do mesmo mês já se sabia que as eleições primárias
teriam lugar a 5 de dezembro daquele ano. É o que se de-
preende do manifesto ao eleitorado cearense, publicado
naquela data e assinado pelas figuras mais representativas
dentre os liberais-paulas, onde se recomendava "todo o es-
fôrço para que o Partido Liberal seja devidamente represen-
tado no pleito eleitoral que se vai travar no dia 5 de dezem-
bro". 095) Vê-se que falavam em nome de todo o partido e
não apenas do seu grupo, e assinavam o manifesto Vicente
Alves de Paula Pessoa, A. J. Rodrigues Júnior, José Pompeu
d' Albuquerque Cavalcante, Antônio Teodorico da Costa, Padre
Antonino P. de Alencar, Dr. Meton da Franca Alencar, Dr.

(193) ABREU, Júlio - Fragmentos de história política do Ceará.


Salvador, Cruzeiro do Sul, 1956. p. 5.
U94) O Cearense de 15 de outubro de 1880.
(195) O Cearense de 17 de outubro de 1880.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 269

Rufino Antunes de Alencar, Gonçalo de Almeida Souto, João


Cordeiro, João da Rocha Moreira, José da Fonseca Barbosa e
Francisco Barbosa de Paula Pessoa.
Aquela altura o grupo Paula Pessoa já era, sem dúvida,
a ala política mais poderosa da província, e assim perma-
neceria, pràticamente, até o fim do Império. Soubera hàbil-
mente tirar partido da situação instaurada em 1878 com
José Júlio de Albuquerque Barros e prosseguida, sem inter-
rupção, com Pádua Fleury. .
Além do formidável triunfo obtido nas eleições senat6-
riais, como veremos, obteve grandes vitórias nas eleições
para deputados gerais e provinciais que se seguiram. Quer
lutando sozinhos, quer unidos a uma fração conservadora que
fêz causa comum com êles, os liberais-paulas não mais per-
deram a hegemonia política do Ceará até que a República
viesse impor novos rumos ao país.
O fato em si revela a permanência de um dogma pou-
quíssimas vêzes contrariado na histó'ria polfü.ca nacional,
isto é, que uma liderança hábil e forte, escorada no apoio das
situações dominantes, torna invencível qualquer agremiação
partidária. O valor qualitativo ou quantitativo do eleitorado
conta pouco.
O fenômeno é normal num sistema pretensamente demo-
crático e pretensamente representativo, onde o povo vota
sem saber em quem vota nem porque está votando.
Nas eleições realizadas em 31 de outubro de 1881, as
primeiras em que foi posta em prática a famosa lei Saraiva,
eleições destinadas ao provimento das representações provin-
ciais na Câmara dos Deputados, os liberais-paulas, sozinhos,
elegeram 50% dos deputados gerais do Ceará enquanto os
restantes 50% ficaram distribuídos com as duas alas em que
se fracionara o Partido Conservador e a ala dos liberais-
-pompeus.
Dos deputados provinciais eleitos para o biênio 1882/83,
novamente os paulas fizeram 50% contra todos os demais,
cabendo aos pompeus o menor número.
O fato se repetiria, pràticamente, com as mesmas per-
centagens, no pleito para a Assembléia Provincial na legis-
latura de 1884/85.
270 JOSÉ AURÉLIO SARAIVÀ CÂMARA

E nas eleições posteriores, notadamente as de deputados


gerais, enquanto os pompeus dia a dia se anulavam, a ponto
de não conseguirem eleger um único deputado geral para a
20.ª legislatura (1886/89), os paulas, às vêzes embora com
pequeno decréscimo na representação, mantinham-se presen-
tes e atuantes.
Não é, pois de admirar que numa antecipação dêsses
triunfos, os herdeiros políticos do senador Paula Pessoa abti-
vessem êxito total nas eleições senatoriais da lista nônupla.
Dêles se tornaram caudatários naquelas eleições os con-
servadores cearenses, ainda não fracionados nos dois grupos
com que caracterizariam sua presença nas eleições senato-
riais posteriores.
De fato, no dia 14 de dezembro de 1880, é divulgada na
imprensa de Fortaleza uma circular ao eleitorado e ao povo
em geral, assinada por liberais-paulas e conservadores, parti-
cipando que um convênio se firmara entre aquêles grupos
para a apresentação dos 9 candidatos à lista nônupla - 5
liberais e 4 conservadores -, e onde se dizia que o acôrdo
"não pode desairar a nenhum dos dois partidos". 096) Os
nomes apresentados eram os do conselheiro Vicente Alves de
Paula Pessoa, Barão de Ibiapaba, Dr. Liberato de Castro
Carreira, Barão de Aquirás, Dr. João Ernesto Viriato de Me-
deiros, conselheiro Raimundo F. de Araújo Lima, padre
Antonino P. de Alencar, conselheiro Tristão de Alencar Ara-
ripe e Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, figuras dominantes do
grupo Paula Pessoa e do Partido Conservador no Ceará. Assi-
navam a circular Vicente Alves, Aquirás, Rodrigues Júnior,
Ibiapaba, Rufino de Alencar, padre Antonino, Antônio Teodo-
rico, Rocha Moreira, Pompeu Cavalcante, Fonseca Barbosa,
João Cordeiro, Gonçalo Souto, Meton de Alencar e Francisco
Barbosa de Paula Pessoa.
Os liberais-pompeus apresentaram candidatos próprios,
entre os quais eram figuras de maior destaque o conselheiro
Liberato Barroso, anteriormente eleito mas não reconhecido,

096) O Cearense de 14 de dezembro de 1880.


FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 271

Nogueira Acioly, Leandro Ratisbona e o herói cearense ge-


neral Antônio Tibúrcio Ferreira de Souza. (197) ~~
A lista nônupla apresentada pela coligaçãoiAifH!'l!-con-
servadores foi eleita de ponta a ponta com os seguintes
resultados:

Castro Carreira ................ . 1 502 votos


Vicente Alves P. Pessoa .......... . 1497 "
Padre Antonino Alencar ......... . 1381 "
Ernesto Viriato de Medeiros ..... . 1358 "
Adolfo Bezerra de Menezes ...... . 1317 "
R. Araújo Lima ................. . 1315 "
Tristão A. Araripe .............. . 1311 "
Barão de Ibiapaba .............. . 1281 "
Barão de Aquirás ............... . 1280 "

Dos liberais-pompeus, o mais votado foi o conselheiro


Liberato Barroso, com 564 votos. Nogueira Acioly recebeu 504,
e o general Tibúrcio não foi além dos 344. A derrota foi
amarga e contundente. Tibúrcio, herói vitorioso de guerras
externas, sofria uma derrota eleitoral em sua própria pro-
víncia.
A eleição secundária teve lugar em 4 de janeiro de
1881, Cl98) e a 2 de maio do mesmo ano o Imperador assinava
a Carta Imperial que escolhia senadores pelo Ceará o con-
selheiro Vicente Alves de Paula Pessoa e os Doutôres Liberato
de Castro Carreira e João Ernesto Viriato de Medeiros. Em
janeiro de 1882 os três tomam assento em seus lugares na
Câmara vitalícia.
Os senadores eleitos eram todos cearenses, dois de Sobral
e um de Aracati.
097) Em carta de 28 de outubro de 1880 a João Brígido, assim
se referia Tibúrcio à sua ca.ndidatura ao Senado: "Se houver difi-
culdade em incluir meu nome, eliminem-me sem reserva; prefiro a
união do partido a ver satisfeita minha vaidade de político recruta."
- Carta do Arquivo de João Brígido publicada na Gazeta de Notícias,
de Fortaleza, edição de 28 de agôsto de 1929.
098) E não em 4 de janeiro de 1880, como por equívoco escreveu
o Barão de Studart nas suas Datas e Fatos, 2. 0 Vol., p. 291. Em dezem-
bro de 1880, como vimos em documento acima transcrito, é que a
coligação paula-conservadores apresentou a chapa nônupla àquelas
eleições.
272 JosÉ AuRÉLIO SARAIVA CÂMARA

Vicente Alves era filho do senador Paula Pessoa e nasceu


em Sobral em 29 de março de 1828. Formou-se em Direito em
Olinda em 1850, e exerceu a magistratura no Ceará, Sergipe,
Rio Grande do Norte e Pará, onde foi desembargador.
Vice-presidente do Ceará e Rio Grande do Norte, chegou
a governar esta província por alguns dias. Em março de 1879
foi-lhe concedido o título de Conselheiro.
Deixou várias obras de Direito, inclusive um Código Cri-
minal do Império, por êle anotado, de larga repercussão na
época.
Morreu em Sobral a 31 de março de 1889, abrindo a
última vaga da representação senatorial do Ceará no Império.
Também sobralense era Viriato de Medeiros, que ali
nasceu em 23 de junho de 1823. Formou-se em Engenharia
no Rio de Janeiro e foi um dos técnicos de maior nomeada
no seu tempo. Estêve em comissões na Europa e nos Estados
Unidos, e foi o principal inspirador da construção da estrada
de ferro Sobral-Camocim.
Foi deputado geral pelo Ceará e deixou vários trabalhos
publicados de natureza técnica, inclusive sôbre o problema
das sêcas nordestinas.
Faleceu no Rio em 27 de junho de 1900.
Liberato de Castro Carreira nasceu em Aracati a 24 de
agôsto de 1820. Pelo lado materno ligava-se a grandes nomes
do passado político cearense, os Castras, onde se destacavam,
entre outros, João Facundo de Castro Menezes e Manoel do
Nascimento Castro e Silva.
Doutorou-se em Medicina no Rio de Janeiro em dezembro
de 1844.
No Ceará e na província do Rio de Janeiro exerceu vários
cargos ligados à profissão médica. Escreveu vários trabalhos
sôbre medicina e também sôbre finanças, assunto em que se
tornou autoridade. O seu livro História Financeira e Orça-
mentária do Império do Brasil, um volume de 800 páginas,
recebeu na época as melhores referências.
Pertenceu a diversas instituições científicas e culturais,
sendo, inclusive, sócio do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro.
Faleceu no Rio em 12 de julho de 1903.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 273

