Você está na página 1de 11
oii tae : See ey 0 aie ie LbANDRO GOhkeS DE BARROS Migs = "fH-QUE LIVROU DA FORCA UM REO fee ah senteNciano, . 7 if VENDE-SE ha casa do autor a Rua | do, Motocolombé n° 28 Afoga- F ee: dos—Recife. hy CB ovyp. pa *roru.ar EprtoRA” EP EP PLES ELS PREY EY ST ES SEY | Defesa feta pelo DOUTOR ABIAPINA ANTES DELLE SER PADRE, NA VILLA DO BREJO DE AREIA, HOJE CIDADE. Ninguem se julgue feliz Nem desanime da sorte a Viu-se no Brejo de Areia Da Parahyba do Norte Um réo escapar da forca Ja sentenciado 4 morte. Quando o padre Thiapiza Ainda éra doutor Que depois disso ordenou-se E foi grande pregador Se foi bom advogado Inda foi melhor pastor. Tinha no Brejo de Areia Um rapaz que éra engeitado Um homem o achou no campo Morrendo desaimpatado Que nem siquer 0 umbigo Quem deixou o tinha cortado 9 Bae ae ed A senhora desse homem Nunca um filho consebeu Criou Francisco José ~ Adoton por filho sen Tanto que um sitio que tinha Deixou-lhe-o quando motreu. si Entio Francisco José 3 Era um ravaz xem deffeito. Trabalhador e honrado Andava sempre direito Nao tinha fortuna alguma Mais vivia satisfeito. ] O comendador Veloso Alma negrase noduada Senhor de grande fortuna Embora fosse roubada Porque © cardeter delle Pesava tiicnos que nada. Esse monstro era viuvo Tinha uma filha somente i namorava-se della Achou mais conveniente Cas..l-a com rapaz pobre Que a gosava facilinente. Pensava elle comsigo Nao ha calculo tao certeiro a Dou-a a um rapaz branco e pobre Que nao falta aventureiro Que veja e faga que nao Com ambigio do dinheiro. a ee s —j _ Porem o caleulo do méo 7 E’ muito raro acertar O maldoso tem, comsigo, + A testemunha ocular’ Faga eile o@ que fizer Ella tem que revelar. ‘ Rapazes de altes rodas Pediram e elle nao deu Pois assim desarrahjava O plano que conceben E fez a desgraca della Da forma que entendeu, Foi ao Francisco José om a: armas do trahidor ‘ue disse vdcé é Yonesto e trabalhador, (uer casar com minha filha? , Respondeu-lhe, nado senhor: Q comendador nao sabe? Que eu fui um engeitad ? Meu futuro é 0 trabalho Pois nelle fai viciado E nfo pretendo casar-me Com filha de potentado. © senhor procure um desses A quem ‘a fortuna cobre Eu desejando casar-me Prefiro uma moga. pobre 86 desejo encontrar nella Um caratter limpo e sobre. pas Disse-Ihe 0 comendadér . Rapaz disso tudo eu sei Minha filha nao tem mae A tempos enviuvei Estou cahindo na idade Nao sei quando -morrerei. Nao quero dal-a a um doutor Que nao saiba trabalhar Porque faltando a carta Elle nao pode passar Se tiver familia grande Pede esmola ou vai furtar, O assassino da honra Tanto fez e seduziu Com as formas do demonio Ao miseravel illudiu Agora vejam onde foi Que © jnnocente cahiu. Casou Francisco José Achou ‘sua esposa pura Muito rica de dinheiro Gado, terra, escrayatura, Carneiro, cavalfo e burro Tinha com grande fartura. Francisco José entao Tomou conta do que havia As scis horas da manha Com os escravos sahia Mandavam levar-lhe almoso Elle no campo comia 5 ¢ ¢ Quando elle vottava a tarde ~ Viuha sempre carregado - Com feijio, milho, batata Quanto havia no rogado Sempre trazia nos hombros Um sexto grandee pesado. Sua mulher cotumaya Esperal-o todo o dia Para tirar-lhe dos hombros O peso que elle trazia Com aquelle fingimento Diariamente o trahia, Um dia numa hora dessas Francisco José chegou Nao encontrando a mulher Abriu a porta e entrou Sua mulher com o pai -Em adulterio os achou Mais rubro do que a braza Que do fugareiro sai Com o furor do corisco Qué da athmosphera cai Desparou uma espingarda Matando filha e pai. Elle morreu: logo alli Ella trez dias durou E confessou ao juiz Os planos que o pai formou E dando toda razao Ao marido que a matou. pe ig Francisco José ja tinha Entregado-se’a_ prisao Filla pedin ao juiz Que por sua iutervengao Vejiasse se do marido Ella alcangaya o perdao. Porem Francisco José Disse ao juiz de direito O que fizerem de mim Eu ache que esta bem feito Porem um pedido ‘della Eu morro! mas,,, mo aceito, Os parentes do Veloso Povo muito entereceiro Nao sentiram a morte delle Mais pensavam no dinheiro E diziam fica tudo Para agjuelle aventureiro, Peitaram toda justiga Para o réo ser