* * *

No último dia de março de 1889 falecia em Sobral o Se-


nador Conselheiro Vicente Alves de Paula Pessoa. Não chegara
a completar sete anos de mandato senatorial, nem vivo com-
pletaria os oito, pois em 15 de novembro daquele ano as tropas
de Deodoro dariam por terra com o Império e os seus se-
nadores.
Abria-se uma vaga de senador pelo Ceará, a última que
seria preenchida no regime monárquico.
No plano nacional dominavam os conservadores desde
que presidia o govêrno o gabinete de 10 de março de 88, che-
fiado pelo conselheiro João Alfredo Correia de Oliveira. E
governava o Ceará, desde 21 de abril daquele ano, o fidalgo
paulista Antônio Caio da Silva Prado.
Tal como o Partido Liberal na província, também o Par-
tido Conservador se apresentava na época dividido em duas
alas bem nítidas: os conservadores miúdos ou carcarás, diri-
gidos pelo Barão de Aquirás, e os conservadores graúdos che-
fiados pelo Barão de Ibiapaba. :G:stes tinham como órgão de
publicidade e propaganda o jornal Constituição, e aquêles
o jornal Pedro II.
Uma coalizão entre as alas conservadoras e liberais ope-
rou-se na província com fins à eleição senatorial, marcada
para 20 de maio daquele ano. 099)
Os conservadores miúdos aliaram-se aos liberais-paulas,
C' os liberais-pompeus aos conservadores graúdos.
Caio Prado, à frente do executivo provincial, tomou
partido ostensivo no pleito e pôs a máquina administrativa
e policial da província a serviço da coligação dos pompeus
com os graúdos.
"A eleição foi disputa.díssima. Caio Prado não hesitou em lançar
mão de todos os meios de compressão para a vitória de um dos can-
didatos da coligação graúda-pompeu, chegando até ao subôrno, para
e que, aproveitando-se das condições anormais da província conse-
qüente da sêca do ano anterior (a chamada sêca dos três oito), abriu

099) Sôbre essa aliança dos grupos políticos cearenses, escreveu


Machado de Assis interessante crônica na imprensa do Rio, em 4
de maio de 1888, e que figura na sua Obra Completa da Editôra José
Aguilar. Vol. III, p. 516 a 518.
274 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

ilegalmente um crédito de vultosa importância, fato denunciado da


tribuna da Câmara dos Deputados gerais pelo deputado Ratis-
bona." (200)

Aquela participação ostensiva do govêrno provincial na


condução do pleito iria impor, enfim, uma reviravolta no
jôgo das fôrças políticas do Ceará, propiciando, como vere-
mos, a vitória do grupo pompeu e seus aliados, embora os
paulas continuassem com a maioria do eleitorado.
A coligação miúdos-paulas apresentou para a composição
da lista tríplice os conservadores Barão de Aquiraz e Dr.
Leandro Bezerra Monteiro e o liberal conselheiro Antônio
Joaquim Rodrigues Júnior. A coligação oposta apresentou o
Barão de Ibiapaba, conselheiro Tristão de Alencar Araripe
e Dr. Antônio Pinto Nogueira Acioly.
Em cada uma das chapas a escolha do nome que iria ao
Senado ficaria na dependência do partido que, no momento,
dominasse o gabinete. Se permanecesse a situação conserva-
dora com o ministro João Alfredo, certamente o escolhido
seria um dos nomes conservadores que integravam a chapa
tornada vitoriosa. Se subisse um gabinete liberal, Nogueira
Acioly ou Rodrigues Júnior, conforme a chapa eleita, seria o
escolhido.
A apuração teve lugar no dia 18 de julho de 1889, (201)
com a vitória da chapa da coligação pompeus-graúdos, que
recebeu a seguinte votação:

Barão de Ibiapaba .................. . 4 355 votos


Comendador Nogueira Acioly ........ . 4 352 "
Conselheiro Tristão A. Araripe ....... . 4147 "

O mais votado da coligação oposta foi o conselheiro


Rodrigues Júnior, que recebeu 3 972 votos.
Quando se processava esta apuração, já uma transfor-
mação se operara na chefia do govêrno com a queda do gabi-
nete João Alfredo e a ascensão, em 7 de junho daquele ano,
do gabinete liberal de Afonso Celso de Assis Figueiredo,
Visconde de Ouro Preto, o último gabinete da Monarquia.
(200) O Libertador de 19 de julho de 1889.
(201) ABREU, Júlio - Op. cit., p. 23 e 24.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 275

Não haveria dúvida acêrca da escolha de Nogueira Acioly,


realmente nomeado por Carta Imperial de 25 de outubro de
1889, talvez a última nomeação de senador realizada por
Pedro II.
Nogueira Acioly estava no Rio de Janeiro quando Sua
Majestade escolheu seu nome para a vaga de Vicente Alves.
Consta que teria decidido tomar posse precisamente no dia
15 de novembro, quando, então já não encontrou existindo
a veneranda Casa que tanto buscara.
Mas seu destino estava traçado. Dificilmente no Império
teria encontrado o prestígio e poder político que a República
lhe deu no Ceará, como compensação de uma senatória con-
quistada mas não possuída.
ANEXO I

ATA da eleição de Eleitores que têm de eleger dois Senadores


por esta Província ( *)

Aos dez dias do mês de outubro de mil oitocentos e quarenta e


sete, reunidos na Igreja Matriz da cidade de Fortaleza o Sr. Juiz de
Paz mais votado Antônio Lauriano Ribeiro, e os mais membros da Mesa
Paroquial os Srs. Manoel Dilermando Paes, Joaquim Saldanha Mari-
nho, José Maximiano Barroso e Joaquim da Rocha Moreira, o mesmo
Sr. Juiz de Paz Presidente decla.rou que ia proceder à apuração dos
votos para os eleitores que têm de eleger dois Senadores por esta pro-
víncia, e abrindo com os demais claviculários a urna, dela tirou as mil
cento e noventa e seis cédulas que haviam sido recebidas, e verificadas
se procedeu à a.puração conforme o disposto no Cap. 3.0 da Lei regula-
mentar da Eleição; a qual apuração durou até o dia dezoito do
mesmo mês e ano, conhecendo-se afinal terem obtido votos os
senhores:

1- Joaquim José Barbosa 633


2- Antônio Belarmino Bezerra de Menezes 632
3- Antônio Teles de Menezes 631
4- José Gervásio de Amorim Ga.rcia 629
5- Inácio Ferreira Gomes 629
6- Antônio Lauriano Ribeiro 628
7- Padre Carlos Augusto Peixoto de Alencar 628
8- Frederico Augusto Pamplona 628
9- João Cassiano Bezerra de Menezes 627
10 - Tristão d'Alencar Araripe 627
11 - Manoel Joaquim de Oliveira 626
12 - Joaquim Saldanha Marinho 625
13 - José Vieira Rodrigues de Carv.º e Silva 625

( *) Cópia do original impresso, do a.rquivo do Autor.


FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 277

14 - Miguel Joaquim Ayres do Nascimento 625


15 - João Zeferino de Olanda Cavalcante 625
16 - Augusto Carlos de Amorim Garcia 624
17 - José Ribeiro de Menezes 624
18 - Manoel Rufino de Oliveira Jamacaru 624
19 - Manoel Dilermando Paes 624
20 - Padre Antônio Pereira de Alencar 623
21 - Antônio Barroso de Souza 623
22 - Afonso José de Albuquerque 623
23 - Joaquim Francisco dos Santos 623
24 - José Raimundo Pessoa 623
25 - Manoel Nunes de Melo 623
26 - Matias José Pacheco 622
27 - Cândido José Pamplona 622
28 - João Franklin de Lima 622
29 - Joaquim de Macedo Pimentel 622
30 - Simão Barbosa Cordeiro 622
31 - Padre Antônio de Castro e Silva 621
32 - Francisco José de Matos 621
33 - José Antônio de Moura 621
34 - Augusto Carlos de Sabóia 620
35 - José Manoel Cavalca.nte 620
36 - Padre Joaquim Pereira d'Alencar 619
37 - José Pimenta de Aguiar 619
38 - Padre Tomás Pompeu de Souza Brasil 619
39 - Antônio Felício de Vasconcelos 618
40 - Aderaldo de Alencar Araripe 618
41 - José Sabino de Oliveira 618
42 - João Ferreira Gomes de Miranda 618
43 - Padre Alexandre Fr. Cerbelon Verdeixa 617
44 - Estêvão Sabino de Moura 617
45 - Francisco de Paula Cavalcante 617
46 - Francisco Luiz de Vasconcelos 617
47 - Anacleto José de Matos 616
48 - Juvêncio Manuel Cabral de Menezes 616
49 - Padre João Tabosa da Silva Braga 615
50 - José Joaquim da Silva Braga 615
51 - Manoel Felipe Cavalcante 615
52 - Jorge Acúrcio Silveira 609
53 - Raimundo Francisco da Costa Tavares 609
54 - Pedro Barroso Spinosa 608
55 - Lauriano Antônio Ribeiro 605
56 - Joaquim da Silva Santiago 593
57 - Manoel Cavalcante de Albuquerque 584
58 - João Batista de Castro e Silva 578
59 - José Antônio Machado 576
60 - José Xavier de Castro e ,silva 576
278 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

61 - José Pio Machado 575


62 - Luiz Vieira da Costa D. Perdigão 575
63 - João Batista e Melo 574
64 - José Maximiano Barroso 574
65 - Miguel Antônio da Rocha Lima 574
66 - Antônio Gonçalves da Justa 573
67 - Luiz Francisco Sampaio e Silva 573
68 - Joaquim da Rocha Moreira 572
69 - Luiz Xavier Torres 572
70 - Manoel Moreira da Rocha 572
71 - Luiz Rodrigues Samico 571
72 - Miguel Fernandes Vieira 571
73 - Padre Antônio Nogueira de Braveza 570
74 - Antônio Rodrigues Ferreira 570
75 - João Carlos Pereira Ibiapina 570
76 - Inácio Pinto de Almeida e Castro 570
77 - Pedro Lopes de Azevedo 570
78 - Joaquim Césa.r de Melo Padilha 569
79 - João Severiano Ribeiro 569
80 - Pedro José Fiúza Lima 569
81 - Ângelo Rodrigues Samico 569
82 - João Vieira da Costa Delgado Perdigão 568
83 - João Batista da Guerra Machado 568
84 - Clemente Francisco da Silva 567
85 - Estêvão José de Almeida 567
86 - Francisco Manoel Gafanhoto 567
87 - Luiz Antônio da Silva Viana Filho 567
88 - Manoel Franklin do Amaral 567
89 - Manoel Caetano Gouvêa 567
90 - Pedro Pereira da Silva Guimarães 567
91 - Raimundo Remígio de Melo 567
92 - Francisco Estêves de Almeida 566
93 - Manoel Bezerra de Albuquerque 566
94 - Silvério José da Cruz 566
95 - Padre Vicente da Rocha Mota 566
96 - Agostinho Luiz da Silva 565
97 - Joaquim Estanisláu da Silva Gusmão 565
98 - José Nunes de Melo 565
99 - José Dias Macieira 565
100 - Manoel Teófilo Gaspar d'Oliveira 564
101 - José de Paula Ferreira. Campa 564
102 - Joaquim Teixeira Leite 564
103 - Manoel Eugênio de Souza 564
104 - Manoel de Pontes Franco Junior 564
105 - Antônio Joaquim de Oliveira Junior 563
106 - José Fernandes de Araújo Viana 563
107 - José da Rocha Mota 563
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 279

108 - José Henrique iSamico 563


109 - Francisco Dutra Macedo 562
110 - Joaquim José de Almeida 562
111 - Antônio da Costa Gadelha 561
112 - Miguel Venceslau Cidade 559
113 - José Teixeira Bastos 560
114 - Vicente Ferreira Forte 552
115 - Vicente Ferreira Mendes Pereira 52
116 - Antônio Eloy da Costa 47
117 - Joaquim Mendes da Cruz Guimarães 21
118 - José Mendes da. Cruz Guimarães 20
119 - Manoel José de Albuquerque 16
120 - José Lourenço de Castro e Silva 14
121 - Francisco Fideles Barroso 13
122 - Manoel Lourenço da Silva 13
123 - Tomás Lourenço da Silva Castro 12
124 - Padre José Ferreira Lima Sucupira 12
125 - Joaquim José Barbosa Junior 11
126 - Joaquim da Fonseca. Soares Silva 11
127 - Manoel José de Vasconcelos 11
128 - José Mário Eustáquio Vieira 10
129 - Manoel Soares da Silva Bezerra 9
130 - Manoel Alves de Carvalho 9
131 - João da Guerra Passos 8
132 - João Gomes Brasil 8
133 - Literato de Castro Carreira. 8
134 - Antônio Caetano de Abreu 7
135 - Antônio Nogueira d'Olanda Lima 6
136 - Antônio Pereira de Brito Paiva 6
137 - Antônio Teodorico da Costa 6
138 - João Batista Pereira Braga 6
139 - João Zeferino Pessoa 6
140 - Joaquim Antônio d'Oliveira 6
141 - Inácio José d'Araújo Prata 6
142 - José Pedro d'Oliveira 5
143 - Jorge Gomes Brasil 5
144 - Joaquim Ferreira Braga 5
145 - Antônio Garcia de Abreu 3
146 - Antônio Nunes de Melo Junior 3
147 - Francisco de Assis Bezerra 3
148 - José de Castro Barbosa 3
149 - José Barroso de Carvalho 3
150 - Luiz Xavier de Castro e Silva 3
151 - Antônio Fávila de Souza Prata 2
152 - Antônio d'Oliveira Maciel 2
153 - Padre Antônio Pinto de Mendonça 2
154 - Manoel Caetano Spínola 2
280 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

155 - Alexandre Ferreira Gomes 1


156 - Antônio José Lins d'Oliveira 1
157 - Antônio Nunes de Melo 1
158 - Cassiano Bezerra de Menezes 1
159 - Domingos José Nogueira Ja.guaribe 1
160 - Floriano Vieira Perdigão 1
161 - Francisco Pires Carneiro 1
162 - Francisco Teixeira Bastos 1
163 - Padre Francisco Rodrigues Barbosa 1
164 - Francisco Xavier Nogueira 1
165 - Francisco José de Medeiros 1
166 - João Ribeiro Monte Negro 1
167 - João Sabino da 1Silva Braga. 1
168 - João Ribeiro Pessoa 1
169 - José Joaquim Machado 1
170 - Justiniano Pio de Moraes e Castro 1
171 - Luiz Inácio de Oliveira Maciel 1
172 - Manoel Lopes de Souza 1
173 - Miguel Moreira da Rocha 1
174 - Manoel Romoaldo de Olanda 1
175 - Manoel José Teófilo 1
176 - Neutel Nostron de Alencar Araripe 1
177 - Pedro José Antônio Viana 1
178 - Sebastião José Cavalcante 1

Concluída a apuração se expediram avisos aos"fespectivos eleito-


res para concorrerem à Matriz afim de assistirem à cerimônia reli-
giosa recomendada na citada lei. E para constar se lavrou a presente
ata em que assinaram o Sr. Juiz de Paz e mais membros da Mesa
Paroquial. Eu Joaquim Saldanha Marinho, secretário o escrevi. Em
tempo - O Sr. Maximiano Barroso pediu que se declarasse na pre-
sente ata que os eleitores Tristão d'Alencar Araripe e João Tabosa
da Silva Braga não estavam qualificados votantes, bem como o su
plente Miguel Fernandes Vieira, e a Mesa aprovou que se fizesse
esta declaração. Era ut supra eu Joaquim Saldanha Marinho, secre-
tário escrevi.

(Seguem-se as assinaturas de Antônio Lauriano Ribeiro, Juiz de


Paz, Presidente; Joaquim Saldanha Marinho, secretário; Manoel
Dilermando Paes, secretário; Joaquim da Rocha Moreira, escrutador;
.José Maximiano Barroso, escrutador.)
ANEXO II

Eleitores especiais de senadores da província do Ceará em 1870. (")

Em 1870, como desde há alguns anos, a província do Ceará era


dividida em três distritos eleitorais. A cabeça do l.º distrito, cons-
tituído de 11 colégios eleitorais, era a cidade de Fortaleza, capital
da província; a do 2. 0 , com 9 colégios eleitorais, a cidade de Sobral
e a do 3.0 , com apenas 8 colégios, era a cidade do Crato.
O documento que se segue, constante da relação nominal dos
eleitores de senadores, então selecionados, por determin.ação consti-
tucional, entre cidadãos do sexo masculino de comprovada projeção
social e econômica, permite-nos conhecer, numa perspectiva de cem
anos, as figuras mais representativas do comércio, das profissões
liberais, da aristocracia agrária da província cearense naquela época.
É que a Constituição do Império, no seu Art. 94, impunha aos eleitores
de senadores uma expressão econômica que se traduzia pela renda
líquida anual mínima de 200$000 "por bens de raiz, indústria, comér-
cio ou emprêgo". ( **)

1.º DISTRITO - FORTALEZA - 509 eleitores

1 - Colégio da cidade da Fortaleza

Freguesia de S. José (61):

Dr. Antônio Domingues da Silva


Padre Antônio Nogueira de Braveza
Dr. Francisco Paurilho Fernandes Bastos
Dr. Manoel Soares da Silva Bezerra

( *) Extraído do Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial


da Província do Ceará para o ano de 1870. Fortaleza, 1870, p. 360 a 381.
( * *) Considerando, à base de documentos da época, o preço do
gado no Ceará comparativamente com o preço atual, podemos admi-
tir que aos 200$000 de então correspondem hoje cêrca de NCr$ 5. 000,00,
ou seja, uma renda mensal aproximadamente de NCr$ 400,00.
282 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Comendador João Antônio Machado


Dr. Manoel Fernandes Vieira
Coronel Joaquim da Cunha Freire
Desembargador Domingos José Nogueira Jaguaribe
Major João Severiano Ribeiro
Coronel Francisco Fidélis Barroso
Major Miguel Joaquim Pereira.
Capitão Antônio Nunes Teixeira de Melo
Bacharel Joaquim Mendes da Cruz Guimarães
Capitão José Maximiano Barroso
Capitão Antônio Joaquim de Oliveira
Major João Colares Sobreira Cintra
Major José Varonil Bezerra de Albuquerque
Capitão Mafalda Joaquim de Melo
Dr. Joaquim Antônio Alves Ribeiro
Solicitador Lesko Belmiro de Souza
Dr. Antônio Mendes da Cruz Guimarães
Capitão João de Araújo Costa Mendes
Capitão Miguel Severo de Souza Pereira
Capitão Zeferino Dutervil Ferreira e Silva
Tenente Vicente Alves Maia
Capitão João Quintino da Cunha
Major.Joaquim Félix de Oliveira
Alferes Hermelino Sobral Macaíba
Tenente João Paulo da Costa Gadelha
Coronel Manoel Felix de Azevedo e !Sá
Alferes Joaquim dos Anjos Monteiro
Empregado público Pedro José Fiúza Lima
Dr. Joaquim Pereira da Silva. Guimarães
Capitão José de Paula Ferreira Campa
Tenente Delfina da Costa Gadelha
Tenente-coronel Antônio Gonçalves da Justa
Tenente João Antônio do Amaral Júnior
Tenente-coronel Francisco Coelho da Fonseca
Coronel José Nunes de Melo
Capitão Raimundo Serafim dos Anjos Jataí
Capitão Bernardo Pinto Coelho
Tenente José Joaquim de Almeida
Alferes Antônio Franco Alves de Melo
Tenente João Felipe Ribeiro
Capitão José Francisco da Silva Albano
Tenente João da Silva Pedreira
Capitão Luiz de Seixas Corrêa
Capitão João Leonel de Alencar
Capitão Vicente Pereira Façanha
Capitão Gustavo Gurgulino de Souza
Capitão Manoel Lopes do Amaral
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 283

Agricultor José Augusto de Holanda


Capitão Pedro Nogueira Borges da Fonseca
Dr. Manoel da Cunha e Figueiredo
Major José Feijó de Melo
Capitão João Luiz Rangel
Capitão Francisco José de Oliveira
Tenente Sinfrônio José da Silva
Major Luiz Xavier Torres
Tenente Leandro Gomes da Silva