condemnado arautindo devidir A terra, o dinheiro e o gado Escravos e todas as joias Ficava tudo arruniado. Desapparecendo o réo Era 21m inventario feito Pois sem herdeiros legitimos Parentes tinham direito Entao ajuntou-se tudo E foram procurar geito. a. Logo no primeiro jury O réo teve votacio ~ Teve todos doze votos Q juiz como um dragao Negou alvorada ao réo Apellou p’ra relacao, A relacgdo que do crime Tinha algum conhecimento Mandou que metesse 0 réo Em segundo julgamento Tornou a ter doze vatos Foi o mesmo seguimento. Tornow ter apellagio Dada pelo promotor Apellou segunda vez Ao tribunal superior O tribunal resolveu Jury desempatador. Ao terceiro julgamento Foi o réo submitido Porem a justiga fez Um jury bem escolhido Condemnaram o réo a morte Por meio desapercebido Ent&o condemnaram sempre © infeliz engeitado Alli depois de trez dias Ia ser elle enforeado, Cada parente do morto Ja tinha o caleulo formado. ae Estava o juiz de direito O promotor e o escriyao E os parentes d8 morto Com grande satisfagaio Cada um que projetasse Escollhier melhor quinhdo O réo nfo dizia nada Ouviu- a sentenca ler Disse penas, pouco emporta Uma vida se perder, Vinguei a mafor injuria Que um homem pode ter. Ums nascem para a vida Eu nasci para.a guilhotina Estava o réo naquella hora Pensandy na dura sina Quandcventrou na cidade O doutor Ibiapina, Um soldada disse ao réo Que o mandasse chamar E disse, aquella sentenga Ainda se pode anular O doutor Tbiapina Querendo pode o salvar. Dis: praga em vou chia nal-e O réo: lhe disse pois va Diga-lhe que mando pedir-lhe Que se poder venha ca Soccorrer um infeliz Que nem siquer pode ir 14. ss A praca foi ao hotel Onde elle estava hospedado ~ y E disse-The senhor doutor Venho trazer-Ihe um recado: Um réo pede que o socorra Por Jesus Sacramentade. Que réo é esse que me chama? Perguntou elle ao soidado E’ um miseravel triste Que hoje vai ser enforeado Alli contou todo crime Da forma que foi passado. © doutor Tbiapina Exclamou que cousa feia! Oh! que questéo pavorosa E' esta que me rodeja Alli pegou o chapéo f Se deregiu a cadeia, | Inda o jury trabalhava Ibiapina chegou Deregiu-se a sala livre Pediu licenga ¢ entrou, Que deseja o cavalheiro ? O juiz lhe pergunton. Desejo ver a sentenga De um réo que foi condemnado. Disse o juiz de direito i O réo foi sentenciado, Eu quero ver o proeesso, Disse-lhe 0 advogado, Die o juiz de direito Depois de o examinar: : Com quem tenho a honra, Meu amigo, de falar? —O dotitor Ibiapma> Disse o juiz pode entrar. Mas com relag&o ao 1é0 Nao se pode arrumar nada Pois o jury condemnou-o Ja foi a sentenca dada Por mim ¢ 0 promotor Foi aceita e assignada, — Disse-lbe o Ibiapina Faz-me! o favor de mostrar Eu quero ver 0: processo Preciso 0 examinar Eu sou defensor do’ réoy Tenhe ‘azio de fallar, -Entregaran-ihe o processe * Elle o leu publicamente Disse ao juiz senor dgutor Este réo est4 innocente £5 condemua um homem deste Um juiz inconsciente, Mande julgako de nove Eu sou seu advogado © réo com este processo. Nio pode ser condemnado. Mate-o porem com aq lei Assim njo, estd érrado. noyo . Chegon de ferros pesado OG Ibiapina disse « — 5 Eu. nunca vi em jurado * E nem nusca em parte alguina Um ente tio desgragado, - 6 08 ‘Todo homem’ tem um fai Bf Que o vendo soffrer se importe Que falle por elle, alegue -» at ‘O tevez de sua sorte “Sd um miseravel deste ee Diz-se apenas—réo de morte !. a Se teve mae ndo se. lembra, Se teve pai nuuca o viu, Hoje tao ardua sentenca a Senhores! em quem cahiu? Num desgragado que a sorte r. Em sua face cuspiw! + t Num homem sem. eloquencia Ningtiem por elle,afigura - a A quem Se pode chamar _ Be Uma infeliz creatuta~ ‘$6 o abraga a miseria S6 o acolle a desventura, ee O promotor levantou-se _E a palavra pedin an Se 7 Disse senhores jurados 7 Deus é testemunha e,viu ; Duas vidas preciosas Que esta fera concluiu, o, 12— Este moustro, este damnado Aborto da natureza, , Me parece inda ver nelle Signal de sangue na presa Nao sei como dum monstro deste Um homem inda faz defesa, Eu confio que os jurados Confirmarfo a sentenga ‘és todos est@io a par Da barbaridade immensa, Quem protejer esta féra Esta provando que nao