Freguesia de N. Sra. dos Remédios, Paracuru (10):

Tenente-coronel Antônio Barroso de Souza


Capitão Gonçalo da Silva Souza
Tenente Joaquim Moreira de Souza Braga
Fortunato Barroso Cordeiro
Alferes Joaquim Francisco de Freitas
Antônio Gonçalo da Natividade
João Batista Moreira de Souza
José Ferreira de Góes
Domingos Barroso de Souza
José da Rocha Paes

2 - Colégio da cidade de Maranguape

Freguesia de N. Sra. da Penha (43):

Major Agostinho Luiz da Silva


Capitão Tito Nunes de Melo
Major Estevão José de Almeida
Major Crisanto Pinheiro d'Almeida Melo
Capitão Antônio Alexandrino da Cunha Lage
Capitão João Batista. Ferreira Braga
Tenente-coronel João Franklin de Lima
Capitão Cícero Franklin de Lima
Tenente Jerônimo Honório de Abreu
Capitão Antônio Sebastião de Araújo Viana
Tenente-coronel Inácio da Costa Gadelha
Capitão José Astolfo Menescal
Capitão Manoel Cesário Mendes
Professor José de Sá Ca.valcante
Agricultor Reinaldo Ribeiro do Prado
Capitão Raimundo Francisco da Costa Tavares
Agricultor Francisco Sampaio de Queiroz
Capitão Henrique Gonçalves da Justa
Agricultor Antônio Roberto de Oliveira Júnior
Agricultor Inácio da Rocha Mota
284 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Tenente José de Pontes Fernandes Vieira


Capitão Leocádio Nogueira Jambrena
Tenente Antônio Batista Ferreira Braga
Alferes José da Rocha Guimarães
Galdino da Silva Matos
Joaquim Antônio Fialho
Joaquim Lins de Sampaio
Damião de Queiroz Lima
Feliciano Ferreira Pinto
Alferes Antônio Joaquim de Siqueira
Tenente Antônio Manoel Pinheiro
Miguel Ferreira Pinto
Joaquim Inácio de Melo
Antônio Monteiro Gondim
Tenente Joaquim Tavares da Silva Campo
Tenente Florêncio José Uchoa
Alferes Manoel Bento Freire
Pedro Correia Lima
Tenente Antônio Luiz da Silva Viana
Alferes João Fernandes de Almeida
Francisco Antônio de Andrade
Tenente João Batista Ferreira Júnior
Antônio Fávila de Souza Prata

3 - Colégio da vila do Aquirás

Freguesia de S. José (26) :

Capitão Manoel José de Freitas Ramos


Capitão José de Souza Machado
Tenente Joaquim Ferreira Lopes dos Anjos
Tenente Sabino da Costa Gadelha
Alferes Antônio Moreira da Silva
Alferes Manoel da Costa Gadelha
Inácio Targino de Medeiros
José da Costa Gadelha
Vicente Ferreira de Freitas Ramos
José Ferreira de Freitas Ramos
Reginaldo de Souza Coitinho
Rufino de Barros
Antônio Pires Cardoso
Antônio Celeriano Corrêa Lima
Antônio Gomes Coimbra
Antônio Pires Cardoso Júnior
Antônio Muniz da Silva Francez
Inácio Severiano Corrêa Lima
Domingos Carneiro de Souza
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 285

Jerônimo de Barros Rego


Francisco Xavier de Araújo
Severiano da Costa Pereira
Raimundo Secundo de Almeida
Manoel Clemente Pires
Raimundo Pereira Façanha
José Ferreira Lima

4 - Colégio da vila do Cascavel

Freguesia de N. Sra. da Conceição (32):

Coronel Luiz Liberato Ribeiro


Dr. Francisco Gonçalves da Justa
Tenente-coronel João Segismundo Liberal
Major Francisco Severiano Façanha Sidou
Capitão Raimundo Teles de Menezes Bedê
Capitão Lourenço Ferreira do Vale
Capitão José Baltazar Augeri de Sabóia
Tenente Augusto Carlos Ribeiro de Assis
Tenente José Francisco Soares Dantas
Tenente Antônio Ferreira de Mendonça
Alferes João Vitoriano Pereira
Alferes Honorato Ferreira dos Santos
Alferes Secundo José Prudêncio
Joaquim Libânio Ferreira
Gabriel José Fernandes
José Seríaco Pereira
José Félix de Menezes
Evaristo José Pereira
Manoel Pereira de Oliveira
Alferes Vicente José Batista
José Francisco da Silva
Luiz Antônio de Almeida
Luiz Antônio d'Almeida Júnior
Francisco das Chagas Ribeiro
Manoel Antônio Ca.valcante
Constâncio José Fernandes
Manoel Joaquim de Oliveira e Silva
Emídio Vitoriano Soares Dantas
Sabino Manoel dos Santos
João Facundo de Holanda
João Pinto Falcão
Francisco José Alves Ferreira
286 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

5 - Colégio da cidade do Aracati.


Freguesia de N. Sra. do Rosário (49):
Dr. Antônio Ferreira dos Santos Caminha
Coronel Silvestre Ferreira Caminha
Tenente Eduardo Correia dos Santos
Alexandre Correia de Sá
Tenente André Ferreira dos Santos Caminha
Balduíno Ramos Chaves
Capitão Franklin de Alelúia Malveira
Alferes Antônio de Castro Barbosa
Tenente Manoel Batista do Nascimento
José Cavalca.nte de Albuquerque
Manoel Cantionílio de Carvalho
Tenente Francisco Joaquim Nogueira
Capitão João de Oliveira Rocha
Antônio Lúcio Fiúza Lima
Alferes Manoel da Costa Moreira
Alferes Manoel Rodrigues Pereira e Silva
Simpliciano de Oliveira Rocha
Policarpo José da Costa
Vicente Gonçalves Bezerra
Raimundo de Souz~, Miranda
Raimundo de Castro e Silva
Francisco Luiz de França
Franklin Coriolano de Sá
Alferes Justiniano da Costa Lobo
Antônio Batista Guedes
Antônio Fidélis Rodrigues Braga
Alferes Armiro Cândido Ramos
Antônio da Costa Moreira
Luiz Antônio Rodrigues
Augusto Antônio Vieira
Tenente Alípio Luiz Pereira e Silva
Raimundo de Holanda Cavalcante
Inácio da Costa Moreira
Raimundo da Silva Ramos
José Maria de Carvalho
José Ramos de Oliveira
Manoel Antônio Guimarães
Francisco da Costa Moreira Sobrinho
José Pinto de Almeida
José dos Santos Bonates
José Francisco de Oliveira
Joaquim Francisco Falcão
Manoel Antunes de Moura
Manoel Correia de Albuquerque
Nota - Faltam 5 nomes, que aparecem danificados pelas traças.
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 287

Freguesia da Sra. Sant'Ana, (vila da União) (17):

Francisco Pereira de Azevedo


Ricardo José de Normandia
João Ferreira dos Santos
Francisco das Cha.gas Camilo
Simão Pereira de Oliveira
André Moreira de Souza
Francisco Alves Ferreira
Francisco Antônio da Silva Cassundé
José Pereira Barbosa
Herculano Pereira de Oliveira
José Manoel de Souza
Vitoria.no Corrêa de Oliveira
Leandro Ferreira de Lemos
José Francisco da Silva Rocha
Francisco Joaquim de Paula
Vicente José Beiju
Antônio Francisco da Costa

6 - Colégio da cidade de S. Bernardo

Freguesia de N. Sra. do Rosário (26):

Coronel Francisco das Chagas Araújo


Tenente-coronel José Raymundo da Silva
Major João Carlos de Sabóia
Capitão Joaquim Francisco dos Santos Lima
Capitão João Basílio Rodrigues de Carvalho
Capitão Inácio Antônio Rodrigues Macha.do
Tenente Herculano de Souza Martins
Tenente Vicente Ferreira de Souza
Capitão João de Oliveira Lima
Capitão Francisco Floriano Delgado Perdigão
Alferes Antônio Pires do Nascimento
Antônio Pereira de Souza
Antônio Francisco da Silveira
Manoel Xavier de Souza Ribeiro
Antônio Alves Maia
Manoel Florêncio Correia de Mendonça
Alferes João Alexandre de Pontes
Francisco Coriolano de Souza Machado
Joaquim Francisco de Lima
José Lopes da Silva
Capitão João Anselmo da Silva Vidal
Capitão João Ennes da Silva
288 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Francisco da Costa Silva


Manoel da Silva do Nascimento
Joaquim Floriano Delgado Perdigão

Freguesia de S. João do Jaguaribe (20):

Bento Freire Chaves


Joaquim Francelino da Cunha
João Agostinho de Sá Pereira
José Correia de Lima
Elias Antônio Corrêa Vieira
Antônio Florêncio Freire
José Franklin da Silva Brasil
José Caetano Freire
Antônio Alves de Carvalho Lima
Antônio Freire Maia
Manoel Rufino Freire
Angelo Moreira Chaves
João da Silva Moreira
Francisco Sabino Alves Barreto
Antônio Nogueira da Costa
Antônio Freire Guabiraba Filho
Manoel Monteiro de Oliveira Gondim
Manoel Pereira da Silva Souza
João Antônio de Barcellos
José Estevam Mendes Guerreiro

7 - Colégio da cidade de Quixeramobim

Freguesia de S. Antônio (38):

Tenente-coronel José Amaro Fernandes


Coronel Hermenegildo Furtado de Mendonça Menezes
Dr. Cornélio José Fernandes
Tenente-coronel João Paulino de Barros Leal
Tenente-coronel João Batista da Costa Coelho
Capitão Cândido Franklin do Nascimento
Ernesto Brasil de Matos
Tenente Joaquim de Farias Lemos
Cândido José de Souza Pimentel
Tenente José Nogueira de Amorim Garcia
Capitão Francisco Bernardo da Cunha
Capitão José da Silva Nogueira
Capitão Leonel Aureliano de Queiroz
José Cursino Saraiva Leão
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 289

Laurentino Belmonte de Queiroz


Capitão Arcelino Alves Barreira
Capitão Regino Félix de Brito
Manoel Jacinto de Barros Leal
Alferes Teófilo dos Santos Lessa
Sebastião Batista Vaz
Antônio José Monteiro do Nascimento
Alferes Antônio Gomes d'Oliveira
Alferes Joaquim Felício d'Almeida e Castro
Coronel Francisco Paulino Galvão
Alferes Miguel Joaquim d'Almeida e Castro
Alferes Manoel José Ja.cinto Pimentel
Capitão Francisco Antônio Lopes de Vasconcelos
José Joaquim Corrêa
Manoel Joaquim de Alcântara Saraiva
Manoel Raimundo da Costa Santos
Tenente José dos Santos Lessa
Sebastião Lopes Bica
Antônio Bernardino de Souza Torres
Antônio Duarte de Queiroz
Cirilo Gomes Barreto
Felipe Correia Vieira
Tenente Vicente Enéas de Moraes Monteiro
Luiz Francisco da Silva

Freguesia de S. Antônio, Boa-Viagem (11):

Manoel de Souza Leitão


Luciano Alves da. Costa Mendes
João Ribeiro da Silva
José Ribeiro Campos Benício
João Rodrigues Campelo
João Antônio de Oliveira
José Felipe Ribeiro da Silva
João Guerreiro de Brito e Silva
Manoel Mendes Corrêa Lima
José Ribeiro Guerreiro
Lúcio José da Costa

3 - Colégio da Cachoeira

Freguesia do Sr. Bom Jesus Aparecido (Cachoeira), Freguesia


de N. Sra. da Conceição (Riacho do Sangue), Freguesia de
S. Antônio (Boa Vista) (29):

João Rodrigues Pinheiro Landim


José Gomes Pinheiro de Melo
290 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

João Rodrigues Barreto


Manoel Rodrigues Pinheiro Nogueira
João Rodri.gues Nogueira Pinheiro
José Gomes Rodrigues Pinheiro
Joaquim Patrício de Souza Moreira
Francisco de Saies do Amaral
Joaquim Pinheiro de Lima
Joaquim Vitoriano Pinheiro de Melo
José Joaquim de Araújo
Joaquim Felício de Almeida
Joaquim Moreira Pinheiro
Manoel Pinheiro Nogueira de Melo
Ananias Cândido Leite
Manoel Joaquim da Silva Neco
Francisco Cavalcante de Holanda Lima
Manoel Joaquim Gonçalves
Padre Teodulfo Francisco Pinto Bandeira
Savino Lopes Barreira
Joaquim Ferreira Viana
Antônio Gonçalves de Moura
João Rodrigues Pinheiro de Andrade
José Alves Pinheiro
Joaquim Bezerra de Souza.
Joaquim Ferreira de Góes
Antônio de Lemos de Almeida
Manoel Vieira da Cunha
Rodolfo Rufino Pinto Bandeira

9 - Colégio da v'ila de S. João do Príncipe

Freguesia de N. Sra. do Rosário (18):

Capitão Manoel Cavalcante de Albuquerque


Tenente-coronel José André dos Santos
Tenente Vicente Ferreira Leopoldino de Araújo Chaves
Capitão João de Araújo Cavalcante
Capitão João Gonçalves dos Santos Dino
Vigário Miceno Clodoaldo Linhares
Alferes Cícero Bastos dos Santos
Tenente Manoel Ferreira Barreto
Vitor Cavalca.nte de Barros Matos
José Belinério de Araújo Chaves
Sabino Ezequiel de Araújo Pedrosa
Alferes Domingos Alves Sobreira
José Bezerra Cavalcante Jatobá
David Alves Bezerra
Manoel Martins de Araújo Chaves Louro
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 291

Alferes Francisco Gonça1ves Aleixo Graxão


Alferes João Severino Duarte

Freguesia de N. Sra. da Paz (Arneirós), (17) :

Eufrásio Alves Feitosa Chaves


José de Souza Rego Feitosa
Major Manoel Ferreira Ferro
José de Araújo Pereira
Joaquim Alves Feitosa e Chaves
Manoel Martins Chaves e Vale
Manoel de Souza Vale
Eufrásio Alves Feitosa
Cipriano Alves Feitosa
Francisco Alves Feitosa. e Souza
Antônio Alves Feitosa
Tenente Vicente Ferreira de Souza
Francisco Guedes Alcoforado
José Alves de Araújo Xavier
Nemésio Augusto Carvalho Lima.
Roberto Alves Feitosa.
Major Francisco Alves Feitosa.

Freguesia de N. Sra. do Carmo (Flôres) (8) :

Manoel Amador da Franca.


Frutuoso Ferreira de Loiola
Antônio Pereira Lima
Fortunato Leite de Faria
João Vitor de Souza Mota
José Pereira de Oliveira
Joaquim Francisco de Sales
Francisco Setubal de Oliveira

10 - Colégio da vila de Maria Pereira

Freguesia de N. Sra. da Glória. (36) :

Antônio Pedro Benevides


Francisco Adera.ldo d'Aquino
Francisco de Góes e Melo
João Celestino de Vasconcelos
José Félix de Carvalho
Francisco de Araújo Cha.ves
Bonifácio Pereira da Costa
José de Barros Lima
Frutuoso Lopes de Fontes Braga
292 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Jerônimo José de Almeida


Manoel Pereira Carnaúba
João de Góes e Melo
Joaquim de Barros Lima
Augusto Rodrigues Vieira
Manoel Ma.rtins Chaves
Amâncio Vieira Júnior
José Lopes de Moraes
Manoel Antônio Rodrigues Machado
Bernardino Lopes de Moraes
Honorato José Batista
Francisco Alves Teixeira
José Batista Cavalcante
José Cândido Vieira
Manoel Vieira Júnior
Antônio Rodrigues do Nascimento
Domingos Alves de Carvalho
José Roberto de Almeida
Joaquim Carneiro da Silva
Antônio Rodrigues de Lima
Manoel Pereira de Souza
João Alves de Carvalho Gavião
José de Góes e Melo
Jerônimo Alves da Cunha
Francisco Teixeira Marques
Manoel Roberto do Nascimento
Antônio Mendes da Rocha

11 - Colégio da vila do Saboeiro

Freguesia de N. Sra. do Rosário (24) :

Dr. José Gonçalves de Moura


Antônio do Rêgo Lima
Luiz Pereira Tito Jacome
João Bernardo da Silva
Manoel Franco Bastos
Padre Luiz do Rêgo Lima
Padre José Teófilo d'Oliveira
André Custódio da Silva
Bernardo Claro dos Santos
José Claro dos Santos
João Claro dos Santos
Manoel Cândido dos Santos
Marcos Barbosa Laborão
João Lima da Silva
João do Rêgo Lima
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 293

José do Rêgo Lima


Antônio Martins d'Almeida
Francisco do Rego Lima
Manoel Moreira Chaves
Gonçalo da Anunciação Arraes
Antônio da Mota Souza
Matias José da Costa
Francisco Martins da Costa
Francisco André da Costa

Freguesia da Senhora Sant'Ana (Assaré) (17):

Ildefonso Pereira Camapum


Pedro Onofre de Farias
Manoel Félix de Oliveira
Tenente-coronel Carlos Pereira de Alencar
Francisco Sabino de Lima
Antônio Francisco de Negreiros
Tertuliano Ferreira de Azevedo
Crispim Gomes da Silva
Vicente Ferreira de Souza
Manoel Francisco de Albuquerque Freire
Manoel Francisco do Nascimento
Luiz Alves Maia
João Barbosa Sampaio
Raimundo Vieira de Freitas
Pedro Gomes de Melo
Manoel Ciríaco de Oliveira
Francisco Mamede de Farias

Freguesia de N. Sra. do Carmo (S. Mateus) (26):

Tenente-coronel Manoel Gomes de Oliveira


Alferes João Leite da Silva
Raimundo Gomes de Souza
João Leite de Souza Sobrinho
Francisco José Leite
Manoel de Souza Bezerra
Alferes Joaquim Paes Sarmento
José de Athay de Siqueira
Roberto de Sales Bezerra
Ma tias de Sales Bezerra
Joaquim Leite de Souza
Fabrício Rodrigues Freire
José Antunes Brandão
Antônio Bezerra da Silva Maroto
Antônio Leite da Silva
294 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Pedro de Souza Pereira


Joaquim Gomes de Oliveira
Estêvão José Fernandes
José Gomes de Souza Rocha
Gonçalo Martins dos Santos
José de Oliveira Bastos
João Alves Pedrosa
Matias de Paula Viana
João Fernandes de Souza
José Joaquim Palácio

2.0 DISTRITO - SOBRAL - 596 eleitores.

1 - Colégio da cidade de Sobral

Freguesia de N. Sra. da Conceição (58):

Coronel Joaquim Ribeiro da Silva


José Camilo Linhares
Tenente-coronel Diogo Gomes Parente
José Antônio Moreira da Rocha
Hermeto Gomes Parente
Trajano José Cavalcante
Vicente Alves Linhares
Vicente Ferreira de Arruda
Francisco Marçal d'Oliveira Gondim
Antônio Raimundo Cavalcante
Antônio Rangel do Nascimento
Antônio Lopes de Alcântara
Antônio Francisco de Paula Quixadá
Antônio Ximenes de Aragão
Padre Antônio de Souza Neves
Antônio Alves de Holanda Cavalcante
Antônio Bibiano do Nascimento
Antônio Rufino Furtado de Mendonça
Belarmino Gomes Parente
Cesário Ferreira Gomes
Domingos Ribeiro da Silva
Dorçulino Gomes Parente
Domingos Ricardo Ribeiro da Silva
Domingos Carlos Sabóia
Antônio Gomes Parente
Joaquim Gomes Parente
Domingos Gomes da Frota
Fideralino Ribeiro da Silva
Francisco Gomes Angelim
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 295

Gabriel Arcanjo de Aguiar


Onofre Muniz Ribeiro
Frederico Rodrigues Pimentel
Francisco Ferreira Pimentel
Florêncio Ribeiro da Silva
Francisco Machado Freire Júnior
José de Farias Lima
Joaquim Furtado de Mendonça
João Mendes da Rocha
José Gomes Coelho
Juvêncio Diocleciano do Nascimento
João Antônio Cavalcante
João José da Veiga Braga
José Raimundo Ferreira
João Rodrigues Pimentel
Joaquim José Ribeiro
José Florêncio Ribeiro da Silva
José Ricardo Ribeiro da Silva
Joaquim Conrado de Castro Silva
Liberalino Ribeiro da Silva
Lúcio Ribeiro Pessoa
Manoel Ferreira. d'Almeida
Miguel Ferreira d'Almeida Guimarães
Quitiliano Pinto de Mesquita
Tito Francisco Alelúia da Silva
Jacinto Tércio d'Oliveira Gondim
Vicente Machado Freire
Vicente Fonteles Ferreira da Rocha

Freguesia de S. Quitéria (15):

Sancho Albino de Mesquita


Francisco Lauriano Figueira de Melo
Mariano de Mesquita Magalhães
Antônio Lopes Benevides
José Alves de Mesquita
Belarmino José de Mesquita
João de Mesquita Magalhães
Emídio Soares da Silveira
José Rodrigues Tava.res Segundo
Francisco José Ferreira de Melo
Bemvenuto Dutra Magalhães
Manoel Rodrigues de Mendonça
Felicíssimo de Mesquita Magalhães
Felicíssimo Franklin de Mesquita
Sebastião Camelo Ferreira
296 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

2 - Colégio da vila do Acaraú.