pensa. O Ibiapina ergeu-se E disse encolerisado O illustre promotor Deve ger mais moderado Nao precisa offender tanto Quem ja estd tio maltratado. Pesso attengfio meus sqnhores O crime aqui esta exposto Que data tao repugnante Essa—deseceis de Agosto! Que o véo negro da infamia Cobriu deste réo o rosto. Vithg nesse dia funebre Este infeliz do rogado Aonde passou o dia Trabalhando fadigado Trazendo milho e feijao Num sexto grande e pesado. i —13— Na esperanca de achar Sua mulher innogente Casado a uns quatro mezes Amando-a extremosamente Que quatro triste senhores? Achou este padecente. Ora! a mulher costumava Esperal-o todo dia Ta encontral-o na porta Transbordando de alegria la tirar-lhe dos hombros O peso que elle trazia, Naquelle dia chegando Olhou tudo nao viu ella Pensou ser alguma cousa Que tivesse dado nella Quando no quarto encontrou i O sogro nos bra¢os della, Digam senhores jurados Qualquer de vés que faria? Se esta sorte negra escassa Atacasse a vés um dia? O que este réo obrou, Qual de nds nfo obraria ? O homem naquella hora « De que forma elle ficou ? A mulher em adulterio Da forma que elle achou ! Desparando uma espingarda A ambos os monstros matou La & al a o5 7 iF -Q pai de sua’ mulher?! Elle nunca esperaria? ‘ A pessoa que um marigo Sua mulher mais confia! Pois esse nio regpeitar © que mais sagrado havia, O promotor disse alli « Senhor collega esté provado Este monstro’ ¢ assassino E péca o advogado Que inda procura meios "De salvar tal desgragado. Pesso aos senhores jurados «No atendam attenuantes Confirmem penna de morte Nao pensem mais um instante Esta fera é como lobo, Urso, hyenne, assim por diante. - Disse-Ihe o Ibiapina _ Ora! illustre promotor ~ Admira-me bastante Estas phrases do senhor _G réo tambem € um homem Como eu e o doutor, « E seja a morte do réo Come pediu neste instante Piove primeiro se o crime Tem circunstancia agravante Nio ha sentenga de morte - Havendo um attenuante. Em ‘Rouia na Tnglate Paizes civilizados Diversos adutterios, Que tem sido encontrados Os maridos matam as mulheres Que sé assim so vingados. Veja o grande Mello Freires Criiminalista instruido Juresconsulto Europeu . Da direito ao marido _ Para matar sua esposa ~ Sendo por ella trahido. Saiba illustre promotor Que nés por sermos formados Vestimos bom panno fino * Sores por todos cercados Nao estamos livres de cahirmos Em thomentos desgracados. + Podem julgal-o juizes ~Descarreguem a consciencia $ Algum ha de ter mulher ~# a mulher é uma ‘essencia E botem numa balanga Maldade abuso innocencia. Ja bem vés homem infeliz Eu gemo com tua dor ; Nao sou sencivel gos teus males Sinto tambem tet clamor Porque nunea vi alguem Que fosse tio soffredor, + f6— Meus olhos gotejam lagrimas Pela tua sorte dura Recomenda tua alma A Maria sacra e pura Me parece estar te vendo Descendo a sepulcura, Se nao me engano ja ougo O triste bronze tocar Talvez que jd seja a morte Que a ti manda chamar Aquellas phrases fizeram Tudo na sala chorar. Choravam todos jurados, O promotor € o juiz, Esse exclamou como louco Meu Deus, meu Deus, eu que fiz! Ta matando inocente Um misersvel infeliz. Alli entrou o conselho Ibiapina saiu Quando chegou no, hotel E o olmogo pediu c Entio.o réo entrou alli Curvado aos seus pés cahiu. Levante-se disse o dontor N&o tem que me agradecer Quem d4-lhe a vida é Deus O mesmo que o fez viver Eu apenas fiz alli / © que Deus manda fazer. | | | * = lis A todos os bens de seu sogro Vocé hoje tem direito Doutor essa herai.ga eu dou-lhe E nao fico satisfeito O Ibiapina disse Dé de esmola eu nao aceito. Forre os escravos que tem Pois 0 captiveiro arde Faga 0 que eu fiz com yocé Ponha tudo em liberdade Um daquelles miseraveis Pode servir-lhe mais tarde, Elle forrou os escravos Deu a elles o que havia Vendeu toda a heranga Quando foi no outro dia Mudou-se para um logar Que ninguem o conhecia, Teitor pode dar por visto &sse caso assim foi dado > historia estd escrita Zo seculo proximo passado Ceu-se no Brejo de Areia Fesultou que da cadeia 2 réo sahiu perdoado. Recife, 5—7—1917. " 0 ‘Mal em Pag Lino e Rosa. de 500 ‘qualid -Versos.a 200° rs. que vende em com grande abate hie na

Você também pode gostar