Freguesia de N. Sra. da Conceição (24) :

Vigário Antônio Xavier Maria de Castro


Major João de Araújo Costa
Tenente-coronel Francisco Joaquim da Silveira
Major Manoel d'Araújo Costa
Tenente Albano José da Silveira
Tenente Antônio Teixeira Pinto
Alferes Raimundo Nonato de Araújo Costa
Alferes Manoel Tiago Maria de Araújo
Alferes Alexandre Bernardino d'Albuquerque
Alferes Gabriel Antunes de Menezes
Negociante Joaquim Martins dos Santos Filho
Criador Vicente Lopes d'Araújo Costa
Criador Clementina Domingues da Silva
Criador Francisco Rodrigues de Oliveira Magalhães
Negociante Estêvão Ribeiro de Araújo Costa
Criador Bemvenuto Lopes de Araújo Costa
Criador Antônio Farias de Menezes
Criador Gregório Francisco do Nascimento
Criador José Graciano de Vasconcelos
Criador Vicente Ferreira da Silveira
Criador Francisco Dias da Silva Sales
Criador João de Araújo Costa Sobrinho
Criador José Pedro de Oliveira
Criador Manoel Teotônio Coelho de Menezes

Freguesia da Senhora Sant'Ana (Sant'Ana) (20):

Vigário Francisco Xavier Nogueira


Major Antônio Carneiro de Araújo
Tenente Joaquim Carneiro de Araújo Costa
Capitão Jerônimo Bezerra de Araújo
Tenente Luiz José de Farias Júnior
Manoel Bezerra de Menezes
Capitão Joaquim Gomes Carneiro
Capitão Vicente Carneiro de Araújo
Tenente Domingos Henrique de Araújo
Tenente José Luiz da Rocha
Tenente Francisco Rodrigues Lima Júnior
Alferes Francisco Carneiro da Ponte
Alferes Manoel Pereira de Souza
Estêvão Proto Mártir d'Araújo
Severiano Henriques d'Araújo
Miguel Ferreira da Rocha
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 297

José Bernardino Ferreira Gomes


José Carlos Carneiro
Joaquim Carneiro da Costa Júnior
José Patriarca Carneiro

3 - Colégio da cidade de Baturité

Freguesia de N. Sra. da Palma (59):

Coronel João Pereira Castelo Branco


Tenente-coronel Pedro José Castelo Branco
Venâncio Pereira Castelo Branco
Dr. Manuel Marrocos Teles
Major Teotônio José de Oliveira
Major João Lourenço Viriato de Vasconcelos
Major Antônio Pereira Castelo Branco
Major Simão Teles de Souza
Capitão Cirurgião Francisco José de Matos
Capitão Augusto Alexandre Castelo Branco
Capitão Manoel Joaquim Ferreira Júnior
Capitão Balduíno José de Oliveira
Capitão Raimundo Antônio de Freitas
Capitão Antônio Pinheiro Castelo Bra.nco
Capitão Clementina de Holanda Lima
Capitão Pedro de Holanda Lima
Capitão Baltazar Lopes Lima
Capitão Antônio Ferreira dos Reis
Silvério Gomes da Silveira
Antônio Gregório Taumaturgo
Francisco Antônio Coleta
Tenente Antônio de Freitas Sampaio
Tenente Antônio de Freitas Guimarães
Tenente João Nepomuceno da Silva
Tenente Antônio Correia Lima
Tenente Luiz Manuel de Souza Pinheiro
Alferes João Tibúrcio Castelo Branco
Alferes Manoel Nazareno da Silva
Alferes Francisco Ricardo Pinheiro
Alferes José Pereira Castelo Branco
Alferes Francisco José Uchoa
Alferes Francisco Antônio de Oliveira
Alferes João Carlos d'Oliveira
Alferes Manoel Carlos de Sabóia
Alferes Francisco Antônio da Silveira
Alferes Antônio Alves de Carvalho Júnior
Alferes Manoel Rodrigues Martins
Alferes Manoel Antônio de Oliveira
298 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Alferes Honório José de Brito


Alferes João Correia Lima
Antônio da Costa Pinheiro
Germano da Costa Pinheiro
Manoel Egídio da Costa Nogueira
Antônio Nogueira Lima
Luiz Gomes da Silveira
Norberto Alexandre Pereira Castelo Branco
João Viriato de Oliveira. Taumaturgo
Alexandre Pereira Castelo Branco
Augusto Pontes Castelo Branco
Antônio Vitor Castelo Branco
Galdino José da Costa
José Gomes de Alexandre
Manoel Luiz do Nascimento
Manoel Correia Lima
Francisco Massa.randuba
Tristão Alexandre Castelo Branco
Raimundo Carlos de Albuquerque
Raimundo José de Araújo
João Faustino de Albuquerque

4 - Colégio da vila de Canindé

Freguesia de S. Francisco das Chagas (21):

Joaquim José da Cruz iSaldanha


Antônio Francisco de Magalhães
José Joaquim Cordeiro da Cruz
Manoel Antônio da Rocha
Manoel dos Santos Lessa
Luiz Monteiro dos Santos
Venâncio dos Santos Lessa
João Batista de Souza
Joaquim Ferreira Mendonça
Teodoro Freire da Silva
José Joaquim Cordeiro da Cruz Júnior
Francisco da Rocha Cordeiro
André Nogueira Pinto Camurça
Joaquim Francisco de Lemos
Antônio Lino da Cruz
João Facundo Vieira da Costa
Francisco Hermógenes da Silva
Raimundo Muniz da Silva
José Rabelo Cordeiro da Cruz
Manoel Paulino da Silva
José Cordeiro da Cruz
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 299

5 - Colégio da vila da Imperatriz

Freguesia de N. Sra. das Mercês (32):

Coronel Bento Antônio Alves


Tenente-coronel Antônio José dos Santos
Tenente-coronel Luiz Francisco Braga
Major Antônio Alves de Agrela
Capitão José Furtado Barbosa
Capitão João Francisco Braga
Capitão Inocêncio Francisco Braga
Capitão Boaventura de Paula Avelino
Capitão João Gualberto d'Oliveira Guimarães
Capitão Josino Francisco Torres de Vasconcelos
Capitão Antônio Manoel Alves
Capitão Antônio Manoel de Lavor
Capitão Antônio Francisco Braga
Capitão Antônio Severiano Bastos
Capitão José Manoel Alves
Tenente João Luiz da Rocha Viana
Tenente João Facundo da Cunha Linhares
Tenente José Joaquim Alves
Tenente Antônio Ferreira de Andrade Filho
Tenente Domingos Francisco Braga
Tenente Estêvão de Ba.rros Silva
Alferes Antônio Rodrigues da Cruz
Alferes Agostinho Rodrigues dos Anjos
Alferes David Gomes de Castro Freire
Alferes José Joaquim Rodrigues
Alferes Joaquim Antônio de Freitas
Alferes João Manuel d'Avila
Alferes José Gonçalves Muniz
José Joaquim de Souza
Manoel Tomé de Oliveira
Joaquim Marcos dos Santos
Joaquim José da Mota

Freguesia de S. Antônio (S. Antônio do Ara.cati-açu) (16):

Mariano Cavalcante Rocha


José Vicente Monteiro
Francisco Bezerra de Araújo
Leandro de Paiva Dias
Luiz Alves de Sena
Antônio Alves Ferreira da Rocha
Antônio Gomes de Paiva
Lourenço de Paiva Dias
300 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Inácio Francisco Magalhães


Antônio Ferreira Pimentel
Francisco Pinto Filho
Francisco de Paiva Rodrigues
Otaviano José Rodrigues
Salustiano Júlio de Souza Campelo
Sancho Pinto de Mesquita
Raimundo Vieira de Souza

6 - Colégio da vila de S. Francisco

Freguesia de S. Francisco (27) :

Antônio Januário Barreto


Carlos Antônio de Sales
Manoel Francisco de Sales
Luiz Mesquita de Loureiro Marães
João José da Silva Reis
Antônio Alves de Barros
Custódio Teixeira Pinto
Joaquim Bento de Araújo
Francisco Joaquim Teles de Menezes
Luiz de Souza Miranda
Francisco de Paula Mendes
Raimundo Pinto Cavalcante
Lauriano Teixeira Bastos
Pedro Ferreira Pires
Francisco Gonçalves d'Aguiar
Francisco de Souza Bomfim
Joaquim da Costa Cavalcante
João Januário Barreto
Inácio Rodrigues Barreto
Luiz das Chagas Pinheiro
Francisco Antônio de Sales
José Angelo Barreto
Francisco Felix da Cunha
João de Souza Bomfim
João Batista de Oliveira Pinheiro
Fidélis de Souza Barreto
Rufino Ferreira d'Araújo

7 - Colégio da cidade de Granja

Freguesia de S. José (13):

Dr. Joaquim de Paula Pessoa de Lacerda


Dr. Trajano Viriato de Medeiros
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 301

José Maria Ferreira Lobo


Major Antônio Carvalho de Almeida
José Pedro de Carvalho
Tenente Luiz de Castro
Manoel Antônio d'Araújo Lopes
José Eleutério da Silva
Antonino de Brito Passos
Otaviano Ferreira da Costa
Francisco Joaquim Craveiro
Herculano Vicente Ferreira Lisboa
Angelo Bezerra de Araújo

Freguesia de N. Sra. da Piedade (Várzea Grande) (13):

Joaquim de Souza Portela


Cesário Machado Portela
Galdino Machado Portela
Tomás da Silva Pôrto
Antônio Francisco de Carvalho
Domingos de Almeida Ramalho
Antônio Mendes da Rocha
Inácio Gomes Pinto
José Machado Portela
José Rodrigues de Aguiar
Antônio Joaquim de Aguiar
Miguel Arcanjo de Aguia.r
José Francisco de Menezes

Freguesia de S. Antônio (S. Antônio do Iboaçu) (15):

Francisco Joaquim Brício dos Santos


Alferes João Porfírio de Andrade Fontaneles
Eduardo Silvestre de Brito
Francisco Camilo de Brito
José Joaquim dos Santos
João Rufino Coutinho
Francisco Guilherme Rodrigues da Cunha
Jacinto Alves Passos
João Alves Passos
Antônio da Rocha Franco
Teófilo Francisco do Rosário
Marcolino José dos Santos
José Pereira Barros
José Bartolomeu Fontaneles
Antônio Luiz Batista
302 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

8 - Colégio da vila Viçosa

Freguesia de N. Sra. d'Assunção (29):

Vigário José Beviláqua


Tenente-coronel Vicente do Espírito Santo Maga.Ihães
Major João Severiano da Silveira
Capitão Inácio José Correia
Padre João Crisóstomo de Oliveira Freire
Ca.pitão Paulo Marques d'Assunção
Capitão Antônio Joaquim da Silveira Carapeba
Tenente Antônio Marques da Assunção
Tenente Felicíssimo Eustáquio de Oliveira Freire
Capitão Vitorino Alves Teixeira
Tenente José Gomes Ferreira Torres
Antônio da Costa Pacífico
Pedro da Cunha Freire
Alferes Antônio Alves de Paiva
Tenente Benedito Marques da Costa
Tenente João Febrônio Freire de Bizerril
Tenente Manoel Beviláqua
Alferes Paulino José Ayres
Alferes Raimundo Benício da Silveira
Alferes Domingos Bruno da. Silveira
Alferes José Antônio Coelho de Albuquerque
Alferes Vicente do Espírito Santo Magalhães Filho
Alferes Cândido do Espírito Santo Magalhães
Tenente Raimundo Justiniano Machado
Tenente Angelo de Siqueira Passos
Alferes Manoel da Costa Cardoso
Lupércio Antônio Coelho d'Albuquerque
Alferes Joaquim de Moura Vanderley
Antônio Marques de Medeiros

9 - Colégio da vila do Ipu

Freguesia de S. Gonçalo da Serra dos Côcos (43) :

Vigário Francisco Corrêa de Carvalho e Silva


Padre Antônio José de Lima
Capitão Cesário de Melo e Silva
Major Antônio de Melo Marinho
Major Joaquim de Holanda Cava.Icante
Alferes Aldeodato Ferreira Souza
Capitão José Sabóia de Castro e Silva
Alferes Vicente Ferreira de Araújo Lima
Alferes Pedro de Souza Marinho
FATOS E DoCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 303

Tenente Carlos Felipe de !Souza


Alferes José Carlos de Souza Lima
Alferes Justino José Uchoa
Tenente Luiz de Melo Marinha
Luiz Francisco de Miranda
Vicente Ferreira de Araújo e Lima Júnior
João Rodrigues de Andrade Cajão
Capitão José Bernardo Teixeira
Tenente Manoel de Araújo Lima
Capitão Vitoriano Rodrigues Leite
Capitão Pedro Ribeiro de Oliveira
Capitão João Vieira Passos Terceiro
Alferes Reginaldo Luiz da Costa
Alferes Simplício Manoel Souza
Alferes José Monteiro da Silva Morais
Tenente Manoel de Pinho Júnior
Alferes Vitor do Vale Bezerra
Alferes Manoel Gonçalves Belém
Capitão Antônio Joaquim Moreira
Alferes Lúcio Rodrigues Moreira.
Eufrásio Leitão Arnoso
Luiz Lopes de Araújo Lima
Alferes Inácio Rodrigues Moreira
Francisco Ribeiro Melo
Alferes Vicente Bezerra do Vale
Manoel de Souza Marinho
Alferes Simplício de Souza Lima
Capitão João Carlos de Souza Lima
João Mendes da Silva
Alferes Francisco Xavier de Aragão
Sebastião Ribeiro Melo
Joaquim de Abreu Barcelos
Joaquim de Souza Lima
Alferes Gonçalo Ximenes de Aragão
Freguesia de S. Anastácio (Tamboril) (11):
Tenente-coronel Joaquim José de Castro
Tenente Laurênio Dias Martins
João Mendes Pessoa
Bemvindo Cavalcante de Albuquerque
Joaquim Pedro de Carvalho
Manoel Leonardo de Oliveira
Manoel Joaquim de Almeida Torres
Antônio Ferreira !Sampaio
Rochael Cavalcante de Albuquerque
Joaquim de Barros Galvão
Gonçalo Ferreira de Carvalho
304 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

3.0 DISTRITO - CRATO - 359 eleitores

1- Colégio da cidade do Crato

Freguesia de N. Sra. da Penha (50):

Joaquim Gomes de Matos


Joviniano Teles de Pontes Simões
José Gomes de Matos
José Antônio da Costa
Celso Ferreira Lima Verde
Raimundo Gomes de Matos
Benedito da Silva Garrido
João Matias Gomes de Matos
Francisco José de Pontes Simões
José Ferreira de Castro Jucá
José Pinheiro Bezerra de Menezes
Gonçalo de Lavor Paes Barreto
Pedro José Gonçalves da Silva
Pedro Bezerra Monteiro
José Soares Barbosa
Domingos Lopes de Sena
Antônio de Pontes Simões
Franzino Soares de Oliveira
Salustiano Pereira Maia
Alexandre Ferreira dos Santos Caminha
Antônio Ferreira Lobo
José Tavares Romeiro
Manoel Correia de Araújo
Manoel Inácio Ferreira da Silva
Manoel Pereira de Araújo Cassula
Leandro Bezerra de Menezes
Clementino de Pontes Franco
João Lobo de Menezes
José Vicente de Alcântara Lima
João Ferreira de Melo
Manoel Leandro Ferreira de Menezes
Belarmino Gomes de Moura
Pedro Teles de Quintal
Manoel Felipe Teles
Francisco Gonçalves Aleixo
Joaquim de Lavor Paes Barreto
Francisco Gonçalves de Pinho
Afonso de Albuquerque Melo ·
Joaquim Lopes Raimundo do Bilhar
Dario Duarte Carreira Guerra
Vicente Gonçalves Aleixo
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 305

Manoel Lopes de Lima


Raimundo Duarte Hiacinto Moura
Agostinho Augusto de Albuquerque Melo
Antônio Joaquim de Melo Tavares
Henrique de Lavor Paes Barreto
João Ferreira de Andrade
Manoel Antônio do Nascimento
Simplício Correia Lima Acioly
Pedro José de Oliveira

2 - Colégio da vila de Barbalha

Freguesia de S. Antônio (19):

Tenente-coronel João Quesado Filgueiras


Tenente-coronel Antônio Furtado de Figueiredo
Tenente-coronel José Pacifer de Sá Souto Maior
Capitão João Raimundo Pinto da Costa
Capitão Antônio Pereira Calou
Capitão Antônio Pereira Calou de Sá Barreto
Romão Quesado Filgueira
Tenente Sebastião Rodrigues da Gama e Silva
Raimundo Antônio de Macedo
Joaquim Gomes da Rocha
Antônio Pereira Coelho
Luiz Coelho Sampaio
Alferes Antônio Pereira da Cunha Calou
Manoel Antônio de Amorim
Tenente Antônio Felipe Santiago
Alferes Vicente Lustosa de Figueiredo
Alferes Tomé Pereira de Casaes
Francisco Torres da Silva
Luiz Amâncio Correia

Freguesia de S. José (Missão Velha) (51) :

Coronel Francisco Tavares Quintal

Tenente-coronel Miguel Xavier Henrique de Oliveira


Capitão Joaquim Pereira de Azevedo
João José de Oliveira Cavalcante
306 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

José Raimundo Cavalcante


Major João Luiz de Jesus
Capitão João Vieira Muniz Quintal
Manoel Rodrigues da Costa
Joaquim de Araújo Lima
Manoel Lourenço de Araújo
Antônio Joaquim de Macedo
Raimundo Cavalcante d'Albuquerque
Francisco José Cavalcante
João Emídio Capibaribe
Paulino Correia de Araújo
Manoel Francisco de Souza
Vicente Pereira de Vasconcelos
Pedro Antônio de Jesus
Manoel Antônio de Jesus
José Joaquim Freire do Prado
Cândido Pereira de Figueiredo
Antônio Tavares Moreira
Valdevino Tavares Moreira
José de Araújo Lima
José Vieira de Melo
Tomás José Dantas Quinta.!
Francisco Ferreira Dantas
Cândido Gonçalves Dantas
João Martins de Moraes
Joaquim Roberto Correia
Marcos Valente Cavalcante
Antônio José Batista
João José Cavalcante
José Tavares Moreira
José Simões Tavares
Antônio Ferreira dos Santos
Manoel Gonçalves Ferreira
Luiz de Freitas Barreto
Joaquim Manoel d'Assunção
José Gomes Pinto
José Antônio de Jesus
Antônio Batista da Silva
Amaro de Souza Mora.es
Antônio Ferreira de Souza
Joaquim Inácio de Oliveira Rocha
José de Souza Frazão
Francisco Ribeiro de Castro
Francisco Ribeiro de Castro Junior
Manoel Batista do Nascimento
José Luiz Coelho
Manoel Simplício do Nascimento
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARA PROVINCIAL 3or1

3- Colégio da cidade do Icó

Freguesia de N. Sra. da Expectação (15):

Dr. Gervásio Cícero de Albuquerque Melo


Coronel Francisco Manoel Dias
Capitão Francisco Gomes de Matos Junior
Capitão João Nogueira Rabelo
Frutuoso Manuel Dias
Capitão Manuel Ferreira dos Santos Caminha
Tenente-coronel Roberto Correia d'Almeida e Silva
Manoel Joaquim Rabelo
Capitão José de Souza Lima
Capitão Alexandre Ferreira Caminha
Tenente Joaquim Moreira de Novaes
Capitão Joaquim de Souza Lima
Tenente Manoel Francisco Ribeiro Junior
Alferes Bonifácio Francisco da Rocha
Tenente Raimundo Francisco Carneiro Monteiro
Antônio da Cunha Angelim
João Bento de Oliveira Rolim
Cândido Francisco Carneiro Monteiro
Bertoldo de Oliveira Cavalcante
José de Azevedo Vilarouca Junior
Alferes José Raimundo Borges da Costa
Manoel d'Oliveira Castro
Manoel Antônio de Araújo
Manoel Antônio de Amorim
Manoel Antônio Sidney
Zenóbio Alves Torres
José Frutuoso Dias Filho
Dr. Joaquim Pauleta Bastos de Oliveira
Francisco José da Silva
Antônio Raimundo da Costa
Dr. José da Boaventura Bastos
Abelardo Rufino de Medeiros
José Pedro Alves da Silva
Capitão Manoel Felipe Bastos
Manoel Estêvão de Carvalho
Custódio José da Rocha
Pedro Pereira da Costa
Bento José da Silva Torres
José Gomes de Melo
Francisco de Paula Pereira
Vicente de Paula e Silva
João Rodrigues Nogueira
Dr. Laurêncio d'Oliveira Cabral
Dr. Frutuoso Dias Ribeiro
308 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

4 - Colégio da Vila da Telha

Freguesia da Senhora Sant'Ana (45):

Capitão Leonel Alves de Carvalho


Major Antônio Gomes Barreto
Capitão José de Carvalho Figueira
Tenente-coronel Cândido Antônio Barreto
Antônio Severino de Lima
Tenente Esperidião de Matos Mariscal
Emídio de Matos Mariscal
Capitão José Benício Cavalca.nte
Honório de Ma tos Marisca!
Tenente Lisardo Cavalcante de Luna
Capitão Joaquim Manuel da Silva
Alferes Nivardo Barreto de Carvalho
Tenente Pedro Alves de Oliveira.
Tenente Cardim Ferreira Lima Verde
Pedro Alves Teixeira
Manoel Antunes de Melo
Serafim Gomes Coelho
Antônio Borges Vieira
Tenente Cândido da Costa Nogueira
Silvério Alves Pessoa
Bernardino Gomes Vieira
Antônio Batista de Carvalho
Alferes Antônio Cândido Barreto
Epaminondas Ca.valcante de Albuquerque e Luna
Alferes Bemvenuto Cavalcante de Lima
Capitão José Tavares de Miranda
Tenente Antônio da Rocha Fialho
Mariano Gomes Ta vares
José Gomes de Melo Junior
José Ferreira Maia.
João Evangelista Cavalcante
Alferes Clementina Cavalcante de Luna
Manoel Joaquim de Almeida
Raimundo Correia de Souza
Padre José Joaquim Pereira de Souza
Joaquim Alves de Macedo
José Alves de Oliveira
Alferes João Tavares da Fonseca
Francisco Alves Vieira
Pedro de Souza Braga
Cândido Cavalcante de Albuquerque
Capitão Arlindo Cândido Ayres
Alexandre José Ba.tista
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 309

Alexandre José Tomás d'Aquino


Antônio Cavalcante de Luna

5 - Colégio da vila de Lavras

Freguesia de IS. Vicente (Lavras), Freguesia de S. Raimundo


Nonato (Várzea Alegre) (45):

Raimundo Correia Lima


Ildefonso Correia Lima
Manoel Bernardo Vieira
Benedito Gonçalves Sobreira
Raimundo Gomes de Araújo
Antônio Pinto Teixeira
Raimundo Nonato de Pontes Pereira
Felix Soares das Neves
Pedro José Crispim
Vicente Gonçalves Leite
José Ferreira. da Silva
Valdevino Leite Teixeira
José Antônio do Nascimento
Alexandre Gomes de Lima
José Leandro Correia
Francisco Félix de Araújo
José Alexandre de Oliveira
Félix Alexandre de Almeida
Francisco Martins de :Barros
Francisco Pires de Oliveira Mota
Antônio Gonçalves de Araújo
Alexandre Manoel de Oliveira
Manoel Raimundo da Cunha
Vicente Carneiro de Aquino
Cândido José da Costa
Vicente Alves Lima Junior
Antônio Álvares do Nascimento
Vicente Ferreira de Moraes
Antônio Raimundo Duarte
Antônio Guedes da Silva
Manoel Gonçalves da Silva
Tomás Duarte de Aquino
João Paulo Correia
Miguel Gonçalves Pinheiro
João Clementina de Araújo
Tomás Francisco Duarte
Antônio Francisco dos Santos
310 JosÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

Manoel Trajano de Souza


Sabino Ferreira da Silva
Manoel Antônio Sobreira
Raimundo Carneiro d'Oliveira
Honório Pereira de Araújo
Manoel da Silva Monteiro
Pedro Gomes Leitão
Joaquim Moreira do Nascimento

6 - Colégio da vila do Pereira

Freguesia dos Santos Gosme e Damião (32) :

Tenente-coronel Antônio Martins Porto


Padre Daniel Fernandes Moura
Capitão Joaquim Moreira Maia
Damião Martins Porto
Tenente Bento Freire Bandeira
José Porfírio Fiúza Lima
Inácio Barbosa Maciel
Alferes Manoel Lourenço de Santana
Pedro Freire de Andrade
José Freire de Andrade
Manoel Sabino da Silva
Joaquim Rodrigues de Souza
Manoel Muniz Freire
Claudino Dias da Cunha
Capitão José Faustino da Silva Sabóia
Amador José de Almeida
Alferes Francisco José de Almeida
João Joaquim Chaves
Francisco de Holanda. Cavalcante
Tenente Inácio Alves de Melo
José Raimundo de Almeida
Inácio Pinto de Freitas
Amâncio Cavalcante de Albuquerque
Canuto Ferreira Lima
Manoel Alves Nogueira
José Nogueira de Carvalho
Antônio da Costa Viana
Capitão José de Pontes Silva
João Alves Nogueira
João Batista Maia
Vicente Alves de Paula
Sabino Cavalcante d'Albuquerque Maranhão
FATOS E DOCUMENTOS DO CEARÁ PROVINCIAL 311

7 - Colégio da vila do Jardim

Freguesia de S. Antônio (45):


Dr. Antônio Lopes da Silva Barros
Tenente-coronel Fra.ncisco da Cruz Neves
Capitão Francisco Leite de Souza Piancó
Major João Izidro Portela
Tenente Antônio Felipe da Silva Cardoso
Capitão José Francisco Leite de Souza
Tenente Manoel Freire Brito Junior
Capitão Castriciano Marques de Gouvêa
Joaquim Valeriano d'Oliveira Lima
Alferes Vitor José Modesto
Tenente Francisco José da Silva
Capitão Francisco Gomes de Sá Batinga
Tenente Francisco Antônio Casimiro Nepomuceno
Francisco de Freitas Moreno
Manoel Pereira de Brito
Marcelino Correia Leite
Alferes Firmino Valeriano de Oliveira Lima
Alferes Manoel Seridião d'Albuquerque Melo
José Ricarte Ferreira de Sá
Francisco Afonso da Silva
Balduíno Augusto Leão
José Gomes de Souza
Lourenço Gomes da Silva
Joaquim Inácio da Silva Torres
Manoel Inácio da Silva
Tenente Henrique Alves Vieira
Joaquim José de Figueiredo
Alferes Henrique Luiz da Silva
Alferes Joaquim Leite Rangel
João Crispim de Araújo
Manoel Joaquim de Oliveira
Capitão José de Caldas Campos
João Tavares da Paixão
Joaquim Canuto da Silva
Antônio Pereira. de Alencar
Vicente Pereira da Silva
Tenente Manoel Luiz d'Anchieta Gondim
Targino Santiago Medeiros
Antônio Gomes Pedrosa
Francisco Leite de Souza
Francisco Xavier Leite
João dos Santos Vasconcelos
José Alves da Silva
João Tomé da Silva
312 JOSÉ AURÉLIO SARAIVA CÂMARA

8 - Colégio da vila de Milagres

Freguesia de N. Sra. dos Milagres (27):

Vigário Cesário Claudino d'Oliveira Araújo


Tenente-coronel Manoel de Jesus da Conceição Cunha
Capitão Antônio Leite Rabelo da Cunha
Capitão Joaquim Gonçalves Dantas
Capitão Pedro Furtado de Figueiredo
Capitão Joaquim Leite da Cunha
Alferes José Xavier Cavalcante
Tenente Domingos João Dantas Rothéa
Tenente Manoel Leite da Cunha
Tenente Antônio Furta.do de Figueiredo Junior
Tenente José Leite Furtado
Tenente José Furtado Maranhão
Tenente David Inácio d'Oliveira Rocha
Tenente Francisco Alves de Matos
Alferes Joaquim Bezerra Montenegro
Alferes Francisco Alvares de Oliveira Cabral
Alferes Vicente Pereira de Vasconcelos
Alferes José Pedro de Figueiredo
Francisco da Silva. Moniz
Dionísio Eleutério Bezerra de Menezes
João Mendes de Vasconcelos
Bemvenuto Furtado de Figueiredo
Antônio Luiz de Figueiredo
Domingos Alves Chaves
Geraldo Antônio Pereira
Vicente de Jesus Pereira
Manoel Jesus da Conceição Góes
7
O Ceará e a Guerra do Paraguai (*)

( *) Conferência pronunciada no Salão Nobre da


Faculdade de Direito da Universidade Federal do
Ceará, na noite de 23 de maio de 1966, como parte
das comemorações do 1.0 centenário da Batalha de
Tuiuti. Foi agora acrescida das notas que aqzâ
figuram.

Você também pode gostar